Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1983
Amália
Bae
Amália
Bae
Amália
Bae
Amália
Bae
Amália
Bae
Amália
Bae
Amália
Bae
Amália
Bae
Amália
Bae
Amália
Bae
Amália
Bae
Amália
Bae
Amália
Bae
Amália
Bae
Amália
Fim
Copyright @ 2022 Mikeiko
Todos os direitos reservados.
A violação autoral é crime, previsto na lei nº9.610/98, com
aplicação legal pelo artigo 184 do Código Penal.
Para aqueles que tem sempre uma mãozinha,
na hora do desespero.
1983
Amália
— Não, obrigada.
— Onde fica?
— Só mudei a perspectiva...
— Viu? Ainda é muito recente, ele ainda não sabe muito bem
dos gostos dela para a comida.
— Não diga isso, tenho certeza que logo vai pensar em alguma
coisa, afinal de contas já faz parte de você, escrever e imaginar um
monte de coisas. — Ela ri e nos observamos por alguns instantes.
— Não seja tão radical, posso ler quando acabar esse projeto,
ou acompanhar o novo livro que vai fazer, quem sabe até me tornar
um personagem, hein? — Mexo as sobrancelhas e ela me encara
de modo sarcástico, negando.
— Ah, não seja maldosa, como vou apreciar seu trabalho se não
me deixar participar? — Ela me analisa, mas continua negando e
logo rimos daquela ceninha.
Uma coisa que nunca faltou entre nós, foi o bom humor e ás
vezes a falta de seriedade com as coisas. Principalmente quando
éramos adolescentes que estavam descobrindo as maravilhas do
mundo, nada era pra ser levado cem por cento à sério de fato.
— Anda logo Bae, vamos nos atrasar pra sessão! — Ela bate
com certa impaciência e indelicadeza na porta do meu quarto.
O final ficou bem melhor que antes, o que me fez ter uma
ideia pra escrever. Volto para o quarto e acabo batendo o
mindinho na quina da cama.
— Alô?
— Oi Ami, está tudo certo? Nosso voo saí hoje à tarde.
— Sim, sim, claro, minhas malas já estão feitas desde ontem,
— ouço sua risada do outro lado — não acredita?
— Claro que acredito, é só que... estou feliz que tenha aceitado
ir comigo, sei que é loucura e completamente fora da sua
rotina, mas você é importante nesse processo.
— Ah que fofinho, obrigada pela declaração, esperei muito
tempo por isso — digo em tom de riso e ouço sua risada
baixa, — te vejo mais tarde, e anota esse discurso pra o seu
roteiro, pode precisar, ficou ótimo!
— Engraçadinha, até mais tarde.
Separo uma roupa simples para tomar café, mas não tão
simples, já que se tratando de Emy, tinha que estar impecável caso
tivesse alguns paparazzi à espreita.
— O que foi?
— Nada, é que não sabia que pintava as unhas do pé.
— A-ah, achei bem legal. — Diz com um sorriso meigo e vai se
vestir.
Tudo ali, desde a entrada até o que ainda não tinha visto, me
deixaram impressionada. O portão principal estava aberto e a única
coisa que impedia nossa passagem eram as catracas dos carros,
mas o porteiro logo liberou nossa entrada sem muito problema.
— Tem duas novelas sendo gravadas por aqui, então tudo está
mais do que agitado. — Olho para o fim do corredor, as
portas duplas pretas, com uma sinalização vermelha de
gravação. Ali não tinha movimento, tão pouco algum ruído.
— E para onde nós vamos? — Fico curiosa quando ele começa
a me guiar sutilmente pelo lado agitado.
— Vamos para a sala de teste, você disse que queria ser
testada, então é isso que farei, mesmo sabendo que é muito
boa.
— Bae, você não tem noção do que está dizendo,
principalmente a respeito de algo que nunca fiz na minha
vida!
— Nunca já é exagero, lembro das filmagens que sua mãe me
mostrava das suas peças do jardim. — Faço careta e reviro
os olhos, quase batendo num rapaz, mas ele pareceu nem
notar.
— Escuta, atuações de jardim, e atuações de criança, não
contam como experiência pra isso, ninguém estava me
pagando e nem estava fazendo aquilo pra salvar a carreira
de ninguém, coisa muito diferente hoje em dia. — Me olha, e
foi sua vez de revirar os olhos.
