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Por exemplo, imagine que você, durante uma aula, note que um de seus
estudantes está mais quieto do que o normal, decida aferir sua temperatura e o
termômetro marque 38,5°C. Até aí você está medindo/verificando. Porém, a
partir do momento em que compare essa “medida” com a temperatura corporal
média normal e afirme que ele está com febre, você realizará uma avaliação,
visto que qualificou essa medida. Complementarmente, avaliamos para orientar
a tomada de decisão, ou seja, o ato de avaliar resulta em ações!
Voltando ao nosso exemplo, o ato de avaliar que o estudante está com febre não
se encerra em si, ele induz uma tomada de decisão, como ligar para os
responsáveis do estudante, verificar se na agenda há indicação de medicação
ou encaminhá-lo para a enfermaria, por exemplo.
Isso quer dizer que, dependendo do país, da classe social, da posição política,
da época, dentre tantos outros fatores, uma educação de qualidade pode ser
definida de modos diferentes. Para termos ideia de como avaliar algo é muito
mais complexo do que medir, até para o que é considerado febre há alguma
polissemia. Em crianças, a maioria classifica como febre a temperatura retal
acima de 38°C, mas alguns consideram febre temperatura retal acima de 37,7°C
ou 38,3°C.
Nesse sentido é que o tema avaliação escolar se torna ainda mais complexo,
pois a noção de “qualidade” na educação é polissêmica e multifacetada, ou seja,
tem vários sentidos envolvendo diferentes instâncias. Podemos notar a presença
dessa diversidade de perspectivas na relação educação-qualidade nas
conversas informais, na sala dos professores, na mídia etc.
Contextualizando o desafio
Fracasso escolar
Um dos termos mais famosos e mais mal-empregados pelo senso comum para
avaliar as escolas contemporâneas como ruins é o fracasso escolar.
As crianças devem ser entendidas como sujeitos plenos, logo, seus estímulos e
sua condição de vida impactam fortemente sua relação com a escola. Há
crianças que já entram na escola com a sensação plena de inadequação,
fomentando a sensação do fracasso escolar que apontamos, mesmo que não
haja nenhum processo cognitivo que o leve para tal dificuldade, mas sim por uma
questão social.
Saiba mais
O Relatório Mundial do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) (1999)
aponta o nascimento da criança número 6 bilhões, ocorrido em 12/10/1999. Isso
significa que o planeta Terra já tem mais de 6 bilhões de crianças. Aliás, duas
crianças nasceram nessa data, uma na Bósnia e outra no Brasil, em Salvador.
Essa criança nascida no Brasil tem: 30% de chances de não ser registrada ao
nascer; 40% de chances de seus pais terem um padrão instrucional de menos
de quatro anos de estudo; 21% de chances de nascer em lares cujos pais são
analfabetos; 27% de chances de viver em uma família com renda mensal inferior
a meio salário mínimo per capita; 17% de chances de trabalhar para ajudar a
família a partir dos 10 anos, embora o Estatuto da Criança e do Adolescente só
admita como adequado o trabalho após os 14 anos; 46% de chances de já estar
trabalhando entre os 15 e 17 anos, tendo ou não concluído o ensino básico, para
sobreviver e ajudar a família; 59% de chances de concluir o ensino fundamental
(8ª série), embora 95% tenham chance de acesso a esse nível de ensino. Os
dados recentes do Unicef anteveem que 41% das crianças brasileiras estão
fadadas ao fracasso escolar e a reproduzir, no futuro, a situação atual de
fracasso de seus pais. Está sendo considerado aqui como fracasso o fato de não
ter completado as oito séries. No entanto, estarão os 59% que concluem as oito
séries incluídos no não fracasso ou no sucesso escolar? Afinal, o que é o não
fracasso escolar? Será o alcance de certo grau de desenvolvimento humano?
Será a condição de autonomia? A de qualidade de vida? Será a condição de
civilidade que permita valores e práticas como a da equidade? Bem, se é tudo
isso, voltemos à afirmação anterior: não fracasso escolar é inclusão social
(SPOSATI, 2008).
Observe as manchetes:
Você já ouviu falar em CAQi e CAQ?
Como nos alerta o gato de Alice, é importante que realizemos uma discussão
ampla na sociedade do que consideramos uma educação de qualidade para, a
partir disso, chegarmos a pontos em comum e podermos, então, criar
instrumentos de avaliação que deem conta de orientar as tomadas de decisão
voltadas para as tão desejadas mudanças na qualidade da educação.
A capacidade da força de trabalho passa a ser vista na mesma lógica dos fatores
não humanos da produção. Seguindo essa linha de raciocínio, as habilidades e
os conhecimentos humanos seriam passíveis de um investimento específico, na
educação formal, que gerariam lucros futuros. O investimento humano (ou em
educação) assume o papel de “força motriz” de um ciclo virtuoso que desemboca
no desenvolvimento de um país, pois, nessa perspectiva, quando um indivíduo
investe em si próprio (educação) ele aumenta sua qualidade/produtividade no
trabalho que, consequentemente, aumenta seu salário, que aumenta seu poder
de compra/consumo e assim aumentam as vendas das empresas, que têm seus
lucros expandidos e necessitam, por fim, contratar mais funcionários. Dessa
forma, o investimento movimentaria a economia do país como um todo, já que
promoveria o fluxo de capital.
