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Special Issue on "The Political Economy of Land Reform" for IJLTEFS, as main invited guest editor. View project
The governance of common goods and disaster risk reduction View project
All content following this page was uploaded by Pedro Abel Vieira Junior on 05 January 2015.
Introdução
Nas duas ultimas décadas o Brasil passou por profundas transformações que, para alguns autores,
privilegiaram uma realidade ‘primário exportadora’ calcada na agricultura e na mineração. Nesse caso,
a dinâmica brasileira ocorreu na contramão das teorias de Lewis e dos preceitos cepalinos sobre o
desenvolvimento (GONCALVES, 2010), o que tem grande impacto sobre as diversas vertentes e
dimensões da pobreza.
1
Pesquisador da Embrapa Transferência de Tecnologia, pedro@campinas.snt.embrapa.br.
2
Professor Doutor do Instituto de Economia da Unicamp, buainain@gmail.com.
As dimensões da pobreza
São vários os conceitos de pobreza, porém, todos convergem para que a pobreza seja uma situação
de insegurança derivada da impossibilidade de acesso a recursos para satisfazer as necessidades
físicas, sociais e/ou psíquicas básicas do ser humano tais como alimentação, habitação, educação,
saúde e segurança. São vertentes da pobreza o desemprego, a distribuição de renda, a segregação
social e a democracia. De modo geral, se avalia a pobreza como função da renda, ou seja, é um
conceito fundamentalmente econômico, a despeito de ter impactos políticos e sociais. Assim, há
dois conceitos básicos de pobreza: a pobreza absoluta e a pobreza relativa. Uma pessoa, ou um
domicílio, é pobre quando a renda não garante as necessidades básicas de reprodução física,
medida por uma quantidade mínima de calorias, de moradia, de vestuário e de locomoção, porem,
se a renda não permite adquirir os bens necessários à reprodução física, é um caso de pobreza
extrema. Além da intensidade de pobreza, a sua desigualdade é um indicador importante. Outro
conceito de pobreza, a pobreza relativa, considera a vertente monetária. Nesse caso, é considerado
pobre o indivíduo, ou domicilio, cuja renda é inferior a um determinado valor, variando entre 40 a
60% dependendo da região, da renda média. Considerando o exposto, a profundidade e as
desigualdades entre os pobres são os fatores mais importantes uma vez que a pobreza monetária,
absoluta ou relativa, é insuficiente e pode conduzir à interpretações errôneas. A pobreza não é
apenas monetária, ela possui várias dimensões havendo a necessidade de considerar indicadores
que considerem as vertentes não monetárias como saúde, educação, segurança, segregação social e
instituições (democracia), entre outras. Dada a facilidade do recorte, a dinâmica do produto é um
bom indicador para espacialização da pobreza, a partir do qual é possível analisar as demais
vertentes da pobreza de modo a caracterizar as suas dimensões (ONU, 2003).
Esse debate não considera que a dinâmica da agroindústria brasileira moderna é complexa e
promoveu transformações no setor industrial, principalmente, no setor de serviços, o setor dinâmico
das economias modernas. Essas transformações, que vão desde a economia, com destaque para
macroeconômica e a abertura comercial que afetaram significativamente a estrutura produtiva do país,
até sua estrutura social, com destaque para o crescimento da classe média e a conseqüente mudança
nos padrões de consumo, passando pela política e as conseqüentes alterações nas relações de poder
dos grupos de interesse, foram intensas no Centro Oeste brasileiro nas duas ultimas décadas.
Considerando que o centro dinâmico da economia brasileira é o setor agrícola e que as grandes
transformações desse setor na ultima década ocorreram na região Centro Oeste, pode se afirmar que
essa região tem papel fundamental na atual conformação brasileira (VIEIRA JUNIOR, 2006).
A questão da pobreza, em qualquer nação, aparece sob diversos ângulos e, de modo geral, as
opções para supera-la não têm dado respostas condizentes às suas causas ou origem. A pobreza não
pode ser definida de forma única e universal, contudo, é inquestionável que se refere a situações de
carência em que os indivíduos não conseguem manter um padrão mínimo de vida condizente com as
referências socialmente estabelecidas em cada contexto histórico.
Nas ultimas décadas o Brasil melhorou o seu Índice de Desenvolvimento Humano absoluto,
porem, recuou no ranking mundial de desenvolvimento humano como consequência da má
distribuição de renda, uma das causas fundamentais da pobreza brasileira. No caso do Centro Oeste,
conforme ficará demonstrado nesse trabalho, a prosperidade agrícola, que refletiu na renda e no
aumento do emprego, contribuiu para aliviar as desigualdades, o que, conjugado à baixa densidade
populacional no campo, não torna a questão da pobreza rural tão grave quanto em outras regiões
brasileiras como o norte e o nordeste. Porem, essa dinâmica exitosa, conforme também ficará
demonstrado, criou zonas de exclusão, o que é próprio do sistema capitalista brasileiro podendo
representar um problema no futuro. Ainda, como também será demonstrado, a dinâmica econômica do
Centro-Oeste foi calcada na abundancia de recursos naturais, notadamente terras para agricultura e
mineração, o que representa um limite ao atual modelo de desenvolvimento. Assim, a questão central
da região Centro-Oeste na atualidade não é a situação da pobreza rural, mas, o que fazer para garantir
a prosperidade no futuro.
Em anos recentes, há crescente preocupação da sociedade com a necessidade de reverter à pobreza,
haja vista o atual slogan do Governo Federal: “Um país rico é um país sem pobreza. Para tanto, vem
se criando mecanismos de participação e controle social, programas, projetos e ações que indicam um
movimento de transformações positivas. Porem, para o estabelecimento de políticas adequadas, além
de quantificar, é necessário qualificar espacialmente as vertentes e as dimensões da pobreza.
