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MEINS
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qualquer modo ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, incluindo
fotocópia, ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão
de informação sem autorização por escrito da autora.
Todos os direitos reservados.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com a
realidade é mera coincidência.
Nota da autora
Caro leitor,
Talvez você estranhe o pseudônimo desse livro, caso já o tenha lido.
Ocorre que eu, Daya Engler, em 2020, passo a assinar todos os meus
trabalhos, inclusos os anteriormente publicados com o pseudônimo Daya
Engler, como S. K. Meins.
Desde já agradeço a compreensão.
Atenciosamente,
S. K. Meins
Nota da autora
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Epilogo
Contato
1
RECOMEÇO
Inverno
Ela não estava com medo. Absolutamente. Era uma mulher crescida e
vacinada para estar borrando a calcinha como uma garotinha de cinco anos.
Medo era apenas o descontrole de uma mente doente e Trish não tinha
qualquer problema com a sua. O fato de uma nevasca não deixá-la ver nada,
além do branco, não queria dizer que o piloto não sabia o que estava fazendo.
Ou que iriam se deparar com o pico de uma montanha e explodir em mil
pedaços antes até que se desse conta do que tinha atingido. O piloto era
experiente, quer dizer, olhe só para ele ― rugas e fios brancos de sabedoria
emolduravam a pintura de seu rosto, o peso da experiência estava marcado ao
redor de sua cintura redonda ― e ele estava cantando... Mal pra caramba!
Destruindo a música com sua desafinação. Mas e daí? Ele era um homem
feliz e bem-humorado.
E, se ele cantava, era sinal de que estavam indo bem.
Ou saudando a morte iminente.
Trish lamentou em mente, tão arrependida, que mesmo o diabo
deveria estar com pena dela. Há pouco mais de uma hora ela estava sentada
no assento do copiloto, tremendo como uma folha verde. Isso não tinha nada
a ver com o frio cortante. Era o medo descomunal crepitando granizos através
de suas veias, sua aerodromofobia ativada no mais alto nível. A jovem era só
nervos. As mãos delicadas pousadas sobre o colo suavam frio enquanto os
dedos finos e curtos se apertavam uns contra os outros na tentativa falha de
acalmar seu tremor. Gotículas de suor cobriram sua testa enquanto o coração
se limitava a disparar, agarrando sua garganta.
Tinha de arrumar um jeito de se controlar ou teria uma taquicardia.
Fora uma longa jornada de horas a fio desde que deixara Nova York
City rumo à Inuvik, e quando, finalmente, tivera chegado à penúltima cidade,
onde tomaria o último avião (da sua vida) em direção a seu destino final, já
tinha anoitecido outra vez. O tempo estava em péssimas condições e uma
nevasca ameaçava cair a qualquer momento, dissera o canal do tempo nas
telas espalhadas pelo aeroporto. Por conta disto alguns voos tinham sidos
cancelados e outros adiados até a segunda ordem. Mas o esgotamento físico e
mental, e a ânsia gritante de finalizar aquela etapa da mudança fora mais forte
que qualquer bom-senso. Após meia hora de procura tinha achado um piloto
disposto a voar.
Na hora, o avião de pequeno porte lhe pareceu um jato particular e,
apesar de não ter um bom aspecto, Trish não se importou desde que chegasse
ao seu destino e, enfim, pudesse tomar um banho quente, se deitar em uma
cama macia e dormir enrolada em grossos cobertores até recuperar totalmente
suas forças. Todavia, agora este desejo lhe parecia muito distante. A pequena
aeronave tinha se transformado em uma apertada lata de sardinha e a cada
minuto que se passava lhe dava a impressão de ficar mais apertada ainda.
Trish já não fazia questão do banho quente e da cama, tampouco.
Unicamente, almejava colocar os pés em solo firme e, de preferência, viva.
No entanto, sua esperança era quase nula.
Não escolheu o avião, ele a escolheu.
Que grande porcaria!
Sentia-se como um boi indo direto para o abate, e pior, por sua livre
escolha.
Desastres aéreos aconteciam o tempo todo. Não era um mito. Os
jornais e a internet estavam aí para comprovar. Seguro mesmo era andar com
os pés em chão firme.
Trish fechou os olhos por alguns instantes e procurou em sua
memória a oração que sua avó tivera lhe ensinado quando criança, e quando
achou, se pôs a rezar em silêncio. A cada sacudida mais agressiva que a
aeronave dava, sua oração se voltava mais fervorosa e concentrada.
Entretanto, um ruído peculiar chamou-lhe a atenção, fazendo-a abrir os olhos,
que correram até a mão do piloto, atraídos pelo pequeno objeto de inox que
este segurava. Um olhar mais atento e seus olhos quase saíram de órbita
enquanto a boca imitava um peixe.
O piloto tinha aberto o cantil e tomado um bom gole. Ante sua careta,
Trish teve a certeza de aquilo se tratar de um destilado, e dos fortes.
Num piscar de olhos, sua indignação tomou proporções
estratosféricas.
― O que o senhor pensa que está fazendo?
O homem lhe lançou um rápido olhar inocente e tomou mais um
sorvo.
— Está muito frio.
― Supõe-se que um piloto em plena atividade não deve ingerir nem
mesmo uma gota de bebida alcoólica. Isto não quer lhe diz nada, meu caro?
― Ah, sim! Diz-me que este tempo frio pede mais um gole ou dois.
Possivelmente, três ― tranquilamente, ele disse, tomando mais um sorvo e,
em seguida, ofereceu a ela, fazendo seus olhos maiores. ― Vamos lá! Tome
um trago e seu corpo agradecerá. Aqui faz muito frio e um trago sempre
ajuda a manter o corpo aquecido.
Muito bem! Iriam morrer. Esta era a única explicação para que o
cidadão ao seu lado resolvesse beber em pleno voo. Na certa, ele já sabia que
não havia maneira de saírem vivos da nevasca caindo sobre eles, e então,
decidiu tomar uma cachaça, como se este fosse seu último desejo em vida
antes das luzes se apagarem por definitivo.
Santa merda!
Deveria ter esperado até o tempo melhorar, mas teve de ceder à
maldita impaciência. E, bem, agora iria morrer por conta da falta de
tolerância. Que ironia!
Ele tomou outro gole e a irritação dela estalou.
― Isso só pode ser brincadeira! Eu lhe paguei muito caro, diga-se de
passagem, para me levar em segurança para a maldita cidade, não para o
senhor se embebedar em pleno voo!
― Relaxe dona! O chão é o limite, dali com certeza não passamos.
Os olhos azuis como o mar de Bahamas se arregalaram com pavor,
porém o medo latente a paralisou ao invés de fazê-la gritar em plenos
pulmões.
O piloto guardou o cantil e evitou sorrir.
― Estou brincando, dona. Esta boneca aqui nunca me deixou na mão
e não será agora que irá fazê-lo. Não é, Marie? ― o maluco disse, dando
tapinhas no painel da aeronave.
Não o mate. Você não sabe pilotar, garota!
― Isso não é brincadeira que se faça, senhor!
Trish fechou os olhos e voltou as suas orações silenciosas.
― Eu acho melhor a dona se segurar ― ele avisou minutos depois,
fazendo-a abrir os olhos de súbito e encará-lo em confusão e terror. ―
Vamos aterrissar agora.
Por um segundo Trish suspirou aliviada, enfim, estaria em terra firme.
O sorriso agradecido quase desenhou seus lábios. Quase. Santo Deus
Amado... Rogou quando lançou o olhar para baixo e todo o medo
neutralizado veio à tona.
― Ah, meu Deus! O senhor está louco? Quer nos matar por acaso?
Não há nenhuma pista ali embaixo e, se há uma, a maldita está bem
escondida nesta neve toda. E este fodido nevoeiro não ajuda em nada... Oh,
céus! Vamos morrer! Por que eu não esperei? Por que tinha de ser tão
teimosa? Por que, meu Deus? Isso não é justo!
Ela chorou miserável, as lágrimas grossas percorrendo seu rosto como
se uma torneira tivesse sido aberta sobre ele. O coração bateu mais rápido e
mais forte, fazendo suas costelas doerem enquanto a respiração vinha aos
jorros.
― Dona, se acalme. Eu faço o transporte aqui há muitos anos, tantos
que já nem me lembro mais. Conheço este lugar como a palma da minha
mão. Arrisco até em dizer que posso fazer a aterrissagem de olhos fechados...
Não que eu vá fazer ― ele se adiantou em dizer ante o olhar de Trish, uma
mescla de fúria e desespero cru. ― Não se preocupe, eu já coloquei essa
belezinha no chão em condições piores do que esta.
Eu não mereço morrer assim. Oh, merda, merda, merda! Por que
infernos eu vim pra cá?
Memórias dispararam por sua mente e ela teve de dar mão à
palmatória. Tinha feito à escolha certa. Morrer não era uma opção.
Entretanto, era preferível morrer em um desastre aéreo a ter permanecido nos
Estados Unidos por um dia a mais.
De todos os modos, aqui ou lá estaria morta.
Lá era apenas um ser humano em estado vegetativo, vivendo no
automático como um robô, pelo menos aqui, se não sobrevivesse até a
aterrissagem, morreria, mas de verdade.
Uma sacudida mais brusca seguida de outra e mais outras, fez sua
mente ficar em branco e a voz entalar na garganta. Sua respiração saiu aos
arquejos acompanhando o ritmo acelerado do seu coração enquanto o piloto
assoviava tranquilo ao seu lado, preparando-se para aterrissagem. O que,
francamente, foi uma afronta direta. Queria fechar os olhos, porém os
malditos não obedeciam, estavam esbugalhados ameaçando saltar-lhe a face.
O medo reinou em absoluto sobre eles e nem mesmo assim deram sinal de
que se fechariam. Era como se quisessem ver a morte que vinha de encontro e
abraçá-la, dando a ela as boas-vindas, como se fosse uma querida amiga
distante.
Um solavanco repentino seguido de outros, e seu corpo pôs-se a
tremer descontrolado. Uma alta dosagem de adrenalina pura correndo por
suas veias.
Queria uma mudança de vida e agora teria uma grande. Só não
contava que a mudança fosse dessa para uma melhor. Isso era tão, mas tão
injusto com ela.
― Prontinho. Viu? Eu disse que iria dar tudo certo. Minha Marie
nunca me deixaria na mão. Como dizem por aí, tá comigo tá com Deus ― o
piloto tagarelou, após pousar o avião. Ele olhou a passageira ao seu lado, seus
olhos vidrados. Ele pigarreou, tentando chamar a atenção, contudo, ela não se
moveu. Preocupado com sua falta de ação, ele tocou-lhe o ombro. ― Dona,
tudo bem?
― Não me toque, merda! ― O piloto retraiu a mão de imediato. Trish
tragou o ar a baforadas profundas e soltou pela boca, buscando seu controle
perdido em meio à turbulência. ― Estou bem, só não me toque.
O homem então deu os ombros e desceu do avião.
Estou viva. Inteira e viva. Oh, Deus, obrigada!
As enluvadas mãos trêmulas tateavam o corpo, comprovando o que
seus olhos enxergavam.
Estava viva. Genial. Inteira e viva! Nenhum pedacinho faltando!
Quando a tremedeira em seu corpo diminuiu e os joelhos já se
sentiam fortalecidos, Trish tirou o cinto de segurança e desceu da aeronave,
também.
O vento extremamente gelado varreu sua face num lembrete.
Embora estivesse mais agasalhada que um esquimó, o queixo
começou a tremer de leve, seus lábios ficaram ressecados e gelados quase que
de súbito. Maldição. Tinha pesquisado sobre o clima da cidade antes de
tomar a decisão de se mudar. Era consciente de que o inverno era severo
naquela região e até pensou que seria fácil, afinal de contas, estava
acostumada com temperaturas abaixo de zero, mas o inverno de Nova York
era verão comparado a este. Por Deus que estava congelando os ossos. Mais
alguns minutos parada no relento e teria até a alma congelada.
― Aqui ― o maluco disse, colocando suas duas malas no chão ao seu
lado. ― Quando precisar de um transporte rápido e seguro, não se acanhe em
me chamar. Por aqui todos me conhecem. É só dizer o meu nome que eles
entraram em contato comigo.
― Oh, claro! Eu farei... quando o inferno congelar.
Era preferível andar milhares de milhas em pleno inverno, com neve
até os joelhos e completamente nua a acionar os serviços da personificação da
loucura ao seu lado outra vez.
Ocorreu então que nunca, jamais, ela se mudaria de Inuvik. O único
meio de chegar e sair da cidade era de avião e, se aquele doido fosse o único
piloto disponível, definitivamente, Inuvik se tornaria seu lar até o fim de seus
dias.
― Olha que do jeito que a temperatura aqui é, isso não vai demorar
muito não, viu? E sabe que eu nem ficaria surpreso se isso acontecesse. Já vi
tanta coisa que até Deus duvidaria.
― Tenho certeza disso Sr. Mcgraw ― ela murmurou. ― Bem, de
qualquer maneira, obrigada.
Trish tomou as malas e girou a cabeça correndo os olhos pelo
pequeno complexo, que servia como aeroporto, se é que aquilo poderia ser
nomeado assim.
― Não tem de quê. Foi um prazer servi-la ― ele disse, atraindo a
atenção dela. ― Não é sempre que tenho o prazer de ter a companhia de uma
mulher tão... ― antes suas feições duras jurando-lhe uma morte sofrida, ele
limpou a garganta e sorriu. ―... Fina.
Trish lhe deu um breve sorriso azedo, girou os calcanhares e se pôs a
caminhar como pôde em meio à neve fofa, indo em direção ao que
chamavam de aeroporto.
Um uivo ao longe cortou o ar gélido, estacando-a no lugar por um
efêmero momento. Um calafrio percorreu sua espinha dorsal até seu baixo
ventre enquanto um leve tremor a sacudia da cabeça aos pés. Merda. Mais
essa ainda, como se já não bastasse tudo que tinha passado para chegar ao
maravilhoso fim do mundo, os bichos também resolveram saudá-la.
Agora sim o pacote está completo!
Sacudiu a cabeça e sorriu tristemente para si mesma.
Lançou-se mais a frente, com passadas rápidas ― tão rápidas quanto
seus pés e suas bagagens permitiam. Logo estava no coberto do pequeno
complexo de cimento e aço. Dirigiu-se até uma cabine e pediu informações.
Minutos depois, Trish se encontrava dentro de um táxi a caminho do
endereço que a corretora tinha passado. O veículo afastou-se um pouco do
que deveria ser uma cidade e logo parou quando próximo de uma viela.
― Chegamos? ― inquiriu confusa, olhando para os lados e nada se
via, a não ser neve e uma densa floresta cercando um estreito caminho mal
iluminado.
― Não.
Seu cenho enrugou.
― Então, por que paramos?
― Meu pequeno guerreiro Ulisses aqui só vai até este ponto, daqui a
senhorita tem de seguir a pé. Mas não se preocupe. É só seguir reto que logo
verá algumas cabanas... ― o homem continuou com a explicação enquanto
Trish permanecia quieta, estava cética.
Sempre ouvira sobre a tal camaradagem que a população de cidades
pequenas possuía, no entanto, no momento isso não passava de um mito para
ela.
E, se fosse atacada por um animal? Ou se ela se perdesse?
Pagou ao motorista e desceu do automóvel a contra gosto. Assim que
sua bagagem estava ao seu lado, o taxista deu partida no carro e se
distanciou. Ela ficou parada, mirando até perdê-lo de vista, então virou a
cabeça e olhou para o caminho que tinha de seguir, mal podendo ver a trilha
de pedras no chão devido à quantidade de neve acumulada, sem falar na que
ainda caia.
Respirou profundamente e deixou os ombros baixarem.
Vida nova. Um recomeço, é por isso que está aqui. Você já enfrentou
seu maior medo e quase morreu por isso, e não vai fraquejar agora.
Ajeitou a bolsa sobre o ombro e pescou suas malas, lançando-se a
frente.
Em menos de quinze minutos descobrira que a gentileza não era o
ponto forte do povo da cidade e que eles davam apelidos para tudo que se
movesse. Ou não.
Malucos. Isso sim que eles são. Uma temporada no hospício lhes
cairia bem.
Praguejou alto, cerrando os dentes quando a dor fez latejar seus dedos
do pé direito quando tropeçou em uma pedra escondida sob a neve macia.
Outro uivo cortou o silêncio da noite acompanhando o uivar do vento
gelado e fez o medo se apoderar do seu corpo. Trish tremeu levemente de
frio, temor e... Outro calafrio percorreu sua espinha, mas este era diferente,
era... quente, sedutor e envolvente. Eriçou os cabelos da nuca e ondulou um
calor agradável abraçar o seu centro tão suave, que mais parecia cetim.
Engoliu a saliva e lambeu os lábios ressecados, o coração voltou a trotar em
seu peito enquanto mais uma dose de adrenalina era injetada em suas veias.
Desta vez, era erótica.
Oh, céus! Era uma pervertida.
Trincou os dentes obrigando a esquecer-se da reação do seu corpo, e
se acalmar. Estava com medo e irritada, também. Sua dose de quase morte já
tinha extrapolado o limite. Se não morreu no avião pilotado por aquele
lunático agora também não iria.
Calma, vamos, respire fundo e se acalme. Você sobreviveu em uma
selva de pedra e pode sobreviver nesta de gelo também.
Trish encorajou a si mesma, praticando os exercícios de respiração
que tinha aprendido nas poucas aulas de yoga que frequentou.
Isso, garota. Vamos lá! Só mais um pouquinho.
Um pouco mais calma, abriu a bolsa e pegou o papel com o endereço.
Alguns passos à frente e as enfileiradas cabanas de pedra e madeira
escura, com telhados cobertos de neve entraram em seu campo de visão. Pelo
pouco que os três postes de luz permitia observar, todas as cabanas seguiam o
mesmo padrão, embora algumas aparentassem serem maiores que as demais.
Umas poucas tinham as luzes acesas.
Obrigada, meu Deus!
Ela rumou até lá.
Não fazia a menor ideia de que horas eram quando tocou a campainha
da cabana marcada no endereço. Tantas horas de viagem e as mudanças no
fuso horário, a deixara confusa. Cansada demais, esperou alguém atender a
porta, mesmo que fosse aos berros por conta da hora tardia. De repente, se
lembrou de que não tinha avisado a corretora que viria naquela semana, e sim
na próxima. Oh, Deus. Estava tão doida para sair de Nova York que se
esqueceu de avisar a corretora de que tinha adiantado sua mudança. Bufou
indignada. Só rezava para que a mulher tivesse deixado à chave com sua
futura vizinha, pois, do contrário, não teria alternativa, se não pedir asilo por
uma noite na casa desta. Ela não lhe negaria uma cama, um sofá que seja. Ou
mesmo um tapete, certo?
― Pois não? ― Uma mulher ruiva, aparentando ter sua idade,
atendeu a porta, encarando-a de cima abaixo com desconfiança e o semblante
fechado.
― Oi... Sou Trish Mitchell de Nova York. Eu não faço ideia de que
horas são e desde já lhe peço desculpas pelo incomodo. A Sra. Thompson me
deu este endereço e disse que deixaria a chave da cabana ao lado com a
senhora, ― ela mirou o papel, novamente, ― Leah Diaz. Ela está?
― Senhorita ― a jovem a corrigiu e acrescentou sorridente. ― Muito
prazer Trish Mitchell de Nova York. Eu sou Leah Diaz de Inuvik.
A jovem mulher de traços fortes e olhos expressivos suavizou a
expressão, e no instante seguinte, a abraçou. Uh-oh... Talvez o povo não
fosse tão ruim assim. Trish retribuiu o gesto. Aliviada pelo conforto da
hospitalidade da outra mulher.
― Encantada.
Outro uivo mais forte que os anteriores soou ao norte e este bateu
diretamente em sua vulva, fazendo seu casulo sensível pulsar em resposta. Os
seios incharam e seus mamilos se enrijecerem, como dois brotos de rosas,
despontando no sutiã. Trish estremeceu, novamente, enquanto perplexa,
cuidava para manter o gemido afogado em sua garganta.
Ainda sentia o medo a rondar assim como a excitação repentina.
Por um instante pensou ter captado uma pontada de agonia no uivo do
animal. Isso a fez sentir pena dele e querer confortá-lo. Era loucura. Estreitou
as sobrancelhas e riu de si mesma. Estava tão cansada que já estava até
interpretando o uivo dos animais e sentindo tara por eles. Sua cabeça sacudiu
com brusquidão, expulsando o último pensamento.
Diabos. Não estava em seu juízo perfeito. A culpa toda era do seu
cansaço, estava tão esgotada que o cérebro estava desorientado e enviando a
seu corpo as ordens equivocadas.
O vento gelado soprou em sua direção e ela abraçou a si mesma.
― São lobos.
― L-Lobos?
― Sim. Mas não se preocupe, eles nunca vem para cidade.
― Nós não estamos exatamente na cidade ― Trish murmurou
ausente, olhando em volta, a floresta adornava de forma soberana a lateral do
caminho que fizera. Escura, cheia e misteriosa.
― O que quero dizer é que eles se mantêm na floresta, nunca soube
de nenhum causo deles visitando a cidade desde que vim morar aqui. E o Sr.
Hunter, que mora aqui há 80 anos, diz que nunca houve nenhum incidente de
lobos invadindo as casas ou de humanos sendo mortos por eles, então
estamos seguros. Se não mexermos com eles, eles também não mexem com a
gente.
― Terei isto em mente.
― Mas vamos entrar antes que congelemos aqui fora.
― Eu só vou pegar minhas malas para deixá-las na varanda, se você
não se importar, é claro. Não quero correr o risco de perdê-las em meio a esta
neve toda.
― É claro que não me importo! Vamos lá. Eu te ajudo.
Trish caminhou com Leah até suas bagagens.
― Aqui o inverno pode ser assustador, mas não se preocupe, é tudo
psicológico. Eu sempre digo isso para mim mesma. Quando me mudei pra cá,
qualquer ruído e eu pirava. Quando não eram os lobos, era o diacho do vento
e os galhos secos congelados batendo nas vidraças. Imagina só... ― Leah se
interrompeu, olhando para as duas malas pequenas e colocou as mãos na
cintura. ― Mulher, eu achei que você fosse morar aqui, não passar as férias.
E, se me permite o abuso, você não tem um senso muito bom para férias.
Cancun lhe diz algo?
Trish riu, divertindo-se com o espanto da sua vizinha.
Tá aí, este era o tipo de pessoa com quem ela gostava de lidar.
Pessoas espontâneas e sinceras. É, talvez, a mudança não fosse de todo ruim,
pensou.
― Eu vou morar aqui. Só não achei necessário trazer todos os meus
pertences, peguei somente o essencial. Planejei comprar o que faltar para
mim e para casa na cidade mesmo ― ela explicou, pegando uma das malas
enquanto Leah pegava a outra.
― Ah, sim! Mas, então, como eu estava dizendo, não se assuste com
os uivos dos animais, nem do vento. É totalmente normal por essas bandas.
Sei o quanto é difícil, digo com conhecimento de causa. Eu também vim de
uma cidade grande, e foi muito complicado me acostumar. Aqui é tudo muito
tranquilo. Não temos roubos, nem assassinatos, quero dizer, houve alguns,
claro, mas há muito tempo. Enfim, o povo aqui morre de morte morrida, não
de morte matada...
Leah tagarelava, arrancando risos silenciosos de Trish.
Deixaram a bagagem na varanda e entraram na cabana.
― Você está com sorte. A Sra. Thompson deixou a chave comigo
anteontem. Ela viajou hoje cedo para Vancouver e só volta na semana que
vem. Acho que é quando sua chegada estava prevista, certo? Creio que ela
tenha adivinhado que você viria antes.
― Eu consegui arrumar tudo antes do prazo planejado. Então resolvi
vir logo. ― Encolheu os ombros. ― Não havia porque esperar mais.
― Entendo. Sente-se, por favor, que eu vou buscar a chave.
― Obrigada.
― Aceita um pouco de chocolate quente?
― Se não for incomodar, eu aceito sim. Estou congelando por dentro.
Trish sentou-se no sofá de dois lugares de frente para a lareira acesa,
estendeu as mãos em direção ao fogo com as palmas abertas e as esfregou,
aquecendo-as.
― Nenhum incomodo! Fiz agorinha mesmo, aliás, estava terminando
de fazer quando você tocou a campainha, por isso demorei a atender ― Leah
comentou, voltando para sala com uma bandeja em mãos, tomou a garrafa
térmica e despejou um pouco do líquido fumegante em uma xícara e a
estendeu para Trish. ― Aqui. Coma alguns destes cookies também. Eles são
uma delícia. Eu os compro na lanchonete que trabalho... Bem, eu vou pegar
as chaves, fique à vontade e, se quiser mais, não se acanhe. Já volto.
Trish bebericou um pouco do chocolate quente e mordeu um bom
pedaço do cookie, a massa se desmanchou em sua boca, e um gemido de pura
satisfação arranhou sua garganta. Realmente, o doce era uma delícia, um
verdadeiro manjar dos deuses.
― Aqui estão. ― Leah colocou as chaves sobre a mesa de canto ao
lado do sofá e se juntou a Trish, acompanhando-a na ceia.
― Desculpe-me a pergunta, mas você mora sozinha aqui?
― Sim.
Leah assoprou a bebida e tomou um sorvo.
― Você disse que também veio de uma cidade grande?
Não queria ser mal educada, entrevistando a mulher que estava sendo
gentil com ela, porém sua curiosidade aguçada fazia sua língua se mover.
― Charlotte, Carolina do Norte. E você é de Nova York. ― Trish
assentiu a retórica enquanto mastigava outro pedaço do cookie. Leah puxou
os pés para o assento. ― Aqui é tudo muito diferente, começando pelo clima.
Não temos o luxo que uma cidade grande pode oferecer, contudo, temos
conforto, por assim dizer. Sem contar, é claro, que não nos estressamos com
o trânsito infernal e com aquele amontoado de gente. Você sabe, com toda
correria e estresse que só uma cidade grande tem. Embora ainda morra de
saudades de ficar horas dentro de um shopping, comer no Mc ou em um bom
restaurante japonês, tomar Frappuccino na Starbucks...
Leah listava com certa melancolia em sua voz.
― Por que veio justamente para cá se sente tanta falta do comodismo
da cidade grande?
― Ah, eu sinto falta, mas isso não significa que queira voltar pra lá.
Enfim, é uma história longa que outra hora eu te conto. Mas aqui também é
muito bom. Gosto do sossego e da paz que a cidade oferece. Não temos muita
opção em relação ao entretenimento, mas o que tem dá para o gasto. E, se
quiser algo de fora, a internet é um santo milagroso. De qualquer forma,
escolhi este lugar porque buscava tranquilidade, queria recomeçar.
― Sei bem como é.
A nostalgia abateu-se sobre elas, porém não se perdurou por muito
tempo. A conversa entre elas fluiu naturalmente, como se fossem amigas de
longa data. Para o espanto e contentamento de ambas, elas tinham muitas
coisas em comum. Se não fosse pelo cansaço palpável, Trish não se
incomodaria de ficar papeando com sua nova amiga noite adentro. Lee era
fácil. Entretanto, o esgotamento começou a pesar em seu corpo,
principalmente, em seus olhos.
Depositou a xícara na bandeja, pegou as chaves e se levantou.
― Obrigada pelo chocolate e pelos cookies, estavam uma delícia.
Adoraria poder ficar mais, mas estou morta. Creio que se não tomar um
banho e achar uma cama o mais rápido possível, acabarei desmaiando e
dormindo no seu tapete mesmo.
― Tudo bem, Bonita. Imagino como deve estar cansada e necessitada
de um banho quente. Só por isso permitirei que se vá ― Leah brincou. ― Eu
vou com você, se não se incomodar, assim faço uma apresentação rápida da
cabana e ligo o aquecedor pra você.
Elas se encaminharam para a cabana ao lado. A neve adornava os
rodapés da fundação e se acumulava nas gretas das janelas, criando um
contraste perfeito com as pedras em tons escuros, fixadas as paredes, dando
um ar rústico e aconchegante ao seu novo lar. Na frente podia ver um par de
arbustos pequenos e ao lado dois grandes pinheiros.
Trish subiu os três degraus para o pequeno alpendre de madeira
escura e seguiu Leah para dentro, que acendeu as luzes pouco antes de fechar
a porta.
― Espero que você não se incomode por eu ter dado uma ajeitada nas
coisas aqui, não foi lá grande coisa, mas pelo menos você não vai dormir em
meio ao pó. Já basta o frio de inconveniente.
― Nossa... Muito obrigada mesmo Leah. Foi muito gentil da sua
parte.
Trish correu o olhar pelo interior da cabana. Não era tão espaçoso
como o seu antigo apartamento em NY e nem tão luxuoso, porém em
conforto estavam quase empatados. O espaço era na medida certa. Nem de
mais, nem de menos.
Uma simples lareira de pedra ornamentava a sala acoplada a uma
cozinha pequena e funcional, a divisão de ambos os ambientes se dava por
conta de um pequeno balcão em cerâmica escura. Os poucos móveis eram no
estilo rústico, tanto da sala quanto da cozinha. No pequeno espaço que
sobrara entre a cozinha e a sala, do lado esquerdo ficava uma pequena mesa
redonda de madeira com quatro cadeiras. Algumas janelas amplas de madeira
escura davam-lhe uma ótima visão para a floresta em frente a seu lar. As
paredes dentro estavam tingidas em tom claro com os rodapés marrons, o
chão de madeira escura.
Tudo simples, porém muito bonito.
― Me chame de Lee. Este é meu apelido e todos aqui me chamam
assim, principalmente, meus amigos. E acredito que seremos grandes amigas.
― Leah acrescentou com simplicidade. ― Pelo menos desejo isso.
― Claro que sim ― concordou sorridente.
― Vem comigo. Eu vou ligar o aquecedor e já te apresento o resto da
mansão... Os canos e as tubulações, pelo que a Sra. Thompson me disse,
foram trocados recentemente, bem como, o velho gerador que foi substituído
por um novo há duas semanas. Aqui todas as cabanas nesta parte da cidade
possuem um, pois quase sempre falta eletricidade, então já sabe, jantar a luz
de velas aqui não é uma exclusividade dos pombinhos apaixonados.
Lee continuou sua expedição, mostrando onde as coisas estavam e
como elas funcionavam a nova moradora. Minutos mais tarde, elas
retornaram a sala.
― Vou deixá-la descansar agora.
Trish acompanhou Lee até a porta. Esta, por sua vez, enrolou os
braços em torno dela num abraço amistoso de despedida.
― Obrigada, Lee... por tudo.
― De nada. E bem-vinda ao inferno de gelo!
Trish permaneceu em pé ao lado da porta aberta, mirando a mulher se
distanciar, no entanto, Lee parou e voltou-se para ela.
― Ah! Amanhã eu estou folga no trabalho e, se quiser conhecer a
cidade e comprar o quê precisa, estou disponível.
― Terei isso em mente.
― Boa noite, Trish. Qualquer coisa dá um grito que eu ligo para o
xerife.
― Boa noite, Lee.
Sua nova amiga tinha um excelente senso de humor, pensou.
Trish seguiu até o banheiro anexado ao quarto e namorou, com
profuso deleite, a banheira branca de pés, grande o suficiente para duas
pessoas, embelezando o canto em frente a uma grande janela. Ligou as
torneiras e a deixou enchendo enquanto retornava a sala, onde agarrou uma
das malas e levou para o quarto – o único da casa. Colocou os pertences, que
iria usar, organizados sobre a cama de casal de ferro em estilo romântico e,
em seguida, empurrou a mala para debaixo da cama.
De volta ao banheiro, seu corpo escorregou pela superfície funda da
banheira, de forma que todo ele ficasse imerso na água, exceto por sua
cabeça.
Após o banho relaxante e de todo ritual de cuidados estéticos
noturnos, soltou os cabelos e os penteou. Retornou ao quarto e vestiu-se.
Deixou a toalha no banheiro e percorreu os poucos cômodos da cabana,
apagando as luzes.
Enfiou-se debaixo dos cobertores e relaxou, suspirando audível.
Finalmente tinha chegado ao seu destino!
Agradeceu a Deus e fez uma oração silenciosa pedindo aos céus que a
ajudasse nesta nova fase da sua vida e para que a cidade fosse receptiva a ela
assim como fora sua vizinha.
Recomeçar tinha gosto de vitória, pensou, antes de fechar os olhos.
2
TORMENTO
Trish voltou sua atenção para a ducha. Dizer que ela quase tinha
morrido de vergonha seria um eufemismo. As bochechas ainda estavam
vermelhas escarlates e o coração batia na garganta. Nunca antes tinha passado
por situação semelhante.
Ela não fazia o estilo desinibida, porém não era o tipo de garota
abençoada com a timidez extrema. Apenas gostava de privacidade e não
achava necessário se despir, ou, até mesmo ficar desfilando de lingerie na
frente de outras mulheres, mesmo elas sendo amigas.
Trish era uma mulher bonita, em seus 27 anos cultivava uma beleza
distinta. Sua estatura pequena cerca de 1,60 de altura, o corpo curvilíneo,
muito feminina. As coxas roliças e torneadas, os quadris estreitos, a barriga
plana e lisa adornada por uma cintura fina. Os peitos eram dois globos
médios, delicados e empinados, do tipo de encher os olhos, mãos e boca de
um amante na medida certa. Os cabelos lisos e longos com as pontas
encaracoladas cascateavam em espessas camadas negras até a cintura. Os
olhos eram de um azul vivo, os lábios levemente cheios e rosados, a pele alva
e macia.
Precisaria ter uma conversinha com sua nova amiga e impor alguns
limites. Se bem que ela duvidava muito que Lee fosse "respeitá-los", não por
desrespeito, senão porque ela parecia fazer o estilo espírito livre, bem ao
inverso de Trish.
Assim que retornou ao quarto, enrolada na toalha, Lee se endireitou
sobre a cama e lhe jogou um olhar.
― Me desculpe, Bonita. Eu sei que ás vezes sou um tantinho invasiva
e atrevida, e tudo mais que está incluso no pacote da insolência, mas acredite,
não foi minha intenção deixá-la envergonhada. Eu nunca faria isto de
propósito, juro.
― Está tudo bem, Lee, eu não estou brava. Somente não estou
acostumada com uma mulher me admirando enquanto me banho ― ela
brincou, tentando amenizar o clima de tensão, o efeito foi instantâneo. ― E
gostaria que isso não se repetisse.
Trish puxou a mala, pegou algumas roupas e voltou a empurrar a mala
para debaixo da cama.
― Eu não estava te admirando, okay? Eu olhei um pouquinho porque
tenho olhos, né? E sabe que você não é de se jogar fora. Tá com tudo em
cima.
― Obrigada.
― Então está tudo bem entre a gente? Sem mais DR's?
― Sim, Lee. Sem "DR's" desde que você não me mate de susto.
Trish retornou ao banheiro para se vestir.
― Ufa! Que alívio! ― Lee encenou. ― Pensei que eu teria de me
ajoelhar aos seus pés e te implorar perdão.
― Alguém já te disse que você é muito dramática?
― Humm... Acho que sim, sei lá, não lembro. Então, você ainda não
me respondeu sobre a lista chata. Tem certeza que precisa fazê-la?
