Você está na página 1de 552

Copyright © 2020 por Nathalia Santos

Todos os direitos reservados.

Título: Nightfall
Revisão: Maria Carlos Brito
Capa: Genevieve Stonewell
Diagramação: Ana França (Portfólio D'Ana)

Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer


meios, sem o consentimento do(a) autor(a) desta obra.
Esta é uma obra de ficção. Todos os nomes, lugares, acontecimentos e
descrições são fruto da mente da autora. Qualquer semelhança com a
realidade é mera coincidência.
Texto revisado conforme o Novo Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa.
Capítulo um
Capítulo dois
Capítulo três
Capítulo quatro
Capítulo cinco
Capítulo seis
Capítulo sete
Capítulo oito
Capítulo nove
Capítulo dez
Capítulo onze
Capítulo doze
Capítulo treze
Capítulo quatorze
Capítulo quinze
Capítulo dezesseis
Capítulo dezessete
Capítulo dezoito
Capítulo dezenove
Capítulo vinte
Capítulo vinte e um
Capítulo vinte e dois
Capítulo vinte e três
Capítulo vinte e quatro
Capítulo vinte e cinco
Capítulo vinte e seis
Capítulo vinte e sete
Capítulo vinte e oito
Capítulo vinte e nove
Capítulo trinta
Capítulo trinta e um
Capítulo trinta e dois
Capítulo trinta e três
Capítulo trinta e quatro
Capítulo trinta e cinco
Capítulo trinta e seis
Capítulo trinta e sete
Capítulo trinta e oito
Capítulo trinta e nove
Capítulo quarenta
Capítulo quarenta e um
Capítulo quarenta e dois
Capítulo quarenta e três
Epílogo
Bônus Dois
Agradecimentos
Sobre a autora
Dedico esse livro a todos que desejam o amor.
Lembre-se, o amor não se procura, ele simplesmente te encontra.
"Isso é um estado de graça
Esta é uma briga que vale a pena
O amor é um jogo cruel
A não ser que você o jogue bem e direito
Estas são as mãos do destino
Você é meu calcanhar de Aquiles
Esta é a era de ouro de algo bom
E certo e real
E eu nunca previ você chegando
E eu nunca mais serei a mesma"
— State of Grace (Taylor Swift)
Observei os olhos de meus pais fitarem o delegado com atenção, suas
feições decepcionadas não podiam ser disfarçadas e estava claro em seus
rostos: dessa vez eu fui longe demais.
— A fiança foi paga — O delegado que se chamava Ryan Stuart,
confirmou — Mas já vou logo avisando que se houver uma quarta vez...
— Não irá — O tom de voz de meu pai quase me assustou, ele estava
furioso — Eu garanto que Ravenna nunca mais será presa.
— Não gosto de me meter, mas… — Senhor Stuart me olhou por
alguns segundos — Se sua filha continuar assim existe uma chance mínima
dela não aparecer aqui novamente.
Revirei meus olhos.
— Eu estou aqui, ok? — Me levantei — Vamos embora, não aguento
mais esse lugar.
— Calada, Ravenna — Foi a vez de minha mãe abrir a boca, o mesmo
tom de voz de meu pai.
— Não se preocupe Stuart, eu tomarei medidas para isso não acontecer
novamente.
— Fico feliz em ouvir isso, amigo — ele se aproxima de meu pai e
aperta seu ombro amigavelmente — Sei que o último ano não está sendo fácil
para nenhum de vocês, principalmente para…
— Chega! — interrompi o delegado, antes que falasse sobre esse
assunto novamente — Vamos embora, agora!
— Obrigado por aceitar a fiança e entender Stuart — meu pai
agradeceu.
Ele assentiu.
— Agora vamos — Meu pai disse — Temos muito que conversar
quando chegarmos em casa — seu olhar sobre mim continuava o mesmo,
talvez mais furioso.
Não me importava, há muitos meses não sentia nada quando ele me
olhava dessa forma.
Saímos da delegacia e caminhamos em silêncio até a Range Rover de
meu pai. Dessa vez ele não abriu a porta para minha mãe como sempre fazia,
apenas entrou. Minha mãe pareceu não sentir falta disso, alheia demais em
seus pensamentos entrou no carro e eu fiz o mesmo. Sabia que quando
chegássemos o sermão seria grande e eu me preparava psicologicamente para
isso.
Eu fui presa. Por poucas horas, mas mesmo assim eu fiquei atrás das
grades. O motivo? Raiva, culpa e dor.
Há quatro meses meu irmão morreu e uma parte de mim foi junto.
Eu não conseguia mais dormir direito nas últimas semanas, tendo
pesadelos à noite com o dia que descobri que ele estava morto e por minha
culpa. Foi então que comecei a beber. Quando eu estava bêbada o suficiente
para cair no primeiro canto e dormir, não sentia nada. E a sensação de não
sentir nada era libertadora.
A primeira vez que fui presa foi por excesso de álcool na direção, já a
segunda foi por destruir uma viatura da policia.
Não, eu não me orgulhava disso, mas estava bêbada demais para ter
controle dos meus atos.
E hoje foi a terceira vez... meus pais não sabiam mais o que fazer para
me manter em casa e sem ter contato com os meus amigos, foi então que
decidiram cortar minha mesada, acharam que isso poderia funcionar. E o que
eu fiz? Encontrei um amigo de uma amiga que trabalha com tráfico de
drogas, consegui algumas para revender em uma festa clandestina e ter
dinheiro, mas Ryan Stuart estava na minha cola há dias — com certeza havia
dedo de meu pai nisso — e quando viu o que eu estava fazendo e também
usando, me prendeu.
Suspirei.
Infelizmente as bebidas funcionaram por um certo momento, mas
depois não faziam mais efeito. Foi então que experimentei a cocaína pela
primeira e única vez.
O som do portão grande do nosso edifício se abrindo me despertou dos
meus pensamentos.
Morávamos em um apartamento no bairro Upper East Side em Nova
York, meu pai, Anthony Blackwood, é dono de um escritório de advocacia,
considerado um dos melhores advogados dos Estados Unidos e minha mãe,
Beatrice Blackwood, é médica no hospital de Manhattan. Por mais que
fossem ricos, ainda mantinham a humildade e gentileza da nossa terra natal:
Tennessee.
O caminho até o edifício em que moramos foi rápido e silencioso,
percebi que meu pai segurava forte a direção e sua mandíbula mantinha-se
trincada, minha mãe estava com a cabeça encostada no vidro, parecia
extremamente cansada e triste.
Quando o carro estacionou eu fui a primeira a sair.
— Espera na sala Ravenna, temos muito o que conversar — meu pai
disse.
Sem alternativas e não querendo mais incômodos fiz o que ele mandou,
adentrei no edifício e apertei o botão do elevador, ele não demorou a descer.
Entrei no mesmo e apertei o oitavo andar, onde moro.
Quando cheguei ao andar, meus pais ainda não haviam chegado,
provavelmente estavam subindo pelo o elevador do estacionamento. Abri o
apartamento com a minha chave e entrei no mesmo, fui recepcionado por
Nina, minha Golden Retriever.
— Oi, princesa — a abracei — Também senti sua falta.
Ela latiu animada com a minha chegada, em seguida correu até a sua
bolinha e pegou a mesma, me trazendo para brincar.
Peguei o objeto e joguei em direção ao corredor, ela saiu correndo para
pegá-lo. Sorri, Nina era uma das lembranças mais linda que tinha com o meu
irmão.
Me lembro quando há três anos voltávamos da festa de aniversário de
nossa amiga, ouvimos um choro de filhote no lixão da rua do nosso edifício.
Quando encontramos a pequena Nina, toda suja e magrinha, a pegamos
imediatamente, ela ainda era um filhote, deveria ter no máximo dois meses,
se não fosse a gente ela morreria. Levamos na mesma noite em um
veterinário que ajudou a salvar a vida dela.
Quando a trouxemos para casa nossos pais não se opuseram muito,
porque se apaixonaram por Nina da mesma forma que eu e Archer.
E hoje, mesmo estando em um ano difícil ela continua sendo a alegria
da nossa família.
Sei que Nina sente falta de Archer tanto quanto todos nós, ás vezes ela
entra em seu quarto e dorme em sua cama ou quando para na frente da estante
e observa nossas fotos juntos. Não existe um ser mais precioso que o
cachorro, eles sentem tanto quanto nós.
Sou despertada dos meus pensamentos quando escuto a porta abrir e
fechar logo em seguida. Viro-me e encontro meus pais com suas feições
zangadas me olhando, nenhum sinal de Nina, ela provavelmente sentiu o
clima tenso.
Sento no sofá e eles fazem o mesmo no da frente.
— Precisamos conversar — meu pai repetiu.
— É, você já disse isso.
Eles me fuzilaram no mesmo momento, percebi que era melhor manter
minha boca fechada.
— Drogas, Ravenna — minha mãe começou a dizer com a voz
embargada — No que você se tornou? Primeiro as bebidas alcoólicas e agora
drogas. Você poderia ter tido uma overdose.
— Mas eu não tive, tá legal? — Bufei — Vocês nunca vão entender.
— O que não iremos entender, Ravenna? Que você está sofrendo pela
morte de Archer? Ele era nosso filho, o amamos tanto quanto você o ama,
estamos sofrendo tanto quanto você — meu pai falou — Mas não estamos
nos drogando, bebendo ou andando com más companhias, estamos tentando
viver com a dor da perda.
— Já ouviram falar que cada um tem uma forma de lidar com a dor? —
Perguntei — Archer era o meu melhor amigo, eu o amava tanto — senti as
lágrimas voltando — Eu não consigo lidar com a dor da mesma forma que
vocês. Quando estou sentindo ela eu bebo sim, porque por alguns minutos eu
não sinto nada.
Não consegui segurar, as lágrimas já desciam em meu rosto como no
dia que descobri que ele estava morto.
— Filha...você está se tornando dependente disso, não percebe? Se não
fosse o delegado Stuart, poderíamos ter perdido você também.
— Eu não suportaria perder a minha única filha — Meu pai disse — É
por isso que tomamos essa decisão.
Enxuguei minhas lágrimas.
— Decisão?
— Você vai para o rancho da sua tia no Tennessee — minha mãe
informou — Lá você estará longe das drogas, longe dessas malditas
companhias e poderá se livrar dessa dependência.
Me levantei.
— Eu não sou dependente das drogas, eu não preciso ir para nenhum
rancho maldito….
Meu pai se levantou me interrompendo.
— Você pode ainda não ser dependente, mas está se tornando e não
queremos perder você por um vício. Isso mata, Ravenna. Eu sei que não está
conseguindo lidar com a dor, mas ir para Nightfall pode ajudá-la — meu pai
falou — Lembra como você gostava de visitar o rancho, acompanhar os
treinamentos dos cavalos, nadar no lago? Você precisa descansar sua cabeça
e sua alma longe de tudo a que está fazendo mal.
— Eu gostava de fazer tudo isso quando tinha Archer — chorei — Ou
você acha que vai ser fácil ir para o rancho que passei parte da minha infância
com ele? As minhas melhores memórias com o meu irmão têm aquele lugar
como cenário.
— Sabemos disso, filha — minha mãe disse — E é exatamente por isso
que queremos que você vá. É lá que irá se encontrar novamente e entender
que fazemos isso para o seu bem. Você precisa de um tempo para si, precisa
lembrar quem você era.
— Eu não vou — falei decidida.
Eu não suportaria isso.
— E vai continuar aqui? Com essa gente que não quer o seu bem?
Você vai para o Tennessee, Ravenna — meu pai declarou — Por bem ou por
mal.
— Eu tenho o direito de escolher o que eu quero. Eu vou ficar aqui —
falei — Eu sou maior de idade.
— Somos os seus pais, Ravenna — minha mãe disse, tentando se
manter calma — Queremos o seu bem.
— Eu não vou mais me drogar, foi só uma vez.
Meu pai bufou.
— Da mesma forma que você disse da outra vez e foi presa por excesso
de álcool na direção? Agora além de usuária, estava traficando Ravenna, por
quê?
— Eu precisava do dinheiro. Vocês não me davam mais nada e eu
precisava da grana para poder continuar comprando as bebidas.
Uma lágrima escorreu no rosto de minha mãe, ela vinha segurando o
caminho todo.
— Você vai para o Tennessee, Ravenna e não se fala mais nisso.
Foi então que a minha história começou...
Nina estava inquieta assim como eu, esperávamos minha tia a mais ou
menos quarenta minutos na beira da estrada da cidade de Franklin.
— Eu sei, amor — me agachei até ficar na sua altura — Daqui a pouco
minha tia virá nos buscar, ok?
Ela latiu como se falasse “tudo bem”. Acariciei seu pelo, tentando
acalmá-la. Nina não gostava de viajar, mas foi esse o trato que fiz com meus
pais: ela vinha ou eu não viria. No fundo eu sabia que ela iria amar o rancho
da minha tia, o ruim era só o caminho até aqui. Ficar trancada em uma caixa
transportadora por horas não era legal, mas valeria a pena.
Eu não concordei com a ideia de vir para esse rancho em nenhum
momento, mas meus pais não se importavam mais com minha opinião,
estavam decididos.
Eu sabia que não seria fácil, havia me apegado a sensações do álcool no
meu corpo, me acalmando, me fazendo esquecer. Não seria fácil estar no
lugar que a última vez que frequentei foi na adolescência com meu irmão,
mas estava disposta a tentar.
A dor que eu vi nos olhos de meus pais foi a mesma dor que vi quando
eles souberam da morte de Archer.
Não suportaria ficar no mesmo ambiente que eles causando essa mesma
dor.
Enxuguei as lágrimas que insistiam em cair do meu rosto e que só
agora havia percebido, e me levantei ao ver a caminhonete velha da minha tia
se aproximar.
Algumas coisas nunca mudam.
— Achei que você já teria trocado essa lata velha — foi a primeira
coisa que falei quando ela estacionou seu carro.
Camille Duncan Wess ou Millie, como todos a chamavam sorriu e
desceu da caminhonete.
— Sabe que essa lata velha vai para o túmulo comigo.
— Então terá que arrumar um túmulo maior.
— Senti sua falta, Raven — seus olhos marejaram e estendeu seus
braços — Pensei que nunca mais colocaria os pés nessa cidade.
Ela me abraçou apertado.
— Esse era o plano inicial — sussurrei.
— Que bom que seus pais mudaram isso — disse, ainda me abraçando
— Estava com tanto medo de perder você também.
Engoli o choro que estava preste a vir novamente, ela não precisava
conhecer esse meu lado.
— Estou aqui agora — me afastei — Eu e Nina estamos cansadas da
viagem.
Ela pareceu notar que não queria afeto ao tê-la afastado sem retribuir o
abraço, seus olhos caíram em Nina e ela sorriu.
— Então você é Nina — acariciou a cabeça dela que latiu alegre em
resposta — É um prazer conhecer você. Vem, eu ajudo a colocar a bagagem
no porta malas.
Ela pegou a mala mais pequena e eu peguei a grande, colocamos no
porta malas da caminhonete e eu guiei Nina até a frente da mesma. Abri a
porta e nem precisei dizer para entrar no veículo, ela já estava sentada de
boca aberta esperando eu e minha tia entrar.
— Ela é inteligente — Millie disse.
Assenti. Entramos na caminhonete e minha tia deu partida. O lugar não
havia mudado nada, continuava com os mesmos ranchos, as mesmas pessoas,
a diferença era que agora as crianças que eu brincava já eram grandes.
— Alisson está ansiosa para revê-la, ela se formou em enfermagem,
está trabalhando no hospital da cidade.
Alisson era filha de Camille e minha prima, seu sonho sempre foi
ajudar as pessoas, eu fiquei contente por ela ter conseguido o que sempre
quis, sempre fomos amigas, diferente de mim e sua irmã Amélia.
— E Amélia? — Perguntei curiosa.
Diz que não está no rancho.
— Está terminando a faculdade de Administração, ela que cuida do
rancho.
— E você e tio Eitan?
— A ajudamos é claro, mas estamos descansando mais do que antes.
Ótimo. Pensei que teria que aguentar minha prima Amélia e já odiei
mais o fato de estar ali. Peguei o telefone pronta para mandar uma mensagem
para meus pais exigindo a minha volta o mais rápido possível, eu
simplesmente nunca fui com a cara daquela garota, mas não havia mais sinal.
Tia Millie pareceu perceber meu descontentamento e começou a dizer:
— Sei que você e Amélia não tem o melhor passado, lembro até hoje
das brigas — ela sorriu — Mas agora vocês já são grandinhas e adultas,
podem se tornar amigas.
Impossível, mas não quis dizer isso para ela. Amélia e eu nunca
seriamos amigas, nossas personalidades nunca se bateram, ela era uma
megera mesmo quando criança, por isso tantas brigas e eu sentia que ela não
havia mudado nada, já que quando era criança sua maior obsessão era crescer
e se tornar dona daquele rancho para fazer o que quisesse com ele.
E agora estava administrando-o.…algumas coisas nunca mudam
mesmo.
— E não há sinal no rancho — minha tia continuou— Depois de uma
forte tempestade há um mês os técnicos ainda tentam arrumar a torre da
cidade, mas ainda sem nenhum resultado. Para conseguir se comunicar tem
que usar cartas ou ir até a cidade e usar um telefone público que eles
conseguiram improvisar.
Fechei meus olhos, não conseguindo acreditar.
— Era tudo que eu precisava — o sarcasmo correu pelas minhas
palavras.
Nina, diferente de mim, parecia contente, pulou no meu colo com seus
bons 28 KG colocou a cabeça para fora e sentiu o ar do campo, latindo de
felicidade, nem parecia que alguns minutos atrás estava aflita pelo voo.
O restante do caminho permanecemos em silêncio, quando a
caminhonete velha da minha tia adentrou o rancho Nightfall, lembranças
indesejáveis vieram em minha cabeça.
Tudo estava absolutamente igual.
Até mesmo a pequena casa na árvore que eu e meu irmão gostávamos
de brincar.
— Nunca tivemos coragem de destruí-la —Millie falou ao notar meu
olhar para a casa— Eitan sempre achou que nossos netos poderiam brincar
com ela, e depois do acidente...ele teve a certeza que não iria destruí-la.
Senti minha mão direita tremer levemente, segurei ela, tentando me
acalmar. Respirei fundo.
— Vai ficar aí dentro? — Millie já estava fora da caminhonete.
Abri a porta e Nina saltou fora latindo e correndo em direção as
galinhas do rancho.
— Nina fique por perto — Gritei, mas ela pareceu não prestar atenção.
Quando percebi que ela ficaria apenas em volta da casa espantando as
galinhas, sai da caminhonete e fechei a porta.
— Depois pegamos suas malas. Vem — pegou minha mão — O
pessoal está ansioso para vê-la.
— RAVEN — Um grito que eu poderia conhecer a quilômetros de
distância soou e uma Alisson de shorts, botinas e regata veio correndo em
minha direção. Ela nem esperou eu falar nada, simplesmente chegou perto de
mim e me abraçou com força — Senti tanta a sua falta, já estava pensando
que teria que ir até Nova York revê-la.
A última vez que nos vimos foi há um pouco mais de quatro meses, no
enterro de meu irmão, não conversamos muito, apenas ficamos abraçadas
chorando e no outro dia eles foram embora. Não resisti e abracei a minha
melhor amiga de infância.
— Também senti sua falta.
— Fiquei feliz em saber que vai passar um tempo aqui, podemos
cavalgar como fazíamos antes, tomar banho no lago quando estiver mais
quente ou então…
— Chega irmã, vai deixar nossa prima tonta — Ouvir aquela voz
depois de tanto tempo me estremecia.
Diferente do restante da família, Amélia não foi no velório de meu
irmão, segundo meus tios, alguém tinha que cuidar do rancho e eu até
agradeci pela ausência dela.
Me desfiz do abraço com Ali e foquei meus olhos em Amélia. Ela não
havia mudado nada, alta, corpo curvilíneo, diferente da irmã que é loira com
os olhos azuis, tem os cabelos escuros e olhos verdes. Ok, admito.
Ela só havia evoluído, estava um espetáculo de mulher.
— Oi, Amélia — cumprimentei, afinal meus pais me deram educação.
— Oi, Ravenna — não tentou nenhum contato — Como você está?
— Bem — menti.
Ela percebeu, mas não disse mais nada.
— Vamos entrar, aposto que Eitan está perdido na cozinha — Minha
tia se pronunciou — Deixei ele sozinho terminando o almoço para ir pegar
você.
Nina já havia cansado de correr atrás das galinhas do rancho, esperava
sentada na sombra da sacada da casa de meus tios, como se já estivesse
habituada ao lugar.
— Ela é a Nina? — Amélia perguntou, assenti — É um amor.
Minha prima que eu começava a estranhar o comportamento dócil se
aproximou de Nina e estendeu a mão para ela, que a avaliou por alguns
segundos antes de permitir ser acariciada. Isso não era novo, Nina deixava
qualquer um se aproximar, ela simplesmente amava humanos.
— Ela gostou de você — Millie comentou.
Assim como o rancho, dentro da casa dos meus tios não havia mudado
quase nada. Apenas uma televisão maior havia substituído a pequena.
— Finalmente vocês chegaram — Eitan terminava de pôr a mesa —
Querida, eu odeio cozinhar.
— Isso que eu só deixei você supervisionando, já que eu havia feito
todo o trabalho — selou seus lábios — Dramático.
Meus tios sempre foram grudados um no outro, ambos se amavam
muito e nem o tempo era capaz de diminuir.
— Raven — se aproximou e me abraçou — Fico feliz que seus pais
tenham convencido você.
Ele logo se afastou.
— Vamos almoçar? Estou louca de fome — Alisson disse.
Não me alimentei direito no almoço, estava sem fome, se foi percebido
pelo restante do pessoal não foi comentado. Quando retiraram a mesa,
Amélia e Millie foram cuidar da louça enquanto eu e Ali fomos até a
caminhonete pegar minhas bagagens.
— Você vai ficar no quarto de hóspedes — ela disse.
Agradeci por isso, conhecendo Ali como eu conheço, pensei que
poderia querer que eu dormisse no seu quarto, apenas para ficar mais próxima
de mim.
Levamos as malas até o quarto, era um cômodo simples, mas com uma
certa elegância.
— Precisa de ajuda com as malas?
— Não precisa.
— Certo. Eu vou ver se Amélia precisa de ajuda em algo.
Percebi que ela queria um motivo para permanecer no quarto e
conversar comigo, mas não cedi, nem quando ela fechou a porta visivelmente
decepcionada.
Enfim sozinha.
Minhas mãos estavam suando e minha cabeça começava a doer, eu
sabia o que era isso, precisava de alguma bebida ou um pouco de pó, mas não
encontraria nada aqui.
Eu usei cocaína apenas uma vez e no mesmo dia fui presa, não foi o
suficiente para viciar, mas como uma ex estudante de medicina sabia que era
o suficiente para o corpo sentir falta. Eu conseguiria sair dessa, ou então teria
que ir para um centro de reabilitação como meu pai deixou claro antes de eu
entrar no avião.
Depois de desfazer as malas e guardar todas as roupas no guarda roupa,
senti a necessidade de sair daquela casa, estava preste a sufocar.
Respirei fundo, três vezes.
Ninguém estava na sala de estar e agradeci por isso.
Saí pela porta da frente e respirei aliviada ao ar livre. Nina não estava
por nenhuma parte, muito menos alguém da família West.
— NINA — A chamei.
Escutei um latido baixo devido à distância, ela estava longe e o medo
dela se perder foi maior do que qualquer sentimento dentro de mim.
Nina era única coisa boa e viva que me trazia lembranças com meu
irmão, não só por isso, eu a amava e mesmo sabendo que não tinha animais
ferozes ao redor do rancho corri em direção ao latido.
Ela nunca havia ficado tão exposta ao ar livre dessa maneira, não sem
uma coleira e um acompanhante, é claro que poderia se perder.
Nina havia atravessado todo o rancho Nightfall, passado pela pequena
floresta e pulado a cerca que levava a nada mais nada menos que outro
Golden Retriever.
— Nina — a chamei, ela me olhou, abanou o rabo e voltou a dar
atenção ao Golden — Nina sua cadelinha sem vergonha, vem logo aqui —
nada — Você acabou de invadir uma propriedade.
Ela pareceu não entender. Óbvio.
— Droga Nina, quando é para você ser obediente você não é.
Pulei a cerca, agradecendo por ser interior e eles não ligarem para o
perigo de ter uma cerca baixa e sem proteção. Me aproximei de Nina que ao
notar minha aproximação, latiu feliz, fazendo o Golden ao lado dela latir
igualmente feliz, eu podia jurar que ela estava apresentando seu novo amigo.
— É sério, Nina, precisamos sair daqui antes que alguém apareça e não
goste nadinha da nossa presença.
Ela olhou para mim, olhou para o cachorro, para mim e para o cachorro
de novo. Revirei os olhos.
— É um prazer conhecer você Golden macho, agora pode liberar a
minha dama antes que a sua dona apareça?
— Dono — uma voz de timbre forte soou atrás de mim me corrigindo.
Estaquei no lugar, mas que grande merda.
Nina abaixou as orelhas e não abanou o rabo enquanto olhava para o
dono da voz atrás de mim...ela estava com medo? Em todos esses anos eu
nunca vi minha cachorra com medo.
Fechei os olhos esperando pelo pior enquanto me virava, certo, eu
parecia uma idiota, mas se Nina estava com medo deveria ser porque o cara
dava medo.
Respirei fundo e abri os olhos rapidamente ao perceber o quão tola
estava sendo, me desculparia e daria o fora dali.
Eu preferia ter mantido os olhos fechados, assim evitaria comparar
todos os homens que eu achasse atraente com esse na minha frente. Porque
ele é simplesmente...lindo.
Muito alto, cabelos compridos que muita mulher mataria para ter um,
olhos azuis que me observavam de uma forma intensa e uma barba, que não
era muita cumprida e dava um charme ainda maior para ele. Observei seu
corpo, e o que era aquilo? Não eram músculos de academia, mas sim de
quem trabalhava duro todos os dias em atividades rurais para mantê-lo
daquela forma.
Não consegui falar nada, assim como eu, seus olhos passaram por mim
de cima a baixo, mas foi uma inspeção rápida e suas feições não mudaram
nem um pouco, que por falar nela…além da altura, é claro que Nina se
assustaria com sua feição, parecia que eu tinha matado seu cachorro na sua
frente. Eu não o conhecia, mas diria que estava muito bravo.
— Eu...— tentei falar, mas ao travar, tossi um pouco para disfarçar e
continuei — Desculpa a invasão, Nina — apontei para minha cadela —
Provavelmente ouviu seu Golden latir e veio se apresentar para ele.
Ele não disse nada.
— Eu estava tentando convencê-la a ir embora, mas acho que ela queria
que eu o conhecesse também — dei de ombros — Vai saber o que passa pela
mente desses cachorros.
Ele franziu as sobrancelhas, tornando sua expressão ainda pior. Como
alguém conseguia ficar atraente com aquela expressão brava?
— Tudo bem? — Tive que perguntar.
— Dê o fora daqui e leve sua cachorra junto.
Não havia um “aceito suas desculpas”, apenas uma ordem para vazar
daquele lugar de uma forma totalmente fora dos padrões da educação e era o
que eu deveria fazer, mas eu nunca fui de levar desaforo para casa, então,
quando dei por mim já estava dizendo:
— Você ouviu o que eu disse? Nina entrou aqui e eu vim pegá-la, não
precisa me tratar dessa forma. Não fiz nada para você.
— Acredite — ele pareceu mais irritado — Eu estou sendo educado.
Não quero nem ver você sendo mal-educado.
—Não, você não quer — nem percebi que havia dito em voz alta meus
pensamentos — E você não pode falar de educação quando sua cachorra nem
a obedece.
— Ela sempre me obedeceu, mas aparentemente está encantada pelo
seu cachorro — bufei — Quer saber, estou saindo, não lhe devo explicações
da educação que dou para Nina, muito menos continuar gastando minhas
energias com um cowboy arrogante. Vamos Nina! — dessa vez ela obedeceu.
Antes que eu pudesse pular a cerca ele disse.
—E nunca mais invada minha propriedade.
Bufei.
O que tinha de bonito tinha de arrogante.
Pesadelos no meio da noite não me deixaram dormir direito. Acordei
sentindo a falta de ar e um calor que me fazia suar, peguei o celular ao meu
lado, ele indicava cinco horas da manhã. Não tendo outra alternativa me
levantei, eu precisava de ar livre ou sufocaria.
— Bom dia, Nina! — Ela levantou o rosto um pouco sonolenta, abanou
o rabo em cumprimento e voltou a fechar os olhos — Tudo bem, pelo jeito só
eu irei passear.
Foi apenas falar a palavra mágica que ela já se encontrava em pé
abanando o rabo, me esperando.
— Você é uma interesseira — alisei sua cabeça — Felizmente não sei o
que seria de mim sem você. Vou apenas colocar uma roupa.
Ela sentou, me esperando.
Peguei uma regata branca e calça pantalona curta, já dava para ver o sol
querendo dar as caras e se havia uma coisa que eu me lembrava com clareza
era o calor que o Tennessee fazia no verão.
Caminhei até o banheiro do meu quarto e ao me observar no espelho vi
as olheiras e os olhos marejados. Eu havia chorado enquanto tinha os
pesadelos.
Eu não me lembrava da última vez que havia dormido bem, não sem
nenhuma gota de álcool no meu corpo para me fazer apagar e não sentir nada.
Lavei meu rosto e escovei meus dentes, louca para sair daquele
ambiente que começava a se tornar pequeno e sufocante. Me vesti
rapidamente e sai do banheiro. Abri a porta do quarto tentando não fazer
barulho e sai com Nina para fora daquele cômodo e logo para fora daquela
casa. Senti a brisa da manhã de certa forma fez eu conseguir respirar fundo
pela primeira vez naquele dia.
Contrariando a mim mesma caminhei com Nina até a pequena casa da
árvore. Ela permanecia a mesma, indicando que meu tio apenas havia feito,
sempre que ela precisasse a manutenção. Não subiria, não aguentaria isso,
mas sentei me encostando no tronco da árvore e fechei meus olhos. Senti
Nina deitar e apoiar a cabeça em minha perna, mas nem isso foi capaz de
interromper minha lembrança.
“— Vem logo, Archer ou então eles vão saber para onde vamos —
Peguei sua mão e o puxei até a porta da casa da árvore.
— Mamãe vai ficar uma fera — ele falou — Já tomamos banho, ela
está preparando nossa janta com nossa tia e quando vier nos chamar não vai
nos achar e….
— Desde quando você é medroso, Archer? E não precisamos entrar no
lago.
— Eu não estou com medo — respondeu conforme descemos a escada
da árvore.
— Então pare de arranjar desculpas, sei que quer isso tanto quanto eu.
Ouvi um suspiro.
— Você tem razão.
Terminamos de descer as escadas e corremos até o lago. Era o nosso
segundo lugar favorito e hoje não conseguimos vir até aqui por causa da
festa de aniversário da Alisson. A noite continuaria a comemoração, dessa
vez uma janta para os familiares, mas havíamos conseguido escapar para a
casa da árvore com a permissão de nossos pais até as visitas chegarem.
Gostávamos muito de ver o pôr do sol no lago, nunca enjoamos da
vista, era simplesmente maravilhosa...não era à toa que o rancho se chamava
Nightfall.
Chegamos no local na hora certa, o sol já começava a se pôr, nos
sentamos na beirada do píer que nos levava até o lago e observamos.
— Nunca vou enjoar desse lugar — Archer disse — Esse sítio, esse
lago, nossa casa… são os meus lugares favoritos.
— Os meus também — encostei minha cabeça em seu ombro — Tenho
medo que isso acabe.
— O que poderia acabar? — Ele perguntou confuso.
— Nós — admiti — Minha colega Anelise, disse que na infância era
muito apegada a seu irmão mais velho, mas conforme eles foram crescendo
se afastaram e hoje são completos estranhos.
— Agora entendi o porquê está estranha nesses últimos dias — seu
braço direito me abraçou de lado — Escute uma coisa Rav, não somos
qualquer tipo de irmãos. Dividimos o mesmo lugar desde que estávamos na
barriga de nossa mãe, a nossa conexão é maior do que qualquer relação das
suas colegas com seus irmãos, então não se preocupe porque isso que temos
nunca vai acabar.
Sorri, um pouquinho mais aliviada.
— Promete? — Olhei no fundo dos seus olhos azuis.
— Prometo — beijou minha testa — Para sempre.”
Senti as lágrimas escorrerem por meu rosto com aquela lembrança, por
que essa dor não passava? Por quê? Olhei para o céu conforme amanhecia,
será que ele estava me observando? Se existia vida após a morte, ele sentia
falta de mim da mesma forma que eu sentia a dele?
— Para sempre — sussurrei.
Nina me observava com os olhos marejados, ela sentia tanto quanto eu.
Meu peito ardia, o ar a minha volta de repente não fazia mais efeito e senti
meu coração acelerar mais que o normal, eu estava tendo outra falta de ar,
dessa vez mais forte do que as outras.
Eu precisava de algo.
Eu precisava me sentir calma.
Apenas uma coisa me faria bem e eu não encontraria nesse fim de
mundo.
Nina latiu me olhando de uma forma que eu diria preocupada. Ela se
levantou e correu até a casa ou o galpão. Não conseguia enxergar direito
devido as lágrimas e a falta de ar que estava tendo.
Era essa sensação de estar morrendo? Mais do que tudo eu preferia
isso, preferia a morte a uma vida repleta de dor, culpa e angústia.
— Ravenna — reconheci a voz de Alisson — Raven, olha para mim —
suas mãos seguraram cada lado do meu rosto — O que você tem? O que está
sentindo?
— Dói — consegui sussurrar, apontei meu coração.
Uma de suas mãos foram até meu coração e ela percebeu a aceleração.
— Céus! Você está tendo uma crise de pânico — constatou — Raven,
olha para mim — repetiu, mesmo com a cabeça sendo segurada por suas
mãos eu estava tendo dificuldade para manter meus olhos concentrados nela
— Não há ninguém mais aqui Raven, só eu e você. Se concentre na minha
voz — Suas mãos limparam o meu rosto, consegui focar nos seus olhos —
Isso, muito bem. Agora respire fundo.
Tentei uma vez
— Solte a respiração devagar — fiz o que ela pediu — Mais uma vez
prima.
Fiz novamente
— Isso, mais uma vez.
Repeti aqueles comandos tantas vezes que não consegui me concentrar
no número exato. Minutos depois, senti meu coração desacelerar e minha
falta de ar ir se ausentando aos poucos.
— Como você está?
— Melhor, obrigada.
— Você nos assustou — só então percebi a presença de Nina ao seu
lado — Ela é muito inteligente, foi ela que me chamou até aqui, eu estava me
arrumando para ir trabalhar quando ela apareceu.
— Obrigada, Nina.
Ela latiu, aparentemente feliz por me ver melhor.
— Quer falar sobre o que aconteceu? — Minha prima perguntou,
visivelmente preocupada.
Neguei.
Ela suspirou.
— Certo. Você vai ficar bem? Preciso ir trabalhar agora — assenti —
Nos vemos depois.
Antes de sair ela beijou minha testa. Da mesma forma que Archer fazia.
Levantei antes que aquela sensação de mais cedo voltasse.
Já havia amanhecido totalmente e meus tios já deveriam estar
acordados pela movimentação que estava acontecendo dentro da casa.
Respirei fundo mais uma vez antes de entrar.
— Olha só quem caiu da cama — Eitan cumprimentou — Bom dia,
Raven! Como passou a noite?
— Bem — menti.
— Bom dia, querida! — Millie cumprimentou — Venha tomar café
conosco, temos um longo dia pela frente.
— Temos? — Me sentei na cadeira a sua frente.
— Pensei que poderia atribuir algumas tarefas do rancho para você, que
nem nos velhos tempos.
— Acho que não tenho mais idade para me empolgar em recolher os
ovos das galinhas — falei enquanto servia uma xícara de café.
Eitan riu.
— Não se preocupe que temos alguém responsável por isso no rancho
— cortou um pedaço de bolo de milho — Dylan está precisando de uma
ajuda com os cavalos, depois de Fire ter ganhado o hipismo na temporada
passada com um novo recorde nunca alcançado, os donos estão loucos por
uma vaga para seus cavalos serem treinados aqui em Nightfall, pensei que
você poderia fornecer essa ajuda, afinal quando você era criança admirava o
treinamento de Ivan e sonhava em fazer isso, lembra?
Arregalei meus olhos.
— Isso é sério? — eu não conseguia acreditar.
— Não falamos ainda com Dylan — Millie respondeu — Mas tenho
certeza que ele não recusará uma ajuda, o coitado está trabalhando o dia todo.
— É claro que eu aceito — sorri, foi o primeiro sorriso verdadeiro que
eu dei em meses — Eu sonho com isso desde criança.
— Ótimo — Eitan disse — Irei falar com Dylan hoje e apresentar
vocês dois, será ótimo para você, Raven.
Assenti.
Dessa vez eu tinha que concordar, isso seria ótimo para mim, eu me
manteria entretida com algo que eu sonhava desde que era criança. Sempre
amei os cavalos e mal podia esperar para ter contato com eles novamente.
Meu sorriso diminuiu ao lembrar que Archer compartilhava do mesmo amor
pelo os gados do rancho, ele amava se envolver com tio Eitan para saber tudo
sobre os animais e um dia poder cuidá-los.
Era uma pena, pois esse dia nunca chegou.
Meus tios tinham um grande rancho, muito famoso por seus animais
adestrados e sua agricultura, ele basicamente mantinha todos os mercados das
redondezas. Mas o que sempre fez sucesso e tornou Nightfall famoso é o
treinamento de hipismo. Ivan, o antigo treinador era ótimo e levou o rancho
para o ranking dos melhores lugares para se treinar cavalos, eu não conhecia
Dylan, mas se um de seus cavalos já havia quebrado um recorde diria que
seguia a mesma linha de Ivan.
Quando terminamos o café, Eitan foi conversar com Dylan e eu fiquei
ajudando minha tia na louça. Por mais que tivesse dinheiro de sobra para ter
uma doméstica, meus tios nunca se deram a esse luxo, preferiam fazer muitas
coisas com as próprias mãos.
— Você chorou hoje de manhã, quer falar sobre isso? — Millie
perguntou.
Surpresa, a encarei.
— Duas filhas me tornaram uma mãe muito experiente — esclareceu
— Sabe que pode falar comigo, não é?
— Não quero falar sobre isso.
— Certo — ela secou a última xícara — Vi que ficou feliz com a
possibilidade de ajudar com os cavalos, vai ser bom para você.
Assenti.
— Estou torcendo por isso.
— Ok, é bem difícil convencer aquela fera, mas acho que consegui
convencê-lo a ajudá-lo — Meu tio disse assim que colocou os pés na cozinha
— Dylan está ali fora esperando para que eu apresente você.
—Tudo bem — sequei minhas mãos que ainda estavam molhadas e fui
em direção a saída.
— Boa sorte! — Ouvi Millie dizer quando eu e seu marido saímos do
cômodo.
Antes que eu perguntasse ao que ela se referia, tive a resposta ao notar
quem estava me esperando do lado de fora da casa.
O cowboy arrogante.
Muito obrigado destino, isso não poderia ficar pior.
— Nem pensar — o cowboy arrogante, que agora sei que se chama
Dylan, disse para o meu tio — Não preciso da ajuda dela.
O dela havia saído de sua boca como se tivesse nojo ou raiva. E aqui
estava um babaca.
— Mas vocês nem se conhecem — Eitan nos olhou confuso — O que
eu já falei sobre não julgar alguém pela aparência Dylan?
Meu tio o repreendeu como se o cowboy não fosse maior e mais forte
que ele. Me inspecionei rapidamente, não havia nada de errado comigo para o
Sr. arrogante ter algum problema, a não ser é claro por ele já ter me
conhecido, ontem à tarde.
— Essa menina invadiu a minha propriedade ontem à noite, eu já a
conheço o suficiente para saber que não quero que ela me ajude.
— Raven? — Meu tio estava surpreso.
— Você é um tremendo arrogante — apontei para o cowboy —
Primeiro: eu não sou uma menina. Segundo: Eu não invadi a propriedade dele
— ele arqueou as sobrancelhas — Não da forma que está pensando, Nina
invadiu por causa do Golden dele e eu fui pegá-la, já que ela não me dava
ouvidos.
— Apenas um mal-entendido então — Eitan tira suas próprias
conclusões — Vamos começar de novo. Dylan essa é Ravenna Blackwood,
Raven esse é Dylan Blossom.
— Como espera que ela possa me ajudar quando não consegue nem
fazer a própria cadela obedecer?
Seu idiota!
— Raven — meu tio me repreende.
Falei em voz alta, ótimo.
— Já expliquei que aquilo foi uma exceção, ela estava muito encantada
com seu Golden. — Tentei manter a calma.
— Respondendo sua pergunta Dylan, Ravenna sempre se deu muito
bem com os animais, principalmente os cavalos. Ela aprendeu muito com seu
pai — o que disse me surpreendeu — Quando vinha passar as férias aqui
adorava aprender com ele.
Quis perguntar o que aconteceu com o Sr. Ivan, mas permaneci quieta,
algo me dizia que não era um bom momento.
— E você precisa de ajuda. Tenho certeza que irá treiná-la bem para ser
sua ajudante — meu tio continuou — As competições estão chegando e
recebemos a proposta de treinar os cavalos dos Sander’s. Sabe que isso é uma
grande oportunidade para o rancho, não é?
Ele assentiu.
— Ok, eu ajudo a garota a me ajudar — concordou com aquela
expressão séria de sempre, estava contrariado, mas acho que percebeu que
mesmo estando desse jeito, o chefe ainda era meu tio — Mas se você
começar a me incomodar nada feito, prefiro me virar sozinho.
Abri a boca para responder, mas meu tio foi mais rápido. Quase bufei.
— Raven não dará problemas, não é mesmo?
Sorri, mas até o cowboy arrogante percebeu que era falso.
— Claro que não. Quando começo?
— Agora — ele respondeu — Apenas se vista apropriadamente e me
encontre nos estábulos.
Antes que eu pudesse perguntar o que era apropriadamente para o Sr.
arrogante ele já virava de costas e saia do meu campo de vista.
Agora sim pude bufar. Mil vezes idiota.
— Tenha paciência com ele, querida — minha tia apareceu do meu
lado, provavelmente viu tudo a uma certa distância — Assim como você,
Dylan tem um passado e um presente difícil. Acho que vão ser uma ótima
companhia um para o outro.
— Claro, se não nos matarmos primeiro — me olhei novamente — E
que raios é uma roupa adequada?
— Para treinar os cavalos é necessária calça de montaria, camiseta e
um chapéu para esse sol quente — pegou minha mão — Vamos ver se as
roupas de Ali servem em você.

As roupas de minha prima serviram perfeitamente em mim, sorte minha


por vestirmos o mesmo número. Quando estava pronta segui para o estábulo,
respirando fundo para aguentar um dia inteiro com a arrogância em pessoa.
— Que bom que não demorou — foi a primeira coisa que ele disse —
Detesto esperar.
— Capaz que eu deixaria a madame esperando — sussurrei.
— O que disse? — Me olhou de cima a baixo com a mesma feição
séria de sempre.
— Nada — sorri falso — O que tem para eu fazer?
— Essa é Penélope — apresentou a égua branca do seu lado — Irei lhe
ensinar com ela hoje. É a mais mansa.
Penélope é linda, pelagem quase toda branca com apenas umas
manchas cinzas no seu rosto, que davam um charme para ela. Me aproximei e
toquei a frente do seu rosto delicadamente, para não a assustar.
— Como vai Penélope? Tenho certeza que nos daremos muito bem —
comentei alisando sua bochecha.
Ela abaixou a cabeça como se estivesse me cumprimentando.
— É uma égua muito inteligente — Dylan disse atrás de mim — E
parece ter gostado de você. Agora vamos, não temos tempo a perder.
Ele caminhou na frente e deixou Penélope comigo, peguei sua guia e
seguimos o senhor arrogante até o campo de treinamento. O lugar não era
longe da casa de meus tios, uns três minutos a pé, disso eu me lembrava.
— O que sabe sobre hipismo? — Ele quebrou o silêncio, ainda com
uma cara de quem não estava gostando de ter a minha companhia.
— Eu era uma criança curiosa, mas aprendi algumas coisas com Ivan.
O Hipismo é um esporte praticado pelo cavaleiro e pelo seu cavalo, aqui no
Tennessee vocês permanecem com as mesmas provas dos jogos olímpicos,
saltos, adestramentos e concurso completo de equitação.
— Menos coisas para eu explicar. Esse ano as competições nacionais
serão aqui em Franklin, temos exatos três cavalos para treinar e recebemos a
proposta de treinar o da família Sander’s.
— Que parece ser uma família importante.
— Kevin Sander é o prefeito da cidade, seu filho Arthur, irá competir
esse ano e pretende ir para as finais — explicou.
— E como está funcionando a ordem das competições?
— Primeiro as competições regionais, os dois melhores vão para as
nacionais, este ano jurados muito importantes estarão avaliando para levar o
finalista de todo o estado para as competições internacionais.
— Isso é incrível — exclamei.
Ele assentiu.
—Por isso a grande procura por Nightfall, ano passado Rebeca Johnson
e seu cavalo foram vencedores das nacionais.
— E ela irá competir esse ano?
— Com certeza, a tarde apresentarei você ao cavalo dela.
Eu não conseguia fingir, estava muito animada com a ideia de passar
um tempo com esses animais e se o Sr. Arrogante aqui do meu lado
permanecesse com esse humor, nem feliz, mas também nem com raiva, não
seria tão difícil suportar sua presença.
Nos aproximamos do campo de treinamento e eu não pude deixar de
suspirar encantada, estava ainda mais incrível que a última vez que vi.
Haviam reformado a cerca, agora ela era um pouco menor que a do
passado e continuava branca, a grama de dentro da pista deu lugar a uma
areia de aspecto grosso e os obstáculos… caramba, eles tinham os dez
principais obstáculos.
— Parece surpresa — Dylan disse.
— Muitas coisas mudaram, mas para melhor — me aproximei do
cercado — Olha essa areia. Ela é muito melhor para treiná-los do que o
gramado antigo.
— Como sabe?
— Um dia quando acompanhei Ivan nos treinos, choveu no dia
anterior, os cavalos não treinaram bem, resvalavam ou simplesmente não
obedeciam aos comandos.
— Por efeito da força extra que eles têm que fazer para não resvalar ou
não derrubar um obstáculo — ele explicou o que eu me lembrava
perfeitamente — Sua memória é boa, vejo que terei que ensinar mais como
eu treino os cavalos do que a técnica.
— Eu acompanho os jogos olímpicos também, nem tudo vem da minha
memória.
Um homem se aproximou de nós.
— Esse é Vincent — Dylan apresentou — Estava me ajudando
enquanto Eitan arrumava alguém, Vincent essa é Ravenna, ela irá me auxiliar
a partir de hoje.
Vincent tinha cabelos escuros e pele levemente bronzeada devido ao
sol. Usava um chapéu como o de Dylan e sorriu ao estender a mão.
— Prazer, você deve ser a sobrinha de Eitan e Millie — assenti — Os
peões comentaram.
— Isso quer dizer que sou famosa aqui no rancho?
Não pude deixar de notar o revirar de olhos de Dylan.
— Apenas uma novidade — ele esclareceu — Vincent, você pode
voltar ao trabalho e você, leve Penélope para o meio da pista, irei buscar os
equipamentos dela. Não podemos perder tempo.
Caminhou a passos largos para o pequeno galpão de madeira que ficava
na frente da pista de treinamento. Sem querer, admirei suas costas largas
escondida em uma camisa xadrez, o cowboy é terrivelmente gostoso.
— Boa sorte para lidar com o temperamento desse homem — Vincent
desejou interrompendo meus pensamentos — Eu tentei ser amigo dele nas
duas semanas que estive aqui e tudo que consegui foi receber um bom dia.
Ele é a pessoa mais mal-humorada, bipolar e solitária que já conheci.
— Obrigada, desse jeito fico mais animada para trabalhar com ele.
— Sinto muito pela honestidade, mas só estou lhe informando.
— Tudo bem — segurei firme a guia de Penélope — Agora eu vou
indo, antes que o Cowboy arrogante volte.
— Cowboy arrogante? Gostei — sorriu.
Me despedi de Vincent e fui até o meio da pista como pediu Dylan. Me
permiti admirar mais um pouco o lugar, ainda abobalhada com toda aquela
beleza. Meu irmão amaria ver isso, pensar nele fez com que sentisse meu
coração apertar de saudades, mas não permaneci com aquele pensamento por
muito tempo, não era o momento de ficar vulnerável.
— Voltei.
Dylan parou ao meu lado com todos os equipamentos de Penélope.
Enquanto colocava a sela comentou:
— Estamos treinando os saltos dela. Hoje você apenas observa, irei dar
algumas orientações, mas se pegarmos o cavalo dos Sander’s precisarei que
esteja boa para podermos treinar dois ao mesmo tempo.
— Aprendo rápido.
— Não é como aprender uma receita de bolo. Requer paciência e,
sobretudo uma conexão com os cavalos, sem isso não fica impossível de
treiná-los, mas dificulta muito a tarefa — ele prendeu a cincha traseira da sela
— Todos os cavaleiros devem ter uma conexão com o cavalo, os que não têm
perdem o campeonato.
— Penélope pareceu gostar de mim.
— Ela deixou acariciá-la, tudo começa por esse afeto.
Dylan continuava concentrado em terminar de arrumar Penélope,
enquanto falava não olhava para mim, na verdade podia contar em uma só
mão quantas vezes ele falou olhando nos meus olhos.
— Tem conexão com todos os três cavalos?
Ele assentiu.
— Não é uma conexão como a do seu dono, isso só o cavalo e seu
cavaleiro podem ter, mas é uma conexão baseada num respeito mútuo. Como
se todos eles soubessem que sou apenas um tutor para treiná-los para algo
maior e melhor.
Mesmo não olhando para mim vi como seus olhos brilhavam ao falar
sobre os cavalos e seu trabalho.
— Pronto, Penélope, agora vamos treinar — pegou sua guia — Fique
sentada do lado de fora da cerca, observe tudo com atenção, irei explicar cada
passo e se tiver alguma dúvida pergunte.
Concordei e caminhei para fora da pista de treinamento. Do lado de
fora havia uma arquibancada, provavelmente criado para observar os
treinamentos, me sentei e observei a interação dos dois. Dylan montou em
Penélope e começou pequenos passos em círculos com ela ao redor da cerca.
— Sempre é bom fazer com que ela conheça o terreno antes, nunca ir
direto para os saltos. O cavalo pode inclinar e até mesmo te derrubar.
Eu sabia daquilo.
Lembrava perfeitamente das palavras do Sr. Ivan há sete anos: “Não se
baseia apenas na confiança do cavalo com quem o monta ou vice-versa, o
animal precisa se sentir confiante no terreno, sem isso não há uma vitória”.
Enquanto observava Dylan e Penélope, me perguntei o que havia acontecido
com o Sr. Ivan, pouco me lembrava dele, fazia muitos anos, mas observando
melhor conseguia notar as semelhanças entre o pai e o filho. Dylan com
certeza era mais alto, mas o formato do rosto e a postura com que montava a
égua me lembrava do Sr. que sempre me tratou bem na infância e parte da
minha adolescência. E pelo pouco que me lembro da aparência, se Dylan
seguir como o Sr. Ivan...ia se tornar um coroa muito gostoso, ele já era, então
com certeza se tornaria.
— Está me ouvindo garota? — A voz irritada me fez quase dar um pulo
de susto.
Dylan estava próximo ao cercado ainda em cima de Penélope, ambos
me olhavam. Droga, que mancada, a quanto tempo ele estava falando
comigo?
— O que disse?
Ele negou mais para si mesmo.
— Isso não vai dar certo — murmurou, mas eu ouvi claramente.
Fui educada em me desculpar.
— Desculpe, me distraí com meus pensamentos. Isso não vai acontecer
mais.
Ouvi seu suspiro antes de começar a falar.
— Eu já não tenho todo o tempo do mundo e é exatamente por isso que
você está aqui. Então deixe de ficar me secando e imaginando sei lá o que e
preste atenção no que eu estou explicando.
O que?
Espere, ele realmente havia falado o que eu ouvi? Eu não o estava
secando, estava pensando nas semelhanças com seu pai. Bem, talvez na
última parte tivesse me alterado um pouco, mas pelo amor de Deus, eu era
humana. Segurei seu olhar no meu decidida a não deixar seu ego vencer
aquela conversa.
— Estava sim olhando para você, mas com pensamentos bem distintos
do que quer que você esteja pensando. Estou aqui para aprender e poder me
distrair um pouco, não para secar um cowboy extremamente arrogante.
Se pudesse sairiam faíscas de seus olhos.
— Então, garota da cidade faça o favor de prestar atenção no que estou
explicando, minha cota de paciência está se esgotando.
— E você tinha alguma? — A provocação escapou antes que eu
conseguisse impedir.
— Não sei se você costuma ganhar muita coisa com esse seu jeitinho,
mas fique sabendo que eu sou um homem maduro e não irei dar continuidade
para essas suas provocações — sua boca dizia, mas seu olhar transmitia outra
coisa, algo como: gostaria de te xingar até o dia acabar — E é só me irritar o
suficiente com você para pedir que vá juntar as merdas dos gados ao invés de
trabalhar do meu lado.
Abri a boca para rebater, mas vi pelo seu olhar que ele falava sério, não
sobre as merdas, claro, mas sobre me manter bem longe do meu novo
trabalho, então me contentei em apenas o fuzilar com o meu pior olhar e
perguntar:
— O que você tinha explicado mesmo?

No final da manhã paramos com o treinamento de Penélope. A tarde


seria o treinamento com o cavalo de Rebeca que Dylan ainda não havia me
falado o nome, também me explicou que era no máximo duas horas para cada
cavalo e que havíamos atrasado hoje por culpa minha, ele literalmente jogou
na minha cara. Também explicou que os cavaleiros vinham até o rancho para
treinarem com seus cavalos: “Não é só o cavalo que precisa de treinamento,
reservamos as últimas semanas para o cavaleiro e seu cavalo”.
— Todos os cavalos ficam aqui? — Perguntei curiosa enquanto ele
guiava Penélope para o estábulo. Na época de Ivan, os cavalos só vinham até
o rancho para treinar e depois voltavam para a casa com seu cavaleiro.
— Sim, nesses três meses antes de competir percebemos que é melhor
eles ficarem aqui. O rancho está sendo pago para isso, dar o melhor
treinamento para que o cavalo salte e obedeça com o mínimo de falta
possível, se eles ficam aqui a locomotividade deles diminuí, o que acaba
ajudando nos treinamentos.
Ele entendia muito bem de tudo, me perguntei por onde Dylan andava
quando eu estava no rancho aprendendo com o seu pai, mas como ele era um
ser imprevisível e totalmente arrogante, decidi permanecer com a dúvida.
Havia aprendido muita coisa naquela manhã. Como Dylan explicou, o
motivo maior dos cavaleiros pagarem para um treinamento, não estava no
salto, mas sim no adestramento, que iremos iniciar com Penélope amanhã.
Entramos no estábulo e Dylan a guiou para a parte de trás do local,
onde se encontrava os fenos e a água.
— Ela irá se alimentar agora. Voltamos as duas da tarde para
continuarmos o restante do treinamento.
Ouvi um relincho de cavalo atrás de mim e me virei notando dois
cavalos em pé nos observando. Um de pelagem totalmente marrom escuro,
tinha certeza que a sua cor reluzia na luz do sol, já o outro era marrom mais
claro, quase bege. Os dois eram tão lindos que não pude conter um suspiro.
— Esses são Coronel — Dylan apontou para o cavalo mais marrom —
E Fire, o cavalo da Rebeca.
— São lindos. Todos são quarto de milha? — Perguntei ao notar a raça
dos três.
— Sim. São os melhores para o hipismo.
Antes de me aproximar de ambos que estavam lado a lado ouvi um
relincho mais alto e agudo. Olhei para trás no mesmo momento, Penélope
voltava para perto de nós com uma feição que parecia assustada. Foi quando
vi o porquê, dois olhos negros me encaravam no fundo do estábulo, conforme
se aproximou, a forma de um cavalo de cor preta apareceu e parecia estar
furioso.
— Se afaste — Dylan mandou — Droga! Era para ela estar lá fora.
Ao notar que não mexi nenhum músculo, quase grunhiu.
— Agora, Ravenna!
Era a primeira vez que ele me chamava pelo nome, então resolvi
obedecer. Ainda sem desviar o olhar da égua preta caminhei de costas para a
saída, ela podia ser assustadora com aquela feição brava no rosto conforme
bufava, mas era incrivelmente linda.
— Calminha aí — Dylan tentou se aproximar e ela empinou —
Tempestade, por favor, colabore apenas hoje.
Tempestade. O nome me fez parar na entrada no estábulo, combinava
com ela, com o seu jeito feroz.
— O que ainda está fazendo aí? — Dylan se virou para mim — Eu já
mandei você ir.
Fiz o que ele pediu porque ele realmente parecia assustado com a
presença da égua. Me virei e sai do local antes que as coisas se complicassem
mais. Enquanto caminhava em direção a casa de meus tios tentava entender o
porquê Dylan não havia comentado sobre Tempestade, o pouco que vi da
égua deu para perceber que ela não era um quarto de milha, mas não consegui
identificar a raça. Eu nem sabia de todas elas para poder olhar e saber, mas
fiquei curiosa, por que ela ficava presa? Por que não a treinavam? De quem
ela era? Parecia uma égua selvagem, talvez todas as respostas das minhas
perguntas fossem resumidas a isso.
— Ravenna saia da frente!
Me virei no mesmo momento que ouvi o grito de Dylan. Tempestade
pulou a pequena cerca que separava o pátio da propriedade de minha tia com
o restante do rancho e corria rapidamente em minha direção.
Eu não estava tão longe do estábulo por isso Tempestade se aproximou
rapidamente. Eu não movi um músculo, por mais que o grito de Alisson me
mandasse se afastar, nem havia notado o momento que ela se aproximou de
Dylan, havia algo que não me deixava sair do lugar e eu sabia que não era
medo. Quando pensei que Tempestade me esmagaria com sua velocidade e
força, ela empinou, para depois descer e parar a centímetros de mim, tão
perto que meus cabelos se mexiam conforme o sopro que saia de suas
narinas. Ela não piscou e eu não ousei desviar os olhos de suas esmeraldas
negras, parecia terrivelmente assustadora, mas não para mim.
Senti meu coração acelerar por ansiedade, mesmo não entendendo o
porquê. Tempestade me olhava como se pudesse enxergar minha alma e eu
não duvidava disso. Uma vez li uma matéria na internet sobre os animais e
suas sensibilidades, a forma como cada um deles parecia ter nascido para
uma pessoa ou o entendimento que ele tinha sobre o seu humano, todo animal
busca uma conexão da mesma forma que Dylan havia explicado mais cedo. O
que fazia com que perguntas começassem a se formar em minha cabeça. Por
que Tempestade não passou por mim? Por que me olhava como se soubesse
tudo sobre mim? E a mais importante: por que eu sentia meu peito
transbordar de amor da mesma forma que me sentia quando olhava para
Nina?
Isso era uma conexão?
Ousei mexer minha mão, ela acompanhou meu movimento no mesmo
instante, parecia um pouco desconfiada.
— Calma — a minha voz saiu baixa — Tempestade...esse é seu nome,
não é? Sou Ravenna. Você deve ter tido um motivo para não ter passado por
cima de mim — ela me olhava da mesma forma, dessa vez soltou um sopro
mais forte — Acho que isso é um sim. Posso?
Estendi devagar minha mão no pouco espaço que tinha entre nós duas e
dei um passo para trás por segurança. Se ela estava um pouco desconfiada,
também estaria.
— Raven — Alisson tentou se aproximar, mas Dylan a impediu —
Faça alguma coisa Dylan, você sabe que Tempestade é perigosa.
A voz de minha prima próxima a nós fez com que a égua se movesse
para mais perto de mim, havíamos voltado a ficar centímetros separadas.
Minha mão continuava estendida e com sua aproximação fez com que a
tocasse. Eu senti quando seu corpo vibrou da mesma forma que um arrepio se
espalhou pelo meu.
— Ela não parece apresentar perigo para a garota — Ouvi Dylan dizer.
Tempestade cheirou meus cabelos, pela minha altura, ela não precisou
de muito esforço. Acho que isso queria dizer algo por isso comecei a alisar
seu pescoço.
Pela posição conseguia ver os olhos arregalados de Alisson e o
semblante de Dylan, que não parecia surpreso como minha prima.
Ela é extremamente linda. A ansiedade que estava sentindo mais cedo
se acalmava aos poucos, também percebi que a fúria que ela aparentava ter no
primeiro momento que chegou perto de mim começava a desaparecer
conforme sentia seu corpo ficar menos tenso.
Não ficamos muito tempo naquela posição, Tempestade foi a primeira a
se afastar. Ela balançou a cabeça para baixo emitindo relinchos e logo se
afastou por completo. Olhou na direção de Dylan e Alisson para depois virar
de volta para o campo e correr.
Soltei a respiração que nem percebi que havia prendido nos últimos
segundos e admirei a corrida veloz que Tempestade fazia pelo gramado verde
de Nightfall.
— Raven! — Alisson ficou na minha frente, o rosto mais pálido que o
normal — Por Deus, eu achei que ela passaria por cima de você ou a
morderia.
Ainda impactada com todas aquelas sensações estranhas, observei
Dylan se aproximar.
— Você disse que haviam três cavalos — falei, tentando entender o
porquê não comentou nada sobre Tempestade e ignorando minha pobre
prima, que parecia a beira de um desmaio.
— Três cavalos que treino hipismo. Não conto com Tempestade.
— Qual é a história dela? — Perguntei e voltei a olhar a égua preta que
agora comia grama.
— Há um ano encontrei Tempestade na beira da estrada de Franklin
muito machucada e com seu potro morto sobre seu corpo — minha atenção
foi toda para Dylan — Felizmente conseguimos salvá-la, mas é quase como
se tivesse virado uma égua selvagem, detesta aproximação de humanos e até
mesmo dos outros cavalos, você viu o jeito que Penélope ficou ao vê-la?
— Ela já derrubou um peão e mordeu o braço de outro — Alisson
disse, sua cor voltava ao normal — Por isso temi por você, em todos esses
meses nunca vi ela se aproximar de alguém assim, não para não fazer nada
pelo menos.
— Eu...nem sei o que dizer.
Foi tudo que consegui pronunciar. Meu coração apertou ao ouvir o que
Dylan disse, Tempestade havia sido machucada por alguém? Por isso o medo
das pessoas? Ela se defendia, provavelmente achando que a fariam mal.
— Sei o que está pensando — Dylan comentou — Todos acham que
ela foi maltratada por alguém e pelos machucados que encontrei aquele dia
tive certeza, ela fugiu ainda grávida, mas seu filho não resistiu à tempestade
daquela noite e acabou falecendo.
— Tempestade...por isso o nome?
Ele assentiu.
— O tempo quando foi encontrada, sua fúria, seu comportamento, a
forma como não dá para confiar totalmente… tudo isso se remete a
Tempestade.
— O que acabou de acontecer comigo e com ela — comecei dizendo,
as sensações no peito ainda viva — Eu senti um pouco de desconfiança, mas
não medo.
— Lembra o que falei para você hoje? Sobre confiança e conexão? —
Assenti — Assim como você, ela também desconfiou, mas depois de tudo
que passou nas mãos de pessoas ruins não sentiu medo.
Tempestade me olhava de longe, seus olhos se encontraram com os
meus e aquela mesma sensação tomou o meu coração. Eu queria correr até
ela, montar em cima de seu dorso e galopar tão rápido a ponto de sentir os
cabelos ao vento enquanto a sensação de liberdade me abraçava, nos
abraçava. E seu olhar parecia querer o mesmo, ou era apenas loucura minha?
— Está dizendo que minha prima e Tempestade se conectaram? —
Dylan concordou — Isso é incrível. Eu nunca tinha visto algo parecido,
apenas em filmes. Não acha Raven?
A voz animada de minha prima me despertou dos pensamentos. Era
incrível, mas o que ela tinha visto em mim? Eu sou apenas uma garota que
sofre pela morte do irmão.
— Estou confusa — admiti.
— Tempestade também parece estar — Dylan apontou para ela, que
agora olhava a paisagem verde na sua frente — Acho que é impactante para
as duas, mas é interessante ver algo que somente ouvi de meu pai a vida toda.
Irei pegar Tempestade e colocá-la no cercado dela, daqui a pouco os peões
começam a aparecer e não quero que ela ataque alguém — ele arrumou o
chapéu na sua cabeça — Nos vemos depois do almoço ou perdeu a vontade
de me ajudar?
— Nos vemos depois do almoço.
Ele se afastou e foi em direção de Tempestade. Minha prima entrelaçou
o braço no meu e caminhamos em direção a casa de minha tia.
— Nunca fiquei tão assustada na minha vida — ela disse — Sério, eu
realmente achei que ela faria alguma coisa.
— Como se aproximou tão rápido?
— Eu cheguei em casa e minha mãe disse que você estava ajudando
Dylan, até fiquei surpresa que já o conhecesse, mas isso conversamos outra
hora, então me aproximei do estábulo para chamá-la para almoçar quando vi
Tempestade correndo até você.
Chegamos em casa e fomos até a pia de fora lavar as mãos para
almoçarmos. Entramos pela porta dos fundos dando de cara com Amélia e
Millie conversando, se bem que olhando melhor para a feição de minha prima
mais velha, diria que estava zangada com alguma coisa.
— Mãe você não vai acreditar no que eu vi — Alisson que pareceu não
perceber o mesmo que eu, começou a falar — Tempestade correu até Raven e
a deixou acariciá-la, mesmo com todas as suas desconfianças, uma não sentiu
medo da outra. Foi como em um filme.
Literalmente.
— Tempestade? A mesma égua que mordeu o braço de Zac e derrubou
Marcos? — Amélia não parecia muito convincente.
— Existe outra por acaso? — Eu tinha certeza que Ali não respondeu
grosseiramente, aquele era apenas o jeito dela, direto.
— Eu escutei bem? Você mal chega no rancho e já conquistou o
coração de Tempestade? — Meu tio aparece na cozinha com Nina atrás, que
assim que me vê corre até onde estou.
Dei de ombros, me sentindo constrangida de uma hora para a outra.
— Isso é incrível, Raven — minha tia disse — Mas como conheceu
Tempestade? Essa hora é para ela estar no cercado dela.
— Ah, o destino meu amor — Eitan se aproximou de sua mulher e
beijou o topo de sua cabeça — Quando ele quer que duas almas se encontre,
move montanhas para isso acontecer.
Minha tia sorriu.
— Tudo bem, essa é a melhor resposta que eu poderia ter. Agora vamos
almoçar, temos uma longa tarde pela frente.

No almoço eu não falei muito. Na verdade, eu começava a me sentir


sufocada novamente, minhas mãos estavam tremendo e a cabeça começava a
doer.
Mesmo me sentindo indisposta, fui me encontrar com Dylan no
estábulo as 14 horas da tarde, era melhor aguentar sua presença do que ficar
em um quarto trancada piorando toda a minha situação.
— Pontual, ganhou um ponto que havia perdido mais cedo com sua
falta de atenção — ele não deixou de provocar. Não que eu esperasse que o
episódio com Tempestade mudaria alguma coisa.
— Onde está Tempestade? — Perguntei ao notar apenas Penélope, Fire
e Coronel no estábulo.
— Está no cercado dela a um minuto daqui. Ela fica lá durante o dia
para se exercitar, comer e beber, só volta para cá de noite — explicou.
— Quem busca ela?
— Eu ou Vincent, são os únicos que ela não parte para cima, não agora
pelo menos — Ele pegou a guia de Fire — Foi difícil dar a ela a certeza que
não a machucaria.
— Então ela também confia em você e Vincent.
— Ela sabe que eu vou levá-la em um lugar que ela gosta para correr,
que é a atividade que mais ama fazer e sabe que quando anoitecer o melhor é
dormir em algo coberto. Ela não confia em mim e Vincent, apenas retribui o
favor de deixá-la salva não nos machucando.
— Falando assim parece que ela é um monstro.
— Não. Apenas alguém que já sofreu e perdeu muito. Se você é
machucada pela pessoa que ama e deveria ser amada, confiaria novamente?
— Seu olhar se perdeu por um momento no vazio do estábulo.
— Não — respondi — E por isso não entendo o que ela viu em mim.
Ele deu de ombros e começou a caminhar e guiar Fire em direção a
saída, o acompanhei.
— Um dia você vai saber.
Caminhamos em silêncio até o campo de treinamento. Eu ainda estava
com tremores, mas fazia de tudo para Dylan não perceber. Quando chegamos
no local, fiquei com Fire, enquanto ele ia até o galpão pegar os equipamentos
do cavalo.
— Vai ser uma longa tarde — murmurei e Fire pareceu concordar pois
usou o rosto para mexer com minha mão, eu conhecia aquele gesto, ele queria
carinho.
Alisei seu rosto, mas não senti nada comparado ao que senti com
Tempestade, isso parecia loucura. Nunca em anos imaginei que isso
aconteceria comigo.
Dylan se aproximou e começou a arrumar Fire para montar.
— Antes de Tempestade se afastar ela balançou a cabeça para baixo e
relinchou, você sabe o que isso significa? — Perguntei ao me lembrar da
cena.
— Pode ser muitas coisas, mas pela forma que vocês duas se olhavam
eu diria que ela estava aprovando você e te respeitando. É uma égua muito
inteligente.
— Qual é a raça dela?
— Puro sangue inglês.
— Nunca tentou montá-la?
Ele negou.
— Sempre respeitei o espaço dela e se tentasse provavelmente seria
derrubado.
Ele pareceu perceber o meu olhar ansioso por isso continuou.
— Sei que o que vocês tiveram mais cedo foi intenso e quase um
milagre para muitos, mas não quero que a monte.
— Por que?
— Porque não sabemos os traumas que ela tem, muito menos o que ela
faria com alguém montando nela, mesmo se essa pessoa fosse você.
Ele tinha razão, claro que tinha, mas mesmo assim não consegui
esconder minha decepção. Eu conseguia me imaginar em cima dela, o vento
batendo em nós enquanto corríamos por tudo.
— Quero ser amiga dela — falei, decidida a fazer isso — Posso ficar
responsável por cuidar dela?
— Faria um grande favor a nós. Ultimamente ela anda instável demais,
por isso Vincent a deixou solta no estábulo, foi me procurar para tentar
acalmá-la.
Ele terminou de prender Fire e me olhou.
— Pronta para aprender um pouco sobre adestramento?
Minha mão tremeu e eu a escondi imediatamente.
— Pronta.

Não consegui me concentrar no treinamento de adestramento.


E eu até gostaria de dizer que a minha distração foram os braços fortes,
a beleza e até mesmo a arrogância de Dylan, mas estava longe de ser a
verdade.
Ele me xingou pela minha falta de comprometimento, me ameaçou e
disse que preferia voltar a trabalhar com Vincent do que comigo, eu não o
retruquei.
Me sentia muito esgotada, como se estivesse feito vários exercícios
físicos sem nenhum intervalo de descanso. Além disso, a dor em minha
cabeça só aumentou.
— Eu falei sério quando disse que não suporto perder meu tempo —
Dylan caminhava ao meu lado. Havíamos deixado Coronel nos estábulos e
íamos em direção ao lugar que Tempestade ficava para trazê-la de volta.
— Eu sinto muito, estou tentando, mas minha cabeça parece que vai
explodir.
Ele parou me fazendo parar também, seu semblante mais sério que o
habitual.
— Por que não me disse que estava passando mal? Se eu soubesse a
teria mandado para casa e não ficaria enchendo ainda mais sua cabeça com
xingamentos.
Aí estava uma parte de sua personalidade que não conhecia, isso queria
dizer que ele não era tão arrogante assim?
— Meus tios não falaram o motivo de eu estar aqui com você não é
mesmo? — Ele negou — Se eu demonstrasse que estava passando mal ou
dissesse, teria que ir para casa, tomar um remédio que não me adiantaria nada
e tentar dormir em um quarto que me deixa claustrofóbica, então eu prefiro
estar ao ar livre.
— Seus tios só falaram que você estava passando um tempo aqui e
queria aprender um pouco mais sobre hipismo. Por que não deixa que eu
cuido de Tempestade hoje? Acho que é melhor você ir para casa, amanhã
preciso de você disposta para prestar atenção e aprender.
— Pensei que estivesse demitida — não deixei de provocar — Sério, eu
ouvi você dizer isso umas três vezes.
Ou minha cabeça estava muito zonza ou eu tinha visto um quase sorriso
dele, que foi interrompido antes mesmo de sorrir por sua carranca séria.
— Vá para casa — mandou — Eu cuido de Tempestade.
Eu diria “você não manda em mim” “eu sei que posso fazer isso”, mas
eu realmente não conseguia fazer, então decidi obedecer, somente daquela
vez.
— Tudo bem.
— Até amanhã — ele disse e voltou a seguir o caminho, de onde
estávamos podia ver o cercado e Tempestade.
Estava me virando para voltar para casa quando resolvi dizer.
— Dylan — ele se virou no mesmo momento — Você não é tão
arrogante assim.
— Como pode ter tanta certeza?
Dei de ombros.
— Simplesmente sei.
Ele negou com a cabeça e voltou a caminhar em direção a Tempestade,
não sem antes falar:
— Deveria descansar mesmo, a dor está afetando até mesmo sua linha
de raciocínio.
Sorri, mas logo meu sorriso se transformou em uma careta ao sentir o
latejar da minha cabeça. Merda.
Seria uma longa noite.
Sentado no sofá, tomei um gole da minha cerveja e fechei os olhos
torcendo para o sono vir essa noite. Eu estava cansado, então era provável
que ele logo viria, só torcia para dessa vez não ser interrompido por nenhum
pesadelo.
Principalmente com ela.
Encostei minha cabeça no sofá relaxado, apenas com o silêncio da noite
me cercando.
Silêncio.
Algo que vinha me incomodando nos últimos meses.
Minha vida toda seria assim? Apenas com um Golden e um cavalo ao
meu lado? Há dois anos eu tinha certeza que isso era o melhor para mim,
depois de ter tomado uma decisão difícil em minha vida, mas agora eu já não
sabia se era o certo, ou talvez, a culpa dessa confusão toda que eu estava
fosse da minha mãe, que fazia questão de dizer toda vez que tinha
oportunidade que eu estava tomando a decisão errada. Que eu merecia ser
feliz, que eu merecia uma família, que eu merecia uma mulher de verdade em
minha vida.
Felicidade? Eu era feliz no campo, com os cavalos e com Billy, meu
Golden Retriever.
Família? Era sério que ela falava sobre isso?
Mulher de verdade? Eu não estava disposto a tentar exatamente pelos
mesmos motivos anteriores, era incapaz de trazer felicidade e muito menos
ser feliz com uma família.
Minha mãe era inocente e não fazia ideia de tudo que eu passava.
O celular ao meu lado tocou, felizmente, ou não, a minha casa foi a
única a não ser atingida pelo temporal, o que fazia o meu celular ter um ou
dois pontos de sinal, pelo menos conseguia telefonar, abri os olhos e quase
tive vontade de fingir não ter ouvido. Minha mãe não morreria tão cedo.
Graças a Deus!
— Oi, mãe — atendi o telefone.
— Finalmente, Dylan Blossom — a voz que começaria o drama
começou a dizer — A última vez que falei com você foi há uma semana, o
que está fazendo esse tempo todo que não pensou em ligar para sua mãe?
— Sabe que ando ocupado com o trabalho.
— Eu sei, você me disse sobre os dois cavalos novos que entraram no
rancho, mas isso não justifica sua ausência.
— Sinto muito! — falei ou então ela prolongaria aquilo ainda mais —
Mas não tenho nada de novo para contar, então espero que ocupe o tempo
falando alguma novidade.
— Nada demais por aqui também — suspirou — Sua irmã está fazendo
com que eu perca a cabeça, mas isso você já sabe.
— A fase da adolescência, lembro até hoje dos puxões de orelha que eu
recebia da senhora.
— Tudo isso porque não conseguia deixar o seu amiguinho dentro das
calças.
Gargalhei. Minha mãe é uma figura.
— E o que Hannah está aprontando agora?
— Ela continua indo para essas festas de penetra, esses dias escapou da
polícia por pouco. Gostaria que viesse aqui para conversar com ela querido,
talvez ela ouça o irmão mais velho.
Eu havia tentado conversar com Hannah uma vez e pelo jeito não havia
mudado muita coisa, todos os conselhos que eu dei, ela havia colocado no
primeiro lixo que apareceu na sua frente.
— Eu posso tentar de novo mãe, mas você sabe que essa fase é difícil.
— Eu sei. Ela diz que ainda é virgem e isso me alivia, mas até quando?
Hannah é muito inocente, tem apenas 17 anos e faz tudo isso para chamar
atenção do pai, e mesmo assim aquele idiota não faz nada, tenho medo dela
querer fazer algo pior e acabar pegando uma doença.
Suspirei. Eu entendia o lado de Hannah, mas não entendia suas atitudes
para chamar atenção de Bruce. O segundo casamento de minha mãe não
havia dado muito certo e minha irmã presenciou as brigas e discussões de
seus pais quando ainda era uma criança de oito anos, eles se divorciaram um
ano depois e até três anos atrás Bruce dava atenção devida para Hannah, mas
foi ele se casar novamente que parecia ter esquecido que tinha uma filha.
— Tenho certeza que Hannah não faria nada imprudente, além de
entrar de penetra em festas. Posso ir aí no final de semana e tentar conversar
com ela.
— Ótimo meu filho, irei preparar o quarto de hóspedes e....
— Não vai ser preciso mãe, irei apenas no domingo — a interrompi —
Sábado iremos acertar com os Sander’s o inicio do treinamento de um novo
cavalo.
Suspirou.
— Tudo bem, pelo menos você vem — ouve um silêncio na linha e eu
sabia o que ela falaria em seguida — Continua vestindo sua máscara de
arrogância para espantar as pessoas?
Revirei os olhos.
— Mãe, não quero falar sobre isso.
— Filho, eu só quero que saiba que Hannah não é a única que me
preocupa. Você não era assim há cinco anos.
— Você sabe que eu me tornei desse jeito, sabe da minha história e
sabe o porquê faço isso.
— Você percebe que mesmo tendo passado dois anos, ela ainda
controla sua vida?
Bufei, me levantei e descartei a cerveja no primeiro lixo que apareceu,
perdendo a vontade de beber apenas por mencionar o meu passado.
— Não quero discutir com você.
— Mas eu quero Dylan, você passou o inferno por dois anos dentro de
um relacionamento, se é que podemos chamar aquilo de relacionamento e
agora que está livre para viver uma vida feliz com alguém...
Dois anos…se ela soubesse que foi muito mais.
— Você sabe que não posso — senti meus olhos marejarem, eu
detestava esse assunto — Eu não confio em ninguém, eu não preciso de
ninguém e você sabe disso.
— Nem todos são como eles, querido — ela disse, a voz embargada,
provavelmente chorando — Só quero que seja feliz.
— Eu sou feliz.
— Sem nenhum amigo? Apenas você, um cachorro e um cavalo? Isso é
a sua ideia de ser feliz? — Ela dispara — Eu sei que você ama esses animais,
mas as vezes nem eles são o suficiente.
— Mãe eu vou desligar...
— E lá vai você fugindo do assunto novamente. Tudo bem, eu só quero
que olhe ao redor, não se menospreze achando que não pode fazer ninguém
feliz apenas porque...
— Mãe, por favor — não deixei que continuasse aquela frase, seria
demais para mim.
— Apenas olhe para mim, eu não dei certo com seu pai, muito menos
com Bruce, mas estou feliz com Jimmy.
— Não é a mesma coisa e você sabe.
— Nada que eu disser vai fazer você mudar de ideia não é mesmo?
— Nada.
— Tudo bem, eu só espero que um dia alguém especial apareça para
conseguir mudar sua cabeça.
Minha mente, que eu não conseguia controlar, acabou pensando em
Ravenna e seu jeito provocativo, as vezes infantil e seus olhos azuis que me
fitavam de forma tão intensa quando achava que eu não percebia... dei fim
naquilo no mesmo momento, me recriminando por pensar nela.
— Boa noite, mãe — me despedi, querendo dar um fim naquele
assunto.
— Boa noite, filho.
Desliguei e fui direto para o meu quarto. Tirei a camisa e a bermuda
que vesti depois do banho e deitei na cama só de cueca, a forma que dormia
todas as noites, principalmente no verão.
Minha mãe nunca desistiria de tentar e eu a admirava por isso, mas o
que ela pedia era demais para mim.
Eu nunca mais teria um relacionamento na minha vida, o que tive valeu
por mais de dois.
Quando eu precisasse de uma mulher eu pagaria por uma noite e no dia
seguinte, cada um seguiria para o seu lado.
Isso funcionou durante dois anos e funcionaria para o resto da minha
vida.
No dia seguinte eu levantei cedo, tomei meu café preto, forte do jeito
que eu gosto e segui para Nightfall. Hoje testaria Penélope no adestramento,
era um grande passo, mas sabia que exigiria muitos dias de treinamento. A
égua e Coronel eram novos no ramo de hipismo, eles exigiam mais atenção
do que Fire, que já havia participado de duas competições e ganhado na
última.
Entrei no estábulo e Ravenna já estava presente no local, vestida com
uma calça de montaria marrom que marcava bem suas pernas e uma regata
devido ao calor que fazia hoje. Estava na frente da baia de Tempestade, ela
parecia estar conversando com a égua antes de eu chegar e roubar sua
atenção.
A garota era bonita, linda na verdade.
Cabelos loiros lisos e não muito cumpridos, rosto delicado com olhos
azuis iguais aos meus. Ela tem um corpo curvilíneo que com a roupa apertada
que usava hoje, podia notar os seios médios que com certeza caberiam
perfeitamente na minha mão, coxas não muito grossas, mas também não
muito finas. Ela é definitivamente o tipo de mulher que eu pegaria no
passado.
Exatamente, passado.
Estava bem grande, escrito em letras maiúsculas na sua testa
“PROBLEMA” e eu não precisava de mais um em minha vida.
Definitivamente, estava bem melhor sem mulher na minha vida.
— Caiu da cama — fui o primeiro a quebrar o silêncio e o olhar, ou
ficaríamos nos olhando por longos minutos.
— Parece que sim — ela disse, parecia extremamente cansada ainda.
Tentei não ser invasivo, muito menos me preocupar, mas se ela seria
minha colega por três meses, teríamos que ser pelo menos amigáveis um com
outro, por isso vinha tentando ser gentil e não a afastar completamente. Eitan
havia sido bem persuasivo ao dizer que Ravenna precisava disso, eu não quis
perguntar o porquê, mas algo me dizia que era extremamente séria a situação
da garota.
— Está melhor? — Me aproximei e encontrei seus olhos sobre os meus
novamente.
Dessa vez, devido a aproximação, notei as olheiras e os olhos
levemente vermelhos indicando uma noite mal dormida.
Ela assentiu.
— Não parece — falei.
— Acredite, por incrível que pareça vou ficar melhor se ficar com você
— senti a pitada de provocação que parecia ser comum quando nos
encontrávamos.
— Tudo bem, afinal eu não sou tão arrogante assim — devolvi, me
lembrando o que ela disse ontem no final da tarde.
— Sobre isso... estou tentada a acreditar, mas talvez eu estivesse
delirando — deu de ombros — Irei saber até o final da semana e te dou
minha resposta concreta.
Certo, ela sabia ser divertida, mesmo quando seus olhos não pareciam
acompanhar o divertimento. O que aconteceu com ela?
Nada que me importasse, mas mesmo assim, aquele instinto que vinha
ignorando no peito desde que a vi se apresentado para Billy permanecia. Por
isso evitava olhar para aqueles olhos azuis, era como se eu devesse me
aproximar, como se ela precisasse de um ombro que a entendesse e não a
julgasse.
Eu deveria estar ficando louco.
Qual foi a última vez que estive com uma mulher mesmo? Três
semanas atrás, talvez seja isso, apenas uma boa transa e eu pararia de ver
coisas onde não tinha.
— Estarei esperando seu veredito final.
Tempestade bufou, minha atenção foi para a égua que estava agitada.
— Alguém aqui está impaciente — comentei — Vamos levá-la para o
seu cantinho.
Me aproximei da baia e a destranquei, entrando na mesma. Com muita
calma e paciência estendi minha mão já com a guia para Tempestade, a égua
bufou alto, com aquela face que assustaria qualquer um, mas sabendo que
não sairia dali sem obedecer essa ordem, ela se acalmou o suficiente para eu
arrumar a rédea em sua cabeça.
— Parece muito mais calma hoje, Tempestade — observei, geralmente
ela demorava mais para aceitar ser presa.
Ravenna observava tudo de perto, por isso pedi:
— Pode se afastar um pouco? Colocarei ela para fora e não quero que
ela acabe lhe dando um coice ou algo assim.
— Ela faria isso comigo?
Sei o que ela queria dizer, depois daquela cena de ontem eu não achava
que Tempestade a machucaria, mas mesmo assim eu temia. Acompanhei o
tratamento da égua desde o início, seu temperamento era muito difícil e seu
humor extremamente bipolar, as vezes colaborava e as vezes não. E se aquilo
que vimos ontem não passou de um bom humor de Tempestade?
— É como eu disse para você ontem, precisamos ter paciência com
esses animais, principalmente com Tempestade.
Ela assentiu e se afastou.
Puxei devagar a égua enquanto ouvia e sentia seus sopros, ela detestava
aproximação e eu a entendia, não deveria ser fácil depender de alguém que a
qualquer momento poderia machucá-la, talvez fosse isso que ela pensava.
Olhei para Penélope do outro lado do estábulo, já estava pronta com sua
rédea para irmos para a pista de treinamento.
— Você disse que começaria com ela hoje, então a arrumei enquanto
você não chegava — Ravenna explicou ao notar meu olhar na égua branca.
— Muito bem, obrigado.
Ela deu de ombros.
— Sou sua ajudante, não é?
Assenti.
— Vamos levar Tempestade para o cercado e de lá iremos para o
campo de adestramento.
Ela pegou a rédea de Penélope e lado a lado caminhamos para o nosso
primeiro destino. O caminho foi silencioso, apenas com a respiração
acelerada de Tempestade e os olhos desconfiados de Penélope para a égua
preta, estava esperta para qualquer movimento brusco conseguir fugir.
O cercado de Tempestade era grande o bastante para ela se exercitar e
descansar na sombra da árvore que tinha no local. Perto dela ficava a água, já
limpa por um dos peões, na sombra, para não esquentar muito com o sol
quente que fazia no verão.
— Isso é incrível — Ravenna disse ao admirar o local — Tudo isso foi
construído quando ela veio para Nightfall?
Assenti.
— Cuidei de todos os ferimentos dela e conforme foi melhorando
percebi que ela não poderia ficar solta como os outros, ainda mais quando
mordeu Marcos por apenas limpar sua bacia de água. Não queríamos entregar
o animal para as autoridades, eles poderiam sacrifica-la por ser selvagem
demais e representar perigo para sociedade, então criamos esse lugar para ela
poder se distrair.
— Você cuidou dos ferimentos dela?
— Sim, sou veterinário — ela pareceu surpresa — Por que essa cara?
Não pareço um médico que cuida dos animais?
Fiquei na frente de Tempestade com uma certa distância, seu rabo
estava se movimentado de um lado para o outro rapidamente, alguém aqui
estava começando a se irritar. Estendi minha mão e aproximei da guia, ela
estava louca para entrar e se afastar de nós, por isso a soltei e abri a cerca.
Tempestade andou rapidamente para dentro do cercado, logo começou a
comer o gramado.
— Não — Ravenna respondeu minha pergunta — Só não imaginava
isso, achei que sua profissão fosse a de adestrador os cavalos.
— Gosto muito de cavalos, por isso nessa temporada de preparação
para competições trabalho aqui em Nightfall, mas quando acaba, exerço
minha formação.
— Tem um consultório?
— Ainda não, mas é algo que eu quero no futuro — fechei a cerca e me
virei para ela.
— Tenho certeza que irá conseguir.
Mais uma vez aquela sensação que me desestabilizava, me tomou
quando seus olhos encontraram os meus.
— Sábado eu e Eitan iremos acertar com o cavalo de Arthur Sander —
mudei de assunto e desviei meu olhar.
— Isso é ótimo, quando poderei começar a treinar eles?
— Você não tem nenhum curso, então não ficará com a parte de
adestramento, mesmo se você tivesse o talento para isso, os donos poderiam
complicar por você não ter nenhum certificado —expliquei— Então você irá
ficar com a parte dos saltos a partir de semana que vem, não requer muito
ensinamento e me ajudará bastante.
— Certo.
— Agora vamos, temos muito o que ensinar a Penélope.

— Quantos anos você tem Dylan? — Ravenna perguntou assim que


saímos do estábulo.
Hoje a manhã havia sido puxada. Como eu imaginava, Penélope
obedeceu poucos comandos, era a primeira vez que se deparava com o
adestramento e eu sabia que passaria isso com Coronel, assim que ele
terminasse a parte dos saltos, que ainda estava muito ruim.
— 28 e você? — A olhei.
Ravenna havia prestado muito atenção hoje, mesmo que seu corpo e
rosto demonstrassem que estava exausta. Pedi para ela ir descansar duas
vezes, mas ela negou, dizendo a mesma coisa de mais cedo. Eu não deveria
estar tão preocupado com o que estava acontecendo com ela, havíamos nos
conhecido há três dias, mas não conseguia ser insensível a isso, ela não
parecia nada bem.
— 21, prestes a completar 22 anos daqui cinco dias — não parecia
muito feliz com isso.
— Não gosta de ficar mais velha?
Ela sorriu, mas nem de longe era um sorriso verdadeiro.
— Acho que nunca mais ficarei feliz nessa data — declarou, ela
pareceu notar minha confusão estampada em meu rosto — Meu irmão gêmeo
morreu há quatro meses. Ano passado, estávamos festejando os nossos 21
anos.
Seus olhos azuis desviaram para a paisagem verde e bonita de
Nightfall. Penélope, Fire e Coronel estavam pastando no meio do gramado
verde.
— Sinto muito pela sua perda.
Ela olhou para mim novamente.
— Obrigada...eu acho — a dor que vi em seus olhos mexeu comigo,
finalmente entendi o que ela queria dizer com distração e ar livre, trabalhando
comigo ela não pensava muito nisso.
Eu sabia que nossos pensamentos, em determinada situação, eram
nossos piores inimigos.
Me senti um merda por tratar ela de forma estúpida e senti a obrigação
de me redimir.
— É por isso que está aqui? — Perguntei, mesmo já sabendo a
resposta.
— Sim, acho que foi uma boa ideia afinal.
Assenti, sem saber ao certo o que falar e tirar aquela dor em seu olhar,
falei a primeira coisa que apareceu em minha mente.
— Perdi meu pai quando estava na faculdade, tinha a sua idade. Sei a
dor que está sentindo, com o tempo a única dor que fica é a saudade, essa
nunca passa.
— É um pouco mais complicado que isso — suspirou e me olhou —
Mas... sinto muito pelo Sr. Ivan, ele era um homem maravilhoso.
Concordei porque ela estava certa.
— Por que não me lembro de você? Eu vinha para o rancho todos os
verões até os meus 14 anos.
— Meus pais se separaram quando eu tinha 6 anos, fui morar com
minha mãe em Brentwood e vinha visitar ele apenas nos finais de semana,
quando ele não estava trabalhando.
— E foi por ele que começou a treinar os cavalos?
Assenti.
— Ele foi uma grande influência, me ensinou muitas coisas com seu
cavalo, são umas das minhas memórias favoritas. Antes de ir para faculdade
fiz um curso de treinamento e adestramento para equinos, depois segui o meu
sonho.
— Então isso para você é um hobby e sua grande paixão é a medicina
veterinária?
— Nunca havia pensado por esse lado, mas sim. Um hobby que amo
quase tanto quanto minha profissão.
Percebi que a mudança de assunto, de seu irmão para meu pai fez com
que se distraísse da dor que ainda deveria estar sentindo.
— É engraçado e ao mesmo tempo frustrante não ter nada que eu ame
— ela disse — Comecei a fazer faculdade de direito achando que queria
seguir o caminho de meu pai, não durou um ano. Depois fiquei seis meses
sem estudar e comecei a pensar que talvez eu devesse ser médica, como
minha mãe, afinal, eu me preocupo com as pessoas, mas só conseguir ficar
um ano.
— É normal não saber o que fazer — tentei consolá-la ao notar que
aquele assunto a incomodava — Talvez você tenha tentado errado nas duas
vezes.
— Já pensei nisso, mas a verdade é que não consigo me imaginar em
uma sala estudando alguma coisa.
Entendi no mesmo momento o que ela queria dizer.
— Nem sempre fazer faculdade é o caminho para a felicidade. Há
profissões que exigem isso, mas outras que não, já pensou em seguir por esse
lado?
— Nunca, faculdade sempre foi estipulada por meus pais como algo
que eu e meu irmão deveríamos fazer.
— Talvez seus pais pensam como a maioria, mas temos que analisar a
situação e pensar sem nenhuma pressão de que você deve isso. O que você
verdadeiramente ama Ravenna?
Ela sorriu e dessa vez foi verdadeiro.
— A algo que nunca tive coragem de fazer, mas que amo desde que me
entendo por gente.
Seus olhos azuis brilharam acompanhando o sorriso de sua boca, a
deixando mais linda. Eu não queria reparar nisso, mas era quase impossível.
— E o que é?
— Hipismo. Eu me interessei quando vi o Sr. Ivan treinando os cavalos
ainda criança e desde então acompanho as competições. Apenas no último
ano não vi, devido a tudo que aconteceu com meu irmão.
Competições? Quem diria, olhando bem para ela, a garota tinha jeito
para isso.
— Sabe o que acontece nesse sábado?
Ela negou.
— As inscrições para as regionais. Se você se inscrever podemos
arrumar um tempo para treinar você e um cavalo.
Eu estava mesmo sugerindo passar o meu tempo livre ensinando-a a
ganhar as regionais? Sim. E havia saído tão naturalmente que só percebi a
gravidade quando falei.
— Você está falando sério? — Assenti — Isso é incrível, eu vou ser a
primeira na fila sábado — seu sorriso foi se desfazendo aos poucos — Mas...
eu nem tenho um cavalo.
— Podemos arrumar um para você — falei e era verdade, o que mais
tinha em Franklin era ranchos com cavalos à venda.
— Estou animada — ela confessou o que estava na cara.
— Fico contente que tenha ficado — me aproximei dela — Quero me
desculpar por ter sido arrogante com você quando está passando por um
momento difícil.
Ela pareceu surpresa.
— Uau! Isso era tudo que eu não esperava de você — não perdeu a
chance de provocar, quase sorri com isso — Desculpas aceitas, eu sabia que
você não era tão arrogante assim.
— Esse é o veredito final?
— Ainda não Dylan, apenas no final da semana, lembra?
Assenti.
— E eu devo agradecer você.
— Pelo o quê?
— De todas as pessoas que conversaram comigo nos últimos quatro
meses, você foi o único que conseguiu me animar, mesmo que tenha me
conhecido há três dias.
Aquela confissão mexeu comigo e percebi que era hora de recuar. Ela
tinha algo... não era só a beleza que me atraia e disso eu tinha certeza.
— Nos encontramos de tarde? — Ela assentiu, confusão na sua íris
azuis pela mudança de assunto.
Me afastei após a confirmação, dei as costas e segui para minha casa,
ainda tentando entender porque essa garota mexia e confundia com toda
minha cabeça.
Sábado chegou mais rápido do que eu imaginava. Os dias em Nightfall
passavam em um piscar de olhos, eu realmente gostava de me envolver com
os animais e meio contrariada em concordar, talvez essa tivesse sido a melhor
decisão que meus pais tomaram por mim.
E talvez o outro motivo de não ver o tempo passar fosse Dylan
Blossom.
Eu sabia que ele não era tão arrogante assim. E eu percebi isso três dias
atrás, quando aquela arrogância deu lugar a preocupação por mim, ele era
uma pessoa gentil, afinal de contas, isso me intrigava, por que se apresentar
para mim de forma tão desrespeitosa quando ele era uma pessoa educada?
Primeiro, realmente achei que estivesse delirando e alucinando, porque
parecia bem real sua arrogância para mim. Mas então no dia seguinte não
discutimos por sua arrogância e conversamos, sério, se me dissessem há
quatro dias que eu estaria gostando da companhia do cowboy que foi
extremamente rude comigo em sua propriedade eu chamaria a pessoa de
louca, mas isso estava acontecendo, era cedo demais, mas podia dizer que
estávamos nos tornando amigos e isso seria incrível se eu não achasse ele
atraente demais.
Se ele desse a entender que me queria, nem guindaste me tiraria de
cima.
Eu não era nem um pouco de ferro, mas pelo jeito eu não o afetava do
mesmo jeito que ele me afetava com sua presença intensa, então, o melhor
era sermos amigos mesmo.
O problema na minha estadia em Nightfall eram as noites. Enquanto os
dias passavam rapidamente, minhas noites demoravam a passar.
Eu não estava conseguindo dormir. Nos quatro dias que estou aqui se
dormi mais de oito horas foi muito, nos últimos dias comecei a disfarçar
minhas olheiras com base e corretivo, ou então assustaria o primeiro
funcionário que aparecesse em minha frente.
Hoje por exemplo, dormi por causa do cansaço e foi apenas uma hora,
das sete as oito da manhã.
O álcool estava fazendo falta para eu conseguir dormir. Quando os
pesadelos vinham e eu não conseguia mais fechar os olhos e descansar, bebia
até pegar no sono. A dor de cabeça no dia seguinte era apenas uma
consequência que eu não me importava.
Alguém bateu na porta me fazendo despertar dos meus pensamentos.
Alisson colocou a cabeça para dentro do quarto e sorriu ao me ver já de pé.
— Bom dia, prima! — entrou no cômodo — Hoje é meu dia de folga e
pensei em irmos à cidade fazer sua inscrição e comprar algumas roupas de
montaria para você, vai precisar.
Eu havia comentado no mesmo dia sobre minha decisão de me
inscrever para a competição de hipismo, meus tios vibraram de felicidade por
eu achar algo para ocupar minha cabeça, assim como Alisson, que já estava
louca pelas roupas do dia da prova. Amélia apenas desejou “boa sorte”,
percebi que ela estava estranha desde que eu comecei a trabalhar no rancho e
era algo que eu ainda tinha que questionar para Ali.
— Que bom! Pensei que teria que ir sozinha e me achar na pequena
cidade.
— Até parece que minha mãe deixaria você ir sozinha — ela sorriu e se
aproximou — Você está bem?
Eu não havia passado nenhum reboco na cara ainda, então era óbvio
que ela tinha visto minhas olheiras. Apenas assenti, mas como era com
Alisson que eu estava falando, não parou por aí.
— Mamãe me contou sobre como você estava lidando para curar a dor
em Nova Iorque — ela admitiu — Eu sou sua prima e durante toda infância
fui sua melhor amiga, minha preocupação com você não mudou nada nos
dias de hoje, esse nunca é o melhor caminho, Raven.
— Por favor, não venha você com os sermões de velho para cima de
mim — desviei meu olhar dela e caminhei até minha cômoda. Peguei meu
estojo de maquiagem e voltei a me olhar no espelho.
— Não é discurso de velho e você sabe disso. Tudo que falamos é para
o seu bem, não suportaríamos perder você também.
Vi através do espelho seus olhos marejarem.
— Estou aqui agora e faz mais de uma semana que estou sem uma gota
de álcool no estômago, satisfeita? E se você quiser ficar conversando sobre
isso comigo é melhor que eu vá sozinha para a cidade — os olhos marejados
me observaram cheio de mágoa.
— Tudo bem — ela suspirou — Quer ajuda para a maquiagem?
Neguei.
— É apenas uma base e um corretivo, posso fazer sozinha.
— Nos vemos no café então — e saiu do quarto.
Eu simplesmente odiava quando se metiam na minha vida.
Mas também odiava esses excessos de raivas que tinha as vezes,
vinham se tornando mais presente nos últimos dias, e hoje descontei na
minha prima.
Senti que deveria me desculpar e talvez eu fizesse isso mais tarde.
Desci para o café da manhã cinco minutos depois, com um short jeans e
uma regata preta de alças finas, estava um calor terrível hoje e eram apenas
nove horas da manhã. Agradeci mentalmente por não ter treinamento, seria
insuportável de aguentar.
— Bom dia, bela adormecida! — Millie cumprimentou — Como está
hoje?
Será que todos os dias receberia essa pergunta?
— Bem — respondi, apenas — Onde está Nina?
— Você deixou a porta encostada e ela saiu de manhã cedo comigo
para ver o gado — Eitan entrou na cozinha com minha Golden, que estava de
boca aberta, mas aparentemente alegre — Bom dia!
— Oi, amor — ela pulou em mim com seus bons 28 kg — Calminha aí
amiga, você está pesada. Irei hoje a cidade e de tarde iremos passear, ok?
Como se me entendesse, ela latiu concordando. Com o trabalho no
rancho, a única atenção que conseguia dar a ela era no intervalo e de noite.
— Onde está Amélia? — Ali perguntou.
— Acertando com Dylan e os Sander’s sobre o treinamento do novo
cavalo — meu tio respondeu — Agora, vamos tomar café, estou morrendo de
fome.

