Você está na página 1de 8

Palestra encontro de casais em Passos – MG

Tema: Depois do sim, até o fim.

Hoje há um índice crescente de divórcios de 16%

Como lidar com traumas na infância?


Quais possíveis impactos na vida adulta e no casamento?

Crenças de que meu relacionamento é superior.

O ser humano passa por muitas vivências durante a primeira infância e


adolescência (período em que estamos desenvolvendo nossa personalidade,
visão sobre o mundo e sobre si mesmo) que podem gerar traumas, distorções
e padrões disfuncionais na vida adulta.
Na terapia que atendo não entendemos que o trauma é um fator de
causa e efeito. Se passou por x então acontece y. Não existe evidencia.
Isso depende muito da forma que a gente interpretou esses eventos,
nosso ambiente, nossa personalidade e temperamento.
Exemplo: há pessoas que passaram por abusos, violências, e
ressignificam ao longo da vida e outras pessoas em que o trauma reflete e
interfere em quem ela é hoje.
As situações que passamos na nossa infância tem o peso emocional
que a gente interpretou. E nós trazemos essa bagagem para dentro do nosso
casamento.
O psicoterapeuta norte-americano Jeffrey Young defende que todos os
seres humanos precisam que algumas necessidades emocionais básicas
sejam supridas por meio de vínculos saudáveis para que tenham uma boa
saúde emocional satisfatória. E ele cita 6 necessidades principais:

1. ACEITAÇÃO E CONEXÃO
As pessoas precisam sentir que são aceitas e importantes, acolhidas
afetivamente. Necessitam, ainda, que suas solicitações de ajuda sejam
atendidas, que sejam protegidas quando estiverem se sentindo vulneráveis e
confortadas quando assustadas.
Adultos que não tiveram essas necessidades supridas na infância,
geralmente, se sentem abandonados, menosprezados e não conseguem
estabelecer vínculos estáveis com os outros.

Consequentemente, acabam se envolvendo em relacionamentos


destrutivos e destinados ao fracasso. Acreditam que não se adequam à
sociedade e que não são bons o suficiente. Sentem-se inferiores e indignos de
receberem carinho e afeto. Dessa forma, acreditam que quem está à sua volta
irá abandoná-los ou magoá-los, tendendo a se isolarem socialmente.

2. AUTONOMIA E COMPETÊNCIA
Também entre as necessidades emocionais básicas, estão
autonomia e competência. Para irem em busca da realização de
conquistas e sonhos, os indivíduos precisam conhecer suas
habilidades e competências.
Para isso, é fundamental que os caminhos sejam mostrados a
eles e que haja motivação para se arriscarem. Se tiverem auxílio e
suporte apropriados, mais facilmente buscarão a independência e a
realização pessoal.
As necessidades que se encontram nesse domínio são de
orientação, apoio e auxílio na execução de tarefas, nos estudos, para
enfrentar e resolver problemas cotidianos. Ao mesmo tempo, incluem
autonomia e incentivo para enfrentar desafios de forma independente.
Por exemplo, quando os pais ou cuidadores cercam uma
criança de cuidados excessivos e assumem suas tarefas, impedindo o
desenvolvimento da sua independência e autonomia, muito
possivelmente ela se tornará um adulto com dificuldade para resolver
seus problemas sozinho, tomar decisões e assumir
responsabilidades. Consequentemente, se sentirá fracassado e
incompetente.
3. LIMITES REALISTAS

Limites realistas são outras necessidades emocionais básicas


que precisam ser supridas. A frustração faz parte da vida e é inegável
a importância de as pessoas aprenderem limites, regras e acordos.
Ao mesmo tempo, no entanto, é necessário cuidado com a
flexibilidade ou a rigidez em demasia, para não soarem como
passividade ou hostilidade.
Tais necessidades consistem, por exemplo, em ensinar para a
criança de maneira firme, porém afetuosa e compreensiva, o que é
certo ou errado e a respeitar as emoções e o espaço das demais
pessoas.
Quando os pais ou cuidadores são excessivamente tolerantes e
permissivos, esse filho pode se tornar um adulto arrogante,
inconsequente, egocêntrico ou narcisista, que não respeita regras
nem o espaço dos outros, pois acredita ser digno de benefícios
diferenciados. Por não tolerar fracasso, muitas vezes, foge de
responsabilidades e situações conflituosas.

