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Copyright © 2015 S. K.

MEINS
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qualquer modo ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, incluindo
fotocópia, ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão
de informação sem autorização por escrito da autora.
Todos os direitos reservados.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com a
realidade é mera coincidência.
Nota da autora
Caro leitor,
Talvez você estranhe o pseudônimo desse livro, caso já o tenha lido.
Ocorre que eu, Daya Engler, em 2020, passo a assinar todos os meus
trabalhos, inclusos os anteriormente publicados com o pseudônimo Daya
Engler, como S. K. Meins.
Desde já agradeço a compreensão.

Atenciosamente,
S. K. Meins
Nota da autora
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Epilogo
Contato
1
RECOMEÇO

Inuvik, Territórios do Noroeste, Canadá

Inverno

Ela não estava com medo. Absolutamente. Era uma mulher crescida e
vacinada para estar borrando a calcinha como uma garotinha de cinco anos.
Medo era apenas o descontrole de uma mente doente e Trish não tinha
qualquer problema com a sua. O fato de uma nevasca não deixá-la ver nada,
além do branco, não queria dizer que o piloto não sabia o que estava fazendo.
Ou que iriam se deparar com o pico de uma montanha e explodir em mil
pedaços antes até que se desse conta do que tinha atingido. O piloto era
experiente, quer dizer, olhe só para ele ― rugas e fios brancos de sabedoria
emolduravam a pintura de seu rosto, o peso da experiência estava marcado ao
redor de sua cintura redonda ― e ele estava cantando... Mal pra caramba!
Destruindo a música com sua desafinação. Mas e daí? Ele era um homem
feliz e bem-humorado.
E, se ele cantava, era sinal de que estavam indo bem.
Ou saudando a morte iminente.
Trish lamentou em mente, tão arrependida, que mesmo o diabo
deveria estar com pena dela. Há pouco mais de uma hora ela estava sentada
no assento do copiloto, tremendo como uma folha verde. Isso não tinha nada
a ver com o frio cortante. Era o medo descomunal crepitando granizos através
de suas veias, sua aerodromofobia ativada no mais alto nível. A jovem era só
nervos. As mãos delicadas pousadas sobre o colo suavam frio enquanto os
dedos finos e curtos se apertavam uns contra os outros na tentativa falha de
acalmar seu tremor. Gotículas de suor cobriram sua testa enquanto o coração
se limitava a disparar, agarrando sua garganta.
Tinha de arrumar um jeito de se controlar ou teria uma taquicardia.
Fora uma longa jornada de horas a fio desde que deixara Nova York
City rumo à Inuvik, e quando, finalmente, tivera chegado à penúltima cidade,
onde tomaria o último avião (da sua vida) em direção a seu destino final, já
tinha anoitecido outra vez. O tempo estava em péssimas condições e uma
nevasca ameaçava cair a qualquer momento, dissera o canal do tempo nas
telas espalhadas pelo aeroporto. Por conta disto alguns voos tinham sidos
cancelados e outros adiados até a segunda ordem. Mas o esgotamento físico e
mental, e a ânsia gritante de finalizar aquela etapa da mudança fora mais forte
que qualquer bom-senso. Após meia hora de procura tinha achado um piloto
disposto a voar.
Na hora, o avião de pequeno porte lhe pareceu um jato particular e,
apesar de não ter um bom aspecto, Trish não se importou desde que chegasse
ao seu destino e, enfim, pudesse tomar um banho quente, se deitar em uma
cama macia e dormir enrolada em grossos cobertores até recuperar totalmente
suas forças. Todavia, agora este desejo lhe parecia muito distante. A pequena
aeronave tinha se transformado em uma apertada lata de sardinha e a cada
minuto que se passava lhe dava a impressão de ficar mais apertada ainda.
Trish já não fazia questão do banho quente e da cama, tampouco.
Unicamente, almejava colocar os pés em solo firme e, de preferência, viva.
No entanto, sua esperança era quase nula.
Não escolheu o avião, ele a escolheu.
Que grande porcaria!
Sentia-se como um boi indo direto para o abate, e pior, por sua livre
escolha.
Desastres aéreos aconteciam o tempo todo. Não era um mito. Os
jornais e a internet estavam aí para comprovar. Seguro mesmo era andar com
os pés em chão firme.
Trish fechou os olhos por alguns instantes e procurou em sua
memória a oração que sua avó tivera lhe ensinado quando criança, e quando
achou, se pôs a rezar em silêncio. A cada sacudida mais agressiva que a
aeronave dava, sua oração se voltava mais fervorosa e concentrada.
Entretanto, um ruído peculiar chamou-lhe a atenção, fazendo-a abrir os olhos,
que correram até a mão do piloto, atraídos pelo pequeno objeto de inox que
este segurava. Um olhar mais atento e seus olhos quase saíram de órbita
enquanto a boca imitava um peixe.
O piloto tinha aberto o cantil e tomado um bom gole. Ante sua careta,
Trish teve a certeza de aquilo se tratar de um destilado, e dos fortes.
Num piscar de olhos, sua indignação tomou proporções
estratosféricas.
― O que o senhor pensa que está fazendo?
O homem lhe lançou um rápido olhar inocente e tomou mais um
sorvo.
— Está muito frio.
― Supõe-se que um piloto em plena atividade não deve ingerir nem
mesmo uma gota de bebida alcoólica. Isto não quer lhe diz nada, meu caro?
― Ah, sim! Diz-me que este tempo frio pede mais um gole ou dois.
Possivelmente, três ― tranquilamente, ele disse, tomando mais um sorvo e,
em seguida, ofereceu a ela, fazendo seus olhos maiores. ― Vamos lá! Tome
um trago e seu corpo agradecerá. Aqui faz muito frio e um trago sempre
ajuda a manter o corpo aquecido.
Muito bem! Iriam morrer. Esta era a única explicação para que o
cidadão ao seu lado resolvesse beber em pleno voo. Na certa, ele já sabia que
não havia maneira de saírem vivos da nevasca caindo sobre eles, e então,
decidiu tomar uma cachaça, como se este fosse seu último desejo em vida
antes das luzes se apagarem por definitivo.
Santa merda!
Deveria ter esperado até o tempo melhorar, mas teve de ceder à
maldita impaciência. E, bem, agora iria morrer por conta da falta de
tolerância. Que ironia!
Ele tomou outro gole e a irritação dela estalou.
― Isso só pode ser brincadeira! Eu lhe paguei muito caro, diga-se de
passagem, para me levar em segurança para a maldita cidade, não para o
senhor se embebedar em pleno voo!
― Relaxe dona! O chão é o limite, dali com certeza não passamos.
Os olhos azuis como o mar de Bahamas se arregalaram com pavor,
porém o medo latente a paralisou ao invés de fazê-la gritar em plenos
pulmões.
O piloto guardou o cantil e evitou sorrir.
― Estou brincando, dona. Esta boneca aqui nunca me deixou na mão
e não será agora que irá fazê-lo. Não é, Marie? ― o maluco disse, dando
tapinhas no painel da aeronave.
Não o mate. Você não sabe pilotar, garota!
― Isso não é brincadeira que se faça, senhor!
Trish fechou os olhos e voltou as suas orações silenciosas.
― Eu acho melhor a dona se segurar ― ele avisou minutos depois,
fazendo-a abrir os olhos de súbito e encará-lo em confusão e terror. ―
Vamos aterrissar agora.
Por um segundo Trish suspirou aliviada, enfim, estaria em terra firme.
O sorriso agradecido quase desenhou seus lábios. Quase. Santo Deus
Amado... Rogou quando lançou o olhar para baixo e todo o medo
neutralizado veio à tona.
― Ah, meu Deus! O senhor está louco? Quer nos matar por acaso?
Não há nenhuma pista ali embaixo e, se há uma, a maldita está bem
escondida nesta neve toda. E este fodido nevoeiro não ajuda em nada... Oh,
céus! Vamos morrer! Por que eu não esperei? Por que tinha de ser tão
teimosa? Por que, meu Deus? Isso não é justo!
Ela chorou miserável, as lágrimas grossas percorrendo seu rosto como
se uma torneira tivesse sido aberta sobre ele. O coração bateu mais rápido e
mais forte, fazendo suas costelas doerem enquanto a respiração vinha aos
jorros.
― Dona, se acalme. Eu faço o transporte aqui há muitos anos, tantos
que já nem me lembro mais. Conheço este lugar como a palma da minha
mão. Arrisco até em dizer que posso fazer a aterrissagem de olhos fechados...
Não que eu vá fazer ― ele se adiantou em dizer ante o olhar de Trish, uma
mescla de fúria e desespero cru. ― Não se preocupe, eu já coloquei essa
belezinha no chão em condições piores do que esta.
Eu não mereço morrer assim. Oh, merda, merda, merda! Por que
infernos eu vim pra cá?
Memórias dispararam por sua mente e ela teve de dar mão à
palmatória. Tinha feito à escolha certa. Morrer não era uma opção.
Entretanto, era preferível morrer em um desastre aéreo a ter permanecido nos
Estados Unidos por um dia a mais.
De todos os modos, aqui ou lá estaria morta.
Lá era apenas um ser humano em estado vegetativo, vivendo no
automático como um robô, pelo menos aqui, se não sobrevivesse até a
aterrissagem, morreria, mas de verdade.
Uma sacudida mais brusca seguida de outra e mais outras, fez sua
mente ficar em branco e a voz entalar na garganta. Sua respiração saiu aos
arquejos acompanhando o ritmo acelerado do seu coração enquanto o piloto
assoviava tranquilo ao seu lado, preparando-se para aterrissagem. O que,
francamente, foi uma afronta direta. Queria fechar os olhos, porém os
malditos não obedeciam, estavam esbugalhados ameaçando saltar-lhe a face.
O medo reinou em absoluto sobre eles e nem mesmo assim deram sinal de
que se fechariam. Era como se quisessem ver a morte que vinha de encontro e
abraçá-la, dando a ela as boas-vindas, como se fosse uma querida amiga
distante.
Um solavanco repentino seguido de outros, e seu corpo pôs-se a
tremer descontrolado. Uma alta dosagem de adrenalina pura correndo por
suas veias.
Queria uma mudança de vida e agora teria uma grande. Só não
contava que a mudança fosse dessa para uma melhor. Isso era tão, mas tão
injusto com ela.
― Prontinho. Viu? Eu disse que iria dar tudo certo. Minha Marie
nunca me deixaria na mão. Como dizem por aí, tá comigo tá com Deus ― o
piloto tagarelou, após pousar o avião. Ele olhou a passageira ao seu lado, seus
olhos vidrados. Ele pigarreou, tentando chamar a atenção, contudo, ela não se
moveu. Preocupado com sua falta de ação, ele tocou-lhe o ombro. ― Dona,
tudo bem?
― Não me toque, merda! ― O piloto retraiu a mão de imediato. Trish
tragou o ar a baforadas profundas e soltou pela boca, buscando seu controle
perdido em meio à turbulência. ― Estou bem, só não me toque.
O homem então deu os ombros e desceu do avião.
Estou viva. Inteira e viva. Oh, Deus, obrigada!
As enluvadas mãos trêmulas tateavam o corpo, comprovando o que
seus olhos enxergavam.
Estava viva. Genial. Inteira e viva! Nenhum pedacinho faltando!
Quando a tremedeira em seu corpo diminuiu e os joelhos já se
sentiam fortalecidos, Trish tirou o cinto de segurança e desceu da aeronave,
também.
O vento extremamente gelado varreu sua face num lembrete.
Embora estivesse mais agasalhada que um esquimó, o queixo
começou a tremer de leve, seus lábios ficaram ressecados e gelados quase que
de súbito. Maldição. Tinha pesquisado sobre o clima da cidade antes de
tomar a decisão de se mudar. Era consciente de que o inverno era severo
naquela região e até pensou que seria fácil, afinal de contas, estava
acostumada com temperaturas abaixo de zero, mas o inverno de Nova York
era verão comparado a este. Por Deus que estava congelando os ossos. Mais
alguns minutos parada no relento e teria até a alma congelada.
― Aqui ― o maluco disse, colocando suas duas malas no chão ao seu
lado. ― Quando precisar de um transporte rápido e seguro, não se acanhe em
me chamar. Por aqui todos me conhecem. É só dizer o meu nome que eles
entraram em contato comigo.
― Oh, claro! Eu farei... quando o inferno congelar.
Era preferível andar milhares de milhas em pleno inverno, com neve
até os joelhos e completamente nua a acionar os serviços da personificação da
loucura ao seu lado outra vez.
Ocorreu então que nunca, jamais, ela se mudaria de Inuvik. O único
meio de chegar e sair da cidade era de avião e, se aquele doido fosse o único
piloto disponível, definitivamente, Inuvik se tornaria seu lar até o fim de seus
dias.
― Olha que do jeito que a temperatura aqui é, isso não vai demorar
muito não, viu? E sabe que eu nem ficaria surpreso se isso acontecesse. Já vi
tanta coisa que até Deus duvidaria.
― Tenho certeza disso Sr. Mcgraw ― ela murmurou. ― Bem, de
qualquer maneira, obrigada.
Trish tomou as malas e girou a cabeça correndo os olhos pelo
pequeno complexo, que servia como aeroporto, se é que aquilo poderia ser
nomeado assim.
― Não tem de quê. Foi um prazer servi-la ― ele disse, atraindo a
atenção dela. ― Não é sempre que tenho o prazer de ter a companhia de uma
mulher tão... ― antes suas feições duras jurando-lhe uma morte sofrida, ele
limpou a garganta e sorriu. ―... Fina.
Trish lhe deu um breve sorriso azedo, girou os calcanhares e se pôs a
caminhar como pôde em meio à neve fofa, indo em direção ao que
chamavam de aeroporto.
Um uivo ao longe cortou o ar gélido, estacando-a no lugar por um
efêmero momento. Um calafrio percorreu sua espinha dorsal até seu baixo
ventre enquanto um leve tremor a sacudia da cabeça aos pés. Merda. Mais
essa ainda, como se já não bastasse tudo que tinha passado para chegar ao
maravilhoso fim do mundo, os bichos também resolveram saudá-la.
Agora sim o pacote está completo!
Sacudiu a cabeça e sorriu tristemente para si mesma.
Lançou-se mais a frente, com passadas rápidas ― tão rápidas quanto
seus pés e suas bagagens permitiam. Logo estava no coberto do pequeno
complexo de cimento e aço. Dirigiu-se até uma cabine e pediu informações.
Minutos depois, Trish se encontrava dentro de um táxi a caminho do
endereço que a corretora tinha passado. O veículo afastou-se um pouco do
que deveria ser uma cidade e logo parou quando próximo de uma viela.
― Chegamos? ― inquiriu confusa, olhando para os lados e nada se
via, a não ser neve e uma densa floresta cercando um estreito caminho mal
iluminado.
― Não.
Seu cenho enrugou.
― Então, por que paramos?
― Meu pequeno guerreiro Ulisses aqui só vai até este ponto, daqui a
senhorita tem de seguir a pé. Mas não se preocupe. É só seguir reto que logo
verá algumas cabanas... ― o homem continuou com a explicação enquanto
Trish permanecia quieta, estava cética.
Sempre ouvira sobre a tal camaradagem que a população de cidades
pequenas possuía, no entanto, no momento isso não passava de um mito para
ela.
E, se fosse atacada por um animal? Ou se ela se perdesse?
Pagou ao motorista e desceu do automóvel a contra gosto. Assim que
sua bagagem estava ao seu lado, o taxista deu partida no carro e se
distanciou. Ela ficou parada, mirando até perdê-lo de vista, então virou a
cabeça e olhou para o caminho que tinha de seguir, mal podendo ver a trilha
de pedras no chão devido à quantidade de neve acumulada, sem falar na que
ainda caia.
Respirou profundamente e deixou os ombros baixarem.
Vida nova. Um recomeço, é por isso que está aqui. Você já enfrentou
seu maior medo e quase morreu por isso, e não vai fraquejar agora.
Ajeitou a bolsa sobre o ombro e pescou suas malas, lançando-se a
frente.
Em menos de quinze minutos descobrira que a gentileza não era o
ponto forte do povo da cidade e que eles davam apelidos para tudo que se
movesse. Ou não.
Malucos. Isso sim que eles são. Uma temporada no hospício lhes
cairia bem.
Praguejou alto, cerrando os dentes quando a dor fez latejar seus dedos
do pé direito quando tropeçou em uma pedra escondida sob a neve macia.
Outro uivo cortou o silêncio da noite acompanhando o uivar do vento
gelado e fez o medo se apoderar do seu corpo. Trish tremeu levemente de
frio, temor e... Outro calafrio percorreu sua espinha, mas este era diferente,
era... quente, sedutor e envolvente. Eriçou os cabelos da nuca e ondulou um
calor agradável abraçar o seu centro tão suave, que mais parecia cetim.
Engoliu a saliva e lambeu os lábios ressecados, o coração voltou a trotar em
seu peito enquanto mais uma dose de adrenalina era injetada em suas veias.
Desta vez, era erótica.
Oh, céus! Era uma pervertida.
Trincou os dentes obrigando a esquecer-se da reação do seu corpo, e
se acalmar. Estava com medo e irritada, também. Sua dose de quase morte já
tinha extrapolado o limite. Se não morreu no avião pilotado por aquele
lunático agora também não iria.
Calma, vamos, respire fundo e se acalme. Você sobreviveu em uma
selva de pedra e pode sobreviver nesta de gelo também.
Trish encorajou a si mesma, praticando os exercícios de respiração
que tinha aprendido nas poucas aulas de yoga que frequentou.
Isso, garota. Vamos lá! Só mais um pouquinho.
Um pouco mais calma, abriu a bolsa e pegou o papel com o endereço.
Alguns passos à frente e as enfileiradas cabanas de pedra e madeira
escura, com telhados cobertos de neve entraram em seu campo de visão. Pelo
pouco que os três postes de luz permitia observar, todas as cabanas seguiam o
mesmo padrão, embora algumas aparentassem serem maiores que as demais.
Umas poucas tinham as luzes acesas.
Obrigada, meu Deus!
Ela rumou até lá.
Não fazia a menor ideia de que horas eram quando tocou a campainha
da cabana marcada no endereço. Tantas horas de viagem e as mudanças no
fuso horário, a deixara confusa. Cansada demais, esperou alguém atender a
porta, mesmo que fosse aos berros por conta da hora tardia. De repente, se
lembrou de que não tinha avisado a corretora que viria naquela semana, e sim
na próxima. Oh, Deus. Estava tão doida para sair de Nova York que se
esqueceu de avisar a corretora de que tinha adiantado sua mudança. Bufou
indignada. Só rezava para que a mulher tivesse deixado à chave com sua
futura vizinha, pois, do contrário, não teria alternativa, se não pedir asilo por
uma noite na casa desta. Ela não lhe negaria uma cama, um sofá que seja. Ou
mesmo um tapete, certo?
― Pois não? ― Uma mulher ruiva, aparentando ter sua idade,
atendeu a porta, encarando-a de cima abaixo com desconfiança e o semblante
fechado.
― Oi... Sou Trish Mitchell de Nova York. Eu não faço ideia de que
horas são e desde já lhe peço desculpas pelo incomodo. A Sra. Thompson me
deu este endereço e disse que deixaria a chave da cabana ao lado com a
senhora, ― ela mirou o papel, novamente, ― Leah Diaz. Ela está?
― Senhorita ― a jovem a corrigiu e acrescentou sorridente. ― Muito
prazer Trish Mitchell de Nova York. Eu sou Leah Diaz de Inuvik.
A jovem mulher de traços fortes e olhos expressivos suavizou a
expressão, e no instante seguinte, a abraçou. Uh-oh... Talvez o povo não
fosse tão ruim assim. Trish retribuiu o gesto. Aliviada pelo conforto da
hospitalidade da outra mulher.
― Encantada.
Outro uivo mais forte que os anteriores soou ao norte e este bateu
diretamente em sua vulva, fazendo seu casulo sensível pulsar em resposta. Os
seios incharam e seus mamilos se enrijecerem, como dois brotos de rosas,
despontando no sutiã. Trish estremeceu, novamente, enquanto perplexa,
cuidava para manter o gemido afogado em sua garganta.
Ainda sentia o medo a rondar assim como a excitação repentina.
Por um instante pensou ter captado uma pontada de agonia no uivo do
animal. Isso a fez sentir pena dele e querer confortá-lo. Era loucura. Estreitou
as sobrancelhas e riu de si mesma. Estava tão cansada que já estava até
interpretando o uivo dos animais e sentindo tara por eles. Sua cabeça sacudiu
com brusquidão, expulsando o último pensamento.
Diabos. Não estava em seu juízo perfeito. A culpa toda era do seu
cansaço, estava tão esgotada que o cérebro estava desorientado e enviando a
seu corpo as ordens equivocadas.
O vento gelado soprou em sua direção e ela abraçou a si mesma.
― São lobos.
― L-Lobos?
― Sim. Mas não se preocupe, eles nunca vem para cidade.
― Nós não estamos exatamente na cidade ― Trish murmurou
ausente, olhando em volta, a floresta adornava de forma soberana a lateral do
caminho que fizera. Escura, cheia e misteriosa.
― O que quero dizer é que eles se mantêm na floresta, nunca soube
de nenhum causo deles visitando a cidade desde que vim morar aqui. E o Sr.
Hunter, que mora aqui há 80 anos, diz que nunca houve nenhum incidente de
lobos invadindo as casas ou de humanos sendo mortos por eles, então
estamos seguros. Se não mexermos com eles, eles também não mexem com a
gente.
― Terei isto em mente.
― Mas vamos entrar antes que congelemos aqui fora.
― Eu só vou pegar minhas malas para deixá-las na varanda, se você
não se importar, é claro. Não quero correr o risco de perdê-las em meio a esta
neve toda.
― É claro que não me importo! Vamos lá. Eu te ajudo.
Trish caminhou com Leah até suas bagagens.
― Aqui o inverno pode ser assustador, mas não se preocupe, é tudo
psicológico. Eu sempre digo isso para mim mesma. Quando me mudei pra cá,
qualquer ruído e eu pirava. Quando não eram os lobos, era o diacho do vento
e os galhos secos congelados batendo nas vidraças. Imagina só... ― Leah se
interrompeu, olhando para as duas malas pequenas e colocou as mãos na
cintura. ― Mulher, eu achei que você fosse morar aqui, não passar as férias.
E, se me permite o abuso, você não tem um senso muito bom para férias.
Cancun lhe diz algo?
Trish riu, divertindo-se com o espanto da sua vizinha.
Tá aí, este era o tipo de pessoa com quem ela gostava de lidar.
Pessoas espontâneas e sinceras. É, talvez, a mudança não fosse de todo ruim,
pensou.
― Eu vou morar aqui. Só não achei necessário trazer todos os meus
pertences, peguei somente o essencial. Planejei comprar o que faltar para
mim e para casa na cidade mesmo ― ela explicou, pegando uma das malas
enquanto Leah pegava a outra.
― Ah, sim! Mas, então, como eu estava dizendo, não se assuste com
os uivos dos animais, nem do vento. É totalmente normal por essas bandas.
Sei o quanto é difícil, digo com conhecimento de causa. Eu também vim de
uma cidade grande, e foi muito complicado me acostumar. Aqui é tudo muito
tranquilo. Não temos roubos, nem assassinatos, quero dizer, houve alguns,
claro, mas há muito tempo. Enfim, o povo aqui morre de morte morrida, não
de morte matada...
Leah tagarelava, arrancando risos silenciosos de Trish.
Deixaram a bagagem na varanda e entraram na cabana.
― Você está com sorte. A Sra. Thompson deixou a chave comigo
anteontem. Ela viajou hoje cedo para Vancouver e só volta na semana que
vem. Acho que é quando sua chegada estava prevista, certo? Creio que ela
tenha adivinhado que você viria antes.
― Eu consegui arrumar tudo antes do prazo planejado. Então resolvi
vir logo. ― Encolheu os ombros. ― Não havia porque esperar mais.
― Entendo. Sente-se, por favor, que eu vou buscar a chave.
― Obrigada.
― Aceita um pouco de chocolate quente?
― Se não for incomodar, eu aceito sim. Estou congelando por dentro.
Trish sentou-se no sofá de dois lugares de frente para a lareira acesa,
estendeu as mãos em direção ao fogo com as palmas abertas e as esfregou,
aquecendo-as.
― Nenhum incomodo! Fiz agorinha mesmo, aliás, estava terminando
de fazer quando você tocou a campainha, por isso demorei a atender ― Leah
comentou, voltando para sala com uma bandeja em mãos, tomou a garrafa
térmica e despejou um pouco do líquido fumegante em uma xícara e a
estendeu para Trish. ― Aqui. Coma alguns destes cookies também. Eles são
uma delícia. Eu os compro na lanchonete que trabalho... Bem, eu vou pegar
as chaves, fique à vontade e, se quiser mais, não se acanhe. Já volto.
Trish bebericou um pouco do chocolate quente e mordeu um bom
pedaço do cookie, a massa se desmanchou em sua boca, e um gemido de pura
satisfação arranhou sua garganta. Realmente, o doce era uma delícia, um
verdadeiro manjar dos deuses.
― Aqui estão. ― Leah colocou as chaves sobre a mesa de canto ao
lado do sofá e se juntou a Trish, acompanhando-a na ceia.
― Desculpe-me a pergunta, mas você mora sozinha aqui?
― Sim.
Leah assoprou a bebida e tomou um sorvo.
― Você disse que também veio de uma cidade grande?
Não queria ser mal educada, entrevistando a mulher que estava sendo
gentil com ela, porém sua curiosidade aguçada fazia sua língua se mover.
― Charlotte, Carolina do Norte. E você é de Nova York. ― Trish
assentiu a retórica enquanto mastigava outro pedaço do cookie. Leah puxou
os pés para o assento. ― Aqui é tudo muito diferente, começando pelo clima.
Não temos o luxo que uma cidade grande pode oferecer, contudo, temos
conforto, por assim dizer. Sem contar, é claro, que não nos estressamos com
o trânsito infernal e com aquele amontoado de gente. Você sabe, com toda
correria e estresse que só uma cidade grande tem. Embora ainda morra de
saudades de ficar horas dentro de um shopping, comer no Mc ou em um bom
restaurante japonês, tomar Frappuccino na Starbucks...
Leah listava com certa melancolia em sua voz.
― Por que veio justamente para cá se sente tanta falta do comodismo
da cidade grande?
― Ah, eu sinto falta, mas isso não significa que queira voltar pra lá.
Enfim, é uma história longa que outra hora eu te conto. Mas aqui também é
muito bom. Gosto do sossego e da paz que a cidade oferece. Não temos muita
opção em relação ao entretenimento, mas o que tem dá para o gasto. E, se
quiser algo de fora, a internet é um santo milagroso. De qualquer forma,
escolhi este lugar porque buscava tranquilidade, queria recomeçar.
― Sei bem como é.
A nostalgia abateu-se sobre elas, porém não se perdurou por muito
tempo. A conversa entre elas fluiu naturalmente, como se fossem amigas de
longa data. Para o espanto e contentamento de ambas, elas tinham muitas
coisas em comum. Se não fosse pelo cansaço palpável, Trish não se
incomodaria de ficar papeando com sua nova amiga noite adentro. Lee era
fácil. Entretanto, o esgotamento começou a pesar em seu corpo,
principalmente, em seus olhos.
Depositou a xícara na bandeja, pegou as chaves e se levantou.
― Obrigada pelo chocolate e pelos cookies, estavam uma delícia.
Adoraria poder ficar mais, mas estou morta. Creio que se não tomar um
banho e achar uma cama o mais rápido possível, acabarei desmaiando e
dormindo no seu tapete mesmo.
― Tudo bem, Bonita. Imagino como deve estar cansada e necessitada
de um banho quente. Só por isso permitirei que se vá ― Leah brincou. ― Eu
vou com você, se não se incomodar, assim faço uma apresentação rápida da
cabana e ligo o aquecedor pra você.
Elas se encaminharam para a cabana ao lado. A neve adornava os
rodapés da fundação e se acumulava nas gretas das janelas, criando um
contraste perfeito com as pedras em tons escuros, fixadas as paredes, dando
um ar rústico e aconchegante ao seu novo lar. Na frente podia ver um par de
arbustos pequenos e ao lado dois grandes pinheiros.
Trish subiu os três degraus para o pequeno alpendre de madeira
escura e seguiu Leah para dentro, que acendeu as luzes pouco antes de fechar
a porta.
― Espero que você não se incomode por eu ter dado uma ajeitada nas
coisas aqui, não foi lá grande coisa, mas pelo menos você não vai dormir em
meio ao pó. Já basta o frio de inconveniente.
― Nossa... Muito obrigada mesmo Leah. Foi muito gentil da sua
parte.
Trish correu o olhar pelo interior da cabana. Não era tão espaçoso
como o seu antigo apartamento em NY e nem tão luxuoso, porém em
conforto estavam quase empatados. O espaço era na medida certa. Nem de
mais, nem de menos.
Uma simples lareira de pedra ornamentava a sala acoplada a uma
cozinha pequena e funcional, a divisão de ambos os ambientes se dava por
conta de um pequeno balcão em cerâmica escura. Os poucos móveis eram no
estilo rústico, tanto da sala quanto da cozinha. No pequeno espaço que
sobrara entre a cozinha e a sala, do lado esquerdo ficava uma pequena mesa
redonda de madeira com quatro cadeiras. Algumas janelas amplas de madeira
escura davam-lhe uma ótima visão para a floresta em frente a seu lar. As
paredes dentro estavam tingidas em tom claro com os rodapés marrons, o
chão de madeira escura.
Tudo simples, porém muito bonito.
― Me chame de Lee. Este é meu apelido e todos aqui me chamam
assim, principalmente, meus amigos. E acredito que seremos grandes amigas.
― Leah acrescentou com simplicidade. ― Pelo menos desejo isso.
― Claro que sim ― concordou sorridente.
― Vem comigo. Eu vou ligar o aquecedor e já te apresento o resto da
mansão... Os canos e as tubulações, pelo que a Sra. Thompson me disse,
foram trocados recentemente, bem como, o velho gerador que foi substituído
por um novo há duas semanas. Aqui todas as cabanas nesta parte da cidade
possuem um, pois quase sempre falta eletricidade, então já sabe, jantar a luz
de velas aqui não é uma exclusividade dos pombinhos apaixonados.
Lee continuou sua expedição, mostrando onde as coisas estavam e
como elas funcionavam a nova moradora. Minutos mais tarde, elas
retornaram a sala.
― Vou deixá-la descansar agora.
Trish acompanhou Lee até a porta. Esta, por sua vez, enrolou os
braços em torno dela num abraço amistoso de despedida.
― Obrigada, Lee... por tudo.
― De nada. E bem-vinda ao inferno de gelo!
Trish permaneceu em pé ao lado da porta aberta, mirando a mulher se
distanciar, no entanto, Lee parou e voltou-se para ela.
― Ah! Amanhã eu estou folga no trabalho e, se quiser conhecer a
cidade e comprar o quê precisa, estou disponível.
― Terei isso em mente.
― Boa noite, Trish. Qualquer coisa dá um grito que eu ligo para o
xerife.
― Boa noite, Lee.
Sua nova amiga tinha um excelente senso de humor, pensou.
Trish seguiu até o banheiro anexado ao quarto e namorou, com
profuso deleite, a banheira branca de pés, grande o suficiente para duas
pessoas, embelezando o canto em frente a uma grande janela. Ligou as
torneiras e a deixou enchendo enquanto retornava a sala, onde agarrou uma
das malas e levou para o quarto – o único da casa. Colocou os pertences, que
iria usar, organizados sobre a cama de casal de ferro em estilo romântico e,
em seguida, empurrou a mala para debaixo da cama.
De volta ao banheiro, seu corpo escorregou pela superfície funda da
banheira, de forma que todo ele ficasse imerso na água, exceto por sua
cabeça.
Após o banho relaxante e de todo ritual de cuidados estéticos
noturnos, soltou os cabelos e os penteou. Retornou ao quarto e vestiu-se.
Deixou a toalha no banheiro e percorreu os poucos cômodos da cabana,
apagando as luzes.
Enfiou-se debaixo dos cobertores e relaxou, suspirando audível.
Finalmente tinha chegado ao seu destino!
Agradeceu a Deus e fez uma oração silenciosa pedindo aos céus que a
ajudasse nesta nova fase da sua vida e para que a cidade fosse receptiva a ela
assim como fora sua vizinha.
Recomeçar tinha gosto de vitória, pensou, antes de fechar os olhos.
2
TORMENTO

No alto da montanha um lobo de pelos avermelhados uivava em


agonia e fúria, seu robusto corpo balançava graciosamente de um lado para o
outro, a neve macia acariciando a parte debaixo de suas grandes patas
enquanto se moviam impetuosamente desenhando um caminho de pegadas
fundas no chão branco. Ele inspirou fundo expandido sua caixa torácica. As
narinas chamejaram captando os odores da noite fria. Bufou e se sentou. Os
pelos do pescoço estavam eriçados pela irritação crescente dentro de si.
Apesar da temperatura de -23°C, seus genes lupinos mantinham seu corpo
aquecido a 46°C.
Impaciente demais para permanecer parado, ele levantou-se sobre as
quatro patas e se pôs a andar novamente ― de um lado para o outro. A ira o
fez fincar as patas dianteiras na neve e os ombros massivos do animal se
alinharam duramente. Elevando o focinho para o céu, ele uivou forte e
profundo, colocando toda a frustração em seu grito encolerizado.
Por que isto agora? Por que com ele? Que porra seu lobo queria lhe
falar? Por que ele simplesmente não lhe mostrava com clareza o que estava
por vir?
Ele sempre foi um bom líder para sua matilha, conservando as
tradições e as leis, que seus ancestrais impuseram há milênios. E, desde que
se tornou o Alfa do bando, há 230 anos, cuidou para que todos prosperassem.
Tinha feito ajustes desde então, que trouxeram benefícios e segurança para
todos do bando. Não tinha sido fácil deixar os tempos sombrios para trás, mas
ele não desistiu e lutou duro dia após dia até restaurar Snowville ao que era.
Uma grande e influente manada, que prosperou e se reinventou, ganhando o
respeito de todos, mesmo dos inimigos. Contudo, agora todo o esforço e
dedicação lhe pareciam de nada valer. Caleb estava sobrecarregado e
esgotado. Isso não era bom, nem seguro para ninguém. Vez e outra, sua
irritação, que sempre fora bem controlada, tomava proporções devastadoras.
Suas orelhas zumbiram e ergueram-se ao captar um som distinto que
se aproximava cada vez mais. Pendeu a cabeça levemente para a direita,
apurou sua audição e seus poderosos olhos de cor âmbar cintilantes em
direção aos arbustos baixos. O vento mudou de curso trazendo consigo um
cheiro familiar. Logo um lobo de pelos marrons, patas e peito branco, entrou
em seu campo de visão. Seus lábios repuxaram e rilhando os dentes a mostra,
ele rosnou em desgosto para o irmão da raça, que ignorou sua saudação rude
e se aproximou, e com poucas passadas, ele sentou-se sobre uma pedra
próxima.
Estalando rapidamente seu rabo, o animal voltou sua cabeça para
frente e sentou-se, novamente. Os olhos vagando de forma ausente pelo vale
abaixo.
O lobo marrom inquiriu em sua mente:
"O que o Conselho de Raças disse?"
"Nada."
"Estranho. Eu achei que eles teriam alguma resposta." O irmão da
raça meditou, afinal de contas, o Conselho sempre tivera resposta para tudo.
"Eu também."
Naquela noite toda sua esperança tornou-se pó e se esvaiu em menos
de meia hora, após uma dura corrida de três longos dias seguidos até a
fortaleza sagrada do Conselho de Raças, cuja localização somente era
revelada ao Alfa-macho através de um sonho. E quando este era desafiado e
perdia o comando, a localização era apagada de sua mente no segundo
seguinte a sua derrota, antes mesmo que ele pudesse piscar ou se dar conta do
que aconteceu. Era como se nunca antes ele tivesse sabido de tal informação,
assim impedindo os shifters desonrosos, que não se incomodavam de usar
meios obscuros para alcançar a sabedoria maior para seu bem próprio, de se
aproveitar da frustração e raiva, que a derrota trazia ao Alfa derrotado. A
fúria de um péssimo perdedor poderia causar grandes desastres.
O Conselho de Raças era formado por anciões com milênios de vida.
Um de cada espécie de shifter existente. Muito sábios e demasiadamente
respeitados até mesmos pelos mais céticos. Só podendo recorrer a ele apenas
os casos de suma importância, os quais requeriam respostas e soluções que
somente eram encontrados nos pergaminhos milenares. Entretanto, os casos
extraordinários sempre eram levados aos anciões pelo Alfa do bando, pois era
terminantemente proibido o acesso de civis comuns aos anciões.
Considerado sagrado dentre a raça de shifter, o Conselho era uma
espécie de realeza, porém sem a ambição e egocentricidade que os
comandantes humanos possuíam.
Caleb acreditava que eles eram os únicos capazes de dar-lhe uma luz
ou algo do tipo, mas eles estavam no escuro, também. Nunca antes algo
parecido tivera ocorrido com outro shifter, Alfa ou não. Necessitariam tempo
para estudar os pergaminhos e quem sabe assim dar-lhe uma resposta mais
satisfatória. O que só serviu para enfurecê-lo mais.
"Alguma pista?"
"Só o quê já sei, que algo está pra acontecer e, me aconselharam a
ficar calmo e esperar enquanto eles tentam buscar uma resposta nos
pergaminhos."
Na verdade, o Conselho tinha lhe dado mais que isso, todavia, contar
ao amigo que além de uma resposta vazia, eles também tinham lhe dado um
punhado de chá, que segundo os anciões, era de um tipo especial, feito de
ervas muito raras e quase extintas. Uma mistura poderosa que lhe ajudaria a
se acalmar para que assim pudesse voltar para junto de seu bando, até que
tivessem achado uma resposta, já era demais. Não queria arrancar a cabeça do
amigo por zombar dele, embora ele próprio não pudesse parar de zombar de
si mesmo.
Chá.
Ele foi atrás de uma resposta e lhe deram a porra de um chá, como se
ele fosse um maricas.
"O que pensa que eu vou fazer até que me chamem? Que tome chá às
tardezinhas na varanda de minha casa com as anciãs de meu bando enquanto
tricotamos e colocamos a fofoca em dia?"
Foi o que perguntou ao ancião que lhe deu o pacote de misturas. Este
por sua vez, sorriu-lhe amigavelmente e tocou seu ombro, antes de lhe dizer
num tom sereno e humilde.
"Se este for do seu desejo jovem Alfa. Agora vá guerreiro, e não se
preocupe, assim que tenhamos achado uma resposta você saberá."
Dito isto, o ancião desapareceu por entre as rochas escuras, deixando
Caleb pasmo e com uma vontade imensa de lhe dar alguns murros até que
perdesse as forças. Mas isso seria um crime grave, pago com a vida. Deste
modo, ele segurou em rédeas curtas a fúria do lobo rosnando em seu interior,
e fez o caminho de volta para suas terras.
"Eu concordo com eles. Já que não tem outro jeito, o melhor é tentar
se acalmar e esperar até que eles possam achar uma solução."
O lobo avermelhado girou a cabeça em direção ao outro e grunhiu
furioso.
"Você não entende, Embry. Porra! Eu sou o Alfa e sinto que algo
grande e poderoso está para acontecer, mas não faço à mínima ideia do que
seja, nem se é bom ou ruim. E eu deveria saber. É meu dever. Não posso
estar desprevenido."
Embry levantou e foi para perto do seu Alfa. Sentou-se ao lado dele e
deixou seus poderosos olhos vagarem pela floresta por um momento.
Levantando seu focinho para o céu inspirou profundamente, fechando os
olhos para melhor captar os odores da noite, e depois dirigiu sua atenção ao
Alfa, muito sério de repente.
"Acha que isso tem alguma coisa a ver com os pícaros? Eles
poderiam estar tramando algo e o seu lobo sente isso?"
"Não. A trégua ainda dura e, creio eu, que se manterá por muito
tempo mais. Todos nós perdemos naquela guerra estúpida, muitas vidas
inocentes de ambos os lados até quase não restar muitos de nós. Nenhum
lado quer se arriscar em uma nova guerra, que apenas servirá para extinguir
nossas raças. Aprendemos em troca de muito sofrimento e perdas, que
poderíamos viver em paz se nos respeitássemos mutuamente. Ainda estamos
aprendendo a conviver uns com os outros, mas uma guerra não é uma opção
para nenhum de nós. O nosso equilíbrio depende desse acordo, mesmo os
ratos sabem disso."
Embry assentiu não disfarçando seu alívio. Os tempos eram de paz
entre as raças, porém nem sempre tivera sido assim, os danos de anos atrás
ainda se sentiam recente sobre todos.
"Brad acha que devemos falar com os elfos."
"E por que isso?"
"Ele pensa que se o Conselho de Raças não tiver uma resposta, os
elfos como nossos aliados deveriam ser consultados. Eles estão aqui há mais
tempo que nós e podem ter alguma pista sólida ou nos direcionar para algo."
O lobo avermelhado ficou em silêncio, e então, focou o outro animal
com inteligência.
"Vejo isso..., mas preciso de tempo para pensar a respeito. Eles não
darão nada de graça."
"Foi o que Collin disse. Eles são uns fodidos interesseiros."
Elfos eram seres imortais, que viviam no profundo das florestas entre
as grutas ocultas. Criaturas exuberantes, brincalhonas, ardilosas e
excepcionalmente sexuais. Não davam nada de graça. Um ganho muito maior
que o favor pedido sempre vinha como moeda de troca. Não queriam
dinheiro em tudo, pois possuíam as pedras mais preciosas. Os fodidos
queriam algo além. Já tiveram feito negócios no passado e se ajudado
mutuamente, todavia, lhes pedir um favor requeria um quinhão de
ponderação e outro de paciência. Caleb não tinha o último.
"Ele se mostrou disposto a ir até eles."
Isso chamou a audiência do líder da manada.
"Collin?"
"Ele está realmente disposto a ir, se você permitir".
O lobo sentou sobre suas patas, surpreso, que o chefe de seus
Executores tivesse se oferecido para lidar com os elfos. Collin sempre tivera
disposto a ajudar e gostava de se fazer útil para o bando, mas não era o cara
de negociações pacíficas. Ele era um macho de ação.
Em geral, Collin sempre estava absorto em seus próprios pesadelos e
Caleb sabia que ele possuía muita merda para um macho sozinho carregar.
Ele tinha chegado ao bando pedindo asilo 190 anos depois de Caleb se tornar
o Alfa de Snowville. Era um bom macho, honrado, muito inteligente e
generoso, mas extremamente solitário e duro. Ele tinha dado sua lealdade a
Caleb e a manada. Não falava muito, nem costumava participar das
festividades, e não permitia que os outros se aproximassem o bastante para
ter intimidades, mesmo às fêmeas se mantinham afastadas, embora ansiassem
esquentar sua cama. Caleb era um dos poucos que tinha conseguido chegar
até Collin.
De fato, o shifter-leão tinha sido uma grande adição para o bando.
"Não acho que seja à hora de pedir qualquer coisa aos elfos."
"E quando será?"
"Eu não tenho todas as respostas, Embry" o Alfa grunhiu e, em
seguida, se colocou nas quatro patas e deu uns passos à frente, com o olhar
perdido no vale abaixo. "Não é o bando."
"O que quer dizer?"
"Sou eu." Sentindo a confusão do irmão, ele se voltou para este. "O
Conselho de Raças não teve uma resposta, contudo, falar com eles me fez
perceber que não se tratava do bando em si, senão de mim mesmo, algo meu.
Eu sinto e está borbulhando dentro de mim, enfurecendo meu lobo com a
charada, e eu não posso decodificá-la... Isso está me deixando louco, porque
sinto que está cada vez mais próximo. É sufocante, enlouquecedor".
"É ruim?"
"Eu não sei... Não posso explicar... Apenas sinto e não tenho
qualquer resposta." Ele soltou um bufou desanimado. "Isso me faz sentir
despreparado, uma subtração para o bando."
"Besteira!" Embry bufou. "Cara, você mais do que ninguém está
preparado para nos guiar e enfrentar seja lá o que for que está por vir. Nós
estamos nos revezando para cobrir o nosso perímetro, os outros bandos
estão de sobreaviso, todos estamos em alerta e preparados. Não há com o
quê se preocupar. Já passamos por coisas bem piores e sobrevivemos. Você
não deveria deixar isso tomar sua razão. Seja o que for, nós vamos te
ajudar... só tente relaxar."
O Alfa sacudiu a cabeça e latiu uma risada ácida.
"Relaxar? Sabe o que me faria relaxar agora?" O outro lobo pendeu
a cabeça para a esquerda, seus olhos atentos. "Sair da porra da
escuridão!" Caleb esbravejou, afundando as patas dianteiras na neve
fofa. "Eu estou no escuro há um fodido mês inteiro. Você sabe como o nosso
lobo pode ficar agressivo, afetando nosso temperamento quando ficamos às
cegas. Meu lado humano perde o controle, porque minhas duas partes estão
em desequilíbrio. Eu não tenho uma boa noite de sono desde que isso
começou. Maldição!" Com um rápido movimento, ele saltou para longe do
irmão da raça e passou a marchar de uma banda para outra, seus pelos da
nuca e espinha eriçaram. "Só consigo esvaziar minha mente e ter um pouco
de sossego quando fodo, mas nunca é o bastante e eu não posso
simplesmente enjaular uma fêmea, como um maldito pervertido, e fodê-la até
a morte. Mas, então, eu caço, porém a paz só dura até a caça terminar. Eu já
perdi as contas de quantos cervos e alces eu matei e, se isto continuar, é bem
capaz que eu acabe extinguindo os malditos animais. Sabe o que isso
significa?"
O lobo marrom assentiu.
"O que pretende fazer até que isso se resolva? Não pode
simplesmente ignorar o bando."
Já estava demorando para Embry começar com todo lenga-lenga outra
vez.
Provavelmente, sua irmã o tinha obrigado a ir atrás dele. Àquela
pequena peste podia ser uma pedra no sapato quando queria. Por vezes teve
dó de Paul, o Companheiro Prometido de sua irmã. Paul e ele tiveram
diversos desentendimentos no passado por conta do temperamento arredio do
cunhado, mas tudo melhorou quando Raina retornou para o bando, após se
formar com honras no curso de medicina em Harvard. Um mês depois, ela e
Paul tinham se acasalado. Perto dela, o amigo era um santo com direito a bata
branca, harpa e uma bela auréola dourada sobre a cabeça.
"Escolhi você para ser meu Beta e Jace se voluntariou para ser meu
Ômega justamente para cuidarem dos pormenores na minha ausência e até
quando estou presente, se não me engano. Ou estou errado, Irmão?"
"Isto não quer dizer que não precisamos de você. É o Alfa."
"Aconteceu algo grave que você e os executores não possam resolver,
e que exija a minha presença? Ou Raina ameaçou te castrar caso não viesse
atrás de mim?"
"Maldito seja! Raina está preocupada com você, sabe que na
situação que ela está isto não é bom nem pra ela nem para o filhote. Paul
tenta acalmá-la, mas você a conhece... Todo o bando está preocupado e a
manada está começando a especular o porquê do Alfa sumir."
"Sei das minhas obrigações." Rosnou ele, rilhando os dentes. "Minha
distância é justamente para protegê-los enquanto procuro uma solução. Se
não estão satisfeitos com o muito que dei a eles, que reclamem comigo
quando eu retornar. Não os deixei, nem estou fugindo das minhas
responsabilidades."
"Sei que não, Irmão."
"Estou fazendo o que acho certo."
"Volte. Nós vamos te ajudar. O bando tem muito apreço por você e
precisa de você lá."
"E o que farão quando eu perder o controle e por acidente rasgar a
garganta de um Irmão?" Não houve resposta. "Foi o que pensei" disse com
desgosto. "Vocês não podem me controlar e eu não posso arriscar ferir
ninguém apenas porque uns e outros querem me admirar. Não estou seguro
sobre mim mesmo. Isso não é bom para ninguém." O outro lobo o encarou e
ele sentiu a confusão. "Não estou desistindo. Terão de me matar se quiserem
me tomar o comando, e esta não será uma luta fácil. Amo o meu bando
acima de qualquer coisa, mas agora mesmo não posso ficar perto deles."
"Talvez possamos chamar algumas fêmeas solteiras? Há umas
quantas que estariam interessadas em te ajudar a se esgotar. Poderiam fazer
um revezamento?"
Caleb latiu uma risada. Ele não duvidava, shifters eram sexuais por
natureza.
"Foder não vai resolver, embora me soe atraente."
"Vamos lá, Irmão, não pode ser tão ruim ter todas aquelas fêmeas
querendo se acasalar com você. Eu posso te ajudar se achar que é muito
para você."
"Eu não... Vou correr. Não me siga." Ele saltou para frente dos
arbustos, sua audição aguçada o alertou que o outro lobo o seguia. Sem frear
suas patas, ele grunhiu na mente do Irmão com ferocidade "É uma ordem,
Embry."
O tom forte e impetuoso do Alfa fez as patas do lobo marrom frearem
de imediato. Seus olhos se estreitaram e um rosnado irritado arranhou seu
peito.
"Pode correr o quanto quiser Caleb, mas não pode fugir de si mesmo,
nem da sua consciência."
Ele ainda ouviu a voz do amigo em sua mente antes de cortar a
conexão mental.
"Foda-se!"
Aumentando o ritmo, Caleb correu. Sentir o vento envolvendo seus
pelos, as folhagem úmidas mescladas com neve e sujeira no chão
amortecendo suas patas enquanto ele ganhava mais velocidade era
tranquilizador. Suavemente os galhos dos pinheiros baixos passavam em suas
laterais.
Há um mês seu tormento tinha começado. Numa manhã fria, ele fora
despertado por seu lobo revolvendo em seu íntimo fervorosamente, deixando-
o preocupado e irritado.
Nos primeiros dias ainda tentou achar uma razão para todo reboliço,
que o animal fazia em seu interior, chegou a se comunicar com os bandos
próximos, entretanto, nada estava fora de ordem. Nenhuma ameaça.
Simplesmente nada. Porém, seu lobo continuava a rugir, como se quisesse lhe
avisar algo, mas nunca lhe dera uma pista. Com o passar dos dias, veio o
desejo a cada dia se voltando mais intenso, de forma que não tinha uma só
fêmea solteira de sua matilha ou de outros bandos que ele já não tivesse
afundado seu pênis. Mas, então, veio a angústia crescente dentro de si, se
intensificando, deixando-o irritado até a tampa a ponto de lhe fazer perder o
controle por duas vezes e quase rasgar a garganta de um Irmão de raça por
uma simples piada. Isto o amedrontou ― coisa que não lhe era comum ―,
medo e Caleb não tendiam a se encontrar.
Tomada à decisão de que era um perigo para os outros ao seu redor,
deixou seu Beta no comando e partiu, em seguida. Acreditava que estar só
iria ajudá-lo a compreender o que seu lobo queria lhe dizer. Qual fora o seu
engano! A situação somente fizera piorar, a sede de sexo e de sangue
borbulhava em suas veias. Caçar acalmava o lobo e lhe dava um pouco de
alívio e tranquilidade, mas o efeito pouco durava, algumas horas apenas.
Sexo era bom. O problema era que Caleb precisava de muito para ter algumas
poucas horas de sossego e, embora às fêmeas shifters fossem muito fogosas,
era complicado trepar com alguma sem sair acasalado quando estava vagando
por territórios desconhecidos. E ele não queria se acasalar com qualquer
fêmea. Caleb queria a sua. Aquela que foi designada a ele antes mesmo de
nascer. Sua Companheira Prometida. Todos tinham a sua, e ele sabia, queria
acreditar que a sua estava em algum lugar esperando por ele.
Limpando a mente, Caleb cedeu as rédeas do controle para o lobo,
deixando-o conduzir a corrida. O que animou o animal. As narinas
chamejaram captando os odores da floresta, milhares deles, alguns
perfumados e outros de sujeira, provocavam seus sentidos. Ele abriu a boca
ligeiramente e deixou sua língua refestelar fora à medida que corria rumo ao
leste.
Minutos depois se deu conta para onde estava indo, porém não tentou
se frear, apenas deixou ser guiado. Seu lobo uivou contente com sua decisão.
Uma agitação diferente inundou seu peito, todavia, esta não o irritou,
ao contrário, deixou-o com algum tipo de esperança e estranhamente calmo.
Diminuiu o ritmo aos poucos até que suas patas se moviam
vagarosamente, apreciando o passeio. Os passos meticulosos e precisos, sua
mente estava concentrada em desvendar o quebra-cabeça que o lobo tinha lhe
lançado.
Girou a cabeça e avistou as cabanas.
Nunca antes tivera chegado tão perto da cidade em sua forma animal.
Ele e alguns outros costumavam visitar a cidade periodicamente, porém
preferiam se mantiver distantes dos humanos na maior parte do tempo. Eles
eram muito barulhentos e irritáveis para seus sentidos sensíveis.
A margem, o lobo marchou em ritmo calmo, camuflado na escuridão
da floresta fechada, seus olhos passaram de cabana para cabana, estudando-as
com interesse. Sua audição captou o barulho de um chuveiro que fora ligado;
mais a frente uma chaleira apitava alto avisando ao dono que água tinha
fervido; uma televisão ligada no canal de esportes e na próxima nada. Sua
cabeça pendeu para o lado e os olhos se apuraram naquela direção com
estranho interesse. As luzes da cabana estavam apagadas e a falta de fumaça
na chaminé era um sinal que não havia ninguém morando ali, chutou. Porém,
quando apurou mais atentamente sua audição, ele pescou um som baixo e
compassado.
Um coração.
Um som calmo e quase imperceptível, que agradou seu lobo de
imediato, tão logo o sentiu se calar e a serenidade cair sobre si pela primeira
vez desde que tudo começara. Tentado pela calmaria que abraçava seu corpo
lupino, sentou-se de frente para a cabana escondido pelo breu da floresta,
fincando seu olhar sobre a habitação e sua mente vagou.
Embry estava certo, não podia abandonar seu bando as moscas até
que uma luz aparecesse. O amigo era um bom Beta, contudo, a manada
precisava do Alfa. Esteve por muitos dias, isolado, procurando uma resposta
e não encontrada, isso só fez piorar. Talvez junto dos seus ele conseguisse se
manter tranquilo. E, se porventura houvesse algum problema, seus Irmãos
estariam ali para freá-lo e ajudá-lo caso necessário. Poderia até mesmo buscar
a ajuda dos elfos.
Ah, também tinha o maldito chá de maricas, zombou em mente.
Horas depois, levantando-se contra a vontade do seu lobo, que queria
permanecer lá por mais tempo, mas ele não poderia correr o risco de ser visto
por ninguém. Prometendo a si mesmo que na outra noite voltaria, Caleb
correu.
No quintal de casa, a névoa escura cercou o lobo, rondando e
ondulando-o. E quando ela finalmente se dissipou, um homem desprovido de
roupas surgiu.
Caleb media cerca de 2 metros, o corpo robusto acomodando quase
100 quilos de músculos massivos, seis gomos perfeitamente definidos
marcavam o abdômen forte, alguns poucos pelos esculpiam seu peito e descia
desenhando uma linha reta até sua virilha formando uma esponja de pelos
escuros. As coxas podiam ser comparadas a duas fortes toras torneadas. As
mãos cálidas eram grandes com dedos longos e grossos, os bíceps
sobressaltavam fazendo jus ao restante do corpo, braços poderosos, os
ombros largos como vigas. Subindo, seu rosto possuía traços fortes, o queixo
era proeminente. Os lábios cheios e vermelhos. Os olhos mudaram trocando o
âmbar pelo castanho escuro quase negro, como a noite, enquanto suas íris
ganharam um fino contorno dourado levemente acentuado. As sobrancelhas
eram grossas e delineadas naturalmente, os cílios longos e cheios. Seus
cabelos de tom negro eram curtos. E, por fim, sua pele que, apesar de viver
em uma área aonde o sol raramente surgia forte o suficiente para lhe queimar,
era de um bronzeado único, totalmente instigante e sedutor.
Com passos estudados, Caleb encaminhou-se para dentro de sua casa,
tinha de ver sua irmã e acalmá-la antes que ela voltasse seu companheiro
doido, ou pior, que mudasse de forma e prejudicasse o filhote que esperava,
mas antes necessitava um banho. Ele vestiu uma camisa branca de gola V e
mangas longas, que juntou até os cotovelos, jeans e tênis. Caleb fez o
caminho até a cozinha. Seus olhos bateram sobre a sacola que continha o
punhado de chá de maricas.
Um sorriso irônico formou-se em seus lábios.
Caleb não tinha a menor pretensão de beber a mistura, mas por via
das dúvidas, decidiu fazê-lo antes de seguir para casa do cunhado. O último
lugar que não poderia perder a calma era lá e, principalmente, fazê-lo com a
irmã.
Sempre controlou bem seu lobo quando na presença dela, apesar de ás
vezes seu animal ficar furioso pelas impertinências da fêmea, mas antes ele
não estava descontrolado.
Era bom que aquele maldito chá fosse tão bom quanto o ancião
acreditava ser, pensou, enquanto colocava um pouco de água na chaleira e a
levava ao fogo.
Bebeu uma caneca cheia e, em seguida, ele se dirigiu até a habitação
de Raina, quatro casas depois da sua. Uma caminhada de vinte minutos já que
as casas ficavam um pouco distantes umas das outras. Enquanto caminhava
pela rua de terra coberta pela neve, o tipo se preparava para a enxurrada de
maldições e infâmias que sua irmã atiraria sobre ele. A fêmea era muito
menor que Caleb, porém sua determinação compensava sua estatura corporal.
Era o diabo de saias. Uma fêmea de muito valor, no entanto.
A uma casa, avistou seu Beta e Ômega, e mais alguns outros amigos
amontoados na varanda da casa de sua irmã. Eles estavam com os olhares
cravados em sua direção, sorrisos de satisfação desenhando seus lábios.
― O bom filho a casa torna ― brincou Brad.
― Algo assim. ― Abraçou o irmão de raça. ― É bom vê-lo.
― É bom tê-lo em casa, novamente.
Caleb mirou Embry e assentiu para o amigo.
― Acho que nosso Alfa merece uma festa de boas-vindas ― sugeriu
Kian, malicioso.
Brad bateu sua mão na dele, totalmente de acordo.
― Uma corrida com as fêmeas soa como o céu.
Jace bufou.
― É impressionante a capacidade que vocês dois têm de pensar
apenas com a cabeça de baixo. Um verdadeiro milagre que ainda estejam
vivos.
― O que posso dizer? Bucetas são milagrosas. ― Brad galhofou
dissimulado. ― Experimente alguma vez, irmão, e não vai se arrepender.
Jace mostrou o dedo a ele.
― Foda-se!
― Não estou para machos.
Jace rosnou para Brad e os outros riram.
― Vamos lá, grande sábio ― Kian adulou, abrindo o sorriso. ― Uma
corrida não pode ser tão ruim assim. Se não souber o que fazer com a fêmea,
eu me prontifico a ajudá-lo.
Jace curvou uma sobrancelha irônica.
― Com seu pau pequeno? Nah! Passo. Não quero ficar mal falado
com as fêmeas porque sequer fez cócegas nelas.
Kian fez uma careta e mais uma rodada de risos ondulou o ar.
― Agora sei por que sempre está mudando de fêmea, ― Brad
comentou com falso horror, fazendo Kian grunhir baixo. ― Elas não estão
dispostas a voltar depois de verem seu pequeno prego. Pelo menos, levanta?
Consegue vê-lo ou precisa de uma lupa?
Kian afunilou o olhar acinzentado.
― Mãos e joelhos?
― Tente a sorte quando eu morrer. ― Brad se voltou para Caleb
encostado a um pilar da varanda. ― A ideia do pau pequeno ali é boa. Quer
que avise as fêmeas?
― Brad, irmão, se quer ver meu pau, fale ― Kian mofou-se.
O lobo enrugou o cenho para ele.
― Não quero ver seu pequeno pau, irmão. Mas talvez você queira ver
porque as fêmeas sempre imploram para voltar para a minha cama?
― Por que sempre faz as unhas delas?
― São como cadelas no cio ― Embry burlou-se enquanto os machos
se sacaneavam.
Caleb maneou a cabeça.
― Se querem ver o pau um do outro vão para a floresta ― ele disse,
arrancando grunhidos dos dois machos. ― Agradeço a intenção, mas
nenhuma corrida pra mim.
― Caçar então? ― Kian sugeriu.
Brad sorriu com todos os dentes a mostra.
― Eu gosto disso. Podemos chamar as fêmeas e brincar de lobo mal e
chapeuzinho.
Caleb abriu a boca para responder, porém a porta da frente foi
escancarada de repente e por ela uma mulher, pequena e furiosa, passou.
― Seu maldito filho da puta! Como você se atreve a sumir por
semanas e nem me dar uma fodida notícia do seu paradeiro? ― a mulher
pequena vociferava, aparentemente, sem medo nenhum, com os punhos
fechados batendo em seu peito. ― Me responde, seu bastardo! Como você
pode ser tão ingrato desta forma, Caleb?
A fêmea continuou a socar seu peito com raiva, soltando insolências e
maldições a torto e a direita. Caleb manteve-se parado e quieto, sem mover
um músculo sequer, esperando que a raiva dela diminuísse e trabalhando na
sua própria calma com seu animal.
Os irmãos olhavam a cena com diversão, sorrisos zombeteiros e
satisfeitos lhes desenhavam a face, apesar do receio que sentia irradiar deles.
Claro que estavam se divertindo. Se fosse um macho tratando-o
daquela maneira infame, já estaria com a cabeça separada do corpo. E
qualquer outra fêmea não se atreveria a portar-se daquela forma com o Alfa,
exceto sua mãe e a peste de sua irmã mais nova muito enfezada. Caleb não
tirava sua razão, tinha dado motivos suficientes para que Raina estivesse
furiosa com ele.
― Ei, Caleb! ― rapidamente, Paul enrolado numa toalha, apareceu
cumprimentando o Alfa e se voltou para sua companheira enquanto
contornava a cintura dela, puxando-a para ele. ― Fêmea, se acalme. Não é
bom para o nosso filhote que você se estresse. Quantas fodidas vezes vou ter
que te dizer isso?
― Diz isso pra esse fodido que se intitula meu irmão!
Seu macho rosnou em desaprovação. Certamente, quando estivessem
sozinhos, ela iria ser lembrada do porque não se deve desrespeitar a nenhum
macho na frente dos Irmãos da raça, sobretudo, seu companheiro prometido.
― E não rosna pra mim não!
― Eu também te amo Raina ― Caleb disse, dissipando a tensão e
abraçou a irmã, apertando-a contra seu peito e ignorando seu lobo irritadiço
pela insolência dela.
Até que o chá não era tão mal.
― Eu deveria dar uns bons chutes neste seu traseiro gordo por me
deixar sem notícias suas. E fique sabendo que eu liguei para o Senhor e Sra.
Black. Então, eu acho bom você começar a pensar bem em quais desculpas
dar a eles por deixar sua irmã prenha desesperada.
Maldita seja!
Seu pai provavelmente o entenderia, mas sua mãe com certeza lhe
daria um sermão de morte, se ele tivesse com um pouco de sorte.
― Estava com saudades peste ― Caleb se afastou.
― Eu também, seu desnaturado ― ela disse com a voz mais serena e
lhe acariciou a face carinhosamente. Um rosnado baixo atrás de si alertou-a
que seu companheiro não estava contente com a troca de carinho. Shifters
eram possessivos por natureza, não lhes gostavam que outro macho mesmo
que da família se aproximasse tanto de sua fêmea, mas Raina sempre tratava
de ignorava este detalhe. ― Você sabe que se fizer isto novamente, eu irei
arrancar sua linda pele e vou pendurá-la na minha parede como prêmio,
certo?
― Sei ― Caleb zombou. ― Como está meu sobrinho?
― Está bem, não graças a você, é claro, que deixou a mãe dele a
ponto de botá-lo para fora antes do tempo. Mas estamos bem e felizes que
você esteja aqui, novamente. ― Ela lhe ofereceu um sorriso doce. ― E já que
todos estão aqui, eu vou preparar o jantar. Agora entrem e sentem que logo a
comida será servida, e não se atrevam a sujar meu bonito tapete ou o lavarão
com a língua.
Os shifters engoliram em seco, forçando um sorriso pueril quando
entraram na casa.
― Cara, como você aguenta? ― Caleb inquiriu baixinho para Paul,
que sorriu bobamente.
― Eu ouvi essa, hein? ― Raina gritou da cozinha. ― E, querido, ele
não me aguenta, somos a medida exata. Prometidos antes mesmo de nascer.
Você entenderia isso se tivesse a sorte de encontrar sua companheira
prometida.
― Só assim mesmo.
― Está a fim de comer feno, irmãozinho? No celeiro há em
abundância.
Peste.
― Prefiro a sua comida dos deuses, irmãzinha ― ele gritou de volta.
Raina podia até ser uma pedra no sapato, todavia, cozinhava como
ninguém, e o inferno, se ele não estava faminto por uma comida quente e
saborosa.
― Paul, querido, coloque uma roupa. Somos shifters civilizados, não
um bando de selvagens sem pudores.
Todos riram enquanto Paul soltava uma maldição baixinho.
Caleb se juntou aos irmãos na sala.
Logo o burburinho de vozes preencheu o ambiente. Seus olhos
percorreram um a um de seus amigos. Satisfeito por ver a todos bem.
Acomodou-se melhor enquanto Kian contava sobre uma batalha que
presenciou entre shifters-puma.
Ali era onde ele devia estar.
Junto do seu bando e dos seus entes queridos.
O lugar ao qual ele pertencia e que havia conquistado.
Não tinha desafiado o Alfa em comando por ambição ou seu próprio
ego, fez pelos teus e pelo seu povo, para que tivessem a oportunidade de ter
uma vida melhor a aquela vida miserável e desafortunada, que o antigo Alfa
os obrigou a ter por pura ignorância. Caleb desafiou-o pela manhã. Lutou
arduamente e antes que o meio-dia chegasse, ele o venceu ganhando o direito
de reger o bando da forma que achava melhor. E, ele fez.
Todos estavam bem, felizes e progredindo, como tinha que ser.
Este era seu lar. Seu lugar por direito.
3
LAR, DOCE E GÉLIDO LAR

Na manhã seguinte quando Trish despertou, pensou ser noite ainda ou


no mínimo de madrugada, embora seu corpo completamente descansado lhe
dissesse o contrário. Desorientada, ela saltou para fora dos cobertores e
dirigiu-se até uma das janelas da sala, no caminho acendeu as luzes e seu
olhar vagou afora através da vidraça.
Estava tudo, exatamente tudo, escuro.
Nem mesmo um feixe de luz para lhe dar boas-vindas. Nada.
Unicamente podia ver com certa dificuldade os minúsculos flocos de
neve bailando graciosos no ar antes de pousarem no solo com delicadeza.
Oh... Jesus.
O que tinha acontecido com o sol? Será que tinha dormido tanto que
acabou anoitecendo novamente? Ou ainda estava dormindo e isto não
passava de um sonho?
Talvez tivesse despertado pela madrugada. Não, isto era
simplesmente impossível. Sentia-se esgotada demais quando, enfim, rendeu-
se aos encantos da cama...
Os dedos da mão direita escovaram as longas e espessas madeixas
rebeldes para trás, e as sobrancelhas delineadas se encresparam formando um
vinco no encontro delas enquanto tentava encontrar uma resposta plausível
para escuridão lá fora.
Tinha certeza que estava bem acordada. O frio da madeira debaixo de
seus pés nus, gelando as solas, dizia-lhe isto. Ou não? O sonho era tão real
assim? Como aqueles sonhos que de tão intenso você acha mesmo que está
acordada, mas no fim quando abre os olhos percebe que tudo não passou de
um mero sonho realista demais?
Dois toques na porta a sobressaltou.
O coração perdeu uma batida e acelerou.
― Q-Quem é? ― ela perguntou, tentando soar firme e faliu.
― Sou eu. Lee.
Trish quase desmaiou de alívio e foi até a porta.
― Bom dia, Bonita! ― Lee a saudou, passando por ela sem
cerimônia enquanto tagarelava. ― Como passou a noite? Conseguiu
descansar da viagem? Como você chegou ontem e seus armários estão
vazios, eu tomei a liberdade de trazer café e rosquinhas para o café da manhã.
Espero que não se incomode.
Só então Trish percebeu a cesta que Lee segurava.
― Não, de maneira nenhuma. Obrigada por mais isso também...
Espera aí, você disse bom dia?
Fechou a porta com um surdo baixo e se dirigiu para a sala.
Lee ainda arrumava as coisas da cesta sobre o balcão quando lhe
respondeu:
― Com toda certeza. ― Ela anuiu, seu olhar solidário apanhando
Trish. ― Você ainda deve estar um pouco desnorteada pelo fuso, certo?
Trish enrolou os braços em torno de si mesma, desorientada e tanto
perplexa.
― Está brincando comigo? Como pode ser dia se ainda está escuro?
― Ah, céus! Se esqueceu que aqui o sol tira férias no inverno?
― Santo Deus! Acho que estou um pouco confusa.
― Acredito que sim... Aqui.
Trish aceitou a caneca com café fumegante e se sentou no sofá então,
prosseguiu falando enquanto Lee retornava até o balcão pegando o recipiente
com as rosquinhas, antes de se juntar a ela.
― Eu acho que tenho uma vaga memória de ter encontrado esta
pequena informação quando pesquisei sobre a cidade, mas parecia tão irreal
ou simplesmente me esqueci deste detalhe no decorrer da viagem, ou ainda
estou sobre o efeito Jet Lag. Não sei... Só é confuso...
― Entendo. Eu também achei bem estranho assim que cheguei aqui,
que para minha total sorte estava quase no começo do inverno. Desde que
estou aqui o sol apareceu rapidamente e bem fraquinho somente por dois
dias. E depois, puf! Pobre de mim e do meu bronzeado.
― Que horas são exatamente?
― Nove da manhã.
― Meu Deus! Isto é tão... tão inacreditável.
Lee assentiu e riu baixinho do ceticismo da sua nova amiga.
Aos poucos Trish relaxou e sua confusão diminuiu. Seria difícil se
acostumar com o dia escuro, sempre teria a sensação de que era noite e que
ela nunca terminava. Sorrindo, recordou-se de uma velha amiga festeira, que
vivia lhe dizendo que todos seriam mais felizes se a noite tivesse algumas
horinhas a mais. Com certeza, este lugar era a cidade dos sonhos de Emme, e,
se a sorte lhe sorrisse, seria a sua também.
As duas mulheres conversaram e comeram o café improvisado. Em
seguida, elas seguiram para o quarto. Lee se jogou sobre a cama desarrumada
e se espreguiçou enquanto Trish marchava para o banheiro.
― Então, o que temos para hoje?
Trish sorriu para a disposição de Lee. Despiu-se. E, antes de ligar a
ducha, ela lhe respondeu com a voz um pouco elevada:
― Bom, pra começar, eu preciso fazer uma lista do quê irei precisar
para casa e...
― Ah, não dá pra pular está parte chata e irmos direto para o centro?
― Lee perguntou desgostosa, encostada no batente da porta de um jeito
despretensioso.
Trish se escondeu no box e correu as mãos para tapar suas partes
íntimas.
― Lee!
― O quê, meu Deus? ― Lee gritou de volta.
― Um pouco de privacidade seria bom, sabe?
Lee piscou duas vezes, sua boca se abriu ao mesmo tempo em que
seus olhos saíram de órbita, descrente que Trish estivesse com vergonha.
― Você está com vergonha de mim?
Ante ao forte rubor nas bochechas da amiga, ela caiu na risada.
― Qual a graça? ― Trish resmungou, fechando o cenho.
― Você sabe, Bonita, eu sou mulher e original de fábrica. ― Lee
assinalou, quando conteve o riso. ― Portanto, tenho tudo que você tem... É
talvez sejamos um pouquinho diferente, afinal, ninguém é igual a ninguém.
Não sou lésbica, nem travesti, nem trans, tri, bi ou... seja lá mais o que exista.
Sou só uma mulher que gosta de pau. Melhorou?
― Na verdade, não.
― Oooooookay. Perdão... eu vou... eu vou esperá-la no quarto.

Diacho! Lee não queria ter um atrito com a nova amiga ou


envergonhá-la por conta de sua natureza atrevida em menos de 24h após
conhecê-la. Bem que sua querida mãe, que Deus a tenha, tinha lhe alertado
diversas vezes sobre seu comportamento temerário, mas ela não o fazia por
mal. Era natural falar o que lhe vinha à cabeça e ter atitudes que para muitos
eram descritas como insolentes; isto era algo singelo de sua pessoa. Sua
natureza. Até tinha tentado se comportar dentro dos padrões que a sociedade
denominava apropriado para uma mulher da sua idade. Porém, a experiência
quase a levou a uma depressão profunda. O que a fez mandar as boas regras,
que a hipócrita sociedade tinha lhe imposto, para o raio que a parta.
Ser ela mesma não tinha preço.
Ah, droga! E se Bonita não quisesse mais ser sua amiga?
Realmente tinha gostado da mulher. Poderia estar errada, mas para
ela, Trish parecia ser uma pessoa confiável, sincera e muito honesta, e isto ela
prezava em uma amizade. Elas até tinham as vidas parecidas, ambas vieram
de cidades grandes, buscando o sossego aonde o vento fez a curva e Judas
perdeu as botas. Praticamente tinham chegado juntas ao inferninho de gelo,
sem contar que os santos se bateram e tomaram uma cerveja gelada.
Merda. Mamãe deve estar tomando uns bons drinks, deitada em uma
bela espreguiçadeira lá no céu e dizendo: ela não aprende.
Lee se jogou na cama escondendo o rosto nas mãos como uma
criança.

