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1

GEORGIE
Acordo com o arrastar de uma língua enrugada ao longo da minha orelha. A
mão de Vektal segura com cuidado um dos meus seios, grandes e sensíveis pela
gravidez.
— Mmm, — suspiro, me aconchegando ainda mais sob as peles com ele. É
bom ser a companheira do chefe, realmente é. Todas as manhãs, acordo com uma
lambida ou mordidela de algum tipo. Hoje é minha orelha. Ontem foi minha
buceta. Tudo isso é pecaminosamente delicioso e faz uma garota ansiar pelo seu
dia.
Eu nem me importo com toda essa coisa de 'planeta de gelo' e 'ter que usar
pele e couro' se isso me trouxer uma fera sexy como Vektal.
Rolo e deslizo em seus braços, acariciando sua garganta. Minha barriga
grande e grávida atrapalha as coisas, mas Vektal é grande o suficiente para me
envolver contra ele. — Já é de manhã? — Pergunto, com sono.
— É sim. — Ele belisca meu queixo. — Minha companheira está com fome
de comida? Ou por seu homem?
— Pouco da coluna A, pouco da coluna B? — Estico minha mão e aliso um
dos chifres que se projetam de sua testa e se enrolam para trás contra seu
cabelo. Ele fica selvagem quando acaricio seus chifres. Talvez seja a imagem mental
que faz isso por ele; Nunca perguntei qual a sensação ele tem porque eu não tenho
chifres. Sou tão humana quanto possível.
Às vezes ainda fico surpresa por termos acabado juntos, vendo como nós
dois somos de diferentes cantos do universo, e estamos ambos presos, mas isso é
uma história para outro dia. Agora eu só quero meu homem. A mão de Vektal alisa
meu quadril e me puxa contra seu pau, deixando-me saber que está acordado há
vários minutos, pensando em sexo.
Não posso culpá-lo, tendo a pensar em sexo mais do que provavelmente
deveria. É difícil não pensar quando seu cônjuge é tão bom nisso.
É pelo menos uma hora mais tarde quando meu companheiro e eu
emergimos de nossa caverna. Aliso meu cabelo, sempre um pouco constrangida
de que todos podem adivinhar o que estamos fazendo apenas pela minha
expressão. Ninguém presta nem um pouco de atenção em nós, porém, e é apenas
mais uma manhã no planeta de gelo. Os sa-khui, o pessoal do Vektal, não
diferenciam os dias da semana e não têm feriados. Existem apenas duas
temporadas aqui — a temporada amarga e a temporada brutal. Ambos têm neve
demais. Harlow me disse que mantém um calendário porque, do contrário, seus
dias correm e isso a incomoda. Não é uma má ideia, e estou tentada a pegar o
calendário de ossos marcados de sua caverna vazia e pegá-lo emprestado. Ela não
vai se importar; ela está atualmente na nave dos ancestrais.
Eu quero contar os dias. Talvez então isso me ajude a lidar com o fato de
que esse maldito bebê não está com pressa de chegar aqui.
Vektal brinca com uma mecha do meu cabelo e, em seguida, puxa
suavemente, puxando minha atenção errante de volta para ele. — Você está
muito longe em seus pensamentos — ele me diz. Há uma expressão de
preocupação em seus olhos azuis brilhantes. — É o kit?
Dou um tapinha no meu estômago inchado. — Não, ele está bem hoje. —
Como se quisesse discordar dessa afirmação, o bebê me chuta bem nas partes de
menina, e estremeço. Ele parece me chutar muito ultimamente, e é uma
merda. — Só estou com fome.
O rosto do meu companheiro se ilumina. — Me diga o que você quer comer
e eu trago para você.
Encolho os ombros. — Qualquer coisa, Baby. — Tudo discorda do meu
estômago de grávida.
Vektal me observa e depois põe as mãos nos meus ombros. É como ser
agarrada por duas luvas de beisebol, suas mãos são tão grandes. — Eu me
preocupo com você, minha Georgie.
— Estou bem, prometo — digo a ele. Estou ultra-mal-humorada porque o
bebê no meu estômago parece estar cimentado ali. Não parece que está se
movendo, e estou tão cansada de estar grávida. Tenho quase certeza de que estou
grávida há pelo menos quatorze meses agora, porque os sa-khui carregam mais
tempo do que os humanos. Neste ponto? É quase como uma tortura. Não sou
uma daquelas garotas grávidas 'fáceis' como Liz, que mal teve uma barriga de bebê
e teve a dela duas semanas atrás. Não. Sou uma daquelas mulheres grávidas que
vomitam tudo e incham como uma baleia. O tipo que chora ao cair de um chapéu.
Caramba, agora estou com vontade de chorar e não há nada de errado.
Vektal me puxa contra ele e dá um beijo na minha testa. — Vou caçar uma
fera de penas para sua refeição. Isso fará seu estômago feliz?
A única coisa que faria meu estômago feliz agora seria um aviso de 'vaga'
subindo, mas eu sorrio para ele. — Isso parece ótimo.
Ele acena com a cabeça, me solta e sai para pegar seu equipamento de
caça. Isso dá a ele algo para fazer e vai me deixar reclamar antes que ele
volte. Tenho estado horrível nos últimos meses e me preocupo que ele vá acordar
um dia e chutar minha bunda humana para fora de sua caverna por ser uma
idiota. E então eu choro até vomitar, porque aparentemente é isso que eu faço
quando estou grávida.
As outras humanas estão perto do centro da caverna, perto da piscina. Vejo
Nora (grávida), Stacy (grávida), Liz (amamentando sua fofa Raashel), Ariana
(grávida e chata) e Megan (grávida). Marlene deve estar dormindo. Ando
cambaleando até lá, estremecendo quando o bebê me chuta nas partes femininas
novamente. Eu e este bebê precisamos ter uma conversa, sério. Sento-me em
meu lugar habitual ao lado de Nora, estremecendo.
Ela olha minha barriga. — Ainda não caiu.
— Obrigado pelo lembrete alegre, — digo a ela secamente.
— A da Stacy caiu, — ela diz, excitação em sua voz. Stacy se levanta para nos
mostrar e, de fato, parece que sua barriga está um pouco mais baixa do que
ontem. Ela a acaricia, com um sorriso feliz. Então Stacy será a próxima a dar à luz.
Eu odeio o quanto estou com ciúmes. — Sorte — digo, e espero que não
saia tão sombrio quanto parece. Fui a primeira a engravidar. Por que não sou a
primeira a dar à luz?
— Você está com cara de que alguém michou nos seus cereais — observa
Liz, puxando Raashel do peito e fazendo-a arrotar.
— Eu gostaria de ter cereais — digo mal-humorada.
— Awww, — zomba Liz. — Alguém precisa segurar um bebê para se sentir
melhor?
Coloco meus braços para fora. — Sim. Me dê. — Eu nunca resisto a uma
chance de segurar Raashel. Ela é a pequena mais fofa. O bebê de Harlow, Rukhar,
não está aqui e, para ser sincera, ele não é tão fofo quanto Raashel. Ele nasceu
cedo e ainda é um pouco pequeno. Raashel, porém, é rechonchuda e está sempre
sorrindo.
Irônico, já que seus pais são duas das pessoas mais temperamentais de
todos os tempos. Eu seguro o bebê e todos nós murmuramos sobre seus dedinhos
dos pés e seus pequenos botões de chifre. Raashel tem uma tonelada de cabelos
negros e grossos que grudam em seu couro cabeludo. Ela não tem cauda e é muito
mais rosada do que Rukhar, e me pergunto como será meu próprio bebê.
— Sabe, se você quiser vigiá-la por algumas horas, eu não me importaria de
sair e caçar. — Liz parece animada com o pensamento. — Não irei longe. Perto das
cavernas, verificar algumas linhas de armadilha. Não vou há semanas.
Eu toco o nariz minúsculo de Raashel, onde posso ver o menor indício de
cumes sa-khui. — Já se passaram semanas desde que ela nasceu?
— Foda-se se eu sei — Liz diz. — Onde está o calendário de Harlow?
— Em sua caverna? Mas não adianta nada se ela não estiver aqui para
atualizá-lo. — Harlow tem um minúsculo chip que ela move de um ponto a outro
para contar os dias. — E ela e Rukh vão ficar na caverna dos ancestrais um pouco
mais, eu acho.
— Eu preciso fazer meu próprio calendário, — Stacy reclama. — Não
consigo superar não ter dias da semana.
— Você sabe o que eu sinto falta? — Megan entra na conversa, espirrando
os pés na piscina rasa. Seus tornozelos estão inchados com a gravidez, algo com
que tenho muita experiência. — Estou com saudades de férias.
— Ai, eu também — diz Liz, recostando-se em vez de sair para caçar. — Eu
amaria um pouco de Ação de Graças.
— Dia dos namorados para mim. — Megan ri. — Só por causa do
chocolate. Deus, eu realmente quero chocolate ultimamente.
Minha boca enche de água com o pensamento. Doces não são algo que o
planeta de gelo tenha em abundância. Ou nada. — Chocolate parece incrível.
— Estou com saudades do Natal — Stacy diz com uma expressão
sonhadora no rosto. — Vejo toda essa neve e todo dia me faz pensar em canções
de natal.
Megan se inclina para frente, animada. — Devíamos comemorar o Natal!
Nora bufa. — Garota, eu sou judia.
— Oh. — Megan franze a testa. — Desculpe.
— Um feriado soa bem, — Eu concordo, melancólica. Adoro a ideia de uma
grande celebração. Não são nem os presentes ou a comida, é apenas a ideia de
algo pelo qual ansiar. Olho para Stacy enquanto ela dá uma mordida nas rações
secas “fortemente temperadas” e acho que talvez uma refeição não seja tão ruim,
afinal. — Acho que devemos ter um fériado. Não um específico como o Natal, mas
poderíamos trazer elementos de todos os feriados que perdemos e apenas ter um
grande feriado não confessional. Tipo… — Procuro por uma ideia. — Dia de
aterrissagem!
— Nós caímos, não pousamos, — Liz aponta.
Balanço Raashel em meus braços. — Eu pensei que você fosse caçar?
— Não quando eu posso ficar e abater todas as suas idéias, — diz ela
descaradamente. Ela cruza as pernas e apóia o queixo em uma das mãos,
pensando. — Algo como Christma-kwanz-akkuh? E se chamássemos assim... não
sei. Dia de ressonância?
— Nem todo mundo ressoou, — aponto para ela. — Adoraria reunir as
duas cavernas para a celebração. Reúnir todos.
— Adoraria ver Kira, Tiff e os outros — concorda Nora.
— Dia da Unidade — grita Megan. — Podemos celebrar as duas cavernas se
unindo e os humanos e os sa-khui se unindo! Será como o Dia de Ação de Graças,
mas ninguém vai tomar posse da terra de outra pessoa. — Ela mexe as
sobrancelhas. — E podemos adicionar uma árvore e alguns presentes e um
banquete à mistura.
Todas estão ficando animadas com o pensamento, inclusive eu. Acaricio a
bochechinha gorda de Raashel, minha mente em bebês. Talvez o meu chegue
antes da grande celebração do Dia da Unidade. — Acho que parece ótimo. —
Quando todas estão em silêncio, olho para cima e vejo todos os olhos voltados
para mim. — O quę?
— Você é a companheira do chefe, — Stacy aponta. — Talvez você precise
convencê-lo de que é uma boa ideia.
Mais risinhos sobem do grupo. — Convincente — grita Liz. — Como se ela
não 'convencesse' a bunda dele regularmente.
Ela não está errada sobre isso. Eu sorrio para ela. — Vou ver o que posso
fazer.

