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SINOPSE

Grace é uma caçadora de monstros que entrou em seu acordo


demoníaco com os olhos bem abertos. Anos atrás, sua mãe fez a
mesma escolha e nunca mais foi vista, e as respostas que Grace
procura só podem ser encontradas no reino dos demônios.

Ela não se importa se foi leiloada para uma gárgula. Ela não planeja
ficar com ele mais do que o estritamente necessário.

Infelizmente, ela nao leu as letras pequenas de seu


contrato.

Toda vez que ela tenta escapar, ela é transportada de volta aos
cuidados de Bram. Ele nunca a machuca, nunca a pune, apenas
encontra sua fúria com um charme fácil que ela não sabe como lutar.

Ela não pretende ceder, parar de lutar. Mas no momento em que o


faz, ela começa a esquecer o que a trouxe a este lugar e quais são seus
objetivos. Depois de uma vida faminta de prazer, ela está disposta a
deixar Bram seduzi-la de novo e de novo...

Pelo menos ate que o passado venha chamando.


CAPITULO 1
Grace
— Me deixe sair, seu maldito monstro com chifres!
Eu bato meus punhos na porta, mas como todas as outras
vezes, não há resposta. Eu sabia que isso não seria fácil, mas não
tinha ideia de quão difícil o maldito demônio iria tornar isso. Eu
estava com a impressão de que havia uma crise de tempo, mas ele
me jogou neste lugar assim que me teletransportou para o reino dos
demônios, e eu não o vi - ou qualquer outra pessoa - nos três dias
desde então. Bem, houve um momento muito emocionante em que
um demônio com chifres no lugar dos olhos tatuou um sigilo na
minha pele que me permite entender todas as línguas faladas no
reino dos demônios. Ramanu era tagarela, mas enigmático o
suficiente para me fazer querer arrancar o cabelo. Lamentei vê-lo
partir, no entanto. Não importa o quão irritante eu achasse, estar
com essa companhia ainda era melhor do que estar sozinha.
Ninguém veio ao meu quarto desde então.
Eu me viro da porta com uma maldição. Minhas mãos doem,
mas é quase um alívio porque pelo menos é algo diferente. Eu já
explorei cada centímetro do quarto luxuoso e bem equipado. O
colchão é do tipo que convida você a dormir por oito horas e mais,
mas estou muito estressada para recuperar o atraso que tenho
perdido.
Espero que Mina esteja bem.
Tenho certeza que se o resto da minha família ainda estivesse
vivo, eles teriam alguns comentários sobre eu ser amiga de... seja lá o
que for Mina. Vampira, sim. Mas outra coisa também. Nunca vi
ninguém com uma aura como a dela.
É melhor Azazel ter cumprido sua parte no trato. Eu dei a ele
sete anos da minha vida, e ele salvou os três vampiros que o pai de
Mina capturou. Não conheço os outros dois, mas se Ryland estiver
vivo e bem, cuidará de Mina. Isso tem que ser o suficiente.
Para uma caçadora de monstros, ultimamente tenho salvado
mais dos chamados monstros do que matado.
Não adianta pensar nisso, no entanto. Não adianta pensar em
nada. Estou presa e, no entanto, estou exatamente onde quero estar.
Eu não esperava ser trancada em um quarto e deixada sozinha por
dias a fio, mas estou no reino dos demônios agora.
O mesmo lugar para onde minha mãe desapareceu, tantos anos
atrás. Até fiz um acordo com o mesmo demônio, embora esperasse
que fosse mais fácil bisbilhotar as respostas que procuro. Azazel
certamente não parecia interessado em oferecê-las quando perguntei
pela primeira vez.
O tempo passa, mas não consigo nem imaginar quanto. O sol
nasce e se põe do lado de fora da minha janela, e as pessoas se
movimentam durante o dia, mas certamente há mais horas em um
dia aqui do que em casa. Deve haver, porque o tempo se estende
como caramelo enquanto estou presa aqui. Minhas refeições
parecem aparecer em intervalos regulares, mas a comida, embora
deliciosa, é difícil de identificar. Talvez os demônios não
classifiquem suas refeições em café da manhã, almoço e jantar da
mesma forma que muitos humanos fazem. Impossível dizer.
Estou mais perto das respostas do que nunca, mas encontrá-las
parece uma tarefa impossível.
Não consigo arrombar a fechadura. Desisti de tentar depois da
décima vez que consegui destrancá-la e trancá-la novamente antes
que eu pudesse girar a maçaneta. Há alguma magia em jogo, mas
este lugar é o equivalente a um castelo encantado, então é claro que
existe.
Estou sentada na cama, rasgando um dos muitos vestidos que
encontrei no guarda-roupa, quando a porta se abre e o próprio
demônio aparece.
Azazel é um grande filho da puta. Ele deve ter bem mais de
dois metros de altura quando se considera seus chifres, grandes
coisas pretas curvas que lembram um touro. Seus ombros
preenchem a porta e, apesar de tudo, um pequeno arrepio de medo
passa por mim. Em algum lugar, algum estudioso da Bíblia deve ter
tido uma interação com um demônio negociador como Azazel
quando começaram a criar sua representação do diabo. Sua pele
carmesim é de outro mundo e, embora seu rosto não seja exatamente
desinteressante para os padrões humanos, decididamente não é
humano.
Ele cruza os braços sobre o peito enorme e olha para a bagunça
que fiz.
— Se você está pensando em amarrá-los e dimensionar uma
janela, vou dissuadi-la da ideia. Além de estarmos muito longe do
solo para você descer com segurança, há criaturas aladas carnívoras
que caçam nos céus por aqui.
Verdade seja dita, na verdade não tenho um plano para o
vestido. Isso apenas ajuda a se manter em movimento. Não que eu
esteja prestes a dizer isso a ele.
— Considerando que o acordo que assinei diz que não posso
me machucar, estou surpresa que você deixe essas criaturas se
reunirem em seu precioso castelo.
— Pelo contrário, acho a presença delas incrivelmente útil. Elas
impedem que as gárgulas, os íncubos e as súcubos tenham ideias.
Meu pessoal geralmente não voa e, portanto, os céus são um ponto
fraco em potencial.
Eu procuro uma mentira em sua aura, mas é apenas o amarelo
profundo da diversão mesclado com o verde profundo da floresta
do orgulho que sempre parece estar lá. Ele está rindo de mim.
Bastardo. Eu me forço a não deixar cair o tecido. Em vez disso, rasgo
outra tira.
— Se eu soubesse que estava concordando com sete anos tão
chatos, teria insistido em incluir algumas cláusulas adicionais no
contrato.
Não adianta pensar no contrato agora. Na verdade, promete
minha segurança e que não serei forçada a fazer nada que possa me
prejudicar. Ele também tem uma cláusula que explica exatamente o
que aconteceria com qualquer criança que eu tenha aqui no reino
demoníaco. Isso com certeza não vai acontecer, no entanto.
Azazel entra completamente no quarto e a porta se fecha atrás
dele como se soprada por um vento forte. Eu pulo. Ele não. Ele
apenas me dá um longo olhar.
— Esta noite, haverá um leilão. Os líderes dos outros quatro
territórios virão para cá, e cada um deles escolherá uma de minhas
humanas para ser sua companheira pelos próximos sete anos.
Haverá um contrato secundário em vigor que reforça tudo o que
você já concordou.
Eu o encaro por várias batidas.
— Por que você está me contando isso?
— Porque você é Grace Jaeger. Sei o que sua família faz e sei do
que você é capaz. Então, vou ser explícito com você, aqui e agora. Se
você matar, mutilar ou prejudicar um único ser no reino demoníaco,
seu contrato será nulo e sem efeito. Se isso acontecer, vou colocá-la
no telhado do meu castelo e permitir que os caçadores no céu a
comam à vontade.
Meu arrepio de medo se torna um tremor total.
— Você normalmente ameaça os humanos com quem faz
barganhas?
— Não. — Sua expressão não revela nada. — Apenas aqueles
que vêm de uma família cuja reputação alerta para as atrocidades
que cometeram contra os não-humanos.
O comentário dói mais porque ele não está errado. Eu só posso
ir atrás de monstros que já machucaram um humano, mas meus
avós? Meus bisavós? Meus tataravós? Adicione quantos “grandes”
quiser - quanto mais para trás na história, menos os Jaegers se
importavam com o que realmente fazia um monstro. Para eles, era
menos ação e mais linhagem. Eu leio os diários. Eu sei exatamente o
quão fodido foi.
— Eu não faria isso.
— Tudo o mesmo. Quero que não haja mal-entendidos entre
nós. Há muito para os próximos sete anos, e não quero que ninguém
coloque meu povo em perigo.
Engulo minha resposta instintiva. Ele não está tecnicamente
sendo injusto, não importa o quão frustrante eu ache essa conversa.
— Eu não vou machucar ninguém que não foder comigo
primeiro. — Quando Azazel apenas olha, eu xingo e esclareço. — Eu
não vou machucar ninguém que não... me machucar primeiro. Isso é
o melhor que pode acontecer.
— Se alguém te machucar, serei eu quem cuidará disso. — A
maneira como ele diz isso indica que a conversa acabou. Ele aponta
para o guarda-roupa. — Eu preciso de você vestida para
impressionar esta noite.
Há uma parte de mim que quer desafiá-lo por puro despeito,
mas a verdade é que entrei no contrato por minha própria vontade.
Lançar um chilique agora não serve a ninguém e seria, francamente,
embaraçoso.
— Gostaria de saber o que aconteceu com minha mãe. — É a
mesma pergunta que fiz logo depois que ele me teletransportou para
cá.
— Não, você não iria querer isso. — Sem outra palavra, ele se
vira e sai do quarto. Mais uma vez, a porta se fecha com uma força
quase batendo. Eu adoraria culpar Azazel por isso, mas eu estava
vendo ele ir embora quando aconteceu. Ele nunca tocou nela.
Às vezes eu odeio a porra da magia.
Até a minha; especialmente a minha. Porque, antes de Azazel
se virar e ir embora, sua aura mudou para um azul claro com o qual
estou muito familiarizada. Tristeza.
Simples assim, eu sei que minha mãe está morta.
Quero dizer que é exatamente o que eu esperava. Ela fez um
acordo com um demônio e nunca mais voltou para casa. Venho
operando com a suposição de que sou órfã há anos. É só isso...
depois que vi o contrato, uma pequena parte de mim queria
acreditar que talvez ela tivesse escolhido ficar no reino dos
demônios por algum motivo desconhecido. Que talvez ela ainda
estivesse viva. Que talvez eu não seja realmente a última da minha
família.
Eu sabia, mas aparentemente aquela criança esperançosa que
sente falta da mãe ainda não morreu de tristeza. Ou pelo menos ela
não tinha até ver a mesma emoção refletida na aura de Azazel.
Eu faço os movimentos de me vestir. Não adianta desafiar a
ordem. Tenho a sensação de que serei arrastada para o leilão, não
importa o que eu escolha vestir, e meu orgulho ainda não morreu.
Encontro um vestido roxo que servirá ao meu propósito e até
reservo um tempo para colocar alguns cosméticos no rosto. São uma
marca identificável, o que significa que são importados do reino
humano. Que atencioso.
Exatamente duas horas depois que Azazel saiu, minha porta se
abre suavemente. Um convite claro. É tudo que eu queria por dias a
fio, e ainda assim me encontro relutante em passar por ela. Não há
como voltar atrás depois disso. O pensamento quase me faz rir. Não
havia como voltar atrás desde o momento em que assinei o contrato.
Não, podemos traçar a linha disso ainda mais para trás,
quando ouvi o nome de Azazel nos lábios de Mina. Ou ainda mais,
quando minha mãe fez o acordo demoníaco em primeiro lugar,
deixando para trás apenas uma nota com os mínimos detalhes.
Nunca houve outra escolha a não ser dar o primeiro passo e
sair do meu quarto. Não estou remotamente surpresa por encontrar
outras quatro pessoas no corredor. Eu as vejo de relance, mas, no
final das contas, elas importam menos do que o que acontece a
seguir. Nenhuma delas se parece comigo, como uma caçadora. Elas
são apenas pessoas normais. Não sei se isso é reconfortante ou
assustador.
No final, não faz diferença. Eu me viro e sigo na direção que
me parece melhor, vagamente ciente do fato de que elas me seguem,
patinhos levados para o matadouro. Exceto não um abate. Só porque
minha mãe morreu não significa que as barganhas de Azazel são
besteiras. Minha vida seria mais simples se fossem. Haveria menos
perguntas me mantendo acordada à noite.
Ao meu redor, sinto a magia do castelo se movendo. A
sensação era mais silenciosa quando eu estava no meu quarto, o que
confirma o que eu suspeitava: havia feitiços e também paredes me
trancando. Este é um castelo encantado de verdade. Charmoso.
O castelo finalmente nos lança por uma porta que leva a uma
grande sala. As luzes estão todas apontadas para nossos rostos, mas
enquanto me movo para o estrado curto, avisto escamas, tentáculos e
asas. Monstros. E não do tipo que você encontra no reino humano.
Estamos tão distantes das linhagens que correm entre os seres daqui
que a maioria de nossos monstros não parece diferente do resto da
humanidade, pelo menos na maior parte do tempo. Tenho a
sensação de que os que estão nesta sala são atualmente tão humanos
quanto são capazes de parecer.
Antes que os reinos se dividissem e atravessá-los se tornasse
praticamente impossível, esses eram os tipos de criaturas que meus
ancestrais caçavam.
Talvez o pensamento devesse me encher de algum tipo de
propósito ou raiva geracional, mas tudo o que sinto é cansaço.
Minha cabeça está muito cheia da cor azul para me preocupar com
um passado que se estende por gerações antes do meu nascimento.
Eu pensei que tinha acabado de lamentar minha mãe. Demorou
muito para eu perder a esperança de que ela voltaria, e eu sabia que
não deveria reacender esse sentimento quando encontrei Azazel. E,
no entanto, aqui estou, me sentindo tão perdida quanto aos vinte
anos.
Eu enterro o sentimento bem fundo, enfio em uma caixinha e
enrolo em correntes antes de jogá-lo no canto mais escuro de mim.
Estou cercada por predadores e não posso me distrair. Foi-me
prometida segurança, mas o contrato especifica as consequências
para danos – não proteção mágica contra eles.
Estou tão distraída que nem percebo que o leilão começou. Se
“leilão” for mesmo a palavra certa. Os poucos que participei têm
vários cenários de licitação e, para este, eles estão simplesmente
falando de cores... Oh. Ah. As cores dos nossos vestidos. Eu ouço
alguém dizer roxo - o que estou vestindo - mas as luzes são muito
brilhantes para eu identificar quem me reivindicou.
Eu posso ver suas auras, no entanto.
Há muita raiva vermelha e o verde amarelo doentio com um
toque de marrom que é ódio. Esses seres não se gostam. Mas o mais
preocupante é o rosa brilhante da luxúria se espalhando por toda a
sala. Esses monstros nos querem. Pode haver linguagem no contrato
que nos impeça de sermos forçadas a qualquer tipo de situação
íntima, mas se formos expulsas, sob o olhar atento de Azazel, quem
estará lá para impor isso?
Eu posso me defender... provavelmente.
Mas e as outras?
Mesmo enquanto eu olho para baixo em nossa fila, notando o
medo em muitos rostos das outras quatro, em suas auras muito
humanas, as luzes mudam. Azazel se move com propósito, e o que
vem a seguir acontece quase mais rápido do que posso acompanhar.
Cada uma de nós é levada para uma porta diferente que tenho
certeza que não existia antes. Eu dou uma olhada melhor nos
monstros.
Um dragão. Um kraken. Um ser que parece quase humano,
exceto por seu tamanho, pele esfumaçada, cauda longa, garras
negras como carvão em suas mãos e cascos fendidos. Então,
realmente, não tão humano assim. E, finalmente, aquele que parece
ainda mais humano. Ele é grande também. Eles são todos grandes. As
sombras mudam, e eu vejo suas enormes asas e dois pares de chifres
saindo de seus cabelos brancos.
Eles estão olhando diretamente para mim.
CAPITULO 2
Bram
Aqui está um sabor de desespero com o qual me familiarizei
muito e que absorve cada centímetro deste espaço. Todos nós,
líderes, estamos sentindo isso à nossa maneira, embora cada um de
nós morra antes de admitir isso. Sol, o dragão, sente-se encurralado,
mas há uma esperança cautelosa em sua energia que fica presa em
minha garganta. Thane, o kraken, simplesmente não quer estar aqui.
E Rusalka... Bem, não há desespero em sua energia, apenas uma
profunda expectativa que me preocupa.
Eu não quero estar em dívida com Azazel.
Infelizmente, não tenho escolha.
Ninguém do meu povo me aceitará. Não com a maldição
pairando sobre minha cabeça, cortesia das más decisões de meu pai.
Esgotei as candidatas adequadas nas outras famílias nobres. Elas não
querem juntar suas casas à minha, mesmo que isso signifique que
qualquer filho gerado irá governar o território depois de mim. Não
quando elas têm tanta certeza de que a maldição tirará suas vidas
muito antes de assumirem a liderança.
É por isso que estou aqui, sentado no castelo do meu inimigo,
agindo como se tudo estivesse bem. Oh, eu sei que Azazel é
significativamente melhor do que seu antecessor, mas isso não
significa que eu vou perdoar ou esquecer o que ele é responsável.
Não foi seu predecessor quem fez o acordo com meu pai que terminou
com a morte de minha família. Mesmo sem esse elemento de culpa,
não faz muito tempo que todo o reino dos demônios estava em
guerra e eu estava fazendo o meu melhor para matar as mesmas
pessoas que se sentam tão casualmente nesta sala comigo.
Azazel sabia como iscar bem sua armadilha.
E é uma armadilha. Ele é astuto demais para fazer qualquer
coisa com a bondade de seu coração, o que significa que ele tem
meia dúzia de tramas em jogo, e todas elas giram em torno das cinco
mulheres humanas de pé no estrado. São plantas? Espiãs? Mesmo
assassinas? Quando descobrirmos, será tarde demais.
Eu deveria ir embora.
Exceto que eu não tenho uma maldita escolha.
Todas as mulheres são lindas e todas provavelmente serão
minha ruína. Elas terão que entrar na fila atrás dos nobres do meu
território e do Destino, que parece determinado a me chutar quando
eu cair. Repetidamente.
Eu tenho apenas uma rota à frente. Uma barganha e uma
companheira humana.
Eu cerro os dentes e examino as mulheres um pouco mais de
perto. Pele pálida. Pele bronzeada. Loira, morena, ruiva. Lindamente
gorda e magra e no meio. Humana, cada uma.
Apesar de tudo, minha atenção se volta para a mulher alta de
cabelos escuros de roxo. Ao contrário das outras, ela olha para a sala
com uma provocação que parece quase violenta. Com as luzes
posicionadas como estão, não tem como ela ver nossos detalhes, mas
isso não a impede de nos desafiar com seus olhos escuros. Parece
que ela atravessa a distância e enfia as unhas no meu peito.
Ela é uma escolha terrível. Preciso de alguém dócil e submissa.
Alguém que não causará problemas, que não afastará os poucos
aliados que ainda tenho em meu território. Alguém como a ruiva
trêmula ou a sorridente morena voluptuosa de azul.
Mas quando abro a boca, a palavra que falo é...
— Elas são todas iguais para mim. — Mentiras. Eu sou um
maldito mentiroso. — Roxo.
Azazel me dá um olhar curto que não consigo definir, mas
acena com a cabeça. Eu mal presto atenção enquanto o resto do leilão
termina, um líder após o outro reivindicando uma das humanas
como sua. As portas aparecem ao redor do perímetro da sala e cada
par é guiado para uma delas. Haverá um contrato para negociar os
detalhes mais finos. Mais uma vez, Azazel prova sua esperteza ao
não nos dar tempo para ficar perto dos outros líderes. Ele diz que
quer paz e suas ações parecem indicar que ele está dizendo a
verdade - pelo menos na superfície. Eu sei que não devo confiar
nisso, no entanto.
A sala em que estamos esperando é grande o suficiente para eu
abrir minhas asas. Eu resisto ao impulso. A última coisa que preciso
é Azazel pensando que me deixou nervoso, mesmo que seja
verdade. Em vez disso, observo a mulher.
Ela caminha de um canto da sala para o outro, suas longas
pernas percorrendo a distância em passadas suaves. Ela é mais
musculosa do que eu imaginava, sua força magra em plena exibição
em seu vestido roxo justo. Como as outras, ela é linda, mas a dela é o
tipo de beleza que se encontra nos gatos infernais que assombram o
território dos súcubos e íncubos. Linda, mortal e muito disposta a
comer sua cara.
Não há uma lasca de medo presente em sua energia também.
Apenas o laranja queimado da irritação. Não sei se isso é um alívio
ou algo para se preocupar. Pelo que sei, essas humanas são novas
neste reino e foram mantidas isoladas dos demônios barganhadores.
Ela deveria estar chocada ou assustada ou algo a ser enfrentado por
todos nós. Deve haver alguma explicação razoável.
— Você é uma bruxa?
Ela bufa.
— Dificilmente.
Eu deveria parar de falar, deveria esperar Azazel chegar. Até
que o contrato seja assinado, há todas as chances de que todo o
negócio seja cancelado. Mas eu me pego mudando para que ela olhe
para mim novamente.
— Você está levando tudo isso muito bem.
— Eu fiz um acordo com um demônio. Comparado com
Azazel, você é apenas um cara com asas de morcego. Nada para
escrever. — Ela sorri. — Chifres bonitos, no entanto. Realmente
adorável.
Meus chifres não são adoráveis.
Eu tenho que lutar contra o desejo instintivo de tocá-los. Ela
mexeu comigo em questão de segundos, o que não é um bom
presságio para os próximos sete anos. Posso não ter desejado isso,
mas jurei a mim mesmo que seria charmoso e gentil. O contrato
permite que eu faça o meu melhor para seduzir minha nova parceira
humana a me dar a única coisa que eu preciso acima de tudo. Uma
criança.
Mas já estou lutando contra o desejo de rosnar em vez de
sorrir, de morder em vez de seduzir. Estou bem e verdadeiramente
fodido.
Antes que eu possa fazer algo tolo, a porta se abre e Azazel
entra. Ele faz uma pausa por um breve momento, quase como se
esperasse encontrar derramamento de sangue, e então se move para
uma mesa que apareceu no segundo em que a porta se abriu. Sinto a
magia do castelo se reunir para fornecer o que ele precisa, mas estou
intrigado que a humana não pareça surpresa com isso.
Mais uma vez, tenho certeza de que ela já teve exposição à
magia antes.
Novamente, eu me pergunto se tudo isso é uma armadilha
elaborada.
Não tenho ilusões sobre minha posição. Sou o mais fraco dos
líderes atuais. Os outros podem não perceber o quão precária é
minha posição neste momento, mas Azazel percebe. Seu
conhecimento estava lá em seu convite cuidadosamente formulado.
Ele sabia que eu não podia dizer não e sabia por quê.
Ele cruza as mãos gigantes e nos encara por cima de suas
garras negras.
— Tenho reservas sobre esse emparelhamento. Gostaria de dar
a cada um de vocês esta oportunidade de mudar de ideia, com o
entendimento de que, se nenhum de vocês mudar de ideia, assinará
um contrato que vinculará vocês dois pelos próximos sete anos. —
Antes que eu possa interromper e dizer que está tudo bem, ele a
encara com um olhar severo. — Não há margem de manobra. Você
está a salvo de danos, mas essa cláusula se estende a você prejudicar
outras pessoas. Eu não vou deixar você entrar em um tumulto no meu
reino.
A curiosidade aumenta, mas não posso deixar esse comentário
parado.
— Não é o seu reino, Azazel.
— Não, — ele concorda facilmente. Muito facilmente. — Mas se
algum dos líderes do território abusar do meu dom, isso pode
mudar rapidamente. O que me leva ao meu próximo ponto. — Ele
me estuda com muita atenção. Os demônios barganhadores mantêm
seus poderes sob controle, guardando seus segredos, mas tenho
quase 100% de certeza de que eles não possuem a mesma magia que
meu povo. O que significa que ele não pode ver minhas emoções
girando ao meu redor. Não como se eu pudesse ver a dele.
O que é bem no momento em que percebo que ele está sendo...
genuíno? Não há nenhum cálculo lá. Apenas o cinza neutro da
preocupação.
— Estou ouvindo.
— Estou ciente de sua história e das complicações que esse tipo
de circunstância lhe trará. Estendi esta oferta como uma cortesia
para que você não fosse o único deixado de fora das barganhas, mas
quero sua palavra de que sua história não influenciará em como
você trata minha humana.
— Oh, foda-se com esse barulho. — A humana em questão
coloca as mãos nos quadris e olha. É honestamente impressionante
que ela não pareça nem um pouco assustada com ele. Especialmente
quando ele tem três vezes o tamanho dela e ela mal chega até o
ombro dele. — Você sabe muito bem que sou mais do que capaz de
cuidar de mim mesma.
— Essa não é a questão. — Ele vira aquela expressão severa
para ela, e é uma prova de sua força que ela não murcha nem um
pouco. Uma pitada de exasperação o percorre, e é quase como se ela
também pudesse ver, porque seus lábios se curvam um pouco.
Não sei se devo intervir ou apenas assistir a este jogo. Há algo
acontecendo aqui além do que eu esperava. Demônios
barganhadores são notoriamente protetores de seus humanos, então
eu esperava que Azazel me ameaçasse para garantir meu bom
comportamento. Não é necessário, no entanto. Eu preciso dessa
humana, inesperada ou não.
Seu sorriso, tal como é, desaparece.
— Eu te dei minha palavra, Azazel. Mais, eu assinei aquele
maldito contrato. Se for tão bom quanto você afirma, não há com o
que se preocupar.
Não tenho certeza se ela está dizendo isso para tranquilizá-lo...
ou ameaçá-lo. Pela preocupação que aumenta no ar ao seu redor, ele
também não tem certeza. Em outras circunstâncias, eu ficaria
totalmente entretido em ver esse demônio, que tem sido um grande
pé no saco por décadas, recuar de forma tão eficaz. Mas esta não é
outra circunstância. Eu preciso que ele não volte atrás nesta
barganha.
Eu me mexo, abrindo minhas asas um pouco para chamar a
atenção deles para mim.
— Por mais divertido que seja, se vamos fazer uma barganha,
vamos assinar o contrato e pronto.
Por um momento, acho que Azazel pode cancelar tudo. Em vez
disso, ele balança a cabeça lentamente.
— Muito bem. Conforme discutido, haverá check-ins regulares
com um demônio de minha escolha. Se em algum momento o
contrato for violado, o território da gárgula se torna meu. Existem
várias cláusulas para garantir o bom comportamento de todas as
partes.
— Sim, sim, nós revisamos isso. — Ela faz movimentos
impacientes. — Estou com fome, cansada, e a última coisa que quero
fazer é continuar circulando nesse assunto com vocês dois. Dê-me a
caneta e eu assino.
— Você deveria ler o contrato.
Ela não lê. Ela apenas arranca a caneta da mão dele e rabisca
seu nome na linha apropriada. Grace. Um nome bonito, leve e
etéreo... e nada como a mulher ao meu lado.
Sua impaciência me atinge, mas tenho muita história com
demônios barganhadores para assinar um contrato sem lê-lo uma
última vez. Azazel enviou uma cópia para nós estudarmos antes de
participar deste leilão, mas eu seria um tolo se presumisse que não
houve edições feitas entre então e agora.
Com certeza, há uma cláusula que foi adicionada no meio do
caminho. Eu li e depois li de novo. Eu olho para Azazel com as
sobrancelhas levantadas. Sua única resposta à minha pergunta não
dita é um aceno apertado. Ainda assim, não posso deixar de
perguntar: — As mesmas edições foram feitas em todos os
contratos?
— Não.
Quem é esta mulher? Ou essa cláusula sobre ela não poder ferir
ninguém em meu território foi adicionada por causa do que
aconteceu com meu pai? Uma vozinha horrível sussurra no fundo da
minha mente: Se ela me matar, pelo menos não precisarei mais me
preocupar com nada. Finalmente vai acabar. Eu dou de ombros e assino
no lugar apropriado.
— Com isso, vou deixar você com isso. Seu primeiro check-in
será ainda esta semana. Espero que estenda a Ramanu a mesma
cortesia que faria a qualquer membro de sua corte.
Eu me inclinei para trás para agradar minha corte, me
contorcendo em nós para tentar - e finalmente falhar - para ganhar
sua boa vontade e confiança. Para combater os anos de governo de
meu pai que corroeram ambos até não sobrar nada. Não é um
pequeno milagre que eu seja capaz de governar, embora isso seja
menos uma prova de minha habilidade e mais uma prova de que
meu povo está com medo da maldição o suficiente para ficar longe
de mim. Por agora.
Uma situação impossível. Isso não é novidade, no entanto.
Venho lutando para subir a colina, centímetro a centímetro, há anos.
Não poderei avançar mais até que tenha um herdeiro que viva para
ver sua maioridade e convencer meu povo de que a maldição foi
quebrada, mas pelo menos tenho um caminho a seguir para esse
resultado.
Eu só preciso convencer essa humana estranha e
potencialmente perigosa a ter meu filho. De alguma forma, acho que
todos os obstáculos impossíveis que superei até agora não serão
nada comparados a esse desafio.
CAPITULO 3
Grace
Acho que cometi um erro. Meus nervos estão começando a
tomar conta de mim, e a pitada de tristeza que passa por Azazel toda
vez que ele olha para mim torna quase insuportável estar em sua
presença. Eu só quero acabar com isso. A gárgula - Bram - é
desconhecida, mas, a menos que eu tenha um azar espetacular, ele
não terá um castelo mágico que me prenda. Devo ser capaz de
arrombar qualquer fechadura normal.
Não é que pretendo quebrar minha palavra. Basta dobrá-lo um
pouco.
Quero saber o que aconteceu com minha mãe. Se ela está
morta, e todas as evidências apontam para esse caso, aconteceu aqui
no reino dos demônios, apesar da promessa de segurança de Azazel.
Idealmente, eu teria todo o território do demônio barganhador para
as respostas que Azazel está escondendo de mim. Do jeito que está,
vou ter que escapar do meu captor gárgula e voltar para cá sozinha.
Não pretendo ficar longe, é claro. Assim que tiver minhas
respostas, honrarei minha palavra e bancarei a companheira do
homem-morcego.
Dificilmente uma situação ideal, mas tenho lidado com
situações impossíveis há anos. Ser a última caçadora de monstros de
uma das famílias de caçadores de monstros mais famosas do reino
humano significa que sou aquela para quem as pessoas ligam
quando não têm mais ninguém.
Pela primeira vez, a culpa pisca através de mim. Eu também
estava pensando em mim quando concordei em pagar o preço da
barganha de Mina. Eu precisava de respostas, e o reino dos
demônios é onde eles vivem.
Só agora estou considerando as possíveis implicações de minha
ausência por sete anos. Existem outros caçadores de monstros. Mas
poucos deles existem há tanto tempo quanto os Jaegers. Eles não têm
o histórico, a confiança ou o boca a boca que dão às pessoas um
lugar a quem recorrer.
Isso deveria ter sido algo que eu considerei antes de dizer sim.
Ou, pelo menos, deveria ter negociado alguma clemência sobre
retornar ao reino humano para cuidar de qualquer emergência. Eu
endireito minha coluna. É tarde demais para arrependimentos.
Tenho que lidar com a situação que criei. Além disso, posso ter
assinado o contrato agora há pouco, mas não há nada a dizer que
não possa solicitar uma emenda a ele.
Exceto... Eu não.
Azazel rola o contrato. Não faço nenhuma sugestão quando
Bram se vira para a porta e faz sinal para que eu o siga. Eu não falo
uma única palavra enquanto caminhamos pelo corredor que
certamente não estava lá antes para uma grande porta em arco que
tem muito espaço para passar as asas de Bram.
Bram olha de soslaio para mim.
— Voce tem medo de altura?
É um esforço não revirar os olhos. A única razão pela qual
resisto é porque preciso que ele confie em mim o suficiente para não
colocar um guarda em mim a cada hora de cada dia. Do jeito que
está, sua aura é quase completamente do laranja queimado da
irritação. Tenho certeza de que há alguma maneira de angariar boa
vontade, mas, a essa altura, só quero ficar em paz.
— Não.
— Esta deve ser uma experiência memorável então. — Sem
outra palavra, ele me pega em seus braços. Estou tão chocada com