Partindo do suposto que a questão central do Centro-Oeste não são os indicadores habituais de
pobreza como a renda, a educação, a saúde ou o emprego, mas, o que fazer com a dinâmica
socioeconômica atual de modo a garantir baixos índices de pobreza rural no futuro, esse trabalho se
propõem a quantificar e qualificar espacialmente a relação entre o produto alguns indicadores de
pobreza como a renda e a educação. Para tanto, nos dois primeiros tópicos, serão apresentadas uma
breve descrição da região Centro Oeste e as principais transformações contemporâneas. No segundo
tópico serão discutidas as dinâmicas espaciais dos produtos agrícola, industrial e serviços. A partir da
dinâmica espacial do produto, serão discutidos os seus efeitos sobre a renda e a educação, bem como,
a sobre a estrutura espacial populacional. A análise conjunta dos resultados obtidos indicará as
mudanças estruturais ocorridas na região Centro Oeste e seus impactos sobre a pobreza rural, assunto
do quarto tópico. A partir dessa análise, no ultimo tópico, serão propostas politicas para superação da
pobreza rural no Centro Oeste.
2000 2007
4
A metodologia do IFDM distingue-se por ter periodicidade anual, recorte municipal e abrangência nacional. Estas
características possibilitam o acompanhamento do desenvolvimento humano, econômico e social de todos os 5.564
municípios brasileiros de forma objetiva e com base exclusiva em dados oficiais relativos às três principais áreas de
desenvolvimento: Emprego e Renda, Educação e Saúde (FIRJAN, 2010).
Figura 1. Posição dos municípios da região Centro-Oeste no ranking nacional do Índice Firjan de
Desenvolvimento Municipal nos anos de 2000 e 2007. (Elaboração própria com dados de FIRJAN,
2010).
Essa dinâmica também teve impactos negativos sobre o meio-ambiente5, os quais tendem a serem
contidos na atualidade contribuindo para frear o crescimento econômico regional calcado na expansão
da fronteira agrícola. Ou seja, a onda de expansão que gerou resultados positivos nas condições de
vida da população, mas, confinou a pobreza e o atraso em espaços onde a moderna agropecuária não
penetrou, na atualidade tende a arrefecer. O crescimento e a modernização da economia regional
convive, em alguns aspectos agrava, com desigualdades intra-regionais, resultado do dinamismo
desigual. Além da diferença no ritmo de crescimento estadual, com destaque para o Mato Grosso, o
dinamismo da economia é bastante distinto, refletindo nos indicadores sociais. Um estudo do
Ministério da Integração Nacional, apresenta os espaços com nível de renda e dinamismo diferenciado
no território regional. Destacam-se vários espaços classificados como ‘estagnado de media renda’ e
‘renda menor’. As áreas mais pobres do Centro-Oeste, caracterizadas como ‘menor renda’,
distribuem-se no oeste do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, nordeste e parte do centro do Mato
Grosso e grande parte do norte e nordeste de Goiás (Mapa 1).
5
Dentre vários fatores responsáveis pela degradação ambiental, a prática de queimadas é reconhecida como das mais
importantes no Brasil. Se possuem algumas vantagens aparentes e imediatas, as queimadas provocam, a médio e longo
prazo, a perda da biodiversidade, aumento do efeito estufa, o empobrecimento do solo, com a perda da fertilidade e
destruição dos microorganismos, favorecem a erosão, a poluição do ar, aumentam a ocorrência de doenças respiratórias, e
causam toda sorte de problemas como fechamento de aeroportos, cortes em linhas de transmissão de energia, falta de
visibilidade em estradas, entre outros. Em todo o país, essas queimadas são resultantes do manejo inadequado das culturas
e a expansão das fronteiras agrícolas que, sem planejamento ambiental, fomentam a destruição e degradação dos
ecossistemas (DARCIE, 2002).
Mapa 1. Politica Nacional de desenvolvimento do Centro-Oeste (Ministério da Integração, 2008).
descrito a seguir:
Essa classificação deve ser complementada pelas perspectivas futuras de crescimento setorial, aqui
denominado por viés de acumulação. Assim, é pertinente analisar a taxa de crescimento dos
produtos nos setores nos setores agrícola ( PIB Agricola ), industrial ( PIB Industria ) e de serviços
referem-se aos produtos setoriais e ao produto total na data inicial e na data final da série
analisada, respectivamente, e n refere-se ano numero de anos da série.
A despeito dessa caracterização, algumas regiões classificadas como ricos+ na Figura 2 no
Nordeste do Mato Grosso, no Sul e no leste do Mato Grosso do Sul, no pantanal e no norte de Goiás
apresentaram uma dinâmica distinta pelo fato de não estarem localizados em áreas adequadas à
agricultura e/ou por não serem servidas pela malha rodoviária. Por outro lado, municípios como
Campinapolis/MT, Formosa/GO e Planaltina/GO, apesar de serem servidos por rodovias e estarem
localizados em regiões com aptidão agrícola favorável, apresentaram dinâmica do produto insuficiente
sendo classificados como pobres+ (Figura 2).
Essas constatações sugerem a necessidade de um estudo mais detalhado sobre a dinâmica do
produto na região Centro Oeste, aonde a variação do produto definiu algumas regiões com alta taxa de
crescimento do PIBpc em detrimento de outras (Figura 2).
2007 Q VIÉS Q
2007 M VIÉS M
Figura 2. Representação, em base municipal, dos quintis (Q) e do índice de Moran (M) do: Produto
Interno Bruto per capita no ano de 2007 (2007, R$ de 2000 deflacionado pelo deflator implícito do
PIB nacional), variação porcentual anualizada entre os anos de 1996 a 2007 do Produto Interno Bruto
per capita (VIÉS, %a.a.) na região Centro Oeste (Elaboração própria com dados de IPEADATA,
2011).