A cidade de Franklin não havia mudado quase nada, a sorveteria que


eu, Ali, Archer costumávamos ir quando criança permanecia aberta e
recebendo quase toda a população, mesmo que ainda fosse de manhã.
— Podemos almoçar no shopping — Ali sugeriu ao meu lado,
estávamos na fila para as inscrições — E depois tomarmos sorvete como
antes, dessa vez sem nossos pais a nossa volta.
— Podemos almoçar, mas não quero ir na sorveteria — falei, não
aguentaria ficar lembrando das artes que eu e meu irmão fazíamos naquele
lugar sem chorar.
— Entendo. Ainda bem que avisei minha mãe que talvez ficaríamos
por aqui, deve saber que ainda estamos sem sinal para telefones.
— Sua mãe comentou. Comunicação através de carta, não é? Quem
diria que isso aconteceria ainda no século 21.
Ali sorriu.
— É estranho, mas acho que serviu um pouco para darmos valores as
coisas reais, sabe? Agora no intervalo em meu serviço todo mundo conversa
e realmente conversa com as pessoas, antes era cada um em seu celular.
Como se vivêssemos para aquele aparelho.
— Entendo o que quer dizer, realmente só percebermos o quão viciados
somos quando ficamos sem — lembrei de como falei com ela hoje de manhã
e senti o arrependimento me invadir — O que me faz lembrar que te devo um
pedido de desculpas.
Ela me olhou, aparentemente sem entender.
— Fui extremamente grossa com você hoje, só percebi que queria me
ajudar e se aproximar quando saiu daquele quarto, me desculpa.
— Tudo bem, eu não esperava algo diferente — quem não entendeu
dessa vez, fui eu — Faz parte da abstinência, toda essa irritabilidade,
tremores que sim, eu vejo, a sua pouca vontade de comer, a insônia que vem
sentindo nas últimas noites. Posso ainda afirmar que está sentindo dor de
cabeça e um cansaço físico, como se estivesse segurando um saco de areia
em suas costas na maior parte do tempo.
Meus olhos deveriam estar arregalados, porque ela deu de ombros e
sorriu.
— Sou enfermeira, lembra? Na faculdade temos cadeiras que falam
sobre abstinência de drogas.
— Só me droguei uma vez — admiti, minha voz baixa para ninguém da
fila ouvir — Foi quando fui presa na última vez, era cocaína.
— Mas o álcool era constante?
— Ele se tornou constante nas últimas semanas, eu bebia apenas para
conseguir dormir.
— Eu entendo. Você tem sorte por ter seus pais, se eles não tivessem a
mandado para cá, poderia se tornar uma pessoa alcoólatra, o tratamento é
ainda mais difícil, na maioria das vezes requer desintoxicação aos poucos e
medicamentos. O estágio que você está agora, mesmo que sinta falta e seu
corpo e organismo manifeste da forma que está fazendo agora, ainda é
reversível.
— Acha que um dia vai passar?
— Sim, você só precisa se manter forte e não ter uma recaída.
— Como se tivesse bebida ou cocaína em Nightfall — fui irônica.
A moça que estava na minha frente terminou sua inscrição, me
aproximei do balcão e cumprimentei a atendente.
— Bom dia! Gostaria de uma ficha de inscrição, por favor.
Ela sorriu simpática e me entregou uma folha com uma caneta.
— Bom dia! Preencha e assine logo em baixo, boa sorte na competição.
O formulário não era muito complicado, apenas dados pessoais, mas os
dados do cavalo me chamaram atenção, eu ainda não tinha nenhum.
— Os dados do cavalo são obrigatório?
— Sim — ela pareceu estranhar minha pergunta, claro, estava me
inscrevendo em uma competição de hipismo e não tinha um cavalo, o quão
irônico era isso?
— Podemos comprar um antes e vir aqui de tarde terminar sua
inscrição — Ali murmurou ao meu lado.
— Não, pode deixar que eu cuido disso.
Observei alguns segundos a folha de inscrição e decidi seguir o que
meu coração mandava desde quando me imaginei competindo. Rapidamente
preenchi com “Tempestade” o nome do cavalo.
— Você ficou louca? — Ali perguntou, dessa vez chamando atenção
das pessoas em nossa volta — Não pode treinar com Tempestade, ela é
extremamente perigosa e....
— Relaxa prima, temos uma conexão, lembra?
Terminei de preencher os outros campos, como sexo do cavalo, raça e
cor. Entreguei a folha para a moça.
— Boa sorte! — Ela repetiu e chamou o próximo da fila.
Saímos do pavilhão da cidade que acontecia as inscrições e Alisson não
demorou a falar.
— Você não ouviu nada do que Dylan disse sobre Tempestade? Ela é
uma égua instável, não é porque vocês tiveram uma conexão que significa
que pode competir com ela.
— Ali — parei de andar e ela fez o mesmo — Eu sinto no meu coração
que ela veio até mim não só porque nos conectamos entende? É como se
assim como eu, ela precisasse de alguma coisa que a fizesse se sentir viva.
— E se isso for só uma loucura da sua cabeça?
Voltamos a andar, agora em direção ao pequeno e único shopping da
cidade, se é que aquele prédio pudesse ser chamado de shopping. Parecia
mais um lugar que tem várias lojas e uma praça de alimentação, comparado
aos shoppings de Nova Iorque.
— Não é, eu sei do que estou falando.
— Dylan não vai gostar nada disso.
— E ele manda em mim? Deixa que do Dylan eu cuido.
— Você é doida — resmungou — Sempre foi assim, agindo por
impulso.
— E alguma vez deu errado?
Ela me olhou, como se não acreditasse na minha pergunta.
— Você quer mesmo que eu responda?
Neguei e acabamos rindo, estava claro que ela lembrou o mesmo que
eu. No passado, a pessoa que mais agia por impulso era eu, e no final sempre
acabávamos de castigo por ter nos metido em encrenca.
Senti uma leveza que não imaginava que teria ao conversar com
Alisson, ela sempre foi uma boa amiga enquanto passávamos nosso tempo
juntas. Definitivamente, algumas coisas nunca mudam.

— Tem algo que eu quero muito saber — Alisson disse enquanto


entravamos no carro.
Colocamos todas as sacolas de compras no porta malas do seu
automóvel. Meu pai havia voltado a liberar o meu cartão de crédito, para
poder me sustentar sem depender dos meus tios, como por exemplo, o dia de
hoje.
— O que?
Ela deu partida no veículo.
— Você e Dylan Gostoso Blossom estão se dando bem?
Sorri com o nome ridículo que ela colocou, mesmo que o adjetivo fosse
a mais pura verdade.
— Sim, no início ele foi um pouco arrogante, mas no fundo ele não é
tanto assim.
— Isso é surpreendente. Na maioria das vezes ele é bem fechado e só
responde o que é perguntado. Quando meu pai disse que vocês iam trabalhar
juntos eu só pensei em vocês dois discutindo, porque sei que não aceita
respostas curtas e muito menos arrogância e ele odeia pessoas que fazem
muitas perguntas.
— Por que ele é assim?
Ela suspirou.
— Ele nem sempre foi assim. Quando éramos adolescentes e você
parou de vir para cá devido a tudo que aconteceu entre nossos pais, nos
aproximamos de Dylan e nos tornamos amigos até ele ir para a faculdade.
Franzi as sobrancelhas.
— Quando você diz nos aproximamos, quer dizer você e Amélia?
Assentiu.
— Ele se tornou distante de nós no segundo semestre de seu curso —
disse — Vinha visitar o pai muito pouco e só vivia com os amigos, Charles e
Briana se não me engano. Depois da morte de Ivan e do término da
faculdade, ele se casou com a garota, aí sim não nos aproximamos mais, só
Amélia quando o convidou para substituir Ivan na temporada de competições.
— Está me dizendo que Dylan foi casado? — Perguntei surpresa com o
que minha prima contou.
— Surpreendente, não é mesmo? Eu conheci o Dylan do passado, ele
fazia sucesso com as garotas da cidade quando tinha alguma festa e se
aproveitava disso, mas era apenas um jovem curtindo a juventude, no fundo
ele sempre sonhou em casamento e todo o romance que acompanha.
— Mas isso pelo jeito mudou — conclui ao ver o semblante
decepcionado de minha prima.
— Sim. Tudo que eu sei é isso que te contei, mas sabe o que eu penso?
— Neguei com a cabeça — Que Dylan nunca mais foi o mesmo depois
daquele relacionamento.
Franzi as sobrancelhas, ainda mais intrigada. Além de extremamente
atraente, o cowboy vinha com uma bagagem de mistérios.
— O que aconteceu com ela?
— Ninguém sabe, um dia eles eram um casal feliz, no outro ela havia
sumido — deu de ombros.
Parecia uma frase de filme de terror, onde geralmente o assassino se
escondia atrás de uma beleza incomum, como a de Dylan. Misterioso, bonito,
bruto, musculoso....
— Calma — Alisson gargalhou — Dylan não é nenhum assassino, eu
vi a garota em Nashville quando viajei no verão passado.
Suspirei, um pouco aliviada.
— Você tinha que ver a sua cara — ela caçoou — Você não mudou
nada, Raven.
— Meus pais dizem o contrário.
— Você pode até ser outra quando está sob o efeito do álcool, mas aí
dentro sempre estará à verdadeira Ravenna.
— Alisson e suas frases prontas — foi a minha vez de zoar.
— Confessa que sentiu falta disso.
Apenas sorri, mas sim, eu senti muita a falta disso. Depois que meu pai
e Eitan se desentenderam eu e Archer nunca mais viemos para Nightfall, eles
voltaram a se falar em respeito a morte de meu irmão e agora, pela minha
recuperação.
Chegamos no rancho em seguida. Alisson estacionou o carro na frente
da sua casa, mas minha atenção foi logo para Amélia que estava conversando
com Dylan sem respeitar nada do seu espaço pessoal.
— Minha irmã não desiste mesmo — Ali murmurou ao meu lado.
Claro, agora tudo fazia sentido. A mudança repentina de humor depois
que descobriu que eu estava próxima de Dylan e que ele iria me ajudar para a
competição. Ela gostava dele.
Sai do carro e comecei a me aproximar, precisava falar com Dylan,
afinal.
Os olhos que antes estavam prestando atenção em Amélia pararam em
mim e percorreram meu corpo de cima a baixo, o primeiro momento foi uma
análise das minhas roupas, mas depois eu vi, ele não conseguiu esconder o
brilho no olhar ao me ver vestida casualmente com um short e uma regata
que marcavam bem o meu corpo. Ver o seu semblante sério de sempre dar
lugar a um carregado de admiração fez com que um arrepio se espalhasse
pelo meu corpo, a forma como me olhava fazia com que me sentisse nua
diante de si.
Não me lembrava da última vez que fui olhada daquela forma, se é que
algum dia havia sido. Ele também estava lindo, na verdade todos os dias que
o enxergava ficava ainda mais abobalhada com a beleza daquele homem.
Hoje vestia calça jeans, camiseta marrom escuro que marcava muito bem
seus braços fortes e um sapato da mesma cor nos pés.
Céus! Eu estava quente, e já não era mais só pelo calor de Franklin.
— Oi — os cumprimentei, tentando não demonstrar o turbilhão de
coisas que estava sentindo — Preciso falar com você.
Meus olhos ainda não haviam se desviado dos de Dylan.
— Claro — ele disse.
— Dylan ainda temos que falar sobre Sibério.... — Amélia tentou
chamar a atenção dele para si.
— Tudo já está resolvido, Amélia, qualquer coisa nos falamos depois
— ele desviou o olhar apenas para dar o fora na minha prima mais velha e
depois voltou a me olhar — Vamos?
Eu não sabia para que lugar iriamos, mas o segui mesmo assim.
— Eu me inscrevi — falei assim que nos afastamos da casa de meus
tios, estávamos perto do cercado que dividia a propriedade com o resto do
rancho.
— Não acho que tenha me afastado de sua prima apenas para dizer algo
que eu já sabia que iria acontecer.
Ele não sorriu, mas havia um brilho zombeteiro no seu olhar. Aquilo
era novo e eu gostava disso.
— Eu não sabia que tinha que colocar os dados do cavalo na ficha de
inscrição — Comecei sabendo que todo o encanto de mais cedo desapareceria
no momento que eu falasse as seguintes palavras. Por isso o admirei um
pouco mais, antes de soltar: — Talvez eu tenha colocado os dados de
Tempestade.
— O que?
Ele não gritou, nem se alterou, só parecia chocado com minha
confissão. Seu rosto voltou a ficar sério, agora era como se fosse me dar uma
bronca, como no dia que eu não prestei atenção em nada do que ele disse.
— Sem chances! — Disse antes que eu pudesse argumentar — Irá
comprar uma égua preta da mesma raça que a da Tempestade para você,
simples.
— Não.
Minha resposta o fez ficar aparentemente irritado.
— Não? Me dê um bom motivo para eu deixar você treinar com uma
égua que é extremamente selvagem e que eu nunca vi ninguém montar?
— Não é só por aquela conexão, ok? Se é isso que você está pensando,
eu só sinto aqui dentro — apontei para o meu coração — Que é o que nós
duas precisamos.
— Isso é impossível e não vai acontecer.
— Dylan você disse que eu devo fazer o que eu amo, estou tentando,
mas quero fazer isso com ela — o olhei — Por favor, me ajuda a domá-la.
— E se ela te machucar? Ravenna, eu já te disse que Tempestade é
instável. Você acha que já não tentei adestrar ela no passado? Ela quase me
mordeu.
— Mas agora é diferente, eu sinto.
Ele bufou, tirou seu chapéu e bagunçou seus cabelos com a mão direita,
visivelmente incomodado com o assunto.
— Mesmo que eu concordasse, seus tios nunca aprovariam.
— Se mostrarmos que conseguimos domá-la, não vejo o porquê não
deixarem.
Ele negou para si mesmo, ainda me olhando, parecia mais calmo agora.
Colocou seu chapéu novamente e suspirou.
— Você não vai desistir disso, não é?
Fiz que não com a cabeça, aquilo era tudo que eu precisava.
— Tudo bem — quase pulei de felicidade quando ele proferiu as
palavras — Mas teremos um longo trabalho pela frente e no primeiro sinal
que eu ver de selvageria de Tempestade, está acabado, entendeu?
— Sim! Sim! — Sorri, não contendo o que eu estava sentindo.
Me sentia completa.
— Podemos ir pegá-la? Já está na hora de voltar para o estábulo —
Perguntei, ansiosa para compartilhar a notícia com ela, mesmo que não me
entendesse.
Ele assentiu. Ouvi dois latidos e em seguida quase cai com o peso de
Nina sobre mim, essa cadela ainda me derrubaria.
— Olha só quem resolveu aparecer — acariciei sua cabeça, a tinha
visto logo na entrada do rancho com o Golden de Dylan, que agora estava
recebendo o mesmo carinho de seu dono ao meu lado.
— Esse é Billy — ele apresentou o cachorro — Não tive a chance de
apresentar vocês dois decentemente.
— Porque você foi arrogante comigo, não por minha culpa.
— Claro! Por que se eu tivesse sido simpático com você,
provavelmente esperaria que eu a convidasse para uma xicara de café na
minha casa — ele brincou.
E começou a andar em direção ao cercado de Tempestade, o
acompanhei, junto com Nina e Billy.
— Está brincando? Vejam só, isso é uma grande evolução — o
provoquei.
— Apenas a verdade, você parece ser do tipo abusada.
No primeiro momento me senti extremamente ofendida, mas assim que
vi que ele continuava brincando, soquei seu braço. O tremor que senti em
meu corpo dessa vez, não foi por causa da minha abstinência, ele era forte,
tipo, muito forte. Aquela foi a primeira vez que eu o toquei e ele pareceu
perceber o mesmo que eu, notei ao olhar em seus olhos e ver o mesmo brilho
de quando me viu se aproximar dele mais cedo.
A brincadeira e os latidos entre Nina e Billy na nossa frente, fez com
que desviássemos o olhar, eles estavam embolados na grama em uma “briga”
de cães.
— Eles se deram muito bem — Dylan comentou.
Assenti.
— Felizmente Nina é castrada ou seu cão já teria engravidado minha
bebê.
— Fico aliviado em ouvir isso, meu Billy é um garanhão, seria difícil
ela resistir.
Igual ao pai.
— O que?
Oh não, havia falado os meus pensamentos em voz alta.
Eu inventaria qualquer desculpa, mas parei no momento que nos
aproximamos do cercado de Tempestade, ela estava parada, olhando o pôr do
sol e parecia muito triste, de onde eu estava, vi seus olhos grandes marejados.
— O que ela tem?
Dylan suspirou ao meu lado, visivelmente abalado com a cena.
— Às vezes ela faz isso. Olha o pôr do sol e chora, acho que é quando
ela tem lembranças do passado, Tempestade sente como qualquer outro
animal, até mais que nós mesmos.
Meu coração apertou e meus olhos marejaram. Finalmente entendi o
porquê ela havia me escolhido, o porquê sentia todas aquelas sensações sobre
a égua preta.
Ela sofria pela morte de seu potro o tanto que eu sofria pela morte de
Archer. Uma precisava da outra e eu tive certeza que estava no caminho certo
para a nossa liberdade.
Tomei a água do copo cheio rapidamente. Eu e Nina saímos de casa
cedo depois de mais uma noite cheia de pesadelos e mal dormida, para uma
corrida aos redores de Nightfall, gostávamos da atividade física e por muito
tempo correr fazia parte da nossa rotina, mas tudo mudou quando o acidente
aconteceu.
— Bom dia, querida! — Minha tia cumprimentou ao entrar na cozinha
— Nem no domingo você dorme até mais tarde?
— Eu e Nina fomos correr — respondi — Quer ajuda com o café?
— Claro. Tem bolo e pão no forno, coloque na mesa enquanto preparo
o café — pediu — Parece que você cansou a Nina.
Olhei para minha cadela, que estava de língua para fora e sentada na
sala, depois de tomar um bom gole de água.
— Nós duas nos cansamos, mas gostamos de fazer isso. A última vez
que fizemos uma corrida de manhã foi com Archer.
A constatação fez meu peito doer de saudades e minha tia percebeu.
— Ah, querida, também sinto saudades do meu sobrinho, é difícil
superar essa perda, a dor sempre vai se manter no peito, mas ela passa de um
estágio para o outro apenas com o tempo — tentou me consolar.
— É complicado Millie e você deve saber o porquê.
Meus olhos queriam voltar a marejar e eu senti que precisava encerrar
aquele assunto. Peguei o pão e a forma de bolo e coloquei em cima da mesa,
depois fui arrumando as xícaras e talheres sobre ela.
— Você não é culpada de nada, Raven.
— É o que todos dizem, mas não é o que sinto.
Ela suspirou, falaria mais alguma coisa, mas a entrada de Amélia a
interrompeu.
— Bom dia! Alisson já saiu?
Millie assentiu.
— Bom dia, filha! Ela saiu cedo, hoje pega plantão no hospital —
Minha tia respondeu.
— Fiquei sabendo sobre a sua ideia imprudente de competir com
Tempestade — Amélia disse olhando para mim — Não sei como meu pai
concordou com isso.
Dei de ombros.
— Sei ser convincente quando quero.
A conversa com meu tio e minha tia durou quase uma hora ontem à
noite, eles não queriam aceitar de jeito nenhum. A ideia de treinar com uma
égua selvagem – palavras deles, não minhas – era absurda. Então dei a
cartada final: ou eles davam uma chance de eu tentar com Tempestade, ou no
dia seguinte estava indo embora de Nightfall, eles sabiam que não estava
brincando, por isso, acabaram concordando.
— E muito — minha tia colocou o café passado na mesa — Eu ainda
acho isso uma loucura.
— Dylan vai me ajudar e vocês confiam nele, não?
Percebi o olhar irritado de Amélia em minha direção.
— Estão bem próximos, hum?
— Isso te incomoda?
Ela riu, mas sem nenhum humor.
— É claro que não. Só acho estranho Dylan se dispor a ficar mais
tempo com uma garota como você quando não suporta nem os peões desse
rancho.
— Nisso tenho que concordar com Amélia. Acho que você, sobrinha,
não conquistou só o coração de Tempestade.
— Não diga bobagens mãe, é impossível Dylan se envolver com ela.
— Uma garota como eu? E por que Dylan não se envolveria comigo?
Amélia cortou um pedaço de bolo e eu me sentei a sua frente, me
servindo de café logo em seguida.
— Você com esse seu jeito impulsivo, irresponsável, infantil e se me
permite, até um pouco bipolar, ele com seu mau humor, todo misterioso e na
dele. Fala sério, nunca daria certo.
Era isso que pensavam sobre mim? Minha prima não havia mudado
nada, apenas evoluído, suas implicâncias agora não estavam mais em gestos e
palavras agressivas, mas sim em farpas que só olhando nos seus olhos
entenderia o que ela realmente queria dizer.
Estava com ciúmes e inveja, isso era claro.
— Amélia! Tenha modos, não fale desse jeito com sua prima — minha
tia a repreendeu como se voltássemos a ter dez anos de idade.
A fome que antes quase não tinha, acabou naquele instante. Me levantei
e deixei o café que só havia tomado uns goles sobre a mesa.
— Perdi a fome.
E sai daquela cozinha sendo seguida por Nina. Precisava levar
Tempestade para o seu cercado e era isso que eu iria fazer.
Abanei para o meu tio que conversava com um dos peões perto de um
celeiro, enquanto seguia para os estábulos.
— Bom dia! — Vincent cumprimentou quando eu me aproximei do
local — Tempestade está impaciente a sua espera.
— Bom dia! Que bom que cheguei cedo então.
Nina entrou no estábulo e seguiu correndo para a baia de Tempestade,
me apressei em ir até ela.
— Acho melhor manter sua....
Vincent nem terminou a frase porque a cena a seguir o fez ficar
provavelmente sem palavras, como eu.
Nina se sentou na frente da baia de Tempestade e estava lambendo o
focinho da égua como se ela fosse sua melhor amiga há dias. Ontem, eu até
pensei que ambas não se dariam bem, já que minha cadela apenas a olhou
curiosa e voltou a brincar com Billy, e Tempestade apenas a olhou de canto
de olho, triste demais até para se esquivar dos toques de Dylan com
agressividade. A cena de ontem ainda me abalava demais, durante a
madrugada, até mesmo sonhei com uma égua preta em uma tempestade
sofrendo pelas feridas em aberto e pela morte do seu potro.
— Estou impressionado — Vincent admitiu — Você e sua cadela
conseguiram conquistar o coração de Tempestade rapidamente.
— Acho que ela sabe o quanto eu amo Nina e ficaria triste se a
machucasse — comentei, ao ouvir minha voz a atenção das duas pararam em
mim.
— Isso também faz sentido. Preciso ajudar Zeca com os gados, acha
que consegue amarrá-la sem ajuda?
Assenti.
— Pode deixar, Dylan me mostrou como se faz. Por falar nele, hoje ele
não aparece por aqui?
— Sábado e Domingo é sua folga.
Fiquei um pouco decepcionada por não o ver hoje, já estava me
acostumando a todos os dias encontrar com ele.
— Até depois, Ravenna — Vincent puxou seu chapéu um pouco para
baixo em despedida.
Apenas acenei e quando ele partiu, fui ao encontro de Nina e
Tempestade.
— Fico feliz que tenham se dado bem, já começava a imaginar como
seria se fosse ao contrário.
Diferente de quando Dylan ou qualquer outra pessoa estava comigo,
Tempestade não demonstrou nenhum comportamento agressivo, como rabo
abanando de um lado para o outro, ou os sopros que não pareciam nada
amigáveis. Abri a baia e peguei sua rédea.
— O que acha de ser escovada hoje Tempestade? — Ela relinchou —
Vou levar isso como um sim.
Peguei a escova na prateleira que tinha do lado de sua baia e puxei
Tempestade para fora. Nina agora observava tudo do outro lado do estábulo.
Amarrei a guia em um suporte perto da prateleira e delicadamente
mostrei a escova para ela.
— Posso?
Soltou um sopro pelo nariz, parecia um pouco ansiosa e arriscaria até
dizer que nervosa, mas nada comparado a selvageria que de vez em quando
ela apresentava.
Aproximei a escova de seu costado, ela me observava de canto de olho
e quando toquei a escova em seus pelos ela apenas respirou fundo. Levei
aquilo como um sinal para continuar, enquanto passava a escova por seus
pelos observei algumas cicatrizes de machucados que um dia foram muito
profundos, não ousei me aproximar deles, aquela confiança que ela tinha em
mim não poderia se acabar. Ela me deixando escovar um pouco de seus pelos
já era um grande passo e estava louca para ver a reação de Dylan quando eu
contasse para ele, ficaria muito surpreso, disso eu tenho certeza.
— Prontinho — devolvi a escova para a prateleira, depois a limparia —
Boa garota.
Alisei seu pescoço e ela soltar um sopro, notei seu rabo começar a
movimentar de um lado para o outro, num sinal de impaciência, segundo
Dylan.
— Vamos para o seu cercado, acho que isso é o máximo que
conseguirei de você hoje.

Depois que coloquei Tempestade em seu cantinho, eu e Nina voltamos


para a casa. A constatação de que não teria nada para fazer o restante do dia
me deixada nervosa, ansiosa e irritada. Estava na sala olhando um programa
de televisão que nem fiz questão de saber qual era, quando meu tio entrou na
sala e parou em minha frente, me estendendo uma carta.
— Direto de Nova Iorque.
Suspirei, eu sabia exatamente quem era o remetente da carta.
— Obrigada — peguei a carta, mas sem nenhuma vontade de abrir.
— Acho que seria bom que desse uma olhada e depois respondesse,
seus pais devem estar preocupados com você.
Por mais que eu não quisesse fazer aquilo, sabia que era o certo, porque
se não, outras cartas viriam e até mesmo eles poderiam aparecer a qualquer
momento.
— Irei subir para o quarto e responder — disse e meu tio sorrio
assentindo.
Desliguei a televisão e subi as escadas até o meu quarto, me sentei na
cama e abri o envelope.
As lágrimas fizeram questão de descer, por mais que eu detestasse a
ideia no início, eu começava a entender tudo que eles fizeram e fariam por
mim. Comecei a pensar, que quando eu tiver um filho, sempre irei querer o
melhor para ele, e se passasse por uma situação semelhante, eu, com certeza
faria o mesmo por ele.
Meu pai estava com um grande trabalho nas mãos, se tratava de algo
envolvendo o governador de Nova Iorque e minha mãe estava trabalhando
muito no hospital, e não fiz muita questão de eles virem juntos.
Peguei uma caneta e um papel e comecei a escrever.

Enxuguei minhas lágrimas e fiz um envelope para colocar a carta. Eu


os perdoei, esse era o certo a se fazer.
Empurrei Cameron e dei um chute nas suas partes intimas, o afastando
de mim para se contorcer no chão como um garoto indefeso. Babaca.
Eu estava tremendo de raiva, não podia acreditar que ele não entendia
o significado da palavra “NÃO”.
Sai daquele quarto e desci as escadas, encontrei a festa de antes ainda
mais agitada. Eu deveria pegar um copo de bebida e dançar até esquecer do
trágico ocorrido minutos atrás, mas eu não estava mais com clima para isso.
— Raven — Louise apareceu na minha frente sorridente — Como foi
com Cameron?
Revirei os olhos, não acreditando que ela havia dito que eu estava no
quarto usando o banheiro.
— Você não entende que eu e Cameron não vai rolar mais? Está
acabado. Agora se me der licença, perdi a vontade de ficar nessa festa.
— Qual é, meu irmão gosta de você.
Ri, na verdade gargalhei, mas sem nenhum pingo de humor, não
acredito que quase a considerei como amiga.
— Se ele realmente gostasse de mim, não ficaria com o orgulho ferido
por eu ter dado o fora nele, muito menos tentando me estuprar como fez
agora pouco.
Ela arregalou os olhos.
— Eu não sabia...
— Seu irmão é um idiota e foi exatamente por isso que terminei com
ele.
Não esperei sua resposta, caminhei em direção a saída da casa, já
pegando meu telefone na pequena bolsa que carregava. Disquei o número de
Archer e como um bom irmão, ele atendeu no segundo toque:
— Quem eu tenho que bater hoje? — Ele disparou — Para você estar
me ligando uma hora depois do início da festa, é porque alguma coisa deu
errado.
— Maninho — minha voz saiu embargada, o choque e a raiva
passaram e deram lugar apenas a tristeza, sabia exatamente o que teria
acontecido se eu não tivesse reagido rápido — Pode vir me buscar?
Tudo o que eu precisava agora era do meu melhor amigo, a única
pessoa que eu podia confiar nesse mundo.
Ele suspirou.
— Eu sabia que deveria ter acompanhado você nessa festa. Cameron
fez algo?
As lágrimas desceram rápido, olhei para trás, mas todos estavam no
salão festejando, nenhum sinal do meu ex namorado.
— Posso explicar depois? Só preciso de você.
— O que você não me pede chorando que eu não faço sorrindo? Já
estou a caminho.
Ia desligar, mas ele me interrompeu.
— Maninha, eu te amo, ok? Nunca quero que duvide disso.
Sorri em meio as lágrimas. Era por isso que ele era a melhor pessoa da
minha vida, enquanto as amizades simplesmente foram temporárias por toda
a minha vida, ele permaneceu. Não somos como irmãos comuns, nunca
brigamos, nunca discutimos e sempre fomos amigos.
— Eu nunca duvidei, para sempre, lembra?
Eu podia vê-lo sorrindo do outro lado da linha.
— Para sempre!
Desliguei a ligação e os próximos minutos foram de pura aflição,
olhava a todo momento para todos os lados a procura de Cameron furioso
por eu ter feito aquilo.
Dez minutos depois avistei o carro de meu irmão fazendo a curva para
entrar na rua da casa de Cher, a responsável pela festa, mas ele foi
interrompido.
Meu irmão não respeitou a placa “pare” e os segundos a seguir
passaram em câmera lenta diante de meus olhos, uma cena que ficaria para
sempre em minha memória.
O caminhão, que vinha na avenida principal, não conseguiu freia a
tempo e bateu com tanta força no carro de meu irmão, que fez o automóvel
capotar, uma, duas, três vezes.
Eu corri em direção ao carro, mas a explosão do mesmo fez com que
me empurrasse para longe.
Eu caí alguns metros de distância, as lágrimas antes por medo, deram
lugar a pura tristeza.
Meu irmão estava morto e tudo por minha culpa.
Acordei em um sobressalto, meu coração acelerado, suor por todo o
meu corpo, as lágrimas ainda molhadas por todo o meu rosto, com a voz de
Archer presente na minha cabeça, como se ele estivesse ali comigo.
Saltei da cama e sai daquele quarto sendo seguida por Nina, que parecia
preocupada comigo. Eu nunca havia sonhado com todo o acontecimento
daquele dia, não até hoje, parecia que tudo estava acontecendo novamente.
Se eu tivesse decidido lidar com meus problemas como uma adulta e
não como uma garota indefesa, meu irmão estaria vivo. E saber disso doía
como o inferno, eu não podia mudar o passado, mas se eu tivesse uma chance
de mudar algo, mudaria minhas escolhas naquela noite. Por que eu não
peguei um táxi? Um Uber? Por que liguei para ele?
Caminhei até a cozinha e abri um dos armários, procurei uma leiteira
para esquentar um pouco de leite, não era o que me acalmaria, mas serviria.
Mas o que encontrei atrás da leiteira fez meu coração acelerar em
antecipação. No fundo do armário, atrás de uma panela estava uma garrafa de
whisky, provavelmente era do meu tio.
Eu sabia que não deveria, mas a peguei mesmo assim. Eu não
conseguiria dormir sem isso. Queria afastar as lembranças, queria beber até
dormir.
Sai da casa com Nina atrás de mim, fomos até o lago, precisava beber
isso longe de todos. Não suportaria que descobrissem e me enchessem de
sermões.
Mesmo sabendo que não deveria beber, que precisava ser forte como
Alisson disse, me sentei na beirada do píer no lago e comecei a beber.
O primeiro gole não foi suficiente, mas senti o alivio e a antecipação
por saber o que aguardava depois de uma grande dose.
O resmungo de Nina chamou minha atenção. Seu olhar demonstrava a
mesma preocupação de antes.
— Eu vou ficar bem, amor — alisei sua cabeça em meio as lágrimas
que voltaram a descer — Só preciso disso por hoje, esse será o nosso
segredo, ok?
Ela deitou sua cabeça em minha perna e ficou comigo até eu quase
secar a garrafa.
Eu me sentia embriagada, o whisky é uma bebida forte e mesmo com a
demora para se sentir bêbada que adquiri nas últimas semanas, dessa vez me
pegou em cheio.
Senti que dormiria ou desmaiaria, tanto faz, eu só precisava apagar.
Mas havia algo que me impedia e eu não sabia o que era. Observei o
lago que tantas vezes nadei com meu irmão, foi aqui que ele me ensinou a
nadar, aqui que perdi meu medo de água.
Levantei decidida a nadar um pouco, tomei o restante do whisky e tirei
meu chinelo.
Pulei no lago e o choque da água gelada me recebeu, relaxando todo o
meu corpo. Mergulhei até o fundo e depois de alguns segundos tentei subir
para a superfície, mas não consegui.
Senti meu corpo ficar mole e se afundar ainda mais, tentei subir mais
uma vez para a superfície, mas de novo, não consegui. Me deixei ser levada
para o fundo do lago, aceitando que aquele era o meu fim. Como eu pude
fazer isso comigo mesma? Eu morreria ali.
Meu pulmão começava a doer, implorando por ar, essa é a sensação de
estar se afogando e não era nada boa, mas nada se comparava com a dor que
sentia no meu coração.
Pensei nos últimos dias que tive em Nightfall, eu até que me divertia
durante o dia, com as implicâncias e as conversas com Dylan.
Dylan...
O que ele pensaria quando achassem o meu corpo?
Ouvi os latidos de Nina de longe, e isso foi o suficiente para eu tentar
subir novamente, mas eu não consegui.
Eu simplesmente não conseguia.
Estacionei a caminhonete em frente à minha casa e desci junto com
Billy, que fez questão de ir junto visitar minha mãe. A volta havia sido
cansativa para nós dois, um acidente no meio da faixa trancou todo o trânsito
e um caminho de 40 minutos, levou duas horas para ser percorrido.
Sem falar, que a conversa que tive com Hannah provavelmente não
serviu para nada, da mesma forma que a primeira vez. Minha mãe, como
demonstrava na última ligação, está muito preocupada com todas as
consequências dos atos rebeldes que ela estava tendo ultimamente.
Antes de entrar em casa, um latido diferente do de Billy me chamou
atenção. Me virei e vi Nina, a cachorra de Ravenna, correndo em nossa
direção. Ela se aproximou rapidamente, com uma agitação incomum para
qualquer cachorro, nos olhava de uma forma, que eu arriscaria dizer
preocupada. Onde estava Ravenna? A possibilidade, dela ter esquecido de
Nina para fora de casa foi descartada no mesmo momento, uma parecia muito
apegada a outra.
— O que foi Nina? Cadê sua dona?
Ela latiu, pulou em cima de mim e correu para a direção que havia feito
até poucos minutos atrás. Quando ela viu que eu não acompanhava, latiu em
desespero e voltou a correr. Ela estava indo para Nightfall, especificamente
para o lago que ficava naquela parte. A segui imediatamente junto com Billy,
com um mau pressentimento no peito por ela estar seguindo aquele caminho.
Era tarde da noite, porque não estava em casa com sua dona?
— Ravenna! — Gritei, chamando-a, mas não recebi respostas.
Nos aproximamos da lagoa, caminhei até o píer e uma garrafa vazia de
whisky estava no chão, junto com chinelos femininos.
— Merda! — Exclamei ao me dar conta do que estava acontecendo.
Ravenna estava dentro do lago, disto não me restava dúvidas, entrou
dentro da água bêbada e não conseguiu subir para a superfície.
As luzes em volta do lago não clareavam o suficiente para eu achar ela
no fundo. Peguei meu telefone e agradeci por ter comprado um com a função
“a prova d’água” e liguei a lanterna, sem esperar um segundo a mais, pulei.
A água gelada, por ser de noite me recebeu, apontei a lanterna para
todos os lados até que a achei, quase alcançando o fundo do lago, na parte
mais funda.
Nadei rapidamente até ela, sentindo um pânico por pensar na
possibilidade de ter chegado tarde demais.
Felizmente, quando me aproximei ela abriu os olhos, alivio passou por
eles quando notou a minha presença. A peguei e nadei com ela para longe do
fundo do lago.
Chegamos na superfície rapidamente e ainda com ela em meus braços,
nadei até ficar de frente para o píer e a coloquei ali, para logo em seguida eu
dar impulso e subir na ponte de madeira.
Me sentei tentando acalmar as batidas frenéticas do meu coração, por
um momento eu pensei que ela morreria no fundo daquele lago e eu não sabia
e nem queria descobrir como me sentiria se isso acontecesse.
Ela respirou fundo inúmeras vezes, tentando voltar ao ritmo normal e
quando seus olhos encontraram com os meus vi a confusão que suas írises
azuis demonstravam.
— Você quase morreu afogada — falei — Se eu demorasse mais um
minuto, ou se não viesse atrás de Nina, você estaria morta.
Nina, que estava agitada antes, se aproximou um pouco mais calma,
cheirando e logo lambendo o rosto de Ravenna. A garota a abraçou e sem se
importar com minha presença se pôs a chorar, as lágrimas desciam como
cachoeira pelo seu rosto. Fiquei sem saber o que fazer, sem palavras para
confortar, eu não lidava bem com pessoas chorando na minha frente.
Era isso que seus olhos azuis escondiam, havia uma grande tristeza e
com certeza tinha a ver com a morte de seu irmão.
Não parecia ser a primeira vez que isso acontecia, porque Nina
encostou sua cabeça em seu ombro e os seus olhos marejaram. A cena fez
com que eu, que sempre fui sensível, sentisse vontade de chorar. Engoli o
caroço que subiu pela minha garganta e me aproximei mais dela.
— Precisa ir para a casa e se esquentar, mesmo sendo verão pode
pegar um resfriado por causa do ar gelado da noite — repeti o que minha mãe
sempre dizia na infância quando eu queria nadar de noite na piscina.
Ela assentiu, mas não desgrudou de Nina e muito menos parou de
chorar.
Eu precisava fazer alguma coisa, mas nem sabia por onde começar.
— Não quero voltar para aquela casa — ela disse depois de minutos se
passarem — Eu juro que pensei que conseguiria, mas é difícil estar lá quando
tudo que eu lembro são dos momentos bons que passamos juntos naquele
lugar.
Eu entendia o que ela estava passando, a dor de perder alguém sempre
é assim, lembro até hoje da dificuldade que tive ao vir morar na casa que
antes era ocupada por meu pai. O que resta nessas situações é ser forte, mas
nem todos conseguem.
— Sinto muito pelo o que está passando — repeti o que disse para ela
há alguns dias — Mas...você tentou se matar, não acha que precisa de ajuda?
Percebi que fui duro nas palavras assim que as soltei, era um assunto
delicado, não éramos nem amigos e eu estava me metendo. Ela se
desvencilhou de Nina devagar e me olhou magoada.
— Não tentei me matar e nem preciso de ajuda.
— Por que entrou dentro do lago bêbada, então?
Ela deu de ombros e enxugou o rosto, que não estava mais molhado da
água e sim das lágrimas.
— Nas últimas semanas estava usando o álcool para relaxar o
suficiente, até não pensar em nada que me aflige, mas hoje não deu certo,
então entrei na água, não pensei em nada, muito menos que não conseguiria
voltar para a superfície — explicou.
— Foi por isso que veio para Nightfall?
Ela assentiu.
— Meus pais me obrigaram, era isso ou uma reabilitação, mesmo eu
não sendo uma alcoólatra.
Entendi sua escolha no mesmo momento, mil vezes o ar livre e o mais
próximo da liberdade do que ficar sendo controlada por médicos.
— Acho que devemos chamar a Alisson — falei ao me dar conta que
ela precisava ser examinada, talvez tivesse ficado tempo demais embaixo da
água.
Me levantei e ela também, logo se aproximando de mim.
— Não, por favor! — pediu — Eu estou bem, o peito dói um pouco,
mas é porque fiquei mais que o normal sem respirar. Alisson está de plantão e
mesmo se estivesse em casa, não quero que ninguém saiba, por favor.
Ao ver que eu estava incerto pelo o que ela acabara de me pedir, juntou
as mãos em formato de prece.
— Por favor, me prometa que isso ficara apenas entre nós dois. Eu não
quero ir para uma reabilitação e é isso que eles vão fazer se souberem o que
aconteceu.
Pensei um pouco, era arriscado, ela parecia estar se tornando
dependente do álcool, nunca tive experiências com alcoólatras, mas algo me
dizia que esse era o caminho para se tornar um. E se eu não contasse e ela
pegasse mais uma bebida por aí? Se eu contasse e ela fosse para uma
reabilitação, com certeza seria a melhor opção para ela, mas isso significa que
ela não ficaria mais em Nightfall e muito menos competiria no campeonato
de Hipismo. O sorriso verdadeiro, os olhos brilhantes e a felicidade dela
daquele dia me fizeram decidir rapidamente.
— Eu prometo se você me prometer uma coisa: você não vai mais fazer
isso, ficara longe das bebidas, ou se não, serei obrigado a contar.
Tomei aquela decisão porque eu sentia que fazer o que ela sempre
sonhou a mudaria.
Ela respirou aliviada e concordou.
— Eu provavelmente não acharei outro onde achei esse. Foi pura sorte!
— Puro azar, você quer dizer.
Ela parecia um pouco mais calma, pelo menos agora não chorava mais.
Percebi quando seus braços arrepiaram devido ao ar da noite, ela precisava ir
para a casa, mas não queria voltar para Nightfall. Antes que eu pudesse
conversar sobre isso, fui surpreendido quando seus braços envolveram minha
cintura em um abraço.
— O que está fazendo? — Perguntei em choque por ter seu corpo tão
perto do meu.
Ela levantou a cabeça para me olhar.
— Te abraçando — respondeu o óbvio — É uma forma de agradecer,
se você não tivesse chegado a tempo eu estaria morta. Muito obrigada, Dylan.
Ela voltou a encostar a cabeça no meu peito. Respirei com dificuldade,
a muito tempo não era abraçado por uma mulher que não fosse minha mãe.
Eu poderia citar milhões de motivos para isso tudo estar andando pelo
caminho errado, mas citaria dois deles: Primeiro, não era nada bom ter seu
corpo colado ao meu, o que me levava para o segundo motivo, as sensações
que aqueles simples gestos me faziam sentir eram um perigo. O coração
batendo um pouco mais acelerado do que o normal, o seu cheiro sendo bem
recebido pelas minhas narinas e seu corpo que parecia encaixar perfeitamente
com o meu.
— Sabe — ela voltou a erguer a cabeça ficando próximo do meu rosto
— Geralmente quando uma pessoa recebe um abraço, ela retribui.
Ela provocou, mas visivelmente desconfortável por eu estar parado que
nem uma estátua. Envolvi seu corpo com os meus braços, correspondendo ao
abraço. As sensações de antes se intensificaram, mas eu as ignorei, me veio
na cabeça, que talvez fosse tudo que ela precisasse agora.
Ficamos assim por alguns minutos, não mais que cinco, até que ela se
desvencilhou de mim e sorriu de lado.
— Acho que você tem que ir para a casa agora — ela assentiu, mas
parecia abalada demais ainda.
Antes que eu pudesse pensar no que estava preste a sugerir, larguei as
palavras:
— Tem um quarto de hóspedes na minha casa, se você quiser passar a
noite lá, não haverá problemas.
Ela pareceu surpresa com o convite, na verdade até eu estava, o que deu
em mim?
— Tem certeza?
— Não, mas você não está bem emocionalmente para voltar para a casa
de seus tios, então estou sendo gentil e oferecendo um lugar para ficar hoje
— fui sincero.
— Obrigada — ela agradeceu.
Ela calçou seus chinelos e fomos caminhando até a minha casa, sendo
seguido por Nina e Billy, que observavam tudo com atenção. Era uma
péssima ideia levar Ravenna para dormir na minha casa, a pior das que eu já
tive, parecia que quanto mais eu tentava me afastar, mais próximo dela eu
ficava e de quem era a culpa? Minha mesmo. Eu que tive a ideia de ajudá-la
com o hipismo, resultando em nos deixar mais próximos e agora eu a convido
para dormir na minha casa. Eu não sei o que acontecia comigo quando ela me
olhava daquele jeito, eu simplesmente não tinha controle dos meus
pensamentos e muito menos das minhas atitudes.
— Você não é tão arrogante assim — ela quebrou o silêncio quando
nos aproximávamos de minha casa — Esse é meu veredito final.
Não pude deixar de sorrir, ela ainda se lembrava disso.
— Ai meu Deus — ela cortou a minha frente e me olhou espantada.
— O que foi? Está sentindo alguma coisa? — Perguntei um pouco
preocupado com os últimos acontecimentos ainda.
— Não! Mas estou muito surpresa, você sorriu. Eu quase achei que
você era incapaz disso.
Revirei meus olhos e apontei para frente para seguirmos o caminho.
— Você acha que devo andar sorrindo por aí à toa? — Perguntei
quando voltamos a andar.
— Não, é só que nessa semana que passei com você, isso nunca
aconteceu. É surpreendente.
— Você e suas loucuras.
Murmurei e finalmente chegamos no meu pequeno rancho, abri o
portão e entramos. Percebi os olhos avaliativos de Ravenna observarem tudo
em volta.
— É bonito — disse depois de um tempo — Não é nem metade do
tamanho de Nightfall, mas é bonito mesmo assim.
— Sim! É apenas um pedaço de terra onde tem uma casa, não planto e
muito menos crio algo. Na verdade, aqui fazia parte de Nightfall, mas meu
pai comprou uma parte do seu tio para poder ficar perto do seu trabalho.
— Não sabia.
— Vamos, você tem que tirar essa roupa úmida.
Só então percebi que não tinha roupa feminina na minha casa, Ravenna
pareceu perceber o mesmo que eu.
— Eu lhe empresto uma camisa e uma calça de moletom — sugeri.
Abri a porta de casa e a convidei para entrar, atrás dela, entraram Nina
e Billy que começavam uma pequena brincadeira.
— Obrigada por tudo que está fazendo, não é sua obrigação abrigar
uma garota que tem medo de lidar com os próprios problemas e que só
conhece há uma semana.
— Fica como um pedido desculpas por ter sido grosso com você
quando nos conhecemos.
Ela sorriu e observou rapidamente a casa, que não era muito grande,
apenas uma sala de estar que dava acesso a cozinha e um corredor nos fundos
que nos levava até os dois quartos e o banheiro.
— Então aquela xícara de café está valendo?
Não pude deixar de rir com a pergunta referente a minha brincadeira do
dia anterior.
— Posso passar um café enquanto você toma um banho quente e veste
roupas secas.
— Sim senhor!
Ela parecia mais leve e fiquei aliviado por isso. A levei para o quarto de
hóspedes e a deixei lá enquanto fui até o meu para buscar uma muda de
roupa.
— Por sorte achei uma calça que minha irmã esqueceu aqui quando
veio passar alguns dias comigo — entrei no quarto de hóspedes com as
roupas nas mãos — Minha camiseta ficará enorme em você, mas melhor do
que nada e aqui está uma cueca minha, nunca usei — mostrei a etiqueta.
— Onde acho uma toalha?
— Primeira porta do armário no banheiro.
Ela assentiu e foi para o banho, e eu fui para a cozinha preparar o café
que havia prometido.
Enquanto passava o café comecei a pensar o porquê Ravenna estava tão
mal a ponto de beber e entrar no lago, eu sabia que a dor da perda era difícil
de superar, mas também sabia que aquilo não era tudo, tinha algo a mais.
Eu não queria me envolver nisso, mas sabia que já estava. Ravenna
havia entrado na minha vida de forma intrometida, um dia eu achava que
nunca mais a veria, no outro, nossos caminhos foram cruzados e agora nos
víamos todos os dias. Sua presença deixou de ser indesejada por mim e eu até
começava a gostar de nossas conversas, da sua animação e da sua dedicação
pelo hipismo. Só que não podia passar disso, era o que eu dizia todos os dias
que voltava para casa, mas olha onde estávamos agora, eu preparando um
café enquanto ela tomava banho nua no meu banheiro.
Tentei não pensar muito na imagem que começava a se formar em
minha cabeça. Ravenna nua a alguns metros de mim, se ensaboando, se
enxugando.
Droga! Ela dormiria no quarto em frente ao meu.
— Sua camiseta ficou um vestido em mim — Ravenna interrompeu
meus pensamentos ao entrar na cozinha.
Olhei para ela, mesmo com uma camiseta que daria duas dela dentro,
ainda continuava linda.
— Ficou bom — enchi uma xícara de café que acabei de passar e
estendi para ela — Forte para curar qualquer ressaca.
Ela bebeu um gole e fez uma careta engraçada.
— Sem açúcar?
— Amanhã você estará melhor se tomar essa xícara cheia.
— Experiências com ressaca?
— Algumas. Quando eu estava na faculdade e ia para as festas, bebia
muito, apenas uma xícara de café me ajudava a não acordar com a cabeça
explodindo.
— Então você era um festeiro! Deixa eu adivinhar, deixava todas as
garotas caidinhas por você?
— Por que acha isso?
Ela arqueou as sobrancelhas e me olhava com um brilho zombeteiro
nos seus olhos.
— Você é bonito e go... — se interrompeu rapidamente — Tenho
certeza que as deixava babando.
Ri, não acreditando no que ela estava dizendo. O que ela iria dizer
depois de bonito? Eu tinha um pressentimento que a palavra seria “gostoso”,
mas eu queria ter a certeza.
— Bonito e.…? — Perguntei não perdendo a chance de provocá-la.
Foi a primeira vez que vi sua bochecha adquirir um tom vermelho,
notei por estar próximo a ela, se não, nem iria perceber porque ela não ficou
totalmente corada. Estava envergonhada e sabia que eu tinha percebido o que
ela iria dizer.
— Não se faça de idiota — bebeu o restante do café e virou de costas
para mim, indo até a pia — Eu e minha boca grande.
Murmurou enquanto lavava a xícara, não imaginei que me divertiria a
vendo envergonhada por apenas dizer uma palavra, mesmo que não
tivéssemos todo o nível de intimidade para isso. Só que Ravenna não parecia
ser o tipo que corava por qualquer coisa.
Quando terminou de lavar a xícara se virou e voltou a se aproximar.
— Obrigada pelo elogio, você também é bonita — e gostosa, mas
preferi não falar em voz alta a última parte.
— Se há uma semana atrás alguém me dissesse que estaríamos
elogiando um ao outro, eu o chamaria de louco — sorriu.
Eu não discordava, minha guarda havia baixado no momento em que
soube o que ela estava passando. Não por pena, mas por compaixão, que tipo
de homem eu seria se fosse arrogante com a garota que está passando por um
luto? A verdade era que de uma forma ou outra isso aconteceria, ela contando
ou não sobre o que estava passando.
Ravenna bocejou e percebi seus olhos sobre mim cansados, as olheiras
ainda mais profundas.
— Você precisa descansar — falei — Por que não vai tentar dormir?
Ela assentiu e mais uma vez soltou um bocejo.
— Vou fazer isso, boa noite, Dylan.
— Boa noite, Ravenna.
Caminhou até a saída da cozinha, mas antes de seguir o caminho até o
quarto de hospedes, se virou para mim.
— Mais uma vez obrigada por tudo, principalmente por salvar minha
vida.
Desviei meu olhar, um pouco intimidado com toda aquela intensidade
que saia dos seus olhos azuis.
Eu queria andar a passos largos até ela e beijá-la, tão profundamente a
ponto de só pararmos quando estivéssemos quase sem fôlego, a constatação
disso fez com que eu me virasse de costas para servir um café. Não era
apenas um beijo que eu queria, queria toda aquela intensidade que
transbordava pelo seu olhar.
— Não fiz nada que outra pessoa não faria — a respondi, um pouco
tenso com todo o rumo dos meus pensamentos.
— Não, você fez — foi o que ela disse antes de ouvir seus passos até o
quarto dos hóspedes.
Quando a porta do quarto fechou, soltei a respiração. Os sentimentos
estavam confusos, mas eu tinha uma certeza, eu desejava Ravenna, porém,
isso não era o bastante para me envolver com ela.
Eu não teria outro relacionamento.
Eu apenas seria seu amigo.
Só esperava não surtar no meio de tudo isso, o desejo era recíproco, eu
sentia pela forma que ela me olhava.
Terminei de tomar o café e olhei as horas, o relógio marcava 00:01.
Automaticamente me lembrei da conversa que tive com Ravenna cinco dias
atrás, quando começamos a nos aproximar.
“Prestes a completar 22 anos daqui cinco dias”
É hoje. Ravenna está de aniversário e uma ideia surgiu em minha
cabeça no mesmo momento. Tentaria fazê-la sorrir numa data que a
entristecia, esse é o plano, nada demais.
É isso que amigos fazem, não é?
Acordei com lambidas sendo distribuída por todo o meu rosto, abri
meus olhos e Nina estava em cima de mim, como se pesasse três quilos e não
os vinte e oito. Quando ela viu que eu abri meus olhos, parou de lamber, mas
permaneceu no mesmo lugar, com um brilho brincalhão no seu olhar.
— Bom dia Nina! Quanta animação, em?
Ela latiu e se sentou ao meu lado, parecendo perceber que estava
pesada demais para uma mera humana.
— Alguém ficou muito feliz em dormir ao lado de Billy — a voz
profunda e masculina me fez virar na direção da porta do quarto.
Dylan estava escorado no batente da porta vestindo calça jeans, sapatos
de montaria e a camiseta branca lisa, os cabelos estavam presos em um
coque, era a primeira vez que não via solto, pensei que esse homem não
poderia ficar mais bonito, mas estava muito enganada.
As lembranças da noite passada me invadiram junto com a pontada de
dor na minha cabeça, me sentia imensamente arrependida por ter sido fraca e
bebido tanto, mais ainda por quase ter morrido naquele lago que só me trazia
memórias boas. O que meu irmão pensaria disso? Eu podia imaginá-lo na
minha frente me chamando a atenção da mesma forma que fazia quando eu
cometia alguma rebeldia. Eu nunca fui um bom exemplo, acontece que antes
da morte dele, as coisas que eu fazia não eram nada preocupantes como
agora.
Se não fosse por Dylan e Nina eu estaria morta, seria sempre grata
pelos dois terem salvo a minha vida.
Naquele momento em que fui salva fiz uma promessa para mim
mesma: nunca mais encostaria uma gota de álcool na boca.
O abraço de ontem também me veio na cabeça, eu havia dormido
ontem pensando nele. Ainda conseguia sentir seus braços fortes me
abraçando de volta, sua respiração próxima ao meu rosto, seu coração
batendo forte como o meu, parecia tão assustado como eu. Todas aquelas
sensações me fizeram desejá-lo mais, e eu sabia, pelo menos agora eu sabia,
que é recíproco.
Eu já havia sentido desejo por outras pessoas, infelizmente, eu sentia
pelo meu ex namorado, antes de saber quem ele era de verdade. E eu desejei
Dylan no momento que o vi pela primeira vez, até mesmo quando ele foi
arrogante comigo e eu fiquei extremamente irritada e revidei.
— Como está? Parece estar perdida em pensamentos — Dylan
interrompeu os meus devaneios.
— Apenas pensando como sou sortuda por ter uma segunda chance —
não era uma mentira, afinal.
Ele concordou, seus olhos desceram para o meu colo e pararam por um
momento ali, até ele desviar para o chão parecendo incomodado e dizer:
— Tem uma escova de dente na embalagem no banheiro, se lave e
venha tomar café.
E saiu rapidamente.
Olhei para baixo e sorri ao ver o porquê ele saiu como um bicho
assustado. Ontem à noite estava muito quente e eu abri alguns botões da sua
camisa, com o movimento de Nina em cima de mim mais cedo, a roupa
embolou e parte do meu seio direito estava aparecendo, não era grande coisa,
mas parecia que para Dylan era.
— Obrigada por isso Nina — alisei sua cabeça e ela resmungou algo
animada — É bom saber o quanto eu o afeto, faz com que eu me sinta
poderosa, sabe?
Ela latiu, parecia concordar comigo.
— Acha que eu devo me envolver? — Sussurrei a pergunta para apenas
ela ouvir — Não tenho medo de relacionamentos, mesmo depois da merda
que passei nas mãos de Cameron. Dylan parece ser diferente, mesmo que eu
sinta que ele guarda muita coisa dentro daquela cara séria, que só ontem
descobri que sorri. E que sorriso, hum? A cada dia fico mais abobalhada com
sua beleza.
Nina me olhava atentamente, quando parei de falar, ela me lambeu e
latiu.
— Acho que isso é um sim referente a minha pergunta. Claro que você
concordaria, se ficássemos juntos, você e Billy ficariam muito mais
próximos, sempre interesseira não é mesmo?
Como se eu tivesse descoberto um grande segredo seu, ela baixou as
orelhas e deitou a cabeça no meu peito.
— Eu te amo meu amor, sei que Billy faz bem para você — minhas
mãos continuaram a acariciar sua cabeça — Obrigada por chamar Dylan,
você é a melhor cachorra desse mundo.
Ela me lambeu uma última vez antes de se levantar e descer da cama,
me olhou, esperando que eu fizesse o mesmo.
— Tudo bem, hora de levantar.
Me levantei e caminhei até o banheiro da casa, a porta ficava no
corredor entre o quarto de hóspedes e outro cômodo, que eu acredito que seja
o quarto de Dylan. A casa não era grande, nem esbanjava luxo como o
apartamento que eu morava em Nova Iorque, também era mais simples
comparada a casa de meus tios em Nightfall, que mesmo sendo humilde, era
um casarão, com muitos quartos e uma grande sala e cozinha.
Peguei a escova, que como Dylan disse, estava dentro de uma
embalagem e escovei os meus dentes. Depois, aliviei minha bexiga, lavei as
mãos, para depois lavar meu rosto, que por incrível que pareça não
aparentava mais as olheiras profundas dos últimos dias.
Por quanto tempo eu dormi?
A pergunta me fez pensar na noite boa que passei, sem nenhum
pesadelo, sem acordar assustada, apenas a calmaria, eu não dormia assim há
muito tempo. Claro, que um pouco desse apagão foi devido a tudo que
aconteceu na noite passada.
Sai do banheiro e segui o corredor até a cozinha, Dylan estava
encostado na bancada, segurando uma caneca e olhando para o chão, tão
concentrado que nem percebeu minha presença.
Nina não estava mais dentro de casa e muito menos Billy, imaginei que
ambos estivessem juntos lá fora.
Observei melhor ao meu redor, os móveis de madeira escura tinham um
contraste com a parede e o piso branco, a mesa no centro da cozinha daria
para no máximo quatro pessoas, não era de vidro, combinava com o restante
da cozinha.
Mas o que realmente me chamou atenção foi o pequeno bolo com uma
vela no centro em cima da mesa.
— Bom dia! — Dylan cumprimentou assim que notou minha presença,
me fazendo levantar os olhos para ele — Parece melhor.
— Bom dia! Estou melhor — apontei para o bolo — O que é isso?
— Um bolo — ele respondeu, percebi que ele estava se divertindo com
a minha cara — Não lembra que dia é hoje?
— Nã...
Olhei de novo para o bolinho com uma vela em cima e não demorei
mais de um minuto para entender. Hoje é dia 15 de junho, hoje completo
vinte e dois de idade.
Como pude me esquecer? Sempre foi uma data especial para mim e
Archer. Foram tantos acontecimentos nas últimas horas que é claro que eu me
esqueceria.
— Meu aniversário...isso é para mim?
Eu estava mais que surpresa, perplexa, talvez? Dylan havia preparado
aquilo para mim? Por mais simples que possa parecer, eu não esperava nada
dele, posso jurar que nem esperava um “Parabéns”, e ele ter sido gentil
comigo não mudava o fato de às vezes ele se fechar de uma hora para a outra,
como se estivesse ultrapassando um limite.
Ele deu de ombros e se aproximou da mesa, largou sua caneca e
acendeu a vela com um isqueiro.
— Faça um pedido, Ravenna.
Ainda não acreditando em tudo aquilo, me aproximei da mesa e notei
melhor o bolo, glacê branco com azul e uns enfeites em forma de estrelinhas
da cor azul que acompanham a vela da mesma cor.
Me abaixei o suficiente para ficar próximo a vela, fechei os olhos e
desejei a única coisa que eu precisava para o restante da minha vida:
“Felicidade”
Apaguei a vela e endireitei minha postura, meus olhos caíram em
Dylan que me observava como se pudesse enxergar tudo dentro de mim,
inclusive minha alma.
Acho que ficamos mais de sessenta segundos nos olhando, eu não
queria desviar, eu estava encantada com todo aquele gesto, e com toda aquela
sua áurea, não entendia o motivo dele ter feito aquilo, por ter se importado,
mas eu gostei, gostei tanto que queria sentir seus braços em volta de mim
novamente, em um abraço apertado como na noite anterior.
— Feliz aniversário, Ravenna — ele desejou, quebrando o silêncio
dentro daquele cômodo.
— Obrigada — eu respondi.
A voz um pouco embargada devido a todas sensações que estavam
dentro do meu coração.
Eu queria chorar porque Archer não estava comigo.
Eu queria seguir em frente.
Eu queria não ser culpada pela a morte de meu irmão.
— Precisava ir na cidade resolver algumas coisas cedo e lembrei que
hoje é o seu aniversário, estava passando por uma padaria quando vi na
vitrine esse bolo — Dylan explicou — Achei uma vela que por pura sorte,
combinou com a decoração do bolinho.
Sorri, aquilo era fofo.
Cada dia mais eu descobria a verdadeira face de Dylan Blossom e
estaria mentindo se dissesse que não estava gostando.
— Isso é lindo, não precisava ter se incomodado.
Ele deu um meio sorriso.
— Eu sei que é uma data difícil devido a tudo que aconteceu, mas você
merece esse bolo.
— Não sei ao certo se mereço — admiti — Era para ele estar comigo
hoje.
— Há coisas nessa vida que não entendemos, porque pessoas boas são
tiradas tão cedo de nós é uma delas. Não existem palavras que podem
confortá-la nesse momento, é como eu disse para você, apenas o tempo cura.
Eu assenti, os olhos querendo marejar. Era uma data difícil, afinal.
— Tenho mais uma surpresa para você — Dylan disse — Tome seu
café com o bolo que tenho que lhe apresentar alguém.
Arqueei as sobrancelhas.
— Quem?
— Surpresa.
Fiquei curiosa, por isso cortei um pedaço do bolo e comecei a comer
acompanhado pela a xicara de café preto que ele havia feito.
— Só cuidado para não se engasgar — ele brincou ao ver eu comendo
o bolo, que por sinal, estava maravilhoso.
— Isso aqui está muito bom!
— É a melhor padaria da cidade.
Assenti.
— Com certeza — comi o último pedaço — Estou pronta.
— Você está sentindo alguma coisa? Dor? Falta de ar?
Neguei.
— Apenas um pouco de dor de cabeça, mas é normal devido a tudo que
eu tomei antes de entrar na água.
Ele concordou.
— Tudo bem, mas se você não se sentir bem eu cuido dos treinamentos
hoje.
— Não! Eu estou bem para isso. É o primeiro dia que vou praticar com
Penélope, estou ansiosa. Só preciso passar em casa antes, preciso trocar de
roupa.
— Tudo bem, antes vamos lá fora.
Eu o segui até saímos de casa e chegarmos no gramado verde, onde um
cavalo incrivelmente branco pastava. Ele é lindo, sem nenhuma mancha de
outra cor, apenas o branco, quando notou nossa presença parou de comer e
começou a se aproximar de nós.
— Esse é Olaf, meu cavalo — Dylan o apresentou.
— Olaf, como em Frozen? — A pergunta escapou assim que ouvi o
nome.
Dylan revirou os olhos e levantou a mão para alisar o rosto de Olaf que
já estava na sua frente, me olhando com um olhar curioso.
— Sim, cometi o erro de pedir para minha irmã colocar o nome no
cavalo assim que o comprei — explicou.
— Não acho que foi um erro — levantei a minha mão e me aproximei
do nariz de Olaf — Ele é branco como a neve, da mesma forma que o
boneco.
— Se for pensado por esse lado.
Olaf cheirou minha mão e deixou que eu o acariciasse.
— Ele é muito bonito — da mesma forma que o dono, pensei — Então,
você vive aqui sozinho com Billy e Olaf?
Me lembrei da conversa que tive com Alisson há alguns dias, quando
ela disse que Dylan já havia se casado e como ele mudou quando entrou no
relacionamento, por que não continuaram juntos? Por que mudou tanto a
ponto de se fechar para o restante das pessoas?
— Sim.
Foi tudo o que ele respondeu.
— Por que um homem como você não namora?
Ele arqueou as sobrancelhas.
— Um homem como eu?
A lembrança de ontem a noite veio na minha cabeça, quando eu o
elogiei e quase o chamei de gostoso. Percebi que ele esperava que eu falasse
em alto e bom som o que significava um homem como ele, não daria esse
gostinho novamente.
— Você sabe o que eu quero dizer, não se faça de idiota.
Ele riu.
— Prefiro ficar sozinho, relacionamentos só dão problema.
— Já teve algum para ter esse tipo de conclusão?
Joguei a pergunta, esperando que ele falasse mais sobre o que
aconteceu no seu passado.
— Um que valeu por muitos — seu olhar desviou para Olaf — Vamos
para Nightfall? Ainda temos um grande dia pela frente e já perdemos quase a
manhã toda.
Ele mudou de assunto, não queria falar sobre isso e eu até entendia,
mas estava curiosa demais, por isso decidi que voltaríamos a conversar sobre
isso, só que, em outro momento.
— Vamos!
Voltamos para casa, Dylan foi pegar o seu chapéu e eu fui pegar o meu
pijama que havia estendido em uma cadeira no quarto. Ainda estava
molhado, por isso teria que ir para Nightfall com as roupas de Dylan.
Quando fui para a frente de casa, Dylan já me aguardava junto com
Nina e Billy.
Minha cachorra estava com as patas todas sujas, fiz uma nota mental de
que teria que arrumar um tempo para dar banho nela hoje.
— Eles provavelmente passaram pela lama que tem aqui perto —
Dylan disse ao notar meu olhar para os dois.
— Nina fica impossível quando está com Billy. Seu cachorro é uma má
companhia para a minha cadela.
Ele riu. Já disse que ele ficava lindo quando sorria?
— Eu acho que é o contrário.
Dylan se virou e arrumou a sela de Olaf.
— Como presente de aniversário deixarei você montar no meu cavalo,
se sinta honrada por isso — comunicou.
Tentei não pensar em nenhuma malicia com aquilo, mas falhei
miseravelmente.
— Isso é sério? — Sorri animada, me aproximando deles — Claro que
é, que incrível, faz muito tempo que não monto.
— Ainda sabe conduzir?
— É como andar de bicicleta, você nunca esquece. Como acha que irei
treinar os cavalos?
— Vamos ver como será o seu desempenho hoje, assim direi se está
aprovada para treinar os saltos ou não.
— Sim senhor! Posso? — Perguntei ao notar que Olaf já estava pronto
para ser montado.
— Vai em frente.
Coloquei o pé esquerdo no estribo e me equilibrei o suficiente para
pular e passar a perna direita por cima de Olaf. Quando estava em cima dele,
segurei as rédeas e olhei para Dylan que havia acabado de desviar o olhar das
minhas coxas para meus olhos. Ele ficou olhando a minha bunda? Quase ri
daquilo, mas consegui me segurar.
— Por que não sobe comigo?
— O que? — Ele parecia ter entendido a pergunta, mas perguntado
apenas para se certificar que ouviu certo.
— Caminhando é em torno de seis minutos até a casa de meus tios,
podemos ir juntos com o Olaf e chegarmos na metade do tempo.
— Prefiro ir caminhando.
Sorri, porque eu sabia perfeitamente o porquê ele preferia ir
caminhando.
— Tudo bem.
Percorremos o caminho até Nightfall em silêncio, Dylan parecia
perdido em pensamentos e eu aproveitei o tempo para organizar os meus e
claro, aproveitar o passeio a cavalo que há tempos eu não fazia.
Quando chegamos perto da casa de meus tios, Dylan me ajudou a
descer e eu senti seu toque me arrepiar quando me segurou pela cintura, ele a
largou rapidamente no momento que percebeu que eu não me desequilibraria.
— Vou estar te esperando na pista de treinamento.
Foi tudo o que ele disse antes de subir com uma habilidade incrível em
Olaf e galopar para longe de mim.
Suspirei, lidar com Dylan era difícil, quando eu achava que estava
conseguindo estabelecer uma relação, ele se afastava.
Eu percebi como ficou incomodado depois que perguntei se ele já havia
tido um relacionamento, o que só aumentava a minha curiosidade. O que
aconteceu para não querer mais se relacionar com ninguém? Por que preferir
a solidão, quando poderia ter alguém que amasse e construísse uma família?
Tantas perguntas, mas sem nenhuma resposta.
Nina continuou com Billy, ambos estavam correndo pelo gramado de
Nightfall.
Entrei na casa dos meus tios e agradeci imensamente por não ter
ninguém por perto, andei a passos largos até o meu quarto e quando achei que
havia escapado, encontrei Alisson sentada na minha cama me olhando.
— Oi — foi tudo o que eu disse.
— Oi? Raven, onde você estava? Cheguei cedo e vim acordar você
para tomar café e não a encontrei, muito menos Nina — me olha de cima a
baixo — E agora você aparece com essas roupas masculinas?
— É uma longa história, mas garanto que não é nada parecido com o
que está pensando.
Não era difícil imaginar o que se passava pela cabeça dela naquele
momento, eu, com roupas masculinas somado a uma noite inteira fora.
Infelizmente, não havia passado uma noite quente com o dono dessas roupas,
não ainda, pelo menos.
— Poderia me explicar?
— Pode ser em outro momento? Estou atrasada para o treinamento.
Ela suspirou, mas assentiu. Se levantou e caminhou até onde eu estava
e me abraçou.
— Feliz aniversário, prima. Eu amo você.
— Obrigada! Eu também amo você — retribui o abraço.
— Precisamos fazer algo para comemorar hoje à noite — ela disse
depois de desfazermos o abraço — O que acha de uma sessão de filmes
românticos com muita pipoca e chocolate? E assim você já aproveita para me
dizer o que aconteceu essa noite.
Eu seria sincera com Alisson, sabia que ela não contaria para mais
ninguém, sempre confiei nela e dessa vez não seria diferente. Ela era a única
pessoa depois de Dylan que não me julgaria.
— Eu acho uma ótima ideia — respondi — Meus tios não perguntaram
por mim?
— Perguntaram, mas como fui a primeira a notar sua ausência na casa,
consegui dar um jeito de despistá-los — piscou para mim.
— Obrigada por isso. Agora, eu realmente preciso trocar de roupa e ir
para o treinamento.
Caminhei até o meu guarda roupa e peguei uma das calças de montaria
nova e uma camisa branca sem estampas.
— Por falar em treinamento — Alisson voltou a se sentar na minha
cama — O que foi aquele olhar de Dylan para você sábado? Sério, até eu me
arrepiei.
Sorri, não havíamos conseguido conversar sozinhas depois daquele
momento em que eu descia do carro e ia até Dylan contar sobre as inscrições
de hipismo, mas minha prima não havia esquecido e eu também não. Me
sentia estremecer só de lembrar seu olhar há minutos, ou como ele disse
ontem à noite que me achava bonita.
— Eu me sinto atraída por ele — confessei — E até sábado eu achava
que não provocava o mesmo efeito.
— Mas você estava muito enganada — ela sorriu sacana — Essas
roupas são dele?
— Sim, mas não aconteceu nada.
— Agora você me deixou mais curiosa para hoje à noite, sorte a minha
que estou de folga.
Tirei a roupa de Dylan do meu corpo, não me importando com a
presença de minha prima. Coloquei um sutiã, já que estava sem e em seguida
a blusa e a calça.
— Ele é um pouco confuso, está sendo simpático comigo agora, mas
mesmo assim, as vezes ele simplesmente se afasta ou muda de assunto
rapidamente. É como se não quisesse se aproximar muito.
— Ele tem um passado difícil, mesmo que eu não saiba o que tenha
acontecido naquele relacionamento, sou esperta o suficiente para saber que o
afetou e ainda o afeta.
— Hoje perguntei se ele já havia namorado, mas ele respondeu com
poucas palavras, visivelmente incomodado e mudou de assunto.
Sentei na cama para calçar a meia que peguei na gaveta do guarda
roupa.
— Tenha paciência com ele prima. Com o olhar que vi vocês dois
trocando aquele dia, tenho certeza que não demorara muito para se
entregarem ao que quer que estejam sentindo.
Assenti, concordando com ela. Minha prima tinha razão, Dylan é
alguém que provavelmente já foi machucado o suficiente para não querer se
arriscar de novo.
Mas eu nunca fui de desistir
Quando eu queria algo, eu conseguia.
Foi assim durante a minha vida toda e dessa vez não seria diferente.
Eu queria Dylan, eu desejo o cowboy arrogante — mas nem tanto
assim — de uma forma que nunca desejei ninguém.
E eu o teria ou não me chamava Ravenna Blackwood.
Me aproximei do campo de treinamento e estranhei ao ver Dylan com
Fire e não Penélope, como havia combinado na semana passada.
— Achei que treinaríamos com Penélope.
Ele se virou para mim no momento que expressei minha confusão, seus
olhos me passaram por todo o meu corpo rapidamente, mas não de forma
despercebida por mim, para depois me olhar e responder:
— Iríamos, mas achei melhor você começar com um cavalo que já está
acostumado com o hipismo.
Concordei, realmente era o melhor começo que eu poderia ter. Fire já
estava dentro da pista com Dylan e eu caminhei até eles, ansiosa para ter o
meu primeiro contato com os saltos. Não seria apenas o treinamento do
cavalo na minha frente, mas sim o meu, treinando os outros eu não cometeria
tantos erros com Tempestade quando chegasse nossa vez.
— Quando começaremos o meu treinamento? — Perguntei um pouco
curiosa, Dylan não havia comentado nada sobre datas, apenas disse que me
ajudaria.
— O mais rápido possível, mas primeiro temos um longo caminho a ser
percorrido com o temperamento de Tempestade. Você sabe que se não der
certo logo no inicio terá que arrumar outra égua, não é?
Eu sabia disso, por isso torcia com todas as minhas forças que o
instinto que eu sentia dentro do meu peito é porque Tempestade precisava
disso tanto quanto eu.
— Eu sei, mas isso não vai acontecer — as palavras saíram confiantes
da minha boca.
Ele me olhou por alguns segundos a mais, antes de desviar para o
cavalo a nossa frente.
— Fire está pronto. Lembra o que fazer?
Assenti. Eu lembrava perfeitamente de tudo.
— Ficarei aqui dentro, mas no canto para não atrapalhar em nada.
Enquanto ele ia para o canto do cercado eu montava em Fire, que como
já estava acostumado com a minha presença, nem ao menos resmungou
algum incômodo. Quando eu estava em cima, peguei as rédeas e fiz o
comando para ele começar a andar.
Conforme Dylan explicou nas aulas passadas, fiz com que Fire andasse
por todo o cercado, três voltas de reconhecimento de campo, sendo a última
com galopes mais rápidos, para depois irmos em direção ao primeiro
obstáculo.
A sensação de saltar pela primeira vez com certeza para sempre ficaria
na minha memória. Saltar junto com um cavalo era como estar livre com ele,
se eu sentia com um que estava treinando, mal conseguia imaginar como
seria com Tempestade. Fire passou com excelência pelo muro vertical e
seguimos para o próximo, com uma determinação até então desconhecida por
mim, mas por pura influência do animal, saltamos pelo segundo obstáculo,
dessa vez um vertical com varas duplas.
— Vocês estão indo muito bem — Dylan elogiou de longe — Continue
assim e talvez vocês não....
Ele nem terminou a frase, porque havíamos acabado de derrubar uma
das varas do terceiro obstáculo.
— Cedo demais para elogiar — ele concluiu — Do começo, Ravenna.
E voltamos para o início novamente, toda vez que acontecia um erro
como este, voltávamos para o início.
Conforme os erros se tornavam frequente Dylan pediu para parar e veio
até nós.
— Está segurando forte demais a rédea — Colocou a mão direita sobre
as minhas que seguravam o equipamento — Quando o cavalo vai pular ele
acaba se confundindo com esse comando aqui — suas mãos sobre as minhas
puxaram levemente a rédea para trás, era um comando sútil, mas que
confundia Fire e o fazia derrubar sempre a última vara.
— Está vendo?
Assenti entendendo, mesmo que quisesse prestar atenção em outra
coisa, como por exemplo seu toque em minha mão.
— Vamos tentar novamente — disse por fim, afastando seu toque de
mim — Fique mais relaxada possível em cima do cavalo, você não está
galopando e sim saltando com ele. Se ficar tensa, ele fica tenso e perdem a
competição.
Durante os minutos seguintes eu fiz o que ele mandou, e diferente da
primeira vez, agora havíamos passado por cinco obstáculos, sem nenhum
problema.
— Muito bem, prima! Pelo visto, Dylan é um ótimo professor também
— Amélia estava próxima a pista de treinamento, perto de Dylan, mas do
lado de fora do cercado.
— Bom dia, Amélia! — Dylan a cumprimentou.
— Bom dia, cowboy! Como estão as coisas por aqui? — A intimidade
que ela chamou Dylan de “cowboy” me soou tão falsa como ela.
— Tudo bem, como pode ver Ravenna está indo bem no seu primeiro
dia de saltos — respondeu com o semblante sério de sempre, algo em mim
vibrou por já tê-lo visto e tê-lo feito sorrir — Mais alguns dias e acredito que
ela já pode ficar sozinha, enquanto adestro os outros.
Saltamos o último obstáculo, mas como estava distraída com a
conversa de minha prima e Dylan, não calculei direito a distância e Fire
acabou derrubando uma das varas.
Eu parei com o cavalo e desci para ir arrumar o obstáculo.
— Sobre isso, queria falar com você sobre um novo negócio que estou
tentada a aceitar — ela disse — Por que não vai almoçar com a gente hoje? É
aniversário de Ravenna e minha mãe preparou o prato favorito dela, podemos
aproveitar e falar sobre isso.
— Não acho que seja uma boa ideia.
— E por que não? Ravenna não iria se importar, não é mesmo, prima?
Neguei. Gostava da ideia de Dylan almoçar comigo no meu
aniversário, só não gostava de Amélia estar o convidando para outro motivo.
— Fique à vontade.
— Viu? Está convidado — sua mão pousou em seu ombro largo de
forma intima, o que me levava a pensar no que Alisson me disse entrelinhas,
que minha prima mais velha era a fim do cowboy. Será que já haviam ficado
juntos alguma vez?
— O almoço já está quase pronto, por isso vim chamar vocês — ela
disse.
Dylan me olhou por alguns segundos antes de decidir.
— Tudo bem, eu vou — Dylan se afastou dela e de seu toque nada sutil
para se aproximar de mim — Mas primeiro iremos levar Fire para os
estábulos.
— Claro — o sorriso falso voltou a seu rosto.
Amélia começou a se afastar, foi então que soltei a pergunta, muito
curiosa e incomodada para guardar apenas para mim.
— Já tiveram algo?
— O que? Claro que não! — O desagrado em seu rosto foi suficiente
para eu perceber que ele estava falando a verdade.
Ele me ajudou a prender a vara no obstáculo vertical para depois me
olhar nos olhos e perguntar:
— Por que acha isso?
— Ficou bem claro que minha prima é bem a fim de você — reprimi a
vontade de fazer uma careta de nojo.
— Ela até pode ser, mas nunca me envolveria com alguém como ela,
além de ser quase minha chefe é filha de Eitan, um homem que eu respeito
muito.
Me aproximei de Fire e comecei a tirar sua sela, primeiro desprendendo
a cincha principal para depois começar a desprender a traseira.
— Parece que isso não é problema para ela — comentei.
Ele deu de ombros, enquanto se aproximava de onde eu e Fire
estávamos.
— Fui bem claro hoje cedo quando disse que não quero
relacionamentos, ela só está perdendo o tempo dela.
Seus olhos encontraram com os meus e parecia haver muito mais
naquela frase do que apenas significava, senti como se fosse um aviso do
tipo, “qualquer uma que tentar, perdera seu tempo”.
— Na verdade você não foi muito claro.
Ele começou a tirar o freio de Fire.
— Não gosto de falar sobre isso.
— Eu notei, mas sabe o que eu também percebi? — Ele negou, ainda
concentrado na boca de Fire — Que você saiu machucado o suficiente desse
relacionamento para ter medo de se envolver emocionalmente com alguém de
novo. E sabe o que eu sei? Que você não pode deixar uma experiência ruim
reprimir tudo de bom que você ainda pode encontrar e sentir.
Seu riso saiu de forma forçada, quando suas orbitas azuis encontraram
as minhas, senti a mágoa e a dor chegarem até mim.
— Você não sabe de nada, quantos relacionamentos teve na vida? Um?
Que na verdade era apenas uma paixão que foi apagada tão rápido quanto a
forma que começou? Eu amei, Ravenna, dei tudo de mim em um
relacionamento que não trouxe nada de benefícios.
Bufou. Tirou o freio no mesmo momento que eu removia a sela, se
aproximou e retirou o pelego que protegia o dorso de Fire.
— Tem razão, eu nunca amei nessa vida, mas você não pode fingir que
o que eu disse não é verdade.
Ele pegou todos os equipamentos e antes de se afastar deixou bem
claro:
— Se quer ter pelo menos uma relação amigável comigo é melhor não
tocarmos nesse assunto, se não, tudo que terá de mim é o que todos os outros
tem — caminhou até o galpão.
Suspirei frustrada. Eu tinha sido invasiva demais? Merda! Provável que
sim, eu não conseguia controlar minha curiosidade e interesse quando estava
perto dele, mas teria que começar a fazer isso, ou então tudo que eu teria era
aquela arrogância do início. Eu não queria isso, não agora que tinha gostado
tanto do cowboy gentil.