sua audácia que não luto imediatamente. Ou pelo menos é o que eu
digo a mim mesma. No momento em que percebo que deveria estar
lutando contra ele, ele abre a porta e entra... no nada.
Eu não grito. Uma das primeiras lições que um Jaeger aprende
é ficar em silêncio em resposta ao medo. Um grito ou até mesmo um
gemido pode te matar quando você está caçando.
Mas eu com certeza me agarro a Bram quando ele se lança no
ar, aparentemente a quilômetros do chão. O frio corta meu vestido
insuficiente como se não fosse nada. Essa é a única razão pela qual
me encolho contra seu peito largo. Não porque é bom ser abraçada
por ele. Nosso cabelo chicoteia em torno de nós com violência
suficiente para cortar a pele.
Acho que Bram ri, embora não tenha certeza porque o vento
afasta qualquer som. Não consigo nem me concentrar direito para
verificar a aura dele. Bastardo. Ele fez isso de propósito.
Eu não posso falar. Não posso lutar por medo de cair. Não
posso fazer nada enquanto voamos pelo ar. A desesperança da
situação se fecha em minha garganta, me fazendo querer machucá-
lo. É tudo o que posso fazer para ficar parada.
Parece que voamos para sempre. A miséria, junto com o frio,
abre caminho até meus ossos. Tenho certeza de que nunca mais vou
me aquecer. Já suportei sessões de tortura menos agonizantes do que
esta experiência.
Quando Bram me puxa para perto, esqueço-me o suficiente
para apenas agradecer por um pouco de calor extra. Pelo menos até
que sua voz soe em meu ouvido.
— Prepare-se.
Eu não tenho a chance de perguntar a ele para o que estou me
preparando. O bastardo junta suas asas, e então estamos
mergulhando em direção ao chão em uma velocidade alucinante.
Ainda assim, eu não grito. Não pensei que sairia assim, esmagada
em um milhão de pedaços, mas suponho que sejam formas piores de
morrer.
Não consigo abrir os olhos e, mesmo que conseguisse, não
conseguiria ver além das lágrimas causadas pelo vento. Mal percebo
que nosso mergulho horrível se transformou em algo um pouco
mais controlado quando o ângulo de nossos corpos muda. Ainda
estamos nos movendo muito rápido, mas acho que estamos
paralelos ao solo novamente.
Bram recua, e meu estômago tenta continuar se movendo na
direção anterior. Se eu choramingar, o som é perdido. Ou pelo
menos espero que seja. Ele pousa quase graciosamente, e então,
finalmente, não estamos mais nos movendo.
— Você pode abrir os olhos agora. — Seu corpo se mexe
enquanto ele caminha, e mesmo que meu orgulho odeie isso, a
realidade é que se ele me colocar no chão agora, vou desabar em
uma pilha patética. — Teremos que conseguir roupas mais
apropriadas para você da próxima vez. Esqueci como os humanos
são frágeis. Tão sensíveis à temperatura.
— Nunca mais vou fazer isso. — Já tenho uma desvantagem no
chão contra monstros. Posso ter herdado a habilidade de ver auras
como o resto dos Jaegers, mas o resto de mim é humano. Não nasci
com força ou resistência superior. Tudo o que tenho, tive que lutar.
Quando se trata de batalha, sempre serei superada. É por isso que
luto sujo. Pelo menos no reino humano, a tecnologia pode me dar
uma vantagem e compensar minha falta de fisicalidade. Aqui, isso
não é uma opção.
Eu luto contra o desejo instintivo do meu corpo de se enrolar
em si mesmo. Abrir os olhos é o primeiro passo. Isso prova ser um
erro, porque o rosto de Bram está muito próximo do meu. Ele
realmente é um filho da puta bonito. Suas feições parecem um pouco
com alguém que as cortou de uma montanha, ásperas e quase
inacabadas em alguns aspectos. É mais atraente do que jamais
admitirei. Sua mandíbula parece forte o suficiente para aguentar um
soco e mais alguns, mais propensos a quebrar a mão do atacante do
que ceder.
E sua pele...
Sem pensar, estendo a mão e toco sua mandíbula. Ele é quente,
sim, mas sua pele não parece pele. Parece pedra. Lisa e móvel, mas
ainda assim pedra. Atravessá-la com qualquer tipo de lâmina seria
impossível. Seria preciso algum tipo de arma esmagadora, como
uma maça ou um martelo. Mesmo assim, a força necessária?
Impossível para mim.
Não que eu pretenda matar esta gárgula.
Afinal, assinei um contrato. Além disso, ele pode ter me
assustado pra caralho, mas ele não me machucou de verdade nem a
ninguém, até onde eu sei. Se eu saio matando monstros
simplesmente porque são monstros, então não sou melhor que meus
ancestrais. Mas eu sou uma Jaeger. Não posso evitar a maneira como
meu cérebro funciona.
Talvez seja por isso que eu faço a pergunta fervilhando na
minha mente.
— Você pode queimar?
Ele me olha. Seus olhos não são azuis ou cinza ou qualquer cor
que eu já vi. Eles parecem quase violeta na luz atual. Ou qualquer
que seja o tom quase branco de roxo seria chamado. Eu não sou
nenhuma artista.
Eu poderia ficar com vergonha de estar olhando tão
intensamente se ele não estivesse fazendo exatamente a mesma
coisa. Ele estuda meu rosto como se nunca tivesse visto um humano
antes. Talvez ele não tenha. Eles não parecem tão comuns neste
reino.
Ou talvez ele esteja horrorizado por eu ter perguntado se ele queima.
— Não — ele finalmente diz. Ele já está em movimento, me
carregando pelo que percebo ser um telhado. É feito de pedra e
parece a versão mais recente de alguns dos castelos que vi na
Europa. Eu tento esticar minha cabeça para ver por cima da meia
parede que impede que pessoas sem asas saiam da borda.
— Eu posso andar.
— Você está dizendo isso por orgulho. Se eu te colocar no chão,
você vai se curvar como um bebê recém-nascido. Isso vai
desperdiçar nosso tempo.
Ele não está errado, mas isso não me impede de me ressentir
dele por falar isso em voz alta. Meu corpo finalmente começou a
perceber que não vamos morrer congelados, e pequenos tremores
percorrem meus músculos, fazendo-me estremecer
incontrolavelmente. Estou pateticamente grata pelo calor do corpo
de Bram.
Eu também me ressinto dessa gratidão.
Ele me leva por um arco quase idêntico ao que usamos para
deixar o castelo dos demônios barganhadores. Exceto que este não
tem uma porta anexada. Ele desce o que parece ser um número
infinito de escadas, e não posso deixar de notar que as escadas se
curvam em torno de um eixo circular que é bastante profundo para
eu cair para a morte. Obviamente, quem tem asas prefere não usar a
escada.
Mais uma vez, estou grata por Bram não estar nos levando para
nosso destino dentro do castelo. Mais uma vez, ressinto-me desse
sentimento de gratidão. Não conheço essa gárgula e não pretendo
ficar por aqui tempo suficiente para mudar isso. Cada vez que eu o
aprecio é apenas mais uma corda pegajosa, tornando mais difícil
escapar sem aviso prévio.
Descemos o que eu acho que se traduz em mais dois níveis e
em um corredor amplo e alto. Há um punhado de arcos de cada
lado, e dou uma espiada nos cômodo enquanto passamos. Eles
parecem bastante normais, pelo menos pelos padrões humanos.
Que porra estou pensando?
Eu não estou no reino humano. Se eu ficar comparando tudo
que encontro aqui com aquilo, não passo de uma babaca
preconceituosa. Posso não estar aqui para aprender sobre essas
pessoas ou viver com elas de maneira verdadeira, mas isso não
significa que eu tenha que ser uma idiota sobre isso.
Além disso, será mais fácil escapar do castelo se as pessoas não
estiverem me observando de perto porque eu continuo insultando
tudo sobre elas. O que significa que eu provavelmente deveria parar
de tocar neste homem e fazer perguntas sobre suas vulnerabilidades.
Não tenho nenhuma intenção de lutar contra ele, incendiá-lo ou
cometer qualquer outro tipo de violência. Não, a menos que eu
precise.
Ele finalmente me coloca no chão com cuidado na frente da
porta no final do corredor. Suas grandes mãos permanecem em
meus quadris, e não posso dizer se é porque ele gosta de me tocar,
ou se ele realmente acha que posso desmaiar. Não importa, porque
nenhuma dessas coisas vai acontecer. Dou um pequeno passo para
trás e Bram me solta instantaneamente.
É provavelmente o primeiro passo de uma dança intrincada
que ele pretende conduzir. Talvez até uma sedução. Isso é muito
ruim. Mesmo que ele seja grande, bonito e incrivelmente caloroso.
Dou mais um passo para trás, principalmente para minha paz de
espírito. O ar do corredor é significativamente mais temperado do
que do lado de fora, mas dificilmente é ameno. Agora que ele não
está mais me tocando, não posso deixar de tremer de frio.
Ele aponta para a porta atrás de mim.
— Seu quarto é ali. Há algumas roupas disponíveis, mas
mandarei fazer outras depois que tirarmos suas medidas. O jantar é
daqui a uma hora. — Ele faz uma pausa, como se percebesse o quão
brusco soa. — Eu agradeceria se você comesse comigo.
Passar mais tempo com ele é a última coisa que quero fazer,
mas não vou dar a ele um motivo para me vigiar de perto. Vou
jantar com ele esta noite, e depois que o resto do castelo estiver
dormindo, vou escapar e voltar para o território do demônio
barganhador para encontrar as respostas que estou procurando. Nós
não voamos por dias a fio, então não posso estar a mais de uma
semana de viagem. Talvez. Preciso encontrar um mapa para verificar
antes de sair, então talvez sair hoje à noite não seja a melhor ideia.
Terei que ver o que posso obter entre agora e o jantar e decidir com
base nisso.
Não. Droga, estou protelando. Não importa. Já vivi da terra
antes, e mesmo que o território do demônio barganhador esteja a
algumas centenas de quilômetros de distância, posso fazer a jornada.
Eu só concordei em ficar neste reino. Todo o resto está em disputa.
Eu odeio a culpa desconfortável que surge. Eu voltarei. Sem
dúvida, Azazel ficará muito feliz em me transportar para Bram
assim que eu obtiver minhas respostas. E tudo bem. Eu disse que
ficaria aqui sete anos, e ficarei, mas aquele maldito demônio sabe o
que aconteceu com minha mãe e não aguento ficar tão perto sem
descobrir a verdade.
Eu olho para Bram.
— O jantar seria ótimo.
CAPITULO 4
Bram
Há algo errado com a energia de Grace, mas não consigo
identificar exatamente o quê. Todas as outras pessoas no reino
demoníaco, independentemente de quem chamam de seu,
experimentam as mesmas emoções. Sempre aparece exatamente
igual: azul oceano profundo para contentamento, vermelho para
raiva, um verde rico para ciúme. A energia ao redor de Grace parece
muda, como se ela estivesse voltada para si mesma. Esse tipo de
coisa não deveria ser possível. Suspeito que tenha mais a ver com a
forma como ela processa suas emoções do que com qualquer tipo de
magia misteriosa que esteja conduzindo.
Ainda assim, significa que ela está escondendo algo.
Talvez eu devesse deixá-la ir. Não imagino que humanos façam
acordos com demônios barganhadores quando suas vidas são
perfeitas e bem ajustadas. Quero construir algo entre nós com base
na confiança, convencê-la a compartilhar minha cama o tempo
suficiente para conceber um filho e levá-lo até o fim. Isso não vai
acontecer se eu começar a acusá-la de mentir para mim uma hora
depois de trazê-la aqui.
Mas eu não sou um tolo.
As outras pessoas neste reino podem pensar que os humanos
são os fracos, brinquedos para serem passados ou barganhados, mas
eu sei exatamente o quão perigosos eles realmente são. Deuses, uma
das primeiras frases completas que Grace falou comigo foi perguntar
se eu posso queimar. Isso não é uma coisa normal de se pensar. Só
espero que Grace não seja tão sanguinária quanto...
Não. Não vou pensar nisso. Isso é o mais próximo que posso
chegar de um novo começo, e é vital que eu tire proveito disso. Eu
não vou ter outra chance. Além disso, Azazel se esgueirou naquela
cláusula impedindo-a de prejudicar a mim ou ao meu povo. Não
tenho certeza de como isso será aplicado, mas a magia do demônio
barganhador é uma coisa estranha e fluida.
Eu a deixo em paz e vou fazer os preparativos para o jantar.
Não há muita gente por perto, mas nunca há muita gente hoje em
dia. As famílias nobres garantem que haja o suficiente deles na
residência para serem devidamente representados, mas sua ausência
deixa a corte parecendo uma cidade fantasma. Ainda me lembro do
tempo em que não conseguia andar pelos corredores sem ver meia
dúzia de pessoas, quando nossos jantares e eventos estavam lotados,
quando precisávamos de uma equipe completa o tempo todo para
garantir que as necessidades de todos fossem atendidas.
Isso foi há muito tempo atrás.
Eu só vejo uma pessoa enquanto desço para o andar principal,
e ela se esconde em um corredor lateral antes que eu possa
identificá-la. É sempre assim. As pessoas fogem do meu caminho
como se apenas um roçar na minha sombra fosse suficiente para
transferir minha maldição familiar para eles. Na verdade, nunca
houve uma maldição real em jogo. Apenas uma série de decisões de
merda com consequências fatais. Não que eles saibam ou se
importem com isso.
Na cozinha, encontro uma pessoa desconhecida fazendo
biscoitos.
— Quem é você? — Ele parece conhecer bem o espaço, mas não
me lembro de ter contratado ninguém. — Onde está o cozinheiro?
Onde está... — Eu paro, percebendo que não me lembro do nome do
cozinheiro mais recente. Ele era bom em seu trabalho e fazia um pão
realmente excelente, mas eu o havia contratado apenas algumas
semanas atrás. Deuses, qual é o nome dele?
— Jay desistiu. — O homem termina de cortar os biscoitos e os
coloca em uma bandeja de metal. — Antes de partir, me contratou
como substituto.
Eu o encaro por vários segundos.
— Você precisa saber que essa não é a sequência usual de
eventos. — Embora eu não saiba se há uma sequência normal de
eventos nos dias de hoje. Venho perdendo pessoal há anos, mal
conseguindo manter pessoas suficientes na folha de pagamento para
manter este lugar funcionando. Jay não é o primeiro cozinheiro a
desaparecer sem dizer uma palavra, mas eles são os primeiros a
contratar um substituto antes deles.
— É um trabalho. — Ele dá de ombros. — Estou ciente dos
rumores sobre você e este lugar, mas Jay disse que este trabalho vem
com pagamento, hospedagem e alimentação. E que o salário era
bom.
Meu pai tinha a firme convicção de que tudo estava em
negociação e parecia gostar de discutir com os funcionários sobre os
salários. Eu não tenho luxo. Eu estudo este homem. Ele é magro,
uma boa cabeça e ombros mais baixos do que eu, e sua pele tem mais
um tom azul do que roxo. Nada sobre sua aparência me diz algo útil.
— O que Jay disse a você sobre o salário?
Ele recita um número que me faz ranger os dentes. É quase o
dobro do que paguei ao Jay. A essa altura, porém, o novo cozinheiro
me pegou de surpresa, quer ele saiba disso ou não. Eu arrasto minha
mão sobre meu rosto. Meu pai vai estar rolando no túmulo com o
que eu disser a seguir, mas eu não estaria nesta posição se não fosse
por suas más escolhas, então foda-se.
— Se você ficar além do primeiro mês, vou dobrá-lo.
Ele ergue as sobrancelhas e move as asas inquieto.
— Os salários iniciais já estão no limite do roubo.
— É verdade, mas isso não vai impedir você de aceitá-los ou de
aceitar o aumento depois de um mês. — Se ele ficar tanto tempo.
Ele passa a mão pelo cabelo preto curto.
— Não sou tão supersticioso quanto o resto do nosso povo. Se
o salário é bom e ninguém mexe comigo, fico mais do que feliz em
ficar na cozinha e receber minha renda.
— Isso é muito iluminado da sua parte.
Ele dá de ombros novamente.
— Não, na verdade não. Qualquer pessoa com um pouco de
inteligência perceberia que, se houver uma maldição, ela afetará
apenas você e sua família. Você não quer se casar com uma
cozinheira humilde, então não devo correr nenhum perigo.
Não sei se devo ficar deprimido ou aliviado, mas, neste
momento, estou sem opções.
— Vou precisar de um jantar preparado para mim e minha... —
Não tenho certeza de como chamar Grace. Ela é uma hóspede, mas
um hóspede que fica sete anos é praticamente uma residente. Eu mal
conheço a mulher, então chamá-la de minha parceira ou qualquer
coisa mais íntima não faz sentido ou parece certo. — Senhora, — eu
finalmente termino sem jeito.
— Eu já comecei. O jantar será servido em uma hora. — Ele se
volta para o forno, então olha por cima do ombro para mim. — A
propósito, meu nome é Silas.
Concordo com a cabeça e saio da cozinha o mais rápido
possível. Parece que toda vez que me viro, algo está errado. Estou
voando em meio a uma tempestade, sendo golpeado para frente e
para trás por ventos inesperados, certo de ser atingido por um raio a
qualquer momento. Só há uma maneira de consertar isso, e não sei
se estou à altura da tarefa.
Se não fosse pelo fato de que minha ausência mergulharia meu
território em uma guerra civil, eu teria deixado o cargo de líder do
território anos atrás. Eu sou o último da minha família. Isso significa
que sem mim, qualquer crença sobre uma maldição deve diminuir
para nada. Outra pessoa poderia entrar nessa posição com bastante
facilidade... se não fosse pela política envolvida. Minha família
governou nosso território desde que qualquer um pode se lembrar.
Embora tenhamos casado outras famílias nobres em nossas fileiras,
sempre houve alguém de nossa linhagem para herdar o título.
Até agora.
Pela primeira vez na porra da minha vida, não quero nada
mais do que ser egoísta, mas o medo do custo me assombra. Se eu
falhar, se a guerra vier, não apenas centenas - se não milhares -
morrerão na luta interna, mas nosso território ficará tão
enfraquecido que não será necessário nenhum esforço para um dos
outros invadir e acabar conosco.
Não, eu tenho que ter sucesso. Eu não tenho outra escolha.
Não consigo pensar dentro destas paredes. Esta é a casa da
minha infância, e houve um tempo em que eu corria por esses
corredores com a confiança de que nada e ninguém poderia me
tocar. Que eu estava perfeitamente seguro. Agora este lugar é mais
como um mausoléu. Uma memória de tudo que perdi da qual nunca
poderei escapar. Se paro de me mover, parece que as paredes estão
se fechando. Quase como se fossem me pressionar contra a
argamassa e a pedra, passar por cima de mim até que eu não seja
mais um homem, até que seja apenas mais um fantasma
assombrando esses corredores.
Os pensamentos sombrios me levam ao eixo vertical mais
próximo e me empurram para me lançar no ar. Passo pelas paredes
do castelo em segundos, e só então consigo respirar direito. Pelo
menos por um momento. Mas para onde quer que eu olhe, há mais
evidências do que será perdido se eu não for habilidoso o suficiente
para ter sucesso.
Os picos ao norte, do outro lado do grande lago, se chocam
contra o território de Rusalka. Ela já tem seus dedos de fogo
afundados em muitas pessoas em meu território. As delícias que ela
oferece são intensas o suficiente para combater seu medo instintivo
de íncubos e súcubos. Meu povo só se lembra de como a última
guerra foi brutal quando é conveniente para eles.
Se eu continuar voando, sobre as montanhas a oeste e além do
território do demônio barganhador até o oceano, eu poderia
simplesmente ir até que minhas asas cedessem e eu caísse na água.
Não haveria nenhuma maldição para se preocupar então. Talvez as
memórias que me atormentavam finalmente parassem de martelar
no fundo da minha mente, de onde nunca poderei escapar.
A expressão de surpresa no rosto de meu pai, congelado na
morte.
O sangue da minha irmã encharcando as pedras enquanto sua
respiração para.
Os gêmeos, seus corpos tão danificados que nem tenho certeza
do que os matou. Só quem.
O conhecimento de que corri quando deveria ter lutado, que
me escondi quando deveria ter ajudado.
Eu deveria ter morrido naquele dia com o resto da minha
família. Cada momento que vivi desde então parece roubado. Essa é
a verdadeira maldição sob a qual vivo.
A sensação claustrofóbica dentro de mim pressiona forte até
que eu queira arrancar minha pele só para me livrar dela. Eu sei que
preciso manter tudo dentro de mim, superar qualquer sinal de
fraqueza, mas isso borbulha apesar do meu melhor esforço.
Eu jogo minha cabeça para trás e lanço minha dor ao vento.
CAPITULO 5
Grace
Estou meio inclinada para fora da minha janela, examinando o
exterior do castelo em busca de uma rota de saída reserva, quando
vejo a forma distante de Bram disparando no ar. Eu paro apesar de
desejar seguir. Nunca fui de desejar asas ou voar. Ser capaz de ler as
auras das pessoas é mágico o suficiente, embora ninguém realmente
fale sobre como é horrível que você não possa mentir. Por que
desejar mais? Parece-me que toda magia é uma lâmina de dois
gumes, e tenho certeza que voar não é diferente.
Certamente é bonito de assistir, no entanto. Bram corta o ar da
mesma forma que os tubarões nadam no mar, cada partícula de
energia aparentemente devotada à sua mobilidade, à sua velocidade.
Pelo menos até ele arquear, jogando a cabeça para trás. Mesmo a
essa distância, ouço seu grito e sinto uma pontada em meu peito em
resposta. Não preciso ver o branco com bordas azuis pálidas
pulsando em seu corpo para saber que ele está sofrendo em um nível
com o qual a maioria das pessoas só pode sonhar.
Odeio conhecer esse sentimento. Eu odeio ainda mais que eu
simpatizo com isso. Ele soa como se fosse a última pessoa viva em
todo o mundo e ele acabou de percebeu isso. Senti isso quando
minha mãe nunca voltou para casa e percebi que era a última Jaeger
que restava.
Durante grande parte da minha vida, minha família foi a
bússola pela qual guiei minhas ações, seja seguindo seus passos ou
lutando contra tradições nocivas. Ser a última significa que estou
desamarrada de uma forma que ainda não entendi direito.
Acho que vou descobrir isso quando voltar ao meu reino. Por
enquanto, tenho respostas a procurar.
Deslizo totalmente de volta para o meu quarto e
cuidadosamente fecho as venezianas. Descer a parede externa pode
funcionar em apuros, mas é uma rota que gostaria de evitar. Deve
haver uma maneira melhor de sair daqui que não exija asas.
Mas primeiro tenho que lidar com o jantar.
E o fato de que este castelo está congelando. As gárgulas
podem parecer bastante humanas, pelo menos à primeira vista, mas
suas diferenças se tornam mais aparentes com o passar dos minutos.
Obviamente, a mesma pele que os protege das temperaturas geladas
em altitudes mais elevadas também os isola na vida cotidiana. Não
tem nem lareira no meu quarto. Eu tremo e esfrego minhas mãos
sobre meus braços nus, sabendo muito bem que isso não vai fazer
nada para realmente me aquecer.
Ele disse algo sobre roupas...
Eu me movo para o guarda-roupa desbotado escondido em um
canto. Eu meio que espero que a poeira exploda no meu rosto
enquanto eu abro, mas parece que foi limpo há relativamente pouco
tempo. No interior, encontram-se dezenas de peças de vestuário dos
mais variados estilos. A única coisa que todos têm em comum é que
são quase do mesmo tamanho e obviamente feitos para climas mais
frios. Dou uma olhada para a porta e rapidamente tiro meu vestido.
É tentador apostar nas calças e na túnica comprida, mas não quero
levantar as suspeitas de Bram fazendo-o pensar que quero liberdade
de movimento para lutar ou fugir.
Em vez disso, coloco um vestido grosso que é quase
exatamente do meu tamanho. O decote quadrado deixa a maior
parte do meu peito nu, mas pelo menos o vestido tem mangas
compridas e várias camadas para me manter aquecida. Também é
cerca de cinco centímetros mais curto, mas estou acostumada com
isso. Na gaveta de baixo, encontro meias-calças de lã e cintos para
mantê-las levantadas. Isso é o suficiente para me fazer levantar as
sobrancelhas. Não sei se Bram é alérgico a roupas, mas tudo o que
ele usava era uma tanga elegante. Não há fendas nas costas deste
vestido para acomodar as asas, então obviamente foi criado com um
ser humano em mente. O fato de não haver uma única roupa íntima
para ser encontrada... Não tenho certeza do que pensar sobre isso.
Não, isso é mentira. Eu sei exatamente o que pensar sobre isso.
Duvido que quem quer que essas roupas pertencessem precisava de
roupas íntimas. Eu li o contrato que Azazel me deu. Sei que a
oportunidade de sedução faz parte disso. Eu até imagino que
algumas pessoas que fazem acordos com demônios acham a porra
dos monstros uma alegria em vez de uma provação a ser evitada.
Posso até admitir que o próprio Bram é atraente. As asas são
um pouco opressivas e sua pele não parece a de um humano, mas
também não é desagradável. Há uma parte de mim que... Não. Não
vou por esse caminho. A única razão pela qual estou aqui é para
encontrar respostas sobre minha mãe, e não vou descobri-las
pulando no pau de uma gárgula.
Embora eu tenha que jogar o jogo se quiser que ele baixe a
guarda. Isso significa permitir que ele acredite que tem esperança
esta noite, para que não me observe muito de perto quando tudo
estiver dito e feito. Amanhã já terei ido.
Mais uma vez, uma pequena pontada passa por mim ao pensar
em honrar a palavra, mas não o espírito do acordo de Azazel.
Prometi sete anos de serviço, e talvez esteja sendo imperdoável por
basicamente voltar atrás em minha palavra, mas fiz pior por motivos
piores.
No banheiro, encontro uma escova e faço o possível para
domar meu cabelo emaranhado pelo vento. Eu não me incomodo
com nenhum dos cosméticos. Há também uma banheira rebaixada
que obviamente foi projetada para alguém com asas porque é
enorme e tem um formato um pouco estranho. Talvez, se o jantar
terminar rápido o suficiente, eu tenha tempo para mergulhar um pouco.
Não, isso é uma indulgência que não posso pagar. Se eu fizer
alguma coisa para diminuir ou interromper meu impulso, talvez não
consiga recomeçar. Eu estou... Tão cansada. Eu balancei minha
cabeça brevemente.
— Não adianta pensar nisso. Um passo à frente do outro, como
sempre.
Para fazer exatamente isso, saio do quarto e começo a andar
pelo corredor. Duvido que seja hora do jantar, com Bram voando e
desabafando suas emoções para qualquer um que possa ver, mas
com certeza vou encontrar alguém que possa me indicar onde o
jantar será servido.
E vou dar uma olhada no castelo no processo.
Parte de mim pensou que Bram me largou em uma ala
praticamente desocupada do castelo e essa foi a razão pela qual não
havia arte nas paredes ou móveis à vista. Não há sequer um tapete
para aquecer as pedras geladas sob meus pés de meias. Mas,
aparentemente, as gárgulas não acreditam em decoração de
interiores. Cada corredor e escada é quase uniformemente plano. Se
o objetivo das gárgulas é garantir que os recém-chegados se percam
irremediavelmente em minutos, eles estão fazendo um ótimo
trabalho.
Esforço-me para lembrar as voltas que fiz para encontrar o
caminho de volta para o quarto, mesmo que não tenha intenção de
ficar lá por muito tempo. É mais difícil do que eu esperava.
A outra coisa que noto é que os corredores são muito maiores
do que eu esperava, e imagino que uma gárgula cuidadosa poderia
voar por eles. Infelizmente não tenho asas. As escadas dão vertigem
ao meu pobre eu humano, embora as alturas normalmente não me
incomodem.
Em um lugar tão grande, deveria haver pelo menos um
pequeno exército de funcionários, se não uma tonelada de outras
pessoas vagando por aí. Não pretendo ser uma especialista no reino
demoníaco e na política de territórios individuais, mas mesmo nos
breves momentos em que estive fora do meu quarto no castelo de
Azazel, encontrei várias pessoas.
Este lugar parece deserto... Assombrado, mesmo.
Há um escritório vários andares abaixo do meu quarto com um
mapa gigante preso na parede. Eu o observo por vários longos
momentos. Não consigo ler o texto, mas tenho certeza de que as
montanhas próximas ao fundo são as que sobrevoamos para chegar
aqui. Não estamos perto do oceano, ou pelo menos não pude vê-lo
do telhado deste castelo. Havia, no entanto, um lago. Igual ao do
mapa.
A única vez que vejo outro ser é quando viro uma esquina e
quase tropeço em um trio de jovens gárgulas. Ainda estou decidindo
se devo sorrir ou interagir quando eles gritam e batem as asas para
colocar o máximo de distância possível entre nós. Isso me assusta
tanto que tenho que firmar meus pés para evitar recuar, o que só os
faz gritar mais. Em segundos, eles desaparecem, mas leva várias
batidas para que o som deles desapareça.
Que porra foi essa?
Ainda não tenho uma resposta uma hora depois, quando
finalmente encontro uma porta para o lado de fora. Eu a atravesso,
meio esperando que alguém apareça e me pare, mas o exterior está
tão deserto quanto o interior. Inspiro o ar frio e faço o possível para
sufocar minha curiosidade. Não importa que este lugar não seja
nada do que eu esperava. Não importa que Bram pareça usar sua
tristeza do jeito que algumas pessoas usam roupas. Tudo o que
importa é que não há ninguém por perto para me impedir de sair
mais tarde esta noite.
Eu estudo a área. Aí está. O lago, igual ao do mapa. Ele se
estende para o norte quase até onde a vista alcança, terminando no
que parece ser uma cordilheira. Felizmente, não pretendo seguir
nessa direção. É bonito, no entanto.
Um simples farfalhar de som anuncia a chegada de Bram. Ele
pousa ao meu lado quase delicadamente. Não posso deixar de
procurar em seu rosto algum sinal da angústia que testemunhei, mas
ele está com a expressão fechada. Suas emoções não são tão
controladas. Branco, azul claro, cinza. Este homem está cheio de dor,
tristeza e preocupação. De alguma forma, acho que não tem nada a
ver comigo. Certamente não é da minha conta.
— Quem você perdeu? — Eu não quero fazer a pergunta. É
como se meu cérebro decidisse uma coisa e minha boca fizesse
exatamente o oposto.
Ele estreita aqueles estranhos olhos violeta pálido para mim.
Não, não violeta. Lilás? Sinceramente, não sei por que estou
obcecada com o nome correto para a cor dos olhos dele. A maneira
como ele está me observando, é quase como se ele soubesse. Mas
quando ele fala, é para responder à minha pergunta inadequada.
— Todos. Perdi todo mundo.
Eu não quero sentir afinidade com este homem, mas não posso
evitar a dor em resposta que passa por mim.
— Eu entendo.
— O jantar deve estar pronto em breve. — Ele faz uma pausa
quase sem jeito. — Você parece muito bem.
Eu não posso ajudar a mim mesma. Eu comecei a rir.
— Estou usando roupas descartadas de outra pessoa, ainda
tenho queimaduras de vento em todo o rosto e provavelmente
preciso de um banho.
Ele se move mais rápido do que deveria, pressionando uma
mão no centro das minhas costas e inclinando-se, em seguida,
arrastando o nariz ao longo da linha do meu pescoço. Acontece tão
rápido que não consigo descobrir como quero responder antes que
ele dê um passo para trás e saia do alcance novamente.
— Você cheira bem. Como as montanhas. Por aqui.
Eu o encaro por vários segundos antes de perceber que ele quer
que eu o siga. Ele apenas... me cheirou. Eu não odiei tanto quanto
deveria. Na verdade, minha pele ainda formiga um pouco. É um
esforço não levantar a mão e pressionar a ponta dos dedos ali, como
se pudesse roubar a sensação do rosto dele contra a minha pele.
Tive muitos parceiros de cama e até mesmo alguns
relacionamentos ao longo dos anos. Nenhum deles foi capaz de
provocar uma reação nesse nível fazendo tão pouco. Eu quero culpar
sua atratividade rude, mas estou com medo de que o verdadeiro
motivo seja porque não consigo deixar de olhar para ele e suspeitar
que somos iguais.
Eu perdi todos também.
Ainda bem que vou dar o fora daqui. Meus instintos estão
todos confusos. Se eu passar algum tempo com Bram, posso cair
direto na cama dele.

