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Abraçada Pelo Fogo
Abraçada Pelo Fogo
Abraçada Pelo Fogo
Ferreira
Capa: L. A. Designer Editorial
Revisão: Deborah A. A. Ratton
Diagramação: J. V. Ratton
Ilustrações: Monique C. Crabi
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Dedicatória
Nota da Autora
Gatilhos
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo Extra
Agradecimentos
Nota da Autora
Olá, querido (a) leitor (a)! Estou aqui mais uma vez para
conversarmos. Gosto de ter esta conversa antes da leitura, para que você
entenda o propósito do livro que escrevi.
Sempre há um propósito.
Existe os que dizem que livros de romance são apenas histórias que
não acrescentam nada, mas certamente é uma mentira. Em todo romance há
um fundo de ensinamento, assim como este que está lendo agora.
Decidi escrever um enredo diferente desta vez, para mostrar que, no
mundo real, temos aflições, traumas, angústias relacionadas ao nosso
passado e dúvidas existenciais sobre o que é certo e errado. Mas, no final,
as coisas sempre dão certo se escolhermos o caminho da verdade para
seguir.
Quero te dizer que é humanamente impossível fazer tudo certo, ainda
que queiramos. Portanto, existe uma luta dentro de nós mesmos que, às
vezes, nos impede de viver o momento por medo de estarmos agindo
erroneamente.
Eu sei! O certo é… certo. Mas o errado tem aquele gostinho de certo,
não é?
É confuso e estressante.
Contudo, será mesmo que o errado é tão errado assim? E se, em
algum momento, ele se transformar em certo?
No livro de Eclesiastes 3:1 está escrito: “Há um tempo determinado
para tudo. Há tempo de chorar e tempo de rir; tempo de abraçar e tempo de
se afastar; tempo de amar e tempo de odiar; tempo de guerra e tempo de
paz.”, portanto, entenda que há um tempo de errar e acertar, também.
Não se cobre tanto, nem se pressione tanto!
Entenda, não é sobre o começo nem o meio do processo, é sobre o
final.
A personagem deste livro achou que estava errando, mas, por fim,
entendeu que era um acerto. Quem nunca passou por isso? Quem nunca
julgou alguém ou alguma coisa sem antes a conhecer realmente?
Quis trazer, nesta nova história, a personificação de nós mesmos, tão
falhos, preocupados, julgadores. Contudo, o que realmente espero é que o
final acalente seu coração e mostre que, não importa os caminhos que
tomou, o importante é ser feliz.
Você é feliz?
Tem tomado suas próprias escolhas, ou tem seguido o que outra
pessoa disse que é o certo?
Apenas se dê a chance de escolher o que vai te trazer felicidade.
Acredite, é libertador.
Laís B. Ferreira
Gatilhos
Este é um livro para maiores de dezoito anos!
Contém cenas explícitas de sexo, suicídio, agressão domiciliar,
assassinato, sequestro, abandono parental e infração de leis. Além de
assuntos relacionados a religião, com uso indevido da Palavra Sagrada e do
nome de Deus.
Se algum desses tópicos lhe causa gatilhos, não prossiga com a
leitura.
Lembrando que é apenas um livro e nenhum dos relatos é real, todas
as descrições são fictícias, partindo, assim, da imaginação da autora.
Caso você se sinta confortável em permanecer por aqui, desejo que
tenha a melhor experiência literária da sua vida!
Saio do velório da minha mãe com lágrimas nos olhos, sentindo-me
mais sozinha do que nunca. As pessoas que tenho ao meu lado agora são
corpos superficiais, que me amam da boca para fora. A certeza de que
amanhã não se lembrarão mais do meu sofrimento enche meu ser com
força.
Ela era tudo para mim, minha melhor amiga e companheira, a pessoa
que me ensinou tudo o que sei, e quem me apresentou o caminho de Jesus.
Moro no Texas, Estados Unidos, em um terreno grande e antigo, que
passou de geração em geração, até que Maya, minha falecida mãe, se
tornasse a proprietária da vez.
No mesmo espaço de terra, temos: nossa casa simples de cinco
cômodos, uma igreja enorme com lugar para aproximadamente quinhentos
membros e um cemitério onde a maioria dos meus antepassados estão
enterrados. Exatamente onde mamãe está agora, ao lado da minha avó.
Olho para a lápide de titânio e leio o que está escrito:
“Aqui descansa Maya Davis, uma mãe excepcional, filha exemplar e
pastora amada. Sua luz jamais se apagará e continuará nos guiando pela fé
em Cristo Jesus.”
Fungo, secando em vão mais lágrimas. Ela era mesmo tudo isso, além
de uma mulher guerreira, alegre e cheia de motivação para continuar
cuidando de todos que apareciam à sua frente precisando de ajuda.
Não posso mentir e dizer que sou uma adolescente cem por cento
devota ao que está escrito na Bíblia Sagrada, mas a bondade com a qual
mamãe tratava as pessoas acabou me contagiando e, em certo momento da
vida, pensei que queria ser como ela.
Maya era um exemplo de mulher para mim e espero que, um dia, eu
consiga ser pelo menos cinco por cento do que ela foi.
Dou as costas para as pessoas que choram diante de seu caixão
enterrado e caminho até a igreja que frequento desde a minha infância.
Respiro fundo ao me sentar no último banco e perceber que este ambiente
fica vazio demais sem ela. Não importa a quantidade de cadeiras cheias,
ainda parece oco.
Olhando em volta, eu me dou conta de que tive muitos dias felizes
aqui, neste lugar sempre tão lotado de pessoas diferentes, contudo, hoje,
estou completamente sozinha. E não digo isso pelo fato de estar com o
coração em frangalhos, é realmente literal.
Faço parte de uma família de sete gerações nascidas e crescidas na
igreja, todos foram pastores. Atualmente, nenhum vivo.
Sou a única que sobrou, aquela que deveria manter o legado e levar
adiante a palavra de Deus, mas, embora tenha muita fé, eu me sinto jovem e
inexperiente para ensinar um povo que procura por uma palavra de
conforto. Principalmente porque, neste momento, quem precisa de uma
palavra de conforto sou eu.
Olho em volta, observando a magnitude da igreja que minha família
construiu. O ambiente é amplo e aconchegante, com belos lustres e bancos
acolchoados; um altar com detalhes em ouro e caixas de som de última
geração. É mais bonito e arrumado do que minha própria casa, prova do
amor que a família sentia por este lugar.
Meus olhos ardem pelas lágrimas brotando e mordo o lábio inferior
em resposta. Sinto a falta dela, sinto tanto a falta dela!
Não faço ideia de como vou manter tudo isto, pois ainda tenho vinte
anos, o que quer dizer que, segundo a lei de maioridade do Texas, não sou
responsável por mim mesma. O regulamento diz que a idade mínima para
que um indivíduo tenha responsabilidade por seus próprios atos, obrigações
e direitos civis completos, é vinte e um anos. Ainda faltam cinco meses para
mim, portanto, enquanto isso, não posso nem ao menos morar sozinha.
Além de estar dilacerada com a perda da minha mãe, tenho a
preocupação de não saber o que vai acontecer comigo. Já terminei o ensino
médio, mas não ingressei em nenhuma faculdade ainda e, muito menos, em
um trabalho. Maya bancava toda a casa sozinha e me incentivava a estudar
os assuntos pertinentes à igreja, portanto não tenho dinheiro e nem parentes
que possam me ajudar.
— Oi, Ellie — Hugo sussurra ao sentar-se ao meu lado e afagar meu
ombro.
— Oi — minha voz soa parecida com um resmungo.
— Não é melhor ir para casa descansar um pouco?
Olho para minha casa através da janela lateral do templo e meneio a
cabeça negativamente. Ainda não tenho coragem de entrar lá, pois é tudo
muito recente. Foi ontem que encontrei mamãe morta em sua cama, e não
quero ter a sensação de reviver esse momento.
Somente de olhar a estrutura externa da simples residência, já me vem
à mente o que aconteceu, tão claro quanto se estivesse acontecendo agora:
Perdi o sono um pouco antes das seis horas da manhã. Levantei-me,
tomei um banho rápido e coloquei uma roupa simples para ficar em casa.
Em seguida, eu me ajoelhei à beira da cama e orei a Deus, assim como
tenho costume de fazer sempre que acordo. Agradeci o novo dia e me
mantive mais alguns minutos conversando com Ele.
Quando me levantei, fui à cozinha e coloquei a água do café para
ferver. Enquanto isso, dei uma espiada pela janela. Alguns dos irmãos da
igreja já estavam lá, limpando e deixando tudo preparado para o culto que
aconteceria à noite.
Decidi dar uma olhada na minha mãe. Ela sempre acordava cedo e
gostava de cumprimentar as pessoas que entravam no nosso terreno para
cuidar do templo.
Estranhei vê-la ainda dormindo no quarto escuro, então deitei-me em
silêncio ao seu lado e a abracei, com a intenção de despertá-la. Sua pele
estava gelada, mesmo que estivesse coberta até o pescoço.
— Mamãe? — chamei-a em um sussurro. — Já estou preparando o
café.
Não houve resposta.
Fiz um carinho em seu cabelo e a chamei novamente.
— Mamãe? Vamos acordar? Alguns irmãos já estão lá na igreja,
vamos cumprimentá-los?
Nada.
Insisti mais um pouco, porém não tive êxito. Levantei-me e caminhei
até o interruptor, onde acendi a luz e a fitei. Seu rosto estava pálido e seus
lábios, arroxeados.
Meu coração bateu descompensado com a cena e faltou ar em meus
pulmões. Alguma coisa estava errada, seu sono costumava ser leve.
Aproximei-me outra vez e puxei o cobertor descobrindo-a. Então,
segurei seu rosto e chamei mais alto.
Quando a soltei, sua cabeça caiu para o lado, sem força alguma.
Resistindo a entender o que estava acontecendo, corri até o templo,
ao lado da minha casa, e gritei a plenos pulmões pelos irmãos.
Depois desse momento, tudo virou flashes doloridos e cheios de
angústia.
Mamãe infartou enquanto dormia, porém, alguns comprimidos de
remédios que eu nunca tinha visto foram encontrados caídos embaixo da
cama.
Seu corpo passou por uma perícia antes do enterro e, agora, espero
pelo resultado para entender o que realmente houve com ela.
Quero pensar que Deus a levou porque era boa demais para
permanecer na Terra com tantas pessoas pecadoras, mas, ao mesmo tempo,
sinto que Ele jamais seria tão injusto a ponto de levá-la e me deixar à deriva
como estou agora.
— O que posso fazer para que se sinta melhor? — Hugo pergunta.
Ele é alguém especial para mim. Sua família sempre foi unida à
minha, e criamos uma bela amizade desde a infância. Hoje em dia, somos
algo mais do que amigos, como namorados em desenvolvimento.
Nunca nos beijamos ou nos tocamos de maneira sexual, mas todos à
nossa volta nomeiam nosso relacionamento como algo privado. Então,
ninguém mais pode me pedir em namoro, porque Hugo já me tem, e vice-
versa.
Há aproximadamente três anos, tivemos uma conversa sobre isso e ele
mencionou que me amava e queria ter uma vida ao meu lado. Na igreja,
porém, as coisas não são tão fáceis assim, precisamos da confirmação de
Deus para começarmos um envolvimento amoroso. Estamos orando desde
então, esperando pelo sinal divino.
— Nada vai me fazer ficar melhor agora.
— Sinto muito por isso, Ellie. Sinto mesmo! — Então me abraça.
Retribuo o gesto, respirando fundo e sentindo seu cheiro adocicado.
Hugo costuma ser bem amoroso e educado; na escola era o melhor
aluno e, na igreja, é um obreiro e tanto, está sempre ajudando com o que
pode. Tenho certeza de que será um grande homem, pois seu coração é
incrivelmente generoso.
— Não sei o que vai ser de mim, Hugo — sussurro sem forças.
— Podemos resolver isso. Talvez… Talvez você possa morar comigo.
O que acha? Meus pais, com toda certeza, te aceitariam conosco.
— Pela lei, eu teria que morar com alguém da minha família.
— Mas você não tem ninguém…
Fico em silêncio, pensativa, com a cabeça encostada no ombro dele.
Sei que, em algum lugar deste mundo, está o meu pai. Contudo, ele
me abandonou quando eu ainda era apenas um feto indefeso, certamente
que não poderei contar com sua paternidade agora.
Pelo que mamãe me contou, ele era um homem muito bonito e
galanteador. Tiveram um breve envolvimento amoroso e logo descobriram
sobre a gravidez. Minha avó, ainda viva na época, disse que deveriam se
casar, ou o escândalo entre os membros da igreja seria enorme, mas, antes
que acontecesse, houve uma traição da parte do meu pai.
Segundo a palavra de Deus, aprendemos que traição é um motivo
plausível para que o relacionamento não prossiga, então foi isso que
aconteceu. Mamãe disse que não aceitaria manter o envolvimento dos dois
e ele foi embora deixando nós duas para trás. Eu nem era nascida ainda,
portanto não tenho nem o registro paterno na certidão de nascimento. Meu
sobrenome é somente da parte da minha mãe: Ellie Davis.
Não a julgo pelo envolvimento amoroso sem a permissão de Deus,
ainda era nova e estava à flor da pele, depois se arrependeu e aprendeu com
seus erros. Contudo, tenho uma mágoa muito grande do meu pai pelo
desprezo.
Mesmo com a separação, ele não precisava ter me deixado. Que tipo
de pai abandona um bebê que nem nasceu?
Sempre fui isso para ele: um nada.
Maya só precisou me contar essa história uma única vez e nunca mais
perguntei sobre o homem. Nem mesmo sei como é sua aparência, ou seu
nome. O que alimento é a imaginação de alguém sem escrúpulos e
irresponsável.
Não posso reclamar da minha criação, pois nunca me faltou nada, e
mamãe sempre esteve presente em todos os momentos. Mesmo assim, vez
ou outra, imagino como teria sido minha vida se ele tivesse permanecido.
Fiquei sabendo que não gostava da igreja e que se recusava a aparecer nos
cultos, por isso nunca o viram na congregação. Esse é mais um dos motivos
para que eu não queira nem saber quem ele é. Aprendi que um homem que
se preze precisa, primeiro, amar a Deus e, em segundo lugar, sua esposa.
Obviamente que sou tão pecadora quanto os outros seres humanos
deste planeta, mas procuro, através dos ensinamentos bíblicos, seguir
sempre pelos caminhos corretos. E toda essa história do meu pai só me fez
ter certeza de que não se pode ter relacionamentos antes do casamento,
principalmente quando há vontade sexual envolvida. Isso é pecado, um
pecado muito grande.
— Você pode dormir esta noite lá em casa para não ter que ficar
sozinha — Hugo diz, despertando-me dos pensamentos longínquos.
— Está bem — concordo.
Nunca dormi na casa dele, mas vejo como minha única opção no
momento. Porém, de forma alguma, dormiremos na mesma cama. O culto
da noite é cancelado por conta do falecimento da pastora Maya. Todos estão
em luto, e ninguém tem forças suficientes para ficar sorrindo enquanto
prega a palavra de Deus. Por isso, Hugo me ajuda a separar algumas roupas
para levar à sua casa e partimos em seguida.
Passamos o restante da tarde em completo marasmo, eu fico com o
coração cada vez mais apertado e dolorido e ele tenta, em vão, me consolar.