― Absoluta ― ela apontou de volta ao quarto e devidamente vestida.
Ante a careta da jovem, Trish completou. ― Você não é muito organizada,
certo?
― Eu estou mais para "bagunça organizada". Serve?
― Sei.
― Não dá para marcar só na cabeça? ― Lee continuou esperançosa
enquanto Trish mexia na bolsa a procura de um bloco de papel e uma caneta.
― Não, não dá.
Dez minutos depois, elas estavam sentadas em torno da mesa. Lee em
nenhum momento parou de reclamar, quando não era com palavras, eram
com ruídos, caretas e longos suspiros pesarosos, como qualquer criança de
cinco anos faria.
Paciência não é o forte dela.
Trish deixou a caneta de lado e olhou para a amiga. Seu olhar era
divertido, a careta em sua face denunciava que ela se esforçava para não rir
alto.
― Se você me ajudar, poderemos perambular por aí mais
rapidamente.
― Isto ainda não me soa animador ― Lee retrucou emburrada e, em
seguida, jogou os ombros. ― Só estou avisando.
― Você não faz lista de nada?
― É claro que não! Por que raios eu iria perder tempo com isso?
― Você deve ter uma excelente memória, porque confesso que a
minha não é tão boa. Se não marcar o que preciso comprar antes de sair,
sempre me esqueço de algo.
― Na realidade, vez e outra, eu acabo esquecendo alguma coisa...
Okay. Todas às vezes eu me esqueço. Sempre tenho aquela sensação de que
estou esquecendo de algo e só vou lembrar quando chego em casa, aí já é
tarde. Mas eu detesto lista e qualquer coisa do gênero. Acho que passei tanto
tempo fazendo tudo dentro dos padrões e com listas pra tudo quanto é lado, e
para todo o tipo de coisas. Isto é tão ridículo. E, na boa, é uma perda de
tempo. Eu vejo esse negócio de listas como um vício. Você não vive. Pior,
ele te domina, não você a ele... Enfim, eu as odeio.
― Entendi. Mas eu gosto de ter todas as minhas coisas organizadas,
assim quando precisar sei onde tudo está e já vou direto ao meu objetivo sem
ter que colocar a casa do avesso. E eu não sou refém das listas. Sou prática e
organizada.
― Se você diz.
Minutos mais tarde, elas se encaminharam para o centro da cidade a
bordo de uma velha Cherokee azul. Era incrível como tudo era diferente do
que estava acostumada. Começando pelo clima gelado e seco, a temperatura
deveria estar -15°C no mínimo. Depois as casas, todas muito simples com as
luzes acesas e fumaça saindo das chaminés. As residências não eram
agrupadas próximas umas das outras, como nas cidades comuns, dava a
impressão de que as construíram deste modo "pingado" para que se parecesse
com uma cidade, até mesmo a igreja ficava a umas boas pernadas da casa
mais próxima. Na avenida principal se localizava os principais
estabelecimentos da cidade como o banco, a lanchonete, a delegacia, uma
padaria, um supermercado, um clube country, hotel. E no final, se encontrava
um pequeno hospital.
Pouquíssimas pessoas se aventuravam nas ruas frias, e todas elas
estavam bem escondidas dentro de grossos casacos e botas. E, por último e o
mais estranho, o "dia escuro" era uma coisa d'outro mundo. Trish tinha sérias
dúvidas se algum dia iria se acostumar com aquilo.
Após fazer todas as compras necessárias, Lee a arrastou para quase
todos os lados da cidade e também para os pontos turísticos, outra surpresa
para ela, pois, apesar do lugar ser afastado do resto do mundo e fazer um frio
intenso capaz de matar qualquer um em menos de cinco minutos. A cidade
possuía pontos turísticos e era visitada por pessoas de todas as partes do
mundo.
Não era feia, apenas diferente.
Na realidade, intrigante por sua estranheza.
Lee também a levou ao seu emprego e a apresentou para todas as
colegas de trabalho, e para alguns moradores que comiam no local. Elas
também aproveitaram a deixa para almoçarem no Parisiense&Coffee.
Por volta das três da tarde, elas retornaram para casa.
― E aí? O quê achou da cidade? É bem legal, né?
Lee desligou o motor do veículo.
― É até bonitinha, Lee. Bem pitoresca. Na verdade, um tanto quanto
intrigante, principalmente, o breu em plena tarde. Gostei muito das lojinhas
artesanais e do pessoal daqui. Eles são bem calorosos e gentis, o oposto do
que eu pensei quando cheguei, sabe?
Ela tinha mordido a língua. O povo se mostrou muito receptível, todos
a trataram muito bem fazendo com que ela se sentisse em casa.
― Aquelas lojinhas de produtos naturais e de suvenir são do pessoal
da aldeia.
Os olhos de Trish se estreitaram.
― Eu não sabia que aqui tinha qualquer aldeia.
― Há varias aqui por perto. Mas a Snowville é a mais conhecida,
embora seja uma das mais reservadas também, se não a mais. Ela fica ao lado
da montanha Blakestood. Aqueles produtos todos que você gostou são de lá,
o pessoal daquelas bandas é bem talentoso e criativo.
Trish assumiu que sim. Havia uma variedade de produtos naturais em
uma das lojas que visitou. Os sais de banho, sabonetes e os perfumes foram
os que ela mais gostou, sem falar nos artesanatos talhados a mão com tal
perfeição e riqueza de detalhes, que ela duvidou que um ser humano fosse
capaz de fazê-lo.
― Você já foi lá?
― Nunca. Também nunca conheci ninguém de lá... Minto. Conheci
uma senhora, que por sinal, é muito simpática. É ela quem administra as
lojinhas. O nome dela é bem comum, mas eu sempre me esqueço... Enfim, o
povo de lá raramente vem à cidade, sabe, e pelo pouco que ouvi desde que
estou aqui, eles são bem estimados, todos aqui falam deles com muito
respeito.
A curiosidade atingiu Trish como uma flecha.
― Por que você nunca foi lá?
― Primeiro, a caminhada é longa, e outra, eu não me atreveria a subir
lá com este tempo, ainda mais no escuro. Segundo, precisamos de uma
autorização. Pelo que soube, eles são uma comunidade muito unida e
fechada. Há uma pousada lá em cima, mas eles só abrem na temporada de
férias para os turistas, porém tudo tem que ser marcado com antecipação.
Sem reservas, sem visitação. ― Trish pendeu a cabeça levemente para o lado,
muito interessada nas informações. ― Tabby foi fazer uma entrega lá uma
vez e chegou aqui sonhando... Ela disse que os homens são lindos e quentes
como o inferno. Então, quando a primavera chegar, nós podemos ir lá
conferir?
― Acho que não Lee.
― Ah, Bonita, é sem compromisso! Não é como se nós fossemos sair
de lá casadas. Tabby contou que os homens são muito, muito quentes, ao
estilo Hollywood só que real e sem truques. Nós precisamos ver isso de
perto... tocar, hein? E, talvez dar umas bitoquinhas ou alguns amassos sérios
e...
Trish cortou o sonho da outra mulher. ― Lee, se formos lá, para mim
será somente para conhecer a aldeia e os costumes deles. Encanta-me essas
culturas exóticas e diferentes, mas é só para isso. A última coisa em minha
lista de prioridades é um relacionamento. Não quero ninguém na minha vida
por um longo tempo.
― Tudo bem, Bonita. Então ficamos assim, na primavera farei as
reservas. Você vai ver a cultura e tudo mais de chato, e eu vou dar uma
fiscalizada nos machos da aldeia. Eita, que eu mal posso esperar por isso!
Vou até contar os dias na folhinha.
Trish gargalhou.
― Você não existe.
Trish desceu do carro e o ar gelado beijou sua face.
― Ah, já estava me esquecendo ― Lee disse quando seguiu para
parte traseira do veículo. ― Você precisará comprar um snowmobile. É
muito mais prático. Ás vezes neva demais e as máquinas não dão conta.
― Percebe-se. Também preciso de um carro. Não precisa ser novo, só
precisa ser bom o suficiente para aguentar estas estradas.
Trish pegou algumas das muitas sacolas de compras. Lee pegou outro
punhado delas e a acompanhou até a cabana.
― O Sr. Hunter me ajudou comprar meu snowmobile e meu carro.
Podemos falar com ele quando voltarmos à cidade ou, se preferir, amanhã eu
posso falar com ele no meu serviço. Ele sempre toma café lá. Tenho certeza
que ele te ajudará também.
Depois de colocarem todas as sacolas na cabana, Trish se voltou para
Lee.
― Eu posso usar seu telefone? Eu preciso ligar para a companhia
telefônica para pedir a eles que instalem uma linha em casa.
― Claro!
Lee a deixou a vontade em sua cabana. Após alguns minutos de
conversa ao telefone, Trish desligou, sua expressão levemente contrariada.
― E aí?
― Eles só poderão vir daqui a duas semanas por causa do mau tempo.
― Este é o ruim daqui, pelo menos eles virão ― Lee tentou animá-la.
Trish sorriu e se acomodou melhor.
― Agora a única coisa que falta é arrumar um emprego, antes que
meu dinheiro acabe. Não quero ficar recorrendo às minhas economias, tenho
outro destino para elas. Mas isto eu verei amanhã. Hoje eu só vou ficar com a
arrumação de casa.
― Qual função você exercia no seu antigo emprego? Ou você não
trabalhava?
― Sim, eu trabalhava. Na verdade, trabalho desde sempre. Logo que
me formei em Economia, consegui uma vaga em uma Corretora da Bolsa.
― Legal! Eu trabalhava em um jornal, o Charlotte Observer. Já ouviu
falar? ― Trish negou. ― Que pena. Eu fazia os obituários... Pois é. Dá pra
acreditar nisso? Imagina quando os caras me perguntavam sobre o meu
trabalho? Era a morte! ― Lee soltou uma gargalhada alta e Trish a
acompanhou. ― Sem trocadilhos.
― Eu nunca imaginaria você exercendo esta função.
― Nem eu, Bonita. Mas era o que tinha e eu precisava do emprego.
Sabe, acho que meu chefe filho de uma vaca só me presenteou com este
setor, porque eu era alegre demais. Isso era uma ofensa para ele... Quem
melhor do que uma garota cheia de vida para trabalhar com a "lista dos
mortos"?
― Você só trabalhou neste setor?
― Não. Eu estava no setor de esportes, mas tive um probleminha.
― E que probleminha seria este?
Trish se endireitou no sofá.
― Eu sempre quis sair em campo e entrevistar aqueles atletas
musculosos gostosos de doer os olhos. O problema é que eu não entendia
muito do assunto, mas eu estudei bastante até que consegui minha chance de
mostrar ao meu chefe meu empenho e de quebra receber uma promoção...
Enfim, peguei algumas dicas com alguns colegas e me preparei para o grande
dia. Era a semifinal da liga de basquete, então já dá pra imaginar: estádio
cheio, imprensa pra tudo quanto é lado, aquela bagunça organizada que eu
amo. Eu sempre torci pelos Bobcats e para o meu azar o jogo era entre eles e
os Hawks. Eles perderam feio, de lavada mesmo. E pior, não jogaram nada.
Eu fiquei tão revoltada que quando chegou no intervalo, ao invés de
entrevistar os malditos jogadores, eu os xinguei e parti para cima deles com o
microfone, só não fiz um grande estrago porque me seguraram. Uma pena...
A entrevista era ao vivo. Meu chefe quase me esfolou viva, e só para me
castigar, me fez escolher entre o obituário e a rua.
― Santo Deus, Lee!
― Eu que o diga. O vídeo caiu no Youtube, e aí minha carreira se
afundou de vez. Fizeram diversos estilos de paródias. A que eu mais gosto é
uma no estilo reggae. Você tem que ver, Bonita, ficou tão hilário. Qualquer
dia desses eu te mostro.
― E depois disso seu chefe manteve seu emprego?
― Sim, mas se encarregou de que eu permanecesse nos obituários o
resto da vida... Bem, pelo menos, fiquei famosa, né?
― Por isso veio pra cá?
― Também. Minha carreira no jornalismo se dizimou há tempos,
embora ainda tenha alguns amigos no ramo, todos grandes filhos da puta ―
Lee disse entre risos. ― O que eu quero falar mesmo é sobre o emprego que
você disse. Eu não sei se você vai se interessar, mas vou falar do mesmo jeito
e você decide... Onde trabalho vai abrir uma vaga, uma das funcionárias sairá
de licença a maternidade amanhã. E, se você quiser, eu posso falar com
minha chefe sobre você. O salário não é uma maravilha, mas dá para suprir as
necessidades básicas.
― Fale-me mais sobre o emprego, por favor.
― Tirando a minha chefe que é o diabo de saias, o lugar é bom e
agradável, as pessoas que trabalham lá também são ótimas e os clientes são
bem gentis. É claro que, de vez em quando tem um para encher o saco. Lá
trabalhamos felizes quando a chefe do próprio inferno resolve nos dar um
descanso.
― Ela não pode ser tão ruim assim ― Trish meditou.
― Uhum.
― Como é o serviço Lee?
― Ah, então! Todos fazemos um pouco de tudo, quero dizer, a
Josephine e a Marie ficam somente na cozinha. Tabby, Linda, Kelly e eu nos
revezamos no balcão, nas entregas e no atendimento das mesas. E também
revezamos os horários, porque a loja abre às cinco da manhã e fecha às onze
da noite. Eu entro às duas da tarde. Ás vezes saio para fazer algumas
entregas, mas quem geralmente faz este serviço é a Tabby. Raramente, tipo,
muito raramente a chefona manda a Josephine fechar a loja. Enfim,
trabalhamos com a esposa do demo, mas somos felizes. Lá sua risada é
garantida.
― Eu gostei muito do local e as meninas são bem simpáticas.
― Bonita, eu não quero apressar nem nada, mas aqui é difícil arrumar
emprego. E quando aparece uma vaga, é disputada a tapa. E, se você pensa
em arrumar algo parecido com o que você tinha antes, eu sinto em te dizer,
mas aqui não há nada parecido, nem que pague o salário milionário que você
ganhava.
― Eu sei disso, Lee. Nem quero nada parecido com meu antigo
emprego, talvez mais pra frente quando puder ter meu próprio negócio, mas
agora não.
― Então?
― Okay. Eu vou pra casa arrumar minhas coisas e a noite eu te trago
meu currículo. ― Trish se levantou e seu olhar disparou para uma das
janelas, a noite ondulava o ar lá fora, mesmo todos afirmando ser dia. ―
Deus! Isso é sinistro.
― Você se acostuma, Bonita. ― Lee a acompanhou até a porta. ―
Eu vou ficar te esperando. Já sabe, bata e entra.
― Obrigada por tudo, Lee. Eu não sei o que faria se não tivesse você
aqui para me ajudar. Tem sido maravilhosa.
Pelo resto da tarde, Trish se dedicou a organização de seus pertences
pessoais e das compras que tinha feito, e também aproveitou para faxinar a
cabana a seu gosto.
Embora seu novo lar fosse minúsculo comparado ao seu antigo,
somente por volta das sete da noite ela terminou de arrumar metade das
coisas em seus devidos lugares. Estava esgotada. Os pés doíam um absurdo.
Os músculos estavam tensos e doloridos.
Após um banho relaxante de espuma, ela vestiu um moletom
confortável, um agasalho pesado e botas, pescou o currículo de dentro da
gaveta e levou para Lee.
Trish estava feliz. Tudo estava dando mais certo do que ela tinha
imaginado. Em apenas um dia já tinha feito amizade com a maluquinha da
sua vizinha, que por sinal era muito amável e, embora tivessem vidas e
personalidades completamente diferentes, elas tinham algo importante em
comum: ambas buscavam uma nova vida.
A princípio, quando tivera tomado a decisão de se mudar e dar um
novo rumo a sua vida, não imaginou que as forças do universo conspirariam a
seu favor. Certamente, Deus resolveu recompensá-la pelos anos de ausência e
deu uma espiadela nela quando ela decidiu mudar o curso de sua vida. Tudo
estava fluindo bem demais e, se a sorte continuasse a lhe sorrir, também
estaria empregada até o final da semana. Isto era mais do quê podia imaginar.
De volta a sua cabana, ela fez uma refeição rápida e se acomodou no
sofá.
Seus olhos cravaram na escuridão afora através do vidro sem
realmente ver nada, além das imagens que passam em sua mente desde que
tomara a decisão de partir até algumas horas mais cedo. Uma leve rajada de
raiva se quebrou sobre ela.
Só Deus sabia o quanto Trish tinha lutado e trabalhado duro para
chegar aonde chegou na profissão que escolheu desde que se entendera por
gente.
Economia a encantava.
Tinha dedicado anos de estudo, observando como os grandes
trabalhavam, dando o melhor de si para ser uma perfeita profissional, senão a
melhor. E quando, finalmente, atingiu o seu tão sonhado sonho, mal teve
tempo de desfrutá-lo, pois o céu caiu sobre sua cabeça e tudo se desfez. Todo
seu esforço, sua luta e seu suor eram menos que nada. E então, o inferno se
apresentou, tornando sua vida já complicada em um verdadeiro tormento.
A vida às vezes podia ser bem injusta.
Por muito tempo pensou que Deus estava ocupado demais com os
seus próprios problemas para ajudá-la com os seus, ou talvez Ele apenas
estivesse tirando uma com sua cara. Alguns meses no inferno quase fizeram
Trish perder a fé. Mas, então, para o compadecimento de seu ser, quando sua
fé estava por um fio, suas preces, enfim, foram ouvidas. Então, veio o
desespero, a ânsia da possibilidade de mudar de vida e recomeçar do zero em
outro lugar. Como não podia ser em outro planeta como era de seu desejo,
Inuvik surgiu e lhe pareceu ser a melhor opção. Não era em outro planeta,
mas distante o bastante da civilização e de seus demônios particulares. A,
pequena e pacata gélida, cidade acalentou seu peito e reavivou suas
esperanças. Embora o medo da incerteza de não saber o quê a aguardava no
novo lar fizesse suas veias gelar, Trish apostou todas as suas fichas no novo
destino.
Trish não era uma mulher que desistia diante de uma queda, por mais
dura e dolorosa que fosse. Ela era uma mulher forte e destemida, e sabia que
a vida não brincava, nem vacilava. Ela era um mero ser humano tentando
sobreviver em meio a tantos males, e também possuía seus defeitos. Assim
como todo mundo, ela já tivera fraquejado. E quem não tinha?
Mas desistir, jamais!
Neste momento, a única coisa que poderia fazer era agradecer por
tudo estar correndo melhor do que poderia imaginar. Até mesmo agradecia
pelo piloto lunático, o qual, apesar do voo cheio de emoções que ele tinha lhe
proporcionado, também tinha lhe trazido com vida ao seu destino final e, de
certa forma, contribuído para que ela pudesse comprovar com seus próprios
olhos que nem tudo estava perdido como pensara.
Podia se atrever a pensar que Deus tinha direcionado seus olhos a ela.
Finalmente.
4
ESTRANHEZAS
****
****
INUSITADO
****
Minha!
O lobo em seu âmago sentenciou com um rugido silencioso.
Uma humana.
Uma linda e deliciosa humana que o é.
Todo o reboliço que o atormentou por mais de dois fodidos meses se
resumia em uma humana perversamente quente. Sua companheira prometida.
A única que teria até o fim de seus dias. Caleb a tinha procurado desde que
atingira a maturidade em seus 21 anos. Já tinha perdido toda a esperança de
algum dia encontrá-la, e agora, aqui estava ela, bem diante de seus olhos,
linda e pronta para ele. É claro, que este último ele teria que convencê-la.
Maldição. Humana. Ela era humana!
Se acasalar com os da mesma raça já era complicado, com uma
humana ele não tinha a porra de uma mínima ideia, mas não tinha esperanças
de ser mais fácil.
Humanos preferiam se fazer de cegos a enxergar a realidade que
estava estampada na cara deles. Não acreditavam em lendas, contos, fabulas.
Eles dificilmente gostavam daquilo que não compreendiam. Tinham a
necessidade de entender tudo a sua volta, e quando não conseguiam,
ignoravam... excluíam de suas vidas.
Cara, ele estava tão, mas tão fodido.
Como iria explicar a ela tudo que fosse preciso e fazê-la aceitar a
nova realidade sem que ela corresse pelas ruas aos gritos, morrendo de medo
dele porque o achava uma aberração?
Se bem que algumas partes ele poderia ocultar até depois de estarem
devidamente acasalados. Ela o odiaria, certeza, mas não teria jeito de voltar
atrás. O acasalamento era irreversível. Não havia divórcios entre os shifters.
Bem, ela não era uma shifter...
Um brinde ao drukāt!
Caleb elevou sua sobrancelha em um lento e hipnótico arco quando a
viu pelo canto do olho marchar em direção à mesa dele. O cheiro doce, rico e
delicioso, se desprendia dela. A cada passo seu odor natural misturado a sua
excitação chicoteava nas narinas dele com mais intensidade. Se não estivesse
sentado, estaria de joelhos no chão diante dela. Isso pareceu muito atrativo
para seu lobo... Ah, maldição! Não vá por aí.
Seus dedos se apertaram fortemente no papel frágil do cardápio
rasgando isso. A luxúria bateu forte nele enquanto seus olhos se alagavam
começando a mudar de cor quando seu animal interior ameaçou dominá-lo e
fazer algo a respeito no minuto em que ela parou diante da mesa.
Ah, foda! Seu cheiro o estava pondo louco.
Mais um pouco, ele a jogaria em cima da mesa e a foderia ali na
frente de todos.
Maldita seja!
Respirando superficialmente, Caleb tratou de recuperar o controle
ameaçando se esvair. Tinha de falar com ela. Conhecer. Beijar. Tocar e fodê-
la. Mas tudo isso quando estivessem sozinhos e não necessariamente nesta
mesma ordem. Teria de arrumar um jeito de lhe falar ainda aquela noite.
― Boa noite ― sua voz melodiosa chegou até ele.
Seu pênis pareceu gostar da voz dela tanto quanto ele tinha gostado,
pois em uma foto instantânea, ele foi tatuado com a marca do zíper de seu
jeans.
Minha! Minha! Minha!
Caleb travou o maxilar e se moveu na cadeira de forma que
acomodasse melhor sua pulsante ereção maciça, e, em seguida, se concentrou
na mulher em pé ao seu lado. O coração dela batia descompassado. Suas
bochechas levemente coradas, deixando-a ainda mais linda. Seus cabelos
estavam presos em um coque... De repente, Caleb pegou se perguntando de
que tamanho eles seriam e como ficariam espalhados sobre o seu travesseiro.
Com certeza ficariam lindos, e Caleb teria o prazer de vê-los assim. Queria-os
soltos todo o tempo em que a montasse ou simplesmente dormisse ao seu
lado. A imagem dela nua em sua cama com os cabelos negros espalhados
sobre o travesseiro, à luz do luar luzindo sobre sua pele alva, suas pernas
abertas expondo o sexo inchado, úmido e brilhante, pronto para ele, começou
a se formar em sua mente. Mas antes que ganhasse força, ele sacudiu a
cabeça expulsando a imagem.
Tinha de se concentrar ou faria alguma besteira.
Cara, era uma humana!
Puta que pariu. Humana!
Sua pele era clara como a neve e, provavelmente, muito macia ao
toque. Seus dedos coçaram para tocá-la e tirarem a prova, porém se conteve.
Ele tiraria a prova mais tarde e dificilmente estaria errado quanto a sua
conclusão. Sua companheira não parecia ser o tipo de fêmea desleixada. A
forma como ela caminhou até a mesa, o modo cuidadoso como seu cabelo
estava preso e seus gestos suaves, diziam-lhe isto.
― Boa noite, senhorita. ― Kian e Jace sentados no outro canto da
mesa responderam em uníssono, exceto ele, que a mirava como um predador
estudando sua presa.
― Os senhores estão prontos para fazer o pedido?
Ela estava nervosa, ele sabia disso, ela não poderia esconder nada
dele. Nunca. Caleb procurou seus olhos, todavia, ela estava evitando olhá-lo e
Caleb queria seu olhar sobre ele outra vez. Apesar de sua visão aguçada
permitir que ele enxergasse os traços mais sutis de seu rosto, como se
estivesse na frente dela a luz do meio-dia quando seus olhares se cruzaram,
ele queria ver aqueles bonitos olhos azuis direcionados a ele outra e mais
outra vez.
― Ainda estão servindo Beef Roast Potatoes? ― Jace tomou à
dianteira.
Ela lambeu os lábios antes de falar e o olhar interessado dele seguiu o
movimento de sua língua. Sua boca encheu d'água e um grunhido agitou seu
peito.
― Sim.
Que gosto sua língua tinha? Era tão suculenta quanto parecia ser?
Seria quente, doce ou fresco? Perguntou-se como seus lábios se sentiriam
sobre os dele, sobre sua pele e envoltos de seu pênis. Ah... Seus lábios! Ele
não fazia ideia, mas seu pênis com certeza adoraria ser empalado por eles.
A visão começou a se construir em sua cabeça...
... Ela estava ajoelhada aos seus pés. Ambos nus. Quentes. Prontos
para o sexo. Uma de suas pequenas mãos segurava seu comprimento rígido,
deslizando a palma quente sobre ele até chegar a sua base, e depois voltava
apertando-o, enquanto ela usava a outra mão, os dedos delicados
massageando seus pesados testículos. Sua boca vermelha se aproximava
devagar da glande inchada, e então, a língua vermelha surgia entre os lábios.
Com um suave e torturante roçar da ponta, ela colhia seu líquido pré-seminal
vazando da cabeça bulbosa de seu pênis. Logo depois, ela o tomava na boca,
cheia de fome e paixão. Enquanto ela trabalhava em seu pau, ele inalava
profundamente absorvendo o cheiro da excitação se desprendendo do corpo
dela e subindo, atingindo-o em cheio. Fazendo seu peito zumbir pelo uivo
que se formara ao passo que tentava se controlar para receber o prazer que ela
estava lhe dando...
O lobo agitou-se outra vez, furiosamente, jogando a cabeça para trás e
uivando, e tentou subir a superfície para tomar posse do seu prêmio.
Tome. Submeta. Possua-a agora!
Um silvo baixo deixou os lábios dele, chamando a atenção dos seus
Irmãos enquanto tratava de lutar internamente para manter seu lobo enjaulado
e sua excitação sob controle.
"Ela é sua?"
Seus olhos conectaram em Kian, surpreso por haver aberto a conexão
sem perceber.
"Minha!"
"Certo, Irmão, ela é sua," acalmou o outro lobo. "Controle-se ou vai
assustá-la."
― Vou querer um bem mal passado, um Quiche Lorraine, torta de
maçã... ― Jace começou a fazer o pedido, ignorando o rosnado baixo do
Alfa.
Respirando superficialmente para tragar o mínimo quanto possível
daquele odor delicioso, sua própria excitação já o estava matando, não
precisava potencializar ainda mais a dor em sua virilha.
Seu olhar captou os dedos trêmulos dela segurando a caneta enquanto
anotava os pedidos de seus amigos. Sua cabeça pendeu para lado e suas
narinas inflaram ao cheirá-la num impulso, sorvendo cada nota daquela
gostosa fragrância se desprendendo dela.
Não podia se conter. Era automático e incontrolável.
Estava entrando na febre do acasalamento e a fêmea humana estava
começando a sentir os efeitos do extra. Drukāt. Podia sentir os batimentos
compassados e fortes do seu coração. Sua respiração fadigada, mesmo ela se
esforçando para respirar normalmente. Seu calor sedutor saindo dela e o
abraçando. O cheiro rico da sua excitação tinha se intensificado. Pescou
quando ela discretamente juntou as pernas, apertando-as juntas, como se
quisesse conter algo no meio delas, algo que Caleb sabia bem o que era, pois
estava sentindo o mesmo.
O fenômeno agia unicamente na fêmea prometida. O macho apenas
podia sentir os efeitos por meio de sua fêmea inebriada pela magia, mas o
efeito nele não era tão devastador como na fêmea, onde o drukāt agia
diretamente de forma feroz. A magia se moldava a necessidade do casal,
servindo para tornar todo o processo do acasalamento mais fácil para ambos,
principalmente, para os machos submeterem suas fêmeas, já que o tempo
para o acasalamento após encontrar sua companheira prometida era
relativamente curto, e as fêmeas ficavam mais agressivas do que de costume.
Após encontrar sua prometida, o shifter tinha um trabalho árduo pela
frente. Não era fácil fazer uma fêmea se submeter ao macho justamente pelo
temperamento e orgulho que toda fêmea possuía. Ele não podia obrigar a
fêmea a aceitá-lo. A entrega e a aceitação tinham de ser espontânea para
valer, então o drukāt entrava no jogo como um extra, potencializando a
excitação dela por seu futuro companheiro. Envolvendo e deixando-a mais
receptível a ele, assim o macho teria tempo suficiente para cortejar,
conquistá-la e, enfim, submeter e marcá-la como sua antes que o tempo
acabasse.
Um mês era um tempo para se temer.
Febre do acasalamento e drukāt, uma mistura poderosa e exaustiva.
Tudo para garantir que o acasalamento fosse selado e assim a sobrevivência
de sua raça.
Caleb sorriu discretamente sem mostrar os dentes quando seus amigos
terminaram de fazer os pedidos. Não teria como fugir dele agora, ela teria que
olhá-lo.
E então, ela fez...
Ela o olhou como se custasse respirar.
Minha!
― E o Senhor, o que vai querer?
Sua voz não era mais que um sussurro preguiçoso.
― Você ― ele disse numa voz extremamente profunda e rouca, que
ressonou nos ossos de Trish, fazendo-os zumbirem, enredando-a em seus
olhos.
Trish ganhou o tom do protesto comunista e segurou com força a
comanda de pedidos contra os seios inchados. Seus mamilos enrijeceram
contra o sutiã, formando dois casulos sensíveis e apertados. A buceta pulsou,
flexionou e apertou com a dor funda.
Seus bonitos olhos estavam arregalados e... assustados.
Foda. Ele quis se chutar. Isso tinha sido muito brusco. Precisava ir
com calma, não queria assustá-la logo na primeira vez que trocavam meia
dúzia de palavras. Mas seu lobo estava inquieto, exigindo mais rapidez de sua
parte.
― C-Como?
Sentiu a necessidade de tocá-la, mas se obrigou a manter-se parado.
Tomando as rédeas do controle, Caleb fingiu olhar o cardápio
rapidamente, e então, jogou seus olhos para ela outra vez, com um sorriso
delineando seus lábios, expondo todos os lindos dentes brancos perfeitamente
alinhados.
Ele a viu conter o fôlego e isto só fez seu sorriso se abranger mais.
― O que você me sugere?
Ela piscou uma... duas vezes.
A pele da sua garganta se moveu indicando que ela engolia a saliva.
Uma fina camada de suor brilhou em seu sobrecenho.
Com um ruído, ela limpou a garganta e disse:
― Bem..., isso depende se o senhor quer algo doce ou salgado.
― Doce. Bem doce. Assim como você deve ser, bebê. ― ele
completou a última parte em mente. Seu olhar viajou até o crachá dela, onde
se lia: Trish.
Trish pigarreou e lambeu os lábios mais uma vez. ― Temos Torta
Holandesa, Torta de Maçã, Mousse de Maracujá, Chocolate e Morango..., ―
sua companheira continuou listando a variedade de sobremesas da casa,
porém Caleb pouco prestou atenção. Não estava interessado em saborear
nenhum tipo de doce que não fosse o mel vazando de sua buceta. Somente
queria escutar sua linda e doce voz, que fluía até ele como uma amante
tímida, o movimento quase erótico de seus lábios quando se mexiam era
fodidamente sedutor. ―... E, por fim, temos o Bran Muffins. É muito bom.
― Acredito que sim.
― Vai querer este então?
Queria lhe dizer que o chamasse por seu nome, como seus irmãos
faziam. Ela mais do que nenhuma outra pessoa tinha o direito de chamá-lo
por seu nome.
Maldição. Nem mesmo se apresentar a ela, ele tinha feito.
Como ela poderia chamá-lo pelo nome se não sabia qual era?
― Somente uma Heineken para mim.
Caleb observou que seus ombros caíram um pouco e seus olhos se
estreitarem em confusão, ceticismo e... irritação? Mas ele não tinha fome por
comida no momento. Somente queria escutar sua voz suave por mais tempo.
Ele acrescentou:
― Caleb Black.
Assentindo desajeitada, como se ansiasse fugir dele, ela se foi sem
respondê-lo.
Seus fabulosos olhos observaram o balanço dos seus quadris enquanto
ela caminhava apressada rumo ao balcão, jogando-os de um lado para outro,
hipnotizando-o. Sentiu inveja pela forma como a calça preta apertada
abraçava suas coxas e contornava seu traseiro, deixando-o empinado como se
estivesse fazendo um pedido mudo a ele. Queria rasgar aquela peça em
pedacinhos por se atrever abraçá-la naquela parte de forma tão carinhosa
como ele queria fazer.
Trish era dele. Só dele.
Bem-vindo ao modo-on Macho-Possessivo, meu camarada.
O lobo rugiu em desgosto com a partida da sua companheira. Mesmo
que esta estivesse a apenas alguns poucos metros de distância. Ele a queria
perto... Muito perto. Fundida a ele. De forma que, mesmo estando longe, eles
pudessem sentir um ao outro, como se estivessem conectados não lado a lado,
mas na alma.
― Eu devo dar os parabéns agora ou daqui um mês? ― Kian
perguntou zombeteiro, ganhando um rosnado baixo do Alfa como aviso.
― Então, humana, hein? ― Jace inquiriu.
― Eu acho que devo ter sido muito ruim em outra vida para os nossos
ancestrais estarem me castigando desta forma ― Caleb disse de forma
chorosa, apertando seus olhos, e então, deixou seu corpo relaxar sobre o
assento.
Sua pulsante ereção ainda marcava ponto, informando-o que isto
apenas tinha começado.
― Não é tão ruim assim. ― Jace tentou contornar a situação,
recebendo os olhares indignados dos Irmãos. ― Ela reagiu ao drukāt. Nós
sentimos.
― Cara, nem me lembra, ainda tô de pau duro aqui. Lana que me
aguarde que hoje tem ― Kian murmurou malicioso.
― E que dia que não tem? ― Jace disse desgostoso. ― Eu não me
recordo de um só dia que não tenha ouvido gritos da sua casa. Apavora as
fêmeas, sabe?
Caleb soltou um grave, profundo e baixo, rosnado de advertência.
Jace se voltou pra ele e perguntou com cautela:
― Vai rejeitá-la?
A pergunta soou para o lobo como uma difamação, fazendo Caleb
apertar os punhos sobre a mesa, contendo a vontade de arrancar os dentes do
outro macho.
― Por que eu faria isso? Ela é minha companheira prometida. Sua
Prima.
― E humana ― Kian apontou.
Os olhos de Caleb brilharam perigosos.
― Algum problema com isso?
Kian encolheu os ombros. ― Nenhum, na verdade. Mas isso não é
algo que possa passar despercebido pelo bando.
O alerta no tom de Kian era considerável.
