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Sinopse

June Hart é uma professora do primeiro ano afetuosa e tagarela que vem de uma
família de médicos famintos por dinheiro. Quando June herda a casa de 1920
que pertencia a sua avó, ela é obrigada a remodelá-la, na esperança de mostrar à
sua família egoísta que ela é capaz de ser mais do que uma professora
insubstancial.

No processo, ela passa um tempo considerável com seu empreiteiro gato e mal-
humorado, Grant Dawes.
Grant Dawes é um faz-tudo rabugento que parece consertar tudo, exceto seu
passado conturbado. Sua falta de família e amigos o leva a colocar todo o seu foco
na restauração de casas. Isso até que uma cliente obcecada por bolinhas, crochê e
Coca-Cola de baunilha abre caminho para acabar com sua rotina.
Quando ele se apaixona por sua doce cliente, June Hart, Grant é forçado a
confrontar sua complicada história para ter um futuro com ela.
Dedicatória
Para Justin,
Obrigado pela coragem, força e amor que você me deu.
Você sempre será meu Grant.
Tabela de Conteúdos
Sinopse
Dedicatória
Tabela de Conteúdos
Aviso — bwc
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Epílogo
Nota do autor
Aviso — bwc
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Prólogo
GRANT

Hoje faz um ano desde o pior dia da minha vida. Um ano completo. Doze meses.
Trezentos e sessenta e cinco dias.
Eu havia passado o último ano de cabeça baixa, totalmente focado no
trabalho e totalmente fechado para o mundo ao meu redor. Eu fiz de tudo e
qualquer coisa para me manter ocupado e me distrair da cena tortuosa que
constantemente se repetia em minha mente.
Alguns dias eram mais fáceis do que outros. Eu poderia lidar com isso na
maioria dos dias, desde que eu pudesse me manter ocupado com meu mais
recente projeto de casa. No entanto, feriados, aniversários e ocasiões especiais
faziam meu estômago revirar, como no dia em que minha vida virou de cabeça
para baixo.
Perambulei pelos corredores da loja de ferramentas Cooper's. O cheiro de
madeira recém-cortada e serragem invadiu meu nariz. Trouxe de volta
lembranças de trabalhar em uma nova construção em dias quentes de verão,
suando do nascer ao pôr do sol. Minhas botas disformes e gastas batiam no piso
de concreto rachado da loja, levantando poeira a cada passo.
Andei em círculos e passei pelas luminárias pelo menos duas vezes. Tirei meu
boné surrado do Braves e passei a mão pelo meu cabelo comprido. Eu
normalmente mantinha um cabelo curto e bem aparado. No entanto, parei de
me importar com minha aparência ultimamente. Não era como se eu tivesse
alguém por aí para impressionar de todo modo.
Vamos, Grant. Por que você entrou aqui?
Meus pensamentos foram abafados pelo som de uma rebarbadora cortando
chapas nos fundos da loja. Parei no meio do corredor para poder me concentrar.
Marquei os itens da longa e interminável lista de coisas a fazer hoje para manter
minhas mãos e mente ocupadas.
Pinte o revestimento da casa dos Madden.
Substitua as calhas para a Sra. Thelma.
Conserte a lava louças do apartamento na rua principal.
O som de duas crianças gritando quando passaram correndo por mim me
trouxe de volta ao presente.
Eu havia perdido a noção do tempo e estava prestes a desmaiar em meu sofá
desconfortavelmente novo de camurça marrom e encher a cara até dormir. Se eu
continuasse assim, será meia-noite quando eu for sair daqui. Minha mente estava
em todo lugar hoje, e eu não tinha certeza se teria energia suficiente para
conseguir os suprimentos de que precisava.
Apenas pegue as coisas que você precisa, idiota, e volte miseravelmente para
casa.
Um adolescente com longos cabelos negros e um piercing no nariz maior do
que o meu polegar estava no caixa, olhando para mim sem piscar. Ele deve ter me
visto vagando por esses corredores repetidamente, mas quem era ele para me
julgar? Ele parecia ter acabado de sair do set de audições do American Idol.
— Posso ajudá-lo em alguma coisa, senhor? — perguntou, sua voz era uma
versão fina e esganiçada de um sussurro.
— Não — rebati, mais grosseiro do que eu pretendia. Mas, em vez de me
desculpar como o antigo eu teria feito, continuei seguindo em frente. Eu era um
homem adulto e não precisava da ajuda de uma criança. Eu me direcionei para o
corredor correto. Mantive o olhar no corredor de eletrodomésticos à frente e
avancei com determinação, como se não tivesse nenhum fardo sobre minha
cabeça.
Eles disseram que os cinco estágios do luto são: negação, raiva, barganha,
depressão e aceitação. Seria possível sentir os quatro primeiros ao mesmo tempo?
Manter memórias tão especiais que você as reproduz repetidamente como um
disco arranhado; então pegar esse disco e esmagá-lo contra a parede, para
esquecer todas as melodias. Eu sabia que não era viável manter esse estilo de vida.
Eu precisava de uma nova distração – um novo hobby. Porra, talvez eu precisasse
de um milagre. Eu me recompus e fiz meu caminho para o corredor de pintura
quando ouvi uma voz suave grunhindo.
— Ah, qual é? — A voz ficava mais alta quanto mais perto eu chegava do
meu destino. Cheguei ao final do corredor coberto de latas de tinta, verniz e
pincéis. No meio do corredor de tintas estava uma mulher morena e baixinha,
tentando alcançar um verniz na prateleira de cima, na ponta dos pés. Seu
pequeno corpo se esticando, seus braços curtos tentando agarrar a pequena lata.
Seu rosto em forma de coração e maçãs do rosto salientes estavam tensos em sua
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posição. Seu lábio inferior enfiado entre os dentes retos e seus olhos
semicerrados.
Senti a necessidade de zombar de sua roupa: short rosa brilhante e uma
camiseta branca com fósseis de dinossauros que diziam: “A primeira série arrasa”.
Ela era professora? Quando ela pôs os pés no chão, encarei-a mais de perto. Ela
devia ser trinta centímetros mais baixa do que eu, e parecia que eu poderia
levantá-la com o dedo mindinho. Seu longo cabelo castanho esvoaçante estava
frouxamente amarrado para trás com uma fita branca.
Procurei nos corredores opostos por um funcionário, mas tão tarde da noite,
havia poucos e não queria chamar aquele garoto do caixa. Pensei em ajudá-la;
minha vantagem de altura, sem dúvida, tornaria mais fácil agarrar o verniz. Mas
eu meio que gostei de ver essa mulher baixinha se esforçando ao máximo para
alcançar a prateleira de cima.
— Tudo bem. Aqui vou eu.
Ficou claro que ela não fazia ideia de que eu estava no final do corredor,
observando-a. Ela colocou as mãos na prateleira à sua frente e começou a escalar.
Ela estava com o pé em cima de latas de tinta, e a prateleira de metal rangeu
quando ela ergueu o peso sobre ela. Ela não devia pesar muito, mas as velhas
prateleiras mal conseguiam conter os suprimentos colocados nelas.
A morena bufou e bateu os pés como uma criança quando voltou ao chão.
Ela deu alguns passos para trás, olhou para o verniz, depois olhou para baixo e
acenou com a cabeça para si mesma.
Pegando uma lata de tinta, ela a colocou no chão. E depois outra em cima
dessa. E mais outra. Ela fez uma torre de latas de tinta, e eu tive que dar-lhe
algum mérito por ser tão engenhosa. Ela subiu nas latas e agarrou o verniz
desejado. Ela sorriu para ele e pulou de volta para o terreno plano.
— Rá! Eu sabia que conseguiria pegar você. — Ela falou com uma lata, e eu
aqui pensando que o doido era eu.
Eu me senti culpado por nunca ter me oferecido para ajudar, mas,
honestamente, gostei do showzinho dela. Eu usaria qualquer coisa para me
distrair de onde minha mente estava cinco minutos atrás. Ela colocou cada lata
no lugar e começou a andar na minha direção. Tentei continuar andando ou me
virar para que ela não me visse, mas era tarde demais. Seus olhos se fixaram em
mim. Merda.
Seus cílios grossos bateram um no outro, seus olhos castanhos olhavam para
os meus; me vi sendo puxado para ela. Sua boca formou um “o” e então se
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curvou em um sorriso inclinado cor de rosa.
Eu estava prestes a falar, pronto para fazer algum comentário sarcástico sobre
suas habilidades de escalada. Ou talvez algo sobre sua camisa estranha. Mas algo
me parou. Minha voz ficou presa na garganta e senti vontade de forçá-la apenas
para falar com ela.
— Oh. Hum… oi. — Sua voz era calma e tímida, mas ela sorriu para mim
como se eu a conhecesse há anos. — Espero que você não tenha visto tudo isso.
Normalmente não subo em prateleiras aleatórias para pegar coisas. Tentei puxar
uma caixa de ladrilhos de uma prateleira há algumas semanas e levei uma
pancada na cabeça. Tive enxaqueca por alguns dias; depois disso, tento não
puxar as coisas para baixo agora. Até tive que pedir a um amigo para que me
levasse ao trabalho por um tempo. Eu tinha um olho roxo e tive que usar um
tapa-olho. Todas as crianças diziam que eu parecia um pirata, então eu tinha que
fazer piadas sobre piratas o dia todo, é claro.
Ela riu para si mesma e olhou para o verniz. Olhei para a lata em suas mãos
delicadas e depois de volta para seu rosto sorridente.
Quando eu não comentei sobre sua divagação, ela continuou.
— Este era um verniz que eu precisava para o meu piso e não queria pedir
ajuda.
Seu sorriso brilhante e de dentes retos estava piscando para mim. Olhei para a
lata, aquilo claramente não era para pisos, e minha curiosidade aumentou ainda
mais.
Quem era essa garota? Aquela caixa de ladrilhos deve tê-la atingido com força.
— Acho que poderia ter pedido ajuda, mas realmente não gosto que as
pessoas façam coisas para mim. Acho que foi por isso que a vovó me deixou sua
casa. Ela tinha linóleo em cima da madeira e meu amigo me disse que eu deveria
tingi-los. Não tenho certeza se vovó gostaria disso, ela sempre foi antiquada...
Ela se atrapalhou com as palavras e usou a mão livre para gesticular enquanto
falava. Seus lábios eram cheios e formavam um biquinho enquanto ela estava
fazendo seu discurso retórico.
Pare de olhar para os lábios dela, seu esquisito.
Essa garota sempre fala tanto assim? Eu não necessariamente me importei.
Mas eu era um estranho e estava ouvindo as bobagens dela.
— Bem, acho que vou colocar isso por cima? — Ela estava olhando para o
verniz mal escolhido, e meu coração doeu ao pensar naquelas preciosas madeiras
originais indo para o lixo.
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Eu deveria fazer alguma coisa. Dizer algo. Eu provavelmente deveria dizer que
sou um empreiteiro licenciado e faria isso com prazer para ela. Pensei em todas as
maneiras de pintar aqueles pisos e tinha toda a intenção de dizer a ela que queria
ajudar. Abri a boca para sugerir que ela me contratasse, mas minha voz ficou
presa na garganta.
O que está acontecendo?
Eu nunca travei conversando com mulheres bonitas e certamente nunca
fiquei sem palavras.
Eu continuei olhando-a e soltei um leve grunhido ao invés de responder a seu
desabafo.
— Hum.
Seus olhos encontraram os meus novamente. Ela parecia ligeiramente
surpresa e corada, provavelmente envergonhada com seu pequeno desabafo. Eu
realmente deveria ter me explicado, mas meus olhos estavam presos nos dela.
Devo ter parecido um babaca, mas isso não a impediu de ser educada.
Ela desviou os olhos dos meus e examinou as prateleiras até o verniz em suas
mãos. Ela caminhou em minha direção, e meu peito apertou.
— Bem, eu só vou…
Ela apontou seu dedo minúsculo para o outro lado de mim, gesticulando
que ela precisava passar. Eu simplesmente virei meu corpo para a esquerda e a
deixei ir. Enquanto ela passava, percebi o cheiro de seu perfume. Ela tinha um
cheiro doce e floral. Me lembrava o verão, cheio de vida e sol.
Quando foi a última vez que você notou o perfume de uma mulher?
Evitei responder à pergunta que ecoava em minha cabeça.
Ela estava leve e alegre, praticamente saltitando durante a caminhada até o
caixa, com o rabo de cavalo balançando de um lado para o outro. Inclinei-me
para trás, para que eu pudesse vê-la seguindo em frente. No lado oposto dela,
faíscas voavam de um homem mais velho cortando chapas de metal. Eu senti
como se estivesse observando seus movimentos em câmera lenta, branco e
dourado brilhando ao fundo com as faíscas ao redor de seu corpo balançando.
Uma vez que a garota bonita estava fora da minha vista, eu visivelmente
chacoalhei meus ombros para me concentrar. Tinta de acabamento. Era para isso
que eu estava aqui. Andei mais pelo corredor, tentando encontrar a marca
específica que precisava para cada casa. Segurei uma lata grande pela alça e a
deixei balançar na ponta dos dedos. Meus olhos voltaram para o verniz à base de
água na prateleira de cima. Aquela pobre garota ia estragar o que eu tinha certeza
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que era um belo piso. Rezei do fundo do meu coração para que alguém a
impedisse antes que ela cometesse esse erro. Mas também queria secretamente
que ela buscasse empreiteiros na área e me ligasse.
Parei, olhando para as prateleiras abastecidas pela metade, pensando nela.
Fazia um tempo que eu não reparava em uma mulher. No entanto, lá estava eu,
incapaz de tirar isso da cabeça. Eu realmente deveria interrompê-la e pedir
desculpas, talvez me oferecer para ajudá-la com o chão e qualquer outra coisa que
precise ser feita naquela casa.
Coloquei a tinta no piso de concreto e corri de volta para a frente da loja.
Assim que avistei o caixa, observei poucas pessoas na frente. Os únicos ali eram
um homem mais velho e o mesmo caixa, sem nenhuma garota à vista. Caminhei
rapidamente para as janelas da frente. Tudo o que pude ver foi minha
caminhonete surrada e um pequeno sedã vazio no estacionamento.
Ela se foi. Fiquei apenas com uma pequena lembrança dela para rever na
minha cabeça – isso e o pensamento traiçoeiro daquele piso de madeira
arruinado.
Capítulo 1
UM ANO DEPOIS
JUNE

— Eu estou desistindo de todos os garotos, June. Parei de vez — declarou


Ashley.
Eu deveria saber que nossa conversa começaria assim quando concordei em
encontrá-la para tomar um café. Meu único dia de folga na semana geralmente
era gasto com Ashley, ouvindo suas reclamações sobre o jogo de namoro. Hoje
não foi diferente. Nossas reuniões semanais no Java Joint rapidamente se
tornaram alguns dos meus dias favoritos. O cheiro de café quente, além do
barulho de várias conversas ao nosso lado, sempre parecia me deixar à vontade.
Tomei um gole da minha Coca-Cola sabor baunilha sem açúcar, aceitando a
decisão da minha melhor amiga de dispensar os garotos e que ela nunca abriria
outro aplicativo de namoro novamente. Acomodei-me na cadeira verde e
coloquei minha cabeça contra a parede fria de tijolos expostos.
— Bem, você sabe que não é a primeira vez que temos essa conversa. Tenho
certeza que a última foi apenas alguns meses atrás — argumentei, dando-lhe uma
piscadela.
Ela revirou os olhos como sempre fazia.
— Sim, mas para ser justa, não pensei que fosse me apaixonar pelo meu
vizinho. Ele parecia tão doce quando o vi carregando as compras da Sra.
Goldman que no mesmo instante eu já estava planejando as flores do nosso
casamento.
Eu ouvi a história de Ashley sobre seu recente ex-namorado deixando-a
desconfortável toda vez que ela entrava no complexo de apartamentos. Ela fez
gestos fervorosos, fazendo com que seu cabelo loiro caísse sobre os olhos. Ashley
era mais corajosa do que qualquer pessoa que eu conhecia; ela tendia a ser mais
ousada do que a maioria das pessoas se sentia confortável. Ela foi direta e honesta
com todos que conheceu e possuía a confiança que a maioria das mulheres
sonhava.
— Quero dizer, quem imaginaria que ele terminaria comigo em uma
banheira enquanto eu estava seminua? Essa era a última coisa que meu ego
precisava nesta semana. Eu deveria ter usado rímel à prova d'água para pelo
menos não parecer um guaxinim afogado na minha caminhada da vergonha
voltando para casa.
Ela fez beicinho e olhou para a mesa, brincando com uma mecha de seu
cabelo loiro.
Tentei me concentrar na narrativa da minha querida amiga. Eu adorava a
habilidade extraordinária de contar histórias de Ashley, e elas geralmente
pareciam me cativar, mas hoje eu estava com a mente longe. Minha lista
interminável de tarefas estava constantemente à espreita, mesmo enquanto eu
tentava tomar um café e relaxar.
— June, posso dizer que você quer falar sobre seus problemas. Desculpa por
ocupar todo o nosso encontro para o café falando sobre mim. Vamos recomeçar.
Como foi sua semana?
Sinceramente, eu estava exausta, o que era raro porque normalmente eu
tinha mais energia do que todos os meus alunos juntos. Na maioria das semanas,
minha energia não diminuía e eu estava pronta para realizar todas as minhas
tarefas sem problemas. No entanto, houve um vazamento no encanamento da
minha cozinha e meu forno quebrou bem quando a venda de bolos da escola
estava chegando. Eu também tinha um imenso projeto de casa pesando sobre
mim.
Por mais fofo que tenha sido herdar a casa de campo de 1920 da minha avó
após sua morte, tornou-se um dilema. Eu amei cada pedacinho daquela casa, as
memórias que ela guardava eram inestimáveis, e o fato de ela ter deixado para
mim significava o mundo. No entanto, foi um compromisso mais significativo
do que eu inicialmente imaginei.
— Foi boa. Apenas uma loucura no trabalho. — A última coisa que eu
queria era que Ashley se preocupasse comigo. Sua personalidade carinhosa a
mantinha acordada até duas da manhã, fazendo painéis com tábuas e ripas da
sessão de “Faça Você Mesmo” do Pinterest ou pesquisando como refazer seu
encanamento.
Tomei outro gole da minha bebida favorita e ela me olhou com ar crítico.
— Essa coisa vai te dar diabetes.
Revirei os olhos para ela.
— É sem açúcar. Não pode fazer mal.
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— Você tem um vício e irá ter um ataque cardíaco quando tiver trinta e cinco
anos.
Cutuquei sua perna com o pé.
— Tanto faz.
Ela me olhou nos olhos com as sobrancelhas levantadas e a boca inclinada,
sabendo que eu me contive. Ela perguntou:
— Kyle nunca apareceu? — Ele era um encanador local que deveria me
encontrar para fazer um orçamento. Depois de muitas mensagens de voz,
finalmente consegui falar com ele. Nosso plano de reunião na tarde de quarta-
feira falhou quando ele me deixou plantada esperando por quarenta e cinco
minutos.
— Não, ele não apareceu. Mas não se preocupe. Eu posso encontrar outra
pessoa! Tudo se resolverá em breve e não precisarei mais me preocupar com isso.
Eu havia contatado vários empreiteiros e construtoras, porém não tive
resposta de nenhum deles, e os que respondiam não apareciam. Ou eles me
lançavam olhares questionáveis na entrada da garagem que faziam uma garota
querer andar com spray de pimenta na mão vinte e quatro horas por dia, sete
dias por semana.
Ashley tomou um gole de seu café gelado e começou a fazer sugestões.
A casa de vovó atualmente tinha painéis, papel de parede com tema de
galinha e luminárias do início dos anos setenta. Sem mencionar o velho piso de
linóleo amarelo, que eu tinha certeza que deveria ser branco. Mas o problema é o
seguinte: se eu tivesse a menor ideia do que estava fazendo, eu não teria me
importado em fazer isso sozinha. O que, é claro, eu tentei.
Depois de passar seis dias seguidos no ano passado tentando arrancar o papel
de parede do banheiro e rasgar as camadas do piso, admiti a derrota. Eu tinha
grandes planos para a casa, pisos originais de madeira, paredes brancas brilhantes,
detalhes em azul marinho e dourado. Seria lindo. Mas uma garota só pode lidar
com certa quantidade. Posso ser teimosa, mas não sou tão inflexível a ponto de
estar disposta a arruinar a casa só para terminar este processo.
Depois de me envergonhar muitas vezes, decidi que era melhor contratar
alguém. Mas contratar significava dinheiro – mais dinheiro do que uma
professora da primeira série tem na conta. Depois de economizar no ano passado,
finalmente estava pronta para iniciar o trabalho, mas ninguém queria fazê-lo.
Quando Ashley encerrou sua tentativa de me ensinar o espaçamento
adequado entre os ladrilhos, ela admitiu:
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— Bem, você conhece sua melhor opção. Ligue para a empresa de Grant.
Ah, Grant. Grant Dawes era absolutamente a última pessoa para quem eu
queria ligar para vir à minha casa. Ele era conhecido em toda a nossa pequena
cidade como o melhor empreiteiro desde que se mudou para cá, e seu rosto
bonito e robusto parecia atrair todas as mulheres locais. No entanto, foi sua
atitude irritável que me afastou. Um ano atrás, eu o encontrei uma vez no
Cooper's. Eu já tinha ouvido falar de sua reputação por Ashley antes, mas nunca
o tinha visto pessoalmente. Ele veio de uma cidade próxima há cerca de um ano,
e a comunidade de Lakeshore deixou claro que ele tinha uma história estranha,
mas ninguém tinha certeza do que exatamente o fez se mudar para cá. Tudo isso
me deixou curiosa sobre Grant e seu caráter, então, quando o encontrei
aleatoriamente naquele dia, não pude deixar de dar uma olhada nele.
Eu subi uma pilha de latas de tinta para alcançar um verniz que era o
produto totalmente errado? Talvez.
Saiu pela tangente falar sobre bater minha cabeça e usar um tapa-olho de
pirata? Possivelmente.
Eu tinha certeza de que tive uma experiência extracorpórea falando sobre
Deus sabe o quê, porque estava muito distraída com o homem bonito na minha
frente.
Grant estava naquele corredor parecendo ter acabado de sair de um canteiro
de obras. Seu longo cabelo escuro estava emoldurado em torno de seu rosto, ele
tinha sujeira espalhada em sua testa e suas botas caindo aos pedaços estavam
deixando rastros de lama por toda parte. Mas ao olhar mais de perto, com seus
olhos escuros encarando os meus, notei suas feições assimétricas e nariz
ligeiramente torto. Ele era lindo. Bem, tão bonito quanto um homem poderia ser.
Eu não conseguia lembrar o que estava dizendo a ele, algo sobre manchas e
pisos. Eu estava muito ocupada olhando para suas roupas sujas de trabalho e suas
calças verde-escuras que lhe serviam nos lugares certos e me deixavam atordoada.
Tudo o que consegui de volta foi um olhar de cima a baixo e um grunhido.
Nem mesmo uma palavra, apenas um simples homem das cavernas rouco
resmungando. Depois daquele encontro estranho, prefiro não convidar aquele
homem para minha casa. Posso ter parecido exagerada em nosso encontro inicial,
mas merecia mais de uma sílaba.
Mim Grant. Mim não falar com uma mulher legal.
— Não, obrigada. Estou bem. — Rejeitei a ideia de Ashley o mais rápido que
pude.
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— June, acho que você não tem outra escolha. Ele e sua equipe são os
melhores empreiteiros da cidade, e você precisa fazer alguma coisa sobre essa casa,
ou ficará presa naquele apartamento horrível para sempre.
No fundo, eu sabia que ela estava certa. Os outros empreiteiros nesta área
eram, na melhor das hipóteses, abaixo da média, e eu tinha ouvido falar da
atenção de Grant aos detalhes. Mas não importava o quão bom ele fosse em
remodelar ou o quão bom ele parecesse naquelas calças estúpidas, ele ainda me
ignorou. Eu ouvi os rumores sobre ele e vi a prova disso naquele dia.
Desnecessário dizer que não estava interessada em contratar um homem como
aquele.
Tomei um longo gole da minha bebida, evitando o olhar de Ashley.
— June, você sabe que sua avó não iria querer um cara drogado aleatório da
rua para fazer esse trabalho. Apenas contrate Grant, deixe-o entrar e sair, e então
vocês terão terminado o projeto assim que o verão acabar.
Ela estava certa. Se eu não parasse para pedir atualizações e guardasse a
curiosidade para mim, só teria que vê-lo algumas vezes. Além disso, eu precisava
sair do meu apartamento o mais rápido possível.
Deixei escapar um suspiro e respondi:
— Acho que você está certa. Eu não tenho escolha.
Capítulo 2
Eu andava de um lado para o outro no meu apartamento, olhando para o
contato no meu telefone, tentando planejar mentalmente o que eu ia dizer.
Oi, você pode não se lembrar de mim, mas eu me envergonhei completamente
na sua frente em uma loja de ferragens um ano atrás. Você olhou para mim como
se eu fosse uma idiota por comprar verniz para o meu chão. Bem, de qualquer
forma, você poderia reformar minha casa inteira nos próximos meses, para que eu
não estrague tudo?
Essa não parecia a melhor ideia, talvez eu deva apenas improvisar. Eu encarei
o espelho redondo na minha entrada, observando minhas bochechas coradas e
cabelos rebeldes. Minha camiseta amarela brilhante com a frase “Matemática é
sexy” não me deixou exatamente mais confiante.
Eu me olhei no espelho por um segundo e pensei, quão ruim isso pode ser?
Pressionando o número que Ashley havia me enviado, escutei o toque e esperei
por aquela voz profunda e rouca que eu sabia que atenderia.
— Aqui é o Grant.
Vai, June.
— Oi! Hum, então, eu herdei esta casa construída nos anos 20, e ela precisa
de muito trabalho. Muito mesmo. Trocar pisos, novo sistema de ar
condicionado, novas luminárias, pintura, tudo. Mas eu, uh, não consigo
ninguém para contratar. Não é como se eu não tivesse amigos – eu tenho. Quero
dizer, não consigo bons trabalhadores lá fora. Então, novamente, quem você
pode conhecer? De qualquer forma, eu queria saber se você poderia, tipo, fazer
isso por mim e outras coisas. Quero dizer, se você não estiver muito ocupado. Eu
pago. — Eu me ouvi divagar e fiquei pensando, cala a boca, June. Ele faz isso para
viver, ele sabe o que você está tentando dizer.
— Ok... qual é o seu nome completo e endereço? — Ele arrastou sua frase
como se estivesse falando com uma criança – já começamos com o pé direito.
— Ok, sim. Então, meu nome completo é June Eleanor Hart. Você sabe, que
nem o mês1 — tagarelei meu endereço entre minha resposta longa. — Quando
você acha que pode vir? — Eu mentalmente me dei um tapinha nas costas por
não gaguejar entre cada palavra. Ouvi um clique em sua voz.
— Estaremos aí no sábado, às oito da manhã. — A linha foi desligada. Bem,
isso foi rude. Lembrete para ensinar meus alunos a desligarem o telefone
corretamente na próxima aula. Mas, isso foi... produtivo. Isso significava que eu
finalmente tinha algo em andamento. Além disso, eu não precisaria vê-lo tanto se
ele trabalhasse enquanto eu estava na escola. Deixei meu coração voltar ao meu
peito e mandei uma mensagem para Ashley.
June: Eu consegui. Grant e sua equipe estarão aqui no sábado de
manhã.

Coloquei meu telefone de volta no bolso do meu short e me virei para olhar
meu apartamento. A sala de estar continha minha seção cinza com almofadas
sazonais junto com uma cadeira amarela e uma moderna mesa de centro
dourada. Adorei todas as chances possíveis que tive de fazer este apartamento
parecer com minha casa. Coloquei detalhes em madeira e ouro em toda a área,
lembrando-me diariamente de como vovó costumava decorar nossa casa
enquanto crescia. Foi difícil transformar este apartamento frio e vazio em um
espaço confortável e aconchegante para se viver, mas acredito que a
personalidade que minha mobília trouxe fez o máximo possível. Minha mente
voltou para a propriedade, pensando em cada seção da casa e como eu queria
colocar as coisas. Voltei à realidade quando senti meu telefone vibrar e, quando o
puxei, vi outra notificação.
Ashley: Boa sorte, Junezinha. Tente não olhá-lo nos olhos. Vai
facilitar muito as coisas.

Bem, veremos.

∞∞∞
Sábado chegou mais rápido do que eu esperava, e eu me certifiquei de que a casa
estivesse o mais arrumada possível. Era sem dúvida fora de moda e feia, mas
estava limpa de cima a baixo, então pelo menos estava em ordem. No geral, fiquei
orgulhosa do que realizei em um período tão curto.
Eu tinha minhas ideias impressas em cópias amarradas com clipes de papel
estampados com bolinhas e empilhadas ordenadamente em uma pasta ao lado de
uma grande jarra de chá doce esperando no balcão. Se eu fosse lidar com esse
homem ranzinza, sem dúvida o tornaria o mais tranquilo possível.
A campainha tocou e meu coração quase saltou para fora. Corri para a porta
da frente e abri, vendo dois homens.
Grant estava ocupando o batente da porta, e havia outro homem atrás dele
que eu não reconheci. O cabelo outrora comprido de Grant havia sido cortado e
agora estava perfeitamente penteado e no lugar, suas olheiras escuras estavam um
pouco mais brilhantes e sua barba não estava tão desalinhada. Ele ainda parecia
bruto e cansado, mas nada como da última vez.
— Você é June?
Ok, então ele não se lembra de mim…
Eu sabia realisticamente que não deveria me incomodar que ele não tivesse
ideia de quem eu era, ele nem mesmo disse uma palavra para mim naquele dia na
loja, e nós apenas tivemos uma troca de olhar. No entanto, me senti um pouco
desanimada por ser tão facilmente esquecível. Escondi minha consternação e
esbocei um sorriso.
— Sou eu, entrem!
O homem atrás de Grant exibiu um sorriso encantador.
— Eu sou Beau. Prazer em conhecê-la, senhora. — Seu sotaque sulista e
sorriso doce me confortaram enquanto nossos olhos se demoraram um no outro
por um minuto antes de serem interrompidos por alguém pigarreando.
— Você vai nos mostrar o lugar ou o quê?
Eu me virei para Grant, que estava me encarando de forma indelicada. Ficou
claro que Beau era o agradável nessa dupla. Levaria um tempo para me
acostumar com esse cara. Infelizmente, Grant Dawes era inegavelmente atraente,
e por mais que eu quisesse jogá-lo em uma caixa de não-obrigado e riscá-lo da lista
de afazeres, encontrei meus olhos demorando-se em suas maçãs do rosto bem
esculpidas e cabelos escuros.
— Hum... sim, apenas me siga. — Conduzi Grant e Beau pela velha casa,
mostrando as plantas de cada cômodo.
Começamos na cozinha e expliquei:
— Provavelmente é aqui que eu gostaria de começar com a demonstração. Eu
adoraria arrancar todo esse papel de parede e os pisos feios. Eu verifiquei o piso
embaixo de um ventilador e há algumas madeiras antigas sob ele, então gostaria
de restaurá-las se estiverem em boas condições.
Grant olhou fixamente para mim, e era difícil dizer o que ele estava
pensando. Ele tinha essa carranca como se pudesse ver meus segredos mais
profundos e sombrios, como se soubesse de todos os sonhos que tive com ele.
Não que houvesse muitos.
— E as bancadas azuis? — Beau interrompeu meus pensamentos e me virei
para ele.
— Ah, com certeza, mantenha elas. — Eu respondi brincando. As bancadas
azuis brilhantes com especificações douradas estavam na lista das primeiras coisas
que tinham que ir. Eu ri ao pensar em tudo sendo atualizado, menos essas
bancadas feias. Com o canto dos olhos, vi Grant mudar de posição em
desconforto.
Eu andei com eles pela casa, apontando cada falha que eu queria consertar.
Mencionei tudo em minha pasta, incluindo amostras de tinta e fotos de
luminárias que imprimi no trabalho. Beau caminhou ao meu lado enquanto
Grant seguia vagamente, encontrando-se na cozinha.
Beau se virou para mim.
— É uma bela casa, só precisa de algum trabalho. Eu amei a propriedade,
tenho certeza que sua avó ficaria orgulhosa de você estar consertando.
Eu sorri para ele.
— Eu gosto de pensar que sim, e ela adorava isso aqui. Como você disse, é
uma boa propriedade, mesmo que a casa seja um desastre.
Grant estalou a garganta e apontou com a cabeça para a porta, sugerindo que
eles precisavam sair. Beau olhou para ele e assentiu.
Grant se virou para mim, sua mandíbula afiada flexionando.
— Vou verificar os números e obter um orçamento até segunda-feira à noite.
Por um segundo, olhei para cima para fazer contato visual com o homem
mal-humorado, e esta foi a primeira vez que dei uma boa olhada nele. Ele era tão
atraente quanto eu me lembrava, seus olhos escuros encarando os meus; e eu
observei suas feições. A pequena cicatriz rachada no meio de sua sobrancelha e a
maneira como seu cabelo se partia naturalmente onde ele passava as mãos me
deixou intrigada.
— Isso é bom, não estou com pressa. — Senti o sangue subindo à cabeça de
novo, então quebrei o contato visual para levá-los de volta à porta da frente. —
Foi um prazer conhecê-los e falarei com vocês assim que enviarem o orçamento
para mim. Obrigada novamente.
Grant apenas desviou o olhar e acenou com a cabeça, mas Beau respondeu:
— Prazer em conhecê-la, senhora. — Ele piscou para mim enquanto eu
fechava a porta atrás deles.
Não é tão ruim quanto eu pensava. Eu poderia trabalhar com isso. Grant
pode agir como um idiota, mas seu colega de trabalho era amigável, e eu sabia
que não teria que vê-lo muito de qualquer maneira.
Voltei para dentro e apaguei as luzes, relembrando os dias de verão que passei
aqui. O cheiro de chá doce recém preparado e o perfume floral de vovó agora
estavam cobertos pelo cheiro de vazio com um toque de naftalina.
Eu estava determinada a consertar esta casa de volta à beleza que ela tinha há
muitos anos. No entanto, eu estava colocando minha fé em um cara que parecia
me odiar e preferia estar em qualquer lugar, menos comigo. Quanto mais cedo
pudéssemos começar, mais rápido eu poderia me mudar.
Saí pela porta lateral e a tranquei quando meu telefone começou a vibrar no
meu bolso. O nome de Ashley apareceu e eu atendi.
— Ei, como foi o trabalho? — Na esperança de colocar o foco da conversa
sobre ela, eu não estava exatamente preparada para ouvir o discurso iminente de
Ashley.
— Podemos conversar sobre o meu dia mais tarde. Como foi com o
empreiteiro gostoso?
É, valeu a tentativa.
— Foi tão bom quanto você pode imaginar. A melhor maneira de descrevê-lo
é como um dos caras mais velhos do teatro dos Muppets. Mas pelo menos ele
apareceu. Tem um cara na equipe dele que é doce e muito fofo. Você
provavelmente gostaria dele. No geral, foi melhor do que eu esperava, eu acho.
— Eu podia sentir seu “eu te avisei” antes que ela falasse.
— Viu? Eu sabia que não seria ruim, e ele tem que ter boas avaliações por um
motivo. Mas confesso que ouvi minha chefe uma vez dizer que ela o contratou
para consertar sua pia nova para que ela pudesse olhar para a bunda dele por um
minuto.
Quem poderia culpá-la? A figura alta e bem construída de Grant era algo
com que a maioria das mulheres por aqui só poderia sonhar. Pensei em como ele
se elevava sobre mim e fazia a grande sala de estar parecer muito menor.
— Bem, ele apareceu e manteve os olhos para si mesmo, então isso é mais do
que posso dizer para a maioria dos outros empreiteiros que tentei contratar.
Terminamos nossa conversa discutindo o dia dela no trabalho e como um
cara novo em sua academia era “a coisa mais fofa que ela já tinha visto”. E lá se vai
o plano de rejeitar todos os homens por um tempo. Mas eu não me importava,
ouvir o dia de Ashley tendia a deixar o meu em paz. Na verdade, sua
personalidade vibrante e perspectiva em relação aos homens era algo que eu
admirava. Eu não saía com ninguém há seis meses e, quando saia, sempre
terminava com um “deveríamos fazer isso de novo”. Então nunca mais nos
veríamos.
— Tudo bem, eu vou deixar você em paz. Eu tenho que ir para o Cooper's. —
Nos despedimos e desligamos.
Saí da garagem e fui direto para a única loja de ferragens em Lakeshore. Com
uma música suave tocando em meus alto-falantes, minha mente voltou para
aquele dia no ano passado. Pensei em quanto Grant havia mudado em pouco
tempo. Ele não devia ter mais de vinte e nove anos, talvez trinta, na época, mas
parecia tão desgrenhado que poderia facilmente passar por trinta e cinco.
Seu cabelo escuro e despenteado estava bagunçado, e suas roupas pareciam
que ele tinha passado o dia todo em um local de trabalho, mas algo em seus olhos
era tão cativante.
No entanto, durou apenas alguns segundos antes de ele começar a me tratar
como todo mundo agia, uma jovem sem nada a oferecer. Tinha ficado acordada
naquela noite, me perguntando quem ele era e como eu poderia saber mais sobre
ele – além da fofoca da cidade. Tentei pensar em maneiras de domar aquele
cabelo rebelde e trazer aquela luz de volta aos olhos dele.
Grant Dawes.
O nome soou em meus ouvidos. Ele pode ter sido agradável aos olhos, mas
foi indelicado e concluiu quem eu era antes mesmo de me conhecer. Ele não se
preocupou em me ajudar a alcançar a prateleira de cima, ele apenas olhou para
mim como se eu fosse um cachorrinho perdido. Estremeci visivelmente com o
momento embaraçoso que passou pela minha mente.
E ainda assim você o está convidando abertamente para sua futura casa?
Capítulo 3
Peguei um carrinho e passei pelo corredor de material de artes, o que me
lembrou dos meus alunos. A maioria deles vieram de famílias com boas
condições e sólidas, porém alguns sofrem bastante em casa. Eu faria o possível
para fornecer o que pudesse, trazendo comida e garrafas de água extras às sextas-
feiras para que levassem para casa no fim de semana, mas um professor não pode
fazer muito.
Depois que você conta a alguém sua profissão, são sempre as mesmas
respostas: “Como é ganhar 100 dólares por ano?” ou: “Bem, pelo menos você
passa o dia todo brincando com as crianças!” Nenhum dos dois era preciso, mas
suponho que ambos fazem parte do meu trabalho.
Não é segredo que ser professora coloca você em uma posição financeira
desconfortável, mas é tudo uma questão de orçamento e margem de lucro.
Infelizmente, nossa escola não era boa em orçamentos. Isso me forçou a recorrer
a minha conta e suprir algumas necessidades extras – neste caso, a necessidade
significava remendar o buraco que o pequeno Timmy Miles fez na sala.
Felizmente, não me importei de fazer isso. Eu não tinha ideia de como
consertar o buraco, então já havia feito algumas pesquisas no Google e
encontrado alguns tutoriais aleatórios. Há um zelador na escola que
provavelmente poderia consertar isso para mim. No entanto, Arthur tinha
sessenta e dois anos, e eu sabia que não devia aumentar sua lista interminável de
tarefas. Ele estava constantemente correndo pelo campus remendando,
consertando ou substituindo algo, e meu coração apoiava esse doce homem.
Dito isto, eu não queria que meus alunos sentassem em uma sala com um
buraco na parede. Portanto, eu descobriria como consertar isso para eles.
Empurrando meu carrinho mais longe, cheguei ao final do corredor, peguei
um pouco de massa e uma espátula, e voltei para os caixas. Ao virar meu
carrinho, fui atingida por uma onda de déjà vu.
Meu carrinho quase se chocou contra uma figura de tamanho considerável e,
quando ergui o queixo para me desculpar, reconheci-o imediatamente.
Aqui estávamos nós de novo. Grant Dawes estava parado na minha frente no
mesmo corredor da mesma loja, mas seu rosto estava diferente desta vez. Suas
mãos estavam em seu colete Carhartt e ele não carregava nenhum suprimento,
mas ainda mantinha um rosto saudoso como se estivesse procurando por algo.
— Ei, que loucura ver você aqui! — sorri brilhantemente para ele, esperando
que talvez ele me reconhecesse desta vez. Ele manteve o rosto em branco por um
momento e apenas resmungou sua resposta:
— Bem, é uma cidade pequena. — Sim, o mesmo da última vez.
— Então... por que você está aqui? — Minha tentativa de conversa fiada é
patética, mas me perguntei por que ele estava perambulando pelos corredores
sem absolutamente nada nas mãos.
— Você sabe o que eu faço para viver, certo? Só estou pegando algumas
coisas antes de voltar para casa.
Continuei sorrindo e respondi:
— Bem, só não esperava que alguém como você estivesse nesta seção, só isso.
— E onde alguém como eu deveria estar procurando?
Ele levantou uma sobrancelha para mim, e eu provavelmente parecia tão rude
quanto ele, mas algo sobre esse cara fez minha curiosidade aumentar.
— Eu não quis dizer isso. Só quis dizer que parece que você contrata outras
pessoas para fazer essa parte do seu trabalho.
Ele resmungou com raiva:
— Confie em mim, querida, eu faço todo o meu trabalho sujo. — Eu ignorei
o jeito que ele disse querida e sujo na mesma frase e como isso me deu um frio na
barriga. Ele olhou para a massa na minha mão e curiosamente levantou uma
sobrancelha para mim. — Isso é para a casa?
Eu balancei minha cabeça.
— Não, um dos meus alunos fez um buraco na parede. Nosso zelador da
escola é um senhor gentil, e tento não incomodá-lo.
Seu rosto era difícil de ler, mas sua postura, antes tensa, agora estava mais
relaxada e ele parecia mais confortável. As linhas em sua testa diminuíram e ele
parecia quase bonito. Eu não conseguia me lembrar da última vez que um
homem me deu borboletas assim, e mal tivemos uma única conversa um com o
outro. Eu já tive interesses masculinos antes. Eu não era exatamente uma
puritana. Mas eu tinha me concentrado em meu trabalho, projetos de arte e
voluntariado, então não tinha tempo para pessoas extras em minha vida –
especialmente esse cara. Além disso, homens como Grant, que dormiam por aí,
já haviam colocado um gosto ruim na minha boca.
— Eu posso consertar isso. — É o quê? Eu franzi meus lábios para dentro e
inclinei minha cabeça para o lado. Eu estava falando alto? Eu me recusei a ser
mais um entalhe na cabeceira da cama desse cara, não importa o quão bom ele
parecesse.
— O buraco... na sua sala na escola? — Oh. Bem, isso fazia mais sentido.
— Oh. Eu, hum... tudo bem. Acho que posso conseguir sozinha.
Ele assentiu.
— Se você diz. — O sarcasmo estava em sua língua.
Decidi que era melhor me separar.
— Beleza, bem, eu estou indo. Meus alunos têm um dia agitado chegando e
eu provavelmente deveria me preparar. Tchau, Grant.
Não era necessariamente uma mentira. Tínhamos planejado um dia agitado,
mas nada que me fizesse querer sair correndo de uma loja como se tivesse visto
um fantasma.
— Tchau, Hart.
Voltei para a frente da loja como se aquele apelido não me arrepiasse os
braços.
Capítulo 4
Passei a última semana ensinando lições simples de revisão para encerrar as
atividades dos meus alunos de tudo o que fizeram este ano. Trabalhar com
alunos do primeiro ano não é o mais simples, mas provavelmente é o mais
recompensador. Decidi tornar esta semana mais fácil para eles, já que só
tínhamos mais ou menos um mês antes do fim das aulas de verão.
Eu usava meu traje típico de trabalho: uma camiseta rosa enfiada na minha
saia de bolinhas preta e branca. Talvez eu parecesse jovem, e pensasse que era,
mas queria que meus alunos se sentissem à vontade perto de mim. A sala estava
coberta de cores pastéis e pôsteres motivacionais com citações como: “Se você
pode ser qualquer coisa, seja gentil” e “Acredite em si mesmo!”. Bem-vindo à
aula da Srta. Hart estava escrito no quadro branco que cobria a parede da
frente.
O dia estava começando a encerrar, e enquanto os alunos se esparramavam
no chão para o tempo livre, sentei-me à minha mesa e olhei para o meu painel do
Pinterest chamado “Mi Casa”. Sonhei acordada com bancadas de granito e
azulejos divertidos para meu lavabo. Pensei em todas as possibilidades que
poderiam tornar a casa um espaço mais gratificante, com novas luminárias,
bancadas, pisos e pinturas que transformassem o espaço naquilo que eu
precisava.
Posso ter que lidar com um empreiteiro mal-humorado por alguns meses,
mas não foi a primeira vez que fui a mais legal do lugar. Mesmo no ensino médio
e na faculdade, eu era conhecida por agradar as pessoas. Sempre me buscavam
quando precisavam de um ombro para chorar ou eu que me desculpava por
coisas que não eram minha culpa. Acho que é por isso que Ashley era a pessoa a
quem eu sempre podia recorrer. Ela era brutalmente honesta e podia me ler
como um livro.
Conhecê-la na faculdade foi uma das melhores coisas que me aconteceu. Eu
tinha dificuldade em dizer não para as pessoas e ela tinha dificuldade em se abrir
com as pessoas. Nós éramos uma combinação perfeita. Eu a ajudaria a fazer
amigos e trabalhar em suas habilidades sociais, que haviam se transformado bem
demais. E ela me ajudaria a me defender, o que ainda precisa de muito trabalho.
Trabalhei a tarde toda, pensando em tudo o que queria explicar à equipe de
Grant sobre meus projetos planejados. Antes de minha avó falecer, a casa tinha
muito valor. Não valor monetário, é claro, mas as memórias criadas lá sempre
seriam preciosas para mim.
Lembrei-me das noites de verão que passei brincando no quintal desde a
manhã até as luzes da rua se acenderem. Se eu fechasse os olhos, ainda podia
ouvir minha avó tocando Hank Williams Jr. e o gosto de seu chá doce caseiro –
que certamente tinha muito mais açúcar do que o necessário. A lembrança de
pegar vaga-lumes em potes de vidro e ver vovó pintar em seu estúdio espalha
calor pelo meu peito. Lembrei a mim mesma que não estava fazendo isso por um
lugar para morar. Eu estava reformando a casa para reviver essas memórias e criar
mais com minha própria família um dia.