Figura 3. Áreas do Centro-Oeste adequadas, com restrições e inadequadas à produção agrícola (IBGE,
2011) e malha rodoviária federal.
Observa-se na Figura 2 que os espaços ricos+, de modo geral, estão circundadas por espaços ricos,
os quais estão circundadas por espaços médios e assim sucessivamente até os espaços pobres+.
Aplicando-se o Teste de Moran6, observa-se (Figura 2) que a dinâmica do produto no Centro Oeste, de
modo geral, se deu na forma de grupamentos, ou seja, que alguns municípios apresentam efeitos de
transbordamento aos seus vizinhos na geração de riqueza constituindo os espaços ++. O teste de
6
Um aspecto da análise espacial é a dependência espacial, mostrando como os valores estão correlacionados no espaço.
Uma das funções utilizadas para estimar quanto o valor observado de um atributo numa região é dependente dos valores
desta mesma variável nas localizações vizinhas é a autocorrelação espacial. O índice global de Moran é a expressão da
autocorrelação considerando apenas o primeiro vizinho cuja hipótese nula é de independência espacial, ou seja, seu valor
seria zero. Valores positivos (entre 0 e +1) indicam para correlação direta e negativos (entre 0 e –1) correlação inversa. O
diagrama de espalhamento de Moran é uma maneira adicional de visualizar a dependência espacial. Para tanto, a análise de
um gráfico com os valores normalizados (valores dos atributos subtraídos de sua média e divididos pelo desvio padrão) e a
média dos vizinhos, indica a dependência espacial segundo os seguintes quadrantes: Q1com valores e médias positivas (++)
e Q2 com valores e médias negativas (--) indicam pontos de associação espacial positiva, no sentido que uma localização
possui vizinhos com valores semelhantes; Q3 com valores positivos e médias negativas (+-) e Q4 com valores negativos e
médias positivas (-+) indicam pontos de associação espacial negativa, no sentido que uma localização possui vizinhos com
valores distintos (ANSELIN, 1995).
Moran também indica que a riqueza os espaços ++ se deu em detrimento dos municípios vizinhos,
representados por -+ na Figura 2, do que se infere que o conjunto de municípios ricos e representados
por +- na Figura 2 podem estar deprimindo seus vizinhos. Desse modo a configuração desses espaços
tende a agravar a distribuição da riqueza, pois, além da questão da concentração espacial, o
crescimento econômico dos espaços ricos+ e ricos se da pela expulsão da pobreza para os espaços
periféricos médios e assim sucessivamente até os espaços pobres+, o que está em acordo com as
afirmações de Furtado (2000) e Wallerstein (1979)7.
Para esses autores, de modo geral, o desenvolvimento econômico é um processo no qual a renda
aumenta durante um longo período de tempo. O setor de serviços, seguido do industrial, são os que
apresentam maior potencial para o desenvolvimento socioeconômico, cabendo ao setor agrícola
suportar os setores dinâmicos da economia fornecendo alimentos, matéria-prima, além de atuar como
um reservatório de mão-de-obra. Assim, a equalização na distribuição da riqueza em regiões contendo
espaços desiguais requer tratamentos desiguais, pois, a dinâmica ‘natural’ agravará a concentração da
riqueza. O Centro-Oeste apresenta correlações espaciais significativas entre a geração de riqueza,
expresso pelo PIB per capita na Figura 2, e a participação dos produtos agrícola (8,9%), industrial
(13,3%) e de serviços (77,7%), indicando que a análise do desenvolvimento socioeconômico dessa
região requer a espacialização da dinâmica dos setores agrícola, industrial e de serviços (Figura 4).
2007 VIÉS
7
Wallerstein (1979) rejeita a hipótese de ‘Terceiro Mundo’ argumentando que o sistema econômico mundial é uma
complexa rede onde a relação capital e trabalho, bem como o seu fim que é a acumulação de capital, é dinamizada pela
competição entre os agentes, incluindo, mas não limitando, os estados e nações. Para ele, o capitalismo está longe de ser
homogêneo nas vertentes econômica, politica e cultural, sendo a diferença fundamental no desenvolvimento
socioeconômico a acumulação de capital e poder politico. Assim, Wallerstein propôs a divisão do mundo nas regiões
centro, semiperiferia e periferia, as quais têm funções determinadas e distintas no sistema econômico mundial,
notadamente, quanto ao trabalho e a acumulação de capital. O pensamento de Wallerstein coaduna com Furtado (2000),
quem consideram o subdesenvolvimento como uma forma de organização social no interior do sistema capitalista. Furtado
é contrário à ideia de que o subdesenvolvimento é uma etapa para o desenvolvimento, pois, o subdesenvolvimento é um
processo estrutural específico e não uma fase pela qual tenham passado os países hoje considerados desenvolvidos. Os
países subdesenvolvidos tiveram, segundo Furtado (2000), um processo de industrialização indireto, ou seja, como
consequência do desenvolvimento dos países industrializados. Por outro lado, os países subdesenvolvidos sustentam o
processo de desenvolvimento dos países industrializados fornecendo alimentos e matérias-primas produzidas em locais
com mão de obra abundante.
Figura 4. Espaços da região Centro Oeste segundo a participação no ano de 2007 (2007) dos produtos
agrícola, industrial e de serviços no Produto Interno Bruto per capita municipal além da variação
porcentual anualizada entre os anos de 1996 a 2007 das respectivas participações (Elaboração própria
com dados de IPEADATA, 2011).
Observa-se (Figura 4) que, a despeito de ser considerada como uma região de fronteira agrícola e
o crescimento da participação do setor industrial ser predominante entre os anos de 1996 a 20078, a
região Centro Oeste apresentava no ano de 2007 uma economia baseada no setor de serviços 9 .
Mantidas essas condições, a dinâmica econômica do Centro Oeste sinaliza por crescimento dos setores
industrial e de serviços, o que é positivo, porem, haverá um desencadeamento entre os setores da
economia, o que pode resultar em problemas para o desenvolvimento econômico regional.