Trish voltou sua atenção para a ducha. Dizer que ela quase tinha
morrido de vergonha seria um eufemismo. As bochechas ainda estavam
vermelhas escarlates e o coração batia na garganta. Nunca antes tinha passado
por situação semelhante.
Ela não fazia o estilo desinibida, porém não era o tipo de garota
abençoada com a timidez extrema. Apenas gostava de privacidade e não
achava necessário se despir, ou, até mesmo ficar desfilando de lingerie na
frente de outras mulheres, mesmo elas sendo amigas.
Trish era uma mulher bonita, em seus 27 anos cultivava uma beleza
distinta. Sua estatura pequena cerca de 1,60 de altura, o corpo curvilíneo,
muito feminina. As coxas roliças e torneadas, os quadris estreitos, a barriga
plana e lisa adornada por uma cintura fina. Os peitos eram dois globos
médios, delicados e empinados, do tipo de encher os olhos, mãos e boca de
um amante na medida certa. Os cabelos lisos e longos com as pontas
encaracoladas cascateavam em espessas camadas negras até a cintura. Os
olhos eram de um azul vivo, os lábios levemente cheios e rosados, a pele alva
e macia.
Precisaria ter uma conversinha com sua nova amiga e impor alguns
limites. Se bem que ela duvidava muito que Lee fosse "respeitá-los", não por
desrespeito, senão porque ela parecia fazer o estilo espírito livre, bem ao
inverso de Trish.
Assim que retornou ao quarto, enrolada na toalha, Lee se endireitou
sobre a cama e lhe jogou um olhar.
― Me desculpe, Bonita. Eu sei que ás vezes sou um tantinho invasiva
e atrevida, e tudo mais que está incluso no pacote da insolência, mas acredite,
não foi minha intenção deixá-la envergonhada. Eu nunca faria isto de
propósito, juro.
― Está tudo bem, Lee, eu não estou brava. Somente não estou
acostumada com uma mulher me admirando enquanto me banho ― ela
brincou, tentando amenizar o clima de tensão, o efeito foi instantâneo. ― E
gostaria que isso não se repetisse.
Trish puxou a mala, pegou algumas roupas e voltou a empurrar a mala
para debaixo da cama.
― Eu não estava te admirando, okay? Eu olhei um pouquinho porque
tenho olhos, né? E sabe que você não é de se jogar fora. Tá com tudo em
cima.
― Obrigada.
― Então está tudo bem entre a gente? Sem mais DR's?
― Sim, Lee. Sem "DR's" desde que você não me mate de susto.
Trish retornou ao banheiro para se vestir.
― Ufa! Que alívio! ― Lee encenou. ― Pensei que eu teria de me
ajoelhar aos seus pés e te implorar perdão.
― Alguém já te disse que você é muito dramática?
― Humm... Acho que sim, sei lá, não lembro. Então, você ainda não
me respondeu sobre a lista chata. Tem certeza que precisa fazê-la?
― Absoluta ― ela apontou de volta ao quarto e devidamente vestida.
Ante a careta da jovem, Trish completou. ― Você não é muito organizada,
certo?
― Eu estou mais para "bagunça organizada". Serve?
― Sei.
― Não dá para marcar só na cabeça? ― Lee continuou esperançosa
enquanto Trish mexia na bolsa a procura de um bloco de papel e uma caneta.
― Não, não dá.
Dez minutos depois, elas estavam sentadas em torno da mesa. Lee em
nenhum momento parou de reclamar, quando não era com palavras, eram
com ruídos, caretas e longos suspiros pesarosos, como qualquer criança de
cinco anos faria.
Paciência não é o forte dela.
Trish deixou a caneta de lado e olhou para a amiga. Seu olhar era
divertido, a careta em sua face denunciava que ela se esforçava para não rir
alto.
― Se você me ajudar, poderemos perambular por aí mais
rapidamente.
― Isto ainda não me soa animador ― Lee retrucou emburrada e, em
seguida, jogou os ombros. ― Só estou avisando.
― Você não faz lista de nada?
― É claro que não! Por que raios eu iria perder tempo com isso?
― Você deve ter uma excelente memória, porque confesso que a
minha não é tão boa. Se não marcar o que preciso comprar antes de sair,
sempre me esqueço de algo.
― Na realidade, vez e outra, eu acabo esquecendo alguma coisa...
Okay. Todas às vezes eu me esqueço. Sempre tenho aquela sensação de que
estou esquecendo de algo e só vou lembrar quando chego em casa, aí já é
tarde. Mas eu detesto lista e qualquer coisa do gênero. Acho que passei tanto
tempo fazendo tudo dentro dos padrões e com listas pra tudo quanto é lado, e
para todo o tipo de coisas. Isto é tão ridículo. E, na boa, é uma perda de
tempo. Eu vejo esse negócio de listas como um vício. Você não vive. Pior,
ele te domina, não você a ele... Enfim, eu as odeio.
― Entendi. Mas eu gosto de ter todas as minhas coisas organizadas,
assim quando precisar sei onde tudo está e já vou direto ao meu objetivo sem
ter que colocar a casa do avesso. E eu não sou refém das listas. Sou prática e
organizada.
― Se você diz.
Minutos mais tarde, elas se encaminharam para o centro da cidade a
bordo de uma velha Cherokee azul. Era incrível como tudo era diferente do
que estava acostumada. Começando pelo clima gelado e seco, a temperatura
deveria estar -15°C no mínimo. Depois as casas, todas muito simples com as
luzes acesas e fumaça saindo das chaminés. As residências não eram
agrupadas próximas umas das outras, como nas cidades comuns, dava a
impressão de que as construíram deste modo "pingado" para que se parecesse
com uma cidade, até mesmo a igreja ficava a umas boas pernadas da casa
mais próxima. Na avenida principal se localizava os principais
estabelecimentos da cidade como o banco, a lanchonete, a delegacia, uma
padaria, um supermercado, um clube country, hotel. E no final, se encontrava
um pequeno hospital.
Pouquíssimas pessoas se aventuravam nas ruas frias, e todas elas
estavam bem escondidas dentro de grossos casacos e botas. E, por último e o
mais estranho, o "dia escuro" era uma coisa d'outro mundo. Trish tinha sérias
dúvidas se algum dia iria se acostumar com aquilo.
Após fazer todas as compras necessárias, Lee a arrastou para quase
todos os lados da cidade e também para os pontos turísticos, outra surpresa
para ela, pois, apesar do lugar ser afastado do resto do mundo e fazer um frio
intenso capaz de matar qualquer um em menos de cinco minutos. A cidade
possuía pontos turísticos e era visitada por pessoas de todas as partes do
mundo.
Não era feia, apenas diferente.
Na realidade, intrigante por sua estranheza.
Lee também a levou ao seu emprego e a apresentou para todas as
colegas de trabalho, e para alguns moradores que comiam no local. Elas
também aproveitaram a deixa para almoçarem no Parisiense&Coffee.
Por volta das três da tarde, elas retornaram para casa.
― E aí? O quê achou da cidade? É bem legal, né?
Lee desligou o motor do veículo.
― É até bonitinha, Lee. Bem pitoresca. Na verdade, um tanto quanto
intrigante, principalmente, o breu em plena tarde. Gostei muito das lojinhas
artesanais e do pessoal daqui. Eles são bem calorosos e gentis, o oposto do
que eu pensei quando cheguei, sabe?
Ela tinha mordido a língua. O povo se mostrou muito receptível, todos
a trataram muito bem fazendo com que ela se sentisse em casa.
― Aquelas lojinhas de produtos naturais e de suvenir são do pessoal
da aldeia.
Os olhos de Trish se estreitaram.
― Eu não sabia que aqui tinha qualquer aldeia.
― Há varias aqui por perto. Mas a Snowville é a mais conhecida,
embora seja uma das mais reservadas também, se não a mais. Ela fica ao lado
da montanha Blakestood. Aqueles produtos todos que você gostou são de lá,
o pessoal daquelas bandas é bem talentoso e criativo.
Trish assumiu que sim. Havia uma variedade de produtos naturais em
uma das lojas que visitou. Os sais de banho, sabonetes e os perfumes foram
os que ela mais gostou, sem falar nos artesanatos talhados a mão com tal
perfeição e riqueza de detalhes, que ela duvidou que um ser humano fosse
capaz de fazê-lo.
― Você já foi lá?
― Nunca. Também nunca conheci ninguém de lá... Minto. Conheci
uma senhora, que por sinal, é muito simpática. É ela quem administra as
lojinhas. O nome dela é bem comum, mas eu sempre me esqueço... Enfim, o
povo de lá raramente vem à cidade, sabe, e pelo pouco que ouvi desde que
estou aqui, eles são bem estimados, todos aqui falam deles com muito
respeito.
A curiosidade atingiu Trish como uma flecha.
― Por que você nunca foi lá?
― Primeiro, a caminhada é longa, e outra, eu não me atreveria a subir
lá com este tempo, ainda mais no escuro. Segundo, precisamos de uma
autorização. Pelo que soube, eles são uma comunidade muito unida e
fechada. Há uma pousada lá em cima, mas eles só abrem na temporada de
férias para os turistas, porém tudo tem que ser marcado com antecipação.
Sem reservas, sem visitação. ― Trish pendeu a cabeça levemente para o lado,
muito interessada nas informações. ― Tabby foi fazer uma entrega lá uma
vez e chegou aqui sonhando... Ela disse que os homens são lindos e quentes
como o inferno. Então, quando a primavera chegar, nós podemos ir lá
conferir?
― Acho que não Lee.
― Ah, Bonita, é sem compromisso! Não é como se nós fossemos sair
de lá casadas. Tabby contou que os homens são muito, muito quentes, ao
estilo Hollywood só que real e sem truques. Nós precisamos ver isso de
perto... tocar, hein? E, talvez dar umas bitoquinhas ou alguns amassos sérios
e...
Trish cortou o sonho da outra mulher. ― Lee, se formos lá, para mim
será somente para conhecer a aldeia e os costumes deles. Encanta-me essas
culturas exóticas e diferentes, mas é só para isso. A última coisa em minha
lista de prioridades é um relacionamento. Não quero ninguém na minha vida
por um longo tempo.
― Tudo bem, Bonita. Então ficamos assim, na primavera farei as
reservas. Você vai ver a cultura e tudo mais de chato, e eu vou dar uma
fiscalizada nos machos da aldeia. Eita, que eu mal posso esperar por isso!
Vou até contar os dias na folhinha.
Trish gargalhou.
― Você não existe.
Trish desceu do carro e o ar gelado beijou sua face.
― Ah, já estava me esquecendo ― Lee disse quando seguiu para
parte traseira do veículo. ― Você precisará comprar um snowmobile. É
muito mais prático. Ás vezes neva demais e as máquinas não dão conta.
― Percebe-se. Também preciso de um carro. Não precisa ser novo, só
precisa ser bom o suficiente para aguentar estas estradas.
Trish pegou algumas das muitas sacolas de compras. Lee pegou outro
punhado delas e a acompanhou até a cabana.
― O Sr. Hunter me ajudou comprar meu snowmobile e meu carro.
Podemos falar com ele quando voltarmos à cidade ou, se preferir, amanhã eu
posso falar com ele no meu serviço. Ele sempre toma café lá. Tenho certeza
que ele te ajudará também.
Depois de colocarem todas as sacolas na cabana, Trish se voltou para
Lee.
― Eu posso usar seu telefone? Eu preciso ligar para a companhia
telefônica para pedir a eles que instalem uma linha em casa.
― Claro!
Lee a deixou a vontade em sua cabana. Após alguns minutos de
conversa ao telefone, Trish desligou, sua expressão levemente contrariada.
― E aí?
― Eles só poderão vir daqui a duas semanas por causa do mau tempo.
― Este é o ruim daqui, pelo menos eles virão ― Lee tentou animá-la.
Trish sorriu e se acomodou melhor.
― Agora a única coisa que falta é arrumar um emprego, antes que
meu dinheiro acabe. Não quero ficar recorrendo às minhas economias, tenho
outro destino para elas. Mas isto eu verei amanhã. Hoje eu só vou ficar com a
arrumação de casa.
― Qual função você exercia no seu antigo emprego? Ou você não
trabalhava?
― Sim, eu trabalhava. Na verdade, trabalho desde sempre. Logo que
me formei em Economia, consegui uma vaga em uma Corretora da Bolsa.
― Legal! Eu trabalhava em um jornal, o Charlotte Observer. Já ouviu
falar? ― Trish negou. ― Que pena. Eu fazia os obituários... Pois é. Dá pra
acreditar nisso? Imagina quando os caras me perguntavam sobre o meu
trabalho? Era a morte! ― Lee soltou uma gargalhada alta e Trish a
acompanhou. ― Sem trocadilhos.
― Eu nunca imaginaria você exercendo esta função.
― Nem eu, Bonita. Mas era o que tinha e eu precisava do emprego.
Sabe, acho que meu chefe filho de uma vaca só me presenteou com este
setor, porque eu era alegre demais. Isso era uma ofensa para ele... Quem
melhor do que uma garota cheia de vida para trabalhar com a "lista dos
mortos"?
― Você só trabalhou neste setor?
― Não. Eu estava no setor de esportes, mas tive um probleminha.
― E que probleminha seria este?
Trish se endireitou no sofá.
― Eu sempre quis sair em campo e entrevistar aqueles atletas
musculosos gostosos de doer os olhos. O problema é que eu não entendia
muito do assunto, mas eu estudei bastante até que consegui minha chance de
mostrar ao meu chefe meu empenho e de quebra receber uma promoção...
Enfim, peguei algumas dicas com alguns colegas e me preparei para o grande
dia. Era a semifinal da liga de basquete, então já dá pra imaginar: estádio
cheio, imprensa pra tudo quanto é lado, aquela bagunça organizada que eu
amo. Eu sempre torci pelos Bobcats e para o meu azar o jogo era entre eles e
os Hawks. Eles perderam feio, de lavada mesmo. E pior, não jogaram nada.
Eu fiquei tão revoltada que quando chegou no intervalo, ao invés de
entrevistar os malditos jogadores, eu os xinguei e parti para cima deles com o
microfone, só não fiz um grande estrago porque me seguraram. Uma pena...
A entrevista era ao vivo. Meu chefe quase me esfolou viva, e só para me
castigar, me fez escolher entre o obituário e a rua.
― Santo Deus, Lee!
― Eu que o diga. O vídeo caiu no Youtube, e aí minha carreira se
afundou de vez. Fizeram diversos estilos de paródias. A que eu mais gosto é
uma no estilo reggae. Você tem que ver, Bonita, ficou tão hilário. Qualquer
dia desses eu te mostro.
― E depois disso seu chefe manteve seu emprego?
― Sim, mas se encarregou de que eu permanecesse nos obituários o
resto da vida... Bem, pelo menos, fiquei famosa, né?
― Por isso veio pra cá?
― Também. Minha carreira no jornalismo se dizimou há tempos,
embora ainda tenha alguns amigos no ramo, todos grandes filhos da puta ―
Lee disse entre risos. ― O que eu quero falar mesmo é sobre o emprego que
você disse. Eu não sei se você vai se interessar, mas vou falar do mesmo jeito
e você decide... Onde trabalho vai abrir uma vaga, uma das funcionárias sairá
de licença a maternidade amanhã. E, se você quiser, eu posso falar com
minha chefe sobre você. O salário não é uma maravilha, mas dá para suprir as
necessidades básicas.
― Fale-me mais sobre o emprego, por favor.
― Tirando a minha chefe que é o diabo de saias, o lugar é bom e
agradável, as pessoas que trabalham lá também são ótimas e os clientes são
bem gentis. É claro que, de vez em quando tem um para encher o saco. Lá
trabalhamos felizes quando a chefe do próprio inferno resolve nos dar um
descanso.
― Ela não pode ser tão ruim assim ― Trish meditou.
― Uhum.
― Como é o serviço Lee?
― Ah, então! Todos fazemos um pouco de tudo, quero dizer, a
Josephine e a Marie ficam somente na cozinha. Tabby, Linda, Kelly e eu nos
revezamos no balcão, nas entregas e no atendimento das mesas. E também
revezamos os horários, porque a loja abre às cinco da manhã e fecha às onze
da noite. Eu entro às duas da tarde. Ás vezes saio para fazer algumas
entregas, mas quem geralmente faz este serviço é a Tabby. Raramente, tipo,
muito raramente a chefona manda a Josephine fechar a loja. Enfim,
trabalhamos com a esposa do demo, mas somos felizes. Lá sua risada é
garantida.
― Eu gostei muito do local e as meninas são bem simpáticas.
― Bonita, eu não quero apressar nem nada, mas aqui é difícil arrumar
emprego. E quando aparece uma vaga, é disputada a tapa. E, se você pensa
em arrumar algo parecido com o que você tinha antes, eu sinto em te dizer,
mas aqui não há nada parecido, nem que pague o salário milionário que você
ganhava.
― Eu sei disso, Lee. Nem quero nada parecido com meu antigo
emprego, talvez mais pra frente quando puder ter meu próprio negócio, mas
agora não.
― Então?
― Okay. Eu vou pra casa arrumar minhas coisas e a noite eu te trago
meu currículo. ― Trish se levantou e seu olhar disparou para uma das
janelas, a noite ondulava o ar lá fora, mesmo todos afirmando ser dia. ―
Deus! Isso é sinistro.
― Você se acostuma, Bonita. ― Lee a acompanhou até a porta. ―
Eu vou ficar te esperando. Já sabe, bata e entra.
― Obrigada por tudo, Lee. Eu não sei o que faria se não tivesse você
aqui para me ajudar. Tem sido maravilhosa.
Pelo resto da tarde, Trish se dedicou a organização de seus pertences
pessoais e das compras que tinha feito, e também aproveitou para faxinar a
cabana a seu gosto.
Embora seu novo lar fosse minúsculo comparado ao seu antigo,
somente por volta das sete da noite ela terminou de arrumar metade das
coisas em seus devidos lugares. Estava esgotada. Os pés doíam um absurdo.
Os músculos estavam tensos e doloridos.
Após um banho relaxante de espuma, ela vestiu um moletom
confortável, um agasalho pesado e botas, pescou o currículo de dentro da
gaveta e levou para Lee.
Trish estava feliz. Tudo estava dando mais certo do que ela tinha
imaginado. Em apenas um dia já tinha feito amizade com a maluquinha da
sua vizinha, que por sinal era muito amável e, embora tivessem vidas e
personalidades completamente diferentes, elas tinham algo importante em
comum: ambas buscavam uma nova vida.
A princípio, quando tivera tomado a decisão de se mudar e dar um
novo rumo a sua vida, não imaginou que as forças do universo conspirariam a
seu favor. Certamente, Deus resolveu recompensá-la pelos anos de ausência e
deu uma espiadela nela quando ela decidiu mudar o curso de sua vida. Tudo
estava fluindo bem demais e, se a sorte continuasse a lhe sorrir, também
estaria empregada até o final da semana. Isto era mais do quê podia imaginar.
De volta a sua cabana, ela fez uma refeição rápida e se acomodou no
sofá.
Seus olhos cravaram na escuridão afora através do vidro sem
realmente ver nada, além das imagens que passam em sua mente desde que
tomara a decisão de partir até algumas horas mais cedo. Uma leve rajada de
raiva se quebrou sobre ela.
Só Deus sabia o quanto Trish tinha lutado e trabalhado duro para
chegar aonde chegou na profissão que escolheu desde que se entendera por
gente.
Economia a encantava.
Tinha dedicado anos de estudo, observando como os grandes
trabalhavam, dando o melhor de si para ser uma perfeita profissional, senão a
melhor. E quando, finalmente, atingiu o seu tão sonhado sonho, mal teve
tempo de desfrutá-lo, pois o céu caiu sobre sua cabeça e tudo se desfez. Todo
seu esforço, sua luta e seu suor eram menos que nada. E então, o inferno se
apresentou, tornando sua vida já complicada em um verdadeiro tormento.
A vida às vezes podia ser bem injusta.
Por muito tempo pensou que Deus estava ocupado demais com os
seus próprios problemas para ajudá-la com os seus, ou talvez Ele apenas
estivesse tirando uma com sua cara. Alguns meses no inferno quase fizeram
Trish perder a fé. Mas, então, para o compadecimento de seu ser, quando sua
fé estava por um fio, suas preces, enfim, foram ouvidas. Então, veio o
desespero, a ânsia da possibilidade de mudar de vida e recomeçar do zero em
outro lugar. Como não podia ser em outro planeta como era de seu desejo,
Inuvik surgiu e lhe pareceu ser a melhor opção. Não era em outro planeta,
mas distante o bastante da civilização e de seus demônios particulares. A,
pequena e pacata gélida, cidade acalentou seu peito e reavivou suas
esperanças. Embora o medo da incerteza de não saber o quê a aguardava no
novo lar fizesse suas veias gelar, Trish apostou todas as suas fichas no novo
destino.
Trish não era uma mulher que desistia diante de uma queda, por mais
dura e dolorosa que fosse. Ela era uma mulher forte e destemida, e sabia que
a vida não brincava, nem vacilava. Ela era um mero ser humano tentando
sobreviver em meio a tantos males, e também possuía seus defeitos. Assim
como todo mundo, ela já tivera fraquejado. E quem não tinha?
Mas desistir, jamais!
Neste momento, a única coisa que poderia fazer era agradecer por
tudo estar correndo melhor do que poderia imaginar. Até mesmo agradecia
pelo piloto lunático, o qual, apesar do voo cheio de emoções que ele tinha lhe
proporcionado, também tinha lhe trazido com vida ao seu destino final e, de
certa forma, contribuído para que ela pudesse comprovar com seus próprios
olhos que nem tudo estava perdido como pensara.
Podia se atrever a pensar que Deus tinha direcionado seus olhos a ela.
Finalmente.
4

ESTRANHEZAS

Trish entrou no escritório, que ficava nos fundos da P&C. Um sorriso


amistoso delineava seus lábios rosados preenchidos com um gloss claro. Não
estava nervosa, anos trabalhando com gente poderosa e esnobes lhe
ensinaram a controlar seus ânimos.
― Olá, sou Trish Mitchell ― ela disse, estendendo a mão para sua –
talvez – futura chefe, a qual ignorou seu gesto e a mediu de cima abaixo com
o olhar zangado e sem vontade.
― Sente-se. ― Espantada demais com o tom seco e a postura fria da
mulher, Trish empacou, aturdida pela rudeza gratuita. ― Está esperando o
quê, Srta. Mitchell? Que eu puxe a cadeira? Ou que eu me levante da minha
para a senhorita se sentar?
Piscou três vezes.
Mastigando seu orgulho e a irritação crescente, ela se sentou
congelando sua faceta amistosa, mas por dentro estava como um touro bravo
pronto para derrubar o toureiro.
Puta merda.
Agora era obrigada a concordar com a amiga. Lee não tinha
exagerado ao definir a patroa. A mulher era amarga como o fel. Se tivesse
muita sorte seria contratada, se bem que o olhar nada amistoso da megera já
lhe dizia para não ter tanta esperança.
― Eu sou Maya Crawford, dona do estabelecimento, mas imagino
que isto você já saiba... ― a mulher de feições duras murmurou enquanto
examinava seu currículo. Os olhos fundos e as grandes olheiras ao redor deles
denunciavam que ela pouco tinha dormido nos últimos dias. Talvez este fosse
o motivo para tanto mau-humor logo pela manhã. Isso fez a irritação de Trish
diminuir, e ela se solidarizou pela mulher. ― Pelo que vejo aqui senhorita
Mitchell...
― Trish. Me chame de Trish, por favor.
Maya aprofundou sua carranca com o corte. ― Se quiser trabalhar
aqui, Srta. Mitchell, terá de aprender a usar o formalismo. A Senhorita está
no seu, talvez, futuro ambiente de trabalho e isto requer certo
profissionalismo, não?
― Claro. Desculpe-me. Não acontecerá novamente, eu só achei que...
― Será paga para atender aos clientes, não para praticar adivinhações
e achismos. Agora, como eu ia dizendo, antes de ser grosseiramente
interrompida, vejo aqui que a Senhorita trabalhou em uma das Corretoras
mais bem conceituadas no ramo de investimentos e também exercia um cargo
de prestígio na mesma. O que lhe garantia um ótimo salário... ― ela meditou,
tomou fôlego e olhou nos olhos de sua entrevistada, intimidando-a com as
profundezas de um azul gélido. ― Isto me deixa um tanto quanto curiosa e
me leva a uma pergunta que não quer calar. Por que pediu as contas e veio
para cá? Não é fácil alcançar o posto que a Senhorita exercia, ainda mais com
sua idade. E esta Corretora não é do tipo que oferece um cargo como esse a
uma pessoa tão nova, a não ser que ela seja muito competente. Então volto a
te perguntar, por que desistiu do cargo e de todos os privilégios que tinha, e
veio justo pra cá?
Não, ela era o cão. Definitivamente, o diabo de saias como Lee
afirmava.
Trish trincou os dentes com a insolência e grosseria da mulher.
O quê ela estava pensando?
Certamente, não que ela era uma profissional competente, senão
talvez uma prostituta.
― Não me entenda mal, mas isto é um assunto pessoal do qual eu me
reservo ao direito de não falar. Porém, se pensa que sou uma criminosa, os
antecedentes criminais estão aqui para comprovar que nunca tive nenhum
problema com a justiça. ― Trish pescou um papel de dentro da pasta, que
trazia consigo, e entregou a mulher. ― Posso garantir, Srta. Crawford, que
não abandonei meu emprego por falta de competência. Como pode ver, o
cargo que exercia antes não era para qualquer um e muito menos por conta de
favores. A empresa tem prestígio e um nome a zelar, portanto, a pessoa
deveria sê-lo muito competente, e acredito que posso dizer que eu fui e
muito.
A ferocidade e a sutil pontada de arrogância em sua voz pegaram a
Megera de surpresa, Trish tinha certeza. Ela não esperava que Trish a
enfrentaria de igual para igual. Não mesmo. Sua aparência frágil demais,
como sempre acontecia, ludibriou os olhos da Megera também. Ela não sabia
como, mas sentia que sua postura altiva tinha agradado a mulher, embora esta
mantivesse a careta azeda, como se o mundo a devesse por algo.
― Sabe que não poderei pagar um terço do que te pagavam no seu
antigo emprego, certo?
De fato, estava faltando um pino na cabeça daquela mulher.
― Sim.
― Por que quer trabalhar aqui? Sei que a cidade não é grande, mas
com o seu currículo poderia arrumar um emprego que lhe pagasse mais do
que eu posso oferecer.
Você vai me contratar ou não? É sim ou não, porra.
Respirou fundo. ― Bom, Srta. Crawford, eu me mudei há pouco,
exatamente há quatro dias. Não vim pra cá atrás de um salário milionário, se
esta fosse minha intenção, não teria partido de Nova York. Quero o emprego
aqui porque me familiarizei com o ambiente, parece ser um local agradável
para se trabalhar. O baixo salário não me importa, eu posso sobreviver com
ele e eu estou precisando do serviço.
― Quer o emprego por que lhe é agradável?
― Também.
― Acredita que o trabalho aqui é fácil, digo, atender as mesas, se
revezar no balcão e ás vezes levar algumas encomendas, até mesmo ajudar na
limpeza?
― Eu nunca tive medo do trabalho duro, Srta Crawford. ― Trish
soou determinada e ofendida, e mais uma vez, Maya pareceu se surpreender e
se agradar. ― Não penso que será fácil. Mas não desistirei por conta disto.
― Ainda acho que com o currículo que a Senhorita tem, deveria
procurar outro emprego que se encaixasse melhor no seu perfil.
Infernos. A mulher estava testando sua paciência ou o quê?
― Srta. Crawford, sua loja pelo que soube está precisando de um
funcionário e eu de um emprego. Não vejo porque complicar isso.
― Muito bem Srta. Mitchell. Se quiser o emprego, ele é seu.
― Obrigada ― ela empurrou entre os dentes.
― Esteja aqui amanhã as duas da tarde e não se atrase. Pontualidade é
algo que estimamos por aqui. Sobretudo, eu.
― Claro.
― E traga seus documentos. Acertaremos os valores amanhã. Agora
pode se retirar.
Ooooooookay. Isto não foi legal. Nenhum pouco educado.
Quem esta fulana estava pensando que ela era? Uma criança? Ou uma
dessas adolescentes que não sabem honrar seus compromissos? Que mal
educada!
Certamente, ela faltou às aulas de boas maneiras.
Engolindo sua fúria, Trish deixou o pequeno escritório.
― E então? ― Lee indagou esperançosa quando veio até ela.
― Vamos indo ― Trish resmungou, se encaminhando para fora da
loja.
― Tchau gatonas e até amanhã. ― Lee murmurou para as colegas de
serviço e soprou um beijo, antes de seguir Trish fora da loja.
― Aquela mulher é o cão. Nunca vi uma pessoa tão mal educada, tão
sem vontade e tão arrogante como ela ― a jovem ralhou quando Lee a
alcançou na calçada.
― Você disse "tão" três vezes.
― É só que ela é tão... Urgh!
― Eu te disse, Bonita, a mulher é o capeta chupando limão. Você é
quem não quis acreditar em mim. Isso é a falta.
Trish bufou enraivecida e passou a andar com Lee ao seu lado.
― Eu estou falando a sério aqui, Lee.
― Eu também. ― Trish revirou os olhos e bufou, novamente. ―
Olha, tudo indica isso. Pense comigo, por detrás daquela carranca azeda até
que a mulher não é de se jogar fora, é bonita, tem um corpão legal, mas o
problema é o mau humor infernal. Isso toca os homens. A coitada deve estar
desesperada por uma boa foda. Mas como ela vai conseguir isso, se não deixa
os pobrezinhos chegarem perto? ― Trish riu e sacudiu a cabeça, esquecendo-
se um pouco de sua irritação. ― É sério, Bonita. Eu nunca a vi com nenhum
homem desde que comecei a trabalhar lá, e a Tabby que trabalha a mais
tempo que eu, exatamente um ano, também disse que nunca a viu com um
homem, aliás, eles a temem. Onde já se viu isso? E, bem, não é como se
houvessem muitos homens aqui pra gente se dar ao luxo de pisar.
― Vocês não cogitaram a ideia de que talvez ela seja uma mulher
reservada, que não gosta de expor seus amantes e sua vida pessoal?
― Há, há! Faça-me rir. Que amantes? Só se for um belo vibrador.
Isso se ela souber o que é um. O que eu, particularmente, duvido.
― Lee!
― É verdade. Sabe que antes de você chegar, Tabby e eu estávamos
pensando em comprar um e mandar para ela, com um bilhete de "Relaxe e
goze". Mas não fizemos porque Josephine ameaçou nos delatar.
― Pelo menos uma tem juízo.
― Jojo corta toda nossa diversão ― resmungou, fazendo beiço. ― Eu
gosto dela, mas os anos lhe deram uma seriedade e uma chatice que por
Deus! Jojo é aquela senhorinha de cabelos grisalhos, sabe, a que faz os doces
divinos?
― Sei.
― Imagina só, Bonita, a cara da chefinha quando recebesse o
presente? Ia ser tão hilário.
― E você despedida se ela descobrisse de quem partiu a ideia.
― Vira essa boca pra lá! Tudo bem que a mulher é o cão, mas eu
gosto do emprego, até ela me agrada, se quer saber.
― Okay, Lee. Vamos deixá-la em paz por um momento, sim? As
orelhas da coitada já devem estar ardendo uma hora dessas. ― Lee assentiu,
ocultando um sorriso sapeca. ― Aonde é mesmo aquela loja de móveis que
você me falou ontem?
Um mês e meio depois...
― Trish, querida, você poderia ajudar Marie na cozinha por alguns
instantes? Preciso falar com o gerente do banco, antes que feche.
― Claro, Josephine. Já estou indo.
― Obrigada, querida. Tentarei ser breve.
― A rainha do inferno está sabendo? ― Lee sussurrou fazendo graça.
Trish jogou-lhe um olhar de recriminação enquanto Josephine, mais
acostumada com o jeito espontâneo da jovem, sorria pensando ser uma boa
coisa ter sua audição afiada. Apesar disso, não podia negar que Lee era
adorável e divertia a todos, e, embora por vezes tivesse vontade de dar-lhe
umas boas palmadas no traseiro, ela possuía um carinho maternal pela
mulher.
― Qualquer dia desses, ela ainda vai te escutar, aí eu quero ver ―
Trish disse.
― Ué, eu só não quero que Josephine receba uma espetada com
tridente da nossa adorável chefinha. ― Encolheu os ombros e sacudiu a
cabeça. ― Ingratas.
Josephine arrebatou sua bolsa detrás do balcão. ― Sim, querida, eu já
pedi a permissão da Sra. Crawford. Não se preocupe, eu estarei bem. ― A
senhora beijou a face das duas jovens e contornou o balcão. ― E Trish, não
se preocupe. Eu geralmente não escuto metade das palavras que minha
criança diz todo santo dia.
― Eu também te amo, Jojo.
Rolando os olhos para Lee, Trish seguiu para a cozinha.
Desde que começara a trabalhar na P&C seus dias tornaram-se mais
produtivos. Fora uma bênção Lee ter aparecido na sua vida logo que chegou.
É claro que grande parte de tudo que estava acontecendo se devia a sua
coragem de enfrentar o novo, estabelecer moradia num lugar longe do mundo
e recomeçar do zero, porém sua amiga tinha contribuído para que tudo se
tornasse mais fácil. Se não fosse por Lee, teria penado um bom bocado ―
conseguido sim ―, mas penado com toda certeza.
Lee e ela tornaram-se grandes amigas como tinha imaginado e
também, como previu, os limites impostos a ela não estavam dando muito
certo. Lee até tentava não ultrapassá-los e Trish tinha de lhe dar alguns
pontos pelo esforço.
Porém, como ir contra a sua natureza?
O trabalho era bom, um tanto quanto cansativo e uma distração a
parte. O estabelecimento era dividido em duas partes ― café e restaurante ―
tudo muito limpo e organizado. Os primeiros dias foram difíceis, sua chefe
fizera questão de fiscalizar seu empenho pessoalmente. Sempre tão mal
humorada e azeda que não lhe admirava as pessoas a temerem tanto, e lhe
darem apelidos tão pejorativos.
Na primeira semana, a clientela pareceu querer conhecê-la, pois
compareceram em peso na P&C. O trabalho foi corrido e mesmo com alguns
contratempos tudo dera certo, e a contar por sua não demissão, passara no
teste da Megera. Tanto Lee como as colegas de trabalho e, até mesmo os
próprios clientes, ajudaram-na a se sentir mais confortável. O que
impressionava era o movimento. P&C aparentemente era o local preferido do
povo local e dos visitantes. O lugar era realmente muito agradável e a comida
deliciosa. Marie e Josephine cozinhavam como os deuses.
Trish também conheceu o Sr. Hunter, um senhor muito simpático e
cheio de histórias para contar. O homem tinha uma imaginação e tanto. Ele a
ajudou a comprar seu snowmobile, o que já era de grande ajuda. Não queria
ficar dependendo de Lee todas as vezes que precisasse ir ao centro ou ao
trabalho.
― Jojo ligou avisando que demorará um pouco mais ― Kelly avisou,
colocando sua cabeça pela fresta da porta da cozinha.
Lee escancarou a porta e passou por ela. ― Acho que alguém vai
servir de prato principal no jantar da esposa do vermelhinho.
― Da onde você tira essas pérolas?
Trish picou mais um punhado de batatas em cubos e despejou-as
dentro de um recipiente de vidro, e então, partiu para os tomates.
Lee pescou uma tortilha de framboesa e sentou-se num banquinho.
― Minha mente é muito privilegiada, Bonita.
Marie olhou.
― Você não deveria estar no balcão atendendo os clientes?
― O movimento está fraco, acredito que Kelly dá conta.
― Desse jeito quem servirá de prato principal será você, criança.
Lee enfiou na boca o último pedaço da tortilha e rumou para fora.

****

Cerca de duas quadras dali, na Rua St. Petrus uma camionete


vermelha 4x4 estava estacionada nos fundos da loja Naturalis enquanto era
descarregada.
― Que tal se nós dermos uma passada na P&C antes de voltarmos?
― Jace sugeriu, após aparecer na porta.
― Oh, cara! Nem me fale nisso agora. Só de pensar naqueles muffins
deliciosos meu estômago chora ― Kian lamuriou, e no mesmo momento, seu
estômago roncou alto como se estivesse feliz por ser o assunto. ― Não disse?
Os amigos riram da sua encenação.
Caleb se aproximou.
― Só falta descarregarmos mais estas caixas na outra loja então,
podemos ir.
― Não podemos ir lá primeiro e depois terminamos de descarregar?
― Não ― Caleb assinalou, voltando para a loja com a última caixa de
cremes naturais e a colocou sobre as outras no pequeno depósito.
Em geral, o trabalho de entrega dos produtos, que Snowville produzia,
era feito por machos civis. No entanto, Caleb assumiu que uma ida a cidade,
uma vez que já fazia meses desde sua última visita, podia ser uma boa coisa
para seus nervos. Embora ele se esforçasse para se concentrar nos deveres do
bando e de se encontrar um pouco mais calmo, Caleb não estava feliz. O
esforço para se manter perto dos seus sem enlouquecer era infinito e o
deixava irritado pra caramba. Não obstante, a súbita e estranha vontade que
seu lobo desenvolveu para estar à beira do caminho, exatamente de frente
para a mesma maldita cabana, o estava acalmando. Ele tinha voltado lá noite
após noite, e a cada vez sua vontade de permanecer lá fora aumentando até
chegar ao ponto que seu lobo começou a exigir uma aproximação maior.
Nunca tinha visto o humano.
Não compreendia a vontade do lobo e, tampouco, a obedeceu. O que
deixou o animal muito descontente. Porém, ele seguia seu passeio todas as
noites, como se praticasse um mantra, acalmando assim o animal em seu
interior, que permanecia contrariado, mas contente por ao menos estar lá.
Entretanto, seus passeios há alguns dias começou a atormentá-lo, pois o lobo
descontente começou a se rebelar, deixando-o ansioso e levantando a vontade
de se aproximar. Não atendido, sua ansiedade começou a tomar proporções
maiores. O que notificava que, se sua relutância continuasse, as
consequências seriam devastadoras. Por mais que quebrasse a cabeça
tentando desvendar o porquê daquilo, Caleb não conseguia achar uma
resposta.
Ele pensou que um passeio na cidade cairia bem quando Sue o ligou
no final da tarde.
Precisava se distrair.
Kian e Jace prontamente se ofereceram para irem com ele. Os dois
machos gostavam de passear na cidade, e claro, fazer uma boa refeição na
P&C.
― Vamos? ― Jace chamou, quando terminaram de descarregar na
segunda loja.
Uma vez lá, Kian e Jace foram os primeiros a entrarem. Quando foi a
vez de Caleb atravessar a porta, um odor peculiar varreu sua face, fazendo-o
frear os calcanhares onde estava. Seus pelos eriçaram enquanto um arrepio
percorria sua espinha para logo se concentrar em sua virilha, fazendo-o
trincar os dentes e fechar as mãos em punhos. Ele inspirou profundo,
concentrando-se naquele aroma dentre tantos outros. Seu pau bateu ponto e
as garras afiadas começaram a crescer nas pontas dos dedos.
Não era qualquer odor. Era o perfume mais puro, doce e sedutor, que
já tinha sentindo nos seus 320 anos de existência.
Limpo, fresco, feminino, persuadindo sua atenção e seu lobo.
Os instintos gritaram para vida, estalando sob seus nervos enquanto
seus olhos se moviam pelo local buscando a dona da fragrância deliciosa, que
fazia seu sangue correr diretamente para a longitude grossa entre suas pernas,
endurecendo e esticando-a ainda mais, enquanto as narinas inspiravam
profundamente, absorvendo mais do cheiro, instintivamente. Mas nenhuma
das mulheres a vista exalava aquela fragrância deliciosa fazendo seu corpo
reagir de maneira tão selvagem. A fêmea estava fora do alcance de seus
olhos, mas estava lá. Intrigado, seus pés se moveram por instinto, porém
antes que tivesse a chance de ir muito longe, os Irmãos o chamaram de volta.

****

― Minha nossa Senhora das Piriquitas Carentes! É disso que tô


falando Kelly, ― Lee murmurou debilmente para a colega ao lado, sua boca
escancarada e seus olhos magnetizados enquanto mirava os novos clientes
adentrarem a lanchonete e se encaminharem para uma mesa de canto mais
afastada dos outros clientes.
― Deus abençoe este fim de mundo! ― maliciosamente, Kelly
sussurrou, estupefata com a beleza excepcional dos homens.
― E que multiplique e mande um para a minha casa.
Um dos homens girou a cabeça e a olhou, um olhar que a fez pensar
que ele tinha escutado seu deslumbramento carente. Ele sorriu de um jeito
sujo, predatório. Lee sorriu de volta. O mesmo sorriso sacana cheio de
mensagens libidinosas.
Bonita tem que ver isso.
― Será que são daqui?
Lee olhou para a colega de trabalho. ― Não sei, mas se eles quiserem
dou casa, comida e roupa lavada de graça. Ah, e sexo, muito sexo... Tanto
quanto possa aguentar.
Ela encenou uma prece sussurrada.
Lee correu para cozinha, passando pela porta como se o mundo lá fora
estivesse acabando. E não é que estava? Para uns tipos como aqueles estarem
com os traseiros plantados em uma das mesas, o mundo só podia estar
acabando em gelo.
Trish e Marie se assustaram com a entrada impetuosa de Lee.
― Deus, Lee! O que foi? Parece que viu um fantasma.
Lee não respondeu e agarrou seu braço, puxando-a para a porta. ―
Você vem comigo. ― Ela olhou para Marie. ― É rapidinho. Já, já eu a
devolvo.
― O quê? Não... Lee larga meu braço. ― Trish tentou sair do agarre
dela. ― Eu não vou a lugar nenhum até me dizer o que está acontecendo.
― Ah, vai sim! Você tem que ver os três clientes que acabaram de
entrar. Eles são..., oh, meu Deus! Você tem que ver. Eles são... Puta que
pariu!
Trish a olhou com a boca aberta.
― Você está brincando, certo? Todo esse alvoroço por homens?
― Não são só homens. São OS homens.
― Bom pra você.
― Bonita, você não entendeu. Eles são a capa da QG. E, Bonita, não
é todo dia que vemos por aqui uma capa da QG quanto mais três. ― Lee
quase chorou.
― Vai lá, querida ― Marie interferiu risonha. ― Ela não vai te deixar
em paz.
― Não mesmo!
― Mas Marie, eu não terminei. ― Trish mirou Lee. ― E não me
interessa as capas da QG. Faça bom uso deles por nós duas, sim?
Lee estreitou os olhos.
― Medrosa.
― Eu não sou.
― Có, có, có.
― Oh, por favor!
― Prove.
― Eu não tenho que te provar nada. ― Lee começou a imitar uma
galinha, novamente, e Trish rolou os olhos. ― Você é muito criança! Se está
tão interessada, por que não ficou lá?
Lee parou e a mirou com serenidade.
― Porque não sou egoísta e tenho o dever de compartilhar com minha
amiga a visão de homens suculentos, quentes e lindos, quando estes aparecem
por aqui. O que, já sabe, é uma raridade. Então, não empata e mexa esse
traseiro.
Trish abriu a boca, mas Marie disse:
― Vá, querida. Eu termino aqui. Você fez quase todo o trabalho
sozinha. ― Trish bufou e Lee sorriu enquanto Marie completava. ― E depois
me diga como estes suculentos, quentes e lindos, homens eram ― piscou.
Lee somente permitiu que Trish lavasse as mãos, arrastando-a para
fora da cozinha antes mesmo que ela tivesse se desfeito do avental.
5

INUSITADO

Capas da QG. Sei. E eu sou a Miss Universo.


― Olhe ― Lee sussurrou.
Trish levou o olhar entediado para onde sua amiga apontava sem
muita discrição, e então, arfou mordendo a língua quando um dos três
homens sentados em uma mesa mais afastada das outras entrou em seu foco.
Seu coração bateu nas costelas.
As capas da QG não faziam justiça à beleza masculina que encheu
seus olhos. Talvez dos outros sim, não daquele homem. Ele era bonito o
bastante para parar seu coração. Quente o suficiente para incendiar uma
cidade inteira.
Sua boca abriu ligeiramente enquanto os olhos curiosos varriam a
figura imponente, a mente automaticamente apagando todos a sua volta e
focando somente um único homem, nem mesmo as tagarelices que Lee dizia
ao seu lado eram ouvidas mais.
Deus Santo! Ele é enorme.
De uma maneira estranha àquele desconhecido pareceu ouvir seu
pensamento, pois, no instante seguinte, sua cabeça se inclinou ligeiramente
para o lado e seu olhar se encontrou com o dela, prendendo-a a ele. Uma
onda de aquecimento se quebrou sobre ela. Seu fôlego ficou preso na
garganta e suas entranhas zumbiram enquanto uma estranha sensação lambeu
a pele muito sutilmente, causando um leve formigamento em seu corpo. A
vibração eriçou seus pelos e arrepiou sua pele, e então, penetrou os poros e
varreu seu interior até chegar a seu centro, concentrando-se lá, umedecendo-o
e fazendo seu montículo de nervos inchar. Tudo ao mesmo tempo. Os olhares
nunca se afastando.
Seus dentes cerraram e Trish engoliu em seco, afogando o gemido de
prazer, que teimava em subir por sua garganta.
Santo Deus... Os olhos dele faiscavam, puxando, ondulando e
chamando-a para ele. Todo seu corpo parecia estar feliz por ele estar lá.
Desejo? Não podia ser, afirmou a si mesma, e seu corpo protestou.
Trish lutou para apartar seu olhar do dele, e quando conseguiu, foi
somente para perscrutar seu corpo. Não dava para captar muita coisa devido à
posição que ele estava. Mas, oh, homem. Ele tinha ombros largos e fortes,
não iguais aos dos homens que já tinha visto alguma vez, os dele era
impetuosos e se encaixava perfeitamente bem a sua grandeza. O tipo trajava
uma camisa cor de terra, com as mangas dobradas até os cotovelos, braços
fortes com bíceps, tríplices e tudo mais muito bem trabalhados.
Ele era todo músculo, sólido e poderoso.
A pele dele era linda e de um bronzeado único, não desses artificiais,
até porque ele não parecia o tipo que gostava dessas futilidades. Sua cor era
realmente divina. Mel. Dava vontade de lamber para saber que gosto tinha.
Os olhos azuis mergulharam mais abaixo e um suspiro desapontado
fluiu, a mesa não lhe permitia analisá-lo mais do que já tinha feito.
Seu olhar foi chamado pelo dele, e sem conseguir se frear ou ordenar
a seu cérebro que parasse de fitá-lo, como se ele fosse um pedaço de carne
suculenta, Trish se viu presa em seu olhar outra vez. O homem era magnífico,
mas de um jeito despretensioso.
― Vai lá ― Lee incentivou, tirando-a do torpor e empurrando-a para
fora do balcão.
O quê?
― E-Eu? ― ela gaguejou nervosa quando encontrou sua voz.
― Uh-hum. Você mesma.
― É melhor você ir..., você está mais acostumada. ― E acrescentou.
― Eu ainda tenho de terminar de ajudar Marie com os legumes.
Ela já estava suando frio ante a possibilidade de chegar perto dele.
Não queria correr o risco de se atirar nos braços dele ou levar seu
traseiro ao chão no caminho até ele, suas pernas no momento estavam
desprovidas de ossos sólidos.
Lee bufou e rolou os olhos para a amiga.
Era só um homem, um puto homem gostoso, ainda assim um homem.
Entretanto, para Trish não era só um homem. Este desconhecido
parecia exercer um poder sobre ela, que a mesma desconhecia e não gostava
nenhum pouco.
― Pare de ser tão medrosa. Marie já te dispensou. ― Antes que Trish
tivesse a chance de protestar Josephine passou pela porta. ― Ah, olha só!
Jojo acabou de chegar. ― Os ombros de Trish caíram. ― São somente
homens, Bonita, que por sinal são lindos de morrer. Então, relaxa, eles não
vão te morder.
― Eu não estou com medo.
Mas ela estava. Na verdade, estava apavorada. Nem ela mesma sabia
o porquê disso. Ele não parecia ser mal, porém a forma que ele estava
olhando e fazendo-a reagir a ele somente com um olhar à distância a colocava
aterrorizada. Se a distância já estava sentindo calafrios pelo corpo todo e
quase tendo um orgasmo, quem dirá perto.
Bom Deus. Era bom nem pensar no que aconteceria.
Nunca nenhum homem a tinha feito se sentir dessa forma, sequer
desejar da maneira que ele a estava fazendo desejá-lo. Trish ainda seguia
sentindo o olhar dele sobre ela. Quente. Poderoso. Perturbador. Este era um
homem que demandava atenção. Um homem acostumado ao controle e à
autoridade. Emanavam de cada parte de seu corpo. Estarreceu-a e atraiu ao
mesmo tempo.
― Eu te desafio ― Lee jogou.
Trish a fitou com os olhos semicerrados.
― Você é um pé no saco, sabia? ― Trish ainda tentou soar firme e
com desdém, mas sua voz não era mais que um sussurro baixo e rouco.
― Eu te desafio duas vezes.
Lee arqueou uma sobrancelha, olhando-a desafiante enquanto um
sorriso maroto desenhava seus lábios. Trish apertou os dentes e bufou, com
um olhar nada amistoso.
Você me paga!
Ela levou o olhar para o chão e umedeceu os lábios, ignorando a sutil
pontada de desejo que experimentava na parte inferior do estômago e descia
até a sua vulva, molhando-a ainda mais. Respirou profundamente algumas
vezes. Pegou a comanda de pedido e a caneta, e então, rezou silenciosamente
para que não desse nenhum vexame diante do desconhecido e seus amigos
enquanto seguia em direção à mesa deles.

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Minha!
O lobo em seu âmago sentenciou com um rugido silencioso.
Uma humana.
Uma linda e deliciosa humana que o é.
Todo o reboliço que o atormentou por mais de dois fodidos meses se
resumia em uma humana perversamente quente. Sua companheira prometida.
A única que teria até o fim de seus dias. Caleb a tinha procurado desde que
atingira a maturidade em seus 21 anos. Já tinha perdido toda a esperança de
algum dia encontrá-la, e agora, aqui estava ela, bem diante de seus olhos,
linda e pronta para ele. É claro, que este último ele teria que convencê-la.
Maldição. Humana. Ela era humana!
Se acasalar com os da mesma raça já era complicado, com uma
humana ele não tinha a porra de uma mínima ideia, mas não tinha esperanças
de ser mais fácil.
Humanos preferiam se fazer de cegos a enxergar a realidade que
estava estampada na cara deles. Não acreditavam em lendas, contos, fabulas.
Eles dificilmente gostavam daquilo que não compreendiam. Tinham a
necessidade de entender tudo a sua volta, e quando não conseguiam,
ignoravam... excluíam de suas vidas.
Cara, ele estava tão, mas tão fodido.
Como iria explicar a ela tudo que fosse preciso e fazê-la aceitar a
nova realidade sem que ela corresse pelas ruas aos gritos, morrendo de medo
dele porque o achava uma aberração?
Se bem que algumas partes ele poderia ocultar até depois de estarem
devidamente acasalados. Ela o odiaria, certeza, mas não teria jeito de voltar
atrás. O acasalamento era irreversível. Não havia divórcios entre os shifters.
Bem, ela não era uma shifter...
Um brinde ao drukāt!
Caleb elevou sua sobrancelha em um lento e hipnótico arco quando a
viu pelo canto do olho marchar em direção à mesa dele. O cheiro doce, rico e
delicioso, se desprendia dela. A cada passo seu odor natural misturado a sua
excitação chicoteava nas narinas dele com mais intensidade. Se não estivesse
sentado, estaria de joelhos no chão diante dela. Isso pareceu muito atrativo
para seu lobo... Ah, maldição! Não vá por aí.
Seus dedos se apertaram fortemente no papel frágil do cardápio
rasgando isso. A luxúria bateu forte nele enquanto seus olhos se alagavam
começando a mudar de cor quando seu animal interior ameaçou dominá-lo e
fazer algo a respeito no minuto em que ela parou diante da mesa.
Ah, foda! Seu cheiro o estava pondo louco.
Mais um pouco, ele a jogaria em cima da mesa e a foderia ali na
frente de todos.
Maldita seja!
Respirando superficialmente, Caleb tratou de recuperar o controle
ameaçando se esvair. Tinha de falar com ela. Conhecer. Beijar. Tocar e fodê-
la. Mas tudo isso quando estivessem sozinhos e não necessariamente nesta
mesma ordem. Teria de arrumar um jeito de lhe falar ainda aquela noite.
― Boa noite ― sua voz melodiosa chegou até ele.
Seu pênis pareceu gostar da voz dela tanto quanto ele tinha gostado,
pois em uma foto instantânea, ele foi tatuado com a marca do zíper de seu
jeans.
Minha! Minha! Minha!
Caleb travou o maxilar e se moveu na cadeira de forma que
acomodasse melhor sua pulsante ereção maciça, e, em seguida, se concentrou
na mulher em pé ao seu lado. O coração dela batia descompassado. Suas
bochechas levemente coradas, deixando-a ainda mais linda. Seus cabelos
estavam presos em um coque... De repente, Caleb pegou se perguntando de
que tamanho eles seriam e como ficariam espalhados sobre o seu travesseiro.
Com certeza ficariam lindos, e Caleb teria o prazer de vê-los assim. Queria-os
soltos todo o tempo em que a montasse ou simplesmente dormisse ao seu
lado. A imagem dela nua em sua cama com os cabelos negros espalhados
sobre o travesseiro, à luz do luar luzindo sobre sua pele alva, suas pernas
abertas expondo o sexo inchado, úmido e brilhante, pronto para ele, começou
a se formar em sua mente. Mas antes que ganhasse força, ele sacudiu a
cabeça expulsando a imagem.
Tinha de se concentrar ou faria alguma besteira.
Cara, era uma humana!
Puta que pariu. Humana!
Sua pele era clara como a neve e, provavelmente, muito macia ao
toque. Seus dedos coçaram para tocá-la e tirarem a prova, porém se conteve.
Ele tiraria a prova mais tarde e dificilmente estaria errado quanto a sua
conclusão. Sua companheira não parecia ser o tipo de fêmea desleixada. A
forma como ela caminhou até a mesa, o modo cuidadoso como seu cabelo
estava preso e seus gestos suaves, diziam-lhe isto.
― Boa noite, senhorita. ― Kian e Jace sentados no outro canto da
mesa responderam em uníssono, exceto ele, que a mirava como um predador
estudando sua presa.
― Os senhores estão prontos para fazer o pedido?
Ela estava nervosa, ele sabia disso, ela não poderia esconder nada
dele. Nunca. Caleb procurou seus olhos, todavia, ela estava evitando olhá-lo e
Caleb queria seu olhar sobre ele outra vez. Apesar de sua visão aguçada
permitir que ele enxergasse os traços mais sutis de seu rosto, como se
estivesse na frente dela a luz do meio-dia quando seus olhares se cruzaram,
ele queria ver aqueles bonitos olhos azuis direcionados a ele outra e mais
outra vez.
― Ainda estão servindo Beef Roast Potatoes? ― Jace tomou à
dianteira.
Ela lambeu os lábios antes de falar e o olhar interessado dele seguiu o
movimento de sua língua. Sua boca encheu d'água e um grunhido agitou seu
peito.
― Sim.
Que gosto sua língua tinha? Era tão suculenta quanto parecia ser?
Seria quente, doce ou fresco? Perguntou-se como seus lábios se sentiriam
sobre os dele, sobre sua pele e envoltos de seu pênis. Ah... Seus lábios! Ele
não fazia ideia, mas seu pênis com certeza adoraria ser empalado por eles.
A visão começou a se construir em sua cabeça...
... Ela estava ajoelhada aos seus pés. Ambos nus. Quentes. Prontos
para o sexo. Uma de suas pequenas mãos segurava seu comprimento rígido,
deslizando a palma quente sobre ele até chegar a sua base, e depois voltava
apertando-o, enquanto ela usava a outra mão, os dedos delicados
massageando seus pesados testículos. Sua boca vermelha se aproximava
devagar da glande inchada, e então, a língua vermelha surgia entre os lábios.
Com um suave e torturante roçar da ponta, ela colhia seu líquido pré-seminal
vazando da cabeça bulbosa de seu pênis. Logo depois, ela o tomava na boca,
cheia de fome e paixão. Enquanto ela trabalhava em seu pau, ele inalava
profundamente absorvendo o cheiro da excitação se desprendendo do corpo
dela e subindo, atingindo-o em cheio. Fazendo seu peito zumbir pelo uivo
que se formara ao passo que tentava se controlar para receber o prazer que ela
estava lhe dando...
O lobo agitou-se outra vez, furiosamente, jogando a cabeça para trás e
uivando, e tentou subir a superfície para tomar posse do seu prêmio.
Tome. Submeta. Possua-a agora!
Um silvo baixo deixou os lábios dele, chamando a atenção dos seus
Irmãos enquanto tratava de lutar internamente para manter seu lobo enjaulado
e sua excitação sob controle.
"Ela é sua?"
Seus olhos conectaram em Kian, surpreso por haver aberto a conexão
sem perceber.
"Minha!"
"Certo, Irmão, ela é sua," acalmou o outro lobo. "Controle-se ou vai
assustá-la."
― Vou querer um bem mal passado, um Quiche Lorraine, torta de
maçã... ― Jace começou a fazer o pedido, ignorando o rosnado baixo do
Alfa.
Respirando superficialmente para tragar o mínimo quanto possível
daquele odor delicioso, sua própria excitação já o estava matando, não
precisava potencializar ainda mais a dor em sua virilha.
Seu olhar captou os dedos trêmulos dela segurando a caneta enquanto
anotava os pedidos de seus amigos. Sua cabeça pendeu para lado e suas
narinas inflaram ao cheirá-la num impulso, sorvendo cada nota daquela
gostosa fragrância se desprendendo dela.
Não podia se conter. Era automático e incontrolável.
Estava entrando na febre do acasalamento e a fêmea humana estava
começando a sentir os efeitos do extra. Drukāt. Podia sentir os batimentos
compassados e fortes do seu coração. Sua respiração fadigada, mesmo ela se
esforçando para respirar normalmente. Seu calor sedutor saindo dela e o
abraçando. O cheiro rico da sua excitação tinha se intensificado. Pescou
quando ela discretamente juntou as pernas, apertando-as juntas, como se
quisesse conter algo no meio delas, algo que Caleb sabia bem o que era, pois
estava sentindo o mesmo.
O fenômeno agia unicamente na fêmea prometida. O macho apenas
podia sentir os efeitos por meio de sua fêmea inebriada pela magia, mas o
efeito nele não era tão devastador como na fêmea, onde o drukāt agia
diretamente de forma feroz. A magia se moldava a necessidade do casal,
servindo para tornar todo o processo do acasalamento mais fácil para ambos,
principalmente, para os machos submeterem suas fêmeas, já que o tempo
para o acasalamento após encontrar sua companheira prometida era
relativamente curto, e as fêmeas ficavam mais agressivas do que de costume.
Após encontrar sua prometida, o shifter tinha um trabalho árduo pela
frente. Não era fácil fazer uma fêmea se submeter ao macho justamente pelo
temperamento e orgulho que toda fêmea possuía. Ele não podia obrigar a
fêmea a aceitá-lo. A entrega e a aceitação tinham de ser espontânea para
valer, então o drukāt entrava no jogo como um extra, potencializando a
excitação dela por seu futuro companheiro. Envolvendo e deixando-a mais
receptível a ele, assim o macho teria tempo suficiente para cortejar,
conquistá-la e, enfim, submeter e marcá-la como sua antes que o tempo
acabasse.
Um mês era um tempo para se temer.
Febre do acasalamento e drukāt, uma mistura poderosa e exaustiva.
Tudo para garantir que o acasalamento fosse selado e assim a sobrevivência
de sua raça.
Caleb sorriu discretamente sem mostrar os dentes quando seus amigos
terminaram de fazer os pedidos. Não teria como fugir dele agora, ela teria que
olhá-lo.
E então, ela fez...
Ela o olhou como se custasse respirar.
Minha!
― E o Senhor, o que vai querer?
Sua voz não era mais que um sussurro preguiçoso.
― Você ― ele disse numa voz extremamente profunda e rouca, que
ressonou nos ossos de Trish, fazendo-os zumbirem, enredando-a em seus
olhos.
Trish ganhou o tom do protesto comunista e segurou com força a
comanda de pedidos contra os seios inchados. Seus mamilos enrijeceram
contra o sutiã, formando dois casulos sensíveis e apertados. A buceta pulsou,
flexionou e apertou com a dor funda.
Seus bonitos olhos estavam arregalados e... assustados.
Foda. Ele quis se chutar. Isso tinha sido muito brusco. Precisava ir
com calma, não queria assustá-la logo na primeira vez que trocavam meia
dúzia de palavras. Mas seu lobo estava inquieto, exigindo mais rapidez de sua
parte.
― C-Como?
Sentiu a necessidade de tocá-la, mas se obrigou a manter-se parado.
Tomando as rédeas do controle, Caleb fingiu olhar o cardápio
rapidamente, e então, jogou seus olhos para ela outra vez, com um sorriso
delineando seus lábios, expondo todos os lindos dentes brancos perfeitamente
alinhados.
Ele a viu conter o fôlego e isto só fez seu sorriso se abranger mais.
― O que você me sugere?
Ela piscou uma... duas vezes.
A pele da sua garganta se moveu indicando que ela engolia a saliva.
Uma fina camada de suor brilhou em seu sobrecenho.
Com um ruído, ela limpou a garganta e disse:
― Bem..., isso depende se o senhor quer algo doce ou salgado.
― Doce. Bem doce. Assim como você deve ser, bebê. ― ele
completou a última parte em mente. Seu olhar viajou até o crachá dela, onde
se lia: Trish.
Trish pigarreou e lambeu os lábios mais uma vez. ― Temos Torta
Holandesa, Torta de Maçã, Mousse de Maracujá, Chocolate e Morango..., ―
sua companheira continuou listando a variedade de sobremesas da casa,
porém Caleb pouco prestou atenção. Não estava interessado em saborear
nenhum tipo de doce que não fosse o mel vazando de sua buceta. Somente
queria escutar sua linda e doce voz, que fluía até ele como uma amante
tímida, o movimento quase erótico de seus lábios quando se mexiam era
fodidamente sedutor. ―... E, por fim, temos o Bran Muffins. É muito bom.
― Acredito que sim.
― Vai querer este então?
Queria lhe dizer que o chamasse por seu nome, como seus irmãos
faziam. Ela mais do que nenhuma outra pessoa tinha o direito de chamá-lo
por seu nome.
Maldição. Nem mesmo se apresentar a ela, ele tinha feito.
Como ela poderia chamá-lo pelo nome se não sabia qual era?
― Somente uma Heineken para mim.
Caleb observou que seus ombros caíram um pouco e seus olhos se
estreitarem em confusão, ceticismo e... irritação? Mas ele não tinha fome por
comida no momento. Somente queria escutar sua voz suave por mais tempo.
Ele acrescentou:
― Caleb Black.
Assentindo desajeitada, como se ansiasse fugir dele, ela se foi sem
respondê-lo.
Seus fabulosos olhos observaram o balanço dos seus quadris enquanto
ela caminhava apressada rumo ao balcão, jogando-os de um lado para outro,
hipnotizando-o. Sentiu inveja pela forma como a calça preta apertada
abraçava suas coxas e contornava seu traseiro, deixando-o empinado como se
estivesse fazendo um pedido mudo a ele. Queria rasgar aquela peça em
pedacinhos por se atrever abraçá-la naquela parte de forma tão carinhosa
como ele queria fazer.
Trish era dele. Só dele.
Bem-vindo ao modo-on Macho-Possessivo, meu camarada.
O lobo rugiu em desgosto com a partida da sua companheira. Mesmo
que esta estivesse a apenas alguns poucos metros de distância. Ele a queria
perto... Muito perto. Fundida a ele. De forma que, mesmo estando longe, eles
pudessem sentir um ao outro, como se estivessem conectados não lado a lado,
mas na alma.
― Eu devo dar os parabéns agora ou daqui um mês? ― Kian
perguntou zombeteiro, ganhando um rosnado baixo do Alfa como aviso.
― Então, humana, hein? ― Jace inquiriu.
― Eu acho que devo ter sido muito ruim em outra vida para os nossos
ancestrais estarem me castigando desta forma ― Caleb disse de forma
chorosa, apertando seus olhos, e então, deixou seu corpo relaxar sobre o
assento.
Sua pulsante ereção ainda marcava ponto, informando-o que isto
apenas tinha começado.
― Não é tão ruim assim. ― Jace tentou contornar a situação,
recebendo os olhares indignados dos Irmãos. ― Ela reagiu ao drukāt. Nós
sentimos.
― Cara, nem me lembra, ainda tô de pau duro aqui. Lana que me
aguarde que hoje tem ― Kian murmurou malicioso.
― E que dia que não tem? ― Jace disse desgostoso. ― Eu não me
recordo de um só dia que não tenha ouvido gritos da sua casa. Apavora as
fêmeas, sabe?
Caleb soltou um grave, profundo e baixo, rosnado de advertência.
Jace se voltou pra ele e perguntou com cautela:
― Vai rejeitá-la?
A pergunta soou para o lobo como uma difamação, fazendo Caleb
apertar os punhos sobre a mesa, contendo a vontade de arrancar os dentes do
outro macho.
― Por que eu faria isso? Ela é minha companheira prometida. Sua
Prima.
― E humana ― Kian apontou.
Os olhos de Caleb brilharam perigosos.
― Algum problema com isso?
Kian encolheu os ombros. ― Nenhum, na verdade. Mas isso não é
algo que possa passar despercebido pelo bando.
O alerta no tom de Kian era considerável.
Shifters não se envolviam fisicamente com humanos, nem mesmo por
uma noite casual. Havia uns poucos que abriam uma exceção. Todavia, em
sua maioria, eles preferiam evitar a diversão entre os lençóis com um
humano. Não era proibido; também não era bem visto pela maioria dos
shifters, além do mais, humanos eram puritanos demais. O que soava
desanimador aos olhos de uma espécie tão sexual. Dado a natureza animal de
cada shifter, os machos podiam conservar uma ereção por horas mesmo após
gozo atrás de gozo. O que poderia ser visto como algo anormal. Além de
serem intensos na cama e um pouco agressivos, mas não machucavam sua
fêmea.
Com humanos, eles tinham que se reprimir. O que enlouquecia e
adoecia o animal. Com os da mesma espécie não havia retraimento. Ele não
tinha a menor ideia de como iria funcionar com sua fêmea humana. O coisa
toda era que a diversão sexual com humanos não era aceita com bons olhos
pelos de sua espécie.
Acasalar?
Bem...
― Escuta, cara, nós não temos nada contra o fato dela ser humana ―
Jace disse, calmamente. ― Mas não será assim com o conselho do bando e as
fêmeas solteiras.
― Ninguém a tocará. E quem se atrever, pagará com a própria vida
― Caleb decretou num tom cortante. ― O conselho terá de aceitá-la assim
como os demais. Ela é minha companheira prometida. Este é meu bando. E
ninguém pode interferir no acasalamento. Essa é a lei.
Kian mediou, seu rosto muito sério. ― O bando irá aceitá-la porque
você ordenou e é nosso dever obedecer ao nosso Alfa, mas ela não terá o
respeito deles até que prove ser digna de ser nossa Prima. Não pode ignorar
isso, nem ela poderá fazê-lo.
Infernos se ele sabia. Sendo ele o Alfa, a fêmea não bastava apenas
ser sua companheira prometida, ela tinha de provar para a manada,
principalmente, para as fêmeas solteiras que a desafiariam, que ela era digna
de ser a Prima, só assim sua companheira poderia ter o respeito dos seus. E
nisto, ele não poderia interferir.
― Ela provará ― Caleb assinalou, voltando o olhar para o balcão.
― Estamos perdendo o ponto aqui ― Jace assinalou, atraindo atenção
de seus Irmãos para si. ― O bando e as fêmeas são algo resolvível, mas ela
é humana.
― Tenho isso.
― E então?
― Ela é minha.
Dada à conversa terminada, Kian se voltou para Jace.
― Então, você fica nos ouvindo?
Jace estreitou o olhar. ― Eu não os escuto porque quero, posso
garantir. Eu sou obrigado a isso. Ou você se esqueceu de que somos vizinhos
de casa, mané?
― Admite logo que você gosta de ouvir o papai aqui trabalhando. ―
Kian balançou a cabeça com um falso ar de indignação. ― Eu sabia que você
era um maldito pervertido.
Jace e Kian continuaram com as implicâncias de sempre. Caleb já não
prestava atenção neles. Toda sua audiência estava voltada para Trish, que
falava com a mulher ao seu lado. Ela parecia tensa e completamente
deslocada. Seu lindo rosto estava ruborizado e luminoso pelo suor. Sua língua
deslizava por seus lábios constantemente. Ele sabia o que se passava com ela,
e, principalmente, sabia o quê ela buscava sem ter consciência, embora seu
corpo demonstrasse saber bem o que era. Alívio. Um que apenas ele poderia
lhe dar. Isso não era irônico? Ele pensou, sorrindo de lado.
Tentado pela curiosidade, Caleb apurou seus ouvidos.
― Você está bem, Bonita?
― Sim, e-eu preciso jogar um pouco de água no rosto... Você se
incomodaria de ficar sozinha no balcão por um momento?
― Claro que não. Vai lá.
― Obrigada.
Ela sumiu pelo corredor.
Caleb se agitou e seus pés se moveram.
6

REAÇÕES

Estou louca!
Trish fez o caminho até o balcão sentindo uma rajada de irritação e
indignação beliscar sua pele. Não conseguia decidir se suas emoções se
davam, única e exclusivamente, ao fato de que o desconhecido-abusado-
cliente a tinha feito recitar toda a carta de sobremesas para no fim pedir uma
misera cerveja. Se pela maneira descabida que ele a fazia se sentir. Ou pela
presença dele fazer seu QI cair drasticamente.
Nunca foi covarde e sua trajetória até aquele fim de mundo era uma
prova indiscutível disto, mas, no momento ela se sentia apavorada ante as
reações enérgicas que foram desencadeadas em seu corpo pela rápida
aproximação que experimentou. Não podia negar. O homem era fenomenal
em toda sua grandeza e esplendor. Ela não se lembrava de já ter visto um tipo
como aquele. Certamente, não tinha. Ele não era um tipo que você se
esqueceria. Poucos minutos na frente dele, e Trish teria muita sorte se ele não
pensasse que ela era uma completa idiota. Mas tinha sido difícil se focar
quando pensamentos deles dois nus dispararam em sua mente, fazendo purê
de seu cérebro.
O homem era delicioso e ela queria lamber cada centímetro dele.
Há tempos seu corpo não sabia o que era ter o peso de um amante,
sequer recordava-se da sensação de se sentir cheia pela masculinidade de um
homem. Prazer era somente alcançado por seus dedos nas poucas vezes em
que se tocava. Talvez sua súbita excitação maluca se devesse a isso. Mas o
que começou com uma leve ondulação de erotismo por sua pele e um sutil
ardor em seu núcleo, aos poucos foi se transformando em algo maior. A cada
minuto sua necessidade só fazia crescer mais e mais, lenta e constante, assim
como a água fria posta para ferver. Deste modo, sua breve hipótese foi
anulada.
Não era a falta de um amante em sua cama e uma boa foda.
Era ele! Caleb...
Tentando respirar de forma regular, a jovem levou sua mão até a testa,
limpando o suor acumulado naquela parte e constatando que sua pele estava
um ou dois graus mais quente, talvez três, não sabia calcular com exatidão.
Sentia-se febril como jamais esteve. Febril de desejo.
Decidida a frear suas emoções e ignorar suas reações, Trish bufou
irritada e sacudiu a cabeça como se o gesto pudesse livrar seu corpo do
desejo que sentia. O que não foi de muita valia. Porém, com um pouco mais
de esforço, ela conseguiu mascarar suas reações brevemente e lutou para
distrair sua mente depravada das imagens profanas que pintava deles dois.
Seus dedos trêmulos rasgaram a folha de pedidos e a depositou sobre
o balcão. Á comanda e a caneta tiveram o mesmo destino. Inalou profundo e
soltou o ar devagar. Refez o gesto mais um par de vezes, mas aquilo era
simplesmente inútil.
Estranhamente, tinha a certeza que nada naquele momento acalmaria
seu corpo, a não ser que aliviasse a si própria ou...
Ah, maldição! Isto não estava acontecendo. Não mesmo!
Não queria a nenhum homem. Esses machos prepotentes tinham
trazido um montão de problemas. Relacionamentos de quaisquer tipos com o
gênero estavam extintos de sua vida por tempo indeterminado, certo?
"Fechada para balanço". Este era seu novo lema. Agora só tinha que
fazer seu deslumbrado corpo entender isso.
Tão cedo, o desejo e a curiosidade empurraram sua resistência,
exigindo tomar o controle. Resignada, ela não lutou, sabia que era uma causa
perdida antes mesmo que tentasse se rebelar.
Por que raios ele a estava cheirando? Será que ela não cheirava bem
ou sua louca excitação era tão forte ao ponto dele poder senti-la?
Ante a possibilidade surreal, suas bochechas ganharam um rubor mais
intenso e um riso, baixo e nervoso, escapou de seus lábios.
Bom Jesus. Ele realmente a cheirou ou estava alucinada?
Precisava ir para longe, onde a presença dele não pudesse sucumbir a
sua própria. Quem sabe assim sua razão não voltasse ao normal...
Sim, era isso. Precisava ficar longe por alguns instantes e jogar um
pouco de água fria em seu rosto, e então, poderia se recompor e reorganizar
sua cabeça insana.
Ela poderia fazer isso, certo?
Após trocar meia dúzia de palavras com Lee, Trish se encaminhou até
o banheiro nos fundos do estabelecimento. Nunca pensou que uma simples
caminhada até o banheiro pudesse se transformar em uma tarefa árdua e
dolorosa. Tinha a impressão que todo o corpo estava em chamas. A cada
passo. A cada mínimo roçar de suas coxas e do tecido, que agora lhe parecia
áspero contra sua pele sensível, enviava uma pontada de prazer e dor ao seu
centro. Quando finalmente chegou ao banheiro feminino, Trish ofegava, os
seios estavam inchados e pesados dentro do sutiã, seus mamilos em
diamantes implorando para serem acariciados. O gemido ainda tentava
escalar sua garganta acima, suplicando ser liberto, mas ela tratou de afogá-lo
com sua saliva.
Um rápido olhar pelo ambiente e Trish deu graças a Deus por estar
vazio. A última coisa que precisava era que algum conhecido a visse naquele
estado deplorável de excitação.
O banheiro era pequeno, acomodava apenas dois sanitários, uma pia e
um espelho grande fixado a parede. A iluminação não era mal, um pouco
fraca talvez, mas clara o suficiente para que pudesse ver o estrago da ridícula
excitação.
Assim que parou rente a pia, suas mãos agarraram a borda e suas
pernas se fecharam, espremendo uma contra a outra numa inútil tentativa de
conter o disparo de excitação que atingiu sua vulva como um arpão.
Enquanto seus dentes cerravam apertados, sufocando outro gemido de
necessidade irrompendo em seu peito e maltratando sua garganta. No ímpeto
de conter suas próprias reações, sua cabeça pendeu para frente e alguns fios
de cabelo, que tinham se soltado de seu perfeito coque, voltou-se contra seu
rosto. Soltando o ar com brusquidão, lentamente a jovem aliviou o aperto de
seus dedos sobre a borda e tomou uma respiração profunda, antes de
endireitar sua postura.
Isso não é real. Controle-se!
Como se seu corpo caísse em si, obedecendo pela primeira vez o seu
comando, o desejo retrocedeu apenas o suficiente para que Trish suspirasse
aliviada. Contudo, o erotismo permaneceu sobre sua pele num claro aviso que
não a abandonaria até que ela fizesse algo a respeito. Embora ainda sentisse
sutis palpitações em seu clitóris e as paredes internas de sua buceta se
contraíssem, seu corpo se sentia um pouco mais tranquilo.
Mais um fôlego tragado, seus olhos dispararam para seu reflexo no
espelho e o que ela viu, no entanto, não a tranquilizou verdadeiramente. Suas
bochechas ainda estavam escarlates, os olhos eram de um azul intenso assim
como ficavam quando se sentia desejosa, sua face brilhava pela fina camada
de suor e alguns dos fios de cabelos soltos tinham aderido a sua pele. Não,
não estava nada bem. Seu corpo todo estava entrando em combustão.
Desejoso por um homem que nunca tinha visto antes, e mesmo assim, cada
diminuta célula de seu ser gritava pelo toque dele. Tinha as entranhas
torcendo, enrodilhando-a lá no fundo.
Involuntariamente, sua mente reproduziu a imagem dele em sua
cabeça.
Sua língua emergiu, e então, correu por seus lábios secos.
Ele era tão grande, másculo, charmoso, sexy e tão... Oh, delicioso!
Um pedaço inteiro de homem do tipo que sabe exatamente o que e como
fazer para deixar uma mulher plenamente satisfeita. Deveria ter um montão
delas atrás dele. Apostaria sua vida nisso e não gostou nada da conclusão.
Trish mordeu o lábio quando se recordou de seus lábios. Ela ansiou
estender a mão e acariciar o seu carnudo lábio inferior somente para
comprovar que era real quando o olhou. Desejou mover suas mãos por cada
centímetro de sua pele só para ter certeza que não estava sonhando. Cobiçou
levar a língua por toda sua pele só para saber que gosto tinha. O pensamento
a fez lamber os próprios lábios com entusiasmo, mas parou quando mirou seu
reflexo.
Ah, merda, ela definitivamente não estava bem!
Recusando-se a sucumbir ao desejo e ao desatinado sentimento de
posse, que a rondava, ela abriu o registro da torneira colhendo um pouco de
água e molhou seu rosto. Recolheu os fios soltos para o lado com uma mão e
com a outra umedeceu sua nuca exposta. Seus olhos se fecharam com o
frescor agradável que a água fria proporcionava em sua pele aquecida. Um
longo suspiro de conforto abandonou seu corpo.
Inesperadamente, outro acoite de excitação foi desferido sobre seu
clitóris maltratado. Trish ofegou. O desejo voltou com força, abraçando e
soltando seu corpo, imitando um palpitar.
Não, não e não!
Então, ela estacou quando seu corpo cantarolou e seus pelos eriçaram.
Os lábios se apertaram enquanto ela mantinha seus olhos fechados por mais
um momento e engolia em seco. Não queria abri-los. Não precisava fazê-lo
para saber que já não estava sozinha e que o intruso não se tratava de
ninguém do sexo feminino.
Era ele. Tinha certeza que era o seu desconhecido.
Caleb.
Como ela sabia? Isso era um mistério que ela não tinha condições
mentais no momento para tentar decifrar ou se preocupar.
Suas pálpebras se elevaram como se obedecessem a uma lei maior,
deixando seus olhos preguiçosos bem abertos, e então, seu olhar disparou
para o espelho.
Pelo reflexo, a jovem avistou o grandioso corpo do homem parado na
frente da porta fechada, somente algumas passadas os separavam.
Ele a corrompia com seu intenso olhar feroz.
Trish encolheu os ombros e abaixou a mão lentamente como se
estivesse na frente de um predador.
Seus braços impressionantes estavam caídos ao lado do corpo e suas
mãos fechadas em punho com tal força que os nódulos estavam brancos,
como se ele tentasse conter algo primitivo. Seu olhar queimava-a da cabeça
aos pés.
Suas íris estavam douradas ou estava vendo demais?
Oh, céus! Que demônio de homem era este?
Perdida no olhar dele, Trish o observou caminhar lenta e
meticulosamente em sua direção. Seu coração disparou em uma corrida
alucinante, e ela tentou respirar de maneira superficial. Um odor delicioso se
desprendia dele diretamente para ela. Seu perfume, pensou. Era cítrico e
estava acentuado por outro aroma mais poderoso e indecifrável, que estava
pondo-a louca de desejo.
Não conseguia pensar, a única coisa que via em sua mente era ele e o
desejo que a cercava de todos os lados. Gotículas de suor brotaram em seu
sobrecenho.
Cristo... Estava pelando. Fervendo. Queimando.
Era possível morrer de excitação? Deus queira que não. Porém, se
ocorresse, era bom aquele montão de homem estar enterrado a fundo em seu
corpo...
Santa merda, da onde veio isso?
Antes que sua mente tentasse buscar uma resposta, Trish se deu conta
que faltava somente mais uma passada para ele estar rente ao seu corpo. Isso
fez qualquer dilema se esvair da sua mente. Com ele tão próximo, o calor
escaldante parecia ter se misturado com seu sangue e correu por cada
centímetro de seu corpo. E só após contaminar até suas entranhas, ele
retrocedeu até chegar ao meio de suas pernas fazendo seu montículo de
nervos mais inchado e palpitante. Sua nata molhou ainda mais o fundo da
calcinha de renda e possivelmente sua calça.
Desejo canal, puro, nu e cru. Em um estágio tão primitivo que ela
jamais cogitou ser possível existir e sequer senti-lo. Sentia sua feminilidade
tenra, dolorida e úmida como jamais esteve.

Caleb sustentou seu olhar, obrigando-a a mantê-lo aberto para ele


enquanto outra pontada de necessidade disparava diretamente para seu ventre.
Ele sabia. Conhecia a dor e o desejo. Seu próprio corpo estava sendo
maltratado da mesma forma e só havia uma maneira para que ambos
experimentassem um pouco de alívio.
Ele por toda ela – dentro e fora!