CAPITULO 6
Bram
Estou agradavelmente surpreso ao descobrir que o jantar está
delicioso. Aparentemente, meu novo cozinheiro sabe o que faz, o
que é um alívio. Não estou em posição de substituí-lo. Se ele fosse
péssimo em seu trabalho, eu simplesmente teria que me esforçar
para comer comida ruim além de todo o resto.
Acho que estou um pouco envergonhado por sentar Grace
nesta mesa apenas com nós dois. Há pratos e cadeiras suficientes
para doze, mas estão vazias esta noite, como sempre. Na maioria das
vezes, como sozinho. Eu adoraria acabar com a maldita mesa e a
tradição que exige que eu ocupe meu lugar à frente dela todas as
noites, mas sempre há o risco de que um dos nobres da residência
compareça. Se o fizerem, é necessário que eu tenha um lugar para
eles.
Grace me observa encher seu prato e depois o meu, sua
curiosidade um verde claro que cobre o ar.
— Vamos esperar por todos os outros?
— Não há mais ninguém. — Estou sendo muito abrupto,
minhas emoções cruas fazendo de mim um idiota. Eu deveria estar
seduzindo esta mulher, não atacando-a com todas as perguntas
inocentes. Respiro fundo e tento novamente. — Eu sou o último da
minha família. É tradição que o governante deste território
mantenha um lugar à mesa para cada uma das famílias nobres. Às
vezes eles escolhem participar, e às vezes não. — Não adianta
explicar que nenhuma das famílias escolhe jantar há anos.
Grace pega o garfo e cutuca a comida.
— Eu também sou a última da minha família.
— Desculpe. — Eu faço uma careta. — Não sei por que disse
isso. São palavras sem sentido que não fazem absolutamente nada. E
então isso a coloca em uma posição em que você deve dizer algo de
volta e... o que você deveria dizer sobre isso? Eu nunca sei.
Seus lábios se curvam no primeiro sorriso verdadeiro que ela
me dá. Ela era linda antes, mas com seus olhos cinza-escuros
brilhando, ela é devastadora.
— O luto é uma coisa estranha, não é?
— O mais estranho.— Especialmente no meu caso, quando a
causa não era algo tão simples e terrível como um acidente ou uma
doença. Não foi o acaso que arruinou minha família. Foi uma tolice...
e malícia. Mas sei que não devo dizer isso em uma conversa de
jantar com uma pessoa por quem me sinto atraído. — Suponho que
seja um tabu perguntar por que você fez um acordo com Azazel.
— Não estou totalmente certa do que é ou não tabu em nossa
situação atual. — Ela dá de ombros. — Várias décadas atrás, um
vampiro salvou a vida de meu avô e, como resultado, contraímos
uma dívida vitalícia. O velho bastardo não suportava dever às
pessoas, mesmo alguém que ele considerava um monstro. O resto da
família levava esse tipo de coisa a sério. Meu avô nunca foi solicitado
a pagar essa dívida, nem meu pai. Então caiu para mim. Fica um
pouco complicado, mas a versão curta e simples é que concordei em
pagar o preço da barganha de Azazel para saldar a dívida.
Fascinante. Está claro que ela está deixando uma grande
quantidade de informações de fora, mas isso faz sentido, já que
acabamos de nos conhecer. Estou curioso sobre o que a família dela
faz que os coloca em contato com vampiros. Não temos vampiros
neste reino, mas tive a impressão de que eles se mantinham isolados
e longe dos humanos. Ou pelo menos é o que diz nossa tradição,
embora esteja severamente desatualizada.
— O que você fará quando a dívida for paga e você voltar?
Seu sorriso desaparece.
— Não sei. Provavelmente vou acompanhar Mina e seus
homens e me certificar de que estão bem. Sinto-me um pouco
culpada por não estar lá para ajudar mais com os problemas dela.
Ela parecia uma boa pessoa.
A curiosidade é uma coisa viva dentro de mim.
— Você ajuda muita gente boa?
— Não sei. Eu gostaria de pensar que sim, mas algumas
pessoas podem não sentir o mesmo. — Ela balança a cabeça. — Mas
acho que depois de ver como ela está, vou voltar ao que estava
fazendo antes. Eu realmente não pensei sobre isso. — Ela dá uma
mordida e mastiga. Ainda estou tentando decidir se devo continuar
com o assunto ou tentar algo mais seguro quando ela diz: — E você?
Por que você concordou com este acordo? Parece muito arriscado
com muito pouca recompensa.
Ela não está errada. Eu debato se conto a verdade, mas ela
descobrirá em pouco tempo. Não preciso colocar todas as minhas
cartas na mesa para deixá-la ciente da situação em que se meteu.
— Eu sou o último da minha família. Este território é
essencialmente uma monarquia e não tenho filhos para herdar. Por
causa de... complicações... nenhuma das famílias nobres está
interessada em casar um dos seus comigo. Se eu morrer sem um
herdeiro, eles serão contenciosos o suficiente para se transformar em
uma guerra civil, que vai prejudicar todo o meu povo. — Eu poderia
deixar por isso mesmo, mas isso pareceria desonesto. — Também
existe um fator adicional, e é por isso que todos os líderes do
território foram convidados por Azazel. Por causa de alguma
peculiaridade na composição deste reino, a força da magia de cada
território está diretamente relacionada à força da magia de cada líder
do território. A magia de todos está desaparecendo há gerações,
desde que os reinos se dividiram e a passagem se tornou
significativamente mais difícil.
Grace acena com a cabeça lentamente.
— Porque os humanos são um canal incrível para a sua magia.
Mais uma vez, ela prova que não é estranha aos elementos
mágicos. Mais uma vez, minha desconfiança dela cresce.
— Só quando se trata de procriar com eles. — Eu dou de
ombros, fingindo indiferença. — Qualquer um dos líderes do
território que for capaz de convencer seus humanos a procriar com
eles terá uma vantagem sobre os outros. Não faz muito tempo que
estávamos em guerra, e está muito presente na mente de todos que,
se a guerra voltar, um líder meio-humano pode significar a diferença
entre a vitória e a derrota.
Ela come devagar, obviamente refletindo sobre a informação
que acabei de transmitir. Finalmente, ela toma um gole de vinho e se
recosta.
— Pelos termos do contrato, você não pode me obrigar a
dormir com você. E você certamente não pode me forçar a ter seu
filho.
— Não tenho intenção de forçá-la a fazer nada. Isso é
monstruoso. — Mais uma vez, as palavras saem muito duras. Eu sei
que deveria me concentrar em deixá-la à vontade, mas há muitas
coisas erradas Seu comentário sobre se eu queimo. Seu conhecimento
sobre o mundo paranormal. E aquela maldita cláusula no contrato
de Azazel comigo.
— Sem falar que você não é capaz de forçar nada. — Ela toma
outro gole de vinho. — Se você me prejudicar, seu território será
perdido.
Eu me pergunto se sua opinião negativa se estende a todas as
pessoas que ela considera monstruosas ou simplesmente a todos que
não são ela.
— O contrato não vem ao caso. Você não será forçada.
— Então você está jogando um jogo perdedor. — Ela suspira.
— Se eu ficar presa aqui por sete anos, não quero ter um
relacionamento contencioso com você. Parece cansativo para nós
dois, e acho que você não quer isso mais do que eu.
Ela não está sendo honesta comigo. E ela não está exatamente
mentindo, mas suas emoções estão mais silenciosas do que nunca
desde que a conheci, o que significa que ela está trabalhando duro
para controlá-las. Não é por medo. De todas as emoções, o medo é o
mais difícil de mascarar. É muito instintivo.
— Eu concordo — eu digo lentamente. — Você encontrou seu
caminho até aqui bem o suficiente. Você estava explorando? — Eu já
sei a resposta, e não tenho certeza se prefiro que ela fique escondida
em seu quarto até que eu venha buscá-la ou não. Não quero que ela
tenha medo de mim, mas há algo de perigoso nessa mulher. Se ela é
uma ameaça...
O que vou fazer se ela for? Correr.
Tomo um grande gole de vinho.
— Cuidado nas escadas. Uma queda de um andar alto vai te
matar.
— Como já disse, não tenho medo de altura e tenho um
excelente equilíbrio. Eu vou ficar bem.
— Certo. Bom. — Sento-me e giro meu vinho na minha taça. É
tentador dizer a ela que duvido de suas intenções, mas não posso
deixar de duvidar de meus instintos. Serei o primeiro a admitir que
minhas opiniões sobre os humanos são obscurecidas por eventos
passados. Pode ser que eu esteja procurando problemas onde não
há.
Pode ser, mas acho que não. Duvido muito que Grace esteja
aqui com boas intenções. Não saberei com certeza até que ela aja,
mas posso ficar de olho nela.
Forço um sorriso e permito que ela acredite na mentira de que
confio nela.
— Eu sei que isso não é fácil para você. Também não é fácil
para mim. Há muito tempo, Grace. Vamos nos conhecendo aos
poucos. — É mentira. Há um relógio correndo na minha cabeça. Não
acredito que a maldição seja real. Isso não faz sentido. Mas tantas
coisas ruins aconteceram que é difícil não sentir que sou o próximo.
Não vou respirar bem até que a linhagem de sucessão esteja
assegurada. Talvez nem depois.
O jantar termina rapidamente depois disso. Acompanho Grace
de volta ao quarto dela e não perco o jeito que ela parece estar
memorizando a viagem. É quase um alívio que os corredores estejam
vazios e ecoando - pelo menos não há ninguém lá para testemunhar
a crescente estranheza entre nós. Quero acreditar que a memorização
dela é para que ela possa encontrar o caminho pelos corredores
enquanto mora aqui, mas há uma intenção silenciosa em sua energia
que fala de astúcia. Ela se afasta de mim toda vez que tento me
concentrar nela.
— Boa noite, Grace. Vejo você de manhã.
— Sim. Vejo você pela manhã. — A culpa colore suas emoções,
e ela dá uma olhada rápida pela janela. Procurando uma rota de
fuga?
Não há violência nela agora, o que me leva a apenas uma
conclusão possível. Ela não está aqui para atacar ninguém. Ela
também não tem intenção de honrar sua parte no trato.
Não, isso não pode estar certo.
Azazel deu a ela uma chance de desistir mais cedo. Ela não o
aceitou. Por que ela concordaria com isso se planejava fugir na
primeira chance que tivesse?
Porque eu sou um obstáculo menor do que o demônio barganhador.
A vergonha me envolve, tão densa que mal consigo respirar.
Estou acostumado a não ser suficiente para o meu povo, mais ou
menos, mas essa maldita humana não me conhece.
Ela assinou o contrato, assim como eu. Ela deu sua palavra,
assim como eu. E, no entanto, ela nem vai esperar vinte e quatro
horas antes de quebrá-lo. Não tenho intenção de forçá-la a nada. Eu
ia dar a ela o benefício da dúvida e conduzir uma sedução lenta. Eu
pretendia conhecê-la e potencialmente criar um relacionamento real.
Ela jantou comigo para me aplacar. Para me fazer pensar que
tínhamos uma conexão potencialmente real.
Ela mentiu.
Enquanto subo ao telhado e me agacho ali, esperando que ela
faça seu movimento, a determinação se solidifica dentro de mim. Se
ela não pretende manter sua palavra, eu também não o farei. Eu não
vou forçá-la. Não menti quando disse que não tinha desejo ou
intenção de fazer isso.
Mas há muito terreno entre uma doce sedução e força. Fico um
pouco enjoado só de pensar nisso, mas até mesmo esse sentimento
desaparece quando a escuridão total desce e percebo o movimento
de Grace saindo do castelo abaixo.
Ela realmente pensa tão pouco de mim que nem tentou
encobrir sua fuga. Não havia como esperar que a noite mais
profunda caísse. Ela nem está se movendo particularmente
sorrateiramente.
A raiva floresce dentro de mim e eu a recebo de braços abertos.
É muito mais fácil ficar com raiva do que se afogar na maldita
vergonha que nunca vai embora.
Eu vou para o céu, usando a cobertura de nuvens para
esconder meu movimento. Não importa o quão capaz ela seja, ela
está em um território desconhecido no escuro. Há muitos perigos
nas terras ao redor do castelo, e posso estar tão furioso que mal
consigo respirar, mas isso não significa que quero machucá-la.
Ela é uma presa e nem sabe disso.
Ela passa pelo posto de guarda com seus feitiços que mantêm a
área segura. Eu desço até quase roçar as copas das árvores, seguindo
o cinza de sua preocupação enquanto ela abre caminho pela floresta.
Apenas dez minutos se passaram antes que uma maldição abafada
soasse. Exatamente como eu esperava. Eu encontro um lugar e caio
no chão na frente dela.
Grace paira no ar, seu corpo inteiro preso a uma teia enorme.
Ela tirou um tempo para trocar de vestido por um par de leggings e
uma longa túnica que coloca seu corpo magro em plena exibição. Ela
pragueja mais forte quando me vê, luta com mais violência. Tudo o
que faz é enredá-la ainda mais.
No alto, algo corre pela teia.
— Quanto mais você luta contra a teia, maior o frenesi delas
quando chegam até você. — Estou com tanta raiva que quase não
pareço eu mesmo. Aproximei-me deste acordo de boa fé; Grace
nunca teve a intenção de defender seu lado das coisas.
— Corte-me, seu bastardo!
Eu abro meus braços.
— Farei minha própria barganha com você, Grace. — Eu não
espero que ela responda antes de continuar. — Eu não sei por que
você está tão determinada a fugir, e eu realmente não me importo
neste momento. Mas se você vai quebrar sua palavra, então eu
também vou.
— O que você está falando?
Agora é a hora de voltar atrás, de não permitir que minha raiva
comande esta situação. É tarde demais, no entanto. Eu estou
correndo contra o tempo. Mais do que isso, não consigo deixar de
olhar para ela e ver o passado acontecer em tempo real. Como meu
pai, fui contra a vontade de meu povo e trouxe uma humana para
minha casa para ser uma parceira em potencial. Como aquela
humana, Grace voltou atrás em sua palavra e me traiu.
Como aquela versão mais jovem de mim, eu não era bom o
suficiente para impedir.
Isso deveria ser motivo suficiente para me afastar desse curso
de ação, mas talvez eu seja mais parecido com meu pai monstruoso
do que pensava. Porque eu não me afasto.
— Você obviamente quer correr. Eu até vou deixar você. Mas
toda vez que eu te pegar, você virá para minha cama de bom grado.
— Difícil chamar o sexo de disposto se for coerção, — ela rosna.
— Difícil chamar isso de honestidade quando tudo que você
faz é mentir.
O farfalhar acima fica mais alto, mais próximo. Eu não desvio o
olhar de Grace enquanto eu golpeio com minhas asas, usando a
espora para matar a aranha que a persegue. Ela não grita quando ela
cai e se enrola no chão abaixo de seus pés, mas seus olhos se
arregalam e seus movimentos ficam mais frenéticos.
— Eu sugiro que você responda rapidamente. Quando
morrem, emitem um feromônio que atrai outros. Elas não são uma
espécie esbanjadora.
Grace olha para cima, e cada pedacinho de cor desaparece de
sua pele. Sua energia surge com o cinza claro do medo. É quase o
suficiente para eu recuar. Eu odeio isso, mas não o suficiente para
voltar atrás. Eu tinha toda a intenção de fazer as coisas com ela da
maneira certa, mas ela tirou essa opção de mim com sua traição.
Agora só a crueldade serve.
CAPITULO 7
Grace
Não sei quem é esse homem, mas ele não é o gárgula legal,
nem mesmo desajeitado, com quem jantei. Bram está parado nas
sombras das árvores ao redor, suas asas abertas como uma criatura
de um pesadelo. Eu tenho que concordar com seus termos. A teia é
muito pegajosa para escapar, e se a aranha gigante que ele matou é
alguma indicação... Não, não consigo pensar na aranha. Eu as odeio
em sua pequena forma no reino humano. Mal consigo compreender
a escala da coisa aos meus pés. Tem que ser do tamanho de um
cachorro médio.
Não, não, não, não, não quero, ai meus deuses, me tirem daqui.
Há um grito crescendo no fundo da minha garganta, um som
traidor, e se escapar, não sei se algum dia vai parar. O que acontece
quando você passa vinte e cinco anos sem demonstrar um pingo de
medo e então tudo vem à tona de uma só vez? Estou com medo de
descobrir se Bram não me tirar daqui neste maldito segundo.
— Sem bebês. — Não tenho nem um pingo de poder de
barganha, e sei disso, mas me recuso a cruzar essa linha em
particular. Talvez eu esteja cedendo muito facilmente... ou talvez ele
transformando o quarto em um campo de batalha seja muito
familiar. Afinal, é o que eu faço. Forçar essa decisão pode ser
exatamente o que preciso como desculpa para pegar o que quero.
Não importa. Não há nenhuma maneira no inferno de deixar uma
criança para trás no reino dos demônios.
— Veremos.
Eu ignoro isso. Não há tempo para barganhar, nem
alavancagem para conseguir o que quero.
— Toda vez que eu tentar escapar, se você me pegar, irei para a
sua cama. — Eu me forço a manter seu olhar, ou tento. Seu rosto está
banhado em sombras. — Mas eu não vou ter seu filho.
— Por agora.
Algo semelhante a chamas de calor puro explode dentro de
mim. Este homem está entre mim e as respostas. A teia começa a
vibrar com o movimento dos predadores lá de cima. Não consigo
olhar para cima. Se o fizer, o grito com o qual estou lutando no
momento vencerá a guerra.
— Eu já concordei. Corte-me.
— Começando esta noite. — Não há ceder em sua voz áspera.
Eu não sei se ele realmente vai ficar aqui e me ver ser comida viva
por aranhas gigantes, mas ele parece chateado o suficiente para fazer
isso.
— Começando esta noite. — Eu puxo meu braço, mas tudo o
que ele faz é fazer todo o meu corpo tremer enquanto meu
movimento é transferido para a teia. O movimento na borda da
minha visão faz minha cabeça girar apesar dos meus melhores
esforços. Não consigo parar o gemido que sai dos meus lábios. Eu
ficaria feliz em lutar contra um minotauro furioso com minhas
próprias mãos do que enfrentar o que está vindo em minha direção
na teia. — Bram, por favor!
Mais uma vez, ele ataca tão rápido que mal vejo o movimento.
Desta vez, sou eu que ele corta. Eu mal tenho um segundo para
tentar me preparar antes que ele me pegue em seus braços e nos
lance no ar. Não é a covardia que me faz me apegar a ele, é a
autopreservação. Ele pode realmente me derrubar.
Ele voa de volta para o castelo e mergulha em um dos poços
verticais, usando uma velocidade que me deixa sem fôlego.
Aparentemente, não estamos indo pelo caminho lento desta vez. É
difícil dizer quando tudo parece exatamente igual e estou coberta de
teia, mas acho que ele me leva para uma parte diferente do castelo
do que meu quarto, para uma enorme porta dupla no final do
corredor. Dentro há um quarto com o dobro do tamanho do meu e
decorado com o mesmo luxo.
Eu fico tensa, mas ele contorna a cama sem hesitar. Em vez
disso, ele me carrega até o banheiro e usa uma de suas asas para
abrir a torneira. Ele fica parado em um silêncio doloroso enquanto a
água enche a banheira. Abro a boca, mas ele me silencia com um
olhar severo.
— Eu sugiro que você não discuta comigo agora.
Ele está furioso. Está escrito em toda a sua aura, as estrelas de
um vermelho violento. Ele pode parecer que me odeia com sua
expressão, mas pelo menos a cor amarelo-esverdeada doentia não
está em evidência. Não vou examinar por que essa ausência me
enche de alívio.
Apesar de toda a raiva de Bram, ele me segura com cuidado.
Teria sido muito fácil para ele me esmagar ou me machucar de
alguma forma, mas mesmo quando estávamos voando furiosamente,
ele manteve os braços em um suporte confortável. É mais controle
do que eu seria capaz de exibir na situação dele. Não sei se acho isso
um alívio... ou ainda mais assustador.
Quando a água está com dois terços cheia, ele fecha as torneiras
e me põe de pé. Eu mal tenho a chance de alcançar a bainha da
minha camisa quando ele bate levemente na minha mão para fora do
caminho.
E então o bastardo corta minhas roupas com as esporas de
aparência perversa nos pontos dobrados de suas asas.
Acontece tão rápido que ainda estou tentando processar o fato
de que está acontecendo quando estou diante dele. Nua. Eu
realmente pensei que poderia controlar este homem? Que ele não
notaria ou se importaria se eu fosse embora?
Eu cometi um erro terrível.
Espero que ele caia sobre mim como uma fera voraz, mas ele
simplesmente fica parado e me encara. É quase pior. Não me lembro
da última vez que me senti tão vulnerável. É preciso tudo o que
tenho para manter minhas mãos ao lado do corpo e não tentar me
cobrir - seria ineficaz e transmitiria meu medo com muita clareza.
Finalmente, Bram ganha vida. Com o movimento de seu pulso,
sua tanga cai no chão, e então ele está tão nu quanto eu. Agora é a
minha vez de encarar. Eu sabia que ele era maior do que eu e admito
que parte de mim se perguntava se ele estava em proporção em
todos os lugares, mas vê-lo sem qualquer cobertura é uma
experiência completamente diferente. Tentei me convencer de que o
contorno muito nítido que vi antes era apenas um truque do tecido.
Não foi. O pau dele é enorme pra caralho. Também está tão duro
que parece doloroso. Há algo estranho na forma, mas ele se vira e
desce para dentro da banheira antes que eu consiga identificar o quê.
Ele se posiciona de frente para mim, suas asas deslizando
facilmente nas curvas da banheira.
— A teia se dissolverá na água. Você não vai entrar na minha
cama coberta com essa merda.
Suas palavras duras me tiram do devaneio em que caí quando
vi seu pênis.
— É você quem me quer na sua cama. Agora você vai ser
exigente sobre como eu chego lá?
— Sim.
Em outra ocasião, posso cravar meus calcanhares por puro
despeito. Mas a verdade é que eu quero tirar as teias da minha pele e
do meu cabelo tanto quanto ele. Mais. Contanto que eu não me
mova, quase posso fingir que elas não estão lá. Mas toda vez que eu
tremo, a viscosidade faz meu estômago revirar em nós.
Embora a banheira seja funda, não há escadas. É totalmente
estranho entrar nela, e Bram não se oferece para ajudar. Tudo bem.
Eu jogaria a ajuda dele de volta na cara dele.
Exceto... a água faz bem. Eu deslizo sob a superfície
imediatamente e esfrego minhas mãos pelo meu cabelo quase
compulsivamente. Quando volto à superfície, as teias já se foram.
Obrigada, porra.
Mas sem as teias para me distrair, a realidade da minha
situação bate em casa. Estou nua, em uma banheira com um Bram
igualmente nu. De sua parte, ele apenas fica sentado com aquele
olhar imóvel em seu rosto que me faz querer me jogar contra ele até
que um de nós se estilhace.
Ele sabe que pretendo partir novamente.
Se ele me pegar, ele vai me trazer de volta e me foder.
Eu tremo com o pensamento, e eu não posso começar a dizer se
é medo ou luxúria causando a reação física. Se eu pudesse ver minha
própria aura, não seria capaz de mentir para mim mesma assim,
então ainda bem que não posso. Bram pode ter me levado a sério
com essa barganha, mas isso não significa que eu tenha que bancar a
humana choramingando e aterrorizada para seu monstro. Farei com
que ele se arrependa de ter me colocado em sua cama como parte
dos termos.
Eu mergulho sob a água novamente para garantir que a última
teia tenha sumido. Quando me levanto, é para ficar diante dele. A
banheira é funda o suficiente para que a água chegue até a minha
cintura, mas isso deixa meus seios à mostra. Ele também percebe.
Sua atenção se concentra em meu peito; ele não consegue desviar o
olhar.
Algo quase como uma onda de energia dentro de mim.
Pretendia ficar fora da cama desse homem, mas agora que a escolha
me foi tirada, sinto-me um pouco livre, Como se, pela primeira vez
na vida, não tivesse que me preocupar em ser palatável para um
amante. Eu posso ser apenas eu.
— Você cometeu um erro e agora vou fazer você se engasgar
com isso.
Ele levanta uma única sobrancelha escura.
— Você é tão rápida com suas palavras, mas suas ações nunca
seguem adiante. Faça isso.
Eu ruborizo com a lembrança de que quebrei minha palavra.
Ah bem. Estamos aqui agora e não tenho interesse em garantir que
este trem permaneça nos trilhos. Eu vou até ele antes que eu possa
pensar em todas as razões pelas quais eu não deveria, e é como se eu
estivesse em movimento, todas as minhas reservas desaparecessem.
Posso dizer a mim mesma que não tenho escolha, mas a verdade é
que ele não está fazendo nada além de ficar sentado ali, olhando-me
com um desafio em seus olhos claros. Ele não acha que eu vou
seguir com isso. Isso, mais do que tudo, me estimula.
Eu deslizo meus dedos sobre a superfície da água e levanto
minhas mãos para segurar meus seios.
— Pobre pequena gárgula. Nem um único de seu povo terá
você. Reduzido a uma favela com uma humana.
— Você disse isso. Eu não.
Meu rubor aumenta, e digo a mim mesma que é o calor do
banho que está causando isso e não a dor de suas palavras. Ele não
me impede de seguir em frente, no entanto. Na verdade, quando
minhas pernas batem contra as dele, ele abre as coxas para me
permitir mais perto.
— Uma humana que nem mesmo quer você. Uma que você
tem que coagir para sua cama.
Na verdade, sua expressão se torna mais zombeteira.
— Sim, Grace. Você parece estar extremamente coagida agora.
— Mais uma vez, sua atenção recai sobre onde seguro meus seios e
brinco com meus mamilos. — Praticamente tremendo com... temor.
Eu quero calá-lo. Essa é a única coisa que estou pensando
quando meu corpo começa a se mover. Eu monto nele e afundo
minhas mãos em seu longo cabelo branco antes de jogar sua cabeça
para trás e expor sua garganta.
— Eu poderia te matar agora mesmo.
Seus olhos se fecham pela metade e um sorriso inesperado
curva seus lábios. Suas asas se movem. Eu fico tensa, esperando que
ele me derrube. Em vez disso, ele bate em uma pequena mesa logo
atrás dele. Eu nem percebi que estava lá. Há um lampejo de metal
voador, e então sua mão estala para pegar uma adaga. Ele fez tudo
sem mover a cabeça do meu alcance.
Que porra?
Bram agarra meu pulso e puxa minha mão de seu cabelo. Estou
chocada o suficiente para deixá-lo fazer isso. Ele pressiona o cabo da
adaga na palma da minha mão e a guia para sua garganta exposta.
— Você quer me matar? Então faça.
O choque me acalma. Procuro em seu rosto, em sua aura, uma
prova de que isso é um blefe. Tudo o que encontro é o violeta
profundo da determinação mesclado com o lilás pálido do relevo.
Ele quis dizer isso. Não sei o que fazer com esse homem quebra-
cabeça. Talvez eu devesse cortar sua garganta e acabar com isso. Só
que isso quebraria o contrato de Azazel. O tempo se move de forma
diferente neste reino, e é inteiramente possível que ele ainda não
tenha cumprido sua parte no acordo para salvar Ryland e os outros e
entregá-los a Mina. Digo a mim mesma que essa é a única razão pela
qual faço o que faço a seguir - não posso permitir que isso aconteça.
Eu jogo a adaga fora.
Eu salvo pessoas. Eu não as mato.
Eu beijo Bram.
CAPITULO 8
Bram
Não há hesitação em Grace quando ela toma minha boca. Uma
parte de mim sussurra que eu deveria assumir o comando, mas
estou cansado pra caralho. Cansado de travar uma batalha perdida
que parece nunca terminar. Cansado dos lembretes constantes de
todas as maneiras pelas quais não estou à altura. Apenas... cansado.
É bom ter as mãos de Grace no meu cabelo, puxando com força
suficiente para doer. Para sua boca se mover contra a minha,
beliscando meu lábio inferior para provocar minha boca aberta. Ela
tem um gosto diferente de tudo que eu já experimentei.
Então ela afunda em mim, pressionando todo o seu corpo
contra o meu. Ela é tão pequena para alguém tão feroz. Eu poderia
quebrá-la ao meio sem nem tentar.
E ainda me encontro sentado aqui passivamente enquanto ela
me domina com o maior beijo da minha vida. Faz anos desde que
estive tão perto de outra pessoa, muito menos...
Grace puxa meu cabelo de novo, com mais força dessa vez.
— Você mudou de ideia ?— Há um desafio em seu tom, mas
ela não se mexe enquanto espera minha resposta.
Eu mudei?
Uma parte ingênua e tola de mim queria algo diferente com a
oportunidade que Azazel oferecia. Algo real. Para provar que não
sou a maldição em ação. Eu deveria saber melhor. Sempre ia acabar
assim.
Uma luta cruel em vez de uma sedução delicada.
— Você já? — Eu rosno.
Ela se levanta o suficiente para estudar meu rosto. Um sorriso
cortante surge em seus lábios. Sua energia é uma mistura
avassaladora de rosa brilhante e vermelho, luxúria e raiva dirigindo-
a da mesma forma que está me dirigindo.
— Não — diz Grace lentamente. Ela balança a cabeça como se
estivesse saindo de um transe. — Mas sem bebês.
Posso ser capaz de provocá-la a esquecer essa regra, mas parte
de mim ainda quer que haja alguns limites que eu não ultrapasse.
— Eu vou te dar um pingente de controle de natalidade
amanhã.
Ela pisca.
— Um pingente de controle de natalidade. Isso soa... — Outra
sacudida de cabeça. — Vamos voltar a isso.
— Claro. — É difícil pensar com os seios dela pressionados
contra o meu peito. Então eu não me incomodo. Ainda não me canso
dos dedos de Grace no meu cabelo. Eu gosto muito. Especialmente
quando ela envolve meu cabelo em torno de um punho e, em
seguida, move a outra mão para traçar um dedo ao longo de um dos
meus chifres.
Sua expressão ainda é pura maldade, mas acho que não me
importo nem um pouco.
— Você está conseguindo o que quer, Bram. Eu na sua cama.
Você não pode me foder esta noite, mas fora isso... o que você vai
fazer comigo?
A pergunta deve parecer quase vulnerável, mas sai da mesma
forma que tudo de Grace. Como um desafio.
Eu não respondo com palavras. Em vez disso, coloco minhas
mãos sob sua bunda e a levanto quase para fora da água. Ela não é
muito passiva em meus braços, não com aquele olhar imperioso em
seus olhos escuros, mas ela me permite manipulá-la. Provavelmente
porque basicamente fiz um assento para ela com minhas mãos. Um
trono, até. Ela certamente tem a energia de uma rainha.
Agora, finalmente, posso olhar para ela para deleite do meu
coração.
Ela é bem formada, minha humana cruel. Longa e magra, com
músculos fortes que se destacam enquanto ela se move inquieta. E
cicatrizes. Eu não tinha notado antes quando ela estava usando o
vestido roxo, e ela estava mais bem coberta com o outro vestido, mas
minha Grace tem cicatrizes por todo o corpo. Algumas são fracas e
prateadas e quase totalmente desbotadas. Algumas são recentes o
suficiente para serem rosa contra sua pele clara.
Eu traço uma grande em sua coxa com meu polegar.
— O que aconteceu aqui?
— A mesma coisa que aconteceu em todos os outros lugares. —
Ela diz isso em um tom entediado. Nem mesmo sua energia muda.
Mais uma vez, sinto uma afinidade com essa mulher. Eu
conheço esse tom. Eu mesmo o usei muitas vezes ao contar o que
aconteceu com minha família. Às vezes é mais fácil eliminar
completamente as emoções do que lidar com elas toda vez que um
assunto surge.
Eu não pergunto a ela novamente. Realmente, não importa. Eu
não negociei por sua história. Eu negociei por ela na minha cama.
Isso terá que ser o suficiente.
Ela assumirá o controle desta situação em um piscar de olhos.
Eu já posso ver o cálculo em seu rosto enquanto ela se move, sua
pele escorregadia contra minhas palmas onde eu a seguro no alto.
Há uma parte de mim que quer desesperadamente deixá-la fazer
isso. O momento em que ela enfiou os dedos no meu cabelo e
segurou minha adaga na minha garganta...
Nunca me senti mais em paz.
Anseio por uma experiência repetida mais do que desejo a
sensação do vento me fazendo flutuar no ar. É por isso que nunca
posso deixá-la saber o quanto eu quero isso. Grace é uma predadora
por completo. Ela quer ir embora e, se achar que pode dominar seu
caminho para isso, não hesitará. Não tenho certeza de como
responderia a tal coisa, então não posso permitir que cheguemos lá.
— Abra suas coxas.
Ela aumenta seu aperto, uma mão ainda no meu cabelo.
— Eu pensei que você me queria em sua cama.
— Próxima vez. — Se eu a tiver na minha cama agora, não
tenho certeza de que não vamos nos deixar levar. Talvez seja uma
coisa tola para se preocupar quando nos beijamos uma única vez,
mas a energia entre nós é uma coisa feroz e cortante. Parece que
estamos a uma única ação de uma explosão. Não sei o que vai sobrar
se isso acontecer.
Vou manter minha palavra para ela, mesmo que ela não esteja
interessada em me dar a mesma cortesia.
— Abra as pernas, Grace. Dê-me sua boceta.
O rosa em sua energia cria uma torrente tão brilhante ao nosso
redor que quase tenho que fechar os olhos. Mas eu não poderia
mesmo se quisesse, não quando ela me mantém cativo em seu olhar.
Sou incapaz de fazer qualquer coisa além de permanecer imóvel
enquanto ela abre lentamente as coxas antes de colocar os pés na
parte externa dos meus ombros.
Sua boceta é tão bonita quanto ela. Bonita, rosa e brilhando
com a necessidade.
— Você quer que eu jogue seu joguinho doentio, Bram? Faça
valer a pena. — Ela puxa meu cabelo novamente com força. — Faça-
me gozar com tanta força que mal posso esperar para colocar suas
mãos e boca em mim novamente. Faça isso agora, antes que eu mude
de ideia.
Em outro mundo e em outra vida, eu tentaria nos desacelerar e
tornar isso doce em vez de duro. Mas este não é outro mundo. Não é
outra vida. Eu só tenho um, por mais foda que seja.
Eu seguro Grace mais perto e obedeço exatamente como ela
manda, exatamente como eu desejo. Eu arrasto minha língua até seu
centro. Ela tem um gosto ainda melhor do que parece, e o pequeno
som que ela faz está tão em desacordo com a mulher que estou
começando a conhecer, que não consigo evitar a necessidade
compulsiva de fazê-la fazer isso de novo. Se eu conseguir convencê-
la a perder o controle, talvez eu ganhe um pouco disso para mim.
Eu nunca fiz sexo com uma humana, porém, e estou
dolorosamente ciente de nossas diferenças de tamanho e força. Grace
parece maior que a vida enquanto guia minha boca para seu clitóris,
mas a verdade é que ela não é. Eu poderia esmagá-la facilmente. De
certa forma, é um alívio que ela esteja guiando isso. Tudo o que
tenho a fazer é fazer um assento com as mãos e seguir as instruções
dela.
— Você está se segurando. — A voz dela ficou estranha e
ofegante, mas isso não muda o fato de que minha espinha estalou
com a crítica. Eu a movo para trás apenas o suficiente para que eu
possa ver seu rosto. Suas sobrancelhas estão juntas em consternação.
— Você mudou de ideia?
Eu poderia rir se tivesse fôlego para isso. Mudei minha ideia? É
tudo o que posso fazer para ficar perfeitamente imóvel e apenas
mover minha boca e língua. Para ir devagar em vez de devorá-la do
jeito que eu desejo. Para não arrastá-la para minha cama e ver se sua
boceta toma meu pau tão docemente quanto leva minha língua.
Irresponsável. Eu sou tão fodidamente imprudente.
— Não — eu consigo. — Não mudei de ideia.
Ela ainda está me observando como se não acreditasse em mim.
— Talvez nós devessemos...
— Se você se lembra, fui eu quem trouxe você aqui para este
propósito. Não mudei de ideia, Grace. — A necessidade me torna
muito duro, embora seja uma desculpa patética para o que digo a
seguir. — Tenho facilmente o dobro do seu tamanho, com garras,
asas e presas. Eu poderia te matar de meia dúzia de maneiras em
segundos. Perdoe-me se estou tentando garantir que você fique
segura e inteira durante este processo. — Por que diabos eu disse isso?
Estou fazendo exatamente o papel do monstro que ela pensa que eu
sou. Nenhum homem bom lembra as pessoas ao seu redor de todas
as maneiras pelas quais ele pode feri-las, mesmo que seja a verdade.
Mas então, eu não sou um bom homem, sou? Eu a forcei para o
canto, e agora estou sendo um idiota sobre isso.
Grace não exige que eu a liberte. Ela não me diz para me foder.
Ela não faz nada além de olhar para mim com aquele mesmo olhar
estranho em seu rosto que eu continuo vendo de novo e de novo.
Como se eu fosse uma caixa de quebra-cabeça que ela ainda não
resolveu.
— Você não vai me machucar. — Ela diz isso com tanta
confiança que quase acredito nela.
Eu não posso pagar. Explicar significa admitir algo que prefiro
não admitir, mas preciso que ela entenda a gravidade da situação em
que nos encontramos.
— Eu não machucaria você intencionalmente. Mas já faz...
bastante tempo para mim. Posso me dar ao luxo de perder o controle
com uma das pessoas neste reino, mas os humanos são
significativamente mais frágeis.
Ela sorri lentamente, e meu pau estremece em resposta.
— Você está tornando muito difícil te odiar agora.
— Você tem que me odiar?
— Sim. — Ela olha em volta e parece se concentrar em algo
atrás de mim. — Se você está tão preocupado em me machucar, eu
posso apenas amarrá-lo até que eu termine de ter meu caminho sujo
com você. Como isso soa?
Parece uma porra de uma ideia terrível. Ela já provou que não
é confiável, e me tornar impotente de qualquer maneira verdadeira é
um erro. É provável que ela me amarre e depois decole novamente.
Mas, tolo que sou, me pego dizendo: — Parece bom.
Espero que ela nos guie até o quarto. Eu realmente deveria
saber melhor. Acabo sentando no azulejo frio do banheiro enquanto
ela usa um pedaço de lençol rasgado para amarrar minhas mãos nas
minhas costas. Ela é inteligente sobre isso também. Ela garante que
eu tenha minhas asas presas pelos braços antes de amarrar meus
pulsos. É um tipo estranho de compromisso. Estou impotente de
certa forma, mas será fácil o suficiente para me livrar das amarras se
eu precisar.
Então ela me empurra de costas.
Eu sou uma criatura alada. Não há posição mais antinatural do
que deitar de costas com as asas presas. Cada instinto exige que eu
role, lute, faça algo para me libertar. Em vez disso, fico deitado
enquanto ela se senta no meu peito. Grace passa os dedos pelo meu
cabelo quase gentilmente.
— Você é forte o suficiente para me derrubar se quiser que eu
pare, mas se preferir um método diferente de bater, sou toda
ouvidos.
Bater. A própria ideia é risível. Sua boceta está tão perto, e
ainda posso prová-la na minha língua. Eu ficaria feliz em me afogar
nela.
— Isso não é necessário.
— E, no entanto, aqui estou, dizendo a você que, se quiser
parar, tudo o que precisa fazer é sentar. — Ela franze a testa para
mim. — Você pode sentar comigo aqui?
Em vez de responder com palavras, eu me levanto e a jogo em
meu colo. Longe de ficar irritada com isso, ela dá outra risada
maligna, e então suas mãos estão de volta no meu cabelo. Grace me
beija como se quisesse tirar todo o ar dos meus pulmões. Então ela
me empurra de volta para baixo.
— Bom menino. Você também pode bater o pé no chão. Se você
fizer isso, vamos parar.
— Eu não quero parar, — eu rosno.
— Tudo o mesmo. — Ela passa o polegar sobre meu lábio
inferior. — Agora vou cavalgar na sua cara até gozar. Se você for
muito, muito bom e me fizer gozar muito, muito duro, quando eu
estiver satisfeita, vou chupar esse seu pau chique.
CAPITULO 9
Grace
Não há tempo para pensar, não há tempo para segundas
suposições. Não com a minha necessidade me cavalgando tão forte e
a luxúria de Bram tão densa no ar que posso prová-la na minha
língua. Este homem, este predador, pode não ser indefeso, mas ele
está de costas e amarrado para mim. Na maioria das vezes, quando
minha necessidade fica muito forte e minha força de vontade muito
fraca, eu durmo com outros caçadores. Há um estranho conforto no
fato de que eles não se incomodam com conversa fiada como as
pessoas normais fazem. A desvantagem é que tenho plena
consciência do equilíbrio de poder entre mim e meus parceiros.
Quando você é um caçador, baixar a guarda significa acolher a
morte. Significa que até o sexo é outro tipo de batalha.
Deveria ser assim com Bram. É assim com Bram . Ele me
“resgatou” para poder me forçar a ir para a cama dele, mas não me
sinto nem um pouco forçada. Eu me sinto... poderosa.
Eu me movo para trás para sentar em seu rosto e apoio minhas
mãos no chão. A maneira como ele olha para minha boceta beira o
devoto. Ele realmente lambe os lábios. Se esse homem souber
mentir, como minha camisa.
Não há sentido em outro lembrete de que ele sabe como