Só consigo falar com Vektal mais tarde naquela noite. Ele entrega uma nova
caça para mim bem a tempo do almoço e, em seguida, volta rapidamente para
caçar mais. O inverno — desculpe, a estação brutal — foi rigoroso e havia dias em
que ninguém podia deixar as cavernas para caçar por causa de fortes tempestades
de neve. Isso significava comer a comida estocada e, com as doze bocas extras para
alimentar, era o suficiente para todos, mas apenas o suficiente. Agora que o tempo
está melhor, Vektal e os caçadores têm passado muito tempo caçando para
reabastecer os suprimentos e se preparando para o próximo inverno. Já que eu e
as meninas grávidas não podemos fazer muito, nós nos sentamos e costuramos
roupas de bebê com couro.
Ou pelo menos tentamos. Maylak é realmente a única que é boa em
transformar o couro em algo que lembra roupas de bebê. O resto de nós se
atrapalha com furadores e tendões de osso e fazemos o nosso melhor. Eu sou a
pior nisso, mas também tenho um bebê que vai precisar de algo para vestir. A
própria criança de Maylak, Esha, tende a correr pelada, mas os humanos são mais
sensíveis ao frio do que o sa-khui, então temos que presumir que nossos filhos
também serão.
Quando Vektal consegue voltar para a caverna à noite, já me retirei para
nossa caverna e estive tirando pontos tortos à luz de velas de sebo. Posso estar
chorando de frustração com o quão ruim sou costureira. Só um pouco. Mas,
quando Vektal chega em casa, enxugo minhas lágrimas e dou um sorriso brilhante
para ele, porque sinto que ele não deveria voltar para uma companheira grávida,
chorona e miserável. Não quando ele e seus caçadores trabalham tão duro para
fazer as humanas felizes e nos manter seguras. — Oi baby, — digo alegremente e
guardo a costura. — Como foi a caçada do dia?
— Muito bom — ele me diz. — Nós matamos muitos dvisti. Os mais velhos
estão massacrando-os para secar enquanto falamos. — Ele se inclina e beija minha
cabeça, e cheira a suor e sangue seco.
— Yum, yum, — comento secamente. — Você já comeu? Sobrou um pouco
de ensopado. — Liz é uma grande fã de ensopado de carne-seca e raízes.
Ele faz uma careta e se joga no chão perto do meu banquinho, envolvendo
os braços em volta da minha barriga e descansando nas minhas pernas. — Eu comi
enquanto caçava. Como está nosso kit hoje?
Eu brinco com seu cabelo suado, afastando-o de seu rosto. Meu coração
aperta de amor e não consigo superar o quanto adoro esse homem. Ele parece
cansado esta noite, e seu chifre está cutucando meu estômago, mas eu não me
importo. Parece que está exausto e quero confortá-lo. — O mesmo de sempre. Me
chutando em todas as suas partes favoritas. Não está pronto para nascer ainda.
Vektal ri. — Teimoso. Assim como sua mãe.
— E seu pai, — indico atrevidamente. Ele tem um pouco de sangue seco na
bochecha e eu distraidamente o esfrego. — Você está sujo.
— Eu deveria tomar banho. — Ele não se levanta de seu lugar aninhado no
meu colo, no entanto.
— Eu poderia te ajudar com isso. — Eu passo meus dedos por sua
mandíbula e então abaixo em seu pescoço. — Quer um… — Não há nenhuma
palavra na língua deles para 'banho de esponja'. — …Uma limpeza? Da sua
companheira?
Ele ronca baixo em seu peito e suas mãos apertam minhas nádegas. — Se
você limpar seu companheiro, pode descobrir que ele está menos cansado do que
você pensa, minha ressonância.
Um aviso sobre despertá-lo? Desafio aceito. — Acho que meu companheiro
nunca está tão cansado quanto penso — provoco, e acaricio levemente sua
orelha. — Então isso é um sim? Se for assim, vou precisar de você nu.
Vektal se senta e me lança um olhar acalorado. Em seguida, ele se levanta e
se dirige para frente do pequeno recanto que é nossa caverna pessoal e coloca a
grande tela de privacidade de couro na frente da entrada. Se há uma coisa que o
sa-khui respeita, é uma tela de privacidade na frente de uma caverna. Podemos
muito bem estar em outro planeta com aquela coisa na frente da entrada, e é
bom, porque estou prestes a brincar com meu companheiro.
Quando fico de pé, vou para um dos odres organizados em um pino de
parede pendurado em um pedaço de rocha. No momento em que eu coloco em
uma tigela de osso esculpido, meu companheiro está completamente nu, seu
colete e equipamento de caça descascados, suas calças rasgadas em sua pressa
para me agradar. Ele está lá com as mãos nos quadris estreitos e apertados, e
admiro a visão diante de mim. Ele tem mais de dois metros de pele azul como a
camurça sobre músculos ondulados, com chifres orgulhosos na cabeça e cabelo
preto longo e sedoso que adoro sentir caindo em volta de mim quando ele me
cobre.
Eu sou a mulher mais sortuda do planeta.
Esmago algumas frutinhas de sabão na tigela e, em seguida, molho o
pedaço de pano. Ele se aproxima de mim, inclinando-se e tentando me
beijar. Coloco a mão em seu peito, provocando. — Limpeza primeiro.
Ele grunhe em concordância, as mãos caindo para os lados.
— Vire para mim?
Vektal o faz, e eu vejo os ombros largos com músculos e as nádegas mais
deliciosas e tensas de todos os tempos. E uma cauda, é claro, longa e fina como a
de um gato, com um tufo na ponta. Ela se move quando ele está agitado, e agora
está balançando lentamente para frente e para trás. Isso significa que ele está no
modo predador... o que significa que está pensando em como me atacar.
Este provavelmente será o banho de esponja mais curto do mundo.
Estou totalmente bem com isso.
Eu passo o tecido molhado sobre seus ombros, tentando ser rápida e
eficiente. Mas não posso deixar de ser distraída por ombros fortes e duas covinhas
na base de sua espinha, logo acima de sua cauda. Minhas mãos ficam mais lentas e
meus dedos traçam os riachos de água que deslizam por sua pele de camurça. Eu
amo tocar esse homem.
Ele se vira e estende a mão para acariciar meus seios enquanto eu o
limpo. — Esta é outra tradição humana? Nesse caso, é uma maravilha que seus
machos deixem as peles.
— Os humanos têm muitas tradições — digo a ele enquanto aliso o pano
úmido sobre seus peitorais e desço pelas saliências que cobrem seu esterno. Agora
é um bom momento para seguir o que as outras querem que eu pergunte. —
Como feriados.
— Hawl-ee-dehz? — Vektal forma sua boca em torno da palavra e então
franze a testa. — O que é isso?
— É um dia que colocamos de lado para comemorar. — Eu mergulho o
pano na água novamente e aliso em seu braço. Ele está distraido, provocando meu
mamilo enquanto dou banho nele, mas eu preciso trazer isso à tona. — Como se o
Natal fosse um dia em que celebramos a família. — Eu negligencio o aspecto da
religião. — Damos presentes uns aos outros para mostrar que nos importamos,
decoramos uma árvore para tornar a casa especial e preparamos grandes
banquetes. E então há visco e meias...
— O que são essas coisas?
— O visco é uma planta. Você pendura na porta.
— Porque cheira bem? — ele pergunta.
— Bem, não, não cheira a nada.
— É ... tem um gosto bom? E você pendura para se lembrar?
— Na verdade acho que é veneno.
Ele franze a testa. — Isso parece tolice para mim.
— É o que representa — digo a ele, batendo o pano em seu peito com um
pouco mais de irritação. — É sobre mostrar a sua mulher que você se importa com
ela.
— Ao envenená-la?
— Você não a envenena! — Eu bato nele com o pano. — Você segura o
visco sobre a cabeça dela e a beija.
— Por que preciso de veneno quando posso simplesmente fazer isso? —
Ele se inclina e pressiona sua boca na minha. Sua língua roça meu lábio superior e
ele me beija suavemente. Difícil de acreditar que este homem não sabia o que era
um beijo há pouco tempo. Ele é muito bom nisso agora. Isso me deixa com os
joelhos fracos e esqueço tudo sobre dar banho nele. Quando ele se afasta, estou
agarrada a ele. Ele está com uma expressão presunçosa no rosto agora. — Não
precisei envenenar você por esse beijo.
O desejo de enfiar o pano molhado em sua boca sorridente é
insuportável. Eu faço uma carranca para ele e jogo o pano na tigela. — Sabe de
uma coisa? Esqueça que eu trouxe isso à tona. Esqueça.
Eu viro minhas costas para ele e cruzo os braços. Eu pisaria na outra
extremidade da caverna, mas a nossa é minúscula e não há muitas manobras
disponíveis. Sei que estou sendo irracional e hormonal, mas estou prestes a
chorar. Ele está zombando de mim e tudo o que estou tentando fazer é fazê-lo
perceber que nós, humanas, perdemos alguns dos aspectos de nossa antiga vida.
Um momento depois, Vektal coloca as mãos nos meus ombros. Ele se
inclina e beija minha bochecha. — Isso é importante para você, minha
companheira?
— Só queríamos ter um fériado — digo, e odeio estar fungando. — Uma
celebração. Algo pelo qual ansiar.
— É por isso que você queria me dar banho? Para persuadir seu
companheiro a ver as coisas do seu jeito? — Ele belisca meu queixo.
Eu me aconchego de volta contra ele. — Na verdade não. Eu só gosto de
tocar em você.
Ele ri, e eu sinto o estrondo dele se misturar ao ronronar de seu khui. Suas
mãos deslizam para a minha frente e ele acaricia meus seios. — Minha
companheira, você sabe que terá tudo o que deseja. Você sabe disso, certo? Você
poderia pedir que meus chifres fossem cortados da minha cabeça e eu faria isso de
bom grado se isso te fizesse sorrir.
— Gosto dos seus chifres — digo a ele, e respiro fundo quando seus dedos
provocam meus mamilos. — Oh, eu gosto disso também.
Ele empurra seus quadris contra mim e eu sinto o impulso forte de seu pau
contra minha bunda. — Você gosta de tudo o que eu faço com você, Georgie,
minha companheira.
Oh, eu gosto. Realmente, realmente gosto. Eu respiro de antecipação
enquanto ele me leva para o que agora se tornou nossa parede favorita. Estar
extremamente grávida significa que você fica um pouco mais criativa com o sexo, e
ultimamente nossa posição favorita tem sido comigo de pé apoiada contra a
parede, minhas palmas espalmadas contra ela quando ele entra em mim por
trás. Eu coloco minhas mãos contra a parede de pedra da caverna e empurro meu
traseiro um pouco, só porque meu corpo é desajeitado e gordo e um belo traseiro
é tudo o que tenho a meu favor agora.
E Vektal adora minha bunda. Ele o acaricia, brincando com os globos
arredondados antes de deslizar a mão entre minhas pernas. Seus dedos acariciam
minha boceta e eu gemo. Já estou quente e molhada para ele, e seus dedos
escorregam pelas minhas dobras antes de se moverem para brincar com meu
clitóris.
Eu choramingo e meus dedos enrolam contra a rocha. — Quero você
dentro de mim, Vektal.
— Em breve, minha ressonância — diz ele com aquela sua voz profunda e
sexy. Eu tremo quando seu dedo pressiona contra meu clitóris e ele beija meu
ombro. Em vez de se acomodar entre minhas pernas abertas, eu o sinto beijar
minhas costas e acariciar minha bunda novamente. Quando ele beija uma nádega,
começo a tremer, porque sei o que vem a seguir. E eu não posso esperar.
Ele afasta minhas pernas e obedientemente me afasto para ele, bem a
tempo de sua língua deslizar sobre as dobras molhadas da minha boceta. Oh Deus,
ele está me comendo por trás. Eu adoro quando meu companheiro fica sujo. Meus
gemidos ficam mais altos enquanto as cristas de sua língua acariciam
profundamente em meu núcleo, uma e outra vez. Estou tão molhada que posso
ouvi-lo lambendo meus sucos, e a sensação dele ali, seus chifres me pressionando
enquanto ele me lampe por trás?
Não trocaria toda a Terra por isso.
Dedos grandes acariciam meu clitóris, mesmo enquanto sua língua empurra
em mim novamente, e eu estalo com um pequeno grito de liberação. Ele sabe
exatamente como me tocar para me levar à beira do precipício em momentos, e
não tenho vergonha de dizer que gozo rápido e forte sempre que ele me toca. Ele
apenas garante que eu goze repetidamente. Meu cérebro está em uma névoa
enquanto ele acaricia meu clitóris, acariciando-me pelo resto do meu orgasmo, sua
língua deslizando sobre minhas dobras. É como se ele não se cansasse do meu
gosto, nunca. Pequenos estremecimentos de prazer passam por mim e eu
choramingo novamente. Se ele continuar assim, vai me lamber até outro orgasmo.
Não que eu esteja reclamando.
Mas um momento depois, ele beija minha nádega novamente e murmura
meu nome, e então eu sinto seu grande corpo pressionando contra o meu. Ele
agarra um punhado do meu cabelo e expõe meu pescoço, então se inclina e raspa
os dentes contra minha garganta. Eu tremo de prazer, porque por mais que eu
ame ele me devorando? Adoro quando ele me maltrata também.
— Minha companheira, — ele rosna baixo em meu ouvido enquanto seu
pau empurra contra minha entrada. — Minha Georgie.
O barulho que sai de mim quando ele afunda? Não há palavra para isso na
língua inglesa. Ou na sa-khui. Parece um gemido estrangulado que termina em um
meio grito. Ele é tão bom que não consigo ficar quieta. Seu pau empurra em mim,
e sinto sua espora empurrar contra a minha entrada traseira quando ele empurra
todo o caminho. Cada impulso é duplo prazer, e me encontro pressionando contra
ele, então cada vez que ele bate em mim, é um pouco mais áspero.
Quando gozo? Ele colocou a mão na minha boca para abafar o fato de que
estou gritando seu nome. Ele fica mais quieto do que eu quando vem. Meu nome
é um mero silvo em sua respiração quando sinto sua semente quente dentro de
mim. Ele estremece contra meu corpo, então morde meu ombro suavemente. —
Minha — ele rosna novamente, e meu corpo estremece de luz com o quão
possessivo ele é.
— Toda sua — concordo, sem fôlego e suada. Vektal me puxa contra ele
com infinita ternura, beijando meu ombro e pescoço onde ele estava mordendo
momentos atrás. Em seguida, alisa meu cabelo, pega a toalha que usei nele e limpa
todos os vestígios de gozo de minhas coxas. Depois de cuidar do meu corpo, ele
me puxa para a cama com ele, e vou com prazer.
— Então me fale mais sobre esse dia de coleta de veneno — ele insiste.
Eu gemo. — Esqueça.
— Quero que isso aconteça para você — diz ele, e beija minha testa. —
Qualquer planta pode ser usada? Ou deve ser veneno?
— Visco era apenas a tradição — digo a ele. Verdade seja dita, também não
sei por que o visco é usado. — Poderíamos até usar as folhas da planta do
sabonete. — É facilmente reconhecível, cresce como um louco e tem bagas
vermelhas brilhantes em vez de branca. Perto o suficiente.
Vektal acena com a cabeça, pensativo. — Para que os machos possam
beijar suas parceiras e lembrá-los de que precisam se lavar.
Uma risadinha horrorizada me escapa. — Acho que o significado do feriado
está escapando de você, Baby.
— Então me diga mais.
Então eu faço. Conto a ele sobre dar presentes e surpreender as
pessoas. Conto a ele sobre a troca de presentes do elefante branco, que ele
realmente não entende. — Por que você daria a alguém algo que não é útil? — ele
pergunta repetidamente, e minha resposta — Porque é engraçado? — não é
exatamente válido para ele. Em vez disso, passo para outros feriados, contando a
ele o que sei sobre Hanukkah (principalmente das canções de Adam Sandler), Ação
de Graças (que ele entende um pouco mais) e Dia dos Namorados. Ele está
intrigado com esse, especialmente, e com os aspectos do namoro.
— E você deseja comemorar tudo isso? — ele me pergunta. — De uma vez?
— Não, estava pensando apenas em um feriado. Um novo que todos
podemos comemorar juntos. — Eu sigo meu dedo pelas saliências em seu
peito. — Reúna as duas cavernas, faça um banquete, troque presentes e,
simplesmente, sabe, estar feliz que estamos todos vivos e saudáveis.
— E sem veneno?
— Sem veneno, — concordo com firmeza.
— Então faremos um dia sem veneno só para você, minha Georgie. — Ele
me beija novamente. — Mandarei um mensageiro para as cavernas de Aehako
amanhã de manhã.
— E não se esqueça de Harlow e Rukh na caverna dos ancestrais, — digo a
ele. — Também vamos querer trazê-los. — Estou ansiosa para ver Harlow e seu
bebê novamente, mais do que gostaria de admitir. Eu sabia que tinha bebês no
cérebro.
Ele concorda. — Eu mesmo irei buscá-los. — Espera, o quê? A caverna dos
ancestrais será pelo menos um dia de viagem e um de volta. Ele vai me deixar? E se
eu tiver o bebê até lá? — Eu vou com você.
Vektal nega. — Você não pode andar tão longe.
— Você pode puxar o trenó que eles usaram para carregar Harlow depois
que Rukhar nasceu.
Quando a tribo estava caçando um sa-kohtsk para o simbionte de Rukhar,
Harlow não tinha conseguido acompanhá-los, então eles a arrastaram em um
pequeno trenó. Ela disse que foi uma boa viagem. Vektal é definitivamente forte o
suficiente para me puxar, e quanto mais penso na ideia, mais gosto dela. Isso nos
manterá juntos.
Sua mão se move para minha barriga e fica claro que estamos pensando a
mesma coisa. — E nosso kit?
— Se vier enquanto estamos lá, o computador tem equipamento
médico. — Ele grunhe e eu reviro os olhos. Não entendo sua aversão a tudo que é
mecânico. No ano passado, tentamos sugerir pequenas introduções de coisas à
tribo que poderíamos resgatar da nave dos ancestrais, mas Vektal e seu povo
desconfiam de toda tecnologia, a ponto de preferir caminhar dois dias em uma
perna quebrada de volta para o curandeiro do que confiar na baia médica na nave
dos ancestrais. Resignei-me a uma vida primitiva, mas estou disposta a usar o
computador como alavanca se isso significar que Vektal não saia do meu lado. —
Além disso, sinta meu estômago. Esse bebê está alojado lá com firmeza. Ele não
vai a lugar nenhum. Ele nem se formou ainda.
Como se para provar isso, o bebê chuta minhas partes de menina
novamente.
Vektal acaricia minha barriga, pensativo. E como sou um pouco
manipuladora, acaricio outras partes dele até que ele concorde.
É uma situação ganha/ganha, realmente.
2
CLAIRE
— Não desse jeito — Bek rosna em meu ouvido enquanto puxa o raspador
de pederneira da minha mão. — Você está fazendo errado de novo. É como se
você não quisesse aprender.
— Claro que quero — digo humildemente, pondo-me de pé e
abandonando a pele em que venho trabalhando. — Não estou tentando irritá-lo.
Ele bufa exasperado e olho para a parte de trás de sua cabeça enquanto ele
se senta no meu lugar e começa a raspar vigorosamente a pele. — Você vai
estragar todas as minhas peles de novo, Claire.
Você está fazendo errado, Claire. Você é uma idiota, Claire. Você não pensa,
Claire. Por que sempre faz as coisas mal, Claire? Já ouvi críticas repetidas vezes por
meses, e estou tão farta disso que posso sufocar. Eu me contento em irradiar
mentalmente feixes de ódio para meu 'companheiro'.
Na verdade, ele não é meu companheiro. Nós nem mesmo ressoamos. Eu
estava me sentindo super vulnerável quando pousamos aqui, e com medo. Achei
que eles me manteriam segura se me agarrasse a um cara, e Bek foi lisonjeiro e
doce na época. Claro, tudo isso mudou quando me mudei para sua caverna e ele
se tornou um maníaco por controle. Agora só quero me afastar dele e de seus
modos sufocantes e controladores, mas não consigo descobrir como interromper
as coisas.
Exceto nas peles, é claro. Há luas deixei claro que ele não é bem-vindo em
minha cama. Pelo menos ele segue uma boa direção nesse aspecto. Todos os
outros aspectos da minha vida, porém, ele está determinado a lidar... e, no final
das contas, ficar desapontado.
Ele suspira enquanto raspa a pele mais uma vez, em seguida, joga o
raspador de lado. — Vou terminar isso mais tarde. Não há nada em que você seja
boa, Claire?
Cruzo meus braços sobre meu peito e permaneço em silêncio. Eu sou muito
boa em escolher um idiota, eu acho, mas não digo isso em voz alta. Bek não
começou a me bater... ainda. Mas estou cautelosa, porque vejo todos os sinais
ali. Minha mãe era casada com um agressor. Talvez seja por isso que gravitei em
torno de Bek; Eu reconheci o tipo.
Triste que eu não posso nem mesmo ter um novo começo em um novo
planeta.
Há uma confusão na parte principal da caverna, vozes aumentando de
empolgação. Eu sigo para a frente de nossa caverna compartilhada, curiosa. — O
que está acontecendo?
Bek passa por mim. — Fica aqui. Vou ver o que é. — Eu começo a seguir, e
ele se vira e balança a cabeça para mim, me encarando. — Falo sério, Claire. Fique.
Por um momento, eu contemplo isso. Ele está de mau humor e não quero
que hoje seja o dia para empurrá-lo ao limite. Não quando não sei como me
desvencilhar dessa situação embaraçosa. Mas muitos dos dias aqui em Not-Hoth
passam com uma mesmice enfadonha, e sou atraída pela conversa animada na
caverna principal. Bek odeia quando eu saio com outros humanos. Ele se sente
ameaçado por eles, provavelmente porque não gostavam dele. Eles nunca o
fizeram.
O que eu prestei atenção nisso.
Eu mantenho minha expressão mansa enquanto saio na ponta dos pés de
nossa caverna compartilhada e entro na caverna principal. Posso ouvir a voz alta de
Josie sobre todas as outras, e a risada gutural de Tiffany junto com a risada mais
suave de Kira. Minhas amigas humanas. Eu sinto falta delas odeio que Bek esteja
me escondendo como se eu fosse o anel e ele fosse Gollum. Idiota. — Meu
precioso, — zombo baixinho, e vou em direção à multidão. É fácil se esconder atrás
de algumas pessoas mais altas — eu sou baixa e todos os sa-khui são gigantescos.
É uma conversa da outra caverna. Busco um nome e penso em Ereven. Eu
lembro dele. Ele sempre teve um sorriso amigável para as humanas, mas manteve
a maior parte para si mesmo. Seus chifres são menos enrolados do que a maioria e
arqueados sobre sua cabeça, e seu cabelo foi cortado na altura dos ombros em um
corte bagunçado, como se ele não pudesse ser incomodado com as tranças
ornamentadas que a maioria dos sa-khui prefere. Seu sorriso amigável enruga seu
rosto quando Josie pula na frente dele, quicando como um feijão pulando.
— O que está acontecendo? — Bek exige enquanto avança. Alguns outros
se afastam, apenas porque ele é abrasivo para estar por perto.
Aehako dá um tapinha no ombro dele, sorrindo. — Vamos ter um dia sem
veneno!
— Feriado — corrige Josie, explodindo em gargalhadas. — Todo dia é dia
sem veneno.
Bek apenas franze a testa como se estivesse descontente e afasta a mão de
Aehako. Eu sei que o incomoda que Aehako — que é um dos caçadores mais
jovens da tribo — seja o líder da segunda caverna. Mas Aehako é um bom líder
porque ele é acessível e amigável e ainda faz as coisas acontecerem. Bek? Ele não é
nenhuma dessas coisas.
Bek também está com ciúmes porque Aehako e Kira ressoaram depois de
se tornarem um casal. Não ressoei com ele, então é apenas mais um de meus
fracassos.
— É feriado, — Josie balbucia. Ela está sempre falando. Ela passa o braço
pelos ombros de Tiffany e sorri. — Com comida e presentes, podemos pegar uma
daquelas árvores rosa e fazer uma árvore de Natal Charlie Brown, e...
Tiffany dá um tapinha na boca em constante movimento de Josie. — Ela diz
que está animada.
Todos riem, exceto Bek.
— Bem, vocês estão todos convidados, — Ereven diz. — Vektal quer todos
nós de volta às cavernas principais.
— Não há espaço — Bek diz com uma carranca.
— Venha, amigo — a voz de Ereven é suave e fácil, serena diante do
desagrado de Bek. — Você sabe que fazeremos mais espaço. Já o fizemos no
passado e podemos fazê-lo novamente. Será bom ter todos os rostos na caverna
principal mais uma vez.
— Podemos fazer como antes, — Aehako diz. — As mulheres solteiras em
uma caverna, os casais se dobrando. Eles apenas terão que manter seus pênis
dentro das calças por uma ou duas noites.
Kira enrubesce e bate em seu braço enquanto mais risadas rasgam a
caverna. — Aehako!
Estou animada, no entanto. Adoro a ideia de voltar à caverna principal por
alguns dias. É bom aqui e mais espaçoso, mas quero ver como Georgie, Megan e as
outras estão. Eu quero segurar os bebês. Quero ver todos. Às vezes, os outros vão
visitar a caverna principal por alguns dias, mas Bek nunca quer. Eu estive aqui o ano
todo.
Bek grunhe tristemente e olha para trás, para nossa caverna, onde eu
deveria estar me escondendo em vez de ficar escondida atrás dos ombros muito
mais altos de Farli. — Claire e eu não vamos.
Meu coração afunda. Eu sei que ele gosta de controlar com quem eu passo
o tempo, mas me manter longe da celebração? Lágrimas quentes correm para
meus olhos e eu passo meus dedos em minhas bochechas, tentando ser forte. É
apenas mais um desapontamento. Eu vou superar isso.
— Não vai? — Josie berra. — Por que não?
Todos olham para Bek, e fico ao mesmo tempo satisfeita e ainda mais com
o coração partido ao ver que Kira, Tiffany e Josie estão olhando para cima.
— Não há razão para ir — Bek cuspe.
— Há trabalho a ser feito! A temporada brutal foi difícil e devemos
armazenar comida para a próxima temporada brutal, não desperdiçá-la em um
banquete para celebrar o veneno.
— O que diabos é essa porcaria de veneno? — murmura Tiffany.
— Você não pode impedi-la de ir! — Josie diz novamente. Com o canto do
olho, vejo Haeden brilhar e se afastar. Ele é a única pessoa nas cavernas mais
remotas do que Bek (e eu por procuração) e não suporta Josie e seus modos
barulhentos. Ela faz outro barulho estridente. — Isso é besteira!
Eu sorrio para mim mesma quando ouço o palavrão sair de sua boca. Josie
gosta de xingar em inglês porque ninguém entende além de nós. Ela me protege e
é mais corajosa do que eu por enfrentar Bek.
— Ela não vai, e nem eu — Bek diz.
Limpo outra rodada de lágrimas da minha bochecha e, ao fazer isso, noto
que Ereven está olhando para mim. Não sei como ele conseguiu me ver através de
um mar de ombros altos, mas nossos olhos se encontram. Seu sorriso se arrasta
um pouco mais, e o olhar que ele me dá é calmo. Fácil. Como se tudo estivesse
resolvido. E ele se vira para Bek e coloca a mão no ombro do caçador.
— Meu amigo, não foi um pedido. O chefe quer que todos estejam
presentes para a celebração. Ninguém vai ficar para trás.
E assim... estou indo. Desta vez, quando o olhar de Ereven volta em minha
direção, eu sorrio para ele. É como se tivéssemos um segredo entre nós.

