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Resumo
Se o ato de projetar pressupõe um antever, o ato de ensinar deve se basear
na antecipação de cenários futuros nos quais os designers irão atuar.
Preparar-se para as mudanças previsíveis por meio da pró-atividade ou agir
para provocar as mudanças requer um processo de compreensão do cenário
no qual o design irá se desenvolver. Este artigo tem como objetivo elaborar
um panorama abrangente da realidade atual e futura considerando sistemas
emergentes e as tendências para um futuro próximo, identificando fatores
capazes de modificar a prática do design. Por meio de revisão bibliográfica
sobre cenários exploratórios para o futuro de 2030, são abordados os novos
desafios, oportunidades e competências para a profissão. Conclui-se que as
novas práticas do design podem se desvincular do contexto da organização
industrial tradicional ou permanecerem vinculadas a um sistema de
produção completamente reconfigurado (Indústria 4.0). Em relação às
competências desejadas para os profissionais de 2030, os designers em sua
formação atual já possuem a maioria das habilidades e atitudes esperadas
para os profissionais da próxima década. Porém, para enfrentar os novos
desafios da profissão na era pós-industrial contemplando o design de novos
contextos e sistema de produção torna-se necessário repensar as atuais
competências.
Abstract
If the act of designing presupposes an anticipation, the act of teaching must
be based on the anticipation of future scenarios in which the designers will
act. Preparing for predictable changes through proactivity or acting to bring
about change requires a process of understanding the scenario in which
design will develop. This article aims to elaborate a comprehensive overview
of current and future reality considering emerging systems and trends for the
near future, identifying factors capable of modifying design practice. Through
a bibliographical review on exploratory scenarios for the future of 2030, the
new challenges, opportunities and competences for the profession are
addressed. It is concluded that new design practices can either be detached
from the context of the traditional industrial organization or remain linked to a
completely reconfigured production system (Industry 4.0). Regarding the
desired skills for 2030 professionals, designers in their current training
already possess most of the skills and attitudes expected for professionals in
the next decade. However, to face the new challenges of the profession in
the post-industrial era contemplating the design of new contexts and
production system it becomes necessary to rethink the current competences.
Keywords future trends; skills; future of 2030; practice and teaching
Introdução
A antecipação segundo Zamenopoulos e Alexiou (2007) indica a capacidade de
agir na preparação de um determinado efeito ou estado futuro do mundo. A
antecipação geralmente está associada com a capacidade de olhar para frente,
prever algo, mas também se refere a uma ação ou decisão que é tomada em
preparação para algum evento futuro.
No design, o ato projetual pressupõe um antever, uma projeção para o futuro
no qual ainda não estamos vivendo, ainda intangível. Lidar com a incerteza que
cada época traz em si faz parte do processo de compreensão do cenário no
qual o design se desenvolve e consolida (Dantas, 2007). O resultado deste
trabalho pode ser interpretado como soluções de antecipação para uma
situação futura.
A prática e ensino de design deve se basear na antecipação do futuro,
acompanhando as tendências sociais, tecnológicas, econômicas e ambientais,
antevendo a possibilidade de novas práticas, revendo o perfil desejado para o
profissional e estabelecendo novas competências para que os futuros
designers possam agir de maneira crítica e consciente sobre suas próprias
decisões que potencialmente afetarão a qualidade de vida das pessoas. O
design de modelos sócio técnicos e produtivos, para o futuro, requer
responsabilidade sobre a ação de projetar. Ensinar àqueles que irão projetar
este futuro pode ser considerado uma meta-responsabilidade da meta-
antecipação.
Para manter sua relevância o ensino de design precisa responder a este
contexto proporcionando aos alunos uma compreensão destas mudanças de
paradigma e não apenas acrescentando capacidades digitais a um portfólio de
competências. O potencial papel de agentes de mudanças dos designers só
será alcançado se o ensino se propuser a formar atores críticos, criativos e
competentes, envolvendo-os em problemas, oportunidades e métodos de
design que hoje parecem radicalmente novos e ainda envolvem um pequeno
número de minorias ativas (Manzini, 2011).
No momento, o maior desafio para a atividade e o ensino do design são as
tecnologias emergentes, novas formas de organização e de distribuição de
recursos, novas possibilidades de interação entre designer, produtor e usuários
e as novas formas de concepção, produção e distribuição.
Considerando que a formação do designer ocorre em 4 a 5 anos e que para se
estabelecer em uma área específica o profissional necessita trabalhar
aproximadamente 5 anos, cabe ao ensino uma prospecção de no mínimo 10
anos.
Por meio de revisão bibliográfica, este artigo se propõe a elaborar um
panorama abrangente da realidade atual e futura (até 2030), considerando
sistemas emergentes e as tendências para um futuro próximo, identificando
fatores capazes de modificar a prática do design e suas competências
correspondentes.