— Precisa confiar mais em si, vou te dar um texto simples e
pedir que interprete de formas diferentes, só isso.
— Escute Emy, até agora tudo que você tem feito em prol desse
projeto, é descartar as possibilidades de que ele pelo menos
saía do papel.
— Jura? Você me traz uma garota qualquer para estrelar o filme
e quer que eu simplesmente sente e aceite isso?!
— Viu o teste que ela fez, e estava ótimo!
— Ótimo?! Não vê o quão amador foi isso? Ela estava descalça
Bae, por um acaso vai ficar fazendo isso em cena? Temos
que tratar isso de um jeito sério, ou não vai dar certo!
— Precisa começar a levar isso de uma forma mais profissional,
posso ver que está insegura, mas também não está dando
chances a ela com tudo isso! — Ouço um suspiro e um
farfalhar de papel quando abro a fresta da porta.
— Ainda vai ver que essa menina é uma péssima escolha, e
não diga que não avisei. — Sua voz saí ríspida e fria, e um
segundo depois a porta bate.
— Até que foi legal, mas preciso tirar essa roupa logo, meu
bumbum está frio! — Corro apressada para o banheiro assim
que ele abre a porta do quarto.
— Foi bom ter desabafado isso com você, precisava aliviar essa
carga de tempos... — Confessa apoiando a cabeça no meu
ombro. — Bae?
— Sim?
— Você é o melhor homem de todos, e não digo isso apenas
por ser meu melhor amigo e famoso, mas por valer tanto. —
Instintivamente começo a fazer carinho nos seus cabelos
macios e cheirosos.
— Posso dizer o mesmo de você Ami... minha melhor amiga,
incrível e famosa. — Escuto uma risadinha baixa e cansada
antes de notar que ela já cochilava escorada em mim.
Talvez estivéssemos precisando de um momento assim, para
não ficar mais voltando ao passado, essa foi nossa pendência de
quando de me mudei e agora não existia, apenas espaço para as
novas e boas memórias. Agora da vida adulta.
Já que a volta pra casa era de ônibus, então não tinha risco
de me perder. Pelo menos era o que desejava evitar que
acontecesse.
Ainda faltavam pelo menos duas horas pra Bae retornar, não
me desesperei para fazer o jantar. Me sentei com meu caderninho e
um pequeno monte de folhas, mas demoraria muito se fosse
escrever cada folha daquelas anotações na mão.
— Ami?
— Eu? — Me sento na cama e logo o vejo aparecer e sorrir.
— Desculpe, te acordei?
— Acabei de me deitar, deixei seu jantar no forno.
— Obrigado e desculpe a demora, achei que seria bom
antecipar muitos detalhes do filme, só não pensei que
demoraria tanto, mas Emy não facilitou muita coisa...
— Quando começamos a gravar?
— Amanhã mesmo, então sairemos cedo daqui, pra que você
possa ensaiar, fazer a maquiagem, o cabelo e tudo mais.
— Cedo quanto?
— Ás seis.
— Algum problema?
— Não... é que eu tinha pensado em irmos naquele lugarzinho
que você me mostrou, quero muito ver como é por dentro e
tirar algumas fotos pra deixar registrado antes de voltar pra
casa, sei que o processo do filme não vai deixar tanta brecha
de tempo e ainda tenho meu livro, então quero aproveitar
com você algumas oportunidades. — Vejo que pareceu
desapontado e segura minha mão.
— Não vou deixar você voltar a Milliot sem antes conhecer
aquele lugar, mas precisamos dar prioridade a nossa
agenda, sei que o seu prazo é menor que o meu.
— Me promete então?
— Fala sério, isso não pode ter acontecido, quer dizer, qual a
chance? Será possível que estamos destinados a esses
micos sempre que estivermos juntos? — Continuo rindo.
— É por causa desses micos que estamos unidos até hoje, sem
volta. — Diz revirando os olhos e começa a rir também.
— Promete pra mim que nunca mais vai vestir um macacão?
— Não posso prometer isso, mas sim que vou utilizar um
número mais confortável. — Nos olhamos e voltamos a rir
feito bobos.