A hora do jantar chega, o que parece ser dias depois, tamanha
demora, e toda a família se reúne à mesa. O clima fica péssimo, pesado, e é
difícil sustentar qualquer conversa.
Os pais de Hugo, Rose e Abner, eram muito amigos da minha mãe, e
a ajudavam muito na igreja, pois também são pastores. Sei que jamais me
deixariam à deriva, então aqui é um lugar onde posso me sentir em casa.
Dou a primeira garfada em minha comida e mastigo por longos
segundos, presa na imagem da minha mãe no caixão. Ela tinha apenas
quarenta e sete anos, eu não imaginaria perdê-la agora.
— Ellie, querida, percebi que nem tocou em sua comida ainda —
Rose diz. — Não gostou do frango?
— O frango está delicioso. Só não estou sentindo muita fome.
— Entendo… Você deve estar se sentindo inconsolável agora, não é?
Olho em seus olhos por um instante e concordo, os meus se enchendo
novamente.
— Estamos aqui por você — ela lembra, firme, o que aquece um
pouco o meu coração.
— Tudo irá se resolver, tenho certeza — Abner diz tentando acalmar
a situação. — Estaremos aqui para o que precisar. Você sempre fez parte da
nossa família.
— Obrigada — respondo, grata.
Pronta para enfiar mais uma garfada de comida na boca, paro ao ouvir
a campainha.
— Quem deve ser a esta hora? — Hugo estranha.
— Não faço ideia, meu filho. Deve ser alguém querendo dar os
pêsames à Ellie.
— Se for para mim, por favor, diga que não estou bem para receber
ninguém.
— Claro, querida.
Rose se levanta e caminha até a porta. Assim que a abre, escuto
alguém chamando pelo meu nome. Um silêncio ensurdecedor toma conta
do ambiente logo em seguida, até que ela volta ao nosso encontro e diz:
— Ellie, tem alguém querendo falar com você.
— Você disse que não quero falar com ninguém agora?
— Infelizmente não pude fazer isso, é do Conselho Tutelar.
Eu me dou conta, neste exato momento, de que minha vida está
prestes a mudar, contudo tenho certeza de que será para pior.
Estou dentro de um avião indo para Liechtenstein, um dos menores
países do continente Europeu, que fica entre a Suíça e a Áustria. Ele tem
somente 25 km de extensão, o que significa que é possível atravessar o país
inteiro andando em apenas duas horas, ou de carro, em meia hora.
No tempo que tive, apenas alguns dias, pesquisei brevemente sobre o
lugar, pois nunca tinha ouvido falar, e descobri que é um país rico, com
pouquíssimos moradores e sessenta mil vezes menor do que os Estados
Unidos.
É um principado, o que quer dizer que há um príncipe comandando
tudo. Acho isso bem arcaico, mas, pelo que assisti em vídeos, o povo está
adaptado e gosta da maneira como é.
Outro ponto estranho, a meu ver, é que vários castelos medievais
enfeitam o país, assim como paisagens alpinas e aldeias com muitas árvores
e animais, como se fosse uma grande fazenda dos anos mil e quatrocentos.
Não acho ruim, só é diferente do que estou acostumada a viver no
Texas. É incomum saber que vou me mudar para um lugar com cenário de
filmes da Disney. Em outro momento, se eu estivesse com minha mãe, por
exemplo, diria estar vivendo um grande sonho de princesa. Mas, como as
coisas estão acontecendo de uma maneira tão detestável, não me sinto nada
feliz por estar aqui, agora.
O Conselho Tutelar ficou sabendo sobre a morte de mamãe e que,
consequentemente, acabei ficando sozinha. Não faço ideia de como
tomaram conhecimento tão rápido do meu paradeiro, mas imagino que
alguém deva ter feito uma denúncia. Não tenho em mente quem poderia ter
feito uma crueldade tão grande dessas comigo.
Tive que arrumar minhas malas e partir dentro de poucos dias,
deixando tudo para trás. E o pior de toda essa situação é que conseguiram
encontrar meu pai, entrando em contato para avisá-lo sobre os últimos
acontecimentos.
Também não faço ideia de como conseguiram encontrá-lo.
Agora, estou indo para a casa do cretino que me abandonou e nunca
quis ter o mínimo contato comigo. Não faço ideia de como será minha
reação ao vê-lo, mas acho que vou querer xingá-lo de todas as palavras
torpes que existem neste mundo, mesmo que isso faça Deus ficar chateado
comigo.
Não sou de ferro.
Cada segundo que passo neste voo me faz ficar mais irada com tudo o
que está me acontecendo. Não quero morar com alguém que me rejeitou,
não quero me mudar para um país diferente, com pessoas que não conheço,
falando uma língua que nunca pensei em aprender. Não suporto a ideia de
ficar longe da igreja, de Hugo e dos meus amigos. Odeio ser menor de
idade, segundo a lei do Texas, e ainda ser dependente de outras pessoas.
Em Liechtenstein, já sou considerada maior de idade, mas de que isso
vale se nem ao menos quero morar aqui?
Tudo o que quero é fugir, me esconder por um tempo, até completar
meus vinte e um anos e voltar para casa, para minha vida. A vida que
roubaram de mim.
Eu já não tinha quase nada e fizeram questão de me tirar tudo o que
me sobrava.
Sinto meu peito se apertar e meus olhos se inundarem de lágrimas.
Deus, por favor, me ajude. Não quero ir para a casa desse homem
que dizem ser meu pai, não quero! Como o Senhor pôde ter levado minha
mãe e ter me deixado sozinha? Onde errei? Quando fui tão má a ponto de
merecer isso?
Lágrimas começam a escorrer por minhas bochechas e soluços tomam
conta de meus lábios. Estou tão infeliz que chega a doer.
Fui abandonada e castigada pelo único que achei que me amasse de
verdade: Deus.
“Janeiro de 2003.
Hoje tive a melhor notícia da minha vida! Estou grávida!
Eu e Ken desconfiamos porque compramos uma pizza de queijo e
fiquei enjoada assim que senti o cheiro. Logo depois de comer alguns
pedaços, vomitei três vezes.
Sempre achei que homens tivessem nojo de ver mulheres vomitando,
mas Ken segurou meu cabelo e ficou comigo até que eu estivesse bem outra
vez.
Fizemos o teste juntos.
Ele fez questão de ficar no banheiro comigo, ligar a torneira e me
esperar fazer xixi, cantarolando para que eu ficasse mais tranquila.
Quando vimos, juntos, que o resultado do teste deu positivo, comecei
a chorar, mas não tanto quanto Ken. Nunca o vi chorar tanto, na verdade.
Nós nos abraçamos e ele disse ao meu ouvido o quanto me ama, declarou
as palavras mais belas que já ouvi em toda a minha vida e prometeu que
seríamos uma família feliz e unida.
Estou tão feliz por isso!”
“Março de 2003.
Hoje eu e Ken fomos ao hospital para fazermos o ultrassom
morfológico. Finalmente ficamos sabendo se é menina ou menino!
Quando eu era pequena, dizia que, quando crescesse, eu teria uma
menina. Não posso mentir, o desejo nunca saiu do meu coração, mas, com
toda certeza, amaria independentemente do que fosse.
Quando a doutora colocou o aparelho na minha barriga e disse o
sexo, gritei como se tivesse acabado de gabaritar uma prova importante.
Ken chorou igual a uma criança, novamente.
É uma menina!
Teremos uma linda bonequinha!
Nem posso acreditar!”
“Maio de 2003.
A gravidez anda bem, graças a Deus! Tive meu primeiro desejo
ontem, por mangas pegas diretamente do pé. Ken disse que nunca viu um
desejo tão fácil de realizar, já que aqui no jardim temos várias. Ele subiu
nos galhos e colheu algumas delas, trazendo-me em uma cesta depois.
Somente o cheiro já fez minha bebê se mexer, uma das sensações mais
maravilhosas que já senti.
Sentei-me em um banco de madeira no próprio jardim e comi oito
mangas de uma só vez. Foram tantos chutes, que tenho certeza de que
minha filha vai amar manga quando crescer. O desejo foi dela, não meu.
Quero que saiba que sempre vou realizar seus desejos, não importa
quantos anos tenha.”
“Julho de 2003.
Seis meses de gestação e minha barriga está enorme!
Passei óleos vegetais e creme de amêndoas diariamente na minha
pele, mas, mesmo assim, estou com várias estrias. Fico péssima por isso,
me sentindo horrível e chorando sempre que me olho no espelho. O que me
acalma é Kenneth, que beija minha barriga e conversa com minha bebê um
milhão de vezes por dia, dizendo insistentemente o quanto estou linda. Ele
me prometeu que, quanto mais estrias aparecessem, mais me amaria, pois
significa que estou cuidando bem da nossa filha e que está ficando cada vez
mais saudável e grande.
Juro que não entendo! Como pode me amar dessa forma, tão feia?”
“Agosto de 2003.
É a segunda vez nesta semana que vamos ao hospital. Tenho coçado
muito as minhas estrias e elas acabaram virando feridas que não saram
nunca!
Algumas manchas também apareceram nas minhas pernas e braços, e
o estranho é que coçam tanto quanto minhas estrias, descamando.
Fiz alguns exames para saber o que está havendo. Não vou mentir,
estou assustada. Espero que minha filha esteja bem.”
“Setembro de 2003.
Estou com câncer de pele.
Jamais imaginei que, com vinte e nove anos, eu passaria por algo
assim. Estou tão triste, que não consigo encontrar palavras para descrever.
Vamos ter que tirar minha filha antes da hora para que eu comece a
quimioterapia.
Ela está bem, mas temo não conseguir criá-la.
Saber da sua existência foi a maior alegria da minha vida, mas agora
estou preocupada com o que será da minha bebê sem mim.
Confio no meu marido, mais do que em qualquer um neste mundo,
mas quero poder vê-la crescer.
Espero muito que Deus me ajude com isso.
Ken não chorou quando soube da doença, está tentando ser forte na
minha frente.”
“Novembro de 2003.
Ela é linda. Ela é tão linda que não posso acreditar que saiu de
dentro de mim.
As íris são como as de Kenneth, tão verdes quanto. Quando olho para
ela, vejo seu pai.
Estou apaixonada, pois finalmente conheci o amor da minha vida!
Nunca pensei que eu fosse capaz de amar tanto alguém quanto amo a
Anna. Ela chegou para trazer alegria ao nosso lar e iluminar nossos dias
nublados.
Já faz dois meses que estou fazendo a quimioterapia, todo o meu
cabelo se foi, assim como minha força e vigor. Se não fosse pela Anna, eu
já teria desistido.
Agradeço por tê-la.”
“Dezembro de 2003.
Ken raspou seu cabelo para ficar igual a mim. Nós dois choramos.
Não estou tendo melhoras.”
Não sei por que, mas sinto uma conexão tão grande com estas cartas,
que meus olhos transbordam de lágrimas quando termino de ler a última.
Kenneth traiu minha mãe com essa mulher e engravidou as duas ao
mesmo tempo. Aparentemente, eu e Anna nascemos em datas muito
próximas, quase juntas.
As folhas seguintes da pasta são de rabiscos e anotações, como se
alguém tivesse escrito vários nomes e telefones e feito lembretes. Não
consigo compreender praticamente nada.
Depois, acho um atestado de óbito. O nome da mulher era Cecília
Fournier Lefebvre. Pelo que fiquei sabendo, Lefebvre é o sobrenome de
Kenneth, portanto eles eram casados.
Fico chateada por ambos, não deve ter sido fácil.
Agora me pergunto: Onde está Anna?
Tenho uma irmã de sangue e não sabia.
Provavelmente este é o segredo que estão escondendo de mim.
Mais para a frente, ainda olhando a pasta, encontro alguns artigos.
Parecem folhas de jornal. Pego a primeira e me deparo com o rosto de uma
criança e uma frase bem grande, escrito: DESAPARECIDA.
Meu coração erra uma batida, nervoso.
Ouço barulhos e sei que alguém está se aproximando. Guardo tudo da
maneira que estava e me levanto, ansiosa.
Arregalo os olhos para a porta, apertando as mãos, com medo de
Kenneth entrar e me pegar no flagra.
Para a minha felicidade, quem entra é Reese.
Abro um sorriso, porém não consigo esconder o nervosismo.
Ele vem em minha direção e me abraça.
— Desculpe a demora — diz, beijando meu rosto em várias partes —,
Kenneth deu uma saída do serviço para vir me ver, já que não nos vemos há
dez dias. Minha mãe estava junto, então, sabe como é, não é? Queria ficar
me abraçando e perguntando sobre tudo que passei.
— Hã, tudo bem. — Umedeço os lábios, ainda me sentindo ansiosa.
Pergunto-me mentalmente se ele sabe sobre Anna.
— Você está bem? — Franze o cenho, me analisando.
— Sim, é que… fiquei com medo de ser pega aqui.
— Eles já foram embora. Eu disse que perguntei sobre você ao Joseph
e ele me explicou que havia saído para dar uma volta.
— Certo. — Balanço a cabeça. — E por que eu precisava vir
especificamente para cá?
Ele olha em volta e depois me fita.
— Eu nunca tinha te visto assim, sem roupas. — Sinto minhas
bochechas corarem. — Fiquei te observando de longe e pensei que gostaria
de te beijar assim no único cômodo proibido da casa. Tenho recaídas por
atos ilegais, você já sabe.
Solto uma risada.
— Você pediu para eu vir para cá só porque queria me beijar em um
lugar proibido?
Reese me levanta em um movimento ágil e me senta em cima da
mesa. Depois, afasta minhas pernas e me dá uma boa olhada.
— Sim — diz, encarando exatamente minha vagina. — Aqui nunca
seremos pegos. Porra, Ellie, nunca vi um corpo tão lindo em toda a minha
vida!
Não digo nada, apenas mordo meu lábio inferior, levemente
envergonhada.
Ele toma minha boca e me beija como se fosse tudo o que precisasse
na vida. Parece estar extremamente sedento, necessitado. As mãos enormes
percorrem meu corpo nu pela primeira vez e sua respiração falha, tremendo
um pouco.
A parte de baixo do meu biquíni começa a me incomodar, pesada, e
aquela dor que vivo tendo quando estou beijando Reese volta.
Gemo quando me puxa com força e aperta seu corpo no meu.
— Se não quer me deixar louco — ele diz em contato com a pele do
meu pescoço —, não fique mais sem roupas na minha frente. — Me morde,
fazendo-me gemer outra vez. — Tudo o que penso é em te foder com força
e te fazer gozar pela primeira vez na mesa do escritório do nosso pai.
Algo incomum cresce em mim.
Estou com raiva de Kenneth por ter amado tanto minha irmã e por ter
me abandonado. Por ter amado tanto a Cecília e por ter traído minha mãe.
Sinto-me traída, mais uma vez, por saber que a vida toda tive uma
irmã e todos esconderam de mim.
Este sentimento de engano está tão forte em mim, que tenho vontade
de gritar ou de despejar em alguém.
Por não estar com a cabeça cem por cento boa, penso na possibilidade
de permitir que Reese me toque de uma maneira diferente hoje. Preciso
extravasar.
Minha vida sempre foi uma mentira. Meu ex-namorado é gay, meu
pai me enganou e o que achei que era diversão antes percebi que não era.
