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Vladimir A. P. Silva
Universidade Federal de Campina Grande
vladimirsilva@hotmail.com
Introdução
As pr„ticas de solfejo estabelecidas ao longo dos s•culos t‰m como base o princ‹pio
da associa‚ƒo de fonemas a alturas espec‹ficas, um processo denominado solmiza‚ƒo (SADIE
1994, p. 883). Na Idade M•dia, Guido d’Arezzo ficou conhecido por suas contribui‚€es nesta
„rea. Ele musicou um hino latino (Ut queant laxis) e utilizou as primeiras s‹labas de cada
verso (ut-re-mi-fa-sol-la) com o objetivo de “ajudar os cantores a memorizarem a sequ‰ncia
de tons ou meio-tons das escalas que come‚avam em Sol ou Dó.” (PALISCA, 2007, p. 79) O
sistema hexacordal proposto por Guido d’Arezzo consistia numa sequ‰ncia de notas, que
podia come‚ar em D† (ut), em Sol ou em F„, conforme apresentado na Figura 1.
Figura 2 – Dó-fixo
Di Ri Fi Si Li
Nota Dó Ré Mi Fá Sol Lá Ti Dó
Ra Me (Fe) Se Le Te (De)
Neste sistema, para as mŠsicas em qualquer tom, no modo maior, o modelo • sempre
a escala de D†. Se a can‚ƒo est„ em F„, diz-se que F„ • t•nica, logo F„ corresponde … nota
D†. Se, por outro lado, a obra est„ em Sol, diz-se que Sol • t•nica, logo Sol passa a ser D† e
assim, sucessivamente. Se a mŠsica est„ no modo menor, a refer‰ncia • a escala de L„ (e†lio).
Pode-se estabelecer tanto o L„ quanto o D† como t•nica, observando-se a altera‚ƒo dos
nomes das notas, como • poss‹vel verificar na Figura 3.
Figura 5 – Sistema de solfejo com figuras geom•tricas com quatro e sete notas
Pergunta? Resposta!
1–2 1=8 2 -1
8–7 7–8
Discussão
Nos m•todos de solfejo fixo, as s‹labas especificam o nome das notas, independente
da fun‚ƒo que exercem. A nota‚ƒo musical • a refer‰ncia, e as notas sƒo sempre designadas
pelo mesmo nome: Sol, Sol ou Sol, por exemplo, ser„ sempre Sol. O intervalo D† – Mi,
D† – Mi, D† – Mi ou D† – Mi ser„ sempre entoado como “D† – Mi”, ainda que,
auditivamente, nƒo corresponda mais a um intervalo de ter‚a maior. MŠsicos que tocam
instrumentos com afina‚ƒo fixa, como, por exemplo, o piano, provavelmente terƒo mais
facilidade de adequa‚ƒo ao m•todo fixo.
O solfejo por intervalos • uma boa estrat•gia metodol†gica para resolver
problemas espec‹ficos dentro de um determinado contexto musical, como, por exemplo, saltos
intervalares muito grandes, ascendentes ou descendentes. No entanto, uma das limita‚€es do
m•todo • o seu car„ter fragment„rio, visto que os intervalos sƒo abordados de forma isolada,
fora do contexto mel†dico, r‹tmico e harm•nico no qual se inserem. Em certa medida, este
procedimento pode apresentar-se vi„vel, pois, conforme Sloboda (2008, p. 287), uma das
estrat•gias que podem ser usadas para facilitar a aprendizagem • “quebrar a habilidade a ser
aprendida em um conjunto de componentes que podem ser adquiridas passo a passo.” Isolar
um determinado intervalo seria, portanto, condi‚ƒo inicial para o desenvolvimento do solfejo,
porque … medida que o conteŠdo • assimilado cognitivamente, cada parte • associada uma a
outra at• que o todo se torne algo aut•nomo.
No que diz respeito aos m•todos m†veis, um dos pontos negativos • o fato de que
a inclusƒo dos nŠmeros acrescenta uma nova questƒo. Veja-se, por exemplo, que em D†
maior, ao inv•s de cantar “Sol”, deve-se cantar “cinco”. No lugar de “Ti”, s•timo grau, canta-
se “sete”. Ambas as palavras sƒo diss‹labas, o que pode gerar um problema de natureza
r‹tmica, sobretudo quando a melodia apresenta apenas uma nota para duas s‹labas. Demorest
(2001, p. 41) acrescenta que os nŠmeros tamb•m sƒo utilizados para designar outros aspectos
da estrutura r‹tmica, dentre os quais os v„rios tempos de um compasso, o que poderia gerar
certa confusƒo, j„ que os cantores estƒo usando nŠmeros com sentidos diferentes. Se, por um
lado, o uso do m•todo m†vel mostra-se eficiente porque permite que o cantor solfeje, em
qualquer tom e modo, em pouco tempo, por outro, ele tamb•m apresenta certas restri‚€es.
Uma delas diz respeito ao repert†rio, pois o m•todo funciona muito bem com mŠsica tonal e
modal, que nƒo apresenta passagens crom„ticas e mudan‚as de tom e modo. A adequa‚ƒo das
s‹labas ao novo contexto harm•nio e mel†dico pode dificultar a aprendizagem das obras e
comprometer o n‹vel de aproveitamento do ensaio. Uma das cr‹ticas de Demorest (2001, p.
40) • que os m•todos m†veis nƒo ajudam no processo de desenvolvimento do ouvido
absolutoi , podendo ser um problema para mŠsicos que tocam com instrumentos que nƒo sƒo
transpositores.
Freire (2008) analisou os elementos de interfer‰ncia em v„rios sistemas, propondo
o Sistema Fixo-Ampliado, que foi elaborado a partir de uma an„lise dos elementos de
interfer‰ncia em v„rios sistemas, tanto fixos quanto m†veis, estabelecendo crit•rios de
pesquisa para elabora‚ƒo de um sistema que permitisse uma s‹ntese entre os focos de
aprendizagem de cada sistema.
Conclusão
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Há certa crença no meio musical que o sistema fixo contribui para o desenvolvimento do ouvido absoluto. No
entanto, como afirma Demorest (2001, p. 40), não existem evidências consistentes que o sistema fixo nem
qualquer outro sistema de solfejo assegurem o desenvolvimento do ouvido absoluto. Poder-se-ia concluir esta
discussão, perguntando para que serve, afinal, um ouvido absoluto.