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Tradução: Ligia Z, Lili Safira, Penélope,

Sara Veloso, Marcia Carvalho, Mah Alves,


Issel, Laurita, Sandry, Itxi

Revisão Inicial: Derli e Catarina

Revisão Final: Autumn Wild

Leitura Final: Paixão

Formatação: Monikita e Lola

Verificação: Monikita
Era uma vez, está menina rica mimada
que estava meio cheia de si mesma. Ela
realmente só se preocupava com as aparências
e esconder todos os seus segredos sombrios,
feios sob o disfarce. Mas então Eva Mercer
ficou grávida, baleada por um psicopata, e
expulsa da única casa que conhecia. Agora ela
está quebrada, desempregada, e tem que
começar de novo com um recém-nascido para
criar. Mas como?

No outro lado da cidade, sexy, tatuado


órfão, Patrick Ryan, não pode obter uma
pausa. Ele está em liberdade condicional por
defender a última donzela em perigo ao tentar
ajudá-la a sustentar seu filho, mas tudo o que
ele quer é encontrar seu único amor verdadeiro.
Ele conhece essa mulher por cheiro, sorriso e
risada, mas ele nunca a conheceu. Ele nem
sabe o nome dela. Ele só sabe que ela é a chave
para consertar tudo.

Um tipo de herói pode salvá-lo de danos


físicos. Outro pode salvá-lo de um tipo
diferente de desgraça. Para alcançar seus
sonhos, Eva e Pick podem salvar um ao outro.
Mas primeiro, eles devem abrir seus corações e
aprender a confiar.
Enquanto Harvey e eu nos agachamos atrás dos arbustos em
frente a velha e deteriorada casa lilás, uma forte brisa soprou sobre
nós, remexendo um monte de folhas secas ao redor de meus joelhos
e congelando meus braços.

Decidi que os casacos estavam supervalorizados depois da


semana passada. Então perguntei ao Vern, meu novo padrasto, se
me compraria uma jaqueta porque esfriou e o casaco do inverno
passado já não cabia mais. Ele disse que pensaria nisso se eu
chupasse seu pau. Então, ficar coberto por cristais de gelo não era
a pior coisa que poderia me acontecer.

— Jesus, Patrick. — Tremendo a meu lado, Harvey se envolveu


com mais força no meu antigo casaco, que cabia nele, para se
aquecer. — Sentiu isso? Ela deve saber que estamos aqui fora. Já
deve estar nos mandando algum tipo de feitiço vodu. Temos que
voltar.

— Isso é o vento, idiota. — Dei um leve tapa na parte de trás


de sua cabeça. — Duvido que ela possa fazer o vento soprar. E não
iremos até terminarmos.

— Tenho certeza que pode. É uma bruxa. Pode fazer o que


quiser. Olhe só o que fez a Tristy.
Cerrei meus dentes. O que aconteceu com Tristy era
exatamente a razão pela qual não sairia daqui até completar minha
missão, até que a bruxa pagasse pelo que fez.

Alimentado pela nova onda de raiva que Harvey despertou em


mim, apertei o tijolo que segurava, levantei e saí dos arbustos.
Correndo a toda velocidade, passando pelos montes de folhas
mortas que desnivelavam o terreno, alcancei a enorme janela da
casa da madame LeFrey e o arremessei.

Ela entenderia a mensagem que coloquei no tijolo: “Deixe


Tristy Mahone em paz”. E era melhor ela obedecer. Tristy já passou
por muita coisa.

Tristy e eu não vivemos no mesmo lar adotivo por cerca de um


ano, não até eu chamar os assistentes sociais para a última família
que me acolheu e contar o que acontecia. Mas nós mantínhamos
contato. Assim, quando Harvey me disse por que ela estava no
hospital, senti como se tivesse falhado. Jamais deveria tê-la deixado
visitar a madame LeFrey, que nunca foi legal com ninguém. Deveria
tê-la impedido de alguma forma.

Mas agora estava feito e eu tinha que me contentar com o


ajuste de contas. Os pedaços de vidro quebrado me disseram que
minha vingança estava completa.

— Oh, droga! — Ouvi Harvey falando dos arbustos. — Você fez


isso. Você realmente fez.

Porra, eu fiz mesmo. Nunca fui o menino perfeito, mas este foi
meu primeiro ato de vandalismo. Pensei que me sentiria satisfeito.
Vingado. Mas Tristy continuava no hospital com as mãos
enfaixadas, e eu ainda era um reles borra-botas que nunca seria
nada. Madame LeFrey continuaria assustando as crianças com
desastrosas leituras da sorte.

Fiquei ali como um completo idiota, simplesmente olhando


para as partes do vidro que ficaram inteiras. Mas agora estava mais
zangado que antes porque quebrar a janela não ajudou em
absolutamente nada.

A luz da casa da madame LeFrey acendeu, tirando-me de meu


estupor. Enquanto a antiga porta de entrada com a pintura
descascada se abria, Harvey gritou meu nome. A ansiedade
disparou em minhas veias, em pânico, precisava chegar até ele.
Protegê-lo.

Cambaleei para ele, mas para chegar lá, tinha que passar pela
varanda da frente, onde a bruxa saía da casa, carregando uma
porra de uma escopeta, que era maior que ela.

Derrapei até parar tão rápido que as folhas mortas sob meus
pés cederam, e deslizei, caindo com força de bunda no chão. Tentei
me segurar com uma mão; cravando meus dedos na terra fria,
lamacenta, antes de conseguir me levantar.

Enquanto me limpava, madame LeFrey carregava um cartucho


na arma, e esse som distinto ecoou nos meus ouvidos até que foi
tudo o que ouvi. Pulando, tropecei antes de recuperar o equilíbrio.
Se eu pudesse só chegar à esquina da casa, tinha certeza que
poderia sair de sua visão a tempo de encontrar uma boa sombra
para me esconder e fugir da velha louca.

Mas nunca cheguei à esquina.

Pisei em algo duro que fez um barulho metálico antes de ceder


e prender meu pé. Dentes afiados como uma faca morderam meu
tornozelo e me seguraram. Gritei enquanto paralisava. A terra fria e
úmida me envolveu, e me enrolei como um bebê, agarrando a
minha perna. Ondas agonizantes de dor atingiam minha perna
enquanto a armadilha me prendia.

— Pick!

Pânico e medo, a voz do Harvey me enviou outra onda de


terror. Como deixei que ele me seguisse até aqui esta noite, se algo
lhe acontecesse, seria minha culpa. Olhei a bruxa vindo para mim,
o cano da arma apontando entre meus olhos, e o vi hesitar no limite
dos arbustos, vacilando como se não quisesse me deixar para trás,
mas como se tampouco quisesse ficar.

— Vai — sussurrei, acenando para que fosse embora.

O menino não hesitou. Virou-se e saiu. Com ele fora de perigo,


finalmente, olhei para minha captora, pronto para enfrentar meu
destino. Era a mulher mais feia que já vi. Seu cabelo grisalho
encaracolado destacou-se, com as luzes de sua casa brilhando em
volta, fazendo-a parecer como se tivesse posto o dedo na tomada e o
choque enviou cada ponta para um lado.

O vestido folgado que usava só enfatizava quão larga e


encurvada era, e suas verrugas pareciam pedaços de frutas
balançando como gelatina, pontilhando seu queixo duplo.
Enquanto ela se aproximava o suficiente pude ver sua cara
enrugada e o sorriso zombeteiro.

O sangue deixou um sabor acobreado na minha boca, devo ter


mordido a língua ou o lábio. A dor em meu tornozelo ficou intensa e
senti um desconforto por todo corpo.
Lama e folhas murchas grudaram em mim enquanto eu
ofegava no chão na frente dela, olhando-a com toda a bravura
desafiadora que pude.

Arrastando-se mais perto, pressionou a ponta da arma bem no


meio da minha testa com força suficiente que sem dúvida deixaria
uma marca em forma de anel por dias, se eu sobrevivesse por tanto
tempo.

Sabendo que este seria provavelmente o fim, fechei os olhos e


cerrei os dentes, dilatando o nariz, porque não conseguia deixar de
respirar tão forte.

Morreria. Aqui. Agora. Mas ao menos seria rápido. Talvez não


sentisse nada. Esperava não sentir nada.

A parte triste foi a sensação de alívio que me inundou. A


desculpa patética que era minha vida finalmente terminaria. Não
me importava morrer virgem ou que Harvey, que era um ano mais
novo que eu aos treze, já tivesse feito sexo com uma garota.

Depois de ser amarrado e obrigado a olhar enquanto


estupravam Tristy inúmeras vezes, eu tinha meio que desligado
sobre o tema sexo, de todas as formas. Usar minhas mãos e dar
uma olhada em algumas fotos nuas nas revistas servia para mim.

Entretanto, existiam outras coisas que queria tentar antes de


morrer. Dirigir. Fazer uma tatuagem. Crescer o suficiente para
morar sozinho ou possivelmente encontrar uma boa família que me
adotasse.

Ok, maldição. Minha vida deveria realmente estar passando na


frente dos meus olhos, porque eu não pensava no sonho “uma boa
família que me adotasse e me amasse” desde que tinha nove anos.
Era lamentável e inútil querer tal coisa.

— Você jogou um tijolo pela minha janela? — Perguntou


madame LeFrey, com sua voz grossa e gutural, que era quase
impossível de entender. Empurrou a arma com mais força como se
pensasse que já não tivesse toda minha atenção.

— Sim — disse com os dentes cerrados. — Você disse a Tristy


Mahone que nunca ninguém a amaria, e que teria uma morte
miserável, jovem e sozinha?

Os ombros da velha louca tremeram o que suponho ser sua


versão de um encolhimento. — Como se soubesse o nome de toda
garota tola que veio aqui para que lesse sua sorte.

— É isso que faz a todos os que vêm aqui saber sobre o


futuro? — Que cadela.

— Digo o que vejo. Nada mais. Nada menos. Se sua amiga teve
uma má sorte, então ela é uma garota má. Ela não se importa com
ninguém.

— Não se importa com ninguém? — Repeti incrédulo. Fiquei


furioso e segurei a arma que estava na minha cara para poder olhá-
la intensamente. — Sim, como não se importa, ela foi para casa
depois do que você disse e tentou se matar. Cortou os pulsos e
quase sangrou até a morte, mas alguém a encontrou. Se ela não se
importasse com ninguém ou nada, realmente acredita que levaria
suas palavras tão a sério?

A bruxa fez um barulho em sua garganta como se não


estivesse surpresa ao saber o que Tristy fez, como se não sentisse
nenhuma responsabilidade ou simpatia por ela quase ter morrido.
— Você quase a matou, maldita louca! — Eu me movi de novo
como um animal ferido e encurralado, lutando pela minha vida.

Em vez de atirar como possivelmente deveria ter feito, madame


LeFrey recuou uns passos até que estava fora do meu alcance.
Percebi que ela estava descalça, enquanto as lágrimas escorriam
pelas minhas bochechas.

Uma sensação surreal passou por mim, deixando-me leve e


enjoado. Uma mulher descalça estava prestes a me matar, e eu
chorava como um bebê. Isso era tão ferrado.

Minha visão se turvou. Pisquei enquanto madame LeFrey


inclinava a cabeça para um lado, estudando-me atentamente.

— Ama esta garota? — Perguntou.

Descansei a cabeça na terra e agarrei um punhado de grama.


A dor começava a revirar meu estômago e a nublar meu
pensamento. Não sei por que raios tentei pensar em uma resposta à
sua pergunta. Talvez acabasse com meu sofrimento se eu
respondesse.

Amava Tristy? Deus, não. A maior parte do tempo nem sequer


gosto dela. Passamos por momentos terríveis juntos, e não se dá as
costas a um companheiro assim. Eles se tornam parte de quem
você é, destinando-o a cuidar deles.

— Ela está sob minha proteção — consegui responder, com as


palavras mal articuladas por alguma estranha razão.

Não sabia se a dor estava me entorpecendo, ou se madame


LeFrey me jogou alguma porcaria vodu, mas não gostava de estar
tão vulnerável em frente a ela.
Quando seus dedos frios e nodosos tocaram meu pulso, saltei
sob a pressão, mas não consegui me afastar. Virando meu rosto,
abri bem os olhos e a olhei. Olhos pálidos e azuis me mantinham
preso enquanto olhavam dentro de mim.

— Sua amiga não se importa o suficiente, não — disse ela —


mas você... você se importa muito.

Dei uma gargalhada. Aqui estava eu, pronto e disposto a


morrer, e ela sendo atenciosa. Sim claro, não dando porra
nenhuma, soava realmente piedosa.

Não tinha ideia do que aconteceu com sua arma, mas não
estava mais à vista. Se a visse nesse exato momento, poderia pegar
e apertar o gatilho eu mesmo. Mas estávamos apenas eu e ela. Seus
estranhos olhos azuis claros viram tudo e muito mais, fazendo-me
estremecer e desejar que me matasse de uma vez.

— Por favor — falei minhas palavras mal articuladas pela brisa


fria.

— Você teve uma vida dura, mas possui uma alma pura —
disse, ignorando-me enquanto eu implorava pela morte. — A
esperança goteja em você como água em um balde furado. Se secar,
ficará duro e frágil como sua amiga. — Seus dedos foram para
meus olhos. Fechei com força justo antes que ela pressionasse
ambos os polegares neles.

— Mas que porra é essa? — Ela ia arrancar meus olhos? Isso


parecia doloroso. E eu só queria que tudo parasse de doer.

Agarrei seus punhos para afastá-la. — Solta. — Mas logo que


meus dedos se fecharam ao redor da pele solta sobre os ossos
frágeis, algo aconteceu e eu não podia me mover. Meus dedos
travados ao redor dela, e eu não podia me mexer, não podia atacar.

Estava paralisado.

— Não se preocupe. — Sua voz ecoou em meus ouvidos como


se falasse dentro de minha cabeça. — Vou devolver sua esperança.

Foi aí quando tudo ocorreu. Não tenho ideia de como explicar


isso, só que fui transportado, sugado do meu corpo nesse chão
molhado e frio com meu tornozelo ardendo e sangrando, até que de
repente, estava quente e seco, sem nenhuma dor e estirado em uma
cama, nu enquanto a pele mais suave de uma garota embaixo de
mim deslizava contra a minha.

Uau! Tive sexo com alguém em lençóis de seda e um colchão


confortável. Porra. O sexo era bom, depois de tudo. Não era tão
louco e pervertido como fez parecer aquele bastardo que violou
Tristy. Era doce e quente, e.... muito, muito bom. Melhor que bom.
Incrível.

Agarrado a minha parceira da forma mais absoluta, enterrei


mais profundo nela. Suas unhas afiadas cravaram na minha bunda
para me manter ali. O desejo percorreu minha corrente sanguínea
enquanto o mais doce e apertado calor úmido abraçou meu pau. O
vínculo entre nós parecia forte, e tanto seu cheiro, sua suavidade,
seus sons guturais de prazer atacaram todos meus sentidos. Olhei
para seu rosto, precisando ver como ela era.

Ela era linda, tão linda. Talvez em seus vinte e poucos anos,
embora tivesse a sensação que eu também. Seu cabelo loiro claro
como a seda do milho parecia brilhante e macio.
Aturdido por seu cabelo tão bonito, afundei meus dedos nele e
peguei seu rosto na palma da minha mão.

Sorrindo, separou seus cílios longos e escuros para revelar o


par de olhos mais incríveis que já vi. Quase turquesa ao redor da
pupila, sua cor se desdobrava, para um marcado azul, e logo um
brilhante marinho perto dos anéis da íris. Não parecia possível que
esses olhos tivessem três tons de uma cor dessa forma, mas
tinham.

Suas feições eram impecáveis, combinando perfeitamente com


os olhos únicos. Com pele oliva que não foi maltratada por feridas
como a maioria das garotas drogadas do meu bairro, parecia limpa
e saudável. Pura.

— Sininho — eu disse, minha voz me surpreendendo porque


era mais profunda e mais de adulto do que ouvi antes. Já não tinha
quatorze anos.

Ela sorriu e suspirou, olhando para mim como se....

— Eu te amo — disse, na realidade dizendo as palavras que eu


tanto ansiava ouvir. Era a primeira vez que alguém me dizia isso.

Um calafrio me atravessou. Atingido por uma explosão de


calor e um desejo entristecedor de que repetisse as palavras
novamente, pressionei minha testa contra a sua e bombeei os
quadris com um ritmo antigo que parecia tão natural como
respirar. Seu calor molhado apertou ainda mais confortável a meu
redor e arqueou suas costas, golpeando um par de seios contra
meu peito enquanto ofegava e atirava a cabeça para trás.

Estava gozando.

A vista mais magnífica de todas.


Não tinha ideia como eu sabia o que acontecia com ela, mas
sabia, e o conhecimento estimulou meu próprio corpo a responder.
Minhas bolas se apertaram e meu pau começou a se contrair.

Antes que eu pudesse segui-la no esquecimento, fui sugado.


Em pânico, tentei voltar para ela, para a garota perfeita com o corpo
perfeito que dizia me amar.

Mas então, a cama abaixo de nós desapareceu e já não


estávamos nus. Ao menos continuávamos juntos, desta vez em um
sofá, e meu peito parecia tão leve e livre como na última cena, como
se não tivesse nada para me preocupar. Era... droga, eu estava feliz.
Ela também.

Contorcendo debaixo de mim, tentou se soltar do meu agarre


enquanto ria. Continuei fazendo cócegas nela porque eu adorava
esse som, e juro que também a amava. Não tinha ideia de como
sabia. Só sabia. Ela era tudo para mim.

— Patrick Jason Ryan, — ela me repreendeu — estou te


avisando. — Mas havia muito calor e alegria em sua voz para ser
uma ameaça real.

Amava tanto isto quanto eu. Meu corpo respondeu, e estava


preparado para mais desse sexo que decidi que não foi tão ruim,
afinal.

Mas assim que me inclinei para beijá-la, uma pequena voz


perguntou — mamãe? Papai? O que estão fazendo?

Levei um susto do caralho!

Girei a cabeça para encontrar uma garotinha de quatro, cinco,


possivelmente seis anos de pé na soleira da porta, nos olhando com
curiosidade enquanto abraçava um porquinho rosa contra seu peito
e chupava o polegar. Era malditamente adorável. Surpreendentes
olhos azuis, iguais aos da mulher no sofá comigo, mas o cabelo
mais escuro.

Quase como o meu.

— Skylar. — A mulher gemeu, incapaz de se liberar de mim. —


Ajude-me, docinho. Faça cócegas no papai.

Papai?

Arregalei meus olhos, mas quanto mais tentava abri-los,


menos via. Com um brilhante brilho branco apareceu e fui afastado
de ambas as garotas.

A mulher voltou, graças a Deus. Tinha enrolado o cabelo claro


em coques sedosos com pérolas brancas entre as mechas e um véu
caindo por suas costas. Respirei fundo enquanto via o vestido de
noiva que usava.

Ao nosso redor, centenas de pessoas viraram um borrão


distante enquanto se agrupavam ao redor de um enorme salão, bem
quando um DJ começou uma nova canção. A nossa música.

— E este é para o feliz casal. — O DJ acenou para mim,


avisando que era hora.

Ignorando quão ruins eram as ombreiras do casaco do


smoking, estendi a mão à loira no vestido de noiva.

— Senhora Ryan, — disse, sentindo como se tudo em meu


interior fosse explodir a qualquer momento — posso ter esta dança?

Ela era minha esposa. A porra da minha esposa. Eu não me


lembrava de me sentir mais agradecido que neste momento, quando
ela me deu um sorriso vertiginoso e pegou minha mão. Puxei-a para
perto e enquanto dávamos voltas na pista de dança abaixei a boca
no seu ouvido.

— Sininho. Deus, como eu te amo. Muito.

Quando notei as letras PICK tatuadas em uma fina letra negra


atrás de seu ouvido, meu coração pulsou com força pela emoção
que senti. Enterrei o nariz em seus cabelos loiros com pérolas e
aspirei ao aroma fresco de flores.

Ela pressionou a boca contra meu pescoço, e juro que a


impressão de seu beijo me seguiu enquanto fui sugado à outra
cena, um quintal com uma grama bem verde perfeitamente aparada
em um dia quente e ensolarado. Nunca vivi em um bairro com um
gramado tão perfeito, o que me encheu de orgulho porque sabia que
era minha casa. Meu lar.

Eu me sentia malditamente feliz, mesmo que os braços magros


ao redor de meu pescoço quase me asfixiassem. O peso do corpo
pressionado em minhas costas fazia que valesse a pena.

— Mais rápido — falou a voz de um menino no meu ouvido. —


Vamos, papai. Mais rápido.

Assim girei mais rápido, fazendo meu menino rir enquanto nos
girava em um círculo neste incrível e exuberante gramado. O
mundo ao nosso redor tornou-se um borrão feliz. Quando por fim
parei depois de nos deixar tontos, agachei, descansando as mãos
em meus joelhos para que ele pudesse descer. E a garotinha da
visão anterior. Skylar apareceu imediatamente na minha frente,
puxando meu cotovelo.

— Minha vez, agora — falou, os olhos azuis de sua mamãe


tornando impossível para eu dizer não. — Por favor, papai.
Mas da casa, a porta de vidro corrediça abriu fazendo barulho
e a mulher apareceu ali. Usava uma camisa vermelha brilhante que
sobressaía por cima de seu muito inchado ventre, mas ela irradiava
um brilho jovial que fez que tudo dentro de mim se iluminasse.

— Patrick! — Gritou. — Julian. Skylar. Hora de jantar.

E assim, a visão se foi. Na seguinte, uma máscara de papel


cobria minha boca e nariz deixando minha respiração quente
umedecendo minhas bochechas enquanto que um pinicante gorro
envolvia minha cabeça e coçava meu couro cabeludo. Quando
entendi que vestia roupa cirúrgica, arqueei uma sobrancelha. Que
porra? Eu era médico agora?

Mas essa voz inebriante, incrível, que era cheia de amor, veio
da cama ao lado e me fez virar até que a vi. Minha Sininho estava
em uma cama de hospital. Seu rosto estava corado e úmido, mas
seus olhos cansados estavam iluminados com amor enquanto ela
sorria. Embalando e segurando um pequeno pacote em seus
braços, ela levantou o bebê.

— Patrick, venha conhecer a Chloe.

Um sentimento de paz e alegria me encheu.

Antes de chegar a nosso bebê, embalei a bochecha de minha


esposa com a mão e só a olhei, tentando transmitir o quanto a
amava. — Você foi muito bem, Sininho.

Quase alcancei a minha filha, nossa pequena Chloe, quando a


escuridão me sugou de volta.

Gritei, lutando, desesperado para voltar para alguma destas


visões, mas me vi de volta na fria e úmida terra do jardim da frente
da casa da bruxa.
Madame LeFrey tirou seus dedos dos meus olhos e cai sem
forças no chão, estremecendo, perdido e confuso. Mantendo os
olhos fechados, ofegava, desejando voltar para onde ela me levou.
Mas a dor em meu tornozelo me manteve preso ao amargo presente.

O arrastar de pés a meu lado disseram que madame LeFrey


levantou e estava indo embora, mas já não me importava. Meu
cérebro estava distante, trocando entre a dor em minha perna e as
lembranças agitando em minha cabeça.

— Agora sim. Agora recuperou sua esperança. — Sua irregular


e velha voz me enfureceu.

Abri os olhos e consegui vê-la. — Que... O que era isso? O que


você me fez?

— Dei a você uma premonição.

— Deu uma o quê? O que é uma premonição? O que isso


significa?

— O que significa? — Inclinou a cabeça como se estivesse


confusa pela pergunta. — Talvez nada. Talvez tudo. Mostrou como
será sua vida se viver com o seu coração.

Meu ansioso coração bateu mais forte em meu peito. —


Então... é isso que vai me acontecer? Esse é meu futuro?

Droga. Não parecia possível. Nunca fiz nada bom o bastante


para merecer uma vida como a da premonição. A euforia rugiu por
minhas veias até que a bruxa balançou a cabeça.

— Não. Só é o seu futuro se viver com o conteúdo de seu


coração — repetiu solenemente.

— Então... — Engoli a saliva, querendo negar. — Não é


verdade? Não acontecerá? — Mais lágrimas encheram meus olhos.
Alguma vez conheceria essa garota? Alguma vez teria um lindo
quintal gramado? Alguma vez teria três crianças perfeitas que
significarão o mundo para mim? Alguma vez pertenceria a uma
família?

— Não conhecemos o futuro. Só te mostrei o que poderia


acontecer se viver felizmente para sempre. É tua coisa fazer com
que aconteça.

— Mas... — Estendi a mão para ela, desesperado por


respostas. — Como posso fazer isso? Nem conheço essa garota.
Nunca a vi na minha vida. Como a encontro?

A bruxa estava ocupada recolhendo sua arma do chão. Mas


parou com minhas perguntas frenéticas. — Garota?

— Sim! A garota. A garota que me mostrou. Quem é? É uma


pessoa real?

A velha bruxa sacudiu a cabeça, confusa, e me olhou como se


estivesse louco. — Mostrei apenas você. Cinco visões de você. Isso é
tudo. Se viu alguém mais em uma delas, isso significa que ama
demais essa pessoa.

— Mas eu.... Ela estava em todas, não só em uma.

Aproximando-se, madame LeFrey me olhou como se eu fosse


uma espécie nova da qual nunca ouviu falar. — Pode ser? —
Sussurrou espantada.

— O quê? — Falei quase em pânico. Queria saber mais sobre


aquela garota e como poderia viver a vida com ela onde fui tão
malditamente feliz. Nunca fui tão contente.
Madame LeFrey sacudiu a cabeça como se fosse incapaz de
acreditar no que estava prestes a me dizer. — Uma alma gêmea —
disse com um tom áspero — algo muito raro.

— O quê? Ela é minha alma gêmea?

Estava um pouco tonto com a ideia. Uma alma gêmea soava


bem. Alma gêmea, alguém que me ame, um futuro feliz, um lugar
ao qual pertencer. Família. Agora, tudo o que tinha que fazer era
encontrá-la.

Mas a velha bruxa me olhou preocupada. Agarrou meu braço.


— Encontre-a — disse, com urgência em sua voz. — Não estão
completos até que as duas metades estejam juntas. Você é só a
metade de uma alma.

Tirei meu braço de seu aperto. — Bem, onde ela está?

Ao invés de me dizer, recuou como se estivesse contaminada.


Pisando em algo junto ao meu tornozelo, encontrou a armadilha
que me prendia. Gritei pelo fluxo de sangue que saiu da ferida e
criava um montão de pressão. À medida que apertava os dentes e
agarrava minha perna, madame LeFrey me deu as costas.

— Vá embora agora — disse, como se tivesse medo de mim. —


Não volte.

— Mas... espera! Como a encontro? Qual é seu nome? —


Quando nem parou, grunhi de ira e dor. — Maldição. Pode fazer
algum feitiço para trazê-la aqui? Só quero o que me mostrou. — Por
que ela me mostraria isso se não me ajudaria a conseguir?

Quando alcançou a porta, olhou para trás. — Nenhum feitiço


pode tocar isto. É maior que qualquer magia. É o destino.
Antes que eu pudesse dizer mais, correu para dentro da casa e
bateu a porta, deixando-me para voltar para casa com um tornozelo
machucado.

Embora não fosse mais um prisioneiro, fiquei lá. Respirando


com dificuldade e confuso em mais de uma maneira, apertei a
minha lesão e enchi minha cabeça com todas as malditas
premonições que a bruxa me deu. Uma fria gota em meu rosto me
avisou que começou a chover.

Sabia que nunca seria o mesmo. Até esta noite, convenci-me


que minha vida sempre seria horrível e sem esperança. Mas as
premonições da madame LeFrey pioraram tudo. Porque agora eu
queria algo. Queria tanto que podia saborear. Queria esse futuro e
um felizes para sempre. E se eu nunca achasse essa garota, se
nunca a encontrasse, a decepção provavelmente me mataria.
CONHEÇA EVA MERCER

Cinco anos depois do prólogo do Patrick...

Entrei pela porta de trás meia hora depois do toque de


recolher. Alguém apagou as luzes na cozinha, assim esperava que
todos já tivessem ido para a cama.

Para me assegurar ainda mais, tirei as sandálias com os saltos


que eram super barulhentos e andei descalça. Mas quando alcancei
a entrada para a sala dos fundos, vi que a luz no escritório de papai
estava acesa.

Também deixou a porta entreaberta, e como nunca fazia isso,


imaginei que me esperava, tentando me pegar chegando tarde.
Outra vez. Um calafrio de terror percorreu minha coluna enquanto
meu corpo gelava.

Embora o medo acelerasse minha respiração, não me renderia.


Nas pontas dos pés, prendi minha respiração e tentei andar sem
fazer barulho. Mal cheguei ao tapete oriental quando o piso sob
meus pés rangeu. Parei, fechando meus olhos e xingando em minha
cabeça.
Por favor, que ele não tenha ouvido isso. Por favor, por favor,
por....

— Eva, — a voz que odiava mais que tudo no mundo veio do


escritório, fazendo-me saltar — vem aqui. Agora.

Por um breve momento, pensei em correr. Talvez pudesse fugir


dele nesse momento. Talvez...

Mordi meu lábio e sacudi a cabeça. Correr era pior. Só viria


atrás de mim, o filho da puta adorava uma perseguição. E me
pegaria, sempre me pegava e sempre terminava pior quando
acontecia.

Mas ultimamente argumentava para me tirar do apuro. Talvez


isso funcionasse esta noite.

Engolindo o medo, fiquei ereta e levantei o queixo com toda a


falsa confiança que podia demonstrar. Não confiava em nada,
especialmente em mim mesma, desde que tinha doze anos, desde a
primeira noite que entrou em meu quarto. Então fingi todo o
caminho até seu escritório.

Apertei os dedos sobre a fria superfície de sua porta e a abri só


o suficiente para entrar.

Quando vi a garrafa de uísque em sua mesa ao lado do copo


de cristal cheio de gelo minhas esperanças se foram. Recuei um
passo.

Sim, de maneira nenhuma falaria com ele esta noite, não


quando bebeu. Minha respiração acelerou. Passaram quatro meses
desde a última vez que me tocou. Foram uns bons quatro meses.
Queria que chegasse a cinco meses.
Deu-me um olhar letal quando recuei outro passo. — Sente-
se.

Minhas mãos se apertaram em punhos. Oh, como queria


desafiá-lo. Como queria cuspir na sua cara e dizer para ir à merda.
Mas como era só levantar sua sobrancelha, que me deixava quieta,
presa. Era impotente e obedecia a seu comando. Tive o impulso de
envolver minhas mãos a meu redor e esconder cada pedaço de pele
exposta. Não pretendia que me visse vestida assim. Usava uma saia
curta e justa, e uma blusa de alça, queria que todos os meninos
que estivessem na festa me vissem e me desejassem. Precisava que
um deles me levasse a algum canto reservado e apagasse as
inquietantes lembranças de outras horríveis mãos.

Tive o que queria, mas agora isso se voltava contra mim.

Não me importava que meus amigos me chamassem de puta


pelas minhas costas, ou que eu só tivesse quatorze anos, um mês
antes de entrar no ensino médio, mas tivesse mais sexo que a
maioria das garotas de vinte anos. Não é como se eu fosse pura de
qualquer forma e precisasse preservar a santidade de meu intocado
corpo. Meu querido e velho pai garantiu que eu não fosse mais
virgem.

Só desejava o vazio de felicidade que sentia cada vez que um


menino me tinha a sós. Podia escapar para um lugar seguro em
minha cabeça, onde nada me tocava enquanto suas mãos
desajeitadas faziam o que quisesse. Por pouco tempo, sentia-me
livre nesse lugar. Livre de tudo. Especialmente dele.

— Mandei sentar — grunhiu.


Meus nervos tremiam sob seu tom duro, mas fiz questão de
parecer imperturbável. Ele poderia me machucar quanto quisesse,
mas eu ainda tinha algo que não poderia tocar. Atitude.

Jogando meu cabelo loiro sobre o ombro, aproximei-me do


sofá contra a parede e me acomodei na almofada macia. Quando
seu olhar passou por minhas pernas cruzadas, quis vomitar toda a
cerveja que bebi antes que deixasse Jimmy Santos explorar debaixo
de minha saia.

Olhei para minhas cutículas. — Quando terminar de comer


com os olhos a sua própria filha, estou pronta para o sermão que
sei que está morrendo de vontade de dar.

Embora essas palavras ardessem, meu coração saltou na


minha garganta. Nunca fui tão arrogante e atrevida com ele. Com o
resto, sim. Com ele, não. Mas acho que nunca estive tão bêbada
quando ficamos sozinhos antes.

Sua mandíbula endureceu. Depois de pegar sua bebida e


tomar o resto, bateu o copo na mesa. — Pensei que já falamos sobre
isto. Não é realmente minha filha, lembra?

Ah, sim. Deixou bem claro na primeira noite que entrou no


meu quarto, logo depois de ter uma briga com minha mãe e saber
que um de seus amantes me trouxe a este mundo. Tudo isso foi
vingança contra ela. E a irritou. Escutei-os discutindo a respeito
muitas noites, mas ela nunca o deixou, ou me tirou de suas garras
e me salvou.

Um casamento em nosso rico e respeitado bairro não devia


terminar em divórcio. Maridos e esposas simplesmente tinham
armários maiores assim podiam esconder mais de seus esqueletos e
os segredos sujos.
E então minha mãe continuou dormindo aqui, meu pai
continuou bebendo e visitando meu quarto porque imagino que
uma vez que provou a garotinha, simplesmente não pôde parar. E
eu me tornei alguém que nem reconhecia, nem gostava.

Dei um pequeno sorriso. — Sim, porque chamar de abuso


sexual e pedofilia soa muito melhor do que incesto.

O resto do mundo o considerava meu pai biológico e ele era a


única figura paterna que conheci, então para mim, era muito ruim,
nojento e traumático.

Estreitando os olhos, bateu seus dedos no copo vazio. — Tome


cuidado, Eva. Ou darei um melhor uso a essa boca inteligente.

Engasguei um pouco em meu próprio vômito. Apesar de


querer recuar e me enrolar como uma bola até que finalmente me
deixasse sozinha, mantive minhas costas eretas enquanto olhava
para trás.

Não. Não me dobraria mais diante dele. E o álcool que fluía em


minhas veias me deu toda a coragem e valentia que eu precisava.
Assim segui cavando minha própria cova com mais atitude.

— Oh, sinto muito. — Pus os dedos sobre meu peito com


arrependimento sarcástico. — Ofendeu-se com minha honestidade?
— Soltei minha mão, parei o falso encolhimento de desculpa e dei
de ombros. — Suponho que se esgotaram todas as suas táticas de
intimidação sobre mim. Já não estou assim tão assustada por você.

— É mesmo?

Quando se levantou lentamente de sua cadeira, o ar escapou


dos meus pulmões, substituído por um medo tão espesso que não
podia respirar. Droga de atitude. Já não era mais engraçado. Mas
não tinha certeza do que fazer, então permaneci sentada em minha
casual e indiferente pose, mesmo aterrorizada e meus instintos me
dizendo para correr.

— Bom, vamos ver. — Girei meu dedo por meu cabelo


comprido e inclinei minha cabeça, como se estivesse pensando. —
Você não pode mais me dizer que todo mundo saberá que sou uma
garota desobediente e malcriada se eu te denunciar. Já pensam que
sou a puta do século. E não pode usar a mamãe contra mim porque
ela nunca se importou com o que me fez. — Enquanto eu falava,
afastou-se de sua mesa e veio irritantemente muito perto. — Acho
que poderia deixar de pôr dinheiro em minha conta, mas então eu
iria à polícia. E mesmo se não acreditasse em mim, a mera sugestão
de um escândalo provavelmente arruinaria a sua carreira. Por isso
veja só, agora tenho todas as cartas.

Eu estava blefando, nunca iria à polícia. Não queria que


ninguém soubesse o que me aconteceu, muito menos um monte de
oficiais que podiam torná-lo público.

Mas meu pai não sabia e avançou em mim.

Dei um grito de repente e voei do sofá. Minha corrida para


chegar até a porta terminou quando escorreguei no piso de
madeira. Caí e bati o joelho no chão. A dor embrulhou meu
estômago, mas estava tão desesperada para escapar, que continuei
de qualquer maneira.

Ele me bateu contra a porta.

Surgindo em minha frente, fechou a porta com suas costas,


prendendo-me dentro do escritório com ele. Este era seu método.
Gostava de brincar de aranha e me deixar presa em sua teia antes
de me atacar.
Parei, respirando forte enquanto todo meu cabelo voava no
meu rosto. Olhei-o enquanto ele me dava um sorriso triunfante.

— Agora, o que dizia sobre não ter medo de mim? — Afastou-


se da porta e me encolhi. — E o que era isso de não estar
intimidada?

Cerrei os dentes e levantei o queixo, como me ergui, ele se


aproximou. — Dane-se. Você é mau, um perverso e asqueroso
velho, e me deixa doente.

O insulto só o fez rir. Eu estava soltando o último pingo de


rebeldia e ele sabia. — Onde foi esta noite, Eva?

— Fora desta casa — grunhi — longe de você. Isso é tudo o


que importa.

Percebendo que me encurralou no canto da estante, gemi, o


que só iluminou seus olhos. Ele estava tirando minha valentia, meu
blefe. Eu perdia o pouco que eu controlava.

— Bebeu nessa festa — disse, ficando a centímetros de


distância e acelerando minha respiração. — Posso sentir o cheiro.
Também transou?

Queria continuar sendo a Valente e Desafiante Eva e falar algo


como: “O quê? Está com ciúmes?”, mas com ele tão perto, minha
coragem fugiu junto com minha boca rápida e minha insolência.
Não era mais que uma patética bola tremendo de angústia. E o
odiava por isso.

Seu olhar foi para meu decote. Estremecendo, inclinei a


cabeça e envolvi meu peito com os braços. Também odiava ter me
desenvolvido tão cedo. Odiava meus peitos grandes. E odiava como
ele sempre os olhava.
— Sei o que está tentando fazer, boneca. — O uísque em seu
hálito me sufocou e fez que meus olhos lacrimejassem. — Acredita
que estar com todos esses meninos pode me limpar de você, mas
não conseguirá. Sempre estarei aí. Sempre serei seu primeiro. Meu
toque te manchará para sempre.

Quando seus dedos se moveram sobre meu ombro e para


baixo em meus braços em uma suave e viscosa carícia, enlouqueci.
— Não!

Sem ter para onde correr, lutei, balançando-me e golpeando-o


no rosto. Esqueci que ainda segurava firme minhas sandálias. O
duro salto pontudo pegou em sua bochecha, lançando seu rosto
para o lado e abrindo um talho. Arregalei os olhos e abri a boca,
chocada.

Oh, merda. Nunca o feri. Ia me matar por isso.

Ele rugiu furioso e levantou a mão até sua bochecha.


Enquanto sua atenção se focava lentamente em mim, recuei mais
contra o canto, escondendo-me dele. Baixou a mão e olhou o
sangue em seus dedos. Quando vi o tremor em seu braço, a
esperança surgiu dentro de mim. Assustei-o.... ou algo assim, algo
chocante o suficiente para me dar um pouco de esperança. Um
pouco de poder.

Segurando minha sandália de forma ameaçadora, fui para


frente, fazendo-o cambalear para longe.

— Nunca voltará a me tocar, escutou?

— Cadela. — Fervendo, levou os dedos até sua cara e apertou


a ferida, fazendo o sangue jorrar dos lados. — Você é igual a sua
mãe. Sou o chefe desta casa e se fizer algo para nos envergonhar,
farei com que se arrependa pelo resto de sua vida. Ouviu?

Não respondi. Estava muito ocupada rodeando-o até que


estava perto da porta. Então dei a volta e corri até a saída. Uma vez
que saí de seu escritório, soltei os sapatos e continuei pelas
escadas. Não parei até que estava em meu quarto trancada.
Afastando-me da porta, tapei minha boca com minha mão,
esperando que ele viesse batendo e gritando. Tinha uma chave,
podia entrar se quisesse.

Mas não entrou.

Depois de não acontecer nada por uns cinco minutos, cai no


colchão e me abracei, tremendo incontrolavelmente. Logo me
enrolei como uma bola e descansei a cabeça em um travesseiro,
permitindo me afastar e sonhar. Não estaria aqui para sempre.
Algum dia deixaria esta casa. Deixaria a Flórida. E seria livre. Seria
o que quisesse ser.

Só tinha que ser paciente e esperar. Mas isso aconteceria.


Tinha que acontecer, caso contrário, qual a razão de sofrer dia após
dia?
EVA

Cinco anos após o Prólogo da Eva - Presente

Todos os homens eram bastardos.

Enquanto observava como o noivo de minha prima começava a


perder a paciência, esfreguei minha barriga inchada, aliviada de
que o bebê dentro de mim fosse uma menina.

É claro, independente do sexo o amaria de qualquer forma.


Era impossível não amar esta pequena coisa que se mexia dia e
noite, e soluçava nas horas mais improváveis, ou, até mesmo
pulava quando um som alto a assustava. Mas estava aliviada de
não ter que vê-lo crescer para se tornar um bastardo.

— Eu só estou falando — resmungou Mason entre os dentes


cerrados enquanto agarrava seu cabelo e andava pela pequena
cozinha. — Não podemos continuar comprando toda essa porcaria
de bebês para Eva. Por que precisa de um trocador de fraldas? Por
que não pode trocar a fralda no maldito chão, ou na cama, ou
droga... em qualquer lugar?

Considerei isto, ele levou mais tempo do que esperava. Mas


eventualmente, cada homem tinha um ponto de ruptura em que
deixaria sair seu lado bastardo. Não poderia escondê-lo para
sempre.
Cruzando os braços sobre meu peito, olhei para ele enquanto
Reese, minha prima, melhor amiga, heroína pessoal e namorada de
Mason, parecia culpada enquanto se encolhia na cadeira da
cozinha, abraçando-se. Odiei o quão mal ele a fazia se sentir
quando fui eu que pedi que comprasse o estúpido trocador, porque
combinava com o berço que eles deram, e eu... caramba, só queria
o melhor para meu bebê.

Sempre me esquecia que já não era aquela menina rica e


mimada, e que o dinheiro nesta casa não corria como água, como
era em minha antiga casa. Levaria tempo para me acostumar que já
não tinha o dinheiro de papai para desperdiçar. Só que desejei
apressar o passo e cuidar de mim mesma, porque odiava ver como
Reese assumia a culpa por minhas compulsões esbanjadoras.

Abri a boca para defendê-la, mas ela me calou com um rápido


olhar ameaçador. Prometi antes de me mudar que jamais
interferiria em nenhuma briga entre ela e seu namorado, promessa
que não tinha sido difícil de manter até agora, porque no geral,
Reese e Mason eram extremamente felizes juntos. Não parecia
normal que raramente brigassem.

Por isso, confiava menos em Mason do que qualquer outra


pessoa. Assim como meu pai, ele poderia mostrar uma boa
máscara. Poderia sorrir e bater seus cílios de rapaz bonito, e todos
o adorariam. Em público, não cometia nenhum engano. Até mesmo
Reese o adorava como se ele fosse um santo.

Mas sabia que dentro dele havia um bastardo escondido,


afinal, tinha um pênis, portanto era inevitável. E desde que era tão
bom em esconder seu interior podre, eu era mais cautelosa com ele.
Ele foi um completo cavalheiro comigo, em uma noite de festa
há um ano, quando tentei transar com ele.... Muito antes que Reese
o conhecesse, é claro.

Ouvi os rumores, que diziam que era um gigolô, que fazia sexo
com as mulheres por dinheiro. Isso fez com que se destacasse em
meu radar como um candidato para me tirar da miséria em que
estava. Mas então me dispensou de modo malditamente agradável.
Ele me disse que estava muito bêbada, e até se ofereceu para me
levar em casa. Aí foi quando soube que ele era pior que a maioria
deles. Não passava de outro Bradshaw Mercer, um bastardo
escondido sob a máscara de um cavalheiro.

Já vivia com Reese e Mason há três meses. E todas as noites


ficava acordada até tarde, esperando pelo inevitável momento em
que Mason entraria no meu quarto e viria com mãos bobas, assim
como meu pai. Até mesmo empilhei latas de refrigerante vazias
atrás de minha porta, para que quando fosse aberta, fizesse muito
barulho e acordasse Reese. Assim ela o pegaria no ato e chutaria
seu traseiro bastardo de uma vez.

Mas ele jamais tentou algo contra mim.

Após esse tempo morando no mesmo apartamento que ele,


sem que tentasse uma maldita coisa, começava a me questionar se
talvez, apenas talvez, existissem bons rapazes no mundo, apesar de
tudo.

Até que chegou esta noite. Quando Mason abriu a fatura do


cartão de crédito, enlouqueceu completamente, e agora estava a
ponto de revelar seu lado idiota. Uma vez que o fizesse, tudo estaria
bem no mundo outra vez. Provaria minha teoria inicial: todos os
homens eram bastardos.
— Sinto muito — disse Reese, olhando-o com tristeza. —
Podemos devolvê-lo, prometo. Eu só me empolguei. Queria que seu
bebê tivesse de tudo e fosse muito mimado.

Essa era outra razão pela qual tanto amava Reese. Ela já
adorava minha garotinha tanto quanto eu.

— Mas não é o nosso bebê — murmurou Mason. — É dela. —


Lançou-me um olhar de desprezo e podia sentir o quanto lhe
incomodava me ter aqui.

Nunca saberia como Reese o convenceu a me deixar mudar


para seu apartamento duplex de dois quartos. Ele nunca me fez
sentir bem-vinda, embora não o culpasse. Invadi completamente
sua privacidade e arruinei seu “felizes para sempre”. Se fosse eu no
lugar dele, também estaria chateada, iria me ignorar sempre que
possível, e quando não fosse me trataria com desdém.

Mas tudo bem, ele podia me odiar o quanto quisesse. Mas não
o permitiria tratar Reese com nada menos que adoração absoluta.

Só que eu não gostava de como essa conversa estava indo.

— Deveria ser ela a se preocupar com essa droga. Já lhe


damos um teto, cobrimos suas necessidades, comida, tudo, sem ao
menos podermos nos dar a esse luxo.

— Sim. Eu sei. — Reese começou a torcer suas mãos. Ver


como apaziguadora estava sendo me irritava. — Talvez eu possa....
Encontrarei um trabalho. Algo que pague.

Ela já cuidava da irmã de Mason nos intervalos de seus cursos


da universidade, mas desde que começaram a namorar e ela se
mudou da Flórida para cá, jamais cobrou por cuidar de Sarah.
— Não — murmurou Mason com um grunhido zangado
enquanto se afastou esfregando as mãos sobre seu rosto. — Seu
tempo já está todo ocupado. Não quero que nada mais interfira em
sua faculdade.

Ooh, aí está, tentando parecer um bom rapaz, fingindo querer


o melhor para Reese. Bastardo. Determinada a deixar cair sua
máscara não resisti e disse — bom, acho que eu poderia encontrar
um trabalho. — Abri os braços, para mostrar minha grande barriga.
— O que eu poderia fazer? Se seguisse seu caminho e me vendesse
nas ruas, será que alguém pagaria uma hora para ficar comigo
nesse estado?

Sabia que isso era golpe baixo, certamente atingiria meu


objetivo. Mas minhas palavras foram completamente
desnecessárias. Outra regra que Reese impôs antes de me deixar
viver com eles era que jamais mencionasse o que ele fez antes de se
mudar para cá. Mas queria levá-lo ao limite, para que minha prima
visse o bastardo que ele realmente era.

Percebi meu engano muito tarde, no momento em que Reese


ofegou e pôs as mãos sobre sua boca.

Mason me olhou tão intensamente que prendi a respiração


esperando que finalmente ele perdesse a compostura. Meu cérebro
analisou a cozinha, imaginando que tipo de objeto usaria para me
defender caso ele ficasse violento. Seu cenho franzido me disse o
quanto queria torcer meu pescoço.

Mas em vez de dizer ou fazer qualquer coisa, ele se afastou.


Com os ombros rígidos e mãos em punhos, saiu da cozinha
passando pela sala de estar e abriu a porta da frente do
apartamento.
Reese pulou de seu assento. — Mason?

Ele parou como se o tremor em sua voz assustada o


mantivesse preso, mas não se virou. Levantando uma mão sobre
seu ombro, disse:

— Tenho que ir. — Em seguida, fugiu do apartamento sem


nem sequer bater à porta atrás dele.

Reese e eu ficamos boquiabertas encarando a porta. Bom, sem


dúvida não esperava essa reação. Empurrei-o acima do limite,
esperando que deixasse cair sua máscara, mas ele escolheu sair em
vez de responder.

Droga. Isso não era bom. Sem dúvidas, um bastardo teria


respondido. Por que não gritou comigo? Por que não me chamou de
cadela? Ou me atacou ou me expulsou?

Não era bom.

Reese se virou para mim com os olhos arregalados. Dei um


passo para trás. Oh, porra. Ela estava mais que irritada.

— Por que você fez isso? — Gritou. — Eu te avisei para nunca


mencionar algo que tivesse a ver com isso!!! Sabe o quanto o
incomoda!

Envolvi os braços protetoramente em minha barriga, apesar de


saber que Reese não faria nada para machucar meu bebê.
Simplesmente por instinto. Os velhos hábitos demoram a morrer.

— Ele... estava sendo um idiota com você.

— Não, não estava. Ele estava louco pela fatura do cartão de


crédito... E por uma boa razão. O dinheiro é assunto delicado para
ele.
Eu já sabia disso. Reese me contou meses atrás porque Mason
começou a se prostituir, sempre preocupado com a segurança de
sua família e como sua chefe o chantageou para que dormissem
juntos.

Da forma que falava, parecia tudo muito heroico, fazendo-o


parecer um ótimo rapaz. Mas eu estava tão presa em minha teoria
de que dentro de cada homem havia um egoísta, desonesto e
canalha que não podia aceitar que ele fosse diferente.

Mas agora que ele não descontou sua raiva em mim, eu estava
confusa.

— Nunca deveria ter comprado esse estúpido trocador. Droga,


nem sequer temos as fraldas. Como usaríamos o trocador sem
fraldas?

Minha garganta queimava enquanto a via chateada. Não era


sua culpa. Era minha. Cada assunto estressante para ela nos
últimos meses era minha culpa, porque eu estava aqui, invadindo
sua vida, seu espaço, incomodando a ela e a seu namorado.

Mas precisei colocar minha culpa de lado, porque deixá-la e


me virar por conta própria me assustava muito.

— Não posso acreditar que ele saiu — eu disse, ainda


surpresa.

— Eu muito menos. — Reese levantou seu rosto e me fuzilou


com um olhar estranho, como se tivesse uma nova ideia, e logo
empalideceu. — Oh, Deus! E se.... e se ele não voltar?

Comecei a negar com a cabeça. Impossível. Mason era tão


louco por Reese como ela era por ele. Bastardo ou não, nunca a
deixaria. Mas hoje foi um ponto de ruptura para ele. Talvez não a
perdoasse por me deixar viver com eles. E se, por mim, desistisse
dela?

Reese deve ter visto a preocupação em meu rosto, pois gemeu


e se afundou na cadeira, cobrindo a boca com as mãos.

— Ree Ree? — Dei um passo em sua direção com os braços


abertos. — Sinto muito. Realmente sinto.

Não era comum me desculpar, mas por Reese faria isso. Ela
era a única pessoa na Terra, além da menina crescendo em meu
ventre, a quem eu amava.

Mas ela ergueu a mão, afastando-me.

Olhei-a, impotente, enquanto as lágrimas caiam por seu rosto.

— Apenas me deixe sozinha.

Respeitando seu desejo, fui para a porta de onde vi sua briga


com Mason. Mas não era suficiente para ela.

— Saia! Saia daqui!! — Gritou.

Saí da cozinha e pressionei minhas costas na parede assim


que sai de sua vista. Então deslizei até que estava sentada e a
escutei chorar sozinha. Abraçando-me, fiquei sentada ali, sentindo-
me como um lixo e acariciando minha barriga para meu próprio
consolo.

Reese fez muito por mim, jamais deveria ter ido contra suas
regras.

Por outro lado, provavelmente não estaríamos nesta situação


se ela não tivesse ido à Flórida.

Eu tinha tudo planejado. Algumas de minhas coisas estavam


empacotadas, escondi dinheiro e meu plano de fuga estava pronto.
Logo que me formasse deixaria Bradshaw e Madeline Mercer para
sempre. Seria livre.

Mas então Reese se meteu em problemas. Seu antigo


namorado perdedor, outro bastardo, é claro, ameaçou-a e ela
precisava de um lugar seguro até que tudo terminasse e ele
finalmente fosse preso.

Quase morri de rir quando escutei. Lugar seguro? Aqui? Que


seja. Mas minha mãe já fez os planos com sua irmã, a mãe de
Reese, e Reese veio à casa de Mercer para ficar conosco, eu gostasse
ou não.

Odiei! Jamais queria a doce, inocente e super alegre, Reese,


perto do meu pai. De algum jeito convenci minha mãe para que ela
ficasse no apartamento sobre a garagem, ao menos assim não
ficaria sob o mesmo teto que ele. Tive que suspender meus planos
de partir. Eu era provavelmente a coisa mais insignificante entre ela
e Bradshaw Mercer, mas não a deixaria sozinha com aquele
monstro.

Assim, fiz minha matrícula na faculdade local com ela, assisti


aulas com ela, e continuei a namorar Alec, o imbecil egoísta com
que tive uma aventura no verão. Não foi planejado que ela
conhecesse Mason e se apaixonasse, também não planejei
engravidar de Alec. E com toda certeza não planejei levar um tiro do
ex-namorado louco de Reese, que finalmente a encontrou. Mas
passei por esse monte de merda que não planejei, tendo que crescer
e lidar com o que tenho.

Quando Reese voltou a Illinois e levou Mason junto, Alec


provou ser o típico bastardo e me abandonou, logo meus pais me
mandaram acabar com a pequena vergonha que criei com ele.
Mas isso não era algo que faria. Jamais pensei em ter filhos.
Nunca quis ser mãe. Estava muito ferrada para isso. Mas agora que
tinha essa bebê crescendo dentro de mim, nada mais importava que
cuidar dela. Jamais machucaria minha filha, minha pequenina e
completa inocente, que amaria e cuidaria acima de tudo. Recusava-
me a ser como meus pais. Daria minha vida por ela e garantiria que
nada de mau lhe acontecesse.

Neguei então o aborto que minha mãe e meu pai exigiam. Em


vez disso, corri para Reese, implorando que me levasse com ela. Era
muito ruim que gastei a maior parte do dinheiro que guardei para
minha fuga. Poderia tê-los ajudado financeiramente, mas não
estava acostumada a economizar, então não tinha nada.

Sentada no chão do apartamento, escutando Reese chorar,


perguntei-me por que não saia agora. Parecia que sempre que
tentava ajudá-la, só piorava toda a situação e a machucava mais.
Não estava acostumada a pensar em alguém além de mim. Sempre
estive muito concentrada em criar uma máscara para que ninguém
conhecesse meus segredos, mas agora que me preocupava com
alguém além de mim, agia como uma completa idiota.

Não sei por quanto tempo me sentei ali, escutando-a chorar


pelo problema que causei, fiquei muito mal. Minhas mãos tremiam
enquanto esfregava círculos sobre minha barriga um pouco mais
rápido. Minha garganta estava tão seca que queimava.

Quando a porta principal se abriu pulei rápido, surpresa,


fazendo com que meu bebê também começasse a saltar.

— Reese? — A preocupação na voz de Mason era evidente


enquanto fechava a porta. — O que houve?
Deslizei pelo chão o suficiente para enxergar a cozinha. Mason
se ajoelhou em frente a Reese, segurou as mãos dela, pressionando-
as contra sua boca.

Lágrimas caíram de seus olhos.

— Como assim o que houve? Você... você me deixou!

O ar saiu de seus pulmões e sua boca se abriu, negando com


a cabeça disse firmemente

— Não. Não te deixei. Nunca vou te deixar. Cristo, Reese. Sinto


muito. — Ele pegou-a nos braços e puxou para seu colo para que
pudesse embalá-la. Ela se aconchegou e afundou seu rosto em seu
ombro enquanto ele beijava seu cabelo.

— Não queria te chatear. Eu só... estava tão zangado que não


podia nem enxergar direito. Se ficasse mais um segundo, teria dito
algo a ela, e sei que não gostaria. Só tentei não te machucar.

Ela concordou com a cabeça, mas não olhou para cima


enquanto soluçava.

— Não sabia... não sabia se voltaria.

— Amorzinho. — Puxou-a mais perto e pressionou sua


bochecha contra sua têmpora. — Nunca te deixaria — repetiu. —
Claro que voltaria. Sempre voltarei. Querida, só precisava me
acalmar. Eu te amo, Reese. Você é tudo para mim. Sinto muito.

— Não me deixe assim outra vez.

— Prometo. — Beijou sua testa, depois seu rosto até a boca. —


Prometo. Nunca mais.

Eu me afastei para lhes dar privacidade, mas também porque


era muito doce, muito difícil para alguém que não era acostumada
assistir. Fechando os olhos, pressionei minha cabeça contra a
parede enquanto escutava se beijarem.

— Quando ela disse aquilo...

— Eu sei — murmurou Reese. — Sinto muito. Eu...

— Não. Você não fez nada errado. E nem Eva, na verdade.

Meus olhos se abriram. O que ele disse? É claro que o que fiz
não foi certo. Fui o motivo de toda briga.

— Quer dizer, ela não disse nada que todos não estivéssemos
pensando, certo? Porque Mason não volta a fazer o que fazia antes?
Assim não teríamos problemas com dinheiro.

Espera, não disse isso. Na verdade, nunca sequer pensei, por


que assumiu que sugeriria algo assim? Droga. Provavelmente
porque eu era eu, e normalmente diria algo para ferir o outro antes
que me ferisse.

Ele parecia tão desesperado e triste que coloquei minha mão


em minha boca e a mordi com toda força. Maldição, só estava
tentando mostrar seu lado idiota. Não tinha realmente a intenção
de feri-lo.

— Jamais pensei isso — disse Reese. — Meu Deus, Mason!


Você... você realmente considerou?

— Não — murmurou. — Nunca faria isso com você, mas já


passou pela minha cabeça. Talvez solucionasse todos os nossos
problemas em uma noite. Poderia cuidar de você e.... e parece que é
a única coisa que sou bom. Sou péssimo como garçom. Se não me
derem mais horas no clube, terei que procurar outro trabalho, mas
o único com pagamento melhor é....
— Pare — ordenou Reese, sua voz suave, mas firme. — Pare de
pensar nisso. Agora. Há muito mais no que é bom, Mason Lowe. O
que aconteceu em Waterfod não te define. É um homem incrível e
maravilhoso, e me sinto muito sortuda por acordar todas as
manhãs em seus braços. Agora só admita que é fabuloso, porra.
Porque é! Gostaria que pudesse te ver como eu vejo. Essa cadela da
senhora Garrison te fez uma lavagem cerebral ao te fazer pensar
que só era bom para isso quando te violou e te forçou a ser algo que
odiava.

Meus olhos se arregalaram quando escutei as palavras de


Reese: “te violou e te forçou a ser algo que odiava”.

Prendi a respiração quando me dei conta. Ele foi violado pela


mulher que o chantageou a ter sexo com ela. E foi transformado em
algo que odiava por conta disso. Assim como eu. Éramos como duas
maçãs podres em um cesto. Bom, exceto que me tornei uma cadela
pretensiosa que agia como se fosse melhor que todos para poder
esconder meus segredos sujos e escuros, e ele continuou sendo um
ótimo homem. Mas, de qualquer forma, ambos sofremos um tipo
parecido de abuso.

As lágrimas agora escorriam por meu rosto. Droga! Mason


Lowe realmente não era um bastardo. Nem sequer sabia como lidar
com isso. Todos estes meses esperei que mostrasse seu lado
verdadeiro, e mostrava o tempo todo.

Na cozinha, o som dos beijos parou e Reese perguntou em voz


baixa:

— Quer que eu a mande embora?

Meu interior se apertou, e o medo queimou minha garganta


quando percebi que falavam de mim.
— O quê? — Mason perguntou soando assustado.

— Eva — sussurrou Reese, fazendo-me tremer. Ela fez. Todos


esses meses, nunca tomou partido. Tinha mais motivos para me
odiar que ninguém, entretanto, continuou sendo minha amiga e
enfrentou seu namorado para me ajudar. Mas agora... agora o
escolheu. Não a culpava, nem um pouco, mas ainda me abalou. Se
Reese e Mason me expulsassem, não sabia para onde iria ou o que
faria. Eu não era capaz para cuidar de mim. Nem saberia como
começar. E com uma bebê a caminho, não estava pronta para
iniciar essa tarefa. Perto de Reese era o único lugar que me sentia
segura.

Mas ela continuou falando. — Sei como se sente sobre ela.


Sempre soube. Mas me sentia tão culpada depois que meu louco e
perseguidor ex atirou nela que pensei que lhe devia algo. E você
sempre foi tão incrível sobre isso, apesar de saber que odiava a
ideia e provavelmente a odiava também. Sei de seus problemas,
mas é minha prima e.... Sério Mason, se tê-la aqui é muito para
você, vou pedir a ela que vá. Não vou te perder por causa dela.

Cobrindo minha boca para tampar o som de meu choro,


esperei com ansiedade que Mason decidisse meu futuro. Não o
culparia por me expulsar. Já tinham me mantido mais do que
esperava, mas ainda orava por misericórdia, que me desse mais
uma chance. Eu poderia ser uma pessoa melhor, sabia que sim.

Toquei minha barriga. Por este pequeno pacote, seria o que


fosse necessário.

— Você realmente a expulsaria? — Mason parecia atordoado.


— Por mim?
Reese riu antes de dar um beijo estalado. — Claro. Você
significa mais para mim que qualquer um.

Limpei as lágrimas de minha bochecha e respirei fundo.


Poderia sobreviver a isto. Aconteça o que acontecer, sobreviveria,
mesmo se isto significasse ter meu bebê na rua.

— Jesus, Reese — murmurou Mason. — Não jogue essa


decisão para mim. Sabe que não a quero aqui. Mas quero te fazer
feliz. E porra, para onde mais ela iria? Não disse que sua mãe a
abandonou?

— Sim, mas talvez minha irmã ou algum de meus amigos... —


calou-se como se percebesse que nenhuma dessas opções
funcionaria.

— Além do que, sem contar com esta noite, ela parece estar
melhorando — argumentou Mason, como se estivesse, na verdade,
defendendo-me. — Não.... Quero dizer, você me ensinou que todo
mundo merece uma segunda chance. Isso é o que mais amo em
você. O quanto malditamente indulgente você é.

Balancei a cabeça, concordando. Reese perdoava muito fácil.


Mas já tinha me perdoado por coisas que não merecia ser perdoada,
era algo que eu adorava nela.

Tentei segurar algumas lágrimas que escorriam por meu rosto,


mas percebi muito tarde que me ouviram. Antes que pudesse
levantar para fugir, Mason e Reese apareceram na porta.

Quando me viram no chão chorando, minha cara esquentou


de vergonha. Levantei a mão em forma de desculpa pelo meu
comportamento. — Sinto muito. Ignorem-me. Hormônios malucos.
— Oh, droga! — Reese se ajoelhou ao meu lado me abraçando.
— Quanto ouviu?

— Tudo — admiti, limpando minhas bochechas e abraçando-a


antes de me virar para Mason. — Sinto muito — disse. — Não digo
só para conseguir que me deixe ficar. Se quiser que eu vá, irei. Eu
te entendo totalmente, mas eu... realmente, sinto muito. Não
deveria ter dito aquelas coisas. Não te entendia. Não creio que tentei
te entender. Mas agora isso nunca acontecerá outra vez.

Ele fechou os olhos e suspirou, sua mandíbula estava


apertada antes que murmurasse — droga — e abaixou para nos dar
um abraço familiar.

— Está tudo bem — admitiu relutante, sem me olhar antes de


me soltar, tocando as costas de Reese como se precisasse de seu
apoio.

Ela sorriu para ele aprovando. Nesse momento, ele se tornou o


único homem que não considerei como mau. E pela primeira vez
desde que Reese e ele estavam juntos, tive realmente ciúmes dela.
Encontrou um diamante. Merecia mais que ninguém, mas parte de
mim ainda sentia inveja. Agora que sabia que existiam homens do
tipo bom, também queria um. Queria um cavalheiro branco para
ser meu herói.

Porra de fraqueza feminina. Eu não era forte. Não era nada.


Precisava de ajuda. Toda ajuda possível.

Limpando minha garganta, coloquei uma mecha de cabelo


atrás de minha orelha.

— Posso ir agora — ofereci. Era o mínimo que podia fazer. Não


tinha ideia para onde iria, porque Reese era a última pessoa com a
qual podia contar. Mas tinha que haver algum abrigo nesta cidade
em que poderia passar a noite. Não é?

— Não precisa ir — murmurou Mason. — Dissemos que te


ajudaríamos até que pudesse ficar por si mesma. E ajudaremos.

Mais lágrimas escorreram em meu rosto.

— Não sei quanto tempo vai demorar. Procurarei um trabalho


logo que o bebê nascer, e pagarei as faturas e....

Mason cobriu brevemente minha mão. O calor e a compaixão


em seus dedos me assustaram.

— Primeiro, cuide de sua filha. O resto virá em seu tempo.


Ajudaremos você.

Sua compaixão e disposição em me dar uma segunda chance


me transformaram em pó. Pela primeira vez em muitos anos,
finalmente me senti livre. Não tinha que me preocupar em ser
tocada por um homem em minha casa. Poderia apenas viver,
concentrar-me em meu bebê e começar o resto da minha vida. Só
que, agora que poderia realmente ser eu, sentia-me perdida.

Não tinha ideia de quem eu verdadeiramente era.


PICK

Sacrifiquei-me muito nos últimos anos para ajudar meus


amigos. Dividi meu próprio dinheiro suado para tirar as pessoas de
problemas. Passei frio todo o inverno para garantir que outros
tivessem casacos. Fiquei acordado toda a noite com um bebê, assim
alguém poderia ter um descanso antes que eu tivesse que trabalhar
no dia seguinte. Mas tive que admitir que nunca deixei o sexo por
ninguém antes.

Isso é exatamente o que estava a ponto de fazer.

Sentado fora do escritório do juiz no tribunal, bati meu dedo


do pé contra o chão enquanto Tristy e eu esperávamos que nos
chamassem. Ao meu lado, ela arranhava seu ombro. Fazia isso
quando estava nervosa. As drogas faziam com que ela tivesse
atitudes estranhas.

Com a esperança de que não começasse novamente com isso,


dei-lhe um olhar severo enquanto ela deixava cair a mão. Pensei
que fui cuidadoso, mantendo um olhar atento sobre ela. Disse que
esteve limpa pelos últimos seis meses. Mas sabia que não podia vê-
la o tempo todo, não quando trabalhava em dois empregos de
tempo integral e praticamente só ia em casa para dormir.

Encarando-me, franziu a testa.


— O que foi?

Sacudi a cabeça e me afastei. Garantiu-me que deixou as


drogas, assim escolhi acreditar. Mas era melhor não estragar isso,
porque estava sacrificando muito, incluindo minha vida sexual,
para ajudá-la.

Fechei os olhos e apoiei a cabeça na parede atrás de mim,


recordando-me a última vez que tive sexo de verdade. Minhas
lembranças poderiam ser minha maneira de dizer adeus a essa vida
pelos próximos meses, ou até mesmo... Droga, esperava que não
fossem anos.

Meus amigos no Forbidden, o bar em que trabalhava,


acreditavam que a cada noite me deitava com uma diferente. Apesar
disso ser bom, não era a verdade. Dez de cada dez vezes, não tocava
as garotas com quem me viam sair do bar, nada mais que um beijo
na bochecha ou um abraço, porque estavam bêbadas demais,
quando levava suas lindas bundas para casa. Nenhum homem de
verdade se aproveita de uma garota bêbada.

Nem sequer podia lembrar a última vez que estive dentro de


uma mulher.

Fazia tanto tempo que já nem lembrava com quem, assim, é


óbvio que minha mente buscou uma imagem que nunca esqueci. E
foi como se eu ainda tivesse quatorze anos, sustentado pela visão
da velha bruxa. Vi olhos azuis, depois, seu cabelo loiro, seu sorriso,
o toque de lavanda.

Um suspiro escapa de meus pulmões. Minha Sininho.

Mas pensar nela, quem quer que ela fosse, só me angustiava.


Se a senhora LeFrey estivesse viva, a procuraria para lhe rogar uma
praga. Fazia dez anos, e eu ainda sonhava com esses malditos
pensamentos. Dez anos e ainda queria que minha Sininho fosse
uma pessoa real para que pudesse encontrá-la. Dez malditos anos e
ainda pensava que meu felizes para sempre poderia realmente
acontecer.

Besteira do caralho.

Desejando que a senhora LeFrey estivesse queimando em um


enorme fogo no inferno, abri os olhos quando um pequeno gemido
veio do piso entre Tristy e eu. O bebê conforto começou a balançar
quando o bebê que estava dentro acordou, balançando seus braços
e pernas.

Tristy gemeu e olhou para o menino. — Deus... Porra. Acabou


de dormir. Por que não pode dormir ao menos dez minutos?

Franzi a testa antes de me inclinar para frente. — Pode deixar


que eu cuido. — Ela não tentou me deter quando empurrei a alça e
o tirei de lá. Quando ele me olhou e esperneou como estivesse feliz
em me ver, não pude parar de sorrir. — Olá, lutador. Teve uma boa
soneca?

Tristy bufou. — Como se fosse te responder.

Ignorei-a e me concentrei em embalar o menino de três meses


em meu peito. Ele segurou em minha camisa como se procurasse
algo de comer, o que era estranho já que Tristy nunca o
amamentou. Não tinha ideia de como o menino sabia que poderia
conseguir comida dali.

Ri e alisei seus cachos escuros. — Está com fome,


homenzinho?
Graças a Deus Tristy não me encheu de novo por lhe fazer
uma pergunta, quando me inclinei e busquei dentro da bolsa de
fraldas a mamadeira que coloquei ali antes que saísse do
apartamento. Eu provavelmente teria respondido com grosseria, e
os noivos não deveriam responder mal a suas noivas,
principalmente no dia do casamento.

Mas ela estava mal-humorada. Não tinha ideia do que a


deixou tão estressada. Talvez todas as mulheres passassem por
uma fase de mau humor antes de casar. Não é que fosse algo
convencional a respeito do papel que estávamos a ponto de assinar,
que nos uniria legalmente.

Com um bebê que precisava de cuidados médicos frequentes,


Tristy precisava de um seguro. Não conseguiu saúde gratuita, e já
que meu chefe na oficina em que trabalhava durante o dia me deu
um plano de saúde, um no qual podia incluir Tristy e seu
homenzinho se fôssemos marido e mulher, tive a ideia de me casar
com ela.

Sabia que era só no papel, não um casamento real. Tristy não


se importaria se eu me encontrasse com mais alguém. Mas isso não
parecia justo com ela.

Podia imaginar como seria: “Shh, querida, temos que manter


seu orgasmo silencioso. Não quero acordar minha esposa no quarto
ao lado. Ou seu filho”. Sim, isso definitivamente não aconteceria.

Além disso, perante a lei, o casamento era válido, assim decidi


ser celibatário até que ela organizasse sua vida e pudéssemos
anulá-lo de forma amigável. Era um mistério quando isso
aconteceria, mas esteve limpa e se cuidando desde que deu à luz.
Espero que em alguns meses ela já fique por sua conta.
Fora minha abstinência, o casamento não afetaria muito
minha vida. Já a deixei morar em minha casa desde que estava
grávida de três meses quando apareceu em minha porta chorando.
Assim, o que realmente mudaria era seu sobrenome, meu plano de
saúde, e sim... meu muito solitário pênis.

Tristy ficou grávida outras duas vezes. Ambas terminaram em


abortos espontâneos porque não esteve disposta o suficiente para
se manter limpa. Mas desta vez, cansei. Fiquei de olho nela como
um falcão, para mantê-la longe das drogas e tive poucos
contratempos. Surpreendentemente, a terceira vez foi um encanto.
Este bebê sobreviveu, e agora, estava com três meses.

Chamava-o de meu pequeno lutador.

Tinha que dar um apelido a ele, porque fiquei puto que Tristy
o chamou de Julian. Ela gostou desse nome desde que o tatuei em
meu peito anos atrás, bem ao lado de Skylar, Chloe e Sininho.
Embora, sinceramente, não sei por que me importava com o nome
que deu a seu filho. Eu nunca conheceria Sininho, assim nossos
três filhos jamais existiriam.

Se Tristy queria roubar o nome do meu bebê... que seja. Não


importava. Pelo menos, não queria me importar e talvez seja por
isso que incomodou tanto. E por que continuava pensando em
Sininho e nosso futuro inexistente juntos?

Provavelmente porque estava prestes a me casar, mesmo que


fosse um casamento de conveniência, e ela era a única que já
imaginei como minha esposa. Queria parar de pensar nela. Queria
parar de me sentir culpado, como se a traísse por ajudar uma
amiga. Queria... Droga, queria que ela atravessasse a porta agora
mesmo para que pudesse me dar o “felizes para sempre” e assim,
deixar essa porcaria de vida para trás.

Mas a única mulher que colocou a cabeça pela porta foi a


recepcionista, uma pequena senhora gordinha e grisalha, que disse
— Ryan?

— Somos nós. — Sorri ao me levantar, mantendo Julian que


mamava feliz, embalado em meus braços.

— Ah, — disse ela sorridente. — Não há nada mais lindo que


ver um belo rapaz cuidando de um bebê.

Dei a ela uma piscada de flerte, Tristy bufou e entrou na sala


do juiz.

Irritado porque ela não pegou o bebê conforto e a bolsa,


enquanto minhas mãos estavam ocupadas, cerrei os dentes.
“Obrigado, querida”, tive a tentação de dizer, mas me segurei.
Coloquei Julian de novo em seu assento e segurei a mamadeira em
sua boca para que continuasse mamando enquanto pendurei a
bolsa em meu ombro antes de pegar a alça da cadeirinha. Em
seguida, segui a pequena senhora à sala, onde Tristy e eu nos
casamos.

Acabou logo que começou. Depois, meu estômago revirou.


Desde aquela visão, ou seja, lá o que tenha sido, sempre pensei no
casamento como algo eterno, sagrado, com amor e “felizes para
sempre”.

Mas esse não foi nada disso.

Senti-me vazio e inquieto. Preso.

Tristy e eu nem sequer nos falamos enquanto voltávamos ao


apartamento antes que tivesse que ir trabalhar na oficina. Quando
o relógio marcou cinco em ponto, bati meu cartão e fui para casa
para encontrá-la sentada no sofá, digitando no notebook que lhe
dei. Um programa de entrevistas passava na televisão, enquanto
balançava Julian que estava agitado em sua cadeira de balanço.

Peguei-o e vi que sua fralda quase vazava de tão cheia que


estava. Depois de levá-lo a meu quarto e trocá-lo, coloquei-o em
meu quadril para ir à cozinha preparar um rápido jantar.

— Estou fazendo um sanduíche — disse sobre meu ombro.


Enquanto isso, Julian babava em toda minha camisa manchada de
graxa e batia feliz seus punhos gordinhos em meu peito. — Quer
um?

— Sim! — Gritou Tristy. — Sem mostarda desta vez.

Rolei os olhos, mas repeti para Julian com a voz brincalhona


de bebê. — Sem mostarda, escutou isso, lutador? Sua mãe vai nos
despedir se não fizermos certo.

Ele balbuciou em resposta, assim brinquei esfregando meu


nariz contra o dele até que ele sorriu e balançou seus braços.
Começou a sorrir há uma semana mais ou menos. Tristy garantiu
que não viu nenhum sorriso, apesar de eu ter lhe mostrado uma
foto. Tive que morder a língua para não dizer a ela que só veria se
olhasse para ele.

Depois de fazer os sanduíches, esquentei uma mamadeira


para o pequeno. Na sala de estar, Tristy pegou seu sanduíche e com
uma mordida devorou a metade, Julian e eu nos sentamos na
cadeira de balanço. Enquanto comíamos, observei Tristy digitar
furiosamente, fazendo uma pausa a cada poucos segundos para ler
algo na tela, depois mordiscava o sanduíche e voltava a digitar.
— O que está fazendo? — Perguntei, um pouco curioso. —
Escrevendo um livro?

Ela fez uma careta antes de voltar a digitar. — Estou falando


com alguém no Facebook.

Levantei as sobrancelhas. Não sabia que tinha criado um


perfil. Nunca tive tempo para ter um. — Com quem? — Falei,
perguntando-me quem mais do nosso bairro entrou nessa coisa.

Com outro olhar, murmurou — não é da sua conta.

Bem. Levantei as sobrancelhas, mas deixei para lá. Terminei


de comer e de amamentar Julian e levantei da cadeira suspirando.
Esse era o descanso que eu teria por hoje. — Trabalho no bar esta
noite — lembrei Tristy, colocando o bebê em sua cadeira de
balanço. — Vou tomar outro banho.

Ela gemeu e olhou seu filho com desgosto. — Não pode levá-lo
com você enquanto se arruma? Cuidei dele todo o maldito dia.

Apartei os dentes e cerrei minha mandíbula, mas aceitei seu


pedido com um tenso — Claro! — Pegando Julian levei-o e coloquei-
o em uma cadeira para bebês próximo a banheira para que pudesse
observá-lo enquanto tomava banho. Depois me sequei, barbeei e
penteei rapidamente enquanto falava tolices com o pequeno
lutador, contando quem entrou na oficina hoje e em quais carros
trabalhei.

Tristy poderia achar que era uma estupidez falar com alguém
que não entendia uma palavra, mas ele respondeu mais que
qualquer outra pessoa que vivia no apartamento, por isso continuei
falando. Além disso, era muito lindo para não falar com ele.
Observava minha boca quando eu falava como se cada palavra
fosse divina, e ele estivesse hipnotizado. Fazia me sentir importante.

Vesti meu uniforme da Forbidden, que na realidade, era


apenas uma camiseta preta com calças jeans azuis, verifiquei a
fralda do pequeno mais uma vez antes de voltar para a sala.

— Aqui está — disse a Tris. — Está limpo, alimentado e pronto


para dormir. — Tentei entregar o pequeno lutador em suas mãos,
mas ela me deu um olhar assassino. Então suspirei e o coloquei
novamente na cadeira de balanço. Aposto que ele odiava essa
maldita cadeira.

Não perderei a calma. Não perderei a calma. Não importa o


quanto ela descuide de seu próprio filho, não gritarei.

Isso tinha se tornado o meu mantra nos últimos meses.

Beijando o lutador na testa, desejei-lhe uma noite tranquila,


logo, despedi-me de minha esposa de seis horas, que permaneceu
sentada com as pernas cruzadas no mesmo lugar que esteve desde
que entrei pela porta, e saí para começar meu segundo emprego do
dia.

Como de costume, cheguei atrasado no trabalho.

— Vejam quem decidiu se unir a nós — disse meu colega de


trabalho, Noel Gamble, quando entrei. Ele e o novato, Mason, já
estavam atrás do bar, o que significava que tinha que atender as
mesas. Bom para mim. Ganhava mais gorjetas trabalhando lá,
sobretudo às quintas-feiras, quando era noite das mulheres. As
mulheres me amavam.

— Imaginei que sentiria muito minha falta se não aparecesse


— gritei ao Gamble. Enviando-lhe um beijo no ar, bati no meu peito
com as duas mãos e abri meus braços. — Então aqui estou eu,
baby. Só para você.

Ele bufou e balançou a cabeça. — Precisaria de seios maiores


para me interessar.

Rindo, virei para ver um completo desconhecido desastrado


tentando amarrar um avental ao redor de seus quadris, mas sem
sucesso, teve que começar de novo.

— Uau. Espere. — Tirei-o dele. — É assim.

Depois que lhe mostrei como amarrar corretamente, ele me


olhou e sorriu agradecido. — Obrigado.

— Sem problemas. — Acenei antes de acrescentar — agora,


quem é você?

Não foi grosseira a pergunta. Quero dizer, sim, pode ter soado
um pouco bruto, mas, sobretudo me surpreendeu ver outro cara
trabalhando esta noite. Grato, mas surpreso.

O cara se afastou de mim, claramente intimidado, embora


fosse pelo menos quinze centímetros mais alto que eu e
praticamente o dobro de largura.

Talvez minhas tatuagens e vários piercings o assustaram.


Quem saberia?

— Uh... Sou Quinn. Quinn Hamilton. Esta é minha primeira


noite.

Concordei. — Ok. — Mordendo a lateral de meu lábio, estudei-


o dos pés à cabeça. — Então, onde Jessie te encontrou? Escondido
sob um banco na igreja? — Parecia um maldito menino do coro, seu
cabelo cheio de gel e seu rosto limpo e puro, como se acabasse de
sair de um confessionário para pagar todos os seus pecados.
Surpreendeu-me que Jessie, nossa chefe temporária, pudesse
encontrar um rapaz tão delicado como ele.

— Gamble o contratou — disse Ten, aparecendo ao lado de


Hamilton para alisar os ombros dele por trás. Tinha um círculo roxo
ao redor de um olho. Perguntei-me onde tinha conseguido esse olho
roxo, certamente jogando futebol. — Ele está na equipe conosco.

— Sério? — Um rapaz da universidade, imaginei. No entanto,


um jogador de futebol? Ten certamente estava tirando sarro. —
Parece uma maldita virgem. Inclusive se o tamanho para jogar bola
for algum indício.

Ten riu sozinho e bateu nos ombros de Hamilton de novo


quando o pobre novato virgem corou. — Não temos problema com
isso. O menino sabe como jogar. Ele pode lançar uma bola quase
tão bem como Gamble.

Cara, isso era certo. O menino não parecia ter idade suficiente
para trabalhar em um bar, mas tinha que ter ao menos vinte e um,
o que ainda me deixava como o mais velho. Mason, Gamble, Ten e
ao que parece, Hamilton, mal tinham vinte e um, enquanto eu fiz
vinte e quatro há alguns meses.

Na verdade, sentia-me décadas mais velho que os quatro


universitários com quem trabalhava.

Isso era bom. Estar com eles me fazia rir. Embora nunca me
juntasse a eles fora do trabalho, considerava-os meus amigos mais
próximos. E, no entanto, não me incomodei em contar a nenhum
deles que me casei hoje. Não parecia algo para me gabar.

Amarrando meu próprio avental, comecei a trabalhar. Mostrei


ao Hamilton como destrancar a porta para que as pessoas
entrassem. E realmente essa noite encheu. Mais lotado que de
costume, o lugar explodiu com barulho, música e pessoas.

Minhas gorjetas foram nas nuvens, e graças a Deus, Hamilton


trabalhou em uma pizzaria antes, por isso sabia atender mesas.

Notei certa disputa no bar quando Ten corria para pegar


alguns pedidos. Gamble lhe deu um olhar antes de ignorá-lo por
completo, e Ten teve que esperar até Mason estar livre para
conseguir suas bebidas. Ten e Gamble eram companheiros de
quarto, assim como também de futebol, por isso perguntei ao
Gamble — o casalzinho brigou ou o quê? — Droga, talvez fosse
Gamble que deixou Ten com o olho roxo.

Gamble apenas olhou seu companheiro de quarto antes de se


negar a me responder. Deixei para lá, mas os observei por um
tempo até que vi uma morena, que sabia que interessava a Gamble,
entrar no bar. Quando Ten a viu, virou-se na direção oposta.

Interessante. Perguntei-me se eles brigaram por ela.


Colocando meu nariz onde não era chamado, aproximei-me dela,
que havia acabado de pedir a Hamilton uma bebida. Vejam,
precisava de algo mais estimulante em minha vida que as conversas
com um menino de três meses. Assim, fui xeretar a vida de meus
colegas.

No início, pretendia tratá-la como a qualquer outro cliente. —


Olá, menina bonita. Posso te arranjar uma bebida? — Então, eu
olhei em seus olhos e desejei que minha cara de surpresa parecesse
genuína quando apontei para ela. — Espere, você esteve aqui há
poucas semanas flertando com Gamble, certo? Ele está trabalhando
no bar esta noite.
Levei-a até o bar e chamei a atenção de Gamble. Quando ele a
viu, seus olhos se iluminaram me dizendo que, se ele brigou com
Ten por ela, ele definitivamente ganhou a luta.

Era como ver uma novela. Ten evitou o bar enquanto ela
estava lá e Gamble decidiu que paquerá-la era um requisito do
trabalho. Já que ainda não conhecia Hamilton, aproximei-me de
Mason inclinando meu queixo para Gamble e sua mulher. — Então,
o que há com esses dois?

Esperava uma história entre Ten e Gamble, briga até a morte,


mas Lowe me surpreendeu quando disse — ela é sua professora de
literatura.

— Sério? — Coisinha linda como ela não se parecia com


nenhuma professora de literatura que vi antes. Mas então cerrei os
olhos. — Ele não está fazendo isso com ela para ter uma nota, não
é? — Não tinha paciência para os homens que usavam,
manipulavam, desrespeitavam ou, de algum jeito, feriam uma
mulher.

Mason só sorriu e negou com a cabeça. — Não que eu saiba.


Acredito que ele gosta dela de verdade.

— Humm. — Isso era bom, pelo menos. — Qual é o problema


com Ten, então? Ele também gosta dela?

— Não acredito nisso. — Mason recolheu uma fileira de copos


usados no balcão. — Acho que ele sabe mais a respeito de sua
relação do que deveria, e isso deixa Gamble nervoso. Grande
momento.
Conhecendo Ten e sua boca arrogante, imaginei que Lowe
tinha que estar certo. Ten, sem dúvida, disse algo bastante ofensivo
para irritar Gamble para que lhe desse um olho roxo.

Meus ombros caíram agora que sabia o que acontecia. Bom,


isso acabou por ser uma chatice no departamento de animação.

Entreguei minhas bebidas, e um par de garotas bêbadas


flertou comigo, convidando-me para suas casas. Reforcei o pacto de
celibato que fiz comigo mesmo e recusei. Mas então tive uma bonita
e gorda gorjeta logo antes de fechar, o que compensou o resto de
minha noite inútil.

Fechamos e tiramos todos, exceto a namorada-professora de


Gamble. Eu estava um pouco relutante em ir para casa, então levei
um tempo varrendo o piso. Tinha um mau pressentimento de que
encontraria Julian dormindo em sua cadeira de balanço, bem onde
o deixei antes de vir trabalhar. E não seria a primeira vez.

Sabia que Tristy tinha problemas em ser uma mãe de primeira


viagem, mas porra, algumas vezes desejava que o segurasse, ou o
distraísse ou trocasse sua maldita fralda mais de uma vez ao dia.

Eu tentava ser paciente e ajudá-la porque no momento que


dissesse algo que a irritasse, ela se perderia e, provavelmente, teria
uma recaída, voltando para as drogas e, em seguida, não sei o que.
Mas a cada maldito dia ficava mais difícil não colocar seu filho em
seu rosto e exigir que o amasse e o mimasse até estragá-lo.