Trish o olhou fundo nos olhos através do reflexo do espelho. Só uma


estranha sensação de espera, de tensão, de necessidade alimentando seu
estômago, como se seu corpo soubesse algo que sua mente ainda não tinha
compreendido.
Seus lábios se partiram e todo seu corpo estremeceu enquanto uma
corrente elétrica percorria toda sua espinha, como se ela tivesse relado em um
fio desencapado quando sentiu as mãos dele pousar nas laterais de seu
quadril. Podia sentir o calor incandescente das suas enormes mãos através do
tecido da sua calça, enviando milhares de disparos de necessidade
diretamente para sua feminilidade. Seus joelhos estavam fracos e teve certeza
que ele sentiu seu esmorecimento, pois suas mãos se firmaram em sua carne,
sustentando-a em pé.
E então, ele a virou.
7

PRAZER PROIBIDO

Trish teve de usar toda sua reserva de forças para lembrar-se de como
respirar quando se viu face a face com seu sedutor desconhecido.
Virgem Santíssima.
Ela estava tentando, mas a tarefa era difícil demais.
Vê-lo tão perto e íntimo de seu corpo fez suas pernas vacilarem
bruscamente, e suas mãos se agarraram nas bordas da pia num reflexo
desesperado para não presentear o chão com seu traseiro. Não que precisasse,
pois o desconhecido a mantinha firmemente sobre seus pés, como se ela não
pesasse mais que uma pluma.
Trish queria gritar para que saísse entre alguns insultos mal-criados,
pois além daquele ambiente ser exclusivo da ala feminina, ela não queria que
ele a visse nesse estado deprimente de excitação. Mas, principalmente, Trish
não desejava em hipótese nenhuma que aquele pedaço inteiro de perdição
percebesse que era por causa dele que ela estava agindo como uma cadela no
cio pronta para acasalar.
Infelizmente e para seu total desespero, sua voz tinha se perdido em
algum lugar inalcançável. Ela apenas podia mirá-lo com o olhar hipnotizado e
sentir.
O roçar sutil de seus corpos, a presença imponente e poderosa dele,
que parecia engoli-la por inteira, deixou-a ofegante e com os batimentos
cardíacos agitados. Seu peito subia e descia com sôfrego, buscando
arduamente por ar limpo, pois o que tinha naquele espaço já tinha sido
contaminado pelo erotismo que seus corpos exalavam em abundância.
― Deus, fêmea, você cheira tão malditamente bem.
Trish arfou e sua boca secou quando sentiu a mão dele pousar
delicadamente em seu rosto, como se sua pele fosse uma frágil pétala de rosa
e ele tivesse medo de causar qualquer mínimo dano a ela. Nunca ninguém a
tinha tocado com tanto esmero como aquele homem estava tocando. Seu
toque era tão cuidadoso e um tanto cobiçado também. Ele parecia venerá-la
carinhosamente com as grandes mãos cálidas, como se ela fosse alguma
preciosidade milenar. E, naquele instante, ela se permitiu sentir-se preciosa.
O calor de sua palma era aconchegante contra sua pele. E por um momento,
Trish se viu inclinando a cabeça em direção ao seu toque, como se fosse um
gatinho manhoso em busca de um afago mais tenro, e estranhamente não se
assustou quando ele curvou os cantos dos lábios oferecendo um sorriso
arrebatador, aprovando seu gesto. O polegar dele deslizou por seu rosto numa
carícia idolatrada e sensual.
Ela apenas pôde ficar lá, parada, fitando-o como uma boa estúpida
que era, esperando por algo que nem sequer fazia ideia do que era, mas que
em seu íntimo e para seu total constrangimento, ela ansiava.
Os olhos dele acompanharam os movimentos que seus dedos faziam
pelos contornos faciais dela. Um gesto de reconhecimento. Memorizando
cada mínimo traço de suas feições enquanto lhe falava num tom de voz
gutural, a cadência profunda e escura de sua voz trabalhando para derretê-la a
sua volta.
― Bela. Voce é perfeita.
Caleb segurou sua cabeça e se inclinou sobre ela, seu corpo duas
vezes maior que o seu, cobrindo-a por completo antes dele estranhamente
cheirar seus cabelos.
― Seu cheiro... por todos os Deuses, seu cheiro está me
enlouquecendo, bebê ― ele sussurrou, com aquela voz que colocaria todas as
mulheres aos seus pés.
A voz dele enviou calafrios por toda sua espinha e seus dedos se
apertaram com mais força contra a borda da pia. Sua boca secou e,
novamente, ela correu a língua pelos lábios. O que chamou a atenção dos
olhos dele e da gema de seu dedo.
― Macios como eu sempre imaginei que seriam... ― Caleb voltou a
pegar seu olhar e ela sentiu como se ele olhasse diretamente para sua alma.
― Esperei-te por tanto, tanto tempo, e agora que te encontrei, companheira,
não a deixarei partir nunca mais.
Era uma simples frase saída da boca de qualquer amante, como uma
vaga promessa feita somente no intuito de agradar ou simplesmente iludir.
Porém, Caleb não era qualquer amante. Merda. Ele nem mesmo era seu
amante. No entanto, a frase proferida por seus lábios não era uma promessa
volátil, muito pelo contrário, podia sentir a firmeza e veracidade dela até em
suas entranhas. Isso fez seu cérebro estalar e seu corpo estremeceu enquanto
ela engolia a seco.
Infernos! O que ela estava fazendo ali se deixando levar por um
completo desconhecido que dizia as coisas mais bonitas? E por quê? Ele
queria ter um pouco de diversão para depois encher a boca para contar aos
amigos o quão fácil foi foder a nova garçonete. Claro!
Um lampejo de raiva cortou seu sistema, sobrepondo o desejo fora de
ordem. Mas antes que ela pudesse saborear daquele novo sentimento, Caleb
freou qualquer impulso que Trish pudesse vir a ter e que fizesse quebrar o
encanto do momento.
Ainda sujeitando sua cabeça com a forte mão, ele a beijou. Trish nada
pôde fazer para impedi-lo, rendendo-se a ele e as suas próprias loucas
reações, que ansiavam por aquele contato. Ela apenas pôde sentir os lábios
macios e suculentos de Caleb sobre os seus, e se deliciar com as sensações
prazerosas que açoitavam seu corpo de dentro para fora. O tipo deslizou a
língua por seus lábios, contornando e molhando-os, com sua saliva quente e
doce como o mais puro mel, fazendo-a partir os próprios lábios para recebê-
lo.
Ele não precisou de um convite audível.
Então seu beijo a consumiu, forte, urgente e selvagem. Seu ar foi
roubado por ele, antes mesmo que ela o prendesse em seus pulmões e seu
mundo girou.
Nunca tinha sido beijada de tal maneira que a fizesse esquecer-se do
seu próprio seu nome. Somente conseguia pensar em mais!
A intensidade do ato fez o calor se alastrar por seu corpo e suas mãos
decididas se embrenharem nos cabelos negros do homem pela primeira vez,
puxando sua cabeça contra a dela com brutalidade, desejando engoli-lo por
inteiro.
Tudo era puramente físico e carnal.
Impossibilitada de pensar, Trish o beijou de volta enroscando sua
língua na dele com desespero e sugando os lábios carnudos. Exigindo mais
do tipo assim como ele exigia dela. Isto pareceu agradá-lo, pois ele emitiu um
som forte, rouco, muito distinto...
Doce Jesus, ele tinha acabado de rosnar?
Sim, ele tinha feito e continuava a emitir o som. Pareceu-lhe tão
sensual e erótico que mais um jato de excitação empapou ainda mais sua
calcinha. Que Deus tivesse misericórdia da sua alma, mas ela adorou aquele
som selvagem mesclado ao sabor da boca dele. Ele tinha o gosto de caramelo
com chocolate. Ela amou aquele gosto encorpado e intenso. Seu sabor a
embriagava e era tão bom, que Trish não teve dúvidas quanto a se tornar
dependente daquele gosto instantaneamente. Pois, além ser viciante, ele
parecia tranquilizá-la e, Deus, ela precisava disto, quem sabe assim aliviaria a
dor latente que lhe alagava os sentidos...
O beijo voluptuoso se intensificou a ponto de violência e, Trish se viu
derreter e estremecer quando em meio a fortes apertos em sua carne, as
grandes mãos deslizaram por seus flancos até sua cintura e voltaram,
repetindo o movimento. Seus ossos ficaram inconsistentes e ela se agarrou a
ele com mais força, sem se preocupar em ser cuidadosa enquanto se deliciava
e se embevecia das prazerosas sensações permeando seu corpo.
Trish se sentiu ligada na tomada, sua pele estava elétrica e magnética,
absorvendo tudo o que ele lhe proporcionava. Gemidos baixos e sôfregos
escaparam por seus lábios quando ele deixou sua boca e deslizou a dele por
seu queixo, mais abaixo mordiscou seu maxilar, e então, voltou a descer os
lábios por seu pescoço sem deixar de beijar-lhe a pele entre leves mordidas,
que a fazia choramingar baixo. Instintivamente, Trish deixou sua cabeça cair
para trás, suas pálpebras estavam entrecerradas e os dentes mordiam o lábio
inferior com força para evitar que os gemidos altos de pura satisfação
saltassem fora, ao passo que tentava trazê-lo mais para si, afundando suas
unhas na nuca e ombro dele, ganhando grunhidos de satisfação de seu sedutor
desconhecido.
Ela o queria fundido ao seu corpo.
Dentro de sua pele.
Dentro do seu centro fumegante.
Sentir a barba pôr-fazer roçando contra sua pele sensível enquanto ele
tecia beijos luxuriosos contra sua pele quente, acalmando-a e ao mesmo
tempo fazendo-a desejar mais, somente fazia maior sua vontade de tê-lo
enterrado em seu pequeno corpo.
A palpitação misturada à dor em seu centro se intensificou quando
sentiu a dura e espessa masculinidade dele se aferrar contra sua barriga. Seus
quadris ondularam, procurando por um contato maior enquanto os lábios
voltaram a se enroscar, abafando os gemidos de deleite de ambos. As línguas
eram lascivas e duelavam entre si, como se estivessem em uma guerra
particular, tentando demonstrar ao outro o quão intenso era o desejo que seus
corpos sentiam. Seu peito arfava com brusquidão, a pele estava úmida e
arrepiada com os pelos eriçados. Ele agarrou sua bunda, amassando a carne
tenra. Logo as sentiu escorregar para frente de seu corpo, e por uma fração de
segundo, ela pensou em afastá-lo, mas o pensamento se foi da mesma
maneira em que veio quando a dura ereção dele passou a circular contra seu
baixo ventre, enviando espasmos por seu corpo enquanto ele impulsionava
seu quadril contra o dela.
Os dedos dele desabotoaram sua camisete branca, expondo os seios
inchados, que estavam escondidos em um sutiã de renda preta.
Tão cedo, Trish sentiu o contato pele a pele. Ela ofegou, afogando um
grito pela corrente elétrica que percorreu sua espinha dorsal. Era como se ela
tivesse encostado em um fio desencapado. O contato direto contra sua pele
era agradável. Sua própria pele sentia-se bem com o calor das palmas dele.
Ao mesmo tempo em que o calor exalado pelas suas palmas era tentador,
fazendo-a desejar mais, ele também era calmante como se fosse o antídoto
que seu corpo necessitava para tranquilizar suas reações.
Inconsciente e vibrando por dentro, Trish arqueou as costas o máximo
que pôde, oferecendo a ele seus seios quando estes foram duramente
apertados pelas cálidas mãos dele. Caleb rosnou como um animal no cio,
impetuoso, voraz e faminto enquanto intensificava a fricção de seus sexos e
descia os lábios novamente sobre sua pele até chegar a pele exposta de seu
seio. Trish aproveitou a deixa para tomar um profundo fôlego enquanto suas
próprias mãos corriam desesperadas pelas largas costas do homem,
arranhando-as por cima do tecido subindo até a nuca e cabelos sedosos dele,
somente para refazer o trajeto outra e mais outra vez. Seus quadris
balançavam frenéticos contra os dele. Sua respiração saiu aos arquejos, e,
sentir a molhada e quente língua dele deslizar pelo elevado monte superior de
seus seios, intercalando lambidas e degustações de um seio para o outro, fez
seu corpo doer por libertação.
Uma das mãos dele espalmou em suas costas enquanto a outra
apertava sua fina cintura, segurando e mantendo-a no lugar. A cabeça da
jovem pendeu para frente e seus olhos viajaram até os lábios dele a tempo de
vê-lo morder seu rijo mamilo por cima do tecido do sutiã e sugá-lo com
paixão.
― Céus! Sim!
Trish gemeu sôfrega, jogando a cabeça para trás. Seus dentes
morderam o lábio inferior com tanta força que sentiu o gosto de sangue em
sua boca, mas ela não se incomodou desde que Caleb desse a ela mais
daquilo. Sua cabeça sacudia num frenesi tão surreal e intenso que suas
madeixas escuras se soltaram do coque desarrumado, caiando por suas costas
em cascata. Suas mãos tinham se afugentado nos cabelos de seu amante-
desconhecido outra vez e os dedos pequenos estavam enroscados nos fios
com urgência, como se para impedi-lo de tirar a boca de seus seios. O
grunhido de aprovação que ela ganhou dele, bateu em sua pele como um raio
e a penetrou.
Seu prazer se construindo sólido, denso e forte.
Nunca pensou ser possível atingir o ápice apenas por ter seus seios
acariciados, mas se ele continuasse a sugar e morder seus mamilos da forma
que estava fazendo, mesmo que por cima do tecido, ela com certeza teria o
melhor orgasmo da sua vida.
Seus olhos se abriram e seu olhar voou abaixou quando sentiu o
contato quente da mão dele contra a pele nua de seu seio. Hipnotizada, Trish
o viu colher a taça do soutien para baixo, expondo seu mamilo rosado
despontando com atrevimento em direção ao rosto do homem.
― Por favor ― ela chorou.
A pequena carne vermelha e suculenta apareceu por entre os lábios
dele então, ele lambeu, olhando-a diretamente nos olhos. O gesto foi tão
sensual que ela se viu a deriva no mar do desejo.
― Eles me fazem lembrar suculentos morangos silvestres... Prontos
para serem comidos. Deliciosos. Mas seus mamilos são muito mais
suculentos.
Ainda sem desviar o olhar dos olhos dela, Caleb se inclinou e deixou
a ponta da língua contornar o frágil mamilo, preguiçosamente, e chupou
forte.
Trish quase se desmanchou em sua boca.
― Mmmm... Absolutamente, mais suculentos e doces também. Eu
poderia chupá-los por dias e dias, ainda assim eu não teria o bastante.
Ela não teve tempo para pensar em nada.
Trish se deleitou com as fortes sucções e lambidas. Ele mamava seu
seio com força e desejo. Prendendo o mamilo entre os dentes, ele estirou o
casulo sensível ao ponto da jovem gemer de dor. Mas não era uma dor
qualquer, era aquele tipo de dor prazerosa que a fez puxar seus cabelos,
impulsionando sua cabeça num pedido mudo.
― Oh, Deus! Sim! Sim!
Murmúrios de prazer abandonavam seus lábios e sentir os grunhidos
animalescos da boca dele contra o seio sensível, estava fazendo sua cabeça
girar.
De repente, as mãos dele se aferraram aos seus flancos, e então, sua
boca deslizou para o vale entre seus seios. A língua áspera subiu e desceu
numa tortura lenta, em seguida, somente fez o caminho de descida ao passo
que as mãos dele em seus flancos deslizavam abaixo. O sentimento de espera
a dominou enquanto o olhava se ajoelhar e a boca chegar ao cós da sua calça.
Então, foi à vez da angustia dominá-la.
As paredes de sua buceta contraíram e seu broto fisgou dolorosamente
enquanto a paixão lhe abraçava com um forte aperto quanto ele, com um
movimento hábil, separou-lhe as pernas o suficiente para que seus lábios
tivessem acesso à carne empapada dela.
Num gesto que deveria ser no mínimo criminoso, aliás, deveria
colocá-lo na prisão por anos, ele roçou a ponta do nariz por sua vulva e a
cheirou.
― Deus, baby! ― ele grunhiu. ― Sua buceta cheira bem pra caralho.
Eu já amo o cheiro dela... Cheiro de buceta. Minha buceta... Aposto que o
gosto é melhor.
Um rosnado voraz foi emitido com tal intensidade que o corpo da
jovem sentiu espasmos por todas as partes. Rapidamente, suas mãos
abandonaram os cabelos dele e se apertaram contra a borda do lavabo na
tentativa de se manter em pé.
Parecendo sentir sua fragilidade e o enfraquecimento de seu corpo, ele
firmou suas mãos em seus quadris e sorriu perverso.
Sem esperar qualquer consentimento da parte dela, ele lambeu sua
feminilidade numa trilha reta até o clitóris e o mordeu, passando a sugá-lo
por cima do tecido.
― Oh, céus! Sim! Faça assim! ― ela soluçou. ― Mmmmm...
Por Deus, Trish estava se sentindo faminta! Uma total pervertida
como nunca se sentiu em toda sua vida. Queria-o e tudo mais que ele pudesse
lhe dar. E, o fato de que ela nem ao menos o conhecia naquele momento era
irrelevante contanto que Caleb continuasse a fazer o quê estava fazendo.
― Deus, não pare. Lamba assim. Assim! Por favor...
Com sua cabeça jogada para trás, os olhos semicerrados, os lábios
partidos e ofegos sôfregos, Trish balançou seus quadris contra a boca dele.
O prazer crescia em seu baixo ventre em forma de espiral ao ponto
que ela começou a sentir pequenas explosões desde os dedos dos pés até a
cabeça. Cada célula e cada fibra de seu corpo pareceu levar um choque de
220 volts. Sua cabeça rodou e sua mente nublou entorpecida pelas deliciosas
sensações abraçando seu corpo de forma impetuosa, ao passo que o prazer
veio sobre seu corpo em ondas densas e escuras, enevoando seus sentidos.
Seus quadris sacolejaram animalescamente sobre os lábios vorazes e hábeis
do homem, mas Caleb a segurou firme com ambas as mãos em seus quadris,
mantendo-a parada enquanto intensificava as lambidas e sucções sobre o sexo
da jovem, prolongando o orgasmo que se abatia sobre ela.
Antes mesmo que as sensações abandonassem seu corpo e os gemidos
tivessem a chance de preencher o ambiente, ele a tinha sob seu domínio.
Com o joelho, ele separou suas pernas se enfiando no meio delas, uma
de suas mãos segurava sua perna, mantendo-a na altura de seus quadris
enquanto ele sujeitava seus próprios quadris contra os dela, imitando a
penetração ininterrupta. Suas bocas voltaram a se encontrar, como se suas
vidas dependessem daquele beijo ávido. Seus sexos continuavam a se chocar.
As mãos dela serpenteavam o corpo forte do homem enquanto os gemidos de
ambos eram abafados pelos lábios famintos.
Inesperadamente, Trish sentiu a mão dele se emaranhar em seus
cabelos, e depois sentiu um tranco, quando ele parou o beijo e puxou
obrigando-a inclinar a cabeça para trás.
Após dedicar-lhe uma lambida cruel no pescoço e uma leve mordida
no maxilar, a voz extremamente rouca ecoou em seus ouvidos.
― Maldita seja! Preciso estar dentro de você se não morro.
A frase foi sussurrada de maneira desesperada, o que fez o corpo da
jovem cantarolar mais alto e bailar em êxtase. Sim, sim, sim!
Muito embora Trish acabasse de ter um estupendo orgasmo, ela
queria mais. Queria gritar que Sim! Queria que ele a possuísse ali mesmo
contra a pia, contra a parede e até mesmo no chão, ou suspensa em seus
braços fortes.
Deus, não importava o lugar, só precisava dele em seu interior,
preenchendo-a com seu pênis. Precisava não. Necessitava desesperadamente
sentir o pau dele, estirando, enchendo-a...
Opa, opa, opa!
Que merda estava fazendo? Necessitava dele?
Não, isso... Deus, somente não!
Infernos. Ela não precisava dele sequer necessitava coisa alguma dele.
Aquilo tudo estava errado.
Mas era tão bom...
Sua indignação e irritação que há pouco começaram, ganhou força,
empurrando o desejo resistente para fora. Estava errado. Tudo aquilo não era
certo. Ela não deveria estar ali, deixando um homem que ela nem sabia quem
era dominar-lhe daquela forma infame.
Furiosa por seus atos, Trish o forçou para longe dela. Contudo, o
sujeito não se moveu e a olhou com os olhos entrecerrados. Tentou mais uma
vez e ele permitiu. Somente um passo curto para trás. Respirando jorros
irregulares de ar e com os olhos bem abertos, Trish engoliu a seco. Sua boca
abriu, mas ela mal teve tempo de lhe falar, pois ele cobriu sua boca
novamente e ela quase se deixou levar... Errado... Muito errado... Forçando a
tomar as rédeas da pouca razão que tinha, se é que lhe sobrara alguma, Trish
quebrou o beijo e espalmando suas mãos contra o peito de aço dele, ela o
empurrou. Ele não se moveu, apenas ficou lá, fitando com aquele sorriso que
agora parecia zombar dela, e como se isso já não fosse o bastante para fazer a
irritação fumegar em seu peito, ele roubou-lhe mais um beijo opressor.
Sem pensar nas consequências que seu ato iria trazer, sua mão voou
no ar enchendo a face dele, e no instante seguinte, a dor se alastrou por sua
palma.
Merda. Cacete. Pooorra!
O rosto dele era feito de quê? Pedra? Cimento? Aço?
Furiosa, agora, pela mão dolorida, Trish se recusou a mostrar
qualquer vestígio de dor perante ele. Trincando os dentes, ela tratou de
mascarar a dormência e formigamento em sua mão, e manteve seus olhos
nele, esboçando uma valentia e altivez que não possuía naquele momento,
pois em seu íntimo estava nervosa e temendo uma reação negativa por parte
dele.
Não podia negar o óbvio, o homem era imenso e extremamente
forte...
O ato o fez dar um passo atrás, não pelo golpe em si, mas pela
surpresa que caiu sobre ele. Certamente, ele não esperava por isso.
Dando um passo longo para longe dele, mas sem lhe dar as costas, ela
forçou sua voz sair firme. ― Nunca mais se atreva a me tocar, s-seu... seu
tarado pervertido de merda.
Deus, estava tão irritada com ele, com ela e com tudo.
Onde foi parar sua prudência? Sua convicção?
Aquele bastardo arrogante e lindo dos infernos a tinha feito se
esquecer de tudo apenas com um olhar... Tinha feito esquecer suas próprias
regras.
Maldito seja!
Enquanto ele esfregava a face golpeada, um sorriso impertinente de
lado surgiu nos lábios dele. Caleb a mirou, seu olhar desafiando-a. ― Você
irá implorar para que eu a toque, amada, e, em seguida, irá aprender a não
desafiar seu macho.
Seu tom foi calmo, morno até, enquanto ele proferia sua arrogância,
com um sorriso sedutor nos lábios.
Trish quase se desmanchou na frente dele. O desejo disparou pelo seu
corpo e atingiu sua intimidade com um chicote de sensações, formigando e
avisando que uma nova rodada de amasso consentido iria começar se ela não
tomasse as rédeas da situação já.
Então ela o fez.
Juntando o pouco de autocontrole e coerência que lhe restava, Trish
lutou bravamente, reagrupando suas forças e tentou proferir as palavras de
maneira coerente.
― E-Eu... ― engoliu a saliva. ― Eu não sou nada sua!
O semblante do tipo endureceu, dando um passo em direção a ela, o
que a fez dar outro para trás. Ele parou e arqueou a sobrancelha e, aquela
sugestão e sombra em seu olhar o tornaram tão perigoso, um predador
verdadeiramente.
Seus órgãos estremeceram.
Olhando-a fixamente, ele sussurrou suave, porém firme, rígido:
― Você é e será muito mais do que imagina.
Sem dizer mais nada, ele saiu, deixando-a sozinha com a sua irritação
e sem palavras. E, ainda desejosa por mais.
Forçando seu cérebro a trabalhar e recobrar a razão perdida em algum
lugar, Trish soltou o ar com uma baforada forte. Tinha a sensação que seu
coração batia na garganta. Sua pele ainda estava arrepiada e úmida pelo suor,
sensível. Tomando algumas respirações, ela jogou o olhar abaixo para seu
próprio corpo. Sua irritação cresceu ao ver os seios inchados e vermelhos
pelas ardentes carícias que tinha recebido. Um calafrio percorreu suas costas
ao se lembrar da boca ávida em sua pele e aquele roçar da barba pôr-fazer...
Sacudindo a cabeça rapidamente para os lados, Trish tratou de afugentar o
pensamento e correu para se recompor. Com as roupas no devido lugar, foi à
vez de olhar seu reflexo no espelho para ver o restante do estrago. Sua
respiração ficou suspensa e seus olhos se arregalaram, elevando as delineadas
sobrancelhas.
Jesus Cristo!
O estrago era muito maior do que ela tinha imaginado. A pele alva do
pescoço estava toda vermelha, suas maçãs ainda tinham um rubor escarlate e
os lábios... Oh, Deus Bendito! Seus lábios eram de um vermelho vivo, como
se ela os houvesse pintado de rubro e os malditos estavam tão inchados que
não lhe surpreenderia se alguém a perguntasse se ela tinha acabado de aplicar
botox.
Como infernos iria arrumar isso?
No cabelo Trish poderia dar um jeito, mas nos lábios e em sua pele,
não!
Com as mãos apoiadas na cintura, ela fechou brevemente os olhos
enquanto soltava um suspiro pesaroso, raivoso.
Decidida, a jovem colheu os cabelos soltos e refez o coque, lavou o
rosto e secou. O que não foi de muita valia. O vermelho em suas bochechas
permaneceu assim como seus inchados lábios, mas pelo menos tirou a
luminosidade de sua face.
Trish encarou o espelho cegamente.
Deus, ele tinha se aproveitado de sua súbita fraqueza.
Okay, Trish. Você não é mais nenhuma criança. Tudo que aconteceu
foi em consenso.
Mas também como ela não iria concordar?
Os poucos amantes que tivera em sua vida ― uma conta de apenas
dois ― nunca a fizeram se sentir de tal forma. Eles nem sequer conseguiram
despertar nela um terço do desejo que aquele sujeitinho atrevido a fez sentir
apenas por estar na presença dele.
Não era nenhuma puritana; não era também das mais atiradas.
Gostava de sexo, mas nunca foi de loucuras, nem mesmo quando
adolescente e se orgulhava disso. Porém, com ele não tinha nenhuma vontade
de ser recatada. Seu corpo e uma parte de si queria ser completamente
indecente... com ele!
Pelo amor de Deus, esteve a ponto de implorar para que lhe fodesse
ali mesmo.
Diabos, tinha se comportado como uma perfeita vadia.
Não sabia nada dele. Ele poderia ser qualquer coisa, desde um ladrão
de galinhas a um assassino procurado por todo o país, e pior, poderia ter
algum tipo de doença contagiosa. E pensar que ela estava prestes a se
entregar para ele, pois se Caleb tivesse permanecido lá, era exatamente o que
ela teria feito. Eles estariam fodendo naquele exato momento. Se isso não era
se portar como uma vadia então...
Infernos! Nada disso tinha de ter acontecido.
Homens estão excluídos de sua vida por tempo indeterminado,
lembra-se, idiota?
― Bonita...? ― a voz preocupada de Lee permeou o ambiente.
Trish se sobressaltou e respirou fundo, tomando coragem antes de se
virar para a amiga. ― Lee, eu... ― se calou por um momento, pensando no
que diria então, respirou fundo outra vez e tentou parecer natural, ou no
mínimo bem. ― Desculpe pela demora. Eu já estou voltando. Dê-me só mais
alguns minutinhos.
A outra mulher lhe olhou cuidadosamente por longos segundos.
― Você está bem?
Trish sorriu.
― Sim. Eu já vou.
Esperando que a amiga saísse, ela se voltou para o espelho e fingiu
arrumar o cabelo.
Nada contra Lee, unicamente precisava ficar sozinha por mais alguns
minutos para que pudesse clarear as ideias e organizá-las, e principalmente, si
organizar e entender o que tinha se passado antes de voltar para o salão e
enfrentar aquele descarado-aproveitador com o mínimo de dignidade
possível. Entretanto, Lee não deixou o espaço e, tampouco, disse algo
enquanto se limitava a olhar a jovem através do espelho, deixando-a nervosa
com seu olhar analítico.
Trish olhou para amiga através do espelho e gemeu por dentro ao vê-
la com os braços cruzados sobre o peito e um leve sorriso zombeteiro
desenhando os lábios.
A jovem arqueou a sobrancelha, olhando-a com uma pergunta muda.
Lee não vacilou em responder-lhe com outra pergunta, pegando-a de
surpresa.
― Não vai me contar o que você e o bonitão fizeram aqui?
― O quê?
― Bonita, Bonita, não se faça de desentendida, ― Lee talhou. ―
Sabe muito bem do que estou falando, ou melhor, sobre quem, mas se insiste
por mim tudo bem. Eu digo a você. Estou falando daquele bonitão que
atendeu e que não tirava os olhos de você e que muito suspeitosamente
resolveu vir ao banheiro logo que a senhorita veio para cá.
― Infelizmente ainda não tenho o poder de controlar as necessidades
fisiológicas dos outros. Prometo, estou chegando lá ― Trish ironizou, na
esperança de que a amiga se calasse.
Lee estreitou os olhos e se aproximou, os olhos escuros dispararam
para seus lábios inchados e seu pescoço acompanhando a vermelhidão que se
escondiam sob a camisa branca. Automaticamente, Trish levou suas mãos
para o pescoço, como se para impedir a visão da amiga, mas já era tarde.
― Sua cadela sortuda! ― Lee soltou com animação e os olhos
brilhando de excitação. ― Agora me conta tudinho, sem esquecer-se dos
detalhes sórdidos.
― Não há nada para contar Lee ― Trish murmurou, incomoda. ―
Não aconteceu nada.
Lavou as mãos mais uma vez, e então, se desviou da amiga,
deslocando-se para a outra parede. Pegou duas folhas de papel para secar as
mãos e o rosto.
― Como não? ― a mulher exasperou atrás de si. ― Ele te seguiu,
fato. E há poucos minutos ele saiu e devo dizer... Puta que pariu! O homem
era o sexo de pernas... Tão gostoso que me pus quente, ― Trish sentiu um
chiado de irritação agitar seu peito e estreitou os olhos não gostando nenhum
pouco daquelas palavras. Deus, não podia estar ciumenta. Podia? Lee
continuou. ― E então, te encontro aqui com este olhar... E, bem, seus lábios
estão enormes e sua pele está vermelha, preciso detalhar mais?
Trish ignorou o sentimento de irritação e disse, tentando soar
amigável:
― É melhor você voltar pra lá. Eu já vou.
― Egoísmo não faz bem a saúde, sabia? ― Lee ralhou com os braços
cruzados sobre o peito e um bico enorme. ― E se não me falha a memória,
amigas servem para isto, para contar os rolos, os problemas, dividir as
alegrias e as tristezas, sobretudo, para contar o que rolou no encontro do
banheiro com o bonitão. Não que eu não soubesse, pois a situação em que te
encontrei já diz tudo, mas eu quero os detalhes.
Lee parecia uma criança, os olhos brilhavam sapecas e curiosos,
muito pedintes.
― Por favor, Lee. Só mais alguns minutos, sim?
Lee aceitou postergar o assunto... Por enquanto.
― Você vai arder no inferno, sua cadela egoísta ― ela disse com
birra, encaminhando-se até a porta. ― Ah, e se está aqui fazendo horinha por
causa de quem você-sabe-quem e você não quer me contar porque está sendo
uma ingrata egoísta. Relaxe. Sua gostosura já se foi sem nem sequer dizer
adeus aos amigos.
8

TOMANDO POSSE DO QUE É MEU

Ele tinha ido embora, assim, sem mais nem menos?


Trish se sentia aliviada por aquela informação, mas não entendeu a
irritação e a pontada de decepção chiando em seu peito pela partida do
desconhecido.
Ele havia entrado lá como um deus pagão, seduzindo e a fazendo
sucumbir ao desejo descontrolado, e agora, ele simplesmente tinha ido como
se o que acontecera não fosse nada? Como se ela não fosse nada mais que
uma puta barata acostumada a deixar desconhecidos petulantes e
extremamente sedutores lhe beijar? Tocar nas partes mais íntimas de seu
corpo e lhe proporcionar um orgasmo que ela jamais imaginou existir?
De forma nenhuma estava irritada e talvez muito zangada por ele ter
ido sem lhe dizer adeus, afinal de contas, educação nunca era demais,
principalmente, quando um sujeito lhe toca de forma tão íntima como ele fez.
Não. Definitivamente, não era por isso.
Trish queria, aliás, exigia um pedido de desculpas.
Cinco minutos mais tarde, Trish retornou para o salão. Seu peito ainda
batia forte e o desejo a rondava numa névoa invisível, mas ela sabia que
estava lá, como um vilão a espreita, pronto para o ataque, que ela rezava que
acontecesse o mais tardar possível. Tipo em casa, onde ela estivesse segura e
longe de constrangimentos parecidos com o qual tinha protagonizado há
pouco. Seus lábios não tinham diminuído o inchaço e duvidava muito que
eles voltariam ao normal tão cedo, mesmo assim teve de sair do seu
esconderijo. Era isso ou ter Lee em seu calcanhar, novamente. Ou na pior das
hipóteses, ser despedida por "vadiar em serviço".
Genial.
De volta ao salão, Trish não pôde evitar que seu olhar passasse pela
mesa, onde seu desconhecido estivera sentado, somente para comprovar se
era verdade o que sua amiga havia lhe dito. Ela experimentou uma sutil
pontada de desapontamento ao confirmar que somente os dois homens que
estavam com "ele" na mesa permaneciam ali devorando o banquete que
pediram. Balançando a cabeça para espantar o sentimento e o "seu" de sua
cabeça, afinal, ele não era seu e nem ela queria que fosse, certo?
Assim, seus pés trabalharam o caminho de volta para detrás do
balcão, encontrando uma amiga zangada e muito contrariada.
― Já está pronta para me contar?
― Agora não Lee, por favor. Preciso atender ao casal que acabou de
entrar.
Lee bufou pela evasiva da jovem, fechando o semblante e fazendo
bico como qualquer criança faria ao ter seu desejo negado.
Pelo resto de seu turno, Trish se dividiu entre atender os poucos
clientes, ignorar os olhares pidões de Lee, que não perdia uma oportunidade
para lhe alfinetar sobre o ocorrido no banheiro. E, os olhares estranhos que os
dois amigos daquele sujeito lhe davam vez e outra, antes de partirem.
Enquanto ela própria fingia não vê-los e convencer a si mesma que aqueles
olhares não eram para ela. Todavia, eles não sabiam do que acontecera no
banheiro, nem mesmo teriam como sabê-lo, uma vez que ele foi-se sem dizer
adeus. Isto serviu para tranquilizá-la um pouco, mas não tranquilizou e sequer
diminuiu o desejo insistente e a necessidade que sentia por aquele homem.
Deus era prova de seu esforço para mantê-lo fora dos seus
pensamentos, e por alguns minutos, Trish conseguiu. Mas a tensão sexual,
que sentia ganhar força a cada maldito minuto, não ajudava muito para que
mantivesse aquele sujeito longe de sua cabeça. Volta e meia, ela se pegava
recordando o ocorrido e fantasiando a cena com um toque a mais de
perversão, então sacudia sua cabeça e usava todas as suas forças para se
recordar do porquê havia parado naquele lugar. O que por algum tempo deu
resultado, embora o desejo rebelde tentasse quebrar sua resistência... Até que
conseguiu.
Quando fora do veículo, Trish correu para porta de sua cabana sem
sequer se despedir de Lee. Não fez por maldade devido às perguntas mudas
da amiga, que ela não tinha condições e nem queria responder no momento,
mas porque não podia suportar nem um minuto a mais do tecido
embrulhando seu corpo, que naquele momento lhe parecia arame farpado
sobre sua pele sensível e acalorada.
Dentro, suas roupas foram ao chão em um piscar de olhos, restando
somente a lingerie de renda preta, que logo se juntou ao monte de roupas.
A temperatura lá fora estava -23°C e dentro da cabana fazia 20°C,
porém ela sentia como se tivesse uma adição de 20°C. Seu corpo fervia e o
resultado logo espalhou por sua pele, deixando-a molhada pelo suor e sua
feminilidade empapada ao ponto de escorrer sua nata pelas coxas enquanto as
imagens da cena do banheiro bombardeavam sua mente.
Pelo amor de Deus, isto não era normal!
Estava ficando louca, isso se já não estivesse.
Não podia desejar um homem que somente viu uma única vez,
mesmo que este a tenha levado ao céu num momento de fraqueza.
Não fazia ideia do porquê se sentir assim e, tampouco, tinha
condições para pensar com lógica, à única coisa que podia fazer era desejar
que aquele tormento acabasse e que ela se esquecesse daquele sujeito. O qual
ela desejava não ver nunca mais, apesar de que lá no fundo de seu âmago
uma vontade oposta zumbisse.
Aquele vexame todo era por culpa dele. Ele era a doença que a tinha
contagiado e insistia em ficar, apesar de não ser bem-vinda.
O atrevido, filho da mãe, tinha lhe feito isto. O que era motivo
suficiente para que ela se recusasse a desejar vê-lo, novamente. Não era?
O desejo lambendo sua pele, como se lambe uma ferida, disse que
não.
Sentiu pena de si mesma ao passo que trabalhava sua respiração, mas
isto não foi de muita valia, nem mesmo os dois copos de água gelada que
tomou conseguiu aplacar o fogo consumindo seu interior. Deixando seu
corpo vibrando por libertação.
Banho, pensou.
Um banho morno e uma boa noite de sono lhe fariam bem. Amanhã
quando despertasse desse pesadelo luxurioso todas as reações malucas teriam
passado, como se nunca tivessem existido, e então, tudo voltaria ao normal...
Maldito. Mil vezes maldito!
Trish praguejou alto vinte minutos depois que se deitou já de banho
tomado.
Na hora, o banho acalmou um pouco seu corpo, relaxando e o desejo
regrediu, mas logo ele renasceu tímido e lento. O que a fez pensar que teria
uma noite de sonhos molhados. Isto ela poderia suportar e até aproveitar,
porém ele ganhou força expulsando seu sono e sua paz.
Trish tinha todo o corpo suado e febril, suas pernas estavam apertadas
juntas numa inútil tentativa de amenizar as pontadas de excitação em seu
centro e as palpitações dolorosas em seu clitóris. Precisava de um banho
gelado, pensou, cansada e irritada de rolar na cama.
Era loucura, pois lá fora fazia um frio tremendo sem contar as rajadas
de vento que tornava o ar mais gelado, insuportável. Mas louca ela já estava,
não? O que era um banho gelado comparado à sua situação embaraçosa?
No mínimo poderia pegar um resfriado, talvez uma gripe ou uma
pneumonia, nada que alguns antibióticos não dessem jeito.
Alguns minutos depois, ela testou a água com as mãos. Para uma
pessoa com o mínimo de sanidade mental, a temperatura estava
extremamente gelada, capaz de fazer um sujeito tocar castanholas com os
dentes, mas para Trish a temperatura era ideal. Reconfortante. Quando dentro
da banheira, seu corpo cantarolou pelo alívio, um quase palpável enquanto
ela suspirava satisfeita. Poderia jurar que ouviu um chiado, um daqueles
provocados quando gelo e fogo se encontram, quando seu corpo imergiu
n'água. O calor havia regredido quase que instantaneamente, embora ainda o
sentisse, mas agora ele era morno e aconchegante, ela poderia lidar com ele
sem problemas.
Cinco minutos depois, suas pálpebras se fecharam e sua mente se
desligou, apreciando suas próprias carícias inocentes enquanto as mãos
deslizavam por sua pele.
A princípio, suas mãos se moveram tímidas e desinteressadas,
intercalando entre pequenos movimentos circulares e de vai-e-vem por sua
barriga e abdômen, mas logo elas se tornaram mais exigentes e atrevidas
subindo até os seios, fechando-se neles, seus dedos exercendo um pouco de
pressão nos mamilos apertados.
E naquele instante, seu corpo floresceu.
Um gemido, baixo e rouco, abandonou seus lábios. Todo seu corpo
estremecendo quando experimentou mais uma pontada de excitação disparar
por sua espinha dorsal e atingir sua buceta em cheio, fazendo suas paredes
internas se contraírem em dor.
Trish não lutou e sequer tentou quando a imagem do tipo deslizou por
sua mente, incitando sua imaginação e dando vida as suas fantasias mais
secretas.
Naquele momento nada a importava, a não ser o seu prazer. E, se ele
somente fosse alcançado por meio do desconhecido, que assim fosse.
Autoprazer.
Era exatamente disso que ela precisava.
Deixando-se levar pelas sensações deliciosas varrendo seu corpo de
dentro para fora enquanto suas mãos trabalhavam o caminho para baixo, ela
mordeu os lábios e vaiou por entre os dentes, inclinando a cabeça para trás e
retesando seus quadris assim que as pontas de seus dedos encontraram o
casulo apertado.
Seus pés se apoiaram contra a borda da banheira e seus joelhos
dobraram um pouco enquanto abria as pernas. Os dedos deslizaram pela
fenda em uma carícia lenta e torturante. Estava quente, molhada e
escorregadia. Isto não se dava pela água. Imaginando ser o dedo do tipo no
lugar do seu, ela deixou dois escorregarem para dentro do seu centro
acalorado enquanto a outra mão se dividia entre seus seios, apertando-os com
carícias ásperas. Dentro e fora. Dentro e fora. Seus dedos trabalharam o
caminho com urgência enquanto murmúrios ilegíveis de prazer abandonavam
seus lábios entreabertos. Seu coração palpitava descoordenado e forte.
O prazer se construiu em forma de uma espiral de fogo e a ondulou.
Os dedos afoitos deixaram seu centro e pressionaram o clitóris.
Sua respiração era difícil assim como na fantasia em sua mente.
Sua pele estava arrepiada. As pernas tremendo. Seu clitóris pulsava.
Trish estava bem no limite. Ela iria explodir. Dois curtos movimentos
rápidos foram suficientes para que as sensações prazerosas explodissem por
cada centímetro de sua pele. Seu quadril contraiu duramente e seus dedos dos
pés se enrolaram apertados, as costas arqueando com violência, derramando
água pelo piso frio. Um grito de abandono deixou seus lábios e rasgou o ar da
cabana quando o prazer explodiu em seu núcleo e veio sobre ela em ondas
densas e escuras, nublando seus sentidos.

****

Disparando pela floresta, o lobo avermelhado saltou por cima de um


tronco caído e aumentou à velocidade. Suas patas ágeis mal tocavam o solo
devido ao ritmo imposto na corrida, tornando os gigantescos pinheiros e os
baixos arbustos apenas um borrão para uma visão humana, mas ele não era
um simples humano. Sua poderosa visão de shifter detectava cada mínimo
detalhe da densa floresta, como se fosse dia e estivesse apenas passeando
num ritmo lento. Tampouco, precisava se preocupar com uma colisão, pois
seu senso de direção era extraordinário e, além disso, no caso deste
falhar ― nunca ― o único que sairia machucado seria o pinheiro.
Correr era bom.
Todos os seus problemas se dizimavam quando corria. Naquele
momento tudo sumia deixando sua mente em branco, além de ser uma boa
atividade para extravasar quando no seu limite, assim como Caleb se sentia
antes de deixar sua sensual companheira no banheiro da P&C.
Tinha lhe custado à mente deixá-la lá.
Seu animal estava irritado por se apartar de sua fêmea tão esperada,
entretanto, o homem tinha tomado a decisão correta.
A bofetada que ela lhe dera somente arranhou sua mente e o homem
nele pôde, enfim, ― com um esforço desmedido ― se agarrar a um pouco
de controle.
Humana. Lento e suave.
As palavras se repetiram em sua mente até que seu cérebro entendeu
que ele não podia agir com ela como um shifter-Alfa no cio. Ainda não. Mas
o lobo estava louco e sedento por ela. Experimentar o gosto de sua boca, de
sua excitação e ver como era linda se perdendo no ápice do prazer, que
somente ele poderia lhe dar, o fez mais faminto dela.
O animal nele estava pronto para acasalar e exigia isso.
Um minuto a mais e eles teriam uma bagunça infernal naquele
banheiro. O que a faria doente de vergonha e mortalmente odiosa por ele.
Afinal, eles não estavam sozinhos na maldita lanchonete. E Caleb queria
fazê-la gritar, gemer alto e clamar o seu nome quando a fizesse gozar uma,
outra e mais outra vez enquanto enterrava seu grosso pau nela, de forma que
ela estaria muito cansada e saciada para se lembrar de negá-lo. Estaria tão
cheia dele e de sua essência, que só haveria espaço para ele em sua mente.
Somente ele.
No entanto, Caleb nunca se perdoaria se a constrangesse de tal forma
ou de qualquer outra. Nem mesmo o animal se contentaria.
O lobo diminuiu a velocidade enquanto se recordava da valentia e
ousadia da pequena fêmea humana. Maldição, ela o tinha estapeado. Mesmo
ele lhe dando uma pequena dose daquilo que sabia que ela necessitava,
ela realmente o tinha acertado com toda sua indignação. Ela o enfrentou sem
medo de igual para igual.
Não houve dor. Nenhum incomodo.
Na verdade, a palma dela em sua face nem mesmo fez cócegas.
Contudo, tinha causado grande surpresa e espanto. Um bufo que era mais
uma mescla de diversão, choque, ceticismo e relutante respeito, fez a cabeça
do animal sacudir para os lados.
Trish era altiva, corajosa como sua companheira deveria ser, mas seria
um condenado se ele não lhe ensinaria umas boas maneiras. E Caleb iria se
divertir muito ensinando sua fêmea humana como ela deveria se comportar
com seu Alfa. Com seu companheiro.
Minha fêmea. Minha Companheira Prometida.
O pensamento fez seu peito encher de orgulho e o animal fincou as
patas dianteiras na relva numa parada brusca, levantando a cabeça para o céu,
ele uivou. Um uivo de felicidade que fora ouvido e respondido pelos outros
shifters na forma animal e pelos Irmãos da floresta, que estavam num raio de
3 km. Uma sinfonia de uivos tão harmoniosa, que faria Beethoven e Chopim
espumarem de inveja em seus túmulos. Seus Irmãos celebraram com ele por
sua felicidade.
As patas voltaram a se mover até que quase não podiam sentir o solo
embaixo delas. Ziguezagueando entre os troncos largos e as pedras. Mas,
muito embora o contentamento irradiasse por seu corpo peludo, o desgosto
do lobo começou a arranhar a carne por não ter permanecido junto de sua
fêmea e a marcado para que todos os outros machos soubessem a quem ela
pertencia e, principalmente, a quem eles teriam de enfrentar caso se
arriscassem a extrapolar os limites com ela. A consciência disto fez um estalo
soar em sua mente e o sentimento de posse o inundou formando um grunhido
feroz em seu peito. E, ambos ― homem e animal ―, concordaram que era
hora de voltar e reclamar seu prêmio por direito.
Seu rabo estalou para a direita e suas patas mudaram o curso da
corrida sem perder a velocidade. Quando deixou as árvores para atravessar
uma pequena clareira ao leste da floresta, um bando de cervos, que se
encontravam ali pastando tranquilamente, se agitou e disparou a correr
fugindo do predador. Sua boca estava ligeiramente aberta e sua língua
refestelou fora, ao passo que deixava a clareira e os cervos assustados para
trás. Saltou sobre uma pedra coberta por uma espessa camada de gelo e neve,
e, tornou a correr.
Agora, para sua fêmea.
Caleb não fazia ideia em que lugar a jovem vivia, mas aparentemente
seu lobo sabia exatamente aonde ir. Minutos depois, deixando o homem
surpreso quando em frente da cabana que lhe serviu de refrigério nas últimas
semanas.
A ironia não podia ser mais doce.
O homem estava tão estupefato que a vontade de rir se fez presente.
Sons parecidos com um rosnar deixou a boca do animal enquanto os
olhos afiados esquadrilhavam ao redor. Ninguém a vista. Caleb saltou da
escuridão da encosta da floresta e fez o caminho até a cabana, porém antes
mesmo que chegasse a pequena varanda o cheiro da excitação da fêmea
humana golpeou suas narinas com tal força que o lobo cambaleou para trás.
O pulsar forte e descompassado do coração dela fez suas orelhas erguerem-se
em duas pontas agudas, e então, sua mente latejou.
Uma névoa escura cercou o animal, rondando e ondulando seu corpo,
até que um homem nu surgiu em seu lugar quando ela, finalmente, se
dissipou.
Maldição.
Ela não estava...
O rouco gemido baixo penetrando seus ouvidos numa carícia sensual,
como se ele estivesse do lado dela naquele instante, deu-lhe a resposta.
Em um piscar de olhos, o tipo tinha uma bruta ereção, com as veias
latejando por toda sua longitude e a coroa vermelha de seu pênis apontando
furiosamente para frente. Seus escrotos mais se pareciam com duas bolas de
chumbo. Estavam pesadas, azuis e doloridas de excitação.
Um baixo grunhido passou por entre seus dentes que de tão apertados
sua mandíbula estava marcada. Uma de suas mãos se apertou sobre a cabeça
inchada de seu membro enquanto a outra se fechava em um punho apertado,
suas garras saíram machucando a palma, mas ele não sentia qualquer dor.
Caleb estava torpe, absorto na excitação dela e em seus gemidos fracos,
acariciando seus ouvidos e fazendo seu pênis saltar em resposta.
Ah, foda!
Ela o estava matando.
Precisava dela mais do que precisava do oxigênio para viver.
E precisava agora mesmo.
Seus olhos fecharam e seu tórax poderoso subiu quando ele aspirou
profundamente. Uma, duas, três vezes e mais algumas outras. Se acalmando
enquanto trabalhava o caminho até sua mente, dissipando a névoa do desejo
até que eles ― homem e lobo ―, começaram a trabalhar juntos.
Normalmente, Caleb não precisava se esforçar tanto para abrir
qualquer coisa, tudo era muito simples. Controle e concentração. Bingo!
Mas, maldita seja, aquela fêmea o fazia perder a mente e a prudência.
A excitação dela vindo até ele em ondas densas, construindo imagens
dela nua, escorregadia e necessitada dele, não contribuíam em nada para seu
controle. Por um momento a imagem da fêmea na cama, com as pernas
abertas expondo seu sexo faminto quase o fez perder a concentração e
arrombar a porta. Entretanto, não queria danificar sua casa e trazer-lhe
prejuízos. Ou amedrontá-la quando seu único desejo era alimentar a fome de
ambos.
Caleb continuou respirando, esvaziando a mente até que seu corpo
esquentou desde as pontas dos pés e subiu por seus membros fazendo o
caminho todo até sua mente, intensificando à medida que passava por seu
tórax. Era um calor diferente daquele que aquecia seu corpo contra as
temperaturas abaixo de zero. Este era o seu poder. O poder do Alfa
expandindo por seu corpo, misturando-se ao seu sangue, ao ar que entrava e
saia de seus pulmões, selando seus sentidos numa fina camada de ouro,
porém resistente, inquebrável. De súbito, suas pálpebras se abriram, seus
olhos tinham perdido o tom âmbar dando lugar ao amarelo ouro brilhante.
Com a mente, ele girou a chave na fechadura. Abriu, entrou e fechou a porta
atrás de si sem tocá-la. Sem qualquer ruído.
O agarre em seu controle se apertou mais firmemente enquanto suas
mãos fechavam em punhos duros, as garras continuaram a sangrar as palmas,
que se curavam em seguida apenas para continuarem sendo machucadas; ele
nada sentiu.
Unicamente podia sentir ela. Trish.
O aroma do desejo de sua companheira lá dentro era mais intenso,
mais encorpado fazendo o lobo uivar e salivar em seu peito. Seu pênis pulsar
furioso e suas bolas mais apertadas. Caleb apertou a coroa de seu membro
contendo o gozo iminente.
Seis segundos foi tudo o que ele precisou para estar diante da cama
dela.
Seus pés tinham se movido, guiados pela excitação da fêmea humana
antes mesmo que seu cérebro processasse o primeiro movimento.
Um segundo depois foi o bastante para que seu lobo se calasse, seu
forte coração parasse de bater por um breve momento e seus joelhos
tremessem, dando-lhe a sensação que os ossos tinham se liquefeito, porém os
pés nus brutalmente soldados a madeira abaixo deles, como se ela fosse uma
extensão de seu corpo, segurou e o manteve em pé.
A jovem jazia nua na cama, completa e irrevogavelmente nua no meio
da cama atordoada pelo emaranhado de cobertores, que começavam a ganhar
o chão. Caleb não sabia o que olhar primeiro, mas seus olhos fascinantes
cobriram cada centímetro dela.
As pernas unidas desesperadas a tal ponto que não duvidava que elas
se fundiriam na tentativa de conter a dor latente atormentando o encontro
delas. Os quadris agitados contraindo e descontraindo. Suas mãos ao lado do
corpo torcendo o lençol frágil entre os dedos. Os seios inchados, com os
rosados cumes duros, tão duros e quentes, que naquele instante poderia
derreter um tablete de manteiga. Seu colo subindo e descendo bruscamente
enquanto ela buscava por oxigênio e seu rosto contorcido pela paixão
vulcânica. Trish arfava entre gemidos baixos e soluços enquanto seus dentes
cavavam duramente o lábio inferior. Ela estava sofrendo... por ele.
Pelos anos que ele já viveu e ainda viveria, por toda sua experiência,
sua natureza e mundo surreal, nada, exatamente nada o teria preparado para
aquela cena.
Uma visão fodidamente infernal que lhe queimava as retinas douradas
e o colocava mais duro que o aço, tão malditamente duro, que em questão de
segundos poderia perfurar um cofre feito do material mais resistente existente
no planeta.
Tome-a. Marque-a. Submeta!
O lobo rugiu em seu peito mais uma vez tentando furiosamente subir
a borda, mas Caleb o assentou de volta. Não podia permitir que o lobo
guiasse a dança naquele momento, ele não a faria mal, mas tomaria o que lhe
pertencia e a faria submeter-se a ele. Ela inconsciente cederia. Caleb queria
os dois tão duro como seu animal. Mas ele precisava dela consciente do quê
estava lhe entregando, pelo menos no que diz respeito a seu coração, sua
vida. Consciente que a partir do momento que ele a marcasse e submetesse
não haveria mais volta.
Trish seria dele de corpo, coração e alma.
Somente dele e de ninguém até o último dia de sua vida.
Submetê-la quando o drukāt estava exercendo sobre ela o auge de seu
potencial, enevoando seus sentidos, emoções e até mesmo os sonhos, como
fazia naquele instante, seria uma insana covardia. Sujo. Desonesto.
Imperdoável. Nunca poderia se perdoar mesmo que ela o perdoasse. A
desonra e vergonha por haver submetido sua fêmea quando ela não usava de
sua razão, cairiam sobre si e ele não poderia conviver com isto. Não poderia
tocá-la nunca mais, porque ele não era digno dela.
E, doce Jesus, ele queria, precisava ser digno dela.
Tinha lhe esperado e procurado por muito tempo até que as
esperanças de encontrá-la começaram a desvanecer, e nada restou, exceto a
certeza de que havia alguém para ele em algum maldito lugar no mundo. E,
apesar disso, Caleb não teria a honra de tê-la para si. Já havia se conformado
a estar só até seu último suspiro de vida e a não ter a nenhum descendente seu
andando sobre a face da Terra, porque se Caleb não tivesse àquela feita para
ele, sua Companheira Prometida, ele não se acasalaria com nenhuma outra,
embora pudesse. Mas agora seu quadro negro ganhou cores vívidas e
movimentos, pois aquela que seria sua companheira, sua amante e mãe de
seus filhotes; aquela que encheria seus dias de luz e regozijo e, suas noites de
amor e paixão, e, o acompanharia até o último fôlego de vida, estava ali, bem
diante de seus olhos.
Ela era sua.
Minha!
Caleb estava estarrecido.
Cada centímetro de sua pele pulsando diante da visão.
Reagindo a ela. Desejando ela. Doente por ela. Sofrendo por ela.
O sofrimento dela chicoteando seu corpo dava-lhe uma ideia do
quanto ela sofria, necessitada por um alívio que somente ele poderia lhe
oferecer.
Caleb era o seu antídoto. Sempre seria.
As lendas ancestrais informavam sobre o poder que o drukāt exercia
sobre a fêmea, contudo, ele não tinha nem mesmo chegado perto do quão
intenso podia ser à força da magia sexual. Mas, oh, homem, agora Caleb
conhecia. Sentia-o em sua pele. E se para ele estava difícil, cada parte, cada
músculo, cada célula e cada terminação nervosa estalando, contraindo,
doendo, como se fosse lhe rasgar a pele a qualquer momento se não a
respondesse, se não esvaziasse sua semente no calor acetinado dela, nela a
intensidade era três vezes pior.
O drukāt era forte demais. Impossível de conter ou ser ignorado.
Aliás, quando um destes dois era tentado a magia poderia triplicar,
intensificando o desejo sexual da fêmea ao ponto que a fazia adoentada e, se
não houvesse alívio por seu macho, em questão de poucas semanas ela
poderia até mesmo morrer.
"O drukāt não pode ser ignorado, Caleb. E acredite, quando a magia
vir sobre sua fêmea à última coisa que desejará é que ela tente conter o desejo
por si mesma. Se isto ocorrer, ela estará trazendo um inferno de sofrimento
ao seu corpo, que somente tende a aumentar até que seu companheiro lhe dê
alívio, se é que me entende".
O rosnado baixo, porém grave, feral, balançou seu corpo ao se
lembrar das palavras de uma antiga amiga após esta se convalescer por uma
semana em uma cama antes de seu negligente companheiro retornar de uma
viagem inapropriada, com fins puramente pessoais e egoístas, e, enfim, tirou-
a de sua miséria. Havia sido um tempo difícil para todos. Ainda podia se
recordar da fúria sombria que o encheu ao ver a doce e frágil fêmea pagar
pela incúria de seu companheiro. Um macho arrogante como o inferno, que
quase causou a perdição do bando por sua ambição desenfreada e sua doentia
necessidade egoísta de poder. Se não fosse sua própria sede por justiça, por
tempos melhores, Caleb teria visto os seus perecerem na presunção daquele
macho infeliz.
Infelizmente, o mesmo não se deu com a fêmea. Caleb não pôde
salvá-la como fez ao bando. Ela tinha pagado o preço por uma dívida não
feita, mas que a pertencia por ser a Companheira Prometida do maldito
macho. Um preço muito alto, que nenhuma fêmea deveria pagar. Esta sempre
seria sua maior decepção. Não poder salvá-la.
Mas não era tempo de pensar no passado quando o presente socava
sua face.
Voltando todos os seus sentidos para a fêmea humana na cama, seus
olhos se estreitaram perigosos. Agora, sua febre ardente fazia todo o sentido.
Ela tinha buscado alívio para seu desejo. Sem ele!
Maldita seja!
Não deveria se sentir ofendido ou raivoso por ela ter buscado prazer
por si própria, afinal, ele havia deixado-a assim, não? E, de todo modo, ela
não o traiu.
Então por que ele se sentia ofendido e traído?
― Mmmm...
O gemido dela perfurou seus ouvidos lançando uma lança de fogo por
sua espinha dorsal. Cravando seus olhos nela, Caleb a contemplou como se
ela fosse à miragem mais erótica que alguma vez tinha colocado os olhos.
Seu corpo curvilíneo estava coberto por uma película de suor, fazendo sua
pele arrepiada lustrosa, um perfeito contraste com sua pele de cor cremosa.
Os olhos estavam fechados, os cílios trêmulos enquanto sua cabeça agitava
para os lados e para trás. E seus cabelos... Santo Deus... Caleb amou seu
cabelo. Era uma massa espessa e escura de fios longos espalhados pelo
travesseiro branco, como ele imaginou. Ideais para enrolarem em seu punho
quando ele a montasse.
No entanto, aquela fêmea não só ocultava seus cabelos preciosos.
Ela era deliciosa, sensual, e ele sabia que, embora quando fosse dali,
sempre levaria essa imagem gravada em sua mente. Então, vindo de nenhuma
parte o pensamento se insinuou em sua mente. Ele se imaginava seduzindo-a,
saboreando cada centímetro de sua pele durante horas. Lambendo e beijando
seu sexo até não poder suportá-lo mais. Caleb queria cortejá-la, seduzi-la.
Penetrá-la até o mais profundo derramando sua semente no útero dela,
sabendo que eles estavam criando vida.
Suas narinas se alargaram um pouco quando ele respirou fundo,
absorvendo o delicioso aroma dela. As mãos doíam de vontade que tinha de
acariciá-la até que ela, presa de desejo, levantasse os quadris e permitisse...
Caleb lutou para evitar que escapasse um gemido, inutilmente.
― Por favor.
A voz dela, um gemido fraco, estrangulado, titilou sobre ele.
Caleb fitou seus olhos vendo as pálpebras levemente levantadas,
mirando-o através da nuvem do desejo enquanto Trish continuava a se
contorcer e rogar.
Movendo-se para ela, ele parou ao seu lado na cama, em pé. Não pôde
reter o riso de orgulho masculino ao tê-la ansiando por ele, necessitada dele.
Caleb observou cheio de desejo e regozijo, sua face se voltar para ele,
as pálpebras oscilando enquanto ela elevava a mão buscando alcançá-lo
cegamente, os dedos desesperados para tocar seu membro, que
incessantemente pulsou muito feliz por ser cobiçado e ansioso para ter os
dedos dela em torno de si.
Ela tinha o estômago plano, os quadris largos, coxas roliças que
abraçariam seu quadril perfeitamente bem, e os seios cheios com pontudas
cerejas enrugadas ideais para sua boca e suas mãos grandes. Era linda, toda
perfeita e com carne. O seu ideal em uma mulher. O tipo que poderia foder
sem se preocupar em quebrá-la.
Era obscenamente deliciosa.
Minha. Toda minha, ele pensou orgulhoso.
― Oh, Deus, por favor, por favor.
A súplica dela voltou a encher o ar abafado em volta deles.
O riso desvaneceu quando o calor tomou seu lugar. O desejo injetou
uma dose extra de excitação em seu sistema. Recordou-se do gosto dela. O
sabor agridoce tinha explodido em sua boca, mesmo por cima da calça,
desconstruindo seu controle e fazendo-o pensar em mais.
Caleb olhou abaixo na mulher, se decidindo sobre o quê fazer. E um
segundo depois ele estava na cama, suas mãos tocando os joelhos dela,
abrindo-a para ele. Trish se agitou sob seu toque, mas Caleb acalmou-a em
sua mente e seu corpo relaxou para ele, embora ela seguisse ofegante, com
carentes gemidos baixos deixando seus lábios. Não podia despertá-la quando
a magia a sucumbia, mas poderia aliviá-la e se aliviar no processo. Não era
errado. Ele era seu Companheiro e ela o pertencia. Seu dever maior era
satisfazer as ânsias dela. Fazer feliz sua fêmea acima de tudo, e dar a ela o
que ela queria. Nunca poderia deixá-la sofrendo quando ele possuía a cura
para seus males.
Caleb arrastou seus olhos do rosto dela descendo o caminho até o
encontro de suas pernas, suas retinas se enchendo com a visão do pequeno e
delicado sexo, com os rosados lábios vaginais inchados, brilhosos com o
desejo líquido. Molhada e pronta para ele. Isso só fez o animal dentro de si
rugir em satisfação, louco para tomá-la e marcá-la.
Tome-a. Marque-a. Submeta!
Se concentrando para esquecer-se do próprio desejo, Caleb se abaixou
e cheirou-a, embebedando-se com seu delicioso odor feminino. Então,
lambeu a estreita fenda encharcada, a língua áspera indo até a pequena pérola
dura sobressaindo acima dos lábios de sua intimidade, sugando-a enquanto
suas mãos fortes sujeitavam o quadril dela. O sabor doce da nata dela
explodiu em sua boca e disparou diretamente para a coroa de seu pênis,
fazendo-a latejar e sua longitude mais dura. Caleb grunhiu contra o clitóris
dela antes de sugá-lo com maior intensidade, mais força, fazendo-a
convulsionar em sua boca e os sons baixos que ela fazia preencher sua mente.
Ele bebeu dela com sua língua. As glândulas daquela pequena carne
incharam, soltando sua essência nela espalhando suas especiarias relaxantes e
curativas, com cada lambida e sugada pela fenda escorregadia. Acalmando e
levando-a ao pico, tudo ao mesmo tempo.
Trish agarrou seus cabelos com desespero, trazendo-o mais perto.
A ponta de sua língua circulou a estreita entrada antes de introduzir
sua língua naquele canal quente, buscando mais de seu sabor delicioso.
Apertou os quadris dela firmemente quando ela se balançou ansiosa,
mantendo-a quieta enquanto ouvia seu gemido dengoso. O polegar tocou o
clitóris enquanto mergulhava nela, dentro-e-fora, com sua língua. Mais e
mais rápido, assim como o pênis dele queria fazer até que a sentiu se quebrar,
apertando as coxas contra sua cabeça, as costas curvando bruscamente, o
orgasmo se derramou sobre ela.
Caleb abriu suas coxas, saindo de seu aperto e subiu em cima dela.
Precisava estar dentro dela. No seu calor molhado. Sentindo-a se
convulsionar ao redor de seu pênis, apertando e ordenhando-o enquanto ela
gozava e ele lubrificava as profundezas de seu núcleo com sua própria
libertação. Esta era a exigência de seus corpos. Depois poderia ir com calma,
agora só precisava ajudar a ambos.
As pernas dela relaxaram por completo dando o espaço necessário
para que Caleb encaixasse seu quadril no dela. A ponta cega do membro dele
beijou a entrada da vagina faminta, e Caleb teve que apertar os dentes juntos
ante o calor vulcânico daquela parte tão delicada do corpo de sua fêmea.
Controlando-se para não se afogar nela em uma única estocada. Ele apoiou
boa parte de seu peso em seus antebraços enquanto ela enrolava os braços em
suas costas, as unhas curtas, mas afiadas, marcando sua pele e fazendo tudo
mais difícil. Trish tentou se mover buscando a penetração, mas ele sondou
sua mente, novamente. As pálpebras dela bateram preguiçosas, os orbes azuis
intensos pela paixão focaram os lábios dele enquanto ela arfava chorosa. E
foi tudo que bastou para que seus lábios, melados pela excitação da mulher,
baixassem sobre os dela, suas línguas buscando uma a outra e o controle dele
se desfez, como o pó jogado ao vento.
Caleb enterrou-se profundamente nela enquanto as garras perfuravam
o lençol e o colchão. Merda, ela era apertada demais. Estava molhada e
quente. Não iria durar muito tempo. Um sorriso duro curvou em sua boca.
Sorte dele que tinha a noite toda.
Trish podia não estar acordada naquele momento, mas seu corpo
estava completamente desperto conversando com o dele, como se eles se
conhecessem há muito tempo e agora estivessem matando a saudade de
longos anos.
Com seus lábios presos ao dela, ele empurrou lento e fácil a princípio,
e então, com uma velocidade maior. Os sons de prazer dela o estavam
deixando louco. Balançando sua pélvis, Caleb entrou nela em um novo
ângulo indo mais profundamente, a cada punhalada a cabeça cega buscava o
ventre dela ao mesmo tempo em que atingia o ponto doce de explosão dentro
de sua caverna molhada.
― Mais! Mais duro!
Caleb elevou o tronco o suficiente para passar uma das pernas dela
sobre seu braço enquanto a outra abraçava seu quadril, deixando-a mais
aberta para ele. Então, ele voltou a se abaixar sobre ela metendo fundo
seguidas vezes até que a cama começou a ranger com urgência e cabeceira
bater na parede.
― Sim! Assim atrevido. Dê-me tudo!
Sorrindo maliciosamente, a boca dele buscou um mamilo e depois o
outro enquanto as pontas de seus dedos tocaram o clitóris dela. E instantes
depois ela gritou quando teve um novo orgasmo. Caleb rugiu sobre ela,
sentindo os caninos coçar e crescer ao passo que bombeava seu corpo até que
sentiu seu pênis inchar, dobrando-se de tamanho, então se prendeu dentro
dela quando ele explodiu. Seus caninos se fecharam contra seus próprios
lábios, perfurando e sangrando-os para não marcá-la. Jatos e mais jatos de
sua semente cremosa preenchiam o núcleo quente, procurando seu útero
faminto. Seus músculos internos continuaram tensos em volta dele, apertando
e lançando, drenando ele.
Terminado, Caleb lambeu os próprios lábios, curando-os à medida
que os caninos se retraiam, latejando e doendo para marcá-la. Seria tão fácil...
Cerrou os olhos e mirou o rosto da mulher, agora mais sereno, mais
calmo, temporariamente. Ele sabia. Logo ela precisaria de mais e ele estava
muito disposto a dar tudo a ela.
Quando sentiu seu membro desinchar o suficiente, Caleb se retirou
dela e um gemido manhoso, que mais se parecia com um resmungo, passou
além de seus lábios.
Ele sorriu, pura e simples satisfação.
Ainda estava duro, mas uma vez que a tinha tranquilizado um pouco,
Trish poderia ter um tempo para si antes de aceitá-lo novamente em seu
corpo.
Ele caiu ao lado dela. Num gesto sincronizado, ela se agarrou a ele
deitando a cabeça em seu peito e enrolando as pernas nas suas. Caleb enlaçou
sua cintura, trazendo-a mais contra si, apertando-a contra seu corpo.
― Durma, amada ― docemente, ele sussurrou e beijou o topo de sua
cabeça, as pontas de seus dedos fazendo pequenos círculos na pele nua de
suas costas. ― Está segura agora e sempre estará enquanto eu viver. Nunca
mais ficará desprotegida.
Em seus 320 anos, Caleb nunca houvera se sentido tão bem e em paz
como naquele momento, nem mesmo antes daquele tormento todo começar.
Seu coração pulsava forte e compassado. Seu peito se sentia
acalorado, irradiando por todo seu magnífico corpo uma felicidade sem igual.
Ele sentia-se ridiculamente bem.
Eufórico. Extasiado. Completo.
E, finalmente, equilibrado como nunca esteve.
9

SONHO OU REALIDADE?

Mais!
Trish tinha pedido. Não, ela tinha implorado. Rogado como uma
mulher faminta e muito desesperada para tomar o prazer dele.
Mais fundo. Mais forte. Mais rápido. Mais duro. Mais e mais.
E ele deu exatamente como tinha rogado, mais e mais até que ela
derreteu em torno dele incontáveis vezes. Até mesmo quando ela tinha
sentido não ser capaz de aguentar mais daquele prazer estrondoso, ele lhe deu
tudo fazendo seu corpo quebrar em mil pedaços e se refazer a cada nova
carícia, como se soubesse que, embora fosse demais, ainda havia um
resquício de fome omissa dentro dela.
Cada vez que veio ao redor dele e ele encheu as profundezas de seu
núcleo acetinado, com sua semente quente e cremosa. Cada envolver de
lábios e línguas torcendo-se numa dança sensual reverteu nela com dualidade.
Seu corpo zumbiu por mais, ao mesmo tempo em que, trabalhou em sua
fome, alimentando, até que ela estava cheia dele, de forma que ela esteve
suspirando de prazer e de alívio...
― Ai, droga!
Trish praguejou alto e correu até a pia para lavar mão, onde havia
respingado café quente quando tentou cortar seus pensamentos embaraçosos.
Pegou um pano úmido e rapidamente limpou o mármore, então
arrebatou a xícara e voltou para junto da pia. Por um breve momento, Trish
conseguiu se focar na tarefa de lavar o utensílio, porém as imagens
trabalhavam por si só.
Suas bochechas estavam quentes, tingindo a pele alva pelas imagens
eróticas, que sua mente trazia desde que despertou da noite mais estranha e
constrangedora de sua vida.
E deliciosa.
Com ambas as mãos apoiadas na pia, Trish fechou os olhos e lambeu
os lábios degustando das imagens, das sensações experimentadas a flor da
pele, o aroma gostoso impregnado em seu nariz, os toques suaves e precisos
de seu amante.
Os beijos.
Sua língua correu pelos lábios outra vez antes dos dentes cativarem o
inferior.
Deus, os beijos eram demais! Tão quentes, cheios de promessas
apaixonadas e tão açucarados, que ela poderia beijá-lo para sempre.
Seu coração acelerou e um sentimento que não gostou floresceu
dentro dele quando os olhos do tipo encheram a sua mente. Olhos estranhos,
amarelados, mas extremamente sensuais e poderosos, capazes de persuadi-la
a cometer um crime apenas por olhá-la daquela forma intensa, com paixão
quente velada neles.
Poderia jurar que ainda era capaz de sentir o calor das mãos dele
sobre seu corpo; seus dedos tocando as partes sensíveis de sua pele. Seus
lábios macios e vorazes devorando os seus com intensa volúpia, o gosto doce
e encorpado como caramelo derretido, que alagou seus sentidos, e deu a ela
exatamente o que precisava para aliviar sua dor.
Suas mãos se apertaram contra a borda da pia fortemente.
E aquele cheiro delicioso.
Deus Santo. Aquele aroma era a melhor coisa que já tinha sentindo.
Um almiscarar amadeirado e algo mais que ela não podia identificar, mas já
amava.
Mmmm... Delicioso.
Nunca tivera sentido tal essência, nem mesmo algo próximo que a
fizesse desejar cheirar por horas e horas, e então, lamber, beijar...
Seus olhos azulados se abriram mais escuros. Trish exalou languida
puxando uma nova respiração. Olhou abaixo só para conferir o que já sentia.
Seus mamilos estavam pontudos sob a regata cinza de algodão, desejo líquido
e morno umedecia suas dobras.
Estava quente, porém nada comparado com a excitação incandescente
que havia experimentado na outra noite.
Infernos, como diabos um desconhecido poderia ter tal efeito sobre
ela?
Já tivera muitos sonhos molhados em sua vida e nunca nenhum havia
deixado seu corpo daquela maneira. No entanto, aquele sonho parecia tão real
que sentia cada sensação, mas não era real. Ou era?
Ah, merda! Será que ele...
Seu olhar, de repente, receoso foi à porta e uma dose de adrenalina
correu por seu sistema antes de seus pés se moverem para lá, o coração
batendo a mil por hora.
Fechada com chave.
O alívio a beijou parcialmente. Trish sorriu lançando a cabeça para os
lados. Sentia-se uma tola estúpida. Que pensamento mais besta!
Contudo, não podia negar que estava confusa. Não eram somente as
reações ante as imagens em sua cabeça, eram as próprias imagens que
pareciam tão vívidas fazendo-a cogitar se havia de fato acontecido ou não,
embora houvesse um indício alarmante dentro de si, uma pequena parte que
não se importava dele ter feito aquilo realmente. Afinal, ele era o culpado por
fazer seu corpo entrar em 'curto' e arder.
Recordou-se do trajeto até a cabana, mesmo aquilo parecendo
estúpido. Tinha pegado carona com Lee e nem mesmo havia se despedido da
amiga quando esteve na frente da cabana, mas fechou a porta assim que
entrou, aliás, ainda estava fechada e sem sinais de arrombamento.
Não fazia sentido e não tinha como fazer, pois não era real. Decidiu-
se por fim.
O clima louco daquele lugar estava afetando seu cérebro e o
destempero de sua TPM, uma reação desconhecida, mas que fazia sentido,
afinal, a maldição feminina era insana e sem precedentes. Também havia se
sentindo vigiada desde aquele primeiro dia em que o viu, seja no trabalho ou
em casa, em qualquer lugar que estivesse sentiu olhos espreitando, porém não
havia nada fora do lugar, ninguém estranho ou suspeito.
Estava ficando paranoica, concluiu.
O povo ali era muito amável e nenhum de seus conhecidos da velha
vida sabia sobre seu paradeiro. Estava segura.
Mais tranquila com suas conclusões, Trish se encaminhou até o
banheiro.
Um banho demorado era tudo que precisava.

Sentado atrás da mesa de seu escritório, Caleb se recostou de maneira


despojada e tranquila em sua cadeira e esticou as pernas longas. O sorriso
orgulhosamente feliz arqueando as esquinas de seus lábios. Satisfeito consigo
mesmo à medida que saboreava em sua mente os momentos que tinha
passado com sua fêmea.
Sua fêmea. Sua Companheira.
As palavras soavam doces para seu cérebro e provocativas para seu
membro.
Caleb ainda sentia seu gosto na língua, o sabor do seu beijo, da sua
pele, do seu sexo. O cheiro dela permeava em sua pele. O aperto.
Tão gostosa e toda minha.
O sentimento de possessão estava ativado em sua potência máxima,
bem como, o de proteção e orgulho.
Ele lhe tinha feito amor e fodido até que não pôde mais e, ainda
assim, estava duro só de lembrar-se dos gemidos sensuais que ela soltava a
cada toque seu.
Ela era deliciosamente perfeita.
O encaixe perfeito para seu corpo, de almas.
Seu lobo ainda bufava enervado em seu interior por não ter marcado a
fêmea. E, homem, seus caninos doíam para fazê-lo. Mas não podia. Não
ainda.
Logo.
O homem estava feliz, tão contente que os uivos aborrecidos do lobo
eram apenas um chiado baixo. Estava assentado e relaxado, no entanto.
Nenhum vestígio da tormenta que o assolou dias atrás. Agora sua tormenta
era outra, porém desta, ele possuía total controle. Era o tipo que ele teria
muito prazer em enfrentar.
― Isso é um sorriso feral, meu amigo.
― Feliz ― ele corrigiu.
Embry estava do outro lado da mesa, sua sobrancelha negra arqueada.
― Vejo que é verdade que encontrou sua Companheira.
― Sim.
― Fico feliz por você. ― Caleb assentiu rapidamente. ― É um
caralho de sorte que a tenha encontrado agora. Isto matará dois coelhos de
uma só vez.
Não era segredo para seu bando que o Alfa somente se acasalaria com
sua Prometida. O que tinha causado um alvoroço entre os seus. Muitos não
acreditavam que Companheiros Prometidos existissem, apesar de haver
alguns poucos acasalados.
O acasalamento do Alfa cessaria a insegurança de seu bando e
algumas más línguas. Tinha feito um ótimo trabalho com a manada, mas
como em qualquer sociedade, havia a escória, os desgarrados e de má fé.
Algo que incitou as fêmeas mais fortes a brigarem por sua atenção e lhe dar
algumas surpresas de tirar o coração do peito.
Poderia se acasalar com qualquer fêmea e depois com sua Prometida,
a monogamia não era uma regra imutável entre os shifters, embora
preferissem assim.
Um segundo acasalamento era permitido, pois, apesar da descrença,
os machos em algum período da vida queriam se assentar, ter um corpo
feminino aquecendo sua cama e parindo seus filhotes. Além do mais, uma
Prometida não era encontrada tão facilmente, muitos morriam sem tê-la
achado. O que causava medo nos machos de irem sem deixar um descendente
para continuar sua linhagem. E a solidão era uma má sorte. Os mais
descrentes não queriam arriscar esperando até a morte. Sabendo disso, seus
ancestrais, uma vez que sabiam ser impossível para o macho negar-se a alma
feita especialmente para ele, permitiu aos machos já acasalados com uma
fêmea de sua escolha o segundo acasalamento. No entanto, isto era algo raro
de acontecer e somente permitido aos machos, uma vez que eram muito
dominantes e possessivos.
Shifters não se divorciavam, o emparelhamento era para o resto da
vida. Não era fácil. O macho teria um caminho penoso com as duas fêmeas,
tendo que oferecer a ambas tudo por igual. Mas, então, Caleb não queria
nenhuma mais entre ele e sua Prometida. Queria dar tudo a sua companheira.
Somente a ela. Morrer sem encontrá-la era um risco que esteve disposto a
correr até que entrou na P&C.
― Quando vamos conhecê-la?
Ele se mexeu na cadeira e fez uma careta.
― Aí está o problema.
― Não vejo qual o problema. Encontrou sua companheira. Poderá
calar os repórteres de plantão e dar fim as preocupações do bando, que
aumentaram depois de seu estresse. ― O amigo encolheu os ombros. ―
Submeta e acasale-se. Simples assim. Ou vai dizer que está com medo de
uma fêmea?
― Ela sendo humana? Sim.
― Puta que pariu! Caralho!
Caleb se afundou na cadeira, que rangeu ao seu peso.
― Sei.
― Pensando bem, o bando não ficará muito feliz, digo, o conselho e
seu fã clube não estará feliz com uma humana. Mas creio que o problema
maior será garantir que sua humana não corra quilômetros para longe quando
souber do nosso mundo.
― Sei disto também. E obrigado por me lembrar disso.
― Sempre que precisar ― zombou o Beta, com um sorriso maroto.
― Ei, qual é cara? Não é como se fosse o fim do mundo. Achou sua
Prometida. Foda-se o resto! Você é o Alfa. Além do mais, eu estou aqui para
o que precisar.
― Não acha ruim ela ser humana? ― ele inquiriu, assistindo o seu
Beta de perto.
Seria apenas frustrante ter de lidar com a rejeição de Embry, também.
― Acho que já tem problemas demais para também ter que lidar com
uma rejeição minha. Quanto a mim, ela será muito bem-vinda e creio que
pelos outros caras, também. Você sabe. Essa é sua vida e ninguém pode
interferir.
― Obrigado. Preocupo-me com a nossa gente, mas entre ela e o
bando, prefiro enfrentar o último.
― Acha que ela o negaria?
― Não sei. O drukāt é forte o bastante, mas é momentâneo. Não
posso afirmar que ela correrá pra mim quando puder pensar sem o efeito dele,
embora a febre do acasalamento continue até que nós estejamos acasalados.
Mas, então, ela poderá pensar por si mesma e não faço a porra da mínima
ideia de como Trish reagirá quando souber a verdade. Porra, nem sei como
vou contar a ela.
― A desejaria sem a magia?
A imagem de Trish veio a sua mente, seu corpo cheio de curvas,
movendo-se contra o dele. Seu pênis endureceu pressionando contra o zíper
da calça.
― Com a minha vida.
Caleb se moveu para ajeitar sua ereção sufocando-o sob o jeans, sem
sucesso.
― Humana... Como isso vai funcionar?
― Eu estive pensando sobre isso. Não é como se tivéssemos muitas
respostas para o acasalamento entre shifters e humanos ou eu tivesse tempo
para buscá-las quando acabei de encontrar minha companheira. Estou sem
fichas aqui, para dizer a verdade.
― Você tirou o biscoito premiado.
― Algo assim.
― O Criador não erra. ― E acrescentou com um sorrisinho. ― Não
creio que Ele abriria uma exceção com você, só porque é feio de doer.
Caleb sorriu. ― Confie em mim, eu estou apostando nisso. Não me
importa realmente se ela é humana ou não. Qualquer tempo que eu tiver ao
lado dela, quer seja 50 ou 100 anos, será um presente, que eu vou aproveitar
cada segundo. Minha melhor pista sou eu mesmo. Você sabe. Quando nos
acasalamos, a troca de fluidos faz mais que marcar nosso cheiro dentro da
fêmea, ele a força em seu período não importa o quê. Se Trish como minha
prometida for capaz de engravidar, então poderemos partir daí.
Embry meditou. ― É uma hipótese. Se o acasalamento puder mexer
com sua biologia, como mexe com nossas fêmeas, então poderá fazer mais
por ela.
― Exatamente. Nossas línguas contêm substâncias curativas. Se meu
sêmen pode forçá-la a ovular, minha saliva pode fazer mais que marcar meu
cheiro nela.
― Eu poderia sugerir que você consultasse nosso conselho, mas dado
a situação, creio que esta não seria uma atitude inteligente. Sue, porém, pode
ser uma boa aposta.
Caleb anuiu e trocou o assunto. ― Verei isso depois... O Engenheiro
disse que deixou com você as plantas com as modificações que eu pedi.
Embry começou a falar e mostrou-lhe as últimas correções no papel.
Caleb teve que se esforçar para se concentrar no que seu Beta explicava. Por
algum tempo pôde tratar dos assuntos de Snowville sem a interferência da
fêmea humana.
― Eu vou chutar seus traseiros se não me deixarem passar!
A voz tão conhecida estalou em suas orelhas antes da imagem
redonda de sua irmã aparecer na porta. Ele estremeceu. Fêmeas prenhas
davam medo.
― Hora de ir ― Embry dissimulou um tremor, mas a verdade gritou
em seus olhos, estava se divertindo à suas custas. ― Bom dia, Raina.
Ela deu um sorriso rápido para o Beta, e então, se voltou para Caleb.
― Que história é essa que você achou sua companheira? É verdade?
Quem é ela? É do bando ou de algum próximo? Quando iremos conhecê-la?
― Olá, irmãzinha. Bom vê-la também. Como está meu sobrinho?
― Nascendo em um minuto se não me responder já.
Caleb suspirou e se fixou nela.
― Sim, encontrei. E não, ela não é do bando e de nenhum próximo.
O sorriso suavizou as feições da fêmea.
― Que maravilha, Caleb! Fico tão feliz por você. Então, quem é ela?
― Você a conhecerá em breve.
― Claro que sim ― assinou como se falasse a um débil. ― Mas
quem é? De qual bando ela é? Precisamos avisar nossos pais, eles ficarão tão
felizes.
Caleb moveu a cabeça para o lado, seus olhos bateram sobre o relógio
e um sorriso maroto marcou seus lábios enquanto o lobo uivava eufórico.
Pegou a carteira e as chaves então, contornou a mesa e a mulher ensandecida
pela curiosidade.
― Caleb, eu estou falando com você! ― Ela veio atrás dele, como
uma fera contrariada, sua voz era forte e insistente. ― Não se atreva a sair
sem me dizer quem ela é. Temos de falar sobre isso e você precisa trazê-la
aqui para que eu possa conhecê-la.
― Depois Raina.
Caleb apressou seus passos até o SUV.
― Caleb! Não ouse... ― A fêmea tentou, com as mãos plantadas na
cintura, mas ele já havia pulado atrás do volante, colocando o veículo em
movimento, em seguida.
Ela rosnou aborrecida e deu a volta apoiando uma mão na lombar
enquanto a outra acariciava a barriga redonda, então encarou Jace em pé no
alpendre.
O macho estremeceu e ofereceu um sorriso sentido.
― Eu tenho que falar com Embry antes que ele chegue ao engenheiro.
Numa piscada, ele já estava fora de suas vistas.
Bundões!
Seu semblante enrugado se abrandou após um momento.
Os machos mais próximos á seu irmão estavam correndo dela,
provavelmente, porque o maldito não permitiu que falassem sobre a fêmea.
Mas ela ainda tinha um, que não poderia correr para longe de sua curiosidade.
Sorrindo diabólica, seus pés tomaram o caminho de volta para casa.

