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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS


DEPARTAMENTO DE ESTUDOS INTERDISCIPLINARES
CURSO DE GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

AMANDA LETÍCIA BARBOSA ELIAS


CARLA EVELYN TORRES DA SILVA
ELAINE ESTEPHANIE SILVA BEZERRA
FELIPE SILVA DE OLIVEIRA
GABRIELA DAMASCENO
VIRNA VICTÓRIA DE SOUSA CARDOSO

ANÁLISE DAS CAUSAS DA EVASÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL


PÚBLICO CEARENSE

FORTALEZA
2022
ANÁLISE DAS CAUSAS DA EVASÃO ESCOLAR NO SISTEMA EDUCACIONAL
PÚBLICO CEARENSE

Relatório apresentado à disciplina Sociologia


Aplicada à Políticas Públicas da Universidade
Federal do Ceará.

FORTALEZA
2022

SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................4
2 DESENVOLVIMENTO ............................................................................................ .6
2.1 A EVASÃO ESCOLAR E SUAS CAUSAS SOCIOECONÔMICAS .......................6
2.2 A PRECARIEDADE DO SISTEMA DE TRANSPORTE ESCOLAR.......................8
2.3 DESINTERESSE ESCOLAR JUVENIL: UMA VISÃO CRÍTICA SOBRE A
REALIDADE...............................................................................................................10
RESULTADOS E
DISCUSSÃO:.............................................................................................................13
3.1 INFLUÊNCIA DA CARÊNCIA DE TRANSPORTE
ESCOLAR..................................................................................................................13
3.2 DESINTERESSE NA EDUCAÇÃO......................................................................14
3.3 ABANDONO ESTUDANTIL PARA O SUSTENTO OU AUXÍLIO NA RENDA
FAMILIAR...................................................................................................................14
3.4 EVASÃO ESCOLAR EM TEMPOS DE
PANDEMIA.................................................................................................................15
4 CONSIDERAÇÕES
FINAIS…………………...............................................................................................17
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................................19
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1 INTRODUÇÃO

Este artigo tem como propósito, precisamente, analisar os obstáculos que permeiam
a problemática social da evasão escolar no setor público no estado do Ceará, mais
especificamente nos municípios de Fortaleza, Caucaia, Cedro e Horizonte. Para isso
têm-se como referências, dados apurados pela equipe através da realização de uma
pesquisa de campo e virtual, com o uso de questionários, contando com a
participação de estudantes de quinze instituições de ensino diferentes; além de se
ter artigos usados como base para a retificação das hipóteses propostas pela o
grupo, artigos esses, os quais apresentam as particularidades das problemáticas
enfrentadas por estudantes de escola pública.

Isto posto, é pertinente que antes de se adentrar nas questões relacionadas à


evasão, seja abordado uma visão geral sobre a evasão escolar em si. Dessa forma,
a evasão escolar significa o abandono das escolas por parte dos alunos, podendo se
ocasionar por vários fatores, e se identificar como uma das principais falhas no
sistema educacional brasileiro. Associado a isso, segundo os dados do módulo
educação da PNAD Contínua de 2019, foi visto que no Nordeste, três em cada cinco
adultos não completaram o ensino médio, que correspondia a 60,1% da população
brasileira na época. Das 50 milhões de pessoas de 14 a 29 anos, 10,1 milhões não
completaram alguma das etapas da educação básica, seja por terem abandonado a
escola, seja por nunca a terem frequentado.

E ainda segundo os dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef),
durante a pandemia de Covid-19, o número de alunos que evadiram dos
estabelecimentos de ensino, aumentou em 5% entre os alunos de ensino
fundamental e 10% no ensino médio. Considerando esses elementos, perante ao
decorrer da construção dessa análise, o percurso deste trabalho trata primeiramente
das principais causas que levam à evasão escolar, situando-se no contexto da
educação pública no Ceará. Em seguida, aponta os dados coletados, acerca dos
principais desafios enfrentados por 162 alunos de quatro municípios cearenses
diferentes, na conjuntura do sistema educacional público.
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Dentre as causas que irão ser trabalhadas, cabem os questionamentos: qual a


influência da precariedade no transporte escolar na evasão? Como as condições
socioeconômicas da família afetam a evasão escolar? Como um possível
desinteresse do aluno se torna um ponto que favorece na sua evasão? Dessa forma,
em conjunto a essas reflexões, estão as revisões de literatura que também se
somam a uma sustentação para os pressupostos da equipe, acerca da observação
do problema no dia a dia cearense.
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2 DESENVOLVIMENTO