É uma sensação agradável.

Embora eu tenha que caminhar ao lado de Bek enquanto reunimos nossas


coisas de viagem e viajamos como um grupo de volta às cavernas tribais, não me
importo. Me permite ficar em silêncio e pensar.
Agora é minha chance. Agora é a hora de fazer uma pausa limpa nas
coisas. Se estivermos todos nos amontoando nas cavernas, não haverá muita
privacidade. Isso significa que se eu terminar com ele, ele não será capaz de me
enfrentar. Não com todos empilhados uns em cima dos outros. Posso terminar as
coisas e quando voltarmos, seu temperamento terá tempo de acalmar.
E a única coisa que sinto agora? Alívio. Alívio total. Não houve afeto entre
nós por meses e meses — ou luas e luas — agora, e tudo que sinto é um
ressentimento sufocado. Talvez ele fosse um bom companheiro para mais
alguém... mas não para mim.
Quando fazemos a curva e as cavernas aparecem, alguém dá um forte grito
de saudação. Momentos depois, as pessoas saem das cavernas, arrastando-se para
a neve, e uma reunião após outra feliz é feita. Georgie e Vektal estão
desaparecidos — foram buscar Harlow e seu companheiro — mas Megan está lá,
gravida, e Marlene, e Nora, e Ariana, e todas as outras garotas que
ressoaram. Estou envolta em abraços e mais abraços, e nem mesmo Bek consegue
interromper esse momento de alegria. Todo mundo está maravilhoso, e Liz está
ocupada passando seu bebê para todos segurarem.
Vislumbro um rosto de maçã, cabelo escuro e minúsculas protuberâncias de
chifre, e me apaixono. — Posso segurá-la? — pergunto, embora minhas costas
doam de carregar minha mochila o dia todo.
— Claro! — Ela arranca o bebê dos braços de Josie e o transfere para os
meus. — Só não muito perto dos seios ou ela vai pensar que é hora de mamar.
— Não acho que teremos que nos preocupar com isso — brinco, olhando
para o meu peito achatado. Liz apenas ri. Eu seguro Raashel perto, sentindo seu
cheiro doce de bebê. Ela é quente, macia e tão fofa. Eu não aguento mais. Sinto
uma pontada de febre de bebê tão forte que me surpreende, e tenho inveja de
todas as outras mulheres, conversando, rindo e grávidas.
E felizes. Todos parecem estar felizes, menos eu.
Carrego o bebê enquanto a multidão se dirige lentamente para dentro das
cavernas tribais. Há tantas pessoas falando que as vozes são um rugido maçante, e
isso realmente é bom. Em vez de opressor e lotado como Bek tem reclamado, eu
adoro isso. Parece família, como Ação de Graças e Natal, tudo em uma grande
festa.
Há conversas sobre o feriado que vamos ter. Ninguém pode decidir sobre
um nome, embora os alienígenas o estejam chamando de Dia Sem Veneno por
algum motivo. Nora se refere a isso como Thanks-Christmas-akkuh. Daqui a alguns
dias, haverá festa, presentes e jogos. Todo mundo está animado. Acho que estou
animada também. Não sobre os presentes — não me importo com isso. Estou
animada para sentir o calor da família novamente e percebo o quão solitária estive
no último ano, deixando Bek discretamente me afastar de todos os outros.
De novo não.
Quando passo a bebê Raashel nos braços de espera de Tiffany, sinto alguém
olhando para mim. Eu olho para cima, esperando ver Bek olhando furioso, mas ele
está falando com caçadores. Em vez disso, é Ereven, o caçador com o cabelo
emaranhado e o sorriso que parece nunca ver um momento de ansiedade. Ele me
olha pensativo, como se quisesse dizer algo. Quando dou a ele um olhar
desafiador, ele apenas me dá aquele sorriso preguiçoso e se afasta.
Esquisito.
Eu tiro minha mochila e olho para as costas de Bek. Ainda virado. É hora de
fazer minha jogada. — Onde as solteiras estão dormindo? — Pergunto a Liz.
— Vocês vão ficar comigo e Cashol, — diz Megan. Então ela inclina a
cabeça. — Você não vai ficar com Bek?
— Terminamos — sussurro. — Posso largar minhas coisas agora, por favor?
— Claro. — Ela põe a mão nas minhas costas e me conduz em direção a sua
caverna. Lá dentro, vejo cestos de peles e suprimentos, e uma área que foi
reservada para a cama. Só parece grande o suficiente para dois, mas coloco minhas
coisas de qualquer maneira. Josie e Tiffany não vão se importar. Desenrolo minhas
peles e começo a arrumar minha cama, minhas mãos tremendo. Estou tão nervosa
que estou suando apesar do ar frio. Estou apenas esperando que ele perceba que
não estou seguindo seus calcanhares como um cachorrinho. Josie cai ao meu lado,
e Tiffany, e ambas estão conversando e alheias ao meu pânico. Elas colocam suas
peles ao lado das minhas, e Tiffany começa a falar sobre jantares de feriado e
comida que ela sente falta, quando um berro se eleva acima de todas as vozes na
caverna.
— Claire!
Eu recuo. Eu não me levanto, no entanto.
Tiffany olha para mim e imediatamente coloca seu saco de dormir contra o
meu. Josie faz o mesmo, e assim estarei imprensada entre elas. Estou tão grata por
esse pequeno movimento que poderia chorar.
— Claire! — Bek berra novamente, e Megan franze a testa, movendo-se
para a frente de sua caverna. Ela puxa a tela de privacidade, mas antes que ela
possa cobrir a porta, Bek entra. Ele é enorme na pequena caverna e me sinto
impotente enquanto ele me encara. — Aí está você. Pegue suas coisas. Vamos ficar
com Zolaya.
O silêncio cai. Eu não me levanto. Lambo meus lábios e olho para minha
cama desenrolada. — Eu não vou com você. — Minha voz é uma coisa sussurrante
e frágil. Queria que fosse mais forte, mas sou uma galinha. Quando ele não se
move, acrescento: — Vou ficar aqui com as mulheres solteiras.
— Você está acasalado comigo, — ele range fora.
— Não estou, não. — Eu não posso olhar nos olhos dele. Sei que estou
sendo covarde, mas não quero ouvir mais sobre o quanto o decepciono ou como
não consigo fazer nada direito. Eu tive o suficiente.
O silêncio desconfortável cai. Ninguém se move. Não tenho certeza se
alguém sabe o que fazer.
Eu sinto que deveria dizer mais. Depois de um momento, eu respiro fundo,
me fortaleço e encontro seu olhar. — Não ressoamos. Eu não quero ficar com
você. Terminamos. Eu não sou sua. Você pode sair agora.
Ele me encara com olhos duros, como se esperasse que eu desmoronasse e
mudasse de ideia. Esperando que pegue humildemente minhas coisas e o
siga como fiz no ano passado.
Eu não.
O companheiro de Megan, Cashol, dá um passo à frente e põe a mão no
ombro de Bek. — Venha. Vamos deixar isso para outro dia.
Bek me encara por mais um momento, depois se vira e sai
tempestuosamente. Tiffany esfrega minhas costas, oferecendo apoio silencioso.
E assim, sinto que posso respirar novamente.

3
GEORGIE
Algo faz cócegas em meu nariz, e eu o limpo, bocejando enquanto me
enterro ainda mais sob as peles. O trenó não é o pior lugar para dormir, nem de
longe. Os lados são curvos e então eu rolo no meio, o que o torna perfeito para se
enrolar com alguns travesseiros e tirar uma soneca.
Oh, quem estou enganando? Soneca? Dormi a viagem inteira. Acordei uma
ou duas vezes para fazer xixi, mas no resto do tempo? Cochilo após cochilo. Meus
cobertores mudaram, porém, e meu rosto está frio, então tento pressioná-lo sob
as peles novamente.
A coisa faz cócegas no meu nariz mais uma vez.
Abro um olho e olho para a planta triste e murcha tocando
minha bochecha. — Que porra é essa?
De onde segura o galho de uma folhagem de cor doentia, Vektal sorri. —
Não é veneno! Para a celebração. Agora você vai me regar com beijos, sim?
Eu bufo e dou uma risadinha para uma posição vertical. — Algo parecido.
Ele me dá um sorriso malicioso. — Eu vou guardar meu prêmio para
depois. Por enquanto, estamos perto da caverna dos ancestrais. Você quer
caminhar um pouco?
Bocejo e estico as pernas, mas decido que sim. Com a ajuda dele, me
levanto do trenó e olho ao redor. Com certeza, há a colina sólida e arredondada de
neve que cobre a espaçonave centenária em que os ancestrais de Vektal
chegaram. A 'boca' da caverna está aberta e a neve na frente está agitada, o que
me diz que alguém esteve caçando recentemente. Vektal pega minha mão e uno
meus quatro dedos aos seus três enquanto avançamos em sua direção.
É uma caminhada curta e Vektal deixa o trenó do lado de fora. Eu entro na
nave, percebendo que os destroços foram limpos e varridos dos corredores da
frente. À distância, posso ouvir o barulho de objetos metálicos e o murmúrio baixo
de vozes. Um bebê chora e é rapidamente silenciado novamente.
Eles ainda não sabem que estamos aqui. Eu cutuco Vektal. — Devíamos
chamá-los. — Tenho imagens mentais de Harlow empunhando uma serra de
algum tipo e depois jogando-a sobre o pé dela , tudo porque a assustamos.
Vektal leva a mão livre à boca. — Rukh! Harlow! Nós chegamos!
Eu estremeço quando sua voz estrondosa reverbera nas paredes
estreitas da nave. — Obrigada, baby.
Rukh surge em um dos longos corredores um momento depois, dando
tapinhas no ombro de um bebezinho. Ele levanta o queixo para nós em
reconhecimento. — Eles estão aqui, Har-loh, — ele grita, a voz com um sotaque
bem acentuado. — Você está certa.
Nós vamos em direção a eles e ouço o barulho de metal, e a voz de Ha rlow
gritando alguma coisa.
Meus dedos coçam para segurar o minúsculo Rukhar e vou para frente,
estendendo os braços. — Ele está ficando tão grande agora! — Ele ainda é
minúsculo pra cacete, mas até algumas semanas fizeram a diferença.
Rukh me lança um olhar desconfiado, segurando seu filho perto. Depois de
um momento, ele relutantemente o entrega. Eu não estou ofendida. Rukh ainda é
tão novo para as pessoas (além de Harlow) que não o culpo por ser cauteloso. Eu
pego o bebê dele, como Vektal, inclino seu ombro em saudação.
Rukhar se parece muito com Raashel, mas diferente. Ele tem cauda, pele
azulada e é muito mais minúsculo. Ele é um prematuro, no entanto, e eu espero
isso.
Ele está mais gordinho desde a última vez que o vi e parece tão bom. Seu
pequeno rosto se contrai ao me ver e ele berra alto , quebrando em um grito de
raiva.
Harlow emerge das profundezas da nave um momento depois, um avental
de couro imundo por cima da túnica. Ela tem manchas de graxa no rosto e seu
cabelo ruivo brilhante está preso em um coque bagunçado no topo da cabeça. Ela
tem uma barra de metal que quase parece uma chave inglesa em suas mãos. Seus
olhos se arregalam. — O que vocês estão fazendo aqui? Algo está errado?
Balanço Rukhar, tentando ignorar o fato de que ele está gritando ao ver
meu rosto. Meu próprio bebê me chuta nas partes de menina novamente, e eu
estremeço. — Nada está errado.
— Nós estamos tendo um dia sem veneno! — declara meu companheiro
com orgulho. — Georgie pediu por isso. — As sobrancelhas de Harlow se juntam e
ela me lança um olhar confuso.
— Tendo o que?
— Natal — explico a ela. — O homem ainda não entendeu o conceito de
visco. — Eu relutantemente entrego seu bebê para ela quando ele continua a
gritar, e ela o enfia sob o avental para alimentá-lo. — Vamos ter um feriado. Ainda
não há um nome. Apenas uma reunião de Ação de Graças quase natalina. Para
comemorar, hum, coisas. E queremos que todos estejam lá.
— Parece divertido — diz ela, mordiscando o lábio. Ela olha para seu
companheiro. Ele não é exatamente bom com as pessoas. Acho que essa é uma
das razões pelas quais eles foram tão rápidos em correr para as cavernas ancestrais
assim que Harlow foi capaz de viajar. — O momento é bom também.
— Já acabou? — pergunto. Eu sei que ela está trabalhando em um cortador
de pedra para tentar aumentar nossos aposentos para que não tenhamos que
dividir a tribo. Ela está obcecada desde que voltou.
Seu rosto se ilumina e ela acena com a cabeça. Com um braço segurando o
bebê contra o seio, ela acena para eu entrar em sua área de trabalho. — Deixe -me
te mostrar!
Eu a sigo e o quarto é uma bagunça de peças de metal. Uma das paredes foi
rasgada, fios pendurados em um painel quebrado. Parece que ela está
vasculhando, e há pedaços de metal e partes inexplicáveis em todas as superfícies
planas da sala. Em um canto, suas peles são jogadas juntas em uma cama.
— Uau — digo depois de um momento. — Você esteve ocupada.
— Na verdade, não — ela me diz, afastando algumas coisas e puxando uma
película fina e farfalhante que espalha sobre a mesa. — O computador cospe todas
as informações de que preciso. Acabei de montá-lo como um grande quebra-
cabeça. — O bebê soluça em seu peito, e ela automaticamente o entrega a
Rukh. O grande homem sa-khui pega o bebê e o coloca para arrotar, enquanto
Harlow fecha o vestido e volta ao prontuário. Ela aponta para um canto. — Estou
quase terminando essa última parte aqui. Se eu trabalhar durante a noite, tenho
quase certeza de que posso fazer isso, e então todos nós podemos voltar e
experimentar.
— Funciona? Mesmo?
— Bem, a parte do laser funciona.— Ela faz um gesto com o polegar por
cima do ombro e vejo um grande buraco queimado perto do teto. Oh. — Estou
trabalhando em algo que vai travar no lugar porque agora é um pouquinho... forte.
— Ela encolhe os ombros. — E o pior é que podemos amarrá-lo a um dos grandões
e deixá-lo rolar em uma área que sabemos ser segura.
— Er, como sabemos que uma área é segura?
Ela estala os dedos e corre para outra mesa, pegando algo que parece uma
lancheira cheia de arames. — Eu fiz isso!
Estudo por um momento, mas ainda não sei o que é. — E o que é isso?
— Sonar! Funciona como um localizador de vigas. — Ela aperta um botão e
a coisa geme, estridente. — Quando colocarmos isso contra a parede de uma
caverna, ele enviará pulsos elétricos para determinar se a parede é sólida ou se é
oca. Se pudermos encontrar algumas áreas vazias atrás das paredes, será muito
mais fácil aumentar a caverna. Não sei quanto tempo o cortador vai durar.
Estou impressionada. — E você fez tudo isso?
—Bem, é só uma questão de tentar fazer as ferramentas que tínhamos em
casa. — Ela pisca como se não fosse grande coisa. — Não adianta nada se as
paredes da caverna forem sólidas, mas com toda a atividade de água e
derretimento aqui? Aposto que não.
— Está bem então. Vou acreditar na sua palavra.
— Então me conte mais sobre o feriado? — ela pergunta, desligando o
'localizador' choramingando e colocando-o no chão. — Vai ter bolo?
Eu gemo com o pensamento. — Eu desejo. Não acho que este planeta
tenha nada de doce.
Os olhos de Harlow se estreitam e ela me dá um sorriso malicioso. — Só
porque não sabemos de nada, não significa que o computador não saiba.

