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Sabrina Jeffries

Escola de Senhoritas 06
Casar antes de ir para cama com ele

Esta maravilhosa conclusão da série escola de senhoritas de Sabrina Jeffries, conta


a história de Charlotte Harris, a diretora da amada escola. Ao longo da série, os leitores se
perguntam sobre a relação de Charlotte com o misterioso correspondente, primo
Michael. Sua identidade será finalmente revelada neste divertido e sexy final.
Cara leitora,

Esta tem sido uma época turbulenta para mim. O primo Michael e eu
pusemos fim em nossa correspondência, depois dele ter ficado zangado com minhas
repetidas tentativas de determinar sua verdadeira identidade e disse que não iria
escrever mais.
O silêncio dele quase me destruiu. Nunca percebi o quanto dependia de seus
conselhos até agora, juntamente com sua amizade. Mas como ele poderia me
abandonar, especialmente com a escola neste momento de necessidade? Veja você,
meu vizinho, o Sr. Pritchard, está determinado a vender sua propriedade para um
homem que vai construir uma pista de corrida lá, e eu não posso ter um
empreendimento tão escandaloso tão perto. Quem não sei a quem recorrer.
Meu primo sempre me ajudou quando parecia que o Sr. Montalvo tinha o
mesmo objetivo, mas agora estou realmente em apuros, eu não consigo contatá-lo
em nenhum lugar.
Para piorar a situação, alguém está de volta na minha vida e isso me deixa
muito nervosa. Veja minha amiga, estive uma vez apaixonada por um jovem, e
terminou mal. Eu fiz algo imperdoável para ele. Agora acho que, com seu
súbito interesse renovado em mim, meus sentimentos em relação a ele são tão
profundos como eram antes.
Mas? Posso confiar em suas razões para me receber?Ele deve me odiar pelo
que fiz. Então, se me corteja por causa de algum segredo, ou a tardia necessidade
de vingança? Ou estará dizendo a verdade quando diz que deixou o nosso
passado para trás?
Ah, como gostaria de poder recorrer ao primo Michael para me aconselhar
sobre este assunto. Mas tenho medo de que essa não seja uma opção, inclusive a
maioria das minhas cartas implorando ficaram sem resposta. Estou por conta
própria agora ...
Não estou? Simplesmente não consigo pensar!
Desesperada por respostas,

Charlotte Harris,
Proprietária e diretora da Escola para Senhoritas da senhora Harris

CAPÍTULO UM
Richmond, Inglaterra

Novembro 1824

Charlotte Harris, diretora e proprietária da escola para senhoritas da senhora


Harris, sentada à sua mesa e lendo — duas vezes — a carta que havia escrito implorando
ao primo Michael, seu benfeitor anônimo.
Então ela parou. Que sentido tinha escrever, quando todas as cartas ao advogado
eram devolvidas fechadas?
Secou as mãos molhadas na saia. Ele devia saber da situação desesperada em que
a escola estava — ele sabia de tudo —. E até seis meses atrás, ele sempre lhe dizia tudo o
que sabia. Mas depois dela tanto pressioná-lo sobre sua identidade, ele interrompeu a
correspondência. E ela não soube mais uma palavra dele desde então.
O temor se apoderou dela instigando o nó que sentiu tantas vezes durante os
últimos dias no estômago. Ok, talvez ele tivesse boas razões para estar zangado com
ela. Ela havia concordado que não o pressionaria sobre a identidade dele.
No entanto, como ele poderia abandoná-la depois de tanto tempo? Ele fez parte
da fundação da escola há quatorze anos. Na verdade, sem ele não teria nenhuma escola.
Ela provavelmente ainda estaria definhando como uma professora na escola de
Chelsea, sonhando com o dia em que pudesse abrir sua própria instituição governada por
seu próprio currículo e suas próprias regras.
Agora, seu vizinho idiota, Sr. Pritchard, estava prestes a jogar tudo fora.
Ele estava espalhando rumores de que estava prestes a vender a propriedade de
Rockhurst, contigua a escola, ao proprietário de uma pista de corrida em Yorkshire.
Ela já podia ver aqueles homens brutos reunindo-se para apostar nas corridas,
esparramados no gramado da escola e abordando suas meninas.
Como poderia o primo Michael ficar parado e deixar isso acontecer?
Ele era dono da propriedade. Não se importava se ela fosse forçada a fechar?
Ela engasgou. Isso era o que mais doía — a possibilidade de que estivesse
permitindo que isso acontecesse para conseguir lucros mais altos. Desde o início, o
aluguel era menor do que o aplicado por outros proprietários em Richmond, e agora, com
os valores das propriedades na área nas alturas, estava ridiculamente baixo.
Em todos esses anos, seu misterioso primo nunca aumentou. Por quê? Ela não
tinha certeza. Talvez porque percebeu que ela só poderia pagar um aumento modesto?
Isso era especialmente verdadeiro agora que as matriculas haviam reduzido,
alimentada pelos escândalos de algumas das alunas do último ano. Se os rumores sobre
uma possível venda da propriedade vizinha resultassem verdadeiros, isso só iria piorar as
coisas.
Ela teria que lutar contra isso. Se tivesse pensado que Rockhurst seria comprada
meses atrás, ela e suas amigas teriam várias boas ideias para frustrar o Sr. Pritchard. Elas
poderiam fazer um pedido ao Conselho de Licenciamento de novo, ou...
— Desculpe-me, senhora.
Ela olhou para cima para ver o criado pessoal na porta.
—Sim, Terence?
—O Senhor Kirkwood está aqui para vê-la.
Fortes golpes começaram em seu peito. David? Aqui? Não, isso não podia ser.
Que razão poderia ser, agora que a esposa, uma ex-aluna da escola, estava morta?
Colocou as mãos tremulas debaixo da mesa para esconder do perceptivo
funcionário.
—Tem certeza de que é o Senhor Kirkwood?
—Ele que casou com Miss Sarahhh Linley, certo?
Ela assentiu com a cabeça.
—Disse o motivo da visita?
—Eu perguntei, mas disse que era particular — Terence, sempre protetor com
ela, cruzou os braços sobre o peito largo. —Então eu disse a ele que os homens não têm
direito a privacidade ao visitar uma escola para senhoritas.
—Terence — Seus lábios tremiam.
—E ele disse que não tinha o hábito de desistir de sua privacidade para a diversão
de lacaios insolentes.
Ela deu uma risada triste.
—Isso soa como algo que ele diria.
Terence parecia intrigado.
—Você o conhece, então? Eu não acho que ele já esteve aqui, mesmo depois que
se casou com a senhorita Linley..
—Eu o conheço socialmente através do Sr. Norcourt.
Isso era tanto um exagerado e uma enorme subestimação da sua associação com
David Masters, Visconde Kirkwood.
Ela teve a sorte dele ainda ser solteiro nas poucas ocasiões em que se
encontraram em sociedade. Dado o grande erro que havia cometido contra ele e contra
seus familiares anos atrás, se recusou a culpá-lo caso ele lhe desse um corte direto.
Na verdade, ela havia temido que ele fizesse exatamente isso, quando assistiu
meses atrás o funeral da pobre Sarah. Mas apesar de saber o quão desconfortável sua
presença seria, Charlotte se sentiu obrigada a comparecer.
Ela e David haviam trocado a mais breve das saudações, embora ele tivesse sido
surpreendentemente amigável para um homem que deveria desprezá-la.
Porque justamente lembrar-se do verão do grande desastre a fazia balançar.
Então, o que na terra o trouxe aqui? Não poderia imaginar uma situação mais
desconfortável. Em todos esses anos, ela e David nunca estiveram a sós, ela nunca falou
sobre o que tinha feito a ele.
—Devo mandá-lo passear? — perguntou Terence.
Por um momento sentiu-se tentada. Mas devia ser sem dúvida algo importante o
que o levou a visitar a mulher que uma vez o ofendeu horrivelmente.
—Não. O deixe entrar.
Depois que Terence saiu, ela verificou a aparência no espelho para se certificar de
que seus cachos castanhos não estavam torcidos e que o rosto não estava muito pálido.
Talvez fosse bobagem, mas queria mostrar o seu melhor ante ele, ante todas as
pessoas. Ela mal teve tempo para alisar a saia e beliscar as bochechas antes que ele
entrasse no escritório e encarar o homem com quem ela quase se casou há muito tempo.
Colocou um sorriso nos lábios, e estendeu a mão.
—Lorde Kirkwood. Bom vê-lo de novo.
Seus olhos brilhavam com alguma emoção escondida.
—Charlotte. — Ele pegou sua mão e apertou-a brevemente antes de soltá-la.
Charlotte. Não foi senhora Harris, mas Charlotte, que saiu da boca com aquela voz
rouca que fez seu coração saltar como quando ela tinha dezoito e ele quase vinte.
Não, não tinha que pensar nisso. Aqueles dias se foram para sempre, perdido nas
páginas do passado. O tempo e seus próprios erros, bem como os dois haviam mudado
irrevogavelmente.
Nada provava isso mais que do que alguns fios de cabelo grisalho na têmpora
masculina, e as poucas linhas de expressão na testa. Com 37 anos, David ainda era
extraordinariamente bonito, com a característica agressividade masculina de um homem
que sempre chamou atenção, desde o nariz até o queixo. A cor dos olhos lembrava os
bosques, de um verde frondoso e o cabelo grosso e ondulado de um marrom escuro
como as nuances da terra rica e cultivada.
E o corpo...
Ela deu a volta abruptamente e correu para trás da mesa, com medo de
embaraçar-se. Aos dezoito anos, havia notado o corpo dele de forma vaga, assim como
uma virgem que não familiarizada aos prazeres sensuais. Mas agora, como uma viúva de
certa idade, percebeu isso com a consciência a beira da dor.
Como Sarah tinha morrido há seis meses usava meio-luto, com uma mistura de
cor branca e preta. Calça na cor ébano revestiam quadris esbeltos e coxas musculosas de
um homem que estava em boa condição física, enquanto a jaqueta preta finamente
adaptada mostrava os ombros largos.
E ela poderia muito bem imaginar aquelas mãos grandes e enluvadas, que
seguravam a alça da pasta de couro, brincando sobre o corpo de uma mulher com a
promessa implícita da experiência...
Céus, ela tinha que parar com isso. Terence a estava olhando da porta com
curiosidade, obviamente tentando se certificar se David não iria machucá-la.
Ela franziu a testa.
—Obrigada, Javier. Você pode ir.
Com um grunhido o homem saiu.
—Raro espécime para um lacaio — disse David secamente.
—Ela era boxeador.
—Por que uma dama haveria de contratar um boxeador como criado?
Eriçada pelas críticas, disse:
—Porque suas habilidades são mais úteis para uma mulher que atravessa a cidade
sozinha que as sutilezas de sua conduta. — Ela disse com um sorriso forçado. — Mas
tenho certeza que não veio aqui para falar de meus criados, Senhor Kirkwood.
Sinalizando a cadeira a frente da escrivaninha, tomou seu próprio assento,
precisava de algo mais entre eles para manter a mente distraída da atração indesejada
pelo homem que certamente a odiava.
No entanto, ele não parecia odiá-la. Ele a olhava constantemente a medida que
sentava com a habilidade de um homem muito cômodo em seu entorno.
—Na verdade, vim para trazer boas notícias.
Boas notícias? Trazidas por ele?
—E o que poderia ser?
—Revendo as coisas de Sarah recentemente, descobri um codicilo ao testamento
escrito à mão. Nele, ela deixou uma grande soma de dinheiro para a sua escola.
Será que ela ouviu direito?
—Eu não entendo.
—Ela deixou parte de sua fortuna para a escola.
—Sua esposa, Sarah. Legou dinheiro para mim.
—Não é para você — ele corrigiu com uma elevação da testa —. Para a escola.
—Sim, é claro, para a escola. Mas... — pensamentos dos comentários sarcásticos
de Sarah, a maneira como a mulher havia se comportado no passado, o desrespeito
evidente que Sarah sempre mostrou para as colegas de classe.
—Mas porquê?
Ele deu de ombros.
—Ela sempre a admirou e pensava com carinho de seus dias aqui.
—Sua esposa, Sarah, pensava com carinho de seus dias aqui.
—Creio que já estabelecemos que a mulher que estamos falando é minha falecida
esposa, Sarah, — disse ele secamente.
Sem dúvida, ele achou sua resposta insultuosa.
—Desculpe-me. É só que... ela nunca pareceu... isto é...
—Sei que Sarah poderia ser... difícil. Mas acho que ela secretamente tinha você e
a escola em alta estima.
Charlotte murmurou:
—Isso era um segredo enterrado a uma profundidade suficiente para ser invisível
— Então gemeu — Eu sinto muito. Isso foi rude. É apenas o choque de acreditar que
Sarah tinha qualquer consideração especial por mim ou para a escola.
—Bem, a verdade da questão reside no tamanho do seu legado —. Ele a
observava com um olhar de intenções sombrias. —São trinta mil libras.
Charlotte engasgou.
—Oh Deus. Você tem certeza?
Um ligeiro sorriso se assomou nos lábios masculinos.
—Eu não estaria aqui se não fosse. —Retirou um maço de papéis da pasta e
colocou na frente dela. —Tomei a liberdade de chamar o advogado da família para
elaborar um documento totalmente legal que estabelece plenamente as indicações dadas
no codicilo. Sinta-se livre para ter seu próprio advogado para que o examine.
Ainda sem processar a notícia, Charlotte foi surpreendida com os documentos de
aspecto formais com o nome de uma sociedade de advogados estampadas na parte
superior.
—Antes de lê-lo, no entanto, — David disse: — Devo adverti-la de que há... uh...
alguns requisitos relativos à herança.
O olhar de Charlotte viajou até o dele. Claro que há. Isto começava a parecer um
conto de fadas, mas a vida nunca era tão ordenada. Sarah tinha sido bastante travessa,
por mais que Charlotte odiasse admitir isso sobre qualquer uma de suas alunas.
—Que tipo de requisitos?
—Sarah queria o dinheiro para financiar um novo prédio para abrigar a escola. E
que depois leve seu nome, é claro.
—Claro — disse mecanicamente, mas sua mente estava em outro lugar, tentando
dar sentido a isso. —Desculpe-me, senhor, porque sei que isso soa um insulto novo,
mas... bem, sua esposa nem sequer contribuía com dinheiro para as instituições de
caridade que apoiamos. Não posso imaginar porque iria legar uma fortuna para construir
uma nova escola.
—Na verdade, ela doou a um grande número de instituições de caridade de forma
anônima — disse suavemente. —Ela era muito mais filantrópica do que qualquer um
pudesse imaginar.
O quadro que ele pintava de Sarah era tão estranho que levava a
desconfiar. Charlotte odiava falar mal dos mortos, mas ela tinha que saber o que estava
errado.
—Mais uma vez eu tenho que pedir perdão, mas pensei que o principal interesse
de Sarah eram os convites, não a caridade. — Essa foi a maneira mais gentil que poderia
colocá-lo.
Ainda assim, ele corou.
—Sim, bem, isso é verdade. Mas isso foi em função do seu desejo de subir na
sociedade. Ela queria ser aceita entre um seleto grupo de senhoras. E sua aceitação veio a
um custo elevado.
—No entanto, ainda tinha dinheiro suficiente para deixar a escola uma soma
enorme?
Ele lhe deu um leve sorriso.
—A fortuna de Sarah era substancial. Por que você acha que nós fomos forçados a
fugir há seis anos? O pai dela não era muito feliz em ver que tanto dinheiro iria para um
preguiçoso com um título.
A conversa estava dançando muito perto de seus próprios anos, a situação que
ocorreu há muito tempo, e que era a última coisa que ela queria.
No entanto, ela não podia ignorar seu discurso de abertura.
—Falando da família de Sarah, como eles se sentem sobre esse legado?
—Eles não sabem nada, e eu prefiro que permaneça assim tanto tempo quanto
possível. Seria uma dor para o irmão dela, em particular, ao saber que Sarah iria deixar
dinheiro para a escola, em vez de seus irmãos. Ela e Richard eram muito próximos, e ela o
deixou apenas uma quantia simbólica. Espero poder contar com a sua discrição.
—Claro — disse ela.
Ele limpou a garganta.
—Sobre o edifício... Eu entendo que a situação da escola é bastante instável no
momento. Samuel Pritchard planeja vender Rockhurst a um companheiro que dirige um
centro de corrida.
—Você conhece o Sr. Pritchard?
—Nós nos encontramos em sociedade uma ou duas vezes.
Ele se inclinou.
—Você sabe se a venda é certa? Ele vai arruinar a escola se construir uma pista de
corridas na porta ao lado.
—Posso ver como isso iria criar dificuldades para você — disse David. — Mas
certamente poderia vender esta casa e comprar uma propriedade para construir a escola
em outro lugar. Isso poderia resolver suas dificuldades, não?
—Pelo amor de Deus, não. Além do fato de que prefiro este lugar, eu não tenho a
posse da casa.
Ele não se mostrou surpreso ao ouvir isso.
—Então, quem tem?
Charlotte olhou as mãos, se perguntando o que David poderia pensar de seu
relacionamento estranho.
—Para ser honesta, não sei o nome real do meu senhorio. Quando ele ofereceu o
imóvel para meu uso, foi com a condição de que ele permanecesse anônimo. Ele... uh...
ele se comunica comigo por um apelido. Nós conversamos através de um advogado,
Sr. Jose Baines.
—O Procurador de Norcourt — perguntou David.
—Sim, isso mesmo —. Anthony Dalton, Senhor Norcourt, era um dos melhores
amigos de David e que se casar com Madeline, uma ex-professora da escola, Charlotte —.
Anthony e eu nos divertimos muito quando descobrimos que primo Michael e eu
tínhamos o mesmo advogado que ele. Você conhece o Sr. Baines?
—Só por alto. — Seus olhos se estreitaram. — O primo Michael. Sarah o
mencionou uma vez. Ele é o seu benfeitor anônimo?
—Sim, apesar de estar praticamente inexistente nos últimos dias.
—É uma pena — disse secamente —. Agora, sobre a sua situação com o Sr.
Pritchard...
Mas ela não ouviu nada, pega por um pensamento incrível. O que aconteceria se
David fosse o primo Michael? Isso poderia explicar o aparecimento súbito — do legado —
de Sarah para construir uma nova escola?
Não, era impossível. Seu — primo — ele a abordou através do Sr. Baines apenas
quatro anos após o grande verão desastroso e sua fuga precipitada com Jimmy Harris.
Ele havia dito que seu falecido marido havia mencionado seu interesse em abrir
uma escola para jovens senhoras e que queria ajudá-la a realizar seu sonho. Naquela
época, a humilhação pública de David pelas suas mãos ainda estaria fresca na mente dele.
Ele deveria odiá-la violentamente. Certamente não teria ajudado a fundar uma
escola.
Além disso, ela tinha visto o nome do advogado no topo do documento de David,
e não era Jose Baines.
—Charlotte — David espetou —. O que você acha?
Ela piscou e então suspirou.
—Receio que devo voltar a pedir perdão. Estava tão absorta na consideração
desse legado que perdi o que você disse sobre o Sr. Pritchard, milord.
—Milord? — Seus olhos escureceram. — Certamente nos conhecemos o
suficiente para ser menos formal —. Sua voz se suavizou. — Costumava me chamar de
David.
—Isso foi antes de destruiu sua vida. — Amaldiçoou sua língua rápida.
—Isso foi há muito tempo atrás. Somos pessoas diferentes agora — ele
murmurou, claramente não querendo falar sobre isso. Forçou um sorriso. — Além disso,
graças ao codicilo inesperado da minha esposa, vamos ter que aprender a lidar um com o
outro. Estamos praticamente amarrados pelos próximos meses. — Ela prendeu a
respiração.
—Perdão?
—Não estava realmente ouvindo o que eu disse. — Seu tom tornou-se irônico. —
Serei o mais breve possível, de modo a manter sua atenção. O legado de Sarah sujeita
que eu supervisione a construção da nova escola. Então veja você, Charlotte, nós vamos
teremos tempo de sobra para nos readaptarmos.
Capítulo Dois

David pediu a Deus que nunca tivesse permitido a ele começar com a farsa do
primo Michael. Seu coração estava trovejando tão forte que tinha certeza que ela iria
ouvi-lo, e iria espremer até a última gota de sua vontade, se ele não dissesse a verdade.
Mas isso não era possível. A única maneira de resolver esta situação de risco em
que a escola se encontrava era entrar de novo na vida dela, como ele mesmo, sem que
ela soubesse coisa alguma sobre seu alter ego.
No entanto, ele percebeu a largura dos belos olhos azuis e a palidez da bochecha
semelhante ao pêssego que o surpreendeu. Isso seria bom? Ou seria um mau presságio
para o seu plano?
Era difícil dizer. Charlotte sempre teve um talento especial para confundi-lo, como
quando era uma menina, ela fez coisas tão pouco ortodoxas como escalar árvores e
montar em pelo no cavalo dele. Apesar dos anos que a conhecia, nunca soube muito bem
o que esperar dela.
Isso seria condenado difícil, inclusive mais do que os seis meses de luto havia
sofrido até agora, seis meses sem escrever, sem tranquiliza-la sobre a situação. Se
pudesse ter esperado todo o ano para vê-la, poderia ter sido mais fácil, mas as coisas se
tornaram muito sérias com Pritchard para isso.
Tanto, que havia se conformado em esperar até que pudesse levar meio luto,
quando a sociedade acharia menos escandalosa uma associação entre ele e uma bela
viúva.
Agora tinha que fingir que não sabia de todas as dificuldades que ela teve com a
escola até à data.
Esconder o fato de que eu não tinha ideia de como ela estava inquieta por não ter
noticias dele. Fingir que não estava plenamente consciente de como o suicídio de sua
esposa havia acrescentado aos problemas de Charlotte porque reviveu novamente cada
escândalo já falado sobre a escola.
Dizer que era o primo Michael estava fora de discussão. Tão ilógico como Sarah
ter deixado dinheiro para a escola, deveria parecer a Charlotte que ele estaria
desempenhando este papel durante todos esses anos. Ela iria exigir saber por que ele
passou os últimos 14 anos ajudando uma mulher que tinha todos os motivos para odiar.
E então teria que revelar a verdade — que tudo havia começado como um plano
diabólico para vingar-se dela.
Não importa que seu desejo de destruí-la e a pequena escola havia desaparecido
há muito tempo, porque a base do plano ainda existia.
Pritchard estava determinado a conseguir o que queria, não importa quem ou que
destruísse. Então, David teria que corrigir a bagunça abominável que havia criado antes
que ela descobrisse.
Infelizmente, a farsa que ele fez com o companheiro espanhol Diego Montalvo,
que fingiu querer comprar Rockhurst no ano anterior, havia demonstrado que David não
podia mais lidar com a questão de longe como primo Michael. Era necessário mais
controle, e isso significava que termina a farsa.
Horrível como tinha sido, a morte de Sarah lhe deu a oportunidade. Ele interviria
como ele mesmo, inventando um legado financiado com o dinheiro que ganhou com
alguns investimentos ao longo dos anos. Não mais — primo — e não mais cartas de
conselho.
Nem poderia dizer a verdade a Charlotte.
Sentir-se-ia arrasada quando percebesse que o amigo — o primo Michael — havia
semeado as sementes de sua destruição; Em seguida, ela iria resistir a deixá-lo ajudar.
Depois de perder a luta para salvar Sarah de si mesma, se recusava a ver outra
mulher se afogar por causa dos erros dele. Sua consciência não permitiria deixar que
Charlotte perdesse a escola, única fonte de renda, por conta de uma farsa de sua
autoria. Isso significava que tinha de convencê-la a ver o sentido das coisas.
Sabendo que Charlotte seria terrivelmente difícil.
Especialmente quando ela olhava para ele como se tivesse lhe surgido chifres.
—Por que Sarah iria querer que você supervisionasse a construção da nova escola
— Perguntou.
—Você esqueceu o meu interesse em arquitetura?
—Uma coisa é ter a arquitetura como um hobby senhor. Outra bem diferente é o
desenho de um edifício inteiro.
Seu desdém excitou.
—O que Sarah sabia — e você não — é que o meu interesse em arquitetura é mais
do que apenas um hobby. Eu tenho trabalhado em estreita colaboração com o arquiteto
John Nash na construção da minha cidade natal, e eu era responsável pela maior parte da
restauração de Kirkwood Manor. Você não reconheceria agora.
—Estou certa que não — ela murmurou com um rubor súbito que o fez
cambalear.
Tão fácil como isso, ele foi catapultado de volta a festa de verão na casa de seus
pais e a lembrar um punhado de doces beijos. Meu Deus! Se continuasse corando como
um colegial quando se referisse ao seu passado, teria problemas para manter as mãos
longe dela.
Sufocou uma maldição. Ele teria problemas de qualquer maneira. Ela ainda era
uma beleza e, depois de todo esse tempo, seu sangue ainda fervia ao vê-la, a visão de seu
lábio inferior macio levemente inclinado, e a riqueza dos cachos vermelhos. Inclusive o
rosto maduro e a figura única e bem torneada, lhe deu vontade de jogá-la em cima da
mesa e tomá-la.
No entanto, ele ainda estava de luto por uma mulher que tinha escolhido mal,
ainda se afogando na culpa por seus próprios erros. Um relacionamento amoroso com
Charlotte só faria as coisas piores.
Como um tolo havia dado seu coração uma vez a ela, e agora ele não era tão
estúpido para fazê-lo novamente.
Não que ele tivesse muito de si mesmo ainda. Havia sobrevivido aos últimos anos
se mantendo a distância, e não estava disposto a se abrir para ela voltar a massacrá-lo e
transformá-lo em pó.
—O ponto é discutível, de qualquer maneira — Charlotte disse, assinalando
novamente a pergunta que ocupava. —Você não pode construir uma nova escola em uma
propriedade que não é minha.
—Então, compre um imóvel um outro lugar e construa a escola lá. — Ele
respondeu ofegante. Ele já havia dito o mesmo antes em algumas das cartas, mas ela o
ignorou. Então, ele teve de se abster de escrever, rezando para que uma vez que a
conexão fosse restaurada, e convencê-la a confiar nele, seria mais fácil de usar, em vez
do, primo. Teria que convencê-la a sair da escola antes de ser expulsa. Ela não sabia quão
próxima estava do perigo. E ele não poderia dizer, sem o seu castelo de cartas viesse
abaixo.
—Você assume que posso me permitir tal coisa —, disse. — Inclusive com o
legado.
—Você não ganhou uma boa quantia no evento beneficente na última primavera,
quando o mágico se apresentou? Se a isto somarmos uma hipoteca razoável e o dinheiro
de Sarah, você pode comprar uma propriedade e terá de sobra para construir um novo
lugar.
Ela arqueou uma sobrancelha.
—Você tem alguma ideia de quanto custa para construir perto de Londres nos dias
de hoje?
—Tem que ser perto de Londres? — disse, irritado. — Há escolas em toda
Inglaterra.
—Sim, mas nenhuma com a reputação da minha. E eu não quero deixar
Richmond. Meus amigos estão por perto, e para que eles ter as meninas perto da cidade
significa uma melhor chance de educá-las. A menos que o Sr. Pritchard faça uma vil
escolha de inquilino e me ponha em uma situação onde tenha que me mudar, tenho a
intenção de continuar aqui.
Ela não iria continuar ali por muito tempo, porque a propriedade não pertencia ao
primo Michael. Pertencia a Pritchard. David tinha um penhor secreto sobre a propriedade
onde coletava o aluguel, mas ficaria sem isso no prazo de oito meses, tempo apenas o
suficiente para construir uma nova escola.
Droga, por que ele não tinha inventado um legado grande o suficiente para ela
comprar um imóvel ali onde quisesse?
Porque ele não havia pensado que ela iria insistir em ficar perto da cidade. E
porque ele não soube que ela acharia a quantidade suficientemente suspeita como
estava.
—Não está pensando no futuro, Charlotte. Um dia, seu primo com certeza
aumentará o aluguel além do que você pode pagar, e então você vai fazer?
Com um pequeno gesto franziu o cenho.
—Talvez... — Ela se animou. —O que aconteceria se eu tentasse comprar a
propriedade do primo Michael?
Seu intestino se contorceu.
—Tem certeza que venderia?
—Não. — Um sorriso tocou seus lábios. —Mas posso ser muito persuasiva
quando quero.
Ele sabia muito bem disso. Infelizmente, ela estaria lidando com Pritchard, que
não poderia vender o imóvel porque estava amarrada.
—Todavia ainda teria que vendê-la devido as intenções de seu vizinho em
Rockhurst.
Ela se inclinou para trás, franzindo o cenho.
—Sim. É verdade. Embora possa ter alguns métodos para mitigar isso.
Ele sabia que seus métodos, não iriam funcionar. Pritchard queria recuperar a
propriedade no segundo em que a imposição findasse.
—Realmente seria melhor tentar comprar e construir em outro lugar.
—Mas não posso me dar a esse luxo.
—O que aconteceria se eu ajudá-la a encontrar um imóvel perto da cidade que
você possa pagar? Um lugar onde você possa construir a escola exatamente como deseja
— Ele poderia subsidiá-lo sem o conhecimento dela. Simplesmente faria um acordo
privado com o vendedor.
—Por que você faria isso? — Perguntou Charlotte, apertando os olhos.
Ela era tão inconstante como ele esperava.
—Porque devo honrar os desejos da minha falecida esposa. —Considerando a
quantidade de dano que sua esposa tinha feito para a reputação da escola, certamente
poderia ser perdoado por usar sua memória para amenizar as coisas. —Sarah teve
claramente um razão para dar este dinheiro. O mínimo que posso fazer como marido é
tentar terminar a tarefa estabelecida para mim.
Certamente dezoito anos haviam aumentado os sentidos de Charlotte.
Ele só teria que manter pendurada as trinta mil libras na frente dela. Se tivesse
feito como primo Michael, teria aumentado o aluguel para obrigá-la a fazer.
—Direi uma coisa, Charlotte, por que você não escreve a seu primo e veja o que
ele diz sobre vender o imóvel a você? Enquanto isso, amanhã trarei uma lista de
propriedades locais para venda. Poderíamos dar uma olhada e falar com os vendedores.
—Não posso. Amanhã é o encontro das damas de Londres.
—Ah, sim, uma das instituições de caridade que Sarah mencionou que estava
envolvida.
—Ela participou de poucas, e ainda quando o fazia, se queixava de gastar muito
tempo com elas. —As sobrancelhas acobreadas de Charlotte se juntaram em uma
carranca. —Você tem certeza de que ela deixou o dinheiro para a minha escola?
Ele tremeu de irritação.
—Está escrito no documento que lhe dei. Peça a seu advogado que o reveja.
—Farei isso, não se preocupe.
—Se não tiver um advogado, posso sugerir um.
—Tenho um advogado, pelo amor de Deus —, disse ela na defensiva. — Acha que
sou alguma idiota?
—Estava apenas indicando.
—Sim, sempre foi bom nisso, não? — Alfinetou. — Quando indica. Quando
sugere. Intimidando. Bem, ninguém me intimidará quanto à mudança desta escola até
que eu esteja absolutamente certa de que seja necessária — nem Pritchard, nem
ninguém. Não sou a mesma tola que era aos dezoito anos, Lorde David, e posso lidar com
meus próprios assuntos sem sua ajuda ou a de qualquer outro homem!
E com isso, o passado desabou entre eles, tão palpável quanto um muro de pedra.
Ele fez o possível para se acalmar. Já era ruim o suficiente que o golpe que ela
havia dado em seu coração e orgulho meia vida atrás continuasse doendo,
provavelmente, mais ainda hoje, porque ela estava ali, na frente dele. Mas ela persistiria
em pensar o pior dele, todavia?
Não que isso importasse, contanto que ele pudesse reparar o erro. Eles poderiam
ter matado o que houve entre eles naqueles dias inebriantes, mas ele ainda poderia
oferecer ajuda, inclusive sua amizade.
—Tenho certeza de que é uma mulher muito capaz —, disse depois de um tempo
— e não tenho vontade de forçá-la a qualquer coisa que não seja a atender seus
propósitos.
A mortificação fez surgir nas bochechas femininas um rubor inesperado.
—Desculpe-me, não deveria ter falado com tanta franqueza. — Ela se levantou. —
Sou grata a você por dar tanta atenção aos meus interesses, e muito honrada por Sarah
ter me deixado um legado. Mas antes que isso vá mais além, vou precisar que meu
advogado examine os documentos. Quando isso for feito, vou considerar todas as
possibilidades e ramificações, e lhe farei saber minha decisão. Isso vai levar tempo.
—Quanto tempo? — Exigiu ele.
—Não posso dizer. Mas vou mantê-lo informado.
A raiva fervia nele. Então, ela acreditava que com isso iria detê-lo, certo? Ao
inferno se conseguiria.
Ela fez um gesto em direção à porta.
—Agora, se me der licença, milord...
O formalismo deliberado em - milord - foi a última gota. Ele se levantou.
—Enquanto seu advogado estuda os documentos. — Seus olhos se estreitaram
sobre ela. — Tenho a intenção de estar aqui novamente amanhã. E no dia seguinte. E no
dia seguinte, até que você tome uma decisão. Não vou desonrar a memória de Sarah ao
deixar que este assunto se estenda.
Enquadrando os ombros, Charlotte abriu a boca, mas ele tinha um trunfo.
—Claro, você pode rejeitar a doação, e eu entendo se você fizer isso. Nunca
realmente gostou de mim.
Ela se encolheu em sua alusão à forma como ela havia o humilhado publicamente
naquele maldito verão. Bem. Agora ele havia deixado claro que tomaria sua recusa como
uma repetição do que havia acontecido anos atrás, a culpa poderia impedir de somar
mais insultos a ferida que havia causado no passado.
Ela suspirou.
—Me dê dois dias, até que meu advogado revise isso. Tenho minha reunião
amanhã, mas acho que está tudo em ordem com os documentos, você pode vir no dia
seguinte, e discutiremos como proceder.
—Obrigado. — Ele lutou para esconder o alívio, fez uma reverencia. —Até então.
Enquanto ele saia da sala, sabia que só havia vencido apenas uma pequena
escaramuça. O tempo tinha confirmado a opinião que Charlotte tinha dele, uma opinião
matizada pelas maquinações de seus pais e os eventos que saíram do controle. Isso não
seria fácil.
Mas, apesar de seu passado, ele pretendia salvá-la de si mesma. Desta vez não
seria como da última. Talvez, então, poderia finalmente colocar para descansar sua
persistente obsessão com Charlotte Harris e virar a página.
CAPÍTULO TRÊS
Berkshire

Última hora - Verão 1806


Na tarde que viajava à Kirkwood, Charlotte Page de dezoito anos de idade, queria
desesperadamente jogar o pai para fora da carruagem. Não era justo! Se não fosse pelo
pai, não estaria sentada do outro lado do capitão James Harris na festa do coronel Devlin
em Grosvenor Square. Inclusive poderia ter a chance de dançar com ele. O jovem e belo
oficial dançava muito bem, e tinha cérebro também. O melhor de tudo, era que ele a
tratava como se ela tivesse cérebro.
Ele era amável e atencioso e absolutamente nada parecido com o pai dela. Como
gostaria de poder dizer o mesmo sobre David Masters, o filho horrível do amigo horrível
de seu pai, o Visconde Kirkwood.
—Você será cortês com o Sr. Masters, não? — suplicou sua mãe. Que sentou
junto a Charlotte na mais recente aquisição do pai desta, uma carruagem de viagem tão
ricamente projetada que Charlotte estava morrendo de medo de enganchar a pulseira no
estofado de cetim.
—Ela será civilizada ou conhecerá a razão pela qual ser — o pai rosnou.
Quando a mãe encolheu, Charlotte quase mordeu a língua, tentando não dizer
nada que pudesse vir a criar problemas as duas.
—Se o Sr. Masters for civilizado comigo papai, eu certamente serei cortes com
ele. Embora eu duvide que o incomode. Por que o faria, quando você já garantiu a minha
mão e meu dote?
Seu pai apertou os lábios.
—Você tem sorte de que ele inclusive a note, senhorita, com dote ou não. A
família dele tem dinheiro suficiente e não precisa do nosso. Além disso, não é da sua
conta preocupar-se com quem recebe o seu dote. Essa é a minha preocupação.
—Mas serei eu a única que terá que viver com quem vier a casar, papai. E com um
homem que me quer, mas apenas por meu dinheiro.
—Como o capitão Harris?
—O q-que você quer dizer? — Ela tentou esconder seu interesse pelo oficial da
cavalaria, sabendo o que o pai iria pensar de um homem sem conexões, como um
pretendente.
Não sou cego. Notei que você e este homem conversam e dançam cada vez que
vamos para a casa do coronel Devlin. Harris é quem a deseja por seu dinheiro. Você pode
ter certeza que não está farejando em torno de você por qualquer outra razão.
A afirmação cruel disparou uma dor através do peito.
—Isso não é verdade — ela gritou, mas parou antes que pudesse mostrar quão
profundamente havia sido ferida. Como um tubarão, o pai atacou quando farejou sangue
na água. Ela módulo o tom. — O capitão Harris é um oficial de bem, honrado e não
cortejaria uma mulher só por seu dinheiro. Ele não fez sua fortuna, todavia ouso dizer que
fará em breve.
—Você não terá a chance de descobrir. Não terei ninguém rindo pelas minhas
costas, porque você se casou com um João ninguém. Esta com idade para se casar com o
Sr. Masters, e isso é tudo.
Papai não pode me forçar a se casar, papai não pode me forçar a casar, ela
cantava para si mesma. Agora, se ela pudesse acreditar.
—Não coloquei os olhos no Sr. Masters em dez anos. Você realmente espera que
me case com um estranho?
—Estranho? Você conhece sua família, e você brincou com ele quando eram
crianças. É o suficiente.
Era mais do que suficiente para ela não querer se casar com ele. Aos oito anos, ela
e sua família viviam perto de Kirkwood Park próximo a Reading. Ela seguia com adoração
David Masters e o irmão mais novo deste, Giles.
Um pouco moleque, fazia tudo o que eles dissessem - competiu em corridas,
jogou cricket, pulou sobre cercas. Inclusive havia tolerado que David mandasse nela.
Então, um dia em que tentou excluí-la de um jogo devido a suas saias, ela
informou a ele na frente dos meninos da vizinhança que poderia escalar, montar, subir,
inclusive usando o avental. E é obvio que ele teve que por a prova. E ficou tão furioso
quando ela ganhou ao chegar ao topo do carvalho favorito.
Isso foi quando os problemas começaram.
A besta disse que ela só ganhou porque tinha braços longos, como um macaco. As
outras crianças riram e dançaram em torno dele fazendo barulhos de macaco.
Devido aos pressupostos braços de macaco e cabelo encaracolado preso em duas
tranças presas que se assemelhavam a orelhas de macaco, a partir de então ela foi
apelidada de senhorita Macaco.
Ela teve que viver com o apelido vil muito tempo depois que David foi para a
escola na semana seguinte. Só terminou quando se mudaram para Londres para o pai
promover suas ambições políticas. Só Deus sabia como David seria agora, depois de anos
sendo uma criança mimada e servido como herdeiro de um visconde.
Ela disse:
—Há rumores de que o Sr. Masters e seus amigos são absolutamente
corrompidos. Você realmente quer me casar com um libertino arrependido? — Igual a
você? O pai dela nunca fez qualquer tentativa de esconder sua vida - suas amantes
desfilavam diante de sua mãe e as noites que passava bebendo com o amigo Charles Fox,
secretário de Negócios Estrangeiros, mas ela e a mãe mantinham silêncio.
Isso tornou mais difícil para Charlotte viver os anos que passaram e alvoroços dos
bêbados na casa do pai tornou-se intoleráveis.
—Masters não é um libertino. — O pai disse com uma risada. — Como todos os
jovens do sexo masculino, ele tem sua veia selvagem, mas é discreto. Isso é tudo o que
você pode esperar de um homem. E minhas investigações sobre seu caráter revelam que
é um aluno aplicado e um cavalheiro respeitado, bem ciente das obrigações de seu
titulo. — Em outras palavras, utilizou a influência de seu pai para influenciar seus
instrutores, sabia como montar em um bom espetáculo, quando necessário, e ela estava,
bastante consciente, de quão longe seu titulo poderia alcançar. Havia colocado seu dedo
na sociedade o suficiente para saber como interpretar as mentiras habituais de um mau
chamado cavalheiro.
O pai estava descrevendo um homem exatamente como ele. E a última coisa que
ela queria era um marido de caráter igual ao do pai.
—Além disso — continuou seu pai, — seus amigos são um jovem marques, um
irmão de um visconde, e um herdeiro de um duque. Eu poderia também usar estas
conexões, de modo que apenas por minha causa, você deve sorrir e ser recatada e
acolher as suas atenções, como qualquer jovem elegível. Porque se não fosse por mim e
meu trabalho, você não teria sequer um dote para atrair um homem jovem.
—Mas papai...
—O rei me deu uma baronia porque sou dono de minas de carvão, você sabe. Ele
fez isso porque promovi os interesses de Sua Majestade na Câmara dos Comuns. Fiz a
minha parte para promover os objetivos desta família. Agora você tem que fazer a sua.
Ela abafou um gemido. O pai só se interessava em seus próprios objetivos e
ambições, mas não havia nenhuma razão para discutir. Ele justamente negaria.
—Mas, por que deve ser David Masters? Certamente outro homem poderia
promover suas metas tão bem. — Um homem que ela escolhesse por si mesma. — Se
você só esperar até a minha apresentação na próxima primavera.
—Não vou perder dinheiro em uma apresentação em sociedade, quando um
homem como Masters a quer. Além disso, o amigo de Masters, Simon Tremaine, herdeiro
do duque de Foxmoor, está destinado a ser o próximo primeiro-ministro. Isso é uma
conexão que não tenho nenhuma intenção de perder a oportunidade de aproveitar.
—Então talvez você deveria me oferecer a ele no lugar de Masters — disse
amargamente. — Seria uma transação de negócios muito melhor.
O rosto de seu pai escureceu.
—Cuidado com a língua, senhorita. Eu já tive o suficiente de sua
insolência. Richmond ainda não passou, ainda podemos deixar a carruagem em uma
cocheira e viajar pelo Tâmisa de barco —. As palavras trovejaram no transporte, sugaram
toda a sua bravata. Até o Tâmisa!? Seria tão cruel?. Claro que sim. Sua respiração tornou-
se dificultosa quando viu uma vez mais as águas turbulentas fechando-se em cima de sua
cabeça, o negro cobrindo a vista, o pânico ao dar-se conta que não poderia segurar a
respiração por mais tempo...
—Rowland — a mãe protestou. — Você não deveria dizer uma coisa tão
horrível. Isso a deixa perturbada.
—Cale a boca, mulher — disparou seu pai novamente. — Ou você sabe o que
farei.
Quando a mãe empalideceu, Charlotte agarrou a mão dela.
—Deixe-a em paz! Ela não tem nada a ver com isso!
—Ela quem contratou essa governanta. Só Deus sabe que pensamentos
desagradáveis essa mulher idiota lhe meteu na cabeça antes de eu descobrir e a demitir.
—Ideias estúpidas? — Charlotte protestou. — Ela me incentivou a exercer minha
mente, ler livros importantes, aprender ciência e história da América.
—E olha o que isso lhe fez — ele retrucou. — É insolente com seu pai. Bem, não
vou tolerar tal rebelião? Está me ouvindo? É hora de reconhecer que dirige esta família, e
não é você, senhorita. — Ela reprimiu uma réplica acalorada. Como se não tivesse tido
aquele vão nela desde a infância. — Agora — disse o pai com firmeza, — é conveniente
que se comporte como uma dama decente esta semana, ou vamos dar um passeio ao
longo do rio para lembrá-la do seu dever? — Cada centímetro dela queria lançar a
ameaça de volta na cara dele. Seria muito gratificante privá-lo da arma que lhe
proporcionava seu medo obsessivo de afogamento. Mas o pai nunca fazia ameaças vãs, e
o pensamento de ficar aterrada de terror em um barco fez seu coração vacilar e com que
a garganta ficasse seca. Deveria ter mostrado o temor em uma careta de dor ou medo,
pois o triunfo saltou aos olhos de seu pai.
—Acho que nos entendemos agora, não?
Atordoada assentiu. Ela entendeu que, de qualquer maneira. Ele não descansaria
até que ela concordasse em casar com David Masters. Assim que ele virou o rosto para a
janela, ela franziu o cenho para ver o bosque que circundava o caminho. De alguma
forma, iria encontrar uma maneira de sair dessa armadilha construída para ela. Porque
não tinha a intenção de ser acorrentada a uma versão mais jovem do pai para o resto de
sua vida.

David orvalhou mais uísque em seu casaco, então deu uns tapinhas na bochecha.
—Que diabos você está fazendo? — Perguntou uma voz atrás dele. Ele pulou, e
depois soltou um suspiro. Era só Giles.
—Preparando-me para a chegada dos Page. — Seu irmão mais novo o olhou
intrigado.
—Jogando uísque em seu casaco?
—Certamente já adivinhou porque virão aqui depois de todos esses anos.
—Porque papai os convidou, apesar de nossa mãe os odiá-los.
—Para ser honesto, não tinha pensado muito sobre isso.
—Isso é porque você é o que papai espera que se case com Charlotte Page. —
Giles riu.
—Não é engraçado — David apertou, enquanto colocava o casaco umedecido em
uísque.
Uma aspiração o sufocou. Talvez ele tivesse exagerado um pouco. No entanto,
deveria deixar a menina pensando que ele bebia o tempo todo. Ele precisava desta
medida drástica para evitar a adoração em seus olhos e no do intrigante pai.
—Lembro-me de Charlotte — disse Giles. — Ela pensava que foi você quem
pendurou a lua. Até que aconteceu o “Negocio do Macaco” —.David olhou para ele.
—Do que você está falando?
—Você não lembra? Não, claro que não. Você foi para Eton pouco depois.
—Depois do que?
Giles riu.
—Não importa. Por Pai quer que case com ela?
—Porque Charlotte é uma herdeira. E conhecendo nosso pai, está pensando que
Lorde Page estará mais disposto a emprestar dinheiro para sua última aventura de
risco. Claro, sou o único que tem que fazer isso pela família. —Sou o único que tem que
sofrer casando com uma garota que mal conheço.
—Suponho que seja porque papai e mamãe tiveram um casamento arranjado,
imaginam que “Pau que dá em Chico dá em Francisco”1.
—Bem, não sou Francisco.
—Parece que você terá que seguir o exemplo da mãe e do pai. Eles se dão muito
bem—. Giles caiu na cama de David. — Ou pensa fazê-lo pelo verdadeiro amor? Porque
você sabe o que papai diz sobre isso. — O amor é para os tolos e crianças, mas o dinheiro
governa o mundo.
—Eu não me importo com o que o papai diz: — sussurrou David. — Há alguma
frieza na escolha de uma esposa de acordo com seu status e riqueza. — Seu amigo
Anthony lhe disse uma vez que ele era um romântico, um tolo. Ele só não queria ser
tratado como um garanhão de leilão. Escolheria a própria noiva, depois que tivesse
desfrutado um pouco do mundo, é claro. E quando tivesse que casar, não seria apenas
pelo dinheiro. Franziu o cenho no espelho.
1
Fiz uma analogia, pois a expressão original seria "What's sauce for the goose is sauce for the gander".
—É ruim o suficiente que eu tenha que lidar com o mordomo e os inquilinos
desde que deixei Cambridge porque ele está muito ocupado perseguindo o grande
investimento que virá, para que tenha que me amarrar também apenas para ajudar o pai
a cobrir suas apostas arriscadas.
—O que pensa a família dela? Por que deveriam estar interessado neste
casamento? — Quando David olhou para ele com desconfiança, ele acrescentou: — Ohh,
claro. O título. Este é um momento em que não invejo ser o herdeiro. — Ele recostou-se
sobre os cotovelos.
—Charlotte teve a oportunidade de apresentar-se na sociedade?
—Não — David pegou gravata torta. Giles riu de novo.
—Essa é provavelmente a razão pela qual Page quer que ela se case com você. Ela
deve ter se transformado em uma mulher feia de fato, se ele pensa que, inclusive seu
dote não serviria para lhe comprar um marido decente.
—O pensamento passou pela minha cabeça — David disse laconicamente. Ele
tinha uma vaga lembrança de Charlotte com o cabelo vermelho como uma cenoura
sobressaindo por todas as partes, sardenta e com longos membros que a permitiam
correr tão rápido quanto qualquer garoto. Agora, que provavelmente deveria ser uma
solteirona desajeitada, sem seios, com um rosto temível e sem um único osso feminino
no corpo.
—Estou esperando que me ajude, Giles. Diga ao homem como sou mau, e como
perco meu dinheiro jogando cartas.
—Não posso dizer isso com uma cara séria — Giles protestou. —Especialmente se
você sempre ganha. Quando joga, o que não é tão frequentemente.
—Está bem. Então fale sobre a minha vida selvagem e as minhas mulheres.
—Não vou falar sobre isso na frente do pai, pelo amor de Deus — disse Giles. —
Ele vai pedir a minha cabeça por isso. Sempre está furioso porque você e seus amigos
passam muito tempo nos antros de perdição.
—E vou passar muito mais tempo antes de ser apanhado na armadilha do
pároco. — Era muito jovem para casar, caramba! Ainda que fosse honesto consigo
mesmo, os jogos da carne estavam ficando tediosos.
Embora ainda não tivesse dormido com a sua quota de empregadas e prostitutas,
recentemente, encontrou-se um pouco aborrecido com elas. Fora seus talentos óbvios,
não tinham nada a oferecer na forma de uma conversa interessante. Não que ele fosse
admitir isso aos amigos, ou ao irmão mais novo, que já se acreditava um homem do
mundo. David tinha uma reputação a manter, depois de tudo.
Além disso, realmente queria provocar o pai ao ver o filho nos jogos de azar,
bebendo e fornicando em sua estada por Londres. Um sorriso triste tocou os lábios de
David. O pai valorizava a discrição embora - discretamente - corria riscos imprudentes
com investimentos imprudentes dos bens da família. David não via como isso era algo
diferente do jogo.
Ele pelo menos nunca arriscava mais do que podia pagar.
—Se você está com medo do pai — disse a Giles — apenas fale sobre as minhas
más qualidades quando ele não estiver próximo.
Giles indicou a barba deste.
—Não disse que tenho medo dele. Além disso, você também está cuidando dele
usando o uísque como uma colônia. Embora ainda não entendo por que você
simplesmente não o bebe.
— Porque não vou dar a oportunidade ao nosso pai de me convencer a fazer algo
estúpido quando bêbado, como ficar sozinho com Charlotte, por exemplo. Então, tudo o
que ela teria que fazer seria dar-me um beijo e esperar que alguém nos encontrasse. A
próxima coisa que descobriria ao sair da minha embriaguez é que eu estaria casado. —
Amassou o casaco. — Não irão me pegar de surpresa, droga.
—Pelo menos tome um pouco, para que ela possa sentir em sua respiração.
—Boa ideia —. Ele bebeu um gole saudável.
—Acho que não está preocupado com a reação do nosso pai com seus
subterfúgios.
—Tem sorte que estou até mesmo mostrando boa vontade para lhes dar as boas
vindas. Me negar a fazer era meu primeiro plano... até que percebi que poderia
transformar seus planos de papai e até mesmo me divertir fazendo-o. Quando tentar
reparar o erro e o assunto estará resolvido. — David olhou sua aparência no
espelho. Parecia absolutamente desprezível. Se isso não assustasse a garota, nada o
faria. Viu Giles vasculhar suas gavetas. —O que você está fazendo?
— Estava pensando em pegar emprestado o seu casaco, porque o meu está um
trapo e estou esperando que me enviem outro. — Tendo apenas um ano de diferença,
eles eram quase do mesmo tamanho, embora David fosse poucos centímetros mais
alto. —Por outro lado, talvez não deveria me incomodar. Não faz sentido tentar Charlotte
a olhar para o meu lado.
—Eu não emprestaria de qualquer maneira. Sempre estraga tudo.
Giles sorriu.
— Você pode me culpar se as mulheres não podem manter as mãos longe de mim
tempo suficiente para me despir? — David revirou os olhos.
Honestamente, o irmão estava se tornando um libertino como seu amigo Anthony
Dalton.
O som das rodas de uma carruagem esmagando o cascalho chegou através das
janelas abertas.
—Inferno — rosnou David. — Provavelmente devem ser eles.
Os dois homens correram para a janela, observando como o veiculo parava. No
entanto, uma leve chuva começou a cair, e os lacaios correram para fora com guarda-
chuvas. Nem sequer puderam ter uma visão dela, pelo amor de Deus. Não que não
pudesse adivinhar como ela seria.
—Vamos — David foi até a porta. — O momento da nossa função chegou.
Enquanto desciam as escadas, som de vozes chegava através do ar a partir do
hall. Aproximaram-se dos fundos, mas os convidados estavam ocupados demais se
cumprimentado para vê-los.
Com um olhar malicioso para o irmão, David fingiu tropeçar na escada.
—Bom dia, pai — disse, deliberadamente arrastando as palavras. O pai virou-se
para olhar para ele enquanto David cambaleava para a frente. —Vejo que nossos
convidados já estão aqui — murmurou David. — Excelente. — A medida que os olhos de
Lady Page viravam e franzia a testa para o Sr. Page, ele se aproximou da única mulher a
volta dele, tinha que ser Charlotte. Apoiando-se pesadamente em seu ombro para dar
uma boa aspiração de seu hálito embebido em uísque, disse: — E esta deve ser a própria
Senhorita Page. Bem-vinda!
Sua mãe parecia divertida enquanto seu pai parecia surpreso, mas David reservou
sua atenção só para seu inimigo enquanto ela se virava para ele que estava bem atrás
dela.
Naquele momento, o sorriso – de bêbado – de David desapareceu.
Encontrou-se com os olhos mais azuis que as safiras mais brilhosas que o olhavam
com a boca aberta e os lábios de uma sensualidade exuberante curvados em um sorriso
zombeteiro. O cabelo cor de cenoura que recordava de sua infância havia escurecido e
estava domesticado em uma profusão de cachos castanhos que dançavam sobre a
impecável pele marfim de traços perfeitos.
Meu Deus. Em algum lugar nos últimos dez anos, Charlotte Page havia se tornado
a criatura mais linda deste lado do Canal Inglês. E ele tinha acabado de meter os pés pelas
mãos na frente dela.
Por que o incomodava tanto o que ela pudesse dizer? Mas o incomodava.
Enquanto ele se endireitava rapidamente em toda sua estatura, Charlotte
mostrou ao pai um sorriso estranhamente triunfante.
—Receio termos chegado em um mau momento, papai. Parece que o Sr. Masters
está fora de ordem.
—David, seu sem vergonha! —O pai de David explodiu. — O que significa isto? —
A mente de David estava completamente em branco. Só podia olhar para a mulher que
não era absolutamente como ele esperava.
Por desgraça, a mente de Giles trabalhava em ordem.
—O senhor conhece o David, papai. — Giles fez um gesto que significava beber. —
Iniciou mais cedo o entretenimento do jantar.
— Cale-se — David murmurou baixinho.
Giles deu-lhe um olhar alegre.
—Você me disse...
—Esqueça tudo o que eu disse. — Ciente de que Charlotte observava o
intercambio com peculiar diversão, David encontrou o olhar do pai e deu a única
explicação que poderia pensar.
—Foi só uma brincadeira, papai. Giles me jogou uma garrafa em seu escritório e o
uísque derramou sobre mim. Não foi assim, Giles?
—Se você diz — disse Giles alegremente. Mais tarde, David o enforcaria, mas por
agora teria de sair desta situação.
—Já que estava molhado... eu... nós pensamos que seria divertido se...
—Me envergonhasse diante dos meus convidados? — Seu pai rosnou.
David fez uma careta.
—Claramente, não foi minha melhor ideia. — Quando o pai o olhou, ele apressou-
se a acrescentar: —Vou subir e trocar o casaco.
— A julgar pela sua respiração, você pode querer lavar a boca, também, —
Charlotte disse suavemente, seus lindos olhos dançaram. — Parte do uísque parece ter
derramado dentro de si mesmo.
Ele corou. Ela zombava dele, droga. As mulheres nunca se atreviam a fazer isso
com ele. Era irritante, para dizer o mínimo.
—Charlotte, cale-se! — O senhor Page grunhiu atrás dele. A luz da zombaria
abandonou suas feições e seus modos mudaram abruptamente.
—Desculpe-me, Sr. Masters — disse a David e olhou para baixo. —Nem sempre
penso antes de falar. — David não gostou dessa reação nela.
—E eu nem sempre penso antes de agir — respondeu, ansioso para deixá-la mais
confortável — por isso estamos quites. — Seu olhar saltou para o dele, e a confusão se
espalhou por seu rosto. Em seguida, ela ficou tensa.
—Não é bem assim, inclusive — ela murmurou, baixo o suficiente para não ser
ouvida pelo pai — já que as ações em geral são mais eloquentes do que as palavras.
A crítica o alfinetou. Sim, ele se comportou como um idiota, mas ela tinha que
esfregar no nariz dele? E o que diabos aconteceu com a adoração do sexo feminino nos
olhos dela que tinha se preparado para repelir?
Sua mãe entrou na briga.
—David, vai trocar o casaco. Giles, diga a cozinheira que estaremos prontos em
breve. Lady e Senhorita Page, vou lhes mostrar seus quartos para que possam se refrescar
enquanto o Senhor Page e meu marido se retiram ao escritório.
Ela arqueou uma sobrancelha para David.
—Partindo do princípio que não tenha passado o cheiro de uísque. Você pode
querer verificar em seu caminho para seu quarto.
Quando sua mãe balançou a cabeça em direção à escada, David subiu por elas,
consciente dos olhos de Charlotte. Pelo menos ela parecia que não estava seduzida,
afinal. Embora ele não tivesse certeza de que se importava com o que ela pensava. Nada
havia mudado, ele não queria se casar com ela. Pelo amor de Deus, ele tinha vinte anos, e
certamente não ficaria vinculado a qualquer mulher escolhida pelo pai. Então, por que o
incomodava que ela achasse que ele era um bêbado ou um tolo desajeitado ou
ambos? Ele poderia escolher suas mulheres.
Não tinha necessidade de impressionar a filha de um agressivo arrivista tentando
abrir caminho ao topo da sociedade.
Deixaria os pais tecerem a rede, David não tinha intenção de ser pego nela. Não
importava que ela fosse tão bonita quanto uma pintura. Não, melhor que isso,
linda. Impressionante, na verdade.
Ele franziu o cenho. Não importava. Se recusava a casar com essa menina apenas
para proporcionar ao pai novos fundos para seus loucos investimentos. E isso era tudo.

Capítulo Quatro

O jantar em Kirkwood Manor naquela noite foi um grande evento, mas Charlotte
só tinha consciência do jovem à sua frente. Não esperava que David fosse tão atraente.
Claro, ele tinha sido bonito quando criança, mas às vezes as crianças belas
tornam-se homens feios. Não David. Quando ela se virou para falar com a mãe à sua
esquerda, Charlotte furtivamente teve outra visão dele. Santo Deus, sim ele era bonito.
Quando era um garoto, mantinha o cabelo rebelde em um rabo de cavalo como
os outros meninos, mas já tinha passado da moda. Agora, ele usava o cabelo curto o
suficiente para mantê-lo encaracolado. Parecia muito bom nisso também. Tal como suas
roupas.
Ela suspirou. Após o incidente no saguão, ele colocou um casaco em tons de
verde esmeralda que se amoldava sobre os ombros largos e ressaltava os
surpreendentemente gloriosos olhos verdes. Mas era o queixo que, ressaltado pelas
dobras de um lenço branco neve, que ela não conseguia parar de olhar.
Como ela nunca havia notado na covinha interessante no centro?
Como se sentisse seu estudo, ele voltou o olhar para ela. Repreendendo-se por
sua ridícula fascinação com seus olhares, ela olhou para o prato. Não importava que
David fosse bonito. Ou bem dotado. Não importa que o tom de voz de um garoto tinha
sido aprofundado para uma voz rouca que vibrava ao longo de cada um de seus
nervos. Ele era um bêbado, como o pai dela, ou ainda que ele tivesse fingido ser um
bêbado de brincadeira. Isso não falava bem de seu caráter.
Ou de seu irmão, em qualquer caso.
Ela olhou para Giles, que estava sentado à sua direita. Ele era muito bonito
também, com a mesma cor de cabelo e constituição de David. Então, por que não fazia
seu coração disparar?
Ela fez uma careta. David não fazia coração dela palpitar. A ideia era absurda!
Quando a torta de nozes foi apresentada, a mãe de Charlotte deu um sorriso
cortes a Sra Kirkwood.
—Onde estão suas filhas esta noite?. — Charlotte olhou, surpresa de que ela
tivesse esquecido as outras duas irmãs de David. Se a memória não falhava, uma delas
era um ano mais nova do que ela.
Quando criança, havia brincado algumas vezes com ela, assim era uma mulher,
sempre tinha preferido jogos rudes e ficar a toa com os meninos.
—Na verdade, — a mãe de David disse: — elas estão passando o verão com
minha irmã em Essex. Estão cuidando dos preparativos para a apresentação, as
coitadinhas. — Ela deixou cair a colher na sobremesa. — Queria mandá-las para uma
escola para isso, mas é difícil encontrar uma boa. Meninas dessa idade precisam de muito
mais do que aulas de dança e urbanidade.
—Concordo plenamente — interveio Charlotte, aliviada ao ver uma personagem
tão silenciosa como a viscondessa compartilhar seus próprios pontos de vista sobre a
educação. — A uma jovem deve se ensinar história, matemática, ciências... — Ele parou
quando viu a expressão de surpresa da Senhora de Kirkwood.
—Oh. Você entendeu outra coisa —. O pai fulminou Charlotte com um olhar. —
Continuo dizendo a minha filha que, mesmo que as jovens possam entender esses
conhecimentos, não tem nenhum uso para elas. Mas ela não me escuta.
David, que havia se concentrado em comer a sobremesa, disse calmamente:
—Ter conhecimento é bom para todos. Não necessariamente usamos a poesia em
nossa vida diária, mas a leitura nos enriquece, não? E que uso realmente tem a dança,
exceto para diversão e talvez algum exercício? Eu não vejo como um mau a um homem
ou uma mulher poder aprender algo novo.
A defesa em um tema tão inesperado tomou Charlotte de surpresa. Quando seu
olhar se dirigiu a ele, David piscou, dando início a um tremor em seu ventre que era mais
alarmante.
—De qualquer forma, David, — Lady Kirkwood disse com desdém: — Eu estava
falando sobre um tipo diferente de conhecimento. Sobre a sociedade. Acerca dos homens
e suas maneiras. Não há muita educação neste aspecto. A uma jovem é ensinado tudo,
mas não sobre como lidar, enquanto os ladinos, como você e seu irmão estão ocupados
tentando corrompê-las.
—Mamãe! — queixou-se Giles a rir ao seu lado. — A Senhorita Page irá pensar
David e eu somos tão poucos dignos de confiança como um par de canalhas. Não
queremos que se esconda em seu quarto por medo de perder sua virtude.
—De alguma forma não consigo imaginar a Srta Page escondendo-se em qualquer
lugar — David disse com um leve sorriso. — Sem dúvida não era nenhuma violeta
encolhendo quando era uma menina. — Bebeu um pouco de vinho. — Lembra-se,
Giles?. Ela entrava em todas as batalhas. Podia correr e montar tão bem como qualquer
um de nós, para não falar de mim quando me ganhou subindo no topo de uma árvore
quando eu apostei —. Charlotte ficou rígida? Na verdade, pensaria em abrir aquele
terrível incidente agora?
—Ela subiu como um macaco — Giles completou arrastando as palavras,
aparentemente determinado a fazer parecer pior. — Não foi isso o que você disse?
David franziu a testa.
—Eu fiz? Não me lembro.
O Quê? O infeliz a tinha humilhado na frente de todas as crianças da aldeia, e não
lembrava mesmo? Ela mal podia acreditar!
—Bem, eu sim me lembro perfeitamente — ela retrucou. — Em primeiro lugar,
você fez este comentário odioso.
—Uma coisa que minha filha não faz muito bem — interrompeu seu pai — é a
natação. Não é verdade, Charlotte? Você não sabe nadar. — Ela olhou para o pai, cujo
aviso na expressão, dizia que era melhor dominar a língua ou ele se asseguraria que ela se
arrependeria. Enxugando as mãos molhadas na saia, ela olhou para o prato.
—Odioso comentário acerca de que? — David perguntou com espanto evidente.
—Nada. — Não se atreveu a olhá-lo... ou ao pai. — Me dei conta que estava
recordando mal as coisas. Foi há um longo tempo atrás.
Após um momento de silêncio tenso, David disse:
—Giles, esta é a segunda vez que você mencionou os macacos. Isto deveria
significar alguma coisa?
Charlotte deu a Giles um olhar suplicante. O jovem pareceu considerar sua
angustia, porque olhou para ela e para o irmão, então disse:
—Não. Absolutamente nada.
Obrigando-se a enfrentar o olhar de David, ela sorriu fracamente.
—Duvido que fosse capaz de vencer em qualquer esforço atlético nos dias de
hoje, o Sr. Masters.
—Mas se você tiver pensando em comprar um cavalo, consulte minha filha: —
Mamãe surpreendeu ao dizer. — Charlotte tem um bom olho para eles, como o pai.
Rowland comprou a égua mais doce...
—Eles não querem ouvir falar de sua égua, Agatha — o pai cortou. Rigidamente,
ela sussurrou:
—Não, querido, claro que não. — Charlotte apertou os dedos na colher. Lembrou-
se de quando sua mãe costumava lutar, discutir com ele. Mas os anos a tinham
desgastado, e Charlotte odiava vê-la baixar a cabeça.
—Bem, posso testemunhar o seu excelente gosto em cavalos Senhor Page, —
lorde Kirkwood disse aliviando a tensão. — Sempre que vou a Tattersall, o tenho em
mente. Sem nunca lamentar uma compra com o qual você esteve de acordo.
Felizmente, essa conversa foi mantida até que chegou o momento de que os
cavaleiros se dirigissem ao escritório de Lorde Kirkwood, enquanto as senhoras se
retiraram para a sala de estar. Mas Charlotte não podia suportar mais um minuto de
conversas tensas. Os cavalheiros, provavelmente não ficariam longe das senhoras muito
tempo, e ela não podia suportar o pai tentando controlar cada gesto e cada palavra. Ela
disse à mãe que tinha uma dor de cabeça e que ia para o quarto. Felizmente, a mãe não
pressionou.
Mas no meio do caminho para o quarto, Charlotte percebeu que havia esquecido
o xale na sala de jantar. Voltou para recuperá-lo e passou por algumas portas francesas
abertas, quando olhou para fora e teve um choque. Ali estava a cabana sem janelas, no
jardim, que os meninos tinham reivindicado para si mesmos quando eram crianças. Ela
não podia acreditar que ainda estivesse intacta. Por um momento, ela apenas olhou para
ela, lembrando que, quando criança, tinha parecia um lugar. Nunca tinha visto o interior,
os meninos a mantinha fechada com cadeado quando não estava em uso. Um súbito
impulso se apoderou dela maliciosamente.
Não havia ninguém em volta - esta parte da casa não estava perto da sala de estar
ou do escritório. Por que não dar uma olhada? Pegou uma vela, aventurou-se para o
jardim. Não havia fechadura na porta. Provavelmente se limitaram a deixa-la para
guardar implementos, mas ainda assim... Ela abriu a porta e ficou surpresa ao ver que a
estrutura de madeira já estava habitada. David estava sentado em mangas de camisa em
uma mesa velha, desenhando loucamente com a ajuda de uma lanterna. Como um olhar
surpreendido a olhou, ela corou, envergonhada de que ele poderia pensar que o havia
seguido até ali de propósito.
— E-eu peço que me desculpe. — Ela começou a fechar a porta. —Não tinha a
intenção de invadir sua privacidade —. Ele saltou da cadeira.
— Espere! — Ela ficou imóvel, com a porta entreaberta. — Por que você não
fica?. — Ele estava perto o suficiente para que ela pudesse ver a gravata afrouxada. — Eu
poderia usar a companhia.
—Pensei que você veio aqui para evitar companhia.
—Algumas, sim. — A expressão dele era genuinamente simpática, enviando um
calor por suas veias, apesar de sua determinação de permanecer imune a tais
encantos. — Provavelmente a mesma companhia da qual você está tentando se esconder
—. Ela ergueu o queixo.
— Pensei que você disse que não era o tipo de mulher que se esconde —. Um
ligeiro sorriso se assomou em seus lábios como um gesto para que entrasse.
— Honestamente, acho que o diabo iria querer se esconder destas pessoas neste
lugar.
Ela riu, aliviando qualquer tensão mantida entre eles. Um tipo de tensão, de
qualquer maneira. Agora, um novo tipo estava apertando os nervos.
Nunca esteve sozinha com um homem. Mesmo o capitão Harris havia falado com
ela sempre rodeado de outras pessoas. Sentia-se tão nervosa como uma potranca contra
a sela em sua primeira vez, ela entrou com relutância na cabana.
Pensou em entrar em um momento, tempo suficiente para determinar seus
sentimentos sobre o casamento que seus pais queriam forçá-los. E ver seus próprios
sentimentos, é claro. David fechou a porta e correu atrás da mesa para afastar a cadeira.
—Há apenas um lugar decente, sinto muito. Quando meninos sempre preferimos
o chão. —A diversão brilhava em seus olhos. — Mais viril, você sabe.
Não é tão viril como a visão que ela tinha dele sem casaco, parecendo em casa
naquele lugar rústico.
Ajustou a vela sobre a mesa, ela olhou para as paredes de madeira nuas, o tapete
gasto, almofadas e tecidos desbotados. Um leve cheiro de mofo enchia o ar, misturando-
se com o cheiro de cera queimada e óleo lâmpada.
—Quando criança, costumava imaginar como seria isto aqui — ela comentou, —
não é isso que eu imaginava. Ela é tão pequena... tão... —. Ele riu.
—Vá em frente, diga. É sujo e miserável e sem qualquer conforto. Mas antes foi
um castelo ou...
—Desprovido de mulheres — disse ela maliciosamente. — Odeio dizer isso, mas
nenhuma criança de nove ou dez acreditava que seu santuário secreto poderia incluir
meninas dentro.
—Tendo em conta que os nossos pais estão instalados atualmente no escritório
sem as esposas, santuários secretos continuam mesmo na idade adulta.
—Ah, mas a diferença é que os homens crescidos não se importam de ter uma
mulher invadindo seu santuário. Às vezes até desfruto —. Seu sorriso súbito, enviando o
pulsar em uma dança selvagem. Céus, ela teria de ver isso. Ele tinha uma grande
reputação, depois de tudo. Ela fez um gesto para a mesa.
— O que é exatamente que você faz em seu santuário?
Percebendo a direção de seu olhar, eu corou e se apressou a arrumar os papéis
em uma pilha.
— Não é nada. Um dos meus passatempos, isso é tudo.
—Que tipo de passatempo? — Ela insistiu.
—Se você quer saber... — sua expressão se tornou beligerante, como se ela fosse
se atrever a zombar dele. — Tenho um interesse em arquitetura. Sei que isso não é
considerado um...
—Acho que é maravilhoso — ela retrucou —. Um rubor esquentou suas
bochechas. — Quero dizer, é bom para um homem que seja trabalhador, não importa
quem seja.
O rosto dele iluminou.
—Tenho trabalhado no projeto de uma cabana de caça. — Ele espalhou os papéis
novamente, aumentando a voz com entusiasmo. — Meu amigo Stoneville diz que se eu
desenhar uma decente, a utilizará em sua fazenda. Depois que um arquiteto real, a
aprove, é claro. — Aproximando-se da mesa, ela olhou para os planos que Davi tinha
empilhados meticulosamente. Não pôde deixar de ficar impressionada. Não sabia nada
sobre arquitetura, mas pareciam os verdadeiros planos para um imóvel. E quem teria
imaginado que Davi tinha um hobby respeitável?
Ele moveu a cadeira.
—Venha, fique à vontade. — Seus olhos ardiam nos dela. — Prometo que não irei
amará-la ou não a farei andar pela prancha ou qualquer uma dessas outras coisas
miseráveis que nós meninos fazíamos quando crianças.
Esta referência lembrou-lhe a última coisa que ele tinha feito para ela, e seu
sorriso desapareceu.
—Prefiro ficar de pé, — disse com uma elevação do queixo.
Ele que eu dirigi um olhar perscrutador.
—É sobre os macacos, não é?
O coração dela caiu no estômago.
—Lembra?
—Não, eu não. Mas é evidente que você sim. Então? Você poderia me dizer o que
eu fiz? Então posso pedir perdão, e você saiba o que fazer com ele. — O comentário foi
tão prático que ela gostou que ele estivesse preocupado com o seu ressentimento.
—Você vai pensar que é ridículo.
—Talvez. Mas também acho que um monte de coisas que importava aos nove era
ridículo.
—Receio não ser tão otimista. — Ela contou a história sem emoção, tanto quanto
foi possível. Até o momento em que terminou, ele fez uma careta de dor.
—Eles continuaram chamando-a de senhorita macaco depois que eu fui para a
escola?.
O claro desgosto dele limou seu ressentimento ainda mais.
—Pelo menos dois anos. Mesmo depois de eu parar de usar as tranças e meu
cabelo ter crescido alguns centímetros.
—Meu Deus, sinto muito. — Sua expressão parecia confirmar que ele dizia serio,
também. —Que coisa mais miserável dizer isso a uma menina. Não é de admirar que
tenha me chamado de odioso. Só estou surpreso de que tenha concordado em vir com
seus pais a esta visita.
—Meu pai não me deu muita escolha. — Seus olhos encontraram com os dela, de
repente, sombrio.
—Nem o meu. — Erguendo as sobrancelhas, sacudiu a cadeira. — Talvez
devêssemos conversar, podemos avaliar a situação juntos.
—Verdade —. Desta vez, ela aceitou a oferta e sentou-se na solitária cadeira. Ele
se sentou em uma das almofadas mofadas com as pernas cruzadas em estilo indiano,
como um príncipe estrangeiro. Um príncipe muito bonito e perigosamente atraente.
— Então, — disse ele, — vamos ver se entendi. Nossos pais querem que a gente se
case? Isso resume? — Ela não pôde deixar de sorrir. Os homens que havia conhecido
nunca foram francos assim.
—Isso mesmo. — Ele inclinou-se para colocar os cotovelos sobre os joelhos.
—E você não está muito entusiasmada com a ideia.
—E você? — Ela perguntou, determinada a ser igualmente franca, ainda que o pai
soube dessa conversa, ela pagaria caro, de fato.
—Eu não quero isso—. Os olhos de David escureceram da maneira mais
misteriosa e mundana, e deu um olhar lento no seu rosto e seios. — Mas não tenho tanta
certeza agora—. Apesar das bochechas arderem de rubor ela inclinou a cabeça para ele.
—Você está flertando comigo, David Masters?
—Apenas os fatos indicam... Charlotte—. Ela engoliu em seco, incapaz de desviar
o olhar que mantinha o dela, tão certo como se ele tivesse as mãos sobre ela. Ele a havia
chamado de Charlotte quando eram crianças. Por que era tão desconcertante quando o
fazia agora?
—Bem, tenho certeza que não quero casar com você — disse ela, embora ela não
tivesse certeza agora.
—Por que não?
—Por um lado, sua própria mãe o chama um ladino —disse com altivez. — E eu já
passei muitos anos sob o jugo de um ladino. Não tenho a intenção de gastar mais um
minuto com um outro se posso evitar.
—Mas se você quiser se livrar de seu pai, — disse David em voz baixa, — terá que
se casar com alguém. — Surpreendida pela rápida percepção dele, ela levantou-se a
andou pela sala, perguntando se deveria falar do capitão Harris.
—Há outro alguém, — acrescentou com a voz cheia de decepção — talvez você já
escolheu alguém também.
—Bem, não é como se ele já tenha feito uma oferta —ela admitiu —, mas espero
que em breve o faça.
—Assim, ainda há uma chance para mim. — Ela olhou para encontrá-lo olhando-a
com um sorriso insolente.
—Eu não disse isso.
—Eu estou aqui, e ele não. — Sua expressão era muito petulante. — E eu tenho a
aprovação do seu pai. O que, eu acho, o outro não.
—Como você sabe?
—Porque se você tivesse, já estaria casada. Ninguém em seu juízo perfeito
demoraria para garanti-la. — Essa frase doce a suavizou ainda mais. Até que se lembrou
quem ele era. Ou melhor, o que era.
—Você quer dizer, por causa do meu dote e minha herança? — Ela disse
baixinho. Seu rosto sombrio.
—Se eu só estivesse interessado nisso, não teria fingido estar bêbado quando
você chegou. — Ela prendeu a respiração. Portanto, não tinha sido uma piada. Se pudesse
acreditar nele.
—Senti o cheiro de licor em seu halito.
—Não disse que não tinha bebido. Só que não estava bêbado. — Ele recostou-se
para descansar o corpo nos cotovelos. — Pareço bêbado agora?. — Não parecia. E ela
teve que admitir que ele tinha tomado muito pouco de vinho no jantar. Sem mencionar
que ele estava ali, em vez de estar fora bebendo com os outros homens no
escritório. Mas esse não era o ponto.
—Então você fingiu estar bêbado até que...? Me viu? E mudou de ideia?
—Exatamente—. Então, como se percebesse de repente o que tinha dito, ele
acrescentou: — Não! Quero dizer... isso é... —Quando ela ficou olhando para ele com as
sobrancelhas erguidas, ele disse com firmeza: —E o que ocorre com o fato de que sou o
herdeiro do título? Você não tem qualquer interesse nisso, suponho.
—Nenhum— disse ela, um pouco divertida por sua consternação. — Papai que
está interessado nisso.
—E meu pai está interessado em seu dote.
—Sim, e você está interessado apenas em meu rosto — disse ela secamente.
Um sorriso triste escapou de seus lábios.
—Tem que admitir que tem um rosto muito bonito. — Seu olhar libertino varreu
seu corpo. —E as partes que o acompanham são muito boas também.
Ela bufou.
—Agora eu sei porque a tua mãe o chama ladino—. Ele fez um gesto de desprezo.
—Mamãe está tentando me dar uma imagem ruim, porque ela não quer que case
com você. — Então, percebeu o que tinha falado, ele suspirou e disse: — Sinto
muito. Não é nada contra você. Ela está esperando que eu encontre uma mulher quando
for mais velho. É meu pai que está empurrando esse casamento.
—Papai também.
—Mas não é assim, — disse calmamente.
Ela olhou para ele.
—Eu já ouvi tudo sobre você e seus amigos selvagens. Quero um marido constante
e não um dandy libertino. —Seus olhos brilhantes a olhavam.
—Não ouviu também que os libertinos reformados são os melhores maridos?
—Está reformado?
—Poderia estar—. Desta vez foi mais lento, o preguiçoso olhar foi desde os pés até
o rosto, parando em algumas partes, como se pudesse ver através do vestido, mesmo sob
a luz fraca da lanterna. — Com o incentivo certo. — O interesse descarado dele em seu
corpo teve um efeito mais peculiar sobre ela. Na verdade, ela podia sentir o calor subindo
da barriga para os seios e um rubor floresceu até o pescoço. O que certamente ele podia
ver.
—Juro — repreendeu ela, tentando soar fria — sua reputação é tão ruim quanto
dizem. E não acho que os homens de sua espécie são reformados por uma mulher, de
qualquer maneira.
—Você feriu meu coração, bela senhora! — Sentado, deu-lhe um olhar que era
meio sério e meio de zombaria. — Não há nenhuma maneira de você mudar de opinião?
—Não — disse ela com firmeza, embora uma pequena parte, a parte diabólica
estava tentada a deixá-lo tentar. O casamento com David certamente tornar mais fácil
sua vida atual. Mas não era seu único futuro. A última coisa que precisava era unir-se a
um homem que fazia o que quisesse, enquanto a esposa ficava em casa sofrendo. —E por
toda a sua paquera escandalosa — continuou, — Vejo que você não está pronto para
casar, certo? Admita.
—Deus, Charlotte, não sei— disse, inquieto. —Para ser honesto, eu não tinha
pensado em casamento em absoluto até meu pai me chamar de lado esta manhã.
—Exatamente—. Ela descansou o quadril na borda da mesa. —Então, o que
devemos fazer com os nossos pais?. Você sabe que irão tentar durante toda a semana
nos fazer passarmos a maior parte do tempo juntos.
De repente, um olhar maldoso de alegria apareceu nos olhos dele.
—Talvez devêssemos dar o que eles querem. Podemos fingir até o momento que
cedemos. Se eles acreditarem que estamos contemplando seriamente o casamento,
ficarão fora do nosso caminho. Então, no último dia aqui, anunciamos que decidimos não
nos casar. Se ambos nos mantivermos firmes, terão que aceitar.
—Por que não podemos apenas ficar firme agora, e dizer que sabemos que não
dará certo?
—Você realmente acha que eles acreditam em nós, com base em apenas um
dia?. —Quando ela suspirou, ele acrescentou: — Temos de convencê-los de que nós
tentamos sinceramente. Caso contrário, eles continuarão inventando razões para nos
juntar—. Ela teve que admitir que a lógica dele era correta. — Está tudo bem. Acho que
poderia fingir te cortejar.
Ela deu um sorriso trêmulo.
—Embora não tenha certeza no que implica em um compromisso. Já que não tive
minha estreia, nunca fui cortejada.
—Nem mesmo por Qual é o seu nome? O homem que colocou os olhos em você.
Ela disse com uma voz indiferente.
—O capitão James Harris. — Ela tirou da manga um fio solto, incapaz de olhar para
David enquanto falava sobre o capitão Harris. — É um oficial de cavalaria.
—E ele não tem cortejado você?. — Espetou ele. —O que ocorre com esse
homem?
—Ele é um cavalheiro, isso é tudo. — David levantou-se, erguendo-se em toda sua
estatura.
—Nenhum homem é um cavalheiro com a mulher que ele quer — disse com voz
rouca. A sala, que já era pequena, de repente parecia um armário. David estava perto
demais... muito masculino.
—Provavelmente eu deveria ir — ela engasgou, — antes que descubram que onde
estamos. — Ele deu um passo mais perto.
—Eles não vão pensar em procurar aqui.
—Sim, mas...
—Você queria saber o que ele significa um cortejo. —Ele estava perto o suficiente
para que ela pudesse ouvir a respiração acelerada. —Posso dizer quais coisas há em um
cortejo —. Seu coração clamava violentamente no peito.
—Oh sim?. —Não podia acreditar como soava calma quando estava à beira da
desmanchar. Em seguida, ele colocou a mão em sua cintura, e ela quase derreteu. Seu
estômago estava girando, e ela não conseguia encontrar o fôlego. — O cortejo implica
esse tipo de coisas —. Inclinou a cabeça para pressionar os lábios contra os dela. Teria
que estar em choque.
Consternada. Alarmada. Em vez disso, se sentia como se estivesse esperando a
vida toda para ser beijada. E o resultado foi tão bom que valeu a pena a espera. Sua boca
sussurrou sobre a dela, provocando, acariciando, suave como seda, mal tocando. Esteve
tentada a tocá-lo, ainda que se aproximou a cintura dele.
—Senhor M-Masters Eu n-não acho que... — balbuciou enquanto lutava para se
libertar do feitiço sensual que ele tecia.
— David — ele corrigiu suavemente. — É apenas um beijo, Charlotte. — Era muito
mais do que isso para ela. Era seu primeiro beijo. E ela tinha a esperança de compartilhar
com o capitão Harris, não com este lorde pícaro que se preocupava com ela nada mais
além de um flerte, oferecendo um entretenimento indesejado durante um convite de
uma semana. Ela o afastou.
— Se isso será um namoro imaginário, não há necessidade de beijos, certo?
—Isso machuca?. — Ele disse com raiva. —A menos que esteja decidida a manter-
se fiel a um homem que nem sequer se preocupou em a reclamar para si mesmo.
Isso a machucou.
—Estou sendo fiel a mim mesma. — Ela cruzou os braços sobre o peito. — Pelo
menos sei o que quero neste assunto. Em vez disso, você não tem ideia do que você quer.
—Quero que... queria um beijo. Isso era tudo.
—Bem, então, você teve seu beijo. Portanto, agora terminamos com isso. — Virou
para a porta, mas ele deu um passo em seu caminho. Tomando sua cabeça entre as mãos,
ele a beijou de novo, mais forte dessa vez, com uma ousadia e rigor que o tomou o fôlego
dela. Ainda estava abalada pelas emoções selvagens que tinham despertado em seu peito
quando ele parou abruptamente e se afastou dela.
—Agora eu tive meu beijo — disse ele, sua arrogância, mostrando-se em cada
palavra. Por um momento, ela não sabia o que dizer, o que fazer. O segundo beijo
deixando-a em uma confusão total. Em seguida, reuniu sua inteligência e olhou para
baixo.
—Você não deve fazer isso de novo, ou não podemos ter um noivado imaginário.
—Está bem. Tudo o que você quiser. — Com os olhos brilhantes de raiva, foi até a
porta e abriu-a, fazendo um floreio elaborado com a mão para indicar que ela poderia
sair. — A verei pela manhã, senhorita Page —. Ela piscou, surpresa pela súbita
formalidade. Mas, assim como ele sabia onde estava. Fez uma reverencia cortes.
—Boa noite, senhor —. Então saiu pela porta. Mas muito tempo depois que
chegou ao quarto, não podia evitar a sensação de que tinha entrado uma conspiração
desastrosa com um jovem perigoso.
Se a beijasse daquele jeito de novo... Ela não permitiria isso. Passariam a semana
com uma conversa educada temperada pelo conhecimento de que eles eram
completamente inadequados um para o outro, e, eventualmente, no final ela voltaria
para casa com a esperança de um casamento com um nobre soldado, em vez de um
jovem e imprudente lorde. Agora só tinha que rezar para que o soldado soubesse beijar,
assim como o lorde.
Ou o seu coração poderia estar em sérios problemas.