Nos aproximamos da casa de meus tios alguns minutos depois de


deixar Fire nos estábulos aos cuidados de Vincent. Estávamos em silêncio
desde a pequena conversa nada produtiva de mais cedo.
— Me desculpa — eu pedi antes de entrarmos em casa — Não quero
estragar essa relação que estamos tendo e muito menos trazer o cowboy
arrogante de volta.
Ele sorriu.
— Desculpas aceitas. Agora vamos ver qual é o seu prato favorito.
Entramos na casa dos meus tios e o cheiro da carne assando na área
aberta já foi recepcionado por nós antes de colocarmos os pés na cozinha.
— Churrasco? — Ele concluiu.
— Sim! É difícil encontrar o churrasco do Tennessee em Nova Iorque,
sempre quando eu vinha aqui pedia para meus tios fazerem.
— Querida! Não a achei hoje de manhã para poder lhe parabenizar —
minha tia andou rápido até nós e me envolveu nos seus braços — Feliz
aniversário meu amor, sei que essa data é difícil, principalmente por ser a
primeira sem nosso menino, mas vamos passar por tudo isso juntas, ok?
Não gostava quando tocavam nesse assunto, ainda era muito delicado,
muito difícil. Eu sei que minha tia não fazia por mal.
— Obrigada. — Agradeci e nos afastamos.
— Dylan, que bom que você veio. Preparamos o prato favorito de
Raven.
— Fiquei sabendo disso Sra. Wells. Obrigada pelo convite.
— Millie, querido. Quantas vezes terei que o corrigir?
— Força do hábito, você sabe.
— Vamos até o quiosque, estávamos só esperando vocês.
Seguimos minha tia até o lado de fora da casa, mas antes de nos
aproximarmos Dylan tocou levemente o meu braço, nos orientando a ir mais
devagar.
— Você está bem? Percebi que ficou incomodada com o que sua tia
disse.
O olhei surpresa, como ele sabia? Eu era tão fácil de entender assim?
Dei um sorriso fraco, mas nem de longe feliz.
— Só é difícil, sabe? Eu sei que algum momento desse dia eu irei parar
e chorar até não restar mais lágrimas dentro de mim.
Ele assentiu levemente, parecendo compreender.
— Não sou a pessoa mais acolhedora e conselheira do mundo, mas se
quiser conversar sobre isso, estou aqui — ele se ofereceu.
— Obrigada.
Mas naqueles momentos de fraqueza eu preferia ficar sozinha, exceto
pela noite anterior, que ele conseguiu enxergar toda a minha vulnerabilidade
quando abracei Nina e me pus a chorar como na noite da morte de meu
irmão, era um misto de sensações, agradecimento por Nina ter sido
inteligente e o procurado e por estar viva.
Nos aproximamos da mesa já feita e recebi os parabéns de meu tio e
um seco de Amélia, que nem me importei em agradecer, ainda chateada com
a discussão do dia anterior.
Dylan se sentou do meu lado e eu podia ver os olhos maliciosos de
Alisson sobre nós, tive que lançar um olhar duro em sua direção, ou então o
cowboy aqui do lado perceberia.
Me servi com a carne e os acompanhamentos, como salada e arroz,
enquanto os outros faziam o mesmo. Quando começamos a comer, Amélia
foi a primeira a começar a conversa.
— Eu e meu pai queríamos falar com você, Dylan. Há outro dono
interessado em treinar seu cavalo aqui.
— Não acho que seja o adequado, estamos com quatro cavalos agora
— Dylan respondeu — Mais um cavalo para começar do zero é um grande
risco para o aperfeiçoamento dos outros.
— Concordo, filha — Eitan disse — Estamos próximos das
competições e segundo o boletim de Dylan na semana passada, Penélope e
Coronel estão sendo difíceis de treinar.
— Mas agora você tem ajuda — Amélia me olhou.
— Na parte dos saltos que é a parte menos complicada do hipismo,
Ravenna não está se envolvendo com o adestramento.
— Vocês não querem nem pensar melhor? É mais dinheiro para
Nightfall.
— Dinheiro não é tudo nessa vida filha, você sabe que o que sempre
prezamos aqui dentro de Nightfall é a qualidade do serviço — foi minha tia
que deu a resposta de ouro dessa vez.
Ela suspirou.
— Tudo bem, irei conversar com o dono hoje e explicar a situação.
Depois disso, voltamos a comer, enquanto meu tio questionava melhor
o andamento do treinamento de Penélope e Coronel. Eu não falei nada
durante o almoço, como todas as vezes, na verdade a sensação de sufoco
ainda estava presente, meus pensamentos em Archer e em como estaríamos
comemorando agora se estivesse vivo. Comi pouco do churrasco maravilhoso
que meu tio preparou especialmente para mim.
Meu irmão poderia estar aqui, aproveitando das sobremesas que minha
tia fazia e que ele era apaixonado.
— O que acha de dar um banho naqueles dois pestinhas depois do
almoço? — A voz baixa de Dylan nos meus ouvidos me tirou dos devaneios.
Ele se referia a Nina e Billy, que estavam todos sujos da lama já seca e
corriam por todo o gramado, brincando um com o outro.
— É uma ótima ideia, Nina não pode entrar em casa daquele jeito.
— Digo o mesmo de Billy.
Sorrimos e voltamos a comer, do outro lado Alisson sussurrou:
— Parece que você consegue até fazer o cowboy sorrir, pontos para
Raven.
Revirei meus olhos, mas não consegui esconder o sorriso que tomou o
meu rosto.
Terminamos o almoço alguns minutos depois e como combinado, eu e
Dylan fomos até a área aberta de minha tia para banhar os cachorros, que ao
ouvirem a pergunta: “Vamos tomar banho? ”, correram até nós, quase nos
sujando com as patas imundas de lama seca.
— Eu já disse, mas ire repetir: seu cachorro é uma péssima influência
para minha Nina.
Falei enquanto pegava o sabão liquido para cachorros que eu havia
comprado no shopping com Alisson no sábado.
Dylan estava em frente ao tanque arrumando a mangueira quando se
virou para responder.
— Eu já falei que é o contrário.
Nina e Billy estavam imundos, isso era óbvio. Quando Dylan terminou
de arrumar a mangueira, ligou a água e se aproximou dos cães pestinhas, que
nos olhavam com um brilho zombeteiro.
— Por que eu sinto que eles vão aprontar alguma coisa? — Perguntei
assim que me aproximei de Nina.
— E o que eles poderiam aprontar? Pegar a mangueira e nos dar banho,
ao invés de nós fazermos isso? — Ele estava provocando.
— Engraçadinho. Vamos logo com isso, eu ainda quero descansar
desse calor infernal de Franklin antes de treinar de tarde.
Ele assentiu e começou a molhar Nina e Billy. Quando ambos estavam
úmidos o suficiente, desligou a torneira e estendeu a mão para eu colocar um
pouco de sabão.
Começamos a ensaboá-los e até aí estava tudo indo muito bem, depois
de esfregarmos a ponto de não restar uma sujeira nos pelos claros,
começamos a enxaguar. Foi aí que começou a brincadeira dos pestinhas.
Nina e Billy começaram a correr em círculos, como eles sempre faziam
quando tinham oportunidade, só que dessa estavam muito ensaboados, o que
fazia com que o sabão espalhasse pelo chão no piso da área de serviço de
minha tia. A sorte era que ficava afastado da casa o suficiente para ela não
ver a bagunça que minha cachorra estava fazendo.
— Eu falei que eles aprontariam.
— Billy! Tenha modos — o cachorro apenas olhou para Dylan e
abanou o rabo para depois começar a atacar Nina de brincadeira.
Decidida a acabar com aquela zoeira que eles estavam fazendo
caminhei até os danadinhos que agora estavam um em cima do outro, mas
cometi o primeiro erro, com o piso liso de sabão acabei me desequilibrando e
quando achei que cairia no chão, senti os braços de Dylan em volta da minha
cintura me segurando, mas o segundo erro foi dado, com o impulso que ele
fez para me segurar, acabou escorregando também e fomos parar no chão.
A minha queda foi impedida pelo corpo de Dylan que ficou embaixo do
meu quando caímos. O olhei um pouco assustada, com medo de ter se
machucado, mas além da careta um pouco desconfortável, ele estava
prendendo o riso.
Quando seus olhos encontraram os meus, não nos aguentamos e
começamos a rir.
Essa era a cena mais clichê do mundo. Meu deus! Não acredito que
Billy e Nina haviam provocado isso.
Só parei de rir quando senti sua mão direita tirar uma mecha caída da
minha franja sobre o meu rosto, e colocá-la atrás da orelha. Estávamos muito
próximos e acho que só paramos para notar isso agora, nossas respirações se
misturavam e por um segundo eu vi seu olhar desviar dos meus olhos para
minha boca e seu corpo ficar um pouco tenso embaixo do meu, mas foi
apenas por um segundo.
Ele suspirou e no momento seguinte eu percebi que o beijo clichê, após
aquela cena clichê, não aconteceria.
Com muita delicadeza, ele me ajudou a levantar e eu fiz o mesmo por
ele quando já estava em pé, tentando disfarçar a decepção por nada ter
acontecido.
— Você estava certa quando disse que eles aprontariam — ele foi o
primeiro a quebrar o silêncio que se instaurou entre nós.
— Meu instinto nunca erra quando diz respeito a Nina.
— Temos que terminar aqui logo, precisarei passar em casa para trocar
a roupa molhada antes de voltarmos a treinar.
Assenti, eu também precisaria.
Quando nossa atenção se voltou para os pestinhas, tivemos que rir ao
vê-los sentados nos olhando com o a cabeça virada levemente para o lado,
fingindo uma inocência que nem de longe tinham.
Mesmo assim eu agradeceria a Nina mais tarde por tudo isso.
Talvez eu estivesse no caminho certo para conquistar Dylan Blossom.
No final da tarde de quinta-feira eu observava Ravenna guiar
Tempestade por toda a pista de treinamento de saltos. Começamos na terça o
treinamento com a égua, que parecia desconfiada com toda aquela atenção
dada a ela de uma hora para a outra, tão desconfiada a ponto de não me
querer por perto, apenas Ravenna.
Era impressionante a confiança que ela tinha apenas na garota, eu, por
outro lado, teria que implorar um pouco mais por sua amizade.
Eu já não tinha mais dúvidas que Ravenna conseguiria domar
Tempestade e iriam competir, talvez, com o treinamento certo, até ir para as
finais. Eu via na forma que ambas se olhavam, compartilhando dores,
confiança e sobretudo respeito.
Ravenna não havia montado nela ainda, por todos os motivos óbvios
que comentei dias atrás, mas eu não duvidava que daqui algum tempo estaria
correndo no dorso da égua.
Meus pensamentos me levaram para dois dias atrás, quando quase a
beijei.
Como eu queria beijá-la naquele momento.
Eu queria, muito.
Mas eu sabia que não podia, por isso me afastei, ou se não teria me
rendido ao seu olhar que queria a mesma coisa que eu.
Eu não era nenhum covarde, não me considerava um, pelo menos.
Apenas alguém receoso, que não queria se envolver mais em nenhum tipo de
relacionamento, seja ele casual, ou fixo. Eu tinha um lugar para ir quando
necessitasse de sexo, então para que ficar com alguém que eu sabia que
nunca seria apenas um beijo, ou apenas uma transa? Eu estou evitando
exatamente esse tipo de situação.
Estávamos nos tornando bons amigos, por mais que o desejo de algo a
mais estivesse ali entre nós dois.
— Você viu isso? — Ravenna gritou alto me fazendo prestar atenção
no que acontecia na minha frente.
Ela me olhava sorrindo, podia ver seus olhos brilhando daqui em
animação.
— Desculpa, estava distraído. O que aconteceu?
— Preste bem atenção.
E eu fiz.
Ravenna olhou para Tempestade, percebi que já havia desprendido as
rédeas que puxava ela, se encontravam no chão, ao lado da sela, que
provavelmente não usaríamos hoje. Quando Ravenna começou a correr até
um obstáculo não entendi direito, até ver Tempestade correr atrás dela e ao
invés de parar e ficar ao lado de Ravenna, ela pulou o muro vertical com
perfeição.
Arregalei meus olhos diante daquilo, eu sabia que Tempestade era
inteligente, mas aquilo, pular de primeira, sem nenhum comando de alguém
montado nela, é incrível.
— Incrível, não é? — Ravenna sorria radiante.
Concordei.
— Acho que você estava certa. Parece que vocês duas estavam
predestinadas a isso.
Ela alisou o pescoço de Tempestade quando a mesma se aproximou.
Pareceu elogiar a égua para depois caminhar até onde eu estava. Quando se
aproximou estendeu a mão para mim, a peguei notando o que ela faria, com
uma agilidade impressionante ela pulou a cerca e ficou próxima a mim.
— Você poderia simplesmente usar o portão — falei.
— E perder a oportunidade de ficar próxima assim de você?
A olhei um pouco surpreso com sua afirmação, minha mão ainda
segurava a sua quando eu me afastei um pouco de seu corpo.
— Meu Deus, Dylan! Você tinha que ver a sua cara — ela riu — Sou
tão repugnante assim?
— O que? Claro que não! Eu só me afastei um pouco, os funcionários
podem entender errado ficarmos tão próximos assim — inventei a primeira
desculpa que surgiu na minha cabeça.
A verdade era muito mais desaforada, eu queria prensar seu corpo no
meu e beijá-la até perder o fôlego, era isso que ela provocava quando se
aproximava daquele jeito, ainda mais quando dizia aquele tipo de coisa.
Ela voltou a pegar a minha mão, dessa vez me guiando até uma árvore
grande que fazia uma bela sombra.
— Eu não me importo com o que pensam da gente, somos amigos, não
é mesmo? — Assenti, ainda tentando entender toda a intimidade que criamos
depois do quase afogamento dela.
Agora, Ravenna parecia me tocar com mais frequência e eu confesso
que também o fazia, toda vez que tinha a oportunidade.
Ela largou minha mão para se agachar e abrir a bolsa térmica que ela
havia trazido, tirou de lá um pote com bolo de chocolate.
— Hora do intervalo, cowboy — disse e caminhou até o tronco da
árvore, se sentando escorada nele.
Ela indicou o seu lado com a cabeça, olhei rapidamente para
Tempestade que estava alheia a nós, havia saído da pista de treinamento e
comia um pouco da grama de fora. Fui até Ravenna e me sentei ao seu lado.
— Achei uma forma de retribuir o bolo maravilhoso que comi na
segunda — me ofereceu o pote de bolo.
Peguei um pedaço e o levei a boca, quase fechando os olhos ao sentir o
gosto do recheio.
— Isso é muito bom! Acho que posso dizer que é o melhor bolo de
chocolate que já comi — elogiei.
Ela sorriu.
— Minha especialidade — pegou um pedaço e levou até a boca.
— Esse recheio...nunca provei nada igual, é chocolate, não é?
Ela riu.
— Sim, mas é um brigadeiro — ela provavelmente viu o meu
desconhecimento desse doce e continuou — É um doce brasileiro, foi uma
dificuldade encontrar leite condensado aqui na cidade, então fiz um caseiro,
ficou bom, não é?
— Muito bom! Você tem talento para isso.
Ela sorriu.
— É um dos únicos doces que sei fazer, então não elogie muito.
— Como aprendeu?
— Eu e Archer viajamos para o Brasil quando completamos 20 anos,
foi nossa viagem de aniversário — sorriu, não de forma triste como ela
sempre fazia quando lembrava do irmão — Ele estava ansioso para conhecer
o Rio de Janeiro e eu também.
— Dizem que é lindo.
— Sim, é um país muito bonito, mesmo que eu só tenha conhecido um
pouco de um estado populoso.
Ela mordeu mais um pedaço de bolo e um pouco do recheio ficou no
canto de seu lábio, ela parecia alheia aquilo e antes que eu pensasse direito,
minha mão fez um caminho até seu rosto, Ravenna me olhou no mesmo
momento, provavelmente se perguntando o que eu faria.
Limpei com o polegar o recheio e paralisei ao ver seu olhar na minha
boca. Aquela tensão que vinha se tornando mais frequente nos últimos dias
quando nos encontrávamos, ou nos tocávamos estava ali novamente.
Mesmo que não estivesse tocando seu lábio por completo, sentia o quão
macio deveria ser. Antes que eu cometesse uma loucura, afastei a minha mão
de sua boca e limpei o recheio com um dos guardanapos que ela trouxe.
O silêncio se instaurou por alguns segundos, talvez até minutos, quando
ela soltou:
— Por que não me beija?
A pergunta estava clara, mas eu quase dei um giro de 360 graus ao
mirar meus olhos nos dela novamente, não entendendo o porquê daquela
pergunta, se eu tivesse com algo na boca teria engasgado.
— O que?
Ela riu um pouco, balançou a cabeça para depois continuar:
— Você me deseja, eu te desejo, por que se afastar toda vez que um
clima está se formando?
— Não tem clima e por favor, somos amigos, já lhe disse que não
quero relacionamentos — respirei fundo, tentando fugir daquela conversa que
se iniciaria.
— Tudo bem então — deu de ombros — Mas eu não estava te pedindo
em casamento nem nada, apenas fiz uma pergunta.
Ela tentou ser engraçadinha, mas eu estava tenso demais para dar
continuidade aquilo.
Ravenna havia me pegado de surpresa dessa vez, não esperava que
fosse confessar que me desejava e agora que eu tinha a certeza, ficava um
pouco mais difícil resistir aqueles climas que fiz questão de dizer que não
existiam, quando sabia que estava mentindo.
— Vamos jogar? — A pergunta me despertou. Como ela conseguia
mudar de assunto tão rápido?
— Jogar?
— Se somos amigos, eu mereço saber sobre você e você sobre mim,
vamos fazer um jogo de perguntas?
— Não sei se é uma boa ideia.
Ravenna provavelmente queria saber mais sobre meu antigo
relacionamento e o porquê eu reprimi um no presente. Não queria falar sobre
Briana, era doloroso, confuso, angustiante e me fazia mal, muito mal.
— Pode se negar responder se sentir desconfortável com a pergunta.
Suspirei.
— Tudo bem, você começa.
— Nasceu aqui em Franklin? — Fez a primeira pergunta.
Assenti.
— E vivi com meus pais aqui até os seis anos, depois que eles se
separaram eu fui morar com minha mãe em Brentwood. E você? Nasceu em
Nova Iorque?
— Sim e vinha todos os verões para cá até os meus 14 anos de idade.
— Por que parou?
— Meu pai e meu tio brigaram — ela suspirou — Uma briga idiota na
minha opinião, mas os dois são dois orgulhosos e só foram voltar a se falar
no enterro de Archer.
Fiquei tentado a perguntar o motivo da briga, mas não queria ser
intrometido.
— Minha vez! Como você era na faculdade?
Arqueei as sobrancelhas, não entendendo a curiosidade pelo meu
passado.
— Eu gostava de festas, garotas e diversão. Então todo final de semana
eu estava em uma festa me divertindo com o meu melhor amigo.
— E pegando garotas — ela sorriu — Eu sabia que você era do tipo
garanhão.
— Garanhão, é? Essa é nova — retribui o sorriso e pensei na minha
próxima pergunta — E você... quem é você Ravenna Blackwood?
Seus olhos voltaram para frente, observando Tempestade comer o
pasto.
— Eu não sei — ela admitiu — É o que eu tento descobrir desde que
me entendo por gente — arrancou uma folha da grama do chão e começou a
brincar com ela — Fui uma irmã amorosa com meu irmão, ele foi o meu
melhor amigo durante toda a vida. Estudei minha vida inteira em escola
particular e conheci as piores pessoas que se possa imaginar por lá, estar com
aqueles amigos, aquela paixão que eu achava ser amor foi extremamente
tóxico e eu só percebi quando meu irmão morreu. Percebi que a pessoa que
eu achava que era, não era ninguém, era apenas uma farsa...
Uma lágrima escorreu de seus olhos, mas ela continuou.
— E depois veio o luto... eu já não tinha uma identidade, como acha
que me senti quando perdi meu irmão? Eu não tinha nenhuma melhor amiga
para abraçar e dizer que estava ali para passar aquela dor comigo, meus pais...
coitados, eles mal conseguiam raciocinar direito, quanto mais dar conforto
para uma dor que eles sentiam tão intensamente quanto eu.
Ela respirou fundo, tentando controlar as lágrimas que insistiam em
cair. Me aproximei dela e a puxei para o meu peito, a abraçando forte e
tentando confortá-la quando nem sabia direito o que dizer.
— E a culpa é minha Dylan — seus soluços aumentaram — A culpa de
meu irmão estar morto é toda minha.
— Não — alisei seus cabelos e trouxe seu rosto próximo ao meu para
enxugar as lágrimas — Não diga uma coisa dessas. Você estava armada e o
matou?
Ela negou, confusão fazendo parte dos seus olhos quando eles
encontraram os meus.
— Não.
— Então não tem o porquê se sentir culpada.
— Eu provoquei a morte dele — ela confessou — Se eu não tivesse
pedido para ele me buscar naquela noite, ele estaria aqui comigo e não
morrido naquele maldito acidente.
Comecei a ligar os pontos, Ravenna se sente culpada pela morte do
irmão, quando o pediu para buscá-la em algum lugar que estava na noite em
que ele acabou se acidentando. Não iria perguntar mais coisas sobre algo que
a deixava extremamente machucada, eu sabia que quando ela estivesse
pronta, me falaria tudo.
— Você não podia imaginar que isso aconteceria. Se todo mundo
pudesse escolher um caminho depois de ter visto os dois lados das suas
escolhas, não acha que haveria um desequilíbrio?
— Todo mundo diz que eu não sou culpada, mas não é como eu me
sinto.
As lágrimas pararam de descer, parecia estar tentando se acalmar.
— E como você deveria se sentir? — Minhas mãos limparam seu rosto.
— Se eu pudesse mudar o passado teria feito outras escolhas e não seria
quem eu sou hoje. Mas não podemos, Ravenna e você precisa expulsar esse
sentimento de culpa ou nunca conseguirá seguir em frente.
Ela assentiu.
— É bom conversar com você, faz sempre parecer tão fácil — ela
encostou a cabeça no meu peito — Você é uma boa pessoa, Dylan.
Me limitei a apenas sorrir, aproveitando os minutos seguintes de um
silêncio muito bem-vindo que se instaurou entre nós.
— Me desculpe pela pergunta tê-la feito chorar — quebrei o silêncio.
— Não se desculpe por isso, eu me sinto aliviada em contar um pouco
sobre mim para o meu mais novo amigo — ela ergueu a cabeça para me dar
um meio sorriso.
O choro havia passado, seus olhos ainda continuavam vermelhos
devido aos últimos minutos, mas ela parecia melhor depois de ter desabafado.
— Podemos continuar esse jogo de perguntas outro dia, dessa vez com
perguntas mais leves, do tipo: qual é a sua cor favorita? — Ela brincou —
Mas por ora, quero apenas apreciar a vista de Nightfall ouvindo as batidas do
seu coração.
Ela voltou a deitar a cabeça no meu peito, e como disse, perdidos nos
nossos próprios pensamentos, apreciamos a vista do sol se pondo em
Nightfall.
As lembranças da tarde anterior me fizeram acordar com um sorriso no
rosto.
Por mais que não havia começado da melhor forma e eu tenha aberto
um pouco de como me sentia em relação a morte de meu irmão para Dylan, a
tarde havia terminado da melhor forma possível, com seus braços em volta de
mim e eu escutando as batidas do seu coração, tão frenéticos quanto o meu.
Eu estava me apaixonando por Dylan Blossom.
A constatação disso veio ontem à noite, quando me virava de um lado
para o outro na cama e não conseguia dormir, não eram as memórias
torturantes que vinham na minha cabeça como todas as vezes, era apenas
Dylan, seu sorriso lindo, seus braços fortes, sua presença, sua preocupação,
seu amor pelos cavalos, seu olhar e tudo nele que me fazia suspirar
encantada, até mesmo sua arrogância e suas provocações que antes me
irritavam.
Eu não podia dar a data e a hora exata que comecei a me sentir assim.
Só sabia que sentia e eu não tinha medo.
Mesmo que pudesse sair com o coração quebrado disso tudo.
Dylan ainda estava quebrado de um relacionamento que na minha
opinião foi traumático e não queria ter mais nenhum.
Eu teria que ser cautelosa.
Eu teria que ser amiga.
Da mesma forma que minha prima me disse na noite do meu
aniversário quando resolvemos comemorar, com muitos chocolates e pipocas.
— Quase nos beijamos hoje — Eu disse para ela naquela noite.
— Como assim quase se beijaram? — Ela quase gritou a pergunta.
— Estávamos banhando Nina e Billy, quando eles resolveram começar
a brincar, jogando sabão para tudo o que é lado. Quando eu caminhei em
direção aos dois, acabei escorregando e Dylan tentou me segurar, mas
também foi parar no chão, o resto você pode imaginar, rimos que nem dois
adolescentes e paramos quando percebemos a proximidade.
— Cena digna de um filme de comédia romântica — ela sorriu — E o
que rolou depois?
— Ele me afastou e voltamos ao trabalho.
Ela deve ter percebido minha cara de desânimo quando pegou minhas
mãos e disse:
— Eu disse hoje cedo e repito: você tem que ter paciência com ele
prima.
— Eu sei, mas e se eu tiver me iludindo demais e acabar estragando
esse início de amizade que estamos formando?
— Tenho certeza que você não está se iludindo, ou então eu também
estaria — ela piscou — Entenda uma coisa Raven, nós podemos até mentir,
fingir, mas o olhar nunca consegue e garota, Dylan a deseja também.
Não pude deixar de sorrir.
— Eu vou tentar — disse confiante — Mas serei cautelosa.
— Essa é minha Ravenna — pegou um punhado de pipoca e levou a
boca.
Depois de mastigar e engolir, perguntou:
— Agora, você pode me explicar por que estava com as roupas dele
nesta manhã?
E eu contei tudo. Desde como foi o pesadelo a como Dylan me salvou
no lago, prestes a desmaiar por falta de oxigênio. Ela me ouviu atentamente,
os olhos marejando por não estar aqui e me ajudar, me abraçou e repetiu as
mesmas palavras que Dylan disse na tarde anterior:
— Você não é culpada de nada prima. Por favor, você não quer que eu
marque uma consulta com um psicólogo? No hospital em que trabalho tem
uma ótima — foi o que ela sugeriu naquela noite.
Neguei.
— Eu vou passar por isso sozinha.
— Prima não é ruim pedir ajudar, passar por um luto como esse está
afetando você, está sendo difícil e não é demonstração de fraqueza ter um
acompanhamento de um profissional.
— Eu sei disso, mas não quero — falei — Eu não penso em colocar
uma gota de álcool na boca agora que estive prestes a morrer por causa disso.
Eu sei que vai haver dias que vou estar péssima, mas não quero mais nada de
ruim que me acalme, eu juro.
— Você tem certeza?
Assenti porque eu tinha.
Quando Dylan me salvou eu fiz uma promessa para mim mesma.
Estava tendo uma segunda chance e não a desperdiçaria.
E agora deitada na minha cama eu tinha certeza que a escolha que eu
fiz foi a certa.
Eu não precisava do álcool em minha vida.
Eu seria mais forte que essa dependência que começava a se alastrar
por mim, eu havia entrado nessa sozinha e sairia sozinha.
Os tremores eram poucos, a irritabilidade quase não aparecia mais,
assim como a falta de apetite. Com os dias passando, percebi que tudo que eu
estava sentindo era psicológico, nada daquilo era efeito colateral.
— Adivinha o que voltou? — Minha prima entrou no quarto e pulou na
cama.
Ela mexia no celular com um sorriso no rosto. Nina que achou que era
uma brincadeira, saiu de sua cama no chão e pulou em cima da minha, e
começou a lamber seu rosto.
— Ai meu Deus, Nina! Você é pesada demais — Alisson largou o
telefone e começou a brincar com minha cachorra.
— Pelo jeito que você entrou feliz nesse quarto enquanto mexia no
telefone que há dias estava aposentado, acho que o sinal voltou — foi o
palpite que dei.
— Sim! — Ela se sentou direito na cama e voltou a pegar o celular —
Então você pode pegar o seu e voltar a usá-lo.
— Farei isso — bocejei, ainda com um pouco de sono.
— Dormiu bem? — Minha prima perguntou, com os olhos avaliando
todo o meu rosto.
— Eu demorei para pegar no sono, mas depois que consegui, só acordei
agora.
— Isso é muito bom, eu percebi que você está melhor nos últimos dias.
Assenti, era verdade. Eu estava me esforçando o máximo para não
pensar em nada que me deixasse mal e tentasse algo idiota outra vez.
Mesmo que ontem no final da tarde com Dylan, eu tenha chorado em
seus braços enquanto confessava tudo que me afligia, eu não me senti mal,
pelo contrário, me senti extremamente leve.
As palavras de conforto e sobretudo o abraço que dizia mil e uma
coisas que sua boca não conseguia dizer me acalmaram de alguma forma.
— Eu conheço esse olhar! Está com aquele olhar de admiração e
sonhadora. O que aconteceu? Você, finalmente beijou o cowboy?
Eu ri.
— Não, se isso tivesse acontecido você me veria saltitando de
felicidade por toda Nightfall, mas algo aconteceu ontem e me sinto bem.
Comecei a contar tudo para ela, desde como iniciei o jogo de perguntas,
que fiz pensando em saber mais sobre o mistério que Dylan carregava e
também de como ele fez a pergunta que me desestabilizou toda.
— E então encerramos o nosso dia abraçados, assistindo ao pôr do sol.
— Vocês estão tão caidinhos um pelo outro — ela sorriu, animada —
Mal posso esperar para ser madrinha do casamento de vocês.
— Alisson — a repreendi, mas acabei rindo.
— Prima, eu fico tão feliz que você esteja andando pelo caminho certo.
Não se sentir machucada ao tocar no assunto de Archer, pode parecer pouco,
mas é um grande começo, você está superando, mesmo que ainda não saiba
disso.
— Eu sei, o sentimento de culpa ainda está aqui Ali, mas estou
tentando seguir em frente.
— E você vai conseguir — me abraçou de lado — Eu e agora, Dylan,
estamos aqui para ajudar você.
Eu me considero uma garota de sorte por voltar a ter Alisson em minha
vida.
Ela nunca substituiria a amizade de meu irmão, mas ter ela ali comigo,
era de grande ajuda.
— Estou me apaixonando por ele — confidenciei, não aguentando
guardar aquilo só para mim.
— E você só notou isso agora? — Riu— Eu já sabia que isso que você
está sentindo não é apenas uma atração.
Suspirei.
— Está tão na cara assim?
Ela assentiu.
— E acho que ele não deve só desejá-la também, mas não posso falar
sobre os sentimentos de um homem que só fui amiga na adolescência.
— Eu espero que ele sinta o mesmo.
— Eu também, prima, mas quero que seja...
— Cautelosa — a interrompi — Eu sei.
— Sim, mas não é só isso, não quero que saia quebrada disso tudo. Um
amor correspondido é o que todos desejam, mas um amor não correspondido
é capaz de quebrar as esperanças para algo genuíno algum dia.
— Deveria ter estudado filosofia — brinquei com ela.
— Amo teorias, mas não é a minha praia. Prefiro ajudar as pessoas e
por falar nisso, vamos descer e tomar café juntas porque se não iremos nos
atrasar para o trabalho.

O calor estava insuportável em Nightfall hoje, por isso, para trabalhar


escolhi um short jeans não muito curto, uma regata azul e coloquei minhas
botas de montaria.
Eu não ficaria de calça quando estava fazendo um calor de mais de 40
graus.
Quando me aproximei da pista de treinamento, Dylan já estava com
Penélope e acompanhado dele estava um garoto desconhecido junto com um
cavalo marrom.
— Bom dia! — Cumprimentei quando fiquei próxima a eles.
Os olhos de Dylan se desviaram do garoto para pararem em mim, assim
que viu o que eu vestia, seu semblante mudou, parecia contrariado.
Ele estava um espetáculo. Ao invés das camisetas de sempre, usava
uma regata, que deixava bem amostra seus músculos.
Esse homem ainda me mataria.
— Bom dia! Você deve ser Ravenna, a ajudante de Dylan — o garoto
disse, estendendo sua mão — Eu sou Arthur.
O filho do prefeito e dono de Sibério, o cavalo marrom que estava do
seu lado. É um garoto com cabelos castanhos escuros, os olhos são meio
esverdeados e seu rosto mostrava sua juventude, ele provavelmente deveria
ter a minha idade.
— Prazer — apertei sua mão.
Dylan estava quieto demais, por isso meu olhar voltou a ele que ainda
me olhava.
— E então, sobre o que conversavam? — Perguntei.
— Arthur estava me dizendo que está confiante com o nosso
treinamento — Dylan disse — Começaremos com Sibério semana que vem.
Assenti.
— Você não vai se arrepender de colocar Sibério para treinar aqui,
Dylan sabe o que faz.
— E você também sabe, suponho — ele sorriu — Agora tenho certeza
que Sibério ficara em ótimas mãos.
— Eu e Dylan faremos um ótimo trabalho — foi a resposta que dei.
— Queria conversar com vocês sobre a possibilidade de vir uma vez
por semana ver os treinamentos, quero acompanhar de perto o desempenho
de Sibério — ele olhou para Dylan.
O semblante de Dylan me lembrou do dia que invadi a sua propriedade,
ele parecia bem irritado. Eu o questionaria mais tarde o porquê do mau
humor.
— Não acho uma boa ideia — foi tudo que o cowboy respondeu.
Arqueei as sobrancelhas, meu rosto provavelmente demonstrando quão
confusa fiquei, por que não seria uma boa ideia?
— Por que? — Arthur perguntou.
— Você disse que Sibério é muito apegado a você, se ele começar a vê-
lo toda a semana isso poderia afetar o desempenho dele. Animais são muito
sentimentais.
Ele assentiu.
— Bom, mas venho de vez em quando para saber dele em particular,
sem que ele me veja.
— Você não precisa se dar ao trabalho de vir aqui, pode saber tudo por
telefone.
Arregalei meus olhos para a arrogância em cada palavra dita naquela
frase.
— Sinta-se à vontade para vir até Nightfall saber sobre o seu cavalo —
me intrometi — O que Dylan quis dizer é que é bom telefonar antes.
Sorri, envergonhada com a arrogância que o meu parceiro de
treinamento estava distribuindo. Parecia que havia voltado a duas semanas
atrás, quando nos conhecemos.
Arthur sorriu, tentando disfarçar a cara de desconforto.
— Tudo bem! Ligo antes. Foi bom conhecer vocês, mas acho que já
vou indo, vocês têm muito trabalho a fazer.
Ele deu um pequeno aceno e foi embora, sem nem esperar um tchau de
minha parte ou de Dylan. Que por falar nele, sua cara não estava nada boa,
me virei para o cowboy e cruzei os braços em frente ao peito, arqueando as
sobrancelhas.
— O que foi? — Ele perguntou emburrado.
— O que foi? Dylan você foi arrogante com o nosso principal cliente.
— Pouco me importo com o status dele — bufou e se virou de costas
para mim, caminhando a passos largos em direção a pista de treinamento.
Sibério havia se afastado, só então percebi que Vincent o estava
guiando para onde ficava os outros cavalos na hora do descanso.
— Que bicho te mordeu hoje, hum? Está com um péssimo humor! —
Falei ao me aproximar de Dylan, que já selava Penélope.
— Nenhum, estou ótimo.
— Você não está! O que aconteceu? Por que tratou Arthur daquela
forma?
— Não gosto dele.
— E o que ele fez para você não gostar dele?
Perguntei achando que Dylan e Arthur tivessem um passado, mas ao
não ter a minha pergunta respondida, percebi que não havia nada.
— Você gostou dele? — A pergunta fez com que eu ficasse ainda mais
confusa.
— Por que essa pergunta?
Deu de ombros, fingindo não se importar, concentrado em prender os
freios em Penélope.
— Parecia toda animada sorrindo para ele.
Eu quase ri, na verdade tive que prender o riso, ou então eu gargalharia.
— Eu sorrio para muitas pessoas Dylan, por que só com Arthur te
incomodou?
— Em nenhum momento eu disse que me incomodou.
— Ah, claro! — O sarcasmo escorreu pela minha afirmação.
— Ele pareceu gostar de você — terminou de arrumar os freios em
Penélope e me olhou — Na verdade, estava até flertando com você.
— Ele não estava flertando comigo.
— “Agora tenho certeza que Sibério ficara em ótimas mãos” — imitou
com uma voz nada parecida a de Arthur — Está claro que ele estava flertando
com você.
Dessa vez não segurei a risada.
— E você está com ciúmes? — Provoquei, mas uma parte de mim
queria saber.
Só em vê-lo incomodado com a forma que Arthur me tratou fazia com
que meu coração palpitasse, isso era um bom sinal.
— Claro que não — Ele desviou o olhar.
— Bom, se você não está com ciúmes, não ficaria incomodado se eu
desse uma chance para Arthur, não é? — Eu não perderia a chance de
continuar provocando-o.
— E vai namorar com o seu concorrente? — Me olhou — Isso me
parece burrice.
Eu sorri, mas ao ver que ele estava visivelmente emburrado, com
aquela cara séria de quem mataria alguém, parei com a brincadeira.
— Não se preocupe Dylan, só tem uma pessoa que eu desejo e ela não
é o Arthur.
Ele engoliu em seco e seus olhos brilharam ao notar o que eu queria
dizer com aquela frase, mas em seguida ele voltou a olhar para Penélope.
Ontem à tarde eu havia admitido que o desejava e jogado verde ao dizer
que ele também se sentia da mesma forma por mim, eu não me arrependia de
ter dito aquilo, por mais que tivesse sido sincera e direta.
— Vamos treinar, Ravenna, ainda temos um longo dia pela frente.
Suspirei e concordei.

Deixei Coronel nos estábulos e voltei para a pista de treinamento onde


Dylan me aguardava com Tempestade.
Havíamos terminado o dia de hoje com uma pequena evolução do
cavalo nos saltos e eu estava muito feliz por fazer parte disso.
O calor parecia cada vez mais insuportável, eu estava toda suada e
quando deixei Dylan para trás, ele estava da mesma forma.
Uma ideia surgiu na minha mente no mesmo momento, precisávamos
relaxar do dia cansativo que tivemos e nada melhor do que um banho no lago.
Eu sabia que Dylan negaria até ser vencido pelo cansaço e foi
exatamente o que aconteceu quando o convidei e ele negou inúmeras vezes.
— Então você pode ficar aqui com esse calor que está longe de
desaparecer, enquanto eu vou dar um mergulho.
— Ravenna...
— Dylan... — o imitei — Vamos! Deixa de ser um velho, vai ser
divertido.
— Não estou sendo velho — ele argumentou — Só não acho uma boa
ideia.
— E por que não seria? Somos só eu e você, não vai ter ninguém por
perto essas horas.
— É exatamente esse o problema.
Ele murmurou, mas eu entendi e sorri.
Comecei a caminhar em direção ao lago, e quase pulei animada ao
ouvir seu suspiro e seus passos atrás de mim.
Quando chegamos no lago eu fui a primeira a tirar os sapatos.
— Vai ficar aí parado? — Perguntei ao ver Dylan como uma estátua
me olhando.
Estava desabotoando o meu short quando sua voz me interrompeu.
— O que está fazendo?
— Tirando minha roupa? Ou você acha que vou molhar toda ela?
— Você está com biquíni?
— Não, mas estou de calcinha e sutiã, o que vamos combinar, é a
mesma coisa.
Confesso que estava fazendo isso para provocar também, porque eu não
podia perder essa oportunidade.
Seu suspiro foi tudo que ouvi de resposta, porque pela primeira vez eu
havia deixado Dylan Blossom sem palavras.
Terminei de desabotoar o short e o retirei, para em seguida deslizar a
regata azul que usava para fora do meu corpo, sorte minha que havia
escolhido um conjunto de lingerie bonito. Era azul escuro e tinha detalhes em
renda.
Quando meus olhos voltaram para Dylan o peguei olhando todo o meu
corpo com aquele semblante que escondia muitos pensamentos, que eu daria
tudo para lê-los.
— Você é maluca — ele finalmente disse sem desgrudar os olhos de
mim — Se alguém ver você assim...
Eu ri.
— Não se preocupe, é como se eu estivesse de biquíni, já disse.
— Mesmo assim — ele respirou fundo — Não pode ao menos vestir o
short? Ou só a camiseta?
— Por que? Isso te incomoda? — Me aproximei dele e percebi quando
engoliu em seco.
Quando seus olhos encontraram os meus, vi puro desejo ali e senti
partes do meu corpo arrepiar.
— Você sabe que sim — ele disse quando eu estava bem perto do seu
corpo.
Eu precisava ser cautelosa, precisava ser amiga, mas tudo o que eu
queria era pular naquele homem agora, tomar a atitude que ele parecia não ter
coragem.
— Vamos para água, cowboy — eu disse.
Me virei e caminhei até o lago, sentia seus olhos queimarem atrás de
mim, mas não me virei, ou eu pularia naquele homem e poderia pôr a perder
qualquer chance que pudesse ter com ele.
A água gelada relaxou o meu corpo assim que entrei, nadei até o meio
do lago de olhos fechados, tentando acalmar o meu sistema nervoso, o meu
coração.
Eu amava esse lago desde pequena, não senti medo de estar ali, mesmo
que a última vez tivesse sido traumatizante. Eu sabia nadar muito bem
quando estava sóbria.
Quando me virei para o píer, Dylan estava ali, somente de cueca e
caramba.... Senti que meu coração pararia.
Gostoso é pouco para defini-lo.
Corpo todo forte, da mesma forma que marcava as roupas que usava,
mas vê-lo assim, com apenas uma peça o cobrindo, era muito melhor,
infinitamente melhor. Ele era todo grande, e quando eu digo todo, quero dizer
que tenho certeza que o volume no meio de suas pernas não é apenas ilusão
da minha cabeça.
Ele pulou no lago e nadou, até chegar perto de mim.
— Foi uma boa ideia, não é? — Perguntei.
Ele assentiu.
— Está muito quente — ele disse e tive a impressão, pela forma que me
olhava, que não se referia apenas ao clima.
— Muito.
Me aproximei um pouco mais dele, até ficarmos tão perto que nossas
respirações se misturavam.
Não estávamos no fundo do lago e devido a nossa altura ficávamos em
pé.
Ele não se afastou como eu achei que faria, pelo contrário, ele até se
aproximou mais, estávamos centímetros separados um do outro. Aquilo era
um sinal?
Nossos olhos não desviaram em nenhum momento, nem quando sua
mão se movimentou até tirar uma mecha molhada da frente do meu rosto, a
mesma mecha que ele tirou no dia que caímos no chão.
— Você é tão linda — o elogio fez com que meu coração quase saísse
pelo peito.
— Você...você também é — eu disse quase me atropelando nas
palavras.
— Não gosto do que você me faz sentir — ele confessou.
Foi minha vez de engolir em seco.
— E o que eu faço você sentir?
— Vulnerável. Há tempos não me sinto desse jeito e a última vez que
permiti me sentir dessa forma, fez com que uma parte de mim se quebrasse.
Sua testa encostou na minha e ele quebrou o contato ao fechar os olhos,
totalmente vulnerável, como ele mesmo disse.
Eu sabia ao que ele se referia, mas não queria estragar aquilo que
estávamos tendo perguntando sobre o que realmente aconteceu.
— Então estamos quites, porque você também me faz sentir dessa
forma.
Nossos narizes se encostaram, mas ele não recuou. Olhei para os seus
lábios tão convidativos.
Que se dane a cautela e a amizade.
Com o coração batendo a ponto de ser escutado por ele, fechei meus
olhos e grudei meus lábios nos seus. O choque fez com que ele não reagisse
de primeira e quando achei que me afastaria, ele entreabriu os lábios e pediu
passagem com sua língua.
Eu finalmente estava beijando Dylan Blossom.
Minhas mãos circularam o seu pescoço enquanto as suas, foram parar
em minha cintura, me puxando para mais perto do seu corpo, como se fosse
possível, até estarmos grudados um no outro.
Eu não conseguia achar um sabor especifico para o seu gosto, mas ele
se tornou naquele instante, o meu mais novo vício. Sua língua percorreu por
toda a minha boca, se envolvendo com a minha como se fossemos feitos um
para o outro.
Desci as minhas mãos pelas suas costas, tentando senti-lo por
completo, minhas unhas rasparam na sua pele, mas não me importei, não ao
ouvir o grunhido de satisfação de Dylan ao sugar minha língua, mais e mais.
O ato fez com que minhas pernas afrouxassem dentro da água e sorte a
minha por ele estar me segurando pela cintura.
Suas duas mãos desceram sorrateiramente até os meus quadris e deram
impulso para que eu enlaçasse minhas pernas em volta da sua cintura.
Senti sua ereção enorme que crescia pressionar minha vagina, que já
começava a apresentar sinais de umidade, que não tinha nada a ver com a
água do lago que nos cercava, enquanto continuávamos a nos engolir através
daquele beijo.
Eu não queria parar.
Ele também parecia não querer.
Mas a maldita falta de ar se fez presente e seus lábios desceram até o
meu pescoço onde beijos, mordidas e chupões foram distribuído por todo o
lado direito.
Gemi de satisfação.
Aquilo era bom demais.
Seus lábios voltaram a atacar os meus de forma esfomeada, como se só
aquilo não fosse o suficiente, mas ao mesmo tempo apaixonada, como se
tivesse todo o tempo do mundo.
Suas mãos atrevidas apertaram minhas nádegas embaixo da água e
senti o contato ter efeito inteiramente no meio das minhas pernas.
Eu sentia que continuaríamos assim por minutos e que poderíamos ir
mais além, só de imaginar seu corpo no meu, me tendo como sua, fazia com
que me sentisse extremamente excitada.
Por isso foi confuso quando suas mãos subiram até o meu rosto e ele
encerrou o beijo com curtos selinhos.
Ele abriu os olhos no mesmo momento que eu, os meus azuis de desejo
observando os seus da mesma forma.
— Não podemos, Ravenna — ele sussurrou — Isso não pode voltar a
acontecer.
As palavras fizeram o meu coração arder no peito.
— Dylan...
Voltei a ficar em pé dentro da água.
— Por favor — ele me interrompeu, a respiração ofegante, parecia
visivelmente chateado, da mesma forma que eu — Não podemos.
Ele repetiu.
Quando se afastou e saiu do lago senti uma sensação horrível de
abandono.
Naquela noite quente de sexta-feira eu entrei no Sweet Dreams. Fazia
semanas que eu não ia no bar, que de bar só tinha a aparência, estava mais
para um clube onde tudo era legalizado.
— Como é aquele ditado mesmo? Quem é vivo sempre aparece —
Matthew Brown apareceu na minha frente com o seu sorrisinho irritante de
sempre.
O Sweet Dreams era onde ficava a parte suja da cidade, administrado
por Matthew, meu ex-colega e ainda rival da faculdade, por mais que ele
insistisse que havíamos nos tornados amigos.
— Sem paciência para suas provocações, Brown — me sentei no banco
em frente ao bar.
— Quando você está com paciência, Blossom? — Riu — Fique à
vontade, sinta-se honrado por ser servido pelo dono do melhor clube de dança
de Franklin.
— É o único que tem, você não tem concorrência para ser o melhor.
Ele revirou os olhos.
— O que vai querer hoje?
— O mesmo de sempre.
Pedi minha dose de whisky e observei melhor o local, estava cheio.
Muitos homens e até mesmo mulheres vinham até aqui para descansar a
cabeça, beber e se divertir.
Havia um palco no canto do estabelecimento onde acontecia os shows,
mulheres dançavam nele por pura e espontânea vontade. Era aqui onde
conseguiam um bom dinheiro com as gorjetas por suas danças sensuais, se
quisessem um pouco mais, estavam livres para se deitar com os clientes e
cobrar o preço que quisessem.
Era aqui que eu vinha quando precisava aliviar a tensão sexual.
Mas não era esse o motivo de ter vindo aqui hoje.
Eu sabia que nada nem ninguém poderia apagar da minha memória o
que aconteceu hoje à tarde.
Ninguém substituiria o que Ravenna me fez sentir apenas com um
beijo.
Eu ficava excitado só de lembrar de suas pernas em volta mim, me
fazendo sentir sua buceta tapada apenas por uma calcinha, só de lembrar sua
língua sugando a minha e a minha sugando a sua como dois esfomeados.
Eu precisava de uma dose de whisky.
Precisava de um entretenimento, por isso sai de casa.
Quando a vi tirar a roupa, ficando só de calcinha e sutiã na minha frente
e se aproximar sem em nenhum momento quebrar a confiança que tem em si
mesmo, admirei meu autocontrole, porque na minha cabeça só se passava
imagens minha por cima dela, a beijando por toda a parte daquele corpo com
curvas tão belas da forma que eu imaginei que seria.
Quando entrei no lago e nos aproximamos, deixando o nosso corpo
controlar o que tanto queríamos, foi o meu fim.
Só percebi que Ravenna havia iniciado o beijo alguns segundos depois
de ela grudar os lábios nos meus. Aquilo foi minha ruína.
Eu a queria tanto que chegava a doer.
E doeu.
Doeu quando tive que recuperar meu autocontrole.
Doeu quando tive que afastá-la e dizer que não podíamos continuar
com aquilo.
Ainda doía.
— Ok, você está pior do que o normal — Matthew entregou o copo de
whisky — O que aconteceu?
— Não somos amigos, Brown — peguei o copo e virei de uma só vez
— Nunca me abriria para você.
— Você é idiota, mas isso até você já sabe — ele sorriu — Felizmente
eu não ligo para a sua arrogância e estou aqui caso queira se abrir com
alguém que saiba falar, não só latir e relinchar.
Ele zombou, claramente se referindo a Billy e Olaf.
— Apenas me sirva mais uma dose, Matthew, calado você é um poeta.
E ele fez, pela segunda vez bebi tudo em um gole sentindo a garganta
arder em protesto.
— Oi, docinho — Hilary Wilson se sentou ao meu lado.
Ela era uma excelente dançarina e a garota que geralmente eu ficava
quando vinha para o clube.
Cabelos pretos, olhos castanhos claros e uma boca muito bonita, que já
havia me aliviado várias vezes.
— Oi — foi tudo o que eu disse.
— Vai ficar até mais tarde hoje?
Eu sabia qual era o significado por trás daquela pergunta, por isso
neguei.
— Apenas vim me distrair com uma boa bebida — respondi.
Ela fez um beicinho, que na minha opinião, não era nada sexy. Na
verdade, olhando para ela agora, nada parecia me atrair como das outras
vezes.
— É uma pena — se debruçou até ficar perto do meu ouvido — Tinha
preparado uma surpresinha para você quando nos encontrássemos
novamente.
Em outros momentos ficaria animado para saber o que ela aprontaria
entre quatro paredes.
Hilary sempre foi uma ótima profissional.
Ela gostava do sexo e o usava como uma profissão, sem falar que ali no
estabelecimento, ela poderia escolher com quem transar.
— Fica para a próxima — eu disse.
— Pelo menos fique para apreciar o show.
Assenti, dando aquele assunto como encerrado quando ela se afastou e
eu consegui respirar aliviado.
— Sem mulheres hoje? Que bicho te mordeu? — Mas ainda havia
Matthew para me livrar.
Ele fez a mesma pergunta que Ravenna me fez quando eu senti raiva do
olhar do mauricinho, mais conhecido na cidade como Arthur, o filho do
prefeito, sobre ela. Ele estava praticamente comendo-a com o olhar e ainda
teve a ousadia de flertar com ela na minha frente.
Quando ela me provocou sobre a possibilidade de dar uma chance para
ele, tive que me controlar, não entendendo de onde vinha toda aquela
possessividade quando ela nem sequer era minha.
— Você não tem negócios para cuidar? Tenho certeza que é melhor do
que ficar aqui comigo.
— Incomodar você é bem melhor, amigo — sorriu.
Revirei meus olhos.
Conheci Matthew na faculdade, ele era o quarterback do time de
futebol da universidade. Disputamos muito a popularidade naquele lugar,
assim como várias mulheres, menos uma, minha ex-esposa, Briana.
Ele foi o primeiro a me alertar que ela era uma víbora e que quebraria o
meu coração.
Eu, apaixonado demais, não dei ouvidos, achando que era apenas uma
desculpa para tê-la de volta.
Mas eu estava enganado. Ele estava certo, afinal.
Ela é uma víbora e quebrou o meu coração.
— Não me diga que a cobra voltou a atormentar você, eu pensei que
depois do que ela fez...
— Por favor, não fale o nome dela — o interrompi — Não é ela o
problema.
Ele deu a volta no bar e se aproximou de mim. Se sentou ao meu lado e
com a garrafa de whisky na mão, serviu dois copos.
— Um para mim e um para você, tem muitas coisas para me contar —
disse.
Ele não desistiria mesmo.
Se ajeitando no banco, deixou a perna de ferro para o lado de fora do
banco.
Matthew sofreu um acidente quando ainda estava na faculdade,
infelizmente teve que amputar a perna, dando adeus para seu sonho de ser um
jogador de futebol famoso.
— É uma garota — confessei, finalmente.
Ou eu contava, ou ele me incomodaria pelo restante da noite.
— Interessante — bebeu um gole do seu whisky — Conte-me mais
sobre a garota que o fez reagir dessa forma.
— Você sabe que nessa época estou trabalhando em Nightfall com os
treinamentos de hipismo, esse ano eles colocaram três cavalos inexperientes,
um deles é de Arthur. Eu precisava de ajuda, foi aí que entrou essa garota, o
nome dela é Ravenna e ela é sobrinha de Eitan e Millie.
Ele me olhava atentamente, esperando as próximas partes que fariam
com que o meu comportamento fizesse sentido.
— Hoje nos beijamos — foi tudo o que eu disse.
— Uau! E você está assim por causa de um beijo? — o ar zombeteiro
estava ali.
Revirei meus olhos.
— É por isso que eu detesto você e não queria ter contado nada.
Terminei de beber o whisky do copo e peguei minha carteira, joguei um
dinheiro na mesa e estava me levantando quando ele me puxou para me
sentar de novo.
— Calminha aí grandalhão, não acabamos — disse — Você está assim
porque pela primeira vez depois de muito tempo está gostando de alguém
novamente, está com medo depois de toda a merda que passou com Briana e
ainda chuto que há algo a mais que eu não saiba.
— Eu prometi a mim mesmo que não teria outro relacionamento
novamente, não posso ter.
— Isso é ridículo e você sabe disso, não é?
— Não é! Eu não posso, sou incapaz de fazer alguém feliz Matthew,
por mais que tudo se iniciasse às mil maravilhas, eu a faria triste, eu a
quebraria.
Ele balançou a cabeça.
— O único que está quebrado aqui é você Dylan — apertou meu
ombro, como uma forma de conforto — Você não percebe que isso é tudo
que Briana quer? Você infeliz, enquanto ela está lá toda feliz.
— Você não sabe de tudo. Eu tive um relacionamento fodido? Sim,
mas isso não é tudo... e ela está certa, quando olhou para mim naquele último
dia e disse: você é insuficiente, sempre vai precisar de mais alguém.
Ouvi Matthew respirar fundo do meu lado.
Nem percebi que meus olhos marejavam. Eu odiava esse assunto, eu
odiava Briana, eu me odiava.
— Me fale mais dessa Ravenna... como ela é? O que ela tem que
deixou você caidinho por ela? — Matthew perguntou, tentando mudar o
rumo da conversa, o que eu agradeci silenciosamente.
— Ravenna é como um tsunami, entra na sua vida de forma rápida e
explosiva, mas diferente do desastre, é impossível ter coragem de lutar
contra. Ela tem os olhos mais lindos que eu já vi nessa vida e é irônico dizer
isso porque são da mesma cor que os meus — ri — Mas quando eu a vi pela
primeira vez, eu senti aqui dentro que algo iria mudar, que a minha vida
nunca mais seria a mesma.
Respirei fundo.
— Eu tentei afastá-la, fui arrogante, fui indiferente, mas quando ela se
abriu comigo, me contou as coisas que a atormentavam, minha guarda baixou
e de repente, ela estava me fazendo rir com muita facilidade e me fazia
pensar nela com mais frequência do que eu queria.
— Você está apaixonado — Matthew concluiu o que qualquer um
faria.
Assenti, porque era verdade.
Eu estava completamente apaixonado por Ravenna.
— E eu nem sei quando isso se iniciou, não sei se a atração que senti
por ela no início se tornou essa paixão, só sei que eu sinto e não posso
permitir que isso se torne algo maior.
— Amor — ele complementou.
Concordei mais uma vez.
— Não posso Matthew, nos quebraríamos, um ao outro.
— Eu não sei tudo o que passou nas mãos de Briana e nem o que ainda
esconde, mas não vejo motivos, além de você mesmo, para tentar ser feliz
com essa garota. Ela parece ser o que estava faltando na sua vida.
Me limitei a apenas sorrir, o que provavelmente saiu como um sorriso
triste.
Ninguém entendia.
Todos só entendiam o conto de fadas.
E quando ela fosse embora? Porque um dia Ravenna irá, como
ficaríamos?
Todos só pensam que eu sou um homem quebrado que tem medo de
relacionamento.
Não era apenas isso e apenas minha mãe sabia.
— Foi bom conversar com você, Matthew — me levantei — Mas
preciso ir.
— Você sabe que sempre estarei aqui, deste lugar eu não saio mais —
piscou.
Eu admirava Matthew por ter conseguido superar rápido a decepção de
não poder seguir mais o seu sonho.
A ideia de abrir o clube na cidade foi muito bem aceita por uns e
recriminadas por outros.
Muitos chamavam o local de prostibulo e abominavam Matthew, mas
ele apenas se divertia com isso, segundo ele, tudo estava de acordo com as
leis.
E eu nem me incomodava em questionar.
— Ainda não somos amigos — falei enquanto ajeitava meu chapéu na
cabeça.
Ele riu.
— Já até passamos dessa fase, somos melhores amigos agora.
Revirei os olhos, mas sai do Sweet Dreams um pouco mais leve do que
entrei naquela noite.
A confusão ainda permanecia dentro de mim, junto com toda a
incerteza do que fazer a partir de segunda.
Como olharia nos olhos de Ravenna e diria que tudo que podíamos ter
era a amizade.

No dia seguinte eu me ocupei de cuidar do meu próprio rancho.


Capinei, aparei a grama e organizei o estábulo que Olaf dormia. Não apareci
em Nightfall, era o meu dia de folga e mesmo se tivesse que ir até lá, evitaria,
como um adolescente medroso eu estava.
Literalmente.
Eu precisava dar um tempo de tudo que envolvia aquele rancho e
Ravenna, por em ordens meus pensamentos e arrumar uma decisão logo.
Não queria magoá-la, mesmo sabendo que iria.
Mas ainda era melhor a mágoa de agora, do que nos envolvermos e
acabar nos quebrando.
Conforme o tempo passava e eu trabalhava em casa e com meus
pensamentos, tive a certeza de que a ideia de me afastar de Ravenna era inútil
e infantil, não que esse pensamento tenha ficado por muito tempo na minha
cabeça.
Mas pensava em alternativas para poder dizer que nada rolaria entre
nós dois.
Não porque não nos desejávamos, mas sim porque eu não podia.
E eu sabia que viriam questionamentos, com Ravenna eles sempre
vinham.
E eu teria que contar pelo menos boa parte do meu passado.
Quando a noite chegou, eu terminava de fazer um sanduiche de peru
porque estava cansado demais para cozinhar uma janta decente, quando ouvi
alguém bater na porta.
Eu estranhei de imediato, quem seria? O relógio marcava exatamente
dez horas da noite.
Caminhei até a porta da entrada de minha casa e a abri, tendo uma
surpresa quando vi o motivo da minha cabeça estar quase explodindo de
tantas indecisões bem ali na minha frente.
Ravenna vestia um short jeans claro com uma regata branca. Eu
simplesmente amava quando ela se vestia dessa forma, tão... menininha, mas
com um corpo que me provou ontem ao estar grudado no meu, que era de
uma grande mulher.
Evitei levar os meus pensamentos para ontem de tarde ou teria uma
ereção bem ali na sua frente.
Nina estava ao seu lado, observando nós dois em silêncio.
— Oi — ela finalmente disse quando seus olhos encontraram os meus.
Olhei no relógio mais uma vez, faltavam vinte minutos para as dez
horas da noite.
Eu não conseguia dormir.
Toda vez que fechava meus olhos os pensamentos me levavam para o
dia dezoito de março desse ano.
O dia que meu irmão faleceu na minha frente.
Eu sabia que a data de hoje não seria fácil, principalmente à noite,
quando eu não tinha ninguém para me distrair.
Eu havia passado a semana tão bem, sem pesadelos e sem pensamentos
que me deixavam péssima, mas hoje era diferente.
Hoje fazia exatamente cinco meses que meu irmão morreu queimado
dentro de um carro.
Tentei expulsar o sentimento de culpa, mas ele acabava vindo, uma
hora ou outra, ele sempre aparecia junto com as lembranças dos bons
momentos que passávamos juntos.
“Merda, merda, merda. MERDA!
Eu havia ficado menstruada pela primeira, isso não podia estar
acontecendo, não quando eu estava com uma calça branca e o sangue havia
decido sem avisos e manchado toda ela.
O que eu faria agora? Como sairia da escola? Só de imaginar o mico
que pagaria me fazia querer enterrar a cabeça em um buraco.
Peguei meu telefone e liguei para o meu salva vidas, já que minhas
amigas não haviam aparecido na escola hoje.
— Maninha, estou no treino, o que aconteceu? — Archer perguntou já
sabendo que havia acontecido algo para eu estar ligando nas horas do treino
de basquete que ele tanto gostava.
— Eu fiquei mocinha — murmurei.
— O que? Você é uma mocinha, irmã.
Revirei meus olhos.
— Eu estou menstruada, Archer, e tem sangue por toda a parte de trás
da minha calça.
— Puta merda! — ele exclamou — Você está no banheiro feminino?
— Sim.
— Não se mexa, estou indo para aí.
Mais ou menos cinco minutos depois, meu irmão entrava no banheiro
feminino da nossa escola rapidamente, como uma forma de não ser pego por
ninguém. Se a diretoria nos visse ali, com certeza nos reprenderia.
— Isso é horrível.
Eu sorri, mas sem humor nenhum.
— E você veio aqui para dizer o que já sei? Ainda por cima estou
sentindo dor, acho que as famosas cólicas que as mulheres sentem —
choraminguei.
— Calminha, maninha, eu vim ajudar.
Archer tirou o blusão largo do corpo e estendeu para mim.
— Use para tapar a bunda.
— O que? Não posso aceitar, está fazendo um frio de nove graus lá
fora.
Ele riu ao mesmo tempo que piscou.
— Eu aguento.
Mesmo contrariada fiz o que ele pediu, amarrei o blusão na minha
cintura de forma que tapasse a mancha de sangue da minha calça branca.
— Não tinha outra hora para ficar menstruada, não é? — meu irmão
brincou.
Acabei rindo junto com ele.
— Obrigada por isso, você é meu salvador.
— Para sempre, lembra?
Assenti.
— Para sempre!
Ele me abraçou de lado enquanto nos encaminhávamos para fora
daquele banheiro.
— Agora, vamos ir para a casa e comer um monte de porcarias
enquanto pesquisamos um jeito de acalmar com essas suas dores.
Sorri.
Eu tenho o melhor irmão do mundo! ”
Levantei-me da cama em um pulo, não aguentando ficar mais um
segundo naquele quarto me lembrando e me sentindo claustrofóbica.
Sentia falta de algo para me fazer dormir.
Mas dessa vez seria diferente.
Eu não iria até os armários procurar por uma bebida que eu sabia que se
procurasse bem, acharia.
Nina me acompanhou enquanto seguia para fora daquela casa e em
direção para a única pessoa que poderia me ajudar naquele momento.
Alisson estava de plantão, não poderia ficar comigo.
Mas havia Dylan e mesmo que eu fosse provavelmente a última pessoa
que ele queria ver, eu precisava dos seus braços em volta de mim como
naquele final da tarde. Me trazendo paz, acalmando o meu coração.
Parei em frente à sua casa. Com um pouco de medo dele ser arrogante
comigo e me expulsar como na primeira vez em que estive aqui.
A sensação de ser largada naquele lago no dia anterior ainda estava
dentro do meu peito, junto com toda a dor e a saudade de meu irmão.
Respirei fundo, uma, duas, três vezes, antes de bater na porta.
Ele não demorou a atender, surpresa tomando sua expressão ao me ver
parada em frente à sua casa.
O avaliei alguns segundos, não parecia irritado, ou chateado como
achei que poderia estar.
— Oi — eu quebrei o silêncio.
— Oi — ele cumprimentou de volta.
— Sei que sou a última pessoa que quer ver hoje, mas eu meio que
precisava de você — admiti.
Ele deu espaço para eu entrar dentro de sua casa com Nina e quase
suspirei aliviada.
Eu não ficaria sozinha essa noite.
— Você não é a última pessoa que gostaria de ver hoje à noite — ele
disse enquanto fechava a porta — Só estou surpreso, não esperava você aqui.
Eu assenti.
— Hoje faz cinco meses que meu irmão morreu — declarei, olhando
nos seus olhos quando se virou para mim — Eu não consegui ficar naquela
casa.
Ele assentiu, parecendo compreender.
E sem dizer uma palavra, se aproximou e me abraçou.
O abraço que eu tanto precisava, apertado e que estava me fazendo
muito bem desde o dia que o senti pela primeira vez.
Aspirei seu cheiro, tão bom, tão confortável, me lembrava de casa. Suas
mãos faziam um pequeno carinho nas minhas costas como forma de conforto.
— Eu precisava muito disso — sussurrei quando desfizemos o abraço,
mas ainda assim, permanecemos próximos.
— Quer conversar?
Fiz que sim com a cabeça, seria bom conversar com ele. Sempre era
bom conversar com Dylan.
— Eu estava fazendo um sanduiche de peito de peru — ele disse —
Quer que eu prepare um para você?
— Eu jantei antes de sair de casa — falei — Não precisa se incomodar
comigo.
Ele pediu para eu esperar sentada no sofá enquanto ia buscar a sua
janta, quando ele apareceu, tentava equilibrar dois copos de suco e um prato
com o sanduíche. Ele os colocou na mesa do centro da sala e se sentou ao
meu lado.
— Pelo menos tome um suco — ele me ofereceu o copo.
O peguei e dei um gole no suco de laranja.
— Você está tremendo — Dylan disse ao ver minhas mãos balançarem
o copo do suco.
— Um pouco, estou nervosa, ansiosa e com medo de ter uma recaída
novamente — admiti.
— Você é mais forte do que isso — segurou minhas mãos assim que eu
larguei o copo de suco na mesinha de centro — Você disse que começou a
beber nas últimas semanas antes vir para Nightfall, sou médico de animais,
mas acho que você ainda consegue sair dessa sem precisar de um tratamento
médico.
— Eu sei que consigo, só penso na bebida quando a dor se torna muito
grande no peito e eu não consigo dormir ou respirar direito.
— É mais um conforto do que um vício — ele avaliou.
Assenti porque era exatamente dessa forma que parecia, um vício é
quando você pensa nele a todo o momento, quer ou acha que precisa dele, faz
com que você busque o uso excessivo daquilo.
Mas eu só pensava no álcool quando precisava dormir e não conseguia,
quando nada nem ninguém podia aliviar a dor no meu peito.
Eu estava me tornando dependente daquele conforto? Sim e
provavelmente se meus pais não tivessem me cortado, hoje eu estaria
viciada.
— Você me entende tão bem — sussurrei as palavras, mas ele pareceu
ouvir.
Encarei nossas mãos unidas, as dele por cima da minha, fazendo um
leve carinho com o seu polegar direito. Eu não queria que aquilo acabasse.
— Parece que sim.
— O nome dele era Archer — eu comecei, sentindo a súbita vontade de
desabafar com ele — Éramos inseparáveis, ele foi o amigo que estava comigo
quando cai pela primeira vez ao tentar andar em uma bicicleta sem rodinhas
— sorri com a lembrança — Ele foi o melhor irmão ao aguentar o caminho
da escola até nossa casa com um frio de 9 graus, tudo isso para me dar sua
camiseta e ninguém ver que havia acabado de ficar mocinha pela primeira
vez.
Não senti nenhuma vergonha e dizer aquilo para Dylan, na verdade ele
estava sorrindo quando meus olhos encontraram seu rosto, era uma
lembrança divertida.
— Ele foi o melhor amigo ao estar comigo quando me apaixonei pela
primeira vez e quando me decepcionei com essa paixão. Ele sempre estava ali
comigo, sempre. Eu não consigo contar nas mãos quantas vezes ele me
ajudou, me acolheu e me amou, como um bom irmão fazia. Não éramos
como a maioria dos outros irmãos, nunca brigávamos e acho que isso é
porque desde a barriga da minha mãe nos amávamos.
Suspirei, me lembrando de tudo o que Archer foi para mim quando
ainda era vivo.
— Era engraçado ver Archer me defender quando eu era 5 minutos
mais velha que ele. Meu irmão sempre foi o defensor, me defendia, me
mimava e me dava os piores sermões da vida, porque eu sempre me metia em
encrenca.
— O que você fazia?
— Muitas coisas! Eu posso dizer que aproveitei bem minha
adolescência, ia em festas clandestinas, usava identidades falsas para entrar
em clubes. Teve uma vez que eu estava tão bêbada que comecei um strip-
tease em uma dessas festas, foi meu irmão que me pegou no colo e me levou
para a casa me chamando atenção o caminho todo. Mas era engraçado que no
dia seguinte sempre acabávamos rindo do que aconteceu no anterior.
— Um strip-tease? — Dylan parecia perplexo — Meu Deus! Quantos
anos você tinha?
— 18 — eu ri.
— Você era terrível — ele riu.
— Archer costumava dizer a mesma coisa e sempre quando tinha
oportunidade dizia que eu ainda o mataria de ataque cardíaco. Ele só acertou
a parte que eu o mataria.
— Ei — Dylan apertou minhas mãos, me chamando atenção para olhá-
lo novamente — Você não o matou.
— Nunca consegui lidar com os meus problemas sozinha porque ele
sempre estava lá para me livrar deles, naquela noite em que ele morreu eu
estava em uma festa, Archer me disse para não ir, que ele não conseguiria ir
junto porque estava estudando para as provas finais da faculdade, disse que
era para eu ficar em casa e fazer o mesmo. Eu fui desobediente, falei que
estaria entre amigos e que voltava logo, prometi a ele que as loucuras de
Ravenna haviam ficado no passado, junto com a minha adolescência.
Abaixei meus olhos de novo, focando em nossas mãos juntas.
— Meu ex-namorado estaria lá, mas nós nem estávamos nos falando,
por isso achei que seria tranquilo ir e me divertir antes de colocar a cabeça no
meio dos livros e estudar para algo que eu nem gostava. Foi mais ou menos
uma hora depois de eu ter bebido alguns drinks que precisei usar o banheiro,
subi para o quarto de Lydia, a responsável da casa. Quando eu estava saindo
do banheiro encontrei Cameron, meu ex-namorado, no quarto.
Senti as mãos de Dylan ficarem rígidas sobre as minhas, o carinho
parou e quando olhei para ele seus olhos estavam vidrados em mim. Ele
parecia entender o que eu iria contar a seguir.
— Cameron tentou ficar comigo a força, estava bêbado e acho que até
drogado, mas ele tentou me violentar.
Fiquei surpresa por nenhuma lágrima ter caído ainda, aquele assunto
sempre me machucava. Talvez eu já tivesse chorado tudo o que tinha para
chorar nos últimos meses.
— Eu consegui dar um chute nas bolas dele — sorri, mas nem de longe
feliz com aquela lembrança — Sai daquele quarto e liguei para o meu irmão,
ele se dispôs na hora vir me buscar, como ele sempre fazia.
Senti uma única lágrima solitária escorrer pela minha bochecha e antes
que eu a enxugasse, Dylan foi mais rápido ao tirar uma de suas mãos da
minha e limpar meu rosto, em uma caricia suave e carinhosa.
— Meu irmão não respeitou a placa “pare” e um caminhão bateu nele,
o carro capotou tantas vezes e quando parou, explodiu com ele dentro —
senti meu coração apertar.
— E por isso você se culpa — Dylan concluiu.
— Sim porque se eu tivesse agido como uma adulta eu teria chamado
um Uber ou um táxi e ido para casa, mas eu fui a garota fresca de sempre.
— Você não foi fresca — suas mãos voltaram a pegar as minhas — Foi
muito corajosa por chutar as bolas de um cara que iria estuprar você, não vejo
frescura em você ter ligado para o seu irmão e único amigo logo depois. Você
mesma disse que ele era a pessoa que estava sempre com você, te tirando dos
problemas, te confortando, te aconselhando e te amando, e isso era tudo que
você queria naquele momento assustador.
— Mas...
— Não existe um, “mas” Ravenna. Eu tenho certeza de que seu irmão
não gostaria de ver você se culpando dessa forma. Todas as pessoas partem
um dia, algumas cedo demais e outras no tempo certo, a jornada de seu irmão
era até ali, por mais que doa tudo isso.
— Se ele consegue me ver de onde quer que esteja, posso imaginá-lo
criando várias discussões para descer até aqui e falar comigo para dizer
exatamente isso.
— Viu só? Você sabe que ele não gostaria de vê-la assim, então por
que continuar se torturando dessa forma?
— Porque eu me sinto culpada, independente do que todo mundo acha
ou não.
— Eu espero que um dia você possa ver com seus próprios olhos que
não é.
— Eu também.
Senti minha garganta fechar, a vontade de chorar surgindo. Aquilo era
tudo o que eu mais queria, ter o coração livre e não pensar que se não fosse
por aquela ligação, Archer estaria comigo.
— Qual a sua melhor lembrança com ele? — Dylan perguntou e eu
agradeci imensamente por querer levar o assunto para outro rumo.
— Quando fomos para o Brasil — respondi, eu podia lembrar de todos
os dias, todas as coisas que fizemos, cada vergonha que passamos, foi tudo
tão divertido — A melhor parte era ver Archer fingindo ser gay para as
mulheres que se aproximavam de nós com interesse.
Eu ri.
— Por que ele fazia isso?
— Porque aquela viagem era apenas nossa, sem homens e sem
mulheres, apenas dois irmãos conhecendo e apreciando um estado
desconhecido.
— Isso é incrível.
— Ele era incrível.
Suspirei. Me sentia um pouco melhor por falar tudo o que eu sentia.
Não me sentia menos culpada, mas eu sabia que isso era algo que eu teria que
fazer por mim mesma. Ninguém seria capaz de mudar o que eu sentia, todos
já haviam tentado, mas enquanto eu não aceitasse que tudo era para ser
daquela forma, continuaria me culpando.
Era um longo e doloroso caminho.
Não sei por quanto tempo ficamos daquela forma, em um silêncio
confortável, apreciando a companhia um do outro. O sanduíche intocado dele
ainda estava em cima da mesa de centro. Foram longos minutos que fiquei
sentindo e olhando suas mãos nas minhas, um gesto que dizia muitas
palavras.
Meus olhos encontraram os seus e a lembrança do beijo encheu minha
cabeça, a forma como nos tornamos um só naquele lago e como nos
entregamos a tudo que sentíamos um pelo o outro desde a primeira vez que
nos vimos ainda me deixava de pernas bambas.
— Sou eu que preciso desabafar agora — ele disse.
Provavelmente minha expressão no rosto demonstrou a confusão
referente ao que ele havia dito.
— Sei que fui um idiota com você ontem, a deixei naquele lago como
um adolescente medroso e fico surpreso por você não ter vindo atrás de mim
exigir uma explicação.
— Eu entendi que você precisava de um tempo.
— E eu sou grato por você ter me dado ele — respirou fundo antes de
continuar — Eu nunca contei isso para ninguém, na verdade, quem sabe é
porque estava comigo e nem todos sabem de tudo.
— Tem a ver com sua ex-esposa, não é?
Ele pareceu surpreso quando mencionei a “esposa”, em nenhum
momento ele havia me dito, mas eu fiquei sabendo por minha prima.
— O nome dela era Briana e eu me refiro a ela no passado porque para
mim, ela está morta.
A frieza que as palavras foram ditas me fizeram sentir como ele ainda
estava machucado com aquele passado.
— Quando eu fiz 19 anos entrei na faculdade com o meu melhor amigo
Charles, estávamos animados, iriamos entrar para uma fraternidade e nos
divertir, sem romance, apenas aproveitar o que a universidade tinha de
melhor. Nos conhecíamos desde a escola, gostávamos das mesmas coisas e
por isso foi fácil nos tornarmos irmãos, pelo menos era o que eu achava que
éramos.
Foi minha vez de segurar suas mãos e alisá-las com o mesmo carinho
que ele fazia nas minhas há poucos minutos.
— No segundo ano arrumamos um inimigo de campo, o nome dele era
Matthew Brown, ele era quarterback do time e nos odiava, estava ali há mais
tempo que nós e não gostava de se ver perdendo a sua popularidade para dois
caras que nem no time de futebol estavam. Nós não queríamos problemas por
causa de status, estávamos ali para aproveitar, mas Briana pareceu não
entender isso, ela namorava Matthew e terminou com ele para se aproximar
de nós dois.
Ele parou um pouco de falar e levantou os olhos para encontrar os
meus, parecia envergonhado com o que falaria a seguir, eu por outro lado,
tentava apenas ouvir, expulsando todas as teorias que começavam a ocupar
minha cabeça.
— Briana sempre foi ótima em manipular as pessoas, foi fácil brincar
comigo e Charles. Já não gostávamos muito de Matthew, quando ela disse
coisas horríveis que ele fazia com ela, nós o confrontamos, o questionamos, o
ameaçamos, não queríamos que ele se aproximasse dela. Lembro as palavras
exatas que Brown falou naquele dia: “Ela está brincando com vocês dois da
mesma forma que fez comigo, Briana tem um jeito maldoso de brincar com
as pessoas, aposto que ela disse que terminou comigo por causa dessas
acusações ridículas de agressões, mas a verdade é que eu terminei com ela
porque percebei que ela é a porra de uma doente”.
— Ele estava certo, não é? — Perguntei.
— Sim, mas você acha que a gente acreditou? Claro que não! Briana se
tornou nossa amiga, íamos as festas juntos, bebíamos, dançávamos, fazíamos
tudo junto, inclusive acabamos nos apaixonando. Pelo menos da minha parte
e da de Charles era verdadeira, eu e ele conversamos, decidimos falar com ela
sobre o que estávamos sentindo. Ela só teria que escolher um de nós dois,
mas não foi isso que fez, Briana propôs que ficássemos os três juntos e como
dois idiotas, aceitamos.
— Espera aí, vocês foram um trisal?
Ele assentiu. Eu estava surpresa, por essa eu não esperava e eu mal
podia conter minha curiosidade para saber o que aconteceu depois.
— É vergonhoso, eu sei.
— O que? Não! É só surpreendente, eu nunca havia ouvido uma
história de alguém que já teve um relacionamento assim, respeito muito
quando o sentimento é mútuo de todos os lados.
— Mas esse não era o caso. Passamos um ano na faculdade juntos,
éramos considerados estranhos, mas não nos importávamos, eu e Charles
estávamos com a garota que amávamos, nada importava. Não víamos como
ela nos colocava um contra o outro e como nos fazia brigar, como nunca
havíamos feito. Conforme o tempo passou, aquilo se tornou insuportável, eu
e Charles tivemos uma briga feia e pedimos para ela escolher e ela me
escolheu.
Ele largou minhas mãos e se levantou, caminhou até a janela grande de
sua sala de estar e observou.
— Meu pai faleceu quando eu tinha sua idade, 22 anos. Eu estava
terminando a faculdade e já havia pedido Briana em casamento. Mudamos
para cá depois de formados e nos casamos no cartório, sem cerimônia, apenas
com as testemunhas. Os primeiros anos foram incríveis, eu a amava e sentia
que ela compartilhava do mesmo sentimento, mas nos últimos as coisas
começaram a sair de controle. Ela não parecia feliz e fazia de tudo para
descontar em mim, me xingava, me colocava para baixo e ainda por cima me
manipulava sem que eu percebesse. Ela julgava nossa vida no campo, odiava
a ideia de eu ficar no lugar de meu pai em Nightfall e principalmente a vida
simples que estávamos levando, enquanto Charles, que se afastou
completamente depois dela ter me escolhido, já tinha um hospital veterinário
em Nashville. As agressões através de palavras se tornaram físicas nos
últimos dias que passamos juntos. Eu já não reconhecia mais a mulher que
havia me apaixonado, na verdade, eu nem sabia quem realmente Briana era
até aquele dia. Sinto os tapas e socos até hoje, não revidava, apenas recebia.
Lembro que por um momento, achei que merecia aquilo por não a fazer feliz.
Me aproximei de Dylan, tocada por tudo o que ele me dizia. Havia
passado por um relacionamento abusivo, agora eu começava a entender o
medo de se envolver novamente. Não consigo imaginar como é para uma
pessoa que já passou por isso conseguir forças e segurança para se envolver
com outro alguém.
Meus braços circularam sua cintura e minha cabeça se encostou entre
seus ombros. Suas mãos ficaram em cima das minhas e assim ele continuou:
— No dia que terminamos eu havia ficado até mais tarde em Nightfall
ajudando os peões com um gado machucado, quando cheguei naquela noite
ouvi os gemidos tão conhecidos de Briana e Charles.
Senti minhas mãos molharem conforme as lágrimas de Dylan caiam,
também senti meu coração doer ao vê-lo tão frágil.
— Lembro de suas palavras para mim naquela noite: você sozinho
nunca será suficiente, podemos voltar a ser como éramos antes. Naquela noite
eu vi que Matthew Brown tinha razão, Briana gosta de brincar com as
pessoas e enquanto estava só comigo, não via graça em viver uma vida calma
e com todo o amor que eu desperdicei ao dar para ela.
— Sinto muito — meus braços apertaram o abraço, tentando tirar toda
aquela dor que ele sentia — Sinto tanto que tenha passado por isso.
— Eu também.
Ali na minha frente eu enxergava um homem quebrado, sem saber
como voltar a viver, como ser feliz novamente. Um homem inseguro, com
muitos medos e que fingia muito bem com aquele ar de severidade e sua
costumeira arrogância com os desconhecidos.
Ele respirou fundo, provavelmente tentando se acalmar antes de virar
para mim com olhos ainda molhado devido as lágrimas que havia deixado
cair.
— Entende por que me afastei? Prometi a mim mesmo quando expulsei
os dois naquela noite que nunca mais entraria em um relacionamento, seja ele
casual ou não.
As palavras fizeram efeito direto no meu coração. Eu entendia, mas não
queria que aquele fosse o nosso fim, quando nem havíamos começado nada
ainda.
O meu azar era tão grande assim em me apaixonar por alguém tão
quebrado como eu?
— Eu entendo. Mas eu não sou ela Dylan, nunca o manipularia, muito
menos seria agressiva com você, eu...
— Eu sei — ele deu um fraco sorriso, usou uma de suas mãos para tirar
a mecha teimosa que caia em frente ao meu rosto — Mas um dia você vai
embora Ravenna, se nos envolvêssemos, apenas acabaríamos machucando
um ao outro. Quando estou com alguém, dou tudo de mim para aquela
pessoa, não seria algo casual, acabaria amando você para vê-la partir logo
depois, não suportaria isso.
Eu quis dizer que já estava apaixonada por ele.
Eu quis dizer que não queria e nem pensava ir embora.
Mas eu não consegui dizer, porque as palavras que ele disse a seguir
voltaram a machucar meu coração.
— Seremos apenas amigos.
Eu ri sem nenhuma vontade, me afastando em seguida.
— Acha que vai dar certo? Depois daquele beijo?
— Temos que tentar — foi o que ele disse.
Eu queria gritar que aquilo era impossível, frustrada e machucada
demais, mas eu não fiz, seria ridículo.
E como todas as vezes que eu achava que estávamos seguindo algum
caminho, acabávamos voltando três passos para trás.
Comecei a acreditar que era melhor desistir, ele estava quebrado
demais por culpa de Briana. A mulher havia feito uma lavagem cerebral na
sua cabeça, era como se ele não se achasse mais suficiente para nada,
inclusive para ter um novo relacionamento.
Vê-lo assim, com toda a sua beleza e força, mas tão inseguro me
deixava muito triste.
Daria um tempo, da mesma forma que fiz antes do beijo, e se fosse para
acontecer, aconteceria.
— Tudo bem — eu finalmente disse — Mas fique sabendo Dylan que
se você me beijar de novo, não o deixarei fugir.
Ele riu.
— Não haverá outros beijos Ravenna.
— É mesmo? Por acaso agora você adivinha o futuro? Quem garante
que você conseguirá resistir ao meu charme? — Tentei fazer graça para
disfarçar todo o turbilhão de sentimentos que estava sentindo.
— Farei o possível para conseguir resistir a sua beleza — ele devolveu.
Já eu não conseguiria fazer nem o possível para resistir a dele, quem
dirá o impossível.
— Então... amigos dormem na casa uns dos outros, né? Tenho certeza
de que não se incomoda por eu me hospedar aqui novamente.
— Eu já esperava por isso.
— Ótimo! O que acha de assistirmos um filme? Você tem Netflix? O
sinal finalmente voltou!
— Não tenho Netflix.
Revirei meus olhos.
— Você é bem do campo mesmo, né? Felizmente eu tenho.
— Então fique à vontade para escolher o que iremos assistir enquanto
eu pego algo para comermos.
Dylan foi até a cozinha e eu me sentei no sofá, liguei a televisão e fiz
login na minha conta da Netflix.
— O que achar da série The Witcher? — Perguntei assim que ele se
sentou ao meu lado com um pote de sorvete na mão.
— Fala sobre o que?
— Um bruxo que é caçador de monstros — respondi — Na verdade
estou muito mais interessada no bruxo do que na história da série, por isso
iremos assistir.
Dei play na série.
— Ah é? Posso saber o porquê?
— Henry Cavill é gostoso demais!
Rimos.
Peguei uma colher e começamos a comer o sorvete enquanto a série
começava.
— Ei — Dylan me chamou atenção em algum momento em que
começamos a assistir o primeiro episódio — Você está bem, com tudo que
está acontecendo e com tudo o que eu disse hoje?
Não.
— Sim! Não se preocupe Dylan, você não me afastara tão facilmente.
— E eu nem quero isso.
Seu braço me puxou para mais perto e eu encostei minha cabeça em seu
ombro enquanto comíamos o sorvete e assistíamos a série.
Paciência Ravenna, dê um tempo ao seu coração e ao dele, você ainda
terá esse homem, com todos as suas cicatrizes para você curá-las cada uma
de vez.
No dia seguinte eu acordei por cima de Dylan. Havíamos pegado no
sono enquanto assistíamos “The Witcher” no sofá, era uma posição
totalmente desconfortável para ele. Eu em cima enquanto seu corpo estava
por baixo sem se mexer. Me mexi e levantei meu rosto, o encontrei de olhos
abertos me observando.
— Bom dia! — Ele cumprimentou.
— Bom dia! Você deve estar péssimo — falei enquanto me mexia para
sair de cima dele, mas o que senti ao me mover fez com que eu parasse
imediatamente — Você está excitado?
Ele arregalou os olhos para depois rir.
— Isso se chama ereção matinal Ravenna, não sei como ainda me
surpreendo com sua forma direta de falar as coisas.
— Sei... ereção matinal. Eu posso até tentar fingir que acredito nisso e
que não tem nada a ver por eu ter dormido com meu corpo em cima de você.
Ele voltou a rir.
— Admiro sua confiança, muitas mulheres matariam para ter metade
dela.
— Uma mulher tem que jogar com as armas que tem — sorri — E sabe
de uma coisa? É uma pena que você tenha preferido só a minha amizade
porque poderíamos acalmar isso aqui de outra forma.
Disse me referindo à sua ereção “matinal”. Até podia ser, mas eu não
perderia a oportunidade de provocar o cowboy.
— Ravenna...
Ele não terminou de falar, os olhos vidrados nos meus, havia o brilho
costumeiro deles e se tem uma coisa que percebi nos últimos dias é que eles
só ficavam assim quando desejava algo, quando me desejava.
Sorri, amando esse novo tipo de provocação. Era legal deixá-lo sem
palavras, apenas com os seus pensamentos que provavelmente o levavam ao
que faríamos se estivéssemos juntos.
— Isso é jogo sujo — ele finalmente disse, respirando fundo.
— Eu nunca disse que jogaria limpo.
Beijei seu rosto, bem próximo a sua boca, antes de sair de cima dele.
Ele realmente estava com uma grande ereção, aquilo não podia ser só
vontade de urinar.
Um pecado em forma de homem.
— Vou fazer uma ligação enquanto você se arruma — pisquei.
Peguei meu telefone em cima da mesa de centro e nem esperei sua
resposta, caminhei até a saída de sua casa.
Nina dormia tranquilamente ao lado de Billy quando sai para ligar para
os meus pais.
Digitei o número de minha mãe e esperei, no terceiro toque ela atendeu.
— Filha? Ai meu Deus! Filha! — Ela exclamou animada no telefone
— Anthony, é a Ravenna.
— Sou eu mãe — ri — O sinal finalmente voltou, como vocês estão?
— Estamos com muitas saudades. Eu vou colocar no viva- voz para seu
pai falar também.
— Oi filha! Como você está? — A voz do meu pai soou pelo alto
falante do celular.
— Estou melhor.
— Recebemos sua carta e estávamos preste a respondê-la, é tão bom
ouvir a sua voz e saber que está bem — mamãe parecia conter a emoção.
— Como estão as coisas aí querida? Eu li sobre um cowboy muito
bonito, o lado ciumento do seu pai aqui está quase vencendo a batalha contra
o lado sensato.
— Acho que nem tem motivos para o seu lado ciumento se preocupar,
ele não quer nada comigo — caminhei até estar mais afastada de sua casa e
próximo a um pequeno estábulo.
— Como assim ele não quer nada com a minha filha linda? — Foi
minha mãe que perguntou.
Entrei no estábulo. Olaf estava deitado e quando me viu se levantou, se
aproximando logo em seguida.
— Ele já foi machucado antes e parece não querer isso de novo.
— Ah, um coração partido...lembro até hoje como foi difícil convencer
a sua mãe de ficar comigo — papai comentou.
Quando eu e Archer tínhamos doze anos de idade nosso pai nos contou
como convenceu mamãe a ficar com ele, o quão difícil foi e que quase
desistiu, mas a amava desde o primeiro dia para deixá-la ir tão facilmente.
Era uma história bonitinha, eles haviam se conhecido na faculdade, ela
era a típica garota “foco nos estudos” e ele o tipo garoto “quero diversão”,
mais opostos impossíveis, mais clichê impossível também.
— Tenho certeza de que esse cowboy só precisa de um tempo até ver a
garota incrível que está perdendo, e como é o nome do nosso homem? —
Minha mãe perguntou.
— Nosso homem? — A voz ciumenta de meu pai poderia ser notada
por qualquer um.
— É apenas modo de falar, querido.
Eu ri.
— O nome dele é Dylan.
— Dylan... nome bonito — ela avalia.
— E não é só o nome, ele é todo lindo — suspirei, deixando um pouco
a paixão falar mais alto.
— Mulheres... — ouvi o sussurro de papai.
— E o treinamento de hipismo, filha? Como está? Quando li que se
inscreveu, fiquei muito animada.
— Está indo muito bem — preferi ocultar a parte que estava treinando
com uma égua selvagem — Tempestade é o nome da égua, ela é incrível e
Dylan está me ajudando bastante.
— Eu e sua mãe iremos passar uns dias aí com você no próximo mês,
assim poderá me mostrar suas habilidades no esporte — papai disse.
Fiquei feliz que eles viriam, mais do que imaginava que ficaria.
— É bom que vocês venham!
— Você parece bem melhor, só pelo seu tom de voz — mamãe começa
— Fico aliviada por isso e por ter nos perdoado.
— Vocês salvaram a minha vida, agora eu vejo isso — alisei a cabeça
de Olaf, que insistia por um carinho — Sempre vou ser grata por terem me
obrigado a vir para Nightfall, é doloroso? Sim. Principalmente ontem, quando
fez cinco meses que ele faleceu, mas estar aqui, no lugar que sempre amei,
vem me fazendo descobrir quem eu realmente sou.
Ouvi um fungo do outro lado da linha, com certeza é da minha mãe.
— Eu amo você, Ravenna e faríamos de novo — meu pai disse.
— Eu também amo vocês.
O restante da nossa conversa foi mais sobre o cotidiano, não contei
sobre a minha recaída, e provavelmente nunca contaria, era algo que eu
queria abandonar. Meus pais tiveram que desligar, pois teriam que trabalhar
em pleno domingo e eu voltei para casa de Dylan, depois de soltar Olaf para
pastar.
— Você ficou quase meia hora no telefone, achei até que havia voltado
para Nightfall — ele estava na cozinha, virado de costas para mim e de frente
para a pia, preparando café com aquele coque no cabelo que me fazia o
admirar ainda mais.
Lindo é pouco para defini-lo.
— Meus pais queriam saber tudo que eu estava fazendo em Nightfall.
Você ainda tem aquela escova de dente que eu usei no outro dia?
Ele assentiu e se virou.
— Está do lado da minha.
— Vou me lavar e já venho tomar café com você.
— Que bom! Porque eu pensei em treinarmos com Tempestade hoje.
— Ótimo!
Ele sorriu.
Fui até o banheiro e como ele disse, a minha escova de dente estava ali,
ao lado da sua. Tentei não pensar como aquilo era muito casalzinho, mas foi
impossível. Eu já tinha uma escova de dente em sua casa e detalhe: ao lado
da sua.
Fiz minha higiene matinal para depois ir encontrar Dylan na cozinha.
Ele terminava de colocar o café na mesa quando me sentei.
— Gosta de panquecas? — Perguntou enquanto se sentava na minha
frente.
— Eu amo!
— Fiz algumas — trouxe o prato com algumas panquecas para a mesa
— Espero que goste.
Ao lado das panquecas estava uma tigela de geleia, minha boca salivou,
nem parecia que havia comido um pote de sorvete praticamente inteiro ontem
à noite.
Me servi com uma panqueca e um copo de suco, dispensaria o café
preto naquela manhã.
Dei a primeira mordida no pedaço e soltei um gemido de satisfação.
— Me diz um defeito seu, Dylan Blossom, porque acabo de descobrir
que você faz as melhores panquecas que já comi na vida.
Ele riu.
— Sou muito arrogante quando quero.
Assenti, rindo.
— Verdade, eu já havia até esquecido disso.
Levei um pouco de geleia para minha panqueca, mas um pouco
escorreu no meu dedo, o levei até a boca e o limpei.
Eu amo doce.
Quando meus olhos voltaram para Dylan, ele estava vidrado em mim,
especificamente na minha boca. No momento que percebeu que minha
atenção estava nele, desviou o olhar e suspirou.
— É muito difícil ser seu amigo, Ravenna — ele se queixou.
Eu sorri, adorando saber disso para em seguida dar de ombros.
— Se eu não me engano foi uma escolha sua.
Ele balançou a cabeça e riu.
— Sim e não mudei de ideia se quer saber.
— É uma pena.
Acabamos rindo juntos.
Continuamos a comer e conversar, nenhum ousou tocar no assunto
pesado de ontem e eu até preferia assim. Não queria pensar muito no que ele
havia definido para nós dois.
Quando terminamos o café, ajudei Dylan com a louça para depois
irmos para Nightfall. Fomos caminhando, junto com Nina e Billy ao nosso
lado.
Fomos direto para o estábulo buscar Tempestade, eu já havia mandado
uma mensagem para Alison explicando por cima o que havia acontecido, ela
disse que havia chegado cedo e inventou uma desculpa para Amélia e meus
tios, que eu estava fazendo uma caminhada.
— Bom dia, Tempestade! — Cumprimentei a égua preta quando nos
aproximamos da sua baia — Olha quem resolveu nos ajudar a treinar hoje.
Ela relinchou, não parecia nem um pouco impaciente, apenas mantinha
seu olhar desconfiado e tenebroso em direção a Dylan.
— Ela parece estar evoluindo — ele disse, estava longe da baia para
dar pelo menos um pouco de confiança a Tempestade.
— Somos boas juntas — sorri para a égua — O que acha de sairmos
daqui um pouco?
Ela relinchou novamente, os olhos encontraram os meus e seu focinho
se aproximou de minha mão que estava segurando a porta da baia.
Destranquei a porta e peguei sua rédea, primeiro estendi o equipamento
para ela reconhecer, depois de cheirar ela me deixou arrumá-la.
A puxei delicadamente para fora do estábulo e fomos para a pista de
treinamento.
— Pensei em algo diferente hoje — Dylan falou quando chegamos
próximos à pista — Percebi como ela é carinhosa com você e nem ao menos
tenta se esquivar do seu toque, acho que está na hora de montá-la.
Sorri.
— Você está falando sério?
Ele assentiu.
— Mas primeiro vamos ver como ela vai se comportar hoje.
— Você ouviu isso Tempestade? Vamos correr!
— Não, sem corridas Ravenna.
Revirei meus olhos.
— Está bem, mas pelo menos vamos fazer algo mais legal do que andar
em círculos por esse lugar.
Me afastei de Dylan, levando Tempestade para o centro da pista
enquanto ele pegava o restante dos equipamentos.
Quando se aproximou de mim, mostrou a sela para a égua que o
espiava de canto de olho.
Como em todas as outras vezes que Dylan se aproximava da
Tempestade, ela ficou nervosa. Eu acho estranho o fato de apenas comigo ela
agir como uma égua normal.
Ele me entregou a sela, eu a peguei e larguei no chão, Dylan ficou sem
entender quando peguei a sua mão e guiei até Tempestade.
— O que está fazendo?
— Quero tentar algo — falei — Tempestade, esse é Dylan, o homem
que salvou a sua vida naquele dia horrível e eu sei que você ainda não o
mordeu e nem foi tão agressiva com ele porque sabe disso. Agora, como uma
boa garota que eu também sei que é, poderia dar uma chance para ele ser seu
amigo?
Dylan me olhava, enquanto eu falava com a égua que prestava atenção
em cada palavra que eu dizia.
— Vou aproximar nossas mãos de você, tudo bem? E se você ficar
brava não nos morda, apenas se afaste.
— Ravenna...
— Ela me entende Dylan, eu tenho certeza — o interrompi —
Tempestade, ele nunca a machucaria e algo me diz que aí no fundo do seu
coração você sabe disso porque você só está aqui por causa dele.
Ela soprou e relinchou, levei aquela resposta como um som positivo e
aproximei nossas mãos do pescoço da Tempestade.
Ela não recuou quanto a tocamos, minha mão em cima da de Dylan,
mas observava tudo, cada movimento.
— Isso mesmo — sorri — Você está indo muito bem.
— Não acredito — Dylan murmurou — Eu nunca... a acariciei desse
jeito, ela nunca permitiu.
— Mas ela também nunca o machucou porque sabe que você a salvou
— o olhei.
Ele sorriu e continuou a acariciá-la com minhas mãos por cima das
suas. Isso é tão íntimo, isso é tão nosso.
Quando seus olhos encontraram os meus estavam cheios de emoções
indecifráveis por mim.
— Você é incrível, Ravenna, e tem um dom — ele disse.
Fiquei um pouco envergonhada e nem sabia ao certo o motivo, já que
não costumava ficar vermelha com facilidade, mas Dylan conseguia fazer até
isso comigo.
— Eu acho que sim.
Foi Tempestade que se afastou primeiro e se virou para mim.
— Acho que ela já alcançou o seu limite de contatos hoje — falei —
Vamos treinar mocinha?
Ela abaixo a cabeça e relinchou, e mais uma vez fiquei impressionada
com a sua inteligência e como parecia me entender tão bem.
Arrumei a sela com a ajuda de Dylan. Quando ela estava pronta, ele se
afastou e eu comecei a fazer as mesmas coisas que fazia nos últimos dias, a
guiando em círculos para depois a levar até os obstáculos.
Alguns minutos depois paramos de andar porque eu finalmente iria
montar.
— Está nervosa? — Dylan se aproximou para me ajudar.
— Estou ansiosa — ri — Desde a primeira vez que a vi quero isso.
— Ela está bem calma hoje então vamos aproveitar.
Assenti.
Alisei seu pescoço antes de colocar meu pé no estribo e montá-la.
Quando fiquei em cima dela a senti ficar tensa, mas ela não demonstrou
nenhuma negação quanto ao movimento.
— Eu vou guiar, tudo bem? — Dylan perguntou.
Concordei.
Ele pegou as rédeas e começamos a andar.
Meu Deus! Eu estou em cima da tempestade, andando junto com ela.
Depois do contato com Dylan mais cedo, ela não parecia tão
desconfiada e nervosa por tê-lo ao seu lado nos guiando.
Eu estava muito impressionada e quando olhei para Dylan, vi que ele
parecia do mesmo jeito.
— Você não só conquistou o coração dessa égua como a domou por
completo. É inacreditável.
— Eu a amo — falei, porque essa é a verdade — Acho que o que senti
por ela desde o início foi amor.
— E ela também a ama.
Sorri. A sensação de montar pela primeira vez em Tempestade ficaria
para sempre guardada em minha memória, mesmo que Dylan estivesse nos
guiando, é algo nosso, que eu estava muito orgulhosa de ter conseguido
chegar até aqui.
Mal podia esperar pelo dia que correríamos por todo o rancho
Nightfall.
E quando finalmente começaríamos a treinar de verdade para
ganharmos juntas as regionais.
No dia seguinte eu encontrei Arthur e Alisson conversando na frente
dos estábulos.
— Bom dia prima! Conhece Arthur? — Alisson sorriu.
— Bom dia! Sim, nos conhecemos semana passada.
— Como vai Ravenna? Vim assinar uns papéis que faltavam.
— Bem — respondi.
— Mal posso esperar para ver Sibério experiente no hipismo.
— Começaremos a treinar com ele hoje — falei.
— O que faz no seu tempo livre Ravenna?
Estranhei a sua pergunta, mas dei de ombros e respondi:
— Fico entretida com outras atividades no rancho.
— Alisson estava me dizendo que sexta ela está de folga, o que acha de
irmos todos juntos para a festa de Franklin?
Franzi as sobrancelhas.
— Festa?
— Todo ano o prefeito organiza uma festa no centro da cidade para
comemorar o aniversário do município — Alisson explicou.
— Não sei...
— Vamos, vai ser divertido, já aproveitamos e nos conhecemos melhor
— ele disse.
“Está claro que ele estava flertando com você”. Lembrei das palavras
de Dylan há alguns dias, quando enciumou com Arthur.
— Eu vou pensar.
Não sei se queria ir nessa festa. Mesmo que fosse o prefeito que
organizava, poderia ter bebidas e não queria ficar perto de tentações, eu não
sentia vontade, mas queria evitar.
Ele puxou do bolso de sua camiseta um papel e me estendeu.
— Esse é meu número, me envie uma mensagem dizendo a sua
resposta e venho buscar vocês — sorriu.
Olhei para Alisson que não disfarçava seu olhar malicioso sobre nós
dois, quase revirei os meus.
— Farei isso.
Senti a presença de Dylan antes mesmo dele aparecer ao meu lado com
sua presença forte e intimidadora, pelo menos a última parte parecia surtir
muito efeito em Arthur.
— Bom dia, Dylan! — Arthur cumprimentou por educação —
Infelizmente eu já estou indo, mas pense bem em minha resposta, Raven.
E saiu.
— Eu.... vou acompanhar ele — Alisson fugiu no mesmo momento me
deixando a sós com olhos raivosos de Dylan sobre mim.
— Que foi? — Perguntei, guardando o papel no bolso da minha calça.
— Resposta? Raven? Segundo dia e ele já está com toda essa
intimidade para cima de você?
Revirei meus olhos.
— Ele convidou eu e Alisson para a festa da cidade, por isso se referia
a uma resposta. E sobre o apelido, a maioria das pessoas me chamam por ele
— entrei no estábulo para pegar Sibério.
Ouvi os passos de Dylan atrás de mim e em alto e bom som seu bufo
raivoso, como um cavalo com raiva.
— E você vai ir nessa festa?
— Tenho até sexta para pensar.
— Você não vai — ele simplesmente soltou.
— Oi? Desde quando você manda em mim? — Me virei.
— Não estou mandando, estou sendo um amigo dizendo que você não
vai — tentou se explicar — Lá terá bebidas e não queremos que tenha outra
recaída.
— Não sou alcoólatra.
— Eu sei que não, mas não deveria arriscar.
— Tem certeza de que é só por causa das bebidas? — Me aproximei
dele.
— Do que mais seria?
— Você não suporta Arthur e ele nunca fez nada para você, além de
flertar comigo na sua frente. Você não quer que eu vá com ele, admita,
Dylan.
Ele bufou.
— Não seja patética.
— Eu estou sendo patética? Não sou eu que falo que só quero amizade
e fico com ciúmes como se estivesse algum direito disso.
Ele se virou e foi até Sibério, pegou sua rédea e começou a arrumar o
cavalo para irmos para a pista de treinamento.
— Se você quiser ir, vá — disse de costas para mim.
Revirei meus olhos.
— Quero que vá com a gente — falei.
— Odeio festas, mas você pode ir e aproveitar com o seu novo paquera.
Ele realmente estava com ciúmes e não fazia questão de fingir.
— Ele não é meu novo paquera — disse por fim — Ele pode até estar
interessado em mim, mas eu não estou, desde que botei meus pés nesse
rancho só uma pessoa ocupa meus pensamentos.
Percebi quando ficou tenso pelas suas costas que ficaram rígidas, mas
ele não se virou e nem disse o que eu queria ouvir, como: “você também não
sai dos meus pensamentos”, apenas segurou forte a rédea de Sibério e disse:
— Vamos treinar.
E saiu do estábulo com o cavalo, me deixando para atrás.
Bufei, frustrada com tudo isso.
Mas também decidida.
Eu iria nessa festa e Dylan iria junto comigo.
A semana passou voando. E quando digo voando quero dizer que o dia
da festa chegou mais rápido que o esperado.
Dylan continuava do mesmo jeito, levando nossa relação para o lado
mais amigável possível, com um humor questionável em alguns momentos
dos dias que passamos juntos, isso desde que descobriu que Arthur me
convidou para a festa.
Eu ainda não havia feito o convite para ele ir conosco, faria hoje e
torcia para ele aceitar.
— Prima, quase não te vejo direito nos últimos dias — Amélia
apareceu na minha frente impedindo a minha saída.
— Verdade? Engraçado que eu nem senti sua falta.
Ela me fuzilou com os olhos, parecendo uma gata raivosa.
— Você parece bem melhor — ela sorriu de forma falsa como sempre
fazia quando se dirigia a mim — Não acha que já está na hora de ir embora?
— Está me expulsando? — Não acreditei nas palavras dela.
— Eu? Não, claro que não. Apenas perguntando, já que você tem uma
vida em Nova Iorque.
— Não sei se você está lembrada, mas estou inscrita na competição de
hipismo, você terá que me aguentar por mais alguns meses.
A careta que ela fez foi engraçada, eu não entendia o motivo de Amélia
me odiar tanto e isso vinha desde quando éramos pequenas.
— Por que me odeia tanto Amélia? — Finalmente perguntei.
— Eu não odeio você — respondeu sem ao menos pensar.
— Conta outra prima, você vive distribuindo esse seu ódio gratuito
para mim há muito tempo.
— Não gosto de você, isso não significa que a odeio — disse — Nunca
fui fã desse seu jeito mimado e de patricinha.
— Como é que é?
— Não finja que estou falando algo que não entende. Você sempre foi
mimada, tanto por Archer como pelo seus pais, não é surpreendente ele ter
morrido por...
Ela se calou, parecendo perceber o que falaria. Amélia e Alisson
tinham isso em comum, falar pelos cotovelos, a diferença era que Ali era uma
boa pessoa, enquanto essa na minha frente.... eu nem conseguia descrever em
palavras.
— Diga Amélia, diga o que você quer dizer desde que soube o que
aconteceu naquela noite — me aproximei dela com as lágrimas nos olhos que
já não conseguia esconder.
— Eu....
— Atrapalho? — A voz de Dylan próxima a nós fez com que
desviássemos o olhar.
Estava com a testa levemente franzida, confuso. Tentei ser rápida e
despistar as lágrimas dos meus olhos, mas ele já havia percebido.
— Está chorando?
— Um cisco — dei a primeira desculpa esfarrapada, sabendo que ele
não acreditaria nisso — Já ia encontrar você nos estábulos.
— Podemos ir?
Assenti e sem dizer uma palavra a mais para Amélia, caminhei com
Dylan até onde os cavalos ficavam.
Já era de tarde, eu treinaria com Coronel nos saltos enquanto Dylan
ficaria com Penélope no adestramento.
— Por que estava chorando? — Ele perguntou quando entramos no
estábulo — E não venha me dizer que é por causa de um cisco.
Suspirei.
— Amélia não gosta de mim e não faz questão de esconder, vem de
muito tempo, desde quando éramos crianças. Sinto que minha presença aqui
não é aceita por ela e está fazendo de tudo para que eu saia, inclusive me
culpar por Archer.
— O que? — ele perguntou com os olhos sobre mim, incrédulos.
— Ela não completou, mas para entender não precisa muita
inteligência, foi bem clara quando disse que meu comportamento mimado
levou Archer a morte — senti o caroço na garganta e engoli a vontade de
chorar — Não é uma mentira, afinal.
— Raven, você não tem culpa disso e já conversamos tantas vezes.
Amélia não sabe o que está falando.
Tentei prestar atenção nas suas palavras depois dele ter deixado escapar
meu apelido, mas não consegui.
— Você me chamou de Raven.
Ele sorriu e deu de ombros.
— É seu apelido, não é?
Assenti.
— Bom, Raven, o que acha de treinarmos mais um pouco hoje? Depois
seguiremos com o seu treino de Tempestade — ele disse, frisando meu
apelido.
Ele me chamando assim era ainda mais fofo e especial do que todo o
resto.
— Sobre isso... teremos que pular o treinamento da Tempestade hoje
— falei meio receosa em tocar nesse assunto.
Ele franziu a testa.
— Por quê?
— Hoje é sexta feira, de noite será a festa.
Vi seu rosto se transformar em uma careta de desgosto.
— Você vai? Com ele?
— Na verdade com ele e Alisson, e pensei que você poderia nos
acompanhar também.
Ele negou, pegando as rédeas de Penélope.
— Não estou no clima para festas.
— Eu realmente queria que você fosse, por que não faz esse esforço
por mim? — Perguntei.
— Já disse que não estou no clima, mas vá e se divirta com seu novo
amigo.
Ele foi o primeiro a sair do estabulo com Penélope, me deixando
sozinha com Coronel.
Suspirei, de repente ir nessa festa não me pareceu mais agradável.
Eu realmente achei que conseguiria o convencer a ir comigo.
Só queria me divertir com ele, dançar com seu corpo colado ao meu e
comer um monte de porcarias, quem sabe até rolasse mais um beijo, não
poderia deixar de sonhar.
Pensei em mandar uma mensagem para Arthur dizendo que não iria
mais e que aproveitasse a festa.
Mas também pensei melhor e decidi que não ficaria numa sexta-feira à
noite em casa sonhando com Dylan, quando ele havia sido bem claro que
queria ser só meu amigo.
Minha tia e meu tio também iriam, segundo eles, a festa era mais uma
confraternização com muitas músicas, apresentações ao vivo e comida.
As bebidas alcoólicas eram só cerveja e você teria que pagar por elas.
Felizmente nem me importei com isso e até suspirei aliviada, eu odeio
cerveja.
— Tudo bem. Se você não vai, eu vou e aproveito por você — falei
quando o encontrei fora do estábulo.
Ele não disse nada, apenas seguiu com Penélope para a pista de
treinamento.
Revirei meus olhos, pronta para aguentar um Dylan bipolar pelo
restante da tarde.

