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O aquecimento global, fenómeno ocasionado pelo aumento da concentração de Gases de Efeito Estufa

(GEE) na atmosfera tem se apresentado como um problema de gravidade crescente, impactando


significativamente as condições de vida na Terra. O aumento do nível dos oceanos, o crescimento e o
surgimento de desertos, o aumento do número de furacões, tufões e ciclones e a observação de ondas
de calor em regiões de temperatura tradicionalmente amena são os exemplos mais notórios desse
fenômeno, motivando a adoção de medidas para o seu combate. Dessa forma, aquecimento global é o
aumento da temperatura média dos oceanos e da camada de ar próxima à superfície da Terra, que pode
ser consequência de causas naturais e de atividades humanas. O efeito estufa corresponde a uma
camada de gases que cobre a superfície da Terra. Essa camada é composta principalmente por gás car-
11 bônico ou dióxido de carbono (CO2 ), gás metano (CH4 ), óxido nitroso (N2 O) e vapor d’água, e é um
fenômeno natural fundamental para a manutenção da vida na Terra, pois sem ela o planeta poderia se
tornar muito frio, inviabilizando a sobrevivência de diversas espécies. Normalmente, parte da radiação
solar que chega ao nosso planeta é refletida e retorna diretamente para o espaço; outra parte é
absorvida pelos oceanos e pela superfície terrestre e uma parte é retida por essa camada de gases, o
que causa o chamado efeito estufa. O problema não é o fenômeno natural, mas o agravamento dele.
Como muitas atividades humanas emitem uma grande quantidade de gases formadores do efeito
estufa, os chamados GEE, essa camada tem ficado cada vez mais espessa, retendo mais calor na Terra,
aumentando a temperatura da atmosfera terrestre e dos oceanos e ocasionando o aquecimento global.

AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO MUNDO


As mudanças climáticas são transformações a longo prazo nos padrões de temperatura e clima.
Essas mudanças podem ser naturais, como por meio de variações no ciclo solar. Mas, desde
1800, as actividades humanas têm sido o principal impulsionador das mudanças climáticas,
principalmente devido à queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás.
A queima de combustíveis fósseis gera emissões de gases de efeito estufa que agem como um
grande cobertor em torno da Terra, retendo o calor do sol e aumentando as temperaturas.
Exemplos de emissões de gases de efeito estufa que estão causando mudanças climáticas
incluem dióxido de carbono e metano. Isso vem do uso de gasolina para dirigir um carro ou
carvão para aquecer um prédio, por exemplo.
O desmantamento de terras e florestas também pode liberar dióxido de carbono. Aterros para
lixo são uma das principais fontes de emissões de metano. Energia, indústria, transporte,
edificações, agricultura e uso da terra estão entre os principais emissores.
Vulnerabilidades a perigos e desastres naturais nos cenários actuais e futuros de mudanças
climáticas

Há evidências que sugerem que a mudança climática já mudou a magnitude e a frequência de


alguns eventos extremos de condições meteorológicas e climáticas em algumas regiões globais,
embora continue ainda muito difícil atribuir eventos individuais às mudanças climáticas (IPCC,
2012).