CAPÍTULO CINCO
Quatro dias mais tarde, David ainda estava chutando a si mesmo por colocar
Charlotte em guarda. De seus beijos incríveis, ela havia se fechado como uma ostra na
maré baixa.
Oh sim, ela sorria e falava com ele, comportava-se como se gostasse de sua
companhia quando seus pais estavam ao redor. Mas se esforçava para evitar ficar sozinha
com ele. Se propusesse dar um passeio, ela convidava Giles ou a mãe. Se ele ficava para
trás dos outros depois do jantar, ela corria para alcançá-los.
Ela até mesmo levantava-se excessivamente cedo para o café da manhã, que
sempre saia da sala de café da manhã no momento em que ele entrava.
Ainda assim, ela não podia evitá-lo completamente. Vestiu o robe listrado sobre a
camisa, o colete e calça, e caminhou até a janela. Acaba de amanhecer. Nem Charlotte se
levantava tão cedo. Além disso, pagou uma criada para que estivesse frente a sua porta
quando Charlotte saísse do quarto. Ela não iria escapar desta vez, caramba.
A persistência em evitá-lo permanentemente tinha começado a irritar, mas não
tinha certeza do porquê. Todavia não se considerava suficiente velho para pensar em
casamento. Certamente não tinha qualquer desejo de ter uma ligação estreita com
aquele idiota do Senhor Page. Então por que diabos tinha que passar tanto tempo
pensando na filha do homem? Desejando cair na cadeira mais próxima, evocou uma
imagem de Charlotte de quando ela o olhou depois que ele a tinha beijado. Em seguida
desnudou a imagem, cada deliciosa parte.
Infelizmente, sua imaginação tinha poucos dados para continuar. Ela tinha
cabelos ruivos encaracolados, mas? Que tamanho? Sua cintura era estreita ou cheia? Era
difícil ver qualquer coisa abaixo de cilindros sem forma que constituíam as saias das
senhoras nestes dias. No entanto, as partes que podia ver o atormentavam. Não era
apenas o elegante pescoço, com a pele cremosa clamando por um beijo. Abaixo ficava os
bem formados seios, também revelados em suas roupas para o jantar.
Só de pensar nos seios dela o fez ficar duro. Se contorceu na cadeira. Que tipo de
homem era ele que pensava em uma jovem respeitável com luxúria desenfreada?
Especialmente quando não tinha intenção de se casar com ela? Embora ele não
estivesse seguro disso. Não permitiria mais que ela continuasse evitando-
o. Hoje. Porquê? Como poderia decidir o que fazer se só poderia estar em torno da frieza
cortes de Charlotte? Precisava de mais tempo com a doce paixão de Charlotte, que o
havia enfeitiçado no galpão do jardim. Tinha que saber o que teria ao casar, se ele
decidisse fazê-lo.
O arranhar na porta o deteve em seco.
—Sim? —Mas se seu criado não havia retornado ainda com o casaco para montar!
Muito bem, ele iria se encontrar com ela de robe - sempre achou que parecia mais
elegante com ele.
Quando chegou à sala de café da manhã, a sorte estava com ele - Charlotte estava
sozinha e já estava sentada e com o prato cheio. Ele entrou na sala.
—Bom dia, senhorita Page—. Ela saltou e revirou os olhos para ele, com grande
alarme.
Em seguida, sua expressão mudou, e riu. Esse não foi o efeito que estava
esperando. —O que é tão engraçado?. —Ela lutou para segurar a risada, então olhou para
o prato.
—Nada. Não é nada.
—Obviamente há algo—, ele rosnou enquanto caminhava para o aparador. Outra
risada escapou dela enquanto ele enchia o prato. Franzindo a testa, a enfrentou
novamente. — O Quê?
—Desculpe, é só que... — Ela deteve outra risada, mas seus olhos estavam
suspeitosamente brilhantes. — Você não acha que seu vestido é um pouco... bem...
colorido?. — Um rubor esquentou suas bochechas.
—Esta é a moda, você não sabia?
—Vermelho, laranja e listras amarelas? Isso é moda? — Ele chegou a mesa e
colocou o prato com força. — É seda muito cara. Me custou metade da minha renda
mensal em um dos melhores alfaiates de Londres.
—Meu Deus — disse em um tom que deixava claro que acreditava que ela havia
pago em excesso.
—Você nem sequer teve sua estreia ainda. — Se deixou cair na cadeira. — O que
sabe sobre os trajes masculinos?
—Nada, aparentemente. No entanto, tenho olhos. — E aqueles olhos estavam
rindo dele, o que ele não apreciava em absoluto.
—Então o que você acha que eu deveria usar? — Ele estalou.
— Algo menos estrepitoso. — Seus lábios tremiam com o esforço para conter a
diversão. — Sem a laranja nele. Ou o amarelo ou. Ou listras vermelhas, mas quem se
importa. — A descarada estava claramente desfrutando. E, apesar de sua irritação, ele
achou a resposta para o seu bom humor contagiante. Foi a primeira vez que ficou
relaxada ao lado dele desde a casa do jardim. Talvez ele pudesse transformar isso a seu
favor. Inclinando-se para trás, ele baixou o olhar para sua boca.
—Eu escolho minhas roupas, certo? Esta não é a tarefa de uma mulher? — Ela
piscou e, em seguida, seus olhos se estreitaram.
—Ou do seu criado — ela respondeu bruscamente.
—Não acho que você seria um bom camareiro — brincou antes que pudesse
retirar-se para a fachada fria.
—E eu não acho que você seria um bom marido — ela respondeu. Ele franziu a
testa. Charlotte iria deixá-lo ganhar o seu ponto.
—Como pode saber quando você pode mal me conhece?
—Sei muito bem quem você é. “Ao homem educado se distingue por seu
comportamento refinado, porque não há melhor maneira de conhecer alguém que por
suas maneiras.”
—Palavra arcaica — refinado — irritou-se por um segundo. Então sorriu. —
Edmund Spenser?. — Ela piscou.
—Você leu Spenser?
Maldição, ela devia pensar que ele era um completo idiota.
—Não é um daqueles tipos que escrevem? como são chamados...? livros? —Ele
não pode conter o sarcasmo. —Temos uma sala inteira no andar de cima cheia dessas
coisas. Inclusive eu costumo olhá-los ocasionalmente. Tento não prestar muita atenção
ao que está nas páginas, mas, ocasionalmente, até mesmo um crápula libertino como eu,
não pode evitar a absorção de uma ou duas palavras.
—Muito engraçado — disse ela secamente. —Alguma vez você leva algo a sério?
—Só quando sou forçado. Mas para você, querida Charlotte, vou tentar conter a
minha frivolidade. — Ele inclinou-se para frente. - Se...
Ela arqueou uma sobrancelha.
—Se?
—Você se comprometer a passar o dia comigo. Sozinha. — O rubor dela fez que o
sangue rugisse em suas veias.
—Eu não acho que seria prudente — disse ela.
—Por que não? — Ele lutava pelo controle de sua excitação rebelde. —Temos
muito que discutir se você vai ser minha criada. Devemos discutir o seu salário e
orçamento das minhas roupas, que será muito mais sofisticado, para não mencionar os
novos vestidos que devo comprar.
—Você não é sério. — Ele a olhou sério.
—Eu sou. Pode passar o dia comigo, Charlotte. Daremos um longo passeio,
faremos um piquenique...
—Esse tête-à-tête só dará a nossos pais uma desculpa para forçar o casamento.
Maldição, ela era teimosa.
—Então você terá um noivo. Claro, se você é muito covarde para passar um tempo
comigo a sós... — Ela se irritou-se, como ele sabia que faria.
—Tem mais a ver com o decoro que covardia. — Uma nova voz chegou da porta.
—O que? — David abafou uma maldição. Se fosse seu irmão mais novo, ele iria
ganhar uma surra. — Nada que a você importe, Giles—. Antes que Giles pudesse
responder, a criada entrou com uma xícara de chá para Charlotte. Em seguida, ela
comentou.
—Com seu perdão, senhor, não sabia que a senhora tinha companhia, ou teria
trazido mais.
— Está bem Molly e — David observou como a criada se aproximava dele, lhe
dirigia um sorriso tímido, e se inclinava tão perto que o seio roçou seu ombro enquanto
lhe servia uma xícara. Quando Charlotte franziu a testa, David cerrou os dentes em
irritação. Molly tornou-se bastante coquete ultimamente. Ele teria que ter uma conversa
com a governanta.
—Posso oferecer algo mais, senhor? — Molly disse com uma voz que não deixou
dúvidas quanto ao que ela realmente queria oferecer.
—Não, obrigado — disse ele. — Isso é tudo.
—Eu gostaria de um pouco de chá — Charlotte disse laconicamente.
—Claro — Molly disse, enquanto caminhava por trás de David passou à frente de
Giles. Quando David viu Giles passar a mão pelo traseiro de Molly, ele ficou tendo.
Felizmente, Charlotte não podia ver de onde estava sentada, ou isso só faria reforçar a
opinião dela sobre eles como uma família de libertinos. Depois de Molly sair, Charlotte
ofereceu um sorriso amigável e brilhante a Giles.
—Seu irmão me pediu para irmos cavalgar ou fazer um piquenique — Charlotte
disse alegremente. — Por que você não se junta a nós?
—Claro — disse seu endiabrado irmão.
—Inferno se irá — David se preparou.
—Tsk, tsk —Giles respondeu. —Esse tipo de linguagem na frente de uma dama. —
David levantou.
—Tenho que colocar meu casaco de montar. — Pegou o irmão pelo braço, quando
Giles tentou passar. —E você está vindo comigo. Agora.
—Mas ainda não comi — Protestou Giles quando David o arrastou para a porta.
—Se você não vem comigo — rosnou David ao ouvido do irmão — Vai comer do
meu punho.
Giles fez uma careta, então olhou para Charlotte.
—Desculpe-me, senhorita Page. Aparentemente, meu irmão precisa de mim para
ajudá-lo com o casaco de montar. — David ignorou o sarcasmo de Giles, mas não pude
deixar de notar o desconforto na face de Charlotte. Deteve-se perto da porta e deu-lhe
um olhar sombrio.
—Fique aqui. Não se atreva a sair.
Ela ficou de pé, com os olhos brilhantes.
—Ou o que?
—Ou vou dizer aos nossos pais o que discutimos no galpão do jardim. —
Lamentou a ameaça quando o sangue desapareceu quando o sangue de seu rosto. Mas
pelo menos ela se sentou novamente. — Volto já — adicionou, e depois levou Giles pela
porta, empurrando-o em direção às escadas. Assim que estavam perto delas, Giles soltou-
se.
—Que diabos foi aquilo?
—Quero passar algum tempo a sós com Charlotte. — David correu as escadas,
enquanto Giles lutava para manter o ritmo. — Você não vem com a gente. Entendido?
—Pensei que você não queria se casar com ela — disse Giles mal-humorado.
—Eu ainda não decidi. No entanto, que ela me evite não está ajudando.
David entrou em seu quarto. Giles veio atrás dele e afundou em uma cadeira.
—É melhor você decidir rápido. Irão depois de amanhã. E, a julgar pelo que ela diz,
atrás desse maldito oficial de cavalaria, você deve ter certeza antes de deixá-la ir.
Um ciúme inexplicável o queimou.
—O que ela disse?
—O suficiente para deixar claro que esta esperando por uma oferta dele. Acho
que ela está tentando me desencorajar. — Giles riu. — Como se eu fosse me contentar
com um campo de casadoiras quando há todo um mundo de mulheres lá fora esperando
para ser arado. — Franzindo o cenho para a dureza do irmão, David tirou o roupão.
—Ara em qualquer lugar, mas eu o advirto agora, não perca tempo com as
criadas. Um cavalheiro não deve urinar na cama que dorme. — Giles meneou as
sobrancelhas.
—Eu não estou planejando dar qualquer mijada.
—Estou falando sério, Giles, — disse David. — Se tiver que fazer, vou ao Pai e
contarei.
Giles desabou irritadiço.
—Às vezes, você pode ser muito antiquado. — Como Charlotte iria rir ao ouvir
isso. Ela achava que ele era um canalha até a medula. Um pícaro sem nenhum senso de
moda. David tirou o robe e deu a Giles. — Toma, isto deve animá-lo. Não quero mais. —
Uma risada jorrou de Giles.
—Presumo que a senhorita Page não gosta?
—Ela o chamou de berrante — David admitiu, ainda chateado por ela ter rido
dele.
—E ela o agrada tanto que você vai se livrar de seu robe favorito? Parece como se
você tivesse decidido algo sobre a Senhorita Page —. David não disse nada enquanto
colocava o casaco de equitação.
—Eu teria cuidado se fosse você — disse Giles. — Ela não é o tipo de mulher que
se pode brincar. Se você não está interessado em casamento, digo.
—Saia daqui, Giles. Eu sei o que estou fazendo. — Mas isso era uma mentira. O
único que sabia era que tinha que ficar sozinho com ela novamente, chegar a conhecê-la,
para ver se tinha perdido a maldita cabeça, considerando se casar com ela. Meia hora
mais tarde, quando ele e Charlotte saíram, percebeu que seu plano podia resultar mais
difícil do que pensava. Ela tinha vindo com relutância, e sentou-se na égua baia como
uma rainha arrogante, a fachada distante firmemente no lugar. Ficou ligeiramente para
trás, como se para falar com o lacaio atrás deles, mas na verdade era que ele pudesse ver
sua jornada.
Enquanto ele estava fora organizando os cavalos, ela havia colocado um traje de
montar e, por Deus, estava linda. Pelo menos ele teve sua resposta a uma parte de sua
aparência, o vestido era cortado na cintura naturalmente. A cintura natural muito
fina. Tinha também um traseiro muito bom, com um bom tamanho, o corpo se movia
perfeitamente com o progresso do cavalo.
Ela parecia tão confortável na sela de mulher como em um sofá.
—Agora que você já me intimidou a fazer isso — gritou a David novamente, —
para onde estamos indo?
—Eu não a intimidei a nada. — Ele impulsionou o cavalo para frente para assumir
a liderança, em seguida, virou-se para um caminho que levava a uma das ruas
desertas. —Você gosta de montar, você sabe.
—Ainda não vejo porque Giles não poderia vir — queixou-se.
—Porque não é um noivado se as duas pessoas nunca se cortejam. — Ela deu-lhe
um olhar perplexo. Então, olhando para trás nervosamente para o lacaio que tinha
ouvindo cada palavra, exorto o cavalo para mais perto do cavalo castrado de David.
—Não é mais do que um namoro imaginário —disse calmamente.
—Talvez. Talvez não. Isso não significa que não podemos nos divertir. Está um
lindo dia, e nós temos uma fazenda inteira para explorar. Tente se divertir? Certo? —Eles
montaram um tempo em um silêncio constrangedor.
Então David perguntou: —Como é sua montaria?
—Perfeita. —Murmurou.
Suas mãos apertaram as rédeas.
—Você não parece feliz. — Ela suspirou e deu um tapinha na égua para
tranquilizar a criatura.
—Ah, mas estou. Ela tem espírito suficiente para ser agradável, mas um
temperamento que torna a sua condução agradável. — Por que essa cara? — Ela fixou o
olhar na estrada à frente, enquanto ele se contorcia na sela.
—Estou chateada... você sabia exatamente que tipo de cavalo escolher para mim.
—Gosta de ser a única que tem um bom olho para cavalos, não? — Brincou,
determinado a clarear seu estado de espírito. Um pequeno sorriso curvou seus lábios.
—Exatamente. — Mas essa não era a verdadeira razão para o seu
desconforto. Não queria aprovar tudo o que ele fazia, no entanto, ela não podia evitar, às
vezes. Graças a Deus. A estrada se abriu de repente em um longo caminho entre os dois
campos de cevada. No final havia uma floresta onde quando crianças costumavam
brincar. David mostrou um sorriso desafiador.
—Quer correr até o bosque? — Ela olhou para a estrada de terra e, em seguida
ele.
—Só se você prometer não me chamar de um nome desagradável quando eu
ganhar.
—Prometo. — Ele sorriu. — Mas você não vai ganhar. — E com isso, ele estimulou
o cavalo a correr. Ela o seguiu com uma velocidade surpreendente, impressionando-o
com sua habilidade. Mas ela tinha espetado seu orgulho uma vez esta manhã. Ele
pretendia mostrar a ela que não era o imbecil lascivo que se vestia mal e que passava os
dias em devassidão de luxo. Cavalgou para ganhar, colocando cada parte de sua montaria
a prova. Ela quase o venceu de qualquer maneira. Mas, assim que se aproximaram da
beira da estrada que dividia o bosque, David levou o castrado ao limite e além da linha
das árvores antes dela. Com um sorriso de triunfo puro, ele parou e se virou para ela na
sela. — Um bom espetáculo —ele disse, tentando não tripudiar.
— Vejo que te deram o cavalo mais rápido — queixou-se ela. Ele riu para ela, não
se sentindo intimidado por seu mau humor.
— Pelo que vejo Charlotte Page, você é tão má perdedora quanto eu. — Seu olhar
zangado disparou sobre ele, e ela abriu a boca como se para protestar. Então deu uma
risada fraca.
—Acho que é verdade. Desprezo perder.
—É bom que você admita — disse enquanto continuava pela estrada. Pôs o
castrado ao passo ao lado dela. — Não hesite em me chamar com um nome desagradável
se isso a faz se sentir melhor. Ouvi dizer que - Macaco - já tem dono, mas você pode
tentar, com espalhafatoso. Ou Sr. Rápido e Perdedor. Ou... espere, tenho um mais
completo: Diabo corrupto.
—Perfeito? —Ela ergueu as sobrancelhas. — Para você isso é um elogio. Você e
seus amigos, pavoneando-se, se gabando de sua maldade.
—Eu nunca me atreveria. Não é necessário. — Ele sorriu para ela. — Minha
maldade é evidente por si mesma.
Ela riu.
—Eu juro, você é incorrigível, Sr. Master.
Deliciado por tê-la feito rir finalmente perguntou: —Vamos lá, não pode me
chamar de David? Certamente até mesmo um noivo imaginário merece.
—Meu noivo visa estirar as regras de decoro — criticou ela, e, em seguida, deu-
lhe um sorriso agradável, o que levou a incitar de sua recusa. Eles montaram um tempo
em silêncio sociável. Ele sub-repticiamente olhou para o relógio de bolso. Certamente
tinha dado tempo suficiente aos criados para fazer o que ele havia pedido a noite
anterior. Não podia esperar para ver como Charlotte iria gostar da surpresa.
Quando chegaram a uma pequena clareira perto da estrada, ele parou e
desmontou, indicando ao lacaio que levasse os cavalos.
—Tenho algo para lhe mostrar — disse Davi a Charlotte enquanto a ajudava a
descer.
—Oh sim? — Agora vinha a parte perigosa. Ele ofereceu o braço, que ela tomou.
Em seguida, ele acenou para o lacaio, para reunir as rédeas dos dois cavalos e
começar a voltar para a estrada.
—Onde vai o pajem? — Ela perguntou.
—Eu disse a ele para voltar. — Com a mão firme tomada na dobra do braço, ele
entrou no bosque.
—Sr. Masters, — disse ela, arrastando os calcanhares um pouco.
—Charlotte, você está segura comigo, eu prometo. —Houve um momento em
ficou meio morto de medo de que ela pudesse correr atrás do lacaio para recuperar o
cavalo, ou mesmo partir sozinha a pé para casa. Quando não o fez, se alegrou.
A partir dali, tudo seria um mar de rosas. Porque, finalmente, ele teria Charlotte
para si mesmo. No entanto, ao cruzar o bosque, o som de água corrente começou a fluir
através deles, arrastando os pés novamente.
—Já esteve aqui antes?
—Sim, como uma questão de fato. Costumávamos brincar aqui.Você não
lembra? —Estava perto o suficiente da borda do bosque para ver além do Tamisa. Ele se
perguntou se ela lembrava da ilha no meio, chamada de uma maneira incomum. Ela havia
sido proibido por eles quando crianças. Agora tinha um mirante. E havia ali um
piquenique luxuoso fornecido anteriormente pelos servos. Ela enterrou os dedos em seu
braço. Aparentemente, lembrando. Mas quando olhou para o rosto dela, à espera de sua
surpresa e deleite, ela estava pálida como um fantasma.
—O que estamos fazendo aqui? — Ela perguntou, com uma nota estranha de
pânico na voz. Ele a levou para o barco ancorado nas proximidades.
—Vamos para a ilha para um piquenique. — De repente, ela deixou cair o braço.
—Nós certamente não iremos. Vou voltar. — Dane-se tudo, por que estava
ficando assustadiça de novo? Pensou que tivesse deixado tudo para trás. Segurando a
saia, ela correu de volta para o bosque muito rápido.
—Não seja absurda — David gritou enquanto corria atrás dela. — Nós não viemos
de tão longe só para voltar sem ver Saddle Island. — Ele a agarrou-a pela cintura por trás,
apenas para detê-la, mas ela lutou violentamente contra ele.
Ela pensou que ele ia estuprá-la ali? Que tipo de homem achava que ele era?
—Acalme-se, é apenas um piquenique, eu juro. Não há necessidade disso.
—Você não pode me forçar a entrar no barco — gritou ela.—Não vou fazer isso!
Deixe-me ir! —Havia algo mais do que isso, algo estranho.
—Charlotte, o que está acontecendo?
—Ele te disse.
Ela freneticamente agarrou seu braço.
—Quem me disse o que? Não sei do que você está falando! — Enquanto ela se
contorcia em seus braços contra ele, ele viu, para sua surpresa, as lágrimas escorrendo
pelo rosto.
—Pare de fingir! Eu sei papai lhe contou. Eu sei que é por isso que nós estamos
fazendo isso. — Ela o agarrou pelo colarinho. — Por favor, não me faça ir ao rio, eu
imploro! Eu vou fazer o que quiser, o que ele quiser. Simplesmente não me faça entrar no
barco.
—Shh, querida, shh, não vou fazer você fazer nada, eu prometo — ele murmurou,
abraçando-a. — Juro que seu pai não me disse nada! — Ele disse enquanto ele abraçava
firmemente, tentando acalmá-la. Seu coração doía ao ouvi-la chorando. Demasiado tarde
ele percebeu. Seu medo não tinha nada a ver com estar sozinha com ele. Tinha a ver com
o rio. — Tudo bem —assegurou novamente e novamente. — Você está segura. Não
vamos entrar em qualquer lugar perto da água, eu juro. — Oh, Deus, o que tinha feito?
Ele não quis fazer mal a ela. Claro, não tinha desejado que ela se reduzisse a isto. Em
algum lugar no turbilhão do seu medo, suas palavras devem ter feito algo, porque ela
parou de lutar contra seu abraço. Mas agora ela tremia violentamente, e que o
alarmou. Se deixou cair para a borda coberta de erva, e arrastou-a para embalá-la em seu
colo, acalmá-la com os movimentos de suas mãos, em seus braços. Levou vários minutos
para conter as lágrimas, e vários outros para acalmar o suficiente para ela parasse de
tremer. Quando teve certeza de que estava mais em seu estado normal, se afastou e
tomou seu rosto nas mãos. — Você se sente melhor? — Ele perguntou em voz baixa. Os
olhos dela estavam vermelhos e inchados.
—Na verdade, eu... Eu me sinto um pouco boba.
—Não há necessidade de se sentir assim —. Pressionando a cabeça contra seu
peito, ele a acariciar no cabelo. — Desculpe. Eu não tinha ideia, ou eu nunca a teria traria
aqui.
—Eu sei — murmuro sobre seu casaco molhado. — Eu vejo agora.
—Foi uma surpresa estúpida. Pensei que você gostaria de ir até a ilha para um
piquenique.
Ela lançou uma risada dura.
—Quase pensou ter convidado uma louca.
—Você não é louca. Mas eu me pergunto por que...
—Eu fico louca ao ver um barco no rio?. — Ela terminou por ele.
Ignorando seu tom de autocrítica, ele lhe deu um beijo no cabelo.
—Nós sempre brincamos na água quando crianças o tempo todo. Quando foi que
tudo mudou? Como mudou?
—Se eu lhe disser, você vai rir de mim — sussurrou.
—Não. — Ele a acomodou em seu colo. —Prometo que não vou. — Dando um
olhar cauteloso para ele, procurou seu rosto.
—E não me fará ir ao rio? —Um caroço ficou preso na garganta.
—Não. — Empurrou o cabelo para trás de seu rosto banhado em lágrimas. — Não,
se você não quiser.
—Se eu não quiser? — Ela tentou rir, mas não conseguiu. — Eu prefiro mastigar
agulhas.
Ele puxou o lenço e ofereceu. Ela assoou o nariz e enxugou os olhos.
—Em um inverno, quando eu tinha nove anos, quando ainda morava aqui
perto. Houve uma tempestade, e o Tâmisa enchia e baixava muito rápido.Mamãe e eu
estávamos andando ao lado dele quando meu chapéu favorito voou. Antes que pudesse
reagir, eu corri atrás dele. — David podia ver o medo aumentar novamente em seu rosto,
mas ele se sentia impotente para desterra-lo. — A corrente arrastou-me. Lutei, mas não
sabia nadar, e a água era tão poderosa. Nosso mordomo se lançou atrás de mim, mas eu
já tinha engolido muita água. — Seu peito subia e descia com a respiração acelerada. —
Por um tempo fiquei um pouco perto. A água estava agitada e eu afundei, arrastada por
minhas saias de lã. O lacaio me perdeu de vista - não sei por quanto tempo. Tudo que
lembro é do pânico horrível de não ser capaz de respirar, de saber que eu estava prestes
a morrer. — Um arrepio percorreu-a, ele esfregou as costas dela, desejando que pudesse
fazer mais.
—Devo ter perdido a consciência. Quando voltei a mim, estava deitada em um
banco, e meu peito doía porque alguém o pressionava com força, forçando a água para
fora dos meus pulmões. Mamãe estava debruçada sobre mim, e os dentes do lacaio
tremendo por conta de seu mergulho nas águas geladas. — Meu Deus, ela tinha estado a
ponto de morrer! Seu coração simplesmente parou ao pensar nisso.
—Espero que seu pai o tenha recompensado bem por salvar sua vida. bem David
sorriu levemente.
—O lacaio se retirou do serviço apenas com o que mamãe lhe deu. Abriu uma loja
de cozinheiro, eu acho.
—E você tem medo do rio desde então?
—Lagos, rios... — Ela engoliu em seco. — O mar me dá pesadelos. Começo a ver...
tudo de novo, sentir o pânico, a dor excruciante da água que entra nos pulmões pouco
antes de desmaiar. Inclusive fico tensa quando estou em pontes. — Um suspiro escapou
irregular. — Sei que é irracional e absurdo.
— Claro que não. Um medo de afogamento é perfeitamente racional. Em você, o
medo é um pouco exagerado, isso é tudo. O que foi que Shakespeare disse? O medo
cego, não vê os fios da razão pela qual se encontra que é mais seguro para caminhar de
pé do que a razão cega tropeçando sem medo.
—É perigoso não viver sem ter medo. — Ela ficou boquiaberta.
—O quê? — Perguntou.
—Primeiro você lê Spenser e logo cita Shakespeare? — Ela deu uma risada
trêmula. — Juro, você não é nada do que eu pensava. — As palavras a detiveram em
seco, lembrou-se do que outra pessoa lhe dizia na agonia de seu medo.
—Sim, eu sei o que você pensou — disse com firmeza. — Que sou o tipo de
homem que iria usar o seu medo contra você. — Ela fez uma careta.
—Desculpe. Estou tão acostumada com a maneira de ser do meu pai — Quando
ela se conteve e olhou para baixo, um nó de apreensão se contorceu em sua barriga.
—A maneira como seu pai faria o que? —Ele espetou.
—Nada —. Ela havia dito que o pai deixou clara a sua fraqueza por ele e David viu
algo de sinistro nele. Mas... agora lembrando-se da conversa no jantar da primeira noite,
com o pai dela dizendo algo sobre a sua incapacidade para nadar. Charlotte tinha ficado
branca. Na época, ele não se lembrava nada sobre isso, mas...
—Charlotte, seu pai usou seu medo de se afogar para ameaçar? — Durante muito
tempo, ela se limitou a virar o lenço em suas mãos. Quando finalmente respondeu, sua
voz tinha um toque de amargura.
—Tentou. — A raiva fervia em seu interior.
Não era surpreendente que ela fosse desconfiada dos homens.
—Todo esse tempo, pensei que seu pai não fosse mais que um idiota. Agora vejo
que é um valentão, também. — Ela olhou para ele constantemente.
—Ele é de fato. — O nó no estômago se apertou.
—E você pensou que ele me fez tomar consciência disso?
Remorso varreu suas bochechas.
—Eu não estava pensando. De repente você começou a agir como se tivesse
mudado de opinião sobre se casar comigo, e considerando as ameaças feitas por papai no
caminho até aqui sobre o que faria se eu não fosse... do seu agrado, eu pensei que
poderia ter... ou pudesse... — Ela engoliu em seco. — Sinto muito, eu não deveria ter
assumido que os dois tinham conspirado sobre este assunto. Foi muito ruim. Você tem
sido mais do que bom para mim.
—Quando não estou forçando-a a montar a cavalo — ele disse com azedume —
lembrando-se de como ela tinha reagido. — Você acha que eu sou capaz de intimidar
como ele não?
—Não. — Ela levantou o olhar sincero para ele. — Não é, David. — Ele piscou.
—Você me chamou de David. — Um sorriso caloroso apareceu em seus lábios.
—Creio que sim. — Foi a coisa mais linda que ele ouviu. E tornou-se
dolorosamente consciente de que ela estava sentada em seu colo, suas mãos delicadas
pressionados contra o peito e uma nova suavidade em seus olhos. O fogo entrou em
erupção em suas veias.
Ele não parou para pensar ou dar qualquer aviso. Ele só a beijou. E ela o beijou de
volta. Por Deus, ela o beijou de volta, com a inocência de uma mulher que nunca
provou. Ele foi ao paraíso. E ao inferno. Porque não era suficiente. Ignorando qualquer
coisa, quão maravilhoso ele se sentida, ele agarrou sua cabeça e seus lábios com mais
ousadia. Foi deslizando a língua dentro de sua boca. Ela se inclinou para trás, os olhos
enormes.
—O que você está fazendo?. — Ele retornou de má vontade a seus sentidos.
— Sinto muito, não deveria ter ido tão longe. Eu só queria beijá-la - um beijo de
verd...
—Um beijo de verdade? — Ao invés de parecer surpresa ou alarmada, ela parecia
intrigada. — Muito bom. — Seu pulso saltou três vezes mais.
—Muito bom? O que? — Ela apertou os dedos em suas lapelas com um sorriso
trêmulo.
—Mostre-me o que é um beijo real. — O calor rugiu através dele. Abaixando a
cabeça novamente, ele roçou os lábios dela com os seus.
—Abra a boca para mim, querida — murmurou, — e eu irei. — Ela fez isso. E
assim ele fez. Deus o ajudasse. Charlotte era uma celebração inebriante. Ela estava
quente e docemente deliciosa. E quando ela colocou os braços em volta do pescoço dele
e se abandonou a seu beijo voraz agora com um entusiasmo tímido que disparou o
sangue dele, se deu conta de que estava em apuros. Não era a noite com uma garçonete
em comparação, não era o prazer de luxo de beijar uma mulher que o queria para si
mesma, pelo dinheiro que poderia pagar ou título que um dia seria dele. Ele poderia
crescer muito acostumado a isso.
Inferno maldito.

CAPÍTULO SEIS
Charlotte nunca tinha sonhado que uma mulher respeitável poderia encontrar
muita diversão em um beijo. Tinha assumido que apenas as mulheres sem vergonha com
quem o pai se unia eram capazes disso. A julgar pelo prazer que David estava lhe dando
com sua boca, as relações entre homens e mulheres poderiam ser muito diferente do que
havia pensado.
—Oh, querida, — ele murmurou contra seus lábios, — você está me deixando
louco.
—Eu também — sussurrou ela. Foi tudo o que saiu antes ele tomasse sua boca de
novo, a língua brincando com a dela, então se aprofundou e deu golpes suaves que a
fizeram tremer em lugares estranhos. Beijos reais eram ainda melhor do que o do outro
tipo, e isso porque o outro tipo tinha sido muito agradável. As mãos masculinas
começaram a vagar, a princípio, apenas pelos ombros, depois para cima e para baixo
pelos lados, como se estivesse contando suas costelas. Ele estava respirando com
dificuldade - e ela nesse caso - sentiu um vulto estranho junto ao seu traseiro. De
repente, ele rompeu o beijo.
—Temos que parar com isso.
—Por quê? — Ela perguntou, ainda afetada pelo prazer de ser beijada tão
completamente. Ele deu uma risada trêmula.
—Porque eu não desflorar você aqui na frente de Deus e de todos.
—Oh. — O calor inundou sua bochecha. Não tinha certeza do que uma defloração
envolvia, mas certamente tinha que ser escandaloso. — Fiz algo errado?
—Não penso assim. — Ele cobriu seu rosto com ternura. — Mas não acho que
devemos continuar sentados aqui como estamos.
Em um instante, percebeu que ela estava sentada no colo dele de uma maneira
pouco ortodoxa... com os braços ao redor de seu pescoço! Meu Deus, o que ele devia
pensar dela! Lutando para fora de seu colo, ela disse: — Desculpe. E-Eu não queria fazer...
—Não se atreva a pedir desculpas. — Ele levantou-se também e arrumou a calça.
—Eu não me arrependo um minuto desses beijos. E espero que você
tampouco. — Um sorriso cauteloso assumiu seus lábios.
—Não. — Então era isso fazer algo travesso com um libertino. Ela gostou. —Você
não deve mais fazer isso, é claro, especialmente se o risco é de você me deflorar — mas
ela podia ver porque as jovens eram tentadas. Beijar era muito emocionante. — Mas
sinto muito por arruinar seu adorável dia de campo — continuou.
—Bobagem, não arruinou nada. — Seus olhos voaram para os dela.
—Não posso ir lá.
—Eu sei. — Ele sorriu. — Espere aqui. Eu estarei de volta. — Ele viu sua confusão
enquanto saltava para o barco e soltava suas amarras. Quando pegou os remos e
começou a remar para Ilha Saddle, o coração dela saltou até a garganta, temendo por sua
vida. Mas, a medida que navegavam através das águas do rio com a facilidade de um
especialista, o seu sangue se acelerou por outra razão completamente diferente. David
era a imagem do homem viril, todos os músculos flexionados e cabelo despenteado pelo
vento. Odiava a admitir, mas era ainda mais bonito do que o capitão Harris. Capitão
Harris! Senhor, tinha se esquecido dele? O que dizem sobre alguém como ela? Ela era
uma menina má. Agora que tinha o capitão em mente, no entanto, não podia deixar de
comparar os dois homens. Em alguns aspectos eles eram semelhantes, tão atraentes, tão
senhores, fortes e viris. Certamente, os dois a faziam rir, a consideravam importante,
diferente de seu pai que só a fazia enojar-se.
Mas David era um garanhão puro-sangue junto a um cavalo castrado como o
capitão Harris. O capitão não tinha nada do calor de David ou sua energia inquieta, era
amável, mas não profundo, como David poderia ser, por vezes. Claro, David também
tinha um lado travesso, que, apesar de divertido, não falava bem de seu caráter.
David desapareceu no gazebo, surgiu momentos depois com um grande pacote
que colocou na parte inferior do barco. Um sorriso apareceu em seus lábios enquanto
remava de volta. Deve ter organizado este dia de campo com antecedência com os seus
servos. Imagine isso! Para ela. Não era de admirar que estivesse tão determinado a ir a
Ilha Saddle. No entanto, ele tinha mudado seus planos ao pedido dela. Qualquer homem
que fizesse isso por uma mulher não poderia ser tão desprovido de caráter,
certo? Gostava dos mesmos livros que ela, e se interessava em arquitetura. Certamente
tudo isso falava bem dele, também.
Chegou ao cais e amarrou o barco, e, em seguida, subiu para o banco de areia
com o pacote, as coisas que trazia faziam ruídos enquanto andava.
—Ainda podemos ter o nosso piquenique — disse ele. — E se você quiser, vamos
fazer aqui.
—Aqui está bom — disse corajosamente. Era o mínimo que podia fazer. — Posso
ver o rio, sempre e quando mantenha uma distância saudável.
Durante a hora seguinte eles passaram um tempo agradável. Os servos tinham
preparado um verdadeiro banquete de presunto frio e queijo, pão e manteiga, pêssegos e
creme, e alguns deliciosos bolinhos de limão, regado com vinho de uma garrafa de
prata. Eles falaram sobre todos os tipos de coisas - escola, sua preceptora, suas
esperanças para o seu status depois que herdasse. Ela disse algo que nunca tinha contado
a ninguém, que secretamente sonhou em abrir uma escola para meninas e ensinar
ciência, história e matemática, as mesmas coisas que aprendeu. Ele não tirou sarro dela
como qualquer outro homem faria. Inclusive parecia entender porque estava tão
apaixonada pela ideia. Uma vez que estavam satisfeitos e que o sol tinha deslizado para
baixo de forma alarmante, ele enfiou a mão no casaco e tirou uma caixa de rapé. Já tinha
visto antes e se perguntou se ele iria tomar rapé. No entanto, ele abriu para revelar uma
série de pastilhas com cheiro de gotas de limão. Ele ofereceu a caixa.
—Um doce para a senhora?
—É isso o que você sempre carrega ai? — Ela pegou um e colocou na boca. —
Gotas de limão. Um pouco de menta. E algo de bergamota também.
Ele sorriu.
—Tenho um fraco por doce.
—Notei seu gosto para sobremesas — brincou ela enquanto ela pegava outro e
entregava a ele. Com os olhos brilhantes, agarrou a mão dela e levou a boca, tomando o
doce de seus dedos. À medida que sua respiração ficava difícil, ele beijou a palma da mão,
em seguida, disse.
—Tenho que perguntar algo.
—Isso parece sério — disse ela, lutando para parecer indiferente.
—Isto é. —Ele juntou os dedos nos dela. — Sei que isto é muito cedo, e
provavelmente vai pensar que estou completamente louco, mas quero pelo menos,
considere o que estou prestes a dizer. — Pela primeira vez desde que o conheceu, ele
parecia desconfortável. Era muito estranho. —Quero casar com você, Charlotte — disse
sem rodeios.
Ela engasgou. Não sabia se gritava de alegria ou fugia alarmada.
—David...
—Não diga nada. — O olhava com uma intensidade que a fez estremecer
deliciosamente. — Tudo o que estou pedindo agora é para me dar uma chance. Temos
mais de três dias antes que sua família vá embora. Basta passar esse tempo comigo, me
conhecer. Não coloque sua mente contra mim.
Ela lhe deu um sorriso tímido.
—Não tenho nada contra você, David.
Alívio apareceu no rosto masculino.
—Graças A Deus.
—Mas... — Ela mordeu o lábio inferior. — Tenho algumas preocupações.
—Por que isso não me surpreende? — Ele brincou, em seguida, adicionou mais
sóbrio — Que tipo de preocupações?
—Não quero um cafajeste por marido — disse, pensando na mulher do café da
manhã. Quantas senhoras competiriam a cada dia chamar a atenção dele? E quantas ele
beijaria da forma apaixonada como a tinha beijado? Seu olhar de dignidade ofendida a
tranquilizou um pouco.
—Não sou tão canalha quanto todo mundo pensa, — rosnou. — Não me casaria se
não pudesse ser fiel.
Ela queria acreditar nele.
—Tenho outras preocupações, também, o jogo.
—Posso jogar cartas ocasionalmente, não mais. Não acho que seja o suficiente
para preocupa-la.
—E seu modo de beber?
—Charlotte — disse com firmeza: — tudo o que posso prometer é que eu sou
moderado em meus hábitos. Mas não vou me tornar um monge, se é isso que você quer.
—Não, não é — ela apressou-se em dizer. Pensando nos beijos febris,
acrescentou, — Não tenho certeza se me agradaria como um monge. Eu só...
—Você está preocupada, eu sei. Entendo isso. E prometo que não vou forçar
nada. Por agora, só peço para me conhecer como eu sou? Está bem?
Ela apertou sua mão.
—Eu posso fazer isso.
—Bom. —disse ele com voz rouca. — Isso é bom.
Nos dias que se seguiram, David mostrou-se fiel à sua palavra. Nunca voltou a
levantar a questão do casamento, mas a cortejou sem trégua. Deu-lhe violetas, e
escreveu um soneto bem ruim. Levantou-se antes de mais ninguém para cavalgar com
ela. Passava horas conversando, fazendo girar os sonhos selvagens da escola para
senhoritas que iam construir e fundar. Era um absurdo, é claro. Eles tinham seus papéis
prescritos. Ele seria um grande senhor, e ela casaria com um. No entanto, ela gostava
muito de falar sobre sua fantasia.
Tinha medo de se apaixonar por ele, de estar apaixonada, enquanto ele estava
interessado somente em divertir-se um pouco. Ou apaziguar os pais. Seus pais estavam
muito felizes em vê-los juntos, assim como sua mãe. A mãe de David, no entanto, não
parecia muito feliz com isso. Após o piquenique, Lady Kirkwood se assegurou de que eles
tivessem sempre acompanhantes. No entanto, para estar com David, mesmo com outras
pessoas ao redor, era inebriante.
Embora ocasionalmente Charlotte sentia-se culpada por ter mudado suas afeições
tão rapidamente pelo capitão David, tentava não pensar sobre isso.
A única mancha escura em seu cortejo foi quando ela no último dia de estadia em
Kirkwood Manor foi à procura de David e o escutou em profunda conversa com a criada,
depois do qual Molly apressou-se a sair ruborizada. Quando Charlotte perguntou sobre o
que eles estavam falando, ele disse que era um assunto de família e mudou de
assunto. Embora o incidente a manteve irritada durante toda a manhã, disse a si mesma
que estava vendo problemas onde não existiam. Em qualquer caso, David estava
provando ser um homem de caráter. Era nisso que ela deveria se concentrar.
Naquela noite, enquanto as mulheres ainda estavam na sala de estar e os
senhores no estúdio, saiu para ir a sala de visitas, ao mesmo tempo em que David deixava
os homens para pegar outra garrafa de porto da adega. Ao vê-la sozinha, a arrastou para
um canto e começou a beijá-la até deixá-la sem sentido. Ao não encontrar qualquer
resistência - passou dois dias sonhando estar sozinha com ele de novo, beijando-o
novamente. Para ela este interlúdio privado tão inesperado era como tropeçar em um
poço no deserto. Tudo o que podia fazer era beber e beber e beber um pouco
mais. Quando eles finalmente se separaram, a voz áspera ele disse:
—Tem que ir amanhã? — Ele a segurou pela cintura com força, o olhar cru e
quente. — Certamente se perguntar a seu pai, ele prolongará a estadia mais uma
semana.
—David — disse, — Preciso de tempo longe de você para estar segura do que
estamos fazendo.
Os dedos deles cravaram em sua cintura.
—Você quer dizer, tempo para me comparar com seu capitão Harris?
Ela riu.
—Asseguro que o capitão Harris é a coisa mais distante da minha mente. — Mas
ela não queria saltar para o casamento com um homem que mal conhecia, especialmente
quando seu cérebro estava embaciado com a presença dele. Necessitava considerar a
questão à luz fria e racional de sua casa longe de David e seus beijos viciantes. — Além
disso — continuou ela, — disse seu pai que vai a cidade em uma semana. Pode me visitar
lá então.
—Está bem. Mas, enquanto isso... — Ele a beijou novamente, tão longo, duro e
profundo que a deixou meio desmaia. Quando se afastou, seus olhos estavam iluminados
com uma paixão que causou arrepios até os pés. — Isso é para que você não me apague
de sua mente. Especialmente quando estiver confraternizando com aquele maldito oficial
da cavalaria.
—Confraternizando! Acho que você está com ciúmes, David Masters.
Sua boca se tornou uma linha beligerante.
—E se eu estiver? Tenho algum direito de me sentir proprietário seu, certo? - Ela
prendeu a respiração. Era a primeira vez que ele insinuava o casamento desde aquele dia
no rio. Ela sabia o que ele estava perguntando, também, um sinal de que eles tinham,
pelo menos, um entendimento.
—Sim, — disse ela calmamente. — tem algum direito.
A tensão em seu rosto desapareceu. Ele estava inclinando-se para ela novamente,
quando sua mãe apareceu por trás deles.
Ele murmurou algo sobre ir pegar o vinho. Assim que ele se foi, Lady Kirkwood
franziu a testa para Charlotte.
—Se eu fosse você, Senhorita Page , eu tomaria cuidado.
Tentando lutar contra o rubor, Charlotte ergueu o queixo.
—Sobre o que?
—Sobre o que faça com o meu filho. O tipo errado de mulher pode facilmente
tentá-lo a se comportar mal. — A advertência a picou.
—Então é uma coisa boa que eu não seja o tipo errado de mulher, não?
A viscondessa deu um leve sorriso.
—O que a faz pensar que eu estava falando sobre você? Apenas pensei que você
deve saber que meu filho é honesto para velar por sua reputação de verdade. — Ela a
segurou pelo braço. — Agora vamos, sua mãe precisa de você. —Charlotte passou ao lado
dela para caminhar de volta para a sala com a cabeça erguida, mas por dentro estava uma
bagunça. Fez todo o possível para que a senhora gostasse dela, mas ela parecia e
determinada a não fazê-lo. Essa era a única razão pela qual diria coisas horríveis sobre seu
filho a ela. Não era isso?

As palavras de lady Kirkwood mantiveram Charlotte naquela noite, com a boca


seca e ansiosa. Charlotte só conhecia o adulto David por menos de uma semana. Como
poderia estar segura de que o David que estava vendo era real e não uma versão dele?
Pior ainda, o pai havia escolhido David como marido para ela, o que, por si só deveria
colocá-la em guarda. Só que David não gostava de seu pai, o que mostrava o bom senso
de Davi. Além disso, ela não poderia julgar um homem, parecido com o pai, e seu instinto
lhe dizia que David era exatamente o que ela pensava - um bom companheiro com um
bom coração e bom caráter também.
Não era mais que um truque do destino que o pai quisesse que se
casassem. Deixar que a influenciasse de qualquer forma séria uma loucura. Não?
A noite se prolongou enquanto ela vacilava entre preocupações sobre os motivos
de David querer casar com ela, e seu sonho de como o casamento poderia ser com
ele. Depois das 3:00 da manhã, ela desistiu do sono e caminhou até a biblioteca. Acabava
de escolher um livro, quando ouvi um som vindo de fora. Quando foi olhar para fora da
janela, sorriu.
Aparentemente, não era o única que não conseguia dormir. David estava no
terraço - de costas para ela, ela o reconheceu pela bata atroz. Mesmo na penumbra da
lua, conseguia ver bem as listras. Ela se perguntou-se atrever-se-ia a descer as escadas e
deslizar a reunir-se a ele quando alguém apareceu. Era aquela coquete, Molly. A criada
deslizou para o lado dele, em seguida, escorregou entre ele e a varanda para mover os
braços em volta do seu pescoço. Tensa, Charlotte esperou que David empurrasse a jovem
para o lado. Mas ele não o fez. Em vez disso, ele começou a beijá-la com a mesma paixão
ardente que tinha mostrado por Charlotte. Só que ele não se deteve com um beijo. Como
Charlotte viu com horror, ele subiu a saia de Molly, e levantou as pernas de cada lado
dele na mesma posição vulgar que Charlotte uma vez pegou o pai com uma
prostituta. Em seguida, David começou a se mover de uma maneira igualmente vulgar. O
coração de Charlotte se rompeu.
Ela afastou-se da janela, tentando engolir a bile que subia em sua garganta. Como
podia ser? Como ele pôde fazer isso com ela? Ela realmente tinha pensado que ele
poderia estar apaixonado por ela? Oh Senhor, como completamente enganado poderia
estar sobre ele! E pensar que esteve em seus braços, a apenas algumas horas! Como ele
se atrevia? Podia ser que eles ainda não estivessem comprometidos, no entanto, eles
tinham uma espécie de pacto. Como beijava Charlotte tão apaixonadamente com que
beijava a ajudante de cozinha? Era inconcebível! Horrível! Imperdoável. Isto não era
aceitável, não antes do casamento, nem nunca.
Se ele poderia facilmente pairar nos braços de uma mulher para outra, ele não
era o homem que ela pensava. Isso era o que poderia esperar se casasse com ele.
Quanto tempo passaria antes de ele passear com suas mulheres diante dela?
Quanto tempo antes que sua vida terminasse exatamente como a de sua mãe?
Não era de estranhar que seu pai o aprovasse – os lobos sempre andavam em
bandos.
Seu estômago revirou, e ela correu de volta para o quarto, apenas a tempo de
perder o conteúdo do estômago no penico. Ficou de pé, tremendo, a pele úmida
enquanto abraçava o estômago. O que ia fazer?
Tinha que romper com ele, isso era tudo, tão rápida e discretamente quanto fosse
possível.
Mas como? Se ela não lhe desse uma razão para mudar de ideia, ele acabaria por
dar-lhe um beijo doce e falar com ela até que cedesse. E se ela o repreendesse pelo que
tinha visto, ele iria rechaçar ou negar. Pior ainda, ele poderia intimidá-la a se casar com
ele de qualquer maneira. Graças a ela, agora sabia exatamente como fazê-lo, ele só tinha
que ir até seu pai e este não duvidaria em intimidá-la a se casar.
Ele não faria isso, seu coração lhe disse. Não era esse tipo de homem. Lágrimas
inundaram seus olhos. Seu coração não tinha pensado que era o tipo de homem que
flertava com uma mulher ao mesmo tempo que estava com outra, tampouco.
Seu coração era um tolo cego, ignorando toda a evidência do caráter
dele. Mesmo agora, seu coração protestava contra a própria evidência de seus olhos,
dizendo que ela deveria ter visto um empregado ou Giles. Ela prendeu a respiração? Teria
sido Giles? Poderia ter chegado à conclusão de errada? Por um segundo, ela se agarrou a
essa esperança. Em seguida, lembrou-se de como a garota sempre flertou com
David. Não com Giles, mas com David.
Molly inclusive corou com algo que ele havia dito naquela manhã. Por tudo o que
Charlotte sabia, poderia ser para o encontro desta noite. Claro, ele tinha agido como se
tivesse algo a esconder. Se não tivesse, então por que mudou de assunto quando
Charlotte perguntou? Não vestia também a bata horrível? No primeiro dia, Giles desceu
para o café vestindo o robe dele, uma coisa desbotada de seda azul.
Seu coração se contorceu em seu peito. Não, somente David era tão seguro de si
mesmo para se sentir bem vestindo aquelas listras horríveis e feias. E ela tinha confiado
nele também! Como poderia ter sido tão estúpida? Como não poderia ter percebido que
os avanços de David e sua ternura eram falsas? Era óbvio que tinha representado um
papel o tempo todo, decidido a ganhar o seu dinheiro. Ele disse que não estava
preocupado com dinheiro. Tinha dito que não queria se casar com ninguém, mas havia
realmente mudado de ideia, quando viu que ela era linda!
Aparentemente, ele não podia suportar se casar por dinheiro, mas sim o faria se a
mulher fosse bonita o suficiente para tolerá-la. As lágrimas corriam por sua bochecha.
Como ele pode deixar se enganar por ele? O que havia de errado com ela?
Passou a hora seguinte chorando sobre o travesseiro. Mesmo depois ela gritou,
cheia de desolação que estava sufocando-a. Deitou-se na cama, agarrando o travesseiro
molhado contra o peito.
Se ela só pudesse ficar fora por algumas horas, enquanto deixavam o local.
Ela estaria a salvo. Segura? Um arrepio a percorreu. Talvez David e suas duas
caras de mentira e engano, mas não do pai. A ele não importava que David tivesse
flertado com uma criada. Se dissesse a ele, acabaria por dar pouca atenção e olhar para o
outro lado, porque era exatamente isso o que esperava da mãe dela. E se ela se negasse a
intenção de recusar-se a David... Ela limpou a boca.
Não se atreveria a dizer isso ao pai, todavia. Recordando as ameaças, febrilmente
esfregou os braços em uma vã tentativa de eliminar o medo gélido sobre ela.
O pai não aceitaria sua recusa. Ele iria pegar um barco para navegar pelos mares
até que ela pedisse para parar, para aceitar o que ele exigisse. Ah, ele faria isso? Ela podia
esperar até que chegassem a Londres para dizer ao pai, mas que só iria atrasar o
pior. Finalmente, David faria uma oferta formal, e o pai pediria a ela para aceitá-la. E se
não o fizesse... ondas de medo se enroscaram em torno de seu coração. A única maneira
de deixá-la em paz era se David não fizesse nenhuma oferta. O pai iria culpá-la por isso, é
claro, mas não poderia fazer nada sobre isso. Sua respiração acelerou. Sim, isso iria
funcionar! Mas, como fazer? Saindo da cama, ela andou pelo quarto.
Ela tinha que fazer David renunciar a ela. Gostaria de jogar seu flerte com a criada
na cara dele, mas ele negaria. Então tinha que convencê-lo de que simplesmente mudou
de ideia, mas de tal maneira que parecesse feliz. Teria que fazer com que ele a
desprezasse.
Foi até a escrivaninha. Escreveu uma carta detalhando exatamente porque era
uma má escolha para casar com ou sem fortuna. Prometendo tornar a vida miserável, se
ele se casasse com ela. E já que ele odiava que picassem seu orgulho, ela faria isso
também. O enfureceria ao ponto de lavar as mãos dela e toda a sua família.
É claro que neste momento não seria difícil dizer isso, porque era tudo o que
podia fazer para não estrangulá-lo por como a havia traído. Com o sangue cheio de justa
indignação, sentou-se e pegou a pluma. Levou duas horas para aperfeiçoar a
carta. Quando terminou, sentou-se novamente, com a sensação de estar mais no
controle. Se ele não pronunciasse contra se casar com ela ao ler isto, então ele era um
tolo. Ele poderia ser um desalmado, lascivo, mas David não era tolo.
Agora deveria lidar com a partida sem demonstrar seu descontentamento, então,
nem David nem o pai de nada suspeitaria. E a carta deveria ser deixada para David, sem
que o pai soubesse que ela havia escrito. Afinal, as jovens não tem permissão para
escrever diretamente a jovens cavalheiros.
Escondeu a carta e, em seguida, deitada na cama decidiu como enviá-la. Um
criado? Não, ela não podia confiar que não contariam ao pai ou aos pais de
David. Poderia infiltrar-se na habitação de Davi? Não achava possível. A esta hora já teria
voltado ao quarto, e se ela fosse pega lá com ele, teria que se casar ou ser desonrada.
Talvez eu pudesse esperar até que chegasse em casa...
Parecia que eles só tinha passado alguns momentos, quando ouviu os gritos do
pai e ficou confusa. Senhor, tinha adormecido! O pai estava ordenando os servos sobre a
viagem, de modo irem mais rápido para baixo com os baús. Pela beira da porta aberta,
apareceu a cabeça de sua mãe.
— Oh, bem, você está acordada. Seu pai está disposto a sair já. Ele está
preocupado com o clima.
—Está pronta? — O pai foi empurrando para dentro do quarto. Plantou as mãos
nos quadris. — Como está com o jovem Masters?
É uma pena que ela não pudesse dizer a verdade: Eu odeio e desprezo, e nunca
vou casar com ele!
Sentou na cama.
—Acho que ele tem a intenção de ir me ver em Londres, pai.
O pai fez uma careta.
—Então não ofereceu casamento?
— Não formalmente, não.
— Mas você acha que vai. — Ela se preparou para a mentira.
— Provavelmente. Apenas alguns dias se passaram.
— É verdade. Um jovem assim tem que ter cuidado —Apertou atrás das costas.
— Sim.
— Bem, senhorita vista-se. Temos que sair rápido. — Por sorte, o pai estava com
tanta pressa que ela só teve que ver David brevemente, e sua mãe os impediu de ter um
momento privado. No entanto, a maneira que a olhou fez seu sangue ferver. Como ele se
atrevia a lhe dar esse olhar ardente após o que tinha feito? Ela se enfureceu por todo o
caminho de volta a Londres. No momento em que chegou em casa várias horas mais
tarde, já havia descoberto como enviar a carta. Não poderia usar um dos servos, já que
todos vigiavam para o pai, e ela não podia enviar por correio sem o selo do próprio
pai. Ele iria querer ler primeiro.
No entanto, David estaria em Londres em poucos dias, e havia um menino que
vendia bolos em frente sua casa todas as manhãs. Ela iria pagá-lo para entregar. Ela só
tinha que ter certeza de que David sabia exatamente o que estava por vir, não devia ter
nada que os relacionasse se caíssem em mãos erradas.
Ela teria cuidado, muito cuidado. Mas de um jeito ou de outro, iria se afastar da
vida de David Masters para sempre.

