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ATIVIDADE DISPARADORA

Bloco B Módulo 1

Reflexões iniciais
Olá!
É um prazer continuarmos juntos/as nesta caminhada de aprendizagem. O
objetivo agora é que, a cada módulo, você, diretor/a ou professor/a, siga
ampliando seu conhecimento para atuação com foco no enfrentamento à
cultura do fracasso escolar em sua escola, colaborando, assim, para a rede
como um todo. Para começar, convidamos você para uma reflexão sobre
as seguintes questões:

Como o diagnóstico pode contribuir para a formulação de ações voltadas


para o enfrentamento da cultura do fracasso escolar em sua escola?

Quais são os dados necessários para traçar um diagnóstico?

Como construir um processo de análise que contemple os diferentes


olhares e promova a participação e envolvimento de toda a comunidade
escolar?

Ações responsivas para mudança de cenário

Diante do grande desafio do enfrentamento da cultura do fracasso


escolar, é frequente observarmos que a não aprendizagem dos estudantes
é justificada a partir do senso comum, com tendências a culpabilizar o
estudante, a família e os professores. Estão presentes, ainda, justificativas
relacionadas à localização da escola, por exemplo, as escolas do campo,
das regiões mais vulneráveis, de difícil acesso e pouca segurança, entre
outras. Tais justificativas também estão sustentadas pela naturalização
das desigualdades que há no país, com um posicionamento de aceitação
ou limitações para mudar esse cenário. Sabemos que cada escola
apresenta contextos e desafios diferentes, e, justamente por isso, é
preciso conhecer o cenário para transformá-lo, e não apenas encontrar
“culpados” ou simplesmente sucumbir diante da situação.

Como vimos no módulo anterior, muito embora a legislação seja clara em


relação à responsabilidade para a garantia de direito de todos/as os/as
estudantes, ainda é preciso uma grande mobilização para mudar a cultura
do fracasso escolar. Esse contexto exige ações mais responsivas, o que
envolve dar uma resposta urgente para a situação desses estudantes,
principalmente aos mais vulneráveis.

Do que estamos falando ao tratar sobre diagnóstico?

O ponto de partida para compreender melhor como a cultura do fracasso


escolar ocorre e quais seus impactos na sua escola é traçar o diagnóstico,
ou seja, conhecer o cenário. Quando falamos de diagnóstico, por exemplo,
em uma situação de doença, o médico parte dos sintomas relatados pelo
paciente. Exemplificando, se você estiver com dor de cabeça todos os dias
e for ao médico, certamente vai relatar a ele essa dor, certo? Esse será o
ponto de partida para uma investigação, uma escuta atenta do paciente. A
depender da dor, é provável que o médico solicite alguns exames. Nesse
processo, o que está se buscando são indicadores das causas dos
sintomas. Em um exame de sangue é possível observar dados sobre
glicemia, triglicerídeos, entre outros, com aparelho de pressão, será
aferida a pressão sanguínea. Dessa forma, o processo de investigação por
meio de informações possibilita ao médico compreender o que, de fato,
está ocorrendo com o paciente. Com um diagnóstico preciso, o médico
estabelecerá o tratamento, o acompanhamento e o tempo necessário
para que o paciente fique bem. O diagnóstico preciso é fundamental para
que o tratamento promova a recuperação do corpo e ele continue
funcionando bem. Não é assim que funciona?

Na educação, o processo é bem parecido: os problemas educacionais


muitas vezes surgem em situações ou fatos do cotidiano que podemos
entender como sintomas. Por exemplo, um grande número de faltas dos
estudantes, notas baixas nas avaliações, muitas reprovações, alto número
de estudantes em situação de distorção idade-série, ausência frequente
dos professores, diversas reclamações para a gestão por parte da
comunidade, contexto de conflito no ambiente escolar, entre outros.
Como podemos analisar essas questões visando traçar um bom
diagnóstico? Nesse momento, é preciso partir para uma investigação
sustentada por indicadores. Assim como o médico utiliza os exames para
identificar que elementos estão desequilibrados, na educação também é
preciso coletar dados e informações que vão revelar quais são os possíveis
problemas presentes no sistema. Você pode estar se perguntando:

Quais são os indicadores que podem oferecer dados que apoiem esse
diagnóstico?

Como podemos analisá-los?


O que considerar para o diagnóstico na educação?