Eventos extremos, que em muitas cidades incluem ondas de calor, secas, chuvas intensas e
inundações costeiras, são projectados para aumentar em frequência e intensidade (IPCC, 2014).
A urbanização tende a ser associada com o aumento na temperatura do ar, o efeito chamado de
“ilha urbana de calor”. Centros urbanos e cidades são por vezes vários graus mais quentes do que
as áreas circundantes devido à presença de materiais que absorvem calor, e com um resfriamento
evaporativo causado pela falta de vegetação ou corpos de água. Alguns eventos climáticos
extremos serão agravados em condições de aquecimento global. Desde o ano 1950, as regiões
Sudeste e Sul do Brasil experimentam aumento na frequência de dias com chuvas intensas, assim
como aumento na frequência de ondas de calor e de dias secos consecutivos, o que significaria
chuva intensa concentrada em poucos dias com períodos secos e quentes entre eventos chuvosos;
já no Nordeste, a frequência de dias secos consecutivos aumenta em extensão e intensidade
(Magrin et al., 2014). Em escala mundial, as zonas urbanas vivenciaram uma multiplicação das
ondas de calor nos últimos 40 anos. Segundo Mishra et al. (2015), cujo estudo não contempla
cidades costeiras no Brasil, entre 1973 e 2012, quase a metade (48%) das 217 aglomerações
estudadas passaram por um aumento dos dias muito quentes, e dois terços delas de noites
também de muito calor. O agravamento das ondas de calor em zonas urbanas se acelerou nos
últimos anos, ao mesmo tempo em que houve uma queda das ondas de frio (as mais importantes
datam de 1973, 1974, 1976, 1981 e 1983), e em 60% delas, os dias com ventos intensos também
diminuíram. Além disso, apenas 17% das zonas urbanas estudadas registraram um aumento dos
dias de fortes chuvas, e 10% das de caráter torrencial. Esse padrão também foi identificado em
São Paulo (Marengo et al., 2013) e Rio de Janeiro (Dereczynski et al., 2013). Uma onda de calor
que atingiu o litoral de São Paulo em fevereiro de 2010 provocou a morte de pelo menos 32
pessoas com idades entre 60 e 97 anos na cidade de Santos, em apenas dois dias (Secretaria
Municipal de Saúde da cidade de Santos - http:// oglobo.globo.com/brasil/onda-de-calor-
provocou-morte-de-32-idosos-em-santosem-sp-diz-prefeitura 3054640#ixzz3ZpBxPkTR).
Vulnerabilidade das cidades costeiras brasileiras frente às mudanças climáticas 2.2
Vulnerabilidades a perigos e desastres naturais nos cenários atuais e futuros de mudanças
climáticas 25 PBMC - Relatório impacto, vulnerabilidade e adaptação das cidades costeiras
brasileiras às mudanças climáticas Almeida et al. (2016) calcularam u

Almeida et al. (2016) calcularam um conjunto de índices que apontam a vulnerabilidade e o risco
actual de ocorrer desastres associados a quatro tipos de perigos naturais – enchentes/enchentes-
relâmpago, secas/estiagens, escorregamentos e elevação do NMM, para cada um dos 5.570
municípios do Brasil. Para tanto, os autores utilizaram o índice DRI (Disaster Risk Indicators),
que agrupa vários índices de vulnerabilidade – exposição (Figura 2.3), suscetibilidade (Figura
2.4), capacidade de lidar com o evento e capacidade adaptativa (Figura 2.5), para obter a
vulnerabilidade (Figura 2.6), sendo o risco final para o Brasil (DRIB), calculado em relação à
ocorrência dos quatro tipos de eventos extremos somados (Figura 2.7). Os resultados para a
região costeira do Brasil indicam que a exposição a enchentes é alta em praticamente todos os
estados; a exposição a secas é alta nos estados do Nordeste, no extremo sul da Bahia, no Espírito
Santo e Rio de Janeiro; e a exposição a escorregamentos é alta na costa de Santa Catarina, norte
de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Pernambuco. Em termos absolutos, a cidade do
Rio de Janeiro possui mais de 2 milhões de pessoas expostas a escorregamentos e 800 mil
expostas a secas e estiagens. Fortaleza tem mais do que 650 mil expostas a secas e estiagens. As
cidades de Vila Velha e Vitória (Espírito Santo), Salvador (Bahia) e Santos (São Paulo)
apresentam alta exposição à elevação do NRM. Praticamente toda costa Sul, Sudeste e Norte do
país possuem alto ou muito alto grau de exposição aos efeitos da elevação do NRM. Entre os 20
municípios com pior desempenho no índice DRIB nenhum deles está em zona costeira, 12 são da
região Norte, 6 do Nordeste e 2 do Sudeste. Esses municípios têm pequenas populações, entre 3
mil e 25 mil habitantes, alta exposição a desastres e baixa capacidade adaptativa. O estudo
aponta ainda que apenas 20% dos municípios brasileiros estão bem preparados para mitigar os
impactos e reagir imediatamente a eventos extremos, em especial os localizados no Sudeste e
Sul. Esses e os demais resultados exaltam as grandes desigualdades entre e dentro das diferentes
regiões do Brasil, incluindo a zona costeira, e que constituem grandes barreiras para a gestão do
risco. Os autores concluíram que o risco associado a esses desastres é extremamente dependente
das condições socioeconômicas e culturais das populações expostas, bem como com a
performance das instituições estatais em lidar com os desastres - em outras palavras, o risco é
dependente da vulnerabilidade.