Dou-me conta de que também gosto de coisas ilícitas e, se Reese
insistir só mais um pouquinho, vou acabar cedendo. Porque, de todas as
pessoas que já conheci, ele é a mais autêntica e a mais verdadeira. Não
tenho dúvidas de que quero que seja com ele a minha primeira vez.
Isso causa uma guerra dentro de mim, com as regras que aprendi na
igreja, com as promessas que fiz a mim mesma sobre minha virgindade.
— Reese… — de olhos fechados e arfando, digo seu nome.
Porque, no momento, não há outro nome que eu queira clamar mais
do que o dele.
Ele está beijando meu colo, abaixo do meu pescoço, e somente um
“Hum?” lhe escapa.
— Eu não sei fazer isso.
É então que para e me olha. Seus olhos azuis estão em chamas,
completamente alucinados.
Uma das coisas que mais admiro em Reese é sua transparência com
tudo o que está sentindo. Consigo ver através da veia pulsante ao lado da
sua cabeça o quanto está se segurando para não passar dos limites.
— Ellie — diz, próximo, passando as mãos nas minhas coxas —, eu
jamais faria algo que não queira. Mas, se me disser que deseja dar mais um
passo, vamos fazer isso aos poucos, tudo no seu tempo.
Estou me sentindo rejeitada depois de tudo o que descobri e meu
corpo grita por atenção. Sei que o homem que está à minha frente é o
perfeito para fazer isso agora.
— Eu… Eu quero, Reese. Quero dar mais um passo.
— Puta que pariu. — Ele coloca as mãos na cabeça, completamente
atordoado com o que eu disse. — Quero dizer… — Um pigarro. — Me
desculpe pelo palavrão. É que… eu não imaginava que diria o que acabou
de dizer. Estou há dois meses sonhando com isso, então… me surpreendeu.
Solto uma risada ao me deparar com sua reação.
— Você não está se sentindo pressionada, não é? Porque, se estiver, te
peço desculpas. Esses dez dias que passei longe me fizeram sentir muito a
sua falta.
— Não, Reese. — Mordo o lábio inferior. — Eu realmente quero
saber como é dar mais um passo.
— Você toma anticoncepcional?
Confirmo com a cabeça.
— Nunca tive relações sexuais com ninguém, mas tomo
anticoncepcional há alguns anos, desde que comecei a menstruar.
— Entendi. Acho importante saber que eu nunca fiz sexo sem
preservativo e faço exames sempre para me certificar de que não tenho
nada.
— Está bem — digo, um pouco nervosa. — Você já fez muito isso,
não é?
— Sim, Sardenta. Mas nunca repeti com a mesma mulher, todas
significaram apenas uma noite para mim, nada mais.
— Vai ser assim comigo também?
Ele sorri como se estivesse achando graça.
— Não. Com você sempre foi diferente, desde o começo. E mesmo
agora, se não quiser fazer nada, irei esperar até que esteja pronta.
— Estou pronta.
Como se não estivesse acreditando, ele me olha por alguns segundos,
analisando o que disse. Depois, se aproxima e me beija, segurando meu
cabelo. As línguas se sentem por alguns instantes, até que puxa meu lábio
inferior entre seus dentes e diz:
— Fique aqui, vou pegar algo para nós.
— Está bem.
Assisto-o sair do escritório e aperto as mãos, ainda com as pernas
abertas em cima da mesa. Estou nervosa, não vou mentir, mas certa do que
quero.
Há um incômodo enorme vindo direto do meu centro latejante e,
mesmo que eu não faça ideia do que vai acontecer, tenho ciência de que
será exatamente lá onde Reese tocará. Isso me deixa ansiosa, porque jamais
a mostrei a ninguém e tenho medo de que haja algo de errado comigo. Ele
volta com um pirulito na boca e tranca a porta, andando em minha direção
como um predador que rodeia sua presa, vagarosamente. Seu olhar desde
meus pés até meu rosto, demorando um pouco entre minhas pernas, é quase
palpável. Arrepio-me inteira com a visão que estou tendo.
Reese se aproxima e se coloca entre minhas pernas, tirando o pirulito
da boca cheia de saliva. Segura meu pescoço para me manter imóvel e
passa o doce pelos meus lábios, lambuzando-os. Em seguida, me puxa
ferozmente para um beijo ardente e açucarado, com gosto de morango.
Chupa meus lábios até que fiquem formigando e com pouca
circulação. Amo a sensação de vulnerabilidade que vivencio nesses
momentos, em que Reese comanda tudo com tanta maestria.
Ainda segurando em meu pescoço, ele me estende o pirulito e ordena,
com a voz embargada:
— Chupa.
Obedeço, dopada com o tesão visceral que meu corpo experimenta.
Ele me assiste chupar o pirulito por um tempo, com um olhar desejoso.
— Olhe bem nos meus olhos enquanto te explico o que vou fazer —
diz em um sussurro grave que faz todos os meus pelos se levantarem. —
Vou te lamber, Ellie, porque quero sentir o gosto de cada parte do seu corpo,
e depois vou foder a sua boceta com a língua até que eu sinta o sabor do seu
gozo na minha boca.
Meu coração atropela a caixa torácica de tão forte que está batendo,
ao mesmo tempo que sinto algo escorrer de dentro de mim.
— Você vai lamber minha…?
Ele umedece os lábios como um animal faminto e balança a cabeça
positivamente.
— Não se sinta envergonhada, fazer sexo oral é a coisa mais comum
que existe. Apenas chupe o pirulito enquanto chupo você.
Minhas bochechas enrubescem.
Primeiro, ele toma o lóbulo da minha orelha em sua boca, chupando e
exalando forte no meu ouvido. Contorço-me, com a ansiedade de ter meu
desejo saciado.
Aos poucos, desce me lambendo pelo colo, beijando minhas pintinhas
alaranjadas com diligência. Sua respiração está quente, deixa um rastro de
fogo por todos os lugares.
As enormes mãos pousam em meus seios e sinto que minha mente
fica em alerta. Chupo o pirulito com mais intensidade, engolindo o gosto
doce. Isso me acalma.
Ainda lambendo meu colo, Reese coloca a parte de cima do meu
biquíni para os lados, deixando as auréolas de fora. Em seguida, massageia
meus seios aos poucos, até passar a apertá-los progressivamente.
— Eles cabem perfeitamente nas minhas mãos — sussurra ao meu
ouvido.
Depois para, a fim de analisá-los, e se aproxima para abocanhar o
primeiro mamilo.
Solto um gemido involuntário com a sensação prazerosa que é ter
Reese me chupando. Olho para baixo, em seus olhos, e percebo que está me
observando.
Assisto enquanto suga um e segura o outro, apertando na medida
certa. A cena faz minhas pernas tremerem e os dedos dos meus pés, se
apertarem.
Mordendo-me, Reese puxa meu bico entre os dentes. Grito em
resposta. Já percebi que gosta de me causar dores e, por incrível que pareça,
me dou conta de que também gosto.
Seguro sua nuca enquanto suga meu outro seio, fazendo exatamente o
mesmo processo. Arfo, com a mente completamente nublada por esta
sensação tão deliciosa.
Minha boceta pulsa de uma forma que jamais imaginei ser possível,
desesperada por um toque, por atenção.
Aos poucos, a língua desce até minha barriga e Reese deixa cinco
chupões marcados em mim, arroxeados.
Já perdi a noção dos gemidos, talvez eu esteja choramingando agora.
Mas, quanto mais eu me contorço de prazer e expresso o quanto estou
gostando, mais firme Reese segue.
Ajoelhando-se à minha frente, cheira minha intimidade de uma forma
animalesca, soltando um rosnado indecifrável. Com os dentes, puxa a parte
de baixo do biquíni, retirando-a completamente.
Sinto vergonha e chupo o pirulito novamente, engolindo o gosto
pegajoso de morango.
— Abra as pernas para mim, Sardenta — pede, sem tirar os olhos da
minha lubrificação. — Puta que pariu, esta é a boceta mais gostosa que já vi
em toda a minha vida — exclama, cheio de tesão acumulado. — Coloque os
pés na mesa.
— O quê?
— Coloque os pés na mesa e abra bem as pernas.
Faço o que pede, apreensiva, separando as pernas o máximo que
posso.
Seu dedo toca sutilmente minha parte lubrificada e solto um gemido
incontido com quão gostoso isso parece ser. Quero que faça com mais
força, com mais intensidade. Estou implorando mentalmente que aja logo,
arfando, ansiosa pela sensação de tê-lo com a boca em mim.
Reese me mostra seu dedo melado e diz:
— Olha quão pronta está para mim. — Enfia o indicador na boca e
chupa. — Você está tão molhada, que eu conseguiria enfiar meu pau
todinho em você, de uma só vez. — Aperto o interior do meu sexo com a
imagem que se passa por minha mente, sentindo-me tonta com tanta
lascívia. — Quero ouvir você me pedindo para que te foda com a língua.
— Por favor — choramingo.
— Por favor, o que, Ellie?
— Quero que me foda com a língua, Reese.
— E o que mais? — Sua respiração quente toca minha parte íntima
aberta e juro que a vontade que tenho é de implorar.
— Me faça gozar, por favor.
A risada maléfica que ele solta reverbera em meus órgãos.
— Cumprirei seu desejo com o maior prazer.
Então me abocanha, lambendo a lubrificação que escorre até a mesa
de Kenneth.
Reviro os olhos, extasiada, e jogo a cabeça para trás.
Gemendo, imploro por mais.
Reese lambe toda a minha extensão e suga meu clitóris até fazer
lágrimas escorrerem dos meus olhos.
Meu coração bate acelerado, ao mesmo tempo que me seguro com
força na mesa para não cair. Todas as partes do meu corpo tremem e não
faço ideia de como fazer isso parar.
A sucção me arranca a sanidade e, enlouquecida, seguro a cabeça de
Reese com força para que não pare. Ele continua, cada vez com mais
intensidade, experimentando todos os cantos do meu sexo latejante.
O pico do meu delírio acontece quando invade minha entrada com a
língua, indo e vindo. Gemo, rolando os olhos.
Logo volta a me lamber, revezando nos movimentos. Sinto minha
intimidade se contraindo e uma pressão inimaginável tomar conta da minha
pélvis. É quando Reese morde meu clitóris e o puxa. Grito pela dor e pelo
tesão que isso me dá.
— Olhe para mim quando for gozar — ordena. Balanço a cabeça
positivamente, sem ar. — Me dê o pirulito.
Sem conseguir raciocinar o que pretende fazer com o pirulito, eu o
entrego, mas logo entendo o que quer.
Segurando no palito, esfrega a bola adocicada em mim, desde o
clitóris até a entrada, diversas vezes.
Não suporto mais de tanto tesão, fica impossível sustentar por muito
mais tempo.
Assim que percebe isso, Reese se levanta e me beija. Sinto o gosto da
minha intimidade em sua língua. O beijo é voraz e desesperado, em meio
aos nossos gemidos incapazes de manterem-se presos.
Sinto o pirulito entrando em mim vagarosamente, depois saindo. O
ritmo é lento, mas se torna constante. Abro a boca à procura de oxigênio,
mas não encontro, pois meu companheiro me enforca com uma das mãos,
impedindo que todo o ar de que eu preciso entre.
Meu corpo inteiro se arrepia e a pressão que antes estava acumulada
em meu ventre se expande, deixando-me alucinada. A mente nubla, as
pernas tremem com força e um frio descomunal me toma, como se eu
estivesse prestes a cair de um penhasco.
Reese continua segurando meu pescoço e morde meu lábio inferior
com força, mantendo o ritmo do pirulito, entrando e saindo.
— Olhe para mim! — rosna.
É o que faço antes da queda livre: nossos olhos se encontram
enquanto gozo. Todos os meus gemidos são jogados para dentro da boca de
Reese, quando encosta os lábios nos meus, esperando até que meu corpo
pare de tremer.
Ajudo Ellie a colocar o biquíni em si mesma e arrumo a parte de
cima, tapando os lindos seios outra vez.
Minha mente ainda está focada no sexo que sei que não virá agora, e
sofro por isso, pois quero, a qualquer custo, me enfiar nela. Meu pau está
necessitado e duro igual a uma pedra. Mas entendo que não esteja pronta,
portanto preciso ir devagar, mesmo que tudo o que eu queira seja
exatamente o contrário.
Não sou uma pessoa confiável neste instante, porque estou com a
mente perversa demais para pensar ou agir com cuidado.
Eu poderia pedir para a Ellie retribuir o sexo oral, mas é muito
sacrificante para mim ser carinhoso nesses momentos. Eu me enfiaria sem
dó na garganta da garota e bateria em seu rosto, certamente isso a deixaria
chateada.
Um passo de cada vez, certo?
É o que vamos fazer.
Consigo me sacrificar por ela. Sei que, quando transarmos, vai ter
valido a pena a espera.
Eu jamais faria isso por outra mulher, mas Ellie sempre foi diferente,
sempre. Desde o primeiro momento em que coloquei os olhos nela, percebi
que era alguém em que valeria a pena investir minha vida.
Não sei nomear o que temos, mas sei que é exclusivo e gosto disso.
Nunca pensei que haveria exclusividade entre mim e outra pessoa, mas,
hoje, não tenho vontade de mais ninguém a não ser da minha sardenta.
Aconteceu naturalmente, sem precisarmos combinar algo.
Ela me enfeitiçou, me domou, me conquistou.
Olho-a encostada na mesa do meu pai, apertando as mãos, e me dou
conta de que está nervosa. Tento acalmá-la, me aproximando e cariciando
seus cabelos.
— Como está se sentindo? — pergunto.
— Muito bem — responde baixo, com os grandes olhos verdes
focados em mim —, e você?
Percebo que, na verdade, está agindo assim porque está envergonhada
após ter gozado enquanto eu a masturbava com um pirulito, então
tranquilizo-a.
— Como eu estou? — Sorrio. — Estou me sentindo o homem mais
sortudo do mundo todo.
— Para — suas bochechas enrubescem —, nem sou tudo isso.
Sim, ela é. Ellie tem a porra da boceta cheia de sardas, surreal de
linda.
Seguro seu rosto e me aproximo, fixando meus olhos nos seus.
— Eu estou viciado em você, Ellie. Nem a nicotina do cigarro, nem a
adrenalina das corridas, nada se compara ao seu gosto. Você é a coisa mais
gostosa que já experimentei em toda a minha vida.
Ela sorri, tentando esconder o quanto está encabulada, e eu a beijo.
— Eu me alimentaria da sua boceta para o resto dos meus dias —
brinco e ela me dá um tapa no braço.
— Não seja besta, Reese!
— Solto uma risada, abraçando-a.
— Você gostou? — Analiso seu rosto com atenção.
— Muito.
— Me desculpe pelos palavrões, não consegui me conter.
— Achei excitante te ouvir falar os palavrões enquanto me chupava.
Juro que não acredito que ela disse isso.
Abro um sorriso sacana, sentindo meu pau vibrar.
— Então não vou me conter quando estivermos em nossas
intimidades.
— Combinado. Somente nesses momentos.
Acho que amo esta garota.
Beijo-a outra vez e sussurro:
— Precisamos sair daqui antes que alguém nos pegue.
— Mas você não… — faz menção à minha ereção dentro da calça.