Arrumamos a bagunça, ele foi comer e eu mergulhei de cara
nos travesseiros, precisava de um bom descanso.
— Ester, você tem que entender que nem tudo é para ser como
desejamos, ás vezes temos apenas que acatar o que nos foi
reservado!
— Jura? Não foi isso que me disse na noite em que te falei
aquelas coisas...
— Por favor, me diga que não vai levar essa ideia pra frente? —
Romeo, quer dizer, Sam, toca o rosto de Ester com ternura.
— Se ficar, terei que ser um fantoche deles e de toda forma,
vou acabar sem você...
— Claro que não, já te disse que...
— Pare! Pare com isso, sabe muito bem que existem pessoas
aqui capazes de te usar para conseguirem o que querem de
mim, colocando sua vida em risco! — Me afasto dele e
coloco a mão no coração.
Não sei quanto tempo passei ali, mas quando saí para voltar,
vi Bae saindo do elevador com uma feição preocupada.
— Vou pedir nosso café da manhã, não vai dar tempo de fazer.
— Ficou meio difícil, vocês se vestem bem, mas... vou ter que
escolher as peças do Bae, desculpe Amália. — Diz com um
sorrisinho simpático e minha amiga faz uma careta pra mim.
— Você fez por onde, meus parabéns. — Estende a mão e
aperto com um sorrisinho cínico.
— Cuidado moça!
— Desculpe!
— Não era pra você estar aqui Sam. — Olho para Romeo com
certa tristeza, como a cena pedia e ele faz o mesmo.
— Tinha sim, não posso simplesmente aceitar que vai fugir e
ignorar tudo que conversamos... — Cochicha.
— Já disse tudo que devia e até mais do que não deveria, cada
dia que fico aqui aceitando as vontades alheias, é um pedaço
que abandono de mim.
— E nós dois? Como ficamos no meio disso tudo?
— Nós... não ficamos Sam. — Vejo uma lágrima escapar do seu
olho esquerdo e guardo minha surpresa, ele atuava tão bem,
mas não queria acabar com o ritmo do nosso ensaio.
— Não posso levar a sério isso que está me dizendo...
— Sinto muito, mas isso é um adeus e como último pedido, não
me siga, não quero que nada te aconteça. — Me concentro
para chorar, mas não consigo com tanta facilidade como ele,
então passo a mão no rosto como se estivesse mesmo
enxugando uma lágrima.
Discretamente Romeo faz um legal, me dando mais coragem
para o que vinha a seguir.
— Nada é pior do que saber que não lhe terei mais em meus
dias — pausa dramática para nos olharmos tristes e aí
vem..., — pelo menos posso lhe dar um último beijo?
— Será justo. — Nos aproximamos e Romeo passa a mão
delicadamente pela minha cintura, deixando nossos corpos
mais próximos.
— Tem muita coisa pra gravar hoje? Não sei se vou aguentar
muito tempo sem me escorar em algo para dormir.
— Felizmente não tem, mas tem prova de figurino e isso é bem
cansativo também, a Taylor precisa fazer ajustes para as
próximas peças e sem demora.
— Ela é tão fofa, — sorri e boceja em seguida — sua agente
parecia feliz ontem, desde que conheci ela, é a primeira vez
que posso dizer isso.
— Ah sim, e estava mesmo, fechamos um bom contrato de
comercial para uma empresa, sem contar nos comentários
positivos dos patrocinadores com a produção do filme, estão
com boas expectativas para o retorno financeiro.
— Que bom, e o prazo para estreia?
— Era isso que queria falar com você, sei que seu prazo é
menor e que deve estar com vontade de voltar logo, mas
queria que ficasse pelo menos até a estreia, quero que esteja
comigo no tapete vermelho. — Sorri e recebo um sorriso
genuíno de sua parte também.
— Claro que sim seu bobinho, nem precisava perguntar, mesmo
estando com vontade de voltar, também estou adorando
estar aqui com você vivendo tudo isso.
— Que abacaxi! Odeio isso, por que tinha que acontecer justo
comigo?! — Pareceu frustrada e vou pegar água pra ela.
— Ami, não se preocupe, daremos um jeito, podemos usar um
dublê até passar sua irritação e descobrir o que realmente
aconteceu para sua pele irritar assim, se for mesmo a
maquiagem...