A evasão escolar no ensino público cearense, apesar de pouco discutida e eclipsada


pelos bons índices avaliativos da qualidade da educação estadual, é realidade. Em
2020, o Ceará registrou aumento de 170% no número de alunos evadidos do
sistema escolar em comparação com o ano de 2019, onde 49 mil alunos estavam
fora da escola, segundo estudo do Fundo de Emergência Internacional das Nações
Unidas (Unicef). Estima-se que as configurações adotadas durante o período de
isolamento social da pandemia de covid-19 aumentaram a evasão escolar no
estado, no entanto, é de extrema importância e criticidade entender que tal
problemática é anterior ao exposto.

Segue-se, então, com o apontamento do que se considera como os principais


fatores e padrões que influenciam a decisão voluntária ou pressionada pela evasão,
enfatizando que há diferentes tonalidades sociológicas envolvidas no enigma. O
objeto estudado foi observado utilizando-se de lentes e recortes, pesquisa e análise
de dados, não obstante, tendências críticas com base em teorias das Ciências
Sociais.

2.1 A EVASÃO ESCOLAR E SUAS CAUSAS SOCIOECONÔMICAS

O conceito de educação pode ser definido como o ato ou efeito de se desenvolver e


construir processos de aprendizagem. A partir de interação com o contexto social, a
educação pode acontecer em diversos contextos, como família, escola, igreja e/ou
comunidade, e acontece de forma livre e espontânea com todos os seres humanos
em suas relações com o outro ou com grupos sociais (Brandão, 1995).

O desenvolvimento na perspectiva de Celso Furtado é fundamentalmente um


processo de invenção, cuja intencionalidade é situada na concretude situacional,
enraizada num contexto histórico-cultural determinado. Na região nordeste, tal
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contexto histórico é de baixo desenvolvimento mediante o restante das regiões


brasileiras. Diante do exposto, observa-se que tal desenvolvimento econômico
impacta também no desenvolvimento educacional em escolas públicas do estado do
Ceará, da qual muitas vezes é defasado. A situação econômica é um dos principais
fatores que contribuem para a evasão escolar. Afinal, no Brasil, muitas pessoas
passam por dificuldades financeiras.

Muitas vezes, por causa dessas dificuldades, os alunos precisam abandonar os


estudos para dedicar o tempo ao trabalho, a fim de ajudar a custear as despesas da
casa. Nesse viés é possível perceber que o baixo nível socioeconômico afeta
diretamente em vários indicadores de saúde, criminalidade e o principal deles, a
educação, um dos principais determinantes estruturais de uma sociedade.

No artigo em questão é analisado que o Nordeste apresentou o maior número de


alunos suscetíveis à evasão escolar em função das desigualdades sociais e
econômicas. Quando comparada às regiões sul e sudeste ficam evidentes essas
falhas no sistema educacional. Um dado trazido pela a autora que explicita isso é o
do Anuário da educação Básica do ano de 2012, que aponta que 60% dos jovens
sulistas concluíram o ensino médio aos 19 anos, e entre os nordestinos essa taxa foi
inferior a 40%.

A autora também esclarece que a desigualdade econômica aliada com a repetência


escolar é uma causa do abandono escolar, no que se refere a repetência, o quadro
não é menos alarmante, estima-se que 44% dos estudantes de nível médio estão
pelo menos dois anos acima da idade ideal para suas séries, e destes, 15%
possuem sete anos ou mais de atraso. Tal causa tem por justificativa a incapacidade
dos alunos de darem conta de duas atividades: estudar e trabalhar, logo, têm mais
chances de repetir alguma série durante o ensino médio e evadir da escola.

A evasão escolar no Brasil no Ensino Médio é mais frequente com adolescentes em


condições de desigualdade social e/ou com baixas condições de renda, o que pode
ser justificado pelo desejo ou até mesmo necessidade deles de inclusão no mercado
de trabalho. É pontuado que é um problema que envolve várias vertentes, tais como
alunos, pais, professores, autoridades, e atingem várias nações, porém com níveis
diferentes.
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Foi constatado que em regiões mais industrializadas, tem a oportunidade de trabalho


como causa da evasão, por outro lado em regiões rurais a evasão se interliga
diretamente as condições sociais e econômicas a que o aluno está submetido e as
dificuldades econômicas enfrentadas pelas as famílias o que torna mais frequente e
evasão com adolescentes em condições de desigualdade social e/ou com baixas
condições de renda, fatores como o desejo de alcançar a independência financeira
são motivos recorrentes.