Shifters não se envolviam fisicamente com humanos, nem mesmo por
uma noite casual. Havia uns poucos que abriam uma exceção. Todavia, em
sua maioria, eles preferiam evitar a diversão entre os lençóis com um
humano. Não era proibido; também não era bem visto pela maioria dos
shifters, além do mais, humanos eram puritanos demais. O que soava
desanimador aos olhos de uma espécie tão sexual. Dado a natureza animal de
cada shifter, os machos podiam conservar uma ereção por horas mesmo após
gozo atrás de gozo. O que poderia ser visto como algo anormal. Além de
serem intensos na cama e um pouco agressivos, mas não machucavam sua
fêmea.
Com humanos, eles tinham que se reprimir. O que enlouquecia e
adoecia o animal. Com os da mesma espécie não havia retraimento. Ele não
tinha a menor ideia de como iria funcionar com sua fêmea humana. O coisa
toda era que a diversão sexual com humanos não era aceita com bons olhos
pelos de sua espécie.
Acasalar?
Bem...
― Escuta, cara, nós não temos nada contra o fato dela ser humana ―
Jace disse, calmamente. ― Mas não será assim com o conselho do bando e as
fêmeas solteiras.
― Ninguém a tocará. E quem se atrever, pagará com a própria vida
― Caleb decretou num tom cortante. ― O conselho terá de aceitá-la assim
como os demais. Ela é minha companheira prometida. Este é meu bando. E
ninguém pode interferir no acasalamento. Essa é a lei.
Kian mediou, seu rosto muito sério. ― O bando irá aceitá-la porque
você ordenou e é nosso dever obedecer ao nosso Alfa, mas ela não terá o
respeito deles até que prove ser digna de ser nossa Prima. Não pode ignorar
isso, nem ela poderá fazê-lo.
Infernos se ele sabia. Sendo ele o Alfa, a fêmea não bastava apenas
ser sua companheira prometida, ela tinha de provar para a manada,
principalmente, para as fêmeas solteiras que a desafiariam, que ela era digna
de ser a Prima, só assim sua companheira poderia ter o respeito dos seus. E
nisto, ele não poderia interferir.
― Ela provará ― Caleb assinalou, voltando o olhar para o balcão.
― Estamos perdendo o ponto aqui ― Jace assinalou, atraindo atenção
de seus Irmãos para si. ― O bando e as fêmeas são algo resolvível, mas ela
é humana.
― Tenho isso.
― E então?
― Ela é minha.
Dada à conversa terminada, Kian se voltou para Jace.
― Então, você fica nos ouvindo?
Jace estreitou o olhar. ― Eu não os escuto porque quero, posso
garantir. Eu sou obrigado a isso. Ou você se esqueceu de que somos vizinhos
de casa, mané?
― Admite logo que você gosta de ouvir o papai aqui trabalhando. ―
Kian balançou a cabeça com um falso ar de indignação. ― Eu sabia que você
era um maldito pervertido.
Jace e Kian continuaram com as implicâncias de sempre. Caleb já não
prestava atenção neles. Toda sua audiência estava voltada para Trish, que
falava com a mulher ao seu lado. Ela parecia tensa e completamente
deslocada. Seu lindo rosto estava ruborizado e luminoso pelo suor. Sua língua
deslizava por seus lábios constantemente. Ele sabia o que se passava com ela,
e, principalmente, sabia o quê ela buscava sem ter consciência, embora seu
corpo demonstrasse saber bem o que era. Alívio. Um que apenas ele poderia
lhe dar. Isso não era irônico? Ele pensou, sorrindo de lado.
Tentado pela curiosidade, Caleb apurou seus ouvidos.
― Você está bem, Bonita?
― Sim, e-eu preciso jogar um pouco de água no rosto... Você se
incomodaria de ficar sozinha no balcão por um momento?
― Claro que não. Vai lá.
― Obrigada.
Ela sumiu pelo corredor.
Caleb se agitou e seus pés se moveram.
6
REAÇÕES
Estou louca!
Trish fez o caminho até o balcão sentindo uma rajada de irritação e
indignação beliscar sua pele. Não conseguia decidir se suas emoções se
davam, única e exclusivamente, ao fato de que o desconhecido-abusado-
cliente a tinha feito recitar toda a carta de sobremesas para no fim pedir uma
misera cerveja. Se pela maneira descabida que ele a fazia se sentir. Ou pela
presença dele fazer seu QI cair drasticamente.
Nunca foi covarde e sua trajetória até aquele fim de mundo era uma
prova indiscutível disto, mas, no momento ela se sentia apavorada ante as
reações enérgicas que foram desencadeadas em seu corpo pela rápida
aproximação que experimentou. Não podia negar. O homem era fenomenal
em toda sua grandeza e esplendor. Ela não se lembrava de já ter visto um tipo
como aquele. Certamente, não tinha. Ele não era um tipo que você se
esqueceria. Poucos minutos na frente dele, e Trish teria muita sorte se ele não
pensasse que ela era uma completa idiota. Mas tinha sido difícil se focar
quando pensamentos deles dois nus dispararam em sua mente, fazendo purê
de seu cérebro.
O homem era delicioso e ela queria lamber cada centímetro dele.
Há tempos seu corpo não sabia o que era ter o peso de um amante,
sequer recordava-se da sensação de se sentir cheia pela masculinidade de um
homem. Prazer era somente alcançado por seus dedos nas poucas vezes em
que se tocava. Talvez sua súbita excitação maluca se devesse a isso. Mas o
que começou com uma leve ondulação de erotismo por sua pele e um sutil
ardor em seu núcleo, aos poucos foi se transformando em algo maior. A cada
minuto sua necessidade só fazia crescer mais e mais, lenta e constante, assim
como a água fria posta para ferver. Deste modo, sua breve hipótese foi
anulada.
Não era a falta de um amante em sua cama e uma boa foda.
Era ele! Caleb...
Tentando respirar de forma regular, a jovem levou sua mão até a testa,
limpando o suor acumulado naquela parte e constatando que sua pele estava
um ou dois graus mais quente, talvez três, não sabia calcular com exatidão.
Sentia-se febril como jamais esteve. Febril de desejo.
Decidida a frear suas emoções e ignorar suas reações, Trish bufou
irritada e sacudiu a cabeça como se o gesto pudesse livrar seu corpo do
desejo que sentia. O que não foi de muita valia. Porém, com um pouco mais
de esforço, ela conseguiu mascarar suas reações brevemente e lutou para
distrair sua mente depravada das imagens profanas que pintava deles dois.
Seus dedos trêmulos rasgaram a folha de pedidos e a depositou sobre
o balcão. Á comanda e a caneta tiveram o mesmo destino. Inalou profundo e
soltou o ar devagar. Refez o gesto mais um par de vezes, mas aquilo era
simplesmente inútil.
Estranhamente, tinha a certeza que nada naquele momento acalmaria
seu corpo, a não ser que aliviasse a si própria ou...
Ah, maldição! Isto não estava acontecendo. Não mesmo!
Não queria a nenhum homem. Esses machos prepotentes tinham
trazido um montão de problemas. Relacionamentos de quaisquer tipos com o
gênero estavam extintos de sua vida por tempo indeterminado, certo?
"Fechada para balanço". Este era seu novo lema. Agora só tinha que
fazer seu deslumbrado corpo entender isso.
Tão cedo, o desejo e a curiosidade empurraram sua resistência,
exigindo tomar o controle. Resignada, ela não lutou, sabia que era uma causa
perdida antes mesmo que tentasse se rebelar.
Por que raios ele a estava cheirando? Será que ela não cheirava bem
ou sua louca excitação era tão forte ao ponto dele poder senti-la?
Ante a possibilidade surreal, suas bochechas ganharam um rubor mais
intenso e um riso, baixo e nervoso, escapou de seus lábios.
Bom Jesus. Ele realmente a cheirou ou estava alucinada?
Precisava ir para longe, onde a presença dele não pudesse sucumbir a
sua própria. Quem sabe assim sua razão não voltasse ao normal...
Sim, era isso. Precisava ficar longe por alguns instantes e jogar um
pouco de água fria em seu rosto, e então, poderia se recompor e reorganizar
sua cabeça insana.
Ela poderia fazer isso, certo?
Após trocar meia dúzia de palavras com Lee, Trish se encaminhou até
o banheiro nos fundos do estabelecimento. Nunca pensou que uma simples
caminhada até o banheiro pudesse se transformar em uma tarefa árdua e
dolorosa. Tinha a impressão que todo o corpo estava em chamas. A cada
passo. A cada mínimo roçar de suas coxas e do tecido, que agora lhe parecia
áspero contra sua pele sensível, enviava uma pontada de prazer e dor ao seu
centro. Quando finalmente chegou ao banheiro feminino, Trish ofegava, os
seios estavam inchados e pesados dentro do sutiã, seus mamilos em
diamantes implorando para serem acariciados. O gemido ainda tentava
escalar sua garganta acima, suplicando ser liberto, mas ela tratou de afogá-lo
com sua saliva.
Um rápido olhar pelo ambiente e Trish deu graças a Deus por estar
vazio. A última coisa que precisava era que algum conhecido a visse naquele
estado deplorável de excitação.
O banheiro era pequeno, acomodava apenas dois sanitários, uma pia e
um espelho grande fixado a parede. A iluminação não era mal, um pouco
fraca talvez, mas clara o suficiente para que pudesse ver o estrago da ridícula
excitação.
Assim que parou rente a pia, suas mãos agarraram a borda e suas
pernas se fecharam, espremendo uma contra a outra numa inútil tentativa de
conter o disparo de excitação que atingiu sua vulva como um arpão.
Enquanto seus dentes cerravam apertados, sufocando outro gemido de
necessidade irrompendo em seu peito e maltratando sua garganta. No ímpeto
de conter suas próprias reações, sua cabeça pendeu para frente e alguns fios
de cabelo, que tinham se soltado de seu perfeito coque, voltou-se contra seu
rosto. Soltando o ar com brusquidão, lentamente a jovem aliviou o aperto de
seus dedos sobre a borda e tomou uma respiração profunda, antes de
endireitar sua postura.
Isso não é real. Controle-se!
Como se seu corpo caísse em si, obedecendo pela primeira vez o seu
comando, o desejo retrocedeu apenas o suficiente para que Trish suspirasse
aliviada. Contudo, o erotismo permaneceu sobre sua pele num claro aviso que
não a abandonaria até que ela fizesse algo a respeito. Embora ainda sentisse
sutis palpitações em seu clitóris e as paredes internas de sua buceta se
contraíssem, seu corpo se sentia um pouco mais tranquilo.
Mais um fôlego tragado, seus olhos dispararam para seu reflexo no
espelho e o que ela viu, no entanto, não a tranquilizou verdadeiramente. Suas
bochechas ainda estavam escarlates, os olhos eram de um azul intenso assim
como ficavam quando se sentia desejosa, sua face brilhava pela fina camada
de suor e alguns dos fios de cabelos soltos tinham aderido a sua pele. Não,
não estava nada bem. Seu corpo todo estava entrando em combustão.
Desejoso por um homem que nunca tinha visto antes, e mesmo assim, cada
diminuta célula de seu ser gritava pelo toque dele. Tinha as entranhas
torcendo, enrodilhando-a lá no fundo.
Involuntariamente, sua mente reproduziu a imagem dele em sua
cabeça.
Sua língua emergiu, e então, correu por seus lábios secos.
Ele era tão grande, másculo, charmoso, sexy e tão... Oh, delicioso!
Um pedaço inteiro de homem do tipo que sabe exatamente o que e como
fazer para deixar uma mulher plenamente satisfeita. Deveria ter um montão
delas atrás dele. Apostaria sua vida nisso e não gostou nada da conclusão.
Trish mordeu o lábio quando se recordou de seus lábios. Ela ansiou
estender a mão e acariciar o seu carnudo lábio inferior somente para
comprovar que era real quando o olhou. Desejou mover suas mãos por cada
centímetro de sua pele só para ter certeza que não estava sonhando. Cobiçou
levar a língua por toda sua pele só para saber que gosto tinha. O pensamento
a fez lamber os próprios lábios com entusiasmo, mas parou quando mirou seu
reflexo.
Ah, merda, ela definitivamente não estava bem!
Recusando-se a sucumbir ao desejo e ao desatinado sentimento de
posse, que a rondava, ela abriu o registro da torneira colhendo um pouco de
água e molhou seu rosto. Recolheu os fios soltos para o lado com uma mão e
com a outra umedeceu sua nuca exposta. Seus olhos se fecharam com o
frescor agradável que a água fria proporcionava em sua pele aquecida. Um
longo suspiro de conforto abandonou seu corpo.
Inesperadamente, outro acoite de excitação foi desferido sobre seu
clitóris maltratado. Trish ofegou. O desejo voltou com força, abraçando e
soltando seu corpo, imitando um palpitar.
Não, não e não!
Então, ela estacou quando seu corpo cantarolou e seus pelos eriçaram.
Os lábios se apertaram enquanto ela mantinha seus olhos fechados por mais
um momento e engolia em seco. Não queria abri-los. Não precisava fazê-lo
para saber que já não estava sozinha e que o intruso não se tratava de
ninguém do sexo feminino.
Era ele. Tinha certeza que era o seu desconhecido.
Caleb.
Como ela sabia? Isso era um mistério que ela não tinha condições
mentais no momento para tentar decifrar ou se preocupar.
Suas pálpebras se elevaram como se obedecessem a uma lei maior,
deixando seus olhos preguiçosos bem abertos, e então, seu olhar disparou
para o espelho.
Pelo reflexo, a jovem avistou o grandioso corpo do homem parado na
frente da porta fechada, somente algumas passadas os separavam.
Ele a corrompia com seu intenso olhar feroz.
Trish encolheu os ombros e abaixou a mão lentamente como se
estivesse na frente de um predador.
Seus braços impressionantes estavam caídos ao lado do corpo e suas
mãos fechadas em punho com tal força que os nódulos estavam brancos,
como se ele tentasse conter algo primitivo. Seu olhar queimava-a da cabeça
aos pés.
Suas íris estavam douradas ou estava vendo demais?
Oh, céus! Que demônio de homem era este?
Perdida no olhar dele, Trish o observou caminhar lenta e
meticulosamente em sua direção. Seu coração disparou em uma corrida
alucinante, e ela tentou respirar de maneira superficial. Um odor delicioso se
desprendia dele diretamente para ela. Seu perfume, pensou. Era cítrico e
estava acentuado por outro aroma mais poderoso e indecifrável, que estava
pondo-a louca de desejo.
Não conseguia pensar, a única coisa que via em sua mente era ele e o
desejo que a cercava de todos os lados. Gotículas de suor brotaram em seu
sobrecenho.
Cristo... Estava pelando. Fervendo. Queimando.
Era possível morrer de excitação? Deus queira que não. Porém, se
ocorresse, era bom aquele montão de homem estar enterrado a fundo em seu
corpo...
Santa merda, da onde veio isso?
Antes que sua mente tentasse buscar uma resposta, Trish se deu conta
que faltava somente mais uma passada para ele estar rente ao seu corpo. Isso
fez qualquer dilema se esvair da sua mente. Com ele tão próximo, o calor
escaldante parecia ter se misturado com seu sangue e correu por cada
centímetro de seu corpo. E só após contaminar até suas entranhas, ele
retrocedeu até chegar ao meio de suas pernas fazendo seu montículo de
nervos mais inchado e palpitante. Sua nata molhou ainda mais o fundo da
calcinha de renda e possivelmente sua calça.
Desejo canal, puro, nu e cru. Em um estágio tão primitivo que ela
jamais cogitou ser possível existir e sequer senti-lo. Sentia sua feminilidade
tenra, dolorida e úmida como jamais esteve.
PRAZER PROIBIDO
Trish teve de usar toda sua reserva de forças para lembrar-se de como
respirar quando se viu face a face com seu sedutor desconhecido.
Virgem Santíssima.
Ela estava tentando, mas a tarefa era difícil demais.
Vê-lo tão perto e íntimo de seu corpo fez suas pernas vacilarem
bruscamente, e suas mãos se agarraram nas bordas da pia num reflexo
desesperado para não presentear o chão com seu traseiro. Não que precisasse,
pois o desconhecido a mantinha firmemente sobre seus pés, como se ela não
pesasse mais que uma pluma.
Trish queria gritar para que saísse entre alguns insultos mal-criados,
pois além daquele ambiente ser exclusivo da ala feminina, ela não queria que
ele a visse nesse estado deprimente de excitação. Mas, principalmente, Trish
não desejava em hipótese nenhuma que aquele pedaço inteiro de perdição
percebesse que era por causa dele que ela estava agindo como uma cadela no
cio pronta para acasalar.
Infelizmente e para seu total desespero, sua voz tinha se perdido em
algum lugar inalcançável. Ela apenas podia mirá-lo com o olhar hipnotizado e
sentir.
O roçar sutil de seus corpos, a presença imponente e poderosa dele,
que parecia engoli-la por inteira, deixou-a ofegante e com os batimentos
cardíacos agitados. Seu peito subia e descia com sôfrego, buscando
arduamente por ar limpo, pois o que tinha naquele espaço já tinha sido
contaminado pelo erotismo que seus corpos exalavam em abundância.
― Deus, fêmea, você cheira tão malditamente bem.
Trish arfou e sua boca secou quando sentiu a mão dele pousar
delicadamente em seu rosto, como se sua pele fosse uma frágil pétala de rosa
e ele tivesse medo de causar qualquer mínimo dano a ela. Nunca ninguém a
tinha tocado com tanto esmero como aquele homem estava tocando. Seu
toque era tão cuidadoso e um tanto cobiçado também. Ele parecia venerá-la
carinhosamente com as grandes mãos cálidas, como se ela fosse alguma
preciosidade milenar. E, naquele instante, ela se permitiu sentir-se preciosa.
O calor de sua palma era aconchegante contra sua pele. E por um momento,
Trish se viu inclinando a cabeça em direção ao seu toque, como se fosse um
gatinho manhoso em busca de um afago mais tenro, e estranhamente não se
assustou quando ele curvou os cantos dos lábios oferecendo um sorriso
arrebatador, aprovando seu gesto. O polegar dele deslizou por seu rosto numa
carícia idolatrada e sensual.
Ela apenas pôde ficar lá, parada, fitando-o como uma boa estúpida
que era, esperando por algo que nem sequer fazia ideia do que era, mas que
em seu íntimo e para seu total constrangimento, ela ansiava.
Os olhos dele acompanharam os movimentos que seus dedos faziam
pelos contornos faciais dela. Um gesto de reconhecimento. Memorizando
cada mínimo traço de suas feições enquanto lhe falava num tom de voz
gutural, a cadência profunda e escura de sua voz trabalhando para derretê-la a
sua volta.
― Bela. Voce é perfeita.
Caleb segurou sua cabeça e se inclinou sobre ela, seu corpo duas
vezes maior que o seu, cobrindo-a por completo antes dele estranhamente
cheirar seus cabelos.
― Seu cheiro... por todos os Deuses, seu cheiro está me
enlouquecendo, bebê ― ele sussurrou, com aquela voz que colocaria todas as
mulheres aos seus pés.
A voz dele enviou calafrios por toda sua espinha e seus dedos se
apertaram com mais força contra a borda da pia. Sua boca secou e,
novamente, ela correu a língua pelos lábios. O que chamou a atenção dos
olhos dele e da gema de seu dedo.
― Macios como eu sempre imaginei que seriam... ― Caleb voltou a
pegar seu olhar e ela sentiu como se ele olhasse diretamente para sua alma.
― Esperei-te por tanto, tanto tempo, e agora que te encontrei, companheira,
não a deixarei partir nunca mais.
Era uma simples frase saída da boca de qualquer amante, como uma
vaga promessa feita somente no intuito de agradar ou simplesmente iludir.
Porém, Caleb não era qualquer amante. Merda. Ele nem mesmo era seu
amante. No entanto, a frase proferida por seus lábios não era uma promessa
volátil, muito pelo contrário, podia sentir a firmeza e veracidade dela até em
suas entranhas. Isso fez seu cérebro estalar e seu corpo estremeceu enquanto
ela engolia a seco.
Infernos! O que ela estava fazendo ali se deixando levar por um
completo desconhecido que dizia as coisas mais bonitas? E por quê? Ele
queria ter um pouco de diversão para depois encher a boca para contar aos
amigos o quão fácil foi foder a nova garçonete. Claro!
Um lampejo de raiva cortou seu sistema, sobrepondo o desejo fora de
ordem. Mas antes que ela pudesse saborear daquele novo sentimento, Caleb
freou qualquer impulso que Trish pudesse vir a ter e que fizesse quebrar o
encanto do momento.
Ainda sujeitando sua cabeça com a forte mão, ele a beijou. Trish nada
pôde fazer para impedi-lo, rendendo-se a ele e as suas próprias loucas
reações, que ansiavam por aquele contato. Ela apenas pôde sentir os lábios
macios e suculentos de Caleb sobre os seus, e se deliciar com as sensações
prazerosas que açoitavam seu corpo de dentro para fora. O tipo deslizou a
língua por seus lábios, contornando e molhando-os, com sua saliva quente e
doce como o mais puro mel, fazendo-a partir os próprios lábios para recebê-
lo.
Ele não precisou de um convite audível.
Então seu beijo a consumiu, forte, urgente e selvagem. Seu ar foi
roubado por ele, antes mesmo que ela o prendesse em seus pulmões e seu
mundo girou.
Nunca tinha sido beijada de tal maneira que a fizesse esquecer-se do
seu próprio seu nome. Somente conseguia pensar em mais!
A intensidade do ato fez o calor se alastrar por seu corpo e suas mãos
decididas se embrenharem nos cabelos negros do homem pela primeira vez,
puxando sua cabeça contra a dela com brutalidade, desejando engoli-lo por
inteiro.
Tudo era puramente físico e carnal.
Impossibilitada de pensar, Trish o beijou de volta enroscando sua
língua na dele com desespero e sugando os lábios carnudos. Exigindo mais
do tipo assim como ele exigia dela. Isto pareceu agradá-lo, pois ele emitiu um
som forte, rouco, muito distinto...
Doce Jesus, ele tinha acabado de rosnar?
Sim, ele tinha feito e continuava a emitir o som. Pareceu-lhe tão
sensual e erótico que mais um jato de excitação empapou ainda mais sua
calcinha. Que Deus tivesse misericórdia da sua alma, mas ela adorou aquele
som selvagem mesclado ao sabor da boca dele. Ele tinha o gosto de caramelo
com chocolate. Ela amou aquele gosto encorpado e intenso. Seu sabor a
embriagava e era tão bom, que Trish não teve dúvidas quanto a se tornar
dependente daquele gosto instantaneamente. Pois, além ser viciante, ele
parecia tranquilizá-la e, Deus, ela precisava disto, quem sabe assim aliviaria a
dor latente que lhe alagava os sentidos...
O beijo voluptuoso se intensificou a ponto de violência e, Trish se viu
derreter e estremecer quando em meio a fortes apertos em sua carne, as
grandes mãos deslizaram por seus flancos até sua cintura e voltaram,
repetindo o movimento. Seus ossos ficaram inconsistentes e ela se agarrou a
ele com mais força, sem se preocupar em ser cuidadosa enquanto se deliciava
e se embevecia das prazerosas sensações permeando seu corpo.
Trish se sentiu ligada na tomada, sua pele estava elétrica e magnética,
absorvendo tudo o que ele lhe proporcionava. Gemidos baixos e sôfregos
escaparam por seus lábios quando ele deixou sua boca e deslizou a dele por
seu queixo, mais abaixo mordiscou seu maxilar, e então, voltou a descer os
lábios por seu pescoço sem deixar de beijar-lhe a pele entre leves mordidas,
que a fazia choramingar baixo. Instintivamente, Trish deixou sua cabeça cair
para trás, suas pálpebras estavam entrecerradas e os dentes mordiam o lábio
inferior com força para evitar que os gemidos altos de pura satisfação
saltassem fora, ao passo que tentava trazê-lo mais para si, afundando suas
unhas na nuca e ombro dele, ganhando grunhidos de satisfação de seu sedutor
desconhecido.
Ela o queria fundido ao seu corpo.
Dentro de sua pele.
Dentro do seu centro fumegante.
Sentir a barba pôr-fazer roçando contra sua pele sensível enquanto ele
tecia beijos luxuriosos contra sua pele quente, acalmando-a e ao mesmo
tempo fazendo-a desejar mais, somente fazia maior sua vontade de tê-lo
enterrado em seu pequeno corpo.
A palpitação misturada à dor em seu centro se intensificou quando
sentiu a dura e espessa masculinidade dele se aferrar contra sua barriga. Seus
quadris ondularam, procurando por um contato maior enquanto os lábios
voltaram a se enroscar, abafando os gemidos de deleite de ambos. As línguas
eram lascivas e duelavam entre si, como se estivessem em uma guerra
particular, tentando demonstrar ao outro o quão intenso era o desejo que seus
corpos sentiam. Seu peito arfava com brusquidão, a pele estava úmida e
arrepiada com os pelos eriçados. Ele agarrou sua bunda, amassando a carne
tenra. Logo as sentiu escorregar para frente de seu corpo, e por uma fração de
segundo, ela pensou em afastá-lo, mas o pensamento se foi da mesma
maneira em que veio quando a dura ereção dele passou a circular contra seu
baixo ventre, enviando espasmos por seu corpo enquanto ele impulsionava
seu quadril contra o dela.
Os dedos dele desabotoaram sua camisete branca, expondo os seios
inchados, que estavam escondidos em um sutiã de renda preta.
Tão cedo, Trish sentiu o contato pele a pele. Ela ofegou, afogando um
grito pela corrente elétrica que percorreu sua espinha dorsal. Era como se ela
tivesse encostado em um fio desencapado. O contato direto contra sua pele
era agradável. Sua própria pele sentia-se bem com o calor das palmas dele.
Ao mesmo tempo em que o calor exalado pelas suas palmas era tentador,
fazendo-a desejar mais, ele também era calmante como se fosse o antídoto
que seu corpo necessitava para tranquilizar suas reações.
Inconsciente e vibrando por dentro, Trish arqueou as costas o máximo
que pôde, oferecendo a ele seus seios quando estes foram duramente
apertados pelas cálidas mãos dele. Caleb rosnou como um animal no cio,
impetuoso, voraz e faminto enquanto intensificava a fricção de seus sexos e
descia os lábios novamente sobre sua pele até chegar a pele exposta de seu
seio. Trish aproveitou a deixa para tomar um profundo fôlego enquanto suas
próprias mãos corriam desesperadas pelas largas costas do homem,
arranhando-as por cima do tecido subindo até a nuca e cabelos sedosos dele,
somente para refazer o trajeto outra e mais outra vez. Seus quadris
balançavam frenéticos contra os dele. Sua respiração saiu aos arquejos, e,
sentir a molhada e quente língua dele deslizar pelo elevado monte superior de
seus seios, intercalando lambidas e degustações de um seio para o outro, fez
seu corpo doer por libertação.
Uma das mãos dele espalmou em suas costas enquanto a outra
apertava sua fina cintura, segurando e mantendo-a no lugar. A cabeça da
jovem pendeu para frente e seus olhos viajaram até os lábios dele a tempo de
vê-lo morder seu rijo mamilo por cima do tecido do sutiã e sugá-lo com
paixão.
― Céus! Sim!
Trish gemeu sôfrega, jogando a cabeça para trás. Seus dentes
morderam o lábio inferior com tanta força que sentiu o gosto de sangue em
sua boca, mas ela não se incomodou desde que Caleb desse a ela mais
daquilo. Sua cabeça sacudia num frenesi tão surreal e intenso que suas
madeixas escuras se soltaram do coque desarrumado, caiando por suas costas
em cascata. Suas mãos tinham se afugentado nos cabelos de seu amante-
desconhecido outra vez e os dedos pequenos estavam enroscados nos fios
com urgência, como se para impedi-lo de tirar a boca de seus seios. O
grunhido de aprovação que ela ganhou dele, bateu em sua pele como um raio
e a penetrou.
Seu prazer se construindo sólido, denso e forte.
Nunca pensou ser possível atingir o ápice apenas por ter seus seios
acariciados, mas se ele continuasse a sugar e morder seus mamilos da forma
que estava fazendo, mesmo que por cima do tecido, ela com certeza teria o
melhor orgasmo da sua vida.
Seus olhos se abriram e seu olhar voou abaixou quando sentiu o
contato quente da mão dele contra a pele nua de seu seio. Hipnotizada, Trish
o viu colher a taça do soutien para baixo, expondo seu mamilo rosado
despontando com atrevimento em direção ao rosto do homem.
― Por favor ― ela chorou.
A pequena carne vermelha e suculenta apareceu por entre os lábios
dele então, ele lambeu, olhando-a diretamente nos olhos. O gesto foi tão
sensual que ela se viu a deriva no mar do desejo.
― Eles me fazem lembrar suculentos morangos silvestres... Prontos
para serem comidos. Deliciosos. Mas seus mamilos são muito mais
suculentos.
Ainda sem desviar o olhar dos olhos dela, Caleb se inclinou e deixou
a ponta da língua contornar o frágil mamilo, preguiçosamente, e chupou
forte.
Trish quase se desmanchou em sua boca.
― Mmmm... Absolutamente, mais suculentos e doces também. Eu
poderia chupá-los por dias e dias, ainda assim eu não teria o bastante.
Ela não teve tempo para pensar em nada.
Trish se deleitou com as fortes sucções e lambidas. Ele mamava seu
seio com força e desejo. Prendendo o mamilo entre os dentes, ele estirou o
casulo sensível ao ponto da jovem gemer de dor. Mas não era uma dor
qualquer, era aquele tipo de dor prazerosa que a fez puxar seus cabelos,
impulsionando sua cabeça num pedido mudo.
― Oh, Deus! Sim! Sim!
Murmúrios de prazer abandonavam seus lábios e sentir os grunhidos
animalescos da boca dele contra o seio sensível, estava fazendo sua cabeça
girar.
De repente, as mãos dele se aferraram aos seus flancos, e então, sua
boca deslizou para o vale entre seus seios. A língua áspera subiu e desceu
numa tortura lenta, em seguida, somente fez o caminho de descida ao passo
que as mãos dele em seus flancos deslizavam abaixo. O sentimento de espera
a dominou enquanto o olhava se ajoelhar e a boca chegar ao cós da sua calça.
Então, foi à vez da angustia dominá-la.
As paredes de sua buceta contraíram e seu broto fisgou dolorosamente
enquanto a paixão lhe abraçava com um forte aperto quanto ele, com um
movimento hábil, separou-lhe as pernas o suficiente para que seus lábios
tivessem acesso à carne empapada dela.
Num gesto que deveria ser no mínimo criminoso, aliás, deveria
colocá-lo na prisão por anos, ele roçou a ponta do nariz por sua vulva e a
cheirou.
― Deus, baby! ― ele grunhiu. ― Sua buceta cheira bem pra caralho.
Eu já amo o cheiro dela... Cheiro de buceta. Minha buceta... Aposto que o
gosto é melhor.
Um rosnado voraz foi emitido com tal intensidade que o corpo da
jovem sentiu espasmos por todas as partes. Rapidamente, suas mãos
abandonaram os cabelos dele e se apertaram contra a borda do lavabo na
tentativa de se manter em pé.
Parecendo sentir sua fragilidade e o enfraquecimento de seu corpo, ele
firmou suas mãos em seus quadris e sorriu perverso.
Sem esperar qualquer consentimento da parte dela, ele lambeu sua
feminilidade numa trilha reta até o clitóris e o mordeu, passando a sugá-lo
por cima do tecido.
― Oh, céus! Sim! Faça assim! ― ela soluçou. ― Mmmmm...
Por Deus, Trish estava se sentindo faminta! Uma total pervertida
como nunca se sentiu em toda sua vida. Queria-o e tudo mais que ele pudesse
lhe dar. E, o fato de que ela nem ao menos o conhecia naquele momento era
irrelevante contanto que Caleb continuasse a fazer o quê estava fazendo.
― Deus, não pare. Lamba assim. Assim! Por favor...
Com sua cabeça jogada para trás, os olhos semicerrados, os lábios
partidos e ofegos sôfregos, Trish balançou seus quadris contra a boca dele.
O prazer crescia em seu baixo ventre em forma de espiral ao ponto
que ela começou a sentir pequenas explosões desde os dedos dos pés até a
cabeça. Cada célula e cada fibra de seu corpo pareceu levar um choque de
220 volts. Sua cabeça rodou e sua mente nublou entorpecida pelas deliciosas
sensações abraçando seu corpo de forma impetuosa, ao passo que o prazer
veio sobre seu corpo em ondas densas e escuras, enevoando seus sentidos.
Seus quadris sacolejaram animalescamente sobre os lábios vorazes e hábeis
do homem, mas Caleb a segurou firme com ambas as mãos em seus quadris,
mantendo-a parada enquanto intensificava as lambidas e sucções sobre o sexo
da jovem, prolongando o orgasmo que se abatia sobre ela.
Antes mesmo que as sensações abandonassem seu corpo e os gemidos
tivessem a chance de preencher o ambiente, ele a tinha sob seu domínio.
Com o joelho, ele separou suas pernas se enfiando no meio delas, uma
de suas mãos segurava sua perna, mantendo-a na altura de seus quadris
enquanto ele sujeitava seus próprios quadris contra os dela, imitando a
penetração ininterrupta. Suas bocas voltaram a se encontrar, como se suas
vidas dependessem daquele beijo ávido. Seus sexos continuavam a se chocar.
As mãos dela serpenteavam o corpo forte do homem enquanto os gemidos de
ambos eram abafados pelos lábios famintos.
Inesperadamente, Trish sentiu a mão dele se emaranhar em seus
cabelos, e depois sentiu um tranco, quando ele parou o beijo e puxou
obrigando-a inclinar a cabeça para trás.
Após dedicar-lhe uma lambida cruel no pescoço e uma leve mordida
no maxilar, a voz extremamente rouca ecoou em seus ouvidos.
― Maldita seja! Preciso estar dentro de você se não morro.
A frase foi sussurrada de maneira desesperada, o que fez o corpo da
jovem cantarolar mais alto e bailar em êxtase. Sim, sim, sim!
Muito embora Trish acabasse de ter um estupendo orgasmo, ela
queria mais. Queria gritar que Sim! Queria que ele a possuísse ali mesmo
contra a pia, contra a parede e até mesmo no chão, ou suspensa em seus
braços fortes.
Deus, não importava o lugar, só precisava dele em seu interior,
preenchendo-a com seu pênis. Precisava não. Necessitava desesperadamente
sentir o pau dele, estirando, enchendo-a...
Opa, opa, opa!
Que merda estava fazendo? Necessitava dele?
Não, isso... Deus, somente não!
Infernos. Ela não precisava dele sequer necessitava coisa alguma dele.
Aquilo tudo estava errado.
Mas era tão bom...
Sua indignação e irritação que há pouco começaram, ganhou força,
empurrando o desejo resistente para fora. Estava errado. Tudo aquilo não era
certo. Ela não deveria estar ali, deixando um homem que ela nem sabia quem
era dominar-lhe daquela forma infame.