Impacto das mudanças climáticas: 6 descobertas do relatório do IPCC de 2022 sobre


adaptação

O novo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em


inglês) traça um cenário preocupante: as mudanças climáticas já afetam todas as partes do
mundo, e impactos muito mais severos podem estar nos esperando se não reduzirmos as
emissões de gases do efeito estufa pela metade ainda nesta década e não começarmos
imediatamente a ampliar as medidas de adaptação.

Na sequência da primeira parte do Sexto Relatório de Avaliação do IPCC, a contribuição do


Grupo de Trabalho II oferece uma análise profunda dos impactos cada vez mais intensos das
mudanças no clima e dos riscos futuros, em particular para comunidades marginalizadas e países
com poucos recursos. O relatório de 2022 do IPCC também detalha quais as abordagens de
adaptação climática são mais efetivas e viáveis, bem como quais são os ecossistemas e grupos de
pessoas mais vulneráveis.

A seguir, seis conclusões do relatório:

1. Os impactos climáticos já estão mais severos e generalizados do que se esperava.

As mudanças climáticas já estão causando perturbações generalizadas em todas as partes do


mundo com o aquecimento actual de 1,1°C.

Secas devastadoras, calor extremo e inundações recordes já ameaçam a segurança alimentar e os


meios de subsistência de milhões de pessoas. Desde 2008, inundações e tempestades
catastróficas forçaram mais de 20 milhões de pessoas por ano a deixarem suas casas.
Hoje, metade da população mundial enfrenta insegurança hídrica em pelo menos um mês a cada
ano. Incêndios florestais estão queimando áreas mais extensas do que antes em muitas regiões,
levando a mudanças irreversíveis na paisagem. As temperaturas mais altas também facilitam a
propagação de doenças transmitidas por vetores, como o vírus do Nilo Ocidental, a doença de
Lyme e a malária, bem como doenças transmitidas pela água, como a cólera.

As mudanças climáticas também estão afetando espécies e ecossistemas inteiros. Animais como
o sapo dourado e o melomys de Bramble Cay (um pequeno roedor) foram extintos pelo
aquecimento global. Outras espécies, como a raposa voadora, as aves marinhas e os corais, estão
morrendo em massa, enquanto outros milhares migraram para latitudes e altitudes mais altas.

2. Estamos fadados a sofrer impactos climáticos ainda piores em curto prazo.

Mesmo se o mundo passar por um rápido processo de descarbonização, os gases de efeito estufa
que já estão na atmosfera e as actuais tendências de emissões ainda terão impactos climáticos
inevitáveis significativos até 2040. O IPCC estima que, apenas ao longo da próxima década, as
mudanças climáticas vão colocar entre 32 milhões e 132 milhões de pessoas na pobreza extrema.
O aquecimento global colocará em risco a segurança alimentar e aumentará a incidência de
doenças cardíacas, dificuldades com a saúde mental e de mortes relacionadas ao calor.

