Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Escola de Senhoritas 06
Casar antes de ir para cama com ele
Esta tem sido uma época turbulenta para mim. O primo Michael e eu
pusemos fim em nossa correspondência, depois dele ter ficado zangado com minhas
repetidas tentativas de determinar sua verdadeira identidade e disse que não iria
escrever mais.
O silêncio dele quase me destruiu. Nunca percebi o quanto dependia de seus
conselhos até agora, juntamente com sua amizade. Mas como ele poderia me
abandonar, especialmente com a escola neste momento de necessidade? Veja você,
meu vizinho, o Sr. Pritchard, está determinado a vender sua propriedade para um
homem que vai construir uma pista de corrida lá, e eu não posso ter um
empreendimento tão escandaloso tão perto. Quem não sei a quem recorrer.
Meu primo sempre me ajudou quando parecia que o Sr. Montalvo tinha o
mesmo objetivo, mas agora estou realmente em apuros, eu não consigo contatá-lo
em nenhum lugar.
Para piorar a situação, alguém está de volta na minha vida e isso me deixa
muito nervosa. Veja minha amiga, estive uma vez apaixonada por um jovem, e
terminou mal. Eu fiz algo imperdoável para ele. Agora acho que, com seu
súbito interesse renovado em mim, meus sentimentos em relação a ele são tão
profundos como eram antes.
Mas? Posso confiar em suas razões para me receber?Ele deve me odiar pelo
que fiz. Então, se me corteja por causa de algum segredo, ou a tardia necessidade
de vingança? Ou estará dizendo a verdade quando diz que deixou o nosso
passado para trás?
Ah, como gostaria de poder recorrer ao primo Michael para me aconselhar
sobre este assunto. Mas tenho medo de que essa não seja uma opção, inclusive a
maioria das minhas cartas implorando ficaram sem resposta. Estou por conta
própria agora ...
Não estou? Simplesmente não consigo pensar!
Desesperada por respostas,
Charlotte Harris,
Proprietária e diretora da Escola para Senhoritas da senhora Harris
CAPÍTULO UM
Richmond, Inglaterra
Novembro 1824
David pediu a Deus que nunca tivesse permitido a ele começar com a farsa do
primo Michael. Seu coração estava trovejando tão forte que tinha certeza que ela iria
ouvi-lo, e iria espremer até a última gota de sua vontade, se ele não dissesse a verdade.
Mas isso não era possível. A única maneira de resolver esta situação de risco em
que a escola se encontrava era entrar de novo na vida dela, como ele mesmo, sem que
ela soubesse coisa alguma sobre seu alter ego.
No entanto, ele percebeu a largura dos belos olhos azuis e a palidez da bochecha
semelhante ao pêssego que o surpreendeu. Isso seria bom? Ou seria um mau presságio
para o seu plano?
Era difícil dizer. Charlotte sempre teve um talento especial para confundi-lo, como
quando era uma menina, ela fez coisas tão pouco ortodoxas como escalar árvores e
montar em pelo no cavalo dele. Apesar dos anos que a conhecia, nunca soube muito bem
o que esperar dela.
Isso seria condenado difícil, inclusive mais do que os seis meses de luto havia
sofrido até agora, seis meses sem escrever, sem tranquiliza-la sobre a situação. Se
pudesse ter esperado todo o ano para vê-la, poderia ter sido mais fácil, mas as coisas se
tornaram muito sérias com Pritchard para isso.
Tanto, que havia se conformado em esperar até que pudesse levar meio luto,
quando a sociedade acharia menos escandalosa uma associação entre ele e uma bela
viúva.
Agora tinha que fingir que não sabia de todas as dificuldades que ela teve com a
escola até à data.
Esconder o fato de que eu não tinha ideia de como ela estava inquieta por não ter
noticias dele. Fingir que não estava plenamente consciente de como o suicídio de sua
esposa havia acrescentado aos problemas de Charlotte porque reviveu novamente cada
escândalo já falado sobre a escola.
Dizer que era o primo Michael estava fora de discussão. Tão ilógico como Sarah
ter deixado dinheiro para a escola, deveria parecer a Charlotte que ele estaria
desempenhando este papel durante todos esses anos. Ela iria exigir saber por que ele
passou os últimos 14 anos ajudando uma mulher que tinha todos os motivos para odiar.
E então teria que revelar a verdade — que tudo havia começado como um plano
diabólico para vingar-se dela.
Não importa que seu desejo de destruí-la e a pequena escola havia desaparecido
há muito tempo, porque a base do plano ainda existia.
Pritchard estava determinado a conseguir o que queria, não importa quem ou que
destruísse. Então, David teria que corrigir a bagunça abominável que havia criado antes
que ela descobrisse.
Infelizmente, a farsa que ele fez com o companheiro espanhol Diego Montalvo,
que fingiu querer comprar Rockhurst no ano anterior, havia demonstrado que David não
podia mais lidar com a questão de longe como primo Michael. Era necessário mais
controle, e isso significava que termina a farsa.
Horrível como tinha sido, a morte de Sarah lhe deu a oportunidade. Ele interviria
como ele mesmo, inventando um legado financiado com o dinheiro que ganhou com
alguns investimentos ao longo dos anos. Não mais — primo — e não mais cartas de
conselho.
Nem poderia dizer a verdade a Charlotte.
Sentir-se-ia arrasada quando percebesse que o amigo — o primo Michael — havia
semeado as sementes de sua destruição; Em seguida, ela iria resistir a deixá-lo ajudar.
Depois de perder a luta para salvar Sarah de si mesma, se recusava a ver outra
mulher se afogar por causa dos erros dele. Sua consciência não permitiria deixar que
Charlotte perdesse a escola, única fonte de renda, por conta de uma farsa de sua
autoria. Isso significava que tinha de convencê-la a ver o sentido das coisas.
Sabendo que Charlotte seria terrivelmente difícil.
Especialmente quando ela olhava para ele como se tivesse lhe surgido chifres.
—Por que Sarah iria querer que você supervisionasse a construção da nova escola
— Perguntou.
—Você esqueceu o meu interesse em arquitetura?
—Uma coisa é ter a arquitetura como um hobby senhor. Outra bem diferente é o
desenho de um edifício inteiro.
Seu desdém excitou.
—O que Sarah sabia — e você não — é que o meu interesse em arquitetura é mais
do que apenas um hobby. Eu tenho trabalhado em estreita colaboração com o arquiteto
John Nash na construção da minha cidade natal, e eu era responsável pela maior parte da
restauração de Kirkwood Manor. Você não reconheceria agora.
—Estou certa que não — ela murmurou com um rubor súbito que o fez
cambalear.
Tão fácil como isso, ele foi catapultado de volta a festa de verão na casa de seus
pais e a lembrar um punhado de doces beijos. Meu Deus! Se continuasse corando como
um colegial quando se referisse ao seu passado, teria problemas para manter as mãos
longe dela.
Sufocou uma maldição. Ele teria problemas de qualquer maneira. Ela ainda era
uma beleza e, depois de todo esse tempo, seu sangue ainda fervia ao vê-la, a visão de seu
lábio inferior macio levemente inclinado, e a riqueza dos cachos vermelhos. Inclusive o
rosto maduro e a figura única e bem torneada, lhe deu vontade de jogá-la em cima da
mesa e tomá-la.
No entanto, ele ainda estava de luto por uma mulher que tinha escolhido mal,
ainda se afogando na culpa por seus próprios erros. Um relacionamento amoroso com
Charlotte só faria as coisas piores.
Como um tolo havia dado seu coração uma vez a ela, e agora ele não era tão
estúpido para fazê-lo novamente.
Não que ele tivesse muito de si mesmo ainda. Havia sobrevivido aos últimos anos
se mantendo a distância, e não estava disposto a se abrir para ela voltar a massacrá-lo e
transformá-lo em pó.
—O ponto é discutível, de qualquer maneira — Charlotte disse, assinalando
novamente a pergunta que ocupava. —Você não pode construir uma nova escola em uma
propriedade que não é minha.
—Então, compre um imóvel um outro lugar e construa a escola lá. — Ele
respondeu ofegante. Ele já havia dito o mesmo antes em algumas das cartas, mas ela o
ignorou. Então, ele teve de se abster de escrever, rezando para que uma vez que a
conexão fosse restaurada, e convencê-la a confiar nele, seria mais fácil de usar, em vez
do, primo. Teria que convencê-la a sair da escola antes de ser expulsa. Ela não sabia quão
próxima estava do perigo. E ele não poderia dizer, sem o seu castelo de cartas viesse
abaixo.
—Você assume que posso me permitir tal coisa —, disse. — Inclusive com o
legado.
—Você não ganhou uma boa quantia no evento beneficente na última primavera,
quando o mágico se apresentou? Se a isto somarmos uma hipoteca razoável e o dinheiro
de Sarah, você pode comprar uma propriedade e terá de sobra para construir um novo
lugar.
Ela arqueou uma sobrancelha.
—Você tem alguma ideia de quanto custa para construir perto de Londres nos dias
de hoje?
—Tem que ser perto de Londres? — disse, irritado. — Há escolas em toda
Inglaterra.
—Sim, mas nenhuma com a reputação da minha. E eu não quero deixar
Richmond. Meus amigos estão por perto, e para que eles ter as meninas perto da cidade
significa uma melhor chance de educá-las. A menos que o Sr. Pritchard faça uma vil
escolha de inquilino e me ponha em uma situação onde tenha que me mudar, tenho a
intenção de continuar aqui.
Ela não iria continuar ali por muito tempo, porque a propriedade não pertencia ao
primo Michael. Pertencia a Pritchard. David tinha um penhor secreto sobre a propriedade
onde coletava o aluguel, mas ficaria sem isso no prazo de oito meses, tempo apenas o
suficiente para construir uma nova escola.
Droga, por que ele não tinha inventado um legado grande o suficiente para ela
comprar um imóvel ali onde quisesse?
Porque ele não havia pensado que ela iria insistir em ficar perto da cidade. E
porque ele não soube que ela acharia a quantidade suficientemente suspeita como
estava.
—Não está pensando no futuro, Charlotte. Um dia, seu primo com certeza
aumentará o aluguel além do que você pode pagar, e então você vai fazer?
Com um pequeno gesto franziu o cenho.
—Talvez... — Ela se animou. —O que aconteceria se eu tentasse comprar a
propriedade do primo Michael?
Seu intestino se contorceu.
—Tem certeza que venderia?
—Não. — Um sorriso tocou seus lábios. —Mas posso ser muito persuasiva
quando quero.
Ele sabia muito bem disso. Infelizmente, ela estaria lidando com Pritchard, que
não poderia vender o imóvel porque estava amarrada.
—Todavia ainda teria que vendê-la devido as intenções de seu vizinho em
Rockhurst.
Ela se inclinou para trás, franzindo o cenho.
—Sim. É verdade. Embora possa ter alguns métodos para mitigar isso.
Ele sabia que seus métodos, não iriam funcionar. Pritchard queria recuperar a
propriedade no segundo em que a imposição findasse.
—Realmente seria melhor tentar comprar e construir em outro lugar.
—Mas não posso me dar a esse luxo.
—O que aconteceria se eu ajudá-la a encontrar um imóvel perto da cidade que
você possa pagar? Um lugar onde você possa construir a escola exatamente como deseja
— Ele poderia subsidiá-lo sem o conhecimento dela. Simplesmente faria um acordo
privado com o vendedor.
—Por que você faria isso? — Perguntou Charlotte, apertando os olhos.
Ela era tão inconstante como ele esperava.
—Porque devo honrar os desejos da minha falecida esposa. —Considerando a
quantidade de dano que sua esposa tinha feito para a reputação da escola, certamente
poderia ser perdoado por usar sua memória para amenizar as coisas. —Sarah teve
claramente um razão para dar este dinheiro. O mínimo que posso fazer como marido é
tentar terminar a tarefa estabelecida para mim.
Certamente dezoito anos haviam aumentado os sentidos de Charlotte.
Ele só teria que manter pendurada as trinta mil libras na frente dela. Se tivesse
feito como primo Michael, teria aumentado o aluguel para obrigá-la a fazer.
—Direi uma coisa, Charlotte, por que você não escreve a seu primo e veja o que
ele diz sobre vender o imóvel a você? Enquanto isso, amanhã trarei uma lista de
propriedades locais para venda. Poderíamos dar uma olhada e falar com os vendedores.
—Não posso. Amanhã é o encontro das damas de Londres.
—Ah, sim, uma das instituições de caridade que Sarah mencionou que estava
envolvida.
—Ela participou de poucas, e ainda quando o fazia, se queixava de gastar muito
tempo com elas. —As sobrancelhas acobreadas de Charlotte se juntaram em uma
carranca. —Você tem certeza de que ela deixou o dinheiro para a minha escola?
Ele tremeu de irritação.
—Está escrito no documento que lhe dei. Peça a seu advogado que o reveja.
—Farei isso, não se preocupe.
—Se não tiver um advogado, posso sugerir um.
—Tenho um advogado, pelo amor de Deus —, disse ela na defensiva. — Acha que
sou alguma idiota?
—Estava apenas indicando.
—Sim, sempre foi bom nisso, não? — Alfinetou. — Quando indica. Quando
sugere. Intimidando. Bem, ninguém me intimidará quanto à mudança desta escola até
que eu esteja absolutamente certa de que seja necessária — nem Pritchard, nem
ninguém. Não sou a mesma tola que era aos dezoito anos, Lorde David, e posso lidar com
meus próprios assuntos sem sua ajuda ou a de qualquer outro homem!
E com isso, o passado desabou entre eles, tão palpável quanto um muro de pedra.
Ele fez o possível para se acalmar. Já era ruim o suficiente que o golpe que ela
havia dado em seu coração e orgulho meia vida atrás continuasse doendo,
provavelmente, mais ainda hoje, porque ela estava ali, na frente dele. Mas ela persistiria
em pensar o pior dele, todavia?
Não que isso importasse, contanto que ele pudesse reparar o erro. Eles poderiam
ter matado o que houve entre eles naqueles dias inebriantes, mas ele ainda poderia
oferecer ajuda, inclusive sua amizade.
—Tenho certeza de que é uma mulher muito capaz —, disse depois de um tempo
— e não tenho vontade de forçá-la a qualquer coisa que não seja a atender seus
propósitos.
A mortificação fez surgir nas bochechas femininas um rubor inesperado.
—Desculpe-me, não deveria ter falado com tanta franqueza. — Ela se levantou. —
Sou grata a você por dar tanta atenção aos meus interesses, e muito honrada por Sarah
ter me deixado um legado. Mas antes que isso vá mais além, vou precisar que meu
advogado examine os documentos. Quando isso for feito, vou considerar todas as
possibilidades e ramificações, e lhe farei saber minha decisão. Isso vai levar tempo.
—Quanto tempo? — Exigiu ele.
—Não posso dizer. Mas vou mantê-lo informado.
A raiva fervia nele. Então, ela acreditava que com isso iria detê-lo, certo? Ao
inferno se conseguiria.
Ela fez um gesto em direção à porta.
—Agora, se me der licença, milord...
O formalismo deliberado em - milord - foi a última gota. Ele se levantou.
—Enquanto seu advogado estuda os documentos. — Seus olhos se estreitaram
sobre ela. — Tenho a intenção de estar aqui novamente amanhã. E no dia seguinte. E no
dia seguinte, até que você tome uma decisão. Não vou desonrar a memória de Sarah ao
deixar que este assunto se estenda.
Enquadrando os ombros, Charlotte abriu a boca, mas ele tinha um trunfo.
—Claro, você pode rejeitar a doação, e eu entendo se você fizer isso. Nunca
realmente gostou de mim.
Ela se encolheu em sua alusão à forma como ela havia o humilhado publicamente
naquele maldito verão. Bem. Agora ele havia deixado claro que tomaria sua recusa como
uma repetição do que havia acontecido anos atrás, a culpa poderia impedir de somar
mais insultos a ferida que havia causado no passado.
Ela suspirou.
—Me dê dois dias, até que meu advogado revise isso. Tenho minha reunião
amanhã, mas acho que está tudo em ordem com os documentos, você pode vir no dia
seguinte, e discutiremos como proceder.
—Obrigado. — Ele lutou para esconder o alívio, fez uma reverencia. —Até então.
Enquanto ele saia da sala, sabia que só havia vencido apenas uma pequena
escaramuça. O tempo tinha confirmado a opinião que Charlotte tinha dele, uma opinião
matizada pelas maquinações de seus pais e os eventos que saíram do controle. Isso não
seria fácil.
Mas, apesar de seu passado, ele pretendia salvá-la de si mesma. Desta vez não
seria como da última. Talvez, então, poderia finalmente colocar para descansar sua
persistente obsessão com Charlotte Harris e virar a página.
CAPÍTULO TRÊS
Berkshire
David orvalhou mais uísque em seu casaco, então deu uns tapinhas na bochecha.
—Que diabos você está fazendo? — Perguntou uma voz atrás dele. Ele pulou, e
depois soltou um suspiro. Era só Giles.
—Preparando-me para a chegada dos Page. — Seu irmão mais novo o olhou
intrigado.
—Jogando uísque em seu casaco?
—Certamente já adivinhou porque virão aqui depois de todos esses anos.
—Porque papai os convidou, apesar de nossa mãe os odiá-los.
—Para ser honesto, não tinha pensado muito sobre isso.
—Isso é porque você é o que papai espera que se case com Charlotte Page. —
Giles riu.
—Não é engraçado — David apertou, enquanto colocava o casaco umedecido em
uísque.
Uma aspiração o sufocou. Talvez ele tivesse exagerado um pouco. No entanto,
deveria deixar a menina pensando que ele bebia o tempo todo. Ele precisava desta
medida drástica para evitar a adoração em seus olhos e no do intrigante pai.
—Lembro-me de Charlotte — disse Giles. — Ela pensava que foi você quem
pendurou a lua. Até que aconteceu o “Negocio do Macaco” —.David olhou para ele.
—Do que você está falando?
—Você não lembra? Não, claro que não. Você foi para Eton pouco depois.
—Depois do que?
Giles riu.
—Não importa. Por Pai quer que case com ela?
—Porque Charlotte é uma herdeira. E conhecendo nosso pai, está pensando que
Lorde Page estará mais disposto a emprestar dinheiro para sua última aventura de
risco. Claro, sou o único que tem que fazer isso pela família. —Sou o único que tem que
sofrer casando com uma garota que mal conheço.
—Suponho que seja porque papai e mamãe tiveram um casamento arranjado,
imaginam que “Pau que dá em Chico dá em Francisco”1.
—Bem, não sou Francisco.
—Parece que você terá que seguir o exemplo da mãe e do pai. Eles se dão muito
bem—. Giles caiu na cama de David. — Ou pensa fazê-lo pelo verdadeiro amor? Porque
você sabe o que papai diz sobre isso. — O amor é para os tolos e crianças, mas o dinheiro
governa o mundo.
—Eu não me importo com o que o papai diz: — sussurrou David. — Há alguma
frieza na escolha de uma esposa de acordo com seu status e riqueza. — Seu amigo
Anthony lhe disse uma vez que ele era um romântico, um tolo. Ele só não queria ser
tratado como um garanhão de leilão. Escolheria a própria noiva, depois que tivesse
desfrutado um pouco do mundo, é claro. E quando tivesse que casar, não seria apenas
pelo dinheiro. Franziu o cenho no espelho.
1
Fiz uma analogia, pois a expressão original seria "What's sauce for the goose is sauce for the gander".
—É ruim o suficiente que eu tenha que lidar com o mordomo e os inquilinos
desde que deixei Cambridge porque ele está muito ocupado perseguindo o grande
investimento que virá, para que tenha que me amarrar também apenas para ajudar o pai
a cobrir suas apostas arriscadas.
—O que pensa a família dela? Por que deveriam estar interessado neste
casamento? — Quando David olhou para ele com desconfiança, ele acrescentou: — Ohh,
claro. O título. Este é um momento em que não invejo ser o herdeiro. — Ele recostou-se
sobre os cotovelos.
—Charlotte teve a oportunidade de apresentar-se na sociedade?
—Não — David pegou gravata torta. Giles riu de novo.
—Essa é provavelmente a razão pela qual Page quer que ela se case com você. Ela
deve ter se transformado em uma mulher feia de fato, se ele pensa que, inclusive seu
dote não serviria para lhe comprar um marido decente.
—O pensamento passou pela minha cabeça — David disse laconicamente. Ele
tinha uma vaga lembrança de Charlotte com o cabelo vermelho como uma cenoura
sobressaindo por todas as partes, sardenta e com longos membros que a permitiam
correr tão rápido quanto qualquer garoto. Agora, que provavelmente deveria ser uma
solteirona desajeitada, sem seios, com um rosto temível e sem um único osso feminino
no corpo.
—Estou esperando que me ajude, Giles. Diga ao homem como sou mau, e como
perco meu dinheiro jogando cartas.
—Não posso dizer isso com uma cara séria — Giles protestou. —Especialmente se
você sempre ganha. Quando joga, o que não é tão frequentemente.
—Está bem. Então fale sobre a minha vida selvagem e as minhas mulheres.
—Não vou falar sobre isso na frente do pai, pelo amor de Deus — disse Giles. —
Ele vai pedir a minha cabeça por isso. Sempre está furioso porque você e seus amigos
passam muito tempo nos antros de perdição.
—E vou passar muito mais tempo antes de ser apanhado na armadilha do
pároco. — Era muito jovem para casar, caramba! Ainda que fosse honesto consigo
mesmo, os jogos da carne estavam ficando tediosos.
Embora ainda não tivesse dormido com a sua quota de empregadas e prostitutas,
recentemente, encontrou-se um pouco aborrecido com elas. Fora seus talentos óbvios,
não tinham nada a oferecer na forma de uma conversa interessante. Não que ele fosse
admitir isso aos amigos, ou ao irmão mais novo, que já se acreditava um homem do
mundo. David tinha uma reputação a manter, depois de tudo.
Além disso, realmente queria provocar o pai ao ver o filho nos jogos de azar,
bebendo e fornicando em sua estada por Londres. Um sorriso triste tocou os lábios de
David. O pai valorizava a discrição embora - discretamente - corria riscos imprudentes
com investimentos imprudentes dos bens da família. David não via como isso era algo
diferente do jogo.
Ele pelo menos nunca arriscava mais do que podia pagar.
—Se você está com medo do pai — disse a Giles — apenas fale sobre as minhas
más qualidades quando ele não estiver próximo.
Giles indicou a barba deste.
—Não disse que tenho medo dele. Além disso, você também está cuidando dele
usando o uísque como uma colônia. Embora ainda não entendo por que você
simplesmente não o bebe.
— Porque não vou dar a oportunidade ao nosso pai de me convencer a fazer algo
estúpido quando bêbado, como ficar sozinho com Charlotte, por exemplo. Então, tudo o
que ela teria que fazer seria dar-me um beijo e esperar que alguém nos encontrasse. A
próxima coisa que descobriria ao sair da minha embriaguez é que eu estaria casado. —
Amassou o casaco. — Não irão me pegar de surpresa, droga.
—Pelo menos tome um pouco, para que ela possa sentir em sua respiração.
—Boa ideia —. Ele bebeu um gole saudável.
—Acho que não está preocupado com a reação do nosso pai com seus
subterfúgios.
—Tem sorte que estou até mesmo mostrando boa vontade para lhes dar as boas
vindas. Me negar a fazer era meu primeiro plano... até que percebi que poderia
transformar seus planos de papai e até mesmo me divertir fazendo-o. Quando tentar
reparar o erro e o assunto estará resolvido. — David olhou sua aparência no
espelho. Parecia absolutamente desprezível. Se isso não assustasse a garota, nada o
faria. Viu Giles vasculhar suas gavetas. —O que você está fazendo?
— Estava pensando em pegar emprestado o seu casaco, porque o meu está um
trapo e estou esperando que me enviem outro. — Tendo apenas um ano de diferença,
eles eram quase do mesmo tamanho, embora David fosse poucos centímetros mais
alto. —Por outro lado, talvez não deveria me incomodar. Não faz sentido tentar Charlotte
a olhar para o meu lado.
—Eu não emprestaria de qualquer maneira. Sempre estraga tudo.
Giles sorriu.
— Você pode me culpar se as mulheres não podem manter as mãos longe de mim
tempo suficiente para me despir? — David revirou os olhos.
Honestamente, o irmão estava se tornando um libertino como seu amigo Anthony
Dalton.
O som das rodas de uma carruagem esmagando o cascalho chegou através das
janelas abertas.
—Inferno — rosnou David. — Provavelmente devem ser eles.
Os dois homens correram para a janela, observando como o veiculo parava. No
entanto, uma leve chuva começou a cair, e os lacaios correram para fora com guarda-
chuvas. Nem sequer puderam ter uma visão dela, pelo amor de Deus. Não que não
pudesse adivinhar como ela seria.
—Vamos — David foi até a porta. — O momento da nossa função chegou.
Enquanto desciam as escadas, som de vozes chegava através do ar a partir do
hall. Aproximaram-se dos fundos, mas os convidados estavam ocupados demais se
cumprimentado para vê-los.
Com um olhar malicioso para o irmão, David fingiu tropeçar na escada.
—Bom dia, pai — disse, deliberadamente arrastando as palavras. O pai virou-se
para olhar para ele enquanto David cambaleava para a frente. —Vejo que nossos
convidados já estão aqui — murmurou David. — Excelente. — A medida que os olhos de
Lady Page viravam e franzia a testa para o Sr. Page, ele se aproximou da única mulher a
volta dele, tinha que ser Charlotte. Apoiando-se pesadamente em seu ombro para dar
uma boa aspiração de seu hálito embebido em uísque, disse: — E esta deve ser a própria
Senhorita Page. Bem-vinda!
Sua mãe parecia divertida enquanto seu pai parecia surpreso, mas David reservou
sua atenção só para seu inimigo enquanto ela se virava para ele que estava bem atrás
dela.
Naquele momento, o sorriso – de bêbado – de David desapareceu.
Encontrou-se com os olhos mais azuis que as safiras mais brilhosas que o olhavam
com a boca aberta e os lábios de uma sensualidade exuberante curvados em um sorriso
zombeteiro. O cabelo cor de cenoura que recordava de sua infância havia escurecido e
estava domesticado em uma profusão de cachos castanhos que dançavam sobre a
impecável pele marfim de traços perfeitos.
Meu Deus. Em algum lugar nos últimos dez anos, Charlotte Page havia se tornado
a criatura mais linda deste lado do Canal Inglês. E ele tinha acabado de meter os pés pelas
mãos na frente dela.
Por que o incomodava tanto o que ela pudesse dizer? Mas o incomodava.
Enquanto ele se endireitava rapidamente em toda sua estatura, Charlotte
mostrou ao pai um sorriso estranhamente triunfante.
—Receio termos chegado em um mau momento, papai. Parece que o Sr. Masters
está fora de ordem.
—David, seu sem vergonha! —O pai de David explodiu. — O que significa isto? —
A mente de David estava completamente em branco. Só podia olhar para a mulher que
não era absolutamente como ele esperava.
Por desgraça, a mente de Giles trabalhava em ordem.
—O senhor conhece o David, papai. — Giles fez um gesto que significava beber. —
Iniciou mais cedo o entretenimento do jantar.
— Cale-se — David murmurou baixinho.
Giles deu-lhe um olhar alegre.
—Você me disse...
—Esqueça tudo o que eu disse. — Ciente de que Charlotte observava o
intercambio com peculiar diversão, David encontrou o olhar do pai e deu a única
explicação que poderia pensar.
—Foi só uma brincadeira, papai. Giles me jogou uma garrafa em seu escritório e o
uísque derramou sobre mim. Não foi assim, Giles?
—Se você diz — disse Giles alegremente. Mais tarde, David o enforcaria, mas por
agora teria de sair desta situação.
—Já que estava molhado... eu... nós pensamos que seria divertido se...
—Me envergonhasse diante dos meus convidados? — Seu pai rosnou.
David fez uma careta.
—Claramente, não foi minha melhor ideia. — Quando o pai o olhou, ele apressou-
se a acrescentar: —Vou subir e trocar o casaco.
— A julgar pela sua respiração, você pode querer lavar a boca, também, —
Charlotte disse suavemente, seus lindos olhos dançaram. — Parte do uísque parece ter
derramado dentro de si mesmo.
Ele corou. Ela zombava dele, droga. As mulheres nunca se atreviam a fazer isso
com ele. Era irritante, para dizer o mínimo.
—Charlotte, cale-se! — O senhor Page grunhiu atrás dele. A luz da zombaria
abandonou suas feições e seus modos mudaram abruptamente.
—Desculpe-me, Sr. Masters — disse a David e olhou para baixo. —Nem sempre
penso antes de falar. — David não gostou dessa reação nela.
—E eu nem sempre penso antes de agir — respondeu, ansioso para deixá-la mais
confortável — por isso estamos quites. — Seu olhar saltou para o dele, e a confusão se
espalhou por seu rosto. Em seguida, ela ficou tensa.
—Não é bem assim, inclusive — ela murmurou, baixo o suficiente para não ser
ouvida pelo pai — já que as ações em geral são mais eloquentes do que as palavras.
A crítica o alfinetou. Sim, ele se comportou como um idiota, mas ela tinha que
esfregar no nariz dele? E o que diabos aconteceu com a adoração do sexo feminino nos
olhos dela que tinha se preparado para repelir?
Sua mãe entrou na briga.
—David, vai trocar o casaco. Giles, diga a cozinheira que estaremos prontos em
breve. Lady e Senhorita Page, vou lhes mostrar seus quartos para que possam se refrescar
enquanto o Senhor Page e meu marido se retiram ao escritório.
Ela arqueou uma sobrancelha para David.
—Partindo do princípio que não tenha passado o cheiro de uísque. Você pode
querer verificar em seu caminho para seu quarto.
Quando sua mãe balançou a cabeça em direção à escada, David subiu por elas,
consciente dos olhos de Charlotte. Pelo menos ela parecia que não estava seduzida,
afinal. Embora ele não tivesse certeza de que se importava com o que ela pensava. Nada
havia mudado, ele não queria se casar com ela. Pelo amor de Deus, ele tinha vinte anos, e
certamente não ficaria vinculado a qualquer mulher escolhida pelo pai. Então, por que o
incomodava que ela achasse que ele era um bêbado ou um tolo desajeitado ou
ambos? Ele poderia escolher suas mulheres.
Não tinha necessidade de impressionar a filha de um agressivo arrivista tentando
abrir caminho ao topo da sociedade.
Deixaria os pais tecerem a rede, David não tinha intenção de ser pego nela. Não
importava que ela fosse tão bonita quanto uma pintura. Não, melhor que isso,
linda. Impressionante, na verdade.
Ele franziu o cenho. Não importava. Se recusava a casar com essa menina apenas
para proporcionar ao pai novos fundos para seus loucos investimentos. E isso era tudo.
Capítulo Quatro
O jantar em Kirkwood Manor naquela noite foi um grande evento, mas Charlotte
só tinha consciência do jovem à sua frente. Não esperava que David fosse tão atraente.
Claro, ele tinha sido bonito quando criança, mas às vezes as crianças belas
tornam-se homens feios. Não David. Quando ela se virou para falar com a mãe à sua
esquerda, Charlotte furtivamente teve outra visão dele. Santo Deus, sim ele era bonito.
Quando era um garoto, mantinha o cabelo rebelde em um rabo de cavalo como
os outros meninos, mas já tinha passado da moda. Agora, ele usava o cabelo curto o
suficiente para mantê-lo encaracolado. Parecia muito bom nisso também. Tal como suas
roupas.
Ela suspirou. Após o incidente no saguão, ele colocou um casaco em tons de
verde esmeralda que se amoldava sobre os ombros largos e ressaltava os
surpreendentemente gloriosos olhos verdes. Mas era o queixo que, ressaltado pelas
dobras de um lenço branco neve, que ela não conseguia parar de olhar.
Como ela nunca havia notado na covinha interessante no centro?
Como se sentisse seu estudo, ele voltou o olhar para ela. Repreendendo-se por
sua ridícula fascinação com seus olhares, ela olhou para o prato. Não importava que
David fosse bonito. Ou bem dotado. Não importa que o tom de voz de um garoto tinha
sido aprofundado para uma voz rouca que vibrava ao longo de cada um de seus
nervos. Ele era um bêbado, como o pai dela, ou ainda que ele tivesse fingido ser um
bêbado de brincadeira. Isso não falava bem de seu caráter.
Ou de seu irmão, em qualquer caso.
Ela olhou para Giles, que estava sentado à sua direita. Ele era muito bonito
também, com a mesma cor de cabelo e constituição de David. Então, por que não fazia
seu coração disparar?
Ela fez uma careta. David não fazia coração dela palpitar. A ideia era absurda!
Quando a torta de nozes foi apresentada, a mãe de Charlotte deu um sorriso
cortes a Sra Kirkwood.
—Onde estão suas filhas esta noite?. — Charlotte olhou, surpresa de que ela
tivesse esquecido as outras duas irmãs de David. Se a memória não falhava, uma delas
era um ano mais nova do que ela.
Quando criança, havia brincado algumas vezes com ela, assim era uma mulher,
sempre tinha preferido jogos rudes e ficar a toa com os meninos.
—Na verdade, — a mãe de David disse: — elas estão passando o verão com
minha irmã em Essex. Estão cuidando dos preparativos para a apresentação, as
coitadinhas. — Ela deixou cair a colher na sobremesa. — Queria mandá-las para uma
escola para isso, mas é difícil encontrar uma boa. Meninas dessa idade precisam de muito
mais do que aulas de dança e urbanidade.
—Concordo plenamente — interveio Charlotte, aliviada ao ver uma personagem
tão silenciosa como a viscondessa compartilhar seus próprios pontos de vista sobre a
educação. — A uma jovem deve se ensinar história, matemática, ciências... — Ele parou
quando viu a expressão de surpresa da Senhora de Kirkwood.
—Oh. Você entendeu outra coisa —. O pai fulminou Charlotte com um olhar. —
Continuo dizendo a minha filha que, mesmo que as jovens possam entender esses
conhecimentos, não tem nenhum uso para elas. Mas ela não me escuta.
David, que havia se concentrado em comer a sobremesa, disse calmamente:
—Ter conhecimento é bom para todos. Não necessariamente usamos a poesia em
nossa vida diária, mas a leitura nos enriquece, não? E que uso realmente tem a dança,
exceto para diversão e talvez algum exercício? Eu não vejo como um mau a um homem
ou uma mulher poder aprender algo novo.
A defesa em um tema tão inesperado tomou Charlotte de surpresa. Quando seu
olhar se dirigiu a ele, David piscou, dando início a um tremor em seu ventre que era mais
alarmante.
—De qualquer forma, David, — Lady Kirkwood disse com desdém: — Eu estava
falando sobre um tipo diferente de conhecimento. Sobre a sociedade. Acerca dos homens
e suas maneiras. Não há muita educação neste aspecto. A uma jovem é ensinado tudo,
mas não sobre como lidar, enquanto os ladinos, como você e seu irmão estão ocupados
tentando corrompê-las.
—Mamãe! — queixou-se Giles a rir ao seu lado. — A Senhorita Page irá pensar
David e eu somos tão poucos dignos de confiança como um par de canalhas. Não
queremos que se esconda em seu quarto por medo de perder sua virtude.
—De alguma forma não consigo imaginar a Srta Page escondendo-se em qualquer
lugar — David disse com um leve sorriso. — Sem dúvida não era nenhuma violeta
encolhendo quando era uma menina. — Bebeu um pouco de vinho. — Lembra-se,
Giles?. Ela entrava em todas as batalhas. Podia correr e montar tão bem como qualquer
um de nós, para não falar de mim quando me ganhou subindo no topo de uma árvore
quando eu apostei —. Charlotte ficou rígida? Na verdade, pensaria em abrir aquele
terrível incidente agora?
—Ela subiu como um macaco — Giles completou arrastando as palavras,
aparentemente determinado a fazer parecer pior. — Não foi isso o que você disse?
David franziu a testa.
—Eu fiz? Não me lembro.
O Quê? O infeliz a tinha humilhado na frente de todas as crianças da aldeia, e não
lembrava mesmo? Ela mal podia acreditar!
—Bem, eu sim me lembro perfeitamente — ela retrucou. — Em primeiro lugar,
você fez este comentário odioso.
—Uma coisa que minha filha não faz muito bem — interrompeu seu pai — é a
natação. Não é verdade, Charlotte? Você não sabe nadar. — Ela olhou para o pai, cujo
aviso na expressão, dizia que era melhor dominar a língua ou ele se asseguraria que ela se
arrependeria. Enxugando as mãos molhadas na saia, ela olhou para o prato.
—Odioso comentário acerca de que? — David perguntou com espanto evidente.
—Nada. — Não se atreveu a olhá-lo... ou ao pai. — Me dei conta que estava
recordando mal as coisas. Foi há um longo tempo atrás.
Após um momento de silêncio tenso, David disse:
—Giles, esta é a segunda vez que você mencionou os macacos. Isto deveria
significar alguma coisa?
Charlotte deu a Giles um olhar suplicante. O jovem pareceu considerar sua
angustia, porque olhou para ela e para o irmão, então disse:
—Não. Absolutamente nada.
Obrigando-se a enfrentar o olhar de David, ela sorriu fracamente.
—Duvido que fosse capaz de vencer em qualquer esforço atlético nos dias de
hoje, o Sr. Masters.
—Mas se você tiver pensando em comprar um cavalo, consulte minha filha: —
Mamãe surpreendeu ao dizer. — Charlotte tem um bom olho para eles, como o pai.
Rowland comprou a égua mais doce...
—Eles não querem ouvir falar de sua égua, Agatha — o pai cortou. Rigidamente,
ela sussurrou:
—Não, querido, claro que não. — Charlotte apertou os dedos na colher. Lembrou-
se de quando sua mãe costumava lutar, discutir com ele. Mas os anos a tinham
desgastado, e Charlotte odiava vê-la baixar a cabeça.
—Bem, posso testemunhar o seu excelente gosto em cavalos Senhor Page, —
lorde Kirkwood disse aliviando a tensão. — Sempre que vou a Tattersall, o tenho em
mente. Sem nunca lamentar uma compra com o qual você esteve de acordo.
Felizmente, essa conversa foi mantida até que chegou o momento de que os
cavaleiros se dirigissem ao escritório de Lorde Kirkwood, enquanto as senhoras se
retiraram para a sala de estar. Mas Charlotte não podia suportar mais um minuto de
conversas tensas. Os cavalheiros, provavelmente não ficariam longe das senhoras muito
tempo, e ela não podia suportar o pai tentando controlar cada gesto e cada palavra. Ela
disse à mãe que tinha uma dor de cabeça e que ia para o quarto. Felizmente, a mãe não
pressionou.
Mas no meio do caminho para o quarto, Charlotte percebeu que havia esquecido
o xale na sala de jantar. Voltou para recuperá-lo e passou por algumas portas francesas
abertas, quando olhou para fora e teve um choque. Ali estava a cabana sem janelas, no
jardim, que os meninos tinham reivindicado para si mesmos quando eram crianças. Ela
não podia acreditar que ainda estivesse intacta. Por um momento, ela apenas olhou para
ela, lembrando que, quando criança, tinha parecia um lugar. Nunca tinha visto o interior,
os meninos a mantinha fechada com cadeado quando não estava em uso. Um súbito
impulso se apoderou dela maliciosamente.
Não havia ninguém em volta - esta parte da casa não estava perto da sala de estar
ou do escritório. Por que não dar uma olhada? Pegou uma vela, aventurou-se para o
jardim. Não havia fechadura na porta. Provavelmente se limitaram a deixa-la para
guardar implementos, mas ainda assim... Ela abriu a porta e ficou surpresa ao ver que a
estrutura de madeira já estava habitada. David estava sentado em mangas de camisa em
uma mesa velha, desenhando loucamente com a ajuda de uma lanterna. Como um olhar
surpreendido a olhou, ela corou, envergonhada de que ele poderia pensar que o havia
seguido até ali de propósito.
— E-eu peço que me desculpe. — Ela começou a fechar a porta. —Não tinha a
intenção de invadir sua privacidade —. Ele saltou da cadeira.
— Espere! — Ela ficou imóvel, com a porta entreaberta. — Por que você não
fica?. — Ele estava perto o suficiente para que ela pudesse ver a gravata afrouxada. — Eu
poderia usar a companhia.
—Pensei que você veio aqui para evitar companhia.
—Algumas, sim. — A expressão dele era genuinamente simpática, enviando um
calor por suas veias, apesar de sua determinação de permanecer imune a tais
encantos. — Provavelmente a mesma companhia da qual você está tentando se esconder
—. Ela ergueu o queixo.
— Pensei que você disse que não era o tipo de mulher que se esconde —. Um
ligeiro sorriso se assomou em seus lábios como um gesto para que entrasse.
— Honestamente, acho que o diabo iria querer se esconder destas pessoas neste
lugar.
Ela riu, aliviando qualquer tensão mantida entre eles. Um tipo de tensão, de
qualquer maneira. Agora, um novo tipo estava apertando os nervos.
Nunca esteve sozinha com um homem. Mesmo o capitão Harris havia falado com
ela sempre rodeado de outras pessoas. Sentia-se tão nervosa como uma potranca contra
a sela em sua primeira vez, ela entrou com relutância na cabana.
Pensou em entrar em um momento, tempo suficiente para determinar seus
sentimentos sobre o casamento que seus pais queriam forçá-los. E ver seus próprios
sentimentos, é claro. David fechou a porta e correu atrás da mesa para afastar a cadeira.
—Há apenas um lugar decente, sinto muito. Quando meninos sempre preferimos
o chão. —A diversão brilhava em seus olhos. — Mais viril, você sabe.
Não é tão viril como a visão que ela tinha dele sem casaco, parecendo em casa
naquele lugar rústico.
Ajustou a vela sobre a mesa, ela olhou para as paredes de madeira nuas, o tapete
gasto, almofadas e tecidos desbotados. Um leve cheiro de mofo enchia o ar, misturando-
se com o cheiro de cera queimada e óleo lâmpada.
—Quando criança, costumava imaginar como seria isto aqui — ela comentou, —
não é isso que eu imaginava. Ela é tão pequena... tão... —. Ele riu.
—Vá em frente, diga. É sujo e miserável e sem qualquer conforto. Mas antes foi
um castelo ou...
—Desprovido de mulheres — disse ela maliciosamente. — Odeio dizer isso, mas
nenhuma criança de nove ou dez acreditava que seu santuário secreto poderia incluir
meninas dentro.
—Tendo em conta que os nossos pais estão instalados atualmente no escritório
sem as esposas, santuários secretos continuam mesmo na idade adulta.
—Ah, mas a diferença é que os homens crescidos não se importam de ter uma
mulher invadindo seu santuário. Às vezes até desfruto —. Seu sorriso súbito, enviando o
pulsar em uma dança selvagem. Céus, ela teria de ver isso. Ele tinha uma grande
reputação, depois de tudo. Ela fez um gesto para a mesa.
— O que é exatamente que você faz em seu santuário?
Percebendo a direção de seu olhar, eu corou e se apressou a arrumar os papéis
em uma pilha.
— Não é nada. Um dos meus passatempos, isso é tudo.
—Que tipo de passatempo? — Ela insistiu.
—Se você quer saber... — sua expressão se tornou beligerante, como se ela fosse
se atrever a zombar dele. — Tenho um interesse em arquitetura. Sei que isso não é
considerado um...
—Acho que é maravilhoso — ela retrucou —. Um rubor esquentou suas
bochechas. — Quero dizer, é bom para um homem que seja trabalhador, não importa
quem seja.
O rosto dele iluminou.
—Tenho trabalhado no projeto de uma cabana de caça. — Ele espalhou os papéis
novamente, aumentando a voz com entusiasmo. — Meu amigo Stoneville diz que se eu
desenhar uma decente, a utilizará em sua fazenda. Depois que um arquiteto real, a
aprove, é claro. — Aproximando-se da mesa, ela olhou para os planos que Davi tinha
empilhados meticulosamente. Não pôde deixar de ficar impressionada. Não sabia nada
sobre arquitetura, mas pareciam os verdadeiros planos para um imóvel. E quem teria
imaginado que Davi tinha um hobby respeitável?
Ele moveu a cadeira.
—Venha, fique à vontade. — Seus olhos ardiam nos dela. — Prometo que não irei
amará-la ou não a farei andar pela prancha ou qualquer uma dessas outras coisas
miseráveis que nós meninos fazíamos quando crianças.
Esta referência lembrou-lhe a última coisa que ele tinha feito para ela, e seu
sorriso desapareceu.
—Prefiro ficar de pé, — disse com uma elevação do queixo.
Ele que eu dirigi um olhar perscrutador.
—É sobre os macacos, não é?
O coração dela caiu no estômago.
—Lembra?
—Não, eu não. Mas é evidente que você sim. Então? Você poderia me dizer o que
eu fiz? Então posso pedir perdão, e você saiba o que fazer com ele. — O comentário foi
tão prático que ela gostou que ele estivesse preocupado com o seu ressentimento.
—Você vai pensar que é ridículo.
—Talvez. Mas também acho que um monte de coisas que importava aos nove era
ridículo.
—Receio não ser tão otimista. — Ela contou a história sem emoção, tanto quanto
foi possível. Até o momento em que terminou, ele fez uma careta de dor.
—Eles continuaram chamando-a de senhorita macaco depois que eu fui para a
escola?.
O claro desgosto dele limou seu ressentimento ainda mais.
—Pelo menos dois anos. Mesmo depois de eu parar de usar as tranças e meu
cabelo ter crescido alguns centímetros.
—Meu Deus, sinto muito. — Sua expressão parecia confirmar que ele dizia serio,
também. —Que coisa mais miserável dizer isso a uma menina. Não é de admirar que
tenha me chamado de odioso. Só estou surpreso de que tenha concordado em vir com
seus pais a esta visita.
—Meu pai não me deu muita escolha. — Seus olhos encontraram com os dela, de
repente, sombrio.