— Um passo de cada vez — lembro-a. — Vou ao meu quarto
descansar um pouco, pois a viagem foi longa. Quer subir comigo, ou
prefere voltar à piscina? Para seu próprio bem, indico que escolha a piscina.
Ela solta uma risadinha e concorda com a cabeça.
— Tenho algumas coisas para fazer agora. Te vejo mais tarde, ok?
— Está bem.
Nos beijamos pela última vez e saímos do escritório.
No meu quarto, a primeira coisa que faço é entrar embaixo do
chuveiro e bater uma pensando na boceta deliciosa de Ellie. Nunca vi nada
igual. O cheiro, o gosto, o desenho, tudo é inebriante.
Imagino como deve ser apertada e qual seria a sensação de me enfiar
todinho nela.
Porra, isso acaba comigo!
Não sei de onde estou encontrando forças para conseguir ir devagar
com isso. Estou pirando por dentro.
Após gozar, termino o banho e caio na cama. Estou cansado por conta
da viagem e preciso descansar nem que seja por alguns minutos.
Durmo feliz por ter feito um oral na minha sardenta e repasso tudo
outra vez em minha cabeça. Foram dois meses esperando por isso. Sinto-me
vitorioso.
Já faz uma semana que estou aqui. Fui até minha antiga casa e chorei
por horas, sentindo falta da minha mãe e olhando os objetos que pertenciam
a ela. Arrumei algumas coisas e limpei tudo, deixando todos os cômodos
organizados e cheirosos.
Também participei de alguns cultos na igreja, o de quarta e o de
sexta-feira. Fui muito bem recebida e abraçada. Senti falta de como a
presença de Deus é notória naquele lugar. Cantei, orei e ouvi palavras
tranquilizadoras.
Todos pensam que voltei para ficar, mas estão enganados. Estou
tentando arrumar uma maneira estratégica de deixar tudo em ordem antes
de retornar à minha verdadeira casa e família.
Hoje é domingo, o dia em que a igreja mais se enche de pessoas.
Sento-me em uma cadeira qualquer e aguardo pelo início, olhando
sorrateiramente em volta.
Percebo que um homem me olha de esguelha, com um semblante
curioso. Ele não me é estranho, já o vi outras vezes por aqui, mas não é
alguém que frequenta fielmente, como as outras pessoas.
Durante todos os louvores, sinto minhas costas esquentarem por conta
de seus olhares insistentes.
Quando me viro, identifico que ainda me fita, como se eu fosse o foco
aqui.
Fico incomodada. Sei que sou a filha da pastora que morreu, a pessoa
que todos pensam que liderará a congregação, mas não é um motivo
plausível para alguém ficar observando todos meus movimentos enquanto
deveria estar adorando a Deus.
Tenho vontade de sair do meu lugar e perguntar o que está havendo,
mas odeio chamar a atenção.
Mantenho a compostura durante as horas seguintes, ouvindo tudo o
que é dito de cima do altar. Contudo, minha atenção, vez ou outra, é atraída
pelo mesmo homem.
Ao final da Palavra, todos começam a ir embora. Rose e Abner, que
estavam ao meu lado, se levantam e vão conversar com outras pessoas. Fico
sozinha, inquieta.
Viro o pescoço e identifico-o em pé, ainda observando.
Engulo em seco, levemente amedrontada.
Minha pele inteira se arrepia quando começa a andar em minha
direção e para logo à minha frente.
O homem é alto, dono de um maxilar quadrado e olhos chamativos,
castanhos. O nariz é adunco, com a projeção curvada, e o cabelo, escuro e
comprido, amarrado em um coque.
— Ellie Davis? — pergunta.
Sua voz é grossa, estrondosa.
Meu corpo se contrai. Olho ao redor, certificando-me de que há mais
pessoas aqui para me ajudar caso necessário.
— Sim, sou eu. No que posso te ajudar?
— Eu gostaria de conversar a sós com você.
— Desculpe, mas seria sobre o quê? Não podemos conversar aqui?
— É sobre a sua mãe, Maya Davis.
Meu coração tamborila inconscientemente. Há uma vibração diferente
entre nós que não sei explicar.
— Ela te conhecia? — pergunto, engolindo em seco.
— Sim.
— É muito importante? — tento fugir.
Não sei se está dando uma desculpa para ficar a sós comigo, então
não facilito.
— É sobre o porquê de eu tê-la denunciado ao conselho tutelar.
Paro, analisando-o com outros olhos.
— Foi você? — sussurro. Preocupo-me se estão nos ouvindo e me
levanto, apertando as mãos nervosamente. — Por que fez isso?
— Sou o único aqui que sabe a verdade sobre você, por isso quero
conversar em um lugar em que estejamos sozinhos.
Após ouvir o que disse, aceito conversar em algum lugar privado, mas
que, ainda assim, seja perto de todos que estão na congregação.
Chamo Rose e aviso que estarei na parte de trás do templo. Ela
apenas confirma com a cabeça, ciente da minha companhia.
Já na traseira do prédio, encosto-me à parede e fito o homem.
— Conte tudo o que sabe sobre minha mãe, por favor — peço,
apreensiva, mas curiosa.
— Conheci a Maya em uma situação um pouco inusitada. Meu pai
havia falecido e eu estava no velório. Vê-lo naquela situação foi como o fim
para mim, o dia mais triste da minha vida, então me retirei para respirar e
chorar sozinho. Sentei-me em um banco ao ar livre e derramei lágrimas por
vários minutos, até que ela se sentou ao meu lado, me distraindo
brevemente. Seus olhos estavam vermelhos, evidenciando o choro. Maya
me contou que sua avó havia falecido também e, a partir deste momento,
passamos a conversar sobre situações que passamos com nossos entes
queridos. Contou-me sobre a igreja e sobre sua vida pacata, tão diferente da
minha, que era uma verdadeira bagunça.
— Vocês eram tão diferentes assim?
— Sim. — Seus lábios abrem um sorriso aéreo, como se estivesse se
lembrando de algo que o trouxe muita felicidade. — Ela era tão ingênua,
recatada, quieta, enquanto eu era irresponsável e problemático. Mas, por
incrível que pareça, eu sentia como se ela me completasse. Vivia falando de
Deus para mim e no quanto acreditava no meu crescimento, quando nem eu
acreditava mais. Isso me trazia paz.
Sorrio. Minha mãe sempre foi boa em fazer as pessoas se sentirem
bem.
— Então vocês mantiveram contato após o velório? — questionei.
— Claro. Naquele mesmo dia, após a conversa que tivemos, trocamos
telefone e nunca mais paramos de nos comunicar. Passei a ter Maya como
alguém necessária, alguém que me colocava para cima. Mesmo que
estivéssemos em luto, nos ajudávamos mutualmente. Foi assim que me
apaixonei.
Arregalo os olhos.
— Vocês tiveram um caso?
Ele sorri mais uma vez. Mas é um sorriso um pouco desengonçado,
como se não fosse alguém acostumado a fazer isso.
— Sim. Nós nos apaixonamos, mas namoramos às escondidas, pois
Charlotte, a mãe dela, nunca aceitou nosso envolvimento. Mesmo que, às
vezes, eu viesse para a igreja, nunca pareci ser o homem ideal. Eu era
sozinho, trabalhava em uma funilaria, por isso estava sempre com as mãos
sujas, e já tinha muitas tatuagens pelo corpo. Sua avó queria que Maya
tivesse um namorado com um status financeiro melhor, claro, e que fosse
um homem fiel a Deus. Claramente, preferiria ver o próprio Diabo a me ver
como namorado da filha.
— Vocês continuaram mesmo assim?
— Eu não conseguiria largar Maya de forma alguma. Meu amor por
ela só multiplicava. Cheguei a um momento de achar insuportável o que eu
sentia, de tão forte que era. Passamos a nos encontrar quase todos os dias,
sempre às escondidas, até o momento em que aprofundamos mais o
relacionamento. Éramos adolescentes e gostamos muito da adrenalina que
era nos encontrarmos no meio da noite para fazermos coisas erradas aos
olhos da mãe dela. Isso durou mais de um ano, até que descobríssemos a
gravidez.
Reteso-me, apertando os dedos, completamente confusa.
— Minha... Minha mãe ficou grávida?
— Sim. Escondemos por alguns meses, até que não desse mais. Maya
vomitava muito e a barriga já estava começando a aparecer. Decidimos,
juntos, que era o momento de contar para Charlotte. Contudo, a reação que
recebemos foi muito pior do que pensamos que seria.
— O que minha avó fez? Expulsou a filha de casa?
O homem troca o peso de perna e respira fundo. Claramente, estamos
entrando em um assunto que o perturba. Seus olhos ficam tristes e, com
isso, o rosto deixa aparentes as marcas que o tempo deixou.
— Ela pediu que Maya abortasse o bebê.
— O quê? — quase grito, surpresa.
Seguro meu peito, como se isso fosse ajudar meu coração a não pular
para fora.
— Disse que Maya traria muita vergonha para a igreja se
permanecesse com a gravidez, principalmente porque não éramos casados.
Explicou que seria difícil apenas no começo, mas que depois Maya
conseguiria recomeçar e se apaixonar por outra pessoa. Tentou, a todo
custo, mostrar que eu não era a pessoa certa para ter um futuro ao lado da
filha.
Não digo nada, apenas sinto meus olhos se encherem de lágrimas.
Algo se parte dentro de mim, só não tenho certeza do que é.
— Minha mãe... Ela... Ela...
— Não, Maya não aceitou abortar. O sonho dela sempre foi ter um
filho, sempre. Por isso, fugiu. Fez as malas e comprou a passagem para ir
para bem longe.
— Liechtenstein?
— Suíça. Ela foi para a Suíça, bem pertinho de Liechtenstein. Não
pude ir junto porque não tinha passaporte ainda, mas corri para
providenciar. Combinamos que ela me esperaria até que eu conseguisse a
documentação completa. Assim poderíamos ser felizes e criar nosso bebê
juntos. Alimentamos essa esperança pelo próximo mês, confiantes de que
tudo daria certo. Mas a Charlotte ficou desesperada por não saber onde a
filha estava e ficou furiosa comigo, me culpando por ter colocado ideias
erradas na cabeça da filha.
— Mas, no final deu tudo certo para você encontrar minha mãe? O
que aconteceu?
— Certo dia, a polícia bateu à minha porta dizendo que eu estava
sendo acusado de ter roubado algo de Charlotte. Até provar que eu era
inocente, não pude viajar para me encontrar com Maya. Ela, por sua vez,
ficou cada vez mais desesperada com a situação, sozinha em um país do
qual não conhecia nada nem ninguém. Acho que isso acabou afetando a
gravidez e, quase nos últimos meses de gestação, ela passou mal, teve que
ser levada ao hospital. — Ele olha para cima e funga, tentando manter a
compostura.
Minhas lágrimas escorrem, quentes e pesadas.
— O bebê não resistiu — disse, por fim, esfregando as mãos nos
olhos entristecidos. — Eu perdi tudo, Ellie. Sua mãe sumiu, desapareceu
completamente. Mudou de número, de endereço e apagou as redes sociais.
Entrou em uma depressão tão profunda, que dificilmente conseguiria sair.
Tudo o que ela mais queria na vida era aquele filho.
— Ela não se despediu?
— Apenas mandou uma mensagem dizendo que me amava e, por
conta disso, me deixaria livre para viver minha vida. Mas não entendeu que
eu jamais seria feliz se não a tivesse comigo. Isso me matou em uma
proporção imensurável.
— Você esperou até que ela voltasse?
— Esperei por dois anos, sem ter nenhuma notícia dela. Depois disso,
acabei conhecendo outra pessoa. Nosso envolvimento foi muito rápido e
acabei a engravidando também, portanto decidi criar uma família, certo de
que nunca mais veria Maya outra vez.
— Mas ela voltou...
— Quando minha filha estava prestes a nascer, Charlotte morreu. Foi
aí que Maya retornou, quase três anos após seu sumiço.
— E ela estava comigo?
— Sim, ela estava com você. Fiquei assustado, achando que pudesse
ser minha filha.
— Ela te contou a verdade?
— Quando sua mãe voltou, foi como um soco no meu estômago, pois
nunca deixei de amá-la, nunca deixei de esperá-la. Ela estava mais linda do
que nunca e acendeu uma paixão intensa dentro de mim. Mas não podíamos
ficar juntos porque eu já estava casado e estava prestes a ter uma filha. Nós,
eu e minha esposa, tínhamos acabado de descobrir que nossa menina
nasceria com uma doença grave e que precisaríamos de muito dinheiro para
fazer o tratamento. Jamais a deixaria nessa situação sozinha. Então, eu e
Maya conversamos, mas não voltamos. Perguntei sobre você e ela me
contou a verdade. Disse que passou os piores anos de sua vida, presa em
uma terrível depressão, pensando diariamente no quanto gostaria de ser
mãe. Virou rotina ir até parques e praças para ver as crianças e seus pais, até
que, certo dia, foi a um parque infantil e te viu. Pelo que me explicou,
houve uma paixão imediata, portanto, sem pensar direito nas
consequências, te roubou enquanto um incêndio acontecia. Ninguém
percebeu.
— Você não fez nada? Mesmo sabendo da verdade? — pergunto,
indignada. Meu peito está doendo tanto, que me sinto sufocada.
— Eu disse que a denunciaria, que ligaria para a polícia, mas...
— Mas?
— Por isso decidi vir atrás de você, preciso te pedir desculpas por
tudo. Eu era o único que sabia e, mesmo assim, não fiz nada.
— Por que guardou isso para você? — Arregalo os olhos, dura.
— Maya me prometeu dar o dinheiro para o tratamento da minha
filha em troca do meu silêncio e...
Seguro o peito mais uma vez, meu corpo inteiro formigando. Escoro-
me na parede, impedindo a queda prestes a vir. Meu coração bate depressa e
sinto minha têmpora suar.
— Me perdoe — pede, os olhos perdidos em mágoa —, foi o único
jeito que encontrei para salvar o futuro da minha filha. Fiquei anos me
sentindo mal, mas, por amor a Maya, e por saber tudo o que havia passado,
decidi não contar.
Não respiro bem. Minha mente começa a nublar.
Fui trocada.
Fui negociada.
Fui vendida.
— Maya explicou aos conhecidos que havia se relacionado com
alguém de fora do país, mas que acabara se separando em decorrência de
uma traição. Todos acreditaram na sua história e a receberam bem na igreja.
Sua vida fluiu bem, como se nada tivesse acontecido, enquanto eu ficava
cada vez mais arrependido por ter aceitado me silenciar. Os anos se
passaram e ninguém desconfiou, até que, alguns meses atrás, a chamei para
conversar e disse que havia tomado coragem para denunciar. Ela não
acreditou, achou que era apenas uma ameaça, mas, então, o Conselho
Tutelar a procurou. Ficou desesperada com a ideia de te perder, de você
saber da verdade, então...
— Ela se matou — completei a frase.
As lágrimas caindo insessantemente dos meus olhos.
— Me perdoe, me perdoe por... — sua voz está ficando cada vez mais
longe. Sinto meu corpo amolecendo. — Ellie?
Cambaleio, a dor me corroendo por dentro.
O homem tenta me pegar, mas me esquivo. Não quero que me toque,
não preciso da ajuda dele agora.
Ninguém pensou em mim, nos meus sentimentos, na minha opinião.