Em um cenário de altas emissões, por exemplo, os riscos também mais altos de inundações
podem levar a um adicional de 48 mil mortes de crianças de até 15 anos em decorrência de
diarreia em 2030. Espécies e ecossistemas passarão por mudanças dramáticas, como as áreas de
mangue se tornando incapazes de conter o aumento do nível do mar, declínio das espécies
dependentes do gelo marinho e mortes de árvores em larga escala.

3. Os riscos vão aumentar rapidamente com as temperaturas mais altas, com frequência
gerando impactos climáticos irreversíveis.

O relatório mostra que cada décimo de grau de aquecimento aumenta as ameaças às pessoas,
espécies e ecossistemas. Mesmo o limite de 1,5°C – uma meta global do Acordo de Paris – não é
seguro para todos.
Por exemplo, com 1,5°C de aquecimento, muitas geleiras em todo o mundo vão desaparecer por
completo ou perder a maior parte de sua massa; um adicional de 350 milhões de pessoas
enfrentarão escassez de água até 2030; e até 14% das espécies terrestres estarão em risco de
extinção.

De forma semelhante, se o aquecimento passar de 1,5°C, mesmo que temporariamente, efeitos


muito mais severos e até irreversíveis vão acontecer, como tempestades mais fortes, secas e
ondas de calor mais longas, níveis mais extremos de chuva, o rápido aumento do nível do mar,
perda de gelo no mar Ártico e das camadas de gelo, derretimento do permafrost, entre outros.
Ultrapassar o limite de 1,5°C também aumenta a probabilidade de eventos de alto impacto, como
a morte massiva de florestas, o que transformaria sumidouros essenciais de carbono em fontes de
emissão carbono.

O IPCC prevê que esses riscos se misturem uns aos outros à medida que diversas catástrofes
ocorrerem ao mesmo tempo e nas mesmas áreas. Em regiões tropicais, por exemplo, os efeitos
combinados do calor e da seca podem desencadear perdas repentinas e significativas nos
rendimentos agrícolas. Ao mesmo tempo, a mortalidade relacionada ao calor aumentará ao passo
que a produtividade diminuirá, de forma que as pessoas não estarão aptas a trabalhar mais para
superar as perdas causadas pela seca. Juntos, esses impactos vão diminuir a renda das famílias ao
mesmo tempo em que aumentam os preços dos alimentos – uma combinação devastadora que
afeta a segurança alimentar e intensifica riscos de saúde como a desnutrição.

4. Desigualdade, conflitos e desafios de desenvolvimento que aumentam a vulnerabilidade


aos riscos climáticos.
Actualmente, 3,3 bilhões de pessoas vivem em países altamente vulneráveis aos impactos
climáticos, com hotspots globais concentrados nos Pequenos Estados Insulares em
Desenvolvimento, Árctico, Sul da Ásia, América Central, América do Sul e em grande parte da
África Subsaariana.
Desigualdade, conflitos e desafios de desenvolvimento como a pobreza, governança ineficiente e
acesso limitado a serviços básicos, como saúde, não apenas aumentam a exposição aos perigos
como restringem a habilidade das comunidades de se adaptar às mudanças climáticas. Em nações
altamente vulneráveis, por exemplo, a mortalidade em decorrência de secas, tempestades e
inundações entre 2010 e 2020 foi 15 vezes maior do que em países de baixa vulnerabilidade.

A exposição aos impactos climáticos subiu drasticamente nas cidades desde a publicação
do Quinto Relatório de Avaliação do IPCC, em 2014. Os aumentos mais rápidos na
vulnerabilidade urbana se deram em assentamentos informais, nos quais condições precárias de
habitação, acesso inadequado a serviços básicos e recursos limitados impedem esforços de
resiliência. O desafio é especialmente acentuado na África Subsaariana, onde 60% da população
urbana mora nesses assentamentos, e na Ásia, com 529 milhões de pessoas vivendo nas mesmas
condições.

