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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO SOCIOECONÔMICO
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E RELACÕES INTERNACIONAIS

Curso: Relações Internacionais


Disciplina: Tópicos Especiais em Relações Internacionais
Período Letivo: 2022.1
Professor: Klaus Dalgaard
Discente: Gabrielly Christy Brancaleone Casagrande (19101475)

Ensaio Analítico sobre a relação entre energia e as mudanças climáticas

Estamos há 150 anos queimando combustíveis fósseis, e tivemos benefícios por isso.
A pobreza diminuiu, o padrão de vida subiu. Há quem diga que devemos então continuar nos
baseando nessas fontes de energia. Segundo dados do documentário, “Uma verdade mais
inconveniente”, estamos emitindo 110 milhões de toneladas de poluição que retém o calor do
aquecimento global todos os dias. A agricultura é uma grande causa de emissões de gás de
efeito estufa, mas ainda a principal é a emissão de dióxido de carbono da queima de petróleo,
gás e carvão, seja para eletricidade ou para transporte. Isso intensifica a energia térmica e
eleva a temperatura. Entretanto, as consequências desse padrão de produção e consumo são
evidentes, uma vez que geram uma sobrecarga no sistema biosférico ao ponto de ameaçar a
própria capacidade de reposição do planeta, e consequentemente a vida humana.

Segundo o Painel Intergovernamental sore Mudanças Climáticas (IPCC), as ações


humanas fizeram com que a temperatura do planeta se aumentasse em 0,8 graus, e de modo a
evitar que o aumento ultrapasse os 2 graus, será necessária uma redução das emissões de
dióxido de carbono na ordem de 50% a 80% até 2050 (FUSER, 2013). Esse pequeno aumento
na temperatura traz grandes consequências, pois tal como seres humanos, a Terra é um
organismo vivo, e o aquecimento global seria como uma febre. Como os dois documentários
mostram, as atividades humanas desequilibram um sistema biosférico harmônico, o aumento
da temperatura decorrente dessas atividades fazem, com que as calotas polares derretam, o
que por sua vez gera desacelera as correntes oceânicas, um fenômeno relacionado à alteração
da climatologia mundial, e o qual gera um aumento no nível dos oceanos e ainda faz com que
aumente a absorção de radiação solar pela Terra, já que a área gelada reflete a luz. Ainda,
como o documentário “Seremos História” mostra, metade dos corais, maiores responsáveis
por capturar carbono da atmosfera, e por reverter as emissões geradas, morreram nos últimos
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30 anos. As causas de suas mortes estão relacionadas ao aumento da temperatura e à grande


concentração de CO2. Eventos extremos ocorrem e com mais frequência: secas, inundações,
tempestades intensas, tufões. As altas temperaturas também estão alterando e intensificando o
(des)equilíbrio entre os micróbios e os seres humanos, proliferando o alcance de doenças.
Assim, fica evidente que há um efeito cascata com enormes consequências aos seres humanos
e às outras espécies.

Como isso está impactando diretamente a vida dos seres humanos? De acordo com
dados do documentário “Uma verdade mais inconveniente”, no norte da China a expectativa
de vida diminuiu em 5 anos e meio por causa da poluição do ar. A Índia, em maio de 2016,
atingiu uma temperatura de 51 graus, suas ruas estão derretendo. Em 2015, no Paquistão 1200
pessoas morreram por causa da onda de calor. Em 2016, fizeram covas antecipadamente para
as pessoas que temem morrer durante as ondas de calor do mesmo ano. Somente na cidade
Tacloban e nas regiões ao redor, um supertufão, em 2013, gerou 4,1 milhões de refugiados.
Ilhas estão desaparecendo, bem como cidades no próprio Estados Unidos estão sendo
invadidas pelo mar, como no Sul da Flórida. As secas diminuem as áreas agricultáveis, bem
como as inundações fazem com que se perca a colheita, colocando, assim, milhões de pessoas
em situação de insegurança alimentar. Desse modo, cada vez mais pessoas tornam-se
refugiadas climáticos. Nesse sentido, o próprio ex-presidente americano, Barack Obama,
afirmou que as mudanças climáticas são, de fato, um problema de segurança nacional e devem
ser tratadas como tal.

Apesar de os problemas relacionados a queima de combustíveis fósseis ameaçarem a


própria humanidade, nossa dependência é tão grande que no século XXI estamos recorrendo a
fontes cada vez mais arriscadas: há destruição de montanhas para a fraturação hidráulica de
gás natural, perfuração offshore e destruição de florestas nas areias asfálticas para extração de
petróleo. A perfuração offshore é particularmente problemática, pois está sujeita a vazamentos
de óleo nos oceanos, o qual possui toxicidade crônica, afetando a reprodução, o crescimento e
o comportamento e desenvolvimento dos corais, o ecossistema mais vulnerável às mudanças
climáticas. Isso agrava ainda mais o problema, uma vez que destrói os únicos responsáveis
pela absorção de gases de efeito estufa.

