Para determinarmos o grau de intervenção do ser humano sobre o
meio ambiente podemos tomar como referência o consumo energético por habitante no decorrer dos diferentes estágios de desenvolvimento da humanidade. Um interessante estudo de Cordani e Taioli, publicado em 2001, mostra que na era primitiva o consumo diário de energia era em torno de 2.000 kcal por habitante, uma quantidade suficiente para manutenção de suas necessidades vitais. Com o surgimento da sociedade dos homens caçadores-coletores (período pré-histórico Paleolítico, que ocorreu até cerca de 10 mil a.C.), descoberta e domínio do fogo, o consumo diário de energia era em torno de 6.000 kcal por habitante, o bastante para manutenção de suas atividades básicas. No período Neolítico (de aproximadamente 10 mil a.C. até cerca de 4 mil a.C.), marcado por novas formas de relação do ser humano com a natureza, aumentou-se o consumo, pois ele começa planejar a oferta de alimentos (cultivando plantas e domesticando animais), o que garante o abastecimento em épocas de escassez. Instrumentos como pilão, facas e machados passam a ser feitos de pedra polida. Com a necessidade de armazenar alimentos e cozinhar, são desenvolvidos os primeiros materiais cerâmicos. Também são criadas técnicas de tecelagem, há o aprimoramento da divisão do trabalho social e o aparecimento de novas funções. A vida comunitária foi se tornando mais complexa, passando das aldeias agrícolas para as primeiras cidades. O gasto energético diário por habitante neste período é de 12.000 kcal. Rumo ao processo de modernização, no estágio da Agricultura Avançada e da Era Industrial, foram criadas técnicas mecanizadas de plantio e colheita, há o aumento do uso de insumos agrícolas, acompanhado pela oferta de trabalho assalariado nas cidades. Além do aumento do gasto energético por habitante, em torno de 77.000 kcal por dia, neste período a população começa crescer de forma exponencial devido ao aumento da produção de alimentos. No atual período, Era Tecnológica, o consumo energético está distribuído por diversos setores como alimentação, moradia, comércio, indústria, agricultura e transporte. A soma do consumo destes setores pode chegar até 230.000 kcal de energia por habitante por dia. De acordo com a segunda lei da termodinâmica, toda forma de uso de energia não possui 100% de eficiência. Deste modo, sempre que a utilizamos são geradas formas menos nobres de energia, como calor ou subprodutos na forma de poluição ao meio, aumentando a entropia ou desordem nos sistemas locais (p. ex. poluição das cidades), regionais (p. ex. poluição dos rios) e globais (p. ex. mudanças climáticas). Esta breve análise sobre o histórico do consumo energético nos mostra que, no decorrer do desenvolvimento da humanidade, o consumo de energia nunca foi tão elevado como no atual período. Os inúmeros impactos ambientais atuais são indicadores de que os usos pelos recursos naturais estão ocorrendo de forma inadequada. Ao habitar em ambientes totalmente urbanizados (artificiais) como são as cidades, o ser humano perde o contato direto com a natureza e, por conseqüência, a visão da interação e ciclagem natural de seus elementos (físicos, químicos, biológicos e antrópico), passando não mais a participar desta interação, mas a intervir radicalmente. O atual modelo de desenvolvimento nos apresenta indicadores de insustentabilidade frente a importantes questões sociais, econômicas e ambientais. Para alcançarmos uma adequada qualidade de vida e ambiental, um dos caminhos é reaprendermos os verdadeiros valores da relação homem-natureza, para assim efetivamente nos direcionarmos a um modelo de desenvolvimento sustentável.
Prof. Daniel Jadyr L.Costa
Artigo publicado no Jornal Tribuna Impressa de Araraquara (SP), em 2 de fevereiro de
2008. Referências Bibliográficas Braga B. et al. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002. Cordani U. G. & Taioli F. A Terra, a Humanidade e o Desenvolvimento Sustentável. In: Teixeira W. et al (Org). Decifrando a Terra. São Paulo: Oficia de Textos, 2001.
Cotrim G. História Global: Brasil e Geral. 1ª edição. Editora Saraiva,
1997. Estágios de desenvolvimento
Consumo diário per capita (103 kcal)
Fonte da figura: Cordani U. G. & Taioli F. (2001). Decifrando a Terra.