—Nem o meu. — Erguendo as sobrancelhas, sacudiu a cadeira. — Talvez
devêssemos conversar, podemos avaliar a situação juntos.
—Verdade —. Desta vez, ela aceitou a oferta e sentou-se na solitária cadeira. Ele
se sentou em uma das almofadas mofadas com as pernas cruzadas em estilo indiano,
como um príncipe estrangeiro. Um príncipe muito bonito e perigosamente atraente.
— Então, — disse ele, — vamos ver se entendi. Nossos pais querem que a gente se
case? Isso resume? — Ela não pôde deixar de sorrir. Os homens que havia conhecido
nunca foram francos assim.
—Isso mesmo. — Ele inclinou-se para colocar os cotovelos sobre os joelhos.
—E você não está muito entusiasmada com a ideia.
—E você? — Ela perguntou, determinada a ser igualmente franca, ainda que o pai
soube dessa conversa, ela pagaria caro, de fato.
—Eu não quero isso—. Os olhos de David escureceram da maneira mais
misteriosa e mundana, e deu um olhar lento no seu rosto e seios. — Mas não tenho tanta
certeza agora—. Apesar das bochechas arderem de rubor ela inclinou a cabeça para ele.
—Você está flertando comigo, David Masters?
—Apenas os fatos indicam... Charlotte—. Ela engoliu em seco, incapaz de desviar
o olhar que mantinha o dela, tão certo como se ele tivesse as mãos sobre ela. Ele a havia
chamado de Charlotte quando eram crianças. Por que era tão desconcertante quando o
fazia agora?
—Bem, tenho certeza que não quero casar com você — disse ela, embora ela não
tivesse certeza agora.
—Por que não?
—Por um lado, sua própria mãe o chama um ladino —disse com altivez. — E eu já
passei muitos anos sob o jugo de um ladino. Não tenho a intenção de gastar mais um
minuto com um outro se posso evitar.
—Mas se você quiser se livrar de seu pai, — disse David em voz baixa, — terá que
se casar com alguém. — Surpreendida pela rápida percepção dele, ela levantou-se a
andou pela sala, perguntando se deveria falar do capitão Harris.
—Há outro alguém, — acrescentou com a voz cheia de decepção — talvez você já
escolheu alguém também.
—Bem, não é como se ele já tenha feito uma oferta —ela admitiu —, mas espero
que em breve o faça.
—Assim, ainda há uma chance para mim. — Ela olhou para encontrá-lo olhando-a
com um sorriso insolente.
—Eu não disse isso.
—Eu estou aqui, e ele não. — Sua expressão era muito petulante. — E eu tenho a
aprovação do seu pai. O que, eu acho, o outro não.
—Como você sabe?
—Porque se você tivesse, já estaria casada. Ninguém em seu juízo perfeito
demoraria para garanti-la. — Essa frase doce a suavizou ainda mais. Até que se lembrou
quem ele era. Ou melhor, o que era.
—Você quer dizer, por causa do meu dote e minha herança? — Ela disse
baixinho. Seu rosto sombrio.
—Se eu só estivesse interessado nisso, não teria fingido estar bêbado quando
você chegou. — Ela prendeu a respiração. Portanto, não tinha sido uma piada. Se pudesse
acreditar nele.
—Senti o cheiro de licor em seu halito.
—Não disse que não tinha bebido. Só que não estava bêbado. — Ele recostou-se
para descansar o corpo nos cotovelos. — Pareço bêbado agora?. — Não parecia. E ela
teve que admitir que ele tinha tomado muito pouco de vinho no jantar. Sem mencionar
que ele estava ali, em vez de estar fora bebendo com os outros homens no
escritório. Mas esse não era o ponto.
—Então você fingiu estar bêbado até que...? Me viu? E mudou de ideia?
—Exatamente—. Então, como se percebesse de repente o que tinha dito, ele
acrescentou: — Não! Quero dizer... isso é... —Quando ela ficou olhando para ele com as
sobrancelhas erguidas, ele disse com firmeza: —E o que ocorre com o fato de que sou o
herdeiro do título? Você não tem qualquer interesse nisso, suponho.
—Nenhum— disse ela, um pouco divertida por sua consternação. — Papai que
está interessado nisso.
—E meu pai está interessado em seu dote.
—Sim, e você está interessado apenas em meu rosto — disse ela secamente.
Um sorriso triste escapou de seus lábios.
—Tem que admitir que tem um rosto muito bonito. — Seu olhar libertino varreu
seu corpo. —E as partes que o acompanham são muito boas também.
Ela bufou.
—Agora eu sei porque a tua mãe o chama ladino—. Ele fez um gesto de desprezo.
—Mamãe está tentando me dar uma imagem ruim, porque ela não quer que case
com você. — Então, percebeu o que tinha falado, ele suspirou e disse: — Sinto
muito. Não é nada contra você. Ela está esperando que eu encontre uma mulher quando
for mais velho. É meu pai que está empurrando esse casamento.
—Papai também.
—Mas não é assim, — disse calmamente.
Ela olhou para ele.
—Eu já ouvi tudo sobre você e seus amigos selvagens. Quero um marido constante
e não um dandy libertino. —Seus olhos brilhantes a olhavam.
—Não ouviu também que os libertinos reformados são os melhores maridos?
—Está reformado?
—Poderia estar—. Desta vez foi mais lento, o preguiçoso olhar foi desde os pés até
o rosto, parando em algumas partes, como se pudesse ver através do vestido, mesmo sob
a luz fraca da lanterna. — Com o incentivo certo. — O interesse descarado dele em seu
corpo teve um efeito mais peculiar sobre ela. Na verdade, ela podia sentir o calor subindo
da barriga para os seios e um rubor floresceu até o pescoço. O que certamente ele podia
ver.
—Juro — repreendeu ela, tentando soar fria — sua reputação é tão ruim quanto
dizem. E não acho que os homens de sua espécie são reformados por uma mulher, de
qualquer maneira.
—Você feriu meu coração, bela senhora! — Sentado, deu-lhe um olhar que era
meio sério e meio de zombaria. — Não há nenhuma maneira de você mudar de opinião?
—Não — disse ela com firmeza, embora uma pequena parte, a parte diabólica
estava tentada a deixá-lo tentar. O casamento com David certamente tornar mais fácil
sua vida atual. Mas não era seu único futuro. A última coisa que precisava era unir-se a
um homem que fazia o que quisesse, enquanto a esposa ficava em casa sofrendo. —E por
toda a sua paquera escandalosa — continuou, — Vejo que você não está pronto para
casar, certo? Admita.
—Deus, Charlotte, não sei— disse, inquieto. —Para ser honesto, eu não tinha
pensado em casamento em absoluto até meu pai me chamar de lado esta manhã.
—Exatamente—. Ela descansou o quadril na borda da mesa. —Então, o que
devemos fazer com os nossos pais?. Você sabe que irão tentar durante toda a semana
nos fazer passarmos a maior parte do tempo juntos.
De repente, um olhar maldoso de alegria apareceu nos olhos dele.
—Talvez devêssemos dar o que eles querem. Podemos fingir até o momento que
cedemos. Se eles acreditarem que estamos contemplando seriamente o casamento,
ficarão fora do nosso caminho. Então, no último dia aqui, anunciamos que decidimos não
nos casar. Se ambos nos mantivermos firmes, terão que aceitar.
—Por que não podemos apenas ficar firme agora, e dizer que sabemos que não
dará certo?
—Você realmente acha que eles acreditam em nós, com base em apenas um
dia?. —Quando ela suspirou, ele acrescentou: — Temos de convencê-los de que nós
tentamos sinceramente. Caso contrário, eles continuarão inventando razões para nos
juntar—. Ela teve que admitir que a lógica dele era correta. — Está tudo bem. Acho que
poderia fingir te cortejar.
Ela deu um sorriso trêmulo.
—Embora não tenha certeza no que implica em um compromisso. Já que não tive
minha estreia, nunca fui cortejada.
—Nem mesmo por Qual é o seu nome? O homem que colocou os olhos em você.
Ela disse com uma voz indiferente.
—O capitão James Harris. — Ela tirou da manga um fio solto, incapaz de olhar para
David enquanto falava sobre o capitão Harris. — É um oficial de cavalaria.
—E ele não tem cortejado você?. — Espetou ele. —O que ocorre com esse
homem?
—Ele é um cavalheiro, isso é tudo. — David levantou-se, erguendo-se em toda sua
estatura.
—Nenhum homem é um cavalheiro com a mulher que ele quer — disse com voz
rouca. A sala, que já era pequena, de repente parecia um armário. David estava perto
demais... muito masculino.
—Provavelmente eu deveria ir — ela engasgou, — antes que descubram que onde
estamos. — Ele deu um passo mais perto.
—Eles não vão pensar em procurar aqui.
—Sim, mas...
—Você queria saber o que ele significa um cortejo. —Ele estava perto o suficiente
para que ela pudesse ouvir a respiração acelerada. —Posso dizer quais coisas há em um
cortejo —. Seu coração clamava violentamente no peito.
—Oh sim?. —Não podia acreditar como soava calma quando estava à beira da
desmanchar. Em seguida, ele colocou a mão em sua cintura, e ela quase derreteu. Seu
estômago estava girando, e ela não conseguia encontrar o fôlego. — O cortejo implica
esse tipo de coisas —. Inclinou a cabeça para pressionar os lábios contra os dela. Teria
que estar em choque.
Consternada. Alarmada. Em vez disso, se sentia como se estivesse esperando a
vida toda para ser beijada. E o resultado foi tão bom que valeu a pena a espera. Sua boca
sussurrou sobre a dela, provocando, acariciando, suave como seda, mal tocando. Esteve
tentada a tocá-lo, ainda que se aproximou a cintura dele.
—Senhor M-Masters Eu n-não acho que... — balbuciou enquanto lutava para se
libertar do feitiço sensual que ele tecia.
— David — ele corrigiu suavemente. — É apenas um beijo, Charlotte. — Era muito
mais do que isso para ela. Era seu primeiro beijo. E ela tinha a esperança de compartilhar
com o capitão Harris, não com este lorde pícaro que se preocupava com ela nada mais
além de um flerte, oferecendo um entretenimento indesejado durante um convite de
uma semana. Ela o afastou.
— Se isso será um namoro imaginário, não há necessidade de beijos, certo?
—Isso machuca?. — Ele disse com raiva. —A menos que esteja decidida a manter-
se fiel a um homem que nem sequer se preocupou em a reclamar para si mesmo.
Isso a machucou.
—Estou sendo fiel a mim mesma. — Ela cruzou os braços sobre o peito. — Pelo
menos sei o que quero neste assunto. Em vez disso, você não tem ideia do que você quer.
—Quero que... queria um beijo. Isso era tudo.
—Bem, então, você teve seu beijo. Portanto, agora terminamos com isso. — Virou
para a porta, mas ele deu um passo em seu caminho. Tomando sua cabeça entre as mãos,
ele a beijou de novo, mais forte dessa vez, com uma ousadia e rigor que o tomou o fôlego
dela. Ainda estava abalada pelas emoções selvagens que tinham despertado em seu peito
quando ele parou abruptamente e se afastou dela.
—Agora eu tive meu beijo — disse ele, sua arrogância, mostrando-se em cada
palavra. Por um momento, ela não sabia o que dizer, o que fazer. O segundo beijo
deixando-a em uma confusão total. Em seguida, reuniu sua inteligência e olhou para
baixo.
—Você não deve fazer isso de novo, ou não podemos ter um noivado imaginário.
—Está bem. Tudo o que você quiser. — Com os olhos brilhantes de raiva, foi até a
porta e abriu-a, fazendo um floreio elaborado com a mão para indicar que ela poderia
sair. — A verei pela manhã, senhorita Page —. Ela piscou, surpresa pela súbita
formalidade. Mas, assim como ele sabia onde estava. Fez uma reverencia cortes.
—Boa noite, senhor —. Então saiu pela porta. Mas muito tempo depois que
chegou ao quarto, não podia evitar a sensação de que tinha entrado uma conspiração
desastrosa com um jovem perigoso.
Se a beijasse daquele jeito de novo... Ela não permitiria isso. Passariam a semana
com uma conversa educada temperada pelo conhecimento de que eles eram
completamente inadequados um para o outro, e, eventualmente, no final ela voltaria
para casa com a esperança de um casamento com um nobre soldado, em vez de um
jovem e imprudente lorde. Agora só tinha que rezar para que o soldado soubesse beijar,
assim como o lorde.
Ou o seu coração poderia estar em sérios problemas.
CAPÍTULO CINCO
Quatro dias mais tarde, David ainda estava chutando a si mesmo por colocar
Charlotte em guarda. De seus beijos incríveis, ela havia se fechado como uma ostra na
maré baixa.
Oh sim, ela sorria e falava com ele, comportava-se como se gostasse de sua
companhia quando seus pais estavam ao redor. Mas se esforçava para evitar ficar sozinha
com ele. Se propusesse dar um passeio, ela convidava Giles ou a mãe. Se ele ficava para
trás dos outros depois do jantar, ela corria para alcançá-los.
Ela até mesmo levantava-se excessivamente cedo para o café da manhã, que
sempre saia da sala de café da manhã no momento em que ele entrava.
Ainda assim, ela não podia evitá-lo completamente. Vestiu o robe listrado sobre a
camisa, o colete e calça, e caminhou até a janela. Acaba de amanhecer. Nem Charlotte se
levantava tão cedo. Além disso, pagou uma criada para que estivesse frente a sua porta
quando Charlotte saísse do quarto. Ela não iria escapar desta vez, caramba.
A persistência em evitá-lo permanentemente tinha começado a irritar, mas não
tinha certeza do porquê. Todavia não se considerava suficiente velho para pensar em
casamento. Certamente não tinha qualquer desejo de ter uma ligação estreita com
aquele idiota do Senhor Page. Então por que diabos tinha que passar tanto tempo
pensando na filha do homem? Desejando cair na cadeira mais próxima, evocou uma
imagem de Charlotte de quando ela o olhou depois que ele a tinha beijado. Em seguida
desnudou a imagem, cada deliciosa parte.
Infelizmente, sua imaginação tinha poucos dados para continuar. Ela tinha
cabelos ruivos encaracolados, mas? Que tamanho? Sua cintura era estreita ou cheia? Era
difícil ver qualquer coisa abaixo de cilindros sem forma que constituíam as saias das
senhoras nestes dias. No entanto, as partes que podia ver o atormentavam. Não era
apenas o elegante pescoço, com a pele cremosa clamando por um beijo. Abaixo ficava os
bem formados seios, também revelados em suas roupas para o jantar.
Só de pensar nos seios dela o fez ficar duro. Se contorceu na cadeira. Que tipo de
homem era ele que pensava em uma jovem respeitável com luxúria desenfreada?
Especialmente quando não tinha intenção de se casar com ela? Embora ele não
estivesse seguro disso. Não permitiria mais que ela continuasse evitando-
o. Hoje. Porquê? Como poderia decidir o que fazer se só poderia estar em torno da frieza
cortes de Charlotte? Precisava de mais tempo com a doce paixão de Charlotte, que o
havia enfeitiçado no galpão do jardim. Tinha que saber o que teria ao casar, se ele
decidisse fazê-lo.
O arranhar na porta o deteve em seco.
—Sim? —Mas se seu criado não havia retornado ainda com o casaco para montar!
Muito bem, ele iria se encontrar com ela de robe - sempre achou que parecia mais
elegante com ele.
Quando chegou à sala de café da manhã, a sorte estava com ele - Charlotte estava
sozinha e já estava sentada e com o prato cheio. Ele entrou na sala.
—Bom dia, senhorita Page—. Ela saltou e revirou os olhos para ele, com grande
alarme.
Em seguida, sua expressão mudou, e riu. Esse não foi o efeito que estava
esperando. —O que é tão engraçado?. —Ela lutou para segurar a risada, então olhou para
o prato.
—Nada. Não é nada.
—Obviamente há algo—, ele rosnou enquanto caminhava para o aparador. Outra
risada escapou dela enquanto ele enchia o prato. Franzindo a testa, a enfrentou
novamente. — O Quê?
—Desculpe, é só que... — Ela deteve outra risada, mas seus olhos estavam
suspeitosamente brilhantes. — Você não acha que seu vestido é um pouco... bem...
colorido?. — Um rubor esquentou suas bochechas.
—Esta é a moda, você não sabia?
—Vermelho, laranja e listras amarelas? Isso é moda? — Ele chegou a mesa e
colocou o prato com força. — É seda muito cara. Me custou metade da minha renda
mensal em um dos melhores alfaiates de Londres.
—Meu Deus — disse em um tom que deixava claro que acreditava que ela havia
pago em excesso.
—Você nem sequer teve sua estreia ainda. — Se deixou cair na cadeira. — O que
sabe sobre os trajes masculinos?
—Nada, aparentemente. No entanto, tenho olhos. — E aqueles olhos estavam
rindo dele, o que ele não apreciava em absoluto.
—Então o que você acha que eu deveria usar? — Ele estalou.
— Algo menos estrepitoso. — Seus lábios tremiam com o esforço para conter a
diversão. — Sem a laranja nele. Ou o amarelo ou. Ou listras vermelhas, mas quem se
importa. — A descarada estava claramente desfrutando. E, apesar de sua irritação, ele
achou a resposta para o seu bom humor contagiante. Foi a primeira vez que ficou
relaxada ao lado dele desde a casa do jardim. Talvez ele pudesse transformar isso a seu
favor. Inclinando-se para trás, ele baixou o olhar para sua boca.
—Eu escolho minhas roupas, certo? Esta não é a tarefa de uma mulher? — Ela
piscou e, em seguida, seus olhos se estreitaram.
—Ou do seu criado — ela respondeu bruscamente.
—Não acho que você seria um bom camareiro — brincou antes que pudesse
retirar-se para a fachada fria.
—E eu não acho que você seria um bom marido — ela respondeu. Ele franziu a
testa. Charlotte iria deixá-lo ganhar o seu ponto.
—Como pode saber quando você pode mal me conhece?
—Sei muito bem quem você é. “Ao homem educado se distingue por seu
comportamento refinado, porque não há melhor maneira de conhecer alguém que por
suas maneiras.”
—Palavra arcaica — refinado — irritou-se por um segundo. Então sorriu. —
Edmund Spenser?. — Ela piscou.
—Você leu Spenser?
Maldição, ela devia pensar que ele era um completo idiota.
—Não é um daqueles tipos que escrevem? como são chamados...? livros? —Ele
não pode conter o sarcasmo. —Temos uma sala inteira no andar de cima cheia dessas
coisas. Inclusive eu costumo olhá-los ocasionalmente. Tento não prestar muita atenção
ao que está nas páginas, mas, ocasionalmente, até mesmo um crápula libertino como eu,
não pode evitar a absorção de uma ou duas palavras.
—Muito engraçado — disse ela secamente. —Alguma vez você leva algo a sério?
—Só quando sou forçado. Mas para você, querida Charlotte, vou tentar conter a
minha frivolidade. — Ele inclinou-se para frente. - Se...
Ela arqueou uma sobrancelha.
—Se?
—Você se comprometer a passar o dia comigo. Sozinha. — O rubor dela fez que o
sangue rugisse em suas veias.
—Eu não acho que seria prudente — disse ela.
—Por que não? — Ele lutava pelo controle de sua excitação rebelde. —Temos
muito que discutir se você vai ser minha criada. Devemos discutir o seu salário e
orçamento das minhas roupas, que será muito mais sofisticado, para não mencionar os
novos vestidos que devo comprar.
—Você não é sério. — Ele a olhou sério.
—Eu sou. Pode passar o dia comigo, Charlotte. Daremos um longo passeio,
faremos um piquenique...
—Esse tête-à-tête só dará a nossos pais uma desculpa para forçar o casamento.
Maldição, ela era teimosa.
—Então você terá um noivo. Claro, se você é muito covarde para passar um tempo
comigo a sós... — Ela se irritou-se, como ele sabia que faria.
—Tem mais a ver com o decoro que covardia. — Uma nova voz chegou da porta.
—O que? — David abafou uma maldição. Se fosse seu irmão mais novo, ele iria
ganhar uma surra. — Nada que a você importe, Giles—. Antes que Giles pudesse
responder, a criada entrou com uma xícara de chá para Charlotte. Em seguida, ela
comentou.
—Com seu perdão, senhor, não sabia que a senhora tinha companhia, ou teria
trazido mais.
— Está bem Molly e — David observou como a criada se aproximava dele, lhe
dirigia um sorriso tímido, e se inclinava tão perto que o seio roçou seu ombro enquanto
lhe servia uma xícara. Quando Charlotte franziu a testa, David cerrou os dentes em
irritação. Molly tornou-se bastante coquete ultimamente. Ele teria que ter uma conversa
com a governanta.
—Posso oferecer algo mais, senhor? — Molly disse com uma voz que não deixou
dúvidas quanto ao que ela realmente queria oferecer.
—Não, obrigado — disse ele. — Isso é tudo.
—Eu gostaria de um pouco de chá — Charlotte disse laconicamente.
—Claro — Molly disse, enquanto caminhava por trás de David passou à frente de
Giles. Quando David viu Giles passar a mão pelo traseiro de Molly, ele ficou tendo.
Felizmente, Charlotte não podia ver de onde estava sentada, ou isso só faria reforçar a
opinião dela sobre eles como uma família de libertinos. Depois de Molly sair, Charlotte
ofereceu um sorriso amigável e brilhante a Giles.
—Seu irmão me pediu para irmos cavalgar ou fazer um piquenique — Charlotte
disse alegremente. — Por que você não se junta a nós?
—Claro — disse seu endiabrado irmão.
—Inferno se irá — David se preparou.
—Tsk, tsk —Giles respondeu. —Esse tipo de linguagem na frente de uma dama. —
David levantou.
—Tenho que colocar meu casaco de montar. — Pegou o irmão pelo braço, quando
Giles tentou passar. —E você está vindo comigo. Agora.
—Mas ainda não comi — Protestou Giles quando David o arrastou para a porta.
—Se você não vem comigo — rosnou David ao ouvido do irmão — Vai comer do
meu punho.
Giles fez uma careta, então olhou para Charlotte.
—Desculpe-me, senhorita Page. Aparentemente, meu irmão precisa de mim para
ajudá-lo com o casaco de montar. — David ignorou o sarcasmo de Giles, mas não pude
deixar de notar o desconforto na face de Charlotte. Deteve-se perto da porta e deu-lhe
um olhar sombrio.
—Fique aqui. Não se atreva a sair.
Ela ficou de pé, com os olhos brilhantes.
—Ou o que?
—Ou vou dizer aos nossos pais o que discutimos no galpão do jardim. —
Lamentou a ameaça quando o sangue desapareceu quando o sangue de seu rosto. Mas
pelo menos ela se sentou novamente. — Volto já — adicionou, e depois levou Giles pela
porta, empurrando-o em direção às escadas. Assim que estavam perto delas, Giles soltou-
se.
—Que diabos foi aquilo?
—Quero passar algum tempo a sós com Charlotte. — David correu as escadas,
enquanto Giles lutava para manter o ritmo. — Você não vem com a gente. Entendido?
—Pensei que você não queria se casar com ela — disse Giles mal-humorado.
—Eu ainda não decidi. No entanto, que ela me evite não está ajudando.
David entrou em seu quarto. Giles veio atrás dele e afundou em uma cadeira.
—É melhor você decidir rápido. Irão depois de amanhã. E, a julgar pelo que ela diz,
atrás desse maldito oficial de cavalaria, você deve ter certeza antes de deixá-la ir.
Um ciúme inexplicável o queimou.
—O que ela disse?
—O suficiente para deixar claro que esta esperando por uma oferta dele. Acho
que ela está tentando me desencorajar. — Giles riu. — Como se eu fosse me contentar
com um campo de casadoiras quando há todo um mundo de mulheres lá fora esperando
para ser arado. — Franzindo o cenho para a dureza do irmão, David tirou o roupão.
—Ara em qualquer lugar, mas eu o advirto agora, não perca tempo com as
criadas. Um cavalheiro não deve urinar na cama que dorme. — Giles meneou as
sobrancelhas.
—Eu não estou planejando dar qualquer mijada.
—Estou falando sério, Giles, — disse David. — Se tiver que fazer, vou ao Pai e
contarei.
Giles desabou irritadiço.
—Às vezes, você pode ser muito antiquado. — Como Charlotte iria rir ao ouvir
isso. Ela achava que ele era um canalha até a medula. Um pícaro sem nenhum senso de
moda. David tirou o robe e deu a Giles. — Toma, isto deve animá-lo. Não quero mais. —
Uma risada jorrou de Giles.
—Presumo que a senhorita Page não gosta?
—Ela o chamou de berrante — David admitiu, ainda chateado por ela ter rido
dele.
—E ela o agrada tanto que você vai se livrar de seu robe favorito? Parece como se
você tivesse decidido algo sobre a Senhorita Page —. David não disse nada enquanto
colocava o casaco de equitação.
—Eu teria cuidado se fosse você — disse Giles. — Ela não é o tipo de mulher que
se pode brincar. Se você não está interessado em casamento, digo.
—Saia daqui, Giles. Eu sei o que estou fazendo. — Mas isso era uma mentira. O
único que sabia era que tinha que ficar sozinho com ela novamente, chegar a conhecê-la,
para ver se tinha perdido a maldita cabeça, considerando se casar com ela. Meia hora
mais tarde, quando ele e Charlotte saíram, percebeu que seu plano podia resultar mais
difícil do que pensava. Ela tinha vindo com relutância, e sentou-se na égua baia como
uma rainha arrogante, a fachada distante firmemente no lugar. Ficou ligeiramente para
trás, como se para falar com o lacaio atrás deles, mas na verdade era que ele pudesse ver
sua jornada.
Enquanto ele estava fora organizando os cavalos, ela havia colocado um traje de
montar e, por Deus, estava linda. Pelo menos ele teve sua resposta a uma parte de sua
aparência, o vestido era cortado na cintura naturalmente. A cintura natural muito
fina. Tinha também um traseiro muito bom, com um bom tamanho, o corpo se movia
perfeitamente com o progresso do cavalo.
Ela parecia tão confortável na sela de mulher como em um sofá.
—Agora que você já me intimidou a fazer isso — gritou a David novamente, —
para onde estamos indo?
—Eu não a intimidei a nada. — Ele impulsionou o cavalo para frente para assumir
a liderança, em seguida, virou-se para um caminho que levava a uma das ruas
desertas. —Você gosta de montar, você sabe.
—Ainda não vejo porque Giles não poderia vir — queixou-se.
—Porque não é um noivado se as duas pessoas nunca se cortejam. — Ela deu-lhe
um olhar perplexo. Então, olhando para trás nervosamente para o lacaio que tinha
ouvindo cada palavra, exorto o cavalo para mais perto do cavalo castrado de David.
—Não é mais do que um namoro imaginário —disse calmamente.
—Talvez. Talvez não. Isso não significa que não podemos nos divertir. Está um
lindo dia, e nós temos uma fazenda inteira para explorar. Tente se divertir? Certo? —Eles
montaram um tempo em um silêncio constrangedor.
Então David perguntou: —Como é sua montaria?
—Perfeita. —Murmurou.
Suas mãos apertaram as rédeas.
—Você não parece feliz. — Ela suspirou e deu um tapinha na égua para
tranquilizar a criatura.
—Ah, mas estou. Ela tem espírito suficiente para ser agradável, mas um
temperamento que torna a sua condução agradável. — Por que essa cara? — Ela fixou o
olhar na estrada à frente, enquanto ele se contorcia na sela.
—Estou chateada... você sabia exatamente que tipo de cavalo escolher para mim.
—Gosta de ser a única que tem um bom olho para cavalos, não? — Brincou,
determinado a clarear seu estado de espírito. Um pequeno sorriso curvou seus lábios.
—Exatamente. — Mas essa não era a verdadeira razão para o seu
desconforto. Não queria aprovar tudo o que ele fazia, no entanto, ela não podia evitar, às
vezes. Graças a Deus. A estrada se abriu de repente em um longo caminho entre os dois
campos de cevada. No final havia uma floresta onde quando crianças costumavam
brincar. David mostrou um sorriso desafiador.
—Quer correr até o bosque? — Ela olhou para a estrada de terra e, em seguida
ele.
—Só se você prometer não me chamar de um nome desagradável quando eu
ganhar.
—Prometo. — Ele sorriu. — Mas você não vai ganhar. — E com isso, ele estimulou
o cavalo a correr. Ela o seguiu com uma velocidade surpreendente, impressionando-o
com sua habilidade. Mas ela tinha espetado seu orgulho uma vez esta manhã. Ele
pretendia mostrar a ela que não era o imbecil lascivo que se vestia mal e que passava os
dias em devassidão de luxo. Cavalgou para ganhar, colocando cada parte de sua montaria
a prova. Ela quase o venceu de qualquer maneira. Mas, assim que se aproximaram da
beira da estrada que dividia o bosque, David levou o castrado ao limite e além da linha
das árvores antes dela. Com um sorriso de triunfo puro, ele parou e se virou para ela na
sela. — Um bom espetáculo —ele disse, tentando não tripudiar.
— Vejo que te deram o cavalo mais rápido — queixou-se ela. Ele riu para ela, não
se sentindo intimidado por seu mau humor.
— Pelo que vejo Charlotte Page, você é tão má perdedora quanto eu. — Seu olhar
zangado disparou sobre ele, e ela abriu a boca como se para protestar. Então deu uma
risada fraca.
—Acho que é verdade. Desprezo perder.
—É bom que você admita — disse enquanto continuava pela estrada. Pôs o
castrado ao passo ao lado dela. — Não hesite em me chamar com um nome desagradável
se isso a faz se sentir melhor. Ouvi dizer que - Macaco - já tem dono, mas você pode
tentar, com espalhafatoso. Ou Sr. Rápido e Perdedor. Ou... espere, tenho um mais
completo: Diabo corrupto.
—Perfeito? —Ela ergueu as sobrancelhas. — Para você isso é um elogio. Você e
seus amigos, pavoneando-se, se gabando de sua maldade.
—Eu nunca me atreveria. Não é necessário. — Ele sorriu para ela. — Minha
maldade é evidente por si mesma.
Ela riu.
—Eu juro, você é incorrigível, Sr. Master.
Deliciado por tê-la feito rir finalmente perguntou: —Vamos lá, não pode me
chamar de David? Certamente até mesmo um noivo imaginário merece.
—Meu noivo visa estirar as regras de decoro — criticou ela, e, em seguida, deu-
lhe um sorriso agradável, o que levou a incitar de sua recusa. Eles montaram um tempo
em silêncio sociável. Ele sub-repticiamente olhou para o relógio de bolso. Certamente
tinha dado tempo suficiente aos criados para fazer o que ele havia pedido a noite
anterior. Não podia esperar para ver como Charlotte iria gostar da surpresa.
Quando chegaram a uma pequena clareira perto da estrada, ele parou e
desmontou, indicando ao lacaio que levasse os cavalos.
—Tenho algo para lhe mostrar — disse Davi a Charlotte enquanto a ajudava a
descer.
—Oh sim? — Agora vinha a parte perigosa. Ele ofereceu o braço, que ela tomou.
Em seguida, ele acenou para o lacaio, para reunir as rédeas dos dois cavalos e
começar a voltar para a estrada.
—Onde vai o pajem? — Ela perguntou.
—Eu disse a ele para voltar. — Com a mão firme tomada na dobra do braço, ele
entrou no bosque.
—Sr. Masters, — disse ela, arrastando os calcanhares um pouco.
—Charlotte, você está segura comigo, eu prometo. —Houve um momento em
ficou meio morto de medo de que ela pudesse correr atrás do lacaio para recuperar o
cavalo, ou mesmo partir sozinha a pé para casa. Quando não o fez, se alegrou.
A partir dali, tudo seria um mar de rosas. Porque, finalmente, ele teria Charlotte
para si mesmo. No entanto, ao cruzar o bosque, o som de água corrente começou a fluir
através deles, arrastando os pés novamente.
—Já esteve aqui antes?
—Sim, como uma questão de fato. Costumávamos brincar aqui.Você não
lembra? —Estava perto o suficiente da borda do bosque para ver além do Tamisa. Ele se
perguntou se ela lembrava da ilha no meio, chamada de uma maneira incomum. Ela havia
sido proibido por eles quando crianças. Agora tinha um mirante. E havia ali um
piquenique luxuoso fornecido anteriormente pelos servos. Ela enterrou os dedos em seu
braço. Aparentemente, lembrando. Mas quando olhou para o rosto dela, à espera de sua
surpresa e deleite, ela estava pálida como um fantasma.
—O que estamos fazendo aqui? — Ela perguntou, com uma nota estranha de
pânico na voz. Ele a levou para o barco ancorado nas proximidades.
—Vamos para a ilha para um piquenique. — De repente, ela deixou cair o braço.
—Nós certamente não iremos. Vou voltar. — Dane-se tudo, por que estava
ficando assustadiça de novo? Pensou que tivesse deixado tudo para trás. Segurando a
saia, ela correu de volta para o bosque muito rápido.
—Não seja absurda — David gritou enquanto corria atrás dela. — Nós não viemos
de tão longe só para voltar sem ver Saddle Island. — Ele a agarrou-a pela cintura por trás,
apenas para detê-la, mas ela lutou violentamente contra ele.
Ela pensou que ele ia estuprá-la ali? Que tipo de homem achava que ele era?
—Acalme-se, é apenas um piquenique, eu juro. Não há necessidade disso.
—Você não pode me forçar a entrar no barco — gritou ela.—Não vou fazer isso!
Deixe-me ir! —Havia algo mais do que isso, algo estranho.
—Charlotte, o que está acontecendo?
—Ele te disse.
Ela freneticamente agarrou seu braço.
—Quem me disse o que? Não sei do que você está falando! — Enquanto ela se
contorcia em seus braços contra ele, ele viu, para sua surpresa, as lágrimas escorrendo
pelo rosto.
—Pare de fingir! Eu sei papai lhe contou. Eu sei que é por isso que nós estamos
fazendo isso. — Ela o agarrou pelo colarinho. — Por favor, não me faça ir ao rio, eu
imploro! Eu vou fazer o que quiser, o que ele quiser. Simplesmente não me faça entrar no
barco.
—Shh, querida, shh, não vou fazer você fazer nada, eu prometo — ele murmurou,
abraçando-a. — Juro que seu pai não me disse nada! — Ele disse enquanto ele abraçava
firmemente, tentando acalmá-la. Seu coração doía ao ouvi-la chorando. Demasiado tarde
ele percebeu. Seu medo não tinha nada a ver com estar sozinha com ele. Tinha a ver com
o rio. — Tudo bem —assegurou novamente e novamente. — Você está segura. Não
vamos entrar em qualquer lugar perto da água, eu juro. — Oh, Deus, o que tinha feito?
Ele não quis fazer mal a ela. Claro, não tinha desejado que ela se reduzisse a isto. Em
algum lugar no turbilhão do seu medo, suas palavras devem ter feito algo, porque ela
parou de lutar contra seu abraço. Mas agora ela tremia violentamente, e que o
alarmou. Se deixou cair para a borda coberta de erva, e arrastou-a para embalá-la em seu
colo, acalmá-la com os movimentos de suas mãos, em seus braços. Levou vários minutos
para conter as lágrimas, e vários outros para acalmar o suficiente para ela parasse de
tremer. Quando teve certeza de que estava mais em seu estado normal, se afastou e
tomou seu rosto nas mãos. — Você se sente melhor? — Ele perguntou em voz baixa. Os
olhos dela estavam vermelhos e inchados.
—Na verdade, eu... Eu me sinto um pouco boba.
—Não há necessidade de se sentir assim —. Pressionando a cabeça contra seu
peito, ele a acariciar no cabelo. — Desculpe. Eu não tinha ideia, ou eu nunca a teria traria
aqui.
—Eu sei — murmuro sobre seu casaco molhado. — Eu vejo agora.
—Foi uma surpresa estúpida. Pensei que você gostaria de ir até a ilha para um
piquenique.
Ela lançou uma risada dura.
—Quase pensou ter convidado uma louca.
—Você não é louca. Mas eu me pergunto por que...
—Eu fico louca ao ver um barco no rio?. — Ela terminou por ele.
Ignorando seu tom de autocrítica, ele lhe deu um beijo no cabelo.
—Nós sempre brincamos na água quando crianças o tempo todo. Quando foi que
tudo mudou? Como mudou?
—Se eu lhe disser, você vai rir de mim — sussurrou.
—Não. — Ele a acomodou em seu colo. —Prometo que não vou. — Dando um
olhar cauteloso para ele, procurou seu rosto.
—E não me fará ir ao rio? —Um caroço ficou preso na garganta.
—Não. — Empurrou o cabelo para trás de seu rosto banhado em lágrimas. — Não,
se você não quiser.
—Se eu não quiser? — Ela tentou rir, mas não conseguiu. — Eu prefiro mastigar
agulhas.
Ele puxou o lenço e ofereceu. Ela assoou o nariz e enxugou os olhos.
—Em um inverno, quando eu tinha nove anos, quando ainda morava aqui
perto. Houve uma tempestade, e o Tâmisa enchia e baixava muito rápido.Mamãe e eu
estávamos andando ao lado dele quando meu chapéu favorito voou. Antes que pudesse
reagir, eu corri atrás dele. — David podia ver o medo aumentar novamente em seu rosto,
mas ele se sentia impotente para desterra-lo. — A corrente arrastou-me. Lutei, mas não
sabia nadar, e a água era tão poderosa. Nosso mordomo se lançou atrás de mim, mas eu
já tinha engolido muita água. — Seu peito subia e descia com a respiração acelerada. —
Por um tempo fiquei um pouco perto. A água estava agitada e eu afundei, arrastada por
minhas saias de lã. O lacaio me perdeu de vista - não sei por quanto tempo. Tudo que
lembro é do pânico horrível de não ser capaz de respirar, de saber que eu estava prestes
a morrer. — Um arrepio percorreu-a, ele esfregou as costas dela, desejando que pudesse
fazer mais.
—Devo ter perdido a consciência. Quando voltei a mim, estava deitada em um
banco, e meu peito doía porque alguém o pressionava com força, forçando a água para
fora dos meus pulmões. Mamãe estava debruçada sobre mim, e os dentes do lacaio
tremendo por conta de seu mergulho nas águas geladas. — Meu Deus, ela tinha estado a
ponto de morrer! Seu coração simplesmente parou ao pensar nisso.
—Espero que seu pai o tenha recompensado bem por salvar sua vida. bem David
sorriu levemente.
—O lacaio se retirou do serviço apenas com o que mamãe lhe deu. Abriu uma loja
de cozinheiro, eu acho.
—E você tem medo do rio desde então?
—Lagos, rios... — Ela engoliu em seco. — O mar me dá pesadelos. Começo a ver...
tudo de novo, sentir o pânico, a dor excruciante da água que entra nos pulmões pouco
antes de desmaiar. Inclusive fico tensa quando estou em pontes. — Um suspiro escapou
irregular. — Sei que é irracional e absurdo.
— Claro que não. Um medo de afogamento é perfeitamente racional. Em você, o
medo é um pouco exagerado, isso é tudo. O que foi que Shakespeare disse? O medo
cego, não vê os fios da razão pela qual se encontra que é mais seguro para caminhar de
pé do que a razão cega tropeçando sem medo.
—É perigoso não viver sem ter medo. — Ela ficou boquiaberta.
—O quê? — Perguntou.
—Primeiro você lê Spenser e logo cita Shakespeare? — Ela deu uma risada
trêmula. — Juro, você não é nada do que eu pensava. — As palavras a detiveram em
seco, lembrou-se do que outra pessoa lhe dizia na agonia de seu medo.
—Sim, eu sei o que você pensou — disse com firmeza. — Que sou o tipo de
homem que iria usar o seu medo contra você. — Ela fez uma careta.
—Desculpe. Estou tão acostumada com a maneira de ser do meu pai — Quando
ela se conteve e olhou para baixo, um nó de apreensão se contorceu em sua barriga.
—A maneira como seu pai faria o que? —Ele espetou.
—Nada —. Ela havia dito que o pai deixou clara a sua fraqueza por ele e David viu
algo de sinistro nele. Mas... agora lembrando-se da conversa no jantar da primeira noite,
com o pai dela dizendo algo sobre a sua incapacidade para nadar. Charlotte tinha ficado
branca. Na época, ele não se lembrava nada sobre isso, mas...
—Charlotte, seu pai usou seu medo de se afogar para ameaçar? — Durante muito
tempo, ela se limitou a virar o lenço em suas mãos. Quando finalmente respondeu, sua
voz tinha um toque de amargura.
—Tentou. — A raiva fervia em seu interior.
Não era surpreendente que ela fosse desconfiada dos homens.
—Todo esse tempo, pensei que seu pai não fosse mais que um idiota. Agora vejo
que é um valentão, também. — Ela olhou para ele constantemente.
—Ele é de fato. — O nó no estômago se apertou.
—E você pensou que ele me fez tomar consciência disso?
Remorso varreu suas bochechas.
—Eu não estava pensando. De repente você começou a agir como se tivesse
mudado de opinião sobre se casar comigo, e considerando as ameaças feitas por papai no
caminho até aqui sobre o que faria se eu não fosse... do seu agrado, eu pensei que
poderia ter... ou pudesse... — Ela engoliu em seco. — Sinto muito, eu não deveria ter
assumido que os dois tinham conspirado sobre este assunto. Foi muito ruim. Você tem
sido mais do que bom para mim.
—Quando não estou forçando-a a montar a cavalo — ele disse com azedume —
lembrando-se de como ela tinha reagido. — Você acha que eu sou capaz de intimidar
como ele não?
—Não. — Ela levantou o olhar sincero para ele. — Não é, David. — Ele piscou.
—Você me chamou de David. — Um sorriso caloroso apareceu em seus lábios.
—Creio que sim. — Foi a coisa mais linda que ele ouviu. E tornou-se
dolorosamente consciente de que ela estava sentada em seu colo, suas mãos delicadas
pressionados contra o peito e uma nova suavidade em seus olhos. O fogo entrou em
erupção em suas veias.
Ele não parou para pensar ou dar qualquer aviso. Ele só a beijou. E ela o beijou de
volta. Por Deus, ela o beijou de volta, com a inocência de uma mulher que nunca
provou. Ele foi ao paraíso. E ao inferno. Porque não era suficiente. Ignorando qualquer
coisa, quão maravilhoso ele se sentida, ele agarrou sua cabeça e seus lábios com mais
ousadia. Foi deslizando a língua dentro de sua boca. Ela se inclinou para trás, os olhos
enormes.
—O que você está fazendo?. — Ele retornou de má vontade a seus sentidos.
— Sinto muito, não deveria ter ido tão longe. Eu só queria beijá-la - um beijo de
verd...
—Um beijo de verdade? — Ao invés de parecer surpresa ou alarmada, ela parecia
intrigada. — Muito bom. — Seu pulso saltou três vezes mais.
—Muito bom? O que? — Ela apertou os dedos em suas lapelas com um sorriso
trêmulo.
—Mostre-me o que é um beijo real. — O calor rugiu através dele. Abaixando a
cabeça novamente, ele roçou os lábios dela com os seus.
—Abra a boca para mim, querida — murmurou, — e eu irei. — Ela fez isso. E
assim ele fez. Deus o ajudasse. Charlotte era uma celebração inebriante. Ela estava
quente e docemente deliciosa. E quando ela colocou os braços em volta do pescoço dele
e se abandonou a seu beijo voraz agora com um entusiasmo tímido que disparou o
sangue dele, se deu conta de que estava em apuros. Não era a noite com uma garçonete
em comparação, não era o prazer de luxo de beijar uma mulher que o queria para si
mesma, pelo dinheiro que poderia pagar ou título que um dia seria dele. Ele poderia
crescer muito acostumado a isso.
Inferno maldito.
CAPÍTULO SEIS
Charlotte nunca tinha sonhado que uma mulher respeitável poderia encontrar
muita diversão em um beijo. Tinha assumido que apenas as mulheres sem vergonha com
quem o pai se unia eram capazes disso. A julgar pelo prazer que David estava lhe dando
com sua boca, as relações entre homens e mulheres poderiam ser muito diferente do que
havia pensado.
—Oh, querida, — ele murmurou contra seus lábios, — você está me deixando
louco.
—Eu também — sussurrou ela. Foi tudo o que saiu antes ele tomasse sua boca de
novo, a língua brincando com a dela, então se aprofundou e deu golpes suaves que a
fizeram tremer em lugares estranhos. Beijos reais eram ainda melhor do que o do outro
tipo, e isso porque o outro tipo tinha sido muito agradável. As mãos masculinas
começaram a vagar, a princípio, apenas pelos ombros, depois para cima e para baixo
pelos lados, como se estivesse contando suas costelas. Ele estava respirando com
dificuldade - e ela nesse caso - sentiu um vulto estranho junto ao seu traseiro. De
repente, ele rompeu o beijo.
—Temos que parar com isso.
—Por quê? — Ela perguntou, ainda afetada pelo prazer de ser beijada tão
completamente. Ele deu uma risada trêmula.
—Porque eu não desflorar você aqui na frente de Deus e de todos.
—Oh. — O calor inundou sua bochecha. Não tinha certeza do que uma defloração
envolvia, mas certamente tinha que ser escandaloso. — Fiz algo errado?
—Não penso assim. — Ele cobriu seu rosto com ternura. — Mas não acho que
devemos continuar sentados aqui como estamos.
Em um instante, percebeu que ela estava sentada no colo dele de uma maneira
pouco ortodoxa... com os braços ao redor de seu pescoço! Meu Deus, o que ele devia
pensar dela! Lutando para fora de seu colo, ela disse: — Desculpe. E-Eu não queria fazer...
—Não se atreva a pedir desculpas. — Ele levantou-se também e arrumou a calça.
—Eu não me arrependo um minuto desses beijos. E espero que você
tampouco. — Um sorriso cauteloso assumiu seus lábios.