∞∞∞
A caminhada do meu carro até o meu apartamento era sempre desconfortável.
Foi uma caminhada de cerca de meio quilômetro e, em seguida, do corredor dos
elevadores até minha unidade no lado direito do prédio. Havia tecnicamente
duas vagas de estacionamento por unidade, mas meus vizinhos sempre
ocupavam as vagas reservadas para mim. Não me incomodei em tentar falar disso
com eles para evitar qualquer confronto desnecessário.
No entanto, seria bom caminhar apenas 15 metros até o elevador em noites
como esta, quando eu tivesse um longo dia. Carregar minhas várias sacolas de
suprimentos e minha bolsa de trabalho não era necessariamente misericordioso
nessas condições, mas lembrei a mim mesma que só tinha mais alguns meses.
Minha situação poderia ter sido muito pior.
Abrindo a porta da frente do prédio, Al estava lá em seu uniforme de
trabalho habitual de calça azul escura e uma camisa branca com seu crachá no
peito. Ele inclinou a cabeça para mim, seu sorriso enrugando seu rosto.
— Boa tarde, Srta. Hart. — Sorri para o meu querido e velho amigo.
— Olá, Al! Como foi o seu dia?
Ele apertou o botão do elevador.
— Foi ótimo, aqueles muffins que você me deu fizeram o meu dia.
Eu tentava levar pequenas guloseimas e tesouros para Al sempre que podia.
Ele trabalhava para o proprietário daqui desde que me mudei, quase quatro anos
atrás, e nunca deixou seu precioso sorriso desaparecer.
— Estou feliz que você gostou deles. Trarei alguns de novo quando fizer
mais!
Meu forno desligado significava que eu terei que ser criativa ao assar agora,
mas não era impossível. Al agradeceu novamente e me guiou no elevador, me
levando para o quarto andar.
Eu estava sem fôlego e suando quando cheguei ao meu apartamento.
Largando todas as minhas sacolas, vislumbrei meu reflexo no espelho da entrada.
Minhas bochechas coradas e rabo de cavalo levemente úmido me faziam parecer
que eu tinha acabado de correr 5km, não alguém entrando casualmente em seu
apartamento.
Tomei um banho rápido, fui direto para o sofá e soltei uma respiração
profunda. Meu telefone tocou na minha mesa lateral, vibrando alto por todo o
apartamento. Suspirei quando vi o contato da minha mãe aparecer na minha tela
de bloqueio.
— Ei mãe.
— Ei, Junezinha! Como vai você? Você sabe que eu te liguei três vezes esta
semana, e sua caixa de correio de voz está cheia. Você deveria ficar mais atenta a
isso. E se alguém tentar entrar em contato com você em uma emergência? E se eu
tivesse sofrido um acidente?
Revirei os olhos, aborrecida com o murmúrio que vinha do telefone:
— Papai teria ligado se você tivesse sofrido um acidente. Eu sabia que você
estava bem, mãe.
Ouvi seu barulho ao fundo quando ela respondeu:
— Bem, de qualquer forma, eu precisava saber se você ainda quer vender a
casa de Elizabeth ou não? — Esta tinha que ser a décima vez que tivemos essa
mesma conversa.
Sempre foi assim. Eu disse que queria consertar a casa. Ela disse que eu não
conseguiria sozinha. Eu disse que iria contratar um profissional. Ela
sarcasticamente me desejou boa sorte com isso. Eu perguntei “por que você não
acredita em mim?” Ela encerrou nossa conversa, ofendida que eu pense isso. É
um jogo que muitas vezes jogamos onde ninguém era o vencedor.
— Mãe, eu já disse várias vezes que não vou vender a casa da vovó. Já
contratei um empreiteiro e ele vai me fazer um orçamento na segunda-feira. —
p ç g
Andei pela sala para me distrair da frustração que crescia em mim.
Eu não me irritava facilmente. Lidar com alunos do primeiro ano para
ganhar a vida lhe dá o poder da paciência. Eu era tão obstinada quanto gentil,
mas tinha um botão, como todo mundo. Para mim, aquele botão era alguém
dizendo que eu não poderia fazer alguma coisa. Eu gosto de pensar que posso
fazer qualquer coisa que eu quiser, e quando alguém tenta me micro gerenciar,
isso acende um fogo em mim.
— Bem, mesmo com trabalho contratado, você sabe que não vai ser fácil
pagar. Ninguém na cidade vai te dar um preço justo, muito menos aparecer. Só
estou dizendo que esta não é exatamente sua área de especialização, querida.
É, aí está.
— Qual é exatamente a minha área de especialização?
— Bem, crianças, é claro! Você praticamente ainda é uma, provavelmente
sempre será. Agora, com seus irmãos a coisa é diferente, sempre tentando fazer
muita coisa. É cansativo para eles! Seja grata por ser tão fácil e não precisar se
preocupar com esse tipo de coisa!
Ah sim. Meus dois irmãos foram para suas faculdades na Ivy League e me
deixaram para fazer o mesmo. Meus irmãos eram caras legais e foram gentis o
suficiente comigo enquanto crescia – mesmo que fossem um pouco protetores
demais. Sendo significativamente mais velhos do que eu, ambos prestaram muita
atenção ao círculo de pessoas ao meu redor. Eles cresceram para seguir a tradição
da família Hart, que inferia ter empregos bem-sucedidos para se gabar para os
amigos de mamãe e papai no clube de campo. Assim que decidi que queria ser
professora e voluntária em meu tempo livre, minha família não ficou nada
impressionada. Rapidamente me tornei a “Junezinha”, a criança que não teria
muito dinheiro e ficaria para trás, mas pelo menos seria uma boa mãe.
— Tudo bem, mãe, acho melhor eu desligar. Está ficando tarde. — Eram
apenas sete horas, mas ela sabia que eu ia para a cama o mais cedo possível para
chegar na escola na hora. Eu mexi meus polegares em desconforto.
— Bem, não se esqueça de ligar para o seu pai! Ele tem um excelente corretor
de imóveis que pode vendê-la. — Nós trocamos nossas despedidas, e eu plantei o
rosto no meu sofá cinza.
A parte mais irritante é que minha avó deixou bem explícito em seu
testamento que queria que eu ficasse com a casa. Ela era a única da nossa família
que não focava no dinheiro, mas sim nas memórias e nas outras pessoas. Ela
nunca viveu uma vida luxuosa, sua casa era um exemplo disso; mas sua vida era
p
rica. Rica em amor e paixão pelas pessoas ao seu redor. Decidi cedo na vida que
seguiria sua mentalidade. Essa foi provavelmente a razão pela qual ela me deixou
a casa, e eu agradeço por isso mais do que provavelmente qualquer um dos
outros membros da família Hart. Infelizmente, com a casa vieram opiniões e
conselhos não solicitados. Eu não me importei no primeiro mês, eu estava de
luto por um dos meus familiares mais próximos e ainda ensinando, então eu
poderia ter usado um conselho ou outro.
Mais de um ano depois, dizer que estava frustrada seria um eufemismo. Eu
tinha superado isso e ficava francamente irritada com minha família toda vez que
o assunto era mencionado. A única pessoa prestativa era Ashley. Ela se ofereceu
para vir me ajudar a consertar a casa se eu lhe desse uma pequena comissão.
Bem, acontece que ela era tão ruim quanto eu. Passamos um domingo
inteiro trabalhando na casa e quase não vimos progresso. Foi então que percebi
que, se eu mesma assumisse isso, levaria anos para ser concluído e eu não tinha
tanto tempo a perder. No entanto, tive paciência para economizar por um ano e
contratar alguém que pudesse fazer isso melhor e muito mais rápido do que eu.
Eu só não esperava que esse alguém fosse ele.
Capítulo 5
Entrando na minha sala antes que o caos semanal recomeçasse, deixei os
suprimentos na minha mesa e comecei a me organizar para o dia.
Um por um, meus alunos se amontoaram, cada um com uma forma de
“Bom dia” saindo de suas bocas. Passamos a manhã toda pela rotina habitual: 8h
abertura da aula, às 8:30h aula de vocabulário, às 9h de ortografia, 10h leitura em
voz alta, 10:30h hora do lanche, 11h matemática guiada, e às 12h é hora do
almoço. Normalmente, a maioria das crianças precisam de uma pausa ao meio-
dia, assim como eu.
A exaustão de tentar entreter e educar um grupo de crianças de seis e sete
anos vai acabar com você rapidamente, mas tenho energia suficiente para gastar
na maioria dos dias.
Indo para o almoço em fila única, vamos para o refeitório, onde eles sentam-
se em seus lugares designados enquanto eu me dirijo à mesa dos professores ao
lado da Sra. Williams, ou Hannah, como devo chamá-la.
Hannah contou ao resto do grupo sobre seu fim de semana maluco pescando
no lago e como ela pegou uma tartaruga gigante.
Todos eles revezam-se contando à mesa sobre seus fins de semana ocupados e
como “seus filhos os estão deixando loucos” ou “eles foram ver os netos neste fim
de semana”. Escutei atentamente as respostas de todos, sorrindo ao pensar que
todos viram seus familiares.
Pode ser um pouco desconfortável ser a professora mais nova da escola
primária. Na maioria dos dias, é tranquilo, mas uma professora de 25 anos da
primeira série não é comum aqui. A maioria dos professores desta série estão
aqui há mais de dez anos e não planejam sair tão cedo. Dito isto, uma garota
recém-saída da universidade com um diploma de bacharel e amor pelas crianças
mal é o suficiente, mas eles estavam desesperados por alguém para substituir a
classe do Sr. Briggs, então aqui estava eu.
Pensei no meu fim de semana e me referi a Grant quase me derrubando com
meu carrinho de compras. Eu estava reformando a casa da minha avó, então
estamos progredindo. Charlie tomou um gole de café.
— Quem você chamou para olhar? Faz meses que não consigo alguém para
reformar minha sala de jantar.
Eu espetei minha alface murcha em minha salada barata com um garfo e dei
um sorriso tímido.
— Grant Dawes. Ele é o único que atendeu ao meu chamado.
Hannah me encarou.
— Cuidado com aquele. Ele tem uma história complicada. Ouvi coisas sobre
ele que meu orgulho não me deixa repetir.
Ouvi falar disso.
Em uma cidade pequena como Lakeshore, GA, uma vez que você ganha uma
reputação, ela permanece. Boa sorte mudando isso. Estremeci ligeiramente,
pensando no homem. Ainda assim, Grant parecia um cara misterioso, mas uma
história conturbada parecia estar um pouco distante. Tudo o que eu tinha
ouvido até agora era sua capacidade de começar brigas e ter casos de uma noite,
nenhum dos quais me deu uma impressão duradoura, mas nada que fosse
precisamente proibido.
— Ouvi dizer que ele matou a ex-mulher para pegar o seguro de vida e fugiu
da cidade, mas ficou preso aqui.
— Eu ouvi que ele estava aqui como um policial disfarçado.
Ah... Grant de uniforme...
Não, June. Pare com isso.
— Alguém me disse que ele foi expulso de todos os bares da cidade.
— Sim, ouvi coisas, mas preciso terminar essa reforma o mais rápido possível.
Quanto mais cedo eu puder sair do meu apartamento, melhor. — Eles
concordaram com a cabeça e continuaram seu almoço e conversa.
Quando nosso intervalo para o almoço terminou, reuni meus alunos e
voltamos pelo corredor até nossa sala de aula. Mantendo-os em fila única,
comecei a cantar nossa canção de marcha enquanto subíamos as escadas.
Entrando em nossa sala, abri o armário para cada aluno pegar seu tapete de
cochilo e ir para o chão se deitar enquanto eu apagava as luzes e ligava a máquina
de ruídos. Fui direto para o meu computador para verificar meu e-mail e
terminar de corrigir nossos trabalhos mais recentes.
Abri meu e-mail. Um se destacava, rotulado como “Fatura Estimada: June
Hart”. Meu coração pulou uma batida. Não pensando em Grant, mas apenas
porque alguém finalmente me deu uma cotação. Estava começando a parecer
real. A fatura incluía uma lista detalhada de tudo o que mencionamos no passo a
q p
passo da casa com seu custo em uma coluna do lado direito. O preço parecia
bastante justo para esse mercado, então não tive problemas em responder.
June: Esses números parecem ótimos. Quando você pode
começar?

Talvez eu devesse agradecer ou algo assim. Eu me sinto uma idiota por ser tão
curta com ele por causa de uma interação de um ano atrás. Parecia bobagem, mas
respondi mais uma vez e mandei outro e-mail.
June: Obrigada, a propósito. Você é o único cara que eu consegui
arranjar.

Também vi um e-mail logo abaixo do meu locador, esperando responder à


minha reclamação sobre o forno quebrado.
Locador: O forno do seu apartamento precisará de um especialista
diferente para vê-lo. Não está em nossa lista de prioridades,
portanto não garante uma correção imediata.

Bem, claro que não.


Eu me inclinei para trás na minha cadeira, suspirando. Eu teria um tempo
em breve, podia sentir isso. Mas, por enquanto, eu estava apenas me arrastando
pelas trincheiras. Antes que eu percebesse, recebi um e-mail de Grant.
Grant: Posso começar na quinta-feira de manhã. Vou precisar que
você me encontre lá para destrancar a casa e me dar uma cópia
da chave.

Fiz uma anotação mental para ter alguém cobrindo minha aula na manhã de
quinta-feira, para que eu pudesse encontrá-lo.
June: Perfeito, até quinta.

Tentando ignorar o frio na barriga, continuei meu dia de trabalho até os


alunos irem para casa. Ao sair da escola, parei no escritório do orientador
educacional para pegar os panfletos sobre a próxima venda de bolos do Dia das
Mães. Eu imprudentemente me inscrevi para levar biscoitos, brownies e
cupcakes para diferentes professores para que eles não precisassem. Eu era uma
das únicas professoras que ainda não tinha filhos, então entendi que eles tinham
menos tempo para realizar essas coisas. No entanto, isso me obriga a levar quatro
dúzias de guloseimas para a escola em pouco mais em uma semana, e mais de
vinte testes de alunos e tarefas de casa para corrigir.
Passei aquela noite em meu apartamento, aconchegada no sofá perto de um
abajur, tocando um podcast sobre crimes como ruído de fundo e enrolada sob
um cobertor. Minha coleção de marca textos está espalhada pelo sofá enquanto
eu alterno entre as cores para avaliar a tarefa de cada aluno. De vez em quando,
encontro uma resposta engraçada para uma pergunta ou um comentário paralelo
que uma das crianças de seis anos escreveu que me faz rir.
Por mais difícil e cansativo que possa ser ensinar, eu sinceramente não
poderia imaginar estar em outra profissão. A sensação de fazer a diferença na vida
de uma criança e ver aquela inocência e brilho em seus olhos faz tudo valer a
pena.
Capítulo 6
A ideia de me encontrar com Grant novamente me deixou mais nervosa do que
eu estava disposta a admitir, mas minha curiosidade aumentava a cada interação
que tínhamos. Quando cheguei em casa, trouxe meu pote de muffins e os
coloquei no balcão, como uma oferta de paz.
Quando Grant entrou na garagem em seu velho Chevrolet vermelho
surrado, me vi ajeitando a saia e passando os dedos pelo cabelo. Ele bateu duas
vezes na porta e, quando fui atender, fiquei surpresa ao ver apenas ele e nenhum
de seus colegas de trabalho.
— Onde está Beau? — Foi a primeira coisa que saiu da minha boca. Ele
olhou bem atrás de mim.
— Bom te ver também.
Mencionei os muffins no balcão e ele apenas deu um pequeno bufo
sarcástico. Ok, então, lá se vai o tratado de paz.
— Então, você conseguiu uma chave?
Sim, e eu não deveria dar a você, considerando o quão horrível está sua atitude
agora.
— Sim. Aqui. — Estendi a cópia da chave, recortada com tinta amarela e
flores cor-de-rosa. Ele levantou uma sobrancelha e olhou para a minha mão antes
de pegar a chave hesitantemente.
No segundo em que sua mão passou pela minha, um calor se espalhou por
todo o meu corpo. Minhas pontas dos dedos pareciam hipersensíveis às suas
pontas calejadas. Ele deve ter sentido isso também, porque recuou mais rápido
do que eu. Ou ele realmente estava muito irritado comigo.
Enquanto ele estava distraído medindo as bancadas, tirei um momento para
dar uma boa olhada em Grant. Seu cabelo castanho escuro estava enfiado
naquele mesmo boné surrado dos Braves com um lápis de empreiteiro preso
atrás da orelha. Seus olhos castanhos focados na fita métrica abaixo dele, e eu
observei cada movimento seu. Seu colete Carhartt estava pendurado sobre suas
botas de trabalho cobertas de lama seca, e sua camisa azul marinho estava coberta
de manchas de sujeira e parecia um pouco apertada demais. A camisa se moldava
aos músculos das costas a cada alongamento, mostrando todas as linhas de ajuste.
Poucos homens em Lakeshore foram construídos assim. Nesta cidade nós
sucumbimos a homens mais velhos assustadores ou a garotos de fraternidade de
dezenove anos.
Para quebrar o silêncio desconfortável, e na tentativa de entender esse
estranho homem, fiz algumas perguntas a ele.
— Então, o quanto você trabalha?
— Sete dias por semana.
— E seus hobbies?
— Este é o meu hobby.
— Você faz outra coisa além de trabalhar?
— Não.
— E os seus amigos? Você deve sair com eles, certo?
Ele colocou a fita métrica na bancada ruidosamente.
— Você vai passar a manhã inteira me importunando sobre minha vida
pessoal?
Coloquei meus cotovelos no balcão e me inclinei.
— Talvez. É meio divertido tentar decifrar você. Você tem uma cara de
poker2 perfeita.
Ele me olhou bem nos olhos.
— Esta é apenas a minha cara.
Eu provavelmente riria se ele não parecesse tão sério, mas eu tinha certeza que
agora não era o momento. Os próximos trinta minutos foram preenchidos com
eu fazendo perguntas e ele desviando com respostas secas.
Grant era como um grande cofre com um código que você não conseguia
descobrir. E era confuso, porque eu queria levar um martelo para o cofre e bater
nele até que se abrisse, mas também queria sussurrar coisas boas para ele, dizer as
palavras mágicas e vê-lo se abrir lentamente para mim.
Eu tendia a fazer muitas perguntas, especialmente porque passava a maior
parte do tempo com crianças de seis anos que perguntavam “por quê?” cada vez
que abria a boca. Após ver como ele estava ficando irritado, decidi parar de
distraí-lo do trabalho e peguei minhas chaves.
— Tudo bem, acho melhor deixar você trabalhar.
Enquanto eu me dirigia para a porta dos fundos, ele respondeu rapidamente:
— Espere... uh. E você? O que você faz fora do trabalho e tal?
Eu me virei para seguir a sua deixa.
— Passo muito tempo com a minha melhor amiga, vou a diferentes eventos
escolares, trabalho como voluntária, pinto, cozinho e faço compras. Você sabe,
coisas básicas.
Ele olhou para minhas mãos, que estavam inquietas com minhas chaves.
— Parece isso mesmo.
Eu inclinei minha cabeça para o lado em confusão.
— O que isso significa exatamente?
Quando ele abriu a boca para responder, meu telefone tocou alto na minha
mão, o que nos fez pular um pouco.
—Desculpe, um segundo. — Percebi que era Hannah ligando da escola,
então atendi rapidamente.
— Ei, o que está acontecendo? — Eu ouvi a tagarelice de crianças falando
alto e o que parecia jogar coisas.
— Eu odeio perguntar, mas não posso manter nossas duas classes bem
comportadas, é muito de uma vez só. Quando você vai voltar?
Olhei para Grant enquanto ele media a parede dos fundos da minha cozinha.
— Ah, posso voltar agora.
Ele olhou para mim imediatamente.
Desliguei e expliquei que precisava voltar para a escola porque meus alunos
estavam enlouquecendo.
Ele respondeu com frieza:
— Tudo bem.
Eu saí em direção à porta.
Eu não sabia exatamente por qual motivo me sentia decepcionada por ter
que ir trabalhar mais cedo do que esperava. Pode ser porque trabalhei tanto que
precisava de uma pausa sólida. Ou pode ser que você queira passar mais tempo com
um empreiteiro rabugento. Não. Isso não.

∞∞∞
No sábado, Ashley e eu estávamos atrasadas com nossas conversas e café. Nós
quase não discutimos nada essa semana por estarmos tão ocupadas com o
trabalho. Tentar encerrar tudo para o final do ano letivo foi estressante, e as
crianças pareciam mais animadas do que nunca esta semana.
Pedi minha bebida habitual e fui até nossa mesa nos fundos. Recostando-me
na cadeira, inspirei fundo e expirei. O estresse desta semana não me atingiu até
que eu tivesse um momento para relaxar. Minha agenda estava tão ocupada e
cheia de diferentes eventos e projetos que precisavam ser encerrados. Mas estar
ocupada era bom. Ocupada significava mais tempo fazendo as coisas e menos
tempo pensando em um certo alguém temperamental encostado no batente da
porta do meu futuro quarto.
Ashley foi ao caixa para fazer o pedido e voltou direto para a nossa mesa. Ela
imediatamente desandou a falar.
— Ok, conte-me tudo. Como foi a conversa com sua mãe? Você encontrou
alguém para ajudar com o forno? Como está indo a casa? Eles fizeram alguma
coisa? O gostosão rabugento e sexy já deu em cima de você? Ele tem amigos
gostosos?
Suas perguntas me sobrecarregaram e me fizeram sentir confortável ao
mesmo tempo. A personalidade de Ashley poderia ser algo como um esquilo em
alta velocidade e, embora a maioria das pessoas ficasse irritada, eu sempre achei
cativante.
— Isso foi muita pergunta de uma vez, deixe-me ver o que posso responder.
Ok, então mamãe tentou me convencer a vender a casa novamente. Não consigo
encontrar ninguém para arrumar o fogão, então o forno ainda está quebrado. A
casa está indo, eles estão derrubando armários. E não, ele não deu em cima de
mim. Por que ele iria? E não acho que ele tenha amigos.
Ashley absorveu tudo e enrolou o cabelo loiro entre os dedos longos.
— Bem, você já sabe o que deve fazer, né? Use um top decotado e um jeans
justo e peça a um de seus funcionários para dar em cima de você, para que ele
fique com ciúmes e lhe dê atenção.
Só o pensamento de colocar um top decotado e jeans apertados me fez rir. Eu
era professora da primeira série e me vestia como uma, com certeza. Eu tinha
principalmente vestidos e cardigãs cobertos com estampas divertidas e uma
variedade de cores vivas, e quando eu usava jeans, eles certamente não eram
justos e não exigia nenhuma atenção do público.
— Eu não quero a atenção dele. Quero que ele termine minha casa para que
eu possa deixar meu apartamento e ter uma casa em condições habitáveis.
Ela assentiu silenciosamente, desistindo da luta, e começou a me contar
como estava sua família.
Ashley sempre foi mais próxima da família dela do que eu da minha. Ela me
contava histórias sobre seus pais levando ela e seus irmãos para a praia e como
eles se divertiam. A mãe dela parava aleatoriamente em nosso dormitório na
faculdade e trazia brownies, flores ou apenas coisas aleatórias que a faziam pensar
em Ashley. Era francamente adorável e, embora eu sentisse um pouco de ciúme,
fiquei feliz por Ashley ter uma família sólida.
Estar perto da família não fazia parte da minha história. Meus pais não eram
exatamente rudes, mas nunca fomos próximos. Meus irmãos provavelmente
eram os mais próximos de mim, e até mesmo eles não se aproximavam tanto.
Suas vidas eram muito ocupadas, e eu entendia. Crescendo com pais que eram
médicos, ficou claro que seu trabalho diminuía sua família/vida social.
— Ah, e eu quero convidar você para uma coisa amanhã à noite que o bar
está organizando. É uma empresa legal de fora da cidade que vem verificar o
terreno para um empreendimento local. É um bar aberto e você terá que se vestir
bem. Oh, use aquele vestido de dama de honra do casamento da sua prima! Você
nunca usa ele!
Eu bufo levemente.
— Talvez seja porque nunca tenho ocasião de usá-lo. Também tenho certeza
de que as pessoas não usam vestidos de dama de honra mais de uma vez.
Provavelmente poderei ir, mas sem bebida para mim, ainda há aulas em
andamento e não quero que nenhum pai me veja bebendo.
Ela revirou os olhos e apoiou os cotovelos na mesa.
— June. Você tem vinte e cinco anos, está acima da idade legal para beber, e
pode fazê-lo quando quiser. De todo modo, eu duvido muito que você conheça
alguém lá. Eles são todos clientes chiques e enfadonhos de cidades maiores
tentando persuadir grandes fazendeiros a vender suas terras para novos
empreendimentos.
Ashley trabalha no Pub Jaded desde que fomos para a faculdade juntas, e
agora ela praticamente mora lá. Ela estava atrás de um diploma de negócios para
abrir uma butique local, algo muito em falta em Lakeshore, mas depois que nos
formamos, ela acabou ficando no Jaded. Suas gorjetas eram boas por lá, e ela
pensou que, se pudesse economizar o suficiente, poderia abrir um negócio mais
rápido. Eventualmente, seu chefe saiu e ela foi promovida. Como ela amava
muito o lugar, ela ficava lá praticamente o dia todo, todos os dias.
Eu reconheço sua declaração.
— Sim, mas seria estranho se alguém da escola me visse fazendo isso. Isso me
faz sentir encrencada. Eu vou, mas não irei beber nada.
Ela resmungou e me chamou de boa menina, mas ficou contente por eu ter
concordado em ir.
Terminamos nosso papo sobre trabalho e família e tomamos o último gole de
nossas bebidas quando uma ideia passou pela minha cabeça.
— Você quer passar lá na casa? Você não consegue vê-la há alguns meses, e
tenho algumas novas ideias que gostaria da sua opinião.
Seus olhos brilharam e ela bateu palmas animadamente.
— Sim, com certeza! — A reação dela também me deixou animada para ver a
casa. Ela poderia me fazer ver a situação por outro ponto de vista.
Dirigimos separadamente em direção a casa e, quando fui estacionar, notei a
caminhonete vermelha surrada e silenciosa de Grant estacionada na entrada.
Meu coração começou a bater mais forte no meu peito, e meu estômago estava
apertado. Lembrei-me de marcar uma consulta médica. Eu não sentia meu
coração bater tão rápido desde que vi uma caixa de cachorrinhos fofos à venda
no supermercado. Tive sorte de Ashley estar lá para me manter na linha, ou eu
teria seis pastores alemães correndo pelo meu apartamento.
Ashley e eu andamos pelo lado de fora e discutimos ideias de paisagismo, mas
isso estava realmente no final da minha lista. Por enquanto, eu só precisava de
algo para me mudar. O paisagismo seria um projeto divertido de fim de verão
mais tarde.
Batendo duas vezes, abri a porta dos fundos e entrei na cozinha.
— Ei, Grant, você ainda está aqui? — Escutei seus passos barulhentos
descendo o corredor. Quando ele apareceu na entrada, pude ouvir Ashley
suspirar baixinho. Esperava que eu fosse a única a ouví-la.
— Sim, eu estava terminando de tirar o papel de parede do quarto de
hóspedes. Vocês podem entrar.
Eu queria fazer um comentário atrevido sobre ele dizer que posso entrar em
minha própria casa, mas me contive.
Eu não tinha visto a casa desde a última quinta-feira, quando Grant e eu nos
encontramos aqui. Quando chegamos à cozinha, ela estava totalmente vazia.
Não havia armários, eletrodomésticos ou papel de parede de galinha, apenas uma
lousa em branco. Ver a cozinha vazia me deixou mais animada para visualizar as
possibilidades.
Ashley foi a primeira a falar.
y p
— Uau, parece muito maior do que eu me lembrava! — Ela girou nos
calcanhares, observando o quarto praticamente novo.
Eu balancei a cabeça.
— Sim, vê-la vazia me dá uma ideia melhor do que temos para trabalhar nela.
Acho que vai ficar bom quando terminarmos.
Grant estava a poucos metros de distância com os braços largos cruzados, as
pernas bem abertas e uma expressão genérica no rosto.
Seus olhos examinaram minha roupa de cima a baixo, e sua sobrancelha
direita se ergueu. Eu conscientemente olhei para minhas roupas. Eu estava com
uma camiseta branca lisa e um macacão curto com meu All Star azul. Meu
cabelo comprido estava em duas tranças para mantê-lo fora do meu rosto. Tudo
pareceu fofo no espelho esta manhã, meus alunos me elogiaram da última vez
que usei isso na aula. Mas ficar na frente de Grant e vê-lo me examinar de cima a
baixo me fez sentir como uma garotinha. Eu queria me enfiar em um buraco.
Ashley me cutucou com o cotovelo e acenou com a cabeça na direção dele.
— Ah, certo, Grant, esta é Ashley, Ashley, este é Grant. — Apresentei os dois
e observei os olhos de Ashley quase saltando das órbitas. Ela estendeu a mão para
apertar a mão dele, e ele, relutantemente, apertou a dela de volta.
— Então, Grant, você gosta de beber? — Bem, deixa com a Ashley para ir
direto ao assunto.
— Acho que sim.
Ashley juntou as mãos.
— Então você deveria vir ao evento no meu trabalho amanhã à noite! É open
bar no Jaded. Tem música ao vivo e June também estará lá. — Ela mexeu as
sobrancelhas sugestivamente.
Eu interrompi depois que meu nome foi mencionado.
— Beleza, Ashley, acho que ele entendeu. Ele provavelmente estará muito
ocupado para ir, de qualquer maneira.
Os olhos de Grant se moveram entre Ashley e eu.
Eu esperava que ele recusasse rudemente e ouvisse seus resmungos insolentes,
mas, em vez disso, fiquei surpresa.
— Estarei lá. Não tenho muito mais o que fazer, e um open bar soa bem.
Bem, isso é simplesmente…
— Perfeito! Nos vemos lá. Eu sei que June está muito animada!
Senti minhas bochechas ficarem vermelhas e recuei para agarrar o braço de
Ashley.
y
— Tudo bem, chega por hoje. Acho melhor darmos uma olhada rápida e
sairmos. Desculpe interromper seu trabalho. Eu só queria ver como estava indo.
— Ashley começou a abrir a boca novamente, mas rapidamente a fechou
quando belisquei a parte de trás do braço dela.
Deixamos Grant na cozinha e fiz um tour bem rápido, pronta para sair
correndo de casa. Ter Ashley e Grant juntos na mesma sala era muito perigoso.
Como ele mencionou, notei que ele havia arrancado metade do papel de parede
do quarto de hóspedes, mas havia feito muito mais do que deixava transparecer.
Pelas pequenas atualizações que Beau me deu, imaginei que seria um
processo lento. Ele disse que esses projetos geralmente levam de três a cinco
meses para a equipe, já que eles têm muitos outros clientes. No entanto, toda vez
que eu verificava a casa, lá estava Grant, suando em suas roupas de trabalho
estupidamente quentes.
Ou este era o único grande projeto que eles estavam fazendo no momento,
ou era uma prioridade máxima. Pensando bem, Grant começou a trabalhar com
uma rapidez suspeita, considerando que todos diziam que ele sempre recebia
reservas com meses de antecedência. Eu não era de reclamar, porém… quanto
mais cedo, melhor.
Os cachos saltitantes de Ashley balançavam ao redor de seus ombros
enquanto ela saltitava pelo local da demolição.
— Olha isso, June! Você vai ser como uma daquelas anfitriãs fofas da
HGTV!3 E eu posso ser a amiga legal e controlada que você traz para casa pela
primeira vez na revelação!
Eu balancei minha cabeça para ela.
— Ashley, você não é legal nem controlada. Duvido muito que isso
funcione. — Seus lábios se transformaram em um beicinho fofo e ela continuou
andando.
Voltando para a cozinha, Grant ficou parado onde o deixamos, como se não
tivesse se movido um centímetro nos últimos cinco minutos. Nossos olhos se
encontraram por um segundo e eu imediatamente me virei. Algo nele me
impedia de manter contato visual sem corar. A última coisa que eu precisava era
Ashley me dando mais dor de cabeça ao telefone esta noite.
— Ok, acho que vamos indo. Desculpe entrar aqui enquanto você estava
trabalhando.
Seus olhos ainda estavam em mim quando olhei para trás em sua direção, e
houve uma longa pausa silenciosa entre nós.
— Tudo bem, eu estava prestes a fazer uma pausa de qualquer maneira.
Não estava, não, considerando a parede meio arranhada e suas ferramentas
espalhadas, mas eu apreciei o conforto que ele estava tentando fornecer, mesmo
que sua voz profunda soasse rude.
Eu me virei para Ashley e coloquei minha mão em seu ombro.
— Nós provavelmente deveríamos ir.
Ashley assentiu.
— Tchau, Grant! Mal podemos esperar para amanhã!— Eu queria revirar os
olhos e arrancá-la porta afora como uma criança envergonhando a mãe na loja,
mas me contive.
— Vejo você amanhã à noite, Hart. — Ashley e eu contornamos a cozinha e
saímos pela porta dos fundos.
Descendo os degraus da varanda dos fundos, Ashley exclamou em voz alta:
— June! Como você não está babando agora? Aquele homem é tão gato que
acho que desmaiei por um segundo.
Revirei os olhos e sussurrei:
— Shh! Ele provavelmente pode ouví-la. E você não desmaiou. Você falou
mais que o suficiente.
Ela riu e abriu o portão traseiro para caminhar até seu carro.
— Você sabe que ele deve estar afim de você também, estou te dizendo que
ele estava olhando para você, e no segundo que eu mencionei que você estava
indo para o bar, ele estava imediatamente pronto para ir. O homem nunca foi
sociável, por que ele aceitaria de bom grado vir a um evento privado como esse?
Eu destranquei meu carro, precisando de algo para mexer em minhas mãos.
— Talvez porque ele gosta de beber de graça. Não tem nada a ver comigo.
Vamos, vamos tirar você daqui antes que você me envergonhe ainda mais.
Pensei no comentário de Ashley sobre os olhos de Grant em mim. Olhando
no espelho retrovisor, verifiquei se não havia nada em meus dentes. Minha
maquiagem era mínima, mas ainda estava lá. Era mais do que eu fazia na maioria
dos dias, mas ainda era um pouco embaraçoso pensar que Grant estava olhando
para esta versão de mim.
Olhei para trás enquanto colocava meu carro em marcha à ré, admirando a
frente da casa. Já era tão bonitinha por fora, só precisava de um pouco de pintura
e paisagismo. A ideia de morar aqui me fez sorrir e senti como se estivesse um
passo mais perto da vovó.
Capítulo 7
Passei a manhã de domingo corrigindo mais tarefas e registrando-as em meu
computador. Levei meu tempo respondendo e-mails de pais e professores, me
esticando no sofá enquanto trabalhava. Quando você é apaixonado pelo seu
trabalho, você se verá trabalhando todos os dias e nem mesmo considerando isso
um trabalho.
Eu nunca tinha me sentido assim antes. Tive muitos empregos paralelos
enquanto fazia meu caminho na faculdade. Havia partes de cada cargo que eu
amava e algumas que eu odiava, mas nunca tive paixão pelo meu trabalho. Foi
honestamente revigorante que eu me sentisse confortável trabalhando mesmo
nos meus dias de folga.
Meu telefone vibrou na minha mesa e vi uma mensagem.
Ashley: Por favor, não se esqueça do evento no Jaded esta noite.
Preciso trazer o máximo de pessoas que puder para o dono.

Eu: Não se preocupe, estarei lá.

Coloquei um emoji sorridente no final.


Olhei para o meu telefone e decidi bisbilhotar um pouco. Bem, descobri que
Grant Dawes não causou nenhuma impressão na internet. Ele não tinha mídia
social e quase nada aparece quando você pesquisa o nome dele no Google. Eu
esperava um site de negócios, uma página no Facebook ou talvez um velho e
embaraçoso Twitter do ensino médio, mas não havia nada. Fui às imagens e rolei
o suficiente para ver uma foto dele.
Ele estava quase irreconhecível, isso tinha que ser de anos atrás. Ele estava
vestindo sua roupa de trabalho típica, mas com um colete fluorescente amarelo e
um capacete branco riscado no meio. No lado esquerdo da foto estava um jovem
Beau, que se parecia com hoje. Apenas com olhos mais jovens e cabelos mais
brilhantes. Ao lado de Beau estava um senhor mais velho que não reconheci.
Então havia Grant. Ele parecia genuinamente encantado, e eu não acho que
tinha visto Grant desse jeito. Seu sorriso era tão brilhante que parecia que ele
estava rindo, suas bochechas subiram até os olhos, e apenas olhar para a foto me
fez sorrir. Eu imaginei que isso devia ter saído do ensino médio. Seu braço estava
em volta de uma jovem do outro lado dele. A garota não parecia familiar. Sua
irmã, talvez? Olho a foto mais de perto e vejo suas mãos carinhosamente
colocadas na cintura fina da garota. Muito provavelmente não era sua irmã. A
qualidade da fotografia era ruim, mas me deixou curiosa. Eu queria abri-lo como
um livro e encontrar mais informações para explicar seu passado.
O que aconteceu com esse homem para deixá-lo tão irritado o tempo todo?
Corri meus dedos sobre a foto e ampliei, pensando, onde foi parar a luz dele?

∞∞∞
Sabe quando você faz planos, e na hora parece divertido, mas aí quando você tem
que ir, você se sente nauseada de nervoso? Foi exatamente assim que me senti.
Eram sete e meia da noite e eu disse a Ashley que estaria lá às oito. Tudo o que fiz
foi meu cabelo e maquiagem, e fiquei no meu quarto, olhando minhas duas
opções de vestido. Vista algo extravagante. Meus olhos se moveram para frente e
para trás entre os dois itens que eu coloquei na minha cama.
Tínhamos o vestido verde escuro que usei em um casamento anos atrás ou
um vestido preto simples e curto com mangas. Estendi a mão para o verde escuro
e, ao entrar nele, percebi que não serviria. Eu não conseguia nem puxá-lo sobre
minhas coxas, muito menos minha bunda. Então talvez eu tenha ganhado alguns
quilos de lá pra cá. Ok, então eu não era mais um tamanho 36. Talvez Ashley
estivesse certa sobre a quantidade de aspartame na Coca-Cola sem açúcar.
Vestido preto será. Me vesti e dei os últimos retoques, passando batom nude
e ajeitando os fios soltos dos meus cachos. Dando um passo para trás em meus
calcanhares para absorver todo o visual, me senti como uma versão muito mais
apresentável do meu eu cotidiano. Eu verifiquei a hora no meu telefone, sete e
quarenta e cinco da noite. Peguei minhas chaves e uma grande bolsa de couro e
tropecei em uma corrida para fora da porta.
Quando parei no estacionamento do bar, me vi procurando o carro de
Ashley ou a caminhonete de Grant. Quando não encontrei nenhum dos dois,
escolhi a vaga de estacionamento mais próxima que pude encontrar. Eu
verifiquei meu batom nude no espelho retrovisor e peguei minha bolsa para
entrar.
Quando estava na metade do prédio, percebi que não conhecia uma única
pessoa em todo aquele lugar. O pub estava cheio de homens e mulheres de
negócios vestidos com blazers e sapatos que custavam mais do que meu aluguel.
Eu estava fora da minha zona de conforto, mas tive que me esforçar pelo bem de
Ashley.
Fui imediatamente ao bar e pedi uma garrafa de água. Assim que peguei a
garrafa, comecei a procurar por Ashley. Cheguei ao fundo do bar, onde havia
alguns sofás e cadeiras desconfortáveis, mas de aparência moderna, e a encontrei
conversando com alguns colegas. Eles pareciam imersos em uma conversa, e eu
odiava me intrometer.
Olhando ao redor do Jaded, ficou evidente que eles haviam feito mudanças.
A velha e surrada mobília de segunda mão na sala de estar agora foi substituída
por sofás de couro marrom e cadeiras modernas. Eles penduraram luzes no topo
das vigas expostas e adicionaram mesas de sinuca bem no fundo.
Decidi sentar em um sofá na parede mais distante, longe da multidão, e
esperar que eles terminassem antes de me apresentar. Quando me recostei no
sofá cinza e duro, senti meu telefone vibrar.
Número desconhecido: Onde você está?

Minhas sobrancelhas baixaram em confusão.


Eu: Grant?

Número desconhecido: Sim. Onde você está?

Atualizei seu número de contato e ri da minha esperteza.


Eu: Como você descobriu meu número?

Empreiteiro rabugento: Você me deu quando assinou o contrato.


Onde você está?

