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Competências Socioemocionais

Conteudista: Prof.ª M.ª Mara Sampaio


Revisão Textual: Prof.ª Esp. Lorena Garcia Aragão de Souza

Objetivos da Unidade:

Compreender o significado de Educação Emocional; 

Desenvolver competências socioemocionais na educação formal e informal


alinhadas com as competências gerais da BNCC para a saúde emocional da
criança e do adolescente.  

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ʪ Referências
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ʪ Material Teórico

Introdução
Ponha-se no lugar de uma pessoa que está numa festa da empresa em que trabalha e vê um de
seus amigos se envolver numa briga. Ao entrar para ajudar a acabar com a confusão, recebe um
empurrão, cai e tem a roupa manchada pelo vinho de uma garrafa que caiu exatamente naquele
momento. Outros amigos chegam, separam a briga e depois põem-se a consolar o amigo que
brigou – e a festa continua. 

Depois, esses amigos percebem a sua roupa suja de vinho, falam para você não ligar e curtir a
noite mesmo assim. Nessa hora, você fica com raiva dos amigos que parecem menosprezar o
seu desconforto e põe-se a remoer o sentimento. Você senta num canto da festa: não se diverte
e nem vai embora. Fica até com uma certa inveja do amigo que se envolveu na briga ao vê-lo
dançando e se divertindo, cercado por todos os outros. 

Na manhã seguinte, você acorda com vergonha do que sentiu, mas ainda remói a raiva por ter
perdido o humor na festa, queixando-se: 

— Isso sempre acontece comigo!

Remoer sentimentos negativos é inútil, principalmente se nossas reações são sempre as


mesmas. Quando fazemos isso não atingimos nossos objetivos e nem modificamos a reação das
pessoas em volta. Para sair dessa situação precisamos de competência emocional, que é a
capacidade de criar possibilidades de agir positiva e produtivamente e evitar respostas
emocionais automáticas que sempre gerem situações desconfortais e insatisfatórias.

É isso mesmo! Até com nossas emoções precisamos ser competentes!


E quanto mais cedo melhor. Se, quando crianças, todas as pessoas pudessem entender suas
emoções, estabelecer empatia com as emoções alheias e reagir expressando suas emoções
produtivamente, mais tarde, como adultos, desenvolveriam relações familiares, profissionais e
sociais mais fáceis e saudáveis.

Figura 1
Fonte: Getty Images

A conversa difícil com o colega de trabalho; lidar com o cunhado chato, que estraga o churrasco
de família; a discussão dos problemas entre casal e o feedback a um aluno que não está
evoluindo, são exemplos de situações do cotidiano que envolvem emoções e provocam a reação
emocional do outro. São momentos para os quais raramente estamos preparados e que
dificilmente conduzimos de forma satisfatória para todos os envolvidos.
Educação emocional é a possibilidade de ampliar sua inteligência emocional. E quando esse
processo também envolve pessoas com as quais convivemos, por escolha ou por circunstância
de vida ou de trabalho, precisamos aprender a conviver produtivamente.

É natural que soframos pressão social diante de um conflito ou de alguma adversidade, para
ignorarmos nossas emoções. O mesmo vale para aquelas situações em que somos levados a
esconder nossos sentimentos ou nossas mágoas das pessoas com quem convivemos. Nossos
valores culturais, de certa forma, nos levam a considerar a exposição das emoções como sinal de
fraqueza. Não é bem assim: nossas relações tendem a ser mais fortes e saudáveis à medida em
que desenvolvemos nossa competência socioemocional.

O que é Educação Emocional?


Com certeza, você conhece alguém que consegue sair com maestria de alguma situação
embaraçosa. Alguém que se livra, sem embaraço, das discussões que surgem durante o jantar e
que reage às agressões, às mentiras, às ofensas ou às traições com habilidade, como se estivesse
arrumando um arranjo de flores ou dançando uma valsa. Você deve pensar: “como eu gostaria
de ser assim” ou então “essa pessoa deve ser um anjo”.