Tecnicismo
3ª resposta: instrução.
4ª resposta: avaliação.
Tyler afirmava ser necessário que os objetivos correspondam a comportamentos
explícitos para poder responder às suas outras três perguntas essenciais,
ocasionando uma orientação comportamentalista ao campo.
A Lei de Diretrizes e Bases (LDB), de 1996, define como dever do Estado, para
a efetivação do direito à educação, a garantia de “padrões mínimos de qualidade
de ensino, definidos como a variedade e a quantidade mínimas, por aluno, de
insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-
aprendizagem” (inciso IX, art. 4º).
Pilares da avaliação escolar para a qualidade
Por esse motivo, no próximo módulo, abordaremos um pouco mais sobre como
esse tipo de avaliação se instituiu em nosso país e como vem tomando
centralidade nos debates educacionais.
(F) A legislação vigente prevê o acesso à educação, mas não prevê questões
que se referem à qualidade da educação oferecida.
Ainda que não o tenhamos definido, passamos então a provocar sobre esse
conceito essa ideia de qualidade, retirando papéis do senso comum e explicando
que avaliação escolar é um instrumento poderoso para a gestão escolar, para o
Estado e para sociedade civil. Mas seu fim é voltado para um conceito abstrato
conhecido como essa tal de qualidade.
São muitas perguntas e nenhuma resposta até agora. Acontece que essas
respostas precisam de uma análise e, possivelmente, no fim do nosso estudo,
você ainda não as terá do modo que almeja.
1988
Foi realizada a segunda edição do Saeb nos mesmos moldes e, em 1995, foi
adotada uma nova metodologia, tanto na elaboração dos testes como na sua
análise, a partir da Teoria de Resposta ao Item (TRI), possibilitando a
comparação dos resultados obtidos ao longo do tempo. Foram mantidos o
público-alvo (séries), a abrangência (escolas públicas/amostral), a formulação
dos itens (currículos de sistemas estaduais) e as disciplinas/áreas do
conhecimento avaliadas.
1997
1999
2005
O Saeb sofre uma grande reestruturação e passa a contar com duas avaliações
distintas: Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb) e Avaliação Nacional
do Rendimento Escolar (Anresc), mais conhecida como Prova Brasil. A Aneb
manteve o formato anterior, com caráter amostral de escolas públicas e privadas,
com o foco na gestão da educação básica e contemplando estudantes
concluintes das etapas dos anos iniciais e finais do ensino fundamental e do
ensino médio.
Já a Anresc consistiu em uma avaliação censitária de estudantes, apenas de
escolas públicas, concluintes dos anos iniciais e finais do ensino fundamental (5º
e 9º ano), possibilitando gerar resultados por escola. No que se refere à
formulação dos itens (questões), são mantidas as matrizes de referência, com
descritores resultantes da soma entre conteúdos curriculares e operações
mentais; também é mantida a decisão de avaliar apenas as áreas de Língua
Portuguesa e Matemática.
2013
2015
Ideb
Sigla
Deixam de existir as siglas ANA/Anresc/Aneb e todas passam a ser
denominadas como Saeb
Acompanhamento do processo de alfabetização
Antes realizado no 3º ano do ensino fundamental, passa a ser realizado no
segundo, como preconizado pela BNCC. Desse modo, são avaliados os
estudantes do 2º, 5º e 9º anos do ensino fundamental e do 3º ano do ensino
médio.
Matrizes
Foram reformuladas, buscando uma aproximação com a BNCC; o foco é
mantido nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática, porém, também são
avaliadas as áreas Ciências da Natureza e Ciências Humanas em caráter
amostral.
Educação Infantil
Passa a ser avaliada de modo experimental e amostral, por meio de
questionários eletrônicos destinados a professores e diretores das escolas.
Avaliação
Aferirá as competências e habilidades previstas na BNCC, contemplando
todos os anos de escolaridade a partir do 2º ano do EF (e não mais será
realizada somente ao final de ciclos: alfabetização – 2º ano/ séries iniciais do
EF – 5º ano/ séries finais do EF – 9º ano/ ensino médio – 3º ano); deixa de ser
bianual e passa a ser anual; e também é prevista uma ampliação das áreas do
conhecimento a serem avaliadas.
Versão Digital
Contará com uma versão digital da prova, até então só impressa a partir o 5º
ano. Outro destaque dessa futura proposta é a possibilidade de ele servir para
admissão no ensino superior a partir de 2023-2024, enquanto um “Enem
seriado”.
O Novo Saeb firma-se, então, como o principal instrumento de acompanhamento
da qualidade da educação básica, desde a educação infantil até o ensino médio,
atrelado à sua composição no Ideb. Para a aplicação do Novo Saeb, em 2021,
está previsto, por meio da Portaria nº 458, de 5 de maio de 2000, que institui
normas complementares necessárias ao cumprimento da Política Nacional de
Avaliação da Educação Básica.