Ela não precisava olhar para saber que ele estava lá quando chegou à
P&C para seu turno. Cada parte de si lhe dizia isto. Além do mais, tinha sido
assim desde a noite em que Trish o viu naquela primeira vez há uma semana
e meia, e desde então, ele tinha feito de suas visitas um hábito regular. Assim
como seus sonhos-realistas tinham se voltado cada vez mais ousados nas
vezes em que eles se repetiram.
Engraçado que o tipo nunca havia feito algo assim antes dela e
somente comparecia em seus turnos, cinco minutos antes ou depois dela
entrar. Ela sabia, suas colegas de trabalho fizeram-na saber. Isto a fez
aborrecida com ela mesma e ele.
Mesmo quando Trish trocou seu turno duas vezes apenas para afirmar
a si mesma e as suas colegas que elas mesmas estavam vendo coisas demais,
ele compareceu no horário certo, como se estivesse a par de tudo que se
relacionava a sua vida.
A princípio, isso a amedrontou, o homem poderia ser um desses
maníacos que milhas de distância era apenas insuficiente. Mas, então, ele não
parecia ser mal ou querer lhe causar dano. Isto a irritou mais. Não queria e
não precisava defendê-lo. Ele não merecia qualquer defesa sua. Estava
transformando seu recomeço calmo e feliz em uma turbulência de emoções,
sentimentos e pensamentos que não desejava. Trazendo situações
desagradáveis em sua vida, que não existiriam se não fosse ele.
Torna-se a fofoca entre as colegas não era bem sua meta de vida,
ainda mais numa cidadezinha como aquela, onde a notícia corria na
velocidade da luz. Todavia, ele tinha trazido isso para ela, e Trish queria
arrancar os olhos dele por isso. A jovem jurou todos os dias para ela mesma
que era somente por este motivo que se sentia tão enfurecida nos últimos
dias. Não havia nenhum adicional como, por exemplo, suas colegas babarem
sobre ele, como se o tipo fosse um delicioso pedaço de bolo com cobertura de
chocolate e avelã; nem ao fato da ala feminina de Inuvik deixar o conforto de
casa para passar alguns bons minutos na lanchonete cobiçando seu homem,
com olhos ambiciosos, flertes cafonas e vulgares, e bilhetinhos ordinários,
que ela foi obrigada a entregar a ele algumas vezes, bem como, os aperitivos
que ele era presenteado.
Não era ciúmes. Não mesmo!
Unicamente achava depreciativo àquelas mulheres todas se jogando
em cima dele com tamanho descaramento, como se ele fosse o último pênis
na face da Terra.
O pensamento de que ele poderia levar qualquer uma delas para cama,
ou dar-lhes o mesmo beijo que deu nela naquele banheiro, a enojava. Fazia
seu peito se apertar de uma maneira inconcebível e a raiva que vinha junto
era desconcertante.
Queria arrancar os olhos de qualquer uma que se atrevia a jogar os
peitos na cara dele. Tinha sentido o sangue ferver em suas veias cada vez que
fora obrigada a levar um bilhetinho a ele. Sua vontade era de fazer a infeliz
engolir o guardanapo rabiscado, ir até ele e beijá-lo até que não restasse ar em
seus pulmões, marcá-lo como seu.
Deus, infernos, ele não era seu! Não era! E ela não queria.
Quantas malditas vezes teria que dizer isto a si mesma?
Mas queria...
Nunca tinha sido ciumenta, nem mesmo com seu ex. Mas este
estranho, Caleb, a estava pondo louca. Não queria admitir, contudo, não
podia se enganar, porque no fundo e para seu horror ela sabia, estava se
sentindo toda territorial com ele.
Já não bastava ele espreitá-la nos sonhos?
Mas Deus era prova que, embora não gostasse tinha que ser grata
pelos sonhos molhados, pois tinha a sensação de que se não fosse por eles,
ela não teria condições de trabalhar, de fazer nada mais, salvo morrer de
desejo por aquele homem.
Suas costas queimavam, seu corpo estalava respondendo a presença
dele, como respondia em seus sonhos quentes querendo a proximidade, os
toques... os beijos.
De fato, estava complemente louca.
― Acho que o garotão perdeu algo aqui ― Lee sussurrou provocativa
quando parou ao seu lado para deixar a bandeja, com os copos vazios sobre o
balcão.
― Quem? ― Trish inquiriu de maneira mais casual quanto possível.
Não iria dar corda para se enforcar. Lee tinha provocado, pairado
sobre ela como abelha no mel querendo saber o que ocorreu no encontro do
banheiro. Nem mesmo ela entendia o porquê de se sentir daquela forma tão...
desconcertante sobre ele.
Como poderia dizer algo a Lee quando nem mesmo ela se entendia?
― Como quem? O bonitão, oras! ― Sua sobrancelha encenou uma
curva e a outra mulher a encarou cética. ― Aquele tipo cheio de músculos,
todo montado numa beleza que, obviamente, ele passou na fila muitas vezes
mais que a permitida.
Trish vestiu sua máscara de tédio e rezou para que aquilo fosse o
suficiente para Lee parar, e falhou. Lee pairou sobre ela e ergueu um dedo
para enfatizar sua palestra diária.
― E que há uma semana e meia, não tirava os olhos de você, Bonita.
E, suspeitosamente, decidiu fazer uma visitinha ao banheiro logo após você
ter ido. E desde então comparece todos os dias aqui, sempre nos seus turnos e
só aceita que você o atenda, mesmo quando o olha como se fosse matá-lo a
qualquer momento.
Ela não o olhava assim, protestou em silêncio, queria matá-lo sim,
porém era de um jeito proibido para menores de 18 anos.
― Você anda assistindo muito CSI, hein?
― Devo acrescentar que você também mudou desde que ele surgiu
aqui, com aquelas guloseimas a tira colo?
― Deus! Como é fantasiosa e irritante!
― Bonita, você sabe que eu não fantasiei nada, quero dizer, fantasiei
muito depois de ver aquelas delicias... uh, ― ela pausou, e agitou a mão no ar
quando acrescentou com cuidado. ― Não foi com o seu bonitão. Garanto.
Mas me diz, vai.
― Chega! ― Trish interrompeu a amiga num tom severo, desejando
por fim a conversa e as reações brincalhonas em seu corpo.
― Bonita...
― Que saco! Será que não dá pra mudar o disco?
Ela tinha acabado de rosnar pra Lee?
A contar pelos olhos da amiga, ela tinha sim.
Respirou fundo duas vezes, deixando seus ombros caírem. ― Me
desculpe. Não quero falar disso agora e aqui também não é lugar. Estamos
trabalhando.
― Isso quer dizer que falaremos depois?
O brilho acentuado nos olhos de Lee a fez se sentir uma cadela
egoísta.
Com um gesto consternado, Trish disse:
― Depois Lee.
― Oba! Bem, agora vá lá atendê-lo então.
― Por que eu? As mesas daquele canto são suas, não minhas.
― Como sabe que ele está do meu lado?
― Foi apenas um palpite... Ele sempre senta no mesmo lugar, não?
― Ceeeeerto. Eu vou lá, ― Lee tomou o bloco de notas e a caneta ―,
embora acredite que ele ficaria muito mais satisfeito se fosse você.
Trish suspirou irritada e tentou se focar no que estava fazendo atrás
do balcão enquanto divagava em silêncio, sentindo-se cada vez mais
aborrecida.
Não estava aborrecida com Lee diretamente, senão pela forma que
aquele estranho a fazia se sentir, as reações que ele desencadeava em seu
corpo somente por estar no mesmo local que ela... Ela se sentia toda inclinada
a pôr as mãos em cima dele, a ânsia de fazê-lo era quase insuportável.
Deus, ele nem ao menos precisou tocá-la para excitar seu corpo, mas
quando fez, só bastou um toque para quase levá-la a um orgasmo, antes que
de fato a fizesse gozar em sua boca. E nos sonhos, em seu mundo fantasioso,
ele a tomou como um amante fervoroso, bebeu dela como nenhum outro
havia feito levando a um orgasmo real. E quando, finalmente, a montou, ela
gozou novamente, foi real. Seu orgasmo foi real, embora a ação fosse apenas
um sonho. Cada orgasmo que teve em seus sonhos foi verdadeiro. Trish
sabia. Seu corpo energizado a cada manhã, um vestígio sensual da dor pós-
coito assolando seu canal escorregadio, as pernas levemente doloridas como
se tivessem sido envolvidas firmemente em outro corpo. E os lábios inchados
pelos beijos, que ela tinha certeza que era causado por seus próprios dentes,
mordendo a si mesma enquanto sonhava. Tão real e surreal ao mesmo tempo.
Ela viu seus olhos, a fome e a posse reinando nos orbes enigmáticos,
o desafio para ela contestar seu domínio e gostou. E, ela também viu dentes,
caninos afiados e perigosos, que desejava sentir marcando sua pele, contudo,
ele não fez.
Ele não era normal, não no sonho.
Havia algo a mais nele, extremamente instigante. Trish nunca tinha
sido dessas garotas com uma queda pelo sobrenatural, isto era apenas uma
fantasia que ela não se preocupava em ter. Entretanto, nos sonhos ela não se
importava se ele fazia parte do ludibrioso mundo sobrenatural. Lá em seus
sonhos, ele podia ser tudo. Enquanto lhe desse mais daquele prazer
vertiginoso, Caleb poderia ser qualquer uma dessas merdas de lendas, pois a
ilusão só fazia seus sonhos mais quentes e excitantes.
Lee cortou seus pensamentos se dobrando sobre o balcão, olhando
com a face contrariada e tediosa. Ela já sabia o que viria.
― Eu disse que ele preferia você. Então, faça às honras.
― Eu não.
― Ele somente quer ser atendido por você, ― ela pontuou a repetição
da semana. ― Ele foi bem enfático quando disse que só será atendido por
você, Bonita.
Um minuto para respirar profundamente e agarrar seu controle num
aperto de aço. Ela podia fazer isso como fez nas outras vezes sem se
desmanchar sobre ele.
Costurando entre as mesas, Trish tratou de não procurar seu olhar,
porém o sentia chamando, exigindo que olhasse. Mas, por Deus, ela não faria.
Além de tudo, ele era um mandão autoritário. Como ela odiava homens
assim! Infelizmente, seu corpo não. Sua pele aqueceu a cada passo e sua
vagina chorou dengosa.
― Achei que teria de esperá-la pelo resto do dia ― ele disse com uma
pontada de recriminação e acusação. Trish apertou os dedos na caneta. Ele
acrescentou de maneira suave, profunda. ― Mas eu faria se fosse necessário,
te esperaria para sempre, baby.
Certo, isso foi inesperado e a derreteu um pouquinho. Só um
pouquinho.
― O que o senhor deseja? ― perguntou, olhando para o bloco de
papel.
― Caleb. ― Foi impossível não olhar, a taxação firme e dura, como
se ele estivesse cansado de pedir que o chamasse pelo o nome pegou-a
desprevenida. ― Já lhe disse que me chame pelo meu nome, gosto da forma
como seus lábios se movem e do som da sua voz quando diz meu nome. É
uma mulher muito sensual, Trish.
Suas bochechas estavam quentes? Ah, merda, não estava
enrubescendo na frente dele, não por aquele elogio bobo que fez seu ego
feminino dar gritinhos de felicidade.
Toma, suas cadelas! Ele me acha sensual. A mim, só a mim.
― O que deseja? ― ela insistiu. Não iria contrariar o cliente,
tampouco, iria dar o gostinho a ele de saber que se sentia vaidosa com suas
palavras.
― Sente-se comigo.
Trish quase fez, sentiu seus pés formigarem e seus joelhos relaxarem
ante seu tom aveludado, mas se conteve a tempo aprumando a postura ereta.
― Se não deseja nada, me dê licença. Há outros clientes para atender.
Ela deu a volta, um passo e seu pulso foi cativo de dedos firmes e
cuidadosos enquanto o que parecia ser um rosnado irritado, uma advertência,
a balançou por dentro e fez sua intimidade contrair com um espasmo.
Ele tinha rosnado? Pra ela?
― Não saia ― ele grunhiu, um lampejo dourado brilhou em seus
olhos, travando-a, no entanto, havia sido tão rápido que ela duvidou que
tivesse visto realmente.
Olhos humanos não lampejam dourados e ele era humano.
― Por favor, fique.
Trish olhou para o pulso e ele afrouxou seu agarre deixando seu braço
ir quando ela puxou de volta, levando o olhar para seu rosto. Caleb a mirava
com profunda admiração e um resquício de desespero que a fez amolecer
mais uma vez, e se sentir idiota por estar sendo tão bruxa com ele. Ela
lambeu os lábios e ele observou o movimento com demasiado interesse.
― Escute, eu não sei quem você é e o que pensa sobre mim, mas te
digo uma coisa, não sou dessas que você está acostumado. Aquela semana...
Aquilo foi...
―... Delicioso. ― Ela endureceu suas feições. ― Escute, não precisa
ter medo, não de mim. Especialmente, de mim. Nunca seria capaz de
machucá-la e jamais deixarei que alguém faça. Sempre vou protegê-la acima
de tudo e todos.
Seu coração bateu no ritmo de uma britadeira ao sentir a verdade crua
naquela declaração.
― Homens como você não deviam dizer coisas assim para mulheres
como eu ― ela sussurrou embevecida por sua declaração.
― Homens como eu? Por quê? É uma mulher delicada, adorável e
merece ter quem te cuide, e lhe diga coisas bonitas para que saiba que não é
mais uma dentre tantas, senão a mais especial de todas.
Trish olhou continuamente, sem reação.
Aí estava um homem que sabia como agradar uma mulher.
Coisas bonitas. Ela gostava de ouvir coisas bonitas, mas isto era em
outra época quando era tola o bastante para acreditar somente em palavras
floridas.
― Guarde seus galanteios, senhor. Não há porque mentir.
― Nunca te mentiria, Trish. ― A verdade daquelas palavras foi
sentida em seu íntimo de uma maneira aterradora. ― Não há nada demais em
querer te conhecer e passar um momento ao lado de uma mulher que me é
agradável.
― Por que não dá atenção a uma dessas mulheres que vivem aqui te
rodeando? Uma que realmente te queira? Saia com elas. Aposto que não
encontraria uma recusa, porque eu não estou disponível para qualquer coisa
que queira.
― É isso que quer?
Touché!
― Eu não posso...
Ele sorriu triunfante, uma fileira de dentes brancos e perfeitos. ―
Tudo bem. Eu esperarei seu expediente terminar, Trish.
Ela piscou desorientada, não sabendo o que dizer mais.
― M-Mas...
― Traga-me um café, puro e forte, por favor.
Ela anotou seu pedido no automático, mais desconcertada do que de
costume, algo lá no fundo dizia que hoje seria diferente. Hoje suas desculpas
não teriam lugar.
Por quase duas horas, Trish se dividiu em atender os clientes e a ele,
levou cafés e mais cafés, sempre recebendo dele olhares quentes e sorrisos
que abalavam seu mundo, enquanto que um grupo de três mulheres dadas,
sentadas estrategicamente a sua frente, paqueravam seu homem sem receio
algum. Mas ele nunca as olhou, seu olhar estava nela. Cercando pelos cantos
dos olhos. Esperando. Em um dado momento, teve a impressão de vê-lo
endurecer e rosnar baixo quando um cliente mais alegre lhe passou uma
cantada cafona. Sua loucura realmente não tinha limites.
Humanos não rosnam.
Ela esperou que ele se cansasse de esperá-la, porém Caleb
permaneceu lá, firme e paciente, e ela não sabia se ficava feliz ou aborrecida
com o fato.
Ele havia tomado tanto café que, provavelmente, não dormiria por
dias.
Ele não comeu.
Caleb era um bonito nome, forte, marcante, viril assim como ele era.
Ele estava lindo como esteve desde que ela o conheceu. Usava um jeans que
agarrava suas coxas grossas e uma camisa azul marinho obscena marcando
bem seu peitoral e seus braços poderosos. Apetitoso. Sensual sem tentar sê-
lo. E ela queria lambê-lo. Às vezes quando o mirava, Trish se permitia a
desejar, queria reproduzir cada detalhe de seus sonhos. Queria montá-lo firme
e duro, e depois queria ser montada por ele enquanto suas mãos exploravam o
corpo um do outro e suas bocas se moldavam naqueles beijos quentes...
― O diabo saiu das profundezas infernais ― Lee sussurrou para ela.
Trish se sobressaltou e fitou a amiga.
― O quê?
Lee indicou com a cabeça e ela seguiu seu gesto e viu sua chefa
conversar com Jojo. Por um momento, Maya dirigiu o olhar a elas, frio e
seco, antes de voltar a falar com a Senhora. Lee e Trish desviaram o olhar
retornando a seus afazeres.
― Acho que ela ouviu ― Trish murmurou só para a amiga.
― Humpf! Claro que não, Bonita! A não ser que ela tenha uma
audição superaguçada. O que faria dela um desses monstros de contos e me
daria razão.
Trish lhe lançou um olhar estupefato.
― Claro, como não?
Lee deu os ombros. ― Mal humorada como o cão ela já é.
Pelos cantos dos olhos, Trish observou sua chefa se dirigir até a mesa
de Caleb e se sentar com ele. Seu corpo zumbiu em protesto. Não queria a
mulher ao lado dele.
Ele era seu. Santa merda. Ele não era seu.
Não era como se o beijo caloroso e apaixonado trocado naquela noite,
ou, porque em sua mente doentia ela havia sentindo o melhor orgasmo que já
tivera na vida, o tornasse sua propriedade. Aliás, Trish nem deveria estar
pensando nisso.
Ela não queria ninguém, certo?
Agora só bastava seu corpo e seu tolo coração apertado entender isso.
Por minutos infinitos, eles conversaram, deixando Trish angustiada e
ciumenta, apesar da mulher não ter tocado, nem o cumprimentado de forma
costumeira entre conhecidos. Contudo, eles se conheciam, ela tinha certeza.
Teriam tido um romance? Ainda tinham?
Deus queira que não. Mesmo que ela não tivesse intenção de ter algo
com o tipo, Trish não queria pensar na possibilidade de sua chefa e ele...
Não, definitivamente, não.
Nem com ela, nem com qualquer outra.
Era loucura, mas o bicho do ciúme estava mordendo sua carne.
Por minutos, ela trabalhou em sua irritação, até que Lee informou
quando passou por ela com novos pedidos:
― Se prepara, porque o cão está vindo diretamente pra cá.
Trish mal teve tempo para compreender o que Lee disse, Maya já
estava na frente dela. A face de azedume estava igual, sem sorrisos.
― Está dispensada, Srta. Mitchell.
― Como? Está me demitindo?
― Não seja estúpida. Estou apenas lhe dando o resto do dia de folga.
Folga?
― Mas só falta uma hora e meia para terminar meu turno.
― Pegue suas coisas e vá.
Um rápido olhar fora lançando em direção a seu admirador, mas ele
não a olhava, então voltou a mirar a mulher de face dura. ― Por quê?
― Sou sua patroa e estou te dando folga. Isto não basta?
― Sim, mas é que...
― Está dispensada. Não precisarei dos seus serviços hoje. Vá para
casa e não me aborreça com suas perguntas impertinentes.
Dito isto Maya saiu, deixando para trás a jovem com um semblante de
estupefação e incredulidade. Trish sacudiu a cabeça tentando clarear a cabeça
e seguiu para o pequeno vestiário nos fundos da lanchonete. Lee a seguiu.
― O que foi?
Ela se desfez do avental e o uniforme de trabalho então os colocou
dentro do armário e pegou suas roupas. ― Ela me dispensou.
― Como assim dispensou, Bonita? Ela te demitiu?
Sentada no banco, Trish parou a subida do jeans na metade de suas
pernas e olhou para amiga. ― Não Lee. Apenas me dispensou por hoje, me
mandou tirar o resto do dia, ― olhou no relógio da parede ―, aliás, da noite
de folga.
Os olhos da outra mulher se arregalaram.
― Assim sem mais?
― Também não entendi. Eu perguntei, mas ela não me deu nenhuma
explicação. Bem, você a conhece melhor do que eu. ― Trish terminou de se
vestir e se levantou.
― Talvez ela tenha ido a um padre, sabe, e quer se redimir da
rabugice sem fim e a penitência foi começar a semear o bem no trabalho. É
um milagre. ― E acrescentou numa imitação de dar dó do Padre Joseph. ―
Amai ao próximo como a ti mesmo.
Ambas riram cúmplices.
― Com certeza. ― Pegou a bolsa e a colocou nos ombros, e então,
puxou o gorro roxo para a cabeça. ― Eu já vou. Nos vemos amanhã.
― Vá pela sombra, Bonita.
Trish deixou a lanchonete e começou a caminhar pela calçada em
busca de um táxi, mas não chegou muito longe. Uma mão forte e quente
pousou em seu ombro acompanhada por uma voz ríspida e extremamente
profunda, a fez sobressaltar.
― Aonde você pensa que vai? Iria me deixar plantado lá?
Deus, estava tão desconcertada pela atitude de Maya, que se esqueceu
dele.
Seus cílios revoaram, e ela arfou ante sua feroz expressão apertada.
Os traços fortes marcados pela sua rigidez davam-lhe um ar
endemoniadamente quente e sombrio.
Ele pairava sobre ela, seu perfume delicioso impregnando seus
pulmões.
Ela queria comê-lo.
Ela engoliu em seco e piscou envergonhada.
― Eu vou para casa. Minha chefe me dispensou mais cedo ― lambeu
os lábios e continuou distraída. ― Eu só tenho que achar um táxi agora,
porque vim com Lee, e...
O que ela estava fazendo? Por que estava dando explicações a ele?
Ela não tinha que lhe dar nenhuma satisfação, mas aqueles olhos
exigiam uma.
― Eu te levo. ― Trish abriu a boca para contestar, porém ele a calou
com um dedo sobre seus lábios e acrescentou num tom mais doce quando os
olhos suavizaram. ― Acho que este é o mínimo que pode fazer para se
redimir por ter me deixado lá.
Seu rosto aqueceu. ― Desculpe, eu só... eu não pensei...
Ele sorriu, um curvar lento e largo.
― Tudo bem. Vamos?
Trish unicamente pôde assentir e segui-lo quando ele pousou a mão
espalmada em suas costas, enviando um calafrio por sua espinha, e caminhou
até sua SUV 4x4.
Caleb abriu a porta do carro e a ajudou subir, deu a volta e entrou do
lado do motorista. Logo manipulou o aquecedor quando teve o motor do
veículo ligado.
― Faz muito frio aqui, mas logo se sentirá mais cômoda.
― Obrigada.
Caleb sorriu para ela e passou seu próprio cinto.
― Coloque o cinto. ― Ela fez. ― Precisa de roupas mais quentes que
estas que está usando se não quiser pegar um resfriado ou até mesmo ter uma
hipotermia.
A repreensão no tom dele não passou despercebida por ela.
― Minhas roupas são muito quentes ― protestou. ― Acredito que
você é último que pode me dar qualquer lição sobre como se vestir ou não,
verdade?
A SUV começou a se mover pela rua principal. Estava nevando, ainda
não era muito, mas pela madrugada aumentaria. Flocos de neve pousavam
delicadamente sobre o pára-brisas antes de serem limpos para os lados.
― Seus dentes estão se batendo.
Revirando os olhos, a jovem fitou através da janela ao lado. Caleb
estava certo, mas não diria isso a ele, nem discutiria sobre o fato.
Não tinha pensado nas consequências daquele momento a sós quando
ele se propôs a levá-la para casa, mas agora segura do frio e do desconcerto
pela gentileza da patroa, Trish acreditava não ter feito uma boa escolha. Quer
dizer, ela realmente não teve escolha.
O perfume dele estava concentrado naquele cubículo, mais
encorpado, enevoando sua mente e alagando seus sentidos. Aquela
aproximação, apenas um braço estendido e já o teria no alcance de suas mãos,
que coçavam para tocá-lo. O chiado aquecido começou no fundo de sua
barriga. Agora podia olhar com maior clareza, ou melhor, comê-lo pelos
cantos dos olhos. A camisa funcionava como uma segunda pele, marcando os
músculos bem trabalhados de seu peito e abdômen, as mangas dobradas até
os cotovelos davam-lhe uma visão hipnotizante de sua pele coberta com
poucos e negros pelos, e dos músculos. Não gostava de muitos pelos, sem
nada, tampouco. Mas Trish amava músculos, não os ganhados com
esteróides, senão os trabalhados arduamente todos os dias. Aquelas elevações
marcadas sob a pele eram atraentes, sexies. Um afrodisíaco muito potente
para o seu desejo e isso ele tinha aos montes.
Descendo, o jeans abraçava suas coxas causando inveja a ela. Eram
grossas e fortes, longas pernas, perfeitas para se enroscar com as dela
enquanto faziam amor ou simplesmente dormiam juntos. Mais acima, o
volume acumulado em sua pélvis lhe fez engolir à secas e apertar as pernas
juntas enquanto moía os dedos suarentos.
Ele estava excitado!
E, oh, Deus, era grande.
Umedeceu os lábios entreabertos, olhando de maneira descarada e
desejosa para aquela parte tão convidativa. Seu próprio corpo respondeu de
imediato, inchando seus mamilos e molhando sua calcinha. Estava aquecida,
excitada, tentada. De repente, o frio de fora parecia um alento perto do calor
que se instalou no interior do carro.
Hipnotizada pelo monte do pecado, Trish perdeu os olhos dele
flagrando sua veneração apaixonada e o sorriso orgulhoso por ser desejável
aos olhos dela.
Seu olhar quente estava fazendo seu membro mais duro, sufocando-o
naquele maldito jeans. O cheiro doce da excitação dela golpeou sua face,
queimou em seu cérebro. A umidade dela podia ser sentida no ar. Os dedos
dele apertaram o volante, deixando os nódulos brancos, mas dosou sua força
enquanto respirava.
Precisava distraí-la e se distrair, caso contrário iria fodê-la ali mesmo.
― Gosta do que vê?
Ela mordeu o lábio e deliciosamente estremeceu ao som de sua voz
profunda.
Trish levantou o olhar para Caleb, e sem poder se conter, voltou a
fixar na ereção escondida sob o jeans. Sua respiração se tornou densa. Ela
lambeu os lábios.
― Você está...
―... Sim, estou.
― É... grande.
Doce Jesus! Ela disse aquilo mesmo? Mas infernos, aquele era um
monte digno de ser admirado, com os olhos, as mãos, a boca...
Ele soltou um riso estrangulado.
― Você diz as coisas mais amáveis, bebê.
Ela nada disse, seguia olhando.
Com os dentes apertados, Caleb gemeu.
― Estarei muito feliz em satisfazê-la quando chegarmos, mas se
continuar olhando para o meu pau desse jeito, como uma loba faminta, serei
obrigado a parar o carro e te foder aqui mesmo. Não será muito confortável,
no entanto.
Finalmente, Trish o mirou, suas pálpebras batendo rapidamente pelas
palavras cruas dele e a perplexidade a varreu quando caiu em si.
― Desculpe, e-e-eu... Só me desculpe, não quis te constranger.
Jesus Cristo! Onde está o buraco quando se precisa dele?
Sua pele experimentou diversos tons de vermelho, naquele momento
deveria estar passando para o escarlate desde os dedos dos pés até a raiz do
cabelo.
― Não fez, querida. Gosto que me aprecie e terei muito prazer em lhe
dar um momento para fazer isto logo que nos colocarmos confortáveis.
Não havia modos dela estar mais constrangida do que naquele
momento. Embaraçada, Trish olhou para frente e desejou que o caminho a
cabana estivesse no fim.
Bem, não podia reclamar dele ser honesto.
― Você não é daqui.
Seu comentário a pegou desprevenida, mas ela evitou olhá-lo.
― Me mudei há pouco. Sou de Nova York.
― É uma bela cidade. Muito diferente daqui, não?
Trish se permitiu a um sorriso fraco enquanto assentia um pouco mais
à vontade.
― Você também não é daqui, digo, da cidade. Algumas colegas do
trabalho disseram nunca terem te visto... ― Ela arriscou uma olhada para ele,
mais vermelha que o habitual. ― Não que tenha perguntado, mas, enfim,
acho que suas visitas a P&C aguçou a curiosidade delas.
― Em você não? ― Ele devolveu com um olhar intenso, desafiador.
― Vivo em Snowville ao pé da montanha Blakestood, nasci e me criei ali.
Não costumo vir muito à cidade, é verdade. E quando venho, é sempre para
resolver algo sobre Snowville. Não há muito que ver por aqui, assim não fico
perambulando pelas ruas desertas. Mas estou feliz por ter vindo e encontrado
algo que me faça querer voltar todos os dias.
Homem, ele não economizava com galanteios.
Trish desviou o olhar, querendo dar a conversa por finalizada, mas ele
não desistiu.
― Conhece Snowville?
― Só de nome. Uma amiga me contou sobre lá, e segundo ela,
pretende visitá-los na primavera e me arrastar junto ― disse com um riso
abafado. ― Também fui a uma loja de produtos naturais e de artesanatos
quando cheguei, que pertence a sua aldeia.
― Conheceu Sue?
― Se estiver falando de uma senhora alta, de cabelos negros e curtos,
e uma face muito agradável então sim.
― Sue é uma ótima pessoa. É a curandeira de nosso vilarejo.
O queixo dela caiu aberto.
― Curandeira?
― Sim, e parteira, também. ― Ele soltou um riso baixo ante a
surpresa de Trish. ― É uma tradição das mulheres de sua família, passada de
geração a geração.
― Isto é..., uh, diferente. Não me entenda mal, mas é um tanto
bizarro.
Caleb enrugou o cenho, e Deus, se ele não parecia mais bonito.
― Por quê? Ela é muito boa no que faz. Todos são muito saudáveis, e
você ficaria admirada com o tanto de filho... filho que ela já ajudou a nascer.
― Incluso você?
Caleb sacudiu a cabeça e sorriu mais largo, e demônios, se ela não
ficou toda derretida.
― Incluso eu.
― Eu não duvido da competência dela. Mas a medicina evoluiu
muito, além do mais, há coisas que somente a medicina convencional pode
resolver.
― A alternativa também.
― Sim, mas... é arcaico.
― O arcaico pode ser tão bom quanto o moderno, senão melhor. Um
não anula o outro, se houver um bom ajuste. ― Ele deu uma piscada
arrasadora. ― Mudará de ideia quando for... conhecer nosso vilarejo. Irá
gostar. Nossa gente é muito amistosa.
― Ainda falta muito para a primavera ― ela lembrou com um
muxoxo.
― Não tem que esperar até a primavera.
― Mas Lee disse...
― Lee?
― Minha amiga e vizinha de cabana, trabalhamos juntas. Ela disse
que somente abrem para visitação no final da primavera e algo como ter que
ser reservado antes.
― É verdade, preferimos assim para mantermos nossa privacidade.
Não há nada mais que um morador de Snowville aprecie do que a
privacidade. Ademais, neva muito no inverno e a trilha fica perigosa para
qualquer turista subir.
E completou adulador:
― É a exceção. E será muito bem-vinda a qualquer hora que queira ir.
― Não é perigoso? ― cutucou ofendida.
Ele lhe deu um sorriso lento, bom o suficiente para parar seu coração.
― Irá comigo, sendo assim, não há perigo.
― Você sempre viveu lá?
― Minha vida toda ― ele disse, com uma sugestão de diversão. ―
Saí apenas para estudar em Toronto, me formei em Arquitetura, e então,
voltei.
― Você deve gostar muito daqui, não?
Caleb soltou uma risada, que a chacoalhou por dentro.
― É bom estar com os meus. Tenho responsabilidades aqui. Inuvik
pode ser longe de tudo e todos, mas é um bom lugar para se viver, ― ele a
olhou ―, constituir família.
Tinha alguma mensagem subliminar ali, ou ela já estava
enlouquecendo?
― Sua família é daqui?
― Sim ― ele ofereceu lacônico.
O silêncio perpetuou assim como a excitação fazendo de ambos duas
dinamites acesas prestes a explodirem. Ela não podia separar seu olhar dele.
Estava inquieta e olhá-lo respirar, observando como seu peito subia e
descia era... agradável. Igual seria acariciá-lo. Merda. Era um maldito
desconhecido.
Caleb.
Certo, sabia seu nome e que era Arquiteto e amava seu berço de
nascença. E, o que mais, além de ser direto e bonito de doer? E lhe fazer
doer?
Ele seguia sendo um desconhecido, que a colocava febril.
Quando Caleb estacionou na frente da cabana, assinalou para ela
esperasse. Ele desceu e contornou a SUV, abriu a porta e a ajudou a descer.
― Obrigada por me acompanhar, ― ela começou, ansiando fugir da
intensidade dele, do calor que sempre amaciava seus membros e a fazia
derreter na calcinha. ― Eu te ofereceria um café, mas acredito que você deve
estar enojado, uh? E, também é tarde e eu estou muito cansada.
Mentirosa! Sua mente acusou e o corpo protestou.
Com um sorriso embaraçado, ela completou rapidamente:
― Obrigada. Nos vemos por aí... Boa noite, Caleb.
Ela o estava dispensando assim na cara dura? Oh, não, não. Espere aí!
Antes que Trish pudesse alcançar a porta, Caleb esteve sobre ela, um
de seus braços em volta de seu estômago e a outra mão em sua cintura
colando seu peito em suas costas. Ele muito maior do que ela, cobrindo-a
com seu corpo.
O coração de Trish bateu na garganta e seu corpo floresceu para vida
quando ele aproximou a boca de sua orelha e sussurrou:
― Eu dispenso o café, mas aceito um beijo.
Trish experimentou uma agitação na parte inferior do estômago e
calor inundou seu corpo à medida que sua vagina latejava dolorida.
Agarrando o pouco de prudência que possuía, Trish se desfez de sua
prisão voltando-se para o tipo. Ele permitiu, porém manteve-os perto, corpo a
corpo.
― Isto não é um encontro.
Caleb a olhou com tanta intensidade e tal ferocidade que seus joelhos
tremeram. Este não era um homem qualquer. Mas dava igual. Ela ainda não
queria a nenhum.
― É muito mais que isso, amada... mais do que pode compreender
então, sinta, apenas sinta. Sinta o fio que nos puxa junto. Não é errado. ― Ele
afastou uma mecha de cabelo de seu rosto, seus olhos tão apaixonados,
derretendo-a por dentro. ― Não tenha medo do que está nos atraindo. Eu vou
te segurar e não vou te deixar cair, eu prometo.
Suas palavras trouxeram rubor às bochechas dela e pesou sua
respiração enquanto mariposas revoavam em seu estômago. Os joelhos muito
fracos de repente.
Caleb a beijou.
O beijo foi urgente, firme e autoritário, porém gentil.
Ele empurrou sua língua dentro, mais profundo, e, para sua vergonha
absoluta, Trish se encontrou respondendo, inclinando-se para ele. Seu corpo
traidor amoleceu contra o de Caleb quando ele aprofundou o beijo. O gosto
açucarado inundou sua língua e embebedou seu sistema, como se álcool
corresse por suas veias e suas terminações estalaram. Luxúria se quebrou
sobre ela, destruindo sua resistência e pulverizou seu cérebro. Antes que
pudesse pensar, suas mãos seguraram o cabelo de Caleb impedindo de se
retirar e ele gemeu em aprovação. O desejo apertou seu útero e cavou uma
dor funda em sua vagina. Tudo que ela podia pensar era nele empurrando o
eixo grosso em seu canal, martelando sem parar, assim como nos sonhos.
Sabia que não devia. Havia um motivo para não querer nenhum tipo
de envolvimento com um homem, mas não podia se lembrar dele.
Caleb deixou a mão em sua cintura deslizar abaixo sobre a curva de
sua bunda num movimento sensual, assustando-a, fazendo-a mais excitada
ainda.
Suas pernas se enroscaram no quadril dele quando o tipo a trouxe para
cima sem qualquer esforço, sua pélvis pressionou fazendo pressão contra seu
centro acalorado.
― Isso... isso não é normal. Essa vontade louca de sentir você... ―
ela murmurou afetada enquanto ele arrastava os lábios pelo seu pescoço.
Uma risada desconfortável entreabriu seus lábios. ― E-Eu não sou assim.
― Sei que não, amada ― mordiscou a ponta de sua orelha. ― Você é
perfeita para mim. Só minha... Eu sonhei com isso, com seu gosto, com seu
cheiro... Levando meu pau em sua buceta perfeita. Me faz arder de desejo,
Trish.
Ela continuou, absorta na provocação de seus lábios maldosos. ―
Eu... eu quero, quero mais... quero você. Oh, Deus, eu quero... ― mordeu o
pescoço dele inebriada pelo cheiro delicioso que se desprendia de sua pele,
em seguida, lambeu, gemendo.
Caleb gemeu e fez aquele som que ela já amava.
Mantendo-a segura em torno de si apenas com um dos braços, enrolou
uma mecha generosa de seu cabelo em volta de seus dedos livres e puxou,
forçando-a a olhar para ele. Sua beleza feral roubou seu fôlego. Tudo nele era
sensual até mesmo sem ele tentar sê-lo. Um homem deste tipo não podia ser
real. Era bom demais para ser verdade.
― Eu sempre soube que viria para mim ― ele disse, sua voz sensual
fez seus olhos dilatarem e a crua verdade daquela declaração fez sua mente
em frangalhos.
Mas sanidade pra quê?
Depois ela se condenaria e amaldiçoaria por ser tão fraca, porque no
momento só podia desejá-lo e ansiar pela paixão queimando-os vivos.
10

PRAZER ÀS CLARAS

Trish não soube como, mas já estavam dentro de sua cabana e nua da
cintura para cima enquanto Caleb seguia todo vestido. Um montão de roupas
detestáveis, impedindo-a de chegar até ele. Não gostou. Odiou, na verdade.
Queria-o nu, cada centímetro de sua pele exposta, sentindo contra ela. Pele a
pele. Calor sobre calor. Porque, de fato, ela estava ardendo na luxúria que
Caleb despertou em seu sistema. Tão quente, que começava a suar por todas
as extremidades.
Ele girou com um movimento fluído e gracioso, debruçando-a sobre o
braço do sofá. Trish ofegou e mordeu o lábio quando sentiu as pesadas mãos
masculinas percorrerem seu traseiro, numa pegada deliciosamente possessiva,
apreciando o contorno das bochechas inchadas, enviando faíscas de prazer
através do tecido grosso de sua calça. Ela se sentiu venerada. Aparentemente,
o tipo parecia ser aficionado por traseiros pela forma reverenciada que ele
tocava sua bunda, como se estivesse apreciando as horas infinitas que ela
gastara na academia, ainda em Nova York, para ter aquela parte de seu corpo
definida. Não que tivesse usado aquela área alguma vez ou se interessado por
aquele prazer proibido.
Será que ele...?
Calor se espalhou por suas bochechas e cobriu seu corpo com
embaraço e excitação, mas antes de concretizar o pensamento em sua mente,
ela sentiu um tranco seguido de um barulho. Trish olhou para trás e chupou
uma respiração difícil, sua buceta contraindo e puxando quando se viu nua.
Bem, quase. Não era como se a calcinha se perdendo entre suas nádegas
fizesse grande coisa para cobrir sua bunda branca do ávido olhar predatório
dele. Os trapos do que um dia foi sua calça estavam no chão.
O olhar dele encontrou o dela e a prendeu. Ele era intenso, vívido e
faminto. Um predador nato. O olhar de um homem disposto a tudo para
saciar sua fêmea.
Trish conteve um fôlego e, em seguida, obrigou-se a respirar
profundamente, reduzindo os batimentos cardíacos acelerados de seu
selvagem coração.
Não soube de onde surgiu aquele pensamento primitivo. Ela não era
um animal, nem um pedaço de carne para ser a fêmea de um homem, mesmo
que este fosse pecaminosamente delicioso. Porém, não podia negar que
gostou daquela ideia. Ser a fêmea de um homem como esse trazia um
sentimento perverso e orgulhoso. Uma comoção assustadoramente excitante,
que lá no fundo de sua alma a fez se sentir mais feminina, mais desinibida e
sexy. De fato, sentia-se devassa. Queria experimentar aquele desprendimento
sexual sem pudores, deslizar sobre sua pele bronzeada, esfregar-se contra ele
como uma gata manhosa, e tomá-lo tão profundamente quanto podia levar até
tê-lo cravado em sua alma. Queria ser única para ele. Dele.
Caleb tinha atormentando-a com sua proximidade, com seu apelo
sensual, com as mudanças de sinais de desejo e reserva. Todos aqueles
olhares calorosos de dias atrás, deixando-a dolorida e confusa. Ceder agora
para depois voltar à normalidade. Não achava que pudesse lidar com isso,
que pudesse manter seu coração a salvo, no entanto, permitiu chegar perto o
bastante para fazer aquela paixão escura explodir entre eles.
Agora, cobiçava abalar seu mundo como ele estava fazendo com o
dela.
Era sexo quente. Apenas isso.
Havia um montão de tempo que não tinha se permitido a uma
aventura selvagem.
Como se eu tivesse tido uma alguma vez.
Não importava. Ela estava disposta a praticar sua primeira vez. E esse
tipo, constituído por uma tonelada de músculos e pelo elixir do pecado, com
um olhar selvagem e venerado sobre ela, parecia muito ansioso para lhe dar
exatamente isso.
Sexo quente de derreter os miolos. Genial!
Ele apartou o olhar dela e o jogou abaixo, fazendo um som quando
pousou os penetrantes olhos em seu traseiro antes de suas mãos imitarem.
Não um barulho qualquer. E, dessa vez, não havia dúvidas. Ele tinha
grunhido... Literalmente. Um som baixo e áspero, ondulando sobre seus ossos
e agitou em seu estômago um tipo de emoção diferente, descendo até a
junção entre suas pernas. Ao primeiro contato das mãos dele sobre sua pele
nua, Trish estremeceu. Sua buceta ainda mais molhada.
— Tem um traseiro precioso, baby — sussurrou ele, o timbre
profundo envolto de veludo negro capaz de derreter manteiga bateu dentro
dela. — Eu gosto de bundas e você tem um inferno de traseiro aqui. Lindo.
Está enchendo minha boca d’água. E, cacete, estou tão duro que me dói. Não
será hoje, mas, definitivamente, vamos fazer isso em outra ocasião.
Uma promessa indissolúvel que ela não negou.
De fato, até se sentiu vaidosa por estar a gosto dele. Seu ego deu um
salto feliz e se sentou num canto quando o desejo pediu passagem, infectando
seu sangue, chamuscando seu cérebro, aquecendo seu coração. Precisava dele
sobre ela, suas mãos, sua boca, seu pênis... Ele deu isso a ela. Nesta mesma
ordem.
As mãos dele acariciaram brandamente as bochechas de seu traseiro,
o contato eletrizante, ascendendo sua pele, lançando outra quebra de onda de
calor para cada membro do seu corpo. Apalpou e deslizou as mãos acima e
abaixo, pela curva de sua bunda, conheceu-a com suas palmas e dedos, como
se estivesse memorizando seus contornos e a textura de sua pele.
Em seus sonhos molhados com ele a sensação tinha sido avassaladora,
quase irreal, mesmo para um sonho. Porém o real era malditamente melhor.
Um tipo de prazer afiado correndo pelas suas veias com uma luxúria
acetinada, que não poderia aguentar por muito sem se sucumbir, mas queria...
tudo.
Os pulmões trabalharam mais rápido. A excitação viajando quente por
seus membros, estalando sobre suas terminações nervosas. Então, ela
suspirou forte. Lábios firmes e macios tinham pousado sobre a pele aquecida
e, em segundos, espalhou beijos e leves mordidas por seu traseiro. A cada
dentada era uma doce mordida sentida diretamente em sua buceta. Subiu a
boca por sua coluna esbelta e tornou a descer, focando-se na sua bunda.
Trish se mexeu e remexeu, achando a fricção perfeita do braço do
sofá contra seu inchado clitóris dolorido. Aquilo era pervertido e muito
ousado para alguém como ela. Não que fosse uma puritana, mas se antes
tivessem lhe dito que um móvel da casa poderia ser usado para alcançar sua
satisfação sexual, ela provavelmente lhe diria para se tratar. Entretanto, a dor,
a queimação prazerosa, fazendo seu útero se contorcer com espasmos
violentos era tanta que precisava de qualquer coisa para aliviar um pouco,
incluso a porra do braço do sofá. Nunca mais olharia para aquele móvel da
mesma maneira.
Mas quem se importa?
Seus pensamentos interromperam-se quando sentiu um segundo
puxão e lá se foi sua calcinha. Seu coração crepitou no peito. Nunca antes se
sentiu tão feliz por ter aquela peça fora do corpo. Não queria nenhuma
barreira entre eles.
Deus Santo. Quão necessitada ela soava para si mesma?
Chegava a ser vergonhoso a intensidade de sua necessidade. Era
ridícula. Não somente toda aquela necessidade esmagadora, mas,
principalmente, senti-la por ele como se soubesse que nada, nem ninguém
mais pudesse saciá-la... Ridículo porque era uma foda, apenas isso. Um
casual encontro sexual. Não haveria um amanhã e, embora ela quisesse dizer
a si mesma que assim era melhor, que era uma mulher adulta e suficiente para
lidar com isso sem envolver seu tolo coração, havia uma parte dela que
queria sonhar, que já estava sonhado.
Raios de vida!
Ela podia ter sexo sem envolver os malditos sentimentos. Muitas
mulheres faziam isso. Sexo sem efeitos colaterais. Mas algo alertava que essa
não seria sua exceção.
A prudência tentou emergir, mas perdeu contra o suave deslizamento
das palmas das mãos dele sobre suas costas, descendo. O homem atrás de si
continuava a fazer aqueles estranhos sons sensuais. Devia ser coisa do povo
dali. Expectativa a puxou de volta quando sentiu as mãos dele abrir suas
nádegas, e uma perversa língua quente correu da fenda de seu traseiro até
suas dobras.
Ela balançou contra ele.
— Oh, meu Deus!
Caleb fez um barulho satisfeito, refazendo o gesto mais duas vezes. A
ponta jogou com a entrada da sua vagina, deixando-a choramingando por
mais.
— Seu gosto é tão bom quanto seu cheiro.
— Não Caleb. Por favor — suplicou, quase tonta de pela luxúria que
palpitava através dela, jogando seu olhar alagado para trás quando sentiu a
perda de contado.
O sorriso dele foi todo dentes. Predatório. Animal. Malvado.
— Vire-se. Quero ver essa sua pequena buceta rosada aberta para
mim quando eu te chupar e te fizer gozar na minha língua. Você é tão sexy,
querida.
Bajulador e autoritário ao mesmo tempo.
Trish não sabia se gostava ou batia na cabeça dele. Provavelmente,
bateria depois. Agora queria ser apanhada pela língua dele. Ela se armou de
força para se mover, crente que seu corpo mole não ajudaria muito, porém o
homem agarrou seu quadril e a ajudou na posição que ele a queria. Não cama.
Ele a queria lá. Com as omoplatas sobre as almofadas macias, as costas
curvadas, e a bunda apoiada no alto do braço do sofá.
Atrevido e sensual. Um ar de menino mau que gostava de travessuras
e despertou dentro dela um despudor que nunca sentiu antes.
— Vou apreciar cada centímetro seu, querida. Ao fim da noite não
haverá um só pedacinho deste seu corpo encantador que eu não tenha
conhecido com minhas mãos. Não haverá um centímetro da sua pele que
minha língua não tenha percorrido. Eu vou te comer toda e de uma maneira
que nunca mais desejará outra coisa que não seja eu.
OH, Deus!
Cada palavra dele foi um açoite quente em seu desejo, em sua paixão,
em seu coração. Marcando e derretendo-a. Sua pele pulsava por todas as
partes, como se estivesse viva.
Ele deu um longo suspiro enquanto mirava seu corpo, a paixão
resoluta em seu olhar. — Sim. Definitivamente, eu vou gostar de cada
segundo disso. E você também.
Algum homem já tinha lhe dito palavras tão cruas e doces ao mesmo
tempo?
Já a tinham venerado com tanto desejo?
Tinham feito se sentir tão especial que ela teve vontade de chorar?
Antes mesmo das perguntas se finalizarem, ela tinha as respostas.
O sexo nem sempre tinha sido bom. Era uma necessidade aplacada
quando o desejo despertava, o que significava raramente. E Trish não tinha
dado tanta importância a essa parte. Havia estado no escuro um montão de
tempo, acreditando que o sexo insosso era tudo que poderia ter naquela droga
de vida. Mas, então, nunca tivera um amante tão intenso como aquele
sujeito... Caleb. Sim, este era seu nome. Combinava com a força que
emanava dele e a expressão pecaminosamente malvada do tipo que as mães
orientavam suas filhas para permanecerem longe, se não quisessem ter um
coração quebrado e sua inocência perdida. Ele tinha aquele ar arrogante e
extremamente seguro de quem sabia o quê causava nas demais pessoas. Um
tipo que até mesmo os outros homens respeitavam. E ao inferno se isso não a
fazia arder de desejo.

O primeiro gosto do creme da buceta de sua fêmea quase o fez o


gozar nas calças. Seu sabor tinha percorrido todo seu sistema, contaminando
seu sangue com uma paixão ardente e feito suas bolas darem um nó.
Sufocado até a garganta, que pensou não ser capaz de respirar por longos
segundos. Ter a imagem de seu traseiro alvo, uma massa de carne redonda,
pequena e delicada, implorando para ser tomado, não facilitou e o fez suar
frio por controle.
No entanto, não tinha sido assim desde que a provou pela primeira
vez?
Caleb tinha adorado, amado o gosto dela. Mas agora era diferente.
Mesmo gosto; diferente pelo simples fato de que ela estava desperta e
receptiva a ele por sua própria vontade. Havia a magia do drukāt, contudo,
ela jamais teria qualquer efeito sobre sua fêmea se a mesma já não o
desejasse por si mesma. Mas Trish era sua e o desejava. Isso somente tornava
o gosto dela ainda mais delicioso em sua língua, inebriando seus sentidos, e,
fez seu lobo jogar a cabeça para trás e uivar de felicidade.
Minha. Minha. Minha!
Ela o aceitaria. A ligação entre eles tinha começado quando seus
olhares se cruzaram e se firmado a cada encontro secreto, agora, estava na
hora de fazê-la mais sólida em seu corpo, em sua alma. Mostraria a Trish que
ele era o que ela precisava. Que somente ele poderia saciar seus desejos, sua
fome. Prover-lhe-ia de todas as maneiras, de modo que, ela tivesse certeza
que pertencia a ele e a ninguém mais. Plantaria sua semente dentro dela e
veria seu ventre inchar com os muitos filhotes que teriam. E Caleb queria
muitos, tantos quantos pudessem ter. E eles teriam, prometeu a ambos em
silêncio. A manteria satisfeita e aquecida todos os dias... todas as noites.
Podia sentir o desejo dela dentro de si, como o seu próprio, através da
conexão ativada entre eles. Sua luxúria, a necessidade agonizante, a excitação
ardente passando de um para o outro, misturando e fundindo-se numa só.
Mais intensa, mais lasciva. Nada podia ficar oculto entre Companheiros
Prometidos. Estavam conectados pela mesma linha, antes mesmo de
fundirem seus corpos.
Os olhos faziam contato e a alma reconhecia.
E, foda, ele amava isso.
Senti-la em sua pele, dentro dele. Viva. Feminina. Voraz. Não havia
nada mais excitante para um macho na febre do acasalamento do que saber
que sua fêmea o desejava por igual. Inchava-se de orgulho e alegria, fazendo
seu coração bater mais rápido e a respiração mais densa. Sua fome e desejo
de dar tudo a ela era arrasadora.
Em uma fração de segundos, Caleb esteve ajoelhado. Colocou as
magníficas pernas dela, uma em cada ombro, e puxou seu quadril além da
borda e a manteve segura para ele. Aberta. Exposta sem nenhuma barreira.
Ela parecia tão fodidamente boa. Um sexo rosado e delicado. As dobras
estavam inchadas, gotejando excitação. Brilhando. O clitóris pulsando. Tão
linda e responsiva, que lhe doeu os pulmões e seu pau.
Ele tragou uma respiração difícil por entre os dentes apertados.
Caleb não prolongou a espera, levando sua língua lá. Bem ali. Na
entrada estreita da vagina dela, vazando o creme doce que ele queria provar
todos os dias no café da manhã. Trish gritou, o quadril tenso em sua boca
quando ele a lambeu demoradamente da entrada até o clitóris e voltou
descendo até seu ânus. Uma e outra vez. Ele fez amor com ela, deleitando-se
pelo modo que ela se derretia em sua boca. Suave e suculenta.
Gemeu e ronronou sobre sua carne.
Trish reagiu, esfregando-se contra sua boca.
Ela queria mais e ele lhe deu isso.
Logo a fodeu, possuindo, cauterizando-a com a língua, cavando o
mais fundo que poderia ir, colhendo seus fluídos femininos, bebendo dela até
que tudo que podia sentir era seu gosto em cada parte de si mesmo. Sentia-a
vibrar em sua língua, os músculos vaginais apertando ritmicamente a sua
volta enquanto ela se contraia. Ela não fez fácil para ele. Suor brotava de sua
testa enquanto a levava mais e mais alto.
Os gemidos e murmúrios de prazer dela ecoavam por seus ouvidos,
como um chamado de uma sereia. Sons eróticos batendo diretamente na
coroa de seu pênis, agarrando seus testículos envoltos de um fogo luxurioso.
Trish era uma bomba sexual.
Agarrou seu autocontrole, e beliscou as dobras dela com os dentes,
tomando cuidado para não machucá-la. Então, usou os dedos, empurrando-os
profundamente em seu canal acetinado, as pontas procurando, sondando...
— Oh, Deus! Oh, Deus! Oh, Deus!
Caleb sorriu satisfeito tendo descoberto um ponto muito sensível
dentro dela, e o explorou ali, bem devagar, tomando seu tempo para
enlouquecê-la. Pressionou e esfregou, alternando a pressão. Quando ela
gritou mais alto, ele jogou uma olhada para o seu rosto corado, viu os cílios
trêmulos semicerrados, os dentes prendendo o lábio, a cabeça curvada para
trás, deixando seu esguio pescoço a mostra. Era tão malditamente sexy.
Certamente, não tinha noção de quanto o afetava vê-la daquela maneira,
desprendida no prazer que lhe dava, mas logo saberia. Subiu o olhar e
encontrou os mamilos estirados para cima, pontudos como um rubi. Iria
chupá-los tão ferozmente que ela rogaria por misericórdia, pensou
alegremente, devotando a seu broto de nervos as mesmas chupadas que daria
naqueles bagos maduros.
— Caleb, Caleb... — ela cantarolou seu nome.
Ele adorou.
Ele então começou a comê-la seriamente. Seu pênis inchou, ficando
ainda maior, seus testículos se tornaram mais pesados.
O Alfa levantou a cabeça o suficiente para perguntar:
— Você gosta da minha língua em você?
O fôlego dela se quebrou.
— Sim! É tão bom... Não pare, por favor. Oh, Deus, Caleb não pare...
Nunca. Minha. Minha. Minha.
Ele bateu nela com maior furor, marcando sua posse.
Não havia nada de normal. Caleb queria fazê-la chegar rápido para
que pudesse aliviar seu pênis dentro dela, mas também queria prolongar sua
boca nela. Uma fodida situação. Duas opções tentadoras. Ele optou por ela
primeiro. Sempre.
— Por favor, por favor... Eu preciso...
— E terá isso, amada. Sinta. É tão fodidamente doce, querida. Quero
me alimentar da sua buceta perfeita todos os dias. Fazer amor contigo todas
as manhãs. Não sabe o quanto eu esperei por isso. É uma droga deliciosa.
Feita só para mim.
Estava sendo melodioso, talvez, um pouco rápido. Não queria assustá-
la. No entanto, precisava dizer o que sentia, necessitava que ela soubesse o
quanto era importante. Que aquele momento não se restringia apenas no
desejo mútuo de dois amantes. Era mais.
Amor.
A palavra disparou pelo seu cérebro e enraizou em seu coração. O
lobo em sua alma uivou, novamente. Sim, ele sabia. Já a amava antes e agora
confirmava. Deus, que ela o amasse de volta, rezou. Ou ao menos lhes desse
uma chance. Porque infernos, não importava de um tudo desde que a tivesse
sob sua proteção, levando sua marca e seus filhotes. Doeria, era certo. Mas
ele tinha um montão de amor que daria para eles dois.
Não aceitaria menos, mesmo que ela se recusasse. Lutaria até o fim.
Sabia que não seria fácil quando revelasse a verdade a ela. Talvez o achasse
uma aberração. Mas um homem podia sonhar e acreditar que ela o aceitaria,
reconhecendo seu domínio e aceitaria sua proteção. Não poderia viver sem
ela. Somente a insinuação da ideia fazia seu peito doer malditamente.
Essa fêmea era a metade de sua alma. Uma parte essencial de si
mesmo. Sem ela a vida perderia todo o sentido. Nada importaria. Nem sua
família. Nem a matilha. Nem ele mesmo. Nada seria tudo o que ele teria. Isso
significava um poço de tristeza e dor.
Trish sibilou e ergueu os quadris, pedindo mais. Estava entregue. O
prazer dela sob o seu controle e jurou a si mesmo que faria aquilo tão
malditamente bom para ela, que Trish não se oporia a sua posse, dentro e fora
do quarto. A fêmea o tinha transformado num maníaco possessivo além de
sua natureza. Mas ele não se importava. Um futuro com ela, sim.
Trancado sua boca contra o broto sensível de sua vagina, ele chupou
com mais força. Mais rápido. Mais e mais. Ela se contorceu, gemeu, arqueou.
Céus, ela era perfeita. Receptiva aos seus toques como nenhuma
outra, respondendo-o com suspiros de prazer, arqueando-se para tomar mais.
— Oh, Deus! Mais duro!
Trish agarrou sua cabeça, o quadril tensionado, tentando levá-lo mais
profundamente. Seu cheiro, seu sabor, a sensação úmida e sedosa de sua pele,
tornaram-se sua realidade, a única coisa que o importava. Caleb sentiu o
orgasmo dela se construindo em uma espiral de fogo, densa, quase tão sólida
quanto um bloco de cimento, apertando. O clitóris inchava mais, vibrando
sobre sua língua.
— Assim, bebê. Deixe vir. Eu vou te dar todo esse prazer e estarei
aqui para te segurar.
O quadril dela balançou contra sua boca num frenesi obrigando a
agarrá-la mais firmemente. Sua carne sensível esticando ao seu redor. O broto
pequeno pulsando no ritmo das batidas de seu peito. Ela estava vindo. Duro e
implacável. As coxas macias apertaram sua cabeça, sustentando-o lá, como se
tivesse medo dele fugir no último instante. Caleb sentiu os tremores dela
quando seu corpo retesou. Então, ela se arqueou, empurrando o quadril
duramente contra sua boca.
— Foda-se, sim! — ele grunhiu. — Isso mesmo. Goze na minha
língua.
Sua mandíbula cerrou quando ela gozou, explodindo em seus dedos,
sua boca. Sensações prazerosas dispararam por ela e o atingiram em cheio,
como uma barricada de cimento. Trish se contorceu, convulsionando
descontrolada e gritando seu nome. Um feixe de luz brilhante passou entre
eles e os conectou. Tão forte e quente. A luz intensa, como um fio de ouro
ligado em muitos watts, fez seu poder estalar sobre a pele voltando seus
brilhantes olhos amarelos ouro, os músculos esticados e duros como aço. Ele
pôde sentir sua alma tocando a dela e soube que ela sentiu também quando
outra onda de prazer se quebrou sobre ela, e se fez dele próprio. Plenitude.
Este era o sentimento dominante. Tinha um peito cheio de alegria e um prazer
resoluto virando através deles. A ligação se reforçou com o orgasmo dela, e
ele quis aquela ligação brilhante de novo.
Caleb estava tremendo, seus músculos crepitando, quente e febril.
Suando. As unhas afiadas ameaçaram a sair e o pênis explodir o gozo em sua
calça. Ele ficou duro como pedra quando puxou o controle de volta. Jamais
tinha necessitado trabalhar tão duro por seu controle, nem naqueles dias
tenebrosos. Porém, não podia estar mais feliz.
Nunca tinha se sentido tão poderoso e possessivo. E tudo por ela!
Continuou lambendo, chupando-a até que ela quis fugir dele. As mãos
grandes se agarraram com mais firmeza em seus quadris, mantendo-a. Ela
estava vindo para outro orgasmo daqueles que colocaria seu coração fora do
corpo pelo esforço de se conter.
Mas, foda-se. Queria dar isso a ela.
— Vamos, querida, goze para mim novamente.
Ela estremeceu, as mãos delicadas por toda parte.
— É muito. N-Não posso...
— Sim, você pode tomar isso. Estamos apenas começando, ainda
quero afundar meu pau na sua buceta e te comer até que não possamos nos
mexer mais.
Seus dedos apunhalaram mais fundo, mais duro, enquanto voltava a
cercar o clitóris entre os lábios. Ela lhe presenteou com um murmúrio de
prazer languido e rouco.
Trish se debateu contra sua boca novamente, o gozo dela cobrindo sua
língua ávida. Ela saboreava céu.
Minha! Minha! Minha!
Maldita seja!
Queria estirá-la, fixando-a ao colchão com o seu corpo enquanto se
afundava nela até as bolas. Queria se embriagar nela. Estar afogado em seu
canal. Ainda podia sentir quão apertada ela era, a maneira que o abraçava,
ordenhando, puxando, tragando até que perdesse o controle.
Deu uma última lambida e se colocou de pé, cambaleando um passo
para trás, antes de se firmar. Caleb estava ofegante, suas narinas se alargando
a cada dura respiração. Ele estendeu as mãos, puxando a jovem contra seu
corpo. Trish recostou a cabeça em seu peito, aconchegando-se a ele, os
braços envoltos de seu pescoço.
Caleb olhou abaixo em seu rosto.
Sim, querida, exatamente aí. Aqui é onde pertence. Para sempre.
As bochechas estavam mais coradas, as pupilas dilatadas fazendo
aqueles bonitos olhos azuis maiores. Sensual e muito feminina. Tão linda. Ela
não apenas superava suas noções normais de beleza feminina como as
excedia. E era toda dele.
Caleb caminhou com ela para o quarto e a colocou na cama, dando-
lhe um beijo demorado nos lábios antes de se afastar. Olhando para ele
através de seus cílios longos, ela o seduziu com uma expressão tímida, que
ele sabia ser apenas um truque feminino. Ainda assim, seu pau empurrou
vivo. Não podia esperar mais para possuí-la.

A respiração vinha em jorros irregulares e densos quando Trish


observou seu delicioso amante se desfazer da camisa com um ímpeto puxão,
o ruído surdo cortando o ar com erotismo, fazendo a peça em frangalhos
entre seus dedos vertiginosos. Foi tão malditamente sexy, que no mesmo
instante, como se tivesse sido cronometrado, ela sentiu um pulso sexual
apertar os músculos internos da sua vagina e tesão ensopou suas dobras já
molhadas. Escorrer, umedecendo suas coxas com seu desejo.
Trish gemeu baixinho, cavando o lábio entre os dentes.
Sua boca secou quando ela venerou o corpo de Caleb, com um lento e
preguiçoso olhar. Ombros largos e tenazes. Uma fina capa de pelos negros
entre os rígidos peitorais, descendo pela barriga numa linha tentadora que se
escondia sob o cós da calça dele, que se foi em seguida. O pênis dele saltou
com vida e veias pulsantes. Longo. Grosso. Duro. Seu ventre esticou,
flexionou e puxou, numa torção dolorosa quando uma quebra de onda de
calor deslizou atravessando-a por completo. Espessa e crescente. Aquecendo-
a em outro nível. As dobras de sua buceta recobravam vida, o vazio
oprimindo.
Era loucura.
Tinha experimentado um dos melhores orgasmos de toda a sua vida.
Bem, todos os melhores tinham sido com ele — os reais e nos sonhos.
Orgasmos que ela acreditou não ser possível existir além dos livros. Mas ele
excedeu suas fantasias.
Lá em sua minúscula sala, Caleb a surpreendeu, com um clímax
impossivelmente poderoso, que assustou e a arrebatou ao mesmo tempo.
Tinha visto sua alma, não no sentido figurativo da palavra, mas real. Poderia
jurar que sentiu ele. Vivo. Quente. Movendo-se. O viu tão claramente como
se olhasse através de uma fonte cristalina e o tocou.
Suas emoções. Sua força. Seus sentimentos. Os medos. As
expectativas. Os desejos e... Ela. Tudo lá, ao alcance de seus dedos. Sem
máscaras ou edições.
E, bom Deus, ela também esteve nua para ele.
Estava enlouquecendo. Isso era o efeito colateral do prazer, disse a si
mesma. Todavia, efeito ou não, loucura ou não, Trish queria isso novamente.
Assustou pra caramba. Porém, se fosse um pouco honesta, admitiria que
amou a conexão e queria senti-la, novamente. Nunca tinha se sentido ligada
dessa maneira. Tão velada. Amada.
Era insano, mas tão certo ao mesmo tempo.
Estava enlouquecendo e queria envolvê-lo na loucura com ela,
cobiçava estar com ele.
Por alguma razão ainda desconhecida, Trish sabia que independente
da loucura em que ela se enfiasse, se Caleb estivesse com ela, ele a seguraria
firmemente. Protegeria de tudo e de todos.
Uma parte do seu coração se derreteu para ele.
Lambendo os lábios, Trish se moveu, de maneira instintiva, se
arrastando para a beira da cama e se empurrou ereta. Em seus joelhos, as
pernas afastadas, expondo seu inchado sexo empapado sem pudor na
claridade difusa do abajur. Os olhos dele cravaram-se lá e ele fez aquele som
sexy. Em outra ocasião, àquela selvageria chiando em seus ossos, a
necessidade latente de senti-lo em seu corpo, a teria colocado receosa, mas
agora, com aquele homem, Trish somente podia sentir seu coração palpitar
numa corrida ensandecida enquanto labaredas de desejo lhe lambiam a pele.
Caleb caminhou para ela e sua respiração aumentou com a ânsia de
tocá-lo, e ela não esperou uma permissão fazendo justo o que queria. Esticou
a mão e enrolou os dedos em torno dele, medindo a largura e avaliando sua
dureza. Ele era tão duro quanto um diamante, mas suave como veludo. A
inchada cabeça vermelha ostentava uma pérola tentadora. Parecia vivo em
sua palma.
Trish tragou saliva e Caleb endureceu mais.
Ela lançou uma olhada para cima e mordeu o lábio.
— Eu quero te lamber.
Caleb não disse nada, porém a fome dele faiscando em seus olhos
estranhamente atraentes e o pulso do eixo espesso em sua mão foram bastante
encorajadores para ela se aventurar. Umedeceu os lábios e sentiu o rubor
quente preencher seu rosto quando num movimento tímido ela se inclinou e
deixou a língua varrer sobre e em volta da cabeça púrpura. O gosto dele era
delicioso e a viciou, criando um frisson em seu corpo para ter mais dele.
Ela deu lambidas curtas sobre a glande então, a tragou para dentro de
sua boca, chupando e lambendo, intercalando a pressão e o movimento de sua
mão.
No entanto, Caleb parecia ter outros planos.
A mão dele se embrenhou em seu cabelo pela nuca forçando sua
cabeça para trás quando ele se debruçou sobre ela e, em seguida, devorou a
sua boca. Trish manteve a mão presa no pênis dele enquanto a outra agarrava
seu sedoso cabelo entre os dedos e o beijou de volta, faminta. Uma mão
alcançou seu sexo e massageou o clitóris.
— Tudo que eu podia pensar desde que te conheci era em vê-la,
novamente. Não teve um só dia, uma só noite, que não esteve comigo, dentro
de mim, em meus pensamentos, amada.
— Eu também não conseguia parar de pensar em você.
Caleb gemeu e pressionou um beijo forte sobre seus lábios. — Eu
quero você, Trish — ele disse, olhando dentro dos olhos dela.
— Então me tome.
Com um gemido rouco, Caleb levou seus lábios em um beijo ardente,
que consumiu sua alma, antes de derrubá-la em suas costas na cama. Caleb
manteve o peso de seu poderoso corpo em seus braços, e não desperdiçou um
segundo, cobrindo um de seus seios e circulou a língua ao redor do tenso
mamilo.
Trish engasgou e arqueou as costas em resposta.
Ela sabia que não havia nenhuma garantia de que seu coração sairia
ileso. Tudo era muito intenso entre eles, a atração forte a fazia se sentir ligada
a ele. Trish se curvou novamente ante seu toque e Caleb tomou o pequeno
broto entre os dentes, puxando-o delicadamente antes de sugá-lo na boca.
Trish gemeu mais alto, fincando as unhas nos ombros dele.
O ar entre eles era tão espesso que logo não podia respirar. O calor
irradiava dele, fazendo-a queimar até os ossos. O queria tão difícil, tão duro,
que latejava a pele.
Uma mão sensual correu entre os corpos, e quando achou seu sexo,
ela abriu as pernas mais amplo. Ele mergulhou o dedo dentro de sua buceta
molhada e trouxe um pouco desse fluido para esfregar em seu clitóris. Trish
balançou, sacudindo os quadris.
— Deus, Caleb, sim! — ela gemeu, afundando a cabeça no
travesseiro.
Com sua mão enredada em seus cabelos, sustentou-o em seu seio. Um
leve roçar de dentes contra seu mamilo lhe arrancou um gemido da garganta.
— Você está tão molhada, querida. Isso faz meu pau doer para ser
enterrado dentro de você. Você quer meu pau dentro de você, querida?
— Sim, por favor.
Trish abriu os olhos só para que seu olhar fosse capturado pela
escuridão brilhante do olhar fixo de Caleb. Um calor selvagem ardia ali. O
desejo carnal quando ele tomou seus lábios, sua respiração, sua alma. Não
houve nenhuma suavidade em seu beijo, nenhuma sedução indireta. Foi
posse, dominação, a promessa de cobrir seu corpo e fazê-la gritar até o êxtase
ao ser reivindicada completamente. E, que Deus a ajudasse, mas ela queria
isso. Queria ser dele, cuidada por ele.
Ele devorou sua boca, exigiu sua submissão.
Ela quis, ansiou, fantasiou beijá-lo durante semanas.
Nada era suficiente.
A ânsia dentro de si a fazia ambicionar tudo de uma vez e enlouquecia
porque ela não poderia abraçá-lo e fundi-lo a si. A paixão arrasadora fazendo-
a selvagem.
Trish o empurrou com violência e Caleb se deixou ir caindo de costas
contra o colchão. Em uma batida de coração, ela subiu nele, escarranchada,
com os olhos vidrados na paixão queimando entre eles. Dobrou-se e o atacou
com a boca. Sua língua percorreu a coluna forte do pescoço, mordendo,
beijou a garganta e desceu para o peito sólido, marcando-o com dentes e
língua. Deslizou a mão sobre a pele sentindo a textura, a dureza e sua força, e
beijou cada centímetro dele antes de resvalar a ponta da língua sobre um
mamilo masculino. Caleb endureceu sob ela, as mãos grandes firmemente
agarradas em suas coxas. Algo afiado beliscava sua pele, mas Trish não se
importou.
Ela adorou ver como ele estremecia, gemendo, reagindo às carícias
dela tal como ela reagia a ele. Trish se sentiu vaidosa, sexy, mulher. Muito
feminina. O ardente grunhido sexual dele a ascendeu mais alto quando
apertou os dentes contra o mamilo duro e puxou. Algo picou sua pele mais
forte, mas ela ainda não deu importância enquanto tornava a descer a boca
indo para o abdômen poderoso, adorando cada contorno com a língua. Era
tão bom, mesmo o gosto salgado dele fazia coisas engraçadas em sua língua.
Ela amou. A gana de saboreá-lo só não maior que seu desejo de tê-lo dentro
de si. O aroma da luxúria subiu e ondulou o ar em torno dela, cegando-a e
regeu seus movimentos, fazendo-a escorregar para baixo disposta a levá-lo
para dentro.
Seu sexo se sentia aberto, ansioso para ser preenchido.
Ele puxou para cima de maneira que esteve com as costas apoiadas
sobre o amontoado de travesseiros contra a cabeceira. Sentando-se
arreganhada sobre seus quadris, ela agarrou a base de seu eixo e o empalou
por completo.
— Monte-me.
O timbre profundo da voz enrouquecida dele prometia mais luxúria
do que ela jamais ousaria sonhar. Duas simples palavras, mas que na voz dele
foi capaz de acariciá-la em seu íntimo e deixar seu sangue quente, e a sua
pulsação acelerada.
Suas entranhas vibraram.
Com as mãos espalmadas no peito dele e os olhos fechados, Trish
deslizou para cima e para baixo, experimentando, amando o preenchimento
comprimido. Os fluídos dela escorriam facilitando o balançar ensaiado de
seus quadris enquanto seus seios saltavam com os movimentos. Caleb fechou
os dedos em seu quadril, instigando-a num ritmo regular.
Não havia pressa, nem loucura. Apenas prazer.
Trish se curvou para frente, e no outro momento, Caleb capturou seus
seios trabalhando neles a sua maneira, antes de buscar seus lábios num beijo
luxurioso. Ele apertava sua carne e começou a empurrar contra ela,
encontrando suas descidas crescentes até que o ritmo aumentou quando os
corpos exigiram mais. Caleb se empurrou sentado e ela envolveu seu
pescoço, as bocas voltaram a se encontrar enquanto ele batia dentro dela
intensificando as apunhaladas.
O prazer dela se construiu numa tormenta furiosa.
Com um rosnado, Caleb girou o corpo invertendo a posição,
colocando-se sobre ela sem permitir que seu pênis deixasse seu núcleo
escorregadio. Mantendo a maior parte de seu peso em seus braços dobrados,
ele martelou os quadris entre suas pernas. Cada estocada profunda alimentava
seu ápice, mas ele controlava, segurando a ambos.
— Por favor, — ela gemeu.
Caleb gemeu, empurrando-se nela, dando-lhe o que ambos
necessitavam. Ele moeu nela, cuidando para que a cada movimento sua pélvis
massageasse o clitóris dela, até que ela, com um grito, começou a gozar, sua
vagina contraindo ritmamente em torno do eixo grosso, fazendo a sensação
dele dentro muito maior, mais apertada. Trish tremeu e estremeceu, fincando
as unhas nas costas dele, com arranhões selvagens e severos.
Ele soltou um grunhido animalesco.
Caleb não deu tempo para que ela se recuperasse, saiu de dentro dela
e a fez girar, sujeitando-a com o estômago contra o colchão. Trish tentou
lutar, mas desistiu com um resmungo quando reconheceu a força dele. Ele riu
entre os dentes.
— A minha maneira, baby ― ele advertiu enquanto levantava seus
quadris. ― Esperei muito por isso para acabar rapidamente. Quero me
deliciar com você.
Caleb a instruiu sobre os joelhos e os ombros contra o colchão.
— Estique as mãos para trás e se abra para mim — Calor ruborizou
seu corpo quando ela fez o que ele pediu, segurando as bandas de suas
nádegas e as espalhou, oferecendo-se a ele. Ele fez um som satisfeito. ―
Agora, não se mova.
Ofegante e suada, Trish o sentiu se mover entre as pernas dela, o roce
dos pelos dele contra suas coxas lançando um estremecimento de desejo
através dela, excitação crepitou por seu sangue e balançou seu cérebro. O
coração batia na pele.
Bom Deus, ela nunca iria se cansar de Caleb.
Trish gemeu languida dando tudo de si para não se mover quando ele
cobriu seu sexo com a boca aberta, lambendo-a e fazendo-a impossivelmente
mais molhada. Caleb dedicou-lhe uma lambida longa e demorada desde seu
clitóris até seu ânus, e então, voltou aplicando uma sucção forte na abertura
inflada de sua vagina. Ela sentiu os dedos dele sondar seu buraco proibido, e
enrijeceu apreensiva, todavia, a língua dele a acalmou.
— Já teve algum homem aqui?
— Não, — ofegou ela.
— Bom. Muito bom.
Ele recomeçou a chupá-la, atormentando-a enquanto pressionava a
ponta do dedo contra seu ânus sem penetrá-la de fato. Caleb a estava
matando, adicionando uma fusão hormonal de desejo que ela não podia
aguentar, ainda assim, Trish queria tudo dele. Um grito abafado de surpresa
explodiu de sua garganta quando os dentes dele marcaram seu traseiro,
ativando um pulso sexual nas profundidades de sua buceta. Ela chorou e ele a
acalmou com a língua.
— Mais!
— Eu disse, mantenha suas mãos aí — advertiu num rosnado grave e
severo quando ela moveu uma das mãos, tentando alcançá-lo.
Trish o olhou sobre os ombros, a ansiedade para pôr as mãos nele
provocando um formigar em suas palmas. Não tinha muito controle. Cada
impulso a atraia a ele.
— Mas eu quero te tocar.
— Confie em mim, querida. Não há nada mais que eu queira do que
suas mãos em mim, mas agora mesmo estou dando tudo de mim para me
controlar. Eu não estou partindo, poderá me tocar tudo o que queira. Assim,
fique quieta e deixe-me fazer isso.
Ela espremeu os olhos, mas obedeceu.
Ela estava quase lá, indo para um novo orgasmo quando ele
interrompeu seu assalto e a cobriu com o corpo dele. Seus braços caíram ao
lado do corpo. Trish se sentiu abrasada pelo calor corporal dele. A dura
ereção acomodada entre suas dobras. O suave roçar dos pelos do peito dele
acariciando suas costas, num raspar sensual.
Trish estremeceu e gemeu baixinho.
Caleb beijou suas omoplatas, contornou a concha de sua orelha e
mordeu de leve a ponta, e, em seguida, beliscou seu pescoço com os dentes.
Sentiu o corpo dele se apertar contra o dela. Sua respiração pesada
amortecendo sobre sua pele, disparando emoções para as pontas de seus
nervos. Seu sangue parecia borbulhar na espera angustiante enquanto a
sensação de vazio crescia.
Foi só um momento depois que ela sentiu a ponta larga pressionar
contra a abertura de sua vagina, queria se mover para tomá-lo e o teria feito
se não estivesse subjugada pela força dele. Caleb a penetrou até o fundo,
retraiu o quadril, se retirando até a ponta resvalar na abertura e empurrou para
frente. Uma e outra vez. Trish tentou se acalmar e controlar os gemidos
necessitados, e falhando, miseravelmente.
Caleb se ergueu o suficiente para ela se empurrar sobre as mãos.
— Abaixe — ele ordenou bruscamente.
Ela fez, impossibilitada de negar o comando feroz dele e recebeu um
grunhido de aprovação.
Sentiu a boca dele na sua pele, tranquilizando-a com os lábios e os
beijos molhados ao longo de sua coluna. Em nenhum momento ele parou de
se mover, investindo lentamente em seu canal.
Caleb se revolveu novamente agarrando seus quadris e bombeou
dentro dela com mais força, a cada apunhalada a cabeça cega de seu pênis
buscava seu útero, marcando-a, atingindo nervos ultra-sensíveis dentro dela.
Sensações afiadas enrodilharam seu corpo e fez sua vagina mastigá-lo.
Trish quis mais, o clímax tão perto, elevou o tronco para melhor se
apoiar para empurrar contra ele e tomá-lo mais, em seu próprio ritmo. E
gritou pela palmada.
— Abaixe.
Gemendo, ela se deixou cair, totalmente empinada para ele, submissa
a sua vontade.
Ele a cobriu outra vez, penetrando-a com mais vigor, mais forte,
impulsionando-a para o precipício de prazer em espera. Os dentes dele
arranharam de leve a sua pele na junção entre ombro e pescoço. Foi somente
uma beliscada de pontas afiadas, mas capaz de enviar raios de tesão líquido
através de seu corpo. Trish se curvou, ofegante, tomou-o mais
profundamente. A cama rangeu e cabeceira batendo contra a parede, se
misturando aos gemidos ofegos de ambos. Mesmo o som era uma adição a
sua excitação.
Seu corpo entrando em curto circuito quando ele continuou a beliscar
aquela parte e moer dentro dela. A necessidade dos dentes dele em sua pele
quase sufocando-a.
— Morda. Por favor, me morda — ela cantou para ele.
Trish queria isto, sofria por isso.
Não compreendia a necessidade selvagem sufocando desde as
profundezas de sua alma para ter os dentes dele cravados em sua pele. O
instinto guiava. Apenas precisava disso tanto quanto precisava respirar e
senti-lo enchendo seu interior.
— Minha companheira — ele grunhiu justo antes de cravar os dentes
nela, a dor foi uma picada para a explosão de prazer emergindo numa
incursão infernal.
— Sim, Caleb!
Ela gritou enquanto seu corpo se encolhia no prazer resoluto, sua
vagina apertada abraçou seu pênis, ordenhando, enquanto ela convulsionava,
como se estivesse recebendo uma descarga elétrica. Seus dedos dos pés e
mãos estavam enrolados. A respiração trôpega e seu coração batendo na
cabeça quando ela se conectou a ele através do fio brilhante. Fundindo-se a
ele num patamar que difundiu sua mente.
Caleb perdeu o controle, ainda segurando-a com a boca, ele lutou por
sua própria libertação, criando minis orgasmos em cada mergulhar poderoso.
Ela sentiu seu pênis crescer, bem como, ele tivera feito nos sonhos. Inchando
cada vez mais. Sem forças, Trish o deixou fazer a sua maneira. Ele bombeou
uma, duas vezes, e então, se encaminhou para sua culminação, que a levou
para outro orgasmo surreal. A ligação estrondosa cegando-a
momentaneamente, deslumbrando seu íntimo. Vagamente, percebeu que ele
tinha dobrado de tamanho, impossivelmente maior, prendendo-se dentro de
seu núcleo até que não podia se mover enquanto ele gozava duramente.
Enchendo-a com abundantes jatos cremosos de sêmen, plantando sua
semente no fundo de sua vagina. Esguicho atrás de esguicho mornos a encheu
em intervalos de tempo.
Trish não sabia se isso era normal. Piscou para fora da névoa sexual
até que conseguiu um fio de lucidez, o bastante para ruminar sobre aquilo.
Santo Deus, isso não era normal.
Quer dizer, ela não tinha estado com tantos homens assim. Dois eram
sua contagem. Mas nenhum homem poderia ficar preso e seguir ejaculando...
Ou podia?
Caleb a soltou, lambendo o local onde seus dentes estiveram,
fazendo-a estremecer dos pés a cabeça a cada roçar de sua língua. A pele
hipersensível.
O perfume delicioso permeava ao redor deles.
Alguns segundos mais tarde, ele se moveu para o lado, puxando-a
com ele, ainda preso em seu interior. As mãos dele estavam seguramente ao
redor dela para mantê-la parada. Ele enfiou a cabeça contra a curva de seu
pescoço.
— Você está...?
— Sim, querida. Não se mova, certo? Não quero que se machuque.
— P-Por quê? Isso é normal?
A mão dele percorreu sua barriga, relaxando-a.
— Para mim é — ele disse simplesmente. — Não há nada para se
preocupar, sim? Espere um momento então, poderemos nos mover... É ruim?
— Não, não é ruim — ela disse quando girou a cabeça para olhá-lo.
Ele não fugiu de seu olhar. Estava tranquilo e isso a acalmou mais. — É só
diferente, bom.
— Eu sou diferente.
Caleb beijou a marca. Um toque suave, venerado e carinhoso, que a
faz estremecer e suspirar quando a língua quente saiu para deslizar em sua
pele. Então, ele a beijou demorado na boca, e quando recuou, Trish se deu
conta que ele tinha desinchado o suficiente para se retirar dela, ainda assim
seguia duro como rocha.
Na menção de retirar-se, Trish agarrou seu quadril.
— Não..., por favor, fique.
Ele sorriu orgulhoso e beijou a ponta de seu nariz. — Eu não irei para
qualquer lugar longe de você, bebê. É minha, Trish. Para sempre.
11