Fui obrigada a viver uma realidade que não me pertencia.
Eu nunca importei de verdade. Fui apenas um boneco nas mãos de
outras pessoas.
Esse pensamento me machuca tanto que, momentaneamente, acredito
que a morte seria uma anestesia eficaz para minha dor.
Tento andar de volta para a entrada da igreja, mas não consigo
concretizar nem dois passos.
Caio com força no chão, batendo a cabeça com brunsquidão.
Não escuto mais nada, não vejo mais nada, não sinto mais nada.
É uma delícia.
Nem mesmo os dez dias em que estive fora viajando foram tão
difíceis quanto esses, distante da minha sardenta. Não saber quando voltará
é o pior castigo que a vida poderia me dar.
Oito dias se passaram e acordo todas as manhãs esperando que
Kenneth entre em contato comigo, que volte atrás em seus planos de me
deixar distante de Ellie.
Não tenho dúvidas de que está sofrendo também, mas ainda não deu o
braço a torcer, talvez esperando que ela tome a iniciativa de voltar.
Isso me preocupa, pois sei que Ellie não retornará a Liechtenstein sem
a certeza de que ficaremos juntos outra vez. Pelo menos é o que sempre
deixa claro enquanto estamos conversando pelo telefone.
Contudo, saber que ela está sofrendo acaba comigo. É muito pior do
que sentir a dor em minha pele. Se eu pudesse, para poupá-la, enfiaria em
meu próprio peito toda sua angústia e tristeza.
Os dias por aqui têm sido frios, com a temperatura de, em média,
quatro graus celsius, o que torna minhas noites mais geladas, sem a
companheira que eu tinha todas as madrugadas.
Como Kyan mora sozinho, sei que não atrapalho se continuar por
aqui. Ele já disse que posso ficar pelo tempo que precisar e sou grato por
isso. Contudo, estar com meus amigos não é a mesma coisa que estar com
Ellie. Sinto falta dela, muito mesmo.
Sebastian, que é muito presente em minha vida, está sempre por aqui,
passando as tardes fofocando e tentando tornar o dia mais alegre e agitado.
Já Idris, tem passado por problemas em casa com seu padrasto, então
está dormindo há quatro noites na casa de Seb.
Graças a Deus que temos uns aos outros, porque não imagino onde
estaria agora sem eles.
Possuo bastante dinheiro na conta para me virar sozinho, mas não
tenho planos de me mudar agora.
De nós quatro, Kyan é o único que mora sozinho. É responsável pra
caralho, ganha a vida com suas danças e apresentações.
Sebastian tem pais milionários, cirurgiões plásticos, e acho que não
deixará de morar com eles tão cedo. É cômodo viver com pessoas que
liberam cartões de crédito ilimitado e ainda o deixam fazer o que quiser. O
filho da puta nem trabalha, apenas participa das corridas ilegais por
diversão. O dinheiro que recebe de lá é mínimo perto do que ganha dos
pais.
Idris e eu trabalhamos no corpo de bombeiros juntos, com um salário
fixo razoável, mas conseguimos complementar com as apostas, o que nos
ajuda bastante. A única diferença entre nós é que tenho pais extremamente
ricos e ele tem pais perturbados que não o ajudam com nada.
Assim, seguimos nos apoiando.
Agora, estamos conversando na sala, bebendo o chocolate quente que
fiz para esquentar nosso corpo. É cedo, oito horas da manhã, para ser mais
exato, e estamos meio grogues de sono ainda. Passamos a madrugada
juntos, conversando e jogando videogame, portanto dormimos pouco.
Idris, com seu semblante assustador e reprimido, pergunta se Kyan
tem algum conhaque para misturar ao leite e segue até a cozinha para pegar.
Quando volta, senta-se de frente conosco, satisfeito pela bebida alcóolica.
Ele não parece bem. Quero dizer, ele nunca parece bem, com seu
semblante sério e maléfico.
Juro que sua mente é tão impenetrável que até mesmo eu, que sou seu
amigo há anos, às vezes demoro a entender o que está acontecendo.
Idris, na maioria das vezes, só parece ser feliz quando está
bebericando algo com alto teor de álcool, só então ri com mais frequência e
começa a ter ideias insanas sobre como ganhar mais dinheiro.
Olho-o com atenção. Seu corpo alto e esguio está um pouco torto,
acomodado na poltrona, assim como os cabelos castanho-claros, uma
completa bagunça. Os olhos grandes e assustadores nadam em olheiras que
denunciam o quanto está exausto. O nariz meio quadrado está avermelhado
por conta do frio.
É um excelente profissional e um amigo fiel, sempre à disposição
para ajudar. Contudo, não consegue esconder no rosto a carga emocional
que carrega.
Jogo uma manta em sua direção e ele abre um sorriso parecido com o
do palhaço de It, a coisa.
— Aconteceu alguma coisa? — Kyan pergunta, amoroso.
Seus fios de cabelo negros, caídos sobre as sobrancelhas e os olhos,
levemente claros e puxados, atentos ao nosso amigo.
— Indo — é a resposta que ganha, seguida por uma longa golada da
bebida.
— Cara, você precisa relaxar! — Seb interfere. — Sabiam que ele
não dormiu a noite toda? Fiquei escutando os passos para lá e para cá.
— Fico preocupado com a minha mãe e não consigo dormir —
explica.
— Conseguiu falar com ela? — pergunto.
— Sim, liguei às seis horas da manhã. Ela diz que está tudo bem, mas
sei que não está. Percebi que estava chorando.
— Que merda! — Seb exclama.
— Há algo que possamos fazer para ajudar? — Kyan, calmo,
questiona.
— Tudo o que podem fazer já estão fazendo. Estou precisando fazer
algo que tire meu foco, talvez alguma atividade com bastante adrenalina.
Sebastian se levanta.
— Porra, por que não disse logo? Vamos pilotar.
— Ele bebeu, é melhor não — Kyan diz, cauteloso.
— Vai tomar no seu cu, Kyan! — Idris xinga. — Nem bebi muito!
— Mesmo assim, é perigoso.
— Posso te levar na garupa — sugiro —, prometo correr bastante.
— Sei que está carente, Res, mas não vou na sua garupa, estou
completamente são para dirigir minha própria moto.
Na verdade, Idris pilota muito bem, apesar de não competir como eu e
Seb, e, na maioria das vezes, está um pouco embriagado, então dou de
ombros.
Assim que terminamos nossa bebida, nos ajeitamos para curtir um
pouco de adrenalina. Também estou precisando, meu coração chega a estar
murcho sem a Sardenta por perto.
Montamos nas motos e aceleramos tanto, que fica difícil discernir o
que há a nossa volta.
Empino algumas vezes, raspando a placa no asfalto até soltar faíscas
de fogo, e começo a sentir meu sangue voltando a correr pelas veias.
Acelero como se minha vida dependesse disso, junto com meus três
amigos, cada um com suas razões pessoais.
Ouço Idris gritar e o vejo levantar as pernas. Ele é louco. Às vezes,
tenho certeza de que há um parafuso a menos em sua cabeça.
Sebastian e eu começamos, naturalmente, a apostar uma corrida,
desviando-nos de alguns carros. Amamos isso.
Começo a rir, adorando a sensação de liberdade.
Faço algumas manobras, correndo um grande risco de cair e me
machucar. Meu coração se acelera, nervoso, ansioso. Claro que consigo
fazer tudo e continuar com a velocidade intocada. É disso que tanto gosto,
correr risco de vida e sair completamente ileso. Meu músculo cardíaco
reage de uma maneira incrivelmente viciante, bombeando vida para todo o
corpo.
O frio congela as partes da minha pele que estão em contato com o
vento matutino, arrepiando-me.
Olho para o céu, que está bem azulado, repleto de nuvens brancas, e
isso estranhamente me traz um pouco de paz.
Continuamos por longos minutos, nos desafiando a enfrentar o
trânsito em posições perigosas.
Eu e Seb nos levantamos e ficamos em pé nas motos, competindo
velocidade. Depois, ficamos de joelhos, desviando dos carros à frente.
O som que as quatro motos causam é ensurdecedor, mas não inibe a
vibração que começo a sentir vinda do meu celular, preso na cintura.
Pode ser Ellie, por isso faço menção de parar com a corrida. Os
meninos também diminuem a velocidade, olhando para mim.
— Amor? — atendo, meloso como jamais fui.
Não tenho culpa, ela está me matando de saudade.
— Reese? — a voz de Kenneth soa.
Merda! Novamente atendi sem ler quem estava ligando.
— Oi, pai — digo, apenas.
Conversamos poucas vezes nos últimos dias, mas ele nunca sumiu
completamente. Kenneth é amoroso demais para fazer isso. Nossa relação
não tem sido a mesma de antes, depois que me bateu, mas minha mãe disse,
em outra ligação, que ele tem sofrido muito com o que fez.
Não o culpo, acho que faria a mesma coisa se soubesse que meu filho
de consideração esteve trepando com minha filha de sangue bem embaixo
do meu nariz.
— Está ocupado?
— Não. — Solto um pigarro.
— Será que podemos conversar?
Aceito de imediato, torcendo para que a conversa seja sobre Ellie.
— Onde te encontro?
— Consegue vir até meu escritório?
— Chego em dez minutos.
Encerro a ligação e olho para meus amigos.
— Ele quer conversar — explico.
Sebastian tira o capacete e sorri, os olhos azuis cintilando.
— É isso aí, você vai ter sua garota de volta.
— Será?
— Esperamos que sim — Kyan zomba, o rosto delicado e belo
suando por conta do esforço que estávamos fazendo —, não aguento mais te
ouvir chorar pelas madrugadas.
— Vai à merda!
— Res? — Idris chama.
— Oi?
Com seus olhos castanhos perfurantes, me olha.
— Vá atrás da sua garota e só volte quando ela estiver com você.
Entendeu?
Abro um sorriso ansioso.
— Entendi.
Despeço-me, colocando o capacete de volta e acelerando. Chego ao
escritório de Kenneth em exatos dez minutos e o encontro do lado de fora
me aguardando.
— Oi, pai. — Desço da moto e o cumprimento com um aperto de
mão.
Ele me olha demoradamente e diz:
— Obrigado por vir.
Meneio a cabeça, abrindo um pequeno sorriso.
Entramos no escritório e nos sentamos. Minha mãe se junta a nós,
dentro de uma sala de estilo minimalista.
— Acho que demorei tempo demais a te chamar para esta conversa
— ele diz, aparentemente nervoso.
— Do que precisa?
— Te pedir perdão. — Olhamo-nos por um instante singular e, então,
ele explica. — Está sendo difícil para mim lidar com o que você e Ellie
fizeram, mas compreendo que não deveria ter te batido. Errei em ter feito
isso, então quero te pedir desculpas.
— Imaginei que fosse fazer isso quando descobrisse, não te julgo.
— Você é meu filho, assim como ela. Amo os dois de igual modo e,
agora, me vejo sem ambos, o que tem tornado meus dias muito difíceis.
— Eu sei. — Meneio a cabeça.
Conhecendo Kenneth como conheço, deve ter passado todos esses
dias chorando pelos cantos da casa.
— Não sei se vai conseguir me perdoar, mas...
— Pai, eu já te perdoei. Está tudo bem, não se preocupe.
— É que foi um grande baque. Ainda não consigo entender como…
— Você deve estar pensando que não sou a pessoa certa para ela, por
ser alguém irrefutavelmente diferente. Rebelde, sem crenças, alguém que
gosta de festas, mulheres e corridas ilegais. Não é?
— Também.
— Mudei muito, pai, e foi por ela. Não falo mais palavrões — a não
ser que estejamos no meio de um ato sexual, mas isso não vem ao caso —,
nem arrumo mais brigas por aí. Passei a acreditar em Deus, orar e ler a
Bíblia diariamente, também. Não me interesso mais por mulher alguma, a
não ser que seja ela, e não frequento mais festas sozinho, apenas vou se
Ellie aceitar ir comigo. Não voltei às corridas, por medo de sermos
descobertos, porque tudo o que faço ultimamente é para que ela se sinta
bem, pensando no que a deixaria feliz.
Meus pais me olhando em silêncio por um momento, perdidos em
pensamentos.
— Talvez vocês não acreditem, mas eu a amo. Nunca senti nada tão
forte na minha vida.
— Reese...
— Estou falando sério. É estranho e, às vezes, constrangedor agir
assim, mas a verdade é que estou desesperado para tê-la de volta. Peço
desculpas por ter magoado vocês, mas não escolhi me apaixonar,
simplesmente aconteceu. Agora, não consigo me desvincular disso.
— Quero que ela volte, Res, mas Ellie disse que só voltaria se eu
permitisse que você voltasse também.
Engulo em seco.
— E o que pretende fazer?
— Estou dividido, vocês são irmãos.
— Não somos, você sabe que não.
— Mas...
— Pai, sei que já te decepcionei muito com meus atos impensados,
mas Ellie nunca foi uma brincadeira para mim. Se me der a chance,
mostrarei que a quero para a vida toda. Só preciso que a traga de volta, ou
me deixe ir buscá-la.
— Recebi uma ligação de um hospital do Texas hoje, mais cedo. Ellie
não está bem.
Levanto-me, atordoado.
— O que houve?
— Ainda não sabemos ao certo, mas parece que desmaiou após um
culto.
— E o que estamos fazendo aqui ainda? — Preocupo-me, o coração
batendo descompassadamente.
— Nós compramos passagens para buscá-la, por isso te chamamos
aqui. Sabemos que ela não vai querer voltar se não tiver certeza de que
deixamos o relacionamento de vocês continuar.
— É sério que esperaram que ela passasse mal para pensar sobre
nosso relacionamento? — Arregalo os olhos, nervoso.
— Reese...
— Não! Não, caramba! Não era nem para tê-la deixado ir! Ela está há
mais de uma semana fora, oito miseráveis dias, merda!
— Nós queríamos ver se…
— Se eu ia desistir de Ellie? — Minha respiração está alterada, assim
como a veia que pulsa na têmpora direita, causando-me uma leve dor de
cabeça. — Eu nunca vou desistir dela, entendeu? Não importa onde more,
em que casa, em qual país, eu sempre estarei ao lado dela. Não adianta
tentar nos separar!
Ele abre um sorriso triste e balança a cabeça.
— É o que eu precisava ouvir. Preciso ter certeza de que Ellie estará
em boas mãos.
— Eu faria qualquer coisa por ela. Faria loucuras, insanidades,
banalidades. Qualquer coisa! Eu pularia de uma ponte por ela, merda! —
Juro que o palavrão está na ponta da minha língua, mas me forço a não o
dizer, a fim de sustentar minha fala de que mudei por Ellie.
— Está bem, vamos buscá-la. Comprei sua passagem também,
sairemos às duas horas da tarde.
Olho para meu relógio de pulso, são onze e meia.
— Não tinha para um horário mais próximo?
— Não.
Kenneth e Amelia se levantam.
— Vamos nos preparar para a viagem. Pegue o que precisar — diz.
Minha mãe vem até mim e deposita um beijo em minha bochecha.
Olho-a por um instante e percebo que está orgulhosa das coisas que eu
disse. Abraço-a para que perceba o quanto a amo também e agradeço
baixinho em seu ouvido. Em seguida, ela se retira da sala e me deixa
sozinho com meu pai.
