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Meu Vizinho Federal - Raphaela Fagundes
Meu Vizinho Federal - Raphaela Fagundes
∞∞∞
Esta é uma obra de ficção, criada com o objetivo de
entretenimento. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência. Este livro segue as regras da Nova Ortografia da
Língua Portuguesa.
Não dava tempo de esperar pelo elevador, pela terceira vez naquela
semana saía de casa atrasada, no limite para enfrentar o trânsito
matinal de São Paulo e chegar ao escritório da Soraya Lins,
localizada na Rua Oscar Freire.
Suspirei ruidosa.
— Oh, que coisa chata, senhorita Olívia. Mas dará tudo certo e
você conseguirá chegar a tempo. Bom trabalho!
A vida dele era bem tranquila, isso sim. Recebia uma gorda
pensão de uma tia que morreu e não deixou herdeiros, além do bônus
por atuar como síndico, é claro
— Ah, senhorita Olívia, a vida não está mesmo fácil. Mas dias
melhores virão. Mais tarde irei passar na porta do seu apartamento e
conversar um pouco com Chanel, a pobrezinha deve ficar desolada
por estar sozinha.
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∞∞∞
Minutos depois estacionei meu carro no pátio da Polícia Federal,
desci apressado e encontrei com Dani na sala de descanso da
delegacia, que era onde parávamos para fazer as nossas pausas,
refeições e também onde ficavam os armários. Assim que me viu
entrar, me entregou um copo da Starbucks e um pacote de papel
pardo.
— Ele não deu detalhes, Lui. Mas pediu que você fosse até sua
sala assim que chegasse.
— Certo.
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— Nós dois sabemos que ele está, abra o portão e chame o seu
patrão. — Ordenei, sem dar espaço para qualquer contestação.
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Olívia
— Que assim seja, Du. Preciso que esse evento seja perfeito. —
atravessamos o corredor e conseguimos pegar o elevador no andar.
— Não há o que fazer. Apenas não irei trocar. Não faz sentido,
Soraya estava na reunião de aprovação, o material de produção já foi
encomendado. Ela, como dona da marca, deveria saber que mudar a
cor principal da paleta com o projeto em andamento, significa
inviabilizar grande parte da produção da coleção. E sem coleção, não
tem roupas para vender nas lojas. Para mim é uma conta bem fácil de
executar.
— Meu Deus! Não fazia ideia. Mas também a manhã foi tão
corrida. É até curioso não ter virado assunto no corredor da empresa.
— Será mesmo que ninguém da empresa sabia? Essa não era o tipo
de informação que funcionário conseguia guardar.
∞∞∞
Olívia
Não era possível! Alguém queria muito me irritar, porque não havia
cabimento simplesmente pegarem para si minha vaga de garagem. E,
se um dia a do Afonso estivesse ocupada, eu teria que estacionar na
rua? Estava puta pela falta de noção do folgado e, também, por me
irritar com algo relativamente pequeno.
— Pois é, Oli. Aquela marca que lhe contei do Rio, lembra? Nos
passaram uma enorme encomenda, estamos trabalhando dobrado
para dar conta de entregar tudo. Liguei agora porque vi que estava
online no aplicativo, já que durante o dia está sempre na correria e
não conseguimos falar direito.
— Oli, não sei não, viu. Por que não vem passar o fim de semana
com a gente? Acho que está precisando de colo de mãe e pai. — Nós
duas rimos, desde que saí de casa, há quase dez anos, ela sempre
falava isso para que eu fosse a Taubaté.
— Bem que eu queria... E sim, estou precisando muito de colo!
— Soltei outro suspiro, estava com saudades de casa. — Sempre
estou...
Fui para o ateliê mais cedo do que o habitual, pois havia muitas
pendências para resolver e precisava fazer o dia render.
Mais uma vez suas palavras doeram, feriram, mas não deixei
que ela percebesse o quanto me afetou. Se Soraya me queria fora,
eu não podia fazer nada.
Ela saiu da sala, meu peito parecia ter sido esmagado e numa
coisa ela tinha razão: não foram raras as vezes que me achei ser a
dona da marca. Não para usurpar seu lugar, mas por amá-la demais.
Eu comemorava cada degrau que subíamos, tinha orgulho da minha
equipe, preocupava-me com o que as clientes achavam das nossas
coleções e me congratulava, genuinamente, a cada vez que a Soraya
Lins figurava nas listas de marcas mais influentes do Brasil ou no
ranking das que mais vendiam.
Não podia negar, a Soraya Lins foi um porto seguro para mim.
E agora eu me sentia um tanto perdida.
Girei na cadeira, que sentei após ela ter saído da sala, respirei
fundo diversas vezes, o horário foi avançando e logo os funcionários
chegavam. Às nove em ponto, Du bateu em minha porta e perguntou
se eu queria um cappuccino, pois estava indo buscar algo da rua.
Apenas neguei e agradeci, ainda sem coragem de contar que havia
sido mandada embora.
— Hoje é o meu último dia aqui, por isso as coisas estão fora
do lugar — achei melhor explicar, porque em um contexto geral,
poderia ser bem suspeito eu estar guardando itens da sala dentro de
caixas. Ele me analisou por inteira e depois balançou a cabeça em
afirmação.
Dani tinha ciúmes de mim e perdia toda a razão por isso. Ela
empunhou a arma contra uma funcionária da empresa, e que estava
visivelmente amedrontada. Se os seus anos trabalhando como agente
não foram suficientes para perceber que Olívia desorientou com a
nossa chegada, e, não por esconder algo, pois a mulher exalava
inocência, então não servia para atuar comigo.
— Tem razão.
— Desembucha, Brandão.
— Eu sei.
— Fechado.
Após o almoço, ele foi para uma reunião com uma das suas
equipes e eu caminhava pelo corredor até a sala onde estive
trabalhando antes de sair, quando encontrei Pamela, uma das
agentes que trabalhava na delegacia.
— Posso imaginar, mas agora você deve ter uns dias de paz até
iniciar em uma nova Operação — meneou a cabeça e riu, nem ela
acreditava que, estando na delegacia do Paulo, teríamos dias de
calmaria. O cara era uma máquina no trabalho e só mantinha lá quem
tinha o seu ritmo. — Inclusive, sabe se o delegado está por aqui?
— Está sim, acabamos de voltar do almoço.
— Tá, vou lá falar com ele. — Ela se despediu com outro beijo
em meu rosto e antes de sumir pelo corredor, parou e virou em minha
direção. — Mais tarde irei ao clube, você vai? Faz tempo que não nos
vemos fora daqui, Lui.
— Não tinha planejado nada, mas não seria nada mal dar uns
tiros hoje. — Seria uma boa, na verdade.
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Olívia
“Você foi a melhor chefe que já tive, Oli”; “Vamos sentir tanto a
sua falta”; “Me leva junto para onde for”; “Esse ateliê nunca mais
será o mesmo sem você”;
— Combinado!
E quase chorei.
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Luiz Henrique
Tomei banho, vesti a minha usual roupa básica, que era calça
jeans, camiseta preta, que eu variava apenas para o branco ou cinza
e tênis ou bota, completei com uma jaqueta de couro preta e touca,
na mesma cor, pois havia esfriado.
— Esse Lui é um safado, isso sim. Mas você vai dividir uma
munição com a gente, Pam.
— Vou ligar para o Zé, não é todo dia que consigo reunir todos
para o jantar! — Disse, sacando o celular do bolso da calça. — Ah,
mas antes venha cá, quero te contar uma ideia que tive —
caminhamos para a parte de trás da casa, onde ficava uma pequena
área com churrasqueira e piscina.
— Filha, vou mandar fazer a sauna, mas não quero que você
gaste comigo ou com a sua mãe, na verdade, quero que você venha
mais vezes para usá-la.
— Bom, imagino que vá passar alguns dias por aqui e vamos ter
tempo para nos acalmar e conversarmos. Mas acho que está na hora
de pensar em algo novo. Você tem talento, conhece tudo de
confecção, ganhou bastante experiência trabalhando em uma marca
grande. — Ela puxou duas cadeiras e me convidou para sentar. —
Ah, minha filha, você conhece todo o caminho para colocar uma
marca na rua. Encare essa situação ruim como um impulso para algo
muito bom em sua vida.
— Sim.
Da visita na casa da minha tia, fui até uma vizinha dela, que era
mãe da Helena, uma das minhas amigas de infância e, que estava
grávida, após quatro anos de casada. Mãe e filha haviam me visto da
varanda de casa, fazia muitos meses que não nos encontrávamos e
passei um tempo conversando com elas.
— E você também!
— Acho que sim, mas não fala nada, seu irmão ainda não sabe.
— sussurrou.
— Sim... Ainda não sei quantos, mas não será muito tempo.
E por mais incrível que fosse, pois eu não era de ficar pensando
em casamento, filhos ou mesmo achar que o meu tempo estava
passando, não saía da minha cabeça que se ainda morasse em
Taubaté, era bem provável que já tivesse uma família formada e uma
vida bem mais tranquila do que a que levava em São Paulo.
Desde que me mudei para São Paulo, não cogitei voltar a morar
em Taubaté. Não era que eu não gostasse, muito pelo contrário, mas
por ter me adaptado tão bem a selva de pedra que, do seu jeito, me
acolheu quando era só a menina do interior, mais perdida que cega
em tiroteio.
“Chore por uma noite e depois é vida que segue, Olívia”, foi o
que ela disse quando terminei o namoro com o menino da cidade e
que hoje trabalha na farmácia do pai; ou quando levei um pé na bunda
em São Paulo e quando tive pequenas decepções com amigos,
trabalho. Resolvi seguir esse mantra.
— E?
— Oli, você melhor do que ninguém sabe que eu daria tudo para
te ter aqui em Taubaté. Vem, vamos ali na cozinha fazer o cappuccino
que você gosta. — ela se levantou e foi para a porta da sala, me
esperando passar. — Mas quero te ver feliz. E eu conheço a minha
filha, você estaria entediada e achando que fez tudo errado, caso não
tivesse ido realizar seus sonhos em São Paulo.
— Veja o seu irmão, até faculdade ele quis fazer por aqui. O Zé
está satisfeito com a loja do pai, faz um trabalho ótimo por lá,
conseguiu aumentar o faturamento, mas não abriria mão da vida que
tem aqui, mesmo se fosse ganhar mais. Ou trabalhar em outro lugar.
Já você, para início de conversa, quis um curso que não tinha na
cidade e nem nas cidades vizinhas, e, embora amasse a minha
confecção, nem cogitou trabalhar nela. — Ela me olhou divertida e eu
ri. Lembro da gente procurando faculdades alguns anos atrás. —
Você foi sozinha para São Paulo, aquele lugar enorme, com medo,
sem saber como seria, mas foi. E conseguiu estágio, cresceu na
empresa, passou os seus perrengues sem voltar chorando para casa.
Se sustentou, ganhou dinheiro, saiu várias vezes do país. Comprou
carro e apartamento, filha! Seu pai e eu temos muito orgulho de você.
— Ela me entregou uma caneca com a bebida doce e quentinha,
meus olhos inundados de lágrimas. — Neste momento você está com
o sentimento que sonhou alto demais e deu tudo errado. Mas não tem
nada disso. Você sonhou o que podia realizar, foi lá e fez. Agora é
hora de reformular a rota e seguir em frente.
— Obrigada, mamãe.
— Vamos voltar para a minha sala, quero que tire do papel o seu
sonho de abrir uma marca própria. Agora é a hora e sei que você
está pronta.
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Luiz Henrique
A noite estava agradável, tirando minha irmã que não tinha uma
ocupação fixa, ela havia acabado de se formar em Direito e mexia em
alguns poucos processos no escritório dos meus pais, todos nós
tínhamos uma agitada rotina de trabalho, então era raro
conseguirmos um momento para nos reunir. Ainda mais raro, que
fosse fora de um compromisso formal, como os muitos jantares que
ocorriam ali.