Enem e Enade
• Cursos;
(INEP, 2020)
A avaliação do ensino superior é um excelente exemplo de para o que a
avaliação não deve servir! Não sendo objeto de nossa análise aqui, apenas
sinalizamos para perceber como, ano após ano, o resultado é aguardado e
divulgado como propaganda ou crítica pelo fato de representarem um ranking de
qualidade entre as universidades.
Esse exame sofre com a participação errática dos alunos e com a preocupação
das instituições privadas em garantir o engajamento para evitar danos à sua
imagem ou fechamento de cursos devido ao descomprometimento do aluno e
não, de fato, pela qualidade de seus ensinos.
Em outras palavras
O modelo foi praticado de forma mais ou menos intensa ao longo dos últimos 30
anos e, por isso, podemos sinalizar que está bastante introjetado em nossa
dinâmica de avaliação e compreensão do funcionamento da educação no Brasil.
Sobre a educação
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou
de estudar.
Avaliação de aprendizagem
Refere-se àquela que acontece no cotidiano da sala de aula e é realizada pelo professor de
acordo com seu plano de ensino. Tem por objetivo diagnosticar, acompanhar e certificar o
educando em seu percurso de aprender na vida escolar. Ela é importante para não perdermos
de vista o desempenho de cada estudante em seu percurso de formação, identificando suas
aprendizagens e carências para propor soluções.
Avaliação Institucional
Sendo assim, todas essas instâncias avaliativas devem fluir para o mesmo
objetivo: a aprendizagem do aluno.
Dimensões avaliativas
Atenção!
Vejamos:
Sua composição passa pela formação dos professores, condição dos alunos,
região de atuação e um importante índice, o IDD – Indicador de diferença entre
os desempenhos observado e esperado. Nesse índice, são mensurados um
conjunto de condições que demonstra o quão o desempenho desse aluno, em
um exame nacional, pode ser muito mais representativo do que outro com o
mesmo desempenho ou superior.
Comentário
Esses exemplos não podem ser tomados como prova de que todos podem; não
devem ser exceções para confirmar a regra. Se nas escolas em que essa
utilização de recursos e novas metodologias de ensino mais frequente o
desempenho foi maior, a avaliação não deve servir para dizer como esse é
especial, ou que aqueles não foram aptos, mas ser utilizada para criar.
• Entre as escolas onde o número de alunos por professor é maior que 25,
o desempenho dos estudantes foi marcadamente pior (OLIVEIRA;
ARAÚJO, 2005).
Além disso, notou diversas ações realizadas a partir do resultado das avaliações
externas, tais como: estabelecimento de metas, criação de indicadores de
qualidades, monitoramento pedagógico, indicação de estudantes para
recuperação paralela, formação continuada para professores, produção de
materiais pedagógicos etc.
Impacto positivo
Impacto negativo
Tal prática acaba por distorcer a intenção das avaliações externas e a ação
educativa, ao passo que como pretende avaliar certa realidade acaba por reduzi-
la no que se avalia, deixando de lado os aspectos processuais do fazer educativo
e focando apenas nos seus produtos quantificáveis.
1ª Critica
2ª Critica
É quanto ao fato de ela ser externa. Isso porque, por mais que a sua elaboração,
os cuidados do processo de coleta e de interpretação dos dados sigam o máximo
rigor, a avaliação externa depende de que os avaliados acolham a prova e não
realizem manobras; o que pode deturpar as informações obtidas por ela, e
comum encontrarmos nos cotidianos escolares, é uma relação hostil às
avaliações externas ao invés de ser acolhida, ocasionado, por exemplo, que os
estudantes não se dediquem à sua realização.
3ª Critica
Avaliação da aprendizagem
Avaliação institucional
( ) Uma turma de 2º ano do ensino fundamental realiza uma prova do Saeb com
foco no processo de alfabetização.
Questão 2
(...) Eu treino eles [os alunos] para o gabarito, tem uns que não sabem nem
assim, por exemplo, tem a número 1, com a, b, c, d. Tem uns que colocam todas
as alternativas, por exemplo, a resposta da 1 e da 2, na número 1. Então, até
nisso a gente procura ajudar o aluno, a preencher o gabarito. É todo esse
cuidado que o Nível 1 tem, o Ciclo 1 (aqui é Ciclo 1), em estar auxiliando o aluno
(GIMENES, LOUZANO, MORICONI e SILVA, 2013).
São possíveis impactos das avaliações externas federais nas realidades locais,
exceto:
Podcast
Ouça agora os professores Rodrigo Rainha e Maria Luiza Vieira falando sobre
avaliação escolar.
Referências
BAUER, A.; GATTI, B. A.; TAVARES, M. R. Ciclo de debates: vinte e cinco anos
de avaliação de sistemas educacionais no Brasil. Fundação Carlos Chagas.
Florianópolis: Insular, 2013.
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