CLAIRE
A caverna tribal está em uma enxurrada de preparações. Josie se
encarregou da decoração e escolheu a árvore frágil e rosa de aparência mais triste
para o centro da caverna. Ou perto do centro, já que aí fica a piscina de banho. Ela
colocou uma saia de árvore de pele branca em torno dela e convocou as crianças
— Farli, Esha e Sessah — para ajudá-la a fazer enfeites de osso. Tenho amarrado
sementes secas da planta já-feh em uma linha de tendão porque são de cores
bonitas, mesmo que tenham um gosto horrível. A árvore vai estalar como ninguém
se uma brisa forte entrar na caverna, mas tem a ver com o espírito das coisas, mais
do que com sua beleza.
Enquanto as humanas fazem as decorações, os homens caçam e todos
trabalham secretamente nos presentes. Os sa-khui ficam intrigados com a ideia de
dar presentes furtivos uns aos outros, e você não pode andar pela caverna
principal sem ver alguém se esforçando para esconder algo em que está
trabalhando.
Eu faço o meu melhor para não me esconder na caverna de Megan e
Cashol. Por um lado, estou cansada de me esconder. E há tantas pessoas ao redor
que eu não posso deixar de me envolver em sua felicidade. Bek sai e caça de
manhã cedo e eu fico “feliz” sozinha. Ele não me confrontou, mas sei que o dia está
chegando.
Vektal, Georgie, Harlow e o estranho companheiro de Harlow, Rukh, voltam
um ou dois dias depois e há mais saudações e felicidade, embora o pobre
companheiro de Harlow pareça querer fugir de todas aquelas pessoas barulhentas
e animadas. Eu pego o bebê de Harlow, Rukhar, enquanto ela atravessa a caverna
com um 'localizador' quadrado e faz marcas em um 'esquema' que ela desenhou
em uma pele dvisti. Ela encontrou vários lugares para alargar a caverna, mas não
quer fazê-lo com as cavernas cheias porque faz muito barulho e muita
fumaça. Vektal a instruiu a esperar até depois do Dia do Não Veneno. O estranho
nome do feriado está pegando, embora Georgie solte um barulho
exasperado toda vez que alguém o diz.
Mais tarde naquela noite, Josie e eu decidimos fazer correntes de papel
coloridas. Há uma planta que cresce perto da caverna que libera feixes de casca de
papel, e eu os pinto com tinta verde e tinta vermelha, ambas feitas de frutas
silvestres. Josie pega cada um à medida que seca, faz um laço e depois costura na
corrente. Queremos amarrá-los nas portas para adicionar à festa, além de nos dar
algo para fazer com as mãos. Josie, Tiffany e eu somos as únicas que realmente
não temos um companheiro ou uma nova família para cuidar, então não há
presentes para serem feitos. Nós concordamos em não dar coisas uma a outra, e
estamos nos concentrando em decorar.
Acabei de passar um pouco de casca de árvore em um tom verde brilhante
quando sinto que alguém está atrás de mim. — Claire. Precisamos conversar.
Bek. Meu estômago se contrai e todo o meu corpo congela. Eu curvo meus
ombros e não me levanto. Ele não pode fazer nada enquanto estou sentada na
caverna principal, a não ser cuspir insultos em mim. Os olhos de Josie estão
arregalados quando ela olha para mim, e eu sei que vai estar por toda a caverna de
manhã, porque Josie é uma fofoqueira terrível além de ser uma faladora. —
Eu estou ocupada, — digo depois de um momento.
Ele joga algo em mim, e pisco para a pilha de folhas esmagadas que pousam
no meu colo.
— Hum, o que é isso? — eu tenho que perguntar. Não consigo entender.
— Esse é o seu veneno para um beijo — diz ele, a voz mal-humorada. —
Vektal diz que um homem que presenteia sua mulher com folhas receberá um
beijo dela.
Eu tiro as folhas do meu colo. — Não sei do que você está falando, mas não
vou beijar você. Eu não sou sua mulher. Não quero estar com você e não quero
falar com você agora. Apenas me deixe em paz.
— Nós precisamos conversar. Você pertence a mim.
— Não tenho nada a dizer e não, não quero! — Minha coragem está
começando a falhar porque ele não desiste de jeito nenhum. É difícil ser forte,
especialmente quando seria muito mais fácil simplesmente ceder e voltar
mansamente para suas peles. Eu fico de pé e limpo meu colo. Mesmo que eu
tenha dito a mim mesma que não quero me esconder nas cavernas, esse é o único
lugar que eu sei que ele não vai me seguir.
Eu sigo em direção à caverna de Megan quando ele me agarra pelo
cotovelo e começa a me arrastar junto com ele. Sua mão é grande e seu aperto é
forte, e não consigo me soltar.
— Não — eu sibilo, mas ele ignora e me conduz em direção à sua
caverna. Não estou com vontade de ouvir gritos nas próximas uma ou duas
horas. Eu sei que se ele me repreender o suficiente, eu vou ceder. Eu não sou forte,
não como Georgie.
— Hum? — Josie diz no fundo, uma pergunta em sua voz.
— Não interfira — Bek rosna de volta para ela, e me empurra na direção de
sua caverna.
Eu arrasto meus pés, tentando me soltar. Quando estou prestes a ser
empurrada para dentro da caverna, alguém surge. É Ereven, encolhendo os
ombros com uma capa de pele grossa. Ele parece surpreso em ver a mim e Bek, e
então faz uma pausa.
Eu desvio meu rosto, com vergonha de que ele vá me ver intimidada por
Bek.
— Você está pronta para a nossa caminhada, Claire? — Ereven pergunta.
Eu olho para ele, surpresa. A expressão de Ereven é calma, paciente. Ele não
se move, no entanto. Ele também não pisca quando Bek rosna de irritação. — Sim,
— eu deixo escapar. — Sim, eu estou.
— Ótimo — diz ele, se aproxima e gentilmente arranca meu braço das mãos
de Bek. Por um momento, acho que eles vão lutar, mas Bek desiste e invade seu
caminho para dentro de sua caverna. O aperto de Ereven está solto em meu braço
enquanto ele me guia para a entrada da caverna. — Vamos então.
A vontade de fugir para o meu beliche é insuportável. Nunca passei um
tempo com Ereven. Não o conheço mais do que uma passagem casual em um
grupo. Por que ele está me ajudando? Mas me ajudou, e não quero retribuir sua
bondade com covardia, então aceno e saio com ele.
Apenas alguns passos no ar noturno e está muito frio. Uma neve fraca está
caindo — quando não está? — e não estou vestida para o clima. Minha túnica de
couro simples é leve, assim como minhas leggings. Não quero fugir para dentro,
então digo ao meu piolho para aguentar.
Como se pudesse ler meus pensamentos, Ereven tira sua capa pesada e a
coloca sobre meus ombros. Seus olhos brilham azuis na escuridão. — Melhor?
Tem cheiro de fumaça e couro e de seu dono. É legal. Eu me aconchego
mais fundo nele. — Sim, obrigada.
Saímos para a neve da noite, os pés esmagando o pó fresco. Meus olhos
demoram um pouco para se acostumar com a escuridão, mas tanto a Lua Grande
quanto a Lua Pequena estão fora, e logo posso ver muito bem no escuro. Seus
passos são lentos e sem pressa, e faço o meu melhor para combinar meus passos
menores com os dele.
Ele está quieto. Não de um jeito ruim, mas como se não tivesse pressa em
dar suas opiniões... ao contrário de Bek. É bom, porque eu também estou bastante
quieta, e estar perto de Bek apenas me fez recuar ainda mais em minha concha. —
Obrigada — digo depois de um momento. — Por me salvar lá.
Ereven acena com a cabeça lentamente. — Ele machuca você? Diga uma
palavra e falarei com Vektal sobre suas ações.
—Não. Ele está apenas... com raiva. Eu disse a ele que não estamos mais
juntos. Na verdade, acho que não estamos juntos há muito tempo, mas ele não
gosta de acreditar nisso. — Minha respiração se torna uma gargalhada congelada.
— Não são companheiros?
— Não por muito tempo. — Minhas bochechas esquentam. Não tenho
ideia de por que ofereci isso, mas os sa-khui não têm a mesma sensação de
vergonha em relação ao sexo que os humanos. Não é grande coisa para alguém
comentar sobre sua vida sexual, ou a falta dela. Ainda assim, sinto a necessidade
de explicar ainda mais, para de alguma forma parecer menos inconstante aos
olhos dele. — Faz vários meses que não compartilhamos peles.
— Surpreendente.
Eu bufo. — Não para mim. Prefiro dormir.
Há um som baixo e suave e levo um momento para perceber que ele está
rindo. — Então, claramente Bek precisa de prática.
Minhas bochechas estão quentes, apesar do frio. — Eu não quis dizer...
— Sim, você quis. Não se preocupe. Não vou contar.
Eu sorrio para ele.
— Eu conheço Bek desde que éramos dois kits — ele diz depois de um
momento. — Ele tem dificuldade em aceitar as escolhas dos outros,
principalmente se não estiver de acordo com a dele.
—Sim, eu percebi.
Ereven olha para mim e pausa sua caminhada lenta. — Você precisa de
proteção contra ele?
Eu paro também e olho para ele. — Proteção? O que você quer dizer?
— Quero dizer, você quer minha ajuda? Devo cortejá-la? Se ele vir você
respondendo às atenções de outro homem, acabará recuando. — Sua expressão é
cuidadosamente neutra.
Oh. Depois de um momento, percebo o que ele está oferecendo. Um
relacionamento falso, apenas para tirar Bek de cima de mim. Eu amo isso. Sorrio
brilhantemente para Ereven. — Você faria isso por mim?
Ele inclina a cabeça, me estudando. — Eu faria.
Por um breve momento, sinto uma pontada de arrependimento. Eu desejo
que este homem bonito com seus chifres arqueados e seu emaranhado de cabelo
curto estivesse interessado em mais do que apenas fingir. Que, em vez de ser
galante, ele estava realmente interessado em mim. O comportamento fácil de
Ereven é totalmente atraente, e há algo nele que me atrai como uma mariposa
para uma chama. Mas me sinto contaminada por meu passado com Bek. Amizade
é tudo que vou conseguir, mas vou aceitar. — Então digo que sim.
Ele acena lentamente. — Amanhã então?
— Amanhã, — concordo. E o nó de pavor em meu estômago se alivia pela
primeira vez em dias. Talvez meses.
4
GEORGIE
— Você encontrou? — pergunto a Tiffany na manhã seguinte, sentada em
um dos banquinhos perto da árvore decorada. Claire está amarrando mais
guirlandas e estou trabalhando em fazer um chocalho de uma bolsa de couro com
alguns de seus descartes. Tiffany tira sua capa, tirando a neve de seus cachos
pretos e grossos, e segura sua cesta no alto. — Você queria hraku, e vai ter, garota.
— Sim! — grito alto o suficiente para fazer Rukhar soluçar em seu berço aos
meus pés. Ops. Eu deveria estar cuidando do bebê enquanto Harlow faz mais
pesquisas, mas o hraku me deixa animada. De acordo com o computador da nave,
as sementes têm uma estrutura molecular não muito diferente do açúcar da Terra,
e estamos todos empolgados com a ideia de um test drive. — Traga isso!
Tiffany se instala ao meu lado e revela os longos tubérculos. — Tem uma
tonelada deles crescendo na encosta da colina perto do riacho. Eu acho que eles
estão protegidos do vento lá.
Ela puxa um e cheira, depois o oferece para mim. — Você tem
certeza disso? Eles têm um cheiro horrivel.
Eu pego uma haste de hraku dela. A maioria das plantas neste planeta são
bastante delgadas, com raízes ainda mais longas que chegam abaixo da neve. Esta
não é exceção, mas em vez de raízes finas e longas, são roliças, semelhantes a
dedos, que parecem totalmente desagradáveis. Eu torço meu nariz e cheiro, e Tiff
está certa, cheira a meias fedorentas. — Woof.
— Eu sei — diz Tiffany. Ela puxa sua faca. — O computador falou as
sementes, certo?
Eu aceno e me inclino para perto, curiosa enquanto ela habilmente corta
uma raiz aberta de cima à ponta. De todas as humanas, Tiffany é aquela que se
destaca em tudo. Enquanto as outras podem ser competentes em uma ou duas
novas habilidades que aprendemos, como Liz com sua caça ou Megan com seu
couro de macramê trabalhado, Tiffany é boa em tudo. Ela também é linda, com a
pele escura da cor de um rico bronze. Eu odiaria a vadia se ela não fosse tão
incrível.
Ela separa a casca dura da raiz e revela as sementes internas. O cheiro de
meia suada nos envolve, e nós duas engasgamos. Isso, combinado com o brilho
oleoso da gosma molhada cobrindo as sementes? Estou começando a duvidar do
que o computador nos disse.
— Quer experimentar primeiro? — pergunta Tiff.
— Eu? De jeito nenhum! Você faz isso. — Empurro de volta para ela. —
Estou grávida e tenho estômago sensível, lembra?
Ela bufa. — Mentira. — Seu olhar desliza pela caverna. — Precisamos de
uma cobaia. Onde está Josie quando você precisa dela?
Eu rio. — Seja legal.
— Isso foi legal — Tiffany diz com um sorriso. Mas quando Claire pega outra
seção de guirlanda de minhas mãos, eu a estudo. — Ei, Claire, quer
experimentar essa raiz para nós?
Ela me olha com olhos grandes e cabelos castanhos sedosos. — Na verdade,
não?
—Vamos, — Tiffany persuade. — Deve ter gosto de açúcar. — Ela pesca
uma semente com a ponta da lâmina e a oferece a Claire.
Espero que ela recue, mas para minha surpresa, Claire arranca a semente
da faca e a coloca na boca. Ela se contrai, seu rosto se contrai e depois encolhe os
ombros. — Não tem muito gosto. Você precisa cozinhá-lo? Como as sementes de
abóbora?
Tiffany olha para mim e encolhe os ombros. — Não custa nada tentar. —
Stacy tem uma frigideira de metal que Harlow fez para ela com as peças de metal
da nave, e nós a arrancamos dela para fritar as sementes. Quando o primeiro lote
está pronto, a caverna cheira a meias suadas — e açúcar. Há um aroma atraente
vindo das sementes cozidas, e não há necessidade de persuadir ninguém a
experimentá-las. Todas nós pegamos alguns, queimando as pontas dos dedos no
processo.
Eu coloco uma na minha boca e um sabor doce e amanteigado como um
doce explode na minha língua.
Os olhos de Tiffany se arregalam. — Tem gosto de caramelo.
— Oh meu Deus, — murmura Stacy, e ela arranca outra da frigideira. — Ela
está certa.
As sementes acabam em um instante, e retiramos mais caules de hraku
para preparar mais da guloseima. — Devíamos levar isso para fora — diz Tiffany
quando um dos anciãos passa, acenando com a mão no ar. — É meio perfumado.
Ela está certa. Todas nós nos juntamos e saímos, iniciando uma pequena
fogueira em uma cova improvisada perto da entrada. Certifico-me de que o
minúsculo Rukhar está bem aninhado em suas peles e nos sentamos em círculo do
lado de fora, comendo sementes e conversando enquanto o dia passa. Tiffany está
encarregada de cozinhar e Stacy traz um par de pinças para que não queimemos
as pontas dos dedos.
É uma das melhores tardes que tive nos últimos tempos.
Alguns dos caçadores saem, curiosos. — Trouxe isso para você — Hassen diz
a Tiffany, e estende um punhado de plantas recém colhidas . —Não são veneno.
Oh senhor, de novo com isso. Eu rolo meus olhos. — Não acredito que o
visco seja tão difícil para eles entenderem.
Nora ri tanto que ele bufa.
— Obrigada — Tiffany diz, com um sorriso no rosto. Mas ela não o
recompensa com um beijo e ele acaba vagando por uma curta
distância, claramente confuso com o ritual.
Alguns momentos depois, Taushen chega e oferece a Tiffany outro
punhado de plantas. Seus olhos se estreitam, mas ela dá a ele a mesma resposta
educada. Então, Vaza, um dos mais velhos, também vem com plantas para Tiffany.
Eu seguro meu sorriso enquanto Tiffany me lança um olhar de 'me mate
agora' e agradece a ele pelas plantas. — Estou bem de ‘não-veneno’ agora, mas
obrigada.
Ele acena com a cabeça como se estivesse fazendo um favor a ela, e então
espera.
Tiffany finge estar realmente interessada no cozimento das sementes.
Rukhar borbulha, e eu o pulo no meu joelho. — Ei, Vaza? Você sabe, se você
quiser dar a Tiffany um pouco de veneno, ela realmente gostaria de um pouco
mais de hraku.
Seu rosto enrugado se ilumina e ele sai correndo antes que os outros
possam se juntar a ele. Tanto Hassen quanto Taushen parecem incomodados com
esse privilégio. Tiffany está fazendo seu melhor para ignorar os dois.
Pobre Tiffany. Deve ser horrível ser a mulher solteira mais sexy do planeta.
Pobre Josie. Ninguém está perseguindo ela. Provavelmente porque ela fala
demais. Sua vida parece ser uma busca sem fim para provocar Haeden. Talvez isso
assuste os pretendentes.
Mais algumas pessoas saem das cavernas para ver o que os humanos estão
fazendo, e noto que um caçador — Ereven — coloca sua capa nos ombros de
Claire e ela cora furiosamente. Tão fofo. Eu não tinha percebido que ela tinha um
novo namorado depois de terminar com o último, mas é uma melhora
definitiva. Ereven é tranquilo e amigável com todos, ao contrário do
temperamental Bek.
Hassen e Taushen ainda estão parados e, eventualmente, Tiffany suspira. —
Por que vocês não vão caçar ou algo assim?
— Vou ficar nas cavernas — diz Hassen, olhando feio para Taushen.
— E eu, — Taushen diz.
— Há muita comida esta noite, — Ereven diz, e brinca com uma mecha de
cabelo de Claire. Seu rosto está vermelho, mas ela parece feliz.
Ao contrário de Tiffany, que parece miserável com toda a atenção. Ainda
mais quando Vaza retorna com um punhado de raízes hraku, e Salukh e Rokan
chegam para ver o que está acontecendo. — Por que vocês não jogam? —
ofereço, sempre a pacificadora. É meu trabalho como companheira do chefe
tentar suavizar as coisas quando ele está caçando, como está agora. — Vocês tem
alguma coisa para jogar, hum, nos dias que vocês não caçam?
— Nós competimos, — Taushen diz corajosamente. — Devemos competir
por você?
— Claro. — Coloco o bebê inquieto contra meu braço e o embalo,
observando enquanto Tiffany começa um novo lote das saborosas sementes de
hraku. Estou focada em suas mãos magras e morenas.
BANG!
O som é como um acidente de carro, tão alto e violento que pulo, quase
derrubando Rukhar. Eu o agarro perto e olho para cima em estado de
choque. Taushen e Hassen estão se empurrando, então recuam alguns passos. Eles
se agacham, um acena com a cabeça, e então eles se arremessam juntos
novamente. BANG! Seus chifres se chocam e os dois cambaleiam para trás.
— Santo Deus — sussurra Tiffany, olhando fixamente.
Eu também fico olhando. É como um par de carneiros de um documentário
sobre a natureza. Eles se chocam com outro estrondo, recuam e fazem isso de
novo. Isso é... um jogo? Rukhar começa a chorar e Nora tem uma expressão de dor
no rosto, apertando o estômago. Sim, esta não é à tarde tranquila que eu tinha em
mente. Estendo a mão para Claire, agarrando a mão dela. — Por que você não
mostra a eles como jogar, futebol ou algo assim?
— Futebol? — ela chia.
— Tanto faz — digo a ela, me levantando com o bebe chorando. Nora
também se levanta.
— Só tudo menos isso, — digo a Claire, e entro na caverna,
acalmando Rukhar.
— Ei, Georgie — diz Nora, e me viro para ver que ela ainda está alguns
passos atrás de mim. Seu rosto está pálido e ela estremece quando outro BANG
alto vem de fora. Suas mãos vão para o estômago novamente, e percebo que algo
mais a está incomodando.
Eu engasgo. — É isso é...?
Ela acena com a cabeça e então se inclina, sua respiração sibilando.
— Maylak — eu grito. — Temos um kit a caminho!