Não dei tempo para mais conversa, eles sabiam que eu não
mudaria de ideia. Meu pai me olhou impassível quando passei por ele,
indo em direção à porta.
— Podemos ir?
— Sim...
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Olívia
Que homem era aquele que me levou para tomar café da manhã?
Estava tudo muito gostoso e toda a comida que pedi tornou-se
uma boa e providencial distração para que eu não ficasse babando
diante do meu vizinho policial federal e muito gato.
— Demitida?
— Tá tudo bem... Minha mãe acha que foi a melhor coisa que
me aconteceu. Tentei pegar um pouco do entusiasmo dela.
— Devo agradecê-lo?
— Quer conversar?
Ele contou por alto sobre o jantar frustrado na casa dos pais,
mas achei melhor não fazer perguntas, pois envolvia seu trabalho e
imaginei que preferisse não entrar em detalhes.
— Obrigada!
— Legal...
— Muito interessante!
— Acho que sim. Não faço isso aqui para me promover. Não
mesmo. E tirando as pessoas com quem trabalho, minha família e
alguns amigos, que eu quero e preciso que sejam voluntárias, não
saio falando da ONG em todo tempo e lugar.
— É, pode ser. Mas o que quero dizer é que não estou aqui
porque sou uma pessoa boazinha, nada disso, estou longe de ser,
inclusive, mas unicamente por acreditar que temos que dar
oportunidade aos que não tem. E cabe a pessoa fazer a parte dela. A
ONG não passa ninguém em concurso, mas oferece aulas de
qualidade, espaço para que venham aqui estudar, disponibiliza
computadores com internet e até impressoras, que podem ser
utilizadas a um preço abaixo do mercado. Eu não dou dinheiro a
pedinte, Olívia, mas se o moleque estiver vendendo bala no sinal, eu
compro tudo o que ele tiver em mãos.
— Quero!
— Hoje não, só fuzil. Vou tomar uma água, tem aluno por
agora? — Ele confirmou e eu olhei em direção às salas, onde eram
passadas as primeiras instruções, havia um grupo de cinco pessoas
que eu não conhecia e estavam assistindo-me. — Pista liberada,
então.
— Achei que fosse vir à noite, vou fazer aquele treino também
— disse Renan, cumprimentando-me.
— Estava sem nada para fazer em casa. — João Miguel me
observava, taciturno, tinha os braços cruzados na altura do peito.
— Imagino.
— Porra, Lui. É a nossa mãe.
— Queria ter feito muito antes, mas quando você saiu foi
aquele caos, né? Você indo para outro Estado, entrando na Polícia, a
mãe quase enlouqueceu. E depois me acomodei, confesso. — João
suspirou, nunca analisei toda a situação por aquele ângulo, enquanto
eu fui fazer a minha vida, ele esteve ao lado dos nossos pais,
segurando a barra. — Eu vivo no escritório, só vou em casa para
dormir. Mas faz um tempo que tenho pensado sobre isso.
— Acho que é o melhor que pode fazer por você. Por mais
liberdade que tenha lá, não é a sua casa, o seu espaço.
— Ela acha que não vai dar certo. Uma merda, irmão. Eu
consegui a soltura de dois clientes, os cabeças de uma quadrilha que
ela está no comando da investigação.
— Sinto lhe informar, mas não tenho nada para contar. Apenas
uma amiga que encontrei pela manhã e convidei para conhecer o
projeto.
Fiquei olhando para o seu nome, mas desisti de falar com ela
sobre a coleção, primeiro ia ouvir Du e ver se ele tinha alguma ideia
melhor que a minha.
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Ainda não sabia bem o que faria, muito menos o que ele gostava
de comer. Tem que ser algo comum, Olívia. O que poderia ser mais
comum que uma massa? Bife com batata frita, mas não precisamos
do cheiro de fritura no apartamento!
Bom, uma Carbonara ele deveria gostar, pois leva bacon e ovo, e
ele comeu das duas coisas naquele dia na padaria. Também havia
algumas garrafas de vinhos, todos Cabernet, o meu favorito.
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Luiz Henrique
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— Ah, não faça isso com ela! Quem gosta de decoração, não
pode perder uma oportunidade de fazê-la, ainda mais se for com o
cartão de crédito de outra pessoa.
— Isso, com toda certeza! Ela terá o maior prazer em usar meu
cartão. — Nós dois rimos. Diferente do dia que passamos na ONG,
estávamos mais à vontade um com o outro.
— Aceito o vinho.
— Um brinde a nós!
— Claro.
— Eu também curto.
— Às ordens!
Ela ofereceu mais doce, que recusei e então fomos para a sala,
tocava uma música baixinha no sistema de som, o clima era
acolhedor. Além disso, conseguíamos manter uma boa conversa.
Olívia mostrava-se tímida em vários momentos, principalmente
quando eu não conseguia disfarçar, ou apenas não queria, meus
olhares cheios de segundas intenções, mas se mostrava pronta para
falar sobre qualquer assunto.
— Sem querer ser indelicado, mas você tem algum plano agora
que não trabalha mais naquela marca de roupas? — Minha pergunta
a pegou de surpresa, vi que relutou por um pequeno instante a
responder. E eu estava prestes a pedir que desconsiderasse, havia
mesmo sido indelicado.
— Hum, bom, eu tenho sim, mas ainda não sei bem como vou
fazer. — respondeu incerta.
— São sim... Bom, foram criados de última hora, não tive tempo
para pesquisas de referências, então pensei na viagem que as
influencers me convidaram e desenhei os looks que eu colocaria na
mala para Nova York.
— Obrigada, de verdade!
— Desde a sua mudança para cá, ainda sem saber que era você
o meu novo vizinho, perguntava-me o porquê dessa vista não ser
devidamente apreciada.
Que noite! Tudo estava indo rápido demais, mas Luiz Henrique não
fazia o mínimo esforço para disfarçar que queria me beijar e eu, bom,
eu queria o mesmo. No entanto, mantinha a cabeça no lugar. Ao
menos, tentava. Não era nenhuma puritana, tive as minhas aventuras
amorosas, embora preferisse um relacionamento estável.
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Desci meio sonolenta no elevador, sério que era uma boa ideia
sair da cama tão cedo? Suspirei e caminhei lentamente pelo corredor
que levava a sala da academia. Franzi o cenho com o som que passei
a escutar, não era tão alto, pois as portas de vidro estavam fechadas,
mas eu ouvia perfeitamente a música eletrônica animada que tocava
lá dentro.
Uau!
Usando uma calça esportiva preta, que, talvez pelo suor, estava
colada em suas pernas torneadas e, sem camisa, Lui corria na
esteira; os cabelos meio bagunçados, uma verdadeira tentação
matutina ou em qualquer horário do dia. Seu ritmo era rápido, ele
praticamente voava no ritmo da música que tocava.
Diferente do que imaginei, até por não tê-lo visto desnudo, seu
corpo era muito bem definido por músculos. Braços enormes, costas
largas e algo me dizia que de frente, eu veria vários gominhos em seu
abdômen.
— Certo!
— Lui!
— Eu quero!
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Passei mais tempo na academia do que havia planejado, Lui e eu
retornamos juntos ao nosso andar, ele disse que ia para a ONG. O
homem era incansável, seu dia de folga depois de muita correria nos
plantões na delegacia e lá ia para outra atividade.
Uma hora depois estava liberado e não via a hora de voltar para
casa. Tinha planos para aquela noite.
— Bom... Acho que você já sabe que foi longe demais, vacilou
enquanto estávamos em duas ações policiais — Olhei em sua
direção, Dani encarou-me, encolheu os ombros de leve e assentiu.
— Sim, eu sei.
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— Estou às ordens.
— E a não ser que queira muito comer pizza, não precisa pedir,
tenho várias comidinhas aqui. — Avisou. — Modelos e influencers
praticamente não comem. — Complementou, abaixando o tom de voz,
como se confabulasse.
∞∞∞
Olívia
Já devo ter dito em algum momento e até para mim possa ter
soado repetitivo, mas meu vizinho estava mexendo muito comigo.
— Gente, não tem nada disso, nem nos beijamos, tá — fiz com
que parassem e me ouvissem, de preferência, longe da varanda.
— Oh, isso é bem triste. Porque ele me pareceu ter uma boca
bem beijável. — Nath fez com que todas gargalhassem novamente. —
O que acha, Olívia?
— Amigoooooo!!!
Fui até a minha suíte, soltei o coque que tinha feito no cabelo e
passei a escova pelos fios. Dei uma pincelada de blush nas
bochechas e renovei o perfume. Estava pronta.
Na cozinha, arrumei dentro da embalagem a torta intocada de
palmito com catupiry e em outro vasilhame coloquei os mini
sanduíches e salgadinhos. Despedi-me da Chanel que estava exausta
das tantas visitas que recebemos e fui ao apartamento dele.
— Pode deixar!
— Então quer dizer que tenho uma boca beijável, vizinha? Acho
que escutei algo neste sentido. — Lui deu um passo em minha
direção, parando logo atrás de mim, sua voz aveludada soou em
minha nuca, deixando-me toda arrepiada. Sentia forte o impacto das
batidas do meu coração, como se ele fosse escapar do peito. Ao
nosso redor, a noite de São Paulo em seu misto de escuridão
iluminada. Minhas bochechas ardiam, avisei que ele ia escutar e as
matracas não me ouviram e nem se calaram. No entanto, não havia
nenhuma mentira no que Nath disse, ele era sim muito beijável. Ah,
como era! — Será que escutei errado? — Senti seu corpo grande e
quente perto demais do meu, quase colado, seu peitoral já tocando
em minhas costas. Fechei os olhos, a noite estava fria, mas eu sentia
a sua quentura.
— É sim — sua boca tomou a minha, Lui subiu uma mão para o
meu cabelo e segurou firme a minha cabeça, sua língua me invadiu,
em um beijo forte, profundo, molhado, levando com ele todo o meu
fôlego. Com a outra mão ele me abraçou forte, fundindo nossos
corpos. Eu o sentia, suas reações, as batidas em seu peito, as veias
saltadas em seu pescoço sob as minhas mãos. — Eu quis muito te
beijar! — disse ao afastar levemente nossas bocas, seus lábios
grossos estavam avermelhados e inchados, já seus olhos quentes me
devoravam. — Eu não vou te largar tão cedo. — E logo estávamos
entregues novamente aos beijos, seu corpo moendo o meu sobre o
guarda-corpo e suas mãos me agarrando.
∞∞∞
Luiz Henrique
Não contamos os beijos, mas estávamos a um passo do precipício
e, mais um pouco, nada nos tiraria de lá. Passava de uma da manhã
quando, ainda agarrada ao meu corpo, depois de sairmos da varanda
e deitarmos juntos no enorme sofá da minha sala, Olívia disse que
precisava ir para casa. Fujona!
Fazia tempo que não trabalhava com uma rotina tão tranquila na
delegacia, basicamente desenvolvendo trabalhos administrativos e
cumprindo uma jornada quase que comercial. Não me iludia, sabia
que esse era o prelúdio para uma sequência de tiro, porrada e bomba
no início de uma nova operação.
“Você tem muito bom gosto, vemos-nos logo mais! Ps: Vou
poder sugerir irmos visitar o restaurante pessoalmente sem que
você dê defeito?” (Luiz Henrique)
Eu estava no limite.
— Se é bom eu não sei, mas com toda certeza bem útil para
apagar fogo! — Beijei sua testa e a desci da bancada.
∞∞∞
— Saiu muito cedo, filha! — Ela beijou meu rosto e colocou sua
bolsa sobre um móvel ao lado da mesa onde trabalhava.
∞∞∞
— Diferente?