Peguei meu celular e abri o aplicativo da câmera. Virei as costas para a entrada
e mostrei um sorriso para a câmera. Mandei uma mensagem para Grant com a
foto da minha localização e esperei que ele viesse em minha direção. Achei que
ficar de pé tornaria mais fácil para ele me encontrar. Mas, mesmo com esses saltos
altos, eu tinha apenas um metro e setenta e cinco, e Grant devia ter pelo menos
um metro e oitenta e cinco.
Enquanto espiava pelo corredor até a frente do bar, o vi caminhando em
minha direção. Ele estava vestindo calças azul-marinho escuras e uma camisa
branca com os dois primeiros botões abertos. Seu cabelo castanho-escuro estava
penteado para trás com produto e estava sem o boné que era sua marca
registrada. Sua barba estava bem feita e suas sobrancelhas estavam franzidas
enquanto ele examinava a multidão, procurando por mim. Ele parecia tão
diferente assim, sofisticado e profissional. Ele se arrumava muito bem, mas uma
parte de mim sentia falta de suas roupas de trabalho suadas e da sujeira em sua
testa.
Claramente, eu não era a única que notava, já que todas as mulheres viraram
a cabeça para ele andando em minha direção. Ele ainda não tinha me visto
enquanto olhava pela sala, examinando cada seção do bar. Ele olhou de volta para
seu telefone. Presumi que ele estava verificando onde eu estava pelo ângulo da
minha foto.
Assim que chegou ao fundo, olhou ao redor da sala, ainda procurando por
mim. Seus olhos encontraram-se com os meus, e ele fez uma pausa. Acenei com
as mãos para ele, dizendo-lhe para vir, mas ele ficou lá com a boca ligeiramente
aberta. Depois de alguns segundos, ele começou a pisar na minha direção.
Eu fui a primeira a quebrar o silêncio.
— Olhe só para você todo arrumado. Sabe, pela primeira vez não parece que
você acabou de descer de um trator.
Ele olhou para o meu vestido, seus olhos escuros examinando meu corpo. Eu
senti como se estivesse em exibição.
— E você não parece uma criança de sete anos brincando de se fantasiar com
as roupas da sua mãe.
Sua provocação me deixou feliz e senti que ele estava se abrindo lentamente,
embora ainda mostrasse sua personalidade seca. Eu ri levemente.
— Você sabe que vou levar isso como um elogio.
Nós dois sentamos em lados opostos do sofá, deixando bastante espaço entre
nós. Cruzei uma perna sobre a outra e tomei um gole da minha elegante garrafa
de água, imaginando para onde iríamos a partir daqui. Olhando para onde
Ashley estava, descobri que ela havia saído e eu a perdi de vista.
— Você não vai beber esta noite? — Ele interrompeu meus pensamentos e
acenou com a cabeça para a água Voss em minha mão. Eu olhei para ele e me
peguei olhando um pouco demais.
— Não, eu, uh, não quero encontrar nenhum professor ou pais da escola.
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Ele me deu um olhar de soslaio.
— Eu volto já. — Ele se levantou e foi até o bar.
Quando Grant voltou, trazia duas bebidas na mão – uma garrafa de cerveja e
algum tipo de vinho branco em uma taça. Ele me entregou a taça.
—Aqui, você deve relaxar um pouco.
Eu olhei para ele.
— Isso é muito engraçado, você me dizendo para relaxar. — Ele segurou a
taça e me deu um olhar plano. Eu olho para a bebida cansada. — Não sei se é
uma boa ideia. Eu tento passar uma boa impressão caso encontre alguém da
escola por aí.
— Você não é tão jovem, e eles devem saber que você pode beber de vez em
quando. Além disso, você vê alguém que conhece aqui? Tente pelo menos.
Ele está certo, e não reconheço uma única alma aqui além de Ashley. Não
querendo ser rude, peguei a haste da taça e levei-a aos lábios.
Grant se sentou ao meu lado, um pouco mais perto do que da última vez.
— Mmmm… — murmuro. Tinha esquecido como o vinho é bom. Eu não
bebia há meses e, da última vez, foram mimosas no brunch de aniversário de
Ashley em novembro. Os olhos de Grant estão em mim, e eu olho em sua
direção.
Era difícil até mesmo olhá-lo nos olhos com o quão gostoso ele parecia todo
arrumado. Ele parecia mais com ele mesmo, mais com aquela foto que eu vi. Ele
limpou a garganta, balançando o pomo de Adão. Senti meu pescoço esquentar e
a excitação subir pelo meu estômago. Esse cara já me deixou em um estado de
confusão.
— Tudo bem, Hart. Conte-me sobre esses seus alunos. — Fui surpreendida
pela pergunta. Eu o ouvi corretamente? Eu não tinha tomado nem dois goles de
vinho ainda.
— Você está me perguntando sobre o meu trabalho?
Ele tomou um gole de sua cerveja.
— Considerando que você me deu a Inquisição Espanhola sobre o meu
trabalho outro dia, é justo. — Touché.
— Vamos ver, por onde devo começar? Tenho algumas garotas que devem
ser minhas favoritas. Elas são as clássicas favoritas dos professores e estão sempre
prontas para ouvir e fazer o que eu peço. Mas tem alguns garotos que são
engraçados também, então não sei. Ah, mas tem uma garotinha chamada
Sunny… — Eu discursei sobre cada um dos meus alunos, provavelmente mais do
y p
que ele gostaria de ouvir, mas ele bebeu sua cerveja e acenou com a cabeça
enquanto ouvia.
— Acho que não consigo escolher favoritos. Eu os amo do mesmo jeito.
Ele respondeu com um simples:
— Isso faz sentido. — E isso pareceu me aliviar, sua voz baixou para o mesmo
tom monótono, mas menos mal-humorado.
Ele não parecia tão tenso esta noite, talvez fosse a cerveja. Ou o fato de que o
peguei fora de seu trabalho. Pensando nas perguntas a fazer, tive uma ideia.
— Ah! Eu tenho uma ideia! Vamos jogar um jogo que eu faço com todos os
meus novos alunos!
— Não gosto de como você diz “novos alunos” como se eu tivesse acabado de
entrar na sua turma. — Sua garganta sacudiu um gemido profundo.
Tomei outro gole de vinho e reposicionei minhas pernas.
— Não, vamos, vai ser divertido! — Ele não respondeu, e tomei seu silêncio
como um sinal de que eu poderia seguir em frente.
— Ok, então eu normalmente uso uma bola de praia, mas claramente não
temos uma, então deixe-me ver…
Arrastando minha última palavra, olho ao nosso redor, tentando encontrar
algo o mais semelhante possível.
— Ah! Aqui! — Peguei uma pequena pedrinha decorativa clara que estava
em uma tigela de vidro na mesa de centro à nossa frente. Havia pelo menos cem
na tigela, então não me senti mal por pegar apenas uma. — Ok, então esta é a
bola falante – quero dizer pedra. Você tem que jogar a pedrinha para a próxima
pessoa no círculo…
— Somos os únicos aqui.
— Shh.
Ele terminou sua cerveja.
— Pelo menos deixe-me pegar mais uma bebida antes? — Concordei com a
cabeça e observei-o pegar outra cerveja no bar, enquanto bebericava meu vinho
branco. Eu podia ver por que aquela senhora contratou Grant apenas para olhar
para sua bunda.
Quando ele voltou para se sentar, visivelmente mais perto desta vez, ele tirou
a tampa de sua nova cerveja, segurando-a firmemente em volta do gargalo com a
mão esquerda. Eu perdi minha linha de raciocínio. Sentindo-me mais
confortável, bebi mais alguns goles do meu vinho. Senti minhas bochechas
corarem e não tinha certeza se era o calor do álcool ou o homem bonito ao meu
lado.
— Ok, como eu estava dizendo. Vou jogar a pedrinha para você e fazer uma
pergunta, então você responde e me faz uma pergunta diferente. Não podemos
repetir perguntas. Entendido? — Ele dá de ombros e toma outro gole. — Ok, eu
vou primeiro.
Joguei a pedrinha para ele e ele a pegou com uma das mãos.
— Você tem algum animal de estimação?
Ele balança a cabeça negativamente.
— Às vezes, Beau é como um Golden Retriever. — Eu ri porque essa era a
descrição mais precisa de seu colega de trabalho.
Coloquei minhas mãos em concha e gesticulei para ele jogar a pedrinha. Ele
pegou a isca e colocou-a levemente em minhas mãos.
— Quantos irmãos você tem? — Agora estamos chegando a algum lugar.
Dei a mim mesma um toque de mão mental, sabendo que meu jogo funcionava.
— Tenho dois irmãos mais velhos, Jack e Weston. Jack é cerca de quinze anos
mais velho que eu, e Weston dez. — Seus olhos se abriram um pouco em
surpresa.
Eu estava acostumada com a reação da diferença de idade entre meus irmãos
e eu. O que eu poderia dizer? Sim, está bem claro que fui um acidente.
Devolvi a pedra a ele.
— Onde você se formou no ensino médio? — Sua postura frouxa ficou tensa
e ele congelou no lugar.
— Não, eu, hum... Não cheguei a me formar.
Inclinei minha cabeça em confusão. Pistas para o mistério conhecido como
Grant Dawes.
— Por que não?
Ele pegou no rótulo de sua garrafa:
— Não, é a minha vez.
Revirei os olhos, mas concordei, não querendo forçar mais. Estendi minhas
mãos, gesticulando para que ele me entregasse a pedrinha.
— Como você começou a ensinar?
Sorri, pensando na minha turma e nos meus alunos.
— Sempre quis ser professora. Toda a minha família é médica, exceto minha
avó e eu, então acho que foi como seguir os passos dela. Eu sempre quis trabalhar
com crianças.
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As bordas de seus lábios se curvaram em um leve sorriso, e ele disse:
— Tenho certeza que você é uma boa professora. Sinceramente, você é
realmente boa falando como uma criança de seis anos.
Eu ri de seu elogio sarcástico, feliz por ele estar me dando mais do que
algumas palavras.
Nós íamos e voltávamos com a pedrinha, fazendo pergunta após pergunta.
Cada um de nós tomou um gole de sua bebida, e senti minhas bochechas
esquentarem. Grant me fez perguntas com respostas fáceis, e percebi que era só
porque ele queria que o jogo acabasse.
Bebi um grande gole do vinho em meu copo, deixando apenas algumas gotas.
— Então, o que fez você entrar na reforma?
Também conhecido por: O que você está fazendo em Lakeshore?
A essa altura, tenho certeza de que perdi a pedra.
— Acho que foi natural. Eu havia saído da escola e encontrado um
construtor local que me colocou sob sua proteção. Ele me ensinou tudo o que
sabia. Quando eu tinha vinte anos, eu podia consertar qualquer coisa que você
possa imaginar em uma casa.
— É muito legal que ele tenha te ensinado tudo isso. — Tomei meu último
gole de vinho, sentindo-me relaxar mais. Acho que ele também estava
começando a relaxar.
— Sim, ele é um cara legal. Ele me ensinou tudo o que pôde. — Ele brincou
com sua garrafa de cerveja. Finalmente ficando em uma posição confortável, eu
descruzei e cruzei minhas pernas para ficar mais confortável no sofá. Eu peguei os
olhos de Grant subindo pelas minhas pernas, mas eles pararam quando ele me
viu olhando para ele. Talvez eu devesse ter usado algo mais longo.
— Como você conheceu Beau se você não é daqui?
Ele suspirou e parecia imerso em pensamentos, como se estivesse procurando
em um arquivo de memórias.
— Ele trabalhava para o mesmo cara, só tinha que se deslocar todas as
manhãs. Quando o patrão se aposentou, resolvi abrir o meu próprio e me mudei
para cá para facilitar as coisas para ele.
Sua dedicação ao colega de trabalho/amigo me fez sentir culpada por minhas
suposições anteriores de que ele era um idiota pomposo.
— Uau. Isso é muito gentil da sua parte.
Ele revirou os olhos e me deu um olhar que dizia por favor, não me chame de
gentil. Sem nenhuma pedra à vista, nosso jogo continuava.
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— Para que tipo de coisa você se voluntaria? — Eu poderia dizer que ele
estava estendendo a mão, tentando arrancar mais informações de mim, assim
como eu estava com ele.
— Acho que depende, geralmente são eventos de caridade para a escola.
Tipo, em menos de uma semana, eu tenho uma venda de bolos e me ofereci para
levar quatro dúzias de doces. Acho que não percebi o quanto era para lidar.
Além disso, meu forno parou de funcionar na semana passada, então não tenho
certeza de como vou fazer isso acontecer.
Ele olhou profundamente nos meus olhos, seu rosto mais suave do que em
qualquer outra vez que estive com ele. Ele parecia mais genuíno e gentil como
naquela fração de segundo na loja de ferragens. Aquela luz estava de volta em
seus olhos, e foi um alívio, mas eu não pude deixar de temer o momento passar.
Amanhã, quando sua falação acabar, eu sabia que ele voltaria ao normal e nossas
conversas voltariam a pequenos grunhidos.
— Eu posso consertar.
O pensamento dele vendo meu apartamento me fez corar. Trabalhar em uma
casa em que não moro era muito diferente de ele vir para onde moro atualmente.
Ele daria uma olhada em minhas prateleiras cobertas de antiguidades e minha
variedade de plantas e zombaria de mim.
— Você fala muito isso, sabe?
Ele levantou uma sobrancelha em questionamento.
— Digo muito o quê?
Imitei sua voz profunda, parecendo um pouco demais com o Batman.
— Eu posso consertar. É como sua frase de efeito.
Uma risada ressoou em seu peito.
— Eu não sei, Hart. Talvez eu goste de mostrar a você no que sou melhor.
Ele lançou um sorriso ligeiramente torto na minha direção, e eu tentei o meu
melhor para não analisar demais cada palavra que saía de sua boca linda.
Ele estava flertando comigo? O que eles colocaram na bebida dele?
—Bem, de qualquer forma, não quero pedir que você faça isso. Vou ligar
para o meu locador para consertar. Bem, ele raramente conserta alguma coisa
quando eu reclamo.
Ele colocou a garrafa vazia de cerveja na mesa de centro diante de nós, e notei
que ele havia se aproximado lentamente. Quando começamos esta conversa,
estávamos em lados opostos e ambos havíamos chegado ao meio, nossos joelhos
estavam a poucos centímetros de distância.
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— Deixe-me dar uma olhada se você acha que ele não vai consertar a tempo.
Provavelmente posso fazer isso em algumas horas ou menos. — Ele está certo,
meu senhorio provavelmente não teria tempo para enviar alguém de fora, e
quando o fizesse, seria daqui a um mês.
— Beleza. Mas não quero ouvir nenhum comentário sobre a decoração do
meu apartamento.
Ele balançou sua cabeça.
— Bem, isso é uma pena, porque eu estava planejando tirar sarro de você por
quaisquer coisas horríveis que você tenha em sua parede.
Deixei escapar uma risada e me virei para ele, meu joelho levemente
pressionado contra o dele.
Quando ele não afastou a perna, o calor se espalhou por todo o meu núcleo,
e eu me senti como uma garota de quinze anos prestes a dar seu primeiro beijo.
Minha próxima pergunta cambaleou em minha mente. Você se lembra
quando eu encontrei você na loja um ano atrás?
Eu duvidava que ele lembrasse. Quando ele apareceu na casa pela primeira
vez, não agiu como se me reconhecesse, e eu sabia que ao perguntar estaria me
fazendo de boba.
Olhei nos olhos de Grant, e ele já estava olhando para mim. Seus olhos
escureceram e observaram meus lábios carnudos, depois voltaram para meus
olhos arregalados. Eu puxei meus lábios em meus dentes e olhei para sua boca.
Seus lábios eram carnudos e me chamavam para eles. Eu não sei por quanto
tempo nos olhamos assim. Parecia que poderia ser um segundo ou uma
eternidade, o bar estava cheio de gente, mas ninguém estava lá além de nós.
— Grant… — Sussurrei o nome dele, nem mesmo certa se disse em voz alta
ou apenas na minha cabeça. Seus olhos olharam diretamente nos meus, e ele se
inclinou. Sua mão alcançou meu queixo e ele esfregou o polegar áspero para
frente e para trás. Enquanto esperava seus lábios nos meus, lentamente fechei os
olhos e me inclinei para seu abraço.
— Ei pessoal! Estou tão feliz que vocês conseguiram vir! É muito legal, né? —
Ashley interrompeu o momento, e o calor que se espalhou pelo meu corpo foi
substituído por uma fria decepção. As mãos de Grant voltaram para seu colo e
nos afastamos um do outro.
— Ah, sim, vocês fizeram um ótimo trabalho. Eu amei a iluminação. —
Tentei esconder minha decepção, mas ela podia ver através de mim e ler o
momento.
— Bem, vou deixar vocês dois sozinhos. Desculpe interromper sua, hum,
conversa. Por favor continuem.
Ela murmurou um silencioso “Desculpe” para mim. Eu discretamente acenei
para ela, dizendo que estava tudo bem. Ela riu como uma adolescente e se afastou
do sofá.
Fiquei me sentindo estranha e sem saber para onde ir. Minha descontração
pelo vinho havia diminuído com a adrenalina, e minhas pernas estavam frias por
perder seu contato.
— Então... eu acho que provavelmente deveria voltar para casa. Eu tenho que
acordar cedo amanhã, e está ficando tarde. — Eu odiava inventar desculpas, mas
não achava que poderia me colocar naquela posição novamente.
Grant se levantou e abaixou para pegar minha mão e me ajudar a sair do sofá.
— Eu deveria ir também. Deixe-me acompanhá-la até seu carro.
Segurei sua mão e me levantei para pegar minha bolsa e as chaves. Ele me
guiou até a frente do bar com uma mão nas minhas costas. Corei com os
estranhos olhando para nós enquanto caminhávamos para a porta da frente.
Procurei Ashley para me despedir dela, mas não a encontrei, então anotei
mentalmente que tenho que enviar uma mensagem de texto para ela
agradecendo o convite mais tarde.
— Onde você estacionou? — Eu estava bem longe do estacionamento e vi
que a caminhonete dele estava mais perto.
— Não se preocupe com isso, estou estacionada bem longe.
Ele olha para mim, quase ofendido.
— Vou acompanhá-la até o seu carro, quer você queira ou não.
Tá bom.
— Tudo bem, vamos lá então, grandalhão. — Sua mão havia deixado minhas
costas, mas estávamos perto o suficiente para que eu me perguntasse se ele podia
sentir o calor irradiando de mim.
Meu vestido subiu conforme eu andava, e me vi tendo que puxá-lo de volta
para baixo. Caminhamos em silêncio e tenho certeza de que nenhum de nós
sabia exatamente o que dizer. Achei que estávamos apenas curtindo a companhia
um do outro.
— Você tem certeza que está bem para dirigir, certo? Não quero ouvir nada
sobre você ultrapassando um sinal de pare no noticiário.
Chegamos ao meu carro e peguei minhas chaves.
— Tomei apenas uma taça de vinho em três horas. Estou bem, juro.
p ç j
— Tudo bem, bom, vejo você na terça à noite.
— O que tem terça à noite?
— É quando consertarei seu forno. É o mais cedo que consigo chegar lá sem
fazer isso às dez da noite.
— Ah, certo, não estou com pressa, venha quando puder. Vou te mandar
meu endereço. Obrigada novamente por me acompanhar hoje. Honestamente,
não achei que fosse me divertir, mas foi bem legal.
Ele me deu aquele mesmo sorriso pequeno e unilateral e abriu a porta do
meu carro.
— Sim, foi. Gostei mais do que pensei que gostaria. — Eu estava pressionada
contra o meu carro com seu corpo a centímetros de mim.
Ele estendeu a mão para pegar um fio de cabelo e o colocou atrás da minha
orelha.
— Me faz um favor? Mande uma mensagem quando estiver em casa.
Eu balancei a cabeça, calafrios correndo pelos meus braços.
Ele se afastou como se isso não o afetasse. Sinceramente, não pude acreditar
no que aconteceu nas últimas horas.
Quando cheguei em casa, mandei uma mensagem para Grant dizendo que
estava em casa em segurança. Fui para a cama naquela noite com minha mente
acelerada, revivendo cada momento, cada toque, cada sorriso que ele exibia, cada
olhar significativo em seus olhos. Não pude deixar de me perguntar se ele ficaria
acordado esta noite fazendo a mesma coisa.
Capítulo 8
A palavra “quase” pode conter tanto poder por trás dela e, ainda assim, ser tão
sem sentido. “Quase corri uma maratona”, “Quase ganhei na loteria”, “Quase
decidi pular de paraquedas”, etc. O atual “quase” em minha mente era da noite
passada. Grant quase me beijou. E eu quase o deixei. Na verdade, eu quase queria
que ele me beijasse. Corrigindo: eu definitivamente queria que ele me beijasse.
Na noite passada, pensei ter dormido três horas no total, entre minhas pernas
inquietas e minha mente acelerada. Passei o dia tentando me concentrar no
trabalho e não no que quase aconteceu ontem à noite. Exausta por perseguir
meus alunos hoje, deitei no meu sofá e me aconcheguei em meu cobertor
felpudo, Criminal Minds passando na minha tela plana. O som do trovão e da
chuva pesada me relaxou e me vi caindo no sono com pensamentos em um
homem irritável, mas de bom coração.
Quando acordei da minha soneca, verifiquei a hora no meu telefone, 17:53.
Percebi várias notificações, mas meus olhos foram direto para o texto de Grant.
Empreiteiro rabugento: Estou trazendo o jantar para você. Estarei aí
às 18h.

Merda. Eu me levantei do sofá e dei uma olhada no espelho. Meu cabelo


estava preso em um coque que parecia um ninho de passarinho, e eu tinha rímel
espalhado onde estava encostada contra um travesseiro minutos atrás. Eu estava
vestindo calça de moletom cinza e uma camiseta escrito “Go Eagles” de quando
estava na escola.
Peguei meu telefone o mais rápido que pude.
Eu: Tudo bem. Não estou realmente vestida para companhia.

Nem mesmo trinta segundos depois, ele respondeu.


Empreiteiro rabugento: Tarde demais.

Ai meu Deus. Meu apartamento estava um desastre. Eu não estava preparada


para ele ver o lugar limpo, muito menos um chiqueiro absoluto. Eu tinha certeza
que tinha alguma calcinha por aí. E há um número perturbador de pratos na
minha pia. Joguei todas as roupas que encontrei na sala de estar em um cesto e o
coloquei no quarto mais próximo.
Ouvi duas batidas na minha porta e meu coração disparou. Tentei arrumar
meus cabelos soltos, mas vamos encarar a realidade, nada iria arrumar eles, exceto
um banho.
Abri a porta para ver Grant parado ali, ainda em suas roupas de trabalho. Seu
cabelo escuro estava levemente úmido da chuva, e pequenas manchas molhadas
haviam escurecido sua camisa cinza claro.
— Ei, eu, uh, não recebi sua mensagem até uns dez minutos atrás. Eu disse
que não estava exatamente pronta para receber companhia.
Ele encolheu os ombros.
— Sou só eu. — Ele disse isso como se nos conhecêssemos há anos, como se
“só ele” fosse alguém que eu não sentisse necessidade de impressionar toda vez
que ele entrasse em algum lugar.
— Bem, entre, mas você não pode fazer nenhum comentário sobre o quão
caótico está aqui dentro. Considerando que você não me deu exatamente um
aviso ou uma escolha.
Ele colocou dois recipientes para viagem do restaurante Fuji na ilha da minha
cozinha.
— Sim, bem, se eu perguntasse, você teria dito não. Além disso, está
chovendo e seu forno está quebrado. Achei que você precisaria de alguma coisa
para comer e não queria dirigir na chuva.
Meu coração inchou, pensando nele entrando em um restaurante local e
pegando comida só para mim. Além disso, eu estava morrendo de fome e não
exatamente com vontade de fazer a caminhada até o meu carro para ir comprar.
— Bem, você estava certo. Obrigada por pensar em mim. — Abri o
recipiente para encontrar meu favorito, frango com gergelim e legumes fritos. Eu
suspirei em conforto. Ele deve ter se lembrado da nossa conversa ontem à noite.
Peguei dois pratos e alguns talheres e os coloquei na ilha ao lado das
banquetas. Sentando-me ao lado dele, fiquei totalmente mortificada com a ideia
de ele me ver com essas roupas.
— Você se importa se eu me trocar bem rápido? Eu não estava esperando
você e, para ser sincera, estou um pouco envergonhada.
— Por que? Você parece bem. — Ok, claramente, ele não entende.
— Não estou acostumada a usar esse tipo de coisa perto de outras pessoas
além de Ashley. Eu me sentiria mais confortável se eu me trocasse. — Comecei a
me levantar e ele colocou a mão no meu antebraço.
— Apenas coma. Você está bem. Eu prometo. — Meu braço se iluminou
onde sua mão estava.
— O-ok. — Deslizei para trás no meu banquinho e comemos em silêncio
além da conversa casual sobre “Como foi o seu dia?”.
Eu esperava que tivéssemos momentos estranhos na sala silenciosa, mas era
surpreendentemente confortável. Ele interrompeu o silêncio quando terminou
de comer, esticando as mãos acima da cabeça e bocejando. Tentei evitar olhar
para como sua camisa branca subia e mostrava um pouco de sua cueca boxer
azul-marinho.
Peguei os dois biscoitos da sorte no fundo do saco plástico, coloquei um na
frente dele e abri o meu. Eu quebrei o biscoito ao meio e tirei o pedaço de papel.
— Você encontra beleza nas coisas comuns. Não perca essa habilidade. — Eu
fiz um leve barulho de “huh” e mordi o biscoito velho e sem gosto.
Grant olhou para mim, com a cabeça apoiada na mão, como se estivesse
exausto demais para segurá-la sozinho. Apontei para o biscoito na frente dele e
disse-lhe para abri-lo. Ele revirou os olhos, mas hesitantemente começou a mexer
na embalagem.
— Amar e ser amado é como sentir o sol de ambos os lados. — Ele leu a
mensagem com uma voz monótona, soando como meus alunos meninos
quando claramente não querem ler em voz alta para a classe.
— Aww, isso é tão fofo! — Ele olhou para mim e estreitou os olhos como se
dissesse, é? Eu ri com a reação dele.
— Você quer que eu vá em frente e dê uma olhada naquele forno?
Peguei nossos dois recipientes de viagem para jogá-los no lixo.
— Você não se importa? Parece cansado do trabalho.
— Não, eu já estou aqui. Vou dar uma olhada bem rápido para ver se é uma
solução fácil ou algo mais complicado. — Ele se dirigiu para o outro lado da ilha
e abriu o forno antes de fechá-lo e puxá-lo para fora de seu lugar.
Por cerca de dez minutos, ele inspecionou o forno. Enquanto isso, encostei-
me no balcão e olhei para ele. Eu nem tentei esconder cada vez que ele me pegava
olhando. Ele olhou para mim com um sorriso malicioso, sabendo muito bem
que eu estava espiando ele o tempo todo.
— Vou ter que voltar amanhã quando tiver minhas ferramentas, mas não
deve demorar muito. Tudo bem por você?
Eu balancei a cabeça confirmando, possivelmente um pouco animada
demais, e respondi:
— Sim, com certeza, hum, quanto devo a você? Ou você quer adicioná-lo ao
preço da casa?
Ele soltou uma pequena risada.
— Não se preocupe com isso, Hart. Você pode pegar a comida amanhã à
noite e estaremos quites.
A ideia de jantarmos de novo me fez sentir borboletas voando no estômago,
como se eu tivesse acabado de entrar em uma montanha-russa.
Verifiquei novamente meu telefone e agora eram sete e meia. Eu também vi
uma mensagem de Ashley.
Ashley: Ficou confortável naquele sofá ontem à noite, hein?
Desculpe se interrompi.

Ignorando sua mensagem, joguei meu telefone no sofá e olhei de volta para
Grant para encontrá-lo olhando para mim. Ele quebrou o contato visual e
gradualmente atravessou minha sala de estar, absorvendo tudo.
— Então, é aqui que June Hart mora. — Ele caminha até minha coleção de
vinis e os folheia, fazendo um som de “huh”.
Dei de ombros, de repente mais consciente de que ele estava em meu
apartamento e olhando para minha coleção de joaninhas de cerâmica e aldeias de
fadas em minhas estantes.
— Eu acho que sim, não é nada de especial.
Ele caminhou ao longo da parede, olhando para minhas prateleiras cobertas
de antiguidades e coisas que meus alunos fizeram para mim. Ele deu uma volta
na minha geladeira e passou os dedos sobre um desenho que um dos meus
alunos fez de mim. Ele soltou um sopro de ar e comentou baixinho:
— Fofo.
— Isso foi no meu primeiro ano na escola. Eu tenho dificuldade em deixar
coisas assim passarem despercebidas. — Agora tenho banheiras de projetos de
arte, cartas de agradecimento e presentes de professores em meu quarto de
hóspedes porque não consigo deixá-los ir.
Ele estava tão relaxado. Como se ele se encaixasse bem aqui.
Inclinei minha cabeça, dando uma olhada melhor nele.
— É estranho ver você assim. — Ele inclinou a cabeça para o lado.
— Assim como?
— Não sei, relaxado. Não tão tenso.
Ele riu para si mesmo.
— Eu não vivo tenso. Só não gosto de falar muito. Ou de pessoas.
Ironicamente.
— Você fala comigo, ao que parece.
Ele pegou uma foto emoldurada de Ashley e eu em nossa formatura da
faculdade e olhou para ela por um tempo.
— Isso é só porque é você, é diferente.
— Mas por que?
— Você nunca vai parar com as perguntas?
— Provavelmente não.
Eu sorri para ele. Eu ainda tinha uma investigação mental acontecendo na
minha cabeça. Ele poderia reclamar da minha curiosidade interminável sobre ele,
mas no fundo, acho que ele gostou, a julgar pela forma como seus lábios
lentamente se abriram em um pequeno sorriso. Eu gostava de pensar que faria
qualquer coisa para ver aquele sorriso.
Grant bocejou novamente, e seus olhos estavam caídos. Resisti à vontade de
envolvê-lo em um cobertor aquecido e forçá-lo a tirar uma soneca no meu sofá
como um gato de rua. Ele veio até mim com o mesmo sorriso, e eu sorri para ele,
gostando de como ele parecia natural no meu apartamento.
Eu nunca tive um cara aqui além da família e alguns “amigos” de Ashley. Eu
sempre coloquei os relacionamentos em segundo plano.
Ele questionou minha cesta de crochê sentada ao lado do sofá.
— O que é isso?
Olhei para os meus fios coloridos e agulhas.
— É minha cesta de crochê.
Ele fez aquela cara que sempre faz quando está confuso, sobrancelhas
desenhadas e lábios curvados.
— Estou tentando decidir se você tem sete ou setenta anos.
Eu zombei dele:
— Quero que você saiba que o crochê foi o que ajudou a tirar os irlandeses
da fome da batata na década de 1840. É um negócio muito sério.
Grant olhou para mim como se eu tivesse crescido uma segunda cabeça.
p g ç
— O que você faz com isso? Cobertores?
Bem que eu queria.
Depois de passar um verão com vovó quando ela estava passando por uma
fase de crochê, aprendi algumas habilidades, mas em vez de colocá-las em usos
práticos, como cobertores…
Meus olhos retornam para minha prateleira onde minhas tartarugas de
crochê estavam. Grant seguiu meu olhar.
— Bem, acho que não deveria estar surpreso. Se eu estiver com fome de
batata, ligo para você primeiro para pegar algumas tartarugas de crochê.
Eu sorri para ele.
Eu sabia que ele estava prestes a sair pela porta e, por mais cansada que eu
estivesse, não estava pronta para que ele saísse.
— Acho melhor eu ir. Mas vejo você amanhã, certo?
— Claro que sim. O que você quer jantar?
— Eu não sei. Surpreenda-me. — Ele olhou da porta, dando uma piscadela
rápida, e meu estômago deu uma pirueta.
Capítulo 9
Na terça de manhã, encontrei a conselheira da escola, Rachel, enquanto eu estava
a caminho da aula.
— Ei, June! Podemos falar sobre a venda de bolos de domingo?
Eu parei.
— Ah, na verdade, estou atrasada…
— Ótimo! Ok, então você se inscreveu para...
Bem, acho que vou me atrasar para minha reunião de pais e professores esta
manhã. Estou presa ouvindo a conselheira Rachel falar sobre como eu não
poderia trazer dois tipos de brownies porque iriam destoar.
— Quero dizer, não podemos ter muito em um grupo de alimentos, você
entende, certo? — Eu balancei a cabeça e prontamente soltei uma desculpa para
seguir pelo corredor até a minha sala de aula.
Eu parecia ser a primeira a ser escolhida. Seja para um passeio de carro, uma
lavagem de carro ou planejando uma corrida de 5km. Não me interpretem mal,
eu não me importava necessariamente em fazer essas coisas, mas não era
agradável não ter escolha. Raramente tive a chance de dizer não.
Mesmo quando eu era mais jovem, sempre era eu quem tinha que ser
voluntária para terminar os projetos do grupo ou limpar depois da aula. Eu não
era contra nenhuma dessas coisas. Na verdade, eu adorava ajudar os outros e
crescer em minha comunidade, mas gostaria que me pedissem para fazer algo, em
vez de mandarem.
Ironicamente, na TV, garotas com irmãos mais velhos eram sempre duronas.
Elas sabiam consertar carros, andar de skate ou saber lutar. Eu era o oposto.
Meus irmãos me tornaram uma pessoa mais fraca, que não sabia dizer não a
ninguém por medo de decepcionar as pessoas – também conhecido como
capacho vivo.
No final do dia letivo, meu dia estava descontrolado. Eu tinha mastigado
uma caneta que explodiu e deixou minha boca coberta de tinta azul – o que
deixou as crianças fazendo algumas piadas bem engraçadas às minhas custas.
Então eu acidentalmente balancei minha Coca-Cola de baunilha sem açúcar e
fui borrifada com refrigerante na frente dos outros professores. E, por último, eu
acidentalmente disse “nhé” em vez de “não é” e meus alunos tiveram um dia de
brincadeiras com isso.
Mas, apesar do meu dia bastante difícil, eu estava ansiosa pelo meu jantar
esta noite. Cada momento passado com Grant era uma oportunidade de
entendê-lo e chegar um pouco mais perto.
No caminho do trabalho para casa, passei pela lanchonete local e peguei
alguns sanduíches, sopas e saladas. Achei que isso serviria para ele. Quanto Grant
come?
Eu pensei em sua figura alta e construção muscular, não havia como isso ser
suficiente para ele, mas eu geralmente nunca terminava minha comida, então ele
podia comer o que eu não comesse. A ideia de ele comer o resto da minha
comida parecia caseira, e não pude deixar de me sentir confortada por isso.
Desci a rua do meu apartamento e, ao estacionar o carro, suspirei, sabendo
da longa caminhada à minha frente.
Com minha sacola pesada cheia de trabalhos escolares, jantar e bebidas, mal
consegui chegar sem deixar cair tudo. Cheguei às portas da frente do prédio. Al
ficou parado observando a dificuldade que eu tive para abrir a pesada porta. Ele
veio correndo o mais rápido que um homem mais velho pode e imediatamente se
desculpou.
— Sinto muito, Srta. June. Eu não vi você por um segundo lá. Estou
esperando meus novos óculos chegarem, então tudo está embaçado agora. —
Atravessei a soleira e observei o olhar de Al. Eu não estava acostumada com seu
rosto sem óculos, e seus olhos pareciam menores e um pouco mais oblíquos. As
rugas ao redor dos olhos e as linhas do sorriso eram mais proeminentes, mas ele
parecia tão adorável quanto com os óculos.
— Tudo bem, Al. Eu gosto do novo visual. Talvez consiga lentes da próxima
vez! — Eu sorri para ele.
— Vou considerar isso, Srta. June. Você tem um convidado lá em cima, e ele
não parece ser muito amigável. Se ele começar a lhe causar problemas, você sabe
que sempre pode ligar para nossa linha principal, e estarei lá mais rápido do que
uma faca quente na manteiga.
Eu ri não só pelo fato de Al achar que Grant não era muito amigável, mas
também por ele pensar que poderia vir até meu apartamento “rápido”. Eu
balancei a cabeça para ele de qualquer maneira e respondi:
— Ele é uma boa pessoa, mas obrigada por cuidar de mim.
p g p
Al foi o único amigo verdadeiro que fiz no prédio. A maioria dos meus
vizinhos eram estudantes universitários ou jovens adultos que pareciam festejar
bastante e não gostavam muito da minha energia. Tentei imaginar Grant
conversando com qualquer um dos meus vizinhos da Geração Z obcecados por
couve-flor, e a ideia deles perguntando a ele seu signo ou qual era a cor de sua
“aura” me deu vontade de rir.
Subi os elevadores e caminhei pelo corredor só para parar bem na frente da
minha porta e ver o próprio homem encostado no batente.
— Você está bem? Eu poderia ter pegado as sacolas para você se tivesse me
ligado.
Ele pegou toda a comida da minha mão e então pendurou minha sacola
volumosa em seus ombros largos como se não pesasse nada.
— Eu não sabia que você estava aqui até entrar no prédio. Além disso, eu
odiaria fazer você dar uma caminhada tão longa. — Destranquei a porta e deixei
nós dois entrarmos.
— É aqui perto, não é? Duvido que seja tão ruim.
— Não, eu, uh, tenho que estacionar em um estacionamento extra alguns
quarteirões abaixo. Os vizinhos precisavam da minha vaga, então comecei a
estacionar lá há um tempo. — No meio da minha frase, pude vê-lo ficando com
raiva.
— Você está brincando, né?
— Hum... não? Não é grande coisa. Eu não me importo. Eles provavelmente
precisam mais do que eu. — Suas orelhas praticamente tinham vapor saindo
delas, e eu não acho que já o vi tão irritado.
— Não, June, é um assunto sério. Isso é absolutamente ridículo. Preciso ir
conversar com seus vizinhos? — Eu rapidamente acabei com a ideia.
— Não, não. Absolutamente não! Já estou em apuros com meu senhorio e
não preciso de uma queixa contra mim e acabar sem teto antes de você terminar
a casa!
Ele sentou-se na mesma banqueta da noite anterior e apoiou o cotovelo no
balcão.
— Parece que eu preciso falar com o seu senhorio também.
Eu olhei para ele.
— Grant, eu prometo que não é tão sério. Agora vamos comer para que você
possa consertar meu forno antes de sábado.
Ele relutantemente deixou o assunto de lado, mas ainda estava claramente
chateado. Eu não conseguia me lembrar da última vez que alguém ficou tão
chateado por minha causa. Alguém já ficou assim antes? Talvez Ashley tenha
ficado em várias ocasiões, principalmente se um cara deu em cima de mim ou se
ela ouviu alguém sendo rude na faculdade. Mas desde então?
Entreguei a ele sua porção de comida e abri meu recipiente para meu meio
sanduíche.
— Então, não falamos sobre a casa há algum tempo. Como está indo?
Ele terminou de mastigar um pedaço de seu sanduíche.
— Ontem, Beau terminou de instalar o drywall4 onde estava o painel, e
temos armários chegando na quinta-feira. Amanhã, pretendo rasgar aquele
carpete para ver se podemos restaurar aquelas madeiras do piso.
O pensamento de tudo se encaixando me deixou tão animada para ver o
resultado final. Rapidamente agradeci a Deus por nunca ter tentado tingir
aquelas lindas madeiras.
— Você acha que eu deveria parar para ver o progresso, ou devo esperar até o
final para uma grande revelação como eles fazem na HGTV?
Ele respondeu rapidamente antes que eu mal terminasse minha frase.
— Definitivamente venha. Só para ver o progresso à medida que avançamos.
Gostei da ideia de parar para ver Grant trabalhando de novo, todo suado com
sua cueca boxer aparecendo por cima do jeans e sua camisa de trabalho
levantando apenas o suficiente para eu espiar seus músculos do estômago por
baixo. Também gostei da ideia de ter desculpas vergonhosas para estar perto dele
novamente.
Qualquer interesse masculino em minha vida tinha sido o completo oposto
dele.
Eu geralmente me contentava com a facilidade de um relacionamento com
um homem sentimental e mais emotivo – alguém que chorava comigo nos filmes
da Pixar e me trazia chocolates no trabalho. Eu tinha certeza de que Grant era a
coisa mais distante disso. Mas eu me vi continuamente olhando para ele como
mais do que um empreiteiro ou amigo aleatório. Um mês atrás, eu considerava
Grant um idiota arrogante que só pensava em si mesmo. E, no entanto, aqui
estava ele na minha cozinha, pronto para consertar meu forno e quebrar os dedos
do meu vizinho só por roubar minha vaga, e meu coração estava dando
cambalhotas por causa disso.
Ele terminou de comer mais cedo do que eu gostaria.
— Você quer que eu dê uma olhada naquele forno agora?
— Quando quiser, sem pressa.
Ele sorriu para mim.
— Você ainda não está pronta para me mandar para casa, Hart?
— Ainda não, não se preocupe. Nós vamos chegar lá. — Ele revirou os olhos
de brincadeira e levou nossos pratos para a pia.
— Deixe-me pegar minhas ferramentas e vou começar a trabalhar. Você quer
me ajudar? Talvez você aprenda algumas coisas além de como assar e dizer sim
para tudo.
Percebendo sua atitude bem-humorada, eu disse:
— Bem, você sabe que agora não posso dizer sim.
Ele soltou uma lufada de ar, quase como uma risada, colocou sua bolsa de
ferramentas no chão com um grande estrondo e ficou de joelhos no chão perto
do forno.
— Apenas venha aqui comigo.
Afundei no chão, corada com a ideia de estar tão perto dele, e comecei a
observá-lo tirar o que descobri ser o painel de acesso. Ele apontou diferentes
partes do forno como se eu pudesse me lembrar de tudo.
— Tudo bem, me passe o alicate de ponta fina. — Usando o contexto que
tinha, enfiei a mão na bolsa e tirei o que pensei que funcionaria.
— Não.
Talvez este?
— Não.
— Ok, tem que ser este. — Entreguei a ele meu próximo palpite.
— Isso é uma chave inglesa. — Coloquei-a de volta na grande bolsa de
ferramentas e continuei procurando. Ele pegou minha mão para me impedir.
— Talvez eu pegue as ferramentas e você pode me fazer companhia? — Não
adianta dizer não para ele. Com aqueles braços grandes, dedos ásperos cavando
em sua bolsa de ferramentas e aquela voz profunda me chamando para perto, ele
não tem chance de eu dizer não a ele.
Então, sentei-me com as pernas cruzadas e coloquei minhas mãos no colo,
como fazia com meus alunos durante nossa roda no chão.
— Eu posso fazer companhia! — Brinquei com meus polegares enquanto ele
se inclinava sobre o forno, seus ombros largos bem abertos, fazendo o aparelho
parecer menor. Sua camisa era larga o suficiente para que eu não pudesse ver seus
músculos por baixo, mas a julgar pela forma como seu corpo contorna enquanto
p j g p p q
ele move o braço para frente e para trás, posso dizer que ele é absolutamente bem
construído. Eu me vi ficando muito animada observando um homem que já
havia feito minha pele arrepiar.
— Há quanto tempo você está no ramo de reformas? — Bom, uma distração
deve funcionar.
— Desde que saí da escola. Trabalhei com aquele construtor que mencionei
até os vinte anos. Ele se aposentou e eu assumi boa parte dos negócios. Comecei
a fazer esses pequenos trabalhos, nada de mais, e finalmente consegui minha
licença de empreiteiro há sete anos, e estou sozinho desde então.
Pensei naquela foto que vi. O homem mais velho entre Beau e Grant era
aquele construtor? Eu queria perguntar a ele sobre isso, mas tinha certeza de que
dizer “Ei, eu xeretei sobre sua vida e encontrei uma foto aleatória de alguns anos
atrás” não seria uma boa cantada.
Eu não sabia o que ele estava fazendo, só ouvi um barulho vindo do forno. A
curiosidade levou a melhor sobre mim, e eu decidi me aproximar ainda mais, me
perguntando se ele iria se abrir mais do que o normal já que sua cabeça estava
enfiada na parte de trás de um forno, e ele não podia ver minhas reações.
— Posso perguntar por que você saiu da escola mais cedo? — Ele parou seus
movimentos e puxou a cabeça para fora, brincando com qualquer ferramenta
que estivesse em suas mãos.
— É meio que uma longa história, Hart. Vou economizar seu tempo.
Eu fiz um zumbido e apertei meus olhos para ele.
— O quê?
Eu torci meus lábios em meus pensamentos.
— Só estou tentando descobrir se todo mundo está certo e você é algum
policial secreto disfarçado.
Ele riu e continuou trabalhando no meu forno.
— Não. Desculpe desapontá-la, mas não sou tão interessante.
Se ele soubesse o quão interessante toda esta cidade o achava.
— Sem forças especiais?
— Não.
— Nem mesmo um membro do cartel de drogas em fuga?
Ele balançou a cabeça negativamente.
— Desculpe, Hart.
Meus ombros caem, decepcionada por não saber mais sobre o homem à
minha frente. Eu tendia a querer entender as pessoas, dissecar e quebrar suas
q p q
personalidades e saber por que elas faziam as coisas que faziam. Normalmente,
eu era bastante intuitiva, mas Grant tornou impossível para mim ir abaixo da
superfície.
Ele colocou os braços na parte de trás do forno novamente, e eu tive vontade
de passar minhas mãos por suas costas levemente.
Quando terminou, puxou a cabeça para fora do forno e pegou minha mão.
Nós dois nos levantamos e nos encostamos no balcão.
— Está consertado? Funciona agora?
Ele se virou para a ilha para apertar os botões que faziam o bipe padrão que o
forno sempre emitia.
— Oh, uh, sim, está funcionando. Está tudo pronto para usar.
Eu bato palmas animadamente.
— Muito obrigada! Eu estaria ferrada se não pudesse trazer aquelas
sobremesas no sábado à tarde. Eu me inscrevi para quatro vagas de professores
diferentes e não poderia decepcioná-los.
Ele soltou um suspiro e seus ombros caíram.
— Você sempre sai por aí fazendo coisas para deixar outras pessoas felizes?
Eu pensei sobre isso por um segundo.
— Eu acho que sim. Isso realmente não me incomoda. Sempre fiz isso.
Ser uma pessoa que sente necessidade de agradar os outros não era de todo
ruim, você tem que ser o raio de sol nos dias sombrios de alguém. Às vezes você
era a única luz do sol que eles viam. Descobri que são os mais sombrios que
precisam de mais luz.
Na verdade, herdei minha habilidade de sempre ser gentil com minha avó e
não consegui pensar em uma característica melhor para ser transmitida a mim.
Meus pais não eram rudes de forma alguma, apenas muito oito ou oitenta. Você
nunca precisa se perguntar o que eles pensavam, porque eles certamente o
informariam. Não era necessariamente uma coisa ruim, na verdade, era mais
fácil. Dessa forma era menos provável que você tivesse seu coração partido.
Agradar constantemente os outros deixa você esperando o mesmo de volta,
mesmo que você nunca tenha pedido por isso. Não pude deixar de me perguntar
como seria flutuar pela vida com foco em si mesmo – colocando-se em primeiro
lugar e não se perguntando se estava fazendo mal aos outros.
— Você deveria tentar se defender. Você não pode simplesmente ser
empurrada pelos outros. Às vezes, você precisa deixar algumas pessoas
desconfortáveis para conseguir o que é melhor para você. — Grant caminhou ao
p g q p
redor da ilha para o outro lado do meu sofá e acenou com a cabeça para mim,
sinalizando para que eu fosse até ele.
Sem perder o ritmo, sentei-me no sofá e dei um tapinha na almofada ao meu
lado. Ele se juntou a mim e nos encontramos na mesma posição do bar – só que
desta vez sem ninguém para nos interromper.
— Por que você herdou a casa da sua avó em vez da sua família?
— Parte de mim nem sabe a resposta para essa pergunta. Acho que eu era a
única em quem ela confiava para não vendê-la. Minha família não é exatamente
bondosa como ela, todos prefeririam vender, pegar o dinheiro e sumir.
Ele aproveitou para colocar a mão sobre a minha e traçar círculos na palma
aberta enquanto eu falava. Inclinei-me para mais perto de seu abraço, o calor
irradiando através de mim.
— Minha avó não era do tipo que abandonava algo tão importante quanto
aquela casa só por dinheiro. Suponho que seja por isso que ela nunca a vendeu
antes. Ela sabia que só o terreno valia uma pequena fortuna e que, se investisse
algum dinheiro na casa, obteria um grande lucro. Mas acho que ela sabia que as
raízes daquela casa eram mais profundas do que dinheiro. As memórias da
minha infância naquela casa eu nunca quero que sejam apagadas. Mesmo com
todas as reformas que você está fazendo, elas ainda estão lá. Ela ainda mantém
sua personalidade e a beleza por trás de todo aquele papel de parede feio.
A imagem afetuosa da vovó me deixou à vontade e me relaxou na presença de
Grant.
— Vocês deviam ser próximas. Ela parece muito com você, pelo que fala.
Minhas bochechas estavam ficando quentes, e meu coração estava batendo
no meu peito.
— Eu me sinto culpada agora porque, até recentemente, eu fazia julgamentos
precipitados sobre você. Eu sempre pensei que você fosse esse imbecil homem
das cavernas que só se importava consigo mesmo. No entanto, você me trouxe o
jantar, ofereceu-se para consertar meu forno e foi um doce a noite toda.
Coloquei minha cabeça levemente em seu ombro para não assustá-lo. Eu
senti como se estivesse tentando acariciar um cão de abrigo maltratado e tinha
que dar cada passo com cuidado.
— Isso é só porque é você, Hart. Não me torne o mocinho só porque tenho
sido gentil com você ultimamente. Tenho uma reputação a defender.
Eu ri, sentindo como se meu coração estivesse impaciente com meu cérebro.
Eu não tinha absolutamente nenhum direito de me apaixonar por Grant. Minha
p p
agenda com o trabalho e a tentativa de mudança não permitiam nenhum
interesse amoroso. Mas este homem não era nada do que eu esperava antes. Ele
foi paciente, gentil e doce desde que nos conhecemos. Não pude deixar de me
perguntar de onde todos tiraram a ideia de que Grant era um cara tão terrível.
Os rumores sussurrados sobre ele e seu passado passaram pela minha mente.
Ele se mete em brigas o tempo todo. Ele foi expulso de tantos bares. Ele sai com uma
mulher diferente a cada noite. Mas era o Grant? O homem sentado ao meu lado
que perguntou sobre minha avó e enrolou as pontas da minha trança.
Como esse homem fofo e sedutor era o mesmo que me aterrorizava? Pensar
naquele incidente me deu vontade de perguntar se ele se lembrava de mim. Ou
eu era apenas mais uma cliente para ele? Quer dizer, ele estava no meu
apartamento, aconchegado ao meu lado. Ele também flertou abertamente e foi a
um bar comigo. Bem, não comigo, mas quase. Ele não fazia isso com todos os
clientes que tinha, certo?
— Ei, Grant — falei seriamente.
Ele abaixou a cabeça para me olhar.
— Ei, Hart.
Eu olhei de volta para os meus dedos.
— Posso te fazer uma pergunta?
Ele soltou uma pequena baforada de ar e sorriu.
— Tenho certeza de que você me faz perguntas o dia todo, o que é mais uma?
Meus nervos pareciam disparados quando olhei de seus lábios para seus
olhos.
— Você se lembra… — Um zumbido alto me faz parar. Parecia uma vibração
contra uma superfície dura. Telefone do Grant?
— Merda. Sinto muito, segura a pergunta. — Grant tirou o braço do meu
ombro e se levantou para pegar o dispositivo. Seu rosto entristeceu. Ele levou o
telefone ao ouvido. — Oi, sim, me dê só um minuto. — Ele apertou o botão
mudo na tela iluminada e pediu desculpas pela interrupção. Eu balancei a cabeça
e disse a ele para ir em frente.
Grant saiu para o corredor e ouvi sua voz abafada falando. Eu estava curiosa
para saber com quem ele estava conversando, mas cuidei da minha vida e fiquei
sentada no canto do meu sofá. Torci ansiosamente um pequeno fio saindo da
costura de meu sofá, procurando uma distração da minha própria mente
acelerada.
Grant apareceu na sala de estar, parecendo insatisfeito.
p p
Eu viro minha cabeça.
— Está tudo bem?
— Sim, está tudo bem. Eu tinha um cara que deveria ir fazer o trabalho de
azulejo na sua casa e ele simplesmente cancelou.
Ele pegou o dedo indicador e o polegar e esfregou as sobrancelhas em
frustração.
— Você não faz o azulejo? — Inclinei minha cabeça para o lado, lembrando
de sua declaração anterior de que ele estava fazendo todo o seu “trabalho sujo”.
— Eu até posso, só pedi para esse cara fazer isso para que eu pudesse vir aqui.
Ele disse isso com tanta indiferença, como se não significasse nada, que saiu
do trabalho para vir me ver e consertar meu estúpido forno.
Decidi que não ficaríamos mais aqui. Levantei do sofá e caminhei até a porta,
pegando meus sapatos e colocando-os nos pés.
— Onde você está indo?
Amarrei meus tênis e respondi sem olhar para ele.
— Nós estamos indo para a casa. Vamos. — Estendi a mão para desligar as
luzes sem esperar por sua resposta.
Ele parecia perplexo, mas um sorriso apareceu em seus lábios, e ele apenas
balançou a cabeça, seguindo-me porta afora.
Acontece que o trabalho com ladrilhos era mais complicado do que eu
pensava.
Eu assisti vídeos no YouTube quando planejava fazer as reformas sozinha, e
eles fizeram com que parecesse muito fácil. Aplique o material pegajoso com a
espátula, coloque o azulejo, preencha as linhas de rejunte e limpe. Era infalível.
Ou não.
Grant ficou de lado quando chegamos. Ele trouxe todos os suprimentos para
o banheiro de hóspedes e, quando afirmei com orgulho: “Não se preocupe, eu
cuido disso”, ele deu um passo para trás e se encostou no batente da porta, me
observando estragar tudo.
Eu poderia dizer que o que eu estava fazendo estava errado por causa do
sorriso malicioso espalhado em seu rosto.
De vez em quando, ele fazia um comentário como:
“Tem certeza de que não quer que eu ajude?” ou “É aí que você quer que isso
vá?” e eu era teimosa demais para deixá-lo saber que precisava de ajuda.
No entanto, estávamos aqui há quarenta e cinco minutos. Eu estava exausta e
o trabalho que comecei teve que ser totalmente refeito. Acabei desistindo. Estar
q q
muito cansada do trabalho não ajudava minha situação, e eu não estava disposta
a estragar este banheiro apenas pelo meu próprio orgulho.
Eu me afastei e deitei de bruços no chão do corredor, minha cabeça
descansando em minhas mãos, observando Grant consertar meus erros e
começar seu trabalho. Foi como assistir a um artista pintando um mural com
detalhes lindos e minuciosos a cada passo do processo. Antes disso, eu tinha
dificuldade em imaginar um homem como Grant – corpulento, forte e bruto –
sendo tão delicado. Eu supervisionei seus longos dedos, colocando os azulejos
um por um. Suas mãos fortes seguravam as ferramentas de cimento e suas veias
saltavam. Seus dedos se curvaram ao redor da ferramenta, flexionando seu
antebraço. Por Deus, pare de olhar para as mãos dele.
Eu bocejei, cansada de estar acordada desde às cinco da manhã. Deitei minha
cabeça de lado, olhando para o rosto concentrado de Grant. Sua concentração
focada deixou uma carranca em seu rosto, e eu quase tive que me forçar a não
olhar para ele.
— Se você estiver cansada, posso levá-la para casa, Hart. — Mesmo com os
olhos pesados, eu não estava pronta para deixá-lo.
— Estou bem, continue. Eu gosto de assistir.
Seus lábios puxaram nos cantos, e eu me vi lentamente caindo no sono em
sua presença.