— Terei que sair da produção, não é? — Fica triste e assinto de
modo sincero.
— Mas vamos pensar positivo, talvez tenha sido algum dos
produtos que estava vencido.
— Meus olhos não irritaram tanto, ainda bem, pelo menos vou
poder escrever enquanto estiver de castigo.
— Essa cor de tomate combina com você. — Implico e ela me
mostra a língua.
Pensar nele, antes de seu retorno, era algo que aquecia meu
coração e me fazia tão bem, principalmente quando a saudade
falava mais alto, e naquele instante, naqueles dias que se
passaram, algo pareceu crescer em mim de uma forma que não
sabia explicar ou que havia sentido, estar com ele depois de tanto
tempo, ás vezes parecia uma ilusão e saber que nos entendemos
apesar disso, é surreal.
Fui até aquela sala onde passei tudo que havia escrito a mão
para o papel datilografado, já fazendo algumas correções. Porém
demorei bastante já que minha cabeça divagava até Bae, deixando
meu coração com uma sensação estranha e ao mesmo tempo
incrível! Sem contar nos sorrisinhos bobos que surgiam.
Ouço a porta abrir e tomo um leve susto, era Joana, meu anjo
da guarda ali naquele lugar.
Me levanto e a abraço.
Espero uns dois minutos, só pra ter certeza que não me ouviu
e finalmente saio dali de baixo.
Ajeito o vestido e vou até a porta, abro uma fresta e vejo ele
bem ali do outro lado, no balcão, bem de frente para a minha saída.
Fecho devagar e penso numa forma de sair dali. Olho em volta, se
tinha telefone até no corredor, então poderia ter pelo menos um ali...
Logo pela manhã ela também não estava mais ao meu lado,
no entanto a cozinha estava com um cheiro muito bom, e minha
amiga estava bem sentada, já tomando um suco e comendo.
— Como está?
— Bem melhor e você? Já terminou suas tarefas por hoje? —
— Se divertiu?
— Nem imagina o quanto. — Sorri de canto e ele passa o braço
por meus ombros, me puxando delicadamente para perto e
beijando o topo da minha cabeça.
— Algo que me diz que ela não ficou feliz, nem nunca parece
estar também. — Ele ri baixo e voltamos a ficar juntos.
Faço como pede e viro um pouco o rosto antes que ela bata o
retrato, com certeza ia sair uma parte da careta que fiz. E a vejo rir
conforme vai aparecendo.
Não sei se pedir ajuda a ela, era a melhor escolha, até por
que eu nem sabia se a mesma faria aquilo de bom grado.
Entramos no restaurante e guardo o jornal na bolsa, nem
reparei tanto na decoração, só notei a iluminação baixa, que trazia
certo conforto e os tons de madeira claros e escuros se
contrastando as rosas vermelhas, que deixavam o aroma leve.
Minha cabeça só conseguia pensar em como conseguiram aquela
foto, e de onde tiraram aquela ideia?!
— Vi a notícia que saiu sua com o Romeo, é por isso que está
tão inquieta? — Seu jeito de falar comigo, era tão forçado,
que podia ter quase certeza de que se dirigir a mim lhe
causava alguma dor, de tão esquisito que era seu tom.
— Não gosto de mentiras, só isso.
— Emy, será que você poderia resolver isso, por favor? — Ela
olha um tanto surpresa pra ele.
— Não precisa se preocupar com isso Amália, é tudo por você
ser a novata da produção, mas já, já um escândalo maior e
de verdade toma a cena. — Seu tom estava me deixando
bem desconfortável.
— Pode fazer algo para ajudar, ou não?
— Claro, farei o possível, afinal, uma amiga do Bae, também é
minha amiga e devemos trocar essas figurinhas caso
necessário, não é?
Silenciosamente eu respondi um “não! ”, mas fisicamente,
apenas balancei a cabeça em concordância. Depois disso, a
conversa ficou monopolizada entre eles e eu fiquei comendo em
silêncio, ela sabia rir e se divertir, o que era bem surpreendente,
visto que noventa e nove por cento do tempo ela estava de cara feia
e falando de modo ríspido comigo ou qualquer outro.