Tom Dempsey não podia acreditar. A jovem da décima quinta St. James Square
tinha confiado nele para entregar uma carta. E ela estava pagando-lhe generosamente,
também. Quase esqueceu a chuva enquanto corria pelas ruas, a preciosa carta estava
cuidadosamente escondida no bolso. Infelizmente, estava tão ocupado felicitando-se pela
sua sorte que ele viu o menino mais velho veio com uma sacola cheia de envelopes até
que se chocou contra ele.
O artefato do correio explodiu dispersando todos os envelopes em torno dele
como um confete gigante.
— Idiota! — O outro garoto reclamou enquanto Tom ficou boquiaberto com a
bagunça. — Que diabos você pensa que está fazendo? — Tom, não respondeu atordoado.
— Bem, vamos lá então, me ajude a recolher estas! O Sr. Bowmar terá minha cabeça se
eu perder todas estas cartas por causa de você! — Os dois meninos se apressaram a
recolhê-las, enquanto a chuva caia como projétil em suas costas e a tinta nos envelopes
começava a escorrer. Quando a última carta estava na bolsa, o outro garoto fugiu sem
nem mesmo um agradecimento.
— Maldito bêbado — Tom se queixou, agora encharcado até os ossos, enquanto
apertava o passo. Mas quando chegou ao endereço correto, colocou a mão no bolso para
descobrir que a carta tinha desaparecido. Desesperado, buscou em todos os bolsos, para
depois voltar seus passos, esperando talvez que tivesse caído no caminho. Depois de
chegar na esquina onde tinha encontrado o outro tampouco pode encontrá-la, teve que
admitir a verdade. De alguma forma ela caiu e havia se misturado com as outras cartas.
Ele gemeu. Que ruim havia ido a sorte de Tom com ela. Ela havia dito que lhe
daria umas moedas quando entregasse a carta e outras, quando trouxesse uma nota do
mordomo da casa, dizendo que ele tinha feito. Agora ele não tinha nada para entregar.
Enquanto isso, nos escritórios do Tattler naquela manhã, Charles Godwin, um
jovem repórter, foi chamado pelo editor.
— Ouça esta carta acabou de chegar — disse Bowmar, acenando com uma folha
de papel. Sentou-se em uma pilha de cartas com aspecto lamentável e com a tinta
borrada. Bowmar leu em voz alta algumas poucas linhas de uma forte ladainha de
pecados de um pobre sujeito.
— Quero que você use em uma dessas peças editoriais em que é tão bom, as
falam sobre os males da sociedade. É algo suculento. — Bowmar atirou-a para ele, e
Charles leu. Ele foi espirituoso, uma maneira de esfolar um corpo vivo, mas poderia jurar
que não tinha sido destinada ao jornal.
— Não pode publicar isto. Evidente que é pessoal. — Bowmar mostrou seu
habitual sorriso bajulador.
— Veio com o resto do correio. E não há nenhum endereço de remetente. —
Charles virou a folha e viu nada mais do que tinta borrada. Ele pensou que poderia ver um
M, mas isso era tudo.
—Não importa. Você não pode imprimi-lo com a consciência limpa. Obviamente é
particular, e alguém virá depois alegando difamação. — Ele entregou a carta a Bowmar,
apontando para uma linha em particular. — Porque ainda mencionou que o homem é o
filho de um visconde.
— É uma alusão, isso é tudo. Além disso, não há um grande número de filhos de
viscondes. E ninguém pode vir depois reclamar ao jornal por difamação ao menos que o
que se diz aqui seja falso. Mesmo se eles fizerem isso, basta salientar que a carta começa
com - Caro Caminhante espalhafatoso - e é assinado por - Senhorita Macaco. Ninguém
pode me culpar por pensar que estava destinada a publicação. — A alegre
despreocupação de Bowmar dava nojo em Charles. Ambos sabiam que não era destinada
para isso, mas nada mais foi dito. A carta era intensamente particular, claramente o
resultado de um caso de amor que terminou terrivelmente errado. Em algum lugar o
coração de uma jovem estava quebrado, porque um canalha tinha abusado dela. Parecia
errado lucrar com sua miséria. O fato era que Bowmar não se importava com isso e
esperava que ele fizesse o trabalho sujo, isso despertou seu temperamento, algo que
Charles era famoso.
— Só um canalha sem coração iria imprimir esta carta. — Bowmar se inclinou
para trás e zombou.
— Coração? O coração não tem lugar em um jornal, senhor. Material suculento
como esse irá vender jornais para centenas de pessoas.
— Não vou fazê-lo. Isso está errado.
Estreitando os olhos em fendas, Bowmar disse: — Você vai fazer o que eu digo, se
quiser manter sua posição. — Desde que chegou para trabalhar para Bowmar há dois
anos, Charles tinha sofrido vários dilemas morais. Havia apertado os dentes e resistido
todos e cada um sem perder o emprego. Mas este tinha realmente obstruído sua
garganta. E ele já tinha aguentado o suficiente.
— Pouco me importo minha posição, se é isso que eu tenho que fazer por ela. —
Virou-se em direção a porta. — Estou indo. — Charles saiu sem olhar para trás.

CAPÍTULO SETE
Cinco dias após a saída dos Page de Berkshire para a cidade, David voltou para
casa depois de galopar cedo pela manhã. Montar a cavalo tinha sido sua salvação desde
que Charlotte foi embora, ainda que não a mantivesse longe de sua mente.
Um sorriso curvou seus lábios. Ele estava apaixonado. Não havia nenhuma dúvida
sobre isso. Não conseguia dormir sem pensar nela. E em apenas dois dias iria vê-la
novamente em Londres. Desta vez iria fazê-la dar uma resposta. Podia ser jovem, e às
vezes podia ser um tolo, mas não iria deixá-la ir.
Claro, o pai dele ficaria encantado. Suspirou. Odiava que estava jogando a cair
direito nas mãos do pai, mas não podia evitar. Se praticidade e amor que acabava de
acontecer coincidiam, então, quem era ele para questioná-lo?
Assim que David entrou na casa, o servo disse que o pai chamava por ele com
urgência. David se apressou ao estúdio do pai, surpreso ao encontrar o homem dando
voltas e bebendo uísque, nunca era um bom sinal a esta hora.
— Me chamou, pai?
O pai se virou para ele com um olhar que transformaria água congelada em vapor,
então bateu com o jornal em cima da mesa.
— Você quer explicar como isso aconteceu?
— Como o que aconteceu? — Perguntou David, completamente perplexo.
— Há um artigo aqui que diz coisas ofensivas sobre um cavalheiro que soa muito
com você.
Um arrepio percorreu a espinha de David. Coisas mordazes sobre ele? No maldito
jornal matutino Tattler?
Pegou o papel, começou a ler. Tratava-se de editorial cheio de ataques contra os
pomposos - desonestos - cavalheiros. Como exemplo, o editor apresentou uma carta de
um jovem cuja dignidade havia sido pisoteada por um homem:

Caro caminhante espalhafatoso,

Recentemente cheguei a entender que a honra e o bom caráter são os trajes de sua
conveniência, algo que faz você querer ceiar uma mulher particularmente suculenta. Mas nós dois
sabemos que debaixo desse caro robe listrado, e vão, esconde-se um coração inconstante e mortal
como as águas do Tâmisa.
Então, enquanto você está jogando e vagabundeando com seus amigos libertinos de
Cambridge, muito ocupado contando os dias até que se torne um visconde e possa viver uma vida
selvagem com a impunidade do título, lembre-se: Houve uma vez uma dama que realmente viu
quem você é.
Ela viu a vaidade por trás de cada comentário e falsidade por trás de cada beijo.
Você acalentou seu bom senso por um curto período de tempo com o feitiço sensual de
um libertino, mas eventualmente ela reconheceu o verdadeiro libertino impenitente que se diverte
enganando as jovens damas, pelo mero prazer de destruir a vida de uma mulher.
Se você vir a pedir a mão dela, tenha uma coisa bem clara. Ela pode se casar com você por
obrigação, mas ela nunca mais irá tolerar suas intimidação e nuca lhe dará o que um homem
espera de sua esposa, lealdade e apoio.
Assim, é possível que deseje pensar duas vezes antes de ter uma serpente em sua cama.
Sua com desprezo,
Senhorita Macaco.
Não conseguia respirar, o sangue rugia tão alto em seus ouvidos que ele pensou
que ia desmaiar, só uma garota estúpida, assinava como senhorita macaco. Seria
Charlotte? Como poderia ter escrito essa... essa coisa tão vil?
Cada palavra era uma faca em seu coração. Mal registrou o resto do editorial, em
que o editor denegria o comportamento dos jovens cavalheiros para as mulheres
respeitáveis na área de Cambridge. Não escutou as perguntas do pai nem sequer
percebeu o ambiente ao seu redor. Ele ficou lá, empalado pelas palavras.
Por que tinha escrito aquilo? O que ele fez? Eles haviam se entendido. Ele tinha
certeza de que ela se importava com ele. A última vez que haviam se beijado, ela parecia
tão feliz e ansiosa para se casar como ele.
— E então? — Repetiu seu pai. — Posso ver pelo seu rosto que trata-se de você.
Ele assentiu, apenas meio ciente disso.
— Tenho que supor que a mesma foi escrita por Charlotte Page?
— Verdade — disse estupidamente.
— Então o que você tem a dizer? O que fez com aquela garota?
O calor aumentou em suas bochechas.
— Eu não fiz nada, a não ser pedir a ela para ser minha esposa. — E agindo como
um tolo embriagado. E desnudar meu coração para seu punhal, que agora se voltou
contra ele. — Ela deve ter ouvido rumores sobre mim depois que voltou para Londres.
Mas por que tinha acreditado? Isso que fez a lamina cravar mais fundo, o fato
dela ter ouvido algo de sua aventuras com seus amigos, e ao invés de ir falar com ele a
respeito, fez isso. Ela sequer esperou até vê-lo de novo antes de acusá-lo. Ela tinha
enviado este documento sangrento para que fosse publicado! Como pode?
Ele sabia que ela era muito exigente, que tinha noções selvagens sobre ele e sua
reputação, mas nunca esperou algo tão inexplicável e cruel.
Que tipo de mulher fazia tal coisa?
Seu único consolo era que ninguém diria que era ele...
O sangue esfriava como gelo em suas veias. Leu mais uma vez, uma geleira
arrasava sobre seu corpo, congelando tudo o que tocava.
— Todo mundo vai saber que sou eu.
— Ridículo — disse seu pai. — Pelo menos ela teve o bom senso de não usar
nenhum nome. A única razão pela qual eu suspeitei foi por seu robe espalhafatoso.
David olhou para o pai.
— Exatamente. Usei aquele robe em Cambridge mais de uma vez. Eu era
conhecido por ele. — Disse uma maldição. — Não vai passar muito tempo antes que
comecem a falar de mim...
A cor desapareceu do rosto do pai.
— Onde está agora?
— Eu dei a Giles.
O pai mandou chamar Giles. Assim que o rapaz entrou, perguntou:
— Onde está o robe que seu irmão lhe deu?
Giles olhou David indeciso.
— Por quê?
— Você o tem? — O pai ladrou.
— Está no meu armário.
— Você o tem usado publicamente por esses dias?
Giles engoliu em seco, é claro que estava com medo de ser acusado de algo.
— Não senhor.
— Bom. Em seguida, irá queimá-lo.
— O Quê? ? Por quê?
David lhe atirou o papel, em seguida, virou-se para o pai.
— Queimar isso não ajudará nada. Centenas de rapazes de Cambridge me viram
com ele.
Enquanto Giles lia o artigo, David andava ao redor da sala, incapaz de se aquecer,
incapaz de deter o frio correndo por ele.
— Vamos processar o Tattler por difamação — disse o pai.
David girou nos calcanhares.
— Então confirmará a todos que sou eu? Está louco?
— De acordo com você, eles já devem saber, — seu pai disse. — Além disso, se o
cadela quer arruiná-lo em público, ela deve sofrer a ruína também.
Por alguma razão, uma imagem de uma aterrorizada Charlotte recusando a ir
nadar no rio veio à mente de David. Mas, é claro, que era uma imagem falsa. Se ela
realmente temia o pai, por que tinha enviado esta carta para um jornal? Sem dúvida, era
inteligente o suficiente para perceber que o Senhor Page reconheceria a mão dela nisto.
O homem tinha visto David usando o robe uma manhã. David reprimiu um
juramento. Talvez por isso ela tivesse feito isso para punir o pai. Isso, pelo menos, fazia
sentido. Não teve coragem suficiente para desafiá-lo por si mesma, mas foi corajosa o
suficiente para arrastar o filho de um amigo de seu pai através de um escândalo, a fim de
destruir o plano do Senhor Page ao combinar esse matrimonio.
Quaisquer que fossem suas razões, eram insuportável. Nunca esqueceria o que
tinha feito. Ou a perdoaria?
O frio arrebatou sobre seu corpo e agora arrastava-se em direção ao seu coração.
— Arruinar a senhorita Page neste momento tampouco me agrada — disse David
com calma, — essa é a maneira mais segura de alimentar o fogo. Ela será promovida
como um mártir enquanto eu permanecerei vilipendiado na imprensa por minha
tentativa de difamá-la. Daria a imprensa, até mesmo um pedaço da verdade, e eles viriam
para cima em nós como cães famintos. Vão desenterrar o fato de que você queria me
casar com ela por conta da fortuna e o pai dela estava esperando obter benefícios
políticos. Seremos publicamente humilhados como canalhas intrigantes, que é
provavelmente exatamente o que ela quer.
A fúria do ártico deslizava por ele e era muito mais preferível ao primeiro que
sentiu tendo em brasa viva uma pontada de dor no coração. Deu as boas vindas ao gelo,
abraçou-o, deixando sua alma congelamento reduzindo-o em um bloco sólido de gelo.
— O silêncio é o nosso melhor recurso. Silêncio e a esperança de que ninguém me
conecte com esta carta sangrenta.
Seu pai olhou para Giles.
— O que está fazendo ai de pé como um idiota com a boca aberta? Vá queimar
aquele robe. Isto é algo que pode fazer para ajudar.
— Sim, senhor — murmurou e fugiu do cômodo.
David olhou para ele, agora com as solas dos pés insensíveis.
— Filho sinto muito — disse o pai em voz baixa. — A culpa é minha por tê-los feito
vir aqui. Por lhe pedir para considerar que aquela jovem como esposa. Eu não tinha ideia
de que ela era louca.
Não, mas David tinha conhecido. Em algum lugar uma parte dele disse-lhe para
tratar essas pessoas com cautela, mas ela e seus pais eram muito mais imprevisíveis. Ele
deveria ter escutado que o instinto, em vez de deixar seu pau colocá-lo em apuros, como
de costume.
Por muito que odiasse admitir, seu pai tinha razão. O amor era para os tolos e
crianças. David nunca deveria ter confundido as vantagens práticas de se casar com
Charlotte com um pouco de tola e duvidosa emoção. Então, ele não estaria ali com o
coração em pedaços.
Muito bem. Ele seria capaz de contornar isto o melhor que pudesse, mas ele iria
aprender com seus erros. Haveria mais libertinagem, não se queixaria mais sobre os
investimentos do pai e não mais orgias bêbadas com os amigos. Sem dúvida, não haveria
mais tentativas de se casar por amor. Ele fez isso. Seria ele que marcaria o curso de sua
vida com a mesma eficiência cruel que ela.
E depois que a fofoca tivesse esfriado, e tivesse tempo para desenvolver um
plano, faria Charlotte Page pagar por tê-lo feito virar motivo de riso do público.
Ela veria se ele não faria.

Charlotte estava prestes a entrar na sala de café da manhã, onde a voz alta do pai
flutuou em direção a ela.
— Eu lhe digo que desta vez ela foi longe demais — O pai gritou.
Seu coração disparou, Charlotte deslizou junto a porta para escutar.
— Você não sabe se foi ela — disse a voz tímida de sua mãe. — Na verdade,
Rowland...
— O quê? Você a defenderá após essa farsa? — Havia um barulho de jornal. — Ela
enviou ao Tattler, esta manhã, de todas as coisas! Vi o jovem Masters usando o robe uma
manhã, eu sei que é a ele a que se refere nesta carta.
O coração de Charlotte quase parou. Uma carta? Eles haviam se apoderado de
sua carta? Não, isso não era possível. E ainda por cima um jornal.
— Parece com ele — disse sua mãe, — mas tenho certeza que foi uma outra
menina que escreveu ao jornal. Ele tem uma reputação, você sabe.
— E quanto a esta linha aqui: “tão inconstante e mortal como as águas do
Tamisa?” É algo que ela diria. E ela realmente o chamou de “Libertino arrependido” antes
de chegar a Berkshire. Não lembra que ela disse que ele e seus amigos estavam
"corrompidos "?
O medo se arrastou desde o ventre de Charlotte, arranhando até chegar a seus
pés para reconhecer frases de sua carta. Oh Deus, oh Deus, oh Deus, como foi parar no
Tattler matinal?
— Não acho que seja a nossa Charlotte.
Uma golpe soou, em seguida, um grito de sua mãe. Charlotte congelou, em
pânico. O pai nunca tinha batido em sua mãe que ela soubesse. Se tivesse começado
agora, era devido à estupidez de Charlotte, a estúpida carta...
— Rowland, por favor — disse a mãe suavemente — golpear os móveis não
resultará em nada. Os criados vão ouvir. Além disso, você não pode ter certeza de que foi
ela.
O alivio corria por Charlotte, mas foi apenas temporário. O mau temperamento
do pai certamente ficaria incontrolável depois disso. E o que ele faria com ela?
Ele nunca a perdoaria, nunca!
— Pedi a ela três vezes desde que voltou, para me dizer como as coisas tinham
ido com ele — ele exclamou, — e ela manteve a boca fechada o tempo todo. — O jornal
foi sacudido novamente. — Isso é porque ela estava planejando isso, droga! Não vou
ajudá-la? Ouviu? Ela terá que pedir desculpas a ele em pessoa. Vou vê-la ajoelhar-se
diante dele e toda a sua família, se isso for necessário para endireitar as coisas! Porque se
não, vou suspendê-la pelos pés sobre a ponte de Londres até que ela faça!
Só a ideia a encheu de terror e lhe deu calafrios que a percorrem através por todo
o corpo.
O pai continuou xingando e ideando como fazê-lo pagar.
— Juro que nunca vou deixá-la sair de casa novamente. Ficará no quarto até o
inferno congele! Já tive bastante do seu atrevimento!

Ela congelou. Temendo que ele saísse da sala a qualquer momento e a encontrar
à espreita ali, ela saiu pela porta dos fundos da casa.
Uma vez fora, correu para o canto mais distante do pequeno jardim.
Passeou sob o salgueiro favorito, desesperada para descobrir o que tinha
acontecido e o que fazer. Como poderia a carta ter ido para em um jornal? Oh, se alguma
vez visse Tom Dempsey novamente, ela o enforcaria! Sabia que algo deu errado quando
ele não voltou pelo resto do dinheiro.
— Senhorita Page! — Sussurrou uma voz atrás dela, então ela se virou.
Virou-se para as barras de ferro da cerca, e foi surpreendida ao encontrar o
capitão Harris sentado montado em seu cavalo no beco. A cor subia as suas bochechas.
Mal tinha pensado nele nestes últimos dias, presa em sua dor pela traição de
David.
— O que você está fazendo aqui? — Ela sussurrou, correndo em direção à cerca.
Antes que pudesse detê-lo, ele saltou do cavalo e pulou sobre as barras de ponta
afiada para pousar diante dela.
— Eu vim visitá-la — disse o capitão Harris, — mas o mordomo disse que não
estava para visitas. Então cavalguei pelo beco, com a esperança de conseguir um
vislumbre seu.
Sob as circunstâncias, ela não sabia se devia se sentir lisonjeada ou alarmada.
— Suponho que leu a carta no jornal.
Seus olhos se estreitaram.
— Então eu estava certo. Foi você quem escreveu.
Ela abaixou a cabeça de vergonha.
— Eu não queria que fosse parar nos jornais, eu juro. Era para ser particular. —
Um pensamento ocorreu-lhe que gelou seu sangue. — Como deduziu que era minha? —
Se ele imaginou, outros também saberiam.
Ela manteve o nome de David fora da carta, de modo que ninguém diria que era
ele, mas podiam dar-se conta de que foi ela quem a escreveu. Ela nunca conseguiria
casar! Quem iria casar com a mulher que escreveu uma carta como aquela, não importa o
quão justificada estivesse?
O Capitão Harris levantou sua cabeça, segurando-a pelo queixo, até que seus
olhos se encontraram.
— Estava tão deprimido depois que soube para onde tinha ido ao pagar a uma das
empregadas para me dizer onde ele estava, e foi dito que sua família estava em Berkshire
visitando a família Masters. E como está se espalhando pela cidade que o jovem Masters
é o homem a quem estava destinada a carta... Mas não disse a ninguém sobre sua
conexão com isso, eu juro.
Sua expressão ficou ainda mais solene, e pegou a mão dela.
— Na verdade, vim para salvá-la. Não vou deixar o seu pai casá-la com um
libertino! Não permitirei isso!
Ela prendeu a respiração.
— O que quer dizer com salvar?
— Casar com você, querida. — Ele caiu de joelhos e lhe deu um beijo apaixonado
na mão. — Eu te adoro. Você não poderia dizer o mesmo?
Agora que eu penso, não. À luz dos seus beijos explosivos com David, seu breve
flerte com o capitão Harris agora parecia mais como um minueto cortesão do que o
prelúdio de uma historia de amor.
Ela franziu a testa. Claro que sim. Apesar de sua forma simples, o capitão Harris
não era um libertino e um canalha. Não tinha passado anos se dedicando a quebrar
corações de jovens senhoritas, e nem era capaz de insultar uma mulher com beijos
ardentes, mas decididamente inadequados.
Claro que isso o fazia parecer um pouco menos interessante, talvez a vilania
podia ser terrivelmente atraente. No entanto, a vilania era ruim, e a aparência do capitão
aqui, apesar da dor que sentia, lhe mostrava que não era um vilão.
— Partiremos para a Escócia agora mesmo — continuou ele, olhando para seu
rosto com um olhar que parecia mais como adoração. — Agora mesmo, espero por um
amigo que irá me emprestar uma carruagem que irá mais rápido do que qualquer coisa
que seu pai possa enviar mais tarde. Podemos estar em Gretna Green, em questão de
dias, e estará segura de uma vez por todas do casamento cruel que seu pai pretende
arrumar.
Era um plano de ação ousado, um plano decididamente romântico que a teria
jogando-se nos braços dele há duas semanas. Mas a traição de David tinha feito o seu
dano. Embora tenha ficado encantada com a oferta do capitão, as palavras frias do pai
sobre as intenções do homem estavam corriam através de sua mente, deixando seu
insidioso veneno.
— Isto é algo súbito — disse ela.
O rosto dele escureceu.
— Talvez você ainda tenha sentimentos por aquele canalha.
— Não! — Ela apertou sua mão. — Não nunca.
Com um olhar sério, ele apertou a mão dela contra o peito.
— Se você está preocupada com o seu passado com ele, juro que não é
necessário. Nunca vou culpá-la por qualquer coisa que possa ter feito no calor do
momento.
— Meu passado? Feito? — Quando percebeu o que ele estava dizendo, ela corou
violentamente e tentou soltar a mão. — Garanto-lhe, senhor, ainda sou casta. Nunca
permitiria que...
— Claro que não, querida Charlotte, não quero sugerir o contrário. — Ao se
recusar a desistir a soltar a mão dela, lhe deu beijos desesperados na mão. — Vai deixar
que a chame de Charlotte, não? — A olhou com uma ternura que acalmou o insulto.
— Você sabe que provavelmente meu pai não lhe dê meu dote — Advertiu ela. —
Está muito irritado com o que escrevi.
— Eu não me importo — disse com um ar arrogante, ele parecia sincero. — É
você que eu quero. Viveremos do amor.
Com essa promessa idílica fez uma careta de dor. Não tinha certeza que era amor,
mas tinha certeza que ela não o sentia pelo capitão Harris.
No entanto, se ele sentia por ela, que era mais do que podia esperar, agora que
havia destruído sua vida. Na verdade, estava arriscando tudo para ter uma. Se alguém
alguma vez descobrisse que ela havia escrito aquela carta, zombariam dela
publicamente. Para um homem se aproveitar desta oportunidade em seu nome
certamente demonstrava um sentimento profundo.
E que escolha ela tinha, de todos os modos? Se não casasse com o capitão Harris,
o pai faria da vida dela um inferno. A forçaria a pedir desculpas a David, algo que era
impensável. Tão mortificada como estava de que a carta tivesse ido parar nos jornais, não
via nenhuma razão pela qual deveria pedir desculpas quando David era o único que tinha
feito mal.
Além disso, se a imprensa descobrisse que ela tinha escrito a carta, tudo giraria
ainda mais, pior ainda. Isso significaria um grande escândalo, e o pai se asseguraria de
que ela pagasse por isso.
Mas se ela fugisse com o capitão Harris, o pai nunca poderia lhe fazer mal
novamente. Ela teria a própria casa e um belo marido para cuidar dela. Com o tempo,
com certeza chegaria a amá-lo.
Quando ela esboçou um sorriso ante o pensamento, o capitão Harris agarrou a
mão dela sobre seu coração.
— Isso é um sim, querida Charlotte? — Ele perguntou, com os olhos quase tão
bonito como os de David.
Empurrando a comparação traiçoeira de sua mente, ela cobriu a mão dele com a
sua.
— De fato sim, senhor. Aceito a sua proposta.

CAPÍTULO OITO
Richmond, Inglaterra
Novembro 1824

Abalada por seu encontro com os fantasmas do passado, Charlotte estava na


janela do escritório assistindo David partir na carruagem. Não tinha mudado.
Ele continuava sendo agressivo e ousado como sempre.
Ela gostava disso nele.
Nos últimos anos, havia se acostumado a fazer os homens dançarem a sua
música. A partir do momento que havia estabelecido a escola, jurou que nunca se
deixaria intimidar jamais por qualquer homem como o pai tinha feito. Nenhum homem
jamais a usaria para seus próprios fins, como seu falecido marido fez.
Em seu pequeno domínio, ela tinha o controle.
Até mesmo o primo Michael havia respeitado seus limites. Foi maravilhoso ter
uma amizade com um homem que sabia a diferença entre ditar e aconselhar, cujo
anonimato fez tudo mais fácil para ela ao falar honestamente com ele. E ele manter a
distância.
David nunca havia se mantido a distancia, até que ela tinha enviado aquela carta
estúpida que o cortou para sempre.
Todavia não podia acreditar que ninguém mais tinha descoberto que ela havia
escrito aquela coisa, mas depois de alguns dias todos descobriram com certeza de que era
David o aludido. O maldito robe listrado entregou tudo. Quem mais poderia saber que ele
era o filho do Visconde, senão em Cambridge onde antes ele havia usado o robe listrado?
Até então, Charlotte já estava recém-casada com Jimmy, e incapaz de fazer
qualquer coisa a respeito. Assim ela teve a ver com a extrema mortificação como David
foi difamado na imprensa. Embora ela ainda o odiava por sua traição, ela não queria que
ele sofresse essa humilhação publica.
Não só com textos zombaram dele, mas também havia desenhos impressos para
lojas, com charges dele. Ele foi desprezado por metade das damas da boa
sociedade. Afinal, uma coisa era ser bem-nascido e com direito a viver uma vida dissoluta,
e outra bem diferente era fazê-lo tão indiscretamente que as jovens escrevem cartas para
os jornais sobre o assunto.
Embora os amigos se reuniram em torno dele e o protegeram o melhor, possível,
cada garçonete que esteve alguma vez com ele no meio de sua embriaguez, contaram
suas histórias para a imprensa, e todos os pecados que ele havia cometido foram levados
a à luz para diversão do público.
No entanto, David se manteve em silêncio absoluto, nunca revelou o nome
dela. Naquela época, ela tinha assumido que era porque não queria que ela contasse seu
lado da história, que o faria parecer ainda pior do que já era.
Agora sabia melhor. Anos mais tarde, descobriu que era Giles, não David, que
usava o robe naquela noite horrível. E a vergonha estava completa.
Ainda assim, a enchia de horror ao pensar no que tinha feito tão
impetuosamente.
Claro, seu medo de seu pai era muito real, e realmente não tinha maneira de
acreditar que David não estava jogando com seus afetos. No entanto, ela deveria ter
tomado o devido cuidado para assegurar que a carta nunca cairia nas mãos erradas. Sua
impulsividade e covardia haviam arruinado a reputação de David durante muito tempo.
O que poderia ter sido da sua vida, se tivesse ido com ele em pessoa, em vez de
escrever aquela carta estúpida? Ou se ele tivesse adivinhado que o irmão era parte do
assunto e ido atrás dela para revelar suas suposições erradas?
Um suspiro escapou dela. Provavelmente não teria acreditado. Estava tão certa
do mau caráter dele, tão convencida de seu próprio julgamento. Então agravou o erro
mediante o casamento com. Recordou a proposta de Jimmy, e ela balançou a
cabeça. Tola, Tola .
Viver de amor, de verdade. Que piada acabou provando ser!
Afastou-se da janela. Não que Jimmy não tivesse se preocupado com ela. Às vezes
pensava que realmente o fazia. Certamente tiveram alguns bons momentos juntos. Mas,
afinal, o dinheiro havia nublado tudo.
Sua fuga e o escândalo colocaram seu pai à beira da morte. Ele havia sofrido um
derrame e morreu antes que ele mudasse o testamento e a deserdasse.
A mãe o seguiu pouco depois. Como resultado, Charlotte recebeu uma grande
herança. Tudo o que só agravava a sua culpa e vergonha.
Ela não podia deixar de culpar-se pela morte dos pais.
Jimmy lhe dizia que não se culpasse. Mas, em seguida, Jimmy estava disposto a
gastar o dinheiro, então pouco se preocupou como esse havia chegado a
ele. Infelizmente, gastar sua herança tinha sido o seu direito como marido dela. Levou
apenas dois anos gastar a totalidade por viver extravagantemente e investir mal.
No momento que cometeu o erro de insultar um colega e morrer no campo de
honra, ela só tinha dinheiro suficiente para pagar o seu funeral. E mesmo assim, teve que
pedir emprestado para descontar da pequena pensão.
Graças a Deus foi capaz de encontrar um posto em uma escola para meninas em
Chelsea, ou quem sabe como teria vivido?
— Bom dia, Charlotte — tronou uma voz robusta de homem atrás dela.
Ela pulou e virou-se para encontrar o velho amigo próximo da porta.
— Pelo amor de Deus, Charles, não me assuste assim!
Charles Godwin arqueou uma sobrancelha loira.
— Na verdade, já que tenho dez minutos de atraso, esperava que você estivesse
impaciente batendo o pé, pronto para lembrar quão ocupada é, quando a escola está em
sessão.
Atraso? ? Por quê?
De repente, lembrou-se. Ele havia prometido levá-la até a cidade para ver a
coleção Angerstein, para garantir se as pinturas seriam aceitáveis para que suas filhas a
vissem.
— Oh Senhor, esqueci completamente. Sinto muito.
Com um sorriso que pareceu forçado, ele entrou na sala.
— Seu lapso de memória repentino tem algo a ver com o fato de que acabo de ver
a carruagem de Kirkwood sair daqui?
Céu misericordioso, isso seria difícil. Não podia olhá-lo nos olhos, então se sentou
atrás da mesa.
— Por uma questão de fato, sim. Ele veio aqui para falar de um assunto de
negócios -.
— Negócio? — A suspeita escureceu suas belas feições.
Charles era a única pessoa que viva tirando a família de David, que sabia sobre ela
e David. Ele não tinha dito nada, mesmo ao primo Michael, incapaz de suportar deixá-lo
saber o pior dela.
Mas Charles sabia. Na verdade, assim foi como ela e o jornalista tornaram-se
amigos. Se alguém pudesse aconselhá-la, esse alguém era ele. Como o primo Michael, ele
nunca a pressionava para além do que ela poderia aceitar.
Apontando uma cadeira, esperou até que Charles se deixou cair nela antes de
explicar sobre a visita de David e o legado de Sarah.
Quando se referiu à quantidade, os olhos azuis de Charles estreitaram-se.
— Isso não soa como algo de Sarah.
— Não, — ela concordou. — Mas o Sr. Kirkwood insiste que ela sempre apoiou a
escola.
— Realmente dever ter obstruído o estomago dele que a mulher que uma vez
destruiu sua reputação agora receber uma parte substancial do dinheiro de sua esposa.
— Se fez, não vi nenhum sinal disso. Ele disse que o que aconteceu entre mim e
ele está tudo no passado. E agiu como se realmente estivesse.
— Oh, já vejo.
— Oh, já vejo.
Mas Charles não parecia como se tivesse visto nada. Parecia abalado. E ela temia
saber o porquê. Embora Charles estivesse devastado pela morte da esposa, Judith, alguns
anos atrás, nos últimos meses, ele havia deixado claro que estava pronto para seguir em
frente com a vida. A julgar pelo seu comportamento recente, ele se comportava mais
como um pretendente do que um amigo, e estar disposto a avançar incluía Charlotte.
Ela não sabia o que fazer sobre isso. Sempre gostou muito dele, mas nunca
pensou nele como um homem com que poderia se casar. Sempre foi muito próxima de
Judith, e parecia desleal contemplá-lo como algo mais do que o marido de sua velha
amiga. Ela suspeitava que a única razão de ainda não a pedir em casamento era que ele
tinha percebido o quão difíceis as coisas seriam entre eles se ela o rejeitasse.
Às vezes, ele se perguntou se ele poderia ser o primo Michael. Afinal de contas,
Charles havia herdado uma fortuna através de um cara na época da morte de Jimmy - que
era o que ele tinha usado para comprar o Tattler, e transformar um pano fofocas em
Londres Monitor, um jornal advogando reforma radical. Ele é casado, ele teria desejado
para manter a sua participação na escola como algo muito particular.
No entanto, tinha lido seus editoriais - que em nada se assemelhavam ao estilo do
primo Michael. E se Charles se passou pelo primo todos estes anos, por que continuar
fazendo isso agora que ele não tinha vínculos com Judith e uma reputação para proteger?
— Posso ver o documento que Kirkwood trouxe? — Perguntou Charles.
— Claro. — Ela deu a ele.
Ele tomou seu tempo, sua leitura foi mais cuidadosa do que ela teve a
oportunidade de fazer.
— Só um advogado pode dizer com certeza, mas parece legítimo.
— Por que não deveria ser?
— Porque não faz sentido. Sarah foi certamente suficientemente vaidosa para
querer um edifício que leva seu nome, mas essa bobagem sobre Kirkwood supervisionar o
projeto parece destinado abertamente para jogar você e seu marido juntos. Isso não é
algo que ela faria, mesmo do túmulo.
O calor aumentou nas bochechas de Charlotte.
— Sarah não sabia sobre o meu relacionamento anterior com o marido.
— Não pode ter certeza disso. Os maridos dizem muitas coisas na intimidade do
leito conjugal.
Ela engasgou. Isso não tinha ocorrido a ela, no entanto, poderia explicar por que
Sarah sempre tinha sido tão rude com ela.
— Então, o que está dizendo? Que o Senhor Kirkwood inventou este legado? Por
quê? O que conseguiria com isso?
Ele deu de ombros.
— Talvez ele queira começar de onde ambos pararam. Isso lhe dá uma desculpa.
Uma risada escapou dela.
— Você deve estar brincando. O que fiz foi imperdoável.
Charles olhou para ela.
— Você é uma mulher bonita e bem sucedida, Charlotte. Talvez depois do
casamento com a tonta da Sarah, Kirkwood queira uma mulher com mais personalidade.
Não havia dúvida do ciúme na voz de Charles. Ela se levantou, desconfortável com
a direção que a conversa tinha tomado.
— Se até mesmo eu—, seguiu Charles — que não a conhecia naquela época,
reconheci o que você estava sofrendo quando escreveu a carta, então talvez ele também
tenha.
— Não seja bobo. — Ela foi ficar na frente da janela. — De acordo com Anthony,
que me contou sobre a carta sem saber da minha participação, David Masters só falou de
mim, uma vez que aos seus amigos. Apesar de não querer revelar a minha identidade
inclusive a eles, me chamou de uma mulher vil e agradeceu a Deus por não terminar com
- um pé acorrentado a uma mulher que era meio louca. – Ele parece como um homem
que poderia dizer que eu estava - sofrendo?
— Soa como um homem com raiva — disse Charles. — No entanto, dezoito anos
dão a uma pessoa tempo para esfriar. E você mesma disse que hoje ele não agiu como se
estivesse irritado.
— Não, mas também não agiu como se estivesse ansioso para me cortejar. David
sempre foi capaz de pôr cara boa nas coisas quando necessário.
— David? — Fez eco Charles, sempre o observador da imprensa. — Depois de
todos esses anos, ainda pensa nele por seu nome de batismo? — Tão rápido amaldiçoou
sua língua, ele acrescentou: — Ainda deve ter sentimentos por ele.
Virou-se surpreendida.
— Não seja ridículo. Isso foi no passado.
Ele olhou para ela por um longo tempo.
— Se você diz.
Ela sorriu.
— Isso é um absurdo. Sarah certamente fez isso por vaidade, e pensou que seria
divertido forçar o marido a fazer parte disso. — Caminhando para mesa, pegou o bloco de
notas que estava ali sobre a exposição Angerstein em Pall Mall —. Vamos. Se não sairmos
logo, não teremos tempo para ver as pinturas antes que você tenha de voltar ao jornal.
— Posso dedicar um dia a você. — Ele se levantou, com o olhar ainda sobre ela. —
Além disso, depois de visitar a exposição, devo fazer uma visita ao meu amigo Robert
Jackson. Ele pode ser capaz de lançar mais luz sobre este interessante documento de
Kirkwood.
— Tenho a intenção de levar ao meu advogado.
— Não me interprete mal querida, mas enquanto o seu advogado é
perfeitamente aceitável para lidar com contratos dos pais e acordos com os fornecedores,
você precisa de alguém com um conhecimento especializado em direito de
propriedade. E Jackson é esse alguém.
Ela deixou escapar um suspiro. Odiava quando ele estava certo.
— Muito bem —. Ela endireitou os ombros. — Mas vou pagar os honorários
advocatícios.
— Pelo amor de Deus, Charlotte, permita-me...
— Estou falando sério. Ou pago eu a taxa ou não aceitarei.
Com um olhar exasperado, ele ofereceu o braço.
— Como quiser, milady. Embora não entendo por que sempre tem que ser tão
voluntariosa.
Cautelosa, isso sim. Embora ela o segurou pelo braço se deixou levar, ela havia
aprendido da maneira mais difícil que uma mulher era responsável por salvar a si
mesma. Confiar em um homem era um negócio arriscado. Havia contado com Jimmy para
cuidar dela, e ao invés disso ele a deixou na miséria. Então, se viu forçada a contar com o
primo Michael em busca de ajuda, e até mesmo o homem que chegou a considerar como
um amigo a abandonou.
Os homens não eram a solução para os seus problemas, e Charles certamente não
era. Ele não esperava nada menos do que amor dela, e ela não sentia nada parecido com
isso por ele.
Havia se casado uma vez, sem amor, por isso não fazia sentido fazê-lo novamente,
mesmo que Charles fosse duas vezes o homem que Jimmy foi. E ela nem sequer tinha
certeza de que o amor era algo sábio de qualquer maneira. Acreditou estar apaixonada
por David, e isso só lhes trouxe dores de cabeça.
Além disso, estava com trinta e seis anos, pelo amor de Deus. Um casamento a
esta idade seria um absurdo.
Apesar de que uma história de amor não seria indesejável.
A ideia veio do nada, tão surpreendente quanto sedutora. Ela havia considerado
antes, é claro, mas sempre a rechaçou devido a escola e a necessidade de defender a
reputação. Mas com a escola em problemas e agora o frio David de volta à sua vida...
Ela abafou uma maldição. O que estava pensando? Isso seria o cúmulo da loucura.
— Sabe Charlotte, poderia haver outra razão pela qual Kirkwood veio até você
com esse legado — disse Charles, surpreendendo-a.
— Qual seria? — Ela suspirou, rezando para que ele não adivinhasse a razão para
a súbita tensão dela.
— Talvez Sarah deixou o dinheiro por pura vaidade. Mas se em um codicilo,
Kirkwood poderia ter influenciado o advogado para escrever o contrato que lhe deu, de
tal maneira que ele fosse envolvido no processo.
— Para que?
— Assim ele poderia controlar a forma como os fundos são gastos. Então, ele
poderia ter você onde quisesse.
— E onde seria? — Ela retrucou, inexplicavelmente, cada vez mais chateada com
a determinação do amigo para mostrar as coisas da pior maneira possível.
— Ele poderia ter visto isso como a oportunidade perfeita para se vingar de você
pelo que fez naquele verão. Ele poderia estar usando isso para vingar-se.
A possibilidade de que fosse assim, a feriu onde mais doía - na parte dela que
ainda achava David muito atraente.
— Isso é ridículo — disse com uma voz oca. — Dezoito anos se passaram. Ninguém
mantém um rancor por tanto tempo, mesmo Da... o Senhor Kirkwood.
— Vamos ver o que diz o advogado. Mas me escute bem, Charlotte. Há mais nisto
do que parece. Tenho certeza disso.
Infelizmente, ela também achava o mesmo.
CAPÍTULO NOVE
Uma noite antes de David voltar a escola, sentou-se em uma mesa em Anguilla e
Drake esperando Joseph Baines, seu advogado, tentando não pensar sobre o que
Charlotte diria pela amanhã.
Honestamente, não poderia culpá-la pelas suspeitas. Deveria achar estranho que
ele retornasse a vida dela depois do modo como ela o tratou.
A ele mesmo parecia um pouco estranho, mesmo depois de todos estes anos de
correspondência com ela.
Deus sabe que como ele ficou furioso naquele verão, especialmente depois de
ouvir que ela havia fugido. Aos olhos dele, ela não só havia brincado com seus afetos e o
humilhado publicamente, mas também passado os dedos pelo nariz ao casar-se com o
rival pela mão dela. Ainda hoje em dia isso o enfurecia.
Passou os dois anos seguintes enterrado na fazenda, se preparando para quando
alcançasse a maior idade. Mas não podia ficar escondido para sempre. Com o tempo se
arriscou a sair em sociedade. No entanto rejeitada pelas pessoas que outrora havia
considerado amigos, determinado a provar que não se importava. Embora tivesse
passado seus dias de atividades bastante sóbrio, deixando o inteligente amigo Anthony
dirigir seus investimentos, passava as noites em festas selvagens, tentando esquecer
Charlotte.
Foi durante o segundo ano em Londres, no quarto ano após a publicação da
maldita carta, que as notícias sobre Charlotte tinha chegado a ele por acaso. Ele já sabia
que ela e o marido haviam herdado a fortuna da família, mas foi a primeira vez que ouviu
falar que ela tinha enviuvado há algum tempo e agora trabalhava como professora em
uma escola de prestígio, nas proximidades de Chelsea.
Por razões que só pela metade compreendia agora, isso o havia enfurecido. Ela
estava fazendo exatamente o que sempre tinha sonhado, havia saído do encontro
cheirando a rosas, enquanto ele ainda tinha matronas que lhe davam um corte direto nos
assuntos sociais. Ela iniciou uma nova vida, enquanto ele tinha sequer sido incapaz de
encontrar uma esposa adequada com o fardo de um escândalo pendendo sobre a cabeça.
Como havia se ressentido por isso!
Uma semana depois de ouvir a notícia, bêbado e furioso com Charlotte, David
apostou uma soma enorme jogando whist contra Samuel Pritchard.
Ganhar lhe deu pouca satisfação, Pritchard tinha ido à beira da falência e ficou em
uma situação financeiramente desesperadora ao qual arriscara mais do que podia pagar,
sempre uma situação desagradável.
Foi quando David encontrou uma maneira de usar o dinheiro ganho de Pritchard e
se vingar de Charlotte ao mesmo tempo. Primeiro, convenceu Pritchard a a aceitar um
gravame sobre a propriedade onde agora ficava a escola. Como esperado, Pritchard não
tinha sido capaz de vendê-la para pagar a dívida, mas concordou com David em um
arrendamento de quinze anos. Naquela época, Pritchard e a família tinham vivido ao lado,
em Rockhurst, de modo que o homem tinha sido grato pela oportunidade de salvar a
honra, sem prejudicar a família ou precisa vender a casa e perdê-la.
Recordando a paixão de Charlotte por abrir uma escola, David se aproximou de
Charlotte através do Sr. Baines, fingindo ser o primo do capitão Harris para que pudesse
convencê-la a fundar a escola na propriedade de Pritchard. Ela estava tão ansiosa para
alcançar seu sonho que aceitou a oferta. Inclusive ele utilizou um pouco do próprio
dinheiro para adoçar o negócio, sem imaginar que um dia iria precisar desse dinheiro para
tirar a família das dividas.
Seu plano tinha sido oferecer aluguel muito barato até que ela tivesse a escola
totalmente pessoal e em funcionamento, até que ela tivesse letárgica na complacência.
Então, ele tinha a intenção de aumentar o aluguel de forma grandiosa e exigir o
reembolso do empréstimo, vendo com alegria como ela iria fracassar.
Um plano perverso ele tinha certeza. E um que rápido chegou a lamentar.
— Espero que não esteja esperando muito tempo por mim, milord.
Piscando, David olhou para cima para ver que o Sr. Baines tinha chegado
finalmente. David balançou a cerveja.
— Não tempo suficiente para conseguir me explicar.
O advogado riu.
— É uma pena. — Lançou o chapéu para o banco ao lado de David, dobrou o
corpo delgado no banco e deslizou um papel sobre a mesa. — Trouxe seu acordo original
com Pritchard, conforme solicitado, mas será inútil. Li novamente. Minha opinião
profissional é que não há nada que possa fazer para evitar que a viúva seja expulsa.
Com uma careta, David deslizou o acordo dentro da carteira.
—Sei que tem razão, mas ainda quero que busque mais...
Baines pediu um jarro de cerveja.
— O “codicilo” passou no teste?
— Francamente, não tenho certeza. Charlotte é muito inteligente para engolir um
conta da minha palavra por si só. Ela não queria nem falar sobre isso até que não fosse
examinado pelo próprio advogado. Será que será um problema?
— Milord — Baines exclamou, com o rosto pálido e dura com o insulto. — Aquele
documento é inquebrantável. Esta assinado pelo advogado da família e me assegurei
disso.
— Desculpe-me, Sr. Baines. Este assunto me deixa de mau humor.
— Acho que sim, com Pritchard à ponto de vender Rockhurst aquele tal de
Watson de Yorkshire.
David bebeu um pouco de cerveja.
— Na verdade, isso pode ajudar. Isso dará um sinal a senhora Harris de que é hora
mudar a escola.
— Percebe a ironia desta situação? — Baines olhou de perto. — Se você deixar as
coisas seguirem o curso natural com Pritchard, teria a senhora Harris exatamente onde
queria quando tudo começou tudo isso.
— Eu sei que muito bem. Eu oro para que ela nunca descubra.
— Você tinha boas razões para estar zangado.
— Sim. Mas o que me lembro é que você me aconselhou a exigir aquele gravame
a Pritchard.
— Não foi isso o que aconselhei. Essa foi uma jogada inteligente sua. Pelo menos
teve o cuidado de desconfiar que os alugues das propriedades em Richmond iriam subir
rapidamente.
— Você me dá muito crédito —. David bateu o resto da cerveja. — Não dava a
mínima para o aumento dos alugueis, a vingança era minha única intenção.
— Sim, bem, isso foi sobre o que eu o adverti. Felizmente para a Senhora Harris,
você mudou de ideia.
David bufou.
— Ela me fez mudar de ideia.
— Refere-se às suas cartas, não?
Um riso triste escapou dele.
— A mulher sabe escrever, vou dar esse credito a ela. Lá estava eu, desfrutando o
momento em que poderia tirar a máscara e processá-la por não poder pagar. Então ela
começa a enviar todas aquelas cartas, agradecendo-me por minha - bondade e
generosidade, pedindo conselhos sobre como salvar as amadas meninas de cometer os
mesmos erros que ela havia cometido. — Ele balançou a cabeça. — Juro, apenas um
homem com um coração de pedra poderia ter enfrentado isso e continuar com o plano.
— Sim.
— Eu deveria ter dito a verdade então. Mas depois meu pai...
Ficou em silêncio, ainda não podia falar facilmente do suicídio do pai, que havia
ocorrido seis anos após Charlotte abrir a escola. Dois suicídios, o do pai e, mais tarde, o da
esposa. O primeiro não foi culpa dele, mas o segundo...
Baines olhou para cima e franziu a testa.
— Senhor, há um homem que se aproximava.
David mal teve tempo de virar antes de um estranho chegar até a mesa com o
chapéu na mão.
— Boa noite, milord. Meu nome é Ned Timms, e eu sou...
— Eu sei quem é —rosnou David, reconhecendo o nome de um credor conhecido
por negócios escusos. Levantou-se para ficar acima do homem. — Você tem a audácia de
me encurralar neste lugar público?
Timms usou a expressão plácida de um homem acostumado a ser rechaçado, mas
não dissuadido.
— Não me deixa escolha, milorde. Seus servos se recusam a me admitir em sua
casa.
— Porque você não pode ter nada a dizer-me. Minha esposa morreu há algum
tempo. Por mais que você queira, não pode tirar sangue de um cadáver.
— Ela se foi deixando para trás muitas dívidas.
— Sim. E eu pago cada uma das que forem legítimas.
— A dívida dela comigo era legítima, eu lhe garanto. — Enfiou a mão no bolso do
casaco, tirou uma caixa de plástico e a abriu para revelar as safiras Kirkwood que Davi
tinha sido incapaz de localizar desde a morte de Sarah. — Ela usou isso como garantia.
Com o estômago revolto, David se pegou olhando o adereço, um conjunto
completo de brilhantes, brincos, colar, pulseira e anel. Faziam parte da coleção de joias
que estava na família há gerações. Até o pai, em sua hora mais sombria, nunca tinha
tentado vender ou penhorar qualquer parte delas.
Como poderia Sarah ter feito isso? O odiava tanto que havia penhorado algo
precioso para a sua família, em vez de ir a ele pelo dinheiro?
Ele sabia a resposta para isso. Os argumentos sempre estiveram acima do jogo.
— Se a minha esposa lhe devia, então você tem os meios ai para cobri-lo. As
safiras, certamente valem mais do que qualquer dívida que ela possa ter contraído com
você. É assim que funciona o seu negócio afinal, tirar proveito daqueles que estão
dispostos a vender por uma ninharia seus objetos de valor.
Isso obteve uma reação do bastardo. O olhar dele se voltou frio e mortal.
— Ah, mas, senhor, esta é uma herança preciosa. Eu diria que você quer mantê-la
na família. Serei feliz em devolvê-la por um preço razoável.
— Vá a merda — David retrucou, sabendo que o preço razoável do homem seria
mais do que as joias valiam. — Nunca vai conseguir um centavo de mim. Você e os do seu
tipo, mataram minha esposa. Não vou deixar-me usar por você e seu dinheiro sangrento.
Os olhos do homem se estreitaram.
—Faria bem em reconsiderar sua posição, senhor. Tenho certeza que os jornais
adorariam um bocado tentador sobre o que sua esposa estava disposta a fazer para
ganhar dinheiro para seus prazeres...
Essa foi a pior coisa que ele poderia dizer, de todas as coisas. Marchando para a
frente, forçando Timms a recuar a cada passo.
— Está me ameaçando, pequeno verme? Aconselho-o a que nãoo faça. Porque
sou muito amigo dos magistrados locais, e ouso dizer que uma análise detalhada de seus
assuntos, descobriria suas ilegalidades. Está disposto a arriscar?
Timms foi forçado a parar quando tropeçou em uma mesa próxima.
— Desculpe-me, milorde — disse, com um ressentimento claro em sua voz. —
Vim fazer um favor. Vejo que me enganei.
— Muito. Mas agora que você já se esclareceu, esperemos que não volte a repetir
este assunto. Fui claro?
Balançando a cabeça, Timms deslizou entre David e a mesa.
—Não vou incomodá-lo novamente, senhor. — Então escapuliu.
David ainda estava tremendo de raiva quando retomou ao assento próximo à
mesa com Baines.
— Você ouviu, eu suponho.
— Ouvi. Está seguro de que não o quer de volta?
— Absolutamente seguro. — Como poderia vê-los novamente sem pensar sobre
onde haviam estado e por quê. Ele se perguntou o que havia possuído a esposa para
entregar algo de tal valor sentimental para a família dele.
Perguntou-se de novo como tinha conseguido ir tão mau no seu relacionamento
com ela.
Pediu mais cerveja.
— Nunca deveria ter me casado com Sarah.
— Você fez o que tinha que fazer.
— Isso é pouco conforto agora.
Ele deveria ter se casado com Charlotte. Na verdade, ele estava prestes a
aproximar-se dela para revelar seu engano absurdo, quando o pai lhe enviou as finanças
da família que tinha ido para o espaço. Isso e o suicídio do pai mudaram tudo, colocou o
fardo de sustentar a família sobre os ombros de David. Confrontado com a dívida
incapacitante, ele sabia que só havia uma maneira de salvá-la e era casando-se com uma
herdeira.
Assim, ele havia se casado com Sarah, e a mentirada continuado. Afinal, ele não
podia deixar a esposa saber que estava apoiando outra mulher com a escola.
Um pensamento arrepiante o transpassou. Isso teria sido a chave da dor de
Sarah?
De alguma forma descobriu sobre sua relação com Charlotte?
Era difícil de acreditar que inclusive teria se importado. Seu casamento se tornara
algo formal, pouco depois da fuga, embora tivesse sido escolha dela, tanto quanto
dele. De fato, foi por isso que o suicídio o deixou desequilibrado. Nunca imaginou que sua
mulher pequena e frívola teria ou sentiria alguma dor tão profunda que se mataria por
isso.
E sua breve nota tinha sido claramente informativa: Perdoe-me, David, mas já
não posso suportar esta vida intolerável.

Ele disse as pessoas que ela tinha cometido suicídio por dívidas de seu jogo. O que
mais poderia dizer? Que a esposa esteve vivendo na mais absoluta depressão, e que ele
era um bastardo que tinha levado muito tempo para perceber isso?
Claramente, ele não tinha talento para compreender as mulheres. Primeiro
Charlotte, então, Sarah...
Ele correu os dedos pelos cabelos. Como gostaria de poder voltar atrás no tempo
e fazer tudo diferente. Não jogar com Pritchard. Não se casar com Sarah.
Não perder Charlotte.
O rugido de dor passou muito tempo e instalou-se em seu peito. E se ele tivesse
ido até ela no dia em que a carta apareceu no jornal? E se ele tivesse exigido saber por
que ela a havia escrito? Por que ela estava tão zangada naquele momento para enviar a
carta para ser publicada? Agora que a conhecia melhor, percebia o quão estranho era
tudo aquilo.
Mas naquela época estava muito empenhado em salvar o seu orgulho em fazer
algo tão tolo como falar com ela. E de que lhe serviu o orgulho depois de tudo? Enquanto
ele tinha amaldiçoado o nome dela e traçado uma vingança estúpida, James Harris às
pressas casou-se com ela.
Que ela tivesse escolhido Harris ainda o corroia por dentro. Mesmo sabendo que
Harris tinha sido uma decepção como marido, isso não saciava seu ciúme.
Ciúmes? Bobagem. Ele se recusava a ter ciúmes do marido de Charlotte,
pretendentes ou amigos do sexo masculino. Ela não significava muito para ele.
Confuso em tudo, colocou isso para trás!
Murmurando uma maldição em voz baixa, David pôs a caneca de cerveja vazia em
uma bandeja que a taberneira passava e gritou: — Outra! — Não deixaria Charlotte
meter-se sob sua pele nessa ocasião. Isto era apenas... amarrar as pontas soltas. A
correção de um erro desastroso. Nada mais.
Sim. E o Taj Mahal era apenas um edifício.
— Manter a verdade escondida de Charlotte foi o pior erro que fiz, —
resmungou. — Mas, honestamente, pensei que as coisas seriam resolvidas antes de
chegar a esta situação. Esperava que ela teria voltado a se casar e, desta vez fecharia a
escola para sempre. Ela é uma mulher bonita, afinal.
— É certamente — concordou Baines, com mais entusiasmo do que o
justificado. Quando David o olhou, ele se apressou a dizer, — É apenas uma observação,
milord. — David reprimiu uma resposta irritada. Que diabos estava fazendo Baines
provocando-o, o único homem com quem podia discutir tudo isso? David não se atrevia a
desnudar a alma aos amigos - que ficariam horrorizados por seu comportamento
perverso com uma mulher que tinha feito tão bem para eles. E a única maneira que teria
para explicar seria revelar as ações passadas dela, coisa que não desejava fazer.
A taberneira colocou outra jarra de cerveja em frente a David, que olhou para a
espuma.
— Pritchard irá expulsá-la em oito meses. Não tenho nenhuma dúvida sobre
isso. Tenho que tirá-la de lá antes que isso aconteça. — Ele bebeu profundamente. — Vou
tirá-la de lá, caramba!
Baines olhou para além da jarra.
— Porque não acaba por dizer a verdade?
— Que esse primo Michael, o homem que ela tem confiado por anos, a estava
preparando para o fracasso? Que a odiava tanto? Ficaria devastada. E então ela não
confiaria em mim para ajudá-la. Ela não tem dinheiro para salvar a escola sem mim, nem
aceitará meu dinheiro. Ela é muito orgulhosa para isso.
Ele olhou para a cerveja. — É melhor assim. Tudo que tenho que fazer é
continuar empurrando na frente dela as trinta mil libras e dar todo o crédito a Sarah até
que Charlotte veja a escritura na parede e mude-se da escola. Esperemos que o faça
antes que Pritchard possa expulsá-la.
— Desejo-lhe sorte — disse Baines. — Você vai precisar.
David franziu a testa.
— Eu não sei.
Ele também precisava passar tempo com ela para quebrar as barreiras do
passado.
Conseguiria?

No dia seguinte, enquanto caminhava para a escola, ficou nervoso. Dois dias
pensando mais as coisas poderiam tê-la convencido a rejeitar a herança.
Então, o que faria?
Esperando ser recebido no escritório, ficou surpreso ao ser levado por um
corredor escuro e conduzido a uma pequena sala de estar ao invés disso. Enquanto
esperava que o mordomo fosse chamá-la, colocou uma bala de hortelã na boca, e em
seguida, caminhou ao redor da sala. Observou com curiosidade os livros das estantes, a
garrafa de vinho, o encaixe da agulha no bordado das almofadas, com frases estranhas
como - pão e geleia aquecem o coração - e - A verdade sempre resplandece no rosto
limpo . Ele estava inclinado sobre uma almofada para ler melhor quando Charlotte
entrou.
— Bom dia, Sr. Kirkwood, — ela disse, com voz forte e profissional. — Vejo que
este admirando o trabalho das minhas alunas.
Ele se virou para ela.
— É... é... não são os ditados normalmente bordado em almofadas, certo?
Ela riu enquanto fechava a porta atrás de si.
— Não. O material usual é um pouco aborrecido. Deixo que as meninas inventem
por conta própria. Então trago as mais interessantes para minha sala de estar. Acho que
as inspira a trabalhar mais e serem mais criativas.
— Uma ideia nova.
— Demasiado novo para os pais das minhas alunas mais inquietas, receio.
— No entanto, eles mantêm as filhas matriculadas aqui.
Sua diversão desvaneceu.
— Não nos últimos tempos. — Sento-se à beira de uma cadeira Windsor, ela
apontou para outra ao lado do sofá. — Espero que se importa de reunir-se em minha sala
de estar. As pessoas estão sempre entrando e saindo do meu escritório. Aqui, vamos ter
mais privacidade. Não quero qualquer um dos meus funcionários ou criados sirvam de
audiência para discutir esta delicada questão até que esteja... mais firmemente resolvida.
Embora claramente queria privacidade, por razões perfeitamente respeitáveis, o
sangue dele ferveu em um calor selvagem com a ideia dos dois a sós. Ele sentou-se
abruptamente, lutando para reprimir a reação inadequada.
Eu não ajudou que ela estivesse tão bonita hoje, em um vestido azul simples que
inexoravelmente levava os olhos até os seios que apertavam contra o sutiã. Levantou-se
novamente e começou a andar para manter o corpo traidor sob estrito controle.
— Recebi o convite de sua mãe para o jantar de Amelia e do Major Winter, que
terá lugar em sua cidade natal — disse Charlotte, para quebrar o silêncio constrangedor.
Winter era primo de David, que havia se casado com Amelia, uma das ex-alunas
de Charlotte, enquanto estava sob os cuidados dele.
— Confesso que fiquei bastante surpresa por ela ter me convidado — disse
Charlotte. Dadas as circunstâncias, eu achava que seria um assunto de família.
— E é. Acho que é um pouco cedo, mas mamãe está definhando sob as restrições
de luto, então ela se convenceu de que um jantar privado não ofenderia a sensibilidade
demasiadamente. E quando escrevi a esposa do meu primo, Amelia insistiu que a
incluísse. Entendo que Amelia não sabe sobre o nosso passado?
— Não —disse calmamente.
Ele se perguntou se Charlotte sabia que ele tinha oferecido matrimonio a Amélia
e ela havia se recusado antes dele dirigir sua atenção a Sarah.
— Planeja participar hoje à noite? — Perguntou, desejando não se preocupar
tanto com a resposta.
— Claro. Será a minha primeira chance de ver Amelia e o Major Winter desde que
chegaram a Inglaterra. Eu queria ir a Devon visitá-los assim que chegaram com seus pais,
mas as coisas na escola...
Ficou em silêncio, sem necessidade de terminar a frase. Ele sabia melhor do que
ninguém que não era um bom momento para que se ausentasse.
— Já teve a oportunidade de mostrar o acordo ao advogado?
— Na verdade, sim. Ele disse que está tudo em ordem.
Deixou sair um suspiro.
— Quer dizer que vai aceitar a herança.
— Eu tenho algumas perguntas primeiro.
Rangendo os dentes, deteve-se na frente dela.
— Que tipo de perguntas?
— Por que você quer desistir de seu valioso tempo para supervisionar a
construção da minha escola?
— É uma condição da doação. Assumindo que você aceite o dinheiro, sou
obrigado pelos termos do mesmo com tanta certeza como você. — Isso era uma espécie
de verdade, ou não?
— Deixe-me colocar de outra forma. Supondo que estava só quando encontrou o
codicilo, poderia ter queimado e ninguém nunca saberia. Mas não o fez. Quero saber o
porquê.
A mulher tinha uma capacidade irritante de fazer perguntas pertinentes. Talvez
fosse a hora de se fazer tão incomodo quanto ela estava fazendo.
— Porque não importa o que você pensa de mim, Charlotte, tenho uma
consciência. — Isso era sem duvida uma verdade.
Ela corou.
— No entanto, é provável que sua consciência tenha alfinetado a fazer que o
dinheiro chegasse até mim, sem ter que estar envolvido. Por que não fez?
— Talvez porque pensava que ajudar a construir a escola seria um desafio. E há
poucos desafios em minha vida nos dias de hoje. — Ele havia espreitado até pairar sobre
ela. — Terminamos com as perguntas?
Cuidadosamente, deslizou para fora entre ele e a cadeira, levantou-se e foi
colocar-se ao lado da lareira.
— Só mais uma. — Ela fez uma pausa enquanto olhava as chamas. — Sarah contou
a ela sobre... alguma vez disse que você e eu...
— Não — disse ele secamente. — E já que entendi que você nunca disse, duvido
que ela teria se dado conta de algo. Minha mãe não teria mencionado e nem Giles. Como
você pode imaginar, nunca falei sobre isso a ninguém.
— A menos que fosse Anthony, Foxmoor e Stoneville — murmurou. — Embora
acho que não conta já que não lhes disse o meu nome. Na verdade, sou grata que eles
não sabiam o que era a "cadela vingativa” - na verdade.
Ele gemeu quando seus pecados do passado se ergueram para ameaçá-lo.
— É confundir todo mundo e ao inferno.
— Desculpe. Eu... não era minha intenção de jogar na sua cara. Entendo por que
disse isso. Honestamente, eu entendo. Quando Anthony casualmente o mencionou para
explicar a razão de seu ódio pela imprensa...
— Anthony deve saber melhor — ele retrucou.
Ela olhou para ele com um sorriso tendo.
— Meu ponto é, estou bem ciente de que você não tem nenhuma razão para
gostar de mim.
Ele não podia lidar com isso sem mentir descaradamente.
— Não vejo o que isso tem a ver.
— Na verdade, muito. — Ela endireitou os ombros. — Veja você, eu não só
mostrei o documento para o meu advogado. Também mostrei a Charles Godwin.
Ele lutou para manter o temperamento sob controle.
— Mostrou para aquele maldito jornalista?
O alarme via-se nos olhos dela.
— Não! Quero dizer, sim, mostrei, mas não por causa da sua afiliação com a
imprensa. O consultei porque ele é meu amigo.
Apesar de saber, isso causou uma explosão indesejável de ciúme.
— Quão estreita é a sua relação com Godwin, de qualquer maneira?
A expressão dela ficou fria.
— Minha amizade com Charles não é assunto seu, milorde.
David reprimiu um juramento. Ela chamou Godwin - Charles - mas ele permanecia
sendo - milorde.
— E o legado não é assunto dele tampouco. A última vez que comprovei, Charles
Godwin não tinha nenhuma experiência em assuntos jurídicos.
— É verdade, mas ele sabe um pouco sobre as partes interessadas. E como eu,
ficou curioso que Sarah tivesse legado algo à escola.
— Diga a Godwin que pode manter suas opiniões sobre a minha falecida esposa
para si mesmo.
Charlotte o olhou fixamente.
— Charles fez uma sugestão interessante como esta “doação” ocorreu.
O coração de David começou a bater forte.
— Oh sim?
— Indicou que enquanto Sarah pode ter deixado dinheiro a escola por um impulso
vão que seu nome seja legado a um prédio, a parte de obrigá-lo a participar parece
suspeita. Ele é da opinião de que você talvez poderia ter aproveitado a situação para seu
próprio uso.
Maldito Godwin. O homem era danado de inteligente.
— Porque eu poderia ter feito isso?
— Em primeiro lugar, tenho que explicar como Charles e eu nos conhecemos.
— Já sei — ele esteve no mesmo regimento como seu falecido marido.
Um olhar estranho passou pelo rosto dela.
— Onde ouviu isso?
Você me disse em uma de suas cartas.
Dane-se tudo.
— Sarah deve ter mencionado — cobriu ele.
A expressão apagou.
— Oh. Claro.
— Mas não vejo o que isso tem a ver com qualquer coisa.
Ela respirou estabilizando-se.
— Pouco depois de Charles se juntar ao regimento, Jimmy e eu, e Charles e a
falecida esposa fomos convidados a um jantar oficial onde a conversa girou em torno do
escândalo.
Cruzando as mãos na cintura, ela começou a andar.
— Quando os homens começaram a dizer que era uma vergonha que o pobre
Lorde Masters tivesse sido atacado por uma mulher cruel nos jornais, Charles interveio
para defender a mulher.
A respiração dela tornou-se difícil, o tom agitado. A respiração de David não
estava muito firme, tampouco.
— No final resultou que, — ela disse, — Charles estava trabalhando no Tattler
quando a carta chegou. Ele disse ao editor que a carta era claramente pessoal e não
concordava com a publicação. Quando o editor a publicou de qualquer maneira, ele ficou
tão chateado que deixou o jornal e se juntou ao exército.
Enquanto David ainda estava chocado com esse pedaço de informação, ela se
virou para ele com um olhar assombrado.
— Assim foi como Charles e eu nos tornamos amigos. Com o tempo, revelei minha
parte no assunto. E que minha carta não havia sido destinada a ser mais nada, que
privada. — Baixou a voz para um sussurro. — Juro que é a verdade. Era suposto ir dirigida
à sua casa na cidade. O menino que ia entregá-la a levou aos jornais. Eu nunca soube por
que e nem como.
David só podia olhar, as palavras falharam. Aquele pedaço do quebra-cabeça
nunca tinha conhecido - como seu desprestigio foi a conhecimento publico. E saber que
foi um acidente só aumentou o nó de culpa na boca do estômago.
— Então você vê, — continuou — Charles sabe tudo sobre nós.
— Parece que sim, — David engasgou.
— E ele sugeriu que talvez você mesmo... se incluiu nesta situação porque quer
ganhar o controle da mesma. Porque quer destruir tudo o que eu já trabalhei. — Ela
olhou para baixo. — Ele tem a ideia de que, bem, esse legado é a sua vingança pelo que
eu fiz.
— Vingança? — Fez eco dele com a voz oca. Ela tinha chegado um pouco tarde
para acusá-lo, a ironia de tudo era muito dolorosa para dizer com palavras.
Exceto que não havia soado com este - conceito - que Godwin tinha. Isso acendeu
seu temperamento e assava afogo lento uma chama crepitante.
Avançou em direção a ela.
— Acha que eu esperaria dezoito anos até que minha esposa se suicidasse, e
depois inventasse um elaborado plano usando o dinheiro da minha falecida esposa para
me vingar de você?
— E... eu não disse que concordo com ele — ela respondeu, nervosa recuando.
—Você também disse que você não. — Ele a agarrou por um dos braços,
puxando-a para encará-lo. — Confie em mim, Charlotte, se eu quisesse vingança contra
você, teria me vingado anos atrás.
Como ele quase tinha feito .
— Isso foi exatamente o que eu disse a Charles — disse uniformemente.
Ele piscou.
— Então por que me disse?
Seus olhos se encontraram, tão azuis como o céu de verão.
— Para saber o que diria.
Sua respiração era irregular, com o rosto iluminado por uma expressão que era
dolorosamente familiar. E, de repente, ele estava cansado de ficar dançado em torno
dela, a análise de suas evasivas do passado que parecia encher a vida de Charlotte nos
dias de hoje.
Era hora de cortar essa situação absurda. Especialmente quando a tinha tão perto
de estar em seus braços novamente.
— Se eu quisesse vingança — suspirou, baixando o olhar para a boca feminina —
eu teria feito algo mais direto. Mais pessoal.
Ela engoliu em seco.
— Como o que? — Sussurrou.
Ele tomou a cabeça dela nas mãos.
— Deste modo, — grunhiu. Então cobriu a boca com a dele.
Por um momento ela ficou imóvel, com os lábios tremendo debaixo do
dele. Então, para sua surpresa, eles foram separados ligeiramente. E ele sabia que não iria
resistir.
Foi como ir para casa. Só que agora ele era mais velho, assim o regresso a casa era
mais doce.
O fogo irrompeu entre eles, tão intenso que ele pensou que poderiam se
queimar. As mãos estavam no cabelo dela instantaneamente para segurá-la para um
beijo que era muito duro e esfomeado para ser cauteloso, e ela se encontrava com a sua
boca com um entusiasmo que combinava com o dele.
Ele enfiou a língua dentro da quente e acolhedora boca feminina, e ela empurrou
para dentro, enredando-se com a dela, como se não conseguisse o suficiente.
Deus sabia que não podia. Por dezoito anos imaginou como seria beijá-la
novamente, e a necessidade acumulada foi mais do que poderia suportar. Ele não tinha
previsto isso, mas por Deus, ele a tomaria.
CAPÍTULO DEZ
Charlotte era incapaz de pensar ou respirar. Só sabia de uma coisa: David a
beijava como se nunca tivessem se separado.
Em algum lugar no fundo de sua mente, sabia que era imprudente por muitas
razões. Mas agora todas as defesas contra os homens que tão cuidadosamente havia
cultivado por mais de uma década tinha desaparecido. Ela se perdeu também na emoção
de estar nos braços dele de novo para parar e pensar com cuidado.
Era ao mesmo tempo uma festa e um tormento ser capaz de beijar e poder tocá-
lo. Ele tinha sabor de menta e cheirava a gotas da mesma colônia picante que costumava
usar - uma mistura de alecrim e vinho. Tudo era tão tentadoramente familiar.
— Ah, Charlotte — ele sussurrou contra seus lábios antes de arrastar a boca para
baixo do queixo até o pescoço — faz muito tempo.
Muito tempo .
— Isso não é muito... para uma vingança... se você quer saber. — ela engasgou ao
falar. Os lábios dele encontraram a cavidade da garganta e sugou ali pouco antes de ir um
pouco mais abaixo.
— Eu estou apenas começando.
Suas palavras enviaram uma emoção errante por ela, especialmente quando se
deixou cair no sofá próximo e a puxou para sentá-la escarranchada no colo dele.
Surpresa, ela se inclinou para pressionar as mãos contra o peito dele.
— Minha palavra, David!
— Shh, doçura — sussurrou enquanto agarrou suas coxas através da saia para
amassar. Inclinando-se para frente, encheu o pescoço de beijos quentes. — Deixe-me
terminar a minha vingança.
As mãos dela permaneceram conta o peito masculino. Doçura . Ninguém mais a
chamava assim. Um tremor sacudiu sua costas, sentindo os beijos inebriante da
juventude, da mesma maneira que costumava senti-los cada vez que ele entrava em uma
sala, como da última vez que a tinha beijado tão ardentemente.
Apenas metade dela estava ciente do que estava fazendo, colocou os braços em
volta do pescoço dele, então não protestou quando ele puxou seu xale.
Enquanto a boca masculina fazia coisas quentes, diabólicas pela garganta dela, as
mãos desceram a blusa e afrouxaram a camisa. Ela se agarrou ao pescoço dele, ignorando
nada mais do que uma necessidade inconsciente de ter a boca malvada em seu seio. E
quando finalmente estava lá, ela soltou um gemido enquanto ele levantava a outra mão
brincando com o outro seio.
Como poderia ter esquecido como era ter um homem tocando-a, acariciando-a? E
que fosse David... Parecia incrível demais para acreditar. Ele chupou com força um
mamilo enquanto a mão livre deslizava debaixo da saia dela para acariciar o trecho da
coxa nua acima das ligas.
Ela sentiu a excitação dele, apertando contra suas partes íntimas, mesmo através
da caxemira da roupa intima.
— Sabe, — disse, —Charles tinha uma outra... teoria sobre você e sua parte
neste... legado.
— Diga, — Rosnou ele, então mordeu cuidadosamente o mamilo com os dentes,
aumentando o calor encarnado pelas costas dela.
— Ele disse que podia... poderia ter manipulado para levar as coisas... de onde
paramos... faz... dezoito anos atrás.
A mão de David vacilou no caminho para a coxa feminina.
— E o que você disse a ele sobre isso?
— Disse que ele estava louco.
Ele levantou a cabeça, seus olhos cálidos encontraram com o olhar dela.
— Está claro que não está tão louco quanto eu pensava.
Antes que pudesse reagir a essa afirmação surpreendente, ele a estava beijando
novamente, uma mão acariciando o seio enquanto a outra subia sob a saia até parte dela
que queimava por ser tocada por ele.
Bateram na porta.
Ambos congelaram. Quando ela se inclinou para trás, a consciência de onde
estava e o que estava fazendo golpeou em sua mente, levando consigo o prazer.
David olhou para ela com um olhar sombrio.
— Não faça caso deles. — Suspirou. — Irão embora.
Infelizmente, ela sabia que não iriam. Afastou-se dele e se levantou e começou
freneticamente a reparar as roupas.
— Sim? — Disse em voz alta. — O que foi?
Todo mundo na escola sabia que não devia interferir na sala privado, sem ser
convidado, mas ainda era uma loucura. A porta nem sequer estava trancada com chave!
— Os novos candidatos a professor de dança estão chegando, senhora — disse
Terence.
Ela caminhou perto da porta.
— Diga-lhes que estarei com eles em breve — ordenou, rezando para que sua voz
não revelasse seu estado de agitação.
— Muito bem, minha senhora.
Quando os passos de Terence desapareceram, ela lutou pela calma, golpeando a
excitação que ainda inflamava seus sentidos. Então, com um suspiro estremecido, virou-
se para David, já que se elevava sobre o sofá, a intenção em seus olhos permanecia.
— Perdoe-me — disse ela com voz trêmula, não estava pronta para pensar sobre
o que estiveram fazendo, e muito menos falar sobre isso. — Perdemos o nosso professor
de dança uma semana atrás, e tenho que lidar com a questão.
— Claro —disse suavemente. — Compreendo perfeitamente.
Ela piscou. Essa não era a resposta que esperava.
— Realmente?
—Certamente. — Ele olhou o relógio. — Isso levará... o que? duas
horas? Três? Vou aproveitar a oportunidade para dar uma boa olhada na escola, então
vou saber que tipo de propriedade poderá considerar apropriada.
— Mas você não precisa... não há necessidade... — balbuciou ela.
— Não se preocupe comigo — disse ele com um aceno de mão. — Tenho certeza
de que posso encontrar meu caminho de volta, perfeitamente bem, até que você tenha
terminado.
O pânico decididamente feminino se apoderou dela.
— Você não tem por que permanecer nos arredores enquanto estou ocupada em
outro lugar!
Os olhos dele se encontraram com os seus.
— Por que não?
— Porque não pode andar por uma escola de meninas sozinho — ela disse com
firmeza.
— Então, faça que esse feroz lacaio que tem me acompanhe.
Ela ergueu o queixo.
— Não posso prescindir de Terence neste momento.
Ele arqueou uma das sobrancelhas para cima.
— Então parece que ficarei andando por minha própria conta, não?
— Isso não é aceitável.
—Não confia em mim em torno de suas meninas, Charlotte? — Perguntou
calmamente.
Não era com as meninas que estava preocupada.
— Não tem nada a ver com elas.
— Então, o que?
Como se ele não soubesse. Quando ele havia se aproximado dela, muitas coisas
agradáveis ocorreram dentro dela, e temia que se ele ficasse até que ficassem sozinhos
novamente, os dois poderiam ir além de beijar e tocar.
Ela não estava preparada para isso. Levou anos para reparar sua vida danificada,
anos para se sentir segura e assentada. E se naqueles anos teve momentos em que
sentia-se só, não havia se importado porque estava a salvo. Pela primeira vez, havia se
sentido segura.
Até Pritchard começar a fazer da propriedade comercialmente viável de uma
forma que tinha a certeza de danificaria a escola. E agora tinha David de volta em sua
vida, despertando sentimentos antigos, fazendo-a querer jogar tudo para o lado para
estar nos braços dele.
Ele não estava no comando!
— Estou preocupada sobre como as outras pessoas verão a sua presença aqui.
— Provavelmente da mesma maneira como eles veem Godwin. Irão pensar que
sou um amigo da escola. — Um súbito brilho diabólico iluminou os olhos dele. — Ou vão
assumir que vou esperar que a senhora Harris deixe-me fazer amor selvagem e
apaixonado no sofá.
O alarme lhe inchou o peito.
— Vamos ver, você não pode você...
— Estou brincando. — Os olhos dele procuraram os dela. — Será que ninguém
nunca zomba de você?
A pergunta a deteve em seco. Godwin era sério demais para fazer isso, e os
professores eram muito conscientes de seu papel como um empresaria. O primo Michael
zombava, mas então ele havia abandonado-a. Da mesma forma que David iria abandoná-
la quando o tempo passasse.
— Na verdade... a maioria das pessoas são muito cautelosas para isso.
— Você se tornou essa pessoa, então?
Ela forçou um sorriso.
— Espero que não.
— Porque parece que pudesse precisar de diversão nestes dias.
— E suponho que queira dizer que você pode me dar isso? — Disse bruscamente,
as palavras saíram de sua boca antes que pudesse detê-las.
Ele franziu a testa.
— Vou te dizer o que não quero fazer. Não quero ignorar o fato de que estávamos
envolvidos nos braços um do outro por alguns minutos. — Aproximou-se dela com passos
decididos. — Não vou agir como se não houvesse nada entre nós, quando desfrutou de
cada beijo e cada caricia como eu. — Parou a pouca distância dela. — E asseguro que não
quero sair daqui sem resolver alguns assuntos.
— Por exemplo? — Ela olhou para ele, determinada a não deixar a estatura e os
músculos de pura energia masculina a intimidarem.
— Você pretende aceitar a herança?
— Você pretende me seduzir? — Se ele podia ser direto, ela também.
Uma estranha desconfiança se apoderou do rosto dele.
— A sedução implica uma divisão desigual de poder. Não tenho vontade de jogar
esse jogo com você. — Ele chegou tão perto que ela podia sentir o cheiro de menta em
seu hálito. — Se compartilharmos a cama, doçura , será por causa de um desejo
mútuo. Isso eu posso prometer.
— Eu não posso compartilhar sua cama.
Ele baixou a voz para o repicar erótico deixasse os sentidos dela em chamas como
sempre.
— Você tem medo de chegar muito perto de mim outra vez?
— Tenho medo de perder tudo pelo que trabalhei, — ela respondeu.
Um músculo se contraiu na mandíbula masculina.
— Apesar do que afirma Godwin, não tenho nenhuma intenção de destruir sua
escola.
— Não foi isso que eu quis dizer — disse ela apressadamente. Dando um passo
para trás, que precisava para se recompor, o que era impossível com ele tão perto
dela. — Mas você não tem o mesmo interesse no que eu faço. Não passou anos
construindo sua reputação, persuadindo os alunos a estudar aqui, aplacando os pais.
Ela ergueu o queixo.
— Estou orgulhosa do que eu fiz, e não posso me dar ao luxo de jogar tudo fora
por um momento de prazer. — Quando a olhou com os olhos brilhantes, acrescentou: —
A reputação desta instituição está sobre os meus ombros, e com assuntos tão instáveis
neste momento, não me atrevo a fazer qualquer coisa que a arruíne. Seria escandaloso se
as pessoas achassem que você e eu... bem...
— Sim — disse ele, — Acho que sim. — Ficou um bom tempo em silêncio. — Mas
já deixei bem claro que não tenho nenhuma intenção de forçar você a nenhum - prazer
passageiro - não tem nada a temer de mim. Portanto, não há razão para que recuse a
herança.
Ela quase não conseguiu segurar uma risada. Nada a temer? Somente a constante
tentação de tocá-lo, de confiar nele, de se apoiar nele. Ela nem sequer estava segura de
que poderia confiar nele, pelo amor de Deus! Como podia ter certeza de que não estava
cometendo um grande erro ao permitir que ele chegasse tão perto?
Mas que outra opção tinha?
— Se eu aceitar a herança, isso não significa que aceito a necessidade de mudar a
escola daqui.
— Entendo — disse ele suavemente. — Você ainda quer escrever para seu
benfeitor sobre a compra deste imóvel.
— Na verdade, já fiz isso. Espero ter noticias dele em breve.
— Enquanto isso, por que não olha outras propriedades? — Tirou um papel do
bolso do paletó. — Tenho uma lista das disponíveis aqui. Depois de terminar suas
entrevistas, podemos ir vê-las. À espera de seu tempo livre, vou dar uma volta pela
escola.
Ela olhou para ele com desconfiança.
— Esta deve ser uma experiência única para você, espere por uma mulher se
desocupar.
— Talvez perigosa, mas não única. Já fiz isso uma vez antes. — Ela viu a luz de
seus olhos nos dele. — Foi o maior erro da minha vida.
Ela prendeu a respiração, lembrando-se da última vez que eles estiveram juntos
em sua juventude, quando ela pediu que ele esperasse a resposta dela à sua proposta.
Deliberadamente fingiu não saber o que ele queria dizer.
— Então talvez você não deva esperar por mim depois de tudo. Eu não gostaria
que se decepcionasse. Todavia poderia voltar esta tarde.
— E correr o risco de encontrar o lugar proibido para mim? Não seria uma
casualidade.
Um leve sorriso tocou seus lábios.
— Eu nunca faria algo tão estúpido.
— Bom. Devido a isso é que não vai me manter afastado.
Seguiu a estas palavras com um olhar de fome cru, que a deixou com todos os
nervos em chamas, ela sabia que sua persistência não tinha nada a ver com o legado e
tudo relacionado a ele.
E ela não podia decidir como se sentia sobre isso.
— Na verdade, tenho que ir — murmurou. — Tenho que conduzir essas
entrevistas.
— É claro — Ele fez uma reverência. — Até logo.
Assim que ela abriu a porta, ele disse: — Há uma coisa que você deve considerar.
Não fui eu quem você viu beijando Molly na noite antes de sua partida.
Fazendo uma pausa na porta, ela deu-lhe um longo olhar por cima do ombro.
— Eu já sabia — ela disse simplesmente.
Então se foi.
CAPÍTULO ONZE

