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1. Introdução
O sucesso alcançado pela Toyota impulsionou empresas a adotar as práticas da manufatura
enxuta (BORTOLOTTI; BOSCARI; DANESE, 2015), tornando-se popular entre as indústrias
de manufatura, serviços e grandes áreas comerciais. (TORTORELLA; VERGARA;
FERREIRA, 2017). Embora o Lean Manufacturing (LM) seja um sistema de produção
amplamente adotado para atingir o desempenho operacional, há evidências contraditórias para
sugerir que nem todas as iniciativas de implementação enxuta levam a níveis sustentáveis de
resultados de sucesso. (EL-KHALIL; LEFFAKIS; HONG, 2020). Nesse sentido, o estudo dos
fatores que influenciam o fracasso ou o sucesso de uma implantação Lean é um tema de
pesquisa relevante. Durante os primeiros anos de LM, as organizações no hemisfério
ocidental enfatizaram amplamente a aplicação das técnicas e ferramentas enxutas, sem levar
em consideração os elementos humanos. (HERNANDEZ-MATIAS et al., 2019). Ainda que
as tecnologias de fabricação avançadas tenham melhorado as capacidades, velocidade,
precisão e sustentabilidade do processo, os aspectos humanos do projeto do processo não
receberam a atenção adequada. (AYOUGH; ZANDIEH; FARHADI, 2020).
A perspectiva do sistema sociotécnico (STS) oferece uma vantagem teórica para examinar a
relação proposta entre diferentes tipos de ferramentas LM no chão de fábrica. Para isso utiliza
técnicas de melhoria contínua que atuem como um catalisador na implementação bem-
sucedida de práticas de padronização e estabilidade de processo. Neste contexto, sugere que
as organizações consistem em componentes humanos e mecânicos. (EL-KHALIL;
LEFFAKIS; HONG, 2020). Desse modo, o STS é abordado pelos Fatores Humanos e
Ergonomia (HFE), no qual, práticas são incorporadas ao planejamento e execução de
atividades operacionais, estabelecendo condições adequadas e resultados melhores na
interação entre trabalhadores e ambiente de trabalho. (TORTORELLA et al., 2017).
A ênfase constante em práticas de processos técnicos sem qualquer integração de ferramenta
de força de trabalho social pode criar efeitos negativos no chão de fábrica, causando maior
variabilidade operacional e não conformidade com os padrões de processo. (EL-KHALIL;
LEFFAKIS; HONG, 2020). Portanto, este artigo visa responder à seguinte questão de
pesquisa: como o sistema sociotécnico e os fatores humanos e ergonomia podem contribuir
para melhorias em implantações deficientes de Lean Manufacturing? Para isso o artigo se
estrutura da seguinte maneira. A seção 2 apresenta uma revisão sistemática da literatura. A
seção 3 descreve o método de pesquisa. Na seção 4 são apresentados os resultados. A seção 5
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2. Referencial teórico
A fim de estruturar a pesquisa, esta seção introduz conceitos do LM, STS e HFE. A seguir são
apresentadas estas abordagens.
desempenho de novos sistemas podem funcionar e ser melhorados quando os aspectos sociais
e técnicos forem reunidos e tratados de modo interdependente em um sistema de trabalho.
(TORTORELLA et al., 2017). Dessa maneira, Cherns (1976), descreveu os princípios do
design sociotécnico num artigo sobre relações humanas, como mostra o Quadro 1.
A informação deve ir, em primeira instância, para o local onde é necessária para a
Princípio 6. Fluxo de ação. Preferível que se dirija primeiro ao grupo de trabalho cuja eficácia está a ser
informação controlada.
Os objetivos organizacionais são alcançados de uma melhor maneira pela otimização conjunta
dos aspectos técnicos e sociais, explorando a adaptabilidade e a capacidade de inovação das
pessoas na consecução de objetivos. (CHERNS, 1976; PASMORE, 1995).