—Não. — Então era isso fazer algo travesso com um libertino. Ela gostou. —Você
não deve mais fazer isso, é claro, especialmente se o risco é de você me deflorar — mas
ela podia ver porque as jovens eram tentadas. Beijar era muito emocionante. — Mas
sinto muito por arruinar seu adorável dia de campo — continuou.
—Bobagem, não arruinou nada. — Seus olhos voaram para os dela.
—Não posso ir lá.
—Eu sei. — Ele sorriu. — Espere aqui. Eu estarei de volta. — Ele viu sua confusão
enquanto saltava para o barco e soltava suas amarras. Quando pegou os remos e
começou a remar para Ilha Saddle, o coração dela saltou até a garganta, temendo por sua
vida. Mas, a medida que navegavam através das águas do rio com a facilidade de um
especialista, o seu sangue se acelerou por outra razão completamente diferente. David
era a imagem do homem viril, todos os músculos flexionados e cabelo despenteado pelo
vento. Odiava a admitir, mas era ainda mais bonito do que o capitão Harris. Capitão
Harris! Senhor, tinha se esquecido dele? O que dizem sobre alguém como ela? Ela era
uma menina má. Agora que tinha o capitão em mente, no entanto, não podia deixar de
comparar os dois homens. Em alguns aspectos eles eram semelhantes, tão atraentes, tão
senhores, fortes e viris. Certamente, os dois a faziam rir, a consideravam importante,
diferente de seu pai que só a fazia enojar-se.
Mas David era um garanhão puro-sangue junto a um cavalo castrado como o
capitão Harris. O capitão não tinha nada do calor de David ou sua energia inquieta, era
amável, mas não profundo, como David poderia ser, por vezes. Claro, David também
tinha um lado travesso, que, apesar de divertido, não falava bem de seu caráter.
David desapareceu no gazebo, surgiu momentos depois com um grande pacote
que colocou na parte inferior do barco. Um sorriso apareceu em seus lábios enquanto
remava de volta. Deve ter organizado este dia de campo com antecedência com os seus
servos. Imagine isso! Para ela. Não era de admirar que estivesse tão determinado a ir a
Ilha Saddle. No entanto, ele tinha mudado seus planos ao pedido dela. Qualquer homem
que fizesse isso por uma mulher não poderia ser tão desprovido de caráter,
certo? Gostava dos mesmos livros que ela, e se interessava em arquitetura. Certamente
tudo isso falava bem dele, também.
Chegou ao cais e amarrou o barco, e, em seguida, subiu para o banco de areia
com o pacote, as coisas que trazia faziam ruídos enquanto andava.
—Ainda podemos ter o nosso piquenique — disse ele. — E se você quiser, vamos
fazer aqui.
—Aqui está bom — disse corajosamente. Era o mínimo que podia fazer. — Posso
ver o rio, sempre e quando mantenha uma distância saudável.
Durante a hora seguinte eles passaram um tempo agradável. Os servos tinham
preparado um verdadeiro banquete de presunto frio e queijo, pão e manteiga, pêssegos e
creme, e alguns deliciosos bolinhos de limão, regado com vinho de uma garrafa de
prata. Eles falaram sobre todos os tipos de coisas - escola, sua preceptora, suas
esperanças para o seu status depois que herdasse. Ela disse algo que nunca tinha contado
a ninguém, que secretamente sonhou em abrir uma escola para meninas e ensinar
ciência, história e matemática, as mesmas coisas que aprendeu. Ele não tirou sarro dela
como qualquer outro homem faria. Inclusive parecia entender porque estava tão
apaixonada pela ideia. Uma vez que estavam satisfeitos e que o sol tinha deslizado para
baixo de forma alarmante, ele enfiou a mão no casaco e tirou uma caixa de rapé. Já tinha
visto antes e se perguntou se ele iria tomar rapé. No entanto, ele abriu para revelar uma
série de pastilhas com cheiro de gotas de limão. Ele ofereceu a caixa.
—Um doce para a senhora?
—É isso o que você sempre carrega ai? — Ela pegou um e colocou na boca. —
Gotas de limão. Um pouco de menta. E algo de bergamota também.
Ele sorriu.
—Tenho um fraco por doce.
—Notei seu gosto para sobremesas — brincou ela enquanto ela pegava outro e
entregava a ele. Com os olhos brilhantes, agarrou a mão dela e levou a boca, tomando o
doce de seus dedos. À medida que sua respiração ficava difícil, ele beijou a palma da mão,
em seguida, disse.
—Tenho que perguntar algo.
—Isso parece sério — disse ela, lutando para parecer indiferente.
—Isto é. —Ele juntou os dedos nos dela. — Sei que isto é muito cedo, e
provavelmente vai pensar que estou completamente louco, mas quero pelo menos,
considere o que estou prestes a dizer. — Pela primeira vez desde que o conheceu, ele
parecia desconfortável. Era muito estranho. —Quero casar com você, Charlotte — disse
sem rodeios.
Ela engasgou. Não sabia se gritava de alegria ou fugia alarmada.
—David...
—Não diga nada. — O olhava com uma intensidade que a fez estremecer
deliciosamente. — Tudo o que estou pedindo agora é para me dar uma chance. Temos
mais de três dias antes que sua família vá embora. Basta passar esse tempo comigo, me
conhecer. Não coloque sua mente contra mim.
Ela lhe deu um sorriso tímido.
—Não tenho nada contra você, David.
Alívio apareceu no rosto masculino.
—Graças A Deus.
—Mas... — Ela mordeu o lábio inferior. — Tenho algumas preocupações.
—Por que isso não me surpreende? — Ele brincou, em seguida, adicionou mais
sóbrio — Que tipo de preocupações?
—Não quero um cafajeste por marido — disse, pensando na mulher do café da
manhã. Quantas senhoras competiriam a cada dia chamar a atenção dele? E quantas ele
beijaria da forma apaixonada como a tinha beijado? Seu olhar de dignidade ofendida a
tranquilizou um pouco.
—Não sou tão canalha quanto todo mundo pensa, — rosnou. — Não me casaria se
não pudesse ser fiel.
Ela queria acreditar nele.
—Tenho outras preocupações, também, o jogo.
—Posso jogar cartas ocasionalmente, não mais. Não acho que seja o suficiente
para preocupa-la.
—E seu modo de beber?
—Charlotte — disse com firmeza: — tudo o que posso prometer é que eu sou
moderado em meus hábitos. Mas não vou me tornar um monge, se é isso que você quer.
—Não, não é — ela apressou-se em dizer. Pensando nos beijos febris,
acrescentou, — Não tenho certeza se me agradaria como um monge. Eu só...
—Você está preocupada, eu sei. Entendo isso. E prometo que não vou forçar
nada. Por agora, só peço para me conhecer como eu sou? Está bem?
Ela apertou sua mão.
—Eu posso fazer isso.
—Bom. —disse ele com voz rouca. — Isso é bom.
Nos dias que se seguiram, David mostrou-se fiel à sua palavra. Nunca voltou a
levantar a questão do casamento, mas a cortejou sem trégua. Deu-lhe violetas, e
escreveu um soneto bem ruim. Levantou-se antes de mais ninguém para cavalgar com
ela. Passava horas conversando, fazendo girar os sonhos selvagens da escola para
senhoritas que iam construir e fundar. Era um absurdo, é claro. Eles tinham seus papéis
prescritos. Ele seria um grande senhor, e ela casaria com um. No entanto, ela gostava
muito de falar sobre sua fantasia.
Tinha medo de se apaixonar por ele, de estar apaixonada, enquanto ele estava
interessado somente em divertir-se um pouco. Ou apaziguar os pais. Seus pais estavam
muito felizes em vê-los juntos, assim como sua mãe. A mãe de David, no entanto, não
parecia muito feliz com isso. Após o piquenique, Lady Kirkwood se assegurou de que eles
tivessem sempre acompanhantes. No entanto, para estar com David, mesmo com outras
pessoas ao redor, era inebriante.
Embora ocasionalmente Charlotte sentia-se culpada por ter mudado suas afeições
tão rapidamente pelo capitão David, tentava não pensar sobre isso.
A única mancha escura em seu cortejo foi quando ela no último dia de estadia em
Kirkwood Manor foi à procura de David e o escutou em profunda conversa com a criada,
depois do qual Molly apressou-se a sair ruborizada. Quando Charlotte perguntou sobre o
que eles estavam falando, ele disse que era um assunto de família e mudou de
assunto. Embora o incidente a manteve irritada durante toda a manhã, disse a si mesma
que estava vendo problemas onde não existiam. Em qualquer caso, David estava
provando ser um homem de caráter. Era nisso que ela deveria se concentrar.
Naquela noite, enquanto as mulheres ainda estavam na sala de estar e os
senhores no estúdio, saiu para ir a sala de visitas, ao mesmo tempo em que David deixava
os homens para pegar outra garrafa de porto da adega. Ao vê-la sozinha, a arrastou para
um canto e começou a beijá-la até deixá-la sem sentido. Ao não encontrar qualquer
resistência - passou dois dias sonhando estar sozinha com ele de novo, beijando-o
novamente. Para ela este interlúdio privado tão inesperado era como tropeçar em um
poço no deserto. Tudo o que podia fazer era beber e beber e beber um pouco
mais. Quando eles finalmente se separaram, a voz áspera ele disse:
—Tem que ir amanhã? — Ele a segurou pela cintura com força, o olhar cru e
quente. — Certamente se perguntar a seu pai, ele prolongará a estadia mais uma
semana.
—David — disse, — Preciso de tempo longe de você para estar segura do que
estamos fazendo.
Os dedos deles cravaram em sua cintura.
—Você quer dizer, tempo para me comparar com seu capitão Harris?
Ela riu.
—Asseguro que o capitão Harris é a coisa mais distante da minha mente. — Mas
ela não queria saltar para o casamento com um homem que mal conhecia, especialmente
quando seu cérebro estava embaciado com a presença dele. Necessitava considerar a
questão à luz fria e racional de sua casa longe de David e seus beijos viciantes. — Além
disso — continuou ela, — disse seu pai que vai a cidade em uma semana. Pode me visitar
lá então.
—Está bem. Mas, enquanto isso... — Ele a beijou novamente, tão longo, duro e
profundo que a deixou meio desmaia. Quando se afastou, seus olhos estavam iluminados
com uma paixão que causou arrepios até os pés. — Isso é para que você não me apague
de sua mente. Especialmente quando estiver confraternizando com aquele maldito oficial
da cavalaria.
—Confraternizando! Acho que você está com ciúmes, David Masters.
Sua boca se tornou uma linha beligerante.
—E se eu estiver? Tenho algum direito de me sentir proprietário seu, certo? - Ela
prendeu a respiração. Era a primeira vez que ele insinuava o casamento desde aquele dia
no rio. Ela sabia o que ele estava perguntando, também, um sinal de que eles tinham,
pelo menos, um entendimento.
—Sim, — disse ela calmamente. — tem algum direito.
A tensão em seu rosto desapareceu. Ele estava inclinando-se para ela novamente,
quando sua mãe apareceu por trás deles.
Ele murmurou algo sobre ir pegar o vinho. Assim que ele se foi, Lady Kirkwood
franziu a testa para Charlotte.
—Se eu fosse você, Senhorita Page , eu tomaria cuidado.
Tentando lutar contra o rubor, Charlotte ergueu o queixo.
—Sobre o que?
—Sobre o que faça com o meu filho. O tipo errado de mulher pode facilmente
tentá-lo a se comportar mal. — A advertência a picou.
—Então é uma coisa boa que eu não seja o tipo errado de mulher, não?
A viscondessa deu um leve sorriso.
—O que a faz pensar que eu estava falando sobre você? Apenas pensei que você
deve saber que meu filho é honesto para velar por sua reputação de verdade. — Ela a
segurou pelo braço. — Agora vamos, sua mãe precisa de você. —Charlotte passou ao lado
dela para caminhar de volta para a sala com a cabeça erguida, mas por dentro estava uma
bagunça. Fez todo o possível para que a senhora gostasse dela, mas ela parecia e
determinada a não fazê-lo. Essa era a única razão pela qual diria coisas horríveis sobre seu
filho a ela. Não era isso?
Tom Dempsey não podia acreditar. A jovem da décima quinta St. James Square
tinha confiado nele para entregar uma carta. E ela estava pagando-lhe generosamente,
também. Quase esqueceu a chuva enquanto corria pelas ruas, a preciosa carta estava
cuidadosamente escondida no bolso. Infelizmente, estava tão ocupado felicitando-se pela
sua sorte que ele viu o menino mais velho veio com uma sacola cheia de envelopes até
que se chocou contra ele.
O artefato do correio explodiu dispersando todos os envelopes em torno dele
como um confete gigante.
— Idiota! — O outro garoto reclamou enquanto Tom ficou boquiaberto com a
bagunça. — Que diabos você pensa que está fazendo? — Tom, não respondeu atordoado.
— Bem, vamos lá então, me ajude a recolher estas! O Sr. Bowmar terá minha cabeça se
eu perder todas estas cartas por causa de você! — Os dois meninos se apressaram a
recolhê-las, enquanto a chuva caia como projétil em suas costas e a tinta nos envelopes
começava a escorrer. Quando a última carta estava na bolsa, o outro garoto fugiu sem
nem mesmo um agradecimento.
— Maldito bêbado — Tom se queixou, agora encharcado até os ossos, enquanto
apertava o passo. Mas quando chegou ao endereço correto, colocou a mão no bolso para
descobrir que a carta tinha desaparecido. Desesperado, buscou em todos os bolsos, para
depois voltar seus passos, esperando talvez que tivesse caído no caminho. Depois de
chegar na esquina onde tinha encontrado o outro tampouco pode encontrá-la, teve que
admitir a verdade. De alguma forma ela caiu e havia se misturado com as outras cartas.
Ele gemeu. Que ruim havia ido a sorte de Tom com ela. Ela havia dito que lhe
daria umas moedas quando entregasse a carta e outras, quando trouxesse uma nota do
mordomo da casa, dizendo que ele tinha feito. Agora ele não tinha nada para entregar.
Enquanto isso, nos escritórios do Tattler naquela manhã, Charles Godwin, um
jovem repórter, foi chamado pelo editor.
— Ouça esta carta acabou de chegar — disse Bowmar, acenando com uma folha
de papel. Sentou-se em uma pilha de cartas com aspecto lamentável e com a tinta
borrada. Bowmar leu em voz alta algumas poucas linhas de uma forte ladainha de
pecados de um pobre sujeito.
— Quero que você use em uma dessas peças editoriais em que é tão bom, as
falam sobre os males da sociedade. É algo suculento. — Bowmar atirou-a para ele, e
Charles leu. Ele foi espirituoso, uma maneira de esfolar um corpo vivo, mas poderia jurar
que não tinha sido destinada ao jornal.
— Não pode publicar isto. Evidente que é pessoal. — Bowmar mostrou seu
habitual sorriso bajulador.
— Veio com o resto do correio. E não há nenhum endereço de remetente. —
Charles virou a folha e viu nada mais do que tinta borrada. Ele pensou que poderia ver um
M, mas isso era tudo.
—Não importa. Você não pode imprimi-lo com a consciência limpa. Obviamente é
particular, e alguém virá depois alegando difamação. — Ele entregou a carta a Bowmar,
apontando para uma linha em particular. — Porque ainda mencionou que o homem é o
filho de um visconde.
— É uma alusão, isso é tudo. Além disso, não há um grande número de filhos de
viscondes. E ninguém pode vir depois reclamar ao jornal por difamação ao menos que o
que se diz aqui seja falso. Mesmo se eles fizerem isso, basta salientar que a carta começa
com - Caro Caminhante espalhafatoso - e é assinado por - Senhorita Macaco. Ninguém
pode me culpar por pensar que estava destinada a publicação. — A alegre
despreocupação de Bowmar dava nojo em Charles. Ambos sabiam que não era destinada
para isso, mas nada mais foi dito. A carta era intensamente particular, claramente o
resultado de um caso de amor que terminou terrivelmente errado. Em algum lugar o
coração de uma jovem estava quebrado, porque um canalha tinha abusado dela. Parecia
errado lucrar com sua miséria. O fato era que Bowmar não se importava com isso e
esperava que ele fizesse o trabalho sujo, isso despertou seu temperamento, algo que
Charles era famoso.
— Só um canalha sem coração iria imprimir esta carta. — Bowmar se inclinou
para trás e zombou.
— Coração? O coração não tem lugar em um jornal, senhor. Material suculento
como esse irá vender jornais para centenas de pessoas.
— Não vou fazê-lo. Isso está errado.
Estreitando os olhos em fendas, Bowmar disse: — Você vai fazer o que eu digo, se
quiser manter sua posição. — Desde que chegou para trabalhar para Bowmar há dois
anos, Charles tinha sofrido vários dilemas morais. Havia apertado os dentes e resistido
todos e cada um sem perder o emprego. Mas este tinha realmente obstruído sua
garganta. E ele já tinha aguentado o suficiente.
— Pouco me importo minha posição, se é isso que eu tenho que fazer por ela. —
Virou-se em direção a porta. — Estou indo. — Charles saiu sem olhar para trás.
CAPÍTULO SETE
Cinco dias após a saída dos Page de Berkshire para a cidade, David voltou para
casa depois de galopar cedo pela manhã. Montar a cavalo tinha sido sua salvação desde
que Charlotte foi embora, ainda que não a mantivesse longe de sua mente.
Um sorriso curvou seus lábios. Ele estava apaixonado. Não havia nenhuma dúvida
sobre isso. Não conseguia dormir sem pensar nela. E em apenas dois dias iria vê-la
novamente em Londres. Desta vez iria fazê-la dar uma resposta. Podia ser jovem, e às
vezes podia ser um tolo, mas não iria deixá-la ir.
Claro, o pai dele ficaria encantado. Suspirou. Odiava que estava jogando a cair
direito nas mãos do pai, mas não podia evitar. Se praticidade e amor que acabava de
acontecer coincidiam, então, quem era ele para questioná-lo?
Assim que David entrou na casa, o servo disse que o pai chamava por ele com
urgência. David se apressou ao estúdio do pai, surpreso ao encontrar o homem dando
voltas e bebendo uísque, nunca era um bom sinal a esta hora.
— Me chamou, pai?
O pai se virou para ele com um olhar que transformaria água congelada em vapor,
então bateu com o jornal em cima da mesa.
— Você quer explicar como isso aconteceu?
— Como o que aconteceu? — Perguntou David, completamente perplexo.
— Há um artigo aqui que diz coisas ofensivas sobre um cavalheiro que soa muito
com você.
Um arrepio percorreu a espinha de David. Coisas mordazes sobre ele? No maldito
jornal matutino Tattler?
Pegou o papel, começou a ler. Tratava-se de editorial cheio de ataques contra os
pomposos - desonestos - cavalheiros. Como exemplo, o editor apresentou uma carta de
um jovem cuja dignidade havia sido pisoteada por um homem:
Recentemente cheguei a entender que a honra e o bom caráter são os trajes de sua
conveniência, algo que faz você querer ceiar uma mulher particularmente suculenta. Mas nós dois
sabemos que debaixo desse caro robe listrado, e vão, esconde-se um coração inconstante e mortal
como as águas do Tâmisa.
Então, enquanto você está jogando e vagabundeando com seus amigos libertinos de
Cambridge, muito ocupado contando os dias até que se torne um visconde e possa viver uma vida
selvagem com a impunidade do título, lembre-se: Houve uma vez uma dama que realmente viu
quem você é.
Ela viu a vaidade por trás de cada comentário e falsidade por trás de cada beijo.
Você acalentou seu bom senso por um curto período de tempo com o feitiço sensual de
um libertino, mas eventualmente ela reconheceu o verdadeiro libertino impenitente que se diverte
enganando as jovens damas, pelo mero prazer de destruir a vida de uma mulher.
Se você vir a pedir a mão dela, tenha uma coisa bem clara. Ela pode se casar com você por
obrigação, mas ela nunca mais irá tolerar suas intimidação e nuca lhe dará o que um homem
espera de sua esposa, lealdade e apoio.
Assim, é possível que deseje pensar duas vezes antes de ter uma serpente em sua cama.
Sua com desprezo,
Senhorita Macaco.
Não conseguia respirar, o sangue rugia tão alto em seus ouvidos que ele pensou
que ia desmaiar, só uma garota estúpida, assinava como senhorita macaco. Seria
Charlotte? Como poderia ter escrito essa... essa coisa tão vil?
Cada palavra era uma faca em seu coração. Mal registrou o resto do editorial, em
que o editor denegria o comportamento dos jovens cavalheiros para as mulheres
respeitáveis na área de Cambridge. Não escutou as perguntas do pai nem sequer
percebeu o ambiente ao seu redor. Ele ficou lá, empalado pelas palavras.
Por que tinha escrito aquilo? O que ele fez? Eles haviam se entendido. Ele tinha
certeza de que ela se importava com ele. A última vez que haviam se beijado, ela parecia
tão feliz e ansiosa para se casar como ele.
— E então? — Repetiu seu pai. — Posso ver pelo seu rosto que trata-se de você.
Ele assentiu, apenas meio ciente disso.
— Tenho que supor que a mesma foi escrita por Charlotte Page?
— Verdade — disse estupidamente.
— Então o que você tem a dizer? O que fez com aquela garota?
O calor aumentou em suas bochechas.
— Eu não fiz nada, a não ser pedir a ela para ser minha esposa. — E agindo como
um tolo embriagado. E desnudar meu coração para seu punhal, que agora se voltou
contra ele. — Ela deve ter ouvido rumores sobre mim depois que voltou para Londres.
Mas por que tinha acreditado? Isso que fez a lamina cravar mais fundo, o fato
dela ter ouvido algo de sua aventuras com seus amigos, e ao invés de ir falar com ele a
respeito, fez isso. Ela sequer esperou até vê-lo de novo antes de acusá-lo. Ela tinha
enviado este documento sangrento para que fosse publicado! Como pode?
Ele sabia que ela era muito exigente, que tinha noções selvagens sobre ele e sua
reputação, mas nunca esperou algo tão inexplicável e cruel.
Que tipo de mulher fazia tal coisa?
Seu único consolo era que ninguém diria que era ele...
O sangue esfriava como gelo em suas veias. Leu mais uma vez, uma geleira
arrasava sobre seu corpo, congelando tudo o que tocava.
— Todo mundo vai saber que sou eu.
— Ridículo — disse seu pai. — Pelo menos ela teve o bom senso de não usar
nenhum nome. A única razão pela qual eu suspeitei foi por seu robe espalhafatoso.
David olhou para o pai.
— Exatamente. Usei aquele robe em Cambridge mais de uma vez. Eu era
conhecido por ele. — Disse uma maldição. — Não vai passar muito tempo antes que
comecem a falar de mim...
A cor desapareceu do rosto do pai.
— Onde está agora?
— Eu dei a Giles.
O pai mandou chamar Giles. Assim que o rapaz entrou, perguntou:
— Onde está o robe que seu irmão lhe deu?
Giles olhou David indeciso.
— Por quê?
— Você o tem? — O pai ladrou.
— Está no meu armário.
— Você o tem usado publicamente por esses dias?
Giles engoliu em seco, é claro que estava com medo de ser acusado de algo.
— Não senhor.
— Bom. Em seguida, irá queimá-lo.
— O Quê? ? Por quê?
David lhe atirou o papel, em seguida, virou-se para o pai.
— Queimar isso não ajudará nada. Centenas de rapazes de Cambridge me viram
com ele.
Enquanto Giles lia o artigo, David andava ao redor da sala, incapaz de se aquecer,
incapaz de deter o frio correndo por ele.
— Vamos processar o Tattler por difamação — disse o pai.
David girou nos calcanhares.
— Então confirmará a todos que sou eu? Está louco?
— De acordo com você, eles já devem saber, — seu pai disse. — Além disso, se o
cadela quer arruiná-lo em público, ela deve sofrer a ruína também.
Por alguma razão, uma imagem de uma aterrorizada Charlotte recusando a ir
nadar no rio veio à mente de David. Mas, é claro, que era uma imagem falsa. Se ela
realmente temia o pai, por que tinha enviado esta carta para um jornal? Sem dúvida, era
inteligente o suficiente para perceber que o Senhor Page reconheceria a mão dela nisto.
O homem tinha visto David usando o robe uma manhã. David reprimiu um
juramento. Talvez por isso ela tivesse feito isso para punir o pai. Isso, pelo menos, fazia
sentido. Não teve coragem suficiente para desafiá-lo por si mesma, mas foi corajosa o
suficiente para arrastar o filho de um amigo de seu pai através de um escândalo, a fim de
destruir o plano do Senhor Page ao combinar esse matrimonio.
Quaisquer que fossem suas razões, eram insuportável. Nunca esqueceria o que
tinha feito. Ou a perdoaria?
O frio arrebatou sobre seu corpo e agora arrastava-se em direção ao seu coração.
— Arruinar a senhorita Page neste momento tampouco me agrada — disse David
com calma, — essa é a maneira mais segura de alimentar o fogo. Ela será promovida
como um mártir enquanto eu permanecerei vilipendiado na imprensa por minha
tentativa de difamá-la. Daria a imprensa, até mesmo um pedaço da verdade, e eles viriam
para cima em nós como cães famintos. Vão desenterrar o fato de que você queria me
casar com ela por conta da fortuna e o pai dela estava esperando obter benefícios
políticos. Seremos publicamente humilhados como canalhas intrigantes, que é
provavelmente exatamente o que ela quer.
A fúria do ártico deslizava por ele e era muito mais preferível ao primeiro que
sentiu tendo em brasa viva uma pontada de dor no coração. Deu as boas vindas ao gelo,
abraçou-o, deixando sua alma congelamento reduzindo-o em um bloco sólido de gelo.
— O silêncio é o nosso melhor recurso. Silêncio e a esperança de que ninguém me
conecte com esta carta sangrenta.
Seu pai olhou para Giles.
— O que está fazendo ai de pé como um idiota com a boca aberta? Vá queimar
aquele robe. Isto é algo que pode fazer para ajudar.
— Sim, senhor — murmurou e fugiu do cômodo.
David olhou para ele, agora com as solas dos pés insensíveis.
— Filho sinto muito — disse o pai em voz baixa. — A culpa é minha por tê-los feito
vir aqui. Por lhe pedir para considerar que aquela jovem como esposa. Eu não tinha ideia
de que ela era louca.
Não, mas David tinha conhecido. Em algum lugar uma parte dele disse-lhe para
tratar essas pessoas com cautela, mas ela e seus pais eram muito mais imprevisíveis. Ele
deveria ter escutado que o instinto, em vez de deixar seu pau colocá-lo em apuros, como
de costume.
Por muito que odiasse admitir, seu pai tinha razão. O amor era para os tolos e
crianças. David nunca deveria ter confundido as vantagens práticas de se casar com
Charlotte com um pouco de tola e duvidosa emoção. Então, ele não estaria ali com o
coração em pedaços.
Muito bem. Ele seria capaz de contornar isto o melhor que pudesse, mas ele iria
aprender com seus erros. Haveria mais libertinagem, não se queixaria mais sobre os
investimentos do pai e não mais orgias bêbadas com os amigos. Sem dúvida, não haveria
mais tentativas de se casar por amor. Ele fez isso. Seria ele que marcaria o curso de sua
vida com a mesma eficiência cruel que ela.
E depois que a fofoca tivesse esfriado, e tivesse tempo para desenvolver um
plano, faria Charlotte Page pagar por tê-lo feito virar motivo de riso do público.
Ela veria se ele não faria.
Charlotte estava prestes a entrar na sala de café da manhã, onde a voz alta do pai
flutuou em direção a ela.
— Eu lhe digo que desta vez ela foi longe demais — O pai gritou.
Seu coração disparou, Charlotte deslizou junto a porta para escutar.
— Você não sabe se foi ela — disse a voz tímida de sua mãe. — Na verdade,
Rowland...
— O quê? Você a defenderá após essa farsa? — Havia um barulho de jornal. — Ela
enviou ao Tattler, esta manhã, de todas as coisas! Vi o jovem Masters usando o robe uma
manhã, eu sei que é a ele a que se refere nesta carta.
O coração de Charlotte quase parou. Uma carta? Eles haviam se apoderado de
sua carta? Não, isso não era possível. E ainda por cima um jornal.
— Parece com ele — disse sua mãe, — mas tenho certeza que foi uma outra
menina que escreveu ao jornal. Ele tem uma reputação, você sabe.
— E quanto a esta linha aqui: “tão inconstante e mortal como as águas do
Tamisa?” É algo que ela diria. E ela realmente o chamou de “Libertino arrependido” antes
de chegar a Berkshire. Não lembra que ela disse que ele e seus amigos estavam
"corrompidos "?
O medo se arrastou desde o ventre de Charlotte, arranhando até chegar a seus
pés para reconhecer frases de sua carta. Oh Deus, oh Deus, oh Deus, como foi parar no
Tattler matinal?
— Não acho que seja a nossa Charlotte.
Uma golpe soou, em seguida, um grito de sua mãe. Charlotte congelou, em
pânico. O pai nunca tinha batido em sua mãe que ela soubesse. Se tivesse começado
agora, era devido à estupidez de Charlotte, a estúpida carta...
— Rowland, por favor — disse a mãe suavemente — golpear os móveis não
resultará em nada. Os criados vão ouvir. Além disso, você não pode ter certeza de que foi
ela.
O alivio corria por Charlotte, mas foi apenas temporário. O mau temperamento
do pai certamente ficaria incontrolável depois disso. E o que ele faria com ela?
Ele nunca a perdoaria, nunca!
— Pedi a ela três vezes desde que voltou, para me dizer como as coisas tinham
ido com ele — ele exclamou, — e ela manteve a boca fechada o tempo todo. — O jornal
foi sacudido novamente. — Isso é porque ela estava planejando isso, droga! Não vou
ajudá-la? Ouviu? Ela terá que pedir desculpas a ele em pessoa. Vou vê-la ajoelhar-se
diante dele e toda a sua família, se isso for necessário para endireitar as coisas! Porque se
não, vou suspendê-la pelos pés sobre a ponte de Londres até que ela faça!
Só a ideia a encheu de terror e lhe deu calafrios que a percorrem através por todo
o corpo.
O pai continuou xingando e ideando como fazê-lo pagar.
— Juro que nunca vou deixá-la sair de casa novamente. Ficará no quarto até o
inferno congele! Já tive bastante do seu atrevimento!
Ela congelou. Temendo que ele saísse da sala a qualquer momento e a encontrar
à espreita ali, ela saiu pela porta dos fundos da casa.
Uma vez fora, correu para o canto mais distante do pequeno jardim.
Passeou sob o salgueiro favorito, desesperada para descobrir o que tinha
acontecido e o que fazer. Como poderia a carta ter ido para em um jornal? Oh, se alguma
vez visse Tom Dempsey novamente, ela o enforcaria! Sabia que algo deu errado quando
ele não voltou pelo resto do dinheiro.
— Senhorita Page! — Sussurrou uma voz atrás dela, então ela se virou.
Virou-se para as barras de ferro da cerca, e foi surpreendida ao encontrar o
capitão Harris sentado montado em seu cavalo no beco. A cor subia as suas bochechas.
Mal tinha pensado nele nestes últimos dias, presa em sua dor pela traição de
David.
— O que você está fazendo aqui? — Ela sussurrou, correndo em direção à cerca.
Antes que pudesse detê-lo, ele saltou do cavalo e pulou sobre as barras de ponta
afiada para pousar diante dela.
— Eu vim visitá-la — disse o capitão Harris, — mas o mordomo disse que não
estava para visitas. Então cavalguei pelo beco, com a esperança de conseguir um
vislumbre seu.
Sob as circunstâncias, ela não sabia se devia se sentir lisonjeada ou alarmada.
— Suponho que leu a carta no jornal.
Seus olhos se estreitaram.
— Então eu estava certo. Foi você quem escreveu.
Ela abaixou a cabeça de vergonha.
— Eu não queria que fosse parar nos jornais, eu juro. Era para ser particular. —
Um pensamento ocorreu-lhe que gelou seu sangue. — Como deduziu que era minha? —
Se ele imaginou, outros também saberiam.
Ela manteve o nome de David fora da carta, de modo que ninguém diria que era
ele, mas podiam dar-se conta de que foi ela quem a escreveu. Ela nunca conseguiria
casar! Quem iria casar com a mulher que escreveu uma carta como aquela, não importa o
quão justificada estivesse?
O Capitão Harris levantou sua cabeça, segurando-a pelo queixo, até que seus
olhos se encontraram.
— Estava tão deprimido depois que soube para onde tinha ido ao pagar a uma das
empregadas para me dizer onde ele estava, e foi dito que sua família estava em Berkshire
visitando a família Masters. E como está se espalhando pela cidade que o jovem Masters
é o homem a quem estava destinada a carta... Mas não disse a ninguém sobre sua
conexão com isso, eu juro.
Sua expressão ficou ainda mais solene, e pegou a mão dela.
— Na verdade, vim para salvá-la. Não vou deixar o seu pai casá-la com um
libertino! Não permitirei isso!
Ela prendeu a respiração.
— O que quer dizer com salvar?
— Casar com você, querida. — Ele caiu de joelhos e lhe deu um beijo apaixonado
na mão. — Eu te adoro. Você não poderia dizer o mesmo?
Agora que eu penso, não. À luz dos seus beijos explosivos com David, seu breve
flerte com o capitão Harris agora parecia mais como um minueto cortesão do que o
prelúdio de uma historia de amor.
Ela franziu a testa. Claro que sim. Apesar de sua forma simples, o capitão Harris
não era um libertino e um canalha. Não tinha passado anos se dedicando a quebrar
corações de jovens senhoritas, e nem era capaz de insultar uma mulher com beijos
ardentes, mas decididamente inadequados.
Claro que isso o fazia parecer um pouco menos interessante, talvez a vilania
podia ser terrivelmente atraente. No entanto, a vilania era ruim, e a aparência do capitão
aqui, apesar da dor que sentia, lhe mostrava que não era um vilão.
— Partiremos para a Escócia agora mesmo — continuou ele, olhando para seu
rosto com um olhar que parecia mais como adoração. — Agora mesmo, espero por um
amigo que irá me emprestar uma carruagem que irá mais rápido do que qualquer coisa
que seu pai possa enviar mais tarde. Podemos estar em Gretna Green, em questão de
dias, e estará segura de uma vez por todas do casamento cruel que seu pai pretende
arrumar.
Era um plano de ação ousado, um plano decididamente romântico que a teria
jogando-se nos braços dele há duas semanas. Mas a traição de David tinha feito o seu
dano. Embora tenha ficado encantada com a oferta do capitão, as palavras frias do pai
sobre as intenções do homem estavam corriam através de sua mente, deixando seu
insidioso veneno.
— Isto é algo súbito — disse ela.
O rosto dele escureceu.
— Talvez você ainda tenha sentimentos por aquele canalha.
— Não! — Ela apertou sua mão. — Não nunca.
Com um olhar sério, ele apertou a mão dela contra o peito.
— Se você está preocupada com o seu passado com ele, juro que não é
necessário. Nunca vou culpá-la por qualquer coisa que possa ter feito no calor do
momento.
— Meu passado? Feito? — Quando percebeu o que ele estava dizendo, ela corou
violentamente e tentou soltar a mão. — Garanto-lhe, senhor, ainda sou casta. Nunca
permitiria que...
— Claro que não, querida Charlotte, não quero sugerir o contrário. — Ao se
recusar a desistir a soltar a mão dela, lhe deu beijos desesperados na mão. — Vai deixar
que a chame de Charlotte, não? — A olhou com uma ternura que acalmou o insulto.
— Você sabe que provavelmente meu pai não lhe dê meu dote — Advertiu ela. —
Está muito irritado com o que escrevi.
— Eu não me importo — disse com um ar arrogante, ele parecia sincero. — É
você que eu quero. Viveremos do amor.
Com essa promessa idílica fez uma careta de dor. Não tinha certeza que era amor,
mas tinha certeza que ela não o sentia pelo capitão Harris.
No entanto, se ele sentia por ela, que era mais do que podia esperar, agora que
havia destruído sua vida. Na verdade, estava arriscando tudo para ter uma. Se alguém
alguma vez descobrisse que ela havia escrito aquela carta, zombariam dela
publicamente. Para um homem se aproveitar desta oportunidade em seu nome
certamente demonstrava um sentimento profundo.
E que escolha ela tinha, de todos os modos? Se não casasse com o capitão Harris,
o pai faria da vida dela um inferno. A forçaria a pedir desculpas a David, algo que era
impensável. Tão mortificada como estava de que a carta tivesse ido parar nos jornais, não
via nenhuma razão pela qual deveria pedir desculpas quando David era o único que tinha
feito mal.
Além disso, se a imprensa descobrisse que ela tinha escrito a carta, tudo giraria
ainda mais, pior ainda. Isso significaria um grande escândalo, e o pai se asseguraria de
que ela pagasse por isso.
Mas se ela fugisse com o capitão Harris, o pai nunca poderia lhe fazer mal
novamente. Ela teria a própria casa e um belo marido para cuidar dela. Com o tempo,
com certeza chegaria a amá-lo.
Quando ela esboçou um sorriso ante o pensamento, o capitão Harris agarrou a
mão dela sobre seu coração.
— Isso é um sim, querida Charlotte? — Ele perguntou, com os olhos quase tão
bonito como os de David.
Empurrando a comparação traiçoeira de sua mente, ela cobriu a mão dele com a
sua.
— De fato sim, senhor. Aceito a sua proposta.
CAPÍTULO OITO
Richmond, Inglaterra
Novembro 1824
Ele disse as pessoas que ela tinha cometido suicídio por dívidas de seu jogo. O que
mais poderia dizer? Que a esposa esteve vivendo na mais absoluta depressão, e que ele
era um bastardo que tinha levado muito tempo para perceber isso?
Claramente, ele não tinha talento para compreender as mulheres. Primeiro
Charlotte, então, Sarah...
Ele correu os dedos pelos cabelos. Como gostaria de poder voltar atrás no tempo
e fazer tudo diferente. Não jogar com Pritchard. Não se casar com Sarah.
Não perder Charlotte.
O rugido de dor passou muito tempo e instalou-se em seu peito. E se ele tivesse
ido até ela no dia em que a carta apareceu no jornal? E se ele tivesse exigido saber por
que ela a havia escrito? Por que ela estava tão zangada naquele momento para enviar a
carta para ser publicada? Agora que a conhecia melhor, percebia o quão estranho era
tudo aquilo.
Mas naquela época estava muito empenhado em salvar o seu orgulho em fazer
algo tão tolo como falar com ela. E de que lhe serviu o orgulho depois de tudo? Enquanto
ele tinha amaldiçoado o nome dela e traçado uma vingança estúpida, James Harris às
pressas casou-se com ela.
Que ela tivesse escolhido Harris ainda o corroia por dentro. Mesmo sabendo que
Harris tinha sido uma decepção como marido, isso não saciava seu ciúme.
Ciúmes? Bobagem. Ele se recusava a ter ciúmes do marido de Charlotte,
pretendentes ou amigos do sexo masculino. Ela não significava muito para ele.
Confuso em tudo, colocou isso para trás!
Murmurando uma maldição em voz baixa, David pôs a caneca de cerveja vazia em
uma bandeja que a taberneira passava e gritou: — Outra! — Não deixaria Charlotte
meter-se sob sua pele nessa ocasião. Isto era apenas... amarrar as pontas soltas. A
correção de um erro desastroso. Nada mais.
Sim. E o Taj Mahal era apenas um edifício.
— Manter a verdade escondida de Charlotte foi o pior erro que fiz, —
resmungou. — Mas, honestamente, pensei que as coisas seriam resolvidas antes de
chegar a esta situação. Esperava que ela teria voltado a se casar e, desta vez fecharia a
escola para sempre. Ela é uma mulher bonita, afinal.
— É certamente — concordou Baines, com mais entusiasmo do que o
justificado. Quando David o olhou, ele se apressou a dizer, — É apenas uma observação,
milord. — David reprimiu uma resposta irritada. Que diabos estava fazendo Baines
provocando-o, o único homem com quem podia discutir tudo isso? David não se atrevia a
desnudar a alma aos amigos - que ficariam horrorizados por seu comportamento
perverso com uma mulher que tinha feito tão bem para eles. E a única maneira que teria
para explicar seria revelar as ações passadas dela, coisa que não desejava fazer.
A taberneira colocou outra jarra de cerveja em frente a David, que olhou para a
espuma.
— Pritchard irá expulsá-la em oito meses. Não tenho nenhuma dúvida sobre
isso. Tenho que tirá-la de lá antes que isso aconteça. — Ele bebeu profundamente. — Vou
tirá-la de lá, caramba!
Baines olhou para além da jarra.
— Porque não acaba por dizer a verdade?
— Que esse primo Michael, o homem que ela tem confiado por anos, a estava
preparando para o fracasso? Que a odiava tanto? Ficaria devastada. E então ela não
confiaria em mim para ajudá-la. Ela não tem dinheiro para salvar a escola sem mim, nem
aceitará meu dinheiro. Ela é muito orgulhosa para isso.
Ele olhou para a cerveja. — É melhor assim. Tudo que tenho que fazer é
continuar empurrando na frente dela as trinta mil libras e dar todo o crédito a Sarah até
que Charlotte veja a escritura na parede e mude-se da escola. Esperemos que o faça
antes que Pritchard possa expulsá-la.
— Desejo-lhe sorte — disse Baines. — Você vai precisar.
David franziu a testa.
— Eu não sei.
Ele também precisava passar tempo com ela para quebrar as barreiras do
passado.
Conseguiria?
No dia seguinte, enquanto caminhava para a escola, ficou nervoso. Dois dias
pensando mais as coisas poderiam tê-la convencido a rejeitar a herança.
Então, o que faria?
Esperando ser recebido no escritório, ficou surpreso ao ser levado por um
corredor escuro e conduzido a uma pequena sala de estar ao invés disso. Enquanto
esperava que o mordomo fosse chamá-la, colocou uma bala de hortelã na boca, e em
seguida, caminhou ao redor da sala. Observou com curiosidade os livros das estantes, a
garrafa de vinho, o encaixe da agulha no bordado das almofadas, com frases estranhas
como - pão e geleia aquecem o coração - e - A verdade sempre resplandece no rosto
limpo . Ele estava inclinado sobre uma almofada para ler melhor quando Charlotte
entrou.
— Bom dia, Sr. Kirkwood, — ela disse, com voz forte e profissional. — Vejo que
este admirando o trabalho das minhas alunas.
Ele se virou para ela.
— É... é... não são os ditados normalmente bordado em almofadas, certo?
Ela riu enquanto fechava a porta atrás de si.
— Não. O material usual é um pouco aborrecido. Deixo que as meninas inventem
por conta própria. Então trago as mais interessantes para minha sala de estar. Acho que
as inspira a trabalhar mais e serem mais criativas.
— Uma ideia nova.
— Demasiado novo para os pais das minhas alunas mais inquietas, receio.
— No entanto, eles mantêm as filhas matriculadas aqui.
Sua diversão desvaneceu.
— Não nos últimos tempos. — Sento-se à beira de uma cadeira Windsor, ela
apontou para outra ao lado do sofá. — Espero que se importa de reunir-se em minha sala
de estar. As pessoas estão sempre entrando e saindo do meu escritório. Aqui, vamos ter
mais privacidade. Não quero qualquer um dos meus funcionários ou criados sirvam de
audiência para discutir esta delicada questão até que esteja... mais firmemente resolvida.
Embora claramente queria privacidade, por razões perfeitamente respeitáveis, o
sangue dele ferveu em um calor selvagem com a ideia dos dois a sós. Ele sentou-se
abruptamente, lutando para reprimir a reação inadequada.
Eu não ajudou que ela estivesse tão bonita hoje, em um vestido azul simples que
inexoravelmente levava os olhos até os seios que apertavam contra o sutiã. Levantou-se
novamente e começou a andar para manter o corpo traidor sob estrito controle.
— Recebi o convite de sua mãe para o jantar de Amelia e do Major Winter, que
terá lugar em sua cidade natal — disse Charlotte, para quebrar o silêncio constrangedor.
Winter era primo de David, que havia se casado com Amelia, uma das ex-alunas
de Charlotte, enquanto estava sob os cuidados dele.
— Confesso que fiquei bastante surpresa por ela ter me convidado — disse
Charlotte. Dadas as circunstâncias, eu achava que seria um assunto de família.
— E é. Acho que é um pouco cedo, mas mamãe está definhando sob as restrições
de luto, então ela se convenceu de que um jantar privado não ofenderia a sensibilidade
demasiadamente. E quando escrevi a esposa do meu primo, Amelia insistiu que a
incluísse. Entendo que Amelia não sabe sobre o nosso passado?
— Não —disse calmamente.
Ele se perguntou se Charlotte sabia que ele tinha oferecido matrimonio a Amélia
e ela havia se recusado antes dele dirigir sua atenção a Sarah.
— Planeja participar hoje à noite? — Perguntou, desejando não se preocupar
tanto com a resposta.
— Claro. Será a minha primeira chance de ver Amelia e o Major Winter desde que
chegaram a Inglaterra. Eu queria ir a Devon visitá-los assim que chegaram com seus pais,
mas as coisas na escola...
Ficou em silêncio, sem necessidade de terminar a frase. Ele sabia melhor do que
ninguém que não era um bom momento para que se ausentasse.
— Já teve a oportunidade de mostrar o acordo ao advogado?
— Na verdade, sim. Ele disse que está tudo em ordem.
Deixou sair um suspiro.
— Quer dizer que vai aceitar a herança.
— Eu tenho algumas perguntas primeiro.
Rangendo os dentes, deteve-se na frente dela.
— Que tipo de perguntas?
— Por que você quer desistir de seu valioso tempo para supervisionar a
construção da minha escola?
— É uma condição da doação. Assumindo que você aceite o dinheiro, sou
obrigado pelos termos do mesmo com tanta certeza como você. — Isso era uma espécie
de verdade, ou não?