ARRANJOS INESPERADOS

O aroma de café fresco despertou Trish pela manhã, mas quando


inspirou fundo, ainda de olhos fechados, outro cheiro foi sentido, lhe
lançando uma onda de felicidade. Estava por todo quarto. Sobre e dentro
dela. Um almíscar limpo, sedutor, amadeirado e de frutas. O perfume da
união alucinante que tinha experimentado na noite passada.
Delicioso.
Trish se esticou enquanto um sonhador sorriso curvava as esquinas de
seus lábios e abriu os olhos de par em par. Seu espreguiçar fez parte do lençol
branco de algodão se arrastar para baixo, revelando um mamilo vermelho. De
repente, ela se sentou na cama segurando o lençol sobre os seios enquanto o
olhar corria sobre o espaço vazio ao seu lado, e então, pelo quarto.
Caleb não estava lá.
Merda. Ela não podia ter tido outro sonho realista!
Ele a tinha levado para casa, fodido e amado-a toda a noite. Era real.
Tinha de ser. Ela se lembrava de tudo e não era como se pudesse se esquecer,
mesmo se quisesse. Seu corpo doía nas partes certas e em outras até então
desconhecidas por ela, seu sexo estava fragilizado assim como ficava depois
de ter um encontro quente e REAL com um homem. Tocou a boca e sentiu os
lábios inchados nas gemas de seus dedos. Os beijos tinham sido dominantes e
suaves ao mesmo tempo, abalando seu mundo e enterrando suas reservas.
Puxou o lençol para baixo e investigou o próprio corpo percebendo os
mamilos inflados e marcados.
Era real. Muito malditamente real.
Ele apenas se foi...
Um sentimento sufocado afundou seu peito e lhe fez doente no
coração. Não era tristeza, disse a si mesma, mas enquanto pensava ela sabia
ser mentira. Se sentia desolada e magoada. O aperto repentino agarrou sua
garganta e ela exalou languida.
O que esperava, tonta?
Era sexo. Um grande sexo.
Ele, Caleb, lhe tinha feito amor até a exaustão, dando-lhe um montão
de orgasmos extraordinários. Ele a tinha feito se sentir desejada, atrevida,
sensual e... amada.
Mas, então, era apenas isso, sexo casual.
Ela própria tinha querido assim, não?
Só porque ele lhe disse palavras bonitas e a fez se sentir especial não
queria dizer que Trish tinha de levar a sério, todavia, levou e agora se sentia
decepcionada por ele ter feito exatamente o que ela temia. Deveria saber que
sua sorte para homens era nula. Ela tivera lições suficientes para que a
aprendizagem fosse garantida. Homens como ele não levavam a sério
mulheres como ela. E, bem, ela tinha facilitado para ele quando nunca fizera
antes com ninguém. Isso não era algo que os caras respeitavam em uma
garota.
Inspirou fundo, engolindo a pena que sentiu de si mesma.
Decidiu que não iria deixar se abater por ter se permitido um bom
momento.
Não era a primeira, nem a última mulher no mundo que tinha um
pouco de diversão suada sem compromisso, além do que, não era como se ela
buscasse um relacionamento. Era uma mulher independente e dona de si
mesmo, que tinha necessidades e ela fez algo a respeito. Isso não era o fim do
mundo, nem ela uma cadela. Burra, certamente.
Com partes de seu orgulho recuperado, Trish jogou os pés para fora
da cama e transladou até o banheiro muito consciente do barulho na cozinha.
Lee. Não era estranho que ela estivesse dentro quando esta tinha se tornado
uma rotina quase corriqueira entre as duas, após Trish ter perdido à hora
algumas vezes, apesar do despertador. Ela ainda estava em fase de adaptação
com Inuvik. Com medo de acabar perdendo a hora outras vezes mais e,
consequentemente, o emprego, Trish tinha dado a Lee uma chave extra para
que a amiga pudesse despertá-la quando seu relógio biológico não fazia. Não
se incomodava em tudo. Era bom e muito cômodo despertar com sua cafeína
pronta para ela enfrentar o dia estranho. E Lee fazia o melhor café do mundo.
Fez uso da ducha e escovou os dentes. Estava indo pentear o cabelo
quando seu olhar viajou para o convexo entre o ombro e o pescoço, sua pele
morna e rosada do banho, mas foi à lembrança dela implorando para ele lhe
morder que a fez parar. Não sabia de onde tinha surgido, porém recordava
perfeitamente do anseio genuíno eclodindo de sua alma para que ele marcasse
os dentes nela quando os sentiu beliscar a carne.
Doce Jesus. E ele a tinha mordido, como um animal, e Trish poderia
jurar que foi forte o bastante para lhe romper a pele e tirar sangue. Todavia,
sua pele estava intacta. Havia apenas uma marca amarelada onde ela
recordava ter sentido seus dentes.
Esticou os dedos para a marca num impulso, e quando a tocou, um
estremecimento de desejo atravessou por ela. Sentiu o toque no fundo da sua
vagina acompanhado de um forte espasmo. Trish puxou a mão para longe.
Não vamos aí de novo!
Com um bufo, ignorou o espelho e voltou para o quarto. Não havia
muito que fazer com sua cara. De longe se via que ela tinha tido uma noite
ardente e, provavelmente, Lee a encheria de perguntas no minuto que a visse
e, desta vez, Trish não poderia fugir.
Resignada, pegou o penhoar florido sobre a poltrona e o vestiu, e, em
seguida, foi para a cozinha atrás de uma xícara de café fumegante.
Uma olhada para cima no meio do caminho e seus passos se
detiveram em seco, a alegria vinda não sabia da onde se espalhou dentro dela
e insuflou seu coração.
Caleb não a tinha abandonado depois do sexo.
Ele estava lá, em sua cozinha... E, oh, Deus, ele parecia quente. Trish
o olhou, hipnotizada, enquanto sua irritação desvanecia. Ele estava de costas,
mexendo no fogão, as costas largas marcadas com músculos fortes estavam
nuas, mas não havia marca de suas unhas nele e ela se lembrava de ter lhe
dado uns arranhões selvagens.
Talvez não foram tão fortes.
Não poderia saber ao certo, estivera muito concentrada neles dois na
outra noite, apanhada em suas próprias emoções enquanto ele a paparicava
com um prazer estarrecedor.
Levando sua atenção de volta a ele, Trish pensou que Caleb era
magnífico para um homem comum trabalhando em sua cozinha. Agradou-a
muitíssimo.
Ele era melhor que Lee. O pensamento se insinuou em sua mente e se
assentou no seu coração, antes que ela pudesse se recriminar.
Era fácil imaginá-lo ali.
Como se sentisse seu escrutino, Caleb girou o tronco e a fitou, com
um olhar indolente e quente, o sorriso dele fez várias reações desencadearem
em seu corpo. Seu coração bateu forte. Trish sorriu de volta sabendo que
parecia um pouco sonhadora, mas não podia evitar, tinha um calor agradável
viajando dele para ela, as mariposas em seu estômago estavam agitadas e seu
centro começando a reunir umidade.
Ela podia ficar sonhadora por um momento, pois ele estava lá!
Trish não podia deter o sentimento de satisfação, o contentamento de
vê-lo em sua cozinha, de forma tão despojada e natural, como se ele já
pertencesse ao lugar... a ela.
O jeans dele estava desabotoado e os pés descalços sobre o piso frio
de madeira. O cabelo numa bagunça gerenciada. Ele parecia bom o suficiente
para comer. Era pecaminoso e sexy mesmo sem querer sê-lo. Não sabia
como, mas o tipo roubava todo o espaço, todo seu ar, a fazia minúscula ante
sua grandeza e o poder que exalava. A intensidade sufocante. Trish queria ser
cuidada por ele. De repente, ela era só nervos quando Caleb começou a
caminhar para ela com a segurança e a altivez de um Alfa, ainda assim Trish
não podia desviar os olhos para longe dele, seu peito e abdômen eram muito
impressionantes. A antecipação lambeu sua espinha dorsal e o ar escapuliu
por suas narinas com brusquidão enquanto o coração subia para a sua
garganta. Antes que ela tivesse a chance de piscar de novo, ele esteve na
frente dela, muito maior, fechando os braços em sua cintura num aperto
gentil e inclinou a cabeça para baixo, beijando-a. Trish respondeu, abrindo os
lábios para ele e sua língua entrou lhe dando uma degustação de café e seu
próprio gosto afrodisíaco. Um beijo gentil, porém insistente.
Oh, deuses, seu sabor era extraordinário.
Suas mãos espalmaram no peito dele, a estranha corrente elétrica
energizou suas palmas e viajou por seus braços enquanto sua cabeça
inclinava para um melhor ângulo quando as línguas se entrelaçaram com
erotismo e sensualidade. Caleb a apertou contra ele e grunhiu. Trish gemeu
baixo, não podendo segurar o som apaixonado.
Caleb estava duro e não estava escondendo isso. Mas antes das coisas
tomarem o rumo que seu corpo desejava, ele abrandou o beijo e afastou a
boca, deixando-a ofegante e dispersa.
― Bom dia, amor.
Seus cílios bateram hipnotizados. ― Bom dia.
Homem, ele tinha que deixar de sorrir para ela desta forma, seu
cérebro não podia funcionar direito quando ele fazia esse lento e preguiçoso
curvar de lábios.
Caleb dobrou a cabeça, novamente, e arrastou o nariz por seu
pescoço, cheirando-a. Em seguida, ele fez aquele som, que fazia estremecer
sua pele e reverberava dentro dela, e deixou um beijo na pele. ― Porra, baby,
eu amo o seu cheiro.
― O-Obrigada..., mas eu não passei nada.
― É ainda melhor.
Ela inclinou a cabeça para trás para olhá-lo.
― Está dizendo que meu perfume fede?
Caleb encobriu um sorriso.
― Faz meu nariz arder. Seu cheiro me faz duro. Cheira como céu,
não sabe?
― Bem, nesse caso, obrigada.
Caleb agarrou sua mão e a conduziu para a mesa. ― Espero que não
se incomode que tenha usado a cozinha para preparar o nosso café.
― Não.
Ele puxou uma das cadeiras.
― Sente-se. Eu irei servi-la em um segundo.
― Você cozinhou?
Era uma pergunta tão tola que ela queria se chutar. Mas estava
surpresa. Em choque, na verdade, por ele ainda estar lá e preparando o café
para eles.
― Sim ― ele respondeu, voltando para detrás do balcão. ― Não se
preocupe, verá que sou um excelente cozinheiro. Vivendo só tive de aprender
a me virar ou morreria de fome. E eu adoro comer então não foi algo difícil
― deu uma piscada divertida.
Ela sorriu para ele, um curvar genuíno e espontâneo.
― Você saiu?
Pare de entrevistá-lo!
― Eu tinha um par de calça na SUV.
― E você... você saiu para pegá-la nu?
Caleb deu os ombros. ― Não havia ninguém a vista.
Logo ele trouxe o café para a mesa. Uma abundância para duas
pessoas, mas ela não reclamou. Estava faminta. Caleb sentou ao seu lado e
serviu aos dois.
― Você teve muito trabalho pela manhã ― comentou, comendo um
bolinho, que ele tinha colocado em seu prato, e gemeu em deleite. Estava
delicioso.
Caleb baixou para a mesa a xícara de café, que estava em seus lábios.
― Fiz menos do que costumo fazer então foi rápido.
Os olhos dela cresceram em assombro.
― Menos?
Os lábios dele tremeram, seus olhos escuros cintilantes com diversão.
― Sou um homem grande, querida, preciso me alimentar bem para
me manter. Eu queimo rápido, por isso preciso de muita fibra e proteína pela
manhã.
Trish sacudiu a cabeça e soltou um risinho. Ela não duvidava disso,
ele tinha um senhor prato na frente dele e seu corpo era duro, sem um grama
de gordura.
― Sorte a sua. Eu que não me cuide que tudo que como vai direto
para os meus quadris.
Logo que falou, ela se arrependeu. O escrutino que Caleb lhe dedicou
foi no mínimo profano. O calor luxurioso de seus olhos aqueceu-a até os
ossos.
― Não há nada de errado em seus quadris, querida. Tem carne, e eu
gosto de fodê-la sem me preocupar se vou lhe quebrar por ser mais duro.
Oh, Deus... Ele realmente tinha dito isso?
Embaraçada e com as bochechas queimando, Trish desviou o olhar,
concentrando-se no seu próprio café, beliscando aqui e ali.
― Como se sente?
― Bem. E você?
A pergunta foi automática e tirou um sorriso doce dele.
― Como se tivesse ganho na loteria ― ele concedeu, a sutil pretensão
por detrás das palavras tinha um significado que ela pensou que deveria
entender, mas não fez.
Vaidade feminina correu dentro dela, como cera quente, e ela relaxou.
Com o choque inicial passado, podia pensar com clareza. E, bem,
estava desconcertada por estar ali com ele tomando café como se fossem um
casal. Contudo, eles não eram um casal, mas estavam se comportando como
um. Uma parte dela queria que fosse verdade, era fácil imaginá-los juntos sob
o mesmo teto, compartilhando as refeições e a cama. A outra sabia que este
momento era apenas um interlúdio cortês antes que cada um seguisse seu
caminho.
Trish o mirou por debaixo dos longos cílios escuros.
― Por que não foi embora?
― Queria que eu tivesse ido?
― Não!
O sorriso dele foi devastador e ela não podia fazer nada para ajudar a
si mesma. Tudo sobre esse homem era quente e a enfeitiçava de uma maneira
aterradora. Fazia-a ansiar pela promessa muda de perversões velada em seu
olhar negro, do tipo que faria uma mulher se abrir para ele e lhe oferecer tudo
que tinha. Trish queria fazer exatamente isso.
― Ótimo! ― E acrescentou de forma natural e sentenciada. ―
Porque nós vamos fazer isso com muita frequência de agora em diante. Agora
coma, querida.
Eles iam?
― Você realmente disse isso?
― Eu não a vi comendo qualquer coisa ontem. Não pode descuidar da
sua alimentação. Precisa se alimentar bem ― ele repreendeu, com um olhar
sério e fixo.
Agora não estava apenas indignada como também irritada por ele
estar tratando-a como uma criança. Trish apertou os olhos para Caleb.
― A parte sobre "vamos fazer isso com muita frequência de agora em
diante"?
Caleb inclinou a cabeça. ― Sim?
A calma dele fez seu temperamento escorrer pelas bordas.
― Quando decidiu isso? Quando se apoderou da minha cabana depois
de ter me cercado por dias, mesmo eu te dizendo que não queria isso?
Ele lhe deu um olhar considerado. ― Quando você me responde com
o mesmo desejo, amada, quando sente que precisa estar perto de mim, sentir-
me dentro de você mais do que precisa respirar, mesmo que não compreenda
o porquê desta necessidade. Eu sou seu antídoto e você o meu ― Caleb
declarou de forma solene. ― Você pode ainda não entender e não gostar do
que está ocorrendo aqui, mas não pode negar que entre nós está acontecendo
algo especial, Trish. Sei que é difícil para você pela rapidez que as coisas
estão acontecendo, mas se me der uma chance lhe mostrarei que pode confiar
em mim, tal como eu vou confiar em ti. Não posso te prometer o paraíso,
porém posso lhe garantir que minha maior prioridade é fazê-la feliz.
Trish ficou olhando para ele enquanto as palavras se embaralhavam
na sua cabeça e seu coração inchava com fantasias românticas.
― Eu... eu... eu...
Caleb atraiu a mão dela para dentro da sua, muito maior. ― Venha
aqui, querida ― ele persuadiu e ela foi. Saiu de sua cadeira e ele afastou a
dele para lhe dar espaço para que ela se sentasse em seu colo. Ele segurou seu
rosto com uma das mãos trazendo seus olhares juntos. ― Não tem o que
temer, Trish. Estou lhe pedindo apenas uma chance e seria muito honrado se
você a concedesse. Que mal pode haver nisso?
Um coração destruído?
― Eu, ― lambeu os lábios, ― eu não sei se posso lidar com isso
agora. Isso... isso está indo rápido demais. Acabei de me mudar e ainda estou
acertando minha vida aqui.
Ela não perdeu a outra mão dele acariciando sua coxa descoberta,
nem a sensação aconchegante, nem o quanto era bom estar desse modo com
ele.
― Então me inclua nela, deixe-me ajudá-la. Não há nada mais que eu
queira do que fazer parte da sua vida. ― Caleb atraiu seu rosto e roçou o
nariz em sua pele, cheirando-a e sussurrou. ― Novos arranjos... Nova vida...
Novo amor.
Trish estremeceu apertando os dedos contra os ombros dele quando
Caleb roçou os lábios sobre a marca amarelada na curva de seu pescoço, e
então, ele lambeu brandamente. Ela o sentiu entre as coxas. Trish sabia o que
ele estava fazendo, distraindo-a, mas Trish não podia ajudar em si mesma
estando tão próxima a ele. Sentindo seu perfume viril, o toque da sua boca e
língua, a carícia suave de sua grande mão, mesmo o fôlego dele inebriava
seus sentidos.
Caleb puxou a boca para frente e reivindicou a sua, num beijo forte e
exigente, que teve seu cérebro desligado. Ela se agarrou a ele querendo mais,
precisando de mais.
Calor inundou seu corpo, inchando seus seios, revestindo seus lábios
vaginais com desejo líquido e a sensualidade pediu passagem. Ela cedeu, e
então, se surpreendeu ao sentir a mão dele cobrir seu seio nu. Trish não sabia
como, mas ele tinha desamarrado seu penhoar, e agora, ela estava exposta
para o ataque devastador dele.
Ela gemeu sobre seus lábios e ele se afastou.
Caleb riscou a ponta do dedo calejado colhendo um pouco da crosta
de açúcar do bolinho e trouxe isso para ela, contornando o mamilo
intumescido com o creme e, em seguida, lambeu e chupou forte enquanto ela
se curvava e agarrava seu cabelo para mantê-lo contra o peito. Ele soltou um
grunhido satisfeito sobre a ponta. A sensação quente viajou através de seu
corpo e acertou sua virilha. Caleb continuou sua incursão selvagem
movendo-se para o outro seio.
― Seus seios são deliciosos, bebê ― ele rosnou, mordendo de leve o
cume e sugou. ― Eu quero mamá-los assim todos os dias. São doces e muito
macios ― Os olhos dele se lançaram acima cruzando com o dela, a língua
dele correu sobre os próprios lábios, fazendo-a partir os dela com desejo. ―
Lobos amam peitos.
Ela pensou que aquilo era estranho, mas a ideia dele mimando seus
seios todos os dias era muito tentadora. Trish não sabia se era certo se sentir
tão atraída e excitada com a ideia, ou, essa era a deixa para ela tomar sua
razão e mandá-lo partir. No entanto, os lábios dele sobre seus seios se sentia
como o céu. Todo ele se sentia bem sobre ela, qualquer coisa que fizesse
desde um gentil toque inocente a uma carícia mais branda e apaixonada.
Caleb a sucumbia, derretia.
Trish correu os dedos ao longo do cabelo dele e puxou, inclinando a
cabeça do tipo para trás e o beijou com tal intensidade, que mesmo ela se
surpreendeu. O gosto dele misturado ao doce explodiu em sua língua
deixando-a desesperada por mais. Caleb rosnou, a vibração do som batendo
sobre seu clitóris e latejar.
Em uma batida de coração, suas pernas se abriram e os dedos dele a
tocaram, dois movimentos circulares com a pressão certa foi tudo que ela
precisou para que um grito de êxtase irrompe-se por entre seus lábios e seu
corpo se curvasse grosseiramente sobre ele. Não podia ter tido um orgasmo
tão rápido, mas tinha feito, ele tinha feito isso com ela. Esse homem, oh,
Deus, era como se ele possuísse os códigos de seu corpo nas pontas dos
dedos. Caleb sabia como achar suas áreas sensíveis e atraí-las para a luz.
Caleb soltou um grunhido sexy e a moveu antes mesmo que as
sensações deliciosas se esvaíssem dela, abaixou a própria calça, amontoando-
a nos joelhos. Ele não usava cueca. Puxou Trish para seu colo de frente para
ele. A ponta inchada de seu pênis pressionou contra a entrada dela e deslizou
para dentro sem interlúdio. Ela se apertou a ele, as unhas ferindo a pele dele
enquanto ela engasgava na sensação afiada de prazer.
Caleb não esperou e agarrando as bochechas da sua bunda, ele
começou bater dentro dela enquanto a empurrava para baixo a cada impulso
profundo que ele dava.
Trish se perdeu na própria luxúria dobrando a cabeça e atacou a forte
coluna De seu pescoço. Percorrendo com a língua e os lábios úmidos a
garganta dele, mordendo, lambendo, beijando, trabalhando sobre ele a sua
maneira quando subiu a boca. Deu uma dentada forte logo abaixo de sua
orelha e acalmou a marca com a língua. A resposta de Caleb foi simultânea,
as mãos fortes marcaram sua bunda e pinicou. Ele grunhiu. O quadril bateu
mais forte. Trish adorou que tivesse esse poder sobre ele e explorou isso.
― Puta que pariu! ― ele rosnou, puxando para cima sobre seus pés,
com ela segura em seu colo e seu pau enterrado no fundo de seu canal.
Ele andou e, em seguida, a barreira fria da parede pressionou contra
as suas costas. Ele não lhe deu tempo para pensar recomeçando suas
estocadas.
Suas pernas estavam abandonadas em cima dos braços dele, que
estavam esticados e as mãos espalmadas contra a parede, cada uma de um
lado seu. Tão aberta e exposta a ele quanto podia estar. Vulnerável a seu
martelar profundo, as sensações arrasadoras que o atrito criava. Trish não
podia fazer nada exceto receber o prazer que ele lhe dava e explorá-lo onde a
boca alcançava, com beijos famintos, chupadas luxuriosas, lambidas e
mordidas. Ela inclinou a cabeça para trás e enrolou o lábio entre os dentes, e
então, moveu-se de volta olhando-o através da névoa de luxúria sobre seus
olhos. A imagem da expressão dele desprendida em seu próprio prazer, o
pescoço alongado, lábios entreabertos e o inferior preso nos dentes, olhos
fechados, feições duras e selvagens, como se ele estivesse tentando deter
algo... Trish não queria que ele se detivesse. Queria tudo dele. Precisava
disso. Dele por completo.
Caleb era a imagem do pecado e luxúria.
Era o prazer em carne e osso... e seu!
Gemendo, ela juntou seu rosto entre as mãos e o beijou com posse,
estirando o lábio cheio tentador, antes de descer a boca sobre a junção de seu
pescoço e ombro então ela mordeu, novamente. Sua mandíbula se fechando
com força suficiente para lhe romper a pele. Ficou horrorizada e extasiada ao
mesmo tempo, contudo, não podia se deter. O impulso tinha nascido lá
dentro, do fundo de sua alma, ela sabia o que fazer.
Para quê e por quê?
Isso era um mistério para ela.
O som que ele fez, baixo e feroz, reverberou dentro dela, seu pau
pulsou aumentando, seus sensíveis músculos internos se agarraram a ele com
tal força que doeu.
Trish ergueu a cabeça e Caleb a olhou. Ela viu seus olhos
resplandecendo em ouro. Não tinha imaginado isso na noite passada, agora
sabia. Porém não pôde dar fio ao pensamento quando ele começou a
mergulhar dentro dela com mais força, mais frenético, mais fundo. Trish se
agarrou desesperadamente ao seu grande corpo enquanto os quadris dele
deslizavam, seu monstruoso eixo moendo até as bolas nela tantas e tantas
vezes. Inchando. Crescendo mais e mais. Impossivelmente maior e mais
espesso.
Isso não poderia ser normal.
Ele estava dobrando de tamanho e o tipo não era pequeno...
Era tão, mas tão malditamente bom, que chegava a ser doloroso.
A ânsia do prazer final roubou suas vagas investigações. Trish dobrou
a cabeça para trás e para o lado num gesto pedinte, a marca amarelada
formigava, e numa fração de segundo, ela queimou quando ele a mordeu,
mantendo-a no lugar com os dentes quando ela convulsionou e ele apunhalou
seu núcleo uma última vez, com uma estocada dura e funda. O clímax se
quebrou sobre os dois ao mesmo tempo. A mesma explosão brilhante da
conexão estrondosa da outra noite irradiou entre eles enquanto o prazer
destruidor a abalava por completo, rasgando-a no meio, com espasmos que
faziam seu útero se contorcer, os músculos flexionavam ansiosos querendo
estocar a semente cremosa dele dentro dela.
Atordoada, ela se perdeu e ele a segurou por muitos minutos, não
permitindo que seus corpos se separassem e ela não acreditava mesmo que
ele pudesse se retirar dela.
Era aterrador e maravilhoso ao mesmo tempo, que ele estivesse
engatado em seu interior. Os espasmos e os jorros dele, que seguiam vindo,
enchendo-a, instigava calafrios e espasmos agradáveis partindo daquela área
para cada membro dela.
Caleb tirou os dentes dela e, em seguida, ela murmurou de prazer
enquanto ele lambia a área machucada, acalmando e afagando. Logo a beijou
na boca tão devagar e apaixonado, que ela amoleceu e se deixou levar. A
suavidade e cuidado dele a fazia toda mole por dentro. Por um momento,
Trish se esqueceu de tudo e se concentrou na dança de seus lábios, e quando
ele recuou abrindo os olhos para mirá-la, eles não estavam mais em tom
amarelo ouro brilhante, ainda assim eram excepcionais, castanhos
extremamente escuros com íris dourada.
Caleb saiu dela e a colocou no chão.
Ele arrumou a calça no lugar enquanto ela fechava o penhoar.
― Seus olhos ― ela sussurrou.
― Sei ― ele resmungou.
― Estavam... amarelos. Isso não é normal.
― Não há nada de errado com meus olhos ― ele acalmou
tranquilamente. ― Vamos falar sobre isso outra hora, mas garanto que estou
perfeitamente bem e saudável.
Como era possível?
Ela acreditou nele mesmo sabendo que aquilo não podia ser normal,
mas o fio de curiosidade e duvida estava lá, intacto. Mas ele não parecia
disposto a lhe dar isso agora.
Trish o olhou com atenção por um longo momento.
Realmente tudo, exatamente tudo, em Inuvik era estranho. O povo
não apenas dava nome aos objetos, bem como, tinham reações estranhas
demais, mesmo os corpos reagiam diferente.
Inuvik o reino das esquisitices!
Com um suspiro, ela engoliu a curiosidade, não querendo pressioná-
lo, ou pior, ofendê-lo por algo que a ele era natural. Talvez fosse algo do
lugar, uma característica do povo, quer dizer, da aldeia dele, porque os
demais habitantes da cidade que ela conheceu tinham os olhos normais.
Sentiu o creme pegajoso escorrer por suas coxas e ocorreu que
necessitava outro banho, porém antes que fizesse menção de se mover, sua
cabeça livre da névoa sexual estalou ajuizada.
Trish o olhou, novamente, cheio de preocupação e temor.
― Nós não nos protegemos, quero dizer, eu estou no controle de
natalidade, mas..., mas nós não usamos preservativo.
Santa Mãe de Deus!
Como ela poderia ter se esquecido disso? Como pudera ser tão
irresponsável consigo mesma? E se ele tivesse alguma doença? Caleb parecia
ser saudável, entretanto, isso não queria dizer que ele não pudesse estar
adoentado, certo?
Ela começou a ficar agitada e Caleb se aproximou envolvendo seu
rosto entre as mãos, o olhar dele era firme e sereno, a expressão suave, porém
séria.
― Não, não usamos. Nem hoje, nem ontem. E não iremos usar ― ele
disse muito calmamente em tom ditatorial. Ela abriu a boca para contestar. ―
Sou imune a doenças hu... Não tenho qualquer doença e você também não
pode me passar qualquer coisa. Estou seguro e você também está. Eu nunca
te causaria dano, Trish.
Ela acreditou e disse a si mesma que era porque ele parecia muito
honesto.
― Por isso você... bem, você inchou e ficamos presos?
― Sim ― ele ofereceu, não dando indícios de que saciaria sua
curiosidade e ela se irritou. ― Temos muito sobre o que falar, mas ainda não
é o momento. Não é nada com que tenha que se preocupar. Falaremos mais
tarde. Agora, precisamos de um banho.
Certo. Essa era mais uma das esquisitices do lugar.
Opa, opa, opa!
Compartilhar o banho com ele?
Ele e ela?
Juntos no box apertado? Nus?
Senhor Deus...
Ele nem mesmo deveria estar aqui mais e ela tinha um monte de
confusão para lidar, no entanto, não podia fazer isso com ele lá, pairando
sobre ela, como se estivesse pronto para comê-la a qualquer momento. E
Trish sabia, ele faria exatamente isso e ela não se oporia. Era uma fraca
quando se tratava do tipo. Por mais que quisesse rechaçá-lo, porque ela sabia
que uma relação entre eles poderia machucar seu coração quando ele caísse
em si, ela não podia.
Agarrando suas forças pelas pontas, ela murmurou:
― Eu preciso ir trabalhar e você precisa ir embora.
Caleb congelou por um instante, mas o bastante para que ela se
desprendesse de seus braços e se afastasse. Algumas passadas a frente, ela
respirou fundo e ignorou o sentimento murchando seu coração, rezando para
que tivesse forças para mandá-lo embora e quem sabe esquecer tudo que
tinha ocorrido entre eles. Duvidava que conseguisse fazer o último, já se
sentia ligada a ele de uma maneira que não poderia ser saudável, mas não
custava nada tentar.
Com os poucos resquícios de força que possuía, ela se voltou de
frente para ele para encará-lo, com um olhar determinado, segurando-se pela
borda.
Caleb tinha a expressão com linhas duras, embora os olhos fossem
suaves sobre ela, quase magoados se ela não estivesse vendo coisa demais.
— Você não precisa trabalhar mais — ele disse devagar, sua voz
baixa, mas enérgica. — Eu lhe darei tudo que desejar. É meu dever.
Ela não pôde reter o risinho. Ele parecia um homem das cavernas
batendo no peito, com toda aquela testosterona primitiva após raptar uma
mulher pelos cabelos.
— Dever? Você não tem nenhum dever comigo, Caleb. Dormimos
juntos e passamos um bom tempo. Fim de história. Eu sou dona de mim
mesma e independente muito antes de vir para cá. Como pensa que vivo
aqui?
— Como vivia, conjugue o verbo no passado, Trish — ele concedeu
num tom razoável, como se estivesse lhe passando um comunicado. — A
partir do momento que me aceitou em sua cama, em seu corpo e me aceitou
em sua vida, tudo que lhe diz respeito é do meu direito julgar o que é melhor
para você, bem como, te prover. Eu trabalhei duro, por mais anos do que
você pode imaginar para poder oferecer tudo a minha... mulher quando ela
batesse em meu caminho... quando você aparecesse.
Se fosse anatomicamente possível, seu queixo estaria no chão.
Onde tinha ido parar o cara de minutos atrás? Ou esta era sua
verdadeira face? Se fosse, ela não gostava.
— Você está se ouvindo? Deus! Da onde você veio? Do tempo das
trevas?
— Eu não estou gostando do seu tom comigo — ele grunhiu baixo.
Irritação chamuscou o peito dela. Ele não parecia nada atraente agora,
tratando como se fosse uma sem cérebro, mesmo que parecesse muito
suculento com o peito exposto e a calça aberta lhe dando um vislumbre
tentador.
— E eu não estou gostando muito de você agora mesmo — ela ralhou
de volta, com as mãos na cintura e o olhar travado no dele em desafio.
Caleb bufou, as sobrancelhas franzindo em desgosto.
— Você não entende — ele ralhou entre os dentes.
— Claro que não entendo! Só porque dormimos juntos uma vez e
você ficou, e, fez café para nós e tudo aquilo depois, não quer dizer que pode
mandar em mim então, pare de agir como se pudesse. Eu não sei como as
mulheres aqui costumam agir com seus homens, mas te garanto uma coisa,
companheiro, eu não sou do time delas.
— Não, você não é. — E acrescentou ferrenho. — Você é minha.
— Você sabe o quê? Isso tudo foi um grande erro. Apenas vá embora.
— Eu não estou indo a qualquer lugar.
— Se não for, eu serei obrigada a chamar a polícia.
Ele não estava se movendo.
— Faça.
Trish realmente ficou tentada, mas não se moveu, encarando-o, os
olhos disputando uma guerra de braço, que ela não estava disposta a perder.
— Você sabe, meu amigo, não está conseguindo nada com esse seu
comportamento de macho Alfa pra cima de mim — ela resmungou.
Um sorriso feral e predatório laçou os lábios dele, os olhos
suavizaram astutos.
— Cuidado querida, você poderia se surpreender.
Trish bufou um riso frouxo.
— Oh, é mesmo? Me diga, quem nessa vida te fez rei?
— Por que está sendo tão difícil? É uma questão muito simples. Você
ficará em casa e o resto é por minha conta. Eu vou cuidar de você. Qualquer
coisa que queira eu lhe fornecerei, portanto, não há necessidade de estar fora
trabalhando enquanto é alvejada por aqueles machos sem senso de
sobrevivência.
— Desculpe-me? Acho que não ouvi bem — ela disse asperamente.
Caleb cruzou os braços sobre o forte tórax e seu olhar captou os
movimentos dos músculos sob a pele. Um arrepio desceu pela sua espinha.
Engolindo o nó em sua garganta, Trish respirou profundo e tentou manter seu
foco. Ele claramente queria intimidá-la com sua pose de Alfa e conseguiu,
mas teimosa como era, encarou-o em desafiante, ocultando sua intimidação.
Ela não deixaria um homem manuseá-la como bem entendesse, mesmo que
ele fosse bom o bastante para lhe parar o coração.
Sua fase de boba-romântica-apaixonada era passado.
— Não a quero trabalhando, nem lá, nem em outro lugar — ele
respondeu, fazendo-a mais descrente e irritada. — Você tem ideia de quão
atraente é? Sabe que a maioria daqueles machos vai lá para tentar a sorte com
você? Eles dizem coisas sobre você... Eu ouvi e não gostei.
Ele estava com ciúmes? Era disso que se travava então?
— Ninguém, e digo isso, ninguém foi desrespeitoso comigo.
— E não terão a oportunidade de sê-lo, pois não irá voltar mais.
Certo, era ciúmes ou ele só estava tentando ser um boçal?
— E o que pensa que irei fazer o dia todo caso acate suas ordens,
vossa alteza?
Ele não mediu as palavras e, tampouco, acidez em sua voz.
— Estará a minha disposição, ao meu lado, onde é o seu lugar.
Os olhos dela estreitaram raivosos e seus lábios formaram uma linha
rígida enquanto as mãos fechavam em punhos apertados. Trish transbordou
quando deu um passo a frente para ele. — Te servir, hein? Quem diabos
pensa que eu sou? Uma sem cérebro ou uma puta desesperada para dar o
golpe em um impertinente riquinho metido a chefe da tribo? Eu repito, se não
ouviu direito, não é porque fodemos uma noite que você me terá como sua
propriedade. Se acreditar nessa baboseira, é um completo asno! Agora saia da
minha casa.
— Olhe, Trish, me desculpe, sim? Eu não quis dizer isso. Não desta
forma — ele defendeu, sua voz calma e relaxante.
Trish empertigou os ombros e plantou as mãos na cintura quando
ergueu o queixo.
— Não? Acredito que ouvi muito bem. Nunca dependi de nenhum
homem e, nunca, jamais, me curvei diante de um e não será agora que irei
fazê-lo, ouviu-me? O fato de termos passado a noite juntos não quer dizer
que eu vou permitir que você me manipule. Estamos no século 21 caso não
tenha percebido e aqui somos iguais. Não vou abdicar da mim mesma em
prol de outra pessoa. Você sabe. Eu tenho vida própria e quero que continue
assim. Se não puder aceitar isso então, vá ao diabo e me deixe em paz.
A expressão dele suavizou tão rápido, que a surpreendeu, os olhos
temerosos.
— Perdoe-me, querida. Escolha infeliz das palavras. — Ele tentou se
aproximar, porém ela se esquivou de sua mão e manteve o cenho fechado. —
Escute, baby, o que eu quis dizer é que não há mais necessidade de você se
matar de trabalhar. Seria uma honra para mim te fornecer tudo que precisar.
Não penso quaisquer coisas negativas ao seu respeito e quem fizer será um
homem morto. Você é linda, sexy e perfeita. Eu só quero te prover. Não há
nada mais que me faria feliz que lhe dar tudo que necessita, dentro e fora da
cama. Perdoe-me se te ofendi. Não foi minha intenção, realmente. Quero-a
para somar comigo. Adoro-te da maneira que é e a aceito assim, e espero que
me aceite também.
Sábias palavras.
Ele sentiu sua raiva se diluir aos poucos então, tentou uma segunda
reaproximação e, desta vez, ela não se moveu para longe dele. Seu cenho
ainda estava franzido demonstrando aborrecimento, mas seus olhos já não
eram tão hostis, ele podia jurar que havia um derretimento neles. Tomou as
mãos dela entre as suas, e então, beijou cada um de seus dedos. Logo seus
braços contornaram a cintura dela e ela relaxou quase que instantaneamente,
antes dele beijá-la na boca, suavemente.
— Me perdoe Trish — ele pediu suplicante sobre seus lábios.
Ela hesitou.
— Tudo bem...
O que ela podia fazer quando ele parecia tão doce? Desse, ela
gostava.
— Não me afaste, amada, eu não posso suportar isso. Vai me matar.
Trish inclinou a cabeça para trás para fitá-lo, com um olhar afetado
pela adulação brilhando no dele. Isso não podia ser bom para o seu coração.
Sentiu-se inquieta e um pouco perdida, todavia, ele estava lá para ampará-la.
Ela não podia ignorar sua proteção.
— Não sei o que está acontecendo aqui, Caleb, mas quero que saiba
que nunca fiz isto em minha vida. Não estou acostumada a isso, nosso... caso.
Enfim, o que fizemos e se continuarmos...
— Iremos.
— Se continuarmos, precisa entender uma coisa, eu não acato ordens
de machões, então sugiro que não tente empurrá-las para mim. Será uma
perda de tempo e um aborrecimento desnecessário para nós dois. A última
coisa que desejo é ter de lidar com um tipo arrogante, que pensa que eu devo
me anular para viver em prol dele. — E acrescentou incisiva. — E, mesmo
que possa me dar o céu de bandeja, o que não duvido, eu não vou largar meu
emprego.
Ela amoleceu mais um pouco com o brilho feliz que se derramou
sobre os olhos dele. Torceu os lábios para não sorrir, porque Deus, também
estava feliz pelas possibilidades. Estar com Caleb, segura e mimada em seu
regaço todas as noites... era uma ideia muitíssima agradável.
Os dedos dele acariciaram a lateral de seu rosto. — Tentarei ser
menos mandão, porém saiba que isto está em minha natureza, então não me
interprete mal se acaso o fizer. Mas prometo dar o melhor de mim para não
aborrecê-la com meu temperamento. Isso... nós dois, é sério. Fodidamente
sério, baby. Não duvide disso.
Trish precisou de alguns minutos para pensar sobre aquilo,
finalmente, balançando a cabeça aliviada que tivessem resolvido o impasse.
— Você não me aborrece. Quero dizer, apenas faz quando está agindo
como fez há pouco. Mas não me aborrece em tudo.
— Terei isso em mente. — Ela sorriu e ele a beijou. — Eu me
preocupo com você, Trish. Quero ser seu macho. Quero que saiba que pode
se apoiar em mim e que eu não verei isso como uma fraqueza sua. É meu
prazer e uma honra garantir sua segurança e bem-estar. Nada me faria mais
feliz do que me permitir cuidá-la.
Oh, Jesus...
Ela engoliu com um ruído. O problema não era ele querer dar coisas a
ela e ser dela, senão a propensão impulsiva que ela sentia em querer dar cada
apontamento a ele. Seu coração não poderia se manter a salvo por muito mais
tempo, se Caleb continuasse a ser todo doce e protetor com ela. Isso se ele já
não a tivesse apanhado. Não era possível. Ela não era uma colegial mais para
cair de amores apenas porque o bonitão da escola derramou poesia sobre ela.
Trish lambeu os lábios, nervosa.
— Muito bem. Já que estamos entendidos, eu vou me arrumar para
trabalhar.
— Mas antes vamos comemorar.
Ela enrugou o nariz, seus olhos diminuindo em confusão.
— Comemorar o quê?
O sorriso dele foi puro pecado e aquelas promessas escuras, que
faziam coisas deliciosas em seu corpo. Num instante sentiu-se aquecer e o
rosto ruborizar.
— Nossa reconciliação.
Sua boca devorou a dela com entusiasmo enquanto a levantava em
seus braços e caminhou para o quarto. Aquecimento luxurioso acendeu sua
libido.
— Eu não posso... oh, Deus... Caleb meu trabalho...
— Foder agora, trabalhar depois.
12

PRESSÁGIOS

Caleb parou a SUV em frente à P&C e, em seguida, saltou para ajudar


sua companheira a descer. Ela lhe ofereceu um agradecimento suave e ele a
atraiu para os braços, beijando-a calmamente. Ele amou o estremecimento
dela. Toda vez que a tocava tinha esse tremor sutil, o arrepio que a colocava
eriçada e a fazia gemer contra sua boca.
Trish era toda sua. Uma constatação tão simples, mas capaz de lhe dar
a felicidade sólida embrulhada em papel de presente. Era isso. Trish era seu
presente.
— Eu venho te pegar mais tarde — ele disse em tom adulador
enquanto segurava o rosto dela e acariciava a bochecha macia com o polegar.
Ela abriu as turquesas brilhantes e a cor rosa bonita que ele gostava
tingiu de leve sua face.
— Lee e eu sempre vamos juntas para casa.
Ele segurou seu temperamento por ela estar tentando se afastar dele,
mas seria um condenado se a permitisse se distanciar. Caleb precisava dela e
ela dele, simples assim.
— Eu virei — decretou com a voz cálida e aveludada.
Ele segurou o queixo dela. Inclinou o rosto para baixo e roçou o nariz
suavemente sobre a face bonita, cheirando-a. Trish cheirava um almíscar de
campo, doce e feminina, e ele. Seu odor estava sobre e dentro dela. Satisfação
encheu seu peito e o lobo lançou a cabeça para trás uivando em regozijo.
Moveu-se para o lado e plantou um beijo tenro sobre a marca. Trish agarrou
sua camisa e exalou um forte suspiro tremulo.
— Eu... eu preciso entrar — ela sussurrou arrastando as palavras.
Caleb a soltou e se adiantou para abrir a porta para ela.
Eventualmente, quando passou por ele, Caleb arrebatou seu queixo e ergueu
para que ela mirasse seus olhos.
— Estarei aqui antes que termine seu turno. Tenha um bom dia,
querida.
Beijou-a e, enfim, a deixou ir a contragosto.
Dentro da SUV, Caleb abriu a conexão mental por um instante, e
quando a fechou, sorrindo como um bobo lobo apaixonado, ele colocou o
carro em marcha para Snowville.
O rico cheiro feminino encheu seus pulmões. Sua companheira estava
em cada parte do interior do veículo. Caleb amou e odiou que ela o tivesse
contrariado indo trabalhar quando eles deveriam estar juntos. O tempo estava
passando muito rápido e ele tinha uma senhora ereção.
Sua fêmea humana era geniosa e forte, meiga e doce, altiva e
determinada.
E, demônios, o enlouquecia.
Trish não era como as fêmeas shifter, nem conhecia seus costumes e
tradições, e teve de se esforçar para se lembrar disso antes que a afastasse
com seu temperamento possessivo.
Quase tinha estragado tudo. Tinha sido por muito pouco.
Caleb teria de ir com calma com ela. Ele apenas rezava para ter toda a
paciência necessária, pois de antemão ele sabia que não seria nada fácil. Trish
gostava de sua independência e ele se orgulhava disso, mas também chateava
o inferno fora dele.
Era seu dever prover sua fêmea.
Ela só tinha de estar pronta para ele.
Teriam de se adaptar um ao outro e fazerem ajustes, mas antes tinha
que ganhar seu coração. Estava chegando a ela, Caleb podia sentir, tinham
feito avanços consideráveis, marcado-a e ela a ele, mesmo que Trish não
soubesse o que estava fazendo ao mordê-lo. Tinha sentido a confusão e a
mágoa dela quando acordou pensando que ele a tinha abandonado, e tinha
sido um inferno não ir até ela. Mas precisava lhe dar isso, tempo para digerir
a noite deles, e então, sentiu a alegria dela ao vê-lo na cozinha. Ele estava
extasiado, só não mais do que estaria quando o acasalamento se completasse
e ela estivesse com o ventre inchando com seu filhote.
O sorriso feral repuxou os lábios dele.
Caleb mal podia esperar pelo dia que sentiria o odor de sua fêmea
mudar quando sua semente vingasse dentro dela. Isso o fez pensar nas
perguntas que Trish o tinha feito mais cedo. Ela tinha tomado bem sua vaga
explicação e pedido para adiar as respostas que queria, porém ele sabia que
muito em breve teria de dá-las a ela, e Caleb não tinha a menor ideia de como
fazer isso sem aterrorizá-la. Precisava de um pouco mais de tempo. Ela
também escondia algo dele, algo que a machucava, mas ele não poderia dizer
o quê. Isso o deixou em alerta e receoso.
De fato, precisavam conversar.
Estava quase em Snowville quando ouviu o uivo do seu Beta. Um
chamado. Encostou a SUV e desceu, e, em seguida, mudou para sua forma
lupina e começou a correr floresta adentro. Algo ia mal. Em poucos minutos
chegou até seu Beta. Brad e Collin também estavam reunidos em um meio
círculo. Ele diminuiu as passadas e cheirou o ar, torcendo o nariz com a
queimação do odor. Sangue e morte. Os irmãos abriram espaço para ele, e
Caleb passou parando em frente da carcaça de um alce.
Caleb cheirou o ar mais uma vez deixando os instintos dominarem e
se expandirem. Nenhum perigo que pudesse sentir, nem odor, além do animal
morto.
Abriu a conexão mental.
“Pegaram algum cheiro diferente?” Os shifters negaram. “Mudem.”
Névoas escuras cercaram os lobos e o leão branco, rondando e
ondulando-os. Uma vez que sumiu, homens nus se ergueram em seus pés.
— Isso é um problema? — Caleb perguntou.
— Ainda é cedo para dizer, — Embry concedeu. — Essa é a segunda
vez em pouco espaço de tempo entre as semanas. Na primeira não achamos
que fosse algo que merecesse atenção, afinal de contas, os animais caçam
pela floresta. Pensamos que talvez o animal em questão tivesse se assustado
com outro maior e fugiu. Pelo que podemos averiguar ele estava sozinho.
Caleb anuiu em compreensão. Sozinho um irmão da floresta não teria
chances contra um bando ou outro maior que ele, se este fosse o caso.
— Algum sinal de luta?
— Nenhum. A caça ainda estava muito fresca quando a achamos e
não nevava para que qualquer sinal de briga fosse encoberto tão rapidamente.
— As duas pegadas que Brad achou eram de lobo — Collin disse.
Os pelos da nuca de Caleb eriçaram e ele olhou para o chefe dos
executores.
— Shifter?
— Não. Irmão da floresta — Brad se pronunciou.
Lobos não caçavam sozinhos, a não ser que fosse um solitário. O que
explicaria o porquê dele ter abandonado a caça e fugido. Mas do que ele tinha
fugido?
— Algum odor?
Brad estreitou o olhar, sua expressão muito séria.
— Nada que pudesse reconhecer. Muito fraco e confuso. Cheirava
mal.
— Os irmãos da floresta não costumam deixar suas caças para trás e,
se algo assustou este a ponto de deixar a presa para trás sem lutar por ela, é
algo que merece nossa atenção.
A comida não era escassa, mas também não havia um acúmulo como
nas outras regiões, que não eram castigadas pelo frio, por isso era
extremamente valorizada. Caçar era uma necessidade básica controlada para
que todos – shifters, animais da floresta e humanos – usufruíssem sem correr
o risco de no futuro sofrerem com a falta dela.
— Alguma outra baixa?
— Não. Ninguém chegou perto da manada — Embry garantiu.
— Mas invadiu o perímetro e, se fez, é porque há brechas.
Seu olhar foi diretamente para Collin.
— Não há brechas. Qualquer coisa com odor estranho teria sido
identificado e neutralizado, imediatamente. Penso que foi realmente um
irmão da floresta, há muitos filhotes e outros entrando na puberdade, os
instintos estão em alta e eles não são muito obedientes nessa fase. Algum
deve ter se desgarrado do seu bando e ido caçar sozinho. Não é comum, mas
pode acontecer. — Collin disse numa voz sombria, os olhos glaciais firmes
sobre o Alfa. — De qualquer maneira, eu tenho um grupo de executores
checando as fronteiras e outro rastreando a floresta.
Caleb se agachou junto à carcaça do alce e correu os olhos sobre ele
com atenção. — Quem ou o quê matou este aqui, fez sozinho e fez para
comer.
— Foi o que pensamos, mas desta vez, há um adicional, por isso o
chamei.
Caleb inclinou a cabeça para o Beta, mas foi Collin quem respondeu.
— Vê os padrões das mordidas ao longo do pescoço? São as mesmas
que encontramos na outra caça. Os rasgos também seguem o mesmo padrão.
— Tem certeza?
— Absoluta.
Por um momento, Caleb observou as marcas no animal em silêncio.
— Isso destrói a sua teoria de ter sido um animal daqui. Um irmão jovem da
floresta caçar sozinho uma vez pode ser compreendido, mas não creio que
faria isso uma segunda vez.
— Sim e não. — Collin deu os ombros. — Os jovens são arrogantes e
ele pode ter sido estimulado pela caça perdida da outra vez.
Assim o era. Os jovens na puberdade eram facilmente estimulados
devido aos hormônios e aos instintos se aflorando. Eram arrogantes,
desobedientes e vaidosos.
— Ele encobriu a carcaça com neve, o que sugere que voltará atrás
dela — Brad disse.
Caleb correu os olhos aguçados sobre o buraco um pouco profundo.
— Você o achou?
— Sim.
— Cheiro?
— O mesmo da primeira vez, fraco e confuso, mas, definitivamente,
lobo. Não havia pegadas, no entanto. Nem sinais de confronto ou outros
animais. Pelo cheiro, o alce foi morto ontem, não está fedendo devido à neve,
refrigerando a carne.
Caleb não sabia o que pensar. Aparentemente, era apenas um lobo
solitário caçando. Ou um jovem na puberdade, como sugeriu Collin. O que
ele, particularmente, duvidava.
Ele se esticou sobre os pés, com a expressão séria e orquestrou. —
Brad volte à caça para dentro do buraco e certifique-se de que ela fique como
a achou. Collin mantenha os machos em alerta e dobre os turnos, e quando os
grupos chegarem, me passe um relatório. Vamos monitorar a situação de
perto. Isso fica entre nós.
Embry anuiu. — Concordo. Não sabemos do que se trata. Pode
realmente não ser nada e deixar o bando saber, irá causar uma euforia
desnecessária.
Collin assentiu e mudou a forma, em seguida, o leão branco se
afastou.
— Por que eu tenho que fazer o trabalho sujo? Vocês podiam dar uma
mãozinha aqui.
Caleb e Embry olharam para Brad resmungando enquanto arrastava o
animal para o buraco.
— Eu sou seu Beta.
— Eu sou seu Alfa.
— E foda-se o Brad — ralhou o mais jovem.
— Algo assim — o Alfa concordou, sorrindo em diversão.
O shifter-lobo bufou e sacudiu a cabeça.
— Não seja um filhote, irmão — ralhou Embry, mas a sugestão de
riso em seu tom não pôde ser contida. — Quanto mais cedo fizer o seu
trabalho, mais cedo poderá retornar a Snowville e se lamuriar com as fêmeas,
que estarão muito dispostas a amenizar seu sofrimento.
O sorriso de Brad foi todo dentes e orgulho masculino.
— Elas me amam.
— Isso me faz pensar o que seria de você sem um pênis?
Brad jogou a carcaça no buraco e mirou o Alfa, com fingida ofensa.
— Está sugerindo que elas me querem apenas por causa do meu pau?
Uma escura sobrancelha arqueou.
— Não é como se elas fossem atrás de você para outra coisa. Ou estou
errado?
— Não é como se meu pau as deixasse pensar em outra coisa —
devolveu vaidoso e acrescentou para ele mesmo. — Pelo menos eu tenho um
senhor pau.
— Eu não sou o Alfa à toa. Não é só minha força e meu poder que são
grandes, lembre-se disso, filhote — Caleb disse, antes de dar a volta e
começar a caminhar com Embry ao lado, ambos rindo enquanto os
resmungos de Brad ficavam para trás.
— Está indo para Snowville ou para sua fêmea humana?
— A deixei no trabalho, mas vou pegá-la mais tarde — Caleb
resmungou. Pensar nela o deixava ansioso para estar com ela, e pela conexão
estabelecida entre eles, ele podia sentir que ela estava da mesma forma. —
Agora vou para Snowville assim podemos tratar os assuntos do bando e fazer
uma visita na obra para ver como está o andamento dos novos chalés. Mas
antes, preciso pegar o carro que deixei na encosta da estrada quando me
chamou.
Embry franziu o cenho.
— Não está feliz?
O sorriso de Caleb alcançou os olhos.
— Mais do que poderia dizer, porém não me agrada que ela queira
trabalhar quando deveríamos estar juntos na febre do acasalamento. Admiro
sua força, ela é muito obstinada e doce, mas essa teimosia de Trish me põe
doente. Em outro momento, eu realmente não me incomodaria se ela
insistisse em trabalhar fora, seria meu prazer dar esse capricho a ela, mas
agora... Ela não sabe o tormento que isso significa para mim. A força que eu
tenho de fazer para não agir como um louco e simplesmente exigir o que é
meu. O pior é que sei poderia fazer isso e meu lobo, também. Trish é minha e
isso me dá todos os direitos sobre ela, e eu também sei que, embora ela me
amaldiçoasse, ela se renderia. Mas passado essa loucura do acasalamento, o
que eu teria realmente? Uma companheira que me odeia e não me suporta?
Não quero isso. Sei que muitos dos nossos se unem sem amor, mas não é isso
que quero para mim, nem para ela.
— Entendo o que quer dizer. É meu desejo também, se um dia me
acasalar.
— Tudo é diferente, digo, já vimos muitos casais se acasalarem.
Shifters. Com ela, eu sinto que tenho de patinar em gelo fino, do contrário,
posso arruinar tudo em um piscar de olhos.
— Ainda não deu nada a ela — concluiu Embry.
— Não é algo exatamente fácil de dizer. Para mim, é fácil entender.
Para ela? Será um milagre se Trish não sair correndo e gritando para longe de
mim.
— Você não pode saber disso, Caleb — o Beta recusou. — Nem
todos os humanos têm a mente fechada para o desconhecido. Não digo que
não vá assustar um inferno fora dela, mas sua fêmea pode achar isso muito
sexy. Não vê esses filmes que eles costumam fazer? Nos transformam em
poodles domesticados. Talvez, ela vá querer te adotar para aquecer seus pés à
noite.
— Não faço à mínima ideia da reação dela, entretanto, tenho um
palpite não muito bom. De qualquer forma, estamos fazendo grandes
avanços, não tão rápido quanto eu gostaria e preciso, mas é melhor que nada.
— Ele suspirou, e então, plissou a testa, inclinando a cabeça para o Beta, com
uma carranca na cara. — E não me compare com essa coisinha feia e
minúscula.
Embry deu um risinho.
— Algum problema com o tamanho, hein?
— Nenhum, realmente. — E acrescentou com os olhos brilhando e o
sorriso largo rasgando os lábios. — Minha fêmea está muito bem servida, se
me perguntar.
Embry bufou, e depois ficou sério.
— Trabalhe o básico primeiro. Despejar tudo de uma vez não soa
como um grande negócio. Mesmo nós demoramos a aceitar algumas coisas
sobre nossas tradições e costumes. E irmão, isso não é algo do qual ela pode
ignorar, mesmo que não entenda e seja só uma humana, vocês são
companheiros e ela sente isso.
— Trish ainda não está preparada. Ela viu meus olhos, me sentiu
inchar e eu a marquei. Ela me pediu isso consciente e me marcou também.
Trish não entende o porquê disso, senti a confusão dela e ela me fez
perguntas, que prometi dar a ela depois. Ela aceitou. Não creio que isso seja
somente porque os instintos dela dizem para confiar em mim, ela sente que
há algo mais e quer adiar as respostas, mesmo querendo-as.
— O drukāt ainda é forte?
— Nah. A magia não a domina mais como antes, está sumindo
rapidamente. Quase não pude senti-la quando deixei minha companheira na
lanchonete.
A expressão de Embry ficou pensativa. — Isso é bom. A febre do
acasalamento continuará atraindo vocês dois juntos, porém não influenciará
nos sentimentos e pensamentos e dará a vocês a chance de se conhecerem,
chegarem um ao outro.
— Estou contando com isso. Não posso ficar longe dela. Sei que vou
morrer sem ela, mesmo que não houvesse toda essa merda de regras. —
Embry deu uns tapinhas de solidariedade em suas costas. — Está sendo
difícil pra caralho, eu admito. No entanto, eu não mudaria nada, nem a
trocaria por uma shifter, se pudesse. Nunca me senti tão feliz antes. Isso não é
pelo acasalamento, é ela. Trish traz o sol para a minha vida.
— Eu o invejo — Embry confidenciou.
Isso fez Caleb parar a caminhada e olhar para o amigo.
— Pensei que gostasse do título de solteirão convicto.
O Beta sorriu malicioso. — Não nego, eu gosto das corridas, das
fodas sem compromisso. Ter uma fêmea para zelar requer muita paciência e
predisposição para os seus caprichos, e sabemos que nossas fêmeas podem
ser muito voluntariosas quando querem. Elas são capazes de deixar um
macho maluco, realmente. Todavia, elas também podem fazer um macho
muito feliz. — Ele fez uma pausa, respirando fundo e olhou para frente. —
Esse lance de Prometida. Você ter encontrado a sua, me fez pensar se eu vou
encontrar a minha, também. Sei que assim como eu, outros machos que não
dava a merda para esse negócio de Companheiros Prometidos, agora pensam
sobre isso. Acasalar com uma fêmea que não seja sua prometida não é muito
atraente para um shifter jovem-adulto. Nosso tempo é longo demais e
queremos usufruir dele por um bom tempo sem as amarras de um
acasalamento. E, ainda que nossa lei permita que nos acasalemos duas vezes,
os machos tem medo. E, bem, se todo aquele descontrole seu foi um indício
de que ela estava chegando, não creio que eu esteja perto de ter a minha.
Caleb estava surpreso. Embry não era um macho cheio de romantismo
e as fêmeas pareciam adorar isso nele, mas Caleb poderia compreender o
pensamento do amigo. Encontrar sua prometida era uma dádiva, que nem
todos alcançavam. Isso poderia fazer até mesmo o mais duro dos caras, ou,
um solteirão convicto amolecer.
— Nem Paul nem Raina tiveram a mesma reação que eu — Caleb
lembrou.
— Será que ficou assim então porque sua Prometida é humana?
— Talvez sim, talvez não. Como vou saber? Só poderemos ter uma
pista real se outro shifter achar uma Prometida humana. Até lá, nada é certo.
O Alfa colocou a mão sobre o ombro do Beta e olhou nos olhos dele.
— Ela virá. — Ele não soube de onde as palavras revestidas em
certeza vieram, porém, mesmo ele acreditou nelas e seu amigo também.
— Obrigado, Irmão — Embry disse, suavizando o semblante
agradecido. — Mas ela não precisa vir tão rápido. Eu posso esperar alguns
anos mais.
Os machos caíram na risada e, em seguida, recomeçaram a caminhar.
Alguns metros à frente pararam quando ouviram passadas rápidas seguirem
na direção deles, logo um lobo de pelo caramelo surgiu por entre os arbustos,
e então, mudou de forma.
A fêmea shifter-lobo caminhou até eles, sem receio com sua nudez.
— Embry. Alfa.
— Kira, — Caleb disse com um aceno de cabeça.
— Olá, Kira — Embry disse galanteador.
Ela jogou sua atenção para o Alfa e seus lábios levantaram num
sorriso sedutor quando se aproximou dele. Quase tão alta como ele, seus
seios nus estavam muito próximos de sua boca, mas não sentia nada. Era
como ver uma árvore diante de si.
— Faz tempo que não nos encontramos — a fêmea disse, num tom
adulador enquanto riscava seu peito com a ponta da unha. O corpo dele
enrijeceu, rechaçando o contato e o lobo em seu âmago começou a grunhir
aborrecido com a petulância da fêmea. — Talvez possamos sair para correr
juntos qualquer dia desses?
Ela queria foder e estava oferecendo isso.
— Não vai acontecer, Kira — ele disse firme, mantendo a voz baixa e
plana, o grunhido vibrando em seu peito. — Agora tire a mão antes que eu a
quebre fora.
Os olhos da fêmea se arregalaram e ela recolheu a mão, recuando um
passo.
— Então é verdade que encontrou sua Prometida?
— Sim, Kira. É verdade.
O lampejo de desgosto foi tão rápido sobre o rosto da fêmea que
Caleb quase duvidou ter visto.
— E quando vamos conhecê-la? O bando não fala de outra coisa.
— Quando eu achar conveniente.
— E ela é de qual bando?
— De nenhum.
Porra, isso não era para estar acontecendo.
Kira tinha sido uma amante ocasional e uma das mais ciumentas, e ele
realmente não queria lidar com ela agora. Ela olhou para ele franzindo o
cenho, os olhos afunilando.
— Nenhum? Nenhum próximo você quer dizer? — Quando ele não
disse nada, o choque cruzou os olhos cinzentos da fêmea. — Humana? Sua
Prometida é uma fraca humana?
Ele se manteve tranquilo enquanto seu lobo rosnava para o insulto,
mas Caleb sabia que ela não estava insultando de verdade. Ainda. Shifters
não podiam ser comparados a humanos.
— Fraca em comparação a nossa força? Assim o é. Em vontade e
espírito? Creio que ela não deixa a desejar. Posso afirmar que ela ganha de
muitos da nossa espécie.
— Mas você é o Alfa! Não pode se acasalar com uma humana!
O grunhido de advertência vibrou no ar, Kira recolheu os ombros e
abaixou a cabeça.
— Sou seu Alfa e ela será sua Prima quando o acasalamento estiver
terminado, e ela vir morar aqui. Tenha isso em mente, Kira.
— Não pode protegê-la sempre, Caleb — a fêmea murmurou solene e
arriscou um olhar acima. — Sua fêmea, prometida ou não, terá de ganhar o
respeito do bando e das nossas fêmeas por si mesma para que seja nossa
Prima.
— Ela provará, mas não haverá nenhuma luta.
Choque cruzou as feições da fêmea.
— Isso é impossível! É a tradição, Caleb! Se ela não é capaz de
ganhar uma luta e provar seu valor para o bando, ela então não é digna de
você.
— Esse é o meu bando — ele grunhiu severamente. — Eu dito as
regras aqui, Kira. Nem você, nem tradições ou qualquer outra merda. Apenas
eu. Não haverá qualquer luta com minha companheira no meio. Há outras
formas de provar sua dignidade e ela provará.
— E se ela não fizer?
Ele rosnou. Ela engoliu com um ruído e o olhou sob as pestanas
longas quando ele deu um passo à frente, a ordem clara em sua voz de tom
profundo e frio.
— Não me aborreça, Kira, e fique longe da minha companheira, ou
terá de tratar diretamente comigo. Qualquer dano a ela, um mínimo arranhão
que seja, eu tomarei como uma afronta direta. Não vou tolerar qualquer
desrespeito a minha companheira.
— Desculpe Alfa — ela empurrou entre os dentes.
Ele anuiu e ela se afastou, mudando para a forma lupina e correu na
direção contrária.
— Pensando bem, eu não te invejo mais — Embry zombou.
Caleb bufou e começou a caminhar.
— Isso porque você terá muitas explicações para dar a sua
companheira quando ela te agarrar pelas bolas e suas admiradoras baterem
em sua porta.
Embry riu com gosto. — Você também tem sua porcentagem, irmão.
— Cale-se e vamos logo, ainda quero ver os novos chalés — ele
grunhiu mal-humorado.

****

— Desculpem, sei que estou um pouco atrasada, mas tive um...


imprevisto.
— Por um imprevisto daquele eu nem mesmo teria vindo trabalhar —
Josephine gracejou, surpreendendo-a. — O quê, criança? Posso não ter idade
mais, mas tenho bons olhos que ainda funcionam. Se eu fosse uns 30 anos
mais jovem, você teria algo com que se preocupar.
O rosto de Trish aqueceu.
— Não sei o que dizer.
— Não diga nada, apenas nos deixe saber a data da festa, sim? Adoro
casamentos.
— Eu também — Kelly disse, passando por elas.
— Não se esqueça de mim, também — Tabby disse.
Trish piscou, o coração batendo um pouco mais rápido.
— Nós... ele e eu... nós não...
Uma sobrancelha grisalha disparou para cima. — Não? Eu conheço
um homem apaixonado e uma mulher envolvida de longe. Você pode ainda
não pensar nisso, mas ele obviamente tem isso em mente, e se não, logo terá.
Apaixonado?
Contentamento expandiu seu peito, mas Trish se freou um pouco
desconcertada.
— Nós ainda estamos nos conhecendo.
A senhora anuiu, sorrindo. — Entendo... De qualquer maneira, não se
esqueça dessa velha aqui, se tornarem oficial.
Josephine saiu, deixando-a boquiaberta.
Trish balançou a cabeça e se voltou para o balcão, tentando não
pensar nas palavras da senhora. Se restava alguma dúvida de que as coisas
estavam indo rápido demais e ela estava enlouquecendo por gostar disso,
todas elas se dissiparam.
— Desculpe — Lee disse ao seu lado.
Trish inclinou a cabeça para o lado, o cenho franzindo em confusão.
— Pelo quê?
Lee continuou passando o pano no balcão enquanto lhe falava em tom
razoável. — Eu teria te chamado, mas o carro dele ainda estava lá então,
achei melhor não incomodá-los.
— Uh... tudo bem, eu acho.
— E não se preocupe com nossa chefe. Ela ainda não nos honrou com
sua presença. — Lee então emprestou sua audiência ao senhor sentado ao
balcão quando o tipo fez um pedido. — Sr. Reed não acha que já comeu doce
demais? Seu diabetes vai disparar e eu não quero a Sra. Reed aqui me
acusando de cavar sua morte, então sem mais doces para você, mocinho.
Os olhos do Sr. Reed brilharam em lisonjeio.
— Obrigado pelo mocinho, menina, é sempre muito gentil com esse
velho. Agora, me veja aquele muffin de chocolate com cobertura extra.
— Não.
— Está negando atender um cliente?
— Estou negando me vestir de preto enquanto você conhece a grama
pela raiz. Sua cota de doce está no limite, e eu, realmente, não gosto de me
vestir de preto.
O senhor de meia idade realmente fez bico, como um garotinho de
cinco anos.
— Um café então?
— Amargo — frisou Lee.
— Não é mais minha garçonete preferida.
Lee sorriu orgulhosa.
— Ainda assim, me dará uma generosa gorjeta — ela particularizou
enquanto despejava café numa xícara pequena em frente ao homem.
Trish olhou, estarrecida, a amiga negociar com o cliente. O duelo
entre os dois era corriqueiro. O Sr. Reed era um frequentador assíduo da
lanchonete e um amante de doces. O que não era normal era o desinteresse de
Lee sobre sua vida amorosa.
— Está tudo bem? Digo, entre nós?
— Claro que sim. Por que não estaria?
Trish encolheu os ombros e deixou seu escrutino sobre a amiga.
— Bem..., isso é meio esquisito.
As sobrancelhas vermelhas se juntaram quando Lee se debruçou sobre
o balcão.
— O que é esquisito?
— Você não me fez nenhuma pergunta, nem mesmo um comentário
sobre... Bem, você sabe sobre o quê. Eu ainda estou esperando.
— OH! — Lee riu. — Não fique. Não que é que não me interesse ou
esteja chateada por você brincar de túmulo, mas decidi dar seu tempo.
Quando se sentir preparada para soltar a língua e quiser me pôr a par das
notícias — piscou.
Trish não percebeu que estava tensa até que relaxou.
— Obrigada. Eu aprecio isso.
Os olhos de Lee ficaram brincalhões.
— Você pensou que eu estava com raiva de você?
— Eu não te tratei muito bem esses dias e sei que tenho sido uma
amiga horrível. — Ela suspirou ruidosamente. — É só que... isso tudo é novo
para mim...
Lee tocou sua mão em compreensão.
— Tudo bem, Bonita. Eu entendo. Tome seu tempo.
— Eu realmente aprecio isso — ela disse, novamente.
Lee fez bico e soltou uma exalação ensaiada.
— Eu não. Está sendo um inferno essa curiosidade toda. É como ter
bigatos rastejando em minhas veias. — Trish deu um olhar de tédio. — Só
fazendo uma nota.
— Certo — murmurou, mas estava feliz por ter a velha Lee de volta,
e então, olhou acima para a porta, onde alguns clientes acabavam de passar.
— Vamos trabalhar.
As horas correram, Trish apenas não podia discernir se era rápido
demais ou lento demais. O trabalho estava sendo corrido, a clientela estava
em massa e muito ansiosa para ter seus pedidos servidos, algo como “o dia de
ir a P&C”. E por algum tempo considerável, ela pôde se distrair, distribuindo
sua atenção entre os clientes e as fofocas das colegas de trabalho.
A Megera não tinha dado as caras e, segundo as colegas, ela estava
confinada no escritório, como sempre. Trish se sentiu com sorte e aliviada.
Eventualmente, quando se dobrou para apanhar os copos e os pratos
sujos de uma mesa, seu olhar caiu no relógio de parede em frente e foi o
bastante para seu estômago se agitar.
Uma hora para seu turno acabar.
Seria pedir demais para os ponteiros correrem em câmera lenta?
Trish não duvidava que Caleb viesse e o problema era justamente
esse. A antecipação e alegria que experimentava pelo futuro contabilizado em
60 minutos eram intensas. A ansiedade tão palpável que ela pensou que
poderia cortá-la com uma faca. Ele não estava sendo justo com ela e Trish era
consciente de que não podia freá-lo, mesmo se quisesse. As emoções que
jurou evitar estavam todas lá, eclodindo gradualmente e iriam explodir,
porque por mais que quisesse e tivesse tomado a decisão de ser durona, ela
não podia negar sua natureza sonhadora ou escondê-la com eficiência.
Ela queria sonhar e, por Deus, se já não estava fazendo isso.
Caindo lenta e de cabeça na relação deles.
Inuvik estava lhe dando mais agito e mudanças que ela foi capaz de
supor, e seria uma condenada mentirosa se dissesse que isso não a fazia feliz.
E o que supõe que ela deveria fazer?
Trish não tinha um botão de ligar e desligar. Queria um, no entanto.
Dando uma sacudida brusca de cabeça, Trish afundou seus dilemas e
decidiu não pensar mais. Retornou ao trabalho e tentou não olhar para o
relógio, falhando, miseravelmente.
Meia hora depois, seu coração começou a palpitar mais rápido, mais
forte. Caleb não demoraria a chegar. Estava terrivelmente afoita. Era tão
patética!
Vinte minutos, ele ainda não tinha chegado.
Ele já deveria estar lá.
Talvez não viesse e isso fosse uma coisa boa...
Não. Ele viria. Tinha prometido a ela.
Quinze, ela começou a se preocupar e alimentar um chiado de
decepção.
Dez, Trish sentiu uma combinação de frustração, irritação e
indignação, crescer dentro dela num rompante furioso. Só era difícil saber
com quem ela estava mais zangada, com ela mesma por ter se iludido ou com
ele por alimentar sua ilusão.
Na melhor das hipóteses, Caleb deveria ter usado o tempo longe para
pensar melhor e percebeu que não queria nada com ela. Tinha conseguido
uma foda casual e agora não queria mais. Talvez, ela não tivesse sido boa o
bastante para ele. Ou ele fosse apenas um mulherengo, e ela tinha lhe dado o
grande prêmio.
Era lógico que ele não tinha falado aquelas coisas sobre mantê-la a
sério. Ele era homem, e homens não se envolviam tão rápido como ele fez
parecer.
Sentiu-se tola e tão malditamente estúpida.
Caleb apenas tinha sido um cavalheiro após o sexo lhe dando uma
falsa impressão de que se importava e a quis fazer se sentir bem. Era tão claro
agora o que ele tinha feito, que ela queria se chutar, porque mesmo querendo
ficar com raiva dele por tê-la feito acreditar, ela reconhecia sua própria culpa.
Como diabos tinha se tornado pegajosa com ele?
Não era apenas patética como uma tremenda e completa estúpida
cheia de carências.
— Deixa que eu te ajudo, Trish. Isso deve estar muito pesado —
Kelly disse se oferecendo para levar metade da grande remessa de pratos
limpos.
— Obrigada, pode deixar comigo — recusou, forçando um sorriso. —
Não está muito pesado — acrescentou, contornando a figura da mulher e se
dirigiu para a cozinha.
— Só mais cinco minutos para colocar meus pés para cima — Marie
suspirou quando ela deixou os pratos sobre a mesa, antes de guardá-los na
prateleira.
Trish sorriu e teve a certeza de parecer mais uma careta.
— Precisa de ajuda aqui?
— Não menina, estou bem.
— Eu vou ajudar as meninas lá fora então.
Uma vez fora, ela se distraiu com o balcão esfregando a superfície
com um pano úmido, com um pouco mais de força que o normal. A
expressão fechada e os traços marcados em linhas duras. Toda a ansiedade
tinha se convertido num montão de frustração feminina.
Por uma razão randômica, arriscou uma olhada para cima e todo
aquele sentimento ruim pondo seu espírito pobre foi anulado pela alegria
irradiando por seu coração quando assistiu a porta ser aberta, e Caleb passar
por ela, como se tivesse acabado de sair de um desses anúncios da televisão.
Ele encontrou seu olhar e sorriu, fazendo-a toda mole por dentro, mesmo seu
coração pareceu suspirar de alívio enquanto o observava. Deus, o homem era
tão bonito que a fazia sentir vontade de sorrir como uma tonta, seus lábios
oscilavam pelos cantos e os olhos azuis brilharam alegres.
A vontade de correr até ele fez seus pés formigarem. Não iria parecer
uma desesperada, embora se sentisse exatamente assim. Um pouco de
orgulho tinha de ter.
Lee se aproximou e lhe deu uma leve cutucada.
— Acho que você não vai para casa comigo, hein?
— Acho que não — Trish sussurrou baixinho extremamente feliz.
13

DÚVIDAS

— Certo. Cuspa fora — Trish declarou, incomodada com o silêncio


verbal, porque as perguntas e comentários não verbais estavam pairados no
rosto arteiro da amiga.
Lee arqueou uma sobrancelha ruiva. — Liberdade total?
Estavam em sua cabana, sentadas junto à lareira acesa enquanto
tomavam vinho. O que não era um hábito, porém precisava de um pouco de
álcool para impulsionar sua coragem. Era seu dia de folga e coincidiu de ser a
folga de Lee, também.
Trish acreditou que estava na hora de conversar com Lee.
Tinha adiado aquele papo de propósito, pois primeiro queria
compreender o que estava se passando entre ela e Caleb, antes de se abrir
para Lee.
Uma semana havia passado desde que o aceitou de bom grado em sua
cama e, consequentemente, em sua vida, pouco para uma contagem de dias,
todavia, muito pela intensidade e rapidez que tinha se envolvido com ele. Era
como se estivesse com ele por anos e ainda não podia compreender isso,
sobretudo, pelas estranhezas em seu amante.
Caleb tinha sido terrivelmente territorial logo que engrenaram os
encontros, mas também tinha sido incrivelmente doce, acolhendo-a e se
antecipando as suas vontades, principalmente, na cama, como se ele soubesse
exatamente o que ela queria e precisava. Ela não deixou por menos. Não era
uma especialista em homens lindos de doer os olhos, porém sabia que o
agradava na mesma via. Queria. Tinha aquela necessidade gritante vibrando
dentro dela para dar tudo a ele. E, Santo Deus, ela deu tudo a ele.
Não podia guardar as mãos para si mesma, e ele, tampouco. Sempre
estava pronta para recebê-lo em seu corpo e ele para tomar o que lhe era
dado. Era como se fosse uma coisa só.
Caleb não era um homem comum, Trish soube disso desde a primeira
vez que colocou os olhos nele, mas havia algo mais, algo além de sua
compreensão, que a deixava receosa e curiosa ao mesmo tempo. E, bem, não
era como se pudesse arrancar todas as respostas dele. Ele era um tipo
misterioso e reservado, embora a fizesse acreditar piamente que ele estava
disposto a compartilhar o mundo com ela, Trish não estava segura se isso era
bom ou ruim. Tiveram momentos sóbrios quando exaustos de fazerem amor,
ainda assim ele sempre a desconcertava, enredando-a com doçura e mimos,
que a fazia fantasiar com mais. Não sabia se Caleb fazia de propósito para
distraí-la das perguntas chaves, apesar dele ter respondido cada pergunta dela,
mas em sua maioria estava absorta nas palavras dele e nos toques. Ele sempre
a tocava quando estavam falando e suas declarações acabavam tirando seu
fôlego.
Palavras bonitas, com aparentes mensagens subliminares, que Trish
não podia ler, nem estava certa se havia qualquer coisa nelas mesmo. Ocorria
que estava muito sonhadora perto dele para poder dar à devida atenção as
respostas dele.
Caleb raramente a deixava só quando não estava trabalhando, a
proximidade estava fazendo mais que saciar sua necessidade dele, estava
fazendo-o chegar até ela e ela não sabia como parar isso, nem se desejava.
Parecendo entender sua confusão e necessidade de ter um momento para si,
Caleb a tinha deixado após o café da manhã e o mais desconcertante era
perceber que, embora estivesse aliviada que ele lhe desse um momento para
respirar, ela sentira a falta dele antes mesmo de Caleb ir-se. Decidiu-se então
que não podia mais adiar, precisava falar com alguém.
Quem sabe numa conversa franca com a amiga, de mulher para
mulher, não podia lhe esclarecer o que ela mesma não entendia?
Tinha dado tudo a Lee, exceto os pormenores mais sórdidos. Porém,
para seu desgosto, o descaramento da amiga tinha tirado folga também. O
que devia ser bom. Mas, então, o jeito honesto de Lee de sempre dizer as
coisas sem antes filtrar tinha sido esperado. Trish admitia, ainda que às vezes
quisesse matar a amiga por sua boca amalucada, ela nem sempre era de toda
loucura. Lee era uma mulher madura e crescida como ela. Então lá estava ela,
ansiosa pelas palavras que não vieram. Observando com um sentimento
torcendo sua barriga o esforço que Lee fazia para se conter.
— Sempre — suspirou Trish. — Acha que sou louca? Quero dizer, eu
não o conheço...
— Os órgãos internos, né? Nada que um ultrassom ou um raio-X não
resolva.
Revirou os olhos com impaciência. — Não o conheço como pessoa.
Certo, sei algumas mais além de seu nome. Mas quais são suas origens? Seus
pais? Seu passado?
— Realmente. Se quiser contratá-lo para ser seu escravo sexual por
período integral, essas informações são essenciais — atirou Lee, com uma
dissimulada seriedade. — Mas veja por outro lado, você já sabe o número do
sapato dele, da cueca. Suas habilidades linguísticas e dedais. Isso é
importante também, Bonita.
Trish bufou.
— Não é disso que se trata.
— É do que então? — Trish se afundou no sofá e suspirou sem saber
o que responder. — Escute Bonita, vocês estão se conhecendo e tendo um
bom momento aqui. O importante é o agora, o quão bem ele te faz quando
estão juntos e te fode, claro, porque isso também é importante. Você quer
toda a árvore genealógica dele? Okay. Posso entender isso. Pergunte a Caleb,
simples assim. Ou crê que ele vai mentir?
— Não, — ela foi categórica.
Tinha a ligeira sensação que ele não podia mentir para ela ou não
queria, porém sabia que isso não significava que ele não ocultava coisas dela.
— Aliás, você deu isso a ele em troca? Sua árvore genealógica?
Trish negou com a cabeça e ocorreu que Lee tinha razão. Não podia
exigir muito dele quando nem mesmo ela tinha lhe dado o mesmo.
— É só que tudo isso é meio rápido... e estranho.
— Acha que é só uma coceira?
Deus queira que não.
— Não sei.
— Você quer ter uma relação com ele?
— Eu...
Ela se calou não sabendo o que responder.
Ela queria uma relação com ele?
Eles já tinham uma relação... de amantes. Uma estrondosa sintonia na
cama, ele sempre se mostrava disposto e atencioso. Estavam em sincronia,
mesmo fora do quarto.
Mas, queria uma relação além dos lençóis?
Lee bebericou de sua taça, antes de falar.
— Escute, eu vou ser bem honesta com você, Bonita. Eu não sei por
que está grilada. É uma cadela de uma sortuda. Está fodendo com o cara mais
bonito e apetitoso, que poderia haver neste fim de mundo que chamamos de
lar. O cara te deixa subindo pelas paredes e fodem como coelhos quando
estão juntos. E daí? Isso é uma coisa boa, ainda mais quando ele faz algo a
respeito. Eu não sei você, mas já tive a infelicidade de conhecer alguns tipos
que me colocaram maluca de vontade, porém na hora H não cumpriram
metade do prometido. E tem mais, Caleb te deseja. Em minha humilde vida,
eu nunca vi um cara olhar para uma mulher como ele te olha.
— Não queria nenhum romance quando vim para cá — desabafou. —
Tinha planos. Queria sossego, arrumar um trabalho que pudesse me sustentar,
viver minha vida sem a chateação de quaisquer relacionamentos. E agora, ele
e eu...
— É isso que está tendo com ele? Um romance? Ou você quer e ele
apenas deixa as coisas nos lençóis? Poderia dizer isso a ele...
— Ai está. Eu não sei o que quero. Caleb me diz coisas. Coisas que...
— Trish fez uma pausa e lambeu os lábios. — Às vezes, me assusta pela
forma que me sinto e pelo jeito que ele fala, mas na maioria das vezes eu
gosto. — E na outra porcentagem eu amo. — Às vezes penso que Caleb quer
mais do que estou disposta a dar e que está esperando o momento certo de
exigir isso. E, em outras, que é suficiente para ele o que temos. Não quero me
apegar a ninguém. Sinto como se estivesse embarcado num trem
desgovernado e não tenho como parar.
— Eu diria que você está apaixonada e, se não, está no caminho.
Trish se afundou mais no sofá com um muxoxo.
— Isso é uma merda... Não posso e não quero.
Lee franziu o cenho. — Por que não? Se acreditar que há uma chance
de acontecer, por que não permitir?
— Simplesmente não posso.
— Então dê um pé na bunda dele e acabe com isso. O que será uma
pena. E já adianto que muitas mulheres daqui ficarão eternamente
agradecidas.
Trish não soube de onde veio, mas, de repente, uma onda de fúria se
quebrou sobre ela, e ela teve vontade grunhir para amiga. Pensar nele com
outra trazia uma mancha de tristeza sobre seu peito e fazia seu coração muito
doente. A enfurecia de uma maneira totalmente desconcertante, porque se
sentia possessiva com ele. Maldição. Estava toda territorial e ela não era
assim. Tudo que não queria estava acontecendo e muito rápido para que ela
tivesse uma chance contra. Não podia se afastar. Não conseguia. Caleb tinha
um talento especial para ficar sob sua pele. E seria uma condenada se dissesse
que realmente o queria longe. Somente a insinuação daquela ideia fazia seu
peito apertar com um ligeiro desespero que ameaçava esmagá-la.
Ela quis pensar que era somente sexo. Que eram apenas dois adultos
curtindo alguns momentos suados, mas sabia que era mais. Sexo era somente
uma parte. Era a forma que ele a tomava, acariciava, segurava em seus
braços, protegendo e cuidando-a todas as noites, como se ela fosse a coisa
mais preciosa no mundo para ele.
Não. Definitivamente, não era sobre sexo.
Era tudo sobre ele.
Maldita fosse ela, adorava sua companhia. Só de estar perto dele já
fazia seu coração bater mais rápido. A ideia de ter Caleb... de viver com ele
era agradável e fácil.
Tentou impor distância e ele cedeu, embora deixasse claro que não
gostasse daquilo, então fora ela quem ficou angustiada, contando os minutos
para vê-lo novamente, como agora.
Rápido e intenso. Estas eram as duas coisas que ela não precisava.
O fato é que não podia lutar contra, porém havia aquela sensação, o
presságio de haver algo diante de seus olhos que não enxergava. Algo que ela
deveria saber e ele escondia. Que talvez não fosse tão legal como o conto de
fadas que ele presenteou-a.
Lee começou a dizer. — Se quer saber na real. Não acho que está
louca por se envolver com ele. Sei que as coisas estão sendo rápidas e que
isso causa certo receio, mas não tem como entrever o que vai acontecer. Não
há como dizer aos sentimentos à hora de entrar em ação e quando pausar.
— Isso é...
— Sei. Uma droga. Mas, Bonita, essa é a graça, não? O encanto do
romance. Se tudo tivesse como ser programado por nós, teríamos uma vida
de merda.
— Desde quando se tornou ajuizada?
Lee lhe deu um olhar considerado.
— Desde que estou na miséria e você reclamando por ter um pouco
de barulho aqui. Sabe que inferno é você dar um tapa na Abigail e não ter
para quem mostrar?
Trish tentou, mas caiu na risada. — Por Deus, não me diga que chama
sua vagina de Abigail — ela recusou, ainda aos risos.
Lee sacudiu a cabeça sorrindo.
— Acho que este não é um nome sexy para ela. Já sabe, estou cheia
de teias e não acumular mais... Escuta, curta o momento e deixe rolar. Quem
sabe o que pode acontecer? No momento, você tem um caminho inteiro de
pecado a sua disposição, um sexo de foder os miolos, então viva e foda. Se
vai se apaixonar por ele, nós já somos adultas e maduras o bastante para saber
que não há nada que você possa fazer para parar isso. A pergunta aqui é: o
que você fará a respeito?
Era justamente isso que Trish temia. Se envolver ao ponto de dar a ele
o poder de feri-la. E ela sabia que Caleb poderia chegar lá facilmente, se já
não tivesse chegado, e o fato de não saber quase nada sobre ele somente
tornava as coisas mais perigosas para o seu coração.
— Eu não acho que ele queira brincar com você ou que ele seja um
tipo mal, embora tenha todo aquele neon de perigo piscando sobre a cabeça
— Lee comentou, como se lesse seus pensamentos. — Quero dizer, ele te
olha como se você fosse a melhor sobremesa e ele mal pode esperar para te
comer viva. Caleb te venera com os olhos, de uma forma que causa inveja.
Daquele jeito que toda mulher sonha em ser olhada, com admiração e
respeito, como se você fosse o centro do mundo para ele, e ele estivesse
pronto para te dar a galáxia se lhe pedir isso. Pergunte as meninas da P&C.
Todas nós ficamos suspirando quando ele está por lá, incluso eu.
— Está vendo? É justamente isso. Vocês nem se conhecem, mas já
montaram um fã clube.
Lee riu descarada. — Não seja ciumenta — atirou com entusiasmo.
— Também montamos um para você. Tem uma buceta de ouro, garota!
— Vou fingir que não ouvi isso — disse enquanto servia mais vinho
em ambas as taças. — Ele é muito mandão e isso me irrita profundamente.
— Dome-o.
— É o jeito dele, a maneira como faz as coisas. Sinto que Caleb é
aquele tipo de cara acostumado a ter tudo a sua maneira, entende? Eu acho
assim melhor, portanto, será assim e ponto final. Não acho que posso lutar
contra a natureza de alguém e não quero ter este trabalho. É uma luta
desnecessária.
— Acha que ele vai querer botar um cabresto em você?
Ela ponderou por um momento, recordando-se da manhã seguinte
após a primeira noite que passaram juntos. Ele tinha tentado então, recuado
quando a teve irritada.
— Talvez. Não gosto da ideia de um homem mandando em mim. Não
mesmo. Eu mando em minha vida. Não vou permitir um homem regê-la...
Bem, ele está se controlando, eu percebo o quanto Caleb luta quando
contrariado e tenho de dar isso a ele.
Ela tomou um gole da bebida e Lee a imitou.
— Concordo. Não podemos mudar a natureza de ninguém, apenas ela
mesma pode fazer isso e, se ele está tentando, então é um bom sinal, não?
— Acho que sim.
— Você está feliz?
— Sim. Assustada pra caramba, mas estou feliz.
— Então, foque nisso e elimine o que te atormenta.
Trish balançou a cabeça, seus olhos fixos na taça em suas mãos.
— Não é tão fácil assim.
E não era mesmo. Não era somente se apaixonar por um
desconhecido que atormentava. Lee não sabia, mas havia todas aquelas coisas
esquisitas sobre ele.
— Claro que é! Pergunte. Converse com ele e esclareça o que te
atormenta.
— Eu a invejo.
Lee engasgou, olhando-a com os olhos grandes. — Bonita, você não
tá legal. Será que bebeu vinho demais? Eu não posso estar ouvindo isso de
você. Me invejar do quê? Está a menos tempo aqui do que eu e já conseguiu
se arranjar e descolar um homem quente como o inferno. E eu cultivando
aranhas e morrendo para a primavera chegar amanhã para que possa checar se
há mais da onde saiu o seu.
Trish sacolejou a mão no ar num gesto de tédio. — Não é isso —
burlou-se. — É esse seu desprendimento, essa capacidade de levar as coisas
com leveza sem adoecer a mente. Invejo isso. Gostaria de ser assim, não levar
tão a sério, mas eu tenho essa necessidade gritante de analisar os
pormenores...
— De ter tudo em ordem — ofereceu Lee. — Não é a toa que
trabalhava em uma Corretora.
Trish riu. — Não mesmo! Eu sou assim desde que me lembro. Papai
costumava me chamar de Benjamin Button. Analisar os riscos sempre fez
parte de quem sou, talvez meu antigo trabalho tenha feito esta parte minha
endurecer. Não sei. Mais razão do que fantasia. Um pouco de probabilidades,
mas eu estava às claras, mesmo os riscos eram medidos.
Lee depositou a taça sobre a mesa de canto ao lado e olhou séria para
amiga.
— Há muito tempo deixei de me preocupar com o que as pessoas
pensam ao meu respeito. E isso não tem nada a ver com o fato da minha
natureza ser livre. Eu já fui caótica, permitindo que a mídia e a sociedade me
monopolizasse. E sabe o quê? Eu não era feliz. Digo, as pessoas tem uma
ideia distorcida de felicidade e de perfeição, criada desde o começo dos
tempos por humanos ignorantes e imperfeitos, porque simplesmente não
podiam aceitar a realidade, a falha humana de que somos defeituosos.
Felicidade e perfeição não têm pré-moldes, mas ao que parece a maioria das
pessoas precisam acreditar nisso e um grupo de espertos-bobões escravizou
outros mais bobos. Nós passamos muito tempo querendo agradar o outro,
quer seja na forma de falar, de se vestir e de se comportar, contudo,
esquecemos de agradar a nós mesmos, e então, ficamos infelizes e culpamos
o mundo por isso quando o único culpado somos nós mesmos. Papai sempre
diz, a perfeição está na busca pelo que te faz feliz e em ser você mesmo
independente do que os demais pensam a seu respeito. Isso é felicidade.
— É um sábio conselho.
Lee assentiu, sorrindo.
— Sim, papai é um filosofo de mão cheia. Mas o que quero dizer é
que ser imperfeito é bom, o que não é bom é a forma como lidamos com isso.
Queremos compreender tudo e substituir aquilo que não consideramos
normal. Ou pior, sempre excluímos algo que, talvez, se tivéssemos nos
empenhado para ver o lado positivo, um concerto talvez, poderia ser uma
grande coisa. Mas, infelizmente, temos essa necessidade escrota de tachar o
que não entendemos, porém sempre nos esquecemos de viver, de sermos nós
mesmos. Vê quanta estupidez? No fundo, somos um bando de estúpidos que
se acham os mega-mentes apenas pelo fato de que usamos um pouco mais do
cérebro do que os animas. Mas percebeu que os pobres são mais civilizados e
respeitosos do que nós inteligentes e racionais? Não gostamos de sermos
contrariados, de estarmos errados e admitir isso, mesmo que tenhamos a
consciência de que estamos errados. A contrariedade e negar a si mesmo
estão no nosso DNA, mas poucos têm a capacidade de aceitar isso e eu estou
feliz por estar dentre esses, sem falsa modéstia. Sou estabanada, um pouco
amalucada, até irresponsável para alguns, e eu sei que podem me tachar assim
pela minha forma de ser. E sabe o quê? Eu não dou à mínima, Bonita. Eu sou
feliz... Claro, tenho problemas como todos têm, fico infeliz algumas vezes,
mas e daí? Eu estou vivendo da melhor forma possível e garanto a você que
esses que me rotulam não têm nenhum terço da minha felicidade, porque
estão mais preocupados em olhar para o meu traseiro gostoso do que para a
tabua que Deus deu a eles.
Trish deu uma risadinha.
— Você me surpreende, sabia?
— Eu sei, eu sei — ela piscou um olho com orgulho. — Você não
esperava por essa genialidade toda. Eu entendo perfeitamente bem.
— Modéstia nenhum pouco, hein?
— Tenho de dar férias a ela de vez em quando, não? Trabalho escravo
não é meu ponto forte.
— Este é o ponto forte de nossa chefe.
Lee fez uma careta.
— Deve ter tido aulas com o Diabo.
Elas riram cúmplices.
— Você gosta de viver aqui Lee?
— Muito. Não tem muitos luxos como uma cidade grande, quero
dizer, os luxos aqui são diferentes e eu me adaptei a eles. Ou eles se
adaptaram a mim, não sei. Mas estou bem aqui, a vida é simples e tranquila,
mesmo nossa Megera me faz feliz.
Trish suspirou e esticou as pernas.
— Eu te invejo um pouco mais agora.
— Não faça. Você está fazendo um grande trabalho aqui. Acho que o
quão único você precisa é deixar de se preocupar tanto. O que tiver de ser
será, e não vai ser você quem vai impedir. Sentimentos não existem para
serem entendidos, senão sentidos. Não temos respostas para tudo, nem o
dever de encontrá-las. Aceite isso.
— Eu tenho consciência disso, apenas não é fácil colocar em prática.
Trish tomou um gole de sua taça e jogou uma olhada para a janela.
— Você está com medo? — Lee inquiriu baixinho.
— Não dessa maneira que pensa.
— Me ilumine.
Como iria explicar a Lee?
— É ele — começou em tom baixo, quase um sussurro secreto. —
Nunca antes um homem me atraiu dessa maneira. Não são apenas as
declarações dele, é mais.
— Talvez sejam almas gêmeas? — Lee sugeriu risonha.
— Não acredito nisso.
— Certo. Caleb te atrai mais que luz às moscas. Isso é bom.
Sobretudo, quando ele faz algo a respeito e está atraído por você na mesma
medida.
— Ele faz sons. Grunhidos quando... estamos íntimos.
— Um cara vocal então?
— Não, Lee! Ele... rosna.
Lee bufou um riso frouxo.
— Humanos não rosnam, Bonita.
— Mas ele faz.
— Bonita, pelo que me contou, vocês têm momentos aqui que
poderiam derreter Inuvik. Sexo assim nos deixa atordoadas, se é que me
entende. Não estou dizendo que não ouviu, mas convenhamos, ficamos um
pouco primitivos na hora H.
— Mas não rosnamos, nem grunhimos.
Ela se sentiu como uma criança batendo o pé ante a tranquilidade da
outra mulher.
— Não fazemos, mas podemos chegar perto e confundir os sons. Não
é como se estivéssemos concentrado em outra coisa que não seja o prazer
daquele momento.
Bem, isso Trish não podia contradizer, contudo, as outras coisas não
podiam ser normais.
— Ele inchou — revelou sussurrante.
Lee arqueou a sobrancelha vermelha.
— Como?
— Quando goza ele incha e segue vindo.
— Não é isso que sempre fazem?
Virgem Santíssima! Isso era muitíssimo constrangedor, mas já
estavam lá e não iria desistir mesmo que suas bochechas estivessem pegando
fogo.
— Você não entendeu. Ele ficou... preso dentro de mim.
A amiga parou o movimento no processo de levar a taça à boca e a
fitou com os olhos grandes, as sobrancelhas quase pareando com a linha de
cabelo.
— Como cães?
— E tem mais. Os olhos dele brilham. Literalmente. São como ouro
brilhante e ele sempre me morde... eu gosto. Não sei o que acontece, mas não
tenho controle. Quero-o lá, quero que me morda, porque quando ele faz tudo
é potencializado e eu o sinto.
Lee se inclinou para frente, a ruga entre suas sobrancelhas marcando.
— Acha que ele é um ET? Oh, meu Deus... Talvez o Pé Grande? Eu já ouvi
de alguns moradores umas historias sobre ele, mas sempre pensei que fossem
contos fantasiosos pra...
— Lee! Estou falando sério!
— Eu também — defendeu-se, com um encolher de ombros.
— Isso não pode ser normal...
— Não, não é. E não é justo, também — Lee choramingou. — Você
realmente está tendo um sexo de foder os miolos aqui e eu estou mais seca
que o deserto.
— Eu gosto quando você está inteligente — ela disse zangada.
— Ele te machuca?
— Não.
— Te obriga de alguma maneira?
— Não, claro que não! Caleb nunca faria isso. — A declaração mal
tinha saído de seus lábios quando o assombro bateu sobre si diante de sua
certeza absoluta.
— Ele te faz feliz? Cuida bem de suas necessidades?
— Sim e sim.
— Você quer dar um pé na bunda dele?
— Não, — murmurou baixinho, se sentindo abatida de repente, quase
como se a outra mulher lhe tivesse esbofeteado a face.
— Então pare de chorar em cima do pote de mel, Bonita. O que fará
mal a ti é ficar se martirizando ao invés de viver isso. Rompa com ele ou viva
isso e vê aonde vai dar. Se tiver dúvidas, questione-o, faça o que nós
mulheres sabemos fazer de melhor, arranque as respostas dele e aproveita
para investigar se ele tem alguns amigos solteiros para me apresentar.
Trish riu. Lee sempre lhe tirava um sorriso não importava a ocasião.
— Você não existe, sabia? E eu não estou chorando.
Lee a mirou por um longo e desconcertante minuto.
— Sabe o que acho além de tudo que já disse? De duas uma, (1) você
está buscando aprovação por estar envolvida com ele. Esse turbilhão todo é
novo para você e meio louco. Não compreende e tem medo, mas quer. Quer,
sobretudo, que afirmem a você que não está cometendo uma loucura. E (2)
você está tentando buscar uma desculpa para romper com ele, justamente
pelas coisas que não pode entender, assim se houver uma desculpa boa o
bastante, você pode se apegar a ela e dizer a si mesma que fez a coisa certa
quando você mesma sabe que é mentira.
Trish abriu a boca para falar. Nenhum som.
Sua amiga maluca estava certa mais uma vez.
Deus, ela era uma confusão!
— Se quer minha aprovação, você a tem, mas Bonita, esta é a sua
vida. Você veio para cá para recomeçar, não é assim? Pois bem. Já parou para
pensar que ao invés de Caleb estar “atrapalhando” seus planos, ele a está
ajudando a recomeçar do zero? Você pode ou podia não querer se envolver
com ninguém quando se mudou, mas ainda é jovem, linda e está viva. Uma
hora ou outra iria acontecer. Ou pensava em aderir ao celibato?
— Claro que não!
— Vê? Como disse antes, não podemos prever nada, a vida sempre
vai nos surpreender. Você é uma cadela sortuda, Bonita. E, de fato, está
recomeçando sua vida aqui então, sugiro que pare de pensar em abobrinhas e
curta isso. Tem dúvidas? Investigue com ele.
Estava indo responder à amiga quando ouviu o barulho de um carro
parando em frente da cabana, seu coração disparou e a barriga tremeu em
antecipação.
— Acho que essa é minha deixa para ir — Lee murmurou, colocando
a taça vazia sobre a mesa de carvalho do centro e se levantou.
— Não precisa ir agora.
— Sim, preciso. Tenho a leve impressão que vão querer estar
sozinhos para ter aquela gostosa DR, que homens amam com fervor, sem
contar a perversão. Gosto de dormir bem à noite.
Trish rolou os olhos, se colocou de pé e a abraçou em outro momento.
— Obrigada pela conversa... Eu precisava disso.
A mulher soltou um suspiro exagerado. — Confie em mim, eu
também precisava disso. E não se esqueça de perguntar se há mais da onde
ele saiu, certo? Aliás, se Caleb quiser levar um daqueles dois tipos a P&C, eu
não iria achar ruim não. Você sabe. Aqueles outros dois pedaços de infernos
que estiveram com ele.
Trish sacudiu a cabeça, sorrindo, enquanto a acompanhava até a porta.
— Verei o que posso fazer.