∞∞∞
Acordei com a sensação de alguém cutucando meu ombro. Meus olhos pesados
se abriram lentamente, e Grant estava agachado ao meu lado, o azulejo do lavabo
quase pronto.
— Acordei. Acordei. — Eu levantei meu rosto e olhei para minhas mãos que
estavam levemente molhadas de baba. Senti minhas bochechas esquentarem e
limpei o canto da boca com a manga. Grant riu um pouco.
— Está tarde, vou levar você para casa. — Ele se abaixou para me ajudar a
levantar.
— Obrigada. Desculpe, foi apenas um longo dia. — Ele colocou as mechas
caídas do meu coque atrás da minha orelha.
— Está tudo bem. Fico feliz em ter companhia. — Seus dedos permaneceram
na pele macia e exposta abaixo do lóbulo da minha orelha, enviando arrepios
pelo meu pescoço.
Grant me levou de volta para casa, contando uma história sobre como Beau
ficou preso em um forro uma vez. Eu ri com ele mais do que em muito tempo.
Com as janelas abertas e a música country de Grant tocando, me senti em paz,
como se o universo tivesse me colocado exatamente onde eu precisava estar.
Ele parou no meu prédio, estacionando na frente.
— Obrigada por ir lá hoje à noite e consertar meu forno. Você trabalha mais
do que precisa. Vou pagar a mais por tudo isso, prometo.
Ele abaixou o volume do rádio.
— Não foi nada, Hart.
Eu sorri para ele e abri a porta, me sentindo um pouco decepcionada por ele
ter me deixado lá.
Dissemos boa noite e fui para a cama sonhando com pisos de ladrilho e meu
empreiteiro gostoso.
Capítulo 10
Depois de estar com Grant nas últimas três noites seguidas, senti como se
estivesse flutuando no ar. Nós não tínhamos sequer nos beijado, mas eu me
sentia mais carregada sexualmente do que em toda a minha vida. Eu
constantemente me lembrava de ser amiga dele, que ele era meu empreiteiro e
não havia necessidade de complicar as coisas.
Não tinha tempo nem de assistir Netflix, muito menos de me relacionar com
alguém. Não importava o quão atraente soasse.
Depois de terminar a última aula do dia, decidi que finalmente resolveria o
buraco na parede que vinha evitando nas últimas semanas. Mudei uma planta
para a frente dele na esperança de que nenhum aluno brincasse com drywall
empoeirado, mas sabia que estava procrastinando demais.
Atrapalhei-me com a tampa do pote de massa para reparos, quebrando uma
unha no processo. Tirei a tampa roxa e brinquei com a massa rosa dentro,
espalhando um pouco na espátula nova que comprei.
Consultei o vídeo do YouTube no meu telefone, olhando para frente e para
trás, tentando ver se estava fazendo certo. Espalhei a massa na parede até que
parecesse satisfatória o suficiente para deixá-la secar. Dei um passo para trás para
ver melhor.
Parecia difícil. Na verdade, parecia semelhante à mancha na outra parede que
um aluno causou no ano passado, espalhando massinha roxa por toda parte e
deixando secar.
Eu ri da minha triste tentativa de remendar paredes e agradeci por nunca ter
entrado nessa linha de trabalho. Coloquei a planta de volta na frente dela e fiz
uma anotação mental para voltar amanhã para lixá-la e pintá-la.
Ouvi meu telefone vibrar. Era minha mãe. Respirei profundamente pelo
nariz e pela boca, preparando-me para a conversa que viria.
— Ei mãe. — Eu a ouvi mexendo em algo ao fundo.
— Ei, Junezinha. Você nunca respondeu minha mensagem no outro dia!
Eu não tinha certeza se eu a tinha ignorado de propósito ou simplesmente
não conseguia processar suas críticas a todo o resto ultimamente, mas de
qualquer forma, eu não prestei atenção à sua mensagem.
— Eu não vi o que você disse. Sobre o que é a mensagem? — Não há
necessidade de perguntar, eu sabia do que se tratava.
— Bem, eu enviei a você o número do corretor de imóveis para que você
possa listar a casa. Você precisa vender enquanto o mercado está bom! Você sabe
que as taxas de juros estão baixas e os compradores estão… — Bloqueei o resto,
cansada da mesma velha história. Mais dinheiro significava mais felicidade para
ela. Nada mais poderia satisfazê-los.
— Mãe. Nós conversamos sobre isso várias vezes. Estou reformando o lugar
inteiro para morar. Não quero vender. Não me importo com o mercado, nem
com as taxas, nem com nada.
Eu a ouvi estalar a língua contra os dentes.
— Há coisas maiores com a venda desta casa que você não entenderia, nem
tudo é tão simples. Além disso, você não fez nenhum trabalho naquela
propriedade em um ano.
Eu não tinha ideia do que ela queria dizer com não ser simples. Para mim era
bem simples: herdar uma casa que você amou enquanto crescia, consertá-la,
morar nela, fim.
— Na verdade, contratei um empreiteiro. Alguém que consistentemente
chega na hora e faz um ótimo trabalho. — Alguém que tem passado pela minha
cabeça nas últimas duas semanas, mas ainda não estou pronta para enfrentar isso.
— Quem você poderia ter encontrado que faria isso por um bom preço?
Belisquei a ponte do meu nariz.
— Grant Dawes. Ele é o melhor aqui.
Ela soltou um pequeno suspiro.
— June. Ele não é um bom homem, as garotas do clube me contaram o que
ele fez. Ele nem terminou o ensino médio. Marie disse que ele fez algumas coisas
terríveis antes de se mudar para cá. Você não deveria estar perto dele. Não é bom
para a nossa imagem. — Nossa imagem? Não tínhamos imagem. E eu preferiria
morar em uma casa pequena e feia com uma família que realmente se ama do
que em uma grande mansão com estranhos de quem você é apenas parente.
— Tudo bem, mãe, isso não é mais produtivo. Acho que é melhor
concordarmos em discordar aqui.
— Me ouça, Ju… — Desliguei antes que ela pudesse terminar a frase. Eu
imediatamente abri minha conversa com Ashley.
Eu: O que você vai fazer esta noite? Eu preciso sair.

∞∞∞
Posso me arrepender de ter dito a Ashley que precisava sair do meu apartamento
esta noite, mas se você está procurando uma distração ou diversão, Ashley era a
melhor pessoa para isso. Ela não era exatamente uma bebedora, mas gostava de
uma festa e gostava de me tirar de lá sempre que podia. Ela sempre me chamou
de caranguejo eremita e zombou da minha tendência de ficar em casa e assistir a
filmes.
Mas uma vez na vida e outra na morte, eu estava disposta a deixá-la me
convencer a sair, e como a escola estava quase terminando – e depois do
telefonema com minha mãe – eu realmente precisava sair de casa.
Entrei no Jaded e vi Ashley em uma das mesas altas ao lado. Acenei para ela e
fiz meu caminho até a banqueta do nível do balcão.
Nossa garçonete veio anotar nosso pedido. Ela me trouxe uma garrafa de
água e para Ashley uma cerveja artesanal. Ela insistiu que eu expandisse meu
paladar, mas eu gostava das minhas rotinas, então cerveja artesanal estava fora de
questão para mim.
— Então, por que você quis sair hoje à noite?
Tomei um gole da minha água e suspirei.
— Mamãe está me pressionando para vender a casa de novo. Acho que atingi
um limite depois de tanto tempo. Ela disse que eu “não entenderia” e que é mais
complicado do que eu imagino. Eu apenas sinto que ela ainda pensa que sou
uma criança sem experiência de vida.
Ashley deu um aceno simpático e um tapinha no meu braço.
— Bem, pense assim, você não terá mais que se preocupar com isso em
alguns meses.
Isso é verdade. Em Agosto, a reforma estaria terminada. A julgar pela rapidez
com que Grant estava trabalhando, poderia ser mais cedo do que isso. Ignorei a
sensação de quase decepção que estava em meu estômago por ele ter terminado
tão rapidamente a casa.
Eu alegremente tomei um gole da minha água e me senti começando a relaxar
enquanto Ashley me acalmava docemente.
— Como foi seu dia no trabalho? — Eu me senti egoísta. Ultimamente, eu
estava ocupando muito do nosso tempo com meus próprios problemas.
Ela deu de ombros.
— Eh. Foi bom. Foi muito lento hoje, então estou feliz por ter esta noite de
folga. Estou precisando do meu tempo com a minha June.
Eu sorri para ela. A personalidade de Ashley era divertida e sedutora, mas ela
tinha um coração de ouro e se preocupava profundamente com as pessoas que
amava.
À medida que pedíamos mais bebidas e conversávamos sobre a semana, o bar
começou a encher. Quase não havia assentos, e a pobre garçonete estava louca.
Em uma tentativa de ajudá-la, fui até o bar para pedir duas novas bebidas.
Sorri para ela enquanto me espremia no meio da multidão de pessoas na área
aberta. Olhei para os meus pés, tentando caminhar e não pisar no pé de
ninguém, no entanto, isso me fez dar de cara com uma parede. As bebidas de
Ashley e minhas derramaram na minha camisa branca e eu olhei para cima para
ver não uma parede, mas os dois metros da minha nova vista favorita. Grant
Dawes.
Ele me pegou com uma mão firme em meu cotovelo e me ajudou a me
endireitar.
— Hart? Você está bem?
Eu tirei meus olhos dele para ver Beau e alguns outros homens aleatórios que
eu não conhecia atrás dele. Minhas bochechas coraram e de repente eu queria
rastejar até o bar e me esconder atrás dele.
— Sim, me desculpe, eu não estava olhando. Eu só estava tentando levar essas
bebidas para a nossa mesa. — Fiz um gesto para Ashley, mas ela estava olhando
para o telefone, sem perceber minha situação.
Grant assentiu e olhou para o meu peito. Seus olhos se arregalaram e seu
rosto começou a ficar vermelho. Ele virou a cabeça para a parede.
— Você, hum. Você derramou sua bebida em você.
Esquecendo que tinha feito isso, olhei para baixo e vi que minha camiseta
branca agora estava completamente transparente e meu sutiã preto por baixo
estava à mostra. Cruzei os braços sobre o peito, envergonhada e pronta para sair
correndo.
— Ai Deus. Eu vou... Sinto muito por esbarrar em você, tenham todos uma
boa noite.
— Espere… — Eu me afastei antes que Grant pudesse dizer qualquer outra
coisa e fui em direção a Ashley. Eu balancei minha cabeça e coloquei as bebidas
para baixo.
— Então, o que você achou do novo bar… O que aconteceu com você? Alguém
fez isso?
Ela apontou para minha camisa, e eu balancei a cabeça negativamente e
peguei minhas chaves.
— Não, eu apenas esbarrei em Grant e derramei minha bebida em cima de
mim, e agora ele e todos os seus amigos viram meu sutiã. Então estou pronta
para morrer em paz em casa e nunca mais sair do meu apartamento.
Ela franziu a testa, mas me deu um abraço de lado, evitando minha camiseta
molhada, e fiz meu caminho para o estacionamento.
Descendo a calçada, usei meus braços para me cobrir o máximo possível,
esperando evitar qualquer atenção desnecessária.
— Hart! Espere. — Eu ouvi a voz de Grant atrás de mim e parei, ele fez uma
corrida rápida para me alcançar.
Eu me virei para encará-lo, ainda corando e segurando meus seios nas fendas
dos meus cotovelos.
Ele acenou com a cabeça para a minha blusa.
— Eu posso consertar isso. Tenho uma camisa na caminhonete, venha
comigo. — Eu balancei a cabeça silenciosamente e o segui, não querendo dirigir
para casa com minha blusa coberta de cerveja.
Ele abriu a porta do lado do passageiro e alcançou a parte de trás de sua
caminhonete para tirar uma grande camiseta cinza que dizia Go Bears na frente.
Isso é do ensino médio que ele não conseguiu terminar? Não faço perguntas,
apenas pego a camisa em agradecimento.
— Obrigada. Me desculpe se eu te envergonhei na frente de seus amigos. —
Ele balançou a cabeça, evitando olhar para mim.
— Não, eu não poderia me importar menos com o que eles pensam.
Olhei em volta e não vi mais ninguém no estacionamento, mas eu ainda
estava muito ciente da situação para trocar de camisa ao ar livre. Eu aponto para
o caminhão.
— Posso me trocar aí? Eu realmente não quero entrar lá assim de novo.
— Sim, claro. Vou ficar aqui fora e garantir que ninguém esteja olhando.
Agradeci e ele me guiou para o lado do passageiro, com a porta aberta. Grant
ficou bem atrás de mim quando comecei a tirar a camisa.
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Talvez fosse a adrenalina ou possivelmente por Ashley falar tanto, mas eu
tinha a sensação de que realmente queria que Grant olhasse. Eu queria que ele
me notasse e não visse uma professora, uma cliente, uma amiga, sei lá. Eu me
perdi na ideia quando comecei a tirar minha camisa branca, colocando-a no chão
da caminhonete.
Ele deve ter ouvido o movimento das minhas roupas e se sentiu incomodado
porque começou a puxar conversa.
— Pensei que você não saísse tanto.
— Eu realmente não saio muito, só tive um dia daqueles e disse a Ashley que
tinha que sair do apartamento hoje à noite. — Ele fez um zumbido. — E você? O
que você está fazendo?
Eu podia ouvi-lo mexendo nas chaves.
— Beau insistiu que todos nós saíssemos para comemorar a obtenção de sua
licença de subcontratado.
— Isso é ótimo, que bom. — Ele resmungou um pouco e eu me inclinei para
pegar a camisa que ele estendeu para mim.
Quando me inclinei para frente, minha bunda roçou nele. Sentindo uma
pulsação correr pelo meu corpo, eu prontamente agarrei a camisa e me levantei.
Quando me endireitei, não tive certeza se foi ele ou eu quem fez isso, mas um de
nós se aproximou do outro. Minhas costas nuas acariciaram levemente suas
costas vestidas. Senti um calor se espalhando pelo meu peito e uma pulsação
entre minhas pernas. Eu queria que ele me visse assim, para ver que eu não era
apenas uma garota sem nada para oferecer. Mas Grant limpou a garganta e se
afastou, sinalizando sua atitude indesejada em relação a mim.
Coloquei a camisa e não pude deixar de inspirar quando ela se encaixou.
Cheirava a colônia terrosa e sândalo. Resisti à vontade de enfiar o nariz nela e me
virei para cutucar o ombro de Grant, para dizer que havia terminado.
Grant se virou para mim, finalmente olhando na minha direção. Seus lábios
se curvaram em um pequeno sorriso, e seus olhos mostravam diversão. Olhei
para baixo e a camisa dele quase chegava aos meus joelhos.
Eu parecia uma garota brincando de se vestir no armário do pai. Eu balancei
minha cabeça, e ele soltou uma pequena risada.
— Também não tenho certeza se posso voltar para lá assim. Parece que estou
sendo engolida.
Ele colocou a mão no queixo, esfregando a barba por fazer.
— Não, você parece bem. Mas se quiser, podemos ir para outro lugar?
p q p p g
Eu levantei uma sobrancelha.
— Outro lugar? — Ele assentiu. — O que você tem em mente?
Ele sorriu para mim e deu um tapinha em cima do velho caminhão.
— Entre aí.

∞∞∞
Grant dirigiu e eu não tinha a menor ideia de para onde estávamos indo. Ele
pegou as estradas até a montanha e, se fosse qualquer outra pessoa, eu
provavelmente teria ficado preocupada com minha segurança. Mas sentir-me
insegura com Grant nunca foi um problema.
Ele virou em uma estrada de cascalho e entramos no que parecia ser um
canteiro de obras. Havia montes gigantes de diferentes tipos de terra e algumas
miniescavadeiras ao lado. Grant desligou a caminhonete e, sem as luzes, estava
escuro como breu. Ele apontou uma lanterna para a traseira do caminhão e
estendeu a mão para pegar um cobertor.
— Vamos. — Ele apontou com a cabeça para a caçamba da caminhonete e
nós dois saímos. Ele colocou o cobertor no chão da traseira e me ajudou a subir
na cama improvisada.
Inclinei-me para trás em minhas mãos e ele veio sentar-se ao meu lado.
Desligando a lanterna do celular, ele se aconchegou.
— Olhe para cima. — Eu deitei de costas e olhei para o céu. Havia mais
estrelas do que eu já tinha visto. Sem as luzes da cidade ou da rua, o céu se
iluminou e senti que poderia estender a mão e tocar cada estrela. Foi uma das
vistas mais bonitas que já vi.
— É como uma pintura. Você vem muito aqui? — Ele se deitou, seu ombro
encaixado bem ao lado da minha cabeça.
— É o nosso próximo canteiro de obras. Estamos preparando o terreno para
uma nova casa. Costumo trabalhar até tarde, então à noite, quando todos saem e
todas as luzes estão apagadas, às vezes fico aqui sentado.
Não pude deixar de me sentir um pouco triste ao pensar em Grant aqui
sozinho, fazendo sabe-se lá o que ele tinha que fazer para preparar o local para
uma nova casa. Eu tinha que respeitar o quanto ele trabalhava, parecia que toda
vez que eu estava perto dele ele estava trabalhando, prestes a trabalhar ou tinha
acabado de terminar. A ética que ele deve ter gravado em si era notável. Eu tinha
certeza de que a maioria das pessoas da nossa idade trabalhava em tempo integral,
mas nada como ele.
Apoiei minha cabeça em seu ombro, ficando mais confortável e quando ele
não se mexeu, interpretei como um sinal de que ele estava bem com isso.
Ficamos sentados assim em silêncio por um minuto, apreciando a vista. Eu
podia sentir seu peito subindo e descendo e seus ombros se contorcendo
levemente se eu me movesse.
A visão das estrelas me lembrou vovó e suas conspirações malucas. Ela me
contava histórias de como Deus estendeu um lençol preto à noite e as estrelas
eram pequenos orifícios que foram perfurados. Ela teria deitado aqui a noite
toda, pintando e falando todas as suas bobagens. Lembrei-me das declarações
anteriores de Grant sobre sua própria família. Ele nunca abriu mão de nenhum
detalhe, como um cofrinho.
— Conte-me sobre sua irmã.
Seu peito se moveu em um pequeno movimento quando ele soltou uma
risada.
— Lily? Ela é diferente. Acho que ela tem trinta anos desde criança,
honestamente. Ela gosta de ser mais como uma mãe para mim do que minha
irmã, mas ela tem boas intenções. Ela foi forçada a crescer mais cedo do que
deveria. Trabalhando em dois empregos e indo para aulas noturnas quando ela
tinha dezenove anos, apenas para nos manter firmes.
Eu me senti mal do estômago pensando em Grant e sua irmã sozinhos, e
antes que eu pudesse realmente filtrar minhas próprias palavras, deixei escapar o
que eu estava pensando na última semana ou algo assim.
— Onde estavam seus pais? — Ele endureceu e respirou fundo.
— Eles morreram em um acidente de carro quando eu tinha treze anos. Lily
não me queria em um orfanato, então ela começou a trabalhar o suficiente para
cobrir um apartamento para nós até que eu pudesse começar a trabalhar. Mas
não foi o suficiente, então foi quando eu desisti.
Ele disse isso com indiferença, como se não fosse grande coisa. Tentei não
reagir mal. Eu tinha alunos que haviam perdido os pais no passado e descobri
que aqueles olhos compreensivos e o clássico discurso de: “Ah, vai ficar tudo
bem” não era o que eles precisavam. Eu simplesmente tracei círculos em seu
peito.
— Vocês têm sorte de terem um ao outro. — Minha voz falhou no meio do
caminho. Ele acenou com a cabeça, mas ficou quieto.
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Eu tinha um milhão de outras perguntas para ele. Eu queria separar seu
cérebro até conhecer sua vida de frente para trás, mas fiquei em silêncio, não
querendo sobrecarregá-lo demais.
Os dedos de Grant brincaram com a parte inferior do meu cabelo, e senti
leves puxões em meu couro cabeludo que espalharam arrepios pelas minhas
costas. Como Grant estava sendo vulnerável comigo, achei que deveria reservar
um tempo para perguntar a ele.
— Ei, você vai pensar que eu sou louca...
— Eu já acho isso. — Eu bati em seu peito e me sentei, puxando meus
joelhos para o meu peito.
— Falando sério! Eu sei que você não tem ideia do que estou falando, mas há
um ano eu te conheci no Cooper's.
Seu sorriso se tornou fino e seus olhos se arregalaram. Ele parecia chocado e
confuso, e eu me senti envergonhada por trazer isso à tona.
— Estou falando sério. Eu sei que parece estúpido, nós nem conversamos,
mas eu estava pegando verniz para… — Minha frase foi cortada pelos lábios de
Grant nos meus. Suas duas grandes mãos envolveram meu queixo. Ele tomou
minha boca com força e eu parei por um momento, sem saber como reagir.
Antes de afundar lentamente nele, relaxei em seu aperto, minhas mãos colocadas
em seu peito.
Ele me beijou com uma paixão que eu não conhecia, seus lábios tomando os
meus e me fazendo dele. Ele se afastou por apenas um segundo, sussurrando:
— Eu me lembro, Hart. Por mais que eu quisesse esquecer, eu lembrei. — Eu
não tive tempo de reagir a sua confissão antes que ele voltasse para mim, nossas
bocas se reconectando em desespero.
Seus lábios eram quentes e macios, eles se separaram ligeiramente,
convidando-me a entrar. Senti faíscas entre nós dois como as faíscas que voaram
pelo ar no Cooper's naquele dia, ele estava cortando as paredes do meu coração
como aquela chapa de metal barata, e eu não tinha como impedir.
Suas mãos deslizaram do meu queixo para o meu cabelo, segurando meus
cabelos castanhos em seus dedos ásperos, emaranhando-os juntos. Eu podia
sentir as cócegas suaves de sua respiração bem debaixo do meu nariz, e senti
calafrios subindo pelos meus braços, apesar da noite quente de maio. Seus lábios
tinham o gosto de sua última cerveja e o desejo se espalhou pelo meu peito. Seu
beijo não era como eu imaginava em meus devaneios. Eu costumava imaginá-lo
me agarrando com força e urgência como se não pudéssemos ficar longe um do
g ç g p g
outro por um segundo. Ele me agarrava e me levantava do chão como nos filmes,
mas isso era melhor do que qualquer filme de romance que eu já tinha visto. Seu
beijo foi suave e sensual. Ele me beijou como se tivéssemos todo o tempo do
mundo, como se ele e eu fôssemos os únicos restantes no planeta… e por um
momento parecia que éramos. Inclinei-me para mais perto dele e tentei mover
minhas pernas para ficar mais perto das pernas dele. Mas Grant se afastou um
pouco, seu nariz encostado no meu, as mãos ainda no meu cabelo.
— Grant, eu… — Eu estava perdida no calor de suas mãos, e seu rosto
descansando contra o meu.
Ele tirou as mãos do meu cabelo e abriu espaço para mim. Eu quase quis
choramingar um “não” pelo contato perdido.
Ele baixou a cabeça e suspirou, parecendo decepcionado com o nosso beijo.
— Sinto muito, eu não deveria ter feito isso.
Eu desviei o olhar dele, envergonhada com a minha tentativa de pular nele.
— Não, sério, está tudo bem.
Ele saiu da caminhonete, estendendo a mão para eu agarrar, e guiou meus
pés na grama.
— Eu gosto de você, June. Não é que eu não queira você porque, acredite, eu
quero. Mas há muita coisa que você não sabe e não posso arrastá-la junto.
Talvez eu quisesse ser arrastada para alguma coisa. Eu poderia lidar com isso.
Eu era bem desapegada quando precisava ser.
— Duvido que seja algo tão ruim. — Eu olhei para ele, mas seus olhos não
encontraram os meus.
— Não posso ficar com você, June. Você é uma garota tão doce e não é nada
pessoal, eu sou apenas a última coisa que você precisa. Por favor, entenda isso.
Seu tom era distante e, embora ele estivesse a apenas alguns centímetros de
distância, senti como se houvesse 1 quilômetro de distância um do outro. Eu
estava enjoada. Enquanto eu dava o melhor beijo da minha vida, Grant pensava
em como eu não poderia estar com ele.
— Ah. Eu não quis dizer… — Houve uma pausa na minha voz enquanto eu
não sabia o que dizer. Eu não estava esperando um pedido de casamento do cara
nem nada, mas eu odiava a ideia dele fugir depois que nos beijamos. Isso nunca é
um bom sinal, certo? — Eu acabei de…. — Respirei fundo, tentando me acalmar
e não me envergonhar mais.
— Podemos simplesmente esquecer isso? — Ele olhou para mim, pena
estampada em seu rosto. — Não quero quis que não queria, só não quero que
p q q q q q q
você pense que poderíamos fazer isso funcionar como algo mais. — Eu balancei
a cabeça, minha garganta estava apertada e eu me encolhi.
— Entendo. Então... amigos? — Ele desviou o olhar de mim, em direção à
grama, e acenou com a cabeça. Como se ele estivesse desapontado em concordar
com nossa “amizade”.
Sugeri que partíssemos. Eu estava pronta para voltar para o meu apartamento
e ir para a cama, embora soubesse que passaria a noite toda repassando esse
momento apreensivo em minha cabeça.
Grant abriu a porta da caminhonete e me guiou até o assento de couro gasto,
ligando o ar e empurrando todas as aberturas de ventilação em mim. Se havia
uma coisa que notei com Grant, foi que ele mostrava sua afeição por meio de
ações diminutas. Um toque delicado nas minhas costas, colocando uma jaqueta
sobre meus ombros, verificando minha reação depois que ele disse algo,
empurrando as aberturas de ventilação em minha direção quando está quente.
Foram pequenos gestos, mas foram os que mais significaram para mim. Eram o
tipo de ação que os outros não pensariam duas vezes, e sobre o qual as mulheres
liam nos romances. O tipo que você espera quando jovem, mas dificilmente
consegue encontrar um homem que seja tão atencioso. Ficou claro que Grant
não era um homem tagarela, mas essas ações diziam mais do que suas palavras
jamais poderiam.
Percebi que meu silêncio o estava incomodando.
— Você tem planos para este fim de semana?
Ele colocou a mão direita na parte de trás do encosto de cabeça do passageiro
e virou o corpo para olhar atrás de nós em busca de grandes buracos na estrada
de terra.
— Na verdade, eu estava indo para sua casa colocar os armários, caso você
precise que termine mais cedo?
Eu balanço minha cabeça em negativa.
— Não estou com pressa — digo, o que é parcialmente uma mentira. Agora
que Grant deixou claro que não poderíamos ficar juntos, não tenho certeza se
quero que esse processo se arrastasse mais. — Eu não quero você trabalhando
nos fins de semana só para mim. Além disso, quem vai me importunar com as
cores das tintas quando você terminar?
Eu pisquei para ele, e ele sorriu de volta.
— Você ia pintar seu banheiro de “laranja coral”, eu te fiz um favor. — Meu
peito retumbou em gargalhadas, e ele respirou fundo. — E você? Tem planos?
p g g p p
Eu fiz uma careta, sabendo que eu tinha planos, mas desejando poder dizer
que não, só para que ele tivesse a oportunidade de me convidar para sair.
— Na verdade eu tenho. Amanhã à noite é aquele evento de bolos e vou levar
a manhã toda para assá-los.
Ele virou na rua principal e eu olhei pela janela para todas as lojinhas da
cidade com as luzes apagadas
— Ah sim, que horas você tem que começar?
Calculo o tempo que vou levar para assar três dúzias de cupcakes e duas
dúzias de brownies na minha cabeça.
— Provavelmente por volta das 06h. O evento é às 14h e tenho muito a fazer.
Ele me dá um simples aceno de cabeça sem tirar os olhos da estrada.
— Tudo bem, estarei lá.
Eu me virei para ele surpresa.
— Espere… não, não, você não precisa fazer isso. Você está fazendo muito por
mim.
Ele balançou a cabeça e simplesmente disse:
— Gosto de estar por perto para ajudá-la, Hart.
Eu queria analisar mais o comentário dele, mas decidi deixá-lo por enquanto.
De qualquer forma, aquece meu coração ouvir isso, especialmente depois de
nossa conversa anterior esta noite. Nossos olhos se encontram:
— Como amigos, certo?
Grant acena com a cabeça.
— Amigos.
Capítulo 11
Ensinar era um daqueles trabalhos em que você tinha que conhecer seu limite. Se
você não parasse, trabalharia a noite toda. Eu sei porque já fiz isso antes.
Se eu quisesse que minha sala de aula fosse perfeita, trabalharia até às 3h da
manhã todos os dias, o que levaria a um esgotamento extremo. Como você
encontra o equilíbrio enquanto considera sua saúde mental e faz seu trabalho?
Eu já trabalhava aqui há três anos, mas ainda não sabia a resposta.
Com meus alunos indo para a quadra para o intervalo, me vi com esforço
para fazer o máximo possível. Coloquei meu telefone no modo não perturbe e
fechei meu e-mail e mensagens instantâneas do dia para me concentrar
exclusivamente nisso. Era assim que fazia o meu trabalho da melhor forma. Eu
sairia da escola às 16h todos os dias.
Não é que eu não gostasse de ensinar... era fantástico. Pude ver meus alunos
crescerem, aprenderem e se tornarem eles mesmos. Era algo que só se podia
experimentar como professor ou pai. Tinha que ser o trabalho mais gratificante
que existia – não o mais fácil – mas definitivamente o mais gratificante.
Olhei para o relógio no meu computador, 14:23h. Eu sabia que levaria cinco
minutos para chegar à quadra, então comecei a preparar minhas coisas. Peguei
minhas chaves e desliguei o modo não perturbe do celular, resultando em mais
notificações do que eu estava preparada para responder. Tranquei a porta da sala
de aula e verifiquei cada mensagem de texto e e-mail enquanto atravessava a
escola.
Havia vários e-mails dos pais, incluindo desculpas por motivos de saúde e
perguntas sobre as tarefas domésticas. Houve também uma chamada não
atendida da minha mãe e uma mensagem de Ashley perguntando como eu
estava. Mas de todos eles, um se destaca mais.
Empreiteiro rabugento: Devo me preocupar com o que farei no
sábado de manhã?

Eu sorri para o meu telefone e meu coração batia impacientemente contra o


meu peito. Eu me senti tonta apenas com um texto simples. A essa altura, eu não
conseguia nem mentir para mim mesma sobre o quanto gostava desse homem.
Pensei nele colocando os azulejos, todo gostoso e suado, e fazendo uma pausa
no trabalho de seu projeto simplesmente para me procurar. Pensei em convidá-lo
para ajudar no sábado de manhã. A ideia de Grant tentando assar é risível. Além
disso, o que está nos impedindo de sair?
Resolvi responder.
Eu: Sim, você deveria estar apavorado.

Eu adicionei um emoji piscando no final. Depois de clicar em enviar, tive


vontade de jogar meu telefone no pátio da escola e correr para me esconder de
sua resposta. No entanto, mantive a compostura e continuei minha caminhada
até a quadra quando senti meu telefone vibrar nem um minuto depois.
Empreiteiro rabugento: Manda ver, Hart.

Nada poderia conter o sorriso que se espalhou pelo meu rosto, e eu não
podia negar a felicidade que sentia dentro do meu peito.
Eu sabia que Grant não era um cara de relacionamento longo, ele deixou
claro que não tem namoradas ou relacionamentos que duram mais do que
alguns dias. Mas isso não pareceu impedi-lo de ficar perto de mim quando teve a
chance.
Pensando bem, a maneira como seus olhos trilharam minhas pernas com a
fome que ele tinha por mim, como suas mãos fortes foram colocadas nas minhas
costas e descendo para a minha… É, não, eu definitivamente não sabia como
poderíamos ser apenas amigos.
Eu era uma garota simples. Eu gostava de colocar tudo em uma lista e marcar
quando terminava. Mas um homem como Grant vem com imprevisibilidade e
planos arbitrários que me estressam. Eu gostava de me divertir, e se tudo o que
ele queria era uma amizade colorida, eu provavelmente poderia deixar essa passar,
se não há dano, não há problema. Mas o jeito que seus olhos profundos
encaravam os meus e como ele sempre dizia que queria que eu impusesse, ou o
jeito que ele perguntava como eu estava... eu duvidava muito que fosse o que ele
queria também.
Portanto, ser apenas amigos não parecia uma opção, e amigos com benefícios
parecia... estranho. Meus pensamentos correram para Grant e eu tendo um
relacionamento puramente sexual, e minhas orelhas começaram a esquentar. Eu
balancei minha cabeça para reorganizar as ideias. Meus pensamentos eram muito
inapropriados para alguém a caminho para buscar vinte e três crianças.
Fazendo minha caminhada para a quadra, abri as portas para ver meus alunos
em uma fila semi-única. Eles ainda não tinham me notado, então entrei
silenciosamente e fui até a parede lateral.
Uma das minhas garotas olhou em minha direção e imediatamente sorriu e
começou a acenar animadamente.
— Srta. Hart!
A antiga linha de fila única agora era uma aglomeração caótica, e ficou claro
para mim que os pequenos não gastaram toda a sua energia hoje.
Eu ri de seus saltos felizes e fiz meu caminho.
— Ok, vamos, voltem para a fila. — Eu me esforcei para reuni-los
novamente, mas não pude deixar de sorrir ao ver como eles eram fofos quando
ficavam animados em me ver.
Ensinar era uma troca, tem dias em que eu fico honestamente cansada dos
meus alunos, eles me deixam maluca com uma nova frase ou piada da moda e me
esgotam às 11h. E então há outros dias em que ficava genuinamente triste por
mandá-los para casa. Desde que surgiu o projeto da minha casa, eu não me
envolvi pessoalmente na vida dos alunos e, embora ainda tivesse um
relacionamento forte com eles e seus pais, sentia-me culpada por não mais
colocá-los em primeiro lugar.
Eu não tinha muita aula sobrando até o fim do verão e, embora eu
geralmente me inscrevesse rapidamente para ajudar no curso de verão da escola,
decidi não fazer isso desta vez para poder fazer as malas e me mudar assim que
Grant terminasse tudo.
Fiz sinal para os alunos me seguirem e os levei de volta para a sala, esperando
distrair meus pensamentos de um amigo em particular que não deve ser
nomeado.