— Deixe-me colocar de outra forma. Supondo que estava só quando encontrou o
codicilo, poderia ter queimado e ninguém nunca saberia. Mas não o fez. Quero saber o
porquê.
A mulher tinha uma capacidade irritante de fazer perguntas pertinentes. Talvez
fosse a hora de se fazer tão incomodo quanto ela estava fazendo.
— Porque não importa o que você pensa de mim, Charlotte, tenho uma
consciência. — Isso era sem duvida uma verdade.
Ela corou.
— No entanto, é provável que sua consciência tenha alfinetado a fazer que o
dinheiro chegasse até mim, sem ter que estar envolvido. Por que não fez?
— Talvez porque pensava que ajudar a construir a escola seria um desafio. E há
poucos desafios em minha vida nos dias de hoje. — Ele havia espreitado até pairar sobre
ela. — Terminamos com as perguntas?
Cuidadosamente, deslizou para fora entre ele e a cadeira, levantou-se e foi
colocar-se ao lado da lareira.
— Só mais uma. — Ela fez uma pausa enquanto olhava as chamas. — Sarah contou
a ela sobre... alguma vez disse que você e eu...
— Não — disse ele secamente. — E já que entendi que você nunca disse, duvido
que ela teria se dado conta de algo. Minha mãe não teria mencionado e nem Giles. Como
você pode imaginar, nunca falei sobre isso a ninguém.
— A menos que fosse Anthony, Foxmoor e Stoneville — murmurou. — Embora
acho que não conta já que não lhes disse o meu nome. Na verdade, sou grata que eles
não sabiam o que era a "cadela vingativa” - na verdade.
Ele gemeu quando seus pecados do passado se ergueram para ameaçá-lo.
— É confundir todo mundo e ao inferno.
— Desculpe. Eu... não era minha intenção de jogar na sua cara. Entendo por que
disse isso. Honestamente, eu entendo. Quando Anthony casualmente o mencionou para
explicar a razão de seu ódio pela imprensa...
— Anthony deve saber melhor — ele retrucou.
Ela olhou para ele com um sorriso tendo.
— Meu ponto é, estou bem ciente de que você não tem nenhuma razão para
gostar de mim.
Ele não podia lidar com isso sem mentir descaradamente.
— Não vejo o que isso tem a ver.
— Na verdade, muito. — Ela endireitou os ombros. — Veja você, eu não só
mostrei o documento para o meu advogado. Também mostrei a Charles Godwin.
Ele lutou para manter o temperamento sob controle.
— Mostrou para aquele maldito jornalista?
O alarme via-se nos olhos dela.
— Não! Quero dizer, sim, mostrei, mas não por causa da sua afiliação com a
imprensa. O consultei porque ele é meu amigo.
Apesar de saber, isso causou uma explosão indesejável de ciúme.
— Quão estreita é a sua relação com Godwin, de qualquer maneira?
A expressão dela ficou fria.
— Minha amizade com Charles não é assunto seu, milorde.
David reprimiu um juramento. Ela chamou Godwin - Charles - mas ele permanecia
sendo - milorde.
— E o legado não é assunto dele tampouco. A última vez que comprovei, Charles
Godwin não tinha nenhuma experiência em assuntos jurídicos.
— É verdade, mas ele sabe um pouco sobre as partes interessadas. E como eu,
ficou curioso que Sarah tivesse legado algo à escola.
— Diga a Godwin que pode manter suas opiniões sobre a minha falecida esposa
para si mesmo.
Charlotte o olhou fixamente.
— Charles fez uma sugestão interessante como esta “doação” ocorreu.
O coração de David começou a bater forte.
— Oh sim?
— Indicou que enquanto Sarah pode ter deixado dinheiro a escola por um impulso
vão que seu nome seja legado a um prédio, a parte de obrigá-lo a participar parece
suspeita. Ele é da opinião de que você talvez poderia ter aproveitado a situação para seu
próprio uso.
Maldito Godwin. O homem era danado de inteligente.
— Porque eu poderia ter feito isso?
— Em primeiro lugar, tenho que explicar como Charles e eu nos conhecemos.
— Já sei — ele esteve no mesmo regimento como seu falecido marido.
Um olhar estranho passou pelo rosto dela.
— Onde ouviu isso?
Você me disse em uma de suas cartas.
Dane-se tudo.
— Sarah deve ter mencionado — cobriu ele.
A expressão apagou.
— Oh. Claro.
— Mas não vejo o que isso tem a ver com qualquer coisa.
Ela respirou estabilizando-se.
— Pouco depois de Charles se juntar ao regimento, Jimmy e eu, e Charles e a
falecida esposa fomos convidados a um jantar oficial onde a conversa girou em torno do
escândalo.
Cruzando as mãos na cintura, ela começou a andar.
— Quando os homens começaram a dizer que era uma vergonha que o pobre
Lorde Masters tivesse sido atacado por uma mulher cruel nos jornais, Charles interveio
para defender a mulher.
A respiração dela tornou-se difícil, o tom agitado. A respiração de David não
estava muito firme, tampouco.
— No final resultou que, — ela disse, — Charles estava trabalhando no Tattler
quando a carta chegou. Ele disse ao editor que a carta era claramente pessoal e não
concordava com a publicação. Quando o editor a publicou de qualquer maneira, ele ficou
tão chateado que deixou o jornal e se juntou ao exército.
Enquanto David ainda estava chocado com esse pedaço de informação, ela se
virou para ele com um olhar assombrado.
— Assim foi como Charles e eu nos tornamos amigos. Com o tempo, revelei minha
parte no assunto. E que minha carta não havia sido destinada a ser mais nada, que
privada. — Baixou a voz para um sussurro. — Juro que é a verdade. Era suposto ir dirigida
à sua casa na cidade. O menino que ia entregá-la a levou aos jornais. Eu nunca soube por
que e nem como.
David só podia olhar, as palavras falharam. Aquele pedaço do quebra-cabeça
nunca tinha conhecido - como seu desprestigio foi a conhecimento publico. E saber que
foi um acidente só aumentou o nó de culpa na boca do estômago.
— Então você vê, — continuou — Charles sabe tudo sobre nós.
— Parece que sim, — David engasgou.
— E ele sugeriu que talvez você mesmo... se incluiu nesta situação porque quer
ganhar o controle da mesma. Porque quer destruir tudo o que eu já trabalhei. — Ela
olhou para baixo. — Ele tem a ideia de que, bem, esse legado é a sua vingança pelo que
eu fiz.
— Vingança? — Fez eco dele com a voz oca. Ela tinha chegado um pouco tarde
para acusá-lo, a ironia de tudo era muito dolorosa para dizer com palavras.
Exceto que não havia soado com este - conceito - que Godwin tinha. Isso acendeu
seu temperamento e assava afogo lento uma chama crepitante.
Avançou em direção a ela.
— Acha que eu esperaria dezoito anos até que minha esposa se suicidasse, e
depois inventasse um elaborado plano usando o dinheiro da minha falecida esposa para
me vingar de você?
— E... eu não disse que concordo com ele — ela respondeu, nervosa recuando.
—Você também disse que você não. — Ele a agarrou por um dos braços,
puxando-a para encará-lo. — Confie em mim, Charlotte, se eu quisesse vingança contra
você, teria me vingado anos atrás.
Como ele quase tinha feito .
— Isso foi exatamente o que eu disse a Charles — disse uniformemente.
Ele piscou.
— Então por que me disse?
Seus olhos se encontraram, tão azuis como o céu de verão.
— Para saber o que diria.
Sua respiração era irregular, com o rosto iluminado por uma expressão que era
dolorosamente familiar. E, de repente, ele estava cansado de ficar dançado em torno
dela, a análise de suas evasivas do passado que parecia encher a vida de Charlotte nos
dias de hoje.
Era hora de cortar essa situação absurda. Especialmente quando a tinha tão perto
de estar em seus braços novamente.
— Se eu quisesse vingança — suspirou, baixando o olhar para a boca feminina —
eu teria feito algo mais direto. Mais pessoal.
Ela engoliu em seco.
— Como o que? — Sussurrou.
Ele tomou a cabeça dela nas mãos.
— Deste modo, — grunhiu. Então cobriu a boca com a dele.
Por um momento ela ficou imóvel, com os lábios tremendo debaixo do
dele. Então, para sua surpresa, eles foram separados ligeiramente. E ele sabia que não iria
resistir.
Foi como ir para casa. Só que agora ele era mais velho, assim o regresso a casa era
mais doce.
O fogo irrompeu entre eles, tão intenso que ele pensou que poderiam se
queimar. As mãos estavam no cabelo dela instantaneamente para segurá-la para um
beijo que era muito duro e esfomeado para ser cauteloso, e ela se encontrava com a sua
boca com um entusiasmo que combinava com o dele.
Ele enfiou a língua dentro da quente e acolhedora boca feminina, e ela empurrou
para dentro, enredando-se com a dela, como se não conseguisse o suficiente.
Deus sabia que não podia. Por dezoito anos imaginou como seria beijá-la
novamente, e a necessidade acumulada foi mais do que poderia suportar. Ele não tinha
previsto isso, mas por Deus, ele a tomaria.
CAPÍTULO DEZ
Charlotte era incapaz de pensar ou respirar. Só sabia de uma coisa: David a
beijava como se nunca tivessem se separado.
Em algum lugar no fundo de sua mente, sabia que era imprudente por muitas
razões. Mas agora todas as defesas contra os homens que tão cuidadosamente havia
cultivado por mais de uma década tinha desaparecido. Ela se perdeu também na emoção
de estar nos braços dele de novo para parar e pensar com cuidado.
Era ao mesmo tempo uma festa e um tormento ser capaz de beijar e poder tocá-
lo. Ele tinha sabor de menta e cheirava a gotas da mesma colônia picante que costumava
usar - uma mistura de alecrim e vinho. Tudo era tão tentadoramente familiar.
— Ah, Charlotte — ele sussurrou contra seus lábios antes de arrastar a boca para
baixo do queixo até o pescoço — faz muito tempo.
Muito tempo .
— Isso não é muito... para uma vingança... se você quer saber. — ela engasgou ao
falar. Os lábios dele encontraram a cavidade da garganta e sugou ali pouco antes de ir um
pouco mais abaixo.
— Eu estou apenas começando.
Suas palavras enviaram uma emoção errante por ela, especialmente quando se
deixou cair no sofá próximo e a puxou para sentá-la escarranchada no colo dele.
Surpresa, ela se inclinou para pressionar as mãos contra o peito dele.
— Minha palavra, David!
— Shh, doçura — sussurrou enquanto agarrou suas coxas através da saia para
amassar. Inclinando-se para frente, encheu o pescoço de beijos quentes. — Deixe-me
terminar a minha vingança.
As mãos dela permaneceram conta o peito masculino. Doçura . Ninguém mais a
chamava assim. Um tremor sacudiu sua costas, sentindo os beijos inebriante da
juventude, da mesma maneira que costumava senti-los cada vez que ele entrava em uma
sala, como da última vez que a tinha beijado tão ardentemente.
Apenas metade dela estava ciente do que estava fazendo, colocou os braços em
volta do pescoço dele, então não protestou quando ele puxou seu xale.
Enquanto a boca masculina fazia coisas quentes, diabólicas pela garganta dela, as
mãos desceram a blusa e afrouxaram a camisa. Ela se agarrou ao pescoço dele, ignorando
nada mais do que uma necessidade inconsciente de ter a boca malvada em seu seio. E
quando finalmente estava lá, ela soltou um gemido enquanto ele levantava a outra mão
brincando com o outro seio.
Como poderia ter esquecido como era ter um homem tocando-a, acariciando-a? E
que fosse David... Parecia incrível demais para acreditar. Ele chupou com força um
mamilo enquanto a mão livre deslizava debaixo da saia dela para acariciar o trecho da
coxa nua acima das ligas.
Ela sentiu a excitação dele, apertando contra suas partes íntimas, mesmo através
da caxemira da roupa intima.
— Sabe, — disse, —Charles tinha uma outra... teoria sobre você e sua parte
neste... legado.
— Diga, — Rosnou ele, então mordeu cuidadosamente o mamilo com os dentes,
aumentando o calor encarnado pelas costas dela.
— Ele disse que podia... poderia ter manipulado para levar as coisas... de onde
paramos... faz... dezoito anos atrás.
A mão de David vacilou no caminho para a coxa feminina.
— E o que você disse a ele sobre isso?
— Disse que ele estava louco.
Ele levantou a cabeça, seus olhos cálidos encontraram com o olhar dela.
— Está claro que não está tão louco quanto eu pensava.
Antes que pudesse reagir a essa afirmação surpreendente, ele a estava beijando
novamente, uma mão acariciando o seio enquanto a outra subia sob a saia até parte dela
que queimava por ser tocada por ele.
Bateram na porta.
Ambos congelaram. Quando ela se inclinou para trás, a consciência de onde
estava e o que estava fazendo golpeou em sua mente, levando consigo o prazer.
David olhou para ela com um olhar sombrio.
— Não faça caso deles. — Suspirou. — Irão embora.
Infelizmente, ela sabia que não iriam. Afastou-se dele e se levantou e começou
freneticamente a reparar as roupas.
— Sim? — Disse em voz alta. — O que foi?
Todo mundo na escola sabia que não devia interferir na sala privado, sem ser
convidado, mas ainda era uma loucura. A porta nem sequer estava trancada com chave!
— Os novos candidatos a professor de dança estão chegando, senhora — disse
Terence.
Ela caminhou perto da porta.
— Diga-lhes que estarei com eles em breve — ordenou, rezando para que sua voz
não revelasse seu estado de agitação.
— Muito bem, minha senhora.
Quando os passos de Terence desapareceram, ela lutou pela calma, golpeando a
excitação que ainda inflamava seus sentidos. Então, com um suspiro estremecido, virou-
se para David, já que se elevava sobre o sofá, a intenção em seus olhos permanecia.
— Perdoe-me — disse ela com voz trêmula, não estava pronta para pensar sobre
o que estiveram fazendo, e muito menos falar sobre isso. — Perdemos o nosso professor
de dança uma semana atrás, e tenho que lidar com a questão.
— Claro —disse suavemente. — Compreendo perfeitamente.
Ela piscou. Essa não era a resposta que esperava.
— Realmente?
—Certamente. — Ele olhou o relógio. — Isso levará... o que? duas
horas? Três? Vou aproveitar a oportunidade para dar uma boa olhada na escola, então
vou saber que tipo de propriedade poderá considerar apropriada.
— Mas você não precisa... não há necessidade... — balbuciou ela.
— Não se preocupe comigo — disse ele com um aceno de mão. — Tenho certeza
de que posso encontrar meu caminho de volta, perfeitamente bem, até que você tenha
terminado.
O pânico decididamente feminino se apoderou dela.
— Você não tem por que permanecer nos arredores enquanto estou ocupada em
outro lugar!
Os olhos dele se encontraram com os seus.
— Por que não?
— Porque não pode andar por uma escola de meninas sozinho — ela disse com
firmeza.
— Então, faça que esse feroz lacaio que tem me acompanhe.
Ela ergueu o queixo.
— Não posso prescindir de Terence neste momento.
Ele arqueou uma das sobrancelhas para cima.
— Então parece que ficarei andando por minha própria conta, não?
— Isso não é aceitável.
—Não confia em mim em torno de suas meninas, Charlotte? — Perguntou
calmamente.
Não era com as meninas que estava preocupada.
— Não tem nada a ver com elas.
— Então, o que?
Como se ele não soubesse. Quando ele havia se aproximado dela, muitas coisas
agradáveis ocorreram dentro dela, e temia que se ele ficasse até que ficassem sozinhos
novamente, os dois poderiam ir além de beijar e tocar.
Ela não estava preparada para isso. Levou anos para reparar sua vida danificada,
anos para se sentir segura e assentada. E se naqueles anos teve momentos em que
sentia-se só, não havia se importado porque estava a salvo. Pela primeira vez, havia se
sentido segura.
Até Pritchard começar a fazer da propriedade comercialmente viável de uma
forma que tinha a certeza de danificaria a escola. E agora tinha David de volta em sua
vida, despertando sentimentos antigos, fazendo-a querer jogar tudo para o lado para
estar nos braços dele.
Ele não estava no comando!
— Estou preocupada sobre como as outras pessoas verão a sua presença aqui.
— Provavelmente da mesma maneira como eles veem Godwin. Irão pensar que
sou um amigo da escola. — Um súbito brilho diabólico iluminou os olhos dele. — Ou vão
assumir que vou esperar que a senhora Harris deixe-me fazer amor selvagem e
apaixonado no sofá.
O alarme lhe inchou o peito.
— Vamos ver, você não pode você...
— Estou brincando. — Os olhos dele procuraram os dela. — Será que ninguém
nunca zomba de você?
A pergunta a deteve em seco. Godwin era sério demais para fazer isso, e os
professores eram muito conscientes de seu papel como um empresaria. O primo Michael
zombava, mas então ele havia abandonado-a. Da mesma forma que David iria abandoná-
la quando o tempo passasse.
— Na verdade... a maioria das pessoas são muito cautelosas para isso.
— Você se tornou essa pessoa, então?
Ela forçou um sorriso.
— Espero que não.
— Porque parece que pudesse precisar de diversão nestes dias.
— E suponho que queira dizer que você pode me dar isso? — Disse bruscamente,
as palavras saíram de sua boca antes que pudesse detê-las.
Ele franziu a testa.
— Vou te dizer o que não quero fazer. Não quero ignorar o fato de que estávamos
envolvidos nos braços um do outro por alguns minutos. — Aproximou-se dela com passos
decididos. — Não vou agir como se não houvesse nada entre nós, quando desfrutou de
cada beijo e cada caricia como eu. — Parou a pouca distância dela. — E asseguro que não
quero sair daqui sem resolver alguns assuntos.
— Por exemplo? — Ela olhou para ele, determinada a não deixar a estatura e os
músculos de pura energia masculina a intimidarem.
— Você pretende aceitar a herança?
— Você pretende me seduzir? — Se ele podia ser direto, ela também.
Uma estranha desconfiança se apoderou do rosto dele.
— A sedução implica uma divisão desigual de poder. Não tenho vontade de jogar
esse jogo com você. — Ele chegou tão perto que ela podia sentir o cheiro de menta em
seu hálito. — Se compartilharmos a cama, doçura , será por causa de um desejo
mútuo. Isso eu posso prometer.
— Eu não posso compartilhar sua cama.
Ele baixou a voz para o repicar erótico deixasse os sentidos dela em chamas como
sempre.
— Você tem medo de chegar muito perto de mim outra vez?
— Tenho medo de perder tudo pelo que trabalhei, — ela respondeu.
Um músculo se contraiu na mandíbula masculina.
— Apesar do que afirma Godwin, não tenho nenhuma intenção de destruir sua
escola.
— Não foi isso que eu quis dizer — disse ela apressadamente. Dando um passo
para trás, que precisava para se recompor, o que era impossível com ele tão perto
dela. — Mas você não tem o mesmo interesse no que eu faço. Não passou anos
construindo sua reputação, persuadindo os alunos a estudar aqui, aplacando os pais.
Ela ergueu o queixo.
— Estou orgulhosa do que eu fiz, e não posso me dar ao luxo de jogar tudo fora
por um momento de prazer. — Quando a olhou com os olhos brilhantes, acrescentou: —
A reputação desta instituição está sobre os meus ombros, e com assuntos tão instáveis
neste momento, não me atrevo a fazer qualquer coisa que a arruíne. Seria escandaloso se
as pessoas achassem que você e eu... bem...
— Sim — disse ele, — Acho que sim. — Ficou um bom tempo em silêncio. — Mas
já deixei bem claro que não tenho nenhuma intenção de forçar você a nenhum - prazer
passageiro - não tem nada a temer de mim. Portanto, não há razão para que recuse a
herança.
Ela quase não conseguiu segurar uma risada. Nada a temer? Somente a constante
tentação de tocá-lo, de confiar nele, de se apoiar nele. Ela nem sequer estava segura de
que poderia confiar nele, pelo amor de Deus! Como podia ter certeza de que não estava
cometendo um grande erro ao permitir que ele chegasse tão perto?
Mas que outra opção tinha?
— Se eu aceitar a herança, isso não significa que aceito a necessidade de mudar a
escola daqui.
— Entendo — disse ele suavemente. — Você ainda quer escrever para seu
benfeitor sobre a compra deste imóvel.
— Na verdade, já fiz isso. Espero ter noticias dele em breve.
— Enquanto isso, por que não olha outras propriedades? — Tirou um papel do
bolso do paletó. — Tenho uma lista das disponíveis aqui. Depois de terminar suas
entrevistas, podemos ir vê-las. À espera de seu tempo livre, vou dar uma volta pela
escola.
Ela olhou para ele com desconfiança.
— Esta deve ser uma experiência única para você, espere por uma mulher se
desocupar.
— Talvez perigosa, mas não única. Já fiz isso uma vez antes. — Ela viu a luz de
seus olhos nos dele. — Foi o maior erro da minha vida.
Ela prendeu a respiração, lembrando-se da última vez que eles estiveram juntos
em sua juventude, quando ela pediu que ele esperasse a resposta dela à sua proposta.
Deliberadamente fingiu não saber o que ele queria dizer.
— Então talvez você não deva esperar por mim depois de tudo. Eu não gostaria
que se decepcionasse. Todavia poderia voltar esta tarde.
— E correr o risco de encontrar o lugar proibido para mim? Não seria uma
casualidade.
Um leve sorriso tocou seus lábios.
— Eu nunca faria algo tão estúpido.
— Bom. Devido a isso é que não vai me manter afastado.
Seguiu a estas palavras com um olhar de fome cru, que a deixou com todos os
nervos em chamas, ela sabia que sua persistência não tinha nada a ver com o legado e
tudo relacionado a ele.
E ela não podia decidir como se sentia sobre isso.
— Na verdade, tenho que ir — murmurou. — Tenho que conduzir essas
entrevistas.
— É claro — Ele fez uma reverência. — Até logo.
Assim que ela abriu a porta, ele disse: — Há uma coisa que você deve considerar.
Não fui eu quem você viu beijando Molly na noite antes de sua partida.
Fazendo uma pausa na porta, ela deu-lhe um longo olhar por cima do ombro.
— Eu já sabia — ela disse simplesmente.
Então se foi.
CAPÍTULO ONZE
David congelou em descrença, enquanto Charlotte saia pela porta. Como ela
soube? Como havia se inteirado? Quando havia descoberto, pelo amor de Deus? Se ele
próprio só soube há oito anos, após o suicídio do pai.
Buscando entender por que o pai havia cometido suicídio, ele e Giles tinham
bebido uísque demais uma noite. De alguma forma, a conversa havia resultado em
mulheres, no fato de que se casar com uma herdeira resolveria o problema de David de
forma a cobrir as enormes dívidas que o pai tinha deixado para trás.
A menção dos herdeiros levou a uma discussão sobre Charlotte, e Giles admitiu
que muitas vezes se perguntou se Charlotte o tinha visto com Molly, enquanto ele usava
o robe de David.
Quando lhe disse, David caiu em conta de que era provável, e tinha sacado toda a
raiva contra o irmão. Os dois logo se encontraram em uma briga de bêbados, e por um
tempo pararam de se falar completamente.
Mas com o tempo teve que admitir que era com ele mesmo que estava irritado
por não ter examinado a situação mais a fundo, ao não forçá-la a dizer a ele o que tinha
acontecido. Até então, ele já se correspondia com Charlotte como primo Michael por
vários anos, e tinha percebido o valor do que havia deixado ir tão facilmente.
E se ele tivesse ido até ela depois de Giles dizer a verdade? O que teria acontecido
se ele tivesse mandado tudo ao diabo e tivesse se casado com ela, em vez de com Sarah?
Passou os dedos pelos cabelos. Sua família teria perdido a maior parte das posses.
Suas irmãs não estariam agora em bons casamentos, Giles não seria um advogado
respeitado. E Charlotte teria sido forçada a apoiá-lo com o rendimento de sua
escola. Teria sido intolerável.
Mas ele não estaria agora lamentando muitas coisas. Como o fato de que ele
queria Charlotte e ela não o queria. Ou tinha medo de o querer?.
Ele juro baixo. Tinha sido um paraíso abraçá-la e beijá-la, mas o inferno ver como
ela se afastava. Tinha certeza de que ela havia sentido a mesma atração que ele.
Esteve quase a ponto de se entregar quando foram interrompidos.
Ainda animado, ele caminhou ao redor da sala. O que faria a respeito... com esta
atração imprudente entre eles, este anseio palpável que obstruía a garganta, mesmo
agora? Não poderia estar perto dela sem querer fazê-la sua. E ela claramente não tinha
nenhuma intenção de deixar.
— Desculpe-me, milorde — disse uma voz da porta — mas a senhora Harris
pediu-me que o guiasse por uma excursão pela escola. Entendo que você tem um amigo
que quer matricular a filha?
Aparentemente, ela foi capaz de enviar o criado boxeador depois de tudo. E a
inteligente Charlotte tinha encontrado uma desculpa para evitar o escândalo que
representava a presença de David ali.
— Tenho um bom número de amigos que teria a honra de matricular suas filhas
aqui — esquivou.
— Bem — disse o criado corpulento. — Nós poderíamos ter mais jovens por esses
dias.
Tentando não pensar em por que ele disse isso, David seguiu o homem.
— Terence não é? — Perguntou David.
— Sim, senhor — ele indicou a saída.
O homem não parecia muito entusiasmado com a tarefa. Isso não era
surpreendente, dado que os talentos dele seriam melhor utilizados em outros lugares. Era
alguns centímetros mais alto que David, e os braços eram tão grandes como um
carvalho. Dava a impressão de que provavelmente comia uma vaca no café da manhã
todos os dias.
— Você é o mesmo Terence que lutou contra Jack Higgins Jack cerca de uns doze
anos atrás, em Salcey Green?
Terence Sullivan havia matado Higgins, um pugilista de grande renome, de punho
limpo, no ringue naquele dia. Ele hoje em dia teria a mesma idade que o homem e o
tamanho também.
— Quer ver a escola ou não? — Disse Terence beligerante.
Aparentemente, tinha atingido um nervo sensível.
— Só se quiser me mostrar. Não me importo se tiver que fazer isso sozinho se
você tiver tarefas mais importantes.
Terence deu-lhe um olhar velado.
— Desculpe-me, milorde. Prefiro não falar sobre aqueles dias.
— Como você quiser. Embora eu tenha curiosidade por saber como o grande
Terence Sullivan chegou a ser contratado como lacaio.
— Comecei sendo um lacaio. Só me envolvi nas brigas mais tarde. Após a luta com
Higgins, voltei ao serviço. — Ele cerrou os punhos aos lados. — Exceto que ninguém
queria me contratar. Até que a senhora Harris me deu uma chance.
— Ah. — Não era de admirar que ele fosse tão protetor com Charlotte.
— Agora, aqui é o que chamamos - grande salão -, — Terence começou,
claramente ansioso para deixar o tema de lado.
Durante a hora seguinte, o lutador levou David através de cada habitação.
David pareceu fascinado ao ver o lugar por si mesmo depois de anos vendo
somente através dos olhos de Charlotte através das cartas. Esteve no edifício de época
isabelina, quando ele e Pritchard haviam assinado o acordo, e recordou como frio e
cavernoso, com uma miscelânea de melhorias questionáveis feitas pelo avô de Pritchard.
Ele não o reconhecia agora.
— De acordo com as coisas que minha falecida esposa me disse, a senhora Harris
fez uma série de reformas quando mudou-se para cá.
— Na verdade ela fez — Terence respondeu. — Teve a permissão do primo dela
para fazer.
David conteve um sorriso, já que foi o único forçado a pedir a aprovação de
Pritchard em cada melhoria. Naqueles dias, Pritchard se alegrou de ter alguém para
melhorar sua propriedade, uma vez que a mesma não era nada mais que um fardo para
ele.
Que diferença o que um pouco de pintura e moveis colocados cuidadosamente
faziam uma mudança tão radical em um prédio antigo. Os móveis de mogno escuro e
cortinas de veludo verde escuro davam uma grandiosidade aristocrática que inspiraria
qualquer jovem. Esta não era uma caixa de tijolo estreita onde as jovens eram embaladas
como biscoitos em um barril, mas um lugar para explorar e descobrir, um lugar que
mantinha uma pessoa sempre consciente do passado da Inglaterra.
Não era de admirar que ela estivesse relutante em sair dali.
David entendeu bem o que a unia este edifício. Ele próprio havia lutado muito
para manter a mansão da família sem que deteriorar-se ao longo do tempo.
E a enormidade do que ele tinha feito para Charlotte incentivando-a a se
apaixonar por este lugar enviou um duro golpe a seu peito.
— É uma pena que o primo dela não tenha vindo aqui — Terence acrescentou, —
ou saberia o quanto ela colocou neste lugar.
— Entendo que ele a ajuda apenas na condição de anonimato — disse David, com
a curiosidade sobre a perspectiva do lacaio ao arranjo estranho.
— Sim. — Terence o levou por um corredor passando por várias salas de aula
onde eram ensinada as jovens aritmética e historia natural e da América, um currículo
incomum para senhoritas.
— Ela nunca tentou descobrir a verdadeira identidade dele? — David alfinetou.
— Não lhe foi permitiu. Ela teve que assinar um papel dizendo que entendia que
perderia a renda da propriedade, se alguma vez tentasse descobrir.
David fingiu um gesto de camaradagem masculina.
— Sim, mas certamente ela permitiu a você que fizesse alguma ou outra
investigação em torno do assunto.
— Não se isso signifique quebrar o acordo. Ela disse-me para manter meu nariz
fora disso, e eu sempre faço o que me mandam.
— Ah. — Graças a Deus pelos servos fiéis.
— Embora acho que sei que tipo de homem ele é — Terence continuou enquanto
iam a uma sala grande que era claramente usada para aulas de dança.
Isto parecia interessante .
— Oh sim?
Terence se deteve no centro.
— A senhora diz que é provável que seja algum filantropo que não quer que as
pessoas olhem muito de perto os assuntos de sua vida privada. — Ele estreitou os
olhos. — Mas eu acho que é um velho rico e feio que está apaixonado por ela, e como
sabia que não teria uma chance de ganhar o seu afeto, planejou algo para assim obrigá-la
a ter uma dívida com ele.
— Isso significa que ele tem astutamente doado dinheiro para a escola e manteve
perversamente um aluguel baixo? — David disse sarcasticamente, mais do que um pouco
irritado que Terence estivesse tão perto da verdade. Ou o que costumava ser a verdade,
de qualquer maneira.
— Ninguém nunca dá algo a troco de nada.
— Teoria interessante. — David se viu confrontado com a necessidade de
defender-se. — E o que exatamente acha que ele quer?
— O mesmo que a maioria dos senhores querem de uma bela jovem viúva. — Ele
fez uma carranca sombria. — Um dia vai atacar, e ela vai passar por um inferno para
pagar.
— Ele certamente está tomando seu tempo para atacar — David disse, irritado. —
Não está ajudando a escola há anos?
O servo deu de ombros.
— Eu não disse que seu plano era inteligente. Não é necessário cérebro para ser
um filho da puta no cio.
— Só um monte de dinheiro, aparentemente.
Terence o olhou a altura.
— Como o meu velho me disse: "Nunca confie um homem rico”.
Não havia dúvida de que era um alerta.
— Ainda bem que sou apenas moderadamente rico — disse David secamente.
— É por isso apenas suspeito moderadamente de você — Terence disparou atrás
dele.
David piscou, e então começou a rir.
— Você é o lacaio mais incomum que já conheci.
Cruzando os braços sobre o peito, Terence deu de ombros.
— Tomo isso como um elogio.
— Eu não disse como um.
Pela primeira vez, o homem sorriu.
— Eu sei.
Curiosamente, desarmou um pouco a tensão entre eles. Enquanto continuavam
ao redor da escola, David disse: — Parece que você gasta muito tempo na proteção de
sua empregadora de atenções indesejadas.
— Não mais do que suficiente.
— E se a atenção não for tão indesejável?
— Isso não vai acontecer — disse o lacaio decisivamente.
— Mesmo com Charles Godwin? — Alfinetou David.
Terence deu-lhe um olhar curioso.
— Por que você quer saber?
Optou pela honestidade.
— Acho que é sempre útil avaliar como afastar a concorrência antes de se entrar
no ringue.
Terence sorriu.
— Se fosse você, milorde, a primeira coisa que eu faria é me preocupar em sair
daqui com todos os dentes.
David riu.
— Acredite em mim, que esta preocupação está em alta na minha lista também.
Você esquece que o vi lutar.
Quando o lacaio deu uma risada relutante, ele sabia que tinha marcado um
ponto, mesmo que não estivesse mais perto de saber mais sobre a natureza do
relacionamento de Charlotte com Godwin.
Até agora tinha terminado com o interior. Já estavam andando em direção à
entrada principal para que pudessem ver os jardins, quando Charlotte apareceu no topo
das escadas.
— Terence, você poderia vir aqui por um momento, por favor?
— Claro, minha senhora.
— Vou caminha pelos jardins — disse David.
Não demorou muito tempo para visitar os jardins na parte da frente da
casa. Havia acabado ali e eu estava admirando a cerejeira na borda de Rockhurst quando
uma figura desagradável emergiu das árvores.
Pritchard. Desgraçado.
Samuel Pritchard era o descendente primogênito de um rico comerciante de
Londres. Apesar de estar perto dos sessenta anos, tinha sido muito imprudente maior
parte da vida, com as feições devastadas e aparência de dissipação provada no rosto. Na
verdade, a inclinação de Pritchard pelo desenfreio era como o homem havia chegado a
estar à mercê de David durante seus anos nefastos de jogos de cartas.
David estivera embriagado, como muitas vezes estivera nos primeiros dias de seu
infortúnio. Quando Pritchard fez um comentário desagradável sobre o caminhante do
robe, então David se propôs a depená-lo. E tinha conseguido para além de suas mais
loucas expectativas, algo que Pritchard ainda estava pagando.
— Bem, bem, se não mais do que o primo Michael — disse Pritchard.
— É melhor você rezar para que ninguém tenha ouvido, Pritchard — David
retrucou. Ou você esqueceu nosso acordo, o que iria acontecer como com a revelação da
minha identidade? Pode ter certeza que serei feliz em demandar minhas cinquenta mil
libras no ato. E como não pode pagar agora, é melhor, sugiro, que contenha a língua.
Embora o homem tenha empalidecido, o sorriso desagradável não diminui.
— Então a pobre viúva ainda não sabe quem você realmente não é? Bem, isso não
vai demorar muito antes que ela descubra, em oito meses, quando seu bonito rabo for
colocado para fora daqui. Então, nada que possa fazer ou dizer vai me impedir de dizer
que você é o verdadeiro culpado pelos problemas dela.
David cerrou os punhos para evitar estrangular o bastardo.
— Por que você não me vende Rockhurst e acabamos com isso? Você sabe que
vou pagar mais do que vale.
Prytchard enfiou os polegares no cós da calça, o que só acentuou o ventre
volumoso que veio a ganhar rapidamente.
— Para você, para que você possa deixar a boa viúva e a escola ai? Não,
obrigado. Tendo em conta que a vinculação não me permite vender o imóvel onde esta
escola, me dedicarei a fazer bom uso dela. E não terei você e Santa senhora circulando
em torno de mim e me causando problemas. Eu quero que ela vá para os dois lotes de
terra, ela e seu pelotão de meninas.
— Um homem de negócios inteligente veria as vantagens abundantes de ter uma
escola de jovens como inquilinos. Eles não maltratar a propriedade, e estão mais do que
dispostos a pagar pelas próprias melhorias.
— Mas não estão dispostos a pagar muito mais pelo aluguel, certo?
— Posso ajudar a subsidiar o aluguel se necessário — disse David. Pritchard seria
um tolo para rejeitar tal oferta. — E eu poderia apontar que sua bondade para a escola
pode ajudá-lo a corrigir sua má reputação na sociedade.
Os olhos de Pritchard se estreitaram.
— Comecei a ver que uma má reputação pode fazer um homem ganhar mais do
que uma boa. — Ele fez um aceno para onde um indivíduo magro estava andando no
jardim, a alguma distância atrás do aparentemente medindo. — Watson está seriamente
preocupado com a compra de Rockhurst e quer transformá-lo em um estabelecimento de
corrida. E sabe por que?
David apenas olhou para ele friamente.
— Porque prometi a ele que, tão logo o gravame acabe, vou converter o prédio
da escola em um hotel deslumbrante, com um restaurante e taverna que seduzirá a
sociedade jovem. Terei a metade da comunidade das corrida aqui todas as semanas,
pagando um bom dinheiro pelo gim e cerveja, enquanto o meu amigo recebe o dinheiro
das corrida na porta ao lado.
A pura alegria se refletia no rosto do asno.
— Então pode ver por que não quero a boa viúva a minha volta. E por que tenho
melhores perspectivas do que qualquer quantia extra de dinheiro que você possa
oferecer para pagar o aluguel.
O estômago de David afundou. Um hotel. O edifício seria perfeito para isso! Que
esperto Pritchard ter pensado na combinação de uma pista de corrida com um hotel,
especialmente com Richmond estando tão perto de Londres, e à direita no rio, também.
— O povoado nunca permitirá isso — disse David.
— Não? Eles já concordaram em aprovar as licenças, tanto para mim quanto para
Watson.
Ele sorriu.
— Muito secreto, é claro. Eles sabem que têm uma obrigação financeira com outra
pessoa que me impede de tomar posse da propriedade até o próximo ano. Mas eu lhes
assegurei que isso vai acontecer.
Então era isso que o filho da puta estava planejando.
— E eles estão dispostos a ver como a escola desaparece debaixo do seu
benefício?
Pritchard deu uma risada condescendente.
— Eles não se preocupam com isso. Quando assinalei que suas filhas não
gastariam tanto dinheiro na cidade como o que eles poderiam ganhar se estivessem perto
de uma pista de corrida, ficaram salivando ante a perspectiva. Os vereadores não são
estúpidos, sabem de um êxito seguro quando veem um.
— Ela não te fez nada! — Ele estalou. — Entendo sua raiva de mim, mas se estiver
usando-a para me punir...
— Não seja um tolo embrutecido, Kirkwood. Isto é estritamente profissional. Não
tem nada a ver com você ou ela. Na verdade, você deveria me agradecer. — Ele zombou
de David. — Sua presença aqui indica que encontrou uma maneira melhor para se
salvar. — Empurrou os quadris em um movimento vulgar, que não deixou nenhuma
dúvida sobre o que queria dizer.
— Dando alguns serviços adicionais..., certo? Em troca da nova fortuna que
herdou de sua pobre mulher?
David viu tudo vermelho. Antes que pudesse pensar, tinha as mãos em torno do
pescoço de Pritchard e a chocou contra a árvore mais próxima.
— Ouça, cara de cu covarde, e escuta bem. Se alguma vez insinuar algo tão vil a
ela ou qualquer outra pessoa, eu vou te caçar, cortar as bolas e empurrar abaixo de sua
garganta! Você me entendeu?
Os olhos de Pritchard estavam arregalados de medo enquanto ele lutava para
respirar. Ele acenou com a cabeça, os dedos arranhando inutilmente as mãos de David.
De repente, David o libertou, vendo como ele deslizava pela árvore sem fôlego.
— Faça o que sente que tem fazer com Rockhurst. Mas ainda tenho o direito de
detenção sobre a propriedade da escola, e um monte de coisas podem acontecer em oito
meses.
Com seu temperamento ainda rubro, ele virou as costas e saiu antes de converter
o bastardo em uma polpa de sangue.
Mas ainda não havia ido longe o suficiente quando ouviu murmurar Pritchard: —
Pensariam até que a mulher é sua condenada esposa ou algo assim... Cristo!
As palavras ecoavam em sua mente enquanto ele andava de volta à
escola. Sua esposa .
Deixou que a ideia submergisse nele, acalmando sua fúria assassina. E se casasse
com Charlotte? Então, ela nem sequer precisaria da escola. Afinal, poderia dar-se ao luxo
de mantê-la. E se ela se tornasse esposa dele antes dos oito meses, ele nunca revelaria o
jogo duplo que havia jogado com ela todos estes anos. Ela simplesmente fecharia a
escola, e isso seria tudo.
Sim, era a solução perfeita. Simples, prática.
Bem, não inteiramente prática. Havia questões difíceis... como o fato de que ele
ainda estava de luto. Ele nem mesmo deveria pensar em se casar novamente por mais
seis meses, mas esperar mais para assegurá-la, mais provável é que ela viesse a descobrir
sobre o caso com Pritchard e porque ele tinha feito.
Felizmente, a sociedade tendia a ser mais flexíveis no que diz respeito ao luto dos
homens. Ele não tinha herdeiros, para que as pessoas esperassem que ele buscasse uma
esposa o mais rapidamente possível. Apesar de Charlotte, que se resistisse a casar antes
do período de luto, ele bem que poderia fazê-la mudar de opinião.
Ele franziu a testa. Isso supondo que pudesse convencê-la a se casar com ele
primeiro. Todavia ela quase não confiava nele. Nem sequer podia pensar em propor
matrimonio até que a tivesse suavizado primeiro.
Muito bem, ele iria como antes, tentando convencê-la a mudar a escola para
assumir o legado de Sarah. E no processo iria jogar a seu favor a atração que ainda ardia
entre eles. Isso não deveria ser muito difícil. Ela era uma viúva sensual, vibrante, que
passou os últimos dezesseis anos de celibato.
Sem dúvida, ele estava ansioso para mudar isso.
A menos que ela não estivesse de celibato. Afinal de contas, não sem razão a
sociedade as chama de viúvas alegres. E ela não havia respondido a pergunta sobre seu
relacionamento com Godwin.
Ele franziu a testa. Se o homem tinha vindo a partilhar a cama de Charlotte, isso
terminaria agora. Assim como acabaria com qualquer envolvimento entre eles. Porque
David não ia deixar o condenado jornalista ficar com Charlotte.
Tenha cuidado, cara. Este desejo obsessivo foi o que o colocou em problemas
com ela da última vez.
Mas isso era diferente. Ele era jovem e tolo. Tinha acreditado no amor,
confundindo um desejo perfeitamente normal e saudável por uma mulher bonita com um
pouco de emoção ridícula. Isso não era nada mais do que uma decisão prática. E se no
processo de conseguir Charlotte como esposa, também viesse a tê-la em sua cama,
melhor. Por que eu não deveria ter uma esposa que desejava?
Absorto em seus pensamentos, David não enfocou Terence até que o homem
esteve quase sobre ele.
— Teve uma palavra com o nosso vizinho vejo eu — Terence disse sem rodeios.
Dane-se tudo. O lacaio deve ter visto o seu encontro com Pritchard. David
considerou repreende-lo por não ocupar-se com seus próprios assuntos, mas podia ser
melhor ter o homem como aliado.
— Ele insulto à sua senhora e eu apenas adverti para não fazê-lo novamente.
Algo parecido a admiração brilhou nos olhos do homem.
— E muito confortavelmente, também. Talvez saia daqui com os dentes depois de
tudo.
David aceitou o elogio com um velado aceno de cabeça.
— Devo pedir para não falar sobre o minha... er... perda dos estribos para senhora
Harris. Não gostaria de revelar o que aquele bastardo disse sobre ela. — E se alguma vez
Charlotte escavasse e descobrisse que Pritchard era o proprietário do imóvel, David não
queria ser perguntado sobre sua conexão.
— Como quiser. Terence apressou para o seu lado. — A propósito, ela me
mandou dizer que lamenta mas ficará ocupada com as entrevistas pelo resto da tarde.
Disse que se deixar a lista que lhe mostrou, que dará uma olhada depois.
— Ao inferno que vai. — ele rosnou.
O lacaio piscou.
David conteve o temperamento com dificuldade. Claramente, ela temia que se ele
ficasse até que ela estivesse livre, ele iria tentar levá-la para cama. E ela estava certa em
ter medo, também. Porque ele não estava disposto a deixá-la ir neste momento.
Tampouco a deixaria ditar os termos da nova parceria.
— Pode dizer a sua senhora que ficarei feliz em entregar a lista de hoje à noite,
quando ela for a minha casa da cidade para jantar com minha mãe. Se ela não puder
comparecer, então estarei aqui de manhã para dar a ela pessoalmente. Entendeu?
— Perfeitamente, senhor.
— Bom. — Com isso, David virou-se e dirigiu-se para os estábulos. Ele havia
tentado ser paciente. Havia dado a Charlotte todas as oportunidades para rejeitar o
legado e a sua participação no mesmo.
Nada mais. Já era hora dele assumir o controle da situação. Porque de uma forma
ou outra, ele pretendia ter Charlotte como esposa. E nem a escola nem o nervosismo dela
ficariam em seu caminho.
CAPÍTULO DOZE
Charlotte estava sentada na carruagem, olhando para a casa da cidade de
Kirkwood, inquieta.
— Está tudo bem, minha senhora, não é mesmo? — Terence perguntou enquanto
abria a porta.
— É só que... não estive aqui desde que fui acompanhante de Lady Amelia no
baile de primavera de Kirkwood há seis anos. — O baile projetado para encontrar uma
herdeira para David.
Naquele momento, Charlotte esteve dolorosamente consciente da importância
do convite – Lady Kirkwood tinha a intenção de esfregar na cara de Charlotte que David
tinha seguido com a vida, apesar da aparente tentativa de Charlotte para arruiná-lo.
— Certamente não está nervosa por ver a jovem de novo — disse Terence.
— Claro que não. — Amelia era a única razão dela estar ali.
Não tinha nada a ver com as táticas ardilosas de David, zombado dela com uma
lista de propriedades e ameaçando aparecer em sua porta novamente amanhã, se ela não
aparecesse esta noite. Não tinha nada a ver com seu desespero para vê-lo novamente.