Ele é prepotente, fisicamente poderoso. Sua imagem toma conta da
sala toda.
Chega perto de mim devagar, com as mãos nos bolsos, até que os
rostos estejam de frente um para o outro.
— Darei a chance que me pediu — diz baixo. Contudo, sua voz sai
tão grave que parece estrondar o ambiente. — Mas não ouse quebrar minha
confiança, Reese. Quando o assunto é minha filha, a coisa é mais embaixo.
— Sabe por que nunca repeti o sexo com a mesma garota? —
pergunto na mesma intensidade, mostrando o quanto estou firme no que
digo. — Nenhuma delas valia a pena o estresse, a dor de cabeça, a
insistência. Com a Ellie é diferente. Por ela, vale a pena apanhar do meu
próprio pai, ser expulso de casa e passar por todo este esgotamento mental.
Não vou desistir da minha garota.
Kenneth dá alguns tapinhas na minha bochecha, balançando a cabeça.
— Senti sua falta, garoto.
— Eu também senti, pai.
— Estou orgulhoso de você.
— Obrigado, é bom ouvir isso.
— Vamos trazer sua garota de volta.
— Vamos.
Minha garota.
Quando chegamos ao Texas, ficamos sabendo que Ellie já havia sido
liberada do hospital. Graças a Deus, foi apenas um susto, agora está bem
novamente, na casa do frango virgem, vulgo Hugo. Achei que nunca mais
teria que ver o fodido e isso me dá nos nervos. Começo a me lembrar do
quanto fez Ellie de idiota, o que me faz querer amassar sua cara como uma
massinha de modelar e me arrepender de não ter feito isso antes.
Meu pai toca a campainha e aguardamos alguém atender. Quem vem
é o tal do Abner, pai do frango. Ele tem um rosto simpático, nos
cumprimenta e pede que entremos. Não dou muita atenção, apenas entro
com agilidade, louco para ver Ellie.
Ela está parada logo na entrada, tão ansiosa quanto eu. Corro em sua
direção e a pego no colo, completamente sedento. Nos abraçamos forte e,
logo, suas mãozinhas seguram meu rosto e nossos lábios estão grudados em
um selinho demorado.
Não quero soltá-la nunca, mas sinto os olhares em nós, então a coloco
no chão outra vez. Kenneth e Amelia a abraçam e, em seguida, passo meu
braço por seus ombros, puxando-a para mim, para deixar bem claro que não
deixarei mais minha garota solta.
A mulher que julgo ser Rose me olha com o semblante confuso. Ellie
já me deixou ciente de que ela torce pelo retorno do filho ao
relacionamento, então retribuo seu olhar, levemente possessivo.
— Você não é o irmão? — pergunta, com as sobrancelhas franzidas.
— Sim — respondo, direto.
— Mas... são irmãos de sangue? — Ela parece chocada.
— Não, mas daria todo meu sangue a ela se precisasse.
Rose engole em seco, olhando entre mim e Ellie.
— Então é ele o responsável por ter largado meu filho?
A tensão nos comprime. Mal chegamos e a confusão já parece
armada. Contudo, não vou abaixar a cabeça para nenhum deles.
Somente agora percebo que Hugo está encostado ao batente da sala,
observando de longe tudo o que está acontecendo.
Ellie disse, enquanto estávamos longe, que ele pediu desculpas
diversas vezes, mas que não tentou proximidade alguma, apenas o
suficiente para tentarem uma amizade, a fim de que a relação de ambos não
ficasse tão estranha após o que aconteceu. A condição que ela deu foi que
dissesse a verdade, contudo sem pressão. A intenção era tentar ajudá-lo a se
assumir e mostrar que ficaria ao seu lado quando tomasse a atitude.
— Sim, senhora — sorrio, um pouco alterado —, sou o responsável.
Muito prazer, Reese. — Estendo minha mão em sua direção, sarcástico, mas
ela não se dá ao trabalho de apertá-la.
— Ellie, como pôde…
— Mãe? — Hugo interrompe, chamando a atenção de todos. — A
culpa não é dela, é minha.
— Como a culpa poderia ser sua? O que fez de tão errado? Já
conversamos sobre isso e você disse que…
— Eu sou gay, mãe.
A tensão, que já estava enorme, se torna sufocante. O silêncio fica
ensurdecedor, como um grito extremamente alto.
— O quê? — é Abner quem pergunta, pois Rose está praticamente se
desfazendo diante de nós, com a mão no peito.
Kenneth e Amelia estão tão chocados quanto, ambos quietos.
— Podemos conversar sobre isso depois? — Hugo pede com
gentileza. — Agora não é o momento, por favor.
— Você… Você… — Rose tenta dizer algo.
— Nós viemos buscar minha filha. Quando formos embora, vocês
podem conversar sobre isso — Kenneth se pronuncia.
— Eu só não queria que ficasse culpando Ellie por tudo, mãe. Ela até
tentou manter o relacionamento, mas fui eu quem estragou tudo.
— Filho…
— Me desculpe, mãe.
— Rose — Ellie interrompe, com a voz doce —, eu e Hugo nos
amamos, mas apenas como amigos. Agora ele precisa de pessoas que o
compreendam e não o julguem.
— Mas a igreja...
— Se tem uma coisa que aprendi nos últimos tempos — Ellie
interrompe —, é que Deus vem em primeiro lugar, depois vem a família e,
por último, a igreja. A igreja é só um lugar onde várias pessoas
desconhecidas vão, todos com seus problemas pessoais. Contudo, a família
é aquela que está conosco nos momentos de alegria e tristeza, são as
pessoas com que podemos contar de verdade. E Deus é o centro de tudo.
Ele está em todos os lugares, não apenas dentro de quatro paredes, e
certamente nos ama por quem nós somos.
Lanço-a um olhar orgulhoso. Essa é a minha garota!
— Está tudo bem, filho — Abner diz. — Vamos conversar sobre isso
com mais calma depois.
— Está bem. — Hugo não parece bem, mas balança a cabeça
positivamente.
Rose está chorando em silêncio, limpando suas lágrimas.
— Talvez seja melhor voltarmos depois — Amelia sugere. —
Podemos dar uma volta…
— Acho que será difícil conversarmos sobre outro assunto agora —
Abner concorda. — O que acham de marcarmos para amanhã?
Kenneth pigarreia.
— Claro. Nós vamos sair um pouco com a Ellie para conversarmos
também. Alugamos quartos em um hotel próximo daqui, portanto podemos
voltar amanhã para tratarmos de outras formalidades.
Acredito que meus pais, enquanto advogados, tentarão sugerir uma
maneira de desprender Ellie das coisas que ainda possui aqui, no Texas, por
isso marcaram para voltarmos amanhã.
Despedimo-nos e entramos no carro que meu pai alugou para
passarmos alguns dias no país, até que todas as questões estejam resolvidas.
Primeiro, vamos a um restaurante, onde conversamos sobre a saúde
de Ellie. Ela nos conta o que causou o desmaio e expressa sua vontade de
voltar para casa conosco. Quer se desprender de seu passado e tentar
recomeçar de uma vez por todas. Amelia relata a conversa que tiveram
comigo e termina dizendo que darão a chance que precisávamos para
continuarmos juntos.
Minha garota aperta nossas mãos e abre um lindo sorriso, causando
uma ereção entre minhas pernas. Não vejo a hora de irmos embora para
beijá-la como merece.
Houve pedidos de desculpas entre nós e só fomos embora do
restaurante, quando todos estávamos sentindo segurança sobre nossas
respectivas relações.
Chegando ao hotel, já tarde da noite, Kenneth nos explica que pagou
por dois quartos e pede que tenhamos juízo durante a noite.
Sozinhos no quarto, avanço sobre a Sardenta, beijando-a loucamente.
Ela retribui, tão faminta quanto eu.
Arranco sua roupa, perdendo o fôlego no meio do percurso, o coração
bombardeando todo meu peito.
Tropeçamos no meio do caminho e começamos a rir, sem desgrudar
as bocas desesperadas. Suas mãozinhas tentam, com muita insistência, tirar
minha camiseta. Ajudo-a, em seguida, abrindo o zíper da calça que estou
usando.
— Espere — quase sufoco entre as palavras.
— O que foi? — Olho-a por um instante, ambos os corações
causando ruídos repetitivos pelo quarto.
Sua boca está vermelha pela intensidade do beijo e a respiração que
lhe escapa está tão áspera quanto a minha.
Enfio a mão no bolso da calça jeans aberta e retiro de lá uma caixa
aveludada.
Comprei nossas alianças no segundo dia em que estive longe dela,
prometendo a mim mesmo que a pediria em namoro assim que a visse
novamente. Agora, está logo aqui, na minha frente, e preciso concretizar
nosso relacionamento para que o mundo saiba que ela é minha. Não basta
apenas nós sabermos, quero que todos saibam que tem um dono e que o
sortudo sou eu. Também pensei em fazer isso para mostrar aos meus pais o
quanto estou envolvido, sei que fazer coisas desse tipo fará com que
percebam meu comprometimento.
Ellie suspira, olhando para o que estou segurando com uma grande
expectativa. Está pelada, apenas com uma calcinha simples e rendada, na
cor branca. O corpo é noventa por cento sardas alaranjadas, a coisa mais
linda que já vi. Os seios redondos sobem e descem, ágeis.
Abro a caixa, deixando as duas alianças grossas à vista, e digo:
— Ellie, me pergunto por que tentamos esconder algo que sempre foi
tão óbvio? Quando te vi pela primeira vez, meu corpo inteiro reagiu a você.
Quando te toquei, foi como um terremoto entre meus órgãos. Não quero
nunca mais deixar de sentir o que sinto quando estamos juntos. Você me
conserta, me endireita, me anima, me excita, me suga e me faz amar além
do que imaginei ser possível. Desejo ser seu por inteiro e ter cada parte sua,
incluindo suas imperfeições. Aceita ser minha todos os dias, horas e
minutos? Aceita namorar comigo?
Ela sorri de uma maneira graciosa, com os olhos cheios de lágrimas
prestes a despencar. As bochechas rosadas fazem seu rosto resplandecer em
amor e felicidade.
— Reese, fui sua desde o primeiro olhar. Não há uma única célula do
meu corpo que não pertença a você. Dizer sim é o mínimo, o óbvio, o certo.
Eu te amo e te quero até a eternidade, todos os dias, horas e minutos. Com
toda certeza, aceito oficializar nosso namoro.
Fungo, porque cada vez que a escuto dizer que me ama é como um
atropelamento, uma enxurrada de sentimentos me toma e acabo com as
pernas bambas.
Com toda a pele exposta, levemente descabelada e lucilante, Sardenta
ergue a mão esquerda, para que eu encaixe a aliança.
Um pouco trêmulo, deslizo o grosso anel pelo seu anelar, tomado pelo
mesmo sentimento de posse que sempre me preenche quando estou com
ela.
Minha, tão minha!
Coube certinho e ficou ainda mais bonita em sua delicada mão.
Pequenas sardas pintam sua pele clara e, nas pontas dos dedos, unhas curtas
e bem-feitas preenchem a perfeição que é a consumação deste momento.
Ellie pula em meus braços, puxando-me para um beijo caloroso.
— Eu amei — sussurra entre meus lábios.
— Que bom que gostou.
Soltando-me brevemente, pega a outra aliança e enfia em meu anelar,
admirada.
— Ficou linda em você.
— Em você também.
— Só há um incômodo que não sei explicar, parece um pouquinho
apertada — diz, olhando para seu dedo.
Sorrio. Sei exatamente do que está falando, pois sinto o mesmo.
— Mandei escreverem meu nome em alto relevo na parte de dentro
da aliança, assim, quando você tirar, ficará marcado na sua pele.
Seus olhos brilhantes e verdes se arregalam.
— É sério? — então, retira o anel e olha por dentro. No seu, está
escrito meu nome e, no meu, está escrito o nome dela. — Isso é incrível!
Nunca vi nada assim.
— Quero meu nome permanente em você. — Seguro-a outra vez,
assim que coloca a aliança de volta.
— Já está.
Solto uma risadinha brincalhona.
Quem dera.
Ela se aproxima do meu ouvido e sussurra:
— Tire minha calcinha.
Levanto-a com brusquidão e a jogo na cama, a ereção doendo dentro
da calça jeans. Tiro toda a roupa que ainda estava em mim e, nu, a olho
mordendo o lábio inferior, ansiosa para que eu tire a única peça que lhe
cobre.
Sedento, seguro o elástico da calcinha rendada e retiro vagarosamente
por suas pernas finas, porém torneadas.
Ela as abre, deixando à mostra a lubrificação e... paraliso. Em sua
virilha, do lado direito, há uma nova tatuagem. É a letra R.
— Você...
— Sou sua.
Meu Deus, juro que sou o cara mais sortudo do mundo.
Puxo seu pé direito para mim e o beijo, subindo aos poucos para sua
perna, colando os lábios por todo o perímetro, até chegar à tatuagem.
Cheiro sua boceta como um animal faminto e, sem pedir permissão
alguma, caio de boca em sua lubrificação, sugando tudo com avidez.
Ellie arqueia as costas, soltando um gemido que me consome de
prazer.
Chupo-a, lambendo de cima para baixo, depois de baixo para cima,
pegando toda a sua extensão. Dou leves mordiscadas, puxando o clitóris
entre os dentes, da maneira que sei que gosta.
Ela geme mais e segura minha cabeça no meio de suas pernas,
impedindo-me de escapar. Contudo, nem que o fim do mundo chegasse
agora mesmo, eu escaparia.
Afundo os dedos em suas coxas, louco para deixar minhas marcas.
Porém, sei que, se eu começar a bater em Ellie como desejo, meus pais, no
quarto ao lado, nos ouvirão. Se fosse o papa, eu não ligaria tanto, mas estou
tentando conquistar a confiança de Kenneth e não posso deixá-lo perceber
que amo dar uns tapas ardidos na filha dele.
Afundo meus dentes em um de seus grandes lábios, o que a faz abafar
um grito. Depois, chupo com carinho, deixando bem molhado, e assopro.
— Estou me segurando para não te bater — digo, lambendo meus
próprios lábios.
— Quando estivermos em casa, poderá fazer o que quiser comigo.
Abro um sorriso mediante as ideias que encheram minha mente e
volto a boca à boceta aberta diante de mim.
Delicio-me do sabor que Ellie carrega entre as pernas, incrivelmente
doce e marcante, fazendo-a implorar por mais.
Meu pau está pulsando, mal aguentando a pressão que é ouvir os
gemidos deleitosos vindos da garota.
Ocasionalmente, meus olhos se voltam à tatuagem que pinta sua pele
bem na virilha e, excitado como nunca, me esfrego contra sua entrada,
permitindo que até mesmo meu nariz fique molhado.
Esta é a tatuagem que diz que este lugar é apenas meu, nenhum
homem jamais poderá possuí-la. Enquanto a tatuagem da costela promete
um amor e fidelidade eternos. Nunca mais poderemos nos desfazer disso. É
para sempre.
Conforme aumento a intensidade, a garota começa a se contorcer
embaixo de mim, completamente perdida em prazer.
Aproveitando sua satisfação, enfio-lhe dois dedos, movendo-os para a
frente e para trás em um ritmo constante, enquanto ainda a chupo.
Os gemidos ficam mais audíveis, evidenciando seu desespero em
gozar. Percebo que meus dedos estão sendo esmagados.