impedir isso. Ele provou que sim. Qualquer conversa a mais sou eu
me acovardando. Não há mais nada a fazer a não ser me abaixar em
sua boca. Sempre adorei sexo oral, mas é uma experiência
relativamente rara para mim. Tanto dando quanto recebendo. Há
muita vulnerabilidade nisso, e fazer sexo é vulnerável por natureza,
então raramente busquei as camadas mais profundas disso.
Bram vem para de mim sem hesitação. Ele beija minha boceta
como se nunca fosse ter o suficiente, dedicando atenção a cada
centímetro de mim. Ele mergulha sua língua dentro, e meus olhos
ameaçam rolar para trás na minha cabeça. Ele é grande o suficiente
para que eu sinta que ele poderia me engolir inteira.
De repente me ocorre que estou deixando ele guiar isso. Esse
não era o plano.
— Meu clitóris. Me faça vir.
Ele não hesita. Ele para de me foder com a língua e se move
para que possa esfregar a parte plana dela contra o meu clitóris. Eu
xingo, ou suspiro, ou choramingo. Não consigo identificar os sons
que saem da minha boca. É tão bom me entregar ao prazer sem me
preocupar com o resto. Afinal, não tenho escolha.
Só que isso é mentira.
Ele não está me segurando. Ele não me amarrou do jeito que eu
o amarrei. Ele não fez mais do que alguma coerção desajeitada. Se eu
tivesse insistido em algum momento, tenho a sensação de que ele
teria desistido.
Não importa. Eu abraço a mentira porque há liberdade nela. Eu
monto sua boca, moendo sua língua com um abandono que eu
nunca teria mostrado com um ex-parceiro. Bram parece adorar isso,
se seus grunhidos vibrando contra meu clitóris são alguma
indicação.
Eu não posso parar. Sou uma coisa irracional, dedicada ao meu
prazer. Eu preciso vir. Acho que posso morrer se não o fizer.
A sensação que vem crescendo e aumentando, mas a força dela
ainda me pega desprevenida. Eu grito. Minhas coxas começam a
tremer. E então eu estou desmoronando no rosto de Bram. Não que
ele pareça se importar. Ele mergulha sua língua dentro de mim como
se estivesse tentando lamber cada gota do meu orgasmo. Isso
desencadeia outra explosão menor, e eu soluço durante o orgasmo
também.
O que ele fez comigo?
Ele me dá uma última e longa lambida e se senta lentamente,
derrubando-me em um monte desossado em seu colo. Eu pisco para
ele, esperando arrogância ou satisfação, mas não há ninguém em
casa em seus olhos claros. Ele ofega, sua respiração saindo tão forte
quanto a minha.
— Mais.
Eu quero mais também. Se ele pode fazer isso com as duas
mãos amarradas nas costas, o que mais ele pode fazer com todo o
corpo em jogo? Eu quero desesperadamente saber a resposta. Mas
não posso descobrir esta noite. É muito perigoso. Eu luto para
limpar minha garganta.
— Dê-me alguns segundos para me recuperar e cuidarei de
você.
— Eu não dou a mínima para isso, Grace. — Ele dobra as
pernas, levantando meu corpo em direção a ele novamente para que
ele possa passar a língua sobre a curva do meu seio. — Eu não
terminei com você. Desata-me. Deixe-me tocar em você.
Se eu deixá-lo me tocar, vou acabar no pau dele. Vou me
arrepender pela manhã, mas a necessidade será demais para negar
esta noite. Isso substituirá o pouco de bom senso que me resta.
Mesmo agora, minha mente está dando cambalhotas para justificar
dar a ele exatamente o que ele quer. O que nós dois queremos.
Eu... não posso fazer isso.
— Não, — eu finalmente consegui. Mas eu arqueio minhas
costas e dou a ele um melhor acesso ao meu mamilo. Ele me chupa
com força, extraindo outro gemido e uma pulsação em resposta em
minha boceta. Porra, mas eu preciso dele. Eu deveria estar saciada
depois daquele orgasmo – dois orgasmos, na verdade. Em vez disso,
meu desejo queima mais quente.
Tenho que fazer algo para controlar a situação, ou vou acabar
cavalgando o pau dele. Meu corpo aperta com o pensamento. Isso é
o que me move. Eu deslizo para fora de seu colo e deslizo para trás
na banheira. Eu gostaria de fingir que submergi intencionalmente,
mas a verdade é que meu corpo não está funcionando tão bem
quanto eu gostaria. Quando eu ressurgi, Bram estava olhando para
mim como se quisesse me devorar inteira.
Eu quero aquilo. Eu quero isso muito desesperadamente.
É por isso que preciso ficar na banheira e ele precisa ficar fora
dela.
Eu me movo para a borda e envolvo minhas mãos na parte de
trás de seus joelhos.
— Venha aqui. — Eu não poderia movê-lo se quisesse, mas ele
não perde tempo correndo para a borda. Eu acabo entre suas coxas
grossas com seu pau proeminente na altura do peito. E é excelente.
Eu tive um vislumbre dele antes, mas não tinha certeza se estava
vendo as coisas corretamente. Acontece que eu estava certa. Existem
sulcos ao longo de seu comprimento.
Eu patino meus dedos sobre suas coxas até seus quadris.
— Eu vou chupar seu pau agora. Seja bom e fique
perfeitamente imóvel. Se você quer que eu pare, diga pare. — Ele é
grande. Realmente grande. Grande o suficiente para que haja um
pouco de medo espalhado pela minha luxúria. Aumenta a sensação,
mas a verdade é que não sei se consigo aguentá-lo. Certamente não
com abandono - não se eu quiser caminhar no dia seguinte. E se ele
perdesse o controle e fodesse minha boca... Melhor não deixar isso
acontecer.
Eu não posso deixar de tocá-lo, no entanto. Eu envolvo meu
punho em torno de seu pênis tanto quanto eu sou capaz e bombeio
lentamente, deixando-me imaginar como essas saliências sutis vão se
sentir dentro de mim. Bom. Melhor do que bom. Mal posso esperar.
Eu alcanço a coroa de seu pênis e aperto. Uma gota de pré-sêmen é
minha recompensa.
— Grace. Por favor. — Sua voz é tão áspera que parece que
alguém o está estrangulando.
Eu gosto quando ele implora. Nunca experimentei realmente as
coisas fora do comum, embora esteja mais do que familiarizada de
passagem, graças às leituras que fiz sobre o assunto. Eu nunca
poderia ter antecipado a emoção que sua submissão me dá. Eu
aperto seu pau novamente.
— Por favor, o que?
Ele rosna profundamente o suficiente para que eu jure que
sinto meus ossos vibrarem.
— Se você não parar de fazer isso, eu vou gozar antes mesmo
de você colocar sua boca em mim.
Eu quero isso e não quero isso. Há uma parte de mim que
deseja prolongar isso até que ambos estejamos exaustos demais para
continuar. Uma parte igualmente forte quer ver se eu realmente
consigo fazê-lo gozar só de provocação. O fato de eu afetá-lo tão
profundamente quanto ele me afeta é um conforto.
Eu seguro seu olhar enquanto me inclino e lambo o pré-sêmen
de sua fenda. Seus olhos se fecham e outro rosnado sai de seus
lábios. Eu quero ouvir – não, sentir – ele fazer aquele som quando
ele está dentro de mim. Mas não esta noite.
— Você me fez gozar tão forte. — Eu lambo seu pau
novamente. — Está me fazendo sentir particularmente generosa.
Então eu vou te dar uma escolha.
— Que escolha?
— Vou deixar você escolher onde você virá. — Seus olhos se
abrem em choque, e eu tenho que forçar meu sorriso. — Meus lábios.
— Eu os coloco sobre seu pênis. — Minha garganta. — Eu guio seu
pênis para minha garganta e o arrasto para o centro. — Ou meus
seios. — Eu saio da água o suficiente para esfregar seu pau primeiro
em um mamilo e depois no outro.
Bram está respirando com tanta dificuldade que seu peito arfa
a cada inspiração. As veias se destacam em seus braços, e eu
honestamente não posso dizer se ele está tentando se livrar de suas
amarras ou lutando contra o desejo de quebrá-las. Cada expiração
carrega mais rosnados ásperos.
— Você é uma ameaça, mulher.
— Apenas a maior parte. — Não paro de esfregar seu pau em
meus seios. É um toque tão leve, mas ainda posso sentir meu coração
batendo em meus mamilos e boceta. Estou jogando um jogo
perigoso. Nós dois estamos. — Escolha.
— Eu... — Ele fica tenso. — Chupe meu pau e depois me faça
gozar em seus seios. Quero marcá-los, ainda que temporariamente.
Isso me assusta o quanto eu quero isso também. Ele mal
termina de falar quando eu desço para colocar seu pênis em minha
boca. Realmente, ele é muito grande. Eu não posso chupá-lo
corretamente. Não importa. Não quando suas coxas ficam rígidas
em ambos os lados de mim e seus rosnados ficam mais profundos e
longos. Eu o chupo e lambo, deixando minhas mãos fazerem a maior
parte do trabalho. Parece quase desespero. Eu preciso que ele perca o
controle da mesma forma que eu perdi. Preciso que ele me marque
da mesma forma que meu desejo ainda marca seu rosto.
— Grace.
Não preciso de mais nenhum aviso. Eu me afasto e uso as duas
mãos para pegá-lo, apontando seu pênis para o meu peito. Ele solta
um som que é parte xingamento e parte meu nome. E então ele goza
em todo o meu peito. Uma quantia impossível. Ele simplesmente
continua, ele me chicoteando com jorro após jorro até que meus seios
estejam quase cobertos.
Nunca me senti mais poderosa na minha vida. Eu libero seu
pênis e arrasto meu dedo por sua semente.
— Olha a bagunça que você fez.
— Grace.— Há um aviso em sua voz, e eu olho para seu rosto,
assustada. É quando percebo que ele quebrou as amarras e suas
mãos estão livres. Ele coloca as mãos com muito cuidado nas coxas.
Seu olhar está fixo em meus seios como se ele não pudesse desviar o
olhar. — Deixe-me fazer você gozar novamente. Por favor. Você tem
minha palavra de que não darei meu pau para sua boceta carente,
mesmo que você implore por isso.
Ali está o perigo.
Eu quero o que ele está oferecendo. Deuses, eu quero isso. Mas
se eu sair dessa banheira e cair no colo dele, vou acabar implorando
pelo pau dele. Não posso garantir que quaisquer promessas que
fizermos agora serão válidas se isso acontecer. Então eu faço uma
das coisas mais difíceis que já fiz na minha vida.
Eu dou um passo para trás.
Bram balança a cabeça lentamente como se estivesse saindo de
um sonho.
— Muito bem. — Leva duas tentativas para encontrar seus pés.
Em outra ocasião, eu poderia achar isso incrivelmente satisfatório,
mas estou muito focada em manter minha boca fechada - então não
chamo de volta por ele - para apreciar o quão completamente eu o
arruinei. Ele sai do banheiro alguns segundos depois, e depois de
alguns segundos eu ouço a porta do quarto fechar e sei que estou
sozinha.
Só então eu afundo abaixo da superfície e grito minha
frustração.
Isso foi muito perto. De várisa formas.
CAPITULO 10
Grace
Não tenho certeza de onde todas as pêras foram parar.
Eu deito na minha cama e olho para o teto abobadado, meu
corpo ainda cantando na boca de Bram. Minha alma ainda canta pela
maneira como ele se rendeu. Nunca me considerei particularmente
excêntrica, ou pelo menos não de uma maneira que exija regras
elaboradas e cenas de representação. Mas o que aconteceu no
banho... O poder que corria através de mim quando ele seguia
minhas exigências. A rendição em seus olhos claros. É tão inebriante
quanto sua língua no meu clitóris.
Um problema. Isso é o que é. Nada mais do que um problema.
Devo ter feito algo para despertar suas suspeitas no jantar. Sair na
primeira noite foi muito impulsivo. Claro que ele vai ficar de olho no
seu investimento. Só porque este castelo parece deserto não significa
que esteja realmente vazio.
Eu... não esperava isso de Bram, no entanto. Não a raiva e não a
crueldade. Mesmo agora, não tenho certeza se ele não teria me
deixado para as aranhas se eu não tivesse concordado. Não havia
misericórdia em seu rosto brutal quando ele expôs os termos.
Se eu correr e ele me pegar, ele vai me arrastar de volta para a
cama dele.
Eu tremo e caio de bruços. A mudança na gárgula deveria me
assustar. Isso o torna uma ameaça de uma forma que não era antes.
Sei qual seria o conselho de minha mãe “elimine a ameaça antes que
ela possa me eliminar”, mas por alguma razão meu cérebro não quer
dar o salto comigo.
Ele não fez mal a ninguém que eu saiba. Ele certamente não me
machucou. Posso ser impedida de entrar no território do demônio
barganhador, mas isso é pelo menos parcialmente minha culpa.
Bram não é realmente um monstro, e eu só mato monstros.
Ele teria me deixado cortar sua garganta na banheira. Não
havia hesitação em sua aura, nenhuma armadilha esperando para
ser acionada. Bram é... complicado.
Não tenho tempo para complicações agora. Não quando estou
tão perto das respostas que procuro há anos. Se há uma parte de
mim que se desdobra no desafio... Bem, eu sempre tive um pouco de
tendência autodestrutiva. É meio difícil ser uma caçadora de
monstros sem uma. Não morremos de velhice.
Eu rolo de costas novamente, inquieta. Eu tenho que correr
novamente. Desistir depois de uma tentativa está fora de questão. Só
vou ser mais cuidadosa da próxima vez, mais sorrateira. Agora que
sei que a floresta está repleta desse tipo de ameaça, posso estar mais
preparada. As árvores devem impedir Bram de chegar até mim pelo
ar.
Mesmo que elas não o inibissem de me encontrar em segundos
depois que eu fui pega por aquela teia.
— Não. Droga, não. Eu posso fazer isso.
Ainda estou examinando o problema de vários ângulos quando
o sono se infiltra e me leva.
Acordei algum tempo depois com o som de movimento em
meu quarto. Eu não abro meus olhos, mudo minha respiração ou me
mexo, mas um segundo depois uma voz vagamente familiar cheia
de diversão diz: — Eu sei que você está acordada. Você está
praticamente fervendo de raiva por eu estar no seu espaço. É
bastante delicioso.
Abro os olhos e me sento. Eu esperava uma gárgula, mas essa
pessoa não é. É um demônio barganhador, embora não chegue nem
perto do tamanho de Azazel. Também é sem os olhos, um segundo
conjunto de chifres escuros brotando de suas órbitas. O mesmo
demônio que me deu a tatuagem de tradução. Leva um segundo
para lembrar o nome: Ramanu.
— Eu pensei que você não deveria fazer o check-in por dias
ainda.
— Mmm, isso é verdade. — Ramanu levanta uma vela da
cômoda, parece examiná-la e a coloca na mesa com uma graça
despreocupada. Ainda está usando uma roupa preta que pode ser
um suéter ou um vestido, mas não consigo entender direito. — Pelo
menos para os outros. Mas você é especial, não é, Grace?
Eu estreito meus olhos, procurando em sua aura alguma
indicação do que está fazendo. Não há nada além de uma diversão
amarelo-escura e uma pitada de curiosidade verde-clara.
— Especial é uma maneira de dizer isso.
— Você faz parecer que estou insultando você. Ramanu aperta
o peito, embora sua diversão nunca esmoreça. — Mas nós dois
sabemos que você não está insultada. Você está curiosa. — Ramanu
se aproxima, embora fiquem be fora do alcance de ataque. — Assim
como você sabe que estou me divertindo agora. Um amarelo
profundo em minha energia, sim?
Eu estremeço. De todas as coisas que eu esperava que dissesse,
essa não estava entre as opções.
— O que você está falando?
— Não adianta mentir. Mais uma vez, algo que você deveria
saber só de olhar para mim. Eu não estou mentindo. — Ramanu
sorri, mostrando os dentes de uma forma que parece ameaçadora e
como se estivessem rindo de mim. Suas palavras parecem sugerir
que sabe sobre minha habilidade, mas isso é impossível. Como se
sentisse minha descrença, Ramanu ri.
— Venha agora, pequena caçadora. Eu sei qual é a sua família.
Certamente eles estão mais conscientes do que a maioria das
histórias. Um dos meus pais é uma gárgula, que é o que me deu a
minha boa aparência. — Ramanu aponta para o rosto. — E minha
habilidade de ler emoções e magia. Assim como um de seus
ancestrais se entregou a uma gárgula, e essa habilidade
provavelmente está pulando em sua linhagem familiar desde então.
Não há mentira em sua aura. Ramanu realmente acredita no
que está dizendo. Eu balanço minha cabeça, minha mente girando.
— Isso é impossível. — Oh, não que um dos meus ancestrais se
desviou para um parceiro paranormal e teve um filho - essa é a única
maneira que os humanos podem obter sua própria magia. Mas uma
gárgula? O que significa... Eu congelo. — Todas as gárgulas têm essa
habilidade?
— Mm-hmm. — O sorriso deles fica um pouco maldoso. —
Você parece bem saciada, então o que quer que tenha feito para
irritar Bram não é imperdoável. No entanto, seria sensato lembrar
que ele pode ler você exatamente tão completamente quanto você
pode lê-lo.
Eu pressiono minha mão na minha boca. Se isso for verdade...
Não é à toa que ele não acreditou em mim. Ele podia ler as mentiras
bem na minha aura.
— Droga.
Isso complica as coisas. Em todas as minhas viagens e anos
caçando monstros, nunca encontrei outro ser fora da minha família
que pudesse fazer o que eu faço. Até agora.
Porque todos eles estiveram no reino dos demônios.
— Agora que estabelecemos, posso reclamar de suas besteiras,
vamos conversar. — Ramanu cai na minha cama em um movimento
que é quase um salto. — Azazel está preocupado que você vá entrar
em uma onda de assassinatos e colocar em risco todos os planos que
ele passou tanto tempo cuidando. Acontece que também tenho
interesse na paz que ele busca, o que significa que estou igualmente
preocupado. Sei que ele lhe deu a chance de desistir dessa parte
específica do contrato. Estou estendendo essa oferta pela segunda
vez.
Eu encaro.
— De alguma forma, não acho que Azazel gostaria que você
falasse tão francamente.
— Provavelmente não. — Ramanu acena despreocupadamente.
— Mas ele não está aqui. Somos só nós. — Ramanu rola para o lado,
de frente para mim, e sustenta a cabeça com uma das mãos. O
segundo conjunto de chifres é realmente um pouco desconcertante,
principalmente porque sinto que estão me estudando.
Provavelmente porque estão. Não preciso de meus olhos abertos
para ler auras se me concentrar. Ramanu não precisa de olhos para
fazer o mesmo.
Eu não me afasto, embora esteja muito próximo para o
conforto.
— Não tenho intenção de matar ninguém. — Pelo menos não
até eu descobrir o que aconteceu com minha mãe, e só então se
houver alguém especificamente responsável por sua morte.
— Essa é uma advertência bastante grande que você não está
dizendo Ramanu bufa. — Ouça, eu gosto de você, então...
— Você nem me conhece. Estamos conversando há menos de
cinco minutos.
Ramanu ignora minha interrupção.
— Percebi que você não está aproveitando a chance de retornar
ao território do demônio barganhador. Eu me pergunto por que isso
acontece.
Ramanu está certo. Eu deveria ter concordado no segundo que
me ofereceram, assim como eu deveria ter aceitado a oferta de
Azazel.
— Se eu voltar, alguém vai me contar a verdade sobre o que
aconteceu?
— Improvável. Todo mundo tem segredos, e espero que Azazel
tenha um motivo particular para manter este segredo.
Isso foi o que eu pensei. Ainda assim, todo o meu objetivo era
voltar e encontrar respostas. Não sei por que estou hesitando.
— Vou ficar presa pelos próximos sete anos?
Ramanu dá de ombros.
— Quem pode dizer? Aquele castelo é astuto. Ele tem uma
mente própria.
Não consegui arrombar a fechadura nos três dias que estive lá
antes do leilão. Isso não é um bom presságio para eu poder fazer isso
no futuro. Se eu aceitar a oferta de Ramanu, estarei entrando em
uma cela ainda mais complicada. Pelo menos aqui, tenho autonomia
e uma chance de escapar.
A lógica parece frágil na melhor das hipóteses, mas eu a
ignoro.
— Não, obrigada.
— Pensei que você poderia dizer isso. — Seu sorriso é um
pouco maldoso. Ramanu agita os dedos e um anel aparece entre suas
garras. — Pegue isso. Se mudar de ideia, espere e diga meu nome e
eu virei.
— Ramanu.
Nós dois pulamos enquanto Bram entra pela minha janela. Não
tenho nada pelo que me sentir culpada, mas não consigo evitar fugir
de Ramanu. Esses poucos centímetros extras entre nós não parecem
muito com Bram olhando para nós. Ele está no meio do quarto, mas
não parece fazer diferença. Não tenho medo dele, mas não sou boba;
claro que sou cautelosa.
Ramanu, por outro lado, parece despreocupado com o fato de
Bram estar olhando para a garganta como se quisesse arrancá-la com
os dentes. Ramanu estende a mão e enrola uma mecha do meu
cabelo em suas garras. Bram está tão concentrado naquela mão que
não vê colocar o anel na minha outra.
— Eu vim verificar o bem-estar da humana de Azazel.
— Ela não é dele.
Eu não entendo Bram. Há momentos em que quase posso ler
seus pensamentos, quando sinto uma conexão mais profunda do que
pele e osso, mas então ele se vira e faz algo para agir contra a
caixinha em que instintivamente o coloquei. O homem olhando para
nós não é o mesmo homem que me ofereceu sua garganta sem
reservas. Ele é perigoso.
Eu começo a me sentar.
— Bram...
— Está bem. — Ramanu me solta e se levanta com uma graça
fluida que faz soar o alarme na minha cabeça. — Bram pode ser
imprudente, mas não é tolo. Colocar um dedo em mim é desafiar
diretamente Azazel. Ele não pode se dar ao luxo de fazer isso porque
não vai ganhar.
O comentário deveria me encher de alívio, mas tudo o que
sinto é raiva pela derrota que pisca na expressão de Bram. Posso não
saber qual é o caminho para cima e qual é o caminho para baixo
nesta situação atual, mas reconheço um iniciante de merda quando
vejo um. Ramanu pode tecnicamente estar aqui para me checar, mas
também está aqui para mexer no pote. Essa é a última coisa que eu
preciso.
— Eu acho que você deveria ir.
— Ah, mas ainda não terminei de contar tudo o que você
precisa ouvir. — Ramanu segura dois longos dedos carmesins com
garras negras nas pontas. — Um. Bram não queria aceitar o acordo,
mas não tinha escolha. Nenhum de seu povo o terá. Eles acreditam
que ele é amaldiçoado e que qualquer um que se aproxime dele será
vítima da maldição. — Bram faz um barulho abafado, mas o ignora.
— Dois. Azazel entende seus motivos para estar aqui, mas não se
engane - espera-se que você cumpra sua parte no trato. Se você fizer
isso no prazo combinado, ele está preparado para lhe contar tudo o
que você quiser saber sobre sua mãe.
É um golpe baixo. Azazel sabe exatamente o quão
desesperadamente eu quero essa informação, então é claro que ele
está disposto a segurá-la sobre minha cabeça para garantir um bom
comportamento. Infelizmente para ele, eu não reconheceria um bom
comportamento nem se ele me mordesse na bunda.
Considerando que Ramanu se ofereceu para me levar para o
território dos barganhadores mais cedo, é fácil ler nas entrelinhas
desta oferta. Se eu for, há uma boa chance de Azazel nunca responder
às minhas perguntas. Eu cerro os dentes. Eu vou obter respostas.
Estou tão perto que me dá um pouco de enjôo.
A determinação se solidifica dentro de mim. Ficarei aqui e
encontrarei meu próprio caminho para as respostas.
— Eu entendo.
A boca e Ramanu se curva em um sorrisinho estranho.
— Você não é a pequena mentirosa divertida? Isso vai ser
muito divertido.
Ao lado deles, Bram está praticamente vibrando de fúria.
— Vá. Embora.
Longe de se sentir intimidado, Ramanu apenas ri.
— Querido, só há uma pessoa de quem recebo ordens, e não é
você. É fofo que você tente, no entanto. — Ramanu dá um tapinha
no ombro de Bram e sai do quarto com um pequeno balanço nos
quadris.
Por tudo isso, tecnicamente não fez nada ameaçador ou errado,
mas isso não muda o fato de que me sinto ameaçada. Isso pode ter
sido um check-in para garantir que eu estava segura, mas está
claramente claro que Azazel não confia em mim, embora ele também
queira me proteger. Ou alguma coisa. Quanto mais penso nessa teia
emaranhada de barganhas e promessas, menos clara ela parece.
Estou perdendo algo óbvio e importante.
Talvez ele pretenda honrar as palavras específicas da barganha,
mas não o espírito dela. Tenho certeza de que há alguma brecha
inteligente que não estou vendo. Algo como ele me contando o que
aconteceu, mas não por que aconteceu. Ou, deuses, o que o impede
de mentir? Sua palavra? Não me faça rir.
Azazel está jogando tantos jogos quanto Ramanu.
Bram ainda está olhando para mim de uma forma que me faz
lutar contra um arrepio. Não consigo nem fingir que é medo,
quando ainda consigo sentir claramente a lembrança de sua língua
dentro de mim. Isso, mais do que tudo, faz minha boca correr antes
que eu possa pensar melhor.
— Estou surpresa que você não tenha contado a Ramanu o que
aconteceu ontem à noite. Ramanu já sabe que sou uma criança
problemática. Talvez você pudesse ter me trocado por uma humana
mais complacente. — Não sei por que digo isso. Se eu quisesse voltar
ao território dos barganhadores, teria aceitado a oferta de Ramanu.
Ele se move para ficar entre mim e a porta.
— Você está certa. Se Ramanu soubesse que você está tentando
escapar, a tiraria de mim.
Ele está apenas ecoando meus próprios pensamentos. Ainda
parece um tapa na cara.
— Sim, eu acredito que é exatamente o que eu acabei de dizer,
— eu retruco.
Ele não se move em minha direção, mas a maneira como move
suas asas faz com que o quarto pareça significativamente menor.
— Discutimos isso ontem à noite, Grace. Isso é entre você e eu.
Você pode tentar escapar de todo coração. Vou rastreá-la e trazê-la
de volta para minha cama todas as vezes. — Sem outra palavra, ele
se vira e sai do meu quarto, fechando a porta suavemente atrás de si.
CAPITULO 11
Bram
Não estou nem remotamente surpreso ao encontrar Ramanu
esperando por mim no final da escada, encostado na parede, a
própria essência do despreocupação. É mentira. Eu posso ver os fios
de preocupação cinza piscando através de sua energia. Eu tive
interações suficientes ao longo dos anos para saber que pode
esconder suas emoções quando sente necessidade, então está
intencionalmente me deixando saber. Um dos pais deles é um primo
distante meu, e isso deveria bastar para criar um vínculo entre nós,
mas Ramanu é astuto demais para confiar. Sempre parece estar
jogando em um nível além de qualquer outra pessoa.
Isso me irrita.
— Você não contou a ela sobre o que aconteceu com sua
família.
Mesmo esperando essa virada de conversa, tenho que lutar
para não rosnar. Normalmente não tenho problemas com Ramanu,
mas o encontrar na cama de Grace não os tornou nem um pouco
queridos.
— Eu disse a ela o que ela precisa saber.
Ramanu balança a cabeça lentamente.
— Eu argumentei contra isso. Você tem muita bagagem
quando se trata de humanos e, embora Grace dificilmente seja uma
humana normal, o fato é que ela está em perigo a cada momento que
passa com você. Você pode ler minhas emoções. Eu posso ler as
suas. Não vamos dançar em torno disso. Você é um perigo para si
mesmo, Bram, e se for descuidado consigo mesmo, pode machucar
Grace.
Ramanu não está errado, mas isso não significa que vou
admitir isso em voz alta.
— Eu nunca machucaria Grace.
Não posso argumentar que não sou um perigo para mim
mesmo, porque sou. Não posso nem fingir que não sou um perigo
para os outros, porque embora eu nunca pretenda ferir aqueles ao
meu redor, minha covardia garante que nunca os ajudarei também.
— Talvez. Talvez não. — Toda a jovialidade se foi de sua voz,
deixando apenas um tom duro. — Azazel pode ter concordado com
este acordo, mas parte desse acordo são check-ins regulares comigo
para garantir o bem-estar de Grace. Eu não sei o que diabos
aconteceu com vocês dois, mas se ela ainda estiver confusa na
próxima vez que eu vier, vou levar em consideração seriamente
removê-la de seus cuidados. Independentemente de ela querer ou
não sair.
Uma fúria diferente da que eu já conheci surge através de mim.
— Respeito você e o que está fazendo aqui, mas se tentar tirar
Grace de minha casa, vou cortá-lo em pedacinhos e espalhá-lo ao
vento.
A curiosidade se entrelaça com sua preocupação.
— Fascinante. Eu esperava que a maior parte de sua
determinação fosse pura teimosia, mas você realmente tem uma
conexão com esta humana. — Ramanu se dá uma sacudida. —
Muito bem. Voltarei em algum momento no futuro próximo para
verificar o status das coisas. Eu recomendo fortemente que você diga
a ela a verdade. A verdade completa. Ela pode surpreendê-lo.
— O que importa se eu for o único a dizer a ela?
— Confie em mim. Sim.
Isso significa menos do que nada para mim.
— Adeus, Ramanu.
Espero que se teletransporte antes de me virar e voltar para a
escada. É fácil para dar conselhos quando não estão no meio disso.
Não do jeito que eu estou. Não do jeito que Grace está.
Eu nunca teria escolhido a forma como as coisas aconteceram
ontem à noite, não se eu não tivesse perdido o controle. Mas o fato é
que Grace poderia ter me matado e acabado com isso... e ela optou
por não fazê-lo. Tenho certeza de que ela tinha seus motivos - não
sou ingênuo o suficiente para pensar que o puro desejo a levou - mas
eu li suas emoções, e o desejo estava em primeiro plano no banho
ontem à noite.
Já contei a ela mais sobre minha família do que contaria a um
novo conhecido. Ela sabe que eles se foram, e Ramanu revelou muito
do resto agora. O que importa se eles estão mortos porque uma
humana os assassinou? Que não os ajudei porque estava com muito
medo? Não há razão para mergulhar fundo no meu trauma passado.
Não vai resolver nada, e se ela olhar para mim com pena ou
desgosto, pode ser isso que finalmente me quebre.
Melhor focar no futuro.
Passos trazem minha cabeça para cima a tempo de ver Grace
descendo as escadas, um olhar teimoso em seu rosto. Não sei o que
diz sobre mim o fato de dar as boas-vindas ao confronto que se
aproxima. Eu fico perfeitamente imóvel e espero que ela me alcance.
Não demora muito.
Ela para vários degraus acima de mim, deixando nossos rostos
quase iguais.
— Acho que começamos errado.
Isso me arranca uma gargalhada.
— O que deu essa impressão?
— Não tenho desejo de lutar com você todos os dias durante os
próximos sete anos. — Ela estreita os olhos para mim, e tenho a
nítida impressão de que ela está tentando me ler. — Não vou dizer
que não simpatizo com sua situação, mas sob nenhuma circunstância
terei um filho com você que deixarei no reino dos demônios.
Sete anos me dão muito tempo para fazê-la mudar de ideia,
mas tenho a sensação de que não há como mudar a determinação
que vem dela em ondas. Isso deve ser o suficiente para eu aceitar a
oferta de Azazel de trocar Grace por outra humana que seria mais
complacente. É a coisa mais inteligente a fazer. A ação que irá
promover meus objetivos e me tirar desta situação desesperadora.
Eu... não quero.
— Vou pegar o pingente anticoncepcional para você hoje e
explicar como funciona. — Eu a estudo tão de perto quanto ela está
me estudando. — Mas não vou parar de tentar convencê-la a ver as
coisas do meu jeito.
Ela fica rosa brilhante antes de se controlar. Minha Grace
parece gostar da batalha tanto quanto eu estou começando. Eu não
entendo isso. Até este ponto, todos os meus encontros com amantes
foram suaves, carinhosos. Pelo menos até o que aconteceu com
minha família garantir que eu não tivesse parceiros para escolher.
Nunca houve essa fúria, essa vontade de traçar uma linha e depois
ultrapassá-la prontamente em nome do domínio.
Eu não sei o que isso diz sobre mim que eu desejo isso. Estou
ansioso para a próxima vez que Grace tentar escapar de mim, para
rastreá-la e trazê-la de volta, para a batalha que sem dúvida
acontecerá na minha cama.
— Vou estripar você antes de deixar isso acontecer.
— Promessas, promessas. — Embora eu tenha uma quantidade
perversa de prazer em brigar verbalmente com essa mulher, dou um
passo lento para trás e abaixo minhas asas. Quer eu esteja gostando
ou não, não podemos existir em um estado de batalha constante.
Quanto mais brigarmos, maior a chance dela sair furiosa. Não estou
pronto para ficar sozinho de novo. — Está com fome?
Ela abre a boca como se estivesse no meio da discussão, mas
faz uma pausa quando parece processar o que acabei de perguntar.
— Eu poderia comer.
— Vamos ver o que Silas preparou para o café da manhã. — Eu
giro e ofereço a ela meu braço. Fico silenciosamente satisfeito
quando ela me dá um olhar penetrante, mas desliza a mão na dobra
do meu cotovelo. — A sala de jantar formal é principalmente para se
mostrar. A menos que você prefira, costumo tomar meu café da
manhã e almoço na cozinha.
— Refeições na cozinha parecem mais a minha velocidade. —
Grace com muito cuidado não olha para mim. — Não sou de fazer
cerimônias, e a mesa da sala de jantar é formal demais para o meu
gosto.
Nós giramos tão rapidamente que não sei o que pensar. Talvez
seja tão simples quanto ela não querer ficar sozinha mais do que eu.
Eu nos guio pelos corredores ecoantes até chegarmos à cozinha.
Pensei ter ouvido Silas cozinhando, mas quando passamos pela
porta, a cozinha estava vazia.
Há dois pratos no balcão da cozinha. Esperando por nós.
Grace os olha com angústia compreensível.
— Este castelo é habitado por fantasmas?
— Fantasmas não são reais.
— Na verdade, eles são. — Ela tem um olhar estranho em seu
rosto. Há um lampejo de branco em sua energia antes que ela o
bloqueie. Pesar. — Eles são terrivelmente difíceis de lidar. O sal é
praticamente a única coisa que funciona e é uma medida temporária.
Mais uma vez, estou impressionado com o fato de que esta não
é um ser humano comum. Posso não ter tido interações com mais do
que um punhado ao longo dos anos, mas Grace se destaca. Eu puxo
sua cadeira e espero que ela se sente antes de fazer o mesmo. Eu sei a
coisa certa a fazer nesta situação. Eu deveria manter a conversa
casual e segura e permitir que Grace fique mais confortável comigo.
Parece uma mentira.
Talvez seja por isso que digo o que realmente penso.
— Como é que você entrou em contato com vampiros? Tive a
impressão de que eles não se misturam muito com os humanos.
Grace dá uma mordida e mastiga lentamente.
— Eles não se misturam. Mas minha família tem uma relação
especial com os paranormais. Estamos cientes deles desde que
existem em nosso reino.
Ela não está dizendo nada que eu já não suspeitasse, mas não
posso deixar de pressionar.
— E você os ajuda?
— Às vezes. — Grace cutuca a comida. — Geralmente são os
humanos que precisam desesperadamente de ajuda, mas há exceções
para todas as regras.
Se ela não conhece as várias peculiaridades e segredos de ser
uma gárgula, provavelmente é do meu interesse não educá-la. É
preciso muita prática para esconder emoções de pessoas que podem
lê-las no próprio ar ao seu redor, mas isso pode ser feito. Com uma
humana tão complicado que é tão propenso a mentiras, preciso de
todas as vantagens que puder obter.
Mas esconder coisas parece muito com uma mentira por si só.
— Eu posso ler sua energia. Todas as gárgulas, todos aqueles
com gárgulas em sua história familiar, podem. Cada cor tem um
significado diferente, uma emoção ligada a ela. Você não está
desesperada. Você não ficou desesperada por um momento desde
que te conheci. — O mais perto que ela chegou foi quando ela estava
enredada naquela teia com as aranhas se aproximando, mas mesmo
isso não era desespero verdadeiro.
Grace se vira para me encarar e franze a testa.
— Para um rei ou líder ou qualquer que seja a terminologia,
você é um lixo absoluto em guardar segredos. Você não sabe que
deve manter todos os recursos possíveis por perto? Se eu não
soubesse que você pode ler minhas emoções, isso seria uma arma
incrível em seu arsenal. E você simplesmente a deu por nada.
Ela está... nervosa? Não, isso não está certo. Ela não parece
saber como se sentir mais do que eu. Suas emoções piscam e giram
em um turbilhão confuso de cores. Desvio o olhar para evitar ficar
tonto.
— Esse tipo de processo de pensamento só deve ser usado
contra inimigos.
— Isso é ingênuo e você sabe disso. Não há como as gárgulas e
as outras pessoas que habitam este reino serem tão diferentes dos
humanos. Tudo o que tenho a fazer é pegar um livro de história para
ver que aliados podem se tornar inimigos muito rapidamente
quando o poder está em jogo.
Ela está certa, mas ainda não entendo por que ela está tão
preocupada com isso.
— Isso deve ser um alívio para você. Talvez um deles faça um
movimento em breve e me mate, o que quebrará o contrato e enviará
você de volta ao território do demônio barganhador. É isso que você
quer, não é?
— Sim. — A maneira como ela diz isso é quase uma mentira.
Sua energia não muda muito, mas ela não encontra meu olhar e se
vira. — Claro que é isso que eu quero.
Eu empurro minha comida para longe, não estou mais com
fome.
— Por que você está aqui, Grace? — Ela abre a boca para
responder, mas eu pressiono antes que ela possa falar alguma coisa.
— Não aqui neste castelo. Não aqui comigo. Aqui no reino dos
demônios. O que Ramanu quis dizer quando disseram que Azazel
tem respostas sobre sua mãe?
— Eu já te disse. Estou pagando o preço da barganha de outra
pessoa.
A besteira pode ter funcionado comigo antes, mas não faz
sentido com as coisas que sei agora. Eu balanço minha cabeça
bruscamente.
— Você não acha que eu mereço saber a verdade? Eu lhe dei a
cortesia de ser honesto. Você não pode fazer o mesmo? — Mesmo
enquanto digo isso, não tenho certeza se acredito em mim mesmo.
No final das contas, ela não me deve nada. Podemos estar juntos
nisso, mas é uma situação temporária.
Grace usa o garfo para mover a comida pelo prato. Finalmente
ela suspira.
— Ok, você pode ter razão. Minha mãe está morta, e já faz
algum tempo, eu acho. Já se passaram cinco anos no reino humano,
mas o tempo se move de forma diferente. Azazel é o único que tem a
história completa do que aconteceu, e eu quero saber. Eu preciso
saber.
— Por que Azazel teria respostas sobre sua mãe... — Percebo a
resposta antes mesmo de terminar de falar. Sua mãe fez um acordo
demoníaco e nunca mais voltou para casa. E agora Grace cruzou os
reinos para obter as respostas que ela deseja. Eu faria menos se
houvesse dúvidas sobre como minha família morreu e eu fosse o
último a restar? Não é à toa que ela está tão determinada a sair do
meu lado e voltar para o território do demônio barganhador.
Se eu fosse um homem melhor, eu a liberaria do acordo fodido
que estabelecemos entre nós. Se eu fosse pior, usaria esse
conhecimento para garantir que ela atendesse às minhas
necessidades e demandas.
Eu não quero nada disso. Em vez disso, me pego estudando-a.
— Você gostaria de ver mais das terras ao redor do castelo? Eu
gostaria de sair daqui um pouco e não diria não para alguma
companhia.
Ela ergue as sobrancelhas.
— Passear? Com certeza alguém virá procurar.
— Hoje em dia, o castelo funciona sozinho e minha companhia
dificilmente é divertida o suficiente para a maioria das pessoas
procurar.
— Bram... — Ela aperta os lábios por um longo momento e
então diz: — Eu adoraria ver os terrenos ao redor do castelo.
Ela provavelmente está apenas concordando em planejar
melhor sua próxima tentativa de fuga, mas não me importo. Estou
feliz por passar mais tempo com ela. Eu empurro seu prato de volta
para ela.
— Coma. Você vai querer sua força para isso.
CAPITULO 12
Bram
Quase me convenci a não levar Grace comigo meia dúzia de
vezes antes que ela me encontrasse no telhado vestida com tantas
camadas que ela parecia um pouco com uma criança agasalhada
contra o frio. Ou, bem, uma criança de outras criaturas. Gárgulas são
naturalmente resistentes a temperaturas extremas, mesmo desde o
momento em que nascemos.
Eu estendo minha mão.
— Devemos?
— Você tem um destino em mente?
Eu não tinha quando fiz a oferta, mas agora me pego dizendo:
— Há uma velha fortaleza nas montanhas. Foi usada na geração dos
meus avós, mas está caindo aos pedaços. Eu gosto de ir lá
regularmente e me certificar de que ainda está estruturalmente
sólida, porque há uma superstição entre o meu povo de que quem
pode passar uma hora à meia-noite na adega sem luz receberá boa
sorte e bênçãos.
Grace ergue as sobrancelhas.
— Não é uma superstição tão antiga se ainda era usada duas
gerações atrás.
Eu entendo como ela vê as coisas dessa forma, mas não é assim
que meu pessoal funciona. Eu dou de ombros.