— Sim... Eu falei sério naquela pequena conversa que tivemos
na confecção, sobre você não tirar mais o sorriso no rosto. Mesmo
estando tão atarefada durante estes dias, sempre arrumou tempo
para conversar com alguém aí, mesmo que rapidinho — disse
apontando com a cabeça para o meu celular, que estava ao meu lado
no sofá. — Está com um brilho diferente nos olhos. Pena que mal
tivemos tempo de conversar.
Ah, como era esperta essa dona Cida, deve ser coisa de mãe.
Também senti por não ter conseguido parar para aproveitar melhor a
companhia dela.
∞∞∞
— Não faz essa cara, está diferente, sei lá, mais calmo. — Ela
me encarou e franziu o cenho. — E o mais intrigante, não está dando
a mínima para toda a atenção feminina que recebe aqui no clube. —
Ri alto com a sua observação. Evitava sair com alunas, tá, evitar não
é a melhor palavra, mas Renan e João achavam que era inadequado.
Já eu, só saía com elas e torcia para não ter problemas.
∞∞∞
— A ruiva? — Perguntei.
— Entendo.
— Tarde animada!
Eu não podia ficar doente. Não tinha nem tempo para isso.
O que eu ia fazer?
Algo que havia percebido nele era que o homem tinha enorme
espírito de liderança e bom faro para cuidar. Até poderia chamá-lo de
mandão, mas achei um tanto injusto, pois, embora, às vezes soasse
assim, estava bem óbvio que sua intenção era mesmo cuidar, ser útil,
além de se preocupar com a minha segurança.
O famoso alfa. E eu gostava disso, muito provável que se
fosse diferente, não daríamos certo. Assim como não deu com os
meus ex.
∞∞∞
Será que ele também havia se dado conta deste fato? Tá, ele
estava ali como meu amigo, que fez um enorme favor. Mas fiquei
totalmente sem graça e já sem saber como reagir quando fosse
apresentá-lo.
Ela saiu em nossa frente. Lui passou a mão de leve pela minha
cintura, e, após deixar um beijo em meus cabelos, soltou-me.
Entramos em casa, mostrei-o onde ficava o lavabo e Carminha sumiu
para a cozinha.
— Trouxe.
∞∞∞
— Mais uma vez, obrigada! Não vou demorar por aqui. — fingi
de boba, não queria despedir-me e seria cansativo para ele pegar
estrada novamente.
Minha mãe passou o braço por cima dos meus ombros e beijou
meu cabelo, seguindo o meu olhar, que não desgrudou dele, mesmo
quando saiu de perto.
— Mas aqui não vai rolar. — completei e ri, beijando mais uma
vez sua boca.
— Claro, não vou pegar estrada sem antes beijar essa boca
gostosa.
— E?
— Não tenho mais nada para contar, mas preciso de uma folga
no fim de semana. — pedi de uma vez, tinha um bom plano, que
surgiu em minha cabeça quando estava com Olívia em meus braços,
nós dois embolados no sofá na casa dos pais dela.
— Imaginei.
— É namoro?
— Babaca.
— Desembucha.
— E você?
— Pode ser. Ela está vindo atrás porque me viu com uma
mulher.
— Mesmo?
— Aí vem a parte estranha. Ela estava me vigiando, usou um
carro que não é dela, mas a reconheci na rua do meu prédio, me
pegou chegando com uma mulher que já saí algumas vezes.
— Tenho certeza.
— Aí é problema.
— E essa mulher que você está saindo, tá gostando? — ele
suspirou e perguntou, mudando o assunto para a minha vida amorosa.
∞∞∞
Olívia
Ele cuidou de mim, não apenas por ter me trazido para a casa
dos meus pais, mas em cada detalhe. O tempo todo checava a minha
temperatura e fazia o cálculo do tempo em que tomei as medicações.
E era carinhoso. Mesmo correndo o risco de sermos surpreendidos
pelos meus pais, não deixava de me tocar, abraçar e ainda roubava
beijos, vários deles.
— Sim...
— Lui!
— Bom, você disse que voltaria hoje a São Paulo. Então vim te
buscar. — Meu coração quase perdeu uma batida.
— O delegado?
— Sim...
— Lui...
— Posso imaginar!
— Lui...
Não parei nem para almoçar, Paulo chamou-me para ir com ele
em um restaurante próximo a delegacia, mas declinei. Caso
conseguisse a folga no fim de semana, precisava ter todo o trabalho
burocrático fechado.
Na noite anterior, após sair do apartamento da Olívia, fui para
casa e refleti sobre o nosso relacionamento. Para ser mais
específico, sobre o que gostaria de avançar com ela. Poderia parecer
que nos envolvemos rápido demais, mas, para mim, estou tendo o
tempo que precisava para saber que a queria em minha vida.
— Oi, linda!
— Tudo bem?
— Eu estou e você?
— Consigo!
— Quase isso. Ainda não houve pedido, mas não estou saindo
com mais ninguém. — Fui direto, para não deixar dúvidas.
Independente do status do meu relacionamento com Olívia, eu queria
estar apenas com ela.
Entrei em casa e, mais uma vez, fui salvo pelo acaso, pois, por
algum motivo, lembrei-me que no dia seguinte era sexta. Logo, o dia
que enviava as roupas para a lavanderia e ainda não as tinha
separado. Isso me trouxe à mente que também seria meu último dia
de trabalho na semana e, então, teria a minha tão esperada folga. O
que significava que pretendia viajar com Olívia e não havia fechado o
chalé. Suspirei fundo.
∞∞∞
Olívia
— Não mesmo!
Sim, eu ia enlouquecer.
Capítulo 27
Luiz Henrique
— Eu não sei.
Aguardei que eles tentassem emparelhar os carros com os
vidros abertos e consegui enxergar que havia, ao menos, três
homens. Eu estava em desvantagem. No entanto, eles não contavam
com a blindagem do meu carro e, certamente, recalculavam a rota.
— QXA0139
— Tá.
Soltei um suspiro e tentei raciocinar. Não conseguia.
— Estou, mas isso não importa. Meu único medo era que você
se ferisse ou te perdesse.
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Olívia
— Lui...
— Ah, claro.
∞∞∞
Olívia
∞∞∞
Luiz Henrique
Bastou que eu saísse da presença dela para que o meu humor
tornasse odioso. Eu estava muito puto, sem vontade de conversar
com quem quer que fosse e desejando meter bala no desgraçado que
encomendou aquele atentado.
Era óbvio que eram meros empregados. E burros. Não
recalcularam rota quando viram que o meu carro era blindado e,
mesmo sabendo que estavam em vantagem no número de pessoas,
continuaram atacando a traseira, sendo que nas laterais poderiam
tentar me atingir, já que abri o vidro do meu lado.
Enfurnei dentro de uma sala da delegacia e passei boa parte
da manhã listando os envolvidos na operação que íamos deflagrar na
rua, bem como as ligações dentro quadrilha que investigávamos.
— Tenho notícias — Paulo irrompeu na sala com uma folha
em mãos, virei a cadeira em sua direção e ele puxou uma que estava
vaga ao meu lado, sentando-se nela. — Olha isso — mandou,
esticando o papel para mim.
— Então, não estávamos errados — recostei na cadeira,
relendo as informações. Tratava da transcrição de uma conversa
obtida através do grampo no telefone do Armando Muller.
— De forma alguma. Não foi ele, mas sim o seu capanga de
luxo. — O cabeça da quadrilha e conhecido empresário, ainda que
falando em códigos, repreendia Josiel, seu braço-direito no crime,
sobre ter enviado os caras atrás de mim.
— Acho uma boa ideia explodirmos durante a semana. Não é o
maior movimento das casas, mas foge do óbvio. — Devolvi-lhe o
papel e aguardei que Paulo se manifestasse.
— Ele volta mesmo na terça-feira, já tenho os detalhes do voo,
terá um agente à paisana no aeroporto e irá segui-lo durante todo o
tempo. Não vamos perdê-lo de vista.
— Fechado. Vamos almoçar? — Ele assentiu e saímos juntos
da delegacia. Quando chegamos à rua, recebi uma mensagem no
telefone com a confirmação do chalé. Lamentei por antecipação
durante a madrugada, certo de que Olivia preferiria um tempo longe
de mim. Mas a mulher surpreendeu-me.
— E a garota? — perguntou depois que nos acomodamos no
restaurante localizado na rua da delegacia. Comida caseira e simples,
contudo, de boa qualidade e o ambiente era agradável.
— Foi foda. Foda pra caralho. Mas hoje ela acordou,
parecendo mais calma. A viagem tá de pé.
— Fica de olho, Lui. Se precisar, mete escolta atrás dela.
Já havia pensado nisso, talvez fosse necessário. E muito
provável que ela surtasse se soubesse que teria alguém a vigiando.
Mas com isso eu poderia lidar, só não deixaria Olívia em
perigo. Nunca mais.
Capítulo 29
Olívia
∞∞∞
Luiz Henrique
∞∞∞
A água quentinha era um alívio em meu corpo, fazendo-o
relaxar, lavei os cabelos e fiz minha higiene. Assim como todo layout
do chalé, além do local onde estava a banheira, a área do chuveiro
também possuía uma parede envidraçada. E era indescritível tomar
banho olhando as montanhas.
Eu estava tão entretida com a vista, que nem percebi que Lui
já estava dentro do box.
— Pedi o café da manhã, em dez minutos será servido na
varanda. — ele espalmou as mãos em minha barriga e com destreza,
nos posicionou embaixo do jato d’àgua.
— É lindo — eu disse, apontando para as montanhas.
— É sim... Faz algum tempo que um amigo esteve aqui com a
esposa. Ele falou muito bem do lugar e, quando vi as fotos, quis
conhecer. Mas precisava de uma companhia especial. — Aproximou-
nos um pouco mais da vidraça, ainda embaixo da água e ficamos ali
abraçados e admirando a vista.
Suas palavras tocaram fundo em meu peito. Eu sentia sua
sinceridade e, convenhamos, já havíamos avançado o bastante para
não precisarmos de joguinhos.
— E eu sou a companhia. — Queria olhá-lo, então virei, em
sua direção, e levei as duas mãos até sua barba, acariciando-o ,
enquanto ele abraçava minha cintura.
— Você é a pessoa especial que chegou à minha vida! — Nós
dois suspiramos e ele beijou minha boca de leve, antes de continuar a
falar — Sabe... Eu morava em um bom apartamento, o único defeito
era ser um pouco longe da delegacia. Mas, do nada, deu-me uma
coisa de comprar outro e comecei a procurar antes mesmo de pensar
se o colocaria a venda ou para alugar. Será se eu teria te conhecido,
se não tivesse me tornado seu vizinho? — Uma mão ele soltou da
minha cintura e levou ao meu rosto, erguendo um pouco o meu
queixo.
— Era para ser assim... Rodrigo e Isabel, o casal que morava
lá, eram bons vizinhos. Tudo bem que a gente pouco se encontrava,
mas nunca tivemos problemas. E de uma hora para outra decidiram
sair do Brasil, pelo que me explicaram, foi uma decisão que tomaram
em uma noite, enquanto jantavam. Acho que não levou mais que dois
meses para a mudança deles. — Contei e ele me escutou atento. De
alguma forma, várias coisas aconteceram para que o resultado fosse
nós dois ao lado do outro.
— Eu precisava te conhecer. — Com as duas mãos ele
segurou meu rosto e disse, com muita firmeza, sem desviar nossos
olhares. Eu torcia para que Lui sentisse ao menos um pouquinho do
que havia em meu coração.
Eu me apaixonei por ele!
— Foi uma das melhores que coisas que me aconteceu desde
que cheguei em São Paulo. Sei que tem pouco tempo, mas o que
temos vivido juntos, nós somos bons juntos! E isso tem bastado... —
Reuni toda a minha coragem para dar uma dica sobre o que sentia.
