A sua relação com o ambiente manifesta-se em termos mais amistosos. O seu mundo é de aqui e de agora. O centro deste mundo continua a ser ocupado pela mãe. Não tem ainda maturidade para formar conceitos e sentir emoções abstratas. Possui um forte sentido de posse, sobretudo com as coisas de que gosta. Dentro do âmbito familiar fará perguntas próprias: Para que serve? De que é feito? Pensa antes de falar. Querem para sentir a satisfação do êxito pessoal e de aceitação social. Aos 6 anos, a criança deseja a companhia de outras crianças. No jogo e nos seus companheiros encontra as suas próprias experiências que, unidas ao ensino e exemplo dos mais velhos, a ajudarão a alcançar um maior equilíbrio e maturidade psicológica.
1. Uma mudança psicológica na sua personalidade
Adquiriu já um número considerável de conhecimentos que vão
aumentando e variando constantemente as noções que tem do mundo. Quanto mais rico se torna em noções, menos rico é em intuições. Compreende mais coisas, mas adivinha menos. É mais inteligente e menos intuitivo (embora o seja e muito). A mudança é menos evidente nas crianças com pouca convivência, menos sociabilizadas. E ainda menos acentuada nos que viveram num lar truncado. A criança que não tem mãe, entra mais tarde na vida sentimental, e a que não tem pai, tem dificuldade em começar a definir o seu caráter. A mudança que se manifesta nesta etapa é devida também à educação. Se dia após dia, os excessos dos impulsos são travados, e os orientados, algo se terá de refletir na personalidade da criança.
2. Ver vontade e caráter
O caráter não é um elemento mais da personalidade. É a síntese dos elementos da personalidade. Nestes anos começa já a formar-se o caráter e sobretudo define-se já para um sentido determinado. A presença do caráter é o que dá aos pais a sensação de uma grande mudança. A criança nesta etapa, projeta-se para o mundo porque começa a ter caráter. Porque começa a ser. Durante esta etapa, a criança mostra-nos, cada dia que passa, novas manifestações de caráter: nas suas reações à nossa atuação ou à das outras crianças, podemos ver claramente que a sua inteligência e os seus sentimentos vão transformando a primitiva reação, rápida, inconsciente, temperamental, numa reação medida, consciente, com caráter. O caráter é a energia pessoal que resolve a nossa dúvida. E se não duvida também não se precipita; entre o pensamento e a execução, entre o desejo e a consecução há um intervalo; neste intervalo insere-se o ato da vontade. A vontade não produz nem os desejos, nem os sentimentos, nem os pensamentos, nem sequer os impulsos. Não os produz mas seleciona-os, delimita-os modera-os, estimula-os. A criança tem uma maneira própria de sentir, de pensar, de querer. O núcleo central, aglutinante, do caráter é a vontade. Quando deseja fazer uma coisa e hesita em fazê-la, e chega a pensar que não é capaz de a fazer e por fim vence-se a fazê-la, fica satisfeita. Quando passa de um sentimento de incapacidade a um de capacidade, exercita a vontade. Na linguagem corrente seria conveniente saber distinguir o verbo querer do verbo desejar. Para o querer é necessário o desejo, e para este é necessário o impulso. Querer equivale a desejar uma coisa e a acreditar na possibilidade e conveniência de realizá-la. A criança, quando tem caráter, quase sempre sabe o que quer, o que tem que fazer; perante cada estímulo, perante cada nova situação determina-se de uma maneira segura, num sentido ou noutro. O que realmente estabelece uma diferença profunda entre a criança temperamental e a criança com caráter é que a primeira não sabe o que quer fazer e a segunda sim. A falta de confiança na criança temperamental gera necessidade de proteção e ajuda. Os pais devem estar vigilantes para não lhe dar feito aquilo que a criança pode fazer sozinha. A educadora deve insistir – sobretudo às mães – na importância que tem o deixar fazer, o ensinar a fazer, que aprendam fazendo. Se bem que isso suponha um maior esforço, uma aparente perda de tempo. O que é muito penoso para uma mãe de criança nessa faixa etária: o não ser mais imprescindível para o filho. As ordens que a criança recebe são obedecidas ou não, cumpridas ou não. Há crianças mais obedientes do que outras. Há aquelas que têm uma tendência quase irresistível a desobedecer. Na obediência há há um fator que não depende da criança, mas sim da forma como os pais a educam. Muitas coisas são obedecidas porque são bem ordenadas e outras esquecidas porque são inoportunas ou impertinentes. O hábito de desobedecer pode ser na verdade a revelação de uma personalidade patológica, embora, muitas vezes, seja a manifestação de que as ordens foram dadas sem contar com a iniludível liberdade da criança. Tem grande capacidade de adaptação o que a torna apta para a assimilação de hábitos de conduta.