Uma agitação no bar me tirou de meus pensamentos. Parei de


varrer para ver que outra garota entrou depois que fechamos. Ela
era um pouco velha, talvez em seus quarenta e poucos anos, e
parecia rica e fina. Sem dúvida, não era uma típica cliente
universitária.
O jeito que ela prestou atenção em Mason disse que ela não
estava aqui para se divertir, mas apenas para vê-lo.

— Bem, — ela suspirou — já que me força a falar diante de


seus amigos, então eu vou. Estou grávida. E você é o pai.

Eu estava a uns nove metros atrás dela, então não pude ver o
que revelava quando abriu seu casaco, mas assumi que era uma
barriga de grávida de tamanho decente pela maneira como a boca
de Mason se abriu enquanto a olhava horrorizado.

De repente, lamentei desejar que hoje acontecesse algo um


pouco mais emocionante porque não queria pensar em Lowe como
um trapaceiro. Ele falou sobre sua doce namorada, Reese, como se
fosse um cara fiel e dedicado. Gostei disso nele. Mas se afastou da
mulher, saiu de trás do bar, e foi pelo corredor até o banheiro em
um tipo culpado de transe. Ele sem dúvida fez sexo com ela.

Abandonando meu lugar, eu o segui abrindo a porta do


banheiro para ver se estava bem e com sorte descobrir que não
estava enganando a sua mulher. Talvez tudo isto fosse um grande
mal-entendido e.... Merda! Ele estava muito ocupado vomitando
para falar. Ouvi as ânsias de vômito do interior da cabine e me
virei.

O virgem abria a porta principal para que a mãe do bebê de


Mason fosse embora quando voltei para o salão.

— Bem, ele está vomitando — eu disse a Gamble, pensando


que o bastardo traidor do Lowe merecia isso. — A iminente
paternidade não deve cair bem nele.
A professora-namorada de Gamble fez um som como se
quisesse discordar de mim, mas se calou. Gam a olhou. — O que
foi?

Ela sacudiu a cabeça e lhe deu um sorriso tenso. — Nada.

Eles se olharam por uns segundos e tiveram uma espécie de


conversa silenciosa que apenas um casal em uma relação
comprometida poderia ter, o que me fez querer vomitar porque hoje
não era o dia em que queria me revestir do amor verdadeiro, almas
gêmeas e o maldito felizes para sempre.

Um celular junto à caixa registradora começou a tocar me


tirando de meus amargos pensamentos.

Ten inclinou o queixo para ele. — Será que é o telefone do


Lowe?

Todos no clube se entreolharam. Sabíamos que ia dar merda.


Nada no outro lado da linha poderia ser boas notícias.

Gamble, o líder de nosso grupinho alegre, caminhou para ele.


— É Reese.

Droga. — Esse é o nome da sua namorada.

Hamilton me olhou, depois para Gamble. — Deveríamos


atender por ele?

Bufando uma gargalhada, Gamble levantou as mãos. — E


dizer o quê? Sinto muito, mas seu homem não pode atender ao
telefone agora; acaba de descobrir que será pai do filho de outra
mulher.

Então, ninguém atendeu. Seu som parecia ecoar pelo meu


peito, dizendo com cada vibração que a mulher de Mason sabia
exatamente o que tinha acontecido.
Perguntava-me se ela estava violentamente louca ou tão mal
que seu espírito se sentia esmagado. Pobre garota. Queria chutar o
traseiro de Lowe por ela.

Quando o telefone parou de tocar, continuou pulsando em


minha cabeça fazendo me sentir culpado. Droga. Ela merecia saber
o que aconteceu.

Quando o telefone começou de novo, não pude aguentar. —


Tenho um pressentimento de que vai continuar tocando — disse a
Gamble. — Ela deve saber que algo aconteceu. — Se ele não
atendesse, eu o faria.

Ele me deu um olhar severo e, em seguida, olhou para sua


namorada para outra de suas conversas silenciosas.

Eu estava a ponto de pular e agarrar o maldito telefone


quando, por fim, Gamble agiu.

Mas assim que atendeu, o maldito Ten gritou — merda!


Realmente, você vai dizer a ela que uma velha acaba de vir aqui
reclamando que Lowe a engravidou?

Gamble enviou a Ten um olhar de morte e desligou o telefone


imediatamente.

— Idiota. — Bati na parte de trás da cabeça de Ten. — Ele já


tinha atendido, com certeza ela escutou tudo o que você disse.

— Oh... Porra! — Ten olhou para Gamble. — Minha culpa.

— Quer dizer, culpa de Lowe — Gamble murmurou. Beliscou a


ponta do seu nariz. — Droga.

Corri as mãos por meu cabelo. Isto terminaria mal. E só podia


imaginar uma única pessoa ferida: a namorada de Mason.
Quando Mason finalmente saiu do banheiro, eu estava
preparado para segurá-lo na parede pelo pescoço e exigir respostas.

Quando todos se viraram para ele, parando bruscamente, ele


disse com tom áspero — o que foi? — Em seguida, seu rosto ficou
branco como papel. — Jesus, ela não foi embora, não é?

— Hum... — Gamble se encolheu, culpado. — Não, ela foi,


mas... uh, nós talvez... acidentalmente, dissemos à sua namorada o
que aconteceu. — Quando Mason o encarou, Gamble pigarreou. —
Seu telefone tocou... E, em seguida, voltou a tocar. Eu apenas ia
informar que você saiu por um minuto, mas... sim... desculpe, cara.

Mason correu para seu telefone como um imbecil que ia


derramar todas as desculpas a sua confiante namorada. Mas logo
que disse “Reese?”, as portas principais se abriram.

— Deixe-me adivinhar — disse uma garota com cabelo preto


comprido ao entrar no Forbidden — a senhora Garrison acaba de
aparecer para anunciar que você fez um bebê nela.

Estava tão ocupado olhando boquiaberto à namorada do


Mason que não percebi que alguém veio com ela. E quando fiz, não
olhei imediatamente para a segunda pessoa porque estava muito
ocupado tentando prever a reação de Reese. Surpreendentemente,
não parecia tão chateada ou ferida como pensei. Parecia mais
resignada, como esperasse que isto acontecesse o tempo todo.

Pelo canto do olho, notei que a pessoa que a seguia tinha um


estômago enorme. Perguntando-me se a senhora grávida seguiu
Reese para dentro, levantei a cabeça para ver uma loira vestindo
uma camisa rosa brilhante com a Sininho da Disney nela, em vez
da velha de cabelo escuro. Comecei a olhar para o outro lado,
ignorando-a, quando voltei a olhar, estudando sua camisa.
Sininho?

Um estranho zumbido encheu minha cabeça e, de repente, eu


me senti cinco vezes menor. Levantando a cabeça do desenho da
fada em sua roupa, olhei seu rosto.

Oh, droga.

Atordoado, eu parecia uma maldita estátua, olhando para a


muito familiar visão que seguia a namorada de Mason até o bar. Por
um segundo, perguntei-me se estava delirando e vendo coisas. Não
tinha como esta mulher ser real. Mas então vi Ten olhando para ela.
Ele ergueu as sobrancelhas enquanto seu olhar foi até sua barriga.

Puta merda. Se ele também a via, então ela devia ser real.
Certo?

Congelei quando ela passou por mim sem sequer me olhar.


Quando o aroma de lavanda exalou dela, fiquei tonto pelo choque.

De maneira nenhuma. Isto não era possível.

Tentei sacudir a cabeça, tentei fazer com que minha visão


clareasse porque não poderia ver o que realmente via. Mas meus
olhos se encheram com cada detalhe da loira grávida.

Eu não estava enganado. Cada centímetro dela era tal como


me lembrava. Até mesmo seu aroma de lavanda.

A Sininho de minhas visões era real.


EVA

Ao mesmo tempo em que Mason trabalhava mais horas no


clube onde ele era barman e começou a ganhar um pouco mais, o
carro do Reese quebrou.

Aprendi rapidamente que as coisas nunca vinham com


facilidade nesta casa. Era tão diferente da residência Mercer, onde
nunca houve uma preocupação financeira. Mas isso era o que eu
mais adorava sobre viver aqui. Preferia me preocupar com dinheiro
em qualquer dia da semana do que com as coisas que me
preocuparam antes.

O mecânico para onde levaram a sucata sacudiu sua cabeça e


fez um preço astronômico para arrumá-lo. Então, Reese e Mason
começaram a ir a todo lugar compartilhando seu jipe.

Uma quinta-feira à noite, quando Reese queria ir às compras


enquanto Mason trabalhava, ela o deixou no clube Forbidden e
combinaram de buscá-lo ao fechar.

Era tarde quando chegou a hora de pegá-lo, e provavelmente


eu deveria estar dormindo, mas meu bebê esteve chutando e
fazendo pressão em minhas costelas pelas últimas duas horas.
Além disso, estava sofrendo de claustrofobia porque nas últimas
três semanas só saí do apartamento para exames médicos e idas ao
supermercado. Perguntei se poderia ir junto quando Reese fosse
pegá-lo. Disse que agradecia a companhia, que o passeio juntas
faria bem a nós duas. Além disso, ao final da noite, fiquei feliz em
estar lá para dar apoio moral.

Subi no jipe de Mason me sentindo estranha, como se


invadisse seu território. As coisas melhoraram entre nós; já não o
tratava com frieza e ele me dizia mais de três palavras seguidas,
mas agora que decidimos que não nos odiamos, não sabíamos como
tratar um ao outro. Sinceramente, não somos amigos, mas
tampouco inimigos, por isso apenas me sentia estranha em falar
com ele.

Mas Reese tinha uma maneira de acalmar as coisas. E aliviou


meus nervos de estar no jipe de Mason Lowe tentando adivinhar o
nome que, finalmente, escolhi para meu bebê.

— Gabriella? Esse é bonito.

Do assento do passageiro, eu sorri para ela e sacudi a cabeça.


— Nããão.

— Gabby não? Ok, então. — Ela parou no estacionamento do


outro lado da rua do bar e teve que frear de repente quando duas
garotas bêbadas caminharam bem em frente aos faróis.

Enquanto olhava uma pôr seus braços em volta da outra e


rirem juntas, apoiando-se fortemente entre si e cambaleando em
seus saltos altos, ocorreu-me que eu poderia ter sido uma delas. Se
não estivesse grávida, continuaria a ser um animal de festa até
hoje, desfrutando de cada noite e me embebedando, tentando
encontrar algo barulhento e movimentado para encher a lacuna que
era minha vida vazia.
Mas em vez disso, estava aqui sentada esfregando minha
barriga enorme, falando de nomes de bebê com minha melhor
amiga. O mais estranho de tudo foi que me senti grata por estar
aqui.

— Próximo — ela disse depois que as garotas passaram por


nós e Reese pôde, finalmente, dirigir de novo.

— Que tal Hayleigh? — Sugeriu. Gostava de passar pelo


alfabeto e dar um nome para cada letra.

Sorrindo, porque sabia que Isabella seria o seguinte, ela


sempre escolhia Isabella com o "I", apoiei a cabeça para trás e
fechei os olhos. — Você percebe que se não estivesse grávida agora,
possivelmente estaríamos falando de um lindo par de sapatos que
queria comprar, a festa seguinte que queria ir, ou estaria zombando
de alguma pessoa que não gostasse enquanto você a defenderia?

Reese fez um som na parte posterior de sua garganta


enquanto estacionava. — Que diferença faz alguns meses, né?

— Eu era tão superficial. — Fiquei envergonhada. Sua


calorosa mão cobriu a minha, que descansava em meu estômago.

— Não era superficial. Era...

Quando não conseguiu achar uma descrição gentil em cinco


segundos, abri os olhos e a olhei. Quando levantei minhas
sobrancelhas, com expectativa, ela corou e, em seguida, pigarreou
discretamente. — Tudo bem, pode ser que tenha sido um pouco,
apenas um pouquinho... egocêntrica. Mas isso foi... isso foi antes.
Agora sua vida tem sentido e substância e, ...

— Quero ser uma boa mãe — eu disse a interrompendo. —


Quero... apenas quero que ela seja feliz, e contente e orgulhosa de
quem é como pessoa. — Completamente diferente da maneira como
fui criada.

Reese deixou escapar um pequeno suspiro antes de acariciar


meus dedos e apertá-los. — Você vai. A maneira como já a colocou
acima de tudo, sei que será uma grande mãe. E acredito que ela
terá a sorte de ter....

Quando ela para de falar e olha paralisada para o para-brisa


dianteiro, eu me virei para olhá-lo também, mas não vi nada fora do
comum. Pela maneira como estacionamos, o jipe estava diante da
entrada principal do clube só que do outro lado da rua.

— O que foi? — Perguntei.

— Eu... — Ela negou com a cabeça. — Não. Devo estar


imaginando coisas. Não poderia ser ela. — Levando seu dedo
indicador à boca, começou a morder a unha. Já que nunca a vi
fazer isso, virei-me para o bar e tentei descobrir sobre o que ou
quem, ela estava falando.

Ia perguntar o que pensou ter visto, quando começou a


divagar para si mesma, o que era sem dúvida um de seus tiques
nervosos.

— Devo estar perdendo o juízo. Quero dizer, é de noite. As


sombras poderiam enganar meus olhos. E estamos do outro lado da
rua, muito longe para ter certeza de que era ela, e....

Não pude suportar um segundo mais de seu ataque de pânico.


— Oh, meu Deus, pare! Quem você acha que viu?

— Eu não... não estou... — Virou-se para mim com os olhos


arregalados e quase assustada. — Essa senhora que acaba de
entrar no clube, vestida com um sobretudo... Eu não sei, mas juro
por Deus, ela se parecia com... a senhora Garrison.

Eu pisquei e levou um segundo para reconhecer esse nome.


Quando me dei conta, arregalei meus olhos. — A senhora Garrison?
Quer dizer, a senhora Garrison do Mason?

Ela abriu a boca e a expressão dura em seu rosto me disse que


estava a um segundo de arranhar meu rosto. — Não volte a chamá-
la de qualquer coisa do Mason. Essa cadela não tem nenhum
direito sobre ele.

— Tudo bem. — Levantei as mãos em sinal de rendição e pedi


desculpas. — Sinto muito. Eu apenas... quis dizer, a senhora
Garrison, a.... a molestadora? — Quando os ombros de Reese
relaxaram por esse rótulo, eu franzi a testa. — Mas, o que ela
estaria fazendo aqui? A Flórida está a mais de mil quilômetros...

— O que acha que ela faz aqui? — Reese explodiu. — Ela está
perseguindo o meu homem. O que mais ela tem feito? Ela está
obcecada por ele. Certamente nunca vai deixá-lo em paz até que
alguém finalmente a pegue.

Com os olhos iluminados com um objetivo, ela agarrou minhas


mãos e as apertou com força.

— Oh, meu Deus. Vamos pegá-la. Juntas. Estamos em um


jipe grande. — Seus dedos apertaram mais forte os meus. —
Quando ela sair novamente, acelero e a atropelamos. Ops, um
completo acidente. O que pensava ao caminhar por uma rua
movimentada no meio da noite? E, em seguida... — Assentiu como
se visse a melhor parte da história. — Enquanto o carro está em
cima dela e o único que se vê são seus sapatos vermelhos Christian
Louboutin, digo para os roubarmos e corrermos.
Uau, o que era isto? A versão assassina do Mágico de Oz?
Embora a senhora Garrison merecesse isso por ter violentado o
Mason, não significava que o homicídio fosse uma boa opção.

Quando virei uma pessoa racional?

— Sim... — Eu disse lentamente antes de balançar a cabeça.


— Não, creio que deveríamos nos afastar de qualquer coisa que
envolva... assassinato.

— Assassinato? — Reese bufou. — Não seria assassinato.


Seria.... Estaríamos fazendo um favor à sociedade ao liberar esse
tipo de mal do mundo. Seria um serviço público.

Droga, isso começava a me assustar. — Mas você não tinha


certeza de que era ela, lembra? As sombras. O escuro. Estava do
outro lado da rua. Talvez fosse outra pessoa, querida.

Reese respirou fundo, acalmando-se, mas sem parar de olhar


para porta principal do Forbidden.

— Que tal adivinhar outro nome para o bebê? — Tentei de


repente, feliz por não ter lhe dito que nome decidi pôr em minha
menina; agora tinha algo para distraí-la. — Está na letra I, lembra-
se? Talvez pudesse pensar em algo diferente de Isabella.

— Idiota. — Disse entre dentes.

— O quê? Por que alguém nomearia seu filho de idiota?

— Não, eu sou a idiota. Tinha certeza de que mudarmos para


o outro lado do país a afastaria, e ele se livraria dela para sempre,
mas... Oh, Deus! Lá. — Apontou. — Lá está. — Ela cobriu a boca e
gemeu. — É ela. É realmente ela.

Nunca conheci realmente a senhora Garrison. Nunca vi.


Apenas ouvi as histórias de terror de Reese. A mulher era o
verdadeiro pesadelo do Mason. Quero dizer, um pesadelo vivo para
o Mason. Estava escuro e eu mal vi seu rosto. Mas ela tinha certo
ar que me lembrou do meu pai. Os molestadores eram todos
iguais... Predadores.

— Tem certeza? Mal posso vê-la. — Insisti tentando manter


Reese tranquila para que suas reações não me causassem um
ataque de pânico, porque ela estava me assustando muito.

— Sim. — Ela disse com determinação enquanto pegava as


chaves da ignição.

— Ouça. Não. — Estendi a mão e tomei a sua. — Isto não é.....


Não deve... — Maldição, não era boa nisto. Realmente precisávamos
de Mason aqui. Nunca vi minha prima desequilibrada antes, mas se
alguém podia fazê-la recuar, seria ele.

— Mason. — Eu engasguei quando tive uma ideia.

Reese me olhou atentamente. Bem, mesmo seu nome quebrou


sua névoa.

— O que tem ele?

— Ele está dentro. Se ela foi lá, provavelmente o viu, não é?


Então, você não quer ter certeza que ele está bem? — Agarrei seu
telefone do console central e o empurrei para ela. — Ligue para ele.

Ele tornaria isso melhor. Diria a ela que foi um engano, que
sua estupradora chantagista não estava em nenhuma parte perto
de Illinois e que tudo estava bem.

Ela deixou escapar um suspiro trêmulo, assentiu e discou seu


número.

— Coloque no viva voz — eu exigi começando a morder minhas


próprias unhas enquanto virava para observar a entrada do clube,
onde apareceu a bruxa malvada e, por sorte, desapareceu na
mesma esquina.

Reese colocou, assim escutei o toque do telefone. Quando foi


para o correio de voz, ela amaldiçoou e desligou.

Mordi um pouco mais forte a unha do polegar, perguntando-


me por que não tinha respondido. Mason sempre atendia o telefone
quando Reese chamava. Tudo era parte de como eram
asquerosamente adoráveis juntos.

— Ligue de novo — pedi.

Ela ligou e ligou outra vez. Minha bebê deve ter notado meu
crescente mal-estar porque ficou inquieta. Passei minhas mãos em
minha barriga, naturalmente, alisando a imagem da Sininho que
tinha na camiseta que eu usava.

Quando atenderam o telefone, Reese e eu nos sentamos mais


eretas e nós olhamos aliviadas. Até que uma voz abafada, como se
estivesse longe do receptor gritou — Droga! Realmente, vai dizer a
ela que uma velha acaba de vir alegando que está grávida de Lowe?

— Dizer o quê? — Reese gritou. Imediatamente, a linha ficou


muda.

— Oh, não. Não fizeram isso. — Reese voltou a ligar.

Não me surpreendeu que ninguém respondesse. Preocupada


por ela e até um pouco por Mason, tentei acalmá-la. — Talvez...
talvez se referisse...

Reese me olhou fixamente. Estremeci. Ela murmurou algumas


obscenidades antes de pegar seu telefone, empurrar e abrir a porta
do lado do motorista.
— Ree, Ree? — Gritei, sem saber como a seguraria se tentasse
matar alguém de verdade. Cambaleei para fora do jipe atrás dela,
rebolando pateticamente em um esforço de acompanhá-la. — O que
está fazendo, querida? — Tentei parecer calma.

Não ajudou.

— Vou encontrar meu maldito namorado e descobrir que porra


está acontecendo.

Oh, puta merda. Corri atrás dela. Seu telefone começou a


tocar assim que chegamos a calçada. Ela respondeu sem bater no
viva voz para me deixar escutar desta vez.

Enquanto empurrava as portas da entrada do bar, resmungou


— Deixe-me adivinhar. A senhora Garrison acaba de aparecer para
anunciar que fez um bebê nela.

Eu a segui para dentro, apenas para fazer uma pausa breve na


entrada. O lugar já estava fechado, vazio, exceto por cinco rapazes,
todos empregados porque usavam o mesmo tipo de camiseta preta
que Mason sempre vestia para trabalhar, e uma mulher. Eles se
reuniram em torno do bar na parte de trás.

Do outro lado do comprido balcão, Mason deixou cair o


telefone de sua orelha e soltou um longo suspiro. — Sim.
Praticamente. — Ele confessou parecendo mais perturbado do que
jamais vi.

A preocupação revirou meu estômago. Tinha acabado de


decidir que Mason não era o anticristo e agora isto? Segundo
Reese, se ele tivesse engravidado a senhora Garrison, não foi por
querer estar com ela. Mas mesmo assim, como Reese ficaria com ele
depois de saber que teria um filho com outra pessoa?
Ainda mais surpreendente, eu não queria que terminassem.

Era um pensamento tão desconcertante para mim, já que


passei os primeiros seis meses de sua relação tentando fazer
exatamente isso. Mas eles se amavam, eram bons um para o outro
e me deram a esperança de que um feliz para sempre existia. Ou
pelo menos até agora.

— Tenho a sensação de que não nos livraremos dela tão fácil.


— Reese disse enquanto corria para seu homem.

Eu ia hesitante atrás dela porque, sim, sentia-me totalmente


desconjuntada com sete meses de gravidez e basicamente usava
meu pijama — uma camiseta e calças de ioga cinza — enquanto
estava em um bar com um grupo de desconhecidos. Quero dizer,
claro, todos os rapazes no lugar eram sexys, mas mesmo assim,
eram desconhecidos.

— Estou dizendo, se uma estaca no coração não funciona,


deveríamos tentar cortar a cabeça dela.

Revirei os olhos e dei um sorriso suave. Somente Reese diria


isso.

Mason riu aliviado pela forma como sua namorada estava


levando tudo isto. Mas com a mesma rapidez ficou sério e balançou
a cabeça. — Sinto muito... muito mesmo.

Quando vi um sinal de lágrimas em seus olhos, tive que piscar


e olhar para longe porque nunca vi Mason perto de chorar. Era
difícil vê-lo assim. Ultimamente, não podia deixar que ninguém
chorasse sozinho. Eu me lamentava até mesmo com esses anúncios
de adoção de cães e não era uma amante deles.

Droga de hormônios de gravidez.


Muito tolerante, Reese deu de ombros. — Ei, se não houvesse
algum obstáculo em nosso caminho, não seríamos nós, não é? —
Mas ainda havia um tremor em sua voz, deixando-me saber que
estava tão assustada quanto Mason.

Entretanto, ele não parecia querer ser perdoado tão


facilmente. Levou as mãos à boca e sacudiu a cabeça. — Você não
deveria ter que lidar com isto. Não deveria...

— Acho que ela mentiu — eu disse, incapaz de vê-los passar


por esta tortura. Estava tão contra esta ideia que me recusava a
acreditar que isto pudesse acontecer com Reese.

Recuperando o fôlego depois de persegui-la pela rua, sentei em


um banquinho ao seu lado. Quando vi um prato de amendoins, os
desejos de gravidez me bateram violentamente.

Peguei-os, sem me importar que o sal fizesse meus tornozelos


incharem. Imaginando o gosto, minha boca aguou. Mas a
centímetros de pegar o maior punhado que pudesse, afastaram isso
de mim. Dedos quentes em volta do meu pulso me pararam
enquanto a outra mão puxou a tigela.

Ah! Meus amendoins! Esse delicioso, delicioso sal e....

Olhei para cima, pronta para brigar com quem afastava a


comida de uma garota grávida faminta. Mas os escuros olhos
castanhos do homem olhando para mim me pegaram totalmente
desprevenida.

Uau.

Ele era...

Nem sequer sabia como descrevê-lo. Uma descrição superficial


seria: tatuado e perfurado. Havia um aro de metal em sua
sobrancelha e duas no canto do seu lábio inferior. Suas tatuagens
espalhadas por ambos os braços, fazendo parecer que usava
mangas compridas no lugar de uma camisa de manga curta e um
desenho colorido ocupava o lado direito de seu pescoço.

Ele parecia ser um bad boy saído do lado feio da cidade. Mas
também havia algo de bom moço. Simplesmente não parecia o tipo
que não dá a mínima para a vida. Seus profundos olhos castanhos
mostravam muita compaixão e vivacidade.

Então ele piscou para mim, confirmando que ele não era o
típico anti-herói despreocupado. — Deixe-me te dar um lote novo,
Sininho. Quem sabe que tipo de dedos sujos estiveram aí toda a
noite.

Lindo. Meu pijama me custou um apelido estúpido. Ótimo.


Comecei a revirar os olhos, mas parei boquiaberta quando ele pulou
sobre o balcão.

Foi tão quente que posso ter babado um pouco.

Depois esvaziou o pote, pegou uma grande caixa e encheu


uma nova vasilha, só para mim. Quando passou os amendoins com
um leve sorriso, continuei olhando para ele com a mais absoluta
admiração.

Esse poderia ter sido o mais doce e atencioso gesto que


alguém fez por mim. Mas na verdade, quem era tão doce e atento
com um total estranho?

Muitos rapazes foram bons comigo quando queriam entrar em


minha calcinha, mas isso foi a sete meses de gravidez atrás. Ele
certamente sabia que não tinha chance de se dar bem comigo
agora, e por que ele ia querer se dar bem com uma garota grávida?
Talvez fosse um completo tarado.

Acho que agia decentemente porque eu estava grávida. As


pessoas sorriam e mantinham as portas abertas para mim muito
mais agora do que antes. Mesmo assim, estava impressionada quão
encantador, porém totalmente suspeito ele foi.

Ao nosso redor, a conversa continuava, mas não ouvi uma


palavra do que diziam. Estava muito ocupada presa em uma
competição de olhares com o Sr. Gentil. Ele me olhava com evidente
curiosidade e fazia que meus joelhos fraquejassem.

Escutei Mason descrever seus colegas de trabalho para Reese


quando começou e sabia de um menino chamado Gamble. Ele era o
quarterback famoso na universidade em que Reese e Mason
estudavam. E então havia alguém chamado Ten. Também algum
Bick, ou Rick, ou Dick, algo assim. Embora não mencionou um
quarto colega de trabalho.

O homem na minha frente não parece um quarterback. Não


diria que era magrelo, mas não tinha o corpo forte, comum a um
atleta desse nível. Seus músculos pareciam duros, magros, fortes e
ágeis. Portanto, provavelmente ele não era Gamble.

Mason se referiu a Ten como inquieto e tagarela. Este cara não


parecia se enquadrar nisso. Era muito descontraído.... Não sei,
amigável e aberto.

— Eu também acho que ela mentiu. — Disse a outra mulher


presente além de Reese e eu.

— Exatamente. — Virando-me para ela, fiz um gesto de


agradecimento por me apoiar. Colocando amendoins em minha
boca porque o Sr. Gentil continuava me olhando como se fosse
algum tipo de fantasma e fazendo meu estômago se mexer ainda
mais do que já estava, continuei. — Quer dizer, oi, ela teria que
estar de tanto tempo quanto eu, certo? — Quando olhei para Reese
para me certificar, ela assentiu. Certo. — A todo mundo que
precisei contar sobre meu bebê, eu disse há meses. Por que esperou
tanto tempo para deixar cair a bomba?

Reese se virou para Mason, seu corpo vibrava com esperança.


— Eva tem razão. E o que há sobre seu noivo? Como sabe que não é
dele?

Mason estremeceu como se não quisesse manter as


esperanças altas. — Talvez, ela levou um tempo para me encontrar.

— Sim, claro. — Reese bufou. — Você sabe, muito bem, que


essa cadela sabia cada passo que você deu desde que deixou
Waterford. Descobriu tudo o que havia para saber sobre mim em
menos de um mês. Não há como ter perdido o seu rastro.

— Então, espera, espera, espera. — Um dos outros garçons se


aproximou, acenando. — Lowe, você comeu outra mulher, talvez até
mesmo a engravidou e você... — fixou seu olhar em Reese — não se
aborrece?

Esse rapaz era definitivamente Ten, decidi.

— Oh, estou com raiva — Reese disse a ele, — mas não do


Mason. Além disso, este evento... particular aconteceu antes que
nós saíssemos. — Em seguida, ela pigarreou e abaixou seu rosto,
murmurando — tecnicamente.

Parecendo impotente, Mason passou a mão sobre seu cabelo


antes de se inclinar sobre o bar para beijá-la na testa. — Não posso
acreditar que isto esteja acontecendo. É a única pessoa com quem
quis, alguma vez, ter filhos. Jesus, Reese... — Ele fechou os olhos e
pressionou sua testa na dela. — Não podemos rebobinar tudo,
assim posso voltar e fazer isso direito da primeira vez?

De novo, tive que desviar o olhar. Sua tristeza era muito


intensa. Mas quando voltei minha atenção para frente, o Sr. Gentil
apanhou meu olhar e abriu a boca como se quisesse dizer algo para
me acalmar.

Sugada de novo para o jogo de olhares com ele, estudei seu


rosto um pouco mais. Ele era bonito não de forma convencional.
Seu rosto não era tão cheio quanto o dos outros. Parecia abatido
como se tivesse que perambular pelas ruas toda noite por comida,
mas isso combinava com ele. Os sulcos e linhas o deixavam mais
atraente, até mesmo mais sexy.

Todo o metal em seu rosto me fazia sentir saudades do aro em


meu nariz que tive por uns meses. Tiraram de mim quando levei
um tiro e tive que ficar no hospital. Eu só perfurei para irritar o
meu querido pai, mas gostei mais do que pensei.

Sem avisar, o Sr. Gentil se aproximou de mim e colocou seus


cotovelos no bar para poder se inclinar sobre o balcão e olhar
minha barriga.

— Você tem a barriga de grávida mais adorável que eu já vi. —


Ele murmurou como se respondesse a observação de outra pessoa.
Sua voz agitou algo em mim que ninguém despertou antes.

Balancei a cabeça me perguntando por que ele disse isso até


que a outra garota respondeu — e os peitos da outra mulher não
pareciam nem de perto tão inchados quanto os dela.
— Eu diria o mesmo — ele disse, levantando o olhar para
encontrar o meu. Não olhou para os meus seios, mas meus
mamilos queimaram e responderam como se tivesse.

Nunca me excitei tão facilmente. Na verdade, não tinha certeza


de que alguma vez me excitei. Geralmente, eu me desligava quando
deixava que um cara me fizesse isso. Se alguma vez correspondi a
algum deles em nossos encontros, ficava muito ocupada congelada
em meu lugar adormecido para lembrar de senti-lo. Mas sabia que
nunca senti este formigamento da cabeça aos pés só porque um
homem me olhou.

A estranha sensação me assustou.

— Porra, quem é você? — Eu exigi precisando de um pouco


mais de controle sobre o meu próprio corpo do que tinha.
EVA

O Sr. Gentil não parecia perturbado pela tensão em minha voz


quando mandei que me dissesse seu nome. Só sorriu e disse —
Pick1.

— Heim? Escolha o quê? Não vou escolher seu nome. — Que


porra?

— Não. — Seu sorriso aumentou, chegando a seus olhos e


fazendo que suas belas pupilas castanhas brilhassem. — Esse é
meu nome, Sininho. Pick, diminutivo para Patrick Jason Ryan.
Você gosta?

Se eu gosto? Este cara me deixou totalmente sem palavras.


Por que se importa se gosto da porra de seu apelido?

— De qualquer forma... — A mulher que eu ainda não sabia


quem era, deu-nos um olhar estranho e logo se virou para o grupo.
— Ela não tinha o rosto inchado como o dessa garota.

Ofeguei e cobri minhas bochechas, para que o sexy Pick não


pudesse ver o quanto inchada fiquei. Oh, meu Deus, quão terrível
estou? E por que Reese me deixou sair do apartamento assim?
Olhei para ela em busca de apoio. — Estou tão inchada assim?

— O quê? Não! Não, querida. Quase nada.

1
To Pick - verbo escolher, pick = escolha.
Oh, meu Deus! Quase nada estava tão longe de nada, que ela
pode muito bem ter me chamado de baleia. — Então estou?

Reese se atrapalhou por um momento antes de fazer uma


careta à outra mulher. Mas quando abriu a boca para me acalmar,
Mason a agarrou pelo braço. Seu rosto empalideceu enquanto
olhava algo por cima do ombro.

Olhei ao redor e vi outra pessoa entrando no clube, em um


longo casaco marrom.

Oh, droga. Minha melhor amiga seria presa por assassinato


esta noite.

— Alguém tem um machado à mão? — Grunhiu Reese,


afastando-se do balcão para encarar a senhora Garrison. — Porque
preciso cortar uma cadela.

— Cara. — Ten deu uma cotovelada no quinto garçom, que


poderia ou não ser Gamble. Porra, já não sabia quem era quem. —
Briga de garotas. Incrível.

Quando alcancei Reese para detê-la e não pude, Mason saltou


por cima do balcão, da mesma maneira que Pick fez para me buscar
mais amendoins. Ele teve mais sucesso que eu capturando Reese e
enroscou seu braço ao redor de sua cintura, para que não pudesse
atacar.

— Eu te disse para não voltar — ele resmungou à senhora


Garrison. — E deixei muito claro antes de sair da Flórida que não
queria nada com você de novo. Por que faz isto?

Ela o ignorou, sorrindo maliciosamente. — Reese, —


murmurou, balançando a cabeça em reconhecimento — passou
muito tempo da última vez que te vi.
— Eu sei, não é? — Respondeu Reese com a mesma falsa
brincadeira com a que ela zombou antes. — Minha mão já deixou
de doer pela última vez que te esbofeteei.

— Ohh! — Gritou Ten, golpeando a mão em seu joelho e


vaiando. — Quente.

A senhora Garrison estreitou os olhos. — Deve deixá-lo ir,


querida. Ele não faz parte daqui.

Tudo se tornou incrivelmente tenso depois. Mason e Reese


foram para cima da mulher, querendo que ela fosse embora e
dizendo que não acreditavam em uma palavra do que dizia. E a
senhora Garrison apenas escorria maldade enquanto abria seu
casaco, revelando seu estômago inchado.

— Se não estou grávida, então como explica isto?

— Oh, por favor. — Revirei os olhos e agitei a mão para ela. —


Essa é a barriga de grávida mais falsa que já vi.

Quando a senhora Garrison virou para mim com a cara


franzida, desci do banco e acariciei minha barriga. — Isto é real,
querida. Então, por que não para de incomodar o Mason ou a
minha prima Reese, e volta para sua casa na Flórida, e encontra
alguém novo para perseguir. Na verdade, procure por Madeline e
Shaw Mercer. Eles realmente merecem seu tipo de atenção.

Oh, eu adoraria ver os dois transgressores baterem de frente.


Na verdade, poderia ser uma nova classe de desafio para meu pai
mastigar a senhora Garrison e cuspi-la. Pode ser que leve uma hora
inteira para destruí-la.
Ela estreitou os olhos. — Devia ter adivinhado que era a prima
Mercer metida da Reese. Eva, não é? A que tentou prender Alec
Worthington em um casamento, ficando grávida...

— Ok, isso é suficiente — gritou Reese, e sou grata que


interveio porque só em ouvir o nome do Alec fiquei tensa e
desanimada. Mas que porra? Será que todo mundo acreditava que
engravidei de propósito para prendê-lo em um casamento? Que
nojo! De jeito nenhum eu queria viver com um idiota egoísta como
Alec Worthington. Não deixaria que esse homem voltasse para
minha vida, nem que viesse arrastando, implorando e oferecendo
dinheiro para que o perdoasse.

Enquanto ainda divagava, perguntando-me se era isso o que


todos os meus velhos amigos na Flórida pensavam de mim agora,
Reese, Mason e a senhora Garrison deram voltas e mais voltas, até
que a mulher, que logo soube que se chamava Dra. Kavanagh, tirou
um teste de gravidez de sua bolsa e disse à senhora Garrison que
fornecesse alguma prova física.

Uma vez que a molestadora finalmente concordou em fazer o


teste de gravidez, houve uma discussão sobre quem devia
acompanhá-la ao banheiro para fiscalizá-la. Quando tentei dizer
que ficaria feliz em escoltar a bruxa malvada, assim poderia ser a
primeira em rir em sua cara quando todas suas mentiras fossem
reveladas, Pick se inclinou sobre o balcão para agarrar meu
cotovelo, detendo-me.

— Eu não penso assim, Sininho. Se Mason não confia que sua


garota esteja a sós com essa mulher, então com certeza você não se
aproximará dela. Não em sua condição.
Pisquei, assustada e atordoada. Em minha condição? Sério,
quem esse cara pensa que é para agir assim possessivo sobre mim,
cuidando para que eu tivesse comida limpa e ficasse longe de
estupradoras malvadas? Ninguém jamais foi tão agradável sem
alguma razão. Fez-me pensar qual era seu real motivo. Puxei meu
cotovelo de sua mão, olhando-o.

Homens eram todos bastardos, e ele era o mais


definitivamente masculino.

Piscando rápido, ele me encarou. Estava obviamente


assustado com minha raiva. Talvez até um pouco magoado por ela.

Hesitei, em silêncio, debatendo se realmente tinha o direito de


estar zangada com ele. Vamos ver. Ele me agarrou, duas vezes, e
tomou decisões por mim como se me possuísse. Humm, fosse meu
dono?

Eva Mercer não era propriedade de ninguém, assim ficaria


irritada com ele por tentar.

O problema era que não estava tão incomodada assim. Não


podia pensar nele como um pervertido, porque tudo o que fez foi ser
atencioso e protetor. Até seu olhar foi curioso e indagador, como se
tentasse me reconhecer de algum lugar, ou como se quisesse que
eu o reconhecesse. Certamente não foi assustador e malicioso como
se estivesse me despindo. Não que alguém queira despir
visualmente uma garota grávida e inchada enquanto ela usa um
pijama da Sininho. Mas havia todo tipo de gente estranha por aí.
Isso eu sabia muito bem.

Francamente, não queria ninguém me observando, como


parecia ser o caso, então olhei para longe dele, apesar de estar
muito consciente de cada movimento que fazia. De cada vez que
respirava. De tudo... Deus, minha reação a ele era tão poderosa que
chegava a ser irritante.

A senhora Garrison seguiu a Dra. Kavanagh e a quem,


conforme me dava conta era Gamble, para os banheiros e só alguns
minutos depois, ela irrompeu na área do balcão onde estávamos.
Sem olhar a ninguém nem dizer nada, dirigiu-se para a saída e se
foi.

— Oh, já vai? — Brincou Reese. — Sinto muito ouvir que não


está grávida, depois de tudo, maldita cadela mentirosa!

A porta principal se fechou de repente, e o garçom sem nome


correu atrás dela para trancar as portas.

Mason e Reese se abraçaram, murmurando entre eles.


Aliviada de que este momento com a transgressora terminou,
esfreguei minha barriga, perguntando-me por que algumas pessoas
mentem como a senhora Garrison fez. Quero dizer, sabia por que eu
mesma tinha mentido, fingido e dito coisas que nem sequer era
minha intenção. Tinha segredos sujos e escuros que não queria que
ninguém descobrisse. Mas isto...

Comecei a me perguntar que tipo de infância teve a senhora


Garrison, o que a deixou assim. Então parei, porque eu não queria
saber o que a tornou uma estupradora sociopata. Já que Reese e
Mason tenham acabado com ela para sempre, não queria pensar
nela novamente.

Reese voltou correndo pelo corredor para agradecer a Dra.


Kavanagh por ajudá-la a se livrar da senhora Garrison. Quando
Mason, que ainda parecia agitado, desabou para frente, colocou sua
cabeça entre as mãos e descansou os cotovelos no balcão, abri a
boca para lhe perguntar se estava bem. Então decidi não o fazer,
lembrando que não somos tão amigos assim.

— Então... de quantos meses você está?

Pulei no momento que Pick me fez essa pergunta. Ele


permaneceu do outro lado do balcão, olhando-me atentamente.

— Olhe, — respirei — não sei o que você está fazendo, mas


tem que parar.

Ele abriu a boca, mas a fechou e sacudiu a cabeça. —


Exatamente o que tenho que parar?

— Só digo. Não sei. Mas pare, ok?

Em vez de se irritar, sorriu. — Você, não sabe o que estou


fazendo que, obviamente, está te irritando, e eu não tenho ideia,
mas definitivamente tenho que parar?

Franzi o cenho, porque quando ele disse isso, fez com que eu
soasse como uma completa idiota. — Ok, tudo bem. Você me tocou.
Duas vezes. Isso não é legal. Então me disse que não podia comer e
onde não podia ir como se fosse meu dono. O que definitivamente
não é. E agora tenta ter essa conversa educada como se fôssemos
amigos. Não te conheço. Nunca te vi na vida. Não somos amigos.

— E., — disse Mason, sua voz soava como a do dono de um


cão, ordenando a sua mascote que se sentasse — deixe-o em paz.
Ele sempre é protetor com as mulheres. Está tudo bem.

— Oh. — Recuei e a culpa se infiltrava por cada um de meus


poros. Deus, aqui vou eu de novo, assumindo automaticamente que
cada homem vivo era um filho de puta. Sério, precisava deixar isso
e começar a dar às pessoas o benefício da dúvida. Eva má.
— Desculpe — murmurei, abaixando o queixo e colocando
uma mecha de cabelo atrás da orelha porque me desculpar era
ainda novo para mim. — Acho que se Mason disse que está bem,
está bem.

Com o cenho franzido, Pick abriu a boca para responder, mas


Mason deu uma risada. — Uau. Não posso acreditar que acabei de
ouvir essas palavras saindo da boca de Eva Mercer.

Virei-me para lhe dizer que ao menos tentava mudar, mas me


distraí quando o vi pálido e irritado, ainda caído contra o balcão,
segurando a cabeça. — Você está bem? — Agarrei-o pelo cotovelo e
o levei a um banco. — Parece como se fosse desmaiar.

— Sim, Mason. — Pick pegou um copo da parte de trás do


balcão e o encheu de água. — Por que não se senta? — Deslizou a
água diante de Mason. — Toma. Bebe algo.

Mason se sentou, mas não se moveu para pegar o copo, então


peguei e tentei ajudá-lo... ao que ele me deu um olhar irritado. —
Sério? — Agarrou o copo de minha mão e bebeu.

Confusa por sua irritação, olhei para Pick, que fez uma careta
e sacudiu a cabeça. — Mau movimento, Sininho. Não tire a
masculinidade do pobre ajudando-o a beber.

Ergui as mãos. — Só queria ajudar.

Diversão passava em seu rosto. Ele se inclinou sobre o balcão


para falar em um tom mais tranquilo — eu sei, e você sabe. Mas
Mason... — negou com a cabeça... — ele não sabia disso.

Estava tão perto dele que pude ver um arranhão no piercing


de prata em sua sobrancelha. Estudei-o um momento antes que
minha atenção vagasse a outras características. Mas quando
cheguei ao fundo castanho chocolate de seus olhos, surpreendeu-
me perceber que ele também me analisava.

Limpei minha garganta. — Sim. — Recuando para não ficar


tão perto, olhei para Mason, mas ele parecia perdido em seus
próprios pensamentos. — Desculpe de novo por ser uma completa
cadela, não conheci muitos caras que não fossem uns filhos da
puta. Então, desconfio muito de todos.

— Você foi ferida algumas vezes, não? — Seu tom era


simpático.

Minha garganta ficou muito seca para responder, então fiquei


quieta.

— Bem, se isso é o pior que você pode ser não estou


assustado. Sem dúvida conheci piores.

Suspirei, encarando-o sem querer. — Tenho sérias dúvidas


disso, mas obrigado por tentar me animar.

— Não, é verdade. — Sorrindo, sacudiu a cabeça. — Falo sério.


Tenho uma amiga que fica no modo cadela constantemente. — Ele
revirou os olhos. — Foi violentada mais de uma vez quando era
jovem, por isso construiu esta atitude de merda onde degrada a
todos ao seu redor. Isso se tornou um escudo seguro que a esconde,
assim ninguém pode ver seu verdadeiro eu e saber quão destruída
se sente.

Por um momento, olhei-o, incapaz de me mover, ou respirar,


ou até reagir. Todas as sensações abandonaram minhas
extremidades e o medo me cobriu como um manto frio. Foi a coisa
mais estranha, mas podia sentir como a cor abandonava meu rosto.
Fiquei boquiaberta me perguntando como Pick Ryan acabou de
descrever perfeitamente toda minha vida.

Exposta, incapaz de me esconder e me sentindo como um


coelho assustado que não tem aonde correr, meus batimentos do
coração vibrava em meu peito. Cambaleei para longe dele.

E vi o momento em que percebeu o que fez. O sorriso


desapareceu de seus lábios e seus olhos se arregalaram com o
choque. — Não — sussurrou como se estivesse absolutamente
horrorizado.

Meu Deus. Isto era terrível. Nunca ninguém imaginou isso. E


além de meus pais, ninguém sabia. Como podia saber... depois de
menos de cinco minutos de conversa...? Não. Não era possível que
pudesse arrancar isso de meu cérebro do nada.

Mas, puta merda. Ele o fez. E ele sabia.

— Sininho? — Seus dedos patinaram pelo balcão, vindo para


mim. Tentei tirar minha mão, mas ele pegou meu pulso. — Não.
Não faça isso.

Sua voz era tão suave e tranquila, tentando me mimar


enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas. Querido Deus,
viraria um rio de lágrimas se isto continuasse. — Deixe-me ir —
implorei desesperada.

— Mas... — Interrompeu-se, ainda se negando a soltar minha


mão. Seu rosto empalideceu quando me olhou nos olhos.
Finalmente, fechou os olhos e os abriu, dizendo — sinto muito. Não
quis abrir uma ferida.

Parecia tão destroçado como eu me sentia. Juro que se


começasse a chorar nesse segundo, ele faria o mesmo.
A força de sua compreensão era doce, mas muito para mim. —
Estou bem — assegurei-lhe, enquanto retirei minha mão, com a
esperança de me liberar de seu agarre quente. — Mas tem que me
deixar ir.

Ele deu uma risada sem graça e olhou para o teto. — Deixá-la
ir? — Repetiu como se a sugestão fosse ridícula. Quando me
encarou, parecia completamente abalado. — É mais fácil dizer que
fazer, Sininho.

Sim, isso sim me confundiu. Abri a boca para lhe perguntar o


que queria dizer quando Reese saiu do corredor.

— Não sei vocês, mas eu gostaria de sair daqui agora.

Mason se levantou de seu banco. — Amém.

— Vou com vocês — disse tão logo me liberei de Pick Ryan.

Olhei-o com expectativa. Ele não soltou minha mão, mas


aliviou seu aperto o suficiente para que eu me soltasse, e mesmo
assim fez com que seus dedos deslizassem nos meus por todo o
caminho.

Esperava algum tipo de despedida dele, mas nem sequer me


disse adeus. O triste desejo em seus olhos castanhos me disse que
não podia dizer as palavras; doíam-lhe muito.

Insana com este homem, abaixei meu rosto e me afastei,


arrastando-me atrás da Reese e de Mason. Quando chegamos à
porta, olhei para trás, e me senti tão inquieta quanto emocionada
por encontrar seu olhar ainda em mim.

O caminho para o apartamento foi tranquilo e tenso ao mesmo


tempo. Tentando ser o mais invisível possível no assento traseiro do
Jipe, porque sabia que este tinha que ser o pior momento para que
Reese e Mason tivessem a uma terceira pessoa entre eles, tentei não
pensar no amigo tatuado do Mason.

Mas pensei. Por que esteve tão intrigado a meu respeito? Por
que eu também estava? Como leu minha alma tão facilmente? Por
quê...?

Porra, não importava.

As coisas mudaram muito nos últimos meses. Em setembro,


quando um cara me olhava sabia que ele pensava que eu era
maravilhosa. Eu já esperava isso, e mostraria um pouco mais de
pele só para excitá-lo. Mas ficar grávida e finalmente amadurecer
um pouco mudou tudo isso. Sabendo que meu rosto estava
inchado, meu estômago tinha cento e quatorze centímetros de
diâmetro e meu rebolado era tudo, menos sedutor, não tinha nem
ideia do que poderia ser tão incrível sobre mim.

Mas como disse, isso não importava.

Quando chegamos ao apartamento, fiquei para trás enquanto


Mason e Reese entravam juntos. No momento em que cruzei a porta
principal, alegrei-me porque foram direto para seu quarto. Não
tinha certeza se teria forças para ver a luta que ambos tinham que
travar para superar este problema em suas vidas.

Depois de um banho rápido, escondi-me em meu quarto, e me


enfiei na cama. Apesar da bebê ter se acomodado e não se mexeu
mais, não consegui dormir.

Pick Ryan sabia de mim. E não gostei disso.


PICK

Segui os passos de Mason e esvaziei meu estômago no


banheiro do clube, que estava totalmente imprestável, cheirando a
xixi, coco e a vômito. Impressionante.

Depois que vomitei, cambaleei até a cozinha para lavar minhas


mãos. O cozinheiro foi embora há horas desde que fecharam a
cozinha à meia-noite. O silêncio me deu um momento para respirar
um pouco de ar fresco e digerir tudo o que aconteceu e o que
descobri.

Mas droga. Ela era real. Porra, era realmente muito real. E
grávida. E Deus, ela realmente passou por algo semelhante ao que
Tristy passou? A maneira como empalideceu me disse que sim, mas
eu ainda estava em completa negação, então decidi ignorar isso por
enquanto.

Eu tinha mais motivos para me assustar, como a mulher que


madame LeFrey me disse ser minha alma gêmea ser real.

Estava tonto por saber disso. Minha Sininho era real. E droga,
agora eu sabia por que lhe dei esse apelido. Estava adorável em sua
gigante camiseta com uma imagem da Sininho esticada em sua
barriga saliente.

Mas porra. Grávida? Não esperava isso.


Minha Sininho estava grávida, mas não do meu bebê. Não era
o meu Julian. Nem minha Skylar. Nem mi....

Droga, provavelmente não deveria sentir ciúmes agora. Não


deveria me perguntar pelo pai do bebê ou querer cortar seu pau
com uma colher... Porra, esperava que sua gravidez não fosse
resultado de um estupro.

Meu estômago embrulhou outra vez. Corri ao primeiro cesto de


lixo mais perto, mas como já tinha esvaziado tudo no banheiro,
nada saiu.

De repente atormentado pelas lembranças de todas as vezes


que fui forçado a observar Tristy sendo violentada, senti mais
náuseas. Nem sequer queria considerar a possibilidade de que
Sininho passou por algo similar. Não. Simplesmente... não.

Mas continuei lembrando todas as vezes que eu estive lá para


ajudar Tristy. Quem esteve lá para Sininho? Quem cuidou dela...?

Droga. Doía muito só de pensar.

Um suor frio grudou na minha testa e minhas mãos não


paravam de tremer. Absolutamente não podia acreditar...

— Ei, Pick! — Ten colocou sua cabeça pela porta da cozinha. O


virgem e eu já vamos. Pode fechar?

Não, nesse momento eu não estava nada bem. Mas mandei-o


embora, e me obriguei a me mover, apagando todas as luzes e
fechando o lugar. Era uma rotina que ajudava a me manter
concentrado no aqui e agora, porque pensar em...

Não podia acreditar que ela era real. Estava grávida. Foi
violentada.
Eu ainda estava abalado quando entrei em meu apartamento
vinte minutos depois.

Julian estava acordado e chorando no balanço onde o deixei.


Amaldiçoando, aproximei-me rapidamente dele e o peguei no colo.
Quando o coco e o xixi mancharam meus braços porque a fralda já
estava tão encharcada que caiu no chão, quase vomitei com o
cheiro. Graças a Deus que estômago estava vazio.

— Droga. — Evitando o desastre, corri ao banheiro para limpá-


lo. Depois de uma rápida limpeza em ambos e um bom esfregão no
chão, carreguei-o até meu quarto onde seu berço e suas coisas
estavam guardados, porque prometi a Tristy que ficaria com ele
todas as noites. — Droga, droga, droga.

Minha raiva ajudou a me manter concentrado em Julian e em


cuidar dele.

Tristy nem sequer o ouviu chorar? Queria gritar com ela,


estrangulá-la, nem sei mais o quê. Esta não era a maneira de tratar
um bebê. Sabia que lidava com um montão de problemas, mas há
três meses Julian se tornou mais importante para mim do que ela,
e minha paciência com ela estava se esgotando, minha raiva me
assustou. Tremia por isso.

Nunca pensei ser possível. Depois de vê-la enfrentar problema


atrás de problema em sua vida, percebi que sempre iria querer
proteger e cuidar dela. Sempre seria paciente e compreensivo. Só
que agora, só queria bater nela pela maneira que tratava seu
próprio filho.

Julian continuava reclamando enquanto trocava sua fralda.


Sabia que deveria estar morrendo de fome, por isso fui à cozinha
para pegar um pouco de leite. Mas antes, parei na porta de Tristy e
tentei girar a maçaneta para ver se pelo menos estava em casa
porque, droga, Julian chorava muito alto. Como não escutou?

Estava trancada, assim acho que significava que estava lá


dentro, mas não queria quebrar a porta para ter certeza. Ainda
tinha que cuidar de Julian. Mais tarde me entenderia com ela.

A cozinha era um desastre. Minha nova esposa pegou um


monte de salgadinhos depois que fui para o Forbidden. As portas
dos armários estavam abertas e a pia cheia de sacos de batatas
fritas e pacotes vazios de bolachas. Latas de refrigerante caídas em
poças pegajosas. E os pratos provavelmente estavam acumulados
ali há duas semanas. Mas eu não tinha tempo para lavar pratos.

Ainda estava nervoso enquanto Julian e eu nos sentamos na


cadeira de balanço na sala de estar com uma mamadeira cheia,
coloquei o bico em sua boca e fechei meus olhos aliviado quando
finalmente parou de reclamar.

— Eu te entendo — disse a ele, meus ombros tensos de


cansaço, enquanto continuava com meus olhos fechados. — Eu
não gostaria de nada mais que um mamilo em minha boca agora
também, amigo.

Mas mamilos em minha boca me fizeram pensar em sexo, e o


sexo me fez pensar em.... Sim, aí estava Sininho, inundando minha
cabeça. Só que eu a via como estava esta noite e não como em
minhas visões.

Grávida e na defensiva, nem sequer perto de quão feliz


aparecia em qualquer de minhas visões. Não podia acreditar que
era real. Ou talvez não fosse.
Sim, eu gostei dessa ideia. A garota que conheci esta noite não
podia ser Sininho. Não minha Sininho. Ela era apenas a sósia da
mulher que madame LeFrey enfiou em minha cabeça. No mundo,
haviam muitas pessoas que se pareciam entre si. Não havia
maneira que Eva Mercer pudesse ser minha alma gêmea. Exceto
que, droga, tinha Sininho estampada em sua camiseta. E cheirava a
lavanda. Como isso poderia ser uma coincidência?

De maneira nenhuma queria acreditar em toda essa porra de


vodu, com esta história de almas gêmeas predestinadas. Essa velha
louca mentiu por dez anos, esperando assustar um adolescente por
seu vandalismo e conseguiu. Mas tudo dentro de mim entrou no
lugar quando ela olhou nos meus olhos pela primeira vez. Senti
como se pertencêssemos um ao outro, e não só porque passei os
últimos dez anos de minha vida procurando-a em cada mulher que
via. Eva Mercer e eu tínhamos uma grande química.

Porra, era estranho pensar na Sininho como algo diferente


dela. Mas seu rosto finalmente tinha um nome. Um verdadeiro e
legítimo nome.

Aturdido, eu não tinha um, mas muitos nomes para trabalhar,


suspirei. Eva Mercer, Alec Worthington, Madeline e Shaw Mercer,
Reese e Mason Lowe. Arquivei cada um em minha cabeça quando
os escutei esta noite. Certamente não tive a intenção, mas me
tornei uma esponja no momento que a vi, precisando absorver cada
detalhe.

Quando vi o notebook da Tristy no braço do sofá ao meu


alcance, estiquei-me, peguei e coloquei em meu colo.
Terminando de mamar, Julian desviou sua atenção para ver o
que eu fazia, então o sentei em meu colo, apoiando suas costas em
meu peito assim ele poderia ver a tela comigo.

— Melhor? — Perguntei.

Não me respondeu, mas levou seus dedos gordinhos ao teclado


quando abri a tela.

Ri. — Oh, sim. Deve estar pensando o mesmo que eu.


Deixemos que o vídeo comece.

Segurei meus dedos por um momento, acostumando-me ao


fundo de tela da Tristy antes de clicar em um site de pesquisa. O
primeiro resultado da Eva Mercer era uma conta do Facebook.
Cliquei e percebi que Tristy não se desconectou, então entrei em
sua conta. Mas não era a Eva Mercer que eu procurava.

Droga, odiei a decepção que tirou minha alegria.

Usando a barra de busca do Facebook, escrevi seu nome outra


vez e zapeei através de contas cheias de Eva Mercer antes que
localizasse a Sininho, quase quinze perfis abaixo. Meus dedos
tremeram quando levei a seta sobre sua foto. Deus, eu queria fazer
isto?

Torturar-me, por encontrar mais coisas dela era estúpido.

Nada nunca poderia acontecer entre nós. Estando tão grávida


como estava, obviamente já tinha alguém em sua vida — Alec, o
pau, Worthington — e eu estava malditamente casado.

Uma risada irônica escapou de minha garganta quando


lembrei que foi apenas mais cedo hoje que eu e Tristy fomos ao
cartório. O destino me odiava. Aconteceu que finalmente conheci
minha alma gêmea, no dia do meu casamento.
— Oh, merda — murmurei entre dentes e entrei em seu perfil.
Sonhei com esta garota pelos últimos cento e vinte e cinco meses, e
não sabia nada dela. Precisava saber alguma coisa. Qualquer coisa.

Sua foto de perfil era uma selfie dela usando óculos de sol, um
biquíni azul e estava na praia, ou ao menos em algum lugar
ensolarado. Tirou a foto do alto e olhava para cima para que a
câmera pegasse diretamente seu generoso decote. E meu Deus, que
decote era aquele. Droga. Nem sequer uma linha das tiras do
biquíni marcava sua perfeita pele dourada, enquanto o vento
soprava algumas mechas de seu cabelo loiro em seu rosto. Era tão
maravilhosamente linda que perdi o ar.

A foto da capa do Face dela mostrava uma fila de garotas


sexys com aparências plásticas, com seus braços nos ombros umas
das outras enquanto todas tinham suas cabeças jogadas para trás
para tomar, o que parecia, shots de gelatina. Sininho — ou melhor,
dizendo Eva — estava bem no meio delas. Seu rosto estava corado
como se estivesse completamente bêbada.

Derrota correu como ácido por minhas veias. Este não é o tipo
de garota que imaginei. Minha Sininho sempre foi terna e amável,
voltada para a família, intocada por outro homem.

Julian encontrou meus dedos, que estavam ao redor de seu


peito, e começou a brincar com eles. Deixei que envolvesse sua mão
em um dedo e o levasse a sua boca. Enquanto as gengivas
tentavam me morder, apontei a foto dela.

— Está vendo essa mulher aí, amigo? Era para ela ser sua
mãe.

A dor me atravessou logo que falei. Isto não era justo. Nada
era justo. Incapaz de continuar olhando para sua foto, mas também
incapaz de abandonar seu perfil rolei a página, aprendendo o mais
que pudesse dela. Mas tudo o que vi foi esta garota rica egocêntrica.
Ou bebia em algum bar com um punhado de meninas como ela, ou
tirava fotos das novas compras no centro comercial. Todos seus
posts eram atacando alguém que não gostava, ou falando de sua
última farra de compras, ou pensando onde seria sua próxima
bebedeira.

Embora seu perfil não fosse atualizado há cinco meses, talvez


pelo tempo que descobriu que estava grávida, não havia fotos de
ninguém de sua família, e nem de nada bom que fez.

Quando passei por uma foto dela há sete meses abraçando


pelo pescoço um idiota, com cabelo escuro em calças finas e uma
camiseta Pólo vermelha, parei e observei fixamente, incapaz de
parar o ciúme que corroía minhas veias.

Então, era este? Quando movi meu dedo para deslocar a seta
sobre a imagem, apareceu o nome Alec Worthington. Fiquei
boquiaberto. Perguntei-me se a senhora Garrison falou por falar
quando disse que Eva tentou obrigá-lo a casar por ficar grávida, ou
se realmente era verdade. Mas seriamente duvidava que ele a
violentou. Ela não teria uma imagem dele em seu perfil se fosse
assim. Ou teria?

De qualquer maneira, eu ainda o odiava. Odiava tudo o que ele


representava. Mas acima de tudo, odiava o que ele significava para
ela. Obviamente era o seu tipo: milionário, mimado, com algum
título. Tudo o que eu não era.

Inveja pura queimou profundamente em minhas veias.


Simplesmente não podia acreditar que já foram um casal ou que ela
era o tipo de pessoa que usualmente me incomodava.
Nada disso fazia sentido. Se o destino realmente marcou Eva
Mercer como minha alma gêmea, então por que vínhamos de
mundos tão diferentes que era de fato um milagre termos nos
cruzado? O que me faz pensar como uma garota com uma vida do
tipo clube náutico terminou no Forbidden, às duas da manhã de
uma quinta-feira, com seis ou sete meses de gravidez. Obviamente
a garota do Mason era sua prima, mas... Porra, não importava.
Nunca voltaria a vê-la.

Já não queria pensar mais nisso. Não importa quanto tempo


eu me perguntava sobre qualquer coisa, não teria qualquer
resposta. Por que me torturava assim?

Levantando a mão para fechar a tela do notebook da Tristy,


parei quando uma pequena janela com uma mensagem apareceu
na parte direita de seu perfil.

Quando vi que era do Quick Shot, tudo em mim gelou. Ele era
um dos amigos drogados de Tristy. Suspeitava que fosse seu
fornecedor também, mas nunca tive certeza. Até agora.

A mensagem dizia: “Oi baby, ainda quer uma porção para uma
balada?”.

Minhas mãos fecharam em punhos e meus músculos ficaram


tão tensos que Julian se moveu impaciente, e percebi que ele
dormiu.

Contando até dez, forcei-me a respirar profundamente e a não


enlouquecer. Então digitei mecanicamente: “Não”.

O imbecil respondeu instantaneamente: “Por que não? Seu


homem te pegou?”.

Respondi: “Algo assim”.


Ele continuou: “Talvez n outra okazion entncs”.

Deus, aprenda a escrever, imbecil de merda.

Bati forte na tampa do note para fechá-lo, assustando Julian.


A baba caiu pelo lado de minha mão quando sua boca soltou meu
dedo.

Respirando profundamente para me acalmar, coloquei o


notebook na poltrona e levantei da cadeira de balanço. Depois de
levar o bebê ao meu quarto e acomodá-lo com suavidade no berço,
cobri-o, e fiquei de pé por um momento, observando-o dormir antes
que estivesse calmo o suficiente para confrontar Tristy.

Fechei a porta do quarto quando saí para o corredor. Depois


de chegar à porta de seu quarto, esperei outro momento, tentando
acalmar meus nervos.

Então comecei a bater em sua porta.

— Levanta Tristy, precisamos conversar. — Tenho certeza que


falava alto o bastante para despertá-la, mas quando não abriu a
porta em um minuto, perdi completamente minha paciência.

— Droga — rugi, batendo forte o bastante para balançar todo o


batente da porta. — Juro que derrubarei esta maldita porta se não
abrir dentro de dez segundos.

Cinco segundos depois, comecei a gritar — dez! Nove! Oito!

A porta se abriu e minha querida esposa de menos de um dia


me olhou fixamente, usando uma esfarrapada boxer e uma
camiseta muito larga, encobrindo o fato que não perdeu nenhum
peso após o parto.

— Qual é a porra do seu problema? — Murmurou, esfregando


os olhos e tirando de seu rosto seu cabelo vermelho embaraçado.
— Ainda fala com o Quick Shot? — Exigi, cruzando os braços
sobre meu peito.

— O quê? — Resmungou bocejando. Baixando seus braços


para os lados, murmurou uma maldição. — Meu Deus. Acordou-me
no meio da noite para perguntar isso? Pensei que o maldito edifício
estava pegando fogo.

— Responda a pergunta, Tristy.

— O quê? Não. Não, não falo com esse idiota. Não o vi em


meses.

Levantei uma sobrancelha. — Sério? É por isso que havia


mensagem no Facebook enviada para ele, pedindo um pouco de
droga há quatro horas? É por isso que ele perguntou se ainda
queria, porra?

A boca do Tristy se abriu. Sacudiu sua cabeça antes de dizer


— Não... O que... — Espera, o que fazia em meu Facebook?

Genial. É claro que tentaria distorcer para fazer parecer minha


culpa. É o que sempre fazia. Apertando os dentes porque me senti
pego, murmurei — procurava algo e ainda estava conectada. Então
estas mensagens começaram a aparecer e, merda! Porra, esteve
mentindo para mim? — Agarrei um punhado de meu cabelo e
apertei os dentes para me impedir de sacudi-la. — Maldição. Eu me
mato trabalhando para te manter limpa, alimentada e segura, e
você faz isso? Com o Quick Shot? O imbecil que te abandonou em
um beco na última vez que você teve uma overdose?

Se não fosse por um completo estranho que chamou uma


ambulância e a levaram depressa ao hospital, provavelmente
estaria morta agora.
— Manter-me segura? — Tristy bufou e cruzou os braços
sobre o peito. — Está me mantendo prisioneira, isso é o que você
tem feito. Estive trancada neste maldito apartamento por...

— Não esteve trancada. Porra, sabe muito bem que pode fazer
o que você gosta. É livre para ir e vir como quiser.

Tristy bufou e revirou os olhos. — Como se pudesse ir a


qualquer lugar com um bebê grudado ao meu quadril. Não tenho
liberdade. Não...

— Você engravidou. E se alguma vez precisar de um descanso


de Julian, contratarei uma babá. Maldita seja, Tris. Não é motivo
para ir atrás de Quick Shot para conseguir drogas!

— É o que conheço, tudo bem? Essa gente, essa vida, é o que


conheço. Quem eu sou. E você tenta me mudar me transformando
em algo que não sou. Nela.

Apertei os dentes e desviei o olhar quando mencionou a


Sininho. Arrependia-me da noite que ficamos bêbados juntos e
contei tudo a respeito da madame LeFrey e as informações que me
deu. Nunca esqueci, nunca superei.

— Não estou tentando transf...

Uma batida na porta da frente do apartamento me


interrompeu. — Polícia. Abram a porta.

Fechei os olhos e deixei escapar um suspiro entre os dentes. É


claro que alguém chamou a polícia. As paredes deste edifício eram
igual papel. Com certeza alguém escutou essa barulheira toda.

Porra.

— Há drogas pelo apartamento? — Perguntei calmamente. —


Não minta para mim, Tris.
Quando respondeu — não — abri os olhos e a olhei com frieza.
Franziu o cenho e falou — juro por Deus que não tem nada.

— Será melhor que não tenha mesmo. Porque se eu for preso


esta noite, você e Julian não terão nem para onde ir.

— Se Quick Shot estava perguntando se ainda queria um


pouco, significa que eu ainda não peguei nada, não é?

Em todo caso, ao menos se sentiu culpada e acabou de me


confessar que planejou trazer drogas para minha casa... O que a fiz
jurar que nunca faria.

Suspirei e sacudi a cabeça. — Incrível. — Afastando-me dela,


apressei-me pelo corredor até a porta e a abri.

Dois oficiais estavam no corredor, um deles me prendeu na


última vez que estive envolvido em uma briga.

— Recebemos uma chamada de distúrbio doméstico de um de


seus vizinhos.

— Sim, com certeza que sim. — Abri mais a porta para


permitir sua entrada. Depois de crescer no sistema de adoção,
estava bem ciente de como isso funcionava. Quando os policiais
apareciam em sua casa, você cooperava, não era agressivo e
respondia qualquer pergunta que fizessem. Nada mais.

Entraram pela soleira e imediatamente prestaram atenção em


Tristy. — Está bem, senhora? — Perguntou o mais baixo.

Tristy fechou sua boca na presença dos policiais,


principalmente porque sempre fomos tratados como suspeitos,
mesmo se fôssemos as vítimas.

— Estou bem — murmurou, baixando sua cabeça, o que só a


fez parecer como uma mulher maltratada.
Deus, melhor que isto não termine mal para mim. Ela poderia
lamentar minha intromissão em sua vida e sentir como se estivesse
mantendo-a prisioneira, mas sem mim, estaria na rua neste
momento e Julian provavelmente estaria morto.

Quando não foi mais franca que isso, os homens viraram para
mim. — Então, sobre o que é toda a confusão?

— Gritei — confessei — e bati na porta de seu quarto,


tentando acordá-la para poder falar com ela. Mas não foi alto
sequer para acordar o bebê.

— E o que tem que falar com ela perto das... quatro da


manhã?

Quatro? Já era quatro? Bem, teria que me levantar em quatro


horas para estar preparado para meu turno na oficina. Coloquei as
mãos em meus bolsos, sentindo a necessidade de ser agressivo,
mas tentando não ser.

— Tire as mãos para fora dos bolsos — falaram os dois juntos.


Movi minhas mãos livres e as levantei para mostrar que não tinha
uma arma.

— Por que precisava acordá-la e falar com ela? — Repetiu o


mais alto com mais atitude.

Olhando longe dele, passei a mão pela cara. — Encontrei


algumas mensagens de outro homem em sua página do Facebook.
E eu não gostei do que diziam.

Pronto. Fiz que vissem como se fosse uma briga de um casal


apaixonado. Não sei por que a defendi, já que ela planejou trazer
drogas pelas minhas costas. Mas tampouco queria vê-la ir presa.
O policial, que me deteve há sete meses, aproximou-se para
estudar minha cara. — Já lidei com você antes, não?

— Sim — admiti. — Por agressão e lesão corporal.

Procurei o homem que Tristy tinha setenta por cento de


certeza de que era o pai biológico do Julian, porque ele estava
batendo nela e dei-lhe um murro na cara.

Quase decepcionado de que fora tão cooperativo e não lhe


respondesse de maneira agressiva, os homens se afastaram de
mim, olhando para Tristy.

— Tem certeza que está bem, senhora? Ele te bateu ou te


tocou de algum jeito maldoso?

Ela se encolheu ainda mais.

Suspirei e esfreguei minha testa, preparado para terminar esta


droga de uma vez. — Tristy, deixa que te olhem para que saibam
que está bem.

— Não! — Gritou, batendo o pé e me olhando. — Não quero


que ninguém me olhe, maldição. Não quero que ninguém me toque.
APENAS... DEIXEM-ME... SOZINHA.

Ao final do corredor, o choro de Julian me fez dizer uma


maldição. — Agora isso foi suficientemente alto para despertar o
bebê — disse aos oficiais antes de ir buscá-lo.

O policial baixo me seguiu. — Alguém mais em casa? —


Perguntou, olhando o quarto de Tristy quando passou por ele.

Fiquei preocupado enquanto pedia a Deus que Tris não tivesse


mentido sobre não ter drogas aqui, porque se encontrassem algo em
meu apartamento, Julian terminaria no sistema de adoção. Isso era
a última coisa que queria que acontecesse com ele.
— Não — respondi enquanto abria a porta do meu quarto. —
Só nós três. — Mantive a luz apagada para que a claridade
repentina, não machucasse os olhos de Julian, mas o policial a
acendeu enquanto entrava no quarto atrás de mim. E, é claro, o
choro do bebê ficou mais forte.

— Olá, homenzinho — murmurei. — Acaso mamãe te


acordou? Sei que o fez, pobrezinho. E acaba de dormir também.
Sinto muito, amigo. — Beijando seu cabelo enquanto o abraçava
contra meu peito, balancei-me sobre meus pés, com a esperança de
acalmá-lo e que voltasse a dormir. Com meu nariz enterrado em
seus cachos escuros, olhei para o policial que me encarava
boquiaberto.

— Esse menino é negro — falou, surpreendendo-me.

Pisquei, perguntando-me o que tinha a ver a etnia do Julian


com qualquer coisa. — Puxa, verdade? Não tinha percebido.

Com minha resposta sarcástica, ele sacudiu a cabeça. —


Mas... é você.... Por que é você que vem aqui e cuida dele quando,
obviamente, ele não é seu?

Por uma fração de segundo, enfureci. O fato de que meu


sangue não corria nas veias deste menino não o fazia menos meu.
Eu o amava mais que quase qualquer pessoa.

— Porque ninguém mais cuidará dele. E ele é meu. Meu


enteado.

Olhando-me estranhamente, o policial assentiu lentamente.


Um sentimento parecido com respeito brilhou em seus olhos antes
de dizer — da próxima vez que se zangar com sua mulher,
mantenha seu tom baixo. Tudo bem? Se recebermos muitas
chamadas do mesmo endereço, alguém finalmente irá preso. E esse
alguém seria você.

Assenti, percebendo que me dava um descanso e um aviso


amistoso. Algumas pessoas tomariam como uma ameaça, mas
sabia como esses caras trabalhavam.

— Entendi — respondi.

Permaneceu pensativo por um instante, seu olhar voltando


para Julian que tinha fechado os olhos e estava aconchegado em
paz contra mim. — Lindo menino — disse finalmente.

Sorri e balancei a cabeça. — Diria obrigado, mas não


conseguiu sua aparência de mim. Obviamente.

Dando uma breve risada, o policial tirou o chapéu. —


Mantenha o volume dessas discussões baixo. — E logo se foi.

Escutando-os se despedirem de Tristy ao sair do apartamento,


continuei a andar com Julian. Sabia muito bem que se ele estivesse
um pouco acordado quando o deitasse, choraria. Tinha que estar
totalmente dormido.

Quando Tris apareceu na porta, com os braços cruzados sobre


seu peito enquanto olhava em meu quarto, para nós, suspirei.

— Está bem, talvez não devesse ter gritado e batido na sua


porta — confessei antes que discutisse. — E sim, poderia ter
esperado até amanhã. Mas, porra, Tris. É realmente tão infeliz
aqui? É tão ruim que prefere sair e se drogar, sem saber onde
acordará, o que te farão, com quem acabará, do que ter um teto
sobre sua cabeça, uma cama limpa para dormir toda noite, e um
fornecimento constante de comida?
As lágrimas encheram seus olhos. Passou as costas da mão
pela bochecha, manchando-as. — Não, mas... Porra, Pick. Sinto-me
tão... tão doente e cansada de estar trancada neste lugar durante
todo o santo dia. E pensei que estaria tudo bem se fosse só
maconha. Nada pesado. É... que o menino sempre está aqui. Não há
descanso. Você tem que ir ao trabalho, não tem que escutá-lo
chorar constantemente e exigir cuidados todo o dia.

Suspirei e fechei os olhos, apoiando minha bochecha na


cabeça do Julian. — Eu gostaria que tivesse vindo e dito isto em vez
de procurar o Quick Shot. Maldita seja, Tris. Se precisa de um
descanso, posso te dar. Posso cuidar dele todas as noites que tenha
livre e pode sair e fazer o que for. Além disso, tenho certeza que a
senhora Rojos aí ao lado pode cuidar dele uma ou duas vezes na
semana.

Quando os olhos de Tristy se iluminaram de emoção, soube


que disse a coisa certa. — Sério? Faria isso por mim?

— Tris — revirei os olhos — quando não fiz tudo ao meu


alcance para que tivesse o que precisava?

— É verdade — admitiu encolhendo os ombros, envergonhada.

— Se prometer não entrar em contato com o Quick Shot outra


vez, darei um jeito de que tenha mais liberdade. Concorda?

— Ok. — Logo entrou no quarto, procurando alívio. — Posso


andar com ele por um momento se quiser.

Sua oferta me surpreendeu. — Uh... Sim. Claro — Passei o


menino dormindo para ela. Julian se agitou, mas não acordou.
Quando sua cabeça foi apoiada firmemente em seu ombro e ela
bateu em suas costas de uma maneira maternal, fiquei olhando-a
de boca aberta, incapaz de desviar o olhar.

— O quê? — Perguntou fazendo um gesto irritado. — Estou


fazendo algo errado?

— Não. — Sorri e sacudi a cabeça. — Nada. Está fazendo bem.


Vou trocar de roupa para eu poder dormir e comer alguma coisa.
Volto já.

Quando assentiu, peguei uma camiseta e uma calça de


moletom e saí correndo do quarto. Sorria enquanto me trocava no
banheiro e logo saqueei a cozinha em busca de comida. Finalmente,
só passei manteiga em algumas bolachas salgadas, peguei-as e
achei bom. Depois de jogar todo o lixo descartável que encontrei na
lixeira, empilhei os pratos sujos, assim havia um pouco de espaço
na pia à esquerda e me apressei a voltar para meu quarto.

Levei cinco minutos no máximo, mas isso deve ter sido muito
tempo para Tristy. Ela já tinha colocado Julian de novo no berço e
voltado para seu quarto.

Com um suspiro de decepção, acariciei a cabeça de Julian


antes de me sentar em minha própria cama, onde deixei cair
migalhas sobre meus lençóis enquanto comia minhas bolachas.
Acho que ainda não podia esperar muito da nova mãe, por agora,
aceitaria os cinco minutos. Ela o tocou e segurou. Isso era um
progresso.
EVA

Meus colegas de apartamento estavam me deixando louca.


Uma semana depois que a bruxa malvada da Flórida deixou a vida
do Mason e da Reese um desastre, o desconforto em nosso
apartamento ficou tão espesso que tinha certeza que asfixiaria nós
três. E era totalmente culpa do Mason.

Reese tentou, real e malditamente, deixar no passado, fazer


vista grossa à visita da senhora Garrison e seguir adiante com sua
vida. Mas simplesmente Mason não permitiu. Continuou agindo
como um cão maltratado que foi chutado nas costelas muitas vezes.
Afastou-se de Reese, não podia olhá-la nos olhos, deixou de tocá-la
completamente. Sua culpa era tão tangível que deixou um sabor
desagradável em minha boca. Apesar de sua personalidade
normalmente otimista, até Reese parou de tentar estar alegre.

Ambos eram muito infelizes. Odiei isso.

Então, uma noite quando Mason entrou na cozinha enquanto


e eu preparava um lanche, cenouras, rodelas de maçã, e aipo
coberto de manteiga de amendoim porque queria ter um bebê
saudável, deixei a faca de manteiga cair na mesa e agarrei seu
braço, puxando-o para perto. Já tive o suficiente dessa merda.

Ele tentou recuar, surpreso, mas não o soltei.


— Isto tem que parar — reclamei, olhando com cautela à
entrada da cozinha com a esperança de que Reese não chegasse a
qualquer momento e me pegasse repreendendo-o.

— O quê? Eu só entrei na cozinha. — Puxando seu braço, ele


conseguiu se libertar enquanto franzia a testa.

Suspirei. — Sim, claro. Sua depressão contínua está sugando


a vida da Reese. Espero que tenha percebido isso.

Seu rosto empalideceu, dizendo-me o quanto ele notou... e


odiou também. Pela forma como apertou sua mandíbula vi que
estava chateado porque toquei no assunto. Defendendo-se,
sussurrou — que droga eu deveria fazer sobre isso? Não posso
desfazer o que aconteceu. Já aconteceu.

— Sim, aconteceu. Mas dê por terminado. Tudo o que você


pode fazer é controlar a forma como reage a isso. E está reagindo de
uma forma muito ruim. E está arrastando Reese contigo.

Seus olhos ficaram atormentados. — Acha que não sei? Está


me matando vê-la cada dia com toda essa dor em seus olhos. Mas
não sei como parar isso. Não há desculpas suficientes na terra para
compensar o que aconteceu. E não há forma de consertar.
Nenhuma maneira de...

— Pare. — Revirando os olhos, pus minha mão sobre sua boca


para calá-lo. — Está errado pensando assim. Procurar que ela te
perdoe não é o que precisa, porque notícias de última hora, idiota,
ela já te perdoou. Isso é o incrível sobre Reese. Ela perdoa. E algo
ainda mais surpreendente sobre ela é que segue adiante. Pense
nisso. Você seria capaz de dizer que seu ex namorado tentou matá-
la e quase conseguiu, apenas quatro meses antes de conhecê-la?
Não, porque ela tem este superpoder de passar por cima dos
eventos horríveis, perturbadores e traumáticos. Tudo é parte da
beleza de quem ela é. Também conseguiria superar este último
episódio com a senhora Garrison, mas você não deixa. Toda vez que
se afasta e não a olha nos olhos, ou evita uma conversa, isso a
mata.

Mason fechou os olhos e cobriu o rosto com ambas as mãos.


Engoliu em seco e levou um momento para recuperar a
compostura. Então suspirou e baixou os dedos.

— Juro por Deus, Eva. A última coisa que quero fazer é


machucá-la, mas simplesmente não posso... Deus. — Bateu as
palmas de suas mãos sobre seus olhos. — Não sei como superar
isto. Não mereço seu perdão. Eu não.... Como porra vou tocar algo
tão puro e surpreendente quando estou tão sujo?

Mordi o lábio quando as lágrimas começaram a cair em meus


olhos. Droga de hormônios da gravidez. Não me deixariam em paz,
não é? Mas meu coração doía pelo pobre Mason. O homem não
podia se perdoar pelo que foi.

Peguei uma rodela de maçã coberta de manteiga de amendoim


e comecei a mastigá-la, tentando agir com calma e uma serenidade
que eu não sentia. Enquanto Mason tentava não demonstrar suas
emoções na minha frente, lambi meus dedos até limpá-los e sequei
a boca com as costas da mão. Finalmente limpei minha garganta.

— Ultimamente estive lendo todos estes artigos on-line a


respeito de “À espera de seu primeiro bebê” para mães de primeira
viagem. E são incríveis. Eles vão de semana a semana através de
sua gravidez, dizendo-lhe o tamanho do seu bebê, comparando-o
com um pedaço de fruta. — Coloquei minhas mãos sobre minha
barriga, sorri. — Com certeza, neste momento minha menina tem
quase o tamanho de um abacaxi.

Mason piscou e me olhou como se tivesse perdido a cabeça.


Mas eu tinha um argumento, e estava a ponto de chegar a isso.

— Os conselhos em sua maioria me ajudam a não enlouquecer


sobre como vou lidar com todos os enganos que vou cometer como
mãe. Dizem que é inevitável, sabe. Sem importar quão boa queira
ser, serei um desastre. E vou me preocupar de estar destruindo a
vida da minha filha. Mas li algo que dizia que enquanto eu a ame e
tente fazê-la feliz, o resto vai se encaixar. Disciplina, paciência com
as manhas, tudo. Em vez de me afogar em meus erros, aprenderei
com eles. E quanto mais alegria tiver em sua vida, mais trarei para
a minha. — Estendi minha mão, e agarrei com força a do Mason.

— Você está me ouvindo, Mason Lowe? Apenas ame Reese e a


faça feliz. E quando levar alegria à vida dela, terá alegria na sua. Ao
invés de se afundar no que você fez de errado, perdoe-se e supere
isso, porque fazê-la feliz é sua única prioridade. Todo o resto é
besteira.

Ele apertou gentilmente meus dedos como resposta. — Eu


quero fazer isso — garantiu, em voz baixa e cheia de sinceridade. —
Sério. Eu só quero mostrar a ela o quanto a amo e trazer um sorriso
a seu rosto, mas eu... — Balançou a cabeça impotente. — Neste
momento, nem sequer imagino o que poderia fazer para conseguir
isso.

Meus lábios se entreabriram quando tive uma ideia. — Vou te


dizer o que fazer. Vai desenterrar aquele anel de noivado que tem
escondido no fundo de sua gaveta de camisetas, e pedi-la em
casamento. Esta noite.
— Que... — Boquiaberto Mason balbuciou por alguns
segundos antes de franzir a testa. Aproximando-se, olhou
rapidamente para a entrada da cozinha antes de virar e resmungar
em voz baixa — porra, como sabe o que há em minha gaveta de
camisetas?

Bufei e agitei uma mão, indiferente. — Oh, por favor. Se quer


esconder algo de sua namorada, na próxima vez guarde em um
lugar melhor. Reese adora usar suas camisetas quando você não
está aqui. Encontrou o anel há meses.

— Ela... — Sacudiu a cabeça, negando-o, tentou falar, mas


nada compreensível saiu.

— Você deveria que ter escutado — continuei. — Eu tinha


acabado de dormir quando o grito ecoou por todo o apartamento.
Pensei que alguém a estava matando. Mas quando entrei em seu
quarto, dançava por todos os lados e tentou colocar o anel, mas
seus dedos tremiam tanto que não conseguia. Estava tão feliz que
chorava. Não sei se antes na minha vida a vi assim, em êxtase.

Mason ficou sem fôlego. Seus olhos admirados. — Gostou? —


Soava esperançoso e mesmo assim inseguro, dei-lhe um soco no
braço.

— Gostou? Droga, não, não gostou. Amou, maldição. E para


sua informação, Lowe, tem um gosto impecável para joias. Quero
dizer, santo Deus, quem saberia que escolheria um anel tão lindo?
Estou muito impressionada.

Sorriu tanto que todo seu rosto se iluminou. — Sério?

— Sim. Então acorda esse bad boy e torne oficial, ok? Isso, eu
sei com absoluta certeza, fará a minha Ree feliz.
Mason assentiu. — Está bem. — Começou a se afastar como
se seguisse minhas instruções nesse mesmo momento, mas logo
parou. — Espera. Não posso. Ainda não planejei o pedido perfeito.
Estive pensando, tenho que levá-la a um restaurante luxuoso e de
algum jeito conseguir que o garçom o traga em sua comida, ou...

— Não se atreva a ser tão clichê. Estamos falando da Reese.


Preferiria algo simples, mas privado, só entre vocês dois. Talvez um
piquenique.... Oh, ouça. Ela adora esse parque do outro lado da rua
tanto quanto eu. Há uma árvore enorme perto ao lago. Pode
estender uma toalha embaixo, alimentar alguns patos, comer um
pequeno lanche romântico, e então, já sabe... fazer o lance.

Mordendo o lábio, pareceu considerar minha sugestão. — Mas


não sei como pedir.

— Oh, não importa. — Empurrei seu braço onde tinha


acabado de socá-lo. — Toda vez que ouvi você lhe dizer que a ama
sempre fez um grande discurso que envergonharia uma romântica
novela mexicana. Simplesmente comesse a falar, e as palavras
sairão. Garanto.

— Mas quero que seja perfeito.

Suspirei. — Reese não quer perfeito. A pobre garota confusa te


quer. Então... entregue-se a ela.

Debateu mentalmente por um momento. O cara parecia


animado com a ideia, no entanto, completamente assustado com
isso. Fez com que meu próprio estômago revirasse em expectativa.
Estava a ponto de empurrá-lo de novo e exigir “basta fazê-lo, já”,
quando assentiu.