Para traçar o diagnóstico da escola visando o enfrentamento da cultura do


fracasso escolar é muito importante considerar os dados de aprendizagem
e fluxo por meio do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
Contudo é preciso ir além, compondo um conjunto de dados que
oferecem informações que devem ser analisadas de forma articulada. Na
próxima atividade, vamos aprofundar essa questão. Como sabemos, os
dados de reprovação, articulados ao abandono escolar e distorção idade-
série, podem caracterizar a cultura do fracasso escolar. Na apresentação
do estudo realizado pelo UNICEF em parceria com Instituto Claro e
CENPEC, publicado em janeiro de 2021, Florence Bauer, representante do
Unicef no Brasil, descreve essa realidade apresentando números e um
contexto de naturalização da não aprendizagem. Clique no ícone abaixo
para conhecer o texto.

Fonte: BAUER, Florence, 2021.

Observe que o número de estudantes afetados pela cultura do fracasso


escolar em 2019 já era bem alarmante. Infelizmente, nos dias atuais a
situação não melhorou! Temos dados que retratam um contexto mais
desafiador e urgente diante da problemática que se acentuou em razão
dos dois anos impactados pela pandemia da Covid-19.

Para pensar sobre a exclusão

No estudo anterior, Cenário da Exclusão Escolar no Brasil, realizado pelo


Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em parceria com o
CENPEC, foram apresentados dados correspondentes à situação dos
estudantes em novembro de 2020, nos quais identificou-se que mais de 5
milhões de estudantes não tiveram acesso à educação em 2020, o que
corresponde a 13,9% dos estudantes; entre eles, a maior concentração de
estudantes fora da escola estava nas regiões Norte e Nordeste. Ainda
nesse estudo, chama atenção o fato de 41% dos estudantes que estavam
sem acesso à educação serem crianças de 6 a 10 anos, etapa do Ensino
Básico que, antes da pandemia, já estava quase universalizada.

O levantamento realizado pela organização Todos pela Educação baseado


na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD
Contínua), com dados do segundo trimestre de 2021, revela que cresceu
em 171%, em relação a 2019, o número de estudantes entre 6 e 14 anos
desassistidos na Educação Básica; isso significa que 244 mil crianças,
adolescentes e jovens não estavam matriculados nesse período.

Na nota técnica “Impactos da pandemia na alfabetização de crianças”, da


organização Todos pela Educação, divulgada em fevereiro de 2022, foi
identificado que, no passado, o Brasil chegou a 40,8% das crianças de 6 a 7
anos sem alfabetização, o que corresponde a 2,4 milhões de crianças.
Nesse estudo foi possível identificar que houve um aumento significativo
no período da pandemia; em 2019, esse número correspondia a 25,1%, ou
seja, 1,4 milhões. O aumento segue com as marcas da desigualdade,
enquanto para as crianças brancas o aumento foi de 20,3% em 2019 para
35,1% em 2021; no mesmo período, a proporção para as crianças pretas e
pardas foi de 28,8% para 47,4%. Para os domicílios das crianças pobres, o
aumento foi de 33,6% em 2019 para 51% em 2021, e para as crianças de
famílias mais abastadas o aumento foi de 11,4% para 16,6%.
Considerando esses dados, corre-se o risco de um aumento dos índices de
reprovação, abandono e distorção idade-série, reforçando a cultura do
fracasso escolar.

O que considerar para o diagnóstico na escola e no


município em que atuo?

Partindo do cenário nacional, é fundamental e urgente identificar com


lupa como está essa realidade na rede de ensino e na escola em que atua.
Você colaborará para o diagnóstico da rede educacional, desenvolvido
pelo mobilizador ou mobilizadora da Educação, e conduzirá o diagnóstico
da sua escola. Para isso, é importante levantar as seguintes informações:

Atividade interativa no curso

Essas são algumas perguntas que o diagnóstico precisa apoiar para a


obtenção de respostas. Você pode ajustá-las conforme as necessidades
que observar para o seu diagnóstico.
É muito importante considerar quais são os impactos do abandono e da
evasão escolar, seja para a vida das crianças, adolescentes e jovens, seja
também para o município. Conforme a pesquisa Consequências da
violação do direito à educação realizada pelo Insper e Fundação Roberto
Marinho, “O cálculo é de que a evasão escolar representa uma perda de
26% do valor da vida de um jovem”. Essa pesquisa e outras realizadas em
anos anteriores evidenciam a relação entre a formação da Educação
Básica com a empregabilidade, remuneração, longevidade e qualidade de
vida.