Ele fez uma longa pausa, a vegetação e montanhas, olhando-nos, o
barulho da água caindo e ali, em nosso particular, eu quase podia
ouvir nossos corações batendo, pois o sobe e desce em seu peito já
me era visível.
— Ah, linda! Você tem ocupado um tamanho enorme na minha
vida! — ele disse e me abraçou forte.
— Você, igualmente!
∞∞∞
— Tá aprovado? — Perguntou-me com um sorriso travesso.
Fazer o que, eu estava quase tendo um orgasmo gastronômico com
as combinações de pãezinhos de vários tipos e sabores, que incluía
croissants de chocolate meio amargo e pasta de nozes. Que
combinação dos Deuses.
Lui havia colocado em seu prato pão australiano, creme de
queijo, ovos mexidos e bacon. Nada, absolutamente nada de doce. O
que me pareceu um sacrilégio diante do banquete que nos foi servido.
— Uau! Conseguiu superar o café da minha mãe, da Carminha
e da nossa padaria! — Ele concordou, ainda rindo.
Aproveitamos o café sem pressa, que foi organizado sobre a
bonita mesa de jardim que ficava na varanda. O sol cintilava sobre a
vegetação e sob a luz do dia e pude ver o quão maravilhoso era o
lugar. Cercado por verde e muitas flores. Tudo bem cuidado e
colorido. Pássaros rodeavam o lugar, tornando o ambiente ainda mais
bucólico. Na lateral do chalé, havia um lago enorme e, próximo a ele,
pergolados espalhados sobre o gramado.
Após o café, vestimos roupas de ginástica e, por cima,
agasalhos. A funcionária que nos recepcionou quando chegamos,
passou uma programação de atividades na região. Havia trilhas,
passeio de quadriciclo, rapel, dentre várias outras. Ainda não
tínhamos decidido qual fazer e saímos para conhecer todo o espaço
da pousada, que era incrivelmente lindo.
De mãos dadas, descemos a trilha que separava a área dos
chalés para a de convivência, onde ficavam os apartamentos e área
comum como: refeitório, academia, sala de chá e jogos.
Havíamos acordado mais cedo do que imaginamos quando
fomos para o banho, tanto que, no refeitório ainda havia hóspedes
tomando o café da manhã. Paramos diante de uma fonte, peguei meu
telefone que tocava e Lui fez sinal que iria até a varanda do local onde
eram servidas as refeições, nós é que preferimos fazê-la na varanda
do chalé.
Era Du quem me telefonava, assim que saí do banho, mandei-
lhe uma mensagem, pois ele estava com Chanel. Conversamos um
pouco, ele queria saber detalhes da minha noite ao lado do policial
bonitão o que, obviamente não lhe entreguei e, ao desligarmos, virei
em direção à varanda, procurando Lui.
E lá estava, lindo demais encostado no guarda-corpo,
observando a paisagem, todo de preto e com óculos de sol o que lhe
davam um aspecto ainda mais misterioso. Segurava uma xícara,
provável que com café, totalmente alheio aos olhares femininos nada
discretos.
Próximo à porta dupla que separava a varanda do salão de
refeição, havia quatro mulheres reunidas. Elas riam, comentavam algo
que eu não consegui compreender e olhavam em sincronia para Lui.
Há cerca de duas mesas ao lado, outra mulher também o cobiçava e
esta estava acompanhada, enquanto eu guardava o telefone no bolso
frontal do meu agasalho, vi quando o cara se levantou da sua mesa
para ir servir mais do café da manhã.
Bufei e, um pouco irritada, caminhei em direção a ele. Mas,
graças ao bom Deus, tive o discernimento de respirar fundo durante o
curto trajeto, o que me fez raciocinar e melhorar a cara que já
emburrava.
Era eu quem estava ao lado dele e foi comigo que ele acordou
pela manhã.
Foi o suficiente para erguer o cenho e caminhar segura. Sabia
que não conseguiria surpreendê-lo, pois perceberia qualquer mínimo
movimento meu, mas calmamente, espalmei as mãos em suas costas
largas e deixei um beijo por ali.
— Demorei? — virou em minha direção e negou, após beijar
minha boca.
— Como Chanel está?
— Achando que a casa do tio Du é uma colônia de férias! —
Nós dois rimos, ele virou um último gole da bebida, que era mesmo
café, e apontou para dentro do salão.
— Vamos ali comigo devolver a xícara? O gerente nos indicou
um passeio interessante, conhecido como Rota de Vinhos e Queijos,
assim poderemos conhecer mais do local através das fazendas e
vinículas. Pensei em fazemos uma visita depois do almoço, o que
acha?
— Eu vou adorar!
Pegou-me pela mão e entramos juntos dentro do salão. Eu
resisti, bravamente, em cometer o ato adolescente de olhar para as
mulheres que antes estavam comendo-o com os olhos.
Ao descermos para uma caminhada, pois, na região, havia
um pico muito conhecido e ele queria ir lá.
Durante todo o trajeto, de ida e volta, contamos nossas
histórias de vida, trocamos olhares, risadas, beijos. Compartilhamos
de alguns silêncios, como quando chegamos ao pico e ficamos
absortos em pensamentos. Creio que a natureza tem esse poder
sobre nós, causar-nos reflexões.
Absolutamente, tudo era mais interessante ao lado dele.
Suspirei quando voltamos ao chalé, não estávamos ligando
para horário, estendemos a rede na varanda e deitamos juntos, minha
cabeça eu sem peito, seu braço segurando-me.
Ali, eu me sentia em paz e esperava que ele também.
Capítulo 31
Luiz Henrique
∞∞∞
Olívia
∞∞∞
— É um dos melhores fondues que já experimentei — comentei
após ele levar à minha boca um pedaço de pão de especiarias, mas
antes mergulhou no queijo derretido. Com o dedo, ele limpou o
cantinho da minha boca.
— Eu também gostei muito!
— Por que estou com a sensação de que você quer me contar
algo? — Desde que acordamos, pela manhã, notei-o meio agoniado,
com a típica expressão de quem procura o melhor momento para
adentrar determinado assunto.
— Porque é uma mulher muito esperta e inteligente. — Ainda
estávamos no tapete da sala e colocamos os dois aparelhos de
fondue sobre a mesinha de centro, junto com os vasilhames onde
estavam os acompanhamentos. Lui chegou mais perto e apertou a
ponta do meu nariz, em uma brincadeira nossa. — Bom, não é bem
contar, mas sim fazer um convite.
— Hum... Que mistério!
— Já comentei com você sobre o clube de tiro do qual sou
sócio...
— Sim...
— Quero muito te levar lá... — Ergui a sobrancelha, já
imaginava que, em algum momento, tal convite poderia surgir. Estava
longe de ser o programa que eu escolheria por conta própria, eu tinha
zero familiaridade com armas, mas confiava em Lui e que ele não me
levaria para um lugar que não fosse seguro. Não de forma pensada.
— Quero mostrar o espaço e como funciona. É um dos lugares que
mais frequento.
— E tem algo mais nisso aí... — Ele pisava em ovos e eu não
me segurei, revirei os olhos, arrancando uma risada dele.
— Tem, Olívia. Bom, imagino que aulas de tiro você vai
dispensar, o que é uma pena, pois eu adoraria te ensinar a atirar, mas
gostaria que fizesse aulas de defesa pessoal. — Ele falou tudo de
uma vez e eu quase perdi o ar. Imagina, pegar em uma arma. Seria
até engraçado para não dizer impossível. Mas, defesa pessoal?
— Uau. Nossa... Nunca pensei em fazer nada nem parecido. —
Expliquei, nem sabia como funcionava uma aula do tipo.
—É para você, sua segurança. — E tocou em minha
mandíbula, fazendo um carinho em todo o contorno do meu rosto e
depois segurou o queixo. — Uma tentativa, você vai lá conhecer, ver
como é, participa de aula uma experimental e depois me dá uma
resposta. O que acha? — Eu poderia dizer sim para qualquer coisa
com aquele homem, olhando-me firme e com os olhos cheios de
desejo e determinação.
— Tá, eu posso tentar...
— Fácil assim? — Ele riu e, ainda segurando meu queixo, deu-
me um beijo gostoso, molhado, explorando cada pedacinho da minha
boca. Não me fiz de rogada e correspondi, enlacei seu pescoço e
quase sentei em seu colo, deixando que ele conduzisse.
— Não sabe o que te espera, senhor Luiz Henrique Brandão.
— Eu disse, pausadamente, sem desviar o olhar. — É provável que
eu não me controle vendo você todo malvadão, atirando pra tudo que
é lado. — Ele gargalhou e foi minha vez de beijá-lo. — Sabe que fica
bem sexy no modo policial?
— É mesmo? E o que pretende fazer? — Já havia me puxado
para o seu colo, minhas pernas ao redor do seu corpo e ele
encostado no sofá.
— Pode ter certeza que irei te contar em detalhes quando
sairmos do seu clube, mas, em casa, na minha cama ou na sua! —
dei uma piscadinha e Lui me encarou firme, a respiração pesada,
suas mãos apertando a minha cintura.
— Segunda-feira, pode colocar na sua agenda. Iremos visitar o
clube de tiro.
— Já estou ansiosa!
Capítulo 32
Olívia
∞∞∞
Luiz Henrique
∞∞∞
Horas mais tarde, dirigia para casa. Queria com todo o meu
íntimo meter o pé no acelerador e chegar logo. Mas havia o trânsito
no meio do caminho.
Sozinho, perdi-me nos meus pensamentos.
Pedir Olívia em namoro foi natural. Pois ao lado dela eu tinha
paz. Tinha sossego, tinha cuidado. E eram requisitos que eu não abria
mão para estar com alguém, fosse namorada ou amigos.
O fato dela ser linda demais e termos descoberto uma incrível
sintonia na cama, era o bônus. Não tinha como não ser ela.
Minha namorada, a mulher que estava despertando muitos
sentimentos dentro de mim.
Já contei que nunca tive problemas em me relacionar, sempre
estava com alguém do lado. Passei por algumas paixões, algumas
fugazes, outras um pouco mais duradouras. Mas nenhuma chegou
perto do que eu já sentia ao lado dela.
E o que eu poderia fazer? Experimentar o que a vida havia
reservado para nós dois.
Eu queria Olívia e não ia fugir.
Capítulo 33
Luiz Henrique
Minha namorada era uma estilista, logo, vivia da moda. Então, não
estranhei quando cheguei à porta do seu apartamento para buscá-la e
encontrei uma Olívia, incrivelmente arrumada, dentro de uma calça
justa de couro e jaqueta do mesmo material. Toda de preto, ainda
usava bota e uma blusa de gola alta. Os cabelos estavam presos em
um rabo de cabelo e usava vários acessórios. Adorável! Quem a
visse, toda mulherão, nem imaginava que estava indo para um clube
de tiro e tinha um certo pavor de armas. Essa era a minha mulher!
— É até injusto com o resto da humanidade você ser linda
assim — Gostava da carinha que fazia quando eu a elogiava e
poderia repetir todos os dias o quanto a achava linda para vê-la feliz.
Puxei-a para os meus braços e beijei sua boca, saboreando
sua maciez e sentindo seu gosto. Estava com saudades dela, como
se não tivéssemos passado todo o fim de semana grudados.
— E você é galanteador assim, sempre? — Tinha um sorriso
no rosto, trancou a porta e enlaçou meu pescoço, iniciando outro
beijo.
— Com a minha mulher, sim! Eu te vi acordar, Olívia! —
Sussurrei em seu ouvido. Abracei-a, era o nosso primeiro encontro do
dia, e cheirei seu pescoço. — E continua linda com o rosto inchadinho
e os cabelos bagunçados que, inclusive, é a minha versão favorita de
você!
Senti seu corpo estremecer quando passei a pontinha da
língua na pele arrepiada do seu pescoço.