— Como estou? — Alisson perguntou, dando uma voltinha em


seguida.
Vestia uma saia jeans curta, camiseta com uma estampa xadrez
amarrada na cintura, deixando um pouco da barriga a mostra, ela está um
arraso como sempre. Para completar o visual calçava uma botinha de cano
curto, iguais as minhas.
— Você está linda — respondi.
Me olhei mais uma vez no espelho, vendo se não havia esquecido nada.
Como maquiagem optei por uma sombra bem clara e um delineador,
combinando com os cílios bem marcados pelo rímel. Já a roupa, escolhi um
short jeans curto, meio rasgado nas coxas com uma camiseta de número
maior que o que geralmente uso, era proposital, ela ficava larga no meu corpo
e dava um certo charme.
— E você está perfeita como sempre — Ali disse ao meu lado,
colocando o batom — Uma pena que Dylan não vai.
Suspirei.
— Ele está enciumado e nem faz questão de mudar isso.
Ontem à noite eu havia contado sobre o beijo para minha prima, que
surtou e quase me bateu por não ter contado antes, ocultei a parte de que
sabia do passado de Dylan, deixando aquilo apenas entre nós dois.
— Isso que eu não entendo, vocês estão tão apaixonados um pelo o
outro e ele diz que só pode ter amizade com você, quando não disfarça nem o
próprio ciúme que sente.
— É complicado Ali...
— Muito complicado, mas é de deixar qualquer um louco. Só queria
que vocês acabassem logo com essa tensão sexual e me dessem muitos
sobrinhos.
Eu ri do seu desespero.
— Foi você que disse para eu ser cautelosa — a lembrei enquanto
olhava o meu estojo de maquiagem em busca de um batom.
— E você o beijou no mesmo dia, deixando bem claro que mandou
essa palavrinha se danar — sorriu.
Assenti.
— Eu sou uma humana, acha que conseguiria resistir com seu corpo
praticamente nu bem próximo do meu?
Ela suspirou.
— Com certeza não.
Rimos em seguida.
— Use o vermelho — ela indicou com a cabeça o batom — Ravenna
mais batom vermelho é para acabar com qualquer um.
Peguei o batom e me olhei no espelho para passar.
— É uma pena que quem eu quero me acabar não estará lá — falei
depois de passar.
— Haverá outras oportunidades — pegou sua bolsa em cima da minha
cama — Pronta?
Assenti.
Peguei minha bolsa e antes de fechá-la, chequei se o celular estava lá.
— Arthur já está aqui — Ali disse quando saímos de casa.
Caminhamos até o carro do filho do prefeito e entramos no mesmo, fiz
questão de ir atrás e deixar minha prima na frente.
— Oi meninas, vocês estão lindas — ele elogiou antes de dar partida no
carro.
— Obrigada — agradeci o elogio.
— Fico feliz que aceitaram o convite, geralmente a festa só começa
quando os mais velhos vão embora, mas é legal a confraternização inicial.
Bom, quando a festa começasse eu iria embora. Se apenas os mais
novos ficavam, isso quer dizer que transformariam a festa em festa mesmo,
com direito a bebida e tudo mais.
— Temos que voltar cedo — Alisson disse parecendo adivinhar meus
pensamentos — Voltaremos com meus pais, não precisa se preocupar com a
gente.
Arthur não disfarçou sua decepção e agora eu estava vendo o que
Dylan havia me dito, ele realmente estava interessado em mim.
Chegamos no centro da cidade depois de uns dez minutos se passarem,
Arthur estacionou o carro em uma rua que havia sido fechada especialmente
para se tornar estacionamento na noite de hoje.
Descemos do automóvel e fomos em direção a movimentação no centro
da cidade, bem onde ficava a praça aberta.
A música tocava alto, era uma mistura country e já havia casais
dançando em frente ao DJ.
Mais à frente da praça e um pouco afastado da mesa do DJ, estava o
palco, onde provavelmente ocorreria o discurso do prefeito e as apresentações
de covers de cantores.
A decoração estava muito bonita, como estávamos nos aproximando do
4 de julho, as pessoas que decoraram resolveram deixar as cores dos balões
da cor da bandeira dos Estados Unidos, à mesma estava pendurada em um
suporte, junto com a bandeira do Tennessee.
— Bonito, né? — Arthur afirmou ao meu lado.
— Sim, seu pai que escolheu?
Ele negou.
— Minha mãe que chefia as decorações dos eventos que eles
organizam.
— Muita música, muita comida, Raven a gente não sai daqui até estar
com dor nos pés de tanto dançar e de barriga cheia de tanto comer — Alisson
parou ao meu lado, com uma animação.
Ri.
— Felizmente não comi nada antes de sair de casa.
Um homem alto e com cabelos um pouco grisalhos chamou Arthur e
antes de se afastar, ele me olhou.
— Pode reservar uma dança para mim? Irei ver o que meu pai quer,
mas depois estarei livre.
Assenti, um pouco constrangida em dizer não. Ele sorriu e depois se
afastou, indo ver o que seu pai queria.
Olhei para Alisson, que me encarava com aquele olhar malicioso sobre
mim.
— O que foi?
— O que foi? Você simplesmente está conquistando o coração de todo
mundo nessa cidade — ela exagerou, como sempre.
— Você é uma exagerada — esclareci meus pensamentos — Seria rude
se eu dissesse não.
— Na verdade não, se você não quer, não precisa dançar com ele —
disse — Agora vamos beliscar alguns cupcakes, eles estão simplesmente me
chamando.
Pegou minha mão e me puxou até as mesas dos docinhos. Minha prima
é uma formiga quando se trata de doces, igualzinho a mim.
Pegamos um bolinho e nos afastamos da mesa para comermos.
Meus olhos acharam Amélia do outro lado, estava com meu tio e
conversavam com um homem de terno escuro. Pelas as roupas que vestia e
uma mulher elegante ao seu lado, me pareciam importantes.
— Quem é ele? — Perguntei a Alisson.
— Aquele é Marcel Blake, um fazendeiro daqui de Franklin, sua
fazenda é o local que mais procuram quando querem comprar um cavalo —
ela terminou de comer seu cupcake — Acho que meu pai e Amélia irão fazer
algo junto com ele, não sei bem o que é, sabe que não me envolvo nos
assuntos do rancho.
Assenti.
Alisson sempre foi meio desligada quando o assunto era Nightfall,
aquele não era o seu ramo, diferente da irmã.
— Aquele lá é o Dylan? — A pergunta me fez virar rapidamente.
Dylan estava caminhando e buscando com olhar algo, alguém, e
quando seus olhos encontraram os meus, ele seguiu em minha direção.
Vestia calças jeans e uma camiseta azul escura, quando se aproximou
de nós, cumprimentou:
— Oi.
— Oi, pensei que você não viria — falei.
— Esse era o plano, mas não consegui ficar em casa sabendo que você
estava aqui.
O que isso significava? Por que ele falava essas coisas e me confundia
desse jeito? Antes que eu perguntasse qualquer coisa, pouco me importando
com a presença de Alisson aqui, fui interrompida pela presença de um
homem.
Ele sorria para nós quando se aproximou, pele branca, olhos
esverdeados e cabelo castanhos claros, mas o que realmente me chamou a
atenção foi sua perna direita ser de ferro, não fiquei muito tempo olhando,
seria falta de educação.
— Meu melhor amigo — abraçou de lado Dylan, com uma intimidade
que me surpreendeu — Não vai me apresentar suas amigas?
Dylan revirou os olhos e sem nenhuma delicadeza retirou o braço do
homem de seu ombro.
— Matthew essas são Ravenna Blackwood e você já deve conhecer de
longe Alisson Wess — Dylan parecia apresentar sem nenhuma vontade —
Meninas, esse é Matthew Brown e ele não é meu amigo.
Matthew Brown, o ex de Briana e rival de Dylan na época da
faculdade, o mesmo homem que o avisou sobre a cobra que era a mulher que
destruiria o coração do homem que estou apaixonada.
— É um prazer finalmente conhecer você, Ravenna — Matthew sorriu,
como se já soubesse de mim e eu estranhei — E você também, Wess.
Alisson sorriu.
— Finalmente me conhecer? — Perguntei, não aguentando a minha
curiosidade.
Dylan lançou um olhar sério para Matthew, que pareceu se tocar o que
havia dito, parecia um olhar de aviso, algo como: não fale mais uma palavra.
— Cidade pequena, sabe como é — parecia uma desculpa inventada,
mas fingi acreditar — Eu sou dono de um bar, ouvi sobre a volta da sobrinha
dos Wess.
— O que você está fazendo aqui, Brown? — Dylan perguntou.
— É uma festa amigo, queria que eu ficasse em casa assistindo Netflix?
Estou aqui para aproveitar — sorriu.
Matthew parecia ser um cara legal, era engraçado como ele chamava
Dylan de amigo, o cowboy fazia uma careta de quem não estava gostando
nada daquilo.
— Já disse para você que...
— Me conte sobre você Ravenna, o que gosta de fazer? — Matthew
interrompeu Dylan.
— Estou trabalhando com Dylan nos treinamentos para as competições,
estou gostando muito, inclusive me inscrevi para as regionais.
— Isso é novo — sorriu — Uma mulher determinada, agora vejo por
que conseguiu deixar meu homem aqui, caidinho.
— Matthew, você não tem ninguém para perturbar por aí? — Dylan o
fuzilou com olhar.
— Na verdade — se virou para Alisson, que observava tudo com
divertimento, querendo rir tanto quanto eu — Me aproximei para conhecê-las
e conseguir uma dança com você, o que me diz?
Estendeu sua mão, Alisson ficou surpresa e em seguida ruborizou,
envergonhada, mas assentiu e foram até o centro da festa, onde casais
dançavam uma música lenta.
— Desculpe por isso, ele não conhece a palavra limite — Dylan disse.
— Eu gostei dele — admiti — E ele parece gostar de você também.
— Ele é insistente quando se trata em se tornar meu amigo — sorriu —
É uma boa pessoa, afinal. Foi o único que me disse a verdade desde o início,
eu só não acreditei.
Assenti.
— Por que...
— Raven — Arthur apareceu na minha frente, interrompendo a
pergunta que faria para Dylan — O que acha de me pagar aquela dança
agora?
Os olhos de Dylan passaram de amistosos a decepcionado no mesmo
momento. Fiquei tentada a negar o convite, mas eu esperei alguns segundos,
louca para ouvir uma resposta dele que me fizesse recusar, mas ela não veio,
o que veio foi bem ao contrário do que eu queria.
— Fiquem à vontade — e se afastou em direção ao lado oposto.
Suspirei, e aceitei a mão de Arthur que me guiou até a pista de dança.
Felizmente, ou não, a música era lenta. Arthur colocou as mãos na
minha cintura e eu coloquei as minhas em volta do seu pescoço. Ele é um
homem bonito, confesso, mas não me atraia da mesma forma que o cowboy a
pouca distância de mim fazia.
— Dylan é um cara estranho — ele comentou.
— Por que acha isso?
— Não fala muito, é arrogante e olha para você de um jeito estranho,
não tem medo de trabalhar com ele?
Eu quase ri.
— E isso o torna estranho? Respondendo a sua pergunta, não. Não
tenho medo de trabalhar com ele.
— Para mim se torna — sorriu — Mas não vamos falar sobre ele, me
diga sobre você, pretende ficar muito tempo em Nightfall?
— Alguns meses — respondi, enquanto balançávamos ao som da
música.
Ousei olhar para o outro lado e Dylan estava ao lado de Matthew, que
pelo jeito já havia dançando com Alisson, me olhava profundamente e de
uma forma indecifrável para mim.
Eu sei que ele tem medo de se apaixonar novamente, de se entregar em
um relacionamento, de amar, mas não conseguia esconder minha decepção.
Queria que ele estivesse aqui comigo.
Queria que seus braços estivessem segurando minha cintura, enquanto
eu olhava em seus olhos e dançávamos ao som dessa música lenta e
romântica.
Foi por isso que decidi me afastar de Arthur, que me olhou sem saber o
que havia acontecido.
— Desculpa, preciso urgentemente ir ao banheiro — inventei a
primeira desculpa que surgiu em minha cabeça.
Me afastei dele e caminhei para longe daquela multidão.
Fui até o estacionamento que estava vazio, esperaria meus tios na
caminhonete de minha tia. Dificilmente acharia um táxi nessa cidade,
principalmente em dia de festa.
Ouvi passos se aproximando e torci para não ser Arthur, ou então teria
que ser grossa ao dispensá-lo. Mas quem apareceu na minha frente foi Dylan.
— Oi — ele se encostou no carro da minha tia ao meu lado.
— Oi.
— Por que fugiu do mauricinho? — Perguntou.
— Porque não era com ele que eu queria estar dançando — fui sincera.
O olhei, ele olhava para o céu estrelado pensativo. Tão lindo que
chegava a doer, tão quebrado que chegava a me machucar.
— Não gostei de ver vocês dançando — ele finalmente me olhou — E
não gostei de não gostar, porque amigos não fazem isso.
— Você sabe que não podemos ser só amigos.
Ele se virou completamente para mim e eu fiz o mesmo. A diferença de
altura não era tanta, mas eu ergui meus olhos para encontrar os seus
novamente. Um turbilhão de conflitos passava por eles.
— Eu sei. Estou à semana toda dizendo que esse é o certo, mas não me
sinto nem um pouco feliz com essa decisão.
— O que isso quer dizer? — Finalmente perguntei, não queria ser
precipitada.
— Quer dizer que gosto de você. Quer dizer que me apaixonei por você
e não consigo ficar nem um pouco longe disso tudo que você me faz sentir —
sua mão foi até o meu rosto e acariciou minha bochecha.
Eu me senti nas nuvens, não consegui esconder o sorriso que tomou
todo o meu rosto. Dylan Blossom está apaixonado por mim, se isso é um
sonho, eu não queria acordar.
— Eu também gosto de você e estou completamente apaixonada por
você — fechei meus olhos por alguns segundos apreciando o carinho que ele
fazia em meu rosto, para depois abri-los e continuar: — Nunca quis que
fossemos apenas amigos, mas queria dar um tempo ao seu coração.
— Ele já teve tempo suficiente.
Diante dessas palavras Dylan me beijou e eu me senti a mulher mais
sortuda do mundo.
Foi um beijo diferente do primeiro, esse era calmo e apaixonado.
Sua língua explorava minha boca com delicadeza, como se quisesse
conhecer todos os cantos que haviam passado despercebido na primeira vez.
Minhas mãos foram parar em seus cabelos, eu os segurava enquanto era
beijada e explorada por sua língua na minha boca, suas mãos em minha
cintura me deixando colada ao seu corpo.
Me perguntei se toda vez que ele me beijasse seria assim. Intenso,
apaixonante e perfeito.
Quero tantas coisas com esse homem que só de imaginar com seu
corpo colado ao meu e sua boca na minha, me deixa excitada.
Nossos lábios se desgrudaram com muita dificuldade, abrimos nossos
olhos e eu aproveitei aquele momento para deixar claro:
— Eu disse para você que se me beijasse uma próxima vez não deixaria
que você fugisse.
Ele sorriu, ainda com as mãos em minha cintura e o rosto próximo ao
meu.
— Não vou a lugar algum.
Fui eu que sorri dessa vez, me sentindo totalmente realizada.
— Isso parece um sonho — confessei o que achava desde o início
quando ele se aproximou de mim e se declarou.
— Não é — garantiu.
Voltei a beijá-lo, já com saudades daquele contato que eu sentia que
seria frequente.
Suguei sua língua e explorei sua boca, da mesma forma que ele fez com
a minha há um minuto. Um gemido saiu da minha garganta ao sentir uma de
suas mãos abaixarem até minha nádega direita e a apertar.
— Não consigo me controlar quando estou com você, não depois de ter
sentindo seu gosto — sussurrou as palavras em minha boca, quando as
afastamos minimamente.
— Você não precisa se controlar.
Ele sorriu, pegou a minha mão e disse:
— Vamos para casa, Ravenna.
Dylan me levou até a sua caminhonete, o mesmo modelo da minha tia,
mas muito mais nova do que a lata velha dela.
Entramos no carro, prendi o cinto e ele fez o mesmo, para em seguida
dar a partida no veículo.
Fechei meus olhos apreciando o vento que vinha da janela aberta ao
meu lado, um sorriso brotou no meu rosto. Eu finalmente estava onde eu
queria estar desde que percebi que estava apaixonada por Dylan.
Não sei o que significamos a partir de hoje e confesso que estou louca
para descobrir, mas também estou contente por ele ter aberto o seu coração
para mim.
Eu sabia que aquilo era um grande passo para ele, tanto para o que quer
que nos tornamos como para superar o seu passado traumático.
— No que tanto pensa? — Abri meus olhos ao sentir a mão de Dylan
em minha coxa e fazer uma caricia suave ali.
— Nós — respondi — Não sei o que significamos agora.
Ele sorriu de lado, pegou minha mão e levou aos seus lábios, deixando
um beijo na minha palma.
— Podemos descobrir isso juntos. Eu só sei que não quero perder mais
nenhum tempo sem você.
— Eu também não — sorri.
Nossas mãos ficaram entrelaçadas até chegarmos no seu rancho. Ele
estacionou a caminhonete na frente de sua casa e saímos do carro em seguida.
Quando entramos dentro de casa fomos recepcionados por Billy, que se
animou ao me ver, mas percebi que ficou um pouco decepcionado quando viu
que Nina não estava do meu lado.
— Sinto muito Billy — me agachei e acariciei sua cabeça — Nina
ficou em casa, mas amanhã irei trazer ela aqui para ver você, ok?
Ele latiu e balançou o rabo, parecendo compreender. Me levantei e me
aproximei de Dylan.
— Eles estão muito apegados — disse e entrelaçou seus braços em
minha volta me puxando para perto do seu corpo.
— Eu diria que até apaixonados um pelo outro, como os donos —
circulei minhas mãos em seu pescoço — Mas sem a possibilidade de ter
filhos, já que Nina é castrada.
Ele riu fraco.
— Quer comer alguma coisa?
Neguei.
— Não, mas tem outra coisa que quero muito — sorri antes de beijá-lo.
Dylan retribuiu de forma tão intensa e desesperadora como eu. As mãos
deles descem até o meu quadril e me pegam no colo, entrelaço minhas pernas
na sua cintura.
— Eu realmente estava tentando ser cavalheiro antes de levá-la para o
meu quarto — ele riu após desgrudarmos nossas bocas.
Sorri.
— Você não acha que já foi cavalheiro o suficiente?
Ele balança a cabeça e não responde, volta a me beijar e de olhos
fechados sou guiada até o seu quarto.
Sinto quando entramos no cômodo, ele fecha a porta com o próprio
corpo, ainda com seus lábios sobre os meus, ainda mais exigentes e
excitantes do que antes.
Sua boca desliza dos meus lábios até o meu pescoço, arfo ao senti-lo
chupando e enchendo de beijos o lado esquerdo.
Ele caminha comigo no colo e me deita delicadamente na cama. Sua
respiração está alterada como a minha quando nossos olhos se encontram, a
puro desejo em sua íris.
— A primeira vez que a vi aqui na minha propriedade, a desejei no
mesmo momento — confessou.
— E você foi extremamente ogro comigo — sorri — Que boa prática
de conseguir a garota, em.
Ele riu.
— Tentei lutar tanto contra o que eu estava sentindo — beijou o canto
da minha boca — Mas você é muito provocativa e totalmente irresistível.
Segurei seu rosto e o beijei novamente, senti que seus lábios ainda
seriam o meu maior vício... pelo menos até terminarmos o que faríamos aqui
essa noite.
Ele se afastou para retirar sua camiseta e eu aproveitei para fazer o
mesmo. Vi seu peito nu, para depois escorregar meus olhos para todos
aqueles músculos de dias trabalhados no rancho.
Seus olhos desceram para os meus seios escondidos apenas pelo sutiã.
Dylan se aproximou de mim, com um braço em cada lado, me cercando e
sem desviar o olhar beijou cada parte descoberta dos meus seios.
Suspirei, amando sua delicadeza, a forma que parecia me adorar apenas
com o olhar. Seus beijos subiram até minha boca, mas não me beijou, apenas
passou os lábios pelos meus para depois seguir para o meu pescoço.
Distribuiu beijos e lambidas pelo lado direito que senti surgirem efeitos
entre as minhas pernas, para depois encontrar minha boca novamente e me
beijar com muito mais desejo que todas as outras vezes.
Ele sugou minha língua com uma fome, a mesma que eu sentia com a
falta dele. Suas mãos me ajudaram a levantar um pouco para ele conseguir
desprender o sutiã, assim que meus seios estavam livres da peça, sua boca
desgrudou dos meus lábios, mas não antes de puxá-los com os dentes, de uma
forma tão sensual que me desestabilizou.
— Você é tão linda — ele elogiou ao desviar os olhos para os meus
seios.
— Você também é, muito lindo.
Fechei os olhos ao sentir sua boca no meu seio direito, chupando o
mamilo deliciosamente. Gemo ao sentir tudo o que ele faz aqui em cima me
deixar extremamente molhada, geralmente era difícil eu me excitar tão
facilmente, era necessário mais que um beijo e preliminares nos seios para
me deixarem pronta.
Mas com Dylan tudo é diferente, tudo é mais intenso.
Sua boca parte para o outro seio e faz o mesmo trabalho, seus dentes
raspam pelo meu bico, em uma mordida de leve e o que sinto me faz abrir os
olhos, talvez eu conseguisse atingir o ápice somente assim.
Ergo os quadris automaticamente e sinto seu pau totalmente duro perto
de onde eu quero que ele esteja.
Ele parece entender meu desespero porque sua boca desce com beijos
por toda a minha barriga até ter que parar para abrir o meu short.
Dylan se ajoelha na cama e com uma facilidade o retira de mim
rapidamente, junto com a calcinha.
Não sinto vergonha quando vejo seu olhar na minha intimidade, a
forma que me olha se torna impossível se sentir dessa forma.
Seus olhos azuis brilhantes encontram os meus e suas mãos abrem mais
as minhas pernas. Segurando a direita, ele aproxima seu rosto do joelho e
desce até perto da minha vagina, distribuindo beijos e pequenas mordidas,
que nem chegavam a doer, apenas me excitar ainda mais.
— Dylan...
Ele sorriu, provocativo.
— Quando você se despiu naquele lago, tudo o que eu senti foi vontade
de deitá-la ali mesmo no chão e adorar todo o seu corpo, da mesma forma
que estou fazendo agora.
Não me deixou responder, não com palavras, porque tudo o que
conseguiu sair da minha boca foi um gemido alto ao sentir sua boca no meio
das minhas pernas.
— Ah! — Exclamei estremecendo ao sentir sua língua sugando minha
vagina, ela vai de encontro ao meu clitóris, não antes de lamber cada parte da
minha intimidade. O chupa, o explora, para depois o prender nos dentes, sinto
que posso desmaiar de prazer a qualquer momento. Isso é possível?
Minhas mãos até então paradas segurando os lençóis da cama vão até
seus cabelos, fazendo uma pressão a mais de sua boca em mim, ergo meus
quadris automaticamente e gemo.
Sinto que estou preste a ter um orgasmo e ele também percebe, porque
imediatamente sinto um dedo me penetrar.
Solto outro gemido, dessa vez, um pouco mais alto.
— Você é ainda mais gostosa do que eu imaginava, Ravenna — ele
disse ao afastar a boca do meio das minhas pernas.
Dylan volta a ficar com a cabeça na altura da minha. Meus braços
abraçam o seu pescoço e o puxo para um beijo.
Sinto o meu gosto com sua língua na minha boca, mas não me importo,
torna tudo ainda mais excitante.
Ele aumenta a pressão do dedo em mim e logo sinto um segundo me
alargar.
— Tão apertada — sussurra contra a minha boca.
Ele volta a descer os beijos e encontra os meus seios novamente,
intercala entre os dois, os chupando e os mordendo, ao mesmo tempo que
agora, massageia com as pontas dos dedos o meu clitóris.
Estremeço e segundos depois estou experimentando de um orgasmo
nunca sentido antes.
Fecho os olhos, tentando me recuperar, foi a coisa mais incrível que já
me aconteceu. E tive a impressão de que ainda compartilharia de muitas
coisas incríveis com esse homem maravilhoso ao meu lado.
— Meu Deus... — tentei acalmar as batidas do meu coração.
— Apenas Dylan — ele brincou beijando entre os meus seios.
Sorri.
— Minha vez cowboy.
Inverti nossas posições e isso pareceu surpreendê-lo, ainda estava com
as pernas um pouco bambas por causa do orgasmo intenso que ele me fez
sentir, Dylan pareceu perceber, pois segurou meus quadris firmes nos seus.
— Acho que você está com roupa demais.
Ele sorriu e me ajudou a tirar sua calça, admirei o volume grande ainda
coberto pela cueca. O senti todo ao sentar-me em cima dele, que respirou
fundo, parecendo tentar se controlar. Tudo o que nos separava era aquela
peça de roupa e eu voltaria para ela depois.
Depois de adorar seu corpo da mesma forma que fez comigo.
Me deitei sobre ele, me apoiando com os braços em cada lado de seu
rosto.
Primeiro o beijei, para depois escorregar meus lábios por seu pescoço,
chupá-lo e distribuir beijos da mesma forma que fez comigo.
Senti sua mão no meu quadril, me pressionando ao seu e me excitando
novamente.
Minha boca desceu até seu peito, o beijei, o lambi até chegar em seu
mamilo esquerdo, para chupá-lo. Dylan gemeu, vi que olhava tudo com
atenção e permaneci com o olhar no dele até encontrar o outro e fazer a
mesma coisa, raspando os meus dentes e o sentindo estremecer embaixo de
mim.
— Você joga muito sujo, Raven — ele repetiu com a voz rouca as
mesmas palavras que me disse alguns dias atrás.
Sorri.
— Foi você que iniciou essas provocações, só estou adorando o seu
corpo da mesma forma que você fez comigo.
Desci meus lábios pelo seu peitoral ainda sem desviar de suas írises
azuis tão brilhantes que provavelmente encontrariam no escuro. Afastei meus
lábios de sua pele incrível e me ajoelhei na cama para deslizar a cueca para
fora do seu corpo com sua ajuda.
Observei seu pau grande e duro pular para fora. Lindo e muito grande,
sem pelos pubianos, grosso e com o pré-sêmen saindo por sua abertura.
Suspirei. Ele é todo meu agora, e eu ainda consigo pensar na
possibilidade de isso ser um sonho. Um sonho muito bom.
— Raven...
Ele arfou quando segurei delicadamente sua ereção, movimentei para
cima e para baixo rapidamente o fazendo gemer. Quando fiz questão de
descer meu rosto até ela, só consegui beijar a glande porque com uma rapidez
surpreendente Dylan inverteu nossas posições.
— Eu realmente vou querer isso em outro momento, mas agora preciso
desesperadamente entrar em você — me beijou.
Separou os lábios rapidamente de mim só para pegar uma camisinha na
gaveta ao lado de sua cama, ele rasgou o pacote com os dentes e a vestiu.
— Pronta? — ele me olhou.
Sorri, ergui minha cabeça até conseguir sussurrar em seu ouvido:
— Desde o dia que eu conheci você — mordi o lóbulo da sua orelha.
Ele grunhiu e sem dizer mais nada me penetrou.
Gememos no mesmo momento ao sentir, pele com pele, um contato
que a tempo nossos corpos queriam. Sinto um pouco de desconforto no
início, não chega ser uma dor dilacerante, mas é incomoda, e isso é devido ao
tamanho e grossura de Dylan, ele parece perceber, mesmo que eu evite que
faça.
— Te machuquei? — Perguntou preocupado.
Estava prestes a retirar o seu membro de dentro de mim, mas entrelaço
minhas pernas na sua volta, não deixando.
— Não, estou bem, é apenas devido a toda sua grandeza— sorrio.
Ele balança a cabeça e sorri, mas volta a me penetrar, dessa vez mais
devagar, com movimentos de vai e vem.
— Você é tão apertada — gemeu — Tão maravilhosamente perfeita.
Sua boca encontra meus seios novamente, ele os beija enquanto
continua a entrar e sair de dentro de mim. Gemo, sentindo que o incomodo
era só no início mesmo, porque conforme ele vai me penetrando, começo a
sentir apenas o prazer. O mais puro prazer enquanto ele vai aumentando as
investidas.
Minhas mãos vão parar em suas costas, ele parece não se importar
quando minhas unhas deslizam por ela fortemente, provavelmente o
arranhando e deixando marcas. Continuo abraçada com ele daquela forma,
com os braços e as pernas.
Sua boca vai até a minha e nossas línguas se encontram em uma dança
sensual e intensa enquanto ele me penetra fortemente.
Jogo minha cabeça para trás não aguentando todo aquele desejo, toda
aquela intensidade. Dylan parece sentir o mesmo ao gemer e sugar meu
pescoço fortemente.
— Porra, você... é muito gostosa Ravenna — gemeu ao retirar seu
membro e entrar novamente, mais forte.
Quis dizer que ele também é muito gostoso, mas tudo o que consegui
fazer foi arfar e o apertar mais contra mim.
Ergo um pouco o meu quadril e isso faz com que o sinta mais
profundamente. Suas entocadas fortes parecendo que poderia me rasgar ao
meio são o suficiente para eu me entregar ao segundo orgasmo da noite.
Tão intenso quanto o primeiro.
Sua testa encostou com a minha quando voltei a olhar em seus olhos,
uma de suas mãos descem até a minha coxa e a segura enquanto entra e saia
de dentro de mim.
Foi com os olhos nos meus que o vi gozar e gemer alto, tão entregue ao
prazer quanto eu.
Eu estava errada quando disse que Dylan não podia ser mais bonito.
Porque ele é o homem mais lindo desse mundo quando está se
entregando dessa forma para mim.
Ele saiu de mim lentamente, deixou um selinho nos meus lábios e
quando estava do meu lado, tirou a camisinha e a amarrou, descartando ao
lado da cama.
Quando ele se deitou, me ajeitei ao seu lado e apoiei minha cabeça em
seu peito. Ficamos alguns minutos assim, aproveitando a presença um do
outro e tentando acalmar nossos corações.
— Eu sabia que seria incrível, mas isso... foi ainda mais do que
imaginava — ele confessou.
Sorri, é exatamente assim que eu me encontrava.
— Somos incríveis juntos — beijei seu peito — Fico feliz que tenha
percebido isso cedo.
Seus braços me apertaram mais forte contra ele.
— Desperdicei alguns dias sem você dessa forma comigo e ainda a
deixei chateada depois de dizer que só seriamos amigos.
— Eu não estava chateada — levantei minha cabeça para o olhar.
— Você não precisa omitir isso, Raven, você finge bem, mas eu não
acreditei em nenhum momento que estava feliz com aquela decisão.
— E eu não estava, mas não podia forçar você a nada, não depois do
que me disse.
— É por isso que você é incrível, não sei o que viu em um homem
como eu.
Lá estava ela, ainda disfarçada, mas estava lá. Sua insegurança, aquilo
apertou meu coração.
— Eu vi um homem lindo — beijei seu ombro — Com o coração
gigante e que de uma semana para a outra se tornou meu porto seguro.
Levantei a cabeça o suficiente para deixar um beijo em seus lábios.
— Porto seguro, é?
— Sempre quando estou em seus braços sinto que posso superar
qualquer coisa — o abracei voltando a ficar com a cabeça em seu peito.
Ele beijou o topo dela.
— Me sinto feliz em ser o seu porto seguro.
Uma paz estava dentro de meu peito naquele momento, algo que nunca
senti antes, como se aqui fosse o meu lugar, desde sempre.
— O que o fez mudar de ideia, Dylan? Sobre nós.
Sua mão fazia um leve carinho em meu braço.
— Quando a vi dançando com Arthur, não queria que fosse ele ali,
queria que fosse eu segurando-a nos braços e rodopiando por todo aquele
centro. Matthew me incentivou bastante também e dessa vez eu quis ouvi-lo e
seguir o que dizia.
Sorri.
— Devo agradecer a ele, então?
— Por favor, não. Ou então ele se irá se achar para o resto da vida.
Rimos.
— Ele parecia já saber sobre mim quando nos conhecemos hoje —
falei, me lembrando de mais cedo.
— No dia do lago eu fui até o seu bar, estava confuso, sem saber o que
fazer, acabei falando de você para ele.
— Entendi. Ainda acho que vocês dois serão grandes amigos —
comentei.
— Eu não acho, ele é uma boa pessoa, mas é muito chato na maioria
das vezes.
Sorri, porque sabia que aquilo era pura frescura, se Dylan havia dito
sobre mim para Matthew, é porque gostava dele e confiava. Isso é amizade,
mas não falaria sobre isso agora.
— Estou tão apaixonada por você — admiti — Obrigada, por me dar
uma chance.
Com sua mão, fez com que eu olhasse para cima, para os seus olhos.
— Eu que agradeço por ter tido paciência comigo, por ter dado um
tempo ao meu coração. Não sei se mereço alguém como você, não sei se serei
bom o suficiente para você, mas sei que quero descobrir junto com você o
que somos.
— Você merece felicidade Dylan, todos nós merecemos.
Ele sorriu e puxou meu rosto para perto do seu, me beijando.
Ali nos seus braços, senti que finalmente estava no caminho da minha
felicidade e da minha paz.
Observei Ravenna dormir tranquilamente ao meu lado. O corpo nu
grudado ao meu, seu braço abraçando meu abdômen e o meu a mantendo
perto.
Eu tive coragem de ir atrás dela e confessar tudo o que eu sinto, que
estou apaixonado por tudo que ela tem, pelo seu sorriso, pelas suas
provocações, pelo seu corpo, pelo seu interior, por toda a Ravenna.
Mas não tive coragem de dizer todo o meu passado.
Eu sabia que em algum momento teria que falar, abrir minha boca e
dizer o que me atormentava até hoje.
O verdadeiro motivo de ter tentando a evitar esse tempo todo.
O verdadeiro motivo de Briana ter me desprezado e me tratado daquela
forma.
Eu não mereço Ravenna.
Mas como resistir quando eu já tive dela o suficiente para me deixar
maluco? A forma como me beija, a forma como se entregou para mim na
noite passada, tudo isso faz com que eu me sinta um covarde e não conte.
Ela me olharia com outros olhos, eu sabia disso. Nunca a poderia fazer
feliz por completo, então por que me deixei levar por esse sentimento?
Simples, porque sou um maldito de um egoísta.
Da mesma forma que Briana disse, um idiota que só pensa em si
mesmo.
Eu dizia a mim mesmo para abrir a boca e falar, quando contei sobre
parte do meu passado, quis tanto contar, mas as palavras simplesmente não
saíram, ficaram trancadas na garganta.
Percebi naquela primeira noite que ela dormiu nos meus braços no sofá,
que não havia contado simplesmente porque não queria a perder.
Ofereci amizade e olha onde estávamos agora? Nus, abraçados um ao
outro e sem nenhuma vontade de acabar com aquilo. Ela estava certa, não
poderíamos ser somente amigos, o desejo, a paixão, tudo estava ali,
impedindo que tivéssemos apenas uma amizade.
Respirei fundo, aspirando o cheiro do seu cabelo, tão bom, tão
maravilhosamente perfeito, da mesma forma que ela. A noite de ontem me
vem na cabeça, como nos entregamos um ao outro, como ela beijou todo o
meu corpo da mesma forma que fiz com o seu. Sinto uma pontada no meu
pau no mesmo momento, o acordando, querendo repetir tudo de novo.
A soltei delicadamente e sai da cama de forma que não acordasse, ou
então a acordaria para um sexo matinal que sei que não recusaria, mesmo que
tivesse acordado com seu estômago roncando de fome.
Coloquei uma cueca limpa e vesti uma bermuda, hoje seria mais um dia
quente. Fui ao banheiro, me aliviei e fiz minha higiene matinal para depois ir
até a cozinha e preparar um café digno para a mulher na minha cama.
Decidi fazer ovos mexidos, acompanhado de torradas e um suco de
laranja natural.
Enquanto os fazia, tomei a decisão que contaria tudo a Ravenna quando
me sentisse preparado, quando nós dois descobríssemos o que éramos juntos,
da mesma forma que prometi fazer quando estávamos no carro.
Estava terminando de fazer o suco, quando senti braços abraçarem
minha cintura e um corpo colar ao meu, junto com um beijo no meu ombro
direito.
— Bom dia! — A voz sonolenta de Ravenna cumprimentou.
Deixei o suco na pia e me virei para ela, os cabelos estavam um pouco
bagunçados, mas parecia ter passado no banheiro para lavar o rosto da
maquiagem de ontem à noite e escovar os dentes. Ela vestia a camiseta que
eu usava na noite anterior, aquilo me deixou com uma sensação
extremamente eufórica dentro do coração, ela ficava ainda mais linda só com
aquela peça de roupa.
— Bom dia! — beijei seus lábios.
O que era para ser apenas um selinho se transformou em um beijo. Eu
não conseguia mais resistir a Ravenna Blackwood, e nem queria. Enfiei
minha língua em sua boca, percorrendo toda ela, a sugando e dançando com a
sua de forma lenta.
A afastei antes que aquele simples beijo se tornasse em algo a mais,
como o sexo quente e delicioso que havíamos feito ontem, não que eu não
quisesse, mas precisava alimentar essa mulher.
— Você fica ainda mais linda com minha roupa — a elogiei.
— Obrigada — sorriu — Eu realmente gosto delas, tanto é que não te
devolvi as que me emprestou naquela noite.
— Eu notei isso.
Rimos.
— Acho que o fato de não entregar para você e às vezes a olhar e sentir
a roupa contra a minha pele já me mostrava o quão apaixonada eu estou por
você.
— Eu também estou muito apaixonado por você, garota da cidade —
beijei sua testa — Agora, vamos tomar café — peguei sua mão e a guiei até a
cadeira, puxei a mesma para ela sentar.
— Você é tão fofo que o meu coração apaixonado chega a doer — ela
sorriu — Obrigada.
— É o que a mulher que estou apaixonado merece, nada menos que
isso — beijei sua bochecha e vi a marca do chupão que havia feito na noite
passada, deixei um beijo ali também, a fazendo se arrepiar — Espero que
você tenha uma base forte para tampar isso, se bem que, seria incrível se o
mauricinho visse.
Ela riu.
— Sempre soube que você tinha ciúmes dele e sobre as marcas, você
vai ter que ficar uns dias usando só camisa devido a marca de minhas unhas.
— Então estamos quites — beijei seus lábios mais uma vez, antes de
me afastar e ir até a pia.
Peguei a jarra de sucos e coloquei no centro da mesa, servi seu prato
com as torradas e os ovos mexidos, e coloquei na sua frente.
— Agora coma tudo, fui acordado com os roncos do seu estômago — a
provoquei.
Ela sorriu, levou uma torrada a boca e mordeu um pedaço. Percebi que
até comendo aquela garota conseguia ser sensual.
Arrumei meu prato e me sentei na sua frente para comermos juntos.
Billy, que sentiu o cheiro dos ovos de longe, se aproximou de nós.
— Tenho que ir até Nightfall pegar Nina, prometi a Billy — Ravenna
comenta, enquanto bebe um pouco do suco.
— O que acha de um passeio? — Sugeri — Eu, você, Billy, Nina,
Tempestade e Olaf.
Seus olhos brilharam.
— Tipo um passeio romântico? — Provocou.
Assenti.
— Tipo isso.
— Seria incrível.
Tomamos nosso café conversando sobre amenidades. Era incrível como
eu me sentia leve quando ela falava comigo, sorria para mim e me provocava
com aquele jeito atrevido, algo que sempre foi frequente entre nós. Até
mesmo quando nos conhecemos.
Depois que tomamos nosso café, deixamos a louça na pia e fomos para
o quarto.
— Preciso tomar um banho antes — a abracei por trás — Você me
espera aqui ou vem junto comigo?
Ela se virou e entrelaçou os braços em volta do meu pescoço.
— Você ainda tem dúvida da minha resposta? — Sorriu.
A peguei no colo e a levei para o banheiro, a beijando ao mesmo
tempo, percebi que começava a ficar viciado e isso vinha desde antes, quando
não consegui dizer não para sua presença, quando me ofereci para ajudar em
seus treinamentos, quando fui um ombro amigo, todos esses míseros detalhes
me faziam perceber que desde o momento que coloquei meus olhos em
Ravenna, sabia que não poderia ficar longe.
A coloquei sentada no mármore da pia do banheiro e fechei a porta com
os pés, sem desgrudar meus lábios dos seus.
Encerro com o beijo para abrir os botões da minha camiseta nela e me
afastei um pouco ao perceber que ela estava sem sutiã. Porra!
— Você quer me matar, ou algo assim? — A pergunta escapou dos
meus lábios.
Ela riu.
— Por que? Você não consegue resistir?
— Sabe que não, não mais pelo menos.
Minhas duas mãos foram até os seus dois seios, da mesma forma que
eu os imaginava, cabiam perfeitamente em minha mão. Os massageei, a
fazendo arfar e arquear suas costas, de forma que empinava mais aqueles
pares perfeitos em minha direção. Não aguentando um segundo a mais, cai de
boca em um deles, o chupando enquanto minha mão continuava a massagear
o outro. Ela geme, seu som é maravilhoso e faz efeito diretamente no meu
pau, que já se encontra duro, louco para entrar no meio de suas pernas.
Minha mão desliza por sua barriga até chegar na sua buceta tapada pela
calcinha já molhada por sua excitação, deslizei a peça para o lado e introduzo
um dedo.
— Ah! Dylan... — ela sussurra, embriagada com as sensações que o
meu dedo a faz sentir.
Subo até o seu pescoço, mordisco sua clavícula no caminho, sugando e
beijando, tomando cuidando para não deixar marca dessa vez.
Introduzo um segundo dedo, enquanto meus lábios fazem o mesmo
trabalho no outro lado do pescoço. Ela geme alto quando começo a esfregar
seu clitóris com o polegar. Tenho que afastar o meu rosto do seu apenas para
observar se entregando dessa forma. Bochechas coradas, olhos brilhantes e os
lábios presos nos dentes tentando conter gemidos de prazer.
Está quase gozando quando retiro os meus dedos de sua boceta.
Abro a gaveta do balcão e retiro de lá uma camisinha. Estou preste a
colocá-la e enfim entrar dentro dessa mulher, mas Ravenna me impede.
Diante de mim ela salta do balcão, fica em pé e retira sua calcinha para
depois pegar no elástico da minha cueca e deslizá-la por meu corpo, deixando
meu pau duro livre da peça de roupa.
Estremeço de desejo ao ver o que ela irá fazer. De joelhos, Ravenna
levou a mão até o meu pau e com uma habilidade que eu preferia não
questionar, movimentou a mão para cima e para baixo, espalhando o liquido
pré-ejaculatório pela glande.
— Raven...
Gemi, e com o olhar no meu fui surpreendido quando sua boca
abocanhou meu pau. Junto um pouco do seu cabelo e seguro enquanto a boca
macia o recebe, o chupando como se fosse o seu doce preferido.
Puxo seu cabelo, tentando me controlar e não a machucar durante o ato
e introduzo mais meu pau em sua boca. Ela não engasga, tenta o levar até o
fundo e a parte que não consegue o masturba com a mão. Seus olhos
encontram com os meus, a safada me prende daquele jeito, me chupando.
A sua mão vai até as minhas bolas e as acariciam. Perco o resto de
controle que tinha e seguro mais forte seu cabelo, aumentando o vai e vem,
comendo aquela boca carnuda e atrevida. Dou mais algumas estocadas e sinto
que irei gozar a qualquer momento.
— Ravenna...eu vou gozar.
Ela parece não se importar, apenas aumenta mais a sucção e aquele é o
meu fim.
Gozo como um louco em sua boca.
E sinto meu pau estremecer ao ver ela engolir cada gota do meu sêmen.
Porra!
Puxo-a para cima.
— Eu deveria perguntar como sabe fazer isso muito bem? — Perguntei.
Ela sorri.
— Está com ciúmes?
Muito!
Mas não a respondo. A beijo sentindo o meu gosto em sua boca
enquanto minha língua suga a sua boca. Desço minha mão até sua buceta só
para constatar o quão encharcada está.
Como se não tivesse gozado a poucos minutos, sinto o meu pau pronto
para mais uma, pronto para sentir a quentura do seu interior.
Pego a camisinha de cima da bancada e a coloco, para em seguida
prensar Ravenna contra a parede. Ajudo suas pernas a abraçarem minha
cintura e encaixo meu pau em sua entrada a penetrando em seguida.
Gememos ao mesmo tempo. Sinto meu pau ser espremido por suas
paredes vaginais, ela é muito apertada.
A olho, me certificando que não está sentindo dor nenhuma. Vejo no
seu olhar que o que sente é apenas prazer e então continuo a aumentar minhas
estocadas.
— Porra — gemo, fora de mim.
Retiro meu pau dela apenas para entrar novamente, mais forte. Ela se
segura fortemente, apoiando as mãos nos meus ombros.
Sua cabeça bate na parede ao fechar os olhos e gemer enquanto me
espreme mais dentro dela, mas não parece sentir dor, não parece nem se
importar.
— Dylan... — ela arfa — Acho que me viciei em você.
— Então compartilhamos do mesmo vicio.
A beijo enquanto a penetro com força e a seguro nos meus braços
quando atingimos o ápice juntos minutos depois.

Ajudo Ravenna a subir em Olaf para em seguida montá-lo também,


ficando atrás dela. Abraço sua cintura e seguro as rédeas, guiando meu cavalo
branco para Nightfall, sendo seguido por Billy, que parece saber o que
faremos.
Em uma cesta de piquenique preparamos algumas frutas, pães e suco. A
deixaria na casa de seus tios para se arrumar, pois precisava trocar de roupa e
nos encontraríamos nos estábulos, pegaríamos Tempestades e
aproveitaríamos o dia bonito de hoje embaixo das árvores, perto do lago.
— Eu nunca vou me cansar de dizer o quão lindo é esse lugar — ela
comenta.
Estamos no alto de Nightfall, conseguimos observar todo o rancho
daqui.
— É muito bonito, mesmo — beijei seu ombro nu, descoberto devido a
camisa solta que usava — Como você.
Ela encostou a cabeça no meu peito e a vi fechar os olhos.
— Sinto que nada pode me destruir quando estou com você, mas é eu
me afastar que todos os meus medos e minha culpa volta — admitiu.
Sabia do que ela estava falando. Tudo o que me contou estava guardado
em minha cabeça, sua dor, sua culpa, seu amor por Archer, ela é uma mulher
guerreira.
— Então não se afaste — voltei a guiar Olaf para dentro de Nightfall.
Ela abriu os olhos.
— Por mim ficaria 24 horas do meu dia com você, cowboy — disse.
— E eu com certeza não me enjoaria.
Ela beijou meus lábios e voltamos a olhar para frente.
Como combinado, deixei Ravenna na frente da casa de seus tios e fui
para o estábulo. Billy que viu Nina solta na frente do casarão, foi correndo
até ela e ficou com a amiga.
Deixei Olaf preso na frente do estábulo e entrei, Tempestade estava em
sua baia, mas eu não me aproximaria para prende-la, deixaria para Ravenna,
era nela que a égua confiava.
O meu telefone tocou no bolso e quase não atendi ao pegá-lo e ver o
nome de Matthew Brown ali.
— Amigo — ele saudou — Como estão os pombinhos?
— Estamos bem — respondi, preferi ser direto do que enrolar, ele
nunca cansava de encher minha paciência.
— Finalmente! Eu sabia que você não conseguiria resistir, agora
permaneça com a garota e não a machuque com essa sua arrogância —
brincou.
— O que você quer, Matthew?
— Você é tão insensível, Dylan, liguei para saber se meu melhor amigo
está com a garota que se apaixonou, apenas isso.
— Não somos amigos — repeti pela milésima vez.
— Isso já está ficando chato, sabia? Quando você irá parar de se fazer e
admitir que eu sou um ótimo amigo?
Revirei meus olhos.
— Vou desligar, Brown.
— Tá bom, tá bom — resmungou — Só quero que saiba que estou aqui
quando quiser desabafar, Dylan, podemos não ter o melhor passado, mas ele
é apenas isso, passado. Cuide bem de Ravenna, ela parece ser uma boa
garota.
— Ela é — concordei.
Passado. Eu sabia que passado era passado, mas é difícil confiar
novamente.
Eu confiei em Briana, acreditei que ela só queria a mim e ninguém
mais, que tirei a sorte grande de sair da faculdade com a mulher da minha
vida. Eu confiei em Charles, quando preferiu se mudar ao invés de me ver
feliz com a mulher que ele também amava, confiei em ambos até o momento
que quebraram isso.
— Tenho um convite para fazer a vocês dois. Lembra da casa dos meus
pais na ilha Outer Banks, em Carolina do Norte?
Estranhei a pergunta, mas murmurei um sim. A família Brown é rica,
os pais têm um escritório de contabilidade muito requisitado em Nashville.
— Estou indo para lá nesse 4 de julho, é feriado e pensei que pudesse
levar você e Ravenna.
— Não acho uma boa ideia.
Podia enxergar Matthew revirando os olhos do outro lado da linha.
— Só por que é comigo? Qual é, vocês vão ter a maior privacidade do
mundo, será uma viagem entre amigos, mesmo que você insista em dizer que
não somos.
— O que ganha com isso?
Perguntei, porque o convite me parecia muito inesperado e se havia
algo que eu aprendi ao longo dos anos, é que sempre podia esperar algo de
Matthew.
— Estou interessado na Wess — finalmente admite — E se você e
Ravenna irem, será mais fácil conseguir que ela vá junto.
— Está me dizendo que gostou de Alisson Wess?
— Estou dizendo que estou interessado, me diverti com ela naquela
festa, é uma garota de ouro.
Sorri, claro que é, afinal, é prima de Ravenna.
Fiquei contente por saber que ele finalmente estava abrindo seu coração
novamente. Não é só em mim que Briana havia feito um estrago, mesmo que
Matthew não fosse como eu, com receio de se entregar novamente, ele ainda
sim, ficou machucado.
— Prometo pensar no seu pedido.
— Pensa com carinho, amigo.
Antes que eu pudesse o contrariar novamente, ele desligou. Me peguei
balançando a cabeça e sorrindo, Brown não era um idiota, afinal.
Ravenna entrou no estábulo alguns minutos depois, vestia um short
limpo e uma camiseta branca, justa ao corpo.
Ela arrumou Tempestade e a tirou da baia com cuidado.
— Muito bem — alisou seu pescoço — Está cada dia melhor, não
acha?
Assenti, porque aquilo era verdade.
— O que treinaremos com ela hoje? — Raven perguntou.
— Podemos ver como ela se comporta com você em cima dela hoje e
se for bem, irá saltar com ela.
Ravenna sorriu, radiante com a ideia.
Caminhamos para fora do estábulo e vimos quando Tempestade travou
ao ver Olaf.
— O que foi, amor? — Ravenna ficou na frente dela.
A égua relinchou e deu alguns passos para trás.
— Ela não gosta muito de outros cavalos — comentei — Isso é outra
coisa que temos que trabalhar nela, no dia da competição terá não só outros
cavalos como também uma multidão de pessoas.
— Concordo, podemos começar esse exercício hoje — comenta — E
iremos começar com Olaf.
Ravenna segura a cabeça de Tempestade e a faz olhar em seus olhos.
— Fique calma, ok? Ele é um bom cavalo e tenho certeza que está
louco para ser seu amigo.
É muito incrível a forma como Tempestade a olha e a entende, uma
conexão tão grande que ninguém conseguiria entender se não visse com os
próprios olhos.
A égua parou de balançar o rabo, que até então estava balançando de
um lado para o outro, em sinal de desconforto, e se aproximou mais de Olaf.
— Acho que estamos prontas para ir — Ravenna sorriu.
Me aproximei dela e antes de a ajudar subir em Tempestade, beijei seus
lábios, como um louco apaixonado.
— Acha que consegue sem precisar guiar? — Perguntei depois, me
referindo a ela andar com a égua sozinha.
— Sim, somos grandes amigas — ela alisa o pelo de Tempestade.
Assenti e vou até Olaf, monto rapidamente nele e seguimos para o lago.
Nina e Billy assim que nos notam de longe, correm até nós e nos
acompanham.
Me aproximo devagar com Olaf ao lado de Tempestade, ela observa de
canto de olho, com muita atenção, mas ao ver que somos inofensivos, volta a
olhar para frente.
— Ela sofreu muito, não é? — Ravenna quebra o silêncio.
— Sim. Ainda lembro dos cortes abertos e da dor que vi em seu olhar,
muito pior do que a mágoa que tem agora.
— Você foi incrível por salvar a vida dela e permanecer com ela.
— Fiz o que qualquer pessoa com coração faria.
Enquanto andávamos, Ravenna passava a mão pela crina de
Tempestade, em uma forma de a acalmar. Eu lembrava de tudo, como a achei
naquele dia depois de ter voltado do Sweet Dreams, na estrada, caída e
gritando de dor.
O coração chegava a doer só de lembrar. Como um ser humano
consegue fazer tal proeza? Machucar e torturar um animal nunca é a solução
para fazer obedecer.
— Nunca a procuraram? — A voz de Ravenna me despertou.
Neguei.
— Nunca e não sei o que faríamos se fizessem. Tempestade não é
nossa por completo, mas acredito que o dono nunca a procuraria porque com
certeza acha que ela está morta.
Vi quando a expressão triste tomou o rosto de Ravenna, provavelmente
imaginando tudo o que ela passou para o antigo dono pensar que ela estivesse
morta.
Chegamos no lago alguns minutos depois, deixamos Olaf e Tempestade
apenas com as rédeas e os deixamos soltos para aproveitar o pasto.
Ravenna abriu a cesta e estendeu a toalha no chão, junto com as frutas e
os sanduíches.
Nos sentamos ao mesmo tempo que Billy e Nina correram em nossa
direção, ambos pularam em nós, cada um em seu dono, parecendo muito
feliz.
Observei a interação de Nina e Ravenna, a cadela em cima dela a
cheirando e balançando o rabo, para depois a atacar de brincadeira, a
mordendo, enquanto a dona sorria lindamente e devolvia as brincadeiras.
Uma das cenas mais lindas que eu já vi. Ver o quanto aquele sorriso é
verdadeiro e como ela está conseguindo superar a perda do irmão, mesmo
que ainda não perceba.
Eu pensei que nada poderia superar a conexão de Ravenna com
Tempestade, mas ali estava um empate. A conexão dela e de Nina é tão
incrível quanto, ambas têm histórias juntas, ambas sofreram pela morte de
uma pessoa querida e ambas estão superando juntas.
— Por que está me olhando desse jeito? — Ela perguntou depois que a
brincadeira acabou e Nina e Billy foram correr juntos.
Eu nem havia percebido quando Billy desceu do meu colo.
— Apenas constatando o que eu já te disse — ela me olhou confusa —
Você é a garota mais linda que eu já vi.
Vi quando suas bochechas coraram, é raro quando acontece, mas eu
simplesmente amo isso nela.
— Você sabe como me deixar envergonhada — se aproximou — Isso é
inédito.
— E você fica fofa quando está desse jeito.
A ajudei a sentar no meu colo de frente para mim. Seus braços em volta
do meu pescoço e sua boca muito perto da minha.
— Antes de olhar para você pela primeira vez, fechei os olhos porque
Nina parecia com medo, pensei que quem quer que estivesse atrás de mim,
era o pesadelo em pessoa — ela riu e acabei sorrindo junto — Lembro de ter
pensando quando abri os olhos: que nunca conseguiria olhar um homem
novamente sem compará-lo com você, porque você é terrivelmente lindo
Dylan e conforme fui o conhecendo, percebi que isso é tanto no exterior
como no interior também.
A beijei, não tendo palavras para descrever a euforia que estava dentro
do meu peito com aquela revelação sua. Queria que continuasse com aquele
olhar sobre mim, mesmo sabendo que uma hora ou outra, acabaria, pois teria
que contar tudo.
E contar tudo me apavorava.
Porque contar tudo, significava perder Ravenna.
Na segunda feira de manhã eu acordei com uma Alisson pulando em
cima de mim, como se fosse a pessoa mais leve desse mundo. Eu esperava
isso de Nina, não dela.
— Mas o que você está fazendo? — Perguntei e esfreguei meus olhos
para tentar me manter acordada.
Digamos que eu e Dylan não havíamos dormido muito de sábado para
domingo.
— São exatamente sete horas da manhã e você não irá trabalhar sem
me contar tudo que aconteceu nesse fim de semana — Ela se sentou ao meu
lado, me deixando respirar aliviada — Eu não aguento mais inventar mentiras
sobre o seu paradeiro para meus pais e Amélia.
Sorri. No dia do piquenique consegui enganar meus tios ao dizer mais
uma vez que havia saído cedo para correr com Nina e por isso não me viram
levantar. Mas para o sábado de noite, pedi para Ali inventar que eu estava
com enxaqueca e não iria comparecer ao jantar.
Teria que contar para eles, é claro. Mas nem sabia o que eu e Dylan
éramos para dizer o certo.
— Estamos juntos — falei — E pretendo dizer para meus tios hoje.
— Finalmente — ela deu um pulinho animado na cama — Como foi?
O que aconteceu? Ravenna, eu preciso de mais detalhes, do que só “estamos
juntos”.
— E eu vou contar — sorri — Mas primeiro preciso tomar um banho.
Ousei me levantar, mas fui puxada para a cama rapidamente.
— Você não sai dessa cama sem me contar tudo — minha prima
exigiu.
Eu ri.
— Ok — me ajeitei ao seu lado — No dia da festa eu dancei com
Arthur, mas nem terminei a dança porque não estava me sentindo
confortável. Fui para o estacionamento e Dylan me seguiu, ele se declarou
para mim e nos beijamos.
— Eu sabia! Sabia que ele também sentia o mesmo por você — ela
bateu palmas, animada — Não acredito que o meu casal finalmente está
junto. Vocês finalmente acabaram com aquela tensão sexual?
Eu ri e me deitei na cama, pegando um travesseiro e o abraçando.
— Sim e foi incrível.
— Seria muito estranho se eu pedisse detalhes?
Eu assenti segurando uma outra risada.
— Com certeza seria.
— Tudo bem, eu me consolo com a ideia de que vocês fizeram um sexo
quente e apaixonante.
Ela se jogou ao meu lado rindo e eu não me impedi de acompanhar.
Sentia-me extremamente leve.
— Estamos indo com calma sabe? Não quero exigir um namoro do dia
para a noite, ainda mais sabendo de todo...
Fechei minha boca no mesmo momento, mas era tarde demais, Ali já
havia entendido o que eu falaria.
— Você sabe sobre o passado dele?
— Ele me contou.
— Se eu expor toda a minha curiosidade e perguntar o que aconteceu,
você vai me contar?
— Eu gostaria, mas não sei se é o certo.
Minha prima sorriu, parecendo entender.
— Tudo bem, de qualquer jeito fico feliz que estejam juntos.
— Eu também estou, ele é uma boa pessoa e só quem o conhece de
verdade sabe disso.
— Dylan sempre foi assim e para ter se fechado, alguma coisa ruim
deve ter acontecido naquele relacionamento estranho.
Muitas coisas que você nem imagina, prima.
— Como eles eram?
Eu sabia que ela não sabia muito, mas mesmo assim perguntei.
— Eles pareciam apaixonados, pelo pouco que vi no início do
relacionamento, mas eu me lembro de ter visto várias vezes eles discutindo
de longe. Isso foi meses antes deles se divorciarem.
As discussões que Alisson viu, provavelmente não foi nada comparado
ao inferno que Dylan passou entre quatro paredes com aquela mulher.
Um relacionamento totalmente abusivo com direito a agressões físicas.
Eu me arrepio só de pensar em toda dor que ele sentiu, quando deveria
ser amado pela mulher que ele confiou para passar o resto da sua vida.
E depois veio a traição.... mesmo que já tivessem sido um trisal no
passado, não justificava. Isso ferrava a mente de uma pessoa, o melhor amigo
e a mulher que ele amava o apunhalaram pelas costas.
— E você e Matthew? — Perguntei curiosa — Como foi a dança?
— Ele é divertido — ela sorriu — Na verdade, ele me convidou para
jantar hoje à noite.
— Isso é bom, você também merece alguém que a faça sorrir que nem
boba.
O último namorado de minha prima havia sido o primeiro dela, ambos
não deram muito certo e um ano depois de namoro, eles terminaram.
Eu sabia que é algo delicado e que o motivo dela não ter arrumado
alguém até hoje é porque ainda não superou. Mas nunca é tarde para
recomeçar, e se não deu certo, provavelmente é porque não é para ser.
Uma batida na porta e uma Amélia constrangida colocou a cabeça para
dentro do meu quarto.
— Oi, posso entrar?
Quis dizer não, que ela não era bem-vinda ali, mas respirei fundo e
assenti, uma parte de mim querendo ver até onde esse veneno dela ia.
— Alisson poderia me deixar a sós com Ravenna?
Alisson estranhou, mas assentiu e se levantou da cama, para logo em
seguida sair do quarto, não sem antes sussurrar um “não mate ela”.
Quando ficamos a sós, me endireitei na cama, me sentando e a olhei,
esperando o que ela queria falar de tão importante, ou mais uma onda de
insultos que sempre vinham quando ela me encontrava.
— Desculpa.
As palavras me fizeram paralisar por um momento, desculpas? Pelo o
que exatamente? Porque eram tantos insultos, tantas discussões, que ficava
difícil entender.
— Eu não deveria ter falado aquilo sobre o acidente, eu fui uma idiota.
Você não tem culpa de nada, me perdoa.
Engoli em seco, a paz se esvaindo aos poucos só de lembrar as palavras
cruéis daquele dia.
— Se você falou com certeza é porque queria dizer.
— Não! — se aproximou — Você sabe que sempre agi pelo o que
estou sentindo na hora, nunca foi minha intenção a magoar dessa forma. Eu
só estava com raiva, frustrada e decepcionada e acabei descontando em você.
Não me interessei em perguntar o motivo, mas ela esclareceu depois.
— Também sofro pela morte de Archer, eu o amava e éramos muitos
amigos na infância.
Desviei meu olhar para o travesseiro ainda em minhas mãos, era
verdade. Archer e Amélia sempre foram amigos, nossas brigas eram sempre
para disputar a atenção dele e quando ele me dava mais atenção, por motivos
de: sou irmã dele, ela me insultava e brigava comigo.
— Não sei se consigo a perdoar por isso — fui sincera.
Amélia assentiu, parecendo compreender o quão difícil foi ouvir aquilo
de uma pessoa que, mesmo que eu não tivesse afinidade, fazia parte da minha
família.
— Só quero que saiba que nunca a culpei, por mais que tenha dito o
contrário. Foi uma fatalidade o que aconteceu.
Não respondi e ela não insistiu mais.
— Eu vou ver como estão às coisas no rancho — disse e saiu.
Só assim pude respirar aliviada.
Nunca entendi o porquê de Amélia me tratar daquela forma. Quando
éramos crianças eu entendia que era ciúmes, mas agora? Somos adultas, não
precisamos disputar a atenção de Alisson, muito menos do meu falecido
irmão.
Levantei da cama, querendo o mais rápido ocupar minha cabeça com o
trabalho no rancho.
Problemas familiares são um saco.
Peguei minhas roupas íntimas, uma calça de montaria e minha camiseta
com estampa de cavalo, para seguir para o banheiro e tomar um banho.
Quando sai do banheiro e fui encontrar meus tios para tomar café da
manhã fiquei decepcionada por minha menstruação já ter decido. Eu
simplesmente odiava esse período, significava noites torturantes de muita
cólica.
— Aí está você mocinha — minha tia apontou uma colher de pau para
mim — Onde você andou por todo esse final de semana? E eu não acredito
nas mentiras de Alisson, ela é péssima nisso.
— Eu estava no rancho — falei, o que não era mentira.
Millie arqueou as sobrancelhas, em uma clara cara de quem não
acreditava em uma só palavra.
— Eu estava com Dylan — admiti e a vi abrir um sorriso maior do que
o da filha.
— Eu sabia — meu tio apareceu do nada na cozinha — Você me deve
10 dólares querida.
— Vocês apostaram? — Perguntei e acabei rindo. É a cara dos dois
fazer isso.
— Sua tia duvidou que você estivesse com Dylan porque acha que você
não é capaz de domar aquela arrogância dele, eu por outro lado, nunca
duvidei do seu potencial, querida.
— Eu só achei que levaria mais tempo — Millie se explicou — Mas
estou contente que vocês estejam se acertando.
— Mais tempo do que duas semanas? Você ficou comigo depois de
quatro dias amor, não seja hipócrita — prendi a risada com o que meu tio
acabou de falar.
— Eu ainda não sei por que sou casada com você — voltou a apontar a
colher de pau, dessa vez para ele.
— Você não viveria sem mim — ele se aproximou dela e selou seus
lábios.
Foi ali que percebi que eles precisavam de um pouco de privacidade.
Peguei uma fatia de bolo e estava saindo de fininho da cozinha quando fui
interrompida pela minha.
— Você não vai tomar café?
Mostrei o bolo.
— Isso não é suficiente. Sente-se e come direito, querida, prometemos
não a constranger mais.
— Eu não estava constrangida — me sentei na cadeira em frente à
mesa — Só queria deixar vocês a sós.
Tomei meu café na companhia dos dois, fazendo palhaçada e me
fazendo rir com facilidade. Eu os amo e vê-los desse jeito me fez sentir
saudades de meus pais, eles se tratam da mesma forma, com tanto amor e
carinho em cada gesto, cada conversa. Me perguntei se um dia eu estaria
assim com Dylan e me assustei ao constatar que queria muito isso.

Depois do café reforçado fui encontrar Dylan na pista de treinamento.


Ele estava com Sibério, Fire e uma garota desconhecida.
Quando me aproximei dos dois, ele sorriu para mim e não pude deixar
de retribuir.
— Bom dia! — Cumprimentei, querendo pular nele e o beijar, mas eu
ainda tinha educação.
— Bom dia! Ravenna essa é Rebeca, a dona de Fire.
— Você é a famosa Ravenna? Ai meu Deus! Você é ainda mais linda
pessoalmente, confesso que vim aqui mais para conhecer a mulher que está
treinando os cavalos e ainda competirá comigo.
A confusão deve ter ficado clara no meu rosto, por isso ela esclareceu.
— Sou amiga de Amélia, ela acabou deixando escapar sobre você.
Estranhei. Amélia tem amiga? Isso era novo.
— Prazer em conhecer você — estendi minha mão.
— O prazer é meu — ela ignorou a minha mão e me abraçou — Tenho
certeza que seremos grandes amigas.
Quando se afasta de mim, pergunta:
— Como estão os treinamentos? Qualquer ajuda que precisar você
pode me pedir.
— Obrigada, mas Dylan está me ajudando bastante — falei — E acho
que você não gostaria de ensinar sua concorrente.
— Bobagem! Qualquer coisa que precisar fique à vontade — olhou o
relógio — Mas agora já está na minha hora, preciso encontrar com Amélia e
convencer aquela chata a ir à cidade comigo. Foi bom conhecer você,
Ravenna.
Ela se despediu com um aceno deixando eu e Dylan sozinhos. Ele me
puxou para si pela cintura e eu aproveitei que estava próxima dele para
abraça-lo pelo pescoço.
Nos beijamos, pouco nos importando se havia empregados andando
pelo rancho, apenas matando a saudade de ter ficado uma noite inteira longe
um do outro.
— É oficial, agora que estou com você não consigo me manter longe
— ele disse assim que encerramos o beijo.
— Então estamos quites.
Sorri.
— Vai lá para casa hoje?
— Serei uma péssima companhia hoje.
— Você nunca é uma péssima companhia, até mesmo quando nos
conhecemos — admitiu.
— E você é um fofo por dizer isso, mas você não vai querer ver uma
Ravenna sangrando e com muita cólica.
— Está me dizendo que está menstruada?
Assenti.
— Infelizmente — suspirei.
— Eu tenho uma bolsa de água quente na minha casa, era da minha
irmã e faço um chá para você tomar enquanto come chocolate e assistimos a
um filme.
— Tem como eu recusar isso?
Negou.
Voltamos a nos beijar. Era incrível o poder que ele tinha sobre mim
apenas com um beijo, a forma como me engolia inteira apenas com a sua
língua na minha, me explorando, me desestabilizava.
— Precisamos trabalhar, cowboy — sussurrei a centímetros de
distância da sua boca — Eu realmente queria ficar lhe beijando o resto da
manhã, mas esses cavalos precisam treinar.
Ele riu.
— Quem diria que você seria a consciente entre nós nesse momento —
me provocou.
— Apenas porque eu estou naqueles dias, querido, porque se não —
arrastei minha boca até o seu ouvido — Te arrastaria para aquele galpão e
aproveitaríamos muito juntos.
Mordi o lóbulo da sua orelha apenas para provocar, porque em seguida
me afastei e fui pegar Fire, não antes de ouvi-lo protestar.
— Ravenna!
Era tarde quando deixei Tempestade no estábulo e fui para a casa de
meus tios, louca por um banho e uma cama.
Tivemos que pular o meu treinamento e o de Tempestade porque eu
estava com cólica. Eu sabia que isso aconteceria, cedo ou tarde, simplesmente
odiava esse período.
— Chegou cedo — Millie comentou, estava na sala e mexia no celular.
— Muita cólica, irei para a casa de Dylan, ok?
Ela sorriu.
— Claro que sim, diria para aproveitar, mas vejo que não irá. Precisa
de um remédio?
— Eu tenho um, não se preocupe.
Subi até o meu quarto e coloquei roupas na minha mochila, Nina
parecia saber para onde iriamos, porque não parava de abanar o rabo de um
lado para o outro.
— Sim, você vai dormir com seu melhor amigo — falei.
Ela latiu, muito feliz com o que eu disse. Terminei de arrumar as coisas
e tomei um banho antes de descer e tomar o remédio.
Minutos depois estava pronta para ir, me despedi de minha tia
agradecendo por Amélia e meu tio ainda estarem trabalhando no rancho, ou
se não teria que dar explicação para minha prima, e eu realmente a achava
estranha, ainda mais agora que me pediu desculpas, Amélia nunca se
arrependia.
Quando chegamos na casa de Dylan fomos recepcionados no mesmo
momento. Billy feliz por ver Nina de novo e Dylan também, me levando para
perto e me beijando.
Passamos a maior parte da tarde assim, qualquer intervalo que
tínhamos, aproveitávamos para namorar, como dois bobos apaixonados.
Uma pontada de dor surgiu e eu tive que me separar imediatamente.
Maldita cólica.
— Vem, preparei tudo para você — Dylan pegou minha mão e me
levou para o seu quarto.
Quando estive aqui pela primeira vez não consegui prestar atenção na
decoração, não quando tinha os lábios de Dylan sobre os meus. Mas parei
para analisar no dia seguinte, paredes brancas, o piso é revestido em carpete
marrom e os móveis combinam muito bem com a sua cor de madeira
amarelada. Havia uma foto na cômoda, me aproximei dela e no porta retrato
está ele com duas mulheres e um homem.
— Minha irmã, meu pai e minha mãe — explicou — Foi tirada no
último natal que comemoramos juntos, Jimmy, o atual marido de minha mãe
que tirou.
— Mesmo separados eles se davam tão bem assim? — A pergunta
escapou ao ver como nenhum dos dois parecia desconfortável ao tirar uma
foto juntos.
— Sim, eles tiveram um relacionamento lindo até o ponto que não deu
mais certo, foi uma separação amigável.
Era raro, mas incrível ver que isso aconteceu na vida de Dylan.
— Sua irmã não é filha do seu pai, né? — Perguntei apenas para
confirmar.
Estava claro que não era, a garota tinha cabelos escuros e olhos
castanhos, enquanto o pai era alto e loiro que nem a mãe. Não apenas por sua
aparência, Dylan havia me dito que seus pais se separaram quanto tinha seis
anos, a garota na foto não deveria ter mais que dezoito anos.
— Não, ela é filha do segundo casamento de minha mãe que também
não deu muito certo.
— Quantos maridos sua mãe teve?
Ele riu.
— Ela está no terceiro casamento e acho que finalmente encontrou a
pessoa certa.
— Sem filhos?
— Segundo ela, já passa trabalho demais com nós dois.
— Então você dá trabalho para a sua pobre mãe?
Soltei um gritinho quando ele me pegou no colo e me jogou, de forma
delicada, na cama.
— Eu não, mas minha irmã faz isso por nós dois.
Dylan pegou ao lado da cama uma bolsa térmica que nem havia
reparado e colocou sobre a minha barriga.
— Você não consegue parar um minuto de fazer careta de desconforto.
Acho que isso vai ajudar nas suas dores.
Eu estava fazendo careta e nem havia percebido?
— Obrigada — agradeci, encantada com sua preocupação.
Ele se deitou ao meu lado, ergui um pouco a cabeça para poder passar o
braço e me abraçar de lado.
— Tomou remédio?
— Sim, mas não é como se fosse ajudar muito.
Os remédios nunca funcionavam 100% comigo, eles acalmavam a dor
o suficiente para não me contorcer na cama, mas a dor só ia embora mesmo,
quando ela queria.
— Sinto muito que vocês passem por isso, não sei se conseguiria.
Sorri.
— Com certeza não, vocês homens se acham os machões, mas com
uma dorzinha já estão chorando que nem bebês.
— Ei — protestou — Só não mostro para você quem é o bebê porque
está desse jeito.
— Mal posso esperar para... aí — gemi de dor.
Eu te odeio cólica. Respirei fundo, tentando suportar aquilo.
— Tem alguma coisa que posso fazer? — ele perguntou visivelmente
preocupado.
Neguei.
— Só em você ficar aqui já está bom — sorri — Sabe...meu irmão
costumava fazer muito isso.
— É mesmo?
— Ele colocava bolsa de água na minha barriga e trazia todas as
besteiras possíveis, também era o único que me suportava na TPM.
Como eu sentia a falta dele. A garganta apertou e eu senti uma vontade
absurda de chorar, não eram só hormônios, também era a saudade, parecia
cada vez mais difícil de suportar.
Dylan percebeu, porque me puxou mais para ele e com sua mão
começou a fazer um cafuné nos meus cabelos.
— Onde quer que ele esteja e se existe a vida após a morte, ele sente
tanta a falta sua como você.
— Ele iria gostar de você — falei, tentando afastar a vontade de chorar.
— Por que acha isso?
— Porque eu gosto de você e porque você me faz bem — o olhei —
São as duas coisas que meu irmão mais prezava.
Vi quando engoliu em seco, provavelmente sem palavras para o que eu
acabei de dizer. Foi cedo demais? Não enxergava nenhum desespero no que
eu disse, ele realmente me fazia bem.
— Você também me faz bem — finalmente disse e beijou minha testa
— Muito mais do que imagina.
Passamos minutos assim, abraçados e eu com a bolsa na barriga,
tentando acalmar a dor que ainda sentia.
Dylan foi à cozinha depois, para pegar as barras de chocolates e um
pote de sorvete, estava pensando que ele queria mesmo me engordar.
— Você não está nem perto de engordar e mesmo se isso acontecesse,
continuaria apaixonado por você — foi o que ele disse quando o questionei.
Sorri. Ele se deitou ao meu lado e eu já fui pegando minha colher de
sorvete, para em seguida, roubar uma colherada. Sorvete de morango com
creme, eu simplesmente amo essa combinação.
— Que bom, porque se você começar a me mimar desse jeito, eu com
certeza irei engordar.
Ele riu. O seu celular apitou indicando uma mensagem recebida, Dylan
o pegou do bolso e fez uma careta engraçada ao ler o que estava escrito.
— Matthew é um insistente — murmurou, mas eu ouvi.
— O que ele quer?
— Está nos convidando para uma viagem até Outer Banks, os pais dele
têm uma casa na ilha — respondeu — Seria eu, você, Alisson e ele, está
mesmo querendo conquistar sua prima.
— E Ali parece muito interessada nele, para quando seria essa viagem?
— Sábado, eu acho. Comemoraríamos o 4 de julho lá.
Fiquei animada no mesmo momento e Dylan percebeu.
— Quer ir, não é?
— Vai ser bom, desconectar a cabeça do trabalho e aproveitarmos um
tempo juntos. Sem falar que falta dois meses para as competições, logo o
trabalho em Nightfall vai ficar infernal, não teremos tempo nem para respirar
direito, é uma ótima forma de relaxar, não acha?
— E você também quer que sua prima fique com Matthew — constatou
o que parecia bem óbvio.
— Mas é claro que sim, aquela garota precisa desencalhar.
Ele riu.
— Tudo bem, vamos para Outer Banks.
— Não acredito que topei isso — Alisson exclamou pela segunda vez
naquela noite — Sério, talvez eu deva negar o convite, dizer que aconteceu
uma emergência no hospital e terei que trabalhar nesse feriado.
Enquanto eu arrumava a mala, ela não parava de falar, expondo toda a
insegurança de fazer uma viagem entre casais. Segundo ela, não é namorada
de Matthew para isso, mas eu via na forma que mexia com as cutículas das
unhas que tudo não passa de uma insegurança boba.
— Você topou e você vai, onde estão as suas malas? Sairemos em meia
hora.
— Já estão prontas.
Suspirou.
— Acha que ele gosta de mim?
Fechei minha mala e a olhei seriamente, não acreditando naquele tipo
de pergunta.
— Por que não gostaria de você? Ele a convidou para uma viagem para
Outer Banks.
Frisei a última parte. Fala sério, ele estava de quatro por ela com apenas
uma dança e uma conversa naquela confraternização que teve na cidade, por
que ela ainda está insegura?
— Eu sei, é só que eu sou assim, sabe? Insegura e medrosa.
— Você não tem motivos para ficar assim. Pelo pouco que conheci, vi
que Matthew é um bom homem e você minha prima, é uma mulher linda e
muito gostosa, então trate de confiar mais em si mesma.
— Os discursos motivacionais passaram a vir de você agora?
Rimos.
— Tudo bem. Vou ver se falta alguma coisa na minha mala — disse
saindo do quarto.
— Não esquece do biquíni! — Gritei para que ela ouvisse.
Peguei minha necessaire e coloquei dentro dela tudo o que eu precisava
para uma viagem até a ilha de Outer Banks. Estou animada para ir, nunca
havia visitado Carolina do Norte e mal podia esperar para sentir a areia da
praia nos meus pés e nadar no mar.
Trinta minutos depois, nos despedíamos de meus tios e de Amélia, para
ela, eu apenas acenei por educação. Claro que já sabia que eu estou com
Dylan, mas parecia tranquila demais com isso para quem estava interessada
nele até alguns dias atrás.
Ignorei isso porque no momento que saímos de casa tudo foi esquecido
ao ver Dylan encostado na sua caminhonete, me esperando. Vestindo uma
bermuda cinza, tênis nos pés para dirigir e uma camiseta branca, com aqueles
cabelos lindos presos em um coque frouxo.
Havíamos nos visto há poucas horas, treinamos mais um pouco o
comportamento de Tempestade antes de irmos nos arrumar para a viagem.
Aproximei-me dele e o beijei, não me importando com Matthew que
estava próximo da gente ao lado de Alisson.
— Incrível como duas horas longe de você já é o bastante para eu sentir
sua falta — ele murmurou as palavras contra a minha boca, ao nos afastarmos
centímetros de distância.
— E é incrível como eu sinto o mesmo.
Quis beijá-lo novamente, mas a voz bem-humorada de Matthew nos
interrompeu.
— O melhor casal, sem dúvidas, mas vocês poderiam deixar para se
agarrar quando chegarmos naquela ilha maravilhosa?
Me afastei de Dylan para vê-lo sorrindo malicioso ao nosso lado.
— Não me faça desistir disso, Brown — Dylan revirou os olhos.
— Um doce como sempre — Matthew pegou minha mala e a de
Alisson e colocou no porta mala de Dylan — Agora, podemos ir? São 12
horas de viagem.
— Vamos todos juntos? — Alisson perguntou.
— Sim, linda, é muito melhor ter dois motoristas para revezar quando
um estiver cansado — Matthew respondeu, percebi que minha prima corou
apenas por ele a chamar de linda.
— Antes preciso deixar esse moço com Millie — Dylan disse se
referindo a Billy que estava de boca aberta com a cabeça para fora da janela
da caminhonete.
Queríamos muito levar ele e Nina, mas a viagem é de poucos dias e
muito longa para eles. Então conversei com minha tia e meu tio, que não
viram problemas de cuidar deles enquanto estivermos fora.
Acompanhei Dylan e Billy até a casa de meus tios, o deixamos com
eles e Nina, que ao ver que teria uma companhia que apreciava muito no fim
de semana latiu de felicidade.
— Não se preocupem com eles, se divirtam! — Minha tia desejou ao
sairmos da sua casa.
Nos aproximamos de Alisson e Matthew, que conversavam próximos
um do outro.
— Você dirige primeiro, Blossom — Matthew falou assim que notou
nossa presença.
Dylan concordou. Entramos na caminhonete, eu na frente, Alisson e
Matthew atrás, e depois de todos estarem com cintos seguimos para Carolina
do Norte.
— Estou muito animado — Matthew foi o primeiro a começar a falar
quando pegamos a estrada — Primeira de muitas viagens juntos, amigo.
— Só estou fazendo isso porque Ravenna quer muito conhecer a ilha.
— Obrigada por isso, Raven.
Sorri para ele como resposta.
— Aquela noite você me disse que irá competir esse ano, está ansiosa?
— Ele perguntou.
— Estou tentando não pensar muito nisso porque estou muito ansiosa
— admiti — Ainda estamos iniciando o adestramento de Tempestade...
— Espera aí! Tempestade? A égua que mordeu um peão? Por que irá
treinar com ela?
— Ela e Ravenna tem uma conexão — Ali explica — Você tinha que
ver como as duas se conectaram, eu estava lá, parecia um filme. Ambas se
olhavam como se já se conhecessem de outra vida.
Virei minha cabeça para trás e vi o rosto de Matthew tomado pela
surpresa.
— Eu realmente achava que aquela égua não poderia se conectar com
ninguém. Lembro do dia que Dylan chegou no bar e falou sobre como a
encontrou na rua, toda machucada e depois, de como odiava contatos.
— Por isso que estamos trabalhando muito no comportamento dela.
Ravenna parece ser a única que ela não teme e se vamos para regionais temos
que mudar isso — Dylan explicou.
Agora eu não era a única que ela não temia, depois do contato que
Tempestade e Dylan tiveram na semana passada, a égua não temia mais ele,
não da forma que fazia antes, parecia muito mais confortável com a sua
presença.
— Agora quem está ansioso para regionais sou eu — Matthew disse —
Estarei na primeira arquibancada torcendo por vocês.
— Então eu preciso ganhar para termos o que comemorar — sorri.
— Por minha conta no Sweet Dreams.
— Sweet Dreams? — Perguntei, não entendendo.
— É o nome do meu clube, é uma danceteria e um bar — sorriu
orgulho — Dylan, você poderia levar sua donzela lá um dia desses, não é
porque está namorando que não irá mais aparecer.
— Então você frequenta bastante o Sweet Dreams?
A pergunta escapou e junto com ela a pitada de ciúmes que eu sentia,
uma danceteria, muitas mulheres que com certeza davam em cima dele.
— Mas é claro...
— Frequentava — Dylan interrompeu qualquer coisa que Matthew
falaria — Não vejo motivos para frequentar agora que estou com você.
Sorrio. Resposta certa, cowboy.

Seis horas depois paramos para abastecer em um posto 24 horas. Eu e


Alisson fomos usar o banheiro, porque não aguentávamos mais segurar,
enquanto os homens ficaram no posto.
— Você e Matthew parecem estar bem próximos — falei enquanto
lavava as mãos.
Vieram a viagem toda até aqui conversando sobre coisas do cotidiano,
se conhecendo, mas estava na cara que o “não tão amigo” de Dylan gostou de
minha prima.
— Ele é divertido e muito encantador — sorriu ao meu lado.
— Viu? Não tem porque ter medo.
— E você e Dylan? A última vez que vi o cowboy com esse humor
éramos jovens.
Peguei um pouco de papel e sequei minha mão.
— Ele está feliz.
— E você é o motivo disso — ela disse — Você... não pretende ir
embora, né?
— Por que essa pergunta?
— Você está passando apenas um tempo em Nightfall, prima e se
apaixonou perdidamente por Dylan, assim como ele por você. Eu sei que é
cedo, mas já parou para pensar no futuro?
Não, eu não havia parado para pensar.
Mas tenho a certeza que meu lugar é no Tennessee.
— Não quero pensar nisso agora, estamos juntos a apenas uma semana.
— Eu sei, só não quero que se machuquem.
A abracei de lado e seguimos para fora do banheiro.
— Sei que você está preocupada, mas vamos deixar para pensar nisso
quando tivermos que pensar. Ou já quer me ver longe de você?
Ela riu.
— Você sabe que por mim, já estaria morando comigo.
— Isso pode acontecer.
Nos aproximamos da caminhonete e só Matthew estava presente.
— Onde está Dylan? — Perguntei.
— Ele foi comprar algumas porcarias para viagem, disse que você ama
chocolate.
Não pude deixar de sorrir, Dylan é um fofo.
— Vou aproveitar e comprar algumas balinhas — Alisson disse.
Quando ela se afastou, deixando eu e Matthew a sós, fui a primeira a
quebrar o silêncio.
— Obrigada por nos convidar — agradeci, já que não havia tido a
oportunidade de fazer.
— Não tem o que agradecer, na verdade quem tem sou eu — o olhei
confusa — Faz tempo que quero ter uma amizade com aquele grandalhão e
ele nunca me deu uma chance, depois que finalmente percebeu que não
adianta fugir do que sente por você, parece estar diferente.
— Também noto essa diferença — falei — Ele perdeu a capacidade de
confiar novamente, não é?
Matthew assentiu.
— Você já sabe de tudo? — Confirmei — Infelizmente Briana e
Charles quebraram aquele homem de uma forma que só você foi capaz de
incentivá-lo a juntar cada pedaço e reconstruir novamente, mas ainda há
cicatrizes.
— Por que ela fez isso? Não era muito mais fácil terminar com ele e
evitar que tudo isso acontecesse?
Matthew riu, balançando a cabeça.
— Briana é uma doente manipuladora, quando eu namorava com ela,
gostava de me ver brigando com os meus colegas de time por causa dela,
quando eu percebi que não era nada mais que um brinquedo em suas mãos, a
larguei. Ela pode até ter sido feliz com Dylan no início do relacionamento,
mas uma cobra não pode ser domesticada, e quando viu que estava sendo,
atacou.
Ele também parecia ter rancor da ex-namorada, nada comparado ao que
Dylan sentia, mas estava ali.
— Mas não deixe que esse passado estrague o que vocês dois estão
construindo, Ravenna. Dylan demorou alguns dias para perceber que estava
enganando a si próprio em relação a você, mas sei que ainda está machucado.
Percebi que deixei passar uma informação importante, que
provavelmente Matthew saberia responder.
— Faz quanto tempo que ele a mandou embora?
— Dois anos, pode parecer muito tempo, mas não é.
Concordei, não era nem de longe muito tempo para superar um
relacionamento traumático daqueles.
— Ele a amava?
Minha pergunta não pode ser respondida porque Dylan e Alisson se
aproximaram de nós, mas eu sabia a resposta.
É claro que ele a amava, ou então não teria ficado tanto tempo com ela,
não teria dado tantas chances e muito menos a deixado destrui-lo desse jeito.
— Duas barras de chocolates, uma delas é meio amargo e outra ao leite
— ele mostrou a sacola — Junto com uma Coca-Cola bem gelada.
— Você é perfeito — beijei seus lábios rapidamente afastando qualquer
pensamento tenso da minha mente.
O amor que sentia por Briana se transformou em ódio.
Ele está apaixonado por mim agora e eu torcia que isso fosse mais que
uma paixão, porque eu sentia que aqui dentro do meu coração, o amor já se
formava.
Dylan jogou a chave para Matthew, que a pegou no ar.
— Agora é com você.
Entramos no carro, dessa vez eu e Dylan atrás, Matthew logo deu a
partida. Coloquei meu cinto e já fui abrindo a barra de chocolate meio
amargo.
— Tem certeza que você não quer me engordar?
Ele riu.
— Tenho. E já te disse que a acharia linda até se fosse careca.
Peguei um pedaço do chocolate e o levei até a boca, nossa, como eu
sou viciada nessa porcaria.
— É melhor você não gemer desse jeito, ou então teremos sérios
problemas — Dylan sussurrou no meu ouvido e um arrepio se espalhou pelo
o meu corpo.
— Safado! Depois você fala de mim — murmurei e ele riu.
— Não podemos ser desrespeitosos com eles, né?
— Não mesmo — aproximei minha boca da sua orelha — Mas pense
que estaremos em uma ilha e poderemos fazer de tudo longe deles.
Quando me afastei, ele me puxou pela nuca e grudou nossos lábios em
um beijo rápido, mas cheio de promessas.
— Estou ansioso por isso.
Chegamos na casa de Matthew quando o dia começava a nascer tão
cansados que fomos diretos para o quarto dormir.
Era perto de meio dia quando fui acordado por Matthew para irmos até
a cidade comprar comida e o que faltava para a casa.
Com muita relutância deixei Ravenna dormindo na cama e fui até o
banheiro do quarto, lavei meu rosto e escovei os dentes.
Sai do quarto em seguida, encontrei Matthew na sala de estar, a casa é
incrivelmente bonita e de frente para o mar, como eu imaginei que seria.
Havia até mesmo uma parte da praia que é privada da propriedade.
— O que achou? — Ele perguntou.
— Você acertou em nos convidar para esse lugar — falei.
— Considere como um presente de namoro para vocês, mesmo que eu
e Alisson estejamos aqui — sorriu.
A minha cara deve ter expressado o que eu pensei, não sei se somos
namorados, porque ele já foi logo perguntando:
— Estão namorando, não é?
— Não a pedi em namoro, quando falamos sobre nós disse que
descobriríamos juntos o que somos.
— Isso é algum tipo de déficit seu? Você deveria ter pedido a garota
em namoro — colocou a mão na testa — É exatamente por esse motivo que
você precisa de amigos, dois anos sem nenhum tipo de relação o tornou
insensível.
Revirei meus olhos.
— É só um pedido de namoro Brown, não exagere como sempre faz.
Caminhamos para fora da casa e seguimos para a minha caminhonete,
entreguei a chave para ele dirigir, já que conhecia o bairro melhor do que eu.
— Só um pedido de namoro? — Perguntou quando entramos no carro
— Toda garota gosta de saber qual é o status do relacionamento que está
tendo.
— E o que sugere?
Ele engatou a marcha e seguiu para o centro da cidade.
— Eu sugiro que melhore isso logo e aproveite esse lugar lindo para
fazer um pedido de namoro digno de filmes românticos.
Um pedido de namoro.
Não vou mentir que isso vinha ocupando minha cabeça a semana toda.
Mas o quão egoísta eu seria se fizesse? Não é certo pedir um
relacionamento sério com Ravenna quando não tenho coragem de abrir a
minha boca e contar o resto.
O resto que a faria se afastar.
O resto que destruiria qualquer chance de ficarmos juntos.
O resto que me amaldiçoava até hoje.
Eu preciso abrir a minha maldita boca e contar, mas pela primeira vez
admito que estou com medo.
Já passei por isso e a única coisa que não sei é se aguentaria passar de
novo.
— No que tanto pensa? — Matthew perguntou quando estacionou o
carro.
— Você está gostando da Alisson?
Ele franziu a testa, não entendendo o motivo de ter mudado de assunto.
— Sim. Dançamos juntos naquela noite e nos conhecemos um pouco
depois que você e Ravenna foram embora, tive tempo o suficiente para saber
que ela é uma garota diferente das outras e que vale a pena conquistá-la.
— Se tivesse algum segredo, algo que pudesse arruinar o futuro de
vocês dois, algo que a fizesse o desprezar, contaria mesmo assim?
Joguei a pergunta antes que perdesse o pingo de coragem que estava
tendo. Matthew não estava entendendo nada, mas respondeu mesmo assim.
— Um segredo nunca deve fazer parte de um relacionamento Dylan,
isso significa omissão que acaba levando a mentiras e que por fim, acaba
estragando toda a confiança que um possui no outro — me olhou, muito
sério. Não parecendo nada com aquele Matthew brincalhão e irritante — Eu
sei que não tenho conhecimento de tudo o que aconteceu no seu passado, mas
se está tentando me dizer que não contou tudo para Ravenna, está indo pelo o
caminho errado.
— Mesmo com todos os motivos que citei? Eu a perderia.
— Mesmo com todos esses motivos. Um segredo não fica guardado por
muito tempo, mesmo que você queira isso — sorriu de lado — E acho muito
difícil ela largar você, a maneira que ela te olha meu amigo, tem muito mais
do que paixão naquelas pupilas e você não está longe disso.
— Acha que ela...ela...
Não consegui terminar.
— Acho que está perto disso — esclareceu — Mais perto do que você
imagina, então, se tem algo a contar, conte ou isso pode acabar destruindo o
que vocês começaram agora.
Eu sei que tudo o que ela está falando é verdade, sei que tenho que
seguir exatamente esse caminho, mas é uma batalha contra a minha
insegurança, contra o meu medo, contra o meu egoísmo. Não quero perder
Ravenna, não agora que a tinha.
Experimentei a melhor semana da minha vida com ela ao meu lado, se
eu soltasse as palavras que formariam a frase, nos destruiria para sempre.
— Não está nem um pouco curioso? — Perguntei surpreso por não
receber nenhuma pergunta sobre o que eu ainda escondia.
— Você não imagina o quanto, minha cabeça está a criar mil teorias,
tudo ao mesmo tempo, mas sei que se eu perguntar você não irá me contar.
— Que bom que sabe disso.
— Agora que eu já dei o meu conselho, podemos ir fazer as compras?
As meninas já devem estar acordando.
Assenti.
Enquanto isso, eu tenho que vencer uma batalha dentro de mim.

— Por que não compra? É delicado como ela.


Matthew perguntou quando me viu observando tempo demais o colar
na vitrine da joalheria. A loja ficava ao lado do mercado que acabamos de
sair, depois de comprar todos os suprimentos para o fim de semana.
O colar em questão, é uma corrente de ouro com o pingente de um
cavalo, olhando mais de perto, me lembra muito a Tempestade. Ravenna com
certeza amaria.
Uma ideia surgiu na minha cabeça e eu entrei na loja decido a adquirir
a joia.
— Esse é meu garoto — ouvi a exclamação eufórica de Matthew atrás
de mim.
Quase revirei os olhos, mas não pude deixar de sorrir. Ele não é uma
pessoa tão desagradável, afinal.
Comprei o colar minutos depois e seguimos para a caminhonete,
deixamos as compras no porta mala e entramos no automóvel.
— O que vai fazer? — Ele perguntou, não se aguentando de
curiosidade.
— Deixa de ser curioso.
Vi quando bufou, fingindo falsa decepção. Ligou o carro e seguimos
para a casa de praia.
Chegamos dez minutos depois, pegamos as sacolas e eu fiz questão de
esconder o colar no bolso da bermuda jeans que eu usava, felizmente é
grande o bastante para guardar a caixa.
Entramos dentro de casa e Alisson e Ravenna estavam comendo
salgadinhos.
— Finalmente comida de verdade! — Ravenna exclamou — Eu amo
salgadinhos, mas estou com fome de ovos e bacons.
Estávamos a mais de 14 horas a base de salgadinhos e bolachas
recheadas. Infelizmente por se tratar de madrugada, era tudo que os postos
tinham para oferecer.
— Eu vou preparar um café bem reforçado para nós podermos curtir o
dia lindo que está lá fora sem nenhum estresse — Matthew disse, retirando as
compras da sacola.
— Café a uma da tarde? — Arqueei as sobrancelhas.
Ravenna que já havia saltado do banco que estava sentada, se
aproximou de mim e me abraçou, retribui na mesma hora.
— Um almoço, que seja — Matthew revirou os olhos — Posso contar
com sua ajuda, linda?
Alisson sorriu assentindo com as bochechas levemente rosadas.
Os dois formam um casal bonito, admito.
— Acho que devemos dar privacidade para eles — Ravenna sussurrou
no meu ouvido e como todas as vezes que fazia isso, me senti arrepiar.
— O que acha de um banho no mar?
— Uma ótima ideia — sorriu.
Peguei sua mão e subimos a escada juntos, não sem antes dizer qual
seria o nosso destino para o casal que ficou na cozinha.
Entramos no nosso quarto e já fui logo agarrando Ravenna e a beijando,
é incrível como horas longe já é o bastante para sentir falta de seus beijos.
Sugo sua língua, exploro sua boca enquanto suas mãos seguram fortemente
minha cabeça contra si.
Minhas mãos da cintura vão para sua bunda a grudando totalmente no
meu corpo. Ela arfa ao sentir meu pau semiereto pressionar sua barriga, esse
é o poder que tem sobre mim apenas com um beijo.
— Pensei que iríamos nadar — ela sussurrou quando escorreguei meus
lábios por seu pescoço.
Chupei sua pele, sentindo seu gosto tão bom na minha boca, eu
definitivamente não queria nadar agora, mas me controlaria para de noite,
porque tudo se tornaria ainda mais especial.
— E vamos — beijei seus lábios rapidamente — Mas não posso
aproveitar um pouco a sós com você?
— Você estava quase me fazendo desistir da ideia de nadar naquele
mar maravilhoso, isso sim — sorriu.
— Então vamos antes que eu desista também.
Rimos.
Peguei uma sunga preta e Ravenna foi até o banheiro do quarto se
trocar. Retirei toda a minha roupa e vesti a peça.
Foram alguns minutos depois que quase cai para trás quando Ravenna
saiu com um biquíni vermelho, sem nenhuma estampa. Ela só podia estar
querendo me matar com aquilo, a peça só mostra a todos como ela é gostosa.
— Uau! Sei que já o vi pelado, mas você é uma visão e tanto em
cowboy — disse me olhando de cima a baixo.
Sorri com o elogio, ela sabe como levantar o ego de uma pessoa.
— Você não está diferente com essa roupa, na verdade estou pensando
seriamente em nos trancar aqui no quarto e não deixar ninguém a ver com
esse biquíni.
Ela se aproximou, suas mãos foram para o meu peitoral e começaram a
me tocar, em uma caricia que até podia ser inocente, mas que levava os meus
pensamentos a outro caminho, um muito malicioso.
— Então você faz o tipo possessivo? — Perguntou.
— Parece que você me desperta esse lado também.
Ela sorriu.
— Que bom que não sou a única que sente isso — deu um beijo rápido
em meu peito para depois se afastar — Vamos antes que já seja hora do
almoço.
Ela adora isso, me provocar e sair andando como se nada tivesse
acontecido.
— Ravenna uma hora você vai pagar por todas essas provocações.
— Não vejo a hora de isso acontecer.
Antes que eu pudesse a pegar, ela já havia pegado uma saída de praia e
corrido para fora do quarto.
Acabei rindo, ela é uma figura. Alguém que se tornava impossível não
se apaixonar.
Desci as escadas de sunga mesmo, a praia é bem na frente da casa de
Matthew, alguns passos e você está pisando na areia.
Encontrei Ravenna na sala, sorrindo toda boba para as paredes,
literalmente.
— O que voc...
Ela tapou a minha boca.
— Xiu! Escuta isso, é o som de algo se formando — disse.
Só então entendi do que se referia, ouvi as risadas e falas que não
prestei atenção de Matthew e Alisson.
Ravenna pegou minha mão e saímos sem fazer barulho para fora de
casa.
— Estou feliz por ela — ela disse quando colocamos os pés na areia —
Alisson teve um único namorado e ele não foi legal, vê-la feliz assim, aquece
meu coração.
— Matthew parece gostar dela, tenho certeza um será bom para o outro
— fui sincero em minhas palavras.
A praia não estava muito cheia, mas também nem um pouco vazia.
Ravenna deslizou a saída de praia do seu corpo e percebi alguns homens nada
discretos apreciarem sua beleza, automaticamente me senti tenso.
Ela provocava aquilo e estava na cara que não percebia.
— O que foi?
— Esses homens ridículos não tem mulher para ficar cuidando? —
expressei meus pensamentos — Eles não param de olhar para você.
Ravenna sorriu e passou os braços pelo meu pescoço, rapidamente
abracei sua cintura, trazendo seu corpo para mais perto do meu.
— Deixa eles olharem e morrerem de inveja porque só você me tem.
Fechei meus olhos e fiz exatamente o que ela disse, a beijei tão
profundo e intenso como todas as vezes que fazíamos.
— Isso também mostra para aquelas mulheres ali que você é todo meu.
Olhei discretamente para onde ela indicava, havia algumas mulheres
afastada de nós que me olhavam.
— Por que não vamos nadar e mostrar para essa gente que somos
ótimos juntos?
Ravenna nem respondeu, não em palavras, sorriu e pegou minha mão.
Deixamos os chinelos junto com a sua saída de praia e fomos para água.
Estava muito quente e a água gelada foi muito bem recebida por nós,
nadamos até ficarmos mais afastado da beirada e do pessoal que se banhava
por ali.
— Esse lugar é incrível — Ravenna disse, observando tudo ao redor.
— Não tão incrível como você, mas confesso que é muito bonito — a
puxei para mais perto de mim.
— Nossa primeira viagem juntos — sorriu — Eu nem acredito.
A primeira de muitas.
Quis dizer, mas isso entregaria o que eu ainda queria fazer hoje à noite.
— O que acha de jantar comigo naquele restaurante hoje?
Indiquei com a cabeça o restaurante que ficava à beira do mar. Matthew
havia comentado mais cedo que a iluminação era muito bonita de noite e
pensei que aquilo era o que precisávamos depois de todas as dificuldades que
passamos até chegar aqui. Aproveitar esse lugar juntos da melhor forma
possível.
— Você só está tendo ótimas ideias hoje — beijou meus lábios — É
claro que acho uma ideia ótima e claro que aceito.
Sorri e a beijei de verdade, a levando um pouco mais para o fundo. As
ondas não estavam fortes, por isso podíamos aproveitar bem aquele mar. Suas
pernas abraçaram minha cintura e senti suas unhas rasparem pela minha nuca,
me fazendo estremecer.
Segurei sua cintura firmemente a mim e deslizei uma de minhas mãos
mais para baixo, apertando sua nádega direita.
Ela riu entre o beijo.
— Ou nos controlamos ou iremos fazer muito mais que nos pegar aqui
no mar — beijou o canto da minha boca — E com vários telespectadores.
Malditas pessoas.
Nadamos mais um pouco, nos divertimos jogando água um no outro e
também não resistimos, nos beijamos a todo o momento, como dois casais
apaixonados.
Há muito tempo não me sentia tão bem.
Uma felicidade que quase explodia meu peito.
E saber que eu era o motivo daquele sorriso lindo naquele rosto
angelical me desestabilizava.