∞∞∞
À medida que o dia de aula estava terminando, meus alunos ficaram mais
inquietos. Eles geralmente ficavam fora dos trilhos e prontos para chegar em casa
quando saíam. O que significava para mim que eu tinha que pensar em algumas
maneiras únicas de envolvê-los. Diferentes músicas, danças, livros, vídeos,
qualquer coisa que pudesse fazê-los ouvir. Mas faltando uma hora para o final da
aula, as crianças estavam doidinhas de suco do almoço, mas não tinham energia
suficiente para prestar atenção, e meu cérebro parecia ter sido pendurado como
uma toalha.
O que significava que quem estava batendo à minha porta deveria esperar o
pior entrando aqui.
Caminhei até a porta, desviando com cuidado dos blocos e brinquedos que
foram espalhados no tempo livre. Quando agarrei a maçaneta para abri-la,
surpreendi-me com a parede de músculos e ferramentas que se erguia à minha
frente.
Vestindo sua típica roupa de trabalho de calça verde escura e uma camisa
cinza, seu chapéu estava para trás e a testa manchada de sujeira… lá estava Grant.
— O que você está fazendo aqui? — Eu esperava que meu tom soasse como
um “Estou animada por vê-lo, mas tenho uma sala cheia de crianças que podem
atacar você” e não um “Não quero você aqui no meu trabalho, então, por favor, me
diga por que você está aqui”.
— Eu vim para consertar aquele buraco que você me falou. Desculpe, acho
que deveria ter vindo mais tarde. A senhora da recepção disse que eu deveria vir
direto para cá. Só queria ter certeza de que você estava aqui. — Eu não pude
conter meu sorriso. Claro, ele estava aqui para consertar algo para mim. Ele
começou a dar um passo para dentro da sala, mas eu coloquei a mão em seu peito
e abri um pouco mais a porta onde os alunos não podiam ver.
— Você pode entrar, mas precisa dar um jeito na sua expressão.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Dar um jeito na minha… expressão?
Eu sussurrei de volta para ele:
— Sim, você tem essa cara de homem das cavernas assustadora que você usa
com novas pessoas e vai assustá-los. — Suas narinas dilataram e o canto de suas
sobrancelhas dobraram.
— Eu não faço cara de homem das cavernas.
Apontei para ele e sussurrei:
— Você está fazendo ela agora mesmo! — Ele revirou os olhos e baixou o
queixo para a sala atrás de mim, gesticulando para que eu o deixasse entrar. —
Tudo bem, mas sem assustar as crianças.
Ele sorriu para mim, seus olhos fixos na minha testa. Eu conscientemente
levantei minha mão para encontrar tinta verde seca nela. Descascando-a, joguei-a
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na lata de lixo à minha esquerda.
— Estávamos pintando. É o dia nacional do salto do sapo. — Ele abriu a
boca para soltar um “Ahh” como se ele não tivesse um comentário sarcástico
doido para sair de sua boca sobre as datas bobas e nacionais que comemoramos
aqui.
Olhando para trás na sala, todos os olhos dos alunos estavam em mim.
Abri mais a porta e deixei Grant entrar na sala.
— Este é o Sr. Dawes, ele está aqui para consertar o buraco na parede. Vamos
nos certificar de deixá-lo sozinho e deixá-lo fazer seu trabalho, ok? — Um coro de
“sim senhora” e longos “tudo bem” foram ouvidos do mar de crianças em suas
mesas.
Grant fez o possível para não chamar atenção para si mesmo, ele se esgueirou
silenciosamente para onde estava o buraco. Eu tentei me concentrar na minha
aula, mas as risadas e olhares ao redor da sala me fizeram corar.
— Tudo bem pessoal, o que acabei de dizer? Vamos nos concentrar, por
favor.
Eles se viraram em seus assentos para mim, e eu tentei ao máximo me
concentrar na minha aula de leitura e não no homem por quem eu estava
apaixonada. Depois de tanto tempo, comecei a me pegar olhando para ele, vendo
o quanto ele ainda tinha que fazer. Em parte, desejei que ele demorasse o
máximo que pudesse para que eu pudesse ter mais uma conversa a sós com ele.
Dei uma olhada no relógio na parede dos fundos. 14:28h.
Ainda tínhamos até as 15h quando as crianças iriam embora, e duvido que
ele demorasse tanto. Continuei ensinando durante minha aula, me forçando a
não me distrair com Grant. Assim que concluí, disse às crianças para prepararem
as mochilas para sair da sala.
Voltei para minha mesa, pegando meus próprios materiais para ajudar com a
fila de saída. Percebi que o buraco que antes havia na parede estava agora
preenchido e lixado, de volta à sua forma original. Grant olhou para minha mesa
e me deu meu sorriso favorito. Sua covinha esquerda aparecendo levemente.
Eu sorri de volta para ele, minhas bochechas coraram com seu olhar evidente.
Ele se levantou de sua posição agachada, limpou as mãos nas calças e caminhou
até minha mesa.
— Beleza, está pronto. Deixe descansar por um dia ou dois e então você pode
pintá-lo.
Eu sorri para ele.
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— Obrigada, de verdade. Acho que te vejo no sábado, certo? — Ele esfregou
a nuca, corando levemente.
— Sim. Eu estarei lá.
Um coro de “Ooh” foi ouvido do outro lado da sala, quando me virei, vi a
maioria dos alunos olhando em nossa direção. Com as mochilas nas costas e
deixando o trabalho finalizado nas pastas corretas, eles sussurravam entre si e
faziam pequenos comentários.
Timmy Miles veio até a mesa.
— Você deve ser o namorado dela? — Os outros alunos soltaram suas
risadinhas estridentes.
Eu gostaria de ter tirado uma foto do rosto de Grant naquele momento. Suas
bochechas estavam coradas e suas mãos moviam nervosamente o boné em sua
cabeça.
— Eu… hum, eu.
Interrompo a gagueira de Grant.
— Volte para sua mesa, Timmy. Eu lhe disse para não incomodar o Sr.
Dawes.
Timmy voltou correndo para seu lugar na sala, mas manteve os olhos em nós.
Estava quase na hora dos alunos fazerem fila para a saída, então me levantei
com minha prancheta e crachá.
— Desculpe. Eles podem ser muito para lidar.
Grant simplesmente balançou a cabeça e pegou sua bolsa de ferramentas.
— Está tudo bem. Vejo você no sábado, Hart.
Eu sorri para ele, tentando o meu melhor para não corar mais do que já
estava.
Grant saiu da sala e eu fui imediatamente bombardeada com perguntas da
minha classe de amiguinhos intrometidos.
Capítulo 12
Após a sessão de café desta semana com Ashley, ela insistiu em ir ver a casa para
olhar o progresso.
Ashley e eu paramos na casa da vovó e fomos para a varanda dos fundos. Eu a
lembrei de não me envergonhar mais do que da última vez, e ela bateu seu
quadril contra o meu.
— Quando eu em algum momento já envergonhei você? — Eu dei a ela um
olhar de reprovação e ela abriu a porta.
Entramos e ouvimos música country tocando alto com algumas marteladas
ao fundo. Fomos até a cozinha, e eu engasguei com as mudanças feitas, a casa
parecia completamente nova.
Os armários que antes eram marrons foram substituídos por armários
brancos e as paredes foram pintadas de cinza claro. O linóleo antigo foi removido
e aquelas velhas madeiras originais brilharam. Há um backsplash5 de zig-zag em
tom de carvão e os novos aparelhos que mostrei a Grant estão dentro. É
exatamente o que mostrei a ele, só que melhor.
— Uau. Esta é a mesma casa? — Ashley perguntou enquanto absorvia todas
as mudanças.
Eu tinha expectativas, tinha sonhado a noite com esta casa sendo concluída.
Mas nenhum desses sonhos se comparava ao que estava à minha frente. Era
moderno, mas com características adicionais das partes antigas da casa. Grant
guardou cada peça que eu disse ser importante para mim e substituiu o que ele
sabia que precisava ser substituído. Ele superou todas as minhas expectativas e
me peguei sem conseguir descrever minha gratidão.
— Eu… Eu não acredito… — Eu não conseguia encontrar as palavras para o
que eu sentia naquele momento.
Encantada com a beleza que estava diante de mim.
Emocionada com a transformação da casa.
Triste por vovó nunca ter visto a casa tão bonita.
Culpada por não poder compartilhar esse momento com minha família.
Havia centenas de palavras para descrever como eu me sentia em relação ao
que acabara de ver, mas não conseguia encontrar espaço em meu cérebro para
expressá-las.
Antes que eu tivesse a chance de continuar, Beau entrou.
— Fico feliz em saber que vocês gostaram. — Seu encantador sotaque sulista
se projetava na sala, e eu já posso ouvir Ashley basicamente tagarelando sobre ele.
— Ei, Beau, esta é minha melhor amiga, Ashley. — Beau foi até ela, apertou
sua mão e eu vi seus pensamentos pararem, senti como se seus olhos fossem saltar
das órbitas. Já posso ouvir em nosso próximo café: “June, estou apaixonada!”
Ashley apertou sua mão de volta e deu um breve oi. Acho que nunca a vi
tímida antes, e não tenho certeza de como reagir.
Eu interrompo a conversa.
— Grant está aqui? — Beau olhou de Ashley para mim e tinha um sorriso
malicioso nos lábios.
— Sim, ele está no banheiro colocando o azulejo no box. — Saí do cômodo e
fui para o banheiro principal, deixando-os para trás. O que eu provavelmente me
arrependeria mais tarde.
Eu fui andando rapidamente pela casa, percebendo mais mudanças, mas eu
tinha que dizer que estava muito animada para ver o homem no final da casa.
Entrei no banheiro sem ser notada e vi Grant se inclinando, colocando rejunte
em cima do azulejo que escolhi. O calor se espalhou por mim, e eu corri meus
dedos pelo cabelo para alisá-lo. Como se sentisse minha presença antes mesmo de
eu anunciar minha chegada, Grant se virou para onde eu estava. Fiz um pequeno
aceno, e ele colocou suas ferramentas para baixo e tirou seus fones de ouvido.
— Ei, desculpe incomodá-lo, eu só estava pensando que já faz um tempo que
eu não vinha ver a casa. — Ele limpou a mão em um pano aleatório e veio até
mim.
— Não se desculpe por entrar em sua própria casa, Hart. Eu gosto quando
você passa por aqui. — Eu sorri para ele enquanto ele se encostava no batente da
porta com um braço pendurado sobre mim. Senti a necessidade de me
aconchegar ao seu lado e ronronar como um gato aninhado em alguma roupa
quente.
Amigos, June.
— Você fez um trabalho incrível. Quero dizer, isso é melhor do que eu
poderia imaginar.
Ele olhou ao redor do banheiro, verificando com uma nova perspectiva.
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— Na verdade, estou muito satisfeito sobre como ficou. Achei que
precisávamos deixar sua avó orgulhosa, certo? — Aquele sorriso torto apareceu e
meu coração acelerou pensando no quanto minha avó amaria Grant. Ela tinha
uma personalidade e tanto, mas um grande coração, e eu podia imaginá-la me
dizendo como conquistá-lo, trazendo-lhe vários assados.
— Definitivamente. — Ele sorriu para mim, tinta branca manchando sua
têmpora. Acho que nunca o vi tão bonito. Mesmo quando ele estava bem
vestido no bar, ou quando usou aquela camisa justa no meu apartamento. Não,
isso é de longe o máximo que já fiquei chocada com a aparência de Grant. Por
mais sujo e suado que esteja agora, ele parece tão confortável por estar neste
banheiro comigo. Seu cabelo escuro estava enfiado em seu mesmo boné do
Atlanta Braves, e suas botas de trabalho haviam acrescentado alguns centímetros
a mais à sua altura, o que o fazia se elevar sobre mim mais do que nunca. Ele deve
ter sido capaz de dizer que eu o estava admirando porque seus olhos pareciam
famintos por mim, fazendo-me apertar meus músculos com força para evitar
pular nele.
Na outra sala, ouvi Ashley e Beau rindo. Eu olhei para Grant.
— Provavelmente não foi a melhor ideia apresentar esses dois.
Seus olhos se enrugaram no canto e seus ombros balançaram com uma
risada.
— Provavelmente não.
Convidei Ashley para dar uma olhada no banheiro, ela e Beau caminharam
pela casa até onde Grant e eu estávamos.
— June, isso é surreal! Quero dizer, olhe para este lugar. Sua mãe vai perder a
cabeça quando vier ver.
Eu já podia ouvir meu pai: “Bem, eles deveriam ter substituído aquele
disjuntor por um outro”. E o mais famoso da mamãe: “Não é exatamente meu
gosto, mas acho que algumas pessoas podem gostar disso”. Mesmo que ambos
detestassem, e eu tivesse que ouvir sobre isso em todas as festas de fim de ano, eu
sabia que estava fazendo a coisa certa. Esta casa pertence a alguém que vai amá-la
e apreciá-la. Não merece uma placa de venda no quintal, junto com um
investidor vindo para comprá-lo por um aluguel barato. Não, esta casa merece
calor, amor e carinho.
— Duvido que ela goste muito, mesmo quando eles refizeram a própria casa,
ela ainda encontrava coisas de que não gostava. Mas pelo menos ela reconheceria
que eu fiz isso em vez de vender.
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Ashley acenou com a cabeça e notou o braço de Grant colocado acima de
mim e nossa proximidade um do outro. Ela olhou para trás e para frente entre
Grant e eu sugestivamente. Reviro os olhos, sabendo que a viagem de carro de
volta ao meu apartamento seria cheia de perguntas que não sei como responder.
Beau interrompeu a conversa, pedindo a Grant para olhar algo na cozinha.
Grant pediu licença e colocou a mão nas minhas costas quando saiu. Ashley o
observou sair e se virou para mim.
— Ai, meu Deus. Você não me preparou para o quão fofo o colega de
trabalho dele é!
Revirei os olhos.
— Tenho certeza que um mês atrás você me disse que estava desistindo de
todos os homens.
Ela balança a cabeça negativamente.
— Eu disse a você que estou desistindo de todos os meninos. Estou, no
entanto, topando alguns homens. E acredite em mim, ele é todo homem.
Eu queria argumentar com ela, mas ela fez um bom ponto. Beau e Grant têm
essa aparência de homem das cavernas à moda antiga, ambos robustos e
resistentes, e você não consegue evitar a vontade de derrubar aquelas grandes
paredes sólidas. Beau era extraordinariamente atraente, é claro, e socialmente
mais agradável do que Grant – que ainda tem aquela atitude irritadiça, mesmo
que esteja se acostumando comigo lentamente. Mas algo sobre Grant era
inebriante, sua irritabilidade me deixava nervosa de uma forma que não poderia
descrever.
— Se você sair com ele, não pode terminar mal. Ainda preciso dele para
terminar a casa.
— Isso significa que você me dá permissão para subir nele como uma árvore?
— Bem, eu definitivamente não disse isso. — Ela riu e juntou as mãos em um
aplauso animado. Ela puxou meu pulso para me levar de volta para a frente da
casa onde os meninos estavam. Ela sussurrou apenas siga o fluxo em meu ouvido
e fiquei tentada a sair correndo da sala antes de testemunhar o que quer que ela
esteja planejando.
Entramos na cozinha, onde Beau e Grant olharam para o backsplash e juro
que essa foto poderia ser a capa da PlayGirl.
Minha avó teria desmaiado neste andar vendo esses dois homens fortes e
gostosos em sua cozinha. Beau estava usando uma regata na qual seus braços
estavam salientes e a camisa de Grant exibia suas costas musculosas e ombros
largos. Grant tirou o chapéu para passar a mão pelo cabelo e o colocou de volta
em suas ondas escuras. Ashley devia estar babando por ele também, porque me
virei para ela e a vi em transe.
Beau nos viu com o canto do olho e saiu de perto do backsplash para a
entrada que estávamos paradas. Ashley saiu de seu transe e me deu uma
cotovelada para me puxar para seu lado. Grant olhou para nós, fizemos contato
visual rápido antes de eu desviar o olhar.
— Então, June e eu estávamos falando que o pub tem bebidas por sete
dólares hoje à noite. — Muito sutil, Ashley.
Duas coisas estavam erradas nisso: primeira, eu não bebo. Segunda, no final
da noite, Ashley teria Beau na palma da mão – e ela nunca ia parar de falar nisso.
Olhei para ela, dando-lhe o meu melhor olhar de mãe frustrada, mas ela não
olhou na minha direção.
Beau olhou para Grant, que deu de ombros.
— Claro, por que não? — Ashley se levantou um pouco para mostrar sua
empolgação.
— Ótimo! Estou tão animada, vejo você lá às 19h! — Ela agarrou a parte de
trás do meu braço e me puxou para fora da cozinha e para a porta dos fundos
antes que eu tivesse tempo de interromper.
Capítulo 13
— Você deveria ter me avisado antes de me jogar para um encontro duplo em
duas horas.
Ashley me ignorou e começou a tirar vestidos que eu não usava desde a
faculdade.
— Duas horas é tempo suficiente para eu nos deixar atraentes!
Ela puxou um vestido branco curto do meu armário e sapatos que, sem
dúvida, fariam meus pés doerem quando eu chegasse em casa.
— Tenho certeza que isso é demais para nós apenas tomarmos uma bebida
no seu trabalho. — Ashley vestiu sua própria roupa roubada do meu armário e
fechou o zíper nas costas de seu vestido vermelho.
— Bem, você nunca sai de sua roupa típica de professora do primeiro ano.
Mostre a Grant que você pode usar algo diferente de jeans e um cardigã.
Revirei os olhos.
— Eu não uso apenas cardigãs. — Meus braços estavam cruzados e eu tinha
certeza de que parecia um dos meus alunos quando eles recusavam a hora da
soneca.
— Claro, mas sua abundância de listras e macacões não gritam exatamente
“vamos nos pegar hoje“.
Eu zombei dela, ofendida por ela desonrar meu guarda-roupa.
— Dá licença, macacão pode ser sexy.
Ela levantou as mãos em defesa e desistiu da tentativa de neutralizar meu
armário. Ashley arrumou o resto do meu cabelo e me empurrou porta afora para
dentro do carro. O caminho até o bar foi preenchido com ela me fazendo
perguntas sobre Grant e “tudo o que sei sobre Beau”.
— Eu não preciso de detalhes complexos sobre ele. Apenas me dê algo.
Revirei os olhos e estacionei o carro.
— Eu prometo que você sabe mais sobre ele do que eu agora.
Entramos no bar e nos sentamos perto do fundo. Andar pelo
estabelecimento me lembrou da noite passada conversando com Grant. Passei
pelo sofá onde quase demos nosso primeiro beijo, e senti meu pescoço e orelhas
esquentando. Pensei nele sentado tão perto de mim e como as luzes fracas
favoreciam sua pele bronzeada. Eu me lembrava muito bem de suas mãos, cada
dobra em seus dedos longos, como suas veias ficariam mais proeminentes
quando ele as flexionasse, a maneira como ele estalaria seus dedos fortes com
uma mão. Eu poderia sonhar acordada com essas mãos por horas.
Espera, estou babando?
Saí do meu transe e puxei um banquinho ao lado de Ashley. Subi até a altura
da barra e deixei meus pés soltos, balançando-os vagarosamente.
Ashley pediu sua cerveja favorita no chope, mas não sem primeiro tagarelar
sobre por que o chope é bom para os ossos porque contém uma quantidade
substancial de silício. E eu pedi a melhor Coca-Cola de baunilha sem açúcar que
o mundo pode oferecer: de lata, com um copo com gelo para despejar. Mas não
qualquer gelo, com o gelo mastigável que faz você desejar estar no hospital só
para poder ter uma quantidade ilimitada dele.
Devo ter sorrido quando recebi minha bebida favorita porque Ashley se
virou para mim e apontou para o copo na minha frente.
— Você tem um problema.
— É sem açúcar, o que significa que não é ruim para mim. — Eu dei de
ombros para ela.
Ela revirou os olhos e começou a me contar todos os fatos sobre adoçantes
artificiais, mas eu a bloqueei ouvindo a música grave tocando nos alto-falantes
acima de nós.
Felizmente, ela parou seu discurso sobre diabetes enquanto víamos Beau e
Grant entrarem. De repente, todo o ar da sala pareceu ter sido sugado. Todas as
mulheres no bar se viraram na direção deles, mas nenhum dos dois prestou
atenção nelas. Seus olhos focaram em Ashley e em mim. Beau acenou para nós e
nos deu seu sorriso brilhante, o rosto de Grant ergueu-se em um quase sorriso
quando fizemos contato visual. Eles se aproximaram de nós e Beau sentou-se na
banqueta ao lado de Ashley, forçando Grant a se sentar na cadeira ao meu lado.
Ashley olhou para Beau e sorriu, ela parecia quase tímida esta noite. Não era
algo com o qual eu estava acostumada, e tive a sensação de que seria divertido ver
ela ficar nervosa por causa de um homem, pelo menos uma vez.
Ambos os homens pediram sua própria cerveja e Ashley virou a cabeça na
direção de Beau, onde eu não podia mais ouvi-la.
Eu dei uma olhada em Grant, que já estava olhando na minha direção e me
mostrando minha covinha favorita. Ele olhou para o meu vestido e de volta para
p p
o meu rosto. Ele foi o primeiro a falar.
— Olhe para você, não vestida com bolinhas ou uma camiseta com
trocadilhos.
Empurrei seu braço de brincadeira, fingindo não notar como ele se flexionava
sob minha mão.
— Você e Ashley sempre têm algo a dizer sobre meu guarda-roupa, hein?
Ele sorriu para mim.
— Eu nunca disse que não gostava. — Borboletas estavam vibrando em meu
estômago e eu tomei um gole da minha bebida na esperança de acalmá-las.
Grant pegou sua cerveja e recostou-se em seu assento, segurando um olhar
sombrio. Se eu fosse qualquer outra pessoa neste bar, ficaria com medo de olhar
duas vezes para o homem. Eu não conseguia imaginar ninguém testando-o, seus
olhos escuros e intimidadores faziam seu rosto parecer duro e inacessível. Mas, ao
conhecê-lo, ele era muito mais do que isso. Ele parecia o tipo de homem que nem
sabe o que é romance, mas lá estava ele, trazendo-me o jantar, consertando meu
forno, sorrindo quando entrei na sala. Essa paixão estava ficando perigosamente
maior quanto mais tempo eu passava com ele.
Grant sentou ao meu lado, falando baixinho comigo e de vez em quando
dava um pequeno sorriso antes de rapidamente desfazê-lo. Fiz uma anotação
mental para contar o máximo possível desses sorrisos.
Olhei ao redor do bar e notei as mesas de sinuca nos fundos. Não havia
ninguém perto deles e pensei em pedir a Grant que fosse comigo por ali.
— Você joga?
Sua voz era quente e grossa, como mel. Eu mal conseguia prestar atenção nas
palavras que saíam dele porque estava muito focada no tom suave delas.
— Hum?
Ele acenou com a cabeça para a mesa de sinuca verde.
— Você sabe jogar sinuca? — Eu balancei minha cabeça negativamente,
corando com a forma como ele prestou atenção suficiente em mim para saber
exatamente o que eu estava pensando.
— Nunca tentei.
Grant pousou sua cerveja e levantou-se de sua banqueta, estendeu a mão para
mim como uma sugestão para me juntar a ele. Entrelacei minha mão na dele e
pulei do meu assento para segui-lo. Com nossos dedos entrelaçados, senti todas
as minhas borboletas por Grant voltarem correndo. Claramente, meus sensores
corporais não se importavam com a palavra amigos.
p p p g
Voltei-me para Ashley para explicar para onde estávamos indo, mas ela estava
tão absorta no que quer que Beau estava dizendo. Eu tinha certeza que se o bar
estivesse pegando fogo ela não perceberia.
Grant e eu nos aproximamos da mesa de bilhar, ele pegou um dos tacos e me
entregou. Eu brinquei com a ponta fina dela em meus dedos, me perguntando
qual era o propósito da ponta de giz.
Ele arrumou as bolas em forma de triângulo e explicou as regras, que eu só
escutei pela metade por ficar observando suas mãos flexionando. Eu não
precisava das instruções, embora soubesse que queria mais a bola amarela, então
não me importava com o resto.
— Ok, então agora você começa. Você precisa colocar o máximo possível nas
caçapas, então escolha listradas ou lisas.
Listradas, duh.
Ele se aproximou de mim, senti o cheiro de sua colônia e estremeci. Ah sim,
eu ia perder este jogo com certeza. Eu ouvia cada instrução que ele me dava,
esperando conseguir informações suficientes para, pelo menos, tentar acertar
uma bola. Ele posicionou minhas mãos no taco e recuou para verificar minha
postura.
— Bom. Agora pegue o taco e coloque sua mão em volta dele. Sim, assim.
Agora coloque a ponta exatamente onde você quer.
Ah não.
Meu peito inteiro estava quente e eu com certeza pareceria um tomate
ambulante agora.
— E-um. Eu…
Eu gelei, fiquei rígida como uma tábua até que ouvi sua risada profunda
ressoar atrás de mim. Virei minha cabeça e o vi usando seu punho fechado para
cobrir seu sorriso inegável.
Levantei meu taco de sinuca e bati em seu braço com ele. Isso só fez seu
sorriso aumentar e ele cruzou um braço sobre o outro, observando cada
movimento meu.
Inclinei-me sobre a mesa de sinuca para fazer minha primeira tacada. De
repente eu estava ciente de quão curto meu vestido era, uma vez que Grant
estava diretamente atrás de mim, eu puxei as bordas da costura, esperando que
eu não estivesse mostrando o que não devia para alguém na sala.
Posicionei o taco na bola branca e dei a primeira tacada. O som de cada bola
se espalhando pela mesa era satisfatório e, embora eu não tenha acertado
p p
nenhuma na caçapa, foi divertido.
Eu sorri para Grant, que estava me observando atentamente, ele encolheu os
ombros com um sorriso no rosto como se dissesse “nada mal”.
Fizemos nossas rodadas do jogo, ele se saindo significativamente melhor do
que eu. Levou apenas alguns minutos antes que todas as lisas fossem encaçapadas
e tudo o que restava eram as listradas que eu deveria encaçapar.
Jogamos várias vezes, Grant vencendo todas as vezes. Em certo momento,
pensei que ele me deixaria vencer, mas ele foi implacável. Absolutamente sem
piedade. Este homem era o Tiger Woods6 do bilhar.
— Você por acaso está tentando? — Ele brincou comigo.
— Como você pode dizer isso? Olhe para a minha postura e diga que não
estou tentando.
Minha posição de pernas largas estava muito longe de ser atraente, mas
mostrava que eu falava sério. Tentei uma última vez colocar a bola dentro, mas
não consegui.
— Vou pegar outra cerveja e mostro de novo como se faz quando voltar.
Eu o observei se afastar e sorri para Ashley, que ergueu o polegar para mim.
—Você precisa de alguma ajuda?
Uma voz profunda veio atrás de mim, interrompendo meus pensamentos.
Eu me virei e um jovem, provavelmente ainda na faculdade, estava parado ali. Ele
era bonito, com cabelo loiro curto e olhos azuis. Ele estava barbeado e usava uma
camisa polo azul marinho. Ele era fofo, eu acho, mas não como Grant. Ele não
estava atacando de uma forma misteriosa e sombria. Ele era adorável, como um
cachorrinho ou um patinho.
—Ah. Só estou esperando meu… — amigo? encontro? empreiteiro? — amigo,
ele está pegando outra bebida.
O menino bonito me deu um sorriso largo com seus dentes perfeitamente
brancos.
— Bem, eu poderia ajudá-la a vencê-lo se quiser que eu te mostre como? —
Sua oferta parecia inocente, sua voz era doce e não parecia uma cantada. Mas eu
estava cansada.
Dei uma olhada no bar onde Grant estava. Seu rosto estava carrancudo,
sobrancelhas desenhadas e lábios franzidos. Beau estava dizendo algo para ele,
mas ele não estava respondendo, ele apenas olhou para mim com os braços
cruzados enquanto se encostava no bar.
Olhei para o meu novo amigo:
— Estou bem, só estou deixando ele vencer por enquanto.
Ele soltou uma risada e se afastou de mim.
— Tudo bem. Só quis oferecer.
Ele se afastou da mesa de bilhar e senti meu estômago aliviar ao sinal de
Grant voltando.
— O que aquele cara disse para você?
As mãos de Grant estavam apertadas em torno de seu copo e seus olhos
estavam centrados em mim.
— Nada de mais, ele se ofereceu para me ajudar a dar uma lição em você na
sinuca, mas eu já disse a ele que estou deixando você ganhar.
Grant não percebeu minha atitude brincalhona. Ele virou a cabeça para
encarar o homem loiro com quem falei anteriormente.
— Então ele estava dando em cima de você?
Sua agressividade em relação a outro homem falando comigo me fez querer
chamar sua atenção para sua atitude de “eu não quero você, mas ele não pode te
ter”.
— E se ele estivesse? Não é como se estivéssemos juntos.
Grant pareceu surpreso com a minha resposta curta. Suas sobrancelhas
escuras levantadas e sua boca ligeiramente aberta.
— E tudo bem por você ficar conversando em um bar com um estranho
aleatório que quer Deus sabe o quê com você?
Eu estava igualmente irritada e incrivelmente excitada por sua possessividade.
— Não é como se você quisesse alguma coisa comigo. — Minha voz era
apenas um sussurro, com medo de sua resposta vir.
Grant abaixou sua cerveja e deu um passo mais perto de mim, sua boca a
apenas alguns centímetros da minha. Ele colocou uma mecha de cabelo atrás da
minha orelha e arrepios subiram pelos meus braços. Ele sussurrou intensamente
em meu ouvido, seus lábios roçando levemente contra mim.
— Você não tem ideia do que eu quero.
Meu Deus, por que está tão quente aqui? Onde está meu querido gelo quando
eu preciso dele?
Ele pegou sua cerveja e continuou a tomar um gole como se o toque que ele
me deu não o afetasse em nada.
Ele olhou para onde o jovem estava e abriu a boca para comentar, mas estendi
a mão para pegar a cerveja dele. Eu propositadamente coloquei minha boca onde
seus lábios estavam no copo e tomei um gole. Eu não tinha ideia de que tipo de
p g q p
cerveja era, mas sabia que era nojenta e me lembrei que também era por isso que
nunca bebi.
Meu rosto deve ter refletido minhas papilas gustativas, porque Grant agora
estava sorrindo para mim e pegando o copo de volta da minha mão. O gosto era
nojento, mas chamou sua atenção de volta para mim, então valeu a pena.
Jogamos uma última partida antes que nossos dois amigos se aproximassem
da mesa. Ashley me deu seu sorriso brilhante e Beau disse um oi quieto para
Grant. Ele está com o braço em volta do ombro dela e, olhando para eles, você
pode dizer que eles têm uma química genuína pela maneira como se encaixam
tão naturalmente.
Ashley limpou a garganta, chamando minha atenção.
— Acho que Beau e eu vamos para a casa dele. June, você pode ficar com
Grant?
Eu sabia exatamente o que significava ir para a casa dele e estava um pouco
envergonhada e com um pouco de ciúme por ela ser tão direta sobre suas
intenções com um homem quando eu não conseguia nem fazer contato visual
com Grant sem corar.
— Vou ficar bem, Ashley. Contanto que Grant não se importe? — Eu olhei
para ele e ele balançou a cabeça negativamente.
— Não tem problema. Vou levá-la para casa.
Beau levou Ashley para longe da mesa e uma vez que ela estava fora de sua
vista, Ashley piscou para mim e passou em direção à porta da frente. Beau olhou
para Grant e para mim e nos deu um rápido sinal de positivo e um sorriso alegre.
Esses dois eram perigosamente adoráveis e não pude deixar de rir da combinação
de sua interação rápida.
— Você estava certa. — Grant disse bem perto do meu ouvido. — Foi
definitivamente um erro apresentar aqueles dois.
Eu sorri para ele e me inclinei em sua presença. Percebi que o bar estava
esvaziando lentamente e restavam apenas dois casais no local.
— Você quer sair? — Ele acenou com a cabeça rapidamente e tirou dinheiro
para cobrir nossas bebidas, além de uma gorjeta considerável. Agarrei-me ao
braço dele, saímos do bar e o ar frio atingiu minhas pernas expostas me fazendo
tremer. Eu gostaria de ter ignorado o comentário anterior de Ashley de que “você
não pode usar uma jaqueta com este vestido, estraga todo o conjunto”.
Eu coloquei meus braços em volta do meu peito exposto, e antes que eu
percebesse, Grant colocou sua jaqueta em volta dos meus ombros. Coloquei
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meus braços nos buracos e olhei para o casaco que chegava até meus joelhos. As
mangas engolem minhas mãos e me fazem parecer que fui engolida por um
monstro cáqui. Eu me vejo nas janelas do bar e não posso deixar de rir da
diferença de tamanho entre Grant e eu.
Ele me guiou até sua caminhonete e eu pulei no banco do passageiro,
acomodando-me no couro gasto e sentindo o cheiro avassalador de seu veículo.
Enquanto ele se dirigia para o banco do motorista, respirei fundo pelo nariz,
querendo saborear o cheiro da caminhonete de Grant.
Grant me levou para casa naquela noite e me acompanhou até meu
apartamento. Ele colocou uma mão suave nas minhas costas e pôs uma mecha de
cabelo atrás da minha orelha enquanto sussurrava boa noite para mim. Ele me
deu um beijo carinhoso na testa e pela primeira vez em muito tempo, senti
vontade de convidar um homem para passar a noite em minha casa. Mas eu
empurrei esse desejo para baixo e disse boa noite de volta.
Enquanto me arrastava para a cama e começava a cair no sono, senti meu
telefone vibrar.
Empreiteiro rabugento: Bons sonhos, Hart.
Capítulo 14
Parte de mim não esperava que Grant aparecesse no sábado de manhã para me
ajudar a assar cupcakes. E claramente, ele não esperava que eu o fizesse participar.
Ele entrou no meu apartamento com roupas mais confortáveis do que o normal,
calça de moletom cinza claro e uma camiseta preta. Era quase difícil reconhecê-lo
sem botas enlameadas e calças escuras.
Quando ele chegou, inicialmente sentou-se na ilha da minha cozinha,
inclinando-se sobre a bancada como se estivesse ali apenas para assistir. Eu
rapidamente balancei minha cabeça para ele, e depois de alguns minutos de um
possível suborno bem convincente, ele se juntou a mim.
Enquanto Grant me entregava o grande saco de farinha, meticulosamente
acrescentei nossos diferentes ingredientes à tigela. Eu ri com a ideia desse homem
grande e corpulento fazendo cupcakes comigo e ouvindo minha playlist.
— Devo dizer que não era assim que eu esperava passar minha manhã de
sábado. Não pensei que você realmente apareceria.
Ele olhou para as mãos cobertas de farinha.
— Acredite em mim, esta é provavelmente a última coisa que eu estava
planejando fazer esta manhã.
Olhei para a barba em seu queixo.
— E o que você estava planejando fazer?
Sua mandíbula estalou.
— Provavelmente planejando acabar com você por me fazer vir ajudá-la a
assar. — Seu comentário me fez rir, e eu o peguei olhando em minha direção.
Nossos olhos se voltaram um para o outro e depois se desviaram, ambos
sorrindo. Isso continuou até que terminamos de assar e cobrimos com glacê e
açúcar de confeiteiro.
— Por favor, me diga que posso pelo menos levar alguns comigo.
Segurei meu queixo com meus dedos cobertos de glacê como se estivesse
pensando.
— Acho que é a coisa certa a se fazer, né?
O canto de seus lábios se curvou em um leve sorriso.
Eu sorri fortemente e espalhei um pouco de glacê rosa em seu nariz.
— Rosa fica bem em você, você deveria usar mais essa cor. — Lambi a
cobertura restante do meu dedo.
— É isso que você quer, então? — Ele enfiou a mão na tigela de cobertura
que sobrou e passou um pouco na minha bochecha.
Deixei escapar um ruído que era uma mistura de suspiro e risada.
— Ah, você está morto.
— Eu duvido, Hart.
Ele enfiou as mãos ásperas no glacê macio e começou a me perseguir pela
mesa da cozinha, tentando me encurralar. Ele me alcançou e passou os braços em
volta da minha barriga, espalhando a cobertura sobre meus braços e pescoço
expostos. Espalhamos a pasta rosa açucarada um no outro até ficarmos ambos
cobertos de glacê e sem fôlego de tanto rir. Ele pegou um papel toalha e passou
ao longo da minha bochecha e do meu queixo até o meu pescoço. O tecido fino
passou levemente pela minha garganta e me fez rir e me encolher. Nossos olhos
se encontraram, e eu pensei sobre o que poderia estar passando naquela mente
dele.
— Ei.
— Oi.
— Posso te contar uma coisa?
Eu sorrio.
— Uau, Grant Dawes está prestes a compartilhar algo sem que eu precise
fazer uma pergunta?
Ele sorriu para mim em seus braços.
— Seu forno não estava quebrado.
Inclinei a cabeça para o lado, confusa.
— Sim, estava, tentei usar várias vezes e não funcionou.
Ele me olhou diretamente nos olhos, sem se conter.
— Só tinha um fio solto. Consertei em alguns minutos. Eu soube no
segundo em que o puxei para longe do balcão, mas eu... eu não queria ir embora.
Eu precisava de uma desculpa para passar mais tempo com você. Eu poderia ter
consertado em dois segundos, mas, em vez disso, continuei tirando seu painel e
olhando para ele, tentando parecer ocupado para você.
Meu coração acelerou, e eu olhei para ele, traçando meus olhos de volta entre
seus lábios deliciosos e seus profundos olhos castanhos, notando o glacê rosa
claro em sua bochecha. Como eu deveria não me apaixonar por esse homem? Eu
não tinha como evitar.
Envolvi minhas mãos em seu pescoço e endireitei minhas costas, quase perto
o suficiente para que nossos lábios se tocassem.
Ele suspirou.
— Eu preciso ficar longe de você. Eu sei que é confuso e difícil agora. Mas
você é tudo em que consigo pensar.
Meu peito descansou contra o dele e eu fiz uma careta.
— Mas por que tem que ser tão difícil? Parece bem simples para mim. — Eu
inclino minha cabeça como um cachorrinho confuso esperando por um petisco.
— Eu conheço você, Hart. Eu sei o que você quer. O que você merece. Você
merece um cara que se case com você e lhe dê tudo o que eu não posso. Mas
também odeio a ideia de você estar nos braços de outra pessoa. Eu sou um
maldito hipócrita, mas não posso estar perto de você e não tocar em você.
Eu mexi meu dedo contra seu pescoço levemente, talvez não precisássemos
ter todas as respostas hoje. Eu não precisava que ele confessasse seu amor eterno
por mim, eu só precisava de um pouco.
— Então me toque. — Meus dedos percorreram seu pescoço, as unhas
roçando levemente seu ponto de pulsação. Ele respirou fundo enquanto minhas
mãos descansavam em seu peito. Ele pressionou a palma da mão na minha nuca,
sob meu rabo de cavalo. Ele finalmente cedeu e se inclinou para me beijar.
É macio e doce, como nosso glacê. Seus lábios carnudos contra os meus eram
melhores do que qualquer cupcake que eu já comi. Mas, logo se tornou mais.
Algo mais profundo do que isso. Foi apenas uma pressão suave contra meus
lábios, mas incendiou meu corpo. Suas mãos percorreram o meu cabelo e me
puxaram para mais perto para obter um ângulo mais profundo. Inclinei-me em
seu abraço caloroso e senti seu abdômen duro pressionado contra mim. Minha
mão foi colocada em seu peito, e eu senti um trovão quando ele gemeu,
claramente tão pronto para mim quanto eu estava para ele. Ele me puxou para
mais perto como se estivesse com medo de me deixar ir. Pura paixão saiu de sua
boca quando ele mordeu meu lábio inferior e nos separou.
Ele sorriu contra meus lábios, e não pude deixar de retribuir, nossas testas
pressionadas uma contra a outra na posição mais sensual que já estive. Separei
nossos corpos ao levantar minha mão uma última vez para limpar o glacê na
ponta de seu nariz. Eu ouvi o que ele disse antes e entendi claramente – ele não
gostava de relacionamentos – mas isso não me impediu de querer ficar em seus
braços.
Olhei em volta da minha cozinha e havia glacê rosa por toda parte. Eu ri da
bagunça. Grant olhou em volta e riu comigo. Eu me senti bem demais em seus
braços para não ser verdadeiro. Seu olhar voltou para o meu, e ele parecia
confuso.
— O que você está pensando? — Perguntei, correndo minhas mãos ao longo
de seus ombros.
— Que eu posso adiar pensar demais sobre nós dois até amanhã. — Ele me
puxou de volta para ele, e eu me inclinei e o encontrei no meio do caminho para
beijá-lo novamente.
Capítulo 15
Depois da venda de bolos esta tarde, eu estava exausta e coberta de doces. Meu
cabelo estava preso em um coque bagunçado, e os sapatos que eu usava agora
estavam totalmente arruinados. Mas foi um grande momento. Apenas alguns
outros professores apareceram, então eu tive que cobrir a maior parte deles. Eu
não me importava, porém significava mais tempo com os professores de
excelente qualidade que tínhamos.
Hannah pegava o dinheiro, e as outras meninas e eu ficamos encarregadas de
separar e empratar. Foi fácil nos primeiros trinta minutos, mas quando uma
onda de pessoas se aproximou, ficamos tão impressionadas que nem
conseguimos dizer que dia era.
Quando saí do chuveiro, houve uma leve batida na porta. Percorri minha
mente, pensando quem poderia ser. Fui até meu quarto e rapidamente vesti a
roupa mais próxima, que era horrível. No entanto, quem quer que estivesse na
porta apareceu sem avisar e eu não estava pronta para receber visitas. A batida
começou de novo, mais rápido desta vez.
— June Hart, é melhor você abrir esta porta agora mesmo.
Mãe?
Ela não tinha visitado meu apartamento desde que me mudei, e após a
primeira olhada, ela não ficou impressionada.
Abri a porta e, com certeza, minha mãe estava com os braços cruzados e o pé
batendo no chão de concreto.
— O que você está fazendo aqui?
Ela abriu os braços e os colocou nos quadris.
— Eu liguei para você várias vezes esta semana. Como eu saberia se você
ainda estava viva? — Abri mais a porta, convidando-a silenciosamente a entrar.
A única razão pela qual ela era tão insistente sobre nós estarmos em contato
ultimamente era para que ela pudesse me coagir a vender a casa de vovó e dividir
o dinheiro com eles. Antes de eu herdar a casa, ela passava meses sem falar
comigo.
— Estou bem. Tenho estado ocupada com o trabalho. — Em outras palavras,
não tive tempo de atender o telefone e ser importunada por você.
— June, você precisa parar de se rebelar tanto contra nós. Você sempre foi
uma boa menina. — Ela acariciou meu cabelo, tentando domar a bagunça
selvagem e molhada. — Acho que esta casa se tornou uma obsessão sua. E eu sei
que esse garoto que você contratou não está ajudando na situação. As garotas do
clube dizem que o têm visto com você com bastante frequência. Não parece bom
para nossa família você estar perto de um homem assim. O que vovó pensaria?
Eu não era mais capaz de manter minhas opiniões para mim mesma.
— Grant não tem nada a ver com isso. Não posso ser quem você, papai ou
qualquer um de vocês querem que eu seja. Você pode medir o sucesso como
dinheiro ou status, mas, a meu ver, o sucesso é definido pelo impacto que causo
nos outros. Portanto, desculpe-me se não ganho tanto quanto meus irmãos ou se
não sou tão academicamente impressionante para seus amigos do clube de
campo. No que diz respeito ao que a vovó queria, ela me diria para morar lá
porque significava tudo para ela. Esse é o problema, ela foi a única que sempre
quis que eu fosse quem eu era. Foi ela quem me disse para seguir meu próprio
caminho e só porque não me encaixo no seu estilo de vida...
Ela me interrompeu.
— Agora, June…
— Não. Estou cansada de ninguém me ouvir. Não estou vendendo, e a casa
está bem construída e em uma área maravilhosa. Eu amo cada pedaço dela,
independentemente do que você ou o papai pensam. Eu não me importo se
ninguém quer ver. Vovó deixou para mim porque sabia que você iria vendê-la e
nunca mais pensaria nela.
Ela cruzou os braços defensivamente, dando uma olhada em minha cozinha
suja.
— Por que há glacê no teto?
Soltei uma risada sarcástica.
— Sério? Acabei de fazer um discurso retórico sobre meus pensamentos
sobre a casa e como você precisa me entender, e você estava muito ocupada
notando minha cozinha suja para me ouvir.
Ela encolheu os ombros.
— É difícil pensar em outra coisa senão nessa bagunça gigante.
Eu fechei meus punhos ao meu lado.
— Eu acho que você deveria sair. — Minha voz era afiada. Eu estava além do
ponto de ser gentil. Normalmente eu não era tão abrupta, mas não conseguia
mais lidar com isso. Olhei para minha mãe, encarando sua testa, com raiva
demais para encará-la.
— Estou tentando fazer você entender.
Eu balancei a cabeça, lágrimas de frustração ameaçando cair.
— Eu entendo, mãe. Preciso que você entenda que não vou vender e não vou
receber dinheiro com a propriedade. Eu realmente acho que você precisa sair.
Ela abriu a boca para responder, mas eu simplesmente me afastei dela.
— Espero que você saiba o erro que está cometendo com esta casa e com
aquele homem. — Ela bateu a porta e o apartamento ficou em silêncio.
Eu não vou chorar por causa dela. Eu não vou chorar por causa dela. Repeti
essas instruções em minha cabeça, inspirando e expirando em respirações
ritmadas. Eu precisava sair daqui, qualquer lugar, menos neste apartamento frio.
Peguei meu telefone, começando a ligar para Ashley, quando lembrei que o
encontro dela com Beau era hoje à noite. Considerando o quão animada ela
estava quando falamos sobre isso, eu não poderia incomodá-la com meu drama
familiar.
Rolei para baixo até o contato da única outra pessoa que eu queria ver.
Cliquei no contato e tocou uma vez antes de ouvir a resposta.
— Hart? Está tudo bem?
Respirei fundo, minha voz embargada quando respondi:
— Posso ir aí? Eu, hum… Eu não sabia mais para quem ligar. — Lágrimas
escorriam pelo meu rosto e minha garganta estava apertada.
A raiva se infiltrou em sua voz no alto-falante do meu telefone.
— O que aconteceu?
Funguei, desejando que fosse tão simples quanto algo que eu pudesse
explicar facilmente por telefone. Em vez disso, eu tinha um clã inteiro de
familiares que não me apoiavam e a decisão coletiva sendo tomada por mim,
mais uma vez.
— Eu só preciso te ver.
— Claro. Eu vou buscar você.
Eu funguei, tentando me acalmar.
— Não, está tudo bem. Eu dirijo até aí.
— Não. Está escuro lá fora e você está chorando. Não vou deixar você dirigir.
Me dê dez minutos e estarei aí.
Com certeza, nove minutos depois, um Grant preocupado e desgrenhado
estava na minha porta, pronto para me levar embora.
Grant abriu os braços e me envolveu enquanto eu me encaixava formalmente
em sua presença.
Eu inspirei em seu peito, esperando que não fosse muito óbvia.
— Sinto muito. Eu não sabia mais o que fazer. — Ele penteou meu cabelo e
deu um beijo em minha testa.
— Shhh. Está tudo bem, Hart. Vamos.
Fizemos nosso caminho até sua caminhonete, com suas mãos nunca
deixando meu corpo durante todo o trajeto até sua casa. Descendo a rua, ele
acenou com a cabeça para sua casa. Ele tinha uma longa entrada de cascalho para
uma casa enorme no final.
Eu segui Grant dentro da enorme casa de tijolos em total espanto, olhando
ao redor do lindo interior. Essa visão humilhava meu apartamento e
imediatamente me senti insegura sobre os tesouros ecléticos em meu lugar.
— Grant... Eu… — Dei uma olhada ao redor do espaço aberto que conectava
a cozinha e a sala de estar. Os tetos abobadados faziam a casa parecer maior. —
Eu não acredito que você mora aqui. Isso é lindo. Estou tão envergonhada por
você ter entrado no meu apartamento.
Ele deu de ombros com indiferença.
— Nem sempre foi tão bonito. Consegui um preço razoável e pensei em
vender por um bom lucro. Acabei adorando quando terminei de renovar o lugar,
então decidi mantê-lo.
A casa parecia ter sido mobiliada por um decorador de interiores. Tinha uma
aparência masculina, porém moderna, com cores contrastantes de branco e azul
marinho com detalhes em madeira. A cara de Grant. Coloquei minha jaqueta na
prateleira mais próxima, caminhando vagarosamente pela casa. Havia uma coisa
que notei que parecia estranha.
— Você não tem fotos? — A casa era linda, mas quase fria. Não continha
pertences pessoais, nem decorações ou bugigangas como a minha casa. Não havia
personalidade, estava praticamente seca.
— Eu simplesmente nunca cheguei a colocá-las. Contratei uma empresa de
montagem para consertar a mobília e nunca adicionei nada além. — Ele
caminhou ao meu lado, dando-me um tour pelo resto da casa. Meu coração caiu
um pouco, pensando que Grant não sentia a necessidade de personalizar nada na
casa. Tudo estava bem colocado. Não havia nada errado ou confuso. Se não
houvesse móveis, eu pensaria que o lugar estava vazio.
— Você vai me contar o que aconteceu?
Eu me acalmei, não querendo dar a ele todos os detalhes dos meus problemas
familiares.
— Minha mãe continua me pressionando para vender a casa, e ela tem me
incomodado muito ultimamente. Ela acha que eu não entendo toda a história.
Ignorei suas ligações e ela apareceu no meu apartamento. — Minha voz estava
trêmula, e eu senti como se fosse chorar de novo a qualquer momento. Engoli o
choro em minha garganta, tentando soar o mais normal possível. — Ela é apenas
difícil, só isso. — Não vou falar muito já que ela fez comentários terríveis sobre
ele e seu trabalho.
Ele passou as mãos em meu cabelo novamente, trazendo-me de volta a um
estado calmo. Em vez de pressionar para obter mais detalhes, ele diz baixinho:
— Venha, vou mostrar o lugar a você. — Ele colocou minha mão na sua e me
conduziu pela casa, explicando o que costumava estar lá versus o que havia agora.
Ele demonstrou como tirou paredes para abrir as coisas e quanto trabalho
colocou na velha parte elétrica. Terminamos o andar de baixo e ele me puxou
escada acima para me mostrar seu quarto de hóspedes e escritório conectado a
um banheiro. A sala era cinza-carvão e me lembrou de algo que eu via em revistas
no consultório médico.
Finalmente, ele me acompanhou até o quarto principal. A cama estava
arrumada. Havia apenas duas mesinhas de cabeceira e uma cômoda posicionadas
perfeitamente contra a parede. Havia um espelho no canto do quarto de frente
para a cama, e minha mente imediatamente foi para um lugar mais sujo.
Minhas bochechas coraram, pensando nos comentários anteriores sobre a
reputação de Grant. Ele tem uma garota diferente com ele todo fim de semana.
Ele é conhecido por seus casos de uma noite. Não se apegue, ele não vai deixar você
vir mais de uma vez.
Grant deve ter percebido meu desconforto porque parou de falar no meio de
sua explicação de onde encontrou seu tapete chique.
Disfarcei minha aflição com um leve sorriso para ele e resolvi fazer uma piada
para abafar o silêncio.
— Então é aqui que Grant Dawes leva todas as suas últimas conquistas,
certo?
Em vez de me dar seu sorriso brilhante ou fingir se divertir de alguma forma,
ele rapidamente ficou sério.
— June. Nunca trouxe uma mulher para esta casa. Espero que você entenda
isso. — Meu coração saltou do meu peito. Ele falou sério? Ou essa foi outra
cantada que ele usou em seus outros... encontros?
— Você está apenas falando por falar?
Ele me olhou nos olhos, suas sobrancelhas baixaram e a preocupação se
espalhou em seu rosto.
— Eu nunca mentiria para você.
A promessa era profunda para alguém que afirmava não ter relacionamentos,
mas ainda assim me confortava.
— É só que todo mundo diz… — Eu prolongo minhas palavras, com medo
de terminar a frase e ofendê-lo.
Ele suspirou profundamente.
— Eu sei o que eles dizem, Hart. Não estou com ninguém há... digamos, há
muito tempo.
Culpa esquentava meu peito, eu deveria ter pensado melhor antes de
acreditar nos rumores de Lakeshore. Mas eu tinha escutado tantas histórias
malucas pela cidade ao longo dos anos que não tinha certeza do que acreditar dos
habitantes locais.
Lentamente me aproximei dele e coloquei minhas duas mãos em seu peito.
Ele deslizou as palmas das mãos para as bordas dos meus quadris. Meus dedos
traçaram pequenos círculos sobre sua clavícula e ele respirou fundo.
— Eu gosto de ter você aqui. Parece... natural. — Movi minhas mãos para
trás de seu pescoço e puxei-o para me beijar. Seus lábios pressionaram contra os
meus e de repente me senti em casa.
Suas mãos desceram para minha bunda, e ele me puxou para mais perto. Eu
empurrei meu peito contra o dele em desespero, e ganhei um gemido de seus
lábios em troca. Eu amassei a barra de sua camisa em minhas mãos e puxei,
gesticulando para ele tirá-la. Ele deixou meus lábios apenas o tempo suficiente
para colocar as mãos atrás do ombro para remover a roupa. Ele colocou uma mão
no meu queixo e a outra na minha cintura, beijando-me mais forte do que
nunca.
— Eu não queria trazer você aqui para isso. — Ele sussurrou contra meus
lábios.
Sem pensar, simplesmente respondi:
p p p
— Fique quieto. — E empurrei meu rosto de volta para o dele. Ele sorriu
contra a minha boca e deu um passo para trás para olhar para mim. Enquanto eu
estava em seu quarto, minhas inseguranças mais profundas passaram pela minha
mente, mas ele acalmou tudo com uma simples palavra.
— Perfeita.
Ele sussurrou para si mesmo como se tivesse esquecido que eu estava ali.
Minha cabeça girava, olhei para seu peito largo e passei minhas mãos sobre
ele. Ele sorriu para mim, sem vergonha de quão bom ele parecia sem camisa. Sua
confiança sempre parecia me excitar. Antes de conhecê-lo bem o suficiente, eu
achava que ele era apenas um idiota, mas agora que nos aproximamos, sua
atitude é uma das minhas coisas favoritas sobre ele.
Grant agarrou meu rabo de cavalo ainda úmido e puxou-o para posicionar
meu rosto para que ele pudesse ter uma visão melhor de mim. Corri minhas
mãos por seus braços fortes, que estavam flexionados do seu aperto no meu
cabelo.
— Não me lembro da última vez que fiz isso com alguém. — Minha
confissão saiu sem esforço e eu estava convencida de que esta sala tinha um
vazamento de gás por eu estar falando tão abertamente com ele.
Ele se afastou de mim, parecendo chocado.
— Então deixe-me garantir que você nunca se esqueça disso.
Ele me jogou na cama, me jogando como uma pena. Eu ri animadamente.
Ele colocou a mão no meu rosto, esfregando o polegar para cima e para baixo nas
minhas bochechas redondas.
— Eu sonhei em te tocar assim por tanto tempo. — Sua própria declaração
escapou e meu coração começou a bater mais rápido.
— Então me toque.
Ele voltou para mim, beijando minha mandíbula e meu pescoço. Meu
batimento cardíaco era tão alto que mal conseguia ouvir seus gemidos rigorosos
contra mim. Minha mente disparou, pensando em todas as coisas erradas aqui.
Eu sabia que Grant não queria nada sério. Eu também sabia que estava me
apaixonando mais por ele a cada segundo.
Ele deve ter sentido minha tensão porque passou as costas de seus dedos
levemente pelo meu rosto.
— Relaxa, sou só eu.
Respirei fundo pelo nariz e soltei um suspiro longo e lento pela boca.
Ordenei ao meu corpo que relaxasse sob seus dedos grossos.
p q g
— Essa é a minha garota.
Se eu estivesse de pé, meus joelhos teriam dobrado e eu teria caído. Este
homem bruto tinha cada pedacinho meu sob seu controle.
Eu deveria tê-lo empurrado para longe de mim e me forçado a voltar para
casa, mas pelo caminho que ele seguia, eu sabia que meu corpo estava
dominando minha mente. As consequências do que aconteceria nesta cama
eram as menores das minhas preocupações.
Capítulo 16
Meus olhos se abriram para encarar o ventilador de teto de metal circulando
acima de mim, o cheiro da colônia de Grant era reconfortante, e eu respirei,
querendo ficar nesta cama o maior tempo possível. Virei a cabeça para encontrar
Grant deitado ao meu lado com os olhos fechados e a boca entreaberta, o peito
subindo e descendo lentamente em paz. A satisfação em vê-lo totalmente
relaxado me assustou um pouco, mas depois de sua confissão na noite passada de
que eu era a única mulher que esteve neste quarto, não pude evitar que meu
coração se apaixonasse ainda mais. Olhei a hora no meu telefone para ver que
eram apenas quatro da manhã. Eu tinha adormecido apenas com a camiseta dele
e senti meu rosto esquentar quando olhei para minhas pernas expostas.
Eu me virei para Grant, observando suas sobrancelhas tremerem durante o
sono. Eu não tinha certeza de quanto tempo fiquei sentada assim, apenas
memorizando cada linha e curva de seu belo rosto.
Seus lábios se curvaram para cima e minha covinha favorita apareceu.
— Quanto tempo você planeja me olhar assim?
Meus olhos se arregalaram, e se eu não estava corando antes, com certeza
estava agora. Eu não podia nem negar que estava olhando para ele por Deus sabe
quanto tempo. Eu certamente não fui discreta nisso.
Ele riu da minha reação e passou um braço em volta de mim, me
aconchegando profundamente em seu peito. Seu cheiro me fez sentir em casa, e
eu aproximei meu nariz ainda mais nele.
Dei um pequeno beijo em sua clavícula.
— Qulsaseplnopahje?
Ele tremeu de tanto rir.
— O quê?
Eu sorri e levantei minha cabeça para olhar para ele.
— Quais são seus planos para hoje?
Ele cantarolou.
— Tudo o que planejei fazer hoje pode esperar. Quero ir a um lugar.
Eu levantei minhas sobrancelhas.
— Ir a um lugar?
Tentei me lembrar da última vez em que tive planos espontâneos, além de
Ashley me levar em seus encontros duplos malucos.
— Sim. Só eu e você, Hart. Podemos parar na sua casa no caminho para que
você possa se preparar. — Eu me senti tonta como se ele tivesse acabado de me
dizer que é manhã de Natal e o Papai Noel apareceu. Eu sorri animadamente e
comecei a sair da cama, mas Grant puxou o meu abraço antes que eu pudesse.
— Eu não quis dizer que estávamos indo agora. Tenho outros planos para
esta manhã. — E de repente, minha mente estava longe de qualquer coisa que
não envolvesse esta cama.