Caleb assentiu em cumprimento para amiga de sua companheira


quando a fêmea humana passou por ele, com um sorriso largo na face. Ele
tinha escutado pouco do final da conversa que elas tiveram, mas fora o
suficiente para ele se simpatizar pela fêmea.
Em seguida, ele subiu os três degraus do alpendre e levou o olhar para
a porta, que sua fêmea mantinha aberta para ele, com um sorriso ansioso
estendendo seus lábios.
Todo o peso do afastamento sumiu de seu peito e em seu lugar a falta
dela se assentou. Caleb rodeou sua companheira, escovou a boca sobre a
marca em seu ombro e colocou os lábios sobre os dela. Beijou-a forte e
apaixonadamente, tomando altas doses de seu gosto e lhe dando o seu
próprio, com carícias selvagens de suas línguas. A sugestão de vinho era
requintada sobre o frescor de sua língua. Embebedou-o por um momento.
Caleb amou a mistura. Trish suspirou e gemeu de deleite, seu corpo menor
relaxando contra ele até que Caleb teve de sustentá-la. As mãos dela
marcavam sua nunca enquanto ela tentava tomar mais dele. Ele grunhiu em
aprovação. Amava as marcas que ela deixava nele, mesmo que estas se
curassem em seguida.
Trish o queria tão duro e ela trabalhava para marcá-lo como dela.
O desejo irrompeu entre eles quando ele lhe deu o que ela queria.
Seu pênis marcou o jeans e ele apertou os braços em volta de sua
cintura, dobrando-a para trás, pressionando sua ereção enquanto seguia
devorando os lábios dela.
Trish tentou se esfregar nele e subir em seu corpo ao mesmo tempo.
Caleb riu duro entre os dentes e agarrou o traseiro dela içando-a para
cima sem o menor esforço. Ela enrolou as pernas ao redor dele. Trish judiava
de seu pescoço com a boca.
— Olá, amada — ele sussurrou rouco quando ela o fitou nos olhos.
— Olá — ela respondeu num sopro melodioso.
Entrou na cabana com ela ainda em seu colo, fechando a porta com a
mente. Trish não percebeu, tinha as brilhantes turquesas presas em seu rosto,
sondando-o com um olhar travesso. Ele não a desceu e não quis fazê-lo. Era
bom tê-la ancorada a ele. Eles se encaixavam com perfeição, de qualquer
maneira.
Ela lambeu a boca dele e soltou uma risadinha ante a careta surpresa
dele.
— Meu bebê está alegre — ele murmurou, sorrindo. — Será que terei
de esconder as garrafas de vinho quando te deixar sozinha?
— Claro que não! Não sou uma beberrona — ralhou com um
beicinho, que ele amou, e enrolou os braços em torno do pescoço dele mais
apertado. — Eu só estou feliz.
— Eu gosto quando está feliz.
— Eu gosto de você.
Os dedos dela agarraram seu cabelo quando ela reivindicou sua boca.
Caleb sentiu a fome dela crescer, desafiando a sua própria. O perfume rico e
doce de sua excitação rodava no ar.
— Quer que lhe faça amor agora ou pode esperar o jantar?
Calor encheu as bochechas dela e ela abaixou os olhos, envergonhada.
— Sinto muito. Eu... eu não deveria te agarrar assim...
Caleb inclinou a cabeça esfregando o rosto no dela, um roce suave e
saudoso, cheirando-a.
— Não sinta, querida. Eu amo que me agarre assim, de qualquer
forma que me queira. É a única que tem o direito de tocar-me sempre que
queira e como quiser então, não se envergonhe de seus desejos. Nunca.
Honra-me que me queira tal como te quero. Isso está claro?
Ela o observou por debaixo dos longos cílios e se rendeu com um
suspiro.
— Sim, está claro.
— O que quiser é seu. Apenas tem que pedir e eu cuidarei para que
tenha isso. Nada me faz mais feliz do que te proporcionar o que anseia.
Fazer-te feliz é minha maior prioridade. Amo te mimar e te dar prazer, bebê.
É uma mulher bela, sensual e me excita com sua fome.
— Isso é o mais doce que alguém já me disse na vida — Trish
murmurou afetada pelo carinho adulado que gotejava em sua voz cadenciada.
— Não vai ficar chorosa, não é?
Ela riu, um som suave que encheu seu coração com amor.
— Não vou.
— Ótimo. Não a quero chorando, sobretudo, ser o causador de suas
lágrimas.
Caleb a beijou devagar, de forma reverenciada. Sem pressa. Ela o
respondeu com sensualidade, angulando a cabeça enquanto os lábios se
degustavam com paixão.
— Senti sua falta, querida — Caleb murmurou sobre sua boca.
Ter de se afastar mesmo que por algumas poucas horas não era fácil
para ele. Tinha estado tenso o tempo todo, mesmo suas responsabilidades em
Snowville não foram suficientes para lhe distrair. Sua mente, seu coração, seu
corpo estava com ela. Querendo ela. Caleb somente pôde torcer para que ela
estivesse sentindo tanto a falta dele como ele estivera sentindo a dela. Tê-la
recebendo tão calorosamente o deixou em êxtase, e ele pensou que amaria
todas as vezes que voltasse para casa depois de seus deveres apenas para vê-
la na porta esperando por ele.
— Eu senti a sua, também.
Caleb sorriu com resoluta satisfação.
— Teve um bom momento?
— Sim.
— Bom. Muito bom. — Ele deixou sair uma longa exalação, amando
o carinho que ela fazia com as pontas dos dedos em sua nuca. A ereção
dolorida se mantinha em pé. — Agora me responda. Quer que lhe faça amor
agora ou pode esperar o jantar?
Caleb evitou sorrir ante a careta pensativa que ela fez, as bochechas
dela queimando.
— Eu posso esperar — ela disse incerta e lambeu os lábios, ele seguiu
o movimento com demasiado fascínio. — Preciso tomar um banho antes.
— Você cheira maravilhosamente bem para mim.
Desde que ela não usara mais perfumes que pudessem confundir seu
cheiro natural, ele não podia parar de cheirá-la. Sua fragrância era limpa,
fresca e feminina.
— Eu sempre cheiro bem para você — retrucou divertida. — Aliás,
como cheiro para você? Sempre me diz isso e eu realmente estou curiosa a
respeito.
As mãos dele agarraram o traseiro redondo dela mais firmemente e a
angulou, de forma que seu centro estivesse pressionado contra o cume em seu
jeans.
Luxúria chiou entre eles.
Ambos soltaram um fôlego pesado.
— Cheira um almiscarar de campo e flores, muito feminina. E eu
posso sentir o aroma da sua excitação, é doce e rico, me dá água na boca para
prová-la. Sempre me deixa duro quando a cheiro. Não importa o quanto a
tive, nunca é suficiente.
— Você sempre está duro também — ela ralhou com graça e sorriu.
— Eu não entendo como isso é possível, mas eu gosto deste feito
extraordinário.
— Eu gosto que goste — ele disse, beliscando seu queixo com os
dentes. Ela estremeceu e apertou as pernas ao redor dele, fazendo o contato
mais difícil. Aquecimento sexual percorreu sua coluna e encontrou suas
bolas, apertando-as, fazendo seu pau pulsar. — E, querida, eu sou único —
acrescentou com uma piscadela sexy.
— Eu posso lidar com isso.
— Excelente. Porque agora mesmo eu não posso esperar pelo jantar.
— Caleb esfregou sua ereção contra a buceta dela para enfatizar suas
palavras. Trish gemeu e cavou os dentes no lábio cheio. — Deixe-me juntar a
você no banho.
O rosto dela se iluminou e os olhos resplandeceram com calor.
— Sim, por favor.
Caleb andou com ela até o banheiro, a desceu sobre seus pés e, em
seguida, ligou o chuveiro e voltou-se para ela. Caleb retirou-lhe a roupa e ela
fez o mesmo com ele. Logo entraram no box estreito, apenas o suficiente para
ambos se sentirem deliciosamente perto um do outro quando ele capturou
seus lábios num beijo forte. Ele não desperdiçou nenhum segundo, tomando-
a contra a parede. Foi duro e rápido. A medida exata da paixão urgente
zumbindo entre eles, até que gozaram juntos.
Um momento mais tarde, alimentados sexualmente, eles retornaram a
cozinha para saciar a outra fome. Caleb cuidou da refeição enquanto Trish
tratava de pôr a mesa para eles. Uma sincronia que ele pretendia reproduzir
em sua casa até o final de seus dias.
— Ela parece ser uma boa amiga.
— Sim, ela é. — Girou o olhar para ele. — Talvez você tenha alguns
amigos solteiros que queira lhe apresentar?
Ela deu um meio sorriso.
— Talvez.
— Eu gostaria de apresentar vocês dois oficialmente, se não se
importar.
Caleb girou os bifes na frigideira e, em seguida, pousou seu olhar
sobre ela.
— Eu adoraria.
Quando a mesa esteve posta, Trish dividiu a cozinha com ele
enquanto preparava a salada.
— Ela me ajudou muitíssimo quando cheguei aqui. Foi muito gentil e
solicita. Até mesmo meu emprego ela me ajudou a conseguir.
— Gosto dela um pouco mais.
— Acredito que vá gostar dela e ela de você — Trish ofereceu,
deixando Caleb radiante por ela querer aprofundar as coisas entre eles,
compartilhando seus amigos. A mulher era importante para ela, deste modo,
era importante para ele, também. — Lee é um pouco maluca, tem uma boca
espertinha, — ela deu um risinho —, mas é uma grande garota.
Ele se inclinou e colocou um beijo no topo da cabeça dela.
— Tenho certeza que sim, querida. Estarei honrado em conhecê-la.
— Obrigada.
Caleb terminou o preparo da comida e a levou para mesa.
Em algum momento, ele sentiu que o chiado de ansiedade, que
pescara nela quando retornou a cabana, cresceu. Caleb não disse nada, no
entanto. Quando terminaram, ela lavou a louça suja e ele secou então, se
dirigiram a sala. Trish sentou-se no sofá enquanto Caleb agarrava duas taças
e os servia com vinho. Ele se acomodou ao lado dela, puxando suas pernas
sobre suas coxas. Caleb a observou tomar um longo sorvo da bebida e franziu
o cenho, suavizando-o quando ela levantou os olhos para ele.
— O que faz Caleb? Já sabe, para viver? Sei que é arquiteto, mas te
dedica a isto?
— Em partes — ele disse, feliz que não mentisse para ela.
A sobrancelha feminina arqueou.
— E como seria isso? Tem outro trabalho?
Bem, vamos lá!
— Sim. Snowville é uma comunidade fechada, temos nossas próprias
tradições e costumes, uma sociedade própria, e como tal, precisa de um líder.
— Este é você — adivinhou.
— Sim.
Grande, meu camarada. Realmente grande.
— Faz sentido — ela disse.
— O quê?
Ela torceu os lábios com diversão, ponderando e o deixando mais
curioso.
— Você é todo mandão e tem esse jeito autoritário. Faz sentido. —
Ele jogou a cabeça para trás e gargalhou. — Líderes costumam ser um pouco
mais rígidos.
Um pouco mais calmo, ele disse:
— Administrar requer uma mão forte, mas não pense que sou um
tirano ditatorial. Apenas cuido para que os meus estejam seguros e prósperos.
— Eu não pensaria isso de você, — defendeu-se, com um sorriso. —
Mas entendo o que quer dizer. Liderar precisa de um pouco de autoridade, de
outra forma, é difícil manter a ordem e que as coisas funcionem bem. Deve
ser esgotante, entretanto.
Ele concordou com um aceno vago. — Não é fácil, isso eu posso te
dizer. Embora em meu povo cada um saiba o seu lugar, como em qualquer
outra sociedade existem os ratos. Mas estamos indo bem, nos respeitamos e
ajudamos mutuamente. Estamos conscientes de que é mais vantajoso para
todos que cada qual faça a sua parte.
— Assim, são uma grande e feliz família, não é?
Ele riu.
— Pode-se dizer que sim.
— Parece um lugar bom para viver.
Os olhos de Caleb brilharam sobre ela enquanto seu peito inflava com
esperança.
— Poderá comprovar isso... — Ele deixou as palavras no ar e ela o
olhou com o fôlego preso, os bonitos olhos grandes ancorados em seus olhos.
Caleb decidiu acalmar as coisas para ela e acrescentou despreocupado. —
Liderar não me dá muito tempo de sobra para me dedicar a minha profissão,
mas faço um trabalho e outro. E tenho uma empresa no ramo. Também,
temos um engenheiro e sempre que possível o ajudo nos planejamentos das
novas residências.
— Gostaria de ter mais tempo? Digo, para exercer sua profissão?
— Na verdade, não. Sou mais útil para o meu povo liderando-os do
que desenhando casas e, para ser franco, eu gosto assim. — Caleb lhe lançou
um olhar considerado. — Estou realizado.
— Isso é bom — ela soprou baixinho.
Trish tomou um sorvo da taça e ele a imitou.
— E você, querida? Sempre sonhou em vir morar em Inuvik e
trabalhar como garçonete?
O olhar dele brilhava com diversão.
— Não, — ela riu, sacudindo a cabeça ligeiramente. — Eu trabalhava
numa Corretora da Bolsa. Formada em economia. Mas, confesso, estou muito
animada com o cargo de garçonete, se me perguntar. É muito diferente do
que fazia e, ainda que não tenha lá grandes benefícios e um estupendo salário,
é muito melhor do que fazia antes.
— Está feliz, querida?
Caleb deixou a taça na mesa de canto ao lado e começou a massagear
as panturrilhas dela.
— Sim, estou feliz — ela concedeu com um suspiro quando
escorregou no sofá ficando meio deitada. Ele pegou a taça da mão dela e a
depositou junto com a sua. — Não é o emprego dos sonhos, mas eu tinha de
fazer algo ou morrer de fome. Na realidade, não penso em fazer isso sempre,
pensei que talvez mais a frente possa trabalhar como uma consultora de
investimentos freelancer. Ainda terei a tranquilidade de trabalhar em casa e
me sustentar.
— É um bom plano. — E Caleb gostava dele muitíssimo. A teria em
casa todos os dias e ela ainda teria sua independência, ambos sairiam
ganhando. Ele sorriu em segredo.
Os lábios dela repuxaram sonhadores. — É, não é? Eu amo economia.
Logo que tenha uma boa internet aqui, eu posso começar a me arriscar. Esse
é o ruim daqui, tudo é longe e demora a chegar, e o tempo não ajuda.
— Eu posso te ajudar com isso.
— Como?
— Arrume uma mochila para alguns dias, e amanhã depois de seu
turno, eu a levarei para minha casa em Snowville.
Trish se empurrou sentada.
— Isso foi uma ordem?
— Um pedido.
Houve um momento de silêncio enquanto ela o observava de perto,
sua face um pouco assombrada. Caleb esperou paciente, não deixando de
massagear sua carne.
— Quer que vá morar com você? — ela questionou num sussurro
baixo.
— Seria muito estúpido da minha parte dizer que sim? — Ele viu a
dúvida dela, sentiu seu conflito de emoções. Esperança. Medo. Alegria.
Confusão. O coração dela palpitou mais rápido e a respiração desregulou. —
Tranquila querida. Eu adoraria que viesse viver comigo hoje mesmo, se
possível. Dormir e acordar com você todos os dias em minha cama, torná-la
nossa, é mais felicidade do que mereço. Por agora, apenas quero que venha
passar alguns dias comigo e se familiarize com Snowville. Mas, confesso, se
optar em permanecer em definitivo, eu não acharei ruim.
— Uh... Isso... Bem, você sabe que não vou largar meu emprego, não
é?
— Não estou pedindo isso — ele esclareceu suavemente. — Apenas
quero que fique comigo em no... minha casa. Isso não pode ser tão ruim.
— Não é isso... é só que...
Ele se dobrou para alcançá-la. — Venha para casa e fique alguns dias
comigo — persuadiu sussurrante, sabendo que não poderia deixá-la partir.
Ele já tinha tudo planejado. Não a deixaria ir. Faria com que ela quisesse ficar
para sempre. — Quero-a no meu lugar, em minha cama. Pode me fazer feliz?
Trish fez uma pausa e exalou forte, com os olhos presos ao dele.
— Certo. Eu irei.
Caleb sorriu em triunfo e a beijou calmamente.
— Não se preocupe. Snowville pode parecer arcaica, mas temos
energia, água encanada, telefone e internet — brincou sobre os lábios dela e
ela riu.
— E eu pensando que conheceria uma caverna.
Ele ergueu a cabeça, compartilhando seu fôlego com ela.
— Eu conheço algumas — piscou.
— Aposto que sim.
Caleb lhe deu um olhar misterioso e um último beijo, antes de se
endireitar.
Trish subiu em posição sentada próxima a ele de maneira que seu
corpo se apoiou na lateral do dele, ainda com as pernas sobre as coxas dele.
Ela deixou a cabeça cair em seu ombro.
— Seus pais vivem em Snowville também?
— Não. Billy e Sarah estão a algumas milhas de distância, ainda em
nosso território.
— Tem irmãos?
— Uma irmã. Raina. Ela é médica, formou-se em Harvard com
honras, e agora, está casada com um amigo meu, que também vive em
Snowville. Serei tio em breve.
— Oh, isso é maravilhoso Caleb!
— Sim, o é.
Houve uma pausa.
— Quer ter filhos, Caleb?
— Tantos quanto possa ter
— Isso é muito ambicioso.
— Não gosta da ideia de ter uma família grande?
Trish ficou um pouco atordoada. — Oh, não... quero dizer, não sei...
Acho que sim. Sou filha única, assim não tenho parâmetros para fazer
comparações, mas sim, acho que uma família grande pode ser atraente.
Ele relaxou contente, porque de fato queria muitos filhotes com ela.
— Seus pais são de Nova York?
Ele sentiu a mudança dela, o tempero incomodo e a dor.
— Sim. Doratella está lá. Meu pai, Henry, faleceu quando tinha 15
anos.
Caleb a apertou contra ele.
— Sinto muito, querida.
— Tudo bem. Já o superei.
— Se dava bem com ele?
— Sim. Éramos muito ligados, sempre estávamos muito perto. Ele era
um grande homem, você gostaria dele e ele de você — ela disse com um
suspiro saudoso. — Quando ele faleceu foi de repente. Ninguém esperava.
Papai era muito saudável e cuidadoso. Numa manhã ele estava bem, e a tarde
ele sofreu uma taquicardia fulminante. Ele morreu em casa, rápido e indolor.
Acho que esse é o único conforto, saber que ele não sofreu.
Caleb a abraçou mais forte, sentindo a tristeza dela. — Sinto que
tenha tido de passar por isso ainda tão novinha — carinhosamente, ele disse,
acariciando as costas dela. — Gostaria muito de poder ter estado contigo
nesse momento.
— Obrigada. — Seu rosto se inclinou para ele, os olhos brilhando
lacrimosos. — Eu aprendi a conviver com a perda dele. Sei que papai não
gostaria que eu ficasse triste pelos cantos. Ele provavelmente sairia do túmulo
para me dar umas palmadas se eu deixasse de viver. Henry era um amante da
vida, sabe?
— Ele então era um homem sábio.
— Sim.
— Por que veio para cá?
— Nova York estava pesando em mim e Inuvik pareceu ter o que eu
precisava.
Caleb não poderia discordar, embora a sentisse se esquivar. Puxando-
a para seu colo, ele envolveu seu rosto entre as mãos grandes, seu olhar era
intenso sobre ela.
— Não sei o real motivo que te fez deixar Nova York e estou aberto
para quando quiser falar sobre isso, no entanto, estou feliz pra caralho que
tenha vindo pra cá.
— Eu estou feliz por ter vindo — ela murmurou em sua vez. — Não
perdi nada deixando Nova York, ao contrário, apenas ganhei.
— Ganhamos.
O beijo que ele lhe deu foi calmo e gentil. Ele poderia beijá-la para
sempre e ainda assim não seria suficiente. Caleb rosnou baixo quando sentiu
a mudança dela, o aquecimento de seu corpo, a fome. Sob ela, ele endureceu
e doeu para tê-la. Ela também sentiu e suspirou afetada, se apertando a ele,
buscando mais. Caleb abrandou o beijo, com mordidas e pequenos beijos
sobre os lábios dela, girou para o lado e plantou um tenro beijo molhado
sobre a marca amarelada. Trish estremeceu até os pés, fechando os dedos
delicados na camisa e no cabelo dele. Ela não levava sutiã por debaixo da
regata, e seus mamilos tensos pressionaram deliciosamente contra seu peito.
A fragrância gostosa da excitação dela enchendo seus pulmões. Ele respirou
fundo, segurando seu controle enquanto trabalhava na fome do lobo para
acasalar com ela, novamente. Não queria ser duro. Tinha a necessidade de
amá-la com calma.
Ergueu o rosto e a fitou.
— Vamos para a cama.
Trish enrugou o nariz, sua expressão contrariada.
— Eu não quero dormir.
Malícia pintou as feições dele, a promessa incandescente iluminando
seus olhos.
— E quem disse que vamos dormir? — ele devolveu, acariciando o
rosto dela com os dedos, seu pau pulsou sob ela deixando claro que a última
coisa que fariam seria dormir.
— Bem, — lambeu os lábios —, sendo assim, me leve para cama
Caleb.
14

DESCOBERTA

Caleb despediu-se com um beijo provocador, que fez Trish derreter


sobre os lábios dele e as mulheres na P&C suspirarem, com inveja e
admiração.
Era um gosto picante e doce, enviando um zumbido de excitação por
suas veias. Uma lembrança, que ele fez questão de deixar em sua memória e
em sua pele todos os dias, para ela saber o quê a aguardava quando seu turno
acabasse e ele estivesse lá para levá-la para casa. E hoje ela iria para casa
dele. Tinha ficado desconcertada e um pouco receosa com a proposta dele,
mas agora não podia esperar pelo fim de seu turno. Estava curiosa sobre
Snowville, principalmente, sobre á casa de Caleb. A habitação de uma pessoa
podia dizer muitas coisas sobre a mesma e Trish acreditava que lá iria
encontrar todas as respostas que buscava sobre ele. E sobre ela mesma. No
entanto, não era apenas isso, ela estaria no lugar dele porque ele queria assim.
Isso queria dizer algo. Eles estavam ficando muito sério e estranhamente ela
já não se sentia tão temerosa.
— Pelo brilho feliz em sua cara posso supor que seguiu o meu
conselho, certo?
Ela olhou para Lee, sorrindo, quando esteve atrás do balcão.
— Sim. E mais uma vez obrigada por isso.
Caleb tinha dado um pouco mais sobre si, apesar de ainda sentir haver
algo mais, porém a conversa da outra noite tinha sido esclarecedora e um
pouco profunda, também. E depois ele a tinha amado com calma, muito
paciente e de maneira gloriosa.
— Não tem de quê. Perguntou sobre os amigos?
Trish revirou os olhos e riu.
— Sim.
— E?
— Acredito que ele tenha alguns amigos para te fazer à corte —
brincou.
— Desde que algum tipo sexy e quente me dê um montão de agito,
ele pode me fazer à corte, os pés e as mãos, Bonita. Pode até vir com
armadura brilhante ou nu. Oh, sim! Isso facilitaria muito as coisas, sabe?
Diga isso a ele.
Trish a cutucou. — Não seja tão cadela. — Lee piscou com falsa
inocência. — Eu disse a ele que quero apresentá-los formalmente.
— Claro! Preciso saber quais são as verdadeiras intenções dele com
você. Vamos marcar um jantar em casa o mais breve possível. Cozinharei um
guisado delicioso.
— Eu não pensei em ser tão formal. Pensei em fazer as apresentações
quando ele vier me buscar hoje. Estarei na casa dele por alguns dias.
— Em Snowville?
Trish pegou o bloco de papel e a caneta, enfiando-os no bolso do
avental.
— Obviamente.
— Isso quer dizer que estão oficialmente juntos?
Voltando-se de frente para Lee, ela precisou de uns segundos para
pensar.
— Acho que sim... Sim, com certeza.
Lee a abraçou.
— Oh, Bonita, fico tão feliz por você!
— Obrigada. Mas não fique toda eriçada. Eu decidi tentar, mas não
vou pôr a carroça na frente dos bois. Gosto de estar com ele. Caleb me faz
muito bem e eu quero tentar com ele. Não vou mentir que não estou
temerosa, mas eu pensei no que me disse ontem e cheguei à conclusão de que
está certa. Não tenho como fugir do inevitável.
— Você está apaixonada.
A afirmação de Lee se assentou em seu coração e fez surgir uma onda
de alegria. Não podia negar mais seus sentimentos. Tinha caído por Caleb e
estava feliz.
Trish moveu os lábios, contudo...
— Querem que feche a loja para que possam conversar? Ou talvez
poderia colocá-las mais confortáveis, se eu atendesse os clientes enquanto
colocam o papo em dia?
As duas engoliram em seco e se voltaram para Maya atrás delas. A
mulher tinha uma carranca dura estampando a face, seus traços estavam
rígidos contrastando com a delicadeza dos olhos cruéis estreitos sobre elas.
Implacável e fria.
Trish limpou a garganta. — Perdoe-nos Srta. Crawford. Não irá se
repetir. — Olhou para Lee que murmurou suas desculpas também. — Já
estamos indo trabalhar.
— Façam isso.
— Ela definitivamente precisa de um homem — Lee cochichou
baixinho apenas para Trish quando a Megera lhe deu as costas e começou a
se afastar.
Trish abriu a boca para lhe repreender, mas Maya tinha girado,
novamente, e vinha para elas com uma expressão séria no rosto de porcelana,
os olhos azuis como gelo, isentos de emoções. Parando na frente delas, Maya
fixou o olhar penetrante em Lee.
— Não, senhorita Diaz. Eu não preciso de homem, mas, certamente, a
senhorita precisa do salário que lhe pago então, se atente ao serviço pelo qual
é paga para fazer. Pode fazer isso e guardar seus comentários impertinentes
apenas para você?
Trish assistiu à amiga perder a cor.
— Oh... Eu... eu... não quis... Eu... Me desculpe.
— Sim, quis — Maya particularizou num tom cortante. — Eu não
dou a merda para suas brincadeiras, mas seria bom se começasse a sondar sua
língua esperta quando estiver trabalhando. Não preciso de tagarelas aqui,
senão de funcionários eficientes.
— Perdoe-me — Lee pediu solene.
Maya continuou a fitando por mais alguns segundos, e então, se
afastou indo para os fundos da lanchonete. Trish soltou uma exalação
aliviada e deu a amiga um olhar de censura.
— Eu te disse.
Lee sorriu sem graça, sua expressão ainda lívida, como uma criança
pega no flagra.
— Isso não foi muito gentil. Pensei que ela fosse me comer viva.
Talvez, Caleb tenha algum amigo louco o suficiente para tentar a sorte com
ela?
— Cale a boca — Trish ralhou, passando por ela para ir às mesas.
O dia escuro passou correndo, a lanchonete estava lotada e um caos.
Lee não tinha feito mais nenhum comentário. Em realidade, nenhuma
funcionária tinha tido tempo para dar um suspiro até poucas horas antes da
P&C fechar. Kelly tinha saído mais cedo para ficar com o pai hospitalizado
com suspeitas de pneumonia. Quando a calmaria caiu sobre o
estabelecimento, duas horas antes de seu turno acabar, a Megera a chamou
para fazer uma entrega, uma vez que Tabby tinha faltado devido a uma cólica
forte.
— Use o snowmobile que está nos fundos, assim irá mais rápido. Siga
a estrada e não se afaste dela, compreende? — Trish assentiu. — Você não
terá de entrar em Snowville, acima haverá alguém para pegar o pedido.
Collin. O pagamento já foi feito.
Trish assentiu e saiu para o vestuário dos funcionários. Encontrou Lee
trocando a blusa suja com molho barbecue. Ela foi para seu armário e agarrou
um casaco.
— Você só vai usar esse casaquinho?
Girou o olhar para Lee, com uma ruga formando entre suas
sobrancelhas.
— Qual o problema?
— Bonita, percebe que lá fora está um frio de congelar o útero?
— Eu estou bem. Obrigada pela preocupação.
Trish não entendeu o olhar assombrado da amiga e não deu atenção,
retornando a cozinha para pegar o pedido e pô-lo dentro da bolsa térmica.
Realmente, estava bem. O casaco era grosso e suficiente para aplacar o frio
de fora. Não poderia negar que vestia menos do que quando chegou a Inuvik,
ainda assim estava suficientemente quente.
Minutos depois, ela se dirigia para Snowville. Pegou um pedaço da
vicinal como Maya instruiu e logo virou a esquerda entrando na estrada
íngreme que dava acesso a aldeia. A estrada não era ruim e estava afofada
com neve, o que fazia seu corpo sacolejar suavemente. As luzes do
snowmobile era a única iluminação cortando o breu, apenas o suficiente para
que ela enxergasse o caminho. Não nevava. A floresta densa ladeava nas duas
bandas a beira da estrada. Escura e cheia. Muito silenciosa. Não dava medo
em tudo, era mais como um mistério.
Estava concentrada no percurso quando, de repente, um vulto do que
parecia ser um animal cruzou na sua frente e ela não foi rápida suficiente para
frear antes de atingi-lo.
Em choque, Trish parou, olhando a frente com os olhos grandes
cheios de culpa enquanto ouvia o lamuriar do animal deitado a uma curta
distância, onde os faróis alcançavam-no.
Seu primeiro impulso foi desligar o motor e descer.
Animal selvagem, Trish!
Estava fazendo justo o que Maya alertou-a para não fazer. Seria
sensato colocar o snowmobile em marcha e pedir ajuda para o animal ao
homem que estava aguardando acima, entretanto, ela tinha machucado o
pobre. Trish nunca tivera ferido uma mosca sequer.
Ignorando a prudência, ela deixou a bolsa sobre o banco e caminhou
até o animal, rezando para que ele não estivesse muito ferido. Ela estava indo
se agachar para analisá-lo quando ele se moveu com aparente esforço e girou
a cabeça para ela, rilhando os dentes a mostra. Foi muito tarde que ela
percebeu que se tratava de um lobo de pelos preto e branco, e que ele, embora
ferido, tinha forças suficientes para atacá-la. E enormes dentes afiados.
— Jesus Cristo...
Horrorizada, Trish soltou o fôlego numa única baforada ruidosa
enquanto o lobo se levantava nas sombras da deficiente luz. Corra. Foi seu
primeiro instinto, mas, então, lembrou-se dos ensinamentos do Discovery
Channel. Se corresse, ela daria mais motivos para ele atacá-la. Se ficasse, ele
iria comê-la viva. Cenas de Pânico na Neve rodaram em sua mente.
Descongelada, ela deu um, lento e mudo, passo para trás e depois
outro à medida que mantinha sua atenção para o animal. Ao terceiro passo,
ele deu um para ela, cheirando. Ela deu outro e ele outro. Eles fizeram a
mesma dança coreografada até que ela deu por si, que ele a estava
espreitando para dentro da floresta. Estudando-a, provavelmente, para atacá-
la e roer até seus ossos. Lobos eram territoriais e ela estava no espaço dele, e,
ainda o tinha ferido.
— Me desculpe. Eu... eu não quis machucá-lo, foi... foi...foi u-um
acidente — ela balbuciou baixinho, sabendo que era loucura. Ele era um
animal. Irracional. A menos que ela falasse lobês, e ela não falava, ele não
iria compreendê-la.
Dois pequenos refletores brilharam em vermelho rubi fluorescente,
fixos nela. Os olhos dele.
Assustador.
Lobos tinham olhos vermelhos?
Trish conhecia a resposta e não era animadora. Tragou saliva. Um
recuo a mais e seu pé topou com uma pedra e ela deu tudo de si para não se
desequilibrar e gritar, e com isso acabar aquela sondagem angustiante, e ele,
enfim, saltar sobre ela. Conseguiu se manter em pé e esticou as mãos para o
lobo quando ele se adiantou mais perto.
— Sho, sho, sho lobinho... — ela tentou, com a voz mortificada.
Ele rosnou para ela, um som rude e cruel, que a fez tremer até os
dedos dos pés. Trish não tinha olhos bons no escuro, mas o céu claro lhe deu
um bom indício de qual seria o próximo assalto quando observou sem piscar
os ombros dele se alinharem e abaixar, bem como, sua cabeça grande. Ele iria
saltar sobre ela e rasgá-la em pedaços. Prevendo a morte premente, ela
levantou os braços para o rosto, numa falida tentativa de se proteger, mas o
que veio não foi um ataque, senão um rosnado alto, primitivo, poderoso.
Sentiu-o batendo dentro de si, gelado, chacoalhando seus ossos e pondo seus
pelos em pé. Em seguida, veio o baque estrondoso.
Atordoada, Trish abaixou os braços apenas para perceber vultos de
outro lobo maior brigando com o que ela tinha atingido. Os sons de rosnados
cruéis e o barulho de dentes perfuraram suas orelhas. Deveria correr para
sempre enquanto eles estavam distraídos no confronto, mas, por toda
infelicidade do mundo, ela não era capaz de se mexer. O chão tinha se
tornado uma extensão de seu corpo. O pavor congelando qualquer instinto de
sobrevivência. E, bem, não era como se ela pudesse ir muito longe quando o
recém-chegado lobo rapidamente espantou o outro para as profundezas da
floresta, e então, ele se voltou para ela com os olhos resplandecendo em ouro
líquido. Inteligentes e racionais. Conhecidos. O lobo jogou o focinho para o
alto e uivou tão alto, que seus ouvidos doeram e seu corpo tremeu. Mesmo
sua alma quis fugir para o além.
Ele a olhou fixo, novamente.
Ela tinha uma estranha sensação.
Uma estranha névoa rondou e ondulou o animal, deixando-a
paralisada e com o fôlego preso. O coração era um estrondo no peito.
Finalmente, quando a névoa se dissipou, um homem completamente nu
surgiu no lugar do lobo feroz.
Não um homem qualquer.
Era ele.
Seu amante apaixonado. Caleb Black.
— Oh, meu Deus...
Seu cérebro desligou, os ossos se tornaram gelatina, anunciando sua
queda quando ele caminhou em sua direção. E então, tudo a sua volta não era
mais que um borrão e pingos negros. Disperso, seu corpo abraçou a escuridão
sem nenhuma resistência.

A primeira coisa que Trish se deu conta quando despertou foi do


conforto macio sob suas costas. Limpo. Aconchegante. Perfumado. Quente.
Caleb. Suas pálpebras bateram abertas e ela mirou em volta, deslocada,
tentando se climatizar com o ambiente.
Não estava em sua cabana.
O quarto era maior que o seu e muito masculino. Móveis de carvalho
escuro, sem adornos, exceto por dois porta-retratos sobre uma cômoda, que
ela não podia enxergar claramente.
Sentou-se na cama e correu a mão ao longo dos fios negros
emaranhados.
Nada fazia sentido. Tinha tido um sonho estranho, onde estava prestes
a ser atacada por um lobo, e então, outro surgiu e depois se transformou no
seu amante.
— Bom Deus, se eu fizer xixi novamente, vou desidratar de vez... Ah,
você acordou!
Trish saltou assustada e girou a cabeça em direção à voz feminina.
Uma mulher de beleza exuberante e muito grávida encheu seus olhos. Longos
cabelos escuros e traços delicados, que lhe lembravam Caleb, mesmo a pele
cor de mel era igual. A expressão da desconhecida se iluminou com um
sorriso amistoso e os olhos suavizaram gentis.
— Onde estou? E quem é você?
As sobrancelhas ergueram enquanto a mulher sacudia a cabeça e
alardeava as mãos.
— Oh, claro! Desculpe minha desatenção. Está na casa de Caleb.
Muito prazer. Eu sou Raina Black, irmã do bastardo. E você, Trish Mitchell,
a fêmea dele.
Fêmea dele? Ela tinha dormido e acordado no começo dos tempos?
— O quê?
— Não sei se lembra. Você quase foi atacada na floresta, mas, Graças
a Deus, Caleb chegou até você antes que o pior acontecesse. Você desmaiou
e ele a trouxe para cá. — Raina se aproximou da cama, com uma expressão
amável. — Aliás, o que fazia fora da estrada? É perigoso para você.
— Eu... eu...
— Entendo. Você está um pouco confusa.
Um pouco era eufemismo. Ela não tinha certeza de mais nada! Raina
não dizia coisa com coisa ou ela própria já não estava em seu juízo perfeito.
— Aqui, beba. É água.
Trish pegou o copo, se dando conta pela primeira vez da secura em
sua garganta. Tomou dois grandes goles sob o escrutino de uma Raina
sorridente.
— Você é muito bonita.
Trish não pôde apreciar o elogio.
— Caleb?
— Ele esteve aqui com você até agorinha, desceu faz cinco minutos.
Mas fique tranquila, ele estará de volta antes que possa se mover novamente.
Ele sabe que acordou. Esses machos ficam muito territoriais e protetores
quando estão na febre do acasalamento.
Jesus Cristo! Que conversa era essa?
Ela não tinha qualquer febre.
Demência, talvez?
— O quê? Como...?
A porta se abriu e Caleb encheu o espaço. Os olhos dele foram
imediatamente para ela, a severidade de suas feições suavizaram enquanto ele
olhava para ela.
— Deixe-nos — ele ordenou.
— Eu disse, territoriais e protetores — Raina burlou-se. — Apenas
não deixe que ele te sufoque. — Ela se voltou para o irmão. — Não a assuste.
Eu estarei abaixo com os outros.
Caleb abriu a boca como se fosse falar, mas rapidamente a fechou e
assentiu.
— Está bem, amor?
— Eu acho que sim, não sei.
Ele se aproximou da cama, os traços escurecidos, meio rígidos.
— Por que não me avisou que estava vindo pra cá?
— Eu estava fazendo meu trabalho, acho...
— Foda-se o trabalho! Tinha que ter me comunicado antes de vir.
Você tem ideia de quão perto esteve de ser ferida, se eu não tivesse sentido
seu medo e chegado a tempo? Maya não podia ter permitido que você viesse
entregar qualquer coisa sem eu saber. Ela não te deu nenhuma instrução?
Porra! Poderia ter se ferido gravemente ou...
Caleb se calou, com o rosto angustiado, como se as palavras não ditas
fossem muito difíceis, até mesmo para pensar. O pomo de adão se moveu
quando ele engoliu duro.
Sentido seu medo?
— Sinto muito. Eu... eu não quis. O animal, ele surgiu do nada, eu
não quis...
Caleb correu a mão pelo cabelo e tomou uma respiração, e no outro
instante, foi para ela e sentou-se ao seu lado na cama. Uma mão colheu seu
rosto. O olhar fixo nela.
— Não faça isso. Nunca mais. Prometa-me — exigiu austero.
— Sinto muito. Eu prometo — ela murmurou rapidamente e aceitou o
conforto dos braços dele ao seu redor quando ele a abraçou apertado. Caleb
se sentia rígido e aliviado ao mesmo tempo. Trish não compreendeu. Deus,
nada fazia sentido. Elevando a cabeça para olhá-lo nos olhos, ela acrescentou.
— Tive um sonho tão estranho, mas não faz sentido... você era um lobo e...
Trish se calou quando ele continuou a olhar sério para ela ao invés de
sorrir divertido por seu delírio. Um arrepiou de inquietação atravessou-a por
completo. Ela sentiu seu coração tentando saltar do peito. Ele não estava
negando qualquer coisa.
— O quê é? Não foi um sonho, não é? Foi real.
Caleb suspirou mistificando sua sanidade.
— Sim, foi fodidamente real.
Ela sacudiu a cabeça, piscando as pestanas loucamente.
— Não... Isso... isso é impossível.
— Não, não é, querida. Você viu.
— Não Caleb. E-Essas coisas não existem... Não...
Ele suspirou e encolheu os ombros. Ele não estava negando.
Trish o mirou com assombro ao mesmo tempo em que se separava
dele.
— Que espécie de monstro você é?
Caleb deixou a mão cair, algo como dor, como se ela o tivesse ferido,
brilhou no olhar dele. Ele se encolheu. Ela quase se arrependeu. Quase.
— Eu não sou um monstro. Sou um shifter. Um shifter-lobo
— Um lobisomem?
Deus, essas coisas não eram reais, eram?
— Não sou nada perto desses malditos loucos. Eles são criaturas
irracionais, sanguinárias e sem controle. Eu não sou assim. Tenho total
controle sobre meu animal. Eu nasci shifter, por isso tenho a habilidade de
trocar quando queira e outras mais que falaremos depois.
— Como isso é possível? Você é humano. — Foi quase uma
acusação.
Ele tentou tocá-la, porém ela se afastou para a cabeceira.
— Eu não sou tão diferente de um humano, uh? Você sabe disso.
Nada mudou, querida. Ainda sou o mesmo homem de antes.
— Eu não estou segura sobre isso — ela particularizou mortificada.
— Sinto muito.
Trish deu uma risada histérica.
— Você sente muito?
— Não era para você ter descoberto dessa maneira — suavemente, ele
disse. — Eu iria falar com você quando fosse te buscar hoje depois de seu
turno.
— Assim eu não poderia fugir? — ela disse, sarcasticamente.
Caleb emitiu um suave som, mas não era assustador.
— Escuta, Trish, me perdoe. Não foi assim que imaginei te contar.
Nunca te machucaria de nenhuma fodida forma, antes eu me mataria. Posso
entender que não seja fácil para você, mas não pense que para mim é. Não
quero te perder, prefiro a morte a isso.
Suas cordas vocais congelaram enquanto o medo ameaçava consumi-
la. Olhando assim, ele não parecia um assassino, mas isso não queria dizer
que ele não era um.
— É minha companheira prometida. Não posso ficar sem você.
Ela descongelou nas palavras dele. As engrenagens de seu cérebro
voltando a trabalhar a todo vapor, disparando perguntas para a sua língua.
— É por isso que seu pênis incha e você segue gozando? Por causa
dessa... dessa coisa?
— Sim, meu lobo vem para a borda, mas é só com você. Ele nunca te
machucaria, nem eu.
Claro! Não tinha nada de normal nisso. Ela soube de início, contudo,
nunca pensou que o motivo real fosse porque ele era uma criatura saída direto
de seus pesadelos.
— Seus olhos? Os sons?
Eles brilharam amarelo ouro. Ela quis odiá-lo, mas tudo que pôde
fazer era olhá-lo com deslumbramento. Trish quis acreditar que estava
perdendo a mente. Um delírio. Apanhada em alguma fantasia de terror que
ele inventou em sua mente, porém era real.
— É minha visão lupina.
— O outro lobo, ele tinha olhos vermelhos.
Os traços de Caleb se apertaram e os lábios dele se enrolaram quando
ele grunhiu baixo.
— Ele está corrompido, por isso os olhos dele são vermelhos. Nossos
olhos representam nossas almas. O amarelo é a pureza. Os meus reluzem
mais forte porque sou o Alfa.
Shifter? Alfa? Lobos? Lobisomens? O que mais é real? Papai Noel?
A fada do dente?
Ela correu os dedos pelo cabelo.
— Sua irmã?
Deus, o que está fazendo?
Trish estava autoconsciente de que deveria estar correndo como uma
louca para longe dele ao invés de estar lá, sentada, entrevistando uma criatura
dos contos, que por sinal era o cara com quem ela estivera dormindo e
pensando em se dar uma chance. Mas havia perguntas gritando em sua
mente. E uma pequena, mas considerável parte dela sabia que ele poderia tê-
la machucado a qualquer momento, todavia, ele não tinha feito.
— Ela também é shifter. Todos em Snowville são, porém nem todos
são lobos. Há outras espécies, também. Não é comum essa mescla nas
manadas, no entanto, aqui nos damos bem.
Era por isso que eles eram tão reservados. Isso fazia sentido. A única.
— Quem... quem criou sua espécie?
Ele encolheu os ombros.
— A ciência acredita na teoria da Evolução, os cristãos em Deus.
— Tem quantos anos?
Por que está fazendo um inventário dele?
Ocorreu-lhe que nunca tinha perguntado sua idade. Caleb não parecia
ter mais que trinta e dois anos no máximo. O homem... shifter, ou seja lá o
que ele era, estava em plena forma. Agora tinha certa ansiedade pela resposta,
principalmente, quando o observou hesitar.
— Trezentos e vinte.
Os olhos azuis se arregalaram a ponto de dor, as pernas moles de
repente.
— Você tem de estar brincando? C-Como isso é possível? Você não
parece ter muito mais que 30!
— Nós envelhecemos mais lentamente. Ainda sou jovem para um
shifter.
Seu queixo despencou.
Se ele era jovem com 320 anos, com quantas décadas ou séculos mais
ele seria considerado velho? Ou, possivelmente, ele se manteria jovem até o
fim de seus dias...?
— Nós vivemos por alguns séculos, alguns atravessam milênios. Não
é comum, porém pode ocorrer. — Ele explicou a questão em sua mente. —
Mas vê? Não sou tão diferente de você. Sou mortal. Um pouco mais
resistente, com um prazo de validade maior e os sentidos mais aguçados que
os seus. Ainda assim, mortal.
— Isso não pode ser real — ela murmurou mais para si do que para
ele.
— É real, querida.
— Prata te diz algo?
Ele fez uma careta.
— Não sou um lobisomem.
Certo. Lobisomem era uma ofensa, realmente.
— Todas essas lendas são verdadeiras?
Diversão curvou os lábios tensos dele quando a sobrancelha grossa
disparou para cima.
— Quem você acha que as plantou? Sim, fomos nós e outros. Foi uma
forma engenhosa de nos proteger, mas os humanos tomaram sua parte,
colocando mais fantasia.
Trish se manteve calada, assistindo-o por um longo e infinito minuto.
— Pode ler minha mente?
Deus queira que não.
— Não. Entretanto, posso sentir suas emoções e te induzir calma ou
qualquer outra emoção através das minhas próprias, porque somos
prometidos. Embora o acasalamento não esteja completo, há um vinculo
entre nós que me permite senti-la, bem como, você a mim.
Um pouco de alívio caiu sobre ela, mas não sabia bem como se sentir.
Era informação de mais, loucura idem. Talvez pudesse digerir tudo isso daqui
um milhão de anos?
— O que quis dizer com eu sou sua companheira prometida?
— Você é minha. Meu lobo te escolheu para acasalar e o homem
concordou.
Uma onda de pânico ameaçou atravessá-la quando ela ficou de
joelhos sobre a cama. Trish não podia ser companheira de qualquer coisa
como ele.
— Você não pode! E-Eu sou humana!
— Estou ciente disso — ele disse áspero. — Mas, assim o é. Não
escolhemos nossas prometidas. Os prometidos foram delegados pelo Criador
muito antes de nascermos. Chame isso do que quiser, almas gêmeas, tampa
da panela, metade da laranja, o significado é o mesmo para todos. É minha e
eu sou seu. Estamos predestinados a ficarmos juntos.
— Isso tem de ser uma brincadeira — ela sussurrou com lástima.
A expressão. A voz. Enviavam um quinhão de certeza sobre ela.
— É minha, Trish, e não há dúvidas quanto a isso. Eu te reconheci
quando pisei na P&C e seu cheiro fez o impulso da febre do acasalamento
rugir a vida... — sacudiu a cabeça com um riso curto. — Não. Meu lobo te
reconheceu muito antes. Na época não compreendi a necessidade de ir até sua
cabana, o som do seu coração acalmava meu lobo e ele não queria ir para
qualquer outro lugar, porque sabia quem você era e o quê representava para
nós. E, quando a vi na lanchonete e depois quando fui até você, mesmo sem
saber onde morava, e dei-me conta de que era a mesma cabana, eu entendi.
— Esteve me espreitando?
— Você me atraiu.
— Isso não é natural.
Caleb se levantou, esfregando as mãos no rosto e as plantou no
quadril, encarando-a. Ele parecia muito grande agora, muito intimidador e
letal. Ela tragou duro e se encolheu.
— Não faça isso — ele resmungou.
Ela arregalou os olhos.
— Não estou fazendo nada.
— Está com medo de mim. Mesmo que não fosse tão expressiva, eu
ainda poderia sentir seu medo, porque estamos ligados. Lembra-se do que te
disse há pouco? Estou decepcionado, um pouco irritado, é verdade, porque
não esperava que você fosse reagir tão mal. Mas não vou te machucar de
nenhuma maneira — ele frisou cada palavra.
A irritação zumbiu através de Trish.
— Bem, me desculpe se estou um pouco aterrorizada por descobrir
que o homem com quem tenho dormido é uma criatura saída do faz-de-conta.
O que espera que faça?
— Espero que me aceite, bem como, tenho feito com você.
— Não pode realmente esperar que eu aceite isso como se fosse a
coisa mais normal do mundo quando é uma...
— Uma o quê? Aberração? Crê que é fácil para mim, também? Nunca
soubemos de uma prometida humana, você é a primeira. Eu também tive de
me adaptar a você, Trish. Porque, querendo ou não, você é minha. É e sempre
será a única fêmea para mim. Não há devolução, nem troca. — Ele tentou
chegar até ela outra vez, Trish se arrastou para o outro lado da cama. — Não
me negue. Você sabe que eu não minto, eu nunca poderia mentir para você,
nem você para mim. Sente dentro de você, não é? Sente a ligação entre nós, o
vínculo que nos liga um ao outro. Você me viu quando fizemos amor, nossas
almas se conectaram, você sentiu, apenas companheiros prometidos podem se
enxergar assim.
— Isso não quer dizer nada — ela recusou estarrecida.
Caleb avançou para ela, fazendo seus olhos grandes pela velocidade
inumana que ele se moveu. O grunhido de advertência vibrou em torno deles,
mas, estranhamente, ela não sentiu medo. Era uma comoção diferente,
quase... excitante.
Não vá aí!
— Quer dizer tudo! Negue o quanto quiser, mas isso não fará a
verdade do que sou e do que somos um para o outro mudar. Nos
pertencemos. Mesmo não sendo uma shifter, você também sentiu o impulso
da febre do acasalamento, além do mais, a magia do drukāt jamais viria sobre
você se não fosse minha prometida. Você não morreria de fome por meu pau,
não podendo fazer nada mais do que me desejar em seu interior, se apenas me
achasse atraente. Sua alma me reconheceu e seu corpo respondeu a
necessidade. Esteve tão quente e dolorida por mim quando nos conhecemos,
que não era capaz de fazer nada, e você sabia disso, não entendia o porquê,
mas sabia que somente eu poderia te acalmar e assim foi.
— Eu não entendo o que diz — ela murmurou baixinho, não podendo
negar suas palavras.
— Acha que teria conseguido trabalhar depois que nos conhecemos?
Depois que te provei e você me respondeu? Que poderia ter feito qualquer
outra coisa, mesmo respirar, se não me desejar até que isso a consumisse até
a alma, se eu não tivesse lhe dado o que precisava? Não teria saído da cabana,
Trish, sequer da cama.
Foi um momento antes de ela entender as palavras dele.
— Nunca foi sonho, não é?
— Não, não foi — ele admitiu com uma exalação forte.
Trish se sentiu traída, violada.
— Como pôde? Isso foi asqueroso!
A grossa sobrancelha masculina disparou para cima.
— Foi? Realmente? — Ela rangeu os dentes, odiando que ele
estivesse certo, ainda assim o sentimento de traição entrou sem convite. —
Não vou me desculpar por isso, quando o único que fiz foi saciar sua fome.
Eu fiz somente o que um companheiro honrado faria. Dei-te o que precisava
de mim. Trish, você teria adoecido sem mim. A magia do drukāt é sexual e
muito poderosa, e apenas vem à fêmea para facilitar o acasalamento. No
entanto, eu posso sentir os efeitos dela, por causa do nosso vínculo. Se eu não
tivesse ido até você e cuidado de suas necessidades, aquele desejo iria crescer
a tal ponto, que lhe faria dano físico. Eu não podia permitir que você sofresse.
Só um companheiro desonrado permite sua fêmea sofrer.
— É por isso que te desejo assim? Colocou-me sob algum feitiço?
— Eu não faço feitiços, baby. A magia do drukāt é apenas um extra
para os prometidos. Não está sob meu controle. O Criador quis assim e assim
o é. E agora vejo por que.
— E o seu tipo apenas se... acasalam com prometidos?
Ela não entendeu porque seu fôlego de repente ficou preso nos
pulmões.
— Não. Nem todos têm a sorte de encontrar o seu. A febre do
acasalamento se inicia quando um lobo quer tomar uma companheira para si
e formar uma família.
— Bem, desfaça isso. Não gosto de ser manipulada!
Foi à vez dele olhá-la com assombro.
— Acha que está sendo manipulada?
— Você disse...
— Eu disse que a magia do drukāt apenas vem para uma prometida,
mas ela somente potencializa os seus desejos para com seu companheiro. É
assim que sabemos quem é a nossa companheira prometida. Mas seus desejos
já estavam lá. A febre do acasalamento não interfere em sua razão e em seus
sentimentos, ela só nos atrai próximos. Você não está mais sob o efeito da
magia. A excitação e a luxúria que sente é uma resposta natural do seu corpo
para o meu.
Agora tudo fazia sentido e ainda assim não fazia.
— Isso é loucura demais... Não sei o que fez, mas quero que pare isso
já!
A mão dele cobriu a dela e a colocou sobre seu peito. Ela lutou
instintivamente tentando se apartar do contato, contudo, ele facilmente a
manteve.
— Não posso parar isso. Está além dos meus domínios. — Caleb
pausou e esperou ter sua plena atenção. — Sente querida? Ele bate igual ao
seu. Bate por você.
Ela cerrou os olhos, receosa, o próprio coração disparando numa
corrida.
— O que está dizendo?
— Acho que o que estou querendo dizer é que estou apaixonado por
você. Sei que é cedo e tudo muito rápido, mas quero que me dê uma chance
de fazer isso bom para nós dois.
Furiosa, ela puxou a mão e pulou para fora da cama.
— Deus, eu não posso ter deixado um pesadelo para trás para cair em
outro pior!
A expressão dele endureceu, os punhos cerraram.
— É tão ruim assim que eu tenha sentimentos por você? Eu sei que
sente algo por mim, podemos fazer isso dar certo. Vamos trabalhar juntos.
— Não nego, eu sinto algo por você também. — O sorriso dele
triunfou e ela sentiu vontade de chorar. — Mas você deveria se acasalar com
uma da sua espécie.
Ele a olhou atordoado, ferido, a dor funda em seus olhos não podendo
ser escondida. Ela sentiu. E o mais impressionante, ela se sentiu ferida,
também.
— Somos da mesma espécie. Sou humano, com um adicional — ele
disse, tristemente.
Trish sacudiu a cabeça, de repente, sentindo o peito doer
profusamente.
— Não, não somos. Eu não mudo... Deus, você me mordeu. O que
isso faz a mim? Vou me converter num... shifter, também?
— Eu não tenho todas as respostas, mas sei que não te faria mal. E
você não pode se converter num shifter. Shifter não se transformam, nascem.
A mordida foi apenas para te marcar, qualquer macho shifter que chegar
perto de você saberá que já foi reivindicada e a quem terá de responder, se te
tocar. Você também me marcou.
— Eu não sabia!
— Seu subconsciente, seu corpo, seu instinto, sua alma sabia!
Pontos pretos começaram a piscar diante dos olhos de Trish e ela
começou a hiperventilar, e sentir-se enjoada. Rapidamente, se sentou na
beirada da cama.
— Acho que vou desmaiar.
Caleb esteve com ela num piscar de olhos, empurrando sua cabeça
entre os joelhos enquanto esfregava suas costas suavemente e lhe falava em
tom gentil.
— Respire devagar, Trish. Isso, bebê, assim. Tome profundamente e
vai passar.
Quando esteve sob controle, ela se endireitou e olhou nos olhos de
Caleb.
— Estamos acasalados?
— O acasalamento não se completou ainda. — Ele tomou uma pausa,
respirando fundo. — Vai me aceitar como seu companheiro? Ao menos
pensar sobre isso?
Trish se pôs de pé, recusando a mão dele estendida para ela.
— Isso é... é demais para mim. Não posso lidar com qualquer coisa
agora mesmo — ela murmurou num tom ferido, antes de caminhar para a
porta, Caleb estava bem atrás dela.
Trish achou a escada e tomou os degraus para baixo.
Vagamente, ela viu um acumulado de pessoas empoleiradas no sofá
da sala. Shifters. Ela não se fixou em nenhum passando direto para a porta de
saída. O apelo da fuga impulsionando seus pés.
Bom Deus, estava a caminho da loucura, isso se já não estava lá.
— Trish, querida, por favor, seja razoável — Caleb suplicou quando
ela alcançou o enorme alpendre na frente da casa. — Venha, vamos voltar
para dentro e conversar.
Ela deu a volta para enfrentá-lo.
— Já falamos o suficiente, Caleb. Não quero mais te ouvir. Agora,
pode me levar de volta para a minha cabana ou tenho que encontrar meu
próprio caminho?
Houve um cumprido silêncio antes de ele se render.
— Tudo bem. Me deixe apenas trocar duas palavras com Embry e
podemos ir.
— Quero que me leve e me deixe sozinha.
A expressão ferida dele era como se ela tivesse lhe dado um tapa na
cara.
— Quer que me afaste de você?
Ela queria?
Trish não sabia a resposta. Tinha muito para digerir.
— Não posso lidar com você agora. Por favor. Não faça...
Ele caminhou para ela e ela balançou a cabeça negando.
— Você não sabe o que isso vai fazer a nós dois...
— Eu sei que você me traiu, me fez de boba todo esse tempo e não
me deu qualquer escolha! — ralhou zangada, segurando as lágrimas nos
olhos. — Quero voltar para a minha casa e quero ficar sozinha! Pode
respeitar isso? Ou vai me obrigar a ficar? Sei que pode fazer isso.
— Não te obrigaria a nada — ele defendeu-se magoado. — Não quero
que vá. Fique. Não precisamos dormir no mesmo quarto, eu prometo que
darei seu espaço, apenas fique.
Ele lhe lançou um olhar suplicante.
Ela cruzou os braços sobre o peito, consciente do burburinho de vozes
dentro da casa.
— Quero ir. Agora.
Uns minutos mais tarde, a SUV preta estacionou na frente da cabana.
O curto caminho tinha sido silencioso, mas os olhares penetrantes de
Caleb, a angústia e frustração dele vindo em ondas para ela supriu todas as
palavras verbais. Os dedos dele estiveram torturando o volante, que ela achou
um milagre não ter quebrado.
Trish tirou o cinto e girou para pegar sua mochila no banco de trás...
Caleb agiu. Um assalto rápido e mudo. Agarrando a parte detrás de sua
cabeça e a forçou para seu rosto, nariz com nariz. O coração pulou e os olhos
azuis cresceram em espera.
— Eu não estou desistindo de você, companheira — ele rosnou
implacável, compartilhando o mesmo fôlego com ela, olho no olho, e,
finalmente, soltando-a.
Trish ficou a espera do beijo que não veio. Se sentiu uma tonta. Ela
estava ferida, magoada e muito brava com ele. Não deveria querer beijá-lo,
nem se sentir irritada por ele não ter roubado isso dela. Não era como se ele
tivesse muitos pontos para perder naquela noite.
Agarrando a mochila contra o peito, ela abriu a porta e saiu.
15

INTERLÚDIO

O dia amanheceu mais escuro e frio que de costume, e Trish deu por
si que como se sentia sobre Caleb não havia mudado em nada. Ao contrário,
havia um vazio. Um buraco fundo, que não, não era por ele, senão pela
enganação que sentia por ele ter encoberto a verdade.
Se fosse honesta admitiria que um pedaço de si ficou com ele quando
deixou seu carro na outra noite, mas não podia fazer nada. Caleb tinha lhe
dado um montão sobre a cabeça e estar na presença dele não a ajudava digerir
todas aquelas informações absurdas.
Deus, um shifter? Seres mitológicos?
Essas coisas somente existiam nos contos de terror para crianças e nos
livros de romances fantasiosos. Era inacreditável. Tinha de estar sonhando,
perdendo a mente. Qualquer coisa.
Só não podia acreditar...
Ela não tinha certeza se poderia lidar com isso ontem, e hoje,
certamente, ainda não podia. Por outro lado, uma parte – talvez – absurda de
si, era capaz de compreender o porquê de ele ter sido omisso sobre o quê
realmente era. Porém, a outra estava mortalmente assustada e incrédula,
duvidando seriamente de sua sanidade mental. Mas ela tinha visto. Era real.
Durante toda a noite, Trish tinha chorado ansiando bloquear as
últimas horas em vão. E, sobretudo, ele. Mudar a roupa de cama não tinha
surtido qualquer efeito. Ela ainda era capaz de sentir a essência dele no
quarto, nela própria. Ouvir o uivo desolado não ajudou em nada. Ela sabia
que era ele, bem como, sentia a tristeza dele pela separação como a sua
própria.
Quando olhou no espelho viu que estava um trapo. Ela era uma
bagunça. Desejos e anseios, sentimentos e emoções, e razão, tudo em
conflito.
Como alguém deveria lidar com isso? Qual era o procedimento de
praxe?
Sem respostas, que não fosse procurar um psiquiatra, Trish afundou
sua sorte e tentou não pensar sobre aquilo, pois quanto mais pensava mais sua
mente dava nós e com mais raiva ela ficava dele. Prendeu o cabelo num rabo
de cavalo e foi para a cozinha, onde bebeu uma xícara de café fumegante.
Não tinha fome. Seu estômago estava fechado para comida. Agarrou as luvas
e o saco de lixo, e, em seguida, transladou para fora da cabana.
— O que está fazendo aqui?
Trish girou a cabeça e levantou os olhos para ver a amiga olhando-a
da varanda.
— Eu moro aqui Lee.
Ergueu a tampa da lata de lixo e enfiou o saco dentro.
— Você não ia ficar com Caleb?
As palavras se afundaram em seu peito e fez seu coração doer.
— Não vai dar certo — ela murmurou o suficiente para Lee escutar.
Sem outra palavra, Trish se dirigiu de volta para a cabana.
— Oh, espere aí!
Lee gritou vindo em seu encalço, entrou e fechou a porta enquanto
Trish tirava as luvas e se servia com mais uma caneca de café. Sentou-se a
mesa e bebeu um sorvo. A amiga puxou uma cadeira, também. O olhar
inquisitório cravado nela.
— Qual o problema? Achei que vocês estivessem no amor — Lee
disse, com cautela.
Trish cuidou para que seu olhar permanecesse na caneca, do
contrário, iria chorar.
— Não vai dar certo.
— Você já disse isso. Agora, por que não vai dar certo? Ontem você
estava tão feliz, que vou te dizer, estava complicado ficar perto de você.
Isso até descobrir que ele saiu dos meus pesadelos.
— Apenas descobri que... nós somos de mundos diferentes.
— Isso não é motivo, Bonita.
Trish arriscou uma olhada para a outra mulher.
— Confie em mim, é. — Respirou profundo e soltou, lentamente. —
Nós tivemos uma discussão... uh... esclarecedora. Ele não é para mim. Foi
tudo um grande engano.
E por que seu peito doía tanto com o pensamento? Por que a ideia de
não tê-lo mais torcia seu íntimo e sua garganta fechava? Por que se sentia
como merda?
Porque você precisa de um psiquiatra, garota!
— Ah, foi só uma briguinha boba de casal, Bonita! A primeira de
vocês. Logo estarão bem novamente, e, poderão brigar de novo, se reconciliar
e fazer todo o ciclo, uh?
Seus olhos queimaram e ela piscou as lágrimas de volta.
— Vai por mim. Não foi uma briguinha boba. Acabou.
Tinha terminado e não havia modos dela voltar atrás, garantiu a si
mesma, sentindo o peito sangrar mais um pouco. Ainda assim, havia aquela
pontinha de esperança.
— Ele te fez algo em particular?
Como ela deveria responder a isso?
— Eu apenas percebi que o mundo dele não é para mim. Tudo isso foi
muito rápido e eu não deveria ter me deixado envolver desse jeito. Essa não
sou eu.
Lee suspirou e se recostou na cadeira.
— Bonita, você apenas está com medo. Isso não quer dizer que a
relação entre vocês seja errada. Acha que se tivessem apertado o freio o
mundo dele seria para você?
— Não. Quero dizer, não sei. Caleb, nós apenas... não podemos. Não
posso lidar com qualquer coisa sobre ele. — Nem sobre o mundo dele.
— Acho que Caleb levá-la para a casa dele te assustou um bocado,
não? Deixou as coisas mais sérias, hein? Eu sei, isso pode ser aterrador às
vezes.
Lee não fazia ideia do quanto.
Ante seu silêncio, ela continuou:
— Olhe, vou ser franca, não estou entendendo nada. Vocês estavam
bem até ontem e eu realmente entendo seu receio, quero dizer, nós
conversamos na outra noite e ontem você parecia muito bem. Tinham
conversado, não? Então, eu volto a te perguntar, ele te fez algo em particular?
Eu sei que ontem era para você ter retornado da entrega, mas a Megera disse
que você ficaria em Snowville com Caleb, e agora, você aparece e diz que
terminaram e está aí parecendo um bicho ferido, como se tivessem lhe
arrancado um dente.
— Ele não me fez mal, não dessa maneira — garantiu colocando o
café de lado quando se sentiu enjoada. Tudo sobre aquela conversa lhe fazia
mal. — É só que...
— Que?
Ela tomou um fôlego e trabalhou em busca das palavras certas. O que
Caleb era, por mais que a assustasse um inferno e ela estivesse raivosa por
ele, não era seu segredo para contar.
— Digamos hipoteticamente... O que faria se descobrisse que algo
que sempre acreditou ser um faz-de-conta para você é real?
Lee estreitou os olhos, a expressão pintada em confusão.
— Preciso que me ilumine aqui.
Trish se mexeu na cadeira, desconfortável. Aquilo não era nada fácil.
Seria apenas agradável se ela pudesse falar com Lee abertamente.
— Você sabe. Algo que jamais pensou em existir fosse real? O que
faria?
— Tipo o coelhinho da páscoa?
Trish enrugou o nariz.
Ele provavelmente come o coelhinho da páscoa.
— Quase.
A expressão de Lee se voltou pensativa então, os olhos brilharam com
excitação.
— Eu o faria cagar ovos de chocolate.
— Lee!
Ela encolheu os ombros.
— Eu amo chocolate. — E acrescentou. — Bonita, coelhinho da
páscoa não existe, mas, se existisse de fato, eu ficaria assustada pra caralho e
logo muito feliz, porque realmente amo chocolate. Cacau de graça pra
sempre? Um sonho... Cristo, ele é o coelhinho da páscoa?
— Claro que não!
— Merda!
— Você não está me levando a sério — resmungou.
— Bonita, eu estou perdida aqui e você não está fazendo o menor
sentido.
— Não precisa fazer. Ele, nós, isso não... Confie em mim, somos
muito diferentes. Simples assim. Caleb não é para mim e eu não sou a
parceira ideal para ele, embora ele pense que sim.
— Eu não vejo como isso pode ser ruim, quero dizer, ficar com
alguém que tenha coisas em comuns com a gente é legal, mas idêntico? Não
mesmo! Eu não suportaria alguém igual a mim. Não creio que o fato dele ser
diferente de você seja motivo suficiente para terminarem, a não ser que tenha
descoberto que ele tenha gostos asquerosos, algo que te repudia, é isso?
Trish empurrou as costas contra o respaldo da cadeira e bufou
aborrecida.
— Eu apenas caí na real — Trish mentiu facilmente.
Houve um cumprido silêncio.
— Acho que Inuvik te deu mais agito do que esperava, hein?
— Escute, não me leve a mal, sim? Eu não quero mais falar disso
agora. Tenho que arrumar algumas coisas aqui em casa antes de ir para a
P&C.
Lee sorriu complacente e assentiu, beijando o topo de sua cabeça.
— Sabe que estou aqui para o que precisar, não é? Talvez pudéssemos
descolar uns filmes da Meg Ryan e um ou dois potes de sorvete para depois
do serviço. Que tal?
Trish tentou um sorriso.
— Obrigada.
— E sabe o quê? — Lee murmurou da porta. — Ele é totalmente para
você. Não permita que seu medo te impeça de tentar, se há uma possibilidade
real de ser feliz. Afinal de contas, os planos sempre mudam e nos adaptamos
a eles ou sofremos. A decisão é sua.
Trish ficou olhando para a porta quando esta bateu fechada e jurou
para si mesma que não iria chorar. Ela também tinha sido crível por um
instante que ele era tudo que ela precisava, que era seu bonito conto de fadas.
Bem, inferno, acontecia que ele era um conto de verdade.
Umas quantas horas depois, ela ainda não se sentia melhor por mais
que desse o máximo de si para se distrair com o trabalho. Suas colegas não
tinham feito muitas perguntas sobre a outra noite e Trish as agradeceu em
mente por isso. Quando Maya a chamou no escritório dos fundos da P&C,
Trish sabia que levaria uma bronca e com razão. Ela sentiu que deveria se
explicar, no entanto, não fez e esperou que a chefe falasse quando se sentou
na frente dela.
— Você está bem?
Trish franziu o cenho para a pergunta.
— Sim, estou bem. Obrigada.
O escrutino de Maya a fez incomoda.
— O que a fez parar e sair da estrada?
Trish limpou a garganta.
— Uh... Me desculpe por isso, eu...
— Está se desculpando por quase ter sido atacada?
— Bom, sim, eu acho.
Maya assentiu devagar.
— Certo. Agora, me responda, por que saiu da estrada?
Trish lambeu os lábios. Cruzou e descruzou as pernas. Moveu-se para
trás.
— Um animal atravessou o meu caminho e eu acabei batendo nele —
disse, enfim, feliz que soasse tão natural.
— Um animal? Que tipo de animal?
— Um lobo — ela cedeu após uma breve hesitação. — Mas eu estou
bem. Realmente. E o lobo, também. A senhorita sabe, não foi nada demais.
Apenas um acidente sem maiores danos para os dois — acrescentou quando
Maya se manteve calada.
Ela estava se levantando quando a chefe se pronunciou.
— Como era esse lobo? Você conseguiu ver alguma característica
dele? — Trish meio que congelou, pregando a bunda de volta no assento. —
Eu tenho um amigo veterinário, que é especialista em lupinos e tem um
santuário aqui perto para eles, talvez você tenha topado com um dos lobos,
que ele cuida e que tenha conseguido escapar. Se lembrar de qualquer
característica dele, meu amigo poderia saber qual lobo é e rastreá-lo pelo
chip. Seria muito útil, sobretudo, se ele estiver ferido.
Ele está corrompido, por isso os olhos dele são vermelhos.
Na hora Trish não tinha sido capaz de ligar os pontos, mas agora ela
sabia que aquele não tivera sido um lobo qualquer, ele era um shifter como
Caleb.
— Estava muito escuro.
Maya deu a ela o que deveria ser um sorriso, mas saiu uma careta. O
que só provava que a mulher não sorria com frequência, provavelmente, nem
sabia como fazê-lo.
— Tudo bem. De qualquer forma, se lembrar de algo, me deixe saber.
— Okay.
— Pode retornar ao serviço.
Com um balde de alívio despejado sobre a cabeça, Trish retornou a
lanchonete e se concentrou em suas funções. Bem, quase. Ela era tudo sobre
apreensão enquanto trabalhava, jogando o olhar vez e outra para a porta,
rezando para que Caleb não fosse até a P&C, mas havia aquela parte de si
que ilogicamente queria que ele fosse até ela. Ele não foi, entretanto.
Naquela noite quando estacionou o carro na vaga na frente da cabana
e desceu indo em direção ao alpendre, um calafrio aquecido cortou através de
sua coluna e seus pelos arrepiaram. O coração bateu nas costelas. Trish
parou, num misto de temor, alegria e irritação.
Caleb estava lá. Como ela sabia era um mistério para ela própria.
Colocando a chave na fechadura, Trish destrancou a porta e suspirou
pesado.
— Vá embora Caleb — ela murmurou baixinho, antes de entrar e
fechar a porta, sabendo que ele a ouviria com todos aqueles sentidos
apurados.
Ele respondeu com um uivo triste, que afundou em seu coração.