A inserção precoce dos jovens no mercado de trabalho faz com que eles não
consigam dar conta dos estudos e do trabalho ao mesmo tempo. Ao colocar na
balança, o estudante prefere optar pelo trabalho, mesmo que com um salário baixo.
Muitos desses alunos não trabalham de forma regular, como em programas como o
Jovem Aprendiz, mas sim em serviços informais, tais como ajudante de construção,
vendedores nos sinais de trânsito, há ainda o trabalho doméstico.

Na pesquisa realizada por meio de formulário online, com estudantes de ensino


médio de escola cearenses, foi deixado um espaço aberto caso os estudantes se
sentissem confortáveis em relatar casos onde sua educação foi ameaçada e
obtivemos o relato de uma adolescente estudante do município de Caucaia de 16
anos que presenciou uma situação da qual foi sugerido para seus responsáveis que
a colocassem em “casas de família” para trabalhar e obter algum tipo de renda, seus
responsáveis recusaram, mas tal situação deixa claro que ainda hoje isso é
recorrente.

2.2 A PRECARIEDADE DO SISTEMA DE TRANSPORTE ESCOLAR

No Brasil, a Constituição Federal assegura o direito à educação, tal como a lei de


diretrizes e bases da educação irá regulamentar direitos básicos como materiais
didáticos, alimentação e transporte público, dando ênfase para este último que tem
se mostrado um grande aliado na invasão ou permanência escolar. O governo do
Brasil através do FNDE criou dois programas que visam facilitar o acesso de alunos
de escola pública até as instituições.
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Convém lembrar da exímia importância do transporte para permanência na escola,


principalmente para alunos da zona rural. Porém algo a ser ressaltado é as
condições precárias que esse transporte se encontra, lotação, falta de conforto e alto
risco de acidentes são principais responsáveis pela retenção desses alunos nas
escolas.

A autora enfatiza novamente o papel do transporte escolar para alcançar os


Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) interligados da Organização das
Nações Unidas (ONU) para 2030. As metas propostas visam a erradicação da
pobreza, educação de qualidade e redução das desigualdades.

No artigo em questão foi realizado um estudo comparativo no Estado do Nordeste


entre estudantes da área urbana e da zona rural para avaliar disparidades no
desempenho escolar. Foi observado que alunos da zona rural apresentam um baixo
rendimento escolar em comparação aos alunos que moravam na cidade.

A autora pontua algumas causas que justifiquem esse baixo rendimento, viagens
cansativas realizadas por esses alunos no decorrer dos dias, viagens longas e sem
nenhum conforto, ressaltando também a pontualidade desses transportes uma vez
que esses serviços geralmente estão sujeitos a atrasos. Levando em consideração
também os dias de manutenção, tornando assim inviável a presença desses
estudantes.

A fim de analisar a efetividade dos programas do governo, a autora realizou uma


pesquisa entre alunos e professores em um interior na região Nordeste, foram
entrevistados alunos e professores de uma amostra aleatória de 15 de 26 escolas
públicas estaduais e municipais. Um total de 385 alunos, estratificado por série e
gênero. O questionário aplicado entre os alunos identificou sexo, idade,
escolaridade, local de residência, localização da escola, meio de transporte e tipo de
via do trajeto. Além disso, o questionário incluiu a avaliação de alguns fatores de
qualidade importantes em estudos de transporte: regularidade/pontualidade,
conforto, segurança, tempo de deslocamento e rota. Em outro questionário, os
professores foram questionados sobre gênero, escolaridade, tempo como professor
e tempo de trabalho na escola atual.
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Em relação a todas as respostas, é possível concluir que a maioria dos alunos está
muito satisfeita com o serviço de transporte em todos os critérios propostos. O
critério mais aceito é regularidade, pontualidade seguido de tempo, trajeto e
conforto. Por fim, a segurança, apesar de revelar certo grau de satisfação, apresenta
os menores valores.