A ergonomia, por meio dos seus domínios, possibilita melhores condições de trabalho,
otimizando os fatores humanos afetados, e consequentemente proporciona um melhor
desempenho operacional. (SAKTHI NAGARAJ; JEYAPAUL, 2020; TORTORELLA;
VERGARA; FERREIRA, 2017). Visando a otimização do funcionamento dos sistemas, por
meio da eliminação ou atenuação da incompatibilidade entre homem-sistema, é possível obter
resultados como a maximização do desempenho, diminuição das perdas por produtividade,
deficiências de qualidade e rotatividade de funcionários. (NUNES; MACHADO, 2007).
3. Metodologia
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Hong (2020)
Péczely e Liberona
D11 Elaborating and validating unified lean culture model
(2018)
The lean manufacturing enterprise an emerging sociotechnological system
D12 Paez et al. (2004)
integration
D13 The principles of sociotechnical design Cherns (1976)
Implementing and sustaining lean processes the dilemma of societal culture Pakdil e Leonard
D14
effects (2017)
The adoption of socio-technical and JIT practices and its relationship with the
D15 Tortorella et al. (2017)
performance of quality and workers’ health
Improved productivity indicators in a textile company through the synergy of Médico, Polo e
D16
lean manufacturing tools and socio-technical approach Casanya (2018)
How to foster sustainable continuous improvement-a cause-effect relations map
D17 Costa et al. (2019)
of lean soft practices
Christis e Soepenberg
D18 Lowlands sociotechnical design theory and lean production
(2009)
Bortolotti, Boscari e
D19 Successful lean implementation: Organizational culture and soft lean practices
Danese (2015)
Nunes e Machado
D20 Merging ergonomic principles into lean manufacturing
(2007)
Lathin e Mitchell
D21 Lean manufacturing: Techniques, people and culture
(2001)
Naranjo-flores e
D22 Human factors and ergonomics for lean manufacturing applications Ramírez-Cárdenas
(2014)
A road map for the implementation of integrated JIT-lean practices in indian
D23 Talib et al. (2020)
manufacturing industries using the best-worst method approach
A case study on implementing lean ergonomic manufacturing systems (LEMS) Srinivasa Rao e Niraj
D24
in an automobile industry (2016)
García-Alcaraz et al.
D25 Human Resource Abilities and Skills in TQM for Sustainable Enterprises
(2019b)
Comfort Analysis and Evaluation of an Assembly Operation Based on
D26 Wan et al. (2016)
DELMIA
An empirical investigation on association between human factors, ergonomics Sakthi Nagaraj e
D27
and lean manufacturing. Jeyapaul (2020)
Lean manufacturing and ergonomics integration: Defining productivity and
D28 Colim et al. (2021)
wellbeing indicators in a human–robot workstation
Fonte: Elaborados pelos autores
De acordo com Bardin (2021) a transformação dos dados, por meio de recorte, agregação e
enumeração, permite a representação do conteúdo. A enumeração por frequência apresenta a
importância de uma unidade de registro a partir da quantidade de aparições no texto. Desse
modo, foi realizada a classificação por frequência de elementos nas implementações LM.
Assim, foram identificadas as principais contribuições associadas a deficiências e
características relacionados a fatores humanos que favorecessem a implementação do sistema.
A classificação é apresentada na Tabela 2.