Uma hora depois, ela foi embora de táxi, e nós dois fomos em
mais um passeio do cronograma do dia, e eu só esperava que esse
fosse tão bem quanto o de logo cedo. Nada de patos ou roupas
manchadas.
Ainda não havia parado pra pensar, que de uma vez só,
estaria em um filme e lançando um livro, tudo envolvendo romance.
— Seus fãs tem uma energia incrível, e não seria pra menos. —
Diz orgulhoso quando entramos no quarto.
— É por isso que ser escritora é bem melhor que ser atriz. —
Implico e ele faz careta.
— Sua pele está bem melhor, ainda bem que vou ter minha
parceira de volta. — Diz empolgado e compartilho daquela
animação.
Eles faziam parecer que era algo comigo, mas era bem
evidente que não passava de questões masculinas mal resolvidas.
— O que houve?!
— É reação alérgica ao amendoim, temos que ir para o hospital,
agora!
Com certeza a pessoa envenenada ali, não era eu. Sinto uma
culpa imensa por ter dado aquele deslize sem tamanho e agora meu
melhor amigo estava em maus lençóis.
— Senta aqui bonequinha, você não tem culpa, não tinha como
adivinhar. — Diz de um modo carinhoso e hesito antes de ir
me sentar.
Até que a noite foi tranquila, jantamos aquela sopa sem gosto
e meio amarga, jogamos o jogo da velha e conversamos bastante
antes de dormirmos.
— Que susto, nem fazia ideia dessa sua alergia, toma cuidado
no que anda comendo homem! — Taylor me repreende de
forma divertida e ri.
— Farei isso, só essa noite já foi suficiente para não querer
voltar lá tão cedo.
— Precisamos conversar. — Emy vai me puxando da roda.
— Algum problema?
— Claro que sim, você foi parar no hospital por conta de uma
irresponsabilidade daquela garota. — Sussurra e franzo o
cenho.
— Espere, ela nem sabia que tinha amendoim naquela coisa,
nem que estava batizado.
— C-como?
— Pois é, alguém fez uma brincadeira de péssimo gosto com
ela, e felizmente não acabou mal, ou pelo menos tão mal
quanto deveria ser e vou descobrir quem fez isso.
— Por que não se preocupa com você primeiro? Afinal de
contas, ela parece muito bem, já não digo o mesmo da sua
pessoa... — Coça a nuca com uma cara de incomodo.
— Entenda que isso aconteceu porque tem alguém tentando
prejudicar ela, o que me faz começar a desconfiar do
episódio da maquiagem também.
— Eram produtos vencidos, já sabemos que foi apenas um erro
técnico.
— Um “erro técnico” que só afetou a ela.
— Está com febre? — Toca minha testa. — Acho melhor
descansar, está começando a criar coisas onde não existem.
Quarta-feira
— Sei que ela não está na mesma sintonia que eu, de romance
e essas coisas, mas acredite quando digo que estou
completamente na dela. — Evito demonstrar qualquer
incomodo.
Uma coisa que não poderia esquecer e que bom que alguém
teve tempo de pensar nisso, era uma ótima forma de agradecê-la
também pela grande ajuda que me deu com tudo isso.
Amália
A Sexta chegou mais rápido do que gostaria, quer dizer, em
parte. Estava louca para descansar um pouco e poder focar nos
detalhes da finalização de mais um capítulo do livro, por outro lado,
era só mais um lembrete que meu tempo ali estava chegando ao
final e que em breve estaria saindo daqui direto para o aeroporto e
sabe-se lá quando voltaria.
— Exagerei?
— Claro que não, está perfeita, vamos lá que já perdemos mais
dez minutos senhorita.
— Tudo bem, por ali moço. — Digo animada e vamos entrando
no elevador.
O plano inicial era jantar e depois ir ao parque, no entanto,
nenhum de nós dois estava disposto a esperar tudo isso para nos
divertimos. Seguimos direto para a diversão.
— Bae...
— Emy, eu acho melhor você ir, já adiantamos muitas coisas,
esse resto vejo sozinho. — Tento ser o mais delicado
possível, não queria magoá-la, porém, não queria ficar
naquela saia justa... mais do que já estava.
— Tudo bem, eu só... me desculpe, foi um impulso, não quero
que...