∞∞∞
Eu pulei na caminhonete de Grant, vestindo desajeitadamente as mesmas roupas
que usei na noite passada, e mesmo sabendo que não era óbvio para mais
ninguém, isso me fez sentir como se eu tivesse acabado de tatuar “eu transei” na
minha testa. Grant não está usando suas roupas típicas de trabalho como eu
estava acostumada, em vez disso, ele usava jeans escuro e uma camisa cinza clara
com tênis. Ele parecia mais confortável e me fez sentir como se este fosse o Grant
que você levaria para a casa da sua mãe, e o exibiria com orgulho, como um
troféu.
Hoje, seu cabelo despenteado não estava preso em um boné, mas estava solto
e levemente úmido do banho. Eu tive que lutar contra o desejo de correr meus
dedos por ele como fiz ontem à noite.
Grant me pegou olhando para ele novamente e sorriu para mim. Tentei
mudar de assunto.
— Então para onde vamos? Preciso descobrir o que devo vestir.
Ele voltou a olhar para a estrada e entrou na rua onde ficava meu
apartamento.
— Vista apenas o que você costuma usar, não se preocupe, não vamos ficar
muito sujos. — Ele piscou para mim, e eu tinha certeza que meu rosto estava tão
vermelho quanto o sinal de pare.
Ele dirigiu até o estacionamento do meu prédio e eu balancei a cabeça.
— Não vai ter lugar para você estacionar aqui. Você pode simplesmente me
deixar lá na frente e voltar quando eu terminar? — Ele me ignorou e entrou na
garagem de qualquer maneira.
Assim que chegamos, ele estacionou em um local aberto chamado 4E.
— Eu disse que ia falar com seus vizinhos.
Meu coração começou a bater mais rápido. Tê-lo repreendendo meus
vizinhos me deixou igualmente animada e envergonhada. Sua natureza crua e
possessiva não era como nada que eu já havia experimentado com meus
namorados anteriores. Acho que não deveria dizer essa palavra. Nada mudou
tecnicamente desde que fomos declarados amigos. Só que você dormiu com ele. E
ele disse que nunca esteve com uma garota na casa dele antes de você. Talvez
amantes? Interesses amorosos? Parceiros. Eu resolveria com sócios.
— Você não tem que fazer isso. Eu só tenho mais alguns meses até me mudar
para a casa. Não há necessidade de fazer meus vizinhos me odiarem antes de eu ir.
Ele abriu a porta do lado do motorista e caminhou até o meu lado para me
deixar sair.
— Você precisa começar a ensinar outras pessoas como tratá-la. Se você
constantemente deixa outras pessoas ultrapassarem seus limites, um dia você não
terá nenhum. — Ele agarrou minha mão e me ajudou a descer para a calçada.
— Mas isso não pode ser uma coisa boa? Sem limites? Isso pode significar
que você não pode me impedir de fazer nada.
Ele riu e olhou para mim profundamente.
— Eu não acho que alguém poderia te impedir de fazer qualquer coisa nem
se eles tentassem. E se tentarem, eu cuidarei deles.
Olhamos um para o outro, sorrindo como dois adolescentes idiotas que
tiveram sorte. Seus olhos se fixaram nos meus e seus lábios se abriram para me
mostrar seus lindos dentes.
Meu sorriso começou a desaparecer quando minha mente vagou de volta à
conversa da semana passada, quando Grant me disse que não estava pronto para
um relacionamento e tinha que lidar com sua bagagem antes que pudesse ficar
sério com alguém. Eu não estava preparada para a rejeição e me senti
desconfortável pensando que isso era apenas sexo para ele, quando poderia ser
muito mais. Não havia dúvida de que tínhamos química sem ao menos tentar.
Eu naturalmente me encaixo nele como uma peça de quebra-cabeça, e ele me fez
sentir o melhor de mim.
Quando Grant olhou para mim, ele não viu apenas uma professora inútil da
primeira série, ele viu quem eu realmente era. Ele percebeu minhas falhas e as
transformou em pontos fortes, e me fez querer ser o melhor de mim. Ele pegou
p q pg
cada pedacinho do meu coração e o fez dele. Ele não queria me mudar, ele só
queria melhorar o que já estava lá. Grant notou minha mudança de atitude,
passou o braço em volta da minha cintura e me guiou até meu apartamento.
Não ter ideia do que Grant estava planejando não tornou fácil escolher como
me vestir, e olhando ao redor do meu quarto, ficava claro. Camisetas foram
jogadas no chão e shorts de cores diferentes foram colocados na minha cama.
Comparar a diferença entre o meu quarto e o de Grant me fez rir por dentro,
o espaço dele não poderia ser mais diferente do meu. Minha casa era
diversificada, cheia de cores e antiguidades distintas. As paredes estavam cobertas
de arte local trazida a mim por vendedores ambulantes aos quais eu
simplesmente não conseguia dizer não. Os toques de pêssego e verde sálvia
combinaram com meu guarda-roupa de tons pastéis suaves e neutros, mantendo
a personalidade encantadora em toda a área. A casa de Grant era cheia de tons
terrosos e masculinos. Cinza escuro e preto foram modelados em toda a casa em
um ambiente tranquilo, mas suave. As luminárias continham lâmpadas quentes
para tornar a casa mais amigável. Mas, independentemente disso, ainda parecia
tão vazio, como uma casa improvisada que estava à venda. A falta de fotos na
parede e nenhuma obra de arte ou qualquer coisa pessoal me fez sentir desolada.
Isso me fez pensar, ele nunca teve qualquer conexão com alguém digno de estar
em suas paredes? Nenhuma herança de família ou decorações compulsivas que
você teve que comprar quando viu? Nenhuma lembrancinha ou recordações
estranhas definiriam sua história ou uma parte de sua vida para mostrar mais de
sua personalidade. Eram apenas móveis bonitos que eu tinha certeza de que
custavam mais do que eu poderia imaginar, e tons suaves com linhas limpas e
superfícies lisas. Foi uma percepção precisa da diferença entre Grant e eu. Ele era
tão quieto, retraído e introvertido, e eu era pessoal, emocional e apaixonada.
Você pensaria que isso me deixaria apreensiva, mas pelo contrário, me animou.
Grant era como uma tela em branco que eu queria dar vida com salpicos de cor e
retalhos de tecido.
Interrompendo meus pensamentos, ouvi uma batida na porta.
— Não temos o dia todo, Hart. Tenho certeza de que o que você está usando
está bom. — Eu olhei no espelho. Eu estava nua e quase tive coragem de dizer a
ele que não estava vestida, mas sabia que isso acabaria nos atrasando mais ainda.
Coloquei minha roupa diária de shorts jeans e uma camiseta branca com
sandálias e peguei meu telefone e carteira para sair.
Saindo da sala, Grant estava sentado no sofá mexendo no seu telefone.
— Estou pronta! — Ele imediatamente bloqueou o telefone e o colocou de
lado, aproximando-se de mim na porta.
— Você está linda. — Ele deu um leve beijo na minha testa e segurou meu
rosto com as duas mãos. Saímos juntos com a minha mão na dele e senti minhas
bochechas começando a queimar de tanto sorrir.
Capítulo 17
— Você pode pelo menos me dar uma dica? — Grant já estava dirigindo há
quarenta e cinco minutos, e eu não tinha a menor ideia de para onde estávamos
indo.
— Me dê mais cinco minutos e você descobrirá. Tenho certeza de que você
não tem um osso paciente em seu corpo. — Ele não está errado. Durante toda a
viagem, eu o importunei com perguntas e ele as desviou. Admito ter me
distraído um pouco durante a viagem, pois seu dedo estava traçando círculos na
parte interna da minha coxa. Sua outra mão agarrou o volante e suas veias
saltaram de seu antebraço. Eu me vi animada em um nível primitivo e tive que
me forçar a não fazê-lo parar em um estacionamento aleatório apenas para passar
para o lado dele do caminhão. Eu precisava de uma distração.
— Vamos jogar um jogo de estrada.
Grant olhou para mim, cansado, e depois de volta para a estrada.
— Ok… — Ele esticou sua resposta.
— Gosto daquele em que você diz “muu” toda vez que vê uma vaca.
— Isso não é um jogo. É só você fazendo barulhos.
Mas eu adorava aquele jogo. Eu coloquei meu dedo no meu queixo,
pensando em coisas para fazer para preencher o caminho.
— Vamos fazer aquele jogo em que eu digo uma palavra e você diz a primeira
coisa que vem à mente. — Grant encolheu os ombros e eu tomei isso como uma
dica para seguir em frente.
— Vou começar! Então nem pense, apenas diga a primeira coisa que vier
nessa sua cabeça mal-humorada.
Eu o ouvi grunhir com isso, mas continuei o jogo.
— Cachorro.
— Gato.
— T-Rex.
— Jurassic Park.
— Amarelo.
— Sol.
— Peitos.
— Legal.
— June.
— Fofa.
Eu ri de suas respostas, interrompendo nossa conversa em um ritmo
acelerado. Ele aturou minhas rodadas de jogos sem ficar muito irritado com isso.
Grant finalmente migrou sua mão para a parte interna da minha coxa, traçando
círculos em mim.
Eu olhei para ele, pensando no cofre na minha frente. Ele parecia estar se
acalmando comigo lenta mas seguramente, mas então pensei em sua casa e na
falta de qualquer coisa nela.
Ele realmente nunca permitiu que ninguém entrasse?
A curiosidade tomou conta de mim e deixei escapar minha pergunta.
— Por que você não tem fotos nas paredes? — Ele encolheu os ombros.
— Nunca tive nada que sentisse ser importante o suficiente. — Foi uma
resposta simples, com um histórico complexo. Assim como ele.
Eu queria me aprofundar em sua resposta, separar cada respiração entre suas
palavras e dissecá-las até entender cada parte dele. Em vez disso, segui sua citação
com um simples aceno de cabeça e um silencioso:
— Entendi.
Ele virou em uma estrada de cascalho e eu o olhei interrogativamente.
— Sabe, se eu não te conhecesse bem, ficaria um pouco preocupada com
minha segurança.
Ele riu e moveu mais a mão para agarrar o topo da minha coxa, dando um
beijo leve na palma da minha mão, que enviou arrepios por todo o meu corpo.
— Não se preocupe. Se eu tivesse más intenções com você, você saberia. —
Sua voz sombria me deu arrepios e eu queria ouvir o que suas más intenções
incluíam, mas fui distraída por uma placa que passava. Jardim de Colheita de
Flores.
Entramos na estrada de terra que ficava ao lado da estrutura de madeira. Meu
peito subia e descia rapidamente, pensando em estar aqui.
— Espera... sério? — Ele lembrou. Naquela noite no bar, ele se lembrou de
algo tão casual e simples, e ainda assim ele absorveu cada palavra e sabia que era
exatamente onde eu gostaria de ir.
— Fale-me sobre sua avó, como ela era? — suspirei com a lembrança.
— Ela era tudo. Gentil, forte, sábia, bonita, amorosa, apaixonada e um pouco
atrevida. Apenas tudo. Ela era o tipo de senhora que ia à igreja todos os domingos e
amava mais do que ninguém. Mas ela também não tinha medo de te acertar no
traseiro com uma colher de pau por ser respondão.
Grant riu.
— Ela soa como você. Foi por isso que ela te deixou em casa? Porque você era
muito parecida com ela? — Eu realmente não tinha pensado nisso dessa maneira.
— Não tenho certeza, certamente passamos mais tempo juntas. Ela costumava
me levar a um pequeno campo de flores na primavera, onde você podia colher suas
próprias flores. Ela segurava meu vaso de água e me observava rodopiar no campo
de tulipas. Eu passava horas lá dentro, correndo e encontrando todas as flores
perfeitas até ficar exausta e mal conseguia ficar de pé. Eu sempre dormia no
caminho de casa e depois passávamos a tarde arrumando-as e colocando-as no
parapeito da janela dela. Era um dos meus dias favoritos do ano, e gosto de pensar
que também era dela. Ela nunca fez isso com mais ninguém, só comigo. Sempre me
fez sentir que não éramos apenas uma família, mas amigas íntimas. Ela tocava
minhas músicas no caminho, embora odiasse, e quando chegávamos lá
caminhávamos entre as tulipas e margaridas até eu ficar coberta de flores.
Ele ouviu atentamente:
— Tenho certeza de que você sente falta disso.
Eu balancei a cabeça.
— Mais do que tudo.
Pisquei para afastar as lágrimas que ameaçavam cair.
— Eu sabia que você gostaria de voltar. Eu sei que não é o que ela te levou,
mas talvez seja tão bom quanto. — Tentei ignorar as lágrimas que escorriam pelo
meu rosto, olhando pela janela – com medo de que, se o olhasse nos olhos,
confessasse meu amor por ele inesperadamente.
Ele parou em uma vaga de estacionamento e a doce sinfonia de crianças
correndo pelo campo encheu meus ouvidos. Grant agarrou meu queixo e puxou
meu rosto para o dele, então eu não podia mais ignorar seu olhar ansioso.
— Está tudo bem, June? Eu só... achei que você iria gostar. Você disse que
sentia falta daqueles dias com ela. É exagero? Vou te levar para casa agora,
querida, apenas me diga. Você acha que vai ser muito difícil...
Eu cortei sua divagação selando meus lábios nos dele, minhas mãos
envolvendo sua camisa e puxando-o para perto. Ele parou em estado de choque,
mas logo se acomodou em meu abraço e me beijou de volta. Eu me afastei e olhei
para seus olhos encantadores.
— É perfeito, Grant. Obrigada. — Ele tinha um sorriso gradual nos lábios e
desligou a caminhonete.
Capítulo 18
Caminhamos de mãos dadas até a pequena cabine na frente do estacionamento
de terra, até o doce velhinho sentado em um banquinho. Ele sorriu para nós, seus
olhos sábios olhando para Grant e para mim.
— Bom dia, sou o Ollie. Como vocês dois estão hoje? — Sorri de volta para
ele, balançando para frente e para trás em meus calcanhares, tão animada que
mal conseguia ficar parada.
Grant respondeu:
— Estamos bem. Podemos pegar apenas um vaso alto para as flores?
Ollie assentiu e falou um preço enquanto Grant lhe entregava o dinheiro.
Quando ele abriu sua caixa registradora e contou o troco, ele nos deu um
pequeno sorriso.
— Divirtam-se. — Ele baixou a voz para um sussurro. — Meus favoritos
estão na lateral esquerda do campo. — Ele piscou e eu ri, pegando o vaso dele
com as duas mãos.
Grant pacientemente me seguiu pelos corredores de flores, segurando nosso
vaso enquanto eu demorava para encontrar cada flor perfeita e colocá-la em suas
mãos. Ele me observou pular para frente e para trás entre os corredores, pegando
tulipas, papoulas, delfínios e rosas de todos os tons diferentes, com um pequeno
sorriso no rosto o tempo todo. Depois de trinta minutos sendo paciente comigo,
percebi que ele devia estar entediado demais. Eu olhei para ele e seus olhos não
deixaram os meus em momento algum.
— Você deve estar tão entediado. Desculpe. Podemos ir se você quiser? Acho
que tenho o suficiente. — Ele agarrou minha mão e entrelaçou nossos dedos.
— Estou me divertindo observando você, Hart. Apenas pegue o que quiser e
eu estarei aqui. — Caminhei pelos corredores, não precisando mais de mais
flores, mas apenas estando em sua presença. De vez em quando, eu parava para
apontar uma flor específica e contar tudo a Grant. Ele parecia interessado em
tudo o que eu estava dizendo, ou ele era apenas um ótimo ator. De qualquer
maneira, me senti relaxada em sua presença.
Quanto mais Grant e eu estávamos juntos, mais fácil se tornava sermos
francos um com o outro. Foi revigorante. Era muito mais fácil do que pisar em
ovos ao redor do outro. Eu chutei levemente a terra debaixo dos meus tênis e me
dirigi para outro corredor de flores.
— Você vai sentir falta do trabalho quando a escola terminar?
Entrelacei meus dedos na mão de Grant que descansava em meu ombro
esquerdo.
— Não sinto necessariamente falta do meu trabalho, ficar acordada até às
onze e acordar às cinco todos os dias não é o ideal. Mas sinto falta dos meus
queridos alunos e de alguns dos pais. Sinceramente, alguns deles fazem o meu
dia.
— Tenho muito respeito pelo seu trabalho. Eu sei que nunca poderia fazer
isso. Simplesmente não está no meu DNA.
Eu olhei para ele.
— Você não acha que se daria bem com filhos?
Grant se acalmou um pouco, e ficou claro que toquei em um assunto
delicado quando mencionei crianças. Recuei imediatamente, sabendo que enfiei
o pé na jaca ao citar filhos para um cara que mal estou saindo.
— Não que eu estivesse pensando em você ter filhos, só quero dizer trabalhar
com crianças. Ou ensiná-los. Não estou perguntando se você quer filhos. Isso
não saiu do jeito que eu queria.
Grant olhou para baixo e não olhou em meus olhos depois da minha diarréia
verbal.
— Eu simplesmente não sou um cara que gosta de crianças, só isso.
Senti a necessidade de cavar mais fundo.
— Mas por quê? Você não tem nenhum amigo com filhos? Ou vê crianças e
só quer esmagá-las? Eu sei que você provavelmente não os quer por um tempo,
mas não parece divertido para você? Mesmo quando estão bagunçando, eles são a
bagunça mais fofa. Ugh, especialmente quando é um bebê pequenino, ou uma
criança tomando sorvete e eles estão pegando em todos os lugares. Ah, eu amo
quando eles…
Ele parou no corredor e eu parei meu discurso.
— Eu realmente não quero mais falar sobre isso. — Sua voz áspera me trouxe
de volta ao primeiro dia em que o conheci. Ele era frio e distante. Eu abaixei
minha voz.
— Desculpe. Vou deixar quieto. — Mesmo que tudo o que eu queira seja fazer
mais perguntas.
Ele deve ter percebido seu tom curto porque seu rosto suavizou e ele
estendeu a mão para roçar meu braço levemente.
— Sinto muito, Hart. Eu simplesmente não estou com vontade de desfazer
essa mala agora.
Meu coração estava me dizendo para forçar o assunto, fazer todas as
perguntas a ele e tentar o meu melhor para destrancar este cofre. Mas eu
simplesmente balancei a cabeça e entrelacei meus dedos nos dele. Ele sorriu para
mim e o clima melhorou. Eu tinha perguntas que queria que fossem
respondidas, mas agora também tinha esse homem comigo e não queria
desperdiçar nosso tempo juntos.
Voltamos para o caminhão de mãos dadas. Passando pelo homem mais velho,
Ollie, novamente, ele sorriu e acenou para nós, e eu me sentei no banco do
carona de Grant, reorganizando minhas flores no vaso até ficar satisfeita. Fingi
não notar a maneira como Grant mantinha olhares furtivos em minha direção
enquanto eu brincava com meu arranjo de flores.
Capítulo 19
— Não, olha, você está fazendo errado.
— Não existe uma maneira certa de fazer isso, esse é o ponto.
— Bem, se há um caminho errado, você está nele.
Eu ri da piada de Grant sobre minha tentativa de vencer o triângulo na mesa
do Cracker Barrel7.
— Espere, deixe-me tentar mais uma vez. — Peguei o triângulo e os pinos
dele e reiniciei o jogo, puxando um pino após o outro, esperando ter apenas um
no final. Cada vez que terminava, ficava com três pinos zombando de mim em
sua zona.
Grant riu do meu resultado repetitivo.
— Estou meio tentado a dizer a você como fazer, mas acho que gosto mais de
assistir a isso. — Minhas sobrancelhas franzem em concentração enquanto o
jogo estúpido zomba da minha inteligência. Faço uma quarta tentativa,
agarrando pino após pino até ficar mais uma vez com apenas três sentados em
seus buracos.
Grant estendeu a mão sobre a mesa e pegou o jogo das minhas mãos.
— Apenas preste atenção e farei devagar. — Eu mantive meus olhos abertos,
não querendo perder um segundo de suas mãos grandes e ásperas puxando cada
pino um sobre o outro lentamente.
Eu acidentalmente movi meus olhos de suas mãos até seu rosto, olhando para
a bela nuca cobrindo seu queixo e mandíbula. Seus olhos escuros estão focados
no jogo, mas eu não estou mais prestando atenção, em vez disso me concentro
em seu rosto e no cabelo escuro enfiado em seu boné de beisebol. As linhas em
sua testa enrugaram quando ele se concentrou no jogo à sua frente. Olhei para a
barba curta levemente salpicada em sua mandíbula, parecia que ele a aparou
desde a última vez que o vi.
— Ei, eu disse para você se concentrar aqui. — Grant sorriu para mim sobre
a mesa, e eu corei por ter sido pega.
— Eu estava! Eu só fiquei… distraída.
Ele balançou a cabeça, me provocando.
— Vamos, Srta. Hart, os professores devem ser bons em seguir regras. — Eu
ri, amassando meu guardanapo não usado para jogá-lo nele.
Percebi que estava escurecendo do lado de fora da janela e verifiquei a hora,
sete e cinquenta e oito da noite. Grant e eu terminamos de comer há mais de
uma hora, mas estamos jogando esse jogo idiota e rindo de nossos copos quase
vazios com gelo derretido. Eu podia sentir o aborrecimento da nossa garçonete e
achei que era melhor irmos embora. Grant deixou uma gorjeta generosa pela
nossa inconveniência e me levou até sua caminhonete.
Grant me seguiu até o lado do passageiro para me ajudar a pular no banco,
mas realmente acho que é apenas uma desculpa para ele colocar as mãos na
minha cintura. Desde a nossa noite em sua casa, ele tinha se tornado mais físico,
e eu sentia um friozinho na barriga toda vez. Cada leve arranhão no meu quadril
me fazia sentir como uma garota de dezesseis anos com meu primeiro namorado
novamente.
Sentada em sua caminhonete, inspirei o aroma do veículo. Tem um cheiro
misto de aromatizador de árvore e diesel. Isso me lembrou os veículos antigos do
meu avô. Não passei muito tempo com ele antes de sua morte, mas o cheiro
trouxe de volta os pequenos pedaços que estavam em minha mente. O caminho
de volta para o meu apartamento é preenchido com um silêncio confortável, sua
mão direita colocada na minha coxa, desenhando pequenos círculos com o
polegar caloso. Ele tocou country dos anos 90 suavemente ao fundo e me
lembrei da voz familiar da minha avó cantando Garth Brooks na cozinha
enquanto ela dançava, distraída demais para perceber que seu frango estava
queimando, mas nenhum de nós teve coragem de impedi-la.
Eu sorri com as memórias que Grant havia desencadeado, olhando através da
caminhonete para vê-lo com um leve sorriso no canto dos lábios. Tive vontade
de estender a mão e beijar aquele canto doce, mas me contive para não fazê-lo,
não querendo distraí-lo.
— O que você está pensando, Hart? — Ele deve ter sentido minha mente
acelerada. Ele manteve os olhos na estrada, mas mudou o padrão que estava
traçando na minha coxa. Corei um pouco, mas falei a verdade, correndo minhas
unhas ao longo de seu antebraço cheio de veias.
— Eu estava pensando em beijar você, mas estava com medo de que você
começasse a desviar para todos os lados. — Sua risada profunda encheu a
caminhonete e colocou um sorriso em meu rosto.
— Você sabe que eu conheço alguns estacionamentos vazios que eu poderia
nos levar se é isso que você está querendo. — Ele piscou para mim e tenho
certeza que meu blush rosa claro cresceu para um vermelho vivo.
Soltei uma risadinha nervosa.
— Talvez apenas chegue à minha casa e depois veremos no que dá.
Grant estacionou em minha nova vaga, agora que assustou meus vizinhos, e
me acompanhou até a porta. Al estava sentado na frente do elevador no saguão,
mexendo em seu molho cheio de chaves.
— Boa tarde, senhorita June. Você está linda.
Eu sorri para o meu doce amigo.
— Muito obrigada Al! — Puxei a mão de Grant para frente. — Aqui é Grant
Dawes, ele está me ajudando com a casa da vovó. — Grant estendeu a mão livre
para apertar a de Al.
— Ah, então você é o namorado da Srta. June? Prazer em conhecê-lo, essa
doce garota merece o mundo, certifique-se de cuidar dela.
Eu estava prestes a interferir e corrigir o equívoco de Al sobre Grant como
meu namorado, mas fui interrompida antes que pudesse dizer uma palavra:
— Sim, senhor. Prazer em conhecê-lo.
Enquanto nos dirigíamos para os elevadores, eu esperava que Grant se
fechasse, já que Al presumiu que ele era meu namorado, mas parecia que
acendeu uma chama nele. Seu braço envolveu meu ombro e seu polegar traçou
círculos em meu braço.
Chegamos à minha porta e demorei o máximo possível para procurar minhas
chaves. Eu nunca tinha destrancado uma porta tão lentamente, mas senti como
se ainda não estivesse pronta para o fim de hoje.
— Você…
— Posso…
Nós dois rimos de nossas interrupções e eu balancei a cabeça.
— Você vai primeiro.
O canto de sua boca levantou e eu fui presenteada com aquela covinha dele.
— Eu ia perguntar se você queria que eu entrasse? — Ele esfregou a nuca, o
que o fez parecer quase envergonhado por perguntar.
Eu queria rir de Grant Dawes timidamente pedindo para entrar no meu
apartamento quando ele simplesmente se convidava todas as vezes.
Abri mais a porta e agarrei sua mão para puxá-lo para dentro, e ele fechou a
porta atrás de mim.
p
Antes que eu pudesse reconhecer o que estava acontecendo, Grant me puxou
para ele com o braço em volta da minha cintura.
Seus lábios alcançaram os meus em um frenesi e eu o segurei o mais forte que
pude, com medo de que parasse aquele beijo.
Ele me puxou para longe da parede e cambaleou pelo corredor até o meu
quarto. Eu me senti envergonhada com as roupas que foram jogadas pela sala
depois de procurar por uma roupa mais cedo pela manhã, mas ele parecia muito
distraído para se importar. Minha cabeça girava e eu me sentia tonta com seus
beijos apaixonados.
Seus lábios molhados se afastaram dos meus e eu rapidamente me sentei,
estendendo a mão para ele se aproximar. Ele colocou as mãos sobre as minhas,
parando meu movimento.
— Temos a noite toda, Hart.
Eu sorri brilhantemente para ele, deixando de lado todos os outros
pensamentos e ansiedades.
Ele pegou meu lábio inferior entre o polegar e o dedo indicador.
— Esse sorriso... vai ser a minha morte. — Isso só me fez sorrir ainda mais
quando ele se inclinou para mim.
Sem qualquer preocupação em minha cabeça, eu sabia que ele estava prestes
a me dar uma noite que eu nunca esqueceria.

∞∞∞
Minha noite com Grant foi quase tão adorável quanto meu dia inteiro com ele.
Tínhamos jantado – quando finalmente decidimos sair do quarto. E depois, ele
folheou meus discos de vinil, pegando um após o outro até encontrar seus
favoritos.
Com uma música tocando suavemente ao fundo, nós decidimos dançar.
Com as mãos de Grant na minha cintura e as minhas em seu pescoço, dançamos
na minha cozinha, comigo simplesmente vestindo a camiseta dele e meus pés
descalços traçando o azulejo frio. Eu era uma péssima dançarina, principalmente
porque era completamente descoordenada, mas ele nunca parecia se importar.
Grant me girava e me puxava de volta para ele, balançando-me em seus braços e
sussurrando doces elogios em meu ouvido.
Eu queria rir de mim mesma, de como devo ter sido estúpida por me
apaixonar por Grant Dawes. Eu poderia ter deixado minha mente vagar por aí a
noite toda, pensando em questões como: Como ele pode me segurar assim, mas
não ficarmos juntos? Ou será que ele vai querer mais alguma coisa comigo? Mas ao
invés disso, dancei até ficar cansada e dolorida.
Sentei-me com Grant no meu sofá, vestindo apenas sua camiseta comprida e
segurando um pote de sorvete com uma colher na mão. Meus pés descalços
foram colocados em seu colo e suas mãos os acariciavam suavemente.
Uma comédia romântica passava na TV à nossa frente, vimos os personagens
dançarem em torno de seus sentimentos um pelo outro e testemunhamos o
personagem principal masculino olhando para a garota.
— Por que ele continua fazendo isso?
Ele perguntou sobre o que estava passando na TV. Comédia romântica em
específico foi uma das poucas coisas que eu pude assistir repetidamente. Eu disse
a ele que era isso ou assistir Top Gun, o que foi a escolha dele, mas eu coloquei a
comédia romântica mesmo assim.
Ele não pareceu se importar muito, considerando que estava sorrindo para
mim quando apertei o play.
Eu aprendi rapidamente uma coisa sobre Grant, ele era uma daquelas pessoas
que faziam perguntas a cada poucos minutos ao longo de um filme.
Ele podia tirar sarro de mim o quanto quisesse, fazendo perguntas sobre
trabalho, família e amigos, mas quando chegava a hora de assistir a um novo
filme, o homem se tornava um jogo ambulante de Vinte Perguntas.
— Porque ele está apaixonado por ela — respondi mais uma vez.
Ele balançou a cabeça, seus olhos nunca deixando a TV.
— Não, ele está com a outra loira.
Eu segurei minhas risadas.
— Não, ele ainda não sabe que está apaixonado por ela. Ele leva um tempo
para descobrir isso.
Grant virou a cabeça para mim.
— Então ele ama a Jennifer Anniston? — Eu acenei de volta para ele e
coloquei o sorvete na minha mesa de café.
— Sim, quero dizer, olhe para ele. — Olhei para o filme, vendo Adam
Sandler observando sua personagem do outro lado da sala e sorrindo
carinhosamente para ela.
Voltando-me para Grant, seus olhos ainda estavam me observando e seu
sorriso torto estava voltado para mim. Ele colocou as duas mãos em cada lado da
minha cintura e me puxou para seu colo.
Sussurrando baixinho, ele disse:
— Ele não tinha como evitar. — Nós dois tínhamos esquecido o filme
passando ao fundo, focando apenas nos corpos um do outro.
Eu sussurrei de volta:
— Nem ela. — Seu nariz roçou o meu, nós dois segurando sorrisos
sonhadores que diziam as três palavras que ainda não estávamos prontos para
dizer.
Quando o filme acabou, nós dois estávamos meio adormecidos,
aconchegados nos braços um do outro. Deitei de costas com Grant descansando
a cabeça no meu peito e meus dedos correndo por seu cabelo. Quem diria que
esse urso gigante poderia ser tão fofinho?
— Ei, June? — Eu olhei para ele, surpresa por ele ter dito meu primeiro
nome.
— Sim? — Minha voz era cautelosa, sem saber o que ele ia dizer. Sua voz
soava sonolenta como se ele mal pudesse ficar acordado o tempo suficiente para
terminar sua frase.
— Minha irmã está vindo para a cidade esta semana. Eu... quero que você a
conheça.
Não surte. Não surte. Isso não é grande coisa.
— Tudo bem.
Havia duas coisas que eu tinha certeza naquele momento: 1. Eu estava
profundamente apaixonada por Grant Dawes. 2. Eu inevitavelmente teria um
coração partido.
Grant adormeceu rapidamente, enquanto eu fiquei acordada por horas.
Capítulo 20
A escola estava oficialmente fechada para o verão. Fiquei aliviada por poder ficar
algum tempo sem meus alunos respirando no meu pescoço e me concentrar na
casa e no processo de mudança. Eu ainda tinha muita coisa para guardar, limpar
e revisar em minha sala, mas não ter alunos na escola me ajudou a conseguir fazer
tudo.
Como minha sala ficava mais longe no corredor do que a dos outros
professores, eu podia colocar música com o som alto sem me preocupar com a
audição de outros administradores. As fileiras de arquivos e pastas pareciam uma
onda de superestimulação. O som dos instrumentais nos alto-falantes e a
sensação de arrumar papel após papel foram minha musa naquela manhã.
Examinei os arquivos, sonhando acordada com minha mudança e com a casa não
tão nova em que logo habitaria.
Minha música foi interrompida por um toque. Olhei para o meu telefone
para ver um número desconhecido ligando, atendi hesitante, pois percebi que
eram as mesmas ligações de spam que recebia todos os dias.
— Olá? — Minha voz era apenas um sussurro.
— Ei June, aqui é Beau. — Beau nunca havia me ligado antes, ele tinha me
enviado um e-mail aqui e ali com perguntas sobre design, memorandos, etc.
Senti meu pescoço esquentar, ansiosa para saber o porquê dele ligar.
— Ei Beau, tudo bem?
Ele limpou a garganta.
— Hum, sim. Houve um pequeno acidente... Grant caiu de uma escada e
machucou bastante o braço.
Meu estômago caiu e me levantei, pronta para pegar minha bolsa e as chaves
para ir até lá.
— Oh meu Deus. Ele está bem?
Ouço vozes ao fundo, mas não consigo entender o que estão dizendo.
— Sim, ele está bem agora. Mas ele acabou de chegar do hospital e eles lhe
deram muitos analgésicos. Eu estava planejando ficar com ele esta noite, mas
tenho que correr para os outros projetos que estamos fazendo. Existe alguma
chance de você passar por aqui e apenas dar uma olhada nele?
Meu coração doeu ao pensar que Grant não tinha mais ninguém para cuidar
dele e sem hesitar, eu disse que sim. Peguei meus pertences e saí da escola, rápido
para evitar que alguém pedisse favores, pois meu tempo agora era todo dele.
Parei em uma farmácia no caminho para lá, pegando bolsas de gelo,
almofadas térmicas e algumas de suas bebidas favoritas que ele havia mencionado
anteriormente.
Quando parei na casa de Grant, vi o carro de Beau estacionado ao lado da
minha velha caminhonete favorita. Eu entrei mais rápido do que eu poderia
pensar.
Beau estava encostado na mesa da sala de jantar e, quando me aproximei dele,
notei Grant deitado no sofá com o braço sobre os olhos como um bebê
dormindo.
Sussurrei, para não incomodá-lo:
— Ele está bem?
Beau dá uma olhada nas sacolas na minha mão e volta para o meu rosto
preocupado, para o qual ele sorriu.
— Sim, ele está bem. Apenas muito chapado e não posso vigiá-lo.
Balancei a cabeça e o observei sair, preparada para cuidar do único homem
que sempre cuidou de mim.
Grant dormiu por quase uma hora enquanto eu estava lá. Enquanto isso, eu
estava tão entediada e ansiosa que comecei a limpar. Mas é claro que, sempre tão
organizado, Grant mantinha o lugar impecável. Limpei as bancadas e
reposicionei algumas coisas nos armários. Abri a geladeira para pegar o que ele
tinha lá dentro, mas claro, até por dentro ele mantinha os recipientes todo
organizado. Fingi não notar a embalagem fechada de Coca-Cola sabor baunilha
sem açúcar à esquerda. Apenas para o caso de eu aparecer?
Caminhei pelo corredor, notando o cheiro limpo e masculino que pairava no
ar. Ele já havia me mostrado a casa uma vez, mas era tão grande que não consegui
achar o banheiro sem me perder. Virei em uma curva e abri uma porta na
esperança de encontrar meu destino. Em vez disso, fui recebida por seu
escritório.
As paredes verde-escuras e os móveis pretos se encaixavam perfeitamente em
Grant. Passei casualmente por sua mesa, não pude deixar de ficar curiosa para
saber como ele mantinha seu escritório.
Sentei-me em sua cadeira de couro e me virei. Seu espaço era perfeitamente
organizado e limpo, o que era tão Grant. Suas roupas de trabalho eram a única
coisa suja em sua vida. Todas as outras partes dele eram precisas e organizadas.
Parei de girar quando me senti um pouco tonta e olhei para a mesa dele. Não
tinha muito, um laptop, mouse pad, grampeador... uma moldura?
No canto da mesa havia um porta-retrato preto 4x6. Estendi a mão e puxei-o
para mim, e meu estômago caiu ao ver a foto.
Era eu.
Era eu nos campos de flores. Eu estava inclinada, colhendo tulipas, sem
prestar atenção em Grant ou ter a menor ideia de que ele estava tirando uma
foto. Com uma tesoura na mão e um grande sorriso no rosto, eu provavelmente
estava rindo de um de seus muitos comentários sarcásticos ao longo do dia.
Minha mente voltou às declarações anteriores de Grant.
Nunca tive nada que valesse a pena colocar em uma moldura.
Mas lá estava eu. Em um quadro em sua mesa.
Virei o porta-retrato e vi que ainda tinha uma etiqueta de preço atrás. A
alegria tomou conta de mim ao pensar em Grant imprimindo esta foto e
comprando uma moldura apenas para a ocasião. Ele nunca admitiria isso em voz
alta, mas eu sabia que significava algo mais do que ele estava disposto a mostrar.
E essa era toda a confirmação de que eu precisava por enquanto.
Ouvi um barulho na sala de estar e abaixei a moldura para verificar Grant.
Quando voltei para a sala, Grant estava de pé sobre a mesa de centro com o
telefone na mão. Seus olhos estavam vermelhos e seu cabelo estava todo
bagunçado. Ele parecia uma criança que tinha acabado de acordar de uma soneca
e era nada menos que adorável.
— Grant, você está bem? — Seus olhos se ergueram para os meus e ele sorriu
mais forte do que eu já tinha visto.
— Hart? — Sua voz soou surpresa, porém mais doce, menos áspera do que o
normal. Seu sorriso alcançou seus olhos e eu senti como se tivesse vislumbrado
um unicórnio.
— Beau queria que eu verificasse você. Como está seu braço? — Ele olhou
para o braço, que estava em uma tipóia médica azul marinho. Confusão estava
escrita em seu rosto como se ele tivesse esquecido que estava ferido. E então ele
ergueu as sobrancelhas como se tivesse acabado de perceber o que havia
acontecido.
— Estou bem agora que você está aqui. — Ele tentou piscar, mas foi mais
uma piscada patética, lenta e descentrada. Oh meu Deus. Ele está tentando
flertar comigo? Ele era tão fofo que eu não aguentei, seu andar em minha direção
me lembrou uma girafa bebê tentando andar pela primeira vez. Ele veio até mim
e colocou o braço ileso em volta dos meus ombros, precisei de tudo de mim para
segurar o riso com seus movimentos terríveis.
Seu braço grande e musculoso envolveu o topo do meu ombro e eu o senti se
inclinando sobre mim, tentando não colocar muito peso no meu corpo magro.
— Tudo bem amigo, vamos levá-lo de volta para a cama. — Segurei sua mão
boa na minha e nos guiei até seu quarto no andar de cima. Quando chegamos à
sua cama, deitei-o cuidadosamente sobre o edredom branco perfeitamente feito.
Ele ergueu a mão boa até meu queixo, esfregando-o entre o dedo indicador e o
polegar.
— Você é tão bonita.
Corei com sua honestidade dopada.
— Sou?
Eu estava pescando uma resposta. Eu sabia que estava. Mas quantas vezes
Grant baixou a guarda o suficiente para me deixar saber exatamente o que ele
está pensando?
— A mais bonita. Se você fosse minha professora quando eu era pequeno,
acho que teria reprovado em todos os testes. — Eu ri e coloquei minha mão
sobre a dele.
— Eu acho que você está um pouco fora de si.
Ele deitou em cima das cobertas.
— Provavelmente. Você pode me passar aquele adesivo anti-inflamatório que
está na minha mesa de cabeceira? — Eu escovei seu cabelo entre meus dedos e
acariciei sua testa.
Abri a gaveta da mesa de cabeceira lentamente, um pouco assustada com
tudo o que poderia encontrar. Peguei o adesivo anti-inflamatório e comecei a
fechar a gaveta quando algo chamou minha atenção.
Paro meus movimentos, presa no momento em que compreendo.
Lá estavam várias bugigangas. A primeira que chamou minha atenção foi
uma pedrinha branca. Era a pedrinha de quando estávamos no bar. Eu sabia que
a havíamos perdido em algum ponto do jogo, mas não estava prestando atenção
suficiente para vê-lo enfiá-la no bolso.
Ao lado da pedrinha estava um dos ingressos para o campo de flores que
visitamos. Ao lado deles estava a sorte dos biscoitos que ele trouxe na primeira
vez que veio. Eu o peguei e vi um recibo embaixo dele.
O recibo não era nada sofisticado, era só para comprar tinta da loja de
ferragens Cooper’s. Era claramente um pouco velho e desgastado. Virei a parte de
trás para ver uma data escrita em tinta vermelha brilhante na parte de trás.
A data era maio do ano passado e estava circulada com a mesma tinta
vermelha. Abaixo da data havia uma palavra.
“Ela.”
Foi sublinhado duas vezes como se fosse a parte mais importante do recibo.
E percebi de repente que era eu. A data era de quando Grant e eu nos
conhecemos no Cooper's. Seu comentário sobre nosso encontro soou entre meus
ouvidos.
— Eu me lembro, Hart. Por mais que eu quisesse esquecer, eu lembro.
Grant deve ter notado minha pausa quando se inclinou para ver o que eu
estava olhando.
— Ah. — Ele murmurou, soando quase envergonhado?
— Isso é meu? — Eu levantei os pedaços de papel. Grant acenou com a
cabeça timidamente.
Ele sorriu para mim.
— Eles são meus June-venir's8. — Achei que meu coração fosse explodir.
Ele continuou:
— Guardei para o caso de ter a sorte de encontrá-la novamente. E então não
conseguia parar de guardar lembrancinhas de nossas reuniões.
Grant Dawes era um romântico enrustido e eu estava morrendo. Este
homem me possuiu completamente. Sempre imaginei que Grant pensava tão
pouco de mim e agora eu sabia como ele realmente pensava tanto de mim que
mantinha esses “June-venir's”. Ele poderia me dizer o dia todo que não quer um
relacionamento, e talvez não quisesse. Mas eu sabia que era especial para ele por
enquanto.
Ele adormeceu logo depois, claramente ainda afetado por seu remédio.
Fiquei ali com ele o resto da noite, brincando com seu cabelo e deitada debaixo
de seu braço bom. Quando ele estava em um sono profundo, estendi a mão para
colocar todas as suas coisas de volta na gaveta da mesa de cabeceira.
Quando abri, notei mais um pequeno item na parte de trás. Parecia uma
pequena foto e eu a tirei, esperando outra de suas lembranças.
Em vez disso, era a foto de uma jovem. Era a garota da foto que vi depois que
procurei Grant. Parecia que ela estava em algum tipo de restaurante, havia mesas
e cadeiras ao fundo de onde ela se sentava. Ela era linda, seu cabelo loiro estava
solto e ela estava sorrindo brilhantemente. Eu virei a foto, esperando por alguma
clareza. Mas não havia legenda, data ou qualquer coisa que me indicasse quem
ela era.
E fiquei acordada até tarde naquela noite, pensando em quem ela poderia ser
e por que não estava mais aqui com ele.
Capítulo 21
— Ok, não, isso não vai funcionar. Vá para o outro vestido.
Ashley começou a me mostrar o que eu deveria vestir para conhecer a irmã de
Grant, Lily. Seu entusiasmo foi útil no começo, mas agora eu estava fazendo
chamada de vídeo com ela por 45 minutos e ainda não tínhamos encontrado o
que vestir para o jantar.
— Nós já olhamos aquele vestido, Ashley. Vou me atrasar se não encontrar
algo logo. — Eu tinha passado mais de uma hora no meu cabelo e maquiagem, e
deveria saber que isso levaria muito mais tempo para fazer.
Uma voz profunda veio do fundo do meu telefone.
— Espere, e aquele amarelo?
O ângulo da câmera mudou e um Beau sem camisa estava deitado ao lado da
cabeça de Ashley. Eu desviei o olhar do telefone e gemi.
— Ugh, que nojo. Você me ligou logo depois que vocês fizeram sexo?
Ashley riu e empurrou Beau para longe dela. Eu estava começando a pensar
que deveria cancelar, e então pensei no que Beau disse.
— Espere. Que vestido amarelo? — Olhei em volta do meu armário e não
consegui encontrar nenhum vestido amarelo.
A voz de Beau voltou pelo alto-falante.
— Grant mencionou um vestido amarelo uma vez. Disse que o deixou louco
o dia todo.
Lembrei-me de quando usava um vestido amarelo. Houve um dia em que
levei o jantar para ele na semana passada. Eu nem tinha prestado atenção no que
ele pensava disso, mas pensando bem, ele estava um pouco estranho. Talvez seja
por isso que ele estava me apressando e não me apresentou a nenhum dos outros
trabalhadores.
Revirei meu armário e encontrei meu vestido de verão amarelo com
pequenas bolinhas brancas. Era um pouco curto, mas não o suficiente para me
deixar constrangida com o vento que o soprava ou para puxar constantemente a
bainha para mantê-lo baixo.
Mostrei para Ashley e ela assentiu.
— Sim, definitivamente use esse! Respeitoso, mas faz os olhos dele brilharem,
eu gosto. — Eu sorri para ela na minha tela e nos despedimos.
Ainda bem que eu estava vestida e pronta para ir, porque Grant apareceu dez
minutos adiantado. Sua batida forte na porta fez meu coração disparar
novamente. Eu realmente deveria verificar isso.
Quando abri a porta, ele se encostou no batente, verificando a hora no
telefone.
— Ei, Hart, você está pronta para ir… — Ele olhou para mim, um nó na
respiração, e seus olhos se arregalaram. Inconscientemente, enrolei a fita em meu
cabelo entre os dedos.
Seu rosto era difícil de ler, mas sua boca aberta e seu piscar lento me
confundiram. Eu pensei que ele gostava deste vestido? Esta foi uma ideia
terrível.
Eu limpei minha garganta.
— Estou pronta.
Grant simplesmente murmurou uma pequena resposta, e eu não tinha
certeza de como interpretá-la. Fechei a porta e dei-lhe um olhar de soslaio.
— Tem algo no meu rosto?
Seu rosto relaxou e ele me deu aquele sorriso torto travesso quando minha
covinha favorita no mundo aparece.
— Não, você está ótima. Vamos. — Ele agarrou minha mão e me guiou até
sua caminhonete, estacionada ao lado do meu carro na minha nova vaga favorita.
Grant abriu a porta do lado do passageiro e me colocou para dentro do veículo.
Agarrando a alça no topo, balancei minhas pernas no assoalho e me levantei.
Assim que me acomodei, endireitei meu vestido e ouvi Grant murmurar para
si mesmo:
— Jesus Cristo.
Virei minha cabeça para ele, seus dedos beliscando a ponte de seu nariz. Eu
franzi a testa.
— Hum? — Eu questionei, imaginando se algo aconteceu com sua
caminhonete. Ele simplesmente balançou a cabeça negativamente e fechou
minha porta.
Grant pulou em seu lado da caminhonete e saiu do meu prédio, indo para
sua casa. Minha perna começou a pular de ansiedade, meus nervos dispararam
com a ideia de conhecer a pessoa que claramente significava muito para ele. Ele
falava sobre sua irmã como se ela fosse sua mãe, e eu normalmente era ótima com
os pais, mas isso era muito diferente.
Sua mão alcançou minha coxa saltitante, me acalmando.
— Está tudo bem, Hart. Pare de pensar demais. — Era como se ele soubesse
todos os meus pensamentos e como me livrar de todas as ansiedades. Eu tinha
tantas perguntas, mas as guardei para mim, não querendo que minha mente se
preocupasse mais com a irmã dele.
Quando chegamos à casa dele, não me sentia melhor. Sua mão deixou minha
coxa e ele desligou a caminhonete.
— Estou falando sério, Hart. Não é grande coisa. — Eu queria gritar para ele
o quão importante isso era para mim, mas em vez disso eu balancei a cabeça
silenciosamente. Escovei meu cabelo com os dedos na tentativa de domar os fios
rebeldes.
Eu não tinha certeza de como esperava que a irmã mais velha de Grant fosse,
mas não era isso. Eu meio que a imaginei como uma mulher mais velha e severa
com cabelos pretos e olhos escuros que dizia: “Chegue perto do meu irmão e eu
vou te matar”. Em vez disso, quando Grant abriu a porta, recebi um abraço de
urso de uma loira baixinha usando um avental que dizia: Nunca confie em um
chef magro.
— Ah, June! Eu esperei tanto tempo para conhecê-la. — Seus braços me
abraçaram com força, e eu mal conseguia respirar.
Grant colocou a mão nas costas dela.
— Tudo bem, Lil. Dê a ela algum espaço. — Lily deu um passo para trás e
agarrou minhas duas mãos nas dela, me olhando. Seu cabelo loiro estava preso
em um grampo, com mechas soltas emoldurando seu rosto. Ela tinha olhos
claros, seu sorriso era brilhante e sua presença era calorosa e reconfortante.
Eu estava ansiosa na última semana, imaginando se haveria um silêncio
constrangedor para preencher, ou se sua primeira impressão de mim seria ruim.
Grant e eu deixamos claro que nenhum de nós sabia o que éramos, então
conhecer a família não estava na programação. No entanto, sentada entre os dois
irmãos na enorme mesa da sala de jantar de Grant, não tive dúvidas de que estava
onde deveria estar. Assistir Grant rindo e se divertindo livremente foi algo que
nunca pensei que testemunharia.
A casa de Grant começou a parecer mais um lar com sua irmã nela. Ele estava
mais feliz do que nunca, rindo com Lily, segurando minha mão, comendo entre
suas brincadeiras. A casa antes fria e sem vida agora estava cheia de calor e risos.
Eu poderia dizer que ele também sentiu isso.
— Não, não. Você está contando tudo errado. — A risada de Grant filtrou
entre suas palavras.
Lily retaliou continuando sua história.
— Então ele está preso na cerca, com as calças completamente presas no
arame farpado. — Ela engasgou com o riso, mal conseguindo terminar a história.
— E eu estou aqui com muito medo de dizer a mamãe e papai que Grant está
pendurado em uma cerca que eu disse para ele escalar, então…
Grant a interrompe.
— Então ela me deixou pendurado lá por quinze minutos. — Eu estava
sorrindo tanto que minhas bochechas doíam e lágrimas brotavam de meus olhos.
Lily estava me contando histórias embaraçosas sobre o bebê Grant nas últimas
duas horas. Eu não poderia estar mais feliz em outro lugar, e não tinha dúvidas
em minha mente de que onde quer que isso vá entre nós dois, Grant sempre
estaria em meu coração.
Depois do jantar, comecei a lavar os pratos e a tirar a mesa. Lily e Grant me
disseram para não me preocupar com isso, mas eu disse a eles que deveriam
passar algum tempo juntos. Observar os dois me fez pensar em quem Grant era
antes de se tornar esse homem frio e reservado.
Quando eu estava quase terminando de secar os pratos, Lily veio atrás de
mim e começou a pegar os pratos também.
Ela sussurrou suavemente.
— Obrigada por ter vindo esta noite. Eu sei que não foi fácil para ele. —
Virei minha cabeça de volta para a sala de estar para vê-la vazia.
— Ele é um cara legal, estou feliz por ser sua... amiga. — A palavra amigo era
a última maneira que eu queria descrever Grant, mas não tinha intenção de
discutir nosso complicado relacionamento com sua irmã.
Lily virou a cabeça e me deu um olhar compreensivo.
— Seja paciente com ele. Ele vai mudar de idéia.
Eu queria insistir mais no assunto, mas ouvi a porta da frente abrir e Grant
voltou para dentro.
— Você está pronta para ir, Hart? Eu sei que está passando da sua hora de
dormir. — Sua zombaria dos meus hábitos de dormir cedo tornou-se uma piada
divertida para ele, mas ele me conhecia bem o suficiente para saber que às nove
da noite eu estava pronta para me aconchegar e ir para a cama.
p p g p
Eu me despedi de Lily e, enquanto a abraçava, ela sussurrou em meu ouvido:
— Não desista dele.
Eu sorri para ela e assenti. Grant pode não saber o que ele queria comigo,
mas ele queria alguma coisa, e o que quer que fosse, eu aceitaria.
A viagem de volta para minha casa foi repleta de nossos sorrisos e gargalhadas
enquanto lembrávamos a noite. Seu bom humor me deixou quase eufórica, e eu
me sentia cada vez mais apaixonada por ele a cada minuto que passava. Seus
toques leves ao longo da noite me deixaram ligada e querendo mais. Claramente,
Beau estava certo sobre o vestido, já que Grant durante a noite toda arrumou
uma desculpa para colocar as mãos em mim. Seja colocando uma mecha de
cabelo atrás da minha orelha, entregando-me talheres e deixando sua mão
demorar, ou fazendo círculos na parte interna da minha coxa debaixo da mesa.
Onde quer que estivéssemos, se estivéssemos juntos, ele estava me tocando.
Passei toda a viagem para casa com a mão dele na minha perna, começando
perto do meu joelho e esfregando círculos afetuosos em mim com amor. Foi um
conforto para o qual me encontrei deslizando facilmente.
Grant me seguiu para dentro, sua mão envolvendo a minha. Nós dois
acenamos para Al, que me deu um sorriso e nos guiou até o elevador. No minuto
em que o espaço entre as portas do elevador se fechou, os lábios de Grant
estavam nos meus. Sua mão alcançou meu cabelo, emaranhando as longas
mechas castanhas entre seus dedos ásperos. Apoiei-me nele, sentindo como se
tivesse um pedaço de bolo que esperei durante todo o jantar. Eu finalmente
tinha o homem que me fazia suspirar sozinha, e a última coisa que eu faria era
pensar demais agora.
Ele murmurou contra meus lábios.
— Me deixou louco a noite toda. Você é um problema, Srta. Hart. — Eu
sorri contra sua boca, me sentindo mais feliz agora do que há muito tempo.
Antes que eu pudesse responder, o elevador apitou.
As portas do elevador abriram e lá estava uma mulher mais velha.
— Oh. Ah minha nossa, eu sinto muito… — Ela se desculpou como se ela
entrasse em nosso quarto privado. Minhas bochechas esquentaram e eu me
desvencilhei de Grant.
— Sinto muito, senhora. — Eu estava envergonhada. Estendi a mão para
pentear meu cabelo e arrumar meu vestido.
Grant mordeu os lábios, segurando uma risada e eu bati em seu peito. A
mulher mais velha riu e cambaleou até o elevador conosco.
— Eu me lembro dessa época. Espere até vocês dois terem um par de
pequeninos correndo por aí. Vocês vão sentir falta desses tempos.
Eu apenas dei um sorriso fino de volta para ela e o rosto de Grant
desapareceu de volta para seu olhar vazio de boca reta. O ar parecia ter sido
sugado para fora do elevador. Senti o pânico de sair o mais rápido possível.
Quando chegamos à minha porta, nós dois estávamos em silêncio. A ligeira
menção de filhos sempre parecia deixar Grant atordoado e ele imediatamente se
fechava.
— June, eu só… — Ele fez uma pausa antes de me dar qualquer outra
desculpa que tivesse para não estarmos juntos. Eu não me importava em ouvir
mais desculpas e sabia o meu valor o suficiente para saber que não merecia ser
jogada de lado.
Eu simplesmente o beijei na bochecha, entrei sozinha e encerrei a noite como
estávamos.
Capítulo 22
Faz uma semana desde que eu vi Grant. Trocamos mensagens de texto e tivemos
algumas pequenas conversas por telefone, mas não parecia como antes. Ele me
manteve atualizada sobre a casa e eu fui educada e receptiva. Não era a nossa
brincadeira típica e eu poderia dizer que ele estava pisando em ovos ao meu
redor. Seu último texto para mim foi sobre a casa precisar apenas de pintura e
acabamento, e que estaria terminada na próxima semana.
Passei a última semana me ocupando o máximo possível. Quanto mais
tempo eu ficava longe do meu telefone, menos tentação eu tinha de ligar para
Grant. Terminei de limpar e organizar minha sala de aula, tomei café com Ashley
o máximo que pude, fiz trilhas, fui a duas aulas de pintura... se havia um evento
local, eu estava lá. Qualquer coisa para tirar minha mente de Grant.
Eu estava em conflito. Achei que, a essa altura, ficaria super empolgada com
minha próxima mudança. Na realidade, eu ainda não tinha empacotado uma
única caixa e estava sentada no chão da minha sala com a camiseta de Grant,
bebendo minha Coca-Cola sabor baunilha sem açúcar e cantando Dreams do
Fleetwood Mac um pouco alto demais… e certamente desafinada.
Ouvi meu telefone tocar e o peguei, esperando que fosse Ashley ligando de
volta. Em vez disso, fui recebida com um número aleatório.
— Olá? — Eu respondo lentamente, esperando uma chamada de spam.
— June? É o Beau. — Oh. Beau nunca me procurou pelo telefone, exceto
quando Grant machucou o braço. Minha mente imediatamente foi para um
lugar sombrio e comecei a pensar no que poderia ter acontecido para ele ligar.
— Ai, Deus. O que aconteceu?
Sua risada profunda encheu o alto-falante do meu telefone.
— Nada aconteceu desta vez, só precisamos que você venha até a casa e
verifique uma coisa.
Curiosa, coloquei minha bebida na mesinha e me levantei para andar pela
sala.
— Bem, não posso simplesmente passar aí amanhã de manhã? — Eu
precisava de mais preparo mental para ver Grant e a casa.
— Não! — Ele praticamente gritou no meu telefone e fui levada de volta à
conversa. — Tem que ser decidido hoje à noite porque temos que fazer isso antes
do corte. — Suspeitei, mas não odeio a ideia de ter uma desculpa para ver Grant
e a casa, é claro.
— Ok, bem, posso estar aí por volta das seis e meia, você ainda estará aí? —
Ele confirmou o horário e me disse que estariam me esperando.
Coloquei uma legging e coloquei uma jaqueta jeans para cobrir minha
camisa enorme.
Parando em frente à casa, só vi a caminhonete de Grant na garagem. Desde a
última vez que estive aqui, eles pintaram o revestimento de branco, adicionaram
persianas de madeira, pintaram a porta da frente de verde-sálvia e substituíram as
calhas. Também havia paisagismo finalizado na parte inferior da casa, incluindo
cobertura morta e alguns arbustos bonitos e aparados. A casa estava quase
irreconhecível e fiquei surpresa com tudo que mudou desde a última vez que
estive aqui.
Bati na porta dos fundos antes de abri-la.
— Olá? — Ninguém estava na cozinha, e apenas uma pequena luz no
corredor brilhava. Caminhei lentamente pela casa, um pouco assustada com o
silêncio.
Houve uma perfuração repentina e alta no quarto à minha frente. Eu
empurrei a porta um pouco para encontrar Grant agachado, olhando para algum
acabamento do rodapé. Obviamente, ele não tinha ideia de que eu estava ali,
então levei um minuto para observar suas feições. Seu boné estava para trás e sua
testa estava coberta de suor, pingando no chão. Suas sobrancelhas foram
franzindo enquanto ele se concentrava em sua tarefa. Suas costas ficaram tensas.
Bati duas vezes na porta, de leve, para não assustá-lo. Seus olhos dispararam
para os meus, e ele parecia confuso, pegando um pano aleatório e enxugando a
testa.
— Ei. Eu não sabia que você estava vindo. É tarde, não é? — Eu verifiquei a
hora, e eram apenas seis e meia, mas ele sabia que era mais tarde do que eu
costumava sair.
— Beau ligou, ele disse que vocês tinham algo para eu olhar?
Grant esfregou os olhos em evidente frustração e soltou um profundo
suspiro.
— Não, eu não sabia que você estava vindo. Desculpe, ele não mencionou
isso. — Minhas bochechas coraram, envergonhada por ter vindo aqui quando
g p q q
não havia necessidade, mas eu suponho que ver Grant pessoalmente não era
exatamente um contra. Eu certamente precisaria ligar para Beau depois e
agradecê-lo.
— Ah, tudo bem. Bem, acho que vou embora, deixar você voltar ao trabalho.
— Virei as costas para ele e segui pelo corredor, me sentindo tonta por estar no
mesmo quarto que ele. — Não trabalhe até tarde. — Eu sabia que ele tinha o
hábito de passar por cima de todo mundo para distrair sua mente e, embora meu
comentário possa não mandá-lo para casa, não faria mal.
Senti sua mão envolver meu braço.
— Fique. Posso mostrar as renovações que fizemos. — Eu estava tão focada
nele que não tinha realmente olhado para o resto da casa. Meu braço queimava
onde sua mão me envolvia, minha química com ele era inegável e imediatamente
me lembrei da noite em sua casa. Olhei para ele e, a julgar por seu olhar escuro,
ele sentiu o mesmo.
— Ah, sim, eu adoraria. — Ele retirou sua mão de mim e a guardou no bolso.
Grant me guiou pela casa, mostrando onde ele havia atualizado os disjuntores
elétricos e a nova decoração. Ele me contou sobre Beau fazendo todo o trabalho
externo e os caras extras da equipe fazendo os retoques finais. Alguns meses atrás,
eu teria pulado para cima e para baixo vendo esta casa e todas as novas reformas.
Não me interpretem mal, eu ainda estava animada com isso, mas a presença de
Grant me deixou tão nervosa que mal conseguia me concentrar em meus
arredores.
Sua boca estava se movendo, mas eu não tinha ideia do que ele estava
dizendo. Eu apenas fiquei lá olhando para o movimento de sua mandíbula
enquanto cada palavra saía de sua boca. Suas mãos estavam nos bolsos de sua
calça cinza escuro suja, e suas botas de trabalho o deixavam uns bons sete
centímetros mais alto do que o normal. Fiquei surpresa por ele caber nas portas
desta casa. Os quartos são todos de bom tamanho, mas Grant os fez parecer
como se estivéssemos em um armário de casacos.
— Sabe? — Eu certamente não estava ouvindo, mas apenas acenei com a
cabeça.
— Certo. Certo. — O rosto de Grant tinha um pequeno sorriso como se ele
soubesse que eu estava fora de foco durante toda a nossa conversa. Senti o calor
subindo pelo meu pescoço e não tive dúvidas de que meu rosto estava vermelho
vivo. Afastei-me do quarto de hóspedes e voltei para a cozinha e sala de estar,
precisando de algum tipo de espaço entre nós dois.
p g p pç
Eu praticamente podia sentir o calor irradiando de Grant e, embora já tivesse
se passado uma semana desde a última vez que nos vimos, isso claramente não
afetou minha reação natural. Decidi tirar minha jaqueta jeans com medo de
entrar em combustão espontânea apenas olhando para o homem na sala.
O espaço aberto flui direto para a sala de jantar com a parede derrubada na
cozinha. Eu encostei minhas costas contra as novas bancadas de granito e senti a
superfície fria e sólida na ponta dos meus dedos. Grant parou alguns metros à
minha frente, olhando intensamente para mim da cabeça ao peito. Olhei para
baixo, percebendo que ainda estava usando a camisa dele.
Grant se aproximou, deixando quase nenhum espaço para os meus limites,
tanto fisicamente quanto mentalmente. Sua mão se estendeu para roçar a bainha
da minha camisa, que na verdade era a camisa dele. Seus olhos fitavam meu
abdômen e, embora a camisa larga fosse três números maior do que eu, eu me
sentia a garota mais bonita de Lakeshore.
— Foi uma longa semana, hein?
— Foi? Eu não tinha notado. — Quando a última palavra saiu da minha
boca, Grant imediatamente colocou as mãos no meu cabelo e seus lábios nos
meus.
Eu gemi contra sua boca, sentindo falta de seu contato na última semana me
irritando. Seus dedos se enrolaram no meu cabelo castanho e seu abdômen me
pressionou contra o balcão. Seus beijos eram tipicamente suaves, doces e
sensuais. Ele sempre tomava seu tempo comigo, certificando-se de que eu não
iria embora tão cedo.
Hoje à noite ele me pegou sem medo, como se na semana passada eu o tivesse
deixado passar fome tanto quanto a mim. Ele moveu as mãos do meu cabelo até
a minha cintura e me puxou para cima, me colocando no balcão. Eu deveria estar
pensando na poeira do local de trabalho em toda a minha legging preta limpa,
mas, em vez disso, minha mente está 100% focada em seu corpo pressionado
contra o meu. Minhas mãos trêmulas alcançaram seu peito.
— O que está fazendo você tremer como uma folha, querida? — Ele sabia a
resposta. Ele com aquelas calças estúpidas e botas de trabalho me deixou tão
excitada que eu poderia estar cega quando isso acabasse.
Ele pressionou as mãos contra a minha bunda e apertou
— Mmm. Eu senti saudades disso, Hart. Você não pode me dizer que não
estava pensando em nós todas as noites desta semana. — Eu gostaria de poder
dizer que só pensava nele à noite, mas a verdade é que ele estava gravado em
q p q g
minha mente vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, na última
semana.
Dobrando roupas, pensei em Grant.
Café com Ashley, pensei em Grant.
Fazendo o jantar, pensei em Grant.
A lista poderia continuar e continuar.
— Todas as manhãs quando eu acordei também. — A confissão escapou
quando ele sorriu contra mim e decidi tentar deixar minha ansiedade para trás.
— Não podemos fazer isso aqui. E se Beau voltar? — Grant ignorou meu
comentário e me puxou para mais perto dele de qualquer maneira.
— Ele sabia o que estava fazendo ao convidá-la aqui quando eu era o único
que restava. Se ele entrasse aqui neste momento, seria bem feito para ele. —
Quero discordar e discutir com ele, ou dizer a mim mesma que isso é temporário
e não podemos ficar juntos. Não deveríamos estar juntos.
No entanto, meu corpo estava se movendo mais rápido do que minha mente
poderia funcionar e eu estava totalmente preparada para dizer ao meu cérebro
para desligá-lo pela próxima meia hora.
Grant tirou a camisa, e eu fui presenteada com um vislumbre de seu peito
largo. Agarrei seus ombros e o puxei para mais perto, se é que era possível.
— Grant. — Eu respirei pelo nariz, segurando-o o mais forte que pude. Eu
me inclinei muito para trás e acidentalmente empurrei sua caixa de ferramentas
para o chão. Ela caiu com um estrondo alto e as ferramentas se espalharam pelo
chão. Ele riu levemente, ambas as mãos na minha cintura, e murmurou minha
frase favorita dele.
— Eu posso consertar isso.
Capítulo 23
Minhas pernas estavam doloridas e eu tinha certeza de que tinha serragem no
cabelo, mas estava mais contente e feliz do que na semana anterior. Passei a mão
em uma tentativa de acalmar meu cabelo rebelde, e Grant colocou suas mãos
sobre as minhas.
— Você está linda. — Ele sempre parecia saber o que eu pensava antes que eu
pudesse dizer uma palavra.
Eu tinha certeza que estava uma bagunça depois do que acabamos de fazer,
mas é doce que ele pense assim, então eu deixei.
Grant encontrou sua camisa e a vestiu de volta, e eu nem tentei esconder
meus olhares.
— Lembre-me de agradecer a Beau na próxima vez que o vir. — Ele riu
baixinho e voltou para mim, colocando as duas mãos em meus quadris.
Depois de um breve momento de silêncio, senti a ficha cair. Meu sorriso se
dissipou e eu queria me sentir irritada com a situação. Grant deve ter percebido
meu humor confuso porque começou a acariciar a lateral da minha têmpora
com a parte de trás do dedo indicador.
— Venha para casa comigo, Hart. Não precisamos ter tudo planejado esta
noite. — Ele estava certo, não precisávamos. Eu poderia apenas segui-lo de volta
para sua casa facilmente, e poderíamos rolar em seus lençóis até que eu
esquecesse o mundo ao meu redor. Mas eu não deveria. Eu estava apaixonada
por um homem que se recusava a ter um relacionamento comigo, e eu sabia que
quanto mais eu me doasse, mais difícil seria quando o rompimento finalmente
chegasse.
— Esta noite pode não significar nada para você, mas significa tudo para
mim. Eu gosto muito de você. — Está mais para: “Eu estou tão apaixonada por
você que passo cada minuto acordada pensando em você”. — Eu não posso ser
apenas sua amiguinha para quem você liga toda vez que quer algo físico, Grant.
Eu não faço esse tipo de coisa.
Seu rosto se transformou em tristeza enquanto ele me segurava.
— Hart, você não entende. No caso de você esquecer, eu nunca não estou
pensando em você. Você tem passado pela minha cabeça todos os dias desde que
te vi escalando aquelas estúpidas latas de tinta. Tentei ser apenas seu amigo, mas
não consigo. Não sei como ficar longe de você sempre que estamos juntos em
uma sala.
Com lágrimas ameaçando escorrer pelo meu rosto, eu balancei a cabeça, ele
estava certo. Nós gravitamos um em direção ao outro como dois ímãs, e isso
sempre seria inevitável. Eu sempre o desejaria enquanto estivesse perto dele. De
qualquer forma, ficar a última semana separados tornou isso mais aparente.
— Não sei o que estou fazendo, Hart. Não consigo ter um relacionamento
desde... — Ele se interrompeu e suspirou. — Há muito tempo. E, no entanto,
desde aquela maldita loja, tudo em que consigo pensar é em seu lindo cabelo
castanho preso entre meus dedos. Isso está me deixando louco.
Eu não tinha certeza de como reagir. Eu estava confusa e ainda incrivelmente
excitada. Eu não poderia ser forçada a tomar a decisão certa. Suas mãos
acariciaram os lados do meu rosto, proporcionando conforto através de suas
palavras.
— Olha, eu sei que está bagunçado. Eu sei. Mas, por favor, não me faça
entender tudo isso esta noite. Vamos ter apenas esta noite, só você e eu, e então...
podemos levar isso dia após dia.
Eu sabia que minha melhor opção era dizer não a ele e ir para casa, mas
minha mente estava fora do lugar, e meu coração e minhas partes femininas
estavam no controle do meu cérebro. Por outro lado, comecei a pensar no que
aconteceria quando Grant terminasse a casa na semana seguinte. Voltaríamos a
ser estranhos e fingiríamos que essa aventura nunca aconteceu? No fundo, eu
sabia que nunca poderia pensar em Grant como um estranho, sua mente estava
enrolada no meu coração e toda vez que ele estava perto de mim eu sentia que ele
ficava cada vez mais apertado. Então, se esta for minha última noite com Grant...
Eu apenas aceno com a cabeça levemente e sussurro:
— Ok.