Ninguém desenvolve a capacidade de lidar com as emoções e com pessoas de forma natural. É
preciso aprender – e esse aprendizado não exige nenhum dom sobrenatural. Todos nós temos
potencial afetivo e relacional para desenvolver a competência socioemocional. Esse processo de
aprendizagem é chamado de Educação Emocional.

Nossa capacidade de lidar com as emoções, tanto as nossas quanto as das pessoas com quem
interagimos, é moldada pelas experiências afetivas que trazemos desde a infância. Alguns
traumas, dissabores, regras familiares e dificuldades diante de situações do cotidiano, fazem
com que, por medida de proteção, congelemos nossas emoções e nos fechemos a determinados
sentimentos. 

Passamos a agir de forma cautelosa e repetimos de forma automática os mesmos


comportamentos sem exprimir espontaneamente nossos sentimentos. Muitas vezes, sofremos
por não conseguir controlar nossos sentimentos e até mesmo as reações das pessoas, ficando,
assim, insatisfeitos e infelizes com nossas vidas. 

São situações como essas que nos mostram a importância da Educação Emocional – um
processo estruturado para reconectar-se com os próprios sentimentos, adquirir consciência da
força de cada emoção, ter respostas criativas e adequadas para as situações desafiadoras e, com
isso, estabelecer relações afetuosas e construtivas com as outras pessoas. 

É possível aprender a identificar corretamente as emoções e os sentimentos, modificar as


respostas condicionadas ou recorrentes e criar novos comportamentos que sejam mais eficazes
e satisfatórios. Da mesma forma, é possível aprender a tocar e influenciar as pessoas,
desenvolvendo a empatia, escutando e reagindo às necessidades do outro e compartilhando
afetos positivos nos relacionamentos interpessoais.

Figura 2
Fonte: Getty Images
Assim como as emoções básicas (medo, raiva, tristeza, alegria, repugnância e surpresa) são
inatas, as reações às situações de vida são automáticas. Ao longo da vida, nossa percepção e
avaliação das experiências vividas podem ser camufladas ou distorcidas pelo padrão de modelo
familiar ou educação que tivemos. O primeiro passo da educação emocional é entender, ser
verdadeiro e usar as próprias emoções de forma produtiva.

As etapas desse processo educativo referem-se de forma evolutiva: 

Consciência emocional: saber o que estamos sentindo; identificar as causas desses


sentimentos e conhecer os efeitos desses sentimentos nos outros;

Reconhecimento emocional do outro: entrar em contato com a emoção do outro;


ser sensível à vivência emocional das pessoas e entender como suas emoções as
afetam;

Assumir o protagonismo emocional: criar soluções construtivas para situações


emocionais difíceis; assumir responsabilidade pelos atos, corrigir o próprio
comportamento e efetuar mudanças para fortalecer os relacionamentos.

Finalmente, a Educação Emocional nos prepara para examinarmos o panorama afetivo:


reconhecer e delimitar as causas, as intensidades e os porquês de nossas emoções num
determinado contexto – além de compreender como elas influenciam as pessoas a nossa volta. 

Você é Competente em Quê?


Essa é uma pergunta frequente que nos leva a pensar naquilo que sabemos fazer bem e que nos
destaca em relação a outras pessoas que atuam na mesma área. Não se trata apenas de
competência profissional, mas de outras habilidades, como organizar uma festa ou manter
abertos os canais de comunicação com a família e os amigos. 

Nesse sentido, a competência é um atributo de pessoas. Não cabe, por exemplo, dizer que um
relógio ou qualquer outra máquina seja competente.  Nem que um animal de estimação, por mais
habituado que esteja a uma rotina que lhe garanta alimento e carinho, tem competência. Esse
atributo está relacionado a um conjunto de recursos variados que os seres humanos combinam
para realizar algo em relação a uma situação ou a um contexto, que pode ser, conforme
mencionado, a organização de festas. 