— Por favor, não precisa se explicar. — Mantenho o tom e pego
suas pastas lhe entregando com cuidado. — Te levo até a
porta.
Sim, iria embora ainda hoje, uma das coisas que consegui
fazer na madrugada foi falar com a central de vendas 24h de
passagens aéreas, e garantir minha volta pra casa.
O pior foi olhar na janela e ver que não tão distante, o céu já
ficava numa cor diferente, mais escura, e só piorava. Dependendo
de como o céu estivesse amanhã até a hora da viagem, não teria
voo, e o que pode mais enlouquecer uma pessoa apaixonada, do
que estar, literalmente, com uma nuvem gigante e carregada a
ponto de desfazer seu ato de reconciliação?
— Eu... agradeço seu gesto e todo seu cuidado para trazer isso
até mim. — Falo sincera enquanto coloco as folhas do chá,
no bule.
— Era o mínimo que te devia e tem mais uma coisa... — O vejo
arrepiar, mesmo enrolado na toalha.
— Que coisa?
— Estava pra te contar o que aconteceu nessa viagem, e que
de fato escondi de você. — Meu coração pareceu pular uma
batida e acelerou outra vez.
— Vai falando.
— Eu te amo Amália. — Sinceramente, não estava esperando,
e minha reação foi ficar estática enquanto ele se aproximava
de onde eu estava. — Fiquei com medo de te perder quando
tomei consciência de tudo que estava sentindo, mas quando
você se foi sem se despedir, me vi na obrigação de te
encontrar e não deixar nada guardado. — Toca meu rosto,
seus dedos estavam gelados contra a minha pele, e isso
desperta um arrepio que percorre todo o meu corpo. — Vim
saber se tenho seu perdão, e se esse sentimento é
correspondido.
— Céus! Que bom que você veio antes, não imagina o caos
que está aqui sem esses telefones. — Dona vem até mim e
me abraça de forma apertada, mas suspiramos aliviadas. —
Bom dia Cinthia, bom dia Amália, vamos pra minha sala,
temos muito o que falar. — Assinto e ela saí me levando pelo
braço.
Liguei para lhe contar que as coisas haviam dado certo, mas
não estava totalmente assegurada da publicação ainda. Não
estiquei a conversa, ainda estava tentando absorver tudo aquilo de
hoje e principalmente tratar em minha cabeça as memórias que
circulavam e me confundiam.
Quarta-feira
Consegui terminar o que precisava para garantir a edição,
corri logo cedo para uma reunião com Donatella e os chefes da
editora, que já tinham sido tão pacientes comigo desde que fiz
aquela renovação após o primeiro lançamento. Eles realmente
confiavam e apostavam alto em mim, então não queria decepcionar.
— Acho que essa foi a reunião mais tensa que já tive. — Diz
humorada e acabo rindo.
— A minha também e… espero que dê tudo certo, não falta
tanto pra chegar ao final, mas não quero perder tudo no
último minuto.
— Ai, vira essa boca pra lá, vai dar tudo certo, não nadamos
tanto pra morrer na praia. Somos vencedoras. — Assinto
com um sorriso confiante, espelhado no dela. — Hoje à noite
quero que se arrume e me encontre no Culinária da casa,
vamos jantar.
— Achei que desse azar comemorar antes da hora.
— Só vamos conversar, nada de comemoração, só amanhã
quando as notícias chegarem, — sorri — te espero às sete.
— Até mais então.
Amália veio até mim com um beijo sedento, suas mãos foram
delicadas e lascivas pela minha nuca até os cabelos e assim que
toco a parte exposta da pele de suas costas, pude sentir como se
arrepiou. Ela foi nos guiando até que caímos no sofá, com seu corpo
sobre o meu, no começo fiquei um pouco tímido dela sentir como
estava minha situação abaixo da cintura, mas quando começou a
me despir, senti segurança em prosseguir com tudo.
— Que bom que chegou, temos muito o que falar. — Dona diz
com um sorriso gigante e minha ficha caiu no mesmo
instante.
— Esse sorriso significa que...
— Faremos sua produção e daremos mais um tempo para a
conclusão dos outros processos. — O homem diz e dou
pulinhos de tanta alegria, mas logo me recomponho e limpo a
garganta fingindo que aquilo não tinha sido eu.
Agradecimentos