— Está bem. Farei.


Quase fiz xixi de tanta emoção. Mas a ansiedade em seus
olhos cinzentos me fez desconfiar. — Esta noite.

— Sim, — disse — esta noite.

Estive a ponto de abraçá-lo, mas isso teria sido muito


estranho, porque a última vez que o toquei segurei seu pau para
mostrar a Reese que era um bastardo infiel como qualquer outro
imbecil por aí. Mas não foi um bastardo infiel; afastou minha mão,
e Reese me deu as costas como se eu fosse a puta traiçoeira do
século. Sem querer reviver nenhuma dessas lembranças, limpei
minha garganta e corri os dedos pelo meu cabelo, alegre quando
Reese entrou na cozinha.

— Então, o que vamos fazer para jantar? — Perguntou


completamente alheia sobre o que Mason e eu acabávamos de
discutir.

Mason saltou já que estava de costas para a porta e não a viu


entrar. Quando ele se virou para ela, parecendo tão culpado,
suspirei. Era hora de colocar as coisas em movimento antes que
estragasse tudo.

— Vocês dois estão me deixando louca — falei, tomando o


controle. — Ambos estiveram deprimidos pela casa a semana toda,
já é o suficiente. Vou expulsá-los daqui esta noite. Eu sairia, mas...
odeio caminhar muito longe nesta condição, portanto, vocês têm
que ir. Vou fazer um lanche para um piquenique, mas é melhor que
não voltem até que ambos estejam amigáveis de novo. Entendido?

Reese levantou as sobrancelhas e me deu um olhar


fulminante. — Hum. Sinto muito que nosso drama esteja
atrapalhando a sua vida. Deixe-me apenas acertar...
— Amorzinho. — Mason se aproximou dela e a abraçou pela
cintura, fazendo com que o olhasse surpresa.

Quando seus assustados olhos azuis se arregalaram, ele


forçou um sorriso tenso. — Vamos... vamos ouvi-la e sair por
algumas horas. Apenas nós dois.

Ela começou a concordar imediatamente, mas levou uns


segundos para dizer — oh,... bom. Sim, isso parece bom.

— Ótimo. — Seu sorriso foi lento e bastante devastador para


fazer com que Reese se derretesse visivelmente. Juro que a garota
quase deixou escapar um sorriso sonhador.

Então beijou sua testa e a soltou. — Vou pegar meu... meu


gorro no quarto. Já volto.

Logo que se afastou, uma sorridente Reese se virou para mim.


— Viu isso? — Ela perguntou e começou a saltar nas pontas dos
pés. — Ele me tocou, meu Deus, Eva. Acho que está começando a
se aproximar de novo.

Eu tinha que me afastar antes de contar toda a surpresa, mas


estava tão feliz pela minha melhor amiga. Não podia esperar para
ver sua cara quando voltassem do piquenique. — Então, que tipo de
comida quer? — Perguntei, já abrindo a geladeira e tirando os frios.
Os sanduíches pareciam uma comida leve e agradável para o tipo
de proposta simples que Reese preferiria.

Ela tentou me ajudar a embalar a comida, mas estava tão


ansiosa para ir e muito ocupada tagarelando a respeito do que
poderia ter animado o Mason, que na maior parte só me seguiu
enquanto eu embalava um pouco de frutas e legumes, junto com
algumas de suas bolachas com gotas de chocolate favoritas.
Quando Mason voltou para a cozinha, deslizou uma mão em
seu bolso e apoiou um ombro contra o batente da porta. Notei que
esqueceu totalmente de colocar um gorro como disse que faria, mas
Reese não notou. Apenas sorriu com adoração.

Um sorriso ardiloso iluminou seu rosto enquanto estudava


Reese brilhando de alegria. — Tudo pronto?

— Sim — respondi por ela, agitando uma pequena garrafa de


vinho pelas costas de Reese para que Mason pudesse ver a última
coisa que coloquei na imensa mochila antes de fechá-la.

— Acho que estão prontos para ir. Divirtam-se. Não voltem até
que esteja tarde, e alimentem os patos por mim enquanto estiverem
lá.

Pendurando a alça da mochila sobre meu ombro, pus minha


mão na base das costas de Reese e a empurrei para Mason, que se
endireitou a tempo de pegá-la pela cintura e puxá-la para si. Então
sorriu para mim e pegou a bolsa com o lanche. — Obrigado, E.

Reese de repente olhou desconfiada entre nós. Engoli em seco,


esperando que não entendesse o que acontecia. Mas então ela se
virou para mim. — Está muito ansiosa para se livrar de nós. Fará
uma festa selvagem enquanto estamos fora?

Bufei. — Sim, meu namorado secreto virá e vamos praticar


para fazer o bebê número dois. — Assim que falei, uma imagem do
colega de trabalho do Mason, Pick, apareceu em minha cabeça. Mas
o afastei e revirei os olhos para minha prima enquanto tocava
minha barriga. — Uau, por que está tão paranoica?
— Sim, Reese. — Mason deslizou a mão por seu braço e
entrelaçou seus dedos com os dela. — Quem se importa do por que
ela quer que saíamos? Apenas vamos nos divertir.

Ela se virou para ele, e eu percebi que já tinha esquecido


quem eu era. — Está bem, — disse — acho que estou pronta.

Fiquei feliz que eles estavam bem vestidos. Ela nunca me


perdoaria se a deixasse sair de casa para ser pedida em casamento
usando algo velho e desleixado. Até seu cabelo parecia adorável em
um jeitoso rabo de cavalo.

Segui-os até a porta da cozinha enquanto cruzavam a sala de


estar de mãos dadas. Não olharam para trás enquanto saiam. Mas,
estranhamente, ao invés de me sentir excluída, senti-me plena e
feliz. Hum. Acho que esse artigo que li sabia o que dizia. Faça
alguém feliz e a sensação volta para você multiplicada por dez. Que
descoberta maravilhosa.

Ainda desejando ter uma bola de cristal para poder espiar seu
piquenique e ver o grande pedido, acomodei-me no sofá com meu
lanche saudável e pus o computador da Reese em meu colo para
poder procurar mais sites sobre bebês.

Encontrei uma página de “Faça você mesma”. Desde que


finalmente entendi que não podia sair e comprar tudo o que meu
coração mimado desejava, comecei a fazer todo tipo de coisas lindas
que necessitava para meu bebê de uma forma acessível.

Reese me deu uma de suas antigas bolsas, uma imitação de


uma Dolce e Gabbana, para transformá-la em uma bolsa para
fraldas. Era preta, dourada, com estampa de leopardo, mas achei
que precisava de um toque cor de rosa e de uns bolsos para todas
as coisas que teria que levar para minha menina.
Enquanto costurava, minha mente vagou para o colega de
Mason. Ainda me incomodava que, de algum jeito, adivinhou meu
passado. Como uma coceira constante sob minha pele, odiava saber
que sabia sobre mim. E também não estava certa se gostei de como
afetou meus hormônios. Acabava de me acostumar a não ter que
usar novamente um cara para me fazer gozar. Queria apagar o sexo
da minha vida completamente. Então, por que me perguntava como
Pick era sem camisa, ou quantas tatuagens e piercings tinha sob o
resto de sua roupa?

Desejava que houvesse um modo de apagar completamente


meus sentimentos e o que sabia sobre mim. Pensativa, continuei
costurando, mas não cheguei a nenhum bom plano. Não que
importasse o que faria sobre Pick Ryan. Duvidava que alguma vez
voltasse a vê-lo. Quem se importava com o que sabia a meu
respeito?

A menos que dissesse a Mason.

Oh, droga. Não podia dizer ao Mason, pois ele diria a Reese. E
se ela soubesse...

Tinha que convencê-lo que entendeu mal, que o que pensou


não era verdade. Sim. A próxima vez que o visse, e encontraria uma
maneira de voltar a vê-lo, isso era exatamente o que faria.

Quando a porta principal do apartamento se abriu, pulei,


surpresa ao perceber quanto tempo passou. Reese e Mason
entraram na sala sorrindo e gargalhando.

Eu tinha uma montanha de materiais, tesoura, agulha e linha


empilhados no sofá ao meu redor. Estava tão absorta costurando
um R, a última letra, de um lado da bolsa, que gritei e furei o dedo
quando a porta se abriu de repente.
— Eva! Meu Deus, meu Deus. Olhe! Olhe! — Reese se atirou
para mim, com a mão estendida e acenando enquanto o diamante
brilhava em seu segundo dedo. — Pode acreditar? Pode
simplesmente acreditar? Nós vamos nos casar!

Eu fiz um show em estudar o anel que já tínhamos olhado e


admirado há meses. Então, olhei para cima e ironicamente falei —
estou... chocada.

Reese puxou sua mão e fez uma careta para mim. — Oh. Você
não tem graça. Esta é uma boa notícia. Uma notícia incrível.

Sorrindo, revirei os olhos. — Estou feliz por você. Sério.


Parabéns.

Quando Mason fechou a porta do apartamento e se apoiou


nela para nos ver no sofá, dei-lhe uma olhada e arqueei uma
sobrancelha. — Muito bem, senhor Lowe.

— Senhor Lowe. — Reese suspirou o nome enquanto tirava


sua mão da minha e saltava do sofá para ele. — E serei a senhora
Lowe. Senhora Reese Lowe. Teresa Alison Lowe. Ai meu Deus, eu
adoro isso!

Ela o abraçou e começou a beijá-lo por todo o rosto. Ele riu e


segurou sua cabeça com as duas mãos para mantê-la quieta tempo
suficiente para pressionar um suave e prolongado beijo em seus
lábios. — O quê? Você realmente duvidava que isso fosse
acontecer?

— Não. — Suspirando, derreteu-se contra ele e apoiou seu


rosto em seu ombro. — Na verdade não. Mas ainda não posso
acreditar. Está acontecendo agora, e finalmente é real.
— É claro que é real. Eu te amo, Reese. — Ele fechou os olhos
e beijou sua têmpora. — Eu faria qualquer coisa para te mostrar
isso.

Um grande nó de ciúmes ficou preso na minha garganta. A


única maneira que pude engolir foi pensar em como estava feliz
depois de bancar o cupido para eles. Fazer boas ações era uma
sensação incrível. E fiquei ainda mais satisfeita porque era Reese a
quem ajudei a ficar feliz. Mas, por que eu não podia ser feliz assim
também?

Porque não merecia, lembrei.

— Dê-me dois minutos — disse Reese para Mason enquanto se


afastava, o olhar em seus olhos deixou óbvio o que planejava.

Seu olhar aqueceu e ele segurou seus dedos enquanto pôde


antes que ela saísse de seu alcance. — Sim, senhora — murmurou
antes de sorrir como um cara prestes a ter sexo.

Reese riu e eu bufei. Acho que esqueceram que eu existia.


Quando Reese se afastou, saindo da sala de estar, Mason suspirou
satisfeito e encontrou meu olhar, acalmando seu ânimo
imediatamente. Limpou a garganta e tentou disfarçar sua cara de
desejo, mas não conseguiu.

— Então... — disse, empurrando com a ponta do pé um


pedaço de pano que tinha caído no chão. — Obrigado.

Dei de ombros como se minha intervenção não fosse grande


coisa e voltei a costurar meu R. — É o mínimo que eu podia fazer.

— Sim, mas... você nos salvou... Reese e eu estávamos nos


afogando até...
— Oh, não seja tão dramático. — Não podia deixá-lo todo
emotivo, senão eu ficaria assim também e teria que culpar meus
pobres e inocentes hormônios da gravidez por um novo lote de
lágrimas. — Vocês se amam. Nada mudaria isso. Apenas clareei
suas ideias.

— Bem, era o empurrão que eu precisava, e serei eternamente


grato. — Aproximou-se e inclinou a cabeça para ver o que
costurava. — É o nome da bebê?

Engoli em seco e cobri a palavra com a mão, apesar de que já


a tinha lido... E sabia. — Não se atreva a dizer a ninguém — avisei.
— Especialmente a Reese.... Ela está se divertindo tentando
adivinhar.

Seus olhos cinzentos brilharam quando sorriu para mim. —


Meus lábios estão selados. Mas só porque eu te devo uma. —
Então, ele olhou para a porta do corredor, que leva ao seu quarto e
da Reese. — Você acha que já se passaram dois minutos?

— Acho que foram apenas trinta segundos, seu tarado.

Franzindo testa, enfiou as mãos nos bolsos e resmungou por


um momento antes de murmurar — bom, não posso esperar mais.
— Então ele saiu correndo pelo corredor em busca de sua noiva.

Sorri e balancei a cabeça. Gostei de sua maneira de amar.


Gostei de vê-los superar este obstáculo, e gostava de saber que eles
viveriam felizes para sempre. Mas também me deprimiu.

Sabia que tinha a minha pequena. Uma vez que ela nascesse,
provavelmente estaria muito ocupada criando-a para querer o que
Reese tinha com Mason, mas uma parte de mim ainda sofria, uma
parte de mim também queria ser amada assim.
PICK

Exatamente duas semanas se passaram desde que me casei e


descobri o verdadeiro nome da Sininho, e parecia que todo o meu
mundo tinha virado de cabeça para baixo.

Em casa não mudou quase nada, além do fato de que a


senhora Rojas, mãe de quatro filhos e nossa vizinha do lado
esquerdo, aceitou cuidar do Julian três dias por semana. Com um
pouco mais de "liberdade", como Tristy chamava, seu humor
melhorou consideravelmente. Isso aumentou meu orçamento, mas
para viver com uma Tris mais feliz e livre de drogas, valeu a pena.

Nada mudou no meu trabalho. Os carros ainda precisavam ser


consertados na oficina, e os clientes ainda iam em busca de bebidas
no clube.

Era eu quem sofria.

Internamente, fiquei louco. Sentia-me desconfortável com toda


essa energia para queimar, mas nada para gastá-la. Não conseguia
parar de pensar na Sininho. Sabia que era estúpido. A verdadeira
Sininho, Eva Mercer, não era o tipo de pessoa que pensei. Nunca
nos encaixaríamos, provavelmente não seríamos capazes de ter
uma simples conversa, se alguma vez nos víssemos de novo. Sem
dúvida, ela pisava nas pessoas pobres como eu e continuava
caminhando sem sequer perceber que os esmagou sob seus saltos
de grife. Deveria esquecê-la completamente.

Mas não podia evitar. Cada vez que trabalhava com Mason,
tinha uma batalha mental comigo mesmo sobre lhe arrancar ou não
informações. Onde vivia? Quão apaixonada estava por seu
namorado idiota? Quais eram suas maiores esperanças, sonhos e
medos na vida? Queria saber tudo. Mas não importava quantas
vezes falasse com o Lowe, evitei lhe perguntar sobre a prima grávida
de sua namorada.

Ela nem sequer me disse quando teria seu bebê. Perguntava-


me quão perto estava agora, ou se já o teve. Era uma menina ou
menino? Droga, havia tanta coisa que não sabia. E o pior de tudo,
era quinta-feira. Trabalharia com Mason de novo, o único cara que
tinha muitas das respostas que eu procurava.

Ele estava atrás do bar quando cheguei ao trabalho. Na


verdade, cheguei cedo porque esperava ter um pouco de tempo para
conversar com ele. Tinha que haver alguma forma discreta de
conseguir que falasse sobre ela sem revelar o quão desesperado eu
estava para saber tudo.

Esperava que Noel gritasse algo sobre a chegada do apocalipse


porque, pela primeira vez na vida, eu não estava atrasado. Mas
ninguém disse nada, e não havia nada que fazer a não ser esperar
até que meu turno começasse. Percebi que até cheguei antes que a
estrela do futebol. Mas Ten acomodava as mesas, e se ele estava
aqui, então Noel também estaria porque sempre vinha com seu
companheiro de quarto.

— Onde está Gamble? — Perguntei.


— Com o coração partido. — Ten, mal-humorado, pôs uma
mesa em um lugar melhor para que nós, garçons, pudéssemos
passar facilmente entre elas à noite.

Oh, droga. Era a terceira noite desta semana que Gamble não
veio. — Ele e a namorada, a professora, não estão juntos, certo?

— Ele está um completo desastre — disse Hamilton


balançando a cabeça com tristeza. — Nunca vi alguém tão chateado
depois de perder uma garota. Ele realmente a ama.

— Porra. — Balancei a cabeça.

Que pena! Estava com ciúmes de Gamble e sua namorada


duas semanas atrás, quando ela veio ao bar para vê-lo. Tinham
uma conexão intensa. Era desconcertante saber que o vínculo que
compartilhavam não os manteve juntos. E isto não me dava
esperança alguma a respeito de minha própria situação. Mas isso,
tampouco mudou meu plano. A missão "obter informações de Lowe"
estava em curso.

Olhando-o enquanto colocava a gaveta de dinheiro na caixa


registradora, tentei avaliar seu humor. Graças a Deus, ele não
emitia nenhuma vibração de ter o coração partido. Pareceu
bastante triste depois de seu confronto com a molestadora.
Esperava que sua garota não o abandonou, porque então não me
daria nenhuma informação sobre sua prima.

Mas esta noite, o homem estava incrivelmente alegre.


Assobiava alguma melodia que não podia identificar. Assim abri a
boca para perguntar por que estava de tão bom humor quando Ten
fez um som de náuseas atrás de mim.

— Cara, que porra é essa na sua camiseta?


Hamilton apareceu ao seu lado, um segundo depois, fazendo
uma careta enquanto olhava para minhas costas. — Parece que
alguém vomitou aí.

— Merda. — Peguei o ombro de minha camiseta e puxei


enquanto virava minha cabeça para ver. E sim, Julian vomitou seu
jantar em mim antes que o levasse à senhora Rojas esta noite. —
Meu filho deve ter vomitado em mim.

Ten ficou boquiaberto. — Desculpa? Disse seu filho? Desde


quando tem um filho?

Franzi a testa, ainda tentando olhar sobre meu ombro para ver
o quão ruim estava. — Há cerca de três meses.

— Ah, fala sério. — Ten continuou olhando estupidamente


boquiaberto. — Porra, por que nunca nos disse que era pai?

Deixei de me torcer e dei de ombros. — Não sei. Não imaginei


que histórias sobre troca de fraldas e crises de choro fossem algo
que quisessem ouvir.

— Bom, não, mas... — Balançou a cabeça, ainda atordoado. —


Porra, cara. Esqueceu de usar camisinha ou o quê?

Suspirei, percebendo quanto tempo levaria para explicar


minha situação, mas tenho certeza que Ten arrasaria comigo por
cuidar do filho de outro.

Nisso, Jessie, nossa patroa até que seu pai se recupere de sua
cirurgia do coração, veio pelo corredor de seu escritório. — Bem.
Todos estão aqui. — Aplaudiu alegre. — Esperem. — Parou
enquanto olhava para nós quatro. — Onde está Gamble?

— Doente — disse Ten. — Deixe-o em paz.


— Droga. — Mordeu o lábio inferior. — Ia fazer uma noite de
leilão, já que não tivemos uma faz tempo, mas se vão trabalhar
apenas vocês quatro...

— Podemos lidar com isso — falei rápido. As noites de leilão


rendiam um monte de dinheiro, e sempre era bom ganhar um extra,
especialmente agora que eu teria que gastar com uma babá.

— Bom, então... cuide disso. — Jessie acenou para mim, o que


basicamente me disse que eu estava no comando. Então virou e
saiu, deixando-nos lidar com isso por nossa conta.

— Noite de leilão? — Mason foi o primeiro a perguntar depois


de que se ela foi.

— Oh, querido, prepare-se para se divertir. — Ten esfregou as


mãos alegremente. — Os clientes têm uma pequena guerra de
lances, a única noite das garotas.... Imagine uma mulher de sorte,
disposta a pagar mais para ter um garçom de sua escolha, para lhe
dar atenção especial pelo resto da noite.

— A melhor parte é que o cara que é eleito ganha cinquenta


por cento dos lucros — eu disse a ele.

Mason franziu as sobrancelhas e olhou para Quinn, que


arregalou os olhos.

— Vamos leiloar... nós mesmos? — Quinn parecia


escandalizado.

— Ei, é divertido. — Ten o golpeou no ombro, amolando-o um


pouco. — Tudo o que tem que fazer é paquerar e falar com a mulher
até que fechemos e ter certeza que sua bebida nunca acabe. Todas
as garotas gostam.

— E ganha metade do lucro — repeti.


Mas nem Quinn nem Mason pareciam entusiasmados com a
ideia.

— Cara. — Ten apontou para as minhas costas e balançou a


cabeça. — Talvez queira limpar essa porra. Nenhuma mulher vai te
escolher com porcaria de bebê em suas costas. — Em seguida,
sacudiu a cabeça e murmurou algo sobre eu ser pai antes de ir
terminar de arrumar as mesas.

Mas, droga, tinha razão. Tirei meu telefone do bolso,


esperando que Tristy estivesse disposta a me trazer uma nova
camiseta. Não tinha tempo suficiente para ir para casa, trocar-me e
voltar rápido antes de abrir. Só que ela deve estar aproveitando sua
liberdade hoje à noite. Não atendeu o telefone do apartamento, e
nunca lhe comprei um celular porque não podia pagar um para ela.

— Porra. — Desliguei. Depois de guardar o telefone no bolso,


peguei a parte de trás do pescoço de minha camiseta e tirei pela
cabeça para poder ver se estava muito ruim.

— Vou tentar limpar isso — disse para quem quisesse ouvir.


Mas quando olhei para cima, era Mason quem eu vi me olhando.

— Uau — disse, observando o meu peito nu. — Tem as


palavras Sininho e Skylar tatuadas sobre seu coração.

Bati minha mão sobre a tatuagem, protegendo-a. Preferia


ouvir piadas sobre o anel em meu mamilo do que falarem dessa
tatuagem especificamente.

— Sim — disse, franzindo minha testa e pronto para chutar


traseiros se fizesse uma só observação depreciativa sobre a família
que sempre desejei, mas que começava a perceber que talvez nunca
conseguisse. — O que tem ela?
— Nada. — Balançou a cabeça, mas continuou observando a
área que eu escondia. Olhando para cima, finalmente acrescentou
— é apenas... estranhamente irônico. Quer dizer... — estreitou os
olhos ligeiramente — não foi de Sininho que chamou Eva na outra
semana quando esteve aqui com Reese?

Porra.

Com a boca seca, olhei para Mason. Mas, porra, como se


lembrava disso? Deveria estar preocupado com a molestadora que
afirmava estar grávida de seu filho.

— E... Eva? — Resmunguei, franzindo a testa como se não


tivesse ideia de quem falava. — Era a loira grávida, certo? A... A
prima da sua garota ou algo assim.

Droga, agora eu estava sendo extremamente estúpido. Ele


perceberia que eu fingia. E sim, estreitou os olhos, provavelmente
perguntando o que havia de errado comigo.

Dei de ombros. — Tinha a Sininho em sua camiseta. De que


outra forma era para chamá-la?

— Nada, eu acho. Não sei. — Mason acenou com a mão. —


Ignore. Foi apenas uma surpresa ver o nome de Skylar. Isso é tudo.

Eu enruguei a testa, totalmente confuso. Espere. — Por quê?


Quem é Skylar?

Mason exalou antes de dizer — ninguém. Quero dizer, ainda


não. É assim que Eva vai chamar a sua filha quando nascer.

— O quê? — Caí sobre a banqueta e o olhei de queixo caído.


Mas, não. Não, não, não. Isso não poderia estar acontecendo. Por
um momento, minha visão escureceu. Pensei que desmaiaria, mas
foi muito rápido e pisquei de volta focando em Mason.
— Ei, você está bem?

— Eu... — Bati em meu peito várias vezes. — Sim, —


finalmente eu disse com esforço — estou bem. Ótimo. Então o que...
vai ter uma menina, hein? Eva?

Assentiu lentamente, olhando-me curiosamente. — Sim. Na


verdade, recusou-se a dizer o nome que escolheu. Mas eu a peguei
bordando-o em algo a semana passada e me fez jurar que guardaria
segredo.

— Ela te fez jurar que guardaria segredo? — Franzi a testa,


ainda com a mão pressionada em meu peito, tentando evitar que
todas as peças quebradas caíssem, porque droga... Sininho
realmente terá uma filha chamada Skylar. E eu não tinha nada a
ver com isso. — Se você jurou que manteria segredo, então por que
me disse?

Mason recuou surpreso com a minha desaprovação. — Ei...


talvez porque não vi que importância teria se você soubesse. Duvido
que seus caminhos voltem a se cruzar.

Deus, ele tinha que esfregar isso tão duro na minha cara?

Limpando minha garganta, olhei para a camiseta em minha


mão. — Sim, — eu disse minha voz rouca — tem razão. —
Apontando para minha roupa vomitada, comecei a andar,
precisando escapar. — Vou ver se isto sai.

Não me lembro de ir pelo corredor até o banheiro. Nem sequer,


de ter aberto a água na pia. Só sabia que, de repente olhei para
cima da camiseta que lavava na água fria e vi meu reflexo no
espelho enquanto perdi a cabeça.
— Dane-se — murmurei, e joguei a camiseta molhada no meu
reflexo. — Porra.

Recuei até que minhas costas bateram na parede, esfreguei


minhas têmporas que martelavam e deslizei até sentar no chão,
segurando a cabeça entre as mãos e os cotovelos apoiados nos
joelhos, enquanto tentava não me descontrolar.

Como isso poderia estar acontecendo? Julian, Sininho e agora


Skylar todos acabaram sendo pessoas reais e nenhum deles era
meu, droga. Nem minha mulher, nem meus filhos, nem nada.

Era para ser meu, porra. Minha família. Meu felizes para
sempre. Jesus...

Madame LeFrey não mentiu quando disse que devolveu minha


esperança. Por dez anos, ansiei cegamente todas estas coisas,
coisas que não tinha certeza que queria. Uma esposa? Filhos? Esse
não era meu estilo, mas ainda os ansiava a cada respiração, porque
desejava o modo como me senti nessas visões. Queria as
demonstrações de amor, o orgulho da realização, a ternura de ser
adorado por outros, e finalmente ter um lugar e alguém a quem
pertencer. E agora... agora não havia nada. Nada de amor,
felicidade, satisfação.

Minhas mãos começaram a tremer e fechei os olhos. Passei


uma década apostando na mera esperança de que talvez essas
visões estúpidas pudessem ser realizadas.... Mantive meu nariz
limpo, o que foi uma façanha considerando de onde eu vim. Custou
muito esforço ser bom quando se vivia onde eu vivia, onde todos ao
redor enganavam e roubavam para se dar bem. Teria sido tão fácil
seguir esse caminho. Mas eu queria ser uma boa pessoa, uma
pessoa que acabaria merecendo a minha Sininho.
Mas de maneira nenhuma alguma vez eu seria bom o
suficiente para essa garota rica e mimada que vi no Facebook. Não
que isso importasse. Ela já tinha outra pessoa. E o idiota lhe deu
um bebê, ele pôs a Skylar dentro dela.

Minha Skylar.

Com minha garganta fechando, levantei meu rosto para bater


a parte de atrás de minha cabeça contra a parede. Depois de me
concentrar em respirar, o que parou as náuseas, fiquei em pé e tirei
minha camisa molhada da pia, molhando meu cabelo quando a
coloquei.

Tinha um turno para começar e um leilão que ganhar. Meu


maldito felizes para sempre certamente não viria para mim, então
percebi que teria que continuar trabalhando duro para fazer um por
minha conta.
EVA

— Está bem, sei que essa noite deveria terminar meu Trabalho
de Conclusão do Curso, mas poxa, meu cérebro está morto. —
Reese se jogou no sofá ao meu lado. — Em vez disso, vamos assistir
um filme.

Inclinando-se sobre onde eu trabalhava no meu novo projeto


de artesanato, um porta fraldas para o berço, pegou o controle
remoto. — Então, está no clima para Jake Gyllenhaal, Channing
Tatum, ou Zac Efron2? Eu voto em Zac, já que se parece com
Mason.

Enrugando meu nariz, parei no pedaço de tecido que cortava


com uma tesoura. — Mason não se parece nada com Zac.

— Como? Ambos são sexys. Isso é bastante parecido.

Acomodando-se no sofá, Reese colocou as pernas sobre o


descanso de braço e usou o pouco espaço que restava do meu colo
como travesseiro. Invejava-a por ser tão flexível. Algum dia, também
seria capaz de voltar a me mexer assim.... Logo que perdesse os
treze quilos a mais da minha cintura.

— Mesmo assim não se parecem em nada. — Voltei a cortar,


dando ao tecido um aspecto irregular com franjas.

2
Atores americanos.
— Bom. Então, que ator você acha que se parece mais com
Mason?

Argh. Não me importava com quem Mason se parecia. Desde


que ficaram noivos, Reese estava ainda mais apaixonada por ele.
Começava a me enlouquecer.

— Não sei — murmurei. — Talvez Tom Welling3 jovem, ou


Tyler Hoechlin, ou, o... Danny da série Bebê Daddy's4.

— Deus, sim. Danny é sexy. Mason pode ser um Danny.

— Pergunto-me qual seu verdadeiro nome — disse em voz alta.


— Digo o de Danny. — Pobre rapaz, provavelmente se cansou de ser
chamado de Danny quando era realmente outra pessoa.

— Quem se importa? — Disse Reese. — É sexy, isso é tudo


que eu sei. Mas, sério, precisava de mais cenas sem camisa no
seriado.

Terminando com minha tarefa de cortar o tecido, coloquei-o


junto com a tesoura na bolsa ao meu lado e zombei — ele está sem
camisa em todos os episódios.

— Eu sei — Reese apontou o controle remoto para a televisão e


começou a mudar os canais. — Absolutamente, não está sem
camisa o suficiente.

Rindo, deixei meu projeto em espera por um momento, assim


poderia desfrutar desse tempo com minha melhor amiga.
Levantando um pouco de seu cabelo escuro, comecei a trançá-lo e
percebi que logo não teríamos estes momentos juntas. Ela estaria

3
4
Seriado americano.
casada com Mason e eu teria Skylar. Iríamos em direções opostas.
Melhores, mas diferentes. Mesmo assim, sentiria muita saudade.

— Ei, o que acha deste? — Encontrando um filme no Amazon,


Reese agitou o controle remoto para a tela da televisão para chamar
minha atenção.

Olhei para cima só para franzir a testa. — Esse não tem Jake,
Channing e muito menos Zac.

— Mas tem Chris Hemsworth5. Então, é a mesma coisa. É


esse mesmo que vamos ver.

— Ok, amorzinho, — concordei, dizendo o que Mason


costumava falar — tudo que minha adorável e preciosa noiva
quiser.

Mas logo que apertou o botão para iniciar seu celular tocou.

Reese pulou por cima de mim com a agilidade que uma garota
grávida nunca teria e correu à cozinha para pegar seu telefone.

— É Mason — disse em voz alta, só para responder em


seguida com sua baixa e sedutora voz. — Olá, homem mais bonito
do mundo. Como você está?

Depois de escutar por um momento me deu um olhar


significativo. — Oh, tem certeza disso? — Um sorriso mal-
humorado se estendeu por seu rosto. — Bom, tudo bem. Eva e eu
adoraríamos levar ao Pick uma camiseta nova.

Ao ouvir esse nome, sentei ereta, prestando atenção na


conversa, meu sangue pulsava interessado.

5
Ator australiano.
Reese viu meu olhar e arqueou uma sobrancelha enquanto
continuava falando ao telefone — ok, claro. Também te amo. Tchau.
— Quando terminou a ligação, seu sorriso era petulante. — Bem,
bem, bem.

— O que foi? — Perguntei, precisando ter qualquer informação


que pudesse sobre o colega de trabalho de Mason. — Por que vamos
levar uma camiseta nova para o Pick?

— Sabia! — Estalou seu dedo e apontou para mim, cantando


— sabia. Você está totalmente na dele, não é? Não? Sim, você está!

Corei enquanto rangia os dentes. — Dá um tempo —


murmurei. — Estou grávida de sete meses e meio. A última coisa
que quero é me envolver com um cara.

Exceto, talvez, esse cara. Aff, por que não podia tirá-lo da
minha cabeça? Tivemos um breve encontro semanas atrás e isso foi
tudo.

— Não sei — murmurou Reese, batendo em seu queixo


levemente, enquanto me observava. — Becca disse que nunca
esteve tão excitada em sua vida como quando estava grávida.

Fiz uma careta. — Sim, só há algo muito errado com sua irmã.
— Embora possivelmente esse fosse meu problema. Meus malditos
hormônios da gravidez me deixavam com tesão. Mas, por que Pick
era o único que me excitava?

— Ele é muito sexy — disse Reese como se respondesse minha


pergunta silenciosa. — Quero dizer, não tanto como Mason. Mas
definitivamente exala sensualidade. As tatuagens e piercings fazem
com que pareça todo selvagem e incontrolável.
— Que seja — disse, dando um incrédulo olhar feio. Não havia
uma só coisa selvagem nele. E além disso, — é bem mais gostoso
que Mason.

Merda, acabei de admitir que estava atraída por ele, algo que
não deveria sequer pensar. Não queria caras na minha mente. Até
mesmo pensar em homens e em relacionamentos quando eu estava
preocupada com me tornar uma mãe solteira de primeira viagem
era simplesmente ridículo. O que havia de errado comigo?

Reese não pareceu notar o pânico em meu rosto, já que estava


muito ocupada discordando — não é nem mesmo possível.
Ninguém, quero dizer, ninguém é mais sexy que Mason.

Bati em sua mão com simpatia. — Querida, continue dizendo


isso a você mesma. Agora, o que aconteceu com a camiseta do Pick?

Estava morta de curiosidade. Será que uma cliente a


arrancou? Não que a culpe. Também estava curiosa para saber
como era seu peito nu. Provavelmente era como um sósia do Jake
Gyllenhaal... com mais tatuagens. Delicioso.

— Bem, aparentemente, seu menino amante foi trabalhar esta


noite sem perceber que tinha vômito seco de bebê na parte de trás
de sua camiseta.

Quando recuei surpresa, ela arqueou uma sobrancelha. —


Sabia que tem um bebê?

— Não. — Balancei a cabeça, sentindo-me quase traída, o que


não fazia sentido, porque carregava cerca de treze quilos a mais do
meu próprio bebê. — Continue falando.

Ela revirou os olhos, mas obedeceu. — De qualquer forma, não


tem tempo para ir em casa buscar uma camiseta limpa, então
Mason queria saber se eu, e é claro estou te incluindo nessa missão
porque eu te amo e sei que quer vê-lo, poderia pegar uma de suas
camisetas e levar até lá para seu amigo vestir.

— É claro que levaremos. — Lutei para me levantar do sofá,


sentindo-me como uma baleia monstruosa que não podia se mover
enquanto agitava meus braços em busca de ajuda.

Reese teve pena e pegou minha mão me puxando para cima.

Alisei minha blusa sobre minha volumosa cintura e suspirei —


obrigada. Eu lavei e dobrei as roupas hoje. Acho que há uma boa
camiseta limpa no topo do cesto sobre a máquina de lavar.

Quando corri para o corredor para buscá-la, Reese me seguiu.


— Você realmente gosta desse cara, não é?

Com um suspiro, peguei a camiseta que logo estaria


pressionada contra Pick e roçando sua pele nua. Oh, suspirei. Mas
continuei fingindo que não me afetava, porque francamente, estava
apavorada por me afetar.

— Nem o conheço. — Simplesmente queria saber tudo sobre


ele.

Ela sorriu e levantou as sobrancelhas enquanto


caminhávamos para a porta da frente. — Oh, não acho que esqueci
de como ele paquerou você naquela noite. Vamos lá, quero dizer:
“Não coma esses amendoins, Sininho. Deixe-me te dar alguns
novos.” — Quando dramaticamente afastou seu cabelo se abanando
enquanto tentava imitar o que ele disse, bufei e revirei os olhos.

— Você é tão ridícula.

— Que seja. Poderia estar preocupada com cadelas más da


Flórida voando em suas vassouras, — continuou Reese, — e em
seguida, ficar noiva de Mason, e.... Oh, meu Deus, ainda não posso
acreditar que estou realmente noiva. Está acontecendo. Mason e eu
vamos nos casar.

Com um riso escandaloso, estendeu sua mão esquerda para


me mostrar o anel que, juro, não tirou desde que Mason o colocou
lá, talvez, nem mesmo para tomar banho.

— Não é o mais lindo diamante que já viu?

Sorrindo, agradecida pela distração, concordei — sim querida.


Ele se saiu bem.

Abri a porta para deixá-la abrir caminho para o carro velho


que ela e Mason compraram esta semana.

Ficaria surpresa se o carro durasse um mês.

— Bem? — Ela me olhou como se eu estivesse drogada. — Ele


foi incrível. Se alguma vez houve um símbolo para mostrar o quanto
ele me ama e quer ficar comigo para o resto da sua vida, é este anel.

Ela continuou falando até que, quase chegando ao clube, o


toque de seu celular a interrompeu. Meu estômago revirou com
medo que fosse Mason ligando para nos dispensar, dizendo que
Pick já havia conseguido uma camiseta de outra pessoa. Queria ser
a única a cuidar dele.

Humm, devem ser os hormônios da gravidez canalizando


algum tipo de instinto maternal, porque certamente, nunca quis
cuidar de nenhum cara antes, por nenhuma razão. Estranho.

Escutando a conversa de Reese, pude ver que era a mãe de


Mason ao telefone.

— Está bem. Mudança de planos — disse quando terminou a


chamada e jogou seu telefone no console central. — Sarah está com
febre, então Dawn precisa que eu vá à farmácia e pegue um
remédio para ela.

A mãe de Mason, Dawn, ficava louca quando sua filha, Sarah,


tinha qualquer problema, já que tinha paralisia cerebral. Mais de
uma vez por semana, Reese ou Mason tinham que ir ajudá-las. Sei
que não podia falar nada já que atualmente vivia à custa de Mason
e Reese.... Bem, mas para mim, Dawn dependia demais de seu
filho. Não era de se admirar que ele se sentiu pressionado a vender
seu corpo para a malvada chefa ou como atualmente Reese a
chamava, a Bruxa Malvada da Flórida.

— Mas, e Pic... — Comecei a falar quando Reese levantou a


mão me parando. — Estamos a apenas uma quadra do clube. Vou
te deixar na porta principal, então vou à farmácia, levo o remédio
para Dawn e em seguida, volto e te pego no caminho para a casa.

Teria que dar uma volta para passar por aqui, mas sabia que
ela sempre tinha essa sensação de urgência quando a mãe de
Mason precisava de algo. Assim, fiquei calada.

— Tudo bem. — Colocando a camisa de Pick em minha bolsa,


balancei minha cabeça quando paramos na calçada.

— E lembre-se, — ela me deu um sorriso e uma piscada, —


está tudo perfeitamente bem se quiser arrancar toda a roupa
daquele tatuado homem doce e solitário... lambê-lo.... Está grávida.
Seus hormônios estão fora de controle. Não é culpa sua.

Revirei os olhos, mas meus hormônios de gravidez já pulavam


com a imagem que surgiu em minha cabeça. — Agradeço por sua
permissão. — Abrindo a porta, acrescentei — mas ouvindo meus
hormônios é que me enfiei nessa situação, então, prefiro deixar
passar.
— Mas Mason gosta dele. Diz que Pick é seu colega de
trabalho favorito... não só porque é um grande trabalhador, mas
também pela forma como trata as mulheres. Suponho que o homem
sabe fazer com que cada uma delas se sinta especial.

Olhando-a fixamente, ignorei a decepção que senti. Então,


tratava todas as mulheres dessa forma, não é? Sabia que deveria
ser algo bom. Quero dizer, estava certo em nos tratar bem, mas isso
também significava que não foi direcionado apenas a mim. Não foi
especial, simplesmente mais uma mulher sem nome e sem rosto
que ele sentiu necessidade de cuidar.

Balançando minha cabeça, disse a mim mesma que não


importava. De qualquer forma, queria me manter longe de todos os
homens, principalmente os que bebiam. Mas lá no fundo, ainda
doía. Provavelmente não significava nada para um homem que eu
não consegui tirá-lo da minha cabeça por mais de duas semanas.

Então, escondendo minha decepção soprei um beijo a Reese.


— Adeus querida. Dê um beijo em Sarah por mim, ok?

— Pode deixar.

Enquanto Reese se afastava, virei meu rosto às brilhantes


luzes de néon do Forbidden. Faltavam dez minutos para abrir,
assim me apressei em direção à porta e bati, até que um menino
cujo nome nunca lembrava estava me olhando.

Tirei a camiseta de Mason de minha bolsa e balancei como


uma espécie de sinal de paz, até que ele abriu a porta para mim.

— Olá — sussurrei, dando um sorriso inseguro. — Você é


Gamble, certo?

— Quinn — corrigiu.
Ai, errei seu nome. — Quinn — repeti. — Bom, ouça, não sei
se lembra de mim, sou prima de Mason, Eva. — Muito em breve eu
seria. — Estou aqui para entregar uma camiseta.

— Para Pick? — Perguntou abrindo totalmente a porta para


mim.

— Sim. — Entrei, prendendo minha respiração, preparando-


me para o momento em que o veria novamente. — Para Pick.

Mas não vi Pick em nenhum lugar. Além de Quinn, só Mason e


Ten estavam no bar. Olhei fixamente para Mason, que fazia algo
atrás do bar, de costas para mim.

— Uma camiseta preta — anunciei, fazendo-o virar e dar a


volta. — Recém-lavada e passada.

Quando me viu, franziu o rosto olhando para a camiseta


enquanto procurava por trás de mim. — Onde está Reese?

— Mudança de planos. — Sentei no bar e vi um prato de


amendoins. Bati meus dedos na bancada por alguns segundos,
tentando resistir à tentação, mas não aguentei e estiquei a mão, —
sua mãe chamou — minhas palavras foram abafadas enquanto
mastigava. — Ree Ree teve que ir à farmácia buscar um remédio
para Sarah. Então ela me deixou aqui e voltará assim que tudo
estiver resolvido.

Ele ficou preocupado. — O que há com Sarah?

Dei de ombros. — Febre, ou algo assim. Não tenho certeza.

Mason me dispensou imediatamente, pegando o celular e


ligando para Reese. Enquanto estava ocupado, Ten se sentou ao
meu lado.
Levantando o queixo em minha direção, mexeu as
sobrancelhas. — Então, vai amamentar essa criança quando
nascer?

Quando seu olhar se dirigiu aos meus seios inchados, cheios


de leite, suspirei. Suportei este tipo de idiota muitas vezes em
minha vida. Aproximando-me mais, dei-lhe um sorriso sedutor.

— Sim, vou amamentar. — Tocando seu braço, pisquei. — Ei,


você acha que poderia me ver fazendo isso em algum momento, se
estou fazendo certo, porque... — levantei meus dedos para morder
uma unha, — sou nova nisso e não sei como fazer alguém sugar
meus seios.

Ele concordou sem dizer nada, com a boca aberta. — Droga,


sim, eu poderia ver. Fala sério, querida?

— Deus, não, não falo sério, seu otário. — Empurrei seu braço
forte, fazendo com que saísse do banco ao meu lado. — Vai cuidar
da sua vida e pare de seduzir mulheres grávidas.

Tropeçando em suas próprias pernas, caiu com força de


bunda no chão. Praguejando, levantou-se e sacudiu a sujeira de
sua calça enquanto franzia o cenho. — Jesus, só estava
perguntando. Tudo que tinha que fazer era dizer não.

— Não — repeti, olhando-o com um olhar sério de advertência.

Levantou as mãos e recuou. — Ok. Tudo bem. Você quem está


perdendo, tetas de leite.

Quando se virou, Pick finalmente apareceu, saindo do corredor


dos fundos e passando uma estressada mão pelos cabelos úmidos,
como se algo o perturbasse. Uma onda quente de energia passou
por mim. Pulei tão rápido do banco que fiquei tonta.
— Olá — cumprimentei-o sem fôlego.

Cambaleou parando e virou a cabeça em minha direção.


Enquanto olhava sem responder, meu nervosismo aumentava.

— Eu... você... aqui. Camiseta.

Oh, meu Deus. Que droga acabei de dizer?

Franziu o cenho, confuso, enquanto olhava para a camiseta


que lhe passei. Quando olhou para cima novamente, suspirei.

— Mason ligou — disse ao final com um pouco de decoro,


apesar de que minhas bochechas ardiam com vergonha.

Não poderia acreditar quão boba parecia. Era Eva Mercer,


rainha da indiferença e serenidade, superior e sempre difícil de
conseguir. Minha maldita atitude deveria estar presente aqui. Até
mesmo se me jogasse aos pés de Pick e lhe implorasse: tome, sou
sua; não acredito que poderia ser mais patética do que fui agora.

— Ele disse que você precisava de uma camiseta e pediu que


trouxéssemos uma das dele — acrescentei com mais calma. —
Assim... aqui está. Lavada por mim mesma, exatamente hoje.

Não pegou a camiseta, franziu o cenho e perguntou — Mason


chamou você? Espera, lava a roupa dele?

Não esperava esse tipo de pergunta, e me assustei com o tom


de acusação em sua voz. Então, levei um momento para responder
— Sim. Lavo sua roupa. Se eu vivo com eles e à custa deles, o
mínimo que posso fazer é lavar suas roupas. E não me chamou,
diretamente. Chamou Reese e pediu a ela. Mas ela está ocupada
neste momento com outra coisa e me ofereci, já que eu estava
deitada no sofá, esperando até que meu bebê nasça.
Começou a sorrir como se gostasse de ouvir que eu realmente
quis lhe trazer uma camiseta. Mas então, franziu a testa e balançou
a cabeça — Espera, vive com Mason?

— O quê? — Meus olhos se arregalaram enquanto respondia


— não, não, dessa forma. Vivo com Reese... que vive com Mason. —
Quando levantou uma sobrancelha, mordi meu lábio. — Então, está
certo, tecnicamente, acho que vivemos sob o mesmo teto. E
comemos na mesma cozinha e compartilhamos um banheiro
minúsculo, mas... não vivo com Mason. Nada como isso. — Quando
dei uma risada nervosa, ele sorriu.

Deus, como adorava seu sorriso. Adorava como iluminava


seus olhos e como seus lábios esticados faziam com que os anéis
neles se levantassem. Sentia-me tão plena por vê-lo feliz assim.

— Bem, obrigado por esclarecer. E obrigado pela camiseta.

Estendeu a mão e envolveu os dedos ao redor do tecido, mas


não me sentia pronta para esse momento acabar. Quando tentou
puxá-la da minha mão, não deixei que a levasse. Ambos seguramos,
nenhum de nós querendo soltar, jogando um seriamente quente
cabo-de-guerra.

— De nada — sussurrei, notando como a camiseta ensopada


que vestia agora se agarrava ao seu corpo. Suspirei... Como alguém
tão magro poderia ter um peito tão definido? Era o contorno de um
anel no mamilo que marcava o tecido molhado? Oh, santo Deus, o
menino tinha um mamilo perfurado. Mate-me agora.

— Entretanto, honestamente, — disse-lhe sem fôlego — essa


camiseta molhada está muito bem em você. Certeza que quer trocar
por esta velha e seca?
Seus olhos castanhos estavam surpresos antes de me dar
lentamente um sorriso sedutor. Usando a camiseta que ambos
segurávamos para me puxar mais perto, baixou sua voz. — Por que,
doce Eva Sininho Mercer, — murmurou, seu tom uma censura
provocante — está me paquerando?

— O quê? Não! — Engolindo, percebi que, bom Deus, eu


estava. Que malditamente mortificante. Soltando a camiseta, dei
um passo atrás. — Merda. Sinto muito.

— Por quê? — Ficou decepcionado. — Não disse que me


importava.

— Sim, mas você... eu... — Franzi o cenho, sem recordar por


que paquerá-lo novamente era uma má ideia.

Mas ele parece ter entendido, porque seus olhos mostraram


compreensão. — Já tem um namorado.

— O quê? — Sacudi a cabeça. — Não. O que te fez pensar


isso? — Quando seu olhar se desviou para minha barriga, limpei
minha garganta. — Oh, certo. Isso. Sim, não... não, definitivamente
não... não. Esse cara é.... um imbecil. — Agitei minha mão
indicando que Alec se foi faz tempo até que percebi quão estranha
deveria parecer, tagarelando como uma idiota e agitando as mãos.
Deixei cair os braços ao meu lado, sentindo-me como Reese quando
ficava boba.

— Cinco minutos para abrir, — gritou Ten do outro lado do


bar.

Atrás de mim, Mason murmurou — droga.


Pick e eu nos olhamos antes de nos virarmos juntos para ver
que Mason reclamava por tentar encaixar rápido um dosador em
uma garrafa de rum.

— Está tudo bem aí, Lowe? — Pick perguntou.

Murmurando entre dentes, Mason assentiu enquanto sacudia


o álcool derramado em suas mãos. Não parecia nada bem.

— Mmm... — começou antes de bater no meu braço com a


camiseta. — Vou me trocar. Volto logo.

Concordei, mas mantive minha atenção em Mason. — O que é


que está acontecendo? — Perguntei assim que Pick saiu.

— Nada — resmungou. — Droga. Caiu em meus jeans.

Quando abriu os braços e olhou à única mancha de umidade


em sua coxa como se fosse o fim do mundo, arqueei uma
sobrancelha. Sem dúvida isso não era próprio do Mason.

— Bom, algo está errado. Qual é o seu problema?

Olhou-me, bem quando Quinn se aproximou do bar. — Cara,


está tão nervoso com esse leilão dessa noite como eu?

Virei-me com curiosidade para ver o cara alto que


lembrava um urso de pelúcia, enorme e volumoso, mas muito fofo
até para matar uma mosca. Mmm, talvez fosse mais como Danny
de Bebê Daddy's. — Que leilão?

— Não é nada. — O tom de Mason me disse o contrário.

— Cara, sim é. — Ten deslizou para o banco ao meu lado como


se eu não o tivesse empurrado dali há cinco minutos. — A noite de
leilão é uma garantia de fabricar dinheiro... isso se o ganhador for
você. E, porra, esta noite serei o escolhido. Gamble não está por
perto para me atrapalhar.

— Espera. Estou confusa. — Virei para Quinn, já que eu tinha


a sensação de que Mason morderia minha cabeça se lhe
perguntasse outra vez, e realmente não tinha vontade de falar com
o senhor Tetas de Leite. — O que acontece na noite de leilão?

— Somos leiloados — explicou Quinn em voz baixa, e seu


olhar me disse que não estava ansioso por isso. — Ao menos, um de
nós é. A mulher que ganhar, poderá escolher qualquer um de nós.

Uma familiar sensação de medo afundou em meu estômago e


não tinha nada que ver com o bebê do tamanho de um abacaxi que
vivia ali. Olhei para Mason, que se recusou a me olhar. Então voltei
para Quinn. — A ganhadora poderá fazer o quê, exatamente?

Ele encolheu os ombros. — Não tenho certeza. Servir-lhe todas


as suas bebidas, prestar atenção a ela e coisas assim, e ficar ao seu
lado a noite inteira. Ten disse algo sobre flertar, mas... — Deu-me
um olhar inquieto.

Virando para Ten, pus minhas mãos nos quadris e o olhei. —


Bem, Mason está fora. Não vai vender seu corpo por nenhum
motivo.

Ten me olhou. — Jesus, você faz parecer como se fôssemos


nos tornar um bando de gigolôs.

A simples palavra me arrepiou. Só podia imaginar o que fez a


Mason. Mas me neguei a olhá-lo, temendo de alguma maneira
entregá-lo.

— Somos atenciosos, isso é tudo — continuou Ten. — Não


temos que dormir com a garota, ou beijá-la, droga, nem sequer
tocá-la. Sobretudo se for feia. — Apontando-me, virou-se para
Mason. — Pensei que a morena fosse sua noiva. Não esta.

— Ela é — falei, batendo no braço de Ten com meus dedos. —


Mas como a prima e melhor amiga da morena, sei exatamente o que
diria se estivesse aqui, e seria: “De jeito nenhum. Mason não fará
isso”.

— Não importa o que você diga — respondeu Ten usando o


mesmo tom que usei — porque a ganhadora escolherá a mim e não
a ele. Pick! — Gritou no momento em que ele apareceu no corredor
vestindo a camiseta de Mason, a qual — suspiro — ficava um pouco
larga. — Faça que esta louca se acalme, por favor?

— Cuidado com o que diz. — Pick se moveu para Ten como se


quisesse ter um duelo, mas agarrei seu braço.

— Pick, — interrompi — por favor, não faça Mason participar


desse leilão.

Desviou-se para mim e olhou a minha mão nele antes de


levantar seu rosto, com os olhos brilhantes pela surpresa. Então
balançou a cabeça. — Eu.... Não é comigo, Sininho. Nosso chefe
decidiu.

— Então quero falar com esse chefe idiota.

— Eva — assobiou Mason, com a mandíbula tensa e seus


olhos cheios de ira. — Cale-se, está tudo bem.

— Não — discuti, porque não estava bem. Ele parecia


exatamente do jeito que me sentia tantas vezes no passado. Virando
para Pick, implorei com meus olhos. Ele não quer fazer isso. —
Garanti que minha voz fosse suficientemente baixa para que Mason
não nos escutasse.
Mas Pick não entendeu. Sorrindo, balançou a cabeça. — É
divertido. Não há nenhum mal nisso, não é como se ele enganasse a
sua prima. Droga, eu sou casado. Assim é completamente...

Fiquei boquiaberta. — É casado? — Oh, meu Deus.


Arranquem meu coração.

Ele congelou, a culpa em seu rosto era óbvia. De repente, senti


vontade de vomitar. Acabava de paquerar com um homem casado.
E por que não presumi que fosse casado? Soube que tinha um
bebê, por Deus. Os pais ocasionalmente se casavam com as mães
de seus filhos. Droga, que idiota.

E por que me sentia tão perdida de repente? Como se tivesse


me traído.

Limpando a garganta, Pick abaixou a cara e balbuciou — mais


ou menos.

— Mais ou menos? — Arqueei uma sobrancelha. — É como se


eu dissesse que estou mais ou menos grávida. Ou está ou não.

— Ok, então. — Olhou para cima e juro que vi dor e um


pedido de desculpas em seus olhos. — Sim, estou, então. Estou...
casado.

Oh, droga. O único homem que realmente me afetou estava


casado. Bati em seu braço. — Porra, por que me deixou te paquerar
se é casado?

Abriu a boca, mas tudo que disse foi — Ah...

Revirei os olhos e suspirei. Olhando para longe, porque doía


demais olhar para ele, vi Mason chateado atrás do bar e lembrei de
minha missão. Virando-me para Pick, sussurrei — por favor, não
faça que ele se leiloe. Não tem nem ideia do que isso lhe fará.
Pick olhou para Mason e o estudou um momento antes de
aproximar-se de mim. — Tem algo que ver com a mulher que veio
aqui na semana passada?

Hum, ele era bom. Mas já demonstrou quão perceptivo era a


última vez que o vi. Engoli, tentando não revelar nada com minha
expressão enquanto o encarava. Mas tive o mau pressentimento
que dei a resposta, porque Pick assentiu como se de repente
entendesse.

Depois de exalar rapidamente, falou alto o suficiente para que


Mason o escutasse. — Bom, não tem que fazer isso se não quiser.
Não é como se Jessie fosse te despedir se dissesse que não.

— Sério? — Animada com essa possibilidade, virei para


Mason.

Ele mordia o lábio, claramente tentado. — Tem certeza que ela


não se importaria?

Pick concordou. — Ela pode resolver comigo se se importar.

Mason assentiu. — Então, não, eu não... não quero participar.

— Eu também não quero — falou Quinn.

Amaldiçoando, Pick fechou os olhos momentaneamente antes


de franzir o cenho para Quinn. — Jesus, pessoal. Tudo bem. —
Soltou um suspiro frustrado. — Nenhum de vocês tem que fazer
isso, mas o leilão não funcionará só com Ten e eu nele. Terão que
se apresentar conosco no evento principal e fingir participar. Então,
se alguém escolher a algum de vocês...

— O que não ocorrerá — gritou Ten do outro lado do salão


enquanto destrancava as portas da frente, — porque todas as
garotas vão me escolher.
Pick assentiu. — Então, só teremos que dizer a ganhadora que
vocês têm que trabalhar no bar esta noite e ela tem que escolher
outro.

Respirei, aliviada. Com um olhar rápido a Mason, vi que ele


também. Bom, um problema resolvido. Virando-me para Pick,
percebi que tinha mais uma coisa a resolver esta noite. Esticando a
mão, agarrei-o por sua camiseta.
PICK

— Precisamos conversar — disse ela.

Eva me surpreendeu quando agarrou a frente da minha


camiseta.

— Mmm, está... bem. — Tropecei enquanto ia para o corredor,


arrastando-me atrás dela. Não que me importasse em segui-la. A
seguiria a qualquer parte que me levasse, em qualquer lugar que
possa estar a sós com ela. Mas a forma como me puxou foi
excitante.

Minha nuca arrepiou de ansiedade. Eu sabia o que sentia ao


empurrar dentro desta mulher. Sabia exatamente como ela ficava
quando fechava os olhos e mordia o lábio inferior enquanto gozava,
como seus músculos apertavam em volta do meu pau e seus seios
arqueavam contra meu peito. No entanto, nunca fiz sexo com ela,
nunca a vi nua, nem a beijei.

Minha mente sabia, mas meu corpo ainda não. Meus sentidos
tremiam com excitação pura e simples. Era impossível estar tão
perto dela, respirar seu perfume de lavanda e não recordar cada
detalhe daquelas malditas visões. Ela foi a melhor transa que tive e
nem sequer foi real.
A primeira vez que estive com uma garota, esperava aquela
emoção, aquela sensação ofuscante que tinha quando estava com a
Sininho nessas visões. Mas não aconteceu. Nunca veio quando
estava com outra pessoa. Não podia contar quantas vezes procurei
a felicidade inesperada de me enterrar profundamente no paraíso,
só para chegar a nada.

Olhando agora para Eva, tinha que me perguntar se seria


assim com ela já que era a mulher de minhas visões, minha alma
gêmea. Meu pau definitivamente pensava isso. A coisa estava dura
como uma pedra.

Ela parou abruptamente na metade do corredor e se virou


para mim. Tive que me segurar para não tropeçar nela e apunhalá-
la por acidente com meu pau. Meu corpo aquecido, acendendo esta
corrente que me deixou além de dolorosamente duro. Graças a
Deus, a camiseta de Lowe ficava folgada, ajudando a esconder isso.

— Quer ganhar esse leilão? — Perguntou.

Pisquei, tentando tirar de minha cabeça a visão de ter sexo


com ela. — Sim — respondi finalmente. — Sim, quero.

— Bem. Foi o que pensei.

Abrindo uma enorme bolsa, tirou uma lata de aerossol de


algum tipo e o sacudiu antes de pulverizar uma meleca branca que
parecia chantilly em sua mão, o que realmente fez girar meus
pensamentos sujos, até que ela disse — aqui. — E alcançou meu
cabelo.

Em vez de me agachar, dei um cauteloso passo para trás. —


Que porra é essa?
— É mousse, seu idiota, também conhecido como gel para
pentear o cabelo. Vou deixá-lo incrivelmente sexy em vez de
ligeiramente sexy. Agora abaixe a cabeça para eu arrumar seu
cabelo e te ajudar a ganhar esse leilão.

Se ela quisesse espalhar coco de cachorro em mim só por


prazer, possivelmente deixaria. Era Sininho, não podia negar nada
a ela. Assim abaixei a cabeça.

Espera, ela me chamou de ligeiramente sexy? Espera outra


vez...

— Deixe-me ver se entendi. Quase teve um enfarte para tirar o


Lowe desse leilão, mas agora está aqui, arrumando-me, para assim
eu poder ganhar? — Não estava certo se deveria estar ofendido ou
não. Por que ela não tinha problema em me vender a uma mulher
qualquer?

Mas então ela afundou seus dedos em meu cabelo, e dane-


se.... Nada me ofenderia por um bom tempo. Jesus, seus dedos
eram bons. A sensação era muito boa. Suas unhas ocasionalmente
raspavam em meu couro cabeludo e cada vez que o faziam, cada
nervo de meu corpo tinha um mini orgasmo. Meu batimento
cardíaco pulsou em minha ereção latejante até que tive que me
concentrar para não rodar meus quadris com seus dedos enquanto
mexia em meu cabelo com estes puxões rítmicos, certificando-se de
pôr essa merda de espuma em cada mecha. E oh... Santo Menino
Jesus, sentia-me bem. Tão. Porra. Bem.

Então ela falou, e o tom de sua voz era como garoa de


chocolate sobre uma já perfeita sobremesa. — Você realmente quer
ganhar — disse — e ele não queria participar, então.... Sim. É
exatamente isso.
O que disse? Creio que estava muito ocupado tentando não
gozar em minhas malditas calças. Cristo. Ela podia me arrumar
todos os dias da semana. Estendi a mão e a pressionei contra a
parede para me apoiar, porque todo o sangue correu para meu pau
e me senti tonto.

— Ok. Olhe para cima. — Sua voz ficou mais rouca.

Levantei meu rosto, respirando ofegante quando nossos


olhares se encontraram. Suas pupilas pareciam dilatadas e cheias
do mesmo calor que eu sentia. Minhas narinas se abriram, ansiosas
por inalar seu aroma de lavanda, mas tudo o que pude cheirar foi
esse maldito mousse.

— Você, está... — Limpou a garganta e olhou para longe de


mim, para se concentrar no que fazia em meu cabelo. Seus dedos
desaceleraram como se quisesse estender nosso tempo juntos.
Deus, eu amava a provocação suja. — Há realmente outra coisa que
queria discutir com você.

Ainda se negando a me olhar nos olhos, chupou seu lábio


inferior entre os dentes, bem como fez quando eu estava dentro
dela. Era muito mais que excitante.

— Bem. — Arrastei as palavras. — Diga.

— Certo — assentiu. — A última vez que conversamos, sei que


saiu com esta louca hipótese sobre mim que.... Bem... — Tirou os
dedos de meu couro cabeludo e me olhou, queimando-me com
esses olhos muito azuis que sonhava todas as noites. — Está
errado. Ok? O que tenha pensado... está errado... não é verdade.
Isso nunca aconteceu, não comigo. Deu-me um sorriso encorajador,
mas tenso. — Ok?
Vi sua garganta se mover quando engoliu. Olhei para suas
mãos, que apertavam inconscientemente a sua cintura. Olhando
para cima outra vez, vi a determinação e o desespero em sua
expressão e concordei lentamente. — Ok — sussurrei, encolhendo
os ombros como se não fosse grande coisa.

— Ok — ela repetiu acenando com a cabeça, antes que uma


carranca se aprofundasse entre seus olhos. — Espera. Fiquei
pensando nisso por duas semanas, incapaz de parar de me
preocupar com o que você pensou sobre mim, e com quem mais
falaria, e tudo o que tem a dizer é "Ok"? — Pôs as mãos nos quadris
e franziu a testa.

Seu temperamento zangado era tão adorável que me fez sorrir.


Fez-me lembrar de Sininho que criei em minha mente, uma
atrevida alma gêmea que discutia comigo, mesmo quando era
totalmente obediente.

Dane-se, talvez ela não fosse exatamente como mostrou em


sua página do Facebook. Talvez não fosse a muito rica e mimada
princesa que me convenci que era. O que era ruim. Pensando que
era mais parecida com o que eu imaginei em vez do que eu temia,
fez meu coração acreditar que talvez pudesse chegar realmente a tê-
la.

Mas não podia.

Com minha mão ainda apoiada contra a parede, inclinei-me,


pairando acima dela. — O que quer que eu diga, Sininho? Que sei
que está mentindo? Que sei que realmente aconteceu, e só em
pensar nisso me rasga na porra da metade? Que quero achar o
monstro ou monstros que te machucaram e destruí-los com minhas
próprias mãos? Isso é o que prefere?
Seus olhos se arregalaram e expirou por seus lábios
entreabertos. — Eu... — Ela balançou a cabeça. — Na verdade, não.
Tem razão. "Ok" foi uma boa resposta, afinal.

— Sim. Tenho certeza que foi. — Então eu sorri, amando que


finalmente poderia sentir seu aroma de lavanda outra vez. — Não se
preocupe, querida. Guardarei seu segredo se me prometer uma
coisa em troca.

Ela foi para trás se afastando de mim, com o cenho franzido.


— Não faço negócios.

— Relaxe. — Com uma risadinha, peguei uma mecha de seu


cabelo entre meus dedos e quase gemi quando senti quão suave
era. Exatamente como me lembrava em minhas visões. — Só quero
que me diga que não está em perigo. Se me garantir, te deixarei e
fingirei que sou um idiota ignorante. Concorda?

A vulnerabilidade em sua expressão fez com que cada instinto


protetor aparecesse em mim. Só queria pegá-la e levá-la a um lugar
seguro, onde ninguém pudesse incomodá-la novamente.

— Já não estou em perigo — garantiu. No mesmo momento,


seus olhos se ampliaram surpresos, como se não pudesse acreditar
que acabava de me deixar saber que eu não estava errado afinal

Fechei os olhos brevemente, porque ainda tinha esperança de


que poderia ter errado. Mas agora que ela confirmou, a dor apertou
minha garganta, fazendo minhas palavras ásperas quando disse —
bom. — Inclinando-me, pressionei meus lábios em sua testa. —
Graças a Deus.

Ela se afastou de mim com um suspiro. — Não deveria fazer


isso.
Pisquei, desconcertado. — Fazer o quê?

— Me beijar!

Rindo, peguei sua mão e puxei-a para mais perto. Eu não


queria estar a meio metro de distância. — Pressionar minha boca
em sua testa não é.... — Mas as palavras se prenderam em minha
boca assim que seus olhos azuis grandes e amplos, cheios de calor
e medo olharam para mim. Engoli em seco. — Bem, não tinha que
significar algo, apenas... você sabe... afeto amigável.

Deus, soava ridículo.

Mas ela assentiu como se estivesse desesperada por acreditar


isso. — Bom então. — Tirou os dedos dos meus e começou a
acariciá-los com sua outra mão, como se meu toque a tivesse
queimado. — Não quero que sua esposa venha atrás de mim com
uma arma ou algo assim.

Levei um segundo para perceber de quem falava. Continuava


preso em minha cabeça que ela era a única mulher com quem me
casaria. Por um momento, entretive-me com uma ridícula imagem
dela perseguindo a si mesma com uma arma. Era uma visão
engraçada, parecendo saída de um desenho animado.

Comecei a sorrir até que me lembrei da realidade. Referia-se a


Tris. Mas Tristy não importaria se fosse para casa com uma dúzia
de garotas cada noite. Mas eu gostava desta barreira entre nós. Não
queria que Sininho soubesse sobre a farsa que era meu
"casamento". Porque por ela, tinha um mau pressentimento de que
anularia meus votos ou alguma merda parecida, o que não podia
fazer. Não se quisesse manter Julian seguro.

— Então, acho que manterei minha boca longe de sua cabeça.


Eva assentiu. — Está bem.

No momento que se virou e começou a ir, não pude deixar de


olhar para sua suave e redonda bunda. Droga, quase desejava que
a gravidez lhe fizesse o que fez a Trist, deixando-a duas vezes maior,
porque suas firmes nádegas pareciam muito boas para resistir.

Ela olhou para trás. — Está olhando para minha bunda?

Soltei um suspiro e neguei, mas confessei. — É claro. E estou


completamente confuso. Ter um filho não deveria deixar sua bunda
maior? — Movi meu dedo para ela. — Não deliciosamente atraente
assim!

— Confie em mim, querido. — Piscou enquanto bateu com


uma mão em sua bunda. — Isto é enorme em comparação a como
era.

— Querido Deus no céu. — Gemi enquanto se afastava outra


vez. Uma pessoa não seria capaz de dizer que estava grávida,
porque de costas, tinha curvas perfeitas. Quando deu um
presunçoso balanço extra a seus quadris, provavelmente sabendo
que eu continuava olhando, sorri.

Merda. Acho que gostei dela. Além de seu corpo assassino,


tinha uma insolência e garra, com alguma suavidade e um grande
coração preocupado em cuidar das pessoas. Sorri me lembrando de
como tentou ajudar Lowe a beber água na outra semana. Tinha a
sensação de que nem imaginava quão verdadeiramente bondosa
era.

Entrando no banheiro antes de voltar ao bar, verifiquei meu


cabelo, rindo em voz alta quando vi que fez um moicano.
— Maldição — murmurei, cuidadosamente tocando as pontas
gelificadas. Eu gostei.

— Caralho! — Ten assobiou assim que me viu. — Se acha que


o cabelo te ajudará a ganhar o leilão...

— Fará. — Bati em seu ombro com um sorriso. — Sinto muito,


otário, mas vai perder esta noite.

— Idiota. — Franziu o cenho atrás de mim enquanto me


afastava para atender uma mesa cheia de mulheres que pareciam
ter os bolsos cheios e podiam se dar ao luxo de ganhar.

Era hora de começar a me promover.

Mas vi Eva no bar, sentada no banco enquanto comia uma


porção de amendoins. Era bastante estranho para uma mulher
grávida entrar em um bar quando estava fechado, mas ficar depois
que abriu... não me agradou. Se alguém a assediasse, seria
obrigado a matá-lo.

Caminhando até ela, enchi seu pote de amendoins e apoiei os


cotovelos no balcão para vê-la morder o lábio inferior enquanto
olhava para a tigela, debatendo consigo mesma se deveria comer
mais ou não.

— Se ainda se preocupa que eu vou deixar qualquer mulher


comprar Lowe, prometo que não deixarei.

Ela cedeu e pegou outro punhado antes de me responder com


um sorriso alegre. — Oh, isso não me preocupa. Não tenho
nenhuma dúvida de que cumpre com sua palavra.
Encheu-me de orgulho. Eu era um completo estranho que
perturbou sua paz de espírito na primeira vez que nos vimos.
Entretanto, aqui estava ela, alegando confiar em minha palavra.

Mas isso não explicava por que continuava aqui. — Então,


ainda está aqui porque...? — Levantei minhas sobrancelhas. —
Quer ver quem me comprará? — Dei um repentino e travesso
sorriso. — Está com ciúmes, Sininho?

Ela revirou os olhos. — Lindo. Mas, não. Estou esperando


minha carona. Reese deve vir me buscar em poucos minutos.

Droga. Estava presa aqui. Adorei, porque significava que


desfrutaria de sua presença por mais tempo. Entretanto odiava,
porque meus nervos ficaram à flor da pele, sabendo que não tinha
como manter um olho constante sobre ela nesta multidão.

— Sabe, se sentir incômoda aqui, posso te mostrar um quarto


na parte de trás, onde pode descansar até que ela apareça.

Riu. — Confie em mim, sinto-me bastante confortável com


toda a cena do bar.

— Sim, mas... — Quando olhei para sua barriga, ela levantou


um dedo e me disparou um olhar que me disse para não terminar a
frase.

— Se disser algo como "em sua condição", serei obrigada a me


transformar em Eva, a super cadela, e te ofender outra vez.

Sorri. — Mas sério, eu não gosto disto. — Pus minha mão


sobre sua barriga antes de afastá-la. Ela saltou pelo breve contato.
— Se alguém se meter com este precioso tesouro, ficarei louco.

Seus olhos se iluminaram e exclamou — oooh! É disso que se


trata?
Pisquei. — O quê?

— Sua superproteção — afirmou. — Estava confusa por que


foi tão legal, mas controlador, na noite que nos conhecemos, porém
agora que sei que é pai... — encolheu os ombros. — Faz mais
sentido.

Recuei confuso. — O que te faz pensar que sou pai?

— Porque... — Colocou mais amendoins em sua boca e


mastigou. — Reese me disse. Mason disse que precisava de uma
camiseta limpa porque seu bebê vomitou na outra.

Consenti, dando um passo atrás, recordando por que


precisava manter distância dela. Julian precisava de mim. E para
manter Julian em minha vida, precisava manter Tristy nela. E não
poderia ser exatamente um bom e fiel marido se estava aqui
babando sobre Eva, a única mulher que me faria sentir algo.

Suspirei, sem me preocupar com essa chamada à realidade. —


Quer ver uma foto? — Perguntei, forçando um sorriso e pensando
que ver uma foto de Julian poderia ajudar a consolidar minha
fidelidade na minha própria cabeça.

— De seu bebê? — Seu rosto se iluminou. — Claro.

Tirei meu telefone e digitei minha senha para desbloqueá-lo.

Inclinando-se para ver, Eva ofegou e cobriu a boca enquanto


me encarou.

— O que foi? — Perguntei-lhe, deixando o telefone de lado. —


Você está bem? O que está havendo?

Quando cheguei a sua barriga, preocupado pelo bebê, ela


negou e bateu em minha mão, mas continuou me olhando como se
eu estivesse louco. Então fez um gesto para meu telefone. — Eu vi
sua senha... você... a senha. Dois, zero, um, um.

Assenti e dei de ombros sem entender. — Sim. O que tem? —


Mas meus olhos estavam fixos nela enquanto segurava meu fôlego,
esperando ansiosamente para saber por que esse número lhe era
importante. Porque era muito importante para mim.

— Nada. — Tentou dizer, mas eu sabia...

— Oh, não. — Rodei minha mão, persuadindo-a a que


continuasse falando. — Definitivamente é algo. Agora fale.

Seu rosto corou enquanto ela apontava para o telefone. — É


uma data, não? Vinte de novembro?

Meu estômago se apertou quando assenti. Mas, droga, se


aconteceu o mesmo a ela no mesmo dia que comigo, eu
enlouqueceria.

— É seu aniversário? — Perguntou. Quando sacudi a cabeça,


continuou — o aniversário de seu bebê? Ou de sua esposa?

Ri. — Não. Não é o aniversário de ninguém. É apenas... uma


data especial.

O dia que a conheci, fiz sexo com ela, apaixonei-me por ela e
me tornei total e completamente obcecado por ela.... Ou melhor, o
dia que tive minhas visões e descobri que ela existia.

— O dia de seu casamento? Continuou com mais hipóteses,


sem se dar por vencida.

Como não havia maneira que lhe diria por que vinte de
novembro era especial para mim, perguntei — por que se importa?

Vacilou antes de encontrar meu olhar. — É meu aniversário.


Engoli em seco. Porra.

Quais eram as probabilidades de ter uma visão dela há dez


anos, no dia de seu aniversário?

Um estranho e frio comichão aumentou em minha nuca.


Estúpida merda vodu. Isso começava a me assustar. Quando me
afastei, arregalou seus olhos.

— O que significa para você? — Perguntou novamente.

— Não vou contar — eu disse, e rapidamente voltei a colocar a


senha porque a tela se apagou. Ela bufou, irritada, mas a distraí o
mais rápido que pude, pegando uma foto do lutador e girando meu
telefone para que o visse.

E, sim. Assim, como se esperava, sua mente foi a outro lugar.


Oh, o poder de um menino adorável.

— Que coisinha mais gostosa — sussurrou. — Qual o nome


dela?

Meu peito se inchou com orgulho, meu filho era certamente


um rapaz lindo, logo antes de franzir o cenho. — Seu nome é
Julian.

Ela piscou e apontou para a foto. — Mas veste rosa. Por que
um menino tem um pijama rosa?

— Uh... é... é um grande defensor contra o câncer de mama?


— Joguei uma pergunta, esperando não ter que confessar que toda
a roupa de meu filho foi herdada da filha mais nova da senhora
Rojas.

Eva riu, aquecendo meu coração com o incrível som. — E ao


que parece, está bem seguro sobre sua masculinidade — brincou.
Bufando, respondi — meu filho? Claro que é seguro. Nós, os
Ryan, inventamos a masculinidade, muito obrigado.

Ela sorriu, iluminando todo seu rosto. — Acho que gostarei de


você, Pick Ryan. — Afirmou, fazendo meu coração bater mais forte
em meu peito.

Não, a verdadeira mulher na minha frente não é como, nos


últimos dez anos, imaginei que seria. Mas algumas partes dela
eram ainda melhores. E esse brilho em seu rosto era uma delas.

Tive um mau pressentimento de que, em troca, ela me


destruiria ainda mais.

— Ei, Pick! — Ten apareceu, empurrando um microfone sem


fio para mim. — Será o apresentador do leilão dessa noite, certo?

— Claro — disse, feliz por me concentrar nisso, antes que


admitisse algo completamente embaraçoso para Eva.

— Bom, vamos começar já — insistiu Ten. — Tenho dinheiro


para ganhar, filho da puta.

Virei-me para Eva enquanto pegava o microfone. — Tenho que


ir — disse, não querendo me afastar dela.

Seu sorriso estava triste. — Entendo.

Queria ter ficado apenas mais um segundo. Precisava de mais


tempo com ela, mas Ten me arrastou para longe.
PICK

Enquanto Ten escalava o balcão principal, arrastando-me


atrás dele, dei a Eva um pequeno sorriso de despedida e o segui.
Uma vez que estava mais alto que qualquer um no lugar, acenei
minha mão para chamar a atenção. Logo liguei o microfone e disse
— olá, pessoal! Hoje temos algo planejado para que todas vocês,
garotas sexys, celebrem a noite das mulheres.

Uma onda de gritos se seguiu, um punhado de garotas


levantando suas bebidas e se divertindo.

Sorri e apontei para o grupo mais animado. — Sim, isso é bem


o que eu gosto de ouvir. — Flexionando meu dedo, chamei-as para
se aproximarem de mim. — Vou precisar que todas as queridas
solteiras neste clube, desesperadas para dar um pouco de dinheiro
a seu barman favorito, aproximem-se, por favor. Teremos um
pequeno leilão.

As mulheres que já esperavam por isso, gritaram e correram


para a frente do balcão. Depois de esperar até que uma boa
quantidade delas chegasse para ver o evento principal, expliquei as
regras. E então apresentei os participantes, depois de chamar
Mason e Quinn para se unirem a Ten e a mim.

— Vamos conhecer seus garçons favoritos, então. A minha


direita, a maioria de vocês pode se lembrar do Selvagem Tenning,
estrela de futebol da universidade East Stroudsburg6, e um grande
tarado nos lençóis. De acordo com as garotas, Ten gosta de longos
passeios na praia e beijos lentos e apaixonados.

As groupies de Ten gritaram em aprovação quando ele


levantou suas mãos para saudar e piscar. Então virou suas costas
para elas e balançou seu traseiro até que os dedos femininos o
alcançaram, tentando senti-lo.

Rindo, empurrei-o no ombro até que se endireitou e virou para


encarar as mulheres, onde soprou mais beijos a outro grupo de
mulheres gritando.

— E temos a minha sexy pessoa aqui. — Deslizei a mão livre


por meu corpo para fazer uma demonstração provocadora. — Mas,
sério? Quem precisa de mais apresentação deste sexy amoroso?

Um trio de mulheres abaixo de mim gritou meu nome e


esticou suas mãos acariciando meus joelhos, já que não pode
alcançar mais acima.

Querendo mantê-las em meu canto, mas com suas garras


afastadas de mim, apertei seus dedos como uma espécie de estrela
de rock, como estivesse saudando seus fãs.

Mas minhas fãs ficaram um pouco entusiasmadas demais e


tentaram me puxar para o chão com elas, até que eu estava
inclinado, meio dobrado, e minha cabeça no mesmo nível delas.

— Garotas, garotas — gritei no microfone. Rindo


nervosamente, tentando acalmá-las. — Um pouco de decoro, por
favor.

6
ESU - East Stroudsburg University of Pennsylvania.
Perto de mim, Mason me agarrou pelo braço para que não
caísse do balcão, mas mais mãos femininas gulosas continuavam
me tateando. Alguém agarrou a camiseta folgada que estava
vestindo, e antes de saber o que estava acontecendo, as mulheres a
tiraram pela minha cabeça.

Olhando boquiaberto o meu peito, me vi sem camiseta. Eu me


afastei delas, endireitando-me, e levantei as mãos. — Bem, já é o
suficiente, suas desavergonhadas. Controlem seu ego travesso.
Primeiro têm que ganhar antes de poder provar o produto.

Ao meu lado, Ten tirou sua camiseta, obviamente sentindo a


necessidade de comparar os peitorais. Mais mulheres gritaram
aprovando e pedindo que Mason e Quinn tirassem as suas também.
Mas os dois se negaram.

Olhei para o final do balcão onde tinha visto Sininho pela


última vez. Cobrindo sua boca, ria tanto que as lágrimas escorriam
por suas bochechas. Pisquei para ela bem quando percebi que
estava sem camiseta. Se ela estivesse perto o suficiente, seria capaz
de ler os nomes tatuados sobre meu coração. Mas por sorte, não
estava. Para me garantir, afastei-me ligeiramente dela.

— Voltando aos modestos membros do grupo. — Movi meu


polegar em direção a Mason. — Temos o homem de família, Mason.
Mas afastem seus olhares, garotas, pois ele está prestes a ser pai.

Quando apontei a uma muito envergonhada Eva, Mason virou


para mim, aniquilando-me com o olhar. — Que porra?

— Relaxe — disse pelo canto da minha boca enquanto baixava


o microfone a meu lado. — Estou tentando fazer com que pareça
menos atraente, assim ninguém vai te querer.
Ele não relaxou, nem parou de me olhar, mas não se abalou e
nem tentou me atirar no chão. As mulheres se esticaram para ele
também, mas se afastou para a borda de trás do balcão, para que
não encostassem um dedo nele.

— E por último, mas não menos importante, temos Hamilton...


O virgem.

Ten vaiou e gritou, rindo muito quando a boca do Quinn se


abriu e seu rosto ficou bem vermelho.

— Oh, isso foi duro — disse Mason em minha orelha,


sacudindo sua cabeça com desaprovação.

Ignorei-o, perguntando à multidão — alguma dama está


disposta a deflorar esta delicada pétala, e lhe mostrar o que é ter
uma mulher?

Quando um monte de vozes femininas assobiou e gritou que o


levariam com gosto, eu me encolhi, esperando que meu plano para
fazê-lo parecer menos atraente não se virou contra mim. Mas droga,
quem saberia que as mulheres realmente preferiam os homens
inexperientes?

Olhei para Eva outra vez, perguntando-me se estava tão


chateada comigo como Mason por minha apresentação
desagradável, mas ela ainda sorria. Sacudiu a cabeça como se para
me repreender, mas seu sorriso me disse que me perdoava por usar
sua gravidez para o bem de Mason.

— Então, vamos começar esta festa, tudo bem? Alguma de


vocês está disposta a comprar um de nós como seu próprio barman
pelo resto da noite?
Cerca de cinquenta mulheres levantaram as mãos, com
dinheiro entre seus dedos. — Dez dólares! — Algumas gritaram.

Ouvi cinquenta e vinte de um par de outras direções, mas não


reagi até que um cem foi falado entre o corpo a corpo.

Puta merda! Cem dólares? Este seria um bom leilão. Apontei


nessa direção. — Escutei cem? Acho que ouvi cem.

— Cento e vinte! — Gritou outra garota, surpreendendo-me


com quão facilmente passou os cem.

— Cento e vinte e cinco!

E seguimos assim. Os lances aumentaram rapidamente.


Chegamos a duzentos dólares em questão de segundos. Minhas
mãos suavam e sequei na cintura de meu jeans. Mais da metade
das garotas parou nos trezentos. Mas outras seguiram
apaixonadas. No momento em que chegamos a quatrocentos e
cinquenta, uma gota de suor escorreu pela minha testa, porque
estava certo que a ruiva alta debaixo de mim, que era uma das
grandes concorrentes, me escolheria. Mas quando o preço subiu
para quinhentos e setenta e cinco, essa mulher desistiu. Sobraram
duas garotas que nunca vi.

— Escutei seiscentos? — Perguntei, apontando à mulher que


tinha aumentado o lance.

Mordeu o lábio, parecendo indecisa e gritou — quinhentos e


oitenta, logo antes que sua rival dissesse imediatamente —
setecentos.

Ninguém queria superar isso. Deixei o leilão aberto uns


segundos mais, apontando às mulheres que tinham dado um lance
antes, mas ninguém diria mais de setecentos dólares. Não que as
culpasse. Era muito dinheiro. Olhei para a loira que estava prestes
a ganhar o leilão e tentei saber que barman ela preferiria. Mas não
pude descobrir.

Incapaz de evitar, olhei para Eva novamente. Mordia seu lábio


inferior, estudando a loira vencedora.

Suspirei. — Bem, parece que temos uma ganhadora, com uns


setecentos dos grandes. Dê-me sua mão, coração, e suba aqui com
a gente.

A loira me estendeu a mão, e a ajudei a subir em um banco e


em seguida ao topo do balcão, ficando em pé entre Ten e eu.

— Qual é seu nome, preciosa? — Perguntei antes de baixar o


microfone a sua boca.

Era atraente, alta e magra com grandes peitos. Ten teria um


ótimo dia de campo com ela, se ela o escolhesse.

Colocando uma mecha de cabelo atrás de sua orelha, inclinou-


se para frente para anunciar — Cora.

— Bem, parabéns, senhorita Cora. Ganhou o seu próprio


barman por esta noite. Então... quem será o sortudo?

Segurei todo o ar em meus pulmões enquanto ela se inclinava


para mim, afastando-se de Ten. Droga. Escolheria o Mason. Já
pensando em como fazê-la mudar de ideia, fiquei chocado quando,
em vez dele, apontou para o Quinn.

— Ele — disse — quero ele.

Ergui as sobrancelhas e medi a reação do Quinn. Ficou


boquiaberto e juro que o pobre virgem caiu na luxúria nesse
instante. Mudando de atitude imediatamente, ele passou por Mason
e sorriu timidamente para Cora, com o rosto vermelho de vergonha,
mas também admirado.

— Uh... Bem — disse.

Ainda em pé entre eles e segurando o microfone, anunciei —


bem, então anuncio Cora e o Virgem, barman e esposa. Podem viver
felizes para sempre... ou ao menos até o final desta noite. Agora
poderá lhe servir, seja qual for a bebida que ela prefira.

Fazendo Quinn se mover, pus ele e a loira juntos, enquanto


dizia a todos que o leilão estava encerrado e agradecia a
participação.

— Só para que conste, você não serve como mestre de


cerimônias — resmungou Ten em meu ouvido quando estávamos
todos no chão novamente e prontos para voltar a nossas posições
regulares. — Aquela garota com o cabelo roxo queria dar um lance
maior em mim.

— Ei, ela teve a chance de dar seu lance. Estou tão chateado
quanto você, parceiro. Teria sido bem-vindo um extra de trezentos e
cinquenta dólares esta noite.

— Sim, bem, você ainda é um saco....

Virei os olhos e nos separamos. Mason ficou atrás do bar. Eu


tinha a sensação de que nunca se afastaria do balcão quando era a
noite das garotas. Por mim tudo bem. As gorjetas aqui eram geniais

— Eu concordo com Ten — ele me disse enquanto eu vestia


minha própria camiseta úmida, e lhe atirei a sua seca de volta. —
Você é uma droga. Quase pai? Que porra foi essa?

— Ei, a vencedora não te escolheu, certo? — Quando


simplesmente franziu o cenho, assenti. — Caso encerrado.
Então me pus a trabalhar, porque todo o tempo que gastei no
leilão me privou de muitas gorjetas que poderia ter ganho.