Uma característica que vale ressaltar é que utilizamos a palavra competente quando
reconhecemos que o resultado foi excelente ou quando a expectativa de desempenho positivo
que tínhamos foi superada numa realização exitosa. Talvez essa conotação deva-se à raiz
semântica da palavra competência, que é a mesma de competitividade. Ambas se originam do
verbo competir (ou competere, em latim) que significa “buscar junto com”, “esforçar-se junto
com” ou “pedir junto com”. 

Seu uso na literatura, porém, foi tardio. Somente a partir do século XVIII a palavra passou a
designar uma capacidade pessoal relacionada ao saber e à experiência individual. Foi apenas no
século XX que o termo passou a ser utilizado, principalmente pela psicologia, pela administração
e pela educação.

Seja como for, o termo competência – que é muito utilizado em ambientes de trabalho e na
educação – tem sido empregado com sentido semelhante no meio científico e no senso comum.
Nas organizações, está relacionado ao desempenho e à capacidade profissional dos
trabalhadores na produção de resultados. Nas escolas, diz respeito ao processo de aprendizagem
e aos saberes adquiridos durante a formação educacional.
Figura 3
Fonte: Getty Images

Na escola, o termo competência tem sido utilizado para se referir ou substituir à ideia de
habilidade, de potencialidade ou de aptidão. No entanto, o conceito é mais amplo e pode ser
considerado o conjunto de todos esses recursos frequentemente usados como sinônimo. Por
exemplo: habilidade é um saber fazer algo, enquanto competência é a capacidade de utilizar o
que se sabe fazer para alcançar aquilo que se deseja.

A noção de competência está, portanto, relacionada à mobilização de saberes e de recursos para


agir em situações de vida. Perrenoud (2013) define competência como “o poder de agir com
eficácia em uma situação, mobilizando e combinando, em tempo real e de modo pertinente, os
recursos intelectuais e emocionais.” (PERRENOUD, 2013, on-line). 
Competências Socioemocionais e Escola
No final do século XX, o movimento para que as escolas incluíssem em sua estrutura formativa
as competências socioemocionais foi fortalecido com o relatório sobre os quatro pilares da
educação para o século XXI, elaborado pelo professor francês Jacques Delors. Em 1996, Delors
era o presidente da Comissão Internacional sobre Educação da UNESCO.

O relatório sugere que além das disciplinas com base científicas, seria função da escola
desenvolver as competências socioemocionais para formar um cidadão preparado para um
mundo em mudança, conforme desenhava-se para o século XXI. Assim, a organização
educacional deveria ser pautada nos quatro pilares:

1 Aprender a conhecer: descobrir e construir o conhecimento;

2 Aprender a fazer: desenvolver habilidade técnica e prática;

3 Aprender a conviver: interagir e estabelecer vínculos sociais;

4 Aprender a ser: criar identidade pessoal e autonomia.


Figura 4
Fonte: Getty Images

Seguindo essas diretrizes internacionais, depois de um amplo e longo trabalho com educadores,
o Brasil, coordenado pelo MEC, criou a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A qual tornou-
se referência obrigatória para a construção de currículos estaduais e municipais, a partir do ano
de 2017. Além de orientações sobre as disciplinas essenciais para formação acadêmica, foram
incluídas as competências pessoais na formação integral dos aprendizes.