CLAIRE
Eu ensinando futebol? Não sei muito sobre o jogo. Fico olhando para os
rostos dos caçadores ao meu redor. — Hum.
— Mostre-nos seu jogo humano, — Ereven encoraja. — Queremos
aprender. — Seu olhar é firme, mas caloroso, fazendo-me sentir valorizada apesar
do meu pânico. Ele coloca uma grande mão nas minhas costas, e mesmo que eu
não possa sentir sua pele através da capa grossa que ele colocou sobre meus
ombros, me sinto...abraçada. É estranho. Não é indesejável, no entanto.
— Tudo bem — eu respiro, pensando muito. — Há muitas regras para os
humanos, mas vou te mostrar uma versão modificada.
Josie salta até nós, batendo palmas com as mãos peludas. — Posso jogar
também?
Oh caramba. Minhas imagens mentais de um jogo de futebol americano
com os alienígenas de 2,13 metros saem pela janela. Se Josie quiser brincar, eles
vão esmagá-la em pedaços. — Não sei se é uma boa ideia.
Seu rosto cai de decepção e, por perto, Haeden bufa em aprovação, como
se esmagar as esperanças de Josie fosse sua coisa favorita. E eu mudo de ideia. —
Faremos futebol europeu.
— Europeu? — pergunta Josie.
— Você sabe, futebol.
— Oooh! — Ela bate palmas novamente. — Estou dentro!
Um odre velho é encontrado e embalado com pedaços de couro, depois
costurado. Conforme a 'bola' é preparada, eu designo o campo e os gols. Não me
lembro quantas pessoas jogam em um time de futebol, então acabamos indo com
dois times de cinco jogadores e um goleiro. Não me preocupo com posições,
principalmente porque não as conheço. O objetivo? Jogue a bola no gol da outra
pessoa para marcar um ponto. E como não temos relógios, escolhemos um
número: primeiro time com cinco pontos ganha. Fazemos as escolhas com Josie e
eu como lideres da equipe, já que somos nós que conhecemos as regras. Tiffany e
as outras humanas continuam a cozinhar sementes saborosas para os
espectadores, e vamos para o campo jogar.
— Camisas versus pele, — Josie berra para sua equipe. — Somos
peles! Principalmente porque eu não quero ter que olhar para Haeden seminu
mais do que o normal. — Ela lançou um olhar malicioso para o meu time.
Haeden está no meu time (acho que Josie teria cometido suicídio antes de
escolhê-lo), junto com Ereven, Rokan, Salukh e a magra Farli, que é pequena mais
queria jogar. A equipe de Josie é Taushen, Vaza, Aehako, Zolaya e Cashol. Dagesh
desapareceu dentro das cavernas com sua companheira no momento em que
soube que Nora estava em trabalho de parto, e Bek se recusou a jogar.
A equipe de Josie tira suas camisas, todos exceto Josie. Ela está cuidando do
gol, então quebramos as regras e dizemos que não há problema que os goleiros
fiquem protegidos da cabeça aos pés. Deixei Farli cuidar do objetivo de nossa
equipe e corri para o campo com os outros.
A partir do momento em que a bola atinge o campo, é um caos em
massa. Todo mundo esquece as regras constantemente — Aehako agarra a bola
enquanto ela vooa em direção a ele em um ponto, apenas para ser abordado por
Ereven por trapacear. Na verdade, há muitos combates, muitos golpes e
empurrões, e não muito trabalho de pés na verdade.
Não importa. Eu não acho que ria tanto há muito tempo. Todos estão se
divertindo, e quando Farli dá um tapa na bola que vai na direção dela e de nosso
time , ela brilha de felicidade.
O meu time está dois pontos à frente do de Josie e com mais um gol
podemos vencer. É claro que Josie não tem resistência para acompanhar o sa-khui
e está ofegante. Eu também, mas é mais fácil para mim ficar para trás e deixar os
outros correrem (e empurrarem) a bola pelo campo. Rokan pega a bola de Vaza e
então ataca o gol de Josie. Ele bate nela, derrubando-a no chão enquanto faz o
ponto final para nossa equipe. A pobre Josie está deitada de costas na neve, e
Rokan segura a bola no ar, sorrindo descontroladamente. — Nós ganhamos!
Um rosnado baixo, e então um momento depois, outro sa-khui bate em
Rokan de lado, jogando-o no chão. A bola voa de suas mãos e ele cai para trás na
neve, mesmo quando Josie se senta e sacode a neve de seu corpo.
— Ei, — eu grito. — Pare! Sem luta!
O homem inclinado sobre a forma caída de Rokan não é outro senão
Haeden. Ele me lança um olhar estreito, olha para Josie e depois volta para
as cavernas, claramente de mau humor.
Bem, isso foi estranho. Corro até Josie e a ajudo a se levantar. — Você está
bem?
— Nada que uma viagem rápida ao curandeiro não resolva, — ela diz
alegremente. — Acho que cansei de jogar. — Sua mão vai para o lado do corpo e
ela estremece. — Sim. Definitivamente parei.
Ela usa meu ombro como apoio e eu a levo até a pequena jogueira de
Tiffany, onde as outras mulheres grávidas estão sentadas. Elas abrem espaço para
Josie, mesmo enquanto Rokan se aproxima, com uma expressão infeliz no
rosto. — Machuquei você, Joh-see? Eu não quis fazer isso.
Josie sorri para ele. — Estou bem, sério. Meio que me disse que preciso
sentar e deixar vocês jogarem um contra o outro.
— Ray-king bahls? — pergunta ele, repetindo a palavra humana.
—Apenas confie em mim.
— Nos substitua por alguém — digo a ele. — Vocês já entenderam as
regras. Assistiremos do lado de fora. — E tente não ser pisoteado. Os sa-khui são
definitivamente competitivos. Eles aderiram ao esporte com grande
entusiasmo. Outros já estão esperando a sua vez de jogar e
gritando encorajamento nas laterais.
Eu me espremo ao lado de Josie, apenas para ver Bek chegar à fogueira,
uma carranca em seu rosto enquanto ele olha para mim. Torno-me perfeitamente
ciente de que estou usando a capa de Ereven e ri com ele a tarde toda. Que o
escolhi primeiro para minha equipe. Provavelmente Bek está assistindo o tempo
todo.
Minha língua parece grudada no céu da boca. Ele realmente quer um
confronto aqui? Agora? Quando todos estão tendo um dia tão bom?
Ereven corre para o meu lado e dá um beijo na minha têmpora. — Sente-se
aqui e me veja jogar? Vou ganhar o próximo ponto apenas para você.
Eu mordo meu lábio, fechando os olhos para não ter que ver a carranca de
Bek quando Ereven acaricia minha bochecha com os nós dos dedos. Odeio que
Bek esteja aqui para poluir essa terna carícia. Então, novamente, Ereven não teria
feito isso se Bek não estivesse sendo tão idiota. Eu me sinto confusa. — Boa sorte
— digo a Ereven.
Ele volta para o campo e então grita: — Bek! Junte-se a nós! Precisamos
da sua experiência, meu amigo!
Fico parada, esperando para ver se Bek vai ficar aqui e me encarar pelo
resto da tarde, ou se ele vai se juntar aos outros. Depois de um longo e tenso
momento, ele se afasta em direção ao campo.
Eu expiro em alívio.
— Em algum momento você vai ter que conversar com ele — sussurra
Josie.
— Eu sei. Só... não agora.
Os sa-khui continuam a jogar ‘futebol’ até que os dois pores do sol se
ponham e o tempo esfrie. Algumas pessoas trazem tochas, não querendo que a
diversão acabe, mas está ficando frio e estamos todos cansados e rachados pelo
vento depois de passar a tarde ao ar livre. Eu bocejo e me inclino contra Josie,
encolhida perto do fogo enquanto ela nos conta uma história horrível de Natal
após a outra. Aparentemente, ela teve uma infância terrível e gosta de nos
regalar como foi horrível.
Estou adormecendo quando braços fortes me levantam e me carregam. Eu
pisco acordada para ver o rosto bonito de Ereven perto do meu. Ele enfia meu
corpo contra seu peito. — Você está cansada. Deixe-me colocá-la para dormir.
—Eu posso andar, — protesto.
—Eu sei que você pode. Mas eu gosto de carregá-la, — ele me diz.
Oh. Bek deve estar por perto, porque está flertando comigo. Me acomodo
em seus braços e pressiono minha bochecha em seu peito. Ele está quente, com a
pele corada de suor por causa de um dia duro de futebol, mas não me importo. Eu
gosto do cheiro dele. Na verdade, eu gosto dele. E me sinto culpada por isso por
algum motivo. Tipo, porque Bek não me deixa em paz, eu não sou livre para curtir
o flerte de outro homem... mesmo que seja um flerte falso e não signifique nada.
Eu... meio que gostaria que não fosse falso, no entanto. Que ele realmente
estivesse interessado em mim. Por que, oh, por que não notei Ereven em vez de
cair na bravata de Bek?
Ele me leva para a caverna de Megan e gentilmente me deita em cima do
meu saco de dormir. Em vez de sair, porém, ele se senta ao meu lado e me puxa
contra ele. Ele está me segurando. Eu não percebi até agora o quão faminto por
afeto eu tenho estado desde que pousamos. Bek nunca me tocou fora das peles, e
me pergunto se ele gosta de humanos ou se apenas gosta de 'possuir' um. Mas a
mão de Ereven acaricia meu braço, e sua outra mão me abraça contra ele, e eu me
sinto... amada. Lágrimas queimam em meus olhos e quero agradecê-lo por esse
pequeno gesto.
— Posso fazer uma pergunta? — diz ele depois de um longo
momento. Seus dedos traçam padrões no meu braço.
Eu concordo.
— Você estava apaixonada por Bek? Em algum momento?
O homem não recua. Uau. Eu considero minha resposta por um
momento. Ele vai me achar horrível se eu admitir que nunca senti nada? Ou ele vai
entender? Espero que sim. — Imagine que você acorda e descobre que de alguma
forma pousou em outro planeta. Não há mais casa. Não há segurança. Você é fraco
aqui e totalmente dependente de outras pessoas para ajudá-lo. Você não sabe
como os alienígenas vão reagir ao aparecimento de um bando de humanos. Você
está com medo de fazer um movimento errado. Existem algumas pessoas que têm
sorte e ressoam. Elas imediatamente encontram um companheiro de vida, e essas
pessoas estão seguras. Mas nem todo mundo ressoa. Nem todo mundo está
seguro. E imagine que você não consegue cuidar de si mesmo. Você não pode
caçar. Não pode fazer couro. Não sabe cozinhar. Só tem que torcer para que a tribo
goste de você o suficiente para mantê-lo. — Fecho os olhos, lembrando-me
daqueles primeiros dias de terror, de incerteza corrosiva. — Então imagine um dos
caçadores que decide que gosta de você. Que ele quer ser seu companheiro. Ele
não parece ruim. O que você faria?
— Mmm. — Sua resposta é um estrondo baixo contra minha bochecha. —
Você escolheu proteção e segurança. Mas nosso povo nunca faria mal a
você. Você deve saber disso.
— Eu sei disso agora — digo a ele. — Mas não sabia quando
chegamos. Parecia... mais seguro estar com alguém, mesmo que eu não tivesse
ressonância. — Agora, estou incrivelmente aliviada por não ter ressoado para
Bek. Nem toda ressonância acaba sendo feliz, e não consigo me imaginar vivendo o
resto da minha vida sob sua batida. — Você pensa menos de mim?
— Por fazer o que você achou que devia para sobreviver? Claro que não. —
Sua mão desliza pelo meu braço, e então ele acaricia minha bochecha. — Você
estava assustada. Você fez o que sentiu que tinha que fazer. Como posso julgar?
Eu abro meus olhos e olho para ele. Estou surpresa com o quão perto
nossos rostos estão. Tão perto, posso ver sua pele azul escura brilhando de suor, a
depressão no centro de seu lábio inferior carnudo, suas maçãs do rosto salientes, a
forma como seu cabelo suado gruda em suas sobrancelhas, mesmo onde seus
chifres encontram sua pele. Ele é realmente lindo, e eu nunca pensei isso sobre um
dos sa-khui antes. Isso me assusta.
Ereven olha para mim. Ele passa os dedos sob meu queixo e, em seguida,
esfrega o nariz contra o meu. — Durma bem, Claire.
Então ele me solta e se levanta, caminhando silenciosamente para fora da
caverna de Megan. Eu fico em meus cobertores, não estou mais com sono. E eu
gostaria que ele tivesse me beijado. Esses momentos juntos pareciam algo
real. Algo especial entre nós.
E Bek? Bek não estava em lugar nenhum.
Mas esse relacionamento não deveria ser falso?

5
GEORGIE
Fico ao lado de Nora enquanto ela dá à luz, oferecendo solidariedade e
apoio enquanto Dagesh segura sua mão e acaricia seu cabelo. Ele é muito calmo
para um futuro pai. Provavelmente é uma coisa boa, já que Nora fica uma bagunça
chorona toda vez que tem uma contração. Ela continua chorando sobre o quanto
ama seu companheiro e como não quer decepcioná-lo, e sem parar, até mesmo
Maylak revirar os olhos com diversão. Pobre Nora. Ela provavelmente vai se
arrepender de toda a tagarelice de manhã, se ela se lembrar. Mesmo que ela
esteja com dor de parto, ainda estou com ciúmes porque meu filho ainda está
chutando minhas partes de menina, o que significa que meu bebê não se
posicionou. O que significa que meu bebê não vai aparecer tão cedo.
É uma merda.
É tarde da noite quando Nora finalmente dá à luz — uma menina
minúscula, gritando, com pele azul e uma mecha de cabelo louro —claro. Dois
minutos depois? Sua irmã gêmea emerge, igualmente loira e igualmente irritada. O
calmo Dagesh dá uma olhada no fato de que agora ele tem gêmeas e precisa sair
da caverna para respirar. Até Maylak está um pouco surpresa.
Nora, não. Ela pega o primeiro bebê nos braços, o segura contra o seio e nos
dá um olhar de ultra-contentamento. — Achei que houvesse muitos chutes
acontecendo — murmura ela.
— Gêmeas é incrível, — digo a ela. Agora estou duplamente ciumenta. Seus
bebês são pequenos, mas lindos. Eu seguro um enquanto o outro se alimenta. —
Você tem dois nomes escolhidos?
— Eu não posso Brangelinar nossos nomes, — ela reclama. — Eles são
terríveis juntos. No-Da? Dag-no? Gesh-ra?
Eu estremeço com o último. O nome de Dagesh não tem o som 'g' que a
língua inglesa tem. É mais engolido e gutural... e provavelmente impossível de fazer
um bom emparelhamento. — Você não precisa fazer uma mistura de nomes —
digo a ela. — É apenas uma coisa que alguns de nós estávamos fazendo.
Ela morde o lábio e olha para o bebê em seu seio. — Eu tenho alguns
nomes escolhidos, mas você provavelmente vai rir.
— Eu não vou. — Estou muito impressionada com o minúsculo recém-
nascido em meus braços. Meu coração aperta de inveja. Eu queria que ela fosse
minha. Duas meninas — Vektal ficará muito feliz pela tribo. Por muito tempo, não
houve nada além de machos nascidos para eles, e eu sei que ele se preocupou
quando Harlow teve um filho.
— Anna — diz ela, tirando-me do meu devaneio. — Anna e Elsa. Como no
filme Frozen.
Uma risadinha me escapa. — É perfeito.
— É, não é? — ela medita enquanto acaricia os cabelos loiro/brancos do

bebê em seu
peito.

Fico com Nora por mais uma ou duas horas, certificando-me de que ela se
sinta confortável enquanto alimenta as gêmeas. Dagesh se recupera de seu ataque
de pânico masculino e pega uma gêmea minúscula de meus braços, olhando para
ela com admiração. Desta vez, é ele quem constantemente balbucia para sua
companheira que a ama, e Nora sorri, cansada e suada, mas tão feliz.
Eu mencionei que estava com ciúmes?
Eu saio quando a curandeira, Maylak, sai. Saímos juntas, e a caverna
principal está silenciosa, exceto pelo gotejar de água e o estrondo distante dos
roncos de alguém. — Eles são de um tamanho bom e saudável — a curandeira me
disse. — Por isso são pequenos. Os kits não terão problemas para aceitar um khui.
Eu aceno, pensando. Os sa-khui tradicionalmente esperam quatro dias
antes de dar a um bebê um dos simbiontes khui. Uma das enormes feras sa-kohtsk
deve ser caçada a fim de obter um khui para a nova criança, e as caçadas são coisas
perigosas. Se outra pessoa tiver um bebê nos próximos dias, melhor. Eu
automaticamente toco meu estômago, mas quando o bebê me chuta nas regiões
inferiores novamente, eu suspiro por dentro. Ainda não se moveu. — Talvez Stacy
ou Ariana tenham seus kits em um ou dois dias e possamos fazer vários de uma
vez. — Eu olho para a curandeira pensativa. — Você pode induzir? Convencer o
corpo a dar à luz?
Ela balança a cabeça. — Só posso persuadir o khui a fazer algo que ele
queira. Ele não desejará ter um kit antes do previsto. E como o kit não tem khui,
não posso influenciá-lo de forma alguma.
Bem, valeu à pena tentar. Eu bocejo, e ela ecoa. — Certo. Vejo você pela
manhã. — Nós nos separamos e gingo até a caverna que compartilho com
Vektal. Nosso minúsculo fogo está apagado e ele está dormindo em cima das
peles, claramente esperando que eu volte para casa.
Estou com um pouco de fome e sede, mas o sono me chama mais do que
qualquer coisa. Eu rastejo para a cama com meu companheiro e enrolo meu corpo
contra o dele. Vektal acorda e puxa as peles por cima de mim, enquanto me
aconchego nele. — O kit? — ele murmura, pressionando um beijo sonolento na
minha testa. — Nasceu?
— Dois kits, — digo a ele. — Ambas meninas.
— Essa é uma notícia muito boa — ele me diz e acaricia minha bochecha. —
Você vai ter o nosso logo, minha companheira?
— Eu desejo. Ele ainda não se virou. — Eu quero dizer mais, mas estou
muito cansada, e estou dormindo antes de perceber.
Quando acordo tarde na manhã seguinte, meu companheiro se foi e
minhas costas doem de dormir mal. A comida foi posta para mim em um dos
pequenos pratos de osso de que gosto, e meu odre de água acabou de ser
cheio. Ele é um bom homem para cuidar de mim.
Minhas peles também estão cheias de plantas. O estranho hraku que tem
as saborosas sementes parecidas com doces. Plantas de três folhas, que são boas
para o chá. Ervas de todos os tipos. Ramos das árvores de tinta semelhantes a
cílios. Todos os tipos de plantas.
Essas pessoas realmente não entendem o conceito do visco. Eu rio
enquanto empurro os cobertores das minhas pernas e chove mais plantas. A
caverna inteira está coberta. Vektal deve ter se levantado cedo para fazer tanto
trabalho, e estou feliz por ele ter escolhido plantas úteis, porque parece que ele
desnudou um campo inteiro, e o planeta de gelo não é exatamente abundante em
vegetação.
É tão doce. Ele está me mostrando o quanto ele me ama.
Quase compensa o momento horrível quando percebo que fiz xixi na
cama. Eu fico olhando para as minhas leggings encharcadas com um horror
estranho. No momento seguinte, uma dor aguda percorre meu abdômen, e a
respiração sibila para fora de mim.
Eu queria que meu bebê viesse. Meu desejo foi atendido.
Eu não pensei que doeria tanto, no entanto. Um gemido me escapa e tento
rolar para fora da cama para trocar de calça. As contrações estão vindo rápidas e
forte, e não estou nem de joelhos antes que outra me rasgue. Jesus. O trabalho de
parto não deveria ser lento? Quase não houve tempo entre a primeira contração e
a seguinte. Eu choramingo até ficar de pé, tiro minhas leggings e, em seguida,
outra contração rasga meu corpo.
Foda-se as leggings. Pego um casaco de pele e o envolvo em volta do meu
corpo, em seguida, tropeço para fora da minha caverna. — Maylak? Maylak!
Hoje, acima de tudo, a caverna principal está silenciosa. Josie está sentada
perto de uma das fogueiras comunitárias, costurando alguma coisa. Todo mundo
se foi, embora eu ouça gritos de riso vindo da boca da caverna. Lá fora, então,
provavelmente jogando mais futebol. Enquanto cambaleio para frente, seguro a
parede para me apoiar. Dou talvez três passos antes que outra dor me atinja e me
dobre.
— Georgie? — Eu ouço Josie largar a costura e se arrasta para o meu
lado. — Você está bem, garota? Você não está parecendo com sua personalidade
alegre normal
— Bebê, — digo a ela entre os dentes cerrados.
— Vou chamar a curandeira, — ela grita e sai correndo.
Obrigada Senhor. Me inclino contra a parede da caverna, tentando
recuperar o fôlego antes que a próxima contração passe por mim. Quando Josie
retorna com Maylak, já tive mais duas contrações, e cada uma sugou mais do que
a anterior. Eu bufo e bufo como vi nos filmes quando as pessoas dão à luz, mas
tudo o que isso faz é me deixar sem fôlego.
Maylak se move para o meu lado e suas mãos quentes e fortes me
sustentam enquanto eu caio contra ela.
— Vamos voltar para a sua cama — ela acalma. — Você deve relaxar.
— A bolsa estourou enquanto eu dormia — digo a ela.
— Josie pode pegar peles na minha caverna — diz ela, com voz maternal e
calma. É difícil acreditar que temos mais ou menos a mesma idade. Ela é tão sábia
e serena e eu? Estou uma bagunça agora. Eu a deixei me levar para a minha
caverna, e Josie corre de volta alguns minutos depois com uma braçada de
cobertores e Claire a reboque. Elas trocam meus cobertores e Maylak me ajuda a
me acomodar, no momento em que outra cãibra atinge minha barriga.
— Este kit virá rápido, ao que parece — o murmúrio baixo de Maylak é tão
calmante quanto água corrente. Ela me ajuda a tirar a túnica e depois leva a mão à
minha barriga.
— Vou ver onde está o Vektal. — Josie solta às palavras e então
imediatamente sai da caverna. Claire permanece, abraçando seus lados e tentando
ficar fora do caminho.
Fico realmente quieta por um minuto, o único som é da minha respiração
áspera. Eu olho para a curandeira, esperando ver mais de sua expressão
serena. Sua mão ainda está na minha barriga, mas ela está carrancuda. — O que
foi? — Minha voz falha com as palavras. — O que há de errado?
Antes mesmo de ela dizer isso, eu sei. — O kit está virado para o lado
errado — diz Maylak, com as mãos na minha barriga enquanto pressiona,
tateando. Eu mordo um grito quando outra contração começa. Caro senhor,
parece que minhas entranhas estão tentando encenar uma desistência.
Ela está certa, no entanto. O bebê não mudou de posição e já está com os
pés no chão há dias. Não sei muito sobre nascimento, mas sei que é a maneira
errada de proceder. — O que vamos fazer? Você pode dizer para ele virar?
Seus olhos se arregalam, e percebo que a curandeira está à beira do pânico
também. — Não consigo me comunicar com o kit — sussurra ela. — Ele não tem
khui.
Ah Merda. Ah Merda. Filho da puta, vou dar à luz a um bebê pélvico e
ninguém pode me ajudar? O pânico se instala e começo a hiperventilar.