∞∞∞
Decidi que estava tão mimada por acordar ao lado de Grant que não sabia como
voltaria para minha própria cama. Com minha cabeça em seu peito e sua mão
descansando na parte inferior das minhas costas, eu estava em completa paz.
Independentemente da nuvem sombria pairando sobre nosso relacionamento,
eu estava contente nesse momento com ele.
Eu olhei para ele, e seus olhos estavam fechados, sua boca ligeiramente
aberta. Ele trabalhou até cerca das onze da noite e nenhum de nós dormiu até
talvez duas da manhã. Virei a cabeça para a janela dele e vi que ainda estava
escuro lá fora, então devia ser cedo.
Meu cérebro começou a girar e pensar demais, e achei que seria melhor se eu
fosse embora.
Eu lentamente me desvencilhei das mãos de Grant e silenciosamente agarrei
minhas roupas e sapatos para sair pela porta. Desci silenciosamente até a cozinha
para não acordá-lo. Eu me senti um pouco culpada por não dizer nada, então
escrevi um pequeno recado no envelope de correspondência em seu balcão.
Desculpe ir embora, mas preciso fazer algumas coisas hoje e nunca consigo me
concentrar perto de você. Me mande uma mensagem.
Deixei uma carinha piscando no final da mensagem para aliviar o clima.
Deixá-lo ali parecia errado, mas era verdade, eu não conseguia focar em nada
quando ele estava perto de mim, e precisava processar algumas coisas sem que
ficássemos um em cima do outro.
Entrei no meu carro e fui para o meu apartamento apenas para perceber que
havia deixado minha bolsa na casa, então decidi parar por lá no caminho. Eu
verifiquei a hora no meu telefone e eram cinco e meia da manhã, o que significa
que nenhum dos trabalhadores deveria estar lá ainda, então me senti à vontade
para virar na minha rua.
Mas que droga. Havia um Toyota Tacoma branco na entrada. Eu sabia que
era de Beau, e tive que me preparar para enfrentar seu comentário sobre deixar
minha bolsa aqui.
O plano era entrar pela porta dos fundos silenciosamente, para que eu
pudesse entrar e sair sem ter que ouvir suas piadas sujas. No entanto, abri a porta
dos fundos vendo Beau encostado na ilha da cozinha, minha bolsa bem ao lado
dele e um sorriso onisciente em seu rosto.
Eu olhei para ele.
— Você chegou cedo.
— Touché. Você esqueceu sua bolsa ontem à noite antes de ir para o Grant,
hein? — Eu fiz uma careta para ele.
— Por que você está aqui tão cedo? — Eu sabia que Beau era geralmente o
último a chegar ao local de trabalho.
— Eu tive que encontrar alguém esta manhã para assinar uma entrega em
outro local, então vim para cá logo depois.
Eu balancei a cabeça e peguei minha bolsa, pronta para sair. Mas ele agarrou a
maçaneta e a afastou ainda mais.
— Qual é, Beau, eu tenho coisas para fazer. — Como ir para casa e recriar
tudo o que aconteceu ontem à noite em meus sonhos.
Ele riu e finalmente me entregou a bolsa.
— Agora é sério, estou feliz que você esteja com Grant. Ele está precisando de
alguém e não o vejo feliz há muito tempo. — Comecei a explicar que Grant e eu
certamente não éramos um casal, mas eu sabia como isso poderia parecer nessa
situação e não queria dar mais munição a Beau.
—Ele passou por momentos difíceis desde Emma. Apostei que ele ficaria
solteiro pelo resto da vida. O cara nunca mais tirou um dia de folga. — Emma?
Emma. Emma.
O nome soou em meus ouvidos enquanto eu tentava pensar quem poderia
ser. Ele nunca havia mencionado ninguém chamado Emma antes. Eu quebrei
meu cérebro para pensar em alguém que ele poderia ter mencionado em nossa
conversa casual, mas nada me veio à mente. Tentei manter meu rosto o mais
neutro possível.
— Certo, ok. — Respirei fundo, o silêncio no ar dizia mais que minhas
palavras. — Bem, eu vou embora. — Eu rapidamente peguei minha bolsa e saí
para o meu carro, evitando qualquer contato visual. Minha garganta estava
apertada e meus olhos não estavam mais secos.
Eu só precisava ser racional aqui. Emma poderia ser qualquer um. Uma ex,
uma velha amiga, uma prima, uma garota qualquer em uma cafeteria... a garota
das fotos? Grant fez questão de não mencionar sua vida amorosa anterior e
nunca senti a necessidade de perguntar a ele sobre isso. Quem quer que fosse, ela
era claramente a pessoa que causou uma reviravolta em sua vida.
Eu queria falar com ele sobre isso e decifrar o código, mas eu estava com três
horas de sono e minha mente não estava no lugar. Eu falaria com ele quando
chegasse o momento certo, mas por enquanto, eu só precisava ficar sozinha.
No caminho de volta, ouvi meu telefone vibrar várias vezes no banco do
passageiro, mas estava muito cansada e me senti torcida como uma toalha
molhada. Estendi a mão e coloquei meu telefone no modo avião sem verificar
nenhuma das notificações.
Eu parei no meu apartamento, estacionei na minha vaga particular, e fiz meu
caminho para o elevador, evitando Al ou qualquer vizinho de propósito. O
elevador parecia estar mais lento do que nunca, minha mente estava disparada e
eu me senti mal do estômago.
Eu me senti culpada por deixar Grant sozinho, confusa sobre quem era
Emma, sem saber se esta casa era a coisa certa a fazer. Cada pedacinho de mim
estava sendo puxado para todos os lados, e eu estava mentalmente esgotada.
Imediatamente abri meu laptop e fiz uma busca para encontrar a foto antiga
de Grant. Depois de procurar por quase dez minutos, encontrei. A foto dele, de
seus amigos e de uma garota. Emma? Eu cliquei na foto, e ela abriu um link em
tributos.com. Lá, em letras grandes:

EMMA HANSLEY, 26.

Um obituário? Meu estômago doeu e um calor subiu ao meu pescoço.


Rolei a página, havia fotos diferentes de uma linda jovem em lugares
diferentes. Uma era ela em um uniforme de vôlei, outra era dela em um canteiro
de obras com um homem mais velho ao seu lado e mais algumas vestidas para o
baile de formatura. Finalmente, no fundo estava a mesma foto que eu tinha visto
antes.
Estava escrito na parte inferior “Da direita para a esquerda: Beau Adams
(amigo), James Hansley (pai), Grant Dawes (namorado) e Emma Hansley”. Eu
tinha certeza que toda a cor havia sumido do meu rosto, e eu estava tremendo
quando vi o namorado com o nome de Grant. Com as mãos pesadas, rolei de
volta para cima e li a descrição no topo ao lado de sua foto.
“Emma Hansley, grávida, faleceu aos 26 anos.” A descrição continuou, mas
eu já tinha fechado o laptop e o joguei no lado oposto do meu sofá.
Tudo se encaixou em minha mente. Tudo fazia sentido. Porque Grant se
recusava a ficar com alguém, porque não queria um relacionamento e porque se
negava deixar alguém querer ficar perto dele. Eu me senti tão mal, calafrios
correram pelos meus braços e meus pelos se arrepiaram. Senti um aperto no
estômago e corri para o banheiro. Inclinei-me sobre o vaso sanitário, segurando
meu cabelo para trás e vomitando. Esvaziei meu estômago, mas de alguma forma
só me fez sentir pior.
p
A ex-namorada de Grant morreu aos 26 anos e ela estava grávida.
Me joguei de cara na cama e apaguei antes mesmo de trocar de roupa ou
entrar debaixo das cobertas.
Capítulo 24
Acordei com uma batida forte na porta da frente. Meu despertador mostrava
que já eram dez da manhã, que é mais tarde do que eu normalmente acordo.
Esfreguei os olhos e limpei a baba que estava na minha bochecha. Dei uma
olhada rápida no espelho e vi que ainda estava usando as leggings e a camiseta de
Grant da noite passada, meu cabelo parecia um ninho de pássaro e tinha rímel
espalhado no canto dos meus olhos. Eu gemi, desejando ter tempo para me
recompor antes de atender a porta.
As batidas barulhentas ficaram mais altas, e eu tinha certeza que meus
vizinhos me odiavam ainda mais agora. Depois que Grant “falou” com eles, eles
me evitaram como uma praga. Eu tentava fazer contato visual ou dizer oi para
eles no corredor, e eles imediatamente começavam a procurar por nada em suas
mochilas.
Abri a porta da frente para ver Grant parado ali. Ele parecia uma bagunça.
Uma bagunça gostosa, devo dizer. Sua camisa estava toda desgrenhada, e ele
ainda usava sua calça de moletom cinza da noite passada e tênis surrados
aleatórios que eu não reconheci. Ele tinha olheiras sob os olhos, e sua barba
crescendo estava reluzindo. Mesmo bagunçado, ele parecia tão bom.
Olhei para ambos os lados do corredor do lado de fora da minha porta e
sussurrei:
— Você está tentando me fazer ser expulsa daqui? — Ele não respondeu,
apenas se empurrou para dentro da minha sala.
— Você não atendeu o telefone. Mandei uma mensagem para você horas
atrás. — Sua voz era mal-humorada, mas estava alinhada com a preocupação. Eu
tinha esquecido que meu telefone estava no modo avião e não tive a chance de
verificar minhas notificações antes de dormir.
— Ah. Eu não sabia. — Peguei meu telefone e o coloquei de volta em suas
configurações normais para vê-lo explodir com mensagens de texto e chamadas
de várias pessoas, mas na parte inferior estavam as mensagens de texto de Grant.
Empreiteiro rabugento: Você está bem?
Empreiteiro rabugento: Por favor, não saia assim.

Empreiteiro rabugento: Pelo menos me diga que você chegou em


casa.

— Só vim para casa para dormir um pouco e não olhei o celular, desculpe.
Mas, claramente, estou bem. — Meu tom foi curto e seco. Eu me senti um
pouco culpada por estar tão irritada com ele. No entanto, se algum de nós fosse
questionar o outro, deveria ser eu.
Ele podia sentir a minha irritação e pegou leve comigo.
— Só quero ter certeza de que você não está... Não sei, Hart. Quero dizer,
estamos bem? — Ele parecia perturbado. Ele passou a mão pelo cabelo
bagunçado. Pode ser errado, mas fiquei consolada por ele estar tão confuso
quanto eu.
— Quando você ia me contar? — Eu poderia ter perguntado de outra forma,
mas perdi a paciência. Seus olhos estavam arregalados, e ele endureceu sua
posição.
— Não sei do que você está falando. — Ele estava se fechando. Eu podia
sentir isso, seus ombros estavam puxados para trás e sua fala era seca.
— Você está mentindo. O que aconteceu com ela é a razão pela qual você está
assim comigo? — Ele balançou sua cabeça.
— June, isso não importa. Eu sou assim. Não tem nada a ver com ela. — A
voz de Grant era áspera e mal-humorada, e por mais que eu pudesse desistir dessa
luta e continuar com a vida como se eu nunca soubesse sobre Emma, eu me
recusei a ser forçada a recuar mais. Eu já recuei de todos ao meu redor, mas não
recuaria da pessoa de quem mais gosto.
Eu levantei minha voz.
— Eu sei que muita coisa aconteceu em sua vida, e você gostaria de apenas
colocar uma máscara de babaca e passar o dia fingindo ser um idiota, para que
ninguém possa se aproximar de você. Mas eu sinto muito. Não vou deixar você
sentar aqui e negar a nós dois o amor que merecemos apenas para que você evite
coisas trágicas acontecendo com qualquer um de nós.
Ele olhou através de mim. Eu me aproximei dele, colocando minha mão em
seu antebraço para dar algum conforto, mas ele se recusou a me olhar nos olhos.
Suavizando minha voz, eu disse:
— Grant. — Minha voz estava trêmula. Eu nunca tinha visto Grant tão
fechado, e meu coração parecia estar afundando a cada minuto. Peguei minha
mão e coloquei em sua bochecha direita. — Por favor, apenas olhe para mim. —
Seus olhos finalmente encontraram os meus, e uma lágrima rolou pelo meu
rosto.
Ambas as mãos seguraram meu rosto e ele enxugou as lágrimas que
escorriam pelo meu queixo. Inclinei minha cabeça em sua mão, sua pele estava
quente e me aconcheguei mais nele. Eu queria estar lá por ele… queria ajudá-lo
com suas cicatrizes dolorosas, mas nunca tive uma chance.
Como vou consertar algo que nem sei que está quebrado?
— Você pode, por favor, apenas falar comigo? Acho que não aguento mais
ficar nessa área cinzenta com você. — Ele ficou em silêncio, mas, depois de um
minuto, acenou com a cabeça.
Nos acomodamos no sofá. Nós dois nos apoiamos como se não pudéssemos
nos manter completos por conta própria. Coloquei minha cabeça em seu peito e
ouvi seu batimento cardíaco acelerado através do tecido fino de sua camisa.
— Você não tem que me contar tudo. Eu só preciso entender o que você está
pensando.
— Não sei por onde começar. Faz muito tempo que não falo sobre isso, e
eu… — Ele parou, com a respiração profunda e trêmula. Coloquei minha mão
sobre a dele, acariciando seus longos dedos.
— Eu mencionei o cara que me contratou quando eu era jovem. Trabalhei
com ele por quase dez anos. — Eu balancei a cabeça. — Ele tinha uma filha...
Emma. Ela e eu nos tornamos bons amigos e inevitavelmente acabamos juntos.
Nós dois éramos tão jovens e irresponsáveis. Ela era uma ótima amiga, e eu era
apenas um idiota abandonado. Ela era muito gentil comigo, e eu não a merecia.
Eu não merecia…
A voz de Grant falhou, e sua cabeça estava apontada para baixo em seu colo,
o cabelo cobrindo os olhos.
— Nós dois éramos tão burros, e ela era a pessoa a quem eu sempre podia
recorrer, e quando ela tinha vinte e cinco anos, descobrimos que ela estava
grávida. Estávamos nervosos, mas eu estava animado. Eu era apenas uma criança
burra. Eu mal tinha dinheiro, eu dependia da minha irmã para ter um lugar para
morar. Até comprei roupas de bebê. — Eu coloquei minha mão em seu cabelo,
tentando o meu melhor para fornecer conforto, mas eu estava em prantos, e
meus ruídos fungando deviam ser uma distração.
Ele limpou a garganta.
— Ela, hum. Ela estava grávida de apenas três meses e, hum... — Ele
engasgou e eu mal aguentei, talvez isso fosse uma má ideia. Eu estava
pressionando Grant a falar sobre algo para o qual ele claramente não estava
pronto, e tive que sentar aqui e assistir seu coração partido em troca.
— Grant, você não precisa terminar.
Ele balançou sua cabeça.
— Não, está tudo bem. Quando ela estava grávida de três meses, tivemos
uma discussão feia. Ela disse que queria se mudar para cá para ficar mais perto de
sua família, mas eu disse que deveríamos ficar. Ela estava tão brava comigo e saiu
com tanta pressa. Esperei por ela por horas. Eu mandei uma mensagem e liguei
tanto para ela e nunca recebi uma resposta. Achei que ela estava tão brava que foi
para a casa dos pais, então dirigi até lá. Quando eles disseram que não a tinham
visto, nós dirigimos para todos os lugares. Era por volta da meia-noite quando
alguém encontrou o carro dela em uma vala. Quando ela estava dirigindo, ela
estava tão chateada e chorando muito que virou o carro muito forte e ele
capotou. Ela ficou presa onde ninguém poderia vê-la, a menos que você estivesse
muito perto. Os paramédicos fizeram o possível, mas disseram que ela estava lá
há horas… — Sua voz estava tão quebrada, e minhas lágrimas estavam pingando
na minha perna.
Este homem passou por traumas suficientes em um dia para toda a vida, e lá
estava eu, fazendo-o revivê-lo.
— Eu sinto muito. Eu nunca deveria ter perguntado. Sinto muito. Eu só… —
Eu mal conseguia pronunciar qualquer palavra, estava tão emocionada. Eu guiei
seu rosto para mim. Seus olhos estavam vermelhos e suas bochechas e pescoço
estavam ficando rosados. — Você não tem que terminar. Eu não vou perguntar
mais. Estou aqui, não vou a lugar nenhum. — Coloquei sua cabeça no meu
peito e sussurrei pequenas palavras de conforto em seu ouvido até que ambos
nos acalmássemos o suficiente para falar.
— A vida que eu tinha já foi arrancada de mim. Não consigo ver isso
acontecer com mais ninguém. Especialmente você. — Sua enunciação do “você”
atingiu meu coração, e eu mal pude aguentar. — Eu me recuso a me colocar
nessa posição novamente. Se você e eu... estivéssemos juntos e acontecesse de
novo, eu não sobreviveria nem mais um dia.
Sentei-me e coloquei minha mão em seu peito, olhando para cima para
encontrar seus olhos e balançar a cabeça.
— Grant. Prefiro viver apenas um dia para te amar do que um milhão de
anos sem você na minha vida. — Ele balançou a cabeça e se levantou, me
deixando sozinha no sofá.
— Você não entende, Hart. Eu não vou ficar com você. Eu não vou fazer isso
de novo. — Ele esfregou os olhos, como sempre fazia quando estava frustrado.
— Eu conheço você, Hart. Eu sei que você quer casamento, filhos, uma longa
entrada para uma grande casa branca, é isso que você merece. Eu não sou o cara
para dar isso a você, ok? Preciso que você entenda isso.
Levantei-me ao lado dele.
— Eu não preciso de tudo isso imediatamente. Estou ocupada com trabalho
e voluntariado, não preciso ter tudo isso agora. Nós podemos fazer isso
funcionar, não desista só porque você está com muito medo.
Eu entendi o que ele quis dizer. Tudo se encaixou e fez sentido. Por que ele
lutou tanto, por que insistiu em sermos apenas amigos, por que toda vez que
estávamos tão próximos, ele me afastou, por que acabou nesta cidade
abandonada de qualquer maneira.
Eu podia senti-lo se distanciando cada vez mais. Seu silêncio em resposta à
minha explosão foi a quietude mais desconfortável que já senti.
Quando sua resposta veio, foi fria, afiada e amarga.
— Pare de agir como se você entendesse. Você não entende. Você não tem
ideia do fardo de saber que foi a causa da morte de alguém. A culpa que tenho
por ela é grande demais para eu estar com você.
E, de repente, desejei que o silêncio desconfortável voltasse. Eu precisava que
ele dissesse qualquer coisa diferente disso.
Eu era uma garota racional. Eu sabia que ele estava me afastando de
propósito, que na verdade ele não queria dizer que não queria ficar comigo. Isso
não impediu a dor no peito e a dor nas palmas das mãos.
Eu estava de costas para ele, não querendo dar a ele o prazer de ver as lágrimas
que rolaram pelo meu rosto.
— Eu disse a você desde o começo o que era isso, e você disse que estava tudo
bem. — Sua voz soava como cacos de vidro entrando pelos meus ouvidos.
— Sim, bem, eu entendo agora. Você pode sair.
Eu não ia ganhar essa discussão esta noite, e eu poderia aceitar isso. Se ele
quisesse espaço, eu daria a ele.
Grant saiu hesitante do meu apartamento, deixando-me em uma poça de
lágrimas e dúvidas.
Capítulo 25
Qual é a fórmula perfeita para um coração partido?
Whitney Houston + Ashley + Sorvete no café da manhã = quase curado.
Foi assim que acabei no chão da minha sala, ouvindo I Will Always Love You
– Eu Sempre Vou Te Amar – e com uma colher de sorvete de massa de biscoito
de chocolate na boca.
Eu tinha minha cabeça deitada no tapete e meus pés apoiados no sofá,
cantando a letra que cantei nas últimas quatro repetições da mesma música.
E Ashley, sendo o anjo que ela era, deitou ao meu lado, devorando
sobremesas e ouvindo cada frase emocionante que saía de mim. Ela acariciava
meu cabelo comprido e me dizia todas as coisas que eu queria ouvir.
O telefone dela estava explodindo do outro lado da sala, e tenho certeza que
era tudo de Beau. Mas em vez de ficar colada a ele, ela ficou ao meu lado e se
certificou de que eu não estava sozinha.
— Talvez ele só precise de um tempo, Junezinha.
Eu balancei a cabeça e funguei.
— Ou talvez ele simplesmente não me queira o suficiente. — Minhas
próprias inseguranças estavam tirando o melhor de mim.
— Vamos lá, você sabe que não é isso. Eu vi como ele olha para você, e não há
como ele simplesmente não querer você.
Isso é o que eu teria pensado também. Pensei em todas as coisas que ele fez e
disse, a maneira como ele me segurou, como ele dançou comigo, nada disso
sugeria que Grant simplesmente não me queria. Mas eu não tinha me
comunicado com ele há dias, e meu cérebro estava agitado pensando em todas as
possibilidades.
Enfiei outro pedaço de sorvete de massa de biscoito na boca e aumentei o
volume dos alto-falantes.
— Bem, pense desta maneira. Vocês vão ter que se enfrentar mais cedo ou
mais tarde. Tudo o que ele precisa fazer na casa é terminar de pintar e colocar os
acabamentos e depois os retoques finais. Então, ou você terminará
completamente com ele dentro de um mês ou terá que conversar sobre isso.
Eu nem tinha pensado muito na casa ultimamente. Ashley estava certa.
Nesta fase da casa, Grant estaria terminando no final do mês e eu estaria pronta
para me mudar.
Mas depois disso…?
Depois que ele terminasse a casa, realmente não teríamos mais motivos para
nos ver.
O telefone de Ashley continuou a vibrar alto do outro lado da sala.
— Estou bem. Você pode responder, você sabe.
Ela me deu um sorriso de desculpas e foi pegar o dispositivo. Ficou claro que
Beau não parava de enviar mensagens para seu telefone, a julgar pelo sorriso
tranquilo em seu rosto enquanto ela olhava para a tela.
— Beau era amigo dela também. Ele alguma vez pareceu chateado ou
mencionou alguma coisa sobre ela?
Ashley balançou a cabeça e olhou para longe, pensando.
— Ele só a mencionou depois que eu perguntei a ele sobre isso. Ele disse que
tudo que Grant fez foi trabalhar depois e disse que não fez sequer uma pausa.
Mesmo nos feriados, ele trabalhava direto.
E foi aí que eu me dei conta. Ele nunca fez uma pausa. Ele nunca se permitiu
sofrer. Tive uma ideia e mandei uma mensagem para Grant pela primeira vez em
dias.
Eu: Eu preciso ver você.
Capítulo 26
A ansiedade de Grant devia ser tão alta quanto a minha, porque ele
imediatamente respondeu minhas mensagens e disse que vinha me buscar.
Quando abri a porta do meu apartamento para ver sua figura alta em pé no
batente, não deveria ter ficado surpresa por ele estar em suas roupas de trabalho.
Manchas de sujeira se espalharam nas dobras de suas mãos e seu cabelo estava
enfiado em seu boné favorito. Ele usava minhas calças favoritas que estavam por
dentro de suas botas de trabalho sujas:
— Oi. — Minha voz era apenas um sussurro, com muito medo de falar mais
alto.
— Oi. Posso entrar?
Abri mais a porta para deixar seu corpo grande entrar na minha sala de estar.
— Olha, Hart. Desculpe. Eu não deveria ter me irritado tanto com você. —
Eu balancei minha cabeça e levantei a mão para gesticular para ele ficar quieto.
— Não, na verdade eu queria me desculpar, eu te forcei a falar sobre algo que
não era da minha conta, e me desculpe.
Grant deu um passo para mais perto de mim, o ar entre nós espesso.
— Eu estava pensando em tudo e percebi que já se passaram dois anos desde
que ela faleceu e você não tirou um dia de folga. — Ele não tinha uma resposta
para mim ou não queria falar, mas continuei de qualquer maneira. — Beau disse
que você trabalha nos feriados, aniversários, fins de semana. Você nunca se
permite um segundo apenas para não trabalhar.
Ele encolheu os ombros para mim como se não fosse grande coisa.
— Eu simplesmente gosto do meu trabalho. Não preciso fazer mais nada
paralelamente. — Olhei para ele, não querendo perdê-lo de vista.
— Grant. Ajuda um pouco aqui, vai. — Sua atitude teimosa não iria ajudar
minha situação.
— Eu não sei o que você quer ouvir de mim, Hart. Não vou ser quem você
quer que eu seja e não vou me colocar na mesma posição novamente.
Ele estava falando sério… ele realmente não achava que conseguiria. A pior
parte era que eu conhecia Grant e sabia o quão forte e capaz ele era. Não seria
fácil, mas seria melhor do que perder um ao outro.
— Acho que você precisa ir embora.
Ele assentiu e se virou para sair, mas eu agarrei sua mão.
— Não. Quero dizer para longe de Lakeshore. Você precisa sair da cidade,
clarear a cabeça e deixar seus projetos para Beau e os outros caras. Talvez vá ficar
com Lily. Você só precisa clarear as ideias, Grant. Tudo o que você faz é
trabalhar. Você nem mesmo se permitiu sofrer.
Ele soltou um suspiro frustrado.
— Isso não vai mudar as coisas. Eu tentei deixar isso para trás, mas isso não
muda o fato de que tenho a possibilidade de perder você.
— Pode não mudar. Mas você precisa fazer isso por si mesmo. Você está tão
preso na negação e no medo que não consegue superar seu passado. Você sempre
quer consertar algo para alguém, mas você nunca teve tempo para consertar o
que há dentro de você.
Ele ficou em silêncio durante o meu discurso, sem encontrar meus olhos.
— Por favor. Vá tirar um tempo para se resolver. Estarei aqui. Vou esperar
por você, o tempo que for preciso. Não importa o quão assustado você esteja, eu
te amo, Grant. E eu não vou desistir de nós. Então, tire um tempo e volte para
mim quando estiver pronto.
Ele suspirou e beliscou a ponta do nariz.
— O que vai acontecer se eu for? Será que tudo se consertará mágicamente?
Há uma razão para eu não descansar, nada de bom vem de eu estar sozinho com
meus pensamentos.
Eu dei de ombros.
— Eu não sei qual é a resposta, Grant. Mas eu sei que se você não se deixar
descansar, vai sofrer de esgotamento até não sobrar nada. Eu quero o Grant que
me leva aos campos de flores e sussurra coisas fofas em meu ouvido. Não aguento
o Grant que finge que me odeia ou não presta atenção em ninguém. Pode não
resolver nada, e se você voltar e decidir que nada mudou, eu aceitarei. Vou
admitir que você estava certo e deixá-lo sozinho. Mas quanto mais você adiar isso,
mais difícil será.
Lágrimas escorriam lentamente pelo meu rosto e eu o senti relaxar com o
meu discurso. Grant me puxou para um abraço, seu queixo apoiado na minha
cabeça com minhas mãos em seu peito.
— Ok, Hart. Se isso significa tanto para você, eu farei isso. — Apertei-o com
força em torno de seu torso.
ç
— Tudo bem se você não estiver aqui para mim quando eu voltar. Não pare
sua vida. — Eu olhei para ele. Esta foi provavelmente a pior forma em que eu
estava olhando para ele, mas ele olhou para mim como se eu fosse a garota mais
bonita que ele tinha conhecido.
Ele se abaixou para me beijar, foi curto e doce. Seus lábios pressionaram
levemente contra os meus, não me deixando longe. Eu poderia dizer que era um
beijo de despedida, e fiz uma oração silenciosa para que não fosse o nosso último.
Grant se afastou de mim e deu um passo para trás, olhando para mim e meu
apartamento uma última vez.
— Eu voltarei para você, Hart.
Capítulo 27
JUNE
2 MESES DEPOIS

O verão estava quase acabando.


Estava chovendo muito hoje, e quando procurei no meu apartamento pela
minha capa de chuva, não a encontrei. Presumi que estivesse em uma das caixas
empilhadas até o teto no quarto de hóspedes, então dei de ombros e decidi que
não valia a pena separar.
Cliquei no meu telefone para obter o contato de Ashley, para ver se ela me
encontraria em casa hoje.
— Olá, Junezinha! — Sua voz estava extremamente entusiasmada esta
manhã, e eu apostaria que tinha algo a ver com Beau. Eles estavam juntos há
quase três meses e ultimamente eram inseparáveis. Eu sentia mais falta de ver
minha melhor amiga, mas também estava feliz por ela ter encontrado alguém
que era tão louco e hiperativo quanto ela.
— Ei, você vai lá na casa hoje? — Eu a ouvi fazer um estalo com a língua,
seguido por um longo suspiro.
— Não, me desculpe, amiga. Beau e eu planejamos ir para a cidade hoje. Mas
posso passar lá amanhã, prometo!
Escondo minha decepção.
— Isso é bom, eu só estava verificando. Falo com você mais tarde. — Nos
despedimos e deixei a conversa da melhor forma que pude. Só porque Grant não
estava aqui não significava que Ashley precisava ser tão infeliz quanto eu.
Vesti minhas roupas de pintura e saí para o meu carro. Saí da minha vaga de
estacionamento e dirigi até a casa da vovó. O exterior estava terminado e parecia
incrível. Beau mandou os paisagistas adicionarem os toques finais de cobertura
vegetal escura e canteiros de flores à propriedade frontal e lateral.
Desde que Grant foi embora, eu disse a Beau que sua equipe só podia
administrar as coisas que eu sabia que não daria conta. Eu estava cansada de
depender dos outros e senti a necessidade de provar meu valor terminando o que
Grant havia começado. Hoje foi dia de pintura. Eu tinha um escritório que seria
todo branco, com exceção de uma parede de destaque que seria um quadro verde
escuro e uma parede de painéis. Combinava perfeitamente com a minha mesa de
madeira e adicionava um toque masculino suficiente, então todos os meus itens
cor-de-rosa não sobrecarregavam a sala.
Até agora, eu tinha pintado quase toda a casa sozinha, exceto por Ashley me
ajudando na sala de jantar. Eu não era a melhor pintora que existia, tenho certeza
que se Grant estivesse aqui, ele poderia ter lidado com isso muito melhor. Suas
mãos habilidosas e firmes dariam a esses cantos algumas linhas bem definidas.
Mas eu não era tão ruim. Levei mais tempo do que havia planejado, mas me senti
bem sabendo que havia colocado meu próprio esforço na casa.
Liguei meu telefone ao alto-falante e toquei minha playlist de pintura em
segundo plano. Coloquei a tampa de plástico em minhas madeiras antigas
recondicionadas e prendi com fita adesiva ao longo da sala. Ontem prendi a
tábua e a ripa na parede e, agora que teve tempo de assentar depois de lixada,
estava pronta para começar.
Usei um pincel angular para fazer linhas nítidas e suaves na madeira. Por mais
que eu tentasse, sempre conseguia me sujar inteira – desde o cabelo até entre as
unhas, e nas roupas. Mas, honestamente, fiquei animada, sabendo que a sujeira e
a tinta mostravam que um bom dia de trabalho havia terminado quando cheguei
em casa. Agora que não tinha mais trabalho voluntário para o verão, passava a
maior parte do tempo em casa terminando todos os projetos de última hora. Na
semana passada, até troquei uma luminária sozinha! Bem, Ashley me guiou. Mas
eu estava tão orgulhosa de mim mesma.
Estar na casa era a única maneira de me sentir conectada a Grant. Eu pensava
nele onde quer que fosse, mas o fantasma dele andava por esta casa comigo
enquanto eu trabalhava.
Eu o via nos armários que ele instalava, ou na nova textura de cada teto, até
mesmo nos azulejos estúpidos que eu nunca conseguia tirar. Ele estava preso a
esta casa como estava preso ao meu coração, e de alguma forma eu estava com ele
quando estava aqui. Eu não tinha ouvido falar dele desde o dia em que ele saiu
do meu apartamento. Eu chorei por cerca de uma semana seguida antes que
Ashley colocasse algum bom senso em mim. Literalmente.
Ela se cansou de me ver assistir comédias românticas cafonas e gritar com a
TV enquanto comia mais brownies do que um humano deveria consumir em
um dia… Depois de uma semana fazendo isso, ela quase derrubou minha porta e
p q p
me disse para me levantar e ser útil. Na época, não gostei, eu senti que merecia
tempo para superar Grant. Mas, olhando para trás agora, era exatamente disso
que eu precisava.
Desde então, tenho vindo para a casa todos os dias. Trabalhando no quintal,
pintando, dando alguns retoques aqui e ali. Eu até construí uma pequena lareira
com blocos de concreto nos fundos. Foi uma grande distração, mas nada o fez
sair da minha mente.
Eu não tinha certeza de como seria capaz de me mudar para esta casa,
sabendo que cada fibra deste lugar estava cheia de Grant. Eu realmente não tinha
nem processado a ideia da mudança ainda. Eu tinha quase todas as minhas coisas
embaladas e prontas para ir, mas não consegui me obrigar a mover nada aqui. A
casa estava quase completamente terminada e eu não trouxe um único item
pessoal. Eu nem estava mais animada para me mudar.
Eu tinha uma culpa avassaladora por costumar andar por esta casa, pensando
em vovó e em toda a sua personalidade peculiar, e agora tudo em que pensava era
no meu Grant.
Eu sabia que ele e Beau estavam conversando. Toda vez que nós três
estávamos saindo e o telefone dele tocava, ele saía da sala. Foi melhor assim. Se eu
ouvisse a voz de Grant pelo telefone, não sabia o que faria. Provavelmente iria
rastreá-lo e implorar para que ele voltasse para casa. Mas onde quer que ele
estivesse e o que quer que estivesse fazendo, era a coisa certa.
Grant precisava de tempo e espaço, ele nunca se permitiu sofrer, e eu
esperava que ele finalmente estivesse conseguindo um desfecho. Eu tinha
pensamentos duvidosos sobre o que aconteceria se ele nunca mais voltasse, ou se
ele encontrasse outra pessoa. Isso sempre deixava meu estômago enjoado e minha
pele arrepiada. Mas no fundo da minha mente, eu sabia. Eu sabia que Grant
voltaria para casa, para mim um dia.
Podia ser amanhã ou daqui a três anos, mas ele voltaria. E eu estaria aqui para
ele quando o fizesse.
A música que eu estava tocando parou de repente e ouvi meu telefone tocar.
Limpei minhas mãos cobertas de tinta, fazendo uma oração silenciosa para que
fosse Grant quem estava ligando. Eu me abaixei e virei meu telefone para cima.
Mãe. Eu suspirei, mas respondi.
— Bom dia. — Meu tom era seco e provavelmente soava rude, mas ela vinha
abusando da minha paciência ultimamente desde que descobriu que a casa
estava quase terminada.
q
— Bom dia, June. Eu me perguntei se você iria me ligar. — Curiosidade, eu
não ia.
— Desculpe, eu estive ocupada com a casa e tudo. Estou quase terminando
agora, devo terminar neste fim de semana se você quiser vir e ver. — Ninguém da
família tinha visto a casa desde a entrega da propriedade, onde andavam
reclamando do cheiro e de como era feia.
— Acho que estamos ocupados neste fim de semana. Seu pai tem uma
conferência no clube que precisamos fazer uma aparição. — Suspirei e removi a
tinta seca na minha perna.
— Ok. Eu gostaria que você a visse pessoalmente algum dia. — Eu a ouvi
sussurrando ao fundo e tive certeza de que ela estava contando a meu pai o que
eu acabara de dizer.
— Bem, June, na verdade estávamos ligando para perguntar se havia alguma
foto ou arquivo antigo na casa. Eu preciso pegá-los antes de você vendê-la, por
via das dúvidas. — Era como falar com uma parede de tijolos. Eu poderia gritar e
gritar o dia todo quais eram minhas decisões, mas no final do dia, tudo que eu
seria para ela era uma criança.
— Mãe. Eu não posso continuar fazendo isso. Por favor, entenda. Estou me
mudando para esta casa porque a amo. Ela me lembra vovó e não posso desistir.
Ela deu um suspiro alto e disse:
— Isso é sobre vovó ou sobre aquele menino da construção que você está
saindo?
Se eu revirasse os olhos com mais força, eles cairiam da minha cabeça. Ela
tinha pouco conhecimento sobre Grant e o estava julgando com base em seu
cargo. Ela nunca tinha conhecido o cara e rapidamente torceu o nariz para ele.
— Isso não tem nada a ver com Grant. Estou terminando a casa sozinha, e ele
não é um fator decisivo em nada disso.
Ela fez um comentário baixinho sobre o aumento dos valores das
propriedades.
— Bem, June, lembre-se de que você sempre tem aquele corretor de imóveis
que seu pai e eu usamos.
Ela havia me enviado o número da imobiliária pelo menos uma vez por
semana e não estava mais sendo sutil sobre seus desejos. Me despedi e desliguei o
telefone. Peguei meu pincel e continuei o trabalho que comecei.
Minha mente disparou sobre o que ela disse sobre Grant. Eu nem havia
pensado em vender a propriedade, independentemente de suas muitas tentativas
p p p p
de me convencer. Mas agora que eu estava quase terminando e está quase pronto,
eu quero morar aqui?
Foi difícil trabalhar aqui sem Grant, mas morar aqui? Como eu poderia viver
neste espaço sem ele perto de mim? Os pensamentos de dormir, tomar banho,
cozinhar aqui, tudo isso eu imaginei com Grant ao meu lado. E agora, era só eu.
Eu nunca me senti sozinha sem um colega de quarto antes. Eu vivi sozinha por
anos, e esta foi a primeira vez que esse pensamento me incomodou.
Olhei para o contato que minha mãe havia enviado para mim.
Magnólia do Sul Imóveis.