Após a caracterização inicial, testou-se o nível de concordância com as afirmações


propostas. Pontualidade/assiduidade e redução da evasão escolar, fica claro que os
professores acreditam que a pontualidade/assiduidade melhorou e a evasão escolar
diminuiu devido aos programas de transporte escolar. No entanto, os desempenhos
dos alunos, apesar das pontuações elevadas, apresentam uma avaliação menos
positiva.

2.3 DESINTERESSE ESCOLAR JUVENIL: UMA VISÃO CRÍTICA SOBRE A


REALIDADE

No escopo da psicologia clínica, adolescência é, antes de tudo, um fenômeno


psicossocial que engloba as mais variadas esferas sociais e imaginativas, é a
síntese da passagem do universo infantil para a realidade cotidiana dos adultos que
todos os indivíduos serão submetidos, onde há a maturação dos sensores que serão
utilizados para enxergar o mundo circundante e suas problemáticas. Durante tal
processo, há a definição da constelação de papéis sociais que os jovens exercem
e/ou exercerão em suas vidas cidadãs e profissionais, fazendo do ambiente escolar
uma vivência imprescindível para a suavização dessa passagem, a fim de torná-la
menos abrupta.

No Brasil, o final do ciclo da Educação Básica, que ocorre ao concluir-se o ensino


médio, é a via de realização profissional e educacional visada por muitas famílias,
professores, gestores escolares e alunos adolescentes concludentes, pois a tal é a
premissa do início da vida adulta e, em uma realidade ideal, seria amplamente
concedida, pois, é direito de todos garantido por lei (EC n.º 59). As escolas que
oferecem Ensino Fundamental II e Médio, reconhecem-se como agentes transitórios
para a supracitada passagem à infância — vida adulta, ao passo que os
adolescentes são os atores sociais de tal problemática. Entretanto, é inegável que a
realidade não é condizente com a idealização do período que compreende o fim do
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Ensino Básico no Brasil, onde há inúmeros entreveros sociais que dificultam e/ou
impedem a plenitude de tal processo, apesar de, cultural e popularmente, o
chamado ato de “terminar os estudos” seja almejado por muitos jovens que anseiam
melhoria e ascendência social por meio da Educação, valendo-se do acesso ao
mercado de trabalho e/ou ao ensino superior.

Segundo o filósofo francês Pierre Bourdieu, a escola é um espaço de reprodução de


estruturas presentes na sociedade, que serve quase que como um mimetismo
social, transferindo capitais em inércia de geração em geração. Em tal processo, o
capital familiar transfigura-se em capital cultural. Este, segundo Bourdieu, está
diretamente ligado ao desempenho interpretativo que, além de estar relacionado
com o desempenho nas salas de aula, ultrapassa o enleio escolar. No entanto, o
filósofo inverte a óptica da qual se observa sempre o meio educacional, admitindo
que o acesso pleno à educação pode ser uma ferramenta poderosa de manutenção
de privilégios sociais e financeiros, uma vez que, se obtendo pleno capital cultural,
as capacidades críticas são mais certeiras, aguçadas e o objeto de ação passa a ser
a manutenção de formas de apanágio social em detrimento de indivíduos que em
pouco ou em nada o possuem. Logo, tal concepção não engloba apenas o campo
da educação, mas oferece uma lente interpretativa para a observação da ausência
ou garantia deficiente do supracitado campo na vida de qualquer indivíduo.

Na visão das Ciências Sociais, o processo de ensino-aprendizagem na adolescência


não é uno, mas é potencializado ou atenuado por fatores externos, dentre esses os
sociais. Durante a concatenação de dados que fomentam a pesquisa exposta por
nossa equipe, que faz da educação do Estado do Ceará o seu objeto de estudo,
evidenciou-se que a ideia de “desinteresse” é uma prerrogativa não tão acertada,
sendo pontual citar que a concepção da escola, além dos espaços para a
propedêutica, também se faz de outros componentes, tais como: qualidade de
ensino, transporte escolar, convivência e renda familiar, objetivos de mercado de
trabalho e/ou ensino superior, dentre outras. Por conseguinte, de tal interpretação
faz-se fulcral o entendimento de que reduzir a evasão escolar a ideia de
desinteresse é, de certo modo, evidenciar a óptica adotada por Bourdieu, quando
este discorre acerca do uso do capital cultural para o estabelecimento perene do
privilégio de quem o detém em menor grau, abrindo-se assim prerrogativas para a
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discussão do habitus proveniente do grau de educação aferido a determinado


indivíduo.