Vektal aparece um momento depois, olhos selvagens. Josie trota atrás dele,
e nossa pequena caverna imediatamente parece apertada.
Eu aperto a mão de Maylak para silenciá-la e forço um sorriso brilhante no
meu rosto. — Ei, querido — digo a Vektal. — Você estava por perto?
— Eu estava jogando fuhtbawl com os outros. — Ele cai ao lado da nossa
cama. — O kit vem?
— Sim, — eu consigo cerrar os dentes durante a próxima contração
ondulante, e apenas gemo um pouco. Os olhos de Vektal se arregalam e meu
companheiro parece mais do que um pouco assustado.
Ele esfrega a mão no queixo e passa pelo cabelo. — O que posso fazer,
minha companheira? Como posso ajudar?
— Eu adoraria se você pudesse realmente sair um pouco, baby. — Estendo
a mão e dou um tapinha na mão dele. — Eu não quero que você veja isso.
— O que? Por quê? — Se eu tivesse estendido a mão e dado um tapa na
cara dele, não acho que meu companheiro poderia ter parecido mais chocado. Até
Maylak parece surpresa.
— Porque isso vai continuar por um tempo, e eu vou ficar bem mal-
humorada. E não quero te chamar de coisas ruins e gritar com você. E... é uma
tradição humana apenas ter mulheres.
Suas sobrancelhas se juntam. — Mas Dagesh...
— Então a Nora não é tão tradicional quanto eu, — rebato. — E daí. Não
muda o fato de eu não querer você aqui. — Outra contração me percorre, e agarro
minha barriga, gritando.
Vektal parece em pânico. Ele lança um olhar para a curandeira, depois de
volta para mim, claramente dividido.
Não vou mudar de idéia, no entanto. Se isso vai dar errado — e todos os
sinais apontam para sim, — não quero que ele veja isso. Nada disso. Não até que
estejamos do outro lado, para melhor ou para pior. E vê-lo pirar? Isso só vai me
fazer pirar mais.
— Quer que eu... vá embora? — Há mágoa em sua voz forte.
— Sim. — E quando ele continua a me olhar com teimosia, eu o ataco com
palavras que não quero dizer. — Eu gostaria de nunca ter vindo aqui. Eu gostaria
que nada disso nunca tivesse acontecido. Nunca!
Ele me encara por um longo momento. Então ele se inclina, dá um beijo na
minha testa e sai furioso de nossa caverna. Estremeço por dentro, porque sei que o
machuquei. Mas estou poupando-o, digo a mim mesma. Porque agora? Este bebê
está em pé e não sei como vamos consertar isso.
Nós dois podemos morrer. Eu não quero que ele veja isso. Não quero que
ele veja nada disso. Se isso significa que tenho que dizer algumas palavras feias
para ele, então direi.
Josie entra sorrateiramente um momento depois, gesticulando para trás. —
Ei, era o Vektal? Porque ele parecia super chateado. Talvez...
— Eu o mandei embora — digo, e então faço uma careta quando outra
contração passa por mim. — Disse algumas coisas não tão agradáveis. Maylak,
temos que fazer algo.
A curandeira torce as mãos. Torce suas malditas mãos. — Nunca entreguei
um kit ao contrário.
Tenho certeza que vou pirar agora. Meu bebê está preso dentro de mim
e ninguém sabe como tirá-lo.
— Oh meu Deus, está ao contrário? — grita Josie. — O que quer dizer ao
contrário? Como se a bunda estivesse saindo primeiro ou o quê? Porque eu tenho
certeza...
Claire agarra seu braço para silenciá-la. — Agora não, Josie.
O olhar de Josie vai de mim para Maylak. — Vocês vão consertar? Isso vai
ser nojento? Devo cobrir meus olhos?
— Não sei como consertar — Maylak me diz.
— Então vamos deixar isso acontecer? — ofego, e uma nota histérica sobe
em minha voz. — Porque tenho quase certeza de que não funciona para mim! Se
esse bebê sair ao contrário, isso é uma má notícia!
Os olhos de Josie se arregalam e ela galopa para fora da caverna.
— Deve ser bom poder fugir de problemas, — eu atiro, irritadiça. Afinal,
Josie não é a que está dando à luz.
Claire encolhe os ombros e se ajoelha ao pé da minha cama. — O que você
quer? Um pouco de chá? Um pouco de água? Algo para comer?
Eu mordo meu lábio e olho para a curandeira. Maylak continua colocando
as mãos na minha barriga, mas está claro que ela não tem certeza do que
fazer. Estou em pânico. Este bebê está vindo rápido, e está vindo errado. Eu luto
contra a vontade de irromper em lágrimas de autopiedade. Pela primeira vez em
muito, muito tempo, gostaria de estar de volta a terra. A Terra tem hospitais,
unidades neonatais e pessoas que sabem o que fazer se o seu bebê tiver
problemas.
— Vou pegar um pouco de chá para você — Claire diz, e arranca uma folha
verde da cama.
Por algum motivo, isso me parece engraçado e começo a rir. Talvez eu
esteja um pouco histérica. Ok, muito. E é bom rir, e eu rio durante toda a minha
próxima contração. Ainda estou rindo quando Josie retorna um momento depois,
sem fôlego por causa da corrida, e ela tem Tiffany a reboque. — O que foi
agora? — Eu rosno para elas. — Estamos desfilando todo mundo para que possam
vir me ver tentar dar à luz? Sério, Josie?
— Tiffany é de uma fazenda — Josie desabafa. — É por isso que a peguei.
— Uma fazenda? — Não estou seguindo a linha de pensamento dela. —
O que...
Tiffany afasta as plantas espalhadas e se ajoelha no final da minha cama. Ela
coloca as mãos nas coxas e me dá um sorriso tenso. — Então, tipo, eu só fiz isso
com gado. Mas provavelmente é o mesmo, certo?
— O que é igual? — Eu não gosto do jeito que isso está indo.
— Virar o bebê — diz Tiffany.
O alívio dispara por mim. Esperança. Ainda estou em pânico, mas pelo
menos alguém tem uma solução. Existe uma maneira de consertar isso. Claro que
existe. — Você já fez isso antes?
— Com gado — diz ela, e me oferece um sorriso. Ela olha para Josie. —
Pegue água quente e sabão para eu limpar minhas mãos?
Josie sai correndo de novo e sinto muito por ter gritado com ela. Vou me
desculpar mais tarde, tanto para ela quanto para Vektal, quando não tiver que
dividir minhas entranhas em duas. A próxima contração rasga meu corpo e eu grito
de novo. Muitas desculpas quando eu terminar. Grande quantidade. — Apenas
me diga como vamos acabar com isso, — eu solto.
— Bem, você não vai gostar — diz Tiffany. — Mas não sei se temos opções
melhores.
— Apenas me diga. — Eu aguento.
— Vou enfiar a mão na sua vagina — ela deixa escapar. — E virar o bebê
manualmente.
Eu pisco
— Isso é linguagem humana — Maylak diz. — Eu não peguei. O que é vagi-
na?
— Você verá — digo severamente e reprimo um estremecimento. Oh Deus,
eu realmente devo estar sem opções, porque isso é tudo que eu tenho. — Vai
doer? — Eu pergunto a Tiffany.
— Eu não sei. Nunca perguntei às vacas. — Seu sorriso é de desculpas.
Posso sentir outra contração acumulando-se em meu abdômen e, de
repente, estou tão feliz por ter mandado Vektal embora. Não acho que gostaria
que ele observasse enquanto outra mulher vasculha dentro de mim com a
mão. Caramba. Eu também não acho que quero assistir. — Vamos acabar com
isso — digo, e agarro o braço de Maylak para me apoiar.