— As superstições são coisas vivas e, às vezes, podem mudar
no espaço de algumas décadas. Outras vezes, elas se estendem ao
longo dos anos para além da memória viva.
Dizendo isso, a fonte termal está tão alta nas montanhas que
apenas as pessoas mais imprudentes normalmente tentariam
alcançá-la, onde se diz que mergulhar na água resultará em uma
gravidez saudável e um parto seguro. Várias vezes ao ano, são
organizadas peregrinações para visitá-la. Não importa o quão
perigosa seja a jornada - as pessoas sempre aparecem.
Parece-me temerário arriscar a vida e os membros para
proteger-se de arriscar a vida e os membros, mas qualquer fé que eu
tinha morreu com minha família.
Grace desliza sua mão na minha e me permite levantá-la em
meus braços. Ela se encaixa muito bem ali. Se eu não a conhecesse
melhor, poderia acreditar que ela foi construída para ocupar o
espaço. Eu sei melhor, no entanto. Ela pode estar me satisfazendo
agora, mas esta ainda é a mesma mulher que mentiu para mim e
depois fugiu de mim. Ela não falava comigo sobre o que ela queria
ou precisava. Ela me tratou como um obstáculo a ser superado.
Assim como meu povo faz.
Eu nos lanço no ar, voando rápido demais, como se pudesse
superar meus pensamentos sombrios. Nunca funcionou antes. Não
funciona agora. E, no entanto, eles não se agarram com tanta força
como normalmente fazem. Estranho isso.
Chegamos rapidamente ao castelo, e eu pouso suavemente no
pátio no momento em que o sol atinge seu pico no céu. Parte de mim
quer manter Grace em meus braços, para usar a desculpa de seu
potencial tremor para fazê-lo, mas ela está muito mais resistente do
que da última vez.
— Você não gritou.
— O que?
Por que diabos eu acabei de dizer isso? Isso não é uma coisa normal de
se dizer. Então, novamente, esta não é uma mulher normal. Eu a coloco
cuidadosamente em pé e mantenho minhas mãos estendidas para o
caso de suas pernas cederem. Claro que não. O que significa que não
tenho desculpa para evitar responder à pergunta dela. Desvio o
olhar e luto para não curvar os ombros.
— A primeira vez que voamos. Você estava com medo. Mas
você não gritou. Você também não gritou com as aranhas.
— Oh. — Ela passa os dedos distraidamente pelos cabelos
varridos pelo vento. — É treino. Uma das primeiras coisas que
aprendi quando criança foi não fazer barulho quando estou com
medo. O silêncio é um instinto de presa que os humanos não
possuem por algum motivo. Muitas vezes gritamos e trazemos o
predador direto para nós. Minha família investiu para garantir que
eu não matasse a mim mesma ou a qualquer outra pessoa.
Porque eles salvam as pessoas. Não sei se essa é a explicação
completa para seu conhecimento e instintos. Salvar pessoas parece
uma atividade virtuosa. Não consigo imaginar como alguém treina
uma criança para não fazer barulho quando está com medo. Eu olho
para o rosto dela, mas sua expressão e sua energia não convidam a
mais perguntas sobre o assunto.
Tudo bem. Posso não ser bom em me esquivar das coisas
sombrias que atrapalham meus passos, mas posso tentar. Agora
mesmo. Por ela.
Eu me viro para a fortaleza. Parece a mesma da última vez que
estive aqui, algumas semanas atrás. Pedra cinza envelhecida que
parece absolutamente imortal, o edifício esculpido na encosta da
montanha. O único sinal verdadeiro de decadência é a torre que se
desfez em nada, derrubada pelos ventos que uivam por esta ravina.
Grace assobia baixinho.
— Eu posso ver porque este lugar é um teste de bravura. É
assustador pra caralho.
— Não há fantasmas aqui. — Pelo menos não aqueles que ela
reconheceria. Sou jovem para o meu povo, mal tenho quarenta anos,
então nasci bem depois que descemos das alturas e construímos o
castelo onde moro agora. Meu pai costumava falar sobre este lugar
com carinho quando eu era mais jovem, algumas das poucas vezes
que ele parecia ser alguém que eu conseguia entender. Não consigo
ver do jeito que ele viu. Supostamente este é um lugar feliz. Mas
quando a guerra chegou, ela estava muito isolada para se defender
adequadamente. Poderia ter sido bom se nossos principais
oponentes naquele conflito fossem os dragões ou o kraken, mas as
súcubos e os íncubos podem voar. Levou apenas um ataque
devastador antes que houvesse uma chamada para uma mudança de
local. Meus avós o lideraram e, como líder, entendo perfeitamente
por que o fizeram.
Mas, enquanto estou aqui ao lado de Grace, ouvindo o vento
uivar e gritar, sinto-me significativamente mais em paz do que
nunca no castelo nas partes baixas.
Grace se vira para mim com um olhar malicioso em seus olhos.
— Posso ver a adega? Eu poderia usar um pouco de sorte.
— É uma superstição, não um fato.
— Vamos, Bram. — Ela se vira para me encarar enquanto
caminha de costas em direção à porta. — Você é um homem mágico
com asas, chifres e a habilidade de ver auras. Você, mais do que
ninguém, deveria estar disposto a acreditar em magia.
Eu a sigo como se ela enrolasse uma corda em volta do meu
coração e puxasse. Não conheço essa mulher há muito tempo, mas
esse é o lado dela que eu nunca esperei. É quase lúdico, com um
toque imprudente que reconheço muito bem. Se eu não acompanhá-
la, ela ainda descerá ao porão e poderá se machucar no caminho.
— Podemos ir, mas você tem que prometer ter cuidado.
— Absolutamente não. Onde está a diversão nisso? — Ela sorri.
— Mas se isso vai estressá-lo, suponho que você pode liderar o
caminho.
O castelo pode ser de pedra, mas não foi construído para ser
acessível a quem não tem asas. Existem escadas e maneiras de se
locomover sem voar, mas elas ficam fora dos corredores principais.
Esta é uma das maiores mudanças feitas no projeto do castelo em
que moro agora. Bem-vindo, honestamente. É ridículo exigir que
alguém com uma lesão ou deficiência na asa - ou convidados sem
asas - saia tanto do caminho. Fico feliz que não seja mais um
problema.
Mas isso me dá uma desculpa para me lançar para a frente e
pegar Grace em meus braços novamente. Eu gosto de seu rosnado
de falsa indignação.
— Sem escadas. Vamos pegar o caminho mais rápido.
— O... — Ela solta um pequeno ganido quando passo pela
porta e saio da borda para o duto de ar abaixo.
Eu gosto desse som. Gosto ainda mais agora porque sei que ela
não está realmente com medo. Descemos em uma espiral preguiçosa,
chegando finalmente a aterrissar três andares abaixo. Desta vez,
demoro mais para colocar Grace de pé.
— Tome cuidado. Parte do teto começou a desabar em certas
áreas.
Ela faz um círculo lento, absorvendo tudo com seus olhos
cinzentos que veem demais.
— Este lugar é notavelmente bem preservado. Estou surpresa
que você se dê ao trabalho de fazer varreduras. As pessoas podem
ser tolas, mas acho que a maioria delas poderia navegar neste espaço
sem muitos problemas.
Algo semelhante ao constrangimento aquece minha pele. Eu
arrasto minhas mãos pelo meu cabelo e desvio o olhar, incapaz de
encontrar seu olhar.
— Não há muita ajuda que meu povo aceite de mim. Cada uma
das famílias nobres é responsável por sua própria porção do
território e, embora eu supervisione tecnicamente todas elas, elas
funcionam bem há gerações e não exigem muita supervisão. Existem
muitos territórios neste reino, e eu já negociei os acordos comerciais
que nos beneficiam. Esses continuarão a permanecer no local, a
menos que algo drástico aconteça. Patrulhando os espaços onde as
superstições levam meu povo e garantindo que não haja perigos
aqui? — Eu levanto minhas mãos e as deixo cair de volta para os
meus lados. — É o mínimo que posso fazer.
Ela apoia as mãos nos quadris.
— Bram, não sei se essa é a coisa mais doce que você já disse,
ou a mais triste. É bem possível que sejam os dois.
A sensação de brilho sob minha pele fica mais forte.
— É o que qualquer um faria na minha posição.
— Não. Realmente não é. — Ela faz um movimento como se
estivesse prestes a se mover para mim, mas parece pensar melhor. —
A maioria das pessoas não se esforçaria para mijar nos nobres se eles
estivessem pegando fogo depois da maneira como se viraram contra
você. A maioria das pessoas os puniria pelo desrespeito. A maioria
das pessoas usaria seu poder como líder do território para forçar a
obediência. Ou talvez ir embora completamente. Não sei. De
qualquer forma, eles não continuariam a cuidar de pessoas que os
rejeitam repetidamente.
A maneira como ela diz isso... é quase como se ela admirasse.
Mas isso não pode estar certo. Fiquei aquém de todas as expectativas
definidas para mim. Essa tendência começou muito antes de minha
família morrer e minha covardia garantiu minha sobrevivência.
Sempre fui mole demais para o gosto do meu pai. Ainda posso sentir
seu escárnio, posso ver as cores pintadas no ar ao seu redor.
— Você está errada. Não sou nada de especial.
Grace fica em silêncio por vários segundos. Eu me recuso a
olhar para ela, me recuso a ver suas cores e o que elas podem me
dizer. Finalmente, ela diz: — Se você diz. Agora, mostre-me o espaço
que me trará sorte.
A gratidão flui através de mim. Fico feliz que ela não esteja
pressionando o assunto. Posso sentir uma afinidade com essa
mulher, mas a verdade é que somos pouco mais que estranhos. O
que quer que ela pense que sabe sobre mim, ela não sabe. Eu limpo
minha garganta.
— Só traz sorte se você estiver aqui à meia-noite.
— Talvez. Mas pelo que você disse, é uma nova superstição.
Talvez seu pessoal simplesmente não tenha explorado todos os
parâmetros disso.
Apesar de tudo, sorrio um pouco.
— Talvez.
Eu a conduzo pelo corredor até a adega - uma sala longa e
profunda esculpida na montanha. Não há janelas e a temperatura cai
vários graus quando entramos. Bom para vinho. Menos para
humanos sensíveis ao frio.
— Parece bem. Vamos antes que você pegue um resfriado.
— Você está preocupado comigo, Bram? — Um brilho pálido
de laranja mostra sua surpresa. — Agradeço a preocupação, mas um
pouco de frio não vai me machucar. — Ela se move mais para dentro
da sala e inclina a cabeça para trás, depois fecha os olhos. — Entendo
por que eles vêm aqui. Pode ser assustador pra caramba, mas
também é um pouco pacífico. Você mal consegue ouvir o vento.
Parece que você é a última pessoa que resta neste reino.
Eu me aproximo apesar de tudo, atraído pela estranha paz que
emana dela.
— A ideia de ser a última pessoa que resta não te assusta?
— Não, — ela diz simplesmente. — Estou sozinha há cinco
anos. Tempo suficiente para ficar boa nisso. Mas se eu for a última
pessoa que resta... — ela estende a mão e pega minha mão — ou,
para fins de discussão, nós somos as duas últimas pessoas que
restam? Isso significa que ninguém precisa ser salvo. Ninguém
precisa ser governado. Ninguém precisa de nós. E sim, há uma parte
de mim que acha isso muito atraente.
Compreenção ecoa através de mim. Quantas vezes ela disse ou
fez algo que imediatamente ressoou comigo? Ela é uma estranha,
mas sinto que a conheço até os ossos. Aperto a mão dela, fecho os
olhos e inclino a cabeça para trás, imitando sua postura.
— Isso é realmente atraente, não é?
Apenas nós dois deixados sozinhos no mundo.
Não é a realidade, mas estou aqui no escuro, em silêncio, e
compartilho a fantasia com ela. Pelo menos por um tempo.
CAPITULO 13
Grace
Não sei o que estou fazendo. Se eu tivesse meio cérebro na
cabeça, esperaria que Bram baixasse a guarda antes de tentar outra
fuga. Eu empilharia o baralho a meu favor o máximo possível. Eu
garantiria que tivesse suprimentos suficientes para durar pelo menos
uma semana. Eu faria muitas coisas.
Eu não faço nada disso.
Parece clichê dizer que hoje as coisas mudaram. Isso não
aconteceu. Não pode. Exceto... Eu o pego um pouco melhor do que
antes. Eu o vejo mais claro.
Eu o quero mais.
Espero pela calada da noite e então saio do castelo usando uma
porta diferente da que usei antes. Não importa. Tenho certeza de que
posso sentir seus olhos em mim. Eu não sigo em direção ao lago –
não há sequer um indício de uma rota de saída naquela direção –
mas para os campos no leste. É uma péssima decisão tática quando
meu perseguidor pode voar.
Olho para o céu por cima do ombro, mas está muito escuro e as
nuvens escondem tudo. Ele poderia estar diretamente acima de mim
e eu nunca saberia disso, não até que ele mergulhasse e me pegasse.
Antecipação ondula através de mim. Imperdoável, mas é a verdade.
Eu pego meu ritmo até que eu esteja correndo sobre o terreno
irregular. A linha das árvores está à minha direita, mas ainda não
estou preparada para chegar lá. A floresta é quase impossível de
navegar no escuro, e não gosto da ideia de ser pega naquelas teias
novamente.
Isso é tão tolo que nem consigo colocar em palavras. O que eu
estou fazendo?
Minha única resposta é um leve assobio. Eu mal registrei no
começo. Então meus instintos alcançam meu cérebro e corro em
direção às árvores. Já é tarde demais.
Entre um passo e o outro, mãos ásperas agarram minhas axilas
e me puxam para o ar. O chão desaparece sob meus pés enquanto
Bram corta para cima. Então o filho da puta me joga, e fico sem peso
por uma respiração horrível antes que ele me pegue em seus braços.
A princípio, acho que ele pode ter feito isso para me controlar
melhor, mas quando ele se vira para o castelo, ele faz de novo. Ele
me larga, deixando-me cair por vários segundos, então me pega
novamente e nos leva mais alto. Apenas para repetir o processo
novamente. Por tudo isso, eu não grito. Não sei dizer se estou com
medo, furiosa ou, que Deus me ajude, excitada.
Ainda não tenho uma resposta quando ele mergulha por uma
grande janela em direção ao topo do castelo. Estou tremendo e não
consigo parar. Não há como minhas pernas me segurarem. Elas não
precisam. Bram me joga em sua cama e coloca uma mão enorme em
meu peito quando começo a me sentar.
— Eu disse a você as consequências de suas ações.
Sim, ele realmente fez. Saber que escolhi isso é de alguma
forma ainda mais humilhante. Eu não deveria estar ansiosa pelo
momento em que ele me pegasse e me arrastasse de volta. E, no
entanto, aqui estou eu, as coxas pressionadas juntas, sem fôlego
esperando para ver o que ele fará a seguir.
Espere, o que estou fazendo? Eu vi como ele reagiu no banho e sei
como me senti no momento em que assumi o controle. Quem disse
que não posso fazer isso agora?
Ele está vestido da mesma forma desde que o conheci, sua pele
de pedra quase nua, exceto por uma espécie de tanga enrolada em
seus quadris. Depois da chance de conhecer seu pau ontem à noite,
as possibilidades daquelas cristas me fizeram perder o sono. Na
verdade, ele está tão duro que posso ver claramente as saliências
delineadas contra o tecido da tanga. Primeiras coisas primeiro, no
entanto. Eu me sento.
— O pingente de controle de natalidade?
— Tão ansiosa pelo meu pau, não é? — Ele se afasta da cama.
Sua asa chicoteia, e a espora pega algo em uma cômoda próxima que
eu não tinha notado antes. Ele joga no meu colo. É exatamente o que
imaginei que seria: um pingente em uma corrente com alguma
escrita misteriosa que não consigo decifrar. Em meu reino, existem
mil e uma maneiras mágicas de garantir magicamente que nenhuma
gravidez ocorra durante os encontros sexuais. E todas elas têm
menos efeitos colaterais do que medicamentos prescritos.
Isso pode ser uma armadilha.
— Como funciona?
Ele não se mexe. Ele nem parece respirar.
— Você precisa de um pouco do seu sangue para ativá-lo e
ativá-lo para você. Depois disso, enquanto você estiver usando, você
não pode conceber.
Eu espero pela captura, mas ele não diz mais nada. Ele não
precisa. Enquanto procuro sua aura, não encontro nem mesmo o
menor indício de engano. Isso não significa que não esteja lá, mas se
Bram é um mentiroso, ele é o melhor que já conheci. Meus instintos
raramente estão incorretos quando se trata de identificar ameaças, e
se Bram é uma ameaça, não é porque ele está tentando me prender.
Ele não se preocupou em esconder o que quer e, embora tenha
orquestrado essa barganha diabólica entre nós quando eu estava sob
pressão, isso não significa que não estou disposta. Pelo contrário.
Quase acenei com uma bandeira vermelha na frente dele e exigi que
ele me perseguisse.
É por isso que não hesito em cortar meu dedo e pressioná-lo
contra o pingente. O efeito é instantâneo. Ele pulsa, e eu sinto uma
resposta pulsando no meu estômago.
— Existe algum tipo de período de espera?
— Não.
Graças aos deuses. Eu não me importo se esta é uma ideia
terrível. Eu não me importo se este homem é um par perfeito para
mim. Eu certamente não me importo que ele me faça agir de uma
forma que está em contraponto direto aos meus objetivos. Por mais
assustador que seja, quando estou com ele, me sinto menos sozinha.
Quando estamos frente a frente, não há espaço para a velha dor que
atormenta meus passos, para a preocupação com um futuro em que
tudo o que posso ver é mais solidão, seguida de uma morte
prematura. Quem vai me enterrar quando algum monstro que estou
caçando me derrubar? Eu não tenho mais família. Provavelmente
vou conseguir alguma lápide em um cemitério humano genérico,
com o nome ‘Jane Doe’ escrito na pedra.
Não preciso pensar nisso agora. Na verdade, não preciso
pensar nisso pelos próximos sete anos se não quiser. Pode significar
esperar por respostas, mas já esperei anos. O que são mais alguns? A
culpa ameaça afundar suas garras em mim com o pensamento, mas
eu não tenho que deixar isso.
Pelo menos não esta noite.
— Tire suas roupas, Bram.
— Você primeiro. — Seus olhos percorrem meu corpo com
tanta intensidade que juro que posso senti-los. — Quero ver você. —
Mas ele não se move um centímetro mais perto. Ele não vai até que
eu lhe dê permissão... até que eu o ordene. Mais uma vez, aquele
poder inebriante flui através de mim. Posso não ter o controle da
minha vida ou do meu destino, mas agora, neste quarto, tenho o
controle de Bram. É dado de bom grado, o que torna essa sensação
ainda mais inebriante.
— Não — eu digo lentamente. — Depois daquela pequena
façanha que você fez lá fora, você tem que ganhar meu corpo. O
primeiro passo é tirar a roupa. — Quando ele ainda hesita, eu inclino
minha cabeça para o lado. — Você sabe como este jogo é jogado,
Bram. Se você quer que acabe, tudo que você precisa fazer é me
dizer para parar. Você pode sair pela porta e não farei nada para
mantê-lo aqui. Eu certamente não vou usar isso contra você.
Ele bufa.
— Você está no meu quarto, Grace.
— Sim, eu estou. E no momento em que isso acabar, voltarei
para o meu quarto. — Luto para não prender a respiração, para não
deixá-lo saber o quanto preciso desesperadamente de sua
obediência. Sua submissão.
A respiração dele está um pouco mais rápida? É difícil dizer,
mas acho que sim. Ele lambe os lábios.
— Se eu jogar este jogo com você, onde terminaremos esta
noite?
Ele quer isso tanto quanto eu. Foi ele quem orquestrou os
eventos que me trouxeram a este lugar. Para esta barganha sexual. É
ele quem quer desesperadamente se ajoelhar e se entregar a mim. Eu
só preciso dar a ele um último empurrãozinho. Uma desculpa para
pegar o que ele quer... ou melhor, para permitir que eu dê a ele. Para
satisfazer as suas necessidades.
Eu arrasto meu dedo ao longo da corrente do pingente de
controle de natalidade lentamente. Ele fica tenso, quase como se
estivesse lutando para não me atacar. O pensamento me dá uma
emoção. Ele não vai. Estou certa disso. Não até que eu dê o
comando.
— Se você jogar este jogo comigo, se você se submeter aos
meus comandos como o bom menino que eu sei que você pode ser,
então terminaremos esta noite comigo cavalgando seu pau. — Eu me
inclino para frente e ele reflete o movimento. Meu corpo fica tenso e
eu abaixo minha voz, persuadindo-o a se aproximar ainda mais. — E
se você for muito, muito bom, vou deixar você me encher.
Suas narinas dilatam. Sem se afastar ou criar qualquer distância
maior entre nós, ele se abaixa e desembrulha o pano que o protege
da minha visão. Ele atinge o chão com apenas um som. Acho que
nenhum de nós está respirando. Parece que um tiro disparou.
Eu me inclino para trás e me apoio em minhas mãos para que
eu possa observá-lo o quanto quiser. Verdade seja dita, preciso que
ele me toque tanto quanto preciso tocá-lo. Mas há uma deliciosa
agonia em nos fazer esperar. Eu sabia que Bram era bem constituído.
Eu tinha seu pau em minhas mãos e boca há muito pouco tempo.
Não importa. A visão dele me faz apertar minhas coxas juntas.
Não há razão para adiar desta vez. Eu não tenho que me
impedir de cavalgar seu pau. Com este pingente no pescoço, a pior
consequência está fora de alcance. Se meu coração é um pouco mais
terno do que eu esperava, é um preço pequeno o suficiente para
pagar por uma fuga com este homem. Uma que vai beneficiar a nós
dois.
— Ajoelhe-se.
Bram não hesita. Ele se abaixa lentamente até o chão e se
acomoda sobre os joelhos. Se eu não o conhecesse melhor, pensaria
que ele teve algum tipo de treinamento nas artes da submissão,
porque ele abre as coxas apenas o suficiente para enquadrar seu
pênis e bolas e abre suas asas atrás dele, bonito como uma imagem.
Mas então olho para o rosto dele e percebo que não é nada
intencional. Ele está se movendo no automático, cada pedacinho de
seu foco se concentrando em mim.
É mais inebriante do que qualquer droga que experimentei. Eu
quero mais. Agora.
Sento-me um pouco e puxo minha camisa sobre a cabeça. Não
me incomodei com nada por baixo. Não quando eu sabia onde
iríamos parar esta noite. Não estou prestes a desistir de tudo por um
simples comando, mas faço uma pausa para tirar minhas botas e
meias.
— Você é muito bonito. Você sabe disso, não é? — Observo a
inclinação de seus ombros e as grossas fatias de músculos movendo-
se sob sua pele fria. — Seja qual for o criador em que você acredita,
gastou um pouco mais de tempo ao formar você.
Sua aura gira com o magenta do constrangimento e o fúcsia
profundo do prazer.
— Você não tem que dizer coisas assim para mim.
— Eu não tenho que fazer nada que eu não queira fazer, Bram.
Eu gosto de elogiar você. É a verdade, e me agrada ver você se
contorcer. — Eu deslizo meus dedos pelo meu peito para cobrir um
seio. Ele se esquece completamente de seu constrangimento
enquanto me observa circular meu mamilo com o polegar. — Eu sei
que você não tem uma opinião elevada de si mesmo, mas gostaria de
ouvir você me dizer qual é a sua maior força.
Ele balança a cabeça bruscamente.
— Isso não faz sentido. O que isso importa?
— Acho que o que importa depende de você. — Eu arrasto
meus dedos ainda mais, descendo meu estômago até o topo da
minha calça. — Terei prazer em removê-las... assim que você
responder honestamente à minha pergunta.
CAPITULO 14
Bram
Sabia que haveria jogos no quarto esta noite, mas eu não
esperava que Grace fodesse com a minha cabeça tão completamente.
Ou tão rapidamente. Ela está falando sério também. Posso ler sua
determinação no violeta de sua energia. Ela sabe como isso me deixa
desconfortável, mas ela não vai ceder.
Cerro os dentes e forço as palavras.
— Minha maior força é minha própria força.
— Errado. Tente novamente.
Eu a encaro, mas minha ira parece ricochetear nela. Pior, ela
ainda está brincando com a parte de cima da calça, e mal consigo
pensar na promessa de ver sua linda boceta novamente. Engulo em
seco. Eu posso fazer isso. Posso me abrir e me desnudar para ela.
— Minha maior força é minha lealdade. Uma vez que eu der,
não vou vacilar. Posso deixar de fazer o que precisa ser feito, mas
vou querer fazer a coisa certa. Não sei se isso torna minha lealdade
melhor ou pior.
— Muito bom. Muito, muito bom.
É tudo o que posso fazer para me manter imóvel enquanto ela
levanta os quadris e desce as calças pelas pernas. Ela chuta as calças
o resto do caminho e abre as pernas. Nunca desejei tanto uma luz
brilhante. A luz da lua que entra pela janela aberta não chega nem
perto de iluminá-la para minha satisfação. Mesmo assim, eu a vejo
claramente.
Suas coxas tonificadas, salpicadas de cicatrizes da vida sobre a
qual ela nunca fala. Sua boceta rosa perfeita, uma delícia que
pretendo aproveitar ao máximo antes que a noite acabe. Mas só se eu
for bom. O pensamento envia arrepios por todo o meu corpo e faz
meu pau esticar. Não sei como ela consegue me prender com tão
poucas palavras, mas sinto como se ela tivesse a mão em volta do
meu pescoço.
Eu adoro isso.
— Ah, Bram. Você se esforça tanto para ser o monstro que
acredita ser, mas bem no fundo, você é um homem honrado. Talvez
até honrado demais.
Isso arranca uma risada áspera de mim.
— Dificilmente.
— Muito honrado de longe. — Seus dedos deslizam sobre o
umbigo e depois abaixam, patinando para acariciar primeiro uma
coxa e depois a outra. — Se você não fosse, você teria deixado os
nobres em seu território de joelhos agora. Se você não fosse... — ela
insiste como se pudesse me ver prestes a protestar — então você já
teria tirado o que quer de mim agora.
— Só porque eu quero que você goze de bom grado no meu
pau não significa que eu tenha honra, Grace. Não me entenda mal.
— Eu não sonharia com isso. — Finalmente, o que parece uma
eternidade depois, ela cria um V com os dedos e abre sua boceta. —
Não se mova até que eu mande.
É como se ela tivesse atravessado a distância e me
transformado em pedra até os ossos. Observo com desejo impotente
e frustração enquanto ela acaricia seu clitóris em pequenos círculos.
Lembro-me exatamente do padrão que ela gosta, aquele que usei
com minha língua para fazê-la gozar em meu rosto ontem à noite. É
o mesmo que ela está usando agora.
Ela mergulha os dedos e pressiona dois dentro dela. Na
verdade, deixei escapar um gemido quando os testemunhei
desaparecendo no espaço que preciso desesperadamente ocupar. Ela
não se fode com eles, no entanto. Ela apenas espalha sua umidade de
volta ao clitóris e volta a se acariciar. É apenas um minuto ou dois
mais tarde, quando sua cabeça cai para trás e seus seios levantam
com sua respiração áspera.
Puta merda, ela vai se obrigar a gozar.
Sem me deixar tocá-la.
— Grace. — Minha voz é um apelo irregular. — Deixe-me. Por
favor.
Ela levanta a cabeça apenas o suficiente para encontrar meu
olhar. Deuses, mas ela é deslumbrante. O comando e seus olhos
cinzentos me prendem mais profundamente do que qualquer
vínculo poderia.
— Não se mova. — As palavras são suaves, mas não menos
ordenadas pela falta de volume.
Eu pressiono minhas mãos com força nas minhas coxas
enquanto ela continua a se acariciar. Nunca fui de gozar rápido, e
certamente não sem algum tipo de estímulo físico, mas quando suas
coxas começam a tremer e seus dedos cobrem seu desejo, de repente
fico com medo de estar prestes a ter um orgasmo sem tocar meu pau
de alguma forma.
O poder que esta mulher tem sobre mim é quase bruxaria.
Exceto que é uma desculpa. Não é mágica que me liga a Grace, ou
pelo menos não é mágica além da barganha demoníaca que nós dois
fizemos. É uma afinidade que nunca senti com outra pessoa. Isso
desafia a crença, mas de alguma forma esta mulher está quebrada
exatamente da mesma maneira que eu. As linhas de falha em sua
alma são uma combinação perfeita para a minha.
— Ah, porra. — Ela pressiona com força seu clitóris. E então
uma única palavra escapa de seus lábios, tão suave que quase me
convenço de que estou ouvindo coisas. Eu devo estar. Certamente
ela não apenas sussurrou meu nome quando gozou.
Eu não posso me mover. Eu não consigo pensar. Sou um
receptáculo para sua demanda, então, quando ela aponta o dedo
para mim, sei exatamente o que ela exige sem que ela diga nada. Eu
rastejo até ela. Não é uma longa distância, mas é incrivelmente
estranho com minhas asas. Deve ser humilhante; na verdade, é.
Nunca me senti tão em paz.
Eu paro na beira da cama. Ela está tão perto que não seria
necessário nenhum esforço para tocá-la. Eu sei melhor do que isso.
Pelo torcer dos lábios de Grace, ela entende exatamente o quanto me
custou manter minhas mãos nas coxas enquanto ela gozava.
Ela se senta, um pouco desajeitada em seus movimentos
entorpecidos pelo desejo.
— Foi um excelente aperitivo. — Grace se inclina para frente e
olha meu pau. — Você está com dor?
— Sempre. Eu dou conta disso.
Agora ela sorri de verdade. Sua aprovação me aquece como se
fosse o próprio sol. Eu realmente tenho que fechar meus olhos contra
isso. Mas eu os abro com a mesma rapidez porque não quero perder
um minuto disso.
Grace segura meu queixo.
— Você fez bem. Mas agora estou toda bagunçada. Você
gostaria de me limpar?
Só haveria uma resposta para essa pergunta. Tenho quase
certeza de que morreria se não a provasse novamente. Limpar ela?
Eu quero fazer uma bagunça de nós dois. Eu aceno lentamente.
— Sim.
— Eu pensei assim. — Ela belisca minha mandíbula levemente,
guiando minha boca aberta. Então ela pressiona seus dedos, ainda
molhados com seu orgasmo, entre meus lábios. Um arrepio percorre
meu corpo. Uma pessoa pode morrer de felicidade? Antes desta
noite, eu teria dito que era impossível. Agora não tenho tanta
certeza.
Eu tento fechar minha boca em torno de seus dedos para sugá-
la, mas seu aperto em minha mandíbula é duro. Nós dois sabemos
que não há nada que ela esteja fazendo comigo que eu não tenha
consentido. Mas ainda faço um som de protesto.
Grace ergue as sobrancelhas.
— Você gostaria que eu parasse?
O que eu quero é que ela vá mais fundo, mais fundo. Mas não
posso dizer isso com os dedos dela na minha boca. Ela parece
perceber isso no mesmo momento que eu. Grace lentamente retira
seus dedos quase completamente, parando apenas quando as pontas
deles encontram meu lábio inferior.
— Bem?
— Não, eu não quero que você pare. — Engulo em seco,
saboreando-a na minha língua.
— Se você mudar de ideia...
— Eu não vou.
Ela aperta meu queixo com mais força e me puxa para colocar
um beijo devastadoramente gentil em meus lábios.
— Se você mudar de ideia, me diga. A propósito, isso é uma
ordem. — Então seus dedos estão de volta na minha boca. Desta vez,
ela não é tão gentil. Ela me mantém imóvel e fode minha boca com
os dedos. O tempo todo ela olha profundamente em meus olhos
como se pudesse ver minha própria alma. Como se ela estivesse me
desafiando a ceder, a fazer qualquer coisa além de aproveitar o que
ela está distribuindo.
Aproveitar...
Nunca me senti tão possuído. Eu nunca soube que era algo que
eu poderia desejar. Não apenas a dominação, embora isso me deixe
tão duro que parece que meu pau pode estourar. Está no cuidar
também. Ela não me quer apenas de joelhos. Ela me quer lá de bom
grado. Ela quer que eu goste disso tanto quanto ela, jogando este
jogo até a conclusão. Nunca me senti tão vulnerável e ao mesmo
tempo tão cuidado.
Quando não consigo mais prová-la em seus dedos, ela os tira
da minha boca.
— Agora o resto. — Não há como confundir suas palavras,
especialmente quando ela se inclina para trás e mais uma vez abre as
coxas. Eu faço um som que é quase um soluço de alívio. E então eu
me inclino e pressiono minha boca em sua boceta. Eu estou
tremendo. A primeira lambida de seu centro é divina. Eu não
consigo parar.
Pelo menos até ela colocar os dedos no meu cabelo e puxar com
força.
— Não fui clara? — Há um tom perigoso em seu tom. — Eu
não disse para você me foder com sua língua, Bram. Eu lhe disse
para limpar minha bagunça.
Mais uma vez, aquele som que é parte soluço e parte
choramingo escapa. Leva muito mais esforço do que eu poderia ter
sonhado para voltar e começar a lamber suas coxas. Ela mantém a
mão no meu cabelo, guiando-me para cada novo local e me
segurando lá até que eu termine minha tarefa.
Oh merda, eu realmente poderia gozar.
Especialmente quando finalmente posso alcançar sua boceta e
dar uma volta nela. Não seu clitóris, ela não me permite esse prazer,
mas em todos os outros lugares. Eu poderia ter morrido de
desespero se não fosse pelos pequenos tremores que percorrem seu
corpo, deixando-me saber que isso é tanta agonia para ela quanto
para mim.
Ela finalmente alivia seu aperto o suficiente para que eu possa
pressionar minha testa na parte inferior do estômago. Estou
respirando como se tivesse acabado de voar por quilômetros e
quilômetros sem parar. Suas coxas tremem de cada lado da minha
cabeça, mas sua voz é quase normal.
— Isso foi... adequado.
— Eu posso fazer melhor. — Não sei de onde vêm as palavras,
só sei que são a verdade.
— Próxima vez. — Ela puxa meu cabelo novamente. — Venha
aqui.
Eu permito que ela me guie até que nossos rostos estejam
iguais. Grace solta meu cabelo e segura meu rosto com as mãos
trêmulas. E então ela me beija. Não é macio e doce como da última
vez. Não, esta é uma declaração de propriedade. Ela possui minha
boca e estou muito feliz em me submeter. Quero envolvê-la e puxá-
la para perto até não saber onde ela termina e eu começo. Eu preciso
dela tão desesperadamente que eu cavo meus dedos em minhas
coxas novamente para me impedir de desobedecê-la. Puta merda, o
que está acontecendo comigo?
Ela só interrompe o beijo quando nós dois estamos tremendo.
Grace se inclina um pouco para trás.
— Em cima da cama. Nas suas costas. — Com minhas asas
presas embaixo de mim.
Ela sabe o que está me pedindo. Ela sabe o que estou dando a
ela ao obedecer.
Eu não hesito. Eu fico com as pernas trêmulas e me movo ao
redor dela para deitar na minha cama. Sem ela dizer uma palavra, eu
estendo meus braços sobre minha cabeça e agarro a cabeceira de
pedra grossa. Não estou contido de forma alguma, mas estou
indefeso diante dela do mesmo jeito.
Ela se ajoelha entre minhas coxas e passa as unhas sobre elas.
— Em outra ocasião, eu faria você manter esta posição
enquanto eu te dava prazer até que você não aguentasse mais.
Outra vez, eu adoraria isso. Se ela tentasse isso agora, eu
duraria apenas cerca de trinta segundos. Grace também sabe disso.
Ela para de me acariciar e se move para montar em meus quadris.
— Eu preciso muito de você para jogar esse jogo agora. Mas
preciso deixar uma coisa clara, Bram. Você está ouvindo?
Estou tendo dificuldade em me concentrar em qualquer coisa
que não seja sua boceta, pairando apenas alguns centímetros acima
do meu pau tenso. Engulo em seco.
— Sim, estou ouvindo.
— Mantenha suas mãos na cabeceira, ou eu vou parar o que
estou fazendo. Você entende?
Ela quer que eu não a toque enquanto ela está me tocando tão
intimamente. Ela está me dando prazer e agonia com a restrição. Eu
aceno bruscamente. — Sim. Eu entendo.
CAPITULO 15
Grace
Estar com Bram é como ter um sonho febril, mas nunca me
senti tão consciente. Há poder em sua submissão, no presente que
ele fez dela. Empoleirada em seus quadris, com seu corpo perfeito
disposto para o meu prazer, tenho outro momento me perguntando
se eu mordi mais do que posso mastigar. Ele é tão grande em todos
os sentidos.
Nunca deixei o medo tomar minhas decisões por mim e não
vou começar agora.
Subo em seu peito largo para beijá-lo novamente. Eu amo beijar
esse homem. Às vezes é uma batalha, e às vezes, como agora, é como
cair de um lugar alto em braços fortes que sempre vão me segurar.
Toda a minha vida, me disseram para confiar em ninguém além da
família. Não confiei em Bram todos os meus segredos, mas confiei
nele com minha vida e meu corpo. Isso não é pouca coisa.
E agora ele está confiando em mim com o dele.
Eu me endireito um pouco e planto minhas mãos em seu
estômago, prendendo seu pênis entre nós. Eu realmente não sei se
posso levá-lo, mas um pouco mais de lubrificação não fará mal. Sem
mencionar que estou morrendo de vontade de sentir suas cristas
desde que as descobri. Eu rolo meus quadris, moendo ao longo do
comprimento de seu pênis. É ainda melhor do que eu esperava.
— Ah, porra.
— Grace. — Os músculos de seus braços estão tão tensos que
consigo traçar cada linha. Estou honestamente surpresa que a
cabeceira da cama não tenha rachado sob a força de seu aperto. Sua
voz ressoa em seu peito como pedras raspando juntas. — Se você
continuar fazendo isso, isso vai acabar antes que eu possa entrar em
você.
Eu amo sua honestidade tanto quanto amo o quão
profundamente eu o afeto. É justo que eu recompense a nós dois por
chegarmos até aqui.
— Farei uma barganha, Bram.
Ele estreita os olhos mesmo quando ofega com a necessidade.
— É um pouco tarde para barganhas.
— Você sabe melhor. Nunca é tarde para barganhas. — Eu rolo
meus quadris e não posso evitar meu pequeno suspiro quando meu
clitóris encontra uma crista particularmente agradável. Ele pode
estar preocupado em vir muito rápido, mas já estou no limite
novamente. Nunca foi assim comigo, esse quase frenesi mal
escondido sob um verniz de domínio. — Espere até que eu goze em
seu pau. Se você fizer isso, eu vou deixar você me foder como quiser.
— Por mais que eu deseje? — Ele amaldiçoa longa e
duramente, fazendo-me apertar minhas coxas em torno dele. — Essa
é uma oferta tentadora.
— Vamos ver se você consegue viver de acordo com isso. — Eu
fico de joelhos apenas para descobrir que não é altura suficiente.
Puta merda, eu realmente não sei se posso fazer isso. Não importa.
Eu tenho que tentar.
Eu coloco meus pés sob mim e me agacho sobre ele. Só então
posso posicionar seu pau na minha entrada. A diferença de tamanho
parece obscena assim. Algo quase como um medo verdadeiro pisca
dentro de mim.
— Não sei se posso levar você.
— Você pode. — Ele diz isso com tanta confiança que me
pergunto se ele já teve amantes humanas no passado. Não estou
preparada para o ciúme que sinto em resposta a esse pensamento.
Bram se move embaixo de mim. — Não, eu nunca fodi humanos
antes, mas muitos do meu povo já. É possível. Eu prometo que é
possível.
Eu tento pressionar sua cabeça, mas ele é muito largo para
deslizar facilmente dentro de mim.
— Como? Isto é impossível!
— Grace. — Ele murmura meu nome. É parte comando e parte
apelo. — Você só precisa de um pouco mais de preparação. Deixe-
me. Por favor.
O desespero supera qualquer tipo de jogo de
domínio/submissão que estamos jogando.
— Sim. Ok. Faça isso agora.
Espero que ele me vire e assuma o controle. Ele não faz. Ele
solta a cabeceira da cama com uma das mãos e a posiciona perto do
quadril, com a palma para cima.
— Monte meus dedos.
Seus dedos são impressionantes, mas ainda não chegam nem
perto do tamanho de seu pênis. Eu preciso muito dele para discutir,
no entanto. Eu me mexo o suficiente para pressionar seus dedos na
minha boceta. Mais uma vez, Bram não assume o controle. Na
verdade. Ele pressiona o dedo do meio dentro de mim e se mantém
firme enquanto eu o monto. Isso é bom. Muito bom. Mas é apenas
alguns momentos antes de não ser suficiente.
— Mais.
Ele obedientemente me oferece um segundo dedo. Desta vez,
conforme desço, tenho que ir mais devagar para me ajustar.
Especialmente quando ele está pressionando contra minhas paredes,
me esticando ainda mais. O prazer me envolve. Se ele não parar de
fazer isso, eu vou gozar. Eu alcanço seu pau, mas ele balança a
cabeça.
— Não. Estou por um fio. Venha quantas vezes precisar, Grace.
As pontas de seus dedos pressionando contra o meu ponto G
tiram qualquer hesitação de mim. Eu me entrego para foder seus
dedos, montando-os do jeito que eu quero desesperadamente
montar seu pau. Meu orgasmo floresce, cada vez mais perto, mas
luto com tudo o que tenho. Ainda não.
Então ele enfia um terceiro dedo em mim.
Eu congelo. Eu estava desconfortavelmente cheia com dois.
Três é quase doloroso.
— Espere.
— Você tem o controle. Dê a si mesma tempo. Quando estiver
pronta, pegue o que precisar. — Ele fala baixinho, persuasivo. Ele
me acalma com suas palavras e tom, mesmo que pareça que ele pode
me rasgar com os dedos.