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Compromisso da alta
Estação de Trabalho
Orientação humana
Ergonomia Projeto
Comprometimento
Pressão de tempo
Baixa motivação
Trabalho Equipe
Aumento Ritmo
Aumento Carga
organizacional
Autonomia no
aprendizagem
administração
Capacitação e
Comunicação
Ergonômicos
Deficiência
Problemas
deficiente
Trabalho
Trabalho
trabalho
Cultura
(tédio)
Código
D01 - - - 2 - 3 1 - 5 1 5 11 1 4
D02 - - - - - - - - 2 - - - - -
D03 - - - 1 - 1 - - - - - - 5 -
D04 1 - - - - - - - 1 - - - - -
D05 - - - - 2 - 2 - - - - 1 2 -
D06 - - - - - - - - - - - 2 - -
D07 - - - - 3 1 3 - - - 1 - - -
D08 - - - 1 - - - - - - - 2 - -
D09 - - - - - - - - - - - - 1 -
D10 1 - - - - - - - - - 1 1 - -
D11 - - - 1 - - - - - 7 - 1 1 -
D12 - - - - - - - - - - - - - -
D13 - - - - - - - - - - - - - -
D14 - - - 1 - 1 1 - 3 2 1 1 - -
D15 - - - - 1 - - 1 - - - - 1 -
D16 - - - - - - - - - - - - - -
D17 - - - - - - - - - - - - - -
D18 - - - - - - - - - - - 2 - -
D19 - - - - - 1 - - 1 1 2 - - -
D20 - - 2 2 - - - 4 - - - 1 1 -
D21 - - - - - - - - 1 - - 1 - -
D22 - - - - 1 - - 1 - - - - 6 -
D23 - - - - - - - - 5 4 2 - - -
D24 - - - - - - - - - - - - 5 -
D25 - - - - - - - - 2 - 1 - - -
D26 1 1 1 - - - - 2 - - - - - -
D27 3 1 1 3 - - - 3 3 - - - 7 -
D28 - - - 1 - - - 2 - - - 2 2 -
Resultado 6 2 4 12 7 7 7 13 23 15 13 25 32 4
Fonte: Elaborados pelos autores
Por fim foi somado a frequência das deficiências em todos os artigos. Da mesma maneira foi
verificado para os elementos relacionados aos fatores humanos, localizando-se assim os mais
destacados para o tema de pesquisa. Esses resultados serão discutidos na sessão a seguir.
4. Resultados
Considerar o comportamento humano é essencial e determina o sucesso ou o fracasso de uma
transformação de células enxutas. (AYOUGH; ZANDIEH; FARHADI, 2020). A implantação
defeituosa do LM pode resultar em uma série de deficiências, como apresentado na Tabela 2.
Dentre as deficiências encontradas destaca-se a relação com a ergonomia, visto que a
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5. Discussões
O elemento humano é um fator fundamental para a sustentabilidade da melhoria contínua na
implementação do LM. A adoção de práticas do STS nas organizações pode produzir
resultados benéficos, assim como a ergonomia pode apoiar o bem-estar humano e o
desempenho do sistema. (TORTORELLA; VERGARA; FERREIRA, 2017). Neste contexto,
o trabalho em equipe é projetado para evitar problemas de produção futura, visto que os
operadores com multiqualificações têm autonomia para tomar decisões e melhorar as
operações. (NUNES; MACHADO, 2007).
Por conseguinte, os princípios 4 e 5 do STS destacam as práticas de trabalho em grupos. Para
Pasmore (1995) o sistema de trabalho deve ser visto como um conjunto de atividades que
contribuem para um todo integrado e não como um conjunto de trabalhos individuais, logo o
grupo de trabalho torna-se mais importante do que os titulares de postos de trabalho
individuais. O controle deve ser descentralizado para baixo com o sistema de trabalho
regulado pelos seus membros, e não por supervisores externos. Isto aumentaria tanto a
eficiência como a democracia. Ao mesmo tempo, a flexibilidade e a capacidade de lidar com
novos desafios seria permitida por meio de uma filosofia de concepção do trabalho baseada na
redundância de competências. (MUMFORD, 2006). Nesse sentido, os HFE colaboram em
dois de seus domínios para o trabalho em equipe nas práticas enxutas. O primeiro se refere a
ergonomia organizacional, que compreende o projeto do trabalho e seus aspectos como
autonomia, e o segundo está relacionado a ergonomia cognitiva, que está focada na tomada de
decisão. (IEA, 2021).
Segundo Srinivasa Rao e Niraj (2016) as capacidades do homem devem ser consideradas para
o projeto do local de trabalho, incluindo também equipamentos, máquinas, ferramentas e
produtos. Além disso, o trabalho manual significativo no processo de montagem,
principalmente como ocorre em indústrias de processo e automotiva, afetam os fatores físicos.
(SAKTHI NAGARAJ; JEYAPAUL, 2020). Os tempos de ciclo e a variedade de tarefas
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podem levar a um desgaste fisiológico, logo o domínio da ergonomia física, que compreende
por exemplo os aspectos antropométricos e biomecânicos, podem favorecer as práticas soft
lean no projeto da estação de trabalho. (NUNES; MACHADO, 2007).