Na BNCC (2017), competência é definida como “a mobilização de conhecimentos (conceitos e


procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para
resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do
trabalho” (BRASIL, 2017, p. 8).
São indicadas no documento, dez competências gerais que as escolas devem desenvolver,
considerando as três etapas da educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino
médio). A intenção foi oferecer um campo de experiências que propicie de forma transversal a
prática das habilidades cognitivas e socioemocionais nas escolas. Na BNCC, as competências do
número seis ao número dez (trabalho e projeto de vida; argumentação; autoconhecimento e
autocuidado; empatia e cooperação; responsabilidade e cidadania) estão relacionadas com a
esfera socioemocional. Observe-as na Figura 5, a seguir:

Figura 5 – As dez competências gerais da BNCC –


Movimento pela Base Nacional Comum (2017)

SENNA (Social and Emotional or Non–cognitive Nationwide


Assessment)
Com o foco maior nas competências socioemocionais, o Instituto Ayrton Senna, em parceria
com a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro, criou em 2014, um programa que visava
avaliar a associação entre competências socioemocionais e o desempenho acadêmico. Para o
Instituto Ayrton Senna, as competências socioemocionais são:

“Capacidades individuais que se manifestam nos modos de pensar, sentir e nos

comportamentos ou atitudes para se relacionar consigo mesmo e com os outros,


estabelecer objetivos, tomar decisões e enfrentar situações adversas ou novas.”

- Instituto Ayrton Senna

O instituto desenvolveu um modelo que define cinco macrocompetências que se desdobram em


dezessete competências para serem desenvolvidas entre os diversos atores do processo
educacional (alunos, professores, família e comunidade). As cinco competências
socioemocionais do programa, que foi denominado SENNA (Social and Emotional or Non-
cognitive Nationwide Assessment), são:

Persistência; 

Assertividade; 

Empatia;

Autoconfiança;

Curiosidade para aprender.


Figura 6 – As cinco macrocompetências e as dezessete
competências socioemocionais
Fonte: Adaptado de institutoayrtonsenna.org

As competências socioemocionais diferem das habilidades cognitivas e estão mais relacionadas


à qualidade do desenvolvimento, à percepção de bem-estar na vida e à adaptação social e
emocional de crianças e adolescentes.  Estão identificadas com a capacidade de articular
emoções, pensamentos e atitudes de maneira adequada às diferentes situações e relações
interpessoais.

Goleman (2011), em seu livro “Inteligência Social”, diz que temos um radar interpessoal inato
que, além de ser crucial para a sobrevivência, nos guia em todas as situações, seja em sala de
aula, em casa ou na rua. Ele afirma que a inteligência social é irmã da inteligência emocional.
Entre suas funções principais estão: sincronia e sintonia nas interações, tipos de empatia,
intuição social, habilidades para interagir e preocupação empática.

Nós humanos fomos programados para nos conectar. Ou seja, somos seres sociais. Situações
como a cooperação, a coordenação e até mesmo a competição e a compaixão, que demandam
relacionamentos construtivos, estão fundamentadas na inteligência social.  Pode-se dizer que a
definição de inteligência social de Goleman tem similaridade conceitual com a inteligência
interpessoal identificada entre a múltiplas inteligências de Howard Gardner que estudamos
anteriormente.

As competências socioemocionais são também conhecidas atualmente como softskill


(habilidades leves ou suaves). O termo surgiu no treinamento de militares americanos para
promover habilidades comportamentais e humanizar a atuação e serviços desses profissionais
frente a população. Atualmente é difundido nos meios organizacionais como diferencial
imprescindível ao trabalhador. As habilidades de comunicação e as relações interpessoais e
afetivas complementam as chamadas hardskill, que são as habilidades técnicas e cognitivas
existentes na formação profissional. 

Figura 7
Fonte: Getty Images
Desenvolvimento das Competências Socioemocionais
Como é possível treinar emoções e ensinar a se relacionar bem?

Desde a década de 1990, foram criados diversos modelos educativos para desenvolver as
competências socioemocionais. As primeiras experiências foram com os estudos de Mayer e
Salovey, que deram suporte aos conceitos de inteligência emocional difundido por D. Goleman.
Desde então, o programa de aprendizagem socioemocional (ASE) espalhou-se para diversos
países além dos EUA, integrado às estruturas curriculares ou como atividades extraescolares.