****

Ele a tinha perdido. Não. Caleb se recusou a pensar desta forma. Ele
não a tinha perdido, senão lhe dado o tempo que ela precisava para digerir
sobre seu mundo, mas ele não a tinha perdido. No entanto, ele sentia como se
uma parte essencial de si tivesse sido arrancada dele.
Caleb podia entender seu ceticismo e medo. Sendo um shifter, ele
sabia que existiam muitas coisas neste mundo que desafiavam a razão,
mesmo para ele. Isso não fazia qualquer coisa menos real ou pior. O diferente
existia por uma razão e era apenas revelado aqueles que pudessem lidar com
ele. O Criador nunca estava errado sobre os prometidos.
Mas, Deus, doía.
Desolado, o lobo avermelhado ergueu a cabeça e uivou, um som triste
e pungente, que ondulou pela floresta e lentamente desapareceu no ar. Baixou
o tronco e deixou a cabeça repousar nas pastas estendidas enquanto seu olhar
se perdurava sobre a cabana.
Caleb ouviu o choro baixo de Trish, compartilhou sua tristeza e
chorou com ela. Sentia a separação em seus ossos, o rechaço enrodilhando
suas entranhas, cravando as garras em seu coração. Ele ansiava estar com ela,
sustentando-a e limpando as lágrimas dela. Melhor, desejava tocá-la com seu
amor e amá-la, até que tudo que ela pudesse sentir fosse apenas ele e
obtivesse a certeza de que ela era tudo para ele. Era a única para sempre.
Por horas e horas, ele permaneceu na mesma posição, oculto na
sombra da encosta, ouviu quando a respiração de Trish se acalmou e tornou-
se um ressonar, baixo e suave, quando ela adormeceu. Ainda assim, as
emoções dela vinham até ele em ondas. Esperando que um milagre
acontecesse e ela abrisse a porta, chamando-o de volta. Não aconteceu.
Ele não tinha dormido e nem tinha sono, nem fome, nem vontade de
fazer qualquer coisa, salvo ficar onde estava. A impotência era uma grande
cadela. Entretanto, o homem sabia que não tinha perdido a luta, ainda restava
alguns dias e ele lutaria até o fim.
E, se ela não o quisesse? Se não pudesse aceitá-lo de nenhuma forma?
Caleb empurrou as perguntas para baixo e recusou-se a pensar em
qualquer coisa naquele sentido. Ele aceitaria tudo dela, exceto perdê-la.
Forçou-se sobre as patas e, em seguida, correu para Snowville.
No quintal de casa, Caleb mudou para forma humana, ciente do
público em sua casa, mas ele não deu a merda quando rumou até o quarto,
ignorando o silêncio que se sucedeu com sua entrada. Fez uso do chuveiro e
enrolou uma toalha no quadril, antes de sair encontrando sua irmã sentada em
sua cama.
A fêmea o olhou com o semblante preocupado e apreensivo.
— Vocês conversaram?
— Você a ouviu. Ela precisa ficar sozinha — ele disse numa voz sem
emoção.
— Ela precisa de você e você dela — contradisse Raina.
Caleb soltou uma exalação forte, abaixou a cabeça e fincou as mãos
no quadril.
— Acha que não sei disso? Não posso forçá-la a aceitar o que eu sou,
tenho que lhe dar tempo para digerir sobre nosso mundo e sobre mim.
Raina se colocou de pé.
— Você não tem muito tempo, Caleb!
— O que quer que eu faça, Raina?
— O que qualquer shifter-lobo Alfa faria. Faça-a enxergar que não
podem ficar um sem o outro, nem que para isso tenha de agir feito um macho
das cavernas. Coloque-a em seus ombros, traga aqui e a submeta. Ela é sua
prometida, a negação a você não é uma alternativa.
— Há muito tempo deixamos de agir como estúpidos machos
arrogantes, tomando nossas companheiras sem explicações ou desculpas,
apenas impondo à rendição as fêmeas. — Ele buscou a cadeira ao lado da
cômoda e se sentou. — Muito me admira que justo você que conviveu tanto
tempo entre os humanos puros e que sempre reclamou sobre nossos costumes
arcaicos, me aconselhe isso. Não era você que pregava sobre os direitos das
fêmeas de escolher?
Raina deu os ombros, o semblante voltou-se entediado.
— Ás vezes tudo que uma fêmea precisa é da prepotência de um
macho que mostre a ela o que ela mesma não quer ver por pura teimosia. E
garanto a você que muitas das minhas colegas humanas não achariam ruim se
houvesse um macho que as tomasse assim, principalmente, quando o macho
em questão é o amor da vida delas. — Ele abriu a boca para contestá-la e
Raina ergueu a mão. — E não, por favor, não diga que Trish não te ama, ela
pode até não saber disso ainda, mas você é o amor da vida dela, bem como,
ela é o seu.
Caleb se inclinou para frente, com os cotovelos nas coxas e esfregou o
rosto com as mãos.
— Não há nada que eu possa fazer por agora, a não ser esperar. Eu já
estraguei tudo uma vez e não vou correr o risco dela se distanciar de mim
ainda mais. Ou ir-se.
Raina plantou as mãos na cintura redonda e olhou com irritação.
— Francamente, Caleb! Nunca pensei que você, justo você, seria tão
complacente quando o impulso da febre do acasalamento agarrasse suas
bolas. Tudo que sempre ouvi de você desde que éramos filhotes era sobre
como seria quando encontrasse sua prometida, e agora, está aí todo
cabisbaixo como se não pudesse fazer nada mais que se lamentar e lamber
suas feridas.
Os lábios dele se enrolaram e um grunhido baixo estremeceu seu
peito.
— Não estou desistindo Raina.
— Mas também não está fazendo nada.
Caleb a olhou por um longo momento, sem qualquer emoção, muito
consciente do porquê sua irmã estava tão apreensiva, e ele não poderia tirar a
razão dela. Ele mesmo se sentia a beira do desespero. Ele não iria aceitar a
rejeição de Trish. Caleb simplesmente não podia.
— Acha que não quero ir lá e fazer justamente o que nossos
antepassados faziam? Mas não quero que Trish me odeie. Eu sei, ela irá me
aceitar porque é isso que a alma e o corpo dela quer, mas e ela? Trish irá cair
de amores por mim, se eu tomar a decisão por ela?
— Eu sei de uma coisa, fêmeas humanas sonham com um conto de
fadas, com um amor verdadeiro que durará para sempre e elas buscam isso
incansavelmente. Você tem que demonstrar a Trish que é o conto de fadas
dela. Ela não vai te negar, nem te odiar, se a fizer enxergar o amor que ela
tem em mãos e que isso é verdade. Tão real quanto nossa existência.
— Você faz parecer tão fácil — ele comentou com um sorriso sem
humor.
Raina soltou um risinho.
— Não é. Ainda mais se tratando de humanos. Sou grata que meu
companheiro é um shifter, do contrário, eu acho que teria feito muita merda.
— Ela se aproximou dele e pousou a mão em seu cabelo, acariciando-o. —
Eu sei que tudo ficará bem e que você fará a coisa certa. Trish vai te aceitar,
meu irmão. Não há outra opção. Nem que pra isso eu tenha que ir até ela e
trazê-la para você pelos cabelos. Ou eu posso chorar na frente da porta dela,
sabe que estou muito boa nisso. Fêmeas grávidas têm um excelente apelo
emocional.
Ele riu e tomou a mão dela, beijando-a em respeito e a olhou com
carinho.
— Obrigado, mas acho que posso cuidar disso sem que use seus
artifícios hormonais.
— De qualquer maneira, eles estão a sua disposição.
A oferta de Raina era tentadora. Acontecia que ninguém poderia
interferir no acasalamento, e mesmo que fosse permitido, ele jamais poderia
aceitar. Precisava tomar conta da situação por suas próprias mãos, mostrar-se
honroso para sua prometida. Eram companheiros predestinados a ficarem
juntos. Trish iria entender isso, talvez, o tempo longe dele servisse para ela se
dar conta que, apesar de suas particularidades, ela não poderia viver sem ele.
Forçando uma paciência que o lobo e o homem não possuíam, Caleb
esperou por ela.
Dois dias depois eram mais do que ele podia aguentar.
****

Não importa que ela não o visse, Trish sabia que Caleb estava lá,
tácito nas sombras da floresta, esperando, cuidando, dando-lhe seu tempo.
Caleb honrou sua palavra sobre não desistir dela. Trish teve de dar isso a ele
e admitir a si mesma que sua atitude, embora a chateasse, a fez se sentir
segura... e agradava um pouco. Certo. Estava mentido. Agradava muitíssimo!
A princípio, ela quis negar tudo aquilo, dizer a si mesma que estava
imaginando uma fantasia, contudo, a imagem da mudança dele na sua frente
era muito sólida para que ela pudesse negar. Os dias solos fez a sobrecarga
em seus nervos diminuir e com isso ajudou-a a digerir o pacote de
informações surreais sobre ele, mas não tinham feito nada para ajudá-la a se
sentir menos enganada e traída. Ainda achava tudo uma loucura e ela queria
acreditar na manipulação de algo maior para dar vazão aos seus sentimentos,
no entanto, ela sabia ser mentira.
E, Deus, ela sentia a falta dele, todos os dias.
Em introspecção, Trish concordou que não se tratava de nenhuma
magia sobrenatural, seus sentimentos eram verdadeiros, ele estava em seu
coração e sua ausência a fazia doente.
Ela quis odiá-lo pela omissão, porém teve de dar razão a ele. Mesmo
pelas visitas na calada da noite, ela não era capaz de odiá-lo. Estava irritada
sim, todavia, não era burra.
Eles não estavam juntos, mas morria pelo toque dele, ansiava pelos
braços poderosos ao seu redor, pelos beijos que roubavam sua alma. Sonhava
dormindo e acordada, com Caleb levando-a profundamente, lhe fazendo amor
até que ela estivesse inativa para o mundo.
Mas como poderia aceitar o que ele era e conviver com isso?
Fantasiar era uma coisa fácil, mas a realidade era muito diferente, e
ela não estava certa se poderia lidar com isso. Eles eram diferentes... e havia
o sentimento de enganação. Ele tinha que ter lhe contado a verdade de início,
lhe dado uma escolha, qualquer coisa, exceto omitir. Embora soubesse que
isso não faria nenhuma diferença, ela ainda se sentiria horrorizada.
Diabos. Trish estava uma bagunça.
Zangava porque todos os seus planos de uma vida tranquila e pacata
em Inuvik se desfizeram, e lhe deu mais do que ela supunha ser capaz de
aguentar.
Não era somente o fato dele ser uma criatura dos contos, Caleb tinha
dito que ela era sua companheira prometida. Ainda não tinha ideia do que
isso significava, nem se a agradava.
Dois toques na porta a tirou de suas ruminações. O coração disparou
do nada e seu rosto franziu. Uma estranha agitação se concentrou em seu
estômago e revolveu suas entranhas.
Ela não estava pronta para falar com ele ainda.
Decidida a mandá-lo embora, Trish foi até a porta, abrindo-a
enquanto falava:
— Caleb, eu já disse... — ela travou, a face empalidecendo. — Você?
16

SOMBRAS DO PASSADO

Trish não podia estar vendo um fantasma na sua frente e seus olhos
funcionavam bem. Infelizmente, o homem sorridente na frente de sua porta
estava muito vivo para um fantasma.
— Caleb? Quem é Caleb?
Trish piscou. Uma. Duas. Três vezes.
— O quê? Como você...?
O tipo alto e louro, de olhos castanhos amendoados e porte atlético,
suspirou.
— Não foi fácil, confesso. Mas, enfim, consegui uma pista sobre seu
paradeiro. — O sorriso conquistador minguou e seus olhos ganharam um
toque de repreensão. — Foi feio o que fez Trish. Ir embora sem dizer adeus a
ninguém, sem me dar uma chance de explicar. Deixou-me louco de
preocupação. O que pensou vindo para este lugar no fim do mundo?
Aparentemente, não era tão fim do mundo assim, uma vez que o
bastardo tinha encontrado-a. Trish mal era capaz de acreditar que ele tivera a
coragem de ir atrás dela depois de tudo que lhe fez. Mas o que poderia
esperar de um tipo asqueroso como ele?
— O que está fazendo aqui, Stephan?
Seu ex-noivo sorriu.
— Eu vim por você, querida.
— Não me chame assim! — ralhou entre os dentes. — Você dentre
todos os homens existentes no planeta é o único que não tem direito de me
chamar desta forma.
Ele não lhe deu atenção.
— Me convide para entrar, querida, estou congelando aqui. É muita
falta de educação tua me deixar nesse frio congelante quando vim de tão
longe por você.
Ele achava mesmo que sua perseguição era uma prova de amor?
Todas aquelas emoções escuras, que estavam enterradas, bateram nela
com uma bola de aço. O zumbido de fúria surgiu em suas veias, fazendo seu
coração trabalhar mais rápido.
— Vá embora, Stephan. Não há nada aqui para você, e eu,
certamente, não tenho nada para falar contigo. Se não pegou a dica que deixei
quando parti, eu te digo isso com todas as letras: não quero te ver nunca mais
na minha vida!
Ela tentou bater a porta fechada na cara dele, mas Stephan colocou o
pé entre a fresta aberta, e com um empurrão eficaz, a abriu e passou por ela.
Trish olhou-o com a boca aberta, desejando seriamente bater no bastardo até
que não lhe restasse forças.
— Belo lugar! — Stephan comentou distraído, se fazendo dono do
ambiente enquanto mirava em volta com um olhar esnobe e fez um
acréscimo. — Nada comparado ao nosso apartamento em Nova York, mas eu
poderia viver aqui.
A expressão de Trish aprofundou encolerizada ao lado da porta
aberta.
— Você não vai viver em qualquer lugar próximo a mim, Stephan.
Saia da minha casa agora mesmo! Do contrário, eu vou chamar a polícia e
pedir uma ordem de restrição contra você.
Stephan girou de frente para ela e a fixou.
— Quem é Caleb? Um passatempo?
— Saía!
Stephan apenas ficou lá, mirando-a, numa postura indolente.
— Ainda com raiva do meu deslize? Pensei que este tempo longe
tivesse servido para se acalmar e entender meu lado. Vejo que não foi assim,
não é?
Trish apertou as mãos em punhos.
— Você foi um maldito! A pior coisa que aconteceu na minha vida.
— Não era assim que você pensava meses atrás quando fizemos
planos para nos casar.
— Isso foi até eu descobrir que você é um porco crápula sem um
grama de caráter.
O rosto dele suavizou e Stephan tentou se aproximar, mas Trish se
afastou com a face hostil.
— Querida, eu sei que fui um tolo e te machuquei. Não sabe o quanto
me arrependo por meu erro bobo. Foi um vacilo sem importância. É a você
quem eu amo, Trish. Eu mudei, querida, não sou mais aquele homem. Juro-
lhe isso. Dê-me uma chance, por favor.
Trish soltou um riso nervoso, que soou histérico.
Matar é crime, garota.
Seus braços cruzaram sobre o peito enquanto os olhos o fuzilavam.
— E isso foi quando Stephan? Quando pararam de rir da minha cara?
Ou quando ela não tinha mais o meu dinheiro para bancar seus luxos? — Ele
abriu a boca e Trish o calou com a mão erguida. — Não, não responda. Nós
dois sabemos a resposta. É um encostado mentiroso! Mas sabe o quê? Eu não
sou mais aquela Trish estúpida que acreditava em suas mentiras.
— Realmente. Você está diferente. Mais selvagem. Eu gosto.
O corpo dela empertigou ante o descaramento do tipo. A vontade de
esfolá-lo vivo correndo-a até os ossos. Era duro lembrar que assassinato dava
cadeia.
Quando Trish não respondeu, porque a raiva embrulhava as palavras
em sua língua e fazia seu estômago enjoado, Stephan adulou:
— Vamos lá, Trish! Não pode dizer que não sentiu minha falta e que
não sente mais nada por mim. Compartilhamos uma vida juntos para acabar
assim. Um erro não deveria pesar tanto quando tivemos uma história bonita,
que pode dar muito certo, se você ainda quiser.
As palavras dele incendiaram seu temperamento e ela explodiu.
— Você me traiu com a minha própria mãe, seu maldito!
A imagem ainda queimava em seu cérebro e fazia seu peito sangrar.
Não por ele em tudo, mas pela mulher que chamava de mãe. A decepção era
demais. Nunca seria capaz de perdoá-la.
— Foi ela que deu em cima de mim — acusou ele. — Eu não sabia
que ela era sua mãe até o jantar do nosso noivado.
— Pare de ser tão covarde e sujo, Stephan! Ao menos honre suas
bolas e tenha a coragem de dizer a verdade uma vez nessa sua vida miserável.
Você sabia sim quem ela era, bem como, ela sabia quem você era. Os porta-
retratos espalhados pelo meu apartamento eram bem claros e, mesmo se
vocês não soubessem um do outro, ainda assim eu não te perdoaria. Você me
traiu e continuou traindo, mesmo depois do jantar!
Os pilantras. Eles eram perfeitos parceiros sanguessugas. Dois
oportunistas, que Trish acreditou que lhe amavam, enquanto eles a traiam
pelas costas sem um pingo de remorso.
Trish estava em ascensão no trabalho quando conhecera Stephan,
ainda sem saber que ele era o filho do CEO da empresa em que trabalhavam.
Ele tinha sido um sonho, o cavalheiro perfeito, levando-a para encontros
românticos e suportando suas longas conversas sobre o mercado financeiro
sem se chatear. Sempre muito gentil, educado e charmoso. Ela tinha caído
por ele, cativa em seus galanteios e pela falsa imagem de bom moço, que ela
acreditou que ele era. Mesmo as fofocas nos corredores sobre como Stephan
era irresponsável e, por isso, seu pai cortou seus luxos e o fizera trabalhar na
empresa, não foram suficientes para quebrar o feitiço, até o dia que o
encontrou na cama deles com Doratella.
— Ela insistiu. Eu tentei dizer a ela... De fato, eu disse que não
podíamos continuar com aquilo, mas Doratella me cercou. Sou homem. Caí
em tentação — Stephan retorquiu, com um encolher fragilizado de ombros.
Trish lhe olhou com asco, a ânsia contorcendo seu estômago e
ameaçando vir sobre seus próprios pés a qualquer momento.
Como ela podia ter se apaixonado e pensado em se casar com aquele
bastardo? Como pôde não enxergar quem ele realmente era?
— Você não é um homem, Stephan, senão um verme nojento. Eu
odeio você e aquela puta imunda. Nunca mais na minha vida quero ver
nenhum dos dois!
E pensar que ela tivera trabalhado duro, se abdicando de pequenos
prazeres para si mesma, tudo para deixar Doratella em boa situação,
mantendo seu conforto e luxo quando a cadela tinha dado conta de acabar
com o último centavo que seu pai deixara. Sua sorte era a poupança para seus
estudos, que Henry fizera para ela às escondidas, do contrário, não poderia ter
se formado na universidade, porque a mulher que chamara de mãe era uma
dondoca consumista e preguiçosa, que acreditava que o mundo lhe devia.
Stephan deu um passo para ela.
— O ódio não está muito longe do amor. Eu aprendi a lição.
— Eu também.
— Podemos recomeçar, querida. É por isso que estou aqui. Fui um
completo idiota e me arrependo muitíssimo por machucar você. Mas não há
qualquer outra em minha vida que não seja apenas você, Trish. Acredite em
mim, é a única que quero.
Trish deu uma risada forte que sacudiu todo seu corpo.
Inacreditável.
— Você não somente arruinou minha vida, como também o meu
emprego — rispidamente, ela disse. — Eu trabalhei tão duro, e você sabia,
ainda assim sua ambição, sua falta de caráter e seu egoísmo foram maiores
que qualquer grama de decência que pudesse haver em você. Ou já se
esqueceu que também me ferrou na empresa? Os presentes de Doratella
comprados com o meu dinheiro não eram suficientes para você... Sabe o quê?
Eu tenho pena de você.
O bastardo era um tremendo ganancioso. Não obstante, ele tinha feito
desvios na empresa, e quando a sujeira esteve prestes a explodir, Stephan
tinha dado um jeito de fazer parecer como se ela tivesse roubado. O caso
tinha sido abafado por seu pai em consideração ao longo noivado e a pedido
do próprio Stephan, como se ele tivesse lhe fazendo um grande favor quando
era ele próprio o culpado. Deus, o homem era um crápula por excelência.
— Meu pai me deserdaria se soubesse que tinha sido eu. Não houve
maiores danos. Eu cuidei de tudo, não cuidei? Foi de uma maneira errada,
mas acredite, estava pensando em nós, no nosso futuro. E eu realmente não
roubei. A Companhia é minha.
— Não Stephan, a Companhia é do seu pai. Você é apenas um abutre
trapaceiro, esperando ele morrer para tomar o que ele conquistou. Isso porque
você é um incapaz.
O maxilar dele enrijeceu e a mão correu pelo cabelo.
— O que tenho que fazer para que possa me perdoar e me dar uma
chance de mostrar que eu mudei? Eu faço qualquer coisa.
— Nada do que fizer poderá mudar a imagem que tenho de você,
porque eu jamais vou te dar qualquer chance de estar próximo a mim,
novamente. Agora saía da minha casa, cacete!
— Eu vou, mas não da cidade — comunicou. — Vim aqui com um
propósito e se me conhece tão bem, sabe que eu não vou desistir até tê-lo
alcançado. — Boquiaberta, Trish o assistiu se encaminhar para a porta.
Stephan a abriu, mas antes de sair, ele se voltou para ela com a expressão
séria e pensativa. — A propósito, você ainda não me disse quem é Caleb?
Esqueceu-me tão rápido?
— Te esquecer? Não, não fiz. Até porque decepções como você
devem ser lembradas para que não caia em outra, embora eu duvide que haja
no mundo outro homem tão asqueroso quanto você. Mas te enterrei como
homem quando agiu como um grande filho da puta comigo.
Ele pareceu chocado por um momento.
— Não me ama mais?
Ela ergueu o queixo, olhando-o por cima, juntando a raiva como se
fosse uma armadura.
— Sabe Stephan, — Trish começou devagar, o controle ajustado nos
punhos. — Acredito que nunca te amei... Sim, é isto. Você foi um sonho
bonito, eu confesso. E houve uma época que eu realmente pensei que você
fosse o homem da minha vida, mas ao olhar para você agora, para o
verdadeiro Stephan, eu percebo o quão iludida estava. Você tem muito boa
aparência, é culto e educado. Essas são coisas que uma mulher preza. No
entanto, uma mulher precisa de mais. Mais que um simples cara bonito e
vazio. E você não tem nada a oferecer para uma mulher além de seus
galanteios e sua boa aparência.
Ele moveu-se para ela, agarrando-a pelos ombros antes que pudesse
reagir.
— Mudará de ideia quando me der uma chance. — E acrescentou
firme. — Eu errei, mas estou disposto a reparar meu erro contigo.
Trish plantou as mãos no peito largo masculino e tentou empurrá-lo.
— Me solte agora mesmo, Stephan!
— Você está errada. Apenas está com raiva, mas ainda sente algo por
mim.
— Eu não...
As palavras foram cortadas pela boca dele pressionando sobre a sua.
Trish conseguiu se desvencilhar dele por um efêmero momento e lhe deu
uma bofetada. Mas o ato que teria feito qualquer homem inteligente se
afastar, apenas o estimulou. Agarrando-a antes que pudesse ir mais longe ou
acertá-lo novamente, Stephan a beijou outra vez. Ela forçou as mãos contra o
peito dele, porém não podia lutar com ele. Stephan era mais forte. Uma de
suas mãos segurava a cabeça dela enquanto ele tentava empurrar a língua
entre a costura de seus lábios.
A bílis subiu, o corpo rechaçando o contato, mas Trish manteve os
lábios rigidamente trancados, esperando que ele percebesse que não iria a
nenhum lugar com aquilo.
Um momento mais tarde... Um minuto... Possivelmente, uma vida
inteira depois, Trish ouviu o rosnado bestial e a outra coisa que sabia era que
Stephan estava voando para o chão.
Com o coração pulsando nos ouvidos, ela mirou Caleb e prendeu o
fôlego por um infinito segundo. Ele parecia feral e muito, muito sombrio. A
expressão. O corpo. Era tudo sobre uma massa de músculos rígidos como
rocha, enviando agressividade em ondas brandas pelo ambiente. Caleb era
letal, um macho pronto para fazer justiça com suas próprias mãos. Contudo,
nada disso era para ela, senão para o outro homem ainda no chão, com as
costas apoiadas em seu balcão. A ela era somente destinado aquele pulso de
dor funda, cavando em seu íntimo, lentamente.
— Caleb não é o que está pensando — ela disse, consciente da frase
clichê dos culpados; rezando para que o vínculo realmente dissesse a ele que
ela não mentia.
O rosnado dele reverberou dentro dela. Caleb não a olhou. Sua
atenção era de Stephan.
Enquanto limpava o sangue da boca, Stephan murmurou:
— Este deve ser o Caleb, hein?
Caleb tinha um olhar mortal. A tensão cresceu tanto que poderia ser
cortada com uma faca enquanto os dois homens se encaravam.
— Quem é você? — Caleb questionou num timbre profundo e
exigente, irreconhecível.
— O homem dela — Stephan disse, prepotente, se levantando.
Se possível, Caleb enrijeceu mais, os músculos ondulando
poderosamente sob a pele quando ele fechou as mãos em punhos, até que os
nódulos de seus dedos estavam esbranquiçados. A veia no pescoço dele
começou a pulsar e os olhos diminuíram perigosos. O maxilar trincou.
Trish fuzilou Stephan com o olhar.
— Cale a maldita boca, Stephan! — Ela girou o olhar para Caleb e
deu um passo para ele com a mão esticada, mas ele se afastou de seu toque e,
Deus, doeu em suas entranhas. Engolindo a dor pelo rechaço, Trish tratou de
se explicar. — Ele não é meu homem. É só um porco bastardo que tive a
infelicidade de conhecer enquanto vivia em Nova York.
Caleb assentiu silencioso, sua expressão ainda não lhe dizia nada.
— Chamou ele aqui?
— Não.
— Ele está aqui contra a sua vontade?
Ela assentiu e foi tudo que bastou para Caleb estar sobre Stephan,
novamente, agarrando-o pela gola do casaco, como se o tipo não pesasse
mais que um saco de batatas, e no outro instante, rosnou na cara dele. Um
som animalesco e primitivo, que ela jurou que viu seu ex-noivo perder a cor e
se tremer todo, antes de ser arrastado para fora da cabana.
Um carro foi ligado e saiu, e então, nada.
Em choque, Trish correu a mão na testa e no cabelo, respirou fundo e
soltou, lentamente. A lei de Murphy era sua nova grande melhor amiga,
pensou estarrecida, ainda olhando para a porta fechada. Esperando que Caleb
voltasse. Ele não fez, no entanto.
Dez minutos depois, ele ainda não tinha dado sinal de vida, e ela
começou a se preocupar andando de um lado para o outro, indo até a janela
em intervalo de tempo.
Não se tratava de Stephan, senão de Caleb.
Trish não gostava das possibilidades rondando-lhe a mente,
sobretudo, quando o viu tão alterado. Aquilo não podia ser bom. O aperto no
seu intestino somente a fez mais nervosa.
Seguiu para a cozinha e encheu a chaleira de água, e, em seguida,
levou-a ao fogo. Chá sempre a acalmava, não importasse a situação.
Acontecia que ela precisava de uns bons litros se quisesse abrandar seus
nervos. Quando a chaleira apitou, Trish preparou um pouco de Earl Grey em
uma caneca, assoprou e tomou um sorvo generoso.
Quando a porta se abriu e Caleb apareceu, Trish baixou a caneca para
o balcão e trancou seu olhar no dele, com o coração disparando. Ele fechou a
porta atrás dele sem se mover, ainda assim tinha toda aquela energia poderosa
emanando dele, atingindo-a em suas entranhas.
A tensão entre eles cresceu quando nenhum dos dois disse qualquer
coisa enquanto os olhos se confrontavam. Nervosa pela forma que ele a
mirava, como se ela fosse sua presa e ele estivesse esperando um vacilo seu
para atacar, Trish contornou o balcão devagar indo para o lado contrário da
mesa. Os olhos dele seguiram silenciosos. Não era medo em tudo, ela
percebeu. Caleb não iria machucá-la, mesmo que parecesse muito intenso.
Seu sangue correu mais rápido e a antecipação fez sua barriga tremer.
O chiado crescente dentro de si em espera. Trish lambeu os lábios e quebrou
o silêncio.
— Caleb o que viu... ah, sobre aquele beijo não é como se pareceu,
quero dizer, ele me beijou, mas eu não... Está me ouvindo? Eu não o beijei.
Ele... ele roubou isso, mas...
O grunhido profundo vibrando do peito de Caleb saqueou suas falas.
— Ele disse que você é dele.
— Eu não sou — ela murmurou baixinho.
Os olhos dele resplandeceram em ouro líquido, o fogo possessivo
brilhando neles.
— Não, você é minha. Só minha.
Apanhada despreparada, Trish não teve tempo para reagir quando ele
moveu-se mais rápido que seus olhos debilitados podiam acompanhar,
capturando a parte detrás de sua cabeça e abaixou a sua, tomando seus lábios
num beijo quente. Sofrido, saudoso e punitivo. No início Trish resistiu, mas
quando ele fez aquele som baixo e passou a língua na costura de sua boca, e
beliscou seus lábios com os dentes, ela suavizou contra ele e começou a
beijá-lo de volta.
Ela não deveria, repreendeu a si mesma.
No entanto, não podia afastar-se do seu assalto apaixonado, da paixão
incandescente crescendo entre eles. O sabor delicioso dele explodiu em sua
boca, bateu em seu cérebro e se misturou ao seu sangue descendo como cera
quente até seu núcleo, desfortalecendo sua resistência. O peso da separação
de repente era demais. Tinha sido tanto tempo...
Caleb grunhiu. O cheiro de outro homem nela quase o deixou insano.
O impulso de marcá-la rasgou-o por dentro. Rosnando sobre os lábios
femininos, Caleb talhou atormentado:
— Ele colocou as putas mãos em você, a boca na sua. Cheira a ele. Eu
preciso...
Trish suspirou contra a boca dele, e Caleb tomou isso como um
incentivo para aprofundar o beijo. Não havia nenhuma exploração gentil. Era
faminto, carnal, tal como o homem que a segurava com posse e autoridade. O
comprimento de seu corpo estava colado ao seu. O braço dele estava a sua
volta, os corpos compartilhando o mesmo calor, a mesma batida de coração,
tal como a fome. Soltando as mãos do peito masculino, ela agarrou o cabelo
sedoso e o segurou com urgência, angulando sua boca para ter mais de sua
língua.
Saudade e desejo bateram nela não deixando espaço para reservas ou
recusas.
O aroma que se desprendia dele e aquele gosto delicioso de sua língua
fez maravilhas dentro dela, em seus sentidos enfraquecidos. Levantando uma
névoa poderosa de luxúria.
A mão que ele mantinha em seu cabelo desceu para sua bunda e num
impulso a ergueu. Trish enrolou as pernas ao redor dele, precisando que ele a
tocasse nos lugares certos e gemeu alto quando teve sua buceta nivelada
contra a ereção pesada, que ele ostentava. Umidade vazou de seu núcleo,
revestindo suas dobras e o fundo da sua calcinha quando ele balançou os
quadris e grunhiu de novo, gemendo em sua boca com o prazer do ato.
Com uma mão, Caleb subiu sua blusa liberando um seio carente e o
tomou na boca. Os lábios cercaram o mamilo tenso, rondando a língua sobre
ele, antes de chupar forte. Então se moveu para o outro. Trish arqueou as
costas com o seu toque e murmurou de prazer. Um estremecimento
atormentou o corpo dela enquanto ele trabalhava em seus seios a sua maneira.
Sua vagina latejava e apertava quanto mais excitada ela ficava.
— Por favor — ela se viu dizendo quando ele beliscou um mamilo
com os dentes.
Ele rosnou em aprovação.
— Eu sei o que quer e vou te dar isso, querida.
Caleb mordeu os mamilos, estirando-os, e então, se amamentou,
acalmando-os com a língua enquanto moía seu pênis contra a buceta dela,
somando as sensações deliciosas até que ela estava queimando de dentro para
fora. Suas mãos e unhas ficaram impacientes sobre o corpo masculino indo
para todas as partes. Murmúrios e ofegos de prazer encheram o ar.
Em uma mão, Caleb envolveu seu rosto para que os olhos se
confrontassem. Ele não fez nada para esconder a fome resoluta no fundo do
amarelo real. Ela o olhou com encanto através dos azuis pesados de desejo,
autoconsciente de que sua fome por ele estava em holofotes.
Deus, ele era quente e a fazia arder.
— Eu quero você, Trish — ele gemeu. — Por favor, não me diga para
parar.
— Eu não quero que pare — ela sussurrou num tom irreconhecível
para ela mesma, um décimo mais baixo, rouco e sedutor. — Me tome, Caleb.
Outro rosnado baixo escapou dele antes de capturar seus lábios em
um beijo que foi mais exigente, mais carnal, do que os outros. Devorou e a
consumiu. Uma dor profunda aumentou dentro da sua buceta, fazendo o
aperto de seus dedos sobre os músculos de Caleb mais forte.
Quando a teve ofegante, arqueando-se contra ele, Caleb a colocou no
chão, girando-a e empurrou inclinada sobre a mesa, caindo de joelhos atrás
dela, e no outro momento, ela estremeceu quando sentiu sua calça e a
calcinha serem rasgadas para fora de seu corpo.
Ela esperou pelo medo, pelo rastro de pânico, principalmente, quando
sentiu algo nas pontas dos dedos dele pinicarem sua carne. Garras. Porém,
uma angustiante expectativa anulou qualquer receio quando ele agarrando as
bochechas de seu traseiro, separou-as. Ela necessitava dele lá.
— Eu preciso ter um gosto de você — ele grunhiu como se esperasse
por uma permissão.
Nas pontas dos pés, Trish empurrou contra ele. Seu coração começou
a trovejar nas orelhas, o corpo se apertando em antecipação enquanto
esperava Caleb tocá-la onde mais doía.
O fôlego morno foi ao mesmo tempo um bálsamo e um aditivo
poderoso quando ele beijou suas dobras molhadas antes dos lábios fazerem.
Um gemido alto misturado a um murmúrio de prazer irrompeu sua garganta e
explodiu no ar, antes que ela pudesse agarrá-lo de volta. Outro rosnado baixo
retumbou de Caleb pouco antes dele lamber suas dobras debaixo para cima.
Ele então a devorou, empurrando a língua em seu sexo. Trish gemeu,
movendo-se contra ele enquanto Caleb lambia seus sucos com profuso
deleite. Ele alternava entre lamber e sugar seu clitóris, até que ela sentiu o
clímax se construir lá no fundo numa velocidade assustadora. Caleb rosnou
forte, novamente, o som vibrando no seu eixo de nervos, o que foi suficiente
para enviá-la ao limite. Trish derreteu sobre os lábios dele, caindo numa pilha
de sensações luxuriosas enquanto um gemido rasgado atravessava sua
garganta.
Lutando para respirar e deter os tremores, ela fechou os olhos e abriu
os lábios enquanto absorvia o prazer da língua dele continuar balançando
entre as dobras de seu sexo. Tudo nele parecia mais intenso, mais voraz,
talvez, porque ele não tivesse que esconder-se dela mais. Não importava
contanto que ele continuasse lhe dando prazer da forma que fazia.
Tinha tido um orgasmo, mas isso não queria dizer que estava saciada.
Precisava dele dentro dela, afundando a longitude grossa em seu canal,
preenchendo o vazio doloroso.
— Por favor, Caleb — ela chorou. — Quero seu pênis dentro de mim.
Com uma última lambida em seu sexo, Caleb se levantou atrás dela e
trabalhou no zíper da calça, em seguida, amontoando-a para baixo o
suficiente para ter seu pênis livre. A ponta inchada do eixo dele correu por
suas dobras molhadas, e então, fez pressão contra sua entrada um pouco antes
dele empurrar todo o caminho para dentro num golpe forte e profundo,
enchendo-a até a capacidade. Sem interlúdios. Sem retenção. Ela gemeu alto.
Ele rosnou, firmando o aperto de posse em seu quadril quando retrocedeu e
empurrou de volta, mergulhando mais fundo. Dentro e fora. Tantas e tantas
vezes. Estocadas firmes e vigorosas aumentando gradativamente. Os lábios
dele pousaram em suas costas, com beijos e mordidas fracas, que ela sentia
estimular sensações dentro da sua vagina. Trish começou a balançar para trás,
recebendo cada investida. Isso arrancou um gemido de Caleb.
Ele aliviou o aperto em seus quadris e ela se empurrou para cima,
com os braços esticados e as mãos espalmadas no tampão de carvalho da
mesa. Enquanto Caleb acariciava seus flancos, Trish sentiu as garras contra
sua pele. Perdida no que ele fazia com ela, a sensação só parecia aumentar o
prazer. Ele bateu nela mais rápido, mais fundo, mais duro. Um ritmo
animalesco que ela não pôde seguir, mas sentiu cada estímulo ondulando seu
útero, cimentando outro orgasmo.
Caleb abaixou uma mão para agarrar seu quadril quando usou a outra
para enrolar um punhado de seu cabelo no punho, e então, ele puxou para
trás, deixando-a curvada em um arco. Ele exigiu seus lábios, enfiando a
língua dentro de sua boca, conduzindo o beijo arrasador.
Por aquele espaço de tempo enquanto a boca dele reivindicava a sua e
o pênis dele martelava frenético no mais profundo do seu corpo, ela se
esqueceu de toda a confusão, de toda a mágoa.
Não havia shifter. Fantasias surreais. Eram apenas um homem e uma
mulher. Dois amantes saciando a fome luxuriosa que os fazia arder na alma.
De fato, se sentia em casa.
Caleb recuou e moveu-se para o outro lado, onde a marca de repente
formigava e latejava. Ele a mimou com os lábios, língua e dentes. Um frisson
se apoderou do corpo de Trish em expectativa e estalou nas pontas de seus
nervos, deixando-a no limite. A mão dele em seu cabelo desceu para o centro
de suas pernas e trabalhou sobre o clitóris.
Insuficiente.
Ela não podia ter o bastante, nem mesmo quando ele flexionou os
joelhos para levá-la em outro ângulo mais profundo e começou a bater mais
duro. Inchando. Esticando seus músculos vaginais a cada penetração,
atingindo seus pontos sensíveis, que faziam seus olhos ficarem em órbita.
Caleb beliscou a marca com as pontas afiadas de suas presas, brincando com
ela, mas não a mordeu. Trish choramingou e dobrou a cabeça para o lado,
instintivamente. Queria que ele a mordesse, embora se recusasse a admitir
isso. Ele não fez, no entanto.
— Faça — ela se rendeu com um ofego sofrido.
Ele rosnou no fundo de sua garganta. A marca latejou forte, fazendo-a
se contorcer. Trish não era capaz de fazer nada além de desejar as presas dele
em sua pele, a conexão brilhante entre eles permitindo tocá-lo no mais
íntimo. A ambição era quase dolorosa.
— Por favor, Caleb, faça agora. Morda.
— Minha!
— Oh, meu...
Suas palavras se converteram num gemido feminino de puro êxtase
quando ele obedeceu, trancando os dentes em sua carne. Mantendo-a presa no
lugar enquanto outro orgasmo rasgava através de seu corpo, numa explosão
completa e brilhante, que desmontou sua mente. Ela endureceu, e então, se
arqueou com violência. Suas paredes internas mastigaram o pênis de Caleb,
pulsando ritmicamente em torno do seu eixo, ordenhando cada polegada por
igual enquanto a luz brilhante se estendia sobre ela, cegando-a,
momentaneamente.
Caleb se voltou frenético, metendo em um ritmo alucinante. Seu pênis
crescendo tanto e pulsando ao mesmo tempo. Até que com uma última
investida tempestuosa ele se trancou em seu interior e tirou as presas dela,
uivando seu próprio clímax quando começou a gozar, com jorros de sêmen,
regulares e abundantes, enchendo-a. Tão apertada. Molhada. Dolorosamente
prazeroso. Os tremores dele a levaram para outro orgasmo e ela gritou com
ele à medida que aquela conexão vertiginosa entre eles se abria mais intensa
do que antes. Mais sólida.
A cabeça dele caiu para frente, descansando em seu ombro enquanto
ele seguia duro e latejante em seu interior, provocando pequenos
estremecimentos de prazer. Abraçando-a. Caleb estava tão ofegante quanto
ela. Trish sabia que não havia modos dele se retirar dela então, ficou quieta,
esperando-o desinchar enquanto ela aguardava por um pouco de normalidade
no processo.
Ocorreu que não podia negar a atração que sentia por ele. Eles eram
bons nos negócios de prazer e era muito fácil se imaginar com ele. Mas,
embora soubesse que havia mais, um sentimento que a fazia se sentir em casa
quando estava nos braços dele, aquele momento de prazer não a tinha feito
mudar em tudo. Não, ele apenas serviu para dificultar mais as coisas, porque
sabia que Caleb iria exigir dela o que ela não estava pronta para lhe dar.
Talvez, nunca estivesse...
— Não vá aí — ele sussurrou, assustando-a.
— Leu-me?
— Suas emoções mudaram — ele explicou, calmamente.
Trish relaxou um pouco, todavia, não disse nada.
Caleb lambeu a marca e seu corpo reagiu com pequenos espasmos ao
redor dele. Ele gemeu contra sua pele intensificando a sensação, e então,
inspirou profundo e grunhiu baixinho em satisfação. Se não estivesse louca,
ela diria que ele estava feliz com o aroma que ele tragou dela.
Ele plantou um beijo carinhoso sobre a marca.
Trish respirou fundo.
— Venha para casa comigo, querida — ele pediu num tom adulador.
— Ou me permita estar aqui com você. Lá ou aqui, não importa. Só acabe
com esse sofrimento e me deixe ficar ao seu lado. Eu sinto sua falta pra
caralho. Não sente a minha falta, também?
Seu eixo desinchou o bastante para ele se retirar. Ela trancou os
dentes se recusando a fazer qualquer ruído e movimento para agarrá-lo de
volta quando o vazio desconfortante fez doer seu corpo quando ele puxou
para fora. O esperma dele escorreu por suas coxas e ela não precisava olhar
para saber que havia pingado no chão, também. Ela deveria sentir vergonha
por isso, mas não fez. Caleb arrumou a calça. Trish abaixou a blusa e deu a
volta para enfrentá-lo.
Ao invés de respondê-lo, ela perguntou:
— O que fez?
As feições de Caleb se aprofundaram numa carranca sombria quando
ele rosnou.
— Me certifiquei para que ele nunca mais volte aqui.
— Matou-o?
Os olhos negros entrecerraram nela.
— Faria alguma diferença para você?
Trish empurrou o queixo para cima.
— Não, não faria — ela disse, assombrando-se em seguida ao
perceber que realmente não temia pela vida de Stephan. — Mas aquele
bastardo não merece que se suje por ele.
— Ele te tocou. Isso me dá todo o direito de rasgar a garganta dele —
agressivamente, Caleb assinalou. — Mas não, não fiz nada a ele. Apenas
cuidei para que se fosse e não volte a pôr os pés aqui. Eu não vou dar nenhum
aviso mais.
Trish assentiu em compreensão, de certa forma, aliviada por Caleb e
grata a ele, também.
— Obrigada.
— O que aquele macho humano significa para você?
— Nada.
Quando Caleb só fez olhá-la, esperando por mais explicações, Trish
suspirou audível e lhe deu o que ele queria. A vergonha a impediu de olhá-lo
nos olhos.
— Eu sinto muito — Caleb disse solenemente, abraçando-a, quando
ela terminou.
— Eu também — ela murmurou com um suspiro, gostando do
conforto quente do corpo dele. Era como estar em casa, onde ela pertencia.
Trish franziu o cenho ante o pensamento, de repente, agitada. — No entanto,
a vida segue. Doratella sempre será minha mãe, não tenho como mudar isso.
E Stephan, bem, ele foi um grande erro.
Raiva se misturou nas feições de Caleb.
— Eu deveria ter rasgado a garganta dele.
— Ele não vale à pena.
— Você ainda o ama?
Trish levantou a cabeça e pregou o olhar nele enquanto o sentia ficar
rígido.
— Não, eu não amo. Acho que nunca amei de fato... Me apaixonei
pelo homem que Stephan demonstrou ser quando nos conhecemos, mas acho
que depois de um tempo eu estava mais cômoda do que arraigando
sentimentos mais profundos por ele.
Graças ao bom Deus.
No entanto, isso não fazia a dor da traição menor.
Trish sentiu o corpo de Caleb relaxar. Ele segurou seu queixo entre os
dedos e a fez sustentar o olhar. Os olhos dele eram suaves, com uma sugestão
pedinte.
— Entendo porque quis vir para cá e recomeçar, mas Trish, eu não
sou como ele. Não sou ele. Eu honro minha palavra. Pode ser alheia aos meus
costumes e estar relutante em aceitar meu mundo, porém nele os machos não
machucam suas fêmeas. Eu juro pela minha honra que farei tudo para mantê-
la segura e feliz. Essa sempre será minha prioridade, acima até do meu bando.
Somos fieis a nossas fêmeas. Sempre será a única para mim.
— Os humanos gostam de pensar assim, também — ela comentou
sarcástica, querendo se desvencilhar dele, contudo, ele a manteve facilmente.
— É antinatural para nós — ele assegurou.
— Para nós, também. Mas veja, não se pode ter tudo.
Caleb maneou a cabeça em negação, o semblante suavizando
enquanto os olhos dele a miravam com doçura. O toque da mão dele em seu
rosto era gentil.
— Não, bebê. Para vocês esta é mais uma questão de moral, enquanto
que, para nós vai além de qualquer promessa apaixonada. Não pensamos,
nem desejamos qualquer outra fêmea, exceto a nossa. E mesmo se
pudéssemos, nossos corpos rechaçariam qualquer fêmea que não fosse a
nossa companheira. Prometidos são ligados em todos os níveis. Isso é
inquebrável.
Trish não quis acreditar, mas uma parte dela fez. Uma grande e tola
parte. Era uma estúpida. Uma boba carente por um sonho romântico. Isso
fazia dela uma vítima de si mesma, porque realmente era crível de que tudo
nele gritava sincero. Sua voz. Seu rosto. Seus olhos. Suas palavras. Isso
afundou dentro de seu íntimo, cativou seu coração e acendeu suas esperanças.
A facilidade que tinha de confiar em Caleb era um perigo para si,
porque ela realmente se sentia propensa a soltar as rédeas e cair de cabeça
naquele conto de fadas.
Mas nada poderia ser tão bom, podia?
Ela tinha dito a Stephan que tinha aprendido a lição, porém ao olhar
para Caleb ali de pé, oferecendo todo o pacote de sonhos coloridos e
floreados, ela se sentiu uma fraude.
Como poderia ter aprendido qualquer coisa quando se sentia inclinada
a aceitar as promessas românticas do primeiro homem sexy que a cortejava?
Não mais.
Ela tinha de dar um fim a isto e tentar assegurar o pouco que lhe
restava.
Com um suspiro, Trish se desvencilhou de Caleb e se dirigiu até o
quarto, e, posteriormente, ao banheiro. Molhou uma toalhinha e se limpou, e
então, agarrou o penhoar florido de seda, antes de retornar a sala. Ela o
encontrou no mesmo lugar, a calça estava em seu quadril, o volume em sua
pélvis era evidente. Porém, Caleb não parecia sexual agora, senão triste e
ansioso. Quando seus olhares se cruzaram, ela sentiu o coração pulsar mais
rápido.
— Agradeço pelo que fez, mas agora você deveria ir embora — ela
pediu, jurando a si mesma que não iria demonstrar nenhum vestígio de
fragilidade, mesmo que se sentisse enferma por dentro.
— Não posso Trish, é minha companheira.
O tom de suplica dele, a voz entoada com fria tristeza à fez mal.
— Pare com isso! Não sou sua companheira! Sei que acredita nisso,
mas é simplesmente impossível. Por favor, me deixe sozinha. Estou farta
disso tudo. Não quero escutá-lo mais...
Caleb andou para ela e Trish sacudiu a cabeça num pedido mudo. Ele
parou e grunhiu em frustração. As feições dele se arruinaram numa carranca
feroz.
— Por que está sendo tão difícil? É tão ruim assim aceitar-me?
Ela piscou. — Desculpe? — Suas mãos alardearam. — Oh, perdoe-
me Senhor-grande-Alfa por eu estar um pouco horrorizada ao descobrir que o
faz-de-conta é real e que você me enganou o tempo todo quando teve a
escolha de me dizer a verdade!
— E o que deveria ter dito quando nos conhecemos, Trish? Olá! Sou
um shifter. É, isso mesmo. Sabe tudo que te ensinaram ser irreal, surpresa!
Ah, e você é minha companheira prometida. Realmente? Se eu tivesse muita
sorte, você apenas me chamaria de louco. Sinto muito por ter omitido a
verdade de você, mas pensei em fazer a coisa toda mais fácil para nós dois,
principalmente, para você.
— Certamente, não devia ter mentido para mim.
— Você deveria deixar de ser tão malditamente teimosa e aceitar o
inevitável.
— E você deveria deixar de me empurrar — ralhou ela, com os olhos
apertados. — Não pode seriamente esperar que aceite... isso tudo, assim, de
repente!
— Você me quer e nós dois sabemos disso — ele assinalou.
— Sentir atração física por você não é suficiente. Deus, eu nem
mesmo sei se esta atração é real, ou somente algum vodu místico de seu
mundo.
Ele grunhiu baixinho em advertência.
— Você está arrumando desculpa.
— Talvez. Mas isso não muda o fato de que não podemos fazer essa...
coisa de companheiros. Você está enganado. Mais cedo ou mais tarde, vai
descobrir isso. Eu prefiro que seja agora quando ainda podemos não nos
machucar...
Caleb respirou fundo e seus dedos passearam pelos cabelos em
aborrecimento.
— Pode negar que tem sentimentos por mim depois do que houve
aqui?
— Não nego. Mas não estou pronta para entrar em outro
relacionamento. Quem dirá num cheio de coisas que até dias atrás acreditava
existir apenas nas fantasias para crianças. — E acrescentou rapidamente. — E
não, não estou dizendo que é como Stephan, apenas que não sei se algum dia
posso superar o quê você é. Mentiu-me. Estou farta das pessoas fazerem isso
comigo e decidirem por mim. Eu sou adulta e dona da minha vida. Eu decido.
— Eu sinto muito, querida. Não tive a intenção de te ferir, mas tente
entender o meu lado, também. Pensa que foi fácil para mim? A possibilidade
de te perder me destrói, Trish. Não posso nem imaginar isso. Por favor, não
me rejeite. Nós vamos trabalhar nisso juntos.
Ela o fitou por um longo minuto, e então, sacudiu a cabeça desviando
os olhos.
— Nada disso era para estar acontecendo. Eu não vim aqui atrás de
qualquer companheiro ou romance. Eu só queria um pouco de paz... — ela
pausou quando a garganta fechou, engoliu e soltou o ar numa baforada. —
Deus... só me deixe, por favor. Não faça isso pior do que tem que ser. Eu sei
que acredita nessa coisa de companheiros, mas isso é impossível. Nós dois
sabemos disso.
— Acha que minto para você?
— Acho que está tentando me encurralar, não me dando qualquer
escolha sobre o assunto.
Um grunhido baixo agitou o peito dele.
— Confie em mim, companheira, estou lhe dando mais escolhas do
que é suposto ter. Em outros tempos, eu apenas te reivindicaria sem lhe dar
qualquer escolha ou explicação, e mesmo odiosa você me aceitaria. Isso
porque sua alma já me reconheceu e sabe que me pertence, apenas você está
sendo teimosa sobre isso.
— Não pode fazer isso comigo — ela exaltou chocada. — Eu sou um
ser humano, não um objeto! Se... se fizer isso, eu vou te odiar para sempre.
Caleb lhe ofereceu um sorriso triste e arrogante ao mesmo tempo.
— Não é como se isso fosse uma novidade, hein? E, de fato, eu posso.
Sendo minha prometida, concerne a eu tomar as decisões sobre nosso
acasalamento e o que for melhor para você. Mas não fiz. Dei-lhe a opção de
escolha. Quis te cortejar, te dar tempo para que me conhecesse, antes que me
revelasse a você. Achei que seria mais fácil assim e me equivoquei.
Ela precisou de um momento então, afunilou os olhos para ele.
— E por isso é esperado que eu apenas desista das minhas convicções
e aceite essa coisa de companheiros prometidos?
— Há coisas que você precisa compreender.
— Claro que há — ela disse com um riso irônico.
Caleb respirou fundo quando orou por paciência.
— Em um acasalamento entre shifters existe um período de ajustes
para o par. Conosco não é diferente, querida. E sim, você terá de se ajustar ao
meu mundo e tudo que nele inclui. O acasalamento te dará uma família, mas
também responsabilidade por ser a companheira de um Alfa. Não é esperado
que você aja como um shifter e saiba de tudo, uma vez que cresceu descrente
de nossa existência, porém é esperado que você se adapte e tome seu lugar na
nossa sociedade como a Prima. Eu vou te ajudar, Trish, não vai estar só. Eu
prometo, querida.
Claro! Porque ela não era ingênua o bastante para acreditar que
ganharia o conto de fadas de bandeja. Algum retorno de sua parte tinha de
haver, além de tudo.
Trish balançou a cabeça enquanto as lágrimas se juntavam em seus
olhos.
— Eu não posso fazer isso. Nunca mais.
Caleb esteve na frente dela num piscar de olhos, as mãos envolvendo
seu rosto, sujeitando-a para olhá-lo nos olhos. A aflição cresceu dentro dela.
— Sim, você pode. Vamos trabalhar nisso. Você e eu. Tudo ficará
bem.
Ela não acreditava. Nada tão bom viria assim.
— E o que acontecerá quando eu começar a envelhecer? Quando
morrer? Eu não tenho sua longevidade extraordinária. Em cinco anos eu
começarei a envelhecer... a cada ano eu envelheço um pouco mais. E você,
Caleb? Ou acha que isso não deve ser levado em consideração, também?
— Acho que a única coisa que deve importar é o que posso ser para
você. A vida que juntos nós podemos ter, se você parar de pensar tanto e
aceitar a benção que nos foi concedida. Eu quero viver isso, quero estar com
você. Só com você, Trish. Eu não sei como será o futuro, nem tenho certeza
se poderemos ter filhos, mas estou disposto a tentar o meu melhor. Que você
envelheça antes de mim, não me importa uma merda, porque careca, com
rugas e banguela, você ainda será a única fêmea para mim. O acasalamento é
para a vida toda, amor. E quando... quando você não estiver mais, eu vou
com você. Não posso viver sem você. Nunca.
Ela endureceu, empurrando toda a tristeza que sentia comprimir o
peito e o mirou determinada. Tão difícil, mas tão necessário. Respirou fundo
e soltou. A voz firme.
— Eu não acho que posso aceitá-lo. Nunca. Vá.
Se aquilo o machucou, ele não demonstrou nenhum sinal exterior. No
entanto, Trish sentiu cada grama de dor rasgá-la de dentro para fora, até que
seus joelhos tremeram.
17

DECISÕES

Quatro dias depois...

Trish relaxou quando recostou a cabeça na extremidade da banheira, e


então, abriu os olhos e fixou-se em um ponto qualquer através da janela.
Desde a última conversa com Caleb, ela tinha entrado num estado de
semi-letargia do qual parecia ser incapaz de sair. Apenas ficava aquela
sensação de desconforto e apreensão. Era estúpido, embora tivesse todas às
razões para se sentir assim. Todavia, seu estado emocional de nada tinha a
ver com o súbito aparecimento de Stephan ou com as dolorosas lembranças
que ele despertou, onde Doratella e ele eram protagonistas. Era Caleb. Ele
não a tinha procurado nenhuma vez. As duas noites tinham sido
pavorosamente silenciosas. Isso deveria animá-la, afinal.
No início, ela até estava feliz com a falta de contato, mas conforme as
horas passaram sem qualquer ruído, seu silêncio a magoou. Para alguém que
tinha jurado que ela era sua companheira e que não poderia viver sem ela, ele
desistiu muito facilmente.
Também não era como se Trish realmente pudesse ser a prometida de
alguém como ele. Ou que ele deveria lutar por ela. Ou que ela gostaria disso.
Isso tudo era só um grande engano que iria cicatrizar a qualquer momento.
Tudo que ela precisava era ficar longe de Caleb. Não importa o quanto ela
absurdamente sentia a falta dele. Ela o tinha mandado embora, afinal.
Trish sacudiu a cabeça, calando os pensamentos.
A água quente ajudou a apagar seu entorpecimento, mas não fez nada
para melhorar o turbilhão de suas emoções. Quando a pele ameaçou a se
soltar de seu corpo, Trish deixou a banheira e se secou antes de enrolar a
toalha em torno de si mesma. Escovou os dentes e ficou imóvel na frente do
espelho sem realmente ver seu reflexo. Ela não tinha nenhum interesse em se
olhar. E também não era como se não soubesse como se parecia.
Ela estava sendo uma idiota por inúmeros motivos.
Caleb não era como aqueles dois pilantras. Ele era diferente de tudo.
Ela tinha sentimentos mistos em relação a isso. Uma parte sua ainda estava
receosa e assustada, mas a outra estava ansiando estar com ele, novamente.
Deus, ela estava perdendo a mente.
Trish quis acreditar que tudo não passava de um grande equivoco,
contudo, a constante queimação na marca amarelada no convexo entre o
ombro e o pescoço fazia suas entranhas apertarem, sua feminilidade sensível
e tenra, necessitada dele. Ela estava enferma no coração e na alma, sabendo
que significava que ela era realmente a companheira prometida de Caleb.
Ela bufou, rapidamente apagando a centelha de orgulho.
E então, o que deveria fazer?
Ele era um Alfa. Um líder nato.
Ela podia não saber mais sobre a sociedade dele do que o próprio
tinha lhe dado, porém de uma coisa ela tinha certeza. Alfas eram seres
arrogantes e controladores. Era a natureza dele.
Quanto de seu estimado controle ela estaria disposta a renunciar?
Trish não fazia ideia.
Entretanto, uma parte dentro de si lembrou-a do quão bom eles eram
juntos, do quanto ela tinha gostado de compartilhar seu corpo e seus
momentos com ele. Caleb não pareceu ser um maníaco por controle ou um
ditatorial. Ao contrário, ele se mostrou disposto a se reajustar e, de fato, lhe
tinha dado inúmeras provas de que estava tentando a sério.
Trish bufou, novamente.
Ruminar sobre as possibilidades do que poderiam ter não mudava
nada.
Naquele mesmo dia enquanto Trish cumpria seu turno, Maya deixou o
refúgio sagrado do escritório e se aproximou enquanto ela deixava uma
bandeja de copos sobre o balcão.
— Venha comigo.
Trish olhou para cima pronta para questionar a chefe, contudo, a
mulher já tinha lhe dado às costas e caminhava de volta para a parte detrás.
Ela deu os ombros para Lee, que a olhava inquisitória, e seguiu a mulher
carrancuda, estranhando quando a Megera seguiu adiante pelo corredor,
passando pela porta do escritório no mais completo silêncio.
— A senhorita está precisando de algo? Precisa que chame alguém?
Maya continuou indo para o fundo da P&C, onde os caminhões
entravam para fazer o reabastecimento da loja. Maya abriu a porta e passou.
Trish foi logo atrás.
O carro da Megera, uma camionete 4x4 azul, estava lá.
— Está tudo bem, Srta. Crawford?
— Sim — ela respondeu, tomando o assento atrás do volante e olhou
para Trish através da janela, com impaciência. — Vamos, entre! Eu não
tenho a noite toda.
Uma vez dentro, Maya pôs o carro em marcha. Trish abriu a boca e,
em seguida, a fechou sem saber ao certo o que dizer. Sua chefe seguia em
silêncio e, aparentemente, tranquila.
Após um momento, Trish perguntou:
— Onde estamos indo?
As feições de Maya eram insondáveis quando ela soltou o ar pelo
nariz numa baforada tediosa, e então, começou a falar num tom enfadado.
— Eu tenho reparado em você, não porque quero, acredite-me. É só
que é difícil ser indiferente quando nem as moscas querem estar ao seu redor
porque lhes dá pena. E eu estou realmente farta de vê-la pelos cantos da loja
como uma moribunda. Isso não é legal para os negócios. Você sabe. Eu
preciso vender e, se não vendo, não posso pagar meus funcionários.
O queixo de Trish despencou.
— C-Como?
Realmente, ela estivera moribunda desde que Caleb fechou a porta
atrás dele. Não sobrava vontade para comer, dormir ou falar. Estava no
automático, mas não significava que a Megera pudesse lhe atirar isso na cara.
Trish estava sofrendo e sentindo a perda. Era humana, poxa!
Maya continuou divagando sem lhe empregar atenção.
— Sua atitude me faz pensar no quão estúpidos vocês podem chegar a
ser e se é algo contagioso, mas visto que não fui contaminada até o momento,
devo supor que sou imune a isso, também.
— Perdão? Enlouqueceu por acaso? Não tem o direito de tratar-me
com tanta desconsideração, e eu, certamente, não sou obrigada a ouvir seus
desaforos.
— Não, não é. Mas não pode negar que está sendo uma idiota quando
prefere sofrer pelos cantos a aceitar seu destino e ser feliz com um homem
que te ama.
Trish empertigou.
— Como se atreve? Você não sabe nada sobre mim ou sobre...
Espere aí... Ela tinha dito vocês, não nós. E falava como se soubesse
exatamente porque ela estivera molesta. Isso só podia significar uma coisa...
Trish prendeu a respiração e olhou de rabo de olho para mulher ao seu lado,
antes de cravar-se nela, estupefata.
— Você é um... oh-uh... como Caleb, não é?
— Desde que nasci.
— Oh! Eu... Eu... Eu...
Maya lhe deu um olhar entediado.
— O quê? Quer que pare para que desça e corra pela sua vida?
Trish enrugou o nariz.
— Não, é só que eu nunca teria pensado que você...
Foi só então que Trish deu-se conta para onde sua chefe-shifter-
megera dirigia.
Snowville.
A camionete tomou a vicinal e metros à frente, virou para esquerda
entrando na estrada que dava acesso ao vilarejo. Ela engoliu duro e afrouxou
os dedos quando se deu conta que estava apertando suas coxas.
Apreensão irradiou dentro dela. Bem, não era de uma forma ruim. Se
Trish fosse verdadeira consigo mesma, admitiria que o ritmo acelerado de seu
coração e o ligeiro aquecimento em seu útero não foi causado por qualquer
remanescente de medo. Isso tinha muito a ver com olhar para Caleb,
novamente. Sua feminilidade apertou com um espasmo súbito e começou a
untar quando sua mente fez uma rápida sessão de reprise dos momentos que
eles tiveram.
Caleb tocando-a, beijando-a e levando seu pau profundamente dentro
dela.
— Caleb? Foi ele quem pediu para me levar para Snowville?
Maya bufou.
— Ele jamais me pediria tal coisa.
— Então...?
— Então o quê?
Irritação chiou sob a pele, ainda assim Trish murmurou calma.
— Agradeço sua... uh... bem, sua boa intenção, apesar da indelicadeza
desnecessária, mas não gosto que se metam na minha vida. Ainda mais uma
desconhecida.
— E o que te faz pensar que estou fazendo um ou outro?
Trish enrugou o nariz.
— Sério? Estamos jogando algum tipo de jogo aqui?
Maya sacudiu a cabeça, com o olhar fixo à frente.
— Caleb é um cara bom. Um macho de princípios e muito honroso. E
ele é meu Alfa.
— E supõe-se que por isso você pode se intrometer na minha vida?
— Na verdade, ninguém pode interferir no acasalamento.
— E o que pensa que está fazendo então?
— Tendo companhia enquanto dirijo para Snowville. Não é bom que
me aventure estrada acima quando você quase foi atacada da última vez.
— Não sabia que conhecia qualquer coisa sobre humor — ela
resmungou.
Maya a olhou pelo canto dos olhos.
— Acha que é boa demais para ele?
— Claro que não! — E acrescentou após uma pausa. — Para vocês
tudo é muito mais simples, porque são da mesma espécie..., mas nada é tão
fácil assim. Eu não tenho a longevidade extraordinária dele. Isso não me
permite parar de pensar que estou roubando algo dele. Nossas diferenças não
são exatamente coisas que podem ser ignoradas.
— Essa não seria uma escolha dele?
Trish abriu a boca e, em seguida, a fechou, sabendo que ela tinha
razão.
— Não sente nada por ele?
Jesus Cristo...
Ela realmente estava tendo essa linha de conversa com a Megera?
Inacreditável.
Quando Maya só fez lhe devolver um olhar inquisitório, Trish tragou
seu espanto.
— Eu tenho sentimentos por ele — ela disse, sentindo a verdade
sólida das duas palavras em seus ossos. — Mas eu não sei se estou preparada
para ser o que ele precisa que eu seja.
— Humanos! — Trish saltou e girou os olhos grandes para a
exasperação de Maya, como se lhe tivesse crescido duas cabeças. — Vocês
vivem numa busca incansável pela felicidade, e quando a encontram, ficam
aterrorizados de medo. A verdade é que não sabem o que fazer com ela, e
então, fazem o que estão acostumados a fazer, fodem tudo com complicações
e imposições criados por vocês mesmos, e depois lamentam como vítimas
indefesas.
Trish fez uma careta.
— Você não é uma grande fãs de humanos, hein?
Maya ignorou seu comentário.
— O que seus instintos dizem? E, por favor, não se dê ao trabalho de
mentir para mim. Shifters tem o que pode se chamar de detector de mentiras
então, me poupe a chateação.
Ceeeeeeeeeerto!
Que ótimo! Realmente grande!
Isso a fez pensar em Caleb. Ele podia lê-la, também. Em outro nível,
ainda assim isso era no mínimo constrangedor para não dizer invasivo.
Mas não era isso que toda mulher queria? Um cara que se antecipe
aos seus desejos? Que a leia corretamente? E, principalmente, que esteja
ansioso para fazer algo a respeito?
Sacudindo a cabeça, Trish respondeu, sabendo que a mulher nunca
poderia tachá-la de louca, afinal de contas, o ser místico ali era ela.
— Meus... uh... meus instintos dizem que ele é meu, mas eu não
posso fechar os olhos e apenas confiar plenamente em meus instintos. Eu não
funciono assim.
— Esse é o problema de vocês. Querem lógica para tudo, mas se
esquecem de que nem tudo é criado para ter lógica. Os instintos existem por
uma razão. O que me faz pensar que para uma espécie que crê ser tão
inteligente, até que vocês são bem estúpidos.
— Eu gostaria que você deixasse de usar essa palavra, se não se
importa.
— Se você deixar de agir como uma, eu não direi mais.
Trish fez uma carranca, o corpo endurecendo e jurou a si mesma que
quando falou, ela não se parecia com uma garotinha tentando bater seu ponto
para a mãe.
— Eu não gosto de seu tom e não gosto que fale comigo como se eu
fosse uma criança.
— O lobo daquela noite era um shifter, não era?
A mudança abrupta na conversa pegou Trish de surpresa.
— Como vou saber? Estava muito horrorizada, temendo pela minha
vida para discernir o que era ou não lobo de verdade. Além do mais, até então
eu não sabia nada sobre shifters. Isso pra não apontar o fato de que eu não
possuo seus malditos sentidos aguçados para enxergar no escuro.
Maya assentiu e guardou o silêncio até pouco antes de atravessarem
os limites de Snowville.
— Eu sei que tem muito para entender, e não vou mentir dizendo que
será fácil, ainda mais quando se entra para o topo da hierarquia de uma
manada de lobos sendo uma humana. Mas é realmente tão ruim? Aquele
homem mataria por você. E, deixe-me dizer isso, ele é tudo o que a maioria
das mulheres dizem estar procurando em um homem. Seu perfeito
companheiro. Caleb sempre cuidará de você e será fiel. Ele será mais que um
companheiro. Ele morrerá, matará e viverá por e para você, Trish. Nós nos
acasalamos para o resto da vida. Não haverá ninguém mais... Nunca.
Pela maneira que Maya colocava, não era ruim. Ninguém cuidou de
Trish desde que seu pai morreu. Ela própria era seu provedor. Trish queria
um homem que a cuidasse e amasse. Um homem que lhe fizesse amor e,
acima de tudo, a fizesse se sentir amada. E, Deus, ela sabia que Caleb podia
fazer tudo isso e muito mais. A ideia de tê-lo era estrondosa e fazia seu peito
cheio de alegria, porém o receio estava lá, insistindo em se apegar nas bordas.
Ela poderia fazer isso?
Deus, ela queria...
Uma vez que a camionete parou, Maya quebrou suas divagações.
— É bonita, não é?
— O quê?
— A casa.
Seu olhar seguiu o de Maya, se enchendo com a visão da casa de
Caleb. Seu coração alcançou a garganta, as batidas tão fortes que ouvia em
suas orelhas. Ela já tinha estado na casa, mas devido aos acontecimentos não
tinha prestado atenção aos detalhes. Agora, ela podia ver melhor.
Era uma enorme casa de racho de dois andares, toda em madeira e
grandes colunas de carvalho, com muitas janelas e um grande alpendre
cobrindo quase toda a frente. Era espetacular. A casa ideal para viver e criar
uma família grande como Caleb queria...
— É linda — Trish sussurrou cabisbaixa.
— Lembro-me de Caleb rabiscá-la ainda quando éramos adolescentes.
Ele sempre foi bom com o lápis e o papel... Ele realmente poderia passar
horas e horas planejando a planta de uma casa sem se aborrecer pela falta de
ação. Então Caleb foi para universidade, e quando retornou, ele passou meses
aprimorando o desenho até que esteve pronto, e então, ele ajudou a erguê-la.
Não está totalmente decorada. De fato, há cômodos totalmente vazios. Sabe
por quê?
Trish negou com a cabeça. A voz obstruída no aperto em sua
garganta.
— Ele a desenhou para sua prometida, mesmo com a possibilidade de
nunca encontrá-la. No entanto, Caleb sempre teve a certeza de que você viria
para ele. Ele dizia: eu não sei quando, nem como ou onde, mas ela virá para
mim, e quando chegar, eu a presentearei com a nossa casa. É grande o
suficiente para ela e nossos filhotes. Ela irá decorá-la da maneira que quiser e
transformá-la em nosso lar. E ela saberá que eu nunca, nem sequer por um
segundo deixei de acreditar que ela viria para mim, e eu vou amá-la
simplesmente porque ela é minha.
Trish fungou, com os olhos queimando e o coração comprimido. O nó
na garganta apertou firme, e ela cavou os dentes no lábio quando ele
começou a tremer.
Ela não gostava da forma que Maya falava como se o futuro deles
fosse impossível. Pior, como se ele já estivesse perdido para ela. Só a
sugestão era um tiro em seu coração.
— É uma boa coisa que não tenhamos apostado... — Maya se calou,
fincando o olhar penetrante em Trish. Os brilhantes azuis eram extremamente
sérios. — Caleb poderia ter se acasalado com qualquer fêmea shifter, antes de
você. É permitido para os machos terem duas companheiras no caso dele já
estar acasalado quando sua prometida aparecer. Mas ele nunca quis nenhuma
fêmea para ser sua companheira, exceto você.
Trish colheu uma lágrima, que escapou, antes dela chegar à metade de
sua bochecha.
Um misto de emoções ondulava sobre ela, o alívio saboreando como
o céu.
Não ter Caleb, quer seja porque fora uma tola ou porque outra estava
em seu lugar de direito, era inimaginável. Estava perdendo a mente, porque
ela mesma tivera sugerido que um igual a ele poderia ser melhor companheira
do que ela. Mas a possibilidade real não podia ser admitida por seu coração,
nem pela razão.
Caleb era seu!
O que fazer?
A pergunta piscou em sua mente repetida vezes, atormentando.
Maya inclinou-se entre os bancos para pegar a bolsa, e quando
retrocedeu, ela parou a meio caminho e se dobrou na direção de Trish, com o
cenho enrugado e os olhos diminutos. As asas de seu nariz chamejaram
quando ela começou a cheirar.
Trish se puxou para o outro lado.
— O que está fazendo?
Maya encolheu os ombros e se endireitou, e então, sorriu, espantando-
a. A mulher realmente sorriu, e por um efêmero instante, Trish jurou ter visto
um genuíno brilho amistoso nos olhos dela; noutro, eles estavam sérios e
opacos.
— Nada.
A testa de Trish plissou.
Maya agarrou a bolsa e se moveu para a porta da camionete. A chave
ainda estava na ignição e ela não estava fazendo nada para tirá-la de lá.
— Aonde vai?
— Tratar dos meus negócios e você não pode ir comigo.
— E o que supõe que devo fazer?
— O que você acha que deve fazer?
Trish piscou, os lábios partiram, mas nada saiu. A resposta estava
rondando sua língua, pronta para saltar fora, porém ela não podia dizer,
mesmo em sua cabeça Trish não tinha processado ainda.
— Eu não posso ficar aqui sozinha — ela talhou um pouco mais
nervosa do que pretendia quando Maya se moveu para a trava da porta,
novamente.
— Ninguém irá te machucar — Maya garantiu e acrescentou. —
Caleb te marcou. O cheiro dele ainda está em você, um pouco fraco, mas
ainda aí. E outra, não somos animais para sair atacando o primeiro humano
que aparece pela frente. Somos muito seletivos com nossa caça. — Ela
pausou e suspirou. — Pode me esperar aqui, mas já adianto que vou demorar.
Neste caso seria mais confortável ficar na casa que seria sua. Está aberta. Na
verdade, sempre está aberta por ser a casa do Alfa. Entre e se acomode. Ou
fique aqui mesmo. Sua escolha.
Trish não soube o que responder.
Maya abriu a porta do veículo.
— Algumas vezes, Trish, uma pessoa tem que olhar a outra só com o
coração.
Ela então saltou fora e bateu a porta fechada.
O olhar de Trish permaneceu através do pára-brisa da camionete,
assistindo a silhueta de Maya se distanciar lentamente. Em estado de espera,
ela ficou enquanto o desespero começava a crescer gradualmente.
Trish não admitiria em voz alta, porém não podia mentir para si
mesma, porque a verdade era que estava com medo de tudo aquilo, mas,
principalmente, de Caleb. O medo de se entregar e ele machucá-la segurava
as rédeas. Porque de uma forma que ela ainda não compreendia bem, Trish
sabia que se ele chegasse a feri-la de alguma maneira, ela nunca se
recuperaria da queda.
Dar vazão a seus sentimentos a aterrorizava, pois eles chegavam a um
nível altamente perigoso, que ela nunca antes havia sentido por ninguém.
Era intenso. Sublime. Único. Enraizado na alma e no coração.
Porém, mais aterrorizante era a possibilidade real de perder Caleb de
vez, como Maya indiretamente sugeria. E por alguma razão, ela sentia que
esta era verdade; a ideia de não poder vê-lo mais, tocar e beijá-lo, senti-lo ao
seu redor e dentro dela era inconcebível.
Ela precisava dele.
A vontade de encontrar Caleb duelou contra seus temores.
Ela recordou dos momentos deles, os dias incríveis que estiveram ao
lado um do outro, mesmo quando não estavam fazendo amor. A companhia
dele lhe fazia se sentir única. Ele era bom para ela e enquanto juntos ele a
tinha feito mais feliz do que algum dia tivera sido.
Quantas vezes um homem muito bom viria junto?
Caleb estava lhe oferecendo uma nova versão de conto de fadas. E,
novamente, não era justamente isso que ela sempre quis? Não era por essa
busca que ela tinha quebrado a cara, também?
Trish tinha tido sua pilha de enganação, de falsa felicidade. Ela
merecia ter mais que um bocado da coisa real. Caleb valia todo o risco. Ele
era uma chance e ela podia tomá-la. Ele tinha sido omisso, era verdade. Mas,
então, ela própria não estaria feliz e confiante para dar isso à outra pessoa
logo que a conhecesse, se ela estivesse na situação dele. Trish tinha de dar
isso a ele, bem como, reconhecer que os momentos felizes, que ele lhe
presenteou, eram tão reais quanto sua existência. Ela seria uma tola se não
desse a si mesma esta oportunidade, apesar dos riscos envolvidos.
Eles eram bons juntos.
Ela não podia viver nas sombras, se esgueirando das chances de ser
feliz porque um porco a tinha ferido uma vez. Lee e Maya tinham razão. Ela
não devia deixar o medo ditar sua vida. Certo, ela ainda estava temerosa, no
entanto, não era uma covarde, ao contrário, sempre tivera sido uma lutadora.
Ela podia fazer isso.
Caleb era um shifter, mas era o homem por quem ela estava
apaixonada.
Apaixonada...
A palavra a atravessou por completo. Forte. Verdadeira. O
conhecimento enchendo seu coração até a raiz, os rastros de felicidade
irradiaram dele, e ela suspirou mortalmente aliviada, sentindo o peso da
indecisão abandonar seus ombros.
Todo aquele sentimento não era uma mera paixão.
Era amor...
Oh, Deus!
Ela o amava. Não podia negar mais, a verdade estava lá, pronta para
sair, para consumi-la até a alma se o negasse por mais tempo.
Ela o amava e nada poderia ajudá-la neste momento.
Trish respirou fundo, fechando e abrindo os olhos, e soltou o ar,
lentamente.
Que tipo de vida teriam juntos?
Ela não fazia ideia, — seu olhar caiu para a fachada da casa
espetacular, sua casa —, mas estava disposta a descobrir, e agora, ela sabia o
que fazer.

****
Com uma carranca escura aprofundando suas feições, Caleb olhou
para o corpo do lobo estendido em cima do colchonete no chão. Parece que
ele teria um montão de ação numa só pancada. E não é que isso era adorável
considerando sua situação atual?
Sua prometida humana não dava a merda para a ligação entre eles, o
seu tempo estava na contagem final, e agora, aquele macho detestável estava
lá.
Com uma exalação, Caleb deixou o porão e encontrou Jace na
cozinha. O outro macho estava escondido detrás de um senhor-prato de carne
mal passada.
— Certifique-se de que ele tenha comida e roupas limpas para quando
acordar, mas ele não sai daqui até que saibamos suas reais intenções e tenha o
julgamento adequado.
— Eu não confio nele — Jace disse com um grunhido.
Um olhar sombrio cobriu os olhos do Alfa.
— Quem faz?
Jace colocou o garfo para o lado.
— Deveríamos acabar com ele antes que tenha a chance de se voltar
contra nós.
— Sabe que não podemos fazer isso — Caleb lembrou num tom
entediado. — Ele ainda é um dos nossos. E mesmo que não fosse, ele está
muito fraco e debilitado, não agimos desta maneira, mesmo com os ratos.
Jace anuiu, embora a contrariedade estampasse seu semblante.
— É muito estranho que ele apareça depois de tantos anos.
— Talvez — Caleb murmurou pensativo. — Collin virá amanhã cedo
para interrogá-lo. Até lá, olhos bem abertos. Qualquer alteração comunique a
mim ou a Embry, imediatamente.
— Assim será feito, Alfa.
— Nem uma palavra a ninguém. Não quero que isso se espalhe e se
torne um transtorno desnecessário quando nem sabemos se ele permanecerá
aqui.
— Acha que ele vai querer ficar? Aceitaria de volta depois do que ele
fez?
Caleb escorregou os dedos pelo cabelo.
— Não sei, Jace. É possível, até porque sua divida não é conosco,
pelo menos não de uma forma direta. A situação não é tão simples quanto
parece. Há outras coisas envolvidas e você sabe disso. Não posso
simplesmente esfolar o filho da puta e fingir que nada aconteceu. — Se Caleb
estivesse certo em seus instintos era mais que certo que o macho ficaria, e ele
não tinha tempo agora para colocar sua atenção nisso. — Ele se parece como
o inferno e, acredite-me, eu adoraria ter meu tempo com o bastardo, porém
enquanto não sabermos o porquê dele estar aqui, não podemos fazer nada.
— Desta forma, faremos uma fila, porque não é só você que quer um
tempo com ele.
Caleb anuiu com um sorriso sardônico. Ele teria uma grande dor de
cabeça caso suas suspeitas se confirmassem, todavia, o macho traiçoeiro teria
uma dose a mais. Uma fila extensa de machos zangados estava a sua espera.
— Até lá, vamos cuidá-lo — ele orquestrou com desprezo.
Um músculo da mandíbula de Jace pulsou.
— Ele merece que chutemos sua bunda arrogante.
— Faremos isso se a hora chegar — Caleb assegurou. — Amanhã...
— ele engoliu duro, — se eu não estiver aqui, Embry estará no comando e
tomará todas as medidas necessárias sobre a situação. Ele não pensa muito
diferente de mim e saberá o que fazer.
Com um assentimento do Ômega, Caleb se dirigiu para a porta.
— O Criador nunca erra.
Caleb parou com a porta aberta e forçou um sorriso quando olhou
sobre os ombros para o outro shifter. Jace lhe devolveu o olhar firme, muito
decidido sobre suas palavras.
Não, o Criador não errava.
— Você é um bom Ômega, Jace. Snowville tem sorte por tê-lo — ele
disse formalmente, o orgulho sólido em suas palavras e em sua expressão. —
Boa noite, Irmão.
Uma vez fora, a noite gelada lhe deu as boas-vindas. Os animais
estavam silenciosos e recolhidos em seus refúgios em uma harmonia
respeitosa. Não havia vento, nem neve caindo. Tudo estava assustadoramente
calmo enquanto os minutos eram contados, como se cada um valessem ouro.
Não, eles valiam o peso de sua felicidade, da sua própria existência.
Com uma careta, Caleb esticou a mão em punho e esfregou sobre o
peito.
Quatro dias correram e Caleb tinha esperado que sua ausência tivesse
feito Trish cair em si. Ela tinha sentimentos por ele, e ele, de fato, acreditou
que, ainda que ela estivesse confusa e achasse que o queria longe, os
sentimentos e a ligação entre eles a empurrariam de volta para os seus braços,
porque sabia que eles eram únicos. Trish não tinha feito, no entanto.
O animal lançou a cabeça para trás e uivou em agonia, e então, bateu
as patas para baixo arranhando mais fundo, as garras rasgando lá no íntimo,
impaciente e enfurecido; tudo ao mesmo tempo. Caleb podia sentir o lobo
ziguezagueando na borda.
Ele estava dando tudo de si para respeitar a decisão dela, mas,
novamente, era penoso lutar contra algo que feria seus instintos mais
primitivos. Ir contra sua natureza exigia um poço de controle e força de
vontade. E, bem, ele não tinha muito de nenhum.
O lobo queria o controle; o homem resistia.
Era apenas uma questão de tempo até que ele enlouquecesse e tudo
mudasse...
A cada passo mais perto de casa, o lobo pisou com maior força,
balançando de um lado para o outro, mais eriçado e ansioso. As garras
escavando profundamente, mais duro.
Ele não estava perdendo sua companheira.
Cace-a. Marque-a. Nossa companheira.
Caleb cerrou os punhos e puxou uma profunda respiração, tentando
empurrar o lobo de volta para baixo até que conseguiu. Uma brisa vinda de
repente, trazendo o cheiro que sempre carregaria com ele, bateu em seu nariz
como uma carícia tenra.
Trish.