Antes que chegue ao clímax, eu me afasto o suficiente para me deitar
sobre seu corpo, alcançando seus olhos e enfiando, de uma só vez, meu
membro até o final.
Sua respiração fica entrecortada e a boca, aberta, como se estivesse
buscando por mais oxigênio.
Movo-me, trombando nosso corpo bruscamente, e volto o dedo para
seu clitóris, circulando-o com a mesma agilidade em que arremeto para
dentro de sua entrada apertada.
— Reese! — sai mais como um aviso. — Reese!
Penetro-a com tanta força, que gotas de suor começam a escorrer por
minhas costas tatuadas.
Instantes depois, um jato me atinge, molhando meu abdome.
Continuo com as investidas rudes e com os dedos roçando em seu músculo
necessitado, enquanto esguicha demasiadamente pela minha mão.
Vê-la se desfazendo diante de mim só faz com que eu a queira mais.
O prazer aumenta drasticamente, então levanto suas duas pernas e encaixo
em meu pescoço. Seguro as coxas e volto com o ritmo alucinante.
Ellie está choramingando, o corpo inteiro tremendo, os dedos
apertados contra o lençol da cama e os cabelos lisos, alvoroçados.
— Quando chegarmos em casa — sussurro em meio aos ofegos —,
vou bater tanto nesta sua bunda, que não vai aguentar se sentar por dias.
Em retribuição, ela geme.
Percebo que gosta da minha narração, portanto digo em detalhes tudo
o que farei com ela. Explico que a amarrarei e enfiarei todo o meu pau
grosso pela sua garganta fechada, depois…
Ela treme outra vez, fechando os olhos.
Abaixo suas pernas e dou um tapa em seu rosto, fazendo-a olhar para
mim enquanto goza outra vez.
Seus orbes nublam durante a ejaculação.
Aproximo-me e seguro seu maxilar com rigidez.
— Quando estiver gozando, quero que olhe para mim para que eu
veja o quanto fica perdida com meu pau dentro de você.
Soltando o lençol, ela segura meu rosto e me puxa para um beijo. É
desordenado, bagunçado e ofegante. Delicioso.
Permaneço indo e vindo até que seus músculos parem com os
espasmos.
Pauso nosso beijo e digo, as palavras entrando por sua boca:
— Fique de quatro para mim.
Ellie obedece como a boa garota que é e eu pouso a mão em sua
coluna até que se abaixe o máximo que pode, abrindo as pernas. Sua bunda
empinada me deixa louco, então permito-me estralar um tapa bem ardido,
que causa marca na mesma hora.
Foda-se, perdi o controle.
Ela se contrai, mas geme de contentamento.
Enfio meu pau mais uma vez em sua entrada e volto a me
movimentar, puxando sua bunda para mim com impetuosidade.
— Deus! — solta.
Sem me conter, espalmo a mão mais uma vez por sua bunda dura.
— Deus está bem longe agora, amor. É o meu nome que precisa
chamar.
— Reese...
— Diga e eu farei. Qualquer coisa.
— Acho que minhas pernas não funcionam mais.
Sorrio, batendo outra vez em cima da pele rubra, causando-lhe dor.
— Posso fazer o trabalho sozinho, amor. Apenas relaxe.
Invisto mais algumas vezes até decidir deitá-la de lado. Acomodo-me
em suas costas e levanto sua perna, encaixando nosso corpo.
Cochicho, encostado em seu ouvido, frases que possuem grande
efeito, depois beijo sua orelha, chupando o lóbulo repetidas vezes. A pele se
arrepia e os gemidos se intensificam.
Entro e saio com uma frequência absurda, sentindo o suor escorrer.
— Sua boceta é a porra do alimento mais delicioso deste mundo —
digo, beijando e lambendo sua nuca. — Vou te fazer gozar por todos os dias
em que esteve longe e te deixar tão exausta que nunca mais vai querer se
distanciar.
— Eu… eu não… não vou.
Estico a mão e bato em cima de seu clitóris duas vezes com a força
exata para fazer soltar mais um jato quente em mim.
— Caralho! — exclamo.
O pequeno corpo chacoalha em meus braços. Seguro-a enquanto
continuo com as arremetidas sincronizadas.
— Não… Não aguento mais…
Sorrio, maldoso.
— Ainda está longe de terminar, amor.
Levanto-me, puxando-a para mim. As pernas se prendem à minha
cintura conforme caminho até a parede mais próxima, onde prenso suas
costas.
— Você vai aguentar, como a boa garota que é, não vai? — sussurro
próximo de seus lábios.
Ellie apenas balança a cabeça, piscando algumas vezes.
Encaixo-me novamente, forçando o corpo contra o dela.
Nossos lábios se encontram e o beijo se prolonga por vários minutos,
entre gemidos e sussurros. Seguro em sua nuca suada e afasto o cabelo,
acariciando o local.
Seus lábios estão tão macios, que sinto vontade de arrancá-los no
dente.
Mordo algumas vezes, chupando em seguida.
Faço isso até que esteja tão envolvida quanto eu, mais uma vez.
É o beijo mais longo que demos desde que nos encontramos, após
oito dias, e me perco em seu gosto, em seus movimentos.
Os dedos se enroscam em meus fios de cabelo e os puxam vez ou
outra, descendo com as unhas até o pescoço.
As respirações se fundem, assim como nossa língua.
Meu pau está babando, posso sentir que já solta o pré-gozo,
deslizando em uma facilidade absurda para dentro da garota. Nossos fluidos
se misturam, acarretando sons deliciosos.
Passo a mão por todo seu corpo enquanto a fodo com voracidade,
sentindo seus pelos invisíveis se eriçarem. Aperto os seios maduros e brinco
um pouco com eles no decorrer do beijo que ainda acontece.
Após alguns minutos, me segurando para não soltar minha porra
dentro dela, seguro seu pescoço, os dedos compridos quase conseguindo dar
a volta.
Nossos olhos se encontram, o verde dos seus e os azuis dos meus, e
assisto ao seu rosto ficar avermelhado pelo garroteamento.
Arremeto com mais força, socando meu pau até o fundo, ao passo que
aperto seu pescoço na mesma intensidade.
Sem que eu pudesse prever, suas pernas fraquejam, a boceta gozando
pela quarta vez em mim, esquentando meu comprimento e me levando à
completa loucura.
Ellie gozou quatro vezes, entre elas, teve dois squirts.
Sou um sortudo de merda.
Tenho a mulher mais gostosa do mundo.
— Ajoelhe-se! — ordeno, colocando-a no chão.
Obediente, faz o que mandei, acariciando minhas bolas.
Seguro a grande extensão e movo a mão para a frente e para trás,
masturbando-me diante de seus olhos.
Um prazer líquido e quente se forma em minha pélvis, fazendo-me
delirar.
Solto um gemido gutural ao mesmo tempo que gozo no rosto de Ellie,
melando-a por completo.
— Pode usar mais força — peço, com os lábios rígidos.
— Mas, não vai te machucar?
Acho incrível como, no ato sexual, Reese usa sua força máscula para me
bater e deixar marcas por todo meu corpo, mas, quando está me ajudando com o
skin care, fica com medo de me machucar.
— Claro que não! — Sorrio. — Passe o algodão com mais força.
Por volta das seis horas da manhã, Reese saiu vagarosamente do meu
quarto como se não tivesse passado a noite comigo. Depois, às oito horas,
quando todos já estavam acordados, fingiu entrar aqui pela primeira vez para me
desejar um bom-dia e me chamar para o café da manhã.
Eu havia acabado de sair do banho, já vestida, porém, com os cabelos
molhados, presos na toalha, e preparando os produtos para meu skin care
matinal.
— Posso aprender como faz? — ele perguntou, interessado.
Concordei, contente com sua vontade de se envolver nas questões
femininas mais simplórias do meu cotidiano.
Separei o algodão e apontei para a água micelar, explicando o primeiro
passo da limpeza facial.
Com cuidado, umedeceu a bolinha branca e começou a passar pelo meu
rosto, segurando, com a outra mão, minha cabeça.
Voltamos para Liechtenstein há um mês, após quase uma semana
dormindo em quartos de hotéis do Texas.
É bom estar em casa, principalmente quando as coisas parecem estar tão
bem resolvidas.
Com a ajuda de Amelia e Kenneth, consegui colocar o terreno onde antes
morava com minha mãe à venda. Enquanto isso, a igreja permanecerá em
funcionamento, com Rose e Abner no controle. Passei a autoridade a eles, que
receberam a tarefa de continuar cuidando dos membros com o mesmo amor e
carinho de sempre.
Despedi-me de todos os colegas e amigos, inclusive de Hugo. Fiquei
orgulhosa pela atitude de ter contado a verdade sobre sua sexualidade. Ele e os
pais tiveram uma longa conversa, em que relatou corajosamente quando
descobriu que gostava de homens. Também contou sobre Rian, mas, mesmo que
o relacionamento a distância ainda esteja rolando, acredito que terão uma longa
caminhada pela frente até que seus pais aceitem o novo envolvimento amoroso.
Pelo menos, Rose e Abner não me culpam mais, e nem esperam que eu
termine com Reese para voltar com o filho deles.
Somos amigos agora, eu e Hugo, e trocamos mensagens de texto quase
todos os dias.
O mesmo não aconteceu com Rian.
Em uma de nossas conversas com Kenneth, ele nos explicou que
desconfiava sobre meu envolvimento com Reese, contudo só teve certeza
quando o funcionário do mercado, Gerhard, o chamou para conversar e pediu
que colocasse câmeras do lado externo da casa.
Kenneth perguntou o motivo, mas o garoto não quis dizer, apenas insistiu
que o fizesse.
Porém, a mansão já tinha câmeras em todos os cantos externos, então meu
pai aproveitou para ficar de olho na noite em que fomos pegos transando no
ofurô.
Rian, que por algumas vezes nos viu juntos, foi o responsável por levar a
informação a Gerhard. Ele, consequentemente, viu uma maneira de se vingar de
Reese.
Sempre soubemos sobre as câmeras, mas meu namorado dizia que
Kenneth não as olhava. Somente olharia se houvesse algum roubo ou invasão, o
que jamais aconteceu.
Rian foi mandado embora pela fofoca e tentativa de retaliar Reese,
também. Agora, não tenho contato algum com ele. O pouco que sei ao seu
respeito vem das informações que Hugo me conta.
Nunca achei que Rian fosse uma pessoa ruim, até porque, quando o
conheci, me tratou muito bem. Acredito que tenha agido dessa forma contra
Reese por raiva de ter delatado Hugo. Acho que só quis proteger ou vingar o
namorado. Mesmo assim, depois de tudo o que aconteceu, ainda prefiro manter
a distância, para não correr risco algum.
Desejo que ele e Hugo sejam felizes.
No entanto, Gerhard sumiu. Quando soubemos que havia agido contra
Reese, meu namorado foi atrás dele, não pude evitar. Contudo, ao chegar ao
supermercado, ficou sabendo que o funcionário não trabalhava mais lá. Não o
vimos mais em nenhum lugar, nem mesmo nas duas últimas corridas ilegais a
que fomos para assistir ao Sebastian competindo.
Ultimamente, conversamos com bastante frequência sobre o retorno de
Reese às competições. Ele quer muito anunciar sua volta, já para a próxima
corrida. Não me oponho, pois sei o quanto é bom no volante e o quanto ama
fazer isso. Contudo, tenho apresentado em minhas orações o desejo de que faça
de uma maneira legalizada. Não tenho ideia se é possível, mas é a forma em que
tenho me comunicado com Deus nos últimos tempos. Queria muito que fizesse o
que ama sem precisar infringir leis.
Agora, está passando o algodão em meu rosto, olhando-me atentamente.
— Estou fazendo certo? — pergunta.
Sorrio carinhosamente, balançando a cabeça.
— O próximo passo é passar este creme aqui — indico.
Com todo cuidado, pega o creme branco e deposita um pouco em minhas
bochechas, na ponta do nariz e na testa. Depois, começa a espalhar.
— Por que está me olhando desta forma? — questiono baixo.
Seus dedos grossos delimitam minhas linhas faciais.
— Você é a mulher mais linda que já vi em toda a minha vida — sussurra
afável. — Eu me perco em seus olhos.
— Obrigada — agradeço, completamente apaixonada.
Quando termina de espalhar, começa a assoprar meu rosto, para que o
creme seque. Aproveito o bico para dar-lhe um beijo rápido.
— Agora você vai passar o protetor solar — ensino, apontando para a
bisnaga.
— Não poderia faltar, não é? Com todas estas sardas, é importante se
proteger do sol.
— Sim. — Sorrio mais uma vez com seu jeito cortês.
Por mais que estejamos ingressando em um inverno brusco, ainda é
importante proteger a pele, principalmente quando se trata de uma cheia de
manchinhas.
— Cada uma das setecentas e cinquenta e seis sardas em seu rosto é
importante — comenta, passando o produto diligentemente.
— O quê?
— O que, o quê? — se finge de desentendido.
— Você não sabe quantas sardas tenho no rosto, não é? Foi só um chute?
— Eu sei quantas tem — diz, calmo.
— Como? — Arregalo meus olhos. Nem eu mesma, que sou dona das
sardas, sei quantas tenho. São infinitas, a meu ver.
— Às vezes, te espero dormir e fico contando. Beijo cada uma delas e
você nem percebe.
— Você me beija setecentas e cinquenta e seis vezes enquanto estou
dormindo? — bestificada, tento entender.
— Beijo mais, claro.
Abro a boca, chocada.
— Está falando sério?
— Sim — então, deposita um breve beijo na ponta de meu nariz. — Noite
passada, por exemplo, te beijei incontáveis vezes. Aí, quando eu estava prestes a
pegar no sono, você acordou um pouco sonâmbula e perguntou: “Já acabou?
Queria mais…”
Caio na risada.
— Não me lembro disso.
— Mas pode acreditar, você fala enquanto dorme.
— Minha mãe costumava dizer isso. Cheguei a dizer alguma coisa que
não deveria?
É a vez dele de rir.
— Nada que não deveria. Mas, na noite em que tirei sua virgindade, te
ouvi resmungando algo sobre “Não sei como um pau tão grande coube dentro de
mim, talvez eu seja como um…” — usa aspas na última parte.
— Um, o quê?
— Até hoje não sei — continua rindo —, acho que estava se igualando a
um túnel.
Bato em seu braço.
— Não seja idiota!
— Me diga, qual o próximo passo agora? — está se referindo ao skin care.
— Agora preciso só passar o hidratante na boca e secar o cabelo.
— Está bem, vou fazer isso.
— Mesmo?
— Claro, quero cuidar da minha garota.
Indico qual quero passar e ele abre a tampa, pintando meus lábios com o
hidratante de morango. Em seguida, morde e chupa meu lábio inferior.
— Vai ter que passar outra vez, deve ter tirado tudo — brinco.
Faz o que pedi, acariciando meu queixo.
É inacreditável como um homem tão grande, corpulento, musculoso e
todo tatuado, consegue ser tão gentil às vezes. Apesar de que, até mesmo nesses
momentos, seu rosto permanece anguloso e transparecendo o quanto pode ser
bravo, também.
Reese pega o secador e tira a toalha que está em minha cabeça. Penteia os
fios e liga o aparelho, passando os dedos para não causar nós.