David congelou em descrença, enquanto Charlotte saia pela porta. Como ela
soube? Como havia se inteirado? Quando havia descoberto, pelo amor de Deus? Se ele
próprio só soube há oito anos, após o suicídio do pai.
Buscando entender por que o pai havia cometido suicídio, ele e Giles tinham
bebido uísque demais uma noite. De alguma forma, a conversa havia resultado em
mulheres, no fato de que se casar com uma herdeira resolveria o problema de David de
forma a cobrir as enormes dívidas que o pai tinha deixado para trás.
A menção dos herdeiros levou a uma discussão sobre Charlotte, e Giles admitiu
que muitas vezes se perguntou se Charlotte o tinha visto com Molly, enquanto ele usava
o robe de David.
Quando lhe disse, David caiu em conta de que era provável, e tinha sacado toda a
raiva contra o irmão. Os dois logo se encontraram em uma briga de bêbados, e por um
tempo pararam de se falar completamente.
Mas com o tempo teve que admitir que era com ele mesmo que estava irritado
por não ter examinado a situação mais a fundo, ao não forçá-la a dizer a ele o que tinha
acontecido. Até então, ele já se correspondia com Charlotte como primo Michael por
vários anos, e tinha percebido o valor do que havia deixado ir tão facilmente.
E se ele tivesse ido até ela depois de Giles dizer a verdade? O que teria acontecido
se ele tivesse mandado tudo ao diabo e tivesse se casado com ela, em vez de com Sarah?
Passou os dedos pelos cabelos. Sua família teria perdido a maior parte das posses.
Suas irmãs não estariam agora em bons casamentos, Giles não seria um advogado
respeitado. E Charlotte teria sido forçada a apoiá-lo com o rendimento de sua
escola. Teria sido intolerável.
Mas ele não estaria agora lamentando muitas coisas. Como o fato de que ele
queria Charlotte e ela não o queria. Ou tinha medo de o querer?.
Ele juro baixo. Tinha sido um paraíso abraçá-la e beijá-la, mas o inferno ver como
ela se afastava. Tinha certeza de que ela havia sentido a mesma atração que ele.
Esteve quase a ponto de se entregar quando foram interrompidos.
Ainda animado, ele caminhou ao redor da sala. O que faria a respeito... com esta
atração imprudente entre eles, este anseio palpável que obstruía a garganta, mesmo
agora? Não poderia estar perto dela sem querer fazê-la sua. E ela claramente não tinha
nenhuma intenção de deixar.
— Desculpe-me, milorde — disse uma voz da porta — mas a senhora Harris
pediu-me que o guiasse por uma excursão pela escola. Entendo que você tem um amigo
que quer matricular a filha?
Aparentemente, ela foi capaz de enviar o criado boxeador depois de tudo. E a
inteligente Charlotte tinha encontrado uma desculpa para evitar o escândalo que
representava a presença de David ali.
— Tenho um bom número de amigos que teria a honra de matricular suas filhas
aqui — esquivou.
— Bem — disse o criado corpulento. — Nós poderíamos ter mais jovens por esses
dias.
Tentando não pensar em por que ele disse isso, David seguiu o homem.
— Terence não é? — Perguntou David.
— Sim, senhor — ele indicou a saída.
O homem não parecia muito entusiasmado com a tarefa. Isso não era
surpreendente, dado que os talentos dele seriam melhor utilizados em outros lugares. Era
alguns centímetros mais alto que David, e os braços eram tão grandes como um
carvalho. Dava a impressão de que provavelmente comia uma vaca no café da manhã
todos os dias.
— Você é o mesmo Terence que lutou contra Jack Higgins Jack cerca de uns doze
anos atrás, em Salcey Green?
Terence Sullivan havia matado Higgins, um pugilista de grande renome, de punho
limpo, no ringue naquele dia. Ele hoje em dia teria a mesma idade que o homem e o
tamanho também.
— Quer ver a escola ou não? — Disse Terence beligerante.
Aparentemente, tinha atingido um nervo sensível.
— Só se quiser me mostrar. Não me importo se tiver que fazer isso sozinho se
você tiver tarefas mais importantes.
Terence deu-lhe um olhar velado.
— Desculpe-me, milorde. Prefiro não falar sobre aqueles dias.
— Como você quiser. Embora eu tenha curiosidade por saber como o grande
Terence Sullivan chegou a ser contratado como lacaio.
— Comecei sendo um lacaio. Só me envolvi nas brigas mais tarde. Após a luta com
Higgins, voltei ao serviço. — Ele cerrou os punhos aos lados. — Exceto que ninguém
queria me contratar. Até que a senhora Harris me deu uma chance.
— Ah. — Não era de admirar que ele fosse tão protetor com Charlotte.
— Agora, aqui é o que chamamos - grande salão -, — Terence começou,
claramente ansioso para deixar o tema de lado.
Durante a hora seguinte, o lutador levou David através de cada habitação.
David pareceu fascinado ao ver o lugar por si mesmo depois de anos vendo
somente através dos olhos de Charlotte através das cartas. Esteve no edifício de época
isabelina, quando ele e Pritchard haviam assinado o acordo, e recordou como frio e
cavernoso, com uma miscelânea de melhorias questionáveis feitas pelo avô de Pritchard.
Ele não o reconhecia agora.
— De acordo com as coisas que minha falecida esposa me disse, a senhora Harris
fez uma série de reformas quando mudou-se para cá.
— Na verdade ela fez — Terence respondeu. — Teve a permissão do primo dela
para fazer.
David conteve um sorriso, já que foi o único forçado a pedir a aprovação de
Pritchard em cada melhoria. Naqueles dias, Pritchard se alegrou de ter alguém para
melhorar sua propriedade, uma vez que a mesma não era nada mais que um fardo para
ele.
Que diferença o que um pouco de pintura e moveis colocados cuidadosamente
faziam uma mudança tão radical em um prédio antigo. Os móveis de mogno escuro e
cortinas de veludo verde escuro davam uma grandiosidade aristocrática que inspiraria
qualquer jovem. Esta não era uma caixa de tijolo estreita onde as jovens eram embaladas
como biscoitos em um barril, mas um lugar para explorar e descobrir, um lugar que
mantinha uma pessoa sempre consciente do passado da Inglaterra.
Não era de admirar que ela estivesse relutante em sair dali.
David entendeu bem o que a unia este edifício. Ele próprio havia lutado muito
para manter a mansão da família sem que deteriorar-se ao longo do tempo.
E a enormidade do que ele tinha feito para Charlotte incentivando-a a se
apaixonar por este lugar enviou um duro golpe a seu peito.
— É uma pena que o primo dela não tenha vindo aqui — Terence acrescentou, —
ou saberia o quanto ela colocou neste lugar.
— Entendo que ele a ajuda apenas na condição de anonimato — disse David, com
a curiosidade sobre a perspectiva do lacaio ao arranjo estranho.
— Sim. — Terence o levou por um corredor passando por várias salas de aula
onde eram ensinada as jovens aritmética e historia natural e da América, um currículo
incomum para senhoritas.
— Ela nunca tentou descobrir a verdadeira identidade dele? — David alfinetou.
— Não lhe foi permitiu. Ela teve que assinar um papel dizendo que entendia que
perderia a renda da propriedade, se alguma vez tentasse descobrir.
David fingiu um gesto de camaradagem masculina.
— Sim, mas certamente ela permitiu a você que fizesse alguma ou outra
investigação em torno do assunto.
— Não se isso signifique quebrar o acordo. Ela disse-me para manter meu nariz
fora disso, e eu sempre faço o que me mandam.
— Ah. — Graças a Deus pelos servos fiéis.
— Embora acho que sei que tipo de homem ele é — Terence continuou enquanto
iam a uma sala grande que era claramente usada para aulas de dança.
Isto parecia interessante .
— Oh sim?
Terence se deteve no centro.
— A senhora diz que é provável que seja algum filantropo que não quer que as
pessoas olhem muito de perto os assuntos de sua vida privada. — Ele estreitou os
olhos. — Mas eu acho que é um velho rico e feio que está apaixonado por ela, e como
sabia que não teria uma chance de ganhar o seu afeto, planejou algo para assim obrigá-la
a ter uma dívida com ele.
— Isso significa que ele tem astutamente doado dinheiro para a escola e manteve
perversamente um aluguel baixo? — David disse sarcasticamente, mais do que um pouco
irritado que Terence estivesse tão perto da verdade. Ou o que costumava ser a verdade,
de qualquer maneira.
— Ninguém nunca dá algo a troco de nada.
— Teoria interessante. — David se viu confrontado com a necessidade de
defender-se. — E o que exatamente acha que ele quer?
— O mesmo que a maioria dos senhores querem de uma bela jovem viúva. — Ele
fez uma carranca sombria. — Um dia vai atacar, e ela vai passar por um inferno para
pagar.
— Ele certamente está tomando seu tempo para atacar — David disse, irritado. —
Não está ajudando a escola há anos?
O servo deu de ombros.
— Eu não disse que seu plano era inteligente. Não é necessário cérebro para ser
um filho da puta no cio.
— Só um monte de dinheiro, aparentemente.
Terence o olhou a altura.
— Como o meu velho me disse: "Nunca confie um homem rico”.
Não havia dúvida de que era um alerta.
— Ainda bem que sou apenas moderadamente rico — disse David secamente.
— É por isso apenas suspeito moderadamente de você — Terence disparou atrás
dele.
David piscou, e então começou a rir.
— Você é o lacaio mais incomum que já conheci.
Cruzando os braços sobre o peito, Terence deu de ombros.
— Tomo isso como um elogio.
— Eu não disse como um.
Pela primeira vez, o homem sorriu.
— Eu sei.
Curiosamente, desarmou um pouco a tensão entre eles. Enquanto continuavam
ao redor da escola, David disse: — Parece que você gasta muito tempo na proteção de
sua empregadora de atenções indesejadas.
— Não mais do que suficiente.
— E se a atenção não for tão indesejável?
— Isso não vai acontecer — disse o lacaio decisivamente.
— Mesmo com Charles Godwin? — Alfinetou David.
Terence deu-lhe um olhar curioso.
— Por que você quer saber?
Optou pela honestidade.
— Acho que é sempre útil avaliar como afastar a concorrência antes de se entrar
no ringue.
Terence sorriu.
— Se fosse você, milorde, a primeira coisa que eu faria é me preocupar em sair
daqui com todos os dentes.
David riu.
— Acredite em mim, que esta preocupação está em alta na minha lista também.
Você esquece que o vi lutar.
Quando o lacaio deu uma risada relutante, ele sabia que tinha marcado um
ponto, mesmo que não estivesse mais perto de saber mais sobre a natureza do
relacionamento de Charlotte com Godwin.
Até agora tinha terminado com o interior. Já estavam andando em direção à
entrada principal para que pudessem ver os jardins, quando Charlotte apareceu no topo
das escadas.
— Terence, você poderia vir aqui por um momento, por favor?
— Claro, minha senhora.
— Vou caminha pelos jardins — disse David.
Não demorou muito tempo para visitar os jardins na parte da frente da
casa. Havia acabado ali e eu estava admirando a cerejeira na borda de Rockhurst quando
uma figura desagradável emergiu das árvores.
Pritchard. Desgraçado.
Samuel Pritchard era o descendente primogênito de um rico comerciante de
Londres. Apesar de estar perto dos sessenta anos, tinha sido muito imprudente maior
parte da vida, com as feições devastadas e aparência de dissipação provada no rosto. Na
verdade, a inclinação de Pritchard pelo desenfreio era como o homem havia chegado a
estar à mercê de David durante seus anos nefastos de jogos de cartas.
David estivera embriagado, como muitas vezes estivera nos primeiros dias de seu
infortúnio. Quando Pritchard fez um comentário desagradável sobre o caminhante do
robe, então David se propôs a depená-lo. E tinha conseguido para além de suas mais
loucas expectativas, algo que Pritchard ainda estava pagando.
— Bem, bem, se não mais do que o primo Michael — disse Pritchard.
— É melhor você rezar para que ninguém tenha ouvido, Pritchard — David
retrucou. Ou você esqueceu nosso acordo, o que iria acontecer como com a revelação da
minha identidade? Pode ter certeza que serei feliz em demandar minhas cinquenta mil
libras no ato. E como não pode pagar agora, é melhor, sugiro, que contenha a língua.
Embora o homem tenha empalidecido, o sorriso desagradável não diminui.
— Então a pobre viúva ainda não sabe quem você realmente não é? Bem, isso não
vai demorar muito antes que ela descubra, em oito meses, quando seu bonito rabo for
colocado para fora daqui. Então, nada que possa fazer ou dizer vai me impedir de dizer
que você é o verdadeiro culpado pelos problemas dela.
David cerrou os punhos para evitar estrangular o bastardo.
— Por que você não me vende Rockhurst e acabamos com isso? Você sabe que
vou pagar mais do que vale.
Prytchard enfiou os polegares no cós da calça, o que só acentuou o ventre
volumoso que veio a ganhar rapidamente.
— Para você, para que você possa deixar a boa viúva e a escola ai? Não,
obrigado. Tendo em conta que a vinculação não me permite vender o imóvel onde esta
escola, me dedicarei a fazer bom uso dela. E não terei você e Santa senhora circulando
em torno de mim e me causando problemas. Eu quero que ela vá para os dois lotes de
terra, ela e seu pelotão de meninas.
— Um homem de negócios inteligente veria as vantagens abundantes de ter uma
escola de jovens como inquilinos. Eles não maltratar a propriedade, e estão mais do que
dispostos a pagar pelas próprias melhorias.
— Mas não estão dispostos a pagar muito mais pelo aluguel, certo?
— Posso ajudar a subsidiar o aluguel se necessário — disse David. Pritchard seria
um tolo para rejeitar tal oferta. — E eu poderia apontar que sua bondade para a escola
pode ajudá-lo a corrigir sua má reputação na sociedade.
Os olhos de Pritchard se estreitaram.
— Comecei a ver que uma má reputação pode fazer um homem ganhar mais do
que uma boa. — Ele fez um aceno para onde um indivíduo magro estava andando no
jardim, a alguma distância atrás do aparentemente medindo. — Watson está seriamente
preocupado com a compra de Rockhurst e quer transformá-lo em um estabelecimento de
corrida. E sabe por que?
David apenas olhou para ele friamente.
— Porque prometi a ele que, tão logo o gravame acabe, vou converter o prédio
da escola em um hotel deslumbrante, com um restaurante e taverna que seduzirá a
sociedade jovem. Terei a metade da comunidade das corrida aqui todas as semanas,
pagando um bom dinheiro pelo gim e cerveja, enquanto o meu amigo recebe o dinheiro
das corrida na porta ao lado.
A pura alegria se refletia no rosto do asno.
— Então pode ver por que não quero a boa viúva a minha volta. E por que tenho
melhores perspectivas do que qualquer quantia extra de dinheiro que você possa
oferecer para pagar o aluguel.
O estômago de David afundou. Um hotel. O edifício seria perfeito para isso! Que
esperto Pritchard ter pensado na combinação de uma pista de corrida com um hotel,
especialmente com Richmond estando tão perto de Londres, e à direita no rio, também.
— O povoado nunca permitirá isso — disse David.
— Não? Eles já concordaram em aprovar as licenças, tanto para mim quanto para
Watson.
Ele sorriu.
— Muito secreto, é claro. Eles sabem que têm uma obrigação financeira com outra
pessoa que me impede de tomar posse da propriedade até o próximo ano. Mas eu lhes
assegurei que isso vai acontecer.
Então era isso que o filho da puta estava planejando.
— E eles estão dispostos a ver como a escola desaparece debaixo do seu
benefício?
Pritchard deu uma risada condescendente.
— Eles não se preocupam com isso. Quando assinalei que suas filhas não
gastariam tanto dinheiro na cidade como o que eles poderiam ganhar se estivessem perto
de uma pista de corrida, ficaram salivando ante a perspectiva. Os vereadores não são
estúpidos, sabem de um êxito seguro quando veem um.
— Ela não te fez nada! — Ele estalou. — Entendo sua raiva de mim, mas se estiver
usando-a para me punir...
— Não seja um tolo embrutecido, Kirkwood. Isto é estritamente profissional. Não
tem nada a ver com você ou ela. Na verdade, você deveria me agradecer. — Ele zombou
de David. — Sua presença aqui indica que encontrou uma maneira melhor para se
salvar. — Empurrou os quadris em um movimento vulgar, que não deixou nenhuma
dúvida sobre o que queria dizer.
— Dando alguns serviços adicionais..., certo? Em troca da nova fortuna que
herdou de sua pobre mulher?
David viu tudo vermelho. Antes que pudesse pensar, tinha as mãos em torno do
pescoço de Pritchard e a chocou contra a árvore mais próxima.
— Ouça, cara de cu covarde, e escuta bem. Se alguma vez insinuar algo tão vil a
ela ou qualquer outra pessoa, eu vou te caçar, cortar as bolas e empurrar abaixo de sua
garganta! Você me entendeu?
Os olhos de Pritchard estavam arregalados de medo enquanto ele lutava para
respirar. Ele acenou com a cabeça, os dedos arranhando inutilmente as mãos de David.
De repente, David o libertou, vendo como ele deslizava pela árvore sem fôlego.
— Faça o que sente que tem fazer com Rockhurst. Mas ainda tenho o direito de
detenção sobre a propriedade da escola, e um monte de coisas podem acontecer em oito
meses.
Com seu temperamento ainda rubro, ele virou as costas e saiu antes de converter
o bastardo em uma polpa de sangue.
Mas ainda não havia ido longe o suficiente quando ouviu murmurar Pritchard: —
Pensariam até que a mulher é sua condenada esposa ou algo assim... Cristo!
As palavras ecoavam em sua mente enquanto ele andava de volta à
escola. Sua esposa .
Deixou que a ideia submergisse nele, acalmando sua fúria assassina. E se casasse
com Charlotte? Então, ela nem sequer precisaria da escola. Afinal, poderia dar-se ao luxo
de mantê-la. E se ela se tornasse esposa dele antes dos oito meses, ele nunca revelaria o
jogo duplo que havia jogado com ela todos estes anos. Ela simplesmente fecharia a
escola, e isso seria tudo.
Sim, era a solução perfeita. Simples, prática.
Bem, não inteiramente prática. Havia questões difíceis... como o fato de que ele
ainda estava de luto. Ele nem mesmo deveria pensar em se casar novamente por mais
seis meses, mas esperar mais para assegurá-la, mais provável é que ela viesse a descobrir
sobre o caso com Pritchard e porque ele tinha feito.
Felizmente, a sociedade tendia a ser mais flexíveis no que diz respeito ao luto dos
homens. Ele não tinha herdeiros, para que as pessoas esperassem que ele buscasse uma
esposa o mais rapidamente possível. Apesar de Charlotte, que se resistisse a casar antes
do período de luto, ele bem que poderia fazê-la mudar de opinião.
Ele franziu a testa. Isso supondo que pudesse convencê-la a se casar com ele
primeiro. Todavia ela quase não confiava nele. Nem sequer podia pensar em propor
matrimonio até que a tivesse suavizado primeiro.
Muito bem, ele iria como antes, tentando convencê-la a mudar a escola para
assumir o legado de Sarah. E no processo iria jogar a seu favor a atração que ainda ardia
entre eles. Isso não deveria ser muito difícil. Ela era uma viúva sensual, vibrante, que
passou os últimos dezesseis anos de celibato.
Sem dúvida, ele estava ansioso para mudar isso.
A menos que ela não estivesse de celibato. Afinal de contas, não sem razão a
sociedade as chama de viúvas alegres. E ela não havia respondido a pergunta sobre seu
relacionamento com Godwin.
Ele franziu a testa. Se o homem tinha vindo a partilhar a cama de Charlotte, isso
terminaria agora. Assim como acabaria com qualquer envolvimento entre eles. Porque
David não ia deixar o condenado jornalista ficar com Charlotte.
Tenha cuidado, cara. Este desejo obsessivo foi o que o colocou em problemas
com ela da última vez.
Mas isso era diferente. Ele era jovem e tolo. Tinha acreditado no amor,
confundindo um desejo perfeitamente normal e saudável por uma mulher bonita com um
pouco de emoção ridícula. Isso não era nada mais do que uma decisão prática. E se no
processo de conseguir Charlotte como esposa, também viesse a tê-la em sua cama,
melhor. Por que eu não deveria ter uma esposa que desejava?
Absorto em seus pensamentos, David não enfocou Terence até que o homem
esteve quase sobre ele.
— Teve uma palavra com o nosso vizinho vejo eu — Terence disse sem rodeios.
Dane-se tudo. O lacaio deve ter visto o seu encontro com Pritchard. David
considerou repreende-lo por não ocupar-se com seus próprios assuntos, mas podia ser
melhor ter o homem como aliado.
— Ele insulto à sua senhora e eu apenas adverti para não fazê-lo novamente.
Algo parecido a admiração brilhou nos olhos do homem.
— E muito confortavelmente, também. Talvez saia daqui com os dentes depois de
tudo.
David aceitou o elogio com um velado aceno de cabeça.
— Devo pedir para não falar sobre o minha... er... perda dos estribos para senhora
Harris. Não gostaria de revelar o que aquele bastardo disse sobre ela. — E se alguma vez
Charlotte escavasse e descobrisse que Pritchard era o proprietário do imóvel, David não
queria ser perguntado sobre sua conexão.
— Como quiser. Terence apressou para o seu lado. — A propósito, ela me
mandou dizer que lamenta mas ficará ocupada com as entrevistas pelo resto da tarde.
Disse que se deixar a lista que lhe mostrou, que dará uma olhada depois.
— Ao inferno que vai. — ele rosnou.
O lacaio piscou.
David conteve o temperamento com dificuldade. Claramente, ela temia que se ele
ficasse até que ela estivesse livre, ele iria tentar levá-la para cama. E ela estava certa em
ter medo, também. Porque ele não estava disposto a deixá-la ir neste momento.
Tampouco a deixaria ditar os termos da nova parceria.
— Pode dizer a sua senhora que ficarei feliz em entregar a lista de hoje à noite,
quando ela for a minha casa da cidade para jantar com minha mãe. Se ela não puder
comparecer, então estarei aqui de manhã para dar a ela pessoalmente. Entendeu?
— Perfeitamente, senhor.
— Bom. — Com isso, David virou-se e dirigiu-se para os estábulos. Ele havia
tentado ser paciente. Havia dado a Charlotte todas as oportunidades para rejeitar o
legado e a sua participação no mesmo.
Nada mais. Já era hora dele assumir o controle da situação. Porque de uma forma
ou outra, ele pretendia ter Charlotte como esposa. E nem a escola nem o nervosismo dela
ficariam em seu caminho.

CAPÍTULO DOZE
Charlotte estava sentada na carruagem, olhando para a casa da cidade de
Kirkwood, inquieta.
— Está tudo bem, minha senhora, não é mesmo? — Terence perguntou enquanto
abria a porta.
— É só que... não estive aqui desde que fui acompanhante de Lady Amelia no
baile de primavera de Kirkwood há seis anos. — O baile projetado para encontrar uma
herdeira para David.
Naquele momento, Charlotte esteve dolorosamente consciente da importância
do convite – Lady Kirkwood tinha a intenção de esfregar na cara de Charlotte que David
tinha seguido com a vida, apesar da aparente tentativa de Charlotte para arruiná-lo.
— Certamente não está nervosa por ver a jovem de novo — disse Terence.
— Claro que não. — Amelia era a única razão dela estar ali.
Não tinha nada a ver com as táticas ardilosas de David, zombado dela com uma
lista de propriedades e ameaçando aparecer em sua porta novamente amanhã, se ela não
aparecesse esta noite. Não tinha nada a ver com seu desespero para vê-lo novamente.
Ela gemeu. Ok, então talvez tivesse passado toda a viagem até a cidade revivendo
os deliciosos beijos e carícias e se perguntado se ela teria coragem de repeti-los. Mas ela
não era uma menina, suas entranhas a flor da pele ante a perspectiva de encontrar o
noivo. Ela era uma mulher adulta de boa reputação, cuja escola era amplamente
aclamada pela educação das jovens.
Ela era uma viúva que não tinha sido tocada intimamente em dezesseis anos. Até
hoje. Por que todas as lições que ensinou as bonitas meninas voavam pela janela cada vez
que via David Masters?
— Devo bater, senhora? — Perguntou Terence.
— É claro.
Assim que a anunciou ao mordomo e baixou a seu lado, ela endireitou os ombros
e subiu as escadas. Não deixaria que a perspectiva de ver um homem a transformasse em
purê. A ideia era absurda.
Depois de entrar na casa, no entanto, a sua confiança oscilou. Enquanto o
mordomo foi anunciá-la, o primeiro lacaio colocou os olhos furtivos nela.
Sem dúvida sua chegada nesse ponto seria mencionada nas dependências dos
criados por toda a próxima semana.
Felizmente, Amelia escolheu aquele momento para irromper no vestíbulo,
cumprimentando-a com abraços e beijos.
— Você está maravilhosa! — Amelia exclamou enquanto se afastava para olhar
mais para Charlotte. — Ouso dizer que não envelheceu um dia em seis anos!
— Nem você. — Encantada por ver a amiga novamente, Charlotte olhou para ela
do alto do elegante penteado a borda do vestido de noite, de uma bonita seda verde
escuro. — Ninguém diria que já deu à luz a dois filhos, e em um país estrangeiro,
também!
— Sim, o que é uma surpresa que alguém não possa realmente ter filhos fora da
abençoada ilha da Inglaterra — disse secamente o Major Winter, enquanto se
aproximava da esposa.
— Não comece outra vez — Amelia o repreendeu com um sorriso. Ele se inclinou
para Charlotte. — Ele ainda acha que nós o Ingleses somos demasiado cheios de nós
mesmos.
O americano passou o braço em torno da cintura da esposa e a olhou com um
sorriso de puro amor.
— Suponho que alguns de vocês têm motivos para se sentir superior.
— E em que categoria eu me encaixo, senhor? — Perguntou Charlotte.
— A categoria superior, é claro. — Sorrindo cordialmente, ele ofereceu a mão. —
Na verdade, é bom vê-la, minha senhora. Espero que tenha me perdoado por levar anos
atrás sua melhor pupila.
— E se não tivesse perdoado, o que faria agora? — Provocou e apertou a mão
dele.
— Enviaria minha esposa para abrandá-la. Ela é muito boa nisso.
— Creio que ela seja — Charlotte concordou. Amelia tinha suavizado o duro
Major Winter. Não havia como negar a diferença nas maneiras dele desde a última vez
que esteve na Inglaterra. Apesar dos comentários sobre os ingleses, ele parecia mais
feliz. Mais relaxado.
Era curioso como estar apaixonado fazia isso com uma pessoa.
Enquanto a inveja dolorosamente se apoderava dela, outra voz interrompeu: —
Vamos, agora, o que é tudo isso? — Giles Masters entrou no vestíbulo, com o mesmo
olhar sedutor de sempre. — Por que você ainda está de pé aqui quando todo mundo está
esperando lá em cima?
Com uma risada, Amelia passou o braço pelo de Charlotte, e se dirigiu
conversando, deixando os senhores seguindo-as atrás.
No momento em que entrou no salão, a preocupação de Charlotte
retornou. Todo mundo estava relacionado com David. Além do irmão dele e o Major
Winter, as duas irmãs estavam ali com os respectivos maridos.
E, claro, no centro estava a mãe de David. Uma vez que o prazo estabelecido para
o luto de Sarah tinha transcorrido para o resto da família, deixando apenas David e a
senhora Kirkwood de meio luto, ela vestia um esplêndido vestido de seda cinza com uma
camada de gaze preto, adornos preto, e um colar impressionante. Obviamente não tinha
intenção de deixar algo tão insignificante como a morte da nora projetasse uma sombra
sobre seu traje elegante.
Tampouco deu as boas vindas de braços abertos a mulher que uma vez feriu o
amado filho. Charlotte não a culpava por isso, e tratou de não sentir-se ofendida pelo
piscar genial de reconhecimento da viscondessa.
Então Charlotte viu David na parte de trás da sala, e tudo o mais, todos os outros
desapareceram. Ela não ouviu uma palavra da conversa de Amelia nem viu Giles cruzar
para falar com uma das irmãs. Ela só tinha olhos para David.
E quando ele se virou para olhar para ela, a respiração em sua garganta ficou
presa.
Ele a percorreu do outro lado da sala, observando cada centímetro de seu vestido
de noite. Houve um diabo dentro dela que quase a fez escolher outro vestido.
O vestido favorito de Ruby, pareceria demasiado descarado para uma família de
luto, e também a cor amarelo alegre. Por fim se conformou com um vestido recatado de
cor escura, já que era o mais adequado.
Por desgraça, era também o mais provocativo que possuía, um fato que não
passou despercebido a David, porque ele a desnudou com o olhar. Fez uma pausa muito
deliberadamente nos seios e a junção das coxas, a recordou enfaticamente que nesta
mesma tarde ele esteve com a boca e as mãos em suas partes mais íntimas.
Sob a investida deste olhar ardente, seus mamilos retesaram e o calor reuniu-se
em seu ventre. E quando os olhos dele voltaram a encontrar os seus, o calor que ardia em
seu rosto a fez querer pular nos braços dele.
Ou dar a volta e correr.
Então ele se dirigiu até eles, e era tarde demais para correr. Ignorando a carranca
de desaprovação da mãe, ele se aproximou com passos decididos e isso fez o pulso de
Charlotte começar uma dança louca. Apesar de usar a braçadeira negra necessária e a
roupa mais escura que os demais na sala, parecia mais vivo, mais robusto do que os
outros homens em seus casacos chamativos de cores azuis e botões de ouro. Até mesmo
o major Winter, com a boa aparência bruta, não poderia ser comparado com David.
— Você veio — disse com uma voz rouca quando a alcançou. — Depois que me
despachou esta tarde, não tinha certeza se você o faria.
— Despachou! — Disse com um riso forçado a lembrá-lo de que não estavam
sozinhos. — Não fiz nada disso. A hora da sua visita era inconveniente, isso é tudo.
Amelia estava observando-os de perto.
— Fez uma visita a senhora Harris hoje? — Perguntou a David, com a curiosidade
implícita em cada sílaba.
— Tinha um assunto de negócios para discutir sobre a escola — disse ele,
aparentemente, não menos preocupado pelo que qualquer um teria pensado nisso.
— Vossa Senhoria está aconselhando-me sobre como lidar com o Sr. Pritchard e
suas travessuras — Charlotte explicou apressadamente. Olhou Amelia. — Você sabe, o
vizinho horrível que já mencionei em minhas cartas?
A amiga arqueou as sobrancelhas.
— Sim, lembro-me dessas cartas. Não me lembro de qualquer menção de apoio
do Senhor Kirkwood, no entanto. — Virou para o marido. — E você, querido? Tinha
alguma ideia de que meu primo estava ajudando minha amiga tão gentilmente?
— Nenhuma — disse o major Winter, com os lábios apertados. — Mas Kirkwood
sempre foi um cavalheiro.
Exceto quando arrastou Charlotte para o colo e levou seus seios a boca
lasciva. Embora provavelmente não poderia evidenciar sua alegação contra ele
reclamando ao Major Winter.
— Assessorar a senhora Harris era o mínimo que eu podia fazer — disse David
sem problemas. — Afinal de contas, foi ela quem unia a mim e a minha falecida esposa.
Isso foi um pouco exagerado, já que tudo o que Charlotte fez foi ensinar Sarah
sobre como evitar caçadores de fortuna, garantindo assim que a menina recalcitrante foi
direto casar com o primeiro homem que se aproximou dela .
O Major Winter aparentemente pensou que se afastam da verdade, então, olhou
para o primo de uma forma estranha.
— Pensei que tivesse sido Amelia quem uniu Sarah e você.
Ignorando o desagrado de David e repreendendo o olhar de Amelia, ele
acrescentou: — Não foi Amelia que entregou a carta de Sarah para você? Depois que ela
convenientemente rechaçou a sua proposta, devo acrescentar.
— Lucas — Amelia exclamou enquanto David fulminava com o olhar o primo.
— O Quê? — Perguntou o major Winter. — É verdade.
— Sim, mas não o tipo de coisa que deve aparecer em um momento como este.
Na verdade, às vezes eu acho que foi criado em um celeiro.
— Bobagem — disse Charlotte levemente — Tenho certeza que mencionou isso
em algum momento.
Mas ambas sabiam que não haviam feito. E saber que Amelia o tinha
rejeitado. David outrora havia perseguido Amelia? Teria estado... apaixonado por ela?
Como Charlotte não soube nada sobre esses dois?
— Lucas, querido — Amelia disse rapidamente, — que você e Lord Kirkwood não
vão buscar um pouco de vinho? Tenho certeza que a senhora Harris tem muita sede após
a longa viagem desde Richmond.
— Claro — respondeu o major Winter, sabendo que estava sendo
dispensado. Enquanto David olhava com preocupação de Charlotte a Amelia, no entanto,
ele foi com o primo.
Assim que eles se foram, Amelia perguntou: — Você está bem?
Porque as pessoas ficavam perguntando o mesmo?
— Claro. Por que não estaria?
— Você parece que viu um fantasma. — Seus olhos se estreitaram. — Há algo
entre você e o Lorde Kirkwood?
— Não posso imaginar por que você pensaria tal coisa — Charlotte disse
apressadamente, o coração batendo na garganta.
— Talvez porque ele a olha da mesma maneira que Luke me olha. Ou talvez
porque você ficou branca como um lençol quando meu marido idiota mencionou que
Lorde Kirkwood, uma vez me fez uma proposta.
— Eu não me importo nem um pouco.
— Então por que você ficou tão ansiosa e nervosa de repente?
— O que você quer dizer?
Amelia lançou um olhar significativo para Charlotte, que estava apertando a alça
da bolsa entre os dedos novamente e novamente. Com uma careta, Charlotte queria que
suas mãos se mantivessem quietas.
— Você deve entender — disse Amelia, — a busca de Lorde Kirkwood por mim
não foi remotamente romântica. Falou de como iríamos nos adaptar e de como seria
gentil comigo. Não houve palavras de amor, nem tentativas de me beijar. Eu sabia que ele
só estava impulsionado pela necessidade da minha fortuna. Por que você acha que
rejeitei antes que pudesse fazer uma oferta formal?
O alívio corria por Charlotte.
— Asseguro que o que houve entre você e Lorde Kirkwood não significa nada para
mim.
Que mentira descarada! Ele à lembrou que tanto tinha acontecido dezoito anos
para ele, coisas que talvez ela não conhecia. Algo em David havia mudado de ser o
pretendente palhaço de sua juventude em um homem de intensidade feroz que as vezes
assustava.
O que teria sido isso? Seu casamento infeliz? O suicídio do pai? A humilhação que
o obrigou a sofrer? Ou talvez todos os três juntos?
Porque sob a superfície de cordialidade que mostrava ao mundo jazia um homem
de profundidades ocultas. Era óbvio que ele guardava segredos dela e todos os outros. Ela
não conseguia entender o que eram.
— Olha, — disse Amelia, — é claro que se preocupa com Lorde Kirkwood. E que
ele também se preocupa com você, muito.
— Não seja boba. Ele está de luto.
— Ele não vai estar de luto para sempre. Seis meses, e estará livre para se casar
novamente. E uma vez que ainda não gerou um herdeiro...
As palavras enviaram outro golpe por suas costas. Não havia considerado sequer
isso. Em seus dois anos de casamento com Jimmy, ela não tinha concebido um filho,
apesar de ter tentado um monte de vezes. Sempre assumiu que fosse estéril, o que
significava que não poderia dar David o herdeiro que ele precisava.
Um raio de dor passou através dela, e lutou para ignorá-lo. Não importava se ela
poderia ou não - era ridículo sequer pensar em casamento com David. Ele não tinha
mencionado tal coisa, e também ele poderia ter qualquer mulher que quisesse. Por que
escolheria uma que estava ficando velha demais para ter filhos?
Aquela que o machucou de uma forma tão publica?
— Falando de crianças — Charlotte disse, desesperada para por fim naquela louca
conversa sobre ela e David — como estão seus anjinhos?
A mãe que os adorava estava muito feliz de falar sobre suas filhas e suas
realizações.
Assim quando estavam organizando um dia para Charlotte visse as crianças, os
cavalheiros voltaram com as mãos vazias. O vinho tinha sido removido, já que o jantar
estava prestes a ser servido.
Dizendo aos Winters que queria mostrar a Charlotte uma nova pintura que ele
tinha adquirido, David puxou-a com força para o corredor. Uma vez que estavam bem
longe, rosnou: — Saiu correndo tão rápido esta tarde que não tive a oportunidade de...
— Não sai correndo! — Ela protestou, tentando manter-se ao lado dele enquanto
ele liderava o caminho pelo corredor até onde uma série de quadros estavam
pendurados.
Quando chegaram a primeira pintura e se detiveram na frente dela, acrescentou:
— Não pude evitar ter pessoas para entrevistar. Ou que isso demorasse mais tempo do
que esperava.
— Não é culpa sua, tenho certeza — disse secamente.
Ela ergueu o queixo.
— Se você não pode aceitar que tenho responsabilidades.
— Isso eu aceito muito bem — disse ele em voz baixa. — O que não posso aceitar
é esse seu desejo de deixar que sua preciosa escola seja destruída por sua negligência.
— Minha negligência! Como se atreve?
— O legado de Sarah é tudo o que fica entre a escola e a ruína certa. Se você não
tivesse enviado Terence para me chamar esta tarde, eu teria lhe dito o que sei de
Pritchard e o potencial comprador quando os encontrei perto de seus domínios.
Seu sangue começou a latejar.
— Você... você falou com o Sr. Pritchard?
— O fiz realmente. E ele me informou que a cidade já aprovou a licença do Sr.
Watson para uma pista de corrida. Agora, a única coisa que resta a ele é Pritchard chegar
a um acordo sobre o preço. Pritchard espera que aconteça em breve. — Ele deu-lhe um
olhar sombrio. — Você não pode ter uma pista de corrida em sua porta, Charlotte.
— Claro que não.
— Portanto, você deve se resignar a mudar a escola para outro lugar.
Ela olhou para ele.
— Não até que escute meu primo.
— Droga, Charlotte, seu primo não pode fazer nada sobre Pritchard!
— Você não sabe isso!
— Se pudesse, não acha que já teria feito algo nesta altura?
Ela engoliu em seco. O abandono do primo Michael foi mais cruel de todos os
tempos.
— Ele tentou, quando o Sr. Montalvo parecia decidido a construir um jardim dos
prazeres. Ele interveio em nosso nome.
— E pelo que entendi, ele acabou fugindo com uma de suas alunas e causando
um escândalo para a escola. Que tão bom foi ele para ajudar.
O sarcasmo dele a levou até o limite.
— Fique longe das coisas que você não entende, David.
— Oh, eu entendo muito bem — ele retrucou. — Você confia mais em um homem
anônimo que te escreve cartas e que, por tudo que sei, é um completo filho da puta, do
que em um homem que a conhece há anos e que tem os melhores interesses no coração.
— Por que eu devo acreditar que você tem os melhores interesses no
coração? Depois do que fiz, você não tem nenhuma razão para querer me ajudar.
Ele se aproximou, olhando para a boca feminina.
— Você sabe melhor do que ninguém que eu tenho razão. É a mesma razão pela
qual veio aqui hoje, nesta noite, apesar de seus medos.
Não havia dúvida do olhar naqueles olhos. De repente, ela tinha uma grande
dificuldade para respirar.
— Eu vim aqui para conseguir a lista que você prometeu.
— Ao inferno se você veio por isso.
— Eu vim para ver Amelia.
Ele inclinou até a boca de Charlote.
— Mentirosa — sussurrou.
O som de passos na escada o fez amaldiçoar baixinho. Recuou e virou-se para a
pintura enquanto o mordomo se aproximava e anunciava que o jantar estava servido.
Enquanto os demais saiam ao corredor, Lady Kirkwood chamou: — Vamos, David?
Me acompanhar para jantar, certo?
Quando David hesitou, Charlotte olhou para ele em pânico abjeto. Claro que
sim. Era a única coisa certa. Se não o fizesse, seria um sinal claro ao resto da família que
havia algo mais entre eles.
No entanto, por um momento, ela pensou que ele realmente zombaria do
decoro.
Fez um olhar de frustração a Charlotte que fez gelar seu sangue e ela rapidamente
ela pronunciou as palavras: — Por favor, não. — A última coisa que precisava era ter a
família dele contra ela por tentá-lo a romper as regras do luto.
Um músculo ressaltou na mandíbula masculina enquanto ele observava a mãe.
— Certamente, mãe.
— E Giles levará a senhora Harris.
Giles amavelmente se dirigiu ao corredor em direção a ela.
David se deteve apenas o tempo suficiente para murmurar: — Nós não
terminamos, meu bem — antes de ir ao encontro da mãe.
As palavras a fizeram sentir um calafrio enquanto ela e Giles esperavam que os
outros descessem as escadas. Nós não terminamos . Isto manteve-se uma promessa, bem
como um aviso. Não tinha certeza do que a alarmava mais.
— Tudo certo? — Giles disse com um sorriso, oferecendo-lhe o braço, quando o
último par passou à frente deles.
Pelo menos ele poderia ser agradável. Na verdade, ele parecia muito mais
relaxado com ela do que tinha sido a última vez que haviam se falado, há alguns anos
atrás em uma festa que tinham se encontrado.
Deu um olhar furtivo enquanto caminhavam para as escadas, lembrou-se do
quanto ele se parecia com David. Não era de se estranhar que ela tivesse se enganado
naquela fatídica noite. Na escuridão, o cabelo da mesma cor e a constituição semelhante,
qualquer um poderia ter confundido. Ah, mas quão diferente sua vida poderia ter sido se
não tivesse!
Quando chegaram as escadas, Giles arrastou os passos para colocá-los fora do
alcance do ouvido dos outros.
— Você está linda esta noite — murmurou.
Ela riu.
— Vejo que não mudou, Sr. Masters.
— Deixe-me ter algum prazer, por favor. A vida de um advogado é muito
aborrecida.
— Não acredito nisso. Ninguém é bom no que faz se não faz com paixão, e pelo
que sei você é muito bom.
Ele deu de ombros com o elogio.
— Soube que você e meu irmão tem se visto nos últimos tempos.
— Ele está me ajudando com um assunto na escola — não tinha certeza do
quanto David havia revelado ao irmão sobre a herança.
— Está saindo com ele novamente? — Giles perguntou sem rodeios.
Ela piscou.
— Perdoe-me. Isso foi rude. Não é assunto meu, suponho.
— Então, por que perguntou? — Charlotte olhou para ele com desconfiança. —
Sua mãe mandou perguntar?
Giles riu.
— Não creio. — Ele cobriu a mão dela com a dele. — Talvez eu só esteja tentando
descobrir se tenho alguma chance com você.
Balançando a cabeça, ela tirou a mão.
— Esquece agora o sem vergonha que é.
Ele lançou um suspiro exagerado.
— Pelo que entendi não disse o meu pequeno segredo sobre a última vez que nos
encontramos.
Foi quando ela descobriu que era Giles quem tinha visto pela janela, e não David.
— Por que diz isso? — Ela perguntou.
O sorriso dele vacilou.
— Porque eu tinha que saber com certeza se você havia me visto com Molly e que
isso foi o que arruinou tudo entre você e David.
O olhar dele buscou seu rosto.
— Por que você não me disse que você nunca teve a intenção de mandar a carta
para o jornal?
Aparentemente, Giles tinha ouvido David sobre a revelação anterior.
— Qual seria o ponto? Até então, ele já estava casado. Contando sobre a carta
poderia ter mostrado que lamentava, e eu não queria que velhos fantasmas
atrapalhassem a união dele com Sarah. Eu já havia danificado a vida dele o
suficiente. Pensei que era mais fácil para ele continuar acreditando que eu era uma
cadela vingativa.
Eles chegaram ao fundo das escadas e se dirigiram para a sala de jantar, mas Giles
deteve-se a porta da sala de jantar.
— Sem dúvida, ele não acha isso agora. — Quando ela não respondeu, ele
acrescentou: — Então, está tendo algo a sério com ele?
Ela olhou para ele constantemente.
— Eu honestamente não sei .
Às vezes, a ideia de estar com David novamente era tão tentador que qual mal
podia suportá-la. E como seria bom ter um parceiro nas suas relações na escola, ter
alguém para compartilhar seus fardos para uma mudança.
Mas isso significava casamento, e ela duvidava que ele queria isso com
ela. Mesmo que quisesse, David não podia sentir o mesmo apego à escola que ela.
Esperaria ele que ela a fechasse? Que a vendesse? Renunciar a tudo o que havia
trabalhado, para assim poder jogar de esposa amorosa?
Ela tinha jogado de esposa amorosa uma vez, e isso lhe custou tudo. Ela não
queria passar por isso novamente. Nunca?
— Tenha cuidado com meu irmão, Charlotte — Giles disse em voz baixa. — A
morte de Sarah o pegou mais forte do que qualquer um de nós esperava, e eu não
gostaria...
— Não se preocupe — disse ela através de uma garganta cheia de emoção: —
Não tenho nenhum desejo de fazer mal a ele.
— Estou mais preocupado dele vir fazer mal a você. Não tem sido o mesmo há um
longo tempo, e não acho que ele saiba o que quer mais.
Ela tinha percebido isso. O casamento com Sarah tinha mudado-o, e uma mulher
sábia devia ter cuidado com um homem que tinha perdido a esposa há apenas alguns
meses.
— Não se preocupe comigo também. Sei como lidar com homens.
— Pelo meu bem, espero que isso é verdade. — Um sorriso repentino dividiu seu
rosto. — Eu poderia usar alguma gestão de uma mulher como você.
Ela deixou escapar uma risada.
— Juro, Sr. Masters — disse, igualando o tom — é tão incorrigível como seu irmão
costumava ser. A diferença é que ele cresceu. Aparentemente o senhor não.
— Crescer é muito exagerado — Giles disse alegremente. — Eu tento evitá-lo
sempre que possível.
Ainda rindo quando entrou com ele na sala de jantar para encontrar todos
esperado por eles. Lady Kirkwood lhe deu um olhar positivamente gélido, e David parecia
amarrado.
Ficou muito claro que seria uma noite muito longa.
Capítulo Treze
David não conseguia se lembrar da última vez que ficou tão frustrado. Charlotte
também poderia estar a quilômetros de distância, sua mãe os colocou tão longe um do
outro na mesa de jantar quanto foi possível.
Pelo menos ela não estava em nenhuma perto do canalha do irmão dele. Em vez
disso, passou o jantar entre Amelia e Lucas, entretida com histórias da vida no Marrocos.
Devia agradecer ao primo por deixar cair que David havia proposto casamento a
Amelia. Caso contrário, não estaria tão seguro dos sentimentos que Charlotte sentia por
ele. Mas não havia dúvida do pouco que ela havia gostado da notícia.
Bom. Era hora dela também ter uma ideia do ciúme que ele teve nos últimos dias.
Quando finalmente levantaram-se da mesa, os homens dirigiram-se para o
estúdio para fumar um charuto, e as mulheres para a sala de estar.
Felizmente, era uma festa familiar, os homens reuniam-se com as mulheres
depois de apenas algumas bebidas. Infelizmente, quando entraram no salão, uma de suas
irmãs o abordou com a proposta de dançar um pouco.
David franziu a testa.
— Isso seria muito inapropriado.
— Bem, você não pode dançar, já que ainda está de luto — disse com petulância
— mas o resto de nós sim podemos.
— Claro que sim — disse a mãe, sempre disposta a deleitar-se de suas filhas. —
David só vai ver, e eu vou tocar a música.
— Mãe, isto não é remotamente... — começou a dizer.
— Oh, não seja tão estirado —disse enquanto tirava as luvas e se dirigia ao piano.
— É entre família, ninguém vai saber. Não é como se estivéssemos dando um baile ou
algo assim.
Pode ser que também tivesse sido assim. No momento, que anunciou que haveria
dança, os demais se reuniram em volta, empurrando para trás as cadeiras, enrolando o
tapete e decididos pela música. Charlotte apenas se mostrou desconfortável com o
esquema, mas David sabia que isso não a impediu de aceitar o convite de Giles para
dançar.
Maravilhoso. Agora tinha que esperar e ver como o maldito irmão a arrastava
através da sala. O mesmo homem cuja incapacidade de manter o pau dentro da calça
tinha sido o responsável de que Charlotte rompesse com David em primeiro lugar. Droga.
Enquanto o par deslizava passo após passo, lhe ocorreu que nunca em todos
esses anos tinha visto Charlotte dançar. Não houve nenhum baile enquanto ela esteve em
Berkshire. As poucas ocasiões em que David a viu em sociedade, desde então, ela esteve
muito ocupada guiando as alunas para aceitar qualquer dança para si mesma.
Uma pena. Ela dançava maravilhosamente. Sua graça eclipsava qualquer outra
mulher. A cascata de cachos castanhos se movia graciosamente a cada passo, e o vestido
azul aglomerava-se em torno dos quadris para dar a aparência de uma flor flutuando na
brisa.
Uma flor que o irmão parecia determinado a arrancar. Sempre que podia, dava
um olhar furtivamente provocante ao seio dela.
David apertou as mãos para não ir até ela e arrastá-la para longe de Giles. Ele se
ocuparia do irmão mais novo mais tarde. Por enquanto, iria se contentar imaginar como
seria estar no lugar do homem, apoiando a mão na cintura fina, sorrindo para aqueles
olhos brilhantes... fazendo-a rir como Giles estava fazendo.
Ela e Giles tinham acabado o circuito final e música do piano estava morrendo,
quando uma comoção no corredor chamou sua atenção.
— Eu não vou esperar, maldito! — Gritou uma voz que ele reconheceu muito
bem. — Quero saber o que está acontecendo lá dentro!
David teve apenas alguns segundos para se recompor antes que um jovem
desalinhado irrompesse na sala, com o rosto vermelho de raiva. Todos na sala
congelaram, exceto Winters, que estava sussurrando a esposa, provavelmente tentando
determinar quem era o homem.
O resto deles sabia muito bem. Richard Linley era o irmão de Sarah. E ele estava
claramente bêbado.
Droga.
— Boa noite, Richard. — David foi ao encontro do cunhado. — O que o traz aqui
esta noite?
— Não posso acreditar! — Richard exclamou. — Você está dando um
baile? Aqui?
A mãe de David levantou-se de trás do piano.
— Não é uma festa, querido, apenas um pequeno assunto familiar.
— Com dança? — Balançando um pouco sobre os pés, deu a David um olhar
acusador. — Seria como dançar sobre o túmulo dela!
A culpa apunhalou a consciência de Davi.
— Não seja bobo, Richard — começou a mãe dele. — Apenas...
— Relaxe, mãe! — David ordenou. Capturou o jovem pelo braço e pediu para
irem até a porta. — Vamos continuar essa discussão em outro lugar, ok?
— Bem, não quer ter problemas na frente de seus amigos, hein? Ela sempre disse
que não se importava com nada, só as aparências!
Escutar a acusação favorita da falecida esposa através da voz do cunhado foi
desconcertante. Não tentou negar, mas terminou de arrastar Richard para fora da sala.
O jovem se soltou dele olhando-o com um ar beligerante.
— Nunca se importou nem um pouco com ela. Nem um pouco!
— E você fez? — Rompeu David. — A convenceu a jogar cartas com você e seus
amigos, a apresentou aos credores. Pode ser que também tenha lhe dado a navalha com
a qual cortou os pulsos.
Nesse momento Richard empalideceu, e David amaldiçoou por deixar-se
estimular por um jovem bêbado e falar tão cruelmente.
Abaixo a voz.
— Perdoe-me Richard. Não foi minha intenção. Culpar os outros não nos faz
bem. Ela se foi, e não há nada que possamos fazer sobre isso.
Quando Richard ajeitou a roupa e olhou para o chão, David relaxou uma
fração. Uma vez que o temperamento do homem enfraqueceu, tentou raciocinar com
ele. Especialmente se poderia trazê-lo de volta a sobriedade.
— Agora — continuou David, — por que está aqui? Não é habitual que você
venha me visitar à noite.
Olhando nervosamente onde vários membros da família de David se assomavam
para ver o que estava acontecendo, Richard disse: — Nós poderíamos ir para um lugar
mais privado?
— Claro. — Dizendo a um servo para levar café ao escritório, David levou o
cunhado para lá. Tinha certeza sobre o que Richard queria discutir, e ele precisava do
homem sóbrio para isso.
Assim que eles entraram, Richard deixou-se cair em uma cadeira e enterrou a
cabeça nas mãos. O gesto lembrou David quando ele era muito jovem.
Aos vinte e três anos, Richard era o irmão mais velho de Sarah e herdeiro do rico
pai banqueiro. Quando David o conheceu, tinha começado a cair regularmente nos maus
hábitos habituais do jovem rico, como bebida, jogos de azar, e libertinagem. Uma vez que
havia atingido a maioridade, no entanto, parecia havia começado a amadurecer. Então
Sarah morreu. Agora que o pai estava no fim das forças para lutar novamente com ele.
Embora inicialmente Linley pai tinha assumido que David não era mais que outro
caça fortuna, o homem mudou de opinião ao longo do tempo.
Depois que David devolveu a fortuna da família, com a ajuda de investimentos
astutos e dinheiro de Sarah, Linley pai começou a consultá-lo sobre assuntos de
negócios. Estavam em tão bons termos, nos últimos anos, que também passou
recentemente a pedir a David assessoria mais pessoal... sobre como lidar com o filho
imprudente.
David temia ter sido de pouca ajuda. A morte de Sarah tinha enviado o jovem em
uma espiral descendente. Como sua querida Sarah, Richard sempre foi a única pessoa na
obtenção de seu afeto. Sem ela, para estragá-lo e acaricia-lo, ele parecia perdido nestes
dias, e nem David nem o pai Linley sabiam o que fazer a respeito.
— O que posso fazer por você está noite? — Perguntou David, nunca sabia se
usava um tom severo ou de indulgencia com o menino. A austeridade não tinha servido
com Giles, mas tampouco indulgência. Alguns homens tinham de ser atingidos a sua
maneira na idade adulta por conta própria. David suspeita que Richard era um deles.
Richard levantou a cabeça e tomou uma xícara de café que o criado tinha trazido,
segura entre em suas mãos, olhando fixamente para aprofunda escuridão.
— Preciso de mil libras. O pai não irá me dar, e pensei...
— Nós vimos na semana passada — disse David com suavidade. — Não me
importo de cobrir suas dívidas num primeiro momento, mas agora seu pai me pediu que
não o faça. Ele diz que só vai manter seu jogo, e não quer alimentar seu vicio.
Os pedidos de dinheiro se iniciaram após a morte de Sarah. Antes disso, Richard
nunca pediu um centavo a David. De acordo com o pai deste, até então ele tinha dívidas
de jogo de pouca importância. Mas por esses dias parecia determinado a seguir os passos
de Sarah. Isto alarmou tanto a David como o fez a Linley pai.
Richard bebeu o copo com tremor.
— Não é para o jogo, eu juro. É... que... bem, há uma menina com quem tenho um
tipo de... tenho um filho, e ela diz que vai contar ao pai se eu não lhe der dinheiro.
— Então ela quer chantagear você, não é isso? — David disse, sem deixar de
mostrar desaprovação no tom.
Uma extensão de rubor apareceu nas bochechas do jovem enquanto ele deixava a
xícara na mesa.
— Não posso deixá-la dizer ao pai. Ele vai me esfolar vivo!
— Muito bem. Envie a menina para mim, e eu vou me encarregar dela.
A expressão de pânico atravessou o rosto de Richard e isso lhe disse toda a
história. O rapaz estava mentindo.
David franziu a testa.
— Certamente você não acha tão tolo para dar mil libras sem conhecer a menina.
Richard levantou-se, com os punhos cerrados.
— Você é tão ruim como pai! Os dois, tão pomposos e seguros de si mesmo. O
dinheiro nem sequer é seu! É de Sarah! Droga! E ela gostaria que me ajudasse. Você sabe
que ela faria!
— Mas eu não sou Sarah. sei que às vezes faz falta uma mão firme para orientar
um jovem. — A mão firme que seu próprio pai tinha exercido. — Vá ver o seu pai. Diga a
verdade. Prometa tudo que precisar, em seguida mantenha a promessa. Essa é a única
maneira de parar com essa loucura.
— Talvez não queira terminar com isso, — Richard disse com um sorriso. — Talvez
não queira acabar como você e ele, velho e assentado e chato.
— Essa é a sua escolha. Mas falando por experiência própria, os jogos de azar, a
libertinagem, e beber podem privá-lo de tanto que depois vai se arrepender de perder.
Claro, as palavras caíram em ouvidos surdos. Normalmente ocorria.
Assim que Richard saiu furioso, David se deixou cair exausto na cadeira atrás de
sua mesa. Porra, às vezes sentia-se velho e chato. Mas era melhor que sofrer as agonias
do remorso pelos erros cometidos na juventude.
Ok, talvez ele não tivesse se salvado disso. Mas se recusou a ficar de braços
cruzados e não fazer nada enquanto Richard cometia os mesmos erros. Ele obrigaria o
homem a ver o sentido... ainda que tivesse que cortar com ele completamente para
conseguir.