****
Trish esfregou as coxas enquanto esquadrilhava ao redor, sem
realmente emprestar atenção aos detalhes da ampla sala de estar, com uma
lareira de pedra no canto. Também não era como se ela já não os tivesse
gravado na mente pela última meia hora.
Ela tinha bisbilhotado por aí, checado uma e outra coisa e sentido uma
pontada genuína de orgulho a cada olhar conquistado. Não havia tantos
móveis, como Maya bem disse, mas tudo dentre o pouco que havia era de
muito bom gosto. Ao olhar era algo que inspirava o sentimento lar. Seu lar.
Faltava um toque feminino, que ela daria com muito prazer. Tinha certeza
que ficaria incrível. Era exatamente o tipo de casa que ela poderia chamar de
lar e viver pelos próximos 60 anos, cercada de filhos e de netos.
O pensamento esticou um secreto sorriso em seus lábios.
Ela pensou que deveria estar se sentindo uma intrusa ou ter a sensação
de isso ser errado, mas não fez. Quer dizer, a casa supostamente ainda era
sua.
Então, novamente, não era errado conferir sua própria casa, verdade?
Um risinho subiu por sua garganta, porém antes de fluir no ar, ela o
cortou quando uma onda de calafrios puxou debaixo de sua espinha, eriçando
os cabelos da sua nuca.
Os olhos azuis cravaram-se na porta, os lábios entreabriram quando o
coração desacelerou e começou a bater num ritmo pesado, cada pulsar
vibrando na pele.
Expectativa torceu em seu intestino e os nervos estalaram num baixo
zumbido.
Caleb estava vindo para ela.
A certeza bateu fundo nela e a fez suar de nervoso, de antecipação e
de excitação ao mesmo tempo. Uma onda mista rolando sobre ela até que
esteve inquieta. Era como se todo seu corpo chiasse nas pontas de suas
terminações nervosas, aflorando algo dentro de si que sequer ela mesma
conhecia.
Incapaz de ficar parada e se mover ao mesmo tempo.
A sensação atravessou-a por completo, com uma força invisível
empurrando-a sobre seus pés, as costas retas e os dedos enrolados em punhos.
Ela estava ofegante?
A contar pelo movimento brusco de seu peito, ela estava prestes a ter
uma taquicardia.
Trish tragou duro e, em seguida, a porta se abriu.
18

MINHA

O ar congelou em seus pulmões quando seu olhar cruzou com o de


Caleb. Linhas severas de estresse marcavam seu rosto bonito. Grandes
círculos escuros estavam em torno de seus olhos, que eram mais lobo do que
humano. Olhos intensos e encantadores. Loucos e desejosos. Ele a desafiou
silenciosamente, mas Trish se manteve, inábil de fugir de sua aparência
sofrida. Ela tinha feito isso com ele. Toda essa dor era sua culpa.
Ela engoliu em seco, sentindo-se uma cadela por machucá-lo.
Caleb tinha passado por um inferno, ela idem, contudo, ele
obviamente tinha sentido mais duro. Isso porque ela tinha sido muito covarde
para aceitar o que ele lhe oferecia. Ela mentiu para si mesma, jogou com seus
sentimentos, porém, olhando para ele, a verdade era inegável. Ela nunca
poderia deixá-lo e seguir em frente.
A porta atrás dele se fechou sem que ele fizesse movimento nenhum.
Sem mais medos. Sem mais fugir.
Caleb não disse nada, nem se moveu. Apenas esteve lá, encarando-a,
como um homem atormentado que tinha acabado de encontrar a cura para
todos os seus males.
Nunca ninguém tinha olhado para ela assim. A fez se sentir
arrebatada.
De repente, Trish tinha toda essa vontade de tirar sua dor, de ser
realmente seu sagrado remédio e, oh, Deus, que ele ainda a quisesse. Ele
queria. A esperança e a paixão resplandecendo nos olhos dele não era fruto
de sua imaginação.
Ela lambeu os lábios, abriu e fechou os dedos suados.
— Você parece uma bagunça.
— Você está aqui — ele rasgou fora sua surpresa e espanto, sua voz
mais profunda e rouca que já tinha ouvido, percorrendo seu sangue como cera
quente.
Trish tentou um sorriso.
— Sim. Sobre isso, eu... ah... eu espero que não se importe por ter,
você sabe, entrado sem haver ninguém aqui, mas eu bati e...
Sua voz morreu lentamente, e ela, enfim, se moveu contornando a
poltrona ao lado a fim de amenizar a bola de tensão na boca de seu estômago.
O olhar de Caleb estreitou se fechando sobre ela, de uma maneira atordoante.
Desejo ardente brilhava em seus orbes e outra coisa mais poderosa, que a
colocou num novelo de emoções.
A temperatura na sala tinha aumentado?
Suor acumulou entre seus seios e no centro tenro de suas pernas.
De repente, tinha todo esse calor abrasador, fazendo-a ofegante e
molhada nos lugares certos. Talvez fosse apenas uma reação do nervosismo,
da tensão do momento. Ou aqueles olhos predatórios jurando mais luxúria do
que ela seria capaz de imaginar.
Ela ameaçou hiperventilar e se adiantou indo em direção da janela
então, Caleb estava lá, rápido e silencioso, agarrando seus ombros e girando
face-a-face com ele. Os lábios dele repuxaram para trás e aquele som sexy
estremeceu-a até as pontas dos pés.
— Não fuja de mim.
— Eu não estou.
O rosto dele estava polegadas acima do seu, os olhos cativos nos seus
enquanto uma mão subia para envolver a lateral de sua face. Seu toque
tranquilizando-a.
— Eu não vou te machucar.
— Eu sei — ela sussurrou. — Eu não tenho medo, também. Não de
você.
Ele relaxou, respirando difícil. Ela sentiu as pontas afiadas de suas
garras, mas não se afastou de seu toque. Ele fez, no entanto. Uma vez que os
braços dele estiveram para baixo, como se para conter algo, ela elevou as
mãos espalmando em seu peito.
Enchendo-se de coragem, Trish mirou dentro dos olhos amarelos.
— Me desculpe por me afastar de você. — Caleb vacilou, mas não
disse nada. — Eu fui uma idiota esse tempo todo e com isso não fiz mais que
fazer a nós dois sofrer... Eu tive medo, mas sei que não deveria ter corrido...
Sinto muito, Caleb.
— Não me peça para me afastar de você, novamente — ele disse
rouco. — Eu não acho que poderia sobreviver a isso. Uma parte da minha
alma não estava aqui.
A tensão a abandonou e ela se derreteu contra ele.
— Eu prometo, não vou. Nunca mais.
Caleb grunhiu satisfeito não podendo se conter mais. Seus braços
foram em volta dela, imediatamente. Ele cheirou inalando seu perfume, como
se alimentasse dele.
— Você é a minha vida, baby. — Ele dobrou a cabeça para trás para
olhá-la. — Eu não tenho feito outra coisa esses dias se não sofrer por você.
Eu te amo, Trish.
Caleb não deu tempo para seu cérebro processar a declaração, agarrou
atrás de sua cabeça, empunhando um punhado de fios. Trish encontrou-se
afogando no gosto dele quando ele enfiou sua língua dentro da boca dela.
Beijou-a tão intensamente, tão cabalmente. Ela gemeu fundo em sua
garganta. O calor subindo rapidamente fora de controle entre eles quando a
paixão pediu passagem.
Gemendo, Trish o puxou mais perto. Caleb lhe deu mais, deslizando a
boca para o lado e percorreu com a língua todo o caminho até seu lóbulo e o
mordeu. Elevou a mão para cobrir o seio dela sob a blusa e gemeu ao sentir o
pequeno cume apertado contra sua palma. Ele amassou o globo firme,
puxando a ponta entre os dedos quando tornou a beijá-la profundamente. O
ofegou erótico de Trish ficou apanhando na boca dele, junto com o seu
próprio enquanto empurrava o quadril contra o dela, deixando-a saber quão
duro seu pau estava, em seguida, curvou a cabeça, envolvendo um mamilo no
calor úmido de sua boca.
Com as costas arqueadas, ela pousou os dedos no cabelo dele e os
deixou lá enquanto seus lábios partiam com murmúrios de prazer, e
esfregando-se contra ele como podia.
Deus, como tinha sentido falta dele, da maneira que seus beijos a
voltavam em manteiga, de como suas grandes e cálidas mãos sobre seu corpo
a incendiavam ao mais simples toque, da dureza apertada contra seu corpo,
daqueles olhos sensacionais. E seu corpo, belo, duro, resistente e excitante
corpo, que ela amava e as coisas que ele podia lhe fazer. E, acima de tudo, ela
sentia saudade de fazer amor com ele.
A urgência de se juntar a ele, tomando-o no mais profundo de seu
corpo a fez arquejar e tremer. Isso não era apenas porque seu corpo pedia por
sexo ou por todos aqueles hormônios loucos, empurrando-a para ele. Trish o
amava de todo coração e não queria mais nada que se unir a ele para sempre.
E a contar pela intensidade de Caleb, ele tinha sido apanhado pela mesma
urgência avassaladora.
— Eu quero você. Agora. — Não era um pedido, senão uma
declaração brutal.
Caleb manobrou para trás e com um hábil puxão, a blusa dela caiu
fora de seu corpo e a calça junto com a calcinha foi-se em seguida. Ele a
levou para o chão, depositando-a delicadamente sobre o tapete felpudo cor de
creme, e então, se ergueu em pé na sua frente.
Ele enviou os farrapos de suas próprias roupas para o mesmo destino
que as dela.
O sólido peito estava arfante, os músculos tão tensos que deveria
doer. Seu pênis pulsava duro e orgulhoso, longo e grosso. Encheu sua boca
d'água e suas dobras de lubrificação. A mão dele envolveu o espesso eixo.
Seus olhos se fecharam e as presas se alongaram quando seus lábios se
separaram. Trish arfou pela visão. Ela nunca o tinha visto assim e ele não fez
nada para se ocultar. Tudo estava às claras. Homem e animal. Ele estava lá
cem porcento.
Ela se encheu de antecipação sobre o que aconteceria quando sabia
que devia temer.
— Caleb... — ela começou quando ele caiu de joelhos na sua frente.
Ele rosnou para ela, os olhos abriram brilhando, seu lobo aparecendo.
O animal olhando diretamente para ela com posse e encanto. Ela reconheceu
e não o temeu. O tom da voz dele se aprofundou meio desesperado, meio
animal.
— Por favor, Trish, não diga não porque. Para ser completamente
honesto, eu vou fazer isso de qualquer forma. Preciso me acasalar com você.
Não há mais tempo.
Suas palavras enviaram calor através dela, contraíram seus seios e sua
vagina.
Sem nenhuma palavra, ela espalhou as pernas expondo sua inchada e
úmida buceta. Os olhos de predador se deleitaram nela, devorando-a por
completo. Tão profano, que ela se sentiu enrubescer dos pés a cabeça e num
gesto de timidez começou a fechar as pernas.
— Não, — ele mordeu.
Caleb rapidamente parou o movimento, colocando as mãos na parte
de dentro de seus joelhos e a segurou mais aberta, tomando cuidado com as
garras.
— Você é linda, baby. Cada pedacinho seu me faz arder — ele
resmungou, movendo os olhos sérios para os dela. — Se tentar se esconder de
mim novamente, eu vou te punir.
Trish estremeceu com a promessa.
Oh-uh... Isso era uma coisa boa ou ruim?
Ela decidiu que era muito, muito ruim, mas de um jeito totalmente
bom.
Ela teria de testar isso outro dia, anotou rapidamente.
O olhar dele abaixou para o clitóris inchado e admirou cada
centímetro da buceta rosada mais linda que ele já tinha visto, babando por
ele. Ele estava acabado. Caleb mudou o rosto para baixo para aquele lugar
celestial entre as coxas dela e, em seguida, salivou quando se inclinou
respirando sobre ela, suas narinas dilataram e ele grunhiu suavemente,
inalando sua excitação doce e algo mais, que chamou sua atenção por um
efêmero instante, mas rapidamente foi esquecido quando o desejo dela
encheu sua mente. Sua língua saiu e devotou uma rápida lambida em seu
sexo.
Meus!
Com a boca aberta, ele a comeu, cuidando para não machucá-la com
as presas e as pontas afiadas de suas garras. A língua balançou ávida por toda
sua feminilidade, jogando entre os lábios, colhendo sua excitação ao mesmo
tempo em que a umedecia ainda mais com sua saliva. A ponta da língua
circulou abaixo em sua entrada e penetrou ali uma e outra vez. Fodendo-a
com resistência indo tão fundo quanto podia tantas e tantas vezes.
Ela estava latejando em seus lábios.
Macia. Molhada. Doce. Tão pronta para ele, que suas bolas se sentiam
azuis e a cabeça de seu pau parecia que ia explodir a qualquer momento se
não entrasse nela.
Quando a olhou, Caleb quase gozou desfeito com o que viu. Os olhos
dela estavam encapuzados com desejo cru, as bochechas coradas e os lábios
partidos, o cabelo era selvagem em todos os lugares, com as costas arqueadas
e os mamilos apontados.
Ela era toda dele agora, sem mais desculpas, sem mais adiamento.
Ela é minha, ela é nossa. Nossos!
Os olhos selvagens de Caleb ficaram mais brilhantes e, seus músculos
flexionaram e tencionaram quando ele, cuidadosamente, deslizou dois dedos
dentro dela, e disse:
— Minha para cuidar, minha para segurar, minha para amar.
Caleb bateu os dedos em seu canal e capturou o clitóris entre os
lábios, saboreando-a com uma paixão abandonada. Os grunhidos sexuais dele
vibravam. Seus músculos internos se agarravam aos dedos dele, seu coração
ameaçando explodir.
Uma fome ardente a envolveu, fazendo seus quadris se sacudirem e
seus calcanhares se cravarem no tapete, em uma tentativa desesperada para
que seus dedos se enfiassem mais profundo e duramente em seu canal. Estava
tão perto de gozar que delirava.
Ele fez mais e mais rápido. Lambendo e chupando. Os dedos
martelando dentro-e-fora num ritmo crescente, que rapidamente enevoou seus
olhos e pontilhou sua pele.
— Sim! Sim! Sim!
O prazer do clímax a apanhou no alto, rondando sob sua espinha e
lavou através dela, dissolvendo sua mente enquanto seu quadril retesava e as
pernas tremiam apertadas contra a cabeça dele, com as costas fortemente
arqueadas. Ela explodiu como um foguete. Seus dedos moeram no tapete e,
em seguida, ela se encolheu na sensação.
Quebrada. Fraca. Desossada.
Caleb a manteve e rosnou macio contra o feixe de nervos, levantando
uma nova onda de sensações prazerosas dentro dela, e então, continuou
mimando com a boca e os dedos.
Ofegante, Trish tentou se apartar quando sentiu ser demais, porém ele
a segurou facilmente, rosnando em comando para ela se submeter e
reconhecê-lo como dominante.
Seu macho. Seu companheiro. Seu Alfa.
Ela deixou de lutar e chorou baixinho.
Ele rosnou, novamente, e a ascendeu mais alto, levando-a ao limite de
outro orgasmo.
— Por favor, Caleb, por favor... Me tome agora.
Tome-a. Marque-a. Agora!
O instinto de acasalamento sibilou dentro dele e subiu para a borda,
desencadeando um tipo de adrenalina trovejando através de seu sangue e seu
sistema nervoso.
Ele precisava estar dentro dela e marcá-la com sua semente mais que
precisava respirar.
Com um rosnado forte, Caleb se esticou e, em seguida, a manobrou
com um gracioso movimento fluido, colocando Trish com o estômago para
baixo e se encaixou entre suas pernas, com uma rapidez inumana, que a
deixou atordoada por um momento. As mãos pesadas agarraram seu quadril e
puxou para cima, deixando-a empinada. O roce dos pelos das coxas dele
contra as suas a deixou inquieta e, de repente, o vazio dentro dela era demais
para suportar. Ela forçou para o alto em oferecimento e contra ele, recebendo
outro rosnado sexual. Umidade derramou entre suas pernas, e ela sentiu isso
escorrer, o clitóris tremendo de antecipação. A sensação a deixando em
chamas.
Ela se empurrou para cima, com os braços esticados, o traseiro no ar.
Caleb correu a mão por uma banda de sua bunda e a abriu. O rosnado
dele foi algo próximo a um ronronar. Muito sexy. Batendo diretamente em
sua vulva.
Uma nova onda de excitação a percorreu. Ela o queria dentro dela
agora. O primeiro deslizamento da mão dele ao longo de suas costas a fez
tremer de emoção.
Depressa.
E então, ele estava sondando, a cabeça de seu pau separando os lábios
da sua buceta enquanto se lambuzava em seu desejo para mergulhar dentro
dela, com um empurrão violento. Arrancando um grito rouco do fundo da sua
garganta.
— Oh, meu Deus!
Caleb fez um som bestial e agarrou seu quadril com maior força
enquanto puxava para trás quase todo seu comprimento e voltava a meter
dentro. A posição permitindo-o ir mais longe, mais profundamente a cada
entrar e sair. Esticando-a numa picada de dor prazenteira para acomodá-lo em
cada investida dentro. As garras apertaram em sua pele, mas ela não se
importou desde que ele continuasse se movendo dentro dela.
Era tão bom. Ela estava deliciosamente cheia dele, alongada ao limite,
tão completa.
As respirações ásperas ressonaram no ar juntamente com o barulho de
seus corpos se encontrando. Sons sensuais, fazendo-a mais excitada. Logo
ambos estavam suados por seus esforços, o embriagador perfume de sexo e
luxúria flutuando no ar. Cada impulso dele fazia seus seios balançarem, as
pontas extremamente sensíveis e mais duras, se possível.
A mão de Caleb alisou seu traseiro enquanto ele diminuía o ritmo,
penetrando apenas um pouco mais que a ponta e, em seguida, ele bateu na
bunda dela de leve.
Sua buceta apertou ao redor dele em resposta.
— Eu sou seu companheiro, seu Alfa. Você me obedecerá?
Trish realmente grunhiu, recusando-se a responder e empurrou de
volta contra ele, tentando conseguir o pênis dele em seu interior. Caleb a
segurou com uma mão e, com a outra arrastou o eixo fora de seu sexo e o
esfregou contra seus lábios vaginais numa provocação premeditada. Ele
então, novamente, deslizou para dentro e martelou duas vezes.
Curvando-se sobre as costas dela, beliscou seu ombro sobre a marca.
— Você me obedecerá? Vai se submeter a mim?
Novamente, Trish empurrou para trás em uma exigência muda, os
lábios trancados em resistência rebelde. Nem ela entendia porque estava
protelando; algo dentro dela induzia fazê-lo trabalhar por sua rendição. Ela
não estava indo dar isso fácil para ele.
Caleb soltou um grunhido e um riso duro ao mesmo tempo.
A mão viajou para baixo e cercou seus mamilos, jogando com eles. A
sensação foi chocante, disparando feixes de prazer dos pequenos cumes
direto para baixo. Trish gemeu, se contorcendo sob ele, sua vagina chupando-
o mais fundo.
Ela deixou o tronco cair, os braços dobrados, a posição colocando-a
mais vulnerável a tortura dele. Ela estava tão quente, tão inchada. Trish
precisava de seu pau batendo nela duramente, enterrando-se bem no fundo.
Buscou mais, porém Caleb manteve o odioso controle, neutralizando
qualquer tentativa cega sua.
— Me dê mais, Caleb!
Sua garganta estava seca, rouca e ofegante.
Ele rosnou forte, um som gutural e autoritário ressoando próximo ao
seu pescoço.
— Você é minha. Vai me obedecer?
Ela ofegou, engasgando na necessidade e, enfim, cedeu.
— Sim! Sim! Por favor. Mais. Eu preciso de mais, Caleb.
Ele deixou sair um grunhido triunfal e se moveu num ritmo mais
rápido e fundo, ainda assim não era o que ela precisava. O bastardo estava
jogando com ela.
Trish o olhou sobre o ombro e abriu a boca, mas as maldições foram
agarradas pelos lábios dele quando ele a beijou forte, usurpando sua boca.
Uma mão estava agarrada ao seu cabelo, mantendo-a para seu assalto, o outro
braço poderoso esticado rente ao seu pescoço.
Caleb a soltou, contudo, segurou seu poder sobre ela, seu pênis
imóvel em seu canal enquanto fixava seus olhos nos dela. Um olhar intenso e
profundo, exigindo total submissão.
— Quem a possui de coração e de alma? A quem você pertence,
Trish?
O domínio dele se apertou em volta dela numa capa invisível,
aderindo cada centímetro de sua pele e a penetrou indo para todos os cantos,
até que a ganhou por completo. Ela não podia lutar contra ele. Ela era dele de
coração, de alma e de corpo.
— Oh, Deus... A você, Caleb. Eu pertenço a você. Só a você!
— Você é minha!
Ela gemeu.
— Sim, eu sou sua, Caleb.
— Para sempre.
— Para sempre — ela concordou em total submissão.
Caleb fez um som satisfeito no fundo de sua garganta e, em seguida,
bombeou nela como um louco. Furiosamente. Sem ritmo, sem restrição,
apenas a força da luxúria, que compartilhavam. O pênis dele começou a
inchar, a fricção suave e intensa ao mesmo tempo.
Trish rapidamente perdeu toda a percepção a seu redor, apertando-o
dentro e movendo-se desajeitada de volta contra ele. Caleb grunhiu, pulsando
em seu canal. Ele a montou mais firme e rápido, sustentando-se nas pernas e
em um braço quando levou a outra mão abaixo, cercando o clitóris dela e o
massageou brandamente.
Trish estremeceu na extremidade do orgasmo.
As presas de Caleb rasparam sobre a marca latejante, a língua se
arremessou para molhar a área, cativando-a numa carícia escura. Trish
tremeu, deixando o pescoço cair para o lado e para trás. Ela precisava disso.
Ele rosnou baixo e animalesco em seu peito, antes que a mordesse. Dentes
afiados perfuraram sua pele e prazer/dor a turvaram enquanto três coisas
simultâneas aconteciam.
O orgasmo veio quebrando sobre ela, atropelando sua sanidade e
estilhaçando seu sistema em milhares de pedaços enquanto um frisson a
abraçava forte. Seus músculos internos ondularam ao redor do pênis dele,
ordenhando cada polegada.
"Meu!"
Trish não estava certa se a palavra explodiu no ar ou era fruto de sua
imaginação. E não importava quando ela agarrou o braço dele com uma mão
e, num impulso vindo do nada, o mordeu forte o bastante para sentir o gosto
do sangue dele em sua boca e tragou isso. Foi um choque. Ela não teve tempo
para se horrorizar quando outra forte quebra de onda de prazer veio sobre a
primeira e lavou sobre ela, de uma maneira tão crua e legítima, a sensação de
pura felicidade acumulando lágrimas detrás de seus escurecidos olhos azuis.
A luz brilhante irrompeu através dela, capturando-a por completo enquanto a
ligava a Caleb quando ele a mordeu com maior força, até que a mandíbula
travasse marcando-a com a mordida e a saliva. E então, com o sêmen
plantado no fundo da buceta dela quando ele engatou dentro e gozou duro,
rosnando baixo na garganta o seu próprio clímax.
Trish se sentiu apanhada em algo poderoso, muito maior que qualquer
coisa que pudesse existir ou imaginar. Ela podia sentir a conexão com Caleb,
suas almas em torno uma da outra, entrosadas numa dança harmoniosa
celebrando a união. O laço entre eles mais sólido e puro que alguma vez já
esteve. E brilhava aos olhos. Tão sublime, que as lágrimas fugiram de seus
olhos. Era como se algo finalmente se encaixasse em seu devido lugar e fosse
soldado de tal forma, que jamais seria capaz de se separar, novamente.
Ela se perdeu na sensação por longos e eternos minutos.
Quando as sensações diminuíram e ela pôde pensar fora da névoa
sexual, Trish se horrorizou ao perceber o que tinha feito então, afrouxou a
mandíbula, soltando o braço dele.
Caleb se moveu tirando os dentes de sua companheira para lamber o
ombro dela, curando o ferimento que ele fez enquanto completava o
acasalamento, então ele abraçou seu corpo menor, levando-a com ele quando
caiu para o lado. Lutando para se recuperar, ainda preso dentro dela.
A fragrância da união deles permeava o ar.
Trish, enfim, era toda sua. Ele a reivindicou, e agora, ele nunca a
deixaria partir.
Caleb subiu em um braço para olhá-la enquanto a outra mão pousava
possessivamente sobre o quadril dela. A tenra sensação úmida de sua buceta
ao redor dele era como o lar.
— Você está bem, querida? Eu te machuquei? Sei que fui um pouco
rude e...
Ela olhou para ele, observando seus olhos de volta ao normal e sorriu
sonhadora.
— Foi incrível, amor. Eu estou perfeitamente bem. Na verdade, se
ficar melhor, temo morrer — ela disse, com uma risadinha alegre.
O sorriso dele iluminou o cômodo.
Dobrando a cabeça, Caleb grunhiu baixinho e roçou o nariz fazendo o
caminho de seu pescoço à lateral de seu rosto, os lábios acariciaram a pele,
suavemente.
— Você nunca me chamou assim antes... eu gosto do som disso.
Trish lhe devotou um olhar cheio de sentimentos.
— Eu gosto de chamá-lo assim, porque é isso que você é para mim,
Caleb. Meu amor. Estive sendo uma tola, mas realmente não tive a intenção
de te machucar. No entanto, foi justamente isso que fiz. Perdoe-me. Não
quero estar longe de você nunca mais.
Ele ergueu a mão e segurou o rosto dela.
— Eu pensei que tinha te perdido para sempre, Trish, mas agora você
está aqui, voltou para mim. Isso é tudo que me importa.
— Eu amo você — ela disse, gostando de como as palavras soavam
em sua língua e acrescentou. — Eu realmente te amo, lobo.
Caleb mal pôde se conter ao capturar os lábios dela.
— Você não faz ideia do quanto me faz feliz ao ouvir isso, baby. —
Ele mordiscou seu lábio e fixou em seus olhos. — Eu amo você, também. Sei
que não quis me machucar e apenas por isso não vou te punir, mas talvez
você goste de uma palmadinhas.
Ele escovou os lábios sobre os dela e se afastou, com o cenho
franzido para sua expressão culpada.
— O que foi?
— Eu te mordi... muito forte.
— Eu não senti.
Caleb levou o olhar para o braço percebendo pela primeira vez a área
onde havia apenas o rastro de uma leve contusão, curando-se rapidamente
quando deveria estar feio.
Os olhos de Trish cresceram pasmados.
— Vê? Eu posso aguentar umas mordidas de amor — ele brincou. —
Na verdade, eu amo ter suas marcas em mim, baby, mesmo que elas não
sejam definitivas. Mas se fossem, não duvide que eu ficaria muito orgulhoso
em mostrá-las.
— Certo. Esse é mais um dos seus mil e um truques. Realmente, você
é todo um pacote, Caleb Black.
Ele riu.
— Isso seria uma reclamação, companheira?
— De forma alguma. Eu acho muito atraente, se me perguntar.
Seu pênis desinchou o suficiente para destravar-se dela, e quando ele
puxou para fora, sua semente escorreu dela pingando no tapete. Caleb não
pareceu notar ou não se preocupou, rolando sua companheira em suas costas,
e então, inclinou a cabeça para baixo para tomar seus lábios, todavia, ele
parou o movimento, com os olhos estreitando e as narinas dilatando quando
começou a cheirar.
Um misto de emoções atravessou seu rosto. Choque. Surpresa. E
então, ele empalideceu, antes da satisfação masculina pintar seus traços e os
olhos brilharem contentes. Ele olhou para baixo em sua barriga e depois para
ela, então para sua barriga de novo. A mão dele vagueou para baixo e para o
seu ventre plano acariciando, como se tocasse em algo sagrado, e voltou o
olhar para o rosto dela.
— Caleb, o quê...?
Sua voz era emocionada.
— Seu cheiro mudou. Eu não percebi quando a vi aqui, porque estava
focado em me acasalar com você, mas agora eu posso sentir claramente.
Ela se apoiou nos antebraços.
— O que quer dizer?
O sorriso dele subiu sua frequência cardíaca.
— Você está grávida, querida.
Trish piscou.
Grávida?
Ela não sabia se seu choque era pela notícia ou por ele poder cheirar
uma gravidez.
— Isso não pode... eu... eu... Sério? Mas como? Eu estou no controle.
Seu olhar era quase culpado. Ela tragou duro.
— Eu acho que me esqueci de te dizer algumas coisas.
— E isto seria?
Caleb encolheu os ombros, mas o brilho orgulhoso em seus orbes não
enganava.
— Quando nos acasalamos nosso sêmen força a fêmea a ovular não
importa o quê, até que ela esteja fecundada. Há uma maneira de evitar, um
tipo de chá especial, que nossas fêmeas tomam quando não querem ter
filhotes logo de início.
— E você não achou que eu deveria saber disso?
Ele teve a graça de parecer envergonhado.
— Me desculpe. — E acrescentou. — Mas em minha defesa reafirmo
que não importa o quê, você ainda iria carregar o meu filhote. O chá não era
uma opção. Bem, na verdade, eu não tinha certeza se podíamos ter um bebê
juntos, uma vez que não houve antes um acasalamento entre shifter e
humano. Essa é uma grande notícia.
Ela apertou os olhos para ele de brincadeira.
— Companheiro, nós temos muita conversa para pôr em dia. E será
bom que não me esconda nada desta vez, pode não ser saudável para você
mentir para uma mulher grávida.
— Tudo que você quiser, baby. E eu não menti. Não posso. Não para
você.
Ela anotou isso.
— Tem certeza que estou grávida?
— Absoluta. Eu posso sentir o cheiro. Você, definitivamente, está
fecundada.
Jesus Cristo...
Ela estava mesmo grávida.
Caleb sorriu largo e, em seguida, deslizou para baixo, beijando todo
seu ventre. Trish cavou os dedos no cabelo dele, adorando a textura dos fios
enquanto acariciava o couro cabeludo com as pontas dos dedos. Ele subiu e a
beijou nos lábios, apaixonadamente.
Seus olhos se encheram de lágrimas quando pensou que teria um filho
dele, do homem que amava. Depois de tanto sofrimento, ela poderia ter seu
pedacinho de céu.
Os dedos dele tocaram sua face com ternura.
— Você não está feliz em ter o meu filhote? Sei que deveria ter te
falado antes e que devíamos ter conversado sobre o assunto...
Ela colocou o dedo em seus lábios.
— Eu não sabia que poderia engravidar, apesar do cuidado, não é
inteiramente sua culpa. — Ela fez uma breve pausa. — Eu estou feliz. Bem,
um pouco chocada. Mas feliz. Definitivamente, feliz. Não esperava começar
uma família agora, pensei que teria mais alguns anos antes do meu relógio
biológico começar a apitar. Estou contente que ele já esteja aqui e que seja
nosso.
— Vai ficar tudo bem, querida. Eu sempre estarei aqui.
— Está tudo bem para você termos um bebê agora?
— Nada me faz mais feliz do que saber que você vai me dar um
filhote. Este é o melhor presente que poderia me dar. Eu mal posso esperar
para ver sua barriga inchar. — Ele parou então ficou sério, parecia até um
pouco zangado. — Você se aventurou até aqui sozinha?
— Não, Maya me trouxe.
Isso a fez pensar que a Srta. Crawford também sabia que ela estava
grávida.
Malditos sentidos apurados!
Caleb assentiu, os ombros relaxando enquanto a expressão suavizava,
e então, beijou a ponta do nariz dela. Ele se levantou e, em seguida, a ajudou
se erguer e a içou em seus braços, como se não pesasse nada, levando-a
escada acima. Trish enrugou o cenho e espremeu os olhos quando ele a
colocou no chão do banheiro do quarto principal.
— Eu não terei lobinhos, não é?
Ele lançou a cabeça para trás e riu às gargalhadas.
— Você é tão esquisita.
— Ei! — Ela deu um tapinha em seu peito. — Você é o esquisito
aqui.
A risada parou enquanto a sobrancelha negra levantava.
— Há alguma coisa de diferente entre um homem completamente
humano e eu?
— Tirando a parte que muda para um lobo, todos os sentidos
terrivelmente aguçados, esses sons animais que faz, os olhos... Ai! — ela
resmungou, esfregando o traseiro nu quando palma dele esbofeteou fraco,
porém o suficiente para queimar.
— Não precisa listar minhas melhorias, mulher.
— Certo — ela murmurou. — Então não, não há diferença.
— Você tem sua resposta. O fato de eu chamar nosso bebê de filhote,
você sabe, é apenas um termo comum para mim, bem como, macho, fêmea,
companheira e etc. Nossas fêmeas dão a luz como as humanas puras fazem.
— Ele pareceu pensar e completou. — Bem, poderíamos ter filhotes de lobo
no nascimento apenas se nos acasalássemos com um Irmão da floresta. Um
animal puro. Claro que, em nossa forma animal.
Ela assentiu, corando com a imagem plantada em seu cérebro.
Informação demais. Ela viu seus lábios tremerem enquanto ela balançava a
cabeça, diversão sacudia seu olho.
— Não ria de mim.
Caleb a puxou para o cerco de seus braços quando ela tentou se
afastar com um beicinho infantil, e então, olhou para baixo para ela.
— Não estava achando realmente que daria a luz a filhotes de lobos?
Trish mordeu o lábio, evitando sorrir.
— Bom, você não pode me culpar por pensar isso, né?
— Não, não posso.
Um pensamento atravessou sua mente.
— Como nosso bebê será? — A expressão de Caleb foi pura
confusão. — Você sabe. Eu sou humana. Você é um shifter. E o nosso bebê?
— Ele ou ela será um híbrido.
— Ele irá mudar, também?
Caleb suspirou, levando-a ao box enquanto falava.
— Não sei, querida. Talvez. É possível. Um dos dois lados irá gritar
mais alto em algum momento.
— Isso quer dizer?
— Deixaremos para descobrir quando à hora chegar. Isso significa,
com ele grandinho, querida. Cinco anos é grandinho o suficiente para você?
— Por quê?
— É com cinco anos que nossos primeiros instintos se afloram e a
parte animal desperta.
Trish empalideceu cobrindo a barriga, protegendo-o de uma ameaça
invisível.
— M-Mas ele ainda será apenas um bebê!
— Calma, baby. — Ele esfregou suas costas e leu seu temor. —
Teremos muito tempo até lá. Confie em mim. Eu nunca deixarei que nada,
nem ninguém prejudique nosso filho.

****

A primeira coisa que ela sentiu quando despertou foi Caleb. O seu
cheiro trouxe tudo de volta rapidamente. Um sorriso se espalhou por seus
lábios e brilhou em seus olhos.
Eles tinham compartilhado a ducha entre beijos e carícias ousadas,
depois ele a tinha levado a cozinha e a alimentado então, fez amor com ela
sobre a bancada, até que perdesse os sentidos. Bem, ela meio que ainda
estava aérea sobre qual parte do dia que era, e na realidade, não importava
muito em saber sobre o tempo.
Caleb era um excelente entretenimento, e ele tinha toda atenção dela.
Oh, sim, e a língua dele podia fazer milagres, realmente.
Agora, eles estavam deitados na cama, ambos nus, suas pernas
entrelaçadas com as de Caleb e sua cabeça pousada sobre o peito forte dele.
Ele a segurava como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo para ele e,
de fato, Trish se sentia assim.
Ela moveu a cabeça para olhá-lo através da sonolência.
— Dormi muito?
A voz dele ressonou cheia de orgulho.
— O suficiente para descansar seu corpo, ainda mais agora que
carrega meu filhote, você vai precisar de bastante descanso e sexo.
Trish riu, ainda não podia acreditar que teria um bebê.
Ela se moveu, aconchegando-se melhor. Ele se sentia tão bem contra
o seu corpo, que poderia ficar ali para sempre. Bem, se dependesse dele, era
este o caminho que seguiriam.
— Nós estamos acasalados agora, não é?
— Pode apostar sua bunda bonita nisso. — Caleb a puxou mais perto.
— Nunca mais vai me deixar, querida, mesmo que se enjoe de mim. Me
pertence.
— E você a mim — ela quis igualar o placar.
— Cada pedacinho meu.
— Uh, nós estamos um pouco psicóticos aqui, não? Mas eu gosto.
— Bom, pois não há jeito de voltar atrás. Está presa a mim até depois
da morte.
Trish plantou um beijo no peito dele.
— Eu posso lidar com isso.
Caleb colocou a mão debaixo de seu queixo e o ergueu para ter seus
olhos.
— Ótimo. Você sabe que não irá voltar para a cabana, seu lugar é
aqui comigo, do meu lado, em nossa casa. Mude o que quiser, use a internet
para encontrar o que quer para a casa e para você. Meu cartão está ao lado na
gaveta. Use-o. Infernos, a casa é toda sua, pode até pintá-la de rosa se quiser,
mas você ficará aqui ao alcance das minhas mãos.
Ela não devia gostar tanto disso, contudo, adorava que ele estivesse
sendo tão possessivo. Não era como se Caleb fosse mandar nela. Não. Eles só
estavam curtindo o recém-acasalamento, e ali, entre quatro paredes, ela não
se importou se ele queria ser o dominante. Cacete, ele até poderia lhe dar
umas palmadas se quisesse.
— Certo, mas eu tenho minhas coisas lá.
— Eu mandarei alguém pegá-las para você — ele disse simplesmente,
com os braços enrolados frouxamente ao redor de sua cintura.
Ela se ancorou nele, autoconsciente das pontas de seus seios roçando
contra o peito duro e da sensação que isso trazia, enquanto seus olhos
diminuíam.
— Não quero ninguém mexendo nas minhas coisas pessoais e, com
toda a certeza, não quero nenhum homem seu mexendo nas minhas roupas
íntimas.
Caleb rosnou grave.
— Infernos, mulher! Eu vou matar qualquer macho que chegar perto
das suas calcinhas. Não mandarei nenhum macho. Vou pedir que Sue passe lá
depois do trabalho.
Seus dedos brincaram distraídos sobre o peito dele. A pele dele era
tão bonita, um tom de bronze bom o suficiente para lamber e beijar... Ela
tragou.
— E quando fará?
— Logo.
— Peça para ela pegar hoje, aliás, eu mesma posso ir. Sim, isso é
melhor.
A mão em suas costas se esticou para esbofetear sua bunda. Ela deu
um gritinho e mordeu o lábio para não gemer quando ele acariciou o local.
— Não vai sair daqui — ele grunhiu. — Negou-me ao que é meu por
inferno de dias, agora quero me esbaldar com você. Não que eu vá me cansar
fácil. Você sabe. Genes lupinos, resistência, rápida recuperação e tudo isso —
acrescentou de forma fugaz.
O olhar dele foi no mínimo perverso. Ela colocou os olhos em branco,
ignorando a maneira que seu canal apertou e começou a molhar em
expectativa.
— Eu preciso de roupa.
— Não sei por que, vou rasgar qualquer peça que me impedir de
chegar a você. — Ela lhe deu um olhar irritado. Ele suspirou. — Okay.
Amanhã eu pedirei a ela para pegar suas coisas. Faça uma lista do que desejar
de lá, desta forma será mais fácil para ambas.
Ela abaixou um beijo em seu mamilo e o sentiu estremecer debaixo
dela.
— E o que farei com a cabana? Não quero vendê-la. Eu gosto dela,
tenho boas memórias de lá. Talvez mantê-la como um canto nosso para irmos
vez e outra?
A mão dele começou a correr ao longo de sua coluna.
— Nós podemos fazer isso, mas você não está indo lá sozinha.
A sobrancelha feminina curvou com diversão.
— Com medo de que eu vá fugir?
O sorriso lento foi predatório, a perna dele entre as dela se moveu,
raspando contra sua vulva. E ela lutou contra o impulso de se esfregar nele.
— Se o fizesse, eu te caçaria e não seria nada agradável para você
quando te encontrasse. E não duvide, eu iria te encontrar em qualquer canto
do mundo.
Sua respiração pesou com a intensidade dele.
— Esse é o Alfa falando?
— Também — ele admitiu, correndo uma mão pelo cabelo dela. —
Escuta baby, eu não vou mentir para você e fingir algo que não sou. Eu sou
possessivo e mandão, talvez um pouco controlador e muito protetor. Mas
como disse uma vez, eu vou tentar não te aborrecer com meu temperamento.
Porém, quero que confie em mim. Eu farei tudo para protegê-la e fazê-la
feliz, mas precisa confiar em mim para que eu faça meu trabalho.
— Contanto que você possa me retribuir o favor e não mande em
mim, estamos de acordo. Eu realmente entendo que precise de sua autoridade
com... o bando, entretanto, eu não sou seu bando. Eu sou sua mulher, sua
companheira. E aqui em nosso relacionamento, em nossa casa, nós temos
direitos iguais. Sempre.
Ele balançou a cabeça.
— Feito.
— Mas eu não vou largar meu emprego.
— Sobre isso...
Ela empurrou o tronco para cima, a testa plissada.
— Não! Não mesmo!
Caleb ergueu as mãos em sinal de paz. Trish o olhou, desconfiada.
— Calma, okay? Me deixe falar, sim? — Ela assentiu, contrariada. —
Eu realmente não a quero trabalhando lá, quero você e nosso filhote ao meu
alcance, onde eu posso proteger e cuidá-los. Me sentirei melhor assim e disso
eu não vou abrir mão. Não ficarei tranquilo sabendo que estão longe, e eu não
posso ter minha cabeça em dois lugares quando estiver aqui e precisar me
focar nas coisas Da matilha. Vou ser um fracasso. Isso não é bom para
ninguém. Então, por favor, faça isso por mim, okay?
— Caleb, eu não sei... Não gosto e não posso ficar parada, porque vou
enlouquecer e te enlouquecer no processo, confie em mim. Eu sei que para
você é natural que me forneça e até honroso, e, para ser honesta, eu posso
lidar com isso e aceitar desde que eu tenha minha independência, também. É
algo meu.
Ele a olhou como se tivesse o mundo nas mãos. Triunfal.
— Eu pensei sobre isso — ele retomou. — Não me oporei se quiser
trabalhar. No entanto, fará isso aqui... Espere, por favor, permita-me
terminar... Não faz muitos dias na cabana você me disse que gostaria de
trabalhar em casa como consultora de investimentos freelancer. Faça. Aqui há
internet, o sinal é bom, tem telefone e tudo mais que você precisar, até o
primeiro cliente se quiser. Eu ficarei tranquilo sabendo que está na segurança
da reserva, e, você ainda terá sua independência fazendo o que gosta. É justo
não?
Trish o mirou em choque por um instante.
Ela não teria pensado que ele tinha guardado isso, e o safado, ele era
bom. Caleb já devia ter tudo armado, mas não podia negar que era um bom
arranjo. Não muito diferente do que pensou a princípio, senão melhor. Ela
torceu os lábios para mascarar o sorriso.
— Ceeerto... Contudo, eu preciso descer para a cidade para avisar a
Srta. Crawford e também precisarei ir ao cartório eventualmente...
— Baby, há quantos dias crê que está aqui?
— Um?
Ele riu.
— Três — calmamente, ele disse.
Trish impulsionou no susto, porém Caleb a sustentou contra ele.
— Deus, Caleb! A mulher vai me despedir por justa causa! Como se
passaram tantos dias e eu não percebi? — O olhar dele brilhou com malícia.
— Calado! Não responda. Você é o culpado aqui, devia ter me atualizado. E
agora? O que eu vou dizer para a Megera?
Os olhos dele arregalaram levemente em surpresa.
— Você chama Maya de Megera?
Ela deu de ombros e relaxou.
— Ela meio que merece. É tão azeda e mal humorada, se bem que
depois do que ela fez, bom, foi meio que inesperado. Nunca pensei que ela
pudesse fazer algo bom por mim, mas sou grata pela intromissão. Seja como
for, não posso deixá-la na mão, assim, de repente.
— Intromissão?
— Ela meio que abriu meus olhos quando me trouxe aqui. — Sua
expressão se voltou aborrecida. — Deveria ter me dito que ela era como
você.
Uma sombra cruzou o olhar dele tão rápido, que ela duvidou ter visto.
— Nem mesmo pensei nisso. Sinto muito.
Trish sondou sua expressão, mas ela era ilegível.
— Ela estava muito interessada no lobo-barra-shifter que atropelei na
estrada.
— E o que disse a ela?
— Nada, realmente. Eu não enxergo bem no escuro e até aquele
momento um lobo para mim era um lobo... O que há de errado?
— Não há nada com o que se preocupar, querida. Maya deixou-nos há
muito tempo e raramente vem à reserva. Ela prefere viver isolada, mas nem
sempre foi assim. Não a culpe por ser como é, acredite-me, ela tem seus
próprios demônios para exorcizar do tipo que poucos de nós poderíamos
aguentar como ela faz, e em parte é minha culpa.
Curiosidade borbulhou sob sua pele.
— Vai me dizer isso?
Caleb sorriu, porém não chegou aos olhos.
— Agora eu não quero falar de ninguém mais, exceto sobre nós dois,
aliás, eu quero usar outro tipo de linguagem mais interessante que a verbal.
Ele propositalmente estava desviando do assunto. Ela permitiu.
— E qual seria?
— Corporal.
Caleb os moveu de posição, colocando-se habilmente entre as pernas
dela. Seu quadril espalhando suas pernas mais amplamente e as deixou lá, de
uma forma relaxada. Trish podia sentir o quão duro ele já estava. Desejo
aflorou sua libido. Sua vagina apertou mais molhada.
A facilidade que ela tinha em responder a ele era quase vergonhosa e
agradável ao mesmo tempo. Seu corpo o reconhecia e amava cada estímulo
dele.
— Eu gosto dessa, — ela começou, segurando os ombros dele —,
mas precisamos conversar sobre algumas coisas antes.
— Conversar é superestimado. — Ela estreitou os olhos. — Certo.
Mas podemos falar enquanto eu estou dentro de você. Já se vão quatro horas
que não deslizo em casa.
A mão masculina explorou entre os corpos e ela sentiu a ponta grossa
pincelar entre as dobras então fazer pressão contra a entrada molhada de sua
buceta. Ele a penetrou sem nenhuma resistência, os braços dobrados ao seu
lado escorando o peso de seu corpo. Prazer rolou através dela.
— Eu não posso me concentrar com você fazendo isso — ela
respirou.
Caleb a beijou brevemente, correndo os lábios por seu maxilar e
pescoço, e plantou pequenos beijos molhados sobre a marca então, voltou e
fixou-se nela.
Ele começou a se mover, empurrando tão devagar quanto pôde,
saboreando cada polegada entrando e saindo dela indo até a base e retraindo
até quase a cabeça para tornar a deslizar dentro. Então parou, ofegante e
sorriu. Pecado embrulhando seus lábios.
— Eu não vejo como isso é ruim — ele gemeu. — A única coisa que
você tem que se concentrar é na sensação boa do meu pau deslizando dentro
da sua buceta apertada. — Os olhos dela afunilaram e ele inclinou a cabeça
sorrindo e beliscou seu lábio inferior. — Diga, baby.
Trish tragou algumas respirações, tentando não se sucumbir à
sensação de seu pau recheando sua boceta. Deliciosamente. Ele não estava se
movendo, e ela agradeceu.
— Me fale sobre a manada.
— Nosso território é muito amplo, somos grandes em número e
força... de fato, somos muito grandes e melhores — ele apontou malicioso,
movendo os quadris uma vez.
— E nem são arrogantes.
Ela enrolou os braços em torno dele, passou as mãos sobre sua pele
lisa e os músculos poderosos de suas costas, sentindo-os ondular nas pontas
de seus dedos. Ele era tão magnífico.
— Apontar um fato não é arrogância.
Ela riu.
— Claro.
— Somos um bando muito respeitado entre os de nossa raça, não
somente pelo número, como também, por nossas valiosas adições, que
fizemos ao decorrer das décadas desde que me tornei o Alfa. O poder do líder
de um bando vem de sua manada, e, a minha é grande e diversificada. Em
algumas manadas, essa mescla é considerada uma mancha que enfraquece o
bando. Uma tolice. Mas mesmo os shifters têm preconceito. Não aqui.
— Família feliz — ela ofereceu enquanto corria as unhas ao longo da
coluna dele.
Seu maxilar apertou, e ele rosnou baixinho.
— Não somos ingênuos, querida. Todos nós vivemos em função de
um mesmo objetivo, sobreviver. Brigas estúpidas apenas dissipam nossa raça
e não queremos isso.
— Muito inteligente e cívico.
— Sim — ele grunhiu. — Agora chega de conversa. Eu quero te
comer e sentir sua buceta ordenhar meu pau quando gozar. Enrole as pernas
em mim e se segure baby. Isso será rápido, mas você vai apreciar cada
segundo.
Quando ela lhe obedeceu, Caleb a deu um beijo duro então ele retraiu
o quadril arrastando o longo eixo, até que somente a cabeça resvalou na
beirada da entrada, e impulsionou de volta todo o caminho para dentro,
batendo no fundo de sua vagina. O choque impulsionando a cabeceira da
cama contra a parede. Trish gritou. Caleb uivou. E então, ele fez de novo e de
novo. Até que esteve martelando nela num ritmo crescente, cuidando para
que a cada encontro sua pélvis moesse contra o clitóris dela.
Os sons de seus corpos, úmidos e carnais, estalaram por todo quarto e
encheram seus ouvidos, excitando-a ainda mais. Mãos e bocas se tornaram
uma confusão sexual. A cama rangia forte sob eles, elevando a luxúria a
outro nível. O perfume almiscarado da união impregnava o ar, formando todo
o conjunto de um potente afrodisíaco.
Caleb rosnou, seu pênis inchando dentro da buceta dela, seu rosto se
escondendo na curva do ombro de Trish enquanto ele movia as próprias
coxas de forma que obrigasse as dela mais abertas. Em seguida, a penetrou
com maior velocidade quando a mordeu. Um frenesi alucinante, com longas e
profundas estocadas, que deram a ela o prazer final. Ele gozou em seguida, o
prazer bateu nele numa incursão infernal. Caleb deixou seu ombro,
arremessou a cabeça para trás, uivando seu próprio ápice ao mesmo tempo
em que arremetia contra ela pela última vez, antes de se trancar em seu calor
acetinado.
A ligação bonita que se abria entre eles sempre a cegava, mas a visão
de Caleb gozando era o paraíso em Terra. Ele era todo um espécime de
macho viril. O êxtase refletindo em seu rosto bonito quando ele o deixou cair
a capturou numa bolha de fascínio. O homem tinha as bochechas rosadas e os
olhos escuros e desfocados em ouro. Era testosterona sólida. E ele era todo
seu. Ele desabou sobre ela e, em seguida, os rolou levando-a para cima dele,
lambeu a ferida que tinha feito e ficaram em silêncio. Uma vez que seu pênis
destravou de dentro dela, ele se retirou sob seu protesto baixo, girando-os
mais uma vez para que ficassem lado-a-lado, a mão grande dele envolveu o
delicado rosto brilhando com uma capa de suor e a beijou calmamente.
— Eu nunca vou me cansar de você, baby — ele murmurou sobre
seus lábios.
— Quero isso assinado, se não se importa — ela brincou, arrancando
uma risada poderosa dele, o som chacoalhou todo seu corpo.
— Minha palavra não basta?
— Basta.
— Eu te amo, Trish.
O coração dela inchou de alegria enquanto sorria bobamente. Ela
sempre sentiria seu coração chutar rápido e seu ego insuflar cada vez que o
ouvisse dizer as palavras.
— Eu te amo, Caleb.
Ela se inclinou para beijá-lo, e seu estômago escolheu aquele
momento para roncar alto, roubando risos dos dois. Ele a beijou breve.
— Acho que alguém aí precisa comer — Caleb disse, sorrindo
enquanto se levantava e esticava a mão para ela. — Vem, preguiçosa.
Precisamos nos limpar antes.
Trish se esticou na cama, adorando o olhar que queimou nos olhos
dele e sorriu.
— Não quero levantar. Estou bem assim.
O arco da sobrancelha dele foi sensual.
— Não te incomoda estar melecada com meu sêmen?
Ela bateu os cílios com inocência.
— Não sei por que. Eu estou muito bem como estou — ela pontuou
atrevida.
O peito de Caleb vibrou com um rosnado, a satisfação queimando em
seu olhar.
— Droga, baby! Seja boazinha, sim? Venha. Me deixe cuidar de você
e depois eu prometo que te darei toda porra que você quiser.
Ela deu um risinho e aceitou a mão dele.
— Vai me dar banho?
— Sim. Vou te limpar e alimentá-la, e depois eu vou me banquetear
de você.
— Nesta mesma ordem?
— Talvez eu possa tirar uma prova no banho. — Ele lhe deu uma
checada obscena. — Eu, definitivamente, vou tirar. Lembre-se, tenho três
séculos de fantasias com você para pôr em prática e uma casa com muitos
cômodos.
— Eu gosto desse plano.
— Eu gosto de você toda rosinha. É sexy pra caralho. E toda minha.
Epilogo

Uma semana e meia depois...

Absurdamente realizada. Era o que definia Trish enquanto afagava


seu ventre plano na frente do espelho do quarto, após uma maratona de
exercícios suados com seu companheiro. O homem era insaciável. O que não
era de todo segredo, mas depois de seu acasalamento Caleb tinha estado
particularmente no cio, se é que homens pudessem ter algum. Talvez ele
pudesse dado a sua natureza. Ou não. Esta era uma dúvida que somente ele
poderia tirar. Seja como for, ela não estava reclamando, porque Deus sabia,
ela própria mal podia manter as mãos para si. O que não era uma surpresa,
também.
Isso era o que deveria acontecer entre os recém-acasalados-casados,
não?
Trish estava tão feliz que mal podia tirar o sorriso do rosto.
Poderia uma mulher no mundo todo estar mais feliz do que ela?
Ela duvidava e nem podia ter a graça de se sentir egoísta por isso.
Trish não tinha sido uma mulher mortalmente desesperada por seu
conto de fadas, ainda assim ele caiu em seu colo, assim, de repente. Uma
família. Um companheiro disposto a fazê-la feliz nas mínimas coisas, que a
amava loucamente. Um amante voraz e generoso.
Santo Deus, ela nunca iria se cansar Caleb. Sempre teria essa fome
lasciva dele, por mais que parecesse estar cheia e saciada. Ele era... seu lobo
mau.
Ainda não podia compreender certas coisas, mas estava fazendo um
grande trabalho para se inteirar de tudo que dizia a respeito a ele, pois, ainda
que fosse uma simples humana, agora ela era parte da manada e a mesma
parte dela. Isso ele tinha dito, e para dizer a verdade, ela realmente se sentia
assim.
Quem diria que um dia iria agradecer a todas as coisas ruins que
acontecera em Nova York? Ou ao bastardo de seu ex? E a cadela de sua mãe?
Mas agradecia-os imensamente por terem sido tão filhos da puta com
ela. Agradecia cada mínimo dano colateral que a levou até Inuvik. E pensar
que quase três meses atrás ela acreditava ter seu coração fechado para o amor,
que morreria uma velha e solteirona lá.
Quanta bobagem!
Não era apenas o amor inchando seu coração. Era orgulho de si
mesma por ter achado alguém como Caleb. Diferente sim. Mas era
justamente por ele ser ímpar que ela o amava tanto. A lealdade, a firmeza de
um compromisso para sempre que ele oferecia a ela. Era tudo e um pouco
mais do que sempre sonhou ser possível. Eles estavam na mesma sintonia.
Sempre.
Quantos casais no mundo experimentavam isso? Essa conexão pura?
A certeza de que o amanhã não seria quebrado por uma inconstância do ser
humano?
Caleb era dela. Ela era dele. Ponto final.
Seus receios tinham desvanecido em parte por ela ter soltado as
rédeas, e em parte, pelas descobertas que Caleb fizera. Pelo pouco que ele
pôde averiguar dado as evidências que ela própria apresentava, não era
somente um bebê que ele era capaz de dar a ela, mas também imunidade e
resistência. Aparentemente, sua saliva e fluídos faziam mais que curar uma
ferida e forçar sua ovulação. A troca constante entre companheiros
prometidos era benéfica entre shifters e o mesmo se dava para a prometida
humana.
Se ela ainda viveria por mais 60 ou mais anos, era um mistério.
Não tinham todas as respostas e Caleb estava trabalhando sobre isso,
mas fosse como fosse, um shifter apenas poderia fazer bem a uma prometida
humana.
De qualquer forma, ela estava se deleitando com cada segundo ao
lado dele. Não importava se ela vivesse menos que Caleb, Trish faria seu
tempo com ele valer a pena.
Ela suspirou, lembrando que precisava de comida. O estômago
concordou com um sonoro ronco. Enquanto percorria o corredor vozes
alteradas chegaram até ela. Bufou. Só esperava que não fosse nenhuma de
suas ex-amantes enchendo o saco por ele ter se acasalado com uma humana.
Ah, sim! Havia mais esse pequeno detalhe, que ela realmente não
fazia questão de se apegar. Não que ela tivesse que enfrentar as cadelas e
estava muito agradecida por isso. Caleb estava superprotetor com ela devido
à gravidez e não permitia que qualquer fêmea a aborrecesse de nenhuma
maneira. Ele ordenava e elas obedeciam, como boas cadelas. Isso era grande.
Infelizmente, ele não poderia salvá-la sempre. Logo, ele teria de apresentá-la
formalmente ao bando e, sorte sua ou não, ela teria a responsabilidade de
ganhar o respeito da manada, Caleb tinha explicado. Sem pressão. Viva ou
morra!
Chegando a escada, Trish se atentou a discussão e percebeu ser
apenas uma voz alterada. Uma feminina. Caleb mantinha um tom firme,
porém parecia mais como se quisesse tranquilizar a outra pessoa...
— Eu quero vê-la agora!
Espere. Ela conhecia aquela voz muito bem.
Descendo alguns degraus, ela pôde ver Caleb parado na frente da
porta aberta. Ele tinha uma postura calma e ameaçadora ao mesmo tempo.
Ela sorriu por um breve instante. Somente ele conseguia ser as duas coisas ao
mesmo tempo e aquilo era tão sexy.
— Se acalme, mulher — ele ralhou. — Eu já lhe disse que Trish está
bem.
— Pois é bom mesmo que ela esteja, porque se você tiver feito mal à
Bonita, eu...
Caleb se encolheu.
— Eu nunca faria mal a ela.
— Como vou saber? Você me parece ser daqueles malfeitores todo
cheio de músculos que aliciam mulheres. Pensa que não vi você cercando a
Bonita? E eu me lembro muito bem da última conversa que tive com ela. E,
Conan, ela não estava feliz com você.
— Fêmea. — O tom de seu companheiro era um aviso claro para ela
parar.
Ela não ia parar.
Trish terminou de descer as escadas e se aproximou.
— Lee?
O cabelo avermelhado da amiga balançou para o lado quando ela
inclinou a cabeça e olhou para Trish. Lee esticou um braço empurrando
Caleb, e ele se deixou ir, sacudindo a cabeça enquanto a amiga corria para
ela. Sua expressão era de puro alívio quando a abraçou.
— Oh, meu Deus! Você tá viva, Bonita! Eu estava tão preocupada,
achei que o Conan ali tivesse te comido viva ou te vendido. Ou... ou, sei lá o
quê! Te escravizado? Deus sabe que existe uma porrada de sexies psicopatas
músculos por aí seduzindo boas garotas e...
Ela segurou os ombros da amiga.
— Lee, se acalme! Eu estou bem, — girou os olhos para seu
companheiro. — Caleb nunca me faria mal. Nós somos companheiros.
Lee jogou uma olhada estreita para atrás em Caleb, então tornou seu
olhar para Trish. Em seguida, puxou-a para um canto e sussurrou:
— Você pode me dizer agora se ele está te mantendo aqui contra a
sua vontade. Eu vou fingir que não vi nada e vou atrás de ajuda.
Caleb grunhiu baixo atraindo as atenções das duas mulheres.
Deus, se sentia uma cadela agora. Tinha sido relapsa. Esteve tão
envolvida em sua reconciliação com Caleb, logo o acasalamento e a
descoberta da gravidez e tudo mais, que simplesmente tinha se esquecido do
mundo.
— Não é nada disso. — Por cima dos ombros da mulher, ela enviou
um olhar de desculpas para seu companheiro, que apenas sacudiu a cabeça,
sua expressão muito tranquila. Então, ela voltou a encarar Lee. — Eu o amo.
Sinto não ter me comunicado antes, foi culpa minha. — Seu rosto
enrubesceu. — Mas, bem, estávamos em lua de mel.
— Ah, claro! Por sinal amei seu vestido de noiva e o bolo de quatro
andares.
Trish riu, atrás de Lee, Caleb a acompanhou.
— Podemos resolver isso — brincou ele.
— Estamos juntos. Mesma casa e tudo mais — ela murmurou,
esperando que fosse suficiente para que Lee entendesse sem mais perguntas.
Lee inclinou a cabeça para o lado com desconfiança e sussurrou:
— E aquele papo de "somos diferentes e bla, bla, bla"?
— Bem, nós somos, ainda assim o amo. Eu fui uma tonta.
— Sério?
— Dou minha palavra a você. Me desculpe. Eu sinto de verdade não
ter te comunicado antes, mas tudo foi muito rápido e tantas coisas
aconteceram.
— Foi culpa minha — Caleb se intrometeu. — Deixei-a muito
entretida.
— Caleb!
Ele encolheu os ombros de maneira inocente.
— É verdade, querida. E não tem porque se envergonhar disso.
Somos um casal. Um casal apaixonado faz sexo, certo?
Lee riu baixinho, a expressão mudando rapidamente.
— Oh, cacete! Você arrumou um tarado, não é assim, Bonita?
Trish estava carmim de vergonha. Seu companheiro foi ao seu
socorro, colocando-se atrás dela e enlaçou sua cintura, as mãos grandes
pousadas sobre o ventre de forma carinhosa e protetora. Ele beijou o topo de
sua cabeça, e então, colocou o olhar sobre Lee.
— Nisto você pode apostar, senhorita. Eu sou tarado nela. Nossa
menina que o diga.
A boca de Lee escancarou assim como os olhos.
— Menina? V-Você...?
O sorriso surgiu lento iluminando o rosto de Trish.
— Não sabemos o que é ainda, quero dizer, menino ou menina. Claro,
eu ainda estou no inicio da gravidez. Caleb que acha que é menina, porém
ainda é muito cedo.
— Deus, isso... isso é maravilhoso! Eu vou ser tia! — Ela pausou,
exalando um longo e denso fôlego então, sorriu. — Desculpe Conan, mas eu
achei que você tinha sequestrado minha amiga. Ela não apareceu na cabana
então pensei que teria de cortar suas bolas.
Caleb se encolheu com um gemido baixo e Trish soltou um risinho.
— Lee, certo? Bem, Lee, eu prefiro que me chame de Caleb. Afinal
de contas, os amigos da minha companheira são meus amigos também e bem-
vindos a nossa casa. Além do que, é bom saber que Trish tem uma amiga tão
valente, que se preocupa com seu bem-estar. E, por favor, sem minhas bolas
no meio. Gosto de onde elas estão.
Lee ficou em silêncio, o que não era seu normal. Parecia perdida, e
Trish entendia completamente. Ela própria ainda estava se adaptando.
— Você deve estar morrendo de sede depois da subida, não?
— Tá brincando? Vim arrastando minha língua de lá aqui. Devo ter
perdido uns cinco quilos. Por Deus, já inventaram teleférico há tempos,
sabiam?
Trish pegou a mão dela.
— Vem Lee. Vamos a cozinha matar essa sede e pôr a conversa em
dia.
Caleb colheu o rosto de sua companheira e a beijou.
— Eu ficarei a espera de Embry. Temos alguns assuntos a tratar.

****

Embry passou pela porta após uma breve batida.


— Ei, Caleb! Como vai, cara?
Sendo o Alfa da matilha, a porta de sua casa sempre estava aberta
para os morados de Snowville. O entra e sai tinha diminuído depois que ele
se acasalou. Queria que Trish se sentisse em casa, na casa deles, não em um
albergue. Por ele, sua matilha teria de marcar hora para ir a casa, embora isso
fosse irritar alguns. Mas Trish era sensacional. Tinha compreendido e
aceitado bem o fato dele ter de estar disponível e ao alcance dos seus.
Havia regras, claro!
Nada de visitações à noite, exceto em caso de emergência. Durante o
dia estava aberto as necessidades da matilha; ao fim do dia todos tinham de
manter o decoro.
Caleb se levantou e deu tapinhas nas costas do amigo, antes de se
sentar, novamente.
— Muito bem. E você como está?
— Bem, bem — murmurou o Beta.
— Sente-se. — Quando Embry se sentou, Caleb começou. — Jace me
informou ontem sobre a situação das novas cabanas e da reforma do
complexo. Precisamos rever os orçamentos e decidir se vamos manter o
mesmo fornecedor. Os homens estão prontos para recomeçar as construções
então, precisamos... — Ele pausou vendo o amigo aéreo, o tronco inclinado
para frente e olhar estreito enquanto suas narinas dilatavam ao cheirar o ar. —
Também penso em comprar um unicórnio branco para Trish. Ela irá gostar.
Quem sabe uma fada para a minha menina? Poderíamos fazer do vilarejo uma
fabrica de conto de fadas, vestir os shifters a caráter. Seria um agito do
caralho. Traria mais turistas na temporada, um montão de dinheiro em caixa.
Acho que você ficaria bem de gnomo. O que acha?
— Podemos fazer isso — Embry respondeu sem lhe olhar.
— Sério? Embry, você está bem? Embry!
Seu Beta piscou e franziu o cenho para Caleb.
— Sim?
— Você está bem?
O tipo se empurrou em pé.
— Você está sentindo este cheiro? Quem está aí? — Embry quase
grunhiu, sua voz estava mais rouca e profunda, o peito expandido a cada
respiração.
O Alfa estreitou os olhos.
— É bom que você não esteja se referindo ao cheiro da minha
companheira.
— Não cara. Definitivamente, não é o dela. — Ele cheirou o ar
novamente, desta vez, fechando os olhos para melhor absorver o aroma, seu
pênis agitou.
A sugestão de uma quente e encorpada excitação encheu o ar.
— Quem está aí?
— Trish e Lee, uma amiga dela que chegou há pouco.
Foi então que a ficha caiu e Caleb também sentiu. Um chiado de
luxúria rondava o ar furtivamente, seu pau começava a dar sinais de vida...
— Oh, merda! Você está brincando?
Embry o olhou sem compreender.
— O quê?
Caleb abriu a boca para esclarecer o que seu amigo não enxergava,
mas sua companheira e a amiga voltavam à sala. De repente, a excitação se
espalhou pelo ar como um feixe de luz.
Embry grunhiu, um som baixo e rouco, que nasceu em seu peito e
vibrou em sua garganta. Seu pau engrossou e cresceu empurrando contra o
jeans.

****

O bom de Lee é que ela não fazia perguntas demais, embora parecesse
estar cheia delas. Mas ela era astuta e sabia esperar. Bem, quase.
— Isso é inacreditável, Bonita! Bom com certeza. Mas... Olá.
Trish levantou a cabeça com a mudança abrupta e olhou para amiga,
que estava estática. Um sorriso preguiçoso curvando os lábios e seus olhos
brilhando fixos em... Girou a cabeça e avistou Embry estacionado no meio da
sala, encarando Lee, como se estivesse pronto para comê-la viva ali mesmo.
A fome ardente queimava no olhar dele. Um olhar que ela tinha visto muitas
vezes, mas em Caleb.
— Olá, doçura — ele disse, de maneira arrastada, seu tom
enrouquecido e sexual quando despiu Lee com o olhar, antes de voltar a
cravar seus olhos nos dela.
Lee suspirou ao seu lado, como se estivesse muito afetada e...
excitada.
Sua própria pele parecia estar mais aquecida, porém Trish ignorou e
emprestou atenção a amiga e Embry. Tanto ela quanto Caleb pareciam estar
invisíveis lá.
O shifter-lobo esticou a mão.
— Venha — ele ordenou num misto de grunhido e de gemido.
Lee mordeu os lábios, e sem olhar para ninguém que não fosse
Embry, ela se adiantou a frente, e, em segundos, Embry a tinha em seu cerco
possessivo. Mãos autoritárias e dominadoras se apossaram da mulher. Uma
espalmou na parte baixa das costas de Lee enquanto a outra segurava um
punhado de cabelo na parte detrás da nuca. Ele a cheirou e, em seguida, o
rosnado baixo reverberou pelo ambiente. Ela esfregou a face no peito do
macho, e então, mordeu. O shifter gemeu e rosnou enquanto Lee dava um
risinho baixo, quase um ronronar. Um som curto e afetado. Uma brincadeira
sexual.
Mantendo-a, Embry baixou seus lábios sobre os dela. Nem de longe
aquilo poderia ser considerado um beijo. Ele possuiu. Marcou. Domou e
tomou. Bem ali. No meio da sala. Em um instante a amiga estava
empoleirada sobre Embry, as pernas em volta do quadril dele, e então, eles se
foram. Nenhuma palavra. Apenas gemidos baixos e grunhidos sexuais.
Trish olhou fixa, com a respiração pesada e sem palavras para a porta
fechada, por onde o casal tinha passado absortos neles mesmos. Boquiaberta,
ela se voltou para o seu companheiro, que tinha aquele ar divertido no rosto.
Uma sugestão de malícia cruzava seu olhar. Ela tragou e respirou fundo.
— O que raios acabou de acontecer aqui?
O canto do lábio dele curvou enquanto arqueava uma sobrancelha.
Seu próprio queixo caiu. Abriu e fechou a boca diversas vezes quando o
entendimento se realizou.
— Ele? Ela e ele? Sério?
— Não sente?
A atmosfera havia mudado. Algo mais quente, mais excitante,
trazendo recordações de quando se deparou com seu companheiro. Não a
mesma intensidade, mas, definitivamente, era a mesma aura sexual explosiva.
Sua pele estava ligeiramente mais quente, uma agitação morna e sexual
chiando em suas veias, sua vagina se preparando, porém tinha colocado isso
em seu recém-acasalamento.
— Sim, mas...
Ele cortou a distância entre eles e a pegou em seus braços. Ela
enlaçou seu pescoço.
— Sem mas, bebê. Embry acaba de encontrar sua companheira
prometida. — Ele beijou a ponta de seu nariz e encarou seus olhos
espantados. — E sua amiga o respondeu muito bem. Você deveria ter vindo a
mim desta maneira.
Ela deu uma risadinha.
— Bem, devido às circunstâncias isso não era possível. — E
acrescentou, batendo seus cílios com sensualidade. — Talvez, possa me
castigar por minha desobediência agora?
O grunhido sexual que ele fez, antes de apertar os lábios nos seus,
disse tudo.

Horas mais tarde, quando saciaram a fome sexual, eles desceram para
cozinha para aplacar outro tipo de fome. Fome pós-sexo sempre tinha feito a
comida mais saborosa.
Trish cuidava de cortar os tomates para o molho enquanto Caleb
cuidava do cozimento do macarrão e dos bifes.
Bonito. Sexual. Apaixonado. E cozinheiro.
O que mais poderia pedir?
— Espero que seja eu o responsável por este sorriso — ele murmurou
sobre sua cabeça, depositando um beijo no topo.
Seu sorriso alargou mais. — Estava pensando em como é bom ter um
homem cozinhando para mim. Eu nunca tive ninguém que cozinhasse para
mim.
Ele limpou a mão no guardanapo branco, e então, segurou seu queixo.
— Agora você tem.
Caleb a beijou, e quando recuou, ela lambeu os lábios.
Seu coração bateu forte e acelerou.
— Sim. Para sempre.
A conexão entre eles sempre a deixava sem palavras. A sensação de
plenitude era tão forte, que alagava seus sentidos, fazendo-os débeis toda vez
que estavam assim. Era amor. O sentimento explícito em cada palavra, em
cada mínimo gesto.
Seu estômago roncou impaciente.
Caleb a fez se sentar e colocou um prato de biscoitos na frente dela,
então se moveu para a geladeira, pegou uma jarra de chá e encheu um copo
para ela.
— Eu não me importo, se quiser se casar sob suas leis. — Após um
momento, ele disse devagar, sondando sua reação de perto.
— Achei que o acasalamento queria dizer isso — murmurou ela,
incerta.
— Você é minha, Trish. Para sempre minha. Sob as leis da minha
raça, de nossos ancestrais e de Deus. Todavia, não posso me esquecer de que
você é humana. Humanos se casam. O matrimônio com um certificado é a
promessa do amor, a solidificação da relação. É assim para vocês. Papel,
alianças e tudo isso.
Ela pescou um biscoito.
— Está dizendo isso pelo que Lee falou mais cedo?
Ele negou com a cabeça. — Não, amada. Eu só estou dizendo que se
você quiser isso, eu me caso sob os rituais humanos. Não quero que pense
que por eu ser um shifter e já estarmos ligados, você tenha que desistir de um
casamento formal, se este for um sonho seu. Eu não vou te tirar isso.
Trish engoliu o bocado em sua boca. — Bobagem! Estamos unidos,
mais até do que o próprio casamento pode unir um casal.
Isso era verdade. O acasalamento entre companheiros prometidos era
inquebrável. O para sempre não era uma promessa que seria levada pelas
transgressões do ser humano no decorrer dos dias. Sim, tinha sonhado com
um casamento.
Que garota não tinha?
Mas, então, num mundo que antes era irreal para si, Trish tinha tudo
de um relacionamento e um pouco mais.
— Nada do que se refere a você é bobagem para mim. Se te faz feliz
então, é importante para mim. Se a faz infeliz, idem. Mas nunca uma
bobagem. Eu vou resolver qualquer coisa, cada mínimo desagrado para te
fazer feliz.
Ninguém poderia culpá-lo de não saber ganhar o coração de uma
garota.
Ele tinha totalmente o seu.
Sentindo a garganta seca, Trish bebeu um generoso gole do chá e, em
seguida, uma careta arruinou suas feições delicadas.
— Deus! Ewww! Que tipo de chá é este?
Caleb franziu o cenho, e então, agarrou a jarra e cheirou. Seus lábios
tremeram, antes que ele soltasse um risinho curto.
— Desculpe, chá errado. Mas não é tão ruim assim.
Ele recolheu a jarra para a geladeira e de lá tirou outra.
— É horrível! — Ela aceitou o novo copo com chá e bebeu um sorvo
para tirar o gosto azedo da boca, em seguida, baixou o copo para a bancada.
— Por que o guardou? Eu não vou beber isso, nem mesmo um gole que seja.
É algum tipo de dieta sua?
— Não. Este é uma mistura especial, que eu daria a você quando
ficasse nervosa demais ou muito ansiosa. Fez efeito em Raina e em mim,
também.
Trish fechou a cara, porque a comparação não era tão boa. Raina era
legal, mas estava um pouco sanguinária com o fim da gravidez. E o que tinha
a ver com ele?
— Eu ainda não entendi.
Caleb virou os bifes na frigideira e lhe deu atenção. — Antes de
encontrá-la, passei por um mau momento por quase dois meses. Foi numa
manhã que acordei com meu lobo agitado, mas eu não tinha resposta para
isso. Tudo estava bem, a manada estava segura e não havia ameaças contra
nós. Mas não importava o quanto procurasse, não havia quaisquer respostas e
meu controle ficou balançado. O que não é bom para nenhum shifter. Quando
nossas partes ficam em desequilíbrio, os danos podem ser irreparáveis. Eu
tive que me distanciar deles por algum tempo.
— Você me parece muito bem.
— Eu estou. — O olhar dele se prolongou sobre ela com um
derretimento. — A resposta era você o tempo todo.
— Eu?
Caleb assentiu. — Meu lobo sentiu sua chegada e me deixou louco.
Eu não soube que era você até que te encontrei na P&C. Até lá, eu busquei o
Conselho de Raça para obter respostas e eles me deram esse chá para que eu
pudesse retornar para junto dos meus enquanto eles tentavam desvendar o
mistério sobre o meu desequilíbrio.
Trish deu mais uma mordida no biscoito, mastigou e engoliu.
— Todos os shifters ficam assim quando estão para encontrar sua
prometida?
— Não. Embora nem todos os acasalamentos sejam iguais,
acreditamos que eu fiquei meio descontrolado, porque você foi a primeira
humana prometida.
— Oh! Eu sou o biscoito da sorte, não é assim?
— Algo assim.
— Embry pode ficar descontrolado?
— Não, querida. Como disse, cada acasalamento de prometidos é
ímpar. Eu estive fora de mim, mas Embry esteve bem o tempo todo. Raina e
Paul também. E nós nunca machucamos nossos companheiros. É antinatural,
embora haja exceções.
— Exceções?
— Sim, mas isso não é história para agora.
— Eu não vou beber esse chá — ela avisou, guardando a curiosidade.
Ele assentiu, rindo.
— Posso entender isso.
Trish empurrou o prato de biscoitos para o lado.
— Então... você está pensando em se casar comigo?
— Eu fico bem em ternos — piscou.
Ela correu o olhar sobre ele e lambeu os lábios.
— Aposto que sim... Talvez, eu fique bem em um vestido branco.
Ele deu a ela seu melhor sorriso para derreter seu cérebro e suas
calcinhas.
— Isso é um pedido? — indagou ele.
— Se você aceitar, sim.
Caleb desligou o fogo do fogão e girou para ela.
— Posso pensar antes? Considerar as opções? — ele brincou, havia
uma nuance de malícia em seu tom de voz carregado de uma singela
felicidade.
— Desde que suas opções sejam somente eu.
Ele riu entre os dentes. Do bolso da calça, tirou uma caixa e fico sério,
antes de abri-la diante de seus olhos. Dentro, um anel de noivado com uma
pedra grande, que fez seus olhos ofuscarem pelo brilho. Não era um
diamante, mas uma safira azul linda em formato oval cravejada de pequenos
diamantes por toda circunferência.
— Quer dar a honra a este pobre lobo Alfa de se casar com ele?
Trish desceu da banqueta alta. Seus olhos queimaram, e num instante,
as lágrimas estavam lá. Ela o puxou antes que a primeira caísse, a mão
apertada na nuca dele enquanto a outra apertava seu peito sobre a camisa.
Suas bocas se moldaram num beijo apaixonado. A língua dele rapidamente
balançou dentro e procurou a sua, pincelando-a com um movimento erótico,
enroscando-se sensualmente. O solo sob seus pés pareceu girar. Trish
segurou-se nele com mais força, esperando que seu coração explodisse de
felicidade, com as batidas fortes e aceleradas. Caleb respondeu a sua aposta
com a mesma fome passional. Ele recuou, deixando sua testa contra a dela
enquanto ofegavam.
— Eu amo você, Caleb Black.
— Eu também te amo, Trish Mitchell. — Ele a beijou, novamente. —
Ainda não me respondeu. A meu favor digo que irei me certificar para que
todas as suas necessidades e desejos sejam saciados, mesmo quando os
hormônios da gravidez te enlouquecer e me levar junto. E não te farei beber
uma gota daquele maldito chá. Darei-te orgasmos, ao invés.
— Essa é uma grande proposta.
— Então sugiro que aceite.
— Sim, eu aceito.
Os lábios dele somente não encontraram as orelhas porque era
anatomicamente impossível. Os dela não estavam diferentes.
— É linda, amor — ela sussurrou deslumbrada quando olhou para o
anel, que ele tinha enfiado em seu dedo anelar. Com um ar muito orgulhoso,
por sinal.
— Você é mais.
Ela o mirou. — Eu deveria ter algo para te dar também — disse
pensativa. — Mas, como eu não sabia o que planejava, isso me dá o direito
de não ter nada, certo?
O olhar de Caleb ficou sério quando ele segurou seu rosto entre as
mãos. Inclinando a cabeça, ele esfregou o nariz em seu rosto, um leve roçar
instintivo. Reconhecendo. Cheirando, antes de prendê-la na escuridão
apaixonada de seus olhos. Ele não escondeu. Todo amor e veneração que
tinha por ela estavam lá, reinando em seus orbes extraordinários. O desejo
ardente envolto da íris de ouro, brilhando. Sorrindo para ela. As emoções e
sentimentos reconhecendo-a como deles, como se fosse parte de sua alma. E
ela sabia que era assim.
— Não há nada que possa me dar, Trish, — ele disse, firmemente. —
Tudo, exatamente tudo, que eu preciso está bem aqui na minha frente. Para
sempre.

FIM
Contato
Espero que você tenha gostado de ler Sedutora Revelação.
Esta série é sobre o amor em sua forma mais pura.
Único. Transformador. Contagiante. Incendiador.
Minha inspiração para o primeiro livro veio de uma música que de tão
linda soa como um poema doce de amor verdadeiro assim como FOREVER
MINE.
Lendas e Mistérios – Fred & Gustavo ft. Maria Cecília e Rodolfo.
Você pode ouvi-la aqui https://youtu.be/3FMxEV-z5aA
Outra coisa, eu gostaria de perguntar se você pode avaliar este livro.
Avaliações são essenciais para a carreira de um escritor. Não só para
promover os nossos livros, elas nos incentivam a continuar escrevendo, além
do mais, seu feedback é importante para mim. Então, desde já, muito
obrigada se você me deu uma avaliação.
Abaixo estão minhas redes sociais, onde você poderá me encontrar.

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