Ela gemeu. Ok, então talvez tivesse passado toda a viagem até a cidade revivendo
os deliciosos beijos e carícias e se perguntado se ela teria coragem de repeti-los. Mas ela
não era uma menina, suas entranhas a flor da pele ante a perspectiva de encontrar o
noivo. Ela era uma mulher adulta de boa reputação, cuja escola era amplamente
aclamada pela educação das jovens.
Ela era uma viúva que não tinha sido tocada intimamente em dezesseis anos. Até
hoje. Por que todas as lições que ensinou as bonitas meninas voavam pela janela cada vez
que via David Masters?
— Devo bater, senhora? — Perguntou Terence.
— É claro.
Assim que a anunciou ao mordomo e baixou a seu lado, ela endireitou os ombros
e subiu as escadas. Não deixaria que a perspectiva de ver um homem a transformasse em
purê. A ideia era absurda.
Depois de entrar na casa, no entanto, a sua confiança oscilou. Enquanto o
mordomo foi anunciá-la, o primeiro lacaio colocou os olhos furtivos nela.
Sem dúvida sua chegada nesse ponto seria mencionada nas dependências dos
criados por toda a próxima semana.
Felizmente, Amelia escolheu aquele momento para irromper no vestíbulo,
cumprimentando-a com abraços e beijos.
— Você está maravilhosa! — Amelia exclamou enquanto se afastava para olhar
mais para Charlotte. — Ouso dizer que não envelheceu um dia em seis anos!
— Nem você. — Encantada por ver a amiga novamente, Charlotte olhou para ela
do alto do elegante penteado a borda do vestido de noite, de uma bonita seda verde
escuro. — Ninguém diria que já deu à luz a dois filhos, e em um país estrangeiro,
também!
— Sim, o que é uma surpresa que alguém não possa realmente ter filhos fora da
abençoada ilha da Inglaterra — disse secamente o Major Winter, enquanto se
aproximava da esposa.
— Não comece outra vez — Amelia o repreendeu com um sorriso. Ele se inclinou
para Charlotte. — Ele ainda acha que nós o Ingleses somos demasiado cheios de nós
mesmos.
O americano passou o braço em torno da cintura da esposa e a olhou com um
sorriso de puro amor.
— Suponho que alguns de vocês têm motivos para se sentir superior.
— E em que categoria eu me encaixo, senhor? — Perguntou Charlotte.
— A categoria superior, é claro. — Sorrindo cordialmente, ele ofereceu a mão. —
Na verdade, é bom vê-la, minha senhora. Espero que tenha me perdoado por levar anos
atrás sua melhor pupila.
— E se não tivesse perdoado, o que faria agora? — Provocou e apertou a mão
dele.
— Enviaria minha esposa para abrandá-la. Ela é muito boa nisso.
— Creio que ela seja — Charlotte concordou. Amelia tinha suavizado o duro
Major Winter. Não havia como negar a diferença nas maneiras dele desde a última vez
que esteve na Inglaterra. Apesar dos comentários sobre os ingleses, ele parecia mais
feliz. Mais relaxado.
Era curioso como estar apaixonado fazia isso com uma pessoa.
Enquanto a inveja dolorosamente se apoderava dela, outra voz interrompeu: —
Vamos, agora, o que é tudo isso? — Giles Masters entrou no vestíbulo, com o mesmo
olhar sedutor de sempre. — Por que você ainda está de pé aqui quando todo mundo está
esperando lá em cima?
Com uma risada, Amelia passou o braço pelo de Charlotte, e se dirigiu
conversando, deixando os senhores seguindo-as atrás.
No momento em que entrou no salão, a preocupação de Charlotte
retornou. Todo mundo estava relacionado com David. Além do irmão dele e o Major
Winter, as duas irmãs estavam ali com os respectivos maridos.
E, claro, no centro estava a mãe de David. Uma vez que o prazo estabelecido para
o luto de Sarah tinha transcorrido para o resto da família, deixando apenas David e a
senhora Kirkwood de meio luto, ela vestia um esplêndido vestido de seda cinza com uma
camada de gaze preto, adornos preto, e um colar impressionante. Obviamente não tinha
intenção de deixar algo tão insignificante como a morte da nora projetasse uma sombra
sobre seu traje elegante.
Tampouco deu as boas vindas de braços abertos a mulher que uma vez feriu o
amado filho. Charlotte não a culpava por isso, e tratou de não sentir-se ofendida pelo
piscar genial de reconhecimento da viscondessa.
Então Charlotte viu David na parte de trás da sala, e tudo o mais, todos os outros
desapareceram. Ela não ouviu uma palavra da conversa de Amelia nem viu Giles cruzar
para falar com uma das irmãs. Ela só tinha olhos para David.
E quando ele se virou para olhar para ela, a respiração em sua garganta ficou
presa.
Ele a percorreu do outro lado da sala, observando cada centímetro de seu vestido
de noite. Houve um diabo dentro dela que quase a fez escolher outro vestido.
O vestido favorito de Ruby, pareceria demasiado descarado para uma família de
luto, e também a cor amarelo alegre. Por fim se conformou com um vestido recatado de
cor escura, já que era o mais adequado.
Por desgraça, era também o mais provocativo que possuía, um fato que não
passou despercebido a David, porque ele a desnudou com o olhar. Fez uma pausa muito
deliberadamente nos seios e a junção das coxas, a recordou enfaticamente que nesta
mesma tarde ele esteve com a boca e as mãos em suas partes mais íntimas.
Sob a investida deste olhar ardente, seus mamilos retesaram e o calor reuniu-se
em seu ventre. E quando os olhos dele voltaram a encontrar os seus, o calor que ardia em
seu rosto a fez querer pular nos braços dele.
Ou dar a volta e correr.
Então ele se dirigiu até eles, e era tarde demais para correr. Ignorando a carranca
de desaprovação da mãe, ele se aproximou com passos decididos e isso fez o pulso de
Charlotte começar uma dança louca. Apesar de usar a braçadeira negra necessária e a
roupa mais escura que os demais na sala, parecia mais vivo, mais robusto do que os
outros homens em seus casacos chamativos de cores azuis e botões de ouro. Até mesmo
o major Winter, com a boa aparência bruta, não poderia ser comparado com David.
— Você veio — disse com uma voz rouca quando a alcançou. — Depois que me
despachou esta tarde, não tinha certeza se você o faria.
— Despachou! — Disse com um riso forçado a lembrá-lo de que não estavam
sozinhos. — Não fiz nada disso. A hora da sua visita era inconveniente, isso é tudo.
Amelia estava observando-os de perto.
— Fez uma visita a senhora Harris hoje? — Perguntou a David, com a curiosidade
implícita em cada sílaba.
— Tinha um assunto de negócios para discutir sobre a escola — disse ele,
aparentemente, não menos preocupado pelo que qualquer um teria pensado nisso.
— Vossa Senhoria está aconselhando-me sobre como lidar com o Sr. Pritchard e
suas travessuras — Charlotte explicou apressadamente. Olhou Amelia. — Você sabe, o
vizinho horrível que já mencionei em minhas cartas?
A amiga arqueou as sobrancelhas.
— Sim, lembro-me dessas cartas. Não me lembro de qualquer menção de apoio
do Senhor Kirkwood, no entanto. — Virou para o marido. — E você, querido? Tinha
alguma ideia de que meu primo estava ajudando minha amiga tão gentilmente?
— Nenhuma — disse o major Winter, com os lábios apertados. — Mas Kirkwood
sempre foi um cavalheiro.
Exceto quando arrastou Charlotte para o colo e levou seus seios a boca
lasciva. Embora provavelmente não poderia evidenciar sua alegação contra ele
reclamando ao Major Winter.
— Assessorar a senhora Harris era o mínimo que eu podia fazer — disse David
sem problemas. — Afinal de contas, foi ela quem unia a mim e a minha falecida esposa.
Isso foi um pouco exagerado, já que tudo o que Charlotte fez foi ensinar Sarah
sobre como evitar caçadores de fortuna, garantindo assim que a menina recalcitrante foi
direto casar com o primeiro homem que se aproximou dela .
O Major Winter aparentemente pensou que se afastam da verdade, então, olhou
para o primo de uma forma estranha.
— Pensei que tivesse sido Amelia quem uniu Sarah e você.
Ignorando o desagrado de David e repreendendo o olhar de Amelia, ele
acrescentou: — Não foi Amelia que entregou a carta de Sarah para você? Depois que ela
convenientemente rechaçou a sua proposta, devo acrescentar.
— Lucas — Amelia exclamou enquanto David fulminava com o olhar o primo.
— O Quê? — Perguntou o major Winter. — É verdade.
— Sim, mas não o tipo de coisa que deve aparecer em um momento como este.
Na verdade, às vezes eu acho que foi criado em um celeiro.
— Bobagem — disse Charlotte levemente — Tenho certeza que mencionou isso
em algum momento.
Mas ambas sabiam que não haviam feito. E saber que Amelia o tinha
rejeitado. David outrora havia perseguido Amelia? Teria estado... apaixonado por ela?
Como Charlotte não soube nada sobre esses dois?
— Lucas, querido — Amelia disse rapidamente, — que você e Lord Kirkwood não
vão buscar um pouco de vinho? Tenho certeza que a senhora Harris tem muita sede após
a longa viagem desde Richmond.
— Claro — respondeu o major Winter, sabendo que estava sendo
dispensado. Enquanto David olhava com preocupação de Charlotte a Amelia, no entanto,
ele foi com o primo.
Assim que eles se foram, Amelia perguntou: — Você está bem?
Porque as pessoas ficavam perguntando o mesmo?
— Claro. Por que não estaria?
— Você parece que viu um fantasma. — Seus olhos se estreitaram. — Há algo
entre você e o Lorde Kirkwood?
— Não posso imaginar por que você pensaria tal coisa — Charlotte disse
apressadamente, o coração batendo na garganta.
— Talvez porque ele a olha da mesma maneira que Luke me olha. Ou talvez
porque você ficou branca como um lençol quando meu marido idiota mencionou que
Lorde Kirkwood, uma vez me fez uma proposta.
— Eu não me importo nem um pouco.
— Então por que você ficou tão ansiosa e nervosa de repente?
— O que você quer dizer?
Amelia lançou um olhar significativo para Charlotte, que estava apertando a alça
da bolsa entre os dedos novamente e novamente. Com uma careta, Charlotte queria que
suas mãos se mantivessem quietas.
— Você deve entender — disse Amelia, — a busca de Lorde Kirkwood por mim
não foi remotamente romântica. Falou de como iríamos nos adaptar e de como seria
gentil comigo. Não houve palavras de amor, nem tentativas de me beijar. Eu sabia que ele
só estava impulsionado pela necessidade da minha fortuna. Por que você acha que
rejeitei antes que pudesse fazer uma oferta formal?
O alívio corria por Charlotte.
— Asseguro que o que houve entre você e Lorde Kirkwood não significa nada para
mim.
Que mentira descarada! Ele à lembrou que tanto tinha acontecido dezoito anos
para ele, coisas que talvez ela não conhecia. Algo em David havia mudado de ser o
pretendente palhaço de sua juventude em um homem de intensidade feroz que as vezes
assustava.
O que teria sido isso? Seu casamento infeliz? O suicídio do pai? A humilhação que
o obrigou a sofrer? Ou talvez todos os três juntos?
Porque sob a superfície de cordialidade que mostrava ao mundo jazia um homem
de profundidades ocultas. Era óbvio que ele guardava segredos dela e todos os outros. Ela
não conseguia entender o que eram.
— Olha, — disse Amelia, — é claro que se preocupa com Lorde Kirkwood. E que
ele também se preocupa com você, muito.
— Não seja boba. Ele está de luto.
— Ele não vai estar de luto para sempre. Seis meses, e estará livre para se casar
novamente. E uma vez que ainda não gerou um herdeiro...
As palavras enviaram outro golpe por suas costas. Não havia considerado sequer
isso. Em seus dois anos de casamento com Jimmy, ela não tinha concebido um filho,
apesar de ter tentado um monte de vezes. Sempre assumiu que fosse estéril, o que
significava que não poderia dar David o herdeiro que ele precisava.
Um raio de dor passou através dela, e lutou para ignorá-lo. Não importava se ela
poderia ou não - era ridículo sequer pensar em casamento com David. Ele não tinha
mencionado tal coisa, e também ele poderia ter qualquer mulher que quisesse. Por que
escolheria uma que estava ficando velha demais para ter filhos?
Aquela que o machucou de uma forma tão publica?
— Falando de crianças — Charlotte disse, desesperada para por fim naquela louca
conversa sobre ela e David — como estão seus anjinhos?
A mãe que os adorava estava muito feliz de falar sobre suas filhas e suas
realizações.
Assim quando estavam organizando um dia para Charlotte visse as crianças, os
cavalheiros voltaram com as mãos vazias. O vinho tinha sido removido, já que o jantar
estava prestes a ser servido.
Dizendo aos Winters que queria mostrar a Charlotte uma nova pintura que ele
tinha adquirido, David puxou-a com força para o corredor. Uma vez que estavam bem
longe, rosnou: — Saiu correndo tão rápido esta tarde que não tive a oportunidade de...
— Não sai correndo! — Ela protestou, tentando manter-se ao lado dele enquanto
ele liderava o caminho pelo corredor até onde uma série de quadros estavam
pendurados.
Quando chegaram a primeira pintura e se detiveram na frente dela, acrescentou:
— Não pude evitar ter pessoas para entrevistar. Ou que isso demorasse mais tempo do
que esperava.
— Não é culpa sua, tenho certeza — disse secamente.
Ela ergueu o queixo.
— Se você não pode aceitar que tenho responsabilidades.
— Isso eu aceito muito bem — disse ele em voz baixa. — O que não posso aceitar
é esse seu desejo de deixar que sua preciosa escola seja destruída por sua negligência.
— Minha negligência! Como se atreve?
— O legado de Sarah é tudo o que fica entre a escola e a ruína certa. Se você não
tivesse enviado Terence para me chamar esta tarde, eu teria lhe dito o que sei de
Pritchard e o potencial comprador quando os encontrei perto de seus domínios.
Seu sangue começou a latejar.
— Você... você falou com o Sr. Pritchard?
— O fiz realmente. E ele me informou que a cidade já aprovou a licença do Sr.
Watson para uma pista de corrida. Agora, a única coisa que resta a ele é Pritchard chegar
a um acordo sobre o preço. Pritchard espera que aconteça em breve. — Ele deu-lhe um
olhar sombrio. — Você não pode ter uma pista de corrida em sua porta, Charlotte.
— Claro que não.
— Portanto, você deve se resignar a mudar a escola para outro lugar.
Ela olhou para ele.
— Não até que escute meu primo.
— Droga, Charlotte, seu primo não pode fazer nada sobre Pritchard!
— Você não sabe isso!
— Se pudesse, não acha que já teria feito algo nesta altura?
Ela engoliu em seco. O abandono do primo Michael foi mais cruel de todos os
tempos.
— Ele tentou, quando o Sr. Montalvo parecia decidido a construir um jardim dos
prazeres. Ele interveio em nosso nome.
— E pelo que entendi, ele acabou fugindo com uma de suas alunas e causando
um escândalo para a escola. Que tão bom foi ele para ajudar.
O sarcasmo dele a levou até o limite.
— Fique longe das coisas que você não entende, David.
— Oh, eu entendo muito bem — ele retrucou. — Você confia mais em um homem
anônimo que te escreve cartas e que, por tudo que sei, é um completo filho da puta, do
que em um homem que a conhece há anos e que tem os melhores interesses no coração.
— Por que eu devo acreditar que você tem os melhores interesses no
coração? Depois do que fiz, você não tem nenhuma razão para querer me ajudar.
Ele se aproximou, olhando para a boca feminina.
— Você sabe melhor do que ninguém que eu tenho razão. É a mesma razão pela
qual veio aqui hoje, nesta noite, apesar de seus medos.
Não havia dúvida do olhar naqueles olhos. De repente, ela tinha uma grande
dificuldade para respirar.
— Eu vim aqui para conseguir a lista que você prometeu.
— Ao inferno se você veio por isso.
— Eu vim para ver Amelia.
Ele inclinou até a boca de Charlote.
— Mentirosa — sussurrou.
O som de passos na escada o fez amaldiçoar baixinho. Recuou e virou-se para a
pintura enquanto o mordomo se aproximava e anunciava que o jantar estava servido.
Enquanto os demais saiam ao corredor, Lady Kirkwood chamou: — Vamos, David?
Me acompanhar para jantar, certo?
Quando David hesitou, Charlotte olhou para ele em pânico abjeto. Claro que
sim. Era a única coisa certa. Se não o fizesse, seria um sinal claro ao resto da família que
havia algo mais entre eles.
No entanto, por um momento, ela pensou que ele realmente zombaria do
decoro.
Fez um olhar de frustração a Charlotte que fez gelar seu sangue e ela rapidamente
ela pronunciou as palavras: — Por favor, não. — A última coisa que precisava era ter a
família dele contra ela por tentá-lo a romper as regras do luto.
Um músculo ressaltou na mandíbula masculina enquanto ele observava a mãe.
— Certamente, mãe.
— E Giles levará a senhora Harris.
Giles amavelmente se dirigiu ao corredor em direção a ela.
David se deteve apenas o tempo suficiente para murmurar: — Nós não
terminamos, meu bem — antes de ir ao encontro da mãe.
As palavras a fizeram sentir um calafrio enquanto ela e Giles esperavam que os
outros descessem as escadas. Nós não terminamos . Isto manteve-se uma promessa, bem
como um aviso. Não tinha certeza do que a alarmava mais.
— Tudo certo? — Giles disse com um sorriso, oferecendo-lhe o braço, quando o
último par passou à frente deles.
Pelo menos ele poderia ser agradável. Na verdade, ele parecia muito mais
relaxado com ela do que tinha sido a última vez que haviam se falado, há alguns anos
atrás em uma festa que tinham se encontrado.
Deu um olhar furtivo enquanto caminhavam para as escadas, lembrou-se do
quanto ele se parecia com David. Não era de se estranhar que ela tivesse se enganado
naquela fatídica noite. Na escuridão, o cabelo da mesma cor e a constituição semelhante,
qualquer um poderia ter confundido. Ah, mas quão diferente sua vida poderia ter sido se
não tivesse!
Quando chegaram as escadas, Giles arrastou os passos para colocá-los fora do
alcance do ouvido dos outros.
— Você está linda esta noite — murmurou.
Ela riu.
— Vejo que não mudou, Sr. Masters.
— Deixe-me ter algum prazer, por favor. A vida de um advogado é muito
aborrecida.
— Não acredito nisso. Ninguém é bom no que faz se não faz com paixão, e pelo
que sei você é muito bom.
Ele deu de ombros com o elogio.
— Soube que você e meu irmão tem se visto nos últimos tempos.
— Ele está me ajudando com um assunto na escola — não tinha certeza do
quanto David havia revelado ao irmão sobre a herança.
— Está saindo com ele novamente? — Giles perguntou sem rodeios.
Ela piscou.
— Perdoe-me. Isso foi rude. Não é assunto meu, suponho.
— Então, por que perguntou? — Charlotte olhou para ele com desconfiança. —
Sua mãe mandou perguntar?
Giles riu.
— Não creio. — Ele cobriu a mão dela com a dele. — Talvez eu só esteja tentando
descobrir se tenho alguma chance com você.
Balançando a cabeça, ela tirou a mão.
— Esquece agora o sem vergonha que é.
Ele lançou um suspiro exagerado.
— Pelo que entendi não disse o meu pequeno segredo sobre a última vez que nos
encontramos.
Foi quando ela descobriu que era Giles quem tinha visto pela janela, e não David.
— Por que diz isso? — Ela perguntou.
O sorriso dele vacilou.
— Porque eu tinha que saber com certeza se você havia me visto com Molly e que
isso foi o que arruinou tudo entre você e David.
O olhar dele buscou seu rosto.
— Por que você não me disse que você nunca teve a intenção de mandar a carta
para o jornal?
Aparentemente, Giles tinha ouvido David sobre a revelação anterior.
— Qual seria o ponto? Até então, ele já estava casado. Contando sobre a carta
poderia ter mostrado que lamentava, e eu não queria que velhos fantasmas
atrapalhassem a união dele com Sarah. Eu já havia danificado a vida dele o
suficiente. Pensei que era mais fácil para ele continuar acreditando que eu era uma
cadela vingativa.
Eles chegaram ao fundo das escadas e se dirigiram para a sala de jantar, mas Giles
deteve-se a porta da sala de jantar.
— Sem dúvida, ele não acha isso agora. — Quando ela não respondeu, ele
acrescentou: — Então, está tendo algo a sério com ele?
Ela olhou para ele constantemente.
— Eu honestamente não sei .
Às vezes, a ideia de estar com David novamente era tão tentador que qual mal
podia suportá-la. E como seria bom ter um parceiro nas suas relações na escola, ter
alguém para compartilhar seus fardos para uma mudança.
Mas isso significava casamento, e ela duvidava que ele queria isso com
ela. Mesmo que quisesse, David não podia sentir o mesmo apego à escola que ela.
Esperaria ele que ela a fechasse? Que a vendesse? Renunciar a tudo o que havia
trabalhado, para assim poder jogar de esposa amorosa?
Ela tinha jogado de esposa amorosa uma vez, e isso lhe custou tudo. Ela não
queria passar por isso novamente. Nunca?
— Tenha cuidado com meu irmão, Charlotte — Giles disse em voz baixa. — A
morte de Sarah o pegou mais forte do que qualquer um de nós esperava, e eu não
gostaria...
— Não se preocupe — disse ela através de uma garganta cheia de emoção: —
Não tenho nenhum desejo de fazer mal a ele.
— Estou mais preocupado dele vir fazer mal a você. Não tem sido o mesmo há um
longo tempo, e não acho que ele saiba o que quer mais.
Ela tinha percebido isso. O casamento com Sarah tinha mudado-o, e uma mulher
sábia devia ter cuidado com um homem que tinha perdido a esposa há apenas alguns
meses.
— Não se preocupe comigo também. Sei como lidar com homens.
— Pelo meu bem, espero que isso é verdade. — Um sorriso repentino dividiu seu
rosto. — Eu poderia usar alguma gestão de uma mulher como você.
Ela deixou escapar uma risada.
— Juro, Sr. Masters — disse, igualando o tom — é tão incorrigível como seu irmão
costumava ser. A diferença é que ele cresceu. Aparentemente o senhor não.
— Crescer é muito exagerado — Giles disse alegremente. — Eu tento evitá-lo
sempre que possível.
Ainda rindo quando entrou com ele na sala de jantar para encontrar todos
esperado por eles. Lady Kirkwood lhe deu um olhar positivamente gélido, e David parecia
amarrado.
Ficou muito claro que seria uma noite muito longa.
Capítulo Treze
David não conseguia se lembrar da última vez que ficou tão frustrado. Charlotte
também poderia estar a quilômetros de distância, sua mãe os colocou tão longe um do
outro na mesa de jantar quanto foi possível.
Pelo menos ela não estava em nenhuma perto do canalha do irmão dele. Em vez
disso, passou o jantar entre Amelia e Lucas, entretida com histórias da vida no Marrocos.
Devia agradecer ao primo por deixar cair que David havia proposto casamento a
Amelia. Caso contrário, não estaria tão seguro dos sentimentos que Charlotte sentia por
ele. Mas não havia dúvida do pouco que ela havia gostado da notícia.
Bom. Era hora dela também ter uma ideia do ciúme que ele teve nos últimos dias.
Quando finalmente levantaram-se da mesa, os homens dirigiram-se para o
estúdio para fumar um charuto, e as mulheres para a sala de estar.
Felizmente, era uma festa familiar, os homens reuniam-se com as mulheres
depois de apenas algumas bebidas. Infelizmente, quando entraram no salão, uma de suas
irmãs o abordou com a proposta de dançar um pouco.
David franziu a testa.
— Isso seria muito inapropriado.
— Bem, você não pode dançar, já que ainda está de luto — disse com petulância
— mas o resto de nós sim podemos.
— Claro que sim — disse a mãe, sempre disposta a deleitar-se de suas filhas. —
David só vai ver, e eu vou tocar a música.
— Mãe, isto não é remotamente... — começou a dizer.
— Oh, não seja tão estirado —disse enquanto tirava as luvas e se dirigia ao piano.
— É entre família, ninguém vai saber. Não é como se estivéssemos dando um baile ou
algo assim.
Pode ser que também tivesse sido assim. No momento, que anunciou que haveria
dança, os demais se reuniram em volta, empurrando para trás as cadeiras, enrolando o
tapete e decididos pela música. Charlotte apenas se mostrou desconfortável com o
esquema, mas David sabia que isso não a impediu de aceitar o convite de Giles para
dançar.
Maravilhoso. Agora tinha que esperar e ver como o maldito irmão a arrastava
através da sala. O mesmo homem cuja incapacidade de manter o pau dentro da calça
tinha sido o responsável de que Charlotte rompesse com David em primeiro lugar. Droga.
Enquanto o par deslizava passo após passo, lhe ocorreu que nunca em todos
esses anos tinha visto Charlotte dançar. Não houve nenhum baile enquanto ela esteve em
Berkshire. As poucas ocasiões em que David a viu em sociedade, desde então, ela esteve
muito ocupada guiando as alunas para aceitar qualquer dança para si mesma.
Uma pena. Ela dançava maravilhosamente. Sua graça eclipsava qualquer outra
mulher. A cascata de cachos castanhos se movia graciosamente a cada passo, e o vestido
azul aglomerava-se em torno dos quadris para dar a aparência de uma flor flutuando na
brisa.
Uma flor que o irmão parecia determinado a arrancar. Sempre que podia, dava
um olhar furtivamente provocante ao seio dela.
David apertou as mãos para não ir até ela e arrastá-la para longe de Giles. Ele se
ocuparia do irmão mais novo mais tarde. Por enquanto, iria se contentar imaginar como
seria estar no lugar do homem, apoiando a mão na cintura fina, sorrindo para aqueles
olhos brilhantes... fazendo-a rir como Giles estava fazendo.
Ela e Giles tinham acabado o circuito final e música do piano estava morrendo,
quando uma comoção no corredor chamou sua atenção.
— Eu não vou esperar, maldito! — Gritou uma voz que ele reconheceu muito
bem. — Quero saber o que está acontecendo lá dentro!
David teve apenas alguns segundos para se recompor antes que um jovem
desalinhado irrompesse na sala, com o rosto vermelho de raiva. Todos na sala
congelaram, exceto Winters, que estava sussurrando a esposa, provavelmente tentando
determinar quem era o homem.
O resto deles sabia muito bem. Richard Linley era o irmão de Sarah. E ele estava
claramente bêbado.
Droga.
— Boa noite, Richard. — David foi ao encontro do cunhado. — O que o traz aqui
esta noite?
— Não posso acreditar! — Richard exclamou. — Você está dando um
baile? Aqui?
A mãe de David levantou-se de trás do piano.
— Não é uma festa, querido, apenas um pequeno assunto familiar.
— Com dança? — Balançando um pouco sobre os pés, deu a David um olhar
acusador. — Seria como dançar sobre o túmulo dela!
A culpa apunhalou a consciência de Davi.
— Não seja bobo, Richard — começou a mãe dele. — Apenas...
— Relaxe, mãe! — David ordenou. Capturou o jovem pelo braço e pediu para
irem até a porta. — Vamos continuar essa discussão em outro lugar, ok?
— Bem, não quer ter problemas na frente de seus amigos, hein? Ela sempre disse
que não se importava com nada, só as aparências!
Escutar a acusação favorita da falecida esposa através da voz do cunhado foi
desconcertante. Não tentou negar, mas terminou de arrastar Richard para fora da sala.
O jovem se soltou dele olhando-o com um ar beligerante.
— Nunca se importou nem um pouco com ela. Nem um pouco!
— E você fez? — Rompeu David. — A convenceu a jogar cartas com você e seus
amigos, a apresentou aos credores. Pode ser que também tenha lhe dado a navalha com
a qual cortou os pulsos.
Nesse momento Richard empalideceu, e David amaldiçoou por deixar-se
estimular por um jovem bêbado e falar tão cruelmente.
Abaixo a voz.
— Perdoe-me Richard. Não foi minha intenção. Culpar os outros não nos faz
bem. Ela se foi, e não há nada que possamos fazer sobre isso.
Quando Richard ajeitou a roupa e olhou para o chão, David relaxou uma
fração. Uma vez que o temperamento do homem enfraqueceu, tentou raciocinar com
ele. Especialmente se poderia trazê-lo de volta a sobriedade.
— Agora — continuou David, — por que está aqui? Não é habitual que você
venha me visitar à noite.
Olhando nervosamente onde vários membros da família de David se assomavam
para ver o que estava acontecendo, Richard disse: — Nós poderíamos ir para um lugar
mais privado?
— Claro. — Dizendo a um servo para levar café ao escritório, David levou o
cunhado para lá. Tinha certeza sobre o que Richard queria discutir, e ele precisava do
homem sóbrio para isso.
Assim que eles entraram, Richard deixou-se cair em uma cadeira e enterrou a
cabeça nas mãos. O gesto lembrou David quando ele era muito jovem.
Aos vinte e três anos, Richard era o irmão mais velho de Sarah e herdeiro do rico
pai banqueiro. Quando David o conheceu, tinha começado a cair regularmente nos maus
hábitos habituais do jovem rico, como bebida, jogos de azar, e libertinagem. Uma vez que
havia atingido a maioridade, no entanto, parecia havia começado a amadurecer. Então
Sarah morreu. Agora que o pai estava no fim das forças para lutar novamente com ele.
Embora inicialmente Linley pai tinha assumido que David não era mais que outro
caça fortuna, o homem mudou de opinião ao longo do tempo.
Depois que David devolveu a fortuna da família, com a ajuda de investimentos
astutos e dinheiro de Sarah, Linley pai começou a consultá-lo sobre assuntos de
negócios. Estavam em tão bons termos, nos últimos anos, que também passou
recentemente a pedir a David assessoria mais pessoal... sobre como lidar com o filho
imprudente.
David temia ter sido de pouca ajuda. A morte de Sarah tinha enviado o jovem em
uma espiral descendente. Como sua querida Sarah, Richard sempre foi a única pessoa na
obtenção de seu afeto. Sem ela, para estragá-lo e acaricia-lo, ele parecia perdido nestes
dias, e nem David nem o pai Linley sabiam o que fazer a respeito.
— O que posso fazer por você está noite? — Perguntou David, nunca sabia se
usava um tom severo ou de indulgencia com o menino. A austeridade não tinha servido
com Giles, mas tampouco indulgência. Alguns homens tinham de ser atingidos a sua
maneira na idade adulta por conta própria. David suspeita que Richard era um deles.
Richard levantou a cabeça e tomou uma xícara de café que o criado tinha trazido,
segura entre em suas mãos, olhando fixamente para aprofunda escuridão.
— Preciso de mil libras. O pai não irá me dar, e pensei...
— Nós vimos na semana passada — disse David com suavidade. — Não me
importo de cobrir suas dívidas num primeiro momento, mas agora seu pai me pediu que
não o faça. Ele diz que só vai manter seu jogo, e não quer alimentar seu vicio.
Os pedidos de dinheiro se iniciaram após a morte de Sarah. Antes disso, Richard
nunca pediu um centavo a David. De acordo com o pai deste, até então ele tinha dívidas
de jogo de pouca importância. Mas por esses dias parecia determinado a seguir os passos
de Sarah. Isto alarmou tanto a David como o fez a Linley pai.
Richard bebeu o copo com tremor.
— Não é para o jogo, eu juro. É... que... bem, há uma menina com quem tenho um
tipo de... tenho um filho, e ela diz que vai contar ao pai se eu não lhe der dinheiro.
— Então ela quer chantagear você, não é isso? — David disse, sem deixar de
mostrar desaprovação no tom.
Uma extensão de rubor apareceu nas bochechas do jovem enquanto ele deixava a
xícara na mesa.
— Não posso deixá-la dizer ao pai. Ele vai me esfolar vivo!
— Muito bem. Envie a menina para mim, e eu vou me encarregar dela.
A expressão de pânico atravessou o rosto de Richard e isso lhe disse toda a
história. O rapaz estava mentindo.
David franziu a testa.
— Certamente você não acha tão tolo para dar mil libras sem conhecer a menina.
Richard levantou-se, com os punhos cerrados.
— Você é tão ruim como pai! Os dois, tão pomposos e seguros de si mesmo. O
dinheiro nem sequer é seu! É de Sarah! Droga! E ela gostaria que me ajudasse. Você sabe
que ela faria!
— Mas eu não sou Sarah. sei que às vezes faz falta uma mão firme para orientar
um jovem. — A mão firme que seu próprio pai tinha exercido. — Vá ver o seu pai. Diga a
verdade. Prometa tudo que precisar, em seguida mantenha a promessa. Essa é a única
maneira de parar com essa loucura.
— Talvez não queira terminar com isso, — Richard disse com um sorriso. — Talvez
não queira acabar como você e ele, velho e assentado e chato.
— Essa é a sua escolha. Mas falando por experiência própria, os jogos de azar, a
libertinagem, e beber podem privá-lo de tanto que depois vai se arrepender de perder.
Claro, as palavras caíram em ouvidos surdos. Normalmente ocorria.
Assim que Richard saiu furioso, David se deixou cair exausto na cadeira atrás de
sua mesa. Porra, às vezes sentia-se velho e chato. Mas era melhor que sofrer as agonias
do remorso pelos erros cometidos na juventude.
Ok, talvez ele não tivesse se salvado disso. Mas se recusou a ficar de braços
cruzados e não fazer nada enquanto Richard cometia os mesmos erros. Ele obrigaria o
homem a ver o sentido... ainda que tivesse que cortar com ele completamente para
conseguir.
CAPÍTULO DEZESSEIS
Ébrio de alegria, David estava na cama com Charlotte em seus braços. Depois de
todos esses anos, ela era dele finalmente. Ele nunca a deixaria ir. Nem sequer deixaria
que o primo Michael se interpusesse entre eles. Desejava nunca ter inventado o
homem. Mas então, nunca teria tido isso com Charlotte, se não tivesse feito o que fez.
— Então, o que é este gesto? — Ela perguntou superficialmente. Havia levantado
a cabeça do ombro dele com um olhar que lhe acelerou o pulso novamente. Uma de suas
pernas surpreendentemente longas estava sobre o joelho dele, e os seios macios se
amoldavam contra seu peito. Tinha seios bonitos, bastante cheios e com mamilos rosados
e sensuais. Só a ideia de prová-los despertou o pau de seu sono.
— Só estava me perguntando quanto tempo teríamos que esperar antes que
pudéssemos fazer isso de novo — disse, acariciando um desses belos seios.
— Poderíamos? — Ela brincou. — Estou pronta agora novamente.
— Eu sei — disse ele secamente. — As mulheres têm toda a sorte. Mas como
muitas vezes acontece, este foi meu segundo desempenho de hoje, então levarei um
tempo maior para me recuperar. — Quando a luz desapareceu dos olhos dela, ele
amaldiçoou sua língua desajeitada e rapidamente levantou a mão. — Conhece a sua
concorrência. Um homem tem que fazer algo para lidar com o desejo , quando uma
determinada mulher o enlouquece. — Quando a compreensão chegou ao rosto dela, ela
deu uma risada trêmula.
— Se você quer dizer o que penso, Lorde Kirkwood, então é muito mal por
certo. — Ele riu entre dentes.
— Sei que não deveria dizer essas barbaridades para uma professora de escola
propriamente dita, mas você chama o demônio que há em mim.
— O que acontece é que você desfruta me deixar chocada, isso é tudo. — Ela se
aconchegou para beijá-lo no pescoço enquanto seu belo cabelo, capturava a luz como fios
de ouro sobre damasco.
Ele passou os dedos ao longo do ombro macio, maravilhado pela perfeição da
pele cremosa.
— Não fique tão chocada.
— Isso é só porque uma professora deve sempre aparentar uma expressão de
serenidade. Caso contrário, os alunos se comportassem mal, só para ver a reação
deles. — A mão brincava no peito dele. — Mas, por dentro, eu lhe asseguro que estou
batendo os nós dos dedos com uma régua. — A ideia despertou sua inclinação travessa
ainda mais.
— Você quer que eu diga o que estava pensando quando estava boxeando com o
jesuíta esta manhã?
— Sobre b-boxeando com o jesuíta? — balbuciou ela. Ele sorriu.
— Isso significa...
— Posso adivinhar o que significa! — Disse, rindo. — Mas levá-lo para a religião é
o que faz parecer ainda mais malvado.
— Esse é o ponto, não? — Eu alisou o cabelo sobre o ombro, seu sorriso foi
desaparecendo. — De qualquer forma, enquanto estava sozinho na minha cama, estava
imaginando você lá também. — Aproveitando o momento, ele acrescentou: — O tempo
todo. Como a minha esposa.
Ela prendeu a respiração e a diversão desapareceu, substituída por uma
expressão cautelosa.
— Você não deve dizer isso. — Ela afastou-se dele. A alegria desapareceu, ele a
agarrou antes que ela pudesse afastar-se.
— Por que não? Eu quero casar com você, Charlotte.
— Você ainda está de luto — disse quando se ajoelhou ao lado dele, prestes a
parar.
— Só por seis meses mais. — Seus olhos se encontraram solenemente.
— E depois o que?
— O que você quer dizer? — Ele sentou-se e cruzou as pernas, de repente, com
dificuldade em respirar.
— Quero dizer, qual o papel que irei desempenhar na sua vida?
— Que papel? — A reação a sua proposta torceu-lhe o estômago em nós. Ele
deveria ter percebido que era muito cedo para propor casamento. O que aconteceu com
ele? No entanto, cometeu um erro. — Acho que você sabe que tipo de papel faz uma
esposa.
— Sim, eu sei. Você esquece que eu já fui uma antes, e particularmente não me
agrada.
Não podia acreditar que ela estava dizendo isso.
— Seria diferente comigo.
— Sério? — Ela mudou de posição, apertando os joelhos contra o peito e
dobrando o corpo nu de tal maneira que parecia modesta como uma freira. Ou, tão
modesta como uma freira possa parecer, se acabasse de sair da cama de um homem. —
O que aconteceria com a escola? — Ela perguntou, com os olhos solenes.
— O que aconteceria?
— A esposa do visconde Kirkwood levando uma escola para meninas? Ou é
esperado dela ser uma viscondessa e nada mais? — Isso o fez perder o equilíbrio.
— Você quer continuar a gerir a escola — disse estupidamente. Ele temia isso,
mas ainda assim... — Se dá conta que posso me dar ao luxo de sustentar uma esposa.
— Claro — disse ela calmamente. — Não foi isso que pedi. — Ele estava em
território perigoso agora, e honestamente não sabia como navegar.
— Tendo em conta as atuais dificuldades financeiras com o lugar, pensei que
fosse possível que preferisse...
— Fechar? Deixar que mergulhe em sua vida para que a única coisa que me resta
seja você?
— Não! — Só Charlotte poderia fazer uma oferta de casamento soasse como um
insulto. — Não me importa a escola. Não tem nada a ver com isso. — Ela se encolheu
como se tivesse sido atingida.
— Tem tudo a ver com isso, para mim.
— Por quê? A fundou para que pudesse se manter.
— Eu a fundei porque acho que as mulheres devem receber uma educação
adequada. Isso significa muito para mim. Pensei que você entendesse isso. — Ele
entendia, especialmente considerando as numerosas cartas que trocadas entre eles. No
entanto, parte dele tinha esperança de que ela estivesse disposta a compartilhar a vida
dela sem a intrusão da maldita instituição.
— Está bem. Você pode mantê-la aberta. Eu não me importo. — Isso significava
convencê-la a mudar a escola de lugar, mas ele poderia lidar melhor com isso se fosse
marido dela. Tenho certeza que poderia encontrar uma diretora adequada para substituí-
la.
— Então sua resposta é que a esposa do visconde Kirkwood não pode administrar
uma escola para meninas. — Não olhou para ele, levantou-se e encontrou a camisa, em
seguida, colocou-a sobre a cabeça. Manteve-se de costas para ele, fechando-se
novamente, o que o deixou louco.
— Por que é tão condenadamente importante que seja você a administrá-la —
Perguntou enquanto também levantava-se e deslizava a calça pelas pernas.
Andando atrás dela, ele a tomou nos braços. Pelo menos ela permitiu isso.
— Quando eu era pequena — sussurrou ela, cruzando os braços sobre os dele —
meu pai sabia exatamente o que eram os meus brinquedos favoritos. E você sabe por
quê?
Considerando o que ele sabia do pai dela, não tinha certeza se poderia suportar
ouvir. — Porque os usava para me controlar. Quando um dia fiz muito barulho ao brincar
com minha harpa de brinquedo, ele me fez ver enquanto ele cortava as cordas da mesma,
uma por uma. Uma vez, quando descia saltitando as escadas com a voz muito alta, ele
pegou minha boneca. - Isto é o que acontece com meninas que não andam em silencio -
disse, e quebrou as pernas dela.
— Oh Deus, Charlotte — disse com voz rouca, agarrando-a mais perto e
desejando que o pai dela ainda estivesse vivo, assim, Davi poderia quebrar suas duas
pernas.
— Quando eu tinha treze anos, mamãe me deu um broche. Era uma bagatela de
cristal azul, mas tinha pequenas manchas de ouro nele e me pareceu muito bonito. Não
fui cuidadosa e o deixei ver o quanto gostava. Eu só o usava quando ele não estava por
perto. Mas, como as crianças, esqueci uma noite e usei no jantar. — Sua voz tornou-se
dura. — Ele estava bêbado, quando sempre ficava mais cruel. Ele disse algo horrível a
mamãe, e a defendi. Então, ele pegou meu broche e esmagou-o sob o calcanhar. — Ela
ficou rígida em seus braços. — Isso me fez perceber que não importa o que eu tivesse. Ele
encontraria e destruiria. Assim isso me ensinou a não apegar-me a nada. Porque, se a
opção era desafiá-lo, ou desistir de tudo o que tinha no mundo, eu sabia que iria desafiá-
lo até o meu último suspiro. — Ela olhou para ele. — Mas depois que Jimmy morreu e
fiquei sozinha e desamparada, eu sabia que tinha que ter um propósito além da
sobrevivência. A escola tornou-se minha razão de viver, minha salvação. Foi a primeira
coisa que me pertencia, só mim. Inclusive minha herança foi essencialmente tirada de
mim por Jimmy. Não era para ser cruel, mas apenas lhe faltava bom senso de como gerir
o dinheiro, e penso que ele passou um bom tempo enquanto durou.
Com o coração na garganta, David esfregou as lágrimas que caíram pelas
bochechas dela. — Construí minha escola para jovens senhoras do nada — disse com voz
rouca. — Coloquei minha alma nisso. E agora você acha que eu deveria... colocá-la de
lado?
— Claro que não — disse ele. — Ao contrário do que você parece pensar, eu não
sou seu pai. Nem eu sou Harris. Eu não quero destruir seus brinquedos ou a escola. Eu
certamente não quero tirar a luz de sua realização. — Olhando para o rosto atormentado,
ele suavizou o tom. — Mas você sabe tão bem quanto eu que uma viscondessa tem
responsabilidades. Quando tivermos que ir ver meus bens, em Berkshire, o que você
pretende fazer? Ficar em Richmond? — Ele a acariciou na bochecha. — E o que
aconteceria aos nossos filhos? Como é que você será uma mãe para eles se está gastando
todo o seu tempo em outros lugares? — O sangue desapareceu do rosto dela enquanto
empurrava para sair dos braços dele.
— Eu nem sei se posso ter filhos — Isso provocou um arrepio na alma dele.
— Claro, que pode ter filhos.
— Eu nunca tive enquanto estava casada com Jimmy. Nem mesmo sofri um
aborto. — Os olhos dela estavam tristes. — E se sou estéril? — Tentando não demonstrar
o quanto a possibilidade sacudiu-o, caminhava pelo fogo.
— Não é mais do que eu suspeito de que seja assim. Não há nenhuma razão para
você ser estéril.
— Mesmo se não fosse, com trinta e seis anos estou velha demais para ter um
primeiro filho. Você sabe. Qualquer coisa pode dar errado.
Ele se virou para ela com um olhar feroz.
— Então Giles pode ser o herdeiro. Que herdará o título e levará o nome da
família. Desde que fiquemos juntos, não me importo.
— Você diz isso agora, mas...
— Porra, não vou parar de dizer isso! — Ele andou até agarrá-la pelos braços. —
Finalmente temos a oportunidade de ficar juntos e deseja estragar tudo!
— Eu não, juro. — Ela tomou o rosto dele entre as mãos, uma lágrima correu pela
bochecha. — Mas tampouco quero saltar sobre algo sem pensar sobre as coisas
antes. Você está de volta em minha vida há apenas três dias.Por que não podemos
apenas continuar como estamos? Como os amantes?
— Porque quero que você, como esposa, não como amante. — Ele cobriu as mãos
dela com a dele. — Não quero ter que ficar as escondidas — disse ele, à caça de algo,
qualquer coisa, para impedi-la de remove-lo e deixá-lo fora. — Não quero estar
constantemente me preocupando com sua reputação e posição, com medo de mostrar às
pessoas que nós pertencemos um ao outro.
— Diga-me uma coisa, David. — Seus olhos brilhantes em direção a ele inundado
de lágrimas. — Você me ama? — A pergunta o balançou. Como ele poderia dizer que ela
havia matado qualquer amor no dia em que enviou aquela carta? Ante a hesitação, ela
murmurou, — eu imaginava — e tentou se afastar. Ele a segurou antes que ela pudesse.
— Certamente você tampouco acredita no amor. O amor é para os jovens. Eles
têm a força para suportar o ambiente natural e a fúria daquelas emoções sem sentido. As
pessoas maduras como nós, com anos de experiência...
— Nós não somos tão velhos, David.
— Você que disse que era para ter filhos aos trinta e seis anos. — Ele olhou para
ela. — Eu diria que definitivamente estou velho demais para ser um estúpido que
contempla o amor romântico. As pessoas da nossa idade não se casam por amor. — Ela
olhou para ele solenemente.