Furiosa por seus atos, Trish o forçou para longe dela. Contudo, o
sujeito não se moveu e a olhou com os olhos entrecerrados. Tentou mais uma
vez e ele permitiu. Somente um passo curto para trás. Respirando jorros
irregulares de ar e com os olhos bem abertos, Trish engoliu a seco. Sua boca
abriu, mas ela mal teve tempo de lhe falar, pois ele cobriu sua boca
novamente e ela quase se deixou levar... Errado... Muito errado... Forçando a
tomar as rédeas da pouca razão que tinha, se é que lhe sobrara alguma, Trish
quebrou o beijo e espalmando suas mãos contra o peito de aço dele, ela o
empurrou. Ele não se moveu, apenas ficou lá, fitando com aquele sorriso que
agora parecia zombar dela, e como se isso já não fosse o bastante para fazer a
irritação fumegar em seu peito, ele roubou-lhe mais um beijo opressor.
Sem pensar nas consequências que seu ato iria trazer, sua mão voou
no ar enchendo a face dele, e no instante seguinte, a dor se alastrou por sua
palma.
Merda. Cacete. Pooorra!
O rosto dele era feito de quê? Pedra? Cimento? Aço?
Furiosa, agora, pela mão dolorida, Trish se recusou a mostrar
qualquer vestígio de dor perante ele. Trincando os dentes, ela tratou de
mascarar a dormência e formigamento em sua mão, e manteve seus olhos
nele, esboçando uma valentia e altivez que não possuía naquele momento,
pois em seu íntimo estava nervosa e temendo uma reação negativa por parte
dele.
Não podia negar o óbvio, o homem era imenso e extremamente
forte...
O ato o fez dar um passo atrás, não pelo golpe em si, mas pela
surpresa que caiu sobre ele. Certamente, ele não esperava por isso.
Dando um passo longo para longe dele, mas sem lhe dar as costas, ela
forçou sua voz sair firme. ― Nunca mais se atreva a me tocar, s-seu... seu
tarado pervertido de merda.
Deus, estava tão irritada com ele, com ela e com tudo.
Onde foi parar sua prudência? Sua convicção?
Aquele bastardo arrogante e lindo dos infernos a tinha feito se
esquecer de tudo apenas com um olhar... Tinha feito esquecer suas próprias
regras.
Maldito seja!
Enquanto ele esfregava a face golpeada, um sorriso impertinente de
lado surgiu nos lábios dele. Caleb a mirou, seu olhar desafiando-a. ― Você
irá implorar para que eu a toque, amada, e, em seguida, irá aprender a não
desafiar seu macho.
Seu tom foi calmo, morno até, enquanto ele proferia sua arrogância,
com um sorriso sedutor nos lábios.
Trish quase se desmanchou na frente dele. O desejo disparou pelo seu
corpo e atingiu sua intimidade com um chicote de sensações, formigando e
avisando que uma nova rodada de amasso consentido iria começar se ela não
tomasse as rédeas da situação já.
Então ela o fez.
Juntando o pouco de autocontrole e coerência que lhe restava, Trish
lutou bravamente, reagrupando suas forças e tentou proferir as palavras de
maneira coerente.
― E-Eu... ― engoliu a saliva. ― Eu não sou nada sua!
O semblante do tipo endureceu, dando um passo em direção a ela, o
que a fez dar outro para trás. Ele parou e arqueou a sobrancelha e, aquela
sugestão e sombra em seu olhar o tornaram tão perigoso, um predador
verdadeiramente.
Seus órgãos estremeceram.
Olhando-a fixamente, ele sussurrou suave, porém firme, rígido:
― Você é e será muito mais do que imagina.
Sem dizer mais nada, ele saiu, deixando-a sozinha com a sua irritação
e sem palavras. E, ainda desejosa por mais.
Forçando seu cérebro a trabalhar e recobrar a razão perdida em algum
lugar, Trish soltou o ar com uma baforada forte. Tinha a sensação que seu
coração batia na garganta. Sua pele ainda estava arrepiada e úmida pelo suor,
sensível. Tomando algumas respirações, ela jogou o olhar abaixo para seu
próprio corpo. Sua irritação cresceu ao ver os seios inchados e vermelhos
pelas ardentes carícias que tinha recebido. Um calafrio percorreu suas costas
ao se lembrar da boca ávida em sua pele e aquele roçar da barba pôr-fazer...
Sacudindo a cabeça rapidamente para os lados, Trish tratou de afugentar o
pensamento e correu para se recompor. Com as roupas no devido lugar, foi à
vez de olhar seu reflexo no espelho para ver o restante do estrago. Sua
respiração ficou suspensa e seus olhos se arregalaram, elevando as delineadas
sobrancelhas.
Jesus Cristo!
O estrago era muito maior do que ela tinha imaginado. A pele alva do
pescoço estava toda vermelha, suas maçãs ainda tinham um rubor escarlate e
os lábios... Oh, Deus Bendito! Seus lábios eram de um vermelho vivo, como
se ela os houvesse pintado de rubro e os malditos estavam tão inchados que
não lhe surpreenderia se alguém a perguntasse se ela tinha acabado de aplicar
botox.
Como infernos iria arrumar isso?
No cabelo Trish poderia dar um jeito, mas nos lábios e em sua pele,
não!
Com as mãos apoiadas na cintura, ela fechou brevemente os olhos
enquanto soltava um suspiro pesaroso, raivoso.
Decidida, a jovem colheu os cabelos soltos e refez o coque, lavou o
rosto e secou. O que não foi de muita valia. O vermelho em suas bochechas
permaneceu assim como seus inchados lábios, mas pelo menos tirou a
luminosidade de sua face.
Trish encarou o espelho cegamente.
Deus, ele tinha se aproveitado de sua súbita fraqueza.
Okay, Trish. Você não é mais nenhuma criança. Tudo que aconteceu
foi em consenso.
Mas também como ela não iria concordar?
Os poucos amantes que tivera em sua vida ― uma conta de apenas
dois ― nunca a fizeram se sentir de tal forma. Eles nem sequer conseguiram
despertar nela um terço do desejo que aquele sujeitinho atrevido a fez sentir
apenas por estar na presença dele.
Não era nenhuma puritana; não era também das mais atiradas.
Gostava de sexo, mas nunca foi de loucuras, nem mesmo quando
adolescente e se orgulhava disso. Porém, com ele não tinha nenhuma vontade
de ser recatada. Seu corpo e uma parte de si queria ser completamente
indecente... com ele!
Pelo amor de Deus, esteve a ponto de implorar para que lhe fodesse
ali mesmo.
Diabos, tinha se comportado como uma perfeita vadia.
Não sabia nada dele. Ele poderia ser qualquer coisa, desde um ladrão
de galinhas a um assassino procurado por todo o país, e pior, poderia ter
algum tipo de doença contagiosa. E pensar que ela estava prestes a se
entregar para ele, pois se Caleb tivesse permanecido lá, era exatamente o que
ela teria feito. Eles estariam fodendo naquele exato momento. Se isso não era
se portar como uma vadia então...
Infernos! Nada disso tinha de ter acontecido.
Homens estão excluídos de sua vida por tempo indeterminado,
lembra-se, idiota?
― Bonita...? ― a voz preocupada de Lee permeou o ambiente.
Trish se sobressaltou e respirou fundo, tomando coragem antes de se
virar para a amiga. ― Lee, eu... ― se calou por um momento, pensando no
que diria então, respirou fundo outra vez e tentou parecer natural, ou no
mínimo bem. ― Desculpe pela demora. Eu já estou voltando. Dê-me só mais
alguns minutinhos.
A outra mulher lhe olhou cuidadosamente por longos segundos.
― Você está bem?
Trish sorriu.
― Sim. Eu já vou.
Esperando que a amiga saísse, ela se voltou para o espelho e fingiu
arrumar o cabelo.
Nada contra Lee, unicamente precisava ficar sozinha por mais alguns
minutos para que pudesse clarear as ideias e organizá-las, e principalmente, si
organizar e entender o que tinha se passado antes de voltar para o salão e
enfrentar aquele descarado-aproveitador com o mínimo de dignidade
possível. Entretanto, Lee não deixou o espaço e, tampouco, disse algo
enquanto se limitava a olhar a jovem através do espelho, deixando-a nervosa
com seu olhar analítico.
Trish olhou para amiga através do espelho e gemeu por dentro ao vê-
la com os braços cruzados sobre o peito e um leve sorriso zombeteiro
desenhando os lábios.
A jovem arqueou a sobrancelha, olhando-a com uma pergunta muda.
Lee não vacilou em responder-lhe com outra pergunta, pegando-a de
surpresa.
― Não vai me contar o que você e o bonitão fizeram aqui?
― O quê?
― Bonita, Bonita, não se faça de desentendida, ― Lee talhou. ―
Sabe muito bem do que estou falando, ou melhor, sobre quem, mas se insiste
por mim tudo bem. Eu digo a você. Estou falando daquele bonitão que
atendeu e que não tirava os olhos de você e que muito suspeitosamente
resolveu vir ao banheiro logo que a senhorita veio para cá.
― Infelizmente ainda não tenho o poder de controlar as necessidades
fisiológicas dos outros. Prometo, estou chegando lá ― Trish ironizou, na
esperança de que a amiga se calasse.
Lee estreitou os olhos e se aproximou, os olhos escuros dispararam
para seus lábios inchados e seu pescoço acompanhando a vermelhidão que se
escondiam sob a camisa branca. Automaticamente, Trish levou suas mãos
para o pescoço, como se para impedir a visão da amiga, mas já era tarde.
― Sua cadela sortuda! ― Lee soltou com animação e os olhos
brilhando de excitação. ― Agora me conta tudinho, sem esquecer-se dos
detalhes sórdidos.
― Não há nada para contar Lee ― Trish murmurou, incomoda. ―
Não aconteceu nada.
Lavou as mãos mais uma vez, e então, se desviou da amiga,
deslocando-se para a outra parede. Pegou duas folhas de papel para secar as
mãos e o rosto.
― Como não? ― a mulher exasperou atrás de si. ― Ele te seguiu,
fato. E há poucos minutos ele saiu e devo dizer... Puta que pariu! O homem
era o sexo de pernas... Tão gostoso que me pus quente, ― Trish sentiu um
chiado de irritação agitar seu peito e estreitou os olhos não gostando nenhum
pouco daquelas palavras. Deus, não podia estar ciumenta. Podia? Lee
continuou. ― E então, te encontro aqui com este olhar... E, bem, seus lábios
estão enormes e sua pele está vermelha, preciso detalhar mais?
Trish ignorou o sentimento de irritação e disse, tentando soar
amigável:
― É melhor você voltar pra lá. Eu já vou.
― Egoísmo não faz bem a saúde, sabia? ― Lee ralhou com os braços
cruzados sobre o peito e um bico enorme. ― E se não me falha a memória,
amigas servem para isto, para contar os rolos, os problemas, dividir as
alegrias e as tristezas, sobretudo, para contar o que rolou no encontro do
banheiro com o bonitão. Não que eu não soubesse, pois a situação em que te
encontrei já diz tudo, mas eu quero os detalhes.
Lee parecia uma criança, os olhos brilhavam sapecas e curiosos,
muito pedintes.
― Por favor, Lee. Só mais alguns minutos, sim?
Lee aceitou postergar o assunto... Por enquanto.
― Você vai arder no inferno, sua cadela egoísta ― ela disse com
birra, encaminhando-se até a porta. ― Ah, e se está aqui fazendo horinha por
causa de quem você-sabe-quem e você não quer me contar porque está sendo
uma ingrata egoísta. Relaxe. Sua gostosura já se foi sem nem sequer dizer
adeus aos amigos.
8
****
SONHO OU REALIDADE?
Mais!
Trish tinha pedido. Não, ela tinha implorado. Rogado como uma
mulher faminta e muito desesperada para tomar o prazer dele.
Mais fundo. Mais forte. Mais rápido. Mais duro. Mais e mais.
E ele deu exatamente como tinha rogado, mais e mais até que ela
derreteu em torno dele incontáveis vezes. Até mesmo quando ela tinha
sentido não ser capaz de aguentar mais daquele prazer estrondoso, ele lhe deu
tudo fazendo seu corpo quebrar em mil pedaços e se refazer a cada nova
carícia, como se soubesse que, embora fosse demais, ainda havia um
resquício de fome omissa dentro dela.
Cada vez que veio ao redor dele e ele encheu as profundezas de seu
núcleo acetinado, com sua semente quente e cremosa. Cada envolver de
lábios e línguas torcendo-se numa dança sensual reverteu nela com dualidade.
Seu corpo zumbiu por mais, ao mesmo tempo em que, trabalhou em sua
fome, alimentando, até que ela estava cheia dele, de forma que ela esteve
suspirando de prazer e de alívio...
― Ai, droga!
Trish praguejou alto e correu até a pia para lavar mão, onde havia
respingado café quente quando tentou cortar seus pensamentos embaraçosos.
Pegou um pano úmido e rapidamente limpou o mármore, então
arrebatou a xícara e voltou para junto da pia. Por um breve momento, Trish
conseguiu se focar na tarefa de lavar o utensílio, porém as imagens
trabalhavam por si só.
Suas bochechas estavam quentes, tingindo a pele alva pelas imagens
eróticas, que sua mente trazia desde que despertou da noite mais estranha e
constrangedora de sua vida.
E deliciosa.
Com ambas as mãos apoiadas na pia, Trish fechou os olhos e lambeu
os lábios degustando das imagens, das sensações experimentadas a flor da
pele, o aroma gostoso impregnado em seu nariz, os toques suaves e precisos
de seu amante.
Os beijos.
Sua língua correu pelos lábios outra vez antes dos dentes cativarem o
inferior.
Deus, os beijos eram demais! Tão quentes, cheios de promessas
apaixonadas e tão açucarados, que ela poderia beijá-lo para sempre.
Seu coração acelerou e um sentimento que não gostou floresceu
dentro dele quando os olhos do tipo encheram a sua mente. Olhos estranhos,
amarelados, mas extremamente sensuais e poderosos, capazes de persuadi-la
a cometer um crime apenas por olhá-la daquela forma intensa, com paixão
quente velada neles.
Poderia jurar que ainda era capaz de sentir o calor das mãos dele
sobre seu corpo; seus dedos tocando as partes sensíveis de sua pele. Seus
lábios macios e vorazes devorando os seus com intensa volúpia, o gosto doce
e encorpado como caramelo derretido, que alagou seus sentidos, e deu a ela
exatamente o que precisava para aliviar sua dor.
Suas mãos se apertaram contra a borda da pia fortemente.
E aquele cheiro delicioso.
Deus Santo. Aquele aroma era a melhor coisa que já tinha sentindo.
Um almiscarar amadeirado e algo mais que ela não podia identificar, mas já
amava.
Mmmm... Delicioso.
Nunca tivera sentido tal essência, nem mesmo algo próximo que a
fizesse desejar cheirar por horas e horas, e então, lamber, beijar...
Seus olhos azulados se abriram mais escuros. Trish exalou languida
puxando uma nova respiração. Olhou abaixo só para conferir o que já sentia.
Seus mamilos estavam pontudos sob a regata cinza de algodão, desejo líquido
e morno umedecia suas dobras.
Estava quente, porém nada comparado com a excitação incandescente
que havia experimentado na outra noite.
Infernos, como diabos um desconhecido poderia ter tal efeito sobre
ela?
Já tivera muitos sonhos molhados em sua vida e nunca nenhum havia
deixado seu corpo daquela maneira. No entanto, aquele sonho parecia tão real
que sentia cada sensação, mas não era real. Ou era?
Ah, merda! Será que ele...
Seu olhar, de repente, receoso foi à porta e uma dose de adrenalina
correu por seu sistema antes de seus pés se moverem para lá, o coração
batendo a mil por hora.
Fechada com chave.
O alívio a beijou parcialmente. Trish sorriu lançando a cabeça para os
lados. Sentia-se uma tola estúpida. Que pensamento mais besta!
Contudo, não podia negar que estava confusa. Não eram somente as
reações ante as imagens em sua cabeça, eram as próprias imagens que
pareciam tão vívidas fazendo-a cogitar se havia de fato acontecido ou não,
embora houvesse um indício alarmante dentro de si, uma pequena parte que
não se importava dele ter feito aquilo realmente. Afinal, ele era o culpado por
fazer seu corpo entrar em 'curto' e arder.
Recordou-se do trajeto até a cabana, mesmo aquilo parecendo
estúpido. Tinha pegado carona com Lee e nem mesmo havia se despedido da
amiga quando esteve na frente da cabana, mas fechou a porta assim que
entrou, aliás, ainda estava fechada e sem sinais de arrombamento.
Não fazia sentido e não tinha como fazer, pois não era real. Decidiu-
se por fim.
O clima louco daquele lugar estava afetando seu cérebro e o
destempero de sua TPM, uma reação desconhecida, mas que fazia sentido,
afinal, a maldição feminina era insana e sem precedentes. Também havia se
sentindo vigiada desde aquele primeiro dia em que o viu, seja no trabalho ou
em casa, em qualquer lugar que estivesse sentiu olhos espreitando, porém não
havia nada fora do lugar, ninguém estranho ou suspeito.
Estava ficando paranoica, concluiu.
O povo ali era muito amável e nenhum de seus conhecidos da velha
vida sabia sobre seu paradeiro. Estava segura.
Mais tranquila com suas conclusões, Trish se encaminhou até o
banheiro.
Um banho demorado era tudo que precisava.
Ela não precisava olhar para saber que ele estava lá quando chegou à
P&C para seu turno. Cada parte de si lhe dizia isto. Além do mais, tinha sido
assim desde a noite em que Trish o viu naquela primeira vez há uma semana
e meia, e desde então, ele tinha feito de suas visitas um hábito regular. Assim
como seus sonhos-realistas tinham se voltado cada vez mais ousados nas
vezes em que eles se repetiram.
Engraçado que o tipo nunca havia feito algo assim antes dela e
somente comparecia em seus turnos, cinco minutos antes ou depois dela
entrar. Ela sabia, suas colegas de trabalho fizeram-na saber. Isto a fez
aborrecida com ela mesma e ele.
Mesmo quando Trish trocou seu turno duas vezes apenas para afirmar
a si mesma e as suas colegas que elas mesmas estavam vendo coisas demais,
ele compareceu no horário certo, como se estivesse a par de tudo que se
relacionava a sua vida.
A princípio, isso a amedrontou, o homem poderia ser um desses
maníacos que milhas de distância era apenas insuficiente. Mas, então, ele não
parecia ser mal ou querer lhe causar dano. Isto a irritou mais. Não queria e
não precisava defendê-lo. Ele não merecia qualquer defesa sua. Estava
transformando seu recomeço calmo e feliz em uma turbulência de emoções,
sentimentos e pensamentos que não desejava. Trazendo situações
desagradáveis em sua vida, que não existiriam se não fosse ele.
Torna-se a fofoca entre as colegas não era bem sua meta de vida,
ainda mais numa cidadezinha como aquela, onde a notícia corria na
velocidade da luz. Todavia, ele tinha trazido isso para ela, e Trish queria
arrancar os olhos dele por isso. A jovem jurou todos os dias para ela mesma
que era somente por este motivo que se sentia tão enfurecida nos últimos
dias. Não havia nenhum adicional como, por exemplo, suas colegas babarem
sobre ele, como se o tipo fosse um delicioso pedaço de bolo com cobertura de
chocolate e avelã; nem ao fato da ala feminina de Inuvik deixar o conforto de
casa para passar alguns bons minutos na lanchonete cobiçando seu homem,
com olhos ambiciosos, flertes cafonas e vulgares, e bilhetinhos ordinários,
que ela foi obrigada a entregar a ele algumas vezes, bem como, os aperitivos
que ele era presenteado.
Não era ciúmes. Não mesmo!
Unicamente achava depreciativo àquelas mulheres todas se jogando
em cima dele com tamanho descaramento, como se ele fosse o último pênis
na face da Terra.
O pensamento de que ele poderia levar qualquer uma delas para cama,
ou dar-lhes o mesmo beijo que deu nela naquele banheiro, a enojava. Fazia
seu peito se apertar de uma maneira inconcebível e a raiva que vinha junto
era desconcertante.
Queria arrancar os olhos de qualquer uma que se atrevia a jogar os
peitos na cara dele. Tinha sentido o sangue ferver em suas veias cada vez que
fora obrigada a levar um bilhetinho a ele. Sua vontade era de fazer a infeliz
engolir o guardanapo rabiscado, ir até ele e beijá-lo até que não restasse ar em
seus pulmões, marcá-lo como seu.
Deus, infernos, ele não era seu! Não era! E ela não queria.
Quantas malditas vezes teria que dizer isto a si mesma?
Mas queria...
Nunca tinha sido ciumenta, nem mesmo com seu ex. Mas este
estranho, Caleb, a estava pondo louca. Não queria admitir, contudo, não
podia se enganar, porque no fundo e para seu horror ela sabia, estava se
sentindo toda territorial com ele.
Já não bastava ele espreitá-la nos sonhos?
Mas Deus era prova que, embora não gostasse tinha que ser grata
pelos sonhos molhados, pois tinha a sensação de que se não fosse por eles,
ela não teria condições de trabalhar, de fazer nada mais, salvo morrer de
desejo por aquele homem.
Suas costas queimavam, seu corpo estalava respondendo a presença
dele, como respondia em seus sonhos quentes querendo a proximidade, os
toques... os beijos.
De fato, estava complemente louca.
― Acho que o garotão perdeu algo aqui ― Lee sussurrou provocativa
quando parou ao seu lado para deixar a bandeja, com os copos vazios sobre o
balcão.
― Quem? ― Trish inquiriu de maneira mais casual quanto possível.
Não iria dar corda para se enforcar. Lee tinha provocado, pairado
sobre ela como abelha no mel querendo saber o que ocorreu no encontro do
banheiro. Nem mesmo ela entendia o porquê de se sentir daquela forma tão...
desconcertante sobre ele.
Como poderia dizer algo a Lee quando nem mesmo ela se entendia?
― Como quem? O bonitão, oras! ― Sua sobrancelha encenou uma
curva e a outra mulher a encarou cética. ― Aquele tipo cheio de músculos,
todo montado numa beleza que, obviamente, ele passou na fila muitas vezes
mais que a permitida.
Trish vestiu sua máscara de tédio e rezou para que aquilo fosse o
suficiente para Lee parar, e falhou. Lee pairou sobre ela e ergueu um dedo
para enfatizar sua palestra diária.
― E que há uma semana e meia, não tirava os olhos de você, Bonita.
E, suspeitosamente, decidiu fazer uma visitinha ao banheiro logo após você
ter ido. E desde então comparece todos os dias aqui, sempre nos seus turnos e
só aceita que você o atenda, mesmo quando o olha como se fosse matá-lo a
qualquer momento.
Ela não o olhava assim, protestou em silêncio, queria matá-lo sim,
porém era de um jeito proibido para menores de 18 anos.
― Você anda assistindo muito CSI, hein?
― Devo acrescentar que você também mudou desde que ele surgiu
aqui, com aquelas guloseimas a tira colo?
― Deus! Como é fantasiosa e irritante!
― Bonita, você sabe que eu não fantasiei nada, quero dizer, fantasiei
muito depois de ver aquelas delicias... uh, ― ela pausou, e agitou a mão no ar
quando acrescentou com cuidado. ― Não foi com o seu bonitão. Garanto.
Mas me diz, vai.
― Chega! ― Trish interrompeu a amiga num tom severo, desejando
por fim a conversa e as reações brincalhonas em seu corpo.
― Bonita...
― Que saco! Será que não dá pra mudar o disco?
Ela tinha acabado de rosnar pra Lee?
A contar pelos olhos da amiga, ela tinha sim.
Respirou fundo duas vezes, deixando seus ombros caírem. ― Me
desculpe. Não quero falar disso agora e aqui também não é lugar. Estamos
trabalhando.
― Isso quer dizer que falaremos depois?
O brilho acentuado nos olhos de Lee a fez se sentir uma cadela
egoísta.
Com um gesto consternado, Trish disse:
― Depois Lee.
― Oba! Bem, agora vá lá atendê-lo então.
― Por que eu? As mesas daquele canto são suas, não minhas.
― Como sabe que ele está do meu lado?
― Foi apenas um palpite... Ele sempre senta no mesmo lugar, não?
― Ceeeeerto. Eu vou lá, ― Lee tomou o bloco de notas e a caneta ―,
embora acredite que ele ficaria muito mais satisfeito se fosse você.
Trish suspirou irritada e tentou se focar no que estava fazendo atrás
do balcão enquanto divagava em silêncio, sentindo-se cada vez mais
aborrecida.
Não estava aborrecida com Lee diretamente, senão pela forma que
aquele estranho a fazia se sentir, as reações que ele desencadeava em seu
corpo somente por estar no mesmo local que ela... Ela se sentia toda inclinada
a pôr as mãos em cima dele, a ânsia de fazê-lo era quase insuportável.
Deus, ele nem ao menos precisou tocá-la para excitar seu corpo, mas
quando fez, só bastou um toque para quase levá-la a um orgasmo, antes que
de fato a fizesse gozar em sua boca. E nos sonhos, em seu mundo fantasioso,
ele a tomou como um amante fervoroso, bebeu dela como nenhum outro
havia feito levando a um orgasmo real. E quando, finalmente, a montou, ela
gozou novamente, foi real. Seu orgasmo foi real, embora a ação fosse apenas
um sonho. Cada orgasmo que teve em seus sonhos foi verdadeiro. Trish
sabia. Seu corpo energizado a cada manhã, um vestígio sensual da dor pós-
coito assolando seu canal escorregadio, as pernas levemente doloridas como
se tivessem sido envolvidas firmemente em outro corpo. E os lábios inchados
pelos beijos, que ela tinha certeza que era causado por seus próprios dentes,
mordendo a si mesma enquanto sonhava. Tão real e surreal ao mesmo tempo.
Ela viu seus olhos, a fome e a posse reinando nos orbes enigmáticos,
o desafio para ela contestar seu domínio e gostou. E, ela também viu dentes,
caninos afiados e perigosos, que desejava sentir marcando sua pele, contudo,
ele não fez.
Ele não era normal, não no sonho.
Havia algo a mais nele, extremamente instigante. Trish nunca tinha
sido dessas garotas com uma queda pelo sobrenatural, isto era apenas uma
fantasia que ela não se preocupava em ter. Entretanto, nos sonhos ela não se
importava se ele fazia parte do ludibrioso mundo sobrenatural. Lá em seus
sonhos, ele podia ser tudo. Enquanto lhe desse mais daquele prazer
vertiginoso, Caleb poderia ser qualquer uma dessas merdas de lendas, pois a
ilusão só fazia seus sonhos mais quentes e excitantes.
Lee cortou seus pensamentos se dobrando sobre o balcão, olhando
com a face contrariada e tediosa. Ela já sabia o que viria.
― Eu disse que ele preferia você. Então, faça às honras.
― Eu não.
― Ele somente quer ser atendido por você, ― ela pontuou a repetição
da semana. ― Ele foi bem enfático quando disse que só será atendido por
você, Bonita.
Um minuto para respirar profundamente e agarrar seu controle num
aperto de aço. Ela podia fazer isso como fez nas outras vezes sem se
desmanchar sobre ele.
Costurando entre as mesas, Trish tratou de não procurar seu olhar,
porém o sentia chamando, exigindo que olhasse. Mas, por Deus, ela não faria.
Além de tudo, ele era um mandão autoritário. Como ela odiava homens
assim! Infelizmente, seu corpo não. Sua pele aqueceu a cada passo e sua
vagina chorou dengosa.
― Achei que teria de esperá-la pelo resto do dia ― ele disse com uma
pontada de recriminação e acusação. Trish apertou os dedos na caneta. Ele
acrescentou de maneira suave, profunda. ― Mas eu faria se fosse necessário,
te esperaria para sempre, baby.
Certo, isso foi inesperado e a derreteu um pouquinho. Só um
pouquinho.
― O que o senhor deseja? ― perguntou, olhando para o bloco de
papel.
― Caleb. ― Foi impossível não olhar, a taxação firme e dura, como
se ele estivesse cansado de pedir que o chamasse pelo o nome pegou-a
desprevenida. ― Já lhe disse que me chame pelo meu nome, gosto da forma
como seus lábios se movem e do som da sua voz quando diz meu nome. É
uma mulher muito sensual, Trish.
Suas bochechas estavam quentes? Ah, merda, não estava
enrubescendo na frente dele, não por aquele elogio bobo que fez seu ego
feminino dar gritinhos de felicidade.
Toma, suas cadelas! Ele me acha sensual. A mim, só a mim.
― O que deseja? ― ela insistiu. Não iria contrariar o cliente,
tampouco, iria dar o gostinho a ele de saber que se sentia vaidosa com suas
palavras.
― Sente-se comigo.
Trish quase fez, sentiu seus pés formigarem e seus joelhos relaxarem
ante seu tom aveludado, mas se conteve a tempo aprumando a postura ereta.
― Se não deseja nada, me dê licença. Há outros clientes para atender.
Ela deu a volta, um passo e seu pulso foi cativo de dedos firmes e
cuidadosos enquanto o que parecia ser um rosnado irritado, uma advertência,
a balançou por dentro e fez sua intimidade contrair com um espasmo.
Ele tinha rosnado? Pra ela?
― Não saia ― ele grunhiu, um lampejo dourado brilhou em seus
olhos, travando-a, no entanto, havia sido tão rápido que ela duvidou que
tivesse visto realmente.
Olhos humanos não lampejam dourados e ele era humano.
― Por favor, fique.
Trish olhou para o pulso e ele afrouxou seu agarre deixando seu braço
ir quando ela puxou de volta, levando o olhar para seu rosto. Caleb a mirava
com profunda admiração e um resquício de desespero que a fez amolecer
mais uma vez, e se sentir idiota por estar sendo tão bruxa com ele. Ela
lambeu os lábios e ele observou o movimento com demasiado interesse.
― Escute, eu não sei quem você é e o que pensa sobre mim, mas te
digo uma coisa, não sou dessas que você está acostumado. Aquela semana...
Aquilo foi...
―... Delicioso. ― Ela endureceu suas feições. ― Escute, não precisa
ter medo, não de mim. Especialmente, de mim. Nunca seria capaz de
machucá-la e jamais deixarei que alguém faça. Sempre vou protegê-la acima
de tudo e todos.
Seu coração bateu no ritmo de uma britadeira ao sentir a verdade crua
naquela declaração.
― Homens como você não deviam dizer coisas assim para mulheres
como eu ― ela sussurrou embevecida por sua declaração.
― Homens como eu? Por quê? É uma mulher delicada, adorável e
merece ter quem te cuide, e lhe diga coisas bonitas para que saiba que não é
mais uma dentre tantas, senão a mais especial de todas.
Trish olhou continuamente, sem reação.
Aí estava um homem que sabia como agradar uma mulher.
Coisas bonitas. Ela gostava de ouvir coisas bonitas, mas isto era em
outra época quando era tola o bastante para acreditar somente em palavras
floridas.
― Guarde seus galanteios, senhor. Não há porque mentir.
― Nunca te mentiria, Trish. ― A verdade daquelas palavras foi
sentida em seu íntimo de uma maneira aterradora. ― Não há nada demais em
querer te conhecer e passar um momento ao lado de uma mulher que me é
agradável.
― Por que não dá atenção a uma dessas mulheres que vivem aqui te
rodeando? Uma que realmente te queira? Saia com elas. Aposto que não
encontraria uma recusa, porque eu não estou disponível para qualquer coisa
que queira.
― É isso que quer?
Touché!
― Eu não posso...
Ele sorriu triunfante, uma fileira de dentes brancos e perfeitos. ―
Tudo bem. Eu esperarei seu expediente terminar, Trish.
Ela piscou desorientada, não sabendo o que dizer mais.
― M-Mas...
― Traga-me um café, puro e forte, por favor.
Ela anotou seu pedido no automático, mais desconcertada do que de
costume, algo lá no fundo dizia que hoje seria diferente. Hoje suas desculpas
não teriam lugar.
Por quase duas horas, Trish se dividiu em atender os clientes e a ele,
levou cafés e mais cafés, sempre recebendo dele olhares quentes e sorrisos
que abalavam seu mundo, enquanto que um grupo de três mulheres dadas,
sentadas estrategicamente a sua frente, paqueravam seu homem sem receio
algum. Mas ele nunca as olhou, seu olhar estava nela. Cercando pelos cantos
dos olhos. Esperando. Em um dado momento, teve a impressão de vê-lo
endurecer e rosnar baixo quando um cliente mais alegre lhe passou uma
cantada cafona. Sua loucura realmente não tinha limites.
Humanos não rosnam.
Ela esperou que ele se cansasse de esperá-la, porém Caleb
permaneceu lá, firme e paciente, e ela não sabia se ficava feliz ou aborrecida
com o fato.
Ele havia tomado tanto café que, provavelmente, não dormiria por
dias.
Ele não comeu.
Caleb era um bonito nome, forte, marcante, viril assim como ele era.
Ele estava lindo como esteve desde que ela o conheceu. Usava um jeans que
agarrava suas coxas grossas e uma camisa azul marinho obscena marcando
bem seu peitoral e seus braços poderosos. Apetitoso. Sensual sem tentar sê-
lo. E ela queria lambê-lo. Às vezes quando o mirava, Trish se permitia a
desejar, queria reproduzir cada detalhe de seus sonhos. Queria montá-lo firme
e duro, e depois queria ser montada por ele enquanto suas mãos exploravam o
corpo um do outro e suas bocas se moldavam naqueles beijos quentes...
― O diabo saiu das profundezas infernais ― Lee sussurrou para ela.
Trish se sobressaltou e fitou a amiga.
― O quê?
Lee indicou com a cabeça e ela seguiu seu gesto e viu sua chefa
conversar com Jojo. Por um momento, Maya dirigiu o olhar a elas, frio e
seco, antes de voltar a falar com a Senhora. Lee e Trish desviaram o olhar
retornando a seus afazeres.
― Acho que ela ouviu ― Trish murmurou só para a amiga.
― Humpf! Claro que não, Bonita! A não ser que ela tenha uma
audição superaguçada. O que faria dela um desses monstros de contos e me
daria razão.
Trish lhe lançou um olhar estupefato.
― Claro, como não?
Lee deu os ombros. ― Mal humorada como o cão ela já é.
Pelos cantos dos olhos, Trish observou sua chefa se dirigir até a mesa
de Caleb e se sentar com ele. Seu corpo zumbiu em protesto. Não queria a
mulher ao lado dele.
Ele era seu. Santa merda. Ele não era seu.
Não era como se o beijo caloroso e apaixonado trocado naquela noite,
ou, porque em sua mente doentia ela havia sentindo o melhor orgasmo que já
tivera na vida, o tornasse sua propriedade. Aliás, Trish nem deveria estar
pensando nisso.
Ela não queria ninguém, certo?
Agora só bastava seu corpo e seu tolo coração apertado entender isso.
Por minutos infinitos, eles conversaram, deixando Trish angustiada e
ciumenta, apesar da mulher não ter tocado, nem o cumprimentado de forma
costumeira entre conhecidos. Contudo, eles se conheciam, ela tinha certeza.
Teriam tido um romance? Ainda tinham?
Deus queira que não. Mesmo que ela não tivesse intenção de ter algo
com o tipo, Trish não queria pensar na possibilidade de sua chefa e ele...