3. A afetividade
Quanto mais rica em emoções for a vida afetiva, mais rica
poderá ser em sentimentos. Quanto mais inteligente, menos cedo poderá transformar as suas emoções em sentimentos. Mas os sentimentos, tal como as emoções, necessitam de algo externo para se elaborarem; e, para darem um tom afetivo a toda a personalidade. Necessitam dum estimulo. A vida de comunicação afetiva. A sua necessidade fundamental é sentir-se. A criança, por si só, poderá chegar também a possuir todos os sentimentos. Nenhuma criança deixa jamais de ter todos os sentimentos, nem nenhum educador poderá criar qualquer sentimento. A criança isolada, de escassa inteligência, que sofreu uma educação descuidada é pobre na sua vida afetiva; os seus sentimentos estão pouco diferenciados, não se manifestam claramente. A criança nestas condições não passa, quase, do prazer e da dor, e dos sentimentos egoístas. Pode-se garantir que toda a vida afetiva da criança começa a ser já dirigida, tanto pelos sentimentos como pelas emoções. Uma característica essencial da vida afetiva da criança é a ausência absoluta de paixões, que não aparecem antes da puberdade ou vida adulta. Esta ausência de paixões não impede que alguma vez as emoções da criança (cólera, ira, temor) possam chegar a criar um estado passional momentâneo. Mas se são freqüentes, são também o produto duma personalidade ou educação desviadas do seu rumo certo.
4. Sentimento estético e o religioso
Durante este período de vida surgem os sentimentos mais
importantes: o estético e o religioso. O sentimento estético não costuma surgir antes dos 6 anos, porque a emoção estética também se produz tardiamente.
5. A sua idéia de Deus
A criança possui em potência a idéia de Deus, só pelo fato de
possuir uma natureza humana, e pode chegar a possuí-la atualmente, não por uma investigação própria, mas por influência do meio. A criança irá indagar, pergunta atrás de pergunta, até esgotar todas as possibilidades de causalismo. Para ela tudo tem a sua causa, toda a ação o seu porquê e não desiste de o saber ou de julgar que sabe. Toda a cosia tem a sua causa, além disso tem o seu fim, a sua utilidade. “Porquê”, “Para quê”, são as questões postas a todas as horas do dia, acima de tudo. Vai assim conseguindo chegar a alcançar a idéia de um autor de todas as coisas. A família e o colégio são aqueles a quem compete dar um sentido religioso às suas perguntas. Fazer-lhes ver Deus como criador de todas as coisas e como Pai. É essencial este sentimento de Filiação Divina como base de uma educação religiosa sólida e firme. Tanto os pais como os professores não devem esquecer que esta idade é importantíssima para lograr uma educação religiosa, e tal educação não consiste em ensinar, mas em procurar “transmitir” uma vida de piedade viva e sincera. O ensino de algumas práticas religiosas, puramente mecânica, sem alma, servem de muito pouco ou de nada.
6. Sociabilidade
Vai-se sentindo como elemento da família. Este momento é
decisivo, porque se os pais a ignoram, pode custar-lhes caro a maior das ambições: ser alguém. Atua como se a sua personalidade ocultasse os seus sentimentos, pensamentos e desejos. Vergonha na qual está implícita uma manifestação do sentimento de pudor. O seu espírito é precário, ainda não possui capacidade de auto- reflexão capaz de tornar consciente seu próprio eu independente. Às vezes mostra-se individualista, interessam-lhe os próprios êxitos, que conta aos outros esperando a sua estima. Normalmente, adapta-se facilmente e é extrovertido. A sua capacidade de adaptação torna-o apto para a assimilação de hábitos de conduta, que são fundamentais para se ir conseguindo uma maior educação da sua vontade.
7. Verdade e mentira
A vergonha que a criança sente para se mostrar tal como é não
pode ser confundida com a falsidade e a mentira. A criança não mente todas as vezes que assim o parece fazer. Antes de afirmar que uma criança mente, seria prudente pensar se realmente é possível que minta. Do mesmo modo que antes não podia distinguir uma cor de outra, agora, não pode distinguir muitas vezes o verdadeiro do falso. Falta-lhe a compreensão da realidade e a sua imaginação ainda lha deforma mais. Esta deformação impossibilitar-lhe-á, muitas vezes, a capacidade para distinguir o que realmente viu do que simplesmente imaginou. Geralmente, a criança não mente: diz outra verdade. Só existe mentira quando se afasta da sua realidade. Há um tipo de mentira que se dá com o desejo de libertação que a criança sente. Quando a sua compreensão tiver amadurecido e a pergunta for feita de maneira adequada à sua capacidade, em fez dum sim ou dum não indiferentes, responderá que não sabe. Há uma mentira que corresponde a um instinto de defesa: a criança mente por medo. Há outro tipo de mentira produzida pelo mau exemplo dos pais, os quais, diante dos filhos falam de coisas absolutamente falsas acerca de outras pessoas. Por desgraça, são muitas as crianças que mentem, porque têm medo dos seus pais. Há a mentira automática: a criança mente obedecendo a um impulso que a leva, sem saber porquê, a mentir; ou mente do mesmo modo que faz um ato reflexo. A criança tem interesse em não dizer a verdade, para esconder os seus atos ou para conseguir alguma coisa. Há a mentira por preguiça: a criança renuncia ao exercício mental que pressupõe determinada pergunta – freqüentemente feita em momento inoportuno – e escapa-se pelo caminho mais fácil, que é dizer a primeira coisa que lhe vem à cabeça. De todas as mentiras, a mais freqüente é a dita por medo ou por instinto de defesa.