Passaram vinte minutos, as coisas voltaram ao normal, e Eva


ficou sentada em seu banco no final do balcão, bebendo água e
suco de laranja. Mason se aproximava de vez em quando para
verificá-la, mas na maior parte do tempo ficou sozinha. Rangi os
dentes, perguntando-me onde estava sua prima e por que ainda
não apareceu para levar minha garota para casa. Ninguém se
meteu com ela, mas quanto mais tempo ficava, maior era a chance
de ser incomodada.

Estava muito ocupado, só Ten e eu atendendo as mesas, e um


Mason nervoso cuidando de todas as bebidas. Não havia tempo
para parar além de perguntar se estava tudo bem.

Eva simplesmente sorriu e balançou a cabeça se divertindo


com minha preocupação. — Igual à última vez que veio —
continuou respondendo.

Deve ter ficado entediada sentada no balcão sozinha ou talvez


tivesse que usar o banheiro. Quando se levantou, assustei-me. O
que aconteceu? Aonde ia?

Mas simplesmente foi até a jukebox7 antiga que estava em


uma parede, e relaxei.

Uma mesa cheia de garotas bêbadas me manteve ocupado por


vários minutos. Alguém lamentava que acabava de descobrir que
seu namorado a traía.

7
— É um imbecil — intervi, concordando com suas amigas. —
Você merece alguém muito melhor que um idiota que não pode
manter seu pau dentro das calças até que te veja de novo.

De repente, virei a atração principal naquela mesa. Estava


para dizer a pobre garota quais as qualidades que devia procurar
em seu próximo namorado, quando a primeira canção que Sininho
escolheu no jukebox começou a tocar.

Sem fôlego, olhei para o alto-falante mais próximo. Então me


afastei da mesa. Eva continuava lá, folheando as opções de
músicas, de costas para a multidão.

— Desculpem-me — murmurei, distraído. Colocando a


bandeja sob o braço, abri caminho entre as pessoas até chegar a
ela.

— Porra, como você sabia que essa era a nossa música? —


Perguntei atrás dela.

Ela deu um grito assustado e se virou. Quando seus grandes


olhos azuis me olharam, meu peito apertou. Tive que me segurar,
para não pegar seu rosto em minhas mãos e beijá-la
desesperadamente.

Colocando uma mão em seu quadril, arqueou uma


sobrancelha. — Nossa música?

Olhei para o jukebox onde os Supremes cantavam “Baby Love”


de Diana Ross.8 — Porra, sim, nossa música. Vamos dançá-la na
festa do nosso casamento.

Não quis deixar isso escapar, mas estava tão transtornado que
ela tivesse escolhido esta música. De todas as opções da lista,

8
https://www.youtube.com/watch?v=p1M_MU7G64o
escolheu justamente esta. As palavras simplesmente saíram de
minha boca.

Mas não entrei em pânico. De maneira nenhuma ela pensaria


que eu realmente previra qualquer coisa. Ela acharia que eu estava
flertando e a provocando.

Bem. Genial. Isso era perfeito. Deixá-la pensar que era uma
provocação.

Mas então imaginei-a no vestido de noiva sem mangas, as


pérolas cintilando em seu cabelo, o brilho de êxtase em seu rosto.
Tudo apareceu em minha cabeça até que fiquei em um estado
surreal de déjà vu9. A sala parecia girar em torno de nós, e as duas
cenas, o aqui e agora no Forbidden, e a de dez anos em minhas
visões, fundidas em uma só.

Oh, droga. Percebi nesse momento que a festa de nosso


casamento seria aqui, no Forbidden. Como não vi isso na primeira
vez que entrei neste lugar? Acho que sempre estive tão focado nela
que não prestei muita atenção a onde estávamos. Mas, por que
nossa festa seria aqui? O bar nunca organizava um evento desse
tipo.

Balancei a cabeça e pisquei até que voltei para o aqui e agora.

Uma muito grávida Eva me franzia o cenho como se eu


estivesse louco. — Acabou de dizer: a festa do nosso casamento?

Sorri e assenti.

— Mas você já é casado.

— Ahm. Detalhe.

9
Forma de ilusão da memória que leva o indivíduo a crer já ter visto (e, por extensão, já ter vivido) alguma coisa ou
situação de fato desconhecida ou nova para si.
Decidindo seguir essa ideia, coloquei a bandeja no topo do
jukebox e peguei sua cintura com uma mão. Então segurei seus
dedos com a outra. Quando a levei a pista para uma dança, ficou
boquiaberta pela surpresa.

Acho que pôs a mão em meu ombro mais para se equilibrar do


que para dançar comigo, mas nem me importei. Estávamos em
perfeita posição para uma valsa, assim comecei um tipo bizarro de
dança com ela.

Não me afastou, o que era promissor, já que me olhava como


se estivesse completamente louco. Puxando-a mais perto até que
seu ventre protuberante se aconchegou em mim, balancei-nos para
trás e para frente até a música chegou a uma parte intensa.

— “Toda a minha vida inteira...” — cantei junto com Diana


Ross, elevando minha voz e pondo tudo nela. — “Eu nunca amei
ninguém, só você. Por que você me trata desse jeito?”

Sacudindo a cabeça, Eva riu. — Oh, meu Deus. Você é louco.


— Mas continuou dançando comigo enquanto a girava e a trazia de
volta para mim. Rindo novamente, segurou em meu ombro. —
Sério? Paquera assim todas as mulheres?

Fingi pensar em sua pergunta antes de dar de ombros. —


Embora para ser sincero, aquela senhora de oitenta anos com um
coque na cabeça que ajudei a levar as compras a seu carro na
semana passada poderia ter sido o amor da minha vida, quer dizer,
tinha um carrinho cheio de frutas. Amo frutas. Poderíamos ter sido
um para o outro. Quem era eu para correr o risco de deixá-la ir sem
testar um pouco as águas, com um par de piscadas e um beliscão
no seu traseiro?

Sininho riu de novo. Eu realmente gostava de fazê-la rir.


— Por favor, diga-me que não beliscou seu traseiro. Fez isso
mesmo?

— Ei, ela beliscou o meu primeiro. — Quando riu de novo,


pisquei e me inclinei para sussurrar em seu ouvido — era
surpreendentemente firme.

— Oh, meu Deus. — Teve que cobrir a boca com sua próxima
onda de risadas. — Você realmente é um paquerador incontrolável.
Deve ter uma esposa confiante, se não se importa com suas
brincadeiras.

Levantando orgulhosamente meu queixo, disse — diz que é


minha melhor qualidade.

Eva abriu a boca para responder, mas um cutucão no meu


estômago a interrompeu.

— O que foi isso? Parei de dançar e me afastei.

Eva corou e cobriu sua barriga com as mãos como se estivesse


envergonhada. — Sinto muito. Ela deve ter gostado da música.

Fiquei boquiaberto. — Diz que foi a bebê que apenas me


chutou?

Ela assentiu com a cabeça. — Sim. Eu...

— Oh, genial. — Ajoelhei-me na frente dela e fiquei com meus


olhos no nível de sua barriga, quando mexeu de novo. Com a boca
aberta, admirado, coloquei minhas mãos reverentemente em cada
lado dela.

Tristy nunca disse quando Julian chutava, mas também não


fiquei tão perto dela para descobrir. De jeito nenhum me afastaria
da barriga de Eva, não depois de que sua filha acabou de fazer
contato comigo.
— Escute, garotinha — disse acima da música — estou
dançando com sua mãe, mas logo que nasça, pode ter sua vez.
Entendeu, senhorita Skylar? Tenho a canção perfeita guardada
para você.

Outro golpe veio da barriga de Eva em resposta. Engasguei,


surpreso, e pressionei minha mão nela. Skylar ou me
cumprimentou ou me chutou. Ainda completamente maravilhado e
ajoelhado, olhei para Sininho para compartilhar meu assombro com
ela.

— Isso é tão... — Nem sequer pude imaginar uma palavra boa


o suficiente para descrever o muito que eu adorei a conexão com
seu bebê.

Ela balançou a cabeça, aparentemente aturdida. — Como sabe


seu nome?

— Uhm... — Droga. Esperava que não estivesse muito


chateada com o Mason por me contar. Voltei a ficar em pé. —
Mason revelou seu segredo um pouco mais cedo esta noite. Apontei
com meu polegar sobre meu ombro, incriminando-o totalmente.

— Mason lhe contou? — A ideia lhe pareceu estranha, mas


sorriu levemente e o olhou, surpresa. — Oh! Resse está aqui. Devo
ir. — Começou a me rodear, mas parou e mordeu o lábio inferior. —
Obrigado — disse, sem jeito. Agitou a mão por um momento antes
de acrescentar. — Pela dança, e você sabe... tudo o mais que me
ajudou nessa noite, eu realmente... eu agradeço.

Agradecendo? Sério? Um momento de indecisão cruzou seu


rosto antes de se jogar em mim e me dar um rápido abraço,
durando apenas o tempo suficiente para que meu nariz captasse
seu aroma de lavanda, e para que Skylar me chutasse uma última
vez.

Quando se afastou, parecia como se não quisesse ir. Era óbvio


que eu não queria que ela fosse. Era como se madame Lefrey me
tirasse de minhas visões novamente. Mas Ten já chamava minha
atenção do outro lado do salão, pedindo ajuda. Além disso, estava
ficando tarde e Eva precisava sair daqui.

— Nos vemos por aí, Sininho — disse-lhe um pouco mais


solene do que pretendia.

Acenando com a cabeça, passou por mim e se dirigiu a Reese.

Embora voltasse a trabalhar e anotasse um pedido de outra


mesa cheia de mulheres, mantive minha atenção nela enquanto ela
e sua prima se despediam de Mason e saíam. Depois disso, senti
uma estranha e louca decepção. Ela tinha sua vida e eu, a minha, e
nós dois não parecíamos ir na mesma direção. Mas seria bom se
tivesse uma razão, uma estúpida e insignificante razão, para vê-la
de novo. Só mais uma vez.

Perguntei-me se poderia conseguir que Mason me contasse


quando teria a bebê. Talvez fosse visitá-la e... Droga, ter qualquer
outro contato com ela depois disso seria uma tortura desnecessária.
Deveria permanecer longe.

Mas depois que o bar fechou e eu ajudava Mason a limpar, ele


encontrou uma forma de me colocar perto de novo.

— Obrigado por me ajudar a vigiar Eva esta noite. Reese me


mataria se algo ruim lhe acontecesse.

Assenti como se não fosse importante, embora meu coração


saltou um batimento quando mencionou seu nome. — Está tudo
bem. Ficaria de olho em qualquer mulher grávida que estivesse
aqui.

Mason se aproximou enquanto limpava o balcão com um


pano. — Bom, mesmo assim obrigado. Ei, Gamble, ou Ten ou
alguém mencionou que você trabalha em uma oficina mecânica
durante o dia, é verdade?

— Sim. — Empilhei o último copo limpo embaixo do balcão


antes de olhá-lo. — Reparações Murphy fica na rua Bullview. Por
quê?

— Sério? Isso é ótimo. Quero dizer, Reese comprou este...


vamos chamá-lo de carro por enquanto. É um lixo. Não confio que
dure um mês.

— Claro, darei uma olhada nele. — Disse antes que


perguntasse. Sabia que provavelmente parecia muito ansioso. Mas
por uma chance de visitar a casa de Mason, onde Eva vivia, estava
disposto a tudo.

Levantou as sobrancelhas surpreso, mas logo um brilho


passou por seus olhos cinzentos e sorriu de um modo cúmplice. —
Então, não tem problema você vê-lo em algum momento?

Balancei a cabeça. — Não. Minha próxima noite de folga é no


sábado.

Mason assentiu. — Também estou livre no sábado.

Deslizei as mãos em meus bolsos e apoiei as costas contra o


balcão, tentando parecer tranquilo. — Então parece que passarei
por lá.

— Isso, parece que sim.


E nesse momento Ten apareceu e deu um tapa no topo do
balcão. — Ei, se as senhoritas tiverem terminado de paquerar entre
si, eu gostaria de fechar e chegar em casa para poder chorar sobre
um pote de sorvete porque ninguém quis comprar meu delicioso
corpo hoje.

— Estou pronto para ir quando vocês estiverem — disse


Mason, olhando o balcão para revisar seu trabalho. — Acabei de
limpar minha seção.

— Eu também. — Era tarde e deveria estar esgotado, mas


sabia que não pregaria o olho toda a noite. Ou amanhã à noite.

Daqui a dois dias, poderia vê-la novamente.

Esses serão os dois dias mais longos da minha vida.

— Ei, onde está Hamilton? — Mason me tirou de meu


devaneio com sua pergunta, até que também comecei a procurar o
quarto membro de nossa turma.

Ten apontou com o queixo para a saída. — Levou Cora para


casa porque sua carona a deixou há algumas horas.

— Sério? — Levantando as sobrancelhas, olhei para Mason.


Compartilhamos um olhar e sabia que pensava o mesmo que eu.

Ten, é obvio, tinha que verbalizar todos os nossos


pensamentos. — Sim, nosso bebê vai se tornar um homem esta
noite. — Respirou pelo nariz, enxugou uma lágrima falsa e pôs o
punho sobre seu peito. — É tanta tortura. Acredito que precisarei
de vários potes de sorvete.

— Maldito seja, pare de sofrer, filho. — Ri e sacudi a cabeça.


— Talvez nada vai a....
— Oh, sim, acontecerá sim — interrompeu Ten, dando-me um
olhar revelador. — Levou para casa Cora, a prostituta. Esse menino
vai perder sua virgindade se é que já não perdeu.

— Espera. Cora, a... o quê? — Perguntou Mason em um tom


incrédulo. — Cora, a prostituta? Você a conhece?

— Porra, sim. — Ten nos sorriu, assentindo. — É uma das


groupies10 da equipe de futebol e, meu Deus, essa garota gosta de
umas loucuras.

Minha esperança de que Quinn finalmente entrasse no mundo


sexualmente ativo vacilou. Apontei para Ten. — Então, você...?

Levantou as sobrancelhas. — Comi? — Terminou a pergunta


por mim. — Olá. Perdeu a parte onde disse que era uma groupie do
futebol? Sou um jogador de futebol. É claro que aproveitei isso.
Porra, Hamilton pode ser o único cara na equipe que ela ainda não
cravou suas garras. E talvez Gamble, mas ela é bastante nova na
cena groupie, e Gam não come essas garotas há alguns meses.
Então... Talvez Gamble também não. Mas sim, realmente o resto de
nós fez isso. Por quê?

Mason e eu compartilhamos outro olhar cúmplice. Finalmente,


ele disse — ei... eu não diria a Quinn essa parte se fosse você.

Ten piscou completamente desconcertado. — Por que não?

— Bom. Quinn não parece o tipo que...

Quando parecia que Mason não podia achar um jeito discreto


para falar, soltei — o menino esperou até ter vinte e um anos para
perder sua virgindade, seu idiota. Diria que o fato de que já esteja

10
Fã, fanática.
compartilhando uma mulher com... bem, você, não é algo que
precise saber.

— Espera um segundo. O que há de errado comigo? — Ten


apontou para si mesmo, claramente insultado. — Sou
malditamente perfeito.

Ri e levantei as mãos. — Não se ofenda, mas certamente eu


não gostaria de enfiar meu pau em nada que você já tenha metido o
seu.

— Amém — sussurrou Mason.

— Ei — Ten franziu o cenho. — Isso... Oh, entendi. Eu


alargaria muito uma buceta para as preferências de seus muito
pequenos...

— Ok, vamos para casa antes que você diga algo que se
arrependa. — Bati no ombro de Ten antes de empurrá-lo para a
porta. — Não vou falar do tamanho do meu pau com você. — Não
queria que o pobre garoto acabasse se sentindo deficiente.

Mason nos seguiu, rindo e balançando a cabeça. Depois de


fechar a porta com chave e nos separarmos, fui para meu carro,
cantarolando “Baby Love” em voz baixa enquanto tirava as chaves
do bolso e as girava em meu dedo. Minha mente já vagava muito
longe de Ten e seu pau. Não podia tirar da minha cabeça um par de
surpreendentes olhos azuis.

Sabia que Eva Mercer era completamente proibida para mim,


mas isso não me impediu de desejar ansiosamente vê-la de novo,
mais do que podia lembrar de querer algo em toda minha vida.

Só mais dois dias.


PICK

Quando chegou o sábado, estava muito impaciente. Dei um


pouco de descanso para Tristy pela manhã, levando Julian ao
parque mais próximo, onde o sentei em meu colo enquanto
brincávamos nos balanços. Ainda o levei ao escorregador duas
vezes, mas algumas mães me olharam estranho por isso. Mas não
me importei. Julian sorriu o tempo todo, que era a única aprovação
que precisava.

O resto da tarde passou lentamente. Limpei um pouco o


apartamento, principalmente a cozinha e o banheiro, mas não pude
me acalmar.

Mason e eu não marcamos uma hora certa, assim não queria


chegar muito cedo, mas quando era cinco da tarde, não pude
esperar mais. Depois de me trocar e pôr algo que caísse bem, mas
que não morreria se sujasse de graxa, levei Julian para a sala e o
coloquei em seu balanço, já que Tristy estava ocupada em seu
computador.

— Não devo demorar muito — disse a ela, pegando minhas


chaves.

Seu rosto se enrugou enquanto seus olhos ficaram


horrorizados. — Vai sair?
Sacudindo minhas chaves, abri a porta, deixando-a saber que,
sim, eu estava sando. E nada que ela dissesse me impediria. — Vou
ajudar um amigo com seu carro.

— Mas... — Olhou impotente para Julian, que mordia feliz um


brinquedo que lhe dei. Já o tinha alimentado, banhado e trocado
sua fralda; estaria bem por um tempo.

Quando Tristy me olhou como se a estivesse abandonando


com uma tribo de canibais que estavam prestes a cozinhá-la na
fogueira com um molho de pimenta e noz, desloquei meu peso
desconfortavelmente de um pé para o outro. Não lhe permitirei fazer
isto. Não a deixaria me fazer sentir culpado por sair de casa por
algumas horas. Mason contava comigo para que o ajudasse com o
carro de sua noiva.

Droga, isso era mentira. Não fazia isto pelo Mason. Tinha que
ver Eva de novo e essa era uma verdade egoísta que aumentou
minha culpa.

Passei a mão pelo meu cabelo, suspirando. — Será apenas por


algumas horas. Maldição, Tris. É a primeira vez que sairei do
apartamento desde que Julian nasceu.

— Até parece. Você sai todo maldito dia.

— Vou trabalhar — espetei. — Tenho que trabalhar. Este


apartamento não se pagará sozinho. E precisamos de comida e
outras coisas, mais o seguro do carro.

— Já basta — soltou, mal me olhando. — Pareço idiota? Sei


que vai se encontrar com uma garota e transar com ela.

Apertei minha mandíbula, esperando que não visse nada em


meus olhos. Abrindo os braços, perguntei — parece que vou me
encontrar com uma garota? — Sacudi a cabeça, confuso. — De todo
modo, no que te afetaria?

Ela fungou e levantou o queixo. — Não me afetaria em nada.


Transei no último fim de semana.

Minhas sobrancelhas se levantaram com surpresa. — Sério?

Não podia imaginá-la dessa maneira, sequer, especialmente


desde que deu à luz. Nunca foi muito bonita, mas na verdade foi
ladeira abaixo pelos últimos meses. E com o passado que
compartilhamos.... Não. Ela era como uma irmã para mim para
imaginar essa parte de sua vida.

Quando me olhou com um desprezo desafiador, dei de ombros.


— Bem, bom para você. Eu te vejo mais tarde. — Quando tentava
sair do apartamento, gritou meu nome.

— Porra, se só vai para a casa de um amigo para arrumar


seu carro, poderia ao menos levá-lo com você?

Olhei para Julian. Baba cobria seu queixo e o brinquedo que


mordia. Um sorriso iluminou meu rosto. Eu adoraria levar Julian,
tirá-lo um pouco deste lugar, e talvez deixar que Eva o conhecesse
enquanto aliviava Tristy por algumas horas. Mas eu realmente
planejava trabalhar no carro de Reese.

— Não posso levá-lo a uma garagem cheia de graxa.


Provavelmente estarei debaixo de um carro a maior parte da noite.
Esse não é exatamente um lugar seguro para um bebê.

Tristy fungou e se afastou, ignorando-me. Fiquei tentado a


convidá-la para que não se sentisse excluída, mas a última coisa
que queria era que ela e Eva se misturassem. Resignado, repeti —
Eu te vejo mais tarde.
Logo depois de lançar um beijo ao bebê, estava livre e correndo
pelas escadas para a entrada principal do edifício. Quando meu
telefone tocou logo que liguei o carro, gritei. Alguém com certeza
queria atrasar meu encontro com minha Sininho, certo? Quando vi
que era Ten, respondi com um grunhido — o que foi?

— Cara, precisamos de sua ajuda. Urgente.

Dane-se. — Não — disse instantaneamente. — Não farei seu


turno esta noite.

— Então, passe por meu apartamento e verifique o Gamble,


pode ser? Hamilton e eu estamos muito preocupados com ele. Isso
que está acontecendo com sua garota na verdade o tem arruinado,
e tanto Hamilton como eu temos que atender o bar hoje, se não
ficaríamos com ele.

Não respondi imediatamente. Minha consciência lutou consigo


mesma. Queria tanto ver Sininho que meu pulso não desacelerava.
Mas o fato de que Ten me ligou preocupado dizia muito. Preocupado
com Gamble, amaldiçoei em silêncio.

— Está tão mal assim? Como... homicida? Suicida? Ou apenas


pronto para te matar?

— Ainda não chega a tanto — Ten bufou. — Apesar de tudo,


diria que é definitivamente algo. Não pensaria duas vezes em
participar de um ato extremo de loucura agora.

— Merda. — Apertei os dentes frustrado.

— Ouça se estiver tão ocupado, posso chamar Mason e lhe


perguntar se pode ir.

— Não — murmurei. — É para a casa dele que estou indo.


— Sério? Então é tão íntimo de Mason, mas nunca sai comigo
depois do trabalho? Cara, sinto-me ferido.

— Quer que eu olhe o motor de sua noiva.

O imaturo Ten soprou. — Eu teria revisado o motor de sua


mulher sem problema.

— O motor de seu carro, idiota.

— Bom, seja como for — murmurou de volta. — Leve o Gam


com você, assim você e Mason podem ficar de olho nele.

Não conseguia imaginar uma razão para que isso fosse uma
má ideia, assim concordei e usando as instruções pela metade que
Ten me deu para chegar ali, fui ao apartamento deles.

Gam abriu a porta, parecendo horrível. Podia entender porque


Ten e Hamilton estavam tão preocupados com ele. Ele nunca estava
mal-humorado.

Foi surpreendentemente fácil convencê-lo que viesse comigo, o


que era bom, mas todo o desvio me atrasou quase uma hora de ver
Eva.

Tamborilei os dedos impacientemente no volante de meu


carro, enquanto nos aproximávamos da casa de Mason. Mas quanto
mais perto chegávamos, mais longe parecia que ficava.

Precisando de uma distração, olhei para Gamble, que olhava


fixamente para fora, com o cotovelo descansando no canto da janela
e sua testa afundada na palma de sua mão.

— Então, o que aconteceu entre você e a namorada


professora? — Perguntei. — Suponho que estão separados, por isso
tivemos que reorganizar todos os nossos horários e agora estava
vigiando um suicida.
Noel Gamble me olhou e fez uma careta. — Você não tem....
Olhe, não vou fazer nada para mim. Estou bem. Mas sim, nós
estamos... — Fez uma pausa, enquanto seu rosto empalidecia. —
Terminamos. Faz uma semana, mas já superei.

Sim, ah, tá. Já superou porra nenhuma. — Então, por que Ten
e Hamilton continuam preocupados com você?

— Porque são uns maricas? — Levantou as mãos e encolheu


os ombros. — Cacete, como eu deveria saber?

Virei os olhos. Era mais difícil tirar informação dele que uma
amostra de sangue de uma pedra. — Bem, o que aconteceu?

Começou a tamborilar os dedos em seu joelho, assim como eu


fiz no volante. Deve ser algum hábito induzido pelas garotas.
Quando se virou de novo para olhar pela janela do passageiro,
grunhi. Não me ajudava para nada com minha própria distração.

— Pode me dizer — disse. — Vou te amolar até que diga.

Suspirou fundo e me olhou. — Alguém anônimo enviou ao


meu treinador uma foto de nós dois juntos, e ela foi despedida.

— Merda — exalei. — Por que não teve problemas também? —


Quando seu rosto empalideceu ainda mais, engoli com força. — Ou
teve?

A tristeza encheu seu olhar. — A fotografia só revelava seu


rosto, o meu foi cortado.

Franzi o cenho, imediatamente confuso. — Espera. Então


como sabiam que estava com um estudante? Se não podiam te ver,
ela poderia estar transando com qualquer um.

Gamble levantou a manga de sua camiseta para me mostrar


uma tatuagem que nem sequer sabia que tinha. — Em outubro,
doze de nós fizemos isto na noite antes de nossa grande partida
pelo campeonato nacional. Era a única coisa que se podia ver de
mim na foto.

Vi a tatuagem, li cuidadosamente e gargalhei. — Campeonato


Nacional? Vocês não perderam esse jogo?

— Não disse que fizemos na noite anterior? — Resmungou,


voltando a baixar sua manga para cobrir a marca.

Parei de incomodá-lo, já que parecia tão miserável. Mas


mesmo assim, eu não estava feliz com o que soube. — Então, a
garota levou toda a culpa, e você... a deixou cair... sozinha?

— Não. Frustrado, golpeou com força meu painel. Qualquer


outro dia, o insultaria por isso. Ninguém tratava a minha máquina
com tanta falta de respeito, mas estava tendo um mau dia, assim
deixei passar esta vez.

— Não a deixei carregar a culpa — disse. — No momento em


que descobri o que aconteceu, ela já tinha ido. Ten e Hamilton
conseguiram me convencer a não confessar ao treinador. E isso é o
que eu devia ter feito. Droga. Em vez disso, fui ao chefe de Aspen e
tentei falar com ele para recontratá-la. Grande erro do caralho.
Deixe eu te contar. O treinador teria chutado meu traseiro fora do
time e cancelado minha bolsa de estudos.

Um mau pressentimento recaiu sobre meu estômago. — Mas


esse tipo não te entregou, né?

Gamble balançou a cabeça, parecendo mais homicida que


suicida. — Não, não me entregou. Quando soube que eu era o cara
da foto, não só se negou a recontratá-la, mas também se negou a
me repreender. É um fanático por futebol. Então ameacei deixar a
escola e abandonar a equipe se não a trouxesse de volta, ao que ele
me ameaçou tornar o caso público. Então, agora ela se foi e eu
estou preso aqui para salvar sua reputação e garantir que não
perca qualquer chance de conseguir um trabalho em outra parte do
país. Mas, enquanto isso, sim, pareço um completo imbecil por
deixá-la assumir toda a culpa por nossa relação.

— Cara. — Sacudi a cabeça e assobiei baixo. — Isso é cruel. É


horrível ser você neste momento.

— Sim.

Uma vez mais, virou-se para olhar pela janela

— E não soube nada dela desde que tudo aconteceu?

Ele fungou, tentando conter algumas lágrimas. — Não. Tenho


certeza que ela deixou a cidade. Não atende a sua porta e seu
correio está acumulado.

— Não acredita que ela se machucaria, não é?

Gamble se virou lentamente, dando-me um olhar duro. —


Bem, não pensei nisso até agora. Jesus, ela não faria... Espera.
Não. Seu carro também não está lá. Se estivesse em casa, seu carro
estaria ali. Ela está bem.

Eu não estava muito seguro — A menos que...

— Jesus, Pick. Pare de me assustar, ela está bem. Só precisa


de um tempo.

— Bem, se precisar entrar em sua casa, só para checar e ter


certeza, sei como destrancar uma fechadura.

Gamble sacudiu a cabeça. — Deus, cara. Onde aprendeu um


truque tão útil como esse?
Diga a alguém que você esteve um tempo preso e pensará
imediatamente que é um ex-condenado da pesada. Acho que isso
que ganhei por bater até cansar nos torturadores de Tristy.

— Nunca fui à penitenciária, idiota. Fiquei na prisão


municipal, como, por duas semanas. E, não, não aprendi lá. Você
conhece todo tipo de meninos interessantes quando cresce no
sistema de adoção.

Suas sobrancelhas se elevaram. — Não sabia que cresceu num


lar adotivo.

— Sim. Desde que nasci até que fiz dezoito anos.

Essa era exatamente a razão pela que nunca, nunca, nem


sequer por uma noite, queria que Julian fosse posto no sistema de
adoção. Sabia exatamente que tipo de coisa poderia enfrentar.

Chegando no endereço que Mason me deu, parei em frente,


meu estômago pulando de emoção. — Aqui estamos.

Minha adrenalina aumentou. Sentia-me tão sensacional e


cheio de vida, pronto para vê-la, que todos pensariam que estava
me preparando para correr em uma Olimpíada.

Quase me esqueci de Gamble, enquanto saía do carro e fui


para a porta aberta de uma garagem anexa a um decente complexo
de apartamentos duplex.

Ela estava aqui, em algum lugar deste edifício. Não podia


esperar para vê-la outra vez.

Mas quando me aproximei da entrada, pude ver um cara de pé


na garagem, de costas para mim e as mãos nos quadris. Não era
Mason, isso eu tinha certeza. Ia dizer algo para me fazer notar e
saberem que não era nenhum estranho espreitando o lugar quando
o sujeito disse — porra, como você está gorda.

Foi aí quando vi Eva na garagem, tentando tirar algo de um


congelador. Sua bunda apontava para nós, e não parecia nada
gorda, em minha opinião. Droga, nem sequer podia perceber que
estava grávida até que se levantou e virou para encarar o visitante.

Seu rosto imediatamente empalideceu enquanto dizia — oh,


por Deus. Alec?

Merda.

Tirei a cabeça da entrada e segurei Gamble quando tentou


passar a meu lado para entrar na garagem. Então o puxei para
baixo enquanto me ajoelhava.

Não tinha ideia de por que queria me esconder enquanto ela


falava com o Alec, mas conhecer o pai de seu bebê não estava no
topo da minha lista de prioridades. Queria entrar ali e tirar as suas
bolas do seu saco da maneira mais dolorosa que pudesse, o que
duvidei que Sininho apreciaria.

Isto não era problema meu. Aquela não era minha mulher e
esse maldito idiota provavelmente significava mais para ela do que
eu jamais faria.

Isso era o que eu continuava repetindo para mim mesmo, de


qualquer maneira. Embora tivesse que cantarolar mentalmente
para lhes dar um pouco de privacidade e não escutar sua conversa.

Quando Alec se aproximou muito dela, quase perdi isso.


Gamble teve que agarrar meu braço porque devia saber que estava
a ponto de perder a cabeça.
— Não — advertiu em meu ouvido. — Essa é sua briga, cara.
Obviamente, têm assuntos que resolver. Se você se envolver e
quebrar sua liberdade condicional, voltará direto para a prisão.

Sim, mas se Eva estivesse com problemas, a liberdade


condicional seria a última coisa com a qual me preocuparia.

Olhei seu rosto de perto. Não enviava sinais de ansiedade ou


medo. Parecia estar acostumada a discutir assim com ele. Mas odiei
a forma que a agarrou e se aproximou. Se Gamble não me
segurasse de novo, interviria. Por que simplesmente não intervi?
EVA

Ia vê-lo de novo! A qualquer momento.

Estive ansiosa o dia todo. Desde que Reese me disse que


Mason convidou Pick para ver seu carro novo, não pude me
acalmar. Era patético. Deveria estar decidindo o que fazer com
minha vida depois que Skylar nascesse, ou procurando outro lugar
para viver, ou procurando conselhos para pais, ou até procurando
um emprego. Algo assim. Ao invés disso, continuava sonhando com
seus braços e aquele pescoço cheios de tatuagens, e oh, vi uma em
seu peito quando todas aquelas mulheres excitadas do clube
arrancaram sua camisa no bar.

Deus abençoe as mulheres com tesão!

Pick Ryan possuía um grande e delicioso peito nu.


Definitivamente parecido com o do Jake Gyllenhaal, com um
maldito aro no mamilo. Seus músculos fortes, seus ombros largos e
sua cintura, a mais fina que já vi. Tinha sido impossível conter a
baba quando ele fez aquelas brincadeiras com as mulheres do clube
por despi-lo durante o leilão. Seu sorriso, somado a esses peitorais
e seu moicano, além das tatuagens, foi demais para tomar. Tinha-
me derretido em seus braços no momento em que me forçou a
dançar com ele.
E sua voz cantando. Oh, meu Deus. Sério? O cara podia levar
uma canção como ninguém.

Cantarolando "Baby Love" em voz baixa, abri a porta da


garagem de Reese e Mason. Como viviam em um apartamento de
dois andares, eram poucos passos até a garagem. Vim aqui com o
pretexto de procurar um pacote de ervilhas congeladas no freezer
que ficava ali, disse a Reese que ervilhas combinava bem com o
prato que ela estava cozinhando para o jantar. Mas, na verdade,
esperava por ele.

Poderia chegar aqui em qualquer momento.

Mason, sendo tipicamente Mason, não tinha definido nenhum


horário com Pick. Sendo homens, só disseram que seria na noite de
sábado. Bem, havia um montão de tempo num sábado à noite.
Precisava saber exatamente quando chegaria. Estava
enlouquecendo sem um horário certo.

Não sei por que o desejava tanto. Conquistar um homem não


estava em minha lista de coisas a fazer, além de que era o último
tipo de pessoa que eu deveria escolher, se eu estivesse no mercado.
E não nos esqueçamos que era casado, coisa que eu sempre parecia
esquecer, droga. Além disso, não tinha ideia do que lhe diria
quando chegasse, ou.... Porra, por que demorava tanto?

— “Oh meu doce amor, meu doce amor. Eu preciso de você,


como preciso de você” — cantei em voz baixa enquanto abria a
porta do freezer. Não havia muito lá, por isso não foi difícil achar as
ervilhas. Mas era impossível alcançá-las por causa do meu
barrigão. Tentei me virar para que eu pudesse me curvar para o
lado, mas não consegui.
Sem me dar por vencida, tentei o outro lado, aí sim, pude
chegar um pouco mais perto, até que as pontas dos meus dedos
roçaram o pacote congelado. O ar gelado que soprava tocava minha
pele nua. A parte de cima da minha bata tinha alças grossas, mas
era sem mangas, assim a pele dos meus braços se arrepiou
imediatamente igual pele de galinha, o que fez os meus mamilos
endurecerem pelo frio.

Eu me vesti para Pick. Era estúpido, eu sei. Estava com sete


meses e meio de gravidez, não exatamente no momento mais
glamoroso de minha vida. Ele era casado, por que tinha sempre que
me lembrar que isso era simplesmente assustador. E viemos de
mundos completamente diferentes. Meu pai teria um ataque se me
visse com um cara tatuado e com piercing no rosto como Pick.

Bom, isso seria um bônus, algo para acabar com aquele velho
filho da puta, mas mesmo eu não fui capaz de ir tão longe. Esse
tipo de pessoa sempre me intimidou, como se fosse suficientemente
forte para me mastigar e cuspir sem um segundo olhar, como se me
vissem como nada mais que uma puta rica mimada.

Mas Pick sufocou completamente meus medos e reservas a


respeito. Nunca me intimidou. E nunca me tratou como uma rica
mimada, nem nada disso. Viu diretamente através dos estereótipos,
estigmas e preconceitos e tornou fácil para mim fazer o mesmo.

Entretanto, ele ainda era proibido. Fiz Reese pintar as minhas


unhas dos meus pés esta tarde, já que não podia alcançá-las, só
para impressioná-lo.

Inclinando-me um pouco mais no freezer desta vez, pressionei


minha barriga contra a abertura da tampa, fazendo Skylar saltar
pela pressão.
— Desculpe, querida. — Acariciei o meu ventre, esperando não
tê-la machucado. Era hora de pedir ajuda a Reese.

— Porra, como você está gorda.

Diante da voz familiar, virei e engasguei. Um zumbido caótico


encheu minha cabeça enquanto via quem estava diante de mim.
Não parecia possível que meu ex-namorado da Flórida, que estava a
mais de mil quilômetros de distância, estivesse de pé na garagem de
Mason e Reese. Mas ali estava, olhando para minha barriga,
horrorizado.

Pisquei duas vezes. Então sacudi a cabeça para negar. — Oh,


por Deus, — ao final encontrei o ar para respirar — Alec? O que
você faz aqui? — Olhei por trás dele para ver se meus pais ou
qualquer outra pessoa de minha casa veio junto, mas não, estava
sozinho, graças a Deus. As últimas palavras que nós gritamos um
ao outro foram bastante desagradáveis. Não podia pensar em outra
coisa que precisasse dizer para o término disso tudo. — Como me
encontrou?

Deslizando uma mão em um bolso de sua calça cáqui, chegou


mais perto, com seus lábios curvados em um sorriso zombeteiro
enquanto me olhava de cima abaixo. — Mason me disse que te
encontraria aqui.

Próximo item em minha lista de tarefas: assassinar o noivo


intrometido de Reese.

Parando na minha frente, Alec suspirou e balançou a cabeça


como se estivesse decepcionado comigo. — Falei com seus pais,
Eva...
— Ah é, sobre o quê? — Suspirei e levantei uma mão
para detê-lo, sabendo que ele ainda queria que fizesse o que exigiu
da última vez que nos falamos. — Eu também falei com meus pais.
E sei exatamente qual a posição deles. Não estaria aqui no meio de
Illinois, vivendo às custas da minha prima se não tivessem me
expulsado de casa porque me recusei a abortar. E desde que
continuo, Alec, acho que isso significa que não mudei de ideia.
Então, lamento que por sua viagem desperdiçada, mas você veio por
nada. Pode dar meia volta e retornar para a Flórida.

Alec cerrou os dentes, sua expressão mostrava toda sua


frustração. Não me importava, não o deixaria dizer o que fazer com
meu bebê. Renunciou ao direito de tomar decisão no momento em
que disse que eu era uma puta enganadora, depois que lhe contei
que estava grávida.

Mas logo seu rosto ficou inexpressivo. — Vai realmente


continuar com isso, não é? Bem, estou disposto a pagar. O que você
quer, E.?

Quando apertou forte meu braço, meus sinais de alerta


dispararam. Alec nunca foi abusivo fisicamente. Mas, hoje, algo não
estava certo no comportamento dele.

Os homens desesperados agiam de formas terríveis. Aprendi


isso da maneira mais difícil com o meu pai. Bem, hoje Alex estava
desesperadamente assustado.

Sabendo que tinha que levar isso com cuidado, mesmo que
sua presença me assustasse muito, tentei não deixá-lo ver que eu
estava desesperada.
— Isso não é um jogo de poder para eu conseguir um
brinquedo bonito, Alec — assegurei-lhe. — A única coisa que quero
é a minha filha.

— Tolice! — Apontou um dedo acusador para mim. — O que


aconteceu com a garota que conheci, a que dizia que crianças a
aterrorizavam?

— Você a engravidou — disparei, quando fiquei furiosa. —


Então acho que terei que aprender a me adaptar.

— Jesus Cristo — gritou Alec, fazendo-me fechar os olhos e


pôr minha mão no quadril. — Por que não pode simplesmente
cuidar disso?

— Eu estou! Ficarei aqui e cuidarei do meu bebê como uma


mãe deve fazer.

— Uma mãe? Oh, meu Deus. — Deu uma risada degradante.


— Está se escutando? Você não é assim. Não é capaz de ser mãe,
Eva. É uma porra de uma puta rica mimada.

Ai. Isso doeu. Era uma garota solteira de dezenove anos, sem
trabalho, sem casa, e estava prestes a trazer um pequeno e
inocente ser humano ao mundo e ser totalmente responsável por
ele. Uma súbita tontura me fez cambalear. Pobre Skylar, parecia
realmente ferrada e nem sequer nasceu. Com um idiota como pai e
uma puta mimada como mãe, meu bebê não tinha nenhuma
chance.

Mas ainda estava disposta a tentar. Não importa o que


qualquer pessoa pensasse, amaria minha garota e encontraria uma
maldita maneira de ser uma boa mãe, nem que fosse a última coisa
que fizesse.
Ergui meus ombros. — Só porque não planejei que isso
acontecesse, não significa que vou jogá-la de lado como um
pequeno inconveniente. Ficarei com minha menina.

Alec zombou como se soubesse um segredo. — Bom, eu não


permitirei que faça isso.

Tentei afastar meu braço dele. — Por que não? Não estou
pedindo que faça nada. Na verdade, nem sequer quero que se
envolva.

Alec me puxou para mais perto. — Quão estúpido acha que eu


sou? Terá a lei a seu lado e tirará tudo de mim. Poderia me
manipular com isso pelo resto da minha vida, sugará até me deixar
seco para manter a menina, fazendo pagar por todo tipo de droga
que não quero ter nada a ver. E me recuso a deixá-la seguir com
isso.

— Alec... — suspirei, cansada e revirei os olhos tão


dramaticamente como pude, apesar de que meu coração estava
acelerado. Por alguma razão irracional, pensei que se o deixasse ver
meu medo ele me atacaria. — Acredite em mim. — Por favor, por
favor, acredite. — Não farei isso. Não quero nada de você. Na
verdade, se nunca mais te visse de novo, pularia de alegria. Até
assinarei qualquer papel, dizendo isso.

— Vejamos — sacudiu a cabeça e riu suavemente. — Custo a


acreditar nisso. Conheço você, lembra? Sei o quão interesseira
cadela manipuladora você é. Eu me recuso a deixar que continue
com isso.

— Bem, eu mudei. — Deixei escapar um barulho irritado


quando tentei puxar meu braço para me liberar de seu aperto, mas
ele não me soltou. — As pessoas podem mudar, sabe. Agora me
solte.

— Não até que concorde em se livrar dele.

Estava drogado? Era muito tarde para um aborto, mesmo se


eu concordasse com a ideia. Funguei e levantei meu queixo. —
Nunca.

— Então você não me deixa outra escolha.

Oh, merda. Percebi que cometi um grande erro ao enfrentá-lo,


incitando seu temperamento, uma fração de segundo antes que me
empurrasse contra a parede.

Quando minhas costas e minha cabeça bateram contra a


parede de gesso, o medo se apossou de mim. Ele me agarrou pela
garganta até que estava gritando, gritando e só gritando, com a
esperança de que fosse alto o bastante para chamar a atenção de
Mason e Reese.

Ele machucaria meu bebê. Não senti dor a princípio, estava


muito assustada por Skylar e pelo que Alec tentava fazer com ela.
Mas então me deu um murro no estômago.

Acho que continuei gritando. Não tenho certeza. O som ecoou


em meus ouvidos enquanto tentava abraçar minha barriga e
proteger minha filha. Mas me segurou pelo pescoço, prendendo-me
no lugar, frouxo o suficiente para que pudesse continuar gritando,
mas tão apertado que não pude escapar. Eu mal conseguia respirar
e muito menos proteger minha barriga. Minhas pernas se agitavam,
mas a dor que sentia era tão grande que era difícil me concentrar
em algo mais que cada golpe.
Tão abruptamente como me atacou, Alec parou. A pressão em
minha garganta desapareceu, e caí ao chão. Não consegui deter
minha queda, mal pude respirar fundo. Era como se não tivesse
controle sobre meus membros. Aterrissei no chão com um ruído
surdo, o que doeu ainda mais. Mas ao menos o ataque acabou.

Pensei que talvez Alec tivesse pensado melhor e recuou.

Mas logo disse — que porra.... — Antes de um “ahh” e o baque


de alguma coisa quebrando contra o osso ecoasse por toda a
garagem. Seguido por um gemido abafado.

— Acaba de se meter com a garota errada, amigo — uma voz


masculina e muito zangada grunhiu.

De dentro de minha agonia, os sons dos punhos contra a


carne seguiram, junto com gritos e ameaças. Sabia que alguém
estava me defendendo, mas nesse momento não importava quem
era. Estava muito ocupada tentando não morrer no chão. As
lágrimas rolavam por minhas bochechas enquanto segurava minha
barriga.

Skylar não se movia. Ela sempre se agitava ou saltava quando


algo a assustava. Por que não se mexia?

— Não... — disse com voz rouca e apoiei minha bochecha no


chão, apertando meus olhos com força enquanto meu abdômen
parecia como se estivesse explodindo e rasgando por dentro.

Mais gritos encheram o lugar. Acho que por fim ouvi a voz de
Mason juntar-se a briga, mas de repente Reese estava comigo, com
sua mão em meu ombro e sua voz cheia de pânico em meu ouvido.
— Eva! Pode me ouvir?
Tentei acenar, ou responder, ou até mesmo piscar, mas tudo
que consegui foi gemer de dor quando outra onda de terror apertou
meu abdômen.

— Eva? — Reese tentou de novo, com voz tremendo. — O que


aconteceu? Está bem? Oh, meu Deus. Mason. Ela está gravemente
ferida.

A onda de agonia passou, deixando um latejar leve e dolorido.


Respirei e tentei falar novamente. — Acho que estou sangrando. —
Consegui de algum jeito esticar meus dedos o suficiente para
verificar entre minhas pernas, porque podia sentir uma hemorragia.
Queria ter certeza que não havia sangue, mas não podia ver além
de minha barriga.

Outra pontada de dor curvou meu ventre. Encolhi-me ao redor


de meu bebê.

— Não! Não, não, não. — Uma das vozes masculinas ficou


rouca enquanto se agachava a meu lado. Pensei que era Mason até
que falou novamente — Sininho? — E então percebi que era Pick.

Enquanto quentes e ternos braços me envolviam, abri meus


olhos e olhei para cima para um par de olhos castanhos
devastados. — Pick?

Apertou-me contra seu peito. Por fim ele tinha chegado. Bem
na hora certa.

Ele beijou minha testa. — Olá, linda. Quer dar um passeio


comigo? Tenho um carro muito rápido e posso fazer que cuidem de
você em pouco tempo.

Por um momento, fiquei confusa. Por que falava sobre carros e


passeios quando parecia que tudo dentro de mim estava rasgando e
meu bebê estava com problemas? Mas então compreendi o que
queria dizer. Hospital.

Foi aí que soube que era ruim. Talvez se tivesse falado tão
calmo e controlado como sempre, poderia ter ficado tranquila. Mas
parecia assustado, então fiquei com medo.

E se... e se Skylar não... sobreviver? E se Alec conseguiu...?


Muito horrível.

Gemi e afundei meu rosto na camisa de Pick, agarrando-a com


força. Estava tão grata que estivesse aqui comigo.

— Dói — eu disse. — Não estaria tão mal se Skylar estivesse


bem, não é? Algo tinha que estar errado.

Tinha algo de errado com meu bebê.

— Sei, baby. Eu sei. — Cantarolando, Pick me puxou para


mais perto e se levantou.

Náuseas me encheram enquanto outra onda de dor apertava


meu abdômen. Tentei a técnica de respiração que usava quando
meu pai me machucava. Respirações profundas. Mas não foi
capaz de me acalmar o suficiente para parar a respiração rápida e
superficial. Pensei que fosse vomitar, quando de repente estava no
céu, sendo levantada do chão. Oh, Deus. A vertigem fez a minha
cabeça rodar e meu estômago contrair.

— Bem? — Pick gritou, não tinha ideia com quem ele falava. —
Vamos levá-la ao hospital.

Dei uma olhada rápida, negando-me a pensar em nada além


de seu cheiro em meu nariz. Era difícil pensar de qualquer modo.
Então deixei que seu perfume, que lembrava um óleo bronzeador de
coco, fez-me sentir saudades da única coisa da Flórida que
realmente fazia me sentir em casa. Um agradável e quente dia
ensolarado. A praia. A areia e a espuma suave do mar.

Pressionada contra este homem que cheirava a meu tipo


favorito de dia ensolarado, apaguei. Eu estava em casa novamente.

Pessoas falavam ao meu redor, mas na realidade não


registrava o que diziam. Concentrar-me em palavras seria me focar
na dor e no que poderia estar acontecendo com o bebê dentro de
mim. Fechei os olhos e me aconcheguei mais a Pick. Nesse
momento, ele era a única coisa em meu universo.

— Ouça, tudo ficará bem — ele murmurou em meu ouvido,


sua voz finalmente forte, com confiança e tranquilidade.

Agarrei-me a essa confiança.

Empurrou-me o suficiente para que eu percebesse que


entrávamos em um carro, então me aconcheguei em seu colo e seus
braços se reajustaram para me abraçar. Não podia deixar de
apertar a frente de sua camisa. Espasmos ocasionais de dor
rompiam minha consciência, mas era boa bloqueando as coisas
desagradáveis. Fiz isso por anos.

Então e os empurrei de volta. Negava-me a reconhecer que


algo ruim poderia acontecer a Skylar.

Não foi até que viramos bruscamente em uma esquina que


outro choque de dor me tirou de meu lugar seguro.

— Cuidado — gritou Pick a quem dirigia o carro.

— Porra, cara — disse uma voz masculina que não reconheci.


— Estou tentando. Seu carro tem mais potência do que estou
acostumado.
Gemi e os lábios do Pick imediatamente estavam sobre meu
ouvido, sua respiração era quente e relaxante. — Estamos
chegando, Sininho. Só um pouco mais.

— Meu bebê — consegui dizer.

— Ela está bem, ela ficará bem. Nada vai acontecer a esse
precioso anjinho. Eu te prometo isso.

— Como...? — Não havia como me prometer isso.

— Ela está bem. Eu a vi — sussurrou antes de sufocar um


soluço. — E ela é linda. Absolutamente perfeita. Tem seus incríveis
olhos azuis e a carinha do mais doce querubim, em uma espécie de
forma de coração. E cabelo escuro com um pequeno cacho. E tem
um redemoinho na franja, bem aqui. — Pressionou os lábios no
lado direito de minha testa, onde nasce meu cabelo, onde eu não
tenho um redemoinho. — Seu lábio inferior mais cheio que o
superior, e seu nariz é ligeiramente fino na ponta, como o seu.

Se usasse todas as minhas características para descrevê-la,


teria sido mais difícil acreditar nele. Mas a menção de um
redemoinho e cabelos escuros, diferente do meu, fez que imaginasse
a menina que descreveu, até que se tornou uma criatura viva,
respirando de novo. Estava viva e ficaria assim.

Desta vez, ao invés de bloquear a dor, abracei-a. Sem soltar a


camisa de Pick com uma mão, agarrei minha barriga com a outra.
— Não vou perdê-la — prometi a ele.

— Não, não vai — disse. — Lutará por esta garotinha, e ela vai
conseguir. As duas farão isso.
PICK

Enquanto uma frenética equipe de emergência levava Eva em


uma maca, desabei no banco mais próximo e pressionei minhas
costas contra a parede, fechando os olhos. Sem poder segurá-la
mais, minhas mãos começaram a tremer, então me agarrei na
borda do banco como se minha vida dependesse disso.

Reese andava ao meu lado enquanto falava ao telefone, como


se estivesse a um milhão de quilômetros por hora com uma dúzia
de pessoas diferentes. Gamble, que nos trouxe para o hospital,
estava parado perto, e Mason, que ficou no apartamento para se
encarregar do cara que estive malditamente perto de matar por
tocar minha Sininho, continuava ausente.

Todo o tempo, eu não conseguia parar de sentir a umidade do


sangue da Eva em minha camisa encharcada.

Em que droga eu estava pensando?

Fiquei fora da garagem, escutando a conversa dela com seu


ex, e não fiz nada. Nada!

Não importava que Gam continuasse me dizendo para não


interferir, que não era problema meu. Senti a violência saindo dele.
Sabia que estava a ponto de desabar sobre ela.

Por que simplesmente não entrei, fiz-me notar e dispersei um


pouco da raiva? Ainda poderia ter sua grande conversa de
encerramento com ele enquanto eu estivesse lá, escutando
abertamente tudo.

Mas droga, deixei que Gamble me convencesse que era melhor


deixar que tivesse esse momento. E aquele bastardo conseguiu dar
muitos golpes antes que o pegasse.

Prendê-lo contra a parede pela garganta, golpeá-lo na cara


com uma chave inglesa e chutá-lo nas bolas não foi nem perto o
suficiente, antes que Gamble conseguisse me tirar de cima dele.
Ainda me arrependia de ter convidado o idiota para vir comigo esta
noite. Poderia estar destroçado pela perda de sua mulher, mas sua
ajuda me convencendo de que não entrasse lá, pode ter feito eu
perder a minha.

Engoli e tentei não enlouquecer.

Não, não perderíamos Eva esta noite. Ela ficaria bem. A bebê
ficaria bem. Todo mundo ficaria bem, exceto talvez o pai da bebê.
Eu meio que esperava que ele morresse.

Mas ela perdeu tanto sangue. Engasguei um gemido e fiquei


em pé para me acalmar.

— E aí, cara. — Gamble agarrou meu ombro quando passei


por dele, mas dei de ombros e lhe dei um olhar mortal.

Gentilmente tirou suas mãos de mim, mas continuou falando


— você está bem? Deixe-me ver suas mãos.

— Estão bem. — Eu mal consegui dar dois murros em Alec


Worthington. Tudo em meu corpo estava perfeitamente bem. Ele
deveria estar preocupado com Eva.

Furioso, aproximei-me dele, precisando descarregar um pouco


da minha raiva e medo. — Porra, por que me segurou? Por que...?
— Quando percebi que acusá-lo não resolveria nada, além de fazer
com que me arrependesse de minhas palavras mais tarde, dei a
volta e me afastei.

Sentindo-me perdido, perambulei pelos corredores, olhando


cegamente as imagens emolduradas de estúpidas flores rosadas nas
paredes. Não parei de andar até que estava na entrada da capela do
hospital.

Dentro estava estranhamente silencioso, com as luzes tênues


e uma estátua de uma Virgem, com a cabeça inclinada para um
lado e as mãos cruzadas no peito enquanto me dava um olhar de
simpatia. Nunca entrei em uma igreja, mas o fiz agora, precisando
de algo. Qualquer coisa.

Sentei no último banco e fiquei olhando para a estátua que


continuava me olhando.

Sabia que não deveria me sentir tão destroçado por isso.


Conhecia Eva por quanto tempo? Duas semanas? Não era a garota
com que sonhei por dez anos. Era uma completa estranha, se ela
ou seu bebê não sobrevivesse esta noite, não seria o final da minha
vida. Mas me convencer disso era impossível.

Não queria que morresse. Não queria que aquele bebezinho


que chutou minha mão através de seu ventre morresse. Queria
olhá-la nos olhos de novo e deixar que me fizesse outro moicano. Só
queria mais tempo com ela.

Olhando à Virgem preocupada, enviei-lhe um respeitoso aceno


com a cabeça. — Obrigado — disse e saí da capela. Não foi até que
caminhei junto à loja de presentes fechada e vi o porquinho de
pelúcia que Skylar segurava em minhas visões, que realmente me
acalmei. Era como um sinal me dizendo que ela ficaria bem. Ainda
havia um porquinho de pelúcia esperando por seu amor.

Meu celular tocou enquanto voltava à sala de espera. Com um


suspiro, respondi — Tristy, não posso falar agora.

— Ele não para de chorar — gritou completamente histérica.


— Não sei o que fazer.

Travei os dentes, dividido entre ficar e ver o que aconteceu


com Eva, e a necessidade de ajudar a Tristy e Julian. Podia ouvir
seus lamentos através do telefone.

— Trocou sua fralda?

— Dane-se, sim acabo de trocar.

Com um suspiro, passei a mão sobre meu cabelo. — E o


alimentou?

Ela resmungou — sim! Não sou uma idiota.

Mordi a língua para não responder a isso. — Tris, não posso ir


para casa agora. Alguém está ferido, estou no hospital. Por que não
o nina de verdade, tira-o do balanço e o pega no colo?

Ela me xingou, mas parou de falar por um momento porque,


como suspeitei, ele estava em seu balanço e ela finalmente o
pegava. Seus gritos se acalmaram quase imediatamente.

— Não é uma loucura como isso funciona? — Murmurei no


telefone, com minha voz ácida.

— Não tem que ser um imbecil a respeito. — Queixou-se antes


de acrescentar. — Ainda está um pouco manhoso.

— Muito bem, ok. Ponha o telefone em sua orelha.

— O quê?
— Deixa que escute minha voz.

— Isso é estúpido.

— Simplesmente poderia calar a boca e tentar? Tranquilizou-o


antes.

— Ok. — Um segundo depois, ouvi uma respiração pesada e


movimentos contra o alto-falante antes de escutá-lo balbuciando.

Sorri.

— Ei, garoto. Ouvi que está dando trabalho a sua mãe. Será
que poderia se acalmar um pouco até que eu possa ir para casa?
Juro que quando chegar, vou te balançar na cadeira o dobro do
tempo que normalmente faço.

— Dane-se, está funcionando. — Escutei a voz do Tristy ao


fundo. — Continue falando.

Então comecei a cantar. Na metade do “Kryptonite” de 3 Doors


Down11, vi Gamble dando a volta na esquina apressado. Quando
me viu, começou a agitar sua mão freneticamente. Devem ter tido
notícias da Eva e da bebê.

— Preciso ir — disse, cortando minha própria canção.

— Está tudo bem — disse Tris. — Ele está dormindo.

— Bom. — Desliguei e corri pela esquina para seguir Gamble.

— Houve um trauma bastante significativo no útero que


provocou o desprendimento da placenta — dizia um médico a Reese
e ao Mason, que devia ter chegado enquanto eu tentava não
enlouquecer. Ele abraçou Reese e a puxou para si enquanto o
médico continuava falando.

11
https://www.youtube.com/watch?v=xPU8OAjjS4k
Eu não tinha ideia do que era um desprendimento de
placenta, mas não soava bem. Sentindo-me enjoado, desabei de
novo no banco em que me sentei antes pondo meus cotovelos nos
joelhos e enterrando meu rosto em minhas mãos.

Prometi a ela que a bebê estaria bem. Descrevi como seria


Skylar e dei minha palavra de honra, mas...

— Tivemos que fazer uma cesárea de emergência. A boa


notícia é que a placenta estava inteira no útero quando se
desprendeu. Por isso teve tanta perda externa de sangue, mas
reduziu o sangramento interno e tudo deu certo quando tiramos a
bebê.

Olhei para cima, surpreso, bem quando Reese exclamou —


quer dizer que a bebê está viva?

Acenando lentamente, o médico confirmou. — Está na


unidade de terapia intensiva neonatal, mas terá que consultar o
pediatra para saber sobre o estado da bebê.

Reese desabou ao meu lado, com lágrimas brilhando nos


olhos. — Oh, Deus. Oh, obrigado Deus. — Então riu feliz. — As
duas conseguiram. As duas.... Espere. As duas conseguiram, certo?
Eva também está bem, não é?

O ar em meus pulmões parou quando o médico hesitou.


Engoli duro e quis vomitar por todo o piso. Não, isto não estava
acontecendo. Eu tinha acabado de conhecê-la. Depois de todo este
tempo esperando, a vi só duas vezes e ela morre? Não. Dane-se, de
maneira nenhuma.
— Um choque afetou seu rim — o médico finalmente admitiu.
— Está mostrando sintomas de necrose cortical difusa, então a
pusemos em hemodiálise. Mas seu estado se mantém estável.

Uma vez mais, não tinha ideia do que isso significava. Tudo o
que escutei foi estável e para mim, isso significava ainda viva.

Viva era bom. Era malditamente incrível. Sininho estava viva.


Reese abraçou a si mesma, e sua voz tremeu quando perguntou —
podemos vê-las? As duas?

— Estou certo de que podem olhar a bebê pela janela do


berçário, mas mandarei uma enfermeira avisar quando a mãe
estiver estável o suficiente para receber visitas.

Todos concordamos com a cabeça e o médico saiu. Gamble se


foi não muito depois disso, tendo escutado o mais importante. Mas
eu não ia a lugar nenhum até que tivesse uma visse as duas
garotas. Precisava de uma prova visual de que elas estavam bem.

Segui Reese e Mason para a maternidade, em seguida, a uma


janela do berçário, onde abriram as persianas para nos deixar ver
Skylar.

Deitada na incubadora, um pequeno ser humano vermelho


tinha um tubo respiratório ligado em sua boca enquanto os fios dos
monitores a faziam parecer como se estivesse à beira da morte.

Prendi a respiração. A meu lado, Reese gemeu e tampou a


boca com ambas as mãos. — É tão pequena. Como um ser tão
pequeno conseguirá sobreviver?

Cambaleei, um pouco tonto de preocupação. Reese tinha


razão. Era tão pequena e frágil. O que aconteceria se Skylar não
conseguisse?
Tentando não entrar em pânico, fechei os olhos e apoiei minha
testa contra o vidro.

Mason pôs uma mão em meu ombro e o apertou. — Ei, Alec e


eu fizemos um trato. Não dirá a ninguém o que fez a ele.... Não, se
não quiser que digamos às autoridades o que fez a Eva. Assim, não
tem que se preocupar em ter problemas nem nada. Ok?

Ter problemas por causa daquele imbecil era a última coisa


que me preocupava. Ser preso por tentar matá-lo pelo que fez a Eva
teria sido uma honra.

Assenti, sentindo-me ressentido. — Então, ele escapa sem


nenhuma punição por fazer isto?

— Confie em mim, cara. Você o deixou em péssimo estado.


Tenho certeza que estará cuspindo e urinando sangue por um bom
tempo.

Não era suficiente. Nem de perto de ser suficiente, mas disse


— está bem.

Não nos deixaram entrar para que víssemos Eva por mais uma
hora. Reese e eu acampamos na janela e olhamos para Skylar a
maior parte desse tempo. As enfermeiras checavam seus sinais
vitais frequentemente, e algumas vezes ela se contorcia um pouco,
mas na maioria do tempo, a pequena princesa esteve bastante
tranquila.

Sininho provavelmente estava chateada por não poder vê-la.

E isso foi exatamente a primeira coisa que perguntou quando


entramos em seu quarto. — Você a viu?

Congelei na entrada do quarto. Estava amarela e machucada,


muito machucada. Seus olhos, rosto e pescoço estavam inchados
demais e parecia que estava difícil até para enxergar. Todo tipo de
tubos e máquinas conectados a ela, mantendo-a viva.

O pânico arranhou minha garganta, mas engoli isso e


silenciosamente segui Reese, mas parei nos pés da cama, incapaz
de chegar mais perto.

Reese agarrou a mão da Eva e sorriu. — Ela é tão pequena, E.


Uma perfeita miniatura humana, com cabelos escuros... como o
meu.

Lágrimas escorriam pelas bochechas inchadas da Eva


enquanto sorria. — Sim? Ela está bem, então? Continuam me
dizendo isso, mas não posso ir vê-la. Não posso...

— Shh. — Reese se inclinou e beijou sua testa. — Tem o resto


de sua vida com ela. Só se deite e relaxe para que possa melhorar.

As palavras de sua prima pareceram fazer efeito porque se


acalmou depois disso. Mason ficou atrás comigo, olhando-as com
preocupação. Quando captou meu olhar, engoliu em seco com um
olhar culpado.

— Sinto-me um idiota — murmurou em voz baixa. — Disse a


esse cretino onde encontrá-la. Juro por Deus, que não tinha ideia
que faria isso. Pensei que encararia a situação e a ajudaria.

Contente de que não era o único que se sentia culpado, apertei


seu ombro. — Pelo menos você não esperou até que estivesse
socando seu estômago para se meter em sua conversa.

Mason abriu a boca para responder, mas de repente Eva disse


— é Pick que está aí?
Virei em sua direção. Queria me ajoelhar e implorar que me
perdoasse. Queria mostrar a ela o quanto me doía vê-la assim, quão
assustado estive pelas duas. Mas me segurei. — É claro que sou eu.

Aproximei-me e gentilmente peguei sua mão machucada, que


tinha uma agulha presa na veia. Droga, seu aperto estava tão fraco.
— Fez um bom trabalho, Sininho. A pequena é linda. — Inclinei-me
e beijei sua bochecha.

Virando-se para mim, roçou o lado de sua bochecha contra a


minha. — Obrigada. Muito obrigada por estar lá esta noite. Salvou
a mim e a minha menina.

Um fraco suspiro saiu de meus pulmões. Pressionei minha


testa contra a sua, por fim deixando que alguns de meus
sentimentos saíssem. — Quase consigo deixar que te mate, isso foi
o que fiz. Escutei vocês falando, e não me meti. Não até que fosse
malditamente tarde. Sinto muito, sinto muito por deixar que se
aproximasse tanto de você.

Uma mão tocou meu cabelo. Fechei os olhos.

— Escute-me, Patrick Jason Ryan. Você é meu herói, e não


tem nada pelo que se desculpar.

Deve ter percebido que não acreditava nela porque apertou


mais forte minha mão. — É o que você é. É meu herói.

— Mesmo assim me desculpe — sussurrei incapaz de lutar


contra o sentimento de culpa.

— Eu não. — Sacudiu a cabeça e me deu um sorriso trêmulo.


— Se não tivesse vindo esta noite, estaria morta neste momento.
Minha filha estaria morta. Por que não pode entender isso?
Abri meus olhos e encontrei seu olhar. Possivelmente esta era
a razão pela qual tive essas visões. Se não a visse em minha cabeça,
não estivesse fascinado por ela pelos últimos dez anos, não estaria
tão ansioso por visitar Mason esta noite. E se não tivesse ido,
ninguém teria evitado que seu ex-namorado a matasse. Inclinando-
me, beijei nossas mãos entrelaçadas, muito agradecido de que ela
estivesse viva.

— Nunca deixarei que aconteça novamente algo de ruim a


você. Juro. — Era uma promessa do fundo da minha alma.
EVA

Desse dia em adiante, minha vida mudou completamente.

Logo que pude caminhar e as enfermeiras me permitiram sair


de minha cama de hospital, arrastei-me como uma anciã carregada
à unidade de cuidados intensivos neonatal para me sentar com
Skylar. Era a criança mais linda que eu já vi. Mas olhá-la me
assustava muito. Era tão pequena, tão frágil e delicada. Como
deveria cuidar e protegê-la? Não sabia absolutamente nada sobre
isso.

Não parecia importar quantos artigos de maternidade li, nada


me preparou para isso. Isto sim era real.

Uma enfermeira entrou enquanto estava sentada na cadeira de


balanço, com meu braço enfiado dentro do buraco para a mão da
incubadora, acariciando calmamente seus pequeninos dedos.

— Querida, deve voltar para seu quarto e descansar um pouco


agora, já ficou aqui por bastante tempo. Não queremos que tenha
uma recaída.

Apenas a olhei enquanto estudava a pequena mecha do cabelo


de meu bebê. Como Pick acertou isso?

Talvez apenas imaginei a descrição que ele fez dela. Havia um


monte de pontos nebulosos em minhas lembranças da noite em que
ela nasceu.
— Estou bem. — Ainda não queria deixá-la. Não acreditava
que fosse possível amar tanto. Sentia meu peito completamente
cheio. Poderia ficar sentada nessa cadeira e olhá-la dormir e
respirar pelo resto da minha vida

— Ela não precisa de um cobertor? — Perguntei quando seu


corpinho estremeceu em seu sono como se estivesse tremendo. —
Parece que ela está com frio.

Os lábios da enfermeira se apertaram irritados. — Ela está


bem. Mas você deve voltar para seu quarto. Disseram que acaba de
sair da hemodiálise. Não deve se exceder.

Assenti como se estivesse de acordo, mas respondi — só um


pouco mais.

Resmungando, ela deu meia volta e se afastou. Quando


escutei a frase — ... típica mãe adolescente solteira. Acreditam que
sabem tudo.... — Eu me virei e fiquei olhando, vendo os dez quilos
de peso extra em sua cintura, enquanto ela ia em um acesso de
raiva.

Não sei por que deixei que esse comentário me afetasse. Talvez
fosse pelos hormônios da gravidez restantes em minhas veias, o
início de alguma depressão pós-parto ou problemas normais de
insegurança de uma típica nova mãe de dezenove anos, mas as
lágrimas encheram meus olhos imediatamente. Virei para minha
filha, pequena e indefesa, lutando por sua vida e a chorei ainda
mais.

Que droga eu pensava que estava fazendo?

Segui com isso com minha falsa confiança habitual, pensando


que poderia criar uma criança. Milhões de mulheres davam à luz a
cada ano. Por que justo eu teria um problema com isso? E olhe, eu
quase causei a morte de Skylar.

Chorei ainda mais, com meu peito arfando. Tive que tirar
minha mão da incubadora de Skylar e enterrar meu rosto em
minhas mãos para abafar o som angustiante e não a acordar.

Ela estava aqui, assim, porque eu não estava em condições,


porque...

— Olá — uma voz alegre interrompeu minha autopiedade. —


Bom, olhe quem já está fora da cama.

Soava tão aliviado e feliz. Virei-me para olhar para Pick. Ele
estava na porta com o maior sorriso e um embrulho rosa de
presente em sua mão. Quando viu meu rosto, seu sorriso
desapareceu.

— O que aconteceu? Skylar? — Deixou cair o embrulho


enquanto corria para a incubadora.

A preocupação em seu rosto aqueceu meu coração e ajudou a


acalmar minhas lágrimas. — Não, ela está bem. Melhorando a cada
dia.

Um profundo suspiro lhe escapou enquanto colocava sua mão


sobre o plástico transparente que o separava de minha filha. —
Graças a Deus.

Pisquei ainda espantada por quão preocupado ele ficou. —


Como chegou aqui? — Nem sequer permitiram que Reese entrasse,
ela ainda tinha que olhar Skylar pela janela no corredor.

— Paquerar às vezes é útil. — Finalmente se virou para mim e


piscou. — As enfermeiras me amam.
Entretanto, seu sorriso foi breve. Sua preocupação voltou
quase imediatamente quando se agachou para me levantar da
cadeira. — Agora, por que são todas estas lágrimas? Você parece
bem melhor, a propósito. A pele amarela e o rosto machucado me
assustaram muito.

Não percebi ele ia me colocar em seu colo até que já estava


acomodada lá. Senti-me ainda mais jovem e mais estúpida do que
quando comecei meu ataque de choro. Uma garotinha tola
precisando sentar em um bom colo reconfortante para se acalmar.

— Não sei — murmurei, limpando as lágrimas de minhas


bochechas e me sentindo ridícula. — Estou tão... sobrecarregada —
junto com assustada, preocupada, perdida, insegura, ugh! O que
aconteceu com a presunçosa Eva Mercer de um ano atrás? Gostaria
de ter uma grande dose dela agora.

Pick riu e me beijou na testa, provocando um ninho de


borboletas em meu estômago. Ou talvez fossem os pontos de minha
cesárea que criaram essa sensação, apesar de que não podia sentir
muito essa área. Medicamentos impressionantes amenizaram isso.

Incapaz de evitar deitei minha cabeça sobre seu bonito e


amplo ombro reconfortante. Digo, ele o ofereceu. Não pude resistir.
E me sentia bem, incrivelmente bem em deixar que alguém me
abraçasse por um minuto.

— Sinto muito — comecei, fungando minhas lágrimas. — Só


me ignore. Eu...

— Não, não vou te ignorar. Nunca vou te ignorar. Tem toda a


razão do mundo para ter um momento de pânico. Dane-se, acabou
de dar à luz. Isso por si só já é pressão suficiente. Tristy chorou por
três semanas depois que Julian nasceu.
Tenho certeza que se ele me olhasse naquele segundo, veria
uma ruga entre meus olhos. Eu realmente não queria ouvir sobre
sua esposa agora, não quando estava aconchegada em seu colo,
deixando-o me consolar e desejando coisas dele que nunca poderia
me dar. Mas acho que não me incomodou o suficiente para me
afastar dele. Precisaria usar garras para me tirar do colo de Patrick
Ryan.

Passei meu dedo por uma tatuagem que era a cara de gato em
seu antebraço enquanto ele continuava falando.

— Mas olhe quanta coisa em cima de você. Não sei tudo, mas
o que sei parece um monte de merda. Também quebraria se
estivesse em seu lugar. — Beijou minha têmpora desta vez. — Não
tem que ser valente e forte o tempo todo, Sininho.

Meus lábios se agitaram de diversão. — Alguma vez vai


esquecer esse apelido? Uma garota leva a Sininho em sua camiseta
uma vez...

— Aceite. — Sorriu antes de acariciar seu nariz contra minha


têmpora. — Nem todo mundo pode parecer tanto com a imagem da
Sininho como você.

Sorri ainda mais. Acariciando as orelhas do gato tatuado,


perguntei — significa alguma coisa? A tatuagem de gato?

Ele olhou para baixo. — Claro. Todas elas significam algo. Não
tenho imagens tatuadas sem nenhuma razão.

Pareceu-me bastante na defensiva para me fazer olhar para


cima. — Então, o que significa?
Dando de ombros, olhou para a cara do gato. — Eu cresci em
casas de acolhimento12, desde meu nascimento até os dezoito
anos. Nunca fiquei no mesmo lugar, quando muito por alguns anos
em cada um. E aprendi ainda jovem que as regras mudam de casa
para casa. Nem sempre leva muito com você aonde quer que vá. E
nem sempre pode manter o que trouxe. Esqueça fotos ou
quinquilharias sentimentais. É só você e você mesmo. Então, se eu
quisesse manter uma lembrança de algo, eu só...

— Tatuava em sua pele — terminei por ele. Estudando-o sob


uma nova luz, olhei de volta ao gato. — Esse gato foi seu primeiro
animal de estimação?

— Foi o meu único — corrigiu com um sorriso em sua voz. —


Na verdade, não era um animal de estimação. Era um gato de rua
sarnento. Um animal fugitivo que entrou em nossa casa, eu pegava
escondido um pouco de comida e ele continuava voltando. Depois
de um tempo, deixou-me acariciá-lo enquanto comia. Nunca
deixava que outras pessoas no bairro se aproximassem.

Sorri, gostando dessa história. — Que nome deu a ele?

Deu-me um olhar irritado. — Ele era um animal de rua. A


gente não nomeia animais de rua.

Algo em seus olhos castanhos entrecerrados me fez empurrá-


lo levemente com o cotovelo. — Que seja. Deu-lhe um nome. Agora
fale.

Com um suspiro, inclinou a cabeça para trás e olhou para o


teto antes mesmo de murmurar — isso é estúpido.

12
Casas de acolhimento ou assistência social, nos EUA, é um sistema no qual um menor é colocado em uma
instituição, grupo, ou casa particular de um cuidador certificado pelo governo, referido como um "pai adotivo". A
colocação da criança é normalmente organizada através do governo ou uma agência de serviço social. A
instituição, o lar de grupo ou o pai adotivo recebe dinheiro para manter essas crianças.
Isso só me fez gostar mais dele. — Não me importa, diga.

— Shakespeare — disse, revirando os olhos. — Dei-lhe o nome


de Shakespeare.

Ahh. Isso fez com que eu gostasse ainda mais. Toquei seu
queixo, amando a maneira que sua mandíbula áspera raspava
contra meus dedos. Queria tocar os aros de metal em seu lábio,
mas consegui me conter. — Foi um sonhador, não?

Sua voz era seca e ainda irritada quando resmungou — se


soubesse em quantas brigas me meti nos últimos anos, não
pensaria isso.

— Aposto que sim. Vi por que se mete em brigas. É


francamente surpreendente que não veja uma capa de herói
tatuada em qualquer lugar aqui. — Passei meus dedos até seu
cotovelo. — Só posso imaginar quantas outras donzelas em perigo
você salvou nos últimos anos.

— Tá, tá — murmurou.

Sorri. — Minha filha e eu lhe devemos nossas vidas, Patrick.


Não vou esquecer.

Ele me olhou e algo caiu pesado em meu estômago. Meus seios


formigaram e não acho que era meu leite descendo.

— Por que me chama tanto de Patrick? — Sussurrou.

— Porque é seu nome — sussurrei-lhe, nem sequer me atrevia


a respirar. O brilho de seus olhos me disse que queria me beijar. E,
oh porra, queria muito beijá-lo também.

Mas ele olhou para Skylar.


— Só os assistentes sociais e professores me chamavam de
Patrick.

O momento estava se tornando muito profundo. Lembrando


que estava sentada no colo de um homem casado, parei de insistir
no assunto. Não lhe perguntei se gostava ou não que o chamasse
assim. Em vez disso, foquei na tatuagem de uma planta. — E o que
isso significa?

— Minha mãe adotiva favorita gostava de jardinagem.

Seguimos, do seu pulso até o ombro, repassando o significado


de cada tatuagem. Suspirei com tristeza depois que explicou o que
simbolizava o primeiro motor de carro que reconstruiu do zero. Eu
gostava de saber o que mais lhe importava.

— Eu gostaria de fazer uma tatuagem algum dia — eu disse,


pensativa, sabendo exatamente o que mais me importava enquanto
olhava a minha filha.

— Pois terá. — Pick passou delicadamente seu dedo na pele


atrás de minha orelha esquerda. — Bem aqui, vai tatuar meu nome.

Revirei os olhos, lutando contra um sorriso, porque sabia que


não deveria encorajar seu flerte. — Sempre tão seguro de si mesmo,
não é?

Sorriu — É claro. Não digo nada sem intenção.

Soava horrivelmente sério. Mas só balancei a cabeça, e,


finalmente, sorri. Descansando a cabeça em seu ombro, continuei
delineando as imagens em seu braço com minha unha. — Sua
esposa provavelmente me mataria se soubesse que estou deixando
que me abrace assim.
— Não. — Inclinou-se e afundou seu nariz em meu cabelo.
Enquanto o ouvia inalar profundamente, algo estranho apertou
meu estômago. — Ela não é assim.

Bem, talvez ela devesse ser, porque não sentia uma


companhia amistosa com ele neste momento. Experimentava algo
muito mais profundo, abri minha boca para discutir. Aceitando-o,
esposa ciumenta ou não, isto ainda estava errado. Ele pertencia a
outra pessoa. Não devia deixar que continuasse me salvando.
Poderia não significar muito para ele, mas para mim, significava
muito mais do que deveria.

— Em todo caso — disse, deixando o assunto morrer para que


não soubesse que estava me apaixonando por ele. — Realmente
aprecio que esteja aqui me tirando do meu ataque de choro. Sempre
sabe quando aparecer na hora certa para me salvar.

Seus braços tencionaram e eu sabia que ele pensava sobre o


que Alec fez.

Toquei seu rosto. — Falo sério Patrick. Olhe para mim.

Levantou o rosto, e eu queria tanto pressionar minha boca


contra a sua. — Você fez tudo certo naquela noite. Agora pare de se
preocupar com isso.

Balançando a cabeça, deu um pequeno sorriso. — Deixe de ler


minha mente, mulher. É muito sexy.

Abri a boca para lhe dizer que achava sexy as coisas mais
estranhas, mas a enfermeira que me fez chorar voltou. Uma linha
irritada se aprofundou entre seus olhos antes que ela visse o rosto
de Pick. E imediatamente, suas bochechas coraram de prazer.
— Oh, por Deus. Não pensei que voltaria a ver seu magnífico
traseiro por aqui, senhor Pick.

Pick lhe sorriu. — Olá, Charlotte. Cuidou bem de minhas duas


garotas, aqui?

Ela me olhou, parecendo um pouco culpada antes de se virar


para ele. — Não tinha nem ideia de que eram suas, mas é claro que
cuidamos. Agora vem aqui e me dê um pouco de doçura.

Quando ela se inclinou na nossa frente, Pick, obedientemente,


beijou-a na bochecha. Ficando em pé com um brilho feliz, Charlotte
tirou a cabeça do quarto e chamou a atenção das outras
enfermeiras. Em poucos minutos, todo o quarto estava cheio de
mulheres rastejando por cima dele, exigindo abraços e beijos. Ele
gentilmente me tirou de seu colo e me pôs de novo na cadeira para
poder ter acesso a elas, dizendo a Whitney que gostava de seu novo
penteado, e a Meg que parecia como se tivesse perdido muito peso.
Em troca, abraçavam, cochicharam e lhe perguntaram como estava
Julian.

Julian, certo. Por isso deviam conhecê-lo. Esteve aqui quando


sua esposa deu à luz.

Outra onda de inveja me atingiu enquanto o via se tornar o


centro de toda a atenção de minhas enfermeiras. Tirou seu telefone
para mostrar fotos de seu filho, e balancei a cabeça maravilhada. O
homem certamente sabia como agir em um quarto cheio de
mulheres.

Quando ele me olhou, piscou para mim, perguntando às


mulheres — minha Sininho não está dando nenhum problema para
vocês, não é? Sei como ela pode ser difícil.
As enfermeiras garantiram que era uma paciente perfeita,
além do fato de que precisava de mais descanso.

Depois disso, ele se encarregou de me acompanhar


pessoalmente a meu quarto para uma soneca. Toquei os dedos de
Skylar me despedindo, esperando que logo pudesse beijá-la na testa
ou nas bochechas, ou em seus dedinhos dos pés, ou na verdade tê-
la em meus braços. Depois Pick pegou minha mão e me
acompanhou até meu quarto. Uma vez que me meteu na cama,
onde todo mundo parecia querer que ficasse, pegou o embrulho de
presente. O porco rosado de pelúcia que trouxe para Skylar, era
perfeito. Agradeci e o aproximei de meu peito muito depois de que
se foi, dizendo que ficou além de sua hora de almoço.

As enfermeiras eram muito mais agradáveis comigo depois


disso. Alguém observava o porco que abraçava e sorriu com
cumplicidade. — Do Pick? — Supôs.

Assenti, aconchegando o animal de pelúcia em meu queixo.

— Então, quanto tempo faz que conhece nosso papai favorito?

— Oh. — Sorri — Não muito. Meu primo, Mason, trabalha com


ele no clube Forbidden.

A enfermeira assentiu. — Bom, ele é único, isso é certo. Acho


que todas as enfermeiras se apaixonaram por ele quando estava
aqui por aquela moça Tristy. Ele era incrível com o bebê dela.
Paciente, amável. Natural mesmo.

Sorri suavemente, vacilando quando percebi que ela disse


bebê "dela", não "seu" bebê. Estranho. — Aposto que era. Ainda não
conheci Julian. Só vi uma foto que Pick me mostrou.
A enfermeira estalou a língua. — Estava tão orgulhoso desse
menino. É uma maldita pena que não seja dele.

Pisquei. — Espera, o quê? O que quer dizer com pena que não
seja dele? — Meu Deus. Não havia outro significado para essa frase.
Mas isso significaria... — Droga. Pick sabe?

Com um suspiro e virando os olhos, a enfermeira verificou o


nível de água em meu purificador. — Querida, esse bebê saiu mais
negro que eu. Não há forma de o bebê ser dele. E todo mundo
sabia.

Respirei agudamente. — Oh... uau. Eu... apenas achei que a


mãe era.... Não posso acreditar que sua esposa o traiu.

— Esposa? — A enfermeira gritou, fazendo uma pausa


enquanto deixou cair pesadamente o purificador. — Não, não se
atreva a me dizer que ele se casou com aquela garota. — Sacudiu a
cabeça com tristeza. — A pior paciente que já tive. Diria que.... —
Aproximou-se mais e baixou a voz. — Não ouviu isto de mim, mas
ninguém gostava dela. Ela era uma cadela com C maiúsculo. E eu
nem sequer amaldiçoo. — Para provar a si mesma, olhou para o
teto, e murmurou — me perdoe Pai — enquanto tirava um crucifixo
debaixo de sua blusa e o beijava.

Fiquei boquiaberta. Minha maior preocupação era que sua


esposa fosse doce, bonita e carinhosa. Mas saber que não era tão
boa como temia, era quase pior. Não gostei de saber que estava
amarrado a uma cadela que o traiu.

Meu pobre Patrick. Queria arrancar os olhos dela. — Ele sabia


que o bebê não era dele antes de nascer? — Perguntei com minha
voz tão baixa quanto a da enfermeira.
Ela se endireitou, batendo brincando em minha mão. — É
claro. Ele e a garota nunca tiveram esse tipo de relação, se entende
o que quero dizer. Eram mais como irmãos. Acredito que disse que
estiveram no mesmo lar de acolhida uma vez. — Revirou os olhos.
— Ele cuidou dela por anos. E se eles se casaram, foi só por causa
de seu bebê.

Meu peito de repente se apertou e me deu vontade de chorar.


Um cara como Pick, que socou Alec porque ele tentou matar meu
bebê, que fez questão de cuidar de um menino que sabia que não
era dele, que me abraçava para me consolar, merecia um amor
verdadeiro, uma esposa que o adorasse.

Meu amor por ele ficou ainda mais forte. Se eu o conhecesse


na noite que conheci Alec "Bastardo" Worthington.... Mas se fosse
assim, provavelmente ainda teria ido atrás de Alec, porque era
estúpida e preconceituosa. Tudo o que veria em Pick eram suas
tatuagens de menino mau e a roupa sem marca. Eu o rotularia
como um fracassado. Mas Alec era o verdadeiro perdedor e, Pick era
o homem mais doce e mais honrado que já conheci.
EVA

Logo que pode respirar, comer e manter-se quente por si


mesma, Skylar teve alta do hospital. Tinha vinte dias de nascida
quando finalmente pude levá-la para casa.

Eu só fiquei por uma semana no hospital. Dois dias depois


que meus rins decidiram voltar a funcionar por conta própria,
jogaram-me para fora do hospital. Foi a coisa mais difícil do mundo
sair do hospital sem meu bebê, minha garotinha que esteve comigo
pelos últimos sete meses e meio. Assim, normalmente ficava por lá
o dia todo, incomodando as enfermeiras com perguntas. Acho que
foram muito pacientes comigo só porque sabiam que era amiga de
Pick.

Quanto à situação de Skylar, seu médico não previa nenhum


problema a longo prazo. Avisou-me que provavelmente teria alguns
atrasos em seu desenvolvimento, talvez um pequeno problema na
escola, mas fisicamente estava bem.

Essa primeira noite com ela em casa foi difícil, e não porque
Skylar era manhosa. De fato, era um sonho virando realidade em
comparação com as histórias de terror sobre bebês que li. Na
verdade tive que despertá-la algumas vezes para suas mamadas
regulares. O que a fez difícil foi que não podia parar de me
preocupar. Saía da cama para ver como estava cada vez que se
movia ou respirava um pouco mais alto.
Antes que a noite terminasse, movi o berço até que estava
esmagado contra minha cama, assim já não estava ao outro lado do
quarto. Só consegui adormecer quando passei a mão pelas grades
do berço e apoiei meus dedos nela. Se não temesse me virar e
asfixiá-la por acidente, eu a teria colocado na cama comigo.

A manhã chegou antes que eu percebesse, e despertei com o


que jurei era o som da risada de Pick. A princípio, pensei que era
parte do maravilhoso sonho que tive. Ele segurava Skylar, dizendo a
princesa que era quando ela soltou um pum.

Ele jogou a cabeça para trás e riu. Pensei que acrescentaria


algo como "Princesa do pum", mas ao invés disso ouvi — Cristo,
Mason. Não posso acreditar que de verdade comprou esta merda.

