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TEMA DE REDAÇÃO

TEXTO 1

Calor intenso: o que é estresse térmico e quais os riscos para os humanos


Aquecimento global aumenta frequência de eventos climáticos extremos no Brasil

Por Marcio Dolzan

22/09/2023 | 11h29Atualização: 22/09/2023 | 14h54

A onda de calor que atinge o País esta semana, e que fez o Instituto Nacional de Meteorologia (In-
met) emitir alerta vermelho de grande perigo com risco à saúde a moradores de nove Estados, tende
a se repetir cada vez mais vezes. Estudos mostram que o aquecimento global está fazendo com que
eventos extremos, como aumento das chuvas, das secas e das ondas de calor se tornem cada vez
mais frequentes. Há um aumento também do chamado estresse térmico.

“Quando falamos de estresse térmico, não estamos falando apenas de temperatura. A gente utiliza
um índice bioclimático que descreve o conforto fisiológico do corpo humano diante de algumas
condições específicas”, explica Renata Libonati, professora do Departamento de Meteorologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Essas condições incluem ainda umidade do ar, ven-
to e índice de radiação.

Onda de calor extremo atinge o Brasil na última semana de inverno Foto: PEDRO KIRILOS / ESTADÃO

Segundo Renata, esse crescimento já era esperado no contexto de mudanças climáticas associadas
ao aquecimento global e também à urbanização, que aumenta as chamadas ilhas de calor. “Muitas
vezes nós pensamos que 1ºC, 1,5ºC de aumento da temperatura média do planeta é pouca coisa, mas
ele vai acarretar uma maior ocorrência de eventos extremos. E são eles que têm maiores impactos
na nossa vida cotidiana”, diz a pesquisadora.

Sobre as ondas de calor, Renata Libonati classifica como um “desastre negligenciado”. “Cada vez
mais a gente vê um impacto nas populações mais vulneráveis, especialmente nas regiões tropicais.
A gente acha que está acostumado com o calor, mas não estamos. O calor persistente mata. Onda de
calor é um desastre negligenciado, e a gente precisa aprender a tratar isso como um desastre”, sus-
tenta ela.
As temperaturas elevadas atingem com maior gravidade os grupos de riscos, como idosos, pessoas
com comorbidades e sedentários. Há reflexo também no aumento de partos prematuros durante as
ondas de calor.

“A evolução, as adaptações (do corpo humano) que nós conhecemos pela biologia, levaram milha-
res de anos. E as mudanças climáticas estão acontecendo de forma tão acelerada, que os organismos
vivos não são capazes de acompanhar em termos de adaptação. Por isso que o calor tem sido tão pe-
rigoso”, alerta a pesquisadora da UFRJ.

Esta semana, um estudo divulgado pelo jornal americano The Washington Post citou a cidade de
Belém, no Pará, com potencial para estar entre as mais quentes do mundo em 2050. Ainda que não
seja possível estabelecer um “ranking” - o levantamento do Post considerou apenas algumas das
grandes cidades globais -, o estudo também serve para mostrar tendências e fazer alertas.

Ondas de calor se tornam mais frequentes e horas de estresse térmico aumentaram nos últimos anos Foto: PEDRO KIRILOS / ESTADÃO

“Quando a gente faz projeções pro futuro, utilizamos modelos climáticos, que são baseados em con-
dições físicas e matemáticas. São levados em consideração alguns cenários de emissões - alguns
mais otimistas, em que a humanidade iria parar de poluir em certa taxa, e cenários mais pessimistas,
em que a humanidade iria continuar poluindo, com emissão de gases na atmosfera, aquecendo mais
o planeta”, pondera Renata.

Ela lembra que os cientistas climáticos alertam para o aquecimento global há pelo menos 30 anos, e
pouco se fez desde então. “Irreversível não é, mas estamos muito atrasados para tomar medidas para
diminuir o aquecimento global.”

TEXTO 2

Como o sonho do ar condicionado se transformou no pesadelo das mudanças cli-


máticas
Publicado por Diario do Centro do Mundo - Atualizado em 23 de setembro de 2023 às 11:50
Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em conjunto com as italia-
nas Fundação CMCC e a Universidade Ca’Foscari de Veneza, investigou as relações entre aqueci-
mento global, renda e demandas de eletricidade e resfriamento no Brasil. Eles concluíram que, sem
uma ação para combater as mudanças climáticas, o uso de equipamentos de ar condicionado irá do-
brar na próxima década.

O estudo, publicado na revista científica “Energy and Buildings”, comparou o desenvolvimento da


renda e do clima entre as décadas de 1970 e 2010 e, a partir disso, projetou a demanda para o futuro
considerando três cenários do aquecimento global: acréscimo de 1,5°C, 2°C ou 4°C na temperatura
da Terra.

Em qualquer um dos três cenários, o consumo de energia aumentará. No cenário mais grave (4°C),
por exemplo, a média de dias de uso do ar condicionado aumentaria em mais de 100% no Brasil. Na
região Sul, isso inflaria o consumo de energia em quase cinco vezes.

Atualmente, o resfriamento de ambientes é equivalente a 14% da demanda residencial de eletricida-


de e a média atual é de 40 unidades de ar-condicionado a cada 100 residências no país. Até 2035,
considerando aumento de população e renda, a expectativa é de 96 unidades para 100 residências,
aumentando a demanda de energia em 125%.