8
Do total de 466 municípios da região Centro Oeste no ano de 2007, 207 (44,4%), 96 (20,6%), 61 (13,1%), 60 (13,0%), 35
(7,5%), cinco (1,1%) e dois municípios apresentaram crescimento (Viés) Industrial+, Serviços+, Industrial, Serviços,
Agrícola+, Misto e Agrícola, respectivamente.
9
Do total de 466 municípios da região Centro Oeste no ano de 2007, 141 (30,6%), 134 (28,7%), 73 (15,6%), 72 (15,5%),
21 (4,5%), sete (1,5%), sete (1,5%), cinco (1,1%), quatro (1,0%) e dois municípios foram classificados como ServAgri,
Serviços, AgriServ, Serviços+, ServIndu, Agrícola +, Agrícola, InduServ, Industrial+ e Industrial, respectivamente, no
ano de 2007.
AGRÍCOLA Q INDÚSTRIA Q SERVIÇOS Q
Figura 5. Representação, em base municipal, dos quintis (Q) e do índice de Moran (M) da participação
porcentual dos setores agrícola, industrial e de serviços no Produto Interno Bruto no ano de 2007 no
Centro Oeste (Elaboração própria com dados de IPEADATA, 2011).
10
O Polocentro teve como objetivo propiciar a ocupação racional e ordenada dos cerrados, difundindo a tecnologia
agropecuária, permitindo elevados níveis de produtividade, e ao mesmo tempo, aumentando e preservando a fertilidade do
solo. O Programa beneficiou principalmente médios e grandes produtores no período em que vigorou (1975-1982). O
Polocentro procurou transformar a agricultura de subsistência em uma agricultura empresarial, no sentido de uso de
práticas agrícolas modernas e a integração com o mercado, através de ampla assistência técnica, apoio financeiro e de
infraestrutura (MAROUELI, 2003).
11
O programa Desenvolvimento dos Cerrados (PRODECER), uma cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento
dos Cerrados, foi idealizado em 1974 e implementado a partir de 1978 numa região até então pouco considerada para
agricultura, o Cerrado do Brasil central. O objetivo estimular e desenvolver a implantação de uma agricultura moderna,
eficiente e empresarial, de médio porte, na região dos cerrados, com vistas ao seu desenvolvimento, mediante a
incorporação de áreas ao processo produtivo, dentro de um enfoque sustentável. Também se buscou criar infraestrutura
que permitisse o crescimento econômico e social da região, que passou a atrair migrantes de outros pontos do país
(MAROUELI, 2003).
12
Segundo Castro e Fonseca (1995) as transformações produtivas incentivadas no Centro-Oeste, podem ser divididas em
três fases: 1) A primeira começa no final dos anos 60, com a chegada dos pioneiros da soja no Mato Grosso do Sul,
marcando a fase da adaptação dessa cultura no cerrado e uma incipiente atividade agroindustrial de beneficamento de
grãos, especialmente em Goiás; 2) A segunda ocorre na primeira metade da década de 80, com a expansão e consolidação
do sistema de produção de commodities milho e principalmente soja sob as estratégias dos grandes capitais de
comercialização desses produtos; e 3) Após 1985 ocorre o deslocamento de capitais do Centro-Sul para o Centro-Oeste e a
consolidação do complexo grãos-carne.
portanto, apresentam economias menos dinâmicas e, provavelmente, com maior intensidade de
pobreza que as regiões onde a agricultura prosperou. Já nos espaços onde a agricultura prosperou
coincidem com as regiões ricas e ricas+ da Figura 2. Conforme discutido no tópico anterior que a
dinâmica da riqueza confinou as camadas menos favorecidas da sociedade em alguns espaços e,
portanto, os efeitos da pobreza nesses espaços devem ser mais intensos, pode-se inferir que, se por um
lado o avanço da fronteira agrícola promoveu o desenvolvimento, por outro lado foi um fator de
exclusão socioeconômica. A despeito dessa inferência, ainda não é possível afirmar que essa dinâmica
tenha sido perniciosa ou um fator de geração de pobreza. Por principio, a dinâmica da fronteira
agrícola no Centro Oeste teve mais benefícios que malefícios, pois, incorporou essa região à matriz
produtiva nacional com ganhos inquestionáveis ao país. Porem, conforme discutido no tópico anterior,
caso não sejam adotadas medidas preventivas, essa dinâmica poderá engendrar zonas de concentração
da pobreza.
1975
Pastagem Lavouras
1985
Pastagem Lavouras
1995
Pastagem Lavouras
2005
Pastagem Lavouras
Figura 6. Porcentual das áreas municipais do Centro Oeste ocupadas por pastagens e por lavouras nos
anos de 1975, 1985, 1995 e 2006 (Elaboração própria com dados de IBGE, 2011).
Na década de 1970 a predominância agrícola no Centro Oeste era do arroz do milho e do feijão
e, até 1980, a região não produzia mais do que 10 espécies com participação inexpressiva do algodão
e da soja, culturas que foram vetores das mudanças estruturais na agricultura do Centro Oeste a partir
dos anos 80. Ainda na década de 70 é interessante observar que a pecuária e a produção de arroz
apresentavam alguma integração com os demais mercados nacionais, porem, as produções de feijão,
milho e mesmo do café (menos de 2% da área agrícola em 1975), apesar de ser uma espécie com
mercado nacional e internacional relativamente desenvolvido na época, destinavam-se ao consumo
interno, ou seja, as atividades agrícolas não geravam relações econômicas significativas com os
demais mercados nacionais e internacionais.