— O que será que meu namorado está querendo, hein? —
perguntou, divertida.
— Para começar a conversa, não ser chutado pela minha
namorada mais tarde. — Soltei-a do aperto dos meus braços e deixei
um beijo em sua testa. — Não gostei de acordar sozinho na manhã de
hoje!
—— Tão esperto esse garoto! Está lindo, também! — passou
os dedos em meu rosto e ficamos parados, ali no corredor do nosso
andar, olhando-nos.
— Já que vai fingir que não me ouviu, vamos lá, então?
Ela gargalhou, uma risada gostosa, e caminhamos para o
elevador.
O trajeto até o clube foi tranquilo, contamos como havia sido o
nosso dia e ela comentou que teria algumas reuniões ao longo da
semana. Apenas mencionei que participaria de uma operação grande
e, provavelmente, enfrentaria longos plantões.
Parei o carro diante da fachada do clube e acionei o controle
para abrir o enorme portão, ela olhava admirada.
— Quero que você se sinta a vontade, te trouxe aqui para que
conheça um pouco mais do meu mundo, das coisas que eu gosto de
fazer e com quem eu convivo. Se algo te incomodar, fale-me. Tudo
bem?
Eu tinha consciência de que era um ambiente completamente
diferente do que ela tinha o costume de frequentar, no pouco tempo
que estávamos juntos, pude perceber isso com clareza.
Mas também havia duas pessoas que eu preferia não ter que
apresentar a Olívia, não tão breve, pois sentia que ela ficaria
desconfortável. Pamela esteve em minha cama mais vezes que eu
gostaria de confessar e, Dani, bom, além da paixonite que parecia ter
por mim, foi a mulher que apontou uma arma na cara da minha
namorada.
— Não estou assustada, Lui! — Um sorrisinho seco surgiu em
seus lábios e ela ergueu a sobrancelha. — Mas tem algo que preciso
saber? — Por que as mulheres eram tão mais espertas que nós
homens?
— Só quero que aproveite... — respondi, desconcertado.
— Eu vou!
Beijei sua boca e, de mãos dadas, caminhamos pelo gramado.
Mostrei-lhe cada área do local, apresentei os funcionários que
encontramos e Olívia fazia vários comentários.
— É muito diferente do que imaginei — seus olhos corriam por
todo o espaço e ela parecia gostar do que via.
— Ou seja, pensou que encontraria um cenário de filme thriller,
para não dizer carnificina mais arrumadinha. — Ela riu alto e eu, que
não estava conseguindo me conter quando diante dela, beijei sua
boca, mais uma vez.
— Bobo! Na verdade, nem sei bem o que pensei que fosse
encontrar. Mas estou gostando.
— E ainda não chegamos na parte divertida.
Levei-a ao galpão com as baias onde havia um aluno com o
instrutor e, através das paredes envidraçadas, eu vi que a pista
aberta estava cheia.
— Caso decida por fazer aulas de tiro, é aqui que iremos
iniciar. Esse espaço também é aberto para quem quer apenas
praticar e não é filiado ao clube. — Mais uma vez, Olívia observou
com atenção cada detalhe, no entanto, vi que seus olhos demoraram
ao olhar lá para fora. Daqui a pouco, linda. Pensei.
— Quem sabe um dia! — Ela voltou seu olhar para mim e eu
mantive uma mão em sua cintura, como se Olívia fosse fugir.
— É, quem sabe. — Sibilei.
— E lá fora?
— Chamamos de pista aberta. Somente filiados podem atirar,
vou te levar para conhecer, mas antes quero te mostrar o anexo onde
acontecem as aulas de defesa pessoal e artes marciais. — Ela
assentiu e peguei sua mão.
Saímos das baias e atravessamos um corredor, chegando à
sala de lutas.
— Uau! É muito completo, Lui!
— Eu gostaria mesmo que você fizesse.
— Eu vou! Prometo!
— Certo, depois irei marcar sua aula experimental. Meus
irmãos estão aí, alguns amigos também, vamos lá.
Voltamos pelo mesmo corredor, senti sua mão gelada, não sei
se pelo frio que fazia ou por nervosismo, mas antes de colocarmos o
pé na pista, eu freei o passo e a segurei.
— Eles vão gostar de te conhecer! — Com uma mão, abracei
sua cintura e com a outra levei ao seu queixo, segurando-o. Minha
boneca, tão linda, tão delicada, nem sei se eu merecia tanto.
— Eu também vou! — Olívia forçou o maxilar em minha direção
e eu a soltei, deixando que me beijasse.
Foi leve e discreto, ela não fazia o tipo que me agarraria com
uma plateia de camarote nos observando.
Antes mesmo de nos afastarmos, senti que vários pares de
olhos nos encaravam. Suspirei e, juntos, viramos em direção a eles.
Meus irmãos não esperaram que nos aproximássemos e nos
encontraram no meio do caminho.
— Linda, esses são João Miguel e Maria Clara, meus irmãos.
— Os dois pararam diante de nós e eu os apresentei, mantendo uma
mão na base da cintura dela. — Olívia, minha namorada. — João
estendeu a mão e Clara abraçou-a. Os dois tinham um sorrisinho no
rosto, há dias insinuavam que eu estava com alguém.
— Prazer em conhecê-los! — Tímida, ela respondeu. Capturei
seu olhar para os meus irmãos e vi o quanto estava sendo sincera,
satisfeita por ter sido apresentada a eles, assim eu fiquei quando
conheci seus pais, embora tivesse que programar uma ida a Taubaté
com o nosso novo status.
— O prazer é todo nosso. Eu sabia que tinha namorada na
história, meu irmão está diferente. — Maria Clara me deu uma
piscadinha e voltou sua atenção para a cunhada, já João, discreto, ria
da minha cara. Ah, mas eu queria era ver sua coragem para assumir
a delegada.
— É mesmo? — perguntou, interessada. Apertei de leve sua
cintura e ela deu uma risadinha. Linda!
— Sim, cara de apaixonado, sabe? — Revirei os olhos e João
riu alto, Olívia me olhou com o canto do olho, e eu a envolvi ainda
mais com o braço. Não ia negar, mas também não precisava fazer
declarações para os meus irmãos ouvirem.
— Seja bem-vinda, Olívia! É sua primeira vez em um clube de
tiro? — João se adiantou em mudar o assunto e, internamente, eu o
agradeci.
— Sim... — A pergunta foi mais uma retórica, estava
estampado na cara dela que aquele não era o ambiente que ela
costumava frequentar.
— Você vai se divertir. — Ela assentiu, ainda meio incrédula.
Eu ri e beijei o topo da sua cabeça. Para João e eu, era inconcebível
uma pessoa não se divertir no clube, mas Olivia, por ser tão diferente
de mim, e sem ter consciência, ensinava-me muito. Por exemplo, o
fim de semana que passamos juntos em Serra Negra foi incrível. Tive
uma nova perspectiva de diversão.
E me dei conta de que a minha felicidade tinha a ver com ela
ao meu lado.
Por isso, eu quis tanto levá-la ao clube.
— Eles me falam isso há anos e comigo não aconteceu. Venho
porque é quase o único jeito de ficar com meus irmãos. Mas olha,
depois de muita insistência do Lui, comecei as aulas de tiro. — Maria
Clara voltou a tagarelar com Olívia, que a ouvia atentamente.
— Ele gostaria que eu fizesse, mas ainda não me imagino
encostando em uma arma.
— Tudo no seu tempo — interrompi a conversa pegando sua
mão.
Nós quatro caminhamos pela pista e paramos onde estavam
nossos amigos reunidos.
— Boa noite! — Cumprimentei todos de modo geral.
— Ah, o cara apaixonado chegou! — Paulo se adiantou e
pegou a mão dela, que retribuiu.
— Olívia, minha namorada. Esse é Paulo, Davi, Renan, Celso,
Junior, Dani e Pamela. Renan é meu sócio e essa turma é da
delegacia. — Expliquei rapidamente. Todos a receberam com um
sorriso, embora Dani tenha logo desviado o olhar e Pamela pareceu
sem graça.
— Olá, boa noite! — A voz que vinha me tirando do eixo, ou
melhor, devolvendo meu equilíbrio, fe-me parar de pensar demais. O
que importava era que ela estava ali do meu lado.
— Seja bem-vinda, Olívia! — Foi Davi quem desejou e ela
agradeceu com um sorriso.
— Pronta para atirar? — Paulo perguntou, ainda estávamos de
mãos dadas, e senti quando ela retesou. Passei o dedo no dorso da
sua mão, fazendo um carinho e respondi por ela.
— A Oli vai só assistir hoje. — Vários pares de olhos fingiram
compreender, fracassando, obviamente. Para eles, também era uma
enorme diversão estar ali. E eu quis socá-los por terem-na deixado
sem graça.
— Você fica comigo, ufa, agora tenho companhia! — Maria
Clara a agarrou pelo braço, depois teria que agradecê-la pela
atenção com Olívia.
Conversei um pouco com o pessoal. Eu quase nunca estava na
mesma operação que Junior e Celso, pois os dois eram atiradores de
elite, assim como eu, logo, Paulo, colocava um em cada ação. Só
saíamos juntos quando era algo muito grande.
— Tem uma lanchonete aqui, quer fazer um lanche antes? —
Virei Olívia de frente para mim e segurei em sua cintura. João e
Renan haviam saído com um funcionário do clube para buscar alguns
itens que íamos usar.
— Estou bem, mas depois quero ir lá conhecer! — Ela levou as
duas mãos ao meu pescoço e ficou fazendo um carinho em minha
nuca.
— Você vai... A gente sempre se reúne lá depois que
acabamos o treino. — Encaramo-nos por um longo instante. E, então,
dei um selinho em seus lábios. — Estou muito feliz por você ter vindo.
— E eu estou por você ter me convidado! — Rimos juntos e
ela também me beijou. Aos poucos, Olívia ficava mais solta comigo,
fazia carinho, beijava-me, sempre de forma espontânea.
— Linda! — Tirei uma mão da sua cintura para tocar seu rosto.
— Está confortável? Lá no carro tem outra touca.
— Sentindo um pouco de frio, mas tudo bem.
— Vem, cá. Vou te esquentar. — Envolvi-a em meus braços,
abraçando seu corpo pequeno e a senti relaxar. — Na verdade,
esquentar mesmo vai ser na hora de dormir, hoje eu quero passar a
noite inteira colado em você.
— Eu também quero! — sussurrou em meu ouvido.
Soltamo-nos quando os caras retornaram à pista.
— Qualquer coisa pode me chamar, ok? — Eu disse, após
beijar sua boca.
— Vou ficar aqui com a sua irmã.
— Toma conta dela! — Pedi a Clara e beijei sua testa. Deixei
as duas rindo e já iniciando uma conversa.
Todos estavam numa rodinha em um extremo da pista onde
tínhamos uma enorme bancada de apoio. Era lá que preparávamos
as armas ou aguardávamos que os funcionários o fizessem.
— Quero testar esse rifle e Renan está dificultando — ouvi
Pamela choramingar.
— Pode usar, mas com o suporte — avisei-a, que me olhou em
reprovação.
— Poxa, Lui. Estou louca para encostar naquela belezinha. —
Insistiu, manhosa, aproximando-se de mim. Vi quando suas mãos
subiram direto para o meu peito e dei uma leve desviada. Agora seu
olhar era magoado.
— Mas você vai poder atirar com ele, Pam. — Expliquei,
baixinho, apenas para ela.
— Sem o suporte, Lui. — seu pedido era quase uma súplica.
— Não dá, com ele não dá. Mesmo. Confio em você, na sua
habilidade, mas é uma regra. — Era a arma mais letal do nosso
arsenal e somente nós, os sócios, estávamos autorizados a usá-la
livre. Por mais experientes que nossos filiados fossem.