Não, definitivamente, não.
Nem com ela, nem com qualquer outra.
Era loucura, mas o bicho do ciúme estava mordendo sua carne.
Por minutos, ela trabalhou em sua irritação, até que Lee informou
quando passou por ela com novos pedidos:
― Se prepara, porque o cão está vindo diretamente pra cá.
Trish mal teve tempo para compreender o que Lee disse, Maya já
estava na frente dela. A face de azedume estava igual, sem sorrisos.
― Está dispensada, Srta. Mitchell.
― Como? Está me demitindo?
― Não seja estúpida. Estou apenas lhe dando o resto do dia de folga.
Folga?
― Mas só falta uma hora e meia para terminar meu turno.
― Pegue suas coisas e vá.
Um rápido olhar fora lançando em direção a seu admirador, mas ele
não a olhava, então voltou a mirar a mulher de face dura. ― Por quê?
― Sou sua patroa e estou te dando folga. Isto não basta?
― Sim, mas é que...
― Está dispensada. Não precisarei dos seus serviços hoje. Vá para
casa e não me aborreça com suas perguntas impertinentes.
Dito isto Maya saiu, deixando para trás a jovem com um semblante de
estupefação e incredulidade. Trish sacudiu a cabeça tentando clarear a cabeça
e seguiu para o pequeno vestiário nos fundos da lanchonete. Lee a seguiu.
― O que foi?
Ela se desfez do avental e o uniforme de trabalho então os colocou
dentro do armário e pegou suas roupas. ― Ela me dispensou.
― Como assim dispensou, Bonita? Ela te demitiu?
Sentada no banco, Trish parou a subida do jeans na metade de suas
pernas e olhou para amiga. ― Não Lee. Apenas me dispensou por hoje, me
mandou tirar o resto do dia, ― olhou no relógio da parede ―, aliás, da noite
de folga.
Os olhos da outra mulher se arregalaram.
― Assim sem mais?
― Também não entendi. Eu perguntei, mas ela não me deu nenhuma
explicação. Bem, você a conhece melhor do que eu. ― Trish terminou de se
vestir e se levantou.
― Talvez ela tenha ido a um padre, sabe, e quer se redimir da
rabugice sem fim e a penitência foi começar a semear o bem no trabalho. É
um milagre. ― E acrescentou numa imitação de dar dó do Padre Joseph. ―
Amai ao próximo como a ti mesmo.
Ambas riram cúmplices.
― Com certeza. ― Pegou a bolsa e a colocou nos ombros, e então,
puxou o gorro roxo para a cabeça. ― Eu já vou. Nos vemos amanhã.
― Vá pela sombra, Bonita.
Trish deixou a lanchonete e começou a caminhar pela calçada em
busca de um táxi, mas não chegou muito longe. Uma mão forte e quente
pousou em seu ombro acompanhada por uma voz ríspida e extremamente
profunda, a fez sobressaltar.
― Aonde você pensa que vai? Iria me deixar plantado lá?
Deus, estava tão desconcertada pela atitude de Maya, que se esqueceu
dele.
Seus cílios revoaram, e ela arfou ante sua feroz expressão apertada.
Os traços fortes marcados pela sua rigidez davam-lhe um ar
endemoniadamente quente e sombrio.
Ele pairava sobre ela, seu perfume delicioso impregnando seus
pulmões.
Ela queria comê-lo.
Ela engoliu em seco e piscou envergonhada.
― Eu vou para casa. Minha chefe me dispensou mais cedo ― lambeu
os lábios e continuou distraída. ― Eu só tenho que achar um táxi agora,
porque vim com Lee, e...
O que ela estava fazendo? Por que estava dando explicações a ele?
Ela não tinha que lhe dar nenhuma satisfação, mas aqueles olhos
exigiam uma.
― Eu te levo. ― Trish abriu a boca para contestar, porém ele a calou
com um dedo sobre seus lábios e acrescentou num tom mais doce quando os
olhos suavizaram. ― Acho que este é o mínimo que pode fazer para se
redimir por ter me deixado lá.
Seu rosto aqueceu. ― Desculpe, eu só... eu não pensei...
Ele sorriu, um curvar lento e largo.
― Tudo bem. Vamos?
Trish unicamente pôde assentir e segui-lo quando ele pousou a mão
espalmada em suas costas, enviando um calafrio por sua espinha, e caminhou
até sua SUV 4x4.
Caleb abriu a porta do carro e a ajudou subir, deu a volta e entrou do
lado do motorista. Logo manipulou o aquecedor quando teve o motor do
veículo ligado.
― Faz muito frio aqui, mas logo se sentirá mais cômoda.
― Obrigada.
Caleb sorriu para ela e passou seu próprio cinto.
― Coloque o cinto. ― Ela fez. ― Precisa de roupas mais quentes que
estas que está usando se não quiser pegar um resfriado ou até mesmo ter uma
hipotermia.
A repreensão no tom dele não passou despercebida por ela.
― Minhas roupas são muito quentes ― protestou. ― Acredito que
você é último que pode me dar qualquer lição sobre como se vestir ou não,
verdade?
A SUV começou a se mover pela rua principal. Estava nevando, ainda
não era muito, mas pela madrugada aumentaria. Flocos de neve pousavam
delicadamente sobre o pára-brisas antes de serem limpos para os lados.
― Seus dentes estão se batendo.
Revirando os olhos, a jovem fitou através da janela ao lado. Caleb
estava certo, mas não diria isso a ele, nem discutiria sobre o fato.
Não tinha pensado nas consequências daquele momento a sós quando
ele se propôs a levá-la para casa, mas agora segura do frio e do desconcerto
pela gentileza da patroa, Trish acreditava não ter feito uma boa escolha. Quer
dizer, ela realmente não teve escolha.
O perfume dele estava concentrado naquele cubículo, mais
encorpado, enevoando sua mente e alagando seus sentidos. Aquela
aproximação, apenas um braço estendido e já o teria no alcance de suas mãos,
que coçavam para tocá-lo. O chiado aquecido começou no fundo de sua
barriga. Agora podia olhar com maior clareza, ou melhor, comê-lo pelos
cantos dos olhos. A camisa funcionava como uma segunda pele, marcando os
músculos bem trabalhados de seu peito e abdômen, as mangas dobradas até
os cotovelos davam-lhe uma visão hipnotizante de sua pele coberta com
poucos e negros pelos, e dos músculos. Não gostava de muitos pelos, sem
nada, tampouco. Mas Trish amava músculos, não os ganhados com
esteróides, senão os trabalhados arduamente todos os dias. Aquelas elevações
marcadas sob a pele eram atraentes, sexies. Um afrodisíaco muito potente
para o seu desejo e isso ele tinha aos montes.
Descendo, o jeans abraçava suas coxas causando inveja a ela. Eram
grossas e fortes, longas pernas, perfeitas para se enroscar com as dela
enquanto faziam amor ou simplesmente dormiam juntos. Mais acima, o
volume acumulado em sua pélvis lhe fez engolir à secas e apertar as pernas
juntas enquanto moía os dedos suarentos.
Ele estava excitado!
E, oh, Deus, era grande.
Umedeceu os lábios entreabertos, olhando de maneira descarada e
desejosa para aquela parte tão convidativa. Seu próprio corpo respondeu de
imediato, inchando seus mamilos e molhando sua calcinha. Estava aquecida,
excitada, tentada. De repente, o frio de fora parecia um alento perto do calor
que se instalou no interior do carro.
Hipnotizada pelo monte do pecado, Trish perdeu os olhos dele
flagrando sua veneração apaixonada e o sorriso orgulhoso por ser desejável
aos olhos dela.
Seu olhar quente estava fazendo seu membro mais duro, sufocando-o
naquele maldito jeans. O cheiro doce da excitação dela golpeou sua face,
queimou em seu cérebro. A umidade dela podia ser sentida no ar. Os dedos
dele apertaram o volante, deixando os nódulos brancos, mas dosou sua força
enquanto respirava.
Precisava distraí-la e se distrair, caso contrário iria fodê-la ali mesmo.
― Gosta do que vê?
Ela mordeu o lábio e deliciosamente estremeceu ao som de sua voz
profunda.
Trish levantou o olhar para Caleb, e sem poder se conter, voltou a
fixar na ereção escondida sob o jeans. Sua respiração se tornou densa. Ela
lambeu os lábios.
― Você está...
―... Sim, estou.
― É... grande.
Doce Jesus! Ela disse aquilo mesmo? Mas infernos, aquele era um
monte digno de ser admirado, com os olhos, as mãos, a boca...
Ele soltou um riso estrangulado.
― Você diz as coisas mais amáveis, bebê.
Ela nada disse, seguia olhando.
Com os dentes apertados, Caleb gemeu.
― Estarei muito feliz em satisfazê-la quando chegarmos, mas se
continuar olhando para o meu pau desse jeito, como uma loba faminta, serei
obrigado a parar o carro e te foder aqui mesmo. Não será muito confortável,
no entanto.
Finalmente, Trish o mirou, suas pálpebras batendo rapidamente pelas
palavras cruas dele e a perplexidade a varreu quando caiu em si.
― Desculpe, e-e-eu... Só me desculpe, não quis te constranger.
Jesus Cristo! Onde está o buraco quando se precisa dele?
Sua pele experimentou diversos tons de vermelho, naquele momento
deveria estar passando para o escarlate desde os dedos dos pés até a raiz do
cabelo.
― Não fez, querida. Gosto que me aprecie e terei muito prazer em lhe
dar um momento para fazer isto logo que nos colocarmos confortáveis.
Não havia modos dela estar mais constrangida do que naquele
momento. Embaraçada, Trish olhou para frente e desejou que o caminho a
cabana estivesse no fim.
Bem, não podia reclamar dele ser honesto.
― Você não é daqui.
Seu comentário a pegou desprevenida, mas ela evitou olhá-lo.
― Me mudei há pouco. Sou de Nova York.
― É uma bela cidade. Muito diferente daqui, não?
Trish se permitiu a um sorriso fraco enquanto assentia um pouco mais
à vontade.
― Você também não é daqui, digo, da cidade. Algumas colegas do
trabalho disseram nunca terem te visto... ― Ela arriscou uma olhada para ele,
mais vermelha que o habitual. ― Não que tenha perguntado, mas, enfim,
acho que suas visitas a P&C aguçou a curiosidade delas.
― Em você não? ― Ele devolveu com um olhar intenso, desafiador.
― Vivo em Snowville ao pé da montanha Blakestood, nasci e me criei ali.
Não costumo vir muito à cidade, é verdade. E quando venho, é sempre para
resolver algo sobre Snowville. Não há muito que ver por aqui, assim não fico
perambulando pelas ruas desertas. Mas estou feliz por ter vindo e encontrado
algo que me faça querer voltar todos os dias.
Homem, ele não economizava com galanteios.
Trish desviou o olhar, querendo dar a conversa por finalizada, mas ele
não desistiu.
― Conhece Snowville?
― Só de nome. Uma amiga me contou sobre lá, e segundo ela,
pretende visitá-los na primavera e me arrastar junto ― disse com um riso
abafado. ― Também fui a uma loja de produtos naturais e de artesanatos
quando cheguei, que pertence a sua aldeia.
― Conheceu Sue?
― Se estiver falando de uma senhora alta, de cabelos negros e curtos,
e uma face muito agradável então sim.
― Sue é uma ótima pessoa. É a curandeira de nosso vilarejo.
O queixo dela caiu aberto.
― Curandeira?
― Sim, e parteira, também. ― Ele soltou um riso baixo ante a
surpresa de Trish. ― É uma tradição das mulheres de sua família, passada de
geração a geração.
― Isto é..., uh, diferente. Não me entenda mal, mas é um tanto
bizarro.
Caleb enrugou o cenho, e Deus, se ele não parecia mais bonito.
― Por quê? Ela é muito boa no que faz. Todos são muito saudáveis, e
você ficaria admirada com o tanto de filho... filho que ela já ajudou a nascer.
― Incluso você?
Caleb sacudiu a cabeça e sorriu mais largo, e demônios, se ela não
ficou toda derretida.
― Incluso eu.
― Eu não duvido da competência dela. Mas a medicina evoluiu
muito, além do mais, há coisas que somente a medicina convencional pode
resolver.
― A alternativa também.
― Sim, mas... é arcaico.
― O arcaico pode ser tão bom quanto o moderno, senão melhor. Um
não anula o outro, se houver um bom ajuste. ― Ele deu uma piscada
arrasadora. ― Mudará de ideia quando for... conhecer nosso vilarejo. Irá
gostar. Nossa gente é muito amistosa.
― Ainda falta muito para a primavera ― ela lembrou com um
muxoxo.
― Não tem que esperar até a primavera.
― Mas Lee disse...
― Lee?
― Minha amiga e vizinha de cabana, trabalhamos juntas. Ela disse
que somente abrem para visitação no final da primavera e algo como ter que
ser reservado antes.
― É verdade, preferimos assim para mantermos nossa privacidade.
Não há nada mais que um morador de Snowville aprecie do que a
privacidade. Ademais, neva muito no inverno e a trilha fica perigosa para
qualquer turista subir.
E completou adulador:
― É a exceção. E será muito bem-vinda a qualquer hora que queira ir.
― Não é perigoso? ― cutucou ofendida.
Ele lhe deu um sorriso lento, bom o suficiente para parar seu coração.
― Irá comigo, sendo assim, não há perigo.
― Você sempre viveu lá?
― Minha vida toda ― ele disse, com uma sugestão de diversão. ―
Saí apenas para estudar em Toronto, me formei em Arquitetura, e então,
voltei.
― Você deve gostar muito daqui, não?
Caleb soltou uma risada, que a chacoalhou por dentro.
― É bom estar com os meus. Tenho responsabilidades aqui. Inuvik
pode ser longe de tudo e todos, mas é um bom lugar para se viver, ― ele a
olhou ―, constituir família.
Tinha alguma mensagem subliminar ali, ou ela já estava
enlouquecendo?
― Sua família é daqui?
― Sim ― ele ofereceu lacônico.
O silêncio perpetuou assim como a excitação fazendo de ambos duas
dinamites acesas prestes a explodirem. Ela não podia separar seu olhar dele.
Estava inquieta e olhá-lo respirar, observando como seu peito subia e
descia era... agradável. Igual seria acariciá-lo. Merda. Era um maldito
desconhecido.
Caleb.
Certo, sabia seu nome e que era Arquiteto e amava seu berço de
nascença. E, o que mais, além de ser direto e bonito de doer? E lhe fazer
doer?
Ele seguia sendo um desconhecido, que a colocava febril.
Quando Caleb estacionou na frente da cabana, assinalou para ela
esperasse. Ele desceu e contornou a SUV, abriu a porta e a ajudou a descer.
― Obrigada por me acompanhar, ― ela começou, ansiando fugir da
intensidade dele, do calor que sempre amaciava seus membros e a fazia
derreter na calcinha. ― Eu te ofereceria um café, mas acredito que você deve
estar enojado, uh? E, também é tarde e eu estou muito cansada.
Mentirosa! Sua mente acusou e o corpo protestou.
Com um sorriso embaraçado, ela completou rapidamente:
― Obrigada. Nos vemos por aí... Boa noite, Caleb.
Ela o estava dispensando assim na cara dura? Oh, não, não. Espere aí!
Antes que Trish pudesse alcançar a porta, Caleb esteve sobre ela, um
de seus braços em volta de seu estômago e a outra mão em sua cintura
colando seu peito em suas costas. Ele muito maior do que ela, cobrindo-a
com seu corpo.
O coração de Trish bateu na garganta e seu corpo floresceu para vida
quando ele aproximou a boca de sua orelha e sussurrou:
― Eu dispenso o café, mas aceito um beijo.
Trish experimentou uma agitação na parte inferior do estômago e
calor inundou seu corpo à medida que sua vagina latejava dolorida.
Agarrando o pouco de prudência que possuía, Trish se desfez de sua
prisão voltando-se para o tipo. Ele permitiu, porém manteve-os perto, corpo a
corpo.
― Isto não é um encontro.
Caleb a olhou com tanta intensidade e tal ferocidade que seus joelhos
tremeram. Este não era um homem qualquer. Mas dava igual. Ela ainda não
queria a nenhum.
― É muito mais que isso, amada... mais do que pode compreender
então, sinta, apenas sinta. Sinta o fio que nos puxa junto. Não é errado. ― Ele
afastou uma mecha de cabelo de seu rosto, seus olhos tão apaixonados,
derretendo-a por dentro. ― Não tenha medo do que está nos atraindo. Eu vou
te segurar e não vou te deixar cair, eu prometo.
Suas palavras trouxeram rubor às bochechas dela e pesou sua
respiração enquanto mariposas revoavam em seu estômago. Os joelhos muito
fracos de repente.
Caleb a beijou.
O beijo foi urgente, firme e autoritário, porém gentil.
Ele empurrou sua língua dentro, mais profundo, e, para sua vergonha
absoluta, Trish se encontrou respondendo, inclinando-se para ele. Seu corpo
traidor amoleceu contra o de Caleb quando ele aprofundou o beijo. O gosto
açucarado inundou sua língua e embebedou seu sistema, como se álcool
corresse por suas veias e suas terminações estalaram. Luxúria se quebrou
sobre ela, destruindo sua resistência e pulverizou seu cérebro. Antes que
pudesse pensar, suas mãos seguraram o cabelo de Caleb impedindo de se
retirar e ele gemeu em aprovação. O desejo apertou seu útero e cavou uma
dor funda em sua vagina. Tudo que ela podia pensar era nele empurrando o
eixo grosso em seu canal, martelando sem parar, assim como nos sonhos.
Sabia que não devia. Havia um motivo para não querer nenhum tipo
de envolvimento com um homem, mas não podia se lembrar dele.
Caleb deixou a mão em sua cintura deslizar abaixo sobre a curva de
sua bunda num movimento sensual, assustando-a, fazendo-a mais excitada
ainda.
Suas pernas se enroscaram no quadril dele quando o tipo a trouxe para
cima sem qualquer esforço, sua pélvis pressionou fazendo pressão contra seu
centro acalorado.
― Isso... isso não é normal. Essa vontade louca de sentir você... ―
ela murmurou afetada enquanto ele arrastava os lábios pelo seu pescoço.
Uma risada desconfortável entreabriu seus lábios. ― E-Eu não sou assim.
― Sei que não, amada ― mordiscou a ponta de sua orelha. ― Você é
perfeita para mim. Só minha... Eu sonhei com isso, com seu gosto, com seu
cheiro... Levando meu pau em sua buceta perfeita. Me faz arder de desejo,
Trish.
Ela continuou, absorta na provocação de seus lábios maldosos. ―
Eu... eu quero, quero mais... quero você. Oh, Deus, eu quero... ― mordeu o
pescoço dele inebriada pelo cheiro delicioso que se desprendia de sua pele,
em seguida, lambeu, gemendo.
Caleb gemeu e fez aquele som que ela já amava.
Mantendo-a segura em torno de si apenas com um dos braços, enrolou
uma mecha generosa de seu cabelo em volta de seus dedos livres e puxou,
forçando-a a olhar para ele. Sua beleza feral roubou seu fôlego. Tudo nele era
sensual até mesmo sem ele tentar sê-lo. Um homem deste tipo não podia ser
real. Era bom demais para ser verdade.
― Eu sempre soube que viria para mim ― ele disse, sua voz sensual
fez seus olhos dilatarem e a crua verdade daquela declaração fez sua mente
em frangalhos.
Mas sanidade pra quê?
Depois ela se condenaria e amaldiçoaria por ser tão fraca, porque no
momento só podia desejá-lo e ansiar pela paixão queimando-os vivos.
10
PRAZER ÀS CLARAS
Trish não soube como, mas já estavam dentro de sua cabana e nua da
cintura para cima enquanto Caleb seguia todo vestido. Um montão de roupas
detestáveis, impedindo-a de chegar até ele. Não gostou. Odiou, na verdade.
Queria-o nu, cada centímetro de sua pele exposta, sentindo contra ela. Pele a
pele. Calor sobre calor. Porque, de fato, ela estava ardendo na luxúria que
Caleb despertou em seu sistema. Tão quente, que começava a suar por todas
as extremidades.
Ele girou com um movimento fluído e gracioso, debruçando-a sobre o
braço do sofá. Trish ofegou e mordeu o lábio quando sentiu as pesadas mãos
masculinas percorrerem seu traseiro, numa pegada deliciosamente possessiva,
apreciando o contorno das bochechas inchadas, enviando faíscas de prazer
através do tecido grosso de sua calça. Ela se sentiu venerada. Aparentemente,
o tipo parecia ser aficionado por traseiros pela forma reverenciada que ele
tocava sua bunda, como se estivesse apreciando as horas infinitas que ela
gastara na academia, ainda em Nova York, para ter aquela parte de seu corpo
definida. Não que tivesse usado aquela área alguma vez ou se interessado por
aquele prazer proibido.
Será que ele...?
Calor se espalhou por suas bochechas e cobriu seu corpo com
embaraço e excitação, mas antes de concretizar o pensamento em sua mente,
ela sentiu um tranco seguido de um barulho. Trish olhou para trás e chupou
uma respiração difícil, sua buceta contraindo e puxando quando se viu nua.
Bem, quase. Não era como se a calcinha se perdendo entre suas nádegas
fizesse grande coisa para cobrir sua bunda branca do ávido olhar predatório
dele. Os trapos do que um dia foi sua calça estavam no chão.
O olhar dele encontrou o dela e a prendeu. Ele era intenso, vívido e
faminto. Um predador nato. O olhar de um homem disposto a tudo para
saciar sua fêmea.
Trish conteve um fôlego e, em seguida, obrigou-se a respirar
profundamente, reduzindo os batimentos cardíacos acelerados de seu
selvagem coração.
Não soube de onde surgiu aquele pensamento primitivo. Ela não era
um animal, nem um pedaço de carne para ser a fêmea de um homem, mesmo
que este fosse pecaminosamente delicioso. Porém, não podia negar que
gostou daquela ideia. Ser a fêmea de um homem como esse trazia um
sentimento perverso e orgulhoso. Uma comoção assustadoramente excitante,
que lá no fundo de sua alma a fez se sentir mais feminina, mais desinibida e
sexy. De fato, sentia-se devassa. Queria experimentar aquele desprendimento
sexual sem pudores, deslizar sobre sua pele bronzeada, esfregar-se contra ele
como uma gata manhosa, e tomá-lo tão profundamente quanto podia levar até
tê-lo cravado em sua alma. Queria ser única para ele. Dele.
Caleb tinha atormentando-a com sua proximidade, com seu apelo
sensual, com as mudanças de sinais de desejo e reserva. Todos aqueles
olhares calorosos de dias atrás, deixando-a dolorida e confusa. Ceder agora
para depois voltar à normalidade. Não achava que pudesse lidar com isso,
que pudesse manter seu coração a salvo, no entanto, permitiu chegar perto o
bastante para fazer aquela paixão escura explodir entre eles.
Agora, cobiçava abalar seu mundo como ele estava fazendo com o
dela.
Era sexo quente. Apenas isso.
Havia um montão de tempo que não tinha se permitido a uma
aventura selvagem.
Como se eu tivesse tido uma alguma vez.
Não importava. Ela estava disposta a praticar sua primeira vez. E esse
tipo, constituído por uma tonelada de músculos e pelo elixir do pecado, com
um olhar selvagem e venerado sobre ela, parecia muito ansioso para lhe dar
exatamente isso.
Sexo quente de derreter os miolos. Genial!
Ele apartou o olhar dela e o jogou abaixo, fazendo um som quando
pousou os penetrantes olhos em seu traseiro antes de suas mãos imitarem.
Não um barulho qualquer. E, dessa vez, não havia dúvidas. Ele tinha
grunhido... Literalmente. Um som baixo e áspero, ondulando sobre seus ossos
e agitou em seu estômago um tipo de emoção diferente, descendo até a
junção entre suas pernas. Ao primeiro contato das mãos dele sobre sua pele
nua, Trish estremeceu. Sua buceta ainda mais molhada.
— Tem um traseiro precioso, baby — sussurrou ele, o timbre
profundo envolto de veludo negro capaz de derreter manteiga bateu dentro
dela. — Eu gosto de bundas e você tem um inferno de traseiro aqui. Lindo.
Está enchendo minha boca d’água. E, cacete, estou tão duro que me dói. Não
será hoje, mas, definitivamente, vamos fazer isso em outra ocasião.
Uma promessa indissolúvel que ela não negou.
De fato, até se sentiu vaidosa por estar a gosto dele. Seu ego deu um
salto feliz e se sentou num canto quando o desejo pediu passagem, infectando
seu sangue, chamuscando seu cérebro, aquecendo seu coração. Precisava dele
sobre ela, suas mãos, sua boca, seu pênis... Ele deu isso a ela. Nesta mesma
ordem.
As mãos dele acariciaram brandamente as bochechas de seu traseiro,
o contato eletrizante, ascendendo sua pele, lançando outra quebra de onda de
calor para cada membro do seu corpo. Apalpou e deslizou as mãos acima e
abaixo, pela curva de sua bunda, conheceu-a com suas palmas e dedos, como
se estivesse memorizando seus contornos e a textura de sua pele.
Em seus sonhos molhados com ele a sensação tinha sido avassaladora,
quase irreal, mesmo para um sonho. Porém o real era malditamente melhor.
Um tipo de prazer afiado correndo pelas suas veias com uma luxúria
acetinada, que não poderia aguentar por muito sem se sucumbir, mas queria...
tudo.
Os pulmões trabalharam mais rápido. A excitação viajando quente por
seus membros, estalando sobre suas terminações nervosas. Então, ela
suspirou forte. Lábios firmes e macios tinham pousado sobre a pele aquecida
e, em segundos, espalhou beijos e leves mordidas por seu traseiro. A cada
dentada era uma doce mordida sentida diretamente em sua buceta. Subiu a
boca por sua coluna esbelta e tornou a descer, focando-se na sua bunda.
Trish se mexeu e remexeu, achando a fricção perfeita do braço do
sofá contra seu inchado clitóris dolorido. Aquilo era pervertido e muito
ousado para alguém como ela. Não que fosse uma puritana, mas se antes
tivessem lhe dito que um móvel da casa poderia ser usado para alcançar sua
satisfação sexual, ela provavelmente lhe diria para se tratar. Entretanto, a dor,
a queimação prazerosa, fazendo seu útero se contorcer com espasmos
violentos era tanta que precisava de qualquer coisa para aliviar um pouco,
incluso a porra do braço do sofá. Nunca mais olharia para aquele móvel da
mesma maneira.
Mas quem se importa?
Seus pensamentos interromperam-se quando sentiu um segundo
puxão e lá se foi sua calcinha. Seu coração crepitou no peito. Nunca antes se
sentiu tão feliz por ter aquela peça fora do corpo. Não queria nenhuma
barreira entre eles.
Deus Santo. Quão necessitada ela soava para si mesma?
Chegava a ser vergonhoso a intensidade de sua necessidade. Era
ridícula. Não somente toda aquela necessidade esmagadora, mas,
principalmente, senti-la por ele como se soubesse que nada, nem ninguém
mais pudesse saciá-la... Ridículo porque era uma foda, apenas isso. Um
casual encontro sexual. Não haveria um amanhã e, embora ela quisesse dizer
a si mesma que assim era melhor, que era uma mulher adulta e suficiente para
lidar com isso sem envolver seu tolo coração, havia uma parte dela que
queria sonhar, que já estava sonhado.
Raios de vida!
Ela podia ter sexo sem envolver os malditos sentimentos. Muitas
mulheres faziam isso. Sexo sem efeitos colaterais. Mas algo alertava que essa
não seria sua exceção.
A prudência tentou emergir, mas perdeu contra o suave deslizamento
das palmas das mãos dele sobre suas costas, descendo. O homem atrás de si
continuava a fazer aqueles estranhos sons sensuais. Devia ser coisa do povo
dali. Expectativa a puxou de volta quando sentiu as mãos dele abrir suas
nádegas, e uma perversa língua quente correu da fenda de seu traseiro até
suas dobras.
Ela balançou contra ele.
— Oh, meu Deus!
Caleb fez um barulho satisfeito, refazendo o gesto mais duas vezes. A
ponta jogou com a entrada da sua vagina, deixando-a choramingando por
mais.
— Seu gosto é tão bom quanto seu cheiro.
— Não Caleb. Por favor — suplicou, quase tonta de pela luxúria que
palpitava através dela, jogando seu olhar alagado para trás quando sentiu a
perda de contado.
O sorriso dele foi todo dentes. Predatório. Animal. Malvado.
— Vire-se. Quero ver essa sua pequena buceta rosada aberta para
mim quando eu te chupar e te fizer gozar na minha língua. Você é tão sexy,
querida.
Bajulador e autoritário ao mesmo tempo.
Trish não sabia se gostava ou batia na cabeça dele. Provavelmente,
bateria depois. Agora queria ser apanhada pela língua dele. Ela se armou de
força para se mover, crente que seu corpo mole não ajudaria muito, porém o
homem agarrou seu quadril e a ajudou na posição que ele a queria. Não cama.
Ele a queria lá. Com as omoplatas sobre as almofadas macias, as costas
curvadas, e a bunda apoiada no alto do braço do sofá.
Atrevido e sensual. Um ar de menino mau que gostava de travessuras
e despertou dentro dela um despudor que nunca sentiu antes.
— Vou apreciar cada centímetro seu, querida. Ao fim da noite não
haverá um só pedacinho deste seu corpo encantador que eu não tenha
conhecido com minhas mãos. Não haverá um centímetro da sua pele que
minha língua não tenha percorrido. Eu vou te comer toda e de uma maneira
que nunca mais desejará outra coisa que não seja eu.
OH, Deus!
Cada palavra dele foi um açoite quente em seu desejo, em sua paixão,
em seu coração. Marcando e derretendo-a. Sua pele pulsava por todas as
partes, como se estivesse viva.
Ele deu um longo suspiro enquanto mirava seu corpo, a paixão
resoluta em seu olhar. — Sim. Definitivamente, eu vou gostar de cada
segundo disso. E você também.
Algum homem já tinha lhe dito palavras tão cruas e doces ao mesmo
tempo?
Já a tinham venerado com tanto desejo?
Tinham feito se sentir tão especial que ela teve vontade de chorar?
Antes mesmo das perguntas se finalizarem, ela tinha as respostas.
O sexo nem sempre tinha sido bom. Era uma necessidade aplacada
quando o desejo despertava, o que significava raramente. E Trish não tinha
dado tanta importância a essa parte. Havia estado no escuro um montão de
tempo, acreditando que o sexo insosso era tudo que poderia ter naquela droga
de vida. Mas, então, nunca tivera um amante tão intenso como aquele
sujeito... Caleb. Sim, este era seu nome. Combinava com a força que
emanava dele e a expressão pecaminosamente malvada do tipo que as mães
orientavam suas filhas para permanecerem longe, se não quisessem ter um
coração quebrado e sua inocência perdida. Ele tinha aquele ar arrogante e
extremamente seguro de quem sabia o quê causava nas demais pessoas. Um
tipo que até mesmo os outros homens respeitavam. E ao inferno se isso não a
fazia arder de desejo.
ARRANJOS INESPERADOS
PRESSÁGIOS
****
DÚVIDAS
DESCOBERTA
INTERLÚDIO
O dia amanheceu mais escuro e frio que de costume, e Trish deu por
si que como se sentia sobre Caleb não havia mudado em nada. Ao contrário,
havia um vazio. Um buraco fundo, que não, não era por ele, senão pela
enganação que sentia por ele ter encoberto a verdade.
Se fosse honesta admitiria que um pedaço de si ficou com ele quando
deixou seu carro na outra noite, mas não podia fazer nada. Caleb tinha lhe
dado um montão sobre a cabeça e estar na presença dele não a ajudava digerir
todas aquelas informações absurdas.
Deus, um shifter? Seres mitológicos?
Essas coisas somente existiam nos contos de terror para crianças e nos
livros de romances fantasiosos. Era inacreditável. Tinha de estar sonhando,
perdendo a mente. Qualquer coisa.
Só não podia acreditar...
Ela não tinha certeza se poderia lidar com isso ontem, e hoje,
certamente, ainda não podia. Por outro lado, uma parte – talvez – absurda de
si, era capaz de compreender o porquê de ele ter sido omisso sobre o quê
realmente era. Porém, a outra estava mortalmente assustada e incrédula,
duvidando seriamente de sua sanidade mental. Mas ela tinha visto. Era real.
Durante toda a noite, Trish tinha chorado ansiando bloquear as
últimas horas em vão. E, sobretudo, ele. Mudar a roupa de cama não tinha
surtido qualquer efeito. Ela ainda era capaz de sentir a essência dele no
quarto, nela própria. Ouvir o uivo desolado não ajudou em nada. Ela sabia
que era ele, bem como, sentia a tristeza dele pela separação como a sua
própria.
Quando olhou no espelho viu que estava um trapo. Ela era uma
bagunça. Desejos e anseios, sentimentos e emoções, e razão, tudo em
conflito.
Como alguém deveria lidar com isso? Qual era o procedimento de
praxe?
Sem respostas, que não fosse procurar um psiquiatra, Trish afundou
sua sorte e tentou não pensar sobre aquilo, pois quanto mais pensava mais sua
mente dava nós e com mais raiva ela ficava dele. Prendeu o cabelo num rabo
de cavalo e foi para a cozinha, onde bebeu uma xícara de café fumegante.
Não tinha fome. Seu estômago estava fechado para comida. Agarrou as luvas
e o saco de lixo, e, em seguida, transladou para fora da cabana.
— O que está fazendo aqui?
Trish girou a cabeça e levantou os olhos para ver a amiga olhando-a
da varanda.
— Eu moro aqui Lee.
Ergueu a tampa da lata de lixo e enfiou o saco dentro.
— Você não ia ficar com Caleb?
As palavras se afundaram em seu peito e fez seu coração doer.
— Não vai dar certo — ela murmurou o suficiente para Lee escutar.
Sem outra palavra, Trish se dirigiu de volta para a cabana.
— Oh, espere aí!
Lee gritou vindo em seu encalço, entrou e fechou a porta enquanto
Trish tirava as luvas e se servia com mais uma caneca de café. Sentou-se a
mesa e bebeu um sorvo. A amiga puxou uma cadeira, também. O olhar
inquisitório cravado nela.
— Qual o problema? Achei que vocês estivessem no amor — Lee
disse, com cautela.
Trish cuidou para que seu olhar permanecesse na caneca, do
contrário, iria chorar.
— Não vai dar certo.
— Você já disse isso. Agora, por que não vai dar certo? Ontem você
estava tão feliz, que vou te dizer, estava complicado ficar perto de você.
Isso até descobrir que ele saiu dos meus pesadelos.
— Apenas descobri que... nós somos de mundos diferentes.
— Isso não é motivo, Bonita.
Trish arriscou uma olhada para a outra mulher.
— Confie em mim, é. — Respirou profundo e soltou, lentamente. —
Nós tivemos uma discussão... uh... esclarecedora. Ele não é para mim. Foi
tudo um grande engano.
E por que seu peito doía tanto com o pensamento? Por que a ideia de
não tê-lo mais torcia seu íntimo e sua garganta fechava? Por que se sentia
como merda?