Meus olhos se abriram e meu quarto no duplex de Reese


entrou em foco. A luz do dia brilhava nas paredes claras, dizendo
que já não eram cinco da manhã, que foi a última vez que acordei
com Skylar. As cortinas se moveram, deixando entrar uma brisa
morna de primavera porque deixei a janela aberta a noite toda. A
rajada de vento roçou minhas bochechas, fazendo-me sorrir.

Estas últimas horas foram o que mais dormi em toda a noite.


Meu corpo doía e tinha que tomar meus remédios para a dor, além
de que meus seios cheios de leite ardiam e estavam duros como
pedras. Estava na pior condição física de minha vida, e ainda
assim, não me lembrava de me sentir tão contente.

Então ouvi a voz do Pick de novo. — Estou francamente


surpreso que a coisa ainda funcione. Olhou este motor?

Ajeitei-me na cama. Meu Deus! Pick estava aqui, bem embaixo


da minha janela.
Oh, meu Deus. Isso dói. Oh, cacete... Ai. Isso realmente doía.

Envolvendo minha cintura com o braço quando uma dor


passou queimando através da cicatriz de minha cesárea, ofeguei e
tentei respirar através das ondas de agonia. Mas, uau. Sentar-se
muito rápido depois de terem aberto a sua barriga não era nada
bom. Não ajudava que meu abdômen ainda doesse no local onde
Alec bateu, mas isto... isto veio diretamente dos pontos da cirurgia.

— Eu não estava lá quando Reese o comprou. — A voz de


Mason flutuou pela janela. — Estava na entrada da garagem
quando cheguei em casa da aula.

— Quer que ajude a dar uma surra no idiota que vendeu isso
para ela?

Sorri suavemente. Talvez devesse me incomodar que Pick


estivesse tão pronto a usar seus punhos, mas esse seu lado salvou
minha vida e a da minha filha. Não podia deixar de apreciá-lo.

— Deus, não — murmurou Mason. — Vi como bate nas


pessoas. Vou passar. Só tente fazer com que esta coisa seja
suficientemente segura para dirigir.

— Ok. Ei, quer...?

Mas Pick não chegou a terminar a pergunta, porque uma voz


forte e desagradável o interrompeu — olá, filhos da puta! O estão
fazendo?

Escutar o recém-chegado me fez inclinar a cabeça com


curiosidade. Quem quer que fosse soava vagamente familiar.

Mason, obviamente não esperava mais companhia, porque


disse — que porra estão fazendo aqui? — Supus que mais de uma
pessoa acabava de chegar.
— Fiquei sabendo que Pick conseguiu um convite dourado
para sua casa e me senti excluído.

— Só vim aqui porque Ten era meu motorista para o jogo de


futebol esta manhã — interveio outra voz. — Começamos o treino
de verão hoje, assim me arrastaram sem eu concordar. Não se
preocupe, vou embora logo. Minha garota vai passar para me
buscar em alguns minutos.

— Sinto muito — interrompeu uma terceira voz. — Ten me


disse que íamos juntos para sua casa hoje, por isso o segui. Não
sabia que não éramos convidados.

— Está tudo bem — respondeu Mason. — Não me importo que


vocês dois estejam aqui.

— Ei! — Ten gritou, claramente ofendido, o que só fez Mason


rir.

— Ei, Gamble, — disse Pick, a voz mais calma do que era


antes — passe essa chave que está a seus pés.

— Não vai bater com ela na cara de ninguém, como a última


vez que estivemos aqui, não é?

Uau, será que bateu na cara de Alec com uma chave?


Estremeci pelo quanto isso deve ter machucado meu ex, mas um
sorriso incontrolável apareceu em meu rosto. Tomara que Pick
tenha deixado uma cicatriz, Alec era sempre tão orgulhoso de seu
lindo rosto.

— Muito engraçado — murmurou Pick. — O bastardo


mereceu. Ei, ouvi que recuperou a sua garota. Não trabalhei muito
com você ultimamente para te parabenizar.
— Obrigado — disse Gam, soando bastante orgulhoso. —
Embora não tenha ideia de por que me aceitou de volta, já que a fiz
perder seu emprego e em seguida, basicamente, dei-lhe a
responsabilidade de três filhos quando trouxe meus irmãos, mas
não vou olhar os dentes de um cavalo dado. Ela está aqui e vou
aproveitar o tempo que queira ficar comigo.

— Sim, também fiquei sabendo que seus irmãos foram morar


com você. Isso é uma droga, cara.

— Na verdade, não. Agora estou menos preocupado com eles,


além de que estamos em um lugar melhor. É melhor para todos
nós... Exceto para Aspen, que está se encarregando de fazer com
que se estabeleçam e se matriculem na escola daqui. Ela tem sido
um presente de Deus.

— Ei, de quem é esta cerveja? — Ten voltou à conversa.

— Minha — Pick respondeu, com voz abafada, como se


acabasse de deslizar de debaixo do carro de Reese.

Ouvi o barulho da lata sendo aberta. — Maldição, tem gosto de


cerveja barata. — Logo fez uma pausa antes de suspirar como se
tivesse bebido a metade da lata.

— Se quiser ajudar a si mesmo... — a voz do Pick soou seca —


... então mantenha sua maldita boca fechada.

— Ei, não estava reclamando. Tomo cerveja barata. E falando


de barato, lembra da garota que entrou no bar para te ver na outra
noite? Deu-lhe um pouco de dinheiro e a mandou para casa.

— Sim — disse Pick com suspeita. — O que tem ela?

— Essa era barata e fácil. Digo-lhe isso, tudo o que lhe


comprei foi um sorvete de casquinha e me deu sexo oral ali mesmo,
no estacionamento. Então me seguiu até em casa e a comi de todas
as formas.

— Você... — Pick não parecia saber o que dizer a isso. Então,


finalmente, perguntou-lhe — não lhe deu drogas, não é?

— O quê? — A voz de Ten parecia confusa. — Não. Não uso


drogas. Por que essa pergunta? Espera, foi por isso que ela foi ao
Forbidden para te ver? Oh, cara, você é traficante de drogas?

— Oh, Jesus. Sério? Se fui eu que dei o dinheiro, por que seria
o traficante?

— Merda. Ela é uma traficante de drogas?

— Não. Maldito seja. Só se cale. Nenhum de nós dois


traficamos drogas.

— Então, por que trouxe as drogas à conversa, e por que deu


dinheiro a ela? Cacete, quem é ela? — Ten começava a soar
alarmado.

— Falei de drogas porque ela era uma viciada em crack.


Assegurava-me que não lhe deu nada. E lhe dei dinheiro porque é
minha esposa.

Coloquei a mão sobre minha boca, que se abriu chocada. Mas,


uau. Não esperava essa resposta. Tampouco nenhum dos caras, ao
que parece. Uma pausa embaraçosa flutuou através da janela antes
que Ten explodisse. — Eu comi a sua mulher?

Então Mason, Gamble e Quinn gritaram juntos — é casado?

— Oh, merda. — A voz de Ten soava vazia. — Sabia que tinha


um filho, mas desde quando está casado? Cacete, como pode estar
casado? É o maior mulherengo que conheço.
— Eu não sou o maior mulherengo que conhece. — Pick soava
insultado. — Você é o maior mulherengo que conhece. Tudo o que
vê é que levo as garotas bêbadas do bar para casa todas as noites.
Na verdade, não durmo com nenhuma delas. Que tipo de idiota se
aproveita de uma mulher embriagada?

— Não sei — murmurou Gamble, pensativo. — Algumas são


bem convincentes. Podem ser difíceis de resistir.

— Literalmente — soprou Ten ante o trocadilho.

— Está fazendo piadas, Ten? — Perguntou Mason. — Sério?


Logo depois de saber que pôs chifres no pobre do Pick?

— Não — disse Pick para tranquilizá-los. — Tris e eu não


temos esse tipo de casamento. Quero dizer, certamente nunca
cheguei lá com ela. É mais como uma irmã para mim. Só a estou
ajudando com o seguro até que ela e seu filho possam seguir em
frente.

— Então, o menino não é seu? — Perguntou Ten.

— Não... tecnicamente. Mas provavelmente serei o único pai


que vai conhecer, por isso não importa quem doou o esperma para
fazê-lo.

— E alguma vez a comeu? Só para saber se não tive nenhuma


de suas sobras.

Uau, isso era o que mais lhe preocupava? Resmunguei. Esse


cara, Ten, era uma figura.

— Não. — A resposta de Pick soava muito mais bondosa do


que a minha teria sido. — Ela e eu nunca fizemos isso... E nunca
faremos. Francamente, surpreende-me inclusive que você a queira.
Não é exatamente...
— Cara, eu comeria qualquer coisa com tetas que,
voluntariamente, abrisse as pernas para mim. Não me importo com
beleza. E é uma vergonha você se importar tanto com a
aparência.... É um milagre que todas as mulheres fiquem tão loucas
com você, idiota preconceituoso.

Pick fez um som grave. — Ei, vai à merda. Não falei de sua
aparência, idiota. Disse que ela não é muito legal.

— Oh. Isso.... Bem... — Um sorriso encheu a voz de Ten. —


Coloque um sorriso aturdido na cara de uma garota e seu lado puta
surge. Entende? Vem diretamente para fora.

— Ok, ok. Chega de falar sobre dormir com a esposa do Pick


— Gamble resmungou. — Caramba, Ten. — Deve ter se virado para
Mason por que disse — Lowe, mude de assunto. O que aconteceu
com você? Como está com sua garota depois que aquela velha onça
foi ao bar?

Prendi a respiração, porque eu nem sequer pensei na senhora


Garrison desde que Mason e Reese ficaram noivos. Estive um pouco
preocupada com meu novo pedaço de céu na terra. Verificando-a,
inclinei-me para vê-la dormir em seu berço, e uau... Era tão
preciosa.

— Ela me deixou pôr um anel em seu dedo — dizia Mason —


então diria que vamos bem.

O orgulho em sua voz me fez sorrir. Era tão bom saber o


quanto ele amava Reese. Gostava de vê-la feliz. Estendendo a mão,
acariciei a bochecha macia de Skylar. Ela se mexeu e começou a
despertar. Já era hora de dar de mamar mesmo, assim me inclinei
sobre o berço e a peguei antes de abrir minha camisa para
alimentá-la.
A voz atônita de Gamble flutuou no quarto. — Você vai se
casar? Droga, caras. Só estive fora por algumas semanas. Sabia que
Ten moraria com o Hamilton desde que o deixei sem teto para viver
com minha garota. Mas Pick estar casado com um filho, Mason
noivo, e Ten começou a transar com mulheres casadas? Merda.
Logo vão me dizer que Hamilton perdeu a sua virgindade. — Depois
de um momento de silêncio, Gamble gritou — merda! Hamilton
perdeu sua virgindade?

Quando uma onda de risadas lhe respondeu, Gamble se


juntou a ela. — Bem, parabéns, amigo. O que você achou?

— O que ele achou? — Soprou a voz incrédula de Ten. — O


cara teve relações sexuais pela primeira vez. Ela poderia ser a pior
parceira sexual da terra. Se ele gozou, é lógico que gostou!

— Ela não foi péssima. — Hamilton parecia ofendido, o que me


fez sorrir. Foi bom ouvir um cara defender uma garota em vez de
falar mal dela para seus amigos.

— Oh, sim? — Ten soou intrigado. — Subiu em cima de você e


assumiu o controle ou te deixou pensar que estava no comando?

— Ei, calma. Pare de amolar o garoto — falou Pick. — Ele não


tem que dar mais detalhes.

— Que se dane. Quero saber tudo. Quando, onde, por quanto


tempo, quais posições. Quantas vezes a fez gozar.

— Eu não... — começou Quinn, parando de repente.

— Bem, fala logo — exigiu Ten — não nos deixe curiosos


agora. Você não o quê?
Eu quase podia sentir que o pobre Quinn corando. Sua voz era
quase um murmúrio quando finalmente admitiu — não sei se
realmente a fiz.... Quero dizer, como vou saber?

O silêncio respondeu a sua pergunta. Finalmente, Ten disse


em um tom horrorizado e escandalizado — não a fez gozar?

Mais silencio. Então ele disse — não sei.

— Confia em mim, Hamilton. Você saberia — disse Gamble.

— Mas... como?

Ten riu. — Gritou seu nome, arranhou suas costas, cantando


"Oh meu Deus, oh meu Deus, oh meu Deus, mais forte, mais
rápido. Bem aí, Quinn. Porraaaaa!"

— E qual é a prova de que as garotas não fingem com você? —


Disse Mason secamente.

— Ei, vai à merda, cara. Como sabe quando acontece então,


oh grande e poderoso Lowe, rei de todos os deuses do sexo?

— Você pode sentir — respondeu Mason. — Esse doce


pequeno músculo que se contrai em torno do seu pau bem quando
reviram os olhos, suas costas se arqueiam e suas coxas se apertam
ao seu redor.

Engasguei um pouco, porque não queria pensar nele ou em


Reese dessa maneira. Assustada com minha reação, Skylar soltou
meu mamilo e parecia confusa. Estava tão ocupada tentando ajudá-
la a voltar a mamar, que quase perdi quando Pick respondeu — ele
tem razão. Sem dúvida, pode senti-la ordenhando seu pau.

Imediatamente, fiquei quente por toda parte, imaginando-o


dessa maneira. Comigo. Deus.... Pensei que ficava excitada por ele
por causa dos hormônios da gravidez. Mas não estava mais grávida,
então isso já deveria ter passado.

— Sim — acrescentou Gamble com uma só afirmativa


enquanto a conversa continuava.

Ten bufou. — Não importa. Não se pode sentir essa merda.

— Talvez você não seja grande o suficiente para sentir isso,


então. — Mason riu.

— Oh, olha quem está se gabando de seu tamanho agora? —


Ten soou repentinamente desconfortável.

Para salvar Ten de se sentir deficiente, Quinn disse


rapidamente — Acho que ela não gozou, então. Como faço que
ela...? — Uma vez mais, interrompeu-se, mas todo mundo, inclusive
eu, sabia exatamente o que pedia.

— Parece que precisa pôr sua língua para trabalhar. — A


sugestão de Pick me fez perceber que eu estava molhada. Que
vergonha. Só sua voz e a palavra língua já me esquentaram.

— Hã? — Quinn estava obviamente confuso.

Pick esclareceu — você. Precisa. Lambê-la.

— Lambê-la?

— Oh, meu Deus. — Eu imaginava Pick com as mãos no ar


girando para olhar com incredulidade aos outros três caras. — É
sério?

— Ele foi superprotegido — explicou Ten — Foi criado por sua


avó.
— Oh.... Bem, então. Claro que sim, lamba a garota. Por trás
da orelha, pelo pescoço, entre os seios, sobre seus mamilos, bem
em cima nela, por dentro...

— Bem em cima nela... O quê?

Pus a mão na minha boca para não rir em voz alta pelo tom
horrorizado do Quinn.

— Especialmente lá — Gamble acrescentou, e me vi


concordando.

Bem atrás das minhas orelhas, no meu pescoço, e meus seios


já estavam ardendo como se tivessem experimentando fisicamente o
ataque verbal de Pick. Mas entre minhas pernas é onde mais
queimava, poderia lidar com a língua de Pick muito bem.

— Coloque geleia e lamba, também funciona bem.

Fiz uma careta. Oh, não, não, não. Isso era algo que não
queria saber a respeito de Mason. Eca. Tinha a esperança de que
não estivesse falando de algo que fez com Reese. Nunca seria capaz
de comer um sanduíche de manteiga de amendoim e geleia de
nossa cozinha de novo.

— Droga, Lowe. Ficando criativo por ali.

— Definitivamente terei que provar isso com Aslen.

Coloquei a mão sobre a boca para não rir em voz alta. Uau.
Não tinha ideia que os caras tinham este tipo de conversa entre
eles.

— Então, você lambe seriamente... lá? E ela não se importa?


— Se importar? Por que se importaria? As garotas amam isso.
Pedem isso todo o tempo. Ten, querido, é a sua vez de cair em mim
esta noite.

— Mas...

— Parece que você ainda precisa aprender as partes de uma


mulher — disse Pick — A próxima vez que estiverem juntos, não
tenha medo de explorar. Ela não se importará. Se a estiver tocando,
lambendo, beijando e mordiscando cada pequeno lugar que vá, ela
vai realmente gostar. Confia em mim. Desça lá embaixo ao nível dos
olhos com tudo e apenas... olhe em volta. Teste-a com a língua. Ela
fará você saber o que gosta e o que não gosta.

— Em voz alta — acrescentou Gamble.

Suspirei um pouco, desejando ter conhecido Pick anos atrás.


Parecia um amante muito atencioso e cuidadoso. Duvido que ele me
deixasse sair e tentar escapar para meu seguro e entorpecido lugar.
Aposto que ele seria capaz de me mostrar como é o sexo bom, puro
e honesto.

O lamento queimou minha garganta porque nunca tive isso,


nunca desfrutei de um momento íntimo com um menino.

— Eu escutei o Pick. O homem sabe do que está falando.

— Que porra? — Pick perguntou. — Acabei de receber um


elogio do Ten? Você está bem? Oh merda, está morrendo?

— Cala a boca.

A risada de Pick me aqueceu por dentro, enquanto Gamble


falou — Shh, alerta, mulher chegando. A senhora Lowe está
chegando.
Os homens se acalmaram imediatamente. Uns segundos
depois, Mason gritou — ei, amorzinho. — Podia imaginá-lo
segurando-a pela cintura e puxando-a para baixo em seu colo.

— Foi ao supermercado, hein? — Perguntou Ten. — Ficou de


novo sem geleia?

Fiquei boquiaberta, com a esperança de que, por Deus, Reese


não tivesse nem ideia a que ele se referia. Mas quando ela disse —
Do que está falando? — Um pouco bruscamente, sabia que
entendeu e estava enviando a Mason um olhar feio por
compartilhar demais com seus amigos.

Ele deve ter feito uma perfeita cara de inocente, porque depois
respondeu — não tenho nem ideia. — Reese deixou por isso mesmo.
Imaginei-a saindo de seu colo com um sorriso revigorado e levando
as sacolas de compras para a porta dos fundos.

— Onde está Eva? — Perguntou, e sim, sua voz soou muito


mais perto de onde estava a porta.

— Não a vi esta manhã — respondeu Mason — Deve estar


ainda na cama. Sei que eu estaria. Juro que a bebê acordou a cada
hora.

Revirei os olhos. Tinha acordado a cada duas horas, não uma.


Esse foi o horário das mamadas recomendado pelas enfermeiras.

— Por que não vai ver se ela já se levantou? — Disse Pick — E


arraste-a aqui para fora. Ainda não tive minha dose de Sininho do
dia.

Imediatamente sorri. Ele queria me ver. Isso era tão...

Mordi meu lábio para matar o sorriso. Eva má. Tinha que
parar de pensar nele dessa maneira, mesmo que sua esposa fosse
como uma irmã para ele e só se casou com ela pelo seguro. Este era
o pior momento para desenvolver sentimentos sinceros por um
cara. Eu tinha bagagem, questões e problemas carimbados em mim
por toda parte. E apesar de ser óbvio que Pick não se importava de
passar por esse tipo de coisa por uma mulher, já que se casou com
uma puta ex-viciada só para ajudá-la, ainda não queria
sobrecarregá-lo com minhas coisas.

Ele era incrível demais para lidar com gente como eu.

— Claro. Vou lá ver — disse Reese. — Ei, vocês ficam para


almoçar? Mason poderia fazer algo na churrasqueira.

— O que você disse? — Começou Mason.

E Ten gritou — comida grátis, sim. Conte comigo.

— Obrigado, mas minha família vai vir me buscar logo — disse


Gamble.

Ao que respondeu Reese — Eles também podem ficar. Faremos


uma festa. Quantos mais, melhor.

— Bom, está bem então. Contem comigo.

— Eu poderia comer — acrescentou Quinn.

— E não vou deixar que diga que não, senhor Ryan. Depois da
forma que salvou minha prima, eu te alimentaria todos os dias pelo
resto de minha vida.

— Na verdade, não posso ficar muito tempo. No sábado é


sempre minha manhã com meu filho. Já estou perdendo um pouco
de tempo de pai.

— Está bem, não há problema — disse Reese, mas não parecia


muito convencida.
— Entretanto, ainda quero ver Eva e Skylar antes de ir —
gritou, justo quando ouvi abrir a porta de trás da garagem.

Já que Skylar terminou de mamar, desci da cama e a levei


para a cozinha, fazendo-a arrotar enquanto ia.

— Aí estão vocês! — Reese aplaudiu quando entrei na cozinha.


Deixou duas sacolas abarrotadas sobre a mesa antes de vir até mim
e tirar Skylar dos meus braços. — Já estava indo te ver.

— Já sei, ouvi você. Minha janela estava aberta, e oh meu


Deus... — Inclinei-me, baixando a voz. — As coisas que os homens
falam quando acham que nenhuma mulher ouve. Fazem-nos
pensar que é tudo sobre carros, esporte e sexo. Bem, quero dizer,
houve um montão de conversa sobre sexo, mas...

Reese engasgou e parou de acariciar as costas de Skylar para


agarrar meu braço. — Sabia! Mason contou sobre a geleia, não é?

Mordi meu lábio, mas minha expressão me entregou.

Sua boca se abriu. — Vou matá-lo.

Roubei Skylar de volta antes que ela se tornasse homicida. —


Não acho que teve intenção de dizer, se isso serve de consolo. Eles
davam conselhos ao Quinn porque ele acabou de dormir com sua
primeira garota e....

— O quê? Uau. Quinn era virgem? Mas ele é tão sexy.

— Sei! Parece, que foi criado por sua avó e nem sequer sabia
sobre ir para baixo em uma garota. Além disso, ele é supertímido.

— Puta merda. — Reese se afastou e balançou a cabeça. —


Por quanto tempo ouviu esses caras?

— Oh, eram uma fonte de fofocas suculentas.


Coloquei Skylar na cadeirinha e ajudei Reese a começar a
preparar nosso piquenique improvisado. Eu dizia a ela que Gamble
e sua noiva professora estavam de novo juntos quando a porta dos
fundos se abriu e Mason apareceu na cozinha.

— Ei, querida — disse para Reese enquanto ia atrás dela


abraçá-la pela cintura e beijá-la no pescoço. — A churrasqueira
está pronta, e a família do Gamble chegou. — Uma estranha
expressão cruzou seu rosto antes que acrescentar — concordaram
em ficar para o almoço, então somos onze e uma bonita bebezinha.
— Ele soltou Reese e virou-se para Skylar, tirou-a de sua
cadeirinha, e esfregou o nariz em sua barriga. — Olá, menina.

Ainda me surpreendia quão afetuoso era com ela, e como


estava disposto a segurá-la. Enquanto a embalava e arrulhava para
ela, olhei para Reese. Tinha pressionado seus lábios e segurava
ambas as mãos em seu coração enquanto o observava com um
sorriso apaixonado. Quando me pegou olhando-a, abanou o rosto
com uma mão e balbuciou — ele não é incrível?

Revirei os olhos, mas sorri, porque sim, encontrou um homem


incrível.

— Importa-se se eu levá-la para fora e mostrá-la aos caras? —


Perguntou Mason, olhando para mim. — Acho que Pick está a
ponto de morder o braço se não vir uma de vocês logo.

Não havia como negar tal desejo, então acenei. Mas chegando
à porta, parou e se virou para Reese. — Oh, e a Dra. Kavanagh está
aqui. Ela e Gamble estão juntos de novo.

— Oh, sei. Eva estava... — Percebendo que revelaria a fonte de


suas fofocas, Reese apertou os lábios com força e logo exagerou um
falso suspiro. — Sério? Uau, isso é ótimo. Eu gosto dela.
— Sim, mas Gamble nos advertiu que não a chamássemos de
Dra. Kavanagh. Não queria espantá-la e lembrá-la que fomos seus
alunos.

— Sim. Claro. Espera? Qual é o seu primeiro nome?


EVA

Reese e eu preparamos um ótimo churrasco no quintal,


modéstia à parte.

Aspen, que não voltamos a chamar de Dra. Kavanagh e


Caroline, a irmã de Gamble entraram na cozinha em algum
momento. Ajudaram-nos muito e tivemos nossa própria rodada de
fofocas suculentas, falando de todos os rapazes enquanto
picávamos as verduras e temperávamos os hambúrgueres. Skylar
continuava sendo a atração principal do dia e ia de dentro para
fora, pois não lhe faltava um colo brigando para carregá-la.

Quando finalmente deixei a cozinha, carregando a famosa


salada de batatas da Reese, uma mesa grande e várias cadeiras
foram acomodadas, na frente da garagem. Pick fechou o capô do
carro de Reese e contava a Mason tudo o que arrumou, enquanto
Ten e dois jovens mais novos riam de como Gamble parecia
desconfortável carregando Skylar.

— Não de atenção a eles — disse ao Gamble enquanto pegava


meu bebê de seus braços. — Está indo muito bem. — Dei a volta,
procurando um lugar para me sentar, mas acabei encontrando o
olhar de Pick em mim.

— Você estava lá dentro até agora? — Murmurou, se


aproximando. — Perguntava-me quando você apareceria.
Meu coração vibrou em meu peito quando sorriu para Skylar.
— Reese me fez trabalhar muito na cozinha. Mas acho que já temos
tudo pronto. Já teve sua vez de carregar Skylar?

— Ainda não. — Levantou as mãos para me mostrar como


estavam pretas e gordurentas de graxa — Mason me fez trabalhar
muito aqui fora. Mas vou me lavar e já venho roubá-la de você.

Concordei, incapaz de parar de sorrir para ele. Não o vi desde


sua última visita em meu quarto no hospital para entregar o porco
de pelúcia que deu de presente para Skylar. E para mim isso foi há
muito tempo. Só olhar para seus calorosos olhos castanhos já
revigorou algo dentro de mim.

Parou por um momento como se quisesse me dizer mais


alguma coisa. Logo negou com a cabeça, sorriu e se foi. Olhei-o
desaparecer pela porta dos fundos e suspirei, já querendo que ele
voltasse.

Dispersando tais pensamentos estranhos de minha cabeça,


caminhei para as cadeiras acomodadas na entrada onde Mason
assava hambúrgueres na churrasqueira. Encontrei o lugar vazio
mais próximo e me sentei, segurando Skylar em meu peito.

Entretanto, acho que deveria saber que não podia me sentar


perto de Ten.

Ele apontou para mim com o queixo e sacudiu as


sobrancelhas. — Como vai a amamentação?

Oh, bom Deus. Sério? Dei-lhe meu melhor olhar fixo. — Tão
bem quanto sua capacidade de dormir com mulheres casadas, ao
que me parece.
— Oh, raios. Esso foi um golpe baixo. — Franziu o cenho antes
de olhar ao redor e baixar a voz — Como soube disso?

Inclinei minha cabeça para a frente da casa. — A janela do


meu quarto está aberta.

Ten corou enquanto ele se afundava na cadeira. — Não é legal.

A porta dos fundos se abriu novamente, e me esqueci de Ten


enquanto dei mais uma olhada. Mas não foi Pick que saiu. Reese foi
a primeira a sair, carregando uma braçada de pães de hambúrguer
e pratos de papel. Aspen apareceu atrás dela, carregando a bandeja
de verduras. Caroline veio em seguida, trazendo uma cesta com
ketchup, mostarda, molho para verduras e outros condimentos. E
logo, por fim, Pick surgiu ao fundo, com seus braços tatuados
cheios de garrafas de refrigerante, copos e sacos de batatas fritas.

— Pick — gritou Reese sobre o ombro — por que não chama


sua família e pergunta se querem vir almoçar conosco?

A meu lado, Ten murmurou — merda, não. Diga não, não,


não.

Pick mordeu o lábio antes de me dar uma rápida olhada.


Então encolheu os ombros e disse — tudo bem.

Ten gemeu e se afundou mais na cadeira.

Mesmo que o casamento de Pick não era um casamento por


amor e ele nunca dormiu com sua esposa, eu não tinha certeza de
como me sentiria em conhecê-la. Queria muito conhecer Julian.
Mas Tristy? Não muito. Ela tinha o sobrenome dele, seu amado
tempo e muita de sua atenção. Não podia deixar de ter ciúmes dela.

Depois de um minuto com seu telefone na orelha, um olhar


preocupado cruzou seu rosto. — Humm. Ela não está em casa.
— Oh, graças a Deus — sussurrou Ten.

— Então, não sentirão sua falta se ficar para almoçar, não é?


— Insistiu Reese, piscando, esperançosa.

— Acho que não. — Mas ainda parecia nervoso. — É estranho.


Ela geralmente não sai com o bebê. Eu me pergunto aonde foram.

Do outro lado da rua, os dois irmãos pequenos de Gamble


tentavam ensinar Quinn a assobiar.

— Tem que enrolar sua língua assim — instruiu o irmão mais


velho, cujo nome eu acho que era Brandt.

Gamble riu. — Ok, deixem-no em paz. Sua pobre língua já


tem o suficiente para se preocupar.

Olhei para Ten, esperando que saltasse com seu próprio


comentário grosseiro. Mas estava muito ocupado batendo a ponta
de seu sapato no chão.

Franzi o cenho e o cutuquei com meu cotovelo.

Ele olhou para mim e também me franziu o cenho. — O quê?

Levantei uma das mãos. — Não vai dizer nada sobre isso?

— O quê? — Olhou ao redor, obviamente sem ideia do que eu


estava falando.

— Ai meu Deus. Gamble deixou em aberto para que dissesse


algo completamente ofensivo. Droga, até eu tenho algo sujo em
minha cabeça. — O que há com você?

Franziu mais o cenho, claramente irritado por minha


pergunta.

— Nada. Estou bem.


Uhmm. Algo definitivamente mudou quando mais pessoas
chegaram à festa. Pensando que talvez ele tivesse um interesse na
noiva de Gamble, olhei para Aspen, mas estava ocupada ajudando
Colton a colocar comida em um prato. Então peguei Caroline
olhando para nós. Quando nossos olhos se encontraram, corou e
rapidamente desviou o olhar. Suas bochechas continuavam
vermelhas quando levantei minhas sobrancelhas e me virei para
Ten, só para encontrar sua atenção nela também.

Interessante. Muito interessante.

Aproximei-me mais dele. — A irmã de Gamble é linda, não é?

Afastou correndo o olhar de Caroline e piscou para mim. — O


quê?

— Ela tem uma aparência delicada e clássica. Você não acha?


E eu amo seu cabelo, juro, é ainda mais claro que o meu.

Continuou franzindo o cenho, e seus olhos só se estreitaram,


como se de repente suspeitasse. — Aonde quer chegar com isso?

Dei de ombros e lhe dei um sorriso inocente. — Não quero


chegar a nada. — Skylar se contorceu em meus braços, então olhei
para baixo para observá-la.

Enquanto tentava deixá-la mais cômoda, Ten se inclinou e


sussurrou — se está pensando no que acho que está pensando,
então pode parar agora.

Virei-me para olhar a seriedade em seu rosto. Ele


definitivamente n]ao estava brincando, o que só deu mais
credibilidade às minhas suspeitas.
— Ei, Eva — gritou Reese do outro lado da entrada. — Quer
que carregue Sky enquanto almoça ou só quer ficar sentada aí e
flertar com Ten o resto da tarde?

Quando todos na festa pararam para olhar entre Ten e eu,


minhas bochechas arderam. Poderia matar a minha prima por essa
pergunta. Mas Reese só me olhou e piscou.

— Não estamos flertando — Tem afirmou sério.

Levantei uma sobrancelha para ele. — Desculpa? Está dizendo


que não sou digna de ser paquerada? Sabe, estou quase em meu
peso pré-gravidez, e meus seios estão o dobro do tamanho de antes.
E qualquer outro homem heterossexual estaria totalmente
interessado agora mesmo.

— Sininho, é a garota mais digna de paquera que conheço —


disse Pick, aproximando-se com os braços abertos — Vêm. Eu
seguro Skylar enquanto come algo. Então volte e sente ao meu lado.
Ficarei feliz em dar em cima de você.

Deus podia alguém ser tão doce, carinhoso e muito sexy com
todas as suas tatuagens? Pick Ryan era muito bom para ser real.

Quando não respondi rápido o bastante, ele levantou as mãos


para me mostrar suas mãos. — Não se preocupe, já tirei toda a
graxa.

Sorri. Sim, definitivamente era o homem perfeito. Mas me


neguei sua oferta. — Estou bem. Você também não comeu ainda.
Vá você.

— Mulher, é melhor aceitar minha oferta. Essa garotinha


estará faminta logo, logo e você ficará ocupada alimentando-a.
Melhor comer algo enquanto pode.
— Oh, bem. — Já que tinha razão, levantei-me e coloquei meu
bebê em seus braços. Era óbvio que estava acostumado com
crianças. Ajeitou-a facilmente e sorriu para Skylar.

— Bem, olá, preciosa, estava morrendo por ter você em


minhas mãos a manhã toda. — Logo a levantou o suficiente para
beijar sua testa e me olhou com o mesmo sorriso afetuoso. — Vê.
Está tudo bem, vai comer.

Então, fui. Fiquei na fila atrás de Caroline. Quando me olhou


com um sorriso hesitante, como se quisesse dizer algo, mas estava
insegura disso, inclinei-me para falar com ela. — Recomendo a
salada de batatas. Reese faz uma salada de batatas de arrasar.

— Obrigado vou experimentar — Seu sorriso era tímido, mas


agradável. A sério, era incrivelmente bonita. Mas suas olheiras
escuras me disseram que algo a atormentava. Pegou uma pequena
porção modesta da salada de Reese, ganhando minha aprovação.

— Que idade tem seu bebê? — Perguntou.

Fiquei orgulhosa. — Hoje, três semanas. Foi prematura, então


só a trouxe para casa do hospital ontem.

Mais sombras encheram os olhos do Caroline, e me deu um


sorriso triste. — É adorável.

— Obrigado. Também acho.

Um choro rasgou o ar, e imediatamente me virei para o som.


Mas Pick já acenava com a mão enquanto balançava Skylar em seu
outro braço. — Estamos bem — gritou. — Ten olhou para ela. Essa
cara feia faria qualquer criança chorar.

Arqueei uma sobrancelha para Ten, que levantou sua mão em


rendição. — Nem sequer a toquei.
— Acho que foi seu bafo horrível — disse casualmente Pick.
Ele balançou levemente Skylar, que já tinha se acalmado e parecia
bem outra vez.

— Pare de respirar em meu bebê, idiota — gritei, fazendo


Caroline rir, e logo cobriu a boca e ficou vermelha.

— Ei! — Ten franziu o cenho — O que é isto? O dia de


atormentar o Ten?

— Não, isso é diariamente — gritou Gamble em resposta.

Ten o cortou com um olhar sujo, mas não devolveu o insulto.

Voltei à minha cadeira entre Pick e ele com um prato cheio de


comida, e Pick estudava o rosto do Skylar tão intensamente que me
perguntei se ele começaria a chorar.

— Está tudo bem? — Perguntei, sentando ao seu lado. Não


percebi o quão perto pôs sua cadeira da minha até que meu quadril
roçou no seu ao me sentar. Um estremecimento de excitação se
espalhou até o interior de minhas coxas.

Ele levantou o olhar, e a tristeza permaneceu em seus olhos,


mas seus lábios brilhavam com um sorriso. Tive que suspirar para
me acalmar antes de sorrir de volta.

— Sim — murmurou — estamos ótimos. Tenho a menina mais


bonita aqui em meus braços, e está absorvendo cada elogio que lhe
faço. A vida não pode ficar muito melhor que isso. — Logo olhou
para Skylar, depois de ver a ternura e afeto em seu olhar, tornei-me
uma Maria mole.

Este homem poderia me ter como quisesse.

Quando voltou a me olhar, nossos olhares ficaram presos. Não


estava muito certa do que havia aqui, viajando entre nós através de
um simples olhar, mas era bastante grande para encher o meu
peito até que quase não podia respirar.

— Essa salada de batatas parece boa. — Ele rompeu o contato


e olhou para meu prato, juro, matando nosso momento de
propósito.

— Oh, aqui. — Pisquei de volta à realidade. — Quer provar? —


Não percebi que lhe ofereci até que levei o garfo à sua boca e ele
deslizou seus lábios ao redor da salada. Meu olhar pegou o dele
enquanto liberava lentamente o garfo. Nós nos olhamos
descaradamente enquanto mastigava.

Esta coisa entre nós era muito intensa.

Uma vez que engoliu, passou a língua no lábio inferior e ao


redor de seu piercing. Quase gemi. — Mmm. Está boa.

Assenti devagar. — Quer mais? — Por favor. Por favor. Por


favor.

Seus lábios se deslizaram em um lento e sensual sorriso. —


Como se pudesse te dizer não.

Assim lhe dei outra garfada de salada de batatas, e a


experiência foi tão emocionante como a primeira. Logo tornei o
momento mais íntimo provando eu mesma uma garfada da salada.
Seus olhos se aqueceram enquanto olhava o garfo desaparecer em
minha boca.

— Picles? — Perguntei, levantando uma porção.

Assentiu — porra, sim.

Então o deixei arrancar um pedaço de picles de meus dedos.


Quando uma gota caiu de seu lábio e ficou na testa de Skylar, eu ri.
— Ops.
Peguei um guardanapo e estiquei a mão para limpá-la, mas
Pick já a estava levantando para sua boca. Lambeu a gota.

Fiquei totalmente boquiaberta. — Acaba de lamber minha


filha?

Oh, droga. Mencionar a palavra "lamber" me fez pensar no que


os rapazes disseram antes. Quando meu rosto esquentou
imediatamente, Pick piscou — Só porque não posso lamber você.

Inalei incapaz de acreditar que disse isso.

Ten gemeu. — Jesus, meninos. Consigam um quarto já. Há


crianças presentes. E estou tentando comer aqui.

Pick e eu trocamos um olhar antes de inclinar sua cabeça para


Ten — Qual é o problema dele?

Dei de ombros. — Acho que está com ciúmes porque deixei


você carregar Skylar.

Ten bufou. — Como se quisesse carregar seu maldito bebê.

— Ei! — Virei-me para lhe dar um olhar desagradável, —


Cuidado com sua boca perto de minha filha, babaca.

Ten me olhou boquiaberto antes de olhar além de mim e dar a


Pick um olhar incrédulo como se esperasse que ele me freasse. —
Ela tem uma boca muito suja.

Pick sorriu. — Não é ótimo?

Enquanto Ten bufava em desacordo, Pick bateu seu joelho no


meu. Olhei-o, e ele se inclinou mais perto. — Boa, Sininho.

Do outro lado, escutei Reese dizer a Caroline — Aspen disse


que se forma na escola no próximo domingo.
Elevei uma sobrancelha e golpeei Ten com o cotovelo. — Oh,
ela ainda está na escola, hein. A história se complica.

— Cala a boca — murmurou e me bateu de volta. Muito forte,


bem na barriga, muito perto do corte da cesárea.

Instantaneamente deixei cair meu prato cheio de comida,


salpicando minha salada de batatas, picles e hambúrguer por todo
lado, para respirar fundo e me dobrar, agarrando minha barriga.
Chamas de dor subiram por meu abdômen.

— Oh, merda. — Ten ficou de pé, segurando meu cotovelo. —


Desculpe. Sinto muito mesmo.

— Sininho? — Pick estava ali meio segundo depois. Para


respirar, ele foi tudo no que podia me concentrar. Inclinei-me para
ele e agarrei sua camisa, enterrando meu rosto em seu pescoço
enquanto me carregava com uma mão debaixo de meus joelhos e a
outra rodeando minhas costas.

Quando meus ouvidos deixaram de zumbir, a primeira coisa


que escutei foi o grito furioso de Mason. — Qual é seu maldito
problema, Ten? Ela deu à luz há três semanas e sua barriga está
com pontos.

— Sem falar que é onde o imbecil do pai da bebê bateu,


enviando-a ao parto prematuro — acrescentou Gamble, seu tom
soando forte e zangado.

Pick pressionou sua bochecha em minha têmpora. — Eva?


Fale comigo. Diga alguma coisa, baby.

Meus dedos continuavam brancos por me agarrar tão forte em


sua camisa, mas consegui ofegar — estou bem.

— Está bem? — Perguntou Reese, sua voz perto.


Levantei meu polegar com a mão livre, mas não podia relaxar
minhas pálpebras. — Onde está Skylar?

— Quinn está cuidando dela — disse Pick.

— Não estava sentado do outro lado da entrada?

— Sim. O menino se move rápido quando é necessário. —


Levantando seu rosto do meu, perguntou — onde é seu quarto? Vou
deitá-la.

— Por aqui, siga-me — instruiu Reese.

E alguém mais perguntou — deveríamos levá-la ao hospital?

Pick disse enquanto me levava para dentro — vamos ver


primeiro se abriu algo.

Embora meu estômago parecesse como se o tivessem cortado


sem anestesia, eu me sentia feliz por voltar a seus braços e inalar
seu inebriante aroma de coco. Ele me colocou em minha cama
muito cedo para o meu gosto. Sem ele ao meu lado, eu me curvei,
com meus joelhos em meu peito enquanto apertava minha barriga.

Escutei muitas vozes e percebi que todos no piquenique se


meteram em meu quarto, tentando dar uma olhada em mim.

— Ela está bem? — Perguntou Tem, antes de Pick gritar —


suma daqui.

— Ok, já chega — disse Aspen, sua voz não deixava espaço


para discussões. — Por que não saem todos? Precisamos ter certeza
que seu corte não reabriu.

— Espere — ofeguei no último segundo, esticando minha mão


às cegas. — Pick.
Ele apareceu imediatamente ao meu lado. — Estou aqui,
Sininho.

Puxei-o mais perto e ele veio sem nenhuma resistência, seus


olhos castanhos com raiva e preocupados. A raiva era o que me
preocupava.

— Prometa-me que não vai matar o Ten. É minha culpa que


ele...

— Não foi sua maldita culpa.

— Eu o provoquei e dei uma cotovelada primeiro.

— Bem, ele devia ter usado seu maldito cérebro, e mesmo que
você estivesse perfeitamente sã, de maneira nenhuma deveria te dar
uma cotovelada tão forte. É um idiota do caralho.

Segurei seu queixo em minha mão. — Patrick.

Resmungou irritado, mas assentiu. — Está bem.

Então se inclinou e pressionou seus lábios em minha testa por


longos vinte segundos. Antes de se afastar, roçou sua língua e
provou minha pele. Então, alisou meu cabelo com seus dedos — é
melhor estar tudo bem.

— Ficarei bem. — A dor já diminuía. Todos fizeram da minha


lesão um problema muito maior do que o necessário.

Quando Pick saiu, Reese fechou a porta atrás dele. Ela, Aspen
e Caroline ficaram.

— Vamos ver o que temos aqui. — Enquanto Aspen se


aproximava da cama, tentei me sentar.

— Dra. Kav... — Droga, esqueci que tinha que usar seu


primeiro nome.
— É só Aspen — disse ela, sorrindo ligeiramente. — E não sou
realmente uma médica, doutora.

Assenti um movimento que me fez estremecer. — Sinto muito

— Muito bem. Você não se importa em nos deixar ver....? —


Fez um gesto vagamente para minha barriga.

Dei um pequeno sorriso. — Uma sala cheia de estranhos teve


um contato íntimo com minha vagina quando dei à luz. Acho que
estou bem com isso.

— Eva não é exatamente tímida, nem modesta. — Reese se


sentou no colchão ao meu lado e segurou minha mão.

— Bolas. Corra de topless por uma praia uma vez e de repente


é rotulada como indecente. — Revirei os olhos e apertei sua mão.

— Na verdade — argumentou Reese com um sorriso — acho


que foi você rindo e gritando “Olhe minhas tetas”, que garantiu o
rótulo de indecente inteiro para você.

Quando Aspen e Caroline se olharam escandalizadas, suspirei.


— Em minha defesa, eu estava muito bêbada no momento.

— Oh. — Pareciam entender isso, o que me fez imaginar o que


ambas já fizeram bêbadas.

Afundei em meu travesseiro enquanto Aspen tirava lentamente


minha calça de ioga para revelar meu estômago. Caroline se
aproximou, mordendo o lábio. Reese também se inclinou para me
olhar. Fechei os olhos, esperando o melhor, mas temendo o pior.

O "Oh!" surpreso de Aspen me fez abrir os olhos.

— Oh, Deus. O quê?


Sorriu-me com total tranquilidade. — Não sabia que tiraram
os pontos.

Assenti. — Tiraram na semana passada.

— Acho que não atualizei Mason recentemente com todos os


problemas médicos da Eva — acrescentou Reese. — Ele estava
apenas um pouco atrasado quando disse que continuavam ali.

— Bom, parece estar sarando.... Bem. Quero dizer, não sou


médica, mas nada está aberto e não há sangue, vermelhidão ou
inchaço. Só alguns hematomas esverdeados que parecem ser de
algumas semanas atrás.

Era onde Alec me bateu.

Aspen mordeu o lábio.

— Quer que toque para ver se há alguma dor extra? — Seus


dedos se aproximavam lentamente do meu abdômen, mas ela
estava se encolhendo como se preferisse arrancar seus dentes do
ciso.

Sorri.

— Eu farei isso. — Toquei minha linha do biquíni. Além do


habitual, eu me senti bem. Vesti minha calça novamente. — Acho
que estou bem.

Quando fui sentar, as três garotas se aproximaram para me


ajudar.

— Talvez devesse descansar um pouco — sugeriu Reese.

Abri a boca para dizer que estava bem, quando uma confusão
do lado de fora do quarto chamou nossa atenção.
Mal me sentei e pus meus pés no chão quando Aspen,
Caroline e Reese abriram a porta e saíram correndo. Pick gritava
algo, Ten também, e tanto Mason como Gamble gritavam para que
se acalmassem. Suspirei e revirei os olhos.

Meninos.

— Pick — gritei antes de chegar à porta. Encontrei Mason


atrás dele, segurando-o pelos braços enquanto Gamble punha sua
mão no peito de Ten para mantê-lo afastado. Ten tinha uma marca
vermelha muito nítida em sua bochecha.

— O que foi? — Disse Pick, soltando-se de Mason para poder


vir até mim. — Ele ainda respira.

Suspirei. — Simplesmente não pôde se conter, não é?

— Se alguém te machuca, eu os machuco de volta. Isso é tudo.

A sinceridade e emoção em seus olhos me fizeram engolir com


desejo. Se apenas.... Neguei com a cabeça.

— Bom, estou bem, por isso pode deixá-lo em paz. E onde está
meu bebê enquanto todos os meninos sentem a necessidade de
brigar?

— Aqui — disse Quinn. Saiu do canto onde esteve protegendo


a bebê em seus braços de toda a testosterona na casa. Ele parecia
enorme com um bebê prematuro em seus braços, mas a carregou
com o máximo cuidado enquanto a trazia para mim e me entregou.

— Dormiu todo o tempo. — Sua voz era tranquila, como se


tivesse medo de despertá-la, mesmo depois da gritaria entre os
meninos.

Sorri para ele.


— Obrigada, Quinn.

— Foi um prazer — ele corou e deu um passo atrás, olhando


preocupado para Pick, como se temesse se meter em problemas por
estar muito perto de mim.

Pick o ignorou enquanto punha sua mão levemente nas


minhas costas e ia comigo de volta para meu quarto. — Vamos
levar as duas damas para a cama.

Tentei lhe dizer que estava bem, mas não quis escutar nada
disso. O homem frustrado não ficou satisfeito até que me reclinou
na minha cama com Skylar embalada em meu peito. E mesmo
assim, sentou-se na beirada da cama ao meu lado, parecendo
desamparado enquanto nos observava.

Quando respirou fundo enquanto lentamente esticou a mão e


passou levemente sobre o cabelo escuro de Skylar, meu coração se
rompeu por ele, apesar de eu não ter ideia do por que ele estava tão
triste.

— Ei. — Pus minha mão em sua coxa — O que aconteceu?

Ele segurou meus dedos e apertou.

— Nada. Eu.... — Negou com a cabeça e deixou escapar outro


suspiro. — Tenho que ir. Tris ainda não atendeu meus telefonemas.
Não posso acreditar que ela tenha saído com Julian há tanto tempo.
Não é.... — Sacudiu de novo a cabeça. — Simplesmente não é
próprio dela.

Assenti como se entendesse, apesar de que não entendia nada.

— Por que nunca me falou sobre vocês? — Atirei.

Ele hesitou e não me encarou. — O que quer dizer?


— Não tem um casamento real.

Levantou a cabeça e se encolheu, parecendo arrependido.

— Acredite em mim, é real. Tenho um documento assinado por


um juiz para provar.

— Mas não é real, real. Não a ama. Não tem sexo com ela.
Nunca teve. E Julian não é seu.

— Como...? — Inclinou a cabeça para um lado, de repente


suspeito. — Como descobriu todo isso?

Dei um suspiro exagerado.

— Não importa como. O que importa é que nunca se


incomodou em me contar nada disso. Por que, não pensou que eu
merecia saber? Achei que fôssemos pelo menos amigos. E você
sabia que sempre me senti culpada pela forma como nós...
interagimos.

— Eva.... — Ele olhou para longe, seu rosto atormentado


enquanto passava os dedos por seu cabelo. Quando voltou a me
encarar, suspirou. — Somos amigos.

— Então.... — Balancei a cabeça, confusa e ferida. — Por quê?

Abriu a boca.

— Eu... eu gosto de você — admitiu como se fosse alguma


grande confissão.

— Está bem — eu disse lentamente. — Isso não significa que


deveria se sentir mais confortável para falar esse tipo de coisa
comigo?

Ele levantou a mão, como se me dissesse que estava difícil se


explicar.
— Eu.... Quero dizer, se não estivesse preso a ela agora... se
não estivesse... — Gemeu e passou seus dedos pelo cabelo de novo.
— Gostaria de ser mais que apenas seu amigo.

— Oh. — Engoli em seco. Oh, uau.

Olhou-me fixamente, arrependimento em seus olhos


castanhos.

— Não posso anular o casamento. Ela é uma mãe terrível.


Sinto-me mal em admitir isso em voz alta, mas é a verdade e me
sinto ainda pior cada vez que tenho que deixar Julian a sós com
ela. Nunca sei se irá alimentá-lo na hora certa ou se trocará sua
fralda, ou simplesmente o deixará em seu balanço o dia todo. É por
isso que estou ansioso para chegar logo em casa. E sim... alguma
coisa poderia estar acontecendo. Se anular o casamento, não terei
direito a ele. Basicamente já não tenho, mas é melhor que nada. —
Seus olhos ficaram vermelhos nas bordas enquanto levantava e
limpava a garganta. — Tenho que ir para casa.

Chegou à porta antes que eu conseguisse pensar para dizer

— Pick.

— Ele parou, mas continuou de costas para mim, com a


cabeça abaixada. — Eu te entendo — disse suavemente.

Ele me olhou, parecendo quase doente de arrependimento.


Então, de um olhar nostálgico para Skylar.

— Cuide-se, Sininho.

E então saiu.
EVA

Na noite de domingo, Reese e eu demos em Skylar seu


primeiro banho de esponja na mesa da cozinha. Fazíamos “ooh” e
“aaah” em cada dedinho de seu pé, quando Mason recebeu uma
ligação.

— Merda, — murmurou à quem ligava — sim, posso ir


amanhã à noite. Já vou trabalhar na quarta e na quinta-feira. Você
pode lidar com a sexta-feira? Bom. Prometi a Reese um encontro.

Quando desligou o telefone e esfregou seu rosto cansado,


Reese se endireitou para lhe dar um olhar curioso.

— O que foi?

Mason me olhou preocupado antes de dizer — era Gamble. A


babá de Pick está com catapora, ou seus filhos, ou alguém. Não sei
bem quem. Todos estarão contagiosos pelas próximas duas
semanas, então tem que ficar em casa com seu filho até encontrar
alguém em quem possa confiar para cuidar dele.

Franzi a testa.

— E sua esposa?

Era seu filho. Por que ele procurava babás? E por que ela não
deixava seu emprego para cuidar dele?

— Ela, uh, ela foi embora — murmurou Mason, abaixando o


queixo enquanto respondia.
— O quê? — Desabei na cadeira junto à mesa e o olhei
boquiaberta.

Ele suspirou.

— Sim. Naquele dia do piquenique quando ele chegou em casa


ela tinha ido embora

— Oh, meu Deus — ofegou Reese. — E deixou o bebê lá?


Sozinho?

Sentia-me enjoada. Pick ligou várias vezes para sua casa


naquele dia e ninguém atendeu. Provavelmente Julian esteve o
tempo todo sozinho.

— Eu me pergunto por quanto tempo ele ficou sozinho. Jesus,


só tem quatro meses.

Mason sacudiu a cabeça.

— Não tenho ideia. E tenho certeza que Pick nem sequer quer
pensar nisso. Gamble disse que parecia muito chateado.

— Aposto que sim. — Pus minha mão sobre meu coração e


chequei minha filha, ainda enrolada em sua toalha enquanto ela
tentava chutá-la.

Sentia-me como um lixo. Pick esteve aqui, falando comigo,


preocupando-se comigo, enquanto seu enteado era abandonado por
sua própria mãe. Provavelmente nunca mais iria querer me ver.

Assim que pensei nisso, soltei

— Eu cuidarei de Julian. Farei isso por ele. De algum jeito.


PICK

Ainda estava em estado de choque, raiva e desgosto quando


alguém bateu na minha porta cedo, segunda-feira de manhã.
Mesmo Tris não sendo uma boa mãe, jamais pensei que faria isso.
Ainda me perseguia a lembrança de como encontrei Julian gritando
em seu berço, lançando seus punhos ao ar, seu rosto vermelho
angustiado quando entrei e o achei sozinho em casa.

Tantas coisas poderiam ter acontecido com ele. Só de pensar


nelas, sinto vontade de vomitar. Minhas mãos tremiam. Se alguma
vez eu visse Tristy de novo, honestamente tinha medo do que
poderia lhe fazer. Como pôde fazer isso com ele? Seu próprio filho.

Com as mãos fechadas, fui até a porta, esperando que não


fosse Tris, porque temia o que diria, ao mesmo tempo esperava que
fosse ela, assim podia lhe dizer exatamente o que eu queria. Relutei
em deixar Julian nos últimos dias, assim ele estava em meu ombro
enquanto dormia.

Abri a porta e recuei surpreso quando Reese me sorriu.


Estendeu sua mão.

— Telefone, por favor.

— Que...? — Confuso, franzi a testa e tirei o telefone de meu


bolso traseiro, sem pensar. — O que faz aqui? — Pasmo, entreguei
meu telefone, sem sequer perguntar o que planejava fazer com ele.

— Senha — ordenou.

Suspirando, peguei o aparelho, pus a senha e lhe devolvi.

— Obrigada. — Centrando sua atenção na tela, bateu uns


números na agenda. — Aqui está meu telefone, ligue-me quando
não precisar mais dela que venho buscá-la. Ah, e, por favor, cuide
da minha menina. Além dela ser minha prima favorita, é também
minha melhor amiga.

Peguei o telefone quando me devolveu. Sacudindo a cabeça e


sem entender nada, disse

— quê?

Foi quando uma ofegante Eva chegou por trás dela,


arrastando Skylar em uma enorme cadeirinha de carro com uma
bolsa de fraldas em seu ombro.

Reese foi esquecida imediatamente. Pisquei várias vezes para


ter certeza que enxergava direito.

— Sininho?

Ela sorriu, e todo meu peito se aqueceu.

— Mason disse que precisava de uma babá, — explicou


ofegante — então, aqui estou.

— Você...? — Neguei com a cabeça, confuso, mesmo que ela


esclarecesse perfeitamente por que estava ali. — O quê?

Não funcionaria, porque se entrasse em minha casa, nunca a


deixaria sair. Eva usou a cadeirinha de carro como apoio,
inclinando-se para frente e me forçando a ficar de lado para poder
passar. Sim, teria que ligar e me demitir do emprego. Dos dois
empregos. Poderia ficar o dia todo no sofá só para babar cada vez
que ela passasse. Essa seria minha nova meta.

— Ok, tchau, Eva. Eu te amo. — Atrás de mim, alguém no


corredor fez sons de beijos. Não sabia quem era. Ninguém mais
existia atualmente em meu universo, exceto talvez Julian e Skylar.
Mas Eva se inclinou sobre mim para sorrir e mandar um beijo
para essa outra pessoa.

— Eu também te amo. Obrigada pela carona.

Sua carona devia ter ido logo porque Eva me deu um olhar
divertido.

— Não vai fechar a porta?

— Hã?

— Vá tomar banho e se arrumar para o trabalho, Patrick. —


Sua voz soava seca, mas divertida — Não quer chegar atrasado.

— Trabalho? — Repeti. Pensei que já tínhamos decidido que


meu novo trabalho seria comê-la com os olhos.

Virando-se, pôs a cadeirinha de Skylar no chão, a sofisticada


bolsa com o seu nome ao lado, e soltou-a. Todo o tempo que esteve
ajoelhada, olhei fixo em seu traseiro. E a única razão pela qual
podia acreditar que esteve grávida até um mês atrás era porque vi
com meus próprios olhos.

Em vez de tirar seu bebê do assento, ficou em pé e me pegou


olhando-a fixamente.

— Deus do céu. Pode olhar minha bunda mais tarde. Ela não
irá à parte alguma. Agora se mova. — Esticou as mãos e começou a
tirar Julian de meus braços.

Uma prova de que eu estava louco por ela foi que não a afastei
quando tentou tocá-lo. Mas depois de sábado, tinha alguns graves
problemas de apego, outra razão pela que não podia trabalhar hoje.
Deixar Julian me fazia sentir mal. Realmente precisava me sentar
ali e segurá-lo enquanto comia a babá com os olhos.
E logo Sininho fez ainda pior ao paparicá-lo assim que o pegou
no colo.

— Oh, Meu Deus. É tão lindo. Olhe essas perfeitas bochechas.


Será modelo algum dia.

Julian se mexeu e abriu os olhos. Fiquei tenso, pronto para


pegá-lo de volta, porque Eva era uma estranha e provavelmente o
assustaria. Mas ele apenas piscou para ela algumas vezes.

Ela sorriu e o beijou no nariz.

— Olá, bonito. Você é ainda mais adorável quando abre esses


grandes olhos cor de chocolate. Sim, é. Meu nome é Eva. Algumas
pessoas me chamam de E., — sorriu para mim — ou Sininho.

Voltando sua atenção a meu filho, seguiu falando com ele,


explicando como sairia com ela e Skylar hoje e como se divertiriam
muito.

Apenas continuei olhando. Sininho falava com ele, Tristy


reclamava que não podia lhe responder, só que foi exatamente isso
o que fez. Respondeu dando um de seus famosos sorrisos e
fazendo-a derreter.

— Uau. — Olhando para mim, disse — acho que me apaixonei.

Fiquei bem tentado a dizer “eu também”, mas isso seria


estúpido. Não? Droga, tê-la aqui, cuidando de meu filho, era muito
perigoso para minha paz de espírito.

Eva me deu um olhar estranho, como se soubesse o que


pensava. Eu me mexi desconfortavelmente.

— O que está fazendo nos olhando assim? — Perguntou. —


Vá! Estou trabalhando e receberei por isso. Pode querer fazer o
mesmo para que possa me pagar.
Finalmente, sorri e neguei com a cabeça. — Eu te devo uma...
sério.

Revirando os olhos, acenou para mim. — Acho que já me


pagou na noite em que salvou a vida da minha filha.

Tive que trabalhar na minha hora de almoço e isso foi uma


droga.

Ansiei por toda a manhã para chegar a casa e verificar Julian.


E ver Eva. E me aconchegar a Skylar. Minha atenção ficou mais
tempo no relógio que sob o capô de qualquer carro que consertei.
Em seguida, um idiota rico em um terno sofisticado apareceu com
um pneu furado. Não somos exatamente uma loja que reparasse
pneus, mas a única coisa que meu chefe viu foi o dinheiro, então
ele me chamou para consertar o pneu do Bentley. Não sabia o que
um maldito Bentley fazia em nossa vizinhança, mas que seja.

Alguém mais pensou que ele não fazia parte dali, pois foi o
corte de uma faca o que o furou. Definitivamente não foi por um
furo acidental.

O estúpido dono ficou em cima de mim o tempo todo, com os


braços cruzados no peito, examinando cada pequena coisa que eu
fazia e olhando com desdém minhas tatuagens, mas ao menos não
fez nenhuma crítica. Quando lhe passei a nota para que entrasse e
pagasse, dizendo-lhe que já estava tudo pronto, ele finalmente
sorriu, as rugas aprofundando-se ao redor de uma pequena e
branca cicatriz ao longo de sua bochecha esquerda. Mas não era
um sorriso amigável. Seus olhos mostravam seus verdadeiros
pensamentos. Olhou para mim, para minhas tatuagens e piercings,
me dizendo que achava que eu era um pedaço de merda.

Gente rica.

Adoraria vê-lo tentar sobreviver nesta vizinhança. Às vezes,


para passar por isso, tínhamos que nos misturar e adaptar, projetar
uma imagem ameaçadora assim os doentes filhos de puta nos
deixavam em paz.

Além disso, gostava de minha aparência agressiva, embora


tenha certeza que com esse visual nunca encaixaria no clube de
campo onde Eva foi criada. Ao lembrar que ela estava em meu
apartamento, rodeada por minhas coisas de baixa qualidade, eu
liguei para ela.

— Olá — disse logo que atendeu ao telefone, sua melodiosa voz


fez que meu pulso se acelerasse.

— Olá! — Soava animada e feliz. Cuidar de dois pequenos


ainda não parecia tê-la afetado — O que está acontecendo?

— Só checando. Ia passar por aí no meu horário de almoço,


mas no último segundo chegou um carro.

Afastei-me do Bentley enquanto o dono saia do escritório e


tirava as chaves do bolso. Seu olhar permaneceu em mim enquanto
abria a porta, assim acenei com respeito.

Seu sorriso era muito arrogante para meu gosto, assim


continuei olhando enquanto ele entrava em seu carro.

— Estamos muito bem aqui — disse-me Eva enquanto eu o


olhava. — Julian acabou de almoçar e dormiu, então Skylar se
aborreceu e também dormiu. Não sei como fiz que ambos
dormissem ao mesmo tempo, mas fiquei impressionada.
Sorri. — Não estou surpreso, sabia que se sairia bem. Parece
que tem tudo sob controle. Sei que ele dá muito trabalho, às vezes.
— Tristy sempre reclamava que chorava sem parar.

— Bom, não vi isso ainda. Este homenzinho é um encanto.


Não chorou nem uma vez e cara, ele adora sorrir.

Meu rosto esticou quando dei um grande sorriso — sim,


adora.

— Ainda estou aprendendo a grande diferença entre os sexos


no que diz respeito a trocar fraldas. Essa foi uma... experiência
molhada.

Arregalei meus olhos. — Oh, droga. Ele fez xixi em você?

— Sim, um pouco. — Sua risada soava feliz, deixando-me


saber que não estava nada chateada — Espero que não se importe
que usei sua secadora.

Minha cabeça se encheu com imagens dela passeando por


meu apartamento em topless enquanto sua camiseta secava.

Oh, merda. Uma ereção instantânea no trabalho. Não era nada


bom.

— Não — murmurei, com minha voz rouca e minha calça


muito apertada. — Nem um pouco. Lamento que ele te acertou.
Deveria ter te avisado que ele poderia fazer isso. Depois que abro
sua fralda, normalmente só a levanto o suficiente para deixar que o
ar bata nele e faça seu xixi antes de desembrulhá-lo
completamente.

— Que boa dica. Obrigada. Definitivamente lembrarei disso


amanhã.
— Amanhã? — Repeti estupidamente, enquanto meu coração
acelerava.

— Bom, sim. Pensei que sua babá estaria doente por umas
duas semanas.

Fiquei tonto. Eva Mercer estaria em meu apartamento,


cuidando de meu filho por... duas semanas? Como sobreviveria a
isso, sempre sabendo que estaria ali, cuidando de meu filho,
andando pelo meu apartamento, sentando nos meus móveis,
secando sua camiseta molhada na minha secadora? Queria
desesperadamente sair do trabalho agora, correr para casa e só
desfrutar de sua presença. Mas duas semanas deste luxo? Deus, eu
poderia ter uma overdose.

— Oh, ouça. Tenho uma pergunta antes que desligue.

Desligar? Pensei em esticar essa conversa pelo maior tempo


possível. — O que acontece? — Perguntei.

— Julian tem quatro meses, certo?

— Sim.

— Foi o que pensei. Então peguei emprestado seu computador


e procurei em uns sites, para que não houvesse nada sério que não
soubesse sobre como cuidar de alguém dessa idade. E achei uns
que diziam que quatro meses é um bom momento para lhes dar
alguma comida sólida. Mas não vi nada nos armários, então....

— Uau, não pensei nisso. Mas sim, comprarei algo da próxima


vez que for ao supermercado. O que eu compro?

— Diz que até pode esperar uns meses mais, mas Julian
parece mastigar muito, assim pensei.... Sei que estou me
intrometendo. Sinto muito, eu...
— Não! Isso.... Na verdade, estou feliz que tocou no assunto,
mas não tenho ideia do que realmente precisa, dei a mesma coisa
nos quatro meses. Qualquer conselho que dê é bem-vindo.

— Nesse caso, pode começar tirando a mamadeira com farinha


de arroz. Acho que também poderia usar o creme para assaduras
que passo na Sky. Tem as melhores recomendações, e o pobre
bumbum do Julian parece estar se recuperando de uma assadura
horrível.

Não podia lhe dizer que era porque sua mãe nunca o trocou e
que muitas vezes ele passou a maior parte do dia com a mesma
fralda. Já era bem humilhante saber que meu filho passou por isso
e que eu não pude estar ali para mantê-lo limpo, mas ouvir Eva
apontar o óbvio era mais vergonhoso ainda.

Era triste admitir isso, mas foi uma bênção Tristy ter ido
embora. Julian finalmente seria bem cuidado.

Às cinco horas da tarde não chegaram rápido o suficiente.


Passei meu cartão de ponto e corri para casa. Enquanto
destrancava e abria a porta principal de meu apartamento, a risada
de um bebê surpreendeu meus ouvidos.

Congelado na entrada, vi Eva, que estava de costas para mim,


sentada no chão com as pernas cruzadas sobre um lençol inclinada
sobre Julian. Deitado de costas, ele balançava as pernas e os
braços, rindo incontrolavelmente enquanto ela punha a língua para
fora e assoprava.
Quando ela parou, ele parou de sorrir, de chutar e a olhou
sério. Mas logo Eva começou novamente e seu cabelo loiro caiu em
seu rosto, fazendo-o rir e chutar de novo.

Ao seu lado na outra metade do lençol, a pequena Skylar


estava deitada sobre seu estômago enquanto tentava levantar sua
cabecinha, que balançava pelo esforço.

Os três juntos assim era a coisa mais incrível que já viu.

Fiquei na porta, incapaz de fazer outra coisa a não ser olhar


essa mulher cativando meu pequeno. Naquele momento, eu a
amava. Amava-a tanto que meu peito inteiro doía. Meus olhos
encheram de lágrimas porque a cena me emocionou muito.

Mas porra, ela fez meu filho rir. Como poderia não a amar?

Não me importava quem ela era, quantos anos sonhei


conhecê-la, perguntando-me como seria na vida real, amava essa
mulher aqui no chão pelo que era neste exato momento.

Sentindo minha presença, Eva finalmente olhou por cima do


ombro. Gritou de surpresa, pôs uma mão no coração e riu.

— Ei, olha quem chegou em casa. — Pegando Julian,


aconchegou-o e suas bochechas se juntaram. Então pegou sua a
mão e o ajudou a acenar. — Olá, papai. Como foi o trabalho?

Escondi minhas emoções e entrei no apartamento, sentindo-


me quase desligado do meu corpo porque estava completamente
submerso neste momento. Não queria que terminasse nunca.
Queria emoldurá-lo e pendurá-lo no teto sobre minha cama, para
que pudesse vê-lo e revivê-lo uma e outra vez, a cada noite pelo
resto de minha vida antes de dormir.
Logo depois de fechar a porta da frente, eu me aproximei e
sentei na beira do lençol com as costas apoiada no sofá. — O
trabalho foi bom, mas duvido que me diverti tanto quanto vocês.

— Nós nos divertimos demais — Eva contou, sorrindo


enquanto pressionava seus lábios em toda a bochecha de Julian.
Pequeno filho da mãe sortudo. Ele gostou também, sorrindo e
entreabrindo os olhos, para logo agarrar um punhado de seu cabelo
e puxá-lo.

— Ei amigo, sem puxar. — Estiquei a mão para ajudar a


desembaraçá-lo.

— Tudo bem. — Eva riu enquanto nós dois trabalhávamos


para soltar seus sedosos fios claros. — Definitivamente adora
agarrar as coisas.

Adorei que ela já soubesse o que ele gostava depois de um só


dia cuidando dele.

Quando Skylar chiou, frustrada por ser incapaz de levantar a


cabeça, peguei-a e apertei meu nariz em sua bochecha para poder
inalar seu cheiro de bebê limpo e fresco. — Olá, pequena. Essa foi
sua maneira de chamar minha atenção? Conseguiu, querida.

— Acho que ela não esqueceu que ainda lhe deve uma dança
— disse Eva, com os olhos brilhando enquanto observava nosso
abraço.

— Isso mesmo. Eu te devo uma dança, não é querida? —


Coloquei Skylar na dobra do meu braço e fiquei em pé para poder
cantarolar "Baby Blue" do George Strait em seu cabelo e balançá-la
pela sala.
Percebendo o quanto Eva estava feliz ao nos ver juntos,
pisquei e apontei para o lençol — Estou surpreso que estejam no
chão. Deve estar imundo.

Não lembro qual foi a última vez que o limpei. Talvez não
desde que Julian nasceu. Trabalhei tantas horas extras quanto
pude para pagar por todas as contas que vieram com seu
nascimento. Então, eu normalmente estava muito ocupado com a
roupa suja, a cozinha, banheiro ou no trabalho para me preocupar
com limpar a sala.

— Há algo curioso a respeito disso — disse Eva com um


sorriso malicioso. — Encontrei uma coisa ali no armário. Acho que
se chama aspirador de pó. E limpei o chão.

— Passou o aspirador? — Virei a cabeça para olhar em toda a


sala. Estive tão focado nos três brincando como se fossem uma
família de verdade que não vi mais nada. Mas, droga, não só o chão
estava limpo, mas estava tudo arrumado, a mesa de centro e as
laterais estavam sem poeira. A manta que Tristy usava para se
enrolar estava dobrada sobre o encosto do sofá, e as almofadas
organizadas e fofas.

— Você limpou. — Minha voz admirada a fez revirar os olhos.


— Estes dois realmente gostam do seu sono de beleza, assim tive
um montão de tempo livre.

— Sim, mas... — Eu me virei para ela, sacudindo a cabeça —


Não tem que fazer tudo isto, Sininho. Quero dizer, — estendi a mão,
oprimido – só de estar aqui por Julian... Deus, não tem ideia do
quanto agradeço que você tenha vindo hoje para cuidar dele. Você
me salvou completamente.
O elogio a fez brilhar. Flertei com ela inúmeras vezes e lhe
disse que era linda. Mas lhe agradecer parecia ter um efeito ainda
melhor. Parecia tão feliz, fazendo o que gosta. O brilho de satisfação
em suas bochechas deixou-a mais bonita ainda.

Um assobio agudo vindo da cozinha interrompeu o momento e


me fez franzir a testa. Que raio era isso? Por um segundo, pensei
que poderia ser um alarme de fumaça. Mas Eva se levantou,
levando Julian com ela. — Ah! Seu jantar está pronto.

Jantar? Fiquei boquiaberto. — Cozinhou? — Ela cozinhou?

— Não se emocione muito. É só uma pizza congelada. Na


verdade, não tem nada em seus armários, Patrick. Acho que
amanhã tem que me deixar algum dinheiro, assim posso ir às
compras para você. Julian quase não tem fraldas também. Teria
dado algumas de Skylar, mas, em comparação com ela... — Fez
uma pausa para pôr a mão na orelha do menino para que não
ouvisse, então sussurrou — ele tem um traseiro enorme.

Eu ri. — Em comparação com esta bonequinha, acredito que


todo mundo tem um traseiro enorme. Mas sim, se quer ir às
compras, estaria mais do que feliz em financiá-lo.

Estaria feliz em beijar o chão que ela pisava.

Mas limpar? Cozinhar? Ir às compras? Começava a me


perguntar se havia alguma doença rara que eu pudesse causar na
família Rojas, assim Eva poderia ser a babá temporária para
sempre.

— Será que pode segurá-lo para mim?

Pisquei porque essa era a pergunta que eu fazia a Tristy.


— Sim. É claro. — Depois de passar Skylar para um braço, estendi
o outro para Julian. Eva sorriu para nós três depois que o entregou.
Então saiu, balançando seus quadris com um ritmo natural que
deu água a boca.

Queria cada pequena parte dessa mulher. Precisando ir atrás


dela, eu a segui, levando os bebês comigo.
PICK

Eva me convenceu a ir trabalhar no clube essa noite. Então eu


fui, e também foi terrível porque não pude deixar que um par de
garotas bêbadas dirigissem sozinhas para casa, o que me fez ir
ainda mais tarde que o normal. Depois que as deixei em casa,
percebi quão forte ficou o cheiro de perfume frutado no meu pobre
carro. Então, peguei o caminho mais longo para casa com as
janelas abertas para que ventilasse.

Não queria que Eva sentisse o cheiro e pensasse que


aconteceu alguma coisa aqui, quando a levasse de volta à casa do
Mason. Mas quando finalmente cheguei no meu apartamento,
quase três da manhã, ela estava dormindo na minha cama, com os
bebês enrolados ao seu redor. Fiquei um momento olhando para
eles, amando vê-los juntos. Supostamente esta seria minha família.
Meu felizes para sempre. E ela deveria ter sido minha esposa.

Meu peito inchou de desejo e necessidade, mas também de


alegria porque estavam realmente aqui, sem me importar por
quanto tempo. Planejava aproveitar cada segundo.

Afastando-me, fui na ponta dos pés para a sala e mandei uma


mensagem para Reese para lhe dizer que Eva adormeceu, que a
levaria para casa pela manhã. Em seguida, eu desabei no sofá,
puxei o cobertor sobre meus ombros, e desmaiei.

Horas depois, acordei com Eva tocando no meu ombro.


— Por que não me acordou quando chegou em casa?

Tentei lhe dizer que não quis perturbá-los e que já tinha ligado
para Reese, mas não sabia se ela entenderia meus murmúrios
cansados, até que respondeu — Bem, obrigada por nos deixar
descansar, mas agora Skylar e eu podemos ficar no sofá; não quis
adormecer e roubar sua cama.

Eu acenei. — Está tudo bem. Volte e fique lá pelo resto da


noite.

Ela franziu a testa. — Não vou te tirar da sua própria cama,


Patrick.

— Droga. — Dei um suspiro sonhador e sorri enquanto virava


sobre minhas costas. — Ainda parece quente quando me chama
assim, mesmo quando estou meio dormindo. — Com um bocejo,
virei de novo de lado, de costas para ela. — Por favor, Deus, não me
faça levantar e me mover agora. Não consigo me lembrar da última
vez que tive tanto sono.

Ela ficou calada por um minuto antes de dizer — tem razão.


Lamento te incomodar. Volte a dormir, Patrick.

Sorri para ela e logo suspirei quando moveu levemente meu


cabelo. Amava a sensação de seus dedos no meu couro cabeludo. A
ponto de me afundar de novo em um tranquilo esquecimento, sentei
quando lembrei. — Droga! O lutador está acordado? — Ainda não
tinha me levantado com ele e, geralmente, fazia isso uma ou duas
vezes por noite.

— Não, eu apenas o alimentei, troquei e o deitei novamente.

Esfreguei meu rosto. Por que me sentia tão mal-humorado? —


Não tinha que fazer isso, Sininho. Eu estou em casa, poderia ter me
levantado. — Estava constrangido por ter dormido bem apesar do
seu choro.

Eva só revirou os olhos. — Não se preocupe com isso. Sério. Já


estava de pé por causa de Skylar.

— Obrigado, — disse, do fundo de meu coração — fico te


devendo.

Sacudiu a cabeça como se fosse divertido e foi pelo corredor


para meu quarto... para dormir em minha cama. Resmunguei e
desmoronei de volta no sofá. Com tanto tesão como eu estava,
levaria um tempo antes de voltar a dormir de novo.

De manhã, saí do chuveiro para dar uma olhada no meu


quarto com a toalha ao redor de minha cintura. Nem Eva nem
Skylar estavam na cama. Escutei ruídos na cozinha, então tirei a
toalha e procurei na gaveta de cuecas em busca de algo limpo. Uma
vez que estava vestido, levei minhas meias para cozinha que, por
alguma razão, era onde eu as vestia toda manhã. Quando cheguei à
entrada, fiquei surpreso ao encontrar Eva enchendo duas taças de
cereal.

De costas, ela parecia boa logo pela manhã, sua roupa


amassada moldava suas curvas e seu cabelo preso para cima em
um nó desleixado com esses tentadores pequenos cachos
pendurados e provocando sua adorável nuca. Eu sabia que
pareceria duas vezes mais incrível quando se virasse. E estava
tentado a me aproximar por trás, envolver-me ao seu redor e beijá-
la nos ombros. Meus braços doeram porque os contive de agir por
impulso.
Ela se virou e vi que tinha Skylar embalada em um braço. —
Bom dia — ela disse alegremente através das olheiras de insônia
sob seus olhos.

Bocejei e passei a mão por meu cabelo úmido. — Bom dia. —


Em seguida, caminhei descalço pela cozinha até a mesa, sentei em
uma cadeira e calcei as meias. Apesar de dormi mais do que o
normal ao não ter que passear com o Julian pelo piso, sentia—me
morto e dolorido por passar a noite no sofá.

Pulei quando Eva colocou uma das taças de cereal na minha


frente. Prestes a lhe dizer que não tinha que fazer isso, porque
parecia ser minha frase favorita nestas últimas vinte e quatro
horas, parei me perguntando se ela estava ficando cansada que eu
repetisse isso constantemente. Então, decidi por um sincero —
Obrigado.

Ela se sentou em frente a mim e balançou Skylar em seus


braços enquanto comia. — Então, quantos dias você trabalha das
nove da manhã até as duas da madrugada seguinte? — Ela me
perguntou entre as colheradas.

Eu sorri mastigando, surpreso por ela ser multitarefa. Quando


uma gota de leite caiu em seu queixo, fazendo-a lutar com as duas
mãos cheias para limpá-la, sorri ainda mais e me inclinei para
limpá-la.

— Algumas — respondi lambendo a gota de leite do meu


polegar. Na verdade, eu trabalhava muito mais do que isso na
maioria dos dias da semana.

Ela balançou a cabeça olhando meu polegar enquanto o


afastava de minha língua. — Não sei como faz isso sem cair morto
de cansaço.
Eu fiz um gesto com minha colher antes de pegar um pouco.
— Ontem trabalhou as mesmas horas que eu. Na verdade, mais.
Como consegue ficar de pé?

Balançou a cabeça discordando. — Mas eu tive muito tempo


livre.

Eu bufei. — Quando? Quando está cuidando não só de mim,


mas do seu próprio bebê, limpando minha casa ou fazendo a
comida? Oh, e não pense que não percebi que ontem à noite você
deu banho no lutador. Ele cheirava limpo e fresco quando me
inclinei para beijar sua cabeça agora há pouco.

— Ok, tudo bem. — Ela cedeu com um suspiro. —


Secretamente sou a Mulher Maravilha. Apenas escondo meus
braceletes e minha tiara e os guardo na bolsa de fraldas de Skylar
assim você não os encontra.

Eu sorri. — A Mulher Maravilha sempre foi meu super-herói


favorito.

— E tenho certeza de que o tamanho do seu seio, sua pequena


cintura e suas incríveis coxas não tiveram nada a ver com isso.

Dei uma gargalhada, quase engasgando com o último gole de


leite de bebia da tigela. — Você me conhece muito bem. — Ficando
de pé, fui enxaguar a vasilha na pia, percebendo como estava
perfeitamente impecável. Ela não só lavou os pratos, mas como
também limpou a pia.

Balançando minha cabeça e pensando que ela devia ser a


Mulher Maravilha de verdade, virei-me para dizer — Eu posso te
levar para casa do Lowe quando estiver pronta.
Ela olhou para cima, surpresa. — Não vou cuidar do Julian
novamente hoje?

Inalei uma rápida e agradável respiração. — Está falando


sério?

— É claro. — Ela franziu a testa como se estivesse louco por


perguntar. — Você ainda precisa de ajuda para cuidar dele, não é?

— Sim, mas... — eu dei de ombros, de repente, envergonhado.


— Eu fui um pouco idiota com você da última vez que nos vimos.
Não entendo por que está sendo tão incrível me ajudando assim.

Ela sacudiu a cabeça; sua confusão era óbvia. — Como foi um


idiota comigo?

Eu desviei o olhar, envergonhado. — Basicamente lhe disse


que não queria que soubesse que não tinha um casamento de
verdade, porque não queria me sentir tentado a fazer algo que sabia
você poderia facilmente me levar a fazer. E, em seguida, me afastei
e não voltei a falar com você.

— Tudo bem, antes de tudo, isso foi há três dias, não décadas
como fez parecer. E esteve muito ocupado, Pick. É completamente
compreensível. Além disso, você não é obrigado a falar comigo de
novo, embora não ter me chamado quando sua esposa te deixou
para que cuidasse sozinho de um bebê de quatro meses me
machucou um pouco. Pensei que fossemos amigos. Por que não
acha que te ajudaria a cuidar dele?

— Eu... — ri um pouco. — Na verdade, nem sequer tive a


ideia. Não estou acostumado a pedir ajuda a alguém. Geralmente, é
o contrário e as pessoas vêm até mim quando precisam de alguma
coisa.
— Então, parece que precisa de novos amigos. Se nunca
receber nada em troca deles, não são seus amigos. São apenas
pessoas que te usam. — Antes que pudesse responder a sua
declaração, continuou. — E, além disso, entendo por que não me
disse a verdade sobre seu casamento. Só tive que passar cinco
minutos com o Julian para saber como ele é incrível e o quanto ele
precisa de você em sua vida. Nunca faria nada para pôr isso em
perigo. — Ela franziu a testa. — Como isso vai funcionar, afinal?
Agora que ela se foi. Quer dizer, tudo bem você ficar com ele, não é?

— Eu não sei — confessei em voz baixa, enquanto me encostei


no balcão da cozinha para aliviar o cansaço. — Mas certamente não
vou chamar a assistente social para ver se está bem. De jeito
nenhum vou fazer algo que possa levá-lo ao sistema de adoção.

Seus olhos se suavizaram com simpatia. — Você teve uma


experiência muito ruim com isso, não?

Eu dei de ombros e olhei para minha tigela antes de pigarrear


e pô-la no balcão. — Alguns lugares eram bons. Outros, terríveis.
Tudo é um lixo. A maioria dessas pessoas assumem as crianças
pelo dinheiro. Não se importam com o que acontece com você desde
que continuem recebendo o cheque. Você nunca se sente como
pertencesse a algum lugar.

Quando um choro veio do meu quarto, olhei em direção ao


som. — Julian não merece isso. Não quando ele me tem.

Eu a deixei na cozinha para ir tirar meu menino do berço.


Quando o pus em meu peito e beijei sua cabeça, ele se aconchegou
em mim, agarrando um punhado da minha camisa. Eva e Skylar
apareceram na porta. Quando Sininho sorriu para mim, com seu
olhar suave e de compreensivo, algo se apertou em meu peito. Doeu
ainda mais ao saber que ela entendia completamente por que não
podia seguir com a atração entre nós.

— Tem certeza de que não precisa voltar para sua casa esta
manhã para alguma coisa? Trocar de roupa, coisas para Skylar?

Ela balançou a cabeça. — Eu já resolvi tudo. Reese está de


férias de verão da universidade e hoje não tem que cuidar da irmã
de Mason. Ela pode me trazer algo se precisar. Além disso, terá que
me dar uma carona até o supermercado.

Minha sobrancelha se levantou. — Você estava falando sério


sobre isso também?

— Ora, sim. Morrerei de fome se não tiver mais comida em


seus armários logo.

— Pode pegar meu carro se precisa ir a qualquer lugar. A


oficina onde trabalho fica apenas a doze quadras daqui.

Ela estremeceu como se isso fosse uma ideia horrível. —


Ontem à noite te tirei da sua cama. Não vou dirigir o seu carro.
Especialmente nesse calor.

— Sim, mas parecia muito sexy enrolada em meus lençóis,


assim, isso foi um bônus para mim.

Ela suspirou e revirou os olhos. — Aí está. Eu me perguntava


onde estava o seu lado paquerador esta manhã.

Eu pisquei para ela. — Só precisava de um pouco de tempo


para acordar e atacar.

— Eu não sei — murmurou me olhando como se, de repente,


pensasse que era suspeito. — Ontem à noite, você me disse que
minha voz soava sexy quando te chamava Patrick e depois parece
que desligou.
— Eu fiz isso? Mmm, devo ser melhor do que pensei.

Ela riu e pôs Skylar no berço. — É melhor que vá


trabalhar, Rico Suave, ou chegará tarde.

— Sempre chego atrasado. Provavelmente, meu chefe morreria


chocado se eu realmente aparecesse na hora.

Quando ela se virou para mim, fiquei tentado a pôr Julian no


berço também, assim poderia pegar Eva, derrubá-la na cama e ter
meu momento sexy com ela.

— Bom, Eva, a Mulher Maravilha está em cena hoje — ela


disse, completamente alheia aos meus pensamentos sensuais. —
Então, não tem que chegar atrasado. Agora, dê-me este lindo
menino para que possa estragá-lo.

Vendido! Dei-lhe o lutador e esperei até que o tivesse em seus


braços antes de me inclinar e dar um último beijo no meu menino e
lhe dizer para ser bom para Sininho. Em seguida, subi na cama
para passar meus dedos suavemente sobre a testa de Skylar.
Estava adormecida, então sussurrei — fique bem, princesa.

Quando me endireitei, Eva encontrou meu olhar, seus


impressionantes olhos ansiosos.

Parecia errado não dar a ela uma despedida especial também.


Então, disse — obrigado — antes de beijar sua testa. Demorei mais
tempo do que deveria, mas ela não me afastou. Olhou para mim
quando me afastei e seus olhos refletiram todo o desejo que eu
sentia no fundo do meu peito.

Virando-me antes de cair em tentação, saí do quarto.

Ao sair do apartamento, eu me senti pleno. Certo de que


estava muito perto de flutuar e me deixar levar por minha
felicidade. Poderia fazer qualquer coisa, porque sentia como se só
tivesse me despedido da minha família para o dia.

Seria a pior piada de todos os tempos, sabia disso. Quando


Eva voltasse para Mason e Reese, provavelmente, ia me sentir mais
vazio do que antes dela entrar em minha vida. Mas me recusei a
lamentar sua presença, porque me sentia muito bem em tê-la aqui,
agora.

EVA

Reese estava mais que disposta a me ajudar. — Eu sei que


você se foi há apenas um dia, mas já sinto saudades. Esta manhã,
tive que lavar minha própria roupa suja. E ontem à noite tive que
cozinhar. Foi horrível.