Eu me senti mal, mas sabia o que precisava ser feito neste momento.
Capítulo 28
Os corretores de imóveis do escritório eram gentis e experientes. Eu não queria
exatamente estar lá, mas eles tornaram tudo o mais fácil possível. Havia quatro
mulheres no escritório e cada uma delas tinha um papel separado no processo.
Na manhã de segunda-feira, terminei a casa e havia uma placa no quintal.
Tudo em mim me dizia para não fazer isso. Para continuar esperando por Grant
tendo certeza de que ele iria aparecer, e um dia seria nossa casa juntos.
Mas a realista em mim sabia que não ia funcionar. Grant certamente voltaria
um dia. Eu sabia disso sem dúvida. Mas suponho que esta casa nunca deveria ser
minha. Eu senti como se tivesse decepcionado vovó, mas eu não poderia
administrar a casa sozinha, e certamente não poderia me mudar sem ter Grant
comigo.
Na manhã de quarta-feira, tínhamos várias ofertas superfaturadas, e as
garotas do escritório me orientaram sobre isso. Aceitei uma sem olhar nomes ou
letras, eu não queria saber quem pegou. Achei que seria mais difícil saber quem
moraria lá e quais eram seus planos.
Quando Ashley me ligou naquela noite, eu não estava exatamente com
vontade de falar com ninguém. Mas eu também não estava com vontade de ficar
de mau humor sozinha. Eu a coloquei no viva-voz enquanto navegava pelo
Pinterest. Ela me contou sobre diferentes partes de seu dia, mas minha mente
não conseguia se concentrar nela. Passei o mouse sobre uma foto do estilo de
corte de cabelo de uma jovem.
— Você acha que eu deveria ter franja? — Minha voz monótona
interrompeu tudo o que ela estava dizendo.
— Meu Deus, isso é pior do que eu pensava. Eu estou indo aí
imediatamente. Não se aproxime de uma tesoura ou tintura de cabelo agora.
Foi assim que acabei com Ashley e Beau em uma mesa no Jaded. Embora
houvesse quatro cadeiras à mesa, Ashley estava sentada no colo de Beau. De vez
em quando, ele sussurrava algo em seu ouvido que a fazia rir, e eles sorriam um
para o outro como se eu nem estivesse aqui.
Era fofo. Isso me lembrou de Grant e eu antes de ele partir. Tomei um gole
da cerveja à minha frente. O gosto era horrível e eu não era fã de cervejas
artesanais, mas depois que Ashley me deu um discurso retórico sobre como elas
são subestimadas, eu teria feito qualquer coisa para ela parar de gritar no bar.
Eu brinquei com o adesivo da minha cerveja, me distraindo do lindo casal
sentado ao meu lado.
Ashley apontou para o grupo de rapazes no bar e disse:
— Por que você não vai até lá e faz com que eles flertem com você? Talvez
você só precise de alguma interação masculina.
Beau a cutucou levemente e balançou a cabeça negativamente.
Eu ri de sua interação fofa.
— Não estou interessada, Ash. Mas obrigada. — Ela sabia que eu esperaria
por Grant, não importava quanto tempo ele demorasse. Dois outros caras me
procuraram, um estava trabalhando para Beau, mas ele rosnou para ele antes que
eu pudesse dizer não. E o outro era o novo professor assistente da escola, que
recusei educadamente.
Geralmente era assim que nossas noites livres aconteciam. Quando nós três
estávamos de folga, sempre acabávamos no Jaded ou no Betty's. Eu sentia como
se estivesse sempre de vela, mas eles nunca pareciam se importar, e Ashley me
convidava quase todas as vezes.
Foi bom vê-los, mas sempre que eu estava perto de Beau, tudo que eu
conseguia pensar era no meu amado empreiteiro, que estava longe de mim.
Terminei o resto da minha bebida e decidi voltar para o meu apartamento. Os
carinhos e beijos doces deles eram mais do que eu poderia suportar, e se eu não
fosse embora logo, eu tinha certeza que ele iria deitá-la na mesa. Ashley me deu
um abraço de boa noite e Beau se despediu rapidamente.
Voltei para o apartamento para terminar de desfazer as malas. Eu me senti tão
estúpida por ter tudo encaixotado apenas para desempacotar. Meu estômago
revirou com o pensamento de que meus pais estavam certos o tempo todo. Eu
realmente não consegui terminar a casa e me mudar. Não fui capaz nem de levar
uma única caixa para lá, muito menos tentar morar.
Quando o doce corretor de imóveis me disse o preço que eu conseguiria pela
casa, pensei que pelo menos ficaria animada. Mas, pelo contrário, isso me deixou
mais chateada. A quantia de dinheiro que eu receberia com essa oferta
ridiculamente alta era inconcebível e eu a queria fora de vista.
Ouvi um zumbido e vi meu celular acendendo com o contato da minha mãe
novamente. Ela ligou várias vezes desde nossa última discussão, e naquele
momento me senti muito sozinha para não atender.
— Oi mãe. — Eu tentei o meu melhor para não soar entediada e desesperada.
— June, eu te devo um pedido de desculpas. — Quase engasguei com a
minha surpresa.
— Sua amiga, Ashley, me deixou uma mensagem de voz bem longa outro
dia. E embora eu não tenha gostado do palavrão, ela me contou o quanto você
passou com esta casa. Eu sei que você acha que conhece toda a história, mas eu
disse que há mais nisso do que você pensa.
Fiquei em silêncio esperando que ela explicasse o que estou perdendo.
— Você sempre foi mais próxima da sua avó do que de mim. Toda vez que eu
tinha folga, tudo o que você queria era ir até lá. Era como se ela fosse sua mãe e
eu fosse uma parente distante que nunca poderia chegar perto o suficiente. Eu
tentava encontrar o caminho até você, comprava aqueles conjuntos de tintas ou
mandava aqueles novelos de lã que você tanto gostava. Mas no final do dia, eu
não chegava aos pés dela. Você deveria ser meu bebê, eu deveria ter você só para
mim. Você foi minha primeira garota e por mais que eu ame seus irmãos, você
sempre foi aquela que eu queria que estivesse mais perto de mim. Depois que
você começou a ser mais de sua avó do que minha, não pude deixar de ficar com
ciúmes. Acho que depois que ela se foi, pensei que se você vendesse a casa, seria
rompido seu último laço com ela. E você finalmente seria minha.
Eu não tinha certeza de como responder. Nunca pensei nisso dessa forma, ela
pode ter me comprado algumas coisas aqui e ali, mas dar presentes nunca foi
minha linguagem de amor ou o caminho para o meu coração. Sempre presumi
que ela priorizava o trabalho antes de mim. Quando eu não respondi, ela
continuou.
— Eu sei que você trabalhou duro na casa, embora ele tenha feito a maior
parte do trabalho. Você durou mais do que eu teria. Você merece aquela casa, e
eu sei por que ela deu a você. Você sempre foi a apaixonada e criativa da família.
Eu deveria saber que você transformaria aquela casa em um lar dos sonhos...
Minha resposta foi tranquila.
— Na verdade eu…
Ela me interrompeu antes que eu tivesse tempo de terminar meus
pensamentos.
— Não, sério, June. Fazemos esses comentários porque não entendemos a
vida que você leva, mas isso não nos torna melhores do que você. Nossos
trabalhos são muito diferentes dos seus, mas um não é mais valioso que o outro.
Você precisa daquela casa porque vovó sabia que seria você quem cuidaria dela e
a amaria.
Essa foi a minha sorte. Quando desisti de mim mesma, ela finalmente me
aceitou. Ela disse todas as palavras que eu precisava ouvir desde criança. Ela
estava me dando a confirmação de que eu precisava e de que eu era mais do que
uma professora insignificante. Ela me disse que eu tinha mérito, mas aqui estava
eu, vendida por uma casa simplesmente porque toda vez que eu estava nela,
pensava em um homem que era incapaz de estar comigo. Deus, eu era patética.
Incapaz de falar, sentei-me no chão do meu quarto em silêncio.
— June, você ainda está aí? — Olhei para o nada, me sentindo entorpecida.
— Sim. Obrigada por isso. Só é muita coisa. Eu preciso ir, mas eu realmente
aprecio tudo isso. Falo com você em breve, prometo. — Minha garganta estava
rouca e presa enquanto nos despedíamos.
Fiquei em um estado de dormência e comecei a abrir lentamente cada caixa
em meu quarto de hóspedes, espalhando minhas pilhas no chão. Eu tinha apenas
algumas caixas, mas não conseguia descobrir onde colocar minhas coisas.
Eu estava no meio do caminho. Eu não pertencia à grande casa branca com
Grant, e não pertencia a este apartamento frio e escuro sozinha. Eu era um
acessório em meu próprio espaço, sem casa para pertencer. E pela primeira vez
desde que Grant partiu, me permitir chorar. Puxei a camisa dele do topo da pilha
de roupas e a segurei no chão até adormecer, com lágrimas cobrindo minha blusa
favorita.
Capítulo 29
Eu tinha evitado vir aqui por mais de dois anos. Estacionei ansiosamente meu
carro no estacionamento vazio e caminhei com flores na mão. Elas não eram
muito bonitas, na verdade. Eu apenas escolhi aleatoriamente flores silvestres que
encontrei na estrada. Então, novamente, ela mesma era uma flor silvestre.
Atravessei cuidadosamente as fileiras de lápides, procurando a que mais
importava para mim. Quando encontrei o terreno com grama bem cortada e um
vaso vazio, acelerei minha caminhada.
Coloquei minhas flores silvestres em seu vaso e me sentei perto dela. Eu não
tinha visitado o túmulo de vovó desde seu enterro. Sempre acreditei que, uma
vez que ela fosse enterrada, encontraria partes dela na casa, nas flores na minha
mesa ou em uma daquelas caixas de Little Debbie9 velhas que ela costumava
comer. Mas eu a havia perdido de vista e estava desesperada por qualquer
orientação.
Olhei ao meu redor, verificando se havia outras pessoas tristes também por
perto. Quando vi que não havia ninguém, falei baixinho.
— Oi, vovó. Sinto muito, já faz um tempo. Eu não estava tentando evitá-la,
mas acho que precisava do meu próprio tempo também.
Narrei em voz alta minha jornada durante a primavera e o verão deste ano,
contando a vovó cada pedaço de sua casa e de Grant. Eu contaria a ela meus
pensamentos e sonhos para o futuro e como esperava que meu homem
rabugento voltasse um dia.
Eu não tinha certeza de quanto tempo fiquei lá, conversando com uma
lápide com Elizabeth Hart escrita nela. Mas eu sabia que não havia outro lugar
onde eu precisasse estar, então falei até quase não ter mais nada a dizer.
— Eu não sabia que mamãe sempre esperava que eu estivesse mais perto dela.
Talvez se eu tivesse, poderíamos ter tido mais tempo entre nós três. Ou talvez
vocês duas estivessem mais próximas.
Fiquei quieta como se esperasse que ela me respondesse ou que alguma coisa
viesse a mim.
— Sinto muito por vender a casa. Sinto muito por ceder. Mas sei que não
posso me mudar para lá. Não parece certo se ele não está comigo. E posso me
p p p g p
arrepender um dia, mas espero que você tenha escolhido me perdoar e descansar.
Eu disse meu último adeus e me dei o encerramento que eu precisava.
Olhei para o céu nublado e rezei para que Grant estivesse fazendo o mesmo.
Capítulo 30
Sentei-me à mesa para o fechamento da venda, assinando papéis até minhas mãos
ficarem com cãibras. O advogado me disse o que cada formulário era, mas eu não
poderia me importar menos. Eu me senti enjoada de mim mesma e estava pronta
para acabar logo com isso, então não precisaria mais pensar sobre isso.
Assinei cada papel o mais rápido que pude, peguei o cheque ridículo e saí
correndo de lá para evitar os compradores. Eu queria que fosse uma família
jovem e agradável que merecesse todo o amor e trabalho duro que foi colocado
na casa. Mas se eu visse alguém demolindo ou usasse a casa como aluguel, eu me
sentiria ainda mais culpada. Cheguei ao meu apartamento e tranquei a porta,
preparada para deixar todo mundo do lado de fora.
Faz três meses desde que Grant partiu. Nenhum sinal dele em lugar algum,
nenhum pequeno rumor sobre seu reaparecimento. Até Beau apenas balançou a
cabeça quando perguntei se ele achava que estava voltando. Todo mundo
pensava que eu era louca. Por que eu esperaria tanto por um homem que me
deixou? Mas eles não sabiam. Eles não entendiam o jeito que eu o amava, ou
nunca mais iriam se questionar isso.
Eu me revirei no sofá, incapaz de encontrar uma posição confortável. Algo
estava errado. Eu deveria sentir que foi encerrado depois que a casa se foi. Mas,
em vez disso, senti pavor. E se eu simplesmente cortasse os laços com a única
coisa que Grant e eu fizemos juntos? E só por um cheque? Supus que a maçã não
caiu longe da árvore.
Meu telefone começou a tocar e vi que era LeAnne, da imobiliária. Eu
atendi, dizendo um olá tão alegremente quanto pude nas circunstâncias.
— Oi! Sinto muito incomodá-la, mas o comprador perguntou se você
poderia encontrá-lo na casa. Eles disseram que a chave não está funcionando e já
demos a eles as cópias extras que você fez para nós. Disseram que nem gira.
Oh não. Não não não.
Eu precisava evitar essas pessoas como a praga, e certamente não queria ver
quem era essa pessoa que nem conseguia virar a chave na nova fechadura.
— Só não tenho certeza se é uma boa ideia. Eu estava tentando evitar os
compradores, se possível.
LeAnne respondeu:
— Eu entendo. Eles parecem que realmente precisam de ajuda, no entanto.
Eu poderia pagar para um chaveiro ir?
Eu relutantemente digo a ela que irei, mas apenas porque não queria que ela
desperdiçasse uma parte de sua comissão em um chaveiro quando eu mesma
poderia fazer isso.
Coloquei meu short e uma camiseta e saí pela porta, pensamentos ansiosos,
reviravolta no estômago e tudo mais. O caminho até a casa foi silencioso.
Normalmente, eu sempre precisava de algum tipo de ruído de fundo, mas esta
tarde eu estava tão nervosa que mal percebi a falta de ruído.
Minha mente disparou com perguntas que eu não deveria fazer. O que Grant
pensaria sobre eu vender a casa? Beau já contou a ele? Ele está bravo? E se ele ficar
tão bravo com isso e decidir que não voltará mais? Meu coração começou a bater
mais rápido com o pensamento.
Talvez eu só precisasse de um projeto diferente para tirar tudo isso da cabeça.
Ainda estava muito quente lá fora para eu me voluntariar para eventos ao ar livre,
mas talvez eu me inscrevesse em outra coisa. Eu precisava que minhas mãos e
minha mente estivessem ocupadas com qualquer outra coisa. Eu estava
perigosamente perto de ligar para Grant quando não estava ocupada, e cada
notificação de telefone que não era ele era uma decepção maior.
Eu estacionei em frente a casa e não vi carro na garagem da entrada. Eles
devem ter estacionado na garagem individual. Não havia luzes que eu pudesse
ver e, quando dei a volta, não havia ninguém na varanda. Toquei a campainha
dos fundos, mas ninguém atendeu. Eu fiquei lá por mais alguns momentos antes
de ficar frustrada. Levantei o tapete de boas-vindas que havia colocado e vi que a
chave reserva ainda estava lá. Destranquei a porta dos fundos e a abri lentamente.
Deixei escapar um pequeno “Olá?” para deixar qualquer pessoa saber da
minha presença. Quando acendi a luz principal, não havia caixas nem móveis.
Atravessei a casa, batendo nas portas, mas não havia ninguém.
Eu me senti muito assustada para ficar e decidi que se essas pessoas
precisassem de tanta ajuda, eu simplesmente deixaria a porta destrancada. Fiquei
irritada por ter dirigido até aqui e ficar ansiosa por nada.
Voltei pelo corredor até a sala de estar e ouvi a porta dos fundos fechar.
Virando-me, vi a última pessoa que esperava. Diante de mim estava a vista que eu
p q p q
tanto desejava.
Grant Dawes.
Meu Grant.
Eu parei no meu caminho, sem saber se eu estava vendo ele ou se isso era um
sonho. Seu cabelo parecia diferente, era de corte limpo e tinha um belo
desbotamento na lateral. Sua barba estava aparada e ele parecia revigorado.
Melhor do que sonhei enquanto ele estava fora.
— Oi, Hart. — Hart. Eu adorava quando ele me chamava assim. Eu ainda
não tinha me movido ou levantado meu queixo do chão.
— Grant... eu...
Eu não tinha palavras. Eu tinha lágrimas ameaçando vir, e minha pele estava
coberta de arrepios.
— Quando foi que você voltou? — Ele deu um passo para mais perto de
mim e, como um gato, meu cabelo se arrepiou.
— Cerca de uma hora atrás. — Ele se aproximou. Levou cada fibra do meu
ser para não envolver meus braços em volta de seu pescoço e beijá-lo em um
transe.
— Os novos donos estarão aqui. Precisamos ir para outro lugar. — Ele
balançou a cabeça e puxou um chaveiro.
Ele sorriu para mim com aquele sorriso que eu amava.
— Você está olhando para o novo dono, Hart. — Minha garganta estava
apertada e eu mal conseguia respirar. Diga-me que ele não...
— June. Meu coração se partiu quando Beau disse que você a estava
vendendo, tudo que eu conseguia pensar era que minha pobre e doce garota se
apaixonou por alguém, que ela é muito mais forte. Eu sabia o que tinha que ser
feito e seria um idiota se alguém desse um lance maior para você. — Ele estava
tão perto que provavelmente podia sentir o calor de mim. Senti gotas grossas
rolando pelo meu rosto e funguei.
— Não chore por mim, Hart. Está tudo bem. — Ele acariciou meu cabelo e
beijou o topo da minha cabeça, e se afastou para poder olhar para o meu rosto.
— Sinto muito por ter ficado longe por tanto tempo, mas era exatamente o que
eu precisava. Você me faz ser o homem que eu quero ser, e não importa o quanto
eu tentei afastá-la, inevitavelmente, eu sabia que você sempre deveria ser minha.
Eu fiquei em silêncio. Eu não conseguia encontrar minha voz para deixar
qualquer coisa sair.
— Vamos, Hart. Fale comigo. — Eu ainda estava presa no lugar. Eu ainda
não tinha me mexido, e nossos corpos estavam tão próximos que ainda parecia
um sonho.
— É realmente você? — Minha voz falhou, e se eu não o tocasse logo, eu
começaria a chorar.
— Sou eu, querida. Desculpa ter demorado tanto, mas estou aqui. Eu não
vou a lugar algum. Você estava certa, eu precisava de tempo para sofrer. Estou de
volta e nunca mais vou embora. — Não perdi mais um segundo para tocá-lo. Eu
imediatamente passei meus braços em volta de seu pescoço e enterrei meu rosto
em seu peito. Meus ombros começaram a tremer enquanto as lágrimas escorriam
pelo meu rosto, e eu funguei.
— Onde você esteve?
Ele enrolou meu cabelo fino entre os dedos.
— Tanta coisa aconteceu. Eu realmente não sei por onde começar. Você me
conhece, nunca fui muito bom com as palavras. — Ele riu grosseiramente contra
mim. Eu me afastei para que eu pudesse dar uma olhada em seu rosto. Ele ainda
parecia o meu Grant, mas havia algo diferente nele agora. Ele parecia livre.
— Eu tenho algo para você.
Ele se afastou de mim e se virou para a bancada da ilha. Havia uma pilha de
envelopes amarrados por um pedaço de corda e um mosquetão.
Funguei e enxuguei as lágrimas molhadas do meu rosto.
— Tenho escrito para você enquanto estive fora. Eu queria enviá-las, mas
sabia que se entrasse em contato com você, voltaria para casa imediatamente.
Olhei para a pilha de cartas em suas mãos. Devia haver pelo menos uma
centena delas.
— Eu não sei o que dizer… — Minha mente estava esgotada, e eu ainda me
sentia convencida de que estava em um sonho.
— Você não precisa dizer nada. Leia todas se quiser. A única que eu preciso
que você leia mais é a que está no topo. Então você pode decidir se quer que isso
funcione entre nós.
— Não preciso decidir nada. Eu sei que pode funcionar.
Ele ergueu suas mãos fortes para minhas bochechas rosadas e as esfregou com
os polegares.
— Você pode mudar de ideia quando terminar de ler. Eu só preciso que você
saiba, sem quaisquer outros obstáculos no caminho, que você quer ter tudo
comigo.
g
Balancei a cabeça afirmativamente como se tivesse a chance de dizer não
agora.
Ele me deu as cartas e fui direto para casa, desta vez com a certeza de mandar
uma mensagem dizendo que havia chegado em segurança.
Capítulo 31
Grant me disse que a carta no topo era a mais importante, mas eu sabia que leria
todas de uma só vez. A pilha era mantida juntas por uma corda fina que tentei
abrir com minhas próprias mãos e não tive sucesso. Peguei uma tesoura na gaveta
de bagunça ao meu lado e cortei a corda apertada com entusiasmo. Em minha
empolgação, porém, fiz as cartas voarem por todo o chão. Elas estavam
espalhadas por toda a minha cozinha e sala de estar, e a carta em cima não foi
encontrada em lugar nenhum.
Eu sussurrei um irritado “Nããão” para mim mesma e comecei a pegá-las.
Minhas mãos vasculharam a pilha para ver se conseguia encontrar a que ele
colocou no topo, mas nenhuma delas estava marcada. Então decidi que leria
todas até encontrar aquela com a data mais recente.

∞∞∞
June,
Hart,
Eu não sou muito bom nisso. Não tenho certeza se é porque não consegui me
formar ou porque não sou bom em expressar meus sentimentos, mas de qualquer
forma espero que você possa com seu coração de professora me perdoar.
Sinto sua falta. Não acredito que estou falando isso, mas sinto falta até dos seus
joguinhos de estrada – que nem são jogos é só você falando um monte de
palavrinhas. Mas Deus sabe que eu precisava disso agora. Verdade seja dita, não
sei o que fazer aqui. Acabei de dirigir 5 horas direto para chegar na casa de Lily e
agora que estou aqui me sinto perdido. O pensamento de você estar longe de mim
me deixa doente. E o que me deixa ainda mais doente é a ideia de alguém vir lhe
oferecer ajuda para consertar qualquer coisa em casa. Eu fiz Beau me prometer que
chutaria qualquer cara que tentasse alguma coisa.
Acho que você gostaria da casa de Lily. Ela tem um monte de almofadas
coloridas e arte divertida pendurada. Você provavelmente entraria aqui e ficaria
surpresa com a quantidade de amarelo que há nas paredes.
Pretendo escrever para você o máximo possível quando estiver aqui. Não é
muito, mas é a única coisa que vai me manter sã até que eu possa voltar para casa,
para você.
De seu faz-tudo.

Hart,
Eu estava saindo de uma loja com Lily hoje e vi um coelho que se parecia com
você. Talvez não tão parecido. Mas tinha olhos grandes e torceu o nariz como você.
Traseiro fofo (embora definitivamente não tão bonito quanto o seu). Eu estava
perto de levá-lo para casa comigo só para me sentir perto de você, mas suponho que
não estou aqui para isso.
Sentindo falta da sua linda bunda de coelhinha.
De seu faz-tudo.

Hart,
Bebi Coca -Cola sabor baunilha sem açúcar hoje. Definitivamente não é tão
bom quanto você diz que é. Mas fico feliz em deixar minha gera gila geladeira
abastecida para você.
Nunca não pensando em você.
De seu faz-tudo.

Hart,
Lily me convenceu a ir à praia com ela hoje. Não vou desde que éramos crianças
com mamãe e papai. Foi… agradável? Não tenho certeza do que eu estava
esperando. Não me lembro da última vez que tirei férias.
Fiquei desejando que você estivesse lá. Acho que é por isso que estou aqui, certo?
Assim que chegamos, vi um jovem casal com um bebê no carrinho. Você
provavelmente falaria sobre como era fofinho. Estou trabalhando nisso. Eu quero te
dar isso um dia.
Enviando-lhe tudo o que tenho,
De seu faz-tudo.

Hart,
Hoje é o primeiro dia em que sinto que tenho um propósito para estar aqui.
Eu dirigi por aí esta noite, sem motivo em particular. Só dirigi até ficar quase
sem gasolina. Eu falei em voz alta o tempo todo – dá para acreditar? Uma senhora
em um semáforo pensou que eu era louco, tenho certeza.
Falei com alguém, não tenho certeza de quem era. Poderia ter sido Deus, talvez
meus pais, quem sabe? Mas pela primeira vez em dois anos eu sentei e apenas
conversei.
Eu falei sobre você, disse tudo o que eu estava com muito medo de te dizer em
primeiro lugar. Olhando para trás, percebo como fui burro em não te contar nada
disso quando tinha você em meus braços. Mas me dá esperança saber que talvez
um dia você vai se sentar comigo de novo e eu terei a chance de consertar tudo isso.
Eu falei sobre Emma também. Eu não tinha certeza do que dizer lá. Eu senti
uma culpa esmagadora no ano passado porque quando eu deveria estar pensando
nela… tudo em que eu conseguia pensar era em você.
Você estava constantemente passando pela minha mente, não importava o
quanto eu tentasse empurrá-la para fora. Isso deveria ser simples. Eu deveria
liderar um cronograma direto de projetos residenciais e novas construções até ficar
velho e grisalho. Eu ia ficar na linha e deixar todos os outros aspectos da minha
vida de fora.
Mas então apareceu você. A obcecada por bolinhas, Coca-Cola de baunilha e
apaixonada por crochê que eu tentei jogar para o lado, mas você continuou
voltando para mim. Depois de dirigir por aí e pensar por tanto tempo, cheguei à
conclusão: toda a minha vida tem que girar em torno de um evento?
Vou mesmo ficar sentado e acreditar que não mereço o prazer de estar com você?
A cada dia estou mais e mais perto de voltar para casa, para você.
Sempre desejando que você estivesse perto de mim,
De seu faz-tudo.

Hart,
Beau me ligou.
Disse que você estava vendendo a casa.
Meu coração está partido com o pensamento de você desistir de si mesma. Estou
a caminho para te encontrar, mas tenho que escrever isso antes de ir.
Eu vivi uma vida de trauma e dor. Perdi quase todas as pessoas importantes
da minha vida e com isso, assumir que nunca me permitiria me apegar a mais
ninguém.
Uma vez eu lhe disse que não poderia lhe dar o que você merece, e talvez não
devesse ter a oportunidade agora. Mas quando soube que você estava anunciando a
casa, ofereci o máximo que pude… e maldito seja eu se eu perder a casa e você.
Estou voltando para casa, amor. E quando chegar lá, não quero mais segredos,
nem medo… só você e eu.
Depois que meus pais morreram no acidente, levei anos para andar de carro.
Eu caminhava ou andava de bicicleta em todos os lugares que podia.
Eventualmente, quando tive que começar a trabalhar para ajudar a pagar as
contas, sabia que tinha que superar esse medo. Lily dirigia tão devagar que as
buzinas soavam ao nosso redor. Ela falava o tempo todo na tentativa de distrair
minha mente. Por fim, tirei minha licença e comprei aquela caminhonete velha
por quase nada. Mas cara, eu amo essa caminhonete. Era como se fosse o primeiro
sinal de que eu estava seguindo em frente.
Então eu conheci Emma. Eu tinha esquecido esse medo por anos. Nunca me
preocupei ao virar à esquerda em um semáforo. Parei de ficar ansioso toda vez que
entrava em uma interestadual. Anos depois, após o acidente, voltou com força total.
Eu conseguia dirigir sozinho, simplesmente porque não tinha outra escolha.
Mas eu odiava a ideia de alguém que eu conhecia dirigindo.
Especialmente você.
Eu tinha que me acalmar toda vez que você saía em seu carrinho minúsculo…
eu esperava no meu telefone por sua mensagem dizendo que você estava em casa em
segurança.
E quando chegava, era uma onda de alívio em minha mente.
Eu costumava odiar o homem que eu era, odiava tudo nele. Eu odiava o quão
amargo eu era, como eu culpava todo mundo pelo que foi tirado de mim, como eu
desprezava o mundo ao meu redor por algo que nenhum de nós podia controlar. Eu
odiava minha personalidade, odiava minha aparência, odiava como me sentia,
odiava cada aspecto da minha vida até você aparecer.
Isso não era jeito de viver… com medo constante e raiva queimando em meu
peito.
Agora eu sei, ninguém pode dizer quanto tempo temos aqui nesta Terra, mas
sei que quero passar cada momento que me resta com você. Comprei a casa por dois
motivos.
Assim você não perde a última ligação que tem com sua avó.
E assim posso ter você perto de mim o máximo possível.
Eu quero você na minha cama, no meu sofá, na minha cozinha, na minha
varanda, em todos os lugares. Quero seus filmes bregas passando na minha TV e
sua música da velha guarda tocando em meus alto-falantes. Quero as suas
sobremesas no meu forno e as suas velas acesas na minha mesa. Eu preciso de você
na minha vida e nunca tive tanta certeza de nada.
Estou rezando para que você leia isso e entenda o quanto você significa para
mim. Tenho mais algumas palavras para lhe dizer, mas prometi a mim mesmo
que as diria pessoalmente pela primeira vez.
Eu sou seu, Hart.
Sempre a chamarei de Hart até que um dia possa chamá-lo de Dawes.
E eu rezo para que um dia você aceite isso e seja minha para sempre.
Mas, por enquanto, tudo o que vou pedir a você é que seja minha. E nunca
mais vou me perguntar se você e eu fomos feitos um para o outro.
Para sempre seu.
Qualquer coisa que você queira que eu seja.

∞∞∞
Eu estava deitada no chão duas horas depois, coberta de cartas espalhadas por
toda parte. Lágrimas estavam tentando secar no canto dos meus olhos. Lágrimas
de felicidade, luto, paixão, tristeza e amor. Eu tinha todas as emoções que você
poderia imaginar passando pela minha mente, e meu pensamento inicial era
chegar até Grant o mais rápido possível.
Peguei meu telefone e tentei ligar para ele, mas depois de tocar apenas
algumas vezes, foi direto para a caixa postal. O que era uma mensagem
automática porque, claro, Grant Dawes nunca teria uma mensagem
personalizada em seu correio de voz.
Depois de ouvir o tom indicando para deixar minha mensagem, falei rápido e
trêmula.
— Grant Dawes, é melhor atender o telefone agora mesmo.
Como ele ousa fazer com que eu me apaixone mais por ele e depois não me
atende.
De repente, houve duas batidas fortes na porta e rezei para que do outro lado
estivesse o homem que eu mais precisava ver. Quando abri a pesada porta, meu
coração disparou. Lá estava meu Grant, e senti minhas emoções me inundarem
de uma só vez.
— Você está aqui.
Eu não tinha certeza se minha frase saiu como uma afirmação ou uma
pergunta, mas estava empolgada demais para me importar.
— Eu estava esperando lá embaixo. Al falou muito sobre você.
Eu ri brevemente e abri mais a porta para deixá-lo entrar. Ele não estava
vestindo suas roupas de trabalho hoje, e foi reconfortante – embora eu possa
sentir falta daquelas calças dele. Ele estava com uma camiseta branca e calça
preta, com um casaco aberto de botões azul. Seu cabelo estava perfeitamente
penteado e ele parecia descansado como se tivesse estado em hibernação nos
últimos três meses.
— Você as leu…
Sua voz vacilou como se ele estivesse envergonhado, e eu queria pular nele
aqui mesmo.
— Eu li... Grant, eu nem sei o que dizer. — Eu estava com os olhos
marejados de novo, cara, eu realmente preciso controlar minhas emoções.
— Diga sim. Fique comigo. Vamos fazer dela a nossa casa e podemos ficar
juntos sem mais nada no caminho. É só dizer e eu farei tudo ser seu.
Ele era meu dono, cada fibra do meu ser era dele e nada mais importava,
sempre diria sim a ele. Como se houvesse mais alguma coisa a dizer?
— Sim, Grant. Sim para tudo.
Ele correu para dentro, seus braços apertados em volta da minha cintura e
seu rosto enterrado na curva do meu pescoço. Eu envolvo meus braços fracos em
torno de seus ombros musculosos e o trago para mais perto de mim. Meu peito
pressionou contra o dele, e meu coração estava batendo mais rápido do que
nunca.
Ele se afastou apenas o suficiente para que eu pudesse ver seu rosto. Ele
colocou as duas mãos sob minha mandíbula, forçando nossos olhos a se
encontrarem.
— Eu te amo. Desde que vi você escalando aquelas latas de tinta, continuarei
te amando até ficar velho e grisalho. Eu te amo demais.
Eu sorri abertamente para ele, e meu coração inchou com as palavras que eu
mais precisava ouvir dele.
— Eu sou sua, Grant.
— Eu sou seu. — Ele repetiu e eu sabia que nunca me perguntaria qual era o
propósito de Grant Dawes vir para esta cidade.
Não era porque ele era um criminoso fugitivo.
Não era porque ele era um policial disfarçado.
Não era nem porque ele estava tentando ajudar Beau.
Era porque Deus sabia que ele era para ser meu, e eu era dele.
Capítulo 32
Uma das coisas mais atraentes que você pode ver um homem – especialmente o
seu homem – fazer é carregar caixas pesadas em uma camiseta escura apertada.
Nesse caso, estou encostada no batente de uma porta, possivelmente babando,
enquanto Grant transferia minhas coisas do apartamento para nossa casa.
Nossa casa. Era bom pensar assim. Depois que Grant comprou a casa,
concordamos em morar juntos, embora não estivéssemos noivos. Ashley estava
tão animada que pensei que ela poderia incendiar o lugar e, claro, Beau sempre
soube que Grant estava comprando a casa. Ela estava tão chateada por ele ter
escondido o segredo dela, mas todos nós sabíamos como Ashley teria me
contado dois segundos depois de descobrir.
Grant colocou duas caixas empilhadas uma em cima da outra, suado e sem
fôlego. Ele coloca as mãos no batente da porta ao meu redor.
— Você vai me ajudar? Ou você quer ficar aí sendo linda?
Eu sorri para ele.
— Eu acho que você uma vez me disse que fazia todo o seu próprio trabalho
sujo.
Ele olhou para mim e riu.
— Talvez eu precise de uma ajudinha nesse. — Ele se inclinou para plantar
um beijo em meus lábios, quando Beau e Ashley entraram.
— Tudo bem, pombinhos, temos uma caminhonete inteira para descarregar.
— Saímos para pegar as caixas na traseira da caminhonete de Grant.
Eu senti pura felicidade olhando para seus itens se fundindo com os meus.
Conversamos na semana passada sobre quais móveis traríamos para a casa – o
que resultou em uma mistura de nossos espaços de convivência. A mistura das
nossas coisas fazia todo o sentido. Seus móveis cinza, branco e preto com meus
toques de coral e verde sálvia combinavam exatamente com nosso
relacionamento.
Observei Grant pegar uma caixa cheia de meus livros e colocá-la em seu
ombro sem esforço. Peguei um dos itens menores e entrei na casa com ele
novamente.
Continuamos o processo pelo resto da tarde, até que nós quatro estivéssemos
suados e exaustos. Dividimos uma caixa de pizza e, quando terminamos, Ashley
e eu estávamos tão cansadas que quase desmaiamos.
Os garotos ainda tinham energia suficiente para montar nossa cama e
mesinhas de cabeceira antes que Beau e Ashley estivessem prontos para ir
embora. Grant e eu arrumamos nossos lençóis e roupas de cama antes de
deslizarmos para a nossa nova cama e nos enrolarmos um no outro.
Com meu nariz encostado em seu peito e seu queixo no topo da minha
cabeça, sussurrei para ele:
— Foi um bom dia. Obrigada por ajudar tanto.
Grant plantou um beijo no topo da minha cabeça.
— Foi um bom dia, Hart.
Eu me aconcheguei em seu abraço caloroso, meio adormecida quando ouvi
seu sussurro baixo bem acima do meu ouvido:
— Eu te amo. — Mesmo em meu estado meio adormecido, eu sabia que
nunca esqueceria esse momento.
Epílogo
GRANT

Hoje faz um ano desde o melhor dia da minha vida. Um ano completo. Doze
meses. Trezentos e sessenta e cinco dias.
June e eu tínhamos grandes planos para nosso aniversário de um ano de
casamento esta noite. Na semana passada, dissemos que iríamos a um jantar
chique fora da cidade e depois ao campo de flores novamente. No entanto, após
sua rápida mudança de desejos, ela disse que preferia pintar o quarto do bebê e
jantar lá mesmo.
Sua gravidez não tinha sido fácil para ela. Ela estava grávida de cerca de
quatro meses e vomitava entre três e cinco vezes por dia. Ela lidou com isso como
a campeã que era, no entanto. Eu estava tão orgulhoso do ótimo trabalho que ela
já estava fazendo. Ela leu todos os livros sobre bebês e assistiu a todos os vídeos de
parto, o que me deixou com algumas cicatrizes mentais. Ela percorria o Pinterest
por horas olhando a decoração do berçário ou me mostrando roupas de bebê
que ela “tinha que ter”. Eu não me importei nem um pouco, na verdade, era
revigorante saber como ela estava animada. Ela e Lily falavam ao telefone quase
todos os dias sobre nomes de bebês e temas de chá de bebê. Quando contamos a
Lily sobre a gravidez, ela quase incendiou a casa de tanto entusiasmo. Ela correu
gritando sobre como ela ia ser uma avó. Pensei em corrigi-la para tia, mas achei
melhor deixar passar.
Entrando na loja de ferramentas Cooper’s de mãos dadas, fomos até o
corredor de tintas, onde vi pela primeira vez o amor da minha vida. Parei no final
do corredor e a observei retirar amostras de tinta enquanto divagava sobre a
diferença entre blush e rosa. Sua pequena barriga começou a aparecer, suas calças
ainda serviam, mas havia uma pequena bolsa que as empurrava para fora.
Ela estava tão bonita, se não mais, do que no dia em que a conheci neste
corredor. Seus longos cabelos castanhos claros caíam sobre os ombros e seus
dedos minúsculos puxavam as amostras uma a uma.
Lembrei-me do dia em que ela me chamou para trabalhar em sua casa. No
segundo em que ela ligou e iniciou uma longa discussão sobre por que estava
ligando, não tive dúvidas de que era ela. Minha garota do Cooper's. Quando ela
disse seu nome, soou em meus ouvidos por dias. June Hart.
Fiquei acordado aquela noite pensando nela.
Seus pais a chamaram de June porque sabiam que ganhariam vida10 com
apenas um vislumbre de seu sorriso?
Essa garota me tinha na palma da mão há mais tempo do que ela imaginava.
Eu a amava há mais tempo do que sabia seu nome. Fui tolo em acreditar que
poderia resistir a ela.
Quando descobri que ela estava grávida, tive minhas preocupações, é claro.
Minha história traumática não iria nos impedir de ficarmos animados, no
entanto. Uma menina estava chegando para nossa família, e eu me recusei a me
deixar passar um dia sem ansiar sua chegada.
Lily já havia comprado inúmeras roupas de bebê para meninas, e a melhor
amiga de June, Ashley, havia até começado a planejar sua chegada, deixando a
casa à prova de bebês. June estava cercada por sua rede de apoio e eu disse a mim
mesmo que nunca mais a deixaria cair.
June olhou para mim, segurando duas cores idênticas lado a lado.
— Qual deles? — Eles parecem exatamente iguais… se eu não tivesse visto os
diferentes números de código na parte inferior, diria a ela que eram os mesmos.
— Você que manda. Estou feliz com o que você escolher. — Era verdade, o
que quer que ela quisesse, eu ficaria feliz. June poderia me pedir qualquer coisa
no mundo, e eu daria a ela sem pensar duas vezes. Ela sorriu, acenou com a
cabeça e se virou para o corredor para pegar a lata de tinta da prateleira para dar
ao misturador. Ela ficou na ponta dos pés, estendendo os braços acima da cabeça
para tentar pegá-la ela mesma. Fui atingido por uma onda de déjà vu.
Minha doce June Dawes, seu corpo pequeno alcançando o mais alto que
podia para pegar uma lata da mesma prateleira de quase três anos atrás. Só que
desta vez, eu não me permitiria me arrepender de não tê-la ajudado durante anos.
Ela grunhiu enquanto se espreguiçava, e eu me sacudi para fora do meu estado
atordoado e fiz meu caminho pelo corredor até ela. Coloquei uma pequena mão
na parte inferior das suas costas e ela voltou a ficar reta. Eu plantei um beijo em
sua bochecha e sussurrei para ela o que eu deveria ter dito tantos anos atrás:
— Eu posso consertar isso.
O FIM.
Nota do autor
Uau, conseguimos!
Eu queria escrever um livro há tanto tempo, mas realmente acreditava que
nunca seria capaz, pois nem havia me formado na faculdade. Não tenho certeza
de quantos desses venderei, podem ser 100 ou 1000, mas sei que dei o meu
melhor e cumpri um objetivo da minha lista de desejos.
Não contei a muitos de meus familiares ou amigos próximos que estava
fazendo isso para poder surpreendê-los, mas ainda tenho tantas pessoas a quem
quero agradecer!
Meu marido: Justin, eu estaria perdida sem você. Você é meu mundo inteiro
e eu te amo desde que éramos crianças, você sempre será meu primeiro.
Obrigado por seu apoio sem fim. Você é a melhor coisa que eu já conheci. PS:
Você também é o melhor pai de todos!!
Para minhas garotas de 'El Le Juan': sinto que todas vocês podem ficar
surpresas e incrivelmente confusas ao ler isso. Optei por não contar nada sobre
estar escrevendo um livro porque todas vocês estão constantemente me
inspirando, e eu queria inspirar vocês também! Não sei o que faria sem vocês,
vocês três significam o mundo para mim. Eu as amo muito, e serei eternamente
grata pelos laços que temos.
Um GRANDE agradecimento para a minha designer de capa, Sam, na Ink
and Laurel! Sam pegou todas as minhas visões e as trouxe à vida. Não consigo
imaginar mais ninguém para fazer minhas capas, então ela está presa comigo pelo
resto da minha carreira de escritora. Não lamento por isso, Sam.
Para minha doce amiga autora, Emma Hill (também conhecida como minha
fantástica formatadora e a primeira pessoa a ler o livro): não tenho palavras para
agradecer seu apoio sem fim durante este processo. Você tem sido uma grande
amiga, e eu agradeço você a cada passo do caminho. Te amo, querida!
Para minha equipe ARC/leitores beta: VOCÊS SÃO INCRÍVEIS!! Sou
muito grata por todos vocês terem me fornecido o feedback adequado sobre I
Can Fix That e por terem amado meu livro primogênito tanto quanto eu!
No geral, esta foi uma experiência incrível e adorei cada passo do caminho!
Eu tenho mais que está chegando em breve, então fique por aqui!
Notas
[←1]
June é o nome da personagem e também o nome do sexto mês do ano
em inglês, que traduzido significa Junho.
[←2]
Refere-se a uma expressão neutra, que o jogador de pôquer faz, para
que os adversários não saibam seu jogo. Em português, a expressão que cabe
melhor é: “cara de paisagem”.
[←3]
Canal de TV por Assinatura da Discovery Networks.
[←4]
Placa de gesso
[←5]
Espaço entre a bancada da cozinha e os armários superiores.
[←6]
Tiger Woods é considerado um dos maiores jogadores de golfe de todos
os tempos e um dos atletas mais famosos da história.
[←7]
Jogo onde há um triângulo com 14 pinos e 15 furos, e o objetivo é um
pino ir “comendo” o outro, reduzindo a quantidade até sobrar apenas 1.
[←8]
Trocadilho com o nome June e a palavra souvenirs (lembrancinhas).
[←9]
Bolinho ou bolacha recheada da marca Little Debbie.
[←10]
Do Inglês “spring to life”, que significa florescer. Referência à
primavera ser em Junho no hemisfério norte.

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