Mas apenas por um momento. Meu corpo se ajusta lentamente,
incremento por incremento. A luxúria que me inunda é profunda o
suficiente para me afogar.
— Bram.
— É isso. Bem desse jeito.
Eu mal registrei meu corpo começando a se mover. Eu não faço
uma escolha consciente para fazê-lo. O instinto assume. Pequenos
tremores lentamente se transformam em golpes. E ainda assim ele
me estende. Mas aquela quase dor se foi. Tudo o que resta é o
prazer. Bram se move e pressiona a palma da mão no meu clitóris. A
sensação é tão boa que entro em pânico e agarro seu pulso.
— Espere. — Estou ofegante tanto quanto ele, e estou tão
molhada que juro que ele está encharcado até o pulso. — Eu não
quero gozar até que seja seu pau dentro de mim.
— Seria melhor se você fizesse.
Talvez ele esteja certo. Talvez ele não esteja. Eu não ligo.
— Eu preciso do seu pau.
Bram fica tenso e, de repente, estou no ar, sendo levantada pela
porra da minha boceta até que estou de volta agachada sobre seu
pau. Só então ele retira os dedos. É ele quem guia seu pênis largo até
minha entrada. Desta vez, o que parecia impossível é apenas um
desafio devastador. Eu afundo, tomando um centímetro dele dentro
de mim. Puta merda.
Cada centímetro é uma batalha entre seu corpo e o meu. É bom
demais para parar, mas não consigo deslizar até o fim em um
movimento suave como adoraria. Minha descida acontece aos
trancos e barrancos. No momento em que nos selamos
completamente, nós dois estamos cobertos de suor e respirando
como se tivéssemos acabado de correr uma maratona.
— Porra, porra, porra. — Eu não consigo parar de tremer.
Preciso me mexer, mas é como se meus ossos tivessem virado geleia.
Meus joelhos alcançam a cama agora, mas não o farão se eu tentar
me levantar completamente dele. — Bram...
De alguma forma, ele sabe o que eu preciso antes que eu diga
as palavras. Ele se abaixa e desliza as mãos sob meus joelhos. Parece
impossível que ele possa me manter levantada indefinidamente, mas
ele não hesita em me erguer alguns centímetros no ar, criando uma
base sólida para eu me apoiar. O movimento faz com que cada
músculo de seu torso se destaque, e eu estremeço com a visão... o
que só me deixa mais consciente da maneira como ele me preenche.
Lentamente, com cuidado, começo a me mover.
É o prazer mais insuportável que já experimentei. Cada
movimento tem seus cumes esfregando contra partes deliciosas de
mim. Mal consigo manter os olhos abertos, mas fechá-los significa
perder o modo como Bram me observa. Como um homem devoto
que finalmente viu a face de seu deus. Mais tarde, isso pode me
deixar desconfortável. Agora mesmo, eu absorvo sua atenção,
deleito-me neste momento de perfeita compreensão.
Meu corpo se ajusta. Só demora um pouco mais do que estou
acostumada. Eu reviro meus quadris lentamente, tanto porque me
sinto bem quanto porque ele me observa de perto. Sua mandíbula
está cerrada com tanta força que me preocupo com seus dentes.
— Bram.
— Goze para mim, Grace. Por favor. Não posso...
É como se o desespero dele anulasse o meu. Eu pego meu
ritmo, perseguindo aquela brasa ardente de necessidade dentro de
mim. Ele queima cada vez mais quente. Tão perto... Eu poderia
aguentar. Talvez. Poderia espremê-lo e ganhar esta pequena aposta.
Eu não quero.
Eu pressiono meus dedos no meu clitóris, circulando
exatamente do jeito que preciso enquanto o monto. Uma tacada.
Duas. Na terceira, meu corpo se contrai com tanta força que me
deixa tonta.
— Ah, porra. — Eu me movo em seu pau, cavalgando a onda
que sobe e sobe até que de repente estou com medo de que nunca
chegue ao pico. Quando isso acontece, quase desmaio.
Bram solta meus joelhos, fazendo com que seu pau afunde
ainda mais. Eu grito, mas o som é cortado quando ele se senta e me
beija. Ele se agarra a mim, sua boca se movendo contra a minha
enquanto seus quadris bombeiam em mim. É macio e doce e... Oh
merda, eu estou vindo de novo.
Desta vez, ele me segue. Seu pau pulsa dentro de mim. Eu grito
novamente contra seus lábios, e ele engole o som enquanto tem um
orgasmo. Sem parar, cada carícia é uma onda que posso sentir até
que sua semente transborda e se espalha pelas minhas coxas e por
todo o seu colo.
Eu desabo contra ele, ou talvez ele desabe contra mim. Eu
honestamente não posso ter certeza. Nós nos abraçamos, tremendo e
balançando como dois marinheiros bêbados à deriva em mares além
do nosso conhecimento.
Em algum momento, percebo Bram roçando beijos leves como
plumas ao longo de minha garganta e ombro. Seus braços apertam
em torno de mim.
— Você está bem?
— Sim. — Eu penso que sim. Vou ficar dolorida amanhã, mas a
dor que começa entre minhas coxas vale mais do que o custo do que
acabei de experimentar. Eu escovo seu cabelo para trás. — Você
está?
— Não. — Ele bufa uma risada áspera. — Acho que meu
mundo acabou de se inclinar em seu eixo.
Sim. Isso é exatamente o que parece. Só não esperava que ele
admitisse isso em voz alta. Beijo sua têmpora, seus chifres.
— Você fez bem.
Ele faz um som que é quase um gemido.
— Dê-me alguns momentos e...
— Um banho. — Eu beijo suas sobrancelhas. — Bom banho
quente e longo. Depois, um lanche e um abraço. — Mal consigo me
mover, mas estamos prestes a sofrer um acidente e não quero passar
por isso sozinha. Eu não quero que ele experimente isso sozinho. —
Como isso soa?
Os braços de Bram apertam em volta de mim, e então ele
parece fazer um esforço para afrouxar seu aperto.
— Isso soa bem, Grace. Muito, muito bem.
Conseguimos cambalear até o banheiro e deixar a água correr,
embora mal duremos alguns minutos antes de Bram roncar
baixinho, a cabeça inclinada para trás e a garganta exposta. Foi há
tão pouco tempo que ele me entregou uma adaga e a pressionou em
sua garganta, e agora ele revela a mesma vulnerabilidade para mim,
mas parece confiança em vez de desafio.
Eu acordo Bram e nós nos secamos e cambaleamos para a
cama. Ele não hesita em envolver um grande braço em volta da
minha cintura e me colocar contra seu corpo. Eu provavelmente não
deveria interpretar o fato de que ele adormece quase imediatamente,
mais uma vez confiando em mim para não tirar vantagem de sua
vulnerabilidade.
Eu... me sinto como ele. Não sei por que isso é uma revelação.
Eu já sabia que o entendia. Só não esperava gostar tanto dele,
embora parte de mim reconheça uma parte idêntica dele. Eu não sei
o que isso significa. Talvez não devesse significar nada.
Eu simplesmente não sei.
CAPITULO 16
Grace
Não sei porque continuo me colocando nessa posição. Eu sabia
que a noite passada foi um erro antes mesmo de deixar o castelo. Se
uma grande parte de mim apreciasse a perseguição, sabendo que
não escaparia... Eu não sei o que dizer sobre isso. Eu queria uma
desculpa para estar na cama de Bram, para realmente explorar tudo
o que ele tem a oferecer. Não sei o que diz sobre mim que eu
precisava de uma desculpa. Se eu o quisesse, deveria ter sido capaz
de tomá-lo. Mas não é assim que eu opero.
Eu sou uma Jaeger.
Não morremos de velhice e estamos muito cientes da
possibilidade de monstros usarem pele humana. O sexo torna todos
vulneráveis - você não está protegendo sua garganta quando está no
meio de um orgasmo. Vários membros da minha família extensa
foram eliminados assim. Minha mãe dizia que era uma lição a ser
observada. Ela gostava de tirar lições de muitas coisas.
O prazer é uma mentira. A felicidade é passageira. No final,
tudo o que temos é família.
Eu nem tenho mais isso.
O que me resta são perguntas para as quais estou começando a
me perguntar se algum dia obterei respostas. Oh, eu acredito em
Azazel e Ramanu quando eles afirmam que vão me dar as respostas
que procuro. Esse é o problema, no entanto. Eles podem me dizer
como minha mãe morreu e o que ela barganhaou, mas mesmo que
eu conheça os termos do acordo que ela fez com Azazel, saberei por
quê?
É o porquê que me assombra. Ela não deu nenhuma indicação
de seus planos. Um dia ela estava lá, e no outro ela simplesmente se
foi, para nunca mais voltar. Não foi por dinheiro. Temos muito
disso, graças a alguns investimentos inteligentes feitos por meu avô.
Foi tudo por... Essa é a coisa. Na verdade, nada mudou. Não é como
se ela tivesse dado sua vida e nós tivéssemos algo para mostrar por
isso. Ela desapareceu, deixando um buraco enorme atrás dela. Quero
saber por quê, e não tenho certeza se algum dia terei essa resposta.
Certamente não o encontrarei na cama de Bram.
E, no entanto, não consigo me mover. Ele é uma presença
calorosa ao meu lado, com um braço pesado sobre meu tronco.
Parece... legal. Estou dolorida, mas agradavelmente. Sua respiração
constante acalma algo em mim; é uma sensação parecida com
quando estou na praia e ouço a maré subir. Eu poderia viver assim.
Eu poderia passar os próximos sete anos brincando com esse homem
e acabar em sua cama repetidamente. Eu poderia aproveitar meu
tempo até que os demônios barganhadores compartilhassem as
informações que vim aqui encontrar.
É chocante como isso é tentador. Se eu desistir e parar de lutar,
talvez consiga um pouco de paz. O problema é que não sei como
parar de lutar. Eu tenho feito isso toda a minha vida. Agora que sou
a última Jaeger que sobrou, compartilhar alegremente a cama de um
monstro parece uma traição. Não importa que nenhum dos parentes
cuja opinião valorizei classificaria Bram como um verdadeiro
monstro. Não quando ele se importa tanto, está tão disposto a me
deixar assumir a liderança e garanta que eu esteja com ele a cada
passo do caminho.
Mas velhos hábitos custam a morrer. Eu não sei como apenas
relaxar e aproveitar isso. Continuo esperando a coisa ruim acontecer,
mesmo que eu não saiba o que é essa coisa ruim nessa situação.
— Estaremos lutando hoje ou fodendo... ou ambos?
Eu estremeço. Eu nem tinha percebido que ele estava acordado.
Sua respiração certamente não mudou e me deu qualquer indicação.
Então suas palavras penetram. Ambos?
— Isso nunca vai funcionar. Eu preciso de respostas, e você
precisa de um bebê. Nós dois estamos destinados à decepção.
— Provavelmente. — Ele concorda com tanta facilidade que me
irrita. Eu sei que Bram se preocupa profundamente com seu povo; se
não o fizesse, ele simplesmente os deixaria para a inevitável guerra
civil que ocorreria após sua morte. Como ele pode se importar tanto e
ainda assim ser tão derrotista?
Eu não percebi que falei em voz alta até que ele me respondeu.
Ele me puxa para mais perto e enfia o rosto no meu pescoço.
— É fácil. Quando a vida te chuta na cara várias vezes, você
aprende a esperar. Se eu fosse mais esperto, já teria desistido de
lutar. Talvez eu tivesse um pouco de paz então.
Toda vez que ele diz coisas como essa, meu coração parece que
está torcendo no meu peito. Eu cavo meus dedos em seu cabelo e
puxo até que ele levante o rosto e encontre meu olhar.
— Pare com isso. Se você fosse desistir, já o teria feito. Você
obviamente não tem intenção de fazer isso, então pare com o drama.
— Você me chama de dramático? — Seus lábios se curvam, mas
seus olhos permanecem tão sérios. — É você quem fica fugindo noite
adentro, perseguindo... Sinceramente, nem sei o que você está
perseguindo neste momento. O que importa se você obtiver
respostas agora ou em sete anos? Isso vai mudar alguma coisa?
Eu o odeio um pouco pela pergunta. Porque ele está certo, mas
também está tão errado que quero colocar fogo em alguma coisa.
— Você não pode honestamente esperar que eu sente e brinque
com você por sete anos quando sei que há respostas ao meu alcance.
— Eu não. — Ele se senta, facilmente quebrando meu domínio
sobre ele. Verdade seja dita, não me esforço muito para mantê-lo.
Bram sai da cama e sacode suas asas com um estalo. Sua aura é de
um profundo oceano azul de contentamento. Não sei o que diz sobre
mim o fato de sentir um arrepio de satisfação por saber que sou
parcialmente responsável. Não vai durar, o contentamento nunca
dura. Mas está lá agora, e parece que significa algo.
Eu só não sei o quê.
Bram continua falando, alheio aos meus pensamentos
estranhos.
— É por isso que fiz uma barganha com você na primeira noite.
Você não será capaz de se ajudar; a atração das respostas é forte
demais para você ignorar. — Ele me dá um longo olhar. — Mas você
não estava pensando em respostas ontem à noite.
Não, eu realmente não estava. Tudo o que eu estava pensando
era onde ele iria me tocar a seguir, me beijar a seguir. Mesmo agora,
com ele parado a uma distância segura, estou dolorosamente ciente
do fato de que estou nua em sua cama. Seria tão fácil...
Droga, estou me distraindo de novo. Uma coisa é quando
consigo me convencer de que não tenho escolha, mas não posso dar
o salto para fazer isso agora à luz do dia. Com isso em mente, eu saio
da cama, certificando-me de manter uma distância cuidadosa entre
nós enquanto me dirijo para a porta. Uma das desvantagens de
nunca estar em um relacionamento adequado é que não sei como
navegar na luta de uma maneira que pareça saudável. Estou tão em
conflito agora que não sei qual é o caminho, então é melhor sair
daqui antes que diga algo de que me arrependa.
— Vou dar uma volta. — Talvez no final dela, eu tenha clareza.
— Eu nunca imaginei que você fosse uma covarde.
Isso me para no meio do caminho.
— Não sou covarde. — Você não pode estar na minha linha de
trabalho. O medo é a morte. O medo vai te fazer congelar quando
deveria correr, correr quando deveria lutar. O medo fará você
começar a gritar e levar os monstros até sua porta. Passei toda a
minha vida erradicando o medo do fundo dos meus ossos e da
minha alma. — Realizar um retiro com tato é inteligente.
— Eu entendo. Ainda estamos em guerra. — Ele parece tão
cansado e derrotado que quase me viro. Quase. Esse caminho está
arruinado. Eu já vacilei de muitas maneiras. Uma semana atrás, a
ideia de que eu estaria preocupada em me importar demais com
minha gárgula teria me feito rir. Agora, essa ameaça é muito real.
Eu não quero machucá-lo. Mas também não posso me distrair
com ele.
Eu forço minha coluna reta e ombros para trás enquanto ando
pela porta sem olhar para ele. Ele não segue. Digo a mim mesma que
é isso que quero enquanto meus passos ecoam pelos corredores
vazios. Como ele aguenta? A casa de minha própria família está
igualmente cheia de ecos e vazia - sei que nenhum dos meus
familiares falecidos fez a transição para espíritos - e ainda me esforço
para não passar mais tempo lá do que o necessário. A solidão se
instala muito rapidamente e se enraíza até que tenho que sair e
arrancá-la de minha alma com minhas próprias mãos.
Bram parece incorporar as verdadeiras gárgulas de pedra que
assombram os beirais de antigas igrejas e edifícios. Curvado contra
os elementos, observando de cima e isolado. Nunca tive pena
daquelas estátuas. Eu não deveria sentir pena dele. Ele está
escolhendo ficar aqui.
Ele está...
Eu paro quando uma gárgula entra no corredor na minha
frente. É baixa e robusta com um estômago barril e coxas que
parecem que podem esmagar pedras. Como as outras gárgulas que
vi à distância desde que cheguei aqui, seu único aceno de modéstia é
um envoltório em torno de seus quadris. Gárgulas não têm os
mesmos problemas com roupas que os humanos. Faz sentido
quando se considera o quão desafiador deve ser criar roupas que
acomodam asas.
Ela não dizem nada, o que me arrepia os cabelos da nuca.
— Posso ajudar?
Ela me estuda um pouco demais.
— Eu sou Luna. Sua Nobre Alteza. Minha linhagem familiar
remonta à fundação deste território.
Eu espero, mas não diz mais nada. — Parabéns?
A gárgula suspira como se a tivesse decepcionado.
— Você parece diferente dos humanos que conheci no passado.
Espero que sim, porque gostaria de lhe dar um conselho. — Ela
move suas asas de uma forma que não tenho certeza de como
decifrar. É para ser reconfortante ou ameaçador? Não sei o suficiente
sobre gárgulas para dizer com certeza. — Bram e sua família estão
amaldiçoados. Ele não é o último de sua linhagem familiar por causa
de uma série de reviravoltas infelizes. Qualquer um que se aproxime
dessa família morrerá horrivelmente. Eu sugiro que você coloque
alguma distância entre vocês dois. E não tenha o filho dele.
Seu tom parece honesto o suficiente e sua energia reflete nada
além de sinceridade. Eu sei que não devo confiar nisso, no entanto.
Se essa gárgula é realmente um dos nobres, provavelmente
aprendeu a deitar no berço. Aprendeu a esconder sua energia desde
criança. Não confio em Bram, mas certamente não confio em uma
estranha.
— Por que você me avisaria? Você não me conhece.
— Como eu disse, você não parece ser um monstro. Todo
mundo sabe que você está tentando escapar. Aquele pingente no
pescoço é um bom começo, mas é muito fácil de remover. Se você
tiver um filho com ele, a criança morrerá. Ninguém merece passar
por essa perda.
Um arrepio desliza pela minha espinha.
— Você está ameaçando a mim e a essa criança teórica? — Não
tenho intenção de engravidar, mas isso não impede a estranha onda
de proteção que sinto em resposta às palavras.
— O que? Não! — Para seu crédito, a gárgula parece
genuinamente horrorizada com o pensamento. — Fazer violência
contra um herdeiro do território é impensável. A maldição passaria
para minha linhagem familiar e mataria todos que me importam. Eu
só queria oferecer minha ajuda.
— Ajuda — eu ecoo.
A gárgula acena com a cabeça, um pouco da tensão saindo de
seus ombros.
— Sim, exatamente. Como eu disse, suas tentativas de fuga
foram notadas por aqueles que as testemunharam. Gostaríamos de
oferecer assistência. Um de nós pode levá-la aonde você quiser.
Recuso-me a sentir humilhação pelo fato de que outras pessoas
além de Bram testemunharam minhas patéticas tentativas de fuga.
Mas estou ridiculamente envergonhada por nunca ter me ocorrido
que outros possam ver. Quase não vi ninguém em todo o meu
tempo no castelo, e tola que sou, na verdade me permiti acreditar
que isso significava que estávamos praticamente sozinhos. Eu não
vou cometer esse erro novamente.
Não posso confiar nesta gárgula. No momento, minha presença
aqui é a única coisa que pode dar a Bram um herdeiro e substituir
qualquer uma das ambiciosas famílias nobres que pensam ter uma
chance de liderança. Elas nem teriam que me matar ativamente.
Bastaria um escorregão enquanto voava alto, e a gravidade faria o
resto.
Mais do que isso, aceitar ajuda é como trapacear. Se vou
escapar, farei isso sozinha.
— Embora aprecie a oferta, acho que você deve entender por
que não posso aceitá-la.
Luna balança a cabeça em desapontamento.
— Você está cometendo um erro, mas a oferta permanece. Se
mudar de ideia, pode me encontrar na ala leste do último andar.
Eu fico lá e observo ir embora, então espero mais alguns
minutos para ter certeza de que estou sozinha. Eu sabia que a
situação era espinhosa, mas estou começando a perceber como as
coisas podem ficar complicadas. Mais uma vez, me pergunto a
minha relutância em deixar tudo para trás. Já me ofereceram saídas
várias vezes e, todas as vezes, resisto. Não faz sentido.
Nada sobre este lugar faz qualquer sentido.
Eu sei que não devo deixar minha raiva me guiar, mas eu tenho
muitas fodidas emoções agora. A raiva é a mais fácil. E eu sei
exatamente a quem devo levá-la.
CAPITULO 17
Bra,
A ouvi chegando antes de vê-la. Eu gostaria de dizer que o
passo dos pés de Grace já me é familiar, mas a verdade é que
ninguém mais se incomodaria em me procurar. Eu mal tenho a
chance de olhar para cima quando ela entra em meu escritório.
Grace solta um suspiro.
— Eu estive procurando por você em todos os lugares.
— Eu estive aqui o tempo todo.
Ela se trocou desde que saiu do meu quarto esta manhã. Agora
ela usa um par de calças que não cabem muito bem sob uma longa
túnica. Seu longo cabelo escuro está solto sobre os ombros, e ela deve
parecer jovem e ridícula em suas roupas mal ajustadas. Mas acho
que Grace nunca pareceu jovem ou ridícula em toda a sua vida. Nem
mesmo quando ela era pequena e fundamentalmente indefesa.
Pensar nela como uma criança me leva a pensar em como seus filhos
podem ser, o que me traz uma estranha tristeza.
Eu quero filhos. Não sei se os quero pelos motivos certos, mas
certamente não é uma coisa ruim desejar uma família novamente.
Sei que uma nova família não substituirá os irmãos e o pai que perdi,
mas talvez ter alguém para cuidar me deixasse menos desamparado.
— Isso é ridículo pra caralho, Bram. Isso tem que acabar. —
Grace bate a porta atrás dela. Sua energia é uma profusão de
vermelho e violeta de determinação.
— Ajudaria se eu soubesse do que você está com raiva.
Ela anda de um lado para o outro do meu escritório, seus
passos largos devorando a distância, sua fúria quase maravilhosa de
se ver.
— Você é motivo de chacota como governante.
Isso me deixa paralisado. De todas as coisas que eu esperava
que ela ficasse furiosa, minhas habilidades como líder não estavam
na lista.
— Com licença?
— Seu povo o respeita tão pouco que o está minando
ativamente na minha cara. Eles sabem para que estou aqui e não se
importam. Eles não têm medo de que eu vá até você com a
informação, porque sabem que você não fará nada a respeito.
Ah.
— Vejo que você conheceu um dos nobres. Quem finalmente se
aproximou de você?
Ela gira lentamente para me encarar. A falta de impulso
deveria torná-la menos assustadora, mas em vez disso ela se sente
como um predador que concentrou sua atenção em mim.
— Você sabia que isso iria acontecer? — ela finalmente diz.
— Eu sabia que era uma possibilidade distinta. — Não consigo
imaginar que os nobres tenham muita fé em minha capacidade de
completar meus objetivos, mas a maioria deles não são tolos
completos. Eles sabem o que está em jogo se eu tiver sucesso. Era
apenas uma questão de tempo antes que um deles se aproximasse
dela. Existem poucos tolos o suficiente para ameaçá-la, e nenhuma
dessas pessoas está atualmente na residência. Eu gostaria de fingir
que sou eu ou a maldição que eles temem, mas a verdade é que
ninguém quer cruzar Azazel. Ele provou ser um guerreiro temível e
protege intensamente suas humanas. Anos atrás, um dos íncubos
violou sua hospitalidade e feriu uma de suas humanas. Ele fez dela
um exemplo tão grande que suspeito que qualquer um de nós que
viu os resultados tem aquela cena impressa em seus pesadelos.
E ele garantiu que todos nós víssemos.
Grace ainda está olhando para mim como se eu tivesse brotado
um conjunto adicional de chifres.
— E você está... tudo bem com isso?
Sua frustração é tão forte que quase posso sentir o atrito contra
minha pele.
— Claro que não estou bem com isso. Eles obviamente te
chatearam, e isso não é algo que eu quero para você nunca.
— Me chatearam. — Ela diz as palavras sem absolutamente
nenhuma inflexão. — É isso que você pensa que é?
— Eu posso ver que é. — Eu aceno minha mão para abranger
sua energia, que está girando pelo escritório e preenchendo o espaço.
Percebo que cometi um erro no segundo em que ela fica
completamente imóvel.
— Seu povo está conspirando ativamente contra você. Sabe o
que eles me ofereceram? Uma fuga deste lugar. Eu posso não ter
aceitado dessa vez, mas rejeições suficientes e eles vão perceber que
eu nunca vou. O que acontece então, Bram? Eu vou te dizer o que
acontece. Eles escalam. Não sei que circunstâncias seriam suficientes
para eles acreditarem que há uma chance real de você me convencer
a ter um filho, mas eles não vão permitir. Não quando seus objetivos
estão tão próximos. E tudo o que você tem a dizer é que não quer
que eu fique chateada?
Eu sei que não devo deixar minha raiva escapar da coleira. E,
no entanto, seu escárnio me incomoda.
— O que você quer que eu faça?
— Literalmente qualquer coisa!
A tensão passa por mim, mas eu me forço a sentar lentamente
em vez de ficar de pé.
— Não há nada a ser feito. Eles acreditam que estou
amaldiçoado e, portanto, não me ouvem. Até que eu possa provar o
contrário, estamos em um padrão de espera.
— Essa é a maior carga de merda que eu já ouvi. — Ela aponta
um dedo para mim. — Você está apenas seguindo os movimentos.
Você não quer isso. Você não quer nada disso. Deuses, você
provavelmente está esperando que alguém apareça e apunhale você
pelas costas e acabe com sua miséria.
A verdade de suas palavras dói mais do que qualquer coisa que
ela poderia fazer comigo fisicamente. Isso, mais do que qualquer
outra coisa que ela disse desde que entrou em meu escritório, me
leva à ação. Eu me levanto e abro minhas asas.
— Saia.
— Ou o que? — Ela levanta as sobrancelhas e zomba. — Você
vai me forçar? Por favor. É mais provável que você caia de joelhos e
me ofereça sua garganta. Assim como imagino que você faça em
qualquer conversa importante que surja em sua vida hoje em dia.
Pelo menos não tenho intenção de cortá-lo. Não posso dizer o
mesmo do resto das pessoas neste castelo.
— Vá. Embora.
Por um longo momento, acho que ela insistirá no assunto. Mas
ela abaixa a mão e balança a cabeça lentamente.
— Você não está fazendo nenhum favor a si mesmo com esta
meia-vida, Bram. Vejo você no jantar. — Ela se vira e sai do
escritório.
Se ao menos suas palavras fossem deixadas com ela.
Elas me atormentam durante a tarde. Não há muito trabalho a
ser feito, o que significa que não há muitas distrações. O território
mais ou menos corre sozinho. Tem desde antes do tempo do meu
pai. O único propósito real que o líder tem é garantir que as
diferentes facções de gárgulas permaneçam com o mesmo poder e
liderar durante a guerra. O primeiro é um trabalho de tempo
integral, ou pelo menos era antes das diferentes famílias nobres se
retirarem deste castelo. Agora eu não sei o que eles estão fazendo.
Os espiões que meu pai tinha desapareceram durante a noite. Estou
bem e verdadeiramente sozinho.
Estou fazendo o melhor que posso, e me ressinto
profundamente de Grace por agir como se eu não estivesse. Quem é
ela para falar? Ela tem muitos de seus próprios esqueletos
chacoalhando naquele armário impressionante dentro dela.
Quando o sol se põe e desço até a cozinha para verificar o
jantar, estou tão furioso que mal consigo falar. Silas me lança um
olhar estranho no momento em que entro pela porta.
— Grandes planos esta noite?
— O que te faz dizer isso? — Estou sendo muito brusco, mas
não consigo me conter. Há uma parte de mim que está com ciúmes
porque ele já a viu; não há outra razão para ele estar fazendo essa
pergunta. — Onde ela está?
Ele ergue as sobrancelhas.
— Talvez seja melhor se vocês comerem separadamente esta
noite.
Parte de mim se pergunta se ele está certo, mas o resto de mim
não suporta a ideia de manter toda essa energia tumultuada dentro
de mim sem saída. Grace vai ficar bem. Ela sempre fica.
— Vamos comer normalmente.
— Se você insiste. — Silas se volta para o fogão.
Estou descontando muitos anos de frustração e medo no alvo
conveniente que é a Grace. Eu não posso me obrigar a dar uma foda.
De alguma forma, tudo chega a um ponto quando vejo a sala de
jantar formal. Lugar após lugar dispostos em perfeita simetria. Tudo
vazio. Assim como normal.
Exceto por um.
Grace fica bem no centro do comprimento longo, vestida com
um vestido preto. Este parece caber melhor nela do que os outros,
pelo menos a parte que posso ver. Ele se agarra a seus braços e seios,
deixando seus ombros e a maior parte de seu peito nus. Ela prendeu
o cabelo em um estilo intrincado que parece adorável. Ela até pintou
os lábios, um tom carmesim profundo que me faz pensar em sangue.
Provocar-me no meu escritório não era suficiente. Ela vai levar
o ponto para casa com a ferocidade de um guerreiro para a morte de
seu inimigo. Quero odiá-la por isso, mas não posso deixar de
admirar sua disposição de entrar no campo de batalha.
Eu não caminho até a cabeceira da mesa. Em vez disso, eu me
sento bem em frente a ela. Nós olhamos um para o outro enquanto
os minutos passam. Eu sei que falar primeiro é perder, mas em
algum momento isso é simplesmente ridículo.
— Parabéns, você provou seu ponto.
— Eu provei? — Ela se inclina para trás e abre os braços. —
Onde está seu pessoal, Bram? Eles te respeitam tão pouco que não se
preocupam com sua ausência aqui? Não se preocupe em responder.
Eu já sei.
Minha frustração e raiva anteriores borbulham da minha boca
antes que eu possa pensar melhor.
— Isso é rico vindo de você. Você age como se soubesse muito
sobre responsabilidade e cuidar de si mesma. No entanto, na
primeira chance que teve, você abandonou todo o seu reino e veio
para este para encontrar respostas sobre uma mulher morta. Que
porra importa como ela morreu, Grace? Isso não muda nada.
Certamente não tira o fato de que você está fugindo de seus
problemas, assim como eu. Acho que é isso que mais te irrita em
mim. Nós. Somos. O. Mesmo.
— Foda-se nós.
Agora é a minha vez de me inclinar para trás, de sorrir para ela
enquanto ela se desenrola da mesma forma que fiz antes em meu
escritório. Isso é infantil. Mas eu quero estar sob sua pele e tão
irritante quanto ela é para mim. Essa satisfação é vazia, mas não me
importo. Prossigo muito além de qualquer bom senso.
— Você está tão brava, Grace. Você acha que eu não estou? Mas
então, a coisa mais chata do mundo é olhar para outra pessoa e ver o
seu espelho perfeito. Me mudar não vai mudar como você se sente.
Isso não vai mudar você.
Ela planta as mãos na mesa e se levanta abruptamente.
— Cale a boca.
— Ou o que? — Vejo a resposta em sua energia - pequenos
estalos de ameaça de violência. Agora é a hora de nos levar de volta
à segurança. Eu não vou. Este é o momento em que coloco minhas
asas perto do meu corpo e deixo a gravidade tomar conta. No
momento em que a abraço, atiro-me contra a lei mais básica do
existir: o que sobe tem que descer. E quando isso acontece, dói como
nada mais.
Este momento com Grace é feio e horrível, mas pelo menos é
real. Se eu a deixar com raiva o suficiente para me matar? Isso é algo
com o qual ela terá que conviver. Eu não.
— Ou talvez descubramos se você realmente queima depois de
tudo. — Ela está praticamente tremendo de fúria. É uma visão linda,
embora eu não saiba o que diz sobre mim que eu penso assim.
Eu não queimo. Não sinto muita flutuação de temperatura,
cortesia da minha pele. Não vou dizer que Grace não é um perigo
para mim, mas reconheço que ela está tomando um caminho que
não causará danos permanentes e pode fazer com que nós dois nos
sintamos melhor. Duvido que ela esteja fazendo isso
intencionalmente... mas eu sou. É tóxico, mas eu não dou a mínima.
— Silas. — Eu mal tenho que levantar minha voz. Eu sei que
ele está parado fora de vista perto da porta da cozinha. Eu posso
senti-lo lá, sua curiosidade e preocupação persistentes na borda da
minha linha de visão.
Ele surge alguns segundos depois, e percebo que ele não parece
estar escutando.
— Vocês estão prontos para comer?
— Acho que vamos pular direto para a sobremesa. Por favor,
traga-me fósforos, óleo e aquelas coisinhas adoráveis de
marshmallow que você fez hoje cedo. Eles são macios e pegajosos e
devem queimar bem.
Para seu crédito, Silas não hesita, embora eu perceba mais
preocupação em sua energia antes que ele vá embora. Não há
preocupação em Grace quando me viro para ela. Ela tem os olhos
estreitados em suspeita.
— O que você está fazendo?
— Uma das primeiras vezes que você falou comigo foi para
perguntar se eu queimo. Vamos descobrir juntos. — Inclino-me para
a frente, apoiando os cotovelos na mesa, desafiando-a com os olhos a
recuar. — Você pode gostar do jeito que eu fodo, mas não finja que
gosta de mim. Não finja que não deseja se libertar de minha presença
para perseguir sua pobre mãe morta. Então queime-me, Grace. A
menos que você realmente não queira respostas. Talvez você seja tão
covarde quanto eu. Afinal, sou seu espelho.
CAPITULO 18
Grace
Aquela maldita gárgula tola. Depois do show de merda em seu
escritório esta tarde, percebi que ele não entendeu. Eu não tenho
palavras para fazê-lo. Eu não tenho tempo. Eu com certeza não
tenho paciência.
Mas então ele vem aqui e joga minha vulnerabilidade de volta
na minha cara? Eu não tive que deixá-lo entrar, nem mesmo o
mínimo, ontem. Posso não ter contado a ele toda a verdade, mas não
precisava confessar nem isso. Agora estou feliz que ele não saiba
tudo sobre mim e minha família. Se é assim que ele retorna a
vulnerabilidade, é melhor não demonstrar nada.
E agora ele quer me usar para se machucar.
Nenhum de nós fala quando Silas volta para a sala com uma
pequena bandeja. Ele hesita por um momento e então a coloca no
centro da mesa entre nós. Ela contém uma exibição artística de
fósforos em um recipiente redondo, uma pequena molheira que
parece ter óleo e uma pirâmide de marshmallows quadrados fofos.
Ele sai da sala sem dizer mais nada.
Eu gostaria de acreditar que isso é um blefe, mas agora conheço
Bram bem o suficiente para reconhecer sua falta de hesitação. O
problema é que o homem não tem autopreservação. O que pode
significar que ele ficará bem se eu seguir esse caminho ridiculamente
arriscado... Ou pode significar que ele está prestes a morrer bem na
minha frente. Minha fúria queima mais quente com o
reconhecimento. Ele me chama de egoísta, mas o que é isso? Não
espero que ele se importe genuinamente comigo, pelo menos acho
que não, mas isso é tão cruel que mal consigo suportar. Eu deveria ir
embora. Na verdade, eu vou embora. Porra agora.
Só que eu não vou.
Eu sento minha bunda de volta na cadeira e estendo a mão
para pegar o recipiente de fósforos. Eu mantenho os olhos de Bram
enquanto me sento e coloco um único fósforo, cabeça baixa, entre
meu dedo médio e a mesa. É uma mesa de pedra, então funcionará
tão bem quanto uma caixa de fósforos. Eu risco o fósforo e jogo na
direção dele. Ele acende e navega pelo ar em direção a Bram. Ele cai
em seu prato e chia por um momento antes de queimar.
— Lindo blefe. Mas acho que você não tem coragem de fazer
isso de verdade. — Ele pega o recipiente com óleo e o derrama sobre
o peito. Mesmo sabendo que deveria desviar o olhar, não posso
deixar de traçar o caminho que o óleo percorre de seu peito até a
cintura. Eu sei como esses músculos se sentem sob minhas mãos,
minha língua, pressionada contra meus seios e costas.
Eu sei que não devo deixar minha raiva assumir o controle.
Nada de bom vem de perder o controle. Só dor.
Eu alcanço outro fósforo. Estamos jogando um jogo que pode
ter consequências mortais. Isso é tóxico e um grande indicador de
que somos um par terrível. Nenhum de nós tem freios para desviar
esse trem desgovernado. Não suporto a ideia de ele me chamar de
covarde de novo. Mas, uma parte obscura de mim quer puni-lo, para
provar que ele não quer realmente morrer.
Eu jogo outro fósforo na direção dele. Este cai em um
guardanapo ao lado do prato, e nós dois observamos em silêncio
enquanto ele pega fogo. Bram olha para mim e toda a tensão
desaparece de seu corpo. Ele me dá um sorriso arrogante.
— Certamente você pode fazer melhor do que isso. Se não,
vamos ficar aqui a noite toda.
Eu sou uma criatura quebrada. Eu sei disso sobre mim desde
que estou consciente o suficiente para entender que minha família
não é como as outras famílias. Se eu tinha alguma gentileza,
qualquer autopreservação, isso foi treinado antes que eu soubesse o
significado da palavra. As pessoas normais não recorrem à violência
como primeira solução para qualquer problema. Pessoas normais
perdem o sono à noite quando terminam uma vida, justificada ou
não. Pessoas normais... Mas então, eu não sou normal. Nunca fui.
Eu jogo um terceiro fósforo em sua direção.
Este cai bem no colo dele. Observo com horror as chamas
subirem por seu peito. Tardiamente percebo que estou de pé sem ter
nenhuma intenção de ficar de pé, minha mão se fechando em torno
do meu cálice de água, quando o resto do que estou vendo é
registrado.
Bram não se moveu. Ele não vacilou. Ele não está se
contorcendo de dor ou gritando. Ele está apenas sentado lá olhando
para mim com aquele sorriso satisfeito no rosto. Aparentemente
gárgulas realmente não queimam. Eu vejo um lampejo de seus
dentes através das chamas.
— Você se sente melhor agora?
— Dificilmente. Eu estava apenas me entregando a essa sua
façanha. — Pego um marshmallow e o enfio em um garfo comprido.
Eu coloco um quadril na mesa e me inclino para que eu possa
alcançar o calor que sai das chamas em seu corpo. Minhas mãos
estão tremendo? Eu não posso dizer. A totalidade de mim parece ser
atormentada por tremores. Não a minha voz, no entanto. Pareço
notavelmente normal quando falo. — Você se sente melhor? Isso
muda alguma coisa?
Bram, o bastardo, ri enquanto as chamas diminuem lentamente
para nada.
Isso quebra algo dentro de mim. Eu rastejo pela mesa e enfio o
marshmallow em sua boca. Ele faz um barulho surpreso. Ele não
está mais rindo. Ele começa a cuspir, mas eu seguro sua mandíbula
fechada. Não vou tocá-lo em nenhum outro lugar, então tudo o que
ele precisa fazer é se inclinar para trás para escapar do meu alcance.
— O que há de errado, Bram? Você não gosta do sabor de suas
próprias consequências?
Ele segura meu olhar enquanto mastiga lentamente. Não pode
ser totalmente confortável comigo segurando sua mandíbula, mas
Bram parece desejar o desconforto que eu lhe dou. Quando ele
engole, eu mudo meu aperto para suas bochechas e belisco com
força. Isso força a boca dele a se abrir um pouco, e ele emite um som
que nada tem a ver com dor.
Estou com tanta raiva que mal consigo enxergar direito. Uma
coisa de que sempre me orgulhei foi nunca deixar minha violência
assumir o controle. Não, a menos que a situação exigisse e não
houvesse outra opção. Não posso dizer que esta é a verdade esta
noite. Havia muitas outras opções que não incluíam eu jogar fósforo
após fósforo em seu corpo lubrificado. Eu me perguntei se ele estava
me usando para se machucar e nem isso foi o suficiente para me
fazer parar.
Eu estudo seu rosto, a maneira como suas sobrancelhas
relaxaram agora que ele me vê como estando no controle.
— Não é justo, você sabe. — Eu o belisco um pouco mais forte,
ganhando ainda outro gemido sexy. — Você está sendo um idiota
por provocar uma reação minha para se sentir melhor. Se você quer
que eu te castigue, tudo que você tem a fazer é pedir. Mas isso? Esta
merda não é saudável, e se você fizer isso de novo, eu vou embora
para sempre. Você me entende?
Ele tenta falar, mas eu não o solto. Finalmente, Bram acena com
a cabeça lentamente. Tenho quase certeza de que ele está apenas
concordando em me apaziguar, mas não me importo. Sua energia é
uma massa rodopiante de cores que me deixa tonta de olhar. Nunca
me senti mais como um monstro do que agora. Eu o solto e afasto
seu rosto. É estranho descer da mesa, mas é um pequeno preço a
pagar por escapar dessa sala e dessa situação.
Eu ateei fogo nele.
De todos os cursos de ação desequilibrados e inaceitáveis, esse
deve estar no topo da lista. Isso é algo que meu avô teria feito. Não é
algo que você faz a alguém de quem gosta.
A percepção de que me importo com ele é quase suficiente para
me fazer parar, mas minha necessidade de escapar é mais forte. Não
corro para a porta, mas me movo com urgência. Eu quase consigo
também.
— Grace. — Bram não levanta a voz, mas parece que ele
atravessa a sala e me engancha no peito. Eu paro. Mesmo quando
digo a mim mesma para não fazer isso, viro-me para encará-lo mais
uma vez. Ele está exatamente onde eu o deixei. A única mudança é
que suas asas agora caem no chão, refletindo a inclinação derrotada
de seus ombros. — Desculpe. Eu levei isso longe demais.
— Nós dois fizemos .— Eu fujo da sala.