Eu ri. — Ah, agora vejo por que ainda não me expulsou de


casa.

— Eu sei. Nem todo mundo tem uma empregada morando de


favor. Sério E., nunca percebi o quanto você fez em nossa casa
desde que veio ficar conosco. Mas sem dúvida, Mason e eu notamos
isso depois que Sky nasceu e você ficou no hospital. Você entende
que não tem que cuidar da cozinha e das tarefas da casa só porque
te deixamos ficar, não é?
Dei de ombros, incapaz de dizer tamanha a necessidade que
tinha de pagar a eles de alguma forma. — Eu realmente gosto disso.
Nunca fiz esse tipo de coisa enquanto crescia. Sempre tivemos
pessoas que cozinhavam e limpavam por nós, e minha mãe fazia
parecer que as tarefas domésticas estavam abaixo de nós.

— Deus, é louco como nossas mães são diferentes mesmo


sendo criadas pelos mesmos pais.

Reese freou na entrada do primeiro supermercado que


encontramos no bairro de Pick. Deus, era uma prostituta esperando
logo fora da entrada? Quando um carro desmantelado parou ao seu
lado, a janela do lado do passageiro baixou e o motorista agitou um
pouco de dinheiro. Ela foi com sua saia apertada e seus saltos e
sentou no banco do passageiro. Reese e eu trocamos olhares
similares e cautelosos.

— Bem, — ela disse enquanto demos a volta e seguimos para o


supermercado mais perto do seu apartamento. — Depois que fiz
dezesseis anos, minha mãe sempre me fez limpar meu quarto e
lavar minha roupa. E preparava um jantar e um café da manhã do
sábado por mês.

Reese não tinha ideia de quão bom era ter a tia Andrea como
mãe, e não a minha. Mas não podia lhe dizer o quão sortuda ela
era. Então, fiquei calada e olhei para trás para verificar os dois
bebês. Eram tão lindos, presos em suas cadeirinhas, lado a lado.
Julian parecia imenso ao lado da minha pequena Skylar, e ela
parecia pálida ao lado de seu belo tom de pele café. Tinham um
contraste perfeito e me senti agradecida de tê-los comigo pelo tempo
que Julian estivesse sob meus cuidados. Eu sabia que sentiria
muita falta dele quando Pick já não precisasse mais de mim.
Ir às compras com Reese e duas crianças foi uma grande
experiência. Precisávamos de dois carrinhos de compra para levar
as crianças, e juro que Reese tinha um “Oh!” e um “ah!” sobre cada
marca de cereal e sorvete para eles; às vezes, ela era como uma
criança de cinco anos, mas eu amava isso nela.

Tive que revisar os armários do Pick antes de sair para ver o


que exatamente ele precisava; e juro, a lista seria mais curta se
escrevesse o que não precisava. O homem não tinha nada. Mas me
deixou um monte de dinheiro, mais do que Mason e Reese tinham
para fazer supermercado. Então, acho que me empolguei um pouco.

Uma coisa era certa, Pick não reclamaria por uma despensa
abastecida tão cedo, e agora Julian tinha fraldas para mais de um
mês. Reese teve o impulso de comprar uma caixa de picolés. O
aroma de cereja que saiu dele assim que o desembrulhou e o
atacou, mesmo antes de tê-lo comprado, levou-me a jogar meu
próprio picolé na pilha de alimentos.

Ela era uma má influência.

Voltando para o apartamento do Pick, os bebês dormiam em


suas cadeirinhas enquanto Reese e eu nos sentávamos na frente
comendo nossos picolés.

Em um semáforo, ela tirou de sua boca para balançar suas


sobrancelhas para mim. — Então, como foi passar a noite com o
Pick?

Revirei os olhos e apontei para ela com meu picolé de forma


ameaçadora. — Não comece com isso. Ele é casado.
— E? Sua esposa o deixou.

— Ele ainda está casado com ela e não vai mudar isso em
breve. Já te contei por que precisa ficar assim.

Ela falou com o sorvete na boca — sim, mas não entendo


por que isso te impede de reivindicá-lo. Está claro para todo mundo
que vocês estão completamente apaixonados.

— Porque ele está casado, Ree Ree. — Quantas vezes tinha


que repetir isso?

— Sim, mas não é como um casamento de verdade. Nem


sequer se beijaram.

Suspirei. — Mas ele ainda está ligado de alguma forma a outra


mulher. Como se sentiria se Mason se casasse comigo apenas para
dar a Sky e a mim algum tipo de amparo?

Reese franziu a testa imediatamente. — Isso é diferente.

Levantei as sobrancelhas. — Ah, é? Como?

— Porque... Porque Mason e eu já estamos comprometidos.

— E? — Levantei os braços, precisando mais de uma razão


que isso. — O que acontece se Pick e eu começamos algo e
decidimos que também queremos nos comprometer? Então o quê?
Ele não pode se divorciar dela.

— Tudo bem. Tem razão. — Revirou os olhos antes de


murmurar — só queria que tivesse um “felizes para sempre” como
eu achei.

Bem, eu também. Mas Reese e eu éramos duas pessoas


totalmente diferentes, e eu tinha a sensação de que nunca
terminaria com nenhum dos presentes que ela recebeu.
Simplesmente não mereço, embora já tenha recebido o mais
precioso pacote de todos, ainda dormindo ao lado de Julian no
banco de trás.

Reese deixou o assunto depois disso, graças a Deus. Ela


acabou ficando o resto da tarde para me ajudar a guardar as
compras e brincar com os bebês. Ela pôs a canção "Happy" do
Pharrell em seu iPhone e dançou com o Julian na cozinha enquanto
Skylar dormia no carrinho e terminei de assar os hambúrgueres.
Pick entrou em casa no meio da nossa festa de preparação para o
jantar.

— Ei, homenzinho, adivinha quem chegou a casa? — Reese


sorriu para Pick antes de soltar um assobio apreciativo. — Uau.
Sabe, todos os meninos do Forbidden parecem muito bem nessas
camisetas pretas justas que têm que vestir no clube, mas esta
aparência de oficina mecânica gordurenta e fresca fica ainda melhor
em você. Delicioso.

Pick me olhou surpreso. — A mulher de Lowe acabou de dar


em cima de mim?

— O quê? — Reese perguntou, sem entender. — Posso


apreciar o apelo estético da beleza masculina cada vez que o vejo.
Mason não se importa se eu olho; ele sabe que ninguém se compara
a ele. Mas sério, terei que comprar uma roupa dessas para ele
também, assim podemos brincar de mecânico travesso algum dia.

— Uau. — Pick sacudiu a cabeça, atordoado. — Você é


completamente o oposto do seu namorado, não é?

Reese franziu a testa. — O que quer dizer?


— No trabalho, esse cara evita as mulheres como a peste,
nunca as verifica, nunca compartilha detalhes sobre vocês dois....
Quero dizer, além da coisa da geleia.

Reese ofegou, ficando vermelha. — Eu vou matá-lo por isso.


Agora, se vocês dois me dão licença, tenho que ir casa e... castigar o
meu homem, provavelmente com uma dessas de morango ou uva.
— Tocou em seu queixo pensativa. — Embora ele tenha uma
afinidade pela geleia de pêssego.

Enquanto Pick deu uma gargalhada, eu revirei os olhos.


— Ok, já é o suficiente. Cortem esse tipo de conversa. Não na frente
dos meus filhos, por favor.

Reese arqueou uma sobrancelha. — Seus filhos?

Eu fiquei muito vermelha e encontrei o olhar sorridente


de Pick antes de franzir a testa para minha prima.

— As crianças. Grrrrr. Apenas... pare de corrigir minha


gramática. Agora vá para casa e castigue o seu noivo com alguma
geleia.

Reese jogou sua cabeça para trás e gargalhou antes de se virar


para Pick e lhe entregar Julian. — É seu, acredito.

— Obrigado — ele pegou o menino de seus braços. — E


obrigado por fazer companhia a Sininho hoje.

— Não, obrigada você por arrumar meu motor. — Reese


respondeu com uma pequena reverência. — Funciona como um
carro completamente novo.

Ele suspirou, discordando. — Ainda é uma droga, então deixe-


me saber se algo soar estranho ou agir de maneira engraçada,
especialmente se continuará levando os meus filhos por todos os
cantos nele.

Reese me olhou de volta com uma cara agradavelmente


chocada antes de falar — ele é material para marido13. — Em
seguida, virou-se de novo para Pick e acariciou sua bochecha
inocentemente. — Farei isso, chefe. Acho que Eva dormirá aqui de
novo, já que verifiquei o horário de trabalho do Mason e sei que
trabalhará esta noite no clube.

Pick me olhou, mas se virou para responder a Reese antes de


esperar minha resposta. — Soa como um plano.

Reese piscou para ele. — Então, cuide das minhas meninas


para mim.

Ela ficou na ponta dos pés e lhe deu um rápido beijo na


bochecha, bem onde acabara de acariciá-lo. Em seguida, acenou
para mim. — Até mais tarde, Sininho. Eu te amo.

Revirei os olhos. — Tchau, amorzinho. Também te amo.

Depois que Reese saiu, ouvimos a porta da frente abrir e


fechar, e Pick levantou as sobrancelhas. — Uau. Ela é sempre
tão...?

Eu ri. — Sim. Sim, é. Mas a amo até a morte. É a única pessoa


que sei que posso confiar implicitamente.

Seu sorriso desapareceu e seus olhos ficaram quentes e


carinhosos. — Também pode confiar em mim, já sabe. Nunca
deixaria que nada de ruim te acontecesse.

Embora soubesse que sua afirmação talvez não pudesse ter


apoio no mundo real, foi bom ouvi-lo dizer isso tão firmemente.

13
Material para marido - alguém com quem você passaria o resto da sua vida.
— Bem, você é meu herói — disse fazendo com que a
declaração soasse superficial enquanto jogava meu cabelo sobre o
ombro. — Não esperaria nada menos de você.

Adorei saber que podia fazer tais afirmações arrogantes e


audaciosas e que soubesse que não era sério a respeito disso.

Sorriu e fez um gesto para a mesa, que já estava posta com


seus pratos desiguais e talheres puxando uma cadeira para que me
sentasse. — Minha senhora?

— Puxa, obrigada. — Já que Julian podia se sentar muito bem


na cadeira alta que Pick comprou da senhora Rojas, coloquei-o nela
e prendi o cinto. Depois de me certificar que Skylar continuava
dormindo no carrinho de bebê, sentei em minha cadeira e Pick a
aproximou da mesa para mim.

Ele gemeu e fechou os olhos depois de comer seu primeiro


pedaço.

— Eu vou engordar se continuar me alimentando assim. —


Sua voz estava abafada por ter a boca cheia de macarrão.

Eu bufei e agitei uma mão esperando engolir para dizer — oh,


por favor. Esquentei uma pizza congelada, servi uma tigela de
cereal e fiz algo na frigideira. Definitivamente, não é cozinha
gourmet. Quando muito, este tipo de comida miserável te fará
perder peso.

— Acredite em mim. Estas foram as melhores refeições que


alguém cozinhou para mim em anos.

Não gostei de saber que ninguém cuidou dele. Era o tipo de


homem especial que deveria ser mimado. E eu estava realmente
gostando muito de mimá-lo. Minha mãe ficaria horrorizada se me
visse agora, mas, na verdade, eu adorava ser dona de casa.

Acho que a vida de mãe me completava.


PICK

Essa noite, cheguei em casa do trabalho e encontrei Eva


dormindo encolhida no sofá.

— Oh, droga, não. — Isso não vai acontecer.

Se fosse passar a noite no meu apartamento, não a queria em


lugar nenhum a não ser na minha cama. Então, peguei e a levei
para meu quarto. Ela se mexeu pelo caminho.

— Pick? — Amava sua voz sonolenta, especialmente quando


dizia meu nome. — O que você está fazendo?

— Você não vai dormir naquele sofá.

Ela se aconchegou mais em mim e apoiou a bochecha no meu


ombro. — Bem, nem você deveria.

Neguei com a cabeça. — Minha casa, minhas regras.


Nenhuma sexy nova mãe pode dormir em nada além de uma cama.

Nenhum dos dois mencionou a cama extra no quarto de


Tristy, e ela tinha que saber que estava ali. Passou pela porta
aberta para chegar ao meu quarto não sei quantas vezes.

Acho que nós silenciosamente concordamos que estava fora


dos limites. Sentia-me mal por ela dormir onde Tris dormiu. Parecia
que Tristy manchou o colchão, deixando-o muito sujo para o gosto
da minha Sininho.
Ao entrar no meu quarto, vi que os dois bebês dormiam no
berço. Eu tive que sorrir. Poderiam ter sido irmãos. Era como se
isto fosse como as coisas estavam destinadas a ser.

Eva não resistiu quando a pus no colchão, mas agarrou minha


camisa quando tentei me endireitar. — Você também fica. Nós dois
cabemos nesta cama e estou longe de ser uma modesta e virginal
donzela. Além disso, confio em você.

A parte do “confio em você” me convenceu. O sangue subiu


por minhas veias, quente e espesso. Minha pele se arrepiou, de
repente, muito sensível. Eu ia dormir ao lado da minha Sininho.

Oh, porra. Ela estaria ao meu lado, toda a noite.

Minha excitação palpitava dolorosamente dura, mas concordei


porque de maneira nenhuma recusaria isso. Então segurei a
respiração, com um medo irracional de que recuperasse sua
sensatez se eu respirasse errado. Se ela soubesse o quanto a ideia
de deitar ao seu lado me excitava, provavelmente, enlouqueceria.

— Apenas.... Eh, apenas me deixe trocar de roupa e já volto.

Ela já tinha dormido quando voltei usando uma camiseta


furada e uma calça de moletom. Ela tinha deslizado até a beirada
da cama, provavelmente, para ficar mais próxima das crianças,
assim tive que passar por cima dela para chegar ao outro lado da
cama, que estava encostado na parede.

— Boa noite, Sininho — disse em voz baixa antes de beijar o


topo da sua cabeça.

— Mmmmh... — foi sua única resposta.

Sorri, apaguei as luzes e deitei com ela. As mechas loiras


sedosas de seu cabelo, iluminadas pela luz noturna do berço
pareciam fios de ouro. Queria estender a mão e tocá-lo, passar
meus dedos por elas e levá-las a meu nariz para cheirar. Mas era
um bom menino e mantive minhas mãos longe da mulher com que
sonhei pela última década. Ela estava a poucos centímetros de
distância, segura e protegida e tão maravilhosamente linda. Nossos
filhos dormiam a alguns passos de nós. A vida era malditamente
espetacular.

Adormeci com um sorriso. E de novo, dormi até que Julian


acordou no meio da noite.

Na noite seguinte, Eva ficou outra vez e dormiu em minha


cama. Mais uma vez. E outra vez, rastejei debaixo dos lençóis com
ela depois que cheguei em casa do trabalho no clube.

Mas ao contrário das duas noites anteriores, acordei com o


som de sucção na madrugada.

— Julian? — Murmurei virando para ela.

— Ele já voltou a dormir — ela respondeu. — Agora estou com


Skylar.

Droga, ela não devia se levantar muitas vezes. — Precisa que


eu faça alguma coisa?

— Não. Está tudo ajeitado. — E assim foi, tinha jogado uma


manta por cima de seu ombro cobrindo toda a ação.

Meus olhos entrecerrados de repente não estavam tão


entrecerrados pelo sono mais. — Você está amamentando?

— Ahã.
Suspirei e fechei os olhos. — Isso é tão sexy. As mães que
amamentam são geniais. Se não estivesse tão cansado, estaria
incrivelmente excitado agora.

Droga, já estava ficando duro.

Ela riu suavemente. — Volte a dormir, Patrick.

Sorri. — Chame-me assim outra vez.

— Patrick. — Ela brincou com meu cabelo com seus dedos.

Maldição! — Sim, esta noite terei um sonho molhado sobre


isto.

Então voltei a dormir com sua incrível risada.

EVA

No início do quarto dia, brincando de babá Mercer, estava


exausta, porém, estranhamente revigorada. Eu me sentia bem. Bem
comigo mesma, pelo que fazia para o Pick e Julian, por como
passava meus dias. Simplesmente, bem com tudo.

Entretanto, o cansaço começava a me afetar. Hoje eu dormiria


ao mesmo tempo em que as crianças. Além disso, pus em dia todas
as tarefas domésticas, apesar de Pick insistir que não tinha que
fazer tanto. Eu me senti melhor estando em um lugar mais limpo,
além de querer ajudá-lo, já que trabalhava demais. E tive que
admitir que amei toda valorização que vi em seus olhos cada vez
que vinha para casa para uma comida quente ou lençóis recém
lavados.

Oh, Deus. Eu estava parecendo June Cleaver.

Sempre debochei dessas mulheres que não trabalhavam, que


ficavam em casa, como uma dona de casa obediente, descalça e
grávida e sempre suando sobre um fogão quente. Mas depois de ser
essa mulher pelos últimos três dias, sabia que nunca mais
zombaria delas.

Este tipo de vida requer grande energia. Não era um trabalho


confortável, era mais como um trabalho escravo. Estava tão
cansada que, às vezes, as minhas pálpebras doíam por mantê-las
abertas à força. Não me importava quanto Pick estava pagando,
nenhuma quantidade de dinheiro jamais compensaria isso. Exceto,
que já me sentia compensada. Fui para cama todas as noites com
um sentimento incrível, sabendo que consegui alguma coisa.
Planejei como lidar com todas as tarefas e cheguei a cada meta,
todos os dias.

Honestamente nunca me senti tão bem comigo mesma como


agora.

Foi esta emoção, esse amor que estava cultivando pelos bebês
que criava, assim como pelo homem que me olhava como se eu não
pudesse fazer nada de errado, que fez tudo valer a pena. Mesmo
quando Julian acordava mais cedo que o habitual, logo depois de
eu ter ficado com a Skylar pelas últimas duas horas, porque a
garota simplesmente não voltaria a dormir. Eu me sentia exausta.

Saindo da cama antes que ele acordasse Skylar de novo,


peguei-o do berço e voltei para ninho acolhedor que partilhei com
Pick duas noites seguidas. Mas Pick não estava ali. Fiz uma pausa
e inclinei a cabeça até que ouvi o chuveiro do único banheiro no
corredor.

Puxa, eu nem sequer me mexi quando o seu despertador


tocou.

Depois de acomodar Julian e eu na cama, apoiei-me em


alguns travesseiros atrás das minhas costas, assim poderia me
sentar confortavelmente e, então, empurrei minha camisola para
desabotoar meu sutiã.

— Está com fome, homenzinho? — Perguntei enquanto o


ajeitei e levei seu rosto até meu mamilo.

Não percebi o que fiz até que ele começou a sugar com muito
mais força que Skylar, o que me tirou da minha sonolência. Com
um suspiro, sentei de repente, completamente acordada.

— Oh, merda. — Eu estava amamentando o Julian.

Isto tinha que estar errado. Ele não era meu e eu apenas
estava cuidando dele por alguns dias. O que Pick diria se soubesse?

Entretanto, Julian não pareceu se importar. O menino


continuou sugando enquanto seus dedos gordinhos descansavam
possessivamente no meu seio.

Imediatamente, algo se suavizou dentro de mim. Acariciei sua


cabeça, deixando-o se alimentar. Amamentar não era nenhuma
novidade, deveria ficar bem. E Skylar não ficaria sem. Um bebê
prematuro raramente mamava muito; havia suficiente para ambos.
E todos dizem que o leite materno é muito melhor para uma criança
que a fórmula. Além disso, se ambos mamassem, eu não tinha que
me levantar tanto no meio da noite, ir à cozinha, esquentar uma
mamadeira, levar de volta para cama... Blá blá blá.
Quando percebi racionalmente por que não deveria parar,
corei. A pura verdade era que gostava de cuidar dele assim. Eu
gostei do vínculo e amava esse bebê.

No final do corredor, a porta do banheiro abriu. Segurei a


respiração. Oh, merda, merda, merda. Passos no corredor me
fizeram pegar uma manta e colocá-la sobre meu ombro, cobrindo
todo o bebê que alimentava. Comecei a cantarolar em minha
cabeça, aqui não acontecia nada.

Pick apareceu na porta, usando só uma toalha. Minha boca


ficou seca e esqueci o que tentava esconder dele.

Ele parou quando me viu. — Ah, você está acordada.

Estava muito ocupada olhando-o fixamente para responder.


Sim, estava definitivamente acordada.

Ele apontou para sua penteadeira. — Esqueci de levar minha


roupa para o banheiro.

Quando entrou e atravessou o quarto para abrir a gaveta de


cima, acenei. — Acredite em mim, não me importo, sério.

— Nesse caso. — Ele piscou por cima do ombro e deixou cair a


toalha.

Minha boca se abriu. Oh, doce misericórdia. Pick Ryan nu


parecia incrível na parte de trás. Seu traseiro era estreito e
esculpido à perfeição, e seus músculos da coluna pareciam lisos e
brilhantes, molhados do banho. Meu olhar percorreu acima e
abaixo, logo para cima e para baixo de novo. Realmente tatuou os
braços e o pescoço. Ah, e seu coração. Eu em lembrei de ter visto no
Forbidden no leilão, mas não estava perto o bastante para ver o que
foi tão especial para colocá-lo diretamente sobre seu coração.
Esqueci totalmente das tatuagens quando se inclinou para
pegar uma cueca boxer. Vi a sombra de seu pênis nu pendurado e
tive que pressionar minhas pernas com força. Ele não se virou até
vestir o jeans, fechando o zíper.

— Ei, você tem um pouco de baba — ele limpou o canto da


boca. — Aí mesmo.

Comecei a levantar os dedos para limpar antes de perceber


que estava brincando. Estreitando os olhos, murmurei — cala a
boca. — E mostrei a língua. Então, ri da minha própria estupidez.
Quando vi a única tatuagem em seu coração, não pude resistir a
curiosidade. — Nunca me disse o que significava essa... — disse,
mostrando com meu queixo.

Ele ficou imóvel, como se fosse pego em flagrante. Então


passou rapidamente os dedos sobre ela como se quisesse escondê-
la. Dando de ombros, vestiu uma camiseta branca. — Apenas uma
lista de nomes — disse, e pegou uma camisa de uniforme limpa no
armário.

Caramba, ele estava escondendo alguma coisa. Não podia


deixar isso passar. — Eu a vi no leilão do clube. Mas nunca estive
perto o suficiente para ver os detalhes. De quem são os nomes?

Ah! Uma pergunta direta. Vamos ver como foge da resposta.

— Só... — centrou sua atenção em endireitar as rugas


inexistentes em sua camisa. — Nomes.

Não desanimei. — De pessoas importantes?

— Uh hum.
— Isto está relacionado, de alguma forma, com o por que meu
aniversário é a senha do seu celular? Porque, sabe, também se
recusou a falar nisso.

Ele levantou o rosto e franziu a testa, mas não disse nada.

— Tudo bem. — Levantei uma mão. — Vá em frente e me deixe


de fora. Mais uma vez. — Levantei meu queixo, pretensiosa. — Tudo
bem. Quer dizer, pensei que fôssemos amigos e falássemos sobre
tudo. Mas não se preocupe. Eu entendo. Sabe o pior a meu
respeito, mas não preciso saber nada sobre você.

Seus ombros caíram e sua expressão se tornou sombria. —


Não seja assim, Sininho. Eu...

— Estou brincando! — Interrompi, revirando os olhos com


uma risada forçada. Bom, tudo bem. Senti uma pequena pontada
por que não se sentia confortável o bastante para compartilhar algo
comigo, mas sério... — Não tem que me dizer algo que não queira.
Eu entendo. De verdade. E desculpe por te provocar. Não era minha
intenção que levasse tão a sério.

Deu o que esperava ser um suspiro aliviado, mas algo em seu


rosto me disse que não estava muito tranquilo. Abri a boca para
novamente me desculpar por fazê-lo se sentir culpado quando um
murmúrio no berço chamou nossa atenção.

Pick foi logo olhar. — Vou pegá-lo. — Ofereceu, parando de


repente quando olhou para o bebê que estava dentro. Hesitante,
pegou Skylar e se virou para mim. Quando olhou fixo no vulto onde
Julian continuava tendo seu café da manhã, sabia que me pegou.

— Eva... — ele disse lentamente, — está... amamentando o


Julian?
— Hum... — a culpa em meu rosto me entregou.

Seus olhos se arregalaram. — Puta merda.

— Desculpe. Sinto muito por isso. — Imediatamente afastei


Julian de meu peito e me cobri. — Eu estava meio adormecida e tão
acostumada a cuidar de Sky assim. Não percebi o que fazia até que
ele já estava agarrado... — Vacilei quando Pick arregalou os olhos
pela descrição. — Mas ele levou tão naturalmente e parecia feliz,
que não quis incomodá-lo.

Estava meio agitado agora, já que o interrompi no meio da sua


refeição. Mas o coloquei em meu ombro e comecei a acariciar suas
costas de forma rápida e nervosa. Olhei para Pick, tentando avaliar
sua reação, mas ele parecia mais surpreso que outra coisa.

— Oh, Deus. Acha que sou grosseira e repugnante, não é?

— Acho que... — Negou com a cabeça como se não tivesse nem


ideia do que pensar. Então falou — acho que está alimentando o
meu filho em seu... seu....

— Supõe-se que é muito mais nutritivo desta maneira. — Fiz


um gesto vago para meus seios. — Este leite está cheio de proteção
contra doenças... Coisas, você sabe, para ajudar a protegê-lo. Li
tudo sobre isso. Teria uma dieta muito mais saudável, mais segura.
Além disso, Skylar nunca mama o suficiente. Geralmente, tenho
que tirar um pouco para evitar que meus seios doam. E por que
você está me olhando assim?

Ele sorriu e sabia que tudo ficaria bem.

— Sinto muito, eu só... — negou com a cabeça. — Esta deve


ser a conversa mais sexy que já tive com você. Por favor... continue
falando de seus peitos.
— Oh, meu Deus! — Olhei para o teto. — Pick, isso é sério.
Tem um problema com o que fiz ou não?

Ele ninou Skylar em seus braços, balançando-se para frente e


para trás para mantê-la feliz. — Por que eu teria um problema com
isso? Acabou de enumerar um milhão de razões pelas quais é
melhor para ele.

— Porque... não sei. Ele não é meu. Com certeza, alguém teria
um problema com isso... por alguma razão.

— Bom, já que não estão aqui neste quarto, que se danem.

— Mas... — fechei os olhos e segurei Julian um pouco mais


apertado. — E se... e se isso causar algum distúrbio afetivo... ou
algo assim? — Como eles já tinham.

Pick se sentou na beirada da cama ao lado do meu quadril.

— Sininho, você é a melhor coisa que já aconteceu com esse


menino. Não me importa se ele tem só um dia com você ou vinte,
apenas continue fazendo o que faz até que tenha que ir, e adorarei
para sempre o chão que você pisa. Porque um pequeno pedaço de
paraíso é melhor que nenhum. Terei prazer em lidar com problemas
emocionais se aparecerem. Entendeu?

Um sorriso iluminou meu rosto. — Entendi.

Mas, sim, este homem era bom demais para ser verdade.
Sempre sabia exatamente o que dizer para me fazer sentir melhor.
Era estranho ser capaz de dormir ao lado dele toda a noite sem
nenhum receio?

Nunca fui capaz de dormir ao lado de qualquer cara; muitos


traumas de infância persistentes impediam isso. Mas não havia
reservas ao insistir com Pick para se enfiar na cama comigo. Claro,
eu poderia argumentar que estava meio adormecida e muito
cansada para me importar. Mas, sinceramente, eu me sentia total e
completamente segura com ele. Sentia-me protegida e sabia que se
alguma vez me tocasse, seria porque eu queria, e ele teria certeza de
que eu gostasse.

— Toma, vamos trocar — disse levantando Julian quando


Skylar começou a reclamar. — Ela também deve estar com fome.

Ele obedeceu prontamente, pondo minha filha no meu braço


livre. Depois que trocamos e coloquei Skylar sob minha manta, Pick
estreitou os olhos para um feliz e balbuciante Julian.

— Ah, não sorria para mim com esse sorrisinho leitoso, seu
sortudo de merda. Não precisa esfregar isso na minha cara. Sei
onde essa boca estava.

— Pick! — Revirei os olhos.

Ele me deu um olhar inocente. — O que foi? Ele está


esfregando isso na minha cara.

— Você é realmente um cara.

— Porra, sim, sou um cara. O que esperava que eu fosse?

Seu sorriso era lento e sedutor, e lembrei que acabei de ver


seu firme traseiro nu. Não sabia como viveria com ele por uma
semana e meia. Manter as mãos fora dele enquanto dormia ao seu
lado todas as noites já era difícil, mas agora que vi como parecia
debaixo da roupa, o desafio se tornou uma missão impossível.

— Eu vou fazer uma tigela de cereal para mim. Quer uma? —


Ele perguntou.
Animada por ter pensado em perguntar e estivesse disposto a
me servir, sorri. Oh, sim. Reese tinha razão. Ele é material para
marido. Se apenas estivesse disponível.

Eu agradeci. — Não, obrigado. Pegarei uma banana mais


tarde.

Suas sobrancelhas se levantaram. — Banana? Temos


bananas?

Antes que pudesse responder, saiu correndo do quarto como


um foguete. Segundos depois, ouvi — puta merda!

Voltou pelo corredor até que reapareceu com uma pilha de


comida sobre o colo do Julian enquanto carregava o pobre menino
como uma tigela humana. — Eva, há... há comida por toda parte. E
fruta. Eu adoro fruta.

Ri, feliz por ter me lembrado desse detalhe quando fui às


compras. — Eu sei. Comprei isso, lembra? Com seu dinheiro?

— Mas... — ele se aproximou da cama e deixou cair o monte


do colo do Julian no colchão ao meu lado. — Há maçãs e laranjas, e
que porra é essa? — Deu uma mordida antes de gemer. — Não me
importa. Seu gosto é incrível.

— Não viu tudo o que comprei ontem à noite, ou na noite


anterior, quando estava na cozinha, jantando ou... tomando o café
da manhã?

— Não — negou enquanto se sentava ao meu lado na cama,


colocando Julian entre nós. Então fez um piquenique, deixando o
menino roer brevemente sua nectarina antes de pegá-la de volta. —
Eu estava muito ocupado comendo e te olhando, correndo para o
meu outro emprego, e sendo paquerado pela sua prima para notar
muito mais.

— Ah, ela não estava te paquerando.

— Tanto faz. — Deu de ombros. — Sabe, se continuar me


tratando assim tão bem, nunca poderei te deixar ir embora.

Não podia dizer o que realmente sentia, que era “quem disse
que eu quero ir?”. Mas pensei. Acho que teríamos que nos
preocupar que eu sofresse mais por problemas de apego do que
Julian.
PICK

A semana passou. E, depois, mais alguns dias. Eu vivia muito


bem e ninguém poderia me desanimar, não importa o que fizessem
ou dissessem. Sempre fui bom em seguir a corrente e levar as
coisas com calma, mas agora realmente sorria por tudo. A vida era
simplesmente incrível.

Não me importava de acordar todas as manhãs com uma


furiosa ereção que nem me masturbando no banho acalmava.
Acordava ao lado dela. Com aroma de lavanda em meus lençóis,
sua mão descansando junto ao meu travesseiro a poucos
centímetros do meu rosto, acidentalmente dormindo de conchinha
com ela em algumas noites. Sim, não tinha do que me queixar.

— Então, como vão as coisas com a Eva? — Mason me


perguntou uma noite, pouco antes de abrirmos o clube, onde eu
realmente chegava na hora para trabalhar... pela oitava vez
consecutiva.

Ele deve ter percebido que eu pensava na Sininho porque seu


sorriso cúmplice me fez franzir a testa.

— Ah, é..... Você sabe... horrível. — Revirei os olhos


exageradamente. — O jantar está me esperando todas as noites
quando chego em casa. Meu apartamento está impecável. A roupa
lavada está sempre dobrada e guardada. Meu filho está mais feliz e
saudável do que jamais esteve, e esta mulher linda de morrer
desfila na minha frente o tempo todo, usando calças de ioga
moldadas a seu traseiro. Simplesmente, sim, é totalmente horrível.

Mason riu. — Não percebia o tanto que Eva fazia em nossa


casa até que foi embora. Inexplicavelmente, nós meio que sentimos
falta dela.

Eu franzi a testa pronto para lhe dizer que não poderia


tê-la de volta. Ela era minha.

— Porém, não sabia que ela moraria com você enquanto


cuidava de seu filho. — Acrescentou.

Estreitando meus olhos, eu o estudei tentando descobrir o que


realmente queria dizer.

Ele deu de ombros. — Sei que trabalha muitas horas, mas sei
que em algumas noites você não trabalhou até tarde no Forbidden.

Eva e eu sempre conseguimos encher essas noites com razões


para que ficasse, até que, basicamente, era muito tarde para levá-la
para a casa de Mason e da Resse. Uma vez pedimos emprestado
dois carrinhos para as crianças e demos um passeio até o parque
mais próximo. Outra noite fizemos macarrão juntos e ficamos
conversando depois até quase meia-noite.

Mas o comentário descarado do Mason me fez perceber o que


fiz. Eu estava brincando de casinha com a menina dos meus
sonhos, usando seu tempo emprestado e aproveitando cada maldito
minuto. Entretanto, não gostei de suas perguntas. Elas ameaçavam
o meu paraíso.

— O que quer dizer, Lowe?

Ele levantou as mãos e riu inquieto. — Ei, não estou me


queixando. Finalmente tenho Reese só para mim e isso é ótimo.
Apenas estou... interessado. Vocês dois se meteram neste pequeno
assunto doméstico... seja o que for, muito facilmente. O que vai
acontecer quando sua babá antiga voltar? Você só vai mandá-la
para nossa casa sem olhar para trás? E se sua esposa voltar? Onde
Eva se encaixa nisto?

Eu neguei com a cabeça. — Minha esposa não... — parei,


dizendo a mim mesmo que ele tinha razão. O que estava fazendo
com a Eva era egoísta e não podia durar. Gemi e desviei o olhar. —
Então, o que está dizendo que devo fazer?

Ele deu de ombros. — Porra, não tenho ideia do que você deve
fazer. Só digo que não a machuque. Mantenha-a com você, envie-a
de volta, seja o que for. Mas se a machucar, irritará Reese. E isso
vai me encher o saco.

Concordei um pouco irritado que ele estava mais preocupado


por amolar Reese que pela Sininho. Mas Reese era sua namorada,
assim acho que isso fazia sentido.

— Eu entendo — assenti. — E falarei com a Sininho sobre


isso. Tenha certeza que ela receberá o que quiser disto.

Mason ficou em silencio depois disso, parecendo satisfeito com


a minha resposta.

Mas nunca falei com a Eva. Tinha muito medo de que ela
dissesse que queria me deixar quando isso acabasse, ou talvez que
estivesse contando os dias para se ver livre de nós... Como Tristy
fez.
Estava prestes a acontecer. Treze dias depois da Sininho vir
cuidar do meu filho, a família da vizinha não tinha mais catapora e
não havia ameaça de contágio.

Naquela noite no jantar, Eva esperou até que estávamos


sentados à mesa. Julian batendo na parte de cima do seu cadeirão
e Skylar em seu ombro, antes de dizer — então, a senhora Rojas me
ligou hoje...

A batata assada que mastigava ficou presa na minha garganta.


Por que cacete a senhora Roja também ligou para o meu telefone
fixo, quando já tínhamos falado pelo celular? Estava tentando
esquecer ou ao menos adiar responder a ela pelo maior tempo
possível. Como talvez mais uma semana pelo menos. Talvez, uma
década.

Eva me observou, tentando me ler. — Acho que eles estão


todos saudáveis, e finalmente terá sua antiga babá de volta.

Assenti e tomei meu copo de chá gelado, incapaz de dizer


alguma coisa. Mas maldito chá gelado. A mulher ainda fez chá
gelado. Porra, como eu apenas deveria deixá-la ir?

Bem. O chá gelado não tinha nada que ver com isso. Mesmo se
nunca tivesse limpado ou cozinhado uma maldita coisa, ainda ia
querer que ficasse.

— Skylar e eu empacotamos nossas coisas esta tarde — ela


acrescentou, apunhalando-me diretamente no peito com seu
anúncio casual. — Depois que os pratos do jantar estiverem limpos,
podemos chamar Reese para vir nos buscar.

— Não! — Quando Eva piscou surpresa, meu rosto ficou


vermelho. — Quero dizer... — Droga. Passei a mão pelo meu cabelo.
— Você não tem que ligar para ela. O lutador e eu podemos levá-
las.

— Ah. — Seus ombros caíram, e juro que vi decepção em seus


olhos. O que acendeu um fogo de esperança em mim. Abri a boca
para lhe pedir que ficasse, mas ela sorriu e acrescentou — isso
seria ótimo. Obrigada.

Droga. Em que porra eu estava pensando? Não poderia ficar


com ela para sempre.

Skylar salvou meu traseiro mortificado ao escolher esse


momento para cuspir, e Julian ajudou lançando seu mordedor pela
beirada do cadeirão, chorando para que alguém o pegasse. Mas isso
foi só uma distração temporária. Depois que Eva e eu trabalhamos
lado a lado para limpar os pratos, ela limpou as mãos nos seus
quadris e se virou com um tenso e ansioso sorriso.

— Bem... — ela disse.

— Eu vou,... — Suspirei. — Posso levar suas coisas para o


meu carro.

Seus olhos azuis estavam suaves e agradecidos. — Tudo bem.


Obrigada.

Assenti, fiquei parado um minuto, em seguida, dei a volta e saí


da cozinha. Três breves viagens do apartamento ao meu carro
foram o bastante para colocar todas as coisas de Eva no porta-
malas, e já era tempo de levá-la para sua casa.

Ambos estávamos calados enquanto arrumávamos as


crianças. Peguei o bebê-conforto de Julian e da Skylar, um em cada
mão. Eva pendurou a bolsa no ombro e lentamente olhou ao redor
da sala como se dissesse adeus. Em seguida, deu de ombros e
perguntou — preparados?

Não pude responder então me virei para a saída. Sininho


segurou a porta para mim, liderando o caminho pelas escadas e,
em seguida, também abriu a porta principal para mim. Queria
dizer: “Trabalhamos tão bem juntos, parece-me uma grande
bobagem terminar isto tão cedo”, mas me calei.

Quando nós quatro estávamos com os cintos de segurança


colocados, procurei as chaves. Houve um momento de silêncio
antes que eu ligasse o carro, e Julian fez uma careta de dor e
começou a gemer, agitando seus braços como se preparasse para
uma manha real.

— Ei, tudo bem, homenzinho. — Apesar de que, tecnicamente,


já não era minha babá, Eva desabotoou seu cinto de segurança e se
inclinou sobre o assento para vê-lo, dando-lhe um brinquedo para
segurar e morder.

Olhei para ela e vi que o acalmou. — Acho que esta seja sua
forma de te dizer que não quer que você vá.

Eva me deu um olhar penetrante e se virou bruscamente,


sentando-se de novo para frente. Mordi meu lábio, roendo os anéis
em minha boca e coloquei a chave na ignição.

Quando não liguei o carro e só fiquei olhando para frente pelo


para-brisa, Eva pigarreou.

— Hum... Pick?

— Mmm? — Prestei atenção nela.

Ela franziu as sobrancelhas. — Por que não estamos indo?


— Ah. — Olhei para minha mão segurando a chave, mas eu
não podia girá-la.

Merda. Era a hora da confissão. — Acho que é a minha vez de


recusar. — Suspirei e acrescentei — porque esta é minha forma de
te dizer que eu não quero que vá.

Em seguida, prendi a respiração, engolindo, com um nó de


angústia em minha garganta enquanto esperava sua resposta.

— Quer que eu fique? — Ela parecia esperançosa e com seus


olhos iluminados. Ou talvez eu fosse o esperançoso tentando
projetar isso nela. Sim, tinha que ser isso.

— Ignore-me — murmurei, pegando a chave novamente. —


Estou sendo estúpido.

Mas ela esticou sua mão e cobriu meus dedos, impedindo-me


de ligar o carro. — Também quero ficar — ela disse, sua confissão
tão baixa que quase não a escutei.

Endireitei-me e me virei completamente para ela. — É


verdade?

Assentindo, retirou sua mão da minha e começou a torcer


seus dedos. — Quero dizer, Julian vai precisar de uma babá de
qualquer maneira, não importa se sou ou a senhora Rojas. E se nos
paga o mesmo, então não vejo por que faria alguma diferença se
eu...

— Fique — eu disse simplesmente.

Eva mordeu o lábio. Seu peito subiu enquanto respirava


profundamente. E então concordou — tudo bem.
EVA

Isto era louco. Insano. Completamente estúpido. Acabei de


concordar em morar com um cara que nunca sequer beijei, depois
de só conhecê-lo há pouco meses.

Nunca combinamos por quanto tempo eu ficaria, e não sei se


isso melhoraria ou não a situação. Talvez apenas me quisesse por
mais um mês ou dois. Talvez para sempre. Tinha a esperança de
que fosse para sempre, embora oh, Deus, não deveria esperar por
isso, não é? O que aconteceria se sua esposa voltasse para casa? E
se ele começasse a namorar? E se....?

— Precisa ligar para Reese e lhe dizer que não vai voltar? —
Perguntou, carregando as crianças de novo, enquanto me seguia
pelas escadas para o apartamento. — Ela está te esperando esta
noite, não é?

Mordi meu lábio, mas não me virei para que não visse minha
preocupação repentina. — Sim, acho que deveria ligar para ela.

Tirei a chave de minha bolsa. Enquanto abria a porta, percebi


que devia ter lhe devolvido a chave quando pensei em ir. Deus,
inconscientemente, sabia desde o começo que não ia a lugar
nenhum esta noite, não é?

— Quer usar meu celular? O número dela já está na agenda.

— Tudo bem — mas não queria ligar para Reese. Sabia o que
me diria. Ela seria a minha consciência e diria o quão terrível,
horrível e estúpida esta ideia era. E em seguida, de alguma forma
me convenceria a não ficar? Não queria que me convencesse a não
fazer isto. Eu queria ficar com Pick e Julian.

Pick baixou as cadeirinhas dos bebês e tirou o telefone do seu


bolso. Enquanto me entregava, buscou meu olhar. Quando percebi
que ele tentava descobrir se eu mudei de ideia, minha decisão sobre
ficar ficou mais forte. Ele me queria aqui, mas jamais faria nada
para me obrigar. É por isso que eu não quero ir, porque ele queria
que eu fosse eu mesma e tomasse minhas próprias decisões.

Peguei o telefone e marquei meu aniversário para entrar na


tela inicial, o que me lembrou que ele guardava segredos. Porra,
talvez agi precipitadamente. Não sabia muito sobre ele. Mas o
telefone já tocava em meu ouvido, e eu ainda queria ficar. Meus
instintos confiavam neste homem; e raramente confiava em alguém.

Meu estômago revirou. Pick tirava as crianças dos bebês


conforto, então, virei e corri pelo corredor para o nosso quarto.

Quando minha prima atendeu, eu suava frio.

— Ei, — respondi — eu, uh, acho que não voltarei esta noite.

Reese não parecia surpresa. — Sério? O que aconteceu agora?


Os vizinhos contraíram malária?

Eu não achei graça. — Não. Não. — Neguei e, nervosa, comecei


a brincar com meu cabelo, enrolando as mechas nos meus dedos,
deixando-os subir em espiral. — Os Rojas estão saudáveis. Pick e
eu apenas... decidimos que eu poderia muito bem ficar, num futuro
próximo, como... como sua babá permanente.

Quando minha prima não respondeu, fechei os olhos e apertei


os dentes.

— Num futuro próximo? — Ela repetiu.


— Sim. — Dei de ombros, como se não fosse grande coisa. —
Você sabe, vamos apenas ver como as coisas acontecem e então
decidiremos o que fazer. Ele precisa de uma babá e eu ainda
preciso de um trabalho. Isso só.... Funciona bem para nós assim. E
Mason e você têm que manter seu ninho de amor sem ser
incomodados.

— Ceeerto — Reese falou. — Porque tudo isto é sobre o Mason


e eu.

Seu tom mordaz me fez franzir a testa. Abri a boca para lhe
dizer que queria que ela e Mason tivessem um pouco de liberdade,
mesmo se essa não fosse a razão principal, mas Reese explodiu.

— Sério, o que está fazendo, E.? Foi você quem me convenceu


do por que vocês não podem ficar juntos. Então, por que está se
torturando assim? Você vai acabar se apaixonando por ele, então
sua esposa voltará para casa, e você será expulsa, ficará
desabrigada, desempregada e, porra, com o coração quebrado.

Suspirei e fechei os olhos, nem perto de lhe dizer que parte de


sua previsão chegou muito tarde. Já estava apaixonada por ele.

— Não é assim — argumentei. — Nós nunca nos beijamos.

Reese soprou. — Eu estava mais que apaixonada pelo Mason


antes que ele sequer colocasse seus lábios em mim. O amor não
começa com beijos ou sexo, começa com sentimentos. E você e
Pick... ah, não pode me dizer que não há sentimentos aí.

Fechei os olhos e suspirei. — Eu não posso ir, Ree Ree. Eu


só... não posso. Sei que não entende isso, mas...

— Não, querida. Eu entendo perfeitamente e é por isso que


estou preocupada. Mas também quero que seja feliz, e nunca te vi
tão feliz como está com ele. Porém, vou continuar me preocupando
porque eu te amo.

Meu coração se derreteu quando percebi que ela quis dizer


isso. Ainda era tão estranho e surpreendente para mim que alguém
se importasse comigo.

— Eu também te amo, mas...

— Nada de mas. Eu entendo. Estou apenas cautelosa. E agora


que expressei minhas preocupações, vou calar a boca. Lembre-se,
sempre estarei aqui se precisar de mim. Pelo menos posso prometer
que você não ficará desabrigada.

— Obrigada. — Mordi meu lábio. Sabendo que ela queria o


melhor para mim, mas continuava receosa me fez duvidar de mim
mesma. — Sabe, — eu disse lentamente — só para que fique mais
segura, talvez ainda não traga todas minhas coisas de sua casa.

— Decisão inteligente.

Ao desligar, suas palavras ecoaram em minha cabeça. Fui


lentamente pelo corredor para sala, onde Pick andava com a Skylar.
De repente, ele se virou para mim com um olhar ansioso.

— E aí?

— E aí o quê? — Droga! Ele sabia que eu estava indecisa.

— Ela te convenceu a ir?

A balança se inclinou a seu favor novamente, e um brilho me


iluminou por dentro enquanto eu negava com a cabeça. Ele estava
muito preocupado que eu o deixasse. Era bom ser querida assim.
Correção: era bom saber que ele me queria.

— Não. Não fez isso.


Seu olhar se estreitou. — Você desistiu disso?

— Ainda não. — Eu cheguei perto dele, pus as mãos em seus


antebraços e me inclinei para beijar a cabeça do Skylar. Enquanto
meus lábios ainda pressionavam sua pele suave, meu olhar se
encontrou com o dele. Meu corpo se aqueceu quando percebi que só
estávamos a centímetros de distância.

Seus olhos castanhos eram atentos, cautelosos e, entretanto,


cheios de desejo. — Então, vamos realmente fazer isso?

Afastei-me lentamente e concordei. — Sim. Nós realmente


faremos isso.

Ele suspirou aliviado e deu um sorriso lento. — Bom.

Pick

Eva me tranquilizou, mas mesmo assim ficamos em silêncio


pelo resto da noite. Depois de colocar as crianças na cama, nos
aconchegamos no sofá e encontramos uma comédia para assistir.
Envolvi meu braço em seus ombros e ela apoiou sua bochecha em
meu peito.

Na hora de ir para cama, continuamos sem falar muito


enquanto nos preparávamos para dormir. Uma tensão nervosa
vibrava pelos meus ossos. Apaguei a luz e esperei até que ela subiu
no colchão e a segui debaixo dos lençóis. Por fim, liberei o suspiro
nervoso que segurava, um pouco mais seguro de que ficaria
realmente.

A luz do berço iluminava o quarto o suficiente para pôr um


brilho romântico na atmosfera. Eva e eu deitamos de lado, frente a
frente, as mãos debaixo de nossas bochechas. Observamos um ao
outro por um tempo sem falar. Eu me perguntava no que ela estava
pensando, mas tinha muito medo de perguntar, então deixei que
minhas pálpebras se fechassem.

Quase imediatamente, pude sentir sua mente começando a


girar e meu corpo se contraiu, preocupado. Se ela cancelasse nosso
novo acordo, não sabia como eu sobreviveria.

— Pick?

Droga.

Abri os olhos com cautela. — Sim?

Preocupação cobriu seu olhar. — Isto é errado?

Neguei com a cabeça, tentando não perdê-la. — Por que seria?


Não é diferente do que estamos fazendo há duas semanas.

Ela deu de ombros e mordeu seu lábio. — Mas eu estava aqui


só porque você precisava de ajuda. Agora... agora estou aqui
porque... quero.

Uau. Só escutá-la dizer isso me esquentou inteiro. Engoli em


seco, tentando não esticar a mão e simplesmente puxá-la contra
mim. — Ainda preciso de ajuda. Julian ainda precisa de uma babá.

— Mas é diferente agora. Não pode sentir isso? Eu decidir


ficar... mudou as coisas.

Aproximando-me lentamente, peguei sua mão e apertei os


dedos. — Sim, eu sinto — admiti. — Mas ainda não quero que você
vá.

— Também não quero ir. — Apesar de dizer isso, tirou sua


mão da minha, pondo uma distância emocional entre nós.

Droga, odiava a distância emocional.

A confusão encheu seus olhos.


— Sei dentro de mim que isto está errado, mas acho que
encontrei meu lugar na vida estando aqui. Quero dizer, é estúpido
que eu realmente goste de ser dona de casa? Que eu goste de
cuidar das crianças? Eles são simplesmente.... É gratificante vê-los
aprender cada coisinha, como esticar suas mãos para pegar alguma
coisa. Eu gosto... sinto-me tão satisfeita quando consigo que eles
parem de chorar depois de estarem irritados. Gosto de alimentá-los,
limpá-los e vesti-los. São apenas esses perfeitos seres em miniatura
que ainda não têm ideia de como ser pessoas. Quando os acalmo é
como se usasse meu superpoder. Eu me sinto... rejuvenescida.

Balancei a cabeça, franzindo a testa, confuso. — Por que isso


seria estúpido? Acho que é incrível.

Ela corou e pegou a costura da fronha de seu travesseiro. —


Eu não sei. É que... onde eu cresci, as mulheres que ficavam em
casa, cuidando das coisas e olhando as crianças eram
menosprezadas. Se você quisesse chegar a algum lugar no mundo,
iria para a universidade e conseguiria um emprego de verdade, para
que pudesse pagar alguém para cuidar dos seus filhos, se tivesse
algum. Mas estar aqui nas últimas semanas, realmente fazendo
isso... é um trabalho difícil. É preciso esforço, paciência,
perseverança e, porra, mais energia do que alguma vez pensei ter. E
mesmo assim, ao final de cada dia, eu me sentia mais completa,
mais... não sei... apenas mais satisfeita com a minha vida e comigo
mesma do que já senti antes.

Eu cobri sua mão novamente, parando seu tremor nervoso. —


Eu acho que o que faz com essas crianças é tão importante, se não
mais, que qualquer trabalho "real" com um cartão de ponto e uma
folha de pagamento. Este outro tipo de vida seria bom, se fosse isso
que você quisesse. Mas não tem que ser algo atraente e importante
para o mundo, não quando você é o mundo inteiro para Skylar e
Julian. — Balancei a cabeça. — Eu nunca tive uma mãe. Ela me
abandonou no hospital onde nasci. Nem sequer me deu um nome.
Algumas enfermeiras me deram o nome de seus maridos. É por isso
que eu tenho três nomes. — Trazendo sua mão à minha boca, beijei
sua palma com reverência. — Não tem ideia do que eu daria para
ter uma mãe tão atenta como você, alguém que minha vida toda
girasse em torno dela. Você faz a diferença, e uma enorme. Não há
nada bobo ou insignificante nisso.

Lágrimas encheram seus olhos. — Você tem um jeito com as


palavras, Patrick Jason Ryan.

— Eu tenho, não é? — Sorri suavemente e estendi minha mão


para tirar uma lágrima de sua bochecha.

Ela suspirou e limpou sua bochecha. — É errado da minha


parte dizer que espero que sua esposa nunca volte?

Soltei um longo suspiro antes de sussurrar minha terrível


confissão — também espero que não.

Eva foi para a frente, para a beirada do seu travesseiro e


fechando o espaço entre nós. Um calor instantâneo me inundou. A
ereção que sempre tinha quando me deitava com ela veio
furiosamente forte. Soltei sua mão para apertar meus dedos no
colchão para não tocá-la.

— Sininho... — comecei, mas dizer esse nome parecia errado


neste momento. Sininho era uma fantasia, um sonho de uma
mulher que não conhecia, alguém que eu queria que viesse e me
salvasse da droga da minha vida. Eva era uma realidade e muito
melhor que qualquer visão que tive aos quatorze anos. Então,
acrescentei — Eva...

Minha voz era muito mais hesitante e receosa que o resto de


mim. Queria que ela se aproximasse. Eu a queria contra mim, em
cima de mim, debaixo de mim, por todo o meu corpo. Mas parecia
haver todas as razões pelas quais isso era uma má ideia.

— Só quero te beijar — ela disse, seus olhos cheios de


esperança.

Apertei minha mão, malditamente tentado; eu não precisava


de muito para chegar ao limite. — Baby, você sabe que isso não
pode ir a lugar nenhum.

— Eu sei. — Ela chegou ainda mais perto, então colocou sua


mão na minha bochecha. — Mas mesmo assim, quero fazer isso. Só
uma vez.

Eu desmoronei. — Só uma vez? — Deslizando meus dedos


trêmulos em sua nuca, levantei seu rosto, enquanto minha outra
mão se fechava ao redor de sua cintura e a puxava para mim. —
Você é quem terá que parar quando tiver o suficiente, porque... —
Balancei a cabeça. Eu tenho certeza absoluta que não seria capaz
disso.

— Eu vou. — Concordou e me deixou louco quando lambeu


seus lábios, ansiosa. Porra, isso poderia me matar.

“Não faça isso”, gritava uma pequena parte racional da minha


cabeça. Mas nem sequer a escutei.

Baixei meu rosto e parei a milímetros de tocá-la, deixando que


a expectativa aumentasse entre nós, quase como uma corrente
elétrica. Eva gemeu e se esticou, impaciente quando veio e
pressionou sua boca na minha.

Meus dedos apertaram seu cabelo, na base de seu pescoço,


sem deixá-la se aproximar mais. Esperei dez anos por isso, de
maneira nenhuma me apressaria. Mas com seu corpo suave
deslizando contra o meu ficou difícil me conter.

Seus dedos se apertaram ao redor da minha camisa, bem


sobre meu coração onde seu nome estava impresso em meu peito e
em minha alma. Aumentei a pressão contra seus lábios pouco a
pouco, deixando que experimentássemos cada pequena nuance um
do outro. Sua boca era macia e flexível, dando à minha a quantia
certa de calor e pressão. E quando seu fôlego veio entre eles,
mesclando-se com o meu, eu gemi. Ela tinha gosto.... Nem sei, mas
tinha gosto de lar.

Ela segurou meu ombro com uma mão, a outra soltou da


minha camisa para se enterrar em meu cabelo. Cheguei mais perto
até que seus seios se esmagaram contra mim, e minha excitação se
apertou em seu quadril.

Agarrando meu cabelo com mais ardor quando apliquei mais


pressão em sua boca, ela inclinou seus quadris e os moveu lenta e
hipnoticamente. Minha mão deslizou até sua bunda para ajudar
seu movimento. No momento em que nossas bocas se abriram e
nossas línguas se tocaram, nós estávamos batendo um com o
outro, indo o mais longe que podíamos vestidos e nossas mãos
ficando em cima das roupas.

Mas droga, porra, cacete, juro que tive um orgasmo sem


sequer disparar minha carga quando sua língua deslizou contra a
minha e rolou em volta dela. Meus músculos tencionaram e meus
quadris bateram forte nela. Deitando-a de costas, subi em cima
dela e acomodei minhas pernas entre as suas enquanto nossas
bocas se beijavam enlouquecidamente. Entrelaçando os nossos
dedos, coloquei suas mãos sobre a cabeça e a beijei, destroçando
seus lábios, roçando sua língua, com o coração palpitando e os
dentes chocando.

Jesus, era tudo isso.

Mordi seu lábio inferior e seus quadris se chocaram contra


meu pau dolorido.

— Pick — ofegou apertando mais forte as minhas mãos. — Eu


preciso... preciso...

— Eu sei, baby. Vou cuidar disso.

Mas quando minha mão deslizou para baixo sobre seu quadril
ao redor de sua coxa, indo em direção à doçura entre suas pernas,
meu filho decidiu acordar.

— Você tem que estar brincando comigo — reclamei


levantando meu rosto.

Debaixo de mim, Eva riu. — Uau, ele é mais eficaz que um


cinto de castidade.

Gemi e rolei de costas ao seu lado, jogando meu braço sobre


meu rosto e tentando controlar meus hormônios em fúria. Mas Eva
continuava rindo. Virei meu rosto irritado para ela. — Não há nada
de engraçado nisso.

O que a fez rir ainda mais.

Mulheres.
Quando ela se sentou para se levantar da cama, peguei seu
braço. — Eu vou buscá-lo para você. — Precisava de um motivo
para sair desta cama, e com sorte me acalmar

Ela sorriu agradecendo e seu sorriso era tão lindo que fiquei
tentado em voltar para cima dela. Mas suspirei e me virei.
Franzindo a testa para o menino, levantei-o e o levei de volta para a
cama, onde Eva esticou os braços para pegá-lo. Depois passei por
cima dela para me sentar, e gemi com amargura enquanto Eva
abria sua camisa e tirava um seio nu, com o mais brilhante mamilo
vermelho framboesa antes de colocá-lo na boca do lutador.

— Seu pequeno bloqueador de pau — murmurei. — Não


poderia ter sido uma fralda suja para ajudar a me acalmar, não é?
Ah, não. Tinha que ter fome para que eu visse isso. — Acenei
irritado para o peito exposto da Eva. — Isso só me deixa mais
ligado. Muito obrigado, amigo.

Gargalhando com o meu discurso, Eva cobriu a boca e


balançou a cabeça. — Deixa o pobre menino em paz. Ele só está
garantindo que eu trabalhe para ganhar o meu salário.

Meus ombros caíram. Lembrar que ela estava aqui por um


emprego matou meu humor mais que tudo. Assisti miseravelmente
enquanto ela alimentava Julian.

— Realmente é minha empregada, não é assim?

Seus olhos se arregalaram ao perceber o que isso significava.


— Não — repreendeu. — Eu sei o que está pensando e você não fez
nada errado. Eu implorei que me beijasse.

— Não, eu te beijei porque era o que queria mais que minha


próxima respiração, mesmo quando deveria ter reprimido meus
desejos egoístas e negado. — Puxei meu cabelo, querendo me dar
um olho roxo. — Que porra eu estava pensando? Não farei isso com
você. Não vou começar algo que não pode ir a nenhum lugar. Não é
justo com você. Absolutamente.

Ela abriu a boca, mas logo fechou e concordou


silenciosamente antes de dizer — entendo.

Eu fechei os olhos. Ouvi-la deveria ter diminuído minhas


preocupações, mas só fez eu me sentir mais idiota, culpado e
machucado. E me fez amá-la ainda mais.

Virando meu rosto para ela, abri meus olhos e forcei um


sorriso, tentando não me focar em seus seios expostos. — Mas foi
um beijo incrível, não foi?

Seu sorriso floresceu, o que por fim me aliviou um pouco.

— Sim, foi. Tem razão. Um pedacinho do céu é melhor que


nada.

Malditamente certo.
EVA

Outra semana passou. As coisas entre Pick e eu deveriam ter


se suavizado e caído em uma agradável e platônica rotina.

Bem, deveria, poderia, haveria.

Depois de nós, ou talvez fosse apenas ele, decidirmos que não


seríamos nada além de amigos, a tensão sexual entre nós
aumentou ainda mais.

Em uma manhã, garanti estar acordada quando ele saiu do


banho, porque nunca se lembrava de levar a roupa com ele para se
trocar. E ele fez questão de deixar cair sua toalha e me dar um
espetáculo, como sempre fazia. Quando me olhou em um momento,
dando-me um perfil, mordi meu lábio e deslizei a mão sob o lençol
como se eu fosse me tocar.

Seu olhar se aqueceu e seu pau cresceu como se estivesse sob


comando. Fiquei olhando enquanto arqueava minhas costas e
prendi a respiração.

— Porra — engasgou.

Agarrando seu pau, correu para fora do quarto. A porta do


banheiro bateu um segundo mais tarde e ouvi o chuveiro de novo.
Eu ri, mas logo deixei escapar um pequeno gemido quando comecei
a pensar no que ele estava fazendo lá, tocando-se e deslizando sua
mão quente de cima abaixo em seu grosso, úmido, escorregadio...
Então, sim... continuei e me toquei de verdade. Terminei quase
ao mesmo tempo que ele porque, com cautela, sua cabeça apareceu
no quarto quando ainda descia das alturas.

— Já terminou de me provocar?

Sorri e assenti. — Por favor, entra.

— Jesus. — Balançou a cabeça e foi nu até a cômoda. — Se


você dissesse isso antes que eu tomasse um segundo banho. —
Quando ri, sacudiu a cabeça. — Isso foi muito baixo.

Entretanto, não podia me sentir culpada, porque me sentia


muito bem. — Mas não se sente muito melhor agora?

Ele me atravessou com um olhar enquanto puxava seu jeans.


— Eu me sentiria melhor se pudesse ter feito isso dentro de você.

Apesar de estar completamente saciada, meu corpo ficou


quente novamente. — Talvez algum dia — eu disse.

Seu olhar se encheu de tristeza, mas concordou. — Sim.


Talvez.

Essa noite, ele estava além de inquieto quando chegou em


casa da oficina. Brincou com os bebês enquanto eu terminava o
jantar, mas aparecia constantemente na cozinha para me checar e
perguntar se podia ajudar em alguma coisa.

— Você está ajudando. — Joguei minhas mãos para o ar,


chocada com seu comportamento ansioso. — Você está olhando as
crianças. Agora, vai. Está me enlouquecendo andando inquieto de
um lado para o outro.

— Eu não estou inquieto — murmurou, mas me deixou com


um momento de paz.
Ele não tinha que trabalhar no Forbidden, então estaríamos
juntos pelo resto da noite. Essa poderia ser a razão de seu
nervosismo. Comecei a me preocupar se o perturbei esta manhã.
Talvez fosse me expulsar porque não podia suportar a forma como o
provoquei. Já tinha deixado claro que não voltaria a me tocar.
Minha tentação bem-humorada possivelmente deu a impressão de
ser não tão engraçada para ele.

Julian ficou inquieto depois de jantar, jogando coisas e


chorando quando não pegávamos para ele rápido o suficiente.
Como Skylar não estava causando nenhum problema, eu a deixei
com Pick e centrei minha atenção no menino, perguntando-me o
que acontecia com os caras deste apartamento. Mas acho que o
menino queria monopolizar toda minha atenção porque logo que
ficamos só ele e eu, acalmou-se e dormiu. Pick carregava uma
Skylar adormecida uns segundos depois. Mas com os bebês
tranquilos por um tempo, ficamos apenas nós dois.

Em silêncio, eu o segui até sala, mas ele não se sentou. Andou


de um lado para o outro. Encostada no corredor da entrada,
observei-o, sabendo que provavelmente era isso, ele me demitiria.
Só que eu não iria numa boa. Pus a mão em meu quadril e levantei
uma sobrancelha.

— O que está acontecendo com você esta noite? Sente-se antes


que faça um buraco no tapete.

Ele me olhou, seu olhar intenso, mas, em seguida, fez o que


pedi e se empoleirou na beirada do sofá, torcendo suas mãos entre
seus joelhos esticados. Era tão masculino e lindo. Fiquei triste.
Sentiria a sua falta.
— Vou conseguir uma anulação — falou, tirando-me da minha
melancolia.

Meu olhar disparou das suas mãos fortemente entrelaçadas à


sua expressão quase de pânico. — O quê?

Assentiu, deixando-me saber que o escutei bem. — E vou


perguntar a Tristy se posso adotar o Julian.

O ar deixou meus pulmões. Balancei a cabeça. — Eu... tudo


bem. — Não surte. Só porque esta era a melhor coisa que ele
poderia me dizer agora, tinha que haver um problema. Em algum
lugar. Respirei lentamente para me acalmar. — Hum, acha que ela
concordará com isso?

Ele ergueu suas mãos, dando de ombros. — Não vejo por que
não. Ela se foi há tanto tempo e não veio vê-lo nem uma vez.

Entrei totalmente na sala, deixando minha esperança crescer.


— Mas e se ela disser que não?

— Então.... Nada. Nada muda absolutamente. Não tenho


nenhum direito sobre ele tal como agora. Se o serviço social viesse
aqui esta noite o levariam embora. Pesquisei sobre isso na internet
e li tudo o que pude encontrar. Ser seu padrasto, neste estado, não
significa nada. Estou acolhendo esse menino ilegalmente. Então,
continuar casado com Tristy também não adianta nada. Por fim,
hoje, percebi. A única coisa que isso está fazendo é me manter
longe de você.

Engasguei. — Então, está fazendo isto por mim? — Oh, meu


Deus! Sim, sim, sim!

Ele ficou de pé e voltou a andar de um lado a outro.


— Não estou sendo justo com você, Sininho. Continuo
pensando no que disse na primeira noite que decidiu ficar e em
como estava preocupada sobre nós estarmos enganados. A última
coisa que quero é fazer com que se preocupe com qualquer coisa.
Mas tem razão. Beijar você, desejar, apenas estar aqui contigo
enquanto estou legalmente preso a outra mulher... eu não deveria
estar fazendo isso. Não quero pertencer a ela de maneira nenhuma
quando meu coração é seu.

— Ah. — A palavra saiu dos meus lábios em um suspiro


atordoado. — Oh, meu Deus.

Pressionei a mão no meu peito desejando que ajudasse a


desacelerar os batimentos do meu coração, mas não ajudou em
nada. Meu sangue corria em êxtase.

Cobri minha boca com a mão enquanto as lágrimas enchiam


meus olhos, deixei escapar uma nervosa, assustada e emocionada
risada. Mas, oh, meu Deus. Pick me amava. Acabava de declarar
seu amor da maneira mais doce e mais romântica de todas.

— Então, vamos perguntar a ela. — Dei um passo em sua


direção e logo parei. — Não faz mal perguntar, não é?

Ele deu um passo em minha direção e parou. Entusiasmo e


incerteza encheram seus olhos castanhos. — Não faz mal nenhum.

— Você sabe como encontrá-la? — Dei um passo mais perto e


respondeu fazendo o mesmo.

— Não fisicamente, mas tenho uma ideia de como entrar em


contato. Se ainda estiver conectada à sua conta do Facebook no
laptop que deixou, poderia lhe enviar uma mensagem.
Emocionada pela compreensão de que realmente poderíamos
acabar juntos depois de tudo, eu o contornei indo para o sofá me
sentar e assimilar isto quando ele me alcançou. Cobrindo o meu
rosto com as mãos, concentrei-me em respirar profundamente.

— Sininho? — Ele se sentou ao meu lado parecendo


preocupado. — Baby, o que está acontecendo? Você não quer...?

— Sim! — Deixei cair minhas mãos para encará-lo. — Sim, eu


quero. Eu quero isso... muito.

Ele pegou minhas mãos e esfregou seu polegar sobre os meus


dedos. — Então, o que há?

— É só que... — balancei a cabeça, sem saber por onde


começar. Então disse — Reese foi a primeira pessoa que amei de
verdade, assim, eu realmente me importo mais com ela que comigo
mesma. Eu só quero vê-la feliz.

— Tudo bem. — Concordou, acompanhando meu raciocínio e


deixando-me saber que estava disposto a me escutar. — E então,
acho que como um primo, amo o Mason também... porque ele é tão
bom para Reese e me deixou viver com eles quando me odiava.

Isso o fez franzir a testa, então, apressei-me em acrescentar —


amo Skylar. Quase assim que soube que existia, entrou em meu
coração. — Agitei uma mão. — Quer dizer, depois que parei de
surtar por descobrir que teria um bebê. Mas sim, apaixonei-me
quase imediatamente.

Pick sorriu e apertou meus dedos.

— Também amo o Julian desde o dia em que o conheci —


falei.
Levando minhas mãos a sua boca, Pick beijou meus dedos. —
Obrigado.

Assenti. — Então, todo esse... amor... realmente só aconteceu


no último ano. Você pensaria que eu estaria sobrecarregada por
isso, não é? Quer dizer, praticamente, vou de não me preocupar
com ninguém além de mim mesma e, na verdade, nem isso, para
amar completamente quatro pessoas. Mas não estou
sobrecarregada de modo algum. De fato, sinto que tenho muito
mais espaço, porque... — Olhei para cima e encontrei o seu belo
olhar castanho. — Eu também te amo.

Seu rosto se encheu com um misto de choque e alegria. Então


sussurrou — Sininho.... — Antes de me agarrar pela nuca e me
puxar para ele.

Nossas bocas se chocaram. Eu o cheirei enquanto seus lábios


se chocaram contra os meus. Mas isso não era suficiente. Nem
perto do suficiente. Eu o agarrei, enfiando meus dedos em sua nuca
e em seus ombros, com medo de ir mais devagar porque precisava
sentir cada centímetro do seu corpo antes de perder minha chance.

Ele estava tão desesperado quanto eu, puxando-me mais


perto, para o seu colo. Montei nele e deslizei para frente até que
pude sentir sua ereção através do seu jeans como se conectasse
com meu centro.

Nunca senti isso tão carnal e delicioso, como se todo meu


corpo se tornasse um recipiente de puro prazer. Ou talvez, fosse o
sentimento de Pick por mim, porque nunca senti essa conexão com
nenhum outro ser humano. Ele era eu e eu era ele e, éramos esta
linda e retorcida massa de todas as nossas esperanças e sonhos se
unindo e explodindo em uma variedade estonteante de euforia.
— Por favor, diga-me que não estou sonhando. — Ele se
afastou da minha boca para respirar, pouco antes de beijar minha
garganta e a gola de minha camisa.

— Deixa de ler minha mente — eu disse e mordi o lóbulo da


sua orelha. — Isso parece um sonho para você?

Ele gemeu e jogou sua cabeça para trás. — Porra, sim. Meu
tipo favorito de sonho.

Sorri e decidi fazer em seu pescoço o que ele fez no meu.


Lambi a tatuagem de uma raiz de árvore e logo fiquei curiosa sobre
as que estavam em seu coração. Além disso, queria vê-lo sem
camisa.

— Isto está no meu caminho.

— Nesse caso, com certeza. — Pick foi rápido para puxar a


camisa e atirá-la sobre sua cabeça.

Minha visão ficou um pouco confusa diante de toda essa boa,


bronzeada e tonificada pele nua. Eu queria tudo isso de uma vez.
Ambiciosa, meus dedos alcançaram e imediatamente deslizaram
sobre os lisos e duros planos de sua perfeita pele. E esse aro no
mamilo... Oooh. Eu me divertir com isso. Quando Pick pegou a
barra da minha camisa e começou a subi-la, finalmente foquei na
tatuagem em seu peito.

E foi quando basicamente tudo foi para o inferno.

— Mas o que...?

Recuei tão rápido que comecei a cair do seu colo.

— Sininho? — Pick me pegou, mas afastei sua mão e corri


para o outro canto do sofá, boquiaberta e horrorizada diante das
palavras em seu peito.
— O que há de errado, baby?

Ele começou a se arrastar para mim; sua preocupação densa e


selvagem. Mas levantei uma mão para mantê-lo longe.

— Você... seu peito... os nomes.

Seus olhos brilharam. — Ah, droga. Eu esqueci disso. —


Batendo sua mão sobre a tatuagem, fechou os olhos e sacudiu a
cabeça, xingando baixinho enquanto abaixava seu rosto.

— Esqueceu do quê? — Gritei. — Que o nome que você me


chama está tatuado em seu peito? Que o nome da minha filha
está... Ah, meu Deus. Que porra está acontecendo?

Suas pálpebras se abriram. Seus olhos imploravam para me


acalmar, mesmo quando levantou as mãos em um gesto
conciliador.

— Prometa-me que não vai surtar.

Ah, esse navio já tinha zarpado, amigo.

— Mas você... Você... Oh. Meu. Deus. Isso não é tinta fresca,
Pick. Esta... esta tatuagem é antiga. Como com alguns anos.

Seus olhos castanhos mostravam sua preocupação enquanto


olhava meu rosto. — Sim.

— Cacete, como pode ter o nome da minha filha tatuado em


seu coração por anos quando ela só nasceu há poucos meses? E
Julian... E oh, meu Deus. Sininho? Há outra Sininho em sua vida?
Os três nomes juntos como se fosse uma grande e poderosa
coincidência. Isso não pode ser uma coincidência. O único nome
que não me assusta agora é Chloe, mas odeio porque foi
obviamente importante para você.
— Não, não... eu vou te contar tudo. Eu juro, Eva. Mas é
uma... — Balançou a cabeça e suspirou. — É uma história muito
louca, então, por favor, tente ouvir até o final. Certo?

Cruzei meus braços e, com certeza, ele podia ver quão irritada
u estava. Aborrecida, mordi minha boca e coloquei todo tipo de
barreira para bloqueá-lo porque sabia que o que me diria doeria.
Ele tinha uma expressão de pânico e arrependimento, como se
soubesse que errou feio. Nenhum bastardo pareceria assim, a
menos que soubesse que estava prestes a perturbar imensamente a
vida de uma mulher.

Quando ele apenas continuou me olhando, assustado, revirei


os olhos. — Bem. — Agitei minha mão para que começasse a falar
logo.

— Muito bem. — Respirou fundo e fechou os olhos antes de


dizer. — Há dez anos, em vinte de novembro, Tristy tentou se
suicidar.

Estremeci diante da menção do meu aniversário, lembrando-


me que a data era a senha do seu celular, o que só me confundiu
mais. Por que uma tentativa de suicídio seria uma data tão notável?
Mas fui uma boa garota e o deixei continuar falando sobre como ele
visitou a bruxa que perturbou a Tristy, na esperança de se vingar e
como ficou preso pelo tornozelo em uma armadilha que colocou em
seu quintal. Inclusive subiu a perna da calça para me mostrar as
cicatrizes.

Em seguida, começou a falar de visões, danças de casamento e


jardins perfeitos. Eu apenas olhava para ele, incapaz de.... Sim,
estava atordoada demais para dizer qualquer coisa. Mas de maneira
nenhuma podia imaginá-lo como assustador ou um tipo estranho.
de cara na bruxaria.

Quando terminou de falar, suspirou novamente e disse — e


então?

Eu balancei a cabeça, atordoada. — Então, teve essa visão


quando tinha quatorze anos onde me viu? Você nos viu casando e
tendo três filhos juntos chamados Julian, Skylar e Chloe?

Ele concordou lentamente. — Sim. Bem, praticamente. Quer


dizer, pensei que eram meus filhos biológicos. Eles me chamavam
de pai e eu... eu me sentia como pai deles. Não sei como descrever
isso exatamente. Foi tão real, como se estivesse mesmo vivendo,
sentindo, provando. Você cheirava a lavanda até mesmo lá.

Levantei as mãos para detê-lo porque isto estava ficando


sufocante. — Tudo bem, apenas... vá devagar.

Mas acho que estava com medo de ir devagar, medo que eu o


chamasse de louco e o deixasse. Ele continuou falando.

— Tudo, quero dizer tudo, coincidiu até agora. Fiquei tão


irritado com a Tristy por seu filho chamar Julian. Mas ele está se
tornando meu filho, não é? E Skylar? Porra, como eu poderia prever
que você daria esse nome a ela? Ou que estaria usando uma
camiseta com o desenho da Sininho na noite em que te conheci? E
esse bendito porco rosa. — Apontou para o bicho de pelúcia que
estava no balanço, que agora raramente usavam. — Ela o segurava
em minha visão, e então, eu o vi na vitrine da loja de presentes do
hospital na noite em que ela nasceu. Isso não é apenas uma
coincidência.
Cobri minha boca com as mãos enquanto as lágrimas
encheram meus olhos. — E você sabia que teria o cabelo escuro e
um redemoinho.

Ele concordou. — E em minha visão, nós dançávamos "Baby


Love" na festa do nosso casamento, que acabou sendo a primeira
música que você colocou no jukebox naquela noite.

Eu não podia escutar mais nada. Levantei-me e saí da sala o


mais rápido que pude.
PICK

Eu estava com muito medo de ir ver, mas mesmo assim fui


pelo corredor em direção ao nosso quarto. Sabia que estaria lá,
empacotando suas coisas, pegando Skylar e se preparando para me
deixar.

Porém, quando cheguei à porta, ela estava de pé em frente ao


berço, olhando os bebês dormindo juntos. Sentindo minha
presença, disse, sem se virar — você tinha que esperar que eu me
apaixonasse por ele antes de me contar isso, não é?

Julian. Então ela não iria embora, mas não pelo que sentia por
mim. Ficaria pelo meu filho. A dor atravessou meu estômago. Apoiei
meu braço no batente da porta e pressionei meu rosto nele.

— Entendo por que está perturbada e chocada. A coisa toda é


inacreditável pra cacete. É por isso que não sabia como te contar.
Sabia que não acreditaria em mim. Pensaria que estava louco, ou
delirando, ou não sei o quê.

Ela se virou lentamente. As lágrimas enchiam seus olhos, mas


não caíam. — Oh, acredito em você.

Mordi meus dedos, odiando o quão longe me sentia dela, o


quanto ela me bloqueava. — Então por que está tão zangada?

Seus olhos azuis brilharam com raiva. Apontando seu dedo


para a entrada do apartamento, disse baixinho para não acordar as
crianças — porque você simplesmente se levantou lá e disse que me
amava, seu idiota. Mas não me ama. Ama uma mulher que você
criou nos últimos dez anos.

— Sininho — comecei, com advertência em minha voz. Afastei-


me da porta e dei um passo para ela.

Ela levantou a mão. — Não. Não se atreva a me chamar assim.


Nunca volte a me chamar assim. Não sou sua Sininho. Sou Eva
Mercer. Essa maldita Sininho é a quem ama, a mulher que
construiu em sua cabeça. Não eu.

— Tolice — resmunguei enquanto segurava seu rosto com


força em minhas mãos. — Nem sequer conheço essa mulher. A vi
por trinta segundos há dez malditos anos. Tudo o que sei é que me
senti feliz com ela. Mais feliz do que jamais me senti antes. Era essa
sensação de paz, alegria e satisfação que procurei. Mas você, Eva
Mercer, é a única por quem me apaixonei. Foi você que veio até à
minha casa para me salvar e cuidar do meu garotinho. Foi você que
encontrei sentada no chão, brincando com ele e fazendo-o rir. E é
seu belo coração que me deixa ansioso para correr para casa depois
do trabalho a cada noite, para que eu possa sentir seu corpo suave
e quente se aconchegar ao meu lado na cama. Então, porra, nunca
mais me diga como me sinto sobre você. Sei exatamente como me
sinto. Se não quer que te chame por esse nome de novo, tudo bem.
Feito. Mas é esta pessoa.... — Coloquei minha mão em seu peito e
pressionei. — Esta é a mulher que eu amo.

Suas lágrimas caíam por suas bochechas. — Mas você


provavelmente nunca repararia em mim se não fosse por ela.

Neguei, tentando esclarecer. Parecia incrivelmente estranho


que ela estivesse com ciúme de si mesma, que pudesse separar a
Sininho da Eva. Para mim, eram a mesma pessoa, mas também
entendia perfeitamente seu ponto de vista.

— Sabe de uma coisa, — eu disse, jogando minhas mãos no


ar, derrotado. — Tem razão. Provavelmente não repararia.

Quando seu rosto se contraiu devastado, inclinei-me e


gentilmente beijei o canto de sua boca antes de passar os dedos por
sua bochecha. — Você não é exatamente o tipo de mulher para qual
costumo ir, e vi aquele Alec idiota que gerou Skylar. Sei
perfeitamente bem que não sou seu tipo também. Então, serei
eternamente grato àquelas visões que me fizeram reparar em você.
De outra maneira, nunca teria chegado a te conhecer tão bem como
conheço, ou descoberto a mulher maravilhosa que você que é.

Ela bufou e balançou a cabeça, enquanto se inclinava para


mim. — Acho que essas visões não estão te deixando ver a cadela
vaidosa, pretensiosa e egoísta que sou.

— Cale-se — sussurrei e a beijei, mais forte desta vez. —


Ninguém fala mal da mulher que eu amo. — Deslizei meus dedos
por suas bochechas para embalar o pescoço. — Nunca fui tão feliz
como sou desde que pôs os pés nesse apartamento.

Ela pegou meus cotovelos, seus olhos sérios. — Eu também


não.

Pressionei minha testa na dela. — Então, por que estamos


brigando?

— Estamos brigando? — Seus dedos se arrastaram até meus


ombros.

Rocei meus lábios em sua mandíbula. — Acho que sim. Parece


que estou tentando te convencer a ficar.
Com um suspiro arrependido, ela me abraçou antes de
mordiscar minha mandíbula. — Sabe que não irei embora.
Convenceu-me com "tolices".

Sorri e logo gemi quando sua boca começou a descer pela


minha garganta. Levantei meu queixo para deixá-la fazer o que
quisesse, e engoli quando lambeu sobre minha pulsação. Seus
dedos alisaram meu ombro e minhas costas.

Arqueei uma sobrancelha. — Então fiquei dizendo bobagens


como um idiota sobre o quanto te amo porquê...?

Ela fez um som de zumbido no fundo de sua garganta, que


enviou uma excitação alarmante por mim e fiquei mais duro do que
já estava.

— Porque eu gosto de te ouvir tagarelar sobre o quanto me


ama.

Sorri. — Mulher malvada. Terei que puni-la por isso.

Levando-a para a cama, deixei que continuasse beijando meu


pescoço enquanto fiquei aliviado. Ela não ia embora. Eu
provavelmente deveria ter me afastado e diminuído o ritmo, e não
pressioná-la logo após minha grande revelação, mas seus dedos
deslizavam para baixo pela frente de meu peito em direção ao meu
latejante pau.

— Uma palmada? — Adivinhou, olhando para mim, curiosa.

Neguei, levantei-a pelos quadris, e a coloquei de volta na


cama. Parando em cima dela, vi se esticar em meus lençóis,
parecendo ansiosa e deliciosa.

— Primeiro — eu disse, inclinando-me apenas o suficiente


para tirar suas meias. — Vou te torturar, tocando e te lambendo
por toda parte até que esteja se retorcendo e implorando por mais.
— Desabotoei suas calças jeans e lambi meus lábios. — Então vou
te lamber e te tocar ainda mais.

— Oh, Deus.

Ela arqueou seus quadris, levantando-os para me ajudar


quando enganchei meus dedos na cintura e deslizei sua calça por
suas pernas, mas parei ao chegar nos joelhos.

Mantendo suas pernas presas pelo tecido, inclinei-me e


pressionei minha boca em seu monte, direto através de sua
imaculada calcinha rosa. Com um suspiro, animou-se e agarrou
dois punhados de meu cabelo. Mordisquei brandamente no osso de
seu quadril, em seguida, passei a ponta do meu nariz ao longo de
suas costelas, e levantando sua camisa.

— Venha — murmurei quando eu estava sobre seios. — Deixe-


me te ajudar a tirar isso.

Quando estava com seu sutiã e calcinha, a calça ainda presa


em seus joelhos, dei alguns beijos em torno de seus seios cobertos
com renda. Arrastei-me sobre ela e apoiei meu peso em meus
braços, enquadrando cada lado de seu rosto.

— Olá — disse, sorrindo.

Ela sorriu e tocou meu rosto. — Olá para você. Acho que ainda
não tirou toda a minha calça.

Eu pisquei. — Por agora, está onde quero. — Inclinando-me


perto de seu ouvido, sussurrei — tudo isto é parte da tortura.

Ela estremeceu e me beijou. Nossas bocas se fundiram. Seus


lábios abriram sob os meus e minha língua roçou a dela. Debaixo
de mim, seu corpo se levantou, tentando se esfregar contra o meu,
assim baixei meus quadris no dela e gemeu, afundando seus dedos
em meu cabelo.

Minha ereção se esfregou nela, afastou-se de minha boca para


ofegar em busca de ar por cima de meu ombro.

— Oh, Deus. Nunca... isto nunca...

Meus dentes apanharam sua orelha e a mordisquei, fazendo-a


estremecer e apertar minha bunda enquanto me abraçava.

— Alguma vez o quê?

Ela balançou a cabeça. — Não sei. Apenas... não estou


acostumada a sentir tanto. É... É...

— Perfeito — terminei por ela.

— Sim.

Ela atacou minha boca, beijando-me com força, lambendo e


me arranhando com suas mãos ansiosas. Pegou os anéis do meu
lábio com os dentes e puxou suavemente.

Gemi e empurrei meu quadril mais fundo contra ela.

— Estou começando a ver a tortura que é ter minha calça aí.


Quero tanto envolver minhas pernas em você...

Estava tentado a tirá-la, bem como o resto de sua roupa. Mas


queria que isso durasse.

— Eu me pergunto, como seria te beijar se tivesse você um


anel na língua? — Disse enquanto tocava o aro em minha
sobrancelha.

— Colocarei um amanhã — ofeguei logo antes de enrolar


minha língua com a dela outra vez.

Nós nos beijamos sem parar.


Cada vez mais inquieta, Eva se arqueou contra mim, tentando
se livrar de sua calça. — Pick, por favor...

Não pude aguentar mais, então tirei-a e joguei por cima do


meu ombro.

— Oh, graças a Deus.

Ela imediatamente se moveu para envolver minha cintura com


suas pernas, mas segurei seu quadril. — Ainda não.

— Patrick — ela gemeu.

Sorri. — Isso é o que eu gosto de escutar, baby. Diga o meu


nome com essa voz sexy.

— Pat... — Sua cabeça caiu para trás quando comecei a beijar


seu corpo. — ...Trick.

Demorei-me em seu bonito sutiã, enterrei meu nariz em seu


pescoço e inalei seu cheiro celestial de lavanda. Logo voltei a me
mover, lambendo e mordiscando, adorando cada centímetro.
Quando cheguei a seu umbigo, coloquei minha língua nele, depois
agarrei sua calcinha com meus dentes e a tirei. Ela ficou tensa de
ansiedade, fazendo-me sorrir quando começou a acariciar minha
cabeça me encorajando. Mas parei quando vi sua brilhante cicatriz
vermelha da cesárea.

Beijei-a ali antes de levantar meu rosto e acariciar seu quadril.


— Seu médico te autorizou a fazer isso, não é?

Assentiu, mas parecia como se segurasse sua respiração. —


Sim. Cerca de um mês atrás.

Curioso por ela estar de repente tensa, fiquei olhando-a


enquanto beijava a cicatriz de novo, logo acima da linha dos pelos
púbicos.
— Você está bem? — Perguntei.

