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LINHAS ORIENTADORAS PARA PAIS

Adaptação de Teresa Lobato de Faria de “How To Be a Better Child


Therapist” Kenneth Barish (2018)

“As crianças começam todos os seus dias com o objetivo


de procurar sentimentos de alegria e orgulho, e com a
esperança de partilhar estes sentimentos com outros. …
Procuram também sentimentos de aceitação, segurança
e amor, assim como conforto quando se sentem mal em
termos físicos ou emocionais.” Barish, 2018
As emoções são sinais para nós e para os outros, de que alguma
coisa está certa ou errada. As emoções positivas são sinais de
segurança e oportunidade e promovem o envolvimento social
continuado. As emoções negativas são sinais de perda, ameaça, ou
dano e evocam esforços para evitar ou enfrentar essa fonte de
sofrimento. As crianças estão sempre à procura de bons
sentimentos. Motivadas pela curiosidade e pelo impulso de mostrar
aos outros o que conseguem fazer, elas procuram continuamente
explorar o seu mundo na possibilidade de experienciar bons
sentimentos e pela oportunidade de partilhar esses sentimentos
com os outros.
Tendo como perspetiva as necessidades emocionais das
crianças, as que são agressivas procuram sentimentos de aceitação
e orgulho assim como evitar sentimentos de vergonha da única
forma que pensam ser possível. Quando os sentimentos negativos se
mantêm ativos, quando as crianças passam demasiado tempo
sentindo-se zangadas, desencorajadas ou sozinhas, as
consequências são abrangentes e profundas. Quanto mais tempo
permanecerem em situações que evocam estes sentimentos de
desencorajamento e raiva, mais provavelmente encontrarão alívio
em comportamentos de evitamento ou autodestrutivos, ou em
atitudes desafiantes que mais os alienam dos adultos e pares, que
constituem as potenciais fontes de suporte emocional. Estas crianças
também não esperam receber reconhecimento e aprovação pelos
seus esforços.
Frequentemente, estes problemas emocionais e
comportamentais têm origem no contexto de ciclos viciosos de
interações negativas nas relações da criança em termos familiares,
com os professores e com os pares. Em especial nas relações
familiares, os maus sentimentos levam a más atitudes e
consequentemente em mais sentimentos maus. Uma casualidade
cíclica. O comportamento de oposição e impulsividade leva a
criticismo e castigos, que provocam raiva e desafio, que levam a mais
castigos, e mais desafio.
As células ou enzimas mais importantes no sistema imunitário
emocional das crianças são as relações familiares apoiantes.
Também o são o sucesso académico ou extracurricular, os
professores motivantes e encorajantes, as relações com pares
gratificantes e apoiantes, e o envolvimento em organizações da
comunidade. Em qualquer fase da nossa vida, todos precisamos de
uma voz que nos encoraje e conforte, alguém que aprecie as nossas
forças, reconheça o nosso potencial, tenha confiança em nós e se
orgulhe de nós. Em momentos de ansiedade, tristeza,
desencorajamento ou dúvidas sobre si próprias, as crianças
procuram apoio emocional em pessoas que fazem parte da sua vida
(especialmente daquelas que mais admiram) e em recursos internos,
como memórias e encorajamentos do passado.
Há que manter sempre presente que cada criança, mesmo
zangada, desafiante ou desencorajada, deseja a aprovação dos
pais, quer portar-se bem e quer ser aceite pelos seus pares.