Além do aumento na produção, a agricultura no Centro Oeste acumulou ganhos de
produtividade acima da média nacional (Figura 7) e se diversificou (Figura 8Figura 7). Os ganhos de
produtividade foram, principalmente, nas culturas do arroz, do algodão, da soja, do milho, além da
bovinocultura. Esses ganhos tornaram o Mato Grosso um importante produtor de algodão e soja. O
Mato Grosso do Sul, além da soja, é um importante produtor de milho, de bovinos para corte e vem
obtendo destaque na produção de cana-de-açúcar e de outras espécies para agroenergia de modo que,
além do principal produtor de carne brasileiro, desponta como o Estado da Agroenergia Brasileira . Já
Goiás, além dos destaques na produção de algodão, girassol, milho, soja, leite, suínos e bovinos de
corte, é o maior produtor nacional de sorgo e de tomate. Ainda, assim como o Mato Grosso do Sul,
Goiás vem obtendo destaque na cana-de-acúcar e outras fontes de biomassa para agroenegia.
Ainda quanto aos ganhos de produtividade, o Centro Oeste desenvolveu sistemas de produção
modernos e mais intensivos em capital das principais espécies vegetais e animais, o que implicou em
ganhos de escala e redução no risco da produção. Cita-se como exemplo dessa dinâmica a produção
de algodão com alto índice de mecanização, alta produtividade da terra e do capital e menor oscilação
no rendimento da cultura. Porem, devido a fatores de risco contemporâneos e externo à produção
agrícola, a exemplo do cambio, os ganhos de escala e a intensidade de capital deixam a região sujeita
à instabilidades que fogem ao controle dos agentes nacionais.
2.000
1.500
1.000
500
0
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008
Figura 7. Rendimento médio das principais espécies da Lavoura Temporária 13 nas regiões Sul,
Sudeste, Centro Oeste, Nordeste e Norte do Brasil entre os anos de 1990 a 2009. (Elaboração própria
com dados de IBGE, 2011).
13
Foram considerados: Algodão herbáceo em caroço (Quilogramas por Hectare), Alho (Quilogramas por Hectare),
Amendoim em casca (Quilogramas por Hectare), Arroz em casca (Quilogramas por Hectare), Aveia em grão (Quilogramas
por Hectare), Batata-doce (Quilogramas por Hectare), Batata-inglesa (Quilogramas por Hectare), Cana-de-açúcar
(Quilogramas por Hectare), Cebola (Quilogramas por Hectare), Feijão em grão (Quilogramas por Hectare), Fumo em folha
(Quilogramas por Hectare), Girassol em grão (Quilogramas por Hectare), Mamona (Quilogramas por Hectare), Mandioca
(Quilogramas por Hectare), Melancia (Quilogramas por Hectare), Melão (Quilogramas por Hectare), Milho (em grão)
(Quilogramas por Hectare), Soja em grão (Quilogramas por Hectare), Sorgo em grão (Quilogramas por Hectare), Tomate
(Quilogramas por Hectare) e Trigo em grão (Quilogramas por Hectare).
Figura 8. Índice de diversificação14 do setor agrícola no Centro Oeste em base municipal. (Elaboração
própria com dados de IBGE, 2011).
14
No índice de diversificação, definido pela expressão: I = 1/ΣFx 2, em que, Fx é a fração da renda bruta total proveniente
da linha de exploração X, foram consideradas os valores das produções de Aves, Suínos, Bovinos, Ovos, Leite, Abacaxi,
Abobora, Algodão, Alho, Amendoim, Arroz, Aveia, Batata-inglesa, Cana-de-açúcar, Cebola, Ervilha, Fava, Feijão, Feijão
de corda, Forrageiras, Fumo, Gergelim, Girassol, Mamona, Mandioca, Melancia, Melão, Milho, Milho forrageiro, Soja,
Sorgo, Sorgo forrageiro, Tomate, Trigo, Abacate, Banana, Borracha, Cacau, Café, Castanha de caju, Coco-da-baía, Erva-
mate, Figo, Goiaba, Guaraná, Laranja, Limão, Mamão, Manga, Maracujá, Marmelo, Palmito, Pimenta-do-reino, Tangerina
e Uva.
15
A Pecuária e a Lavouras Temporárias representaram mais de 95% do valor da produção agrícola regional.
Tabela 1. Valor da produção dos Produtos da Lavoura Temporária 16 (Temporária), da Lavoura
17 18 19
Permanente (Permanente), da Pecuária (Pecuária), dos Produtos Hortícolas
(Horticultura) e dos Produtos Silvícolas20 (Silvicultura) no ano de 2007 (R$ 2007), a taxa de
crescimento anual desses valores entre os anos de 1996 a 2007 (Viés 2007), a participação
desses produtos no valor total da produção agrícola no ano de 2007 (% 2007) e a taxa de
crescimento anual dessas participações (Viés %) na região Centro Oeste, bem como, a
participação porcentual dessas produções nas respectivas produções brasileiras no ano de
2007 (CO/Br 2007) e a taxa de crescimento dessas participações (Viés CO/Br). (Elaboração
própria com dados de IBGE, 2011).
A região Centro Oeste tradicionalmente estava relacionada com a pecuária de corte. Essa
atividade sofreu alguma diversificação com a inclusão da produção de aves e suínos e aumento da
produção de leite nas ultimas três décadas, porem, a bovinocultura de corte ainda representava mais de
25% do valor da produção agrícola no ano de 2007. Desses 25%, cerca de 24% se referem à bovinos
vendidos, indicando que, em grande medida, a produção é abatida em outros Estados brasileiros. Esse
cenário não contribui para geração de empregos e renda, pois, na cadeia bovina de corte, a geração de
emprego e de renda é relativamente menor que no segmento industrial. Ou seja, a bovinocultura de
corte se modernizou com ganhos de produtividade, passou de aproximadamente 0,6 cabeça por
16
Abacaxi, Algodão herbáceo, Alho, Amendoim, Arroz, Aveia, Batata-doce, Batata-inglesa, Cana-de-Açúcar, Cebola,
Centeio, Cevada, Ervilha, Fava, Feijão, Fumo, Girassol, Juta, Linho, Malva, Mamona, Mandioca, Melancia, Melão, Milho,
Rami, Soja, Sorgo, Tomate, Trigo e Triticale.
