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Instrumento Avaliativo 1 – 1º Bimestre

Psicologia em Contextos de Saúde


Discentes: Francisca Soares, Isabely Perin, João Montenegro, Leticia Moraes,
Raquel Luiza, Rebeca Vieira, Samia Matos.
Docente: Guilherme Augusto Duarte

1.1 Estudo de caso


Fernando, 17 anos, negro, morador do bairro Pedra 90, frequenta
regularmente a escola, porém possui dificuldades nos métodos de ensino-
aprendizagem. Fernando é um jovem que não gosta de sair e não está inserido em
círculos sociais, o único círculo social ao qual ele está inserido é da sua classe
escolar, todavia, não tem contato íntimo com ninguém. Chegou ao CAPS
acompanhado pela sua mãe. A mãe relata que ele está tendo intensas crises de
ansiedade várias vezes durante o dia, e pede para que seja feito o acolhimento com
ele. Durante o acolhimento, inicialmente, Fernando relata a mesma coisa que sua
mãe, que está tendo intensas crises de ansiedade, várias vezes ao dia, todos os
dias da semana. Tem crises por diversos gatilhos, não conseguiu perceber
especificamente o que são disparadores das crises. Ao decorrer do acolhimento, o
usuário relata questão que possivelmente podem ser desencadeadores de
ansiedade.
Relatou que durante a infância, o pai (alcoolista) era abusivo com a mãe,
cometia violências físicas e verbais, e por diversas vezes ele e as irmãs
presenciaram as agressões. Fernando é homossexual e o pai nunca respeitou a
sexualidade dele, mas a mãe sempre deu apoio e respeitou a orientação do filho.
Em determinada época, o pai abandona a família, deixando todos em uma situação
mais vulnerável. A mãe saía para trabalhar e deixava Fernando cuidando das irmãs,
muito novo Fernando tornou-se a pessoa responsável pelos afazeres da casa e
responsável pelos cuidados com as irmãs.
As irmãs, mais jovens que ele, logo mudaram-se de casa. Fernando e a mãe
mudaram recentemente para Várzea Grande, antes residiam em Cuiabá. O usuário
relatou também que em hipótese nenhuma pode deixar a mãe sozinha, no sentido
de ir morar sozinho, ou viajar, ou até mesmo sair durante à noite. Verbalizou que
tem medo de morrer e deixá-la.
Em determinado momento, disse que tinha algo para contar, mas não
poderia falar, falaria no próximo encontro. Ao decorrer do acolhimento, ele repetiu
isso várias vezes. Mais calmo, Fernando conseguiu minimamente se organizar,
agradeceu a psicóloga e perguntou se poderia abraçá-la.
A mãe do usuário retorna à sala e pergunta para a psicóloga “ele contou o
que aconteceu?”. Durante uma conversa de pouco menos de 10 minutos, por
diversas vezes ela volta a questioná-la, se ele contou o que aconteceu. Sem
respostas direta, a psicóloga respondeu que ele contou várias coisas durante o
acolhimento.
Então ela menciona que Fernando sofreu abuso sexual e após esse episódio
as crises de ansiedades aumentaram.

2.1 Possíveis determinantes do processo de saúde-doença

2.2 Contextos sociais nos quais Fernando está inserido? (Escola, círculo social,
orientação sexual)
Fernando encontra-se inserido em uma escola onde não há atenção e
percepção necessária para atender o processo único de ensino-aprendizagem.
Logo, não há política interna para proporcionar melhoras e desenvolver as
potencialidades do aluno. Apesar de frequentar a escola, Fernando não possui
círculo social e a escola não percebeu que ele não está/sente-se inserido em uma
rede de amigos e/ou colegas. O que de fato, pode ser mais um agravante para as
crises. Atualmente a única relação que possui é com a mãe. Agora está começando
a estabelecer vínculo com o CAPS.
Sobre a questão da orientação sexual, o pai de Fernando sempre o
repudiou, fazendo com que ele se fechasse, sentindo-se errado por ser
homossexual, condicionando-o a pensar que todos olhariam com repúdio,
julgamentos e preconceitos.
Fernando e mãe possuem baixa renda, e nem sempre consegue completar
as três refeições básicas do dia e já teve períodos que passaram dias sem energia
para pode comprar alimentos.

2.3 Quais aspectos psicológicos podemos observar em Fernando durante o caso?


Quais demandas podem ser trabalhadas?
Podemos observar durante o atendimento alguns aspectos Psicológicos em
Fernando. Como, crises de ansiedade, a ansiedade em si, provavelmente
decorrente do receio de abandono, pelo pai tê-lo abandonado logo na infância.
Inseguranças ao se relacionar com outras pessoas, pois, o pai era totalmente
agressivo dentro de casa, alcoólatra e que não respeita a sua orientação sexual.
Também, um certo medo excessivo em deixar a mãe sozinha, em pensar sempre
que pode acontecer algo de ruim, medo da perca, por ser talvez, a única pessoa que
sempre apoiou Fernando, e por ter tido uma responsabilidade muito grande desde
novo em cuidar das irmãs e da casa. Isso acaba prejudicando seu dia a dia, suas
relações, trabalho.

A possível situação que Fernando sofreu abuso sexual, traz um sentindo


maior ao pensarmos mais afundo sobre sua ansiedade, medo de perder sua base de
apoio, pois, se encontra vulnerável e muitas vezes perdido.