Estes ciclos viciosos familiares incluem normalmente algumas


atitudes da parte dos pais que os podem perpetuar:
1. Criticismo permanente – O criticismo permanente de pais ou
professores desenvolve ressentimento e desafio nas crianças e
adolescentes, é destrutivo da capacidade de iniciativa e auto-
confiança da criança, e compromete a sua motivação e o seu
sentido de objetivo. Afeta profundamente as relações pais-
filhos e leva a raiva, desencorajamento e ressentimento. Muito
deste criticismo é bem-intencionado, motivado pelo desejo das
suas crianças se desenvolverem e terem sucesso na vida. Neste
caso os pais vêm o criticismo como construtivo, através de
instruções e conselhos. Outros têm consciência, mas são de
opinião que são os responsáveis por criticar os filhos para os
preparar para as tarefas e exigências de adultos. Para além de
existirem outras razões. Mas as crianças quase sempre sabem
que se portaram mal.
2. Dificuldade em reparar o mal-estar
3. Ansiedade/desencorajamento/culpa
4. Rejeição
5. Não conseguir agradar a figuras de referência
6. Falta de compreensão
O objetivo será mudar estes ciclos viciosos negativos para ciclos
positivos onde se possa encontrar:
1. Sensação de sucesso
2. Apoio emocional
3. Compreensão
4. Gratidão
5. Elogio