Do ponto perto da porta do corredor, Charlotte e Giles viam além da tempestade


quando Richard, se dirigiu para as escadas.
— Pobrezinho — ela sussurrou.
— Pobrezinho, o caramba — rosnou Giles, em seguida, para perceber que estava
falando com ela, acrescentou: — Desculpe a minha linguagem, mas esta deixando David
maluco.
— Espere um pouco. O jovem está de luto.
E ver como os parentes politicos eram dedicados a frivolidade poderia não ter
ajudado. Charlotte provavelmente não deveria ter deixado Giles convidá-la para dançar,
mas fazia tanto tempo desde que teve a oportunidade de erguer o calcanhar, e Lady
Kirkwood fez soar perfeitamente como uma dança inofensiva.
Ela fez uma careta. Naquele momento, David apareceu, e ela percebeu que havia
algo errado com ele, ela deveria ter tomado sua posição.
— Seu irmão se encontra bem?
Giles ainda estava olhando para a porta com uma expressão distraída.
— Giles — espetou.
— Hmm? — Ele balançou a cabeça para ela. — Desculpe, estava...
pensando. Você não tem ideia do quão terrível que foi para David desde que casou com
aquela jovem. Mesmo com apenas onze anos de diferença entre eles, ele era mais um pai
do que marido para ela, já que ela não tinha bom senso naquela cabeça. Eu tenho certeza
que é por isso que Richard é encenando o mesmo papel. — Passou os dedos pelos
cabelos. — Mas suponho que não deveria falar mal dos mortos.
— Não precisa se desculpar — ela objetou, apesar da virulência do tom de voz a
ter surpreendeu. — Todos nós sabíamos o quão difícil... Sarah poderia ser as vezes. Eu
desejava ter sido mais capaz de inculcar nela os perigos do jogo.
— Não era apenas o jogo. Sarah tinha outros problemas.
Charlotte olhou.
— O que quer dizer?
— Ela tinha um lado sombrio. Um que nem mesmo mostrou a David.
Um arrepio percorreu a espinha de Charlotte.
— Mas ela o indicou?
Ele olhou para ela, de repente cauteloso.
— Não importa mais. Ela já está morta.
Ela estava prestes a pinçar sobre - o lado escuro – de Sarah quando David
apareceu na porta. No momento em que o viu, a garganta de Charlotte ficou apertada
com uma mistura de preocupação e compaixão. Ele tinha o olhar de um homem que
havia lutado com os demônios e acabou empalado em uma forquilha por isso.
Ela queria confortá-lo, mas este não era o momento nem o lugar. Ele precisava da
família agora.
A propósito, caminhou em direção a ele.
— Acho que é melhor eu ir — murmurou. — Não quero me intrometer.
— Você não está se intrometendo. — Ele olhou para onde as irmãs e a mãe
estavam conferenciando. — Mas se você quiser ir, vou levá-la para casa. Apenas me dê
um momento para falar com minha mãe.
— Eu vim em minha própria carruagem. Não preciso de escolta.
Enrugou a testa.
— Londres é perigosa a esta hora da noite, Charlotte.
— E é perigosa durante todo o ano, no entanto, estou entrando e saindo sempre
que quero. — Quando ele lhe deu um olhar sombrio, acrescentou mais suavemente, —
Terence não me falha. Além disso, se você me acompanhar a casa, como planeja voltar?
Ele suspirou.
— Pelo menos deixe-me vê-la sair.
— Muito bem. — Na verdade, ela agradeceu a oportunidade de falar com ele em
particular e certificar-se de que ele estava bem.
Demorou alguns minutos para agradecer a anfitriã e dizer adeus aos
amigos. Depois que ela e os Winters marcaram um dia e hora para que Amelia visitasse a
escola com suas filhas, ela reuniu-se com David.
Desde então, parecia impaciente para que ela se fosse, dada a maneira em que a
apressou a descer as escadas. Mas quando chegaram ao fundo das escadas, percebeu que
a impaciência dele não era para isso. Antes que pudessem ir para a entrada ou atrair a
atenção dos servos na outra extremidade da passagem, empurrou-a para a biblioteca. Em
seguida, fechando a porta, a pegou nos braços.
— David.
— Nem uma palavra, Charlotte — murmurou. — Não agora. Apenas me dê isso.
Em seguida a beijou com um intenção tão feroz que seus dedos dos pés
enrolaram dentro das sapatilhas. Oh, céus, o que o homem podia fazer com aquela
boca. Era suave e audaz ao mesmo tempo, e tão necessitado que fez seu coração doer
por ele.
Quando ele por fim retrocedeu, deixou cair a bolsa para colher as lapelas e a
puxá-las a sua vez, disposta a evitar por fim ao interlúdio.
Esse foi todo o incentivo que ele precisava. Com um gemido gutural, s empurrou
contra a porta, atacando sua boca freneticamente, empurrando a língua profundamente
enquanto o corpo magro deslizava contra o dela de uma forma que era, sem dúvida
íntima. Já sentia a borda da carne pressionando com insistência seu ventre. As mãos dele
corriam para cima e para baixo os lados, sobre os quadris e até os seios.
Mas quando encheu as mãos com eles, ela o empurrou para trás.
— Não — disse em voz baixa. — Não fica bem aqui.
Um sombrio conhecimento explodiu em seu rosto. Oh, Senhor, isso havia sido o
mesmo que dizer que em outros lugares ficaria bem!
Mas era verdade. Ela o queria. O sempre o quis. E seria tão ruim ter um caso? Ela
era uma mulher adulta, poderia fazer o que quisesse. E ele não era casado.
Inclinou a cabeça para a bochecha, arrastando a boca aberta ao longo da
mandíbula a orelha.
— Então onde? — Murmurou. — Quando?
Ela mal podia pensar com que ele ainda cobrindo seus seios, manuseando os
mamilos através do tecido.
— Devemos esperar até que você tenha terminado o luto.
— Não, droga. — Ele lambeu a orelha, mordendo o lóbulo com os dentes. — Eu
não vou fazer isso. E nem você tampouco quer, maldição.
Ele estava certo.
— Bem... então... você tem que ser discreto.
— Discreto, sim — ele suspirou concordando em seu ouvido, apesar de sacudir na
base das coxas, a ereção despertando-a e marcando-a como dizendo que ela já estava
destinada a cama dele.
A mente dela dava voltas, o corpo em brasas pela sensação dele.
— Só sei que não pode ser aqui.
— Certo. — Mas chegou entre as pernas dela e puxou-a para cima, empurrando-a
para imitar o ato que queria realizar. — Não aqui.
Ela devia estar louca, tanto quanto ele, levando em consideração que poderiam
ser descobertos a qualquer momento.
— Temos que parar.
— Sim. — No entanto, tentou buscar sua boca novamente.
Desta vez, ela empurrou-o o suficiente para fazê-lo retroceder. O olhar dele a
marcava como um ferro em brasa, o que provocou um calor em seu peito.
— Não aqui — disse com firmeza. — Não esta noite. — Ela teve que escapar
dele. Para pensar sobre o que estava fazendo, antes de cair em algo que lamentaria. —
Tenho que ir. Podemos falar sobre isso mais tarde.
— Amanhã. — Os olhos dele brilhavam à luz do fogo. — Vamos discutir isto
amanhã, quando eu levá-la para ver as propriedades.
— Propriedades? — Ela disse sem compreender.
— As que usará para o novo prédio da escola. Você se lembra? Então não terá
que lidar com uma pista de corridas ao lado?
— Oh. Certo. — Ela tinha esquecido por completo isso. Nesse momento ela mal
podia pensar.
Ainda tentando recuperar o fôlego, inclinou-se para recuperar a bolsa, e, em
seguida, lembrou de outra coisa.
—Não disse a Terence que me daria a lista de propriedades esta noite para que
eu pudesse dar uma olhada?
— É claro —. Buscando no bolso do paletó, tirou um pedaço de papel dobrado,
mas quando ela a pegou, ele agarrou-a pelo pulso. — Você precisa prometer que não irá
visitá-las sem mim.
— Por quê?
— Porque é perigoso para uma mulher fazer tais coisas sozinha. Alguns
vendedores não têm escrúpulos, e em algumas das propriedades vagas podem haver –
vagabundos.
— Tenho Terence.
Com o cenho franzido, aumentou a pressão no pulso.
— Não lhe darei a lista a menos que você prometa.
— Oh, muito bem. Eu prometo. — Quando ele deu a lista, ela a guardou na bolsa
e abriu a porta para espreitar o corredor. Felizmente, os servos de David estavam
envolvidos em uma discussão acalorada, deixando ambos livres para escapar e ir para a
entrada, como se tivessem acabado de descer as escadas.
Enquanto esperava que a carruagem chegasse, muito pouco foi dito, mas era
dolorosamente conscientes do corpo dele junto ao seu, do calor e força, e de que poderia
ser dela quando quisesse. O conhecimento era tão emocionante como assustador. Meu
Deus? Quando se converteu em algo justificável?
Então ela pegou o mesmo criado que tinha olhado-a antes, e corou. Que lacaio
impertinente. Porque o olhar que deu ao patrão era positivamente malévolo.
David parecia não perceber, já que a levou adiante e desceu as escadas quando a
carruagem veio, como se fosse seu direito.
Talvez fosse. Mas só porque ele tinha feito assim.
— Na verdade, você nunca respondeu à minha pergunta desta tarde, sabe, —
disse ela enquanto se aproximava do veiculo.
— Que pergunta?
— Sobre por que você decidiu seguir o legado de Sarah sobre a escola, apesar de
que estaria perfeitamente dentro de seus direitos não fazê-lo. Trinta mil libras é muito
dinheiro. Ninguém teria sido mais sábio se tivesse mantido essa informação para si
mesmo. Por que não o fez?
Ele lhe dirigiu um olhar longo e ardente.
— Você já sabe a resposta, querida.
Seu sangue disparou com as palavras, e ela tropeçou. Ele passou o braço em volta
da cintura dela e se aproximou o tempo suficiente para deixá-la sem fôlego.
No momento em que chegou o veiculo, ela se viu tentada a convidá-lo a ir para
casa com ela e jogar a precaução ao vento. Mas então viu as características
cuidadosamente impassíveis de Terence quando desceu a escada para ela, e pensou
melhor.
Enquanto Terence tomava seu lugar na parte de trás do veiculo, David disse: —
Você não respondeu minha pergunta esta noite tampouco.
— Qual? — Perguntou ela enquanto se acomodava no assento.
Ele inclinou-se para a porta aberta, a mandíbula tensa.
— Exatamente o quão perto está o seu amigo Godwin para você?
Ela riu. Era horrível demais que o fizesse, mas ela estava contente de ver que
David estava se comportando como um amante ciumento. Será que lhe digo a
verdade? Ou o atormento um pouco?
Optou pela verdade.
— Deixe-me colocar desta forma, ele não foi nem perto de um amigo para mim,
como tem sido você.
Parte da tensão abandonou o rosto dele.
— Bom. — Seguiu pelo corpo dela com um olhar quente que a fez estremecer. —
Porque pretendo ser muito mais ainda.
Tão prudente, como poderia ser, alegrou-se ela por isso.
— Boa noite, David, — disse em voz baixa, secretamente deliciada com o
frustrado olhar faminto no rosto dele. Refletiam seus próprios sentimentos.
— Até amanhã, querida —. Em seguida, fechou a porta, gritando para o
cocheiro. — Adiante!
Enquanto o cocheiro se afastava, nem Charlotte nem David perceberam que
Richard Linley estava à espreita nas sombras dos degraus que conduziam ao porão.
Ele estava observando toda a cena.
E o único olhar em seu rosto era de raiva.
CAPÍTULO QUATORZE
David passou a noite longa e fria com sonhos de Charlotte deitada em sua cama,
toda a pele de porcelana ruborizava selvagenmente, enquanto ele fazia todas as coisas
más e obscenas que tinha imaginado. Acordou duro e agitado, a mão fazendo o que
incitava seu corpo. Depois de conseguir sua liberação, ele ficou lá olhando o teto,
desejando que o coração voltasse ao normal.
O que estava errado com ele? Por que estava de volta onde começou há dezoito
anos, tão obcecado com Charlotte, como sempre?
Havia pensado em si mesmo vitorioso tirando-a da mente uma vez que ela
estivesse casada. Decidido a começar com Sarah, que tinha deixado de lado o sonho dele
e Charlotte. E mesmo depois que a esperança de um casamento decente com Sarah
morrer, ele conseguiu encontrar diversão com os amigos, na concepção de edifícios, nos
investimentos.
Na verdade, havia convencido a si mesmo que tinha superado a louca paixão por
Charlotte, ao corresponder-se com ela como um amigo perfeitamente desinteressado, e
tinha entorpecido o calor do desejo juvenil no calor simples afeto.
Que tolo ele era. Seu desejo ardia tão ferozmente agora como sempre. E, a julgar
pelo que tinha feito e dito na noite anterior, ela também ocorria o mesmo. Lhe deu uma
série de possibilidades para protestar, e ela só tinha protestado a logística do mesmo.
Desceu as pernas da cama. Enquanto ela estivesse disposta, ele poderia lidar com
a condenada logística.
Com este fim, ele se vestiu e se dirigiu para fora de Londres. Tinha algumas
paradas para fazer antes de chegar a Richmond para levar Charlotte até as
propriedades. Felizmente, o dia ensolarado significava que poderia levar o faeton, e não
haveria espaço para qualquer outra pessoa, além dele, ela e seu tigre. O lacaio lutador
teria que ficar em casa, finalmente teria a oportunidade de ficar a sós.
Graças a Deus.
Chegou na metade da manhã na escola para encontrar Terence correndo pela
porta afora, com Charlotte falando em voz alta com alguém no interior.
— O que aconteceu? — Exigiu David quando encontrou-se com o lacaio no na
metade das escadas.
— A senhora Harris abordou o Sr. Watson, que passeava pela propriedade ao
lado, e ele lhe disse algo horrível sobre a venda. Então agora vou para o escritório do
advogado para ver se primo da senhora já respondeu a carta.
Ela tinha falado com o potencial comprador Pritchard?
Confundiria a mulher ao inferno! A última coisa que David precisava era a
intromissão dela nessa situação. Ele não tinha certeza do que Watson poderia saber da
disposição de David com Pritchard, ou o que o maldito poderia ter dito a ele sobre isso.
— Ela está com um humor delicado, senhor — disse Terence. — Esta pode não ser
a melhor hora para uma visita.
— Vou ter a certeza de pisar delicadamente. — Pelo menos até que pudesse
escapar e interrogá-la em particular. A medida que continuou subindo as escadas, a ouvia
caminhar ao redor do vestíbulo, queixando-se com o mordomo.
— Aquele pequeno verme deveria ser fuzilado! Como ele se atreve a falar assim?
Ele é tão ruim quanto o Sr. Pritchard, juro.
David entrou na escola, mas ela estava zangada demais para perceber.
Com sua indignação, Charlotte era uma visão muito rara, movendo-se com os
cachos esvoaçantes sob seu chapéu e luvas.
— E o que ele quis dizer com suas insinuações sobre o primo Michael? — Bramou.
Um arrepio percorreu a espinha dorsal de David, o mordomo o notou.
— Senhora — disse calmamente. Ela o ignorou.
— Aquele desgraçado fez parecer como se realmente esperava fazer negócios
com meu primo no futuro!
— Madame, tem uma visita! — Interrompeu o mordomo. Isso a deteve em
seco. Quando ela se virou para encontrar David em pé, sua boca abriu.
— David!
— Bom dia, Charlotte — disse cautelosamente. — Vim em um momento ruim? -
— Não... eu... eh... É bom ver você. — Considerando que a expressão dela se
suavizou, ela não parecia como se soubesse algo da verdade. Graças a Deus. Porque só a
visão dela no vestido de seda vermelho fez seu coração acelerar.
Tinha uma linha de pequenos arcos que se estendiam a partir do decote até a
bainha, e ele se viu perguntando se realmente seria fácil de desamarrar e quanto tempo
seria necessário para lidar com isso... com os dentes.
Teve que parar de pensar em tirar as roupas dela. Neste instante havia assuntos
mais importantes.
— Pronto para ir dar uma olhada nas propriedade? — Ela olhou nervosamente
para a porta onde seu faeton esperava.
— Agora?
— Nós concordamos em fazer nesta manhã, e faz um bom dia. Pensei que
poderíamos muito bem tirar o máximo proveito dela. — David enfiou o braço. — Tudo
certo?
— Mas eu mal tive a chance de olhar a lista!
— Sem desculpas, Charlotte. — Baixou a voz. — Além disso, dar-nos uma
oportunidade para terminar a nossa conversa... de ontem à noite na biblioteca. — Ela
corou profundamente. Isso alterou o sangue dele. Mas, justo quando temia que tivesse
dito algo que a fizesse resistir, ela endireitou os ombros.
— Muito bem. Deixe-me ir colocar uma das professoras responsáveis enquanto
eu estiver fora.
— Eu posso cuidar disso, minha senhora, se desejar — o mordomo disse com um
brilho nos olhos. Pelo menos David tinha um servo ao lado dele.
— Oh — ela murmurou. — Obrigada.
Momentos depois se forma. A medida que o faeton de David viajava pelo
caminho, ele poderia dizer que estava muito agitado. Esperou até que estivessem bem
longe na estrada antes de abordar o assunto.
— Então, ouvi dizer que teve umas palavras com Watson — Ela murmurou um
juramento claramente impróprio de uma senhora. Ele não pode deixar de rir.
— Seu vocabulário mudou substancialmente nos últimos anos.
— Isso não é engraçado.
— Pessoalmente, acho que é bastante divertido. Raramente se tem a chance de
ouvir uma maldição de uma professora formal e impecável.
— Então você deveria ter estado lá quando falei com o Sr. Watson — disse ela
tristemente. — Receio ter perdido os estribos... um pouco.-
— Um pouco? — Ela ergueu o queixo.
— Muito bem. Admito ter feito estragos com ele. Você não pode me culpar,
aquele homem é o diabo encarnado.
— O que disse Watson? — David segurando a respiração, rezou para que ela
confiasse nele. Sentindo o olhar em seu rosto, ele queria aparecer levemente interessado
enquanto se concentrava em guiar os cavalos correspondentes ao longo da estrada rural
cheia de buracos. Ele soube quando ela decidiu confiar nele na forma como se apoiou em
seu braço e soltou um suspiro profundo. — Confirmou o que você disse sobre a licença. E
quando eu... perdi a paciência, deu a entender que o primo Michael está jogando comigo
e que é um falso —. O medo se agitava em sua barriga como um veneno.
— De que maneira?
— O Sr. Watson parecia insinuar que minha propriedade também estava prestes a
ser vendida. — Ela devia ter entendido mal. Isso não fazia sentido, Pritchard não poderia
vender.
— Ele sabe quem é seu primo? — David perguntou, perguntando-se mais uma vez
a quantidade de informação que Watson sabia sobre a sua situação com Pritchard.
— Eu não me atrevi a perguntar, dado os termos do meu contrato com o primo
Michael. Se ele descobrisse...
— Eu sei, você perderia o aluguel baixo. Então, o que exatamente Watson disse?
— Foi muito misterioso. Disse que o proprietário do imóvel tinha o interesse de
fazer alguma coisa útil muito em breve, e seria melhor eu estar pensando em sair
rapidamente antes que ficasse na rua. — Ah, isso tinha mais sentido. E Watson deveria
agradecer por lhe dar um aviso.
— O homem tem um ponto. Um dia, seu primo será forçado a subvencionar.
— Mesmo se o fizer, nunca me colocará na rua sem me dar a oportunidade de
tomar outras providências — disse com firmeza. — O Sr. Watson estava fazendo ameaças
vazias para que eu saísse correndo. Ele não quer ter que lidar com os vizinhos
reclamando sobre sua pista de corrida. — David dentes cerrados.
— Tem certeza que é tudo? Seu primo ainda é um estranho para você, como são
seus motivos. Você não tem ideia do por que cobra um aluguel tão baixo.
— Não conhece esse homem.
— Nem você tampouco.
— Conheço seu caráter. — David murmurou uma maldição em voz baixa. O que
ela não sabia nada sobre - seu personagem - poderia encher um carrinho. — Não pode
entender, David. Quando comecei a minha escola, eu só tinha vinte e dois. Até então,
tinha sido apenas um sonho, e percebi que levaria anos de trabalho como professora
antes que pudesse considerar a ser uma diretora em algum lugar. — Deixou escapar uma
respiração irregular. — Então, recebi a carta dizendo que sentia-se mal por Jimmy e por
me deixar tão pobre. Que se sentia obrigado por honra a fazer a coisa certa. — Ela olhou
para os campos que passavam pelo caminho. — Você sabe melhor do que ninguém o
quão pouco merecia tal consideração.
Deus! como poderia suportar ouvir isso?
— Charlotte
— Não, deixe-me terminar. — Seus dedos retorceram a alça da bolsa. — Agora sei
que provavelmente não é primo do meu marido. Talvez seja um dos compatriotas do meu
marido que me deu um pouco de dinheiro ou um homem rico cuja filha eu ensinei — .Ela
endireitou os ombros. — Não me importo quem é. Ele me ajudou a mudar a carnificina
que tinha feito a minha vida em algo maravilhoso. Ele viu o valor do que era então,
acreditou em mim como ninguém tinha feito. Sem ele, eu nunca poderia ter realizado o
meu sonho tão cedo.
Seu sonho? Meu Deus. O que aconteceria se Charlotte não pudesse ser persuadida
a fechar a escola, mesmo depois de se casar? E se fosse algo mais do que uma fonte de
renda para ela? Ele nem sequer tinha considerado isso. Mas ela não era tola o suficiente
para pensar que poderia ser a esposa de um visconde, e também ter em funcionamento
uma escola para meninas. Ela teria responsabilidades, sociais e de outras índoles
também.
Charlotte reconheceria. Certamente faria.
— Então você vê — disse em voz baixa — Não vou tolerar que ninguém me diga
nada de ruim sobre meu primo. A ele devo tudo que o homem tem feito por mim. Seja
quem for. — Ele se contorceu ao ouvir a adoração na voz dela. Ele não podia acreditar
que ele estava com ciúmes de si mesmo! E o que tornava pior era saber que o tipo de
quem estava com ciúmes não merecia a gratidão dela. Nunca havia merecido.
Talvez eu devesse dizer.
Sim, e então ela odiaria tanto a ele quanto Michael. Ela lavaria as mãos dele para
sempre. Não haveria volta a partir dessa revelação. Tinha que manter o curso. Era a única
maneira.
— Então — ela disse levemente, deixando claramente de lado o tema de seu
primo. — Onde nós vamos?
— A propriedade em Hampstead Heath. E, em seguida, umas duas em Acton que
ficam pelo caminho das outras.
— Porque, estas são boas áreas.
— Não soa tão surpresa.
— Só penso na pequena quantidade que posso pagar...
— Acredite em mim, nenhum delas está em boas condições. A vantagem é, que
tem edifícios construídos. Dessa forma, você tem uma escolha, se decide construir, pode
derrubá-los e começar de novo. Se quiser economizar dinheiro reformando-o, então
também pode fazer isso.
— Você tem permissão de Sarah para isso? — Perguntou.
— O testamento de Sarah permite fazer o que o executor diz. — Literalmente. —
Enquanto qualquer edifício acabe por levar o nome dela, se estará seguido à letra da
lei. — Ele balançou as rédeas. — Não vi os dois primeiros. Os edifícios não devem estar
em condições de reforma, ou pode não ser grande o suficiente para atender às suas
necessidades. Mas a partir de hoje, você deve ter uma ideia melhor do quais são suas
reais necessidades. — Eles estavam se aproximando de Kew Bridge sobre o rio Tamisa. De
repente, a sentiu enrijecer ao lado dele. Foi então que me lembrou de sua aversão à água.
— Você está bem? — Perguntou enquanto desacelerava os cavalos.
— Sim. — Ela lhe deu um sorriso. — Não posso acreditar que você se lembrou da
minha boba... peculiaridade.
— Não é bobagem. E, em geral, sempre me lembro de uma mulher que fez em
pedaços em meus braços. Não me entusiasma que isso aconteça novamente. Não por
medo, de qualquer maneira, — brincou. Ela sorriu corajosamente.
— Não é um problema. Cruzo a ponte toda vez que vou a cidade. Estou bastante
acostumada com isso. — Observando sua palidez, lançou um olhar cético.
— Você não parece muito acostumada.
— Vou ficar bem, prometo. Basta acabar com isso de uma vez.
— Está bem. — Tomando-lhe a mão, coloco-a na dobra do cotovelo e, em seguida
exortou os cavalos a uma velocidade mais rápida. — Não vou deixar que nada te
machuque, se eu puder evitar.
— Eu sei. — No entanto, se agarrou ao braço dele com tanta força, quando se
dirigiram sobre o rio Tamisa, que se perguntou se ela teria deixado com
hematomas. Assim que chegaram do outro lado, relaxou, embora manteve a mão em seu
braço.
— Eu já agradeci por me levar para ver essas propriedades?
Ele bufou.
— Até agora, você tem agido como se estivesse montando um ataque contra sua
vida. — Uma risada escapou dela.
— Pode ajudar que odeio a ideia de arrancar a raiz de toda a escola? — Ela
apertou o braço dele. — Mas tenho a disposição de manter minha mente em aberto. E
estou feliz de que seja você quem me leve. Vê? Posso ser razoável.
— Certo. — Razoável seria ela deixá-lo lidar com isso de agora em diante.
Isso só aconteceria se pudesse convencê-la a se casar com ele. Uma coisa de cada
vez . Cama primeiro. O casamento depois, naturalmente o seguiria .
E uma vez que se casassem, certamente os problemas da escola não importaria
tanto para ela. Ele esperava que não, de qualquer maneira. Porque depois de chegar a
primeira propriedade e o agente da terra levou-os ao redor, David percebeu que
convencê-la a mudar a escola poderia ser muito difícil. Depois de anos em uma bela
mansão Isabelina, ela tinha expectativas muito altas.
Antes que pudessem entrar no interior, Charlotte se opôs ao pequeno tamanho
do lote, ao mau estado da unidade, a falta de árvores adequadas.
— Você pode plantar árvores — disse ele.
— Sim, mas passariam muitos anos antes que pudéssemos ter árvores do
tamanho das que existem em nossa propriedade. — Ela estaria fora dali muito antes.
— E cortarmos as sebes dali para assemelhar-se a árvores? — Ele tentou.
— Muito engraçado. Árvores são importantes, você sabe. Elas fornecem sombra.
— Sombra é certamente algo que toda jovem precisa para uma educação
adequada. E agora você me diz que o sol deforma a mente. — Ela riu.
— Eu prefiro árvores.
— Está tudo bem. A seguinte propriedade tem muitas árvores.
Então, eles foram para Acton. Infelizmente, a propriedade não só tinha um
bosque virtual, mas também tinha jardins cheios de mato e um edifício de estilo Palladian
que tomaria muito trabalho. No interior, as molduras desmoronavam, era necessário
repintar todas as paredes e tetos estavam negros por meio século de fumaça de carvão e
velas. Pior ainda, a escadaria estava pobre e precisava de consertos. Contudo, um pouco
de esforço, poderia obter tirar toda a fuligem. Mas Charlotte não estava de acordo.
— Esta muito escuro — anunciou ao agente depois que ele os guiou através de
todo o lugar. — Não há janelas suficiente.
— Já vejo — disse David secamente. — O lado de fora da última propriedade
tinha muito sol, e no interior dessa tem muito pouco. Talvez deva explicar o conceito de
sol para você. Normalmente ele permanece fora. É por isso que temos velas no interior.
Ela ergueu as sobrancelhas.
— Já acabou de zombar de mim?
— Não tenho certeza. Está pensando em dizer algo mais ou continuar?
— Estou pensando em sair daqui e ir para a próxima propriedade, se você não se
comportar bem. — Ela repreendeu.
— Você não sabe onde fica.
— Então vou roubar seu faeton e vou para casa.
— Ah, mas você não quer perder a próxima propriedade.
— Por quê?
— Porque tem um estábulo o dobro do tamanho de sua escola atual. — Ela
suspirou.
— Você conhece muito bem o caminho para o coração de uma mulher. — Deus,
isso ele esperava.
Viajando pelo campo o deixava tão dolorosamente faminto por ela. Muito, muito
faminto. Apenas a presença do agente o manteve longe de levantar os braços e tomar o
caminho de volta para a carruagem e beijá-la no mesmo estado de luxúria irracional que
esteve cozinhando nas últimas duas horas.
Felizmente, na seguinte propriedade não teria nenhum agente de terra
esperando por eles. Ele sorriu.
— Acho que podemos visitá-la amanhã — disse, enquanto a ajudava a subir a
plataforma. — Dessa forma, eu poderia ir a escola e ver se há uma carta do meu primo.
Não havia nenhuma carta. David tinha a esperança de ter uma ideia melhor do
que dizer após o passeio hoje.
— Prometo que você vai adorar esta propriedade. — Ele subiu para o banco do
condutor e tomou as rédeas. — Além disso, parece claro que seu primo se decidiu por
uma tática de negligência benigna. Ele calcula que, se continuar ignorando suas cartas,
você se dará por vencida e desaparecerá.
— Não quero ouvir mais queixas sobre o meu primo — queixou-se, enquanto
partiram. — Fala como Terence. Ele não confia no primo Michael tampouco. — Ele a
olhou.
— Seu guarda-costas não confia em nenhum homem que fica rondando você.
— Guarda-costas? Ele é criado de uma senhora.
— Você pode tê-lo contratado como tal, mas o usa como um guarda-costas. — Ela
brincava com a alça da bolsa.
— O que o faz dizer isso?
— As mulheres não contratam pugilistas como lacaios. — Ele voltou a olhar para a
estrada. — Você sabia que ele matou um homem no ringue?
— Sim.
— O fato é que foi levado a julgamento por isso.
— E ele foi absolvido. Além disso ele deveria ter sido. Se o boxe não é ilegal, nem
mesmo deveria ter acontecido um julgamento. Ele merecia algo melhor, depois da
maneira como derrotou Jim Belcher em Salisbury.
David o boquiaberto.
— Não me diga que gosta de boxe —. Ela deu de ombros.
— Antes quando Jimmy estava vivo. Ele era um entusiasta, e sempre que me
levava eu tentava evitar que ele apostasse excessivamente. Embora não tenha visto. Era
um pouco sangrento demais para o meu gosto. — Sua voz caiu para uma fração. —
Especialmente quando as mulheres estavam lutando —. A verdade, o golpeou de
repente, tão dolorosa que fez que lhe doesse o peito.
— Seu pai costumava bater na sua mãe? — Ela o olhou em disparada.
— O Quê? Não!
— Não? — Ele alfinetou, não acreditava. Ela suspirou. — Não. Mas... chegou
muito próximo várias vezes. Acima de tudo, ele preferiu punição mais sutil. — Dado que o
bastardo não havia negado a ameaçar a filha com o que a aterrorizava a maior parte dos
anos, David podia imaginar que tipo de punição ele havia infligido a mãe dela.
Eles viajaram de alguma forma em silêncio antes dela falar novamente.
— Quando eu era criança, eu costumava rezar para que alguém interviesse e nos
defendesse, especialmente quando o pai dizia coisas cruéis da mãe, — disse ela em voz
baixa. — Eu pensei que se um homem pudesse conversar com papai alguma vez em nosso
nome, colocaria um fim ao assedio. Claro, não havia ninguém.
David queria mais do que qualquer outra coisa ter sido esse homem para ela.
— E de qualquer forma — continuou ela, —provavelmente não teria
funcionado. Somente o enfureceria mais .
Assim, uma vez que ela cresceu, contratou um lacaio que poderia sentar-se com
qualquer um que ela pedisse. Mas primeiro...
— Foi por isso que você se casou com Harris?
— O que você quer dizer?
— Você se casou para que ele pudesse protegê-la do seu pai depois que a carta
apareceu nos jornais? — Tardiamente, ele percebeu que se ela não havia enviado a carta
aos jornais, então ela não tinha previsto que o pai poderia puni-la por isso. — Quer dizer,
assumindo que o seu pai tivesse imaginado que você tinha escrito a carta.
— Oh, ele adivinhou, — ela disse oca. — Ele sabia que fui eu.
Um arrepio passou por ele. — Então por isso fugiu com Harris.
— Sim — admitiu. — Aquele mesmo dia. Enquanto papai seguia gritando com
mamãe a respeito, Jimmy chegou em casa e encontrou-me sozinha no jardim,
preocupada com o que iria acontecer. Ele se ofereceu para me levar. Eu sabia que meu
pai iria me trancar para sempre se não aproveitasse a oportunidade para fugir naquele
momento, então eu fiz. — David assumiu as rédeas, como se fosse uma tábua de
salvação. Harris tinha oferecido casamento porque ele não havia feito. Porque tinha sido
covarde demais, muito determinado a proteger a si e seu orgulho ao descobrir que
Charlotte tinha mudado para ser a noiva de seu inimigo durante a noite.
— Homem inteligente, o seu Jimmy — disse ele com voz rouca. Eles tinham
chegado a próxima propriedade. Chegou em frente do edifício, em seguida, virou-se para
ela. — Sabia o que conseguiria de você quando estava mais vulnerável.
— Não foi assim.
— Não? Não obteve o benefício do dote e herança?
— Sim, mas ele não o fez por esse motivo.
— Realmente? Então Harris não é a razão pela qual você infundi em suas alunas a
lição sobre como evitar caçadores de fortuna a todo o custo?
— Não. — Antes que pudesse responder a esta observação surpreendente, ela
saiu do faeton e subiu as escadas do edifício. Deixou as rédeas com o ajudante, e correu
atrás dela com uma sensação de medo pelo estado do edifício.
— Então, quem está certo? — Ela parou no degrau mais alto. — Onde está o
agente de terra? — Isso o distraiu por um momento.
— Não há ninguém. O proprietário deu-me a chave. Ele não queria vir aqui apenas
para mostrar a propriedade. Ele me disse para olhar em volta com o conteúdo do meu
coração.
Enquanto a notícia a golpeava, ela prendeu a respiração.
— Então... nós temos o lugar para nós? — Ele abriu a porta.
— Exatamente. — Mantendo a porta aberta, ele encontrou seu olhar
surpreendido com um de desafio. — Vamos entrar? — Olhou para onde o ajudante dirigia
o faeton para estábulos vizinhos, e uma pitada de pânico tocou seu rosto. Mas
desapareceu em um instante, substituído por um sorriso hesitante.
— Por que não? — O sangue retumbando nos ouvidos. Ele a levou para dentro,
em seguida, fechou e trancou a porta atrás deles. Mas ele não tinha esquecido a conversa
anterior. Contra a porta, ele plantou as mãos em cada lado de seus ombros.
— Responda a pergunta, Charlotte. Se Harris não inspirou suas lições, então quem
foi?
— Sinto muito, David, — disse ela, seus olhos nunca encontraram os dele quando
disse — Foi você.
CAPÍTULO QUINZE
Charlotte fez uma careta ao ver a raiva que queimava o rosto de David.
— O inferno se fui eu — ele rosnou.
— Por favor, você tem que entender.
— Eu não a cortejei por seu dinheiro, droga!
— Eu sei — disse me voz baixa. — Agora eu sei, em qualquer caso. — Seus olhos
pareciam enfeitiçá-la. Ela não podia suportar olhá-lo, saber o quão profundamente o
havia julgado mal anos atrás. Deslizando sob seus braços, vagou pelo corredor com piso
de mármore. — Mas naquela época pensei havia somente fingido se preocupar comigo
pela minha fortuna. Pensei assim durante anos. E não ajudou que tivesse casado com
Sarah por dinheiro.
— Porque eu não tinha escolha! — A terra soou dura sob seus calcanhares.
— Eu entendo isso agora. Giles explicou-me muito bem.
— Sim, ele me disse ontem à noite sobre o encontro que teve com você em algum
evento social há alguns anos atrás. Você acreditou nele quando te disse que eu nunca
tinha dormido com Molly, no entanto, não me deu a oportunidade de me defender por
mim mesmo!
— Não acha que tenho me torturado repetidas vezes desde então? — Ela deteve-
se, um nó no estômago ao lembrar o efeito que teve sobre ela a revelação de Giles sobre
aquela noite. — Ruim o suficiente que escrevi aquela carta horrível e que acabou sendo
publicada, e perceber o que tão estupidamente tinha feito...
Deixou escapar um soluço.
Ele deslizou por trás dela. Colocou as mãos em volta da cintura e puxou-a de volta
em seus braços.
— Por que você não foi a mim? Por que não me perguntou sobre Molly?
— Porque eu era uma jovem estúpida e com medo do meu pai. Pensei que você e
ele... O que diria, e que me faria...
— Meu Deus, meu bem — disse ele com voz rouca. — Eu nunca teria feito isso
com você.
— Me dou conta disso agora. — Baixou a voz. — Quando enviei a carta, parte de
mim rezou para que você viesse atrás de mim quando a lesse. Eu queria estar errada, mas
não me atrevia a acreditar que...
— Em vez disso, a carta foi parar no jornal, e eu era muito orgulhoso, estava
horrorizado demais para ver você e tentar fazê-la voltar. Como fui bobo! — A angústia na
voz dele era inconfundível. — Por acaso meu linguarudo irmão mais novo contou o que
eu disse a ele depois que ele revelou como agiu com Molly naquela noite? — Ela envolveu
os braços sobre o braço que ele tinha envolta da cintura dela.
— Não — sussurrou.
— Eu o espanquei a golpes até quase deixá-lo desfalecido. — O cheiro da colônia
picante a embriagava, e quando ele beijou um caminho até a orelha, seu sangue rugia nas
veias. — Nós ficamos sem nos falar por muito tempo, porque eu estava muito
irritado. Porque ele me fez perde a única mulher que alguma vez me interessou.
As doces palavras aumentaram o alarme selvagem em seu peito. Se convenceu de
que isso poderia funcionar, que poderia ter uma aventura, desde que não deixasse que o
coração se comprometesse. Teria que manter-se a salvo.
Havia muitas razões para não esperar mais dele. Mas quando falou sobre como se
sentia, despertou suas esperanças perigosamente. Ela não se atreveu a acreditar nelas.
Em vez disso, se virou nos braços dele para pressionar um dedo sobre os lábios
masculinos.
—Shh, não vamos mais falar. — Em seguida, substituiu o dedo pela boca. Ele
duvidou uma fração, e então gemeu, beijando-a com voracidade, puxando-a contra o
comprimento do corpo duro enquanto suas línguas guerreavam. Sem deixar de beijá-la,
rasgou a gola do vestido, abrindo um por um dos laços. Ela não protestou, apenas colocou
os braços em volta do pescoço dele enquanto via a blusa clara cair até a cintura.
Ao chegar ao interior, abaixou as alças do corpete para poder acariciar os seios
através da camisa, parando nos mamilos erguidos firmemente em suas mãos. Mas
quando ela tentou empurrar o casaco dele, ele afastou-se grunhindo: — não aqui —. O
coração dela quase parou.
— Mas eu pensei... pensei que queria.
— Eu não... — Ele limpou rapidamente a garganta. — Não na sala. Esperei metade
de uma vida para ter você, e não ter você sobre o chão. — Tomando-a pela cintura e a
levou em direção a uma porta aberta. — Venha, querida. Desta maneira —. Segundos
depois, ele a levou para uma pequena sala de estar. Charlotte olhou em volta com o
deslumbramento de desejo frustrado. Havia uma cadeira desengonçada e em uma mesa
desvencilhada e tinha uma cesta de piquenique. Mas o mais revelador foi o que viu diante
da lareira.
— Você... você planejou isso? — Acusou, então percebeu o quão estúpida que
soou. A casa com a chave... o comentário sobre o retornar à escola. É claro que tinha
organizado com antecedência. Com um sorriso diabólico, David lançou uma pilha
impressionante de madeira na lareira.
— Eu sempre planejo tudo. — Batendo a pedra, até que desencadeou a chama. —
Você já deveria saber isso sobre mim por agora. — Um riso broto quando ela se lembrou
do piquenique do outro lado da ilha anos atrás.
— E aqui estava eu pensando sobre o quão ruim seria estar fazendo isso na casa
de um estranho. Deveria estar me sentindo lisonjeada ou insultada que você se sinta tão
seguro sobre mim?
— Claro! — Balançando a cabeça, ele cuidou do pequeno fogo de uma chama
crepitante. — Nenhum homem tem tanta certeza de uma mulher em sua vida. — Ele se
levantou para virar-se com um olhar ilegível. — Creio no processo de preparação. Mas eu
lhe disse que isso tinha que ser mútuo, e eu quis dizer isso. Se não quiser fazer nada.
— Não — cortou ela enquanto ele com os brilhantes olhos escuros se aproximava
dela, tirando o casaco e jogando-o na cadeira solitária.
— Não fiz nada desde ontem, a não ser pensar em fazer amor com você.
Verdade seja dita, ela tampouco.
— Não o preocupa que possa chegar alguém.
— Não — disse ele, enquanto a alcançava. — Estamos sozinhos aqui. Eu juro.
— Nesse caso... — Ela começou a soltar o resto do vestido, mas ele a deteve com
uma mão.
— Deixe-me — murmurou. — Não posso dizer quantas vezes imaginei despir
você.
Sua respiração pareceu ficar presa na garganta enquanto ele puxava a roupa, as
mãos atrapalhado-se um pouco. Alegrou-se de que ele estivesse tão nervoso quanto
ela. Perversa e encorajada. Desabotoou o colete, seu sangue a aquecia ante o
pensamento de vê-lo nu pela primeira vez.
— Suponho que o proprietário desta bela casa não sabe que estão se apropriando
de sua propriedade para uma relação ilícita —. Ela puxou o colete.
— Claro que não. Mas não acho que ele se importe. Em meu lugar, faria a mesma
coisa. — Ela estava perplexa.
— Quem é? — Perguntou enquanto tirava o vestido e a anágua, e em seguida, os
jogava na cadeira com o casaco dele.
— Stoneville. — Ele foi para trás dela para desatar a camisa, ela sentiu a
respiração quente no pescoço.
— Stoneville! — O Senhor Stoneville, não era apenas amigo de David, mas um
amigo da escola, juntamente com Anthony e Simon Tremaine, o Duque de Foxmoor. —
Mas porquê?
— Esta atado por fundos e decidiu se desfazer deste lugar. Eu disse a ele que
gostaria de dar uma olhada.
Com o corpete fora, ele o virou novamente.
— Esqueci de mencionar que você estaria comigo, é claro, mas felizmente ele
estava se divertindo muito na cidade para querer vir me mostrar.
— Foi muita sorte — disse ela com voz trêmula, sentindo-se muito exposta
apenas de camisa. Antes que ele pudesse despojá-la do último vestígio de pudor, foi
despi-lo, a necessidade de manter as mãos ocupadas e os pensamentos a raia, a encheu
de um nervosismo repentino. Fazia anos desde que tinha dormido com o marido. E se ela
não pudesse agradar David? Ele sempre foi mais mundano do que ela. Desfez a gravata e
a desabotoou a camisa, expondo parte do peito. Quando voltou para desamarrar a calça,
ele estava duro como ferro sob a mão dela.
Levando as mãos ao cabelo dela, retirou as pinças para soltá-lo.
— Sabia que nunca vi o seu cabelo solto? — A medida que caiam até a cintura, ele
ergueu um cacho e torceu no punho, esfregando-o contra o rosto, beijou-o. — Sempre
me perguntei como seria vê-la de pé diante de mim com apenas seu cabelo cobrindo-a,
uma Lady Godiva voltando à vida.
A imagem veio como uma fantasia febril a sua mente enquanto ela soltava os
botões da camisa com pressa renovada, não era pouca coisa quando estava tão
excitada. Quem teria imaginado que David poderia ser um romântico? Cada palavra
soltava mais um tijolo no muro de suas defesas, e não poderia mesmo estar
preparada. Ele estava aqui com ela. Isso era tudo o que importava. Enquanto isso, ele
tinha soltado a camisa dela e puxado para cima, forçando-a a parar tempo suficiente para
respirar. Uma vez que ela ficou nua, ele deu um passo para trás.
— Deixe-me ver você, Charlotte. Antes de perder a cabeça. — Ela não ficava dessa
maneira ante um homem há anos, e estava dolorosamente consciente de que já não era
tão jovem quanto tinha sido uma vez.
David estava acostumado a ter uma mulher mais jovem em sua cama, Sarah tinha
apenas vinte e seis anos quando morreu. Importaria que os seios de Charlotte não
estivessem tão altos e eretos? A barriga estava um pouco mais cheia? O olhar dele a
percorria com apreciação.
— Meu Deus, querida, você é uma visão — disse ele com voz rouca.
— Uma visão? — Ela disse com uma risada atordoada. — Não me sinto como uma
visão nos dias de hoje.
— Então, é claro que você não prestou atenção na sua longa lista de admiradores
do sexo masculino. — Vislumbrava o ciúme na voz dele. — Garanto que não é só suas
habilidades em sala de aula o que os encantam.
O elogio a encantava, ainda que exagerado. Uma longa lista de admiradores, de
fato. Ela teria notado isso.
— E você se considera como um dos meus admiradores, milorde? — Perguntou
timidamente.
— Espero que em breve me considere muito mais — suspirou quando chegou a
ela.
Ela o abraçou com um sorriso.
— Oh, não, ainda não. Agora é a minha vez de olhar. — Depois de arrastar a
camisa sobre a cabeça, passou as mãos lentamente pelo peito largo e colocou os dedos
na calça e cueca de uma vez. Em seguida, deu um passo para trás para olhar para o
homem que tinha desejado durante o que pareceu uma eternidade.
Ela não ficou surpresa ao encontrá-lo primorosamente, com os músculos
finamente definidos, sua cintura incrivelmente tensa para um homem da sua idade. No
entanto, o tamanho do pênis a desconcertou. Jimmy era mais moderadamente dotado do
que tinha percebido, e David era o que comumente se denominava - bem dotado. Ele
tinha mais cabelo em contraste com a pele clara do marido, também, o que o fazia
parecer intensamente masculino.
E perigoso. Especialmente quando a chamou para ele com uma fome inegável,
tomando sua boca em um beijo que era um motim impressionante de paixão e desejo.
Acariciando seus seios sem vergonha, que disparou seu sangue para alturas
vertiginosas, enquanto ela roçava as mãos sobre cada parte do corpo que sempre se
imaginou. As coxas e nádegas eram musculosas, a marca de um homem que passava
muito tempo na sela de um cavalo. Em um momento estavam se tocando e beijando-se
apaixonadamente, e no próximo, ele estava deitando-a diante do fogo e afastando suas
pernas para se ajustar a elas enquanto se ajoelhava. Ele acariciou o eixo longo e duro
contra suas partes intimas, despertando seu desejo furiosamente.
Mas quando não fez mais do que isso, ela se agarrou ao quadril dele para tentar
fazer com que ele a tomasse, e sussurrou: — David... por favor... que você... dentro de
mim... — Um sorriso forçava nos lábios dele.
— Tenho a intenção de te atormentar um tempo, querida, quero que pague pela
tortura que suportei nestes últimos dias.
— Não se atreva — ela respirava, embora a ideia de como poderia torturá-la fosse
tentadora.
— Isto —sussurrou ele, ignorando seu protesto — é por ontem à noite. — Ele
inclinou a cabeça para sugar seus seios, primeiro um, depois o outro, e soprando nos
mamilos molhados até que ela pensou que poderia gritar.
— O que eu fiz ontem à noite? — Sua respiração agora estava trabalhosa.
— Desfilando esses seios bonitos na minha frente e nem me deixou que te
beijasse.
— Você sabe por que — disse ela um pouco petulante. Todavia estava com a
carne rígida, e estava prestes a enlouquecer.
— A próxima vez que for jantar na minha casa, meu bem, me assegurarei de que
nenhum dos meus parentes esteja lá. — Seus olhos brilhavam para ela. — E você será a
sobremesa.
Levantando-se sobre o antebraço, agachou-se para provocar sua carne tão
primorosamente que ela esteve prestes a gozar naquele momento.
— E isso — disse ele, enquanto a acariciava febrilmente — é por me parar ontem
à tarde antes que eu pudesse ter meu caminho de perversidade com você no sofá.
Ele deslizou dois dedos dentro dela, o polegar atormentando habilmente o
pequeno botão até que a viu se contorcendo e ofegando debaixo dele, e estava chegando
a liberação.
— É um homem mau, malvado — se atrapalhou para falar. — Dois podem jogar o
seu jogo, já sabe.
Deslizou a mão para baixo para pegar o membro grosso, puxou-o em um
movimento longo e lento.
— Isso, meu senhor, é por roçar contra mim na noite passada, quando sabia-se
que eu não poderia fazer nada a respeito—. Ele gemeu e puxou a mão dela.
— Não faça isso.
— Por quê? Por acaso é o único que tem permissão para jogar este jogo? — Com
um gemido, ele afastou a mão dela.
— Está bem. Você ganhou—. Ela arqueou contra ele com um sorriso sensual.
— Então me dê meu prêmio. — Isso foi tudo o que teve que fazer para tê-lo
deslizando dentro dela em um movimento lento e delicioso, que a fez se contorcer
debaixo dele.
— Oh, Deus, Charlotte, é tão apertada... tão quente... — Estava prestes a chegar
ao delicioso prazer de ser preenchida por sua carne, de ver a fome muito mais evidente
em seu rosto quando ele pressionou para frente até que se uniram tão intimamente, que
pensou que podia sentir o coração dele batendo dentro dela. — Você está bem? —
Ofegou ele, parando para permiti-la adaptar-se a ele. Ela lambeu o pescoço e ondulou o
corpo contra o dele.
— Possua-me — sussurrou —por favor... agora... por favor... — Com um gemido
gutural, começou a se mover, lentamente no início e, em seguida, acelerando
rapidamente até que se moveu tão forte que fez chão vibrar. — Sim... isso mesmo. —
Cravou as unhas nos braços dele. — É muito bom nisso...
Ele deixou escapar uma risada.
— E você é um pouco luxuriosa, senhora Harris — Brincou enquanto dava beijos
na testa, no cabelo, nos ombros dela.
— Eu nunca imaginei... Não fazia ideia...
— Eu tampouco.
Jimmy tinha sido um bom amante, tendo em conta a sua própria inexperiência.
Mas ainda que ele a tenha feito sentir algo na cama, ela sempre foi consciente de
que uma pequena parte de si mesma sempre esteve de um lado, nunca se rendeu
completamente. Agora sabia por que . Essa parte pertenceu a David. E ele parecia
decidido a tomá-la com plena eficiência. Ele estava fazendo-a enlouquecer, e as palavras
carinhosas que sussurrava só aumentavam seu prazer. Ele levantou mais as pernas até
que tocaram seu ponto doce com cada golpe, levando-a a alturas cada vez maiores,
enquanto ficava soberano sobre ela, ao seu redor, dentro dela.
— Meu Deus, David, — ela suspirou, lutando contra ele quando sentiu a liberação
roubar mais dela como um ladrão arrebatando sua alma. — Sim... oh sim... oh minha
palavra...
— Charlotte... eu... maravilhoso... Charlotte — suspirou, e então introduziu tão
profundamente dentro dela que chegou ao clímax.
Enquanto sua carne apertava em seu interior, ele a bombardeava com a semente
dentro dela com um grito rouco. Foi o êxtase mais intenso que jamais havia
conhecido. Podia sentir o coração batendo no mesmo ritmo que o dele, e ela finalmente
compreendeu o que significavam os votos do matrimonio. A profundidade caiu através da
parede que tinha construído. E seria quase impossível para ela voltar a empilhar os tijolos
contra ele nesta ocasião.

CAPÍTULO DEZESSEIS
Ébrio de alegria, David estava na cama com Charlotte em seus braços. Depois de
todos esses anos, ela era dele finalmente. Ele nunca a deixaria ir. Nem sequer deixaria
que o primo Michael se interpusesse entre eles. Desejava nunca ter inventado o
homem. Mas então, nunca teria tido isso com Charlotte, se não tivesse feito o que fez.
— Então, o que é este gesto? — Ela perguntou superficialmente. Havia levantado
a cabeça do ombro dele com um olhar que lhe acelerou o pulso novamente. Uma de suas
pernas surpreendentemente longas estava sobre o joelho dele, e os seios macios se
amoldavam contra seu peito. Tinha seios bonitos, bastante cheios e com mamilos rosados
e sensuais. Só a ideia de prová-los despertou o pau de seu sono.
— Só estava me perguntando quanto tempo teríamos que esperar antes que
pudéssemos fazer isso de novo — disse, acariciando um desses belos seios.
— Poderíamos? — Ela brincou. — Estou pronta agora novamente.
— Eu sei — disse ele secamente. — As mulheres têm toda a sorte. Mas como
muitas vezes acontece, este foi meu segundo desempenho de hoje, então levarei um
tempo maior para me recuperar. — Quando a luz desapareceu dos olhos dela, ele
amaldiçoou sua língua desajeitada e rapidamente levantou a mão. — Conhece a sua
concorrência. Um homem tem que fazer algo para lidar com o desejo , quando uma
determinada mulher o enlouquece. — Quando a compreensão chegou ao rosto dela, ela
deu uma risada trêmula.
— Se você quer dizer o que penso, Lorde Kirkwood, então é muito mal por
certo. — Ele riu entre dentes.
— Sei que não deveria dizer essas barbaridades para uma professora de escola
propriamente dita, mas você chama o demônio que há em mim.
— O que acontece é que você desfruta me deixar chocada, isso é tudo. — Ela se
aconchegou para beijá-lo no pescoço enquanto seu belo cabelo, capturava a luz como fios
de ouro sobre damasco.
Ele passou os dedos ao longo do ombro macio, maravilhado pela perfeição da
pele cremosa.
— Não fique tão chocada.
— Isso é só porque uma professora deve sempre aparentar uma expressão de
serenidade. Caso contrário, os alunos se comportassem mal, só para ver a reação
deles. — A mão brincava no peito dele. — Mas, por dentro, eu lhe asseguro que estou
batendo os nós dos dedos com uma régua. — A ideia despertou sua inclinação travessa
ainda mais.
— Você quer que eu diga o que estava pensando quando estava boxeando com o
jesuíta esta manhã?
— Sobre b-boxeando com o jesuíta? — balbuciou ela. Ele sorriu.
— Isso significa...
— Posso adivinhar o que significa! — Disse, rindo. — Mas levá-lo para a religião é
o que faz parecer ainda mais malvado.
— Esse é o ponto, não? — Eu alisou o cabelo sobre o ombro, seu sorriso foi
desaparecendo. — De qualquer forma, enquanto estava sozinho na minha cama, estava
imaginando você lá também. — Aproveitando o momento, ele acrescentou: — O tempo
todo. Como a minha esposa.
Ela prendeu a respiração e a diversão desapareceu, substituída por uma
expressão cautelosa.
— Você não deve dizer isso. — Ela afastou-se dele. A alegria desapareceu, ele a
agarrou antes que ela pudesse afastar-se.
— Por que não? Eu quero casar com você, Charlotte.
— Você ainda está de luto — disse quando se ajoelhou ao lado dele, prestes a
parar.
— Só por seis meses mais. — Seus olhos se encontraram solenemente.
— E depois o que?
— O que você quer dizer? — Ele sentou-se e cruzou as pernas, de repente, com
dificuldade em respirar.
— Quero dizer, qual o papel que irei desempenhar na sua vida?
— Que papel? — A reação a sua proposta torceu-lhe o estômago em nós. Ele
deveria ter percebido que era muito cedo para propor casamento. O que aconteceu com
ele? No entanto, cometeu um erro. — Acho que você sabe que tipo de papel faz uma
esposa.
— Sim, eu sei. Você esquece que eu já fui uma antes, e particularmente não me
agrada.
Não podia acreditar que ela estava dizendo isso.
— Seria diferente comigo.
— Sério? — Ela mudou de posição, apertando os joelhos contra o peito e
dobrando o corpo nu de tal maneira que parecia modesta como uma freira. Ou, tão
modesta como uma freira possa parecer, se acabasse de sair da cama de um homem. —
O que aconteceria com a escola? — Ela perguntou, com os olhos solenes.
— O que aconteceria?
— A esposa do visconde Kirkwood levando uma escola para meninas? Ou é
esperado dela ser uma viscondessa e nada mais? — Isso o fez perder o equilíbrio.
— Você quer continuar a gerir a escola — disse estupidamente. Ele temia isso,
mas ainda assim... — Se dá conta que posso me dar ao luxo de sustentar uma esposa.
— Claro — disse ela calmamente. — Não foi isso que pedi. — Ele estava em
território perigoso agora, e honestamente não sabia como navegar.
— Tendo em conta as atuais dificuldades financeiras com o lugar, pensei que
fosse possível que preferisse...
— Fechar? Deixar que mergulhe em sua vida para que a única coisa que me resta
seja você?
— Não! — Só Charlotte poderia fazer uma oferta de casamento soasse como um
insulto. — Não me importa a escola. Não tem nada a ver com isso. — Ela se encolheu
como se tivesse sido atingida.
— Tem tudo a ver com isso, para mim.
— Por quê? A fundou para que pudesse se manter.
— Eu a fundei porque acho que as mulheres devem receber uma educação
adequada. Isso significa muito para mim. Pensei que você entendesse isso. — Ele
entendia, especialmente considerando as numerosas cartas que trocadas entre eles. No
entanto, parte dele tinha esperança de que ela estivesse disposta a compartilhar a vida
dela sem a intrusão da maldita instituição.
— Está bem. Você pode mantê-la aberta. Eu não me importo. — Isso significava
convencê-la a mudar a escola de lugar, mas ele poderia lidar melhor com isso se fosse
marido dela. Tenho certeza que poderia encontrar uma diretora adequada para substituí-
la.
— Então sua resposta é que a esposa do visconde Kirkwood não pode administrar
uma escola para meninas. — Não olhou para ele, levantou-se e encontrou a camisa, em
seguida, colocou-a sobre a cabeça. Manteve-se de costas para ele, fechando-se
novamente, o que o deixou louco.
— Por que é tão condenadamente importante que seja você a administrá-la —
Perguntou enquanto também levantava-se e deslizava a calça pelas pernas.
Andando atrás dela, ele a tomou nos braços. Pelo menos ela permitiu isso.
— Quando eu era pequena — sussurrou ela, cruzando os braços sobre os dele —
meu pai sabia exatamente o que eram os meus brinquedos favoritos. E você sabe por
quê?
Considerando o que ele sabia do pai dela, não tinha certeza se poderia suportar
ouvir. — Porque os usava para me controlar. Quando um dia fiz muito barulho ao brincar
com minha harpa de brinquedo, ele me fez ver enquanto ele cortava as cordas da mesma,
uma por uma. Uma vez, quando descia saltitando as escadas com a voz muito alta, ele
pegou minha boneca. - Isto é o que acontece com meninas que não andam em silencio -
disse, e quebrou as pernas dela.
— Oh Deus, Charlotte — disse com voz rouca, agarrando-a mais perto e
desejando que o pai dela ainda estivesse vivo, assim, Davi poderia quebrar suas duas
pernas.
— Quando eu tinha treze anos, mamãe me deu um broche. Era uma bagatela de
cristal azul, mas tinha pequenas manchas de ouro nele e me pareceu muito bonito. Não
fui cuidadosa e o deixei ver o quanto gostava. Eu só o usava quando ele não estava por
perto. Mas, como as crianças, esqueci uma noite e usei no jantar. — Sua voz tornou-se
dura. — Ele estava bêbado, quando sempre ficava mais cruel. Ele disse algo horrível a
mamãe, e a defendi. Então, ele pegou meu broche e esmagou-o sob o calcanhar. — Ela
ficou rígida em seus braços. — Isso me fez perceber que não importa o que eu tivesse. Ele
encontraria e destruiria. Assim isso me ensinou a não apegar-me a nada. Porque, se a
opção era desafiá-lo, ou desistir de tudo o que tinha no mundo, eu sabia que iria desafiá-
lo até o meu último suspiro. — Ela olhou para ele. — Mas depois que Jimmy morreu e
fiquei sozinha e desamparada, eu sabia que tinha que ter um propósito além da
sobrevivência. A escola tornou-se minha razão de viver, minha salvação. Foi a primeira
coisa que me pertencia, só mim. Inclusive minha herança foi essencialmente tirada de
mim por Jimmy. Não era para ser cruel, mas apenas lhe faltava bom senso de como gerir
o dinheiro, e penso que ele passou um bom tempo enquanto durou.
Com o coração na garganta, David esfregou as lágrimas que caíram pelas
bochechas dela. — Construí minha escola para jovens senhoras do nada — disse com voz
rouca. — Coloquei minha alma nisso. E agora você acha que eu deveria... colocá-la de
lado?
— Claro que não — disse ele. — Ao contrário do que você parece pensar, eu não
sou seu pai. Nem eu sou Harris. Eu não quero destruir seus brinquedos ou a escola. Eu
certamente não quero tirar a luz de sua realização. — Olhando para o rosto atormentado,
ele suavizou o tom. — Mas você sabe tão bem quanto eu que uma viscondessa tem
responsabilidades. Quando tivermos que ir ver meus bens, em Berkshire, o que você
pretende fazer? Ficar em Richmond? — Ele a acariciou na bochecha. — E o que
aconteceria aos nossos filhos? Como é que você será uma mãe para eles se está gastando
todo o seu tempo em outros lugares? — O sangue desapareceu do rosto dela enquanto
empurrava para sair dos braços dele.
— Eu nem sei se posso ter filhos — Isso provocou um arrepio na alma dele.
— Claro, que pode ter filhos.
— Eu nunca tive enquanto estava casada com Jimmy. Nem mesmo sofri um
aborto. — Os olhos dela estavam tristes. — E se sou estéril? — Tentando não demonstrar
o quanto a possibilidade sacudiu-o, caminhava pelo fogo.
— Não é mais do que eu suspeito de que seja assim. Não há nenhuma razão para
você ser estéril.
— Mesmo se não fosse, com trinta e seis anos estou velha demais para ter um
primeiro filho. Você sabe. Qualquer coisa pode dar errado.
Ele se virou para ela com um olhar feroz.
— Então Giles pode ser o herdeiro. Que herdará o título e levará o nome da
família. Desde que fiquemos juntos, não me importo.
— Você diz isso agora, mas...
— Porra, não vou parar de dizer isso! — Ele andou até agarrá-la pelos braços. —
Finalmente temos a oportunidade de ficar juntos e deseja estragar tudo!
— Eu não, juro. — Ela tomou o rosto dele entre as mãos, uma lágrima correu pela
bochecha. — Mas tampouco quero saltar sobre algo sem pensar sobre as coisas
antes. Você está de volta em minha vida há apenas três dias.Por que não podemos
apenas continuar como estamos? Como os amantes?
— Porque quero que você, como esposa, não como amante. — Ele cobriu as mãos
dela com a dele. — Não quero ter que ficar as escondidas — disse ele, à caça de algo,
qualquer coisa, para impedi-la de remove-lo e deixá-lo fora. — Não quero estar
constantemente me preocupando com sua reputação e posição, com medo de mostrar às
pessoas que nós pertencemos um ao outro.
— Diga-me uma coisa, David. — Seus olhos brilhantes em direção a ele inundado
de lágrimas. — Você me ama? — A pergunta o balançou. Como ele poderia dizer que ela
havia matado qualquer amor no dia em que enviou aquela carta? Ante a hesitação, ela
murmurou, — eu imaginava — e tentou se afastar. Ele a segurou antes que ela pudesse.
— Certamente você tampouco acredita no amor. O amor é para os jovens. Eles
têm a força para suportar o ambiente natural e a fúria daquelas emoções sem sentido. As
pessoas maduras como nós, com anos de experiência...
— Nós não somos tão velhos, David.
— Você que disse que era para ter filhos aos trinta e seis anos. — Ele olhou para
ela. — Eu diria que definitivamente estou velho demais para ser um estúpido que
contempla o amor romântico. As pessoas da nossa idade não se casam por amor. — Ela
olhou para ele solenemente.
— Então, por que casam?
— Por companhia. Por... respeito mútuo, admiração, carinho. — Ele a beijou nas
mãos.
— E o desejo. Sem dúvida que é certamente uma necessidade para o casamento.
— Me casei sem amor uma vez — disse ela suavemente. — Não preciso fazer isso
de novo. Se vou considerar desistir de tudo pelo que trabalhei, tem que ser por algo mais
do que uma conversa e companhia.
— Você está dizendo que está apaixonada por mim? — Ele perguntou sem
rodeios.
Ela afastou-se dele, cruzou os braços sobre a cintura.
— Eu... eu honestamente não sei. Não tenho certeza se sou capaz até mesmo do
tipo de amor que uma mulher deve ter pelo marido. — Por alguma razão, esse
pensamento o inquietou. Não quis examinar muito de perto porque.
— Então o amor não é uma consideração em absoluto.
— Trata-se de, todavia, você ainda está apaixonado por sua esposa.
— Sarah? — Ele disse, incrédulo. — Ela e eu nunca estivemos apaixonados. Nosso
casamento foi pouco mais que uma transação comercial. Agora você sabe. Ela nunca
fingiu que me amava, nunca disse que queria meu amor. Enquanto eu estivesse de
acordo em levá-la a esfera social que aspirava a juntar-se, ela estava feliz.
— Tem certeza sobre isso? — Prendeu a respiração, lembrando-se da nota de
suicídio de Sarah.
A raiva surgiu, a mesma raiva que tinha se agarrou a ele desde o dia em que ela
morreu.
— Se ela não estava feliz, não foi minha culpa.
— Eu não disse que era — Charlotte disse em voz baixa. Mas ele não viu mais do
que as palavras da nota maldita: Já não posso suportar esta vida intolerável. — Fiz tudo o
que podia para fazê-la feliz. — Sabia que soava como desculpas vazias, no entanto, ele se
sentiu compelido a se defender. — Foi ela quem se recusou a acompanhar-me em todos
os lugares e ela não melhorou sua condição, foi ela não mostrou qualquer interesse em
fazer do nosso casamento algo mais do que uma união fria e formal. Foi ela que me
recusava na cama.
— Você não... vocês dois não... — Ela fez uma careta. Não quis revelar algo tão
pessoal, elaborou que era provavelmente o melhor que sabia o quão vazio que tinha sido
seu casamento.
— Não nos últimos anos. Depois que ela teve dois abortos naturais, disse que não
ia sofrer mais esse "sem sentido" de novo, mesmo que o médico nos disse que não havia
nenhuma razão para acreditar que ela não poderia ter um filho.
Passando os dedos pelos cabelos, juntou-se ao lado dela ante ao fogo.
— Não era como ele foi entre você e eu. Eu não conseguia nem falar com ela, pelo
amor de Deus. Se eu tivesse percebido enquanto a cortejava que tinha tão pouco em
comum com ela, se tivesse buscado além do rosto bonito, o que nunca fiz —se
interrompeu, a culpa tomou conta dele novamente. — Então, como você disse uma vez,
eu todavia, estava totalmente feliz com um rosto bonito.
— Shh — disse ela, tocando os lábios dele. — Nunca tive a intenção de despertar
o sentimento de culpa por você se casar com Sarah. Não deveria ter dito o que disse
antes. Sei que se encontrava entre a cruz e a espada. — Ela lhe deu um sorriso
trêmulo. — Amelia, sem dúvida, teria adaptado melhor. Não foi sua culpa que ela tivesse
outro tipo de homem em mente. — Ele pegou a mão dela e beijou a palma da mão.
— Mas a culpa foi minha por deixar escapar a mulher com quem eu deveria ter
me casado. Eu deveria ter ido atrás de você em vez de incrementar meu orgulho
ferido. — Ele olhou para ela, frustração brotando novamente. — Então agora quer que eu
pague por isso ao se recusar a casar comigo.
— Não! Se eu o fizesse pagar, eu teria que pagar também. Eu fui dez vezes mais
culpada pelo que aconteceu do que você. — Ela o acariciou na bochecha. — Eu me recuso
a casar com você, porque você não sabe o que quer agora. Você ainda está de luto, e
estar sozinho assusta.
Ela se afastou dele, e se dirigiu ao local onde seu vestido estava no chão.
— Eu entendo isso — também vivi —. No entanto, depois de ter estado sozinha
por um tempo, o mundo se torna mais claro. Começamos a entender o que realmente
importa. Só então é seguro tomar decisões importantes sobre a vida e futuro. — Ela
pegou o vestido, e lhe deu um sorriso simpático que o aborrecia. — Por que você acha
que o período de luto é tão longo? Porque leva muito tempo para ordenar a vida depois
de tudo. — Ele foi até ela. Sacudiu o vestido de seus dedos e jogou-o de lado.
— Eu não preciso ordenar minha vida, droga. Eu sei o que quero. Eu quero.
— Está tudo bem. Em seis meses, se você ainda se sentir...
— Seis meses mais não vai mudar o que quero — resmungou.
— Vamos ver — disse ela, com outro daqueles suave sorriso, e se afastou. Ele a
agarrou pelos ombros, com as mãos, forçando-a a encará-lo.
— Então ser uma amante é tudo o que você quer, é isso?
Ela fixou o olhar em algum lugar perto de seu pescoço.
— Por enquanto.
Podia acreditar que tinha a vida em ordem, sabia exatamente o que queria, mas a
forma como tinha quebrado quando fizeram amor, mostrou que ela não era tão firme
como pretendia mostrar. Ela estava com medo de confiar nele, de confiar nisto. E talvez
com razão, por causa do passado. Então ele teria que derrubar o muro de incerteza e
medo. E não conseguia pensar em uma única maneira de fazer isso.
— Muito bem — disse com firmeza. — Então, por agora, seu amante está pedindo
que passe o dia com ele. Nós ainda nem comemos. — Ele assentiu com a cabeça em
direção a cesta de piquenique.
— Eu... eu realmente deveria voltar.
— Eu não vejo por que — disse, encorajado por seu nervosismo. Ele sabia
exatamente o tão suscetibilidade era para ele, e Charlotte foi muito boa em fugir do que
temia.
— Meus criados se perguntarão onde...
Ele a interrompeu com um beijo, desfrutando quando ela não só respondeu, mas
permitiu aprofundá-lo. Roçando as mãos por trás dela docemente, a arrastando contra
sua ereção crescente, esfregando-se contra ela. Só quando deslizou seus braços ao redor
da cintura dela teve que tirar a boca da dela para pressioná-la contra a sua orelha.
— Quero você de novo, amor. — Ela soltou uma risada atordoada.
— Eu posso afirmar isso.
— Então, — ele murmurou, — você realmente tem que ir... agora? — Ele chupou
a pele delicada de seu pescoço enquanto acariciava um dos seios. Sua respiração tornou-
se irregular.
— Mmm... talvez... eu poderia ficar um tempo... mais.
— Bom. — Ele a levou para o chão em frente da lareira. — Você ainda não viu a
casa, depois de tudo.
— Isso é verdade — ela engasgou, com as mãos agora passando por seu traseiro
assim que eles foram escorregando um contra o outro febrilmente. — Seria uma
vergonha... vir aqui... e... não ver a casa.
— Completamente uma vergonha — disse ele com voz rouca, em seguida, rolou
em cima dela.
Mas, a medida em que se derramou nela e colocava a camisa, ele sabia que isso
era apenas uma trégua. Não podia ficar com ela na cama por tempo indeterminado. Logo
teria que pressionar a questão do casamento novamente. E se pensava que iria esperar
seis meses para ser sua esposa, ela estava louca.