Sim, estou certo. Não é divertido e não é bom. Na verdade, é horrível. Mas
pouco tempo depois, o bebê se virou e tudo mais ou menos voa depois
disso. Antes que eu perceba, o parto está feito e eu tenho um bebê em meus
braços. É um bebê grande, berrando e saudável, exatamente do mesmo tom de
azul-claro de Vektal, com chifres, rabo e cachos de cabelo castanho que são a única
coisa que minha filha parece ter herdado de mim.
Minha Talie é linda. Tão bonita.
Estou exausta e em carne viva, física e mentalmente. Fisicamente é algo de
que Maylak pode cuidar, então fico deitada em silêncio e cuido de Talie enquanto
ela incentiva meu khui a tricotar a carne dilacerada e curar meu corpo
cansado. Talie se amamenta como uma campeã, e eu seguro o kit contra o meu
peito, sentindo-a chupar, e fico simplesmente... sobrecarregada. Tão
completamente sobrecarregada.
Claire partiu há pouco tempo com a placenta embrulhada em pele para que
Vektal se desfizesse, e as outras saíram do ciclo. Josie, sempre ocupada, trouxe
mais peles limpas, alguns salgadinhos e chá que esfriou há muito tempo.
Tiffany saiu no momento em que Talie saiu, querendo me dar algum tempo
a sós (suspeito que para lavar as mãos de novo, não que eu a culpe). Logo somos
só eu e Maylak.
E Talie. Doce, doce Talie. Eu continuo tocando sua bochecha redonda de
bebê. Seu rostinho está escuro e corado, e seus olhos estão bem fechados. Ela é
perfeita, no entanto, até sua minúscula cauda. Sua pequena mão agarra meu dedo
enquanto ela mama, e noto que ela tem quatro dedos. Eu conto os dedos dos pés
e ela tem três dedos. Huh. Isso apenas a torna mais perfeita aos meus olhos.
Sou tendenciosa, mas ela é o bebê mais bonito, mais saudável e mais doce
que já nasceu. Mal posso esperar para mostrá-la ao meu companheiro.
Claro, meu companheiro acha que eu o odeio agora. A culpa corre através
de mim. Odeio ter machucado ele. Odeio que Georgie grávida e em pânico se
transforme em uma maluca. Ele merece coisa melhor do que eu.
Maylak se levanta pouco tempo depois. Seu rosto está contraído e ela está
claramente exausta. — Voltarei pela manhã e induzirei seu khui a mais cura.
Manhã? É noite? É impossível dizer nas profundezas da caverna. Tudo que
sei é que estou cansada, mas totalmente feliz. — Obrigada, Maylak.
Ela sorri para mim, toca meu braço e sai da caverna.
Estou sozinha... com Talie. Meu bebê está aqui, e ela é mais do que jamais
sonhei. Continuo segurando-a e, contando os dedinhos das mãos e dos pés e
escolhendo todas as maneiras como ela é como eu (meu nariz, meu cabelo, meus
dedos) e como ela é como Vektal (todo o resto). Ela está dormindo pacificamente,
aninhada contra meu seio nu, e quero que ela fique bem ali para sempre, aninhada
contra mim.
Alguém entra na caverna, quebrando nosso pequeno casulo de
felicidade. Eu olho para cima e é Vektal.
Meu companheiro. Meu amor.
E eu tenho sido uma idiota com ele.
Lágrimas quentes imediatamente começam a escorrer pelo meu rosto. —
Ela está aqui, — digo a ele, entre choros. — Ela está aqui e ela é perfeita e eu sou
uma idiota. — Ele se move para a borda das peles, onde estou embrulhada com
Talie. Há uma expressão de admiração em seu rosto enquanto ele olha para nós. O
bebê borbulha, cospe um pouco de leite materno e depois volta a dormir. Limpo
seu rosto minúsculo com um pouco de couro e, em seguida, envolvo-a
novamente. Vektal a observa e então seu olhar encontra o meu.
— Posso segurá-la?
Oh. Uau, eu realmente sou uma idiota. Eu nem ofereci, e ela também é
dele. Eu seguro o bebê para ele, embora cada parte de mim grite que eu quero
mantê-la em meus braços, como uma criança gananciosa com um brinquedo. —
Apóie a cabeça dela — digo enquanto ele a pega nos braços. Não sei por que
estou sendo tão paranóica — a maneira como ele a abraça é perfeita. Ele embala o
corpo minúsculo de Talie em suas mãos grandes e olha para ela com
uma expressão semelhante à de reverência.
— Ela é linda — ele sussurra. Ele a puxa para mais perto de seu peito,
segurando-a contra ele como se ela fosse a coisa mais preciosa do
planeta. Caramba, ela é. O olhar que ele me dá é suave com admiração e
adoração. — Você fez bem, minha companheira.
Eu começo a chorar de novo, porque ele está sendo tão legal e eu fui tão
horrível com ele antes. — Não quis dizer o que disse — digo a ele entre soluços. —
Eu amo estar aqui com você. Você é a melhor coisa que já me aconteceu. Você e
nosso bebê. Nunca me arrependi de um momento de aterrissar aqui. Eu...
O bebê se mexe e Vektal a sacode um pouco para consolá-la, silenciando e
cantarolando ao mesmo tempo. Um momento depois, o bebê se acalma
novamente. Ele sorri para mim e a devolve. Eu a pego, surpresa por ele estar
devolvendo-a tão rapidamente, especialmente quando ele é claramente bom com
bebês.
Ele rasteja para as peles ao meu lado e envolve um braço em volta dos
meus ombros, me abraçando contra ele. — Você está preocupada com o que me
disse antes?
Eu fungo, porque as lágrimas ameaçam voltar. — Eu não quis dizer
aquilo. Nada daquilo. Havia coisas estranhas acontecendo com o nascimento e eu
não queria que você me visse com dor, então eu apenas disse o que podia para
tirá-lo da sala.
— Por que você não me queria lá? — Sua grande mão aperta meu
ombro. — Eu sou seu companheiro. Devo estar ao seu lado o tempo todo,
especialmente quando você estiver sofrendo.
Engulo minhas palavras. A verdade é que eu não sabia se sobreviveria até o
dia seguinte, se eles não pudessem tirar meu bebê. Eu queria que Vektal se
lembrasse de mim feliz e saudável, sem gritar de dor e com a mão de Tiffany
empurrando minhas partes femininas. Depois de muito tempo, digo: —
Simplesmente não foi meu melhor momento. Por favor, não pense que odeio
você ou este lugar. Eu amo Você. Mesmo se eu pudesse ir para casa, ficaria aqui
com você. Eu não quis dizer nada daquilo.
— Claro que não, minha companheira. — Vektal limpa suavemente as
lágrimas do meu rosto. — Você estava estressada e nosso kit estava chegando. E
estava com dor. Você disse coisas que não quis dizer. Nunca pensei por um
momento que suas palavras eram verdadeiras.
Ele não está usando isso contra mim? Eu sou a mulher mais sortuda viva. —
Eu te amo tanto — digo a ele, o nó na minha garganta enorme. — Você é o meu
mundo.
Ele acaricia minha bochecha e eu sei que estou perdoada. Coloco minha
cabeça em seu ombro e ficamos calmos e quietos, observando nosso bebê
dormir. Ele acaricia minha bochecha distraidamente, e nenhum de nós fala por
muito tempo.
Talie franze o nariz e franze o rosto como se fosse chorar. Prendo minha
respiração e seus pequenos punhos voam no ar. Então, ela solta um peido alto e se
acalma novamente. Bebês. Mesmo quando fazem barulhos grosseiros, são
adoráveis.
Vektal a tira dos meus braços novamente e a abraça. — Ela é linda — ele
murmura. — Igualzinho à mãe dela. — Assim chorando de novo, ele levanta a
mãozinha dela e ela envolve quatro dedos pequeninos em volta do grande dedo
dele.
Eu derreto totalmente.
— Qual nome você deu a ela? — pergunta ele.
— Talie, — digo baixinho. — Para Vektal e Georgie. É a última parte de
nossos nomes. — O meu é Georgina, mas ninguém nunca me chama assim.
— Nunca pensei que seria uma menina — ele pondera enquanto segura a
mãozinha dela. — Mas agora que ela está aqui, não consigo imaginar mais nada.
Inclino-me contra ele, cansada, mas feliz. — Maravilhosa, não é?
— Ela é. — Ele beija minha cabeça. — Você também. — Quando eu
descanso contra ele novamente, ele suspira.
— O que? — pergunto, curiosa.
— Não estou convencido de que esse feriado humano valham a pena. —
Ele aponta para nossa pequena caverna, ainda cheia de folhas de seus esforços
anteriores. — Olha todo o trabalho que fiz, e nem um único beijo no meu pau da
minha companheira.
Meu bufo de escárnio se transforma em risos, e eu o soco na lateral. — Sua
companheira estava um pouco ocupada hoje.
— Ela estava mesmo. — Ele sorri, e eu percebo que ele estava brincando.
6
CLAIRE
Poucos dias depois do nascimento de Talie, Nora, Dagesh, Vektal, Georgie e
um grupo de vários caçadores partem para caçar o sa-kohtsk para os três
bebês. Eles ficarão fora por alguns dias, e nosso 'feriado' já se prolongou. Decidiu-
se que, enquanto eles estiverem fora, terminaremos a celebração com um
banquete e presentes, e Harlow trabalhará para usar seu cortador de pedra, desde
que os recém-nascidos não estão em casa.
Ficarei triste quando a celebração do feriado terminar por vários
motivos. Tem sido divertido e tenho gostado das partidas diárias de futebol entre
os grandes e desajeitados caçadores de sa-khui que parecem pensar que é um
esporte de contato total. Eles são lindos de assistir, porém, porque são totalmente
graciosos enquanto se movem. E tudo bem, eles também estão quase nus e são
musculosos. Não é exatamente uma tarefa árdua, e Tiffany, Josie e eu passamos
muito tempo do lado de fora comendo sementes de hraku cozidas e assistindo nos
bastidores.
Tem havido um espírito alegre nas cavernas recentemente, graças à
celebração do feriado. As pessoas estão rindo mais, brincando mais, e as pequenas
Esha e Sessah — as únicas crianças pequenas — têm recebido presentes diários
que fazem ambas gritarem de alegria. Farli é a mais velha, mas ganha presentes
dos pais e fica igualmente satisfeita (embora seja mais calada).
Hoje é o dia oficial de 'celebração e festa', e depois de amanhã, a tribo se
dividirá novamente e todos na caverna de Aehako começarão a jornada para
casa. Não estou ansiosa por isso. Minhas coisas ainda estão na caverna de Bek,
mas eu não poderia me importar menos com algumas peles e algumas cestas de
tecido. Posso voltar para a caverna de solteira com Tiffany e Josie. Quando
chegarmos em casa, não haverá nenhuma desculpa para eu evitar falar com Bek,
no entanto. Não haverá jogos de futebol para assistir, nem canções natalinas
cantadas, nem torradas feitas de latkes para incluir Nora. As coisas vão voltar ao
seu silêncio normal. Mesmo que Harlow consiga abrir várias cavernas, haverá
muitas rochas para remover e ninguém estará pronto para se mudar por alguns
meses.
Pior de tudo? Ereven mora na caverna de Vektal e eu não.
É estranho como só estamos aqui há cerca de uma semana e já estou com
medo de deixá-lo para trás. O fato é que adoro estar perto dele. Ereven é atencioso
e espirituoso. Ele faz comentários inteligentes que me dizem que há muita coisa
acontecendo por trás dessa expressão calma. Ele às vezes pula de jogar futebol e
fica perto de mim enquanto eu saio com Tiffany e Josie, e sua mão passa em volta
da minha perna, casualmente possessivo. Apenas aquele pequeno toque me
faz sentir toda corada e animada.
Ele não tentou me beijar novamente. Ou me acariciar. Ou nada. Encontro-
me orando por alguns momentos roubados em que possamos nos encontrar
sozinhos e eu possa jogar meus braços ao redor dele e ver se ele quer me beijar de
volta. Mas não sou tão corajosa, e nunca parecemos estar sozinhos. Alguém está
sempre por perto.
Como agora mesmo. Stacy, nossa cozinheira, encarregou-se dos latkes do
nosso banquete, embora Nora esteja com a caça ao sa-kohtsk. Ereven trouxe
alguns bicos de foice rechonchudos para agirem como nossos 'perus' e Megan e eu
temos trabalhado em depená-los e, em seguida, enchê-los com algumas das pilhas
intermináveis de ervas que apareceram nas cavernas nos últimos dias. Ereven
demorou alguns minutos, mas quando ficou óbvio que não teríamos um tempo a
sós, ele saiu para entrar na partida de futebol do dia.
Tento esconder minha decepção. É muito cedo para ter outro
relacionamento. Então me lembro que não é um relacionamento real e me sinto
ainda pior. Eu tenho uma queda por um cara que está apenas fingindo gostar de
mim. Eu sou um saco tão triste. Eu deveria estar feliz e independente, mas tudo
em que consigo pensar é em Ereven e em como ele é bom, e em como ele
fica bem quando sorri.
— Então você está dando algum presente? — Josie me pergunta enquanto
arranca um punhado de penas do pássaro gordo e morto em seu colo. Os bicos-
foice não são exatamente pássaros como pensamos neles na terra, mas eles estão
próximos o suficiente e têm penas, então eles são pássaros em minha
mente. Além disso, chamá-los de coisas/pássaro/lagarto/gato é difícil,
especialmente quando meu cérebro fica tentando determinar que parte do
quebra-cabeça genético é o quê. Apenas 'pássaro' parece mais fácil. E mais
saboroso.
— Eu?
Ela revira os olhos. — Não, o pássaro no seu colo. Ei, pássaro, você vai dar
algum presente hoje?
— Eu vou te dar uma surra com esse pássaro, — provoco-a. — E... talvez.
— Ooooh. Para Ereven? — Ela mexe as sobrancelhas para mim. — Já vi
vocês dois se aconchegando muito. E você o devora com os olhos toda vez que ele
aparece.
— Eu não! — O rubor quente em minhas bochechas diz o contrário, no
entanto. Sou tão óbvia sobre o fato de que estou loucamente atraída por
ele? Temos mantido nosso relacionamento falso em segredo (exceto quando Bek
está por perto), mas estou estranhamente satisfeita que outros tenham notado. A
verdade é que estou trabalhando em um presente para Ereven. Fiquei acordada
até tarde na noite passada para terminar. Sua capa está quente, mas gasta, e o
capuz está gasto e esfarrapado. Eu fiz um novo para ele com um forro de pele
grosso, recortes para seus chifres e um pouco de costura decorada ao redor da
borda. Não é muito, mas não tenho muito. Eu me sinto estranha em discutir isso
com Josie, então mudo de assunto de volta para ela. — Você ganhou algum
presente?
— Eu? Não. Tiff está ocupada reunindo todos os homens da tribo. — ela
sorri. — Acho que, na última contagem, a lista de pretendentes dela é de até
quatro. Talvez cinco.
— Coitadinha, — eu falo arrastada.
Josie ri. — Certo? Você pensaria que a maneira como ela está agindo é a
pior coisa do mundo. Ela está se escondendo com Maylak agora, saindo para
colher ervas. Como se não tivéssemos ervas suficientes? — ela aponta para a tigela
transbordando ao seu lado. Ela está certa, temos mais do que o suficiente. — É só
para ela sair e se esconder por algumas horas.
— E quanto a Haeden? — pergunto. Lembro-me dele derrubando Rokan na
partida de futebol.
— Me dando um presente? Garota, por favor. — Josie bufa e
violentamente arranca outro punhado de penas de seu pássaro. — O único
presente que posso ver aquele homem me dando é um saco de cocô em
chamas. Você sabe que nos odiamos, certo?
— Mmmhmm. — Eles parecem bastante vocais sobre isso. Ainda assim,
acho que há algo aí. Eles professam se odiar, mas parecem acabar ficando um
pouco na companhia do outro.
— Sério. Eu odeio o cara e ele me odeia. — Ela arranca outra pena. — Acho
que se acabássemos ressoando, seria o fim do mundo ou algo assim.
Não digo nada, porque conheço esse sentimento. É como me sinto quando
penso no que aconteceria se eu ressoasse com Bek. Tenho sorte de que, por
qualquer motivo, meu khui não tenha funcionado e me feito ressoar. Talvez seja
apenas mais exigente do que a maioria. Talvez eu não saiba que Bek é ruim para
mim.
Talvez essa coisa seja melhor em relacionamentos do que eu. Eu despeno
meu pássaro enquanto Josie tagarela sobre o quão irritante Haeden é. Eu a ouço
falar, murmurando um reconhecimento de vez em quando. Termino meu pássaro,
ajudo-a a terminar o dela, e então nós os esfregamos com gordura, os recheamos
com ervas e os cuspimos na fogueira para assar lentamente. Quando acabamos,
estamos confusas e nojentas.
— Ugh, preciso de sabonete — comenta Josie, enxugando as mãos na
túnica suja. — E estou fora. Deixe-me verificar o armazenamento de algumas
frutas.
— Vou esperar aqui — digo a ela, virando lentamente um dos espetos para
que os pássaros dourem uniformemente dos dois lados. Os sa-khui não ligam para
carne cozida, mas estão curiosos sobre nossas refeições nas festas de fim de
ano. Vai haver tanto bico de foice que todo mundo vai sentir o gosto. Perto dali,
Stacy está cozinhando latke de raiz após latke de raiz em sua frigideira improvisada
untada. Eles devem ser bons, porque de vez em quando, a pequena Esha entra e
pede um.
Não há sinal de Ereven nas cavernas, então ele deve estar lá fora jogando
mais futebol. Eu penso sobre ele, seu cabelo suado agarrado ao seu pescoço, e
sinto o mais estranho arrepio de desejo ondular através de mim. Uau. Não faço
sexo há meses — bom sexo há muito, muito mais tempo — e estou surpresa com
a força da minha necessidade. Bek estava bem no início, mas no momento em que
entrei em sua caverna, ele parou de tentar e o sexo ficou abrupto e
insatisfatório. As outras mulheres falam sem parar sobre seus companheiros e suas
esporas, mas talvez Bek seja deficiente nessa área, porque tudo o que ele sempre
fez foi me espetar em lugares desconfortáveis. Eu me pergunto sobre o esporão de
Ereven. Então me sinto um pouco perversa por pensar nisso.
Somos apenas amigos e ele está me fazendo um favor. Estou louca para me
torturar assim. Em dois dias, vou voltar para minha caverna e ele vai ficar
aqui. Quem sabe quando nos veremos de novo?
O cortador de Harlow dá a partida, um gemido agudo que logo fica cada vez
mais alto. Rukh sai da caverna com o bebê Rukhar aninhado contra o peito, as
orelhas do bebê cobertas por cachecóis de pele. O zumbido incessante do cortador
parece ficar cada vez mais alto, o som se tornando mais áspero à medida que corta
a rocha. Eu cerro os dentes e dou outra volta aos bicos da foice no espeto. Stacy
olha para mim e diz algo, mas não consigo ouvi-la. Eu toco minha orelha para
indicar isso, e ela revira os olhos e acena com a mão, dizendo para deixa pra lá.
Algo aparece com o canto do meu olho. Está tão alto na caverna que não
ouvi a pessoa se aproximar e pulo, assustada.
É um colar. Bonitos ossos foram branqueados, tingidos e esculpidos em
diferentes formas, depois amarrados em um cordão de couro. É lindo. A mão que
o segura?
Bek.
Meu estômago dá um nó infeliz. Eu olho para o colar e sinto muita
culpa. Claramente, ele demorou muito para fazê-lo. Ele me quer de volta. Isso é
óbvio. Mas me sinto muito melhor sem ele, que sei que não posso, não importa o
quão culpada me sinta com a idéia de machucá-lo. Preciso falar com ele e colocar
tudo em aberto. Ele não é um homem mau. Eu sei que ele não é. Ele é apenas
tenso e autoritário, e sou tão covarde que sou a última pessoa com quem ele
deveria estar.
Então toco seu braço e aponto para a entrada da caverna. Podemos
conversar do lado de fora, onde deveríamos ser capazes de ouvir nossos
pensamentos.
Ele me oferece o colar mais uma vez.
Novamente, eu ignoro isso. Em vez disso, fico de pé, limpo minhas mãos em
uma toalha de couro fina e, em seguida, saio. Eu olho para trás para ver se ele está
me seguindo, e ele está, mas há uma carranca feroz em seu rosto que não indica
nada de bom.
Sim, acho que ele não quer ouvir uma conversa de término. Eu me preparo
mentalmente. Que pena, porque ele vai ter uma. Saio ao lado dele. Em instantes,
estamos na neve esmagadora e, como sempre, o ar fresco me deixa sem
fôlego. Mesmo com o nascer do sol gêmeo, ainda está muito frio no planeta de
gelo. Sempre. Perto dali, há um jogo de futebol acontecendo e Farli se atira no
velho Vadren, tentando distraí-lo de chutar o próximo gol. Ereven está no campo
com os outros, rindo. A maioria dos caçadores em boa forma está caçando sa-
kohtsk, e o campo é habitado por idosos e algumas mulheres tribais. Há alguns
poucos homens que ficaram para trás — Bek, obviamente, e Ereven, embora estou
intrigada sobre por que ele ficou. Talvez esteja mais interessado no espírito
natalino do que eu imaginava e queria comemorar mais do que caçar.
Seguimos ao longo da parede do penhasco, protegendo-nos do vento, até
estarmos a uma boa distância dos jogadores de futebol e da entrada da
caverna. Aqui, o cortador de Harlow é apenas um zumbido irritante, não um
guincho ensurdecedor. Em uma crista distante, vejo Rukh caminhando, seu filho
aninhado contra o peito, mantendo-o longe do barulho também. Não estou
vestida para o frio, visto apenas uma túnica larga de couro e leggings, mas espero
que não demore muito. E se isso acontecer, tenho uma boa desculpa para entrar.
Cruzo os braços sobre o peito e olho para Bek. — Precisamos conversar.
Ele estende o colar para mim. — Trabalhei muitas horas nisso.
— E é muito bonito. Você é realmente talentoso. — Eu suavizo minha voz
para esconder meu aborrecimento, e empurro de volta para ele. — Mas não posso
tirar isso de você. Eu não quero mais ficar com você. Por favor, entenda. Não estou
tentando te machucar. Eu só... não quero as mesmas coisas que você deseja no
relacionamento.
Bek faz uma careta. Ele joga o colar na neve. — Você é minha companheira.
— Eu não sou, — me intrometo. — Nós nunca ressoamos. Eu duvido que
algum dia iremos. Não há nada que nos una, exceto vivências e sentimentos
compartilhados, e agora não há nenhum.
— Você está sendo impossível — rosna ele, aproximando-se mais. — Esse é
mais um de seus rituais humanos que não estou entendendo? Você está dizendo
isso para me irritar?
Me recuso a recuar. Ele pode rosnar e perseguir o quanto quiser, mas não
vou voltar para ele. — Estou tentando ser legal sobre isso, Bek. Ainda fazemos
parte da mesma tribo e isso não muda. Só não quero ser mais seu aquecedor de
peles, ok? Vamos ser honestos um com o outro. Você também não me quer. Você
me acha irritante. Você acha que eu sou uma inútil. Você odeia quando eu
choro. Há uma longa lista de coisas que faço que te incomodam. Acho que você
simplesmente não quer me perder porque ter um companheiro é uma espécie de
orgulho. Mas realmente não somos bons um para o outro, eu prometo a você. —
Puxa, estou falando tanto que estou parecendo a Josie. — Não podemos
simplesmente concordar em nos separar como amigos e não tornar isso difícil?
— Eu não sou seu amigo — Bek zomba. — Eu sou seu companheiro e você
é minha. — Ele se inclina mais perto, e está praticamente me prendendo contra a
parede de pedra. Meu coração começa a martelar, a ansiedade
percorrendo meu corpo. Bek se inclina.
E então é empurrado violentamente para o lado.
Ereven está lá, parado perto de Bek, que caiu na neve. Seu rosto
normalmente calmo está cheio de fúria, e seus lábios estão puxados para trás
em um rosnado, revelando presas afiadas.
— Ela disse não, Bek. Deixe-a sozinha.
Bek lentamente se levanta do chão, olhando feio para Ereven como se ele
fosse o problema e não eu. — Vejo que ela já mudou para as peles de outro. Você
acha que ela não vai se cansar de você como fez comigo, Ereven?
Eu rio. Os dois homens se viram para olhar para mim, mas não consigo
evitar. A idéia me parece completamente ridícula. Mesmo não sendo próxima de
Ereven há muito tempo, vi seu bom coração. Eu sei que ele nunca tentaria me
esmagar como Bek fez. Com Bek, todos os sinais estavam lá, mas eu os ignorei
deliberadamente, acreditando que precisava de segurança mais do que amor.
Agora que estou segura, quero mais. Bek franze a testa com a minha
risada. Tento pará-la, mas meu coração está disparado como se eu tivesse acabado
de correr quilômetros. Tenho certeza de que meus pés não se moveram um
centímetro, no entanto. Só batidas e mais batidas, e eu coloco a mão no meu
peito, desejando me acalmar. Bek tem a imagem agora. Posso ver em seu
rosto. Ereven deixou claro que não vai me deixar ser confundida, e Bek só gosta de
intimidar aqueles que não se defendem.
Enquanto meu ex-companheiro se levanta da neve e se afasta, Ereven se
vira para mim. Ele segura meu rosto com as mãos e me examina como se eu fosse
algo precioso que ele teme ter danificado. — Você está bem, Claire?
Eu concordo.
Ele se inclina e roça seus lábios nos meus, um ato que me assusta. O sa-khui
deve ser ensinado o que é beijar. Estou surpresa que ele saiba me beijar.
Na verdade, estou surpresa que ele esteja me beijando também.
— Não volte atrás — diz Ereven, e parece tão sem fôlego quanto eu. —
Quando os outros forem embora, fique comigo, na minha caverna.
Meus olhos se arregalam. — Achei que você estava apenas fingindo. —
Agora meu coração começa a martelar tudo de novo. Está pulsando tão alto que
juro que todo mundo vai ouvir por cima do cortador de pedra de Harlow.
— Fingindo?
— Fingindo gostar de mim. Para me cortejar.
Suas sobrancelhas se juntam e ele parece chateado. — Você acha que
estávamos fingindo, Claire? Eu perguntei se eu poderia cortejá-la. E você disse que
sim.
Oh. Eu sou tão estúpida. Ele perguntou. Eu apenas presumi... bem, que ele
estava fazendo isso para ser legal. Não porque ele gostasse de mim. Quando ele se
afasta, pego suas mãos. — Espere. Não, estou feliz. — Ele faz uma pausa e eu
continuo. — Eu pensei, sabe, que estava gostando de você e você só estava
sendo... legal.
— Legal? — Ele solta uma das minhas mãos e fecha o punho sobre o
coração. — Legal? Ao ver você, meu coração dispara como se uma dúzia de dvisti
corresse dentro do meu peito.
Engraçado, estou batendo da mesma maneira. E me sinto corada e
animada. Meio... que muito animada. Um formigamento. E em um palpite, coloco
a mão em seu peito, cobrindo seu coração.
Ao mesmo tempo, nós dois começamos a ronronar.