17
Abacate, Algodão arbóreo, Azeitona, Banana, Borracha, Cacau, Café, Caqui, Castanha de caju, Chá-da-Índia, Coco-da-
baía, Dendê, Erva-Mate, Figo, Goiaba, Guaraná, Laranja, Limão, Maçã, Mamão, Manga, Maracujá, Marmelo, Noz,
Palmito, Pera, Pêssego, Pimenta-do-reino, Sisal ou agave, Tangerina, Tungue, Urucum e Uva.
18
Aves Abatidas, Aves Vendidas, Bicho da Seda, Bovinos Abatidos, Bovinos Vendidos, Suínos Abatidos, Suínos
Vendidos, Lã, Leite, Mel, Ovos de Codorna e Ovos de Galinha.
19
Abobrinha verde, Açafrão, Acelga, Agrião, Aipo, Alcachofra, Alface, Alho-porró, Almeirão, Aspargo, Azedinha,
Batata-Baroa, Berinjela, Bertalha, Beterraba, Brócolis, Bucha, Caruru, Cebolinha, Cenoura, Cheiro verde, Chicória,
Chuchu, Coentro, Cogumelos comestíveis, Couve, Couve-flor, Erva-doce, Ervilha, Espinafre, Gengibre, Hortelã, Jiló,
Manjerona, Maxixe, Mostarda, Nabiça, Nabo, Pepino, Pimenta, Pimentão, Quiabo, Rabanete, Repolho, Rúcula, Salsa,
Taioba e Vagem.
20
Casca de acácia negra, Lenha, Madeira em tora para papel, Madeira em tora outra finalidade, Mudas de eucalipto,
Mudas de pinheiro e Mudas de outras espécies florestais.
hectare na década de 1970 para mais de uma cabeça por hectare no ano de 2007, porem, os maiores
ganhos para geração de renda são exportados para outros Estados, notadamente São Paulo, onde estão
localizados os frigoríficos. A exceção foi o Mato Grosso do Sul onde o abate de bovinos passou de
0,06 cabeças per capita no ano de 1996 para mais de 0,09 cabeças per capita no ano de 1996.
Apesar de pouco expressivo, o aumento no abate de bovinos na região Centro Oeste,
notadamente no Mato Grosso do Sul, contribuiu para a geração de emprego e renda, porem, após o
ano de 2006, o abate per capita apresentou redução, notadamente no Mato Grosso do Sul. Mantida
essa tendência, apesar da pecuária bovina de corte da região Centro Oeste não ser grande empregadora,
essa situação se torna preocupante ao se considerar que essa atividade está concentrada espacialmente.
Considerando ainda que, tradicionalmente, a mão-de-obra empregada pela pecuária bovina de corte é
de baixa qualificação e especifica, pode se inferir pela dificuldade na realocação dessa mão-de-obra
nas demais atividades agrícolas do Centro Oeste.
Quanto à produção de leite, aves e suínos, observa-se que há uma crescente concentração
espacial, notadamente em Goiás para o leite, Mato Grosso do Sul e Goiás para aves e Mato Grosso do
Sul e Mato Grosso para suínos. Como essas duas ultimas atividades, notadamente no setor industrial,
são mais intensivas e requerem mão-de-obra mais especializada que a bovinocultura de corte
extensiva, além promover maior integração com mercado local pelo uso de maquinas/equipamento e
insumos modernos, é possível que a suinocultura e a avicultura fomentem a classe media com reflexos
positivos sobre o consumo das famílias, o que resulta na diversificação da produção agrícola local e
redução na pobreza rural. Ainda, como essas atividades apresentam maior integração com outras
produções agrícolas, notadamente o milho e a soja, podem contribui para estabilização do emprego e
da renda regional. Porem, a despeito do potencial na mitigação da pobreza rural que essas atividades
representam, há que se considerar que as suas participações estão muito aquém do valor da
bovinocultura de corte, além de estar concentrado espacialmente, o que reduz as suas capacidades de
mitigação da pobreza rural nas regiões de maior concentração da bovinocultura de corte.
Quanto à Lavoura Temporária, o sucesso da região Centro Oeste é inquestionável, observa-se
que sua produção apresentou crescimento maior que da agricultura nacional e se diversificou, em
2007 o Centro Oeste não produzia apenas cinco (centeio, fava, juta, linho, malva e rami) das 31
espécies consideradas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica. A despeito desse
crescimento e da inclusão de novas espécies como a ervilha, o girassol e o triticale, houve
concentração na soja, no milho, no algodão herbáceo e na cana-de-açúcar. A produção dessas espécies
na região Centro Oeste apresentaram ganhos de produtividade do capital, da terra e da mão-de-obra,
com destaque nesse ultimo fator para a colheita mecanizada do algodão e da cana-de-açúcar. Em
grande medida, esses ganhos forma decorrentes do uso intensivo de tecnologia e de investimentos em
maquinas/equipamentos e infraestrutura. Ainda, considerando o aumento e a melhor distribuição de
renda, com possíveis impactos positivos sobre o aumento da classe média e do consumo das famílias
que essa agricultura proporcionou, bem como, a otimização do capital investido no setor agrícola, as
produções de algodão, milho, soja, além da criação de suínos e aves, fomentaram a diversificação da
produção agrícola, pois, os espaços com maior índice de diversificação (Figura 8) coincidem com os
principais espaços produtoras das espécies vegetais e animais. Essa dinâmica, que coincidiu com o
preconizado pela técnica de construção dos solos dos cerrados, potencializou a e diversificou a
economia do Centro Oeste, notadamente, pela maior geração de renda e emprego que a bovinocultura
de corte que a precedeu, porém, observa-se que essas espécies apresentam suas produções
concentradas espacialmente (Figura 9) e durante o período das águas.