Faz-se, portanto, extremamente necessário que, ao considerar a evasão escolar,


tenha-se o devir analítico de que não se pode excluir questões externas que
contribuem e influenciam a tomada de decisão no tocante à evasão escolar.
Bourdieu arrematou ainda, ao desenvolver as análises dos seus campos, que capital
cultural não é fator isolado, mas o resultado de uma série de discrepâncias na
educação e na percepção particular de cada aluno com base em seus recursos. A
segurança financeira, o capital familiar, as políticas públicas que visam mitigar
questões de problema coletivo na qualidade educacional, as estruturas estatais de
avaliação, o espaço físico de ensino… estes são fatores múltiplos e relevantes que
cerceiam todo o produto que se tem por objetivo na resolução da equação
educacional: o futuro dos mais jovens.
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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esta seção evidencia os resultados obtidos das análises dentro do espaço social a
qual os seguintes dados foram retirados. A pesquisa elaborada na Escola Municipal
Demócrito Rocha, localizada no bairro Messejana, em Fortaleza, contou com a
participação de 52 alunos desta mesma instituição, discentes do 9° ano, manhã e
tarde. Além desta instituição, pesquisas online também foram realizadas através de
um formulário em outras escolas de Fortaleza em que houve a participação de 110
alunos do 1°, 2° e 3° ano do ensino médio. Em ambas as pesquisas, foi apurado que
o perfil dos alunos é predominantemente pardo e que estudam em escola pública.
Tendo em vista a obtenção de maiores resultados foi realizada esta flexibilização
para atingir e instigar uma maior participação do corpo estudantil.

3.1 INFLUÊNCIA DA CARÊNCIA DE TRANSPORTE ESCOLAR

Figura 1: Influência da falta de transporte como fator para a evasão escolar

Fonte: Elaboração própria

A carência de transporte escolar afeta os estudantes de forma direta, tendo em vista


sua necessidade cotidiana para que os estudantes tenham acesso à escola. Este
gráfico de nossa pesquisa revela que 41, 8% dos estudantes consideram que o
transporte influencia no desencadeamento da evasão escolar por dificultar e
desestimular os estudantes.
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3.2 DESINTERESSE NA EDUCAÇÃO

Figura 2: Desinteresse como motivo colaborador para a evasão escolar

Fonte: Elaboração própria

De acordo com o gráfico, 60,9% dos participantes acreditam que o desinteresse da


família não é fator para sua evasão, porém 25,5% acredita que sim. Isso evidencia
que o desinteresse dos jovens pela educação parte de outro princípio gerador, que
de acordo com os dados concatenados neste trabalho podem surgir através do
desestímulo dos alunos causado pela própria instituição em que estudam e por parte
do Estado também. Ao citar “desinteresse na educação” fatores psicológicos,
econômicos e sociais são primordiais para tal, gerando uma série de atalhos para
discussões. Faz-se fundamental neste contexto que haja estímulos aos jovens para
gerar um maior engajamento e desempenho deles no âmbito educacional.

3.3 ABANDONO ESTUDANTIL PARA O SUSTENTO OU AUXÍLIO NA RENDA


FAMILIAR
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Figura 3: Abandono dos estudantes para auxiliar na renda da casa ou para sustento
próprio

Fonte: Elaboração própria

Como mostra a pesquisa, 72,7% não cogitaram abandonar a escola para auxiliar na
renda de sua casa ou para sustento próprio, porém 14,5% pontuou que já foi
cogitado o abandono neste contexto. Com este dado apurado faz-se evidente que a
causa socioeconômica é um outro fator relevante das causas de evasão escolar,
uma vez que assola principalmente os jovens de baixa renda ou/e os mais afetados
com a desigualdade social. A inserção precoce dos jovens no mercado de trabalho
também age como desestímulo e pode sobrecarregá-los a ponto de preferirem
“deixar os estudos para depois” e manter apenas o trabalho. Sendo assim, o
abandono estudantil em prol de melhores condições financeiras por parte dos jovens
é um pressuposto para o abandono escolar, principalmente por obter resultados
imediatos na parte financeira, mesmo que pouco.