— Então, por que casam?
— Por companhia. Por... respeito mútuo, admiração, carinho. — Ele a beijou nas
mãos.
— E o desejo. Sem dúvida que é certamente uma necessidade para o casamento.
— Me casei sem amor uma vez — disse ela suavemente. — Não preciso fazer isso
de novo. Se vou considerar desistir de tudo pelo que trabalhei, tem que ser por algo mais
do que uma conversa e companhia.
— Você está dizendo que está apaixonada por mim? — Ele perguntou sem
rodeios.
Ela afastou-se dele, cruzou os braços sobre a cintura.
— Eu... eu honestamente não sei. Não tenho certeza se sou capaz até mesmo do
tipo de amor que uma mulher deve ter pelo marido. — Por alguma razão, esse
pensamento o inquietou. Não quis examinar muito de perto porque.
— Então o amor não é uma consideração em absoluto.
— Trata-se de, todavia, você ainda está apaixonado por sua esposa.
— Sarah? — Ele disse, incrédulo. — Ela e eu nunca estivemos apaixonados. Nosso
casamento foi pouco mais que uma transação comercial. Agora você sabe. Ela nunca
fingiu que me amava, nunca disse que queria meu amor. Enquanto eu estivesse de
acordo em levá-la a esfera social que aspirava a juntar-se, ela estava feliz.
— Tem certeza sobre isso? — Prendeu a respiração, lembrando-se da nota de
suicídio de Sarah.
A raiva surgiu, a mesma raiva que tinha se agarrou a ele desde o dia em que ela
morreu.
— Se ela não estava feliz, não foi minha culpa.
— Eu não disse que era — Charlotte disse em voz baixa. Mas ele não viu mais do
que as palavras da nota maldita: Já não posso suportar esta vida intolerável. — Fiz tudo o
que podia para fazê-la feliz. — Sabia que soava como desculpas vazias, no entanto, ele se
sentiu compelido a se defender. — Foi ela quem se recusou a acompanhar-me em todos
os lugares e ela não melhorou sua condição, foi ela não mostrou qualquer interesse em
fazer do nosso casamento algo mais do que uma união fria e formal. Foi ela que me
recusava na cama.
— Você não... vocês dois não... — Ela fez uma careta. Não quis revelar algo tão
pessoal, elaborou que era provavelmente o melhor que sabia o quão vazio que tinha sido
seu casamento.
— Não nos últimos anos. Depois que ela teve dois abortos naturais, disse que não
ia sofrer mais esse "sem sentido" de novo, mesmo que o médico nos disse que não havia
nenhuma razão para acreditar que ela não poderia ter um filho.
Passando os dedos pelos cabelos, juntou-se ao lado dela ante ao fogo.
— Não era como ele foi entre você e eu. Eu não conseguia nem falar com ela, pelo
amor de Deus. Se eu tivesse percebido enquanto a cortejava que tinha tão pouco em
comum com ela, se tivesse buscado além do rosto bonito, o que nunca fiz —se
interrompeu, a culpa tomou conta dele novamente. — Então, como você disse uma vez,
eu todavia, estava totalmente feliz com um rosto bonito.
— Shh — disse ela, tocando os lábios dele. — Nunca tive a intenção de despertar
o sentimento de culpa por você se casar com Sarah. Não deveria ter dito o que disse
antes. Sei que se encontrava entre a cruz e a espada. — Ela lhe deu um sorriso
trêmulo. — Amelia, sem dúvida, teria adaptado melhor. Não foi sua culpa que ela tivesse
outro tipo de homem em mente. — Ele pegou a mão dela e beijou a palma da mão.
— Mas a culpa foi minha por deixar escapar a mulher com quem eu deveria ter
me casado. Eu deveria ter ido atrás de você em vez de incrementar meu orgulho
ferido. — Ele olhou para ela, frustração brotando novamente. — Então agora quer que eu
pague por isso ao se recusar a casar comigo.
— Não! Se eu o fizesse pagar, eu teria que pagar também. Eu fui dez vezes mais
culpada pelo que aconteceu do que você. — Ela o acariciou na bochecha. — Eu me recuso
a casar com você, porque você não sabe o que quer agora. Você ainda está de luto, e
estar sozinho assusta.
Ela se afastou dele, e se dirigiu ao local onde seu vestido estava no chão.
— Eu entendo isso — também vivi —. No entanto, depois de ter estado sozinha
por um tempo, o mundo se torna mais claro. Começamos a entender o que realmente
importa. Só então é seguro tomar decisões importantes sobre a vida e futuro. — Ela
pegou o vestido, e lhe deu um sorriso simpático que o aborrecia. — Por que você acha
que o período de luto é tão longo? Porque leva muito tempo para ordenar a vida depois
de tudo. — Ele foi até ela. Sacudiu o vestido de seus dedos e jogou-o de lado.
— Eu não preciso ordenar minha vida, droga. Eu sei o que quero. Eu quero.
— Está tudo bem. Em seis meses, se você ainda se sentir...
— Seis meses mais não vai mudar o que quero — resmungou.
— Vamos ver — disse ela, com outro daqueles suave sorriso, e se afastou. Ele a
agarrou pelos ombros, com as mãos, forçando-a a encará-lo.
— Então ser uma amante é tudo o que você quer, é isso?
Ela fixou o olhar em algum lugar perto de seu pescoço.
— Por enquanto.
Podia acreditar que tinha a vida em ordem, sabia exatamente o que queria, mas a
forma como tinha quebrado quando fizeram amor, mostrou que ela não era tão firme
como pretendia mostrar. Ela estava com medo de confiar nele, de confiar nisto. E talvez
com razão, por causa do passado. Então ele teria que derrubar o muro de incerteza e
medo. E não conseguia pensar em uma única maneira de fazer isso.
— Muito bem — disse com firmeza. — Então, por agora, seu amante está pedindo
que passe o dia com ele. Nós ainda nem comemos. — Ele assentiu com a cabeça em
direção a cesta de piquenique.
— Eu... eu realmente deveria voltar.
— Eu não vejo por que — disse, encorajado por seu nervosismo. Ele sabia
exatamente o tão suscetibilidade era para ele, e Charlotte foi muito boa em fugir do que
temia.
— Meus criados se perguntarão onde...
Ele a interrompeu com um beijo, desfrutando quando ela não só respondeu, mas
permitiu aprofundá-lo. Roçando as mãos por trás dela docemente, a arrastando contra
sua ereção crescente, esfregando-se contra ela. Só quando deslizou seus braços ao redor
da cintura dela teve que tirar a boca da dela para pressioná-la contra a sua orelha.
— Quero você de novo, amor. — Ela soltou uma risada atordoada.
— Eu posso afirmar isso.
— Então, — ele murmurou, — você realmente tem que ir... agora? — Ele chupou
a pele delicada de seu pescoço enquanto acariciava um dos seios. Sua respiração tornou-
se irregular.
— Mmm... talvez... eu poderia ficar um tempo... mais.
— Bom. — Ele a levou para o chão em frente da lareira. — Você ainda não viu a
casa, depois de tudo.
— Isso é verdade — ela engasgou, com as mãos agora passando por seu traseiro
assim que eles foram escorregando um contra o outro febrilmente. — Seria uma
vergonha... vir aqui... e... não ver a casa.
— Completamente uma vergonha — disse ele com voz rouca, em seguida, rolou
em cima dela.
Mas, a medida em que se derramou nela e colocava a camisa, ele sabia que isso
era apenas uma trégua. Não podia ficar com ela na cama por tempo indeterminado. Logo
teria que pressionar a questão do casamento novamente. E se pensava que iria esperar
seis meses para ser sua esposa, ela estava louca.
CAPÍTULO DEZESSETE
Quando saíram da casa do Senhor Stoneville, Charlotte percebeu quão baixo o sol
estava no céu. A única coisa que sabia exatamente era onde esteve o dia todo o
cavalariço de David, este lhe assegurou que o garoto era confiável para guardar
silencio. Mas, todavia teria dificuldade em explicar por que ficou tanto tempo sem revelar
que ela e David ficaram visitando propriedades. Ela não queria que seu pessoal soubesse
sobre a possível assinatura no momento.
Por outro lado, ela não queria que adivinhassem o que ela e David tinha feito a
maior parte do dia. Um delicioso arrepio percorreu sua espinha. Ela certamente tinha
escolhido seu amante também. A segunda vez foi ainda melhor do que a primeira. Ele
tinha tomado seu tempo, beijando cada centímetro de seu corpo e a levou até o limite
uma e outra vez antes de finalmente se juntar a ela em um êxtase tão explosivo que não
parecia real. Depois de comer o sumptuoso almoço, sob a forma de alimentos para uma
rainha.
Sorriu para si mesma. David certamente sabia como mimar uma mulher.
Quando eles terminaram de comer, visitaram a propriedade, mas quase não
lembrava. Entre os doces beijos e carícias, era difícil prestar atenção. E, embora os
estábulos fossem tão impressionantes como ele havia prometido, a única coisa que se
lembrava deles era de David tomando-a novamente, duro e rápido sobre o feno.
— Então, o que acha? — David perguntou com voz rouca. Ela piscou.
— Não posso acreditar que você esteja me perguntando isso. Você realmente
precisa saber?
— Bem, sim. — Tentando não corar, ela olhou para a estrada e continuou falando
baixinho para que o menino não pudesse escutar.
— Certamente, você sabe muito bem o amante magistral que é. Acho que o
número de vezes... já sabe... que fizemos deveria ter demonstrado isso.
Ele riu.
— O que quero dizer é o que acha da casa?
— Oh? — O calor alagou suas bochechas. — Isto é certamente embaraçoso.
— Não para mim — disse ele, rindo, em seguida, fez uma reverência. — Você foi
magnífica, de fato. Na verdade, acho que eu vou dizer a Stoneville que terei que visitar o
imóvel de novo. — Olhou o seio dela. — Já que não tive a chance de ver sua beleza para
minha inteira satisfação.
— Você seria capaz de enganar seu amigo apenas para que você e eu... nós...
— Claro. Stoneville vai Tattersall as terça-feira. Está bom para você terça-feira? —
Ela olhou para ele com desconfiança.
— Você é muito mau, Senhor Kirkwood.
— Certamente espero pela terça-feira — disse naquele tom sedutor que vibrava
ao longo de seus sentidos. Seguiram em silêncio por um tempo. Então ele se inclinou para
sussurrar: — Então sou um professor amoroso, não sou?
Com um novo olhar sobre o menino ela disse entre dentes: — Comporte-se.
— Tarde demais para isso. — Ele pressionou a boca contra a orelha dela. — Diga-
me, querida, como posso me comparar com seus outros amantes? — Ela revirou os
olhos. Os homens podiam ser tão ridiculamente competitivos.
— Que outros amantes? — Ela disse em voz baixa. — Além de meu marido, não
houve outros. E agora, por favor, preste atenção à estrada, antes de terminar em um
buraco.
Sorrindo, ele se moveu novamente.
— Sou o único desde de Harris, hein? Interessante. — Ela adoraria saber por que
ele achou tão interessante. Mas não iria perguntar isso tendo um rapaz sentado apenas
trinta centímetros atrás deles, mesmo que provavelmente não pudesse ouvir uma palavra
através do vento e do barulho dos cascos do cavalo.
— Então o que acha da propriedade de Stoneville? — Perguntou David depois de
um momento. Ela tentou lembrar o que tinha visto do lugar, mas tudo que conseguia
pensar era que era um excelente lugar para fazer amor. — Sem dúvida, é grande o
suficiente. Apesar de ter notado um odor químico estranho em um quarto...
— Provavelmente, foi em um dos que costumava ter partes de óxido nitroso —
Lord Stoneville era conhecido por seus assuntos selvagens onde seus amigos absorviam o
gás inebriante para o prazer.
— Essa era a casa? Meu Deus, eu nunca teria imaginado. — Ela lhe dirigiu um
olhar. — Alguma vez?
— Se fui as festas dele? Uma ou duas vezes. ? Por quê?
Um calafrio percorreu sinuosamente as costas dela. No ano passado, o primo
Michael tinha escrito para alertá-la sobre um escândalo pela participação de uma de suas
professoras em uma celebração de óxido nitroso em Stoneville.
— Esteve presente no caso em que Anthony e Madeline estavam juntos? —
Sacudindo as rédeas para colocar os cavalos ao trote, ele franziu a testa.
— Foram a uma das festas de Stoneville? Realmente? Posso ver Anthony fazer
isso, mas não parece se algo a esposa dele viesse a fazer. — A surpresa dele parecia
genuína.
Ela suspirou. O que estava pensando? Ela já tinha decidido que David não poderia
ser o primo Michael. E, certamente, se fosse, ele teria dito a este ponto.
— Eu sei. Foi muito estranho. Foi antes do casamento também.
— Ah —. Ficaram em silêncio. Havia algo tão confortável ficar ali sentada ao lado
dele, observando-o guiar tão habilmente o faeton. Ainda assim, não podia acreditar que
ele tinha proposto casamento. Se algo a convenceu que ele havia deixado o passado para
trás foi isso.
Estava sendo tola por recusá-lo? Insistiria em que permitisse a continuar escola?
Talvez. No entanto, a ideia de se tornar nada mais do que um ornamento na vida dele, de
não ter seu próprio lugar e não ter destino para além do cumprimento das obrigações
sociais, a apavorada. A mãe dela deixou que essas obrigações drenassem a vida dela em
seus esforços para agradar o marido cruel. E, embora David fosse tão diferente do seu pai
como um homem podia ser, ele ainda era um homem que ainda poderia usá-la para estar
no controle de tudo e todos em seu domínio. Charlotte não poderia deixar de lembrar as
queixas de Sarah sobre o controle apertado sobre o dinheiro. Claro, teve uma boa razão
quanto a Sarah, mas ainda assim...? Charlotte realmente queria desistir de sua
independência por ele?
Inclusive se fosse um ditador benevolente ainda seria um ditador, depois de
tudo. E o problema das crianças era insuperável. Ele havia dito que não se importava se
ela lhe desse um herdeiro ou não, mas mentia. Tinha certeza disso.
— Meu Deus! — David não disse nada.
— O que acontece?
— Peguei o caminho mais rápido de Acton a Richmond. Eu não estava
pensando. Agora vamos ter que atravessar o Tâmisa pela balsa.
— Pela balsa — repetiu ela em voz oca. Ela estaria em um barco, com cavalos e
uma carruagem. Só o Senhor poderia salvá-la.
— Vou dar a volta. Vamos voltar por onde viemos. É um pouco mais, mas...
— Não, já está tarde demais. Podemos ir pela balsa. Vou ficar bem.
— Está certa disso? — Ela balançou a cabeça e forçou um sorriso. Mas quando se
aproximaram do Tamisa e começou a ouvir o barulho das águas, o ritmo do seu coração
triplicou. Ela tinha visto as balsas fluviais nos rios. Não eram muito seguros. O que
aconteceria se os cavalos entrassem em pânico? Ou, Deus me livre, se a balsa virasse e
ela ficasse presa sob ela? Poderia ocorrer. Histórias de tais acidentes apareciam nos
jornais o tempo todo...
— Vamos para o outro lado —. David virou o Faeton para o lado.
— O Quê? ? Por quê? — Ele agarrou a mão dela e apertou-a.
— Sua pele está como gelo, está tremendo violentamente, e perdeu toda a
cor. Não vou fazê-la atravessar isso quando levaremos somente cerca de trinta minutos
para ir para Kew Bridge. — Ela tentou em vão esconder o suspiro de alívio.
— Você acha que é muito?
— Não, é pouco —. Ele entrelaçou os dedos com os dela. — Como posso passar
mais tempo com você? — Um nódulo tinha ficado preso em sua garganta. Quando se
comportava dessa maneira, a ideia de se casar com ele não parece tão difícil.
Aqueles que sabiam de seu medo de água geralmente ignoravam ou zombavam
dela.
Não David.
Ele a confortava, a tratava com cuidado. Quantos homens fariam isso?
No momento em que chegaram a escola, ela estava começando a se perguntar se
tinha sido muito precipitada ao rechaçar o pedido de casamento. Ela o tratou cruelmente
alguns anos atrás, mas em vez de tentar prejudicá-la, tinha voltado para ela.
Isso era incompreensível. Como um homem se comportava assim?.
O sol estava baixo quando se deteve frente a construção para encontrar um coche
esperando na unidade. Ela o reconheceu, inclusive antes que um homem descesse
dele. O Sr. Pritchard. E ele estava com a testa franzida. Isso não poderia ser bom.
— Já esteve em uma pequena carruagem, senhora Harris? — Ele disse com um
sorriso vulgar quando David a ajudou a descer. A mão de David apertou a dela antes de
deixá-la ir, provavelmente, advertindo-a que contivesse a língua. Ela não precisava que
alertasse para o que viria com Pritchard.
— O que quer? — Perguntou sem rodeios. O olhar do Sr. Pritchard se estreitou.
— Quero que fique fora do meu negócio. Como resultado de sua intromissão com
Watson nesta manhã, começou a reconsiderar a sua decisão de me comprar Rockhurst.
— Bom. — Isso aliviou um pouco a pressão sobre seu peito dos últimos dias.
— Oh, não se preocupe — o convenci de que seria um tolo em perder esta
oportunidade. Mas se eu ouvir mais uma vez que está interferindo em meus assuntos...
— Ele fez uma pausa para olhar a David. — Os dois vão se arrepender.
— Como você ousa! — Ela exclamou. — Senhor Kirkwood não tem nada a ver com
isso. Se você tiver um problema com a forma como eu levo o meus assuntos, diga a mim.
— Charlotte — David disse, — por que não entra, e assim posso falar com o Sr.
Pritchard sozinho?
— Claro que não! Esta é a minha escola, e eu sou a única que vai lidar com seus
problemas. — O Sr. Pritchard a ignorou e se concentrou em David.
— A mantenha longe do meu parceiro de negócios, se você sabe o que é bom
para você.
Para a surpresa dela, David disse: — Farei o meu melhor. Enquanto você vai ficar
longe dela.
— Com prazer. — Enquanto o Sr. Pritchard se afastava e entrava no veiculo,
Charlotte virou-se para David, horrorizada.
— Você assume demais, senhor —disse entre dentes, olhando o transporte
Pritchard afastar-se.
— Você não me deixa escolha. — Olhando para onde os lacaios estavam
assistindo ao confronto, David agarrou-a pelo braço, em seguida, empurrou-a para o
jardim como se fosse uma menina com a qual raciocinar. Embora estivesse furiosa,
esperou até que estivessem fora da visão e da audição dos criados antes de se virar para
ele e permitir que ele visse sua raiva.
— Você não tem o direito de se intrometer nos meus assuntos!
— Eu não quero me intrometer. — O sol iluminava as feições duras de seu
rosto. — Mas antagonizar Pritchard não é certo para os seus interesses.
— Por que não? — Ela cruzou os braços sobre o peito. — Funcionou, não?
— Você estava ouvindo? Não funcionou em absoluto. Ele convenceu Watson a
continuar com a compra.
— Sim, mas agora o homem está pensando duas vezes. Vamos ver se continuará
tão complacente quando eu reclamar com a junta de licenciamento. E os meus amigos
escreverem uma petição.
— Confundindo o inferno, Charlotte — disse enquanto a agarrava pelos ombros,
— Não vou deixar você confrontar Pritchard!
Ela olhou para ele, um arrepio a percorreu pelas costas.
— Não fará o que?
Como se tivesse percebido que tinha dito, ele deixou cair as mãos.
— Eu não quis dizer isso da maneira que parece.
— Espero que não. Porque parecia que você estava tentando me forçar a desistir
de salvar a escola.
Seu estômago embrulhou.
— Na verdade, parecia há poucos minutos, como se você tivesse feito algum tipo
de pacto com ele. Sobre mim. Um pacto que não tinha o direito de fazer.
Seu rosto ficou escuro.
— Estou pensando apenas em sua segurança, caramba. Ele não é um homem
bom? Você sabe o que quero dizer? Você não pode confiar nele.
Sua preocupação por ela suavizou a ira apenas uma fração.
— Seja como for, isto não é preocupação sua. O legado de Sarah não lhe dá o
direito de ditar como eu cuido do meu negócio.
— Me dou conta disso.
— E tampouco compartilhar minha cama. — Se obrigou a mostra uma calma em
sua voz que não sentia. — Sugiro que você lembre-se que na próxima vez que interferir
entre mim e meus assuntos escolares.
Seu olhar se acendeu quente e cheio de desgosto. — Eu me importo com você,
por isso vou expressar minhas opiniões. Você vai ter que se acostumar com isso.
— Simplesmente não ultrapasse sua autoridade, e tudo vai ficar bem. — Seu
queixo se sobressaia.
— Agora, se me desculpa, estive fora por muito tempo, e há certamente uma
série de questões pendentes a minha atenção. — Virando nos calcanhares, começou a
sair, mas ele agarrou pelo braço e a virou de volta para ele.
Antes que pudesse reagir, ele a tomou em seus braços e segurou seu queixo com
mão de ferro. Em seguida, beijou-a com força, com a boca exigindo entrar na dela com tal
fervor que rapidamente encontrou-se enfraquecida pelo assalto, até que, com um
gemido o deixou entrar. O beijo devorador agitou as brasas fumegantes de sua vida
sexual mais cedo ante a lareira, e em um momento ela tinha o pulso acelerado e o sangue
latejando em seus ouvidos.
Só então ele inclinou, afastando-se do beijo com um olhar melancólico.
— Tome cuidado amor. Eu não sou um cachorrinho que pode dar tapinhas na
cabeça e enviar para passear sempre que não gostar do que tenho a dizer. Você me fez
parte de sua vida hoje, e eu pretendo ficar bem no meio dela. Este é claro?
— Perfeitamente —. Ele começou a soltá-la, mas ela o agarrou pela gravata e
puxou-o para ela. — Mas não fique entre mim e minha escola. Está claro?
Embora seus olhos brilharam, ele fez um gesto conciso. Desta vez, quando se
virou para sair, ele a deixou ir, mas seguindo-a de perto. Quando eles chegaram ao
faeton, ele murmurou: — Eu virei na terça-feira às dez. — Sem sequer dar a ela uma
chance de protestar, saltou no assento, tomou as rédeas, e colocou o faeton para a
frente.
Tinha quase decidido correr atrás dele e dizer-lhe que ele poderia esquecer mais
interlúdios privados em Stoneville. Mas, dado ao estado de excitação em que ele a havia
deixado após apenas um beijo, seria como cortar o nariz para ofender o seu rosto.
Muito bom. Talvez seria bom desfrutar desse desejo louco de seguir sendo sua
amante. Ela impôs as regras de sua associação, e ela veria se poderia seguir.
Se não pudesse, ai dele! Ela estava completamente no comando de sua própria
vida, por isso, se ele estava tentando se por em seu caminho, ela o deixaria o exausto.
CAPÍTULO DEZOITO
David montou de volta a cidade em um acesso de fúria. Tinha a esperança de
alcançar Pritchard no caminho, mas, aparentemente, o homem tinha virado na estrada
em algum lugar.
Não importava. David iria encontrá-lo amanhã e avisá-lo para ficar longe de
Charlotte.
Como avisar a Charlotte para manter-se a distancia não funcionava, ele tinha
apenas a si mesmo para culpar por isso. Já que ela não sabia a verdade, não tinha
nenhuma razão para suspeitar que Pritchard tinha planos para a propriedade da escola
também.
David cerrou os dentes enquanto trafegavam pelas ruas apinhadas. O idiota não
via que provocá-la era desastroso? A faria resguardar-se e combater, ao invés de aceitar o
inevitável. David conseguia entender por que, depois do que ela lhe contara sobre as
crueldades do pai, mas não mudava o fato de que a oposição dela poderia ser
desastrosa. Se ela continuasse lutando contra Pritchard, ele não teria mais escolha do que
lhe dizer a verdade.
Deixou escapar um gemido. Podia imaginar o que viria. Anos de mentiras teriam
de ser explicados. Seu esquema geral de vingança sórdida surgiria.
Ela iria desprezá-lo. O que ele tinha feito se assemelhava muito as manipulações
cruéis que o pai dela havia praticado.
Como alguma vez poderia confiar nele de novo?
No momento em que chegou na casa da cidade, estava de mal humor. Já era ruim
o suficiente que ela houvesse rejeitado sua oferta, mas ele conseguiu que ela se
resguardasse também. Charlotte estava resultando quase tão difícil de lidar como ele
temia.
Subiu os degraus até a porta principal, mas esta não abriu-se como de costume.
Usando sua chave para entrar, escrutinou o interior e pegou George, o primeiro
lacaio, tirando um cochilo em uma cadeira. Embora o homem costumasse a fugir do seu
dever comumente, David geralmente dava a mínima, mas nesta noite, lembrou-se de um
lapso muito mais atroz, um em que havia discutido com George por dois dias.
Fechando a porta, viu como George acordou como um raio, e, em seguida, ficou
de pé alarmado.
— Milord! Eu não... isso é...
— Gostaria de ter uma palavra com você em meu escritório, George.
O homem empalideceu.
— Sim senhor.
David marchou até as escadas para o escritório com George seguindo-o. Quando
entrou e David disse-lhe para fechar a porta, o lacaio o olhou como se fosse desmaiar.
— Milorde, — começou a dizer — eu sei que não deveria ter caído no sono, mas...
— Esta não é a razão pela qual o chamei aqui. — David ficou de pé atrás da
mesa. — Duas noites atrás, fui abordado por Ned Timms. Você sabe quem é?
George empalideceu ainda mais.
— Não senhor.
O inferno se não sabia.
— Ele é um agiota. E parece que adquiriu as safiras Kirkwood em algum momento
antes da minha esposa morrer, quando ela aparentemente dei a ele como garantia para
financiar seus jogos.
— Eu... eu não sei nada sobre isso, meu senhor.
— Tem certeza? Alguém a acompanhou a Spitalfields, onde o homem faz
negócio. Como primeiro lacaio, você teria que ser essa pessoa.
O lacaio já estava balançando a cabeça.
— Não, senhor, nunca teria permitido que sua senhoria fosse a esta parte da
cidade, eu juro. — Ele se engasgou. — Talvez o irmão dela a tenha levado. Eles muitas
vezes saiam juntos.
Era plausível, mas David não acreditava que fosse o homem. Algo sobre George o
incomodava por um longo tempo. Ele não tinha certeza do porquê.
— Muito bem. Vou perguntar ao meu cunhado sobre o assunto. — Inclinou para
colocar as mãos sobre a mesa. — Mas se eu descobrir que você era a pessoa que a levou
até lá, e escondeu e que está mentindo sobre isso agora, será demitido sem qualquer tipo
de referências. Entendeu?
— Sim, senhor — queixou-se ele. Que havia começado a suar profusamente.
David aplacou o olhar.
— Será melhor se me disser a verdade. Posso ser tolerante, especialmente por
causa de quão persuasiva minha esposa poderia ser quando queria alguma coisa de um
homem.
George respirou com força, mas seu olhar nunca vacilou.
— Isso é certo, senhor. Mas não a levei a este lugar. Eu juro.
A intuição de David dizia que o homem estava mentindo, mas precisava de provas
antes de agir. Ele não acreditava em demitir criados sem motivo.
— Está tudo bem. Você pode ir. — Depois que o homem saiu, David se deixou cair
na cadeira atrás da mesa. Mais uma vez, lembrou-se de quão pouco conhecia a
esposa. Olhou ao redor, o que tinha sido seu refúgio durante o casamento.Talvez não
devesse ter passado tanto tempo naquele lugar. Talvez devesse ter feito um esforço
maior com Sarah.
Mas depois do primeiro ano de casamento, achava cada vez mais difícil suportar a
companhia dela. Em vez disso, ia ao escritório para fazer seus projetos de arquitetura e
revisar os investimentos. Isso era tudo o que lhe dava um propósito além da bebida e o
jogo sem sentido em que seus amigos participavam haviam sido sua salvação.
A escola tornou-se minha razão de viver, minha salvação.
Estremeceu, lembrando as palavras de Charlotte. Estava começando a entender a
determinação dela em proteger a academia. Às vezes tinha que proteger o único canto de
vida onde reina a sanidade.
No entanto, o lugar estava à beira do desastre e só poderia salvá-la se ela seguisse
seu conselho.
Mas por que faria isso? Aos olhos dela ele era um intruso, alguém que tinha
reaparecido em sua vida e poderia fugir com a mesma facilidade. Mesmo o fato de que
ele a queria como esposa só a fez desconfiar. Ele estava pedindo a ela para renunciar a
muito, afinal de contas, o que ele poderia oferecer em troca não era nada mais que a
segurança do casamento. Dado que o casamento de Charlotte tinha terminado em
desastre e também o dele, por que ela deveria confiar nisso?
Começou a pensar que a única maneira que ele poderia ganhá-la era fazendo
concessões que ele não tinha certeza se estava disposto a fazer.
Eles só mantinham comunicação através de notas, como David não queria que o
advogado corresse o risco de encontrar Charlotte em sua casa na cidade.
Não teria sentido se ela perguntasse por que David tinha assuntos com o mesmo
advogado que o primo Michael.
Baines geralmente reservava a palavra urgente para assuntos graves e David
perguntava-se o que poderia ser, quando seu irmão entrou na sala de café da manhã e foi
direto ao bule de café no aparador.
— O que você está fazendo aqui? — Perguntou David, untando generosamente o
pão. — Não me diga que perdeu o seu alojamento de solteiro novamente.
— Não, aqui ficava mais perto, e tenho que estar no tribunal hoje cedo. Não
queria ir todo o caminho a Chelsea, para depois de ter que fazer todo o caminho de volta
esta manhã. — Levando o bule para um lugar à mesa, encheu uma xícara com as mãos
trêmulas, em seguida, bebeu profundamente dela. — Tenho de parar de gastar minhas
noites na folia. Eu estou ficando velho demais para isso.
— Eu já ouvi isso antes — disse David secamente. — Muitas vezes.
— Estou falando sério desta vez. Não mais farras.
— Milorde — a voz do mordomo na porta, tão forte que fez David fazer uma
careta de dor. — Há um Sr. Jackson Pinter do Gabinete do Juiz Great Marlborough que
precisa vê-lo. Ele diz que é um agente da Bow Street.
Antes que David pudesse reagir, a cabeça de Giles se virou.
— O que ele quer?
— Mande-o entrar — disse David ao mordomo. Quando o servo saiu
rapidamente, David olhou o irmão. — É possível que tenha algo a ver com Richard. —
Ou com Timms.
— De qualquer forma, é melhor você me deixar lidar com isso, — disse Giles. —
Eu interrogo essas pessoas no tribunal o tempo todo. Sei como eles funcionam.
— Muito bem —. Seu irmão tinha um ponto.
Pinter Jackson provou ser um homem alto, com aspecto de lobo com espessas
sobrancelhas negras e um maxilar angular. Parecia muito jovem para ser um agente da
Bow Street. Até começar a falar com voz mundana que tinha um tom estranho. Eles
começaram a levantar-se, mas ele apressou-se a dizer: — Por favor, não preocupem-se.
Na verdade, sinto muito incomodar Sua Senhoria no café da manhã.
Suas palavras eram obsequiosas. Mas seu tom não era assim. Mostrava uma
arrogância que David achava incomum para um homem de baixa condição como Pinter
olhou para Giles, em seguida, de volta para David. — Se eu puder falar com Vossa
Senhoria — a sós.
— Eu sou irmão dele — cortou Giles — E também sou seu advogado. Do que se
trata isto?
O rosto de Pinter teve uma mudança sutil, cada vez mais vigilante. A expressão
dele ficou tão suave como o pano de linho branco sobre a mesa.
— Só estou aqui para esclarecer uma pequena questão sobre a morte da esposa
de sua senhoria.
— Sarah? — disse David, um calafrio de apreensão subiu pelas costas. — Estou
feliz em ajudar de qualquer maneira que puder, mas não tenho certeza sobre o que há
para discutir. — Ele apontou para uma das cadeiras como. — Posso oferecer-lhe um café,
senhor? Torradas e geleia?
— Não, obrigado, meu senhor, — disse Pinter, que não quis se sente. Em vez
disso, colocou um grande saco na mesa ao lado de David, abriu e tirou uma folha de
papel, que deslizou diante de David. Era uma folha de armarinho com a assinatura de
Sarah na parte inferior.
— Para seu reconhecimento — Pinter perguntou — esta é a assinatura de sua
esposa?
Para seu reconhecimento ? David deu um olhar superficial.
— Parece ser sim.
O homem puxou outro pedaço de papel. Quando David reconheceu, seu coração
começou a bater forte.
— E isso — disse Pinter, expondo a nota de suicídio de Sarah, que as autoridades
tinham mantido após a investigação. — Também é a assinatura de sua esposa?
— É claro —. David lutou contra a bile que subiu ao ver a nota. Por um momento,
o rosto sem vida de Sarah brilhou em sua mente desenhada em um repouso inquietante,
o corpo vestido flutuando na água manchada de sangue como uma folha em um arroio.
Com um esforço, eu sacudiu a lembrança horrível.
— Isso com certeza é a assinatura dela? — Espetou o homem. — Pense bem antes
de responder, Milorde.
— Qual é o propósito destas questões, senhor? — Disse Giles de perto com o
cenho franzido.
— Dois dias atrás recebi uma comunicação de um cavalheiro alegando que a nota
de suicídio era falsa. Ele disse que não ostentar a verdadeira assinatura de Sua Senhoria.
O ar permaneceu preso nos pulmões de David com a sensação de que Sarah tinha
vindo do além para fechar as mãos frias em sua garganta, mas ele se forçou a ficar calmo.
— Quem foi o - Senhor- que fez esta afirmação? — Rompeu Giles.
— Não tenho a liberdade de dizer senhor.
David olhou para as duas notas.
— A letra parece idêntica.
— À primeira vista, sim. Mas tivemos um especialista em falsificação a examinar
os dois documentos, e ele garante que diferem em áreas marcadas. A dona da loja de
miudezas viu sua esposa assinar a fatura com seus próprios olhos, a nota de suicídio tem
de ser uma falsificação. Afinal de contas, ninguém a viu escrevê-la, certo?
David lutava para respirar, pontos negros se formavam diante de seus olhos,
enquanto tentava examinar as notas. Se a nota de suicídio era uma falsificação...
— Então, você está dizendo? — Giles exigiu.
— Suspeito que Sua Senhoria sabe o que estou dizendo.
O olhar de David saltou a Pinter.
— Considera que ela não se suicidou em absoluto.
— Exatamente, meu senhor. — Seu olhar afiado sobre David. — Agora somos da
opinião de que foi assassinada.
O coração de David bateu no peito. Quem iria querer matar Sarah?
— Você tem algum suspeito?
— Uns poucos — disse o homem suavemente. — Então devo pedir-lhe que me
responda com sinceridade, Milorde. Tem certeza de que a assinatura é de sua
esposa? Talvez quando a encontrou naquele estado e pensou em como se livrar de uma
suja investigação por assim dizer, amarrando as coisas mais claramente?
David ficou espantado com o homem.
— Porra, eu não escrevi essa nota, se é isso que você está insinuando, senhor. Eu
nunca alteraria a verdade de tal falta dessa maneira.
Quando Pinter tirou um caderno para escrever algo, David lutou para conter seu
temperamento. Não era o momento para explodir.
— Até este momento — David continuou — acreditava que o documento havia
sido elaborado pela minha esposa. Na verdade, até ouvir outra coisa de alguém, além de
você e sua “fonte”, vou continuar assumindo que assim foi.
Olhando para as notas sobre a mesa, Giles as examinou.
— Houve uma investigação sobre a morte dela, e se bem me lembro, nada de
inconveniente foi encontrado.
— Você também deve se lembrar que o juiz de instrução estava na Escócia na
época — Pinter disse — e não podíamos esperar o retorno dele para realizar a autópsia.
Infelizmente, apesar de seu aprendiz ter tomado excelentes notas, as conclusões tiradas
sobre a morte, segundo o legista podem estar provavelmente erradas.
A cabeça de Giles virou.
— Que tipo de conclusões?
— Havia pétalas de lavanda do banho em seu estômago e pulmões. O jovem
aprendiz, disse que ela deve ter deslizado sob a superfície uma vez que morreu, porque
bebeu da água da banheira.
Pinter deu uma olhadela velada a David. — No entanto, experiências recentes em
afogamento têm mostrado que a água não entra estômago ou pulmões de uma pessoa,
sem ser engolido ou aspirado por uma pessoa viva. O medico forense suspeita que foi
afogada e depois cortaram os pulsos para fazer com que parecesse suicídio.
A premeditação deste tipo de coisa deixou David de garganta ressecada.
— Bom Deus — disse ele com voz rouca.
Abrindo o pequeno livro de novo, Pinter disse casualmente: — Segundo a
pesquisa, você declarou que tinha ido dar uma caminhada à noite. É isso correto,
Milorde?
Levantando-se, Giles olhou para o homem.
— Espero que você não esteja dando a entender que meu irmão assassinou a
esposa — Bramou Giles. — Ele é um membro respeitado da comunidade e um par do
reino. Então, se você acha que seria insensato como...
— Sente-se, Giles — disse David. — O homem está apenas fazendo o dever
dele. — Encontrou com o olhar de Pinter em ângulo reto. — Eu estava aqui até pouco
antes das dez. — Havia ficado esperando Sarah retornar de um baile para confrontá-la
sobre os rumores de que ela ainda estava jogando Faraó apesar dele ter proibido. — Bem,
sim, fui para uma caminhada. Não retornei até a meia-noite. Pergunte a meus criados e
descobrirá que muitas vezes vou caminhar à noite. Irá clareia minha mente.
Pinter escreveu algumas notas.
— Alguém o viu enquanto esteve fora?
Ele hesitou por um momento antes de dizer: — Não.
O Sr. Keel, o recepcionista da noite na oficina de Baines, o havia visto, porque foi
lá que David tinha ido para dar ao homem uma carta para Charlotte. Mas revelar aquele
pequeno pedaço de informação abriria toda sua vida à frente deles, para não falar em
arrastar Charlotte neste assunto.
Isto era intolerável. Se fosse necessário revelar seu paradeiro naquela noite, o
faria, mas não falaria até que não tivesse escolha. Charlotte devia ficar fora deste
assunto.
— Quando cheguei em casa — David continuou, — descobri que minha esposa
havia retornado também. Então chamei a governanta para que abrisse a habitação da
minha esposa porque estava trancada. Uma vez que juntos encontramos minha esposa,
perto da meia-noite, não vejo como posso ser considerado um suspeito.-
— Não havia uma porta contigua que conduze ao seu dormitório, não é, não
estava lá?
— Sim, e também estava trancada por dentro.
— Mas certamente você tem a chave.
David cerrou os punhos sob a mesa.
— Ela me pediu a única chave que eu tinha há alguns anos, e dei a ela. - No dia
que o baniu da cama dela. — Por que você acha que tive que recorrer à empregada para
abrir a outra porta?
Franzindo a testa, o homem escreveu algo em seu caderninho.
— O que o motivou a entrar no quarto dela quando estava trancado?
— Era sobre um assunto que eu queria discutir com ela, e ela não estava em casa
mais cedo. Quando bati na porta, ela não respondeu.
— Que era exatamente o assunto?
Giles levantou-se novamente.
— Essa conversa acabou, Sr. Pinter. Até que você tenha algo mais substancial do
que a suposição e conflito dos investigadores, sugiro que você deixe meu irmão ter seu
luto em paz.
— Não me importo de responder às perguntas — David disse com a voz mais
calma que conseguiu reunir. — Eu não fiz nada de errado.
Pinter guardou a caderneta no bolso.
— Obtive tudo que quero saber, por agora, de qualquer maneira. — Pegou as
cartas para colocá-las de volta na carteira.
— Espere — disse David. — Deixe-me olhar novamente.
Ele tinha visto a nota de suicídio apenas uma vez, na noite da morte de
Sarah. Quando a leu, só estava meio consciente do que estava lendo ao vê-la deitada na
água sangrenta. Certamente não tinha prestado atenção às sutilezas da assinatura.
Mas poderia prestar mais atenção agora, olhando para a primeira, e comparando-
a com a outra. Ele podia por que surgiram perguntas. Os - erres - eram ligeiramente
diferentes, e as voltas do - k - eram mais acentuadas.
— Deveria estar em um estado de ansiedade quando escrevi isso — disse,
empurrando a nota de distância. — Isso poderia explicar as anomalias.
— Temos pensado nisso. — Pinter deslizar os dois documentos em sua pasta. —
No entanto, de acordo com a nossa fonte, sua esposa fez planos com uma amiga para o
dia seguinte. Isso não soa como uma pessoa prestes a cometer suicídio.
— E a amiga confirmar esta afirmação de sua fonte?
— Sim.
Pela primeira vez, se deixou convencer de que era possível. Embora a ideia de que
Sarah foi assassinada a sangue frio não só enviou um calafrio através dos ossos de David,
mas também, em certa medida aliviou a culpa que pesava sobre ele por meses. Não era
culpa dele. Ele não a levou a praticar tal ato.
Mas também não esteve presente para protegê-la. Então, de qualquer forma, o
culpado era ele. E quem em nome de Deus teria estado no quarto de Sarah, enquanto ela
estava vestindo apenas o roupão e se preparando para um banho? Não fazia sentido.
O Sr. Pinter foi até a porta, em seguida, parou e enfrentou-os novamente.
— Eu tinha mais uma pergunta, senhor. Por que disse a seus amigos que ela
cometeu suicídio por causa de dívidas de jogo quando a nota não menciona isso?
Quando Giles disparou ao homem um olhar surpreso, David estremeceu. Manteve
isso guardado de todos, incluindo seu irmão.
— Dada a escolha entre falar para os amigos da fraqueza da sua esposa para o
jogo e que isso a levou à morte ou que ela era apenas infeliz no casamento com você,
qual você escolheria?
O olhar de Pinter suavizou uma fração.
— Entendo seu ponto.
— Se eu tivesse forjado a nota, não acha que teria escolhido as palavras que eu
contei para dar uma luz mais favorável ao suicídio?
— Talvez. Ou talvez você considera isso e você se acha mais esperto do que a
maioria.
David o fixou em um olhar sombrio. Ao corredor que leva a rua.
— Você tem direito a sua opinião, senhor. Mas espero que, quando tomar uma
decisão sobre esta matéria, seja a evidência e não a opinião que leve em conta.
— Garanto-lhe, senhor. Não formarei uma opinião até que tenha provas para
apoiá-la. — Fez uma reverência. — Eu me despeço. No entanto, seria mais útil se você
ficar na cidade até que este assunto seja resolvido.
David apertou os dentes.
— É um pedido ou uma ordem?
— Uma sugestão, se você quiser. — Pinter acenou para Giles. — Bom dia,
senhores.
Ao sair pela porta, pasta na mão, David só podia olhar para trás dele.
Bom Dia? Não era para ser um bom dia no mínima.
Pior, David começou a temer que nunca seria um bom dia novamente. Todos os
seus pecados se erguiam para assombrá-lo. E parecia que não havia absolutamente nada
que ele pudesse fazer sobre isso.
Ela olhou para a carta, sentindo um buraco no fundo do estômago. Ele foi tão frio,
tão distante. Não gostava desse primo Michael em absoluto.
Por que ele estava fazendo isso com ela? Seriam fofocas? Ele tinha perdido a fé na
capacidade dela de administrar a escola? Ela não acreditava que os assuntos entre eles
estivessem assim tão ruins. Soava como um proprietário qualquer.
Era o suficiente para ela reconsiderar a quebra do acordo e enviar Terence caça
da verdadeira identidade dele. Só então teria que lidar com o aumento do aluguel,
enquanto também procurava um novo lugar para a escola. Isso não poderia fazer. Pelo
menos tinha o legado de Sarah. E havia mais propriedades na lista de David, embora a
perspectiva de passar as próximas semanas marchando através do campo era bastante
assustadora. Seria muito difícil pensar racionalmente sobre a oferta de casamento, se
cada vez que eu o visse, quisesse jogar-se sobre ele com paixão desenfreada.
Fechando os olhos, esfregou as têmporas doloridas. Como, em nome de Deus, ela
iria sair dessa bagunça?
— Senhora Harris — veio uma voz da porta — há um agente da Bow Street que
quer vê-la.
Ela olhou para cima para achar o mordomo ali de pé. Oh não, e agora o que? Já
não tenho o suficiente para me preocupar por estes dias?
— O que você quer?
— Ele não vai me dizer. Mas parece determinado a não sair daqui até que fale
com ele.
— Muito bem — disse ela, cansada. — Mande-o entrar — Instantes mais tarde,
quando o mordomo anunciou o homem como o Sr. Pinter, levantou-se para apresentar-
se ao atraente jovem que entrou em seu escritório.
— Eu sou a senhora Harris — disse ela, — a proprietária desta escola. Em que
posso ajudar?
O cavalheiro deu-lhe um olhar de avaliação, esperando enquanto ela voltava a
sentar-se mais uma vez antes de assumir a cadeira que estava na frente da mesa.
— Eu vim em nome do Gabinete do Juiz real de Marlborough Street para fazer
algumas perguntas sobre o Senhor Kirkwood.
Isso imediatamente a colocou em guarda.
— Que tipo de perguntas?
— Eu entendo que Lady Kirkwood uma vez foi uma aluna de sua escola.
— Foi.
— Diria que Lady Kirkwood tinha um temperamento melancólico?
— Melancólica? Sarah? — Um riso incrédulo escapou de seus lábios, mas a
desaprovação nos olhos do Senhor a trouxe de volta à sobriedade. — Não sou de falar
mal dos mortos, mas ela era mais egocêntrica do que melancólica. Por quê? É sobre a
morte dela?
— Você sabe como a senhora morreu?
As perguntas começaram a alarmar.
— Ela cometeu suicídio.
— Sim, mas você sabe como?
Isso a deixou confusa. Em nome de Deus, o que estava acontecendo?
— Não. Os jornais disseram apenas que ela tinha tirado a própria vida.