Muitas comunidades rurais também enfrentam riscos climáticos crescentes, em particular povos
indígenas e as pessoas cujos meios de subsistência dependem de estores directamente expostos
aos riscos, como agricultura, pesca e turismo. À medida que os impactos climáticos se tornarem
mais intensos, algumas famílias podem não ter outra escolha a não ser migrar para os centros
urbanos.
O IPCC prevê que, até 2030, secas extremas na região amazónica vão impulsionar a migração
para as cidades, onde povos indígenas e comunidades tradicionais tendem a ser forçados a viver
à margem.

Esses padrões de desenvolvimento urbano e rural não apenas moldam experiências desiguais aos
riscos climáticos, mas também tornam os próprios ecossistemas mais vulneráveis. Mudanças no
uso da terra, fragmentação de habitats, poluição e exploração de espécies estão enfraquecendo a
resiliência ecológica. E a perda de ecossistemas, por sua vez, amplia a vulnerabilidade das
pessoas.

Cidades que se expandem por zonas úmidas costeiras, por exemplo, promovem a degradação de
ecossistemas que, de outra forma, ajudariam a proteger os bairros próximos a essas áreas da
elevação do nível do mar, de tempestades e de inundações. Essas ameaças podem ter efeitos
misturados e em cascata na saúde, na segurança alimentar, no acesso à agua potável e nos meios
de subsistência dos moradores, o que os torna ainda mais vulneráveis a riscos futuros.
5. A adaptação é essencial. Soluções viáveis já existem, mas mais apoio precisa chegar às
comunidades vulneráveis.

As políticas climáticas de pelo menos 170 países agora incluem a adaptação, mas muitos deles
ainda precisam passar do planejamento para a implementação. O IPCC mostra que os esforços
atuais ainda são, em grande parte, incrementais, reativos e de pequena escala, com a maioria
focada apenas nos impactos atuais ou nos riscos de curto prazo. A lacuna entre os níveis de
adaptação atuais e os necessários persiste, devido em grande parte ao apoio financeiro limitado.
O IPCC estima que a adaptação necessária apenas nos países em desenvolvimento vai chegar a
US$ 127 bilhões até 2030 e a US$ 295 bilhões até 2050. No momento, a adaptação representa
apenas entre 4% e 8% do financiamento climático mensurado, que totalizou US$ 579 bilhões
entre 2017 e 2018.

A boa notícia é que alternativas já existentes de adaptação podem reduzir os riscos climáticos se
obtiverem recursos suficientes e forem implementadas mais rápido. O relatório do IPCC de 2022
inova ao analisar a viabilidade, eficácia e potencial de diversas medidas de adaptação de gerar
cobenefícios, como melhores resultados de saúde ou redução da pobreza.

Três abordagens de adaptação avaliadas são:

 Programas sociais que promovem equidade e justiça: reconfigurar programas de


assistência social (como transferências de renda, programas de obras públicas e redes de
segurança social) para que incluam adaptação climática pode diminuir a vulnerabilidade
de comunidades urbanas e rurais a uma série de riscos. Essas medidas são especialmente
eficazes quando combinadas com esforços para melhorar o acesso à infraestrutura e
serviços básicos, como água potável, saneamento e saúde. Parcerias entre governos,
organizações da sociedade civil e o setor privado – bem como processos de tomada de
decisão inclusivos e conduzidos localmente – podem ajudar a garantir que a prestação
desses serviços melhore a resiliência climática das comunidades vulneráveis.
 Adaptação baseada no ecossistema: essa abordagem envolve um amplo leque de
estratégias, desde a proteção, restauração e manejo sustentável de ecossistemas até
práticas agrícolas mais sustentáveis, como a inclusão de árvores nas fazendas, a
diversificação das culturas e o plantio de árvores nas áreas de pastagem. Medidas de
adaptação baseadas nos ecossistemas podem reduzir os riscos climáticos que muitas
pessoas já enfrentam – incluindo secas, calor extremo, inundações e incêndios – e, ao
mesmo tempo, oferecer cobenefícios para a biodiversidade, para os meios de
subsistência, para a saúde e para a segurança alimentar, além de ajudar no sequestro de
carbono. A colaboração com os povos indígenas e comunidades locais é fundamental
para o sucesso dessas medidas, assim como a garantia de que sejam projetadas
considerando os impactos que o aquecimento global futuro terá nos ecossistemas.
 Novas tecnologias e infraestrutura: evidências emergentes sugerem que combinar
soluções baseadas na natureza com alternativas envolvendo engenharia, como canais para
controle de inundações, pode ajudar a reduzir os riscos costeiros e relacionados à água,
principalmente nas cidades. O acesso a tecnologias melhores, como variedades de
culturas mais resilientes, aprimoramentos na criação de gado ou energia solar e eólica,
também pode ajudar a fortalecer a resiliência. Algumas dessas respostas de adaptação, no
entanto, podem ser prejudiciais se forem mal projetadas ou implementadas de forma
inadequada. Expandir os sistemas de irrigação, por exemplo, pode combater riscos
climáticos de curto prazo, mas também pode drenar as reservas de água subterrânea já
escassas.