A concentração da produção agrícola durante o período das águas implica em sazonalidade do
emprego, na década de 80 era pratica comum a migração de operadores de maquinas e motoristas das
regiões Sul e Sudeste durante os períodos de semeadura e colheita da soja e do arroz. Apesar da maior
integração, a exemplo do milho e da soja com a pecuária, da instalação da indústria de transformação
e diversificação da produção agrícola, fatores que contribuíram para mitigar a sazonalidade do
emprego nas culturas de soja, milho e algodão, ainda ocorre migração sazonal de trabalhadores para a
região Centro Oeste do Brasil. Também se observa que as regiões produtoras, notadamente da soja, do
milho e do algodão, apresentam alta relação com a PIB per capita apresentado na Figura 2, do que
pode ser inferir que o dinamismo produtivo da região Centro Oeste, em grande medida, depende da
produção dessas espécies. Essa situação, além de contribuir para a concentração da riqueza, torna a
região vulnerável às oscilações da rentabilidade dessas culturas, as quais, por serem consideradas
commodities, têm a seus preços dependentes de variáveis exógenas ao setor, a exemplo do cambio,
incorporando uma fonte de risco de difícil gestão para o produtor rural.
As principais espécies da Lavoura Temporária, a exceção da cana-de-açúcar que esta em fase de
transição, gera mais e melhores empregos que a bovinocultura extensiva e menos empregos que a
maioria das Lavouras Permanentes e a produção de aves, leite e suínos. Essa situação tem reflexos
sobre a pobreza, pois, além da geração de emprego temporário, a renda do produtor rural e,
consequentemente, do trabalhador, são flutuantes e dependem de fatores exógenos ao setor e a região.
Algodão Cana-de-açúcar
Milho Soja
Figura 9. Quintis do Valor da Produção Agrícola Municipal per capita de Algodão, Cana-de-açúcar,
milho e soja na região Centro Oeste no ano de 2007. (Elaboração própria com dados de IBGE, 2011).
Figura 10. Quintis da participação municipal dos módulos de área até 100 hectares (< 100), entre 100
a 1.000 hectares (100 ~ 1.000) e mais de 1.000 hectares (> 1.000) no ano de 2007, bem como, as
respectivas a taxas de crescimento anual entre os 1996 a 2007 (Viés) na região Centro Oeste.
(Elaboração própria com dados de IBGE, 2011).
Tabela 2. Participação porcentual das áreas com módulos menores que 100 hectares (< 100 ha), entre
100 a 1.000 hectares (100 a 1.000 há) e maiores que 1.000 hectares (> 1.000 há) nos anos de 1997
(1997) e 2007 (2007), bem como, as respectivas variações percentuais anuais entre os anos de 1997 a
2007 (Viés %a.a.). (Elaboração própria com dados de IBGE, 2011).
A despeito de Goiás ter apresentado a maior desconcentração fundiária, cumpre observar que o
Sul e o Sudoeste do estado, semelhante ao que ocorreu no norte e nordeste do Mato Grosso que já
apresentava relativa desconcentração fundiária, houve aumento da concentração fundiária. Ainda, o
Pantanal, notadamente no Mato Grosso do Sul, e o Leste do Mato Grosso do Sul, também
apresentaram expressiva concentração fundiária.
A dinâmica da estrutura fundiária na região Centro Oeste esta em acordo com o preconizado nos
Planos de Desenvolvimento. Na medida em que a fronteira agrícola avança, a economia local se
dinamiza fomentando uma classe media que diversifica o consumo e demanda melhor infraestrutura
impactando positivamente a diversificação da produção agrícola e contribuindo para redução da
concentração fundiária. Essa dinâmica é importante para contenção da urbanização em uma região
com intensa atividade econômica e polo de atração migratório, pois, caso não haja desconcentração
fundiária e integração entre os espaços urbano e rural, o aumento da pobreza urbana, que é um
problema maior que a pobreza rural, é inevitável.
No Centro-Oeste essa dinâmica foi parcialmente bem sucedida, pois, as maiores concentrações
fundiárias ocorreram justamente nas áreas consideradas pobres e pobres+ da Figura 2, a exceção do
sudoeste goiano, uma região rica.
A despeito da importância da concentração fundiária para o desenvolvimento socioeconômico,
há que se considerar que, tão importante quanto a estrutura fundiária é a produtividade da terra. Nesse
caso, a concentração fundiária em uma região com predominância da pecuária de corte extensiva, que
gera menos de 0,2 empregos por hectare de baixa qualificação e com reduzida articulação com os
demais setores da economia, é pior que a mesma concentração em uma região explorada por Lavouras
Temporárias, a exemplo da soja que gera mais de um emprego por hectare com maior qualificação e
maior articulação econômica que a pecuária de corte extensiva. No caso do Centro Oeste, observa-se
que as maiores concentrações fundiárias, inclusive a maior tendência de concentração, coincidem em
grande medida com as áreas aonde a pecuária de corte extensiva tem maior participação, a exemplo da
do Pantanal, da região leste e Nordeste do Mato Grosso, do Oeste Goiano e do Leste do Mato Grosso
do Sul. Quanto ao Leste do Mato Grosso do Sul, devido as recentes mudanças na estrutura da
produção agrícola com inclusão da Silvicultura e da Heveacultura, essa não é uma questão tão
preocupante para a pobreza, porem, nas demais regiões, notadamente no Pantanal, é um potencial
fator para aumento da pobreza.