— O chefe deu o recado. — Renan aproximou-se e a abraçou
de lado, soltando-a depois de deixar um beijo no topo da sua cabeça.
No entanto, o olhar dela ainda era direcionado a mim.
— Não sou uma boneca. — Ela ainda falava sobre a arma? De
todo modo, estava era certa, não era mesmo.
— Com toda certeza, não. Mas temos que ter um limite, esse
é o do clube.
Ela saiu bufando, indo escolher outra arma.
Nos paramentamos e eu pedi os alvos móveis, eram os meus
preferidos. A adrenalina estava lá, como sempre. A concentração
intacta. Eu sentia como se fosse quase outra pessoa assumindo meu
corpo, pois nada afastava minha atenção.
E, na vida real, com alvos de verdade, é o que se espera de
um atirador. Máxima atenção e concentração.
Não se brinca com uma arma em mãos.
Na chamada do 3,2,1, saí em disparada, segurava firme o rifle
e, por longos minutos, não ouvia nada além dos tiros.
Gastei toda a munição e quando voltei à bancada, lá estava as
duas policiais, repondo a munição das suas armas.
— Vamos em dupla, Lui? Aquele treino de longa distância. —
Dani pediu e não vi porque negar. Já o fizemos várias vezes. Com a
Pamela também que, por sua vez, disse que ia chamar Davi para
fazer dupla com ela.
— Bora!
Organizamo-nos, paramos na extremidade da pista,
escolhemos os alvos, o funcionário os afastou para que tivéssemos
melhor mobilidade e, na chamada, saímos em disparada.
Armas em riste, Dani e eu trocamos um olhar decidindo em
qual alvo iríamos e, então, saímos juntos, lado a lado. Era um treino
que eu gostava, não dava para focar apenas no alvo, pois havia um
parceiro e precisávamos estar sincronizados.
Caminhamos por toda a pista, atirando, decidindo e
recarregando a munição em perfeita sintonia. Normalmente, quando
fazíamos aquele treino, por ser o mais atrativo visualmente, todos
paravam para assistir.
E não foi diferente daquela vez.
Quando acabamos, recebemos uma salva de palmas. Dos
nossos amigos e de todos os presentes no clube.
— Pam e Davi, vocês são ótimos, mas nada supera Dani e Lui
juntos atirando. A gente nem pisca — Renan deu um tapinha em
minhas costas e abraçou minha parceira. Eu também a cumprimentei,
gostava do treino com ela, pois realmente era uma das que mais se
conectava comigo quando o fazia em dupla.
— Mais uma rodada e depois comer, né? Tô varado de fome
— Davi pediu e concordamos.
Enquanto eles foram trocar as armas, eu corri até onde Olívia
estava com a minha irmã.
Capítulo 34
Olívia
— Lui é o melhor. Nem o Renan, que fica aqui todos os dias, tem a
mesma habilidade dele. — A voz da minha cunhada soou ao meu
lado, eu queria conversar com ela, conhecê-la melhor, mas como
quando estava diante dos meus olhos meu namorado todo
concentrado e malvadão atirando como se não houvesse amanhã?
Eu podia vir em todos os treinos, só para poder apreciar
aquela imagem. O meu Lui, lindo e perigoso, todo de preto, jaqueta
de couro e touca na cabeça. O uniforme que não tirava do corpo e
que era tão ele.
— Como? — Perguntei, sem graça. E ela riu, aliviando-me e,
com um gesto, ela apontou a pista. — Ah, sim. Atirando, né? Não
entendo muito, mas ele parece estar indo bem.
— Está sim, sempre escolhe as armas e os alvos mais difíceis.
Passamos mais alguns minutos em silêncio, apenas
observando. Todos ali demonstravam ser hábeis na artilharia, mas Lui
parecia estar há anos-luz na frente. A forma como segurava a arma,
que eu não fazia ideia qual modelo era, seu olhar firme, a postura que
não se abalava a cada tiro. Ele continuava andando em linha e sem
errar o alvo. Era uma cena de tirar o fôlego.
Desviei minha atenção para puxar assunto com Maria Clara e a
peguei encarando a pista. As mãos estavam entrelaçadas diante do
seu corpo e seu olhar fixo em uma pessoa.
Segui o olhar na mesma direção que ela, chegando, se não
estivesse enganada, em Paulo, o delegado. Arregalei um pouco os
olhos e depois a observei, que ainda o encarava de longe.
— Eu não deveria perder meu tempo com ele. É como enxugar
gelo, sabe? —comentou sem me olhar.
— Você gosta dele. — Afirmei, o cara estava a metros de
distância e, totalmente, alheio à adoração silenciosa de Maria Clara.
Uma pena, talvez.
— Gostar é muita coisa, né? — levantou o olhar para mim e
soltou um riso seco. Uma mulher linda, parecia-se demais com Lui.
Aliás, os três irmãos eram bem parecidos, daqueles que você olha e
tem certeza que fazem parte da mesma família. — Você é minha
cunhada, sinto que vamos nos dar bem. E não é como se fosse um
segredo. Gosto dele desde a minha adolescência. Eu pensei que
passaria com o tempo, mas a verdade é que só aumenta.
— Você disse que não é bem um segredo.
— Ele sabe, Olívia. — tirou uma das mãos do bolso do
sobretudo preto que usava e a enfiou entre os fios de cabelos,
arrumando a bagunça que o vento estava fazendo.
— Vocês já... Você sabe.
— Nem sempre ele é indiferente. Mas é complicado. — enfiou
a mão de volta no casaco e olhava para a pista, como se não
quisesse perder nenhum detalhe dele. — É um dos melhores amigos
do meu irmão...
— E? — Perguntei, pois pareceu-me que havia algo mais.
— Ali, eles namoraram — Ela apontou com o queixo para uma
mulher que Lui apresentou como Dani e não tirava o olho dele. Ela
caminhava para o fundo da pista, carregando sua arma.
— Uau. — Quase soltei que era a mesma que me colocou na
mira durante a operação na Soraya Lins, mas segurei-me. Até
porque, queria, primeiro, contar a Lui que eu sabia quem era a
mulher.
Ficamos mais um tempo em silêncio. Eu, olhando meu
namorado e, ela, a sua paixão platônica. Ou, não tão platônica assim.
Peguei o olhar de Paulo para Maria Clara, intenso, forte, mas que
durou bem pouco. E logo estava concentrado no treino.
— Eu vivo a minha vida, já tive outros relacionamentos, não
estou à disposição dele e Paulo sabe disso. Mas, às vezes, eu só
gostaria de ter a chance de tentarmos algo.
Ela retornou o assunto e eu voltei minha atenção a ela.
— Ele não quer?
— Ele estava com ela. — Crispou os lábios, fazendo uma cara
engraçada de desgosto e eu ri. — E terminaram. Até onde sei, é um
relacionamento meio conturbado. Enfim. Acho que também estou um
pouco cansada.
Ela suspirou e, de repente, sua feição era séria, pesada.
Lamentei por Maria Clara, desejei ter algo para falar a ela. Mas eu
sabia bem pouco sobre a história deles, não tinha nada útil para
opinar. Na verdade, eu até tinha, mas eu não seria insensível e
deselegante para falar que ela deveria sair correndo de um triângulo
amoroso. Não quando havíamos acabado de nos conhecer.
— Bom, depois podemos conversar melhor sobre esse
assunto...
— Eu vou adorar! — Ela me deu um sorriso lindo. Eu tinha uma
cunhada, que me recebeu tão bem, e queria poder retribuir. — Olha
lá, eles vão fazer o treino mais interessante, em dupla.
Incomodou-me ver que Lui estava ao lado da colega de
trabalho, uma besteira, afinal, os dois deviam se encontrar todos os
dias. Mas eu não gostei. Menos ainda dos olhares que ela me
lançava quando achava que eu não percebia. A outra mulher também,
que foi apresentada como Pamela, olhava-me quase que o tempo
todo. E quando eu não era o alvo, seu olhar estava sobre Lui. Era
menos discreta e demonstrava verdadeiro horror por eu estar ali.
Suspirei e, com uma pontinha de inveja, acompanhei de longe a
preparação dos dois. Falavam algo próximo, Luiz gesticulava e ela
sorria, admirando-o.
E, logo após, iniciou o tal treino, deixando meu coração
apertado.
Foi inevitável não pensar sobre a noite que sofremos aquele
atentado. Eu me senti quase como um peso para Lui, que precisou
pensar sobre como reagir, atirar e se preocupar comigo. Além de
cuidar de si mesmo. E lembro que veio a minha cabeça que se ele
tivesse ao lado de alguém com as mesmas habilidades dele, teria
sido tão mais fácil.
E, ali, diante de mim, estava a resposta. Teria sido mesmo. Lui
atirava com tanta precisão e mantinha o olhar entre o alvo e a sua
parceira que, igualmente, não se desconectava. Nem dos tiros e,
tampouco, dele.
Caminharam juntos, lado a lado, pela pista enorme. Era difícil
não admirá-los. E ao olhar rapidamente ao redor, vi que todos os que
estavam ali presentes pararam o que faziam para assistir ao treino.
Era mesmo incrível.
Por um longo instante, que durou todo o tempo que estiveram
ali juntos, eu quis estar com ele. Desejei que fosse eu ao seu lado.
Fiquei tão fora de mim, perdida em pensamentos, que não me
toquei que ele havia se aproximado e estava parado diante de mim.
— Está longe, linda — suas mãos foram para as minhas
costas, prendendo-me nele e eu me agarrei ao seu corpo.
— Gostei do treino! — Aspirei ainda com os nossos corpos
colados, sentindo seu cheiro misturado com o de roupa limpa, que
vinha da camiseta que ele usava por baixo da jaqueta.
— Ótimo, porque quero te trazer sempre! — deixou um beijo
no topo da minha cabeça e deu-me outro abraço apertado.
— Muito sexy você atirando, senhor Luiz Henrique! —
complementei baixinho, arrancando uma gargalhada sua.
— E todo seu! — Trocamos um olhar e ele deixou um selinho
em meus lábios. — Não vamos demorar e aí poderemos ir para a
lanchonete. — avisou e voltou para a pista.
Eu senti o coração quentinho e, ao mesmo tempo, uma tonta
pela insegurança que me tomou. Nunca fiz tipo para ele, o que
conhecia de mim era real. Era o que eu era. Não fazia sentido eu
querer ser algo diferente de mim mesma. Mas essa era minha razão
falando. O meu coração ainda seguia um pouco apertado.
Ele estava certo quanto ao tempo, pois, em menos de vinte
minutos, seguíamos para o anexo que ele disse ser onde ficava a
lanchonete e, logo, atrás de nós, os irmãos deles conversavam
animados.
Quando, mais cedo, eu disse que o clube era bem diferente do
que imaginei, referia-me sobre o que estava diante de mim. Era tudo
muito arrumado e bem cuidado, com tecnologias, segurança e
organização. Funcionários uniformizados e demonstrando serem
treinados.
Mas nada me preparou para a lanchonete. Um espaço
elegante, daqueles que dá vontade de entrar e provar os lanches. O
trabalho que Lui e seus sócios desenvolviam no clube era impecável e
eu senti muito orgulho dele.
Ele afastou uma cadeira para mim, mostrou-me o cardápio e o
que geralmente gostava de pedir. Logo, seus amigos estavam todos
acomodados ao nosso redor.
Maria Clara sentou ao meu lado, o que foi muito bom, eu não
sabia bem o que conversar com os demais. Eles se entreteram
rápido. Paulo e João estavam próximos a nós, conversando e rindo.
O delegado desviava da conversa apenas para olhar Maria. E era
engraçado como ninguém dava conta do que acontecia, nem o meu
observador namorado, salvo a tal Dani, peguei-a olhando na direção
deles por duas vezes. As duas policiais conversavam com os colegas
da delegacia e Renan, depois de ir à cozinha da lanchonete, sentou
ao lado do Lui e os dois iniciaram uma conversa.