Os resultados desses anos de aplicação e estudos do ASE tornaram evidente que as competências
socioemocionais podem ser desenvolvidas por meio de ações escolares. Mostraram que essas
competências contribuem para a melhoria do processo educacional, especificamente no que se
refere à eficácia na prevenção de conflitos nas escolas e na aquisição de comportamentos de
cooperação. Também valem para a redução de atitudes discriminatórias e violentas.

Atualmente, a ASE é uma prática pedagógica adequada tanto a contextos educativos formais
quanto informais. É um processo pelo qual toda criança, todo jovem e todo adulto desenvolve
sua identidade saudável, gerenciando as emoções para alcançar os objetivos sociais, aplicando
suas habilidades para estabelecer relacionamentos, tornando-se responsável e assertivo em
suas escolhas.

CASEL (The Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning) é um coletivo acadêmico
que apoia educadores e gestores de políticas educacionais, proporcionando conhecimento sobre
aprendizagem socioemocional (ASE). Com 20 anos de atuação e mais de 1,5 milhões de
participantes nos programas educativos em diversas localidades no mundo, o Casel criou um
modelo conceitual para implementação do programa.

O modelo ASE_CASEL é fundamentado em uma abordagem sistêmica em que estudantes,


famílias, professores e comunidades são envolvidos na criação de um ambiente educacional
emocional e acadêmico motivador. O programa é estruturado com cinco áreas de competência
inter-relacionadas, conforme mostra a Figura 8:
Figura 8 – “Roda CASEL” interativa

Descrição das Competências: 

Autoconhecimento: capacidade para compreender as próprias emoções,


pensamentos e valores; e como eles influenciam o comportamento em diferentes
contextos;
Autorregulação: capacidade para gerenciar emoções, pensamentos e
comportamentos de forma eficaz, em diferentes situações, para atingir objetivos e
aspirações;

Consciência Social: capacidade para compreender as perspectivas e sentir empatia


pelos outros, incluindo aqueles de diferentes origens, culturas e contextos;

Habilidades de Relacionamento: capacidade para estabelecer e manter


relacionamentos saudáveis e de apoio e transitar de forma eficaz em ambientes com
diversos indivíduos e grupos.

Modelo Big Five
Muitos programas de desenvolvimento das competências socioemocionais são fundamentados
em teorias e abordagens diversas da Psicologia. Entre os mais utilizadas atualmente, tanto no
ambiente escolar como nas organizações, está o modelo denominado Big Five, baseado nos
elementos funcionais da personalidade, desenvolvido pelos psicólogos americanos Robert
McCrae e Paul Costa do National Institute of Health de Baltimore – EUA, em 1985. 

O "Modelo de Cinco Fatores" tem como objetivo a compreensão da personalidade por meio da
análise linguística, identificando a manifestação de cinco grandes traços de personalidade. O
programa de aprendizagem socioemocional do Instituto Airton Senna se utiliza desse modelo
para facilitar o entendimento da dinâmica pessoal e para favorecer o desenvolvimento das
competências socioemocionais.
Figura 9
Fonte: Getty Images

Os Fatores e seus Significados:

Abertura para novas experiências: interesse por novas experiências emocionais.


Leva em conta os sentimentos. São imaginativos, curiosos e sensíveis ao belo;

Conscienciosidade: orientados por deveres e para atingir objetivos. Apresentam


controle comportamental. São disciplinados e escrupulosos;

Extroversão: caracterizado por emoções positivas. Energia dirigida para buscar


companhia de pessoas e coisas, além do envolvimento com o mundo externo. São
alegres, positivos e agregadores;
Neuroticismo: tendência a emoções negativas, à instabilidade emocional e às
mudanças de humor. São reativos e vulneráveis ao estresse;

Amabilidade: Agem com cordialidade. Buscam harmonia social e valorizam bons


relacionamentos. Predispostos a parcerias e à confiança. São tolerantes, amigáveis e
generosos.

Competências para o Sucesso no Futuro


O que os alunos devem aprender para o século XXI? 