Pegando um bloco de notas, o Sr. Pinter escreveu algo nele com um lápis.
— Então, a família dela não lhe disse nada. Ou Sua Senhoria.
A menção de David a colocou em guarda.
— Olha, eu não vou responder a mais uma pergunta até que você me responda
por que está me perguntando sobre Sarah seis meses após sua morte?
Os lábios do Sr. Pinter foram se estreitaram em uma linha.
— Estamos investigando o assassinato de Lady Kirkwood, — disse ele sem
rodeios.
— Assassinato! Portanto, não foi um suicídio?
— Ela foi encontrada com roupa de banho com um corte nos pulsos. Ao mesmo
tempo, o suicídio parece ser a escolha óbvia, uma vez que foi encontrada uma nota. Mas
acontecimentos recentes nos levaram a acreditar que a nota foi forjada, provavelmente
pelo assassino.
Sentou-se na cadeira, sentindo-se subitamente fraca nos joelhos. Um
assassino? Na verdade, suspeitava-se que alguém deve ter assassinado Sarah? Como
poderia ser?
— Sua Senhoria sabe de suas suspeitas?
— Sim, nós o informamos nesta manhã.
— Pobre — disse, tomando cuidado para não mostrar grande parte da simpatia
que sentia por David. — Como deve estar sofrendo.
— Duvido que ele esteja sofrendo muito — Pinter disse friamente. — Pelo que
entendi o casamento não era feliz.
Dirigiu o olhar para o agente da Bow Street. Foi ao observá-lo cuidadosamente,
que a verdade de repente, lhe ocorreu. As autoridades pensavam que David tinha matado
Sarah!
Como era possível ocorrer uma coisa assim? Era ridículo.
— Não posso falar se o casamento era feliz ou não — disse com uma voz rouca,
escolhendo as palavras com cuidado. — Mas como viúva, lhe asseguro que não importa a
situação, ele sofreu por causa da morte dela. Ela era sua esposa, afinal de contas. E ele é
um homem de bom caráter.
— Isso foi o que me disseram — disse o cavalheiro.
No entanto, claramente cético. Justa indignação cresceu dentro dela.
— Se você está abrigando algumas suspeitas de que Sua Senhoria poderia ter
feito isto, está muito enganado. Ele tem muita honra e orgulho para descer tão baixo. E
certamente você não tem nenhuma evidência para sugerir que ele tenha cometido o
crime.
— Entendo que Vossa Senhoria tem passado muito tempo em sua companhia nos
últimos dias.
A rápida mudança de assunto combinado com um agudo escrutínio do Sr. Pinter,
enviou sinais de alarme em sua cabeça.
— Quem contou isso?
— É verdade? — O Sr. Pinter alfinetou.
As perguntas lhe davam medo. Certamente ele não achava que ela e David...
poderia ter conspirado juntos...
— Depende de como você define muito tempo. Ele me fez um par de visitas, sim.
— E você participou de um jantar na casa dele três noites atrás. Embora ele ainda
esteja de luto.
— Vamos ver, — ela disse, irritada com a insinuação— Eu estava lá apenas para
visitar uma outra ex-aluna, que por coincidência é casada com um primo de Sua
Senhoria. E não que isso seja do seu interesse.
— Entendo. — Ele escreveu algo em seu caderno. — E Sua Senhoria não disse
nada a você sobre o estado de seu casamento. Ou explicou como a esposa morreu.
Ela endureceu.
— Por que deveria? Sua Senhoria e eu temos uma relação profissional. Ele não me
diz essas coisas.
— Relação Profissional? — Pela primeira vez desde a sua chegada, o Sr. Pinter se
cuidou de registrar as emoções de surpresa em seu rosto — Que tipo de relações
profissionais?
Oh, meu Deus! Talvez eu não deveria ter mencionado isso. Mas, honestamente,
não seria melhor que a polícia soubesse da propriedade, ao invés de assumir que algo
escandaloso estava acontecendo entre ela e David?
— Lady Kirkwood deixou uma quantia de dinheiro para a escola. E Sua Senhoria
foi nomeado para supervisionar como ele será gasto.
Isso pareceu confundir o agente da Bow Street.
— Eu não entendo.
— O legado foi trinta mil libras para a minha escola para a construção de um novo
edifício que levará o nome de Sarah.
— Isso é impossível — disse Pinter enquanto seus olhos cinzentos profundos a
olharam —Vossa Senhoria não tinha nenhum testamento.
CAPÍTULO DEZENOVE
Durante seis meses, David lutou para tirar a noite da morte da esposa da
mente. Portanto, era doloroso voltar a reviver cada momento, na esperança de uma pista
do que realmente tinha acontecido. Enquanto Giles se dirigiu a pensão de Lincoln, para
ver se poderia descobrir algo sobre a investigação de suas muitas fontes, David repetiu a
sequencia de eventos, lembrou-se de cada visitante da casa da cidade naquele dia. Mas
nada disso esclareceu o mistério.
Então voltou a pensar como tinha sido o dia da morte dela. As últimas palavras
dela estavam estampadas em sua mente, uma vez que as examinou implacavelmente nas
semanas seguintes a morte dela, tentando dar sentido ao porque dela ter se
suicidado. Nenhuma das conversas foram concisas, as discussões sobre o vício no jogo
tampouco diziam nada.
Ainda não.
Nem mesmo uma busca no quarto dela havia revelado nada mais do que o que já
sabia - que Sarah tinha sido amante das cartas, das roupas e joias, nessa ordem. Se
tivesse uma vida secreta além de gastar dinheiro, não descobriu nada.
Enquanto isso, outra mensagem veio de Baines. Desta vez, enviou um mensageiro
de volta com um bilhete que dizia: — Obrigado por perguntar, senhor, mas receio não
poder satisfazer seu pedido para uma reunião neste momento.
David já havia notado os dois agentes da Bow Street descansando do lado de fora
de sua casa - um no beco e um na frente. Era óbvio que ele estava sendo vigiado, o que
Baines devia esperar.
No entanto, quando Giles entrou em casa, David estava em condições de ser
amarrado. Avançou sobre Giles e o arrastou para a biblioteca que ficava mais próxima
deles.
— Descobriu alguma coisa? — Falou enquanto fechava a porta. — Quem é a
misteriosa “fonte”.
— Tem que ser Richard, — Giles disse enquanto caminhava para a garrafa de
brandy. — Ele está dando problemas, porque você não lhe da dinheiro. Despertado
suspeitas, na esperança de que passem por sua vida com um pente fino. Só está fazendo
isso para se vingar de você.
David fez uma careta.
— Então você não descobriu nada.
Depois de se servir uma generosa quantidade de líquido âmbar, Giles se deixou
cair em uma cadeira e olhou melancolicamente o copo.
— Não.
Se fosse somente alguém querendo causar problemas poderia ser Pritchard tão
facilmente como Richard. O primeiro poderia pensar que era uma boa maneira de fazer
David pagar por não manter um melhor controle sobre Charlotte. Salvo que Pritchard não
tinha qualquer conhecimento da letra de Sarah.
A suposta fonte também poderia ser o bastardo do agiota Timms que conhecia a
letra de Sarah e tinha boas razões para querer incomodá-lo. Mas por que as autoridades o
deixariam ver a nota de suicídio?
Sim, Richard parecia a fonte mais provável. Ele de todas as pessoas, era o único
que poderia ter notado qualquer diferença na escrita, e sua raiva contra ele o levou as
autoridades e pedir para ver a nota de suicídio.
A menos que o encrenqueiro tenha atirado no escuro, tentando despertar
suspeitas. As autoridades, em seguida, teriam olhado a nota e descoberto um assassinato
que não haviam imaginado.
Um calafrio passou por ele.
— Para além da nota de suicídio e relatórios questionáveis dos forenses — David
perguntou: — tem algo mais para confirmar que foi um assassinato?
— Não parece assim. No entanto, ambos são esmagadoras se não pudermos nos
desprender dos diferentes depoimentos. Especialmente que você não tem nenhum álibi e
possui motivação suficiente.
— Quais os motivações? — Respondeu David. — Eu já tinha o controle sobre o
dinheiro, por que correria o risco de matá-la?
— Porque ela estava jogando mais rápido do que você poderia investir.
— Oh, Deus, eu não matei a minha mulher por dívidas de jogo. A ideia é absurda.
— Eles não pensam assim. Sempre suspeitam primeiro do marido, já sabe. Suas
suspeitas não os impedirá de começar a fazer perguntas aos criados e amigos, e
esmiuçarem sua vida. Mesmo que nunca vá a julgamento, será um negócio sujo.
Exatamente o que ele temia.
Uma batida na porta resultou ser o mordomo.
— O lacaio pessoal da Senhora Harris está aqui, meu senhor, — disse quando
David o deixou entrar — Ele insiste entregar uma mensagem em pessoa.
O sangue de David começou a bater com força. Charlotte tinha enviado Terence?
Totalmente confuso, provavelmente os agentes tinham ido visitá-la também.
No entanto, ela não teria feito tal coisa, a não ser que fosse urgente.
— Faça-o entrar.
Giles lhe lançou um olhar perscrutador.
— Ou a boa viúva já ouviu falar da investigação, ou ela simplesmente não
consegue ficar longe de você. É melhor ter cuidado. Você não vá fazer às autoridades
pensar que há algo entre vocês.
David reclamou. Se a polícia o conectasse a Charlotte, que suposições
fariam? Embora fosse inocente sobre matar a esposa, os faria suscitar perguntas ainda
mais pegajosas.
— Há alguma coisa entre vocês? — Perguntou Giles. — Porque sou seu advogado,
preciso saber.
Deve dizer a Giles sobre o primo Michael, pelo fato de que o secretário de Baines
ser seu álibi para a noite do assassinato? Se o fizesse, Giles iria imediatamente a Pinter e
David deixaria de ser um suspeito.
Mas, em seguida, seu cuidadoso namoro com Charlotte seria enviado ao inferno.
Não, ele não correria o risco até que tivesse que fazer. Ainda assim, era melhor
deixar que Giles soubesse sobre suas intenções para com Charlotte.
— Eu a pedi em casamento — David disse sem rodeios. — Ela ainda não me deu
uma resposta.
Giles brincou com o copo.
— Eu pensei que talvez o vento soprasse dessa forma. — Seus olhos se
encontraram com David. — Sugiro que você mantenha esse pedaço de informação muito
oculto até isso acabar.
— Não se preocupe, isso já tinha me ocorrido. — David caminhou até o fogo. —
Nada vai sair dessa bobagem, você sabe. Eu não matei Sarah, e não há nada que diga que
eu fiz. Procurei em todos os cantos do quarto dela, voltei aquela noite uma centena de
vezes na minha cabeça. Francamente, não consigo pensar em ninguém que poderia matá-
la. Provavelmente não provem nada mais que um erro por parte de seus “especialistas”.
— Espero que esteja bem.
Só então, Terence apareceu na porta. Começou a entrar, então parou quando viu
Giles. Virou-se para David.
— Meu Senhor, quero falar com o senhor em particular.
Tomando a pista, Giles se levantou e disse: — Vou estar no estúdio, se você
precisar de mim.
Assim que ele saiu David fechou a porta.
— O que está acontecendo, Terence?
Terence entregou-lhe uma nota. David leu rapidamente.
Pinter do escritório do magistrado esteve aqui hoje. É extremamente urgente que eu fale
com você. Se puder me ver às dez horas da noite no píer da escola, envie a resposta com
Terence. Se não for, diga quando e onde.
CAPÍTULO VINTE
Charlotte se apressou para a casa de barcos, perguntando-se se David teria vindo.
Ela tinha passado a tarde e à noite preocupando-se com as revelações de Sr.
Pinter, e queria respostas. Agora.
Quando ela entrou no barracão, não viu nada em primeiro lugar. Então viu o
criado vestido com a libre de Kirkwood dormindo em um sofá. A decepção tomou conta
dela... até que se aproximou e percebeu que era David.
A raiva que havia estava latente durante toda a tarde estalou. Os agentes da Bow
Street estavam investigando toda a sua vida, e ele conseguia dormir? Oh, ele era tão
semelhante a um homem.
Ela pegou um ladrilho e deixou cair no chão.
David acordou assustado e olhou em volta, confuso, em seguida a olhou nos
olhos.
— Charlotte, você está aqui. Eu devo ter adormecido.
— Talvez vestir-se como um servo apodreceu seus sentidos — ela disse enquanto
arrancava a peruca empoada da cabeça dele e a jogava de lado.
Em seu tom cortante, ele reduziu o olhar. Inclinou para frente e puxou-a para o
seu colo.
— Talvez vestir-se como professora apodreceu o seu — respondeu ele, inclinando
a cabeça para beijá-la.
— Pare de fazer isso — protestou ela. — Nós precisamos conversar.
— Podemos conversar mais tarde — rosnou e tomou sua boca com a dele.
Por um momento ela esqueceu a raiva. Esqueceu que ele tinha mentido para ela,
provavelmente por razões que não entendia todavia. Devido a isso, ela entendia esse
fogo entre eles.
Quando ele a estava beijando, era seu e era glorioso.
Até que ele voltou para soltar os botões do vestido. Então se lembrou da raiva e
se afastou lutando para sair do colo dele.
Fechando os braços ao redor de sua cintura, ela disse: — Nós precisamos
conversar. É importante.
Uma expressão de cautela atravessou o rosto dele.
— Esta irritada.
— Irritada é uma palavra suave para o que estou sentindo agora, eu lhe garanto.
Levantou-se do sofá e se ergueu em toda sua estatura.
— Terence disse que você não acredita que eu tenha assassinado Sarah. Eu estava
enganado?
— Claro que não. Eu sei que nunca faria uma coisa dessas. — Sua voz
endureceu. Mas durante o interrogatório sobre minha aluna e minha associação com
você, o Sr. Pinter disse-me uma pequena informação interessante que soa exatamente
como algo que você seria capaz de fazer.
Ele passou os dedos pelos cabelos que tinham sido achatados pela peruca,
fazendo com que levantassem em mechas ímpares.
— Informações sobre o que? Sarah?
— Sobre o codicilo.
Quando ele ficou paralisado, com um olhar de alarme que se estendeu pelo rosto,
ela sabia a verdade. Estava esperando desesperadamente que Pinter estivesse errado.
— E o que Pinter disse, exatamente? — David engasgou.
Ela franziu a testa.
— Sabe o que ele disse? Disse Sarah não deixou um testamento. Portanto, teria
sido difícil que tivesse um codicilo.
— Você viu o documento. — A resposta suave de David era uma evasão clara. —
O seu advogado revisou e disse que era legal.
Isso realmente despertou seu gênio. Dirigiu-se a ele com as mãos em punhos nos
lados.
— Sim, sim. Infelizmente, quando eu mostrei ao Sr. Pinter, ele teve uma resposta
completamente diferente.
— Ah, meu Deus — ele disse em voz baixa. — Mostrou a Pinter?
O alarme em seu rosto deu-lhe uma pontada de culpa que foi banido pela rapidez
em lembrar o que David tinha feito.
— O que mais eu poderia fazer? Afinal de contas, assumi que o meu amante não
iria mentir para mim sobre algo assim.
Ignorando o olhar de remorso no rosto de David, ela continuou implacável. —
Mesmo depois de Pinter, dizer que a família de Sarah disse que não tinha testamento, eu
acreditei em você. Eu disse que os Linleys deviam ter se confundido. Eu tinha o
documento maldito para provar, depois de tudo.
Tomou fôlego, lutando para evitar chorar na frente dele. — Mas foi difícil de
negar a verdade quando Pinter disse seu advogado, que redigiu o acordo também
afirmou que não havia um. Nunca houve.
David reclamou.
— Então, quando Pinter perguntou se poderia levar o documento do legado —
continuou, — eu não sabia o que responder. Ele é um oficial da lei. Não acho que poderia
recusar. E pensei que iria levá-lo a descobrir que ele estava errado sobre a vontade de
Sarah. — Ela olhou para ele. — Mas não é, certo? É uma fabricação. O legado de tudo é
uma mentira.
Ele nem sequer se preocupou em negar. Como poderia? Em vez disso, ele a
agarrou pelos ombros.
— Ouça, Charlotte. Posso explicar tudo.
— Explicar? Como você pode explicar uma mentira? — Ela se contorcia para ficar
livre, sentimentos de traição estampados sobre seu coração já ferido. — Eu devia estar
louca para acreditar em você. — Uma risada auto-depreciativa escapou. — O que eu
estava pensando? Sarah nunca teria doado dinheiro para a escola.
Abraçando a cintura, sussurrou —, mas eu queria ter você de volta na minha vida,
estava disposta a ignorar a estupidez do que a minha razão estava dizendo. — Essa foi a
pior parte. — Porque acreditar que foi uma mentira teria significado que me odiava tanto
que deliberadamente queria me fazer de tola para que pagasse.
— Não! — Gritou, claramente horrorizado. — Porra, sabe que não tinha nada a
ver com cobrar qualquer coisa!
— É verdade? — Era a única explicação que fazia sentido. — Porque se você
pretende...
— Não é por vingança, pelo amor de Deus! Acha realmente que poderia fazer
amor com você, pedir para casar comigo, por vingança por algo que você fez há dezoito
anos atrás? Especialmente quando esse tempo eu já sabia por que você tinha feito?
Não havia nenhuma lógica nisso. No entanto, não respondeu a sua pergunta.
— Então, que outra razão lá? Esta ligado a Pritchard? Você parecia conhecê-lo
muito bem. Convenceu você a me ajudar para eu cochilar e pensar que devo mudar a
escola, apenas para me tirar do caminho?
— Agora nem sequer está dizendo algo que faça sentido — ele respondeu. — A
única maneira de sair daqui é se o dinheiro for verdadeiro, e é. Cada centavo é seu.
Legalmente. Sempre foi seu. Se você quiser.
Charlotte ficou boquiaberta. Não podia acreditar no que ele estava dizendo. Não
podia acreditar em nada disso.
— Como pode ser legalmente meu se o testamento não é?
— É meu próprio dinheiro. De meus próprios investimentos. — Seu olhar era
negro à luz do lampião. — Eu sabia que você nunca o aceitaria de mim, por isso fiz um
legado. — Ele a acariciou na bochecha, mas quando ela se inclinou para trás, ele
endureceu a voz. — Se você não acredita em mim, pergunte a meu advogado.
— Ele que disse que Sarah não tem testamento, — ela se sufocou ao falar.
— Ele se sentia desconfortável com a situação desde o início, então tenho certeza
que ele pensava em meus melhores interesses ao falar com as autoridades para não falar
de falso codicilo.
— É uma pena que ninguém pensou em me incluir no pequeno subterfúgio.
David empalideceu.
— Se lhe perguntar sobre isso, vai dizer que eu fiz. Ele sabe tudo. Ele sabe que eu
estava fazendo isso para você.
Como queria acreditar nisso. Mas era uma ideia louca.
— Por que ajudar a mim e a escola com o seu próprio dinheiro? Depois de todos
esses anos...
— Depois de todos esses anos — disse com voz rouca: — Eu queria reconquistar a
mulher que tão estupidamente deixei ir. — Sua voz travou. — Eu queria você, e não
poderia encontrar uma maneira de atravessar suas defesas para ter você.
— No entanto, trinta mil libras...
— Eu teria feito mais se ousasse —. Viu o olhar em seu rosto, terno e
atormentado. — Eu sabia que a escola estava em apuros. Se lembrar, Sarah e eu
participávamos das coletas de caridade para angariação de fundos. E depois da morte
dela, eu sabia que você precisava novamente.
Desta vez, quando ele ergueu a mão até a bochecha dela, ela não o deteve. —
Mas eu também sabia que você suspeitaria se eu oferecesse o dinheiro diretamente, e
nunca me deixaria cortejá-la, enquanto eu estivesse de luto. Você precisa de fundos antes
mesmo do que Pritchard pretende fazer com todo esse absurdo. Então decidi por um
plano diferente.
Tudo o que ele tinha dito no primeiro dia voltou a memória, a reconstrução da
escola em outro lugar, de estar envolvido. Certamente, se queria vingança, não gostaria
de passar muito tempo com ela. E poderia realmente achar que David poderia fazer amor
com ela enquanto a odiava?
No entanto, considerando o que tinha feito a ele, considerando como as coisas
haviam sido entre eles naquela época, era incrível. Por que, se ele até que voltaram a se
ver não tinha conhecimento de que a estúpida carta tinha sido publicada por acidente.
— Como posso acreditar em você? — Sussurrou.
Ele estreitou seu corpo rígido em os braços.
— Nunca parei de pensar em você, Charlotte. Nunca. Toda vez que a vi na
sociedade depois que me casei, tive que me esforçar para não olhar, não querendo saber
quem compartilhava suas noites de solidão.
Quando a beijou no cabelo, ela não resistiu, mesmo que odiava a si mesma por
sua fraqueza. A assustou, o quanto queria acreditar que ele se importava com ela. Como
ela poderia querer tanto David na sua vida para jogar tudo para o alto por ele?
— Mas uma vez que a morte de Sarah ocorreu — murmurou, — não havia
nenhuma razão para lutar contra os meus sentimentos. Tive a oportunidade de ganhar a
esposa que ele sempre quis. Então fiz algo estúpido. Eu não sabia mais o que fazer.
— Você poderia ter me dito a verdade — disse ela em seu ombro. — Você
poderia ter me dito que sabia que eu tinha escrito a carta. Você poderia ter dito que tudo
estava no passado, e que queria começar de novo.
— E você teria acreditado em mim?
— Eu não sei. — Ela olhou para ele, os sentimentos todavia confusos. — Mas nem
sequer me deu a chance de acreditar em você.
— Estava com medo que descartasse a ideia de imediato. Não sabia como você se
sentia sobre mim, se ainda se importava. Eu precisava de uma ponte para chegar até
você. O legado foi a ponte.
Godwin tinha dito a mesma coisa a primeira vez que falou com ele sobre isso, mas
ela tinha pensado que ele era louco. E agora...
Agora tudo era muito mais difícil. David tornou tudo mais difícil.
— Não posso aceitar seu dinheiro. Você entende isso.
Os olhos dele reluziram em sua direção.
— Sim você pode.
— Eu não posso. Como isso iria parecer?
— Se você se casar comigo, que seria o marido ajudando a sua escola.
Ela empurrou os braços dele para ficar livre.
— Certamente você se dá conta que não posso me casar com você, não com a
morte de Sarah pairando sobre sua cabeça. Eles pensarão que nós... você e eu...
— Oh. Claro. Continuo esquecendo essa loucura com Sarah. Mal posso acreditar
que eles acreditam que foi assassinada. Isso não faz sentido.
— Então você entende por que não podemos casar agora.
Proferindo um gemido de pura frustração, olhou para o rosto dela.
— Claro. Eu certamente não quero que persigam você. Mas isso não será para
sempre. Encontrarão quem a assassinou. Nós apenas temos que esperar para se casar até
que eles o façam. Enquanto isso, deixe-me lhe emprestar o dinheiro.
— Oh, sim — ela disse sarcasticamente — isso não seria nem um pouco suspeito,
um empréstimo de trinta mil libras a uma viúva.
Um olhar de incerteza cruzou seu rosto.
— Talvez se formos cuidadosos na forma como ele é feito...
— Você ficou louco? Aquele homem Pinter quer a sua cabeça! E eu não serei a
causa de seu enforcamento.
Ele bufou.
— Não irão me enforcar. Eu tenho um álibi para aquela noite.
— Então, por que não mencionou ao Sr. Pinter?
Sua expressão tornou-se mais reservada.
— ...É complicado.
Um arrepio atravessou-a. Eu não conseguia pensar em uma única razão para que
tivesse um álibi para aquela noite que não quisesse falar.
— Sim... outra mulher? é isso?
— Deus, não! — O desgosto em seu rosto parecia real. — Eu nunca quebrei meus
votos de casamento. Nenhuma vez.
A ferocidade com que ela queria acreditar nisso a assustava.
— Eu não culpo você, você sabe. Você disse que vocês não compartilhavam a
cama há algum tempo.
— Isso não quer dizer que eu me senti livre para ter uma amante. Eu te disse anos
atrás, que acredito na fidelidade. E sempre esperei que Sarah e eu poderíamos encontrar
alguma maneira de corrigir o nosso casamento. Eu pensei que se ela pudesse deixar de
depender dos jogos...
Ela sentiu pena, apesar de suas tentativas de silenciá-la.
— Então, qual é a sua desculpa? E por que não dizer a Pinter?
Ele se fechou, como sempre fazia.
— O segredo é de outra pessoa. E não tem nada a ver conosco, de qualquer
maneira.
— Seus segredos não nos dizem respeito até explodam, como fizeram esta tarde
— ela retrucou.
Virou em direção à porta, cansada de tentar resolver através de evasivas,
querendo escapar do turbilhão emocional que se agitava em seu interior cada vez que ele
estava perto. Ela não precisava dessa agonia em sua vida.
— Aonde você está indo? — Ele exigiu.
— Você faz o que quer, David. Eu não quero nada disso.
— O que diabos isso significa? — Grunhiu enquanto a seguia.
— Isso significa que este não é um bom momento para estarmos... envolvidos.
Precisamos de algum tempo separados.
— Olha, Charlotte, sei que não podemos nos ver até que descubram a causa da
morte de Sarah. É muito arriscado, não só para mim, para você também. Não posso
sugerir qualquer coisa ruim sobre você. — Soou uma nota de desespero em sua voz. —
Mas, certamente, uma vez que o problema seja resolvido, e as coisas voltem ao normal.
— Você não entende. — Não poderia suportar, inclusive enfrentá-lo enquanto
dizia essas palavras. — Não é apenas sobre o perigo ou qualquer coisa. Eu... eu só não
acho que você e eu somos... uma boa ideia no momento. Não até que tenha resolvido os
problemas da escola e tendo uma ideia de como me sinto a respeito do casamento. Até
então, é melhor se você não...
— Não, droga! — Na pressa chegou a porta atrás dela. — Você não pode estar
dizendo o que eu acho que você está dizendo! — Ele a agarrou por trás, seus dedos
cavando em seus braços. — Eu não vou deixar você fazer isso. Eu preciso muito de você.
Não era amor, mas uma necessidade. Não era o suficiente. Já não era assim.
— Claramente, você não precisa de mim o suficiente para me deixar saber seus
segredos.
— Então você vai renunciar a nos dois? Outra vez? Da mesma forma que fez
dezoito anos atrás? ? É isso que você está dizendo? Porque você sabe que os condenados
problemas da escola nunca serão resolvido completamente, e você deixou perfeitamente
claro que tem medo de tentar casar novamente.
Ela se virou para ele.
— Isso não é justo! Eu não vou deixar você me culpar por isso. Toda vez que eu me
viro eu encontrar outra mentira ou evasão. Você é o único que guarda segredos e
proteger o seu coração em cada volta!
— E você não está protegendo o seu? — Ele foi até ela, a determinação em seu
rosto. — Usando a maldita escola como uma desculpa para não correr riscos em sua vida
privada, para não permitir que qualquer homem chegue perto o suficiente para ganhar
seu coração. E você quer saber por que?
Ela olhou para ele severamente.
— Porque você é uma covarde, Charlotte Harris, — rosnou. — E nós dois
sabemos.
CAPÍTULO VINTE E UM
David sentiu como se estivesse se afogando. Tudo estava escapando dele,
Charlotte e suas esperanças para ambos. Por que estava acontecendo isso com eles? Por
que as coisas entre eles eram tão difíceis?
Se ela usava esta coisa de Sarah para cortá-lo da vida dela até que ela “ arrumasse
os problemas da escola”, e decidisse como se sentia a respeito do casamento, seria o fim
para eles. Ela sempre fugiria, sempre encontraria uma desculpa para ignorar o que havia
entre eles.
Mas, por Deus, ele não permitiria isso. Se tivesse que enfurecê-la para ouvi-lo,
então, era o que ele faria.
E ela estava enfurecida, oh sim. Odiava ser acusada de qualquer debilidade, mas
especialmente covardia. Gabava-se de sua força e independência, e essas eram as
qualidades dela que ele achava tão embriagadoras.
Mas estaria condenado se a deixaria se esconder atrás de sua independência no
momento.
— Como você ousa! — Ela disse. — Você foi o único que mentiu para mim. Você é
o único que guarda segredos e pede o impossível.
— O impossível? — Ele caminhou pairando sobre ela. — Você quer dizer, eu pedir
a você para compartilhar minha vida?
— Neste momento, não é prudente
— Sim, agora. Mas você disse que isso iria mais longe que este momento.
Inclusive depois de encontrar o assassino de Sarah, você quer me manter afastado. Então
é isso que posso pensa. — Sua voz endureceu. — Quer convencer-se a não casar comigo,
sim. E só há uma razão para isso. — Apoiou as mãos a cada lado de seus ombros. — Sua
covardia.
— Pare de dizer isso! Eu não sou covarde!
— Não? Tem medo de desistir a décima parte de sua preciosa independência se
você se casar comigo.
Ela olhou diretamente para ele.
— Ah, mas você não quer apenas um décimo. Você quer tudo o que tenho. Em
troca, você não oferece qualquer coisa.
— Exceto o meu nome. E o meu dinheiro.
— Isso não é o que quero dizer, e você sabe disso. Você não oferece nada de si
mesmo.
— Ofereço isto — ele murmurou, inclinando a cabeça para beijá-la.
Ela o empurrou o suficiente para fazê-lo tropeçar para de novo.
— Isso é apenas o seu desejo imprudente, nada mais.
Ele olhou para ela.
— Não se atreva a brincar de professora ofendida comigo, querida. Eu não sou o
único que sente um desejo imprudente, e você sabe.
— Sim. Desejo você. — Os seus olhos agora brilhavam, com o rosto iluminado
pela raiva. — E esse desejo que você utiliza para me controlar. — Para sua surpresa, ela o
empurrou de novo, forçando-o a dar um passo ainda mais para trás. — Quer que eu
desmaie de desejo para não perceber que gradualmente vai se encarregar de tudo na
minha vida: minha escola, meu futuro, meu coração.
Ela o empurrou com tanta força que ele caiu no sofá.
O próprio temperamento se elevando, ele a agarrou e puxou-a para cima dele.
— Se trata-se de controle da nossa vida sexual que você quer, querida, estou
perfeitamente disposto a lhe dar isso—. Enquanto lutava em seu colo, ele esticou os
braços ao longo do encosto do sofá. — Vá em frente, tome o controle. — Deixou as coxas
relaxarem o suficiente para mostrar a excitação desenfreada. — Viole-me. Não vou detê-
la.
De pé na frente dele, com as mãos nos quadris e sua raiva, ela parecia tão bem
como um espetáculo que nunca tinha visto.
— Eu não vejo o que isso provaria — ela retrucou, embora seu olhar caiu na
protuberância dolorosamente óbvia em suas calças.
— Iria demonstrar que não sou o único que pode usar o desejo para controlar.
Quando um rubor espalhou pelo rosto dela, o membro despertou ainda mais.
— Esse não é o tipo de controle que eu quis dizer — respondeu ela.
— Não? Isso foi o que você disse “que uso o desejo para controlá-la” — Ele
incitou. Neste momento, incentivá-la a baixar a guarda parecia ser a única maneira de
evitar o seu desejo louco para se livrar dele. — Mas se você quiser negar, porque só tem
palavras e nenhuma ação, como a maioria das mulheres...
As mãos dela ficaram em forma de punhos.
— Você é o mais irritante, insuportável e arrogante...
— Como eu disse, muitas palavras e pouca ação. — Ele zombava dela com um
sorriso. — Ou talvez seja mais o medo de que não possa assumir o controle. O que sabe
uma teimosa professora com você sobre como controlar um homem com o desejo?
— Oh, acredite — ela murmurou entre dentes enquanto marchava em direção a
ele, — se quisesse, poderia tê-lo envolvido em torno de meu dedo mindinho. Mas não
quero um homem que mente para mim , e que me mantém longe de sua vida.
— Uma desculpa provável — disse ele. Considerando como estava reagindo à
notícia sobre o falso codicilo, ele só podia imaginar o que ela teria cortado de sua vida se
soubesse o resto da verdade. — Você está com medo de tentar. No fundo, você sabe que
não pode lidar comigo. — Deixou que seu olhar percorresse sobre o delicioso corpo. — A
ideia de que com o desejo controle um homem com a minha experiência e sofisticação é
ridícula. — Se isso não provocasse uma resposta nela, nada faria.
— Ridículo, certo? — Ela subiu no colo dele e o agarrou na cabeça com as
mãos. — Eu posso ter você pedindo e implorando, diabo insolente.
Ele segurou o olhar dela.
— Eu nunca imploro. Nem a você, ou qualquer outra mulher.
— Vamos ver isso — disse ela.
Quando ela tomou então sua boca em um beijo profundo e desalmado, ele teve
que se conter para não envolver os braços em volta dela, recostá-la no sofá, e tomá-la
como um selvagem.
Mas queria que ela visse que o desejo era em ambos os sentidos, que tinha um
certo grau de controle sobre ele também. Que o casamento não significa desistir de toda
a sua vida por ele, do jeito que ela parecia pensar.
Assim, embora respondeu ao beijo, deliberadamente se deixou controlar, embora
tenha sido uma verdadeira tortura. Haviam se passado três longos dias desde que
fizeram amor, e tudo que conseguia pensar era que ela estava acomodada em seu colo e
no quanto queria estar dentro dela.
Arrastando a boca para longe, ela disse: — Tire esse casaco bobo de lacaio. Sinto-
me como se estivesse seduzindo um servo.
Estava mais do que feliz em fazer isso, removeu a gravata, colete e camisa
também.
— Eu não posso te ver nua? — Ofegava enquanto ela corria as mãos sobre seu
peito nu, beliscando os mamilos até que gemeu.
Ela se inclinou e apertou os seios ainda com roupas contra o peito dele, só para
sussurrar em seu ouvido: — Talvez mais tarde. Depois de fazê-lo implorar.
Foi então que ele percebeu o quão mal ele tinha calculado tudo. Ela ainda estava
com raiva, e estava determinada a fazer valer seu ponto de vista por atormenta-la.
— Medo? — Sussurrou ela.
Seu corpo se retorcia sobre seu pau inchado enquanto lentamente o deixava
louco.
— Eu com medo? — Conseguiu dizer estranguladamente. — Nunca.
— Deveria. — Moveu as mãos para baixo entre eles para acariciá-lo nas pernas,
despertando a dor em seu pênis com tal intensidade que pensou que iria morrer se ela
não o tocasse ali.
— Oh Deus, Charlotte... — disse antes que pudesse se conter.
— Quer alguma coisa, Lorde Kirkwood? — Ela esfregou a parte inferior do corpo
contra o dele o suficiente para despertá-lo ainda mais. — Tudo que você tem a fazer
é implorar.
Embora tenha começado com a ideia de deixá-la estar no controle, agora que
tinha feito, estava tendo problemas para suportar. A ideia de implorar por seu prazer
realmente irritada.
Colocou a mão entre eles para acariciá-la, esperando inflamá-la, mas ela deslizou
de seu colo.
— Ah, ah, ah, milorde! — disse, soltando o cabelo e sacundido-o. Porra, se ela não
estava gostando disso! — Eu nunca disse que você poderia participar, ou talvez eu tenha
dito?
Ele olhou para ela avidamente enquanto ela estendia a mão sob a saia e tirava a
calcinha sem mostrar absolutamente nada do que tinha sob elas.
— Este não é o que eu entendo por controle — rosnou.
— Não? Isso foi o que você disse, — ela imitou suas palavras anteriores, com
precisão perfeita. — Você disse que eu deveria usar o desejo para controlar.
Ela puxou as saias acima dos joelhos, revelando as longas pernas que ele desejava
beijar e passar a mão. Ele queria estar entre elas. Agora.
Ela balançou as saias acima das coxas como uma prostituta de Drury Lane
seduzindo um cliente.
— Mas você é só palavras e nenhuma ação, como a maioria dos homens.
Sua frase deliberada fazendo eco de suas palavras de antes estava começando a
incomodá-lo.
— Se você quer ação — disse ele, se lançando para frente para agarrar seus
quadris.
Mas ela resistiu sua tentativa de puxá-la a sentar escarranchada sobre ele . Em
vez disso, ela levantou a perna e a colocou no sofá ao lado de seus quadris, expondo seu
belo pote de mel.
— Na verdade, eu gostaria de um tipo diferente de ação. Quero que me dê prazer
com a sua boca.
Ele olhou para ela em estado de choque. Ele tinha feito isso com garçonetes e
amante ocasional em seus dias de solteirice, mas nunca com uma mulher respeitável.
Sarah teria ficado horrorizada com o pensamento. Ele nem mesmo conseguiu
convencê-la a eliminar a camisola a maior parte do tempo.
— Você sabe... sobre isso?
— Parece que não sou uma professora estirada , afinal, ou sou?
— Aparentemente não. — E graças a Deus por isso .
Mais do que disposto a satisfazer seus desejos, ele se inclinou para a frente para
esconder o rosto em sua carne. Mas em um instante, percebeu o quão bem tinha
escolhido o seu prazer.
Prová-la, cheirar a carne feminina quente, o despertou, enquanto não tinha
sequer satisfeito seu pênis rígido. Quanto mais o lambia e chupava e entrava com a
língua, mais pensava que na realidade poderia explodir em suas calças antes de chegar a
estar dentro dela.
As mãos dela se fecharam sobre sua cabeça para mantê-lo perto dela.
— Sim... David... ah... Deus do céu... assim...
Se ele tivesse algum senso, deveria reter o máximo de prazer dela até que ela
desse o que ele queria. Mas então ele estaria fazendo exatamente o que ela o tinha
acusado - de usar seu desejo para ganhar o controle.
Além disso, ele se deliciava com os gemidos procedentes dela, respirando com
dificuldade quando se aproximava do orgasmo. E quando a sentiu explodir em sua boca,
ele se sentiu como um conquistador.
Ela ficou ali tremendo, com a cabeça caída para trás e peito tremendo, a criatura
mais linda que ele já tinha visto.
— Isso foi... maravilhoso — suspirou.
Ele a acariciou na coxa.
— Quer dizer que irá me torturar a noite toda para provar seu ponto? —
Perguntou com a voz rouca. — Ou, finalmente, conseguirei uma recompensa porque
realizei as expectativas da dama?
Com um sorriso, ela sentou-se escarranchada nas pernas dele.
— Só se você implorar. — Ela inclinou-se e abriu os botões da calça, depois a
cueca.
Antes que ela pudesse remover a mão, ele a agarrou e a obrigou a segurar seu
pau excitado.
— Não vou implorar, então pode esquecer isso.
Ela acariciou-o algumas vezes, o suficiente para inflamar seus sentidos, em
seguida, puxou a mão de volta.
— Então, meu caro Lorde Kirkwood, você vai sofrer.
Quando ela começou a se levantar, ele agarrou suas coxas e não a deixou ir.
— O inferno se vou. — Tentou beijá-la, mas ela virou a cabeça para o lado, então
ele a mordeu na orelha.
— Você provou seu ponto, amor. Fique feliz com isso. Porque eu quero estar
dentro de você, e você sabe muito bem que quer isso também.
Ela se inclinou para trás para olhar para ele, seus olhos solene.
— Está bem. Mas só se você concordar em dizer a verdade sobre seu álibi na
noite do assassinato de Sarah.
Ele congelou. Porra, em sua névoa de desejo, havia se esquecido dessa parte da
discussão. Mas ela não. E, claro, isso era o que queria dizer com o desejo de controlar.
— Por que você quer saber? — Ele disse amargamente. — Assim terá certeza de
que eu não matei a minha mulher?
— Para poderei saber que me quer em cada parte de sua vida, não só nas que me
permita. — Um gesto preocupado franziu a testa dela. — E para que eu possa ter certeza
que você não vai a forca.
A preocupação dela aqueceu sua alma. Claro que poderia dizer qualquer coisa
que a satisfizesse, sem revelar demais.
— Muito bom. Eu prometo.
— Diga-me agora.
— Não. Depois. — Pós o pau dolorido contra a barriga dela. — Me tire da minha
miséria primeiro. — Beijou a linha de sua mandíbula. — Por favor, amor, eu não posso
suportar mais.
Ela se inclinou para trás, os olhos brilhando de triunfo.
— Você está implorando!
Ele piscou.
— Eu não fiz isso.
— Você disse “por favor”. Isso é perto o suficiente para mim. — Com isso, ela se
levantou e deslizou para baixo em seu pênis.
Ela deixou escapar um chiado de puro prazer.
— Sim, Charlotte... oh, Deus, sim. Você é... o céu.
Com um olhar feroz, ela começou a se mover, ondulando em cima dele,
deslizando-se com seu corpo, fazendo-o temer explodir dentro dela antes que ela
encontrasse a própria libertação. Era tão bom, tão bom estar dentro dela, mover-se com
ela, fazer parte dela.
Arrastando o corpete do vestido, encheu as mãos com seus seios. Esta era a
verdadeira felicidade.
Eles pertenciam um ao outro, para que ela pudesse ver, ou não. De alguma forma
se asseguraria de que ela visse.
— Então eu sou... suficiente para a... sofisticada experiência de lorde Kirkwood,
afinal de contas? — Ela murmurou com voz áspera, enquanto o montava como uma
gloriosa Diana caçadora.
— Você... sempre... será — admitiu ele, antes que perdesse a luta para manter o
clímax e gozar dentro dela.
A medida que ela se apertou ao seu redor e encontrava a própria satisfação, com
um grito de triunfo, pensou, Minha! Aceite isso querida. Você é minha, agora e para
sempre. Simplesmente não sabe ainda.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Charlotte não podia acreditar que tinha feito de novo. Ela havia deixado David
seduzi-la e esquecer suas reservas.
Estavam entrelaçados no velho sofá, com ele abraçando-a e ela desfrutando
muito. Ele estava certo? Era uma covarde, com medo de dar o próximo passo? Com medo
de prometer tudo de si para ele, seu coração, seu corpo e alma?
Se ela era, não estava sozinha. Ele estava escondendo alguma coisa; Estava quase
certa disso.
E como eles poderiam se tornar marido e mulher, se ele não queria dividir cada
parte de sua vida com ela?
Ela levantou a cabeça de seu peito para descansá-la sobre as mãos e olhar as
feiões que haviam se tornado dolorosamente queridas para ela.
— Então me fale sobre esse álibi — disse, determinada a conseguir grande parte
pelo menos.
Ele deixou escapar um longo suspiro.
— Não posso dizer tudo. Como já disse, não é o meu segredo para contar. —
Olhando para longe, disse: — Na noite da morte de Sarah, eu tinha ido ajudar um
amigo. Ele estava em apuros, o tipo de problemas que não gostaria que ninguém saiba. O
tipo de problemas que não gostaria que eu contasse.
— É por isso que Pinter não o mencionou? Porque não contou a ele?
— Sim. Eu não quero dizer nada a menos que seja absolutamente necessário.
— Ele é um amigo que eu conheço? — Ela esperava que não fosse Anthony ou
Foxmoor.
Problemas secretos normalmente significavam mulheres, e ela não podia suportar
a ideia de qualquer um daqueles homens enganando suas esposas.
— Não é um dos seu círculo, se é isso que a preocupa. Mas eu conheço o
homem. — Sua voz soou tensa. — Saí às dez para vê-lo, e eu voltei à meia-noite para
encontrar Sarah morta.
Seu coração balançou com piedade.
— Foi você que a encontrou?
A dor brilhou em seu rosto.
— Sim. A governanta e eu a encontramos juntos. — Sua voz foi reduzida a uma
lima de dor. — Seus pulsos estavam cortados, e água tingida de rosa. Agora que penso,
provavelmente não havia sangue suficiente, mas ao mesmo tempo... parecia um grande
espetáculo. Especialmente depois de ler a nota.
Ela o beijou no peito e disse em voz baixa.
— Sinto muito que você teve de suportar uma coisa dessas.
— A nota não fazia sentido, mas tem me torturado por meses “já não
posso suportar esta vida intolerável” — disse ele. —E eu... eu tinha certeza de que era
porque eu a tinha feito mais miserável do que havia percebido.
Ela podia ver que ele havia sofrido por isso. Estava muito zangado com o que
havia escrito na nota.
— Mas não era genuína. Certo?
Um arrepio passou por ele.
— Isso é o que eles dizem. Mas ainda assim quase não posso acreditar que
alguém tenha assassinado Sarah.
— Será que eles têm algum suspeito?
Sua risada dura a sacudiu.
— Além de mim? Não sei. Eu tenho um número de suspeitos. Há a pequena
doninha de um agiota, que tentou me extorquir dinheiro pelas joias algumas noites atrás
e fez ameaças vagas sobre ir aos jornais e falar sobre as atividades da minha
esposa. Outro é o irmão dela, Richard, certamente saberia imitar a escrita dela.
— Certamente ele não a teria matado!
— Não, provavelmente não. Eles eram muito próximos. — Suspirou. — Mas,
certamente, ele está me acusando de assassinato, por despeito. — Sua voz endureceu. —
E depois há o servo que aparentemente compartilhava a cama com ela, de acordo com
Terence, ele foi bom o suficiente para passar a fofoca dos criados da minha própria casa.
— Céus. Sarah? E um lacaio? Certamente não seria tão descarada.
— Eu certamente nunca sonhei que seria. — Ele deu-lhe um olhar amargo. —
Mas, então, eu não tinha ideia de que ela havia usado as joias da família como garantia
para um empréstimo para o jogo. Aparentemente, minha esposa me fez todos os tipos de
engano em sua sede de entreter-se longe de mim.
Charlotte apertou um dedo nos lábios dele, seu coração rompia.
— Não se culpe, meu amor. Sarah era uma criatura um pouco má, mesmo quando
era um estudante aqui. Ela era o tipo de mulher que faria qualquer coisa para conseguir o
que queria - paquerar, mentir, provocar.