Ouvi alguém falar o nome do meu namorado e nós dois
olhamos em direção à rodinha da delegacia ao mesmo tempo.
Depois, ele pegou minha mão, colocou-a sobre a sua perna e
aguardou.
— Estávamos aqui comentando, os idiotas que te perseguiram
não esperavam um carro blindado. — Um dos rapazes contou, era
Davi e Lui me pareceu gostar muito dele, pois toda hora faziam
alguma brincadeira um com o outro.
— E tiveram sorte de não me pegarem sozinho — meu
namorado riu, relaxado na cadeira, sem se dar conta de que o seu
comentário quase me matou por dentro. Retesei o corpo, o que
chamou sua atenção. Ele logo buscou meus olhos, encarando-me
com a sobrancelha erguida.
— Imagina se tivesse com alguém da delegacia, não sobraria
capanga para contar história. — Eles riam e continuaram o assunto.
O último comentário foi feito pela Pamela, a garota que no dia em que
nos encontramos no restaurante, entrou agarrada em Lui.
— Está tudo bem? — Ele perguntou, analisando-me. Ainda
segurava minha mão e agora fazia um carinho nela.
— Claro! — Dei um sorriso que, com toda certeza, saiu
amarelo. — Estou com fome...
— Uma draguinha, como sempre! — Apertou a ponta do meu
nariz e recostou novamente na cadeira.
— E aí, Olivia, animou-se com o treino? Lui deve estar louco
para atirar com você, conheço meu amigo. — Davi puxou assunto,
mas logo com o que me estava me perturbando. Fazer o que? Ele
não sabia.
— É... Achei bem interessante — tentei fazer a minha melhor
cara de quem gostou e eles riram, pois falhei. Eu acabei rindo
também e achei melhor ser sincera. — Mas nunca cheguei nem perto
de uma arma. Aliás, não sei se conta as do Lui. — Ouviam-me com
atenção e meu namorado sorria ao meu lado, devia estar lembrando
do dia em que encontrei as pistolas sobre o sofá do seu apartamento
e quase desmaiei. — Ele quer me ensinar, mas vou com calma. Por
enquanto, está ótimo só assistir.
Os outros dois rapazes enviaram olhares desolados ao Lui e
as mulheres entreolharam-se, sem falar nada. Apenas Davi
permaneceu neutro, como se não achasse nada demais no que eu
disse.
— Ah claro! Minha namorada também não curte muito. Mas irei
convencê-la a vir comigo na próxima vez. — Davi afastou-se um
pouco da mesa, dando espaço para a garçonete acomodar os
lanches e deu um gole na cerveja que também havia acabado de ser
servida.
— Convencê-la, Davi? Por isso, não namoro. — Um dos
rapazes tinha uma feição quase de indignação e procurou apoio no
amigo que estava ao lado que balançou a cabeça concordando com
ele. — Você ama vir aqui, é uma atividade que curte pra caralho, não
custa nada a garota te acompanhar.
— Hey, não se mete. — Davi alertou e, por um instante, todas
as atenções foram voltadas àquele diálogo estranho e que me
incomodou. Poxa, a mulher nem estava lá para se defender e ninguém
sabia sobre os motivos dela. — Estamos bem.
— Eita, não está mais aqui quem falou — o cara levantou as
mãos e olhou rindo para o outro. Davi não rendeu o assunto e falou
algo com as duas mulheres, passando a conversar com elas.
Quase uma hora depois, Lui me chamou para irmos embora, já
que no dia seguinte sairia cedo para a delegacia. A verdade que eu
não disse a ele era que me sentia aliviada, pois estava tensa ao lado
de algumas daquelas pessoas.
Capítulo 35
Luz Henrique
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Olívia
∞∞∞
Já anoitecia quando Du telefonou e perguntou se eu estava em
casa. Após a minha confirmação, disse que estava indo para o meu
apartamento e levava alguns amigos nossos, pois íamos comemorar
o sucesso da marca.
Não era o que eu queria para aquela noite, estava moída de
cansaço e, no dia seguinte, teria que acordar cedo para dar
continuidade ao trabalho. Também desejava receber meu namorado
quando ele chegasse do plantão. Mas, por outro lado, estava com
saudade dos meus amigos e das reuniõezinhas que fazíamos,
normalmente, em meu apartamento. Eles foram importantes em
minha tomada de decisão, deram apoio, dicas, indicaram profissionais
que me auxiliariam. Estiveram nos bastidores ao meu lado. Além das
meninas, que levaram a coleção na viagem.
Rapidamente, organizei o apartamento e tomei um banho,
quando eles chegaram eu pedia pelo telefone alguns aperitivos em um
restaurante perto de casa.
— Um brinde a mais nova empresária de São Paulo! — Du
ergueu a taça servida com espumante que havia levado e foi seguido
por todos nós.
Meus olhos marejaram, era muita novidade e realizações em
um curto espaço de tempo. Eu ainda não havia conseguido processar,
por completo, tudo que estava acontecendo em minha vida.
— Muito sucesso e prosperidade à Olívia Torres! — quem
desejou foi Dominic, que trabalhou comigo por anos na Soraya.
— Estou tão orgulhosa de você, Oli! — Bruna me abraçou de
lado e deixou um beijo em meu rosto, depois de também erguer sua
taça.
Colocamos uma música animada e, sem muita demora, as
comidinhas chegaram. O grupo de, aproximadamente, dez pessoas
espalhou-se pela sala e varanda.
Tinha tanta coisa para conversarmos, fazia tempo que não nos
reuníamos, era trabalho, vida social, amorosa, viagens... Cada um
possuía alguma novidade para compartilhar. E, assim, a noite correu
sem que eu me desse conta de quantas horas haviam passado desde
que eles chegaram.
A turma estava animada, deixei a taça com vinho sobre a
mesinha da sala e saí em direção ao banheiro do meu quarto, ia
aproveitar para checar o celular, talvez tivesse alguma mensagem do
meu namorado. E tinha, há duas horas ele perguntou se eu estava em
casa. Também havia uma chamada perdida, de trinta minutos atrás.
Ainda estava no corredor e com o telefone na orelha, ansiosa para
ouvi-lo, quando me atendeu.
— Olívia, o que aconteceu? — perguntou com a voz irritada.
— Como assim, Lui? — não gostei do tom que usou e falei
firme.
— Você não me respondeu e nem atendeu a ligação que fiz.
Espera, está barulhento, onde você está? — Só me faltava essa,
ainda não havíamos tido qualquer desavença, mas se ele seguisse
com aquele jeito mandão, teríamos uma em nossa primeira semana
de namoro.
— Hey, vamos com calma. Primeiro, diga oi e tudo bem. — Fiz
uma pausa e só ouvia sua respiração pesada, do outro lado da linha.
— Eu estou em casa, alguns amigos vieram para cá. E você?
— Plantão, lembra? — respondeu e eu revirei os olhos.
Alguma coisa devia estar acontecendo, ele podia até ser
esquentadinho, mas nunca comigo.
— Lembro vagamente. — respondi, seca.
— Desculpa, vai. — Soltou um longo suspiro e quando voltou a
falar era o meu Lui de volta, até a voz havia abrandando. — Eu fiquei
preocupado com você.
— Sei. — respondi sem render o assunto. — Vai chegar
tarde?
— Provável.
— Quer dormir aqui?
— Quero dormir com você, tanto faz se na minha casa ou na
sua. Mas amanhã saio bem cedo de novo. — contive um suspiro, mas
sentido o coração bater mais forte, o que Lui sabia fazer bem.
— Não tem problema. — Também abrandei, já com muita
vontade de vê-lo novamente.
— Então, vamos para a minha casa. — pediu e eu assenti.
— Passa aqui quando chegar? — questionei, sem querer
encerrar a chamada e perder o nosso contato.
— Passo.
— Então, tá.
— Ainda está brava comigo?
— Claro! — Segurei-me com a vozinha de preocupação dele,
mas, minutos atrás, havia sido babaca. Então, mantive a pose.
— Tá, eu mereci. — deu uma risada curta e o acompanhei.
Nunca que conseguiria passar muito tempo brigada com ele. — Estou
com saudades.
— Eu também... — Ok, segurei-me bem pouco. Pois aquele
homem usando tom arrependido e dizendo estar com saudades, com
toda certeza, conseguia me amansar.
— Vou tentar ir embora o mais rápido possível.
— Até daqui a pouco.
Capítulo 36
Luiz Henrique
∞∞∞
Olívia
∞∞∞
Luiz Henrique
Uma mão, com um tecido fedorento, foi levada a minha boca após o
meu grito quando fui surpreendida com o cara colando as costas nas
minhas, a outra apertava-me na cintura e eu senti algo pontudo e
duro, pressionando-me.
Ele tinha nas mãos uma fita adesiva grossa preta, retirou um
pedaço grande e cobriu minha boca. O cara, que me abordou,
amarrou minhas mãos com uma corda atrás do meu corpo.
∞∞∞
Luiz Henrique
Eu morria de medo por ela, por achar que o tempo todo algo
poderia ter lhe acontecido
∞∞∞
Olívia
Eles riram, como dois animais. Meu peito doía, minha cabeça
girava e me sentia uma completa inútil.
Foi quando ouvi seu choro, fraco e entre soluços. Ela estava
ali. Varri o lugar e encontrei uma porta fechada ao fundo. Eles haviam
a escondido. Filhos da puta.
Olívia
Morri de medo de nunca mais vê-lo, não ouvir mais sua voz
grossa ou sentir seu cheiro marcante. Ficar sem seus abraços
aconchegantes que me envolviam inteirinha? Eu não poderia.
— Toma cuidado, por favor. — Levei a mão até seu rosto, fiz
um rápido carinho e ele assentiu.
— Agora, vamos.
— NÃOOOOOOOOOOOOOOOO.
— Eles vão te dar outro calmante e você vai dormir por horas.
Então, acalme-se.
— Tá, estou calma. — Respirei fundo e ela pegou minha mão.
— Lui foi baleado, como você sabe. Perdeu muito sangue, teve
sim um desmaio, como você lembrou e passou por um procedimento
para retirada da bala.
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Luiz Henrique
— Já estou liberado?
∞∞∞
Saí da suíte com a sensação de que o banho fez mais por mim
do que horas sedado sobre uma cama. Dispensei ajuda e tomei todo
o cuidado dentro do banheiro, pois embora estivesse bem-disposto,
sentia-me fraco. O enfermeiro fez um novo curativo no local
machucado pela bala e me medicou.
— Obrigado!
∞∞∞
Lui Henrique
— Penso que poderia ter sido útil deixar pelo menos um deles vivo
— Paulo estava sentado na poltrona ao lado da cama, no sofá,
estava Davi, meu pai e meu irmão. Minha mãe e Maria Clara haviam
ido com Olívia até seu quarto, pois avisaram que ela receberia alta.
∞∞∞
Olívia
Apenas quando estive nos braços do meu noivo, foi que tive
a sensação da minha vida estar voltando para o lugar certo. Até
aquele momento, não conseguia sequer tocar em mim mesma sem
que o asco me deixasse.
Nos braços dele me sentia segura.
— É, está.
— Quantas horas?
— Mala?
— Não vai fazer isso com a gente, Olívia. Não tem filhos,
não sabe como ainda estamos preocupados com você. — estava
feito, consegui deixá-la brava. Mais uma vez, em um único dia, pude
vê-la perder as estribeiras e falar alto.
— Nós vamos ficar aqui com você, filha. Pode acalmar seu
coração. Mas agora vá se deitar um pouco, precisa descansar. Sua
mãe e eu estaremos aqui e chamaremos você para o almoço.
Acordei cedo, não passava das sete da manhã quando saí da cama.