— Você está linda.


Ravenna vestia um vestido rosa claríssimo de alças largas, apertado na
cintura e solto nas coxas. Uma bolsinha da mesma cor combinava com o
estilo e nos pés usava uma sandália aberta muito bonita.
— Obrigada, você também está — sorriu.
Eu vestia uma calça jeans com uma camiseta social branca e sapatos
pretos. Matthew havia me dito que por mais que o restaurante fosse na beira
da praia, ainda era formal.
— Felizmente eu trouxe esse vestido ou então teria que ir de short e
blusa — Ravenna brincou.
Assenti. Sentia o mesmo sobre as minhas roupas, não era muito
acostumado com terno, então nem tinha, por isso peguei a melhor calça jeans
do guarda roupa para a viagem.
— Vamos? — estendi meu braço para ela.
— Vamos — entrelaçou seu braço no meu e olhou em volta — Alisson
e Matthew saíram?
— Os vi na beira da praia, pareciam bem próximos — sorri — Acho
que preste a dar o primeiro beijo.
Ela soltou um gritinho eufórico.
— Por que não me chamou?
Eu ri.
— Porque esse momento é deles — respondi o óbvio.
— Tem razão! Só estou muito feliz que isso esteja acontecendo.
Saímos da casa de Matthew e passamos perto deles enquanto
seguíamos o caminho para o restaurante. Ambos rindo e muito próximos.
— Eles são tão fofos — os olhos de Ravenna brilhavam.
— São mesmo.
Eu via no olhar de Ravenna como ela estava feliz com a felicidade da
prima.
O restaurante não era longe da casa de Matthew, por isso não
demoramos a chegar. Entramos e fomos recepcionados por um homem
moreno e com roupas parecidas com a minha, fiquei um pouco mais aliviado
por não ser um terno.
— Boa noite! Fizeram reservas?
— Sim, em nome de Dylan Blossom.
Eu havia ligado mais cedo para reservar, por sorte conseguimos um
lugar para dois.
— Por aqui.
O homem nos guiou até uma mesa nos fundos, retirou a placa de
reservados e nos entregou o cardápio.
— Fiquem à vontade, quando já souberem o que pedir só apertar nesse
botão —apontou uma pequena campainha em cima da mesa.
Assenti.
— O que você quer pedir?
Ela sorriu.
— Frutos do mar.
— Então vamos pedir isso.
Apertei a campainha e logo o garçom veio nos atender, fiz nossos
pedidos e de bebida pedimos um suco. Eu sabia que Ravenna não é uma
pessoa alcoólatra, mas a bebida só esteve com ela em momentos ruins e hoje
era um momento bom.
— Às vezes eu acho que estou sonhando — ela admitiu. Seus olhos
desviando do interior do restaurante e parando em mim.
— Por que acha isso?
— Porque por um momento achei que não ficaríamos juntos.
Entendi o que ela queria dizer rapidamente, até podia imaginar em qual
momento ela pensou isso.
Peguei sua mão em cima da mesa e a segurei.
— Sinto muito por ter a feito pensar isso.
— Você não tem o porquê se desculpar. Aquela mulher foi horrível
para você, é natural sentir receio de começar outro relacionamento.
Era incrível a forma que um entendia o outro. Ravenna disse há alguns
dias atrás que eu a entendia muito bem, mas a forma que ela foi
compreensível a dar um tempo ao meu coração, a não me pressionar, faziam
com que eu percebesse que ela me entendia muito mais que eu mesmo.
Será que ela compreenderia o motivo de não ter contado tudo? Ou esse
seria o limite para ela?
Abri minha boca para contar absolutamente tudo, eu devia isso, ela
precisa saber, mas não consegui.
— O que foi?
Neguei com a cabeça, ainda relutante.
— Nada — menti — Você é incrível.
Suas bochechas ficaram vermelhas.
— Eu odeio isso Dylan Blossom — apontou com sua mão livre para o
seu rosto — Só você me faz corar.
Acabamos rindo.
— Eu não sou uma pessoa tímida.
— Isso eu concordo, soube disso no momento que a conheci.
— O que você quer dizer com isso? — Arqueou as sobrancelhas, o ato
a deixava mais sexy.
— Você foi a primeira que bateu de frente comigo.
— Está me dizendo que ninguém nunca retrucou aquela sua falta de
educação?
— Sim e eu sou uma pessoa educada, só tentava afastar as pessoas de
perto de mim.
Ela me olhou por alguns segundos, pensativa.
— Com aquela arrogância insuportável — provocou.
Dei de ombros.
— Parecia ser o único jeito, não queria ninguém entrando na minha
vida para depois se afastar novamente, ou pior, me trair.
Ela assentiu, parecendo compreender o que eu pensava na época. Hoje
vejo que tudo não passava de uma armadura que precisava de um guerreiro a
altura para quebrar, uma guerreira, Ravenna.
— Felizmente Nina invadiu seu rancho.
— Estávamos destinados a nos encontrar, mesmo sem a ajuda de Nina
e Billy, nos encontraríamos mesmo assim.
— Nunca acreditei em destino — confessou — Mas seria mentira se
dissesse que não estou repensando na minha crença. Se não fosse por ele,
acho que não nos conheceríamos.
— Eu também penso nisso de vez em quando — acariciei sua mão com
o meu polegar — O destino trouxe Nina para o meu rancho e fez com que eu
a conhecesse, para depois descobrir que seriamos colegas.
— E você odiou.
— Odiei porque não gostava de tudo o que você me fazia sentir —
admiti.
— E o que eu o fazia sentir? — Seu sorriso provocativo tomou conta
dos lábios rosados.
Trouxe sua mão para perto do meu rosto.
— Muito desejo — beijei sua mão — Toda vez que me provocava
sentia vontade de te encurralar na primeira parede e a beijar, sentir todo o seu
gosto — beijei sua mão mais uma vez — De todo o seu corpo, sem escapar
nenhuma parte.
Senti quando Ravenna estremeceu, seus olhos brilhando de desejo, eu
sabia que se a levasse para um canto agora mesmo, constataria que estava
excitada.
— Quem está jogando sujo agora? — Perguntou e riu baixo.
Fomos interrompidos pela chegada dos nossos pedidos. Tive que largar
sua mão quando o garçom arrumou toda a nossa mesa, desejou um bom
jantar e depois se afastou.
Jantamos ao som da música de fundo do restaurante, conversamos e
rimos, sem tocar em nenhum assunto que pesasse, apenas nossas
provocações, que eu sempre amei.
Depois do jantar, que por sinal, estava magnifico, paguei a conta e
saímos do estabelecimento.
— O que acha de andarmos? — A convidei.
Ela concordou. Caminhamos na beira da praia, a água não chegava nos
nossos pés. O cenário estava muito bonito, combinava com o que eu iria
fazer, as estrelas iluminando o céu azul escuro.
Parei com ela depois de nos afastarmos o bastante do restaurante.
A batalha já tinha um vencedor.
— O que foi? — Ela perguntou, um pouco confusa por termos parado
do nada.
Peguei a pequena caixa do meu bolso e comecei:
— Desejo não foi a única coisa que sentia quando nos aproximávamos.
Eu me sentia vulnerável, sentia que você poderia ser a pessoa que destruiria
minha armadura que demorei meses para erguer, eu estava certo no final,
você as destruiu — abri a caixinha e vi quando seus olhos se arregalaram
levemente ao ver o colar — Desde que a vi pela primeira vez sabia que estava
ferrado por sentir todas essas coisas apenas com um olhar, mas nunca
consegui evitá-la. Você é como uma droga Ravenna, basta uma prova e é
difícil de desapegar, como um tsunami, entrou na minha vida de forma rápida
e explosiva.
Os olhos dela estavam um pouco umedecidos e acho que sabia para
onde eu queria levar aquilo.
— Você me perguntou o que somos, na hora eu não soube responder,
disse que descobriríamos juntos, mas eu quero ser algo com você.
Retirei o colar da caixa e o estendi em sua direção.
— Aceita ser minha namorada, garota da cidade?
Ai meu Deus!
Dylan Blossom está me pedindo em namoro. Se ele não estivesse na
minha frente com aquele colar lindo dourado com pingente de um cavalo que
me lembrava muito Tempestade, não conseguiria acreditar.
— É claro que sim! — Sorri, não conseguindo segurar a felicidade que
se espalhava por todo o meu peito.
Ele sorriu e aproximou o colar do meu pescoço.
— Posso?
Assenti e me virei, puxei meus cabelos todo para o lado e o ergui para
ele passar a corrente pelo o meu pescoço. Só me virei quando ele deixou um
beijo na minha nuca.
— Agora você é definitivamente meu — abracei seu pescoço o
trazendo para perto de mim — Fica impossível não se apaixonar mais por
você Dylan.
— O plano é justamente esse — suas mãos foram para minha cintura,
me mantendo próxima ao seu corpo.
O beijei com o peito preste a explodir de muitas emoções, sentia que
poderia flutuar tamanha a paz que estava sentindo. Há tempos eu não sentia
isso, na verdade, os momentos que me sentia dessa forma era com Archer.
Percebi naquele momento que o destino é realmente incrível, ele fez
com que duas almas com dores distintas se encontrassem e se apaixonassem.
Talvez isso fosse o que eu precisasse esse tempo todo.
Talvez isso fosse o que ele precisasse esse tempo todo.
Continuei a beijá-lo até ficar sem ar, afastei meus lábios dos seus
apenas para abrir meus olhos e encontrar suas íris azuis me olhando com
admiração.
Estávamos na parte privada da praia de Matthew, próximo a nós tinha
umas pedras altas e foi em uma delas que fui encostada para ser beijada por
Dylan novamente.
Diferente do primeiro, esse era mais urgente e correspondido por mim
pela mesma necessidade. Agarrei seus cabelos e suguei sua língua, sua mão
desceu até a minha coxa e entrou por baixo do meu vestido, o senti apertar
minha coxa direita ao mesmo tempo que seus beijos deslizavam pelo meu
pescoço.
— Quero ter a minha namorada sob esse céu azul incrível — ele
sussurrou no meu ouvido, senti o impacto das palavras fazerem efeito no
meio das minhas pernas e no meu corpo ao estremecer.
— E eu adoraria ter o meu namorado sob esse céu estrelado —
confessei.
Estremeci ao senti-lo beijar todo o lado direito do meu pescoço, entre
mordidas e lambidas. Dylan ergueu sua cabeça e me pegou no colo, abracei
sua cintura com minhas pernas e não desviei o olhar do seu ao ser guiada para
trás das pedras.
Desviei meu olhar rapidamente para olhar ao redor, as pedras altas
tapariam qualquer pessoa de ver o que faríamos de longe. Entre duas delas,
Dylan me colocou em pé no chão, suas mãos da minha cintura subiram até
meus ombros em uma caricia suave.
Seus dedos tocaram as alças do meu vestido e as fizeram deslizar até o
início dos meus braços. Com o seu olhar sobre os meus, retirei o vestido
lentamente na sua frente me sentindo arrepiar ao ver seus olhos descerem
pelo meu corpo coberto apenas com uma calcinha.
— Porra, eu não me canso de dizer o quão linda você é — suas mãos
seguraram os meus seios e arfei no mesmo momento, ele os acariciou, os
massageou, seus dedos ágeis manipulando os mamilos já eriçados de forma
erótica, me deixando mais louca para tê-lo dentro de mim — A mulher mais
linda que já tive o prazer de conhecer.
O elogio me fez sorrir, ele conseguia ser fofo e sedutor na mesma
medida, isso me matava.
— E você é o homem mais bonito que já vi — minhas mãos foram até
os botões da sua camiseta, desabotoando um por um — Eu sou uma mulher
sortuda por ter conhecido você.
Dylan sorriu, com aquele sorriso que sempre me deixava
desestabilizada e depois de ter desabotoado sua camiseta, me beijou.
Suas mãos desceram para a minha calcinha, senti um de seus dedos
tocarem minha intimidade por cima da peça constatando o início da minha
excitação.
Nos separamos do beijo apenas para retirar todas as peças que ainda
nos impedia de sentirmos um ao outro por completo. Suspirei admirada ao
vê-lo nu na minha frente, seu pau excitado parecia ainda maior do que já era.
Dylan voltou a me beijar, mas dessa vez me deitou delicadamente na
areia macia entre as duas pedras altas. Seu corpo sobre o meu me beijando
como se o mundo pudesse acabar. Foi impossível impedir um gemido entre o
beijo ao sentir seu dedo em minha vagina, me acariciando para depois subir o
polegar e brincar com o meu clitóris.
— Dylan... — gemi seu nome ao ter seus lábios desgrudando dos meus.
Ele desceu os beijos e encontrou meus seios, os chupou como se fosse
seu brinquedo favorito. Abri os olhos, que nem percebi que havia fechado e
encontrei um céu azul estrelado maravilhoso. Se essa não era a cena mais
erótica e linda da minha vida, eu não sabia qual era.
Dylan me penetrou com dois dedos e arfei, sentindo os dois saindo e
entrando de dentro de mim, enquanto o seu polegar esfrega meu clitóris.
Encontro os seus olhos, tão desejosos quanto o que os meus expressam. Ele
desliza a boca do vão entre os meus seios até a minha barriga e morde de
leve.
— Às vezes tenho vontade de marcar você todinha — disse.
— Eu teria que fazer o mesmo com você — sorri.
O sorriso foi substituído por um gemido ao sentir ele literalmente cair
de boca em minha vagina. Arqueei os quadris, buscando por mais contato,
por um alivio que seja e tudo que recebi foi suas mãos me prendendo de volta
ao chão.
— Você está impaciente hoje — provocou.
— Ficamos uma semana inteira sem transar por causa da minha maldita
menstruação, você acha que eu deveria estar paciente?
Ele riu baixinho, fazendo com que sentisse o ar sair de sua boca e ir de
encontro a minha vagina. Até isso me deixava excitada.
Senti sua língua me penetrar, me estimulando para dentro e para fora,
percebi que estava prestes a gozar e ele pareceu perceber o mesmo, porque
continuou com os movimentos lentamente.
— Dylan... eu... preciso de você — gemi.
— Eu também — ele subiu até ficar na minha altura e me beijou.
Pegou uma camisinha no bolso da calça ao nosso lado e eu a peguei de
sua mão.
— Eu coloco.
Dylan se sentou e senti meu coração acelerado ao aproximar minha
mão de seu pau extremamente excitado. O acariciei, de cima para a baixo,
usando o pré sêmen para deslizar por todo seu cumprimento.
— Raven... — gemeu, rouco.
Coloquei a camisinha porque realmente precisava dele dentro de mim o
mais rápido possível, e antes que ele pudesse inverter nossas posições, sentei
em cima de suas coxas.
— O que acha de eu ir por cima dessa vez? — Perguntei, sorrindo ao
vê-lo surpreso.
— Adoraria ver você me montando — retribuiu o sorriso.
Segurei seu rosto e o beijei explorando sua boca enquanto me
posicionava para recebê-lo.
Gememos juntos ao posicionar o membro na minha entrada e deslizar
por ele. Nessa posição eu conseguia o sentir ainda mais. As mãos de Dylan
seguraram meu quadril firmemente, me ajudando nos movimentos, e as
minhas apoiavam no seu peito, voltei a beijá-lo enquanto subia e descia pela
sua extensão, ambos embriagados de tanto prazer.
Sua boca desceu para o meu seio e o abocanhou, usando a língua e
raspando os dentes. Fechei meus olhos tamanho o prazer que sentia, me
movimentando mais forte em cima dele.
O levei o mais fundo que conseguia, tudo o que conseguíamos ouvir era
nossos gemidos e respirações descompassadas. Abri meus olhos e encontrei o
seu olhar no meu. Sua boca largou o meu seio para encontrar os meus lábios,
minhas mãos foram para os seus cabelos e os puxaram conforme sentia a
chegada do orgasmo.
Dylan me pegou de surpresa ao parar de me beijar e inverter nossas
posições rapidamente. Colocou uma de minhas pernas em seu ombro e voltou
a penetrar com mais força, gemi alucinada.
Eu não sabia o que pensar além do que já tinha certeza: estou
completamente louca por esse homem.
Ele aumentou ainda mais suas investidas me fazendo gritar de prazer,
senti uma pressão nos meus clitóris e percebi que era os dedos de Dylan me
estimulando, aquilo foi o meu fim, me entreguei a um orgasmo intenso que só
ele me fazia ter.
Dylan veio logo em seguida, gemendo alto e se entregando ao prazer
surreal que compartilhamos naquele lugar.
Ele largou minha perna e desabou em cima de mim, tomando cuidado
para não me esmagar com seu peso. Beijou o vão entre meus seios, para
depois chegar até os meus lábios e beijá-los também.
— Isso... foi incrível — murmurei, ainda ofegante devido ao orgasmo
intenso.
Dylan se apoiou com apenas uma das mãos, para a outra fazer um
carinho no meu rosto, que já estava todo suado.
— Somos incrível juntos — ele repetiu o que eu disse na primeira vez
que transamos.
Assenti sorrindo e voltei a beijá-lo. Eu estava tão apaixonada por esse
homem, que não sabia o que faria se não tivesse ele na minha vida.
— Podemos tomar um banho no mar? — Sugeri — Estamos todos
suados.
— Nus? — Sorriu malicioso.
— Totalmente nus.
Ele saiu de dentro e de cima de mim, retirou sua camisinha cheia,
amarrou em um nó e deixou ao lado de suas roupas.
— Vamos? — Estendeu sua mão.
Peguei sua mão e fomos para o mar. Felizmente a praia estava deserta
ao lado da parte privada de Matthew ou então as pessoas veriam o que
estávamos fazendo.
A água estava gelada, o bastante para sentir frio daqui alguns minutos,
mas não me importei quando Dylan me guiou até a parte que a água batia em
nossos peitos.
Fechei os olhos e deixei as ondas fracas do mar me deixarem ainda
mais relaxada. Eu amava Nightfall, mas esse lugar era perfeito e a partir de
hoje ficaria guardado na minha memória para sempre.
Foi o lugar que fui pedida em namoro pela pessoa que estou
completamente apaixonada, tendo a noite encerrado da melhor forma
possível.
Senti a mão de Dylan em meu rosto, acariciando minhas bochechas.
Abri meus olhos e encontrei seu olhar amoroso e seu sorriso lindo.
— Você é linda, namorada — elogiou.
Sorri, sentindo as bochechas quentes pela segunda vez naquela noite.
— E você também é lindo, namorado.
Ele aproximou o rosto do meu e me beijou de forma lenta e
apaixonante. Naquele momento pensei que nada poderia estragar tudo o que
estávamos construindo juntos, também tive a certeza que seria impossível não
amar esse homem.

No dia seguinte eu acordei quando o sol ainda nascia, olhei para o lado
e Dylan dormia tranquilamente, tão lindo e tão sereno que nem quis acordá-
lo.
Me inclinei e deixei um beijo em sua testa. Fui até o banheiro e fiz toda
a minha higiene matinal para depois vestir uma roupa confortável. Optei por
um vestido florido leve que havia trazido na mala.
Pelo o horário, ninguém havia acordado ainda, por isso não me
surpreendi ao não ver nenhum movimento na casa. Enquanto preparava um
café preto a noite de ontem me veio na cabeça e claro que sorri como uma
boba.
Nadamos no mar, nos beijamos, conversamos e até mesmo brincamos
de jogar água um no outro. Quando chegamos em casa, não encontramos
Matthew e Alisson, então fomos direto para o quarto tomamos banhos juntos
e acabamos transando de novo, para depois deitarmos na cama e dormir.
Até me surpreendia estar acordada tão cedo, já que fomos dormir tarde
ontem, mas talvez fosse o fato da minha agitação, de todas as emoções que
estava vivendo nas últimas semanas.
Fui mandada para Nightfall porque meus pais tinham medo do que eu
podia fazer contra mim mesmo.
Quase morri ao beber mais do que devia e mergulhar no lago. Naquela
noite percebi o que eu estava me tornando, como as coisas poderiam piorar se
continuasse lidando com o luto daquela forma.
Então veio Dylan, me ajudando a superar o luto, sendo uma pessoa que
eu não percebi que precisava até tê-lo em minha vida.
Não me apaixonei porque ele se tornou meu porto seguro, me apaixonei
por quem ele realmente é. Um homem gentil, romântico, sedutor, bonito e
preocupado com tudo o que me faz mal.
Peguei uma xicara e me servi de café, não estava com muita fome, por
isso sai de casa e caminhei até a praia e me sentei na areia.
Havia algumas pessoas afastada olhando o sol nascer também.
Observei as ondas e o sol aparecendo devagar para logo iluminar todo o dia.
Suspirei.
Bebi um gole do café e deixei que as lembranças me levassem para a
última vez que senti essa paz no peito.
“— Maninha, se você não acordar agora vai perder a cena mais linda
de todas, que é o sol nascendo — Archer me sacudiu novamente.
— Odeio você — resmunguei.
— Você não me odeia, me ama que eu sei, agora trate de levantar essa
bunda gorda da cama.
Ele sabia que eu ficaria brava com o que ele acabou de falar e percebi
que essa foi sua tática quando sorriu convencido ao me ver fora da cama.
— Escove os dentes, arrume os cabelos, coloque uma roupa e vamos
lá.
Revirei meus olhos, mas acabei sorrindo. Quem eu queria enganar?
Amava isso, tanto quanto ele.
Me arrumei rapidamente para depois ser puxada do quarto por um
Archer muito animado.
Vinte anos e ainda continuávamos com isso, mesmo que não
frequentássemos mais Nightfall devido a tudo que aconteceu com meu tio e
meu pai, ainda gostávamos de apreciar a vista do sol nascendo,
principalmente na casa de praia de nossos pais.
— É lindo, não é? — Ele sorriu, observando a paisagem.
— Muito — deitei minha cabeça em seu ombro.
— Sinto falta de Nightfall — admitiu.
— Sinto falta todos os dias — falei.
— Amo a faculdade de direito, mas sempre gostei das atividades no
campo. Já parou para pensar o que seriamos se papai não tivesse vendido o
nosso rancho?
Sorri, porque essa era tão fácil.
— Eu seria uma campeã de Hipismo e você o melhor administrador de
ranchos de Franklin.
Ele riu.
— Com certeza!
Ele me abraçou de lado e vimos juntos o sol nascer. Aqueles momentos
nosso era o que eu mais amava.
— As aulas começam daqui uma semana, acha que conseguirá lidar
com Cameron? Ou eu terei que encher ele de porradas?
Ri.
— Não será preciso. Quero distância daquele idiota.
Idiota mesmo! Cameron gostava muito de controlar, se drogar e tentar
me fazer de namoradinha que faz tudo por ele. Só que comigo as coisas não
funcionam dessa forma, no momento que ele tentou ser agressivo, eu dei um
pé na bunda dele, como Archer mesmo disse.
Cameron passou as férias todas ligando para tentar se desculpar, dizer
que havia mudado e que me queria de volta. Mas acontece que a paixão que
eu sentia por ele, foi apenas isso, uma paixão passageira, que sumiu no
momento que vi o nível de idiota que ele é.
— Um dia quero que você se apaixone intensamente — Archer desejou
— Que ele seja um homem bom, que a trate como uma princesa e que a ame
como merece ser amada.
— Acho que esse homem não existe — me lamentei — Todos que
conheci até agora são idiotas.
— Um dia esse homem irá bater na sua porta e você nem vai perceber
no início, mas ele será o seu amor. É quando não esperamos que acontece,
maninha. ”
Uma lágrima escorreu do meu rosto, o coração apertando de saudades,
mas dessa vez senti que era uma dor diferente.
Sorri fraco em meio as lágrimas. Meu irmão tinha razão, afinal.
Tirando a parte que um homem bateria na minha porta, já que fui eu que bati
na dele.
— Sinto sua falta, maninho — sussurrei, olhando para o céu — Espero
que esteja vendo tudo aí de cima, acho que ele é o homem que você tanto
desejou para mim. Ontem me senti tão feliz por ele ter me pedido em namoro
oficialmente, e acabo me sentindo uma pessoa horrível por estar feliz nesses
momentos e me desligar da dor do luto.
Enxuguei as lágrimas ao colocar tudo para fora. Eu estou feliz quando
meu irmão está morto, isso não soa horrível?
— Ei — Alisson apareceu do meu lado e se sentou na areia — O que
foi? Brigou com Dylan?
Eu acabei soltando um riso fraco.
— Não.
— Então o que aconteceu?
— Bateu uma saudade de Archer — confessei — Ontem eu fui pedida
em namoro por Dylan, ele me deu esse colar aqui — mostrei a corrente no
pescoço — Me senti tão feliz, na verdade, eu me sinto tão feliz com ele
que...que...
— Não sente a dor de antes, não é?
Assenti.
— E eu me sinto péssima porque parece que estou sendo uma pessoa
horrível e egoísta.
— Olha para a sua prima aqui — fiz o que ela pediu — Você não é
uma pessoa horrível e nem uma pessoa egoísta, está seguindo em frente.
Raven, toda essa saudade sempre vai permanecer no peito, tem dias que me
pego chorando também porque sinto a falta dele, mas você não pode se sentir
culpada por estar feliz.
— Eu sei! Eu juro que sei disso.
— Archer está feliz lá em cima vendo que encontrou um homem
perfeito.
— Sei que ele está.
— Agora limpe esse rostinho — me ajudou a enxugar as lágrimas — E
vamos lá para dentro tomar um café e aproveitar nosso último dia nesse
paraíso tropical.
Nos levantamos e seguimos para a casa.
— E como estão as coisas com Matthew? — Perguntei.
— Nos beijamos ontem — ela sorriu, toda boba — Passamos boa parte
do tempo nos beijando e conversando.
— Fico feliz por vocês dois — entrelacei meu braço no dela.
— E você e Dylan estão oficialmente namorando?
Assenti.
— Com direito a pedido e presente.
— O colar é a sua cara, ele soube escolher — sorriu — Vocês são
perfeitos juntos.
Sorri. Entramos dentro de casa, Dylan e Matthew já estavam na
cozinha, preparando o café.
Quando me viu, Dylan se aproximou e me beijou.
— Bom dia! Por que não me acordou?
— Bom dia! Porque estava muito cedo, fui ver o sol nascer.
— Está tudo bem?
Provavelmente estava com os olhos um pouco vermelho ainda, o que
explicava a análise dele por todo o meu rosto e sua feição preocupada.
— Apenas lembranças que me deixaram com saudades.
Dylan assentiu, parecendo compreender.
— Se quiser conversar, estou aqui — beijou minha testa.
Sorri com aquele gesto, meu namorado é muito fofo.
— Casalzinho perfeito o café está na mesa — Matthew interrompeu —
Bom dia, Ravenna! Espero que tenha dormido bem porque iremos curtir
muito nosso último dia aqui.
— Bom dia! Eu dormi muito bem.
— Depois do pedido de namoro de Dylan até eu dormiria bem —
Matthew brincou.
— Eu estou pensando seriamente que você tem uma queda por mim,
Brown — meu namorado devolveu.
— Um Dylan brincalhão? — Matthew fingiu uma cara de surpresa —
Eu vivi para ver esse momento.
Eu e Alisson rimos, enquanto Dylan apenas revirou os olhos, mas vi
que tentava segurar a risada.
Tomamos o nosso café ao som de risadas por culpa das provocações
que Matthew fazia para Dylan.
Meu namorado não queria assumir, mas estava na cara que gostava da
presença de Brown em sua vida e que já eram amigos, ou melhores amigos,
como Matthew insistia em dizer.
Ver aquela amizade se formando bem ali na minha frente me fez bem.
Dylan estava abaixando todos os muros em volta do seu coração e voltando a
confiar novamente.
Eu não podia estar mais orgulhosa do meu namorado.
Infelizmente tivemos que nos despedir de Outer Banks no domingo de
noite. Viajamos a madrugada inteira e chegamos em Nightfall seis horas da
manhã. Por mais cansados que todos estivessem, aproveitamos muito bem
nosso último dia na praia.
Dylan deixou primeiro Matthew na sua casa, para depois deixar eu e
Alisson, se despediu com um beijo e foi para a casa tomar um banho e se
trocar.
Diferente de minha prima, ainda tínhamos um dia de trabalho pela
frente.
Recebi uma mensagem na noite anterior de meus pais, eles visitariam
Nightfall sábado e iriam passar dois dias aqui. Fiquei feliz em revê-los, ainda
mais que apresentaria Dylan para eles, mandei uma mensagem no Whatsapp
para minha mãe, mostrando o colar e dizendo que estava namorando, nem
preciso dizer que ela mandou um áudio surtando e papai um fingindo estar
furioso.
Não percebi como eu sentia falta dos dois até aquele momento.
Desde a morte de meu irmão me afastei deles, com medo que quando
os olhassem, apenas enxergasse um olhar de repulsa e de raiva.
Mas parando para pensar agora, eu nunca recebi isso deles.
Tudo era eu.
Era eu achando que podia curar minha dor com álcool e depois com
drogas.
Era eu com medo de magoar mais os meus pais.
Sou eu me culpando pela morte do meu irmão.
— Filha! Ah, já estava morrendo de saudades — minha tia abraçou
Alisson assim que entramos dentro de casa.
— Mãe foram apenas dois dias fora — Ali zombou.
— Uma mãe não pode sentir falta de seus filhos? E você também,
Raven, senti sua falta.
Sorri.
— Nina e Tempestade também.
Tio Eitan entrou dentro da sala com minha cadela, que no momento que
me viu, correu até mim, quase me derrubando ao apoiar seu peso no meu
corpo e começar a me lamber.
— Oi meu amor, também senti sua falta — a abracei.
Ela lambeu meu rosto e tive que rir, parecia muito feliz.
— Onde está Billy? — Perguntei.
Nem precisaram me responder, Billy entrou na sala e veio direto na
minha direção. Eu fui para trás quando ele pulou em cima de mim.
— Descem os dois — pedi e eles obedeceram, me agachei para ficar na
altura deles — Vocês são muito pesados para ficarem pulando desse jeito nas
pessoas, ok? Não aguento com os dois.
Alisei a cabeça de Billy, que farejava a procura de algo.
— Seu dono já vai vir buscar você, não se preocupa.
Ele latiu e me lambeu, em seguida os dois iniciaram uma brincadeira na
minha frente, um avançava no outro ao mesmo tempo que puxavam as
orelhas um do outro.
— Passaram boa parte do tempo assim — Millie disse — Nunca vi dois
cachorros que não cresceram juntos se darem tão bem.
Me levantei e sorri.
— É porque os pais estão namorando — Alisson fofocou.
— Namorando? — Amélia apareceu na sala também, automaticamente
fechei minha expressão.
Minha tia soltou um gritinho animado, para depois expressar:
— Fico feliz por vocês, de verdade — olhou para o meu pescoço —
Isso não estava aí.
— Foi um presente — falei.
— Estou muito feliz em ter apresentado vocês dois oficialmente, me
sinto até um cúpido — meu tio ergueu a cabeça orgulhoso.
Eu ri.
— Você, Billy e Nina são os cúpidos.
— Estou feliz por vocês, Ravenna — Amélia disse e eu a olhei.
Não parecia estar sendo debochada, mas mesmo assim não acreditei em
suas palavras.
— Eu preciso tomar um banho, colocar algumas roupas para lavar e ir
trabalhar — falei — Nos vemos depois?
Minha tia assentiu.
— Mas não pense que vai escapar dos meus interrogatórios. Tenho
muitas perguntas, inclusive... — pegou a mão de Alisson — O que acha de
tomarmos um chá enquanto me conta tudo o que você e Matthew fizeram em
Outer Banks?
Alisson até tentou se esquivar, mas as mãos do meu tio a guiando para
a cozinha foram o suficiente para ela se render.
Meus tios eram tão enciumados como meus pais, provavelmente a
encheriam de perguntas como dois melhores amigos querendo saber de tudo.
— Podemos conversar hoje? — Amélia, que gostaria de ignorar para o
resto dos dias, perguntou.
— O que você quer? Desejar mais um monte de coisas odiáveis para
mim? Me culpar? Me magoar? Me odiar? Não quero conversar, Amélia.
— Apenas me escute por alguns minutos, é tudo o que eu preciso.
Respirei fundo.
— Preciso ir trabalhar.

Nina e Billy me seguiram para o centro de treinamento de hipismo, mas


antes de ir até lá, passei no cercado de Tempestade. Encontrei Vincent
tentando lidar com a égua, que parecia cada vez mais irritada.
— Acho melhor eu tentar, ou ela pode arrancar seu braço fora.
— Graças a Deus! Finalmente você voltou! — Se afastou de
Tempestade e puxou o chapéu em cumprimento — Tempestade se acostumou
com você e agora acho que nem me suporta mais.
Me aproximei da égua, que assim que me viu soltou um ronco de
cumprimento. Coloquei minha mão em seu rosto e a acariciei.
Sorri quando fechou os olhinhos para depois abri-los rapidamente.
— Também senti sua falta Tempestade — falei — Mas você não pode
tratar as pessoas da forma que está fazendo, porque desse jeito, não
conseguiremos ser campeãs juntas.
Ela emitiu um sopro.
— Eu sei que você me entende e também sei que é difícil — a abracei
— Mas vamos superar tudo isso juntas, ok?
Mais um sopro, dessa vez arrepiando meu pescoço por estar tão perto
de mim.
— Inacreditável — Vincent estava surpreso quando me desfiz do
abraço e olhei para ele — Que tipo de feitiçaria você fez com ela?
Eu ri.
— Está me chamando de bruxa?
Ele arregalou os olhos e pareceu se envergonhar do que disse.
— Foi apenas modo de me expressar, eu não quer...
— Tudo bem — o interrompi, rindo — Não se preocupa, eu entendi
perfeitamente.
— Mas é incrível o que vocês duas tem — ele disse — Eu vi de longe o
último treinamento de vocês. Tempestade é uma égua muito inteligente,
vocês têm chance de ganhar as regionais.
— Vamos ganhar, não é mesmo, companheira?
Ela abaixou a cabeça e soltou outro som, parecia estar concordando,
pelo menos é isso o que eu espero.
— Eu ouvi bem...você vai competir?
Ouvi a voz de Arthur atrás de mim, ele não demorou a parecer na
minha frente.
— Oi, o que faz aqui?
— Vim ver como Sibério está e conversar com você — sorriu — Mas
estou surpreso com o que acabei de escutar, iremos concorrer juntos?
Dei de ombros.
— É o que parece.
— Por que não me disse antes? Ficaria contente em lhe ensinar
algumas coisas.
— Pensei que seria a sua primeira competição.
— E é a minha primeira, mas estou tendo ótimas aulas.
— Dylan está me ajudando muito — sorri — Mas agradeço.
— Vou ajudar com os gados, Ravenna — Vincent se despediu.
Acenei e voltei a prestar atenção em Arthur.
— Essa é a sua égua? — Se aproximou de Tempestade, que se afastou
no mesmo momento bufando.
— Ela não é muito fã de pessoas — expliquei.
— E como irá fazer no dia das regionais? Lá o que mais vai ter é
pessoas.
— Também estamos trabalhando nisso.
— Por que fugiu aquela noite? — Arthur perguntou, se aproximando
muito de mim — Achei que estava rolando algo entre nós.
O olhei não acreditando em suas palavras... em algum momento eu
havia dado a entender isso?
Antes que eu pudesse responder galopes de um cavalo correndo me
chamaram atenção, me virei e vi Dylan correndo com Olaf para a pista de
treinamento.
— Por favor, respeite o meu espaço pessoal — me afastei dele — E
sobre a festa e “nós”, sinto muito que tenha feito acreditar que algo estava
acontecendo, éramos apenas dois amigos se divertindo. Estou namorando
agora.
Ele ficou surpreso com o meu fora nada delicado, mas eu não me
importei. Arthur invadiu o meu espaço pessoal se aproximando como se
fossemos íntimos para isso e não quero nem pensar no que Dylan pensou.
Eu precisava correr até ele.
— Agora se me der licença, eu preciso ir ver o meu namorado. Nos
vemos nas regionais, Arthur.
Peguei Tempestade pelas rédeas e caminhamos até o centro de
treinamento.
Não a deixaria sozinha com um desconhecido e ela poderia muito bem
aproveitar do ar livre com a companhia de Olaf, a égua precisava voltar a
interagir com outros animais e pessoas, não conseguiria isso ficando presa dia
e noite.
Olhei em volta e nenhum sinal de Billy e Nina, provavelmente já
estavam correndo com os gados junto com Vincent.
— Dylan! — O chamei.
Estava de costas e tirava os equipamentos de Olaf. Soltei Tempestade e
ela se afastou um pouco, olhou em volta, para depois começar a pastar.
— Oi — me aproximei de Dylan.
Ele não me olhou, parecia tenso, eu arriscaria até dizer que estava
nervoso. Não é possível que ele tenha entendido uma aproximação como algo
a mais.
Pensei melhor.
Baseado no seu passado, isso é sim possível, merda.
— Arthur apareceu do nada e se aproximou do nada — expliquei —
Inclusive pedi que respeitasse meu espaço pessoal e disse que não existe nada
entre eu e ele, porque estou namorando.
Dylan continuou focado em tirar a sela de Olaf.
— Dylan! Você poderia olhar para mim?
Ele me olhou.
— Eu nunca faria o que ela fez com você Dylan — me aproximei dele
— Estou apaixonada por você, só você.
Ele se virou completamente para mim.
— Eu odeio esse cara — admitiu com raiva — Odeio o jeito que ele a
olha, e quando vi vocês dois próximos ou eu me afastava, ou eu esmurraria a
cara daquele idiota. Sei que não faria o que ela fez, mas estou com muita
raiva do mauricinho.
Fiquei um pouco mais aliviada por ele saber que não faria nada do que
Briana havia feito.
— Fico feliz que confie em mim — abracei seu pescoço — Não existe
outro homem que me atraia, só você faz isso e não se preocupe com o
mauricinho, já o dispensei.
Ele sorriu e abraçou a minha cintura.
— Desculpa por meu ataque de ciúmes — se desculpou.
— Na verdade, esse ciúme controlado até que é fofo — beijei seus
lábios.
Dylan aprofundou o beijo. Aproveitamos alguns minutos a mais
namorando para depois começar com o trabalho.
— Sente ciúmes de mim também? — Perguntou assim que afastou os
lábios dos meus.
— E resta alguma dúvida? Por mim você poderia usar um colar com o
meu nome — brinquei.
— Isso soa possessivo.
— Talvez eu seja um pouquinho — indiquei com os dedos, fazendo um
pequeno espaço entre o polegar e o indicador.
Rimos.
— Está preparado para conhecer seus sogros, Dylan Blossom?
Ele respirou fundo. Ergueu o queixo e fingiu uma falsa confiança.
— Estou.
Acabamos rindo novamente, estava muito claro que ele não estava
preparado.
— Meus pais são incríveis — o tranquilizei — Não tem com o que se
preocupar.
— Vou dizer que estou mais preocupado com o seu pai do que com sua
mãe — confessou.
— Por que?
— Se ele soubesse que sua preciosa filha transou com o namorado ao ar
livre, o que faria? Ou se soubesse de todas as outras coisas que esse
namorado quer fazer com ela, me mataria ou pior, castraria.
Eu gargalhei. Gostava desse Dylan descontraído, safado e ao mesmo
tempo romântico, combinava muito bem com ele.
— Fiquei curiosa sobre a última parte — aproximei minha boca da sua
— O que deseja fazer comigo, Sr. Blossom?
Ele me olhou com aquelas íris azuis transmitindo todo o desejo que
sentia por mim. Aquilo me deixava de pernas bambas, fazia com que eu me
sentisse uma mulher incrível e que podia qualquer coisa.
Dylan deslizou a boca até o meu ouvido, me fazendo estremecer.
— Muitas coisas — mordeu o lóbulo da minha orelha, senti a mordida
fazer efeito no meio das minhas pernas, inferno de homem — Inclusive, você
está me devendo algo dentro daquele galpão.
Indicou o galpão onde guardavam as ferramentas dos cavalos e
mantinham alguns fenos.
— Posso pagar agora — devolvi.
Dylan voltou a me olhar, sorriu malicioso.
— É uma pena que temos que trabalhar, não é mesmo?
E se afastou. Eu não acredito!
— Você não fez isso.
Ele riu, passou por mim e deu um tapinha com sua mão grande na
minha bunda. Repito: um tapa na minha bunda!
— Acredite, eu estou mais louco por isso do que você, mas já estamos
atrasados e eu não gostaria que um empregado aparecesse por aqui e visse o
que estamos fazendo — piscou.
Semicerrei os olhos. Isso vai ter volta.
— Quem está jogando sujo agora, Dylan?
Ouvi uma batida na porta do meu quarto e me virei, estava terminando
de arrumar minhas roupas, que com a viagem, acabei bagunçando.
— Podemos conversar agora? — Amélia estava parada na entrada.
Respirei fundo. Ela não ia desistir mesmo.
— O que você quer?
Amélia entrou dentro do quarto, não antes de fechar a porta e se
aproximou. Sentou na cama e me fitou.
— Aquele dia você perguntou o porquê de eu odiar você, eu falei a
verdade quando disse que não a odiava, só não a suportava — começou —
Eu amava Archer.
Revirei meus olhos.
— Eu também amava e mesmo assim não era idiota com você.
— Não, Ravenna — ela balançou a cabeça e desviou o olhar para suas
mãos juntas — Eu, realmente amava ele. Da mesma forma que você ama o
Dylan, da mesma forma que meu pai ama a minha mãe, da m....
— Eu entendi! — A interrompi.
Larguei a peça de roupa na mala mesmo, não conseguiria me
concentrar em mais nada que não fosse isso. Caminhei até a cama e me sentei
ao seu lado.
— Caramba — foi tudo o que consegui pronunciar.
Amélia ergueu a cabeça e riu baixinho, um riso sem vontade, como se
debochasse de si mesma.
— Nunca se perguntou por que nossos pais realmente brigaram?
Não. Quer dizer, sim. Quando perguntei tudo que recebi de meu pai foi
uma bufada e um “negócios”, como resposta.
Eles nunca me disseram.
— Eu e Archer sempre fomos próximos, mais próximos do que
demonstrávamos na sua frente. Nos apaixonamos e no último ano que vocês
passaram o verão aqui, namorávamos quase todas as noites no celeiro — ela
disse, me fazendo ficar ainda mais surpresa — Às vezes eu queria roubar ele
um pouco durante o dia e você sempre estava lá, tinha noites que Archer não
podia me encontrar simplesmente porque você não queria dormir sozinha por
causa do escuro. Eu tinha ciúmes e acabava descontando em você.
Agora entendia o porquê todas as implicâncias dela na época que
éramos crianças ser na ausência de Archer.
— Por isso quando eu dizia que você era uma chata e que me odiava,
ele não acreditava — falei.
Ela assentiu.
— Eu era uma adolescente, Ravenna, só queria o meu namorado
secreto comigo e na maioria das vezes você estava ali estragando tudo.
Eu admito que sempre fui muito apegada em Archer, sempre queria
estar com ele. No lugar dela eu também ficaria chateada.
— Nossos pais descobriram, não é?
— Sim. Meu pai surtou! A sua princesinha estava se pegando com o
primo de sangue no celeiro. Ele pegou eu e Archer pelos braços e nos levou
até a sala, você e Alisson estavam dormindo. Meu pai chamou Anthony e
Beatrice para terem uma conversa séria com nós, tudo o que seu pai fez foi
perguntar: “vocês se amam? ”, lembro que eu e seu irmão fizemos sim com a
cabeça no mesmo momento. Depois dessa resposta, Anthony foi claro em
dizer que não enxergava problema no nosso relacionamento.
— E seu pai ficou furioso — concluí o que estava escrito entrelinhas.
Ela concordou.
— Eles brigaram feio, eu e Archer choramos enquanto éramos
abraçados por nossas mães, porque sabíamos que o que tínhamos acabava ali.
No outro dia vocês foram embora.
Mordi meus lábios, aquilo era horrível. Por que Archer nunca me
contou isso? Será que se envergonhava? Será que achava que eu reagiria da
mesma forma que tio Eitan?
Não...talvez ele simplesmente não tenha me contado porque eu não
gostava de Amélia.
— Perdi o controle naquele dia que te culpei — me olhou — Sei que
você não tem culpa de nada, foi uma fatalidade e me senti péssima no
momento que deixei a raiva falar mais alto.
Assenti, mas não sei se seria capaz de conseguir perdoar, aquilo havia
me machucado.
— Você o amou por muito tempo?
— Bastante, mas achar que estava apaixonada por Dylan distraiu
bastante meu coração — riu.
Apaixonada? O que?
— Não faça essa cara, até o dia daquela festa eu tentava de todas as
formas chamar atenção do Dylan, porque queria estar apaixonada pelo
cowboy de ombros largos, mas a gente não manda no coração, Ravenna —
respirou fundo, antes de soltar o que quase me fez cair para trás: — Sou
bissexual.
— O que?
— Gosto de meninos, isso explica o porquê do único garoto que amei
ser seu irmão e gosto de meninas, descobri isso a pouco tempo, quando me
apaixonei por Rebeca.
Uau.
Eu estava...muito surpresa. Isso explicava muitas coisas, muitas
mesmo. Conhecendo Amélia da forma que eu conhecia, estava com medo do
que sentia e acabou descontando em mim, de novo.
— Sinto muito que tio Eitan tenha impedido você e meu irmão de
ficarem juntos, até entendo as brigas de quando éramos adolescentes, mas
agora... você é uma mulher adulta, Amélia. Não acha que descontar suas
frustações nos outros é coisa de criança?
— Eu sei que o que fiz foi errado, mas estava com medo de meu pai
reagir da mesma forma que fez quando eu tinha 14 anos, acrescentado o fato
de que estou apaixonada por uma mulher, sabe o preconceito que ainda existe
nesse mundo?
— Eu sei de tudo isso — falei — Só que aquelas palavras...
— Me desculpa — pela primeira vez Amélia pegou na minha mão —
Eu nunca quis magoar você. Quando soube da notícia da morte de Archer e
de como ele morreu, não a culpei. Naquela sexta eu estava com raiva e
frustrada, fui uma idiota e sei disso, quis te atingir de alguma forma e sabia
que só assim poderia fazer.
— Me atingir por qual motivo?
— Porque eu achava que precisava ficar com Dylan, achava que essa
coisa que estava sentindo por Rebeca era pura loucura, pelo menos até o dia
da festa.
Pelo jeito essa festa não havia só mudado a minha relação com Dylan,
mas a de Amélia e Rebeca também.
Suspirei, eu nem sabia o que dizer quanto a tudo o que ela me contou.
Nunca fui amiga de Amélia, nunca confiei nela, deveria perdoar tudo e
recomeçar?
— Não quero ser sua melhor amiga, não vou exigir isso de uma garota
que magoei a infância toda e que continuei a fazer quando colocou os pés
nesse rancho, mas quero pelo menos ter uma relação amigável com você.
— Podemos tentar isso — falei, por fim, não acreditando que seria tão
fácil assim — Seus pais...eles já sabem?
— Sim e eles lidaram melhor do que eu imaginava — sorriu.
— Que bom! Espero que seja feliz com ela, de verdade — desejei.
— E eu falei sério quando desejei felicidade a você e Dylan.
— Obrigada.
Um silêncio se formou, ele foi quebrado alguns segundos depois por
uma batida na porta.
— Oi, filha não sabia que estava aqui — Millie disse, estranhando
Amélia em meu quarto.
— Resolvendo algumas coisas com Ravenna.
— Bom, eu preciso conversar com as duas. Eitan estava até agora
tentando convencer o contrário, mas Arthur não quer que uma concorrente
treine os cavalos — despejou as palavras — Sinto muito, Raven, vai ter que
parar de ajudar Dylan.
— Como assim você não pode mais me ajudar? — Dylan perguntou
terminando de selar Sibério.
— Parece que Arthur não gostou do fora que eu dei nele e resolveu me
afetar — disse — Vincent irá ajudá-lo agora.
Ele apertou a cincha traseira antes de se virar para mim. Estava muito
bravo, podia notar pela sua feição.
— A vontade que eu tenho é de não treinar mais esse cavalo —
confessou — Mauricinho idiota.
— Sabe que Nightfall precisa permanecer com ele como cliente, não
podemos fazer nada. A parte ruim disso tudo é ficar longe de você.
Dylan se aproximou e me puxou pela cintura, minhas mãos vão para
trás do seu pescoço.
— O bom é que terei mais tempo com Tempestade — continuei —
Estou fazendo algumas pesquisas e pretendo treinar mais a parte social dela.
— Posso saber quando está fazendo essas pesquisas?
— Quando não estou com você — sorri — Como ontem de noite, por
exemplo.
— Que bom que está lendo para lidar melhor com ela, é importante.
— Estamos mais perto das competições agora, preciso saber lidar com
ela — falei — Hoje começamos com os saltos, não é?
— Sim, mas me espere para saltar com ela — pediu, todo preocupado.
— Amo essa sua preocupação.
Sorriu.
— E não deveria ficar? Por mais que Tempestade nunca fez nada
contra você, ela também nunca lidou com hipismo.
— Tomarei cuidado, como sempre faço — aliso sua nuca — Agora,
gostaria de matar a saudade do meu namorado antes de ir treinar com ela.
Não preciso dizer mais nada, Dylan me beija. Ontem depois de todas as
revelações sobre o passado de Amélia e Archer, mais minha tia dizendo que
não poderia treinar os cavalos não fui para a casa dele. Também
precisávamos descansar da viagem longa que fizemos.
— Preciso te contar outra coisa — falei.
— Algo pior do que não me ajudar mais com o hipismo?
Neguei. Dylan pareceu um pouco mais aliviado.
— Ontem Amélia veio se desculpar novamente e me contou o
verdadeiro motivo de meu pai ter brigado com meu tio.
— Algo ruim o bastante para você estar com essa cara — suas mãos
subiram até o meu rosto e alisou minha bochecha.
— Amélia e Archer foram apaixonados um pelo o outro na
adolescência, namoravam escondidos no celeiro e um dia Eitan os pegou —
vi a surpresa no rosto de Dylan, a mesma forma que eu fiquei ao descobrir
tudo — Meu pai não se importou, mas meu tio sim e então brigaram feio,
mas agora entendo porque ela não me suportava, eu vivia grudada em Archer,
o que a deixava com ciúmes.
— Estou surpreso.
— Eu também fiquei e confesso que ainda estou, meu irmão nunca me
contou.
— Ele pode ter ficado muito chateado com isso para tocar no assunto
ou com medo do que você acharia por estar gostando da prima de vocês dois.
Assenti. Talvez fosse isso mesmo.
— Você a perdoou? — Dylan perguntou.
— Iremos tentar estabelecer uma relação mais amigável.
— Isso é um começo.
Não quis falar sobre a sexualidade de Amélia, talvez ela não quisesse
que mais pessoas soubessem ainda.
— Acha que seu tio se arrependeu da decisão que tomou? — Dylan
perguntou.
Eu não havia parado para pensar nisso ontem, mas pela forma que
aceitou facilmente o relacionamento de Rebeca e Amélia provavelmente se
arrependeu da decisão no passado. Conhecendo o meu tio como eu conheço,
não foi o preconceito que o fez negar o relacionamento de minha prima e meu
irmão, mas sim o fato deles terem 14 anos e ainda serem jovens demais para
saber do amor.
— Talvez sim.
Vincent entra no estábulo rapidamente e assim que nota nossa presença,
sorri.
— Me desculpe atrapalhar vocês, mas Eitan disse que teria que ajudar
Dylan.
Meu namorado assentiu e com muita relutância se afastou de mim, não
antes de deixar um selinho nos meus lábios.
— Nos vemos mais tarde?
Concordei.
— Olaf está no rancho, talvez seja melhor começar a aproximação de
Tempestade com ele — disse.
— Perfeito!
— Nos vemos mais tarde. — disse — Vincent, trabalhe com Fire no
adestramento, ainda tenho um longo caminho com Sibério nos saltos. O
cavalo me parece burro como o dono.
Prendi o riso e vi que Vincent fez o mesmo, o rosto ainda surpreso com
o bom humor do meu namorado. Claro, afinal ele estava acostumado com o
cowboy arrogante.
Dylan pegou Sibério e Vincent pegou Fire, juntos foram para a pista de
treinamento.
Olhei para baia de Tempestade, ela observava tudo com atenção.
— Bom dia, mocinha! — Abro a baia dela — Hoje vamos treinar
algumas coisinhas, Tempestade.
Ela solta um sopro, a puxo para fora e começo a selar a égua.
— Vamos ficar próximas dos cavalos que estão descansando do
treinamento.
Tempestade me olha de canto de olho, concentrada em meus
movimentos. Amarro a cincha frontal para depois fazer o mesmo com a
traseira.
— Acho que vai ser bom para você socializar com outros cavalos,
inclusive Olaf vai estar lá — revelei — Você não ficou tão assustada com a
presença dele.
Terminei de arrumá-la e fui até a sua frente, alisei sua cabeça.
— Vamos?
Um leve balançar de cabeça e um sopro foram o suficiente para saber
que ela estava pronta para ir.
A montei e comecei a guiá-la para onde ficavam os cavalos que
repousavam durante algumas horas do dia depois dos treinos.
Penélope e Olaf estavam lá quando chegamos. A senti ficar tensa no
mesmo momento, mas não era tanto pelos cavalos que tinham ali, mas sim
pelos funcionários do rancho que estavam por perto.
— Tudo bem, Tempestade — alisei seu pescoço — Eles não irão
machucar você.
Voltamos a andar e só paramos quando chegamos perto de Penélope e
Olaf, que assim que notaram nossas presenças nos olharam com atenção.
Soltei o freio de Tempestade e retirei também a sela para ela se sentir
mais confortável. Me afastei um pouco dos três e me sentei embaixo de uma
árvore.
Foram longos minutos para Tempestade abaixar a cabeça e começar a
pastar, mas qualquer movimento ela se distraia e parecia apavorada. Meu
coração apertou e senti meus olhos lacrimejarem, estava visível o medo dela
em cada passo, em cada gesto.
Por que fizeram isso com você, meu amor?
Se eu pudesse arrancaria toda a dor e todas aquelas memórias que a
apavoravam até hoje, mas eu traria a sua segurança de volta ou não me
chamava Ravenna.
Um toque no celular indicando uma mensagem apitou no meu celular.
Sorri ao ver o nome de minha mãe na tela.

Mandei a mensagem e ela respondeu com uma figurinha do bob


esponja cheio de corações em volta. Estávamos conversando com mais
frequência agora que o sinal da internet havia voltado.
Eu ri. Com certeza a resposta é sim.

Levantei o celular e mirei em Tempestade, tiraria uma foto para mandar


para os meus pais, com certeza os deixariam mais ansiosos para chegarem em
Nightfall, mas a cena que a câmera do meu celular reproduziu fez com que eu
o abaixasse para saber se aquilo era real.
Era muito real.
Tempestade e Olaf estavam muitos próximos e eu vi o momento que o
cavalo de Dylan se aproximou para cheirá-la. Os olhos da minha égua
estavam vidrados nos dele.
Ergui o telefone e tirei duas fotos, uma no exato momento que ambos
estavam presos no olhar e a outra no momento que Olaf cheirou Tempestade
e ela não se esquivou.
Eu mostraria para Dylan mais tarde. Aquilo era incrível, os dois não se
afastaram.
Seja o que for que estivessem fazendo, estava dando certo. Tempestade
parecia mais calma e Olaf...eu diria que o cavalo de Dylan estava derretido
pela beleza da égua preta.
Sorri.
Eu traria Tempestade mais vezes aqui agora que estava com tempo
livre.
Pisquei os olhos e uma Golden Retriever gigante pulou no meu colo.
— Nina! — Minha cachorra abanou o rabo e parecia estar muito feliz
— Onde você estava?
Mesmo que ela não me respondesse, perguntei mesmo assim. Acordei
de manhã cedo e ela havia saído com meu tio. A traidora estava apaixonada
por ele, isso era óbvio, ambos saiam cedo para fazer a vistoria do rancho.
A coloquei do meu lado, não aguentando o peso no meu colo.
Alisei seu pescoço para depois começar um cafuné em sua cabeça. Não
era só eu que estava bem aqui em Nightfall, Nina parecia mais alegre, mais
cheia de vida e tudo isso porque estava cercada de pessoas que gostavam dela
e eu sentia que tinha dedo do cachorro de meu namorado em parte dessa
alegria toda dela.
Os dois eram muito amigos.
Pensei melhor e acabei sorrindo sozinha.
— Parece que encontramos nossas almas gêmeas aqui, não é mesmo,
Nina? Você e Billy — ela latiu animada ao ouvir o nome do cachorro — Eu e
Dylan, e agora... Tempestade e Olaf.
Parecendo entender do que eu falava, Nina desviou o olhar do meu e
olhou para frente, para a égua e o cavalo que ainda estavam próximos um do
outro, parecendo entretidos em uma conversa que só eles entendiam.
Abraçada em Nina e vendo a interação daqueles dois bem ali na minha
frente tive mais do que certeza que aqui é o meu lugar.
Nunca abandonaria Dylan.
Nunca abandonaria Tempestade.
E nunca separaria Nina de Billy.

Era final da tarde quando deixei Nina com meus tios e Alisson e fui
para a pista de treinamento treinar com Tempestade.
Dylan já estava me esperando e quando me aproximei com a égua me
puxou para si e me beijou.
— Agora que estamos mais longe um do outro — disse depois que
afastou os lábios dos meus — Você vai ir dormir com mais frequência lá em
casa, não é?
— Só dormir?
Ele revirou os olhos e riu.
— Você sabe que não — deixou um selinho nos meus lábios — Está
pronta para treinar de verdade com Tempestade?
— Estou, mas antes... preciso te mostrar uma coisa — peguei o telefone
no bolso e abri a galeria, mostrei as fotos para Dylan logo depois — Tirei
hoje, não é incrível? Ela simplesmente deixou ele se aproximar dela e cheirá-
la.
Dylan arregalou levemente os olhos para as imagens no telefone,
surpresa tomando conta de seu rosto.
— Isso é mais que incrível — ele disse — Isso quer dizer que ela está
superando, Ravenna, com a sua ajuda.
Sorri, eu também sentia aquilo e me sentia mais feliz por ter sido um
tipo de âncora para ela finalmente seguir em frente.
Guardei meu telefone no bolso e beijei mais uma vez Dylan antes de
dar a devida atenção para Tempestade.
Ela já estava selada por isso me aproximei dela e a acariciei.
— Pronta para isso, parceira?
Tempestade relinchou, olhei para Dylan e ele sorria observando nossa
interação.
— Vocês vão ser incríveis nas regionais, eu sinto isso — disse.
— Também acho que seremos — coloquei o pé no estribo e a montei
— Vamos lá, garota, ainda temos um longo caminho pela frente.
Dylan ficou escorado na cerca enquanto eu guiava Tempestade por
todo o cercado.
Completamos as três voltas para o reconhecimento de campo para
depois seguirmos para o primeiro obstáculo. Com uma habilidade
impressionante passamos pelo vertical composto por três varas.
Isso é incrível!
Foi tudo o que consegui pensar ao saltar pela primeira vez em um
obstáculo tão simples como o vertical com Tempestade, mal estávamos
começando e era incrível a forma como o corpo dela pulava e me levava
junto, como o meu cabelo voava ao descermos e corrermos até o próximo
obstáculo.
Tudo era incrível!
E se tornava mais porque eu estava com Tempestade.
Sorri e alisei o seu pescoço, assim fomos para o segundo obstáculo, o
muro, que ela também passou tranquilamente.
Conforme saltávamos eu me perguntava se Tempestade sabia o que
estava fazendo e ao olhar para Dylan, acho que ele também pensava na
mesma coisa.
A égua sabia o que estava fazendo.
E quando passamos por todos os obstáculos ela só havia cometido duas
faltas.
— Impressionante — Dylan disse enquanto eu descia de cima de
Tempestade — Duas faltas para um primeiro treino de salto é um bom sinal.
— É estranho... é como se ela soubesse seguir cada salto, cada regra.
Comecei a tirar os equipamentos de Tempestade. Já começava a
anoitecer e ela merecia um bom descanso hoje.
— Não é estranho, ela sabe o que está fazendo — Dylan me ajudou a
tirar a sela de cima da égua — Desconfio que ela veio de uma fazenda que
não só vende cavalos, como treina e adestra para o hipismo.
— E exigem o aprendizado dos cavalos os torturando? Isso é horrível!
— Se eu soubesse quem eles são, já teria denunciado — Dylan disse —
Mas infelizmente não sei, pode ser daqui de Franklin ou da cidade vizinha.
Só gostaria de saber para impedir que outros animais sofram o mesmo que
ela.
— E se tentássemos investigar? Deve ter alguma forma de saber quem
fez e continua fazendo isso.
— Não é tão fácil assim, Raven. Quando Tempestade apareceu aqui e
eu a ajudei, passei meses tentando achar alguma pista. — informou — Quem
faz isso é muito esperto e sabe se esconder. Pode ser um fazendeiro muito
famoso como também alguém que ainda está começando nesse ramo.
Compreendi no mesmo momento o que ele estava dizendo. Estávamos
no escuro quanto a isso. Podia ser qualquer um e o que mais tinha para esse
lado do Tennessee, eram fazendas e ranchos. Me decepcionei no mesmo
momento, queria tanto poder fazer alguma coisa por todos os outros cavalos
que ainda sofriam.
Não podíamos nem ao menos denunciar porque iriam querer saber mais
sobre Tempestade, o que poderia resultar de pegarem ela de nós, já que a
égua não era nossa nos papéis.
— Eu acredito na justiça divina, sabe? Uma hora ou outra, esse cara vai
aparecer e pagar por todos os pecados.
Assenti. Eu só esperava que essa hora chegasse o mais rápido possível.

Deixamos Tempestade solta com Olaf enquanto guardávamos os


equipamentos no galpão.
Senti a presença de Dylan mais próxima, atrás de mim. Seus braços
fortes abraçaram minha cintura e me arrepiei ao sentir sua respiração bater
contra o meu pescoço. Ele beijou o lugar para depois subir até o meu ouvido
e sussurrar:
— Você está me devendo algo dentro desse galpão.
Sorri ao mesmo tempo que estremeci quando ele mordeu o lóbulo da
minha orelha.
— Estou? Acho que vai ter que refrescar minha memória, cowboy —
provoquei.
Ele me virou de frente e me beijou com desejo, o correspondi na
mesma medida, muito a fim de ter uma experiência dessas com o meu
namorado. Agarrei seus cabelos e grudei mais meu corpo ao seu sentindo o
início de sua ereção bater em minha barriga.
Suas mãos descem até a barra da minha camisa e a puxa para cima,
retirando do meu corpo. Faço o mesmo com a sua, retiro minha calça assim
como ele retira a que usa. Ficamos assim, apenas com peças intimas e nos
desejando com o olhar.
— Vire-se — Dylan praticamente ordena.
Sinto o poder e a expectativa do que vai acontecer umedecer toda
minha calcinha. Faço o que ele pede e sinto sua boca beijar meu ombro, para
depois morde-lo, arfo.
Ele desce os beijos pelas minhas costas até chegar na barra da minha
calcinha. A retira sem nenhuma pressa para depois abrir minhas pernas.
Fecho os olhos já sabendo o que ele vai fazer e agarro a prateleira na minha
frente que fica alguns outros materiais que nem dou a devida atenção para
saber o que é.
Gemo alto ao sentir seu dedo polegar esfregar meu clitóris. Ele faz isso
por alguns segundos me deixando ainda mais molhada, mas nunca isso é o
suficiente para nós dois e não me surpreendo, mas gemo mais alto ao sentir
sua boca tomar lugar dos dedos e sugar minha vagina, quase fecho as pernas,
mas ele as segura.
— Quietinha — Dylan afasta a boca apenas para dizer isso.
Ele volta a sugar o meio das minhas pernas como se dependesse disso e
eu? Abro os olhos tamanho o prazer que sinto com sua boca habilidosa em
mim. Dylan abocanha meu clitóris, o suga, o lambe enquanto aperto com
força a pobre prateleira na minha frente. Ouso abaixar o olhar e o que vejo
me faz tremer mais as pernas, percebendo que estou mole, ele me segura.
— Deite-se no feno — ele ordena novamente.
Deixa eu dizer uma coisa, Dylan mais modo bruto ativado é tudo para
mim.
Me deito no feno que tem ali, ele abre minhas pernas novamente e volta
a abocanhar minha vagina. Sua língua desliza até o meu clitóris e ele o lambe,
arfo e agarro seus cabelos o pressionando mais contra mim.
Sinto dois dedos me penetrarem, arqueio as costas tamanho o prazer
que sinto, ele os leva até o fundo para sair de novo e fazer a mesma coisa em
seguida.
— Dylan... — gemo, fora de mim.
Ele volta a chupar meu clitóris enquanto me penetra com os dedos.
Sinto-me contrair para depois explodir em um orgasmo intenso. Gemo alto.
Dylan continua a me lamber, não deixando nenhuma gota do meu gozo em
minha vagina. Tento fechar as pernas tamanho a minha sensibilidade.
Caramba.
— Estou viciado no seu gosto, Raven — ele sobe os beijos até
encontrar a minha boca e me beijar, me fazendo provar do meu gosto
levemente salgado em sua boca.
Sinto seu pau duro pressionar minhas coxas da mesma forma que sinto
que ainda preciso dele dentro de mim. Dylan pega uma camisinha no bolso
da sua calça, retira a sua cueca e a coloca.
Ele volta a me beijar, suas mãos descem para os meus seios ainda
tapados pelo sutiã, mas não por muito tempo, já que Dylan resolve tirá-lo no
mesmo momento. Suga o mamilo direito e o lambe para depois passar para o
esquerdo e repetir o mesmo processo.
Fecho os olhos e sinto minha vagina pronta novamente para recebê-lo.
Ele não perde muito tempo nos meus seios e com uma rapidez
impressionante me vira de bruços me fazendo abrir os olhos.
— Confesso que me imaginei transando dessa forma com você
inúmeras vezes — disse.
Sorri.
— Você é um safado, cowboy.
Com as minhas mãos segurando o feno e minha bunda empinada em
sua direção, ele segura meu quadril e me penetra. Gememos alto e ao mesmo
tempo. O recebo apertado dentro de mim como todas as vezes, Dylan é
grande e grosso. Ele continua metendo forte, me fazendo o receber até o
fundo.
Suas mãos sobem até os meus seios, ele me levanta um pouco para os
espremer com as mãos, brincando com os bicos eriçados enquanto continua a
me preencher, me alargando de forma rápida e gostosa, me levando a loucura
com suas entocadas fortes e ritmadas.
Eu volto a agarrar o feno quando ele volta a segurar os meus quadris
para continuar estocando. Ouso virar para trás e a visão de vê-lo concentrado
no que está fazendo, seus cabelos soltos grudando na pele suada junto com
uma feição quase selvagem é o suficiente para me desmanchar de novo em
seus braços. Grito e acabo enterrando a cara no feno enquanto me entrego em
um orgasmo ainda melhor do que os que ele já me proporcionou.
Dylan continua a me penetrar até atingir o seu clímax, urrando de
prazer enquanto goza maravilhosamente dentro de mim.
Ficamos assim por alguns segundos, tentando acalmar as batidas dos
nossos corações. Ele retira o pau de dentro de mim e eu me deito no feno,
sem forças para levantar, colocar a roupa e ir para casa tomar um banho.
Meu namorado retira a camisinha e se deita ao meu lado, me puxando
para perto do seu corpo e me abraçando.
— Dívida paga, namorado? — Perguntei depois de um tempo.
Ele riu, beijou meu ombro para depois responder:
— Sim e poderíamos repetir qualquer dia desses essa aventura.
Sorri.
— Com certeza voltaremos a repetir.
— E depois eu sou o safado — fez cosquinhas em minha barriga me
fazendo contorcer no seu abraço e rir — Você não é nenhuma santa,
Ravenna.
— Nunca disse que era.
Rimos.
Ficamos por muitos minutos ali daquela forma aproveitando da
companhia um do outro. Felizmente era início da noite e já não tinha mais
funcionários no rancho. Seria no mínimo estranho se soubessem o que
havíamos feito ali.
Depois colocamos nossas roupas e fomos levar Tempestade para os
estábulos na companhia de Olaf.
— Vai dormir lá em casa hoje? — Dylan perguntou depois que
deixamos Tempestade na sua baia.
— Apenas se você cozinhar para a sua namorada.
Ele sorriu.
— Combinado.
Dylan montou me ajudou a montar em Olaf para depois fazer o mesmo.
Eu já tinha algumas roupas minha na sua casa, então só mandaria uma
mensagem para minha prima dizendo que dormiria na casa do meu
namorado. Tentei não pensar muito em como tudo isso estava perfeito
demais, mas era impossível.
Tudo aquilo que eu sentia era tão bom que temia que acabasse de uma
hora para a outra.
Balancei a cabeça e mandei para longe os pensamentos negativos.
Tudo isso estava muito bom e continuaria dessa forma, era eu que
deveria parar ser tão pessimista com a minha própria felicidade.
Pensamentos positivos, Raven, você ainda tem um longo caminho para
se perdoar e aceitar.
Acordei com o meu telefone tocando. Abri meus olhos, havia vindo
para a casa de Dylan depois de um longo dia trabalhando no desenvolvimento
de Tempestade.
Ela estava indo muito bem.
Principalmente depois que Olaf começou a vir todos os dias para o
rancho.
— Você não vai atender? — Dylan perguntou com a voz sonolenta ao
meu lado.
— Se você me soltar — falei, eu estava bem confortável com seus
braços me apertando contra o seu corpo.
Ele beijou meu ombro nu para depois me soltar.
Peguei o meu telefone na mesa ao lado da cama e estranhei ao ver
Alisson me ligando.
— O que...
— Graças a Deus! Seus pais chegaram e você não está em casa, devo
comentar o surto do seu pai hiper ciumento?
Merda!
Levantei na cama em um pulo, Dylan do meu lado não entendia nada,
coitado.
— O que você falou?
— Falei que você estava com Dylan, o que queria que eu dissesse?
Ninguém mais acredita na desculpa da corrida.
— E o que eles falaram?
— Irei exigir o casamento para esse tal de Blossom.... como ousa levar
minha filha para a sua casa? — a voz do meu pai se fez presente na ligação.
— Sério, Anthony? Como se você não conhecesse nossa filha.
— O que quer dizer com isso Srta. Blackwood? — Perguntei, porque
com certeza o telefone de Alisson já estava no viva voz.
— Quer dizer que conhecendo você como eu conheço, é Dylan que está
sendo levado para o mau caminho.
— Mãe!
Mas acabamos rindo.
— Filha, estamos com saudades, traz esse gatinho aqui para a gente
conhecer — ela disse.
— Gatinho? Beatrice Blackwood você tem eu como marido, não tem
que ficar chamando os outros d....
— Eu vou desligar — Alisson falou, pareceu se afastar um pouco para
continuar: — Seus pais conseguem ser piores que os meus no quesito
vergonha alheia, Raven. Vem para casa logo e prepare o Dylan para a chuva
de questionamentos.
Desliguei o telefone e me virei para Dylan, estava deitado com a cabeça
escorada no braço direito e me olhava de forma divertida.
— Seus pais?
— Sim! Preparado para conhecer os sogros, Dylan Blossom?
— Depende... eu ouvi algo sobre casamentos, devo fugir?
— Você não ousaria isso — me aproximei da cama e o puxei pelo
braço, mas obviamente não surgiu efeito — Vamos logo, Dylan!
Ele me puxou e em um piscar de olhos estava embaixo dele e com as
mãos presas uma de cada lado da cabeça.
— Primeiro, um beijo — pediu.
— Eu nem escovei os dentes.
Ele revirou os olhos e me deu um selinho.
— Vamos nos arrumar, então — saiu de cima de mim — Ou então seus
pais podem aparecer aqui e eu ficar com pontos negativos com o sogro.
Eu ri e me sentei na cama.
— Eu sei que já te disse isso, mas por favor, ignore qualquer coisa
constrangedora da minha família — o lembrei — Eles sabem passar vergonha
como ninguém.
— Parecem divertidos — Dylan falou enquanto ia até o guarda roupa
para procurar algo para vestir.
— Eles são, mas às vezes não sabem a hora de parar — falei — Teve
uma vez que Archer levou a primeira namorada para apresentar a eles, fiquei
com pena da pobrezinha, ela parecia perdida diante de tantas perguntas e pais
malucos.
— E você? Nunca levou um namorado para apresentar a eles?
Neguei.
— Nunca tive alguém que me motivasse a isso, não até agora, pelo
menos.
Dylan se virou e me lançou aquele sorriso que sempre fazia meu
coração bater mais rápido. Droga de homem bonito.
— Mas você vai gostar deles — garanti — Eles são ótimos pais,
divertidos e sabem puxar as orelhas quando devem, tanto é que vim parar
aqui.
— Você parece mais nervosa do que eu — ele brincou.
Revirei os olhos.
— Talvez eu esteja, ok? A última vez que os vi foi em uma briga, sai
de Nova Iorque furiosa com eles e agora só nos conversamos por cartas, e
se...
— E se nada, Raven — Dylan me puxou para ficar em pé na sua frente
— Eles passaram uma borracha nas suas últimas atitudes dos últimos cincos
meses, estão querendo recomeçar da mesma forma que você. Não pense
sobre o passado, ele só machuca.
Suspirei, meu namorado tinha razão.
— Eu tenho sorte de ter você, sabia?
Ele negou.
— Eu que tenho sorte de ter você em minha vida — beijou minha testa
— Agora chega de pensar muito, meus sogros estão esperando.

Chegamos em Nightfall quase trinta minutos depois acompanhados de


Nina e Billy, que não paravam um só minuto para descansar.
Os dois acordavam já brincando e latindo de felicidade um para o
outro.
Mas foi minha cachorra ver de longe a figura de meu pai conversando
com meu tio que simplesmente largou Billy e correu com tudo na direção
dele. No momento que eu ia abrir a boca para gritar um “cuidado” já era tarde
demais, com o impacto da corrida e seu peso que não tinha nada de leve,
Nina derrubou meu pai no gramado e começou a lamber de forma
desesperada seu rosto.
— Socorro! Estou sendo atacado! — meu pai gritou, mas estava na cara
que estava brincando ao bagunçar os pelos de Nina e fazer cosquinhas em seu
peito.
— Anthony! O que pensa que está fazendo? Acha que tem 10 anos para
ficar no chão brincando com Nina? O que as pessoas vão pensar da gente?
Foi Nina ouvir a voz de minha mãe, que chegava perto deles, que
largou meu pai no chão e correu até ela.
— Mocinha, nem pensar. Nina! Tenha modos!
Mas a minha cachorra não se importou com os avisos e derrubou minha
mãe no gramado, da mesma forma animada que fez minutos atrás com papai.
— Droga! Eu também senti sua falta, meu amor — minha mãe a
abraçou, comovida demais com a atenção recebida.
Olhei para Dylan e ele observava tudo sorrindo, parecia prender a
risada também, da mesma forma que eu.
— E aí está a garota mais linda do mundo — meu pai saudou — Não
vai vir dar um abraço no papai?
Revirei meus olhos, mas acabei rindo.
— Sério, pai?
Ele me chamou com a mão e sem alternativas e querendo muito isso me
aproximei a passos rápidos em sua direção e o abracei.
Era mais que um simples abraço.
Era perdão por ter feito a vida deles um inferno quando estavam
passando pelo o mesmo luto que eu.
Era saudades por ter me afastado deles por todo esse tempo de luto.
Era amor por finalmente ter as pessoas que me entendiam da mesma
forma que Archer.
Como eu pude fazer isso com nós mesmos?
Só agora eu percebia o quão tola e infantil eu fui por os afastar.
Senti as lágrimas escorrerem ao ser abraçada por minha mãe, atrás de
mim.
— Sentimos sua falta, filha — ela murmurou contra o meu cabelo.
— Eu também senti.
Naquele momento, sendo abraçada pelos os dois me senti totalmente
completa. Eu os amava demais e sentia muito a falta deles.
Mesmo que eu tenha sido uma adolescente que aproveitou muito e que
ao mesmo tempo me metia em muitas encrencas, sempre os tive por perto,
me amparando, me amando e me aconselhando, da mesma forma que Archer.
Meu pai fungou e minha mãe não demorou a provocar:
— Quem é o chorão agora, marido?
Sorri. Nos desfizemos do abraço, aproveitei aquele momento para
enxugar as lágrimas, assim como meus pais faziam.
— Que exemplo eu estou dando para o meu genro — meu pai disse e
finalmente olhou para Dylan para logo em seguida dar um passo para trás de
forma dramática — Uau! Você é grande!
Em todos os sentidos, pai.
Mas preferi guardar isso só para mim.
— Pai! Pelo amor de Deus, não me envergonhe — sussurrei para só ele
ouvir.
— Não nos envergonhe, você quer dizer, querida — Minha mãe disse.
Dylan se aproximou de nós e estendeu a mão para o meu pai.
— Sou Dylan Blossom, é um prazer conhecer você, Anthony.
Tão fofo nem parece que me pegou de jeito naquele galpão há alguns
dias atrás.
— É um prazer finalmente conhecer o homem que motivou a minha
filha a apresentar alguém para seus queridos pais — meu pai apertou a mão
de meu namorado.
Anthony e seus dramas.
— Você deve ser Beatrice Blackwood, é um prazer conhecer você
também — Dylan estendeu a mão para minha mãe.
Ela sorriu e apertou.
— E você é mesmo um gatinho, parabéns filha!
Ai meu Deus, me tire daqui!
— Mãe — a repreendi.
— Quem está passando vergonha agora, querida? — meu pai não
perdeu a oportunidade de provocar.
Beatrice revirou os olhos e deu de ombros.
— Só falei a verdade. Que mal tem nisso?
— A verdade? Então quer dizer que você o acha...
— Ah, não! Chega vocês dois — interrompi a ceninha besta de ciúmes
— Já tomaram café? Eu e Dylan estamos morrendo de fome.
Olhei para o meu namorado, ele prendia a risada. Claro! Meus pais
eram uma figura mesmo.
— Sua tia está preparando um café para nós — minha mãe me abraçou
de lado — Enquanto isso, eu quero que me conte tudo sobre o seu trabalho
aqui no rancho e o seu treinamento para competir nas regionais.
Sorri.
— Estou ansiosa para isso, mais tarde irei apresentar vocês para
Tempestade, ela é incrível — falei.
Por incrível que pareça entramos dentro da casa de meus tios sem
nenhuma pergunta direcionada a Dylan, estava claro que meus pais gostariam
de saber mais sobre o meu namorado, mas estavam se controlando.
— Já ia chamar vocês! — Minha tia disse — Dylan, que bom vê-lo!
Sentem-se, por favor.
— Já estava com saudades desse café colonial, Millie — Papai se
sentou.
— Eu imagino que estava, esse é um dos motivos de eu nunca deixar o
rancho — Minha tia sorriu.
Minha mãe sentou ao lado de meu pai, já eu me sentei na frente de
Alisson, que observava tudo com divertimento e Dylan se sentou ao meu
lado.
Amélia entrou na cozinha e automaticamente a nossa conversa de dias
atrás veio na minha cabeça. Olhei para meu pai e meu tio, que não pareciam
mais sentir raiva um do outro, minha tia servia o café tranquilamente em sua
xícara, da mesma forma que minha mãe.
Nenhum deles parecia querer se lembrar do passado, da mesma forma
que Dylan disse mais cedo.
Uma borracha foi passada por todas as coisas que só incomodavam.
O pedido de perdão foi aceito.
E agora... o passado era apenas isso, passado.
— Tudo bem? — Dylan sussurrou no meu ouvido.
Assenti, sorrindo. Amélia se sentou ao lado de Alisson.
— Então... Dylan, o que faz da vida? — Meu pai fez a primeira de
muitas perguntas que viriam ao longo do dia.
— Sou médico veterinário, mas ajudo Eitan com os treinamentos de
hipismo quando chega a temporada.
— E um dos cavalos que Dylan treinou no ano passado ganhou as
regionais com um recorde impressionante — meu tio sorriu orgulhoso.
— Interessante, possui um consultório, cowboy? — Minha mãe
questionou.
Dylan sorriu e foi muito educado ao responder:
— Não, mas é algo que quero.
— E tenho certeza que irá conseguir — meu pai sorriu — Depois quero
que me ensine algumas habilidades com os cavalos, faz tempo que não
monto, temo ter perdido a prática.
— É como andar de bicicleta, nunca esquecemos — Dylan disse —
Mas vai ser um prazer ajudar você.
— Ah! E você, Alisson, minha irmã me contou por telefone que está
namorando — minha mãe disse.
Arqueei as sobrancelhas.
— Eu não estou namorando! Mãe, você é tão exagerada.
— Eu? Exagerada? Matthew a levou para uma ilha em Carolina do
Norte para o primeiro encontro, e eu sou exagerada?
Prendi o riso.
— Foi uma viagem entre amigos.
— Mas que rolou um beijo — meu tio interferiu.
— Eu não conto mais nada para vocês, sério — minha prima enfiou um
pedaço de pão na boca, dando aquele assunto como encerrado.
— Agora é você que está exagerando — Millie soltou um risinho.
— Quem é Matthew? — Meu pai perguntou.
— O amigo de Dylan — frisei a palavra amigo, mas meu namorado
preferiu ou decidiu não corrigir.
— E pretendente de Alisson — Amélia abriu a boca — Finalmente
minha irmãzinha vai desencalhar.
Minha prima mais nova revirou os olhos.
— Vai se juntar com eles agora, Amélia?
— Só quero que seja feliz com alguém que ame, não posso desejar isso
para minha irmã?
— Então você também tem que ter alguém, porque durante todos esses
anos nunca vi você falar ou apresentar ninguém para a família.
Amélia riu e levantou o olhar para mim, piscou e disse:
— Esse dia está mais próximo do que você imagina.
— Finalmente eles largaram do meu pé — Alisson se sentou ao meu
lado na arquibancada — Eu achei que você seria a cobaia dessa vez.
Ri.
Estávamos sentadas na arquibancada diante da pista de treinamento de
hipismo. Dylan mostrava como funcionava cada equipamento para meus pais
e de forma básica, como os treinava.
Beatrice e Anthony nem conseguiam esconder a admiração pelo genro
e eu não podia estar mais feliz por isso.
— Parece que não admitir que está quase tendo um namorado é pior do
que ter um namorado e apresentá-lo para eles.
— Voltamos a ser como nos velhos tempos? — Amélia perguntou se
sentando ao meu lado — Nossos pais nos envergonhando juntos?
— Parece que sim — Alisson riu — Confesso que sentia falta disso.
— Eles também — indiquei com a cabeça.
Meu pai e meu tio conversavam empolgados junto com Dylan,
enquanto minha mãe havia se afastado com Millie.
Olhei mais para frente e enxerguei a figura de Tempestade próxima a
pista de treinamento, ela observava toda aquela gente de longe, mas com
atenção.
— Com licença, irei buscar alguém para conhecer meus pais.
— Ravenna... você não acha que ela pode atacar alguém? — Amélia
perguntou, entendendo o que eu iria fazer.
— Ela está evoluindo, não se preocupe.
— Claro que está! Você não viu que essa semana toda ela não precisou
ser presa no cercado? — Alisson comentou.
— Eu sei, mas mesmo assim ela se mantém afastada.
— Não se preocupe, Amélia.
Dito isso sai das arquibancadas e fui em direção a Tempestade, sendo
seguida por Nina e Billy.
Meus pais acharam incrível a história de como eu e Dylan nos
conhecemos oficialmente por conta de Nina e Billy, decidi omitir a parte que
o cowboy foi extremamente arrogante comigo, aquilo não era sua verdadeira
face, afinal.
— Boa tarde, Tempestade! Sinto muito não ter ido soltar você hoje,
mas foi por um bom motivo — alisei sua cabeça — Meus pais estão aqui e
também estão loucos para conhecer você.
Ela soltou um sopro em cumprimento.
— Quer conhecer eles?
A égua abaixou a cabeça para em seguida levantar novamente.
Parecia que estava em um ótimo humor.
Ela não estava com nenhuma guia, provavelmente Vincent a soltou e
levou a rédea para os estábulos, mas Tempestade era inteligente demais,
então foi puxar um pouco sua crina que ela entendeu que era para me
acompanhar.
— Pai, mãe, essa é Tempestade — apresentei assim que nos
aproximamos, mantive a distância por segurança deles e da égua, que não
parecia tensa com as pessoas a sua volta — É com ela que irei competir.
— Meu Deus! Que linda, filha — minha mãe ia se aproximar, mas
Dylan impediu — O que foi?
— Tempestade é um pouco anti social — tentei explicar — Ela tem um
passado difícil e não tolera muito aproximações.
— Está me dizendo que vai competir com uma égua selvagem? —
Papai, que não era nem um pouco burro, perguntou.
— Ela não é selvagem. A raça de Tempestade é puro sangue inglês,
sabemos que esses cavalos não são nem um pouco selvagem — expliquei —
Ela só tem um passado sombrio, apenas isso.
— E sua filha tem uma conexão com Tempestade, Anthony — Dylan
disse — Você deveria ver como a égua correu até Raven e a cheirou. Foi
como duas almas finalmente se encontrando.
— Tipo um filme? — Minha mãe perguntou, com o ar de sonhadora,
provavelmente imaginando a cena em sua cabeça.
— Exatamente como em um filme — Dylan sorriu.
— Se vocês quiserem se aproximar, façam isso devagar — os alertei —
Ela não parece assustada com tanta gente, mas só iniciamos o tratamento
social dela essa semana.
— Eu devo ficar tranquilo com minha filha montando em uma égua
não tão selvagem assim? — Meu pai perguntou, preocupado.
— Pode ficar tranquilo, Anthony — Eitan disse — As duas são
incríveis juntas, uma não faria nada para machucar a outra e é exatamente por
isso que Tempestade não está com medo de nós.
Sorri. Era exatamente isso.
Meus pais se aproximaram, mas não encostaram nela, apenas a
observaram, apreciando a sua beleza.
— Ela é linda, filha — minha mãe disse — Eu estou ansiosa para ver
vocês duas nas regionais.
Os olhei surpresa.
— Vocês vão vir?
— Mas é claro que sim, ou você acha que vamos perder a primeira
competição de nossa filha? — Meu pai falou.
— Agora estou mais ansiosa ainda para esse dia.
Tempestade começou a querer se afastar, por isso me afastei dela e
levei meus pais junto.
— Depois gostaria de ver um treinamento de vocês duas — minha mãe
pediu.
Assenti.
Observei meu namorado se aproximar da égua e com uma facilidade
que ele não tinha antes levá-la para o local que estava há minutos atrás.
— Ele parece gostar mesmo de você — minha mãe comentou — E
você nem esconde esse olhar de apaixonada na sua cara.
Sorri.
— Ele é um bom homem.
— Percebi enquanto conversava com ele — meu pai sorriu — Até exigi
o casamento.
— O que?
— Brincadeira, filha, mas saber que a minha garotinha já está
namorando é de matar o pobre coração de seu pai.
— Pai eu sempre namorei, Dylan só é o único que apresentei a vocês
— falei.
Seu Anthony revirou os olhos.
— Não precisa me lembrar disso, ok?
— Dramático como sempre, meu amor — minha mãe o abraçou de
lado — Nossa filha sempre teve o espírito livre.
— Infelizmente.
Rimos.
Minha mãe soltou um suspiro e me olhou com aquele brilho orgulhoso
no olhar.
— Estou feliz que está bem, Rav, que tenha nos perdoado e entendido o
porquê fizemos tudo isso.
Senti a garganta apertar. Rav.
Apenas uma pessoa me chamava desse jeito, era o apelido exclusivo de
Archer para mim.
— Sinto a falta dele — admiti — Gostaria que ele estivesse aqui.
Os olhos dos meus pais marejaram e de repente toda a risada e
divertimento acabou, aquela era a nossa dor, algo que nunca conseguiríamos
esquecer.
— Nós também, querida — meu pai disse — Mas não podemos mudar
o passado e se Deus quis dessa forma, é da forma que deve ser. Eu sei que
Archer está lá em cima, vibrando de felicidade pela irmã.
— Eu tive uma recaída.
Admiti. Não iria contar, mas acabei contando.
— O que quer dizer com isso? — Beatrice perguntou confusa.
— A última noite em que coloquei um gole de álcool na minha
garganta também foi a noite em que quase morri — falei — Estava triste, não
conseguia dormir e achei uma garrafa de Whisky. Fui até o lago e bebi tudo,
para depois pular e achar que conseguiria nadar sem nenhum problema.
Meu pai engoliu em seco e minha mãe derrubou lágrimas, entendendo
o que aconteceu.
— Se não fosse Nina ter chamado Dylan, eu estaria morta.
— Meu Deus! Filha!
Minha mãe me abraçou em prantos. Em seguida, senti os braços de
meu pai em nossa volta.
— Vocês sabem o porquê me afastei, não sabem? O porquê preferi
buscar conforto em bebidas do que olhar para vocês, eu me culpo e se não
fosse...
— Nunca mais diga isso, Ravenna — Meu pai segurou meu rosto —
Nunca mais. Nós nunca a culpamos por isso, nunca.
Nos desfizemos do abraço.
— Eu me sinto culpada até mesmo de estar feliz com Dylan porque
meu irmão não teve a mesma sorte que eu, de encontrar alguém, de se
apaixonar, de...
— Não diga bobagens, seu irmão aproveitou bem a vida da forma dele
— meu pai me interrompeu novamente — E ele odiaria vê-la se culpando
dessa forma.
Minha mãe concordou.
— Filha, lembra do que eu sugeri antes de você vir para Nightfall? Eu e
seu pai estamos consultando semanalmente um psicólogo e é a melhor coisa
que fizemos.
— Não sei se quero desabafar para um estranho.
— Às vezes é a melhor coisa — ela pegou minha mão — Ficaremos até
segunda, pense com carinho nisso, eu irei com você até o hospital procurar
uma profissional.
— Prometo pensar.
— Nós amamos você, querida, nunca duvide disso — meu pai beijou
minha testa.
— Eu nunca duvidei.
Na segunda feira de manhã eu acordei decidida a seguir o conselho de
meus pais, que ficaram felizes demais com a minha escolha. Havia algo que
me chamava para aquilo e talvez fosse eu mesma em busca de salvação.
Queria parar de sentir tudo o que estava sentindo no meu peito. Não
queria mais pesadelos, não queria mais me culpar, só queria seguir em frente.
Naquela manhã, tomamos café cedo porque iriamos pegar carona com
Dylan até a cidade. Meu pai ficaria com Eitan, estava curioso para saber algo
relacionado com os gados.
Alisson já estava no serviço, havia começado de madrugada.
Dylan apareceu no horário marcado. Eu e Beatrice já o esperávamos na
frente da casa de meus tios.
— Bom dia, garota da cidade! — Ele beijou meus lábios — Bom dia,
Beatrice!
Minha mãe sorriu.
— Bom dia! Garota da cidade? Que apelido é esse?
— Só porque eu sou de Nova Iorque.
Entramos na caminhonete de Dylan e fomos em direção a cidade, onde
ficava o hospital que Ali trabalhava e que também havia indicado a excelente
psicóloga.
Meu namorado também estava feliz por eu buscar ajuda.
Depois da cena de sábado, não tocamos mais no assunto de Archer.
Aproveitamos nosso momento com mais leveza, como por exemplo: as
novidades da minha cidade natal, meus pais aproveitando para conhecer
melhor Dylan e eu estranhando cada vez mais as atitudes amenas de Amélia.
Não parecia a mesma. Disso eu tinha certeza.
Ninguém havia tocado no assunto do relacionamento dela e de Rebeca.
Alisson e meus pais pareciam não saber e talvez fosse isso que minha prima
mais velha quisesse no momento, privacidade.
Chegamos à cidade dez minutos depois. Dylan não poderia nos esperar
porque teria que trabalhar no rancho, mas voltaríamos com Alisson, que
encerrava seu turno daqui meia hora.
— Vou deixar os pombinhos se despedirem — Minha mãe disse
sorrindo e saindo da caminhonete, deixando eu e Dylan a sós.
— Senti sua falta esse fim de semana — Dylan disse colocando a mão
atrás minha nuca.
— Eu também senti, muita — sorri — Mas foi por uma boa causa.
— Verdade, eu gostei dos seus pais.
— É impossível não simpatizar com eles e nem teve tantas perguntas
constrangedoras como eu imaginava que teria.
Dylan sorriu.
— Apenas um exagero seu — brincou — Recebi uma mensagem de
Matthew, ele está fazendo uma surpresa para Alisson e quer nossa ajuda.
— O que? Ai meu Deus! Algo como pedido de namoro? — quase pulei
no banco.
Dylan assentiu.
— Decorou todo o bar para hoje à noite, só precisamos levá-la até lá, o
resto é com ele.
— Isso é tão fofo! Alisson não admite, mas estava incomodada o fim
de semana inteiro por ele não ter conversado com ela por mensagem, como
vinha fazendo durante a semana.
— Ele estava ocupado demais planejando a decoração.
— Mande uma mensagem para ele não se preocupar, vamos ajudá-lo
— olhei para a rua, minha mãe me esperava na frente da caminhonete, de
costas para nós — Agora tenho que ir e você tem que trabalhar, nos vemos
depois?
— Nos vemos depois.
Me puxou pela nuca e nos beijamos. Com os meus pais passando o fim
de semana inteiro lá fomos resumidos a isso: beijos e mais beijos.
— Estou orgulhoso de você — ele disse após afastarmos nossos lábios
— Tenho certeza que as consultas a deixaram melhor.
— É o que eu espero.
Saí do veículo em seguida, abanei para Dylan e quando olhei para a
minha mãe, ela sorria.
— Ah, o amor é tão lindo — exclamou.
Não pude evitar sorrir.
Entramos no hospital e eu fui até o balcão da recepção em busca de
informações para poder marcar uma consulta com a psicóloga Elena Stuart.
— Para marcar consulta com a Doutora Elena é no segundo andar — a
recepcionista respondeu.
Agradeci e peguei a mão de minha mãe indo em direção aos
elevadores.
Entramos na caixa metálica e apertei o segundo andar.
— Eu sei que é o certo a fazer, mas e se eu não conseguir falar nada? E
se isso não adiantar? — eram tantas perguntas em minha cabeça que tive que
expor duas delas.
— Você não precisa falar tudo no primeiro dia, um psicólogo é mais do
que um ouvinte, filha. E não se preocupe, vai adiantar porque está adiantando
comigo e com seu pai.
— Vocês realmente parecem melhor.
Sim, com certeza eles pareciam melhor. Não havia mais aquela sombra
obscura em volta deles, que com certeza ainda habitava em mim.
— Sentimos tanta a falta dele como você, mas aprendemos a sobreviver
com a dor da saudade — ela disse.
Saímos do elevador quando as portas abriram, caminhei até a recepção
para marcar a consulta, antes que desistisse, mas uma Alisson sentada no
banco com um copo de água nas mãos e os olhos marejados me
interromperam.
Caminhei até ela.
— Ali? Está tudo bem?
Ela fungou.
— Sim, apenas um dia difícil de trabalho — tomou um gole de água.
— Querida, o que aconteceu? — Minha mãe perguntou preocupada.
Alisson se levantou e com a cabeça indicou que a seguíssemos.
Paramos quando chegamos na frente de um vidro de frente para uma
área que parecia ser a da maternidade, devido a alguns bebês estarem no
cômodo.
— Aquela é Skyller — apontou para um pequeno bebê.
De onde estávamos podíamos ver o corpinho minúsculo dentro da
incubadora.
— Houve um acidente de carro, o pai morreu na hora e a mãe
conseguiu sobreviver até parte da cirurgia ser feita — minha prima estava
visivelmente abalada — Eliza só conseguiu pedir uma coisa antes de morrer,
que chamassem sua filha de Skyller.
— Isso é muito triste... — minha mãe expressou o que nós três
estávamos sentindo naquele momento.
— Por causa de um motorista bêbado essa criança terá que ir para um
lar adotivo, nunca irá conhecer os pais que deram a vida para salvá-la.
— Não tem avós? Tios? — Perguntei.
— Ninguém — Alisson respondeu — O olhar que vi naquela mulher,
pedindo para salvar a sua filha e não salvá-la foi a coisa mais linda e dolorosa
que eu já presenciei aqui dentro.
— Ela estava com quantos meses quando nasceu?
Notei que o corpinho era muito minúsculo para um bebê que já estava
pronto para nascer.
— Sete.
— Vai ser uma linda garotinha — minha mãe falou — Infelizmente
não podemos trazer a mãe dela de volta, mas espero que ela cresça ouvindo
que sua mãe biológica foi uma heroína.
Alisson assentiu.
— Estou responsável por cuidar dela e tudo isso me deixou bem
abalada.
— Você não precisa se explicar — a abracei rapidamente — É
impossível não ficar abalada com a história dessa bebê.
Alisson enxugou as lágrimas.
— Já marcou sua consulta?
Neguei.
— Então vamos, depois da noite que tive hoje tudo o que eu quero é
minha cama.
Antes de segui-las para a recepção olhei mais uma vez para Skyller.
O nome era tão lindo quanto ela.
Mesmo que fosse uma bebê prematura de sete meses, ainda sim era
bonita.
— Espero que você consiga uma família perfeita, Skyller — murmurei
contra o vidro, mesmo sabendo que ela não me ouviria ou entenderia — Com
um irmão protetor e pais incríveis, é tudo o que desejo a você.
Quando me afastei do vidro e parei de observá-la senti uma sensação
estranha no peito, como se ainda voltaríamos a nos ver.