Implementações bem-sucedidas do LM mostraram que o comprometimento e a participação
da alta administração são fatores críticos ao adotar o LM, o compromisso e participação são
necessários para definir a visão, para desenvolver um plano estratégico sólido, fomentar uma
cultura de melhoria contínua e impulsionar a energia, criatividade e envolvimento dos
funcionários para uma organização. (HERNANDEZ-MATIAS et al., 2019). Os resultados de
Bortolotti, Boscari e Danese (2015) revelam que um perfil específico de cultura
organizacional caracteriza as plantas Lean bem-sucedidas, mostrando um maior coletivismo
institucional, uma orientação futura e humana, e um nível mais baixo de assertividade.
Novas maneiras de fazer as coisas importadas de outras culturas devem ser capazes de operar
dentro das estruturas existentes da cultura da sociedade para que seja aceita e integrada,
mesmo a nível organizacional. (PAKDIL; LEONARD, 2017). Tendo por base essa
perspectiva, os princípios 1 e 7 do STS podem contribuir para adequar e desenvolver a cultura
organizacional na implantação do LM. O alinhamento organizacional entre as várias facetas
técnicas e do sistema social (nova tecnologia, processos de trabalho, sistemas de recompensa,
práticas de pessoal e estrutura organizacional), são necessários requisitos para a adoção do
LM. (LATHIN; MITCHELL, 2001). Nesse contexto, Lathin e Mitchell (2001) apresentam o
conceito de otimização conjunta que se refere ao ajuste mútuo dos subsistemas sociais e
técnicos para criar uma organização geral do trabalho capaz de alto desempenho. Por fim, o
último elemento relevante encontrado na literatura inclui todas as práticas vinculadas aos
funcionários e aos aspectos de treinamento e desenvolvimento de habilidades do trabalhador.
Compreende práticas como a capacitação do funcionário, o treinamento do conceito enxuto, o
pensamento enxuto e trabalhadores multifuncionais. (TALIB et al., 2020). Dessa maneira, o
princípio 2 e o 4 do STS podem atuar, possibilitando aos grupos de empregados objetivos
claros, visto que um ponto importante da abordagem sociotécnica é aumentar o conhecimento.
A concepção do trabalho deve levar a uma variedade crescente para o indivíduo e o grupo,
para que a aprendizagem possa ter lugar. (MUMFORD, 2006).
Considerar os fatores humanos é fundamental e determina o sucesso na implantação de
sistemas de manufatura enxuta. Enquanto algumas organizações focaram em implementar o
LM baseando-se nas técnicas de hard lean, obtendo resultados como as deficiências
encontradas na RSL, outras alcançaram resultados positivos, mostrando a importância da
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integração entre as práticas hard e soft, bem como o apoio dos princípios STS e os domínios
dos HFE na contribuição para isso, como é apresentado na Figura 1.
Figura 1 - Apoio dos domínios HFE e princípios STS integrados em implementações de sistemas LM
A probabilidade de sucesso da transformação Lean, está nas mãos dos empregados nos "níveis
de compromisso, crenças, comunicação e métodos de trabalho. (AYOUGH; FARHADI,
2019). Conforme Tortorella et al. (2017), qualquer empresa bem-sucedida deve possuir uma
organização eficaz e eficiente do trabalho a nível da gestão e, subsequentemente, estabelecer
as melhores práticas sociotécnicas e ergonômicas conducentes à máxima produtividade da
saúde humana e qualidade do trabalho.
6. Conclusão
Esta pesquisa contribui para a literatura existente identificando por meio da RSL, as principais
deficiências resultantes de implementações malsucedidas do LM devido à falta de integração
de fatores soft lean e hard lean. Outra contribuição concentra-se na identificação de
elementos sociais que devem ser considerados na implantação de manufaturas enxutas para
que produzam e sustentem resultados, bem como nos meios pelos quais os princípios dos
sistemas sociotécnicos e domínios dos fatores humanos e ergonomia possam apoiar este
processo. Logo, nesta pesquisa evidencia-se que as empresas devem aprender os detalhes das
mudanças culturais, organizacionais e sociais necessárias para obter elevado desempenho nas
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