4. ESPONTANEIDADE E LAZER

Os momentos de lazer e descontração, o cuidado com a saúde


e com os relacionamentos interpessoais, assim como os momentos de
felicidade e de autoexpressão, devem ser primordialmente
respeitados.
De nada adianta os pais ou responsáveis sentirem-se
realizados porque o filho foi bem na escola e faz inúmeras atividades
extracurriculares se ele não tiver espaço e tempo para curtir as
sensações agradáveis e aproveitar os momentos leves da vida.
Uma infância com cuidadores hipercríticos e rígidos, em um
ambiente familiar com alto nível de cobrança e escasso espaço para
espontaneidade e lazer, faz com que uma criança se torne um adulto
com pensamentos e ideias pessimistas e negativas, sempre indeciso,
preocupado e apreensivo.
É um indivíduo que não consegue expressar suas emoções e
sentimentos por receio de ser julgado e visto como distante,
insensível, frio, reservado ou indiferente. Desenvolve padrões rígidos
e inflexíveis quanto às próprias realizações, a si mesmo e às outras
pessoas.
5. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E EMOÇÕES VÁLIDAS

Liberdade de expressão e emoções válidas são outras


necessidades que precisam ser supridas. Todas as pessoas têm o
direito de se posicionarem, opinarem, de pedirem pelo que
necessitam emocionalmente e serem atendidas. Não devem ser
instruídas e nem concordarem em ficar caladas porque não é
adequado ou alguém reprovará.
Para ajudar as crianças com essas necessidades, os pais ou
responsáveis precisam evitar expectativas exigentes de como deveria
ser o temperamento delas e aceitar a forma como reagem, tentando
acolher suas reações emocionais.
É como se dissessem a elas que entenderam porque estão
reagindo daquela forma e que, além de tentar resolver o problema,
vão ajudar a controlar o desconforto dessas emoções negativas. Isso
não é feito só com palavras, mas, principalmente, por meio de gestos
e atitudes.
Quando essa necessidade é atendida, as crianças têm maiores
condições de controlar melhor suas emoções (capacidade de
regulação emocional) e passam a confiar na sua própria capacidade
de lidar com emoções negativas.

Vou citar 5 traumas mais comuns e o que eles podem gerar:


1. Invalidação constante de sentimentos:
 Repreender expressões de emoções e choro.
 Não deixar a criança falar o que pensa, o que está sentindo, o que
gostaria.
 Não ouvir desabafos e não acolher e guardar segredos, humilhar e
ridicularizar na frente de outras pessoas.
 Pode ser traumatizante para uma criança ser invalidada em ser como ela
é, sentir e se expressar da sua maneira. Essa criança pode crescer insegura, pode
gerar um adulto bloqueado, não consegue chorar ou são sensíveis demais.
2. Abusos sexuais, físicos e psicológicos:
 Estupro: Você pensa: Minha inocência não volta mais.
 Abusado (a): Pode ser físico ou moral. Sente a dor de uma dignidade
roubada. Homem ou mulher. Pensam sou imundo, sujo, e sente nojo, dor e repulsa
da prática sexual.
 Sofreu espancamento e violência dos pais ou tutores
 experimentou rejeição ou violência dos colegas ou irmãos
 Xingado e amaldiçoado pelos pais.
 Conhecimento de que foi tentado aborto para não nascer: você lembra
com dor que não foi desejado, não foi aceito e deveria morrer.
 Deixam muitas marcas, viola o valor como pessoa, distorce a forma com
a pessoa se enxerga e vê o mundo. Suja, indigna, culpada, não tenho valor, não
sou boa o suficiente. O mundo não é um lugar seguro, as pessoas vão me fazer
mal. Autodefesas.
3. Rejeição: (pode ter sido rejeitado ou interpretado)
 Bullying: Aparência física, gordo, magro, alto ou baixo.
 Gozações ou apelidos por espinhas ou cravos, cor de pele ou cabelo.
 Rejeitado por colegas ou família.
 Comportamento hiperativo ou tímido
 Foi humilhado por não ter dinheiro.
 Sofrer por não ter um relacionamento.
 Rejeição da gravidez não planejada;
 Rejeição em relação ao sexo;
 Tentativas de aborto
 Orfandade, nunca ter conhecido os pais.
 Traições, separações e divórcios,
 O problema está quando você sai dessas situações pensando que daqui
pra frente, todo mundo vai te rejeitar. Começa a julgar todos os relacionamentos
com base naquele sofrimento que você passou, porém nem todo mundo vai te
tratar como aquelas pessoas.
4. Abandono: A pessoa pode ter interpretado ou pode realmente ter
acontecido.
 Abandono quando criança: medos e inseguranças. foi esquecido na
escola
 Ter sido criado pelos avós, tios e adotado.
5. Relacionamentos problemáticos na família:
 Brigas e conflitos frequentes;
 Abusos de drogas e bebidas;
 Abusos verbais, físicos e sexuais.
 Presenciar os pais sofrendo e não poder ajudar;
 Fome;
 Ter que sustentar a casa desde cedo;
 Alienação parental.