Porque você precisa de um psiquiatra, garota!
— Ah, foi só uma briguinha boba de casal, Bonita! A primeira de
vocês. Logo estarão bem novamente, e, poderão brigar de novo, se reconciliar
e fazer todo o ciclo, uh?
Seus olhos queimaram e ela piscou as lágrimas de volta.
— Vai por mim. Não foi uma briguinha boba. Acabou.
Tinha terminado e não havia modos dela voltar atrás, garantiu a si
mesma, sentindo o peito sangrar mais um pouco. Ainda assim, havia aquela
pontinha de esperança.
— Ele te fez algo em particular?
Como ela deveria responder a isso?
— Eu apenas percebi que o mundo dele não é para mim. Tudo isso foi
muito rápido e eu não deveria ter me deixado envolver desse jeito. Essa não
sou eu.
Lee suspirou e se recostou na cadeira.
— Bonita, você apenas está com medo. Isso não quer dizer que a
relação entre vocês seja errada. Acha que se tivessem apertado o freio o
mundo dele seria para você?
— Não. Quero dizer, não sei. Caleb, nós apenas... não podemos. Não
posso lidar com qualquer coisa sobre ele. — Nem sobre o mundo dele.
— Acho que Caleb levá-la para a casa dele te assustou um bocado,
não? Deixou as coisas mais sérias, hein? Eu sei, isso pode ser aterrador às
vezes.
Lee não fazia ideia do quanto.
Ante seu silêncio, ela continuou:
— Olhe, vou ser franca, não estou entendendo nada. Vocês estavam
bem até ontem e eu realmente entendo seu receio, quero dizer, nós
conversamos na outra noite e ontem você parecia muito bem. Tinham
conversado, não? Então, eu volto a te perguntar, ele te fez algo em particular?
Eu sei que ontem era para você ter retornado da entrega, mas a Megera disse
que você ficaria em Snowville com Caleb, e agora, você aparece e diz que
terminaram e está aí parecendo um bicho ferido, como se tivessem lhe
arrancado um dente.
— Ele não me fez mal, não dessa maneira — garantiu colocando o
café de lado quando se sentiu enjoada. Tudo sobre aquela conversa lhe fazia
mal. — É só que...
— Que?
Ela tomou um fôlego e trabalhou em busca das palavras certas. O que
Caleb era, por mais que a assustasse um inferno e ela estivesse raivosa por
ele, não era seu segredo para contar.
— Digamos hipoteticamente... O que faria se descobrisse que algo
que sempre acreditou ser um faz-de-conta para você é real?
Lee estreitou os olhos, a expressão pintada em confusão.
— Preciso que me ilumine aqui.
Trish se mexeu na cadeira, desconfortável. Aquilo não era nada fácil.
Seria apenas agradável se ela pudesse falar com Lee abertamente.
— Você sabe. Algo que jamais pensou em existir fosse real? O que
faria?
— Tipo o coelhinho da páscoa?
Trish enrugou o nariz.
Ele provavelmente come o coelhinho da páscoa.
— Quase.
A expressão de Lee se voltou pensativa então, os olhos brilharam com
excitação.
— Eu o faria cagar ovos de chocolate.
— Lee!
Ela encolheu os ombros.
— Eu amo chocolate. — E acrescentou. — Bonita, coelhinho da
páscoa não existe, mas, se existisse de fato, eu ficaria assustada pra caralho e
logo muito feliz, porque realmente amo chocolate. Cacau de graça pra
sempre? Um sonho... Cristo, ele é o coelhinho da páscoa?
— Claro que não!
— Merda!
— Você não está me levando a sério — resmungou.
— Bonita, eu estou perdida aqui e você não está fazendo o menor
sentido.
— Não precisa fazer. Ele, nós, isso não... Confie em mim, somos
muito diferentes. Simples assim. Caleb não é para mim e eu não sou a
parceira ideal para ele, embora ele pense que sim.
— Eu não vejo como isso pode ser ruim, quero dizer, ficar com
alguém que tenha coisas em comuns com a gente é legal, mas idêntico? Não
mesmo! Eu não suportaria alguém igual a mim. Não creio que o fato dele ser
diferente de você seja motivo suficiente para terminarem, a não ser que tenha
descoberto que ele tenha gostos asquerosos, algo que te repudia, é isso?
Trish empurrou as costas contra o respaldo da cadeira e bufou
aborrecida.
— Eu apenas caí na real — Trish mentiu facilmente.
Houve um cumprido silêncio.
— Acho que Inuvik te deu mais agito do que esperava, hein?
— Escute, não me leve a mal, sim? Eu não quero mais falar disso
agora. Tenho que arrumar algumas coisas aqui em casa antes de ir para a
P&C.
Lee sorriu complacente e assentiu, beijando o topo de sua cabeça.
— Sabe que estou aqui para o que precisar, não é? Talvez pudéssemos
descolar uns filmes da Meg Ryan e um ou dois potes de sorvete para depois
do serviço. Que tal?
Trish tentou um sorriso.
— Obrigada.
— E sabe o quê? — Lee murmurou da porta. — Ele é totalmente para
você. Não permita que seu medo te impeça de tentar, se há uma possibilidade
real de ser feliz. Afinal de contas, os planos sempre mudam e nos adaptamos
a eles ou sofremos. A decisão é sua.
Trish ficou olhando para a porta quando esta bateu fechada e jurou
para si mesma que não iria chorar. Ela também tinha sido crível por um
instante que ele era tudo que ela precisava, que era seu bonito conto de fadas.
Bem, inferno, acontecia que ele era um conto de verdade.
Umas quantas horas depois, ela ainda não se sentia melhor por mais
que desse o máximo de si para se distrair com o trabalho. Suas colegas não
tinham feito muitas perguntas sobre a outra noite e Trish as agradeceu em
mente por isso. Quando Maya a chamou no escritório dos fundos da P&C,
Trish sabia que levaria uma bronca e com razão. Ela sentiu que deveria se
explicar, no entanto, não fez e esperou que a chefe falasse quando se sentou
na frente dela.
— Você está bem?
Trish franziu o cenho para a pergunta.
— Sim, estou bem. Obrigada.
O escrutino de Maya a fez incomoda.
— O que a fez parar e sair da estrada?
Trish limpou a garganta.
— Uh... Me desculpe por isso, eu...
— Está se desculpando por quase ter sido atacada?
— Bom, sim, eu acho.
Maya assentiu devagar.
— Certo. Agora, me responda, por que saiu da estrada?
Trish lambeu os lábios. Cruzou e descruzou as pernas. Moveu-se para
trás.
— Um animal atravessou o meu caminho e eu acabei batendo nele —
disse, enfim, feliz que soasse tão natural.
— Um animal? Que tipo de animal?
— Um lobo — ela cedeu após uma breve hesitação. — Mas eu estou
bem. Realmente. E o lobo, também. A senhorita sabe, não foi nada demais.
Apenas um acidente sem maiores danos para os dois — acrescentou quando
Maya se manteve calada.
Ela estava se levantando quando a chefe se pronunciou.
— Como era esse lobo? Você conseguiu ver alguma característica
dele? — Trish meio que congelou, pregando a bunda de volta no assento. —
Eu tenho um amigo veterinário, que é especialista em lupinos e tem um
santuário aqui perto para eles, talvez você tenha topado com um dos lobos,
que ele cuida e que tenha conseguido escapar. Se lembrar de qualquer
característica dele, meu amigo poderia saber qual lobo é e rastreá-lo pelo
chip. Seria muito útil, sobretudo, se ele estiver ferido.
Ele está corrompido, por isso os olhos dele são vermelhos.
Na hora Trish não tinha sido capaz de ligar os pontos, mas agora ela
sabia que aquele não tivera sido um lobo qualquer, ele era um shifter como
Caleb.
— Estava muito escuro.
Maya deu a ela o que deveria ser um sorriso, mas saiu uma careta. O
que só provava que a mulher não sorria com frequência, provavelmente, nem
sabia como fazê-lo.
— Tudo bem. De qualquer forma, se lembrar de algo, me deixe saber.
— Okay.
— Pode retornar ao serviço.
Com um balde de alívio despejado sobre a cabeça, Trish retornou a
lanchonete e se concentrou em suas funções. Bem, quase. Ela era tudo sobre
apreensão enquanto trabalhava, jogando o olhar vez e outra para a porta,
rezando para que Caleb não fosse até a P&C, mas havia aquela parte de si
que ilogicamente queria que ele fosse até ela. Ele não foi, entretanto.
Naquela noite quando estacionou o carro na vaga na frente da cabana
e desceu indo em direção ao alpendre, um calafrio aquecido cortou através de
sua coluna e seus pelos arrepiaram. O coração bateu nas costelas. Trish
parou, num misto de temor, alegria e irritação.
Caleb estava lá. Como ela sabia era um mistério para ela própria.
Colocando a chave na fechadura, Trish destrancou a porta e suspirou
pesado.
— Vá embora Caleb — ela murmurou baixinho, antes de entrar e
fechar a porta, sabendo que ele a ouviria com todos aqueles sentidos
apurados.
Ele respondeu com um uivo triste, que afundou em seu coração.
****
Ele a tinha perdido. Não. Caleb se recusou a pensar desta forma. Ele
não a tinha perdido, senão lhe dado o tempo que ela precisava para digerir
sobre seu mundo, mas ele não a tinha perdido. No entanto, ele sentia como se
uma parte essencial de si tivesse sido arrancada dele.
Caleb podia entender seu ceticismo e medo. Sendo um shifter, ele
sabia que existiam muitas coisas neste mundo que desafiavam a razão,
mesmo para ele. Isso não fazia qualquer coisa menos real ou pior. O diferente
existia por uma razão e era apenas revelado aqueles que pudessem lidar com
ele. O Criador nunca estava errado sobre os prometidos.
Mas, Deus, doía.
Desolado, o lobo avermelhado ergueu a cabeça e uivou, um som triste
e pungente, que ondulou pela floresta e lentamente desapareceu no ar. Baixou
o tronco e deixou a cabeça repousar nas pastas estendidas enquanto seu olhar
se perdurava sobre a cabana.
Caleb ouviu o choro baixo de Trish, compartilhou sua tristeza e
chorou com ela. Sentia a separação em seus ossos, o rechaço enrodilhando
suas entranhas, cravando as garras em seu coração. Ele ansiava estar com ela,
sustentando-a e limpando as lágrimas dela. Melhor, desejava tocá-la com seu
amor e amá-la, até que tudo que ela pudesse sentir fosse apenas ele e
obtivesse a certeza de que ela era tudo para ele. Era a única para sempre.
Por horas e horas, ele permaneceu na mesma posição, oculto na
sombra da encosta, ouviu quando a respiração de Trish se acalmou e tornou-
se um ressonar, baixo e suave, quando ela adormeceu. Ainda assim, as
emoções dela vinham até ele em ondas. Esperando que um milagre
acontecesse e ela abrisse a porta, chamando-o de volta. Não aconteceu.
Ele não tinha dormido e nem tinha sono, nem fome, nem vontade de
fazer qualquer coisa, salvo ficar onde estava. A impotência era uma grande
cadela. Entretanto, o homem sabia que não tinha perdido a luta, ainda restava
alguns dias e ele lutaria até o fim.
E, se ela não o quisesse? Se não pudesse aceitá-lo de nenhuma forma?
Caleb empurrou as perguntas para baixo e recusou-se a pensar em
qualquer coisa naquele sentido. Ele aceitaria tudo dela, exceto perdê-la.
Forçou-se sobre as patas e, em seguida, correu para Snowville.
No quintal de casa, Caleb mudou para forma humana, ciente do
público em sua casa, mas ele não deu a merda quando rumou até o quarto,
ignorando o silêncio que se sucedeu com sua entrada. Fez uso do chuveiro e
enrolou uma toalha no quadril, antes de sair encontrando sua irmã sentada em
sua cama.
A fêmea o olhou com o semblante preocupado e apreensivo.
— Vocês conversaram?
— Você a ouviu. Ela precisa ficar sozinha — ele disse numa voz sem
emoção.
— Ela precisa de você e você dela — contradisse Raina.
Caleb soltou uma exalação forte, abaixou a cabeça e fincou as mãos
no quadril.
— Acha que não sei disso? Não posso forçá-la a aceitar o que eu sou,
tenho que lhe dar tempo para digerir sobre nosso mundo e sobre mim.
Raina se colocou de pé.
— Você não tem muito tempo, Caleb!
— O que quer que eu faça, Raina?
— O que qualquer shifter-lobo Alfa faria. Faça-a enxergar que não
podem ficar um sem o outro, nem que para isso tenha de agir feito um macho
das cavernas. Coloque-a em seus ombros, traga aqui e a submeta. Ela é sua
prometida, a negação a você não é uma alternativa.
— Há muito tempo deixamos de agir como estúpidos machos
arrogantes, tomando nossas companheiras sem explicações ou desculpas,
apenas impondo à rendição as fêmeas. — Ele buscou a cadeira ao lado da
cômoda e se sentou. — Muito me admira que justo você que conviveu tanto
tempo entre os humanos puros e que sempre reclamou sobre nossos costumes
arcaicos, me aconselhe isso. Não era você que pregava sobre os direitos das
fêmeas de escolher?
Raina deu os ombros, o semblante voltou-se entediado.
— Ás vezes tudo que uma fêmea precisa é da prepotência de um
macho que mostre a ela o que ela mesma não quer ver por pura teimosia. E
garanto a você que muitas das minhas colegas humanas não achariam ruim se
houvesse um macho que as tomasse assim, principalmente, quando o macho
em questão é o amor da vida delas. — Ele abriu a boca para contestá-la e
Raina ergueu a mão. — E não, por favor, não diga que Trish não te ama, ela
pode até não saber disso ainda, mas você é o amor da vida dela, bem como,
ela é o seu.
Caleb se inclinou para frente, com os cotovelos nas coxas e esfregou o
rosto com as mãos.
— Não há nada que eu possa fazer por agora, a não ser esperar. Eu já
estraguei tudo uma vez e não vou correr o risco dela se distanciar de mim
ainda mais. Ou ir-se.
Raina plantou as mãos na cintura redonda e olhou com irritação.
— Francamente, Caleb! Nunca pensei que você, justo você, seria tão
complacente quando o impulso da febre do acasalamento agarrasse suas
bolas. Tudo que sempre ouvi de você desde que éramos filhotes era sobre
como seria quando encontrasse sua prometida, e agora, está aí todo
cabisbaixo como se não pudesse fazer nada mais que se lamentar e lamber
suas feridas.
Os lábios dele se enrolaram e um grunhido baixo estremeceu seu
peito.
— Não estou desistindo Raina.
— Mas também não está fazendo nada.
Caleb a olhou por um longo momento, sem qualquer emoção, muito
consciente do porquê sua irmã estava tão apreensiva, e ele não poderia tirar a
razão dela. Ele mesmo se sentia a beira do desespero. Ele não iria aceitar a
rejeição de Trish. Caleb simplesmente não podia.
— Acha que não quero ir lá e fazer justamente o que nossos
antepassados faziam? Mas não quero que Trish me odeie. Eu sei, ela irá me
aceitar porque é isso que a alma e o corpo dela quer, mas e ela? Trish irá cair
de amores por mim, se eu tomar a decisão por ela?
— Eu sei de uma coisa, fêmeas humanas sonham com um conto de
fadas, com um amor verdadeiro que durará para sempre e elas buscam isso
incansavelmente. Você tem que demonstrar a Trish que é o conto de fadas
dela. Ela não vai te negar, nem te odiar, se a fizer enxergar o amor que ela
tem em mãos e que isso é verdade. Tão real quanto nossa existência.
— Você faz parecer tão fácil — ele comentou com um sorriso sem
humor.
Raina soltou um risinho.
— Não é. Ainda mais se tratando de humanos. Sou grata que meu
companheiro é um shifter, do contrário, eu acho que teria feito muita merda.
— Ela se aproximou dele e pousou a mão em seu cabelo, acariciando-o. —
Eu sei que tudo ficará bem e que você fará a coisa certa. Trish vai te aceitar,
meu irmão. Não há outra opção. Nem que pra isso eu tenha que ir até ela e
trazê-la para você pelos cabelos. Ou eu posso chorar na frente da porta dela,
sabe que estou muito boa nisso. Fêmeas grávidas têm um excelente apelo
emocional.
Ele riu e tomou a mão dela, beijando-a em respeito e a olhou com
carinho.
— Obrigado, mas acho que posso cuidar disso sem que use seus
artifícios hormonais.
— De qualquer maneira, eles estão a sua disposição.
A oferta de Raina era tentadora. Acontecia que ninguém poderia
interferir no acasalamento, e mesmo que fosse permitido, ele jamais poderia
aceitar. Precisava tomar conta da situação por suas próprias mãos, mostrar-se
honroso para sua prometida. Eram companheiros predestinados a ficarem
juntos. Trish iria entender isso, talvez, o tempo longe dele servisse para ela se
dar conta que, apesar de suas particularidades, ela não poderia viver sem ele.
Forçando uma paciência que o lobo e o homem não possuíam, Caleb
esperou por ela.
Dois dias depois eram mais do que ele podia aguentar.
****
Não importa que ela não o visse, Trish sabia que Caleb estava lá,
tácito nas sombras da floresta, esperando, cuidando, dando-lhe seu tempo.
Caleb honrou sua palavra sobre não desistir dela. Trish teve de dar isso a ele
e admitir a si mesma que sua atitude, embora a chateasse, a fez se sentir
segura... e agradava um pouco. Certo. Estava mentido. Agradava muitíssimo!
A princípio, ela quis negar tudo aquilo, dizer a si mesma que estava
imaginando uma fantasia, contudo, a imagem da mudança dele na sua frente
era muito sólida para que ela pudesse negar. Os dias solos fez a sobrecarga
em seus nervos diminuir e com isso ajudou-a a digerir o pacote de
informações surreais sobre ele, mas não tinham feito nada para ajudá-la a se
sentir menos enganada e traída. Ainda achava tudo uma loucura e ela queria
acreditar na manipulação de algo maior para dar vazão aos seus sentimentos,
no entanto, ela sabia ser mentira.
E, Deus, ela sentia a falta dele, todos os dias.
Em introspecção, Trish concordou que não se tratava de nenhuma
magia sobrenatural, seus sentimentos eram verdadeiros, ele estava em seu
coração e sua ausência a fazia doente.
Ela quis odiá-lo pela omissão, porém teve de dar razão a ele. Mesmo
pelas visitas na calada da noite, ela não era capaz de odiá-lo. Estava irritada
sim, todavia, não era burra.
Eles não estavam juntos, mas morria pelo toque dele, ansiava pelos
braços poderosos ao seu redor, pelos beijos que roubavam sua alma. Sonhava
dormindo e acordada, com Caleb levando-a profundamente, lhe fazendo amor
até que ela estivesse inativa para o mundo.
Mas como poderia aceitar o que ele era e conviver com isso?
Fantasiar era uma coisa fácil, mas a realidade era muito diferente, e
ela não estava certa se poderia lidar com isso. Eles eram diferentes... e havia
o sentimento de enganação. Ele tinha que ter lhe contado a verdade de início,
lhe dado uma escolha, qualquer coisa, exceto omitir. Embora soubesse que
isso não faria nenhuma diferença, ela ainda se sentiria horrorizada.
Diabos. Trish estava uma bagunça.
Zangava porque todos os seus planos de uma vida tranquila e pacata
em Inuvik se desfizeram, e lhe deu mais do que ela supunha ser capaz de
aguentar.
Não era somente o fato dele ser uma criatura dos contos, Caleb tinha
dito que ela era sua companheira prometida. Ainda não tinha ideia do que
isso significava, nem se a agradava.
Dois toques na porta a tirou de suas ruminações. O coração disparou
do nada e seu rosto franziu. Uma estranha agitação se concentrou em seu
estômago e revolveu suas entranhas.
Ela não estava pronta para falar com ele ainda.
Decidida a mandá-lo embora, Trish foi até a porta, abrindo-a
enquanto falava:
— Caleb, eu já disse... — ela travou, a face empalidecendo. — Você?
16
SOMBRAS DO PASSADO
Trish não podia estar vendo um fantasma na sua frente e seus olhos
funcionavam bem. Infelizmente, o homem sorridente na frente de sua porta
estava muito vivo para um fantasma.
— Caleb? Quem é Caleb?
Trish piscou. Uma. Duas. Três vezes.
— O quê? Como você...?
O tipo alto e louro, de olhos castanhos amendoados e porte atlético,
suspirou.
— Não foi fácil, confesso. Mas, enfim, consegui uma pista sobre seu
paradeiro. — O sorriso conquistador minguou e seus olhos ganharam um
toque de repreensão. — Foi feio o que fez Trish. Ir embora sem dizer adeus a
ninguém, sem me dar uma chance de explicar. Deixou-me louco de
preocupação. O que pensou vindo para este lugar no fim do mundo?
Aparentemente, não era tão fim do mundo assim, uma vez que o
bastardo tinha encontrado-a. Trish mal era capaz de acreditar que ele tivera a
coragem de ir atrás dela depois de tudo que lhe fez. Mas o que poderia
esperar de um tipo asqueroso como ele?
— O que está fazendo aqui, Stephan?
Seu ex-noivo sorriu.
— Eu vim por você, querida.
— Não me chame assim! — ralhou entre os dentes. — Você dentre
todos os homens existentes no planeta é o único que não tem direito de me
chamar desta forma.
Ele não lhe deu atenção.
— Me convide para entrar, querida, estou congelando aqui. É muita
falta de educação tua me deixar nesse frio congelante quando vim de tão
longe por você.
Ele achava mesmo que sua perseguição era uma prova de amor?
Todas aquelas emoções escuras, que estavam enterradas, bateram nela
com uma bola de aço. O zumbido de fúria surgiu em suas veias, fazendo seu
coração trabalhar mais rápido.
— Vá embora, Stephan. Não há nada aqui para você, e eu,
certamente, não tenho nada para falar contigo. Se não pegou a dica que deixei
quando parti, eu te digo isso com todas as letras: não quero te ver nunca mais
na minha vida!
Ela tentou bater a porta fechada na cara dele, mas Stephan colocou o
pé entre a fresta aberta, e com um empurrão eficaz, a abriu e passou por ela.
Trish olhou-o com a boca aberta, desejando seriamente bater no bastardo até
que não lhe restasse forças.
— Belo lugar! — Stephan comentou distraído, se fazendo dono do
ambiente enquanto mirava em volta com um olhar esnobe e fez um
acréscimo. — Nada comparado ao nosso apartamento em Nova York, mas eu
poderia viver aqui.
A expressão de Trish aprofundou encolerizada ao lado da porta
aberta.
— Você não vai viver em qualquer lugar próximo a mim, Stephan.
Saia da minha casa agora mesmo! Do contrário, eu vou chamar a polícia e
pedir uma ordem de restrição contra você.
Stephan girou de frente para ela e a fixou.
— Quem é Caleb? Um passatempo?
— Saía!
Stephan apenas ficou lá, mirando-a, numa postura indolente.
— Ainda com raiva do meu deslize? Pensei que este tempo longe
tivesse servido para se acalmar e entender meu lado. Vejo que não foi assim,
não é?
Trish apertou as mãos em punhos.
— Você foi um maldito! A pior coisa que aconteceu na minha vida.
— Não era assim que você pensava meses atrás quando fizemos
planos para nos casar.
— Isso foi até eu descobrir que você é um porco crápula sem um
grama de caráter.
O rosto dele suavizou e Stephan tentou se aproximar, mas Trish se
afastou com a face hostil.
— Querida, eu sei que fui um tolo e te machuquei. Não sabe o quanto
me arrependo por meu erro bobo. Foi um vacilo sem importância. É a você
quem eu amo, Trish. Eu mudei, querida, não sou mais aquele homem. Juro-
lhe isso. Dê-me uma chance, por favor.
Trish soltou um riso nervoso, que soou histérico.
Matar é crime, garota.
Seus braços cruzaram sobre o peito enquanto os olhos o fuzilavam.
— E isso foi quando Stephan? Quando pararam de rir da minha cara?
Ou quando ela não tinha mais o meu dinheiro para bancar seus luxos? — Ele
abriu a boca e Trish o calou com a mão erguida. — Não, não responda. Nós
dois sabemos a resposta. É um encostado mentiroso! Mas sabe o quê? Eu não
sou mais aquela Trish estúpida que acreditava em suas mentiras.
— Realmente. Você está diferente. Mais selvagem. Eu gosto.
O corpo dela empertigou ante o descaramento do tipo. A vontade de
esfolá-lo vivo correndo-a até os ossos. Era duro lembrar que assassinato dava
cadeia.
Quando Trish não respondeu, porque a raiva embrulhava as palavras
em sua língua e fazia seu estômago enjoado, Stephan adulou:
— Vamos lá, Trish! Não pode dizer que não sentiu minha falta e que
não sente mais nada por mim. Compartilhamos uma vida juntos para acabar
assim. Um erro não deveria pesar tanto quando tivemos uma história bonita,
que pode dar muito certo, se você ainda quiser.
As palavras dele incendiaram seu temperamento e ela explodiu.
— Você me traiu com a minha própria mãe, seu maldito!
A imagem ainda queimava em seu cérebro e fazia seu peito sangrar.
Não por ele em tudo, mas pela mulher que chamava de mãe. A decepção era
demais. Nunca seria capaz de perdoá-la.
— Foi ela que deu em cima de mim — acusou ele. — Eu não sabia
que ela era sua mãe até o jantar do nosso noivado.
— Pare de ser tão covarde e sujo, Stephan! Ao menos honre suas
bolas e tenha a coragem de dizer a verdade uma vez nessa sua vida miserável.
Você sabia sim quem ela era, bem como, ela sabia quem você era. Os porta-
retratos espalhados pelo meu apartamento eram bem claros e, mesmo se
vocês não soubessem um do outro, ainda assim eu não te perdoaria. Você me
traiu e continuou traindo, mesmo depois do jantar!
Os pilantras. Eles eram perfeitos parceiros sanguessugas. Dois
oportunistas, que Trish acreditou que lhe amavam, enquanto eles a traiam
pelas costas sem um pingo de remorso.
Trish estava em ascensão no trabalho quando conhecera Stephan,
ainda sem saber que ele era o filho do CEO da empresa em que trabalhavam.
Ele tinha sido um sonho, o cavalheiro perfeito, levando-a para encontros
românticos e suportando suas longas conversas sobre o mercado financeiro
sem se chatear. Sempre muito gentil, educado e charmoso. Ela tinha caído
por ele, cativa em seus galanteios e pela falsa imagem de bom moço, que ela
acreditou que ele era. Mesmo as fofocas nos corredores sobre como Stephan
era irresponsável e, por isso, seu pai cortou seus luxos e o fizera trabalhar na
empresa, não foram suficientes para quebrar o feitiço, até o dia que o
encontrou na cama deles com Doratella.
— Ela insistiu. Eu tentei dizer a ela... De fato, eu disse que não
podíamos continuar com aquilo, mas Doratella me cercou. Sou homem. Caí
em tentação — Stephan retorquiu, com um encolher fragilizado de ombros.
Trish lhe olhou com asco, a ânsia contorcendo seu estômago e
ameaçando vir sobre seus próprios pés a qualquer momento.
Como ela podia ter se apaixonado e pensado em se casar com aquele
bastardo? Como pôde não enxergar quem ele realmente era?
— Você não é um homem, Stephan, senão um verme nojento. Eu
odeio você e aquela puta imunda. Nunca mais na minha vida quero ver
nenhum dos dois!
E pensar que ela tivera trabalhado duro, se abdicando de pequenos
prazeres para si mesma, tudo para deixar Doratella em boa situação,
mantendo seu conforto e luxo quando a cadela tinha dado conta de acabar
com o último centavo que seu pai deixara. Sua sorte era a poupança para seus
estudos, que Henry fizera para ela às escondidas, do contrário, não poderia ter
se formado na universidade, porque a mulher que chamara de mãe era uma
dondoca consumista e preguiçosa, que acreditava que o mundo lhe devia.
Stephan deu um passo para ela.
— O ódio não está muito longe do amor. Eu aprendi a lição.
— Eu também.
— Podemos recomeçar, querida. É por isso que estou aqui. Fui um
completo idiota e me arrependo muitíssimo por machucar você. Mas não há
qualquer outra em minha vida que não seja apenas você, Trish. Acredite em
mim, é a única que quero.
Trish deu uma risada forte que sacudiu todo seu corpo.
Inacreditável.
— Você não somente arruinou minha vida, como também o meu
emprego — rispidamente, ela disse. — Eu trabalhei tão duro, e você sabia,
ainda assim sua ambição, sua falta de caráter e seu egoísmo foram maiores
que qualquer grama de decência que pudesse haver em você. Ou já se
esqueceu que também me ferrou na empresa? Os presentes de Doratella
comprados com o meu dinheiro não eram suficientes para você... Sabe o quê?
Eu tenho pena de você.
O bastardo era um tremendo ganancioso. Não obstante, ele tinha feito
desvios na empresa, e quando a sujeira esteve prestes a explodir, Stephan
tinha dado um jeito de fazer parecer como se ela tivesse roubado. O caso
tinha sido abafado por seu pai em consideração ao longo noivado e a pedido
do próprio Stephan, como se ele tivesse lhe fazendo um grande favor quando
era ele próprio o culpado. Deus, o homem era um crápula por excelência.
— Meu pai me deserdaria se soubesse que tinha sido eu. Não houve
maiores danos. Eu cuidei de tudo, não cuidei? Foi de uma maneira errada,
mas acredite, estava pensando em nós, no nosso futuro. E eu realmente não
roubei. A Companhia é minha.
— Não Stephan, a Companhia é do seu pai. Você é apenas um abutre
trapaceiro, esperando ele morrer para tomar o que ele conquistou. Isso porque
você é um incapaz.
O maxilar dele enrijeceu e a mão correu pelo cabelo.
— O que tenho que fazer para que possa me perdoar e me dar uma
chance de mostrar que eu mudei? Eu faço qualquer coisa.
— Nada do que fizer poderá mudar a imagem que tenho de você,
porque eu jamais vou te dar qualquer chance de estar próximo a mim,
novamente. Agora saía da minha casa, cacete!
— Eu vou, mas não da cidade — comunicou. — Vim aqui com um
propósito e se me conhece tão bem, sabe que eu não vou desistir até tê-lo
alcançado. — Boquiaberta, Trish o assistiu se encaminhar para a porta.
Stephan a abriu, mas antes de sair, ele se voltou para ela com a expressão
séria e pensativa. — A propósito, você ainda não me disse quem é Caleb?
Esqueceu-me tão rápido?
— Te esquecer? Não, não fiz. Até porque decepções como você
devem ser lembradas para que não caia em outra, embora eu duvide que haja
no mundo outro homem tão asqueroso quanto você. Mas te enterrei como
homem quando agiu como um grande filho da puta comigo.
Ele pareceu chocado por um momento.
— Não me ama mais?
Ela ergueu o queixo, olhando-o por cima, juntando a raiva como se
fosse uma armadura.
— Sabe Stephan, — Trish começou devagar, o controle ajustado nos
punhos. — Acredito que nunca te amei... Sim, é isto. Você foi um sonho
bonito, eu confesso. E houve uma época que eu realmente pensei que você
fosse o homem da minha vida, mas ao olhar para você agora, para o
verdadeiro Stephan, eu percebo o quão iludida estava. Você tem muito boa
aparência, é culto e educado. Essas são coisas que uma mulher preza. No
entanto, uma mulher precisa de mais. Mais que um simples cara bonito e
vazio. E você não tem nada a oferecer para uma mulher além de seus
galanteios e sua boa aparência.
Ele moveu-se para ela, agarrando-a pelos ombros antes que pudesse
reagir.
— Mudará de ideia quando me der uma chance. — E acrescentou
firme. — Eu errei, mas estou disposto a reparar meu erro contigo.
Trish plantou as mãos no peito largo masculino e tentou empurrá-lo.
— Me solte agora mesmo, Stephan!
— Você está errada. Apenas está com raiva, mas ainda sente algo por
mim.
— Eu não...
As palavras foram cortadas pela boca dele pressionando sobre a sua.
Trish conseguiu se desvencilhar dele por um efêmero momento e lhe deu
uma bofetada. Mas o ato que teria feito qualquer homem inteligente se
afastar, apenas o estimulou. Agarrando-a antes que pudesse ir mais longe ou
acertá-lo novamente, Stephan a beijou outra vez. Ela forçou as mãos contra o
peito dele, porém não podia lutar com ele. Stephan era mais forte. Uma de
suas mãos segurava a cabeça dela enquanto ele tentava empurrar a língua
entre a costura de seus lábios.
A bílis subiu, o corpo rechaçando o contato, mas Trish manteve os
lábios rigidamente trancados, esperando que ele percebesse que não iria a
nenhum lugar com aquilo.
Um momento mais tarde... Um minuto... Possivelmente, uma vida
inteira depois, Trish ouviu o rosnado bestial e a outra coisa que sabia era que
Stephan estava voando para o chão.
Com o coração pulsando nos ouvidos, ela mirou Caleb e prendeu o
fôlego por um infinito segundo. Ele parecia feral e muito, muito sombrio. A
expressão. O corpo. Era tudo sobre uma massa de músculos rígidos como
rocha, enviando agressividade em ondas brandas pelo ambiente. Caleb era
letal, um macho pronto para fazer justiça com suas próprias mãos. Contudo,
nada disso era para ela, senão para o outro homem ainda no chão, com as
costas apoiadas em seu balcão. A ela era somente destinado aquele pulso de
dor funda, cavando em seu íntimo, lentamente.
— Caleb não é o que está pensando — ela disse, consciente da frase
clichê dos culpados; rezando para que o vínculo realmente dissesse a ele que
ela não mentia.
O rosnado dele reverberou dentro dela. Caleb não a olhou. Sua
atenção era de Stephan.
Enquanto limpava o sangue da boca, Stephan murmurou:
— Este deve ser o Caleb, hein?
Caleb tinha um olhar mortal. A tensão cresceu tanto que poderia ser
cortada com uma faca enquanto os dois homens se encaravam.
— Quem é você? — Caleb questionou num timbre profundo e
exigente, irreconhecível.
— O homem dela — Stephan disse, prepotente, se levantando.
Se possível, Caleb enrijeceu mais, os músculos ondulando
poderosamente sob a pele quando ele fechou as mãos em punhos, até que os
nódulos de seus dedos estavam esbranquiçados. A veia no pescoço dele
começou a pulsar e os olhos diminuíram perigosos. O maxilar trincou.
Trish fuzilou Stephan com o olhar.
— Cale a maldita boca, Stephan! — Ela girou o olhar para Caleb e
deu um passo para ele com a mão esticada, mas ele se afastou de seu toque e,
Deus, doeu em suas entranhas. Engolindo a dor pelo rechaço, Trish tratou de
se explicar. — Ele não é meu homem. É só um porco bastardo que tive a
infelicidade de conhecer enquanto vivia em Nova York.
Caleb assentiu silencioso, sua expressão ainda não lhe dizia nada.
— Chamou ele aqui?
— Não.
— Ele está aqui contra a sua vontade?