Era final da tarde quando ajudava meus pais a colocar as poucas


bagagens no porta mala da caminhonete de minha tia. Meu tio os levaria para
a cidade, onde pegariam um ônibus até o aeroporto.
— Vou sentir sua falta — Minha mãe me abraçou — Cuide-se, ok?
Semana que vem você começa a consulta com a psicóloga e quero que me
mantenha a par de tudo.
Assenti.
— Também vou sentir sua falta.
— Agora de espaço para eu abraçar minha filha, amor — papai pediu.
Beatrice beijou a minha testa antes de me ceder para meu pai, que logo
me abraçou.
— Faço das palavras de sua mãe as minhas — beijou o topo da minha
cabeça — Não vejo a hora de você voltar para Nova Iorque.
Engoli em seco. Será que ele pensava que eu voltaria?
Olhei para Dylan e vi quando seu olhar se perdeu no chão, claramente
pensando sobre o que meu pai acabou de falar.
— Vejo vocês nas regionais? — Perguntei assim que desfiz o abraço,
mudando de assunto também.
— Claro que sim! Mal posso esperar para ver minha filhinha saltando e
ganhando a competição — ele sorriu.
Retribui o sorriso.
Minha mãe foi até o Dylan e estendeu os braços, sem alternativas, meu
namorado teve que retribuir o abraço, um pouco sem jeito com aquilo.
— Obrigada por salvar minha filha — ela agradeceu, claramente se
referindo aquela noite no lago, mesmo que já tivesse feito isso duas vezes,
repetiu.
— Você não tem que agradecer, eu faria de novo — Dylan disse.
— Sabemos disso rapaz, mas acho que nunca seremos gratos o
suficiente por ter entendido o chamado de Nina e a salvado — Meu pai
colocou uma mão no ombro de Dylan depois que ele e minha mãe desfizeram
o abraço — Você foi um herói, assim como Nina.
Dylan sorriu.
— Fique sabendo que está aprovado — meu pai piscou para ele —
Finalmente minha filha está com alguém que se importa com ela.
Mesmo que nunca tivesse apresentado Cameron para meus pais, eles
sabiam bem o que acontecia entre mim e o garoto que só pensava no próprio
umbigo.
Nunca gostaram deles e também nunca fizeram questão de conhecê-lo,
sabiam que eu me desapegaria rapidamente daquilo que por muito tempo
chamei de paixão.
Eles tinham razão.
— Fico feliz em saber disso — Dylan falou.
— Precisamos ir ou então perderam o ônibus — meu tio disse.
— Então vamos — mamãe disse.
Ela abraçou Amélia, que era a única que não havia se despedido ainda e
foi para o carro.
Observei meu pai e meu tio entrarem no automóvel e meus pais
acenarem uma última vez para mim, minha mãe com direito a mandar beijos.
Acenei de volta.
E então meu tio deu a partida na caminhonete e os levou.
— Onde está Alisson? — Amélia perguntou ao notar a ausência da
irmã.
— Está dormindo, se despediu de seus tios antes de se deitar — Millie
respondeu — Muito cansada, coitadinha.
Amélia assentiu, parecendo compreender.
— Preciso resolver mais algumas coisas no rancho, nos vemos depois.
E saiu.
— Eu preciso ver o que irei cozinhar para o jantar — Millie se lembrou
— E Dylan, se quiser jantar conosco será muito bem-vindo.
— Agradeço o convite, Millie, mas irei para a casa.
— Tudo bem, você que sabe — acenou para ele e entrou dentro de
casa.
Me aproximei dele e enlacei meus braços pelo seu pescoço o trazendo
para perto de mim. Dylan abraçou minha cintura e eu fechei meus olhos e o
beijei.
Senti seu corpo pressionado ao meu, sua língua procurar a minha com
uma certa urgência, para em seguida se encontrarem em um contato íntimo e
sensual. Percebi ao descer minhas mãos pelos seus ombros o quão rígido ele
parecia estar.
Foi por isso que separei meus lábios do seu e ao abrir meus olhos,
perguntei:
— O que foi?
Dylan engoliu em seco, seus olhos encontraram com os meus, parecia
um pouco perdido.
— Você vai embora?
Uma pergunta simples, mas com um significado gigante. Agora
entendia, eu vi a forma que ficou incomodado quando meu pai disse que
estava louco para me ter de volta em Nova Iorque, mas não achei que ele
puxaria esse assunto.
— Não quero ir embora — fui sincera ao responder.
— Mas... e sua vida em Nova Iorque? Seus pais?
Sorri e levei minha mão direita a sua bochecha, deixei um carinho ali
com o meu polegar.
— Não tenho uma vida em Nova Iorque, a única coisa que eu tenho
naquele lugar são meus pais — falei — Mas estou me descobrindo aqui, com
você, Alisson, meus tios, Tempestade, Nina e até mesmo Amélia.
Ele sorriu.
— Por um momento pensei em como seria se você fosse.
— Não vou te largar, cowboy — dei um selinho em sua boca — Não
agora que tenho esse corpinho todo para me acabar.
— Então eu sou apenas alguém com um corpo bonito que você usa? —
Brincou.
— Sabe que não.
Com as mãos ainda em seus ombros, olhei o relógio no pulso marcando
seis horas.
— Preciso acordar a Alisson e arrumá-la para hoje à noite.
— Já sabe o que vai dizer para ela?
Assenti.
— Irei dizer que você nos convidou para um jantar.
— E ela irá acreditar?
— Eu espero que sim. Nos pega as oito?
Dylan concordou.
Antes de entrar dentro de casa, nos beijamos mais uma vez para depois
seguir a operação cupido da noite.
Foi uma dificuldade para tirar Alisson da cama, mas depois de ficar
cinco minutos inteiros tentando acordá-la finalmente consegui.
— Por que Dylan está nos convidando para um jantar? — Ela
perguntou.
— Não sei — dei de ombros, fingindo descaso — Ele me convidou e
disse que não teria problema em convidar você. Achei que merecia jantar fora
depois das horas trabalhadas hoje.
Minha prima sorriu.
— Sendo assim, vamos.
Tão fácil de enganar.
— Coloque um vestido bem bonito, o restaurante não é aqui em
Franklin, mas sim em um mais formal em Brentwood.
Ela estranhou, mas não disse nada. Caminhou até o roupeiro em busca
de uma roupa.
— Está bem depilada? — A pergunta escapou antes que eu pudesse
conter. Isso sim era estranho.
— Que tipo de pergunta é essa?
Dei de ombros e sorri.
— Você pode conhecer um garçom lindo e querer ter um sexo casual
com ele.
Dessa vez Alisson virou todo o corpo para mim e me olhou como se eu
tivesse duas cabeças.
— Você está bem?
— Ótima!
Ela revirou os olhos.
— Não irei ter nenhum sexo casual, mas estou em dia com minha
depilação, obrigada?
— Não precisa agradecer.
Alisson pegou um conjunto de lingerie preta e riu.
— Estava sendo sarcástica.
Eu sei.
Minha prima foi até o banheiro e eu agradeci aos céus por ela ter
escolhido peças intimas bonitas, porque senão ela estranharia toda essa
atenção.

— Esse não é o caminho para Brentwood — Alisson disse assim que


reparou que seguíamos a direção contrária da faixa que nos levava para a
cidade vizinha.
Olhei para Dylan que escondia um sorriso naquela cara bonita, eu tive
que fazer o mesmo. Minha prima não podia imaginar que estávamos a
levando para uma surpresa feita pelo seu futuro namorado.
Matthew deve ter percebido na viagem que fizemos que Alisson é uma
garota romântica e que gosta de gestos fofos, mais do que qualquer pessoa
que já conheci.
Dylan também havia me dito que Matthew parecia ter uma alma
romântica. O que só juntava o útil ao agradável, esses dois poderiam explodir
de tanta fofura quando finalmente ficassem juntos.
Não respondemos ao seu questionamento porque logo em seguida
Dylan estacionava a sua caminhonete na frente de um estabelecimento
chamado “Sweet Dreams”.
— O que estamos fazendo aqui? — Alisson perguntou, já
reconhecendo o local — Matthew irá junto?
Eu quase ri, tão ingênua.
— Desce do carro priminha, tem alguém te esperando lá dentro.
— O que?
— Eu e Dylan vamos jantar na casa dele, você vai ficar por aqui —
falei.
— Matthew tem algo para você — Dylan continuou — Um dos
motivos de não ter lhe dado a devida atenção nesse fim de semana é o que ele
preparou lá dentro.
— Eu...
— Apenas vai, qualquer coisa me liga — falei — Se bem que
conhecendo você como eu conheço, não irá fazer isso.
Alisson abriu a porta e saiu do carro, curiosa demais para o que quer
que estivesse acontecendo lá dentro.
— Nos vemos amanhã — sorri — Quero detalhes.
Ela já não parecia tão confusa, mas eu quase conseguia enxergar as
engrenagens trabalhando em sua cabeça.
Minha prima respirou fundo e caminhou até a porta do estabelecimento,
a encontrando semiaberta, entrou e sumiu das minhas vistas, agora... era só
esperar os detalhes dessa noite que seria incrível para ela.
Minhas mãos estavam tremendo quando eu abri a porta do bar de
Matthew Brown. Não conseguia acreditar que havia caído no papinho de
Ravenna sobre jantar fora.
Respirei fundo antes de entrar no bar. Tudo estaria escuro se não fosse
por algumas luzinhas no chão iluminando o caminho até os fundos do bar.
Fechei a porta atrás de mim e segui o que parecia ser uma instrução.
Meu coração acelerou quando cheguei no lugar que as luzes me
levavam. Matthew estava parado com uma rosa vermelha em sua mão e
vestindo um terno branco. Quando seus olhos ergueram e se encontraram
com os meus senti minha garganta secar.
Ele é um homem muito bonito. Muito bonito mesmo.
Cabelos castanhos claros, olhos verdes e um sorriso que mexia muito
com o meu coração.
— Você está linda, querida — ele elogiou.
Eu sorri, um pouco nervosa com tudo o que isso significava.
— Sei que você ficou chateada por eu mal ter respondido suas
mensagens nos últimos dias — Matthew se aproximou e segurou minhas
mãos — Mas foi por um bom motivo, fiquei planejando como termos um
segundo encontro incrível e tão especial quanto o primeiro.
— O que significa tudo isso? Devo me preparar para chorar? — Eu
perguntei ao olhar em volta de mim.
O ambiente não estava nem tão claro e nem tão escuro, todo decorado
com rosas e balões vermelhos e brancos. Havia uma mesa pequena redonda
no canto com duas cadeiras, uma de frente para a outra e bem na frente um
pequeno palco improvisado.
— Lembra como conversamos e nos damos tão bem em Outer Banks?
— eu assenti — Sabia que você era a garota que eu me apaixonaria quando a
encontrei naquela festa e por isso quis viajar, queria conhecer mais a mulher
que acordou meu coração e estava certo sobre você ser a pessoa certa.
Senti minha garganta apertar. Eu achava que era louca por ter sentindo
um milhão de coisas em apenas um encontro, mas eu não era. Ele também
sentia.
— Não sou bom com palavras, por isso trouxe um amigo que me ajuda
sempre quando eu quero desabafar — ele prendeu a rosa entre meu cabelo e
minha orelha direita — Sente-se aqui.
Me deixou sentada na cadeira e foi até o palco, pegou um violão que
estava no canto, encaixou em seus braços e começou a tocar.
Meus olhos lacrimejaram ao reconhecer a música de Bruno Mars, Just
The Way You Are.
Oh, os olhos dela, os olhos dela
Fazem as estrelas parecerem que não estão brilhando
O cabelo dela, o cabelo dela
Se movimenta perfeitamente sem ela precisar fazer nada
Ela é tão linda
E eu digo isso para ela todos os dias
Ele cantava enquanto sorria lindamente para mim, os olhos fixos nos
meus faziam minhas bochechas esquentarem. Eu sempre fui uma pessoa que
ficava envergonhada quando recebia muito atenção e agora o homem que eu
estou apaixonada está cantando Bruno Mars para mim... é impossível não me
sentir tímida.
Os lábios dela, os lábios dela
Eu poderia beijá-los o dia todo se ela me permitisse
A risada dela, a risada dela
Ela odeia, mas eu acho tão sexy
Ela é tão linda
E eu digo isso para ela todos os dias
Oh você sabe, você sabe
Você sabe que eu jamais pediria para você mudar
Se a perfeição é o que você está procurando
Então apenas continue a mesma
Ele se aproximava do fim quando caminhou até mim com o violão e
tocando a última parte da canção, cantou baixinho:
E quando você sorri
O mundo inteiro para e fica olhando por um tempo
Porque, garota, você é incrível
Do jeito que você é, sim
Eu estava sim sorrindo, mas também com algumas lágrimas escorrendo
pelo o meu rosto. Aquilo foi simplesmente lindo.
— Gostou? — Ele perguntou quando largou o violão o encostou a
mesa.
Assenti ainda me sentindo incapaz de pronunciar uma palavra sem
gaguejar. Nunca ninguém havia feito nada parecido.
— Bom, eu tenho que falar algumas palavras agora —sorriu e voltou a
pegar minha mão — Me encantei por você no momento que coloquei os pés
naquela festa e a vi. Me apaixonei por você quando viajamos juntos e nos
divertimos. Sou bobo pelo o seu sorriso, por sua timidez e quando você se
empolga e acaba sendo espontânea. Você é encantadora, Alisson Wess e é
impossível não se apaixonar. Fiz essa surpresa para você porque quero fazer
um pedido.
Ai meu Deus!
— Quero a conhecer mais, quero me apaixonar ainda mais por você,
quero amá-la. Você me aceitaria como o seu namorado, Srta. Wess?
Ele estava mesmo fazendo aquele tipo de pergunta?
— Sim! Claro que sim!
Matthew sorriu e segurou o meu rosto para em seguida grudar meus
lábios nos seus. Nos beijamos se entregando aquela paixão que havia nos
pegado de surpresa. Ele beijava muito bem, sua língua dançava com a minha
de forma lenta sem deixar de ter aquela pitada sensual que me
desestabilizava.
— Eu também preciso falar algo — eu disse assim que desgrudamos
nossas bocas — Por mais que eu seja tímida na maioria das vezes também
senti o mesmo quando me convidou para dançar e conforme o fui
conhecendo aquele dia a partir de conversas através de mensagens e depois
aquele feriado em Outer Banks percebi que você era o homem que poderia
entregar o meu coração, sem temer em sair ferida. Por isso eu aceito,
Matthew Brown, porque sei que você nunca faria nada que me machucasse.
Ele negou com sua cabeça.
— Nunca faria, querida, nunca.
E voltou a me beijar me abraçando forte contra o seu corpo.
— Antes de jantarmos gostaria de dançar comigo?
Sorri e assenti como uma boba apaixonada.
Matthew foi até o rádio e selecionou uma música, reconheci ser
photograph de Ed Sheeran.
Ele se aproximou de mim e segurou meus braços os levando até o seu
pescoço, o abracei enquanto ele segurava a minha cintura.
Com a diferença de altura tive que erguer meu rosto para encontrar os
seus olhos, ele sorria com aquele sorriso lindo e era impossível não retribuir.
Matthew me rodopiou pelo salão e me trouxe de volta para o seu corpo logo
em seguida, aproveitei aquele momento para encostar minha cabeça em seu
peito e fechar os olhos, apreciando do momento juntos.
Aquele era o início de uma linda e perfeita história de amor.
Observei minha namorada e Tempestade saltarem com perfeição o
quádruplo. Elas estavam cada dia melhor. A égua já não derrubava com
frequência as varas e Ravenna conseguia guiá-la com perfeição.
Ela estava certa.
Tempestade precisava disso tanto quanto ela.
O meu telefone toca no meu bolso e assim que vejo o nome de minha
mãe na tela, sei que lá vem bronca.
— Dylan Blossom — ela falou meu nome assim que eu atendi — Você
por acaso, esqueceu que tem mãe?
— Oi, mãe, e não eu não esqueci que tenho a senhora e Hannah em
minha vida, mas as coisas estão bem...
— Não me venha com desculpas! Faz exatamente um mês que você
não visita sua mãe, ou já passa de um mês? Com certeza já deve passar!
Quero você aqui nesse fim de semana — exigiu.
— Dylan, você viu isso?
A voz de Ravenna chamou minha atenção, ela provavelmente não viu
que eu estava no telefone, porque quando indiquei o celular com a outra mão,
ela pediu silenciosamente um “desculpa”. Sorri.
— Dylan Blossom, eu ouvi uma mulher chamando o seu nome, quem
é? — Minha mãe que de boba não tinha nada, perguntou.
Sabendo que não poderia esconder nada da Srta. Ivana Miller, contei:
— É a minha namorada.
Ouve um silêncio por longos segundos que talvez tenha chegado a um
minuto, para depois um grito que fez com que eu afastasse o telefone do meu
ouvido.
— Deus ouviu todas as minhas preces. Graças a Deus! Como ela é?
Traga ela para eu conhecer, Dylan. E desde quando estão namorando? Por
que não me disse? Eu sou uma piada para você?
Tive que rir.
— E você está rindo, santa namorada ela é. Preciso conhecê-la.
— Mãe são muitas perguntas, mas o namoro ainda é recente. Estou
feliz por isso estou rindo com tanta facilidade, irei ver se a levo esse fim de
semana para você conhecê-la.
— Você vai ver? Vocês têm que vir, estou ansiosa para conhecer a
mulher que o desarmou dessa forma.
— Mulher? É com Dylan que está falando? — ouvi a voz de Hannah
no fundo da ligação.
— Você acredita nisso, Hannah? Seu irmão está namorando.
— Não acredito — a voz dela se tornou mais audível, o que significava
que minha mãe colocou no viva voz — Como é o nome da azarada?
Revirei os olhos para implicância da minha irmã mais nova.
— O nome dela é Ravenna Blackwood.
— Nome bonito...
— Blackwood, tipo Anthony Blackwood?
Franzi as sobrancelhas, tentando entender o porquê minha irmã sabia o
nome do pai da minha namorada.
— É o pai dela.
— Simplesmente o melhor advogado de Nova Iorque e o seu escritório
está entre os dez melhores da América do Norte. Fala sério, você está
namorando com a filha dele, sortudo.
Ravenna havia me contado sobre as profissões dos pais, mas foi
modesta em dizer que o pai era um bom advogado e a mãe uma ótima
médica.
Eu como não estava por dentro do mundo do direito, não conhecia o
status de Anthony Blackwood, mas minha irmã que esse ano faria entrevistas
para cursar o curso nas faculdades ao redor estava por dentro.
— Estou ansiosa para conhecê-la — minha irmã disse.
— Todos estamos — a voz de Jimmy também se fez presente.
Balancei a cabeça, agora eu tinha mais que a obrigação de levar
Ravenna para conhecer minha família.
— A levo no sábado.
— Oba! — Minha mãe exclamou, feliz.
— Agora eu preciso desligar, ainda tenho trabalho a fazer — falei, me
despedindo.
— Tudo bem, nos vemos no fim de semana.
Desliguei a ligação e voltei a olhar para Ravenna, ela já estava no chão,
retirando o pelego que ficava embaixo da sela de Tempestade.
Me aproximei delas e com cuidado, retirei os freio da égua. Ela já nem
me temia mais como antes, estava claro a evolução de Tempestade, tudo por
causa de Ravenna.
— Quem era?
— Minha mãe — falei e os olhos de Ravenna me fitaram — Está
ansiosa para conhecê-la, tudo bem se irmos para Brentwood no sábado?
— Irei conhecer sua mãe?
— Eu conheci o seus pais, acho que já está na hora de você conhecer a
dona Ivana.
Liberamos Tempestade, que saiu da pista de treinamento e foi ao
encontro de Olaf.
Outro motivo para a mudança da égua. Meu cavalo e ela não
desgrudavam mais, da mesma forma que Nina e Billy, que a essa hora
deveriam estar em algum lugar desse rancho brincando.
Quando eu não trazia Olaf para Nightfall, podia ver os olhos de
Tempestade o procurando.
Talvez ambos estivessem apaixonados, da mesma forma que eu e
Ravenna.
— Claro que irei com você no sábado, só estou um pouco nervosa —
admitiu.
Sorri.
— Não precisa ficar, minha mãe é uma mulher incrível e com certeza
vai gostar de você.
— Acho que posso ficar mais tranquila depois de ouvir isso — se
aproximou de mim.
Abracei sua cintura a deixando próxima ao meu corpo apenas para
atacar os seus lábios. Beijei sua boca, pedi acesso com minha língua e foi
cedido no mesmo momento, explorei sua boca e senti suas mãos subirem dos
meus braços até a minha nuca.
Ravenna adorava puxar os meus cabelos, eu havia percebido isso nos
nossos últimos beijos. E eu adorava descer minhas mãos até sua bunda e
apertar suas nádegas, trazendo seu corpo para mais perto do meu apenas para
sentir a ereção que se formava no meio das minhas pernas, foi exatamente o
que fiz naquele momento.
— Tenho uma surpresa para você hoje à noite — ela disse depois que
afastamos nossos lábios.
— Uma surpresa? O que é?
— Se é surpresa não pode ser dito, cowboy — me deu um selinho —
Agora, vamos levar Tempestade para os estábulos.
Ravenna foi até Tempestade e eu fechei o portão da pista de
treinamento.
Peguei a rédea de Olaf e seguimos os quatro para os estábulos.
— Soube alguma coisa sobre Matthew e Alisson? — Perguntei.
Havia recebido apenas uma mensagem de Matthew agradecendo pela
ajuda e que me devia uma.
Se ele soubesse que eu é que devia a ele.
— Alisson está nas nuvens — Raven sorriu — Você sabia que seu
amigo é cantor? Porque eu não sabia. Ele cantou para ela Just The Way You
Are do Bruno Mars, fala sério. Impossível de dizer um não.
Arqueei as sobrancelhas.
— Deveria treinar minha voz para não perde você? — Brinquei.
— Escuta só, Dylan, você nunca vai me perder — ela piscou para mim
— Nunca mesmo.
Assim espero. Pensei, mesmo que no fundo achasse o contrário. O
tempo só passava e eu não conseguia contar.
Sabia que quanto mais demorasse, pior seria.

Deixamos Tempestade na sua baia e fomos para minha casa. Com


Ravenna dormindo com mais frequência aqui, havia mais peças de roupas
suas no meu guarda roupa. Ela apenas mandou uma mensagem para a sua tia
avisando.
Quando entramos em casa fui para cozinha preparar o jantar, Ravenna
foi direto para o banho, depois voltaria para cuidar das panelas enquanto eu
iria tomar banho.
Tentei não pensar como isso era algo entre casais, mas foi impossível.
Me sentia extremamente calmo e feliz com Raven em minha vida,
principalmente com essas coisas típicas de casal.
O que me deixou levemente assustado foi querer muito mais com
Ravenna.
Eu não conseguia mais imaginar minha vida sem essa mulher. Sem
suas provocações, sua risada, seu olhar e suas formas diretas de dizer as
coisas.
Desde que cedi a tudo que sinto venho travando uma batalha contra os
meus próprios demônios.
Sei que o prazo de validade para o nosso relacionamento pode se
estender. Talvez eu não fosse tão inútil como Briana disse. Eu sabia que
Ravenna era diferente da minha ex esposa, mas mesmo assim eu tinha medo
de contar.
Puro egoísmo.
Uma voz, a voz dela reproduziu na minha cabeça.
Balancei a cabeça, afastando os pensamentos daquela trágica noite. A
noite que nos destruiu como casal.
— Prontinho, cowboy — Ravenna apareceu na cozinha apenas com
uma camiseta minha cobrindo o seu corpo — Pode ir para o banho enquanto
cuido da janta.
A camiseta mal cobria as coxas direito. Ela ficava incrivelmente linda
quando vestia as minhas roupas e eu parecia um adolescente babando pelo
seu corpo.
Ela se aproximou e não conseguindo me conter a puxei para perto de
mim.
— Quero saber o que você está aprontando — falei me referindo a
surpresa que até agora ela não havia dado nenhuma pista.
Minha namorada sorriu provocativa ao levar a sua boca até o meu
ouvido e sussurrar:
— Mais tarde você vai saber.
Senti sua voz e seu sussurro fazer efeito diretamente no meu pau.
Busquei sua boca e a beijei, tão faminto por ela como todas às vezes
que nos beijávamos. Era incrível a forma como tínhamos uma química
perfeita, de dar inveja a qualquer pessoa que visse de fora.
— Acho melhor você ir para o banho e guardar isso para mais tarde —
piscou se afastando.
O isso que ela se referia era meu pau ficando duro apenas com um
beijo. Resolvi obedecer porque sabia que mais tarde o que quer que me
esperasse resultaria em nós dois nus na minha cama.

Ravenna pegou minha mão e me guiou para fora da cozinha.


Fazia mais ou menos quarenta minutos que jantamos e lavamos toda
louça, conversando sobre amenidades enquanto aproveitávamos a companhia
um do outro.
Entramos dentro do quarto e eu franzi a testa ao ver uma cadeira que
não estava ali no meio do cômodo de frente para a cama.
Raven fechou a porta e me olhou, o sorriso safado estava ali e eu soube
que minha surpresa me faria sofrer.
— Lembra quando eu disse que fiz um strep tease em uma festa?
Assenti.
— Achei que seria interessante retribuir o que você fez comigo naquele
celeiro.
Engoli em seco. Ela queria me matar, definitivamente.
— Agora — me levou até a cama e me fez sentar — Quem manda sou
eu.
Ela se afastou e caminhou até o seu celular em cima da cômoda. Em
seguida ouvi uma música começar a tocar e reconheci imediatamente a
cantora e a canção.
Ao som de Dance For You de Beyonce minha namorada começou a
desabotoar os botões da minha camiseta que usava em seu corpo.
Lentamente e de forma sensual pra caralho ela deixou a peça deslizar
pelo seu corpo.
Tive a visão da calcinha e sutiã de renda vermelha. Ela não usava
nenhum salto e muito menos uma maquiagem, mas mesmo assim conseguia
ficar ainda mais gostosa.
Ravenna se virou de costas para mim e caminhou rebolando até a
cadeira, se sentando na mesma, ainda ficando de costas para mim. Suas mãos
subiram da lombar até chegar em sua nuca e bagunçar os cabelos. Se virou
parcialmente para a direita e deslizou as mãos até a barriga, não deixando de
passar as mãos entre os seios escondidos pela aquela peça minúscula de sutiã.
Ela levantou e até mesmo a forma que se virou rebolando os quadris era
sensual. Foi para trás da cadeira e com a perna direita apoiou-se na mesma.
Rebolou com maestria ao mesmo tempo que colocava as mãos nos cabelos e
os mexia de forma sexy.
Enquanto isso meu pau dava sinais de alerta que não se manteria calmo
por muito tempo. Principalmente quando Ravenna largou a cadeira e ficou na
frente dela, rebolando de lado até o chão e balançando levemente os cabelos,
com as mãos inquietas deslizando por suas coxas. Se levantou e deu uma
volta me deixando ver melhor a calcinha cavada em sua bunda.
Meu pau pulsou. Quis tocá-la desesperadamente, mas não estragaria o
que ela planejou, uma parte de mim gostaria de ver até onde toda aquela
ousadia iria.
Sem desviar o olhar do meu, Ravenna mexeu os quadris de um lado
para o outro subindo as mãos das coxas até os seios e os apertando
levemente.
Quis dar adeus ao meu autocontrole. Meu pau duro estava prestes a
rasgar a calça e ela percebeu isso porque o sorriso que me lançou não era
apenas sexy para cacete, era de uma mulher que sabia o poder que tinha.
Voltou a rebolar de lado, balançando todo o seu corpo conforme a
música, só que dessa vez se inclinando para trás para depois curvar-se para
frente e empinar a bunda, rebolando de forma lenta.
Fiz questão de me levantar e saciar nossos desejos transando nesta
cama, mas ela levantou a palma da mão para mim e me pediu para esperar.
Safada.
Ravenna voltou para a cadeira segurou o encosto da mesma e curvou-se
para voltar a rebolar, dessa vez me deixando ver toda a sua bunda.
Abri o zíper da minha calça para pelo menos aliviar a dor que estava
sentindo. Era desejo puro.
Ravenna se virou para mim novamente, se abaixou e veio engatinhando
até o meu encontro. Chegando próximo a mim, ela apoiou as mãos nos meus
joelhos para subir e ficar de frente para mim. Estava ofegante devido aos
movimentos feitos e alguns pingos de suor estavam presente em seu rosto e
parte do seu corpo, mas aquela era a cena mais sexy que já havia visto na
vida.
Fiz questão de tocá-la, mas ela me impediu.
— Ainda não acabou a música, cowboy — sussurrou no meu ouvido.
Ela subiu na cama e se apoio em meu ombro enquanto rebolava do meu
lado. Para em seguida me abraçar com um dos seus braços e deslizar sua mão
livre pela minha barriga. Sorriu ao ver o efeito que causava em mim e passou
aquela mão pelo meu pau, me fazendo arfar.
Ravenna subiu em cima de mim e com uma perna de cada lado, não
estando totalmente sentada no meu colo começou a rebolar em cima de mim.
Não aguentei ficar apenas olhando aquilo e a puxei para mim,
gememos ao mesmo tempo que se sentou bem em cima do meu pau, me
fazendo sentir que não era o único excitado ali. A calcinha estava toda
molhada e agora eu podia ver por estar tão próxima de mim.
— Não preciso esperar até o final da música — falei, desesperado para
estar dentro dela e sentir seu monte úmido me receber de forma apertada. Só
em imaginar sentia meu pau pulsar ainda mais.
Ela sorriu, mas estava na cara que estava tão afetada como eu.
Mesmo assim ela me derrubou na cama e ainda ficando em cima de
mim continuou a rebolar, agora em cima do meu pau me deixando doido.
Apertei seu quadril contra mim, querendo aumentar aquela pressão, mas ela
me impediu de continuar com aquilo.
Levantou e se virou de costas para mim, deitado eu podia ver sua
buceta lisinha tapada pelo fio da calcinha enquanto ela continuava a rebolar.
Aquilo era muito para mim.
Senti minha boca secar, louco para estar no meio de suas pernas e
lamber todo o seu líquido, fazê-la gozar apenas com minha língua a
estimulando.
Ela se abaixou ao meu lado e subiu em cima de mim de novo, a segurei,
dessa vez não a deixaria ir em nenhum lugar. Raven sorriu para em seguida
terminar a performance me beijando.
A música continuava, mas não nos importamos, loucos de desejo um
pelo o outro.
Ela me ajudou a retirar minha camisa e em seguida retirei minha calça,
para depois me livrar da cueca, deixando meu pau finalmente livre para logo
entrar onde ele queria desde o início.
A joguei na cama, ela riu ao ver um pouco do meu desespero, mas eu
sabia que ela estava tanto como eu. Abri o fecho do seu sutiã e livrei seus
seios da peça. Cai de boca no direito, enquanto subia minha mão para
massagear o esquerdo. Ravenna gemeu e arqueou os quadris, senti sua
calcinha molhada encostar em meu pau e quase dei adeus as preliminares.
Suguei o bico do seu seio e raspei meus dentes ali, ela arfou e segurou
meus cabelos. Fiz o mesmo com o outro, mas não permaneci muito tempo
por ali, desci meus lábios, distribuindo lambidas até chegar perto de onde eu
queria. Rasguei sua calcinha, não me importando com as consequências,
aquela peça era muito fina.
— Dylan — Raven me olhava com as sobrancelhas arqueadas.
— Eu compro outra.
Abri mais suas pernas e me deliciei com a visão de sua buceta toda
melada, tudo apenas com uma dança para mim. Esse era o poder que
tínhamos um com o outro, agora que ambos sabíamos como era estar juntos,
não conseguíamos mais nos controlar. Aspirei seu cheiro antes de lamber
seus lábios, Ravenna gemeu alto e senti as mãos no meu cabelo me
instigando a continuar. E foi o que eu fiz.
Lambi toda a sua buceta para depois chupar seu clitóris e penetrar dois
dedos em sua entrada. Raven gritou alucinada, senti tudo o que eu fazia com
ela ter efeito em meu pau, que agora não só doía de desejo como pulsava.
Brinquei com seu clitóris enquanto entrava e saia com meus dedos de
sua entrada. Inseri um terceiro dedo e minha namorada chegou a fechar um
pouco as pernas tamanho o prazer. Continuei a sugar seus clitóris e quando vi
que estava prestes a gozar parei.
Queria ela se entregando de prazer comigo, olhando nos meus olhos.
E foi o que fiz, subi até ficar de frente com o seu rosto e a beijei para
em seguida guiar meu pau até a sua entrada e a penetrar.
Gememos juntos interrompendo o beijo, extasiados de prazer. Entrei e
sai de forma forte e profunda, não desviando o olhar do seu. Suas mãos foram
até as minhas costas e suas pernas abraçaram minha cintura, senti quando
suas unhas rasparam elas, mas não me importei com marcas porque aquilo
era muito bom.
Minha boca desceu até o seu pescoço, suguei e o mordi enquanto a
penetrava. Ravenna arqueou um pouco o quadril e eu gemi alto ao conseguir
ir ainda mais fundo, com ela não foi diferente, porque voltou a fazer isso uma
segunda vez ao mesmo tempo que me apertava mais contra si.
Urrei de prazer. Desci meus lábios até o seu seio e os chupei ao mesmo
tempo que devo tê-lo mordido. Passei a fazer a mesma coisa com o outro.
Senti sua vagina me apertar mais meu pau e sabia que estava preste a
gozar. Sai e entrei mais uma vez, levando Ravenna a gemer alto enquanto se
entregava a um orgasmo incrível.
Subi minha boca até a sua e continuei a meter, firme e forte. Mas não
foi por muito tempo que aguentei, porque em seguida estava gozando tão
loucamente como ela.
Desabei em seu corpo, mas tomei cuidado para não a machucar. Ouvi
seu coração tão descompassado como o meu enquanto minha cabeça deitava
sobre o seu peito.
A constatação de que amava aquela mulher não veio após a transa
fenomenal que tivemos a pouco.
Mas sim quando ela foi a única pessoa paciente o suficiente para me
entender.
Diante disso eu sabia que ela não se afastaria ou se anojaria de mim.
Ela me entenderia da mesma forma que fez no início.
Ao deitar do seu lado, abraçar o seu corpo e ver a forma que sorria
lindamente para mim, tive a certeza que contaria tudo para mulher que eu
amava o mais rápido possível.
Ela merecia a verdade.
Mesmo que isso significasse a minha infelicidade.
Que roupa se coloca para conhecer a sogra?
Eu nunca fui o tipo de me importar com aparência ou em tentar
agradar, mas seria mentira se dissesse que não estava nervosa para conhecer
Ivana Miller.
Para todo o filho a mãe é boa. E se ela fosse daquele tipo autoritária?
Ou pior, que só liga para coisas inúteis? Que me olharia de cima a baixo e me
rejeitaria sem ao menos dizer uma palavra.
Revirei os olhos. Eu estava sendo dramática.
Dylan é um homem incrível e foi criado por sua mãe, claro que ela
seria tão maravilhosa quanto ele.
Respirei fundo e me olhei mais uma vez no espelho. Estava vestida de
lingerie ainda e com dois vestidos na mão. Um florido amarelo e outro da cor
azul claro totalmente liso.
Joguei os dois de volta no roupeiro, nenhum me agradava. Eu precisava
de roupas novas.
A porta foi aberta e nem consegui pegar nada para esconder minha
quase nudez, mas eram apenas as irmãs Wess.
— Uau! Se eu não estivesse apaixonada por Rebeca até te olharia com
outros olhos — Amélia brincou.
Eu ainda não estava acostumada com minha prima mais velha tentando
ter um relacionamento amigável comigo.
Durante a minha vida inteira a enxerguei como uma pessoa que me
odiava e que eu deveria retribuir, mesmo que nunca tivesse sentido nada
comparado a isso no coração. Agora ela estava mais leve, mais feliz e.…
espera, o que ela disse?
— Alisson já sabe? — Perguntei.
Desde que ela me contou tudo sobre seu passado e sua sexualidade
tentava me controlar para não acabar deixando escapar algo para Ali.
Amélia havia sido bem clara ao dizer que ela mesmo iria contar, só
precisava de um tempo.
— Sim! E confesso que de todas as coisas que eu imaginava que
Amélia fosse, bissexual não estava entre elas.
Eu ri e a mais velha revirou os olhos.
— Irei trazer Rebeca para jantar aqui em casa hoje, você vai estar, né?
— Ela perguntou.
Assenti.
— Eu e Dylan não pretendemos ficar para dormir.
— Matthew também virá hoje — Alisson disse, não escondendo o
sorriso do rosto.
Quando Alisson me contou que Matthew a pediu em namoro, cantou
para ela e que jantaram a luz de velas fiquei muito feliz por minha prima estar
finalmente nos braços de alguém que a amaria e cuidaria.
Não desejava nada inferior a isso para ela.
— Eu não perco esse jantar por nada — sorri.
Já podia imaginar meus tios fazendo perguntas e mais perguntas sobre
o relacionamento de suas amadas filhas.
— Você adora nos ver passar vergonha — Ali disse — Mas por que
ainda está de lingerie? Não decidiu nada para usar ainda?
Neguei.
Amélia foi até o meu roupeiro e sem pedir permissão começou a mexer
nas minhas roupas, em busca de algo.
— Claro que você pode mexer, Amélia — fui sarcástica.
— Apenas a ajudando ou então deixará o cowboy tomando chá de
banco.
Sorriu ao achar duas peças de roupas. Me jogou e reconheci
imediatamente a saia soltinha que ia até o início do joelho. Ela era formada
por duas camadas de tecido, a parte azul claro ficava embaixo, enquanto por
cima era coberta por um tecido transparente com algumas borboletas
grudadas, como enfeite.
A outra peça era uma blusa cropped caída nos ombros, com as mangas
longas e soltas nos braços. Era conjunto da saia, por isso as borboletas
também faziam um charme na peça.
— Isso deixa minha barriga a mostra — falei.
Revirou os olhos.
— Mas não é vulgar, ainda mais com essas borboletinhas ridículas —
arqueei as sobrancelhas, ela sorriu — Sabe que eu não gosto de enfeites de
menininhas, mas você fica bem com eles. É como se fosse uma menina
mulher.
Resolvi experimentar logo a roupa. O relógio já marcava oito horas da
manhã, a qualquer momento Dylan estaria buzinando aqui na frente.
Me olhei na frente do espelho. Amélia estava certa, aquela roupa
combinava mesmo com o meu jeito.
Coloquei uma sandália não muito alta e dei uma voltinha para as
meninas.
— Eu sabia! — Amélia disse.
— Linda como sempre — Ali elogiou — Está ansiosa para conhecer a
sogra?
— Nervosa, você quer dizer. E se ela não gostar de mim?
— Impossível não gostar de você, Raven — Alisson falou — Até
Amélia gosta de você agora.
— Ei! Eu nunca odiei Ravenna — se defendeu.
— Mas implicou com ela boa parte da sua vida — Alisson rebateu.
Uma buzina interrompeu nossa “conversa”.
— Deve ser o Dylan — peguei minha bolsa e conferi se meu telefone
estava ali — Nos vemos mais tarde?
— Até mais!
Sai do quarto junto com minhas primas. Encontrei Nina me esperando
com meus tios na sala.
Eu já havia deixado minha cachorra pronta para podermos sair.
Segundo Dylan, sua mãe amava muito Billy e amaria conhecer Nina, ainda
mais quando contasse como nos conhecemos.
Acenei para os meus tios e sai de casa guiando Nina pela coleira cor de
rosa.
— Você está maravilhosa — Dylan me elogiou.
— Obrigada — o beijei — E você como sempre também está.
— Nervosa para conhecer sua sogra, Ravenna Blackwood?
— Um pouco.
Muito.
Era minha primeira vez conhecendo uma sogra. Então eu não conseguia
evitar de pensar em momentos trágicos que ela me odiaria.
Dylan abriu a porta de trás da caminhonete e como uma boa mocinha,
Nina pulou no banco e ficou sentada ao lado de Billy, que nem escondia a
animação por fazer um passeio com a amiga.
— Não precisa ficar — abriu a porta para mim e antes de fechar soltou
as palavras que fizeram as batidas do meu coração quase pararem — Ela irá
amar você simplesmente porque eu amo.
O que?
— Você percebeu o que disse?
Ele sorriu e fez que sim com a cabeça.
— Amo você, Ravenna.
Retribui o sorriso e pulei em seus braços, circulei os meus ao redor do
seu pescoço e o beijei. Dylan Blossom me ama!
— Eu também amo você — me declarei assim que afastei meus lábios
dos seus.
Se torna impossível não amar alguém tão estupidamente maravilhoso
como ele.
Dylan é o homem que me desestabiliza e me mantém firme na mesma
proporção.
Nos beijamos mais uma vez antes de Dylan me colocar de volta no
banco e fechar a porta. Ainda precisávamos ir visitar minha sogra, afinal.
Coloquei meu cinto e Dylan fez o mesmo quando entrou no carro. Ele
engatou a marcha logo em seguida, movimentando o carro para fora do
rancho de meus tios.
Conforme dirigia, conversávamos sobre amenidades, como por
exemplo o treinamento de Tempestade. Semana que vem já iniciaríamos com
a parte de adestramento. Essa era uma das etapas mais difíceis, tanto para
ensinar como para competir.
Era a única prova que perdia ponto.
Mas eu sabia que Tempestade se sairia muito bem, ela estava cada dia
evoluindo mais.
Uma música da Beyonce começou a tocar e automaticamente olhei para
Dylan, que sentiu o meu olhar e sorriu malicioso.
Eu realmente arrasei aquela noite.
Estava me sentindo muito bem comigo mesmo e quando vi uma peça
de lingerie nunca usada no meu guarda roupa, sexy demais, não perdi a
oportunidade de dançar para o meu namorado.
E aquele olhar, aquele jeito bruto que transamos, fazia com que me
sentisse excitada.
Algo não me passou despercebido naquela noite depois de Dylan sair
de dentro de mim.
O motivo de ter sido muito mais intenso e muito mais gostoso:
transamos sem camisinha.
Eu nunca havia transado sem e também não tinha nenhuma doença
sexualmente transmissível, estava com os exames em dia.
Quanto a gravidez, sem chances.
Eu tomava anticoncepcional todos os dias para regular a menstruação.
— O que foi? — Dylan perguntou. Como ele conseguia me ler tão bem
e notar quando eu estava pensando demais?
— Transamos sem camisinha aquela noite — fui direta, como sempre.
Vi quando apertou mais forte a direção, quase imperceptível, mas ainda
sim notei.
— Eu tomo remédios, não se preocupe.
Por mais que eu amasse esse homem, ainda era cedo para se pensar em
filhos, né? Ainda mais por um descuido.
— Não é isso — ele suspirou — Mas eu não tenho nenhuma doença,
doei sangue há dois meses e eles fazem exames de DST’s.
— Eu sei que não tem. Sei que nunca omitiria nada de mim.
Mais uma vez vi suas mãos apertarem mais forte o volante, mas decidi
ignorar e mandar aquele mau pressentimento para fora do meu corpo.
Ele acabou de dizer que me ama.
Nada poderia acabar com toda essa felicidade que estávamos sentindo.
Era apenas eu tentando me colocar para baixo, tentando me culpar por
estar feliz.
Era apenas isso, não é?

Chegamos na casa da mãe de Dylan minutos depois. Sai da


caminhonete e abri a porta para Nina e Billy. Não deixei que minha cachorra
caminhasse nem dois passos, a trazendo para perto de mim com a coleira.
Billy que já conhecia o lugar correu até a entrada da casa e começou a
arranhar para entrar. Vi que minha cachorra estava louca para correr e
participar da festa, mesmo que não soubesse quem morava no lado de dentro
da casa.
A porta foi aberta, Billy pulou e começou a lamber desesperadamente a
mulher que reconheci pela foto do quarto ser a mãe de Dylan.
— Eu sei que você estava com saudades de mim — alisou sua cabeça
— Seu pai é um insensível e não pensa mais em nós.
Sorri no mesmo momento que Ivana levantou os olhos e nos viu. Eu
enxerguei o brilho no seu olhar mesmo de longe.
Dylan pegou minha mão e fomos em sua direção.
— Filho! Finalmente lembrou que tem mãe — abraçou ele pelo
pescoço.
— Dona Ivana e seus dramas — beijou a testa dela — Como está?
Se desfizeram do abraço.
— Muito bem! Melhor agora que descobri que você tem uma namorada
e ainda por cima linda desse jeito — me olhou sorrindo — Eu sou Ivana
Miller, querida, a mãe desse mocinho aqui.
— Ravenna Blackwood.
Eu estendi a mão, mas ela ignorou e me abraçou apertado.
— Finalmente alguém decente na vida do meu bebê — ela disse.
Com certeza se referindo ao antigo relacionamento do meu namorado.
Nos desfizemos do abraço e ela deu espaço para entrarmos, mas assim
que seus olhos caíram para Nina, ela deu um gritinho animado. Minha
cachorra balançava o rabo de um lado para o outro, animada com a atenção
recebida.
— E você, quem é?
— É a Nina, minha Golden, espero que não se importe por ter trazido
mais um cachorro para sua casa. É que Dylan disse...
— Tudo bem, querida — ela aproximou a mão da cabeça de Nina e
acariciou — Eu amo esses bichinhos. Pode soltá-la, não tem nenhum
problema.
Entramos dentro de casa e eu fiz o que ela disse, soltei Nina, que por
enquanto permaneceu no mesmo lugar observando o local.
Era uma sala grande ao redor, com muitos porta-retratos. Dois sofás
vermelhos, uma mesa no centro e uma grande televisão na parede.
— Bem vinda ao meu lar — Ivana disse — Sinta-se em casa, Ravenna.
— Pode me chamar de Raven.
— Ai meu Deus!
Uma garota de cabelos escuros apareceu na sala. Reconheci pela foto
do quarto de Dylan também como a irmã.
— Eu não sei o que me surpreende mais. Meu irmão estar namorando
ou a namorada dele ser Ravenna Blackwood — ela parou em minha frente —
Sou Hannah Miller, irmã desse arrogante e fã número um do seu pai.
Sorri, já gostando da adolescente na minha frente. Rosto redondo e os
olhos eram incrivelmente azuis, como o da mãe e o do irmão.
Meu pai é um grande advogado e eu não fico surpresa por ele ter
admiradores. Quando eu estudava direito muitas pessoas se aproximavam só
porque Anthony Blackwood era meu pai.
— É um prazer conhecer você — apertei sua mão — Fico feliz que
goste do trabalho do meu pai.
— Ainda vou ser uma advogada incrível como ele.
— Tenho certeza que sim.
— Maninho — abraçou Dylan — Senti sua falta também.
— Eu também, irmã — beijou sua testa — Está se comportando?
Hannah revirou os olhos.
— Finalmente ela está — Ivana disse — A última conversa surtiu
efeito.
— Mãe! — a garota a repreendeu com o olhar, mas tudo o que Ivana
fez foi ignorar.
Dylan havia me dito em uma das noites que passamos juntos os
problemas que Hannah estava enfrentando. Um pai idiota que não dava mais
valor para ela porque arrumou uma nova família e ela tentando chamar sua
atenção com atos rebeldes.
Fiquei contente por ela estar melhorando. O pai não merecia aquela
atenção e talvez ela tenha percebido isso.
— Já tomaram café? — Ivanna pergunta, assentimos — Então sentem-
se, vou buscar um suco para nós.
Ela foi em direção a uma porta que com certeza levava a cozinha. Me
sentei ao lado de Dylan no sofá, enquanto Hannah fazia o mesmo no outro.
— Vocês formam um belo casal — sorriu — Mas me conte como
conseguiu fisgar meu irmão, Raven?
Eu ri.
— Hannah não comece...
— Estou curiosa para saber o que aconteceu para o Sr. Não quero mais
relacionamentos se interessar por um agora.
— Ainda bem que eu já tinha o suco pronto, porque estou louca para
ouvir essa história — Ivana trouxe uma bandeja com quatro copos de sucos.
Estendeu um para mim e um para Dylan, fez o mesmo com Hannah e
pegou o seu.
— Eu sabia que a garota que conseguisse mudar a opinião de Dylan a
respeito de relacionamentos teria o meu total respeito — piscou para mim —
Conte-nos.
— Isso é sério? — Dylan perguntou.
— Com certeza — Hannah bebeu um gole do seu suco e me olhou com
expectativa.
Olhei para Dylan e ele deu de ombros, sorrindo. Levei aquilo como um
sinal para continuar.
— Acho que devo começar pela parte em que acidentalmente invadi a
propriedade do seu filho.
Ivana arqueou as sobrancelhas.
— Isso está ficando interessante...
Ravenna riu enquanto terminava de contar tudo o que aconteceu entre
nós. Desde a parte em que fui estúpido com ela quando nos conhecemos até
eu indo à festa e me declarando.
Podia ver os olhos de minha mãe a admirando, provavelmente
pensando o quão sortudo eu era por recomeçar em um novo relacionamento
com uma pessoa incrível como Raven.
Caramba, eu realmente amo essa mulher.
A forma como suas covinhas aparecem quando gargalha daquele jeito,
provavelmente achando graça de uma piadinha de minha irmã mais nova, me
deixa abalado demais.
Ela é tudo o que eu sonhei para mim.
Sexy, divertida, fofa e muito corajosa.
— Isso daria até um livro — Hannah riu — Se eu fosse autora, me
inspiraria na história de vocês.
— Com certeza daria — Ravenna concordou.
— É muito bom ver que ambos se conectaram dessa forma — minha
mãe disse — Não foi só com Tempestade que você estabeleceu uma conexão,
querida.
Raven assentiu.
— Eu percebo isso agora.
Me olhou, aquele olhar que dizia tantas coisas, dentre elas a frase “eu te
amo” conseguia ser transmitida diretamente para mim.
— Ainda não acredito que vai competir — Hannah comentou — Você
é muito corajosa, já eu fujo de cavalo.
— Por que? — Raven perguntou, confusa.
— Porque ela tem medo — expliquei — Olaf é o único que ela tolera.
— Cavalos são incríveis, não tem motivos para ter medo — minha
namorada disse — Quando você for até Nightfall apresentarei Tempestade,
tenho certeza que até lá, ela estará muito sociável.
— É o que eu espero, porque eu não vou chegar perto dela se não
estiver amigável — Hannah riu.
Jimmy Miller entrou na sala e veio ao nosso encontro com o sorriso
amigável de sempre.
— Desculpe a demora, estava preparando a grelha lá no quintal — me
levantei para cumprimentá-lo — Como vai, Dylan?
Raven fez o mesmo e a abracei de lado.
— Bem e você? Essa é Ravenna Blackwood, minha namorada.
— Prazer, eu sou Jimmy Miller, o padrasto — apertou a mão que
Raven estendeu.
— Muito prazer.
Voltamos a nos sentar no sofá, Jimmy se sentou ao lado de minha mãe
a trazendo para mais perto. Eu gosto dele, dava para ver no seu rosto que o
que sentia por minha mãe era verdadeiro.
— Sobre o que conversavam? — Ele perguntou.
— Raven estava nos contando como conseguiu conquistar o coração do
meu garoto — Minha mãe respondeu.
— Ah! É uma pena que tenha perdido essa história.
— Conto para você depois, é muito divertida.
Jimmy assentiu.
— E você? Não perturbou Ravenna com perguntas sobre Anthony
Blackwood? — Perguntou para Hannah.
— Ainda não — minha irmã piscou — Mas estou quase.
Rimos.
Eu sabia que Hannah estava muito curiosa para saber mais sobre um
dos advogados que ela mais admirava, estava até admirado pelo seu
autocontrole.
— E como está o serviço em Nightfall? — Jimmy perguntou.
— Está cada dia mais puxado — falei — Mas estamos dando conta.
— E o projeto do consultório veterinário? Ainda está de pé?
Eu estava pensativo quanto a isso ainda. Não sei se um consultório
veterinário é o que quero agora, talvez se eu juntasse mais um pouco poderia
conseguir capital suficiente para abrir algo maior.
— Estou pensando nisso ainda — respondi.
— O que precisar estou aqui, garoto — ele sorriu.
Mesmo que de garoto eu não tivesse nada, Jimmy não perdeu o
costume de me chamar dessa forma.
— Se me derem licença, vou começar a preparar o almoço — minha
mãe disse.
— Quer ajuda? — Raven se ofereceu.
— Não precisa, querida.
Minha mãe foi até a cozinha e Jimmy aproveitou para se levantar, pedir
licença e voltar para o quintal organizar mais algumas coisas.
Hannah olhou para Ravenna com expectativa e eu soube que a lotaria
de perguntas sobre o direito.
— Você cursa direito? — Foi a primeira delas.
— Não, mas já tentei. Por enquanto estou com a faculdade de medicina
trancada.
— Sua mãe é médica, né?
Ela assentiu, parecendo surpresa por minha irmã mais nova saber disso.
— É que eles foram em um evento juntos e eu acabei a conhecendo —
se explicou.
— Eu entendo — sorriu — O que mais você gostaria de saber?
— Não deveria ter feito essa pergunta — falei — Ela vai te deixar com
dor de cabeça de tantas perguntas.
Hannah mostrou a língua para mim, exatamente como uma criancinha
zangada.
— Idiota! Não farei, Raven, e tudo bem se você não quiser contar.
— Eu não me importo, sério! Pode perguntar.
— Vou dar uma passada na cozinha para ver se minha mãe realmente
não precisa de ajuda — beijei a testa de Ravenna — Qualquer coisa só gritar,
tudo bem?
— Como você está engraçadinho, maninho — Hannah revirou os
olhos.
Baguncei seus cabelos e levantei, indo até a cozinha. Encontrei Ivana
cortando alguns temperos.
— Uma boa moça essa Ravenna — foi a primeira coisa que ela disse,
sorrindo para mim — Estou feliz por você filho.
— Ela é mãe, a mulher mais incrível que já passou por minha vida.
— Concordo cem por cento com isso.
Dona Ivana voltou a cortar, dessa vez, rodelas finas de tomate, ficou
assim por alguns segundos antes de me olhar nos olhos e perguntar:
— Contou tudo para ela?
Neguei.
— Somente uma parte.
— E deixou a principal de lado — concluiu.
— Estou com medo — admiti.
Minha mãe largou a faca e veio até mim. Ela era alta, não tanto quanto
eu e mesmo assim conseguia erguer levemente os braços e alisar meu rosto
com sua mão.
— Você não precisa ter medo, filho — disse — Eu vi o jeito que ela
olha para você. Mulher nenhuma olhou para você dessa forma, ela o ama,
diante de todas as suas perfeições e imperfeições.
— Eu sei. Eu também a amo.
— Então não guarde mais isso para si ou pode acabar prejudicando
vocês dois — deu um tapinha fraco na minha bochecha — Um segredo
desses guardado por muito tempo pode estragar um relacionamento, quanto
antes você contar, mais fácil será para ambos lidarem juntos.
— E se ela terminar comigo?
Minha mãe suspirou.
— Não acho que ela faria isso, mas se acontecer é porque ela não é a
mulher certa.
Minha mãe como sempre estava coberta de razão.
Eu iria contar hoje mesmo e por sorte ainda teria Ravenna em minha
vida depois disso.

— Sinto muito se a deixei tonta de perguntas — minha irmã se


desculpou antes de sairmos.
Ravenna segurava Nina pela coleira e eu colocava Billy no carro.
— Tudo bem, você não fez tantas e fiquei feliz em ajudar em algumas
dúvidas, mesmo que eu não seja expert em direito.
— É uma pena que tenham que ir embora hoje, poderiam posar aqui em
casa — minha mãe disse.
— Ravenna tem um jantar importante na casa dos tios — falei o que ela
disse para mim no carro enquanto dirigia até a casa de minha mãe — Mas
outra hora viemos.
— Iremos esperar — Jimmy falou.
— Então, até a próxima — minha mãe fez uma careta de tristeza.
Dramática como sempre.
Nos despedimos deles e coloquei Nina dentro da caminhonete.
Entramos no automóvel logo em seguida, coloquei o cinto, acenei para minha
família e dei partida com o carro.
— Gostei deles — Ravenna disse — Sua mãe é incrível.
— Eu falei que eles eram — peguei sua mão enquanto dirigia com a
outra — Depois você vai lá para a casa?
— Por que não janta com a gente? Matthew vai estar lá.
Pensei melhor, não era uma má ideia.
— Tudo bem, mas preciso passar em casa antes — falei.
Precisava colocar Olaf para dentro de sua baia antes de anoitecer.
— E respondendo sua pergunta, depois do jantar vamos para a sua casa.
Assenti e beijei sua mão.
Também pedi silenciosamente que ela entendesse o porquê guardei esse
segredo por todo esse tempo que estávamos juntos.
O caminho de volta foi mais silencioso dessa vez e entendi o porquê
quando vi Raven dormindo com a cabeça encostada na janela.
Estacionei o carro na frente da casa dos Wess e sorri ao ver sua feição
plena, o rosto angelical que já havia me deixado louco de todas as formas, a
boca rosada que me atraia cada vez mais toda vez que me beijava.
— Namorada — sacudi de leve seu ombro — Chegamos!
Ela acordou, ainda sonolenta olhou ao redor e bocejou.
— Não acredito que peguei no sono — disse.
— Acredite — sorri — E aqueles dois também.
Falei sobre Nina e Billy que dormiam no banco de trás, a primeira
fazendo meu cachorro de travesseiro ao colocar a cabeça por cima do corpo
dele.
Raven sorriu vendo a cena.
— São lindos, não é?
Assenti.
Parecendo perceber que falávamos deles, levantaram a cabeça no
mesmo momento.
— Te vejo mais tarde?
Concordei e a puxei para um beijo.
— Nos vemos mais tarde.
Ela saiu do carro e abriu a porta de trás, pegou Nina e acenou mais uma
vez.
— Amo você, cowboy.
Balancei a cabeça sorrindo.
— Amo você, garota da cidade.
Dei partida no carro mais uma vez em direção a minha casa. Observei
Billy pelo retrovisor, ele parecia procurar algo no ar pela forma que cheirava,
no momento que deve ter achado, latiu.
O que quer que fosse era no meu rancho. Acelerei para chegar o mais
rápido possível.
Mas o que quis fazer foi desaparecer ao ver a mulher de cabelos pretos
e olhos escuros me encarando através do vidro do carro.
A mulher que quebrou o meu coração estava a poucos passos longe de
mim.
Nem eu, nem Billy ousamos emitir algum som, o cachorro parecia tão
tenso como eu.
Apenas uma pergunta eu conseguia formular em minha mente:
O que Briana estava fazendo na frente da minha casa?
Entrei dentro de casa sorrindo para o nada.
Eu estava muito feliz.
As coisas pareciam estar finalmente fluindo na minha vida.
Dylan me ama e eu o amo.
Quem me faria acreditar que eu teria que vir para o rancho dos meus
tios e que no final me apaixonaria? Que encontraria o amor da minha vida
bem aqui em Nightfall?
Exatamente, ninguém me faria acreditar nisso.
Havia apenas uma coisa que eu precisava superar que era a dor da culpa
pela morte do meu irmão. Só de pensar nela fazia com que eu me sentisse
péssima de uma hora para a outra.
Lembrei das palavras de minha mãe e me mantive forte, tentando não
pensar muito nisso.
Eu teria a minha primeira consulta com a psicóloga na segunda e estava
confiante que isso me ajudaria.
Era a minha última tentativa.
Não suportava mais deitar a cabeça no colchão depois de momentos
repletos de felicidade ao lado de minha família, meus bichinhos e Dylan, para
acabar pensando em Archer e me deprimir de uma hora para a outra.
A dor da saudade nunca passaria, mas eu precisava superar essa dor da
culpa.
— Aí está você — Matthew apareceu na minha frente — Conheceu a
sogra?
— Sim e ela é incrível — falei — E você? Conheceu a sua?
— Sim e ela é incrível — ele repetiu minha frase.
Rimos.
— Onde está o grandalhão? — Perguntou.
— Já vai aparecer, precisava passar no rancho antes.
— Que bom que está fazendo ele ser mais sociável — Matthew sorriu
— Finalmente Dylan está voltando a ser quem era antes.
— E você e minha prima? Espero que não a magoe, Matthew, ou então
serei obrigada a odiar você.
— Não se preocupe, Raven. Gosto muito da sua prima, mais fácil ela
terminar comigo do que eu fazer.
— Então não teremos problemas, porque acho difícil ela terminar com
você.
— Prima, que bom que você já chegou — Amélia também apareceu na
sala, junto com Rebeca — Você já conhece a Rebeca, não é?
Assenti.
— Oi, Raven — Rebeca sorriu para mim.
— Oi — retribui o sorriso.
— Estávamos esperando por você. Dylan não vem? — Minha prima
perguntou.
— Daqui a pouco ele chega. Enquanto isso vou tomar um banho e
trocar de roupa.
— Sua mãe ligou, disse que você não atendia o telefone — continuou.
— Fiquei sem bateria no caminho, vou ligar para ela.
Fui para o meu quarto e a primeira coisa que fiz foi colocar o telefone
na tomada. Me esqueci de levar o carregador e acabei ficando sem bateria.
Enquanto o aparelho ligava peguei um macacão curto e soltinho no
corpo para usar no jantar, junto com um conjunto de lingerie branco.
Minutos depois eu saia do banho e entrava novamente no quarto,
peguei o telefone e disquei o número de minha mãe.
— Oi filha, como está? Como foi com a sogra?
Eu havia contado para minha mãe há alguns dias que iria conhecer a
família de Dylan, claro que dona Beatrice estava muito curiosa para saber a
respeito.
— Ela é uma mulher maravilhosa, quando vocês se conhecerem irão
gostar uma da outra, tenho certeza.
— Estou ansiosa por esse dia — disse — Mas não liguei apenas por
estar curiosa, queria saber como você está?
— Estou bem mãe, tentando apenas pensar no que me faz bem e feliz.
Ela havia me dado essa dica nos dias em que esteve aqui. Eu não me
arrependia de ter contado o que aconteceu comigo naquela noite trágica no
lago, mas fiquei com pena de preocupá-los ainda mais. Agora, minha mãe me
ligava todos os dias para saber como eu estava.
— Estou um pouco mais aliviada em ouvir isso, você vai se sentir ainda
melhor quando começar a conversar com a psicóloga.
— É o que eu espero — suspirei — E papai está em casa?
— Não, foi encontrar alguns clientes, mas ele já está com saudades de
você.
— Também sinto...mas aquele dia ele falou que estava louco que eu
voltasse para casa — comecei, uma hora ou outra teria que entrar nesse
assunto — Sei que é cedo demais, mas eu realmente amo Dylan e não tenho
nenhuma vontade de voltar para o agito de Nova Iorque.
Consegui escutar um risinho fraco vindo do telefone.
— Eu já imaginava isso e seu pai também — ela disse — Ainda é cedo,
mas vejo que você se encontrou em Nightfall, Raven.
— Eu me encontrei sim, irei competir! Lembra quando eu era criança e
me imaginava fazendo isso?
— Claro que lembro! Você amava ver os treinamentos de Ivan e
assistir a todas as competições de hipismo, não perdia uma.
— E Archer amava os gados — sorri com a lembrança de um garotinho
loiro correndo atrás dos bois e tentando entender como chamava a atenção
deles.
— Esse é o seu lugar, filha, desde sempre. Sinto tanto que tenha
privado você e seu irmão de viver a vida no campo.
— Archer amava a cidade também, principalmente o curso de direito
— a lembrei — Não se sinta culpada. Também sei o porquê venderam parte
do nosso rancho.
— Sabe?
Nightfall era herança de minha tia e de minha mãe, mas depois de toda
a confusão com o relacionamento de Archer e Amélia, eles optaram por
vender de vez para Millie.
— Archer e Amélia estavam apaixonados um pelo o outro — falei.
Ouvi seu suspiro do outro lado da linha.
— Sim, mas seu tio não aprovou o relacionamento — disse — Por
medo do que as pessoas falariam ao saber que dois primos estavam
namorando e também por achar a filha muito nova para saber o que era amor.
— Amélia me contou tudo depois de uma discussão que tivemos —
falei — Mas por que Archer nunca contou nada para mim?
— Por que você não gostava da Amélia? — Respondeu com uma
pergunta, como se fosse óbvio — Archer ficou muito triste quando teve que
voltar para Nova Iorque sabendo que nunca poderia ter um relacionamento
com Amélia, apenas não quis mais tocar nesse assunto, queria esquecer
aqueles últimos acontecimentos e por isso não quis contar algo para você que
não faria nenhuma diferença.
— É uma pena que meu tio tenha sido tão rigoroso quanto a isso —
falei o que eu pensava desde que minha prima me contou.
— Eitan é uma boa pessoa, mas um pouco cabeça dura e ciumento
demais com suas filhas. Não é como seu pai e você, Anthony pode até ter
ciúmes de sua filhinha preciosa, mas nunca prejudicaria sua felicidade por
causa disso. Nunca iremos saber se seu tio fez certo ou não, porque o
relacionamento nunca mais aconteceu.
Minha mãe tinha razão, infelizmente meu tio era exatamente dessa
forma. Agora, parecia um pouco mais controlado visto que não assustou
Matthew e nem Rebeca.
— Você está certa — falei — É passado agora, Amélia já está até...
Me calei imediatamente.
— Sua tia me contou, não se preocupe — riu — Estou feliz por minha
sobrinha.
— Acho que agora ela para de implicar comigo — ri.
— Amélia sempre foi a com gênio mais forte, então não me surpreende
ter feito tudo o que fez.
Concordei.
Continuamos conversando por mais alguns minutos no telefone até
minha mãe ter que se despedir porque já estava na hora do seu turno começar.
Hoje ela pegaria plantão no hospital porque tinha algumas cirurgias que
seriam feitas na parte da noite, com o auxílio e visão dos residentes.
Deixei meu telefone na carga quando desci para fazer companhia para
minha família. Estavam todos na sala quando cheguei, nenhum sinal do meu
namorado.
— Nada de Dylan? — Perguntei.
Estranhei porque já fazia quase uma hora que havia me deixado aqui na
frente de casa.
— Talvez tenha acontecido alguma coisa com Olaf, ele não mandou
nenhuma mensagem? — Matthew perguntou.
Neguei.
— Vou esperar mais um pouco, qualquer coisa vou até lá — me sentei
ao lado de Millie — Sobre o que conversavam?
— Estávamos conhecendo um pouco mais de nossos genros — minha
tia sorriu — Matthew disse que se não fosse pelo acidente iria ser um grande
jogador de futebol.
— O melhor — ele sorriu — Mas algumas coisas acontecem por
motivos que só vamos entender anos depois. Se eu não tivesse me acidentado
naquela noite, continuaria com meu sonho e provavelmente não teria vindo
morar de vez nessa cidade pequena e aberto um bar, para depois conhecer
uma garota incrível como a filha de vocês.
Minha tia e Alisson suspiram encantadas.
Matthew tinha um jeito romântico mesmo, não estava nem um pouco
surpresa com a forma que olhava e tratava Alisson. Aqueles dois eram
exatamente como almas gêmeas que se encontraram. Nunca acreditei que
amor à primeira vista existisse, mas vendo a forma como se tratavam era
difícil permanecer com aquela crença.
Para alguns simplesmente dava certo.
— Você é um bom rapaz — meu tio disse — Espero que faça minha
garotinha feliz mesmo.
Matthew sorriu.
— E você e Dylan? Como foi com a sogra? — Meu tio perguntou.
Nina se juntou a nós e se sentou ao meu lado, só que no chão.
Aproveitei de sua altura e comecei a fazer carinho em sua cabeça.
— Do jeito que vocês perguntam parece que esperam que ela seja uma
pessoa horrível — brinquei — Mas ela é totalmente o contrário, uma mulher
linda e adorável.
— Lembro vagamente de Ivana, sempre tão simpática e atenciosa —
Minha tia comentou — Criou muito bem o filho.
Concordei.
— E a irmã é um amor, me fez muitas perguntas sobre meu pai. O
sonho dela é ser advogada.
Hannah é uma garota curiosa e corajosa, isso eu não posso negar.
Conforme conversávamos na sala, depois que Dylan nos deixou sozinhas
percebi que sua irmã não passava de uma adolescente que como qualquer
outra tinha problemas, e estava aprendendo a lidar com eles.
Percebi que havia garra em seguir seu sonho de cursar direito em
Harvard, assim como meu pai e me senti feliz por isso. Fiz até mesmo uma
nota mental de que apresentaria meus pais para ela, por isso mesmo convidei
todos para os dias das regionais. Nem preciso dizer que a garota surtou com
isso, porque foi exatamente o que ela fez.
Passamos mais alguns minutos conversando até minha tia dizer que o
jantar estava quase pronto. Olhei no relógio de pulso e marcava exatamente
sete horas da noite.
Algo estava muito errado.
— Acho que vou ir lá no Dylan ver o que aconteceu — falei, com um
misto de preocupação e o maldito mau pressentimento voltando.
— Por que não liga para ele? — Amélia perguntou.
— Vou tentar isso primeiro.
Sai da sala e fui para o meu quarto. Peguei o telefone e não havia
nenhuma mensagem de Dylan. O que estava acontecendo?
Entrei na agenda de contatos e liguei para o seu número. Chamou tantas
vezes que foi direto para caixa postal.
Engoli em seco. Um arrepio estranho passou pelo meu corpo quando
pensei na possibilidade de ir até a sua casa e ver o porquê não me atendia ou
porque ainda não havia aparecido.
Talvez alguma coisa deva ter acontecido.
Foi ao que me agarrei quando vesti um casaquinho para evitar o ar da
noite e sai do quarto.
— Volto em alguns minutos — avisei para todos que estavam na sala.
Mais ou menos cinco minutos depois eu atravessava a cerca que dividia
Nightfall do rancho de Dylan e caminhava até a sua propriedade.
Estranhei mais ainda ao ver Olaf ainda solto pastando. Ele disse que
precisava vir aqui exatamente para colocá-lo na baia.
Caminhei a passos largos até chegar na frente de sua casa. Um carro
preto desconhecido estava estacionado na frente e eu senti aquele mau
pressentimento tomar conta de todo o meu coração.
Fui até a porta que estava entreaberta e congelei ao ouvir o som da voz
de Dylan irritado e furioso sair de sua boca:
— Já mandei você ir embora, Briana! Não há nada aqui para você.
Foi então que entendi tudo o que estava sentindo nos últimos dois dias.
Não era apenas um mau pressentimento.
Era real.
Eram as palavras que mudariam tudo o que eu sonhei para a minha
vida.
Eram as palavras ditas por outra pessoa que me deixaria magoada o
suficiente para pedir um tempo.
Minha mãe sempre disse que um segredo não é segredo quando duas
pessoas sabem.
E ela nunca esteve tão certa.
Caminhei rapidamente até a mulher que ferrou com a minha vida.
Furioso o suficiente para pegá-la pelo braço e expulsá-la do meu rancho.
Mas eu respirei fundo e não fiz isso, por mais que tivesse vontade.
— O que está fazendo aqui? — Foi o que consegui perguntar.
Ela sorriu. O sorriso que por muitos anos fizeram o meu coração bater
mais forte por amor, agora nada mais era do que um sorriso falso e doentio
para mim.
O que eu tinha na cabeça para amar essa mulher?
Não sei nem se posso definir o que sentia por ela como amor, quando
experimentava algo totalmente diferente com Ravenna.
Raven...
Respirei fundo mais uma vez. Precisava tirar essa mulher da minha
frente o mais rápido possível, ou então Ravenna poderia vir me procurar e as
coisas não seriam nada boas, conhecendo Briana como eu conhecia.
— Não está feliz em me ver, benzinho?
A voz. O apelido que agora era ridículo para mim. O jeito que exalava
confiança, mas não de uma forma boa.
Tudo isso me fez ter ainda mais nojo de mim mesmo por me deixar me
envolver com ela, por ter entregado meu coração nas suas mãos, por ter me
permitido ficar vulnerável diante de alguém que claramente não me amava.
— Não e quero que vá embora — fui ríspido ao dizer.
Ela fez um beicinho ridículo, fingindo estar magoada.
— Não era a forma que esperava ser tratada por você, mas talvez eu
mereça isso.
Soltei um riso que mais pareceu um engasgo tamanho a raiva que
estava sentindo.
— O que você quer aqui? — Perguntei novamente.
— Vim ver você — levantou a mão para tocar meu ombro, mas eu fui
mais rápido ao me afastar.
Eu sentia nojo até do seu toque.
— Agora que já viu, dá o fora!
Briana revirou os olhos escuros.
— Nossa você ainda está pior de humor do que eu me lembrava. Sério
que ainda está magoado com o que você define como traição?
— Sério que você está me fazendo essa pergunta? Sério que você acha
que me trair com o meu melhor amigo e ex parceiro nosso, não é traição? —
bufei — Acontece, Briana, que não estou com paciência para os seus
joguinhos. Já superei você, então se me der licença, eu tenho coisas mais
interessantes para fazer do que perder meu tempo com você.
— Uau! Talvez se você tivesse reagido assim no passado eu ainda
estivesse com você — sorriu — Sério, esse seu modo bruto me excita, Dylan.
Suspirei. Sem paciência para o seu joguinho.
— E esse seu jeito me enoja — falei por fim e dei as costas para ela.
Billy me seguiu. Abri a porta de casa e entrei, decido a ignorá-la de
verdade.
— Eu amo você, Dylan.
As palavras me fizeram congelar na entrada da minha casa.
As lembranças da primeira vez que ela me disse aquelas palavras
vieram na minha cabeça, e como achei que eu era o homem mais sortudo do
mundo por ser amado por essa mulher.
“— Uma escolha. Foi tudo o que pedi para você — falei, a olhando
nos olhos — Não quero viver como trisal o resto da minha vida, as brigas
com Charles já estão insuportáveis. Isso não é nenhum tipo de vida se todos
não sabem viver como um trisal!
— Eu gosto de Charles — ela disse com os olhos lacrimejados — Por
que vocês dificultam tudo?
— Não estamos dificultando, Bri, só queremos uma escolha. Não
servimos para termos a mesma mulher.
— É divertido quando estamos juntos, você quer perder isso?
— Eu amo você, Briana. Não quero ter que dividi-la com meu amigo.
Ela suspirou. Eu não gostava de fazer com que ela escolhesse, mas
simplesmente não aguentava mais o ciúmes, as brigas e todo o resto com
Charles.
No início foi divertido, mas agora... era tão cansativo.
— Eu amo você, Dylan.
Foi então que Briana fez sua escolha.”
Me virei ao mesmo tempo que me amaldiçoava por viajar em
lembranças que há muito tempo enterrei no fundo da minha mente.
Balancei a cabeça, incrédulo.
Como ela tinha a coragem de dizer isso? Como ela podia ser tão doente
a esse ponto?
Me amar? Em que momento de todos os anos que ficamos juntos ela
demonstrou esse amor?
— Você é doente — falei o que sabia que a afetaria — Veio aqui para
dizer isso? Saiba que perdeu o seu tempo, Briana.
— Eu sei que temos um passado horrível, mas eu mudei — ela
começou a dizer — Terminei com Charles ao perceber que ele nunca foi o
homem que amei. Sempre foi você.
Eu ri mais uma vez forçado, não acreditando que ela chegou nesse
ponto. Era muito falso, até mesmo para ela.
— Se você me amasse teria percebido no dia que descobrimos juntos
tudo o que terminou de ferrar com o nosso relacionamento. Sabe o que eu
aprendi nesses dois anos longe de você? Que quando se ama, não se
abandona, não trai, muito menos o agride tanto psicologicamente como
fisicamente. Você ferrou com a minha vida, me fez achar que eu precisava de
você para viver, quando na verdade não precisava. Fez com que me sentisse
mal e aceitasse todas as agressões porque achava que merecia isso por não ser
capaz de fazê-la feliz. Então não, você não me ama, Briana — a olhei
seriamente, tentando transmitir toda a raiva e nojo que sentia ao vê-la bem ali
na minha frente depois de dois anos. Depois de estar superando todos os
meus medos. — Você ama estar por cima. Você ama controlar, manipular e
foder com a vida das pessoas que já amaram você.
Briana parecia chocada com o meu desabafo, mas o que ela pensava?
Que voltaria aqui, diria que me ama e eu passaria uma borracha por todo
nosso passado?
— Eu sei que magoei você demais, mas eu sinto muito — os olhos
lacrimejaram, mas eu não consegui sentir nada. — Eu fui uma idiota, despejei
todo o nosso relacionamento para os ares porque simplesmente tive medo de
aceitar você como é. Mas dois anos se passaram, amor, eu estou aqui para
recomeçar.
— Eu já recomecei, Briana, mas não é com você — as palavras a
confundiram, foi então que decidi falar: — Estou namorando alguém que me
ama, alguém que faz tudo para me fazer feliz, alguém que eu estou
finalmente descobrindo como é amar e ser amado de verdade. Não existe
mais espaço para você em minha vida. Você faz parte de um passado que não
quero no meu presente, então vá embora, você só perdeu o seu tempo.
Ela riu, parecendo desacreditada com tudo o que eu disse.
— Você está namorando? Quem é a idiota? Eu duvido que ela faça
você se sentir da mesma forma que eu fazia — se aproximou de mim — Ela
te excita? Sabe dar um bom sexo? Eu duvido que ela consiga me superar.
Sua mão encostou em meu peito com o objetivo de deslizar por minha
barriga, mas eu a impedi, segurando firme seu pulso.
— Ela é melhor que você, em todos os sentidos — frisei a palavra
todos para Briana entender de uma vez por todas que não sentia mais nada.
Talvez eu realmente precisasse odiá-la para me amar.
Para amar tudo o que o amor verdadeiro trazia.
Briana se afastou como se tivesse levado um choque com minhas
palavras. Me virei e entrei dentro de casa, mas fechei os olhos e pedi
paciência ao ouvir seus saltos no piso da minha sala.
— Isso aqui não mudou nada — disse — Tirando os portas retratos
nossos juntos. Parece que você realmente me superou.
O deboche estava em cada palavra dita naquela frase. Me virei e a
olhei, cruzei os braços e decidi ver até onde ela iria com aquela conversa.
— Como é o nome dela?
— Por que quer saber?
— Acho que devo saber o nome da mulher que me substituiu — sorriu
ironicamente.
— O nome dela é Ravenna e ela não é uma substituta.
Briana revirou os olhos.
— Claro que não — foi sarcástica.
— Estou sem paciência, Briana, precisa de um convite especial para ir
embora?
— Você não quer nem me ouvir?
— Nada que você disser irá me fazer mudar minha opinião nem o que
sinto por você.
Ela suspirou.
— Tudo bem, mas irei dizer mesmo assim. Quero me desculpar por ter
sido uma idiota com você. Sei que errei feio em fazer tudo o que fiz, mas
você tem que me entender, eu fiquei zangada. De uma hora para a outra não
poderia...
— Nem continua — a cortei.
Briana parou por alguns segundos, me observou como se pudesse
enxergar todas as minhas feridas e minhas inseguranças, para depois concluir:
— Ela não sabe, não é?
— Vá embora — repeti pela.... Terceira, ou quarta vez?
— Eu não acredito que você está fazendo isso — riu — Você é igual a
mim, Dylan, um maldito egoísta. Vai contar quando para ela? Quando vocês
se casarem? Eu realmente achei que você fosse mais maduro que isso. Ela vai
largar você da mesma forma que eu fiz, mas apenas eu voltei, Dylan, apenas
eu.
Balancei a cabeça. Meus medos todos expostos saindo de sua boca.
— Você não sabe de nada.
— Me diga o que eu não sei, então, porque as coisas estão mais que
claras para mim. Você acha que pode esconder isso, quando na verdade não
pode.
— Eu vou contar, então faz o favor de não se meter na minha vida.
— Quando? Porque preciso marcar o dia que você voltará para mim na
minha agenda — sorriu como se tivesse ganhado um belo presente.
— O que a faz pensar que eu voltaria para você?
— Eu sou a única que vai aceitar você como é, com todas as suas
imperfeições. Não tenho mais necessidade do que queria no passado, apenas
eu e você, o que acha?
— Que você já passou por todos os seus limites — falei — Já mandei
você ir embora, Briana! Não há nada aqui para você.
Falei mais alto dessa vez, expressando toda o nervosismo que eu sentia.
A porta de casa foi aberta e uma Ravenna de olhos levemente
arregalados apareceu. Senti meu coração falhar uma batida, um sentimento
ruim preenchendo todo o meu coração.
Eu soube naquele momento, pelo olhar perverso de Briana, pelo
sorrisinho irônico nos seus lábios, que ela estragaria tudo.
— Você deve ser Ravenna — disse — Devo admitir, ela é bonita,
Dylan, não tanto como eu, mas dá para o gasto.
Quis pular em cima de Briana e calar sua boca. Pela primeira vez quis
ser violento com uma mulher e não gostei dessa sensação.
— Eu não vou mandar outra vez, Briana.
Ao ouvir o nome que saiu dos meus lábios, Ravenna arregalou mais os
olhos, compreensão tomando o seu rosto ao mesmo tempo que a confusão.
— Calma, Dylan. Por que não oferece um café daqueles fortes que
você sabe fazer para a ex e atual namorada se conhecerem?
— O que está fazendo aqui? — Ravenna perguntou para ela.
— Olha só, ela sabe falar — Briana riu, debochando, mas estava nítida
a raiva e a inveja transbordando por suas íris — Estava com saudades de
Dylan e resolvi visitá-lo.
— Acho que ele foi bem claro quando disse que não queria você aqui
— minha namorada disse, reprimi o sorriso, eu amo essa garota.
— Atrevida.... gostei de você — Briana avaliou — Talvez você
merecesse a verdade por isso.
Não.
Peguei Briana pelo braço e comecei a puxar em direção a porta. Ela não
iria falar nada para Ravenna, eu iria.
— Cala a sua boca — sussurrei.
Ela riu alto.
— Dylan? — Ravenna chamou, não entendendo nada do que estava
vendo.
— Você é tão inocente nesse joguinho, querida — Briana disse, mesmo
com eu a puxando até a porta.
— Do que você está falando? — Minha namorada perguntou.
— Não escuta o que ela está dizendo, Raven, depois conversamos.
Consegui colocar Briana para fora de casa e fechei a porta.
— Você acha que pode vir até aqui, dizer que me quer de volta e ainda
por cima tentar estragar a minha vida? O meu relacionamento? Cai fora e
nunca mais apareça na minha frente — mandei.
Ela deu de ombros.
— Resolva seus problemas e me ligue quando ela te largar — piscou —
Ainda é o mesmo número, você sabe que isso vai acontecer.
Começou a se afastar. Respirei um pouco mais aliviado, Ravenna
estava na entrada da porta observando nossa interação com confusão
estampada no rosto.
Era hora de contar tudo.
— Eu só acho que Ravenna merece saber tudo sobre você, Dylan —
Briana gritou e percebi minha namorada ficar ainda mais confusa.
— Do que ela está falando?
Tentei a puxar para dentro de casa para fechar a porta e conversar, mas
Briana queria estragar tudo o que eu tinha, engano meu pensar que ela sairia
desse rancho perdendo.
— Quando vai contar para ela que é estéril, Dylan? Quando ela quiser
ter um filho seu? Da mesma forma que fez comigo?
As lembranças vieram automaticamente e de novo não consegui me
controlar.
“Encarava os exames mais uma vez. Eu não conseguia acreditar que
isso estava acontecendo. Eu não conseguia acreditar que eu não era capaz
de gerar um filho.
Depois de tantos médicos me falarem a mesma coisa eu perdi as
esperanças.
Era isso.
Eu sou um inútil e não consigo nem dar um filho para a mulher que
amo.
— Ficar encarando esses papéis não vai fazer com que consiga gerar
um filho — Briana entrou no quarto — Deveria procurar outro especialista.
— Eu já fui em três e todos disseram a mesma coisa.
— Então vai em um quarto — bufou.
— Podemos adotar, Bri.
Ela começou a rir.
— Sério mesmo? Eu não vou criar filho dos outros — disse com
desgosto — Quero um filho meu e seu, então trate de dar um jeito nisso.
Engoli em seco. Será que ela não entendia que não era possível? Me
acompanhou em todas as consultas, todos os exames, em exatamente tudo.
Eu não podia gerar um filho.
Esse era o ponto final da história.
— Existem muitas crianças que querem uma família nessas agências
e...
— Nem comece com essa historinha de crianças carentes — revirou os
olhos — Eu quero um filho, mas que seja meu.
Começava a estranhar todos esses comportamentos estranhos de
Briana. Ela parecia mais amargurada, mais irritada e implicante.
Tudo isso começou quando procuramos o primeiro médico para saber
o porquê não conseguíamos gerar um filho.
Foi um baque receber a primeira avaliação, mas eu procurei um
segundo médico e depois um terceiro para todos terem a mesma conclusão.
— Tudo bem, irei procurar um quarto médico.
Ela sorriu e mandou um beijinho com a mão antes de sair do quarto.
Não resultou em nada.
O quarto médico disse a mesma coisa que os três primeiros, depois de
todos os exames e procedimentos feitos de novo.
Foi então que minha vida se tornou um verdadeiro inferno.”
Eu congelei.
Eu literalmente congelei por alguns minutos.
Não sabia o que pensar, mas a voz de Briana continuava se repetindo
na minha cabeça, questionando: “ Quando vai contar para ela que é estéril,
Dylan? Quando ela quiser ter um filho seu? Da mesma forma que fez
comigo?”.
Por que ele não me contou?
Essa foi a primeira pergunta que me fiz. Eu simplesmente não
conseguia enxergar motivos para o meu namorado não confiar em mim e
contar um segredo que querendo ou não, mudava algumas coisas sobre o
nosso futuro.
Eu realmente achava que estávamos na mesma linha. Que nos
amávamos o bastante para não ter segredos. Pensei que ele havia contado
tudo aquele dia quando abriu o seu coração para mim.
Observei Briana sorrir, acenar e entrar dentro do carro, para em seguida
dar partida no veículo. Deixando bem claro em suas atitudes que nos deixaria
a sós porque tínhamos muito o que conversar.
Dylan ainda permanecia de costas para mim. Conseguia sentir como
estava tenso daqui.
Agora tudo fazia sentido. As mãos segurando mais firme o volante
quando eu o lembrei que transamos sem camisinha naquela noite.
Não havia com o que se preocupar se estávamos livres de doenças.
— Por que não me contou? — Perguntei depois de alguns minutos
naquele silêncio.
Ele se virou lentamente. Seus olhos encontraram com os meus e
quando começou a se aproximar percebi que estavam um pouco marejados.
Como os meus. Que só percebi quando minha visão embaçou.
Não era algo difícil de lidar.
Mas a omissão e a falta de confiança em me dizer algo tão importante
me machucou. Eu sempre prezei pela verdade dentro de um relacionamento.
Sempre.
Será que ele não via o nosso relacionamento como algo sério? E por
isso não me contou? Ou então ele me contaria quando eu ainda estivesse com
ele e tentássemos ter um filho? Da mesma forma que Briana disse?
Eram tantas perguntas sem nenhuma resposta que começava a me
deixar louca.
— Raven.... — ele começou a falar — Eu ia contar, eu juro. Podemos
entrar e conversar?
Assenti.
Entrei dentro de casa sendo seguida por ele. Ouvi a porta ser fechada
assim como reparei Billy sentado no canto com as orelhas baixas, observando
todo o clima tenso.
— Sente-se — ele pediu e eu fiz, porque sentia que precisaria estar
sentada para essa conversa. — Eu iria contar hoje, depois do jantar na casa
dos seus tios.
Dylan parecia estar sendo sincero. Se sentou ao meu lado no sofá e
virou-se completamente para mim.
— Eu estava com medo — admitiu.
— Medo?
Eu perguntei antes de parar e entender melhor. Medo do que eu acharia.
Medo do que eu faria. Medo do que eu sentiria em relação a esse segredo.
— Quando eu descobri sobre o meu problema eu estava com Briana.
Foi descobrir que eu sou um homem estéril que as coisas começaram a
caminhar para o fim — ele suspirou — Eu estava com medo de perder você.
Sete palavras que formaram essa última frase e que me atingiu como a
raspada de uma faca afiada no meu coração.
Dylan achou que eu seria como Briana? Que o desprezaria e o
agrediria? Só de pensar nisso o enjoo tomava conta de mim.
— Raven — ele procurou minha mão e a segurou, como naquela noite
em que me ouviu e me contou tudo — Eu sei o que está pensando, mas não é
isso. Eu nunca comparei vocês duas, nunca. Eu...
— Você pode não ter nos comparado diretamente, Dylan — larguei sua
mão — Mas fez isso indiretamente no momento que decidiu não me contar e
guardar para você, por medo de eu reagir como sua ex mulher.
— Não, você não pode pensar dessa forma, eu ia contar para você hoje
— repetiu a última frase — Porque não imagino minha vida sem você,
Raven. Por favor, acredite em mim.
Senti a primeira lágrima cair.
— Eu acredito que você tivesse a intensão de fazer isso, mas e se não
tivesse coragem? Postergaria por mais um dia, mais uma semana, mais um
mês. Eu sei que isso mexe com a confiança de qualquer pessoa, mas não
entendo o porquê omitiu tantas vezes em que teve a oportunidade de me falar.
— Eu já te disse, por medo. Sei que parece idiota, mas não é sua
obrigação ficar com alguém que não pode nem gerar um filho — uma
lágrima escorreu pelo seu rosto — Eu fui um egoísta sim ao pensar que se
você me amasse talvez as coisas fossem diferentes quando eu contasse e você
pudesse me aceitar da forma que eu sou.
Uma vez em uma disciplina de medicina que cursava, minha professora
disse o quanto a esterilidade de uma pessoa poderia afetar sua cabeça. A
forma como o indivíduo se sente insuficiente dentro de um relacionamento e
como isso pode levar a problemas mais graves como a depressão.
Dylan não estava próximo a ter uma doença tão grave dessa forma, mas
parecia muito inseguro em relação a si mesmo.
— Eu amo você — falei ao segurar suas mãos — Amo de verdade. Só
que tudo isso seria muito mais simples se tivesse sido verdadeiro desde o
início. Eu nunca faria como ela, Dylan, nunca.
Repeti aquilo mais uma vez para ele entender. Deixando toda a mágoa
que eu sentia de lado para tentar entender o homem que eu amava.
— Eu também amo você — apertou minhas mãos — Eu sei disso, mas
era uma batalha contra a sensatez e o meu egoísmo de ter um pouco mais de
você antes de despejar tudo o que sempre me deixou mal.
Engoli em seco.
Não sabia mais o que fazer. Magoada demais para pensar em algo que
pudesse nos consertar naquele momento.
Meu namorado havia omitido para mim que é um homem incapaz de
ter filhos.
Eu sei que não deveria exagerar no drama porque estávamos a apenas
um mês juntos, mas eu não conseguia parar de pensar e sentir que aquilo
ainda sim me machucava.
— Está brava comigo?
— Estou triste — admiti.
— Vai me deixar?
A pergunta fez com que meu coração apertasse mais ainda. Todo o
medo, toda a sua insegurança estava exposta ali, naquela simples pergunta.
Eu o deixaria? Não, nunca seria capaz disso.
Porém, eu precisava colocar os meus próprios pensamentos em ordem.
Tudo estava uma grande bagunça aqui dentro de mim.
— O que exatamente você tem?
A pergunta e a mudança de assunto não passou despercebida por ele, vi
quando engoliu em seco e suspirou.
— Azoospermia não obstrutiva — respondeu.
Eu conhecia essa doença. De forma rápida e fácil de entender era a
ausência dos espermatozoides no sêmen. Existe tratamentos para isso, mas é
raro que funcione. Assim como existe cirurgia para tentar achar
espermatozoides dentro do testículo, mas existe uma grande porcentagem que
não consegue.
— Fiz todos os tratamentos e até mesmo a cirurgia, sem nenhum
resultado — falou o que eu já imaginava.
Eu sempre sonhei em ser mãe.
Não vou mentir que mesmo com o meu jeito solto e levemente rebelde
na adolescência, sempre sonhei em ter uma família grande e recheada de
amor, como da que eu nasci. Que meus filhos tivessem a mesma relação que
eu tive com Archer e que eu pudesse lidar com eles da mesma forma que
meus pais lidavam comigo.
Com muito amor e compreensão.
Quando percebi que amava Dylan também tive a sensação de que nada
poderia nos separar, da mesma forma que pensei que gostaria de passar o
resto da minha vida com esse homem.
Foi por isso que tive a certeza ao dizer:
— Nunca o deixaria.
Ele pareceu em choque no primeiro momento, mas depois sorriu e não
se conteve ao me abraçar.
— Eu amo você, Raven, amo demais — sussurrou.
As lágrimas que eu estava contendo até aquele momento deslizaram
pelo o meu rosto.
— Eu também amo você, Dylan — o abracei apertado contra mim,
sentindo e ouvindo o seu choro de alivio.
Ficamos naquela posição por alguns minutos, apenas aproveitando
aquele contato tão íntimo e tão nosso.
Eu amava esse homem de verdade.
Mas mesmo assim eu precisava de um tempo para mim mesmo. Digerir
tudo o que havia descoberto naquela noite, algo não muito simples, já que
mudaria todo o nosso futuro junto.
Me afastei dele e segurei seu rosto.
— Eu só preciso de um tempo — declarei, vi quando a confusão passou
por seu olhar, sem entender o que eu queria dizer — Tudo isso é muito para
lidar e eu preciso desse tempo para processar toda essas informações, mas
tenha a certeza que eu amo você e que não desistirei de nós.
Ele assentiu.
— Quanto tempo?
— Alguns dias. É tudo o que peço.
— Tudo bem, eu entendo você — beijou minha testa — Do dia para a
noite descobriu que para ficar comigo é preciso sacrificar algumas coisas.
Vi como se sentia mal com tudo isso.
— Ei — peguei sua mão — Existe tantas outras formas de ter filhos,
sabia? Meu pai sempre disse o seguinte: “ pai e mãe é quem cria.”
— Você sacrificaria tudo isso por mim?
— Amar é isso, Dylan — sorri.
Tentei não demonstrar o turbilhão de coisas que eu estava sentindo
naquele momento, mas quando ele me abraçou mais uma vez e sussurrou:
— Está tudo bem demonstrar o que sente.
Eu chorei.
Chorei por Dylan, que ainda tinha sequelas de um relacionamento
abusivo. Chorei por sua insegurança. Chorei por mim que ainda tinha que
aprender a lidar da melhor forma com tudo isso e chorei por Archer, porque
naquele momento até mesmo meu irmão veio no meu pensamento. Se ele
estivesse vivo, correria até os seus braços e pediria conselhos que só ele sabia
me dar. Por último chorei por culpa, ele poderia estar vivo sim, se não fosse
pela minha ligação.
— Me desculpa — ele murmurou contra os meus cabelos — Eu queria
ter forçar para poder terminar com você e não privá-la de uma vida repleta de
felicidade com filhos biológicos, mas Briana estava certa, eu sou um egoísta.
Afastei meu rosto da curva do seu pescoço e olhei, não acreditando no
que eu estava ouvindo. Ele realmente achava que eu estava chorando por
isso?
— Não diga mais isso. Não estou chorando porque você é estéril, estou
chorando porque a forma que essa mulher ferrou com sua mente me machuca
— segurei seu rosto — Você não é egoísta, você é o homem pelo o qual me
apaixonei, o meu porto seguro, a pessoa que diante de tantas outras me
entendeu a mão e conversou comigo, sem em nenhum momento me julgar
pelas minhas atitudes passadas.
Seus olhos brilharam e sem dizer uma palavra, ele me beijou.
Um beijo de dor. Um beijo de alívio. Um beijo que claramente
mostrava o quanto precisávamos um do outro para curarmos nossas próprias
feridas ainda aberta.
— Sempre vou agradecer por você ter aparecido em minha vida — seu
polegar faz um carinho na minha bochecha — Mesmo que ainda ache que
ainda não mereço você.
— Você merece, assim como eu mereço você.
Deitei minha cabeça em seu ombro, enquanto sua mão fazia um
pequeno cafuné na minha cabeça. Tentei colocar os pensamentos em ordem
naquele momento, mas nem sabia por onde começar. A única coisa que tinha
certeza é que havia tomado a decisão certa ao não abandoná-lo, a não deixar
meus surtos e a mágoa falar mais alto do que a sensatez.
Era um assunto muito delicado e que não poderia ser deixado levar
pelas emoções do momento.
Agradeci mentalmente pelo meu autocontrole.
— Preciso ir para casa agora — falei.
Eu realmente precisava entrar no meu quarto e abraçar um travesseiro,
chorar até dormir.
Eu definitivamente não era tão forte assim, mas sempre fingi muito
bem.
— Vamos nos ver amanhã? — Ele perguntou.
— Talvez — me limitei a sorrir fraco.
Dylan assentiu, parecendo entender que eu precisava mesmo do tempo
que havia pedido há alguns minutos.
— Amo você — falei antes de me levantar.
— Eu também amo você.