Utilizando 10 princípios:
1- Mostrar de forma diária um interesse proactivo e genuíno,
implicando comprometimento;
Saber quais os interesses das crianças, o que mais gostam de
fazer, o que mais lhes interessa desenvolver – Principalmente
quando este interesse vem de adultos que admira, tem o efeito
de fazer a criança sentir-se valorizada e compreendida. O
interesse entusiástico fortalece as relações familiares e leva a
criança a envolver-se no diálogo, promovendo a aprendizagem
através dos outros. O interesse é a base da aprendizagem e a
origem da motivação.
2- Empatia;
Base de todas as relações positivas e fecundas, é para além de
compreender os outros, uma necessidade emocional básica. A
empatia ajuda a tornar os sentimentos maus suportáveis,
quando as crianças e adolescentes se sentem ouvidos e
compreendidos, tornam-se, mesmo que só por um momento,
menos concentrados em pensamentos e argumentos
desafiantes, e por isso mais abertos a ouvir. A empatia permite
à criança sentir as suas emoções sem ter urgência em livrar-se
delas, um componente central da regulação da emoção. Torna-
se mais aberta a influências sociais e educativas, a
comprometer-se e a resolver os problemas. No seu
comportamento observamos menos evitamento, menos
desafio e menos discussão.
3- Regulação da emoção;
Todos precisamos dos outros para regular as nossas emoções,
independentemente da nossa maturidade emocional. A
regulação da emoção é a capacidade de ter um sentimento,
mas não ser ultrapassado por ele – estar zangado, mas
conseguir não demonstrar; estar ansioso, mas não evitar os
desafios; estar desencorajado, mas não desistir; estar excitado,
mas não se deixar entusiasmar ao ponto de não pensar sobre
as decisões. Nos momentos de desregulação a emoção turva
uma resolução de problemas construtiva; as necessidades da
criança parecem urgentes e imperativas, não conseguem
manter os objetivos de longo prazo em mente, e muito
provavelmente agem de forma impulsiva ou que magoa. A
regulação da emoção depende da flexibilidade necessária para
mudar de estado emocional, enquanto o contrário depende de
um estado emocional rígido e inflexível.
As crianças são capazes de regular as suas emoções quando
sabem que os seus sentimentos serão ouvidos e
compreendidos, que os problemas podem ser resolvidos, e que
os maus sentimentos, qualquer que seja a sua magnitude, não
duram para sempre. Esta expetativa desenvolve-se de forma
gradual, começando na infância, através de responsividade
emocional e do diálogo. Muitas vezes as palavras mais
importantes que um pai pode dizer ao seu filho são “Eu
compreendo como te sentes” ou então simplesmente dar um
abraço. Nos momentos de diálogo, as crianças aprendem que
os maus sentimentos fazem parte da vida, são temporários e
por isso suportáveis: esta desilusão é apenas uma desilusão,
não uma catástrofe; que a sua raiva vai diminuir; que este
sentimento de falha ou humilhação, de solidão ou vergonha,
com o tempo, irá passar; que quando são sentimentos de raiva
ou tristeza, não se sentirão sempre assim; que existe alguém
com quem podem falar que os pode fazer sentir melhor.
E haverá uma outra vez. Aqui a regulação emocional será feita
através de memórias e expetativas. Pelo facto de cada
frustração e desapontamento serem vistos como menos
catastróficos e dolorosos, as crianças serão menos insistentes
nas suas exigências, mais abertas e mais flexíveis em procurar
soluções para os problemas, e menos bloqueadas em atitudes
de culpabilização, discussão e negação.
A melhor forma de ajudar as crianças a aprender a regular as
suas emoções é falar sobre os seus sentimentos, por isso é
importante que todos os dias os pais falem com os seus filhos
das suas emoções, um tempo para ouvir; para aceitar e validar
os seus sentimentos, para conhecer os seus desapontamentos
e frustrações e para reparar momentos de raiva, zanga ou
desentendimentos. É também tempo de modelar, colocar os
sentimentos em perspetiva e para resolução de problemas
proactiva. Deve evitar-se conversas demasiado pragmáticas;
curtas, diretivas e focadas em acontecimentos específicos, e
perguntas que se respondem com sim ou não. Incentivar
conversas onde é partilhado o afeto positivo, conversas ricas
em emoções e onde são feitas referências aos sentimentos dos
outros.
Também existem várias técnicas que podem ser ensinadas e
que podem ser usadas quando a criança é evadida por
sentimentos de raiva, tristeza ou qualquer mau sentimento
(imaginação, mindfullness, mudar a visão).
4- Encorajamento;
Passa por apreciar e reconhecer genuinamente as forças e
esforços das crianças e manifestar confiança no seu sucesso.
Podemos lembrá-las das boas coisas que já fizeram, daquilo
que são capazes e de que ninguém é sempre bem-sucedido. O
encorajamento é um reconhecimento e uma apreciação
genuína dos esforços da criança e um voto de confiança no seu
eventual sucesso. Tomamos nota de todos os progressos não
dos fracassos. Por vezes o desencorajamento é difícil de
identificar quando está mascarado com raiva e desafio, ou com
a afirmação de que não se importam e não querem saber.
5- Brincar e jogar;
O desenvolvimento social está dependente do brincar, é um
momento de aprendizagem de aptidões sociais, de partilha e
interação e implica a capacidade de se acomodar aos outros e
de aceitar limites.
6- Dormir bem;
Todos os maus sentimentos pioram quando estamos cansados.
7- Ajudar os outros;
Desenvolve o sentido de pertença, promove a boa resposta dos
outros e aumenta a autoestima, sem implicar competição.
Quando as crianças ajudam outros, começam a ver-se como
alguém que tem algo para oferecer, experienciam a apreciação
e gratidão dos outros, um sentimento de comunidade, e
aprendem a ver as situações pela perspetiva dos outros.
8- Reparar;
Não deixar aumentar e manter as discórdias, saber pedir
desculpa quando ocorre uma zanga feia, de preferência ao
deitar. Reparar sentimentos negativos é um processo
fundamental no desenvolvimento emocional de uma criança.
As crianças aprendem nestes momentos que embora não seja
sempre fácil, os sentimentos de tristeza, raiva,
desencorajamento e falha, são momentos que podem ser
reparados. Reparar é quando os pais dedicam tempo a falar
com os seus filhos sobre o stress que sentem, sobre conflitos e
sentimentos de sofrimento nas relações com os colegas, e
sobre as suas tristezas e desapontamentos.
9- Resolução de problemas;
Eficaz principalmente quando feita em colaboração – “hoje não
correu muito bem, o que achas que podemos fazer para
podermos mudar”. Evitar afirmações pois levam a discussões,
e colocar as questões como preocupações, perguntando
depois quais as suas ideias para resolver o assunto. Com a
empatia, tentamos compreender o problema do ponto de vista
da criança, procurar as suas causas, não apenas os sintomas,
ser mais proactivo, menos reativo, definir o problema em
termos de preocupações e convidar a criança a envolver-se na
resolução do problema, perguntando quais são as suas ideias
em relação à solução. Assim as crianças ficam comprometidas
e têm responsabilidade no seu sucesso e terão mais tendência
para cooperar o que dá oportunidade aos pais de elogiar e
iniciar um ciclo positivo. A criança aprende que os problemas
podem ser resolvidos através da discussão, diálogo e
compromisso. Encorajamos as crianças a pensar de forma
criativa sobre as possíveis soluções, e sobre como as suas
necessidades e desejos podem ser reconciliados com as
necessidades e desejos dos outros, um importante aspeto da
maturidade emocional essencial para todas as suas futuras
relações.
10- Limites e disciplina;
Reforços e castigos não resultam. Observar e questionar-se
sobre a razão por que se comporta assim, porque é apanhado
na emoção do momento. Se a punição for necessária, num
clima de positivismo e respeito, será mais eficaz e induzirá
menos desafio e protestos.