Ela o acariciou na bochecha, desesperada para desviar seus olhos
assombrados. — Fiz tudo o possível para orientá-la a melhorar os hábitos, mas ela era
teimosa. O pai tinha estragado desde que ela era uma menina, e ela esperava se dar bem
em tudo.
— Eu gostaria de ter sabido disso antes de ter me casado com ela.
— Se você se lembra, esgueirou-se por trás das costas dos pais ao te ver. Então,
ela estava em sua forma verdadeira.
— E eu estava cego.
— Honestamente, um monte de jovens meninas têm maus hábitos, mas o
casamento geralmente, as endireita. As responsabilidades, a liderança de um marido...
Realmente pensei que poderia dar tudo certo entre vocês.
— Aparentemente minha –liderança- foi defeituosa.
— Ela tomou suas próprias decisões, David. Você não pode se culpar por isso. —
Ela acariciou o ombro dele. — Embora ainda me parece incrível que ela tenha sido tão
malvada para ter um caso com um lacaio. Por que se rebaixar-se a comer cordeiro
quando tem um suculento bife na mão?
Assim como ela esperava, ela o fez sorrir.
— Obrigado por isso. Mas não imagino que não era a... é... a parte da alimentação
o que a interessava. Ela queria alguma coisa dele, e esse foi, provavelmente, o seu preço.
— Isso soa mais como Sarah.
— Não saberemos ao certo até que o interrogue. Coisa que tenho intenção de
fazer assim que tenha me convencido de que não foi ele que procurou as autoridades
para tentar me culpar.
Uma vaga lembrança nadou em sua cabeça e ganhou um novo significado à luz de
suas revelações.
— Eu não sei se deveria falar isso, mas...
— O quê? Por favor diga tudo o que sabe.
— Pode não ser importante, mas outra noite no jantar, Giles disse-me... isto é, ele
disse algo estranho. Sarah tinha um lado sombrio.
Quando David franziu o cenho, acrescentou: — Pode não significar nada, mas
poderia estar falando sobre o jogo, embora ele tenha dito que quis dizer algo mais do que
isso. Insisti para ele continuar, mas ele mudou de assunto. — O olhar cinzento no rosto de
David a fez lamentar ter mencionado. — Desculpe, provavelmente não foi nada.
— Não soa como nada. Parece que tenho que falar com meu irmão sobre isso.
— Certamente não acha que Giles é participante.
David suspirou.
— Eu não sei o que pensar. Mas tenho a intenção de descobrir a verdade por trás
de sua morte. Sarah merecia muito mais de mim, pelo menos.
— Há algo que eu possa fazer para ajudar?
Seu olhar se voltou para ela, cheio de alarme.
— Não — disse ele com firmeza. — A melhor coisa a fazer é não deixar que Pinter
saiba que temos uma relação pessoal. Eles podem descobrir de qualquer maneira, mas é
melhor não saber. — A tocou na bochecha. — Eu nunca me perdoaria se você fosse
arrastada a este enxame de suspeita.
A preocupação nos olhos dele a aquecia, apesar de suas reservas sobre o
relacionamento.
— Acredite em mim — ela disse calmamente: — Não tenho nenhum desejo de
me relacionar com o Sr. Pinter.
David alisou o polegar sobre a bochecha dela.
— Falando nele, eu provavelmente deveria ir, antes que qualquer um deles
sintam minha falta.
Ela assentiu com a cabeça.
— Mas antes de eu ir, você me promete uma coisa?
— Que será?
— Que considerará seriamente se casar comigo quando isso acabar.
Ela engoliu em seco. Mas, na realidade, era uma promessa fácil de fazer. Ela já
estava considerando seriamente.
— Muito bem.
Ele soltou um suspiro profundo.
— Graças a Deus. Preciso de um pouco de esperança para seguir em frente neste
momento.
E assim ele fez. Porque depois desta visita poderia passar um longo tempo antes
deles chegarem a se ver outra vez.
Charlotte não conseguia respirar. O olhar de culpa no rosto de David deu-lhe uma
pausa. E por que o Sr. Pinter o queria aqui no escritório do Sr. Baines?
Ela conhecia o Sr. Keel, de passagem, mas como era possível que ele pudesse ter
algo a contar? A menos que David fosse o primo Michael...
Não, Como poderia ser? Ela já havia rejeitado a possibilidade por razões óbvias.
O Sr. Pinter assumiu, fazendo uma oferta para sentarem-se com uma cortesia que
contrastava com o cálculo frio em seus olhos escuros. Depois de todos se sentaram, ela se
sentou onde poderia ver todo mundo.
— Sr. Keel —, então disse ao recepcionista da noite — Eu ficaria muito grato se
você repetisse para nosso benefício, o que me disse antes.
O secretário não parecia muito disposto a falar.
— Desculpe-me, Lorde Kirkwood, — disse o Sr. Keel, enquanto brincava com o
chapéu por suas mãos trêmulas — mas não parece certo que deva ser acusado de
homicídio quando estava aqui comigo na noite que lady Kirkwood morreu.
Um alívio imediato passou por Charlotte ao ver que David foi exonerado. Por que
David era tão amigável com o advogado do primo Michael que o faria ir ao seu escritório
durante a noite? Um nódulo doloroso havia se formado em seu ventre. Especialmente
desde que David nem sequer a olhava, mas estava vendo um ponto cego na parede.
— E Vossa Senhoria estava aqui com você? — Sr. Pinter alfinetou.
Embora Charlotte suspeitasse qual seria a resposta do homem, mesmo assim
balançou quando ele disse: — Ele veio entregar uma carta para a Senhora Harris.
Apenas uma pessoa enviou cartas ao escritório do Sr. Baines. Podia sentir os olhos
de avaliação do Sr. Pinter nela, mas ela não se importava. Tudo que eu podia fazer era
olhar David, com a esperança de que ele negasse, que dissesse que era um grande erro e
que ela tinha entendido mal.
No entanto, também explicava muito, seu repentino reaparecimento em sua vida,
o falso codicilo, a forma que ela sentia que ele estava escondendo alguma coisa. Isso
explicava por que ele havia dito que seu - álibi - envolvia a proteção de um -amigo -.
Porque seu suposto amigo era o seu próprio alter ego .
— Você é o primo Michael — ela sussurrou.
Ele endireitou os ombros, depois assentiu laconicamente.
E o seu coração se partiu. Durante todo este tempo, esteve mentindo a ela,
enganando, manipulando... Enquanto ela tinha sido muito estúpida para ver.
— Eu... eu pensei que poderia ser você, mas isso não fazia sentido. Porque fez
isso? Tenho o direito de, pelo menos, saber o porquê.
Ele a olhou tão atormentado que sentiu como se um punho se fechasse em torno
de seu coração.
— Que parte quer saber?
— Tudo! Por que mentiu para mim, quando sabia que desesperadamente queria
saber a verdade. Por que você continuou o papel, mesmo depois que... — Quando viu os
olhos entrecerrados do Sr. Pinter, ela se conteve. — Depois que descobri que não havia
legado de Sarah. E por que começou este maldito baile de máscaras em primeiro lugar?
Por que me fez apaixonar por você novamente .
Não, ela não o amava. Como poderia amar um mentiroso?
— Quando você veio a mim como o "primo" do meu marido — continuou, —
tinha apenas quatro anos após aquela carta estúpida que foi inadvertidamente aos
jornais. Não posso imaginar por que me deixou alugar sua valiosa propriedade.
— Ah, mas a propriedade não lhe pertence, não é verdade, milorde? —
interrompeu o Sr. Pinter e ela quase havia se esquecido que o agente da Bow Street
estava lá, mas ficou claro que ele tinha aprendido tudo sobre sua associação com o primo
Michael.
— É claro que pertence a ele — disse a Pinter, então olhou para David. — Não?
— Na verdade, senhora Harris, — O Sr. Baines disse com uma expressão de dor,
— a propriedade pertence ao Sr. Pritchard. Sua Senhoria ganhou um penhor sobre o
imóvel em um jogo de cartas e foi autorizado a receber apenas o aluguel por um período
de quinze anos.
Ela lançou um olhar ao advogado ao perceber o quanto o homem havia
permanecido com ela. Então suas palavras se afundaram em quinze anos. Havia passado
quase quatorze anos e meio a partir de...
Que Deus a ajudasse. Ela sentiu outro golpe no coração. Lançou um olhar
acusador a David.
— Foi por isso que você inventou o codicilo e veio à minha escola para me
convencer a me mudar? Porque não queria que eu soubesse que não era mais o
proprietário?
— Olhe para mim, Charlotte.
— Responda-me, maldito!
Ele assentiu com a cabeça, seus olhos escuros com culpa.
— Pritchard disse que vai despejá-la, quando cumprir os quinze anos. Se me
ocorresse outra maneira de...
— E que tal dizer a verdade? — Ela quase gritou. — Em vez de tudo isso para que
encontre outro imóvel? Se você tivesse dito que estava prestes a ser despejada, eu não
teria hesitado em mudar a escola de lugar.
— Mas você não teria usado meu dinheiro, certo? — Ele disse. — Você colocaria
tudo a perder, incapaz de superar o orgulho e não pode dar-se ao luxo de mudar para
outro lugar. Eu não podia correr esse risco. Não quero que perca a sua escola.
— Não me culpe por isso — disse ela, incapaz de esconder a dor em sua voz.
David entrelaçou os dedos pelos cabelos, distraidamente.
— Não era minha intenção. Eu só... não quero que sofra. — Ele deu um suspiro
tremulo. — E não queria revelar o por que comecei esta mentira. Não quero que saiba a
verdade.
— Que era um amigo para mim? Que me deu o dinheiro para começar a escola
todos estes anos e me ajudou com o aluguel? — Disse Charlotte desconcertada.
David estremeceu. Olhando de relance para o Sr. Pinter, hesitou, como se levasse
em conta o que deveria dizer.
Mas no momento, Charlotte não se importava com Pinter ou com morte de
Sarah, ou qualquer coisa assim.
— Conte-me tudo, maldito, — disse ela. — Por que você se tornou o primo de
Michael?
— Porque eu queria me vingar de você. — Ele deu uma risada amarga. — Godwin
estava certo, maldito seus olhos. Só que ele estava errado no tempo.
Vingança. O punho se apertou em torno de seu coração dolorosamente.
— Eu não entendi.
— Eu sei. Por que você acha que eu não lhe disse? — Inclinou-se para a frente, os
olhos brilhantes com remorso. — Eu estava tão bravo com você então. Quando ouvi que
você estava ensinando na escola de Chelsea, me enfureci que estava a caminho de
conseguir o sonho de sua vida, enquanto eu ainda estava em ruínas. Então pensei... — Ele
olhou para baixo. — Pensei que em lhe oferecer um empréstimo e um aluguel barato,
para que você pudesse fundar sua academia. Uma vez feito, eu tinha a intenção de exigir
o pagamento integral do empréstimo e aumentar o aluguel além de sua capacidade de
pagamento. Então eu poderia vê-la cair. Vê-la sofrer. Da mesma forma que me fez sofrer
com sua carta aos jornais.
— Por que continua falando sobre uma carta enviada ao jornal? — Perguntou o
Sr. Pinter.
Tanto Charlotte como David o ignoraram.
Ela cambaleou com o pensamento de que ele idealizou tudo aquilo para destruí-la
de uma maneira tão calculada.
— Você... me odeia tanto? — Engasgou-se ao falar. — Pensou que era aceitável
me humilhar publicamente?
— Da mesma maneira que me humilhou? Sim! — Como se percebendo como suas
palavras eram duras, David deixou escapar um suspiro de exasperação. — Lembre-se que
na época eu não sabia a verdade do que tinha acontecido naquela noite em minha casa,
Charlotte.
— Posso compreender o desejo de me atacar — disse com lágrimas obstruindo-
lhe a garganta. — Mas o seu plano teria feito mal aos outros também. Minhas alunas,
professores, pessoas que dependiam de mim.
— Como minha família dependia de mim, antes de você arruinar minhas
esperanças de um casamento decente! — Quando ela retrocedeu, ele se comoveu. —
Porra, estou apenas tentando explicar o que senti então. Como eu justifica esse estúpido
plano para mim. Naquela época, me parecia... justo.
— Quando deixou de parecer justo? — Ela sussurrou com voz oca. — Ou foi mês
passado que decidiu...
— Não seja ridícula — disse em voz baixa, cheia de dor. — O mês passado, foi o
céu para mim. E o inferno. Eu queria dizer a você, especialmente depois que eu percebi...
— Interrompeu-se com um olhar de frustração ao Sr. Pinter. — Mas sei o que você
imaginaria.
— Que não conheço você em absoluto? — Ela não podia conter as lágrimas por
mais tempo. Enquanto corriam pela bochecha, ela o olhou com acusação. — O homem
que pensei que era meu amigo era apenas um produto da minha imaginação? Em seu
lugar, me parece que é exatamente o tipo de homem cruel e manipulador que era meu
pai.
Ele retrocedeu.
— Não! Eu nunca levei a cabo meu plano.
— Por que não, quando planejou tão meticulosamente?
— Devido as suas cartas. Eu queria te odiar, mas simplesmente... você não me
permitiu. Desde que a primeira carta, eu vi a garota por quem eu havia caído de amores
uma vez, e eu não pude continuar com raiva. Depois de apenas um punhado de cartas
decidi que não poderia ir em frente com o plano. Depois disso...
— Fingiu ser meu amigo.
— Eu era seu amigo, porra! Eu ainda sou. Nada mudou, não para mim.
E tudo tinha mudado para ela. Ele tinha mentido repetidamente, manipulando-a,
escondendo informações importantes dela, e para quê? Assim, poderia salvar a
escola? Mas porquê?
O Sr. Pinter pigarreou.
— Como sua esposa se encaixa exatamente nesse arranjo acolhedor, milorde?
David voltou um olhar zangado ao Sr. Pinter.
— Ela não tinha nada a ver com isso! Casei com Sarah por sua fortuna, e ela casou
comigo por meu título. É um sistema comum, e um que tenho certeza que você já sabe ou
não me perseguiria desta forma.
Olhos do agente se estreitaram.
— Estou tentando chegar à verdade, milorde.
David deixou escapar uma risada.
— Ao revelar meus segredos a uma mulher que não tinha nada a ver com a morte
de minha esposa?
— Você tem certeza? — Pinter disse friamente.
Quando o agente voltou um olhar duro a Charlotte, um arrepio de horror passou
por ela.
— O que está dizendo, senhor?
— Você e Sua Senhoria tem sido claramente... amigável... desde alguns anos.
Como posso ter certeza de que não conspiraram para matar a esposa dele?
— Eu nem sabia que o homem com quem me correspondia era Kirkwood
Senhor! — Ela protestou. — Como poderia ter - conspirado - com ele?. Além disso, não
nós trouxe aqui para demonstrar que ele tem um álibi?
— Sim. Mas não estou falando dele agora. Qual é a sua desculpa? — Perguntou o
Sr. Pinter, David se levantou.
— Você perdeu o juízo, se acha que a senhora Harris faria mal a uma mosca. Ela
certamente não matou a minha mulher!
— Pode ter certeza disso? — O Sr. Pinter deu-lhe um olhar cínico. — Como sabe
que isso não é tudo uma atuação? Ela descobriu que você era o primo Michael, e, então,
se propôs a ganhá-lo para si mesma, eliminando sua esposa?
— Como você se atreve, senhor! — Charlotte protestou. — Sarah foi minha
aluna. Eu nunca iria machucá-la. E acredite em mim, se eu soubesse que o senhor
Kirkwood era o primo Michael, nunca teria aceitado a falsa herança que me ofereceu em
primeiro lugar.
— Talvez você viu os meios para salvar sua escola — Pinter disse — e aproveitou
esta oportunidade para regressar o golpe a ele, ao mesmo tempo ganhando dinheiro de
sua esposa.
Charlotte ficou boquiaberta.
— Essa é a acusação mais terrível que já ouvi!
— E imediatamente será refutada pelas cartas que me escreveu, — disse
David. — Se você quiser vê-las...
— O que você acha que meus homens estão procurando em sua casa, milorde?
— Não irão encontrá-las lá. — Um músculo marcou sob a mandíbula de David. —
O Sr. Baines as tem. Eu não queria correr o risco de minha esposa as encontrar e revelar o
meu segredo ao mundo. Ele também tem todas as cartas originais que enviei a senhora
Harris, já que seu secretário as copiava para impedir que ela reconhecesse minha letra.
Estranhamente, este pequeno engano tocou seu coração. Ele tinha ido a esse
extremo para evitar que ela soubesse a verdade? Que tipo de homem honesto e decente
teceria semelhante teia de enganos?
— Sr. Baines — ela disse, querendo acabar logo com aquela loucura e sair dali, —
se você desse as minhas cartas ao Sr. Pinter, ficaria muito grata. Agora, senhores, peço
que me perdoem. Tenho que voltar a minha escola.
Quando levantou-se, o Sr. Pinter também levantou-se.
— Não terminei com você, senhora Harris. Ainda não ouvi seu álibi para aquela
noite.
— Eu estava na escola!
— E ninguém a viu?
Pensou de novo na noite da morte de Sarah, quando sua pupila Lucy tinha
escapado com Diego Montalvo. Ela havia se retirado cedo.
— Não, em seguida, fui para a cama.
— A que horas foi isso? — Ele perguntou com uma voz severa. — E lembre-se,
vou interrogar os seus servos para confirmar o que me disser.
— Nove da noite.
— Então teve bastante tempo para escapar, viajar a Londres, abordar Lady
Kirkwood em seu quarto, e garantir que não representasse nenhuma ameaça para seu
romance com Lord Kirkwood.
Charlotte só podia olhar para o homem, espantada que pudesse fazer um
personagem tão vil para ela.
— Isto é suficiente! — Interrompeu David. — Eu gostaria de falar com você na
sala, o Sr. Pinter. Agora!
Embora o agente levantou uma sobrancelha para o tom imperioso de David, fez
um leve gesto e se dirigiu para a porta. Fez uma pausa para olhar para trás para o Sr.
Baines.
— Reúna as cartas para mim, senhor? Vou mandar um homem para ajudá-lo com
elas. Não queremos que falte nenhuma delas.
O Sr. Baines se retesou com a insinuação do homem, mas sabiamente segurou a
língua até que o Sr. Pinter e David saíram da sala. Então ele veio sentar-se ao lado da
senhora Harris.
— Sinto muito, senhora. Nunca sonhei que iria acusá-la de algo.
— Não é sua culpa —ela disse friamente. — É de seu empregador.
Agora que o Sr. Pinter havia ido, todas as consequências de suas acusações a
golpearam. Era ainda pior do que temia quando tinha dito a David que as autoridades
poderiam pensar que eles conspiraram juntos. Naquela época, ela não sabia que isso
seria uma prova de uma amizade anterior.
Que o Senhor a ajudasse, o que fazer?
O outro agente entrou na sala, mas ambos ignoraram.
— Sua Senhoria lamentou muito o plano lançado com tanta fúria, eu lhe asseguro
— O Sr. Baines continuou. — Ele tem andado louco nas últimas semanas, tentando
descobrir uma maneira de salvar a sua escola sem contar sobre sua identidade.
— É o subterfúgio que não entendo — disse ela. — Se ao menos tivesse me dito...
— Ele disse que, se viesse a conhecer a verdade, nunca aceitaria o dinheiro.
Bem, isso era verdade. Ficaria mortificada ao descobrir a quem estava em dívida e
por quê. Ela certamente não teria aceitado a ajuda.
Mas isso não muda o fato de que esteve nos braços dele e pedido para casar com
ele enquanto manteve esse segredo escondido.
— Uma vez que a situação se tornou intolerável com Pritchard, em primeiro lugar
— continuou o Sr. Baines, — ele se sentiu moralmente obrigado a repará-lo.
— Ah! O homem não tem um pingo de honra nele.
— Isso não é verdade, minha senhora! Ele trabalhou em um frenesi tentando
resolver suas dificuldades. Ele estava disposto a lhe dar trinta mil libras do próprio
dinheiro para compensar o que havia feito.
— É por isso que queria me dar o dinheiro? — Perguntou. — Ou foi uma maneira
de me controlar, ter voz no que ocorresse em minha escola?
Ela só não sabia em quem acreditar e pensar. David nunca tinha dito sequer uma
vez que a amava. E agora estava começando a perceber por que poderia ser. Mas até que
essa loucura acabasse e o assassino da esposa dele fosse preso, ela não poderia falar com
David a sós, nunca poderia saber com certeza.
Ela balançou a cabeça. Poderia nunca ter certeza? Agora sabia o tipo de engano
que ele era capaz. Como você poderia confiar nele novamente?
Tudo havia mudado entre eles, e ela temia que não pudessem voltar a consertar.
Eu tenho sua “amiga” a senhora Harris. Se você quiser vê-la de novo, vá a sua
fazenda em Berkshire e recuperou as joias que mantém em seu cofre. Então as leve para a Ilha
Saddle. Ela e eu esperaremos por você lá.
Venha sozinho e desarmado. Se não chegar na noite de amanhã, ela vai morrer, e sua
morte pesará em sua cabeça.
Richard Linley
O terror apoderou-se de seu coração, apertando-o até que quase não conseguia
respirar.
Olhou para Pinter, ele estava esperando.
— Richard tem de Charlotte.
Pinter tomou a carta das mãos intumescidas e a observou rapidamente.
— Onde fica a a Ilha Saddle?
David lutou para se acalmar. Ele tinha que manter a cabeça no lugar. A segurança
de Charlotte dependia disso.
— Fica na parte do rio Tamisa que passa pela minha propriedade. É pouco mais
do que um monte de grama com um mirante sobre ele. — Seu intestino apertou com o
pensamento de Charlotte, sendo forçada a atravessar o rio.
— Então, não há nada a obstruir a vista do outro lado? — Perguntou
Pinter. Quando David balançou a cabeça, Pinter franziu a testa. — Homens de
inteligência, o seu cunhado. Por ter de remar até a ilha, ele será capaz de ver
imediatamente se alguém está com você. Não seremos capaz de alcançar a ilha
separadamente sem que ele nos veja. Não há dúvida de que ele tem a intenção de deixar
a ilha de barco e ir pelo Tamisa até a costa. De lá, pode tomar qualquer barco que vá para
a França.
E se David não chegasse a tempo...
— Suponho que descobriu sobre as joias Kirkwood com Sarah, — apontou Giles.
— Não me importo com as joias Kirkwood! — Respondeu David. — Ele pode ficar
com cada uma delas, desde que não faça mal a Charlotte.
Se dirigiu para a porta, mas Pinter o deteve.
— Seja razoável sobre isso, Kirkwood. Deixe eu e meus homens
ajudarmos. Parece cada vez mais provável que matou sua esposa.
— Você não acha que não me dei conta disso? Mas não quero que se meta nisto e
mate Charlotte, também! Você mesmo disse que ele seria capaz de ver alguém vindo.
— Não à noite. Não há lua hoje a noite, e podemos estar em Berkshire em quatro
horas, cinco no máximo, bem antes do amanhecer. — Pinter olhou para ele. — Ele estará
esperando. Pensa que você está no campo? Lembra? Vai supor que levará tempo para a
mensagem chegar até você. Então, se você mostrar-se à noite, terá a vantagem.
— Como acredita nisso? Se ele não pode nós ver, tampouco seremos capazes
de vê-lo , droga.
— Ele vai ter que acender uma fogueira, mesmo que apenas para se manter
aquecido. E mesmo se você não faça, vai precisar de uma lanterna para chegar à
ilha. Portanto, uma vez que chegue com ela, nós poderemos ver você e ele, mas ele não
será capaz de nos ver.
Quando David franziu a testa, Pinter disse: — Ele pode não ser o único nisso, você
sabe. Se ele tiver outros homens e estiverem armados, como você planeja fazer para
combatê-los sozinho? Precisa da nossa ajuda.
David ficou tenso, mas Pinter tinha um ponto. Richard estava tão volátil que David
precisava estar preparado para tudo.
— Muito bem — disse por fim. — Mas você vai fazer o que eu disser. Se não
tivesse desperdiçado tempo perseguindo-a como suspeita, em vez de ir atrás do meu
maldito cunhado, ela não estaria neste perigo. Então não complique isso aqui também,
entendido?
Pinter ficou colorido de raiva, mas acenou com a cabeça.
— Então vamos. Meu faeton será o mais rápido. Você pode viajar comigo. O resto
deles pode vir atrás na carruagem.
Que Deus ajude Richard se ele fizesse algo a um fio de cabelo de Charlotte.
Porque se fizesse, David não descansaria até que o bastardo estivesse morto.
Charlotte não conseguia respirar, e não tinha nada a ver com a mordaça em sua
boca.
Richard e dois canalhas a levavam pelo Tâmisa, por que razão? ela não sabia.
Supôs que estivesse relacionado com a morte de Sarah, mas agora, tudo que
conseguia pensar era que estava amarrada e impotente no fundo do barco, com a cabeça
a centímetros do rio. O rio traiçoeiro e horrível.
Se o barco virasse, não seria capaz de ajudar a si mesma. Amarrada como estava,
afundaria como uma pedra. A água seria negra e fecharia sobre a sua cabeça, filtraria
através da mordaça, e ela não seria sequer capaz de prender a respiração...
Não percebeu que estava ofegante e gemendo sob a mandíbula até que um dos
bandidos de Richard a cutucou no ombro com o pé.
— Qual é o problema com ela? — Perguntou Richard. — Parece como se estivesse
se afogando.
Tomando a lanterna pendurada em um gancho na proa do barco, Richard
inclinou-se para ela. Isso fez com que o barco inclinasse, e só piorou seu problema
respiratório. Estava começando a ver os pontos atrás dos olhos. Oh Deus, não podia
perder a consciência, não aqui, não agora, com a água tão perto...
— Se eu tirar a mordaça, você prometer que não vai gritar? — Perguntou Richard.
De alguma forma, conseguiu fazer um aceno de cabeça.
Ele tirou a mordaça, e ela respirou fundo várias vezes. Ainda estava amarrada, e
ainda estava viajando pelo rio, mas pelo menos podia respirar.
— Você não vai ficar doente, certo? — Richard perguntou.
— Acho que não —sussurrou. — Acha que poderia desatar meus pés... também?
Ele considerou um momento, depois inclinou-se para cortar os laços dos
tornozelos. — Não acho que você possa nadar sem as mãos livres.
Embora ela não soubesse nadar, o pânico tinha diminuído um pouco mais por ter
as pernas livres.
— Não espero que você seja tão covarde — acrescentou ele. — Sarah estava
sempre falando sobre a mulher forte você é.
Perversamente, estas palavras depreciativas reforçaram sua coragem.
— Por que você está fazendo isso?
Se ia morrer, pelo menos, deveria saber a que propósito serviria.
Ele desviou o olhar.
— Tenho que ir para a França, e preciso de dinheiro. Seu amante vai me dar as
joias em troca de ter você de volta. Imagino que será mais fácil par ele do por as mãos
sobre a quantidade de dinheiro que preciso. Além disso, elas valem o olho da cara na
França.
Richard tinha a intenção de pedir um resgate por ela a Davi?
— Você sabe que ele não está na cidade neste momento — disse, lutando com
um novo alarme. — Como você vai chegar a ele?
— Giles vai encontrá-lo para mim, se ele sabe o que é bom para ele.
E se não conseguisse? Ela tentou dizer que Terence logo perceberia que ela
estava desaparecida e viria atrás dela. Mas como ele saberia onde estava, ou que havia
sido sequestrada?
— Por que você tem que deixar o país? — Ela perguntou, lembrando o que Amelia
havia dito como Lucas mantinha seus medos longe da mente. Se ela pudesse manter
Richard falando...
— Por que mais? Meus devedores estão me assediando. E é tudo por causa de
Kirkwood. Como se atreve a dar o dinheiro da herança de Sarah que deveria ter dado a
mim! Sarah nunca teria deixado o dinheiro para sua pequena escola. Ele inventou esse
legado. Eu sei que ele fez.
Ela piscou.
— Como você soube da herança?
— Ouvi os dois conversando sobre isso a noite que estavam na casa da cidade. —
Richard zombou dela. — Vocês faziam um par muito agradável também. Eu me pergunto
se minha irmã estava ciente de que você e o marido dela estavam tendo um caso.
— Nós não estávamos! Tudo o que houve entre David e eu aconteceu após a
morte dela.
Ele lhe deu um olhar incrédulo.
— E esse dinheiro não era da herança de sua irmã, de qualquer maneira — disse
ela. Talvez se pudesse garantir que David só tinha usado de sua herança de direito, ele iria
ver sentido e parar com essa loucura. E deixá-la fora deste barco miserável. — Era
dinheiro do David. Ele fingiu que Sarah tinha deixado um legado para a escola, porque
sabia que eu não iria aceitar o dinheiro de outra forma.
— Suponho que tenha sido o que ele disse — disse Richard com mau humor.
— É a verdade — respondeu ela. — Como você disse, Sarah nunca teria tentado
ajudar a escola. Além disso, ela não tinha um testamento. — Ela suavizou seu tom. —
Tenho certeza que teria deixado tudo para você, se pudesse.
Inexplicavelmente ele ficou branco, então virou o rosto.
Uma vez que ele ficou em silêncio, ela percebeu mais uma vez, a água e a
instabilidade do barco. Embora não pudesse ver o rio a partir do seu ponto de vista, podia
sentir e ouvir a ponta da mesma mais além. O medo voltou a subir em seu peito. Continue
falando ou nunca conseguirá.
— Então, onde estamos indo? — Ela perguntou, com a voz trêmula.
— Berkshire. Há uma ilha no rio adjacente à propriedade de David
— Sim, eu sei. — Uma risada histérica veio de sua garganta. Havia conseguido
evitar cruzar a água até a ilha Saddle anos atrás, e agora estava sendo arrastada até lá
contra sua vontade. Se David estivesse realmente querendo castigá-la por conta da carta,
este seria certamente o desfecho.
Mas ela já não acreditava que ele quisesse castigá-la. Lendo as cartas ficou curada
desse temor. O Senhor a ajudasse, alguma vez veria David de novo?
— Por que vamos a ilha Saddle —perguntou, desesperada para ignorar o som de
água correndo para além dos lados do barco.
— Porque a minha mensagem para Kirkwood dizia que o encontraríamos ali com
as joias.
Aventurou-se a fazer a pergunta que tinha muito medo de perguntar antes.
— E se ele não receber a mensagem?
— É melhor fazê-lo — retrucou Richard. Quando ela queixou-se, Richard parecia
molesto. — Ele vai receber, não se preocupe. Embora não entendo a razão pela qual as
autoridades o deixaram ir para o campo. Deveriam ter detido e acusado de assassinato
quando leram minha carta sobre a nota de suicídio.
— Você enviou aquela carta?
— Bem, sim enviei. Não sei por que não foi preso na mesma hora.
— Porque ele não a matou!
— Acho que você pensou que estava realmente indo dar um passeio naquela
noite — Richard disse severamente.
Quando registrou as palavras, o sangue de Charlotte congelou.
— Como você sabe onde ele estava?
Um estranho silêncio caiu sobre ele.
— O agente da Bow Street me disse.
— O Sr. Pinter nem sequer mencionou a mim. Eu ficaria muito surpresa se
mencionasse isso a você. E sei que os jornais não disseram nada. — O coração de
Charlotte, clamava em seu peito. — Não podia saber que David estava em uma
caminhada, a menos que você estivesse lá.
— Devo ter ouvido
— Você matou Sarah, não?
Ele a fulminou com um olhar.
— Isso é um absurdo.
Provavelmente não deveria ter manifestado a sua suspeita em voz alta, mas agora
que o fez, queria saber a verdade.
— Se você estava lá naquela noite...
— E se eu estava lá? — Trabalhando um músculo do maxilar. — Você acha que eu
poderia matar minha própria irmã?
— É por isso que está saindo do país, não? Porque tem medo que encontrem o
diário de Sarah, e ela tenha escrito algo que o incrimine?
— Já chega! — Ele estalou. — Você não sabe o que você está falando.
— Eu sei que Sarah poderia ser difícil às vezes. Confie em mim, houve momentos
em que eu queria matá-la...
— Eu não a matei, droga! Eu a amava!
— Tenho certeza que não queria fazer — disse, determinada a descobrir a
verdade. — Deve ter sido um acidente. Nunca iria machucá-la de propósito.
— Não nunca.
— Ela o levou a fazê-lo, tenho certeza que fez. Provavelmente disse algo doloroso,
como sempre fazia, e...
— Ela não me daria o dinheiro! — Então, como se percebesse o que tinha
admitido, deixou-se cair no banco e cobriu o rosto com as mãos. — Ela não me daria mais
o maldito dinheiro.
Ela teve que se controlar totalmente para não reagir ante a admissão.
— Diga-me — disse ela, usando a voz suave que costumava usar quando uma das
meninas se aproximava de um sentimento de culpa por alguma infração. — Você vai se
sentir melhor se falar sobre isso.
E, em seguida, pelo menos, ela saberia a verdade.
Por um momento, pensou que ele não iria responder. Em seguida, ele levantou a
cabeça para olhar para o rio.
— Tudo que eu queria era que ela surrupiasse um pouco mais de dinheiro de
Kirkwood. Apenas o suficiente para pagar o saldo do que eu devia ao maldito Timms,
antes das coisas ficarem tão ruins que ele enviasse seus asseclas atrás de mim.
— E ela se recusou, — Charlotte espetou.
— Ela disse que estava cansada de lutar com Kirkwood. Tudo seria mais fácil se
pudesse chegar a um entendimento com ele. O que significava que não poderia me dar
mais dinheiro. — Ele franziu a testa na noite. — Por isso, discutimos. E a empurrei na
banheira. No entanto, ela bateu um lado da cabeça e perdeu a consciência. Tudo
aconteceu tão rápido. Eu não podia acreditar. Ela apenas deslizou sob a água, e eu
fiquei... não sabia o que fazer.
— Então foi um acidente — Charlotte disse, lutando para conter a
repugnância. Poderia ter acontecido com qualquer um. Certamente, se você explicar às
autoridades,
— Está louca? Eles vão dizer que eu deveria tê-la tirado da banheira e levado a um
médico. Eu não fiz nada, enquanto ela estava se afogando! Eles vão me dizer para matei a
minha única irmã.
Porque ele tinha, mas não era tola o bastante para dizer. Deus do céu, ela estava
nas garras de um assassino. Pode ser que ele não tivesse segurado Sarah debaixo d'água,
mas ele a tinha matado, tão certo como se tivesse feito. Como Charlotte poderia esperar
que ele a deixaria ir?
— Uma vez que viu que ela estava morta, cortou seus pulsos e forjou a nota de
suicídio, suponho — disse Charlotte com voz apagada. — Para fazer parecer como se ela
tivesse cometido suicídio.
— Eu tinha que fazer alguma coisa, você não entende? Eu não podia... Eu sabia
que iam me enforcar. Quando éramos crianças, costumávamos pregar peças uns sobre os
outros escrevendo cartas infames imitando a letra um do outro, eu consigo imitar a letra
dela muito bem.
— É claro que bem o suficiente para enganar as autoridades. — Ela ficou olhando
para ele. — Mas se a matou por acidente, por que escrever a carta que começou a
investigação?
Uma risada escapou dele.
— Pelo mesmo motivo que você sequestrei você - para conseguir dinheiro do
meu cunhado mesquinho. Depois da morte de Sarah, ele sentiu pena de mim e me deu o
que pedi. Mas então tudo mudou.Você apareceu em cena, levando o dinheiro com a
maldita herança.
— Então você o acusou de assassinato?
— Eu sabia que as autoridades nunca o levariam a um julgamento, não um
Visconde tão poderoso como ele — disse defensivamente. — Nem estava em casa. Mas
pensei que, se tornasse as coisas muito ruins para ele, ficaria desesperado para limpar o
nome. — Arrastou uma respiração pesada. — Então, poderia fornecer um álibi, é claro,
em troca de uma soma considerável. Eu poderia dizer que ele tinha bebido comigo, ido
jogar ou algo assim. Mas em vez de acusá-lo, eles começaram a fazer perguntas aos
criados. A próxima coisa que eu soube, é que estavam falando sobre um diário... eu nem
sequer sabia que Sarah tinha um diário! E com certeza ela teria escrito sobre meus
pecados nele. Em seguida, viriam atrás de mim com certeza.
Olhando para a água, ele franziu a testa.
— Ainda assim, eu poderia ter oferecido para esclarecer tudo se pudesse tê-lo
encontrado. Mas ele estava no campo em algum lugar, e não me diziam onde, e os
homens de Timms estavam respirando no meu pescoço... Ele não me deixou outra opção,
senão sair correndo desta forma. Eu tinha que fazer alguma coisa.
Um olhar complacente atravessou seu rosto. — Além disso, ele merece sofrer. Se
não fosse por ele e sua mesquinhez, Sarah ainda estaria viva.
Charlotte não disse nada, temendo que ele pudesse mostrar a sua ira se ela
falasse. Como Richard não podia ver que ele arranjou tudo aquilo sobre si mesmo? Em
primeiro lugar, tinha usado a irmã para seus próprios propósitos. Então, quando ela se
negou a ajudar, ele a matou e tentou enquadrar um homem inocente pelo crime que ele
havia cometido.
O que faria com ela uma vez que já não tivesse mais qualquer utilidade para
ele? Estremeceu com o pensamento.
Mas uma coisa sabia com certeza - ela não iria para baixo sem lutar.
CAPÍTULO VINTE E SETE
David estava na beira do rio com a pasta de joias na mão, tentando ver além da
lanterna. Graças a Deus que a mãe estava fora visitando a irmã. Porque explicar sua
súbita aparição teria sido difícil.
Não tão difícil como isto, no entanto. Richard tinha que estar ali em algum lugar.
David levantou a lanterna bem alto, aliviado quando a luz chegou à beira da Ilha
Saddle. Pensou ter visto um lampejo na ilha além da rotunda, mas não havia nenhum
som, o que o alarmou. Tudo que podia ouvir era a água que banhava o barco atracado no
cais próximo.
Em algum lugar na margem oposta do rio Tâmisa estava Pinter, à espera de seus
homens. Ele queria que David permanecesse na baía até que chegassem, mas David não
tinha certeza porque haviam se atrasado, e não quis dar a possibilidade de Richard
prejudicar Charlotte, enquanto estava cruzando os polegares. Tinha a intenção de regatá-
la. Agora .
— Richard — Gritou através da água. — Onde você está, porra? Venha buscar as
malditas joias! — No começo não viu nem ouviu nada. Em seguida, algo se mexeu sobre a
borda da luz da lanterna. Richard estava empurrando Charlotte à sua frente. Ela parecia
ter as mãos amarradas, e Richard tinha uma arma pressionada contra as costas dela. O
coração de David parou. Um deslizamento do pé, uma volta, e Charlotte estaria
morta. Maldito fosse o filho da puta!
— Eu não o esperava tão cedo — Richard respondeu, a suspeita em sua voz.
— Eu não estava muito longe de Londres — David mentiu. Em seguida, voltou a
atenção para Charlotte, desejando que pudesse vê-la melhor. — Charlotte, você está
bem?
— Ela está viva e bem — Richard disse — mas ela só vai ficar desse jeito se você
me der as joias.
— Quero ouvir ela mesma dizer! — Interrompeu David.
Quando Richard murmurou, ela gritou: — Estou bem, David. Ele não me
machucou, eu juro. — Sua voz soou surpreendentemente tranquila, e isso diminuiu o
pânico de David ligeiramente.
— Apenas reme por aqui com as joias —, ordenou Richard — e ela permanecerá
perfeitamente segura.
Franzindo a testa, David concordou. Jogou o saco no barco a remo, e equilibrou a
lanterna no banco sobressalente, subiu e pegou os remos. Havia remado através da ilha
Saddle cem vezes na juventude, mas a nunca tinha sentido a distância antes. Cada minuto
que estava em jogo fazia seu pulso bater a mil, e sentiu um suor frio no momento que
chegou ao outro lado. Ele só queria acabar com isso, e assim poder ter Charlotte
novamente. Não sentir-se-ia seguro até que a tivesse longe das garras de Richard.
Depois de puxar o barco para a borda e pegar a lanterna e a maleta.
— Ainda não — disse Richard. — Tire o casaco e colete e jogue no barco. —
Quando Davi fez isso, acrescentou, — Agora de a volta em um círculo. — Embora David
tinha considerado carregar uma arma, Pinter o aconselhou não fazer, prevendo essa
atitude por parte de Richard. Mas a faca escondida na bota seria suficiente, se pudesse
chegar perto o suficiente para usá-la.
Uma vez que Richard ficou convencido de que David não tinha armas, disse: —
Traga o saco e o coloque sobre a rocha entre nós. — Quando Davi fez, Richard disse: —
Agora, volte para o barco.
David não se mexeu.
— Eu quero Charlotte.
— A terá. Basta fazer o que digo.
Relutantemente, David recuou sobre o banco de areia. Para sua surpresa, Richard
puxou um punhal do bolso, ainda segurando a pistola na cabeça de Charlotte, e cortou as
cordas.
— Tudo bem, senhora Harris, vá buscar o saco. E não pense correr para o seu
amante, ou vou atirar em você pelas costas.
— Nunca faria isso — disse ela com firmeza. — Eu sei que no fundo você é um
bom homem, Richard. Você não quer me machucar. Deixe-me apenas ir com David.
— Silêncio! — Exclamou Richard e levantou a arma. O som encheu de horror o
coração de David.
— Faça o que ele diz, Charlotte — David disse com voz rouca. Pálida, ela se
aproximou do que o saco.
— Abra-o e mostre-me o que há nele — Pediu Richard.
Quando ela estava de joelhos para fazê-lo, David disse: — Você acha que eu iria
enganá-lo? Arriscando a vida dela?
— Você era bastante mesquinho quando minha irmã queria dinheiro.
— Isso não é a mesma coisa. Eu não sabia que a vida de Sarah dependia disso —
David segurou a língua.
O olhar de Richard disparou para ele.
— O que você está falando? — Pinter tinha dito que mantivesse Richard fora de
equilíbrio, que tornaria mais fácil ganhar o controle da situação. Mas vendo a arma de
Richard hesitar agora, David reconsiderou esse conselho. A última coisa que queria era
uma bala desviasse e atingisse Charlotte.
— Nada.
— Você acha que matei Sarah, não? — Richard perguntou.
David ficou em silêncio.
— Mostre as malditas joias, senhora Harris.! — Richard grunhiu.
Charlotte levantou as caixas, abrindo uma por uma para revelar adereços de
rubis, um colar de esmeralda, três colares de pérolas, anéis de vários conjuntos com
diamantes, esmeraldas, pérolas e mais joias que tinham pertencido a sua família há
gerações.
— Bem, bem — disse Richard, os olhos brilhantes ao ver aquilo tudo. — Sarah não
estava mentindo quando se gabou de que tinha muito pouco da coleção para usar nas
festas e jantares. Muito bem, Kirkwood. — Fez um gesto a Charlotte. — Traga o saco
aqui.
Quando ela se moveu para ele, David disse: — Não. Ela fica.
Como Charlotte ficou imóvel, Richard olhou.
— Você esqueceu quem está segurando a arma?
— Você conseguiu o que queria — respondeu David. — Agora deixe Charlotte vir
comigo. No momento podemos remar novamente para terra, enquanto você pode ir. —
Richard mudou o alvo a David.
— A senhora Harris vai trazer o saco aqui, a menos que queira ver o amante
morrer diante de seus olhos.
— Fique aí, Charlotte — ele rosnou. — Ele não vou atirar.
— Não posso correr esse risco — disse ela enquanto corria de volta para Richard.
Passando o braço em volta da cintura dela, Richard começou a recuar, mantendo
a arma apontada para David.
— Combinamos que a deixaria ir, se eu trouxesse as joias — David disse enquanto
caminhava atrás deles. — Você não é um homem de palavra?
— Volte! — Ordenou Richard. — Eu preciso chegar à costa. Ninguém se atreveria
a se aproximar de mim, se eu a tiver. Então a deixarei ir.
— Não vou deixar você sair daqui com ela — disse David, movendo-se
inexoravelmente para a frente. — Você pode ter as joias, eu não me importo com
elas. Você vai ser um homem livre. Simplesmente deixe-a ir!
— Dê mais um passo a frente, e a mato! — Richard exclamou, e para horror de
David, começou a colocar a arma nas costa de Charlotte. Um barulho repentino veio do
outro lado da ilha, um grito e o som dos remos batendo na água. Aparentemente, Pinter
tinha ido atrás dos companheiros de Richard, quem quer que fossem. Surpreso, Richard
virou a cabeça nessa direção.
Então, tudo aconteceu de uma vez. Charlotte levou a bolsa para cima, derrubando
a arma que disparou no ar, sem causar danos ao céu.
Maldizendo, Richard desembainhou o punhal e se lançou sobre ela, mas David se
lançou sobre o homem, gritando a Charlotte para ela correr.
Eles rolaram pelo chão, David golpeou o jovem com os punhos enquanto Richard
aparava descontroladamente. Lutando para manter a punhal longe dele, David foi capaz
de alcançar a própria faca.
Conseguiu dar um gancho rígido que enviou a cabeça de Richard parar lá atrás,
mas assim David inclinou-se para pegar a faca, Richard tirou o próprio punhal e o afundou
profundamente na coxa de David. Agindo por puro reflexo, David puxou o punhal e o
enterrou no coração de Richard.
O rosto de Richard se contorceu de dor. Eu olhou para David, choque afilando
suas características. Quando o sangue filtrou sobre o colete branco, manchando de
vermelho, Richard olhou para baixo, e depois David.
— Eu quero que você saiba... eu... eu não... matei... — Engoli em seco. Em
seguida, caiu morto. David soltou Richard, sofrendo com as palavras do homem... e
sangue jorrando por toda parte. Ele sentiu-se tonto. Em algum lugar além dele, escutou o
grito de Charlotte.
Então, ela estava em seus braços, gritando repetidamente: — Oh Deus, oh Deus,
Davi, meu Deus, oh...
Essa foi a última coisa que ouviu antes de desmaiar.
FIM