Ainda, os documentários levam a uma reflexão muito importante: os países mais


emissores são os menos atingidos, e os menos os mais atingidos. Há uma divisão entre países
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ricos e países pobres. Nesse sentido, entra a problemática do consumismo, um estadunidense


consome e tem uma pegada de carbono muito maior do que um europeu, que por sua vez tem
uma pegada de carbono muito maior do que um congolense ou do que um filipino. O
documentário apresentado por Leonardo DiCaprio, relata que na Índia grande parte da
população não possui acesso à eletricidade, tendo que utilizar a biomassa para cozinhar. Por
isso, o governo indiano está investindo em termelétricas à carvão, de modo a democratizar o
acesso à luz.

Essa problemática é evidenciada no documentário do Al Gore, durante uma reunião


preparativa ao Acordo de Paris com ministros indianos, na qual um dos ministros afirma que
os países desenvolvidos falam muito sobre mudanças climáticas, mas não mudam suas
próprias matrizes energéticas para fontes mais sustentáveis. O ministro indiano pede pelo
mesmo direito de desenvolvimento que os Estados Unidos tiveram usando carvão, a baixo
custo, de modo a poder dar emprego, aumentar a renda da população, desenvolver a
infraestrutura e a tecnologia do país, enquanto Al Gore pede para que ele pense na questão
ambiental. De fato, acredito que a falta de ação dos países desenvolvidos é um grande
problema: não há iniciativa suficiente para uma transição energética rápida, no nível em que o
aquecimento global nos pede, e tampouco há ajuda para que os países pobres possam se
desenvolver de maneira sustentável. Isso poderia ser feito de inúmeras formas, como por
criação de fundos e por transferência de tecnologia, o que vemos é que há falta de vontade
política para a realização de mudanças. Ainda, há uma desproporcionalidade nos efeitos
gerados pelo fato de países mais pobres terem menos capacidade fiscal de lidar com os
desastres naturais.

Em resposta à necessidade de diminuição das emissões de gás carbônico, as energias


renováveis apresentam-se como parte da solução. Entre elas estão a eólica, a solar, a
geotérmica e a hidrelétrica. Já a energia nuclear, mesmo não sendo renovável, é considerada
limpa, e portanto está sendo considerada por especialistas como indispensável para a
construção de um futuro com redução de emissão de gás carbônico. É necessário observar que
nenhum tipo de energia renovável é livre de impactos ambientais. Também, a resposta ao
problema não é apenas a transição energética, mas a diminuição do consumo de energia, o que
perpassa a diminuição da produção e do consumo, pois estamos vendo uma demanda de
energia que cresce dia após dia, e as energias renováveis não serão capazes de atender a essa
demanda. Isso perpassa necessariamente ao planejamento e adoção de políticas públicas.
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Entretanto, as energias chamadas de renováveis que foram desenvolvidas até agora


possuem problemas em se posicionar como efetivas substitutas às usinas de energia não
renovável. O texto “Clean energy’s dirty secret”, publicado na revista The Economist,
apresenta alguns desses desafios, entre eles está a questão da intermitência das energias eólica
e solar, uma vez que fazem necessária a utilização de uma energia secundária para o
suprimento de energia para os períodos em que elas não a estiverem produzindo. Isso significa
que para realizar uma transição energética para um futuro sem carbono, energias limpas e
sujas devem permanecer lucrativas. Entretanto, pelo fato de as energias limpas possuírem um
custo marginal insignificante, elas diminuem o preço da energia em todo o mercado, trazendo
um descompasso nos preços do mercado de energia, pois o investimento necessário para as
energias secundárias deixa de ser lucrativo e gera-se necessidade de subsídios
governamentais que equilibrem o mercado. Desse modo, há um paradoxo, quanto mais os
Estados apoiam as energias renováveis, mas eles pagam para manter as plantas convencionais
poluentes.

Ainda, outro grande problema são as emissões de gás carbônico pelo setor de
transportes. Os carros elétricos além de tenderem a demorar para se tornar comercialmente
viáveis e ingressarem nos mercados em grande escala, só vão ser efetivos para a eliminação
das emissões de carbono se a matriz energética não for mais poluente, ou seja, deve haver uma
transição na matriz energética antes da implantação desses modelos de carros, se não haverá
apenas uma transferência da fonte das emissões, do transporte para eletricidade. Nesse
sentido, se faz urgente os planejamentos do setor público para um maior investimento em
transportes coletivos, de modo a diminuir a emissão individual e o uso predatório de
automóveis nos centros urbanos.

Portanto, fica evidente que o atual cenário catastrófico, causado pela grande emissão
de gás carbônico, demanda respostas urgentes, as quais não só envolvem uma transição
energética para matrizes energéticas renováveis, mas também uma redução no consumo de
energia, pois, parafraseando Bellamy Foster, a “expansão infinita dentro de um ambiente
finito é uma contradição em termos”, uma transição, por mais que tenha desafios, deve ser
feita, se não, não haverá futuro.

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