As viáveis demandas a serem trabalhadas poderão ser, o tratamento


terapêutico continuo para Fernando, para que ele consiga se conhecer mais e a
partir disso pensar e aplicar melhores formas de lidar para determinadas situações
de sua vida. Olhar também, para a demanda familiar, o apoio e acolhimento
emocional da mãe, até mesmo para entender melhor o contexto que se encontram.
Propor que Fernando participe de terapia grupal, para trabalhar suas relações e
formas de se expressar. Ingressar em outros projetos do CAPS que tenha interesse,
ou por indicação/encaminhamento. Buscando sempre o desenvolvimento social e
psicológico do mesmo.

2.4 Como trabalhar promoção de saúde neste caso?


A promoção da saúde se atribui às ações acerca dos condicionantes e
determinantes sociais da saúde, direcionadas a qualidade de vida e visando segurar
o direito à saúde.
Deve-se olhar para além das questões individuais do Fernando, é preciso
analisar todo o contexto social, familiar, cultural, econômico e político. As ações de
promoção de saúde precisam estar voltadas para que o sujeito amplie sua
autonomia e corresponsabilidade. É essencial que profissionais de diferentes áreas
trabalhem juntos, em equipe, para que o sujeito seja assistido de forma integral.
Nesse caso a promoção de saúde pode ir para além de o Fernando ser
assistido de forma individual, com atendimento clínico, é possível trabalhar no
coletivo, criando grupos com problemáticas/demandas em comum e formando
oficinas de psicoeducação. Com o intuito de gerar reflexão sobre si, sobre o mundo,
sobre seus hábitos de vida e conflitos diários em gerais, tendo uma maior
consciência do todo, é possível que o indivíduo gere mudanças a si mesmo, se torne
mais empoderado e ativo em sua própria vida.

2.5 Pensando a relação de Fernando com a mãe, como é possível trabalhar a saúde
desta família?

As mães de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual são importantes


em todo o processo: no momento da revelação, da notificação e no
acompanhamento ou atendimento psicológico das vítimas. Geralmente, as mães são
as primeiras a tomarem conhecimento da situação de abuso e a forma com que
lidam com essa situação influencia o prognóstico de seus filhos. No caso do
Fernando, em meio a este cenário, a mãe podem se sentir desassistida,
desamparada, e confusa, necessitando de orientação e acompanhamento. Dentre
os principais aspectos a serem abordados na fase da intervenção com a família
destacam-se: O rompimento da ideia de caso único; auxiliar os pais a
compreenderem o impacto do abuso, a lidarem com suas fantasias, culpabilização e
com a procura de explicações; explicar os procedimentos legais e médicos
necessários; orientar em relação à pressão que a família faz para que a criança
esqueça ou perdoe; auxiliar os pais a lidar com os comportamentos disfuncionais
como crises de ansiedades entre outros.

A intervenção deve trabalhar as dificuldades de comunicação da família de


Fernando, explorando aspectos como habilidade para escutar e compartilhar
problemas, superando, especificamente, a evitação de falar sobre o abuso, quando
a conversa é iniciada pela própria criança ou adolescente. Proporcionando espaço
para trabalhar sentimentos ambivalentes relacionados à descoberta do abuso. Além
disso, a intervenção pode reforçar a decisão de Fernando notificar o abuso, fazendo
com que a pessoa se sinta segura e perceba as consequências positivas de sua
atitude, orientar quanto aos encaminhamentos e trâmites que se seguem após esse
momento e trabalhar as expectativas em relação ao sistema judiciário. Deve, ainda,
abranger e auxiliar em questões práticas relacionadas às dificuldades da família e da
própria mãe, como, por exemplo, a busca de um trabalho remunerado, quando essa
é financeiramente dependente do abusador.

2.6 Como articular disciplinas neste caso para contemplar o princípio da


transdisciplinaridade?
Neste caso, visualizamos um contexto amplo de possibilidade de promover
saúde através de diversas frentes disciplinares. A busca inicial de Fernando pelo
CAPS revelou crises ansiosas, dando diversas pistas sobre as causas e
consequências de seu sofrimento psíquico. Vamos pensar a articulação de
disciplinas em prol da saúde integral de Fernando.
Pensando o atendimento via CAPS, podemos iniciar um projeto terapêutico
transdisciplinar visando uma equipe de referência onde a psicóloga que atendeu
Fernando e aqueles profissionais que estiveram em contato com ele em sua primeira
vez na unidade façam parte. A psicóloga pode trazer seu conhecimento e
experiência ao trabalhar com traumas para auxiliar seus colegas na forma correta de
abordar e conduzir o tratamento. Ainda pensando na composição do CAPS:
Um médico psiquiatra ou especialista em saúde mental que interprete
características biológicas, químicas, psíquicas e sociais; um pedagogo e um técnico
educacional que possam contribuir para a queixa de Fernando quanto às suas
dificuldades de aprendizagem frente a equipe; um assistente social que traga sua
perspectiva, principalmente, a respeito da condição socioeconômica da família e a
violência sofrida por Fernando, podendo articular seus direitos e buscar a
representação jurídica do adolescente por um defensor público ou advogado. Além
destes profissionais, também é possível pensar diversos outros componentes para a
equipe de tratamento, visando o bem-estar de Fernando e sua família.

REFERÊNCIAS

CASTRO, E. K; BORNHOLDT, E. Psicologia da saúde x psicologia hospitalar:


definições e possibilidades de inserção profissional. Psicol. cienc. prof. Brasília, v.
24, n. 3, Sept. 2004. p. 48-57.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Como a Psicologia pode contribuir para
avançar o SUS: Orientações para gestores. CREPOP. Brasília. 2013.

SANTOS, K. L; QUINTANILHA, B. C; DALBELLO-ARAUJO, M. A atuação do


psicólogo na promoção da saúde. Psicologia: teoria e prática, v. 12, n. 1, 2010. p.
181-196.

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