CAPÍTULO DEZESSETE
Quando saíram da casa do Senhor Stoneville, Charlotte percebeu quão baixo o sol
estava no céu. A única coisa que sabia exatamente era onde esteve o dia todo o
cavalariço de David, este lhe assegurou que o garoto era confiável para guardar
silencio. Mas, todavia teria dificuldade em explicar por que ficou tanto tempo sem revelar
que ela e David ficaram visitando propriedades. Ela não queria que seu pessoal soubesse
sobre a possível assinatura no momento.
Por outro lado, ela não queria que adivinhassem o que ela e David tinha feito a
maior parte do dia. Um delicioso arrepio percorreu sua espinha. Ela certamente tinha
escolhido seu amante também. A segunda vez foi ainda melhor do que a primeira. Ele
tinha tomado seu tempo, beijando cada centímetro de seu corpo e a levou até o limite
uma e outra vez antes de finalmente se juntar a ela em um êxtase tão explosivo que não
parecia real. Depois de comer o sumptuoso almoço, sob a forma de alimentos para uma
rainha.
Sorriu para si mesma. David certamente sabia como mimar uma mulher.
Quando eles terminaram de comer, visitaram a propriedade, mas quase não
lembrava. Entre os doces beijos e carícias, era difícil prestar atenção. E, embora os
estábulos fossem tão impressionantes como ele havia prometido, a única coisa que se
lembrava deles era de David tomando-a novamente, duro e rápido sobre o feno.
— Então, o que acha? — David perguntou com voz rouca. Ela piscou.
— Não posso acreditar que você esteja me perguntando isso. Você realmente
precisa saber?
— Bem, sim. — Tentando não corar, ela olhou para a estrada e continuou falando
baixinho para que o menino não pudesse escutar.
— Certamente, você sabe muito bem o amante magistral que é. Acho que o
número de vezes... já sabe... que fizemos deveria ter demonstrado isso.
Ele riu.
— O que quero dizer é o que acha da casa?
— Oh? — O calor alagou suas bochechas. — Isto é certamente embaraçoso.
— Não para mim — disse ele, rindo, em seguida, fez uma reverência. — Você foi
magnífica, de fato. Na verdade, acho que eu vou dizer a Stoneville que terei que visitar o
imóvel de novo. — Olhou o seio dela. — Já que não tive a chance de ver sua beleza para
minha inteira satisfação.
— Você seria capaz de enganar seu amigo apenas para que você e eu... nós...
— Claro. Stoneville vai Tattersall as terça-feira. Está bom para você terça-feira? —
Ela olhou para ele com desconfiança.
— Você é muito mau, Senhor Kirkwood.
— Certamente espero pela terça-feira — disse naquele tom sedutor que vibrava
ao longo de seus sentidos. Seguiram em silêncio por um tempo. Então ele se inclinou para
sussurrar: — Então sou um professor amoroso, não sou?
Com um novo olhar sobre o menino ela disse entre dentes: — Comporte-se.
— Tarde demais para isso. — Ele pressionou a boca contra a orelha dela. — Diga-
me, querida, como posso me comparar com seus outros amantes? — Ela revirou os
olhos. Os homens podiam ser tão ridiculamente competitivos.
— Que outros amantes? — Ela disse em voz baixa. — Além de meu marido, não
houve outros. E agora, por favor, preste atenção à estrada, antes de terminar em um
buraco.
Sorrindo, ele se moveu novamente.
— Sou o único desde de Harris, hein? Interessante. — Ela adoraria saber por que
ele achou tão interessante. Mas não iria perguntar isso tendo um rapaz sentado apenas
trinta centímetros atrás deles, mesmo que provavelmente não pudesse ouvir uma palavra
através do vento e do barulho dos cascos do cavalo.
— Então o que acha da propriedade de Stoneville? — Perguntou David depois de
um momento. Ela tentou lembrar o que tinha visto do lugar, mas tudo que conseguia
pensar era que era um excelente lugar para fazer amor. — Sem dúvida, é grande o
suficiente. Apesar de ter notado um odor químico estranho em um quarto...
— Provavelmente, foi em um dos que costumava ter partes de óxido nitroso —
Lord Stoneville era conhecido por seus assuntos selvagens onde seus amigos absorviam o
gás inebriante para o prazer.
— Essa era a casa? Meu Deus, eu nunca teria imaginado. — Ela lhe dirigiu um
olhar. — Alguma vez?
— Se fui as festas dele? Uma ou duas vezes. ? Por quê?
Um calafrio percorreu sinuosamente as costas dela. No ano passado, o primo
Michael tinha escrito para alertá-la sobre um escândalo pela participação de uma de suas
professoras em uma celebração de óxido nitroso em Stoneville.
— Esteve presente no caso em que Anthony e Madeline estavam juntos? —
Sacudindo as rédeas para colocar os cavalos ao trote, ele franziu a testa.
— Foram a uma das festas de Stoneville? Realmente? Posso ver Anthony fazer
isso, mas não parece se algo a esposa dele viesse a fazer. — A surpresa dele parecia
genuína.
Ela suspirou. O que estava pensando? Ela já tinha decidido que David não poderia
ser o primo Michael. E, certamente, se fosse, ele teria dito a este ponto.
— Eu sei. Foi muito estranho. Foi antes do casamento também.
— Ah —. Ficaram em silêncio. Havia algo tão confortável ficar ali sentada ao lado
dele, observando-o guiar tão habilmente o faeton. Ainda assim, não podia acreditar que
ele tinha proposto casamento. Se algo a convenceu que ele havia deixado o passado para
trás foi isso.
Estava sendo tola por recusá-lo? Insistiria em que permitisse a continuar escola?
Talvez. No entanto, a ideia de se tornar nada mais do que um ornamento na vida dele, de
não ter seu próprio lugar e não ter destino para além do cumprimento das obrigações
sociais, a apavorada. A mãe dela deixou que essas obrigações drenassem a vida dela em
seus esforços para agradar o marido cruel. E, embora David fosse tão diferente do seu pai
como um homem podia ser, ele ainda era um homem que ainda poderia usá-la para estar
no controle de tudo e todos em seu domínio. Charlotte não poderia deixar de lembrar as
queixas de Sarah sobre o controle apertado sobre o dinheiro. Claro, teve uma boa razão
quanto a Sarah, mas ainda assim...? Charlotte realmente queria desistir de sua
independência por ele?
Inclusive se fosse um ditador benevolente ainda seria um ditador, depois de
tudo. E o problema das crianças era insuperável. Ele havia dito que não se importava se
ela lhe desse um herdeiro ou não, mas mentia. Tinha certeza disso.
— Meu Deus! — David não disse nada.
— O que acontece?
— Peguei o caminho mais rápido de Acton a Richmond. Eu não estava
pensando. Agora vamos ter que atravessar o Tâmisa pela balsa.
— Pela balsa — repetiu ela em voz oca. Ela estaria em um barco, com cavalos e
uma carruagem. Só o Senhor poderia salvá-la.
— Vou dar a volta. Vamos voltar por onde viemos. É um pouco mais, mas...
— Não, já está tarde demais. Podemos ir pela balsa. Vou ficar bem.
— Está certa disso? — Ela balançou a cabeça e forçou um sorriso. Mas quando se
aproximaram do Tamisa e começou a ouvir o barulho das águas, o ritmo do seu coração
triplicou. Ela tinha visto as balsas fluviais nos rios. Não eram muito seguros. O que
aconteceria se os cavalos entrassem em pânico? Ou, Deus me livre, se a balsa virasse e
ela ficasse presa sob ela? Poderia ocorrer. Histórias de tais acidentes apareciam nos
jornais o tempo todo...
— Vamos para o outro lado —. David virou o Faeton para o lado.
— O Quê? ? Por quê? — Ele agarrou a mão dela e apertou-a.
— Sua pele está como gelo, está tremendo violentamente, e perdeu toda a
cor. Não vou fazê-la atravessar isso quando levaremos somente cerca de trinta minutos
para ir para Kew Bridge. — Ela tentou em vão esconder o suspiro de alívio.
— Você acha que é muito?
— Não, é pouco —. Ele entrelaçou os dedos com os dela. — Como posso passar
mais tempo com você? — Um nódulo tinha ficado preso em sua garganta. Quando se
comportava dessa maneira, a ideia de se casar com ele não parece tão difícil.
Aqueles que sabiam de seu medo de água geralmente ignoravam ou zombavam
dela.
Não David.
Ele a confortava, a tratava com cuidado. Quantos homens fariam isso?
No momento em que chegaram a escola, ela estava começando a se perguntar se
tinha sido muito precipitada ao rechaçar o pedido de casamento. Ela o tratou cruelmente
alguns anos atrás, mas em vez de tentar prejudicá-la, tinha voltado para ela.
Isso era incompreensível. Como um homem se comportava assim?.
O sol estava baixo quando se deteve frente a construção para encontrar um coche
esperando na unidade. Ela o reconheceu, inclusive antes que um homem descesse
dele. O Sr. Pritchard. E ele estava com a testa franzida. Isso não poderia ser bom.
— Já esteve em uma pequena carruagem, senhora Harris? — Ele disse com um
sorriso vulgar quando David a ajudou a descer. A mão de David apertou a dela antes de
deixá-la ir, provavelmente, advertindo-a que contivesse a língua. Ela não precisava que
alertasse para o que viria com Pritchard.
— O que quer? — Perguntou sem rodeios. O olhar do Sr. Pritchard se estreitou.
— Quero que fique fora do meu negócio. Como resultado de sua intromissão com
Watson nesta manhã, começou a reconsiderar a sua decisão de me comprar Rockhurst.
— Bom. — Isso aliviou um pouco a pressão sobre seu peito dos últimos dias.
— Oh, não se preocupe — o convenci de que seria um tolo em perder esta
oportunidade. Mas se eu ouvir mais uma vez que está interferindo em meus assuntos...
— Ele fez uma pausa para olhar a David. — Os dois vão se arrepender.
— Como você ousa! — Ela exclamou. — Senhor Kirkwood não tem nada a ver com
isso. Se você tiver um problema com a forma como eu levo o meus assuntos, diga a mim.
— Charlotte — David disse, — por que não entra, e assim posso falar com o Sr.
Pritchard sozinho?
— Claro que não! Esta é a minha escola, e eu sou a única que vai lidar com seus
problemas. — O Sr. Pritchard a ignorou e se concentrou em David.
— A mantenha longe do meu parceiro de negócios, se você sabe o que é bom
para você.
Para a surpresa dela, David disse: — Farei o meu melhor. Enquanto você vai ficar
longe dela.
— Com prazer. — Enquanto o Sr. Pritchard se afastava e entrava no veiculo,
Charlotte virou-se para David, horrorizada.
— Você assume demais, senhor —disse entre dentes, olhando o transporte
Pritchard afastar-se.
— Você não me deixa escolha. — Olhando para onde os lacaios estavam
assistindo ao confronto, David agarrou-a pelo braço, em seguida, empurrou-a para o
jardim como se fosse uma menina com a qual raciocinar. Embora estivesse furiosa,
esperou até que estivessem fora da visão e da audição dos criados antes de se virar para
ele e permitir que ele visse sua raiva.
— Você não tem o direito de se intrometer nos meus assuntos!
— Eu não quero me intrometer. — O sol iluminava as feições duras de seu
rosto. — Mas antagonizar Pritchard não é certo para os seus interesses.
— Por que não? — Ela cruzou os braços sobre o peito. — Funcionou, não?
— Você estava ouvindo? Não funcionou em absoluto. Ele convenceu Watson a
continuar com a compra.
— Sim, mas agora o homem está pensando duas vezes. Vamos ver se continuará
tão complacente quando eu reclamar com a junta de licenciamento. E os meus amigos
escreverem uma petição.
— Confundindo o inferno, Charlotte — disse enquanto a agarrava pelos ombros,
— Não vou deixar você confrontar Pritchard!
Ela olhou para ele, um arrepio a percorreu pelas costas.
— Não fará o que?
Como se tivesse percebido que tinha dito, ele deixou cair as mãos.
— Eu não quis dizer isso da maneira que parece.
— Espero que não. Porque parecia que você estava tentando me forçar a desistir
de salvar a escola.
Seu estômago embrulhou.
— Na verdade, parecia há poucos minutos, como se você tivesse feito algum tipo
de pacto com ele. Sobre mim. Um pacto que não tinha o direito de fazer.
Seu rosto ficou escuro.
— Estou pensando apenas em sua segurança, caramba. Ele não é um homem
bom? Você sabe o que quero dizer? Você não pode confiar nele.
Sua preocupação por ela suavizou a ira apenas uma fração.
— Seja como for, isto não é preocupação sua. O legado de Sarah não lhe dá o
direito de ditar como eu cuido do meu negócio.
— Me dou conta disso.
— E tampouco compartilhar minha cama. — Se obrigou a mostra uma calma em
sua voz que não sentia. — Sugiro que você lembre-se que na próxima vez que interferir
entre mim e meus assuntos escolares.
Seu olhar se acendeu quente e cheio de desgosto. — Eu me importo com você,
por isso vou expressar minhas opiniões. Você vai ter que se acostumar com isso.
— Simplesmente não ultrapasse sua autoridade, e tudo vai ficar bem. — Seu
queixo se sobressaia.
— Agora, se me desculpa, estive fora por muito tempo, e há certamente uma
série de questões pendentes a minha atenção. — Virando nos calcanhares, começou a
sair, mas ele agarrou pelo braço e a virou de volta para ele.
Antes que pudesse reagir, ele a tomou em seus braços e segurou seu queixo com
mão de ferro. Em seguida, beijou-a com força, com a boca exigindo entrar na dela com tal
fervor que rapidamente encontrou-se enfraquecida pelo assalto, até que, com um
gemido o deixou entrar. O beijo devorador agitou as brasas fumegantes de sua vida
sexual mais cedo ante a lareira, e em um momento ela tinha o pulso acelerado e o sangue
latejando em seus ouvidos.
Só então ele inclinou, afastando-se do beijo com um olhar melancólico.
— Tome cuidado amor. Eu não sou um cachorrinho que pode dar tapinhas na
cabeça e enviar para passear sempre que não gostar do que tenho a dizer. Você me fez
parte de sua vida hoje, e eu pretendo ficar bem no meio dela. Este é claro?
— Perfeitamente —. Ele começou a soltá-la, mas ela o agarrou pela gravata e
puxou-o para ela. — Mas não fique entre mim e minha escola. Está claro?
Embora seus olhos brilharam, ele fez um gesto conciso. Desta vez, quando se
virou para sair, ele a deixou ir, mas seguindo-a de perto. Quando eles chegaram ao
faeton, ele murmurou: — Eu virei na terça-feira às dez. — Sem sequer dar a ela uma
chance de protestar, saltou no assento, tomou as rédeas, e colocou o faeton para a
frente.
Tinha quase decidido correr atrás dele e dizer-lhe que ele poderia esquecer mais
interlúdios privados em Stoneville. Mas, dado ao estado de excitação em que ele a havia
deixado após apenas um beijo, seria como cortar o nariz para ofender o seu rosto.
Muito bom. Talvez seria bom desfrutar desse desejo louco de seguir sendo sua
amante. Ela impôs as regras de sua associação, e ela veria se poderia seguir.
Se não pudesse, ai dele! Ela estava completamente no comando de sua própria
vida, por isso, se ele estava tentando se por em seu caminho, ela o deixaria o exausto.

CAPÍTULO DEZOITO
David montou de volta a cidade em um acesso de fúria. Tinha a esperança de
alcançar Pritchard no caminho, mas, aparentemente, o homem tinha virado na estrada
em algum lugar.
Não importava. David iria encontrá-lo amanhã e avisá-lo para ficar longe de
Charlotte.
Como avisar a Charlotte para manter-se a distancia não funcionava, ele tinha
apenas a si mesmo para culpar por isso. Já que ela não sabia a verdade, não tinha
nenhuma razão para suspeitar que Pritchard tinha planos para a propriedade da escola
também.
David cerrou os dentes enquanto trafegavam pelas ruas apinhadas. O idiota não
via que provocá-la era desastroso? A faria resguardar-se e combater, ao invés de aceitar o
inevitável. David conseguia entender por que, depois do que ela lhe contara sobre as
crueldades do pai, mas não mudava o fato de que a oposição dela poderia ser
desastrosa. Se ela continuasse lutando contra Pritchard, ele não teria mais escolha do que
lhe dizer a verdade.
Deixou escapar um gemido. Podia imaginar o que viria. Anos de mentiras teriam
de ser explicados. Seu esquema geral de vingança sórdida surgiria.
Ela iria desprezá-lo. O que ele tinha feito se assemelhava muito as manipulações
cruéis que o pai dela havia praticado.
Como alguma vez poderia confiar nele de novo?
No momento em que chegou na casa da cidade, estava de mal humor. Já era ruim
o suficiente que ela houvesse rejeitado sua oferta, mas ele conseguiu que ela se
resguardasse também. Charlotte estava resultando quase tão difícil de lidar como ele
temia.
Subiu os degraus até a porta principal, mas esta não abriu-se como de costume.
Usando sua chave para entrar, escrutinou o interior e pegou George, o primeiro
lacaio, tirando um cochilo em uma cadeira. Embora o homem costumasse a fugir do seu
dever comumente, David geralmente dava a mínima, mas nesta noite, lembrou-se de um
lapso muito mais atroz, um em que havia discutido com George por dois dias.
Fechando a porta, viu como George acordou como um raio, e, em seguida, ficou
de pé alarmado.
— Milord! Eu não... isso é...
— Gostaria de ter uma palavra com você em meu escritório, George.
O homem empalideceu.
— Sim senhor.
David marchou até as escadas para o escritório com George seguindo-o. Quando
entrou e David disse-lhe para fechar a porta, o lacaio o olhou como se fosse desmaiar.
— Milorde, — começou a dizer — eu sei que não deveria ter caído no sono, mas...
— Esta não é a razão pela qual o chamei aqui. — David ficou de pé atrás da
mesa. — Duas noites atrás, fui abordado por Ned Timms. Você sabe quem é?
George empalideceu ainda mais.
— Não senhor.
O inferno se não sabia.
— Ele é um agiota. E parece que adquiriu as safiras Kirkwood em algum momento
antes da minha esposa morrer, quando ela aparentemente dei a ele como garantia para
financiar seus jogos.
— Eu... eu não sei nada sobre isso, meu senhor.
— Tem certeza? Alguém a acompanhou a Spitalfields, onde o homem faz
negócio. Como primeiro lacaio, você teria que ser essa pessoa.
O lacaio já estava balançando a cabeça.
— Não, senhor, nunca teria permitido que sua senhoria fosse a esta parte da
cidade, eu juro. — Ele se engasgou. — Talvez o irmão dela a tenha levado. Eles muitas
vezes saiam juntos.
Era plausível, mas David não acreditava que fosse o homem. Algo sobre George o
incomodava por um longo tempo. Ele não tinha certeza do porquê.
— Muito bem. Vou perguntar ao meu cunhado sobre o assunto. — Inclinou para
colocar as mãos sobre a mesa. — Mas se eu descobrir que você era a pessoa que a levou
até lá, e escondeu e que está mentindo sobre isso agora, será demitido sem qualquer tipo
de referências. Entendeu?
— Sim, senhor — queixou-se ele. Que havia começado a suar profusamente.
David aplacou o olhar.
— Será melhor se me disser a verdade. Posso ser tolerante, especialmente por
causa de quão persuasiva minha esposa poderia ser quando queria alguma coisa de um
homem.
George respirou com força, mas seu olhar nunca vacilou.
— Isso é certo, senhor. Mas não a levei a este lugar. Eu juro.
A intuição de David dizia que o homem estava mentindo, mas precisava de provas
antes de agir. Ele não acreditava em demitir criados sem motivo.
— Está tudo bem. Você pode ir. — Depois que o homem saiu, David se deixou cair
na cadeira atrás da mesa. Mais uma vez, lembrou-se de quão pouco conhecia a
esposa. Olhou ao redor, o que tinha sido seu refúgio durante o casamento.Talvez não
devesse ter passado tanto tempo naquele lugar. Talvez devesse ter feito um esforço
maior com Sarah.
Mas depois do primeiro ano de casamento, achava cada vez mais difícil suportar a
companhia dela. Em vez disso, ia ao escritório para fazer seus projetos de arquitetura e
revisar os investimentos. Isso era tudo o que lhe dava um propósito além da bebida e o
jogo sem sentido em que seus amigos participavam haviam sido sua salvação.
A escola tornou-se minha razão de viver, minha salvação.
Estremeceu, lembrando as palavras de Charlotte. Estava começando a entender a
determinação dela em proteger a academia. Às vezes tinha que proteger o único canto de
vida onde reina a sanidade.
No entanto, o lugar estava à beira do desastre e só poderia salvá-la se ela seguisse
seu conselho.
Mas por que faria isso? Aos olhos dela ele era um intruso, alguém que tinha
reaparecido em sua vida e poderia fugir com a mesma facilidade. Mesmo o fato de que
ele a queria como esposa só a fez desconfiar. Ele estava pedindo a ela para renunciar a
muito, afinal de contas, o que ele poderia oferecer em troca não era nada mais que a
segurança do casamento. Dado que o casamento de Charlotte tinha terminado em
desastre e também o dele, por que ela deveria confiar nisso?
Começou a pensar que a única maneira que ele poderia ganhá-la era fazendo
concessões que ele não tinha certeza se estava disposto a fazer.

Nos dias seguintes, essa possibilidade atormentava-o continuamente. O que


aconteceria se ela realmente não pudesse ter filhos? E se ela se recusasse a deixar a
escola aos cuidados de um subordinado? Poderia suportar um casamento em que teria de
compartilhá-la com a maldita escola. Embora as questões dessem voltas em sua cabeça,
ele teve que lutar contra o impulso de ir vê-la. Não importa saber que Charlotte precisava
de espaço para respirar nesse momento. Ele não queria lhe dar espaço. Queria arrastá-la
até o altar e que ela fosse dele para sempre.
Sua obsessão com ela deve ter aflorado depois que saciou a sede do corpo
dela. Mas, em todo caso, isso o consumiu ainda mais. Só respondendo à carta que ela
enviou ao primo Michael sobre a compra da escola lhe deu uma medida de alívio. O
maldito idiota do Watson havia lhe dado uma ideia de como romper a dependência de
seu primo uma vez por todas.
O que ele estava escrevendo a faria odiar o homem, enquanto a sua insistência,
iria ajudá-la a confiar mais em David. E quanto mais confiasse nela para ajudá-la, o mais
provável seria que mudasse de ideia quanto a se casar com ele.
Uma vez feito isso, cuidaria dos outros que ela tinha na cabeça.
Gastara metade da semana nos negócios de Charlotte e na escola, havia
negligenciado seus próprios assuntos, e os mesmos precisavam ser tratados. Também
teria que fazer uma visita a Pritchard e ao cunhado.
Para seu desgosto, descobriu que Pritchard tinha ido a Bath, provavelmente para
comemorar a venda iminente de Rockhurst. E de acordo com o Linley pai, Richard havia
desaparecido nas entranhas da vida licenciosa da bebida, do jogo e prostituição com os
amigos.
Pelo menos Stoneville estava ali para lhe dar permissão para fazer uma visita na
propriedade novamente. Para sua surpresa, o marques, geralmente um cara curioso, não
estava nem remotamente interessado em por que David queria voltar ao lugar.
Aparentemente, ele tinha seus próprios problemas que ocupavam sua atenção. Ele disse
David para ficasse com a chave, e em seguida, muito rapidamente o despachou de sua
casa da cidade.
Estranho isso. Mas não era tão estranho como a breve mensagem que veio de
Baines na manhã antes de David sair para ver Charlotte.

Preciso falar com você urgente.

Eles só mantinham comunicação através de notas, como David não queria que o
advogado corresse o risco de encontrar Charlotte em sua casa na cidade.
Não teria sentido se ela perguntasse por que David tinha assuntos com o mesmo
advogado que o primo Michael.
Baines geralmente reservava a palavra urgente para assuntos graves e David
perguntava-se o que poderia ser, quando seu irmão entrou na sala de café da manhã e foi
direto ao bule de café no aparador.
— O que você está fazendo aqui? — Perguntou David, untando generosamente o
pão. — Não me diga que perdeu o seu alojamento de solteiro novamente.
— Não, aqui ficava mais perto, e tenho que estar no tribunal hoje cedo. Não
queria ir todo o caminho a Chelsea, para depois de ter que fazer todo o caminho de volta
esta manhã. — Levando o bule para um lugar à mesa, encheu uma xícara com as mãos
trêmulas, em seguida, bebeu profundamente dela. — Tenho de parar de gastar minhas
noites na folia. Eu estou ficando velho demais para isso.
— Eu já ouvi isso antes — disse David secamente. — Muitas vezes.
— Estou falando sério desta vez. Não mais farras.
— Milorde — a voz do mordomo na porta, tão forte que fez David fazer uma
careta de dor. — Há um Sr. Jackson Pinter do Gabinete do Juiz Great Marlborough que
precisa vê-lo. Ele diz que é um agente da Bow Street.
Antes que David pudesse reagir, a cabeça de Giles se virou.
— O que ele quer?
— Mande-o entrar — disse David ao mordomo. Quando o servo saiu
rapidamente, David olhou o irmão. — É possível que tenha algo a ver com Richard. —
Ou com Timms.
— De qualquer forma, é melhor você me deixar lidar com isso, — disse Giles. —
Eu interrogo essas pessoas no tribunal o tempo todo. Sei como eles funcionam.
— Muito bem —. Seu irmão tinha um ponto.
Pinter Jackson provou ser um homem alto, com aspecto de lobo com espessas
sobrancelhas negras e um maxilar angular. Parecia muito jovem para ser um agente da
Bow Street. Até começar a falar com voz mundana que tinha um tom estranho. Eles
começaram a levantar-se, mas ele apressou-se a dizer: — Por favor, não preocupem-se.
Na verdade, sinto muito incomodar Sua Senhoria no café da manhã.
Suas palavras eram obsequiosas. Mas seu tom não era assim. Mostrava uma
arrogância que David achava incomum para um homem de baixa condição como Pinter
olhou para Giles, em seguida, de volta para David. — Se eu puder falar com Vossa
Senhoria — a sós.
— Eu sou irmão dele — cortou Giles — E também sou seu advogado. Do que se
trata isto?
O rosto de Pinter teve uma mudança sutil, cada vez mais vigilante. A expressão
dele ficou tão suave como o pano de linho branco sobre a mesa.
— Só estou aqui para esclarecer uma pequena questão sobre a morte da esposa
de sua senhoria.
— Sarah? — disse David, um calafrio de apreensão subiu pelas costas. — Estou
feliz em ajudar de qualquer maneira que puder, mas não tenho certeza sobre o que há
para discutir. — Ele apontou para uma das cadeiras como. — Posso oferecer-lhe um café,
senhor? Torradas e geleia?
— Não, obrigado, meu senhor, — disse Pinter, que não quis se sente. Em vez
disso, colocou um grande saco na mesa ao lado de David, abriu e tirou uma folha de
papel, que deslizou diante de David. Era uma folha de armarinho com a assinatura de
Sarah na parte inferior.
— Para seu reconhecimento — Pinter perguntou — esta é a assinatura de sua
esposa?
Para seu reconhecimento ? David deu um olhar superficial.
— Parece ser sim.
O homem puxou outro pedaço de papel. Quando David reconheceu, seu coração
começou a bater forte.
— E isso — disse Pinter, expondo a nota de suicídio de Sarah, que as autoridades
tinham mantido após a investigação. — Também é a assinatura de sua esposa?
— É claro —. David lutou contra a bile que subiu ao ver a nota. Por um momento,
o rosto sem vida de Sarah brilhou em sua mente desenhada em um repouso inquietante,
o corpo vestido flutuando na água manchada de sangue como uma folha em um arroio.
Com um esforço, eu sacudiu a lembrança horrível.
— Isso com certeza é a assinatura dela? — Espetou o homem. — Pense bem antes
de responder, Milorde.
— Qual é o propósito destas questões, senhor? — Disse Giles de perto com o
cenho franzido.
— Dois dias atrás recebi uma comunicação de um cavalheiro alegando que a nota
de suicídio era falsa. Ele disse que não ostentar a verdadeira assinatura de Sua Senhoria.
O ar permaneceu preso nos pulmões de David com a sensação de que Sarah tinha
vindo do além para fechar as mãos frias em sua garganta, mas ele se forçou a ficar calmo.
— Quem foi o - Senhor- que fez esta afirmação? — Rompeu Giles.
— Não tenho a liberdade de dizer senhor.
David olhou para as duas notas.
— A letra parece idêntica.
— À primeira vista, sim. Mas tivemos um especialista em falsificação a examinar
os dois documentos, e ele garante que diferem em áreas marcadas. A dona da loja de
miudezas viu sua esposa assinar a fatura com seus próprios olhos, a nota de suicídio tem
de ser uma falsificação. Afinal de contas, ninguém a viu escrevê-la, certo?
David lutava para respirar, pontos negros se formavam diante de seus olhos,
enquanto tentava examinar as notas. Se a nota de suicídio era uma falsificação...
— Então, você está dizendo? — Giles exigiu.
— Suspeito que Sua Senhoria sabe o que estou dizendo.
O olhar de David saltou a Pinter.
— Considera que ela não se suicidou em absoluto.
— Exatamente, meu senhor. — Seu olhar afiado sobre David. — Agora somos da
opinião de que foi assassinada.
O coração de David bateu no peito. Quem iria querer matar Sarah?
— Você tem algum suspeito?
— Uns poucos — disse o homem suavemente. — Então devo pedir-lhe que me
responda com sinceridade, Milorde. Tem certeza de que a assinatura é de sua
esposa? Talvez quando a encontrou naquele estado e pensou em como se livrar de uma
suja investigação por assim dizer, amarrando as coisas mais claramente?
David ficou espantado com o homem.
— Porra, eu não escrevi essa nota, se é isso que você está insinuando, senhor. Eu
nunca alteraria a verdade de tal falta dessa maneira.
Quando Pinter tirou um caderno para escrever algo, David lutou para conter seu
temperamento. Não era o momento para explodir.
— Até este momento — David continuou — acreditava que o documento havia
sido elaborado pela minha esposa. Na verdade, até ouvir outra coisa de alguém, além de
você e sua “fonte”, vou continuar assumindo que assim foi.
Olhando para as notas sobre a mesa, Giles as examinou.
— Houve uma investigação sobre a morte dela, e se bem me lembro, nada de
inconveniente foi encontrado.
— Você também deve se lembrar que o juiz de instrução estava na Escócia na
época — Pinter disse — e não podíamos esperar o retorno dele para realizar a autópsia.
Infelizmente, apesar de seu aprendiz ter tomado excelentes notas, as conclusões tiradas
sobre a morte, segundo o legista podem estar provavelmente erradas.
A cabeça de Giles virou.
— Que tipo de conclusões?
— Havia pétalas de lavanda do banho em seu estômago e pulmões. O jovem
aprendiz, disse que ela deve ter deslizado sob a superfície uma vez que morreu, porque
bebeu da água da banheira.
Pinter deu uma olhadela velada a David. — No entanto, experiências recentes em
afogamento têm mostrado que a água não entra estômago ou pulmões de uma pessoa,
sem ser engolido ou aspirado por uma pessoa viva. O medico forense suspeita que foi
afogada e depois cortaram os pulsos para fazer com que parecesse suicídio.
A premeditação deste tipo de coisa deixou David de garganta ressecada.
— Bom Deus — disse ele com voz rouca.
Abrindo o pequeno livro de novo, Pinter disse casualmente: — Segundo a
pesquisa, você declarou que tinha ido dar uma caminhada à noite. É isso correto,
Milorde?
Levantando-se, Giles olhou para o homem.
— Espero que você não esteja dando a entender que meu irmão assassinou a
esposa — Bramou Giles. — Ele é um membro respeitado da comunidade e um par do
reino. Então, se você acha que seria insensato como...
— Sente-se, Giles — disse David. — O homem está apenas fazendo o dever
dele. — Encontrou com o olhar de Pinter em ângulo reto. — Eu estava aqui até pouco
antes das dez. — Havia ficado esperando Sarah retornar de um baile para confrontá-la
sobre os rumores de que ela ainda estava jogando Faraó apesar dele ter proibido. — Bem,
sim, fui para uma caminhada. Não retornei até a meia-noite. Pergunte a meus criados e
descobrirá que muitas vezes vou caminhar à noite. Irá clareia minha mente.
Pinter escreveu algumas notas.
— Alguém o viu enquanto esteve fora?
Ele hesitou por um momento antes de dizer: — Não.
O Sr. Keel, o recepcionista da noite na oficina de Baines, o havia visto, porque foi
lá que David tinha ido para dar ao homem uma carta para Charlotte. Mas revelar aquele
pequeno pedaço de informação abriria toda sua vida à frente deles, para não falar em
arrastar Charlotte neste assunto.
Isto era intolerável. Se fosse necessário revelar seu paradeiro naquela noite, o
faria, mas não falaria até que não tivesse escolha. Charlotte devia ficar fora deste
assunto.
— Quando cheguei em casa — David continuou, — descobri que minha esposa
havia retornado também. Então chamei a governanta para que abrisse a habitação da
minha esposa porque estava trancada. Uma vez que juntos encontramos minha esposa,
perto da meia-noite, não vejo como posso ser considerado um suspeito.-
— Não havia uma porta contigua que conduze ao seu dormitório, não é, não
estava lá?
— Sim, e também estava trancada por dentro.
— Mas certamente você tem a chave.
David cerrou os punhos sob a mesa.
— Ela me pediu a única chave que eu tinha há alguns anos, e dei a ela. - No dia
que o baniu da cama dela. — Por que você acha que tive que recorrer à empregada para
abrir a outra porta?
Franzindo a testa, o homem escreveu algo em seu caderninho.
— O que o motivou a entrar no quarto dela quando estava trancado?
— Era sobre um assunto que eu queria discutir com ela, e ela não estava em casa
mais cedo. Quando bati na porta, ela não respondeu.
— Que era exatamente o assunto?
Giles levantou-se novamente.
— Essa conversa acabou, Sr. Pinter. Até que você tenha algo mais substancial do
que a suposição e conflito dos investigadores, sugiro que você deixe meu irmão ter seu
luto em paz.
— Não me importo de responder às perguntas — David disse com a voz mais
calma que conseguiu reunir. — Eu não fiz nada de errado.
Pinter guardou a caderneta no bolso.
— Obtive tudo que quero saber, por agora, de qualquer maneira. — Pegou as
cartas para colocá-las de volta na carteira.
— Espere — disse David. — Deixe-me olhar novamente.
Ele tinha visto a nota de suicídio apenas uma vez, na noite da morte de
Sarah. Quando a leu, só estava meio consciente do que estava lendo ao vê-la deitada na
água sangrenta. Certamente não tinha prestado atenção às sutilezas da assinatura.
Mas poderia prestar mais atenção agora, olhando para a primeira, e comparando-
a com a outra. Ele podia por que surgiram perguntas. Os - erres - eram ligeiramente
diferentes, e as voltas do - k - eram mais acentuadas.
— Deveria estar em um estado de ansiedade quando escrevi isso — disse,
empurrando a nota de distância. — Isso poderia explicar as anomalias.
— Temos pensado nisso. — Pinter deslizar os dois documentos em sua pasta. —
No entanto, de acordo com a nossa fonte, sua esposa fez planos com uma amiga para o
dia seguinte. Isso não soa como uma pessoa prestes a cometer suicídio.
— E a amiga confirmar esta afirmação de sua fonte?
— Sim.
Pela primeira vez, se deixou convencer de que era possível. Embora a ideia de que
Sarah foi assassinada a sangue frio não só enviou um calafrio através dos ossos de David,
mas também, em certa medida aliviou a culpa que pesava sobre ele por meses. Não era
culpa dele. Ele não a levou a praticar tal ato.
Mas também não esteve presente para protegê-la. Então, de qualquer forma, o
culpado era ele. E quem em nome de Deus teria estado no quarto de Sarah, enquanto ela
estava vestindo apenas o roupão e se preparando para um banho? Não fazia sentido.
O Sr. Pinter foi até a porta, em seguida, parou e enfrentou-os novamente.
— Eu tinha mais uma pergunta, senhor. Por que disse a seus amigos que ela
cometeu suicídio por causa de dívidas de jogo quando a nota não menciona isso?
Quando Giles disparou ao homem um olhar surpreso, David estremeceu. Manteve
isso guardado de todos, incluindo seu irmão.
— Dada a escolha entre falar para os amigos da fraqueza da sua esposa para o
jogo e que isso a levou à morte ou que ela era apenas infeliz no casamento com você,
qual você escolheria?
O olhar de Pinter suavizou uma fração.
— Entendo seu ponto.
— Se eu tivesse forjado a nota, não acha que teria escolhido as palavras que eu
contei para dar uma luz mais favorável ao suicídio?
— Talvez. Ou talvez você considera isso e você se acha mais esperto do que a
maioria.
David o fixou em um olhar sombrio. Ao corredor que leva a rua.
— Você tem direito a sua opinião, senhor. Mas espero que, quando tomar uma
decisão sobre esta matéria, seja a evidência e não a opinião que leve em conta.
— Garanto-lhe, senhor. Não formarei uma opinião até que tenha provas para
apoiá-la. — Fez uma reverência. — Eu me despeço. No entanto, seria mais útil se você
ficar na cidade até que este assunto seja resolvido.
David apertou os dentes.
— É um pedido ou uma ordem?
— Uma sugestão, se você quiser. — Pinter acenou para Giles. — Bom dia,
senhores.
Ao sair pela porta, pasta na mão, David só podia olhar para trás dele.
Bom Dia? Não era para ser um bom dia no mínima.
Pior, David começou a temer que nunca seria um bom dia novamente. Todos os
seus pecados se erguiam para assombrá-lo. E parecia que não havia absolutamente nada
que ele pudesse fazer sobre isso.

Charlotte se sentou naquela tarde em seu escritório, e releu a carta do primo


Michael:

Estimada senhora Harris,


Sua oferta para comprar o imóvel onde está localizada a escola foi fortuita. Como
de costume, minhas finanças foram afetadas nos últimos tempos, de modo decidi procurar
um comprador para a propriedade. Por mais que eu gostaria de ser capaz de dar ao luxo de
vender o lugar para você, não posso. O terreno é bastante valioso e da quantia que sugere
não é metade do que vale a pena. Desde que exigem um grande fluxo de dinheiro muito em
breve, vou ter que encontrar outros compradores.
Só posso permitir que você fique em um aluguel reduzido durante três meses mais,
sempre e quando mantenha as nossas condições, claro.
Isso lhe dará muito tempo para encontrar um imóvel para alugar em outro lugar.
Mas depois de três meses, terei que vender. Sugiro que você comece a procurar uma
melhor localização para a escola.
Seu primo, Michael

Ela olhou para a carta, sentindo um buraco no fundo do estômago. Ele foi tão frio,
tão distante. Não gostava desse primo Michael em absoluto.
Por que ele estava fazendo isso com ela? Seriam fofocas? Ele tinha perdido a fé na
capacidade dela de administrar a escola? Ela não acreditava que os assuntos entre eles
estivessem assim tão ruins. Soava como um proprietário qualquer.
Era o suficiente para ela reconsiderar a quebra do acordo e enviar Terence caça
da verdadeira identidade dele. Só então teria que lidar com o aumento do aluguel,
enquanto também procurava um novo lugar para a escola. Isso não poderia fazer. Pelo
menos tinha o legado de Sarah. E havia mais propriedades na lista de David, embora a
perspectiva de passar as próximas semanas marchando através do campo era bastante
assustadora. Seria muito difícil pensar racionalmente sobre a oferta de casamento, se
cada vez que eu o visse, quisesse jogar-se sobre ele com paixão desenfreada.
Fechando os olhos, esfregou as têmporas doloridas. Como, em nome de Deus, ela
iria sair dessa bagunça?
— Senhora Harris — veio uma voz da porta — há um agente da Bow Street que
quer vê-la.
Ela olhou para cima para achar o mordomo ali de pé. Oh não, e agora o que? Já
não tenho o suficiente para me preocupar por estes dias?
— O que você quer?
— Ele não vai me dizer. Mas parece determinado a não sair daqui até que fale
com ele.
— Muito bem — disse ela, cansada. — Mande-o entrar — Instantes mais tarde,
quando o mordomo anunciou o homem como o Sr. Pinter, levantou-se para apresentar-
se ao atraente jovem que entrou em seu escritório.
— Eu sou a senhora Harris — disse ela, — a proprietária desta escola. Em que
posso ajudar?
O cavalheiro deu-lhe um olhar de avaliação, esperando enquanto ela voltava a
sentar-se mais uma vez antes de assumir a cadeira que estava na frente da mesa.
— Eu vim em nome do Gabinete do Juiz real de Marlborough Street para fazer
algumas perguntas sobre o Senhor Kirkwood.
Isso imediatamente a colocou em guarda.
— Que tipo de perguntas?
— Eu entendo que Lady Kirkwood uma vez foi uma aluna de sua escola.
— Foi.
— Diria que Lady Kirkwood tinha um temperamento melancólico?
— Melancólica? Sarah? — Um riso incrédulo escapou de seus lábios, mas a
desaprovação nos olhos do Senhor a trouxe de volta à sobriedade. — Não sou de falar
mal dos mortos, mas ela era mais egocêntrica do que melancólica. Por quê? É sobre a
morte dela?
— Você sabe como a senhora morreu?
As perguntas começaram a alarmar.
— Ela cometeu suicídio.
— Sim, mas você sabe como?
Isso a deixou confusa. Em nome de Deus, o que estava acontecendo?
— Não. Os jornais disseram apenas que ela tinha tirado a própria vida.
Pegando um bloco de notas, o Sr. Pinter escreveu algo nele com um lápis.
— Então, a família dela não lhe disse nada. Ou Sua Senhoria.
A menção de David a colocou em guarda.
— Olha, eu não vou responder a mais uma pergunta até que você me responda
por que está me perguntando sobre Sarah seis meses após sua morte?
Os lábios do Sr. Pinter foram se estreitaram em uma linha.
— Estamos investigando o assassinato de Lady Kirkwood, — disse ele sem
rodeios.
— Assassinato! Portanto, não foi um suicídio?
— Ela foi encontrada com roupa de banho com um corte nos pulsos. Ao mesmo
tempo, o suicídio parece ser a escolha óbvia, uma vez que foi encontrada uma nota. Mas
acontecimentos recentes nos levaram a acreditar que a nota foi forjada, provavelmente
pelo assassino.
Sentou-se na cadeira, sentindo-se subitamente fraca nos joelhos. Um
assassino? Na verdade, suspeitava-se que alguém deve ter assassinado Sarah? Como
poderia ser?
— Sua Senhoria sabe de suas suspeitas?
— Sim, nós o informamos nesta manhã.
— Pobre — disse, tomando cuidado para não mostrar grande parte da simpatia
que sentia por David. — Como deve estar sofrendo.
— Duvido que ele esteja sofrendo muito — Pinter disse friamente. — Pelo que
entendi o casamento não era feliz.
Dirigiu o olhar para o agente da Bow Street. Foi ao observá-lo cuidadosamente,
que a verdade de repente, lhe ocorreu. As autoridades pensavam que David tinha matado
Sarah!
Como era possível ocorrer uma coisa assim? Era ridículo.
— Não posso falar se o casamento era feliz ou não — disse com uma voz rouca,
escolhendo as palavras com cuidado. — Mas como viúva, lhe asseguro que não importa a
situação, ele sofreu por causa da morte dela. Ela era sua esposa, afinal de contas. E ele é
um homem de bom caráter.
— Isso foi o que me disseram — disse o cavalheiro.
No entanto, claramente cético. Justa indignação cresceu dentro dela.
— Se você está abrigando algumas suspeitas de que Sua Senhoria poderia ter
feito isto, está muito enganado. Ele tem muita honra e orgulho para descer tão baixo. E
certamente você não tem nenhuma evidência para sugerir que ele tenha cometido o
crime.
— Entendo que Vossa Senhoria tem passado muito tempo em sua companhia nos
últimos dias.
A rápida mudança de assunto combinado com um agudo escrutínio do Sr. Pinter,
enviou sinais de alarme em sua cabeça.
— Quem contou isso?
— É verdade? — O Sr. Pinter alfinetou.
As perguntas lhe davam medo. Certamente ele não achava que ela e David...
poderia ter conspirado juntos...
— Depende de como você define muito tempo. Ele me fez um par de visitas, sim.
— E você participou de um jantar na casa dele três noites atrás. Embora ele ainda
esteja de luto.
— Vamos ver, — ela disse, irritada com a insinuação— Eu estava lá apenas para
visitar uma outra ex-aluna, que por coincidência é casada com um primo de Sua
Senhoria. E não que isso seja do seu interesse.
— Entendo. — Ele escreveu algo em seu caderno. — E Sua Senhoria não disse
nada a você sobre o estado de seu casamento. Ou explicou como a esposa morreu.
Ela endureceu.
— Por que deveria? Sua Senhoria e eu temos uma relação profissional. Ele não me
diz essas coisas.
— Relação Profissional? — Pela primeira vez desde a sua chegada, o Sr. Pinter se
cuidou de registrar as emoções de surpresa em seu rosto — Que tipo de relações
profissionais?
Oh, meu Deus! Talvez eu não deveria ter mencionado isso. Mas, honestamente,
não seria melhor que a polícia soubesse da propriedade, ao invés de assumir que algo
escandaloso estava acontecendo entre ela e David?
— Lady Kirkwood deixou uma quantia de dinheiro para a escola. E Sua Senhoria
foi nomeado para supervisionar como ele será gasto.
Isso pareceu confundir o agente da Bow Street.
— Eu não entendo.
— O legado foi trinta mil libras para a minha escola para a construção de um novo
edifício que levará o nome de Sarah.
— Isso é impossível — disse Pinter enquanto seus olhos cinzentos profundos a
olharam —Vossa Senhoria não tinha nenhum testamento.
CAPÍTULO DEZENOVE
Durante seis meses, David lutou para tirar a noite da morte da esposa da
mente. Portanto, era doloroso voltar a reviver cada momento, na esperança de uma pista
do que realmente tinha acontecido. Enquanto Giles se dirigiu a pensão de Lincoln, para
ver se poderia descobrir algo sobre a investigação de suas muitas fontes, David repetiu a
sequencia de eventos, lembrou-se de cada visitante da casa da cidade naquele dia. Mas
nada disso esclareceu o mistério.
Então voltou a pensar como tinha sido o dia da morte dela. As últimas palavras
dela estavam estampadas em sua mente, uma vez que as examinou implacavelmente nas
semanas seguintes a morte dela, tentando dar sentido ao porque dela ter se
suicidado. Nenhuma das conversas foram concisas, as discussões sobre o vício no jogo
tampouco diziam nada.
Ainda não.
Nem mesmo uma busca no quarto dela havia revelado nada mais do que o que já
sabia - que Sarah tinha sido amante das cartas, das roupas e joias, nessa ordem. Se
tivesse uma vida secreta além de gastar dinheiro, não descobriu nada.
Enquanto isso, outra mensagem veio de Baines. Desta vez, enviou um mensageiro
de volta com um bilhete que dizia: — Obrigado por perguntar, senhor, mas receio não
poder satisfazer seu pedido para uma reunião neste momento.
David já havia notado os dois agentes da Bow Street descansando do lado de fora
de sua casa - um no beco e um na frente. Era óbvio que ele estava sendo vigiado, o que
Baines devia esperar.
No entanto, quando Giles entrou em casa, David estava em condições de ser
amarrado. Avançou sobre Giles e o arrastou para a biblioteca que ficava mais próxima
deles.
— Descobriu alguma coisa? — Falou enquanto fechava a porta. — Quem é a
misteriosa “fonte”.
— Tem que ser Richard, — Giles disse enquanto caminhava para a garrafa de
brandy. — Ele está dando problemas, porque você não lhe da dinheiro. Despertado
suspeitas, na esperança de que passem por sua vida com um pente fino. Só está fazendo
isso para se vingar de você.
David fez uma careta.
— Então você não descobriu nada.
Depois de se servir uma generosa quantidade de líquido âmbar, Giles se deixou
cair em uma cadeira e olhou melancolicamente o copo.
— Não.
Se fosse somente alguém querendo causar problemas poderia ser Pritchard tão
facilmente como Richard. O primeiro poderia pensar que era uma boa maneira de fazer
David pagar por não manter um melhor controle sobre Charlotte. Salvo que Pritchard não
tinha qualquer conhecimento da letra de Sarah.
A suposta fonte também poderia ser o bastardo do agiota Timms que conhecia a
letra de Sarah e tinha boas razões para querer incomodá-lo. Mas por que as autoridades o
deixariam ver a nota de suicídio?
Sim, Richard parecia a fonte mais provável. Ele de todas as pessoas, era o único
que poderia ter notado qualquer diferença na escrita, e sua raiva contra ele o levou as
autoridades e pedir para ver a nota de suicídio.
A menos que o encrenqueiro tenha atirado no escuro, tentando despertar
suspeitas. As autoridades, em seguida, teriam olhado a nota e descoberto um assassinato
que não haviam imaginado.
Um calafrio passou por ele.
— Para além da nota de suicídio e relatórios questionáveis dos forenses — David
perguntou: — tem algo mais para confirmar que foi um assassinato?
— Não parece assim. No entanto, ambos são esmagadoras se não pudermos nos
desprender dos diferentes depoimentos. Especialmente que você não tem nenhum álibi e
possui motivação suficiente.
— Quais os motivações? — Respondeu David. — Eu já tinha o controle sobre o
dinheiro, por que correria o risco de matá-la?
— Porque ela estava jogando mais rápido do que você poderia investir.
— Oh, Deus, eu não matei a minha mulher por dívidas de jogo. A ideia é absurda.
— Eles não pensam assim. Sempre suspeitam primeiro do marido, já sabe. Suas
suspeitas não os impedirá de começar a fazer perguntas aos criados e amigos, e
esmiuçarem sua vida. Mesmo que nunca vá a julgamento, será um negócio sujo.
Exatamente o que ele temia.
Uma batida na porta resultou ser o mordomo.
— O lacaio pessoal da Senhora Harris está aqui, meu senhor, — disse quando
David o deixou entrar — Ele insiste entregar uma mensagem em pessoa.
O sangue de David começou a bater com força. Charlotte tinha enviado Terence?
Totalmente confuso, provavelmente os agentes tinham ido visitá-la também.
No entanto, ela não teria feito tal coisa, a não ser que fosse urgente.
— Faça-o entrar.
Giles lhe lançou um olhar perscrutador.
— Ou a boa viúva já ouviu falar da investigação, ou ela simplesmente não
consegue ficar longe de você. É melhor ter cuidado. Você não vá fazer às autoridades
pensar que há algo entre vocês.
David reclamou. Se a polícia o conectasse a Charlotte, que suposições
fariam? Embora fosse inocente sobre matar a esposa, os faria suscitar perguntas ainda
mais pegajosas.
— Há alguma coisa entre vocês? — Perguntou Giles. — Porque sou seu advogado,
preciso saber.
Deve dizer a Giles sobre o primo Michael, pelo fato de que o secretário de Baines
ser seu álibi para a noite do assassinato? Se o fizesse, Giles iria imediatamente a Pinter e
David deixaria de ser um suspeito.
Mas, em seguida, seu cuidadoso namoro com Charlotte seria enviado ao inferno.
Não, ele não correria o risco até que tivesse que fazer. Ainda assim, era melhor
deixar que Giles soubesse sobre suas intenções para com Charlotte.
— Eu a pedi em casamento — David disse sem rodeios. — Ela ainda não me deu
uma resposta.
Giles brincou com o copo.
— Eu pensei que talvez o vento soprasse dessa forma. — Seus olhos se
encontraram com David. — Sugiro que você mantenha esse pedaço de informação muito
oculto até isso acabar.
— Não se preocupe, isso já tinha me ocorrido. — David caminhou até o fogo. —
Nada vai sair dessa bobagem, você sabe. Eu não matei Sarah, e não há nada que diga que
eu fiz. Procurei em todos os cantos do quarto dela, voltei aquela noite uma centena de
vezes na minha cabeça. Francamente, não consigo pensar em ninguém que poderia matá-
la. Provavelmente não provem nada mais que um erro por parte de seus “especialistas”.
— Espero que esteja bem.
Só então, Terence apareceu na porta. Começou a entrar, então parou quando viu
Giles. Virou-se para David.
— Meu Senhor, quero falar com o senhor em particular.
Tomando a pista, Giles se levantou e disse: — Vou estar no estúdio, se você
precisar de mim.
Assim que ele saiu David fechou a porta.
— O que está acontecendo, Terence?
Terence entregou-lhe uma nota. David leu rapidamente.

Pinter do escritório do magistrado esteve aqui hoje. É extremamente urgente que eu fale
com você. Se puder me ver às dez horas da noite no píer da escola, envie a resposta com
Terence. Se não for, diga quando e onde.

Um calafrio percorreu David, quando olhou para Terence.


— O que Pinter quer com ela?
— Eu não estava presente no momento da entrevista, senhor, mas ela me disse
que o gabinete do magistrado parece suspeitar que o senhor assassinou sua esposa.
David amassou a nota com a mão, sentindo a sala de girar.
— Ela disse que essa suposição é, e cito “totalmente ridícula”.
A sala endireitou.
— Pelo menos eu tenho um amigo no que me resta no mundo.
— Aposto que tem mais do que isso, meu senhor. Nem todo mundo salta para
julgar um homem pelo que o gabinete do magistrado disse. — Quando David levantou
uma sobrancelha, Terence acrescentou: — Me resulta difícil acreditar que um homem
cujo servos cantam seus louvores tão alto como você poderia ser um assassino.
— Obrigado — disse David, estranhamente movido pela fé do homem nele. —
Mas se não acha que matei minha mulher, por que quer se encontrar comigo?
— Ela não me disse isso, mas eu entendo que é...
— Muito urgente — disse ele irritado —. Sim, eu sei. — Começou a sentir-se
como um personagem de um romance gótico. — Ela lhe disse o que disse ao agente sobre
minha... é... amizade com ela?
Terence ficou tenso.
— Não senhor. Mas sei que minha patroa é muito discreta. Ela sempre foi assim
com suas alunas. — Embora estivesse claro que ele não era uma parte da vida da patroa,
ele queria saber mais sobre ela.
Outra coisa ocorreu a David.
— E você foi discreto ao vir aqui?
Terence lhe lançou um olhar ofendido.
— Espero que sim, eu sei como evitar os agentes da Bow Street,
Milorde. Tínhamos de fugir sempre que organizávamos uma luta de boxe.
David tinha esquecido isso. As lutas eram ilegais e às vezes tinha de ser
transferida várias vezes para frustrar os oficiais de justiça.
— Então não se preocupe com isso, senhor — disse Terence. — Ninguém estava
vigiando a escola, e quando eu vi o agente da Bow Street em frente à casa e o outro na
parte de trás, tive o cuidado de entrar pela porta de serviço, quando ele não estava
olhando. Ninguém me viu, eu lhe garanto.
O alívio o inundou.
— Obrigado por se preocupar.
— E você, senhor? — Perguntou Terence. — Será capaz de sair esta noite sem ser
visto?
— Eu vou lidar com isso. — Deu-lhe um sorriso. — Não posso ser tão familiarizado
com policiais como você, mas tive que evitar um repórter ou dois no meu tempo.
— Se for pelo rio ninguém o vera, e se por algum motivo o escritório do
magistrado colocar um homem para vigiar a escola. Um vapor de água pode levá-lo até
um lugar no rio da escola.
— Eu aprecio o conselho... e sua ajuda a este respeito. Diga a sua patroa que vou
encontrá-la onde e quando ela especifica.
— Ok, Milorde.
Quando o servo não foi, David levantou uma sobrancelha.
— Existe algo mais, Terence?
Sentindo-se de repente incomodo, o pugilista esfregou o pescoço.
— Depois que a minha senhora disse que suspeitam do senhor, me ocorreu...
quer dizer, posso ter informações que poderiam ajudar a descobrir quem realmente
assassinou sua esposa.
David instantaneamente ficou alerta.
— Oh sim?
— Não tenho o hábito de fofocar com outros criados, entenda-me, mas...
— Qualquer coisa que você pode me dizer será muito apreciada — David disse
com firmeza.
Terence assentiu.
— Quando eu estava aqui com minha senhora há algumas noites para o jantar,
ouvir alguns criados falando sobre as atividades de sua senhoria. Mas não sei se... temo
que o que disseram dela era um pouco desagradável para um homem para saber sobre
sua esposa.
— Neste ponto, qualquer coisa que você ouviu sobre a minha mulher não me
surpreenderia no mínimo — David disse com cansaço. — Prossiga.
— Entendi que entre os servos se achava que a senhora tinha... mostrava uma
preferência pelo primeiro lacaio. — Terence corou. — De caráter pessoal. Se é que você
me entende.
O queixo de David caiu. Ele suspeitava de Sarah em uma série de coisas, mas não
é isso.
— Quer dizer que ela estava me colocando chifres com George?
O rubor de Terence aprofundou, embora ele ficou parado contra a parede com
estoicismo assistindo David.
— Sim senhor. Esse foi o rumor. Eu nunca falaria sobre isso, mas sob as
circunstâncias
— Sim, sim, tem todos os motivos para me dizer. — David foi a uma garrafa de
conhaque e serviu uma generosa quantidade. Tomou um longo gole e levantou o copo
para dar uma olhada no vidro, sentindo-se como se tivesse levado um soco no estômago.
Sarah teve um amante? Sob seu próprio teto? Quando ela nem sequer
compartilhava a cama com ele? Oh Deus, ele ia ficar doente.
Não porque se importasse que ela tinha dormido com outro ou por quê. Só
mostrou-se mais uma vez como tinha sido cego ao que estava acontecendo em seu
próprio lar.
No entanto, um lacaio, entre todas as coisas. Cristo!
— Poderia ser fofoca de criados ociosos — disse Terence.
— Não — disse David com a voz trêmula. — Isso faz sentido —. Explicava porque
George tinha evitando suas funções após a morte dela. E por que o homem sempre
transmitia a David uma sensação de intranquilidade.
Depois que Terence se foi, não conseguiu tirar a revelação do pugilista da
mente. Quanto tempo levava pensando sobre o assunto? Foi por isso que ela tinha
parado de compartilhar a cama de David pela primeira vez? Era possível, mas não saberia
ao certo até que falasse com George. Mas ele não estava pronto para fazer isso ainda.
Primeiro, teria que seguir George para ver se o homem poderia ser a misteriosa
“fonte” do escritório do magistrado. Em seguida, teria que ter o quarto do lacaio
revistado.
Porque não havia nenhuma dúvida em sua mente que George era o único que
levou Sarah a Spitalfields para vender as safiras. Pior ainda, se isso havia de alguma forma
voado do rosto do homem, ele também poderia ter sido capaz de assassinato.
E, certamente teria tido fácil acesso a chave do quarto de Sarah, apesar de chave
ou não, eles tinham sido amantes.
Por suposto, outros também. Richard tinha o hábito de aprontar para falar com
Sarah, sem ser visto.
Mas Richard não a teria matado. Para Sarah, ele tinha sido seu campeão, e ela
tinha sido sua mascote. Ela lhe emprestava dinheiro e o tinha defendido do pai. Não,
Richard não teria matado a galinha dos ovos de ouro.
Mas poderia ter decidido que David tinha feito e se dispôs a garantir que fosse
enforcado por isso.
David apertou a mandíbula. Não importava quem estava no fundo da questão, ele
saberia a verdade. Sobre quem estava tentando vê-lo enforcado, e quem matou Sarah, se
é que realmente foi assassinada.
Em primeiro lugar, no entanto, tinha que saber o que aquele bastardo do Pinter
tinha dito a Charlotte para molestá-la. E o encontro deveria ser secreto, porque o
escritório do magistrado tinha certeza tiraria conclusões erradas. Mas, como lidar com
isso?
Felizmente, Giles sempre tinha a solução perfeita para seu problema. Mais tarde
naquela noite, ele e Giles se foram. Giles estava de luto e entrou na carruagem, enquanto
David, vestido como um lacaio subiu no lado de fora da carruagem com outro lacaio. Pela
primeira vez, ter um irmão muito semelhante foi a seu favor.
A medida que se distanciavam, David viu um dos agentes da Bow Street montar
no cavalo e seguir o veiculo a uma distância discreta. Quando a carruagem parou para
deixar Giles em uma taverna popular, o agente ficou fora do lugar para esperar – como
David tinha dito. Como condutor conduziu até onde os outros veículos esperavam a
chamada de seus patrões, David saiu e desapareceu na noite.
Demorou umas duas horas para chegar à escola do outro lado do rio, mas ainda
conseguiu chegar uma boa meia hora antes da hora marcada. Ele foi capaz de entrar na
casa de barcos sem ser visto, uma vez que a porta estava trancada. Felizmente, alguém
tinha deixado uma lamparina em um gancho perto da porta, então não se viu obrigado a
tropeçar no escuro.
Mas - o píer - resultou por ser um nome pouco apropriado, o que explicava por
que ela tinha escolhido encontrar-se naquele lugar apesar de seu medo do rio.
Embora construído perto do rio Tâmisa, ouvia-se rolando a água a uma curta
distância, a estrutura era em si mesma, com pisos de madeira maciça e quatro boas
paredes.
Apenas ganchos acima mostravam que tinha sido usado para barcos.
Agora, a casa estava cheia de arcos de tiro, caixas de flechas, mobiliário antigo,
troncos e cortadores de grama. Ele sorriu. Deixar que Charlotte converte-se um
ancoradouro em perfeito estado em um galpão de armazenamento e jardinagem. Era
evidente que, ela nunca deixava sua equipe se aventurar no rio.
Descobriu um sofá que estava perdendo seu recheio, e deitou-se, cansado até os
ossos. Estava cansado de surpresas. Neste momento eu só queria uma oportunidade para
ver e abraçar Charlotte, para esquecer o drama que ocorria em Londres. Tinha que ter
certeza que não tinha ido ainda mais longe de alcance.
Talvez devesse dizer-lhe tudo sobre o primo Michael e o resto da história.
Não. Se o fizesse, teria de revelar o segredo horrível no centro da farsa.
Considerando que ele não tinha certeza de como se sentia sobre essa bagunça
com Sarah, ele não podia correr o risco de que ela o odiasse por isso.
E se Charlotte deixasse de acreditar nele...
Só a ideia rasgou sua alma. Ele não correria o risco de perdê-la, levantando o
espectro de primo Michael! Com seu mundo a ruir sobre suas orelhas, precisava dela
desesperadamente, demais agora. Deixaria que manchassem sua dignidade, arrastassem
seu nome pela lama, mas não iria deixar Charlotte ficar longe dele. Nunca mais.