O que essas raízes produzem:


 A raiz da Baixa autoestima
Destruição da autoestima: imagem distorcida de si mesmo. Desvalor,
isolamento, sentir-se indigno, desamor, desamparo, desvalia, sente-se sempre
como menor e não aceito, não sonha, insignificância, melhor morrer, suicídio.
 A raiz da Solidão e abandono: você se protege e constrói um muro ao
seu redor, com medo de ser ferido novamente, ou de ser abandonado ou ficar
sozinho. Medo de enfrentar o mundo, as situações e medo de ser confrontado.
Não consegue se abrir e buscar ajuda. Acha difícil conviver com pessoas.
 A raiz da Insegurança: medo de não “vencer” na vida, medo de ficar
sozinho, medo se relacionar com as pessoas, medo de começar um negócio, ser
chamado para algum ministério, não aceita desafios. Nunca enfrenta as situações,
prefere fugir e tentar esquecer. Medo de expor, Inferioridade.
 A raiz da Rejeição: Não se aceita, palavras negativas e de maldição de
si mesmo: Eu não sei fazer nada, eu não presto pra fazer isso, nada dá certo pra
mim, ninguém me ama, ninguém me aguenta. Não sou interessante o suficiente,
não sou aceito, sempre acho que as pessoas vão me trair, rir de mim, me
ridicularizar, me rejeitar. Ciúmes excessivo. Medo do cônjuge rejeitar, trair.
Começa a minar várias áreas da vida. Todo mundo quer ser aceito, diz respeito a
nossa sobrevivência. Todo mundo tem um certo medo da rejeição,
 A raiz da imaturidade emocional: Casou e não cresceu
emocionalmente, faz do cônjuge pai ou mãe. Necessidade de agradar: excessiva
dependência emocional do cônjuge. Tornar-se egoísta e parasita emocional.
Sempre que chamar a atenção, nem que seja brigando, ficando doente, fazendo
ameaças. Síndrome da boazinha. Intolerância a frustração.

Independente da situação traumática que você tenha vivido na sua vida, você
pode como adulto, hoje, escolher a forma como você vai lidar e se relacionar
com isso.
Nossa forma de agir tem dicas do que aconteceu no passado. Devemos
olhar para a nossa história e não parar ali.
Gerenciar as emoções, curar as feridas, gerenciar as expectativas,
cuidar da comunicação para que seja assetiva. Perdoar.

O que aconteceu na tua história que te faz ter tanto medo de ser rejeitada?
Porque eu tenho uma casca tão grossa, que não permito expressar minhas
emoções, chorar ou ser vulnerável?
Porque me acho tão suficiente, acho que não preciso de ninguém, de ajudo,
não me vínculo e nem me aproximo de ninguém?
Eu preciso assumir aquilo que dói dentro da gente. Olhar para a nossa
história, entender de onde veio essa crença e entender que ela não é
verdadeira para sempre. Não é porque aconteceu uma vez que sempre vai
voltar a acontecer.
Na verdade, você tem o poder na sua mão hoje, de construir uma nova
história. Se você olhar para sua vida hoje, você vai encontrar pessoas que te
amam, que te aceitam como você é, pessoas que te tratam bem, pessoas que
te dão valor, e essas pessoas você pode começar a valorizar ainda mais
O perdão é uma atitude moral na qual uma pessoa considera abrir mão
do ressentimento, julgamentos negativos e comportamentos negativos em
relação àqueles que a ofenderam injustamente. É um processo que envolve
mudanças nas intenções, pensamentos e sentimentos em relação ao ofensor.
O perdão não significa esquecer ou justificar o que foi feito, mas sim escolher
não nutrir mais sentimentos negativos em relação àquela pessoa.

Existem diferentes abordagens para o perdão, incluindo o cancelamento


de dívidas emocionais e a substituição de emoções negativas por positivas. O
perdão também pode envolver a compreensão do ponto de vista do ofensor e a
aceitação da dor causada pela ofensa.

Perdoar não significa desculpar ou tolerar injustiças, nem implica


reconciliação com o ofensor. É um processo pessoal que ajuda a vítima a se
libertar do peso emocional da mágoa e buscar sua própria cura interior.
É importante ressaltar que perdoar não é fácil e pode levar tempo. Cada
pessoatem seu próprio processo de perdão e pode passar por diferentes
etapas ao longo do caminho. É necessário reconhecer a mágoa, confrontar a
raiva e buscar compreender o ofensor para iniciar o processo de perdão.
O perdão traz benefícios para aquele que perdoa, como alívio
emocional, diminuição do ressentimento e aumento da empatia. No entanto, é
importante destacar que perdoar não significa esquecer ou minimizar a
gravidade da ofensa. É uma escolha consciente de liberar-se do peso
emocional da mágoa e seguir em frente com sua vida.
Em resumo, o perdão é um processo complexo que envolve mudanças
internas no indivíduo magoado. É uma escolha pessoal de abrir mão do
ressentimento e oferecer compaixão ao ofensor. O perdão traz benefícios para
aquele que perdoa, mas também exige coragem, paciência e autocompaixão.

Você também pode gostar