Em 2023, a Jeep lançou uma nova edição de seu popular SUV com tração nas quatro rodas. Pela
primeira vez desde que a empresa lançou o carro em 1986, o ar condicionado não era uma opção,
mas uma obrigação.

Em Phoenix, nos EUA, onde a temperatura subiu acima de 40 graus por semanas a fio, os centros
de resfriamento temporários foram um salva-vidas para os sem-teto, embora centenas de mortes re-
lacionadas ao calor tenham sido confirmadas ou suspeitas em toda a área metropolitana. Na Europa,
onde o ar condicionado está evoluindo de uma indulgência excêntrica de estilo americano para uma
amenidade padrão, o AC ofereceu uma defesa crítica contra uma onda de calor tão poderosa e per-
sistente que os europeus a batizaram de “Cérbero”, em homenagem ao mitológico cão de três cabe-
ças que guarda os portões de Hades.

Como os recordes de temperatura foram quebrados em todo o planeta neste ano, você pôde sentir al-
guma mudança em nosso relacionamento com o ar condicionado. Bilhões de pessoas no Sul Global
e em outras zonas quentes ainda vivem sem ar condicionado doméstico. E o custo de remediar isso
é impressionante.

Mas não é apenas o desafio financeiro de fabricar e distribuir mais sistemas de resfriamento. Os
custos ambientais também são aterrorizantes. Tornar os espaços internos mais frios para os seres hu-
manos significa tornar os ambientes externos mais quentes para todos os seres vivos, com mais pro-
dução industrial, transporte e consumo de energia, todos os quais contribuem para o acúmulo de ga-
ses de efeito estufa.
Mas mesmo em lugares onde o ar condicionado é padrão há décadas, incluindo os Estados Unidos
(onde, de acordo com a Agência Internacional de Energia, mais de 90% das famílias têm resfria-
mento artificial), a forma como a tecnologia se cruza com sentimentos fundamentais sobre seguran-
ça e bem-estar está mudando. Os americanos mais velhos, que ainda podem se lembrar do frescor
sobrenatural dos cinemas como uma rara fuga do calor tedioso do verão, agora devem considerar o
estresse físico do clima quente como um determinante significativo da mortalidade.

Os verões agora duram mais — bem depois do equinócio de outono em muitos lugares — e à medi-
da que o clima quente se espalha para regiões mais clementes, as escolas devem considerar os efei-
tos na aprendizagem sem ar condicionado. Um estudo de 2020 previu que, se as temperaturas nos
Estados Unidos contíguos aumentarem como previsto, até 2050 os alunos aprenderão em média
10% menos a cada ano. Os efeitos são cumulativos, e os alunos sem AC em suas escolas, que mui-
tas vezes vivem em regiões mais frias do país, são os mais vulneráveis.

O índice de calor mede a temperatura e a umidade para ajudar a avaliar o quão quente se sente lá fo-
ra. Dias com valores de índice acima de 18 graus normalmente exigem AC. No início da década de
1980, os Estados Unidos usavam AC por 61 dias, ou cerca de 66% de julho a setembro. Agora, cer-
ca de 71% dos dias de verão exigem AC. Até 2060, o número de dias de verão necessários para AC
deve aumentar ainda mais, para 87%.

Mais fundamentalmente, o ar condicionado está evoluindo rapidamente de um aparelho que adicio-


na conforto e conveniência a um sistema de suporte à vida sempre presente. Não está mais mental-
mente associado a coisas como torradoras, geladeiras e televisores, mas sim com aqueles sistemas
muitas vezes invisíveis que tomamos como garantidos até falharem, como a rede elétrica ou implan-
tes médicos, produtos farmacêuticos e o suprimento de sangue.

É possível ver um futuro em que somos dependentes do desempenho perfeito e contínuo do ar con-
dicionado, da mesma forma que muitas pessoas dependem de drogas que salvam vidas, os aviões
dependem do controle do tráfego aéreo e uma colônia na lua ou em Marte dependeria de fontes per-
pétuas de oxigênio e água. É uma tecnologia tão profundamente enraizada em nossas vidas diárias,
e cada vez mais importante para nossa sobrevivência, que quando pensamos nela, não é com prazer,
como um luxo ou com orgulho, como um exemplo de nossa engenhosidade técnica. Em vez disso,
isso nos lembra da nossa fragilidade. O ar condicionado se junta ao forno como um sistema essenci-
al para cada vez mais pessoas.

A trajetória do AC tem sido de uma curiosidade e luxo a uma necessidade. Mudou a forma como vi-
vemos e onde vivemos, e reconfigurou nossas cidades, casas, política e identidade. E agora está li-
gado à nossa esperança de sobrevivência como espécie.

Com base na leitura do texto, redija um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema: Ameaça ig-
norada: por que o aquecimento global ainda não é visto com seriedade?. Ao desenvolver o te-
ma proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas ao longo de sua for-
mação. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opiniões para defender o seu ponto de
vista, elaborando propostas para a solução do problema discutido em seu texto. Suas propostas de-
vem demonstrar respeito aos direitos humanos.

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