Fecho os olhos, amando a sensação.
Quando termina, olho-me no espelho e sorrio, orgulhosa.
— É a primeira vez que faz isso?
— Sim, mas ficou bom, não ficou?
— Muito. Agora pegue o reparador de pontas e passe para diminuir o
frizz.
Obedece, elogiando o cheiro gostoso que sobe ao ar assim que passa o
produto.
Em seguida, escolhe um dos perfumes e borrifa algumas vezes em mim,
beijando meu pescoço quando termina.
— Linda e cheirosa — sussurra. — Falta alguma coisa?
Nego.
— Agora vamos descer para o café da manhã, Kenneth e Amelia já devem
estar nos esperando.
— Está bem. — Em um abraço, ergue meu corpo e me carrega escada
abaixo.
Enquanto isso, deposito beijinhos em seu rosto.
O Natal está chegando, portanto comemos todos em comunhão,
conversando fluidamente sobre a decoração que começaremos a fazer juntos
na casa, ainda hoje.
Sinceramente, não me lembro de ter começado um dia com tanta paz.
Sinto-me inteiramente feliz e adequada com a vida daqui, junto ao meu pai.
Mastigo um pedaço de torta doce enquanto assisto-os papear e um
sentimento enorme de gratidão me toma.
Às vezes, julgamos o processo difícil, desejando que ele nunca tivesse
vindo, contudo, quando chega ao fim, entendemos que, sem ele, a paz e a
alegria que procede jamais teriam nos alcançado.
Se eu soubesse sobre o fim, teria vivido o começo com mais
intensidade. Se eu soubesse que tanta dor me traria ainda mais alegria e
contentamento, teria sentido tudo com mais veemência.
Assim que todos terminam de comer, meu pai pergunta para mim:
— Está pronta, querida?
Abro um sorriso animado e digo que sim, levantando-me.
— Então, vamos!
Despedimo-nos de Reese e Amelia, que combinaram de passar o dia
juntos, e seguimos à garagem, onde entramos em um dos carros.
Kenneth dirige enquanto cantamos algumas canções que tocam na
rádio e é tão agradável que mal percebo quando estacionamos de frente para
um dos prédios mais belos que já me deparei em toda a vida.
Descemos do automóvel e caminhamos para a entrada. Tento captar
todos os detalhes, boquiaberta com tanta formosura.
Dentro, esperamos até sermos atendidos. No momento em que nos
chamam, meu coração começa a tamborilar no peito, sinal do entusiasmo.
Mostro meu documento à atendente e ela digita algo no computador,
abrindo um pequeno sorriso.
— Meus parabéns, sua nota foi muito boa.
— Obrigada. — Aperto minhas mãos, levemente nervosa.
Esta é a chave para o meu futuro.
— Gostaria de finalizar a matrícula para a graduação de Medicina
Veterinária?
— Sim, por favor.
— Vou imprimir os contratos e explicar todas as cláusulas para que não
haja questionamentos posteriores, ok?
Antes de assinar, lemos e tiramos todas as dúvidas que temos. Depois,
voltamos ao carro com os contratos em uma pasta transparente.
Assim que retornamos a Liechtenstein, meu pai me deu a ideia de fazer
inscrições para as melhores faculdades da região. Passei em todos os
vestibulares dos quais participei e escolhi a instituição que mais me agrada.
Começarei a graduação no começo do próximo ano, após as festas de
Natal e Ano-Novo e eu não poderia estar mais realizada com isso.
Se ainda estivesse morando no Texas, com toda certeza, não começaria
a estudar tão cedo. Minhas responsabilidades em relação à igreja eram
maiores do que a preocupação em obter uma certificação universitária.
Não posso mentir, amo muito mais esta Ellie que é livre para fazer suas
escolhas.
— Estou orgulhoso de você, filha. Veterinária… Quem diria!
Abraço-o apertado.
— Obrigada por ter me acompanhado, pai.
Kenneth começa a dirigir, seguindo caminho até o centro da cidade,
onde passamos horas comprando as decorações para o Natal.
Ainda faltam quarenta e cinco dias para a data, mas os moradores já
estão começando a pendurar seus pisca-piscas nas janelas e nas árvores.
À noite, as ruas ficam cada dia mais bonitas e chamativas, com várias
cores, trenós e bonecos de neve.
O frio, admito, é congelante, contudo deixa a paisagem ainda mais
característica.
Após uma tarde gelada e divertida, eu e meu pai voltamos para casa.
Amelia e Reese já estão aqui nos esperando.
Pedimos algumas pizzas e colocamos músicas de fundo, para nos
incentivar a prosseguir com o trabalho.
O pinheiro de dois metros e meio é colocado na sala de estar e
começamos a decorá-lo com as bolas vermelhas e douradas.
Reese me encaixa em seus ombros, assim consigo alcançar e pendurar
alguns laços que compramos.
Amelia enrola um dos festões no pescoço e dança no ritmo da música,
enquanto Kenneth a observa com um sorriso apaixonado nos lábios.
Aproximadamente uma hora depois, a árvore está pronta. Ligamos o
pisca-pisca na tomada e ficamos maravilhados com sua magnitude. Está tão
linda, que meus olhos se enchem de lágrimas.
Reese me abraça por trás, depositando um beijo em minha têmpora.
— Fizemos um bom trabalho — diz.
— Sim, fizemos — concordo.
— Agora só falta decorar o resto da mansão.
— Meu Deus… — Canso-me só de pensar.
Acho que vamos demorar, em média, uma semana para terminar.
Mas está tão divertido, que perdemos a noção do tempo. Ficamos até
de madrugada decorando o lado externo da casa. Reese e Kenneth até
subiram no telhado para deixar tudo encantador.
Normalmente, segundo Reese, quem faz essas coisas são os
funcionários, contudo, como eu disse que nunca havia participado de um
Natal como este, meu pai decidiu fazê-lo junto com toda família.
Às duas e meia da manhã, aproximadamente, começa a nevar e, todo o
sono que já estava tentando me consumir vai embora.
No Texas neva bastante, portanto estou acostumada, mas este fato não
torna o momento menos divertido.
Olho para o céu e abro a boca, colocando a língua para fora. Pequenos
pingos gelados derretem em contato com minha saliva.
Ouço passos e sei que são de Reese. Simplesmente sei. Sinto uma
conexão e energia diferentes quando está se aproximando de mim.
— O que está fazendo? — Abre um sorriso misterioso.
Seus olhos estão incrivelmente azuis, em um tom que perfura meu
cérebro e me deixa ainda mais apaixonada. As luzes que passam a brilhar ao
fundo refletem em seu rosto anguloso, deixando-o um pouco mais cristalino.
— Estou… Hã, experimentando a neve — digo, um pouco
envergonhada.
Talvez isso seja coisa de criança.
— Você gosta de sentir a neve batendo no rosto?
— Sim. — Sinto as bochechas enrubescerem.
Ainda sorrindo, diz:
— Tive uma ideia e acho que você vai curtir.
— Qual?
— Venha comigo.
Ele segura minha mão e me puxa em direção à casa, gritando aos pais
que vamos sair e que não demoraremos a voltar.
— Não se preocupem, podem ir dormir, voltaremos em breve!
Seguimos até a garagem, onde diversos carros e motos nos esperam.
— Escolha uma moto.
— Vamos andar de moto agora?
— Sim. A esta hora da madrugada, não há ninguém nas ruas, então
podemos acelerar bastante contra a neve. Você vai poder senti-la com muito
mais intensidade.
— Está bem. — Quase dou pulinhos de alegria.
Escolho a moto que ganhei de aniversário e Reese não faz objeção
alguma. Sento-me às suas costas, abraçando sua cintura, enquanto ele se
acomoda para dirigir.
Estou cada vez melhor na direção da moto, mas ainda não chego nem
aos pés do meu namorado. Prefiro não correr riscos, principalmente porque
ainda nem tirei a carteira de motorista. Esta vai ser minha próxima conquista,
agora que já consegui a vitória que mais desejava: me matricular na
faculdade.
— Coloque o capacete, mas abra o visor para sentir a neve — orienta.
Reese se acomoda e acelera. Trata a moto com brusquidão, como se
não tivesse medo de nada que pudesse vir dela. É ele quem comanda aqui e
aparentemente gosta dessa sensação de poder. Brinca com o acelerador como
se se tratasse de um simples videogame.
Aos poucos, nos distanciamos de casa. As ruas estão completamente
desertas e silenciosas.
De repente, ouço-o dizendo:
— Segure-se firme, está bem, amor?
— Uhum — balbucio, ciente de que vai começar com suas manobras
loucas.
No próximo segundo, ouço o acelerador rugindo repetidas vezes, ao
passo que o veículo começa a correr ainda mais. O painel mostra que
estamos a cento e noventa quilômetros por hora. Meu coração bate mais
rápido, enquanto abro um sorriso que reflete as cócegas em meu estômago.
— Vou abrir as pernas — grita em aviso. — Assim que eu fizer isso,
você passa para a frente.
— Está bem. — Não faço ideia do que está planejando fazer, mas
confio que jamais me deixaria arriscar um machucado sequer.
Reese apoia a perna esquerda na moto, ficando, assim, em pé, e abre a
perna direita, passando-a para trás. Aproveito o espaço para sentar-me na
frente, segurando o guidão junto com ele, que se acomoda e fica de joelhos
às minhas costas, ainda guiando a moto.
Faz algumas manobras em alta velocidade, indo para lá e para cá, de
joelhos. Seguro o guidão, embaixo de suas enormes mãos, com toda força
que consigo, e aguardo pelo que virá.
De supetão, força a moto para trás e dá um grau. Solto um gritinho
divertido, o peito em completo colapso.
Permanece com um joelho na moto enquanto estica a outra perna e
raspa o pé no chão.
— Segure-se, bebê! — então força a moto ainda mais para trás, até
raspar a placa no chão e ela soltar faíscas.
Depois, levanta-se e dirige o veículo estando em pé atrás de mim, com
o corpo praticamente sobre o meu para permanecer segurando o guidão.
Faz uma espécie de vai e vem com as mãos, fazendo-nos ir para lá e
para cá em uma velocidade aproximada de duzentos quilômetros por hora.
— Pode abrir o visor para sentir a neve! — grita.
Faço conforme me disse: abro o visor e sinto os primeiros flocos de
neve derretendo contra o rosto. Coloco, secretamente, a língua para fora
outra vez.
Meu rosto congela com o vento apavorantemente gelado, mas a
sensação é libertadora.
— Vamos, amor, se solte! Sinta a adrenalina entrando, é viciante! —
então, coloca um dos pés na frente da moto, abrindo as pernas e me deixando
entre elas.
Solto mais um gritinho enquanto ouço o motor rugir extremamente
alto.
Reese vai mudando de posições, ousando em cada uma delas, enquanto
permaneço sentada, segurando o guidão e sentindo a neve molhar meu rosto.
Estamos tão rápidos, que mal identifico onde estamos.
Alguns minutos depois, diminui a velocidade bruscamente e empina
para a frente. Grito, olhando diretamente para o chão, prevendo uma queda.
Contudo, não é o que acontece. O pneu dianteiro vira a moto no sentido
contrário em que estávamos e depois derruba o pneu traseiro para a pista
outra vez.
Acelerando, voltamos na direção de casa, seguindo pelo mesmo
caminho.
Ele se senta atrás de mim, apertando as pernas ao lado das minhas,
dando-me o conforto que faltava.
É agora que me solto, abrindo as mãos e jogando a cabeça para trás,
sendo chicoteada pelo vento gélido.
Meu namorado solta um grito de pura adrenalina e faço o mesmo,
imitando-o.
Contra o mundo, gritamos juntos, livres, insanos, apaixonados.
— Eu sou completamente louco por você, Sardenta! — grita,
claramente sorrindo.
— E eu por você, Res!
Lais B. Ferreira
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Adam é um sargento militar da ROTA, sério e detalhista que vive pelo trabalho. Afirma com
todas as letras que não acredita no amor e tem como companhia o seu melhor amigo Angus, um
Golden Retriever que traz um pouco de alegria para toda essa amargura do dono. Clarice vive em
situação de rua e usa sua voz maravilhosa para ganhar uns trocados nos metrôs de São Paulo. Mesmo
sendo uma mulher batalhadora e forte, não deixa de ser briguenta e durona. Ambos possuem um
passado traumático, cheio de feridas não cicatrizadas que interferem constantemente no presente. No
momento em que esses caminhos opostos se cruzam, a briga de cão e gato começa sem parecer ter
fim. Até que a vida abre os olhos de cada um e eles encontram um motivo pelo qual precisam se
ajudar. O plano seria perfeito, se no meio do caminho o coração não resolvesse dar as caras e os
presenteasse com uma paixão avassaladora.
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Marília:
É uma garota perdida.
Afogada em traumas e mágoas.
Está caindo em um poço escuro e vazio, sem perspectiva de retorno.
Aprendeu que não pode confiar em ninguém e que as pessoas machucam, até mesmo as mais
próximas.
Ele é o único que consegue lhe transmitir algum conforto. Porém, através das músicas, porque
pessoalmente isso nunca seria possível. Afinal, ela é só uma menina normalzinha da Zona Sul de São
Paulo, enquanto ele é o Canadense mais famoso do mundo.
Matthew:
É um astro mundial do Pop, conhecido e adorado por todos.
Pode conseguir tudo o que quer, ir aonde desejar e comprar todos os objetos que seu coração
ambiciona.
Só há uma coisa que não pode ter: Ela, a garota com a qual ele sonha há nove anos e nem sabe se
existe de verdade.
Mas não vai desistir tão rápido, fará shows em todos os cantos do mundo até encontrá-la e ter a
oportunidade de dizer o quanto a ama.
Eles:
"Quando te vi pela primeira vez, eu te amei.
Quando ouvi sua voz pela primeira vez, eu te amei.
Quando te beijei pela primeira vez, eu te amei.
Quando fizemos amor pela primeira vez, eu te amei.
Tenho certeza que te amei em todas as nossas primeiras vezes e, porra, eu te amo. Eu te amo tanto!"
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Esta é uma história que envolve muitos sentimentos, bons e ruins. Entre eles: Tristeza, angústia, raiva
e depressão, mas, muita paixão, amor, perdão e cura.
Sophia Guliver passou por momentos difíceis que a fizeram questionar se a vida é, de fato, boa para
se viver. Um grave acidente causou traumas que a fez se tornar uma mulher rancorosa e sem amigos.
Até que uma luz surge em sua vida, uma luz ruiva e translúcida, que muda o rumo da sua história.
Como explicar o inexplicável?
Nicholas é alguém que mostra que a vida faz sentido, alguém que apresenta o verdadeiro amor
incondicional que o mundo anseia em viver.
Este amor prova que nada é por acaso e traz fortes reflexões sobre os altos e baixos da vida.
Mas uma descoberta terrível os separa e a única coisa que pode fazê-los retornar é uma solução que,
em suas cabeças, não existe.
A jornada é intrigante e curiosa, requer cura e perdão, requer coragem e força. É de esquentar o
coração e amolecer os ossos.
Mas, afinal, sempre há uma solução.
Ou não?
[1]
Ela causará um grande problema em seu coração, amigo.
[2]
Você estava perdido. Agora está se encontrando.
[3]
Você quer morrer?
[4]
Não se esqueça que eu te amo.
[5]
Nunca.