Entrei dentro da casa de meus tios com a sensação de estar perdida.


Tudo o que eu queria naquele momento era os braços do meu irmão ao redor
do meu corpo, me abraçando e me aconselhando a melhor forma de lidar com
tudo o que eu havia descoberto naquela noite.
— Meu Deus! Eu já estava quase indo até a casa de Dylan, por que não
vieram para o jantar? — Alisson perguntou.
Matthew e nem Rebeca estavam na sala, conclui que provavelmente já
haviam ido embora devido ao horário.
— Estamos bem — falei mais para mim mesmo do que para elas.
Sem dizer nenhuma palavra a mais subi para o meu quarto e como
pensei que faria, me deitei na cama e abracei meu próprio travesseiro.
Nina veio atrás de mim e se deitou ao meu lado, os olhinhos que
pareciam preocupados em minha direção.
— Nem sei o porquê estou tão triste assim — admiti para minha
cachorra — Talvez realmente seja por não ter um filho com Dylan no futuro.
Ela apoiou a cabeça no travesseiro que eu abraçava, parecendo
compreender o que eu estava sentindo.
Uma batida na porta me fez enxugar as lágrimas rapidamente, mas
Alisson e Amélia me conheciam desde que eu era um bebê. Quando se
aproximaram perceberam na hora que as coisas estavam péssimas.
— O que foi? — Amélia perguntou.
— Não me diga que vocês brigaram e que terminaram — Alisson se
sentou ao meu lado, pegando na minha mão.
— Dylan é estéril — falei, não aguentaria guardar aquilo só para mim.
— Meu Deus! — Elas falaram ao mesmo tempo.
— Nunca imaginaria isso, se bem que faz sentido, já que ele e Briana
nunca tiveram um filho, mas achei que era por escolha, já que a idiota parecia
bem fútil — Amélia disse.
— Como descobriu? — Alisson perguntou.
— Briana estava lá, por isso ele atrasou. Ela fez questão de jogar a
bomba nos nossos pés.
— Que vadia! E como você está? — Amélia ofendeu ao mesmo tempo
que me perguntava.
— Péssima, você não está vendo? — Alisson revirou os olhos — Por
que ele nunca te disse?
— Ele disse que me contaria hoje à noite, depois do jantar.
— E você acreditou? — Ela perguntou.
Assenti.
— Dylan parecia estar sendo sincero, conversamos o bastante para eu
perceber que talvez ele não tivesse coragem de dizer nem hoje e nem nos
próximos dias.
— Inseguro demais — Alisson concluiu.
— Deixa eu adivinhar, o motivo de ele e Briana terem terminado é esse
problema — foi a vez de Amélia concluir.
— Um deles, sim — suspirei — Estou triste e estou me sentindo ruim
por estar assim quando na verdade deveria estar o apoiando e mostrando que
ficarei com ele, não me importando com os problemas.
— É muita coisa para lidar, Ravenna — Amélia disse — Eu lembro
como você gostava de brincar de boneca e fingir que elas eram suas filhas,
você sempre teve o sonho de ser mãe e acaba de descobrir que não poderá, é
claro que está triste. Seria estranha se estivesse reagindo de forma normal
com isso.
— Concordo com minha irmã em partes, porque você pode ser mãe
sim. Hoje em dia existe tantas formas para ter um filho, seja ela por adoção
ou inseminação de um doador.
Assenti. Eu sabia disso.
— É claro que vocês serão ótimos pais — Amélia sorriu — Mas acho
que você precisa de um tempo para digerir tudo isso.
Concordei mais uma vez.
— Foi o que pedi para ele. Estou me sentindo perdida, a forma como
Dylan pensou que eu o largaria por causa de seu problema me fez perceber
que ele ainda está quebrado do antigo relacionamento.
— Não sei o que aconteceu direito nesse casamento, mas sei que foi
coisas horríveis para deixar um homem daquele tamanho inseguro dessa
forma — Ali disse — Seja o que for, são cicatrizes que demoram a ser
totalmente cicatrizadas. Acho que vocês dois precisam desse tempinho,
ambos precisam digerir todos os acontecimentos das últimas horas.
— Por que não vai para Nova Iorque? — Amélia sugeriu — E não
estou falando isso no sentindo de querer isso, já superei a fase de implicar e a
querer longe.
— Talvez os conselhos e abraços de sua mãe sejam o melhor para você
no momento — Ali concordou com a irmã — Apenas avise Dylan antes.
Pensei melhor e definitivamente era uma boa sugestão. Talvez passar o
resto do fim de semana com meus pais em Nova Iorque fosse o melhor para
nós dois. Eu sabia que Dylan entenderia, não estaria o abandonando, apenas
um pequeno espaço para digerir tudo o que foi jogado no meu colo em
questão de minutos.
Sem falar que tudo que eu precisava naquele momento era dos
conselhos sábios de meus pais, do abraço deles e sobretudo, da companhia.
— Vou reagendar minha consulta para terça e ver se consigo um voo
para amanhã de manhã — falei.
— Você vai ver que irá voltar muito melhor — Alisson falou —
Nossos pais são ótimos em nos consolar e nos entender.
Elas estavam certas.
Peguei o telefone e entrei no site da companhia de voos, felizmente
tinha um as seis horas da manhã, foi exatamente esse que comprei as
passagens.
— Consegui um voo para amanhã cedo.
— Ótimo! Vamos ver uma mochila para você levar algumas coisinhas
— Amélia se dispôs a procurar no meu guarda roupa alguma mochila.
Olhei para Nina, não era necessário levá-la. Minha cachorra odiava
viajar em aviões, ficar presa em uma caixa transportadora a deixava triste.
— Podem cuidar de Nina?
— Claro que sim! — Alisson sorriu e alisou a cabeça da minha bebê —
Ela vai ficar feliz em ficar aqui, não se preocupa.
— Obrigada.
Consegui sorrir em agradecimento.
Eu iria para Nova Iorque e esperava do fundo do meu coração que
Dylan entendesse que eu precisava disso.
O medo consumia cada célula do meu corpo.
Não consegui pregar os olhos de noite. Me virava de um lado para o
outro e nada me fazia fechar os olhos e dormir.
Eu senti que Ravenna estava tão perdida quando saiu da minha casa
ontem que o medo que sentia antes, aumentou ainda mais.
E se ela se arrependesse? E se fosse para casa e pensasse melhor? Se
decidisse que a vida seria muito melhor se arrumasse alguém que pudesse lhe
dar filhos de verdade?
Balancei a cabeça.
Ravenna não é Briana e eu tenho que parar com essas crises de
inseguranças.
Ravenna me ama e foi sincera em suas palavras ao dizer que não me
deixaria.
Eu nunca fui um homem inseguro dessa forma, mas as coisas haviam
mudado muito nos últimos anos. Com a descoberta da azoospermia não
obstrutiva me senti inútil em um casamento, é claro que a forma como Briana
não me amparava e nem me apoiava em nada ajudou muito.
Minha mãe até mesmo aconselhou um psicólogo quando o término
ocorreu e ela soube de todas as agressões, de toda a merda que passei nas
mãos de Briana, mas não segui em frente com essa sugestão.
Já era difícil superar tentando esquecer, imagine ter que contar para um
estranho tudo o que passei. E eu fiz um bom trabalho em tentar esquecer, até
agora.
Respirei fundo.
Apenas ter pensamentos positivos. A verdade havia sido dita, de uma
forma ruim? Com certeza! Mas o importante é que Ravenna entendeu o
porquê não contei antes e também que me amava o suficiente para tentar ter
um futuro comigo.
O meu celular tocou e eu atendi imediatamente ao ver o nome de
Ravenna no visor.
— Oi — cumprimentei.
— Oi... estou ligando porque preciso te dizer algo.
Eu tenho certeza que meu coração bateu mais rápido ao ouvir aquilo.
— O que?
— Estou indo para Nova Iorque — disse. Segurei a respiração por
alguns segundos, não entendendo, até ela complementar: — É por poucos
dias, preciso dos meus pais.
Eu entendia. Definitivamente eu entendia o que ela estava passando.
— Já estou no aeroporto, volto na terça.
— Tudo bem — foi o que eu disse.
Ouvi seu suspiro do outro lado da linha.
— Archer sempre esteve comigo quando algo acontecia e agora... eu só
tenho meus pais, preciso do conforto, dos conselhos, da sabedoria — ela
tentou se explicar — Preciso do tempo.
— Não se preocupe, eu entendi, Raven — tentei tranquilizá-la.
— Só não quero que pense que estou o abandonando, eu nunca faria
isso. Falei sério quando disse que o amo e que vou ficar com você.
Sorri, sentindo o medo se esvair do meu corpo aos poucos.
— Eu amo você, Ravenna — falei — Faça uma boa viagem.
Ela agradeceu, mas logo teve que se despedir porque já estavam
anunciando o seu voo.
Pensar que ficaria alguns dias longe de Ravenna me fez perceber o
quão apaixonado eu estava por essa mulher, sentiria saudades das suas
provocações, das suas risadas, dos seus dramas e da forma que me fazia sentir
o homem mais amado do mundo.
Ainda com o telefone em minhas mãos, resolvi ligar para minha mãe.
Ravenna não era a única que precisa de um apoio maternal.
— Querido? O que foi? Por que está me ligando a essa hora? — Olhei
no relógio e constatei que ainda era bem cedo ao ver o ponteiro marcar seis
horas da manhã.
— Desculpa acordar você — pedi — Briana esteve aqui.
— O que? — ela gritou a pergunta, provavelmente acordando Jimmy,
já que ouvi seus resmungos baixos — O que aquela vaca queria?
Longe de julgar como minha mãe apelidou a minha ex esposa, mas
definitivamente a “vaca” era uma ofensa para os pobres animais. Depois do
que fez ontem, só confirmou que era uma cobra, das mais venenosas.
— Me queria de volta.
— Eu não posso acreditar na cara de pau dessa garota, se eu vejo ela,
faço picadinho dessa mulher e dou para os porcos — bufou — Não, pode dar
uma indigestão, eu coloco diretamente no lixo.
Eu ri. Minha mãe é uma pessoa incrível.
— O que você disse? — Perguntou.
— O óbvio, que não quero mais saber dela, que já a superei.
— Esse é o meu garoto.
— Mas Ravenna chegou antes dela ir embora.
— Por que eu sinto que você vai me dizer algo péssimo?
— Briana contou sobre mim, mãe, tudo.
— Ah, querido — lamentou — Eu sinto muito, como nossa Raven
reagiu?
— Ela está triste porque não contei antes e totalmente abalada, mesmo
que finja que não está — respondi — Ravenna está indo para Nova Iorque
nesse momento porque precisa de um tempo para colocar os pensamentos em
dia, mas ela prometeu que não irá me deixar.
— Eu sabia que essa garota era a mulher certa para você. Agora, o que
ela fez foi certo, vocês dois precisam de um tempo para respirar. Raven
mesmo disse que não irá deixá-lo, então não tem com o que se preocupar.
— Eu sei, confio nela.
— E como você está com tudo isso?
— Perdido.
— Eu imagino que esteja, mas olhe como você superou essa víbora que
você chama de ex esposa rapidamente. Estou orgulhosa de quem você é e da
forma como passou por tudo aquilo sem encostar um dedo nela e acabar se
prejudicando, poucos conseguem isso.
— Você sempre me disse que bater em mulher é sinal de covardia, eu
não sou um covarde.
— Não, você não é. O criei muito bem — ela falou — Não se sinta
perdido, Ravenna o ama e você a ama, nada pode quebrar um sentimento tão
forte como esse.
Conversamos mais um pouco até que nos despedimos, segundo ela,
agora que a acordei, iria fazer algumas compras cedo no mercado.
Quando desliguei o telefone senti o sono vir rapidamente e foi assim
que consegui dormir: depois de conversar com as duas mulheres mais
importantes da minha vida.
Terminei de escovar Olaf e dei duas batidinhas em seu dorso. O cavalo
soltou um sopro para em seguida relinchar.
— Com saudades de Tempestade, companheiro? — ele me olhou —
Também estou com saudade da dona, mesmo que a égua ainda não seja
diretamente dela.
Olaf relinchou novamente enquanto balançava a cabeça para baixo e
para cima. É um animal muito inteligente, da mesma forma que Tempestade.
O latido de Nina me chamou atenção, olhei em direção de onde vinha o
som e notei a cachorra de Ravenna e Matthew vindo em direção a minha
propriedade. Billy correu em direção a eles assim que os ouviu.
— Parece que um de nós vai matar a saudade hoje — acariciei a cabeça
de Olaf.
Matthew se aproximou de nós, enquanto Nina e Billy... estavam se
lambendo? Ravenna acharia incrível essa nova fase do relacionamento deles.
— Boa tarde, amigo — Matthew sorriu — Como está?
— Como você acha que estou? — Perguntei, já notando que ele sabia
de tudo.
Com certeza Raven contou para Alisson que contou para Matthew. Em
breve todos saberiam do segredo que eu demorei tanto tempo para
compreender e achar maneiras para esconder.
— Fiquei sabendo sobre Briana, ainda não acredito que ela teve a
coragem de aparecer aqui depois de tudo o que fez — disse — Não me
surpreende tanto assim, afinal é uma doente.
— Queria que eu voltasse para ela — ri fraco — Como se fosse assim,
tão fácil.
— Então ela terminou com Charles?
— Pelo menos é o que disse — dei de ombros — Não fiz questão de
saber a respeito, só queria que ela desse o fora da minha frente.
— Fiquei sabendo que Raven a conheceu e que por algum motivo
acabou indo para Nova Iorque — falou — Tem a ver com o segredo que você
estava com medo de contar?
Assenti.
— Pensei que sua namorada já tivesse contando para você.
— Ela não quis me contar porque é algo pessoal demais, mas sei que
você irá me falar — só então notei a sacola térmica que ele carregava na mão,
ao balança-la na minha frente — Trouxe cervejas, temos algumas coisas para
colocar em dia.
Sorri e indiquei com a cabeça para entrarmos na minha casa.
Era melhor uma companhia do que ficar sozinho em casa pensando no
que Ravenna poderia estar fazendo, ou até mesmo decidindo, naquele
momento.
E eu começava a apreciar a presença de Matthew em minha vida, não
que em algum momento eu admitiria isso em voz alta, já que o homem era
um poço de autoconfiança, se eu soltasse isso, se acharia e me incomodaria
para o resto da minha vida.
Entramos dentro de casa junto com Billy e Nina.
— Ela fez questão de vir junto e ver o amiguinho — Matthew riu —
Olaf e Tempestade, Billy e Nina, Você e Ravenna. Quem diria, em.
Fui obrigado a rir e concordar. Aquilo era cômico, tanto os donos como
os animais estavam apaixonados um pelo o outro.
Matthew abriu uma cerveja e me entregou a garrafa, me sentei no sofá
do lado do que ele estava sentado.
— E então? Me conte mais sobre o que aconteceu ontem. — Pediu,
enquanto bebia um gole da sua bebida.
— Enquanto eu discutia com Briana acabei falando sobre Ravenna —
comecei — Acontece que Briana sabia que eu estava omitindo a parte mais
importante do meu passado e quando Ravenna apareceu aqui, ela não perdeu
a oportunidade de contar.
Tomei um gole da minha cerveja e observei a feição curiosa de
Matthew sobre o meu passado, sobre o que era tão horrível a ponto de eu não
falar no início.
— Tenho azoospermia não obstrutiva, isso significa que eu sou incapaz
de ter filhos — finalmente falei.
Os olhos dele se arregalaram levemente, surpresa tomando toda a sua
expressão. Com certeza não imaginava que fosse isso, mas infelizmente era.
— Caramba — ele deixou escapar, para depois tomar um grande gole
de cerveja.
O acompanhei na bebida para tentar ignorar o silêncio que se instaurou
na minha sala.
— Sinto muito, amigo — Matthew finalmente disse — Não sei como é,
mas imagino que deva ser difícil ter isso.
Assenti.
— É uma luta contra a sua própria confiança, sabe? Quando você não
tem nem espermatozoide suficiente para gerar um filho.
Ele acenou com a cabeça, parecendo compreender.
Não queria a pena de ninguém, já bastava eu mesmo sentir isso por
mim, mas aquele olhar era algo que eu conseguia aceitar, era compreensão.
— E como Ravenna reagiu?
— Ela está péssima, mas você deve ter percebido que a garota não
demonstra o que sente assim tão fácil. Acho que ela viu que eu estava com
tanto medo de perde-la que tentou ser forte por nós dois naquele momento.
Matthew sorriu.
— Ravenna é uma mulher de ouro, você tem muita sorte dela ter
aparecido em sua vida.
— Eu sei — sim, com certeza eu sabia disso. Desde o momento que
percebi que estava apaixonada pela a atrevida de olhos azuis.
— E por que ela foi para Nova Iorque?
— Apesar de ter me aceitado como eu sou e me perdoado por não ter
contado antes, Raven ainda precisa de um tempo para digerir tudo —
expliquei — Vai ser bom para ela parar para pensar um pouco no que
realmente está se metendo.
— O que você quer dizer?
— Matthew, eu não posso ter filhos. Por mais que Ravenna me ame e
eu a ame tanto que não consigo terminar com ela para libertá-la, ainda sim
não conseguirá ter um filho meu.
— O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria,
não se orgulha. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. 1 Coríntios
capítulo 13, versículo 4 e 7.
Arqueei as sobrancelhas.
— Desde quando você lê a bíblia?
— Eu frequentava a igreja com meus pais quando era criança, esse foi
o único versículo que gravei — sorriu — Isso quer dizer que qualquer
dificuldade que possa ter dentro do relacionamento de vocês dois, se há amor,
tudo suporta.
— Você tem razão, Matthew — sorri e ergui a garrafa — Se há amor,
tudo suporta.
Repeti aquela frase para mim mesmo, tentando de todas as formas
confiar nela. Por toda a minha vida sonhei com casamentos e filhos correndo
pela a casa, mesmo que eu tenha sido um “pega geral” quando estava na
escola e nos dois primeiros anos da faculdade, ainda sim, mantive o coração
aberto para a chegada da pessoa que me faria realizar esse sonho. Por muito
tempo achei que Briana fosse essa pessoa e quando terminamos eu tive a
certeza que nunca mais conseguiria realizar esse sonho.
A resposta de Raven veio na minha cabeça quase que imediatamente:
“pai e mãe é quem cria”. Ela estava certa.
Eu encontrei a pessoa certa.
E eu podia realizar os meus dois sonhos se fosse da vontade de
Ravenna.
— Pensativo demais — Matthew observou — Posso saber no que?
— Passei a noite acordado com medo de perder Ravenna, mas agora
me sinto um pouco mais confiante.
— O que você seria sem mim? Fala sério, pode responder, um nada —
se exibiu.
— Eu ainda seria o Dylan, não se ache — respondi.
Ele revirou os olhos e riu.
— Como está com a Wess? — Perguntei na tentativa de mudar de
assunto e também por estar curioso pelo recente relacionamento dos dois.
— Ela é a mulher da minha vida, amigo — admitiu com o sorriso
apaixonado nos lábios — Sei que é cedo para dizer isso, mas eu senti quando
a vi naquela festa e também quando a beijei em Outer Banks, agora, enquanto
estamos namorando é como se eu tivesse mais do que certeza que estava
certo.
— Eu sei do que está falando, sinto a mesma coisa por Ravenna.
— Quem diria, nós dois, enlaçados pelas primas — tomou o resto de
sua cerveja — Se no passado me falassem que aí dentro existia um cara
romântico, eu iria rir na cara da pessoa.
Zombou comigo, claro que ele não perderia a oportunidade de fazer
isso agora que estava com certa intimidade para cima de mim.
— Sempre fui um cara romântico, você só não era meu amigo para
saber disso.
— Então eu sou seu amigo? Finalmente! Eu achava que mulheres eram
difíceis de ser conquistadas, mas você superou, Dylan.
Revirei meus olhos e foi minha vez de terminar com a cerveja na
garrafa.
— Você é um idiota.
— Um idiota que agora você não vive sem — piscou.
Eu ri mesmo sabendo que ele estava certo.
Passamos o resto da tarde juntos, tomando cerveja e assistindo uma
partida de futebol na televisão. Sem conversas pesadas, apenas as
brincadeiras ridículas de Matthew e o som das nossas risadas.
Não percebi até ele ir embora para buscar Alisson no trabalho que
sentia falta disso.
Por muito tempo fui amigo de Charles, éramos como irmãos até
conhecermos Briana. Como não é difícil de esquecer as coisas, dentre elas,
nosso relacionamento, só desandou e quando aconteceu a traição nunca mais
pensei em ter nenhum amigo.
Principalmente se esse amigo fosse Matthew, meu antigo rival da
faculdade.
Mas olha como as coisas mudam. Conforme ele se afastava do meu
rancho naquele final da tarde percebi que realmente gostava da sua
companhia e da sua forma espontânea de ver as coisas.
E não seria eu que o afastaria novamente.
Seriamos grandes amigos, mas eu nunca admitiria em voz alta, porque
era óbvio o quanto levantaria o seu ego se soubesse o que eu pensava.
Nova Iorque continuava a mesma. Muitas pessoas, muito trânsito e
também muita poluição.
Percebi assim que cheguei no aeroporto de NY que não sentia nenhuma
falta disso.
Meus pais ficaram surpresos quando liguei ontem à noite dizendo que
iria para casa, expliquei que não era nenhuma briga feia com Dylan e que
voltaria para Nightfall, mas de resto, esclareceria melhor quando chegasse.
Então não me surpreendi que quando eles foram me buscar no aeroporto e
entramos dentro do nosso apartamento, eles escondiam a curiosidade em suas
feições. Loucos para perguntarem o porquê estava aqui.
— Eu vou fazer um café para nós — Minha mãe disse — Leve essa
mochila para o seu quarto.
Assenti.
Fui até o meu quarto e deixei a mochila em cima da cama. O lugar
estava exatamente como eu havia deixado. Me aproximei das fotos da
cômoda, muitas delas era com o meu irmão.
Peguei a primeira foto, era da viagem ao Brasil que fizemos, estávamos
de frente para o cristo redentor, sorrindo como dois turistas apaixonados pelo
lugar. Foi uma das melhores viagens que fizemos juntos.
A segunda era uma foto com os meus pais, uma selfie tirada no último
aniversário dele, estávamos todos na nossa casa na praia em Miami.
— Também sinto a falta dele — meu pai disse, me virei e o vi escorado
no batente da porta.
— Sinto todos os dias — murmurei, mas ele pareceu ouvir.
Devolvi a foto para a cômoda. Meu pai entrou no quarto e se
aproximou de mim.
— Também sinto falta de você aqui em casa, mas sei que não veio
porque sente falta do lugar e sim porque precisa de nós.
Ele me abraçou de lado e foi o suficiente para eu começar a chorar.
— Ei, pequena — me abraçou forte contra o seu corpo — Está tudo
bem agora, seu pai está aqui.
Ficamos por alguns minutos daquele jeito, meu pai alisando minhas
costas enquanto falava palavras de conforto. Foi quando senti mais dois
braços me circularem que solucei, minha mãe estava aqui com nós.
— O que aconteceu meu amor? — Minha mãe perguntou.
— Tudo — murmurei — Archer, Dylan, eu mesma.
Nos desfizemos do abraço, ela pegou minha mão e me guiou até a
cama. Sentamos os três na beirada.
— Quando você quiser contar, estaremos aqui — ela continuou
segurando minha mão.
Respirei fundo, tentando acalmar meu ataque de choro.
— Lembram quando eu disse que Dylan tinha um passado difícil? O
último relacionamento que ele teve foi muito abusivo, a mulher é
completamente louca e esteve lá ontem.
— O que ela queria? — meu pai perguntou.
— Queria ele de volta, mas é óbvio que Dylan a rejeitou. Eu entrei na
casa dele no momento em que a expulsava, foi então que ela me contou o
segredo do meu namorado.
— Segredo? — Minha mãe questionou, confusa.
— Dylan tem azoospermia não obstrutiva — falei e percebi o rosto de
minha mãe encher de compreensão.
— Ele não pode ter filhos.
Assenti.
— Foi isso que destruiu o relacionamento de Briana e Dylan.
Meu pai negou.
— Não foi isso. Ela não o amava o suficiente para aguentar passar por
essa dificuldade — disse.
— Sinto muito por ele, mas e você... como está? — Minha mãe
perguntou.
— Triste por ele não ter contado desde o início e me comparado,
mesmo que indiretamente com Briana.
— Filha, se o antigo relacionamento de Dylan foi tão ruim dessa forma,
é normal ele se sentir inseguro com tudo isso — meu pai disse.
— Eu sei, pai, juro que sei disso. Foi por isso que o perdoei
imediatamente, porque me pus no lugar dele e percebi o quão difícil é tudo
isso. Eu o aceitei da forma que é.
Minha mãe levou a mão até a minha bochecha e a acariciou.
— Estou orgulhosa de você, filha. Se tornou uma mulher muito
madura.
— Estamos orgulhosos — meu pai complementou.
— Não acho que tenha me tornado, na primeira oportunidade fugi até
Nova Iorque porque precisava de vocês, como a garota mimada que eu sou.
— Ei, não diga besteiras! — meu pai exigiu — Você acabou de receber
a notícia de que para ficar com o homem que ama terá que sacrificar algumas
coisas, é normal sentir medo, sentir receio e estar perdida.
Minha mãe concordou.
— O importante agora é que você não fez como ela, você o perdoou
por não ter contado antes, você o entendeu. Tenho certeza que ele a ama
ainda mais por isso — minha mãe completou — Pare de se culpar por tudo
que acontece ao seu redor, Raven, você precisa entender que existe coisas e
fatalidades que não estão nas suas mãos o poder da decisão.
— Tudo bem correr até nós, somos os seus pais e estaremos aqui até o
dia da nossa morte, te ajudando, te aconselhando e te amando — meu pai
sorri — Você não é uma garota mimada, já foi, mas não é mais.
Ele fez gracinha no final do discurso.
— A forma que o vi, o medo em seu olhar, foi tão horrível — me
lembrei — Ele ainda está muito machucado.
— Claro que está — meu pai falou — Relacionamentos assim sempre
deixam lembranças ruins, mas olhe, agora ele está com você e tenho certeza
que irá ajudá-lo a passar por isso.
Assenti.
— Eu o amo demais, pai. Nunca senti nada que possa comparar a isso
— admiti.
— Esse sentimento é o mais puro e o mais lindo que existe nesse
mundo. Fico feliz que tenha encontrado ele tão jovem, da mesma forma que
eu e sua mãe.
Meus pais haviam se conhecido com vintes anos de idade e estavam
juntos a vinte e cinco anos. Aquilo era muito tempo, ambos tiveram que
superar muitas dificuldades juntos, ambos vieram de família simples e
construíram toda a riqueza juntos. Eu me orgulhava muito deles.
— E como você está com o fato de não ser mãe de um filho de Dylan?
— minha mãe fez a pergunta que nem eu sabia a resposta.
— Não sei — admiti.
— Hoje em dia existe muitas formas de ter filhos, seja por meio de
adoção ou inseminação de um doador anônimo, se quiser saber como é estar
grávida.
— Sempre quis ser mãe, estou um pouco em choque com tudo isso. A
única coisa que eu tenho certeza é que não deixarei o homem que eu amo por
causa disso.
— Compreendemos, querida — meu pai beijou minha testa — E você
já tomou a sua decisão, agora só precisa desse tempo para lidar com ela.
Concordei.
— Dylan tem sorte de ter uma mulher como você na vida dele. Muitas
não reagiriam da forma que você reagiu, repito que estou muito orgulhosa de
você — minha mãe elogiou.
— Eu não me imagino reagindo de forma diferente.
— Nem eu — meu pai afirmou.
— Bom, o que acham de irmos tomar um café? Depois podemos dar
uma volta no Central Park enquanto relaxamos e respiramos ao ar livre. —
Minha mãe sugeriu.
— Ótima ideia, querida.
Fomos para a cozinha e enquanto tomávamos café, conversamos sobre
amenidades, não queríamos um clima pesado na refeição.
Depois do café, guardamos as coisas e como minha mãe sugeriu fomos
para o Central Park, que por ser domingo e um dia bonito, estava lotado.
— Eu definitivamente não senti falta dessa movimentação — falei
quando uma garota passou por mim e quase levou meu braço junto.
Meu pai riu.
— Esse é um defeito de morar em um lugar tão famoso. Nessa época
sempre aumenta os turistas.
— Podemos almoçar em um desses restaurantes hoje, não estou a fim
de cozinhar — minha mãe disse.
Sorri. Enquanto minha tia amava as panelas minha mãe fazia questão
de correr para longe.
— Estou com vontade comer hambúrguer — comentei.
— Porcarias, por que não estou surpreso? — Meu pai perguntou para si
mesmo.
Passamos mais um tempo no Central Park, aproveitando o dia
ensolarado e conversando. Quando chegou a hora do almoço, fomos no
primeiro fast food que vimos, ele ficava bem em frente do parque e
felizmente não estava cheio de gente.
Deixei meus pais na mesa e fui fazer nossos pedidos.
— Quem é viva sempre aparece.
A voz de Cameron me fez virar imediatamente. Ali estava ele, com o
sorrisinho de cafajeste e olhar malicioso para cima de mim, não pude deixar
de pensar mais uma vez em como fui idiota de não ter percebido no passado
que ele não passava de um garoto.
— Para você eu estou morta, Cameron — me virei de novo para fila.
— Quanta arrogância — percebi que ele estava atrás de mim pela
proximidade da sua voz — Fiquei sabendo que viajou, mas não consegui
ligar para você, dizia que o número não existia mais.
E não existia.
Antes de ir para Nightfall meus pais fizeram questão de destruir o chip
com todos os meus contatos e me deram um novo número, que eu só teria
contato com eles.
— O que você quer?
Perguntei, eu definitivamente não estava com paciência para ex
namorados. Primeiro Briana, agora Cameron, isso era algum tipo de castigo?
— Você sabe o que eu quero — ele se aproximou mais de mim —
Você.
Se o sussurro no meu ouvido fosse para me arrepiar de expectativa, foi
errado. Eu não sentia mais nada por esse garoto.
— Por que vocês, homens, não respeitam o espaço pessoal de nós,
garotas? — me distanciei dele — Faz o favor de esquecer que eu existo,
Cameron.
Ele me pegou pela cintura.
— Sabe que não e sei que você sente minha falta.
Sua boca partiu para cima da minha e foi o quanto antes eu virei o
rosto, apavorada demais para fazer outra coisa. Olhando melhor, seus olhos
estavam avermelhados que nem aquela noite em que quase tentou me
violentar.
Ele era um drogado de merda.
— Me solta! — Tentei empurrá-lo.
— Não, vamos para a minha casa — murmurou contra o meu pescoço,
senti vontade de vomitar — Matar a saudades um do outro.
O empurrei novamente, mas sem efeito. Percebi que já chamávamos
atenção das pessoas e nenhuma delas fez questão de se intrometer. Idiotas.
Até que meu pai apareceu na nossa frente.
— Acho melhor você soltar minha filha, garoto — ele exigiu, a fúria e
elegância que sempre usava para intimidar dentro de um tribunal.
— Eu e sua filha somos namorados, sai fora — falou, totalmente fora
de si.
— Ou você solta ela, ou serei obrigado a chamar a polícia — meu pai
ameaçou — Eu realmente não quero usar meu punho com alguém que mal
consegue raciocinar direito devido a tantas drogas.
— Isso vai ter volta, Ravenna. — ele disse, antes de me largar e sair da
lanchonete.
Respirei aliviada e abracei meu pai, em prantos. Foi como um
flashback, todas as lembranças daquela noite vieram com força.
Cameron me segurou dessa mesma maneira, tentou me despir enquanto
me beijava a força. Eu consegui mirar e dar um chute no meio das suas
pernas, mas então todo o resto aconteceu.
— Tudo bem, querida — ele me abraçou — Esse babaca não vai
incomodar de novo, não sabe onde você está, não tem porque temer.
— Acho melhor irmos embora — minha mãe apareceu.
Assenti. Eu definitivamente tinha perdido toda a vontade comer um
hambúrguer.

No fim, minha mãe teve que cozinhar para nós. Meu pai a ajudou na
cozinha enquanto eu fiquei no meu quarto.
Um pouco mais calma do episódio com Cameron, aproveitei aquele
tempo para dormir. Fui acordar por minha mãe algumas horas depois,
dizendo que o almoço estava pronto.
Almoçamos e passamos a tarde assistindo filme. Não queríamos sair de
casa e encontrar Cameron de novo, ou qualquer pessoa do meu passado.
Meus pais acabaram dormindo no meio do terceiro filme, sorri com a
cena e desliguei a televisão. Fui para o meu quarto e me deitei na minha
cama.
Ainda eram sete horas da noite, por isso não estava com sono e nem
disposta a tentar dormir. Peguei o telefone e não havia nenhuma mensagem
de Dylan. Me perguntei o que ele estava fazendo naquele momento.
Abri a caixa de mensagens para mandar um oi, mas desisti no mesmo
momento. Precisávamos daquele tempo.
Fiz outra coisa que estava me chamando o dia inteiro, abri o navegador
do celular e comecei a pesquisar sobre adoção.
Havia alguns requisitos para adotar uma criança nos Estados Unidos,
nada muito fora do comum para o processo.
Existem duas formas de adoção, a doméstica e a internacional. Para a
família que quiser um recém-nascido geralmente a melhor opção é a adoção
doméstica.
A pessoa que quiser adotar precisa passar por um processo chamado
Home Study feito pelas assistentes sociais. Depois de feito e aprovado, há
ainda mais coisas a ser feita, algumas agências pedem até mesmo uma carta
explicando o motivo de querer adotar determinada criança.
Fechei a página aberta em meu celular e soltei um riso que mais saiu de
forma nervosa do que verdadeiro. Eu estava há um mês com Dylan, precisava
manter a calma e deixar a ansiedade de lado. Quando fosse o momento certo,
procuraríamos nos informar melhor.
Isso. Eu tomei minha decisão no momento em que estava na frente de
Dylan e vi sua fragilidade, mas não foi ela que me fez aceitar o meu
namorado da forma que ele é. Foi o amor. De repente, adotar filhos e não
passar por todo o processo de um parto me pareceu muito melhor.
Caramba, eu poderia ter uma família enorme sem sofrer um pingo de
dor.
Ri alto dessa vez. Não acredito que eu estava pensando nisso. Mas era
todo o lado positivo da situação.
Havia mais um que fez encher o meu coração de amor. Eu daria família
a crianças que estavam sem, algumas até sem esperanças de ter o amor dos
pais novamente.
Eu daria isso.
E isso foi o suficiente para saber que havia tomado a decisão certa.
Eu só não imaginava que o momento certo dito um pouco mais acima
fosse chegar tão rápido.
Era segunda-feira no final da tarde quando cheguei em Nightfall.
Passar o domingo e parte da segunda com os meus pais foi ótimo para
mim. Percebi que realmente precisava do carinho, da atenção e da
compreensão deles.
Em nenhum momento meus pais foram contra eu continuar o
relacionamento com Dylan, não que eu esperasse algo parecido deles, já que
ambos são muito compreensíveis. Mas os conselhos que me deram, levaria
para a vida toda.
Eram conselhos de pessoas com mais experiência e que só querem o
meu bem.
Quando me despedi dos dois no aeroporto de Nova Iorque percebi a
tristeza misturada com o orgulho no olhar deles. Ambos estavam tristes por
eu ter crescido e tomado a decisão de viver em Nightfall por um tempo, até
ter o meu próprio rancho, da mesma forma que estavam orgulhosos pelos
mesmos motivos.
Não deveria ser nada fácil ver sua filha crescer e ir para longe. Eu os
entendia, da mesma forma que eles me entendiam.
— Tem certeza? — Foi o que meu pai perguntou antes de eu embarcar
— Mesmo se não tiver saiba que seu quarto sempre estará esperando por
você.
Eu sorri e apertei sua mão que estava na minha.
— Tenho certeza, eu me encontrei naquele lugar novamente e não
quero me afastar de novo.
Minha mãe sorriu e me abraçou.
— Você vai ser uma grande campeã de hipismo, Raven, e seu futuro
marido um excelente veterinário.
Foi o que ela me disse antes de me deixar ser abraçada pelo meu pai
para depois embarcar.
Agora, pensando no que minha mãe profetizou para mim e Dylan,
torcia para que estivesse certa e isso realmente acontecesse.
O amor pelo o hipismo era superior há tantas coisas que achei estar
fazendo porque gostava, como o direito e depois a medicina. Agora eu
entendia o que aquela frase de “se fazer o que ama” queria dizer.
— De volta ao lar — meu tio sorriu enquanto pegava a mochila da
minha mão — Nina já estava morrendo de saudades.
Eu também estava. Acompanhei meu tio até entrarmos dentro de casa,
ele havia me buscado no aeroporto. Nina me recebeu da forma calorosa de
sempre, latindo de felicidade e me lambendo.
— Também senti sua falta, amor — alisei sua cabeça.
Na sala estavam Alisson, Matthew, Amélia e minha tia. Acenei para os
quatro que devolveram sorrindo.
— Como foi a viagem, querida? — minha tia perguntou.
— Tranquila.
Minhas primas se levantaram no mesmo momento e vieram até mim,
Amélia pegou a mala que estava na minha outra mão e Alisson entrelaçou o
braço com o meu. Franzi a testa em estranheza para todo aquele
comportamento.
— Mala gigante, algo me diz que vai passar mais tempo do que o
esperado do início — minha tia piscou — Seja bem-vinda ao lar, querida.
Eu havia trazido todo o restante de roupas que havia ficado no meu
guarda roupa em Nova Iorque, não eram muitas, mas ocupava boa parte de
uma mala grande.
— Espero que não tenha problemas — eu falei, um pouco incerta, já
que não havia conversado com eles antes.
— Problema? Você sempre será bem-vinda aqui, Raven — meu tio
falou — Pode ficar o tempo que quiser.
Sorri em agradecimento.
— Agora, se nos derem licença, temos muito o que conversar — Ali
disse — Já volto para você, Matt.
Matthew sorriu e piscou.
— Não me importo em ficar aqui conversando com os meus sogros —
ele disse.
Subimos para o meu quarto. Amélia deixou a mala em um canto e eu
fui puxada por Alisson até a cama, onde me colocou sentada.
— Posso saber o porquê está parecendo que serei interrogada?
— Porque você vai — Amélia parou em minha frente — Que história é
essa de que Cameron a atacou?
Franzi a testa mais uma vez naquela tarde, sem entender como elas
sabiam disso.
— Como vocês sabem? — Perguntei.
— Sua mãe me ligou — Ali explicou — Ela disse para a gente
conversar com você e prestar apoio, já que você ficou apavorada e não quis
mais tocar no assunto pelos restos dos dias que passou com eles.
Engoli em seco. Meus pais até tentaram falar sobre e perguntaram
como eu estava, a verdade é que eu não queria falar sobre Cameron. Vê-lo fez
com que eu me lembrasse de tudo o que aconteceu naquela trágica noite.
O nojo por ele só aumentou, junto com toda a raiva e angústia que
senti. Eu nunca pensei que poderia odiar uma pessoa, mas eu sentia o maior e
mais verdadeiro ódio por Cameron Tate.
— Não quero falar sobre isso, já passou e eu estou bem.
— Sua mãe disse que você teve um pesadelo — Amélia disse — Foi
por isso que ela nos ligou.
Definitivamente a minha mãe não conseguia ficar com a boca fechada.
Na noite anterior eu fui dormir contente por estar mais tranquila sobre o
meu futuro com Dylan, mas acordei de madrugada aos gritos.
Meu pesadelo ainda estava vivo em minha memória e eu tentava
ignorá-lo, mas era quase impossível. Eu ainda conseguia ouvir a voz e ver o
sorriso perverso de Cameron dizendo que eu era a culpada por tudo o que
aconteceu na noite em que meu irmão morreu. Junto com flashes de
memórias do carro explodindo bem na minha frente, sem sobrar nada do meu
irmão para enterrar.
Senti o choro ficar preso em minha garganta, nem isso eu conseguia
fazer mais.
— Ei — Amélia se sentou ao meu lado — Se você não quiser contar
tudo bem, mas geralmente desabafar faz bem e se o problema é a minha
presença aqui, eu deixo vocês duas sozinhas para conversarem.
Neguei. O problema não era a minha prima mais velha, o problema era
eu.
— Você pode ficar, prefiro a Amélia amiga — falei e ela sorriu.
— Amanhã você tem uma consulta com a Elena. Não sei como
funciona, mas talvez já ajude um pouco — Alisson falou.
Assenti.
— Eu espero. Não aguento mais, Ali — admiti — Fazia tempo que
esses pesadelos não aconteciam, mas foi só ver Cameron que tudo voltou.
— Você estava feliz e conseguindo seguir em frente — Amélia disse
—Você ocupou sua cabeça, por isso não pensava ou tinha pesadelos com
frequência do que aconteceu naquela noite. E antes que você comece a dizer
que se sente culpada por isso, não se sinta. Você não vai viver no luto pelo o
resto da sua vida.
Provavelmente a cara de surpresa que fiquei foi a mesma que Alisson,
porque minha prima mais velha revirou os olhos e riu.
— O que foi? Não são só vocês que sabem falar frases bonitas.
— E você mesmo disse lá na beira da praia que a dor que sentia era
diferente — Ali lembrou — Você está superando, prima, está começando a
entender que tudo não passou de uma fatalidade e tudo isso porque está
cercada de pessoas que querem o seu bem, eu, meus pais, Dylan, Matthew e
agora, Amélia.
— Eu sempre quis o bem da Raven — a mais velha revidou — Sério
que vocês pensavam o mais perverso de mim?
— Sério — Eu falei — Por um momento achei que você era a cobra da
história.
Amélia fez uma cara de ofendida e colocou a mão no peito.
— Não posso acreditar nisso. A cobra da história sempre foi Briana.
— Agora eu vejo isso — falei.
Rimos.
Não considerava mais tão estranho ter aquela Amélia descontraída e
amigável na minha vida. Ela estava feliz. Eu sabia o quanto a felicidade e o
amor podiam mudar a vida de uma pessoa.
— Eu estava na lanchonete em frente ao Central Park com meus pais
ontem, fui para a fila e os deixei sentados esperando os pedidos. Foi então
que Cameron me encontrou — comecei a contar o que aconteceu — Ele
estava totalmente drogado, mas me agarrou e quis me levar para a sua casa.
Alisson pegou minha mão em forma de conforto.
— Meu pai conseguiu impedir com sua pose de advogado, mas mesmo
assim as lembranças vieram. Cameron me agarrou da mesma forma que
aquela noite... tudo veio na minha cabeça.
— Sentimos tanto por isso — Amélia disse — Esse garoto deveria estar
preso.
— Preso pelo o que? Fizemos a denúncia de tentativa de estupro, mas
um dia depois ele estava fora da cadeia. O pai dele é um empresário influente,
nunca deixaria o filho estragar a imagem da família Tate.
— E a justiça sempre falha — Ali se pronunciou — Pelo menos deve
ter pago uma bela de uma fiança.
Dei de ombros.
— Você não precisa se preocupar agora que está aqui em Nightfall. Ele
não irá procurá-la mais, pode até tentar, mas não vai achar — Amélia falou.
— É o que me conforta.
Saber disso e estar prestes a consultar com uma psicóloga excelente me
confortava. Era irônico pensar que no início de tudo isso eu não queria nada
do tipo, mas agora eu realmente queria conversar com alguém que me
ajudasse a passar por todo esse pesadelo ainda vivo em minha memória.
— Bom, sem assuntos pesados agora, vamos deixá-los enterrados nesse
fim de semana horrível — Alisson sorriu antes de voltar a dizer: — Matthew
passou a tarde com Dylan ontem.
Suspirei um pouco aliviada. Eu me perguntei por muitos momentos em
que estive fora se Dylan estava bem. Felizmente teve a companhia
descontraída e alegre de Matthew para não pensar em bobagens que sei
poderia pensar.
— E como ele está? — Perguntei.
— Mais confiante do que nunca, segundo meu namorado — Ali falou
— Você sabe que Matthew consegue deixar alguém bem como ninguém.
Assenti.
— Estou ansiosa para vê-lo.
— Por que não faz isso agora? — Amélia perguntou — Tenho certeza
que ele está louco para ver você também.
Me levantei, decidida a fazer exatamente isso. Abri a boca para dizer
que não viria dormir em casa, mas Alisson foi mais rápida.
— Já sei que você não vem para casa hoje.
Sorri e olhei para Nina que me observava com expectativa.
— Vamos visitar Billy, amor?
Ela latiu animada e se colocou ao meu lado.
Acenei para minhas primas e deixei o quarto com Nina. Matthew e
meus tios estavam na sala conversando sobre um programa que passava na
televisão.
— Vou ver o Dylan — anunciei.
— Até que enfim — Matthew piscou — Ele já deve estar com
saudades.
— Também estou — sorri.
Sai de casa com Nina e encontrei Rebeca preste a bater na porta.
— Oi, Raven, como você está?
— Rebeca, oi, estou bem e você?
— Ótima, apenas um pouco ansiosa para as competições — disse.
— Tenho que admitir que também estou sentindo essa ansiedade.
— Amélia está lá dentro? — Assenti — Antes de entrar eu queria
agradecer por ter perdoado ela.
— Todo mundo merece uma segunda chance — falei.
— Mas poucos no seu lugar dariam, pelo o que minha namorada me
contou, ela infernizou sua vida.
— Eu recompensei a fazendo sentir ciúmes do meu irmão na infância.
Rebeca riu.
— Isso é verdade. Mas mesmo assim, obrigada por ter dado essa
chance para ela. Quando a conheci, Amélia era um pouco arrogante e fria
com os sentimentos, mas conforme nos aproximamos e nos apaixonamos, ela
foi percebendo tudo a sua volta e como foi injusta com você.
Sorri. A história das duas tinha um pouco de semelhanças com a minha
e a de Dylan.
— Eu vejo isso nela, estamos indo bem no quesito tentar ter uma
relação amigável — falei — O amor a mudou, Rebeca.
Ela concordou.
— Me sinto honrada por fazer parte disso.
Nina late, impaciente ao meu lado, louca para ir até Billy.
— Acho que vocês estavam de saída, vejo você qualquer dia desses?
— Claro.
Rebeca entrou dentro de casa enquanto eu e Nina fomos para o rancho
de Dylan.
O sol já começava a se por, apressei os passos junto com Nina para não
pegarmos a escuridão. Mesmo que Nightfall tivesse iluminação, ainda sim
era fraca para de noite.
Chegamos no rancho de Dylan alguns minutos depois, meu namorado
estava fechando a porta grande de madeira do seu pequeno estábulo e não me
viu se aproximar.
Nina me surpreendeu ao não fazer barulho para anunciar a nossa
chegada, parecendo perceber que eu queria pegar ele de surpresa.
Antes que Dylan virasse e me enxergasse, eu abracei sua cintura.
Percebi o exato momento que seu corpo tremeu levemente pelo o susto, mas
assim que viu que eram os meus braços em sua volta, relaxou.
— Sentiu minha falta, cowboy? — Perguntei com um sorriso no rosto.
Ele se virou lentamente, com o mesmo sorriso de felicidade ao me ver,
manteve meus braços em volta da sua cintura e fez o mesmo com a minha
com os seus braços.
— Você não imagina o quanto, garota da cidade.
Aproximei meus lábios dos seus e fechei meus olhos para em seguida
grudar minha boca na sua. Dylan me prende mais ao seu corpo quando pede
passagem com sua língua, que é cedida no mesmo momento. Nos beijamos
com paixão, com amor e com saudades. Me lembrei do questionamento que
me fiz quando ele me beijou pela segunda vez, se toda vez seria perfeito
daquela forma.
Posso responder com toda certeza que sim, é perfeito.
— Isso é um sinal que você decidiu ficar comigo? — Ele perguntou
depois que afastamos os lábios um do outro.
— Eu já fui decida que ficaria com você, amor.
Ele voltou a sorrir, tirou um pouco da minha franja que caia no meu
rosto e perguntou:
— Você percebeu do que me chamou?
Eu ri ao mesmo tempo em que concordava.
— Amor — repeti de novo — Você é o meu amor, portanto terá que
arrumar algo mais grave para me afastar de você.
— Esse era o meu único segredo, então acho que está presa a mim pelo
o resto da sua vida — ele completou: — amor.
Sorri e o beijei novamente. Feliz demais por estar em seus braços. Era
como se nada conseguisse me deixar mal, a forma como nos conectamos é
incrível.
Segurei seu rosto com as minhas duas mãos quando nos afastamos.
— Nada nem ninguém pode destruir isso que temos — falei — Eu não
me importo que você tem azoospermia não obstrutiva, eu amo você pelo o
que você é. Vamos passar por tudo isso juntos.
— Eu amo você — ele beijou meus lábios — Amo você demais.
Sorri.
— E sabe o que mais eu estava pensando? Não irei sentir nenhuma
dorzinha no parto. Isso é fantástico.
Dylan começou a rir.
— É sério que você foi para Nova Iorque e começou a pensar nas
vantagens?
— Mas é claro que sim! Confesso que o que sempre me apavorou em
uma gravidez é o parto, não precisarei fazer nada disso.
— Você não se importa em futuramente adotar?
— Não, por que eu me importaria? Podemos dar uma família para
crianças que acham que nunca mais poderão ter uma.
Ele assentiu.
— Você é incrível, sabia?
— Claro que eu sabia disso — brinquei.
Rimos.
Era engraçado como conversávamos sobre o futuro quando estávamos a
pouco mais de um mês juntos. Essa era a maior prova de que qualquer que
fosse a dificuldade passaríamos por ela sem estragar o que temos.
— O que acha de eu cozinhar para a minha namorada?
— Acho que sua namorada adoraria ser mimada dessa forma.
— Lasanha? — sugeriu.
— Sim! Por favor!
Ele pegou minha mão e me levou para dentro de casa. Nina e Billy já
estavam no sofá brincando um com o outro.
Fomos para a cozinha, Dylan pegou o frango do freezer e levou até o
micro-ondas para descongelar. Peguei alguns tomates e uma faca para cortá-
los e fazer o molho.
Enquanto cozinhávamos juntos com as brincadeiras um com outro, as
provocações e o amor transbordando em cada palavra dita um para o outro,
percebi que nada havia mudado, apenas fortalecido.
No dia seguinte eu acordei com o despertador tocando. O desliguei
assim que localizei meu celular em cima da pequena mesinha ao lado da
cama de Dylan. Tentei me espreguiçar, mas o corpo do meu namorado
grudado ao meu e seus braços em volta do meu corpo me impediram.
Precisava me levantar e me arrumar para a consulta com a psicóloga
Elena. Confesso que estava um pouco nervosa agora que havia chegado o
momento.
— Amor — murmurei tentando acordar Dylan, mas ele dormia como
uma pedra.
O que me fez pensar que eu também havia dormido muito bem essa
noite. Sem nenhum pesadelo, apenas com as lembranças boas entre eu e
Dylan ontem à noite.
Já havia percebido que o meu subconsciente era travesso. Quando eu
estava bem, ele fazia questão de me deixar mal.
— Dylan... — o sacudi.
Dessa vez ele abriu os olhos azuis, um sorrisinho brotou em seu rosto e
eu derreti como uma boba apaixonada.
— Precisamos levantar, cowboy — falei — Daqui uma hora tenho
consulta.
Ele fez um beicinho fofo.
— E eu preciso trabalhar.
— Da mesma forma que precisamos voltar a treinar com Tempestade
— falei — Por falar nela, estou com saudades.
— Tenho certeza que ela também está — se endireitou na cama,
desfazendo o abraço em minha cintura. — Mas ela se comportou bem na sua
ausência, não foi tão difícil de tirá-la da baia e deixar no ar livre.
Levantei da cama e fui até o seu roupeiro procurar algo para vestir.
Algumas das minhas roupas estavam ali.
— Ela está superando o seu passado — falei — E confiando
novamente.
Peguei uma calça e uma blusa vermelha sem estampas. Felizmente eu
tinha um conjunto de lingerie preto no seu guarda roupa também.
— Preciso tomar um banho, Alisson vai passar aqui daqui a pouco.
— Vai enquanto eu preparo um café para você.
Fui até ele e dei um selinho em seus lábios antes de sair do quarto para
ir ao banheiro.
Depois de tomar meu banho e comer as panquecas deliciosas que só
Dylan sabia fazer, me despedi do meu namorado no mesmo momento que
minha prima buzinava na frente da sua casa.
Deixei Nina com Dylan e Billy, já que eles iriam para Nightfall logo
em seguida e caminhei em direção ao carro de minha prima. Assim que entrei
na caminhonete, ela sorriu.
— Bom dia! Vejo que as coisas estão ótimas por aqui.
— Bom dia! Estamos melhores do que nunca — falei.
Minha prima deu partida no carro e seguiu para a cidade.
— Estou feliz por vocês — ela disse — Mal posso esperar pelo
casamento.
— Alisson — eu ri — Ainda é cedo para pensar nisso.
— Cedo? Até pode ser, mas que vocês já estão tomando decisões
baseado em um futuro onde ambos estarão casados... isso não pode negar.
— Ontem eu parei para pensar como conversamos com tanta facilidade
sobre um futuro juntos — lembrei — É incrível.
— Ah, o amor... tão perfeito.
— E você e Matthew? Quando será o casamento? — a provoquei.
Ela riu.
— Quando for o seu — piscou para mim antes de voltar a olhar para a
estrada novamente — Já imaginou? Um casamento duplo.
— Nunca imaginei, mas até que gostei da ideia.
— Eu só dou ótimas ideias. Mas respondendo sua pergunta, eu e
Matthew estamos bem, ele é um fofo e estou cada dia mais apaixonada.
— Vocês dois se merecem.
Chegamos no hospital alguns minutos depois. Alisson estacionou a
caminhonete na sua vaga reservada no estacionamento e seguimos para
dentro do prédio.
— Parece nervosa — ela comentou quando entramos no elevador.
Apertei o segundo andar e as portas se fecharam.
— Eu estou — admiti — Nunca consultei com uma psicóloga, nunca
achei que precisaria, não sei se conseguirei me abrir para ela.
— Deve ter um motivo para as pessoas amarem a Elena, tenho certeza
que ela é boa no que faz — Ali tentou me tranquilizar — Todo mundo
deveria procurar um psicólogo, a vida seria bem mais simples.
Concordei. Também começava a acreditar nisso.
As portas dos elevadores se abriram e seguimos para o lado direito do
corredor. Como eu já tinha hora marcada era só anunciar minha chegada para
a recepção na área dos psicólogos. Passamos pela área da maternidade e meus
olhos automaticamente procuraram por Skyller.
Ela ainda estava na mesma incubadora. Os olhinhos fechados,
respirando através dos fios e aparelhos que a cercavam. Senti algo em meu
peito que não consegui identificar, apenas me aproximei mais do vidro que
nos separava.
— Ela vai ser uma garotinha linda, não é? — Ali perguntou ao meu
lado sorrindo para o vidro.
Assenti.
— O que acontece depois que ela já tiver meses o suficiente para sair
daqui?
— Como ela não tem nenhuma família, fica em poder do estado.
Provavelmente eles irão a ceder para uma daquelas famílias Foster Parent,
onde a criança fica temporariamente até encontrar uma família que a queira.
— Como faz para se tornar um Foster Parent? — Perguntei sem ao
menos pensar no que estava dizendo.
Ali percebeu no mesmo momento.
— Você está pensando em adotar Skyller?
Não sei. Eu estava? Não conseguiria responder aquela pergunta de
forma imediata, estávamos falando de uma criança, afinal.
— Só estou curiosa — falei.
— Eu não sei muito bem, teríamos que pesquisar, mas como aqui é
cidade pequena, acredito que não exijam muitas coisas — ela disse — Seria
incrível se você e Dylan a adotassem.
— Estamos nesse relacionamento há um mês, seria estranho se eu
falasse que gostaria de adotar um bebê.
— Então você quer adotar Skyller.
Suspirei. Eu deveria saber que minha prima estava jogando verde para
saber mais sobre esse meu interesse.
— Foi hipoteticamente falando.
— Claro, com certeza foi — ela foi irônica — Você vai ser uma ótima
mãe, Raven, e tenho certeza que Skyller teria sorte de ter você e Dylan.
Sorri. Fiquei mais alguns minutos admirando o pequeno bebê naquela
incubadora. Ela era uma pequena guerreira. Passou por um acidente de carro
e ainda lutava para sobreviver.
Me assustei com o pensamento que me veio a seguir: eu realmente
gostaria de chamá-la de filha.
— Preciso ir para a consulta — falei, mesmo que não quisesse me
afastar dela.
Aquele mesmo sentimento que me tomou quando a vi pela primeira vez
parecia um pouco mais forte agora.
Me afastei e me virei de costas para o vidro.
— Nos vemos mais tarde? — perguntei para Ali que ainda me olhava
daquela forma que sabia o que eu estava sentindo.
— Claro — ela sorriu.
Fui para ala dos psicólogos enquanto minha prima foi se vestir para
começar a trabalhar.
Dei o meu nome para a recepcionista e ela pediu para eu aguardar mais
cinco minutos. Me sentei em uma das cadeiras de espera e aguardei.
O que será que Dylan acharia de Skyller?
A pergunta me veio assim que me sentei e encarei um ponto fixo. Com
certeza me acharia estranha por já falar de adoção quando há poucos dias
havia descoberto sobre sua doença.
Mas era impossível não me imaginar com a pequena garotinha em
meus braços, fazendo a dormir, brincando com ela, dando todo o amor do
mundo que merecia.
Aquilo era muito estranho.
Eu nunca havia me sentido dessa forma.
Talvez fosse todas as emoções dos últimos dias falando mais alto.
Afinal eu descobri que para ser mãe estando casada com Dylan terei que
adotar, e saber que Skyller está sem pais me comovia.
— Srta. Blackwood? — uma mulher de cabelos curtos e preto parou em
minha frente — Sou a Doutora Elena.
Estendeu a mão para mim, me levantei e a apertei.
— Sou a Ravenna.
— Vamos para a minha sala — ela indicou com a cabeça.
A segui até o consultório. Elena se sentou na sua cadeira em frente à
mesa e eu fechei a porta e me aproximei.
— Vamos nos sentar naquelas poltronas ali, eu não suporto essa mesa
separando a gente como se fossemos médico e doente — ela sorriu, pegou
um caderno e se levantou.
Fiz o que ela pediu. Me sentei em uma poltrona que tinha mais afastado
da sua mesa. Elena se sentou ao meu lado.
— Quero que saiba que eu sou como uma amiga — ela começou — A
diferença é que não posso fofocar sobre o que dirá dentro dessa sala.
Sorri.
— Fico um pouco mais tranquila em saber disso.
— Bom, deixa eu me apresentar para você. Sou Elena, tenho quarenta
anos, moro aqui mesmo na cidade e sou solteira. Divido a minha casa com
um gato e um cachorro, costumo dizer que eles são os meus ouvintes. Amo a
minha profissão e sou formada em psicologia desde os meus vinte e três anos.
Depois disso fiz mestrados e doutorado, e aqui estou eu, dando o meu melhor
a cada dia que passa. — Ela se apresentou — Alguma pergunta?
Neguei. Mais nervosa ainda para me apresentar.
— Tudo bem se não quiser se apresentar, mas sempre temos que
começar por um começo — ela disse — Não precisa se sentir pressionada a
nada aqui dentro.
— Meu nome é Ravenna e tenho vinte e dois anos — comecei — Estou
morando há pouco mais de um mês com os meus tios aqui na cidade, eles têm
um rancho, você deve conhecer, Nightfall o nome.
Elena assentiu enquanto anotava alguma coisa em seu bloquinho.
— Famoso pelo treinamento de hipismo — disse.
— Sim, e eu estava ajudando com o treinamento até ter que me afastar
porque um mauricinho idiota não gostou do fora que eu dei, e pediu para eu
não treinar mais os cavalos já que irei competir também.
Só então notei o que eu havia falado, sorri, um pouco envergonhada.
— Desculpa.
Ela riu e balançou a cabeça.
— Não se preocupe, somos amigas, lembra? — assenti — Continua,
você disse que vai competir…isso é incrível. Gosta do hipismo?
— Sou apaixonada desde criança.
— Desejo toda a sorte para você nas regionais.
— Obrigada.
— E você é formada em alguma coisa? — Perguntou.
— Ensino médio conta?
Ela sorriu e assentiu.
— Então é só isso mesmo — falei — Tentei fazer faculdade de direito
e não deu muito certo, da mesma forma que tentei fazer faculdade de
medicina. Eu até que estava gostando, mas não sentia aquele amor e euforia,
só que mesmo assim iria continuar... até a morte de meu irmão.
Elena me olhou por alguns segundos em silêncio, parecendo montar um
quebra cabeça em sua cabeça.
— É por isso que está aqui?
Engoli em seco ao mesmo tempo em que concordei.
— Eu morava em Nova Iorque — comecei a falar desde o início,
sentindo-me extremamente confortável em me abrir com uma estranha.
Contei sobre tudo, desde os meus atos rebeldes de beber tanto até
dormir, de me juntar com pessoas que só queriam o meu mal e eu achava que
não. Pessoas que me ofereceram drogas na última aventura minha porque me
fizeram ter certeza que isso acalmaria a minha dor. Todas as vezes que fui
presa pelo delegado Stuart. Tudo. Eu contei tudo.
Depois de desabafar eu não enxergava mais direito a Doutora Elena em
minha frente devido aos meus olhos estarem embaçados de tantas lágrimas.
Só notei que ela estava na minha frente quando me estendeu um lenço.
O peguei, e limpei meu rosto. Minutos se passaram até ela voltar a falar.
— Sinto muito por ter passado por tudo isso, querida — ela começou
— Vamos trabalhar juntas para que isso que sente se transforme em apenas
uma dor de saudades.
— Acha que eu posso...superar a culpa? — perguntei incerta olhando
em seus olhos.
— É claro que sim! Sabe por quê? Porque você não tem culpa,
Ravenna. E eu garanto que nem consigo contar nos dedos quantas vezes já te
disseram isso. Pelo o que me contou, seus pais, seus tios, suas primas,
Dylan... todos eles são pessoas maravilhosas e que nunca a culparam.
— É apenas eu, não é?
Elena assentiu lentamente.
— Infelizmente é a consequência que passamos por ter presenciado um
episódio tão traumático. Não foi apenas um carro e uma pessoa explodindo
na sua frente. Foi o seu irmão, seu irmão gêmeo. A pessoa que estava sempre
ali para você.
Concordei.
— Nos últimos dias estava tão feliz com Dylan... por um momento me
permitir esquecer da dor — admiti aquilo que me fazia me sentir ainda mais
culpada — Acha que eu sou um monstro?
— Pelo o contrário, eu acredito que você está superando. E isso é
incrível porque poucas pessoas conseguem sozinha.
— Eu não estava sozinha.
— Verdade. Você tinha um cowboy de ombros largos ao seu lado.
Sorrimos uma para a outra. Agora entendi o porquê Elena era tão
requisitada.
Ela não era apenas uma profissional agindo como uma profissional.
Elena fazia questão de conhecer o paciente, de ser amiga dele, de
depositar confiança. Foi por isso que me senti tão bem no primeiro minuto
que passei aqui.
— Vamos superar tudo isso juntas, Raven... posso te chamar assim?
Assenti.
— Iremos iniciar um tratamento, com muitas conversas e terapia. Você
vai passar por tudo isso com a minha ajuda.
— Obrigada, doutora.
— Eu que agradeço por confiar em mim. Poucos pacientes conseguem
se abrir na primeira consulta, significa que você quer isso tanto quanto eu.
Concordei mais uma vez com ela.
— É tudo o que eu preciso.
Encontrei Dylan terminando de selar Coronel na pista de adestramento.
Assim que me viu, veio até mim e me beijou. Eu havia mandado uma
mensagem mais cedo dizendo que iria almoçar com Ali na cidade, já que
minha prima estava louca para passar no shopping e comprar um vestido para
um jantar que teria com os pais de Matthew hoje à noite.
— Como foi a consulta? — Perguntou.
— Muito boa. Elena é ótima, não imaginava que seria tão boa assim.
— Fico feliz que tenha gostado — ele acariciou meu rosto — Você é
forte e já superou tantas coisas, vai conseguir passar por isso também.
— É o que eu espero.
— Vai treinar com Tempestade?
— Sim, mas você viu ela? Passei na baia e no cercado e a égua não
estava lá.
Dylan indicou com a cabeça para algo que estava atrás de mim. Me
virei e vi Tempestade e Olaf apreciando o calor do sol bem próximos um do
outro.
— Eles estão tão apaixonados um pelo o outro — comentei sorrindo.
— Da mesma forma que nós dois e aqueles dois lá — apontou para
Billy e Nina que estavam deitados no gramado com cabeça apoiada um no
outro.
— Sempre achei que fossem amigos — falei.
— Amigos? Esses dias eles estavam se lambendo, amigos não fazem
isso.
Rimos.
— Preciso ir trabalhar, Coronel está dando trabalho na parte de
adestramento. Nos vemos depois?
— Sim, nos vemos depois — beijei seus lábios — Vou aproveitar que a
pista de saltos está disponível e treinar com Tempestade.
Ele assentiu.
— Se cuida, tudo bem?
— Eu sempre me cuido.
O beijei uma última vez antes de ir até a égua preta, que assim que me
viu soltou um sopro em cumprimento. Olaf, tão inteligente quanto ela, soltou
um relincho me saudando.
— Vamos treinar, garota? — Ela balançou a cabeça.
Tempestade estava sem sua rédea, mas apenas um toque sutil em sua
crina e ela começou a me acompanhar. Olaf fez a mesma coisa e eu sorri.
— Parece que não consegue ficar longe de sua dama, em?
Fomos os três para a pista de saltos, não era muito longe da de
adestramento.
Deixei Tempestade em frente ao cercado e entrei no galpão em busca
dos equipamentos para selar a égua. Peguei todos e fui até ela, a selei e a
levei para o meio da pista.
— Estou um pouco ansiosa — admiti para ela — Da mesma forma que
sinto que precisamos fazer isso, tenho medo de algo dar errado.
Tempestade movimentou minha mão com o nariz e eu comecei a fazer
carinho em sua cabeça. Ela gostava muito disso.
Continuei a acariciando por um tempo até o momento em subi em cima
dela para começarmos o treinamento.
Completamos três voltas para reconhecimento de campo e fomos até o
primeiro obstáculo. Saltamos com perfeição o muro para depois irmos até o
salto duplo, que também passamos com maestria.
— Caramba... desse jeito vamos ganhar, campeã — sorri enquanto
alisava seu pescoço.
Conforme o tempo passava, saltávamos por todos os obstáculos de
forma correta. Sem cometer nenhuma falta.
Era impossível não sorrir orgulhosa de todo o trabalho feito até aqui.
— Amo você, Tempestade, e vamos dar um show nas regionais.
A égua relinchou e balançou a cabeça, como se concordasse.

Conforme as semanas se passavam eu me sentia mais feliz. Tudo estava


correndo muito bem.
As consultas e o tratamento com Elena estavam me ajudando a ver a
morte de meu irmão de outra forma. Uma forma menos culposa e mais
madura, eu diria. Gostava de conversar com aquela mulher, ela me entendia e
me ajudava.
Principalmente com a minha ansiedade.
Estávamos cada dia mais próximos das regionais. Dylan mal conseguia
me dar atenção devido ao trabalho, tínhamos apenas a noite para
aproveitarmos, isso quando não estávamos exaustos e simplesmente
deitávamos na cama e dormíamos.
Afinal, eu também estava treinando muito com Tempestade. Que
mesmo sendo muito boa nos saltos, ainda ficava incerta no adestramento.
Eu e Dylan estávamos nos esforçando para que ela aprendesse bem
aquela parte, mas às vezes sentia como ela parecia incerta, com medo e até
um pouco angustiada.
Por um momento pensei em desistir.
Até que ela pareceu estabelecer um pouco mais de confiança e
obedecer mais facilmente os movimentos pedidos.
Hoje os donos dos cavalos começariam a vir para Nightfall para treinar
junto. Nem preciso dizer que Dylan estava irritado por ter que ver a cara de
Arthur novamente.
— Ele não vai tentar nada — eu disse pela segunda vez naquele dia.
Estávamos na pista de saltos, esperando Arthur, que por azar era o
primeiro do dia a começar o treinamento com o seu cavalo. Dylan teimava
em dizer que ele tentaria alguma gracinha, já que fez todo aquele drama por
eu ter dado um fora nele.
— Então esse é o seu namorado, Raven — Arthur apareceu do nada,
como sempre fazia — Esperava mais de você.
O que um fora não fazia com uma pessoa, não é mesmo? Antes parecia
ser um homem bom, agora... parecia mesmo um garotinho.
Vi quando as mãos de Dylan fecharam em punhos, Arthur também
percebeu porque engoliu em seco. Ainda por cima era covarde.
— O melhor que eu poderia arrumar — sorri de forma sínica para ele.
— Onde está o meu cavalo? Espero que tenha feito um ótimo trabalho,
não espero menos que isso. — ele disse ignorando o que eu havia falado.
— Vincent está trazendo — Dylan finalmente falou com ele — Não se
preocupe, o cavalo aprendeu bem depois de ensinar a mesma coisa umas dez
vezes. Agora está com você, não adianta ter um bom animal se não sabe
conduzi-lo.
— Eu sei muito bem como conduzir o meu cavalo.
Se isso fosse um desenho animado, eu poderia ver as faíscas de pura
raiva sendo recebida por um e retribuída pelo o outro.
Peguei a mão de meu namorado e disse:
— Com licença, preciso conversar a sós com Dylan.
Levei ele para o mais longe de Arthur, felizmente vi de longe Vincent
chegando com Sibério, isso entreteria o dono.
— O que foi?
— Você fica lindo até mesmo com essa feição de bravo no rosto, mas
relaxa, ok? Ele é que nem criança, só provoca e não faz nada.
— Ele me irrita. Com aquele sorrisinho como se fosse o dono do
mundo, como se ainda tivesse alguma chance de conseguir você. Olha a
forma como ele te olha — Dylan bufou.
— E você já viu a forma que eu olho para você? Ninguém consegue te
substituir em minha vida, cowboy.
— Eu sei disso — sua mão foi até o meu rosto — Amo você, garota da
cidade.
— Eu também amo muito você, cowboy.
Nos beijamos pouco nos importando se tinha plateia ou não. Na
verdade, meu namorado parecia gostar de mostrar que eu era a sua garota ao
baixar suas mãos e apertar levemente minha bunda.
— Você é um safado! — bati em seu ombro.
Ele riu. Sua boca desceu dos meus lábios até o pescoço e deixou um
beijo casto ali.
— Amo todinha você, Ravenna Blackwood.
Não consegui conter o suspiro de uma garota apaixonada. Eu amo tanto
esse homem que não há palavras que conseguem explicar, mas amar de
verdade é assim, não é? Inexplicável.
— Você está muito nervosa — Dylan disse naquela manhã ensolarada
de sábado, ao ver eu roendo as unhas e andando de um lado para o outro.
Claro que eu estou nervosa. Hoje é o dia da competição de hipismo.
Pela primeira vez irei competir, não tem como não ficar alterada com isso.
— E se não treinamos Tempestade o suficiente? E se ela travar ao ver
um monte de pessoas? E se eu não sou boa o suficiente? E se...
Dylan veio até mim e segurou meus ombros, me olhando nos olhos
disse:
— Pare de pensar no “e se” e foque no progresso que você teve até
aqui. Lembra como Tempestade foi bem no último treinamento? Tanto nos
saltos, como no adestramento e com as pessoas em volta da gente. Ela está
preparada amor, assim como você.
Tentei absorver aquilo e pensar positivo como ele. O último
treinamento de Tempestade havia sido um sucesso mesmo, convidamos todos
os funcionários para assistir e vibrar como se estivessem no dia da
competição. Eles fizeram tudo isso e a égua reagiu muito bem.
— Mas e...
Dylan riu interrompendo o que eu falaria a seguir.
— Sei o que vai relaxá-la.
— O que? Uma xícara de chá? Porque se for isso, pode desistindo,
esses calmantes naturais não funcionam comigo.
Ele balançou a cabeça ainda rindo do meu nervosismo. Que namorado
perfeito que eu tenho, não é mesmo?
— Vamos.
Ainda com as mãos em meus ombros me fez andar de costas até sentir
o colchão da cama nas minhas coxas.
Eu sorri, mesmo que o sexo matinal fosse uma ótima ideia, eu ainda
tinha que passar em Nighfall para conversar com meu tio, que pediu com
urgência que eu fosse até o rancho. Claro que eu estranhei e fiquei com medo
do que ele queria falar, já pensando que fosse algo relacionado a competição,
mas ele disse que não é nada para se preocupar.
— Você sabe que eu preciso ir para casa me arrumar, não é?
Dylan assentiu com aquele sorrisinho safado no rosto, me fazendo
estremecer e umedecer minha vagina.
— Serei rápido.
Dito isso ele me jogou na cama, subiu em cima de mim e me beijou.
Sua boca na minha sugando minha língua me fazendo derreter em seus
braços e simplesmente deletar da cabeça que eu tinha que ir para Nightfall
daqui a pouco.
Seus beijos descem até o lado direito do meu pescoço, ele o lambe e o
beija enquanto pega na barra da minha camisola. Se afasta um pouco e eu o
ajudo a tirá-la. Sua boca encontra meu seio, ele o abocanha enquanto
massageia o outro. Arfo ao sentir sua língua circular meu mamilo ao mesmo
tempo que sua mão puxa o bico do outro.
Arqueio os quadris, querendo muito mais daquelas sensações que só ele
consegue me causar. Dylan levanta a cabeça e sorri perverso ao notar que já
estou levemente desesperada. Sua mão desce lentamente até o meio das
minhas pernas ainda tapado pela calcinha. Ele espalma a mão na minha
vagina e eu fricciono os quadris em busca de alívio.
— Dylan... você disse que ia ser rápido — gemi ao sentir seus dedos
acariciarem a minha vagina por cima da calcinha.
— Tanta pressa assim é inimiga da perfeição, amor — provoca.
Dylan retira a mão do seio que ainda estava massageando e retira
minha calcinha com a minha ajuda. Ele abre as minhas pernas e se coloca no
meio delas novamente. Volta a abocanhar meu seio, só que dessa vez o que
ele ainda não havia feito, ao mesmo tempo em que sinto um dedo me
penetrar.
Ele chupa meu seio com vontade, o lambe e também raspa seus dentes
me fazendo estremecer.
— Você é perfeita, amor, mas isso você já sabe — ele disse enquanto
passa para o outro seio e faz o mesmo trabalho.
Sinto um segundo dedo me alargar e gemo ao mesmo tempo que fecho
os meus olhos, devo até mesmo ter puxado um pouco mais os cabelos de
Dylan em minhas mãos porque senti quando ele movimentou a cabeça.
Seu polegar encontra o meu clitóris e o esfrega enquanto suga meu seio
direito. Um terceiro dedo me alarga e dessa vez ele faz força como se fosse
seu pau entrando dentro de mim, o recebo mesmo assim, apertado.
— Porra, você é tão apertada — ele geme parecendo sentir prazer
apenas ao fazer me sentir dessa forma.
Estou preste a gozar quando ele desliza a boca por minha barriga, retira
os dedos e substitui pela a sua boca.
Minhas mãos vão de volta para seus cabelos, sem ao menos saber em
que momento os soltei. Dylan lambe minha vagina para depois chupar o meu
clitóris. Conforme intensifica os movimentos me sinto preste a desmanchar
em sua boca.
— Goza para mim, amor.
Não demora muito para o meu corpo obedecer, me entregando a um
orgasmo espetacular.
Ele engole tudo sem deixar nenhuma gota do meu gozo escapar. Sinto
minhas pernas moles quando Dylan as endireita e deita ao meu lado.
— Precisamos resolver isso aqui — eu falei passando a mão por cima
do seu pau.
Ele sorriu.
— Hoje o dia é todo seu — deu um selinho nos meus lábios — Pode
deixar que eu resolvo isso aqui.
— Dylan...
— Você está atrasada para encontrar o seu tio — me lembrou. O que
me fez sentar na cama no momento.
Verdade.
— Está mais relaxada? — perguntou, com o sorrisinho convencido no
rosto.
— Me diga como não ficar relaxada depois do que você fez comigo?
Me aproximei dele e o beijei sentindo o meu gosto em seus lábios.
— Amo você.
— Eu também — ele me deu mais um selinho — Você vai arrasar hoje.
— Eu vou — falei um pouco mais confiante.
O que um orgasmo não faz com uma pessoa.

Depois de tomar um banho e colocar uma roupa confortável fui


encontrar meu tio. Ele havia me mandado uma mensagem dizendo que estava
nos estábulos, estranhei, mas mesmo assim fui até lá.
O encontrei de frente para a baia de Tempestade e temi ter acontecido
alguma coisa com a égua.
— Ah, você chegou — ele sorriu — Como está, Raven? Ansiosa?
— Estou um pouco melhor agora, mas estava muito nervosa.
— É normal se sentir assim.
— Por que estamos aqui?
Perguntei ao notar que Tempestade parecia muito bem, comendo um
pouco do feno que tinha ali.
— Você fez um ótimo trabalho com ela — desviou da minha resposta
— Antes eu nem conseguia me aproximar e olha agora, ela não faz questão
de chegar perto e tentar amizade, mas também não é agressiva.
— Tempestade é muito inteligente, tudo isso é mérito dela.
— Não seja modesta, se não fosse por você, ela ainda teria que ser
presa no cercado porque não consegue se controlar.
Olhei para Tempestade, tão calma ao mesmo tempo que parecia muito
feliz.
Ela com certeza havia mudado muito.
— Me perguntou o porquê estamos aqui. É Simples, Raven.
Tempestade é sua agora.
Provavelmente meus olhos devem ter se arregalado tamanho a surpresa
que tive quando meu tio disse isso.
— O que? — Perguntei apenas para garantir que não havia escutado
errado.
— Mesmo que Tempestade não seja minha nos papéis, ela é de
Nightfall pelo coração e por isso estou lhe dando. Essa égua já provou que
onde quer que você esteja, ela estará junto.
— Eu nem sei o que dizer — sorri — Muito obrigada, Eitan.
— Eu só fiz minha obrigação. Entreguei Tempestade para sua
verdadeira dona.
Não resisti e acabei o abraçando forte.
— Muito obrigada. Você ouviu isso, Tempestade? Agora você é minha
— falei enquanto me afastava de meu tio.
A égua relinchou de forma contente.
— Parece que ela também está feliz com isso — Eitan observou —
Vou deixar vocês a sós, ainda preciso buscar seus pais no aeroporto.
Assenti.
— Vejo vocês daqui a pouco — falei.
Ele saiu do estábulo e foi para casa. Abri a baia de Tempestade e a
puxei delicadamente para fora.
— Precisamos escovar esses pelos para ficar bem bonita para hoje.
Ela relinchou.
Peguei a escova limpa e comecei a escovar. As marcas de violência
ainda estavam ali e sempre me deixavam entristecida com o que haviam feito
com a égua. Agora felizmente ela estava sã e salva, somando com o fato de
ter uma dona que a amava.
— Preparada para ganhar, Tempestade?
Um sopro e um balançar levemente a cabeça para cima e para baixo foi
o suficiente para saber que ela estava mais que preparada.

— Ai meu Deus! Estou tão nervosa — mamãe falou ao meu lado —


Você não está filha?
— Raven tomou um calmante natural antes de sair de casa — Dylan
disse.
Eu quase engasguei com a minha própria saliva. Isso era coisa que se
contasse? Não que meus pais fossem entender, mas havia Matthew e Alisson
bem ali do nosso lado.
— Pensei que calmantes naturais não funcionassem com você — meu
pai franziu a testa.
— Esse funcionou muito bem.
Pisei no pé de Dylan discretamente. Percebi Matthew e Ali segurarem a
risada, enquanto meu namorado reprimiu o gemido.
— Eu estou ótima — mudei de assunto — Vocês viram Rebeca?
— Ela está com Amélia, daqui a pouco aparecem por aqui — minha tia
disse.
Estávamos no local onde aconteceria as competições. Tempestade
estava do meu lado, atenta a todos os movimentos, mas nem um pouco tensa.
Logo o primeiro candidato começaria e todos deveriam subir nas
arquibancadas, enquanto eu e Dylan ficaríamos ali esperando a minha hora de
entrar na pista.
Ivana, Jimmy e Hannah se aproximaram de nós.
— Ah, querida, você está linda! — Minha sogra me abraçou.
— Obrigada — abracei de volta.
Quando nos afastamos fui abraçado por Jimmy e Hannah, que olhava
emocionada para o meu pai. Tive que prender o riso, a irmã de Dylan era uma
fofa.
— Pessoal essas são Ivana e Hannah, mãe e irmã de Dylan e esse é
Jimmy, o padrasto — os apresentei.
Todos se cumprimentaram.
— Pai, essa mocinha aqui é uma grande fã do seu trabalho — Indiquei
a Hannah que arregalou levemente os olhos.
— É mesmo? Que incrível! Também quer cursar direito?
— Si.. sim — Hannah se embolou nas palavras, parecendo um pouco
nervosa — E talvez tenha a sorte de me tornar uma ótima profissional que
nem você.
— Tenho certeza que irá conseguir — Meu pai sorriu.
— E Hannah, como prometido — alisei a cabeça da égua ao meu lado
— Essa aqui é Tempestade.
A irmã mais nova de Dylan olhou para égua com os olhos brilhando de
encantamento. Eu entendia, era impossível não se apaixonar pela beleza da
minha égua.
— Ela é linda — Hannah elogiou, mas evitou se aproximar.
— Vamos lá pegar nossos lugares, querida? — Eitan perguntou a
minha tia que assentiu.
— Nos vemos mais tarde, boa sorte, Raven.
Sorri em agradecimento.
Eles foram até arquibancadas deixando meus pais para trás.
— Antes de eu e sua mãe irmos quero dizer que estamos muito
orgulhosos de você, Rav — meu pai começou, o apelido que era exclusivo de
meu irmão me fez voltar a sorrir — Você chegou em Nightfall querendo
desesperadamente voltar para casa, mas acabou se encontrando aqui com a
ajuda de seus tios, suas primas, Tempestade, Nina e meu genro, Dylan.
Minha mãe concordou.
— Já falamos isso aquele dia, mas irei repetir: você se tornou uma
mulher incrível e estou muito orgulhosa.
Senti meus olhos umedecerem de emoção. Olhei para o meu namorado
que nos observava com um sorriso discreto no rosto.
— Eu amo vocês — os abracei.
— Nós também amamos muito você — meu pai disse — Você vai
arrasar com Tempestade.
— E irá para as nacionais — minha mãe completou.
Me desfiz do abraço e eles seguiram meus tios para a arquibancada.
— Vamos acompanhá-los também — Jimmy falou — Só passamos
aqui para dar um oi.
Assenti e eles se afastaram me desejando boa sorte.
— Remédio natural, hum? — Matthew não perdeu a chance de
provocar, recebendo uma cotovelada de Ali — Aí, amor.
Eu e Dylan rimos.
— Nem sei o que dizer depois de todo o discurso motivacional de seus
pais, então, boa sorte prima — Alisson me abraçou.
— Isso já vale — a abracei de volta.
— Hoje vamos comemorar sua vitória por minha conta no Sweet
Dreams — Matthew disse assim que me desfiz do abraço — Drinks
maravilhosos e sem álcool.
— Então não é um drink — brinquei com ele.
Matthew sabia dos meus problemas que me trouxeram até Nightfall,
por isso teve a ideia da comemoração ser com coquetéis sem álcool.
Por mais que eu não dependesse mais dessa droga para esquecer, beber
ela ainda me fazia lembrar de toda a dor que sentia quando a usava como uma
válvula de escape.
— Você vai dar um show, Raven — ele piscou.
— Estou começando a me sentir nervosa de novo diante de tantas
expectativas.
Senti os braços de Dylan circularem minha cintura e seu corpo grudar
atrás do meu.
— Precisa daquele remédio de novo? — sussurrou no meu ouvido.
Eu ri.
— Essa é a hora que a gente sai daqui, princesa — ouvi Matthew dizer
para Alisson.
— Nos vemos depois — Ali acenou, pegou a mão de Matthew e foram
para a arquibancada.
Me virei para Dylan e abracei seu pescoço.
— Por mais que eu quisesse esse remédio novamente, vai ter que
esperar para mais tarde — dei um selinho em seus lábios — O júri de campo
já está entrando na pista.
Ele sorriu.
— Vamos comemorar muito bem sua vitória hoje de noite, garota da
cidade.
— Mal posso esperar, cowboy.
Nos beijamos mais uma vez antes de darmos atenção para Tempestade.
Fiz uma inspeção rápida para ver se não faltava nada na égua, felizmente não.
— Nem tive a oportunidade de dizer que está linda com essa roupa —
Dylan elogiou.
Eu estava vestindo uma calça branca de montaria, junto com minhas
botas pretas. Para tapar a parte de cima optei por uma blusa de manga curta
branca com um blazer preto por cima.
— Obrigada — agradeci.
— Chegamos! — Rebeca disse se aproximando com Fire e Amélia.
— Daqui a pouco o júri já vai chamar — Amélia disse — Trouxe seu
capacete.
Me entregou o capacete preto. Não acredito que havia me esquecido
dele.
— Eu nem notei que havia esquecido — admiti.
Rebeca riu.
— Faz parte do nervosismo.
Coloquei o capacete de hipismo e Dylan veio até mim para me ajudar a
prendê-lo.
— Senhoras e senhores sejam muito bem-vindos as regionais — O júri
saudou no microfone levando a plateia a aplaudir e gritar de animação —
Hoje dois campeões irão para as nacionais, que acontecerá aqui mesmo na
cidade e devido a um forte temporal no fim de semana que vem, foi adiantado
para amanhã. Quem está animado?
Mais um coro de gritos e aplausos.
— Então não vamos enrolar muito por aqui. Iremos chamar o primeiro
candidato, ele está competindo pela primeira vez e está confiante. Arthur
Sander.
O filho do prefeito entra na pista ao lado de Sibério e acena para a
plateia que o aplaude. Parecia seguro demais para quem havia treinado muito
mal nos últimos dias em Nightfall.
— Aposta quanto que o engomadinho vai perder? — Rebeca jogou a
pergunta no ar.
— Não aposto porque sei que ele vai perder — Amélia respondeu —
Arthur não nasceu para o hipismo.
Dylan concordou ao meu lado.
— Com certeza ele perde.
Arthur montou Sibério e começou a andar em círculos. Percebi que ele
já começou errado ao dar apenas uma volta com o cavalo e ir direto para o
primeiro obstáculo. Como se tratava do muro, o animal pulou sem problemas.
— Isso não vai ser bom — Dylan disse.
— O cavalo pode se recusar a saltar, não é?
Meu namorado assentiu.
— Pouco tempo de reconhecimento e muita pressa em saltar não da boa
coisa.
Dito e feito. Arthur estava levando o cavalo para o triplo, quando
aconteceu o refugo.
Por regra, na primeira desistência do cavalo é descontado 4 pontos, mas
se houver uma segunda... é eliminado da prova.
E foi exatamente o que aconteceu. Arthur insistiu em pular novamente
naquele obstáculo e Sibério se recusou.
Sendo vaiados por alguns e aplaudido por poucos galopou até a saída.
— É uma pena — o júri apareceu novamente dizendo — Mas
infelizmente nem sempre estamos em um bom dia para ganhar.
Vi quando Arthur desceu do cavalo e caminhou a passos largos para
longe da atenção de todo mundo, parecendo furioso.
— Vamos chamar agora Alice Smith — O júri apresentou.
Uma garota morena e um cavalo marrom entraram na pista de
treinamento. Ela montou e começou a dar voltas de reconhecimento e
diferente de Arthur, deu três delas.
Conforme ela passava com perfeição nos obstáculos eu começava a
ficar um pouco mais nervosa do que antes.
Alice passou por todos sem cometer uma falta e recebeu muito
aplausos.
— É a minha vez agora — Rebeca disse.
Ela foi chamada na pista pelo júri e também deu um show ao passar por
todos os obstáculos sem cometer uma falta.
— Você vai fazer igual — Dylan me tranquilizou — Não se preocupe.
Sorri.
Mais dois candidatos foram chamados, um cometeu uma falta e outro
duas, mas nada que os desclassificassem. Até que era a minha vez.
Peguei a rédea de Tempestade e fomos até a pista. Observei meus pais
na arquibancada, com sorrisos nos rostos e torcendo por mim, retribui o
sorriso.
Respirei fundo e montei em Tempestade.
Conforme nossos treinamentos dei três voltas pela pista a fazendo
reconhecer o campo, para depois ir até o primeiro obstáculo.
Saltamos pelo muro e fomos para o obstáculo duplo que também
passamos sem cometer nenhuma falha.
Um pouco mais confiante, alisei seu pescoço como forma de
parabenizá-la antes de pularmos o oxer.
Conforme passávamos pelos obstáculos da pista sem nenhuma falta eu
soube que iriamos para a próxima fase.
E foi exatamente o que aconteceu.
Eu e Tempestade passamos não cometemos nenhuma falha na primeira
prova levando todo as pessoas a aplaudirem. Acenei para os meus pais que
estavam contentes com tudo que haviam visto.
Desci de cima de Tempestade e a levei para fora da pista, encontramos
Dylan na saída nos esperando.
— Vocês foram perfeitas — ele beijou meus lábios.
— Foi incrível — eu falei — A sensação de fazer isso é inexplicável.
— Demais, não é? — Amélia parou ao meu lado.
Assenti.
Vi meus pais, a família de Dylan e meus tios se aproximando de nós,
atrás deles estavam Alisson e Matthew.
— Querida, você e Tempestade foram incríveis — minha mãe elogiou.
— Parabéns, Raven — Ali desejou.
— Obrigada.
— E o que acontece agora? — Matthew perguntou.
— O júri vai anunciar quem vai para as nacionais agora. — Amélia
respondeu.
— São só os saltos? — meu pai perguntou.
— Nas regionais sim — Dylan respondeu — Nas nacionais entra o
adestramento como prova também e nas internacionais o CCE.
Nos calamos ao ver o júri entrar na pista com um papel em mãos.
— Aqui estou eu com os finalistas, com dois nomes que irão para as
nacionais — abriu o envelope — As sortudas que conseguiram saltar
perfeitamente em menos tempo são....
Fez um pouco de suspense antes de soltar:
— Rebeca Johnson e Ravenna Blackwood.
Gritamos. Definitivamente gritamos de alegria, ao mesmo tempo que
eu era abraçada por meus tios, pais, primas, Matthew, Dylan e sua família.
— Nós vamos para as nacionais — Rebeca comemorou me abraçando.
— Nós vamos! — A abracei apertado de volta.
Nos soltamos e eu abracei Tempestade, sem ela nada disso seria
possível.
— Estou muito orgulhosa de você, mocinha — encostei minha cabeça
em seu pescoço — Amo você, Tempestade.
A sua cabeça encostou em meu ombro e eu senti seu sopro em meus
cabelos.
Um pigarreio chamou nossa atenção. Me virei para ver quem era e
reconheci o homem que estava na festa da cidade conversando com Amélia e
meu tio. Se eu não me engano o nome dele era Marcel.
— Com licença — ele sorriu, estranhamente me senti tensa, da mesma
forma que Tempestade ao meu lado.
— Marcel, em que posso ajudar? — Amélia perguntou.
— Procurei essa égua por um bom tempo, nunca imaginaria que estava
com os meus futuros sócios — eu gelei por dentro ao ouvir o que disse.
— O que você quer dizer com isso? — Minha tia perguntou, o medo
estava estampado em seu rosto.
— Quero dizer que Tempestade é minha e eu a quero de volta.
Ravenna estava gelada.
Percebi isso ao tocar seu braço para trazê-la de volta a nossa realidade.
Marcel era o dono de Tempestade.
Não só o dono. Mas o homem que a torturou de uma forma tão
monstruosa que quase a fez perder a alma gentil e dócil que tem.
— Você não pode tê-la de volta — eu tomei a frente em dizer o que
todos ali pensavam.
Marcel riu.
— E por que exatamente eu não posso ter a minha égua de volta?
— Porque você maltrata esses animais como se não fossem nada —
Eitan disse — E agora que sei que é você, não haverá negócios entre nós
dois.
— Maltrato? E que provas você tem contra isso? Essa égua fugiu em
uma noite de tempestade e ainda por cima grávida. Com certeza se machucou
ao pular cercas e tentar escapar.
— Você não pode levá-la — Millie repetiu o que eu disse — Ela é
nossa agora.
— Ela sempre foi minha, tenho papeis que provam isso e vocês não
querem se incomodar, não é mesmo?
Olhei para Ravenna, seus olhos estavam lacrimejados e ela observava
tudo provavelmente pensando o mesmo que eu: teríamos que entregar.
Marcel é um homem muito fluente na cidade. É horrível saber como
consegue sua fortuna agora. Não é apenas com as vendas de cavalos
inteligentes e bons, mas sim com a tortura, os fazendo obedecer até serem
bons o bastante para o mercado.
Ele se aproximou de Tempestade que ao reconhecê-lo ficou agitada.
— Sentiu minha falta? — conseguia enxergar o sorriso maldoso dele na
minha frente e tive que reprimir a vontade de socar a sua cara até ver sair
sangue.
Eu precisava manter a calma.
Ele não venceria assim tão fácil. Eu tinha provas quanto ao que Marcel
e sua equipe de homens imundos fizeram com Tempestade. Provas o
suficiente para colocá-lo na cadeia.
Ele agarrou a rédea da mão de Ravenna, mas minha namorada não
soltou.
— Por favor — ela finalmente disse. A voz expressando toda a dor que
sentia — Não a leve. Fazemos qualquer coisa, um acordo ou melhor, eu
compro ela de você.
— Ela nunca esteve a venda.
Tentou puxar as rédeas, mas Ravenna segurava fortemente.
Tempestade estava começando a se irritar. Percebi ao notar seu rabo
balançar de um lado para o outro, assim como estava com medo, coisa que
também percebi no seu olhar.
— Não, por favor, não — Ravenna implorou, em prantos.
— Filha... — Anthony tentou dizer algo, mas parecia sem saber ao
certo o que falar.
— Você não pode fazer isso — Raven falou — Eu a amo. Você não
pode chegar aqui e pegá-la de mim, não agora que estávamos progredindo.
— Eu vi o show que vocês deram hoje — ele disse — Finalmente ela
aprendeu a saltar direito.
Vi quando os olhos de Ravenna passaram de tristeza para fúria.
— Você é um monstro! — ela finalmente disse o que estava guardando
desde que ele se apresentou como dono da égua. — Um monstro.
Marcel riu.
— Não sabe o que fala, criança — puxou fortemente a rédea das mãos
de Ravenna — Obrigada por tomar conta do que é meu.
— Eu vou denunciá-lo e a pegarei de volta — Ravenna disse.
— Boa sorte com isso.
Peguei seu pulso, pouco me importando em fazer uma força a mais que
deixaria marca em sua pele branca.
— Você pode ir tirando esse sorrisinho da sua cara — comecei —
Porque agora que eu sei quem faz isso com esses animais não me cansarei até
por você atrás das grades.
— Vocês estão delirando, só pode — sorriu falsamente — Nunca
encostei de forma violenta nesses animais.
O teatro estava claro em cada gesto e comportamento que ele
apresentava.
— É o que vamos ver — falei, por fim. Larguei seu pulso.
Foi uma luta para ele conseguir afastar Tempestade de Ravenna. Os
olhos demonstrando todo o pavor que sentia ao estar nas mãos daquele
homem novamente nunca sairiam da minha cabeça.
Quando os dois sumiram de vista, Ravenna se ajoelhou e chorou.
Meu coração se quebrou ao ver a cena. Um momento que era para ser
tão feliz e repleto de comemorações foi transformado em um verdadeiro caos,
com a mais pura dor.
Eram soluços enquanto ela nem conseguia respirar direito tamanho o
choro que saia do fundo da sua alma.
Me ajoelhei ao seu lado, assim como seus pais e Alisson. A abracei
forte, tentando passar algum conforto que eu sabia que não viria.
Sem perceber eu estava chorando junto.
— Vamos trazê-la de volta, amor — alisei seus cabelos enquanto falava
— O mais rápido possível.
Anthony e Beatrice a abraçaram depois de mim.
— Calma, meu amor, seu pai está aqui e vai ajudar — beijou o topo da
sua cabeça — Ele nem vai ter tempo de fazer mal para Tempestade.
— Eu... eu...
Ela nem ao menos conseguia falar.
Olhei para Amélia e Rebeca que assim como todos estavam com
lágrimas nos olhos.
Anthony se levantou e deu lugar para Millie, que a abraçou junto com a
mãe. Ele veio até mim e encostou a mão em meu ombro, me guiando para
longe de Ravenna e dos outros.
Enxugou as lágrimas e disse:
— Precisamos fazer alguma coisa, mas é difícil sem provas.
— Eu tenho fotos do dia que encontrei Tempestade, precisei tirá-las
para levar até um consultório médico.
— Ótimo, mas ainda sim não é perfeito — falou — Mas é o suficiente
para abrir uma investigação. Precisamos de testemunhas.
— Falar com antigos funcionários ajudaria? — Eitan se intrometeu na
conversa.
— Podemos tentar — Anthony disse — Eles devem ter um bom motivo
para não ter o denunciado ainda, pode ser difícil convencê-los.
— E se trabalharmos com o elemento surpresa? — eles me olharam
sem entender nada — Apresentamos essas provas para o delegado, ele abre
uma investigação, consegue o mandato e entramos na fazendo de Marcel.
Podemos encontrar cavalos machucados lá.
Anthony concordou.
— É uma ótima ideia, só precisamos que o delegado concorde com
isso.
— Vamos para a delegacia agora — Eitan disse — Está com as fotos
no celular?
Assenti. Eu nunca havia apagado.
Olhei para Ravenna, ela parecia um pouco mais calma, estava sentada
em uma cadeira e tomava um pouco de água enquanto encarava um ponto
fixo, perdida em pensamentos. Me aproximei dela e me agachei ao seu lado.
— Eu tenho as fotos de como Tempestade chegou em Nightfall, vamos
ir apresentar ao delegado — contei— Vamos conseguir ela de volta o mais
rápido possível sã e salva.
Uma chama de esperança pareceu brotar em seu olhar. Raven se
levantou e eu fiz o mesmo.
— Vamos agora mesmo para delegacia — ela disse, ainda com a voz
embargada.
Segurei sua mão.
Minha mãe que estava até agora parada observando tudo com Jimmy e
Hannah se aproximou de nós dois.
— Vamos ir para casa — ela anunciou — Me avisem se precisar de
qualquer coisa.
Assenti e abracei rapidamente. Ela abraçou Raven e acenou para os
outros.
Anthony e Eitan estavam conversando com suas mulheres e assim que
viram eu e Ravenna prontos, se despediram.
— Boa sorte — Beatrice desejou.
Com certeza era o que precisaríamos.