Recomendações:
1- Tempo para se interessar proactivamente sobre os
interesses dos seus filhos e para jogar e brincar com eles.
Apenas 5 minutos por dia fazem a diferença. Expressar
interesse pelos videojogos e jogar com os seus filhos não
aumenta a sua necessidade de jogar, encoraja o diálogo e o
compromisso.
2- Elogie mais o seu filho. Muitas das crianças com problemas
são criticadas em excesso, muito poucas são elogiadas em
excesso.
3- Expresse a sua apreciação aos seus filhos. Sem apreciação
começamos a sentir-nos desencorajados, sem entusiasmo e
ressentidos. Os pais devem agradecer com frequência aos
seus filhos, pois eles terão mais tendência para agradecer
também. Apoie os seus pontos fortes regularmente. Se os
pais falham em identificar o esforço da criança ou algum
progresso, se colocam a barra demasiado alta, arriscam a
voltar ao criticismo.
4- Os pais devem falar das suas experiências, de forma a dar
esperança aos seus filhos, descrevendo as fases por onde
passaram e não desvalorizando o problema como sendo
simples de resolver ou sem importância. Evitar o “também
me aconteceu isso, isso passa não te preocupes, não tem
importância vais ver…”. Assim desvaloriza a criança e coloca-
a mais uma vez numa solidão de incompreensão.
5- As palavras “Tenho orgulho em ti!” são das mais
importantes que um pai pode afirmar. Quando as crianças
sabem que os pais estão orgulhosos delas, este sentimento
ressoa por toda a sua vida emocional e fortalece o seu
sistema imunitário emocional. Influencia a moderação de
sentimentos de inveja e vergonha e promove o
desenvolvimento de um “eu-moral”.
6- Lembrar os pais de que é preciso ouvir. Ouvir é um esforço
para compreender e apreciar o ponto de vista da criança. É
também um bom antídoto contra o criticismo e as
discussões. Quando falar com o seu filho aperceba-se do que
está correto no que diz ou faz antes de apontar o que está
errado.
7- Reservar 10 minutos à hora de deitar para ouvir e reparar
as interações de raiva e críticas. Os pais devem dar aos
filhos a oportunidade de falar sobre porque estiveram
zangados ou preocupados durante o dia, de dizer o que
gostaram ou não gostaram, ou o que os preocupa no dia
seguinte. Quando a criança não tem nada para falar, os pais
podem aproveitar esta oportunidade para partilhar
qualquer experiência sua, para falar de acontecimentos do
seu dia, um momento de humor ou de frustração. Um
pedido de desculpa de um pai não desculpa a criança pelo
que fez de errado, modela o comportamento e a maturidade
emocional que gostaria de desenvolver no seu filho e ganha
autoridade, pois a autoridade dos pais é baseada
essencialmente no respeito. Quando um pai não pede
desculpa, é normalmente uma fonte de ressentimento que
aumenta os sentimentos da criança de solidão e diminui a
possibilidade de o pai constituir uma fonte de suporte
emocional. Muitos pais falam sobre o que as crianças
precisam fazer, mas um simples aperceber-se das suas
ansiedades e stresses e o reconhecimento dos seus esforços,
será muito mais útil.

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