Passo a próxima semana evitando Bram e todas as outras


gárgulas que tentam cruzar meu caminho. Isso acontece com
frequência cada vez maior enquanto me mantenho ocupada
explorando o castelo. Eu não vejo Luna novamente, mas os outros
nobres obviamente pegaram uma página de seu livro e querem se
aproximar de mim também. Não tenho interesse nessa merda.
O fato de poder ver auras ajuda. Só preciso de um vislumbre
de cor para saber que preciso mudar minha rota. Dia após dia passa,
e Bram não me procura. Tenho certeza de que ele está me seguindo,
seguindo meu caminho pelos corredores sinuosos e escadas em
espiral, mas ele é um caçador muito mais sutil do que seu povo. A
única indicação que tenho de que ele está ali é uma sensação quente
na minha nuca.
Não sei se ele está sendo covarde ou se eu estou.
Provavelmente ambos. Eu me assustei naquela noite na sala de
jantar. Pior de tudo, tenho certeza de que ele só se desculpou porque
eu estava chateada, não porque ele sentiu que as coisas estavam fora
de controle. Bram não tem freios. E eu não quando estou com ele
também. É uma receita para o desastre.
A resposta mais clara é aquela que me recuso a aceitar. Eu
deveria ir embora. Não vejo Ramanu desde aquela primeira visita,
mas passei a carregar no bolso o anel que me foi dado. Tudo o que
tenho a fazer é falar o nome de Ramanu para convocar, e me levará
para o território dos barganhadores mais uma vez. O pensamento
deveria me encher de alívio, mas, em vez disso, me faz querer bater
ainda mais fundo.
Eu encontro a enorme caverna no sétimo dia. É tão grande que
não consigo ver as paredes distantes enquanto desço
cuidadosamente a escada. Para baixo e para baixo e para baixo, tão
fundo que fico surpresa por não sentir a pressão contra a minha pele.
Gárgulas podem ser pessoas do céu, mas há muito espaço para voar
aqui nesta caverna. Assim que chego ao fundo, fico surpresa ao
encontrar edifícios esculpidos na pedra. É uma... cidade
subterrânea?
Só exploro um pouco antes que a cautela tome conta de mim e
subo mais uma vez para voltar ao meu quarto. Mas a curiosidade é
uma coisa poderosa, e no dia seguinte estou de volta às profundezas,
explorando as ruas entre os estranhos edifícios de pedra. Não há
sinal de vida, nem comida ou produtos perecíveis. Mas há móveis e
noto uma nítida falta de poeira nos poucos lugares que ouso
explorar.
O que é este lugar?
No terceiro dia de exploração, entro o suficiente na cidade -
porque é uma cidade - para encontrar o rio subterrâneo. A
curiosidade me faz mergulhar os dedos na água gelada e pressioná-
los nos lábios. A água é fresca. Possivelmente até potável.
— Afaste-se da água, Grace.
Eu me assusto tanto que quase caio no rio. Eu não ouvi Bram se
aproximando. Eu nem senti sua atenção em mim desta vez também.
Aparentemente, não me movo rápido o suficiente, porque ele cai ao
meu lado e me puxa para trás três metros. Ele me solta com a mesma
rapidez com que me agarrou, dando um pulo estranho que,
acompanhado pelo bater de asas, o manda para mais longe.
— Desculpe. Mas não é seguro. Esse rio vai até o mar, e o povo
kraken pode chegar a este lugar usando-o.
— Pensei que vocês não estivessem em guerra. — É uma coisa
tão boba de se dizer. Apenas meu choque desculpa o ridículo disso.
— Só porque não estamos em guerra não significa que você não
esteja em perigo. Muitos acidentes acontecem em tempos de paz. —
Ele olha ao nosso redor. — Por que você continua voltando aqui?
Essa é a questão, não é? Há outras coisas que eu deveria estar
fazendo. Se eu realmente quero escapar... Mas não posso mais
mentir para mim mesma e dizer que esse é o objetivo. Se fosse, eu já
teria feito funcionar. Eu nem preciso passar pelo drama de escapar
quando tudo o que tenho a fazer é convocar Ramanu. Se eu não fiz
isso até agora, eu não vou.
A realização me lava, trazendo algo quase como alívio. Eu não
quero ir embora. Bram e eu temos sido desastres absolutos um para
o outro, mas estou atraída por ele como nunca fui atraída por outra
pessoa antes. Ele pode não conhecer minha história completa, ou ser
capaz de mapear cada cicatriz, mas ele vê minhas falhas com
bastante clareza. Qualquer outra pessoa desviaria o olhar, viraria as
costas.
Não Bram.
Ele estava certo antes. De certa forma, olhar para ele é como
olhar para um espelho quebrado. Não sei o que diz sobre mim que
quero tanto tocá-lo, estou com vontade de me cortar nas peças
espelhadas.
— Acho que a pergunta mais importante é: por que você está
me seguindo?
CAPITULO 19
Bram
Disse a mim mesmo que estava protegendo Grace ao segui-la.
A verdade é que não suporto a ideia de ter mais distância entre nós
do que o necessário. Parece que eu não fiz nada além de foder desde
que a conheci, mas ela não tomou sua rota de saída prontamente
disponível. Azazel iria removê-la da minha presença sem pensar
duas vezes se ela pedisse. Ela não perguntou. Quero acreditar que
isso significa alguma coisa. Estou com medo de que isso não
aconteça.
Eu devo a ela honestidade. Verdade seja dita, devo a ela muito
mais do que isso.
— Você estava certa antes. Eu queria provocar uma resposta
sua e não me importava se você se machucasse com isso. Eu também
não me importava se fosse ferido por isso.
— Eu sei.
O alfaiate que finalmente convenci a vir ao castelo fez um bom
trabalho com as roupas de Grace. Ela usa calças justas, botas
resistentes e uma túnica grossa que parece afastar o frio desta
caverna.
Mesmo assim, não posso deixar de me preocupar com ela. Eu
não deveria ter ficado surpreso por ela ter acabado na parte do
castelo que abriga tantos fantasmas. Não literais, pelo menos não
que eu saiba. Mas a história do meu povo e sua tristeza estão escritas
em pedra aqui. Este lugar só foi construído por causa da guerra.
Nunca teria existido se não fosse pela morte e destruição que vieram
para o forte. Gárgulas não serão voluntariamente cortadas do céu, a
menos que não haja outra opção.
— Este local é mantido em caso de emergência. É grande o
suficiente para abrigar toda a população deste castelo em
capacidade, e mais alguns. O rio é o único ponto fraco, mas a água
doce vale o risco. Se você for para o norte a partir daqui, há uma
ponte que a levará através do rio até os jardins. Eles são atendidos o
tempo todo, mesmo agora. A maior parte da nossa comida no castelo
vem de lá porque é importante mantê-los funcionando, e
desperdiçar comida é inaceitável. Qualquer coisa extra vai para as
aldeias vizinhas. — Há muito extra hoje em dia. Alimentar um
punhado de pessoas na residência mal afeta a fartura do jardim. —
Mais fundo nas montanhas, há várias criaturas locais que podem ser
caçadas para complementar as reservas e garantir que ninguém
fique sem.
Em vez de parecer horrorizada, Grace apenas parece pensativa.
— É honestamente um bunker brilhante. Como você mantém o
jardim crescendo tão profundamente abaixo da superfície?
— Magia. Certas pedras podem ser enfeitiçadas para imitar a
luz do sol em todos os sentidos. — Eu aponto para o teto acima
escondido na sombra. — Existem vários veios dessa mesma pedra
correndo por essas montanhas. Suficiente para manter meu povo
abastecido por mais tempo, se eles forem cuidadosos.
— Você bloqueou as aberturas do rio subterrâneo?
— Sim. Não é um sistema infalível. Se o povo kraken quiser
entrar, tenho certeza de que conseguirão, mas devemos ouvi-los
chegando. Além disso, há guardas postados para monitorar os
bancos. — Ou pelo menos normalmente havia. Também os perdi nos
últimos anos.
Thane é um bom líder para o povo kraken, no entanto. Ele não
busca confronto se houver qualquer outra opção disponível. Mais do
que isso, consegui negociar vários acordos lucrativos com ele, que
ele está tão empenhado em proteger quanto eu. Há muito perigo
neste reino, e não sou ingênuo o suficiente para acreditar que
acordos comerciais impedirão a guerra, mas se houver perigo
imediato, não acredito que venha dos krakens.
Grace enfia o cabelo atrás das orelhas e me dá um longo olhar.
— Você tem me seguido.
A vergonha aquece minha pele, e estou grato por não corar
como os humanos ficam quando estão envergonhados.
— Não gosto de como deixamos as coisas, mas não sabia como
abordar você para consertá-las. Eu não tinha certeza se você queria
me ver.
— Eu não queria no começo. — Ela se vira para a entrada e faz
uma pausa até que percebo que ela quer que eu caminhe ao lado
dela. Caminhamos em silêncio por vários quarteirões. Por fim, ela
diz: — Gostaria de entender. Nós dois temos nossos segredos e
muitos traumas, mas se continuarmos assim, não acho que vamos
durar um ano, muito menos sete.
Algo como esperança se enraíza em meu peito. É uma sensação
tão estranha que várias batidas se passam antes que eu entenda o
que estou sentindo.
— Eu pensei que você estava tentando escapar.
— Eu estava. — A tristeza a colore de azul pálido. — Você
estava certo, mesmo sendo cruel. As coisas em casa não têm sido as
mesmas desde que o último membro da minha família morreu. Não
sei se acredito mais no que estávamos fazendo. Quero pensar que
ajudei as pessoas. Tenho certeza de que ajudei as pessoas. Mas a que
custo? Quando alguém como eu comete um erro, as pessoas
morrem. E nem sempre são elas que merecem.
Eu não quero nada mais do que tomá-la em meus braços. Não
tenho certeza se ela aceitará, no entanto. Suponho que a única
maneira de descobrir é perguntando.
— Grace.
Espero que ela faça uma pausa e se vire para mim. É preciso
mais coragem do que eu teria imaginado para erguer os braços em
um convite.
Ela não hesita. Ela dá um passo para o meu abraço e me
permite envolvê-la com força. É a coisa mais natural do mundo nos
fechar em minhas asas. Lá, na escuridão íntima de minha própria
criação, finalmente encontro coragem para dizer a ela a verdade.
— A razão pela qual todos em meu território acreditam que
estou amaldiçoado é porque sou o único sobrevivente do massacre
que matou toda a minha família. E só estou vivo porque me escondi
quando eles foram atacados.
Grace fica tensa.
— Eu sei que disse que queria saber, mas se vai te machucar,
não precisa me contar.
— Eu sofro o tempo todo, Grace. O que é um pouco mais se
isso ajuda a consertar as coisas entre nós? — Eu corro minha mão
por suas costas, permitindo que sua presença me conforte. — Foi
culpa do meu pai. Ele começou a passar um tempo no território do
demônio barganhador após a guerra, evitando seus deveres como
líder, e ficou viciado em humanos. Acho que Azazel estava
procurando qualquer alavanca que pudesse encontrar para garantir
que as negociações de paz fossem bem-sucedidas. Então ele fez uma
barganha com meu pai, muito parecida com a que eu fiz. — Quase
idênticas, na verdade. Não que isso importe agora. Eu tomo uma
respiração lenta, inalando o cheiro de Grace. — Em menos de um
ano, ela matou todo mundo. Até meus irmãos, que mal haviam
entrado na idade adulta.
— Bram, — Grace sussurra. — Dizer que sinto muito é inútil,
mas realmente sinto muito por sua perda. Eu sei como é ter violência
tocando sua família e deixando um buraco irregular de nada para
trás. Não desejo isso nem para o meu pior inimigo, muito menos
para alguém de quem gosto.
Alguém de quem ela gosta.
Eu sei que é melhor não acreditar na palavra dela que não seja
o valor de face. Eu sabia antes que ela não me odiava, ou ela teria
escapado corretamente agora. Mas não odiar está muito longe de se
importar... ou mesmo amor. Não que eu espere amor de Grace. Eu
com certeza não mereço isso.
— Ele deixou que seu desejo por humanas superasse suas
responsabilidades e, quando isso não bastava, ele trouxe dor e morte
para nossa família porque queria uma humana para possuir. — Eu
arrasto uma respiração. — Seu egoísmo preparou o caminho para
nossa destruição. Se isso acontecesse em qualquer outro território,
teria sido uma tragédia sem medida. Porque aconteceu aqui, onde
meu povo gosta de atribuir um significado mais profundo a cada
ação e palavra, eles decidiram quase unilateralmente que suas ações
e julgamento pobre trouxeram uma maldição para nossa linhagem
familiar. Tem dias que até acho que é verdade.
Grace me abraça com mais força.
— Você não está amaldiçoado. Você acabou de passar por algo
horrível. Eu sei que você não vai acreditar em mim quando eu digo
isso, mas o fato de você ter vivido não faz de você um covarde. Isso
faz de você um sobrevivente. Há muita bagagem e culpa que
acompanham isso, mas a alternativa é você estar morto. Nunca direi
que esse é o resultado preferível.
Mais uma vez, a vergonha me cobre, tão forte que mal consigo
respirar.
— Não sei o que estou fazendo. Eu não deveria assumir esta
posição de governo por anos e anos. Eu nem quero mais. Mas não há
outra opção. Se eu renunciar, isso prejudicará meu povo.
Ela acaricia as mãos em um movimento suave ao longo do meu
corpo.
— Você não precisa ter todas as respostas agora. Acho que
ninguém espera isso. Você só tem que viver um dia de cada vez.
Não pergunto se ela entende a gravidade do que está me
dizendo para fazer. Ela entende. De todos, Grace entende que viver
um dia de cada vez significa ir para o futuro em vez de viver no
passado. O que torna o que eu fiz com ela ainda pior.
— Eu não deveria ter empurrado você na outra noite. Eu com
certeza não deveria ter jogado a morte da sua mãe na sua cara.
Desculpe.
Ela dá uma risada abafada.
— Parece que sempre vamos nos desculpar um com o outro.
Você estava certo; de certa forma, somos reflexos um do outro. O
que pode ser um grande conforto, mas também significa que
sabemos exatamente o que dizer ou fazer para ferir o outro. Algo a
ter em conta para o futuro. — Ela me dá um último aperto. — Minha
família inteira também está morta. Eles não foram juntos, e nem
todas as mortes foram violentas, mas eles se foram do mesmo jeito.
Não tenho um reino para governar, mas minha família tem uma
espécie de legado que devo cumprir. Que minhas... crianças... devem
continuar a cumprir. Talvez isso devesse me dar um propósito, mas
a única coisa que sinto é exaustão. Estou tão malditamente cansada
de lutar.
— E se... — Falo devagar, tateando meu caminho. — E se ao
invés de lutar, nós começássemos a construir algo? — Ela fica um
pouco tensa e percebo que não estou me comunicando direito. — Eu
não quero dizer uma família. Não vou fingir que não quero isso,
assim como não vou fingir que a ideia de começar uma com você não
é atraente de uma forma que nunca estive preparado para
experimentar. Mas já se passaram algumas semanas. É muito cedo
para dar esse salto.
— Uma semana e meia atrás, você estava ansioso e pronto para
colocar um bebê na minha barriga.
Por mais que eu queira continuar a abraçá-la, acho que é
melhor podermos nos ver adequadamente para esta conversa. Eu
lentamente dou um passo para trás. Os olhos de Grace brilham nas
sombras da caverna, e sua energia é um cinza espesso de
preocupação, mas fora isso ela parece bem.
— Em última análise, não acho que uma criança resolverá meus
problemas atuais. — É um alívio dizer isso em voz alta, solto uma
risada ofegante. — Uma criança não vai resolver meus problemas.
Ela está olhando para mim estranhamente.
— Você fez um acordo demoníaco pela possibilidade de ter um
filho, e estava tão desesperado por isso que estava disposto a arriscar
seu reino.
— Sim. Eu estava. Mas as coisas mudam. — Eu bato minhas
asas lentamente, deleitando-me com esta nova falta de carga.
Racionalmente, sei que não é realmente físico, mas parece que sim.
— Sei que posso ser teimoso e irritante, mas escuto quando você fala.
Você tem pensado na última semana e meia enquanto vagava pelo
castelo. Eu também tenho. Se eu não consertar as coisas como estão
agora, tudo o que vou fazer é passar meus fardos para os filhos que
tiver.— A enormidade do que será exigido ameaça prejudicar meu
bom humor, mas deixo isso de lado por enquanto. Haverá muito
tempo para se estressar com tudo e qualquer coisa mais tarde.
Grace cruza os braços sobre o peito. Um pouco de penas verdes
claras através do cinza de sua preocupação. Eu a peguei. Uma vez
que sua curiosidade toma conta, ela não vai parar até que tenha
respostas.
— Suspeito que você esteja certo. Mas vou precisar que você
me conte muito mais sobre essa mudança.
— É hora de consertar as coisas. Ou pelo menos começar a
consertar as coisas. — Eu estendo meus braços. — Você gostaria de
vir comigo?
— Onde estamos indo? — Grace dá um passo cauteloso em
minha direção.
Eu a balanço em meus braços e me lanço no ar.
— Vamos chamar o conselho.
CAPITULO 20
Grace
Pelo quão dramática foi sua declaração, meio que esperava que
Bram de alguma forma convocasse seu povo com magia. Na
verdade, convocar o conselho envolve muita papelada. Não há
muito que eu possa fazer para ajudar, mas ele parece achar minha
presença favorável, então eu me sento na beirada de sua mesa e o
observo escrever várias convocações.
— E se eles não vierem?
— Elas vão. — Ele termina uma carta e espera a tinta secar
antes de cuidadosamente dobrá-la e selá-la com cera. — Se não o
fizerem, vou despojá-los de suas terras e títulos.
Eu pisco.
— Você pode fazer isso?
— Tecnicamente, sim. Isso não é feito há gerações, mas preciso
que eles me levem a sério. Por mais que eu não goste de usar o medo
deles contra eles, é necessário garantir que eles obedeçam.
Observo-o redigir outra carta em silêncio. Pelo pouco tempo
que o conheço, Bram intencionalmente se esforçou para não causar
problemas. A única vez que ele realmente mexeu comigo foi quando
ele me pegou fugindo pela primeira vez. Observando-o agora, vendo
a teimosia em sua testa e a determinação em seus movimentos, não
posso evitar o sentimento que afunda suas raízes em meu âmago. É
quente e reconfortante e, ao mesmo tempo, aterrorizante.
— Você não precisa da minha aprovação, mas estou orgulhosa
de você. Eu sei que isso não é fácil para você.
Ele faz uma pausa, então fala sem olhar para mim.
— Posso não precisar da sua aprovação, mas agradeço mesmo
assim. — Bram termina esta carta e passa pelo mesmo processo de
secagem e selagem. — Meu pai era um bom líder quando assumiu o
cargo pela primeira vez. Ou pelo menos é o que todos dizem. Não
sei se é verdade. Desde que me lembro, ele evitou seus deveres,
buscando seu prazer em detrimento do benefício de nosso povo.
Descobri que, quando uma pessoa morre, ela tem o hábito de lavar
seus pecados.
— Eu encontrei o mesmo.
Minhas pernas estão cansadas de todas as escadas na semana
passada. Algumas semanas atrás, eu poderia tê-las feito sem
pestanejar, mas não tenho acompanhado meu treinamento. Eu não
percebi até agora que foi um alívio deixar isso de lado. Gosto de ser
ativa, mas sempre tive um motivo oculto. Fraqueza é algo que um
inimigo irá explorar. Se eu não for boa o suficiente, morrerei e
possivelmente matarei outros também. Essa pressão realmente tira
qualquer prazer do treinamento.
Respiro fundo e volto a me concentrar no presente... mais ou
menos. O passado nunca parece estar longe quando estou com Bram.
Ainda não sei se isso é bom ou ruim.
— Quando meu avô morreu, foi como no momento em que ele
faleceu, ele levou toda a merda imperdoável com ele. Mal reconheci
o homem de quem minha família falou depois. Não fazia sentido
para mim então, e não faz sentido para mim agora. A dor que as
pessoas causam por serem horríveis, egoístas e monstruosas não
desaparece magicamente com elas.
— Não. Não. — Bram se recosta e estende a mão. — Venha
aqui.
Eu nunca fui de carinho e coisas do tipo, mas parece que
muitas coisas que eu pensei que eram verdade não se sustentam com
esse homem. É a coisa mais natural do mundo pegar sua mão e
permitir que ele me puxe para seu colo e me envolva em seus braços.
Eu descanso minha cabeça em seu ombro e permito que o calor de
sua pele me acalme.
— Como avançamos? Alguns dias parece que estou me
afogando no passado e em tudo que perdi. Eu sei o que minha
família gostaria de mim, mas estou tão cansada de lutar. Eu não
quero mais fazer isso. Eu acabei de... Não sei quem sou se não for o
que eles me criaram para ser. — É a primeira vez que falo as
palavras em voz alta. A verdade da frase é tão dura que parece que
alcancei o meu coração.
— Você não precisa decidir agora. — Bram passa a mão no
meu cabelo e nas minhas costas. — Não importa o que mais seja
verdade, você tem tempo. O que quer que você decida, será a
escolha certa.
— Bem desse jeito?
— Sim. — Ele beija minha têmpora. — Você é forte, inteligente
e determinada. Não tenho dúvidas de que você conquistará tudo o
que decidir, independentemente da arena.
Sua confiança me aquece tanto quanto seu conforto. Ele
acredita nisso. Não preciso verificar a aura dele para saber se é
verdade. Eu pressiono minha mão em seu peito, bem acima da
batida constante de seu coração. Ele teria tanta confiança em mim se
soubesse a verdade sobre meu passado, minha família? Eu posso
seguir a linha de ser um verdadeiro monstro, mas muitos na minha
família passaram por isso felizes.
Eu não acredito que os pecados das pessoas em sua vida
sangram em você... normalmente.
Ele me deu tanta verdade, tanta vulnerabilidade. Talvez eu
possa retribuir o favor sem explodir na minha cara. Fecho os olhos e
respiro o que espero ser uma respiração fortificante.
— Quando os reinos se separaram, havia pessoas e... coisas
encalhadas em reinos que não eram seu lar.
— Eu conheço as histórias, — ele diz cuidadosamente.
— Não sei o que aconteceu nos outros reinos, mas os humanos
sempre estiveram na base da cadeia alimentar. Podemos procriar
com paranormais e presentear nossos filhos com poderes, mas se não
sobrevivermos o suficiente para gerar essa criança, para vê-las
crescer até a idade adulta... Bem, de qualquer forma, isso não ajuda
em nada os pais.
Bram ficou tão imóvel que poderia muito bem ter se tornado
uma pedra como as gárgulas que assombram os altos e escuros de
tantos prédios.
— Sim.
— Para alguns dos monstros deixados para trás, era o
equivalente a um bufê à vontade. A maior parte da população
humana nem sabe que existem paranormais ou que os monstros são
reais, o que apenas os torna presas mais fáceis. Várias famílias
decidiram fazer algo a respeito. A minha foi uma delas.— Não sei
por que isso é tão difícil de dizer. Talvez porque a maioria da minha
família consideraria Bram um monstro a ser exterminado à primeira
vista. — Eles – nós – salvamos muitas pessoas ao longo das gerações,
mas... Deuses, Bram, não é maneira de viver. Uma das minhas
primeiras lembranças é de meu pai me entregando uma adaga e me
ensinando onde esfaquear um corpo para garantir que sangrasse
antes que pudesse me machucar.
Seus braços apertam em torno de mim, só um pouco.
— Desculpe.
— Não. Eu ainda estou viva. Ninguém mais está. — Minha
respiração estremece. — Mas eu sou a última que sobrou. Continuar
o legado da família significaria ter filhos com o único propósito de
transformá-los em caçadores. De quebrá-los antes que o mundo o
faça, para que sejam os assassinos mais eficientes possíveis. Eu... Eu
não posso fazer isso. Eu não quero fazer isso. Acho que quero filhos,
mas tenho tanto medo de que algum interruptor dentro de mim
mude e eu me transforme em meus pais. Eles me amavam, mas me
machucaram e disseram que isso me tornaria mais forte.
— A força não vale o custo de todo o resto, — ele diz
suavemente. — Mas você não é seus pais. Você já está fazendo
escolhas diferentes das deles.
Isso é o que é tão assustador. Meu mapa para a vida pegou
fogo e, a cada passo que dou, temo que o chão ceda sob meus pés.
— Eu não sei ser alguém que não é uma caçadora. Não sei
como lidar com a combinação tóxica de culpa e alívio que sinto
quando penso em deixar tudo para trás. — Há outras famílias e
outros caçadores, mas sempre me incutiu na cabeça que os Jaegers
eram um corte acima do resto. Que ninguém mais pode comparar.
— Não sei ser alguém que não é amaldiçoado. — Ele roça outro
beijo na minha têmpora.
Todo o meu treinamento, toda a minha experiência grita que
esta é uma decisão terrível. Eu vim para o reino demoníaco com um
propósito e apenas um propósito. Mas, por mais que eu não queira
enfrentar isso, Bram estava certo quando disse que descobrir a
verdade sobre minha mãe não mudaria nada. Isso não vai trazê-la de
volta. Isso não vai me fazer sentir menos sozinha.
Eu me inclino para trás e Bram permite. Não há nada além de
honestidade aberta em seu rosto. Sua aura tem um fio hesitante de
esperança. Ele sorri brevemente.
— Por que não descobrimos quem somos sem a sombra de
nossos pais... juntos?
Junto.
— Isso é muito rápido. Você não me conhece. Eu não te
conheço. Estou me agarrando a palhas e, ao mesmo tempo, essas são
afirmações perfeitamente razoáveis.
— Talvez. — Ele dá de ombros. — Eu não sei sua cor favorita.
Não sei o nome de seus pais ou vários detalhes relativamente
importantes. Mas, Grace. — Ele segura meu rosto com uma mão
grande. — Eu conheço você. Conheço você desde o início.
Eu levanto minhas sobrancelhas, instintivamente me
esforçando para aliviar o momento.
— O começo?
— Bem, não o começo. Mas no momento em que você correu e
não vacilou com a raiva que eu trouxe, quando você me encontrou
na linha que desenhei na areia e me obrigou a fazer o mesmo... Eu
conheci você então.
Parte de mim quer se opor a esse conhecimento, para proteger
as partes moles internas de mim que são facilmente machucadas.
Ninguém chegou tão perto quanto Bram, e ele está certo - não é uma
questão de tempo. É um reconhecimento profundo da alma que
parece mágica, mas é algo muito mais mundano, mas não menos um
presente. Somos dois sobreviventes, à deriva nas escolhas que
aqueles ao nosso redor fizeram. Podemos passar o resto de nossas
vidas sendo jogados de um lado para o outro nas ondas criadas
pelos outros...
Ou podemos escolher um caminho diferente.
— Acho que é assim que a vida funciona. — Falo devagar,
tateando meu caminho. — Está cheio de pessoas tirando o melhor de
cada dia, não importa o que ele traga.
O sorriso de Bram aquece.
— Isso é o que eu ouço.
— Você terminou com as cartas?
— Eu só preciso entregá-las para serem enviados.
Eu saio de seu colo e dou um passo cuidadoso para longe.
— Você deveria fazer isso. Agora mesmo. — Eu arrasto minha
mão sobre minha clavícula e continuo me movendo para trás. —
Com pressa.
Seus olhos claros esquentam.
— O que você vai fazer enquanto isso?
— Esperando nua em sua cama. — É incrivelmente gratificante
ver suas asas se abrirem. Com o tempo, acho que ficarei tão boa em
ler sua linguagem corporal quanto em ler sua aura. Eu sorrio. —
Afinal, tenho minha barganha a cumprir. Eu prometi que você
poderia me ter do jeito que você me quisesse.
— Você prometeu, não é? — Ele não se mexe, mas me observa
tão de perto que tenho a sensação de que poderia atravessar o
escritório em um único salto e me prender na parede. Se eu disser
para me perseguir, ele o fará. Estou certa disso.
Outra hora.
— Sim — eu finalmente consegui dizer.
Ele concorda.
— O que eu quero é só nós. Sem jogos. Nenhum jogo de poder.
Apenas você e eu.
De alguma forma, isso é mais assustador do que qualquer coisa
que fizemos até agora. Só que isso não é inteiramente verdade. Nós
apenas abrimos nossos peitos e mostramos uns aos outros nossos
centros de sangramento. Fazer sexo sem nenhum andaime não é
muito diferente disso. Eu lambo meus lábios.
— Ok.
— Vejo você em breve.
Recuo lentamente pela porta e sigo pelos corredores até a
escada que me levará ao quarto de Bram. Eu sou cautelosa. Não é
que esta situação pareça boa demais para ser verdade - é muito
confusa para isso - mas esta é a primeira vez na minha vida que me
permito ser totalmente vulnerável com outra pessoa. Não posso
deixar de esperar que o outro sapato caia e me leve para fora no
processo.
Não. Eu não estou fazendo isso. Passei toda a minha vida
vigilante e mantendo as pessoas à distância. Posso me dar ao luxo de
mudar isso desta vez, para permitir que Bram se aproxime. Pode não
ser um caminho fácil, mas com ele posso ter uma chance de
verdadeira felicidade...
CAPITULO 21
Bram
Encontro Grace exatamente como prometido - nua na minha
cama.
É uma visão com a qual nunca vou me acostumar. Ela não está
fazendo nada particularmente provocante, apenas sentada com os
lençóis enrolados na cintura e os seios expostos, o cabelo escuro
afastado do rosto. Mas ela está na minha cama. Nua, vulnerável e
confiante.
Fecho a porta atrás de mim e bebo a imagem que ela apresenta.
— Eu gosto de você assim.
— Estou nua. Claro que você gosta de mim assim. — Ela ri um
pouco, mas a cor aumenta em suas bochechas pálidas.
Parece um grande passo que não tenho certeza de que
conquistamos, mas isso não vai me impedir. Qual é o ponto do
tempo quando, de certa forma, sinto que conheço essa mulher toda a
minha vida? Não consigo parar de prender a respiração.
— Tem certeza que quer assim? Apenas eu. Nada de jogos.
— Sim. Tudo bem para você? — Não importa o que diz o
acordo entre mim e Grace, não quero forçá-la a nada que ela não
queira fazer. Eu nunca tive, mesmo quando a raiva estava me
dominando. Ainda não sei como colocar em palavras o que sinto por
Grace. Mas talvez eu possa mostrar a ela. Não com cores, energia ou
magia. Com meu toque. Às vezes é melhor falar menos,
especialmente quando minhas palavras costumam fugir de mim.
Ela finalmente acena com a cabeça.
— Sim, Bram. Claro que está tudo bem comigo. Não é como se
você estivesse pedindo para me foder enquanto estamos voando.
Meu corpo fica quente, mas desligo o pensamento
rapidamente.
— Isso não é uma boa ideia. Mesmo sem a temperatura em
jogo, seria muito fácil machucar você.
Eu posso praticamente ver o interesse dela aumentando.
— Mas isto pode ser feito?
— Em teoria. Não é algo que meu povo faz ou pelo menos
admite fazer. É incrivelmente perigoso, especialmente quando
ambas as partes têm asas. — Seria muito fácil ficar emaranhado e
não conseguir sair de um mergulho. Quando eu era adolescente, era
comum falar sobre a semântica e se era possível. Conheço várias
pessoas que juraram que sim e foram mais longe para dizer que
iriam provar. Que eu saiba, nenhum deles jamais tentou.
Nenhuma dessas informações importa agora.
Eu desfaço meu envoltório de quadril e o jogo para o lado. Não
é um movimento que faço para encerrar esse tópico de conversa,
mas é eficaz mesmo assim. Os olhos de Grace caem para os meus
quadris, e rosa choque ilumina o quarto. Ela lambe os lábios.
— Mais uma vez, para reiterar, estou muito, muito bem com
isso. Venha para a cama.
Ela não precisa me dizer duas vezes. Vou até a cama e subo
nela. Eu não tenho um plano. Eu só preciso tocá-la, beijá-la.
Aparentemente, ela sente exatamente o mesmo porque me encontra
no meio. Nossa diferença de altura significa que é difícil beijar
quando estamos de joelhos, mas resolvo o problema agarrando-a
pelos quadris e levantando-a para que ela possa envolver as pernas
em volta da minha cintura. Melhor. Muito melhor.
Não temos outro lugar para estar agora. Não há pressa, nem
relógio tiquetaqueando. Posso beijá-la o quanto quiser. E assim eu
faço. Eu a seguro no alto e provoco sua boca aberta. Ela enfia os
dedos no meu cabelo, mas não faz nenhum movimento para assumir
o controle. Estamos muito ocupados agarrados um ao outro e
curtindo o momento.
Cada momento com esta mulher é maior que a vida, e este não
é diferente. Ela me consome. Não me canso do gosto dela, da
sensação de sua pele deslizando contra a minha, dos barulhinhos
desesperados que ela faz que são ao mesmo tempo exigências e
súplicas. Eu envolvo minhas asas em torno de nós sem um
pensamento consciente. Eu só preciso de mais. Eu preciso senti-la.
Eu mudo meu aperto sem desalojá-la, movendo uma mão para
segurar sua bunda para que eu possa pressionar um dedo em sua
boceta. Ela está encharcada. Melhor ainda, ela interrompe o beijo
para pressionar sua testa contra a minha. Seu fantasma exala
freneticamente contra meus lábios.
— Isso é muito bom.
— É muito bom para mim também. — Bombeio lentamente,
dolorosamente consciente do fato de que tenho que prepará-la para
o meu pau. — Você está tão malditamente quente e molhada,
segurando meu dedo como um torno. Isso me deixa selvagem.
Eu enfio um segundo dedo nela. As coxas de Grace ficam
tensas enquanto ela tenta se levantar e cavalgar meus dedos, mas o
ângulo não é bom para isso.
— Bram, por favor!
— Eu não estou jogando. Não vou fazer você esperar. — A
sensação dela ao redor dos meus dedos é quase suficiente para me
fazer gozar no local. Eu quero isso. Adoro saber que ela está
molhada, carente e exigente comigo e com o que posso dar a ela. Eu
amo que ela não hesita em comunicar o que ela quer. — Mas não
vou mentir e fingir que isso não me deixa ainda mais duro, Grace.
Você não pode me apressar nesta posição. Eu posso te segurar assim
até o fim dos tempos, fazendo você se sentir bem. Fazendo você
gozar até não poder mais gozar.
Eu a puxo para mais perto até que sua boceta esteja grudada no
meu estômago. Ela ainda não pode alavancar-se para me foder, mas
cada pequena agitação e tremor esfrega seu clitóris contra mim. Eu
mantenho a foda lenta e completa enquanto sua respiração acelera e
os doces sons de prazer que ela está fazendo tornam-se quase
contínuos.
— Isso mesmo. Solte. Não há razão para negar a si mesma.
Temos a noite toda, Grace. Estamos apenas começando.
Ela goza forte, apertando meus dedos com força suficiente para
que eu amaldiçoe. É um bom começo. Eu não dou a ela tempo para
se recuperar antes de derrubá-la na cama e deslizar entre suas coxas.
Eu fiz uma bagunça, e é hora de limpá-la.
Minha primeira lambida é o paraíso puro. Especialmente
quando ela se abaixa e agarra meus chifres. Mais uma vez, ela não
está tentando guiar a experiência, ela está esperando enquanto eu
dou a ela o que nós dois precisamos. Começo com lambidas longas e
completas. Eu poderia passar dias com a boca na buceta dessa
mulher. Ela é perfeita demais. Doce na minha língua e bem aberta
para me dar acesso a tudo.
Eu a provoco enquanto posso aguentar. Não o suficiente,
honestamente. Talvez chegue um momento em que não estou
prestes a explodir minha carga simplesmente por estar perto dela.
Esta noite não é a noite. Finalmente cedo ao puxão em meus chifres e
subo para pressionar a parte plana da minha língua contra seu
clitóris. Suas costas se curvam e suas coxas apertam minha cabeça.
Ainda não. Primeiro eu preciso...
Eu pressiono três dedos em sua boceta enquanto mantenho
aquele golpe contra seu clitóris que a faz dançar no limite. Grace
vem com um grito e quase arranca minha cabeça dos meus ombros.
Eu tenho que abrir bem suas pernas para poder continuar transando
com ela com meus dedos, continuar prolongando seu orgasmo até
que toda a força saia de seus membros. Leva muito tempo. Eu amo
cada segundo disso.
Somente quando ela está flácida e ofegante eu me movo de
volta para cima de seu corpo e me apoio sobre ela.
— Você quer meu pau agora, ou devo continuar comendo
você? Porque eu poderia me deliciar com sua boceta por horas.
Ela pisca para mim, seus olhos cinzentos atordoados.
Distantemente, eu me pergunto se ela está além das palavras. Eu
deveria saber melhor. Grace serpenteia sua mão entre nós antes de
envolvê-la em volta do meu pau da melhor maneira que pode. Ela
lambe os lábios.
— Mais tarde, se você quiser. Posso morrer se não tiver você
dentro de mim agora.
Eu me sinto da mesma forma. Eu escovo a mão dela do meu
pau e envolvo meu punho em torno dele. Eu estava muito
preocupado em dar a ela exatamente o que ela ordenou da última
vez que fizemos sexo. Desta vez, quero aproveitar a visão de minha
cabeça larga separando os lábios de sua boceta. Parece impossível
que ela possa caber em mim. Eu provoco nós dois enquanto desço
meu pau para cima e para baixo em seu centro, encharcando minha
cabeça com seu desejo.
— Segure suas coxas separadas para mim.
Ela se atrapalha para fazer isso. Nunca a vi tão descoordenada
e bebo a visão, sabendo que sou a causa. Finalmente, Grace
engancha a parte de trás dos joelhos em volta de mim e mantém as
pernas abertas. Só então eu pressiono meu pau em sua entrada.
Devagar. Não importa como eu a preparei, preciso ir devagar.
Eu a alimento com a cabeça do meu pau e faço uma pausa. A
visão... Eu quero imprimir isso no fundo dos meus olhos, para
lembrar desse momento para sempre. Em vez disso, pressiono mais
fundo. Ela geme em cada cume. É bom demais. Tudo sobre isso é
bom demais.
Finalmente, finalmente, estou totalmente dentro dela. E então
eu olho para o corpo dela. A cor ilumina sua pele pálida. Ela está
com os olhos fechados e a cabeça jogada para trás enquanto geme.
— Olhe para mim, Grace.
Lentamente, oh, tão lentamente, ela pisca os olhos abertos. Seus
lábios estão entreabertos, e não posso deixar de me inclinar e beliscar
o de baixo.
— Demais?
— Apenas a quantidade certa — ela suspira.
— Se for demais, me diga.
Espero seu aceno brusco para apoiar minhas mãos em cada
lado de seus ombros e começar a me mover. Da última vez, foi tão
bom que pensei que o topo da minha cabeça poderia explodir, mas
Grace não conseguiu se retirar completamente. Nesta posição, eu
posso.
Devagar, devagar, devagar.
Torna-se uma cadência na minha cabeça, um lembrete de que
dançamos em um limite precário e se mover muito rápido pode
significar que eu a machucarei. Não é sobre isso que eu quero que
seja. Tivemos muitas coisas difíceis entre nós, arestas e palavras
duras. Agora, na minha cama, eu só quero prazer e...
Amor.
Sua boceta aperta em torno de mim com cada retirada, como se
ela quisesse me manter dentro dela. É a maior agonia que já
experimentei. Eu nunca quero que pare. Toda vez que eu empurro
para frente, seu corpo me recebe com mais facilidade. E ela ainda se
mantém aberta para mim. Confiando em mim para não levar isso
longe demais. Confiando em mim para fazê-la se sentir bem. Melhor
do que bem.
— Bram.
— Sim. — Não sei o que estou respondendo, mas me mexo
para poder pegar seu quadril e pressionar meu polegar em seu
clitóris. Eu não acaricio - acho que ela é muito sensível para isso
neste momento - mas o movimento das minhas estocadas a esfrega
contra a ponta do meu polegar. De novo e de novo e de novo. Cerro
os dentes, lutando contra o instinto do meu corpo de preenchê-la. Eu
preciso que ela volte. Eu preciso sentir isso. Eu preciso saber que é
para mim e só para mim.
Grace tem um orgasmo e, embora eu já esperasse, a força me
pega de surpresa. Ela me arrasta até o limite com ela. Eu nunca tive
chance. Eu amaldiçoo e avanço, esfregando em sua boceta enquanto
gozo, gozo e gozo. Enchendo-a. Enchendo-a demais. Eu observo com
desejo impotente enquanto minha semente se espalha ao redor do
meu pau e cobre nossas coxas.
Eu a reúno para mim. Não tenho certeza se ela está tremendo,
ou se eu estou, ou se nós dois estamos. Não importa. Não quando
ela está me segurando contra ela com a mesma força. Grace enterra o
rosto no meu peito e dá uma risada ofegante.
— Puta merda, Bram.
— Ainda não terminamos.
Sua próxima risada é quase de pânico.
— A mente está disposta, mas acho que meu corpo não
aguenta mais. Você é muito grande.
Eu sorrio contra seu cabelo.
— Eu tive uma entrega durante o tempo que não estávamos
nos falando. Se a mente estiver disposta... Eu tenho uma solução
para o corpo.
CAPITULO 22
Grace
Assisto fascinada enquanto Bram traz uma garrafa de vidro e
explica seu propósito. Solução de cura. É usada para facilitar os
humanos fodendo pessoas que são muito maiores do que eles. É
claro que os demônios barganhadores inventaram isso. Eles têm
interesse nesse tipo de coisa.
No final, só tenho uma resposta para a pergunta em seu rosto.
— Sim. De novo.
Estou muito mais dolorida do que da última vez. Observo com
grande apreensão enquanto Bram cobre seu pênis com a solução. Eu
levanto minhas sobrancelhas.
— Parece que há maneiras melhores de aplicá-la.
— Há. — Ele me levanta em seu colo, então estou de costas
para ele. Eu não posso deixar de ficar tensa, mas o lampejo de
preocupação muda para puro prazer quando ele gentilmente serra
seus dedos pelas minhas dobras. Quase instantaneamente, a dor
desaparece, substituída por um calor adorável. A voz de Bram é
áspera em meu ouvido.
— Quando terminarmos, usarei meus dedos e farei você gozar
uma última vez para ajudá-la a se curar. Mas agora, você precisa do
meu pau de novo, não é?
Sim. Desesperadamente. Por mais que goste dos jogos que
jogamos, esta noite parece que mudou tudo. Ele não está me
segurando como se eu não tivesse preço porque eu o ordenei. Ele
está fazendo isso porque realmente sente que não tenho preço. Não
estou montando na cara dele porque quero provocá-lo até que ele
goze muito rápido... Bem, talvez eu estivesse fazendo isso um pouco.
Mas nunca me senti mais cuidada na minha vida. Isso é
provavelmente uma coisa triste de reconhecer, mas é difícil ficar
triste quando Bram está me levantando em seu pau.
Quanto mais cedo a foda e a solução de cura facilitarem o
caminho. Desta vez não temos que lutar por cada centímetro. Eu sou
capaz de me mexer em seu comprimento sem muito problema. E o
tempo todo, a dor desaparece.
— Espero que você tenha comprado a merda a granel.
Sua risada é estrangulada.
— Já tenho outro pedido feito. — Ele envolve seus braços em
volta de mim, e então suas asas seguem, cortando a pouca luz que
havia no quarto. Talvez isso deva parecer claustrofóbico, mas me
sinto protegida.
Nós nos movemos lentamente, o frenesi anterior diminuiu um
pouco. Eu posso senti-lo à margem, apenas esperando a faísca certa
para se transformar em um inferno mais uma vez. Mas para agora...
há apenas prazer preguiçoso. Eu monto seu pau enquanto ele me
segura perto. Em algum momento, percebo que ele está sussurrando
em meu ouvido, baixinho demais para eu entender as palavras. Eu
não preciso, no entanto. Seu carinho e ternura estão envolvidos em
cada pedaço dessa experiência.
Se parece como amor.
Quando eu gozo, é tão macio quanto todo o resto. Mas desta
vez, Bram não me segue até a borda. Ele me derruba de bruços e me
cobre com seu corpo, colocando um braço entre meus quadris e a
cama para que ele possa me levantar para deslizar mais fundo. Sua
outra mão desliza para baixo para cobrir minha boceta e me dar algo
para esfregar. Mas ele nunca pega o ritmo. Ele não se retira mais do
que o absolutamente necessário. A foda lenta e onírica me leva ao
limite de novo e de novo. Somente quando perdi toda a noção de
tempo e lugar e qualquer coisa além de Bram é que ele se permitiu
gozar novamente.
E é perfeito. Tudo é perfeito.
Não paramos por muito, muito tempo.
Eu deito nos braços de Bram enquanto o suor esfria em nossos
corpos. Parece levar muito mais tempo do que eu esperaria para
meu coração voltar a um ritmo mais normal. Talvez nunca volte. Eu
esfrego meu nariz contra o peito de Bram e sorrio quando ele me
puxa para mais perto. É assim que se parece a felicidade. Não tenho
vontade de estar em outro lugar, uma pressão crescendo e me
dizendo que não estou fazendo o suficiente. Eu me acabei.... E isso é
perfeito. É tudo o que ele espera de mim.
Eu pressiono um beijo suave em seu peitoral.
— Minha cor favorita é roxo. Não possuo muito dela porque
não é prático; destaca-se demais, chama a atenção, exatamente por
isso que é algo que um caçador não deve usar. Mas eu amo ela em
toda a sua frivolidade.
Bram trilha seus dedos pela minha espinha.
— Eu gosto de rosa. — Quando eu levanto minha cabeça em
surpresa, ele sorri. — Não rosa choque. Um rouge profundo.
A compreensão surge em uma onda lenta. Rosa choque é
luxúria. Mas a cor que ele está descrevendo? Isso é amor. Não tive
motivos para vê-lo muito em minha vida. Meus avós não me
amavam. Eles me viam como uma ferramenta a ser usada, uma
extensão de seu legado. Meus pais sim, mas muitas vezes essa
emoção era lançada em favor de outras, mais duras.
— É uma cor linda. — É uma que... Estou vendo agora. Não sei
como processar isso. Ele não disse as palavras, mas ele precisa
quando posso ver a verdade escrita em sua aura?
Ele pode ver a verdade na minha?
— É sim.
Uma verdade que mantive borbulhando dentro de mim.
— Sou meio gárgula. Ou pelo menos um dos meus ancestrais
era. Posso ler sua energia assim como você pode ler a minha. Eu sei
o que essa cor significa.
— Obrigado por me dizer. — Ele alisa meu cabelo para trás. —
Também não tenho desejo de esconder nada de você. Eu vou te
contar qualquer coisa que você queira saber. Basta perguntar.
Há tantas coisas que quero saber, mas novamente penso em
seu comentário descartável em seu escritório sobre todas as coisas
que não sabemos um sobre o outro.
— Você vai me dizer os nomes dos membros de sua família? E
mais sobre eles?
Bram suga em uma respiração áspera.
— Sim, claro. Rae era um dos gêmeos. Tinha acabado de
completar vinte e dois anos. Praticamente um bebê. Realmente
amava escultura e cerâmica. Era muito bom nisso. Felix era o outro
gêmeo, e ele era o melhor caçador que eu já vi. Ele também poderia
fazer qualquer um rir com suas piadas ridículas. — Ele para, e eu
quase interrompo para dizer a ele que ele não precisa fazer isso se
não quiser, mas ele continua falando antes que eu tenha uma chance.
— Amelia era apenas um ano mais nova que eu. Ela era uma dor
gigantesca na minha bunda. Qualquer coisa que eu fizesse, ela
rapidamente provava que poderia fazer melhor - e ela poderia fazer
melhor. Não sei se ela realmente queria ser a governante deste
território, mas provavelmente teria sido melhor nisso também. Ela
era inteligente e ambiciosa, e se às vezes era um pouco idiota, acho
que é assim que os irmãos são.
Meu coração se parte por ele. Não sei o que diz sobre mim que,
mesmo desejando que ele não tivesse passado por uma perda tão
devastadora, uma parte de mim ainda sente ciúmes por ele ter tido
esses relacionamentos, para começar. Eu sou filha uníca. Minha mãe
era uma caçadora e sua gravidez comigo não foi fácil. Ela decidiu
que o custo era muito alto, mesmo que isso significasse que eu é que
teria que me preocupar em continuar o legado da família. Quando
eu era mais jovem, adorava ter a atenção exclusiva dos meus pais.
Foi só quando fiquei mais velha que o verdadeiro custo e a solidão
se estabeleceram. Não sei o quanto disso é ser filha única e o legado
familiar que me foi confiado.
Bram continua me tocando, pequenos golpes que são feitos
para me confortar, embora eu não saiba se ele está me confortando
ou a si mesmo.
— Meu pai era Artur. As pessoas dizem que minha mãe foi o
grande amor da vida dele, mas não acho que seja verdade. Não sei se
ele era capaz de amar. Ele sempre foi remoto conosco. Não sei se ele
era um homem mau, mas não acho que fosse bom. Ele alegou que
trouxe a humana para aumentar o poder em nosso território, mas eu
vi como ele era com ela. Era uma obsessão pura e simples. Desejo
egoísta.
— A decisão de ter filhos – e com quem tê-los – não deve ser
tomada por causa de poder ou legado familiar. Deve ser feito porque
você quer um filho e uma família. — As palavras parecem
arrancadas do meu peito. Nossas histórias não são as mesmas, nem
nossas circunstâncias, mas sei muito bem a dor que experimentei ao
ser vista como uma engrenagem na máquina em vez de uma pessoa
em mim.
— Você tem razão. Não deveria. Mesmo que ele estivesse
dizendo a verdade sobre sua motivação, ainda é uma merda dele.
Não temos que viver nossas vidas como eles viveram. — O coração
de Bram bate forte contra minha bochecha. — Você vai me contar
sobre seus pais?
É o mínimo absoluto que posso fazer.
— O nome do meu pai era Gerald. Ele se casou com alguém da
família, mas começou a caçar como se estivesse em seu sangue. Ou
pelo menos era o que minha mãe costumava dizer. Ele foi morto por
um lobisomem quando eu tinha quatorze anos. O lobisomem estava
aterrorizando uma pequena cidade, roubando as mulheres de suas
camas. Papai cortou sua cabeça, mas ele deu um golpe mortal antes
que papai pudesse acabar com ele. Matar aquele lobisomem era uma
coisa inegavelmente necessária a se fazer. A polícia humana estava
apenas meio certa quando pensou que tinha um assassino em série
em suas mãos. Mesmo que tivessem conseguido encurralar o
culpado, ele os teria rasgado como um lenço de papel molhado.
Como os lobisomens têm cura superior e reflexos ridiculamente
rápidos, a única maneira de ter certeza de que eles estão realmente
mortos é decapitá-los. Da última vez que verifiquei, os policiais não
andavam por aí com espadas e cortando cabeças.
— Desculpe.
Eu sorrio, embora meus olhos estejam ardendo.
— Continuamos dizendo isso um ao outro, repetidamente, por
nossas dores que palavras não resolvem.
— Às vezes não há mais nada a dizer.
Ele tem razão. As palavras podem não mudar nada sobre o
nosso passado, mas as palavras são tudo o que temos agora. Eu
respiro fundo.
— Minha mãe cresceu igual a mim. Treinada desde o
nascimento para matar. Exceto que não é exatamente igual a mim.
Meu pai era uma força de equilíbrio. Ele não tinha os velhos
preconceitos de meu avô. Ele não iria caçar a menos que fosse
provado que o monstro que ele estava caçando havia machucado um
humano. Quando minha mãe se casou com ele, ela também adotou
essa política. Mas quando ele morreu, as coisas ficaram um pouco
estranhas. Meu avô viveu apenas mais um ano depois de meu pai,
embora tenha sido uma doença que o matou, e não a violência.
Irônico, isso. Mas minha mãe começou a buscar algo, algum tipo de
resposta para uma pergunta que ainda não sei. Ela foi levada ao
ponto da obsessão. Ela desapareceu no ano em que fiz vinte anos.
Venho procurando respostas há cinco anos, mas nunca consegui
descobrir o porquê. É por isso que vim para cá. — Eu expiro trêmula.
— Desculpe, estou me adiantando. O nome da minha mãe era
Barbara.
Bram congela. É como se ele tivesse se transformado em pedra
perto de mim, seus braços não são mais um abraço reconfortante,
mas uma gaiola.
— O que você disse?
Os filmes e livros de histórias gostam de fingir que quando
algo terrível acontece, acontece em câmera lenta. A vida raramente é
desse tipo. A compreensão, quando chega, acontece em um instante.
As peças se encaixam e me pergunto por que nunca vi isso antes. Por
que eu nunca questionei os detalhes de sua história, a hesitação de
Azazel, o tratamento cuidadoso de Ramanu conosco? Eu deveria ter
descoberto.
Quando Bram fala, eu já sei as palavras antes que cheguem ao
ar entre nós.
— Barbara era o nome da humana que matou minha família.
CAPITULO 23
Bram
Não empurro Grace para longe de mim, mesmo que cada
instinto que eu tenha esteja exigindo que eu coloque espaço entre
nós. Em vez disso, gentilmente a empurro para o lado e saio da
cama. Ainda não há distância suficiente entre nós.
Eu deveria ter juntado as peças antes. Eu sabia que Grace dizia
que salvava pessoas, mas muitas vezes salvar uma pessoa significa
matar outra. Essa é a verdade que está à margem de seu silêncio. O
que significa que a mãe dela fez a mesma coisa; sua mãe, que fez
uma barganha demoníaca há algum tempo e nunca mais foi vista.
Qual seria a probabilidade de que sua mãe desaparecida e a humana
que matou minha família não estivessem conectados? As chances de
que fossem são astronômicas. E, no entanto, nunca questionei isso.
Talvez porque eu não quisesse.
— Eu preciso ir. Eu preciso pensar.
— Bram, espere! — Para seu crédito, ela não sai da cama ou
tenta se aproximar de mim. Ela também não aperta o lençol contra o
peito nu, nem finge ser outra coisa senão o que é. Uma predadora. A
maneira como ela me observa... se eu a atacasse agora, ela me
encontraria, violência por violência. Ela não hesitaria. Grace engole
visivelmente. Mal consigo pensar com clareza suficiente para
processar a profusão de cores em sua energia. — Podemos, por
favor, apenas conversar sobre isso?
A mãe dela é responsável pela morte de todos que eu já amei.
Mesmo sabendo que Grace não veio aqui com o mesmo propósito,
como alguém supera uma dor como essa? Algumas montanhas são
altas demais para serem sobrevoadas.
— O que há para dizer? — Eu rio, o som áspero na minha
garganta. — Talvez meu pessoal esteja certo. Talvez minha família
seja amaldiçoada. Não consigo pensar em outra explicação para
encontrar a pessoa com quem minha alma mais se conecta, apenas
para descobrir o corpo de violência que significa que nunca
poderemos ficar juntos.
— Bram. — Grace ainda não se moveu. É como se ela pensasse
que se ela se movesse muito rapidamente, ela iria me expulsar do
quarto. Não tenho certeza se ela está errada. — Isso é um choque
para mim também. Eu não... — Ela balança a cabeça e levanta o
queixo. — Por favor, não diga nada que você não possa retirar. Eu
quis dizer cada palavra que eu disse a você. Eu me importo com
você. Inferno, eu estou me apaixonando por você. Deixei de lado
todo o meu propósito de estar aqui para passar mais tempo com
você. Eu sei que isso é uma merda...
— Fodido — eu ecoo. — Fodido não começa a cobrir isso.
Acabei de convocar os nobres para este castelo. O que você acha que
eles vão fazer quando descobrirem que tenho a filha do monstro que
matou minha família, na minha cama, de boa vontade? Eles não vão
me seguir. Não posso nem culpá-los por isso.
Os olhos de Grace parecem muito grandes em seu rosto, sua
pele pálida empalideceu.
— É com isso que você está preocupado?
Não sei com o que estou preocupado. Não sei o que estou
sentindo. Eu deveria ter previsto isso, e a humilhação que não vi é
quase insuportável. Azazel sabia. Ramanu também. Eles estavam
rindo de mim pelas minhas costas? Pobre e tolo Bram, míope demais
para perceber que tinha uma inimiga em seu meio. E “tolo” não
cobre o fato de que me apaixonei por essa mulher.
Não sei como conciliar o que sinto por ela com tudo o que
agora está entre nós.
— Preciso de tempo.
— Não conheço uma única pessoa que disse que precisa de
tempo e que já voltou.
Eu também não. Geralmente é o começo do fim.
— Preciso de tempo — repito. — Você queria respostas de
Azazel. Vou mandar você de volta ao território do demônio
barganhador para pegá-los. Depois de me encontrar com os nobres
daqui, conversaremos.
— Claro que vamos. Qualquer coisa que você diga. — O fogo
dentro de Grace é amortecido. Ela está sendo banhada pelo azul
pálido da tristeza misturado com o violeta da determinação.
Observo em silêncio enquanto ela se levanta e veste suas roupas.
Este parece ser o pior adeus que já tive que dizer, e não sei como
pará-lo. Eu preciso de tempo. Mas não sei se isso resultará em eu me
convencer a ficar com ela... ou fora de estar com ela.
Grace para na minha frente e, por um momento sem fôlego,
acho que ela vai me dizer que me ama. Eu vi essa cor em sua energia
antes. Eu sei que sim. Em vez disso, ela olha para o centro do meu
peito.
— Eu gostaria de sair do quarto.
E eu estou no caminho dela.
Dou um passo para o lado e ela passa por mim sem dizer mais
nada. Digo a mim mesmo para ir atrás dela, para dizer a ela que não
importa o que o passado nos reserva, porque escolhemos o futuro.
Eu não me movo um centímetro. Não até ter certeza de que ela
voltou para o quarto. Só então voo para meu escritório e escrevo
uma intimação para Ramanu. Ainda não estou pronto para enfrentar
o Azazel. Talvez eu nunca esteja.
Não, esse é o pensamento de um covarde. Eu enfrentarei
Azazel. Certamente vou perguntar a ele por que ele escolheu enviar
Grace para mim. Sim, ele protestou, mas não com tanta veemência, e
nunca me disse por quê. É quase o suficiente para eu pensar... Eu
balanço minha cabeça bruscamente. Grace não é uma assassina
enviada para me matar. Posso não ter certeza de muita coisa, mas
disso tenho certeza. Esta situação é fodida, mas não tão fodida assim.
Escrevo a convocação e, poucos segundos depois, Ramanu
chega. Entra pela minha porta como se tivesse chegado aqui por
meios mundanos em vez de teletransporte.
— Você chamou? — Seu tom é irreverente, mas sua energia
denuncia.
— Por que você está preocupado, Ramanu? É possivelmente
porque Grace é filha da mulher que matou toda a minha família?
Ramanu me encara e seus ombros caem vários centímetros.
— Em minha defesa, eu já disse a você que argumentei contra
isso.
— Sim, você disse que era contra isso... mas não por quê.v— Eu
me afasto. — Leve ela.
— Com licença?
— Não fui claro? Não quero Grace aqui agora. Se eu mudar de
ideia, irei buscá-la.
Ramanu fica em silêncio por tanto tempo, minha curiosidade e
frustração superam meu bom senso e eu me viro para o encarar.
Ramanu está me estudando com um olhar estranho em seu rosto.
— Você a ama. — Eu não sinto que está rindo de mim. — Por
que você a está mandando embora se é assim que você se sente?
Nós não somos amigos. Nunca seremos. Mas, neste momento,
dou-lhe honestidade quando mal consigo ser honesto comigo
mesmo.
— É porque eu a amo que a estou mandando embora. Não sei
se há um caminho a seguir para isso, mas definitivamente não há se
eu não tiver tempo e espaço para trabalhar com essa revelação. Não
quero machucá-la enquanto estou com dor.
— Eu entendo. — Ramanu acena com a cabeça. — Muito bem.
Quando vier buscá-la, envie um aviso.
Não sei se devo ficar grato ou frustrado por não ter dúvidas de
que irei buscar Grace. Mas então, Ramanu está certo, não está? Posso
não ver um caminho, mas também não me vejo chegando a este
lugar. Tem que haver uma maneira. Mas mal consigo pensar além da
traição e da dor em volta da minha garganta.
A mãe dela.
O espectro que assombra meus pesadelos, que deixou suas
impressões digitais em todos os meus traumas, é a mulher que deu à
luz Grace. A mãe que lhe ensinou tudo o que sabe. Aquela que Grace
amou o suficiente para procurar, barganhando sete anos de sua vida
em um reino cheio de monstros como aqueles que ela passou a vida
caçando. Elas são a mesma pessoa e não sei como conciliar isso. Não
sei se é possível.
Juro que sinto o momento em que Ramanu tira Grace do
castelo. Não deveria ser possível sentir sua ausência com tanto
espaço entre nós, mas eu sinto. Estou certo disso. Não sei se estou
cometendo um erro. Eu não sei nada.