1
Hasan Ozbekhan foi professor na Universidade da Pensilvânia e conselheiro científico do Grupo de
Pesquisas sobre o Futuro da Universidade do Quebeque. Ele está na origem de uma teoria do
planejamento na qual os cenários desempenham um papel importante (Godet et al, 2008)
2
https://assets.kpmg.com/content/dam/kpmg/pdf/2014/02/future-state-2030-v3.pdf
3
https://www2.deloitte.com/id/en/pages/about-deloitte/articles/social-progress-helps-attract-foreign-
direct-investment.htm
4
https://www.dni.gov/index.php/global-trends-home
5
https://www.csiro.au/en/Do-business/Futures/Reports/Our-Future-World
Quadro 1 – tendências para 2030
Fonte: A autora
6
Future of Jobs – WEF- http://www3.weforum.org/docs/WEF_Future_of_Jobs.pdf
7
Social Progress in 2030 – Deloitte - https://www2.deloitte.com/id/en/pages/about-
deloitte/articles/social-progress-helps-attract-foreign-direct-investment.htm
As tecnologias estão reconfigurando e transformando a natureza do trabalho
e a maioria dos empregos. A longevidade da população em economias
desenvolvidas, o crescimento da população mais jovem em economias em
desenvolvimento e o deslocamento demográfico modificarão a composição
da força de trabalho global. As tecnologias digitais permitem encontrar e
acessar pessoas e recursos quando e conforme a necessidade
possibilitando o acesso a talentos no mercado global abrindo novas
possibilidades de interação por meio de redes e plataformas.
Estas três forças motrizes geram efeitos significativos sobre o trabalho. A
reconfiguração do trabalho deve alavancar novas habilidades humanas e
acordos de trabalho alternativos, crowdsourcing, arranjos flexíveis, que
modificarão a relação entre empregador e trabalhador.
Diferente das revoluções tecnológicas anteriores que afetaram a fabricação
e a mão de obra pouco qualificada, os avanços tecnológicos atuais estão
modificando todos os setores da economia e da sociedade. Justifica-se
assim a preocupação com as novas competências necessárias para os
profissionais do futuro descritas no quadro 2, para as atividades que terão
maior demanda na próxima década, segundo pesquisa realizada pelo WEF8
e a NESTA 9.
8http://www3.weforum.org/docs/WEF_Future_of_Jobs.pdf
9
https://www.nesta.org.uk/sites/default/files/the_future_of_skills_employment_in_2030_0.pdf
Quadro 1: Competências para o ano 2030
Fonte: A autora baseada no Relatório Future of Jobs (WEF) e Futures Skills (NESTA)
Resultados e conclusões
A velocidade das mudanças nos últimos tempos, não tem precedentes, de
maneira que todos seremos pegos desprevenidos, por isso somos, e
continuaremos sendo eternos novatos (Kelly 2017). Qualquer plano de ação
estará sempre em versão de teste, sendo necessário experimentar, reavaliar
e corrigir incessantemente.
O design está cada vez mais focado na especulação e experimentação
sobre a natureza complexa e sistêmica de designs, práticas e questões a
serem abordadas, em muitos fluxos disciplinares diferentes (Menichinelli e
Valsecchi, 2016).
As habilidades esperadas para os futuros designers como: agente de
mudança, cocriador de futuros, renovador de sistemas, ator estratégico,
profissional redirecionador, catalisador de transformações colocam o ensino
atual numa posição de reavaliação tanto de conteúdos quanto de estrutura
pedagógica, levando em consideração o conhecimento complexo necessário
em várias esferas que convencionalmente não fazem parte da prática
disciplinar do currículo tradicional.
Imaginar o futuro da profissão de designer para daqui a 10 anos baseado na
situação atual do mundo possibilita traçar ações para uma prática e um
ensino de design preferíveis, onde o futuro próximo pode parecer menos
incerto e mais provável.
Referências bibliográficas
Dantas, D. (2007) O cenário pós-industrial: modificações no ambiente do
objeto na sociedade contemporânea e seus novos paradigmas. Revista do
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, São
Paulo.
Hermann, M., Pentek, T., Otto, B. (2015). Design principles for industrie 4.0
scenarios: a literature review. Working Paper n. 01. Technische Universität
Dortmund. Fakultät Maschinenbau. Audi Stiftungslehrstuhl Supply Net Order
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Kelly, K. (2017). Inevitável. As 12 forças tecnológicas que mudarão nosso
mundo / Kevin Kelly; tradução de Cristina Yamagamy.- São Paulo: HS
Schuh, G., Rudolf, S., Riesener, M. (2016). Design for Industrie 4.0.
International Design Conference - Design. Dubrovnik - Croatia, May 16 - 19
Smith, A., Hielscher, S., Dickel, S., Soderberg, J., van Oost, E. (2013).
Grassroots digital fabrication and makerspaces: reconfiguring, relocating and
recalibrating innovation? Science and Technology Policy Research.
University of Sussex.