Na verdade, quase não dormi. Foram no máximo alguns cochilos e
nos intervalos em que Lui parava de responder as minhas mensagens.
Significava que ele também havia adormecido.
— Uhum...
— Já tomaram café?
— Mamãe…
Sabia que estava sendo difícil para ela, claro que quis saber
detalhes do sequestro e não consegui esconder que havia sido uma
armadilha relacionada ao trabalho do Lui.
— Eu amo vocês...
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∞∞∞
Luiz Henrique
Minha linda mulher, tão cuidadosa, sei que não dormiu, deve
ter pregado os olhos apenas quando o fiz. E me fez amá-la ainda
mais. Sempre mais.
— Estou bem...
Já fazia alguns anos que não recebia tantas ordens vinda dele,
ainda mais ordens que pretendia seguir. Poderia passar alguns dias
na casa dos meus pais, não seria nada demais.
— Neste caso, posso ajudar com o anel. — Seu olhar não era
de repreensão, ele me pareceu até bem satisfeito.
Mais um longo olhar. Fazia tempo que não tínhamos uma boa
conversa de pai para filho. Os dois perdidos em uma rotina puxada,
com muitos afazeres e querendo provar que as escolhas que fizeram
eram melhores que a do outro.
— Obrigado, pai.
— Lui, que susto. Como está? — Dani beijou meu rosto, assim
como Pamela e logo estavam todos acomodados.
Senti que Paulo queria conversar com meu pai e que não o
faria na minha frente. Não tardou e os dois deram um jeito de sair do
quarto e, minutos depois, Lauro e Motta disseram que precisavam
comer alguma coisa. Estavam todos, visivelmente, esgotados dos
plantões. A operação dos bordéis rendia na mídia e a prisão de
Armando Muller mexeu com as estruturas da alta sociedade
paulistana, não se falava em outra coisa. Dani avisou que os
acompanharia até a lanchonete e Pamela permaneceu imóvel, onde
estava desde quando chegou, incomodamente ao meu lado na cama.
Falou da operação e como foi uma pena eu não ter ido com
eles, pois era um dos mais preparados. Não gostei do tom, da
insinuação. E, menos ainda, de me julgar como idiota.
— Eu também.
— Estou bem. Espero que também esteja, sinto muito por tudo
o que passou.
— Então, quer dizer que meu sogro queria te levar para longe
de mim. — fiz um carinho em sua mão, passando o polegar sobre a
pele.
— Sua sogra, papai foi mais realista e decidiu que ficariam
alguns dias por aqui. — ela tentava, Olívia não nasceu para briguinhas
e ressentimentos. Era leve demais para isso.
— Ah sim...
— Para, por favor. — suspirei ruidoso. Não tinha nada que ter
mantido aquela conversa com Pamela. — Vem cá. E para de ficar
longe também. — Puxei-a para a cama, Olívia sentou-se com cuidado
ao meu lado, as pernas soltas para fora da cama. — Você chegou
quando eu estava conversando com Pamela, imagino que tenha
ouvido alguma parte. Escute bem o que vou te dizer... Descuidei-me
ao subestimá-los, como disse, já havíamos atravessado a maior parte
do galpão. Eu tinha certeza de que o cara estava morto. E meu erro
estava presente desde o início, ansioso demais para acabar com
tudo. E, ainda assim, eu moveria o mundo para te acalmar, Olívia.
Quero uma vida inteira ao seu lado e, se não for para te proteger,
cuidar de você, ser seu porto seguro, eu não teria te pedido em
casamento.
Uma lágrima escorreu pelo seu rosto, logo mais uma e, então,
minha noiva estava chorando.
— Não pode ficar falando essas coisas, entrei aqui bem brava
com você e sua amiga. — Ri do beicinho que formou em sua boca e o
beijei também.
— Claro.
— Safado!
— Pai.
— Minhas filhas, minha esposa, não tem nada a ver com isso.
São inocentes.
Por muito tempo, pensei que Lui escolheu a Polícia Federal por
sempre ter sido mais contestador, afinal, seguiu uma profissão
diferente da tradição familiar, mesmo tendo cursado Direito. E que
João, por sua vez, seguiu-a para nos agradar. Dois erros de
julgamento, frutos de, talvez, ter passado horas demais longe de casa
e dentro do escritório. E não o repetiria com Maria Clara. Minha filha
caçula detestava advogar e, quando tivesse coragem de admitir, seria
livre para fazer o que quisesse. E para ser vigiada de perto também.
∞∞∞
Luiz Henrique
∞∞∞
Olívia
∞∞∞
Caminhamos de mãos dadas até as baias e pedi a um
funcionário que organizasse os acessórios para a primeira aula
enquanto a informava sobre os conceitos iniciais. Como funcionava
uma aula de tiro, breve história da sua evolução no tempo, apresentei
tipos de armas, munição, objetivos de cada marcação nos alvos.
Um pouco de prática, como segurar a arma e colocar a
munição, mas apenas tê-la em mãos. O próximo passo era deixá-la
segurar.
— Está à vontade para tentar? — Segurava em mãos os
abafadores, imprescindíveis caso ela decidisse atirar, e deixei que
ditasse o ritmo da experiência.
— Acho que sim. — Não estava, claro. Tinha que ser tudo
muito tranquilo, para que não gerasse nenhuma repulsa nela.
— Vamos no seu tempo, nem precisa atirar hoje.
— Acho que quero sentir um pouco como é. — Pediu, depois
de um longo suspiro. Estava receosa, o que era normal para
iniciantes. Mas, ainda, corajosa, como sempre era.
— Certo, então vamos iniciar com o posicionamento e te
entrego a arma. — Tentei tranquilizá-la, narrando cada passo, ainda
era a mulher que ficou pálida só de ver minhas armas sobre o sofá.
Então, imaginei que seria pressão demais para a sua cabecinha
quando precisasse pegar em uma. — Agora.
Toquei em sua cintura, sinalizando a correta e mais segura
posição do corpo, ela respondeu bem, por trás, estiquei os braços
rentes aos dela e, aos poucos, coloquei a arma em sua mão.
Olívia ficou imóvel por um minuto inteiro, a respiração ofegante
foi abrandando, até que a senti calma demais, assim como os braços,
que estavam estendidos e firmes, foram caindo ao lado do seu corpo.
Para que Olívia estivesse mole em meus braços e a pistola jogada
aos nossos pés, bastou um segundo.
— Olívia? Acorda Olívia. — O funcionário que estava por perto
veio correndo e pedi que buscasse água. — Amor, o que foi isso?
Acorda.
Depois de um breve tempo desacordada, o que, para mim, foi
uma eternidade, ela abriu os olhos com dificuldade, como se tivesse
sonolenta. Também me pareceu confusa, tentando se localizar.
— Amor, estamos no clube de tiro. Lembra do que estava
fazendo? — Havia abaixado seu corpo até o chão, quando vi que ia
cair, e a apoiei em meu peito e perna.
— Lembro, estou bem. Foi uma queda de pressão. — a voz
saiu baixinha e ela tocou minha barba. Estava pálida e ainda com um
quê de confusão no olhar.
— Vou te levar ao médico.
— Não precisa. Isso é alimentação. Os últimos dias foram
tensos e, depois, muito trabalho na marca. Tenho me alimentado mal.
— Justificou, beijei sua testa e testei se conseguia firmar os pés no
chão. Iria levá-la no colo até o carro, mas, antes, precisava ficar de
pé.
— Tudo bem, mas iremos ao hospital.
∞∞∞
— Olívia Torres
O nome da minha noiva pronunciado pelo médico, que a havia
atendido cerca de uma hora antes, era o anúncio da maior mudança
em nossas vidas.
Depois de avaliá-la, informou que tudo indicava ter sido mesmo
uma queda de pressão, mas pediu alguns exames de sangue.
Seguimos da sala de espera para o consultório e fomos
recebidos com um sorriso.
— Podem sentar-se, por favor.
Ele indicou as poltronas na frente da sua mesa, onde
estivemos há pouco, e nos acomodamos. Em mãos, carregava
algumas folhas, que havia acabado de retirar de um saquinho plástico.
— Está tudo bem, doutor? — Ela questionou, preocupada.
— Está sim, Olívia. Sigo com a conclusão de ter sido uma
queda de pressão, provável que tenha passado por alguma mudança
brusca em seu organismo ou no seu emocional. — Ele fez uma pausa,
quase dramática, seus olhos encaravam-nos, com emoção. Um
médico peculiar, longe da frieza usual que víamos nos hospitais. — No
entanto, mais do que nunca, terá que se cuidar. Está grávida!
Senti minha mão gelar no mesmo instante, na verdade, todo o
meu corpo, como se uma descarga elétrica tivesse me atravessado
da cabeça aos pés.
Olívia procurou-me com os olhos, em total aflição, e, talvez,
até desacreditada da informação que recebemos.
— Grávida? — perguntou com a voz trêmula.
— Sim, foi uma desconfiança e o exame confirmou. Por ora,
alimente-se bem, beba muita água e procure um médico da sua
confiança para o acompanhamento da gestação.
Ela ainda me olhava, em seus olhos havia confusão, medo e
preocupação. Bobagem. Não estava sozinha. Por dentro, eu parecia
que poderia explodir. Um filho. Medo era pouco para descrever o que
sentia. Mas, por outro lado, estava feliz demais e pronto para
amparar minha mulher.
Segurei firme sua mão, sem desviar o nosso olhar, e a puxei
para próximo de mim, deixando um beijo em sua testa.
Foi o suficiente para que a tensão evidente abrandasse, logo,
sua feição era de paz.
— Eu... Tá. Isso pode ser considerado uma mudança brusca
emocional, sem dúvida. — respondeu para o médico, arrancando uma
risada de nós dois, mas falava mais para si mesma.
— Pode sim, mas fique tranquila, não irá desmaiar dessa vez!
Soltei um curto suspiro, louco para sair daquela sala e abraçá-
la. Seríamos pais.
— Certo. Ok.
— Parabéns, aos papais!
∞∞∞
Olívia
∞∞∞
Olívia
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Luiz Henrique
Agradeço primeiro a Deus, pelo dom da vida e por permitir que meus
sonhos saiam do campo imaginário para serem realizados.
Ao meu marido, pela paciência e compreensão com as horas
que me dediquei ao livro, pelo amor que transborda, por gostar de me
agradar e sonhar junto comigo. Te amo!
NOSSO REENCONTRO
Antônio e Marina se conheceram na faculdade e após cinco de
casados, decidiriam divorciar. Eles procuravam a felicidade e julgaram
que sozinhos, poderiam encontrá-la. Acontece que conseguiram
colocar fim no compromisso, mas não no forte sentimento que nutriam
pelo outro.
Dois anos depois da separação, período em que não se falaram e,
tampouco se encontraram, foram colocados frente a frente. E em
uma situação de emergência.
Será que o amor falará mais alto? Porém, eles já provaram para si
mesmos que somente amor, não é suficiente.
Vem, com Antônio e Marina, embarcar neste reencontro.
AMOR E RECOMEÇO
Alexia, após flagrar seu noivo com a amante, fez as malas e partiu
para uma temporada em São Francisco, na Califórnia. Nunca havia
viajado sozinha, mas acreditava que se aventurar em outro país iria
lhe fazer bem. Ela tentava recuperar a autoestima e queria dedicar
um tempo a si mesma. Assim, mergulhou no trabalho de escritora e
foi escrevendo que conquistou Álvaro.
Ele havia ido para São Francisco em uma fuga da depressão que
enfrentava. Bastou colocar os olhos na pequena ruiva, que ia todos os
dias ao seu café favorito para escrever, e queria saber tudo sobre
ela.
Semanas se passaram até que eles foram fortemente envolvidos em
um romance cheio de desafios. Eles se tornaram o amor um do outro
e ambos o recomeço.