Para conhecer as conclusões desse estudo, acesse o tópico Para saber


mais. Além dessa pesquisa, também está disponível o estudo “Ensino
Médio: Como aumentar a atratividade e evitar a evasão?” Nesse estudo,
você terá acesso à sistematização de cinco pesquisas dentro do tema.

Vamos precisar de todo mundo

O cenário nacional é muito desafiador, contudo, já sabemos que ações


bem coordenadas e consistentes dão bons resultados. O programa Busca
Ativa Escolar (BAE), promovido pelo Fundo das Nações Unidas para a
Infância (Unicef), existe desde 2017 e tem em seu percurso muitas
histórias de sucesso, antes e durante a pandemia. O vídeo a seguir conta
um pouco dessas histórias. Vamos lá nos inspirar com as ações do
programa Busca Ativa Escolar?

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=77MOdlvQhmU

Notaram na fala da Graciene Alencar a importância de uma ação


intersetorial? Fica evidente que para transformar essa realidade é preciso
uma atuação conjunta dos diferentes setores, olhando para a criança ou
adolescente em todas as suas dimensões. É necessário considerar a sua
formação de maneira integral; além disso, muitas vezes também é preciso
fornecer diferentes suportes para que a família tenha condições de
manter e acompanhar as crianças, adolescentes ou jovens na escola.
Somente com os olhares dos diferentes atores será possível traçar um
diagnóstico que dê base para planejarem ações responsivas com vistas à
elaboração e implementação de políticas públicas, na perspectiva da rede,
e de ações que potencializam os esforços e a mobilização empreendida na
escola.

O professor António Nóvoa (2022), ao analisar as respostas educativas


vividas durante a pandemia, destaca a atuação da direção escolar em
apresentar soluções adequadas principalmente em relação à aproximação
com as famílias e apoio das autoridades locais, evidenciando a
importância dos laços de confiança entre a escola, família e estudantes. O
pesquisador destaca ainda a resposta dada pelos professores,
demonstrando autonomia e o desenvolvimento de dinâmicas
colaborativas de trabalho, com propostas robustas e preocupações
inclusivas. Ao que parece, caminhamos na direção de uma atuação
colaborativa, sustentada por laços de confiança, o que torna este
momento oportuno para dar continuidade a essas práticas.

É com base nessa perspectiva que propomos que o diagnóstico seja


participativo para que possam planejar ações conjuntamente e atuar de
forma colaborativa. Para você diretor/a e professor/a há o desafio de
liderar esse processo, engajando os diferentes atores, convocando as
vontades, como diz o autor Bernardo Toro, para promover a participação
de forma a integrar os diferentes olhares que vão compor a compreensão
do contexto atual na escola. Tal feito necessita de escuta e diálogo entre
diferentes atores. Escutar um ao outro é um passo importante para a
construção de relações de confiança, o que é fundamental para o
enfrentamento de uma situação de crise. É na troca de saberes em torno
da realidade tendo em vista a busca de soluções que vai se consolidando o
sentido de comunidade.

No módulo anterior, você já colocou em prática, em parceria com os/as


mobilizadores/as de adolescentes e a rede local, a escuta dos/as
estudantes. A ideia é ampliar a escuta para outros representantes da
comunidade escolar para que possam buscar soluções compartilhadas no
combate à exclusão escolar.

Para compor a nossa reflexão, reproduzo aqui uma afirmativa dos autores
Dunker e Thebas:

Fonte: Dunker, C.; Thebas, C. (2019, p. 31)

Será que exercitamos a escuta da comunidade escolar?

Como estão os nossos olhos e ouvidos para perceber esses desafios?

Como dizem os autores, escutar com qualidade se aprende e, para além


da técnica, é preciso abertura e experimentação. Você diretor/a ou
professor/a será a liderança de um processo de transformação social, e
esse desafio, se pensado conjuntamente, fará toda a diferença na história
de todos envolvidos!

Nesta primeira atividade, refletimos sobre o cenário nacional e a


relevância de engajar a comunidade na realização de um diagnóstico
participativo e assertivo para o planejamento. Esse será o tema da
próxima atividade. Vamos em frente?

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