CAPÍTULO VINTE
Charlotte se apressou para a casa de barcos, perguntando-se se David teria vindo.
Ela tinha passado a tarde e à noite preocupando-se com as revelações de Sr.
Pinter, e queria respostas. Agora.
Quando ela entrou no barracão, não viu nada em primeiro lugar. Então viu o
criado vestido com a libre de Kirkwood dormindo em um sofá. A decepção tomou conta
dela... até que se aproximou e percebeu que era David.
A raiva que havia estava latente durante toda a tarde estalou. Os agentes da Bow
Street estavam investigando toda a sua vida, e ele conseguia dormir? Oh, ele era tão
semelhante a um homem.
Ela pegou um ladrilho e deixou cair no chão.
David acordou assustado e olhou em volta, confuso, em seguida a olhou nos
olhos.
— Charlotte, você está aqui. Eu devo ter adormecido.
— Talvez vestir-se como um servo apodreceu seus sentidos — ela disse enquanto
arrancava a peruca empoada da cabeça dele e a jogava de lado.
Em seu tom cortante, ele reduziu o olhar. Inclinou para frente e puxou-a para o
seu colo.
— Talvez vestir-se como professora apodreceu o seu — respondeu ele, inclinando
a cabeça para beijá-la.
— Pare de fazer isso — protestou ela. — Nós precisamos conversar.
— Podemos conversar mais tarde — rosnou e tomou sua boca com a dele.
Por um momento ela esqueceu a raiva. Esqueceu que ele tinha mentido para ela,
provavelmente por razões que não entendia todavia. Devido a isso, ela entendia esse
fogo entre eles.
Quando ele a estava beijando, era seu e era glorioso.
Até que ele voltou para soltar os botões do vestido. Então se lembrou da raiva e
se afastou lutando para sair do colo dele.
Fechando os braços ao redor de sua cintura, ela disse: — Nós precisamos
conversar. É importante.
Uma expressão de cautela atravessou o rosto dele.
— Esta irritada.
— Irritada é uma palavra suave para o que estou sentindo agora, eu lhe garanto.
Levantou-se do sofá e se ergueu em toda sua estatura.
— Terence disse que você não acredita que eu tenha assassinado Sarah. Eu estava
enganado?
— Claro que não. Eu sei que nunca faria uma coisa dessas. — Sua voz
endureceu. Mas durante o interrogatório sobre minha aluna e minha associação com
você, o Sr. Pinter disse-me uma pequena informação interessante que soa exatamente
como algo que você seria capaz de fazer.
Ele passou os dedos pelos cabelos que tinham sido achatados pela peruca,
fazendo com que levantassem em mechas ímpares.
— Informações sobre o que? Sarah?
— Sobre o codicilo.
Quando ele ficou paralisado, com um olhar de alarme que se estendeu pelo rosto,
ela sabia a verdade. Estava esperando desesperadamente que Pinter estivesse errado.
— E o que Pinter disse, exatamente? — David engasgou.
Ela franziu a testa.
— Sabe o que ele disse? Disse Sarah não deixou um testamento. Portanto, teria
sido difícil que tivesse um codicilo.
— Você viu o documento. — A resposta suave de David era uma evasão clara. —
O seu advogado revisou e disse que era legal.
Isso realmente despertou seu gênio. Dirigiu-se a ele com as mãos em punhos nos
lados.
— Sim, sim. Infelizmente, quando eu mostrei ao Sr. Pinter, ele teve uma resposta
completamente diferente.
— Ah, meu Deus — ele disse em voz baixa. — Mostrou a Pinter?
O alarme em seu rosto deu-lhe uma pontada de culpa que foi banido pela rapidez
em lembrar o que David tinha feito.
— O que mais eu poderia fazer? Afinal de contas, assumi que o meu amante não
iria mentir para mim sobre algo assim.
Ignorando o olhar de remorso no rosto de David, ela continuou implacável. —
Mesmo depois de Pinter, dizer que a família de Sarah disse que não tinha testamento, eu
acreditei em você. Eu disse que os Linleys deviam ter se confundido. Eu tinha o
documento maldito para provar, depois de tudo.
Tomou fôlego, lutando para evitar chorar na frente dele. — Mas foi difícil de
negar a verdade quando Pinter disse seu advogado, que redigiu o acordo também
afirmou que não havia um. Nunca houve.
David reclamou.
— Então, quando Pinter perguntou se poderia levar o documento do legado —
continuou, — eu não sabia o que responder. Ele é um oficial da lei. Não acho que poderia
recusar. E pensei que iria levá-lo a descobrir que ele estava errado sobre a vontade de
Sarah. — Ela olhou para ele. — Mas não é, certo? É uma fabricação. O legado de tudo é
uma mentira.
Ele nem sequer se preocupou em negar. Como poderia? Em vez disso, ele a
agarrou pelos ombros.
— Ouça, Charlotte. Posso explicar tudo.
— Explicar? Como você pode explicar uma mentira? — Ela se contorcia para ficar
livre, sentimentos de traição estampados sobre seu coração já ferido. — Eu devia estar
louca para acreditar em você. — Uma risada auto-depreciativa escapou. — O que eu
estava pensando? Sarah nunca teria doado dinheiro para a escola.
Abraçando a cintura, sussurrou —, mas eu queria ter você de volta na minha vida,
estava disposta a ignorar a estupidez do que a minha razão estava dizendo. — Essa foi a
pior parte. — Porque acreditar que foi uma mentira teria significado que me odiava tanto
que deliberadamente queria me fazer de tola para que pagasse.
— Não! — Gritou, claramente horrorizado. — Porra, sabe que não tinha nada a
ver com cobrar qualquer coisa!
— É verdade? — Era a única explicação que fazia sentido. — Porque se você
pretende...
— Não é por vingança, pelo amor de Deus! Acha realmente que poderia fazer
amor com você, pedir para casar comigo, por vingança por algo que você fez há dezoito
anos atrás? Especialmente quando esse tempo eu já sabia por que você tinha feito?
Não havia nenhuma lógica nisso. No entanto, não respondeu a sua pergunta.
— Então, que outra razão lá? Esta ligado a Pritchard? Você parecia conhecê-lo
muito bem. Convenceu você a me ajudar para eu cochilar e pensar que devo mudar a
escola, apenas para me tirar do caminho?
— Agora nem sequer está dizendo algo que faça sentido — ele respondeu. — A
única maneira de sair daqui é se o dinheiro for verdadeiro, e é. Cada centavo é seu.
Legalmente. Sempre foi seu. Se você quiser.
Charlotte ficou boquiaberta. Não podia acreditar no que ele estava dizendo. Não
podia acreditar em nada disso.
— Como pode ser legalmente meu se o testamento não é?
— É meu próprio dinheiro. De meus próprios investimentos. — Seu olhar era
negro à luz do lampião. — Eu sabia que você nunca o aceitaria de mim, por isso fiz um
legado. — Ele a acariciou na bochecha, mas quando ela se inclinou para trás, ele
endureceu a voz. — Se você não acredita em mim, pergunte a meu advogado.
— Ele que disse que Sarah não tem testamento, — ela se sufocou ao falar.
— Ele se sentia desconfortável com a situação desde o início, então tenho certeza
que ele pensava em meus melhores interesses ao falar com as autoridades para não falar
de falso codicilo.
— É uma pena que ninguém pensou em me incluir no pequeno subterfúgio.
David empalideceu.
— Se lhe perguntar sobre isso, vai dizer que eu fiz. Ele sabe tudo. Ele sabe que eu
estava fazendo isso para você.
Como queria acreditar nisso. Mas era uma ideia louca.
— Por que ajudar a mim e a escola com o seu próprio dinheiro? Depois de todos
esses anos...
— Depois de todos esses anos — disse com voz rouca: — Eu queria reconquistar a
mulher que tão estupidamente deixei ir. — Sua voz travou. — Eu queria você, e não
poderia encontrar uma maneira de atravessar suas defesas para ter você.
— No entanto, trinta mil libras...
— Eu teria feito mais se ousasse —. Viu o olhar em seu rosto, terno e
atormentado. — Eu sabia que a escola estava em apuros. Se lembrar, Sarah e eu
participávamos das coletas de caridade para angariação de fundos. E depois da morte
dela, eu sabia que você precisava novamente.
Desta vez, quando ele ergueu a mão até a bochecha dela, ela não o deteve. —
Mas eu também sabia que você suspeitaria se eu oferecesse o dinheiro diretamente, e
nunca me deixaria cortejá-la, enquanto eu estivesse de luto. Você precisa de fundos antes
mesmo do que Pritchard pretende fazer com todo esse absurdo. Então decidi por um
plano diferente.
Tudo o que ele tinha dito no primeiro dia voltou a memória, a reconstrução da
escola em outro lugar, de estar envolvido. Certamente, se queria vingança, não gostaria
de passar muito tempo com ela. E poderia realmente achar que David poderia fazer amor
com ela enquanto a odiava?
No entanto, considerando o que tinha feito a ele, considerando como as coisas
haviam sido entre eles naquela época, era incrível. Por que, se ele até que voltaram a se
ver não tinha conhecimento de que a estúpida carta tinha sido publicada por acidente.
— Como posso acreditar em você? — Sussurrou.
Ele estreitou seu corpo rígido em os braços.
— Nunca parei de pensar em você, Charlotte. Nunca. Toda vez que a vi na
sociedade depois que me casei, tive que me esforçar para não olhar, não querendo saber
quem compartilhava suas noites de solidão.
Quando a beijou no cabelo, ela não resistiu, mesmo que odiava a si mesma por
sua fraqueza. A assustou, o quanto queria acreditar que ele se importava com ela. Como
ela poderia querer tanto David na sua vida para jogar tudo para o alto por ele?
— Mas uma vez que a morte de Sarah ocorreu — murmurou, — não havia
nenhuma razão para lutar contra os meus sentimentos. Tive a oportunidade de ganhar a
esposa que ele sempre quis. Então fiz algo estúpido. Eu não sabia mais o que fazer.
— Você poderia ter me dito a verdade — disse ela em seu ombro. — Você
poderia ter me dito que sabia que eu tinha escrito a carta. Você poderia ter dito que tudo
estava no passado, e que queria começar de novo.
— E você teria acreditado em mim?
— Eu não sei. — Ela olhou para ele, os sentimentos todavia confusos. — Mas nem
sequer me deu a chance de acreditar em você.
— Estava com medo que descartasse a ideia de imediato. Não sabia como você se
sentia sobre mim, se ainda se importava. Eu precisava de uma ponte para chegar até
você. O legado foi a ponte.
Godwin tinha dito a mesma coisa a primeira vez que falou com ele sobre isso, mas
ela tinha pensado que ele era louco. E agora...
Agora tudo era muito mais difícil. David tornou tudo mais difícil.
— Não posso aceitar seu dinheiro. Você entende isso.
Os olhos dele reluziram em sua direção.
— Sim você pode.
— Eu não posso. Como isso iria parecer?
— Se você se casar comigo, que seria o marido ajudando a sua escola.
Ela empurrou os braços dele para ficar livre.
— Certamente você se dá conta que não posso me casar com você, não com a
morte de Sarah pairando sobre sua cabeça. Eles pensarão que nós... você e eu...
— Oh. Claro. Continuo esquecendo essa loucura com Sarah. Mal posso acreditar
que eles acreditam que foi assassinada. Isso não faz sentido.
— Então você entende por que não podemos casar agora.
Proferindo um gemido de pura frustração, olhou para o rosto dela.
— Claro. Eu certamente não quero que persigam você. Mas isso não será para
sempre. Encontrarão quem a assassinou. Nós apenas temos que esperar para se casar até
que eles o façam. Enquanto isso, deixe-me lhe emprestar o dinheiro.
— Oh, sim — ela disse sarcasticamente — isso não seria nem um pouco suspeito,
um empréstimo de trinta mil libras a uma viúva.
Um olhar de incerteza cruzou seu rosto.
— Talvez se formos cuidadosos na forma como ele é feito...
— Você ficou louco? Aquele homem Pinter quer a sua cabeça! E eu não serei a
causa de seu enforcamento.
Ele bufou.
— Não irão me enforcar. Eu tenho um álibi para aquela noite.
— Então, por que não mencionou ao Sr. Pinter?
Sua expressão tornou-se mais reservada.
— ...É complicado.
Um arrepio atravessou-a. Eu não conseguia pensar em uma única razão para que
tivesse um álibi para aquela noite que não quisesse falar.
— Sim... outra mulher? é isso?
— Deus, não! — O desgosto em seu rosto parecia real. — Eu nunca quebrei meus
votos de casamento. Nenhuma vez.
A ferocidade com que ela queria acreditar nisso a assustava.
— Eu não culpo você, você sabe. Você disse que vocês não compartilhavam a
cama há algum tempo.
— Isso não quer dizer que eu me senti livre para ter uma amante. Eu te disse anos
atrás, que acredito na fidelidade. E sempre esperei que Sarah e eu poderíamos encontrar
alguma maneira de corrigir o nosso casamento. Eu pensei que se ela pudesse deixar de
depender dos jogos...
Ela sentiu pena, apesar de suas tentativas de silenciá-la.
— Então, qual é a sua desculpa? E por que não dizer a Pinter?
Ele se fechou, como sempre fazia.
— O segredo é de outra pessoa. E não tem nada a ver conosco, de qualquer
maneira.
— Seus segredos não nos dizem respeito até explodam, como fizeram esta tarde
— ela retrucou.
Virou em direção à porta, cansada de tentar resolver através de evasivas,
querendo escapar do turbilhão emocional que se agitava em seu interior cada vez que ele
estava perto. Ela não precisava dessa agonia em sua vida.
— Aonde você está indo? — Ele exigiu.
— Você faz o que quer, David. Eu não quero nada disso.
— O que diabos isso significa? — Grunhiu enquanto a seguia.
— Isso significa que este não é um bom momento para estarmos... envolvidos.
Precisamos de algum tempo separados.
— Olha, Charlotte, sei que não podemos nos ver até que descubram a causa da
morte de Sarah. É muito arriscado, não só para mim, para você também. Não posso
sugerir qualquer coisa ruim sobre você. — Soou uma nota de desespero em sua voz. —
Mas, certamente, uma vez que o problema seja resolvido, e as coisas voltem ao normal.
— Você não entende. — Não poderia suportar, inclusive enfrentá-lo enquanto
dizia essas palavras. — Não é apenas sobre o perigo ou qualquer coisa. Eu... eu só não
acho que você e eu somos... uma boa ideia no momento. Não até que tenha resolvido os
problemas da escola e tendo uma ideia de como me sinto a respeito do casamento. Até
então, é melhor se você não...
— Não, droga! — Na pressa chegou a porta atrás dela. — Você não pode estar
dizendo o que eu acho que você está dizendo! — Ele a agarrou por trás, seus dedos
cavando em seus braços. — Eu não vou deixar você fazer isso. Eu preciso muito de você.
Não era amor, mas uma necessidade. Não era o suficiente. Já não era assim.
— Claramente, você não precisa de mim o suficiente para me deixar saber seus
segredos.
— Então você vai renunciar a nos dois? Outra vez? Da mesma forma que fez
dezoito anos atrás? ? É isso que você está dizendo? Porque você sabe que os condenados
problemas da escola nunca serão resolvido completamente, e você deixou perfeitamente
claro que tem medo de tentar casar novamente.
Ela se virou para ele.
— Isso não é justo! Eu não vou deixar você me culpar por isso. Toda vez que eu me
viro eu encontrar outra mentira ou evasão. Você é o único que guarda segredos e
proteger o seu coração em cada volta!
— E você não está protegendo o seu? — Ele foi até ela, a determinação em seu
rosto. — Usando a maldita escola como uma desculpa para não correr riscos em sua vida
privada, para não permitir que qualquer homem chegue perto o suficiente para ganhar
seu coração. E você quer saber por que?
Ela olhou para ele severamente.
— Porque você é uma covarde, Charlotte Harris, — rosnou. — E nós dois
sabemos.
CAPÍTULO VINTE E UM
David sentiu como se estivesse se afogando. Tudo estava escapando dele,
Charlotte e suas esperanças para ambos. Por que estava acontecendo isso com eles? Por
que as coisas entre eles eram tão difíceis?
Se ela usava esta coisa de Sarah para cortá-lo da vida dela até que ela “ arrumasse
os problemas da escola”, e decidisse como se sentia a respeito do casamento, seria o fim
para eles. Ela sempre fugiria, sempre encontraria uma desculpa para ignorar o que havia
entre eles.
Mas, por Deus, ele não permitiria isso. Se tivesse que enfurecê-la para ouvi-lo,
então, era o que ele faria.
E ela estava enfurecida, oh sim. Odiava ser acusada de qualquer debilidade, mas
especialmente covardia. Gabava-se de sua força e independência, e essas eram as
qualidades dela que ele achava tão embriagadoras.
Mas estaria condenado se a deixaria se esconder atrás de sua independência no
momento.
— Como você ousa! — Ela disse. — Você foi o único que mentiu para mim. Você é
o único que guarda segredos e pede o impossível.
— O impossível? — Ele caminhou pairando sobre ela. — Você quer dizer, eu pedir
a você para compartilhar minha vida?
— Neste momento, não é prudente
— Sim, agora. Mas você disse que isso iria mais longe que este momento.
Inclusive depois de encontrar o assassino de Sarah, você quer me manter afastado. Então
é isso que posso pensa. — Sua voz endureceu. — Quer convencer-se a não casar comigo,
sim. E só há uma razão para isso. — Apoiou as mãos a cada lado de seus ombros. — Sua
covardia.
— Pare de dizer isso! Eu não sou covarde!
— Não? Tem medo de desistir a décima parte de sua preciosa independência se
você se casar comigo.
Ela olhou diretamente para ele.
— Ah, mas você não quer apenas um décimo. Você quer tudo o que tenho. Em
troca, você não oferece qualquer coisa.
— Exceto o meu nome. E o meu dinheiro.
— Isso não é o que quero dizer, e você sabe disso. Você não oferece nada de si
mesmo.
— Ofereço isto — ele murmurou, inclinando a cabeça para beijá-la.
Ela o empurrou o suficiente para fazê-lo tropeçar para de novo.
— Isso é apenas o seu desejo imprudente, nada mais.
Ele olhou para ela.
— Não se atreva a brincar de professora ofendida comigo, querida. Eu não sou o
único que sente um desejo imprudente, e você sabe.
— Sim. Desejo você. — Os seus olhos agora brilhavam, com o rosto iluminado
pela raiva. — E esse desejo que você utiliza para me controlar. — Para sua surpresa, ela o
empurrou de novo, forçando-o a dar um passo ainda mais para trás. — Quer que eu
desmaie de desejo para não perceber que gradualmente vai se encarregar de tudo na
minha vida: minha escola, meu futuro, meu coração.
Ela o empurrou com tanta força que ele caiu no sofá.
O próprio temperamento se elevando, ele a agarrou e puxou-a para cima dele.
— Se trata-se de controle da nossa vida sexual que você quer, querida, estou
perfeitamente disposto a lhe dar isso—. Enquanto lutava em seu colo, ele esticou os
braços ao longo do encosto do sofá. — Vá em frente, tome o controle. — Deixou as coxas
relaxarem o suficiente para mostrar a excitação desenfreada. — Viole-me. Não vou detê-
la.
De pé na frente dele, com as mãos nos quadris e sua raiva, ela parecia tão bem
como um espetáculo que nunca tinha visto.
— Eu não vejo o que isso provaria — ela retrucou, embora seu olhar caiu na
protuberância dolorosamente óbvia em suas calças.
— Iria demonstrar que não sou o único que pode usar o desejo para controlar.
Quando um rubor espalhou pelo rosto dela, o membro despertou ainda mais.
— Esse não é o tipo de controle que eu quis dizer — respondeu ela.
— Não? Isso foi o que você disse “que uso o desejo para controlá-la” — Ele
incitou. Neste momento, incentivá-la a baixar a guarda parecia ser a única maneira de
evitar o seu desejo louco para se livrar dele. — Mas se você quiser negar, porque só tem
palavras e nenhuma ação, como a maioria das mulheres...
As mãos dela ficaram em forma de punhos.
— Você é o mais irritante, insuportável e arrogante...
— Como eu disse, muitas palavras e pouca ação. — Ele zombava dela com um
sorriso. — Ou talvez seja mais o medo de que não possa assumir o controle. O que sabe
uma teimosa professora com você sobre como controlar um homem com o desejo?
— Oh, acredite — ela murmurou entre dentes enquanto marchava em direção a
ele, — se quisesse, poderia tê-lo envolvido em torno de meu dedo mindinho. Mas não
quero um homem que mente para mim , e que me mantém longe de sua vida.
— Uma desculpa provável — disse ele. Considerando como estava reagindo à
notícia sobre o falso codicilo, ele só podia imaginar o que ela teria cortado de sua vida se
soubesse o resto da verdade. — Você está com medo de tentar. No fundo, você sabe que
não pode lidar comigo. — Deixou que seu olhar percorresse sobre o delicioso corpo. — A
ideia de que com o desejo controle um homem com a minha experiência e sofisticação é
ridícula. — Se isso não provocasse uma resposta nela, nada faria.
— Ridículo, certo? — Ela subiu no colo dele e o agarrou na cabeça com as
mãos. — Eu posso ter você pedindo e implorando, diabo insolente.
Ele segurou o olhar dela.
— Eu nunca imploro. Nem a você, ou qualquer outra mulher.
— Vamos ver isso — disse ela.
Quando ela tomou então sua boca em um beijo profundo e desalmado, ele teve
que se conter para não envolver os braços em volta dela, recostá-la no sofá, e tomá-la
como um selvagem.
Mas queria que ela visse que o desejo era em ambos os sentidos, que tinha um
certo grau de controle sobre ele também. Que o casamento não significa desistir de toda
a sua vida por ele, do jeito que ela parecia pensar.
Assim, embora respondeu ao beijo, deliberadamente se deixou controlar, embora
tenha sido uma verdadeira tortura. Haviam se passado três longos dias desde que
fizeram amor, e tudo que conseguia pensar era que ela estava acomodada em seu colo e
no quanto queria estar dentro dela.
Arrastando a boca para longe, ela disse: — Tire esse casaco bobo de lacaio. Sinto-
me como se estivesse seduzindo um servo.
Estava mais do que feliz em fazer isso, removeu a gravata, colete e camisa
também.
— Eu não posso te ver nua? — Ofegava enquanto ela corria as mãos sobre seu
peito nu, beliscando os mamilos até que gemeu.
Ela se inclinou e apertou os seios ainda com roupas contra o peito dele, só para
sussurrar em seu ouvido: — Talvez mais tarde. Depois de fazê-lo implorar.
Foi então que ele percebeu o quão mal ele tinha calculado tudo. Ela ainda estava
com raiva, e estava determinada a fazer valer seu ponto de vista por atormenta-la.
— Medo? — Sussurrou ela.
Seu corpo se retorcia sobre seu pau inchado enquanto lentamente o deixava
louco.
— Eu com medo? — Conseguiu dizer estranguladamente. — Nunca.
— Deveria. — Moveu as mãos para baixo entre eles para acariciá-lo nas pernas,
despertando a dor em seu pênis com tal intensidade que pensou que iria morrer se ela
não o tocasse ali.
— Oh Deus, Charlotte... — disse antes que pudesse se conter.
— Quer alguma coisa, Lorde Kirkwood? — Ela esfregou a parte inferior do corpo
contra o dele o suficiente para despertá-lo ainda mais. — Tudo que você tem a fazer
é implorar.
Embora tenha começado com a ideia de deixá-la estar no controle, agora que
tinha feito, estava tendo problemas para suportar. A ideia de implorar por seu prazer
realmente irritada.
Colocou a mão entre eles para acariciá-la, esperando inflamá-la, mas ela deslizou
de seu colo.
— Ah, ah, ah, milorde! — disse, soltando o cabelo e sacundido-o. Porra, se ela não
estava gostando disso! — Eu nunca disse que você poderia participar, ou talvez eu tenha
dito?
Ele olhou para ela avidamente enquanto ela estendia a mão sob a saia e tirava a
calcinha sem mostrar absolutamente nada do que tinha sob elas.
— Este não é o que eu entendo por controle — rosnou.
— Não? Isso foi o que você disse, — ela imitou suas palavras anteriores, com
precisão perfeita. — Você disse que eu deveria usar o desejo para controlar.
Ela puxou as saias acima dos joelhos, revelando as longas pernas que ele desejava
beijar e passar a mão. Ele queria estar entre elas. Agora.
Ela balançou as saias acima das coxas como uma prostituta de Drury Lane
seduzindo um cliente.
— Mas você é só palavras e nenhuma ação, como a maioria dos homens.
Sua frase deliberada fazendo eco de suas palavras de antes estava começando a
incomodá-lo.
— Se você quer ação — disse ele, se lançando para frente para agarrar seus
quadris.
Mas ela resistiu sua tentativa de puxá-la a sentar escarranchada sobre ele . Em
vez disso, ela levantou a perna e a colocou no sofá ao lado de seus quadris, expondo seu
belo pote de mel.
— Na verdade, eu gostaria de um tipo diferente de ação. Quero que me dê prazer
com a sua boca.
Ele olhou para ela em estado de choque. Ele tinha feito isso com garçonetes e
amante ocasional em seus dias de solteirice, mas nunca com uma mulher respeitável.
Sarah teria ficado horrorizada com o pensamento. Ele nem mesmo conseguiu
convencê-la a eliminar a camisola a maior parte do tempo.
— Você sabe... sobre isso?
— Parece que não sou uma professora estirada , afinal, ou sou?
— Aparentemente não. — E graças a Deus por isso .
Mais do que disposto a satisfazer seus desejos, ele se inclinou para a frente para
esconder o rosto em sua carne. Mas em um instante, percebeu o quão bem tinha
escolhido o seu prazer.
Prová-la, cheirar a carne feminina quente, o despertou, enquanto não tinha
sequer satisfeito seu pênis rígido. Quanto mais o lambia e chupava e entrava com a
língua, mais pensava que na realidade poderia explodir em suas calças antes de chegar a
estar dentro dela.
As mãos dela se fecharam sobre sua cabeça para mantê-lo perto dela.
— Sim... David... ah... Deus do céu... assim...
Se ele tivesse algum senso, deveria reter o máximo de prazer dela até que ela
desse o que ele queria. Mas então ele estaria fazendo exatamente o que ela o tinha
acusado - de usar seu desejo para ganhar o controle.
Além disso, ele se deliciava com os gemidos procedentes dela, respirando com
dificuldade quando se aproximava do orgasmo. E quando a sentiu explodir em sua boca,
ele se sentiu como um conquistador.
Ela ficou ali tremendo, com a cabeça caída para trás e peito tremendo, a criatura
mais linda que ele já tinha visto.
— Isso foi... maravilhoso — suspirou.
Ele a acariciou na coxa.
— Quer dizer que irá me torturar a noite toda para provar seu ponto? —
Perguntou com a voz rouca. — Ou, finalmente, conseguirei uma recompensa porque
realizei as expectativas da dama?
Com um sorriso, ela sentou-se escarranchada nas pernas dele.
— Só se você implorar. — Ela inclinou-se e abriu os botões da calça, depois a
cueca.
Antes que ela pudesse remover a mão, ele a agarrou e a obrigou a segurar seu
pau excitado.
— Não vou implorar, então pode esquecer isso.
Ela acariciou-o algumas vezes, o suficiente para inflamar seus sentidos, em
seguida, puxou a mão de volta.
— Então, meu caro Lorde Kirkwood, você vai sofrer.
Quando ela começou a se levantar, ele agarrou suas coxas e não a deixou ir.
— O inferno se vou. — Tentou beijá-la, mas ela virou a cabeça para o lado, então
ele a mordeu na orelha.
— Você provou seu ponto, amor. Fique feliz com isso. Porque eu quero estar
dentro de você, e você sabe muito bem que quer isso também.
Ela se inclinou para trás para olhar para ele, seus olhos solene.
— Está bem. Mas só se você concordar em dizer a verdade sobre seu álibi na
noite do assassinato de Sarah.
Ele congelou. Porra, em sua névoa de desejo, havia se esquecido dessa parte da
discussão. Mas ela não. E, claro, isso era o que queria dizer com o desejo de controlar.
— Por que você quer saber? — Ele disse amargamente. — Assim terá certeza de
que eu não matei a minha mulher?
— Para poderei saber que me quer em cada parte de sua vida, não só nas que me
permita. — Um gesto preocupado franziu a testa dela. — E para que eu possa ter certeza
que você não vai a forca.
A preocupação dela aqueceu sua alma. Claro que poderia dizer qualquer coisa
que a satisfizesse, sem revelar demais.
— Muito bom. Eu prometo.
— Diga-me agora.
— Não. Depois. — Pós o pau dolorido contra a barriga dela. — Me tire da minha
miséria primeiro. — Beijou a linha de sua mandíbula. — Por favor, amor, eu não posso
suportar mais.
Ela se inclinou para trás, os olhos brilhando de triunfo.
— Você está implorando!
Ele piscou.
— Eu não fiz isso.
— Você disse “por favor”. Isso é perto o suficiente para mim. — Com isso, ela se
levantou e deslizou para baixo em seu pênis.
Ela deixou escapar um chiado de puro prazer.
— Sim, Charlotte... oh, Deus, sim. Você é... o céu.
Com um olhar feroz, ela começou a se mover, ondulando em cima dele,
deslizando-se com seu corpo, fazendo-o temer explodir dentro dela antes que ela
encontrasse a própria libertação. Era tão bom, tão bom estar dentro dela, mover-se com
ela, fazer parte dela.
Arrastando o corpete do vestido, encheu as mãos com seus seios. Esta era a
verdadeira felicidade.
Eles pertenciam um ao outro, para que ela pudesse ver, ou não. De alguma forma
se asseguraria de que ela visse.
— Então eu sou... suficiente para a... sofisticada experiência de lorde Kirkwood,
afinal de contas? — Ela murmurou com voz áspera, enquanto o montava como uma
gloriosa Diana caçadora.
— Você... sempre... será — admitiu ele, antes que perdesse a luta para manter o
clímax e gozar dentro dela.
A medida que ela se apertou ao seu redor e encontrava a própria satisfação, com
um grito de triunfo, pensou, Minha! Aceite isso querida. Você é minha, agora e para
sempre. Simplesmente não sabe ainda.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Charlotte não podia acreditar que tinha feito de novo. Ela havia deixado David
seduzi-la e esquecer suas reservas.
Estavam entrelaçados no velho sofá, com ele abraçando-a e ela desfrutando
muito. Ele estava certo? Era uma covarde, com medo de dar o próximo passo? Com medo
de prometer tudo de si para ele, seu coração, seu corpo e alma?
Se ela era, não estava sozinha. Ele estava escondendo alguma coisa; Estava quase
certa disso.
E como eles poderiam se tornar marido e mulher, se ele não queria dividir cada
parte de sua vida com ela?
Ela levantou a cabeça de seu peito para descansá-la sobre as mãos e olhar as
feiões que haviam se tornado dolorosamente queridas para ela.
— Então me fale sobre esse álibi — disse, determinada a conseguir grande parte
pelo menos.
Ele deixou escapar um longo suspiro.
— Não posso dizer tudo. Como já disse, não é o meu segredo para contar. —
Olhando para longe, disse: — Na noite da morte de Sarah, eu tinha ido ajudar um
amigo. Ele estava em apuros, o tipo de problemas que não gostaria que ninguém saiba. O
tipo de problemas que não gostaria que eu contasse.
— É por isso que Pinter não o mencionou? Porque não contou a ele?
— Sim. Eu não quero dizer nada a menos que seja absolutamente necessário.
— Ele é um amigo que eu conheço? — Ela esperava que não fosse Anthony ou
Foxmoor.
Problemas secretos normalmente significavam mulheres, e ela não podia suportar
a ideia de qualquer um daqueles homens enganando suas esposas.
— Não é um dos seu círculo, se é isso que a preocupa. Mas eu conheço o
homem. — Sua voz soou tensa. — Saí às dez para vê-lo, e eu voltei à meia-noite para
encontrar Sarah morta.
Seu coração balançou com piedade.
— Foi você que a encontrou?
A dor brilhou em seu rosto.
— Sim. A governanta e eu a encontramos juntos. — Sua voz foi reduzida a uma
lima de dor. — Seus pulsos estavam cortados, e água tingida de rosa. Agora que penso,
provavelmente não havia sangue suficiente, mas ao mesmo tempo... parecia um grande
espetáculo. Especialmente depois de ler a nota.
Ela o beijou no peito e disse em voz baixa.
— Sinto muito que você teve de suportar uma coisa dessas.
— A nota não fazia sentido, mas tem me torturado por meses “já não
posso suportar esta vida intolerável” — disse ele. —E eu... eu tinha certeza de que era
porque eu a tinha feito mais miserável do que havia percebido.
Ela podia ver que ele havia sofrido por isso. Estava muito zangado com o que
havia escrito na nota.
— Mas não era genuína. Certo?
Um arrepio passou por ele.
— Isso é o que eles dizem. Mas ainda assim quase não posso acreditar que
alguém tenha assassinado Sarah.
— Será que eles têm algum suspeito?
Sua risada dura a sacudiu.
— Além de mim? Não sei. Eu tenho um número de suspeitos. Há a pequena
doninha de um agiota, que tentou me extorquir dinheiro pelas joias algumas noites atrás
e fez ameaças vagas sobre ir aos jornais e falar sobre as atividades da minha
esposa. Outro é o irmão dela, Richard, certamente saberia imitar a escrita dela.
— Certamente ele não a teria matado!
— Não, provavelmente não. Eles eram muito próximos. — Suspirou. — Mas,
certamente, ele está me acusando de assassinato, por despeito. — Sua voz endureceu. —
E depois há o servo que aparentemente compartilhava a cama com ela, de acordo com
Terence, ele foi bom o suficiente para passar a fofoca dos criados da minha própria casa.
— Céus. Sarah? E um lacaio? Certamente não seria tão descarada.
— Eu certamente nunca sonhei que seria. — Ele deu-lhe um olhar amargo. —
Mas, então, eu não tinha ideia de que ela havia usado as joias da família como garantia
para um empréstimo para o jogo. Aparentemente, minha esposa me fez todos os tipos de
engano em sua sede de entreter-se longe de mim.
Charlotte apertou um dedo nos lábios dele, seu coração rompia.
— Não se culpe, meu amor. Sarah era uma criatura um pouco má, mesmo quando
era um estudante aqui. Ela era o tipo de mulher que faria qualquer coisa para conseguir o
que queria - paquerar, mentir, provocar.
Ela o acariciou na bochecha, desesperada para desviar seus olhos
assombrados. — Fiz tudo o possível para orientá-la a melhorar os hábitos, mas ela era
teimosa. O pai tinha estragado desde que ela era uma menina, e ela esperava se dar bem
em tudo.
— Eu gostaria de ter sabido disso antes de ter me casado com ela.
— Se você se lembra, esgueirou-se por trás das costas dos pais ao te ver. Então,
ela estava em sua forma verdadeira.
— E eu estava cego.
— Honestamente, um monte de jovens meninas têm maus hábitos, mas o
casamento geralmente, as endireita. As responsabilidades, a liderança de um marido...
Realmente pensei que poderia dar tudo certo entre vocês.
— Aparentemente minha –liderança- foi defeituosa.
— Ela tomou suas próprias decisões, David. Você não pode se culpar por isso. —
Ela acariciou o ombro dele. — Embora ainda me parece incrível que ela tenha sido tão
malvada para ter um caso com um lacaio. Por que se rebaixar-se a comer cordeiro
quando tem um suculento bife na mão?
Assim como ela esperava, ela o fez sorrir.
— Obrigado por isso. Mas não imagino que não era a... é... a parte da alimentação
o que a interessava. Ela queria alguma coisa dele, e esse foi, provavelmente, o seu preço.
— Isso soa mais como Sarah.
— Não saberemos ao certo até que o interrogue. Coisa que tenho intenção de
fazer assim que tenha me convencido de que não foi ele que procurou as autoridades
para tentar me culpar.
Uma vaga lembrança nadou em sua cabeça e ganhou um novo significado à luz de
suas revelações.
— Eu não sei se deveria falar isso, mas...
— O quê? Por favor diga tudo o que sabe.
— Pode não ser importante, mas outra noite no jantar, Giles disse-me... isto é, ele
disse algo estranho. Sarah tinha um lado sombrio.
Quando David franziu o cenho, acrescentou: — Pode não significar nada, mas
poderia estar falando sobre o jogo, embora ele tenha dito que quis dizer algo mais do que
isso. Insisti para ele continuar, mas ele mudou de assunto. — O olhar cinzento no rosto de
David a fez lamentar ter mencionado. — Desculpe, provavelmente não foi nada.
— Não soa como nada. Parece que tenho que falar com meu irmão sobre isso.
— Certamente não acha que Giles é participante.
David suspirou.
— Eu não sei o que pensar. Mas tenho a intenção de descobrir a verdade por trás
de sua morte. Sarah merecia muito mais de mim, pelo menos.
— Há algo que eu possa fazer para ajudar?
Seu olhar se voltou para ela, cheio de alarme.
— Não — disse ele com firmeza. — A melhor coisa a fazer é não deixar que Pinter
saiba que temos uma relação pessoal. Eles podem descobrir de qualquer maneira, mas é
melhor não saber. — A tocou na bochecha. — Eu nunca me perdoaria se você fosse
arrastada a este enxame de suspeita.
A preocupação nos olhos dele a aquecia, apesar de suas reservas sobre o
relacionamento.
— Acredite em mim — ela disse calmamente: — Não tenho nenhum desejo de
me relacionar com o Sr. Pinter.
David alisou o polegar sobre a bochecha dela.
— Falando nele, eu provavelmente deveria ir, antes que qualquer um deles
sintam minha falta.
Ela assentiu com a cabeça.
— Mas antes de eu ir, você me promete uma coisa?
— Que será?
— Que considerará seriamente se casar comigo quando isso acabar.
Ela engoliu em seco. Mas, na realidade, era uma promessa fácil de fazer. Ela já
estava considerando seriamente.
— Muito bem.
Ele soltou um suspiro profundo.
— Graças a Deus. Preciso de um pouco de esperança para seguir em frente neste
momento.
E assim ele fez. Porque depois desta visita poderia passar um longo tempo antes
deles chegarem a se ver outra vez.

Quando David acordou na manhã seguinte, Giles encontrava-se instalado na


cadeira em frente a sua cama com uma expressão sombria. Esfregando os olhos turvos,
David sentou-se.
— O que você está fazendo aqui? Considerando mudar de casa?
— Não. Montei um quarto aqui. Por causa disso —. Giles jogou um jornal em seu
colo.
— Desculpe, velho.
David olhou para o título, que gritava: — Viscondessa assassinada.
Ele sentiu um golpe familiar no estômago, David leu o artigo. Eram notícias
desagradáveis, mais uma vez.
— Pelo menos sugerem que pode ser um suspeito. Suponho que seja algo.
— Agora estão com medo de dizer algo porque não há nenhuma declaração
oficial. Isso provavelmente escapuliu por algum funcionário do gabinete do
magistrado. Mas marque minhas palavras, não vai demorar muito antes de toda a sórdida
história vir à luz —. Giles deu-lhe um olhar duro. — Então, se há algo que está me
segurando e que poderia me ajudar a cortar isto pela raiz, eu aconselho a revelar
agora. — O tom de Giles o irritou, especialmente à luz da sua conversa com Charlotte na
noite passada.
— Eu poderia dizer o mesmo a você, irmão.
Giles piscou.
— O que quer dizer com isso?
A desagradável suspeita havia atormentado seu sonho na noite passada.
— Você estava dormindo com minha esposa antes dela morrer?
— O quê? — Disparou Giles levantando-se da cadeira. — Onde diabos você tirou
essa ideia?
Sua indignação parecia genuína, mas David foi adiante. Tinha que saber.
— Porque alguém foi capaz de entrar em seu quarto à noite sem que ela
percebesse. Alguém da sua confiança, alguém que ela conhecia bem o suficiente para
permitir vê-la em roupas de banho.
— Não, caramba, não fui eu! Eu estava bebendo em um bar no meio da cidade —
. Giles cruzou os braços sobre o peito, a própria imagem da beligerância. — Se você não
acredita em mim, tenho certeza que poderia conseguir uma ou duas testemunhas.
David desabou, passando os dedos pelos cabelos.
— Desculpe, Giles. Eu não sei o que pensar. Eu descobri ontem que Sarah estava
tendo um caso com o lacaio. — Quando Giles fez uma careta e se deixou cair na cadeira,
um calafrio percorreu ao longo da coluna de David. — Você sabia. —
— Eu não tinha certeza, mas... eu imaginava.
— Por que você não disse algo?
— Dider ao meu irmão que sua esposa poderia ser uma vagabunda que se
rebaixava a dormir com um criado? Como poderia dizer tal coisa? Especialmente quando
não tinha provas? Eu os vi se beijando uma vez na calçada. Isso foi tudo.
Com um gemido, David saiu da cama e foi até a lareira, em uma vã tentativa de
aquecer o gelo que estava congelando seu sangue.
— Eu supus que nunca fui tão infeliz no casamento.
Giles bufou.
— O casamento não tinha nada a ver com isso. Sarah queria ter o homem sob o
polegar, e essa foi a maneira de lidar com isso. Como eu disse, eu nem tenho certeza se
progrediu além de uma palavra gentil e um beijo ou dois. — Sua voz endureceu. — Sarah
gostava de flertar. Especialmente se pensava que poderia ganhar alguma coisa.
Charlotte tinha dito a mesma coisa. Passando pela lareira, David deu ao irmão um
olhar duro.
— Posso entender que ela flertava com você?
Um suspiro escapou de Giles.
— Uma ou duas vezes. Ela começou a insinuar... que se eu o convencesse a soltar
os cordões à bolsa, ela poderia estar disposta a... — Seu olhar saltou para David. — Disse
a ela que deveria se considerar afortunada por você permitir a ela fazer tudo o que ela
fazia. Isso acabou com qualquer abordagem que ela tinha para mim, graças a Deus.
Cansado David balançou a cabeça.
— Você deve pensar que sou um completo idiota, era tão alheio às infidelidades
da minha esposa.
— Não, — Giles disse calmamente. — Ela era muito cuidadosa em ocultar a
maldade que realmente tinha no interior. E para ser honesto, nem dos dois jamais deu
qualquer indicação de importar com o que o outro fazia.
— Isso foi o que a matou — disse David enquanto colocava o robe.
— Ela cometeu suicídio —. Giles pensou por um momento. — Agora que você
sabe sobre George, acho que considerou a possibilidade de que ele a matou.
— Eu fiz. Na verdade, penso mandar segui-lo para ver se pode ser ele que está
lançando as acusações selvagens as autoridades e tentando fazer com que eu seja
enforcado.
Giles franziu a testa.
— Pode ser tarde demais para isso.
— O quê? ? Por quê?
— George não estava em seu posto quando cheguei está manhã. Não duvido
nada dele neste momento, mas...
— Malditos sejam todos os infernos! — David correu para a sala e chamou o
mordomo. Assim que o homem subiu as escadas, David disse: — Chame George aqui
agora mesmo.
O mordomo empalideceu.
— Desculpe-me, Milorde, mas ninguém o viu desde ontem à noite.
David olhou para ele com calma.
— É possível que ele tenha sido enviado em uma missão sem o seu
conhecimento?
— Não senhor. E... uh... quando fomos chamá-lo esta manhã, encontramos o
quarto vazio de quaisquer pertences pessoais.
David franziu a testa.
— Você está dizendo que ele escapou à noite?.
— Parece que foi assim, Milorde.
— Bem, isso certamente parece suspeito,— Giles disse secamente. — É melhor
você dizer a Pinter.
— Maldito homem. — Depois de chamar seu criado de quarto, David voltou ao
quarto e começou a se vestir. — Esperemos que Pinter não decida me acusar de matar o
meu criado também.
— Ele e seus homens têm questionado os criados — Talvez alguém tenha visto o
homem sair.
—Mas George é o principal suspeito no assassinato de Sarah, sem álibi.
— Isso deve mudar suspeita a onde ela pertence.
Depois que David terminou de se vestir se dirigiu para as escadas, mas o barulho
da rua os deteve no vestíbulo. A imprensa, claro. Uma vez que a verdade sobre a morte
de Sarah saiu no jornal, todos eles vieram recolher os ossos. E chegar a opinião sobre o
assunto.
David virou-se para o mordomo.
— Envie um lacaio pela porta dos fundos, sem farda para encontrar esse agente
que fica observando a casa, por favor?
— Sim, milorde.
Mas antes que o mordomo pudesse até mesmo sair, bateram na porta.
— É provavelmente um jornalista audaz — disse Giles. — É melhor ignorá-lo.
O mordomo foi para olhar pela janela.
— Parece que é o próprio Sr. Pinter.
— Excelente — disse David. — Deixe-o entrar. — Quando entrou no corredor,
piscou para encontra-los de pé no saguão.
— Estávamos tentando descobrir como chegar ao escritório do magistrado para
vê-lo — disse David. — Temos novas informações sobre um possível “suspeito”.
— Na verdade, Milorde — interrompeu Pinter — Eu vim para perguntar se
poderia vir comigo.
— Por quê? — Giles exigiu.
A expressão estoica habitual Pinter deu nada de distancia.
— Algumas novas evidências saíram à luz, e precisamos da ajuda de sua Senhoria
na avaliação das mesmas.
— Minha ajuda? — David disse, tentando ignorar a apreensão por suas veias. —
Isso é tudo?
— Sim. Se me acompanha, senhor.
— E quanto a imprensa? — Giles exigiu.
— Eu trouxe os homens para frear a multidão. Meu carro está diretamente em
frente. — Quando David pediu ambos os casacos, Pinter disse: — Acho que o Sr. Masters
vai querer ficar aqui.
David olhou para o agente.
— Por quê?
— Porque se você permitir, senhor, eu gostaria que alguns dos meus homens
realizassem uma busca pela casa, especificamente em seu escritório e no quarto de sua
esposa. Com a ajuda do Sr. Masters, é claro.
A ideia de que os guardas e policiais arrastando-se por sua casa fez parar o
coração de David. Mas sabia que o - pedido - de Pinter era apenas uma cortesia. O
gabinete do magistrado tinha o direito de buscar onde quisesse, especialmente em casos
de crime. Além disso, eles não iriam encontrar nada para incriminá-lo, e parecia melhor
não despertar suspeitas das autoridades.
Ele se virou para Giles.
— Fique aqui. Estou certo de que voltarei em breve.
Enquanto Pinter se dirigia para o veiculo, David ficou surpreso ao ver o quão
eficientemente seus homens mantiveram a raia a multidão. Mesmo David sabia que os
poucos homens que eram designados para o gabinete do magistrado, no entanto, se viam
com aqueles que tinham.
Durante a curta viagem, David informou a Pinter sobre o desaparecimento de
George e do significado disso. Irritava-o tornar publico assuntos particulares, mas não era
o momento de ser reticente.
David estava tão concentrado em expor sua teoria sobre George e uma possível
conexão com os agiotas que a esposa frequentava aparentemente, não tinha percebido
que eles não estavam indo para o escritório do magistrado até que dobraram em uma rua
conhecida. Seu olhar saltou para Pinter.
— Onde nós vamos?
Pinter o olhou com o olhar agressivo dele.
— Ao escritório do Sr. Jose Baines.
Deus me ajude. Eles haviam descoberto sua ligação com Baines.
— Por que estamos indo para lá? — Ele perguntou em voz oca.
— Acho que sabe o porquê.
Claro que sabia porque. Provavelmente eles tinham rastreado a parte posterior
do falso codicilo até Baines através de seu próprio advogado. E agora queriam saber
como ele tinha feito e por quê. Maldito o homem por ser tão bom em descobrir todas as
coisas ruins. O homem não conseguiu encontrar o assassino de Sarah, mas poderia
converter a vida de David de cabeça para baixo.
Eles entraram no prédio em silêncio, com David imaginando quanto Baines teria
dito Pinter. O advogado era leal a ele, mas tratava-se de uma circunstância incomum, e
Baines não poderia encontrar-se acusado de ter qualquer parte na morte de Sarah.
Foi só quando eles passaram para um corredor que se comunicava com um
corredor do lado de fora do escritório de Baines que David começou a se sentir muito
desconfortável. E uma vez que eu entrou e viu o Sr. Keel a recepcionista daquela noite,
David percebeu que Pinter o levara até ali por outra razão inteiramente diferente.
Quando David gemeu, Baines deu um passo adiante.
— Desculpe, milorde. Quando o Sr. Keel viu seu nome no jornal esta manhã, ele
sentiu que era melhor para tirá-lo disso logo. Foi às autoridades sem o meu
conhecimento. Eu estava tentando entrar em contato, mas...
— Lorde Kirkwood? — Veio uma voz atrás de David.
Ele congelou. Não, não podia ser. O que ela estava fazendo aqui?
— O que é tudo isso? — Charlotte continuou quando ele se virou para encará-
la. Seu rosto mostrava uma clara confusão. — Um funcionário me enviou uma nota
dizendo que o Sr. Baines tinha algo para discutir comigo, então eu corri aqui, mas...
— Eu mandei que nota , — disse Pinter. — Eu queria estar presente para ouvir a
história do Sr. Keel.
— Seu desgraçado — David sussurrou. O castelo de cartas que havia construído
cuidadosamente desabou sobre as orelhas. — Ela não tem nada a ver com isso.
— Eu não concordo, senhor — disse Pinter. — De acordo com o Sr. Keel, ela
tem tudo a ver com isso.
Enquanto Charlotte o olhava fixamente pode vê-la retirando-se e repensando as
coisas.
Maldito todo o inferno . Ele a perderia. Já podia ver.
Havia chegado a hora do ajuste de contas.
E não havia nada que pudesse fazer para detê-lo.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS

Charlotte não conseguia respirar. O olhar de culpa no rosto de David deu-lhe uma
pausa. E por que o Sr. Pinter o queria aqui no escritório do Sr. Baines?
Ela conhecia o Sr. Keel, de passagem, mas como era possível que ele pudesse ter
algo a contar? A menos que David fosse o primo Michael...
Não, Como poderia ser? Ela já havia rejeitado a possibilidade por razões óbvias.
O Sr. Pinter assumiu, fazendo uma oferta para sentarem-se com uma cortesia que
contrastava com o cálculo frio em seus olhos escuros. Depois de todos se sentaram, ela se
sentou onde poderia ver todo mundo.
— Sr. Keel —, então disse ao recepcionista da noite — Eu ficaria muito grato se
você repetisse para nosso benefício, o que me disse antes.
O secretário não parecia muito disposto a falar.
— Desculpe-me, Lorde Kirkwood, — disse o Sr. Keel, enquanto brincava com o
chapéu por suas mãos trêmulas — mas não parece certo que deva ser acusado de
homicídio quando estava aqui comigo na noite que lady Kirkwood morreu.
Um alívio imediato passou por Charlotte ao ver que David foi exonerado. Por que
David era tão amigável com o advogado do primo Michael que o faria ir ao seu escritório
durante a noite? Um nódulo doloroso havia se formado em seu ventre. Especialmente
desde que David nem sequer a olhava, mas estava vendo um ponto cego na parede.
— E Vossa Senhoria estava aqui com você? — Sr. Pinter alfinetou.
Embora Charlotte suspeitasse qual seria a resposta do homem, mesmo assim
balançou quando ele disse: — Ele veio entregar uma carta para a Senhora Harris.
Apenas uma pessoa enviou cartas ao escritório do Sr. Baines. Podia sentir os olhos
de avaliação do Sr. Pinter nela, mas ela não se importava. Tudo que eu podia fazer era
olhar David, com a esperança de que ele negasse, que dissesse que era um grande erro e
que ela tinha entendido mal.
No entanto, também explicava muito, seu repentino reaparecimento em sua vida,
o falso codicilo, a forma que ela sentia que ele estava escondendo alguma coisa. Isso
explicava por que ele havia dito que seu - álibi - envolvia a proteção de um -amigo -.
Porque seu suposto amigo era o seu próprio alter ego .
— Você é o primo Michael — ela sussurrou.
Ele endireitou os ombros, depois assentiu laconicamente.
E o seu coração se partiu. Durante todo este tempo, esteve mentindo a ela,
enganando, manipulando... Enquanto ela tinha sido muito estúpida para ver.
— Eu... eu pensei que poderia ser você, mas isso não fazia sentido. Porque fez
isso? Tenho o direito de, pelo menos, saber o porquê.
Ele a olhou tão atormentado que sentiu como se um punho se fechasse em torno
de seu coração.
— Que parte quer saber?
— Tudo! Por que mentiu para mim, quando sabia que desesperadamente queria
saber a verdade. Por que você continuou o papel, mesmo depois que... — Quando viu os
olhos entrecerrados do Sr. Pinter, ela se conteve. — Depois que descobri que não havia
legado de Sarah. E por que começou este maldito baile de máscaras em primeiro lugar?
Por que me fez apaixonar por você novamente .
Não, ela não o amava. Como poderia amar um mentiroso?
— Quando você veio a mim como o "primo" do meu marido — continuou, —
tinha apenas quatro anos após aquela carta estúpida que foi inadvertidamente aos
jornais. Não posso imaginar por que me deixou alugar sua valiosa propriedade.
— Ah, mas a propriedade não lhe pertence, não é verdade, milorde? —
interrompeu o Sr. Pinter e ela quase havia se esquecido que o agente da Bow Street
estava lá, mas ficou claro que ele tinha aprendido tudo sobre sua associação com o primo
Michael.
— É claro que pertence a ele — disse a Pinter, então olhou para David. — Não?
— Na verdade, senhora Harris, — O Sr. Baines disse com uma expressão de dor,
— a propriedade pertence ao Sr. Pritchard. Sua Senhoria ganhou um penhor sobre o
imóvel em um jogo de cartas e foi autorizado a receber apenas o aluguel por um período
de quinze anos.
Ela lançou um olhar ao advogado ao perceber o quanto o homem havia
permanecido com ela. Então suas palavras se afundaram em quinze anos. Havia passado
quase quatorze anos e meio a partir de...
Que Deus a ajudasse. Ela sentiu outro golpe no coração. Lançou um olhar
acusador a David.
— Foi por isso que você inventou o codicilo e veio à minha escola para me
convencer a me mudar? Porque não queria que eu soubesse que não era mais o
proprietário?
— Olhe para mim, Charlotte.
— Responda-me, maldito!
Ele assentiu com a cabeça, seus olhos escuros com culpa.
— Pritchard disse que vai despejá-la, quando cumprir os quinze anos. Se me
ocorresse outra maneira de...
— E que tal dizer a verdade? — Ela quase gritou. — Em vez de tudo isso para que
encontre outro imóvel? Se você tivesse dito que estava prestes a ser despejada, eu não
teria hesitado em mudar a escola de lugar.
— Mas você não teria usado meu dinheiro, certo? — Ele disse. — Você colocaria
tudo a perder, incapaz de superar o orgulho e não pode dar-se ao luxo de mudar para
outro lugar. Eu não podia correr esse risco. Não quero que perca a sua escola.
— Não me culpe por isso — disse ela, incapaz de esconder a dor em sua voz.
David entrelaçou os dedos pelos cabelos, distraidamente.
— Não era minha intenção. Eu só... não quero que sofra. — Ele deu um suspiro
tremulo. — E não queria revelar o por que comecei esta mentira. Não quero que saiba a
verdade.
— Que era um amigo para mim? Que me deu o dinheiro para começar a escola
todos estes anos e me ajudou com o aluguel? — Disse Charlotte desconcertada.
David estremeceu. Olhando de relance para o Sr. Pinter, hesitou, como se levasse
em conta o que deveria dizer.
Mas no momento, Charlotte não se importava com Pinter ou com morte de
Sarah, ou qualquer coisa assim.
— Conte-me tudo, maldito, — disse ela. — Por que você se tornou o primo de
Michael?
— Porque eu queria me vingar de você. — Ele deu uma risada amarga. — Godwin
estava certo, maldito seus olhos. Só que ele estava errado no tempo.
Vingança. O punho se apertou em torno de seu coração dolorosamente.
— Eu não entendi.
— Eu sei. Por que você acha que eu não lhe disse? — Inclinou-se para a frente, os
olhos brilhantes com remorso. — Eu estava tão bravo com você então. Quando ouvi que
você estava ensinando na escola de Chelsea, me enfureci que estava a caminho de
conseguir o sonho de sua vida, enquanto eu ainda estava em ruínas. Então pensei... — Ele
olhou para baixo. — Pensei que em lhe oferecer um empréstimo e um aluguel barato,
para que você pudesse fundar sua academia. Uma vez feito, eu tinha a intenção de exigir
o pagamento integral do empréstimo e aumentar o aluguel além de sua capacidade de
pagamento. Então eu poderia vê-la cair. Vê-la sofrer. Da mesma forma que me fez sofrer
com sua carta aos jornais.
— Por que continua falando sobre uma carta enviada ao jornal? — Perguntou o
Sr. Pinter.
Tanto Charlotte como David o ignoraram.
Ela cambaleou com o pensamento de que ele idealizou tudo aquilo para destruí-la
de uma maneira tão calculada.
— Você... me odeia tanto? — Engasgou-se ao falar. — Pensou que era aceitável
me humilhar publicamente?
— Da mesma maneira que me humilhou? Sim! — Como se percebendo como suas
palavras eram duras, David deixou escapar um suspiro de exasperação. — Lembre-se que
na época eu não sabia a verdade do que tinha acontecido naquela noite em minha casa,
Charlotte.
— Posso compreender o desejo de me atacar — disse com lágrimas obstruindo-
lhe a garganta. — Mas o seu plano teria feito mal aos outros também. Minhas alunas,
professores, pessoas que dependiam de mim.
— Como minha família dependia de mim, antes de você arruinar minhas
esperanças de um casamento decente! — Quando ela retrocedeu, ele se comoveu. —
Porra, estou apenas tentando explicar o que senti então. Como eu justifica esse estúpido
plano para mim. Naquela época, me parecia... justo.
— Quando deixou de parecer justo? — Ela sussurrou com voz oca. — Ou foi mês
passado que decidiu...
— Não seja ridícula — disse em voz baixa, cheia de dor. — O mês passado, foi o
céu para mim. E o inferno. Eu queria dizer a você, especialmente depois que eu percebi...
— Interrompeu-se com um olhar de frustração ao Sr. Pinter. — Mas sei o que você
imaginaria.
— Que não conheço você em absoluto? — Ela não podia conter as lágrimas por
mais tempo. Enquanto corriam pela bochecha, ela o olhou com acusação. — O homem
que pensei que era meu amigo era apenas um produto da minha imaginação? Em seu
lugar, me parece que é exatamente o tipo de homem cruel e manipulador que era meu
pai.
Ele retrocedeu.
— Não! Eu nunca levei a cabo meu plano.
— Por que não, quando planejou tão meticulosamente?
— Devido as suas cartas. Eu queria te odiar, mas simplesmente... você não me
permitiu. Desde que a primeira carta, eu vi a garota por quem eu havia caído de amores
uma vez, e eu não pude continuar com raiva. Depois de apenas um punhado de cartas
decidi que não poderia ir em frente com o plano. Depois disso...
— Fingiu ser meu amigo.
— Eu era seu amigo, porra! Eu ainda sou. Nada mudou, não para mim.
E tudo tinha mudado para ela. Ele tinha mentido repetidamente, manipulando-a,
escondendo informações importantes dela, e para quê? Assim, poderia salvar a
escola? Mas porquê?
O Sr. Pinter pigarreou.
— Como sua esposa se encaixa exatamente nesse arranjo acolhedor, milorde?
David voltou um olhar zangado ao Sr. Pinter.
— Ela não tinha nada a ver com isso! Casei com Sarah por sua fortuna, e ela casou
comigo por meu título. É um sistema comum, e um que tenho certeza que você já sabe ou
não me perseguiria desta forma.
Olhos do agente se estreitaram.
— Estou tentando chegar à verdade, milorde.
David deixou escapar uma risada.
— Ao revelar meus segredos a uma mulher que não tinha nada a ver com a morte
de minha esposa?
— Você tem certeza? — Pinter disse friamente.
Quando o agente voltou um olhar duro a Charlotte, um arrepio de horror passou
por ela.
— O que está dizendo, senhor?
— Você e Sua Senhoria tem sido claramente... amigável... desde alguns anos.
Como posso ter certeza de que não conspiraram para matar a esposa dele?
— Eu nem sabia que o homem com quem me correspondia era Kirkwood
Senhor! — Ela protestou. — Como poderia ter - conspirado - com ele?. Além disso, não
nós trouxe aqui para demonstrar que ele tem um álibi?
— Sim. Mas não estou falando dele agora. Qual é a sua desculpa? — Perguntou o
Sr. Pinter, David se levantou.
— Você perdeu o juízo, se acha que a senhora Harris faria mal a uma mosca. Ela
certamente não matou a minha mulher!
— Pode ter certeza disso? — O Sr. Pinter deu-lhe um olhar cínico. — Como sabe
que isso não é tudo uma atuação? Ela descobriu que você era o primo Michael, e, então,
se propôs a ganhá-lo para si mesma, eliminando sua esposa?
— Como você se atreve, senhor! — Charlotte protestou. — Sarah foi minha
aluna. Eu nunca iria machucá-la. E acredite em mim, se eu soubesse que o senhor
Kirkwood era o primo Michael, nunca teria aceitado a falsa herança que me ofereceu em
primeiro lugar.
— Talvez você viu os meios para salvar sua escola — Pinter disse — e aproveitou
esta oportunidade para regressar o golpe a ele, ao mesmo tempo ganhando dinheiro de
sua esposa.
Charlotte ficou boquiaberta.
— Essa é a acusação mais terrível que já ouvi!
— E imediatamente será refutada pelas cartas que me escreveu, — disse
David. — Se você quiser vê-las...
— O que você acha que meus homens estão procurando em sua casa, milorde?
— Não irão encontrá-las lá. — Um músculo marcou sob a mandíbula de David. —
O Sr. Baines as tem. Eu não queria correr o risco de minha esposa as encontrar e revelar o
meu segredo ao mundo. Ele também tem todas as cartas originais que enviei a senhora
Harris, já que seu secretário as copiava para impedir que ela reconhecesse minha letra.
Estranhamente, este pequeno engano tocou seu coração. Ele tinha ido a esse
extremo para evitar que ela soubesse a verdade? Que tipo de homem honesto e decente
teceria semelhante teia de enganos?
— Sr. Baines — ela disse, querendo acabar logo com aquela loucura e sair dali, —
se você desse as minhas cartas ao Sr. Pinter, ficaria muito grata. Agora, senhores, peço
que me perdoem. Tenho que voltar a minha escola.
Quando levantou-se, o Sr. Pinter também levantou-se.
— Não terminei com você, senhora Harris. Ainda não ouvi seu álibi para aquela
noite.
— Eu estava na escola!
— E ninguém a viu?
Pensou de novo na noite da morte de Sarah, quando sua pupila Lucy tinha
escapado com Diego Montalvo. Ela havia se retirado cedo.
— Não, em seguida, fui para a cama.
— A que horas foi isso? — Ele perguntou com uma voz severa. — E lembre-se,
vou interrogar os seus servos para confirmar o que me disser.
— Nove da noite.
— Então teve bastante tempo para escapar, viajar a Londres, abordar Lady
Kirkwood em seu quarto, e garantir que não representasse nenhuma ameaça para seu
romance com Lord Kirkwood.
Charlotte só podia olhar para o homem, espantada que pudesse fazer um
personagem tão vil para ela.
— Isto é suficiente! — Interrompeu David. — Eu gostaria de falar com você na
sala, o Sr. Pinter. Agora!
Embora o agente levantou uma sobrancelha para o tom imperioso de David, fez
um leve gesto e se dirigiu para a porta. Fez uma pausa para olhar para trás para o Sr.
Baines.
— Reúna as cartas para mim, senhor? Vou mandar um homem para ajudá-lo com
elas. Não queremos que falte nenhuma delas.
O Sr. Baines se retesou com a insinuação do homem, mas sabiamente segurou a
língua até que o Sr. Pinter e David saíram da sala. Então ele veio sentar-se ao lado da
senhora Harris.
— Sinto muito, senhora. Nunca sonhei que iria acusá-la de algo.
— Não é sua culpa —ela disse friamente. — É de seu empregador.
Agora que o Sr. Pinter havia ido, todas as consequências de suas acusações a
golpearam. Era ainda pior do que temia quando tinha dito a David que as autoridades
poderiam pensar que eles conspiraram juntos. Naquela época, ela não sabia que isso
seria uma prova de uma amizade anterior.
Que o Senhor a ajudasse, o que fazer?
O outro agente entrou na sala, mas ambos ignoraram.
— Sua Senhoria lamentou muito o plano lançado com tanta fúria, eu lhe asseguro
— O Sr. Baines continuou. — Ele tem andado louco nas últimas semanas, tentando
descobrir uma maneira de salvar a sua escola sem contar sobre sua identidade.
— É o subterfúgio que não entendo — disse ela. — Se ao menos tivesse me dito...
— Ele disse que, se viesse a conhecer a verdade, nunca aceitaria o dinheiro.
Bem, isso era verdade. Ficaria mortificada ao descobrir a quem estava em dívida e
por quê. Ela certamente não teria aceitado a ajuda.
Mas isso não muda o fato de que esteve nos braços dele e pedido para casar com
ele enquanto manteve esse segredo escondido.
— Uma vez que a situação se tornou intolerável com Pritchard, em primeiro lugar
— continuou o Sr. Baines, — ele se sentiu moralmente obrigado a repará-lo.
— Ah! O homem não tem um pingo de honra nele.
— Isso não é verdade, minha senhora! Ele trabalhou em um frenesi tentando
resolver suas dificuldades. Ele estava disposto a lhe dar trinta mil libras do próprio
dinheiro para compensar o que havia feito.
— É por isso que queria me dar o dinheiro? — Perguntou. — Ou foi uma maneira
de me controlar, ter voz no que ocorresse em minha escola?
Ela só não sabia em quem acreditar e pensar. David nunca tinha dito sequer uma
vez que a amava. E agora estava começando a perceber por que poderia ser. Mas até que
essa loucura acabasse e o assassino da esposa dele fosse preso, ela não poderia falar com
David a sós, nunca poderia saber com certeza.
Ela balançou a cabeça. Poderia nunca ter certeza? Agora sabia o tipo de engano
que ele era capaz. Como você poderia confiar nele novamente?
Tudo havia mudado entre eles, e ela temia que não pudessem voltar a consertar.

CAPÍTULO VINTE E QUATRO


David acabava de explicar a Pinter qual era a situação entre ele e Charlotte, suas
cartas dirigidas anos atrás, e porque sentiu a necessidade de retaliar.
Ele não tinha outra escolha; Pinter pediu para saber tudo.
Olhou para o homem enquanto Pinter ponderava sobre o que David tinha
dito. David queria bater a cabeça do homem contra a parede mais próxima, depois de vê-
lo de maneira sistemática destruir a frágil relação que David tinha construído com
Charlotte. Mas isso certamente não o ajudava, nem a Charlotte.
— Agora você entende que foi totalmente enganada por mim durante anos —
disse David. — De jeito nenhum a senhora Harris tem algo a ver com a morte da minha
esposa.
— Se você diz — Pinter respondeu.
David curvou os dedos nas palmas das mãos para impedir o estrangulamento do
homem.
— Olhe para estas cartas, e você vai saber que ela não fez. E é loucura pensar que
ela e eu teríamos conspirado contra Sarah, pelo amor de Deus.Enviei uma carta a ela na
noite da morte de Sarah! Por que teria me incomodado?
— Porque era uma forma conveniente para estabelecer seu próprio álibi,
enquanto sua amante estava fazendo o trabalho sujo no quarto de sua esposa?
— Não seja idiota, Pinter. Charlotte é uma professora altamente respeitada. Ela é
incapaz de matar alguém, nem mesmo a meu comando, ou por conta própria. Sua
reputação deve falar por si. — Seus olhos se estreitaram. — E tem outros suspeitos
perfeitamente legítimos que está omitindo, por exemplo o criado da minha
esposa. Assim, enquanto está seguindo esta louca linha de investigação o verdadeiro
assassino está em liberdade pela cidade. Isso não ocorreu a você?
— Acredite em mim, milorde, estamos examinando todos os cenários possíveis.
Mas a expressão implacável do homem encheu David com uma vaidade que não
tinha sentido antes.
— Então, o que é preciso para que você acredite que nem eu nem a senhora
Harris não temos nada a ver com isso?
— Vamos interrogar os seus criados e os dela, tentar confirmar o álibi dela
separadamente. E vamos ver essas cartas. Para não mencionar qualquer coisa que
possamos encontrar na habitação de sua esposa, como suas próprias cartas ou talvez um
diário ou...
David bufou.
— Minha esposa não era o tipo de escrever cartas. Certamente não era
introspectiva o suficiente para manter um diário, a menos que fosse para registrar suas
perdas no jogo.
E, de repente, ele percebeu. A ideia era tão perfeita, que se perguntou por que
não tinha pensado antes. Que melhor maneira de exonerar tanto ele como a Charlotte? E
para eliminar os suspeitos não eram viáveis?
— Sr. Pinter, posso fazer uma sugestão sobre a investigação do assassinato da
minha esposa?
— Depende de que tipo de sugestão — o homem disse secamente.
— Quem realmente matou a minha mulher ainda não sabe o quão longe suas
investigações chegaram. Isso está correto? Inclusive a senhora Harris não sabe nada além
do que foi dito hoje, e isso é muito pouco. E já reconheceu que meu álibi me impede de
ter cometido o crime com minhas próprias mãos.
Pinter olhou para ele com desconfiança.
— É verdade. Qual é o seu ponto?
— Os jornais estão cheios de o fato de que a morte de Sarah foi um assassinato. O
que proponho é fazer um comunicado oficial hoje que sua investigação trouxe à luz que
minha esposa mantinha um diário. Diga aos jornais é esperado que o diário, que
desapareceu depois de sua morte, revele informações importantes sobre quem é o
assassino, e que qualquer um que possa saber o paradeiro do diário deva informar. Com
alguma sorte, o verdadeiro assassino vai entrar em pânico e tentar entrar em minha casa
à procura das provas contra ele.
— A menos que os verdadeiros assassinos sejam você e a senhora Harris.
David endureceu.
— É por isso que isto só irá funcionar se manter a senhora Harris, no escuro sobre
o diário que é suposto ter o resto dos suspeitos.
— Ah sim? — Pinter disse ceticamente. — Você acha que posso confiar em que
você não vai dizer quando tiver uma chance?
— Você não precisa se preocupar com isso. — Ele respirou forte. — Quando
sairmos daqui, você vai me deter e me colocar na cadeia. Isso vai garantir que não terei
contato com qualquer um dos suspeitos, incluindo a senhora Harris.Uma vez que apenas
você e eu sabemos a verdade, a armadilha está segura.
Os olhos do Sr. Pinter se estreitaram.
— Está disposto a ir tão longe só para provar que a senhora Harris é inocente?
— Estou disposto a fazer qualquer coisa para provar a inocência dela e a
minha. Não quero a forca sobre a minha cabeça por mais tempo. Quero saber quem
assassinou a minha esposa, tanto quanto você. — Ele olhou para a porta fechada do
escritório do Sr. Baines. — Enquanto continuar a seguir pistas falsas, isso nunca vai
acontecer.
— Por que você se preocupa em encontrar o assassino de sua esposa? Sua morte
abriu o caminho para você e sua amiga...
— Minha esposa merecia algo melhor do que afogarem na banheira, e eu deveria
tê-la protegido disso. Minha maldição é que eu não pude mantê-la segura enquanto
estava viva. Não tenho nenhuma intenção de fracassar em levar o assassino ante à
justiça, agora que está morta.
Pinter olhou para ele um longo momento, então deu um sorriso estranho.
— É um bom plano, realmente. Gostaria que eu tivesse pensado nisso. Supondo
que o nosso assassino não seja inteligente o suficiente para ver a armadilha, isso inclusive
pode até funcionar.
— Se você não funcionar, você não terá perdido nada — disse David, em seguida,
acrescentou amargamente: — E me terá convenientemente na cadeia.
— Certamente se dá conta, milorde, que não posso coloca-lo no cárcere.
— Por que não?
— Você é um par do Reino. Com tão poucas evidências que temos agora, haveria
tal clamor entre seus amigos e família que faria o meu trabalho ainda mais difícil. Você
tem amigos poderosos no governo, como o duque de Foxmoor, o atual secretário de
guerra. Não posso segurar todos para resolver este assassinato. Além disso, se o prender
por assassinato, que o incentivo tem - o verdadeiro assassino - para vir buscar o diário?
— Tudo bem, faça o que quiser — David estalou com a frustração. — Mas recordo
que meus amigos poderosos também resultam se de grande proximidade da senhora
Harris, porque são amigos dela. E se refere-se a persegui-la como o suspeita...
— Deixe-me terminar, milorde. Estou apenas sugerindo que você não seja preso
ou vá para a cadeia. Em vez disso, proponho uma outra disposição - que permaneça em
sua casa, onde será custodiado pelos meus homens, mas sem o conhecimento de
ninguém. Será informado a sua família que você está visitando um amigo em sua casa no
campo para evitar a imprensa, e você terá a sua prisão na casa da cidade, e manejará seus
servos como se estivesse saindo da cidade.
David suspirou. Pinter tinha decidido prosseguir a sua proposta. Graças A Deus.
— O que aconteceria com o pessoal que normalmente mantém para cuidar da
casa?
— Dê-lhes alguns dias de férias. Meus homens cuidarão das funções deles. Mas
deve parecer como se a casa estivesse praticamente vazia de trabalhadores. É por isso
que ao público dirá o mesmo que a sua família. Não é bom fazer armadilha, se o nosso
vilão não vai entrar nela.
— Obrigado — disse David. — Tanto por considerar a minha proposta como por
dar a senhora Harris o benefício da dúvida.
O olhar de Pinter endureceu.
— Estou disposto a tentar essa abordagem pouco ortodoxa, mas não posso deixar
o tempo passar. Não posso dar ao luxo de ter os meus homens ligados em algo que pode
não obter resultados.
— Entendo. Mas eu suspeito que quem matou Sarah era proximo o suficiente
para saber onde ela tendia a esconder as coisas, ou não lhe permitiria entrar no seu
quarto. E não será capaz de resistir à tentação de verificar e certificar-se de que não
escondeu nenhum diário.
— É melhor que isso que espera seja assim — Pinter disse secamente. — Não
tenho provas suficientes agora para deter qualquer um dos dois, mas se vocês são
culpados, vou descobrir.
— Eu não esperaria menos de você, senhor. — David olhou para a porta do
escritório fechada. — Tenho dois pedidos que espero me conceda em troca de minha
cooperação por permitir você assumir minha vida.
Pinter franziu a testa.
— E o que poderia ser isso?
— Já que não sou capaz de atuar com conhecimento, acho que o mínimo que
pode fazer é me dizer o que chamou a sua atenção a este assunto pela primeira vez.
Pela primeira vez durante toda a manhã, Pinter parecia um pouco nervoso.
— Na verdade, não sei milorde .
— O que quer dizer que você não sabe?
— Recebemos uma carta anônima dizendo que deveríamos dar uma olhada no
bilhete de suicídio de sua esposa. Veio junto a fatura da mercearia, e também a
informações que sua esposa tinha planejado jantar com uma amiga no dia após sua
morte. Quando falamos com a amiga, ela confirmou que não recordou de ter dito a
ninguém sobre isso.
— Assim, poderia ter sido qualquer um – meu cunhado, o lacaio, até o maldito
Timms, o agiota, se tivesse chegado para ver Sarah naquele dia e ela tivesse mencionado.
— Seu cunhado?
David suspirou. Ele não queria colocar Richard em problemas com a lei
desnecessariamente, mas também não queria ver o homem criando o caos para todas as
pessoas que amava.
— O irmão de Sarah, Richard Linley. Ele me culpou da morte dela desde que
aconteceu. Uma semana atrás, me pediu dinheiro, que me recusei a dar, porque é como
um jogador como Sarah era. Eu o colocaria à frente por causar problemas como
vingança.
Pinter pegou seu caderno e anotou algumas palavras.
— Talvez meus homens e eu devêssemos ter uma pequena conversa com o Sr.
Linley. Se escreveu a carta, queremos saber sobre isso. Podemos determinar se ele sabe
mais do que está dizendo.
— Isso é um começo. E outra coisa...
David descreveu brevemente a situação com Timms. Pinter escreveu notas sobre
o assunto, prometendo estudar o agiota, assim, embora concordou que era improvável
que Timms poderia ter entrado no quarto de Sarah tarde da noite sem ser visto.
Depois de colocar de lado o caderno, Pinter disse: — Você mencionou dois
pedidos. Então, qual é o outro?
— Eu quero alguns minutos para falar com a senhora Harris antes de sairmos.
— Não posso deixá-lo falar com ela a sós.
— Eu sei, se anularia o objetivo da armadilha. Você pode testemunhar. Mas tenho
que fazê-la entender por que fiz o que fiz.
Algo que parecia muito a pena brilhou brevemente nos olhos de Pinter.
— Está tudo bem. Mas apresse-se.
Eles voltaram para o escritório para encontrar Charlotte olhando pela janela
enquanto Baines acumulava quatorze de cartas em uma caixa para o homem de Pinter.
— Charlotte — disse David. — Eu tenho que ir agora.
Ela afastou-se da janela alarmada.
— Estão prendendo você?
— Não. — Ele não se atreveu a dizer mais sobre isso, mas queria livrá-la da
suspeita.
Mas Deus, o matou guardar silêncio, sem saber o que ela faria quando ele se
fosse da vida dela sem uma palavra.
— Eles estão me prendendo...?
— Nós não vamos prender qualquer pessoa neste momento, senhora Harris, —
disse Pinter — Mas Sua Senhoria e eu tenho alguns negócios importantes para
discutir. Você é livre para ir embora, mas eu aconselho a não deixar a área.
Ela empalideceu e depois se dirigiu para a porta sem olhar para David.
Ele não podia deixá-la ir assim. Ao entrar em seu caminho, ele sussurrou: —
Quero que saiba que nunca quis te machucar.
— Realmente? — Ela disse sarcasticamente. — Mesmo quando elaborou seu
plano de vingança?
Ele estremeceu.
— Como eu disse, uma vez que começamos a nos corresponder, tudo mudou. E
quando inventei o legado, eu só queria uma coisa: reparar o que havia feito.
— Eu não acho que isso era tudo o que queria — ela disse com uma voz
comovente. — Quer admitamos ou não, queria me punir por ter humilhado você e sua
família.
— Isso não é verdade!
— Não é? — Seu olhar era surpreendentemente lúcido. — Antes, quando disse
por que fez, sua raiva parecia tão fresca como deveria ser há quatorze anos atrás. Você
pode não ter notado, mas ainda o incomoda o que eu fiz. Sua raiva vem à tona toda vez
que fala sobre isso.
— Não é tão simples.
— Eu acho que é mais simples do que quer admitir. A verdadeira razão de não
dizer a verdade era que queria “me guiar” como o primo Michael sempre fazia. Eu assumi
o controle da minha própria vida desde então e pensei que era uma volta justa no
jogo. Por isso, foi a sua vez de garantir que as coisas estivessem indo conforme o
planejado. Para me fazer dançar ao ritmo da sua melodia.
A possibilidade de que ela pudesse estar certa só alimentou seu temperamento.
— Fiz isso porque eu me importo com você!
— Você fez isso porque não poderia suportar saber o que realmente é. Porque se
assim fosse, já não sentiria a necessidade de me aferrar a culpa. Ambos seriamos
culpados de maltratar um ao outro. E isso nos colocaria em pé de igualdade, não é? Você
não ia permitir isso...
— Esqueceu que lhe propus — Deu um olhar a Pinter, mas que sentido tinha
esconder isso agora? Ele não poderia fazer que as coisas ficassem piores. — Pedi a você
que casasse comigo há alguns dias?
— Como eu poderia esquecer? Você propôs o tipo de casamento que você teria
todo o controle, e eu não teria nenhum. — Os olhos dela escureceram com dor. — Você
propôs que eu fechasse a escola. Como teria me ordenado se eu tivesse aceitado. Você
nunca teria que admitir que era o primo Michael. Você deve ter estado muito
desesperado para ter o controle da minha vida.
Agora podia ver o quão profundamente a havia ferido, e isso dava a sentença de
morte a todas as suas esperanças para eles. O fato de que alguns de seus pressupostos
eram verdade só fez piorar as coisas. Ele havia tentado evitar ter que admitir a verdade a
ela. Ele tentou manipulá-la.
— Você está certa — disse ele. — Eu estava desesperado. Mas não pelas razões
que diz. Eu não quero perder você, querida.
— Não me chame mais assim —. Os olhos dela encheram de lágrimas. — Estava
me perguntando por que você não dizia que me amava. Você disse que precisava de mim,
mas não disse nada de amor. E hoje percebi porquê. Todavia não pode me perdoar por
magoar seu coração anos atrás. E duvido que o faça algum dia.
Quando a olhou, surpreso com suas palavras, ela escapou da sala.
Todavia não pode me perdoar por magoar seu coração anos atrás. E duvido que o
faça algum dia.
Como podia sequer pensar isso? Não era verdade, droga!
— Milorde — disse Pinter ao seu lado. — Temos de ir. Temos muito a fazer.
David acenou com a cabeça atordoado. Charlotte nunca ia perdoá-lo por seu
engano. E isso significava que ele a havia perdido para sempre.
CAPÍTULO VINTE E CINCO
Nos dias seguintes Charlotte tentou não pensar em David. Não ajudou que os
agentes da Bow Street circulassem pela escola naqueles dois daqueles dias, interrogando
os servos e funcionários. Felizmente, o período de outono havia terminado na semana
passada, então não havia nenhuma menina para levar a fofoca aos pais de que a escola
estava envolvida na investigação. No entanto, os professores estavam presentes, e de
acordo com Terence, haviam elogiado e defendido sua honra vigorosamente.
Com os documentos completos da investigação sobre o assassinato de Sarah,
estava grata pelo apoio de sua equipe. Para não mencionar a descrição, já que no
momento sua conexão com a investigação não tinha sido mencionada em qualquer
história. A imprensa estava muito ocupada mastigando o comunicado oficial do gabinete
do juiz, algo sobre um diário que estavam procurando. Pelo menos o Sr. Pinter parecia ter
mudado o foco de seu interesse de David, porque os jornais diziam que David tinha ido ao
campo.
Sem dizer uma palavra a ela, sem tentar vê-la a sós. Ela não deveria se sentir
magoada, considerando suas últimas palavras com ele, mas estava. Não esperava quando
se separaram que não voltaria a vê-lo.
Quando os homens da Bow Street desapareceram da escola, ela lutou para
enterrar a dor e evitar perguntas do seu pessoal. Manteve-se ocupada avaliando a
situação financeira da escola. Reconhecendo que não podia mais esperar para encontrar
um lugar perto de Londres, que deveria começar a procurar mudar a academia para uma
área mais remota, onde poderia dar-se ao luxo de alugar um edifício grande o suficiente
para abrigar as alunas.
Comprar estava fora de questão. Faltava o dinheiro.
David estava disposto a lhe dar trinta mil libras para comprar o imóvel. E você
jogou de volta na cara dele.
Claro que o fez! Ele foi arrogante tentando manipular as coisas em seu favor, para
encobrir seu crime.
Ela sentou-se no sofá no salão privado. Crime? Cobrar aluguel baixo por quatorze
anos? Emprestar dinheiro? Aconselhá-la em situações onde não tinha qualquer
experiência?
— Eu menti a mim mesma, maldição! — Gritou para a habitação vazia.
Sim, e não havia dúvida de seu remorso por isso.
Cansada dos pensamentos incessantes que corriam por sua mente, colocou a
cabeça para trás e fechou os olhos, mas isso só piorou as coisas. Aqui foi onde David a
beijou pela primeira vez depois de anos de diferenças. Este era o lugar onde ele esteve
prestes a possuí-la. Apesar da manipulação e controle, ele não havia previsto isso, estava
quase certa. Parecia que ele havia tomado de surpresa tanto ele quanto ela.
Estava sendo injusta ao atribuir motivos mais sombrios a ele? Talvez ele não fosse
tão claro sobre seus próprios sentimentos, como ela. E talvez tivesse sido um pouco dura
com ele naquele dia no escritório do Sr. Baines.
Ou talvez tinha reconhecido que estava certa - ele nunca poderia perdoar ou
esquecer o que ocorreu entre eles quando jovens. Porque se não, ela não tinha ouvido
uma única palavra dele até aquele dia?
Lágrimas escorriam pelas bochechas, e cobriu o rosto com as mãos. Por que de
outra forma não teria lutado mais por ela? Não teria fugido para o campo, sem dizer para
onde estava indo ou o que estava acontecendo no gabinete do magistrado?
Erguendo a cabeça, lutou para conter as lágrimas. Ela era uma tola por estar ainda
perguntando-se, e se ela não tivesse decidido acabar com a louca aventura? Pararia ele
de magoá-la alguma vez? Ela tinha dito que era o último encontro. Então, por que estava
chorando, se ele fez o que mandou?
— A Senhora Winter e seus filhos estão aqui, senhora — disse a voz de Terence
do outro lado da porta.
Ela pulou do sofá. Meu Deus, tinha esquecido que este era o dia em que ela e
Amelia haviam combinado de se encontrar. Antes que pudesse fazer mais do que pegar o
lenço para enxugar os olhos e nariz, Amelia entrou na sala, puxando duas encantadoras
meninas.
— Senhora Harris, é tão bom... — Amelia se interrompeu quando viu Charlotte
sub-repticiamente enxugando as lágrimas. — Oh, não, o que aconteceu? — A jovem disse
enquanto corria ao lado de Charlotte.
Isso por si só era suficiente para fazer Charlotte começa a chorar novamente,
mais forte do que antes.
— Terence — Amelia disse, — pode levar as meninas até o rio para ver os
patos? Eles gostam muito de patos.
— Não — Charlotte engasgou, — Eu... eu quero ver suas meninas...
— E você vai. Mais tarde —. Depois de Terence levar as meninas, Amelia instou
Charlotte a sentar no sofá. — Por agora, acho que você e eu devemos conversar.
Charlotte não precisa de convite para se jogar nos braços de Amelia e começar a
chorar de novo.
Amelia levou tudo com calma, acariciando suas costas, acalmando-a com palavras
suaves. Depois de Charlotte finalmente recuperar o controle, Amelia murmurou: —
Atrevo-me a supor que isso tem algo a ver com o primo de meu marido?
Charlotte assentiu. Ela considerou a quantidade de informação que diria a Amelia,
então percebeu que não havia necessidade de esconder nada dela. O que havia para
esconder? Ela tinha que contar a alguém sobre David. Ela precisava de uma confiante
mulher, e Amelia e ela se entendiam melhor que ninguém, porque ela conhecia David
melhor do que as outras amigas de Charlotte.
Toda a história saiu: o que havia acontecido entre ela e David anos atrás, e como
voltou a sua vida, o suposto legado de Sarah. Deixou de lado o fato de que ela e David
tinha compartilhado a cama, dizendo que ele a tinha cortejado enquanto a ajudava a
procurar outras propriedades.
Mas quando chegou à parte que David era o primo Michael, Amelia a olhou com
espanto atordoado.
— Lorde Kirkwood? — Ela perguntou. — Ele é o primo Michael? Você tem
certeza?
Charlotte deu uma risada louca.
— Tão certa como posso estar. — Disse tudo o que havia acontecido no escritório
do Sr. Baines, incluindo o que ela tinha dito a David no final. Quando terminou, Charlotte
perguntou: — Acha que estava errado ao dizer essas coisas a ele? Acha que estou errada
agora por estar tão zangada com ele?
— Sobre ele mentir? Claro que não. — Amelia franziu a testa. — Foi idealizado
para vingança, de fato. A próxima vez que ver o primo do meu marido, lhe darei uma
reprimenda. Como se atreve a mentir e conspirar contra você, e tudo porque você
escreveu alguma carta boba!
— Você não entende — disse Charlotte. — Graças a minha “carta boba” ele foi
difamado publicamente por meses. Ouvi dizer que toda vez que entrava em uma sala, as
mães escondiam suas filhas. Imagine ter que enfrentar isso toda vez que entrava em
sociedade, sem nunca sequer saber por que tinha sido tão humilhado assim. Ele não tinha
ideia de que eu tinha visto Giles com a criada. Em um momento, estava prometendo
considerar me casar com ele, e no próximo estava tirando sarro dele no maior fórum
público.
— Sim, mas idealizar um plano para levá-la ao fracasso! Isso é abominável!
— Concordo totalmente. — Ela assoou o nariz. — Mas não seguiu adiante. E para
ser honesta, sem o plano vil, esta escola não existiria. Nunca teria sido capaz de
economizar dinheiro suficiente para iniciá-la com o salário de uma professora. E anos se
teriam passado antes que alguém me considerasse para diretora. Graças a ele, pude
realizar o meu sonho. É difícil odiá-lo por isso.
— Ah, mas você pode odiá-lo por ter mentido sobre o Sr. Pritchard. O que teria
acontecido se tivesse ido tudo até que o Sr. Pritchard a despejasse?
— David não teria deixado ir tão longe. Eu sei.
— Como você pode ter certeza disso? Meu Deus, o homem inventou um falso
legado só para não admitir a verdade!
— Ele inventou um falso legado, porque sabia que eu não iria aceitaria o dinheiro
de outra forma. E ele estava certo sobre isso. Se ele tivesse se apresentado e dito que era
o primo Michael naquele primeiro dia, e me contado tudo. Uma vez que descobrisse que
ele tinha feito tudo por vingança, eu o teria arrancado e expulsado daqui e nunca teria
falado com ele novamente.
Ela olhou para cima para encontrar Amelia sorrindo tristemente para ela.
— Está ouvindo, amiga minha? — Disse Amelia. — Você o defende em todos os
momentos. Não deve estar tão irritada com ele como pensa.
Esse era o problema. Sempre que Charlotte se armava de indignação moral,
pensava na expressão de angústia dele no escritório do Sr. Baines.
Lembrou das muitas vezes que ele tinha dito coisas muito duras sobre o primo
Michael. As teria dito por sentir-se culpado pelo engano?
O pior de tudo, era lembrar de como docemente ele tinha feito amor com ela na
propriedade de Stoneville. Ele pode não ter dito que a amava, mas tinha demonstrado,
em muitos aspectos, tentando protegê-la de Pritchard, pressionando para que mudasse a
escola, oferecendo seu próprio dinheiro...
— Não mais o que sinto — admitiu. Lágrimas brotaram nos olhos dela
novamente. — E agora, ele saiu da cidade, e eu não posso nem vê-lo falar com ele.
Amelia a abraçou.
— Oh, acho que sei o que sente. Você simplesmente não quer admitir. Parece-me
como se tivesse o perdoado. — Charlotte tomou-lhe as mãos. —Parece-me como se
todavia estivesse apaixonada por ele.
Charlotte olhou tristemente para a amiga. Estaria? Era muito possível. Porque se
não, porque se sentia tão miserável sem ele? Por que a ideia de não vê-lo novamente era
como se fosse uma facada através do seu coração?
Poderia tê-la enganado e manipulado todos esses anos, mas também tinha sido
um amigo para ela. Um bom amigo, se fosse honesta sobre isso.
— O que eu faço? — Sussurrou Charlotte. — Não sei se só me perseguia por um
desejo largamente reprimido de vingança pelo que fiz a ele. Ou se ele realmente se
preocupa comigo e não pode admitir para si mesmo. Preciso saber isso.
— Claro que sim. — Amelia apertou suas mãos. — Você ainda tem as cartas que
ele escreveu como primo Michael?
Charlotte assentiu.
— O Sr. Baines deu ao escritório do magistrado as originais, por isso ainda tenho
as cópias que me entregavam. Guardei cada uma delas.
— Talvez devesse procurar ali qualquer sinal do que realmente sente lorde
Kirkwood por você. Eu sei que ele estava jogando um papel, mas duvido que o primo de
meu marido fosse tão maquiavélico para esconder-se completamente de uma mulher por
quem se importava.
— Ou de uma mulher a quem secretamente odiava.
— Exatamente. Você diz que a raiva dele aparecia sempre que falava do
passado. Deve ter deixado ver algo em suas cartas também. Talvez se agora possa ler à
luz fria do dia, possa determinar se a raiva era em sua direção. Ou para ele próprio. —
Amelia arqueou uma sobrancelha. — E se você pode ler sem querer estrangulá-lo por
enganar você, então saberá como se sente também.
Charlotte conseguiu dar um sorriso.
— É uma boa sugestão, obrigada.
— Não porque agradecer. Devo muito ao que você me ensinou aqui, então o
mínimo que posso fazer é oferecer um pequeno conselho de tempos em tempos.
Impulsivamente, Charlotte abraçou Amelia.
— Oh, você faz mais do que isso, minha amiga.
Quando a soltou, endireitou os ombros.
— Agora, vamos ver como as suas filhas estão passando com Terence. Não acho
que ele esteja acostumado a lidar com meninas tão jovens.
Enquanto se dirigiam para o cais do rio, conversaram sobre a escola e os filhos de
Amelia. No entanto, Charlotte ainda estava suficientemente ciente de onde estavam e
começou a ficar tensa quando se aproximavam do rio.
E Amelia era inteligente o suficiente para perceber.
— Ainda preocupada com a água, certo?
Charlotte suspirou.
— Eu ainda acho que vou perder este medo bobo, mas nunca consigo.
— Sabia que Lucas tem fobia de espaços fechados? Passou dois dias preso em um
túnel em Dartmoor, e fica muito desconfortável sempre que esta sob o convés de um
navio ou confinados em algum lugar como uma pequena sala. Mas ele sempre consegue
lutar contra o medo.
— Eu adoraria muito de saber como ele consegue fazer isso.
— Especialmente falando comigo ou com qualquer um que esteja
próximo. Qualquer coisa que vem à mente ajuda, e faço o meu melhor para ajudar
dizendo coisas ultrajantes para fazê-lo rir. Ele diz que manter a mente em algo diferente
do seu entorno ajuda.
— Vou ter que tentar fazer isso em algum momento — disse Charlotte, embora
duvidasse que algo tão reles jamais poderia fazê-la se sentir confortável na água.
As meninas viram-nas nesse momento e deram um grito de alegria. Cinco anos de
idade, Isabel, com cachos castanhos e olhos azuis como o pai, correu para encontrar-se
com a mãe, enquanto a menina de cabelos pretos, três anos de idade, Emily correu
menos rapidamente em direção a elas.
— Mamãe, mamãe, o Sr. Terence nos mostrou os barcos do rio! — Isabel
exclamou enquanto jogava os braços ao redor das pernas da mãe. — Podemos viajar em
um? Por favor, por favor?
— Hoje não, querida. Talvez outra hora. Vamos tomar um chá com a senhora
Harris ao invés disso. — Isabel olhou para Charlotte com os olhos arregalados.
— Haverá bolos de ameixa?
— Haverá bolos de limão — Charlotte disse, emocionada além das palavras. —
Que tal isso?
Afinal marcharam para dentro, uma dor profunda estabeleceu no peito de
Charlotte, enquanto observava as meninas com a mãe.
Seria tão ruim se casar com David, embora ele não a amasse? Ou não pudesse
dizer que a amava, de qualquer maneira? Pode ser que tivessem filhos. Afinal de contas,
não tinha certeza se era estéril.
E ele espera que você renuncie a escola para cuidar das crianças, e seja Lady
Kirkwood.
No entanto, inclusive isso poderia valer a pena, se pensasse que ele realmente se
importava com ela.
Assim que Amelia e as doces meninas partiram, Charlotte se dirigiu a seu salão
privado e pegou as cartas de David. Durante várias horas, tudo o que fez foi ler. Agora era
tarde demais, ela viu David, a cada volta de cada frase, cada comentário mordaz. Mas
apesar de sua arrogância estampada em cada página, havia flashes de bondade
também. Como quando ele mostrou preocupação por ela ficar sozinha na escola durante
as férias de Natal. Ou quando ele se culpou pelo que aconteceu com Lucy.
Essa carta, em particular, a capturou. Ele havia escrito logo após a morte da
esposa. Apesar da dor, apesar de tudo o que deveria estar tratando, ele havia tomado
tempo para amenizar sua culpa pelo desaparecimento de Lucy e culpar a si mesmo por
isso.
Com o coração acelerado, começou novamente a ler a carta que ele enviou a
noite da morte de Sarah, que tinha ido despachar, enquanto a esposa estava sendo
assassinada. Estava cheia de garantias de que, se Diego Montalvo provava ser um
canalha, David iria se certificar de que o homem fosse enviado a Espanha.
Era uma oferta de intervenção, entre muitas outras, ofertas de um amigo para
uma mulher que tinha começado a sua empresa com poucas conexões e ainda menos
amigos.
O plano de Davi poderia ter começado como uma vingança, mas claramente tinha
se tornado algo mais.
A voz dele ecoou em sua mente: Eu era seu amigo, porra! Eu ainda
sou. Nada mudou, não para mim.
Atrever-se-ia a acreditar? Se atreveria a acreditar que ele sentiu algo mais? Que
poderia amá-la novamente?
Essa foi a pergunta que a atormentou durante os próximos dois dias. Como as
meninas tinham ido e os investigadores já não estavam, ela não conseguia se concentrar
no negócio escola. Passava o tempo lendo as cartas de David e vagando pelas
dependências da escola, tentando resolver seus sentimentos confusos.
No final da tarde, encontrou-se perto da casa de barcos, onde ela e David tinham
feito amor, e caiu em conta de algo. David tinha razão quando disse, você usa a maldita
escola como uma desculpa para não assumir riscos em sua vida privada, não permite que
nenhum homem chegue perto o suficiente para ganhar seu coração.
Ela estava tão orgulhosa do que havia realizado, a construção desta maravilhosa
instituição, mas agora começava a perceber que não seria suficiente para ela nunca
mais. Ela estava sozinha.
Esse foi o motivo por que a deserção do primo Michael há seis meses a havia
golpeado de forma tão cruel. Devido a que em muitos sentidos, ele tinha sido seu amigo
mais próximo, e sem ele havia se sentido à deriva, incertamente...
sozinha. Muito sozinha.
A exemplo de seus pais e seus dois romances mal sucedidos a deixaram esse
cinismo que a haviam convertido em outra pessoa diferente do que realmente era. Mas,
em seguida, David teve que voltar à sua vida e ofereceu a promessa de um futuro. Uma
existência além da acolhedora - e asfixiante – sociedade da escola.
E isso a tinha assustado, como ele disse. Porque, o que aconteceria se ela
arriscasse tudo por ele e acabasse decepcionada novamente? Então ela já não teria mais
a segurança da escola para voltar a recorrer. Era mais fácil murar o coração aqui.
Mas isso não era maneira de viver.
Afastou-se da casa de barcos para voltar para casa, agora que o crepúsculo estava
caindo.
Um homem estava diante dela, surpreendendo-a. Levou um momento para
reconhecê-lo.
— O que você está fazendo aqui? — Perguntou.
Então viu a arma. Antes que pudesse gritar, alguém a agarrou por trás e colocou
um pano sujo entre os dentes e a amordaçou enquanto a outra pessoa amarrava suas
mãos.
A medida que a empurravam em direção ao rio, viu o barco à espera. Em seguida,
o pânico tomou conta dela. Chutando e lutando contra os braços fortes que a arrastavam
de volta ao inferno. Seu coração trovejou em seu peito, o medo fazia a garganta ficar em
carne viva. Gritando por trás da mordaça, cavou os calcanhares no chão, e quando isso
não funcionou, caiu de joelhos com a esperando de atrasá-los.
Mas não adiantou. Em um instante, a levantaram e levaram para dentro do
barco. E ela se foi para o rio.