Existe uma desconexão antiga entre o que é ensinado na escola e os desafios do mundo real.
Num ambiente dominado por exigências cada vez mais complexas que geram alto grau de
incerteza e imprevisibilidade e que exigem respostas cada vez mais ágeis (diante da velocidade
com que produzem mudanças), faz-se necessário refletir e propor o que é essencial no processo
educacional capaz de levar as crianças e os jovens a conquistarem um futuro gratificante e
produtivo.

O que realmente importa na Educação?

A partir desse questionamento, o Center for Curriculum Redesign (CCR), órgão internacional de
pesquisas, produziu, em 2015, um levantamento com mais de quinhentos educadores de
diversos países, visando identificar as competências que os estudantes devem ter para atingir o
sucesso no futuro. O resultado do estudo global está publicado no livro “Educação em quatro
dimensões: as competências que os alunos devem ter para atingir o sucesso”. Na visão dos
autores, a escola do século XXI deve priorizar o estímulo às ligações sociais e às
experimentações, permitindo que todo estudante encontre suas paixões e exerça papéis mais
amplos na sociedade e no mundo.

Como manter os estudantes motivados, engajados e preparados para superar desafios


imprevistos do futuro?
A educação quadridimensional apresenta sugestão de organização curricular combinando as
quatros dimensões: conhecimento, caráter, habilidades e meta-aprendizado. A intenção é
proporcionar que os alunos adquiram saberes em sua profundidade. O documento também
indica as novas competências necessárias para que o estudante possa lidar com o contexto atual
e adaptar-se aos novos e imprevisíveis desafios que encontrarão no futuro. 

Figura 10 – A educação em 4 dimensões


As dimensões se caracterizam por:

Conhecimento: foco na interdisciplinaridade que conecta o


tradicional com as ideias inovadoras e proporcione o
aprendizado de conhecimentos úteis e relevantes;

Habilidades: uso do que foi aprendido. Criar e recriar com base nos quatro “Cs”:
criatividade, pensamento crítico, comunicação e colaboração;

Caráter: fortalecimento de virtudes e valores e da capacidade de fazer escolhas


inteligentes. São seis qualidades essenciais (Mindfulness, curiosidade, ética,
coragem, resiliência, liderança);

Meta-aprendizado: dimensão de como “aprender a aprender”. Envolve a


autorreflexão sobre a posição atual e os objetivos futuros. Como refletimos e
adaptamos nosso aprendizado (metacognição e mentalidade de crescimento).

Transtornos e Saúde Emocional


Nunca se falou tanto em saúde mental como atualmente. O assunto deixou os consultórios de
psicólogos e psiquiatras e ganhou a mídia, as redes sociais, as empresas e as escolas.
Profissionais de atuação social e educacional passaram a ter atribuições fundamentais nos
cuidados e nas intervenções que ajudem no diagnóstico, na diminuição do estigma, na
diminuição dos preconceitos com saúde emocional e na indicação do tratamento adequado.  

Alguns transtornos mentais estão sendo considerados males do século XXI por serem
identificados com o estilo de vida da sociedade contemporânea: a obrigação de ser feliz e bem-
sucedido, o excesso de exposição e de informação e a pouca interação social causada pela
possibilidade de ficar o tempo todo conectado. A depressão e a ansiedade, vistas como epidemias
sociais pela sua rápida propagação e pelo aumento do número de casos diagnosticados, são
exemplos disso. 
Depressão
Relacionada ao sentimento de tristeza e ao isolamento social. É uma doença identificada há
séculos e era chamada de melancolia, desde os antigos gregos.   Caracteriza-se pela perda de
interesse e de prazer por atividades sociais. Alguns de seus sintomas são a fadiga e a redução da
energia física; as crises de choro, a autodesvalorização e a baixa autoestima; a percepção de vazio
e de desesperança; a perda de apetite e o distúrbio de sono, entre outros.