8. Convivência na escola
À medida que a noção de tempo vai se organizando, vai
adquirindo a capacidade de espera. Nas atividades corporais, age com maior desenvoltura e equilíbrio. Pula bem corda e arco. Há o progresso da coordenação motora fina: enfia contas, manuseia ferramentas etc. Segura o lápis com mais segurança. Desenha uma figura humana reconhecível, com diferenciação de partes do corpo. Preocupa-se em terminar o que começou. Já conta até dez objetos e faz somas simples dentro desse limite. É ansiosa por reconhecer realidades. Já tem ouvido e olho para detalhes. Prefere brincar em grupo. Gosta de construções de casas, garagens, cidades, de fantasiar- se e dramatizar. Começam as diferenças de interesses entre meninos e meninas. Curiosidades pelas diferenças de sexos. Possui mais segurança, mais confiança nos outros, mais aceitação das regras sociais, seriedade, persistência, sociabilidade, controle emocional. O grafismo alcança a cena já organizada em conjunto único, o que prova o nível de organização do pensamento e a orientação espacial já estabelecida. Ainda está descobrindo as diferenças entre realidade e fantasia. Chega à média de 2.200 palavras. Começa a compreensão de como uma coisa pode levar à outra, isto é, de causa e efeito, de como as partes podem adaptar-se para formar uma totalidade e d alógica e das normas. Começa a ter noção de certo e errado. Preocupando-se muito em estabelecer padrões internos de certo e errado. É ágil e possui bom controle muscular. Anda, corre e pula com firmeza. Tem bom domínio muscular no manejo de ferramentas simples e em atividades tais como jogos de encaixe e recortes. Aumenta consideravelmente o período de tempo em que é capaz de concentrar-se. Tudo investiga e verifica, formando os próprios conceitos. Tem boa memória. Planeja o que vai desenhar e critica o resultado do seu trabalho. Identidade firmamente estabelecida (a base do caráter e da personalidade já está assentada) Grande parte dos ensinamentos que recebe ocorre sob a forma de jogos, mais isso não pode substituir as brincadeiras. As atitudes adquiridas em relação à aprendizagem terão efeitos duradouros. Demonstra maior desenvolvimento motor e acuidade auditiva. Possui grande habilidade para pintar, desenhar, modelar e seus trabalhos são realizados com maior observação e cuidado. É muito ativa e está sempre pronta a adquirir novas experiências: cava, trepa, luta e constrói constantemente. Meninos e meninas brincam juntos, mas já começam a ter interesses diferentes: os meninos gostam de arrastar coisas em carros, misturar terra e água, jogar futebol, lutar. As meninas preferem brincar com bonecas, pular amarelinha, brincar de roda. Despende grande energia, mas quase não sente cansaço. Já possui muita habilidade para compreender e utilizar a linguagem: gosta de usar palavras novas, mesmo as que não compreende bem. Já é capaz de ouvir com atenção e de esperar sua vez de falar. Tem boa capacidade de argumentação. Relata bem suas experiências e conta histórias. Concentra-se por tempo mais longo em atividades livres. Desenha, relacionando diversos objetos em cena única e critica seus trabalhos, às vezes utilizando-os. Tem muita imaginação, mas já sabe diferenciar o real da fantasia. É interessada pelos fenômenos da natureza, objetos, notícias atuais (guerra, eleições). Começa a conhecer o valor do dinheiro. Interessa-se pelo tempo: quer saber os dias da semana, tem noção do que significa ontem, hoje e amanhã, mas atrapalha-se com períodos maiores de tempo. É capaz de transmitir recados. Gosta de organizar grupos, estipulando regras. Já tem hábitos de ordem e higiene formados. Os conflitos são raros; usa táticas verbais: “é a minha vez”, eu “vi primeiro”. Precisa de aceitação e da aprovação do grupo. É crítica, mas tem muito senso de humor. Aumenta sua curiosidade sobre sexo: casamento, gravidez, nascimento. Aprende que há hora apropriada para cada coisa. Fica triste quando é reprovada pelo adulto, mas já pode compreender quando seu comportamento é prejudicial ou inadequado. Tem grande noção de seus direitos e deveres e ressente-se de injustiças. Revela amadurecimento completo para a caracterização da aprendizagem da leitura e da escrita. É capaz de seguir ordens mais complexas, que incluam a memorização de detalhes em seqüência.