Ela assentiu, mas não se acalmou. Então me arrastei por seu


corpo até que estávamos nos encarando.

— O que houve? — Minha pergunta foi suave, mas ainda lhe


fez ranger os dentes como se estivesse irritada consigo mesma.

— Eu só... — Balançou a cabeça e me deu uma risadinha. —


Estou ficando nervosa, eu acho. Quero dizer, você e eu nunca... já
sabe... antes. E é tudo tão intenso e avassalador e....

— Ei. — Acariciei sua bochecha e pressionei nossas testas


juntas. — Não se preocupe. Nada tem que acontecer.

No entanto, isso pareceu angustiá-la mais.

— Mas eu quero que...

Beijei-a, silenciando-a. Apoiei minha testa na dela, sentindo-


me sortudo por estarmos juntos. Já consegui mais do que jamais
imaginei ser possível; qualquer outra coisa seria um bônus. — Que
tal isso? Não pensemos no que vem a seguir. Não pensemos no
futuro. Apenas aproveite o que está acontecendo.

Seus olhos azuis se suavizam com adoração. — Você é o


homem mais sábio que conheci.

— Malditamente certa. — Beijei-a novamente.

Seus membros relaxaram sob os meus. Então seu corpo se


fundiu em mim e sua respiração acelerou. Quando beijar nos
deixou fracos e sem fôlego, suas pernas se moveram inquietas.
Deslizei meus dedos entre suas coxas. Ela ofegou e as apertou, mas
suas mãos se agarraram em mim, tentando me aproximar.
Colocando-os dentro dela, estremeci e fechei os olhos.
— Oh, porra. É tão bom te sentir. Tão quente e molhada.
Quero provar isso. — Ela se pressionou contra mim, seus olhos
fortemente fechados enquanto jogava sua cabeça para trás e
agarrava meus ombros com força.

— O... Ok.

Sorri. Bom, tudo bem, então.

Eva choramingou enquanto eu me abaixava. Gemeu de prazer


quando a lambi, encharcando minha língua com um sabor
almiscarado celestial. Meus dedos bombeavam a quente abertura
apertada enquanto minha língua massageava seu clitóris, minha
boca querendo mais.

— Oh... oh... — Ela estava tão perto. Sua excitação vibrou


através de mim e sua emoção perfumada me encheu. Queria
mergulhar nesse calor úmido. Mas primeiro queria sentir seu gozo
em minha boca.

— Goze para mim, Eva. — Pedi logo antes de morder sua


protuberância sensível e empurrar dois dedos profundamente. Ela
enlouqueceu, puxando meu cabelo pela raiz e apertando suas coxas
contra meus ouvidos enquanto gritava em um forte orgasmo.
Desfrutei de cada segundo e gemi derrotado quando duas pequenas
vozes despertaram no berço.

— Droga. — Enterrei meu rosto no estômago de Eva enquanto


ela se acalmava. — Levaremos esse berço para o outro quarto,
amanhã.

Debaixo de mim, ela riu. Como podia sempre rir em um


momento como este, nunca saberei. Não havia absolutamente nada
de engraçado em ficar morrendo de tesão.
— Promessas, promessas — disse enquanto se contorcia
debaixo de mim para ver as crianças.

Sentei-me irritado e cruzei os braços sobre o peito. Ela me


trouxe Julian, porque disse que estava seco. Depois de pegá-lo,
para que ela trocasse a fralda de Skylar, segurei meu filho para
olhar em seus olhos. — Precisamos conversar jovenzinho. Não pode
continuar fazendo isso. Acordar antes que papai consiga seu boom-
boom14 não está certo.

— Boom-boom? — Eva perguntou, seus olhos brilhando


enquanto trazia Skylar para a cama com a gente.

Dei de ombros. — Bem, como quer que eu chame isso?

— Na verdade, prefiro que não fale de sexo com ele.

— Ei, ele precisa ter essa conversa um dia.

Ela deu uma gargalhada e começou a alimentar a Skylar, o


que destruiu tudo que meu corpo tinha acabado de se acalmar.
Meu pau voltou à vida. Não podia deixar de olhar seus enormes e
deliciosos seios em exibição. Poderia inclusive ter gemido um
pouco. Mas, caramba, isso era tão injusto.

Eva viu meu olhar louco, desesperado, e ficou com pena. —


Você está bem?

— Hã? — Dei-lhe um sorriso maroto enquanto olhava


abertamente. — Estou incrível — disse. — Acabo de ter o melhor
sabor da minha vida. Por quê?

Ela revirou os olhos, depois olhou para a dura protuberância


ainda saliente na minha calça. — Mas não conseguiu nada disso.

14
boom boom: ato sexual.
Bufei. — Claro que sim. Porra, isso foi incrível. — Estendi a
mão e acariciei o cabelo de Skylar. — Não acho que tenha alguma
camisinha de qualquer maneira, então... — Dei de ombros e sorri
antes de voltar minha atenção para o lutador que tentava segurar
as tatuagens no meu peito.

— Ainda poderia fazer algo por você — ela ofereceu o que


despertou o interesse do meu pau imediatamente. — Depois que
voltem a dormir...

Beijei o cabelo do lutador, sem me importar muito com o que


acontecia comigo. Fazer Eva gozar valeu a pena ficar morrendo de
tesão.

— Talvez — eu disse.

Na verdade, pretendia esperar e cobrar o que ofereceu, mas


acabei dormindo antes que terminasse com os bebês. Eu me mexi
quando Eva passou os dedos por meu cabelo e beijou minha
bochecha, mas só tive energia para tomá-la em meus braços e
pressionar suas costas contra meu peito enquanto murmurei —
durma.

Tínhamos o resto das nossas vidas para terminar o que


começamos. Com uma anulação à vista e a adoção do Julian para
começar, era uma vida que esperava ansiosamente.
PICK

Tive que trabalhar até tarde no Forbidden pelo resto da


semana. Todo o tempo livre que vi Eva, ou ela estava desmaiada de
sono ou super ocupada com as crianças.

Mas cada vez que nossos olhares se encontravam no outro


lado da sala, as faíscas entre nós se tornavam quase tóxicas. Ela
sorria, mordia o lábio e colocava seu cabelo atrás da orelha antes de
olhar para longe, corada. Eu ria com sua evidente ansiedade pela
próxima vez que estaríamos sozinhos, e mordia o interior da minha
boca para segurar meu gemido.

A próxima noite livre que não tinha que trabalhar era a da


sexta-feira. Chame-me de presunçoso ou muito esperançoso para
meu próprio bem15, mas na quinta-feira à noite abasteci a gaveta
do meu criado mudo depois que sai do Forbidden e parei em uma
loja a caminho de casa.

Quando chequei o correio em minha hora do almoço da sexta-


feira, a carta oficial que recebi me deixou ainda mais ansioso por
passar um tempo a sós com minha garota. Queria agradecer a Eva
por ter sido tão incrível nesses últimos meses, embora eu soubesse
que nunca seria capaz de demonstrar gratidão o suficiente por tudo
o que fez por Julian e eu. Mas eu ainda queria tentar, então liguei
para Reese para lhe contar meus planos.

15
Presunçoso ou esperançoso demais, o que poderia prejudicá-lo.
— Olá, é o Pick — disse quando atendeu.

Sua saudação de volta soou desconfiada. — Oi, Pick. Tudo...


está tudo bem? — Logo ficou preocupada. — Eva? Skylar...?

— Estão bem. Vai tudo bem.

— Oh. — O tom cauteloso de Reese voltou. — Então... o que


houve?

— Quero sair com ela — respondi rapidamente. — Sabe, só


sair do apartamento por uma noite. Para... talvez um bom jantar ou
algo assim. Para compensar o quanto ajudou ao Julian e a mim.
Não sei o que faríamos sem ela. O dinheiro de babá que lhe dou não
é nada comparado ao que realmente lhe devo. Assim pensei em algo
extra... uma noite fora, longe das crianças, seria melhor que nada.
Seria um começo.

Reese fez uma pausa antes de responder a minha longa


explicação, e mordi os anéis em meu lábio, pensando que ela teria
uma razão perfeitamente lógica para a minha ideia ridícula. Mas em
vez disso, disse — isso é tão doce. Que boa ideia!

— Sério? — Graças a Deus. — Então, você ficará de babá?

— O quê? — A adoração desapareceu de sua voz. — Quer


dizer, os dois bebês? Juntos?

Franzi a testa. Por que isso parecia tão irracional? — Sim. Isso
seria um problema?

— Não. Bom... Só... Não sou Eva. Ela faz com que cuidar de
dois bebês ao mesmo tempo pareça fácil. Mas eu? Uma criança
pequena, tudo bem. Eu poderia fazer isso. Eu acho. Mas dois com
idades tão próximas, tão pequenos. E se...?
— Você vai se sair muito bem. Lowe não trabalha hoje à noite,
certo? Faça com que te ajude. E tem meu número de telefone. Pode
me chamar a qualquer momento.

— Oh, boa ideia. Não pensei em trazer o Mason. Está bem. A


que horas?

Menos mal! Missão cumprida. Rapidamente, disse — uh...


Saio do trabalho na oficina às cinco. Assim... talvez às cinco e
meia? Isso me daria um minuto para ficar pronto.

— Porra.... Vocês meninos ficam prontos rapidinho.


Simplesmente não é justo. Nós mulheres levamos uma boa hora
para nos arrumarmos para uma noite especial.

Sorri. — Sim, mas nós, caras, não ficamos tão bonitos como
vocês, senhoritas, depois de toda a preparação, então acho que é
um tempo bem gasto.

— Hm, hmm. Não é de admirar que Eva seja tão doce com
você. Você tem um jeito com os elogios. Mas de qualquer maneira,
vou levar algo legal para ela vestir. Ficaria brava se soubesse que eu
sabia de seu encontro surpresa, e a deixei ir com seus trapos
velhos.

— Não é um encontro — fui rápido em corrigi-la. — Não,


apenas um jantar...

— E uma dança — interrompeu Reese. — E talvez um passeio


iluminado pela lua na praia. Brincar um pouco por cima da roupa
e....

— Ok, espertinha. Chega. — Revirei os olhos. — Mas não


vamos chamá-lo assim, a menos que ela queira.
— Você que manda chefe. Chegarei para o serviço de babá às
cinco em ponto, de acordo?

Desliguei, sacudindo a cabeça. Lowe sem dúvida tinha suas


mãos cheias com essa mulher16.

EVA

Realmente me estabeleci como Babá Mercer. Eu me sentia


orgulhosa da rotina que por fim dominei, porque não foi fácil de
aperfeiçoar.

Normalmente, levantava às sete horas com Skylar, o


passarinho da manhã. Até a hora dela dormir sua soneca da
manhã, Julian finalmente abria seus olhos escuros. Ele me
acompanhava pelo apartamento, e sempre havia algo para limpar
ou arrumar. Na hora do almoço, Skylar despertava outra vez.
Alimentar os dois dava muito trabalho, pois um deles sempre se
irritava se eu desse muita atenção ao outro. Mas então davam um
descanso quando dormiam à tarde, juntos. E isso quando eu não
cochilava também, ou tomava um banho rápido.

Já era a hora deles acordarem quando bateram na porta da


frente. Nas últimas semanas, atendi telefonemas de operadores de
telemarketing, mas ninguém veio bater aqui antes.

Verifiquei o olho mágico, mas a pessoa ao outro lado estava


muito perto e só pude ver o topo de seus cabelos grisalhos.

16
Ficar muito ocupado com um trabalho difícil ou com alguém.
Perguntando-me se era algum parente do Pick, esquecendo-me
momentaneamente que viveu em orfanatos, destravei e abri a porta.

Mal abri quando a pessoa que esperava finalmente se virou e


sorriu amavelmente — Olá, Eva.

Engoli em seco. — Meu Deus. — Quando tentei fechar a porta,


ele pôs seu pé no batente.

— Bem, querida. Essa não é maneira de cumprimentar seu


pai.

— Você não é a porra do meu pai.

Quando ele deu seu sorriso malvado, solucei. Respirando com


dificuldade, tentei me concentrar, acalmar, para poder pensar em
uma forma de sair disto. — O que quer?

— Quero que você abra a porta e me deixe entrar como um


adulto antes de ter a atenção de todos os seus vizinhos.

— Que tal se me deixar em paz e for para o inferno em vez


disso?

Fez um som com a língua e sacudiu a cabeça. — Deve-me


mais que isso.

Fiquei boquiaberta. — Nem morta.

Seus olhos endureceram, mas seu sorriso se manteve


tranquilo e amável, o que sempre queria dizer que eu tinha que
estar mais em guarda. — Você continua em nosso plano de saúde,
sabia? Como acha que pagou a conta do hospital?

Oh, Deus. Nem sequer pensei nisso. Eu era muito estúpida.


Tinha tanta certeza de ter cortado todos os laços com Bradshaw e
Madeline Mercer. Mas eu perdi um dos mais importantes.
— Ou planejava me reembolsar? — Continuou Shaw. — Com
seu salário de babá? Três semanas na unidade de terapia intensiva
neonatal não é barato.

Cedendo à pressão aplicada à porta, infelizmente recuei e o


deixei entrar no apartamento do Pick. Ele entrou, parecendo
ridiculamente fora de lugar em seu terno Gucci. Depois olhar com
desprezo o apartamento, passou a mão sobre o paletó e se virou
para mim.

Cruzei os braços sobre meu peito e o olhei. — Você aceita em


parcelas?

VI o sorriso malvado e calculado a que estava tão acostumada.


— Sim, aceito. Mas não em dinheiro.

Quando seu olhar posou sobre meus seios carregados de leite


que não poderia manter completamente escondidos sob meus
braços, eu bufei. — Continua sendo um velho devasso e nojento,
não é?

Com um suspiro, ele balançou a cabeça com tristeza,


claramente decepcionado comigo. — E eu que vim aqui para lhe
agradecer o presente que você me enviou.

— Presente? — Franzi o cenho, imediatamente desconfiada.

— O quê? Não se lembra de me enviar Patricia Garrison há


alguns meses?

Oh, droga. Arregalei meus olhos. Não tinha ideia de que a


estupradora do Mason realmente seguiu o meu conselho e foi para
o meu pai. Isto não era bom. Duas pessoas malvadas como essas,
formando uma equipe.
— Eu gostei muito do brinquedo, querida. Mas tenho medo
que eu possa tê-la quebrado.

— Você...? — Querido Deus todo poderoso. O que fez à


senhora Garrison? Espera. Não me importa. Se ela estava
quebrada, seja o que seja que significasse isso, com sorte estava
fora de nosso caminho para sempre.

— Algumas mulheres não podem suportar um pouco de trato


pesado. Sem dúvida não se fazem mulheres tão calorosas como
você e sua mãe todos os dias. Com o tempo, as demais sempre
desistem de lutar e me deixam fazer do meu jeito. Mas você não.
Nunca. Ainda me lembro como você me olhou, com aquele fogo em
seus olhos e a cabeça erguida depois que me curvei sobre você.

— Por favor, não me diga que está aqui apenas para lembrar o
passado porque prefiro vomitar em seus sapatos novos.

De fato, deveria fazer isso. Mas maldição se soubesse que


desafiá-lo quando abusava de mim apenas o excitava mais, teria me
enrolado em uma bola e deixado que fizesse como quisesse.

Minha pele estava fria e meus nervos tensos. Não sei o


que faria se um dos bebês acordasse. Não queria esse monstro
perto de Skylar ou Julian.

— Que droga quer de mim?

— Quero que volte para casa, é claro.

Bufei. — Está delirando. Nunca voltarei a pôr um pé


naquele lugar.

Ele abriu os braços e riu. — Prefere ficar aqui? Com o idiota


tatuado da cara de metal? Sério, Eva? Não acredito.
Isto fez que meu estômago se revirasse ao perceber que sabia
quem era Pick. Provavelmente sabia cada segredo de Pick e como
feri-lo. Oh, Deus. Onde eu meti meu doce e inocente menino
tatuado?

Levantando o queixo, provoquei. — Pick Ryan é cem vezes


mais homem do que você nunca poderá ser.

Minha declaração o divertiu. Então percebi de como gostava


quando eu era corajosa e o desafiava. Imediatamente recuei, com o
cenho franzido.

— Por que me quer? Você me expulsou, lembra? Por causa da


Skylar? E quanto a ela? Ou continua planejando tentar que eu me
livre dela?

Boa sorte com isso, velho.

Ele simplesmente deu de ombros. — Sua mãe e eu decidimos


que pode ficar com a menina. Ao menos é uma boa Worthington.
Acontece que ter uma filha desaparecida é muito mais vergonhoso
que uma jovem que dá à luz sem estar casada. Então, você tem
permissão para voltar. Vamos te colocar no quarto sobre a garagem
onde Reese ficou, assim o choro não nos incomodará.

— Que amável de sua parte — bufei. — Mas respeitosamente,


recuso sua oferta. Obrigada. — Então assenti com o queixo para a
saída. — Pode ir agora.

Sua risada ainda era divertida. — Vamos querida. Não me diga


que não sente falta de seu antigo estilo de vida?

Neguei com a cabeça. — Nem sequer um pouco.

— Aumentarei sua mesada. O dobro, inclusive.

— Vá para o inferno.
— Deus, senti falta de sua boca suja.

Quando se aproximou de mim, gritei e saltei para trás. — O


que está fazendo? Fora!

Ele rondava atrás de mim, seus olhos enlouquecidos de


excitação. — Ninguém luta como você, Eva. Adoro o jeito que você
arranha e morde.

Oh, Deus. Oh, Deus. Oh, Deus. Tinha tanta certeza de ter
escapado dele para sempre, que nunca teria que suportar outra de
suas visitas.

Que isso estava acontecendo aqui, onde eu ri, amei e me senti


mais em casa do que em qualquer lugar, foi ainda mais traumático.

— Terá que transar com o meu cadáver frio antes de me tocar


outra vez. Porque vou lutar até que um de nós esteja morto.

— Genial. — Seus olhos brilhavam de prazer sádico. — É


assim que eu gosto. Não é de admirar que nunca pude controlar
meus impulsos perto de você.

Quando ele avançou, pulei para o lado, e corri. Quando entrei


no corredor, percebi que o levaria diretamente para os bebês.
Esperava chegar a um quarto e fechar a porta na sua cara,
refugiando-me e o deixando fora até que Pick viesse para casa. Mas
era muito arriscado, por isso fui para a cozinha. Teria que dar o que
queria. Ele teria que lutar.
PICK

Reese deve ter esperado esta noite tanto como eu. Ela já
estava em minha casa, esperando na parte da frente do edifício com
Mason quando cheguei em casa do trabalho.

— Chegou cedo — disse enquanto me aproximava, sem fôlego


e ansioso.

Ela pulou para frente com um sorriso e uma bolsa de roupa


dobrada sobre o braço.

— Ei, fui uma boa garota e fiquei aqui até que chegasse em
casa para não arruinar a surpresa. Mas falando sério, Eva pode
querer se arrumar. É a primeira noite que vai sair desde que Skylar
nasceu. Tenho três vestidos ela escolher e uns pares de sapatos.

Balancei a cabeça e olhei para o Mason em cujos braços se


empilhavam caixas de sapatos.

— Garotas.

Ele me deu um olhar seco sobre eles.

— Oh, nem me fale sobre isso.

Reese fungou enquanto me seguia até a entrada.

— Vou ignorar seus comentários masculinos porque sou


incrível assim. E bateu seu quadril com o meu. — Então, para onde
você vai levá-la? Sabe que sua comida favorita é a italiana, certo?

Sorri, porque eu sabia.

— Pensei em levá-la ao Luigi, no Plaza.

Reese aplaudido e deu um sorriso de aprovação.


— Perfeito. Ela vai adorar isso. — Tagarelou todo o caminho
pelas escadas até o terceiro andar, dizendo o que queria fazer no
cabelo da Eva e como baixou a canção perfeita em seu iPhone para
dançar com o Julian.

— Mal posso esperar até que Skylar tenha a idade suficiente


para que possa brincar com seu cabelo. Vou comprar-lhe tantos
laços e fivelas.

Fiz uma pausa para destrancar minha porta, só para franzir o


cenho quando vi que já estava destrancada.

— Isso é estranho. — Empurrei para abri-la. A primeira coisa


que ouvi foi o choro do lutador e da Skylar vindo do nosso quarto.

Um calafrio correu por minhas costas. Não tinha voltado para


casa com um bebê chorando desde o dia que Tristy se foi e
abandonou o Julian. Jesus. Eva não teria me deixado e
abandonado meus bebês.

Não é?

Andava para o corredor quando a ouvi gritar.

— Pic... — O grito foi interrompido antes que algo soasse no


chão da cozinha seguido por sons de luta.

— Eva! — Saí correndo nessa direção e derrapei até a porta.

O que vi foi como se meus pesadelos se tornassem realidade.


Um bastardo morto, porque eu ia matá-lo, vestindo um maldito
terno de três peças, lutando com ela pela posse de uma faca
enquanto a prendia contra a geladeira. Lágrimas escorriam pelo seu
rosto, onde foi ferida, e com um inchaço da testa até a bochecha. O
decote de sua camisa foi rasgado e tinha marcas de unhas no
pescoço.
Atirando-me para frente, agarrei o pulso do velho filho da puta
e o torci, satisfeito quando ouvi um estalo e ele gritou. Quando a
faca caiu de sua mão quebrada, eu o tirei de Eva e o afastei,
empurrando-o contra os armários e batendo a parte de trás de sua
cabeça contra a madeira.

Enquanto ele ainda estava aturdido pelo golpe, dei outro em


seu rosto e um no estômago, então percebi que seu cinto e o botão
de sua calça estavam abertos.

— Oh, filho da puta. Você está morto.

Depois de outro golpe, seu sangue voou, mas mãos e braços


me seguraram e me puxaram para trás. As vozes de Mason e Eva
zumbiam nos meus ouvidos. Resisti, mas quando uma Eva
soluçando ficou na minha frente entre o cara que tentava matar e
eu, era impossível lutar sem machucá-la.

Mason me segurou contra a parede do fundo, mas ainda podia


ver o bastardo quando ele balançou a cabeça, em seguida cobriu
seu rosto e limpou o sangue de seu nariz. Eu o reconheci. O rico
desprezível da loja que veio com um pneu furado em seu Bentley.
Por alguma razão, isso me irritou mais ainda, e me fez pensar que
ele escolheu visando especificamente Eva.

Tentei atacá-lo para me vingar, mas Eva estava desesperada


para me manter afastado.

— Por favor — ela suplicou. — Não, Pick, não. Não pode. Você
não tem nem ideia do que ele é capaz. Poderia te destruir. Por favor.
— Ela afundou seu rosto em meu pescoço, suas lágrimas molhando
minha pele.
O choque me fez prender a respiração. Não podia acreditar que
realmente conhecesse este asqueroso. — Porra, quem é ele?

— O pai dela — respondeu Reese da porta da cozinha, onde


estava pálida e congelada, boquiaberta com seu tio, com uma pilha
de caixas de sapatos espalhados que cobriam o chão a seus pés e
sacos de roupa que ela apertava contra o peito.
PICK

Diante do som da voz de sua sobrinha, o velho do Bentley se


virou para Reese.

O olhar dela foi para seu cinto aberto

— Tio Shaw? — Com um soluço, deixou cair a bolsa de roupa


e tampou a boca com ambas as mãos enquanto recuava um passo.

Olhei para Eva no mesmo instante que ela me olhou. A derrota


em seus olhos explicou tudo, a dor, a vergonha e o arrependimento.
Sua expressão me disse exatamente quem a violentava há anos.

— Oh, merda — sussurrei.

Seus olhos se arregalaram.

— Pick. — Pôs seus doces dedos em minhas bochechas,


mantendo meu foco nela e em nada mais. — Por favor, não faça
isso.

Eu tremia de raiva. Queria destroçar o monstro que tinha


aterrorizado minha Sininho.

Mas, porra. Seu próprio pai? Fechei minhas mãos em punhos


e apertei meus olhos, tentando obedecer sua súplica. Parecia vital
para ela que eu não o socasse, mas Deus, eu queria muito fazer
isso. Balancei meu joelho para aliviar parte da agressão zumbindo
em mim.
— Reese, você não viu nada — dizia o cretino, sua voz fazia me
retorcer, desejando atacá-lo. — Poderia te destruir, entendeu? Se
disser algo a alguém, destruirei você e o seu noivo prostituto aí.

Reese ofegou, pálida, enquanto Mason estremecia contra mim.


Eva continuava me olhando fixamente, implorando com o olhar,
pedindo que eu mantivesse a calma. Pressionei minha testa na sua
e tentei focar em nada mais além dela.

Mas a porra do seu pai teve que apontar para mim depois.

— E você, vai pagar por pôr suas sujas e manchadas mãos


órfãs em mim.

Talvez devesse ficar surpreso que ele soubesse tanto sobre


mim. Mas estava mais ansioso por destruí-lo.

— Continue — disse — eu adoraria...

— Não — gemeu Eva. Agarrou-me com mais força e apertou a


bochecha contra meu peito.

Um grunhido saiu de minha garganta. Maldição, por que não


queria que eu o machucasse por ela?

De algum jeito, respeitando seus desejos, fiquei olhando para


seu pai sem perder o controle. Não sei como consegui, mas me
impressionei com minha própria capacidade em segurar minhas
emoções, embora ainda pudesse ouvir meus bebês ao final do
corredor, chorando por nós.

— Saia da minha casa — grunhi.

Seu pai arqueou os olhos. O filho de uma cadela não gostava


que lhe dissessem o que fazer? Que pena. Este era meu domínio.
Finalmente, seus lábios se torceram divertidos. Quando seu
olhar se dirigiu a Eva, quis arrancar seus olhos de sua cabeça, por
se atrever a sequer olhá-la.

— Irei — murmurou — por agora. — Deu a volta para sair.

Reese estava em seu caminho. Ao perceber que ele passaria


por ela, saltou com um grito abafado e correu para nós, tropeçando
nos sapatos em sua pressa. Mason me soltou para pegá-la e
abraçá-la. Livre das mãos de Mason, abracei Eva, beijando seu
cabelo e respirando seu perfume.

Assim que ouvimos a porta da frente fechando, ela saiu de


meus braços e foi pelo corredor para nosso quarto. Quando os
bebês se calaram uns segundos depois, não pude conter minha
agressividade nem um segundo mais.

Soquei a geladeira com força, duas vezes. A explosão de dor


que veio quando eu arrebentei meus dedos me fez sentir bem e
aliviado.

— Oh, meu Deus — gemeu Reese. Afastando-se de Mason,


andou em círculos, e enfiou os dedos em seu cabelo enquanto
tentava entender o que aconteceu. — Isso foi... Oh, meu Deus. Seu
próprio pai... O tio Shaw foi... Ele estava tentando....

Quando olhou de Mason para mim como se procurasse ajuda,


desviei o olhar e apertei os dentes.

— Você sabia — ela percebeu me encarando. Sua boca se


abriu — Você..., mas... — Negou com a cabeça — Quando...? Por
quanto tempo...? Por que nunca me contou?

— Amorzinho — começou Mason, sua voz cheia de simpatia.


Mas Reese levantou a mão, mantendo-o quieto enquanto me
olhava.

— Pick?

— O quê? — Estalei, franzindo o cenho. — O que quer que eu


diga?

— Quero que me diga que estou enganada — gritou. — Diga


que não vi meu tio tentar violentar a minha prima. Oh, meu Deus,
minha prima, minha melhor amiga. Mi... — Lágrimas encheram
seus olhos — Merda, esta não era a primeira vez, não é verdade?
Santo... Oh... Deus. Acho que vou vomitar. — Segurou seu
estômago enquanto suas lágrimas caíam com mais força. — Como
pôde saber e não dizer nada? Ele foi em nosso apartamento a
procura dela. Ele veio até mim e eu... disse onde ela estava. Eu
nunca faria isso se... se... Mason. — Virando para seu homem,
atirou-se para ele.

Ele a abraçou, beijando seu cabelo e murmurando

— Está tudo bem, baby. Está tudo bem.

Recuando o suficiente para olhá-lo boquiaberta, ela gritou

— Bem? Como é que está bem? Ele... ele... A Eva.

Mason não tinha uma resposta, por isso só a abraçou mais


apertado e a forçou a enterrar o rosto em seu peito.

Enquanto observava os nós de seus dedos ficarem brancos


pela força com que apertava sua camiseta, tentei tranquilizá-la.

— Eu não sabia — eu disse. — Não quem, até agora.

Ela fungou e limpou o nariz com o dorso da mão


— Mas sabia que alguém...? — Quando não pôde terminar a
pergunta, assenti. A confusão nublou sua expressão — Por que
diria a você e não a mim?

— Ela não me disse. Eu descobri.

— Oh, genial. — Jogou as mãos para cima com desgosto,


quase acertando o olho de Mason. — Eu fui muito estúpida para
perceber?

Girando para longe de nós, ela saiu da sala.

— Reese — rosnei. — Não... — Quando não me escutou, dei a


Mason um olhar carrancudo. — Poderia detê-la? Sininho não
precisa um interrogatório neste momento.

Ele amaldiçoou em voz baixa, mas correu atrás de sua noiva.

Sozinho na cozinha, parei um minuto para me acalmar. Eu me


curvei e dei um longo e forte suspiro. Mas as vozes se elevando,
bem, só a voz de Reese vindo do quarto, obrigaram-me a ir para lá.

— A tia Mad sabe? — Perguntava Reese, quando eu parei na


porta e vi Eva sentada na cama balançando Skylar e Julian de um
lado a outro, para confortá-los. Eles se agarravam a ela como se
suas vidas dependessem disso, mas percebi que ela se agarrava a
eles da mesma maneira. Isso apertou meu coração, saber que não
estava aqui para salvá-los deste susto. Logo meu ciúme disparou,
porque ela procurava consolo neles e não em mim.

Maldição. Por que não saí do trabalho uns minutos antes?

— Nós deveríamos dizer a ela — incentivou Reese, balançando


a cabeça vigorosamente. — Vamos ligar para ela agora mesmo.

Pegou seu telefone antes que Eva murmurasse — Ree, Ree,


pare. Ela sabe.
— O quê? — Reese gritou.

— Shh. Não levante a voz. Os bebês continuam assustados. —


Olhou-me de forma acusadora antes de voltar para sua prima. — O
que está fazendo aqui, afinal?

Reese estava muito agitada para responder, murmurando

— Como podia saber disso e não...? Como pôde ficar com


ele...? Oh, meu Deus. — Ela apertou seu rosto enquanto arregalou
seus olhos. — É tão má quanto ele. Não posso acreditar que exista
esse tipo de maldade em minha família.

Respondendo à pergunta de Eva por ela, eu disse

— Eles estavam aqui para cuidar dos bebês. Eu ia te levar


para sair esta noite. Dar um descanso das crianças.

Ela me olhou e piscou como se tentasse não chorar.


Finalmente, olhou para longe e sua voz foi áspera.

— Obrigado. Isso... foi doce, mas não... não tenho vontade de


sair esta noite.

Apoiei minhas costas no batente da porta, golpeando minha


coluna contra ele tão forte como precisava, procurando mais
pontadas de dor para manter minha raiva sob controle. Ainda
estava tentado a correr do apartamento e perseguir seu pai.

— Há quanto tempo isso acontece? — Perguntou Reese.

Eva sacudiu a cabeça.

— Você não vai querer saber a resposta.

Curvando os ombros, Reese começou a chorar de novo.

— Não posso acreditar que isto esteja acontecendo. Não


posso.... Por que nunca me contou?
— Porque sabia que reagiria assim. — Quando a voz de Eva se
tornou nitidamente agitada, os bebês responderam,
choramingando.

Sai da porta e fui até eles

— Dê-me Skylar.

Eva não pareceu querer a princípio, mas quando percebeu que


não poderia acalmar os dois bebês de uma vez, finalmente cedeu.
Peguei a menina no colo e a segurei perto de meu rosto, fechando
os olhos e fazendo uma promessa silenciosa de que nada, nem
ninguém faria com ela o que fizeram à sua mãe. Só se fosse sobre
meu cadáver.

Olhando-me enquanto me acomodava junto a Eva na cama


para que ainda pudesse estar perto de sua filha, os olhos de Reese
se iluminaram horrorizados.

— Oh, droga. Ela não é.... Ele não é o pai de Skylar, é? O tio
Shaw?

— Não — Eva respondeu imediatamente. — Alec é seu pai.


Não que ele seja um candidato muito melhor.

— Tem certez...?

— Sim, Ree Ree. Tinha dezesseis anos a última vez que


Bradshaw... apanhou-me desprevenida.

Reese engasgou e bateu a mão sobre a boca. Então se


aproximou para sentar na cama e abraçar Eva. Soluçando e
incapaz de parar de se desculpar, fez uma bagunça sobre Julian e
Sininho.

— Sinto muito, E. Se eu soubesse... eu.... Eu estaria ali para


você. Teria ido para Flórida e te levado para longe daquela casa.
Jesus, não posso acreditar que até a tia Mad... — Ela negou com a
cabeça e chorou mais um pouco.

Olhei para Mason, que estava triste e silencioso. Apoiado


contra a parede, olhava as primas se abraçando com triste empatia,
como se entendesse a difícil situação de Eva. Lembrei-me da visita
da mulher ao bar, e a palavra pela qual o pai de Eva o chamou.
Prostituto.

Quando me viu estudando-o, desviou o olhar, culpado, sua


garganta se mexendo enquanto engolia.

Reese queria ficar, então agarrou-se a Eva, que falou

— Eu realmente quero ficar sozinha com as crianças agora.


Eu... eu só preciso de um pouco de espaço.

Sua prima finalmente se afastou, mas pelo seu rosto pude


notar que não queria ir. Deu um último abraço na Eva, e Mason me
chocou quando se aproximou para abraçar Eva também.

— Isto explica muitas coisas — ele disse, enquanto se


afastava.

Eva sorriu com tristeza.

— Acho que compartilhamos mais semelhanças do que


pensou, não é?

Ele não respondeu, só pegou a mão de Reese e saíram do


apartamento.

Quando a porta se fechou atrás deles, capturei o olhar de Eva.

— Está louca se acha que vou te deixar sozinha neste


apartamento agora.
Não queria ser grosseiro, mas precisava desabafar. De jeito
nenhum a deixaria sozinha.

Ela sorriu suavemente e apoiou a bochecha no topo da cabeça


de Julian.

— Não quero que vá. Simplesmente não podia dizer isso na


frente de Reese. Poderia ferir seus sentimentos se desconfiasse que
queria você aqui e não ela.

Meu olhar atravessou o dela. Mesmo sabendo que seu


raciocínio talvez não tivesse nada a ver com quem era mais
importante para ela, meu peito se encheu de um orgulho louco.
Mas eu tinha que saber.

— Porque você sabia que eu não faria perguntas, não é?

Ela mordeu o lábio e baixou o olhar antes de assentir.

Assenti também. Não importava por que ela me queria, estava


feliz por me querer. Levantei-me e coloquei Skylar no berço. Então
tirei Julian de seus braços e o coloquei lá também. Os dois estavam
acordados ainda, mas deitaram quietos por um minuto.

Voltando para Eva, estendi minha mão.

— Vamos te limpar.

Ela franziu a testa, confusa, antes de olhar para baixo e ver


como sua camiseta estava rasgada. O sangue seco grudava em sua
pele de um arranhão no braço, e no dorso de suas mãos havia mais
marcas. Concordando, pegou minha mão.

Levei-a ao banheiro e a fiz sentar na beira da pia. Então


molhei uma toalha e primeiro limpei o corte em seu lábio, depois o
arranhão em seu ombro, suas mãos, e ao longo de seu pescoço,
onde sua blusa rasgada revelava marcas mais profundas, inclinei-
me para beijar o pior corte antes de aplicar delicadamente uma
bandagem.

Ela respirou fundo e me olhou.

— Você está sendo muito legal com tudo isto.

Bufei, divertido.

— Você que disse para eu me acalmar.

— Então realmente não se sente tão tranquilo quanto parece?

Neguei com a cabeça e estudei o hematoma formando-se em


sua testa.

— Nem sequer um pouco.

— Bom, disfarça muito bem.

— Obrigado.

Chegando à parte de trás de sua cabeça, onde seu pai a


empurrou contra a geladeira, estremeci. Havia um galo de um
tamanho decente ali, mas ao menos a pele não se abriu.

— E quanto a você? — Perguntei finalmente, estudando seus


olhos em busca de sinais de pupilas dilatadas. — Está bem?

— Oh, já sabe... — Encolheu os ombros e levantou uma mão,


indiferente. — Reese, a única pessoa que nunca quis que soubesse
tudo isto, acaba de saber, por isso... não. Não, não estou bem. —
Seu queixo tremia e mordeu o lábio para parar.

Assenti, compreendendo totalmente. Ela atuava tão bem


quanto eu.

— Então... seu pai?

Olhando para longe, inspirou profundamente.


— Ele não é realmente meu pai. Na noite em que descobriu
pela minha mãe que eu era filha de outro, foi a primeira em que, já
sabe, visitou meu quarto.

Engoli a bílis que subiu até minha garganta, e expirei forte.


Sacudindo a cabeça, eu disse

—Não me importa se era de sangue ou não, ainda era seu pai.


— Ainda era um filho da puta doente e asqueroso.

Ela abaixou a cabeça e encolheu os ombros se abraçando.

— Eu sei. — Sua voz era muito baixa, e sua expressão


derrotada. Esta não era minha forte e atrevida Sininho.

Odiava o que aquele bastardo fez e ainda fazia com ela. Minha
respiração acelerou. Levantei as mãos para minha cabeça e enterrei
meus dedos em meu cabelo enquanto fiquei novamente furioso.

— Dane-se, Eva. Não posso lidar com nisso, sabendo o que


você passou e não poder fazer nada a respeito, porque já está
aconteceu. Quero machucá-lo. Quero caçá-lo e machucá-lo tanto.
Se pudesse apenas pôr minhas em seu pescoço.... — Levantei meus
dedos tensos e dobrados, desejosos de apertar.

Eva pegou minha mão e levou para sua boca.

— Respire — disse enquanto beijava o sangue seco em meus


dedos.

— Não posso — suspirei. — Tudo o que faço é vê-lo te


prendendo na cozinha e....

Ela me beijou.

Sua boca contra a minha. Era... tudo. Fechei os olhos e


afundei nela, segurando seu rosto e levantando o queixo para que
nossos lábios se alinhassem perfeitamente. Pôde ter sido seco e com
a boca fechada, mas mesmo assim foi um beijo perfeito e tirou
todos esses sentimentos que tinha por ela do fundo de minha alma.

— Melhor? — Ela perguntou enquanto se afastava lentamente.

Mantive os olhos fechados, revivendo esse beijo em minha


cabeça enquanto me balançava para frente.

— Humm, não acho. Talvez devesse tentar me beijar um pouco


mais.

Dando uma risada rápida, apoiou sua bochecha em meu


pescoço e me abraçou.

Acariciei seu cabelo, e a puxei mais perto quando o meu


desejo de a proteger aumentou.

— Se o encontrar de novo perto de você, vou matá-lo. Não


poderei evitar.

— Pick, é sério quando disse que ele pode te destruir.


Descobrirá todas as suas fraquezas e encontrará uma maneira de
usá-las contra você.

Lembrando de como ele já sabia que eu era órfão, não duvidei


dela. Talvez fosse um imbecil muito poderoso. Mas saber disso não
me assustou. Pressionei meus lábios na têmpora de Eva. — Você é
minha única fraqueza.

Ela suspirou como se soubesse que não conseguiu me


convencer a ponto de me intimidar, não até que Julian e Skylar
começaram a chorar no quarto. Então se afastou e me deu um
olhar firme e penetrante.

— Tem certeza disso?


Meus olhos se arregalaram enquanto meu peito afundava ao
redor de meu coração com medo instantâneo.

— Ele não faria isso. São só bebês.

Sua risada era amarga.

— O quê? Um homem que começou a violar a filha quando ela


tinha doze anos? Oh, acredito que o faria. Ele usa cada recurso
disponível contra seus inimigos, para acabar com eles e conseguir o
que quer. Inclusive bebês inocentes.

Fechei os olhos e apertei os dentes.

— Doze? — Sussurrei, inclinando minha cabeça. — Você tinha


só doze anos? Jesus, Sininho. Essa informação não vai me impedir
de sair neste momento e encontrá-lo para arrancar sua cabeça
inútil.

— Ele pode fazer que perca Julian. — Estalou os dedos. —


Assim, fácil, fácil.

Meus olhos se abriram. Quando olhei para cima, estudou-me


por um longo momento antes que o delirante jogo de intimidação se
estabelecesse. Exalando, caí sobre a tampa fechada do vaso
sanitário e enterrei o rosto em minhas mãos.

— Droga. — Sentia-me enjoado. Minha cabeça latejava como


se alguém estivesse batendo com um martelo. Juro que até
escutei...

Levantei a cabeça para perceber que alguém batia na porta,


não em minha cabeça. Na porta da frente. E com força.

Oh, se aquele maldito tivesse voltado, estaria morto. Não podia


usar Julian contra mim estando morto.
Mas a voz que veio de fora do apartamento, disse

— Polícia. Abram.

Droga. Não pensei nisso.

Eva se sacudiu surpresa, com os olhos arregalados.

— O que é isso?

Ela obviamente não estava acostumada ao mesmo tipo de


vizinhança que eu. Dizendo uma maldição em voz baixa, fiquei em
pé.

— Os vizinhos devem ter chamado a polícia outra vez.

Seus olhos abriram ainda mais.

— Outra vez?

Dei um suspiro de cansaço e alisei seu cabelo com a mão


antes de beijar o hematoma em sua testa.

— Cuide dos meninos. Eu me encarrego da polícia.

Ela assentiu e saiu do banheiro. Fui pelo corredor, desejando


que a noite fosse como planejei inicialmente. Possivelmente
estariam servindo nossa comida neste instante, e o brilho suave das
velas criaria um ambiente romântico enquanto um garçom voltava a
encher nossas taças.

Mas não, em vez disso estamos nessa situação. A realidade é


uma droga.

— O que aconteceu aqui esta noite? — Perguntou o policial


que me prendeu assim que abri a porta. Seu parceiro, que me deu o
aviso "amigável" da última vez, entrou quando fiquei de lado em
silêncio.
— Acho que te adverti sobre o que aconteceria se tivéssemos
que voltar aqui, senhor Ryan. — Ele parecia decepcionado, o que
me incomodou mais que o desprezo degradante de seu parceiro
mal-humorado.

Abri a boca para responder, mas Eva apareceu na sala,


trazendo os bebês. Eles olharam para o galo inchando na testa dela,
e sua blusa ainda rasgada, e isso foi a gota d’água.

O policial mal-humorado me agarrou pelo braço e levantou as


minhas mãos para olhar os nódulos de meus dedos. Estavam
machucados por ter batido no pai de Eva e logo depois na geladeira.
Ele suspirou com conhecimento antes de torcer meu braço e me
virar até que eu estava de costas para ele. Depois de agarrar meu
outro braço e mantê-los juntos, tirou as algemas de seu cinto.

Dane-se.

— Meu Deus. — Cambaleando, Eva correu para nós. — O que


você está fazendo?

Quando o oficial mais amável se colocou em seu caminho com


as mãos para bloqueá-la, ela parou e encontrou com meu olhar por
cima do ombro, seu choque e confusão criou um nó em minha
garganta pelo remorso. Que tipo de porcaria de vida lhe dava ao
trazê-la aqui para cuidar de meu filho?

— Eles acham que te bati — expliquei.

Ela suspirou.

— Isso é uma loucura. — Virando para o policial bom, bateu


seus longos e bonitos cílios. — Senhor, está cometendo um grande
engano. Pick nunca, nunca me machucaria nem a nenhuma
mulher.
O policial que me segurava riu.

— É por isso que já tem um registro por lesão corporal e


agressão?

A boca da Eva se moveu, mas não tinha uma resposta pronta.


Seus grandes olhos azuis mostraram confusão e viraram em minha
direção antes de voltar para o policial bom.

— Se foi detido devido a uma briga, então foi em defesa


própria ou de outro alguém, mas acho que foi pela segunda opção.
Conheço este homem. — Apontou com seu queixo em minha
direção. — E é o homem mais incapaz de bater em uma mulher que
você vai encontrar.

— Então, você diz que ele não lhe fez isso?

Quando o policial apontou seus arranhões e contusões, ela


vacilou como se lembrasse do que lhe aconteceu, e gemeu.

O policial que me segurava levantou meus dedos destroçados e


acrescentou

— Pense antes de mentir, senhora.

Ela franziu os olhos e logo levantou o queixo com ar de


superioridade.

— Como eu disse, Pick só se mete em brigas para defender


alguém. Assim espero que o desculpem por bater no homem que
entrou em nosso apartamento e tentou... — parou e engoliu antes
de acrescentar com voz trêmula — me violentar. Pick foi meu herói,
não meu torturador. Ele me salvou.

— Alguém invadiu, hein? — Perguntou o policial mal-


humorado, sem acreditar em nada.
Ela não deve ter gostado do tom de sua voz, porque lhe
espetou

— Isso foi o que acabei de dizer, não foi?

— Sininho — adverti. Se não tomasse cuidado, complicaria


mais as coisas. — Calma, baby.

Ela se virou para mim, seus intensos olhos azuis brilharam.

— O quê? Ele está sendo um completo idiota. Porra, por que


vão te prender quando nós somos as vítimas aqui?

— Se alguém entrou em sua casa, então por que não nos


chamaram em vez de permitir que os vizinhos reclamassem?

— E por que não há sinais de ter forçado a entrada? — O


policial mal-humorado fez um gesto para a porta aberta do
apartamento.

O olhar de Eva caiu na maçaneta da porta que estava


perfeitamente intacta. Seus olhos ficaram frágeis e horrorizados.
Meu estômago se contorceu, irritado porque esses imbecis a faziam
reviver o que aconteceu.

— Estávamos ocupados tentando acalmar os bebês depois que


Pick o expulsou. Vocês chegaram antes que tivéssemos a chance de
ligar. Aliás, obrigada por virem rápido.

Nenhum dos policiais se importou com seu agradecimento


irônico.

— E a maçaneta da porta? — Incitou o policial mal-humorado.

Do outro lado do corredor, a porta da vizinha se entreabriu


uns centímetros.
— Ele usava um terno de marca — disse uma voz tímida lá de
dentro.

O policial bom deu um passo para o corredor.

— Quem?

— O cara que apareceu usava um terno muito legal. Ele bateu


na porta e ela abriu.

Apertei os dentes, desejando que a vizinha bisbilhoteira


fechasse a porra da sua boca. Mas o relato da testemunha
continuou do outro lado do corredor.

— Ela disse para ele ir embora e tentou fechar a porta na sua


cara, mas ele pôs o pé e a parou, e finalmente conseguiu entrar.

Respirei bruscamente.

— Esse filho da puta — murmurei, com vontade de encontrar


de novo o pai de Eva. E matá-lo pelo menos três ou quatro vezes.

— Ele só estava lá dentro há alguns minutos, quando algo


bateu contra a parede uma vez e ouvia-se gritos. Então este chegou
em casa. — Um dedo apareceu na fenda da porta, apontando para
mim. — Veio um casal com ele. Entraram todos. Seguiram mais
gritos e pancadas. Então o cara chique saiu mancando, segurando
o lado com um braço e suas calças com a outra mão porque
estavam desabotoadas. O outro casal se foi uns minutos depois.
Pareciam tristes.

De repente, os policiais se viraram para Eva.

— Você o conhecia?

Ela hesitou antes de sacudir a cabeça. Então me olhou, seus


olhos implorando que a ajudasse.
— Nunca o vi antes em minha vida. Ele tinha uma cicatriz
antiga na bochecha — eu disse, solícito.

Eva moveu os bebês em seus braços como se estivessem


ficando pesados, mas concentrou sua atenção em mim.

— Algo mais? — Perguntou o policial bom, tirando uma


caderneta de seu bolso da frente.

Encolhi os ombros, sustentando o olhar de Eva. — Como disse


a vizinha, ele usava um terno de marca. Não notei muito mais, só
que era branco, perto de cinquenta anos e cabelo grisalho.
Francamente, não prestei muita atenção aos detalhes, pois estava
ocupado tentando me controlar para não matá-lo por tocá-la.

— Pick salvou minha vida esta noite. — Eva estremeceu e


beijou o topo da cabeça de Julian antes de aconchegar sua
bochecha contra a de Skylar. — E talvez também a vida de meus
bebês. Esse cara... tinha uma expressão louca no olhar.

A partir daí, fomos considerados inocentes. Os policiais


fizeram mais algumas perguntas e eu deixei que Eva respondesse. E
ela correu para mim assim que tiraram as algemas. Peguei Julian
de seu braço e abracei nós quatro juntos.

O policial mal-humorado saiu primeiro. O outro demorou um


segundo mais, olhando Eva antes de olhar para mim.

— Uma mudança para melhor, hein?

Meus lábios tremeram enquanto olhava para Eva.

— Porra, sim, eu fiz. E a outra deixou seu filho comigo, assim


consegui o melhor dos dois mundos.

O policial riu e saiu do apartamento.


— Não se esqueçam de chamar se o cara aparecer de novo.

— Chamaremos. — Depois de fechar a porta atrás dele, apoiei


minhas costas contra ela, suspirei e encarei Eva.

— Bom, droga — disse ela, ninando Skylar em seus braços. —


Isso foi sem dúvida uma primeira vez para mim.

Não tinha nem ideia de por que pensei que era engraçado, mas
joguei minha cabeça para trás e ri.
EVA

Não levamos os bebês para cama até quase uma hora depois
de sua hora habitual de dormir. Peguei Pick me olhando muito,
como se esperasse pelo momento em que por fim deixaria que o
estresse de toda a noite me afetasse e eu cairia em pedaços. Mas
consegui me manter firme.

Quando finalmente deslizamos sob as cobertas, um de frente


para o outro no brilho da luz da noite, coloquei as mãos sob meu
rosto e o olhei enquanto ele fazia o mesmo, examinando-me.

Tinha tanta certeza que a próxima vez que ele tivesse uma
noite livre, por fim chegaríamos em algumas delícias físicas... Mas
infelizmente, meu pai afogou essa ideia por completo. Pick estava
muito assustado para sequer me tocar, o que me fez perguntar
como antes consegui um beijo dele no banheiro.

Um suave sorriso iluminou seu rosto.

— O que está pensando?

Sorri de volta.

— Pensava em quão doce você foi em conseguir uma babá


para que pudéssemos sair esta noite.

Ele suspirou.

— Sim, bem, lamento que não deu certo. Acho que é o que
ganho por fazer planos.
Estiquei a mão para acariciar sua bochecha. Então endireitei o
piercing em sua sobrancelha.

— Foi a ideia que me impressionou.

Continuou me observando enquanto eu fazia carinho,


penteando as mechas rebeldes de seu cabelo.

— Na verdade íamos sair para comemorar — ele disse. — Hoje


recebi uma carta. Meu divórcio finalmente saiu.

Ofeguei surpresa.

— Sério? É um homem solteiro de novo?

Assentiu, mas ficou com um olhar estranho. Quase podia


jurar que era culpa.

— Sei que foi muito presunçoso de minha parte querer te levar


para jantar no mesmo dia que deixei de estar casado. Sinto muito.
Eu não...

De repente, percebi por que se sentia tão mal.

— Patrick Jason Ryan, — murmurei uma bronca, provocando-


o enquanto sentei — planejava transar comigo esta noite?

Antes que pudesse me deter, voei para abrir a gaveta da


mesinha de cabeceira para encontrar uma caixa de camisinhas
nova dentro.

Pick sentou bruscamente, parecendo ainda mais culpado que


antes.

— Eva...

Peguei a caixa e a olhei.

— Ahh, e ainda com textura para o meu prazer. Que


consideração.
Mas isso não parecia aliviar seu remorso.

— Não quis...

Inclinei-me para beijá-lo, calando-o. Tinha sabor de surpresa e


maçã, que comeu antes de vir para cama. Abri a boca para saborear
mais. A ponta de sua língua tocou a ponta da minha e ele gemeu,
começando a se aproximar antes de recuar de repente.

— Talvez não devêssemos — disse, embora sua respiração já


fosse superficial e rápida. — Não depois do que aconteceu esta
noite.

Mas agarrei sua mão. — Sabe o que ele me disse uma vez?
Disse que não importava com quantos meninos ficasse, nunca seria
capaz de apagar seu toque. Que tinha me manchado para sempre.

O rosto do Pick ficou vermelho de raiva.

— Filho da puta — rosnou entre dentes antes de me puxar


para ele e pressionar sua testa na minha. — Ele mentia, baby. Não
está manchada. Por nada.

Enganchei minha mão ao redor de sua nuca, com um olhar


suplicante.

— Mas ele me fez acreditar. Nunca... desfrutei de ter


intimidade com nenhum menino. Não até você. Eu só me desligava
e praticamente apagava cada encontro da minha cabeça. Porém,
quando estou com você sinto tudo. Sou bonita, amada e limpa.
Preciso que faça me sentir assim agora. Preciso que prove que esse
bastardo está errado.

Quando apertei a caixa de camisinhas em sua mão, ele fechou


os olhos e gemeu
— Eu te amo tanto. — Seus dedos tremiam quando tocou
minha bochecha.

— E eu te amo, Patrick. Agora me faça sua Sininho.

Ele abriu os olhos, e a confusão em seu rosto me disse que


não sabia como responder, já que mandei nunca me chamar assim
de novo.

— Você me chamou de Sininho esta noite quando os policiais


vieram — disse. — E antes disso no banheiro.

— Eu... — Engoliu em seco e balançou a cabeça. — Sinto


muito. Simplesmente... escapou. — Fechou os olhos brevemente
antes de me olhar arrependido. — Não acontecerá de novo. Juro.

Balancei a cabeça.

— Não, tudo bem. Foi maravilhoso. Na verdade senti


saudades. — Aproximando-me dele, passei os dedos por seu rosto,
pelos piercings de seu lábio e pela tatuagem das raízes da árvore
em seu pescoço, raízes porque ele sempre quis uma família e um
lugar ao qual pertencer. Saber que eu era sua raiz e o lugar ao qual
pertence, fez-me sentir completa.

— Não percebi na noite em que soube sobre a Sininho, a


honra que era ser ela. Porque não entendia que não só seria um
sonho feito realidade para você, mas um também para mim. Você
me deu coisas que nunca soube que precisava ou queria, mas
acabaram sendo as mais preciosas que tive. Meu trabalho, esta
família... — Apontei para o berço. — Um amor que me completa.
Tudo isto é graças a você. Sinceramente, só posso pensar em mais
uma coisa que preciso de você, e minha vida será perfeita.
Quando passei minha mão por seu peito nu, parando na
tatuagem sobre seu coração e logo indo mais abaixo, ele segurou
meu pulso com suavidade.

— Se fizermos isto esta noite, vou parar de te pagar por ser a


babá. Porque isso seria estranho. Seria mais como uma...

Quando ele não conseguiu arrumar um termo apropriado,


sorri.

— Mais como uma esposa?

Seus olhos brilharam.

— Isso te assustaria?

Provavelmente Reese enlouqueceria se soubesse disso. Diria


que fiquei louca, que avançávamos muito rápido, que precisava ir
com calma e pensar nisto. Mas eu já sabia que era a solução
perfeita para nós.

— Eu não estou nada assustada. Agora... — Segurei o cós de


sua calça de pijama e comecei a abaixá-la. — Podemos avançar
para a principal diversão da noite, ou vai resistir a mim para
sempre?

Ele suspirou e estremeceu quando peguei seu pênis duro e


inchado na minha mão. Seus olhos se fecharam e rosnou
entusiasmado.

— Está totalmente certa de que quer fazer isso? — Perguntou


com voz tensa, seu domínio sobre si mesmo quase nenhum.

Pisquei, insegura de repente, mas apenas porque sua


resistência me incomodava.
— Só se estiver bem em ter uma garota que cresceu sendo
abusada por seu pai.

Ele aspirou bruscamente e rolou para mim, soltando-se do


aperto que tinha nele.

— Não tem nada a ver com isso. Não está suja, Sininho.
Absolutamente. Ele é o único imundo. Tenho medo de que esteja
tentando apressar isso para provar algo que não precisa ser
provado.

Sorri ante sua declaração inflexível, ainda mais segura que


nunca do que eu queria dele. Curvando minhas mãos ao redor de
seus ombros, inclinei-me para beijar minha tatuagem favorita.

— Acabou de me chamar de Sininho. — Levantando meu rosto


para sussurrar em seu ouvido, eu disse — faz de novo. — E lambi o
piercing de seu mamilo antes de pegá-lo entre os dentes.

— Porra — grunhiu, girando-me sobre minhas costas para


deitar sobre mim. Então, disse — Sininho, — em uma voz suave
enquanto segurou minha bochecha e olhou em meus olhos —
minha Sininho. Minha alma gêmea.

Ele me beijou, com a boca fechada, seus lábios gentis e


perfeitos. Então, balançou sua ereção contra minha coxa e as
coisas ficaram ainda melhores.

Tirou minha camisa, e tirei suas calças. Ele segurou meus


seios pesados através do sutiã, e estremeci com sua intensa
atenção.

— Dane-se, quero chupá-los com tanta vontade. — Girou o


indicador ao redor de meu mamilo, e como já os sentia cheios por
causa da amamentação, ainda endureceram mais. — Quando os
bebês terminarem com eles, serão meus. Você está entendendo?
Passarei um dia inteiro com minha boca em toda esta beleza.

Gemi e arqueei as costas, querendo sua boca ali agora. — Pare


de me provocar e ponha sua boca logo, antes que eu pegue fogo.

— Mmm. Mandona. Eu gosto disso.

Ele se inclinou para mordiscar meu peito, logo abaixo da


borda do sutiã.

Agarrei seu cabelo grosso.

— Você continua me provocando.

— E você sendo mandona. — Olhando para mim, piscou. —


Relaxe, Sininho. Eu cuido disso.

Depois de me dar um sorriso travesso, tirou minha calcinha,


enterrou seu rosto entre minhas coxas, respirando fundo e me
cheirando, antes de começar a me lamber.

Ao primeiro toque de sua língua, arqueei as costas, ofegando


pelo choque do prazer. Não podia dizer o que fazia de diferente, mas
me senti melhor do que nunca. Agarrei um punhado dos lençóis
que tinha debaixo de mim. Ele abriu mais minhas pernas, fazendo
um lugar para si mesmo. Logo lambeu um pouco mais abaixo.
Meus olhos incendiaram pela surpresa quando meu centro se
apertou com o prazer travesso e ambicioso. Mas então se moveu de
novo, antes que eu pudesse gozar. Passou sua língua pelo meu
clitóris, e algo inesperado e duro o empurrou enquanto colocava um
dedo dentro de mim. Comecei a estremecer e gemer, já estava tão
perto.
Ele cobriu minha boca com sua mão antes que aqueles dedos
provocadores de clitóris abandonassem meu canal ardendo de
desejo.

— Shh — alertou. — Não trocamos o berço de lugar. Se eles


acordarem novamente esta noite, nunca chegaremos a melhor
parte.

Eu não gostei disso. Queria falar quão bem me sentia, em voz


muito alta. Incapaz de me controlar, mordi seu dedo.

Praguejando, tirou o dedo mordido de meus dentes e


abandonou minha buceta para subir por meu corpo. — Maldição,
mulher. Se for ser uma mordedora, acho que terei que te calar de
outro modo. Envolva seus dentes em volta disso.

Ele me beijou forte e demoradamente, sua língua abafando


qualquer som que fiz enquanto ia fundo em minha boca. Quando
senti um tilintar de metal, puxei de repente

— O que...?

Ele balançou as sobrancelhas e tirou a língua para me


mostrar seu mais novo piercing.

— Surpresa. Pus no dia seguinte que você falou.

Oh, mãe de Deus. Agarrei os dois lados de seu rosto e o puxei


de volta para mim, brincando com seu piercing na língua até que
teve que recuar e se acalmar, ofegando muito e me olhando como se
não pudesse acreditar que eu estava realmente aqui.

Localizando a caixa de camisinhas ao nosso lado, abriu-a. Eu


me senti obrigada a lhe ajudar a colocar, mas de repente ele era o
único fazendo todos os ruídos, gemendo profundamente enquanto
eu desenrolava o látex sobre seu longo e vibrante pau duro.
— Ok, acho que nós dois precisamos ser silenciosos — disse
antes de me beijar e encaixar seus quadris entre minhas coxas.
Senti a cabeça de seu pau tocar em minha entrada. Eu estava tão
molhada e ardendo de desejo, que me arqueei nele.

Ele segurou meu quadril para me firmar.

— Isso mudará tudo — afastou-se de minha boca para dizer.


— Uma vez que esteja dentro de você, é minha, sou seu e estamos
juntos. Não haverá amizade, nem namoro suave. Vai ser tudo ou
nada.

Olhei-o nos olhos. — Então me faça seu tudo.

Seus olhos se aqueceram.

— Você sempre foi. — Então empurrou dentro de mim.

Nenhum dos dois abafou os sons. Doce engano. Ofegamos


juntos, compartilhando nosso choque quando nos olhamos
boquiabertos e atônitos pela força de nosso prazer.

— Oh, porra — sussurrou, parecendo atordoado. — É isto.


Essa é a sensação que sempre procurei.

No berço, um dos bebês se mexeu. Pick amaldiçoou em voz


baixa e congelou dentro de mim.

— Não, não, não — sussurrou, enquanto baixava seu rosto


para enterrá-lo em meu pescoço. — Por favor, não agora.

Alguém deve ter escutado sua súplica porque os dois bebês


continuaram dormindo. Suspiramos aliviados.

— Estamos realmente movendo esse berço — resmungou —


amanhã.
Eu ri e ele me beijou para me calar. Então recuou seus
quadris, só para investir de novo dentro de mim. Tive que morder
seu lábio para não gritar. Ele se sacudiu com risadas silenciosas.
Bati em seu traseiro como castigo por rir de mim, só para
amaldiçoar quando o golpe de minha mão contra sua carne fez um
estalo mais forte no silencioso quarto. As sacudidas no peito de Pick
aumentaram.

— É como se estivéssemos tentando não sermos pegos por


nossos pais — sussurrou no meu ouvido. — Só que ao contrário.

Isto era, sem dúvida, como se fosse uma primeira vez para
mim. Rindo e me divertindo no meio do sexo alucinante. Mas a dose
de endorfina parecia fazer tudo ficar melhor quando se moveu para
ir mais fundo. Envolvi minhas pernas ao redor de seus quadris para
segurá-lo ali por mais tempo.

— Você me faz tão feliz — murmurei impressionada.

— Esse é o plano, Sininho. Ele beijou meu pescoço e deslizou


as mãos por minhas coxas, antes de apertar minha bunda.

Deus, isso é.... Uau. Oh, sim. Bem aí. Comecei a gemer
novamente, o que nos deixou rindo e gemendo juntos, e nos
beijamos para nos silenciar. Amei cada segundo. Amei a sensação
de sua pele quente deslizando contra a minha, e sua carne dura
enterrada em mim, sua boca na minha enquanto nossas línguas
duelavam por mais, e seus olhos castanhos brilharam quando
encontrou meu olhar e sorriu.

O desejo em mim aumentou até que não podia sequer lembrar


que eu estava rindo segundos antes, porque agora agarrada a ele
tentava não gozar tão rápido. Queria que durasse, só um pouco
mais, mas meu corpo começou a apertar e tremer. Ele me beijou
mais forte e investiu em mim mais rápido e duro. Demos as mãos e
apertamos nossos dedos com força quando gozamos juntos.
EVA

Duas semanas depois...

Pick falou sério sobre não pagar mais por meu trabalho de
babá. Em vez disso, ele me deu um novo celular incluso em seu
plano e comprou um carro para eu usar. Funcionava muitíssimo
melhor que o de Reese. Nós realmente éramos como um casal
casado, e estou certa que se tivéssemos chance, Pick e eu
transaríamos como dois coelhos.

Descobri que aprendi a gostar de sexo, logo depois de me


tornar mãe e nunca mais ter tempo para isso. O que era pior,
Skylar teve febre, o que me assustou muitíssimo. Depois de duas
visitas ao médico e meia dúzia de opiniões diferentes das
enfermeiras e outras mães, por fim descobrimos que ela tinha uma
simples dor de garganta.

Pô-la em quarentena longe de Julian era quase impossível,


mas deu a Pick um motivo para levar o berço para o outro quarto
para que Sky e eu pudéssemos dormir lá, enquanto ele e Julian
ficavam no nosso.

Nunca pensei que ter um filho doente fosse tão assustador.


Cada tosse de minha filha me deixava louca de preocupação. Estava
tão feliz por ter Pick a meu lado em tudo. Seu apoio incondicional
às vezes apertava meu peito pelo tanto que ele me amava.
Mas sério, fazia três dias desde que tive minha dose de
perversidade com ele, e era muito tempo para meu gosto. Esta
noite, não me importava o quão tarde chegasse em casa do bar, eu
ficaria esperando, saltaria sobre seus ossos sexys e iria selvagem
nele, porque eu estava definitivamente excitada.

Era quase hora de colocar os bebês para dormir, e nós


terminávamos minha nova rotina de ioga noturna. Deixei Skylar e
Julian algum tempo de barriga para baixo para que fossem
aperfeiçoando a posição de reverso17, e eu estava na pose de “V”
invertida, quando uma chave na fechadura me fez gritar,
assustada.

Sabia que era muito cedo para ser Pick, então imediatamente
pensei no meu pai. A porta entreabriu antes que eu percebesse que
quem quer que fosse, tinha uma chave. Portanto, não era Bradshaw
Mercer, graças a Deus. Comecei a me perguntar por que Pick já
estava em casa quando uma ruiva de aspecto rude entrou.

— Ei! — Fiquei em pé, pronta para arrastar a intrusa para o


corredor pelo seu desgrenhado cabelo vermelho. Ela parou
bruscamente quando me viu e franziu os olhos como se eu é que
não devesse estar ali.

— Quem cacete é você?

Pisquei. Ora, não era eu quem deveria perguntar isso? E como


uma completa estranha tinha a chave do nosso apartamento? Por
que entrava como se fosse a dona do lugar?

— Quem é você? — Perguntei de volta.

— Sou Tristy. Eu moro aqui.

17
Minha boca se abriu. Oh, droga. Não era isso que eu esperava
ouvir. Mas... uau.

Esta era a esposa de Pick? Quero dizer, ex-esposa. Esposa


anulada? Ou o que fosse.

Meu primeiro pensamento ciumento e egoísta foi que eu era


muito mais bonita. Mas isso estava errado. Errado, errado, errado.
Entretanto, não pude evitar.

— Onde está Pick? — Quando olhou em volta só para focar em


Julian, fiquei de maneira protetora na frente dele. Feia ou não, não
gostei de seu olhar em meu menino. Um pânico repentino disparou
por mim quando percebi que na verdade não era meu filho, certo?
Era dela.

Oh merda. Essa era a verdade.

Dando um brilhante sorriso, e respirando fundo, eu disse

— Olá, sou Eva. A babá.

Seu olhar voltou para mim, então estreitou os olhos.

Assim acenei animada.

— Julian é adorável, um perfeito anjo...

Sua risada zombeteira me cortou.

— É a babá, porra nenhuma. Sei quem realmente é.

Quando deu um passo intimidante para meu lado, levantei as


sobrancelhas. Se pensou em me ameaçar, era melhor tomar
cuidado. Não levo bem as ameaças.

— Você é a porra do motivo do meu marido pedir a anulação


do casamento. Por sua causa ele quer tirar meu bebê de mim e
adotá-lo. Assim os dois podem ter sua pequena família perfeita
juntos... com meu filho?

Bom, quando colocava dessa maneira, parecia ruim. Só que o


queríamos porque amávamos Julian. Ela, obviamente, não. Nem
sequer perguntou por ele nem tentou pegá-lo desde que entrou, já
que estava muito ocupada sendo uma cadela.

Colocando minhas mãos na cintura, mudei de atitude e lhe dei


um olhar malicioso. Se ela queria ter uma conversa nesse nível, ok,
teríamos. Eu estava louca para deixar meu lado de mãe super
protetora sair e dar uma bofetada verbal nessa estúpida.

— Tirar seu bebê? — Repeti com uma risada irônica, dei um


passo bem na sua frente. — Garota, você o abandonou aqui.
Deixou-o sozinho em uma casa sem supervisão de um adulto. O
lugar poderia ter incendiado, ele poderia cair e morrer, poderia ser
assassinado por algum ladrão que entrasse na casa. Qualquer
coisa. Mas, você levou isso em conta? Não. Estava muito ocupada
sendo uma maldita, desalmada e desagradável vaca.

Ok, talvez eu fosse um pouco brusca, mas estava muito


zangada para pensar racionalmente.

— Você não tem um bebê. Você não merece este bebê.

Sim, eu me senti muito bem e animada lhe dizendo tudo o que


morri de vontade de dizer por semanas. Sentia-me como se
estivesse saltando em meus pés e dobrando meu pescoço de um
lado a outro, como algum tipo de boxeador que se preparava para
um grande combate. Estava prestes a falar sobre como tratou Pick
como um idiota, quando seu rosto ficou arroxeado.
— Já chega. Não sei quem porra você é, mas eu dei à luz a
essa criança, e vou levá-lo para longe de você.

— O quê? — Oh, droga. Isso não deveria acontecer. — Não.


Espera. — Quando deu a volta em mim, aproximando-se dele, fiquei
em seu caminho e agarrei seu braço. — Não pode fazer isso.

Meu estômago embrulhou e lágrimas brotaram em meus


olhos. Tristy soltou seu braço de mim e me empurrou para o lado.
Quando tropecei para trás, ela pegou Julian bruscamente, que
começou a chorar imediatamente.

Pulei na frente da porta e a bloqueei com meu corpo.

— Espera, espera, espera. Sinto muito. Vamos falar sobre isso.

— Sai do meu caminho, cadela! — Seus olhos eram selvagens.


Eu não tinha certeza se ela estava sóbria. Engoli e invoquei a todos
os nervos de meu corpo para me acalmar. Mas, oh meu Deus,
nunca ouvi o Julian chorar assim. Skylar também começou a
chorar, e já sabia que eu também tinha lágrimas escorrendo. Só
queria pegar os meus dois bebês e chutar este pedaço de lixo para
fora da minha casa.

— Só pare e pense um pouco. Pense no que está fazendo a


Pick.

Ela piscou, afetada por seu nome. Então, insisti nesse ponto.

— Ele esteve ao seu lado a vida toda. Ajudou sempre que


precisou dele, e sabe que sempre te ajudará.

Agora também seus olhos se encheram de lágrimas. — Oh, por


isso queria a anulação? Por isso quer adotar Julian? Para me
ajudar? Você e aquele bastardo devem ser bem unidos se ele te
contou tanto sobre mim. Acho que fez isso só para continuar
transando com você.

Apertei meus dentes, chateada que ela pudesse torcer o que


Pick e eu tínhamos em algo tão pervertido. Mas tive que me acalmar
e pensar em Julian.

— Está enganada. Pick pensa em você. Ele entende que


precisa de sua liberdade, e está tentando lhe dar isso, quer cuidar
de seu bebê por você. Deixou-o aqui por isso, não foi? Porque sabia
que Pick era a melhor pessoa para ele. E olhe, cuidou dele, não?

Apontei para Julian, mas ele gritava tanto, que não acho que
argumentei bem. Continuei implorando

— Pelo menos espere aqui e fale com ele. Você lhe deve isso.

Assim, quando Pick chegasse, a convenceria a desistir de levar


o nosso pequeno. Tinha plena confiança nele. Mas não tinha
confiança em mim mesma e minha capacidade para manter Tristy
aqui por tanto tempo.

Os bebês continuavam chorando. Se eu fosse para


Skylar, sabia que Tristy escaparia pela porta, assim tentei tomá-lo
dela. Estendi os braços.

— Quer que eu o pegue? Posso fazer com que pare de chorar.

— Caralho, para trás. — Ela foi para longe de mim e me olhou.


— Não me toque.

Baixei os braços novamente. Sentiam-se vazios sem ele.

— Está bem. Deixe-me chamar Pick. Ligarei para ele e poderão


conversar.
Ele podia arrumar isto. Sabia como lidar com mulheres
irracionais, e com esta com certeza. Ele podia recuperar Julian.

A indecisão cruzou seu rosto. Mas depois de um momento, fez


um gesto brusco.

— Está bem... está bem.

Afastar-me da porta me fez sentir como se fosse a maior


aposta da minha vida, mas fiz isso, com minhas pernas tremendo.
Peguei Skylar, abracei-a e me sentei ao lado do telefone. Três
tentativas com os dedos tremendo, e foram diretamente para a
caixa postal de Pick. Meu estômago se embrulhou inquieto. Deixei
uma mensagem, e a seguir tentei o telefone do clube. Não houve
resposta. Tentei o número de Mason, com a esperança de que
também estivesse trabalhando esta noite.

Outra droga de tentativa sem resposta.

Depois, liguei para Reese que atendeu ao quarto toque

— Por favor, — solucei — preciso de você.

PICK

A noite era longa, lenta e terrivelmente barulhenta no


Forbidden. Hamilton estava no bar comigo. Trabalhava com
tranquila eficiência, por isso facilmente atendíamos os pedidos. A
música alta no jukebox, e as mulheres dançando com todos os
homens que as perseguiam, começava a me dar uma dor de cabeça.
A mesma maldita coisa toda noite. Só queria chegar em casa com
minha Sininho e me aconchegar a ela, e talvez por fim estar dentro
dela de novo. Fazia muito tempo desde a última vez. Skylar se
sentia melhor, assim possivelmente...

Vi um rosto familiar tentando abrir caminho pela multidão,


franzi a testa e fui em direção a Reese quando ela chegou ao balcão.

— O que faz aqui? Mason não trabalha hoje.

— Eu sei. — Seus olhos azuis eram grandes e brilhantes


quando me agarrou pelo braço com força. — Tem que ir para casa
agora mesmo. Mason está vindo para te substituir.

A urgência em sua voz e o medo em seus olhos fez que logo me


despedisse de Quinn antes de saltar sobre o balcão e correr para a
saída.

Cheguei em casa em tempo recorde. Não percebi que Reese me


seguia até que a encontrei em meus calcanhares, subindo as
escadas até meu apartamento.

Abri a porta logo que cheguei. Eva andava de um lado para o


outro na sala, segurando Skylar contra seu peito. Por um momento,
fiquei aliviado de encontrá-la sã e salva. Então notei que chorava
muito. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, seu cabelo era
um desastre, e seu rosto tão pálido como um giz.

— O que está acontecendo? — Aproximei-me e agarrei seus


ombros, disposto a matar quem a deixou assim. Será que Skylar
piorou? Ou seu pai...

— Ele se foi — ela se lamentou. — Oh, Deus. Oh, Deus.


— Quem...? — Olhei ao meu redor, percebendo que Julian não
estava em nenhum lugar da sala. Quando me virei, a devastação
em seu rosto me deixou aterrorizado. — Onde está Julian?

Fechando os olhos, engasgou com um soluço e se inclinou


para frente, chorando ainda mais. — Ela o levou. Veio aqui e
simplesmente... ela o levou.

— O quê? Quem? — Eu a sacudi, precisando que se


concentrasse. — Maldição, Sininho. Que porra aconteceu?

— Tristy. Ela o levou.

Meus dedos se fecharam em reflexo. Por um segundo, fiquei


muito assustado para falar. Então rugi

— E você simplesmente deixou?

Ela saiu de meu agarre e me olhou, as lágrimas fazendo que


seus olhos azuis brilhassem furiosos.

— Sim, Pick, eu simplesmente me afastei e alegremente deixei-


a passear por aqui e levá-lo, sem dizer nada. Vai a merda! É claro
que não deixei.

Ela se virou e procurou consolo em Reese, que imediatamente


abraçou a ela e a Skylar. Doeu-me vê-la buscando consolo em outra
pessoa, fazendo-me perceber quão duro fui. Amaldiçoando, puxei
meu cabelo e fechei os olhos. Sabia que devia pedir desculpas, mas
Julian se foi e não consegui evitar isso.

— O que aconteceu?

Como minha voz era mais tranquila, ela levantou a cabeça do


ombro de Reese e limpou as lágrimas de seus olhos.
— Os vizinhos chamaram a polícia. Gritamos uma com a
outra...

— Sim, sim. — Agitei minha mão, irritado. Sabia como era


fácil a polícia vir a nosso apartamento. — O que fizeram?

Ela balançou a cabeça, fechando os olhos.

— Deixaram que ela o levasse. O que queria que fizessem? É a


mãe dele. Eu não tinha direito legal de mantê-lo aqui. Até disse a
eles que nunca em minha vida a vi e que não existia nenhuma
prova de que era realmente sua mãe. Mas ela mostrou as provas.
Tentei lhes dizer que o deixou há meses... que não estava em
condições de ficar com ele. E então perguntaram por você. Eu disse
que estava no trabalho, mas não consegui te achar... Tentei de
tudo. Sinto muito, Pick. — Voltou para Reese, chorando
desconsoladamente. — Sinto muito.

— Está... — Queria lhe dizer que estava tudo bem. Até estendi
a mão para tocar as suas costas, mas acabei me afastando para
esfregar meu rosto, incapaz de superar o fato de que meu filho
estava lá fora, com uma drogada, fazendo Deus sabe lá o quê. —
Jesus. Tenho que encontrá-los. Tenho que... — Comecei a girar em
círculos, tentando pensar. Olhei às garotas, e vi o olhar preocupado
de Reese. — Vou encontrá-los.

Estava fora e correndo pelas escadas antes de minha próxima


respiração.
EVA

Pela primeira meia hora, estive completamente inconsolável.


Reese só me abraçou e deixou chorar. Tentou pegar Skylar de mim,
mas esta noite não podia me separar de outro bebê. Então me
acalmei o suficiente para deixar que Skylar descansasse um pouco
em meus braços. E foi quando comecei a choramingar.

— É tudo minha culpa. Se não a atacasse. Eu e a porra da


minha boca grande. Enchi o seu saco e ela pegou meu bebê. Oh,
Deus. Pick nunca vai me perdoar. — Fechei os olhos e tentei não
desmaiar. — E se ela machucar o Julian? E se o deixar em
qualquer lugar? E...

— Shhh... — Reese acariciou meu cabelo. — Não pense nisso,


querida. Não pense nisso.

— Mas...

— Não. É tarde. Está exausta. Sua filha está esgotada. Vamos


te levar para cama.

Ela tentou me tirar do sofá, mas resisti.

— Não, não posso. — Balancei a cabeça enfaticamente. De


maneira nenhuma podia voltar para o quarto que compartilhei com
Pick nos últimos meses. — Não posso ficar aqui. Leve-me para sua
casa.

Reese mordeu o lábio.

— Tem certeza?

Assenti.

— Ele deve me odiar agora.


— Duvido que ele...

— Eu perdi seu filho, Reese. — Franzi o queixo quando uma


nova onda de lágrimas caiu. — Por favor. Só me leve para casa. —
Apesar que não me sentia em casa em seu apartamento. Esta era
minha casa.

Reese fez o que pedi e me levou a seu duplex. Tirou Skylar


dormindo de meus braços e a pôs delicadamente no berço. Então
me puxou para minha cama e se deitou comigo. Apoiei minha
bochecha em seu ombro e olhei para frente, insensível e fria.

Em algum momento, Mason chegou do trabalho. Aparecendo


na porta, olhou-nos.

— Ela está bem?

— Ainda não. — Reese fez um gesto para que ele se fosse e


voltou a acariciar meu cabelo.

— Acha que Pick o encontrará? — Perguntei, olhando a parede


do fundo.

— Acho que irá procurá-lo até encontrar.

Fechei os olhos. Sim, ele faria isso. Essa ideia me consolou,


mas relembrava meus últimos segundos com Julian. Nem sequer
pude lhe dar um beijo de despedida. Quando o policial finalmente,
deixou que Tristy o levasse, ela tentou sair sem sua cadeirinha do
carro ou sua bolsa de fraldas. Parei-a e entreguei tudo: cada fralda
que tinha, todo o leite em pó que ele não bebia há mais de um mês,
mamadeiras, mantas, tudo o que lembrei, com a esperança de
sobrecarregá-la para que cedesse e o deixasse ficar. Mas a presença
dos policiais a assustou muito. Ela colocou tudo em seus ombros e
saiu correndo.
Nunca esquecerei as últimas palavras que disse antes de levar
meu filho.

Depois de me olhar de cima a baixo com uma careta de


desprezo degradante, disse entre dentes

— Só quero que saiba que ele realmente nunca te amará. Não


é a sua Sininho.

Não pude resistir e disse

— Oh, sim, sou sua Sininho.

Mas, será que eu realmente era? Perdi seu filho, e


provavelmente destruí qualquer amor que já sentiu por mim. Como
poderia me perdoar por isso? Eu não seria capaz de me perdoar
nunca.
PICK

Dolorido, esgotado, e muito assustado, voltei a meu


apartamento nas primeiras horas da manhã. Sem Julian. Procurei
em cada boca de drogas que pude pensar, tentando encontrar
Tristy. Nunca fui próximo a essa gente, mas encontrei uns velhos
amigos que a conheciam, e me deram algumas ideias onde ela
poderia estar. Mas cada uma foi um beco sem saída.

Não tinha ideia de onde estava Julian ou o que lhe acontecia.


Pensar nele estando ferido, assustado ou sozinho, ferrava muito
minha cabeça, então tentei manter esses pensamentos fora, apesar
de que continuavam me enchendo e quase me causando um ataque
de pânico.

Entrei em contato com todos os hospitais, perguntando por


Tristy ou por ele. Chamei cada velho amigo dela que lembrei,
pedindo que passassem a mensagem. Mas nem sequer o maldito
Quick Shot a viu nas últimas vinte e quatro horas.

Bombardeei sua página do Facebook. Dirigi por horas, e até


parei na delegacia de polícia. Não sabia mais o que tentar. Pensei
em qual seria o próximo passo de Tristy, mas não podia aceitar
isso. Não podia esperar que ela se cansasse dele novamente.
Provavelmente ela não duraria muito, não por si só e como estava.
Eventualmente, ela o traria de volta, mas mesmo cinco minutos
longe dele era insuportável para mim.
Deus, isso doía.

Precisando de minha Sininho, para ajudar a aliviar meu


coração partido, voltei para meu quarto só para encontrá-lo vazio.

— Oh... porra.

Ela ficou histérica, e não a consolei. Lembrar o jeito que me


implorou para que a perdoasse destroçou meu peito. Mas eu disse
que estava tudo bem, não? Droga, não conseguia lembrar o que eu
disse. Estava muito enlouquecido para encontrar meu menino. Mas
uma coisa que eu sabia era que não poderia dormir em minha cama
sem ela.

Bati na porta de Mason Lowe às quatro e meia da manhã.


Levou mais de um minuto para abri-la, mas quando me viu, deu
um grande suspiro, sacudiu a cabeça, e se afastou sem dizer nada.
Entrei, e ele me seguiu ao quarto de Eva.

Fui direto para sua cama e toquei seu ombro, fazendo-a virar
de costas, só para perceber que esta mulher tinha o cabelo escuro.
Ao lado de Reese, outra forma se mexeu e a luz do corredor fez que
suas preciosas mechas loiras brilhassem. Desviando da mulher de
Lowe, alcancei Eva e a puxei para meus braços. Suas pálpebras
abriram. Quando acordou o suficiente para focar em meu rosto,
agarrou meu braço.

— Você o encontrou?

Respirei fundo.

— Ainda não.

Reese levantou da cama e se apressou para pegar Skylar no


berço. Nem sequer tive que pedir, ela simplesmente pôs a menina
adormecida em sua cadeira de carro e logo pegou sua bolsa de
fraldas. Depois acenou para mim, fazendo-me saber que me
seguiria com a menina. Tirei Eva do quarto e a levei para o carro.
Ela não protestou, o que foi bom, porque eu não conseguiria
discutir.

Quando chegamos em casa, pusemos Skylar no berço. Parecia


muito pequena ali sozinha. Logo fomos para sala e nos sentamos no
sofá para esperar. Pressionado contra ela e segurando sua mão,
apertei seus dedos.

— Obrigado por lutar por ele — eu disse finalmente.

Ela não respondeu, só apoiou sua bochecha em meu ombro e


chorou em silêncio, esperando o resto da noite comigo.

Passaram dois dias, os mais compridos de minha vida.

Eu não trabalhava, raramente comia, e só dormia por alguns


momentos, porque sempre despertava sobressaltado com uma nova
ideia de onde podia procurar por Tristy. Mas ela nunca estava em
nenhum lugar que procurei. Chegavam notícias de gente que a viu
com um bebê, mas sempre quando chegava lá, eles não estavam
mais.

Às duas da madrugada do terceiro dia meu celular tocou.


Acordei imediatamente para atender o número desconhecido. A
meu lado, Eva se sentou de repente e acendeu o abajur, seus olhos
arregalados e alertas.

— Olá? — Eu disse. Por favor, que seja Tristy, por favor, que
seja Tristy, por favor...
— P-Pick? — A voz rouca de Tristy soava assustada e
insegura, mas me fez soluçar aliviado.

— Oh, Deus. Oh, graças a Deus. Tris, onde está? Julian está
bem?

— Julian? — Ela bufou e zombou. — Tudo o que te importa é


Julian, não é? Você costumava perguntar se eu estava bem.

— Cristo, Tristy. Abandonou-o aqui, o seu próprio filho. Porra,


você o deixou para que eu cuidasse dele, e cuidei. Pode me culpar
por amá-lo? Por me preocupar com ele? Por que você o levou?

— Porque ele é meu! Por que não deveria levar? É meu filho.
Você anulou nosso casamento.

— Anulei o casamento porque você se foi. Agora, onde você


está? Irei te buscar, e podemos conversar cara a cara. — Quando
ela não respondeu, fechei os olhos e cerrei os dentes. — Tris, por
favor. Você me assustou muito. Estes últimos dias, sem saber onde
você estava, sem saber o que acontecia com ele, foram os piores
dias da minha vida. Só... me fale. Por favor... diga-me onde está.

— Não acredito em você — disse com a voz rouca. — Olhe, não


acredito que essa seja a razão pela qual anulou nosso casamento.

— O quê? — Neguei com a cabeça, completamente confuso. —


Não faz nenhum sentido. Por que faz isto? Onde está? Por que foi
sem sequer falar comigo primeiro?

— Por causa dessa puta loira que tinha em seu apartamento,


essa é a razão.

Meu olhar disparou para Sininho. Mordia a unha de seu


polegar enquanto me olhava, seus olhos azuis arregalados de
preocupação.
— O que foi? — Perguntou.

Sacudi a cabeça e voltei minha atenção para Tris.

— O que tem ela? — Perguntei cauteloso.

— Quem era ela? E por que cuidava de meu filho?

— Cuidava do filho que você abandonou porque é a babá.

Eva se endireitou, seu polegar caindo de sua boca quando


percebeu que era o motivo da conversa.

— Pensei que a senhora Rojas cuidasse dele.