Sua manifestação é episódica e recorrente. A intensidade é muito variável e na sua forma mais
intensa pode gerar consequência trágicas, como o suicídio, que ocorre em cerca de 10% dos
pacientes. A depressão é uma das doenças socioemocionais que mais crescem no mundo e
atinge pessoas cada vez mais jovens com um grau de severidade cada vez maior. Com tratamento
adequado tem alta taxa de remissão.

Figura 11
Fonte: Adaptada de OMS

Ansiedade
A ansiedade é uma reação natural do ser humano aos momentos de tensão ou estresse. Reflete-
se na sensação de medo e no estado de alerta frente a um perigo potencial desde o tempo em que
nossos ancestrais viviam expostos ao risco naturais. Atualmente, o transtorno de ansiedade
generalizada é um estado psicológico e emocional, caracterizado pela preocupação excessiva ou
pela apreensão constante sem causa identificável. Um estado de alerta permanente, um
sofrimento antecipado sem um fato justificável, capaz de gerar paralisia em situações
específicas – como as apresentações públicas, os compromissos de trabalho, as provas
escolares ou as atividades esportivas. Seus sintomas são a irritabilidade, a inquietação, a fadiga
crônica, o excesso de energia, as alterações do sono e do humor, as palpitações, a sensação de
aperto no peito, a tensão muscular na nuca e a sudorese. Em alguns casos, os sintomas são
prolongados e constantes. O tratamento é eficaz, com rápida resposta a medicamentos e à
psicoterapia.

Livro
Sociedade do Cansaço
Vale a pena ler o livro “Sociedade do Cansaço” (2ª edição, editora
Vozes, 2017), do filosofo sul-coreano Byung-Chul Han. No livro, o
autor faz relações entre sociedade e sofrimento psíquico. Cada época
tem suas enfermidades. Byung-Chul Han faz uma relação de
sofrimentos psíquicos como a síndrome de burnout, a hiperatividade, a
depressão, o modo operatório do capitalismo contemporâneo e o
excesso de positividade.
HAN, B. Sociedade do cansaço. Petrópolis – RJ: Editora Vozes, 2015.

Fobia Social
Identificada como transtorno de ansiedade social. Leva a pessoa a desenvolver um grau elevado
de timidez, em que a vergonha é vivida como constrangimento e humilhação. As interações
sociais causam ansiedade irracional e são evitadas pelo medo de julgamento, de ser
ridicularizado ou de ofender o outro.

Os sintomas são a sensação de desconforto intensa e o sofrimento de angústia ao se sentir


exposto ao olhar alheio. A preocupação em excesso com um perigo que não consegue nomear e
que, na maioria das vezes, é fruto da imaginação e não de alguma ação de outras pessoas.
Tendência ao isolamento e a evitar contato com outras pessoas e lugares públicos, com reações
físicas que podem ser: ruborização, gagueira, perda de ar e alguns outros.  

Figura 12
Fonte: Getty Images

Bullying
O bullying é um transtorno bastante recente e foi descrito pela primeira vez no final da década de
1970, por Dan Olweus, professor da Universidade da Noruega, para designar atos de violência ou
de constrangimento físico ou psíquico no ambiente escolar, contra crianças e adolescentes. 

O bullying é diferente da agressão. No bullying, a agressão é repetida, constante e se caracteriza


pelo desequilíbrio de poder entre o agressor e a vítima, que tem pouca possibilidade ou
capacidade de defesa. São atos de intimidação repetitivos contra um indivíduo que não é aceito
por um grupo e se torna alvo de humilhação e rejeição.

Atualmente, o bullying pode acontecer no condomínio residencial, na vizinhança, em


academias, no clube ou em qualquer espaço de convivência de crianças e adolescentes. Quando
atos dessa natureza ocorrem em ambientes de trabalho com adultos, passam a ser considerados
“assédio moral” e incluem, nesse caso, a dimensão verbal, como a fofoca e difamação, as
práticas de discriminação e exclusão baseadas em gênero, raça, orientação sexual, aparência e
religião. 