Ela assentiu e foi tudo que bastou para Caleb estar sobre Stephan,
novamente, agarrando-o pela gola do casaco, como se o tipo não pesasse
mais que um saco de batatas, e no outro instante, rosnou na cara dele. Um
som animalesco e primitivo, que ela jurou que viu seu ex-noivo perder a cor e
se tremer todo, antes de ser arrastado para fora da cabana.
Um carro foi ligado e saiu, e então, nada.
Em choque, Trish correu a mão na testa e no cabelo, respirou fundo e
soltou, lentamente. A lei de Murphy era sua nova grande melhor amiga,
pensou estarrecida, ainda olhando para a porta fechada. Esperando que Caleb
voltasse. Ele não fez, no entanto.
Dez minutos depois, ele ainda não tinha dado sinal de vida, e ela
começou a se preocupar andando de um lado para o outro, indo até a janela
em intervalo de tempo.
Não se tratava de Stephan, senão de Caleb.
Trish não gostava das possibilidades rondando-lhe a mente,
sobretudo, quando o viu tão alterado. Aquilo não podia ser bom. O aperto no
seu intestino somente a fez mais nervosa.
Seguiu para a cozinha e encheu a chaleira de água, e, em seguida,
levou-a ao fogo. Chá sempre a acalmava, não importasse a situação.
Acontecia que ela precisava de uns bons litros se quisesse abrandar seus
nervos. Quando a chaleira apitou, Trish preparou um pouco de Earl Grey em
uma caneca, assoprou e tomou um sorvo generoso.
Quando a porta se abriu e Caleb apareceu, Trish baixou a caneca para
o balcão e trancou seu olhar no dele, com o coração disparando. Ele fechou a
porta atrás dele sem se mover, ainda assim tinha toda aquela energia poderosa
emanando dele, atingindo-a em suas entranhas.
A tensão entre eles cresceu quando nenhum dos dois disse qualquer
coisa enquanto os olhos se confrontavam. Nervosa pela forma que ele a
mirava, como se ela fosse sua presa e ele estivesse esperando um vacilo seu
para atacar, Trish contornou o balcão devagar indo para o lado contrário da
mesa. Os olhos dele seguiram silenciosos. Não era medo em tudo, ela
percebeu. Caleb não iria machucá-la, mesmo que parecesse muito intenso.
Seu sangue correu mais rápido e a antecipação fez sua barriga tremer.
O chiado crescente dentro de si em espera. Trish lambeu os lábios e quebrou
o silêncio.
— Caleb o que viu... ah, sobre aquele beijo não é como se pareceu,
quero dizer, ele me beijou, mas eu não... Está me ouvindo? Eu não o beijei.
Ele... ele roubou isso, mas...
O grunhido profundo vibrando do peito de Caleb saqueou suas falas.
— Ele disse que você é dele.
— Eu não sou — ela murmurou baixinho.
Os olhos dele resplandeceram em ouro líquido, o fogo possessivo
brilhando neles.
— Não, você é minha. Só minha.
Apanhada despreparada, Trish não teve tempo para reagir quando ele
moveu-se mais rápido que seus olhos debilitados podiam acompanhar,
capturando a parte detrás de sua cabeça e abaixou a sua, tomando seus lábios
num beijo quente. Sofrido, saudoso e punitivo. No início Trish resistiu, mas
quando ele fez aquele som baixo e passou a língua na costura de sua boca, e
beliscou seus lábios com os dentes, ela suavizou contra ele e começou a
beijá-lo de volta.
Ela não deveria, repreendeu a si mesma.
No entanto, não podia afastar-se do seu assalto apaixonado, da paixão
incandescente crescendo entre eles. O sabor delicioso dele explodiu em sua
boca, bateu em seu cérebro e se misturou ao seu sangue descendo como cera
quente até seu núcleo, desfortalecendo sua resistência. O peso da separação
de repente era demais. Tinha sido tanto tempo...
Caleb grunhiu. O cheiro de outro homem nela quase o deixou insano.
O impulso de marcá-la rasgou-o por dentro. Rosnando sobre os lábios
femininos, Caleb talhou atormentado:
— Ele colocou as putas mãos em você, a boca na sua. Cheira a ele. Eu
preciso...
Trish suspirou contra a boca dele, e Caleb tomou isso como um
incentivo para aprofundar o beijo. Não havia nenhuma exploração gentil. Era
faminto, carnal, tal como o homem que a segurava com posse e autoridade. O
comprimento de seu corpo estava colado ao seu. O braço dele estava a sua
volta, os corpos compartilhando o mesmo calor, a mesma batida de coração,
tal como a fome. Soltando as mãos do peito masculino, ela agarrou o cabelo
sedoso e o segurou com urgência, angulando sua boca para ter mais de sua
língua.
Saudade e desejo bateram nela não deixando espaço para reservas ou
recusas.
O aroma que se desprendia dele e aquele gosto delicioso de sua língua
fez maravilhas dentro dela, em seus sentidos enfraquecidos. Levantando uma
névoa poderosa de luxúria.
A mão que ele mantinha em seu cabelo desceu para sua bunda e num
impulso a ergueu. Trish enrolou as pernas ao redor dele, precisando que ele a
tocasse nos lugares certos e gemeu alto quando teve sua buceta nivelada
contra a ereção pesada, que ele ostentava. Umidade vazou de seu núcleo,
revestindo suas dobras e o fundo da sua calcinha quando ele balançou os
quadris e grunhiu de novo, gemendo em sua boca com o prazer do ato.
Com uma mão, Caleb subiu sua blusa liberando um seio carente e o
tomou na boca. Os lábios cercaram o mamilo tenso, rondando a língua sobre
ele, antes de chupar forte. Então se moveu para o outro. Trish arqueou as
costas com o seu toque e murmurou de prazer. Um estremecimento
atormentou o corpo dela enquanto ele trabalhava em seus seios a sua maneira.
Sua vagina latejava e apertava quanto mais excitada ela ficava.
— Por favor — ela se viu dizendo quando ele beliscou um mamilo
com os dentes.
Ele rosnou em aprovação.
— Eu sei o que quer e vou te dar isso, querida.
Caleb mordeu os mamilos, estirando-os, e então, se amamentou,
acalmando-os com a língua enquanto moía seu pênis contra a buceta dela,
somando as sensações deliciosas até que ela estava queimando de dentro para
fora. Suas mãos e unhas ficaram impacientes sobre o corpo masculino indo
para todas as partes. Murmúrios e ofegos de prazer encheram o ar.
Em uma mão, Caleb envolveu seu rosto para que os olhos se
confrontassem. Ele não fez nada para esconder a fome resoluta no fundo do
amarelo real. Ela o olhou com encanto através dos azuis pesados de desejo,
autoconsciente de que sua fome por ele estava em holofotes.
Deus, ele era quente e a fazia arder.
— Eu quero você, Trish — ele gemeu. — Por favor, não me diga para
parar.
— Eu não quero que pare — ela sussurrou num tom irreconhecível
para ela mesma, um décimo mais baixo, rouco e sedutor. — Me tome, Caleb.
Outro rosnado baixo escapou dele antes de capturar seus lábios em
um beijo que foi mais exigente, mais carnal, do que os outros. Devorou e a
consumiu. Uma dor profunda aumentou dentro da sua buceta, fazendo o
aperto de seus dedos sobre os músculos de Caleb mais forte.
Quando a teve ofegante, arqueando-se contra ele, Caleb a colocou no
chão, girando-a e empurrou inclinada sobre a mesa, caindo de joelhos atrás
dela, e no outro momento, ela estremeceu quando sentiu sua calça e a
calcinha serem rasgadas para fora de seu corpo.
Ela esperou pelo medo, pelo rastro de pânico, principalmente, quando
sentiu algo nas pontas dos dedos dele pinicarem sua carne. Garras. Porém,
uma angustiante expectativa anulou qualquer receio quando ele agarrando as
bochechas de seu traseiro, separou-as. Ela necessitava dele lá.
— Eu preciso ter um gosto de você — ele grunhiu como se esperasse
por uma permissão.
Nas pontas dos pés, Trish empurrou contra ele. Seu coração começou
a trovejar nas orelhas, o corpo se apertando em antecipação enquanto
esperava Caleb tocá-la onde mais doía.
O fôlego morno foi ao mesmo tempo um bálsamo e um aditivo
poderoso quando ele beijou suas dobras molhadas antes dos lábios fazerem.
Um gemido alto misturado a um murmúrio de prazer irrompeu sua garganta e
explodiu no ar, antes que ela pudesse agarrá-lo de volta. Outro rosnado baixo
retumbou de Caleb pouco antes dele lamber suas dobras debaixo para cima.
Ele então a devorou, empurrando a língua em seu sexo. Trish gemeu,
movendo-se contra ele enquanto Caleb lambia seus sucos com profuso
deleite. Ele alternava entre lamber e sugar seu clitóris, até que ela sentiu o
clímax se construir lá no fundo numa velocidade assustadora. Caleb rosnou
forte, novamente, o som vibrando no seu eixo de nervos, o que foi suficiente
para enviá-la ao limite. Trish derreteu sobre os lábios dele, caindo numa pilha
de sensações luxuriosas enquanto um gemido rasgado atravessava sua
garganta.
Lutando para respirar e deter os tremores, ela fechou os olhos e abriu
os lábios enquanto absorvia o prazer da língua dele continuar balançando
entre as dobras de seu sexo. Tudo nele parecia mais intenso, mais voraz,
talvez, porque ele não tivesse que esconder-se dela mais. Não importava
contanto que ele continuasse lhe dando prazer da forma que fazia.
Tinha tido um orgasmo, mas isso não queria dizer que estava saciada.
Precisava dele dentro dela, afundando a longitude grossa em seu canal,
preenchendo o vazio doloroso.
— Por favor, Caleb — ela chorou. — Quero seu pênis dentro de mim.
Com uma última lambida em seu sexo, Caleb se levantou atrás dela e
trabalhou no zíper da calça, em seguida, amontoando-a para baixo o
suficiente para ter seu pênis livre. A ponta inchada do eixo dele correu por
suas dobras molhadas, e então, fez pressão contra sua entrada um pouco antes
dele empurrar todo o caminho para dentro num golpe forte e profundo,
enchendo-a até a capacidade. Sem interlúdios. Sem retenção. Ela gemeu alto.
Ele rosnou, firmando o aperto de posse em seu quadril quando retrocedeu e
empurrou de volta, mergulhando mais fundo. Dentro e fora. Tantas e tantas
vezes. Estocadas firmes e vigorosas aumentando gradativamente. Os lábios
dele pousaram em suas costas, com beijos e mordidas fracas, que ela sentia
estimular sensações dentro da sua vagina. Trish começou a balançar para trás,
recebendo cada investida. Isso arrancou um gemido de Caleb.
Ele aliviou o aperto em seus quadris e ela se empurrou para cima,
com os braços esticados e as mãos espalmadas no tampão de carvalho da
mesa. Enquanto Caleb acariciava seus flancos, Trish sentiu as garras contra
sua pele. Perdida no que ele fazia com ela, a sensação só parecia aumentar o
prazer. Ele bateu nela mais rápido, mais fundo, mais duro. Um ritmo
animalesco que ela não pôde seguir, mas sentiu cada estímulo ondulando seu
útero, cimentando outro orgasmo.
Caleb abaixou uma mão para agarrar seu quadril quando usou a outra
para enrolar um punhado de seu cabelo no punho, e então, ele puxou para
trás, deixando-a curvada em um arco. Ele exigiu seus lábios, enfiando a
língua dentro de sua boca, conduzindo o beijo arrasador.
Por aquele espaço de tempo enquanto a boca dele reivindicava a sua e
o pênis dele martelava frenético no mais profundo do seu corpo, ela se
esqueceu de toda a confusão, de toda a mágoa.
Não havia shifter. Fantasias surreais. Eram apenas um homem e uma
mulher. Dois amantes saciando a fome luxuriosa que os fazia arder na alma.
De fato, se sentia em casa.
Caleb recuou e moveu-se para o outro lado, onde a marca de repente
formigava e latejava. Ele a mimou com os lábios, língua e dentes. Um frisson
se apoderou do corpo de Trish em expectativa e estalou nas pontas de seus
nervos, deixando-a no limite. A mão dele em seu cabelo desceu para o centro
de suas pernas e trabalhou sobre o clitóris.
Insuficiente.
Ela não podia ter o bastante, nem mesmo quando ele flexionou os
joelhos para levá-la em outro ângulo mais profundo e começou a bater mais
duro. Inchando. Esticando seus músculos vaginais a cada penetração,
atingindo seus pontos sensíveis, que faziam seus olhos ficarem em órbita.
Caleb beliscou a marca com as pontas afiadas de suas presas, brincando com
ela, mas não a mordeu. Trish choramingou e dobrou a cabeça para o lado,
instintivamente. Queria que ele a mordesse, embora se recusasse a admitir
isso. Ele não fez, no entanto.
— Faça — ela se rendeu com um ofego sofrido.
Ele rosnou no fundo de sua garganta. A marca latejou forte, fazendo-a
se contorcer. Trish não era capaz de fazer nada além de desejar as presas dele
em sua pele, a conexão brilhante entre eles permitindo tocá-lo no mais
íntimo. A ambição era quase dolorosa.
— Por favor, Caleb, faça agora. Morda.
— Minha!
— Oh, meu...
Suas palavras se converteram num gemido feminino de puro êxtase
quando ele obedeceu, trancando os dentes em sua carne. Mantendo-a presa no
lugar enquanto outro orgasmo rasgava através de seu corpo, numa explosão
completa e brilhante, que desmontou sua mente. Ela endureceu, e então, se
arqueou com violência. Suas paredes internas mastigaram o pênis de Caleb,
pulsando ritmicamente em torno do seu eixo, ordenhando cada polegada por
igual enquanto a luz brilhante se estendia sobre ela, cegando-a,
momentaneamente.
Caleb se voltou frenético, metendo em um ritmo alucinante. Seu pênis
crescendo tanto e pulsando ao mesmo tempo. Até que com uma última
investida tempestuosa ele se trancou em seu interior e tirou as presas dela,
uivando seu próprio clímax quando começou a gozar, com jorros de sêmen,
regulares e abundantes, enchendo-a. Tão apertada. Molhada. Dolorosamente
prazeroso. Os tremores dele a levaram para outro orgasmo e ela gritou com
ele à medida que aquela conexão vertiginosa entre eles se abria mais intensa
do que antes. Mais sólida.
A cabeça dele caiu para frente, descansando em seu ombro enquanto
ele seguia duro e latejante em seu interior, provocando pequenos
estremecimentos de prazer. Abraçando-a. Caleb estava tão ofegante quanto
ela. Trish sabia que não havia modos dele se retirar dela então, ficou quieta,
esperando-o desinchar enquanto ela aguardava por um pouco de normalidade
no processo.
Ocorreu que não podia negar a atração que sentia por ele. Eles eram
bons nos negócios de prazer e era muito fácil se imaginar com ele. Mas,
embora soubesse que havia mais, um sentimento que a fazia se sentir em casa
quando estava nos braços dele, aquele momento de prazer não a tinha feito
mudar em tudo. Não, ele apenas serviu para dificultar mais as coisas, porque
sabia que Caleb iria exigir dela o que ela não estava pronta para lhe dar.
Talvez, nunca estivesse...
— Não vá aí — ele sussurrou, assustando-a.
— Leu-me?
— Suas emoções mudaram — ele explicou, calmamente.
Trish relaxou um pouco, todavia, não disse nada.
Caleb lambeu a marca e seu corpo reagiu com pequenos espasmos ao
redor dele. Ele gemeu contra sua pele intensificando a sensação, e então,
inspirou profundo e grunhiu baixinho em satisfação. Se não estivesse louca,
ela diria que ele estava feliz com o aroma que ele tragou dela.
Ele plantou um beijo carinhoso sobre a marca.
Trish respirou fundo.
— Venha para casa comigo, querida — ele pediu num tom adulador.
— Ou me permita estar aqui com você. Lá ou aqui, não importa. Só acabe
com esse sofrimento e me deixe ficar ao seu lado. Eu sinto sua falta pra
caralho. Não sente a minha falta, também?
Seu eixo desinchou o bastante para ele se retirar. Ela trancou os
dentes se recusando a fazer qualquer ruído e movimento para agarrá-lo de
volta quando o vazio desconfortante fez doer seu corpo quando ele puxou
para fora. O esperma dele escorreu por suas coxas e ela não precisava olhar
para saber que havia pingado no chão, também. Ela deveria sentir vergonha
por isso, mas não fez. Caleb arrumou a calça. Trish abaixou a blusa e deu a
volta para enfrentá-lo.
Ao invés de respondê-lo, ela perguntou:
— O que fez?
As feições de Caleb se aprofundaram numa carranca sombria quando
ele rosnou.
— Me certifiquei para que ele nunca mais volte aqui.
— Matou-o?
Os olhos negros entrecerraram nela.
— Faria alguma diferença para você?
Trish empurrou o queixo para cima.
— Não, não faria — ela disse, assombrando-se em seguida ao
perceber que realmente não temia pela vida de Stephan. — Mas aquele
bastardo não merece que se suje por ele.
— Ele te tocou. Isso me dá todo o direito de rasgar a garganta dele —
agressivamente, Caleb assinalou. — Mas não, não fiz nada a ele. Apenas
cuidei para que se fosse e não volte a pôr os pés aqui. Eu não vou dar nenhum
aviso mais.
Trish assentiu em compreensão, de certa forma, aliviada por Caleb e
grata a ele, também.
— Obrigada.
— O que aquele macho humano significa para você?
— Nada.
Quando Caleb só fez olhá-la, esperando por mais explicações, Trish
suspirou audível e lhe deu o que ele queria. A vergonha a impediu de olhá-lo
nos olhos.
— Eu sinto muito — Caleb disse solenemente, abraçando-a, quando
ela terminou.
— Eu também — ela murmurou com um suspiro, gostando do
conforto quente do corpo dele. Era como estar em casa, onde ela pertencia.
Trish franziu o cenho ante o pensamento, de repente, agitada. — No entanto,
a vida segue. Doratella sempre será minha mãe, não tenho como mudar isso.
E Stephan, bem, ele foi um grande erro.
Raiva se misturou nas feições de Caleb.
— Eu deveria ter rasgado a garganta dele.
— Ele não vale à pena.
— Você ainda o ama?
Trish levantou a cabeça e pregou o olhar nele enquanto o sentia ficar
rígido.
— Não, eu não amo. Acho que nunca amei de fato... Me apaixonei
pelo homem que Stephan demonstrou ser quando nos conhecemos, mas acho
que depois de um tempo eu estava mais cômoda do que arraigando
sentimentos mais profundos por ele.
Graças ao bom Deus.
No entanto, isso não fazia a dor da traição menor.
Trish sentiu o corpo de Caleb relaxar. Ele segurou seu queixo entre os
dedos e a fez sustentar o olhar. Os olhos dele eram suaves, com uma sugestão
pedinte.
— Entendo porque quis vir para cá e recomeçar, mas Trish, eu não
sou como ele. Não sou ele. Eu honro minha palavra. Pode ser alheia aos meus
costumes e estar relutante em aceitar meu mundo, porém nele os machos não
machucam suas fêmeas. Eu juro pela minha honra que farei tudo para mantê-
la segura e feliz. Essa sempre será minha prioridade, acima até do meu bando.
Somos fieis a nossas fêmeas. Sempre será a única para mim.
— Os humanos gostam de pensar assim, também — ela comentou
sarcástica, querendo se desvencilhar dele, contudo, ele a manteve facilmente.
— É antinatural para nós — ele assegurou.
— Para nós, também. Mas veja, não se pode ter tudo.
Caleb maneou a cabeça em negação, o semblante suavizando
enquanto os olhos dele a miravam com doçura. O toque da mão dele em seu
rosto era gentil.
— Não, bebê. Para vocês esta é mais uma questão de moral, enquanto
que, para nós vai além de qualquer promessa apaixonada. Não pensamos,
nem desejamos qualquer outra fêmea, exceto a nossa. E mesmo se
pudéssemos, nossos corpos rechaçariam qualquer fêmea que não fosse a
nossa companheira. Prometidos são ligados em todos os níveis. Isso é
inquebrável.
Trish não quis acreditar, mas uma parte dela fez. Uma grande e tola
parte. Era uma estúpida. Uma boba carente por um sonho romântico. Isso
fazia dela uma vítima de si mesma, porque realmente era crível de que tudo
nele gritava sincero. Sua voz. Seu rosto. Seus olhos. Suas palavras. Isso
afundou dentro de seu íntimo, cativou seu coração e acendeu suas esperanças.
A facilidade que tinha de confiar em Caleb era um perigo para si,
porque ela realmente se sentia propensa a soltar as rédeas e cair de cabeça
naquele conto de fadas.
Mas nada poderia ser tão bom, podia?
Ela tinha dito a Stephan que tinha aprendido a lição, porém ao olhar
para Caleb ali de pé, oferecendo todo o pacote de sonhos coloridos e
floreados, ela se sentiu uma fraude.
Como poderia ter aprendido qualquer coisa quando se sentia inclinada
a aceitar as promessas românticas do primeiro homem sexy que a cortejava?
Não mais.
Ela tinha de dar um fim a isto e tentar assegurar o pouco que lhe
restava.
Com um suspiro, Trish se desvencilhou de Caleb e se dirigiu até o
quarto, e, posteriormente, ao banheiro. Molhou uma toalhinha e se limpou, e
então, agarrou o penhoar florido de seda, antes de retornar a sala. Ela o
encontrou no mesmo lugar, a calça estava em seu quadril, o volume em sua
pélvis era evidente. Porém, Caleb não parecia sexual agora, senão triste e
ansioso. Quando seus olhares se cruzaram, ela sentiu o coração pulsar mais
rápido.
— Agradeço pelo que fez, mas agora você deveria ir embora — ela
pediu, jurando a si mesma que não iria demonstrar nenhum vestígio de
fragilidade, mesmo que se sentisse enferma por dentro.
— Não posso Trish, é minha companheira.
O tom de suplica dele, a voz entoada com fria tristeza à fez mal.
— Pare com isso! Não sou sua companheira! Sei que acredita nisso,
mas é simplesmente impossível. Por favor, me deixe sozinha. Estou farta
disso tudo. Não quero escutá-lo mais...
Caleb andou para ela e Trish sacudiu a cabeça num pedido mudo. Ele
parou e grunhiu em frustração. As feições dele se arruinaram numa carranca
feroz.
— Por que está sendo tão difícil? É tão ruim assim aceitar-me?
Ela piscou. — Desculpe? — Suas mãos alardearam. — Oh, perdoe-
me Senhor-grande-Alfa por eu estar um pouco horrorizada ao descobrir que o
faz-de-conta é real e que você me enganou o tempo todo quando teve a
escolha de me dizer a verdade!
— E o que deveria ter dito quando nos conhecemos, Trish? Olá! Sou
um shifter. É, isso mesmo. Sabe tudo que te ensinaram ser irreal, surpresa!
Ah, e você é minha companheira prometida. Realmente? Se eu tivesse muita
sorte, você apenas me chamaria de louco. Sinto muito por ter omitido a
verdade de você, mas pensei em fazer a coisa toda mais fácil para nós dois,
principalmente, para você.
— Certamente, não devia ter mentido para mim.
— Você deveria deixar de ser tão malditamente teimosa e aceitar o
inevitável.
— E você deveria deixar de me empurrar — ralhou ela, com os olhos
apertados. — Não pode seriamente esperar que aceite... isso tudo, assim, de
repente!
— Você me quer e nós dois sabemos disso — ele assinalou.
— Sentir atração física por você não é suficiente. Deus, eu nem
mesmo sei se esta atração é real, ou somente algum vodu místico de seu
mundo.
Ele grunhiu baixinho em advertência.
— Você está arrumando desculpa.
— Talvez. Mas isso não muda o fato de que não podemos fazer essa...
coisa de companheiros. Você está enganado. Mais cedo ou mais tarde, vai
descobrir isso. Eu prefiro que seja agora quando ainda podemos não nos
machucar...
Caleb respirou fundo e seus dedos passearam pelos cabelos em
aborrecimento.
— Pode negar que tem sentimentos por mim depois do que houve
aqui?
— Não nego. Mas não estou pronta para entrar em outro
relacionamento. Quem dirá num cheio de coisas que até dias atrás acreditava
existir apenas nas fantasias para crianças. — E acrescentou rapidamente. — E
não, não estou dizendo que é como Stephan, apenas que não sei se algum dia
posso superar o quê você é. Mentiu-me. Estou farta das pessoas fazerem isso
comigo e decidirem por mim. Eu sou adulta e dona da minha vida. Eu decido.
— Eu sinto muito, querida. Não tive a intenção de te ferir, mas tente
entender o meu lado, também. Pensa que foi fácil para mim? A possibilidade
de te perder me destrói, Trish. Não posso nem imaginar isso. Por favor, não
me rejeite. Nós vamos trabalhar nisso juntos.
Ela o fitou por um longo minuto, e então, sacudiu a cabeça desviando
os olhos.
— Nada disso era para estar acontecendo. Eu não vim aqui atrás de
qualquer companheiro ou romance. Eu só queria um pouco de paz... — ela
pausou quando a garganta fechou, engoliu e soltou o ar numa baforada. —
Deus... só me deixe, por favor. Não faça isso pior do que tem que ser. Eu sei
que acredita nessa coisa de companheiros, mas isso é impossível. Nós dois
sabemos disso.
— Acha que minto para você?
— Acho que está tentando me encurralar, não me dando qualquer
escolha sobre o assunto.
Um grunhido baixo agitou o peito dele.
— Confie em mim, companheira, estou lhe dando mais escolhas do
que é suposto ter. Em outros tempos, eu apenas te reivindicaria sem lhe dar
qualquer escolha ou explicação, e mesmo odiosa você me aceitaria. Isso
porque sua alma já me reconheceu e sabe que me pertence, apenas você está
sendo teimosa sobre isso.
— Não pode fazer isso comigo — ela exaltou chocada. — Eu sou um
ser humano, não um objeto! Se... se fizer isso, eu vou te odiar para sempre.
Caleb lhe ofereceu um sorriso triste e arrogante ao mesmo tempo.
— Não é como se isso fosse uma novidade, hein? E, de fato, eu posso.
Sendo minha prometida, concerne a eu tomar as decisões sobre nosso
acasalamento e o que for melhor para você. Mas não fiz. Dei-lhe a opção de
escolha. Quis te cortejar, te dar tempo para que me conhecesse, antes que me
revelasse a você. Achei que seria mais fácil assim e me equivoquei.
Ela precisou de um momento então, afunilou os olhos para ele.
— E por isso é esperado que eu apenas desista das minhas convicções
e aceite essa coisa de companheiros prometidos?
— Há coisas que você precisa compreender.
— Claro que há — ela disse com um riso irônico.
Caleb respirou fundo quando orou por paciência.
— Em um acasalamento entre shifters existe um período de ajustes
para o par. Conosco não é diferente, querida. E sim, você terá de se ajustar ao
meu mundo e tudo que nele inclui. O acasalamento te dará uma família, mas
também responsabilidade por ser a companheira de um Alfa. Não é esperado
que você aja como um shifter e saiba de tudo, uma vez que cresceu descrente
de nossa existência, porém é esperado que você se adapte e tome seu lugar na
nossa sociedade como a Prima. Eu vou te ajudar, Trish, não vai estar só. Eu
prometo, querida.
Claro! Porque ela não era ingênua o bastante para acreditar que
ganharia o conto de fadas de bandeja. Algum retorno de sua parte tinha de
haver, além de tudo.
Trish balançou a cabeça enquanto as lágrimas se juntavam em seus
olhos.
— Eu não posso fazer isso. Nunca mais.
Caleb esteve na frente dela num piscar de olhos, as mãos envolvendo
seu rosto, sujeitando-a para olhá-lo nos olhos. A aflição cresceu dentro dela.
— Sim, você pode. Vamos trabalhar nisso. Você e eu. Tudo ficará
bem.
Ela não acreditava. Nada tão bom viria assim.
— E o que acontecerá quando eu começar a envelhecer? Quando
morrer? Eu não tenho sua longevidade extraordinária. Em cinco anos eu
começarei a envelhecer... a cada ano eu envelheço um pouco mais. E você,
Caleb? Ou acha que isso não deve ser levado em consideração, também?
— Acho que a única coisa que deve importar é o que posso ser para
você. A vida que juntos nós podemos ter, se você parar de pensar tanto e
aceitar a benção que nos foi concedida. Eu quero viver isso, quero estar com
você. Só com você, Trish. Eu não sei como será o futuro, nem tenho certeza
se poderemos ter filhos, mas estou disposto a tentar o meu melhor. Que você
envelheça antes de mim, não me importa uma merda, porque careca, com
rugas e banguela, você ainda será a única fêmea para mim. O acasalamento é
para a vida toda, amor. E quando... quando você não estiver mais, eu vou
com você. Não posso viver sem você. Nunca.
Ela endureceu, empurrando toda a tristeza que sentia comprimir o
peito e o mirou determinada. Tão difícil, mas tão necessário. Respirou fundo
e soltou. A voz firme.
— Eu não acho que posso aceitá-lo. Nunca. Vá.
Se aquilo o machucou, ele não demonstrou nenhum sinal exterior. No
entanto, Trish sentiu cada grama de dor rasgá-la de dentro para fora, até que
seus joelhos tremeram.
17
DECISÕES
****
Com uma carranca escura aprofundando suas feições, Caleb olhou
para o corpo do lobo estendido em cima do colchonete no chão. Parece que
ele teria um montão de ação numa só pancada. E não é que isso era adorável
considerando sua situação atual?
Sua prometida humana não dava a merda para a ligação entre eles, o
seu tempo estava na contagem final, e agora, aquele macho detestável estava
lá.
Com uma exalação, Caleb deixou o porão e encontrou Jace na
cozinha. O outro macho estava escondido detrás de um senhor-prato de carne
mal passada.
— Certifique-se de que ele tenha comida e roupas limpas para quando
acordar, mas ele não sai daqui até que saibamos suas reais intenções e tenha o
julgamento adequado.
— Eu não confio nele — Jace disse com um grunhido.
Um olhar sombrio cobriu os olhos do Alfa.
— Quem faz?
Jace colocou o garfo para o lado.
— Deveríamos acabar com ele antes que tenha a chance de se voltar
contra nós.
— Sabe que não podemos fazer isso — Caleb lembrou num tom
entediado. — Ele ainda é um dos nossos. E mesmo que não fosse, ele está
muito fraco e debilitado, não agimos desta maneira, mesmo com os ratos.
Jace anuiu, embora a contrariedade estampasse seu semblante.
— É muito estranho que ele apareça depois de tantos anos.
— Talvez — Caleb murmurou pensativo. — Collin virá amanhã cedo
para interrogá-lo. Até lá, olhos bem abertos. Qualquer alteração comunique a
mim ou a Embry, imediatamente.
— Assim será feito, Alfa.
— Nem uma palavra a ninguém. Não quero que isso se espalhe e se
torne um transtorno desnecessário quando nem sabemos se ele permanecerá
aqui.
— Acha que ele vai querer ficar? Aceitaria de volta depois do que ele
fez?
Caleb escorregou os dedos pelo cabelo.
— Não sei, Jace. É possível, até porque sua divida não é conosco,
pelo menos não de uma forma direta. A situação não é tão simples quanto
parece. Há outras coisas envolvidas e você sabe disso. Não posso
simplesmente esfolar o filho da puta e fingir que nada aconteceu. — Se Caleb
estivesse certo em seus instintos era mais que certo que o macho ficaria, e ele
não tinha tempo agora para colocar sua atenção nisso. — Ele se parece como
o inferno e, acredite-me, eu adoraria ter meu tempo com o bastardo, porém
enquanto não sabermos o porquê dele estar aqui, não podemos fazer nada.
— Desta forma, faremos uma fila, porque não é só você que quer um
tempo com ele.
Caleb anuiu com um sorriso sardônico. Ele teria uma grande dor de
cabeça caso suas suspeitas se confirmassem, todavia, o macho traiçoeiro teria
uma dose a mais. Uma fila extensa de machos zangados estava a sua espera.
— Até lá, vamos cuidá-lo — ele orquestrou com desprezo.
Um músculo da mandíbula de Jace pulsou.
— Ele merece que chutemos sua bunda arrogante.
— Faremos isso se a hora chegar — Caleb assegurou. — Amanhã...
— ele engoliu duro, — se eu não estiver aqui, Embry estará no comando e
tomará todas as medidas necessárias sobre a situação. Ele não pensa muito
diferente de mim e saberá o que fazer.
Com um assentimento do Ômega, Caleb se dirigiu para a porta.
— O Criador nunca erra.
Caleb parou com a porta aberta e forçou um sorriso quando olhou
sobre os ombros para o outro shifter. Jace lhe devolveu o olhar firme, muito
decidido sobre suas palavras.
Não, o Criador não errava.
— Você é um bom Ômega, Jace. Snowville tem sorte por tê-lo — ele
disse formalmente, o orgulho sólido em suas palavras e em sua expressão. —
Boa noite, Irmão.
Uma vez fora, a noite gelada lhe deu as boas-vindas. Os animais
estavam silenciosos e recolhidos em seus refúgios em uma harmonia
respeitosa. Não havia vento, nem neve caindo. Tudo estava assustadoramente
calmo enquanto os minutos eram contados, como se cada um valessem ouro.
Não, eles valiam o peso de sua felicidade, da sua própria existência.
Com uma careta, Caleb esticou a mão em punho e esfregou sobre o
peito.
Quatro dias correram e Caleb tinha esperado que sua ausência tivesse
feito Trish cair em si. Ela tinha sentimentos por ele, e ele, de fato, acreditou
que, ainda que ela estivesse confusa e achasse que o queria longe, os
sentimentos e a ligação entre eles a empurrariam de volta para os seus braços,
porque sabia que eles eram únicos. Trish não tinha feito, no entanto.
O animal lançou a cabeça para trás e uivou em agonia, e então, bateu
as patas para baixo arranhando mais fundo, as garras rasgando lá no íntimo,
impaciente e enfurecido; tudo ao mesmo tempo. Caleb podia sentir o lobo
ziguezagueando na borda.
Ele estava dando tudo de si para respeitar a decisão dela, mas,
novamente, era penoso lutar contra algo que feria seus instintos mais
primitivos. Ir contra sua natureza exigia um poço de controle e força de
vontade. E, bem, ele não tinha muito de nenhum.
O lobo queria o controle; o homem resistia.
Era apenas uma questão de tempo até que ele enlouquecesse e tudo
mudasse...
A cada passo mais perto de casa, o lobo pisou com maior força,
balançando de um lado para o outro, mais eriçado e ansioso. As garras
escavando profundamente, mais duro.
Ele não estava perdendo sua companheira.
Cace-a. Marque-a. Nossa companheira.
Caleb cerrou os punhos e puxou uma profunda respiração, tentando
empurrar o lobo de volta para baixo até que conseguiu. Uma brisa vinda de
repente, trazendo o cheiro que sempre carregaria com ele, bateu em seu nariz
como uma carícia tenra.
Trish.
****
Trish esfregou as coxas enquanto esquadrilhava ao redor, sem
realmente emprestar atenção aos detalhes da ampla sala de estar, com uma
lareira de pedra no canto. Também não era como se ela já não os tivesse
gravado na mente pela última meia hora.