— Eu fiz o pedido urgente de um mandato para a fazenda de Blake,


mas só terei retorno daqui vinte e quatro horas. — O delegado William Davis
nos informou.
— O que? — Ravenna perguntou — Isso é muito tempo, não temos
tudo isso.
— Sinto muito pelas nacionais, você vai perde-la, mas não tem mais
nada que eu possa fazer.
Disse se referindo a competição que aconteceria amanhã de manhã.
Com certeza Ravenna perderia, mas também tinha certeza que ela não estava
pensando nisso.
— Eu não me importo em perder as nacionais, eu só quero Tempestade
de volta — ela disse — Você ouviu tudo o que dissemos?
— Cada detalhe, inclusive que vocês ficaram com uma égua selvagem
arriscando a vida de pessoas.
— A raça dela não é selvagem, portanto ela não é uma, mas sim se
tornou — eu me intrometi — Por culpa de Marcel.
— Estou tão abalado como vocês nesse assunto, mas não posso fazer
nada, não sem um mandato.
— Entendemos, William. Iremos aguardar — Anthony disse. — Como
se trata de maus tratos de animais sei que a juíza liberará o mais rápido
possível, bem antes de vinte e quatro horas.
William concordou.
— Exatamente. O que posso pedir agora é para vocês irem descansar,
ligo quando eu tiver algum retorno.
Assentimos, mesmo que estivéssemos relutantes quanto a isso.
— Nos vemos amanhã — Anthony se despediu — Vamos, querida.
Guiou Ravenna com uma mão em suas costas até a saída da sala do
delegado. Eu e Eitan fomos os últimos a sair.
Quando entramos no carro e Anthony deu a partida, tudo o que
conseguíamos ouvir era o som baixo que saia do alto falante do rádio no
carro.
O resto era o mais puro silêncio. Cada um perdido em pensamentos.
Chegamos em Nightfall alguns minutos depois. Minha caminhonete
havia ficado com Matthew para trazer as mulheres para casa e agora ela
estava ali na frente.
— Dorme aqui comigo? — Raven pediu assim que o pai e o tio
entraram dentro de casa.
Não sabia o que os donos da casa achariam, mas assenti mesmo assim.
Ravenna precisava de mim.
Entramos e todos estavam na sala, com caras tristes e sem saber o que
fazer a partir de agora.
— Irei preparar o jantar — Millie disse — Seja bem-vindo, Dylan.
— Eu não irei jantar — Raven falou — Não estou com fome.
— É bom você comer alguma coisa, querida — Beatrice tentou
persuadi-la, mas sem sucesso.
Ravenna subiu as escadas até o seu quarto e eu estava preste a seguir,
quando fui interrompido.
— Cuide dela — Anthony pediu — Ela está muito mal com tudo isso.
Assenti.
— Irei cuidar.
— Depois levo uma comida para vocês — Beatrice disse.
Concordei e subi, não sabia onde era o seu quarto, mas encontrei a
segunda porta do lado direita aberta e foi nela que entrei. Ravenna estava
retirando o blazer quando eu fechei a porta.
— Sei que você não tem roupa aqui, talvez queira ir até a sua casa para
buscar.
— Tudo bem, eu durmo de cueca.
Ela assentiu.
Nina e Billy estavam deitados na cama da cadela observando tudo. Eu
havia deixado os dois juntos na casa dos tios de Ravenna e pelo jeito meu
cachorro havia amado a cama espaçosa da namorada.
— Estou com medo — Raven admitiu ao jogar o blazer em qualquer
canto do quarto.
— Não precisa ficar — falei — A gente vai conseguir ela de volta.
— E se não for suficiente? E se não tiver nada lá?
— Eu tenho certeza que Marcel não mudou seus métodos de ensino e
por isso vamos conseguir colocar esse homem atrás das grades.
— Tomara.
Ela suspirou.
— Vou tomar um banho.
Assenti. Ravenna pegou uma camisola e uma calcinha e foi para o
banheiro do seu quarto.
Me sentei na cama e pensei em maneiras de tentar acalmar o coração da
mulher que eu amo.
Ravenna estava muito aflita e é claro que eu também estava, só tentava
não demonstrar tanto. Eu havia cuidado de Tempestade, a salvado, gostava
muito da égua preta e arisca, que conforme o tempo foi passando percebi que
não tinha nada disso.
Eu só esperava que Marcel não encostasse os dedos imundos em
Tempestade. Ela não merecia passar por isso de novo.
Alguns minutos depois Ravenna saiu do banho vestida com a camisola
de ceda azul. Veio até a cama e se deitou nela, percebi que segurava o choro.
Ver aquilo fez que meu coração doesse mais ainda. Queria ser capaz de
tirar tudo isso que ela estava sentindo, mas não conseguia, porque também
sentia o mesmo.
Me deitei ao seu lado e abracei seu corpo. Ela tremeu e começou a
chorar.
Deixei que derramasse todas as lágrimas que tinha para serem
derramadas ali naquele abraço, enquanto eu tentava ser forte para não me
entregar a mesma névoa de dor e desesperança.
Iriamos conseguir Tempestade de volta, eu tinha certeza.

No dia seguinte acordamos com batidas na porta. Era Anthony


avisando que o delegado havia ligado e que o mandato estava liberado.
Nos arrumamos correndo e tomamos um rápido café para encontrar o
delegado Davis na entrada da fazenda de Marcel.
— Vocês não precisavam vir, mas como fazem questão de acompanhar
peço que fiquem em silêncio enquanto eu e minha equipe trabalhamos —
disse para mim, Raven e Anthony.
Eitan havia preferido ficar em casa.
Concordamos com o delegado.
Um dos policiais se identificou no portão e sem ter outra alternativa o
guarda liberou nossa entrada.
A fazenda era gigante, com muitos cavalos livres pelo gramado.
Andamos até achar a casa de Marcel, ele se encontrava na frente da mansão
com os braços cruzados e as sobrancelhas arqueadas.
— Por que não estou nem um pouco surpreso com essa visita? — Ele
perguntou com a pose de confiança de sempre.
— Senhor Blake temos um mandato que nos autoriza a revisar sua
fazenda, sobre acusações e provas de maus tratos a animais. — O delegado
apresentou.
— Fiquem à vontade, não irão encontrar nada.
Senti medo de sua confiança e percebi que Raven também sentiu. Os
policiais começaram a investigação, alguns foram para o lado direito e outros
para o lado esquerdo.
— Vocês não se cansam, não é mesmo? — Marcel perguntou assim
que ficamos a sós — Não irão encontrar nada aqui.
— É o que você está tentando nos convencer e convencer a si mesmo
— Anthony disse — Todo mundo deixa um furo, Blake e tenho certeza que o
seu é o maior deles.
Marcel travou a mandíbula, os olhos furiosos em cima de nós.
Minutos se passaram até que as equipes voltaram a se aproximar.
— Nada? — Delegado perguntou para um dos seus homens que negou
— Também nada do lado que checamos.
— É porque não tem nada — Marcel riu — Você não pode acreditar
em tudo que vê, delegado, tem sorte de eu estar em um ótimo humor e não
querer ir buscar meus direitos por essa visita ridícula.
— Não é possível... — Raven murmurou — Não, não, não.
A abracei, sentindo o mesmo desespero que ela.
— É possível sim, querida — o sarcasmo e deboche escorrendo por sua
fala.
— Vamos embora agora, Marcel — o delegado anunciou — Desculpa
incomodá-lo.
Ele acenou e se virou de costas em direção a sua mansão.
— Não, por favor, delegado. Olhem de novo — minha namorada pediu,
desesperada.
— Amor...
— Não podemos fazer mais nada se não houver provas mais coerentes
que liguem essas fotos a Marcel — ele disse.
— E você vai deixar ele destruir aquela égua de novo? — Raven se
alterou — Quantos animais ele já não deve ter matado? Vocês não fazem
porra nenhuma.
A abracei mais contra o meu corpo.
— Raven, vamos arrumar outra forma — Anthony disse.
— Até lá Tempestade pode estar morta nas mãos desse imundo —
voltou a chorar.
— Não vai — murmurei contra seus cabelos — Vamos pensar positivo.
Começamos a caminhar em direção a saída daquela fazenda quando
Ravenna simplesmente para.
— O que é aquilo?
Apontou para uma árvore.
Uma árvore não, várias delas. A fazenda de Marcel tinha uma parte da
floresta da cidade privada apenas para ele. Não entendi o porquê Ravenna
apontava para tantas árvores até ver melhor.
Era quase imperceptível, mas estava lá.
No meio de tantas arvores cheias e mato estava um tipo de estábulo.
Camuflado com a cor da mata.
Senti meu coração saltar no peito.
Ninguém esconde um estábulo se não tem nada a temer.
Os policiais e o delegado pareceram perceber a mesma coisa e foram
até lá.
— Vocês fiquem aqui — William pediu.
Ravenna quis ir junto, mas a segurei.
— Melhor obedecermos — eu falei.
— Mas o que ainda estão fazendo aqui? — Marcel apareceu perto de
nós e ao ver para onde os policiais estavam indo ficou ainda mais pálido.
— Acabou para você — Ravenna disse — Tenho certeza que o que
procuramos está lá.
Três policiais vieram correndo até nós ao mesmo tempo que Marcel
tentou se movimentar para fugir, mas foi preso por Anthony.
— Você pegará bons anos por todos esses pecados — ele disse.
— Marcel Blake, você está preso por maus tratos aos animais, você tem
o direito de permanecer calado, tudo o que disser poderá ser usado contra
você no tribunal — o policial prendeu as mãos de Marcel para trás com
algemas.
— Leve-o para o carro — o delegado disse — E chame o controle de
animais.
William nos observou e deu um sorriso fraco e triste.
— Vocês estavam certos, afinal. Aquele lugar tem quatro cavalos com
marcas de agressões e desidratados, precisam urgentemente de tratamento.
Raven soluçou.
— Meu Deus! Isso é horrível... como ele pode? Como ele consegue
dormir à noite?
Engoli em seco, sentindo o mesmo que ela estava sentindo. Aquilo era
terrível de tantas maneiras.
— A partir de hoje não conseguirá dormir — o delegado falou —
Colchão duro e sem travesseiro dentro de uma prisão.
— É o que ele merece — Anthony concordou.
De longe observei Tempestade, felizmente ela não estava com os
feridos, mas sim no campo aberto da fazenda.
— Raven, olhe para trás.
E ela olhou.
Tive um déjà vu ao ver minha namorada correndo até a égua e
Tempestade vir até ela com a mesma velocidade. Quando se aproximaram,
ela inclinou, relinchando alto da mesma forma quando se conheceram, para
depois se abaixar e encostar o nariz no peito de Ravenna.
— Uau, isso é...
O delegado ao meu lado estava sem palavras.
— Isso é amor, compaixão e conexão — eu completei sua frase — O
que aquelas duas tem, William, não pode ser comparado a nada.
Ele assentiu, concordando.
Ravenna estava abraçada a Tempestade que demonstrava no olhar o
quão contente estava por estar naqueles braços novamente.
— Minha filha está em casa... — Anthony disse, observando a cena
com emoção.
Raven se aproximou com Tempestade que ao nos ver soltou um sopro
em comprimento.
— É bom ver você bem, garota — alisei seu pescoço.
— O que fazemos agora? Eu posso ficar com ela, não é delegado? —
minha namorada perguntou.
— O certo era ela ficar sobre o controle de animais e você tentar adotá-
la com eles, mas irei poupar vocês duas disso — piscou — Só não conte a
ninguém que estou fazendo isso. Tempestade é sua, Ravenna.
Ela soltou um gritinho de alegria ao mesmo tempo que pulou e abraçou
a égua.
— Agora é oficial meu amor, você é minha.
Observei Tempestade e Olaf correrem por todo o rancho de Nightfall.
A beleza do preto e o branco com o gramado verde era a mistura mais linda e
perfeita que já havia visto.
Nós havíamos conseguido resgatar Tempestade e foi da forma mais
rápida possível, exatamente como Dylan e meu pai disseram.
Só de lembrar toda a dor e medo que senti ao ver aquele monstro a
pegando de mim me deixava mal. Por um momento eu pensei que não
conseguiria tê-la de volta. Por um momento achei que a perderia para sempre.
Mas ainda bem que Dylan guardou aquelas fotos em seu celular, imagens que
eu nem fiz questão de olhar para não me deixar pior.
Tudo estava acabado agora.
Marcel foi condenado a cinco anos de prisão. Eu ainda achava pouco,
mas saber que seus bens, dentre eles, a sua fazenda, haviam sidos
confiscados, me deixava um pouco mais aliviada. Ele não voltaria a encostar
um dedo nesses animais. Estava proibido de administrar qualquer outro tipo
de negócio que os envolvia.
E agora Tempestade era minha por direito. Com artimanhas que eu fiz
questão de não entender, o delegado William Davis conseguiu os papeis
oficializando eu como dona dela. Claro que eu o agradeci inúmeras vezes,
recebendo um sorriso e uma gratidão por ter os mostrado quem realmente era
Marcel Blake.
Não conseguimos participar das nacionais, mas conseguimos salvar a
vida de muitos animais e isso é ainda melhor do que qualquer vitória, do que
qualquer dinheiro, do que qualquer medalha.
— Você está pensativa — Dylan disse ao meu lado.
Estávamos sentados embaixo de uma das árvores de Nightfall.
— Estou pensando que no final tudo deu certo — sorri e deitei minha
cabeça em seu ombro — Olha como eles são lindos.
Agora Tempestade e Olaf estavam parados e bem próximos, naquela
linguagem que só eles entendiam. Nina e Billy também estavam conosco,
mas como sempre correndo e rolando pelo gramado em brincadeiras e
cumplicidade que só eles tinham.
— Eu te disse que tudo ficaria bem — ele me abraçou de lado — Agora
ela é sua de verdade.
Assenti.
— O que acha de darmos uma volta? — Dylan convidou.
— Posso saber para onde vamos?
Ele se levantou e estendeu a mão para mim, a peguei e fui puxada para
cima.
— Não. É uma surpresa.
Franzi a testa sem entender, mas o segui. Caminhamos de mãos dadas
por quase todo o rancho de Nightfall até chegar no lago. Havia uma toalha de
piquenique no chão, com uma cesta de frutas, biscoitos e sucos, tudo embaixo
de uma árvore que fazia uma bela sombra para o calor fraco da tarde do
Tennessee.
— Sua mãe e sua tia fizeram os biscoitos — disse.
Meus pais ainda estavam no rancho, só iriam embora no próximo fim
de semana. A essa hora, meu pai deveria estar com meu tio vistoriando os
gados e minha mãe com sua irmã, ambas tinham ido na cidade para fazer
compras de mulheres mais velhas. Palavras delas, não minhas.
— Então devem estar maravilhosos — eu falei.
Nos sentamos na toalha posta sobre o chão.
— Por que tudo isso? — Perguntei curiosa.
— Não posso querer agradar minha namorada?
— Claro que pode seu bobo, só estou surpresa, faz tempo que não
fazemos algo parecido.
— Pensei em mudar isso — pegou um morango na mão e levou até a
minha boca, o aceitei assim que aproximou a fruta dos meus lábios — As
últimas semanas foram agitadas, muito treinamento, muita pressão e para
completar todo o ocorrido com Tempestade.
Concordei.
Mastiguei o morango, apreciei a fruta geladinha e doce natural, sem
nenhum amargor.
— O que vai fazer agora que não tem mais cavalos para treinar em
Nightfall? — Perguntei.
— Quero abrir meu próprio consultório veterinário.
Sorri, não escondendo o orgulho que sentia dele.
— Vai ser incrível. Já tem tudo planejado? Vai ser na cidade ou no seu
rancho?
— Prefiro abrir no meu próprio rancho. Não são só cachorros e gatos
que virão consultar, serão também gados, cavalos, animais de qualquer raça e
tamanho.
— É uma ótima ideia, assim você diminui as visitas e os trata na sua
própria casa.
Ele concordou.
— Mas ainda estou indeciso quanto a isso — admitiu — Um centro
veterinário é ainda melhor do que um consultório.
Com certeza. Eu pensei. Um centro veterinário seria como um hospital,
vinte e quatro horas de atendimento, emergências, cirurgias, tudo para
atender melhor o animal e ele não ter que ir até a cidade vizinha onde tem o
único hospital veterinário da região.
Eu poderia ajudar nisso. Meus pais haviam feito uma poupança para
mim quando eu ainda era um bebê. Nunca mexi naquele dinheiro, segundo
eles, era para movimentá-lo apenas quando eu quisesse fazer muito algo, por
exemplo, montar meu próprio negócio.
— E você? — Dylan interrompeu meus pensamentos — O que vai
fazer agora que não tem mais que competir?
Olhei nos seus olhos e vi mais do que aquela simples pergunta. Parecia
um pouco incerto sobre o meu futuro em Nightfall agora que não tinha mais
uma competição para me prender aqui. Sorri, e tentei passar a tranquilidade
que eu sentia.
— Quero ficar aqui, esse é o meu lugar. Não se preocupe, cowboy, já te
disse que você vai ter que piorar as coisas se quiser me ver afastada de você.
Ele sorriu. Sua mão foi até a minha bochecha e fez uma pequena
caricia, quase fechei os olhos diante do carinho.
— Não consigo mais imaginar minha vida sem você, garota da cidade
— ele confessou.
Sorri e subi para o seu colo. Abracei seu pescoço antes de dizer:
— Em breve não serei mais uma garota da cidade e sim uma cowgirl.
Com uma mão segurando a minha cintura e a outra colocando uma
mecha comprida da minha franja para trás da orelha, ele disse:
— Você sempre será a minha garota da cidade — aproximou seus
lábios dos meus — A garota que invadiu minha propriedade, que rebateu toda
a minha arrogância, que fez de mim um homem melhor por simplesmente
voltar a acreditar no amor.
Ele me beijou. Um beijo repleto de amor, cumplicidade e carinho. A
mão que havia tirado a mecha do cabelo da frente do meu rosto foi até a
minha nuca e seus lábios só desgrudaram dos meus quando a falta de ar se fez
presente.
— Amo você — eu disse com todo o meu coração.
— Eu também — me deu um selinho — Muito. Mas não foi só por um
piquenique que a chamei aqui.
Franzi a testa demonstrando a minha confusão.
— Billy! — Gritou o nome do cachorro.
Abri a boca para dizer que ele não estava por perto, mas contrariando o
que eu achava, Billy e Nina surgiram de trás das árvores e pararam ao nosso
lado.
O cachorro estava com uma caixinha preta na boca e automaticamente
senti o meu coração acelerar quando identifiquei pela forma e aparência o que
poderia ter ali dentro.
— Como... eles não nos acompanharam até aqui. — Expressei o que
estava pensando.
— Não, mas você estava tão aérea em pensamentos aquele momento
que entreguei isso para ele — Dylan estendeu a mão para Billy, que entregou
a pequena caixa preta e sentou ao nosso lado, em expectativa. Nina fez a
mesma coisa. — E eles nos seguiram sim, mas você não viu. Meu cachorro é
muito inteligente, mas confesso que tive que treinar isso com ele por muitas
semanas.
— Isso...?
Ainda comigo em seu colo, continuou a falar:
— Não foi apenas para agradar minha namorada que a trouxe aqui. Foi
nesse lago que tudo começou, lembra? Você retirou sua roupa ficando apenas
de calcinha e sutiã bem na minha frente me deixando maluco. Lembro que
tentei manter o meu controle, mas foi me aproximar de você dentro daquele
lago que tudo foi deixado de lado. Naquele fim da tarde eu também entreguei
meu coração para você, mesmo que depois eu tenha insistido em uma
amizade ridícula que não durou nem uma semana.
Rimos juntos.
— E sabe o que também começou aqui? — neguei com a cabeça —
Naquela noite em que você quase se afogou também foi a noite em que
quebrei todas as paredes em volta de mim apenas para deixá-la entrar, não
por pena ou obrigação, mas sim porque percebi que tínhamos muito mais em
comum do que já tive com qualquer pessoa.
Senti meus olhos lacrimejarem. Aquela noite eu também senti isso, um
tipo de linha invisível que nos conectou de uma forma inexplicável, não foi
por ele simplesmente ter salvo a minha vida, foi muito mais.
— Pensei que como todas as memórias marcantes estão ligadas a esse
lago, ou então ao mar de Outer Banks, nada mais justo do que trazer mais
uma, tão marcante quanto as primeiras.
Dylan abriu a caixa e um anel prata fino com uma pedra de diamante
brilhou contra a luz dos raios de sol.
Meus olhos além de lacrimejados agora deveriam estar arregalados. Era
a joia mais delicada e linda que eu já havia visto.
— Era da minha vó. Ela disse antes de morrer que era para eu dar para
a mulher que me faria sentir todas essas sensações que só você faz com que
eu sinta. Nunca pensei em dar para Briana, agora entendo o motivo.
Sorri entre todas as lágrimas que molhavam o meu rosto.
— Aceita casar comigo, garota da cidade?
— Você está brincando? É claro que eu aceito!
Dylan sorriu, pegou minha mão e colocou o anel no meu dedo anelar.
Ergui meu braço apenas para constatar que aquilo realmente era real. Eu
estava noiva! Noiva do homem mais maravilhoso do mundo.
— Gostou? — Ele perguntou notando o meu silêncio.
— Sim, muito! Eu amo você, Dylan — segurei seu rosto com minhas
mãos — Você me salvou de tantas formas que nem imagina e esse é um novo
caminho que quero aprender com você.
O beijei expressando tudo o que eu sentia e não conseguia colocar em
palavras. Eram muitas para serem ditas hoje e agora que eu estava noiva...
precisava guardar algumas para os votos de casamento.

Depois de comermos os biscoitos maravilhosos de minha mãe e de


minha tia acompanhado de um suco natural, decidimos voltar para casa.
Dylan novamente dormiria comigo lá. Antes, deixamos Tempestade e Olaf
nos estábulos. Os dois pareciam ter ficado felizes ao constatarem que
dormiriam juntos pela primeira vez.
— Já imaginou os filhos deles? — Perguntei para Dylan enquanto
íamos para casa de meus tios de mãos dadas.
— Um preto, um branco ou até mesmo com as duas cores — ele
concordou — Vão ser tão lindos como os pais.
— Mal posso esperar para isso acontecer — admiti — Nunca vi um
parto de um animal, deve ser interessante.
Dylan balançou a cabeça rindo baixinho.
— É tudo menos interessante, se vocês mulheres sofrem, imagina os
animais.
— Felizmente eu não terei que passar por essa dor.
Ele parou de andar me fazendo parar também com a mão ainda
segurando a minha.
— Tem certeza você não vê problemas nisso?
Franzi a sobrancelhas, achei que já havíamos passado por essa fase.
— É claro que sim! Eu já te disse que amo você pelo o que é e acabei
de aceitar o seu pedido de casamento.
— E eu não duvido disso.
— Então por que essa pergunta agora?
— É só que ainda é surreal para mim tudo o que você está largando
apenas para ficar comigo.
— Nós ainda seremos pais. Nem tudo está no sangue, Dylan.
Ele assentiu, sorrindo em seguida.
— Eu mal posso esperar para criar essa família com você.
Sorri um pouco mais aliviada por essa onda de insegurança ter passado
tão rápido como apareceu. Voltamos a caminhar e chegamos na casa de meus
tios poucos minutos depois.
Billy e Nina já estavam na sala de estar atirados no tapete do centro da
sala de minha tia. Todos estavam ali, minhas primas, meus pais e meus tios.
— Ah, que bom que vocês chegaram antes do anoitecer — Minha mãe
falou — E então? Estão noivos?
Olhei para ela e depois olhei para Dylan, como assim eles sabiam?
— Eu fui um perfeito cavalheiro ao pedir a sua mão para eles antes —
meu noivo explicou ao notar meu olhar confuso — Sua mãe que me deu a
ideia do piquenique.
Ergui a mão e mostrei o meu anel.
— Estou noiva.
Todos soltaram gritinhos animados e se levantaram para nos dar
parabéns pelo noivado.
— Estou tão feliz por vocês! — Alisson falou — Sei que formarão uma
família linda juntos.
Meus tios e Amélia concordaram com ela.
— Precisamos nos apressar se quisermos ver o presente de vocês
direito — meu pai disse.
— Presente? — Perguntei sem entender.
Olhei para Dylan que também deu de ombros, tão confuso como eu.
— Vamos lá — Minha mãe tomou a frente.
Saímos os quatro de casa. Fomos até o carro de meu tio que meu pai
estava com a chave, entramos no automóvel e ele deu a partida.
Meu pai seguiu o caminho para fora de Nightfall e em direção para o
lado que ficava o rancho de Dylan. Não demorou nem cinco minutos quando
paramos em frente a um portão de madeira de um rancho que era vizinho do
Dylan.
Minha mãe foi a primeira a sair do carro, fizemos o mesmo em seguida.
Olhei em volta e não havia ninguém. Na verdade, aquele lugar parecia estar
vazio há muito tempo.
— Compramos esse pedaço de terra para vocês — meu pai finalmente
falou — Já estávamos pensando em comprar para Ravenna quando Dylan
veio até nós e falou sobre casamento. Aqui estão os papéis ligando você a
dona desse lugar — meu pai me entregou um monte de folhas escritas,
provavelmente se tratando das escrituras e contratos — O lugar é seu, mas
como vão se casar em breve será dos dois.
Eu estava em choque e Dylan ao meu lado não estava muito diferente.
— Por mais que doa no coração da sua pobre mãe dizer isso, o seu
lugar é aqui, filha — Minha mãe se emocionou — A última vez que a vi feliz
desse jeito foi porque estava aqui.
— Eu...eu nem sei o que dizer — admiti.
Meu pai riu, enquanto me entregava um bolo de chaves.
— Aqui estão, quer fazer as honras?
Caminhei até o portão e encaixei a chave no cadeado, o abrindo logo
em seguida. Abri os portões, um para cada lado, antes de me virar para eles
sorrindo.
— Obrigada — eu finalmente agradeci — Eu amo vocês demais, isso é
incrível!
Minha mãe veio até mim com um sorriso no rosto, mesmo que eu visse
que seus olhos estavam marejados, ela se mantinha forte para não começar
um choro por sua filha estar crescida. Ela me abraçou de lado.
— Você merece tudo isso — disse.
— Ainda parece em choque, cowboy — meu pai brincou com Dylan.
Meu noivo riu concordando.
— Confesso que estou, muito obrigada por tudo isso.
— Sei que vai fazer a minha garotinha ainda mais feliz. Vocês
merecem um lugar grande o bastante para montar uma pista de treinamento
de hipismo para minha filha treinar para as competições futuras — meu pai
piscou.
— E uma ideia de médica de pessoas para médico de animais, você
pode construir seu centro veterinário bem aonde fica a sua casa agora —
minha mãe sugeriu.
— É uma ideia genial — Dylan concordou.
— Vamos entrar logo, estou louco para vocês conhecerem esse paraíso
— meu pai me guiou com o braço em volta de mim para dentro do rancho.
A primeira coisa que notei ao olhar para o pedaço de terra foi o
tamanho dele. Grande o bastante para ter Olaf e Tempestade correndo por
todo gramado, junto com Billy e Nina. Conseguia até mesmo visualizar a
pista de saltos e de adestramentos naquele lugar.
— É maravilhoso — eu elogiei.
— Os donos desse lugar se mudaram há um tempo, mas não pensei que
colocariam a venda — Dylan disse — Exatamente por ser tão belo assim.
— E vocês não viram tudo — meu pai disse — Vamos!
O seguimos mais para o fundo do rancho e encontramos uma casa
gigante.
— Os antigos donos eram uma família grande? — Eu perguntei apenas
por curiosidade, porque o tamanho daquela casa era para criar cinco filhos.
— Eram no início, mas os filhos foram fazer faculdade longe e
encontraram seus caminhos — Dylan falou — Por isso que eles foram para
Nashville, para ficar mais próximos.
— Viu só? Vocês vão poder me dar bastantes netos! — Minha mãe
piscou — Amei essa parte.
Claro que minha mãe já estava sonhando com isso, era bem o tipo dela
querer os netos o mais rápido possível para poder mimar. Posso dizer que
nossos filhos seriam grandes sortudos.
Dylan riu do meu lado, nem um pouco desconfortável com o que minha
mãe havia dito. Fiquei aliviada ao notar, era bom ver que ele havia
compreendido de uma vez por todas que eu amaria adotar crianças para serem
nossos filhos.
Deixamos a casa para ver depois, seguimos meu pai até os fundos do
imóvel. Havia um estábulo grande e algumas árvores mais no fundo.
— Vocês vão amar o que aquelas árvores escondem — meu pai
garantiu.
Curiosa demais para saber o que era segui até lá junto com eles.
As árvores escondiam uma pequena trilha que nos levava a um lago
grande e cristalino. Era ainda mais bonito que o de Nightfall, eu com certeza
enxergaria meus pés no fundo se entrasse ali dentro daquela água.
— Uau! Isso é incrível! — eu olhei em volta.
— É como uma área reservada — Dylan concluiu ao ver todas as
árvores ao redor do lago, escondendo-o — É lindo.
— Agora vamos ver a casa — Minha mãe disse empolgada.
E fomos. O casarão, como eu passaria o chamar a partir de agora, era
ainda mais lindo por dentro do que por fora. Haviam cinco quartos, uma
cozinha enorme, uma sala de jantar, uma sala de estar e três banheiros.
— Esse é o melhor presente da minha vida — falei enquanto ainda
olhava as paredes brancas da sala de estar.
— Que bom que gostou, querida.
Seria impossível se eu não gostasse desse lugar. Caramba, eu tinha um
noivo e um rancho.
Eu e Dylan temos um rancho juntos! Isso era tão maravilhoso que eu
não conseguia expressar em palavras.
Vi quando meus pais se afastaram um pouco falando alguma coisa
entre si sobre a beleza do lugar. Dylan se aproximou de mim e abraçou minha
cintura.
— Está feliz? — Ele perguntou.
— Muito, você não?
— Claro que sim!
O abracei, sentindo as batidas do seu coração baterem contra o meu
ouvido. Eu amava aquele som.
Fechei os olhos e me deixei levar pela a imaginação. Daqui alguns
meses... eu e Dylan nessa casa, daqui alguns anos.... eu e Dylan sendo pais,
eu realizando conquistas dentro do hipismo e meu futuro marido gerenciando
seu próprio hospital veterinário.
— Consegue imaginar o mesmo que eu? — sussurrei ainda de olhos
fechados.
— Eu consigo vê-la se tornando a melhor no hipismo, a melhor mulher
e a melhor mãe — ele começou a dizer enquanto sua mão fazia um pequeno
carinho na minha cintura — Imagino quatro crianças correndo pela a casa e
nos deixando maluco.
— Por que quatro? — ergui meu rosto e abri meus olhos, encontrando
suas íris me observando.
— Porque só sobrou quatro quartos nessa casa — piscou.
Eu ri. Aquilo fazia sentindo.
— Já pensou se adotamos todos da mesma idade? Ficaríamos malucos.
— É exatamente o que eu estava imaginado — ele sorriu divertido —
Quatro pestinhas com a mesma idade nos tirando do sério.
— Não teríamos cabelos para contar a história para nossos netos.
Ele concordou, rindo.
— Não mesmo.
O abracei mais forte contra mim e voltei a deitar minha cabeça em seu
peito.
— Quero tudo isso com você, cowboy.
— Eu também, garota da cidade — ele beijou o topo dos meus cabelos.
Ali em seus braços realizando a pequena de muitas conquistas graças a
ajuda de meus pais, tive também a certeza que tudo o que falamos não ficaria
apenas na imaginação.
Eu visualizava tudo com clareza e mal podia esperar para realizar tudo
aquilo com o meu futuro marido.
“Era noite e eu me deitei sobre uma toalha colocada no gramado em
frente ao meu casarão. Observei o céu azul estrelado, sem nenhuma nuvem
tapando aquela visão espetacular. Quando eu tinha tempo gostava de me
deitar e ver as estrelas. O rancho onde eu morava agora nos proporcionava
isso, não era atoa que eu o batizei com o nome de Star, o lugar onde todas as
estrelas podem ser vista com muito mais facilidade do que qualquer outro e
também uma homenagem ao meu irmão, que provavelmente era a estrela
mais brilhante do céu.
— Mamãe! Olha o que o papai fez para a gente — a minha garotinha
apareceu ao meu lado com um balde de pipoca com cobertura de chocolate.
Ela amava essa mistura.
— Como você adivinhou que era tudo o que eu precisava? — Perguntei
com um sorriso no rosto.
— Porque é tudo o que eu preciso também — foi a resposta danada
que minha criança deu.
Ela se deitou ao meu lado, colocando o balde de pipoca entre nós duas.
Pegou um punhado e levou até a boca.
— Só cuida para não se engasgar — a alertei preocupada, comer
deitada não era o aconselhável.
— Pode deixar — ela colocou o punhado na boca e começou a
mastigar com a feição de prazer que seu rosto expressava. — Isso é muito
bom, mamãe!
Sorri e peguei um punhado, o levando até a boca também.
— É mesmo!
— Aí estão as mulheres da minha vida — Dylan se sentou ao lado de
nossa filha, pegou um punhado de pipoca e levou até a boca — O que estão
aprontando?
— Comendo pipoca — nossa filha respondeu — E eu quero ouvir uma
história.
Sorri e apoiei minha cabeça em minha mão, me virando de lado para
olhar para os dois. Foi então que notei que não conseguia ver o rosto de
minha filha, apenas sua forma bem diante de mim.
Abri e fechei os olhos três vezes, mas não surtiu efeito.
— Tudo bem, amor? — Dylan perguntou e eu assenti, mesmo que não
tivesse.
Uma história... minha filha queria ouvir uma história.
— O que você quer ouvir, filha? — Perguntei tentando focar minha
visão nela, mas nada estava adiantando.
— Sobre o tio Archer, acha que ele é uma estrela mesmo?
— Sim, ele é a mais brilhante e cuida da gente de lá de cima — sorri.
— Como ele era, mamãe? — Ela perguntou cheia de curiosidade.
Olhei para Dylan, ele nos observava com um sorriso no rosto. Nós dois
sabíamos que eu não sentia mais a culpa de antes e agora quando eu
lembrava de meu irmão... não era culpa ou sofrimento que eu sentia, mas sim
o amor e saudades da sua presença perto de mim.
— O irmão mais amoroso, o melhor amigo mais perfeito e contador de
história mais horrível que eu já conheci.
— Por que?
— Porque ele nunca contava os detalhes das histórias, ele pesquisava
sobre os livros e ás vezes o lia, fazia um resumo e contava para mim — eu ri
com a lembrança — Segundo seu tio era uma forma de me fazer dormir mais
rápido, porque ao invés de ele me contar os detalhes eu os inventava na
minha cabeça.
— E funcionava?
Assenti.
— Então ele não era um contador horrível — minha filha concluiu.
— Não, mas eu costumava chamá-lo dessa forma.
Rimos juntas.
— Sua mãe e seu tio tem tantas histórias que dariam um livro — meu
marido disse — Tenho certeza que ela poderia escrever para nós um dia.
— Seria incrível e eu finalmente conseguiria aprender a ler.
— Você só tem cinco anos ainda querida, tenho certeza que em breve
irá aprender a ler tudo o que vê pela frente — Dylan a consolou.
Concordei com o meu marido, estendi minha mão para alisar o seu
rosto e senti sua pele macia na minha palma, mas ainda não conseguia vê-la.
O que estava acontecendo?
— Conte mais, mãe! O que vocês gostavam de fazer? — Ela perguntou.
— Muitas coisas. Quando éramos crianças gostávamos de vir para o
rancho da Tia Amélia e brincar com todos os animais, ver os gados, ver os
treinamentos de hipismo, mas o que mais amávamos era ver o pôr do sol.
Havia algo muito bom em descansar um nos braços do outro e observar a
natureza.
— Da mesma forma que estamos fazendo com as estrelas?
Assenti.
— Dessa mesma forma. Não sente uma paz no coração? Como se nada
pudesse te deixar para baixo ou machucá-la estando comigo e seu pai aqui?
Minha garotinha concordou.
— Era exatamente dessa forma que eu me sentia com Archer e é dessa
forma que eu me sinto quando compartilho desses momentos com vocês.
— Queria ter o conhecido — minha filha disse.
— Ele amaria você e seus irmãos — Dylan falou.
Tínhamos outros filhos? Eu não conseguia compreender da mesma
forma que não conseguia me lembrar. Olhei em volta e só conseguia ver o
rosto de Dylan, mas o da minha filha ainda estava um borrão para mim. O
que era tudo isso? Por que eu não conseguia me lembrar de nada?
— Ravenna....
Ouvi uma voz me chamar, parecia a de Dylan, mas ele estava bem ali
ao nosso lado conversando com nossa filha.
Como foi o nosso casamento? Quando foi? E quando havíamos
adotado essa garotinha esperta? Onde estavam os nossos outros filhos?
— Ravenna!
Antes de ser sugada pela a escuridão eu consegui ouvir um nome:
Skyller.
Acordei com mãos me chacoalhando. Abri meus olhos e a primeira
coisa que vi foi Dylan me olhando com preocupação.
— Amor, você está bem?
Assenti ao mesmo tempo que colocava a mão no peito, meu coração
batia de forma frenética. Aquele sonho havia sido tão real.
— Você estava chorando — ele disse.
Minhas mãos foram até o meu rosto e encontrei as lágrimas secas nas
minhas bochechas.
— Eu tive um sonho — falei — Foi tão real...
— Um pesadelo? Fazia tempo que eles não aconteciam.
Quando eu iniciei a terapia com a Doutora Elena também veio os
pesadelos, a psicóloga disse que era normal devido a tudo que estávamos
lembrando e superando juntas. Fazia muito tempo que eu não tinha um, quase
um mês. Todo o tratamento com Elena estava funcionando.
— Não foi um pesadelo — eu respondi — Estávamos na nossa casa,
casados e com uma filha, na verdade, era mais de uma. Agora eu entendo
porque não conseguia ver o rosto dela... foi um sonho, mesmo assim foi tão
real.
Dylan sorriu alisando meu rosto.
— Isso é bom, não é?
Concordei.
Skyller...
A voz pronunciando o nome ainda estava viva em minha cabeça. Será
que era um sinal? Ela ainda estava no hospital, completou dois meses na
semana passada e o estado já estava providenciando uma família para ficar
com ela.
Sempre que eu ia para as consultas saia mais cedo de casa para poder
ficar um tempo com ela, mesmo que fosse só pelo vidro a observando
apreciava aquele momento só nosso. Nunca havia contado sobre ela para
Dylan, mas agora com esse sonho eu sentia que precisava.
— Eu ouvi um nome no meu sonho, Skyller — Dylan não entendeu o
que eu queria dizer, obviamente — Esse é nome de uma garotinha que está na
área da maternidade no hospital em que Alisson trabalha e que eu consulto
toda a semana. Os pais se acidentaram há alguns meses e não resistiram, os
médicos só conseguiram salvar a bebê a pedido da mãe.
Dylan pareceu compreender o que eu estava tentando dizer.
— Skyller não tem mais ninguém, não é?
Neguei.
— Na semana passada eu a visitei, vi alguns homens por perto, Alisson
me disse que são os responsáveis por cuidar do caso dela. Estão procurando
uma família temporária até conseguirem uma provisória.
— Quero conhecê-la.
O que disse fez com que eu arregalasse levemente os meus olhos.
— Você não precisa se sentir na obrigação de conhecê-la, foi só um
sonho.
— Não estou me sentindo nem um pouco obrigado a fazer isso — ele
pegou a minha mão — Vamos tomar um café e ir para o hospital, algo me diz
que isso não foi apenas um sonho.
Levantei da cama e fiz exatamente o que ele disse. Tomei um banho,
coloquei uma calça e uma blusa meia manga, já que o verão havia indo
embora e o outono começava a dar as caras.
Dylan fez algumas torradas e comemos elas acompanhado de um café
preto. Me perguntei o que Dylan acharia de Skyller e se sentisse a mesma
coisa que eu sinto em relação a ela? Será que ele gostaria de adotá-la? O
medo se fez presente, eu ainda tinha vinte e dois anos, será que conseguiria
ser mãe de uma garotinha?
— Vamos? — Dylan convidou.
Assenti. Peguei minha bolsa no seu sofá e saímos de casa, deixando
Nina e Billy na sala, os dois ainda dormiam no sofá.
Entramos no carro e colocamos o cinto, Dylan engatou a marcha e
seguiu o caminho para o hospital. Peguei meu telefone e havia uma
mensagem de minha mãe.
A resposta de minha mãe não demorou a chegar.

Minha mãe era a única que sabia o motivo de eu sair trinta minutos
mais cedo do que o marcado das consultas. Ela sempre me dizia que era
porque essa garotinha já havia roubado meu coração e que eu deveria contar
o mais rápido para Dylan e ver se ele sentiria o mesmo.
Minha primogênita...
Seria possível?
— Minha mãe acha que é um sinal — falei para Dylan — Acha que
Skyller pode ser nossa primogênita.
Dylan sorriu e pegou minha mão a levando até os lábios e deixando um
beijo ali. Me lembrei de meses atrás quando ele decidiu vir me encontrar na
festa da cidade e assumir tudo o que sentia por mim.
— Eu também acho — ele disse — Não pensei que adotaríamos um
filho tão rápido, mas não podemos controlar o destino, se ele nos trouxe
Skyller é porque tem um motivo.
Sorri.
— Acha que será fácil para adotá-la?
— É o que veremos.
Chegamos no hospital alguns minutos depois, nos identificamos na
recepção e fomos até a área da maternidade. Lá estava Skyller, mas dessa vez
algo estava diferente, seus olhos estavam abertos e assim que notou nossa
presença através do vidro, nos olhou e estendeu os braços, emitindo sons pela
boquinha pequena. Seus olhos eram castanhos claros e o cabelo bem loirinho,
ela ainda estava mais linda do que a última vez que a vi.
— É ela? — Dylan apontou.
Assenti.
— Ela é linda.
— Vocês querem entrar? — Uma enfermeira se aproximou de nós —
São a família que ficará com Skyller?
Engoli em seco, sentindo uma tristeza profunda ao entender o que
significava aquela pergunta.
— Ela já tem família? — Dylan que perguntou.
— Os agentes me disseram que estavam vendo um casal para ficar com
ela, pensei que fossem vocês.
Neguei.
— Não somos, mas podemos entrar mesmo assim? — perguntei.
A enfermeira pareceu meio receosa no início, mas concordou me
fazendo suspirar aliviada.
Colocamos um protetor de roupa, luvas e toucas. Procedimento padrão
para entrar em uma área que exigia muitos cuidados com bebês recém-
nascidos e prematuros.
Nos aproximamos de Skyller, que nos observava com atenção. Os
bracinhos pequenos se estenderam para nós em um claro pedido de colo.
— Posso pegá-la? — Pedi para enfermeira.
Ela assentiu.
Com muito cuidado estendi meus braços e segurei Skyller a trazendo
para perto de mim.
— Oi, Skyller — a cumprimentei — Você é linda.
Ela ergueu uma mãozinha e tocou o meu pescoço. Senti um arrepio ao
ser tocada por ela, aquela mesma sensação que tive no sonho estava presente
novamente e meus olhos umedeceram.
Dylan se aproximou mais da gente e tocou a sua bochechinha com o
polegar, em uma caricia suave que a fez sorrir para nós dois.
Quando ergui meus olhos encontrei os seus também marejados. Nós
dois percebemos naquele momento que não era apenas uma visita para uma
criança que perdeu os pais em um acidente trágico de carro, era mais, muito
mais.
O sonho não havia sido apenas um sonho. Eu querer consultar com um
psicólogo não era apenas por querer.
Eu lembro que aquele dia em que vim marcar a minha primeira
consulta com a Doutora Elena parecia ter algo me puxando para esse lugar,
eu achei que era eu mesma em busca de superar todos os meus medos e
culpa, mas não era só isso, era Skyller.
Sempre foi Skyller.
A garotinha em meu colo me despertou dos pensamentos ao segurar o
dedo de Dylan fortemente para uma simples bebê e nós dois rimos.
— Você é forte, Sky — Dylan a apelidou.
Rimos entre lágrimas que escorregavam por nossos rostos ao ver ela
sorrir lindamente para nós de novo.
Uma batida na porta chamou nossa atenção. Uma mulher de cabelos
escuros e um homem de pele negra estavam do outro lado do vidro nos
olhando.
— Sãos os assistentes sociais — A enfermeira disse — Temos que ir.
Decepcionada por não ter passado mais tempo com Skyller em meu
colo a larguei em seu berço. Foi nos virarmos de costas para sair da
maternidade que ela começou a chorar, voltei a me virar para ela e segurei
sua mãozinha.
— Está tudo bem, Skyller — garanti.
Dylan parou ao meu lado.
— Lembra o que falamos no carro? — ele perguntou — Ela é a nossa
primogênita, amor, eu sinto.
Assenti. Porque eu também sentia.
Naquele momento eu senti que me tornava mãe, mesmo que eu não
soubesse como realmente é ter essa responsabilidade. Aquela era a nossa
garotinha, a nossa primeira filha e faríamos de tudo para sair daquele hospital
com ela em nossos braços.
— Nossa filha — eu disse — Skyller é nossa filha.
Dylan concordou.
— Vamos falar com os assistentes e nos informar melhor sobre o que
fazer para adotá-la.
Larguei a mãozinha de Skyller que já se encontrava quase dormindo e
fomos em direção a saída da maternidade. Retiramos os equipamentos de
proteção e nos aproximamos dos assistentes sociais.
— Olá — a mulher cumprimentou — Sou Jéssica Wilson e esse é meu
colega George Hanks, somos responsáveis pelo o caso de Skyller.
— Oi, eu sou Dylan Blossom e essa é minha noiva, Ravenna
Blackwood — Dylan nos apresentou.
Sorri em cumprimento.
— Não podemos de deixar de notar que pareciam muito interessados na
bebê — George disse — Os pais que estavam certo em adotá-la desistiram
agora.
O suspiro que soltei foi de puro alivio.
— Estamos interessados — eu falei.
— Ah, que bom! Hoje em dia está cada vez mais difícil que família
adote crianças, ainda mais pelo o estado — Jéssica disse.
— O que é preciso para adotar?
— No caso de Skyller não é muito, vocês se tornariam primeiro Foster
Parent, onde ficariam com a criança temporariamente, mas já garanto que
podem solicitar a adoção definitiva depois de dois ou três meses. Será cedido
se vocês forem aprovados nas visitações que faremos.
Assenti.
— E como se torna Foster Parent? — Dylan perguntou.
— Vocês passariam por uma entrevista, uma habilitação para a adoção
chamada Home Study e participariam de palestras sobre crianças que
precisam de um lar.
— Ainda não são casados, certo? — George perguntou.
Dylan negou.
— Mas estamos noivos — eu falei.
— A adoção definitiva fica mais fácil se estiverem casados — ele
informou — Como estão noivos, acredito que o estado pode liberar para
adotarem temporariamente a Skyller.
— E então? Topam fazer uma entrevista hoje mesmo? — Jéssica
perguntou.
— Claro! — respondemos juntos.
Os assistentes sociais sorriam ao mesmo tempo.
— Serão ótimos pais — George disse.
— Com certeza! Aqui está o endereço do lugar que vocês têm que ir
para fazer a entrevista — Jéssica me entregou um cartão — Boa sorte aos
dois!
— Obrigada — eu agradeci.
— Nós que temos que agradecer por ter encontrado pessoas dispostas a
adotar tão rápido assim — George riu — Skyller é mesmo uma bebê
encantadora.
Concordei. Os assistentes sociais foram embora logo em seguida, eu e
Dylan ainda ficamos olhando a nossa filha dormindo profundamente no
berçário, tão serena e tão perfeita.
— Não sei como é ser pai — Dylan admitiu ao meu lado.
Segurei sua mão.
— Eu também não sei ser mãe, mas iremos aprender isso juntos com
ela.
Ele me olhou sorrindo.
— Nós iremos adotar uma criança, é o início da nossa família, eu não
consigo expressar em palavras o quão feliz eu estou.
— Eu também não consigo. Quem poderia imaginar que
encontraríamos nossa filha tão rápido assim?
Dylan me trouxe para mais perto do seu corpo e abraçou minha cintura,
minhas mãos seguraram sua nuca.
— Obrigada por me fazer viver dessa experiência incrível — ele
agradeceu — Não sei o que seria de mim se você não tivesse invadido a
minha propriedade naquele final da tarde.
Eu sorri acariciando sua nuca.
— Eu sei o que você seria. Um cowboy extremamente arrogante — o
provoquei.
Rimos.
— Minha vida não fazia sentido antes de encontrar você.
— Amo você, amo nossa futura filha, amo tudo isso — eu expressei
todo o amor que estava sentindo naquele momento.
— Eu também amo muito tudo isso.
Nos beijamos bem ali na frente da nossa futura bebê. Contentes por dar
início a nossa família, sem perder tempo sentindo medo e inseguranças por
saltar para um passo tão grande como esse.
O destino é assim.
Ele não escolhe tempo, hora ou lugar. Quando ele quer que duas
pessoas se encontre, move montanhas para que isso aconteça.
Eu e Dylan estávamos destinados a encontrar Skyller.
E eu precisei daquele sonho para acordar e enxergar o que estava bem
na minha frente: Skyller se tornou minha no momento que coloquei meus
olhos nela.
A vida é mesmo surpreendente. Se me contassem há dez meses que eu
não sentiria mais culpa pela morte de meu irmão, eu chamaria a pessoa de
idiota e insensível.
Mas aqui estava eu. Encerrando uma etapa importante na minha vida
com a Doutora Elena, que me ajudou em todos os momentos.
Hoje eu entendo mais que o que aconteceu foi uma fatalidade, algo que
infelizmente não podia ser mudado. A dor que eu sentia agora era apenas
saudades e ela nunca iria embora. Eu buscava conforto em lembranças boas
de momentos em que passamos juntos e nos divertíamos. Era tudo o que eu
podia fazer agora.
— Nos vemos no seu casamento? — Elena perguntou com um sorriso
no rosto.
— Claro que sim! Conto com sua presença lá.
— Eu não perderia por nada.
Me despedi dela e sai de sua sala. Aquela era a minha última consulta,
mas eu sentia que não era a nossa última conversa.
Elena, como disse no nosso primeiro encontro acabou se tornando uma
grande amiga.
Entrei dentro do carro que eu havia comprado há pouco mais de duas
semanas e dirigi em direção ao meu rancho.
Sorri comigo mesmo, aquele lugar deveria estar uma loucura. Faltava
duas semanas para o casamento e mesmo dizendo que eu e Dylan faríamos
uma cerimônia simples apenas com os mais próximos, Amélia e Alisson
insistiam em preparar o casamento do século.
Elas estavam muito empolgadas.
Estacionei o carro na sombra da árvore em frente ao casarão. Eu e
Dylan havíamos nos mudado definitivamente quando conseguimos a guarda
temporária de Skyller.
Sim, Skyller era nossa filha agora.
Ainda como temporários, mas já havíamos aberto o pedido de adoção
definitiva e ele estava em análise. Jéssica e George afirmaram que não
precisávamos temer, que com certeza o estado cederia a guarda definitiva de
Skyller.
Tudo o que sentimos naquele dia estava ainda mais vivo entre nós com
ela em nossos braços, em nossa casa. Em nenhum momento houve receio ou
arrependimento. Aquele era o lugar dela, junto com nós.
— Aí está você — Amélia falou assim que entrei dentro de casa, estava
com a minha garotinha nos braços — Precisa provar o vestido e temos que
aproveitar que Dylan saiu com Matthew para ver o terno.
— Não provamos ele semana passada?
Caminhei até ela e estendi os braços para Skyller, que se impulsionou
no mesmo momento para vir para o meu colo. Amélia me entregou ela e
disse:
— Mas precisamos ter certeza que ele está perfeito.
— Eu tenho certeza que está, mas se vocês fazem tanta questão.
Falei enquanto brincava com as mãozinhas de minha filha.
— Cadê o amor da mamãe? — Ela deu um gritinho com aquele sorriso
lindo no rosto — Onde está o papai, em? Não acredito que ele deixou você
com essas loucas.
Amélia revirou os olhos, mas acabou rindo.
— Graças a Deus você chegou! Precisamos provar o vestido — Alisson
entrou na sala — E estou um pouco nervosa com Matthew ajudando Dylan a
comprar um terno. Homens são tão práticos, eu não duvido que eles vão
escolher o primeiro que ver pela frente e ignorar todos os requisitos que
anotei para eles.
— Eu tenho certeza que eles farão isso — Rebeca apareceu logo atrás
dela — Não se preocupe, Raven, cuidamos muito bem de sua filha.
— Eu não esperava menos de vocês — falei e beijei o rostinho da
minha menina. Eu já a amava tanto.
— Já ligamos para encomendar o bolo com o sabor que vocês dois
escolheram ontem à noite, já encomendamos alguns salgadinhos e também os
champanhes sem álcool. Por que eu sinto que estou esquecendo alguma
coisa? —Alisson se perguntou enquanto andava de um lado para o outro com
o bloquinho de anotações em mãos.
— Não quero nem ver quando for o seu casamento — brinquei com ela
— Você está ansiosa desse jeito com o meu, imagina com o seu.
— Ainda falta alguns meses e eu consigo me preparar
psicologicamente até lá — ela disse — E por que você não está nervosa?
Faltam exatamente duas semanas e você nem ao menos disse que está
ansiosa.
Eu ri. Matthew havia pedido a minha prima em casamento há algumas
semanas, ela aceitou, obviamente, mas os dois se casariam só no próximo
verão na beira da praia da ilha de Outer Banks.
— Se você não percebeu eu tenho tudo o que preciso bem aqui, o
casamento vai ser apenas uma cerimônia para oficializar tudo.
— Concordo com a Raven. Ela e Dylan já tem uma filha e moram
juntos, quer mais vida de casados do que isso? — Rebeca concordou
enquanto se sentava ao lado de Amélia.
Minha filha soltou um resmungo e começou a puxar meus cabelos,
claramente pedindo atenção. Comecei a brincar com suas mãozinhas
enquanto a segurava com um braço.
— Sentiu minha falta, não é amor? — esfreguei meu nariz no seu.
Eu estava muito boba, confesso, mas como não ficar com aquela
garotinha linda do meu colo? Ela se tornou tão especial para mim e para
Dylan de uma forma que não sei o que faríamos se o pedido definitivo da
adoção fosse negado. Felizmente as assistentes sociais que visitavam nossa
casa com frequência para saber como cuidávamos de Skyller só nos
elogiavam. Então estávamos no caminho certo.
— Eu sabia! As rosas! Meu Deus, como eu fui me esquecer das rosas?
— Alisson exclamou e saiu da sala rapidamente em busca de algo.
— Minha irmãzinha está pirando, quando chegar no dela já terá surtado
— Amélia comentou.
Todas nós rimos, inclusive Skyller que deu um daqueles sorrisinhos de
lado que eu sou apaixonada.
— Quem é o amor da mamãe? — brinquei com seu narizinho.
Ela emitiu um som como se quisesse falar e levantava as mãos para o
alto para pegar o meu dedo.
— Amo você, meu amor — murmurei.
— Ravenna! — Alisson gritou do segundo andar — Você precisa vir
provar o vestido logo, daqui a pouco eles chegam.
Revirei meus olhos, mas fiz o que ela pediu ou então surtaria
totalmente, como Amélia havia falado. Entreguei Skyller para Rebeca e
subimos para o quarto vazio em que estávamos preparando tudo para o
casamento.
O cômodo estava uma bagunça. Havia fitas de todas as cores
espalhadas pelos cantos e toalhas de todos os tipos.
— Para que tantas toalhas azuis?
— Porque eu fiquei indecisa em qual tom usar — Ali explicou — Não
é como o branco que é só branco, azul tem tantos tons.
— Eu te falei o motivo que nos fez escolher o azul, nossos olhos. Era
só escolher o tom deles — falei.
— Damos atenção para isso depois, ok? Aqui está o vestido — Ela
pegou um saco enorme preto e abriu o zíper revelando a peça branca cheia de
detalhes.
— Então vamos provar.

As meninas foram embora mais tarde do que eu imaginava. Jantamos


todos juntos na sala de jantar ao som de risadas e conversas amenas. Eu
gostava muito desses momentos que passávamos juntos.
Com o tempo a minha amizade com Amélia foi tomando forma e a de
Matthew e Dylan também. Todos amadureceram de uma forma e eu estava
muito orgulhosa.
Dylan estava com Skyller no colo quando me despedi dos meus amigos
na porta de entrada. Ele brincava com seus dedinhos e fazia careta para ela,
que sorria lindamente para o pai. Se a minha relação com Skyller era
maravilhosa, a deles era perfeita.
— Finalmente a sós — os abracei, escorando minha cabeça no braço de
Dylan.
— Sua prima está bem ansiosa — Dylan riu baixinho quando Skyller
agarrou seus cabelos e os puxou fortemente — Da onde você tira tanta força,
filha?
O sorriso bobo sempre tomava conta do meu rosto quando eu ouvia ele
chamar Skyller de filha.
— Ela tem a força do pai, quando crescer vai chutar muito as bolas dos
homens babacas que apareceram no seu caminho.
Dylan fez uma careta.
— É o que eu espero e também que ela só se case depois dos trinta.
Eu ri alto, chamando atenção da minha pequena. Ela sorriu para mim e
tentou puxar os meus cabelos, mas devido a distância não conseguiu e fez um
biquinho fofo.
— Nem você acredita nisso, amor — beijei seu ombro — Acho que
Skyller vai ter o espírito livre que nem a mamãe dela aqui.
— O que você quer dizer com espírito livre? Você só disse por cima o
que aprontava na sua adolescência e agora está dizendo que nossa filha será
igual... estou com medo.
— Quero dizer que ela irá a festas, irá se divertir, ficar com os garotos
sem compromisso...bom pelo menos era isso que eu fazia — dei de ombros
rindo porque a cada palavra que saia da minha boca, Dylan fazia uma careta
engraçada — Cada um tem um espírito livre diferente.
— Vamos colocá-la em uma escola de freiras — ele disse.
Obviamente estava brincando e eu tive que soltar os dois porque estava
rindo demais.
— Então você vai fazer o tipo de pai ciumento? — Perguntei apenas
para o provocar.
— É claro que sim, irei cuidar para que minha filha não caia na lábia
desses cafajestes e nada melhor do que afastá-los.
Percebi que essa parte ele estava falando sério e o admirei um pouco
mais por isso.
Continuamos brincando com Skyller até ela pegar no sono. Dylan a
levou para o quarto dela enquanto eu fiquei na sala curtindo o som que saia
baixinho das caixas de som e sentindo a paz que eu tanto almejei pela vida
inteira.
A vida é mesmo surpreendente. Há cinco meses atrás eu era uma garota
seguindo o caminho errado com pessoas que não queriam o meu bem, tudo
para superar a dor do luto, a dor da culpa. E agora eu estava prestes a casar
com o homem da minha vida e já era mãe de uma garotinha que daqui uns
anos se tornaria uma mulher incrível.
Sim, a vida é muito surpreendente.
Fechei meus olhos ao sentir os lábios de meu futuro marido em meu
ombro direito, subindo com uma trilha de beijos por todo o meu pescoço.
— Senti sua falta hoje — ele sussurrou — Matthew me alugou o dia
inteiro e as meninas fizeram o mesmo com você.
Sorri.
— Se acostume, cowboy porque isso só vai melhorar quando o nosso
casamento acontecer.
— Não podemos adiantar? — ele perguntou brincando.
— Não ou então todos surtariam.
Abri meus olhos e me virei para ele abraçando seu pescoço e o trazendo
para mais perto de mim.
— Mas podemos matar a saudade de noite, quando ninguém está por
perto — falei, arrastando meus lábios pela sua boca, o provocando.
Senti alguém lá embaixo se enrijecer devido aos nossos corpos estarem
grudados.
— Eu acho uma ótima ideia.
Dylan me beijou segurando minha cintura enquanto sugava a minha
língua com vontade. Agarrei seus cabelos correspondendo ao beijo com a
mesma fome e vontade dele.
Nos afastamos apernas para retirarmos nossas roupas, sem desviar o
olhar um do outro.
— Deite-se no tapete — ele pediu.
E eu me deitei. Vê-lo daqui de baixo, com seu pau já quase totalmente
ereto apenas por me ver nua fazia com que me sentisse a mulher mais
desejada do mundo. Dylan se ajoelhou na minha frente para em seguida subir
em cima de mim colocando uma mão de cada lado do meu corpo e voltou a
me beijar.
Arfei ao sentir seu pau duro encostar em minha vagina já molhada,
porque o mesmo efeito que eu tinha sobre ele, também era o mesmo que ele
tinha sobre mim. Dylan sentiu o mesmo ao pressionar mais a ereção no meio
das minhas pernas, esfregando ela ali e nos provocando.
Sua mão fez o caminho até lá embaixo e me tocaram.
— Já está pronta para mim, amor — ele murmurou no meu ouvido,
mordendo o lóbulo da minha orelha.
— Eu sempre... — gemi ao sentir seu dedo me penetrar — Droga! Eu
sempre estou pronta para você, amor.
Ele riu e desceu a boca até o meu seio, sugou meu bico e o lambeu,
como se fosse o seu doce favorito. Levei minhas mãos até o tapete da sala
que estávamos em cima e apertei o tecido em minhas mãos tamanho o prazer
que sentia. Dylan sabia muito bem levar uma mulher a loucura com sua boca
em um seio e uma mão habilidosa em minha vagina.
— Estava com saudades do seu corpo — ele aspirou o vão entre os
meus seios.
A última vez que transamos foi há dois dias, devido as cólicas que
Skyller estava tendo, ocupamos nosso tempo só com nossa filha.
Dylan tocou o clitóris com o polegar e eu apertei mais forte o tapete em
minhas mãos.
— Também estava... com saudades disso — admiti entre um gemido e
outro.
Meu noivo continuou a brincar com o polegar no meu clitóris ao
mesmo tempo que enfiava um segundo dedo em mim. Arfei e arqueei um
pouco os quadris, rebolando contra os seus dedos mágicos.
— Dylan... estou perto de gozar...
Ele subiu os beijos até a minha boca e quando estava preste a me
entregar para um orgasmo, ele parou de me tocar.
— Quero você por cima — ele disse.
Não precisou dizer duas vezes, me ajoelhei ainda com as pernas
bambas enquanto Dylan se sentava encostado no sofá. Abri minhas pernas e
me sentei em suas coxas. Peguei seu pau e comecei a masturbá-lo, apenas
para atiçar mais meu futuro marido.
— Raven... — ele fechou os olhos parecendo tentar se controlar
enquanto eu subia e abaixava minha mão em seu pau — Preciso muito de
você, amor.
Sorri e me ergui, levando sua ereção para perto da minha entrada.
Gememos juntos ao mesmo tempo em que eu sentava e era preenchida por
todo o seu volume.
— Isso é tão bom... — arfei e ataquei seus lábios.
Ele geme e abocanha meu seio enquanto eu me levanto e desço pelo
seu pau o tomando todo. Abraço seu pescoço, puxo seus cabelos enquanto
rebolo querendo mais, muito mais. Dylan chupa um seio e massageia o outro,
me levando a loucura. Em seguida os inverte, passando a sugar o outro.
— Amo você — ele disse subindo a boca dos meus seios até os meus
lábios — Muito.
— Eu também... amo você — gemi.
Dylan passou a me ajudar nas estocadas, arreganhou minhas nádegas e
mete tudo em mim. Gememos alto e nos beijamos, nossas línguas se
comendo da mesma forma que nossos corpos. Eu rebolo, levanto e desço
cada vez mais rápido e forte enquanto nossas bocas ainda estão grudadas uma
na outra.
Paramos o beijo devido à falta de ar, mas não desviamos o olhar um do
outro, nem quando nos entregamos ao mais puro e lindo prazer juntos.
— Linda — ele elogiou beijando cada um dos meus seios — Gostosa.
Eu sorri.
— Você também é tudo isso, cowboy — deixei um selinho em seus
lábios — Lindo e muito gostoso.
Me movi no seu colo e ele segurou minha cintura.
— Melhor parar ou teremos que repetir novamente — disse deslizando
a boca e mordendo meu queixo, me fazendo estremecer.
— Podemos adiantar caso Skyller tenha outro problema com cólicas.
— No banho? — Sugeriu. Meu noivo é um safado!
— No banho — felizmente eu não era muito santa.
O retirei de dentro de mim e me levantei, Dylan mordeu os lábios ao
ver um pouco dos nossos gozos escorrer pelas minhas coxas.
Ele se levantou e abraçou o meu corpo, assim subimos as escadas até o
corredor que nos levava ao nosso quarto e ao nosso banheiro, mas o choro de
nossa filha nos interrompeu. Nos olhamos e acabamos rindo, provavelmente
ele estava pensando o mesmo que o eu: a curtição havia acabado.
— Vai tomar um banho, vou colocar um roupão e cuidar dela — beijou
meus lábios.
Assenti totalmente agradecida por isso.
É... Ravenna, bem-vinda a vida de mãe!
Me observei no espelho mais uma vez. Eu havia optado por um vestido
diferente dos tradicionais vestidos brancos de noivas. Ele era sem mangas e
sem alça, verde clarinho com o véu por cima da calda da cor branca. As
meninas haviam amado a escolha, afinal combinava muito com o casamento
no campo.
Os meus cabelos estavam presos em um coque deixando apenas a
minha franja solta. Rebeca havia arrumado uma tiara de flores brancas que
combinou muito bem com o visual.
Eu iria casar.
A ficha já havia caído há algumas semanas, mas agora estar tão perto
de finalmente acontecer me deixava com uns calafrios e muito nervosa.
Peguei meus votos em cima da cama e comecei a ler mais uma vez,
tentando não deixar que meu nervosismo estragasse tudo e fizesse com que
eu esquecesse as palavras bonitas que escrevi para o meu amor.
— Aí está a mulher mais bonita do mundo — Papai entrou no quarto
junto com mamãe que carregava Skyller no colo.
— Ah, filha, você está tão linda — Minha mãe elogiou.
Ela vestia um vestido azul escuro cumprido no corpo e meu pai um
terno perto.
— Vocês estão incríveis também.
— Como está o coração? Muito ansiosa? — meu pai perguntou —
Faltam exatamente dez minutos para você seguir aquelas folhas que Alisson
plantou até o altar que vocês providenciaram.
— Agora que está cada vez mais perto confesso que estou nervosa —
eu admiti.
— Dylan também está nervoso, não para de andar de um lado para o
outro — minha mãe riu.
— Que bom que não sou a única.
— Todos ficamos nervosos quando esse dia acontece, lembro até hoje
do medo que senti de sua mãe desistir de tudo e me deixar no altar.
— Até parece que eu faria isso.
Rimos. Skyller estendeu os bracinhos para mim e eu fui até a minha
pequena.
— Você vai ver a mamãe e o papai se casando, é uma pena que não irá
se lembrar desse dia — alisei seu rostinho.
Ela sorriu.
Meu pai soltou um suspiro.
— Me sinto um velho babão por minha netinha, ela é tão linda.
— Acho que o posto de garota mais bonita do mundo vai para ela daqui
alguns meses — eu brinquei, já que meu pai vivia falando isso para mim.
— Espero que não fique com ciúmes, filha — ele devolveu.
Uma batida na porta nos interrompeu. Hannah colocou apenas a cabeça
para dentro do quarto e pediu licença.
— Entra.
— Alisson pediu para trazer seu buquê — me indicou o buquê de rosas
brancas com folhas verdes para combinar com o vestido.
— Pode deixar aqui em cima da cama, vou aproveitar um pouco mais
com essa garotinha, antes de descer e me casar.
— Meu irmão está pirando — ela se sentou na cama — Por que vocês
ficam tão nervosos em casamento? Sério, eu nunca vou entender.
— Você vai entender quando chegar o seu momento — pisquei — Eu
também pensei que não ficaria nervosa porque já estou levando uma vida de
casada com seu irmão, mas olha eu aqui, tentando acalmar meus nervos com
minha filha no colo.
Ela suspirou.
— É.… talvez seja isso mesmo.
— Vamos deixar você e seu pai a sós agora, querida — minha mãe veio
até mim e estendeu os braços para Skyller — Logo você desce.
Assenti e entreguei minha filha para ela.
Skyller amava minha mãe, principalmente ficar brincando com sua
bochecha. Ela via algo muito especial no rosto de minha mãe.
Hannah desceu com as duas e me deixou sozinha com o meu pai.
— Até eu estou ficando nervoso agora — meu pai riu — Pensei que
demoraria mais para levá-la até o altar.
Eu ri junto.
— Achou que eu me casaria com o que? Cinquenta anos?
— Não seria uma má ideia — rebateu.
Eu bati em seu ombro rindo com ele.
Olhei no relógio em cima da mesinha ao lado da cama, faltava pouco
para as seis horas da noite.
Estava na hora de eu descer e me casar com o homem da minha vida.
— Estou muito feliz por você, querida — meu pai disse me estendendo
o braço — Eu e sua mãe sempre estaremos aqui quando precisar, mesmo que
você já esteja criando sua própria família.
— Eu sei disso, amo vocês demais.
Ele se aproximou e beijou minha testa.
— Nós também. Agora, vamos?
Respirei fundo e assenti. Peguei o buque, me aproximei de meu pai e
enlacei meu braço no seu, assim descemos as escadas e saímos de casa.
O casamento aconteceria nos fundos da casa onde a vista do pôr do sol
era ainda mais bonita. O altar estava posicionado bem em direção a ele, todas
as pessoas veriam nossos votos sendo trocados e o anoitecer chegando. Na
minha imaginação havia ficado lindo, só esperava que a realidade fosse essa
também.
A marcha nupcial começou a tocar e eu e meu pai seguimos o caminho
de rosas brancas que Alisson havia feito até chegar no pequeno altar que
improvisamos.
Observei todos os convidados, meus pais, tios, primas, amigos e até
mesmo alguns funcionários do rancho de Nightfall, também havia convidado
o Delegado William para a cerimônia que sorria abertamente para mim.
Sempre seria muito grata por tudo o que ele fez para mim e Tempestade.
Que por falar nela... ela estava linda junto com Olaf observando tudo
perto do altar, parados como se realmente entendesse o que estava
acontecendo.
Só então observei meu noivo e futuro marido. Eu sempre ficava
impactada com sua beleza, mas agora... ele estava completamente
maravilhoso com os cabelos presos em um coque e vestido um terno preto.
Meu pai me levou até ele e com lágrimas nos olhos me entregou para
Dylan.
— Faça a minha garotinha feliz, cowboy — ele pediu.
— Eu prometo dar tudo de mim para fazer a sua filha a mulher mais
feliz desse mundo — meu noivo garantiu.
Meu pai assentiu e enxugou as lágrimas indo se sentar no primeiro
banco ao lado de minha mãe.
— Você é a noiva mais linda, garota da cidade — sorri, mas senti as
lágrimas nos olhos tamanho o turbilhão de sentimentos que eu estava
sentindo aqui no peito.
— Você está perfeito, cowboy — eu o elogiei.
Matthew e Alisson estavam do lado direito nos observando com
sorrisos nos rostos, eles eram nossos padrinhos, não podia ser diferente. O
padre deu início ao casamento e quando chegou na parte dos votos tive que
respirar fundo, porque sabia que começaria a chorar como um bebê. Dylan
me olhou e sorriu, mas também estava com os olhos lacrimejados.
— Nunca vou me esquecer o dia que você invadiu o meu rancho e me
enfrentou com sua forma tão provocativa de ser. Eu não estava procurando o
amor até encontrar você, garota da cidade. Eu não queria mais saber desse
sentimento quando só havia me magoado no passado, não queria arriscar de
novo, mas então você apareceu, com a sua força, com o seu atrevimento, com
a sua beleza e roubou meu coração — rimos entre lágrimas — Quero dizer
que eu sempre vou te dizer a verdade, mas nunca irei te dizer adeus. Por anos
pensei que o amor era preto e branco, mas então você chegou e me mostrou
que é dourado, como a luz do pôr do sol representando a nossa união nesse
momento. Eu amo muito você, Ravenna.
Eu com certeza deveria estar com a maquiagem borrada, mesmo que
fosse a prova da água, acho que nada conseguiria segurar ela na minha cara.
Suspirei tentando acalmar as batidas do meu coração, eu precisava falar
agora.
— Teve uma parte da minha adolescência que sonhei com o amor,
aquele tipo de amor de filmes hollywoodiano. Eu me sentava no central park
e sonhava com isso, meu irmão me dizia que esse tipo de amor a gente não
procura, ele simplesmente aparece na sua porta, é engraçado pensar nisso,
porque fui eu que bati na sua porta, ou melhor, invadi sua propriedade, mas
ele estava certo. Eu também não estava procurando o amor quando o conheci,
cowboy. Só que o destino é curioso, é como se esse tempo todo uma corda
invisível estivesse me amarrado a você.... o que quero dizer é que sou muito
grata por Deus ter me trazido até aqui, porque você foi o homem que me
trouxe de volta a vida Dylan, só aquele homem lá em cima sabe o que eu
seria hoje se não tivesse encontrado você. Então eu sempre serei grata por Ele
ter feito meus pais me mandarem para Nightfall e por ter me amarrado a você
com essa corda invisível. Eu amo muito você e.... caramba eu tinha tudo
escrito bem bonitinho, mas eu esqueci.
Rimos, todo mundo riu.
— Está perfeito, amor — ele disse, com as lágrimas escorrendo por seu
rosto também.
Na hora das alianças senti mais lágrimas escorrer ao ver Nina e Billy
trazendo as caixinhas pretas.
— Levou duas semanas para treiná-los, mas conseguiram — Dylan
disse pegando as caixas — Obrigada, Nina e Billy.
Eles latiram e se afastaram.
— Não posso acreditar que você conseguiu isso...
— Se não fosse por Nina e Billy não estaríamos aqui hoje — ele piscou
— Nada mais justo que eles entregarem as alianças.
— É perfeito.
Trocamos as alianças e o padre finalizou o casamento, terminando com
o “pode beijar a noiva”. Nos beijamos ao som de aplausos e gritos de
felicidades dos convidados.
Agora era oficial, eu estou casada com o único homem que já amei
nessa vida e sentia que seriamos felizes para sempre, exatamente como um
conto de fadas.
— Está feliz, Sra. Blossom? — Dylan me perguntou antes de
descermos do altar.
— E você ainda pergunta? É claro que sim!
Depois da cerimônia, todos vieram nos parabenizar. Minha sogra me
abraçou forte e com lágrimas nos olhos me agradeceu:
— Obrigada por fazer esse homem voltar a acreditar no amor — ela
beijou minha bochecha — Sempre serei grata por ter trazido meu filho de
volta a vida.
Sorri, um pouco envergonhada com toda aquela atenção.
Minha mãe se aproximou com Skyller no colo, a nossa filha logo
estendeu os braços para o pai.
— Vem aqui com o papai, filha — ele a segurou e começou a brincar
com ela.
— Não acredito que você preferiu seu pai do que eu, Skyller — a
repreendi e ela só me olhou sorrindo. Tem como não amar um ser desses?
— Parabéns aos recém-casados — Jimmy se aproximou desejando —
Onde será a lua de mel?
— Aqui mesmo — Dylan respondeu — Não podemos nos afastar dessa
pequena aqui.
Eles entenderam no mesmo momento. Com a guarda provisória de
Skyller, ficávamos meio limitados a fazer algumas coisas, como viajar por
exemplo.
— Raven! — Alisson apareceu ao meu lado — Telefone para você.
Estranhei, mas peguei o meu telefone de sua mão. O número era
desconhecido.
— Alô?
— Oi, Raven, é a Jéssica. Desculpa estar te ligando a essas horas, mas
quando recebi a notícia fiquei muito feliz e sabia que você e Dylan
precisavam saber.
— Que notícia?
— Vocês conseguiram! Skyller é oficialmente filha de vocês, a adoção
definitiva foi aprovada. Vocês só precisam vir aqui na segunda para resolver
papeladas e mais outros assuntos, mas o importante é que ela é de vocês
agora.
Eu gritei assustando todo mundo na minha volta.
— Você está falando sério? — O sorriso poderia rasgar o meu rosto.
— Claro que sim! Acha que eu brincaria com uma coisa dessas? — Ela
riu — Parabéns, mamãe.
— Ai meu Deus, obrigada por avisar, Jéssica — eu agradeci.
— Capaz, sei o quanto vocês queriam isso, nos vemos na segunda?
— Sim.
— Até lá então, Raven.
Desliguei o telefone e todos a minha volta me encaravam em busca de
resposta para o meu grito de alegria.
— O que foi? O que Jéssica queria? — Dylan perguntou.
— Nós conseguimos, amor — eu falei o olhando — A adoção
definitiva foi aprovada, Skyller é nossa filha oficialmente agora.
Ele não gritou como eu, mas emitiu um suspiro aliviado e abraçou forte
a nossa filha contra o seu corpo.
— Se isso for um sonho, não me acorde — ele disse beijando a testa de
Skyller.
— Não é.
Os abracei enquanto fechava os olhos e apreciava aquele momento.
Aquele era o melhor presente de casamento que podíamos ter ganhado.
— Estou tão feliz por vocês — minha mãe expressou — Finalmente o
estado decidiu o certo, Skyller merece vocês dois como pais.
— Concordo com a sua mãe, Raven, vocês dois se dedicam tanto a ela,
é incrível o que os três têm — Ivana falou.
Todos nos parabenizaram por aquela conquista bem no dia do nosso
casamento. Dylan entregou Skyller para sua mãe quando uma música
começou a tocar na caixa de som.
— Espero que não se importe de eu ter escolhido essa música para ser a
nossa primeira dança — ele disse estendendo a mão para mim.
Reconheci a música no mesmo momento, My only one de Sebastián
Yatra e Isabela Merced.
— Você não poderia ter escolhido música melhor.
Dylan me levou até o meio de uma pista que havíamos providenciado
para as danças e juntou nossos corpos, segurou minha cintura e começamos a
dançar ao som da música. Ela dizia muito sobre nós dois, sobre os votos que
havíamos feito há alguns minutos atrás. Era a nossa música.
Minhas mãos estavam abraçando seu pescoço e sua boca veio até o
meu ouvido sussurrando a letra tão nossa naquele momento, sorri de pura
felicidade com tudo o que aquele dia havia me trazido. Ele beijou minha
bochecha para depois aproximar os lábios dos meus, com os olhos fixos nos
meus, disse:
— Você é o meu único amor, Ravenna Blossom.
Senti que ás lágrimas de emoções voltariam e foi só ele me beijar para
isso acontecer. Ouvimos os aplausos e outros casais se aproximando da pista
para dançar, mas não nos afastamos tamanho o amor que sentíamos um pelo
o outro.
Dylan encerrou o beijo com vários selinhos e sorriu quando tivemos
que nos afastar.
— Vamos buscar nossa filha para dançar com a gente? — Ele convidou
e eu assenti.
Fomos até Skyller e eu a peguei no colo, caminhamos até a pista e eu
balançava meu corpo com ela, que sorria abertamente para nós dois. Quando
Dylan nos abraçou apertando contra o seu corpo, ela encostou as mãozinhas
em nossos rostos e as deixou ali, nos observando com um brilho no olhar.
As lágrimas voltaram e percebi que as de Dylan também ao ouvi-lo
fungar. Aquela era a nossa garotinha, o nosso bem mais precioso.
— Eu amo vocês duas — ele disse.
Ergui meu rosto e o beijei correspondendo todo o amor e toda a
gratidão que eu tinha por ter aqueles dois em minha vida. Aquele momento
marcava o início da nossa família que eu tinha quase certeza que seria grande,
da forma que Dylan imaginou.
E eu mal podia esperar por todos fios de cabelos brancos que uma
família grande nos traria.
O nosso felizes para sempre começou há meses atrás, mas era aqui que
ele se oficializava.
Há doze anos eu tive uma visão.
Ela veio através de um sonho que eu temi não entender, mas quando
abri meus olhos enxerguei todos os sinais que aquele sonho me indicava.
Era o meu subconsciente me mostrando o que eu ignorei por alguns
meses: Skyller era nossa filha e eu tinha que buscá-la.
Agora, observando meu marido se sentar sobre a toalha branca ao lado
de nossos quatros filhos tive a certeza que o que eu tive foi uma visão. A
mais linda e mais pura visão. Conseguia enxergar perfeitamente a feição
prazerosa de minha filha ao colocar um punhado de pipoca com cobertura de
chocolate na boca.
Ela amava essa mistura.
E eu me lembrava de tudo.
O casamento, a lua de mel em casa com Skyller e a ansiedade e
nervosismo para adotar nossos outros três filhos.
Tudo havia dado certo no final e nossa família estava completa.
— Mamãe, conta uma história! — Skyller pediu.
Sorri e me sentei entre Alexandra e Tyler, de frente para Dylan, Skyller
e Nathaniel.
Nossos filhos estavam todos ali me olhando e esperando com
expectativa que eu contasse uma história incrível.
Olhei para o meu pequeno Nathan com seus cabelos loiros e sorriso
encantador. O adotamos onze meses depois de conseguir a guarda provisória
de Skyller, ele estava quase completando um ano quando conseguimos adotá-
lo. Meus olhos caíram em Alexandra, dez meses mais nova que os dois e que
adotamos logo quando nasceu, ela é a minha morena de olhos esverdeados,
para depois caírem em Tyler... a última e mais recente adoção.
Tyler apareceu na nossa vida da mesma forma que Skyller, o destino o
trouxe para mim e Dylan.
Meu menino de pele negra e olhos castanhos havia sofrido por toda a
sua infância com um pai abusivo e uma mãe alcoólatra. Foi na competição de
hipismo do ano passado que o vi pela primeira vez e fiquei intrigada com a
forma que o pai apertava o seu braço fortemente e a mãe bebia uma garrafa
do que hoje sei não ser água, pouco se importando com os dois.
Eu os denunciei no momento que vi o pai estapear Tyler com uma força
tremenda e a mãe rir, como se aquilo fosse a coisa mais engraçada do mundo.
Duas semanas depois o conselho me ligou dizendo que a guarda de
Tyler estava com o estado e que abririam o processo de adoção. Eu e Dylan
não perdemos tempo e fizemos de tudo para conseguir adotá-lo.
Infelizmente o conselho não conseguiu intervir antes de Tyler
presenciar uma cena que sempre estaria em sua memória: o pai matando a
mãe para logo em seguida se matar.
Fazia um ano que ele se tornou nosso filho e mesmo assim às vezes eu
percebia a tristeza no olhar por todos os momentos traumáticos que passou
dentro de casa com os pais biológicos.
— Mãe! Você está no mundo da lua? — Nathan brincou se referindo a
eu estar perdida em pensamentos.
Suspirei e os olhei. Aquela era a nossa família, a mesma que Dylan
imaginou há doze anos: quatro crianças com idades próximas nos levando a
loucura.
— Era uma vez um casal — eu comecei a contar a história — Um
cowboy lindo, forte e com ombros largos que conquistou a garota da cidade
assim que ela bateu os olhos nele, mas o cowboy não queria um
relacionamento, ele preferia viver no seu mundinho sendo arrogante com
todas as pessoas que tentavam se aproximar, inclusive com a nossa
protagonista.
— Por que ele era arrogante com ela? — Nathan perguntou.
Olhei para Dylan que estava prendendo o riso.
— É amor, por que ele era arrogante com ela? — Perguntei e meus
filhos nos olharam sem entender.
— Porque a garota da cidade sabia provocá-lo como ninguém — Dylan
respondeu — E isso o deixava muito bravo.
— E o que aconteceu depois? — Alexandra perguntou curiosa.
— Eles tiveram que se aproximar para treinar cavalos para as
competições de hipismo — continuei a contar — Conforme o tempo passava
a garota da cidade foi destruindo cada tijolo que formava as paredes em volta
do coração do cowboy, eles começaram a se tornar amigos e mesmo que
nutrissem sentimentos um pelo o outro, ele ainda não queria um
relacionamento
— Mas por que? Ele gostava dela, não é? — Skyller perguntou
enquanto enfiava um punhado de pipoca na boca.
— Mocinha, o que eu já te falei sobre falar com a boca cheia? — Dylan
a repreendeu.
Ela revirou os olhos e ao ver a cara de seu pai, sorriu culpada.
— Desculpa.
— O cowboy gostava dela sim, mas estava com medo porque uma
cobra daquele tipo cascavel o havia machucado no passado.
— E o que uma cobra tem a ver com o relacionamento deles? — Foi
Tyler que perguntou dessa vez confuso.
— É uma.... como é mesmo o nome daquela palavra? — Alexandra
pensou.
— Metáfora — eu respondi — E é isso mesmo, a cobra que estou me
referindo era uma mulher muito maldosa que feriu o pobre coração do
cowboy.
— Mas eles ficaram juntos, né? — Skyller questionou.
— Claro que sim! Ambos aprenderam juntos a superar as dores do
passado e viverem felizes para sempre.
— E o que aconteceu depois? Eles se casaram? Tiveram filhos? —
Alex fez as várias perguntas.
— A garota da cidade e o cowboy se casaram com um pôr do sol lindo
presenciando tudo, tiveram quatros filhos e o nosso cowboy abriu um
hospital veterinário incrível e a sua garota da cidade se tornou uma grande
cowgirl e campeã de hipismo.
Nathaniel franziu a testa juntando as sobrancelhas.
— Tipo você e o papai?
Eu ri assentindo.
— Exatamente como eu e seu pai.
Os quatro entenderam no mesmo momento que aquela era a nossa
história.
— Papai por que você se fez de difícil? — Skyller perguntou para
Dylan.
Dylan riu.
— Porque o seu pai tinha medo, igualzinho a sua mãe disse — ele
beijou a testa de nossa filha — Mas a garota da cidade foi insistente o
suficiente para o cowboy não conseguir resistir mais aos seus encantos.
— Mãe, queremos mais detalhes — Alex pediu.
Eu sorri balançando a cabeça.
— Essa parte é com vocês — eu disse — Imaginem tudo o que
aconteceu na vida desses dois quando estiverem prestes a dormir.
Skyller fez uma careta.
— Você é horrível contando histórias, mãe!
Eu e Dylan rimos alto enquanto nossos pequenos faziam uma cara triste
por não ouvir mais da nossa história.
Olhei para o céu azul estrelado e notei uma estrela que parecia mais
brilhante afastada de todas as outras. Lembrei-me automaticamente de meu
irmão que me contava história da mesma forma, sem muitos detalhes.
Nunca irei deixar sua memória morrer, maninho.
— Abraço coletivo no papai — Nathan exclamou me tirando dos meus
pensamentos.
Todos se levantaram e se jogaram em cima de Dylan sem se importar
se iriam machucá-lo ou não.
— Ah! Um dia vocês irão me quebrar com esse peso em cima de mim
— Dylan disse enquanto fazia cosquinhas em Alex.
Minha filha ria lindamente e tentava revidar.
— Vem, mamãe — Skyller me convidou — Vamos tentar derrubar o
papai no chão.
E eu fui. Em um abraço totalmente desregulado caímos no chão ao som
de risadas.
Aquela era a minha família, os meus bens mais preciosos e eu mal
podia esperar para acompanhar as histórias deles.
Ravenna andava de um lado para o outro e eu sentia que se não a
interrompesse criaria um buraco no chão tamanho o seu nervosismo.
— E se eles não se alimentarem direito? E se Alexandra ou Tyler terem
uma recaída? E se...
— Meu Deus, mãe! Está tudo bem — Skyller tentou tranquilizá-la — É
só uma faculdade.
— Uma faculdade em Campbell! Que está a mais de mil quilômetros
daqui — Ravenna disse — Como eu vou viver sem os meus quatro filhos?
Nossos filhos iriam para a faculdade de Campbell.
Foi uma escolha deles estudar em um lugar tão longe, a universidade
era muito recomendada para quem queria estudar cursos como: moda,
engenharia e medicina veterinária.
Eu não podia julgar a minha esposa porque me encontrava do mesmo
jeito. Nossos filhos sempre estiveram próximos da gente e agora escolheram
ir estudar longe. É óbvio que estávamos com preocupação de pais.
— Foi uma péssima ideia adotar crianças com idades próximas, agora
ficarei sem nenhum — Ravenna fungou.
Me aproximei dela e tentei acalmá-la a abraçando, quando nem eu
conseguia me manter calmo.
— Está tudo bem, amor. Nossos filhos são adultos agora e sabem a
escolha que estão fazendo — eu disse — Nos feriados eles virão para casa,
poderemos matar a saudade.
Alexandra se aproximou de nós dois e tocou o ombro de sua mãe.
— Eu estou bem, mãe, prometo me cuidar. Você não precisa se
preocupar comigo ou com Tyler.
Suspirei.
Quando Alex tinha quinze anos teve uma crise depressiva, a levamos
para vários especialistas, psicólogos e psiquiátricas, mas o diagnóstico foi o
mesmo: nossa filha sofre de transtorno bipolar.
Não gosto nem de lembrar o que passamos com ela naqueles meses.
Uma hora ela estava feliz, compulsiva, eufórica para em determinado
momento ficar deitada na cama e não querer sair de lá nunca mais, tendo até
mesmo pensamentos suicidas.
Já o nosso menino Tyler tem Transtorno Explosivo Intermitente —
TEI, foi diagnosticado com 13 anos quando quebrou o nariz de um colega por
chamá-lo de órfão.
— Rav, você não precisa se preocupar com a gente — Tyler garantiu
— Eu e Alex estamos sob controle. Fizemos terapia e tomamos todos os
medicamentos certinho, lembra?
— Eu sei que vocês conseguem viver perfeitamente bem sem mim, mas
não consigo acreditar que cresceram tão rápido — Raven expressou —
Parece que foi ontem que eu peguei Skyller no colo e agora ela já tem até
uma vida sexual ativa.
— Mamãe! — Skyller a reprendeu.
— Por favor, não me lembre disso — eu pedi.
Saber que minha filha não era mais uma princesinha e que era tão
atrevida e de espírito livre como a mãe, me deixava com o peito doendo.
Skyller não namorava, mas deixava um monte de garotos babando com
sua beleza e pedindo por mais de uma noite que segundo ela, não se repetiria.
Sim, a minha filha era uma pegadora.
E eu sou um pai ciumento. Tem tudo para dar errado e me causar um
ataque cardíaco me levando a morte.
— Mãe, você está exagerando — Nathan disse — Por que não
aproveitamos esses minutos que temos para nos despedir? Logo estaremos
aqui para dar mais cabelos brancos para vocês dois.
Ravenna assentiu enquanto enxugava as lágrimas. Eu a entendia muito
bem, estava segurando as minhas também porque não queria ser zoado pelos
meus próprios filhos, mas era emotivo demais ver seus filhos adultos indo
para a faculdade.
— Eu amo muito vocês — ela se afastou de mim para estender os
braços para eles — Agora venham aqui e deem um abraço na mãe de vocês.
Eles se abraçaram e depois vieram até mim e fizeram o mesmo.
— Estou muito orgulhoso de vocês — eu admiti — Conseguiram a
vaga na faculdade dos sonhos.
— Acho que ser filhos da maior atleta de hipismo e do dono de uma
rede de hospitais veterinários ajudou muito — Nathaniel brincou.
— Deixem de bobagens, vocês conseguiram isso porque são
inteligentes — Raven disse.
Olhei no relógio em meu pulso e vi que daqui a pouco teria que levar
meus filhos para o aeroporto.
— Antes de levar vocês para o aeroporto, vamos estabelecer as regras
— eu comuniquei.
Skyller revirou os olhos.
— Isso é sério, pai?
— Muito sério, mocinha. Eu não quero receber uma ligação no meio da
noite me informando que você estava andando de calcinha e sutiã pelo
campus, que Tyler bateu em um colega ou que Nathaniel está dando em cima
das professoras.
— Ei — ele protestou — Só achei uma professora bonita e foi no
ensino médio.
— E eu não estava de calcinha e sutiã quando corri por Nightfall,
estava de biquíni.
— E quase me fez ter um infarto com todos aqueles funcionários
pervertidos olhando para você — falei — Eu já te disse que você ainda vai
causar a morte do seu pobre pai.
Minha filha riu.
— Não exagera, paisinho. Eu amo você — ela me abraçou — Mas não
precisamos de regras, vamos nos comportar que nem Alexandra.
Bem que eu queria que fosse assim mesmo. Alexandra era a mais calma
de todos, fora as suas crises nunca havia me dado dor de cabeça.
— Fale por você, maninha — Nathan disse — Eu irei curtir muito
naquela universidade.
Suspirei me dando por vencido. Não importava as regras que eu criasse,
eles as esqueceriam no momento que colocassem os pés no avião.
— Promete se cuidar? E chutar as bolas de todos os caras que forem
desrespeitosos com você? — Perguntei para a minha filha que ainda estava
abraçada em mim.
— É o que eu vivo fazendo, não é mesmo?
Assenti e a abracei mais forte contra mim. Minha filha ficava com
quem ela quisesse e por mais que isso fosse comum na vida de um homem
por exemplo, para as mulheres ainda era um tabu a ser quebrado. Felizmente
Skyller não se importava com o que falavam sobre ela na escola ou na
vizinhança e quando um garoto era desrespeitoso com ela, minha garota
chutava o meio das suas pernas.
Skyller era assim com seu jeitinho peculiar de ser.
— Mas tente focar mais nos estudos... talvez seguir a linha da sua irmã.
Ela riu.
— Não vai rolar, pai, minha irmã é uma santa. Ainda nem transou com
o namorado!
Alexandra revirou os olhos e mandou o dedo do meio para Skyller.
— Olha os modos! — Ravenna repreendeu — E Sky, não fale assim da
sua irmã.
Tyler e Nathaniel riram.
— Antes de vocês irem quero que me prometam apenas uma coisa —
Raven pediu.
Eu e Sky nos afastamos para ouvi-la.
— O que? — Tyler perguntou.
— Que não importa o que aconteça, vocês quatro sempre estarão
juntos, protegendo e cuidando um do outro.
Meus filhos sorriram entre eles, com aquela cumplicidade que eu
imaginava que Ravenna e Archer tinham.
— Sempre! — Nathaniel piscou.

Nos vemos em Peculiar....


Chegamos ao final do meu primeiro livro. Primeiro livro... ainda nem
acredito que publiquei ele de forma independente, confesso que há alguns
anos isso era totalmente inalcançável para mim. Por muitos anos deixei que
minha insegurança falasse mais alto e me impedisse de realizar esse sonho,
mas olha eu aqui agora, concluí um livro e ainda por cima conheci as
melhores pessoas no caminho até chegar aqui.
Primeiro, eu quero agradecer a Deus por ter me dado toda a inspiração
e força para seguir meus instintos e passar por cima de toda minha
insegurança para publicar esse livro.
Segundo, eu quero agradecer a todas as minhas leitoras do wattpad e
agora, da Amazon. Muito obrigada por ter chegado até o fim dessa história,
muito obrigada por todas as metas batidas, por todas as risadas no grupo do
WhatsApp, por todo o carinho que vocês deram a Raven e Dylan, muito
obrigada por todos os surtos e todas as teorias. Apenas muito obrigada por
tudo. Espero que Raven e Dylan tenham conquistado o seu coração e que
você me acompanhe nas próximas histórias, porque sim, meus amores, elas
estão chegando.
Terceiro, mas não menos importante. Quero deixar meu muito obrigada
as minhas betas incríveis.
Tati, você é luz na minha vida, sério. Em tão pouco tempo de amizade
você fez tanto por mim que nenhuma outra pessoa fez. Você convenceu a sua
mãe a revisar meu livrinho de última hora a levando ao surto, você me ajudou
com divulgação, com ideias e correu atrás de tantas outras coisas quando
você ainda não era minha beta. Apenas uma leitora que queria ajudar uma
autora nova. Eu já te disse que palavras não são o suficiente para expressar o
meu agradecimento, mas por ora, apenas muito obrigada.
Flavinha, meu amor, muito obrigada por aguentar todos os meus surtos
e toda a minha chatice no quesito de edição (hahaha) você arrasa com todas
essas maravilhas. Você é incrível com todo essa paciência, toda sua
dedicação e toda a essa criatividade.
Maria, muito obrigada por revisar esse livro de última hora e por todo o
apoio.
E agora por último, mas também não menos importante. Obrigada a
minha amiga e parceira Ana França. Lá em 2018 você foi a pessoa que me
incentivou de todas as formas para publicar esse livro. Demorei um pouco?
Com certeza, mas quando eu disse que iria começar a postar, você novamente
me deu todo o apoio. Muito obrigada por isso e por essa diagramação incrível
que você fez.

Eu amo todas vocês!


Vejo vocês em Peculiar...
Beijos, Nath
Nathalia Santos é uma gaúcha que nasceu em 1999 e é apaixonada por
leitura. Descobriu seu amor pela escrita através de fanfics e só veio a publicar
seu primeiro livro original em 2020. Ama ficar de bobeira assistindo seriados
e filmes na Netflix ou Amazon Prime. Muito fã de Taylor Swift e música pop
em geral. Uma pessoa muito curiosa, então viajar é uma das coisas que mais
a inspiram. Também é uma pessoa tímida, mas quando pega intimidade,
adeus timidez!

Você também pode gostar