Os dias passam sem respostas. Não importa o caminho que


meus pensamentos percorram; todos eles acabam no mesmo lugar.
Grace e eu estávamos condenados desde o início. Não importa quais
eram nossas intenções, as circunstâncias são simplesmente
impossíveis. Foda-se se isso não dói, uma nova cicatriz para
adicionar à minha coleção. Não sei como ficar com ela, mas se não
conseguir descobrir, vou passar o resto da minha vida sentindo falta
dela.
Falta quase uma semana para o dia em que há uma batida forte
na porta do meu escritório. Eu sei quem está do outro lado. Há
apenas uma pessoa neste reino cuja energia tem constantemente o
verde profundo da floresta do orgulho. É irritante o suficiente,
mesmo sem minhas circunstâncias atuais.
— Entre. — Eu poderia muito bem acabar com isso.
Azazel entra no meu escritório e olha em volta. Ele está tão
deslocado aqui quanto um gato do inferno na água, mas de alguma
forma isso não parece incomodá-lo. Nunca falta confiança.
— Achei que deveríamos conversar.
— Oh, estamos falando agora? Ou você gostaria de continuar a
reter informações vitais de mim?
Ele sorri, mas não como se nada fosse engraçado.
— Você está começando a soar como ela.
Ela. Grace. Eu quero dizer a ele para não falar sobre ela, mas só
há uma razão para ele estar aqui, e é para falar sobre Grace.
— Você deveria ter me contado.
— Eu sei. — Ele aponta para a cadeira em frente à minha mesa.
— Posso me sentar?
Eu poderia manter essa postura, mas qual é o ponto?
Precisamos ter essa conversa, de uma forma ou de outra.
— Claro.
Eu o estudo enquanto ele faz isso. Mesmo aqui, no escritório de
alguém que poderia ser um inimigo, ele está perfeitamente à
vontade. Este é um homem que conhece seu lugar no mundo. Não
consigo evitar uma pontada de ciúme. É reconfortante, pelo menos,
saber que ele não pode ler minha energia como Ramanu.
Os poderes de Azazel estão em uma direção diferente.
— Fiz o acordo com Barbara Jaeger para meus próprios
propósitos, mas honestamente não achei que ela seria um perigo
para sua família. Ela consentiu em passar o tempo com seu pai como
sua consorte. Eu não tinha motivos para acreditar que ela estava
sendo outra coisa senão genuína. Em retrospecto, eu deveria ter
questionado mais, mas eu era novo no meu trono e precisava da
aliança o suficiente para estar um pouco desesperado. Não estou
desculpando minha negligência. Estou apenas explicando como
chegamos a esse lugar.
— Estou ciente.
Por mais que eu adoraria culpar Azazel por toda a situação,
todas as outras ações que ele tomou desde que assumiu a liderança
de seu território provam que ele é um líder justo e generoso com a
intenção de paz.
Ele me estuda por tempo suficiente para ficar desconfortável.
— Grace não é a mãe dela. Ela pode ter concordado em pagar o
preço de sete anos porque pensou que obteria respostas, mas, no
final das contas, fez isso em benefício de alguém que mal conhecia.
Fiquei de olho nela depois que as coisas correram tão mal com
Barbara. Suponho que me senti culpado por privar uma filha de sua
mãe. Grace é implacável, mas também é justa e gentil com os mais
fracos do que ela.
— Você não está me dizendo nada que eu já não saiba. Eu a
reconheci desde a primeira conversa verdadeira que tivemos, e nada
do que aconteceu nesse meio tempo me dissuadiu.
Ele estreita os olhos.
— Se for esse o caso, então por que ela está aterrorizando
minha casa em vez da sua?
Minha frustração e raiva florescem dentro de mim, quentes,
pegajosas e avassaladoras.
— Você entende que as circunstâncias em torno da morte da
minha família foram orquestradas por uma única pessoa. Ainda
estou trabalhando para entender isso. Meu povo não. O que você
acha que vai acontecer quando eles perceberem que a mulher ao
meu lado e na minha cama é a filha da mesma que promulgou a
chamada maldição em que eles acreditam tão fortemente?
— Então prove que eles estão errados.
Eu pisco.
— Com licença?
— Você sabe como era minha antecessora. Ela encorajou a
crueldade e recompensou a violência. A cultura que ela promoveu
simplesmente não desapareceu quando assumi o trono. Passei anos
eliminando o jardim venenoso que ela plantou. Não vou mentir e
dizer que tem sido uma tarefa fácil ou mesmo uma que a maioria do
meu pessoal realmente aprecia ou percebe. Mas você pode me olhar
na cara e me dizer que as coisas não mudaram sob o meu teto?
Não, não posso dizer isso a ele. As coisas mudaram. Não apenas
no território do barganhador demoníaco, mas no resto do reino. Sua
liderança e a linha que ele traçou na areia criaram ondulações em
todos os outros territórios. Sua busca pela paz arrastou a todos nós
atrás. Ele não é o único responsável por essa paz, mas é uma
influência incrível.
— Você nunca vacilou?
— Claro que vacilei. Eu duvidei de mim mesmo. Eu questionei
se tudo isso foi infrutífero. A diferença é que nunca deixei isso
transparecer. Seu pessoal não mudará da noite para o dia, Bram.
Mas se você lhes der esperança, boa parte deles se moverá para um
novo futuro com você.
A esperança é uma coisa estranha. Até meu tempo com Grace,
eu não tinha muito disso. Agora Azazel quer que eu ensine
esperança ao meu povo. Não tenho certeza se isso é possível, mas
não posso negar que seu território estava em uma situação
significativamente pior quando ele assumiu. Ele e eu não somos os
mesmos, no entanto.
Azazel suspira.
— Eu não vou mentir para você. É uma estrada solitária. Não
tinha ninguém ao meu lado que acreditasse em mim e na minha
visão. Então eu tive que acreditar o suficiente por todos. Claro que
eu duvidei de mim mesmo, Bram. Era uma tarefa impossível, e
ainda não terminei. — Ele se levanta lentamente. — Pelo que posso
dizer, você não faria isso sozinho. Isso é algo em que você deveria
pensar.
Passei tanto tempo me sentindo impotente contra os caprichos
do meu povo que a ideia de recuar é algo que mal coloquei em
prática. Eu não teria feito nada se não fosse por Grace. Suponho que
isso significa que Azazel está certo. Eu não estou sozinho. A menos
que eu fodesse as coisas além do reparo.
— Azazel.
— Sim?
— Diga a Grace que irei buscá-la amanhã. Se ela ainda quiser
me ver.
— Bram. — Ele olha por cima do ombro para mim, a expressão
sombria. — Se você não foi buscá-la amanhã, é provável que ela
venha procurá-lo.
CAPITULO 24
Grace
Deveria estar feliz por estar de volta ao castelo do demônio
barganhador.
Afinal, é onde eu queria chegar originalmente.
As respostas que eu procurei por tanto tempo estão aqui.
Pena que cada um desses pensamentos soa vazio agora. Eu sei
o que aconteceu com minha mãe. Ela matou uma família inteira e
provavelmente foi condenada à morte. Eu gostaria de poder dizer
que não entendo por que ela fez essa escolha, mas desde que Bram
me mandou embora, pedaços do passado se encaixaram como um
quebra-cabeça que finalmente posso ver por completo.
Depois que meu pai morreu, os ensinamentos de meu avô se
infiltraram. Eu tinha apenas quatorze anos. Muito jovem para
perceber o veneno infectando a mente de minha mãe. Mas agora,
com uma visão retrospectiva da verdadeira idade adulta, está tudo
muito claro. É o suficiente para me fazer pensar por que não o vi
antes. Exceto que eu sei a resposta para isso, não é?
Eu não queria ver isso.
Azazel estava certo. Não há satisfação nisso. Em vez de sentir
alívio ao saber, tudo o que posso fazer é me preocupar em nunca
mais ver Bram. Como ele suportará olhar para mim, sabendo que
estou relacionada com a razão pela qual ele sofreu tanta perda?
A miséria é um manto que uso enrolado em cada centímetro da
minha pele. Ando pelo castelo por horas, por dias. Ninguém me
incomoda. Até o próprio castelo parece ter pena de mim. Ele me
direciona pela cozinha em intervalos regulares para garantir que eu
coma. Em outra ocasião, isso pode me divertir. Neste momento, não
há espaço para diversão.
Acostumei-me tanto a ficar sozinha que, quando o castelo me
joga em um cômodo em vez de outro corredor, levo vários segundos
para perceber que não estou sozinha. Estou em um escritório com
um esquema de cores escuras e uma mesa enorme que parece feita
de pedra. Atrás dessa mesa está Azazel. Ele parece um pouco
diferente da última vez que o vi. Cansado. As linhas ao redor de sua
boca e olhos são mais profundas do que antes. A exaustão pesa em
sua aura, escurecendo suas cores. Talvez essa merda devesse me
agradar, mas estou tão malditamente cansada de sofrer em todas as
suas formas.
— Você parece uma merda.
— Obrigado. — Ele dá um sorriso pálido. — Você não está
parecendo tão bem. Já que você voltou, achei que era hora de termos
uma conversa que você estava procurando.
Novamente, o alívio que eu esperava sentir não está em
evidência. Eu me jogo em uma das cadeiras em frente a ele.
— Eu não sei o que mais há para dizer. Eu sei que ela matou a
família de Bram. Posso até adivinhar o porquê.
— Ela não apenas matou a família dele. — Azazel diz tão
gentilmente que demora um pouco para as palavras penetrarem. —
Depois que ela saiu do castelo, não conseguimos encontrá-la. Não
até que ela aparecesse no território dos íncubos e súcubos e matasse
vários de seus membros de alto escalão. Rusalka foi capaz de contê-
la e trazê-la para mim e, ao questioná-la, descobri que ela tinha toda
a intenção de matar todas as posições de liderança neste reino.
Eu gostaria de poder dizer que estou surpresa. Mas esta foi
claramente uma missão suicida. A tristeza me pesa. De que família
fodida eu venho.
— Isso soa como algo que meu avô faria.
— Ele tentou fazer acordos com minha antecessora várias
vezes. Acho que esse era o plano dele o tempo todo, o que ele
obviamente comunicou à sua mãe em algum momento. — Ele me
observa atentamente. Se houvesse pena em sua aura, não sei o que
faria. Mas há apenas um entendimento gentil em uma tristeza
compartilhada. — Bram não está ciente do outro dano que ela fez.
Rusalka queria manter isso interno e eu respeitei seus desejos. Você
é a única pessoa fora do território dela, e de mim, que está ciente
disso.
Eu aprecio sua franqueza, e tanto quanto parte de mim sente
que é um pouco tarde demais, saber a verdade mais cedo significaria
que eu não teria a chance de conhecer Bram. É tão egoísta da minha
parte agradecer pelo tempo que passamos juntos, mesmo que tenha
sido limitado, mesmo que tenha machucado a nós dois. Eu não ligo.
— O que minha mãe pediu? Como sua barganha?
Azazel se inclina para trás, sua expressão ilegível.
— Ela pediu proteção para você.
— Com licença?
— Era limitada. Não sou celestial, capaz de abençoar alguém
em todas as facetas de sua vida. Mas nós, demônios barganhadores,
temos muitos feitiços e ainda mais variedade de magia. Você não
fica doente desde a adolescência, não é? E você se cura mais rápido
do que tem direito. Não pude garantir sua proteção, mas consegui
colocar o baralho a seu favor. Seu treinamento e seus instintos
fizeram o resto.
Parece que ele chutou a cadeira debaixo de mim. Eu não sei
como me sentir. Minha mãe era um monstro, e o que ela fez foi
imperdoável. Mas... ela me amava. Não importa o que mais seja
verdade, isso é. Eu esfrego meu peito, tentando aliviar o aperto lá.
— Isso é muito.
— Sim. Seja gentil consigo mesma enquanto processa. Espero
que você sinta uma ampla gama de emoções, e nenhuma delas está
incorreta.
Isso atrai uma risada afiada de mim.
— Você é um terapeuta agora, Azazel?
— Eu sei que você preferiria me ver como o orquestrador de
todos os seus males, mas eu levo a proteção e o cuidado de meus
humanos incrivelmente a sério. Isso inclui sua saúde mental. Se você
quiser falar com alguém, tenho várias pessoas qualificadas na
equipe. A propósito, essa é uma oferta em aberto. Você não precisa
responder agora.
Eu teria pensado que agora minha capacidade de sentir
surpresa estaria esgotada. E, no entanto, aqui estou eu, recebendo
terapia de um demônio. Parte de mim quer rejeitá-lo, mas isso é
apenas a minha mágoa falando.
— Vou pensar sobre isso. Parece que estarei próximo pelos
próximos seis anos e mudarei, então há muito tempo.
— Sobre isso. Não espero que você fique no castelo por tanto
tempo. — Ele ignora meu olhar questionador e aponta para a porta
atrás de mim - uma indicação clara de que esta reunião acabou. —
Por que você não dá uma caminhada e toma um pouco de ar fresco?
O castelo irá mostrar-lhe o caminho.
Não adianta discutir. Se eu precisar de Azazel, sei onde
encontrá-lo, mais ou menos. E ele está certo; Eu poderia tomar um
pouco de ar fresco.
Não tenho certeza de como chego ao telhado sem subir um
único lance de escadas. A magia é estranha assim; parece que o
castelo teve pena de mim mais uma vez. Eu tento não pensar muito
sobre isso. As barras se cruzam em um lindo padrão de ferro acima,
sem dúvida projetadas para manter os monstros alados afastados. O
céu está claro agora, no entanto. É um dia frio e, tão alto, o vento
chicoteia minhas roupas. Eu gostaria de poder limpar meus
sentimentos conflitantes. Mas não é assim que a vida funciona.
Eu sinto falta de Bram. Eu me sinto absolutamente tola por
deixar minha raiva tirar o melhor de mim e me manter longe dele na
última semana em que estive lá. Todos aqueles dias explorando seu
castelo, eu poderia ter passado com ele. Pelo menos eu teria mais
memórias para me sustentar pelo resto da minha vida. Ele disse que
precisava de tempo e espaço, mas com certeza esse tempo e espaço
vão destacar o quanto ele não quer estar com a filha de uma
assassina.
Não apenas a filha de uma assassina, mas a assassina que
matou a família de Bram.
Estou tão absorta em meus pensamentos que acho que tive
uma alucinação ao sentir os olhos de Bram. Então a porta se abre
atrás de mim e o próprio homem sai para o telhado.
Tenho que firmar meus pés para não me jogar em seus braços.
Não sei por que ele está aqui. Não posso assumir que são boas
notícias. Faço o possível para filtrar as cores de sua aura porque
tenho muito medo de ver a verdade ali.
— Bram.
— Grace. — Ele desvia o olhar e imediatamente se volta para
mim, como se não suportasse me ver fora de vista. Eu sinto o
mesmo. Estou bebendo a visão dele, trabalhando duro para
memorizar cada pequeno detalhe. Suas asas movem-se inquietas. —
Tive algum tempo para pensar.
Eu me preparo. Este é o momento em que ele termina as coisas
para sempre. Confie em Bram para fazer a viagem pessoalmente.
Não importa o que mais seja verdade, ele não é o covarde que pensa
que é.
— Ok.
Ele examina meu rosto por vários longos momentos. Não sei o
que ele encontra lá. Não sei o que pensar ou como me sentir agora.
Esse é o momento. Ele abrirá a boca e me deixará descer o mais
gentilmente possível. E então terei que seguir em frente e descobrir
como juntar as peças novamente.
— Eu te amo.
Eu encaro. Ele acabou de dizer o que eu acho que ele acabou de
dizer?
— O que?
— Não vai ser fácil estar comigo. As coisas no meu território
estão uma bagunça, e isso não vai mudar tão cedo. Os nobres vão
resistir a qualquer mudança que eu fizer. Eles tentarão incentivá-la a
sair e, quando perceberem que não vai funcionar, você estava certa,
tentarão prejudicá-la. Mas alguém muito sábio me disse que a
esperança é uma coisa poderosa. Acho que, com você ao meu lado,
podemos dar isso ao meu povo. Se tudo der muito errado e eles me
tirarem do trono, pelo menos estaremos juntos. — Ele engole
visivelmente. — Se você quiser, quero dizer.
Pisco várias vezes, ainda tentando acompanhar o rumo que a
conversa tomou.
— Mas minha mãe...
— Você não é sua mãe. Assim como eu não sou meu pai. Não é
justo julgar um ao outro por esses padrões. Eu... — Ele balança a
cabeça. — Não estou dizendo que não vai ser um problema quando
a verdade sobre sua família for revelada. E não posso fingir que
essas velhas mágoas não surgem de vez em quando para nos picar.
Não importa o que mais seja verdade, vai dar muito trabalho sair
das longas sombras que nossos pais lançaram. Mas tenho que
acreditar que podemos fazer isso.
A esperança me atinge com tanta intensidade que fico surpresa
por não ter me erguido do telhado do castelo.
— Você me ama.
— Sim. Eu te amo.— Ele sorri de repente. — Está escrito em
toda a minha energia, se você quiser olhar.—
Meus olhos estão queimando, e eu tenho dificuldade em
engolir o nó na minha garganta.
— Eu não tenho que testar você, Bram. Você disse que me ama,
e eu acredito em você. — Eu pressiono meus lábios com força, como
se isso fosse o suficiente para acalmar seu tremor. — O que acontece
agora?
Bram estende a mão lentamente.
— Eu gostaria que você viesse para casa comigo. Eu gostaria
que você se mudasse para o meu quarto permanentemente. E, em
algumas semanas, quando todos os nobres se reunirem, gostaria que
você ficasse ao meu lado enquanto eu me dirijo a eles.
Eu começo a pegar sua mão, mas paro.
— Mas eu só estou no reino dos demônios por sete anos.
— Talvez. — Ele não se mexe. — Sei que é possível ficar depois
de cumprido o contrato, mas por que não levamos isso dia após dia?
Agradeço por ele ter me dado tempo e espaço para tomar essa
decisão, mas tenho a sensação de que o navio já partiu para mim.
Espero que a culpa aumente com a ideia de deixar para trás o legado
da minha família, de não ser mais uma caçadora, mas tudo o que
sinto é um alívio avassalador. Como se eu tivesse tirado um peso
pesado que carrego há mais tempo do que posso me lembrar. Não
sei o que o futuro reserva, mas quando dou um passo para os braços
de Bram, a esperança é a emoção avassaladora que me levanta,
mesmo quando ele me levanta.
— Eu também te amo, você sabe.
— Eu sei. — Bram me puxa para perto e deposita beijos gentis
em meus lábios. — Mas vou passar o resto da minha vida sem nunca
me cansar de ouvir você dizer isso.
— Então eu vou dizer de novo. — Eu o beijo. — Eu te amo.

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