Ela tinha bisbilhotado por aí, checado uma e outra coisa e sentido uma
pontada genuína de orgulho a cada olhar conquistado. Não havia tantos
móveis, como Maya bem disse, mas tudo dentre o pouco que havia era de
muito bom gosto. Ao olhar era algo que inspirava o sentimento lar. Seu lar.
Faltava um toque feminino, que ela daria com muito prazer. Tinha certeza
que ficaria incrível. Era exatamente o tipo de casa que ela poderia chamar de
lar e viver pelos próximos 60 anos, cercada de filhos e de netos.
O pensamento esticou um secreto sorriso em seus lábios.
Ela pensou que deveria estar se sentindo uma intrusa ou ter a sensação
de isso ser errado, mas não fez. Quer dizer, a casa supostamente ainda era
sua.
Então, novamente, não era errado conferir sua própria casa, verdade?
Um risinho subiu por sua garganta, porém antes de fluir no ar, ela o
cortou quando uma onda de calafrios puxou debaixo de sua espinha, eriçando
os cabelos da sua nuca.
Os olhos azuis cravaram-se na porta, os lábios entreabriram quando o
coração desacelerou e começou a bater num ritmo pesado, cada pulsar
vibrando na pele.
Expectativa torceu em seu intestino e os nervos estalaram num baixo
zumbido.
Caleb estava vindo para ela.
A certeza bateu fundo nela e a fez suar de nervoso, de antecipação e
de excitação ao mesmo tempo. Uma onda mista rolando sobre ela até que
esteve inquieta. Era como se todo seu corpo chiasse nas pontas de suas
terminações nervosas, aflorando algo dentro de si que sequer ela mesma
conhecia.
Incapaz de ficar parada e se mover ao mesmo tempo.
A sensação atravessou-a por completo, com uma força invisível
empurrando-a sobre seus pés, as costas retas e os dedos enrolados em punhos.
Ela estava ofegante?
A contar pelo movimento brusco de seu peito, ela estava prestes a ter
uma taquicardia.
Trish tragou duro e, em seguida, a porta se abriu.
18
MINHA
****
A primeira coisa que ela sentiu quando despertou foi Caleb. O seu
cheiro trouxe tudo de volta rapidamente. Um sorriso se espalhou por seus
lábios e brilhou em seus olhos.
Eles tinham compartilhado a ducha entre beijos e carícias ousadas,
depois ele a tinha levado a cozinha e a alimentado então, fez amor com ela
sobre a bancada, até que perdesse os sentidos. Bem, ela meio que ainda
estava aérea sobre qual parte do dia que era, e na realidade, não importava
muito em saber sobre o tempo.
Caleb era um excelente entretenimento, e ele tinha toda atenção dela.
Oh, sim, e a língua dele podia fazer milagres, realmente.
Agora, eles estavam deitados na cama, ambos nus, suas pernas
entrelaçadas com as de Caleb e sua cabeça pousada sobre o peito forte dele.
Ele a segurava como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo para ele e,
de fato, Trish se sentia assim.
Ela moveu a cabeça para olhá-lo através da sonolência.
— Dormi muito?
A voz dele ressonou cheia de orgulho.
— O suficiente para descansar seu corpo, ainda mais agora que
carrega meu filhote, você vai precisar de bastante descanso e sexo.
Trish riu, ainda não podia acreditar que teria um bebê.
Ela se moveu, aconchegando-se melhor. Ele se sentia tão bem contra
o seu corpo, que poderia ficar ali para sempre. Bem, se dependesse dele, era
este o caminho que seguiriam.
— Nós estamos acasalados agora, não é?
— Pode apostar sua bunda bonita nisso. — Caleb a puxou mais perto.
— Nunca mais vai me deixar, querida, mesmo que se enjoe de mim. Me
pertence.
— E você a mim — ela quis igualar o placar.
— Cada pedacinho meu.
— Uh, nós estamos um pouco psicóticos aqui, não? Mas eu gosto.
— Bom, pois não há jeito de voltar atrás. Está presa a mim até depois
da morte.
Trish plantou um beijo no peito dele.
— Eu posso lidar com isso.
Caleb colocou a mão debaixo de seu queixo e o ergueu para ter seus
olhos.
— Ótimo. Você sabe que não irá voltar para a cabana, seu lugar é
aqui comigo, do meu lado, em nossa casa. Mude o que quiser, use a internet
para encontrar o que quer para a casa e para você. Meu cartão está ao lado na
gaveta. Use-o. Infernos, a casa é toda sua, pode até pintá-la de rosa se quiser,
mas você ficará aqui ao alcance das minhas mãos.
Ela não devia gostar tanto disso, contudo, adorava que ele estivesse
sendo tão possessivo. Não era como se Caleb fosse mandar nela. Não. Eles só
estavam curtindo o recém-acasalamento, e ali, entre quatro paredes, ela não
se importou se ele queria ser o dominante. Cacete, ele até poderia lhe dar
umas palmadas se quisesse.
— Certo, mas eu tenho minhas coisas lá.
— Eu mandarei alguém pegá-las para você — ele disse simplesmente,
com os braços enrolados frouxamente ao redor de sua cintura.
Ela se ancorou nele, autoconsciente das pontas de seus seios roçando
contra o peito duro e da sensação que isso trazia, enquanto seus olhos
diminuíam.
— Não quero ninguém mexendo nas minhas coisas pessoais e, com
toda a certeza, não quero nenhum homem seu mexendo nas minhas roupas
íntimas.
Caleb rosnou grave.
— Infernos, mulher! Eu vou matar qualquer macho que chegar perto
das suas calcinhas. Não mandarei nenhum macho. Vou pedir que Sue passe lá
depois do trabalho.
Seus dedos brincaram distraídos sobre o peito dele. A pele dele era
tão bonita, um tom de bronze bom o suficiente para lamber e beijar... Ela
tragou.
— E quando fará?
— Logo.
— Peça para ela pegar hoje, aliás, eu mesma posso ir. Sim, isso é
melhor.
A mão em suas costas se esticou para esbofetear sua bunda. Ela deu
um gritinho e mordeu o lábio para não gemer quando ele acariciou o local.
— Não vai sair daqui — ele grunhiu. — Negou-me ao que é meu por
inferno de dias, agora quero me esbaldar com você. Não que eu vá me cansar
fácil. Você sabe. Genes lupinos, resistência, rápida recuperação e tudo isso —
acrescentou de forma fugaz.
O olhar dele foi no mínimo perverso. Ela colocou os olhos em branco,
ignorando a maneira que seu canal apertou e começou a molhar em
expectativa.
— Eu preciso de roupa.
— Não sei por que, vou rasgar qualquer peça que me impedir de
chegar a você. — Ela lhe deu um olhar irritado. Ele suspirou. — Okay.
Amanhã eu pedirei a ela para pegar suas coisas. Faça uma lista do que desejar
de lá, desta forma será mais fácil para ambas.
Ela abaixou um beijo em seu mamilo e o sentiu estremecer debaixo
dela.
— E o que farei com a cabana? Não quero vendê-la. Eu gosto dela,
tenho boas memórias de lá. Talvez mantê-la como um canto nosso para irmos
vez e outra?
A mão dele começou a correr ao longo de sua coluna.
— Nós podemos fazer isso, mas você não está indo lá sozinha.
A sobrancelha feminina curvou com diversão.
— Com medo de que eu vá fugir?
O sorriso lento foi predatório, a perna dele entre as dela se moveu,
raspando contra sua vulva. E ela lutou contra o impulso de se esfregar nele.
— Se o fizesse, eu te caçaria e não seria nada agradável para você
quando te encontrasse. E não duvide, eu iria te encontrar em qualquer canto
do mundo.
Sua respiração pesou com a intensidade dele.
— Esse é o Alfa falando?
— Também — ele admitiu, correndo uma mão pelo cabelo dela. —
Escuta baby, eu não vou mentir para você e fingir algo que não sou. Eu sou
possessivo e mandão, talvez um pouco controlador e muito protetor. Mas
como disse uma vez, eu vou tentar não te aborrecer com meu temperamento.
Porém, quero que confie em mim. Eu farei tudo para protegê-la e fazê-la
feliz, mas precisa confiar em mim para que eu faça meu trabalho.
— Contanto que você possa me retribuir o favor e não mande em
mim, estamos de acordo. Eu realmente entendo que precise de sua autoridade
com... o bando, entretanto, eu não sou seu bando. Eu sou sua mulher, sua
companheira. E aqui em nosso relacionamento, em nossa casa, nós temos
direitos iguais. Sempre.
Ele balançou a cabeça.
— Feito.
— Mas eu não vou largar meu emprego.
— Sobre isso...
Ela empurrou o tronco para cima, a testa plissada.
— Não! Não mesmo!
Caleb ergueu as mãos em sinal de paz. Trish o olhou, desconfiada.
— Calma, okay? Me deixe falar, sim? — Ela assentiu, contrariada. —
Eu realmente não a quero trabalhando lá, quero você e nosso filhote ao meu
alcance, onde eu posso proteger e cuidá-los. Me sentirei melhor assim e disso
eu não vou abrir mão. Não ficarei tranquilo sabendo que estão longe, e eu não
posso ter minha cabeça em dois lugares quando estiver aqui e precisar me
focar nas coisas Da matilha. Vou ser um fracasso. Isso não é bom para
ninguém. Então, por favor, faça isso por mim, okay?
— Caleb, eu não sei... Não gosto e não posso ficar parada, porque vou
enlouquecer e te enlouquecer no processo, confie em mim. Eu sei que para
você é natural que me forneça e até honroso, e, para ser honesta, eu posso
lidar com isso e aceitar desde que eu tenha minha independência, também. É
algo meu.
Ele a olhou como se tivesse o mundo nas mãos. Triunfal.
— Eu pensei sobre isso — ele retomou. — Não me oporei se quiser
trabalhar. No entanto, fará isso aqui... Espere, por favor, permita-me
terminar... Não faz muitos dias na cabana você me disse que gostaria de
trabalhar em casa como consultora de investimentos freelancer. Faça. Aqui há
internet, o sinal é bom, tem telefone e tudo mais que você precisar, até o
primeiro cliente se quiser. Eu ficarei tranquilo sabendo que está na segurança
da reserva, e, você ainda terá sua independência fazendo o que gosta. É justo
não?
Trish o mirou em choque por um instante.
Ela não teria pensado que ele tinha guardado isso, e o safado, ele era
bom. Caleb já devia ter tudo armado, mas não podia negar que era um bom
arranjo. Não muito diferente do que pensou a princípio, senão melhor. Ela
torceu os lábios para mascarar o sorriso.
— Ceeerto... Contudo, eu preciso descer para a cidade para avisar a
Srta. Crawford e também precisarei ir ao cartório eventualmente...
— Baby, há quantos dias crê que está aqui?
— Um?
Ele riu.
— Três — calmamente, ele disse.
Trish impulsionou no susto, porém Caleb a sustentou contra ele.
— Deus, Caleb! A mulher vai me despedir por justa causa! Como se
passaram tantos dias e eu não percebi? — O olhar dele brilhou com malícia.
— Calado! Não responda. Você é o culpado aqui, devia ter me atualizado. E
agora? O que eu vou dizer para a Megera?
Os olhos dele arregalaram levemente em surpresa.
— Você chama Maya de Megera?
Ela deu de ombros e relaxou.
— Ela meio que merece. É tão azeda e mal humorada, se bem que
depois do que ela fez, bom, foi meio que inesperado. Nunca pensei que ela
pudesse fazer algo bom por mim, mas sou grata pela intromissão. Seja como
for, não posso deixá-la na mão, assim, de repente.
— Intromissão?
— Ela meio que abriu meus olhos quando me trouxe aqui. — Sua
expressão se voltou aborrecida. — Deveria ter me dito que ela era como
você.
Uma sombra cruzou o olhar dele tão rápido, que ela duvidou ter visto.
— Nem mesmo pensei nisso. Sinto muito.
Trish sondou sua expressão, mas ela era ilegível.
— Ela estava muito interessada no lobo-barra-shifter que atropelei na
estrada.
— E o que disse a ela?
— Nada, realmente. Eu não enxergo bem no escuro e até aquele
momento um lobo para mim era um lobo... O que há de errado?
— Não há nada com o que se preocupar, querida. Maya deixou-nos há
muito tempo e raramente vem à reserva. Ela prefere viver isolada, mas nem
sempre foi assim. Não a culpe por ser como é, acredite-me, ela tem seus
próprios demônios para exorcizar do tipo que poucos de nós poderíamos
aguentar como ela faz, e em parte é minha culpa.
Curiosidade borbulhou sob sua pele.
— Vai me dizer isso?
Caleb sorriu, porém não chegou aos olhos.
— Agora eu não quero falar de ninguém mais, exceto sobre nós dois,
aliás, eu quero usar outro tipo de linguagem mais interessante que a verbal.
Ele propositalmente estava desviando do assunto. Ela permitiu.
— E qual seria?
— Corporal.
Caleb os moveu de posição, colocando-se habilmente entre as pernas
dela. Seu quadril espalhando suas pernas mais amplamente e as deixou lá, de
uma forma relaxada. Trish podia sentir o quão duro ele já estava. Desejo
aflorou sua libido. Sua vagina apertou mais molhada.
A facilidade que ela tinha em responder a ele era quase vergonhosa e
agradável ao mesmo tempo. Seu corpo o reconhecia e amava cada estímulo
dele.
— Eu gosto dessa, — ela começou, segurando os ombros dele —,
mas precisamos conversar sobre algumas coisas antes.
— Conversar é superestimado. — Ela estreitou os olhos. — Certo.
Mas podemos falar enquanto eu estou dentro de você. Já se vão quatro horas
que não deslizo em casa.
A mão masculina explorou entre os corpos e ela sentiu a ponta grossa
pincelar entre as dobras então fazer pressão contra a entrada molhada de sua
buceta. Ele a penetrou sem nenhuma resistência, os braços dobrados ao seu
lado escorando o peso de seu corpo. Prazer rolou através dela.
— Eu não posso me concentrar com você fazendo isso — ela
respirou.
Caleb a beijou brevemente, correndo os lábios por seu maxilar e
pescoço, e plantou pequenos beijos molhados sobre a marca então, voltou e
fixou-se nela.
Ele começou a se mover, empurrando tão devagar quanto pôde,
saboreando cada polegada entrando e saindo dela indo até a base e retraindo
até quase a cabeça para tornar a deslizar dentro. Então parou, ofegante e
sorriu. Pecado embrulhando seus lábios.
— Eu não vejo como isso é ruim — ele gemeu. — A única coisa que
você tem que se concentrar é na sensação boa do meu pau deslizando dentro
da sua buceta apertada. — Os olhos dela afunilaram e ele inclinou a cabeça
sorrindo e beliscou seu lábio inferior. — Diga, baby.
Trish tragou algumas respirações, tentando não se sucumbir à
sensação de seu pau recheando sua boceta. Deliciosamente. Ele não estava se
movendo, e ela agradeceu.
— Me fale sobre a manada.
— Nosso território é muito amplo, somos grandes em número e
força... de fato, somos muito grandes e melhores — ele apontou malicioso,
movendo os quadris uma vez.
— E nem são arrogantes.
Ela enrolou os braços em torno dele, passou as mãos sobre sua pele
lisa e os músculos poderosos de suas costas, sentindo-os ondular nas pontas
de seus dedos. Ele era tão magnífico.
— Apontar um fato não é arrogância.
Ela riu.
— Claro.
— Somos um bando muito respeitado entre os de nossa raça, não
somente pelo número, como também, por nossas valiosas adições, que
fizemos ao decorrer das décadas desde que me tornei o Alfa. O poder do líder
de um bando vem de sua manada, e, a minha é grande e diversificada. Em
algumas manadas, essa mescla é considerada uma mancha que enfraquece o
bando. Uma tolice. Mas mesmo os shifters têm preconceito. Não aqui.
— Família feliz — ela ofereceu enquanto corria as unhas ao longo da
coluna dele.
Seu maxilar apertou, e ele rosnou baixinho.
— Não somos ingênuos, querida. Todos nós vivemos em função de
um mesmo objetivo, sobreviver. Brigas estúpidas apenas dissipam nossa raça
e não queremos isso.
— Muito inteligente e cívico.
— Sim — ele grunhiu. — Agora chega de conversa. Eu quero te
comer e sentir sua buceta ordenhar meu pau quando gozar. Enrole as pernas
em mim e se segure baby. Isso será rápido, mas você vai apreciar cada
segundo.
Quando ela lhe obedeceu, Caleb a deu um beijo duro então ele retraiu
o quadril arrastando o longo eixo, até que somente a cabeça resvalou na
beirada da entrada, e impulsionou de volta todo o caminho para dentro,
batendo no fundo de sua vagina. O choque impulsionando a cabeceira da
cama contra a parede. Trish gritou. Caleb uivou. E então, ele fez de novo e de
novo. Até que esteve martelando nela num ritmo crescente, cuidando para
que a cada encontro sua pélvis moesse contra o clitóris dela.
Os sons de seus corpos, úmidos e carnais, estalaram por todo quarto e
encheram seus ouvidos, excitando-a ainda mais. Mãos e bocas se tornaram
uma confusão sexual. A cama rangia forte sob eles, elevando a luxúria a
outro nível. O perfume almiscarado da união impregnava o ar, formando todo
o conjunto de um potente afrodisíaco.
Caleb rosnou, seu pênis inchando dentro da buceta dela, seu rosto se
escondendo na curva do ombro de Trish enquanto ele movia as próprias
coxas de forma que obrigasse as dela mais abertas. Em seguida, a penetrou
com maior velocidade quando a mordeu. Um frenesi alucinante, com longas e
profundas estocadas, que deram a ela o prazer final. Ele gozou em seguida, o
prazer bateu nele numa incursão infernal. Caleb deixou seu ombro,
arremessou a cabeça para trás, uivando seu próprio ápice ao mesmo tempo
em que arremetia contra ela pela última vez, antes de se trancar em seu calor
acetinado.
A ligação bonita que se abria entre eles sempre a cegava, mas a visão
de Caleb gozando era o paraíso em Terra. Ele era todo um espécime de
macho viril. O êxtase refletindo em seu rosto bonito quando ele o deixou cair
a capturou numa bolha de fascínio. O homem tinha as bochechas rosadas e os
olhos escuros e desfocados em ouro. Era testosterona sólida. E ele era todo
seu. Ele desabou sobre ela e, em seguida, os rolou levando-a para cima dele,
lambeu a ferida que tinha feito e ficaram em silêncio. Uma vez que seu pênis
destravou de dentro dela, ele se retirou sob seu protesto baixo, girando-os
mais uma vez para que ficassem lado-a-lado, a mão grande dele envolveu o
delicado rosto brilhando com uma capa de suor e a beijou calmamente.
— Eu nunca vou me cansar de você, baby — ele murmurou sobre
seus lábios.
— Quero isso assinado, se não se importa — ela brincou, arrancando
uma risada poderosa dele, o som chacoalhou todo seu corpo.
— Minha palavra não basta?
— Basta.
— Eu te amo, Trish.
O coração dela inchou de alegria enquanto sorria bobamente. Ela
sempre sentiria seu coração chutar rápido e seu ego insuflar cada vez que o
ouvisse dizer as palavras.
— Eu te amo, Caleb.
Ela se inclinou para beijá-lo, e seu estômago escolheu aquele
momento para roncar alto, roubando risos dos dois. Ele a beijou breve.
— Acho que alguém aí precisa comer — Caleb disse, sorrindo
enquanto se levantava e esticava a mão para ela. — Vem, preguiçosa.
Precisamos nos limpar antes.
Trish se esticou na cama, adorando o olhar que queimou nos olhos
dele e sorriu.
— Não quero levantar. Estou bem assim.
O arco da sobrancelha dele foi sensual.
— Não te incomoda estar melecada com meu sêmen?
Ela bateu os cílios com inocência.
— Não sei por que. Eu estou muito bem como estou — ela pontuou
atrevida.
O peito de Caleb vibrou com um rosnado, a satisfação queimando em
seu olhar.
— Droga, baby! Seja boazinha, sim? Venha. Me deixe cuidar de você
e depois eu prometo que te darei toda porra que você quiser.
Ela deu um risinho e aceitou a mão dele.
— Vai me dar banho?
— Sim. Vou te limpar e alimentá-la, e depois eu vou me banquetear
de você.
— Nesta mesma ordem?
— Talvez eu possa tirar uma prova no banho. — Ele lhe deu uma
checada obscena. — Eu, definitivamente, vou tirar. Lembre-se, tenho três
séculos de fantasias com você para pôr em prática e uma casa com muitos
cômodos.
— Eu gosto desse plano.
— Eu gosto de você toda rosinha. É sexy pra caralho. E toda minha.
Epilogo
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O bom de Lee é que ela não fazia perguntas demais, embora parecesse
estar cheia delas. Mas ela era astuta e sabia esperar. Bem, quase.
— Isso é inacreditável, Bonita! Bom com certeza. Mas... Olá.
Trish levantou a cabeça com a mudança abrupta e olhou para amiga,
que estava estática. Um sorriso preguiçoso curvando os lábios e seus olhos
brilhando fixos em... Girou a cabeça e avistou Embry estacionado no meio da
sala, encarando Lee, como se estivesse pronto para comê-la viva ali mesmo.
A fome ardente queimava no olhar dele. Um olhar que ela tinha visto muitas
vezes, mas em Caleb.
— Olá, doçura — ele disse, de maneira arrastada, seu tom
enrouquecido e sexual quando despiu Lee com o olhar, antes de voltar a
cravar seus olhos nos dela.
Lee suspirou ao seu lado, como se estivesse muito afetada e...
excitada.
Sua própria pele parecia estar mais aquecida, porém Trish ignorou e
emprestou atenção a amiga e Embry. Tanto ela quanto Caleb pareciam estar
invisíveis lá.
O shifter-lobo esticou a mão.
— Venha — ele ordenou num misto de grunhido e de gemido.
Lee mordeu os lábios, e sem olhar para ninguém que não fosse
Embry, ela se adiantou a frente, e, em segundos, Embry a tinha em seu cerco
possessivo. Mãos autoritárias e dominadoras se apossaram da mulher. Uma
espalmou na parte baixa das costas de Lee enquanto a outra segurava um
punhado de cabelo na parte detrás da nuca. Ele a cheirou e, em seguida, o
rosnado baixo reverberou pelo ambiente. Ela esfregou a face no peito do
macho, e então, mordeu. O shifter gemeu e rosnou enquanto Lee dava um
risinho baixo, quase um ronronar. Um som curto e afetado. Uma brincadeira
sexual.
Mantendo-a, Embry baixou seus lábios sobre os dela. Nem de longe
aquilo poderia ser considerado um beijo. Ele possuiu. Marcou. Domou e
tomou. Bem ali. No meio da sala. Em um instante a amiga estava
empoleirada sobre Embry, as pernas em volta do quadril dele, e então, eles se
foram. Nenhuma palavra. Apenas gemidos baixos e grunhidos sexuais.
Trish olhou fixa, com a respiração pesada e sem palavras para a porta
fechada, por onde o casal tinha passado absortos neles mesmos. Boquiaberta,
ela se voltou para o seu companheiro, que tinha aquele ar divertido no rosto.
Uma sugestão de malícia cruzava seu olhar. Ela tragou e respirou fundo.
— O que raios acabou de acontecer aqui?
O canto do lábio dele curvou enquanto arqueava uma sobrancelha.
Seu próprio queixo caiu. Abriu e fechou a boca diversas vezes quando o
entendimento se realizou.
— Ele? Ela e ele? Sério?
— Não sente?
A atmosfera havia mudado. Algo mais quente, mais excitante,
trazendo recordações de quando se deparou com seu companheiro. Não a
mesma intensidade, mas, definitivamente, era a mesma aura sexual explosiva.
Sua pele estava ligeiramente mais quente, uma agitação morna e sexual
chiando em suas veias, sua vagina se preparando, porém tinha colocado isso
em seu recém-acasalamento.
— Sim, mas...
Ele cortou a distância entre eles e a pegou em seus braços. Ela
enlaçou seu pescoço.
— Sem mas, bebê. Embry acaba de encontrar sua companheira
prometida. — Ele beijou a ponta de seu nariz e encarou seus olhos
espantados. — E sua amiga o respondeu muito bem. Você deveria ter vindo a
mim desta maneira.
Ela deu uma risadinha.
— Bem, devido às circunstâncias isso não era possível. — E
acrescentou, batendo seus cílios com sensualidade. — Talvez, possa me
castigar por minha desobediência agora?
O grunhido sexual que ele fez, antes de apertar os lábios nos seus,
disse tudo.
Horas mais tarde, quando saciaram a fome sexual, eles desceram para
cozinha para aplacar outro tipo de fome. Fome pós-sexo sempre tinha feito a
comida mais saborosa.
Trish cuidava de cortar os tomates para o molho enquanto Caleb
cuidava do cozimento do macarrão e dos bifes.
Bonito. Sexual. Apaixonado. E cozinheiro.
O que mais poderia pedir?
— Espero que seja eu o responsável por este sorriso — ele murmurou
sobre sua cabeça, depositando um beijo no topo.
Seu sorriso alargou mais. — Estava pensando em como é bom ter um
homem cozinhando para mim. Eu nunca tive ninguém que cozinhasse para
mim.
Ele limpou a mão no guardanapo branco, e então, segurou seu queixo.
— Agora você tem.
Caleb a beijou, e quando recuou, ela lambeu os lábios.
Seu coração bateu forte e acelerou.
— Sim. Para sempre.
A conexão entre eles sempre a deixava sem palavras. A sensação de
plenitude era tão forte, que alagava seus sentidos, fazendo-os débeis toda vez
que estavam assim. Era amor. O sentimento explícito em cada palavra, em
cada mínimo gesto.
Seu estômago roncou impaciente.
Caleb a fez se sentar e colocou um prato de biscoitos na frente dela,
então se moveu para a geladeira, pegou uma jarra de chá e encheu um copo
para ela.
— Eu não me importo, se quiser se casar sob suas leis. — Após um
momento, ele disse devagar, sondando sua reação de perto.
— Achei que o acasalamento queria dizer isso — murmurou ela,
incerta.
— Você é minha, Trish. Para sempre minha. Sob as leis da minha
raça, de nossos ancestrais e de Deus. Todavia, não posso me esquecer de que
você é humana. Humanos se casam. O matrimônio com um certificado é a
promessa do amor, a solidificação da relação. É assim para vocês. Papel,
alianças e tudo isso.
Ela pescou um biscoito.
— Está dizendo isso pelo que Lee falou mais cedo?
Ele negou com a cabeça. — Não, amada. Eu só estou dizendo que se
você quiser isso, eu me caso sob os rituais humanos. Não quero que pense
que por eu ser um shifter e já estarmos ligados, você tenha que desistir de um
casamento formal, se este for um sonho seu. Eu não vou te tirar isso.
Trish engoliu o bocado em sua boca. — Bobagem! Estamos unidos,
mais até do que o próprio casamento pode unir um casal.
Isso era verdade. O acasalamento entre companheiros prometidos era
inquebrável. O para sempre não era uma promessa que seria levada pelas
transgressões do ser humano no decorrer dos dias. Sim, tinha sonhado com
um casamento.
Que garota não tinha?
Mas, então, num mundo que antes era irreal para si, Trish tinha tudo
de um relacionamento e um pouco mais.
— Nada do que se refere a você é bobagem para mim. Se te faz feliz
então, é importante para mim. Se a faz infeliz, idem. Mas nunca uma
bobagem. Eu vou resolver qualquer coisa, cada mínimo desagrado para te
fazer feliz.
Ninguém poderia culpá-lo de não saber ganhar o coração de uma
garota.
Ele tinha totalmente o seu.
Sentindo a garganta seca, Trish bebeu um generoso gole do chá e, em
seguida, uma careta arruinou suas feições delicadas.
— Deus! Ewww! Que tipo de chá é este?
Caleb franziu o cenho, e então, agarrou a jarra e cheirou. Seus lábios
tremeram, antes que ele soltasse um risinho curto.
— Desculpe, chá errado. Mas não é tão ruim assim.
Ele recolheu a jarra para a geladeira e de lá tirou outra.
— É horrível! — Ela aceitou o novo copo com chá e bebeu um sorvo
para tirar o gosto azedo da boca, em seguida, baixou o copo para a bancada.
— Por que o guardou? Eu não vou beber isso, nem mesmo um gole que seja.
É algum tipo de dieta sua?
— Não. Este é uma mistura especial, que eu daria a você quando
ficasse nervosa demais ou muito ansiosa. Fez efeito em Raina e em mim,
também.
Trish fechou a cara, porque a comparação não era tão boa. Raina era
legal, mas estava um pouco sanguinária com o fim da gravidez. E o que tinha
a ver com ele?
— Eu ainda não entendi.
Caleb virou os bifes na frigideira e lhe deu atenção. — Antes de
encontrá-la, passei por um mau momento por quase dois meses. Foi numa
manhã que acordei com meu lobo agitado, mas eu não tinha resposta para
isso. Tudo estava bem, a manada estava segura e não havia ameaças contra
nós. Mas não importava o quanto procurasse, não havia quaisquer respostas e
meu controle ficou balançado. O que não é bom para nenhum shifter. Quando
nossas partes ficam em desequilíbrio, os danos podem ser irreparáveis. Eu
tive que me distanciar deles por algum tempo.
— Você me parece muito bem.
— Eu estou. — O olhar dele se prolongou sobre ela com um
derretimento. — A resposta era você o tempo todo.
— Eu?
Caleb assentiu. — Meu lobo sentiu sua chegada e me deixou louco.
Eu não soube que era você até que te encontrei na P&C. Até lá, eu busquei o
Conselho de Raça para obter respostas e eles me deram esse chá para que eu
pudesse retornar para junto dos meus enquanto eles tentavam desvendar o
mistério sobre o meu desequilíbrio.
Trish deu mais uma mordida no biscoito, mastigou e engoliu.
— Todos os shifters ficam assim quando estão para encontrar sua
prometida?
— Não. Embora nem todos os acasalamentos sejam iguais,
acreditamos que eu fiquei meio descontrolado, porque você foi a primeira
humana prometida.
— Oh! Eu sou o biscoito da sorte, não é assim?
— Algo assim.
— Embry pode ficar descontrolado?
— Não, querida. Como disse, cada acasalamento de prometidos é
ímpar. Eu estive fora de mim, mas Embry esteve bem o tempo todo. Raina e
Paul também. E nós nunca machucamos nossos companheiros. É antinatural,
embora haja exceções.
— Exceções?
— Sim, mas isso não é história para agora.
— Eu não vou beber esse chá — ela avisou, guardando a curiosidade.
Ele assentiu, rindo.
— Posso entender isso.
Trish empurrou o prato de biscoitos para o lado.
— Então... você está pensando em se casar comigo?
— Eu fico bem em ternos — piscou.
Ela correu o olhar sobre ele e lambeu os lábios.
— Aposto que sim... Talvez, eu fique bem em um vestido branco.
Ele deu a ela seu melhor sorriso para derreter seu cérebro e suas
calcinhas.
— Isso é um pedido? — indagou ele.
— Se você aceitar, sim.
Caleb desligou o fogo do fogão e girou para ela.
— Posso pensar antes? Considerar as opções? — ele brincou, havia
uma nuance de malícia em seu tom de voz carregado de uma singela
felicidade.
— Desde que suas opções sejam somente eu.
Ele riu entre os dentes. Do bolso da calça, tirou uma caixa e fico sério,
antes de abri-la diante de seus olhos. Dentro, um anel de noivado com uma
pedra grande, que fez seus olhos ofuscarem pelo brilho. Não era um
diamante, mas uma safira azul linda em formato oval cravejada de pequenos
diamantes por toda circunferência.
— Quer dar a honra a este pobre lobo Alfa de se casar com ele?
Trish desceu da banqueta alta. Seus olhos queimaram, e num instante,
as lágrimas estavam lá. Ela o puxou antes que a primeira caísse, a mão
apertada na nuca dele enquanto a outra apertava seu peito sobre a camisa.
Suas bocas se moldaram num beijo apaixonado. A língua dele rapidamente
balançou dentro e procurou a sua, pincelando-a com um movimento erótico,
enroscando-se sensualmente. O solo sob seus pés pareceu girar. Trish
segurou-se nele com mais força, esperando que seu coração explodisse de
felicidade, com as batidas fortes e aceleradas. Caleb respondeu a sua aposta
com a mesma fome passional. Ele recuou, deixando sua testa contra a dela
enquanto ofegavam.
— Eu amo você, Caleb Black.
— Eu também te amo, Trish Mitchell. — Ele a beijou, novamente. —
Ainda não me respondeu. A meu favor digo que irei me certificar para que
todas as suas necessidades e desejos sejam saciados, mesmo quando os
hormônios da gravidez te enlouquecer e me levar junto. E não te farei beber
uma gota daquele maldito chá. Darei-te orgasmos, ao invés.
— Essa é uma grande proposta.
— Então sugiro que aceite.
— Sim, eu aceito.
Os lábios dele somente não encontraram as orelhas porque era
anatomicamente impossível. Os dela não estavam diferentes.
— É linda, amor — ela sussurrou deslumbrada quando olhou para o
anel, que ele tinha enfiado em seu dedo anelar. Com um ar muito orgulhoso,
por sinal.
— Você é mais.
Ela o mirou. — Eu deveria ter algo para te dar também — disse
pensativa. — Mas, como eu não sabia o que planejava, isso me dá o direito
de não ter nada, certo?
O olhar de Caleb ficou sério quando ele segurou seu rosto entre as
mãos. Inclinando a cabeça, ele esfregou o nariz em seu rosto, um leve roçar
instintivo. Reconhecendo. Cheirando, antes de prendê-la na escuridão
apaixonada de seus olhos. Ele não escondeu. Todo amor e veneração que
tinha por ela estavam lá, reinando em seus orbes extraordinários. O desejo
ardente envolto da íris de ouro, brilhando. Sorrindo para ela. As emoções e
sentimentos reconhecendo-a como deles, como se fosse parte de sua alma. E
ela sabia que era assim.
— Não há nada que possa me dar, Trish, — ele disse, firmemente. —
Tudo, exatamente tudo, que eu preciso está bem aqui na minha frente. Para
sempre.
FIM
Contato
Espero que você tenha gostado de ler Sedutora Revelação.
Esta série é sobre o amor em sua forma mais pura.
Único. Transformador. Contagiante. Incendiador.
Minha inspiração para o primeiro livro veio de uma música que de tão
linda soa como um poema doce de amor verdadeiro assim como FOREVER
MINE.
Lendas e Mistérios – Fred & Gustavo ft. Maria Cecília e Rodolfo.
Você pode ouvi-la aqui https://youtu.be/3FMxEV-z5aA
Outra coisa, eu gostaria de perguntar se você pode avaliar este livro.
Avaliações são essenciais para a carreira de um escritor. Não só para
promover os nossos livros, elas nos incentivam a continuar escrevendo, além
do mais, seu feedback é importante para mim. Então, desde já, muito
obrigada se você me deu uma avaliação.
Abaixo estão minhas redes sociais, onde você poderá me encontrar.