— As crianças deles adoeceram. Tive que contratar outra


pessoa, mas por que isso te incomodaria? Está dizendo que de
repente se importa com o que acontece a ele, depois de deixá-lo
sozinho? Passaram horas antes que eu o encontrasse naquele dia.
Jesus, Tristy, como pôde fazer isso? Ele não está sozinho agora, não
é? Está aí com você? Ele está bem?

— Ele está bem — murmurou com desdém — e ainda acho


que está mentindo. Acho que ela é muito mais que só a babá.

Assobiei uma maldição, e o meio da minha testa começava a


doer.

— Por que estamos falando nisso? Porra, está me dizendo que


levou Julian embora por causa da Eva?

Eva ofegou e pôs a mão em seu coração. As lágrimas brotaram


imediatamente em seus olhos. Estiquei a mão e agarrei seus dedos
com força, fazendo-a saber que não fez absolutamente nada errado.

— Ela me disse que era sua Sininho.

Exceto talvez isso.


Droga. Apertei meus olhos, mas não soltei a mão de Eva. A
única coisa que ela fez foi dizer a verdade a Tris. Não podia culpá-la
por isso. Tristy simplesmente teria chegado a alguma outra razão
para reagir de forma exagerada. Sempre fazia isso.

— Sim — eu disse, soltando Eva para me levantar da cama e


andar pelo quarto. — Sim, ela é. E daí? Como isso te afeta? Você foi
embora.

Ela bufou.

— Então é verdade? Você a encontrou. Realmente encontrou a


garota que a bruxa disse que era seu único amor verdadeiro?

Minha garganta secou. Não sei por quê odiava falar disto com
Tristy, mas odiava. Detestava. Acenando respondi

— Sim, encontrei-a.

Seus suspiros se tornaram soluços.

— Então, tudo vai se tornar realidade. Vai viver com ela o seu
pequeno “felizes para sempre”, em sua perfeita maldita casa com a
grama verde. E eu vou morrer, jovem e sozinha.

— Droga, não vai morrer jovem e sozinha. Não quando estou


aqui para você. Sempre estive aqui. É minha amiga mais antiga, e
cuidarei de você e de Julian, seja como for. Só me diga onde está, e
cuidarei de você.

Mas ela não escutou nada do que eu disse.

— Sempre pensei que me amaria... Da maneira como a amava.


Pensei... pensei que continuaríamos casados, e finalmente
perceberia que pertencemos um ao outro. Já passamos por tanta
coisa. Nós nos conhecemos por dentro e por fora. Como ela veio e te
afastou de mim?
— Tristy, por favor, não faça isso. Precisa de ajuda. Só... deixe-
me ir te ajudar.

— Não quero mais ser seu maldito caso de caridade. Quero...


quero que me olhe e apenas... me ame.

— Eu te amo — disse, minha voz rouca e todo meu peito


apertado com medo. Não queria mentir para ela, mas eu não podia
dizer nada para fazê-la desligar sem me dizer onde estava. — Acha
que aguentaria tanta porcaria sua por todos estes anos se não te
amasse? Quem esteve sempre aqui, mesmo depois que aquele cara
te violentou? Quem te levou ao banheiro e te lavou? Quem bateu
em quem te machucou? Quem te acolheu quando tinha três meses
de gravidez? Quem fez cada puto esforço para te ajudar a superar
seu vício? Como sequer pode pensar que não te amo?

Só porque nunca a amaria da forma como ela queria, não


significava que não me importava. Olhei para Eva, perguntando-me
no que pensou quando expressei meus sentimentos a outra mulher.
As lágrimas corriam por seu rosto, fazendo-me sentir como um
merda. Olhando para longe porque não podia suportar vê-la chorar,
estiquei minha mão e fui recompensado quando pegou meus dedos,
apertando e me apoiando.

— Eu te amo, Tris — disse, engolindo o ácido em minha


garganta enquanto falava, ao mesmo tempo puxando Eva para
perto de mim e enterrando meu rosto em seu pescoço. — Agora, por
favor.... Por favor, por favor, só me diga como chegar até você.

— Eu... — Ela parou para tossir. — Estou em um túnel


abandonado perto da estação de trem.

— Tudo bem. Bom. Estarei aí em breve. Não vá a lugar


nenhum. Estarei logo aí.
Eu me segurei para não perguntar por Julian de novo, não
queria fazer mais nada para incomodá-la e fazer com que saísse de
lá antes que eu chegasse.

— Depressa — ela disse, arrastando as palavras. — Estou


ficando cansada.

— Estarei aí. — Desliguei e me virei imediatamente para Eva.


— Sinto muito.

Ela piscou, parecendo surpresa. — Pelo quê? Conseguiu que


dissesse onde estava.

Sim, sim, consegui. E tirei uma parte de minha alma ao fazer


isso. Abrindo minha gaveta da cômoda, peguei a primeira camiseta
que vi.

— Mas odiei ter que fazê-lo.... Ter que dizer tudo isso... na sua
frente.

Eva esticou a mão, seus dedos tremendo enquanto ajudava a


me vestir.

— Pick, não temos tempo para isso. Eu te entendo. Só... traga


nosso filho de volta.

Parei e a olhei. — Sabe que não pode vir junto.

Não era uma pergunta, mas uma revelação perturbadora.


Achei que ela brigaria para ir comigo. Chamaria a senhora Rojas ou
Reese para cuidar de Skylar, e estar lá quando visse Julian de novo.
Mas isso não podia acontecer. Só acalmei Tristy por enquanto, e
Eva sabia tão bem quanto eu.

Encontrando uma calça para mim, ela se inclinou e a manteve


aberta para que eu a vestisse. Mais amor e respeito surgiram dentro
de mim. Apoiando minha mão em sua cabeça, pus o primeiro pé na
calça e logo o segundo.

— Eu te amo muito, Sininho.

Ela subiu as calças por minhas pernas.

— Eu sei. — Sua voz estava um pouco ofegante enquanto


fechava meu zíper. — Também te amo. — Seu sorriso tremeu e as
lágrimas rolavam, mas quando me olhou, isso era tudo o que eu
precisava.... Seu olhar em mim.

— Tenho que ir.

Ela concordou, mas quando comecei a me virar para pegar


meus sapatos, agarrou minha camiseta e me puxou de volta.

— Espera. — Quando encontrei seu olhar, segurou meu rosto


entre suas mãos. — Você é o melhor homem que eu já conheci
Patrick Ryan. Obrigado por me escolher.

Beijei-a com força.

— Sempre te escolherei.

Levei vinte minutos para chegar à estação de trem, mas


encontrar o túnel que Tristy me falou, era outra coisa totalmente
diferente. Havia tantas linhas ferroviárias e viadutos, que nem
sequer sabia por onde começar. Estacionando na estação, comecei
na mais próxima, correndo e gritando o nome de Tristy. Tropecei
com um morador de rua, mas não era Tristy nem Julian. Ele
começou a me agarrar até que notou meus piercings e tatuagens,
então recuou e me deixou sozinho.
Tentei o próximo viaduto, já estava sem fôlego quando cheguei
lá. Seguia sem sorte. Fazendo um círculo ao redor da estação de
trem, continuei procurando.

Aproximadamente uma hora depois de iniciar minha busca,


ouvi as sirenes da polícia.

Meu estômago revirou em um grande pacote doloroso quando


senti um mau pressentimento. Corri naquela direção, já que vinha
a oitocentos metros da estação de trem.

Havia barricadas e eles bloqueavam a multidão no momento


em que cheguei lá. Respirando com dificuldade por correr, fui
empurrando as pessoas para chegar à frente, onde um policial
ordenava que todo mundo dispersasse.

Quando ouvi um bebê chorando onde todas as luzes


vermelhas e azuis piscavam, entrei em pânico. Parecia o choro de
Julian. Saltando uma das linhas policiais, fui nessa direção, mas
um policial gritou para mim — pare! — e agarrou meu braço.

— Acho que é o meu bebê. — Apontei e diminuí um pouco o


passo, mas continuei andando em direção a toda a comoção de
carros de polícia e ambulâncias. — Minha esposa levou meu filho
há alguns dias, e acho que ela está por aqui. Tenho que ver se esse
é o meu bebê.

— Está bem. Muito bem, garoto, acalme-se. Fique aqui, e


descobrirei se é seu filho. — Apontou para mim, advertindo, mas
assim que ele se virou para ir, eu o segui. Outro policial nos viu
chegando. Quando o notei, seus olhos se arregalaram, e nos
reconhecemos ao mesmo tempo.
O policial simpático que esteve em meu apartamento por todas
as queixas, apontou em minha direção.

— Ei, aí está o pai.

Oh, Deus.

Percebendo que tinha encontrado Julian, fui para frente,


procurando freneticamente.

— Onde ele está? Ele está bem?

— Está aqui — alguém respondeu. Virei para ver um policial,


de pé na porta de uma ambulância, segurando Julian, que estava
histérico. A manta envolta nele estava destroçada e tão suja, que
parecia ter sido arrastada pelo chão pelos últimos três dias. Mas o
que fez que as lágrimas ardessem meus olhos foi a sujeira que
cobria meu filho, com cortes, arranhões e hematomas em toda a
sua testa.

— Oh, droga. — Meus joelhos cederam uma vez, mas


continuei correndo até que estava com ele e o tirei das mãos do
outro homem. — Meu filho. Meu pequeno.

Virei-o para pressionar seu peito contra o meu, como ele


gostava que o segurasse quando estava triste, e imediatamente
comecei a sussurrar em seu ouvido

— Está tudo bem, amigo. Estou aqui. Já estou aqui. Tudo


bem, Julian. Meu pequeno lutador.

Comecei a cantar "Kryptonite18". Ele agarrou minha camiseta


e enterrou sua cara em meu pescoço. Minhas lágrimas caíam

18
https://www.youtube.com/watch?v=xPU8OAjjS4k
enquanto ele se acomodava, inquieto, tremendo e ofegante. Apesar
de tudo, negou-se a me soltar, e me neguei a soltá-lo.

— Está tudo bem — repeti quando não consegui mais cantar.


Mantive minha voz calma, apesar de que o resto de mim ficava cada
vez mais furioso. Beijando a lateral de sua cabeça, acariciei seu
cabelo, e apoiei minha bochecha nele antes de olhar para o policial
que o segurava antes. — Como ela pôde fazer isto com ele? Porra,
onde ela está?

Os olhos do homem se encheram de simpatia e pesar.

— Sinto muito, senhor. Mas sua esposa teve uma overdose.


Não sobreviveu.

EVA

Pick saiu há seis horas. Só ligou uma vez para me dizer que
encontrou Julian e que nosso filho estava bem. Eles vinham para
casa depois de irem ao hospital, pois a polícia exigiu que ele fosse
examinado.

A menção de um hospital e da polícia me assustou, mas a voz


de Pick estava tão abalada, tão desesperada, que não o questionei.
Se ele estava a caminho de casa, pensei que logo teria minhas
respostas. E o fiz logo que abriu a porta. Vi o rosto inchado e
arranhado de Julian e enlouqueci.

— Oh, Meu Deus. Meu pequeno.


Eu o agarrei dos braços de Pick e gemi enquanto o apertava
contra mim, respirando os aromas desconhecidos que emanavam
dele. Segurei-o com força quando ele enterrou seu rosto em meu
pescoço, agarrando punhados de meu cabelo como sempre fazia, o
que me fez chorar ainda mais. — Como ela pôde fazer isso com ele?
— Exigi, virando para enfrentar Pick sobre o ombro de Julian. —
Onde diabos está essa cadela louca? — Estava decidida a rasgar
sua cara.

Pick me olhou, inexpressivo e com os olhos avermelhados pelo


choro. Sua voz era rouca quando disse

— Está morta.

Fiquei boquiaberta. Esperei que explicasse, mas ele


simplesmente passou por mim, caminhando com dificuldade como
um homem velho e cansado, e foi para o sofá antes de ver Skylar
dormindo na pequena cadeira de balanço. Pegando-a no colo,
aproximou-a dele enquanto se sentava com ela, e enterrou seu
nariz em seu cabelo.

Quando ele finalmente me olhou, a expressão atordoada em


seus olhos me disse que estava em estado de choque. Sem dizer
nada, sentei-me a seu lado e nós quatro nos aconchegamos juntos,
ali sentados.

Embora não estivesse pronta para soltá-lo, sabia que Julian


precisava muito descansar, por isso em algum momento, levantei-
me relutante e o levei ao berço. Pick me seguiu com uma Skylar
ainda dormindo e a recostou ao lado de Julian.
Toquei delicadamente os arranhões em sua face e uma vez
mais senti a raiva surgir. Colocando os nós dos meus dedos na
minha boca, desejei que Tristy estivesse em seu caminho para o
inferno.

Pick pegou minha mão, assustando-me. Quando olhei para


cima, a escuridão em seus olhos me chocou. Parecia selvagem.
Dando-me as costas, foi para a porta, tirando-me do quarto dos
bebês com ele.

Eu não tinha ideia do que ele pensava. Finalmente recuperou


seu filho, mas estava zangado pelo que aconteceu com Julian. Por
outro lado, sua amiga mais antiga acabava de morrer, embora ela
provavelmente não fosse sua pessoa favorita no momento. Devia ter
muitas coisas na cabeça. Tocando as suas costas, perguntei — você
está bem?

Ele não respondeu, só seguiu me dando as costas enquanto


fechava a porta em silêncio para não incomodar os bebês. Então se
virou para mim e me empurrou contra a parede. Sua boca estava
sobre a minha e sua língua estava dentro de minha boca antes que
me dessa conta do que acontecia.

Raios de calor estalaram dos extremos dos dedos de meus pés.


Imediatamente excitada, envolvi meus braços ao redor dele quando
me levantou contra a parede. Tentei fazer o mesmo com minhas
pernas, mas ele me parou para empurrar minha calça e calcinha
para baixo.

Então agarrou minha coxa nua e a enganchou ao redor de


seus quadris. Afundou seus dentes em um de meus seios pela
minha blusa, e me retorci contra ele, querendo tirar toda a roupa
para que ele pudesse morder tudo o que quisesse.
— Preciso tanto de você agora — ofegou enquanto abria seu
jeans e deslizava uma camisinha. Fiquei surpresa por quão duro e
excitado ele estava.

O homem estava desesperado e demonstrou empurrando


dentro de mim, brusco e rápido. A surpresa por sua penetração
voraz me fez gritar. Precisando dele do mesmo jeito, eu me mexi
junto, arqueando quando ele entrou profundamente em mim de
novo. Sua boca arrebatou a minha enquanto me prendia na parede
e me tomava sem dó.

— Sim — eu disse, mordendo sua orelha e apertando em volta


dele quando golpeou um lugar, que curvou os dedos de meus pés.

— Eva... — gemeu, afastando-se para respirar em minha boca


enquanto seus quadris sacudiam em um ritmo incessante, batendo
mais rápido até que agarrei um punhado de seu cabelo e nós dois
gritávamos. Gozou dentro de mim com força, usando meu corpo
para se curar, e eu estava honrada em aliviar sua dor.

Quando todo seu corpo se apoiou em mim e enterrou seu rosto


em meu pescoço, soube que ele acabava de superar algo do que o
assombrava.

— Eu te amo tanto — murmurou com voz arrastada e


sonolenta.

Beijei sua bochecha e tirei seu cabelo de sua testa.

— Eu também te amo.

— Não sei o que faria agora sem você.

— Bom... — Mordi o lábio, com vontade de fazê-lo sorrir. —


Para começar, provavelmente você teria se masturbado. — Seus
lábios abriram em um meio sorriso quando levantou seu rosto. — E
não se sentiria assim tão bem.

Ele me pegou no colo e me levou para nosso quarto. Quando


nos acomodamos debaixo das cobertas, grudou-se atrás de mim e
me abraçou pela cintura antes de pôr o queixo em meu ombro.

— Falo sério, Eva. Sem você, não tenho nem ideia de como
teria sido minha vida. Se não tivesse aquela visão com você e te
quisesse com cada fibra de meu ser, talvez fizesse o mesmo que
Tristy, e terminasse absorvido pelas drogas. Ou fizesse o que meu
outro amigo Harvey fez, entrasse em uma gangue. Ele foi
assassinado em um tiroteio roubando carros quando tinha
dezesseis anos.

Beijei seu queixo.

— Lamento tanto todas as suas perdas.

Ele murmurou algo incoerente, como se não quisesse pensar


nisso. Então começou a acariciar meu quadril.

— Sabe quando você diz que fui seu herói e te salvei quando
bati no seu ex e no seu pai? Isso é besteira. Você é minha heroína.
Conhecê-la naquelas visões me salvou. Fez-me querer ser uma boa
pessoa para poder te merecer quando finalmente te encontrasse. E
agora que está aqui, abraçando-me e deixando que te ame quando
só quero explodir... — Ele enterrou seu rosto em meu cabelo e
respirou profundamente. — Nem sequer sabe o que sua mera
presença me faz. Você é minha sanidade.

Estiquei minha mão para trás para passar meus dedos em seu
cabelo.
— Você também é a minha. Não há outro lugar no mundo que
eu queira estar.

— Não me deixe nunca — exigiu com voz entrecortada.

Sorri, pensando que minhas próximas palavras eram a


promessa mais fácil que faria.

— Não te deixarei.
PICK

Enterraram Tristy num sábado pela manhã.

Ninguém assistiu ao enterro, só Sininho e eu. Trouxemos


Julian conosco, assim ele poderia prestar sua última homenagem a
sua mãe biológica, mas o dia com muito vento ainda o deixava sem
fôlego, assim Eva o levou até o carro, e fiquei sozinho para dizer
adeus a minha companheira mais antiga.

Sabia que devia lamentar sua perda, mas acima de tudo me


senti aliviado. Ela não tinha que sofrer mais, e eu não tinha mais
que me preocupar com ela.

— Aquela bruxa se enganou — disse enquanto atirava um


punhado de terra em seu túmulo. — Você não morreu sozinha. Teve
seu lindo menino junto. Não consigo pensar em nenhuma
companhia melhor no mundo que ele. E eu juro Tris, eu o criarei
bem e o ensinarei a amar sua memória.

Então virei para me reunir com minha família no carro.

Fiz amor com Eva naquela noite lentamente, adorando cada


ângulo e curva de seu corpo. Ela me abraçou depois, acariciando a
tatuagem no meu coração, e beijei seu cabelo. Sabia que eu devia
ser feliz. Finalmente estávamos juntos sem romper nenhum voto
matrimonial. Mas as incertezas continuavam me incomodando.
O que aconteceria com Julian quando o Estado finalmente
percebesse que eu não era seu tutor legal? Quanto tempo mais
tinha com ele? E o que acontece com o pai da Eva?

Ela expressou sua preocupação sobre ele mais de uma vez,


mas eu lhe disse que tudo ficaria bem. O que ele realmente podia
nos fazer? Entretanto, sua inquietação me deixava nervoso. Ela
conhecia o imbecil muito melhor que eu. Se ela estava certa que ele
se vingaria de nós pelo jeito como chutei seu rabo, então não podia
descartar a ideia.

Infelizmente, no dia seguinte, uma de minhas perguntas


cheias de preocupação foi respondida.

Quando Jessie, a filha do meu chefe, chamou todos os


empregados do Forbidden para uma reunião na tarde de domingo,
enquanto o lugar estava fechado, pedi a Deus que dissesse que seu
pai já estava pronto para voltar a trabalhar e dirigir o bar
novamente. Gamble assumiu desde que o proprietário esteve fora, e
eu odiava tê-lo como chefe.

Cheguei uns dez minutos antes da reunião. Todos os outros


garçons, além da maioria das garçonetes, assim como os dois
cozinheiros, já tinham chegado e vagavam na parte de trás do
clube.

Precisando que meus companheiros levantassem meu humor,


bati meu braço no cotovelo do Quinn quando me aproximei dele por
trás.

Acenei com o queixo e sorri quando se virou para me ver.

— Como anda essa tua língua, garoto?

Ele corou.
— Bem.

A seu lado, Ten riu e bateu de brincadeira na barriga de


Quinn.

— Ahh, olhe esse sorriso humilde, eu sei que sua garota não
pode manter suas mãos longe dele. Sempre implorando para passar
a noite, incapaz de parar de beijá-lo. Ele a transformou numa puta
ninfomaníaca.

— E ele continua dizendo que ela não pode ficar. — Quinn


franziu a testa para seu novo companheiro de quarto. — Mas eu
não me importo se ele traz mulheres para dormir. Isso não é justo.

— Ei, a vida não é justa — Ten disse, completamente sem


remorso por não dar a Quinn mais tempo com sua garota.

— Talvez você deva dizer a ele que não pode ter nenhuma
mulher até que concorde em deixar que você...

— Cala a boca — interrompeu Ten, franzindo a testa para mim


por me meter na história. — Não me importo se ele as proíbe no
meu quarto, vou transar em outro lugar... Como ele vai continuar
fazendo com Cora.

— Vê — Quinn me disse — ele não vai ceder.

Quando percebi que Ten se movia desconfortável atrás de


Quinn, decidi que Ten provavelmente tinha uma boa razão para
dizer que não, e tive um mau pressentimento de que isso me
deixaria irritado com ele. Mas não tive que pensar muito porque
Jessie saiu da sala dos fundos.

— Todos estão aqui? — Perguntou. — Bem. — Sem esperar


para ouvir que uns punhados de garçonetes ainda não chegaram,
continuou falando — papai recebeu uma oferta para vender este
lugar, e aceitou. Conheçam seu novo chefe.

De qualquer jeito, ela nos deu a grande notícia. Sem atenuá-


la, sem preliminares para suavizar e nos dizer os bons
trabalhadores que fomos para sua família. Só... bum. Novo chefe.

Que porra?

Xingamentos e perguntas soavam a meu redor, e fiquei


boquiaberto. Mas, maldição, não esperava por isso. Olhei para os
outros caras, e eles me deram as mesmas olhadas perplexas,
quando Mason olhou para cima e seus olhos se arregalaram.

— Oh, merda — sussurrou.

Virei e congelei.

Bradshaw Mercer vinha pelo corredor atrás de Jessie,


parecendo tão rico, educado e impecável como sempre. Quando seu
olhar encontrou o meu, seu sorriso aumentou.

— Boa tarde a todos. — Assentiu de forma agradável,


rompendo seu contato comigo antes de olhar aos outros como se
fosse um honrado homem de negócios.

Meus olhos se estreitaram. Ainda queria bater nele. Muito.


Agora mais que nunca. Mas se pensava que podia me controlar ao
comprar o bar onde eu trabalhava, era bom que pensasse em uma
estratégia melhor. Abandonaria este lugar tão rápido... Só que tinha
que pensar em Eva, Julian e Skylar. Não poderia mantê-los só com
o salário da oficina. E se eu não encontrasse trabalho em outro
lugar? E se....?

— Meu nome é Shaw, e sim, sou tecnicamente seu novo chefe,


embora já contratei uma assistente para administrar o dia a dia.
Estarão recebendo as instruções diretamente dela. — Afastando-se,
esticou sua mão à figura que de repente notei esperando nas
sombras. — Patrícia? Importa-se de se apresentar?

Quando a senhora Garrison saiu à luz, fiquei boquiaberto.


Quinn, Noel, Ten e eu olhamos imediatamente para Mason.

Com seus olhos cinzentos num turbilhão assassino, ele


levantou as mãos.

— Eu me demito.

Mas assim que se virou, nossa nova supervisora sorriu e seus


olhos brilharam triunfantes.

— Não tão rápido, senhor Lowe. Se você sair, demitirei estes


quatro senhores junto com você.

Meu estômago embrulhou quando Mason parou. Ele se virou


lentamente e a olhou antes de desviar bruscamente seu olhar
torturado para nós. Seus olhos nos imploravam para deixá-lo ir,
enquanto que os nossos pediam que não causasse nossa demissão.

— Merda — Ten foi o primeiro em responder. — Se tiver que


sair daqui, então vamos. Posso encontrar um novo trabalho.

Noel fechou os olhos e murmurou

— Droga.

Todos nós sabíamos que ele não podia perder sua renda. Vivia
com uma mulher que ainda procurava trabalho, e agora tinha três
irmãos para cuidar.

— Eu... Acabo de assinar um contrato de seis meses de


aluguel no meu apartamento — disse Quinn em voz baixa. — Mas...
oh, cara. Entendo que se tiver que fazer isso. Faça o que precisa
fazer, Mason. Está tudo bem por mim.

Mason me olhou. Sabia quem eu tinha que sustentar, e


também, a quem ele tinha. Apertando os dentes, voltou-se para a
senhora Garrison e a olhou. — Vou ficar.

Ela sorriu, arrogante.

— Foi o que pensei.

Ela começou a falar para todos, explicando montes de


besteiras que ninguém se importava. Enquanto tagarelava
detalhando suas novas funções como nossa supervisora direta,
olhei para o pai de Eva. Ele me observava com um sorriso
presunçoso.

Eu não sabia qual era seu jogo, se fazia isto para se vingar
porque o soquei, ou se queria separar sua filha de mim, mas eu
estava acostumado a ser o perdedor, sempre obrigado a me curvar
aos superiores. Teria que pensar em outra coisa se achava que isto
me assustaria.

Mason estava assustado. Ele tremia enquanto olhava furioso


para a senhora Garrison. Parecia que foi há muito tempo desde que
ela entrou no Forbidden e tentou convencê-lo que esperava um filho
dele. Deus, muita coisa aconteceu depois daquele dia.

Eva aconteceu.

Eva, a mulher que eu não podia perder, não importa o quê.


Meu estômago estava embrulhado, inquieto.

A senhora Garrison nos liberou alguns minutos depois,


lembrando as novas políticas de trabalho que logo estariam no
quadro de avisos da sala de descanso. Mason não se mexeu, então
Ten, Noel, Quinn, e eu ficamos lá, apoiando-o em... tudo o que
pudesse precisar.

Com um sorriso amável, a senhora Garrison veio para perto de


nós.

— Por que faz isso? — Mason perguntou, sua voz baixa e


mortal. — E como o conheceu? — Olhou para o pai da Eva antes de
voltar para ela.

Ela sorriu.

— O quê? Com ciúmes, querido?

— Dificilmente. Só queria dar meus parabéns se foi ele quem


deixou esses hematomas em seu pescoço.

Seus olhos ficaram sombrios e perturbados quando pôs seus


dedos em sua garganta, onde vi as marcas escuras que não notei
antes.

Se ele tivesse feito algo assim com Eva quando a molestara,


eu... Porra, não podia matar meu chefe. Eu iria preso. Mas, oh
homem, valeria a pena.

Chegando mais perto da senhora Garrison, Mason baixou a


voz

— Que pena que não soube antes que você gostava destas
coisas. Eu não teria parado de apertar.

— Humm. — Piscando várias vezes, seus olhos mostrando


todos os seus pensamentos conturbados. Ignorando-o, virou-se
para Quinn. — Bem, você tem um lindo rosto? Qual é seu nome,
bonitão?
Quando tocou a bochecha de Quinn, Mason bateu em sua
mão.

— Não toque nele.

Arqueando as sobrancelhas, o prazer se estendeu por seu


rosto.

— Vá, vá, hoje você realmente está muito ciumento. Sabe o


quanto isso me excita?

Enquanto nós ficamos quietos, chocados, Mason bufou e se


virou para nós, ignorando-a.

— Metam-se com ela por sua própria conta e risco, mas


estejam avisados: ela é uma cadela mentirosa, manipuladora e
chantagista.

— Cara, — disse Noel, sacudindo a cabeça — acho que já


descobrimos isso.

Mason assentiu e saiu do prédio. A senhora Garrison bufou


enquanto olhava para ele. Quando nos olhou, nós nos afastamos
rápido. Até Ten, que geralmente era ingênuo. Franzindo o cenho
ainda mais, ela se afastou e foi para o escritório, passando rápido
pelo pai de Eva, que acabava de agarrar uma das garçonetes pelo
braço dando-lhe um sorriso amistoso.

— Foi só comigo? — Murmurou Ten para Noel, Quinn e eu. —


Ou aquela reunião foi uma droga?

Continuei observando Mercer enquanto ele deslizava ao lado


da garota, sussurrando intimamente, e me apavorei. Genial, aqui
estava outra razão pela qual não podia sair do Forbidden. Não
queria que nenhuma das garçonetes caísse em sua rede.
— Tansy! — Gritei, levantando meu queixo e acenando quando
ela me olhou. Todas as garçonetes sabiam que eu as protegia.
Confiavam em mim. Assim, quando a chamei para longe daquele
maldito bastardo, ela me sorriu aliviada e o abandonou, correndo
para mim sem questionar.

Mantendo o olhar penetrante em Mercer, abracei Tansy pela


cintura e falei em seu ouvido

— Não confie naquela cobra, ele é um maldito estuprador.


Você me ouviu? — Ela estremeceu e me olhou com grandes olhos
castanhos. Quando assentiu, fiz o mesmo. — Nunca deixe que ele te
pegue sozinha e avise todas as outras garotas. Não me importa o
que ele diga a nenhuma de vocês, ninguém fala com ele a sós.
Entendeu?

— Tudo bem, Pick. — Ela se inclinou e me beijou na


bochecha. — E obrigada. Senti uma vibração estranha nele, mas
tentei ignorá-la.

— Não ignore suas intuições, querida. Elas te mantêm segura.

— Não, você nos mantém seguras, Pick. Desde que me salvou


daquele cliente que me seguiu até meu carro, e a Mandy do cara
que a encurralou sozinha nos banheiros, não há ninguém neste
edifício em quem confiamos mais que você. E se você disse que ele é
mau, considere todas as garçonetes avisadas.

Eu assenti, feliz por ela espalhar a notícia. Agora só tinha que


descobrir como manter Sininho e meus filhos seguros.
EVA

Mason me bombardeou com mensagens de texto antes mesmo


que Pick chegasse em casa de sua reunião. Ainda era estranho
receber mensagens em meu novo telefone. Eu não parecia em nada
com a borboleta social que era na Flórida. Mas o que meu futuro
primo escreveu, era ainda mais estranho.

Mason: Seu pai é a encarnação do mal.

Suspirei. Esse é o eufemismo do século.

Eu: O que ele fez agora?

O medo se apoderou de mim.

Eu: Reese está bem?

Mason: Ninguém está bem com esse imbecil ainda vivo. Ele
comprou o Forbidden.

Franzi o cenho, sem estar certa do que ele queria dizer.

Eu: O quê?

Mason: O bar onde seu noivo e eu trabalhamos. Ele O


COMPROU. É O DONO. É A PORRA DO NOSSO PATRÃO!

Sacudindo a cabeça, digitei uma resposta rápida.

Eu: Isso não faz sentido.


Mason: Sério que você não sabia o que ele planeja fazer para
nós? Eu não gosto disto.

Eu: É obvio que não sabia, idiota, mas vou descobrir o que ele
quer.

Embora eu já soubesse.

Mason: Bom. Oh, ei, não conte a Reese sobre isso ainda. Não
quero que ela enlouqueça.

Oh, mas ele não teve nenhum cuidado em me enlouquecer.


Obrigado, amigo.

Logo, Pick entrou no apartamento. Seus olhos estavam tristes,


mas me deu um sorriso caloroso.

— Aí está minha razão para levantar a cada manhã. —


Caminhou para mim e me beijou docemente.

Se eu não tivesse acabado de falar com Mason, não saberia


que algo lhe incomodava. Não me deixava entrar em seus
problemas, assim supus que não queria me preocupar como Mason
não queria preocupar Reese.

Meninos estúpidos. Doces, carinhosos, incríveis, mas


definitivamente estúpidos.

— Como foi a reunião? — Perguntei diretamente.

Suas sobrancelhas se levantaram. — Inesperada. Nosso chefe


vendeu o bar para um cara rico de fora da cidade.

Bom, ao menos ele não mentiu, mas também não me disse


toda a verdade.

— Ah, é?
Ei, se ele se recusava a me dizer o que sabia, não lhe diria o
que eu sabia. Assim não tínhamos que nos preocupar um com o
outro.

Pick assentiu, sem me olhar.

— Também já contratou outra pessoa para dirigir o lugar para


ele.

Meu telefone apitou, avisando que tinha outra mensagem de


texto. Pick me deixou ver a mensagem enquanto saudava os bebês,
que mastigavam seus brinquedos no chão.

Mason: Ah, e ele pôs Garrison no comando. Ela disse que se


eu me despedir, demitirá Pick e os outros caras também.

Meu estômago embrulhou e senti um calafrio. Com as mãos


trêmulas, respondi: Pick acabou de chegar em casa.

Talvez isso calasse Mason por um tempo, porque não podia


suportar nenhuma outra notícia me preocupando. Precisava de
algum tempo para pensar nisso.

Mason: Está bem, bom. Ele pode te contar o resto —


respondeu.

Mas Pick não me disse nada, o que me fez saber que estava
tão apavorado quanto eu.

Levamos os bebês ao parque para passar o resto do dia. Como


Pick, fingi que nada estava errado ou que nossa família feliz não
estava a ponto de estalar da forma mais forte possível. Quando
voltamos para o apartamento, eu disse que tinha que ir fazer umas
compras na loja de conveniência porque tinha uma surpresa para o
jantar. O qual era tão certo como o que ele me disse sobre sua
reunião.

Deixei-o com os bebês, e fui a meu carro, que ele verificou


minuciosamente antes de comprar, tendo certeza que era o bom o
bastante para que eu dirigisse. Não comecei a chorar até que liguei
o motor e estava a caminho da loja.

Neste momento, meu pai talvez saiba tudo sobre Pick, onde
trabalhava, o que dirigia, que não tinha nenhum direito sobre
Julian. Se eu não fizesse o que Bradshaw queria, ele encontraria
uma forma de Pick perder Julian, e isso destruiria o homem que eu
amo. Sabia que isso era um fato. Provavelmente Julian seria
enviado a lares de acolhida, e o maior medo de Pick se tornaria
realidade.

Mas eu sabia como deter o monstro. Se eu fosse para casa


com ele, dando a fachada de uma perfeita família feliz para que ele
pudesse continuar mostrando ao público o homem excepcional que
era, enquanto seguia sendo um bastardo depravado por trás das
cortinas, deixaria Pick e Julian tranquilos.

A única maneira de mantê-los juntos era dar a meu pai o que


queria. A ideia fez que minhas mãos tremessem e um nó se
formasse em meu estômago. Mas faria o que tinha que fazer.

Parei de chorar no momento que cheguei na loja, graças a


Deus. Em piloto automático, empurrei o carrinho pelos corredores,
escolhendo as coisas para fazer frango à parmegiana, o prato
favorito de Pick. Então fui olhar a seção de roupas de cama.

Pick me contou detalhadamente cada uma de suas visões. Se


vou quebrar minha promessa a ele e deixá-lo no dia seguinte para
voltar com meu pai, então, ao menos esta noite podia tornar
realidade uma de suas visões.

Jantamos tarde, esperando até que os bebês dormissem antes


de comermos. Ele os colocou para dormir enquanto eu cozinhava. A
comida que preparei o agradou. Seus olhos se iluminaram logo que
entrou na cozinha e viu seu prato favorito. Sacudindo a cabeça,
sorriu enquanto segurava a cadeira para eu sentar.

— Você me dá mais do que eu mereço — ele disse.

Nada do que der a ele será o suficiente. Um nó em meu peito


fez que eu olhasse para baixo. Poderia passar o resto da minha vida
cozinhando seu jantar favorito, e isso ainda não seria o suficiente.

Se apenas tivesse o resto de minha vida para lhe demonstrar


isso...

Muito observador, ele tocou meu queixo.

— Ei. — Seu olhar se suavizou e fez uma cara confusa


enquanto me observava. — Você está bem? Parece mais quieta esta
noite.

Esfreguei minha bochecha na sua mão e abracei suas pernas,


apoiando meu queixo em seu abdômen para poder olhá-lo.

— Como pode perguntar isso? — Murmurei, passando a mão


por sua bunda dura. — Estou aqui com você. Minha vida é perfeita.

Ele riu e se inclinou para beijar meu cabelo.

— Continue me tocando assim e pode ser que tenha sorte esta


noite, mulher.

— Mmm. Isso soa muito bem, mas e se te tocar aqui. — Passei


meus dedos ao redor para sentir o quão duro ele estava.
Ele prendeu a respiração.

— Comemos agora ou mais tarde?

— Mais tarde — eu disse.

Ele gemeu, seus olhos castanhos mostrando seu desejo.

— Deus, eu te amo.

Então me pegou no colo e levou para o quarto, onde esta noite,


eu seria tão forte quanto possível.

Ele me colocou suavemente sobre o edredom, mas neguei com


a cabeça.

— Quero você entre os lençóis.

Pick estreitou os olhos, estranhando, mas fez o que pedi. Tirou


o edredom para revelar a surpresa final reservada para ele.

Cambaleou para trás quando viu, como se fosse uma cobra


esperando para atacá-lo ao invés de lençóis novos.

— Que porra?

Não foi fácil manter escondido dele, já que esteve em casa o


dia todo. Tive que os esconder sob uma pilha de roupas no cesto
para poder lavar e secar a tempo. Então, deixei os bebês com ele na
sala para mantê-lo ocupado enquanto arrumei a cama.

— Dane-se — ele suspirou.

Levantei e mordi meu lábio, sem saber se ele estava assustado


com a cama ou apenas espantado. Eu me mexi, nervosa.

— Você nunca disse de que cor eles eram.

— Isso... — Sua voz soou rouca antes de limpar a garganta e


apontar os lençóis. — Esta cor — disse — exatamente esta mesma
cor azul claro. Oh, meu Deus. — Ele se virou para mim, parecendo
atordoado. — Você...

Por alguma razão eu ainda estava nervosa. — Eles não são de


seda. Você disse que eram de seda, mas não tinha lençóis de seda
genuína na loja, assim tive que me contentar com uma mistura de
microfibra.

Pick veio para a cama e hesitou ao se esticar para passar seus


dedos trêmulos sobre o colchão. Pondo a mão de novo em seu peito,
virou-se para mim, ainda parecendo impressionado.

— Não, isso está certo. É exatamente assim que os sentia.


Cristo, não posso acreditar que encontrou os lençóis exatos de
mi.... — Negou com a cabeça, ainda atônito. — Você é a mulher
mais incrível de sempre.

De repente, já não estava nervosa. Sentindo-me poderosa,


cheguei a ele e puxei sua camiseta.

— Então, senhor Ryan — murmurei, levantando o tecido por


cima de seu perfeito abdominal e peito. — Nossos bebês estão
dormindo, e temos este quarto todo para nós. Está pronto para que
uma de suas visões se torne realidade?

— Oh, meu Deus. Sim. — Ele me agarrou pela cintura e me


jogou na cama.

Ri enquanto pulava. Tirando completamente sua camisa, Pick


se apressou a se despir, tirando suas calças. Todo o tempo, seu
olhar faminto preso ao meu.

Também faminta por ele, levantei os quadris do colchão e tirei


minha própria roupa. Ele parou no criado-mudo para pegar o
preservativo antes de rastejar em cima de mim. Ajoelhado com as
pernas nas laterais dos meus quadris, ele me olhou enquanto
colocava a camisinha. Observando a cabeça inchada e molhada
desaparecer dentro do látex antes que se acariciasse, ele me
provocou, deixando seu eixo maciço bem acima do meu rosto para
que eu tivesse uma vista muito íntima do show que ele fazia. Em
seu peito, seu aro do mamilo brilhava pela luz do teto.

Entre minhas pernas estava quente e úmido. Apertei minhas


coxas juntas, não pronta para estar tão excitada. Queria que nossa
última noite durasse o maior tempo possível.

Mas Pick, o Senhor Super Amante, tinha outras ideias. Pegou


minhas coxas e as separou, olhando para mim aberta e latejando
diante dele.

— É a mulher mais linda que conheci, por dentro e por fora.

O amor em seus olhos era tão profundo que podia sentir que
meu próprio peito inchando, como entre minhas pernas.

Mergulhando seu rosto, fez uma festa. Chocada por quão bom
isso foi, embora soubesse o que esperar, estremeci sob sua boca,
pulsando e necessitada. O piercing de sua língua foi impiedoso. Ele
mal enfiou um dedo em mim, antes que meu ventre se contraísse e
meu corpo explodisse. Gritei de raiva, porque não estava pronta
para que acabasse ainda, mas também com paixão porque foi tão
malditamente perfeito.

— Uau, está sensível esta noite. — Pick sorriu enquanto


levantava seu rosto. Era um de seus sorrisos arrogantes e
convencido, que eu adorava colocar ali.

Estiquei minha mão, peguei seu rosto e o devorei. Este beijo


foi quente e carnal, ainda com mais adoração que jamais senti por
alguém. Provando meu gosto em sua língua, gemi e o agarrei
desesperadamente, precisando senti-lo profundo e cheio dentro de
mim.

— Eu preciso... preciso muito...

— Eu sei — ele me acalmou, baixando seus quadris para os


meus. — Tenho você, baby.

Sua penetração foi lenta e tão torturantemente incrível, que


comecei a ter um orgasmo antes que ele chegasse até o fundo.
Percebendo o que acontecia, seus olhos se arregalaram surpresos.

— Porra, Eva. — Ele penetrou completamente, deixando-me


pulsando em volta dele.

Esperando até que eu terminasse, suspirou e logo afastou seu


rosto para me mostrar sua expressão espantada.

— Tomou algum tipo de afrodisíaco?

Suor escorria por minha testa enquanto tentava recuperar


meu fôlego.

— Você é minha única droga — disse ofegando. — Eu só... te


quero tanto.

— Estou aqui. Não tenha pressa. Você me tem pelo resto da


noite. — Movendo seus quadris, beijou minha bochecha e
sussurrou — pelo resto de nossas vidas.

Fechei os olhos e mordi meu lábio. Quem dera.

Enquanto ele deslizava para dentro e para fora, flexionando


seus quadris e, a cada vez me golpeando no lugar certo, não
demorou muito para que meu corpo se acendesse de novo, excitado.
— Vai gozar pela terceira vez, não é? — Brincou, seus olhos
brilhantes e orgulhosos.

— Cale-se. — Bati em sua bunda e gemi, pois, o som erótico


me deixou ainda mais sensível. — Ninguém gosta de um palhaço.

Sua boca baixou a meu ouvido

— Oh, mas acho que você gosta deste... um pouco.

Então ele gemeu e tremeu em cima de mim quando apertei


meus músculos internos ao redor dele

— Descarada — murmurou, movendo-se mais rápido agora.

Amando isso mais quando entrou inteiro, até o fundo, apertei


sua bunda e cravei minhas unhas, tentando mantê-lo lá. Meus
músculos internos estremeciam de prazer. Pick deslizou seus dedos
por meu cabelo e abri meus olhos para vê-lo atento a meu rosto.
Nossos olhos se encontraram, e não tive que lhe perguntar para
saber como se sentia.

— Sininho — ele disse, só que o que eu ouvi foi — eu te amo.

Suspirei atordoada e maravilhada, sabendo que não importa


onde a vida me levasse a partir daqui, sempre amaria este homem
incrível. Sorrindo, tive que dizer

— Eu te amo.

Ele estremeceu e seus olhos desfocaram quando seu pênis


inchou dentro de mim. E isso foi tudo que eu precisava. Gozei pela
terceira vez, jogando minha cabeça para trás e empurrando meus
seios contra seu peito. Ele gemeu, esticando-se antes de empurrar
profundamente e se manter lá, liberando seu amor.
Depois, ofegamos juntos enquanto ele desabava sobre mim
como uma bigorna. Abracei-o com força, desfrutando deste
tranquilo momento de perfeição. Logo, não pude evitar a pergunta
— então, quão parecido fizemos?

Ele riu, sabendo que eu falava de sua visão, e sacudiu a


cabeça.

— Cada porra de detalhe foi perfeito.

Suspirei, satisfeita. — Bom.

Afastou-se para me olhar.

— Tudo ficará bem agora, Eva. Não importa o que aconteça


depois. Tudo ficará bem. Eu sei.

Assenti, contente por poder dar a ele essa paz de espírito,


porque eu garantiria que tudo ficaria bem, para ele e para todos os
outros que eu amava.
EVA

No dia seguinte, esperei que Pick fosse para seu trabalho na


oficina. Beijei-o na porta, tentando não revelar que poderia ser o
último, e, ainda assim, tentando tirar o máximo disso quanto
possível.

E então ele se foi.

Suspirei, obrigando-me a não chorar. Era o momento de


desenterrar a Eva Cadela e recuperar minha atitude. Deixando os
bebês com Reese, dando a desculpa que queria cortar e escovar
meu cabelo. Ela acreditou na história, feliz em me ajudar a cuidar
de meus pequenos.

Entretanto, Mason não acreditou. Segurou meu braço na


porta antes de eu sair e se aproximou para sussurrar

— O que você vai fazer realmente, Eva?

Dei-lhe uns tapinhas na bochecha com um sorriso.

— Não se preocupe com isso. Vou cuidar de tudo. Lembre-se


que tudo o que precisa se preocupar é em fazer a minha melhor
amiga loucamente feliz.

Mas ele negou com a cabeça, estreitando os olhos.

— Não, sério. O que vai fazer? Preciso ir com você?

Suspirei, exasperada e finalmente consegui que ele me


soltasse.
— Não, não precisa vir comigo. Nada de mal vai me acontecer.

Só venderia minha alma ao diabo.

Quando entrei no Forbidden, vinte minutos mais tarde,


minhas mãos tremiam. Só abririam dali a umas oito horas, mas
todas as luzes no clube vazio estavam acesas e uma das melodias
favoritas de meu pai soava no jukebox, dando-me arrepios.

A incerteza aumentou enquanto a voz de Pick encheu minha


cabeça junto com tudo o que diria se soubesse o que eu estava
fazendo: "No que você está pensando, Sininho? Dê a volta e saia daí
agora mesmo. Este plano não vai funcionar. Pense em seus bebês,
eles precisam da mãe. Pensa em mim. Preciso de você. Eu vou atrás
de você onde quer que vá."

Mas não podia pensar em mais nada que pudesse fazer para
salvá-los. Assim fui andando pelo corredor até chegar na porta que
dizia "Gerente". Quando a empurrei sem bater, a primeira coisa que
vi foi Quinn com as costas pressionadas na parede. Afastava a
cabeça da senhora Garrison enquanto ela se apoiava nele,
esticando a mão para seu rosto.

Bufei

— Cadela, você é patética.

Ela saltou e se virou. Quinn imediatamente desencostou da


parede e correu para o meu lado, parecendo aliviado que o salvei.

— Bom, bom, bom — a senhora Garrison murmurou, olhando-


me. — Se não é a garota especial do papai. Ele não te ensinou a
bater?
Levantei o queixo e cruzei os braços sobre meu peito.

— É obvio que não. Ensinou-me a fazer o que eu queira.

A porta do escritório abriu atrás de mim, e uma risada familiar


chegou a meus ouvidos e fez meu coração bater forte e rápido em
meu peito.

— Essa é minha garota — Bradshaw murmurou aprovando.

Virei e levantei uma sobrancelha, aproximando-me de Quinn


sem querer.

— Queria minha atenção — disse ao filho da puta. — Agora já


tem. Aqui estou.

— Sim, aqui está — olhando-me com admiração, andou pelo


escritório. Seu olhar cintilou para a senhora Garrison, e em seguida
para Quinn. — Nos deixem a sós.

A senhora Garrison soprou com desaprovação, mas se dirigiu


à saída.

Quinn não se moveu. Olhou-me, preocupado.

— Pick avisou todas as garçonetes que não ficassem a sós com


ele. Nunca me perdoaria se eu sair.

Não tinha certeza de qual dos homens eu deveria ter mais


orgulho: de Pick, por cuidar de todas as garotas com que
trabalhava, ou de Quinn, por ficar firme ao meu lado. Toquei seu
braço.

— Tudo bem. Ele é meu pai.

Os olhos de Quinn se arregalaram horrorizados.


— B-b-bom, se Pick disse isso mesmo depois de saber quem é,
definitivamente não te deixarei a sós com ele. Apenas finja que não
estou aqui.

Pegou em seu bolso um fone de ouvido, ligou ao celular e se


encostou na parede, dando-me certa privacidade com Shaw.

Sorri para ele, agradecida por não me deixar enfrentar sozinha


meu maior medo.

— Acho que ele vai ficar — falei.

A senhora Garrison bufou

— Bom, se ele ficar, então eu também fico.

— Está bem. — Olhei para meu pai, rindo porque


provavelmente isso estragava metade de seus planos nefastos. —
Não me importo com uma plateia.

Ele resmungou descontente e foi sentar em sua cadeira,


provavelmente esperando que o trono de couro impecável lhe desse
um ar de superioridade.

— Estou pronta para negociar — eu disse, sem esperar que ele


tomasse o controle da conversa.

Um sorriso lento e assustador se estendeu por seu rosto.

— É verdade? Tive a sensação de que mudaria de ideia.

Assenti.

— Se quer que eu volte com você, então assine a escritura


deste lugar para Pick. Agora mesmo.

Ele levantou uma sobrancelha.

— E você voltará comigo? Assim do nada?

— Tenho algumas condições.


Seus olhos se estreitaram ligeiramente.

— Como quais?

— Minha filha não vem comigo. Ela fica aqui com Reese. E
você nunca terá nada a ver com nenhum deles, nem os deixará ter
nenhum contato comigo.

Mordi o interior do lábio com força para evitar que meu queixo
tremesse e meus olhos se enchessem de lágrimas. Deixar minha
Skylar seria o mais difícil. Ia contra todo meu instinto deixar meu
bebê para trás, mas de maneira nenhuma a deixaria crescer perto
dele. E a única maneira de tirá-lo de sua vida para sempre era me
sacrificar. Isto seria o melhor para meus dois bebês. Reese e Pick, e
até Mason, cuidariam deles, e os amariam tal como eu queria que
fossem amados. E nenhum deles jamais teria que voltar a se
preocupar com Bradshaw ou Garrison. Seriam livres para viver o
resto de suas vidas em paz.

— Hmm — murmurou, retorcendo os dedos enquanto me


estudava. — Não esperava isso. Pensei que gostasse muito da sua
pirralha, mas tudo bem, alegremente aceitarei essa condição. —
Seus lábios se arquearam, presunçosos. — Seguinte?

— Tire essa cadela que contratou para atormentar Mason. E a


mantenha longe dele.

Bradshaw lançou um olhar divertido à senhora Garrison.

— Ela não irá de boa vontade, mas vou gostar de mandá-la


embora. Algo mais?

— Sim. Garanta que Pick mantenha seu filho.

Meu pai levantou as sobrancelhas.

— Temo que não sei do que está falando.


Bufei

— Besteira. Sabe tudo o que há para saber sobre ele. E sabe o


que Julian significa para ele.

— Ah, refere-se ao bebê da puta drogada. Esse filho. Sim, sei


muito bem que ele poderia perder o menino se eu ligasse para o
Serviço Social. É uma pena, de verdade. Duvido que qualquer pai
adotivo cuidaria do menino tão bem como seu homem cuida.
Embora nunca permitisse que tal personagem permanecesse ligado
à minha filha, ele parece ser um bom pai.

Ele era o melhor pai.

Deus, eu sentiria falta de Pick, Skylar, Julian, Reese, droga,


até de Mason. Mas faria isso. Para ter a chance de mantê-los a
salvo, faria isso num piscar de olhos.

— Então o ajude a continuar sendo um bom pai.

Bradshaw riu e se recostou em sua cadeira.

— Sério, querida. Não vejo como eu poderia fazer isso.

— Não me importa como faça. Falsifique uma certidão de


nascimento com seu nome. Crie registros de adoção. Não me diga
que não pode fazer isso. Eu te conheço.

— Ok, de acordo. Tem razão. Posso fazer algo assim.

Seu peito se alargou, mostrando o quanto se orgulhava de


seus poderes ilegais.

Revirei meus olhos.

— Então faça.

— E você voltará?
Quando concordei, Quinn resmungou de onde estava. Dei-lhe
uma olhada, mas parecia preocupado com o que fazia em seu
telefone.

A senhora Garrison deu uma risada desagradável.

— Oh, por favor. Diga-me que não fala sério em cumprir todas
as suas ridículas condições.

Meu pai a olhou.

— Falo sério, Patrícia. É exatamente por isso que vim aqui.

Garrison bufou, empalidecendo quando percebeu a seriedade


de meu pai.

— Não — sussurrou. — Bradshaw, por favor, não faça isso. —


Correndo, caiu de joelhos diante de sua cadeira e passou as mãos
por suas coxas em direção a seu quadril.

Ele agarrou seus pulsos e a empurrou para longe dele,


estalando a língua.

— Sério, Patrícia. Não seja tão indecorosa. Além disso, não é


tão boa transando para me influenciar nisso.

Depois de empurrá-la de lado, repudiando-a abertamente, ele


desdobrou o que achei que era a escritura do clube. Agitando sua
caneta, sorriu.

— Você sabe, supus que pediria que o clube fosse posto em


seu nome. Mas acho que seu coração é mais suave do que acreditei.
Isso... é decepcionante. Entretanto, não me importa de quem seja.
Ter você outra vez sob meu teto é o único que me importa.

Enquanto assinava a propriedade do clube para Pick, a


senhora Garrison agarrou o cabelo e gritou
— Não! Não pode fazer isso. Você me fez uma promessa. Deixei
que fizesse o que quisesse comigo. O que acontece com Mason?

Bradshaw suspirou e revirou os olhos como se estivesse


extremamente cansado de seu teatro.

— Você foi um meio para um fim, Patrícia. E não dou a


mínima para seu pequeno prostituto. Minha filha quer você longe
dele, então ficará longe dele.

— Mas...

— Você está demitida — ele interrompeu, olhando-a. — Saia.

Com um grito desumano, Garrison caminhou pela sala para


pegar sua bolsa. Não tinha nem ideia do que ela pretendia até que
abriu o zíper e tirou uma arma.

Abri a boca para gritar. Bradshaw abriu a boca para gritar.


Quinn se afastou da parede, com os olhos arregalados, horrorizado.
E a senhora Garrison levantou o cano, apontando para a cabeça do
meu pai.

— Ninguém me diz o que fazer, seu filho da puta.

— Não — gritou ele, justo antes que ela apertasse o gatilho.

A imagem de sua cabeça explodindo ficou impressa em


minhas retinas. Era algo que nunca seria capaz de esquecer. A
senhora Garrison virou-se para mim, seus olhos enlouquecidos e
lívidos. Levantou a arma em minha direção, e minha vida passou
diante dos meus olhos. Pick, Skylar, Julian, Reese. Estavam
finalmente livres.

Mas droga, eu não queria morrer.


Cento e oito quilos de um jogador de futebol me abordaram e
me levaram para o chão quando a arma disparou. Gritei e aterrissei
com força, batendo a cabeça contra o ladrilho frio com Quinn em
cima de mim. Enquanto ele me abraçava apertado, protegendo-me
dos pés à cabeça, meus ouvidos ressonavam, minha cabeça dava
voltas, e minha visão ficou embaçada.

Tão logo Quinn era um peso morto, uma voz gritou:

— Patrícia!

Embora eu ainda visse estrelas e não pudesse focar


corretamente, vi uma imagem borrada da senhora Garrison sobre o
ombro do Quinn quando ela se virou para a porta do escritório.

— Mason? — Ela ofegou, com voz surpresa enquanto apontava


sua arma para ele.

— Jesus, Patrícia. O que você fez?

Ele voltou para o corredor, mas ficou na porta com as costas


na parede. De onde eu estava, podia ver o canto de seu ombro.

— Eu... Eu... Ele me fez fazer isso. Ele queria separar você
outra vez de mim, afastando-me desse bar. Trabalhei muito para
conseguir que ele comprasse este lugar e que me deixasse
administrá-lo. Deixei-o.... Deixei-o fazer muita coisa comigo, e agora
ele só ia me tirar tudo isso, e levá-lo para longe. Assim do nada?
Nem ferrando.

— Mas você acabou de atirar em alguém. Está louca?

— Estava tão cansada de esperar. Senti sua falta. — O queixo


da senhora Garrison tremeu e seus olhos se encheram de lágrimas.
— Não sabe o que ele fez comigo. Oh, Deus, Mason. As coisas que
ele me fez fazer para poder chegar até você...
A resposta de Mason foi seca e inexpressiva.

— Eram como as que me fez fazer com você? Sim, desculpe-me


se não sinto pena de você.

A boca da senhora Garrison se abriu, chocada.

— Isso... isso não é igual. Você gostava do que fazíamos. —


Quando ele não respondeu, ela soluçou. — Não?

— Por que não abaixa a arma, e vem aqui falar comigo?

— Por que não responde minha maldita pergunta? — A


senhora Garrison gritou.

Em cima de mim, o peso de Quinn parecia aumentar. Quando


senti que algo gotejava e molhava meu braço, olhei para seu rosto,
mas seus olhos estavam fechados. Oh, droga. Não Quinn.

Voltando a olhar para Mason, ele se moveu o suficiente para


que visse seu rosto. Olhou-me e respondeu à senhora Garrison

— Não, eu não gostava.

— Sim! — Ela gemeu, esperneando um pouco mais. — Você


gostava. Você amava. Você amava tanto quanto eu.

Na escrivaninha, Bradshaw estava caído para trás em sua


cadeira, com mais do que gostaria de ver de seu cérebro salpicado
na parede atrás dele.

Fechei os olhos e estremeci, sustentando Quinn um pouco


mais forte e com a esperança de que estivesse bem. Uma sensação
surreal me envolveu, deixando tudo confuso e parecendo um sonho,
até mesmo as divagações da senhora Garrison enquanto soluçava.

— Você adorou, e você me ama.

A voz de Mason foi firme quando disse


— Eu amo Reese.

— Não! — Gritou uma ensandecida Garrison.

Não estou certa do que ele tentava fazer, mas se queria


inquietá-la e deixá-la cada vez mais louca e delirante, estava
conseguindo. Perguntava-me se Mason estava em uma missão
suicida, tentando fazê-la nos matar. Mas pelo menos eu seria capaz
de dizer a Reese mais tarde como ele nunca vacilou em seus
sentimentos por ela, nem sequer por uma mulher louca e selvagem.

Isso, se sobrevivesse o suficiente para ver Reese outra vez.

Quando ouvimos as sirenes da polícia, a senhora Garrison se


assustou. — Oh, Deus. Oh, Deus. Oh, Deus. — Apontou a arma
para o Bradshaw, mas ele já estava morto faz tempo. Arrastando os
pés, indecisa, olhou-me, mas acho que só viu o corpo estendido de
Quinn em cima de mim e o monte de sangue debaixo de nós. — Oh,
Deus, — gemeu — o que devo fazer?

— Patrícia, — Mason disse com calma — acabou. Chega....


Abaixe essa arma.

Ela não abaixou. Levou a arma até seu rosto, colocou o cano
em sua boca e apertou o gatilho.

Mason correu e se ajoelhou ao nosso lado.

— Eva? Está bem?

— Disse a você que não me seguisse — reclamei.


— Certo. Como se eu te escutasse. — Com um suspiro, negou
com a cabeça, só para respirar fundo e focar em Quinn. — Ele
está...?

— Não, ele está vivo. — Acariciei o cabelo de meu salvador. —


Posso sentir sua respiração em meu pescoço.

— Oh, graças a Deus. — Agarrando o ombro de Quinn, Mason


apertou os dentes enquanto rodava a massa de tijolos de cima de
mim — Droga, ele é puro músculo, não é? Porra de jogadores de
futebol.

Chupei o ar logo que Quinn estava fora de mim. Uau, era


muito bom respirar de novo. Quando Mason colocou delicadamente
nosso amigo de costas a meu lado, sentei-me e me arrastei para
eles.

— Há muito sangue. — Quando olhei para baixo, percebi que


meu corpo todo estava manchado, assim como o lado esquerdo de
Quinn.

— Sim — Mason engoliu com tristeza, e levantou o braço de


Quinn para encontrar a fonte da ferida — Aqui. Ela o acertou no
braço.

Tirei a camisa que eu vestia e fiquei com uma regata


manchada de sangue. Quando fiz um pouco de pressão no braço de
Quinn, ele puxou o fôlego.

Escuras pálpebras se mexeram antes que ele balançasse a


cabeça e abrisse os olhos. Concentrou-se em mim, e logo virou a
cabeça ligeiramente para ver Mason antes de me olhar de novo.

— O que aconteceu?
— Você se recusou a me deixar sozinha no escritório com meu
pai, seu doce e nobre idiota — falei.

— E levou um pequeno tiro por isso — acrescentou Mason.

— Sério? — Quinn franziu o cenho enquanto tentava se


sentar. — Não me sinto atingido. Não dói nada — Quando apontei à
ferida sangrando em seu braço que eu pressionava com minha
camisa, ele chupou o ar, e seu rosto imediatamente empalideceu. —
Ok, agora sinto.

Sua voz enfraqueceu, e ele cambaleou.

Mason agarrou seu ombro, estabilizando-o.

— Calma aí. Talvez deva se deitar antes de desmaiar de novo.

Quinn ficou horrorizado.

— Eu desmaiei? Oh, cara. Não vai contar isso a Ten, não é?


Ele nunca me deixaria esquecer.

Dei uma gargalhada chocada, apesar de que o som saiu ao


final em uma estranha tipo de soluço.

— Sim, acho que posso omitir isso e focar mais na parte onde
você se meteu na frente de uma bala para salvar minha vida.

Quinn assentiu, sem entender minha brincadeira.

— Obrigado. Desculpe desmaiar em cima de você. Que


vergonha.

Seus olhos eram tão sinceros que disparei um olhar incrédulo


a Mason. Mas sério, este menino se desculpou depois de arriscar
sua própria vida para salvar a minha?
— Acho que ela vai encontrar uma maneira de te perdoar,
cara. — Os lábios de Mason se apertaram enquanto tentava
esconder seu próprio sorriso.

— Bom. — Quinn se sentou de novo, só para ver os corpos de


meu pai e da senhora Garrison na sala. — Oh — disse, com os
olhos arregalados enquanto passou de branco a verde — Estão...?

— Sim. — Mordi o lábio, negando-me a olhá-los. Meu


estômago protestou e cobri minha boca. — Vamos sair desta sala.

— Boa ideia.

Mason e eu ajudamos Quinn a se levantar. Ele ainda parecia


enjoado, mas podia ficar em pé sem ajuda.

Logo que saímos do escritório, um grito na frente do clube nos


disse que a polícia havia chegado. Mason respondeu, dizendo que
estávamos saindo.

Não sei quanto tempo passou depois disso, mas nós três
ficamos juntos quando nos perguntaram o que aconteceu. Um
enfermeiro olhou o braço de Quinn. O pobre estava ainda mais
envergonhado de ter desmaiado quando percebeu que a bala só
raspou em seus bíceps. Era tão pequena a ferida que os
enfermeiros decidiram enfaixar o corte ali no bar sem sequer levá-lo
ao hospital.

Ferida superficial ou não, eu ainda achava que ele foi muito


corajoso, e lhe disse enquanto lhe dava um beijo de agradecimento
em sua bochecha. Então o abracei, sentindo-me segura com ele a
meu lado.

Quando corou timidamente e baixou o rosto, o oficial acenou


em sua direção.
— E o que fazia aqui, senhor Hamilton?

Não sabia que era possível que Quinn ficasse ainda mais
vermelho, mas ficou.

Olhando rapidamente para Mason, murmurou — a senhora


Garrison me ligou mais cedo antes do meu turno e disse que
precisava que movesse algumas caixas. Mas... não era isso o que
ela queria realmente.

— Depois de limpar a garganta, continuou — quando Eva


apareceu para falar com o.... senhor Mercer, fiquei porque não
confiava nele. Enquanto estava no meu telefone, fingindo ouvir
música, enviei uma mensagem a seu noivo, Pick, contando o que
acontecia.

— Enviou uma mensagem para Pick? — Sentei-me mais ereta


e olhei pelo clube, procurando por ele.

Quinn assentiu, estremecendo, como se desculpando. — Não


tinha nem ideia de que a senhora Garrison tinha uma arma, mas
minha intuição me disse que algo não estava certo. Então segui
meus instintos.

— Graças a Deus — disse o oficial. Ele não fez mais pergunta


depois disso, e se afastou para obter mais informação no escritório.

Olhei os dois homens que me rodeavam, agradecida por


estarem aqui. Se não fosse por eles, eu certamente estaria
enlouquecida e histérica.

Suspirei, precisando de algum alívio cômico. — Sabe, esta é a


segunda vez que atiram em mim em um ano. Esta porra está
virando moda.

Mason bufou e balançou a cabeça.


— Sim, bem, é a segunda vez que tive que tirar a arma da
pessoa que atirou em você.

Eu bufei de volta, não impressionada por seus pequenos


problemas, mas levantei meu dedo quando pensei — oh, a
propósito, você é uma droga de negociador.

Ele jogou suas mãos ao ar, dando-me um olhar incrédulo.

— O que queria que eu dissesse a ela, que também a amo?

— Sim — repliquei. — A mulher tinha uma arma, idiota.


Poderia facilmente ter disparado em você por dizer que amava
Reese. Oh, droga. Ligou para Reese?

— Sim — revirou os olhos. — Está quase louca porque está


cuidando dos bebês e não pode vir aqui ficar conosco.

— Coitadinha. — Apertei seu braço, e observei-o um segundo


mais quando senti seus músculos tremerem com meu toque. Ele
ainda estava bastante nervoso por tudo. Mas, bem, não era o único.
— Você está bem?

Ele me olhou com suas sobrancelhas levantadas.

— Claro. Por quê? Ninguém atirou em mim.

Que mentiroso pensei comigo mesma.

— Bom... — Andei pelo corredor para ir ao escritório. — Sua


violadora está morta finalmente.

Isso tinha que significar algo.

Ele balançou a cabeça como se não quisesse pensar no que


acabava de acontecer, mas então me olhou.

— O seu também.

Engoli em seco.
— Sim. — Oh, Deus. Eu também não queria pensar nisso. —
Acho que isso significa que você está tão chocado quanto eu agora,
hein?

— Basicamente. — Ele pegou minha mão e apertou os dedos


em companheirismo, deixando-me saber que tudo ficaria bem.

Quinn olhou entre nós, com os olhos arregalados.

— Eu provavelmente deveria fingir que não ouvi isso, não é?

Pensei que ficaria horrorizada que outra pessoa soubesse do


meu profundo, sujo e escuro segredo, mas a verdade, é que já não
importava. Pick me tirou de todos os horrores que me
atormentavam, e agora podia encontrar uma maneira de lidar com
isso.

Mas pensar em Pick me fez desejá-lo ainda mais. Se Quinn


enviou uma mensagem de texto de emergência, por que ele não
veio? Eu precisava dele...

E então, como se meus desejos se tornassem realidade,


escutei-o gritar meu nome. Na entrada do clube, ele foi rodeado por
um grupo de policiais que o seguraram dizendo que não podia
entrar. Quando me viu, gritou meu nome outra vez e tentou abrir
espaço com mais força.

Saltei do banco e corri para ele.

— Está tudo bem. Está aqui por mim. Um policial me olhou e


finalmente o soltou.

Ele quase quebrou minha costela quando me abraçou bem


forte.
— Oh, baby. Droga. Você está bem? Estive quase louco desde
que li aquela mensagem. — Olhando o sangue, empalideceu. — Por
que está sangrando? Está ferida? Ele te tocou? O que aconteceu?

— Estou bem. Esse sangue não é meu. Estou bem.

Abracei-o, definitivamente me sentindo muito melhor porque


finalmente estava onde mais queria estar no mundo. Em seus
braços.

E agora que ele estava comigo, todas as emoções que guardei


escaparam. Apertando-o mais forte, enterrei meu rosto em seu
pescoço, respirando seu relaxante aroma de coco, e chorei.

— Pronto — murmurou, acariciando minha cabeça e me


balançando. — Deixa sair, querida. Só deixe sair.

Ele não tinha nem ideia de por que chorava, ou a que eu


sobrevivi. Só sabia que eu precisava liberar todo o medo, o horror, o
choque e a angústia que sentia.

Não tinha ideia de quanto tempo me abraçou até que as


minhas lágrimas secaram. Eu estava grudada nele, e minha cabeça
doía. Ele segurou meu rosto.

— Por que demorou tanto para chegar? — Perguntei.

Ele balançou a cabeça, parecendo atordoado.

— Uma assistente social apareceu na oficina para falar


comigo.

Oh, droga. E eu que mal saí do choque do que acabava de


passar no escritório, fiquei com medo novamente.

— Julian? — Sussurrei, agarrando seu braço.


Graças a Deus que estava com Reese. Nenhum oficial saberia
onde buscá-lo, não seriam capazes de levá-lo, e melhor, Pick e eu
poderíamos voltar lá escondidos e fugir com os bebês para algum
lugar onde nenhum assistente social nos encontraria.

Pick concordou, mas não parecia preocupado.

— Antes de morrer, Tristy escreveu em um lenço que queria


me dar sua tutela. O estado está levando isso em conta junto com a
declaração de um dos policiais que me viu cuidando dele. Vão
colocar sob avaliação, mas ela acha que tenho uma grande chance
de poder adotá-lo.

— Oh, meu Deus — gritei e me atirei para outro abraço. —


Isso é incrível.

— Eu sei. — Ele começou a acariciar meu cabelo. — A


mensagem de Hamilton chegou enquanto falava com ela. Não li até
que ela saiu. E depois... Porra, Sininho. Nunca fiquei tão assustado
em minha vida. — Segurando meu rosto, ele me encarou antes de
grunhir. — Como você pôde ser tão estúpida?

Pisquei, sem esperar por essa pergunta.

— O quê?

— Quer saber por que eu não te disse que ele comprou este
clube? Porque sabia que faria algo estúpido assim. De maneira
nenhuma. Se você partisse, eu teria ido atrás e não pararia até te
encontrar. Você me fez uma promessa, disse que nunca iria
embora. E juro por Deus que a cumprirá.

Assenti, e meus lábios tremeram.

— Ok.

Ele franziu a testa por eu ter concordado logo.


— Concorda?

— Sim, manterei minha promessa. Estarei contigo para


sempre.

Seus ombros relaxaram.

— Sim, estará — murmurou antes de me beijar e apertar sua


testa contra a minha. — Deus, eu te amo tanto.

Pensei que já tinha terminado de chorar, mas mais lágrimas


começaram a cair.

— Eu te amo mais.

— Isso não é possível — ele estremeceu e continuou me


abraçando.

Quando escutei um suspiro, olhei para cima e vi quão


vermelhos seus olhos estavam.

— Oh, baby. Está tudo bem. — Passei os dedos por seu rosto e
beijei suas bochechas. — Já passou tudo.

Ele balançou a cabeça e fechou seus olhos com força.

— Eu não gostei de quase te perder.

— Bom, já não terá que se preocupar com ele tentando me


levar novamente.

Pick suspirou antes de olhar em volta.

— De qualquer maneira, onde está o bastardo? Já o


prenderam?

— Hum... — Não tinha nem ideia de como começar a lhe


contar o que aconteceu.

— Quem é o dono deste clube? — Perguntou um dos detetives,


interrompendo meus pensamentos.
— Oh! — Apontei para Pick. Sim, tinha muito mais que lhe
contar do que pensei inicialmente. — Dele.

Pick me olhou. — O quê?

— Há uma escritura com seu nome no escritório.

Ele balançou a cabeça, ainda confuso.

— Não entendo.

Sim, havia muito mais que lhe contar. E havia um montão de


problemas novos para eu resolver. Mas ao menos desta vez, sabia
que tinha pessoas que me amavam e estavam dispostos a ajudar a
me recuperar. Para mim, isso significava que eu tinha tudo.
TRÊS MESES MAIS TARDE...

Alguns dias eu era grato a Eva pelo acordo que fez com seu
pai. Como o novo dono do Forbidden, eu só tinha um emprego ao
invés de dois. Limpar todo o desastre depois do tiroteio levou tanto
tempo que tive que desistir do meu emprego na oficina, o que era
bom porque agora que as coisas começavam a se acomodar, pude
estar mais com minha família.

Também outras coisas eram melhores. Sininho e eu


encontramos um apartamento maior em um bairro melhor, mais
perto de Reese e Mason. E não só um apartamento maior, mas um
com três quartos, por isso tanto Julian como Skylar tinham seu
próprio espaço e seus próprios berços, longe de nosso quarto.
Poderíamos ser tão barulhentos quanto quiséssemos.

Embora eu ache que os bebês sentiam saudades de dormir


juntos porque às vezes Sininho e eu não podíamos acalmá-los a
noite até que se aconchegavam um no outro.

Também contratamos um advogado para nos ajudar a adotar


Julian. O estado nos permitiu mantê-lo como pais adotivos depois
de passar pela burocracia. Mas ele ainda não era nosso para
sempre.

Mas na maior parte do tempo, eu apertava meus dentes de


frustração por todas as coisas que Eva me fez passar ao fazer esse
acordo com seu pai. Eu tinha agora muito mais responsabilidades;
era uma loucura. Sentado em meu escritório, que foi
completamente remodelado e transferido para outra sala nos
poucos meses depois do assassinato-suicídio, eu tentava organizar
os horários e resolver uma encomenda errada, além de preencher
todos estes malditos formulários legais que nem sequer sabia que
existiam até que me tornei dono do clube, quando uma batida em
minha porta me fez levantar a cabeça.

Era uma quinta-feira, assim tinha que me apressar porque


ainda não tinha um novo garçom para me substituir na noite das
mulheres. Perdi os dois que contratei, já que nenhum deu certo.
Então, eu servia mesas todas as quintas.

O menino que vi rondando em minha porta parecia jovem, com


cabelo escuro ondulado e brilhantes olhos verdes.

— Estou procurando por.... Pick? — Disse como se tivesse


certeza de que entendeu errado o meu nome.

Assenti.

— Esse sou eu. Como posso te ajudar?

Trocando seu peso de um pé para outro e parecendo nervoso,


estendeu a mão quando fiquei em pé e me aproximei dele.

— Senhor, sou Asher Hart. E eu...

— Já nos vimos antes? — Franzi o cenho conforme me


aproximava mais. Parecia tão malditamente familiar.
Ele hesitou, ainda mais ansioso enquanto piscava.

— Não. Acho que não.

— Hmm. — Estudei-o com mais atenção enquanto ele


continuava.

— Bem, meus amigos e eu começamos uma banda. Tocamos


um tipo de metal pesado com um toque folclórico e nós chamamos
Non-Castrato. Acho que nos encaixaríamos com o público do
Forbbiden.

Arqueei uma sobrancelha, fazendo meu piercing levantar um


pouco.

— Oh, fariam, não é?

Nunca tivemos uma banda ao vivo, não tinha nem sequer um


DJ ou uma área apropriada para música. Mas a semente que
plantou já fazia minha cabeça girar com uma repentina rajada de
ideias.

— Sim — continuou parecendo animado. — Vocês estão se


tornando muito populares ultimamente. Imagine o que faria ter
alguns shows de grupos locais. — Logo acrescentou — podemos
tocar de graça.

Sorri e neguei com a cabeça. Este menino era muito bom


vendedor. Mas mesmo assim....

— Sinto muito, Hart, mas nem sequer considerei trazer


bandas. Neste momento, ainda estou tentando encontrar outro
barman.

— Eu poderia ser garçom — disse gentilmente, com os olhos


cheios de esperança. Logo encolheu os ombros, e deu um sorriso
triste. — Quero dizer, se não nos pagar por tocar, teria que ganhar
dinheiro de algum jeito. Nas noites que não tocarmos, posso servir
bebidas.

Seu entusiasmo me animou, mas me sentei de novo e cruzei


as mãos debaixo do queixo enquanto o estudava.

— Você não deve ter uma mulher.

A pergunta pareceu apanhá-lo de surpresa.

— Uh, não. Por quê?

— Acaba de me prometer todas as suas noites. Isso não vai


deixar muito tempo para nada mais.

Um lento sorriso se estendeu por seu rosto.

— Está dizendo que estou contratado?

— É claro que está contratado — uma nova voz respondeu da


porta. Eva entrou na sala, parecendo tão incrível, que porra, quase
brilhava. Dirigiu-se a Hart, pegou suas mãos e sorriu. — Acho que
a ideia é maravilhosa. Poderemos fazer muito se pusermos um
palco e um sistema de som. E com seu entusiasmo, já sei
exatamente quem se encarregará disso. Bem-vindo ao Forbidden.

Quando ela foi abraçá-lo, zanguei-me e fiquei em pé. Não me


incomodava que ela entrasse aqui e tomasse decisões. Além de
cuidar de nossos filhos, era também minha parceira na
administração do negócio. De fato, geralmente se encarregava de
preencher toda a papelada legal que eu odiava, embora eu ainda
tentasse aprender a lidar com eles.

Não, fiquei chateado porque Asher Hart parecia muito


entusiasmado em abraçar. Seus olhos pareciam vidrados quando
ela se afastou e sorriu para ele.
Pegando sua mão, puxei-a para meu lado e a abracei pela
cintura.

— A propósito, ela é comprometida.

Hart nos olhou.

— Eu meio que percebi quando vi seu nome tatuado nela.

— O quê? — Surpreso por sua declaração, virei-me para


Sininho e segurei seu queixo antes de virar seu rosto até que pude
ver atrás de sua orelha. Quando vi a tinta preta, fresca, soletrando
meu nome, prendi a respiração. — Porra, você realmente a fez.

Ela piscou para mim.

— Não queria que alguma de suas visões não se tornasse


realidade.

Dei um sorriso imenso e a beijei por muito tempo. Lembrando


que tínhamos companhia, olhei para cima para ver Hart nos
observando, divertido.

— Então, quando posso começar? — Perguntou.

— Esta noite — começava a lhe dizer que cada novo garçom


tinha que debutar em uma noite de senhoras, quando de repente
me dei conta onde eu o vi. A tatuagem atrás da orelha da Eva
trouxe a visão de volta a minha mente. Hart era o DJ que tocaria
em meu casamento.

Percebendo que ele teria um papel mais importante em meu


futuro do que achei a princípio, sorri para ele.

— Sim, acho que vai se encaixar muito bem. Use uma


camiseta preta justa e jeans, e apareça antes das seis, que é
quando abrimos.
Um sorriso se estendeu no rosto de Hart.

— Farei isso, chefe.

Depois de que desapareceu do meu escritório, a mulher que


me abraçava pela cintura me olhou com adoração absoluta.

— Suponho que não está zangado comigo por contratá-lo


imediatamente. Só tive um bom pressentimento sobre ele.

Abaixei-me para esfregar meu nariz pelo seu.

— Não se preocupe. Tive a mesma sensação. Definitivamente


temos um novo menino Forbidden.

— E ele é definitivamente sexy o bastante para se encaixar —


respondeu, seus olhos azuis únicos brilhando, travessos.

Estreitei os meus.

— Oh, acha que ele é sexy, né? Por isso estava tão ansiosa por
abraçá-lo?

Ela riu, fazendo o som que eu mais gostava no mundo.

— Não, eu o abracei para te deixar assim com ciúme e como


um homem das cavernas me afastasse dele.

— É uma mulher perversa — murmurei. — Essa é a única


razão pela qual veio hoje? Para que te mostre como sou louco por
você? Pensei que ficaria em casa com os bebês.

— E estava, mas... — Abriu sua bolsa e tirou um envelope


oficial. — Isto chegou pelo correio, então deixei as crianças com
Reese e vim direto aqui.

Meu estômago se revirou, inquieto. Ultimamente recebemos


muitas cartas do estado. Depois da morte de seu pai, seu
testamento estipulava que Eva receberia uma boa parte de sua
herança, que foi obrigada a compartilhar com sua mãe recém viúva.
Mas ela contratou um advogado para brigar por mais dinheiro,
então tivemos que pôr nosso novo advogado para trabalhar mais
para contra-atacar.

Eva disse que não queria nenhum dinheiro de seu pai, mas
pensei que ele a devia, e mais ainda. Por Skylar, Julian e nossa
futura Chloe, decidiu mantê-lo.

— É do Serviço Social — disse, surpreendendo-me.

Não pensei que teríamos notícias sobre Julian tão rápido. Uma
nova preocupação corroeu meu estômago quando colocou o dedo na
fenda e abriu a carta. Abraçando-a com força, prendi a respiração
enquanto ela examinava rapidamente a única página.

Ela me olhou nos olhos, séria. Quase comecei a soluçar nesse


momento. Não nos deram a adoção, não é? Íamos perdê-lo. Então
as lágrimas irritaram seus olhos.

— Disseram que sim. Oh, meu Deus. Disseram que sim.


Podemos adotá-lo.

— O quê?

— De verdade podemos ficar com ele.

Abraçando-me, rindo e chorando ao mesmo tempo, Eva


começou a pular e chorar de emoção.

— Oh, droga. — Em uma fração de segundo, eu estava


chorando com ela, lágrimas de alegria corriam por meu rosto.

Levantando-a, girei a minha mulher em um círculo e solucei


em seu pescoço. Enquanto nos abraçávamos com força, perguntei-
me por que este momento não esteve em nenhuma de minhas
visões. Não sabia se alguma vez já me senti tão feliz e aliviado.
Mas acho que madame LeFrey não queria que eu visse muito.
A maldita bruxa me fez sofrer. O que me fez apreciar mais o
momento.

— Eu te amo tanto — disse a Eva, beijando do seu pescoço até


a sua boca.

Ela encontrou meus lábios e me beijou também. — Eu


também te amo.

— Mas, antes que o adotemos têm que me fazer um favor.

— Qualquer coisa. — Ela prometeu, só para parar e me dar


um olhar receoso. — Espera. O que tenho que fazer?

Pisquei e disse

— Casar comigo.
OITO ANOS DEPOIS...

— Tem certeza que está pronta para isso?

Sorri para meu marido quando ele se virou para a longa


entrada da nossa garagem. As árvores no jardim projetavam uma
sombra agradável antes de revelar nossa casa de quatro quartos.

— Por que está tão preocupado? Não vejo por que esta vez é
diferente da última.

Ele me deu um olhar seco.

— Os gêmeos não existiam na última vez que veio do hospital


depois de dar à luz.

Disse os gêmeos como se realmente quisesse dizer terrores.

Eu ri e balancei a cabeça.

— Estou certa que não destruíram tanto a casa.

Pick bufou.
— Reese provavelmente está tentando tirá-los do teto agora.
Eu te disse que deixar que ela e Mason cuidassem de nossos filhos
enquanto você estava no hospital era uma má ideia. Quem sabe que
tipo de hábitos seus loucos gêmeos já ensinaram a nossos anjinhos
perfeitos.

— Meu Deus. Você está ficando um velho dramático, Patrick.

Mas ele tinha razão.

Os meninos de dois anos de Mason podiam ser um verdadeiro


terror. Não paravam o dia todo, curiosos por tudo e sempre
dispostos a brincar. Escutamos a agitação vinda de dentro da casa
assim que Pick desligou o motor e abriu a porta do carro. Olhando-
me com os dentes apertados, murmurou — ainda acha que estou
exagerando?

Revirei os olhos.

— Estou certa que Reese pagará pelo que quebrarem.

— Que lindo! — Ele desceu do carro e abriu a porta de trás


para tirar com cuidado nosso filho de dois dias de vida, dormindo.
Parando para olhá-lo, seu rosto se suavizou imediatamente. —
Senhor, ele é perfeito.

Dei a volta rápido pelo carro para passar meus dedos por suas
costas.

— Porque se parece com seu papai.

Pick piscou enquanto soltava a cadeirinha do bebê.

— Tome cuidado, Sininho ou estarei pronto para começar a


fazer o bebê número cinco.

Eu gemi.
— Acho que quatro já é suficiente.

— Oh, vamos. Ainda nem sequer temos uma equipe de


basquete.

Quando eu lhe dei um olhar fulminante, ele riu. Ainda irritava


Pick nunca ter tido uma visão do bebê número quatro. Depois que
Chloe nasceu, ele estava certo que já tínhamos todos os nossos
filhos. Mas então engravidei outra vez, e honestamente, fiquei
emocionada que ele estivesse tão impactado. Os primeiros anos de
nosso casamento foram extremamente injustos. Ele sabia cada
coisa importante que aconteceria. Sabia que Chloe seria uma
menina, que esta seria nossa casa no momento em que entramos e
vimos o quintal. Mas agora estava tão desorientado sobre o futuro
quanto eu. E era bom finalmente saber tanto quanto ele.

A porta da casa se abriu antes que chegássemos a ela.

— Eu carrego o bebê! Eu carrego o bebê! — Gritou um


pequeno borrão que eu sabia que era Gracen, um dos gêmeos
terríveis de Mason. — Bebê.

Pick agarrou o filho de Reese pela cintura com um braço,


enquanto continuou levando o novo bebê em sua cadeirinha com o
outro.

— Nem pensar, amigo — disse a Gracen.

Quando o menino começou a espernear, Pick o empurrou para


sua mãe quando ela também apareceu, com um grande sorriso.

— Toma. Controle seu filho.

— Oh, ele saiu? — Reese levantou o menino muito alto em


seus braços e o fez rir.

— Eu carrego o bebê — exigiu Gracen.


Reese riu e beijou seu nariz.

— Eu primeiro, espirro.

Julian foi o primeiro a nos abordar quando passamos pela


porta.

— Mãe! Você está em casa. Ninguém nos disse que já estava


em casa. Você está bem?

— Estou ótima. — Abracei-o e baguncei seus cachos escuros.


— Feliz por estar em casa com vocês de novo. Como estão as
coisas... aqui?

Uau, havia mesmo algo não identificável e azul gotejando do


nosso teto.

Ele me olhou e sorriu, seus olhos escuros quentes de


adoração.

— Íamos te fazer um jantar especial.

— E limpar — acrescentou Reese com tristeza.

Olhei boquiaberta ao redor da sala da frente. Atrás de mim,


Pick murmurou

— Oh, meu Deus. Por acaso uma bomba explodiu aqui?

— Não. Só três crianças de dois anos e duas de oito —


respondeu Reese.

— Eu não fiz nada dessa bagunça — Skylar anunciou


enquanto ia para Pick para ver seu novo irmãozinho. — Oh, meu
Deus — murmurou, com os olhos arregalados, assombrada. — É
tão pequeno.

Pick bagunçou seu cabelo e a puxou para ele.

— Acredite em mim, você era muito menor quando nasceu.


— De jeito nenhum. — Seus olhos estavam arregalados e se
inclinou para olhar mais de perto.

Mason apareceu na porta da cozinha, carregando Chloe.


Minha filha mais nova era uma garota do tio e grudava no pobre
Mason sempre que ele estava por perto. Ao nos ver, ela sorriu e
disse — mamãe.

— Mas parecia satisfeita ficando onde estava.

— Onde está a Coisa Dois19? — Perguntou Pick, procurando


desconfiado pela senhorita Isabella, a segunda gêmea. Quando
estava por perto, fazia com que Gracen parecesse tranquilo.

— Dormindo — respondeu Mason. Então apontou com o


queixo para a cadeirinha. — O que tem aí, Pick?

Pick me olhou e sorriu, e me senti tão cheia de amor, rodeada


pelas minhas pessoas favoritas na Terra. Levantando seu filho, Pick
anunciou:

— Atenção todo mundo, conheçam Patrick Mason Ryan.

19
Personagens do filme “The cat in the hat”, do Dr. Seuss.

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