A humilhação nas experiências de bullying é intencionalmente causada pelo outro e pode deixar
traumas profundos. O primeiro sintoma é o isolamento social, seguido pela queda no
rendimento escolar, pela perda da autoestima, pelo transtorno de ansiedade e pela depressão. Se
não for identificado a tempo pode levar a tentativas de suicídio.

A escola é um microcosmo que espelha os padrões sociais. Numa cultura que valoriza
excessivamente um determinado padrão de beleza, os sinais externos de riqueza e que, além
disso, estimula a intolerância e exclusão de grupos minoritários, esses mesmos referenciais
tendem a se reproduzir no ambiente escolar.

Outros distúrbios socioemocionais como automutilação, a anorexia, o uso de drogas, o


“stalking” (que é o ato de perseguir alguém no meio on-line ou físico) e alguns transtornos de
comportamento podem ser identificados com mais rapidez quando o corpo docente e
colaboradores cuidam do desenvolvimento de sua própria competência socioemocional e
buscam ser mais empáticos e atentos aos indícios de mal-estares. Também, quando a escola
busca ser um ambiente positivo de escuta e de expressão das emoções, capaz de favorecer o
diálogo e a construção de relações autênticas.
Figura 13
Fonte: Getty Images

A escola também deve incluir entre suas atividades curriculares a prática de meditação, de yoga e
os exercícios de mindfullness, que buscam levar à atenção plena.  Os resultados da prática são
comprovados cientificamente e levam a pessoa a se sentir bem e a viver plenamente as situações
que exigem concentração e memória. Proporciona bem-estar emocional e contribui para o
controle do estresse e da ansiedade. Ajuda a desenvolver a empatia favorecendo os
relacionamentos interpessoais.

Outra medida positiva é a criação de espaço de descanso e a adoção de atividades artesanais e


artísticas que estimulam a criatividade e o desenvolvimento das múltiplas inteligências,
favorecendo o estado de flow. Essas medidas e espaços são elementos importantes para o
desenvolvimento das competências emocionais.
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ʪ Material Complementar

Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Site  

Base Nacional Comum Curricular


Para aprofundar seus conhecimentos sobre a BNCC.

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ACESSE

  Livro  

Comunicação não Violenta 


ROSENBERG. M. Comunicação não Violenta. Editora: Agora, 2006.

  Vídeo 
Educação e Currículo no século 21 – Abertura e Charles Fadel
 
Palestra de Charles Fadel, presidente do Center for Curriculum Redesign sobre as competências
que os alunos devem ter para atingir o sucesso.

Educação e Currículo no século 21 - Abertura e Charles Fadel

  Leitura  

A Inteligência Emocional na Gestão das Instituições


Educativas em Portugal

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ACESSE
Inteligência emocional – Reptos Lançados à Educação –
Promoção do Bem-estar do Ser Humano

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ACESSE
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ʪ Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. 2017. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=79611-
anexo-texto-bncc-aprovado-em-15-12-17-pdf&category_slug=dezembro-2017-
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DIAS, I. S. Competências em educação: conceito e significado pedagógico. Psicologia Escolar e


Educacional (on-line), São Paulo, v. 14, n. 1, p. 73-78, jun. 2010. Disponível em:
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FADEL, C.; BIALIK, M.; TRILLING, B. Educação em quatro dimensões: as competências que os
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Disponível em: <https://curriculumredesign.org/wp-content/uploads/Educacao-em-quatro-
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GOLEMAN, D. Inteligência social [recurso eletrônico]: o poder das relações humanas. Trad. Ana
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INSTITUTO AYRTON SENNA. O que são as Competências Socioemocionais? Disponível em:


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PERRENOUD, P. Desenvolver competências ou ensinar saberes? 1. ed. Porto Alegre: Grupo A,


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STEINER, C.; PERRY, P. Educação emocional. Trad. Terezinha Santos. 1. ed. Rio de Janeiro:
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