CAPÍTULO VINTE E SEIS


David sentou-se à mesa da cozinha com um baralho de cartas e três dos homens
de Pinter, que estavam vestidos com as cores de David.
— Desta vez, senhores, deveríamos jogar por seis pence um ponto — disse
enquanto entregava as cartas.
— Oh, o Sr. Pinter não aprovaria em absoluto — disse o homem na frente dele. —
Por isso digo que fazemos.
Todos riram. Não tinha tomado muito tempo para David perceber que os homens
de Pinter o achavam como um enigma chato, assim como David. O homem poderia
congelar a neblina com olhares frios, e David ainda não o tinha visto sorrir.
Mas David teve de manejar o agente - ele não era nada se não o fizesse. Ele e seus
homens tinham revistado a casa de cima para baixo e não encontraram nada que fosse de
alguma ajuda, nem mesmo sob o assoalho no quarto de George.
Ultimamente, quando o homem não estava no escritório do magistrado
entrevistando testemunhas, passava seu tempo lendo as cartas do primo Michael .
David, por vezes, imaginava que Pinter tinha suavizado quanto a ele desde que
começou a ler as cartas. E embora Pinter não fosse o tipo de se deixar influenciar
facilmente de suas convicções, parecia impressionado quando o pai de Sarah se ofereceu
para defender David. Tendo em conta que David havia se casado com Sarah inicialmente
por dinheiro, a defesa de Linley do genro tinha sido um longo caminho para levantar
suspeitas de Pinter sobre David.
Mas, infelizmente, não as suspeitas de Pinter sobre Charlotte.
David olhou cegamente as cartas. Havia tentado não pensar nela, sobre o que ela
tinha lhe dito, no final, mas soavam em sua cabeça durante a noite e o atormentavam
quando se levantava pela manhã.
Agora que sua raiva tinha desaparecido e que poderia considerar suas palavras de
forma mais racional, perguntou-se se ela poderia ter razão. No fundo, ele ainda estava
alimentando uma velha ferida?
Durante todo este tempo, ele viu a si mesmo fazendo tudo por ela , para ajudá-
la. No entanto, ele estava protegendo a si mesmo a cada passo. Ele a manipulou e
mentiu... e havia incitado - ainda que tinha feito para ganhar seu caminho.
Para ganhar Charlotte.
Não, não ela exatamente. A Charlotte da juventude. Se fosse honesto consigo
mesmo, parte dele queria forçá-la a voltar a esse papel. Para reviver o passado juntos,
para que pudessem fazer com que desse certo a segunda vez.
Mas nunca poderia voltar. Ele não era o mesmo homem, e ela certamente não era
o maleável inocente, que ele esperava na juventude iniciar com ternura na arte de fazer
amor.
Ela era uma mulher feita, capaz de tomar importantes decisões e pronta para
conquistar o mundo a sua própria maneira. Ele devia fazer-se a esta Charlotte, dizer a
verdade e colocar as cartas na mesa.
Sim, ela teria ficado com raiva. Poderia até ter rejeitado a sua ajuda e perdido a
escola. Por outro lado, eles poderiam ter sido capaz de construir uma amizade que
poderia ter se transformado em um afeto sincero, aberto. Não teria sido o mesmo que
em sua juventude, mas poderia ter sido melhor.
Por que não tinha feito isso?
Porque teve muito medo para arriscar-se.
David balançou a cabeça. Ele a acusou de ser uma covarde, mas ele era um
covarde, com medo de se expor. Com medo de que pudesse descobrir que seus anos de
correspondência e boas lembranças de amor juvenil eram nada contra as mentiras e
manipulações de seu engano.
Agora ele estava pagando por isso. A cada dia que os homens de Pinter
esperavam que o assassino de Sarah caísse na armadilha, Charlotte estava lá
reconstruindo os muros contra ele, um maior e mais firme desta vez.
Ela sempre tinha aprendido com seus erros - e ele certificou-se de que ela não
voltaria a querer ter nada a ver com ele no futuro.
Como poderia querer? Quando a havia perdido a primeira vez, teve a raiva para
sustentá-lo, para expulsar o amor que o tinha consumido.
Desta vez não tinha nada, senão remorso e arrependimento. Quase não
importava o que acontecesse agora com o assassino de Sarah. Que o levassem para a
cadeia.
Deixaria que a imprensa fomentasse o escândalo ao seu redor. Sua vida estava
arruinada. Sem Charlotte, não tinha vida de qualquer maneira. Se não podia ter a mulher
que amava...
Amava? Ele gemeu. Sim. Que tolo foi para não ver. Apesar de suas tentativas de
mudar, se apaixonou pela nova Charlotte tanto ou mais que pela anterior. Gostava que
ela não deixasse que a intimidassem, que tivesse pensamento próprio, que acreditasse
ferozmente na escola. Estar com ela era como correr em alta velocidade em uma estrada
com milhares de possibilidades.
Não estar com ela era um inferno.
— O seu cunhado veio hoje novamente, exigindo saber onde você havia ido —
disse o homem do outro lado de David. — Ele é um pequeno bastardo, mostrando seu
domínio sobre mim, porque pensou que eu era um de seus criados. Eu lhe disse que
colocasse suas orelhas em uma caixa.
— Duvido que serviria de algo — respondeu David. — Richard está desesperado
por dinheiro nos dias de hoje. No entanto, se foi ele quem enviou a carta para o escritório
com nota de suicídio de Sarah, ele tem alguma coragem de vir a mim por dinheiro.
— Pinter não acredita que ele seja o único. A letra dele não corresponde à
carta. Pinter fez questão de obter uma amostra quando o interrogou no escritório há
poucos dias.
— Confie em mim — disse David secamente, — que não significa nada. — E David
sabia, já que ele havia enviado cartas para Charlotte durante anos que não eram de sua
própria mão.
A porta da cozinha se abriu com um golpe.
— O que diabos está acontecendo aqui?
Exigiu Pinter ao ver as pequenas pilhas de dinheiro e copos de conhaque sobre a
mesa.
Os outros homens estremeceram, mas David se limitou a reorganizando suas
cartas.
— Estamos jogando whist por seis pence o ponto. Quer se juntar a nós, Pinter?
Pinter franziu a testa.
— Vejo que está determinado a corromper os meus homens, Kirkwood.
David deu-lhe um olhar irritado.
— Passaram seis dias. Você já saqueou minha casa, questionou todos os meus
amigos, e me manteve como um prisioneiro virtual. O mínimo que pode me permitir é um
pouco de entretenimento.
Os homens olharam para ver o que seu superior diria. Quando soltou um suspiro
profundo e se sentou à mesa, eles relaxaram.
Pinter se serviu de jarro que David tinha trazido mais cedo naquela noite.
— Você pode estar interessado em saber que encontramos o lacaio.
Isso chamou a atenção de David.
— George? Imaginei que ele estivesse a meio caminho da costa para agora.
— Eu também — Pinter bebeu, e, em seguida, deixou o copo. — Mas não chegou
tão longe quanto isso. Ele estava na casa da irmã em Twickenham.
— O que tinha a dizer por si mesmo?
— Bem, agora, isso é interessante. Me tomou algum tempo - e algumas ameaças
conseguir a verdade, mas parece que você estava certo sobre ter sido ele a levar sua
esposa ao agiota para oferecer ao homem as joias. O que você provavelmente não sabe é
que o irmão dela estava com eles, também.
David amaldiçoou.
— Não estou surpreso. O diabinho foi sempre uma má influência para ela.
O olhar de Pinter sei fechou com o dele.
— Isso se encaixa com outra coisa que seu lacaio disse. Parece que parte do
dinheiro que você pagou pelas dívidas de jogo de sua esposa iam para pagar as dívidas de
Richard Linley.
— O quê?
— Sua esposa ia a você por dinheiro que estava dando ao irmão. — Pinter tomou
um gole de conhaque. — Você disse que ele só começou a pedir dinheiro depois que sua
esposa morreu. Isso porque a fonte de renda dele esgotou com a morte dela.
— Maldito bastardo — David sussurrou. — A deixou arriscar a minha ira, apenas
para alimentar sua obsessão? Quando colocar minhas mãos nele.
— Há mais —. Pinter baixou o copo, a expressão solene agora. — De acordo com
George, sua esposa tinha decidido poucos dias antes de morrer cortar o Sr.
Linley. Aparentemente, a visita ao agiota a incomodava. Suponho que pedir dinheiro era
uma coisa; mas a penhorar as joias de família era um pouco extremo demais para sua
comodidade.
David congelou.
— Se ela disse a Richard que não lhe daria mais dinheiro.
— Exatamente — disse Pinter. — Isso certamente seria um motivo para
assassinato.
— Mas ele era irmão dela, seu mascote! Certamente ele não... não poderia...
— Nós não saberemos até que possamos interrogá-lo.
— Ele estava aqui há algumas horas — disse David.
— Bem, agora ele não encontra-se em nenhuma parte. Tenho vários homens
procurando por ele. — Pinter pegou o copo de novo. — Mas não se preocupe. Ele não
escapará por muito tempo.
O sino tocou na cozinha, surpreendendo a todos.
— É provavelmente um dos meus homens reportando-se — disse Pinter — mas
apenas no caso... — Ele apontou para um colega de libre na porta.
Quando o homem voltou, tinha que Giles com ele.
David ficou de pé. Dado que Giles era um suspeito como todos, David tinha
escrito uma nota com a mesma história que havia contado ao resto de seus amigos e
familiares. O coração de David se alojou na garganta quando viu o olhar desconfiado de
Pinter apontado para Giles.
— O que diabos está acontecendo? — Giles disse quando viu David. — Pensei que
você estivesse no campo com um amigo!
— Por que você está aqui? — David perguntou.
Giles olhou de David a Pinter e a suas costas.
— Um estranho veio à minha casa algumas horas atrás. Exigiu saber onde você
estava. Não acreditou em mim quando eu disse que não sabia, mas quando nos
agarramos rapidamente, me disse que me assegurasse de que isso vai chegasse até você
e mais ninguém.
Giles lançou uma carta em cima da mesa.
— Me debati para abri-la, mas decidi que seria melhor me assegurar que valia a
pena fazê-lo voltar por ela. — Sua expressão era sombria. — Depois de ler isto, vim para
cá, na esperança de passar por seu escritório em busca de informações sobre onde você
foi. É melhor que você leia.
David abriu a carta. As poucas linhas enviou um frio à sua alma:

Eu tenho sua “amiga” a senhora Harris. Se você quiser vê-la de novo, vá a sua
fazenda em Berkshire e recuperou as joias que mantém em seu cofre. Então as leve para a Ilha
Saddle. Ela e eu esperaremos por você lá.
Venha sozinho e desarmado. Se não chegar na noite de amanhã, ela vai morrer, e sua
morte pesará em sua cabeça.
Richard Linley

O terror apoderou-se de seu coração, apertando-o até que quase não conseguia
respirar.
Olhou para Pinter, ele estava esperando.
— Richard tem de Charlotte.
Pinter tomou a carta das mãos intumescidas e a observou rapidamente.
— Onde fica a a Ilha Saddle?
David lutou para se acalmar. Ele tinha que manter a cabeça no lugar. A segurança
de Charlotte dependia disso.
— Fica na parte do rio Tamisa que passa pela minha propriedade. É pouco mais
do que um monte de grama com um mirante sobre ele. — Seu intestino apertou com o
pensamento de Charlotte, sendo forçada a atravessar o rio.
— Então, não há nada a obstruir a vista do outro lado? — Perguntou
Pinter. Quando David balançou a cabeça, Pinter franziu a testa. — Homens de
inteligência, o seu cunhado. Por ter de remar até a ilha, ele será capaz de ver
imediatamente se alguém está com você. Não seremos capaz de alcançar a ilha
separadamente sem que ele nos veja. Não há dúvida de que ele tem a intenção de deixar
a ilha de barco e ir pelo Tamisa até a costa. De lá, pode tomar qualquer barco que vá para
a França.
E se David não chegasse a tempo...
— Suponho que descobriu sobre as joias Kirkwood com Sarah, — apontou Giles.
— Não me importo com as joias Kirkwood! — Respondeu David. — Ele pode ficar
com cada uma delas, desde que não faça mal a Charlotte.
Se dirigiu para a porta, mas Pinter o deteve.
— Seja razoável sobre isso, Kirkwood. Deixe eu e meus homens
ajudarmos. Parece cada vez mais provável que matou sua esposa.
— Você não acha que não me dei conta disso? Mas não quero que se meta nisto e
mate Charlotte, também! Você mesmo disse que ele seria capaz de ver alguém vindo.
— Não à noite. Não há lua hoje a noite, e podemos estar em Berkshire em quatro
horas, cinco no máximo, bem antes do amanhecer. — Pinter olhou para ele. — Ele estará
esperando. Pensa que você está no campo? Lembra? Vai supor que levará tempo para a
mensagem chegar até você. Então, se você mostrar-se à noite, terá a vantagem.
— Como acredita nisso? Se ele não pode nós ver, tampouco seremos capazes
de vê-lo , droga.
— Ele vai ter que acender uma fogueira, mesmo que apenas para se manter
aquecido. E mesmo se você não faça, vai precisar de uma lanterna para chegar à
ilha. Portanto, uma vez que chegue com ela, nós poderemos ver você e ele, mas ele não
será capaz de nos ver.
Quando David franziu a testa, Pinter disse: — Ele pode não ser o único nisso, você
sabe. Se ele tiver outros homens e estiverem armados, como você planeja fazer para
combatê-los sozinho? Precisa da nossa ajuda.
David ficou tenso, mas Pinter tinha um ponto. Richard estava tão volátil que David
precisava estar preparado para tudo.
— Muito bem — disse por fim. — Mas você vai fazer o que eu disser. Se não
tivesse desperdiçado tempo perseguindo-a como suspeita, em vez de ir atrás do meu
maldito cunhado, ela não estaria neste perigo. Então não complique isso aqui também,
entendido?
Pinter ficou colorido de raiva, mas acenou com a cabeça.
— Então vamos. Meu faeton será o mais rápido. Você pode viajar comigo. O resto
deles pode vir atrás na carruagem.
Que Deus ajude Richard se ele fizesse algo a um fio de cabelo de Charlotte.
Porque se fizesse, David não descansaria até que o bastardo estivesse morto.

Charlotte não conseguia respirar, e não tinha nada a ver com a mordaça em sua
boca.
Richard e dois canalhas a levavam pelo Tâmisa, por que razão? ela não sabia.
Supôs que estivesse relacionado com a morte de Sarah, mas agora, tudo que
conseguia pensar era que estava amarrada e impotente no fundo do barco, com a cabeça
a centímetros do rio. O rio traiçoeiro e horrível.
Se o barco virasse, não seria capaz de ajudar a si mesma. Amarrada como estava,
afundaria como uma pedra. A água seria negra e fecharia sobre a sua cabeça, filtraria
através da mordaça, e ela não seria sequer capaz de prender a respiração...
Não percebeu que estava ofegante e gemendo sob a mandíbula até que um dos
bandidos de Richard a cutucou no ombro com o pé.
— Qual é o problema com ela? — Perguntou Richard. — Parece como se estivesse
se afogando.
Tomando a lanterna pendurada em um gancho na proa do barco, Richard
inclinou-se para ela. Isso fez com que o barco inclinasse, e só piorou seu problema
respiratório. Estava começando a ver os pontos atrás dos olhos. Oh Deus, não podia
perder a consciência, não aqui, não agora, com a água tão perto...
— Se eu tirar a mordaça, você prometer que não vai gritar? — Perguntou Richard.
De alguma forma, conseguiu fazer um aceno de cabeça.
Ele tirou a mordaça, e ela respirou fundo várias vezes. Ainda estava amarrada, e
ainda estava viajando pelo rio, mas pelo menos podia respirar.
— Você não vai ficar doente, certo? — Richard perguntou.
— Acho que não —sussurrou. — Acha que poderia desatar meus pés... também?
Ele considerou um momento, depois inclinou-se para cortar os laços dos
tornozelos. — Não acho que você possa nadar sem as mãos livres.
Embora ela não soubesse nadar, o pânico tinha diminuído um pouco mais por ter
as pernas livres.
— Não espero que você seja tão covarde — acrescentou ele. — Sarah estava
sempre falando sobre a mulher forte você é.
Perversamente, estas palavras depreciativas reforçaram sua coragem.
— Por que você está fazendo isso?
Se ia morrer, pelo menos, deveria saber a que propósito serviria.
Ele desviou o olhar.
— Tenho que ir para a França, e preciso de dinheiro. Seu amante vai me dar as
joias em troca de ter você de volta. Imagino que será mais fácil par ele do por as mãos
sobre a quantidade de dinheiro que preciso. Além disso, elas valem o olho da cara na
França.
Richard tinha a intenção de pedir um resgate por ela a Davi?
— Você sabe que ele não está na cidade neste momento — disse, lutando com
um novo alarme. — Como você vai chegar a ele?
— Giles vai encontrá-lo para mim, se ele sabe o que é bom para ele.
E se não conseguisse? Ela tentou dizer que Terence logo perceberia que ela
estava desaparecida e viria atrás dela. Mas como ele saberia onde estava, ou que havia
sido sequestrada?
— Por que você tem que deixar o país? — Ela perguntou, lembrando o que Amelia
havia dito como Lucas mantinha seus medos longe da mente. Se ela pudesse manter
Richard falando...
— Por que mais? Meus devedores estão me assediando. E é tudo por causa de
Kirkwood. Como se atreve a dar o dinheiro da herança de Sarah que deveria ter dado a
mim! Sarah nunca teria deixado o dinheiro para sua pequena escola. Ele inventou esse
legado. Eu sei que ele fez.
Ela piscou.
— Como você soube da herança?
— Ouvi os dois conversando sobre isso a noite que estavam na casa da cidade. —
Richard zombou dela. — Vocês faziam um par muito agradável também. Eu me pergunto
se minha irmã estava ciente de que você e o marido dela estavam tendo um caso.
— Nós não estávamos! Tudo o que houve entre David e eu aconteceu após a
morte dela.
Ele lhe deu um olhar incrédulo.
— E esse dinheiro não era da herança de sua irmã, de qualquer maneira — disse
ela. Talvez se pudesse garantir que David só tinha usado de sua herança de direito, ele iria
ver sentido e parar com essa loucura. E deixá-la fora deste barco miserável. — Era
dinheiro do David. Ele fingiu que Sarah tinha deixado um legado para a escola, porque
sabia que eu não iria aceitar o dinheiro de outra forma.
— Suponho que tenha sido o que ele disse — disse Richard com mau humor.
— É a verdade — respondeu ela. — Como você disse, Sarah nunca teria tentado
ajudar a escola. Além disso, ela não tinha um testamento. — Ela suavizou seu tom. —
Tenho certeza que teria deixado tudo para você, se pudesse.
Inexplicavelmente ele ficou branco, então virou o rosto.
Uma vez que ele ficou em silêncio, ela percebeu mais uma vez, a água e a
instabilidade do barco. Embora não pudesse ver o rio a partir do seu ponto de vista, podia
sentir e ouvir a ponta da mesma mais além. O medo voltou a subir em seu peito. Continue
falando ou nunca conseguirá.
— Então, onde estamos indo? — Ela perguntou, com a voz trêmula.
— Berkshire. Há uma ilha no rio adjacente à propriedade de David
— Sim, eu sei. — Uma risada histérica veio de sua garganta. Havia conseguido
evitar cruzar a água até a ilha Saddle anos atrás, e agora estava sendo arrastada até lá
contra sua vontade. Se David estivesse realmente querendo castigá-la por conta da carta,
este seria certamente o desfecho.
Mas ela já não acreditava que ele quisesse castigá-la. Lendo as cartas ficou curada
desse temor. O Senhor a ajudasse, alguma vez veria David de novo?
— Por que vamos a ilha Saddle —perguntou, desesperada para ignorar o som de
água correndo para além dos lados do barco.
— Porque a minha mensagem para Kirkwood dizia que o encontraríamos ali com
as joias.
Aventurou-se a fazer a pergunta que tinha muito medo de perguntar antes.
— E se ele não receber a mensagem?
— É melhor fazê-lo — retrucou Richard. Quando ela queixou-se, Richard parecia
molesto. — Ele vai receber, não se preocupe. Embora não entendo a razão pela qual as
autoridades o deixaram ir para o campo. Deveriam ter detido e acusado de assassinato
quando leram minha carta sobre a nota de suicídio.
— Você enviou aquela carta?
— Bem, sim enviei. Não sei por que não foi preso na mesma hora.
— Porque ele não a matou!
— Acho que você pensou que estava realmente indo dar um passeio naquela
noite — Richard disse severamente.
Quando registrou as palavras, o sangue de Charlotte congelou.
— Como você sabe onde ele estava?
Um estranho silêncio caiu sobre ele.
— O agente da Bow Street me disse.
— O Sr. Pinter nem sequer mencionou a mim. Eu ficaria muito surpresa se
mencionasse isso a você. E sei que os jornais não disseram nada. — O coração de
Charlotte, clamava em seu peito. — Não podia saber que David estava em uma
caminhada, a menos que você estivesse lá.
— Devo ter ouvido
— Você matou Sarah, não?
Ele a fulminou com um olhar.
— Isso é um absurdo.
Provavelmente não deveria ter manifestado a sua suspeita em voz alta, mas agora
que o fez, queria saber a verdade.
— Se você estava lá naquela noite...
— E se eu estava lá? — Trabalhando um músculo do maxilar. — Você acha que eu
poderia matar minha própria irmã?
— É por isso que está saindo do país, não? Porque tem medo que encontrem o
diário de Sarah, e ela tenha escrito algo que o incrimine?
— Já chega! — Ele estalou. — Você não sabe o que você está falando.
— Eu sei que Sarah poderia ser difícil às vezes. Confie em mim, houve momentos
em que eu queria matá-la...
— Eu não a matei, droga! Eu a amava!
— Tenho certeza que não queria fazer — disse, determinada a descobrir a
verdade. — Deve ter sido um acidente. Nunca iria machucá-la de propósito.
— Não nunca.
— Ela o levou a fazê-lo, tenho certeza que fez. Provavelmente disse algo doloroso,
como sempre fazia, e...
— Ela não me daria o dinheiro! — Então, como se percebesse o que tinha
admitido, deixou-se cair no banco e cobriu o rosto com as mãos. — Ela não me daria mais
o maldito dinheiro.
Ela teve que se controlar totalmente para não reagir ante a admissão.
— Diga-me — disse ela, usando a voz suave que costumava usar quando uma das
meninas se aproximava de um sentimento de culpa por alguma infração. — Você vai se
sentir melhor se falar sobre isso.
E, em seguida, pelo menos, ela saberia a verdade.
Por um momento, pensou que ele não iria responder. Em seguida, ele levantou a
cabeça para olhar para o rio.
— Tudo que eu queria era que ela surrupiasse um pouco mais de dinheiro de
Kirkwood. Apenas o suficiente para pagar o saldo do que eu devia ao maldito Timms,
antes das coisas ficarem tão ruins que ele enviasse seus asseclas atrás de mim.
— E ela se recusou, — Charlotte espetou.
— Ela disse que estava cansada de lutar com Kirkwood. Tudo seria mais fácil se
pudesse chegar a um entendimento com ele. O que significava que não poderia me dar
mais dinheiro. — Ele franziu a testa na noite. — Por isso, discutimos. E a empurrei na
banheira. No entanto, ela bateu um lado da cabeça e perdeu a consciência. Tudo
aconteceu tão rápido. Eu não podia acreditar. Ela apenas deslizou sob a água, e eu
fiquei... não sabia o que fazer.
— Então foi um acidente — Charlotte disse, lutando para conter a
repugnância. Poderia ter acontecido com qualquer um. Certamente, se você explicar às
autoridades,
— Está louca? Eles vão dizer que eu deveria tê-la tirado da banheira e levado a um
médico. Eu não fiz nada, enquanto ela estava se afogando! Eles vão me dizer para matei a
minha única irmã.
Porque ele tinha, mas não era tola o bastante para dizer. Deus do céu, ela estava
nas garras de um assassino. Pode ser que ele não tivesse segurado Sarah debaixo d'água,
mas ele a tinha matado, tão certo como se tivesse feito. Como Charlotte poderia esperar
que ele a deixaria ir?
— Uma vez que viu que ela estava morta, cortou seus pulsos e forjou a nota de
suicídio, suponho — disse Charlotte com voz apagada. — Para fazer parecer como se ela
tivesse cometido suicídio.
— Eu tinha que fazer alguma coisa, você não entende? Eu não podia... Eu sabia
que iam me enforcar. Quando éramos crianças, costumávamos pregar peças uns sobre os
outros escrevendo cartas infames imitando a letra um do outro, eu consigo imitar a letra
dela muito bem.
— É claro que bem o suficiente para enganar as autoridades. — Ela ficou olhando
para ele. — Mas se a matou por acidente, por que escrever a carta que começou a
investigação?
Uma risada escapou dele.
— Pelo mesmo motivo que você sequestrei você - para conseguir dinheiro do
meu cunhado mesquinho. Depois da morte de Sarah, ele sentiu pena de mim e me deu o
que pedi. Mas então tudo mudou.Você apareceu em cena, levando o dinheiro com a
maldita herança.
— Então você o acusou de assassinato?
— Eu sabia que as autoridades nunca o levariam a um julgamento, não um
Visconde tão poderoso como ele — disse defensivamente. — Nem estava em casa. Mas
pensei que, se tornasse as coisas muito ruins para ele, ficaria desesperado para limpar o
nome. — Arrastou uma respiração pesada. — Então, poderia fornecer um álibi, é claro,
em troca de uma soma considerável. Eu poderia dizer que ele tinha bebido comigo, ido
jogar ou algo assim. Mas em vez de acusá-lo, eles começaram a fazer perguntas aos
criados. A próxima coisa que eu soube, é que estavam falando sobre um diário... eu nem
sequer sabia que Sarah tinha um diário! E com certeza ela teria escrito sobre meus
pecados nele. Em seguida, viriam atrás de mim com certeza.
Olhando para a água, ele franziu a testa.
— Ainda assim, eu poderia ter oferecido para esclarecer tudo se pudesse tê-lo
encontrado. Mas ele estava no campo em algum lugar, e não me diziam onde, e os
homens de Timms estavam respirando no meu pescoço... Ele não me deixou outra opção,
senão sair correndo desta forma. Eu tinha que fazer alguma coisa.
Um olhar complacente atravessou seu rosto. — Além disso, ele merece sofrer. Se
não fosse por ele e sua mesquinhez, Sarah ainda estaria viva.
Charlotte não disse nada, temendo que ele pudesse mostrar a sua ira se ela
falasse. Como Richard não podia ver que ele arranjou tudo aquilo sobre si mesmo? Em
primeiro lugar, tinha usado a irmã para seus próprios propósitos. Então, quando ela se
negou a ajudar, ele a matou e tentou enquadrar um homem inocente pelo crime que ele
havia cometido.
O que faria com ela uma vez que já não tivesse mais qualquer utilidade para
ele? Estremeceu com o pensamento.
Mas uma coisa sabia com certeza - ela não iria para baixo sem lutar.
CAPÍTULO VINTE E SETE
David estava na beira do rio com a pasta de joias na mão, tentando ver além da
lanterna. Graças a Deus que a mãe estava fora visitando a irmã. Porque explicar sua
súbita aparição teria sido difícil.
Não tão difícil como isto, no entanto. Richard tinha que estar ali em algum lugar.
David levantou a lanterna bem alto, aliviado quando a luz chegou à beira da Ilha
Saddle. Pensou ter visto um lampejo na ilha além da rotunda, mas não havia nenhum
som, o que o alarmou. Tudo que podia ouvir era a água que banhava o barco atracado no
cais próximo.
Em algum lugar na margem oposta do rio Tâmisa estava Pinter, à espera de seus
homens. Ele queria que David permanecesse na baía até que chegassem, mas David não
tinha certeza porque haviam se atrasado, e não quis dar a possibilidade de Richard
prejudicar Charlotte, enquanto estava cruzando os polegares. Tinha a intenção de regatá-
la. Agora .
— Richard — Gritou através da água. — Onde você está, porra? Venha buscar as
malditas joias! — No começo não viu nem ouviu nada. Em seguida, algo se mexeu sobre a
borda da luz da lanterna. Richard estava empurrando Charlotte à sua frente. Ela parecia
ter as mãos amarradas, e Richard tinha uma arma pressionada contra as costas dela. O
coração de David parou. Um deslizamento do pé, uma volta, e Charlotte estaria
morta. Maldito fosse o filho da puta!
— Eu não o esperava tão cedo — Richard respondeu, a suspeita em sua voz.
— Eu não estava muito longe de Londres — David mentiu. Em seguida, voltou a
atenção para Charlotte, desejando que pudesse vê-la melhor. — Charlotte, você está
bem?
— Ela está viva e bem — Richard disse — mas ela só vai ficar desse jeito se você
me der as joias.
— Quero ouvir ela mesma dizer! — Interrompeu David.
Quando Richard murmurou, ela gritou: — Estou bem, David. Ele não me
machucou, eu juro. — Sua voz soou surpreendentemente tranquila, e isso diminuiu o
pânico de David ligeiramente.
— Apenas reme por aqui com as joias —, ordenou Richard — e ela permanecerá
perfeitamente segura.
Franzindo a testa, David concordou. Jogou o saco no barco a remo, e equilibrou a
lanterna no banco sobressalente, subiu e pegou os remos. Havia remado através da ilha
Saddle cem vezes na juventude, mas a nunca tinha sentido a distância antes. Cada minuto
que estava em jogo fazia seu pulso bater a mil, e sentiu um suor frio no momento que
chegou ao outro lado. Ele só queria acabar com isso, e assim poder ter Charlotte
novamente. Não sentir-se-ia seguro até que a tivesse longe das garras de Richard.
Depois de puxar o barco para a borda e pegar a lanterna e a maleta.
— Ainda não — disse Richard. — Tire o casaco e colete e jogue no barco. —
Quando Davi fez isso, acrescentou, — Agora de a volta em um círculo. — Embora David
tinha considerado carregar uma arma, Pinter o aconselhou não fazer, prevendo essa
atitude por parte de Richard. Mas a faca escondida na bota seria suficiente, se pudesse
chegar perto o suficiente para usá-la.
Uma vez que Richard ficou convencido de que David não tinha armas, disse: —
Traga o saco e o coloque sobre a rocha entre nós. — Quando Davi fez, Richard disse: —
Agora, volte para o barco.
David não se mexeu.
— Eu quero Charlotte.
— A terá. Basta fazer o que digo.
Relutantemente, David recuou sobre o banco de areia. Para sua surpresa, Richard
puxou um punhal do bolso, ainda segurando a pistola na cabeça de Charlotte, e cortou as
cordas.
— Tudo bem, senhora Harris, vá buscar o saco. E não pense correr para o seu
amante, ou vou atirar em você pelas costas.
— Nunca faria isso — disse ela com firmeza. — Eu sei que no fundo você é um
bom homem, Richard. Você não quer me machucar. Deixe-me apenas ir com David.
— Silêncio! — Exclamou Richard e levantou a arma. O som encheu de horror o
coração de David.
— Faça o que ele diz, Charlotte — David disse com voz rouca. Pálida, ela se
aproximou do que o saco.
— Abra-o e mostre-me o que há nele — Pediu Richard.
Quando ela estava de joelhos para fazê-lo, David disse: — Você acha que eu iria
enganá-lo? Arriscando a vida dela?
— Você era bastante mesquinho quando minha irmã queria dinheiro.
— Isso não é a mesma coisa. Eu não sabia que a vida de Sarah dependia disso —
David segurou a língua.
O olhar de Richard disparou para ele.
— O que você está falando? — Pinter tinha dito que mantivesse Richard fora de
equilíbrio, que tornaria mais fácil ganhar o controle da situação. Mas vendo a arma de
Richard hesitar agora, David reconsiderou esse conselho. A última coisa que queria era
uma bala desviasse e atingisse Charlotte.
— Nada.
— Você acha que matei Sarah, não? — Richard perguntou.
David ficou em silêncio.
— Mostre as malditas joias, senhora Harris.! — Richard grunhiu.
Charlotte levantou as caixas, abrindo uma por uma para revelar adereços de
rubis, um colar de esmeralda, três colares de pérolas, anéis de vários conjuntos com
diamantes, esmeraldas, pérolas e mais joias que tinham pertencido a sua família há
gerações.
— Bem, bem — disse Richard, os olhos brilhantes ao ver aquilo tudo. — Sarah não
estava mentindo quando se gabou de que tinha muito pouco da coleção para usar nas
festas e jantares. Muito bem, Kirkwood. — Fez um gesto a Charlotte. — Traga o saco
aqui.
Quando ela se moveu para ele, David disse: — Não. Ela fica.
Como Charlotte ficou imóvel, Richard olhou.
— Você esqueceu quem está segurando a arma?
— Você conseguiu o que queria — respondeu David. — Agora deixe Charlotte vir
comigo. No momento podemos remar novamente para terra, enquanto você pode ir. —
Richard mudou o alvo a David.
— A senhora Harris vai trazer o saco aqui, a menos que queira ver o amante
morrer diante de seus olhos.
— Fique aí, Charlotte — ele rosnou. — Ele não vou atirar.
— Não posso correr esse risco — disse ela enquanto corria de volta para Richard.
Passando o braço em volta da cintura dela, Richard começou a recuar, mantendo
a arma apontada para David.
— Combinamos que a deixaria ir, se eu trouxesse as joias — David disse enquanto
caminhava atrás deles. — Você não é um homem de palavra?
— Volte! — Ordenou Richard. — Eu preciso chegar à costa. Ninguém se atreveria
a se aproximar de mim, se eu a tiver. Então a deixarei ir.
— Não vou deixar você sair daqui com ela — disse David, movendo-se
inexoravelmente para a frente. — Você pode ter as joias, eu não me importo com
elas. Você vai ser um homem livre. Simplesmente deixe-a ir!
— Dê mais um passo a frente, e a mato! — Richard exclamou, e para horror de
David, começou a colocar a arma nas costa de Charlotte. Um barulho repentino veio do
outro lado da ilha, um grito e o som dos remos batendo na água. Aparentemente, Pinter
tinha ido atrás dos companheiros de Richard, quem quer que fossem. Surpreso, Richard
virou a cabeça nessa direção.
Então, tudo aconteceu de uma vez. Charlotte levou a bolsa para cima, derrubando
a arma que disparou no ar, sem causar danos ao céu.
Maldizendo, Richard desembainhou o punhal e se lançou sobre ela, mas David se
lançou sobre o homem, gritando a Charlotte para ela correr.
Eles rolaram pelo chão, David golpeou o jovem com os punhos enquanto Richard
aparava descontroladamente. Lutando para manter a punhal longe dele, David foi capaz
de alcançar a própria faca.
Conseguiu dar um gancho rígido que enviou a cabeça de Richard parar lá atrás,
mas assim David inclinou-se para pegar a faca, Richard tirou o próprio punhal e o afundou
profundamente na coxa de David. Agindo por puro reflexo, David puxou o punhal e o
enterrou no coração de Richard.
O rosto de Richard se contorceu de dor. Eu olhou para David, choque afilando
suas características. Quando o sangue filtrou sobre o colete branco, manchando de
vermelho, Richard olhou para baixo, e depois David.
— Eu quero que você saiba... eu... eu não... matei... — Engoli em seco. Em
seguida, caiu morto. David soltou Richard, sofrendo com as palavras do homem... e
sangue jorrando por toda parte. Ele sentiu-se tonto. Em algum lugar além dele, escutou o
grito de Charlotte.
Então, ela estava em seus braços, gritando repetidamente: — Oh Deus, oh Deus,
Davi, meu Deus, oh...
Essa foi a última coisa que ouviu antes de desmaiar.

Charlotte colocou David na areia apenas o suficiente para pegar a lanterna e


examinar a ferida. Quando vi a perna encharcada de sangue, seu coração falhou.
Havia tanta coisa para fazer!
Puxando o lenço, o amarrou firmemente em torno da perna acima da
ferida. Tinha que parar o sangramento! Lágrimas escorriam pela bochecha enquanto ela
amarrava o torniquete como tinha aprendido a fazer quando as meninas se ofereceram
para ser voluntárias no hospital.
— Não se atreva a morrer sobre mim, David Masters — exclamou. — Não se
atreva a me deixar!
Ela usou o lenço para enfaixar a ferida, esperando que a pressão pudesse diminuir
o sangramento. Tinham que sair daquela ilha, ele precisava de um médico
imediatamente! Além disso, não tinha certeza se os gritos e tiros atrás dela estavam
vindo de amigos ou inimigos. Estavam saindo de qualquer maneira, como se alguém
estivesse perseguindo-os para baixo do rio.
Podia ver o cavalo de David amarrado na margem oposta. Se eu pudesse chegar
até lá... usou toda a força para arrastá-lo até o barco.
Ela arrastou-o e empurrou-o para dentro do mesmo, então empurrou o barco
para a água e subiu.
Foi então que a realidade a golpeou. Ela estava no rio novamente. Em um barco .
E desta vez ela sozinha era responsável por mantê-lo à tona.
Oh Deus, nunca tinha remado um barco. E se ela o afundasse? Olhou para a água
negra em torno deles e sentiu a garganta seca. O pânico subiu em seu peito e os braços
tremiam tanto que não conseguia nem pegar os remos.
David reclamou. Ela não ia deixá-lo morrer por causa de um medo absurdo, droga.
Ela não faria isso!
Agarrou os remos e começou a remar em direção a margem. Em um primeiro
momento, o barco parecia ter vontade própria. Ia à deriva mais e mais longe do rio, e não
poderia encontrar uma maneira de fazê-lo parar.
— Mergulhe mais propriamente o... remo... — David disse asperamente.
Surpresa, ela o olhou. Ele estava tentando lutar para se levantar no banco.
— Fique quieto! — Ordenou, lágrimas de alívio escorrendo por seu rosto quando
ela o viu pelo menos consciente. — Você vai se machucar mais.
— Você tem que puxar os remos... juntos. Mas... mais firme com a direita. — Ela
fez o que ele disse, e virou o barco.
— Não é tão difícil! Só um pouco. O suficiente para apontar rio acima. — Levou
várias tentativas para conseguir, mas logo estava fazendo algum progresso.
— Bom. — Ele caiu em seu assento. — Boa menina — Parte da água derramou
sobre a parte superior do barco, e o medo tomou conta dela novamente. Fale com
ele. Não pense no rio.
— Você pode não ter notado, David Masters, mas faz anos que deixei de ser uma
menina —. Ele sorriu fracamente.
— Acredite em mim... eu percebi, meu amor. — Ela lançou-lhe um olhar.
— O que você disse?
— Eu fui tão estúpido... amor. — Ele mudou de posição, e um espasmo de dor
atravessou seu rosto.
— Não fale — exclamou ela, alarmada. — Apenas não se mova.
Ele balançou a cabeça.
— Eu quero que você saiba... só no caso de...
— Não se atreva a dizer isso! Você não vai morrer, não amaldiçoe! Eu não vou
deixar isso acontecer!
Um terno sorriso curvou sua boca.
— Isso é o que eu gosto em você..., Charlotte. Você é teimosa como o
inferno.... — Lambeu os lábios. — Você estava certa, você sabe. Sobre eu... eu estar
mentindo. Uma coisa estúpida da minha parte... todavia me incomodava... o nosso
passado bobo. Mas o que resta disso... se foi. Meu medo de te perder de novo... eu vou
saber lidar com isso.
— Por favor, David, não agora — disse com uma voz rouca enquanto remava. Ela
podia ver que custava a ele falar. Seus olhos estavam vidrados de dor e a amarra em
torno da perna e estava encharcada de sangue. — E você não vai me perder. Nunca.
— Você jura? — Afogou um gemido.
— Eu juro. Nunca vou deixar você de novo.
— Isso significa... que você perdoou minha... mentira?
— Eu te perdoo por tudo — disse ela com fervor. — Você estava certo,
também. Eu tinha medo de deixá-lo chegar muito perto. Mas eu não tenho medo.
— E eu estava com medo... eu admito... de ainda te amar. Mas amo. E sempre
amarei...
— Oh Deus, David, eu te amo, também. Por favor, por favor, não morra! Não
podia suportar! — Enquanto falava, a cabeça dele caiu contra o assento e fechou os olhos
novamente.
Ela tirou todas as forças pelo que valia a pena, até as mãos ficarem em carne viva
e sangrando. Então, de repente apareceram sobre os homens na borda, gritando com os
outros homens. Por um momento, ela entrou em pânico, temendo que fosse os
comparsas de Richard até que viu o Sr. Pinter.
Dentro de momentos, os homens estavam puxando o barco até o cais e David
levado a uma carruagem.
— Tudo bem? — Perguntou o Sr. Pinter quando a ajudou a sair do barco.
Ela nunca foi tão feliz de sentir algo sólido sob os pés, em sua vida.
— Ele precisa de um médico imediatamente. Você tem que salvá-lo!
— Nós faremos o nosso melhor — murmurou o Sr. Pinter, colocando o braço
sobre ela e levando-a ao longo do cais. — Sinto que tenha de lutar sozinha. Eu estava por
trás dos outros canalhas, pensando que poderiam estar com você no barco. Quando os
encontrei e vi que você não estava, vim até aqui. Felizmente, os meus homens chegaram
ao mesmo tempo.
— Há algo que você precisa saber — disse ela. — David não matou Sarah. Richard
fez. Ele disse.
— Sim, eu pensava assim. Onde está Linley agora?
— Acho que ele está morto. Ele ainda está na ilha. David o esfaqueou.
O fez para salvá-la. E agora, o único homem que ela amou poderia morrer. Oh
Deus, não deveria! Se morresse? como poderia continuar vivendo sem ele?
CAPÍTULO VINTE E OITO
David acordou em uma sala ensolarada com a perna pulsando como o
diabo. Levou um segundo para perceber que estava em sua própria cama na fazenda,
vestindo apenas a camisa. Como chegou ali? Tudo o que conseguia lembrar foi de estar
no céu escuro da noite com Charlotte remando.
— Charlotte — murmurou através de uma boca que se sentia como uma torradas
secas.
— Bem, bem, vejo que o paciente está finalmente acordado.
Ele voltou seu olhar para a voz decididamente masculina e sentiu uma profunda
decepção quando viu Pinter descansando em uma cadeira diante dele. Onde estava
Charlotte?
Havia sonhado com ela dizendo que nunca mais o deixaria? E essa última parte...
Ele poderia jurar que ela havia dito que o amava. Embora não tinha certeza disso. Tudo
estava embaçado.
— Você deu a todos um susto, milorde — disse Pinter. — Mas é um homem de
muita sorte. Se essa faca tivesse chegado um centímetro para a esquerda, não poderia ter
saído vivo da ilha. As habilidades de primeiros socorros da senhora Harris também
ajudaram. Seu cunhado não teve tanta sorte.
— Está...
— Sim. Muito morto.
— Então, nunca saberemos se...
— Na verdade, nós sabemos tudo agora. Não só confessou tudo à senhora Harris,
mas questionamos os amigos dele e eles confirmaram o que ela disse, já ouviram a
conversa. De acordo com a senhora Harris, Linley discutiu com sua esposa e empurrou-a
na banheira, onde ela bateu com a cabeça na borda. Quando ela perdeu a consciência e
afundou, ele se limitou a observar ela se afogar.
Franzindo a testa, David lutou para alcançar uma posição sentada.
— Agora, aqui... — Pinter disse, inclinando-se em alarme — não sei se deveria
estar fazendo isso.
— Eu estou bem — disse David, embora teve o cuidado de favorecer a perna,
quando se arrumou, — Eu quero saber tudo.
Pinter contou toda a história. Soava exatamente como algo que Richard faria ao
ser encurralado, mesmo a falsa nota.
— Se não fosse tão ganancioso — terminou Pinter, — Ouso dizer que nunca
teríamos conhecimento do crime. Mas queria espremer mais dinheiro para você. E esse
foi seu grande erro.
David balançou a cabeça em horror. Que desperdício de vida. Richard sempre
tinha sido um impulsivo exaltado, mas matar a irmã e, em seguida, tentar tirar proveito
da morte dela...
— Assim, podemos pronunciar que o caso foi encerrado, milorde. E espero que
aceite as desculpas profundas do gabinete do juiz —Pinter fez uma pausa. — E espero
que você aceite minhas mais sinceras desculpas. Não deveria ter sido tão rápido em
acusá-lo.
David não podia se dar ao luxo de ser generoso, agora que já não estava vivendo
sob uma nuvem de suspeita.
— Você estava fazendo o seu trabalho. Não teria esperado nada menos do
homem que partiu para encontrar o assassino de minha esposa.
— Há um pouco mais do que isso, mas vou guardar essa história para outro dia.
A porta do quarto se abriu, e Charlotte entrou com uma bandeja.
— O médico disse que se podemos conseguir que fique consciente o suficiente
para engolir um pouco de caldo, poderia...
Ela deixou cair a bandeja com um grito de alegria.
— David, você está bem? — Foi até a cama, segurou a cabeça dele e deu-lhe uma
chuva de beijos na testa, bochecha... em todos os lugares, exceto onde ele queria.
— Vou ter que começar a ser esfaqueado com mais frequência. — Ele a segurou
pela cabeça e puxou-a para baixo para dar-lhe um beijo longo e demorado, que ela
devolveu com tal entusiasmo que seu coração disparou.
Ela recostou-se ruborizada, seu olhar voou para Pinter.
Pinter se levantou.
— Acho que essa é a minha deixa para sair — disse ele com um sorriso. — Agora
que tenho certeza que você vai viver milorde, o melhor que posso fazer é voltar a
Londres. Se você precisar de alguma coisa...
— Você vai ser o primeiro homem que irei procurar — respondeu David.
Quando Pinter saiu, David olhou para a mulher que ele adorava. Seus belos olhos
injetados de sangue, o vestido era decididamente indecente sem o lenço, e o cabelo era
um ninho de ratos. Ela nunca esteve mais bonita.
Deu um tapinha na cama.
— Sente-se comigo, meu amor.
— Eu não quero — vai machucá-lo — ela começou, mas quando ele a puxou pelo
braço, não com força, ela concordou.
Quando deitou ao lado dele na cama, a puxou contra seu ombro.
— Parece que salvou a minha vida, cuidou de minha ferida e remou para me levar
para do outro lado do rio.
Ela colocou a mão no peito dele.
— Era o mínimo que eu podia fazer, então você arriscou sua vida por mim.
Esse comentário o fez franzir o cenho.
— E essa foi a única razão? Porque você estava grata?
— Você sabe que não foi isso — murmurou ela, erguendo o rosto para ele.
A adoração em seus olhos fez a respiração dar um nó em sua garganta. Mesmo na
juventude, ele tinha a nunca a olhou com um carinho tão doce.
Perversamente, despertou sua culpa novamente.
— Passei a última semana em agonia, querendo explicar tudo de uma maneira
melhor, mas não podia, porque...
— Eu sei. O Sr. Pinter me contou sobre a armadilha que vocês planejaram.
Ele lhe lançou um olhar triste.
— Não saiu bem como havíamos planejado.
— Que estranho — ela brincou, abrindo e fechando os olhos. — Que um plano de
vocês saiu feio. Quem teria pensado?
— Certamente não é meu único plano que deu errado nos últimos tempos. —
Embora ele estivesse relutante em tocar no assunto, tinha que saber onde estava
pisando. — Ontem à noite você me disse que me perdoou pela trapaça como primo
Michael.Você quis dizer isso? — Ele tomou fôlego esperando pela resposta.
Ela olhou para baixo.
— Você me magoou, você sabe.
— Eu sei — se sufocou ele.
— Deveria ter me contado a verdade, se não imediatamente, em seguida, uma
vez que nos tornamos amantes.
— Sim. Eu não tenho nenhuma desculpa, e não fui justo com você. Estava te
tratando como a garota de dezoito anos que conheci em minha juventude, e como a
criatura inteligente e sensível que conheci por nossas cartas.
Curiosamente, esta declaração contundente a fez sorrir.
— Sabe o que passei fazendo a semana passada?
— Xingando meu nome?
— Lendo suas cartas.
Ele piscou.
— Todas elas?
— Todas as 1263. Mais ou menos.
Ele não tinha certeza do que fazer com isso.
— O que determinou depois disso?
— Bem, em primeiro lugar, eu deveria ter adivinhado que você era arrogante na
primeira declaração que fez — disse ela secamente.
Um sorriso escapou dele.
— Eu era tão transparente?
— Agora que sei a verdade, sim. — Ela brincava com os botões da camisa dele. —
Mas também percebi o quão importante você foi para a escola todos estes anos. E para
mim. Percebi que não importa como começou a sua farsa, tornou-se um ato de
verdadeira amizade.
Ele deu um suspiro.
— Então quer dizer que o que você disse ontem à noite sobre me perdoar... —
ofegou ele.
— Sim. — Gentilmente beijou-o na mandíbula, e depois seus lábios.
— E o que você diz sobre o amor que sente por mim.
— Você ouviu isso? — Disse ela, com surpresa na voz.
— Como em um sonho. Pensei que poderia ter imaginado.
— Não, — disse ela, um sorriso terno enfeitando seus lábios. — Eu te disse. Eu
amo você, David.
Ele tomou seu coração em suas mãos e arriscou tudo.
— Isso quer dizer que você vai casar comigo? — Quando ela respirou fundo, ele
pressionou um dedo sobre os lábios dela e disse: — Antes de responder, quero que você
saiba que vou tomar de você tudo o que você puder dar. Você pode continuar a
administrar a escola, e vou viver lá também, se me permite. Mamãe e Giles podem
administrar a propriedade. Só se você se casar comigo, querida. Isso é tudo que quero.
Uma charmosa risada jorrou dela.
— A última coisa que precisamos é de uma escola cheia de meninas perseguindo
meu marido com um olhar de adoração. Ficariam todas apaixonadas por você em menos
de uma semana.
Quando ele franziu a testa, ela ficou séria.
— Você estava certo, você sabe. Eu estava usando a escola para me proteger. Dos
homens, da vida e de você. — Ela o acariciou na bochecha. — Mas não é necessário
protegê-lo mais. Descobri que tenho algo mais na minha vida
também. Alguém mais. Assim, logo que você esteja bem o suficiente, vou contratar uma
diretora.
A alegria correu por ele. Finalmente, Charlotte era dele! Não por uma noite ou um
mês ou lapso de um relacionamento ilícito, mas para a eternidade.
— Amor, se isso significa que concorda em se casar comigo, estou bem o
suficiente no momento para saltar para fora da cama e começar a dançar.
— Não se atreva! — Ela disse, tentando não rir quando deu-lhe um olhar
severo. — Depois do que passei para chamar um médico, vou te apunhalar eu mesma se
você abrir a ferida.
Ele riu, vertiginoso com o pensamento de que finalmente Charlotte pertenceria a
ele.
— Me abster-se de dança melhor, considerando que desafiou o grande Tamisa
para me salvar. No entanto, como você fez?
— Pensei sobre o que perderia se eu não conseguisse — disse com seriedade.
— E o que é isso?
— Minha mente. Meu coração. Minha alma.
Tomado pela emoção, a beijou, desta vez com mais liberdade. E mais
calor. Quando se afastou, ele perguntou: — Em quanto tempo podemos nos casar?
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Não até que o período de luto tenha terminado. Não terei pessoas pensando...
A boca dele interrompeu o resto da frase. Eles se beijaram profundamente, tão
profundamente que ele tinha certeza que podia sentir o coração batendo debaixo da
mão.
Afastou os lábios dos dela.
— Resposta errada, amor. Vamos tentar novamente. Quando é que vamos nos
casar?
— Agora, David... — Começou ela com uma carranca, mas desta vez, quando ele
tentou beijá-la, ela se conteve. — Estou falando sério. Vamos fazer isso direito.
— Você continua me atormentando por todas as minhas maquinações — ele
murmurou. — Você vai passar os próximos meses me deixando louco, alardeando o seu
autocontrole por toda a cidade, levando-me à loucura, e fazendo-me morder o pó. De
modo que quando o momento do casamento chegar, vou ser como a argila em suas
mãos.
— Você ideia tão bonita — disse ela presunçosamente.
— Tenha cuidado, descarada — murmurou quando a puxou pela manga da
blusa. — Se você acha que vou passar seis meses sem estar na cama com você, vai ter que
inventar outra coisa.
Os olhos dela brilharam.
— Bem, a minha lição sobre esta questão tem sido sempre - Casa-se antes de ir
para a cama com ele.
— Eu quebrei essa regra. — Deu um beijo a uma inclinação de seu seio, e depois
sob o vestido, enquanto sua respiração se acelerou. — Além disso, acho que gosto de sua
outra lição.
— Que outra lição?
— Ame-o antes de ir para a cama com ele. Por mais que ele ame você. — Ele
olhou para ela nos olhos, com o coração cheio. — Porque só isso se encarrega de tudo.
Com um sorriso, ela enredou os braços em volta de seu pescoço.
— Eu acho que você está certo, meu amor.
Epílogo

No final, David conseguiu o que queria, e eles se casaram no prazo de dois


meses. Não por seu poder de persuasão, ou até mesmo por suas proezas no quarto. Mas
porque Charlotte descobriu que estava grávida. Esta consideração triunfou sobre todas as
outras.
Charlotte não podia lamentar a cerimônia apressada, como estavam desfrutando
do café da manhã de casamento nas novas dependências da escola, cercados por
familiares, amigos e alunos. Ela nunca teria sobrevivido seis meses vivendo separada de
David. Além disso, sempre que estavam juntos em uma sala, o mundo inteiro podia ver
que estavam apaixonados. Não havia muito sentido em adiar o inevitável. Especialmente
desde que os jornais finalmente perderam o interesse na história do assassinato de Sarah
e fixaram em outros escândalos.
Claro, os Linleys tinha ficado ferido em sua pressa. Perdendo tanto uma filha e um
filho, apenas estavam se recuperando de sua dor.
Eles não odiavam a felicidade de David, mas também não pareciam ter nenhuma
pressa para compartilhá-la com ele. Charlotte não tinha certeza se isso alguma vez
poderia mudar. Ela suspeitava que passaria um longo tempo antes que eles aceitassem o
fato de que o genro tinha matado o filho, que por sua vez tinha admitido ter matado a
irmã.
— Então, onde vocês irão na viagem de lua de mel? — O amigo de David, Anthony
Dalton, Senhor Norcourt perguntou. Próximo a ele estava sua esposa, Madeline, uma ex-
professora da escola. Ela estava segurando o filho recém-nascido do casal, Toby, nos
braços, e Charlotte já tinha feito o ridículo falando em linguagem infantil para o bebê
enquanto David zombava dela por isso.
— Nós estamos indo para a Itália, na verdade. — David colocou a mão de
Charlotte na dobra do braço. — Foi ideia de Charlotte. Ela sempre quis ver Veneza, e diz
que vai ficar bem se o navio for grande o suficiente. Mas suspeito que vamos passar a
maior parte da viagem trancados em nossa cabine.
— Fechado em uma cabine com sua adorável esposa — disse Anthony. — O que
você vai fazer para se divertir?
David e seus amigos riram, enquanto as esposas reviraram os olhos.
— Convidamos os recém-casados para nos visitar nas terras altas — disse Lady
Venetia, uma ex-aluna de Charlotte — mas nós não conseguimos tentá-los.
— E não admira — Brincou o amigo de David, Lord Stoneville. — Inverno nas
terras altas é horrível.
— Não é tão ruim — disse o marido de Lady Venetia, o Highlander, Sir Lachlan
Ross — Você não viveu até que tenha visto as montanhas cobertas de neve.
O major Winter se dirigiu ao grupo com a esposa. Ele estava franzindo a testa
para Sir Lachlan.
— Nós nos conhecemos, senhor? — Ele perguntou. — Seu sotaque soa muito
familiar.
Uma expressão estranha apareceu no rosto de Sir Lachlan e deu a esposa um
olhar estranho de pânico.
— Não posso imaginar quando possam ter se conhecido — disse Venetia
apressadamente.
O primo de David franziu a testa.
— Eu podia jurar que ouviu sua voz quando estava na Escócia.
— Eu diria que nós os highlanders soamos todos iguais. — disse Sir Lachlan.
Venetia olhou para os jardins.
— Se você nos der licença, parece que nosso filho Ian se dirige para a
estrada. Venha, Lachlan, é melhor ir pegá-lo antes que se meta em encrencas.
Eles saíram com pressa, fazendo Charlotte estranhar a questão. Os highlanders
que o major Winters havia conhecido na Escócia eram os mascarados que haviam
sequestrado ele e Amelia anos atrás. E eles estavam todos mortos. Ou então foi o que ela
ouviu.
— Senhora Harris... desculpe... Lady Kirkwood, é verdade o que eu ouvi falar de
Samuel Pritchard? — Perguntou outra voz quando dois casais se aproximaram para se
juntar ao grupo.
O homem que tinha falado era um dos amigos de David, o Duque de Foxmoor. Ele
veio com a esposa, Luisa, grávida, e aqueles que caminhavam ao lado deles era seu primo
Colin Hunt, o conde de Monteith, e a esposa do conde, Eliza, outra ex-aluna da escola.
— Colin me disse, — Foxmoor disse, — que o projeto de Pritchard de vender
Rockhurst despencou.
Charlotte riu.
— Na verdade foi. A junta de licenciamento decidiu que não poderia ser de bom
interesse para Richmond tem uma pista de corrida tão perto de seus nobres
habitantes. Uma vez que o Sr. Watson, ouviu dizer que ele não seria capaz de obter a
licença necessária retirou o acordo.
— Então Pritchard veio rastejando perguntar se eu queria comprar — acrescentou
David. — Depois de meses sem comprador e o primeiro negócio ter fracassado,
aumentando assim a falta de fundos.
— David considerou —, Charlotte disse, — mas nós gostamos mais da
propriedade de Lord Stoneville, é muito melhor.
— Deveriam — rosnou Stoneville. — Um bom pedaço de propriedade. Se não
fosse por uma bobagem da minha avó, eu nem sequer... — percebeu que todos os olhos
estavam sobre ele, franziu a testa. — Kirkwood me pagou um preço decente, não receie.
— Dado o tipo de atividades que costumavam a fazer — disse Foxmoor, — o
bairro tem de estar satisfeito com a troca de Stoneville por uma escola para meninas.
Todos riram. Stoneville revirou os olhos.
— Não entendo por que você teve que deixar a antiga propriedade — Luisa disse
— certamente o primo Michael teria permitido que...
— O que acontece é que não era dele — Charlotte disse suavemente. — Ele só
tinha um penhor sobre a terra para receber aluguéis, e que estava prestes a terminar. A
propriedade pertence ao Sr. Pritchard, e desde que esta ligada ao título, nunca poderia
ter vendido o lugar. — Ela deu um sorriso a David. — Meu marido sentiu que era hora da
escola ter alguma permanência, por isso mesmo nem sequer aceitou a oferta do Sr.
Pritchard de continuar alugando o lugar. E então, quando o primo Michael morreu,
parecia não haver razão para isso de qualquer maneira.
— O primo Michael morreu? — Eliza exclamou, com os outros juntando-se de
estupefação.
— Sim. Alguns dias atrás. — Charlotte ignorou quando Amelia e o Major Winters
sorriram. — Foi muito triste. O Sr. Baines estava fora de si com a dor.
Charlotte estava feliz que ela e David tinha decidido deixar o primo Michael
morrer de morte natural. Dizer a todos a verdadeira identidade teria significado a
ressurreição de seu passado doloroso juntos, e a última coisa que precisavam era de
outro escândalo. Apenas Amelia e o Major Winters sabiam a verdade.
E Charles Godwin, que estava visivelmente ausente de sua festa de
casamento. Ele tinha tomado a notícia de seu casamento iminente mais duramente do
que ela esperava, então ela poderia perdoá-lo por não comparecer. Só esperava que ele
chegasse a encontrar alguém para amar algum dia.
— Então, nós nunca vamos saber quem era realmente seu primo? — Perguntou
Foxmoor.
— Temo que permanecerá sempre um mistério. O Sr. Baines ainda se recusa a
revelar. — Charlotte apertou o braço de David. — Embora eu sempre serei grata por seus
anos de amizade e bondade.
Uma comoção repentina perto de uma das mesas chamou a atenção de todos.
Terence estava tentando valentemente, sem sucesso - subjugar um grupo de
crianças desordeiras. Os pais correram para manter suas crianças distantes umas das
outras e resolver o conflito. Stoneville aproveitou a oportunidade para ir encher o
copo. Isso deixou Charlotte e David sozinhos pela primeira vez desde a cerimônia.
David olhou por cima do seu corpo.
— Você vê o que temos que esperar? — Murmurou, tocando o ventre dela de
forma significativa.
Isso foi outra coisa que não tinha contado a ninguém. Não era exatamente bem
visto em seu círculo casar com um bebê no útero. Sem mencionar que a última coisa que
precisava era que as alunas tivessem esse tipo de exemplo.
A nova diretora estava contratada, mas mesmo assim as jovens damas
consideravam Charlotte a verdadeira guia. Ela ainda estava realizando os chás das
herdeiras, depois de tudo.
— Depois de tudo o que passamos, acho que podemos controlar tudo o que
nossos filhos façam — ela respondeu.
David ficou em silêncio por um momento.
— Você já se perguntou como nossas vidas poderiam ter sido diferentes se a sua
carta não tivesse sido publicada? Se eu a tivesse recebido e ido exigir a verdade, e,
portanto, você saberia que foi Giles? pode ser que agora estaríamos comemorando
dezoito anos de casados?
— Talvez. Ou talvez eu nunca confiaria em você, picada pelo incidente. — Ela
apertou o braço dele. — Além disso, acho que você começou a me conhecer melhor,
porque se passou pelo primo Michael, mais do que poderia ter feito se eu tivesse seguido
o papel de esposa.
— Soa como se você tivesse esquecido o primo Michael — disse ele, com uma
vantagem na voz.
— Confesso que sempre terei um carinho especial por ele. — Ela sorriu. — Por
quê? Não me diga que está com ciúmes de si mesmo.
Ele ficou pensativo.
— Eu estava. Naquele dia, quando vimos a propriedade e sua eloquentemente
defesa das virtudes dele, quase odiei o homem. Especialmente porque sabia que não
merecia os elogios que lhe fazia.
— Isso não é verdade — disse suavemente. — Sem ele, eu nunca poderia ter
realizado o meu sonho de uma escola para meninas. E eu teria perdido algo vital para o
que eu sou. Aprendi muito com nossas cartas.
— Eu também
— Oh sim? E o que você aprendeu, senhor?
— Como seduzir uma professora formal e correta.
Andando com ela em um bosquezinho nas proximidades, David a apoiou contra
uma árvore.
Fazia quase uma semana desde que eles tinham feito amor – e a julgar pela
respiração rápida do marido quando ele se aproximou, era tão consciente disso como ela
mesma.
Ele lhe dirigiu um sorriso decididamente sensual.
— Aprendi a ler nas entrelinhas. E o que eu li me ensinou como fazer com você
arder.
— Bem, então — disse enquanto ela se aproximava a cabeça da dele. — Graças a
Deus pelo primo Michael.

FIM

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