7
CLAIRE
Eu ofego. Parece inacreditável. O momento não poderia ser mais perfeito,
mas aí está. Estamos ressoando, Ereven e eu. Devemos ser amigos. Meu khui
escolheu o dele. Minha boca fica aberta de surpresa, e estou ressoando tão alto
que posso ouvir o ronronar vindo da minha garganta. É tão... estranho. Estranho e,
no entanto, perfeito.
A mão de Ereven passa sobre a minha e ele a aperta contra o peito. Sua
boca se curva em um sorriso, e se alarga, cada vez mais, até que ele está sorrindo
de orelha a orelha. — Parece que nossos khuis decidiram que estamos demorando
muito para nos reunirmos.
Eu rio, as risadas me ultrapassando. — Acho que sim. — Oh, estou tão
feliz. Eu me sinto... completa. E não é apenas a ressonância, é Ereven. É saber que
estamos ligados, que fomos feitos um para o outro. Parece tão certo. — Eu não
posso acreditar.
— Eu posso — diz ele, totalmente sério. Ele estende a mão e acaricia minha
bochecha. — Sinto-me atraído por você desde que te conheci. Desde que você
veio para este lugar.
Desde então... mas já faz mais de um ano. Mais do que isso, mesmo. Meu
queixo cai novamente. — Mas por que você nunca disse nada?
— Você foi imediatamente para Bek. — Ele dá de ombros. — Eu queria que
você fosse feliz mais do que qualquer coisa, e você parecia feliz com ele.
Balanço minha cabeça e coloco minhas mãos sobre ele. Não consigo parar
de colocar minhas mãos nele, na verdade, e adoro a sensação de sua pele
ligeiramente suada sob meus dedos. — Fui com ele porque fiquei com medo e ele
pareceu interessado. Eu nunca te vi. — Por alguma razão, isso me faz
chorar. Lágrimas quentes correm e começo a chorar. — Meu Deus, isso parece
horrível, mas é verdade. Eu nunca vi você, Ereven. Nunca prestei atenção. E eu
passei um ano com ele.
— Hush, — diz ele, afastando com ternura as minhas lágrimas. —
Aconteceu como aconteceu, e não me arrependo, porque você é minha agora, e
ninguém pode interferir.
Não tenho tanta certeza disso. — Bek.
— Mesmo a teimosia de Bek não é párea para a ressonância. Ele perdeu
você. — Ereven se inclina e me puxa contra ele, e seu nariz roça o meu. — Você é
minha e eu sou seu.
Oh, eu gosto do som disso. Impulsivamente, inclino meu rosto para o dele e
pressiono minha boca contra a dele. Ele beija com a boca fechada, o que me diz
que ele nunca realmente beijou antes. Há muitas coisas que posso mostrar a este
homem. Minhas mãos se enroscam em seu cabelo emaranhado enquanto seus
braços vão em volta da minha cintura, e induzo seus lábios a se abrirem com
pequenas mordidelas e movimentos da minha língua.
Quando delicadamente acaricio dentro de sua boca, ele enrijece e se afasta,
claramente surpreso.
— Você não gostou disso? — pergunto, hesitante.
Suas bochechas parecem corar em um tom mais escuro de azul. Ele está
corando? — Gostei demais. Eu simplesmente não sabia... — sua voz some. —
Podemos fazer de novo? — ele desabafa após um momento de reflexão. — Com
as línguas?
— Podemos fazer isso com as línguas quantas vezes você quiser. — E eu
mostro a ele o quanto. Não me considero a melhor beijadora do mundo, mas com
Ereven? Não importa. Ele adora cada carícia da minha boca contra a sua, cada
toque da minha língua. Mesmo quando nossos dentes se chocam, ainda é sexy. Ele
responde com entusiasmo e logo imita meus beijos com sua boca e língua, e então
me perco nele, gemendo enquanto sua boca conquista a minha de uma forma que
me deixa totalmente sem fôlego e cheia de necessidade. Nossos peitos,
pressionados juntos, praticamente vibram com a força de nosso khuis zumbido.
Meu khui não é a única coisa que zumbe. Meu corpo está pulsando e vivo
com o toque de Ereven. Sinto como se estivesse acordanda pela primeira vez —
estar com Bek não era nada assim. Nem mesmo perto. É como comparar Kool-Aid
com vinho. Um é rico, aveludado e delicioso, e o outro é apenas... vermelho. Meus
mamilos doem sob minha roupa, e há um formigamento entre minhas coxas que
parece que vai demorar muito. Eu quero esse homem, chifres, pele azul, dentes
afiados e tudo. Continuamos a nos beijar, devotando-nos com os lábios.
Como se pudesse ler meus pensamentos, Ereven me ergue em seus braços,
levantando meus pés do chão. Nossas bocas ainda estão travadas. Ele começa a
subir o cume e eu puxo minha boca de seus beijos quentes, surpresa. — Para onde
vamos?
— Nós vamos acasalar — ele me diz, e morde meu lábio inferior.
Isso envia um arrepio pelo meu corpo e eu tenho que morder de volta meu
gemido. — onde?
— Algum lugar privado. Não vou voltar para aquela caverna, não enquanto
ela estiver repleta de pessoas.
Ele tem razão. Mas estou com frio e não me vesti exatamente para os
elementos. — Algum lugar quente?
O olhar em seus olhos é abrasador. — Vou mantê-la aquecida.
Eu tremo de necessidade. E aposto que ele vai.
A ressonância ressoa através de nós e cada passo parece levar um milhão
de anos para ser concluído.
Eu não consigo parar de beijá-lo; minha boca se move contra sua
mandíbula, sua bochecha, seu pescoço, sua orelha. Eu nunca quero parar de beijá-
lo. Então fico muito feliz quando percebo que ele é meu agora, e nunca terei que
parar de beijá-lo. Nunca.
Olho para cima com a língua na orelha de Ereven quando percebo que
paramos de nos mover. Estamos em um pequeno bosque de árvores rosadas e
frágeis, com as paredes altas dos penhascos que nos cercam. O vento é menos
aqui, mas ainda há neve e ar livre. É aqui que vamos parar? Abro a boca para
perguntar e, ao fazê-lo, Ereven me puxa contra ele e enterra o rosto em meus
seios.
E eu gemo, esquecendo tudo sobre minhas reservas. Eu não me importo
onde faremos sexo, contanto que seja logo.
Ereven me coloca suavemente no chão e sua mão vai para os laços nas
laterais da minha túnica que se ajustam ao meu corpo. Enquanto ele as puxa,
arranco os laços de suas leggings. Estou desesperada para tocá-lo. No momento
em que liberto seu pau, eu gemo de novo, porque Deus, ele tem um bom
equipamento. Não sou uma virgem tímida — também não era na Terra — e adoro
a aparência de um pau lindo. A perfeição dele é própria, ligeiramente curvada para
cima para me atingir em todos os lugares certos. A cabeça é grossa, e quando
acaricio seu eixo com a mão, noto que ele é bom e grosso, uma veia traçando ao
longo da pele. Seu esporão é mais longo do que qualquer outro que eu já vi, e sinto
um arrepio de excitação ao vê-lo. Agora isso? Isso tem potencial.
Como todos os homens sa-khui, seu pau tem nervuras (para o meu prazer!).
E estriado. Minha boca enche de água ao vê-lo. Eu quero colocar minha língua em
cima dele, mas há tempo suficiente para isso mais tarde. Por enquanto,
precisamos satisfazer nosso khuis — e nossos próprios anseios.
Sua respiração sibila quando o toco, e sua boca captura a minha
novamente. Minha língua desliza ao longo da dele e combino meus golpes em seu
pau com os movimentos da minha boca.
— Suas mãos — ele murmura em minha boca. — Nunca pensei que
pudesse imaginar tanto prazer. — Ele se enfia na minha legging e encontra o calor
úmido do meu sexo, e desliza os dedos dentro de mim.
Me agarro a ele, desesperada por mais. — Por favor, Ereven. — Meu khui
está latejando tão forte no meu peito que sinto como se estivesse prestes a se
partir. — Preciso de você.
— Tire a roupa — ele me diz.
Eu o solto e faço o que ele pede, rasgando os laços e tirando o couro o mais
rápido que posso. Eu preciso dele. Eu quero ele. Vou morrer se não sentir sua pele
quente contra a minha no próximo momento. Quando termino de me despir, ele
também está nu. Pressiono meu corpo contra o dele, não me importando se ele
pensa que meus seios são pequenos ou meus quadris muito largos. De alguma
forma, suspeito que ele vai pensar que estou bem. Eu sei que não consigo
encontrar qualquer falha em seu corpo longo e magro e os músculos tensos sob
sua pele azul. Eu me coço para colocar minhas mãos sobre ele, imaginando como
sua pele macia e aveludada vai se sentir contra a minha.
Então ele me puxa contra ele e arrasta uma das minhas pernas pela sua
coxa, segurando-a contra seu quadril. Isso me obriga a mudar meu equilíbrio, até
que estou pressionada contra seu pau, e minha pele está aberta e pronta para ele.
Ele agarra um punhado do meu cabelo com a outra mão e inclina minha
cabeça para trás. — Minha linda companheira — ele murmura, e lambe a minha
garganta suavemente.
Oh Deus, eu vou derreter contra ele. Me agarro a ele, envolvendo meus
braços em volta do seu pescoço. Meus seios empurram contra seu peito, e a
camurça macia de sua pele contrasta com o revestimento áspero e grosso que
protege seus braços e o centro de seu peito.
— Quero você dentro de mim, — eu ofego. Estou desesperada e ávida por
ele e absolutamente não me importo. Preciso dele como preciso de ar e, se não
ficar cheia dele no próximo momento, posso começar a gritar. Tenho certeza de
que parte disso é meu khui. Não tenho certeza se devo agradecer ou cerrar os
dentes de frustração.
Ereven solta meu cabelo e sua outra mão vai para o meu quadril. Ele me
agarra, e antes que eu possa exigir que ele me jogue no chão e me foda , ele me
levanta e então afunda minha boceta em seu pau.
Todo o ar escapa dos meus pulmões. Só assim, estou espetada
profundamente nele. Meu corpo inteiro estremece em resposta, e meus braços se
apertam em volta do seu pescoço. Ele é tão maior do que eu e tão forte que não é
nada para ele me levantar e me abraçar assim, me foder em pé.
E, oh Deus, simplesmente ser assim é incrível. Mil sensações estão
explodindo dentro do meu corpo, e me agarro a ele, oprimida. O encorajamento
do meu khui, e posso ouvir a respiração de Ereven raspando em meu ouvido. Ele
muda de posição, apenas um pouco, e todo o meu corpo se acende
novamente. Sua espora pressiona contra meu clitóris e eu quero me contorcer
contra ele. Na verdade, eu quero me contorcer contra ele todo, só porque vai ser
bom.
Em vez disso, travo meus pés atrás de suas costas, segurando-o com mais
força. — Por favor, — sussurro novamente. Minha mente vai explodir de puro
prazer se ele empurrar mais uma vez, mas eu preciso disso. Preciso.
Ele rosna meu nome e me levanta, então me empurra de volta para seu
pau.
Um grito sai da minha garganta. Sensações puras percorrem meu corpo e
nunca senti nada assim. Mesmo a menor contração de seu corpo contra o meu me
faz voar. Quando ele balança em mim novamente, é como se eu sentisse cada
cume se arrastando através de mim, e meus olhos quase rolam para trás em
minha cabeça de prazer.
Ereven empurra em mim repetidamente, e a cada vez é melhor do que a
anterior. Me agarro a ele com toda a minha força, meu corpo inteiro apertando
conforme a sensação aumenta. Vou gozar em breve, e vou gozar muito
forte. Posso sentir meu corpo inteiro ficar tenso em preparação para o orgasmo,
mas ainda estou chocada quando ele explode através de mim com a força de um
furacão. Eu o seguro por minha vida enquanto minha boceta aperta em torno de
seu pau, e quando ele bate em mim novamente, isso me envia para uma espiral
inteiramente nova. Eu grito quando o segundo orgasmo ainda mais violento me
rasga.
Ele rosna e então a próxima coisa que eu sei, estou de costas na neve com
minhas pernas para cima. Ele se inclina sobre mim, o pau ainda enterrado dentro
de mim, e reclama minha boca em um beijo sem fôlego. Eu mal tenho forças para
beijá-lo de volta antes que ele empurre em mim novamente. Sua espora esfrega
meu clitóris e, oh Deus, vou morrer de orgasmos, porque começo a prender em
torno dele de novo. Ele está perto de gozar, no entanto, e com seu próximo
impulso, Ereven empurra minhas pernas para cima até que meus joelhos estejam
praticamente nos meus ouvidos. Ele bate em mim, uma e outra vez, e então estou
gritando novamente quando gozo pela terceira vez, incapaz de me ajudar. Mal
ouço meu nome sibilando em sua respiração quando ele goza, mas sinto seu corpo
estremecer sobre o meu, e a onda quente do seu gozo dentro de mim.
Quando ele cai em cima de mim, me sinto totalmente atordoada. Como se
alguém tivesse me separado e deixado os pedaços na neve. Meu khui está
ronronando alegremente, como se meu corpo inteiro não tivesse sido apenas
dizimado pela luxúria cinco segundos atrás.
Esses foram, individualmente, os três melhores orgasmos que eu já tive na
minha vida. Ter todos os três juntos em uma sucessão rápida? Meu cérebro não
consegue processar isso. Tudo o que posso fazer é agarrar-me ao corpo quente de
Ereven e agradecer a todas as estrelas do céu por ter este homem.
Isso? Isso é ressonância. Qualquer outra coisa está apenas em segundo
plano.
Ereven se apoia nos cotovelos e olha para mim. Estou suada, meu traseiro
está frio graças à neve e provavelmente estou babando em mim mesma, meu
cérebro está tão exausto. — Minha linda companheira — ele murmura, e se inclina
para me beijar suavemente. — Este é o momento mais feliz de todos.
Meu também.
Retornamos às cavernas tribais várias horas depois, de mãos dadas. Minha
túnica está rasgada devido ao nosso entusiasmo, e Ereven tem que segurar a
cintura da calça para cima porque eu posso ter rasgado as cordas na minha
pressa. Não estou arrependida. Nós dois estamos sorrindo como loucos e me
sinto mais feliz do que nunca.
Cansada também, mas isso não importa.
— Quando Vektal voltar, — Ereven me diz, — Vamos deixá-lo saber que
precisamos de uma caverna só nossa.
— Talvez uma das novas que Harlow desenterrou — digo, me sentindo
tímida, mas animada com isso. Compartilhar uma caverna com Bek parecia estar
preso. Mas a idéia de passar meus dias e noites com Ere ven me enche de alegria e
esperança.
Enquanto entramos, posso ouvir alguém cantando uma canção de Natal a
plenos pulmões. É Ariana, par com Josie. O cheiro de comida cozida preenche o ar,
e todos estão reunidos em volta da árvore. As pessoas comem o banquete e vejo
presentes por toda parte, junto com mais ramos de folhas. Parece que perdemos
muitas das celebrações do feriado. Não posso dizer que estou terrivelmente triste
com isso, porque consegui algo muito melhor.
— Aí está você — Aehako diz, vindo por trás de nós e batendo a mão nas
costas de Ereven. — Eu estava prestes a enviar um grupo para procurar vocês
dois. Há uma criatura uivando como um gato da neve raivoso nas colinas. É melhor
ter cuidado. — Ele sorri para Ereven.
Alguém próximo dá uma gargalhada.
Meu rosto fica quente. Então, devo ter sido um pouco barulhenta. Parece
que fomos ouvidos. Não me importo. Estou feliz. Eu aperto a mão de Ereven. —
Devíamos provavelmente mudar de roupa.
Ele me puxa para perto e me beija. — Não demore muito.
— Não vou. — Eu quero uma chance de obter seu presente
também. Espero que ele goste.
Quando chego à caverna de Megan, Liz e Josie estão lá. Josie está vestindo
uma túnica nova, e a bainha é bordada com desenhos grossos e levantados nos
quais tenho visto Liz trabalhando nas últimas semanas. É muito gentil da parte dela
fazer um presente para Josie, quando é provável que ela não receba
nenhum. Tiffany recebeu uma chuva de presentes nos últimos dias, e nunca
pensei em como Josie poderia se sentir.
Liz me lança um olhar astuto quando entro e ela amarra as costas de
Josie. Josie está com o rosto voltado para a parede, o cabelo preso em uma das
mãos, e não me vê entrar. — Bem vinda de volta, Claire — Liz diz, em seguida,
enfia uma renda por um orifício na túnica. — Vejo que ganhou seu presente de
Natal. Fique parada, Josie.
— Que tipo de presente ela ganhou? — pergunta Josie, animada.
— Parece o tipo que continua dando.
— Huh? — diz Josie.
— Molho especial para ela para todos os hambúrgueres — diz Liz. —
Um pouco de creme coagulado para seu pau manchado. Cachorro quente para
seus pães. Preciso continuar com as metáforas de comida?
Josie ri. — Oh. Agora eu entendi.
Eu as ignoro enquanto me movo para minha mochila e tiro minha velha
túnica em troca de uma nova e leggings limpas. Ainda posso sentir o cheiro de
Ereven na minha pele, e isso me enche de alegria. Me troco rapidamente e pego o
pequeno pacote do capuz de Ereven, em seguida, sigo para a caverna principal
com ele.
Bek me para antes que eu possa andar alguns metros mais longe da caverna
de Megan.
Eu cruzo meus braços sobre meu peito protetoramente e dou a ele um
olhar cauteloso. Não quero que ele estrague minha felicidade.
Ele suspira e levanta a mão no ar. — Trégua, Claire.
— Trégua, — repito, relutante.
— Eu ouvi você ressoar. Vocês dois. Eu estava perto o suficiente para ouvir e
vi seus rostos. — Por um momento, ele parece amargamente triste, e então
rapidamente mascara novamente. — Estou feliz por você e desejo-lhe tudo de
bom. Só queria que soubesse que partirei pela manhã e farei as malas para
você. Pode pegá-las quando você e Ereven visitarem as cavernas novamente.
— Obrigada — digo baixinho. — Me desculpe se te machucou.
Seu sorriso é amargo, relutante. — Não posso estar machucado. A
ressonância não pode ser controlada, e isso explica por que você foi atraída tão
rapidamente por ele. Desejo-lhe muita felicidade. — Ele acena para mim uma vez,
e então desaparece nas sombras.
Sinto uma pontada de tristeza. É claro que ele está sozinho e infeliz, mas não
posso ser o que ele precisa. Eu agarro o presente de Ereven no meu peito. Eu
pertenço à outra pessoa agora, e ele pertence a mim.
Enquanto me dirijo para a parte central das cavernas, Ereven está lá,
esperando por mim. Seu sorriso é brilhante e ele segura um pequeno pacote
embrulhado contra o peito — um presente para mim. As canções de Natal
enchem o ar e as árvores frágeis estremecem, as guirlandas tilintam como mil. O ar
está fresco com a sugestão de mais neve por vir, e o cheiro de comida quente me
atrai para a frente. O murmúrio de vozes e risadas suaves enche a caverna, e nunca
me senti mais em casa ou mais em paz do que estou neste momento.
— Boas festas — digo ao meu novo companheiro enquanto coloco meu
presente em suas mãos.
— Há mais de um? — pergunta ele, surpreso.
Eu aceno, sorrindo. Na Terra, há muitos feriados. Aqui, há apenas um que
fizemos para nós mesmos, mas de alguma forma parece mais especial do que
todos os Dias dos Namorados ou Ações de Graças que tive no passado
juntos. Porque há amor e família e Ereven, e um novo futuro brilhante esperando
por mim. Feriado no planeta do gelo é o melhor.

The Ice Planet Barbarians Series

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