3.4 EVASÃO ESCOLAR EM TEMPOS DE PANDEMIA

Figura 4: Influência da falta de inclusão digital durante a pandemia para a evasão


escolar

Fonte: Elaboração própria

Tendo em vista as consequências do período pandêmico do Covid-19, vivenciado


em todo o mundo entre os anos 2020 e 2022, a educação também foi bastante
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afetada uma vez que houve paralisação nas escolas e a inserção do Ensino a
Distância no cotidiano dos alunos. Este gráfico evidencia que 61,8% dos
participantes acreditam que a falta de inclusão digital - saber utilizar os meios de
comunicação e/ou possuir acesso pleno a estes - é considerado um dos fatores para
causar a evasão dos alunos do âmbito estudantil. Muitos alunos durante este
período se afastaram da escola justamente por não conseguirem acessar e/ou não
terem acesso aos meios de comunicação necessários para esta conexão com a
instituição. Além destes fatores, o fato de estarem na sua zona de conforto - suas
casas - muitas pessoas desenvolvem problemas psicológicos e financeiros,
colaborando ainda mais para a negligência como estudantes.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como foco uma investigação dos notáveis problemas
educacionais brasileiros ligados à evasão escolar, tendo como estudo dados
coletados pela equipe por meio de pesquisa de campo e virtual, colhidos a partir de
questionários, com a participação de alunos de quinze instituições de ensino
distintas; além do embasamento por meio da revisão literária de artigos, permitindo a
retificação das hipóteses abordadas pelo grupo, introduzindo as particularidades dos
problemas enfrentados pelos alunos das escolas. Sendo assim, os fatores
motivacionais para a produção do estudo se associam às estatísticas que apontam
déficit no ensino público brasileiro, mesmo com significativo investimento.

Assim, ao observar a perspectiva de educação como a ação e reação do indivíduo


ao desenvolver e conceber processos de aprendizagem, influenciados pelas
relações interpessoais de apoio; temos relevantes cenários na cultura brasileira que
exprimem consigo a vulnerabilidade que ora ou outra atinge parte dos alunos de
instituições públicas de ensino. Um padrão presente e notado nas obras revisadas
diz respeito a fatores socioeconômicos, uma vez que o desenvolvimento econômico
afeta diretamente a qualidade de vida do coletivo.

Segundo o que foi proposto, a pesquisa de campo e virtual permitiu analisar as


questões respondidas pelos estudantes e, assim, traçar seus respectivos perfis,
compreendendo padrões sociais que se interligam aos fatores que levam ao
desinteresse escolar e, consequentemente, à evasão. O levantamento realizado
concluiu que fatores como abandono escolar em prol do sustento familiar, transporte
escolar, apoio familiar e inclusão digital influenciam de maneira expressiva a relação
do aluno com a instituição.

O questionário realizado apontou que significativa parte dos estudantes


responderam de maneira negativa sobre abandonar os estudos em prol de ajudar
sua família - no entanto, cerca de 14,3% informaram que em algum momento se
viram desistindo dos estudos em função da necessidade de ajudar no lar, assim,
levando em conta o que foi estudado, é perceptível a situação socioeconômica como
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fator relevante para a evasão; além disso, foi notório que a inclusão digital afetou
diretamente o engajamento dos adolescentes, tais quais os restantes pontos.

Concluiu-se, então, por parte da equipe, que a evasão escolar segue sendo uma
ameaça para a realização pessoal dos estudantes cearenses - sendo o estudo
realizado em uma região que possui implicações na área das políticas públicas, o
que pode ser estendido para os demais estados brasileiros. Assim, o grupo
compreende a necessidade de políticas voltadas a reduzir as falhas educacionais no
ensino médio, considerando ações de maneira multidisciplinar a fim de um bem estar
social dos alunos cearenses.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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V. L. (2021). Adolescentes desinteressados? Reflexões de estudantes do ensino médio público sobre sua escola.
Revista De Psicologia, 30(1). https://doi.org/10.5354/0719-0581.2021.56512
GRENFELL, MICHAEL. Pierre Bourdieu: conceitos fundamentais. 1. ed. [S. l.]: Editora Vozes, 2018.
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mais-da-metade-das-pessoas-de-25-anos-ou-mais-nao-completaram-o-ensino-medio/. Acesso em: 30 jun. 2022.
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NASCIMENTO, Maria V. L. A.; ANDRADE, Mauricio O. School transportation program as means to improve
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