6. Mas alguns impactos das mudanças climáticas já são severos demais para pensar em
adaptação. O mundo precisa agir com urgência para lidar com as perdas e danos.

Com o aquecimento de 1,1°C que o mundo já vive, algumas populações e ecossistemas


altamente vulneráveis começam a chegar ao limite daquilo a que podem se adaptar. Em algumas
regiões, esse limite é “suave” – medidas efetivas de adaptação existem, mas determinadas
dificuldades políticas, econômicas e sociais entravam a implementação, como o acesso limitado
a financiamento. Em outras, porém, pessoas e ecossistemas já enfrentam ou estão perto de chegar
a limites mais “duros” para adaptação, em áreas onde os impactos climáticos já são tão severos
que nenhuma medida de adaptação existente pode prevenir as perdas e danos. Por exemplo,
algumas comunidades costeiras de regiões tropicais perderam ecossistemas inteiros de recifes de
corais que ajudavam a manter sua segurança alimentar e meios de subsistência. Outras tiveram
que abandonar áreas mais baixas e espaços culturais com o aumento do nível do mar.
Independentemente de enfrentar limites duros ou mais suaves, o resultado para essas
comunidades é devastador e com frequência irreversível. As perdas e danos só vão aumentar à
medida que as temperaturas subirem. Se o mundo aquecer para além de 1,5°C, por exemplo,
comunidades que dependem do derretimento do gelo e das geleiras vão enfrentar uma escassez
de água à qual não poderão se adaptar. A um aquecimento de 2°C, o risco de falhas simultâneas
na produção de milho nas principais regiões de cultivo aumentará de forma significativa. E,
acima de 3°C, o calor do verão em algumas áreas do sul da Europa será perigosamente alto.

A janela de oportunidades para a ação climática está fechando rápido

A ciência não deixa margem para dúvidas: as mudanças climáticas colocam em perigo o bem-
estar das pessoas e do planeta. Agir com atraso é um risco de deixar que aconteçam impactos tão
catastróficos que tornarão nosso mundo irreconhecível.

Os próximos poucos anos ainda oferecem uma janela estreita para um futuro sustentável e
habitável para todos. Mudar o rumo exige esforços imediatos, ambiciosos e coordenados para
reduzir emissões, construir resiliência, conservar os ecossistemas e aumentar drasticamente o
financiamento para adaptação e perdas e danos.

A COP27, que será realizada no Egito em novembro de 2022, é uma oportunidade crucial para os
governos avançarem nessas frentes e para os países desenvolvidos demonstrarem solidariedade
com as nações vulneráveis.

Enfrentar a crise climática não vai ser fácil. Os governos, a sociedade civil e o setor privado
devem todos se comprometer. Como o relatório do IPCC deixa claro, não há outra opção.

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