Do exposto sobre o setor agrícola do Centro Oeste, verifica-se que a região incorporou as
transformações produtivas e, portanto, conforme preconizado pelos programas de desenvolvimento
que pautaram o deslocamento da fronteira agrícola no Centro Oeste, a região pode ter auferido os
ganhos sociais e econômicos previstos, assunto a ser discutido nos próximos tópicos. A despeito
desses resultados positivos, essa dinâmica confinou o atraso em alguns espaços, o que representa uma
pressão potencial sobre a pobreza no futuro. Assim, independente das próximas analises, fica patente
que a região Centro Oeste carece de politicas que, além de reforçar o sucesso da agricultura nas
Lavouras Temporárias, incorpore nesses espaços maior produtividade da terra pela adoção de sistemas
de produção integrados a exemplo da ocupação simultânea de mesma área pela Lavoura Temporária,
pela pecuária e pela Silvicultura, a chamada Integração Lavoura pecuária Floresta. Quanto à
bovinocultura de corte extensiva, além da integração com as Lavouras Temporárias e a Silvicultura, é
preciso melhorar os índices de produtividade do capital, notadamente pelo aumento do abate na região.
Ainda, seguindo o exemplo do Leste do Mato Grosso do Sul, é preciso reforçar a ocupação com a
Silvicultura ou com Lavouras Permanentes das áreas marginais às Lavouras Temporárias e atualmente
ocupadas pela bovinocultura de corte extensiva. Quanto ao Norte do Goiás e o Pantanal, essas regiões
merecem atenção especial, pois, devido as suas limitações ambientais naturais, a agricultura e a
pecuária ficam comprometidas, restando a diversificação econômica da agricultura pela integração
com outros setores da economia, notadamente serviços. Além dessas considerações, cumpre observar
que um grande limitante para o crescimento do setor agrícola na região Centro Oeste, notadamente nas
regiões mais deprimidas economicamente, é a carência da infraestrutura, fatores limitantes à qualquer
processo de superação da pobreza.
Figura 11. Participação porcentual no Brasil do valor de transformação industrial no Distrito Federal,
Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso entre os anos de 1996 a 2007. (Elaboração própria com
dados de IBGE, 2011).
Historicamente a indústria extrativa predominou no Centro Oeste (Figura 12), com destaque
para extração vegetal no Mato Grosso do Sul (erva-mate) e Mato Grosso (poaia, borracha e madeira) e
de minerais metálicos no Mato Grosso do Sul e Goiás e minerais não metálicos no Mato Grosso do
Sul, Mato Grosso e Goiás. As extrações vegetais, embora importantes para alguns espaços no passado,
não tiveram maiores influencia no contexto socioeconômico atual e há muito entraram em declínio na
região. O extrativismo mineral, a exceção dos minerais metálicos em Goiás, também vem
apresentando sinais de fadiga, o que indica problemas para os seus espaços de influencia. É
interessante observar que, apesar dos municípios onde está instalado as minerações serem
classificados como ricos e ricos+ (Figura 2), a atividade exerce algum efeito de transbordamento aos
municípios vizinhos, os quais são classificados como pobres e pobres+, de modo que o declínio da
mineração contribuirá para o aumento da pobreza nos espaços de influencia da mineração. Esse
problema se potencializa ao se observar que as economias sub-regionais são calcadas na mineração
com participação pouco expressiva da agricultura e dos serviços, a exceção de Corumbá que tem
participação expressiva do setor de serviços (Figura 5). Ou seja, a dependência da mineração desses
espaços é um problema potencial para a pobreza no futuro e o incentivo à agricultura e aos serviços
poderá mitigar esse potencial.
Além do declínio da indústria de mineração na região Centro Oeste, é interessante observar
que a indústria extrativa está sujeita a grande variação (Figura 12) influenciada por questões externas
à região, a exemplo dos preços internacionais das commodities que inflaram o desemprenho desse
setor industrial em Goiás e no Mato Grosso nos últimos anos.
Na última década o Centro Oeste experimentou uma nova dinâmica no setor industrial,
indústrias mais expressivas foram atraídas pela energia abundante fornecida pelas hidroelétricas do
complexo de Urubupungá no Mato Grosso do Sul, de São Simão, Itumbiara e Cachoeira Dourada em
Goiás. Com isso, a indústria de transformação, embora com uma taxa de crescimento mais modesta
que a indústria de extração em função dos aumentos nos preços internacionais das commodities a
partir de 2004, apresentou um crescimento mais constante na região (Figura 12), o que tem impactos
positivos sobre a mitigação da pobreza regional. Ainda cabe observar a maior capacidade de geração
de riqueza da indústria de transformação, notadamente em Goiás que representa cerca de 50% do
valor de transformação da indústria regional (Figura 12).
Crescimento
1.400 Extrativa MS (16,28% a.a.) Transformação MS (17,29% a.a.)
Extrativa MT (23,66% a.a.) Transformação MT (17,90% a.a.)
1.200 Extrativa Go (25,22% a.a.) Transformação Go (17,64% a.a.)
Extrativa DF (12,00% a.a.) Transformação DF (13,52% a.a.)
1.000
800
%
600
400
200
0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Participação
Extrativa MS (-1,15% a.a.) Transformação MS (-0,28% a.a.)
Extrativa MT (5,13% a.a.) Transformação MT (0,23% a.a.)
60 Extrativa Go (6,46% a.a.) Transformação Go (0,01% a.a.)
Extrativa DF (-4,78% a.a.) Transformação DF (-3,49% a.a.)
50
40
% 30
20
10
0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Goiás é o estado mais industrializado da Região, entre 1996 a 2007 a participação regional da
sua indústria cresceu 0,54% a.a. (Figura 12). Em Goiás está localizado o Distrito Agroindustrial de
Anápolis que na última década recebeu diversos tipos de indústrias, principalmente de medicamentos,
o que faz do município maior polo farmacoquímico do Brasil. Além dessa indústria, instalaram-se
recentemente em Goiás as montadoras de automóveis Hyundai, em Anápolis, e Mitsubishi em Catalão,
importante polo de mineração e metalomecânico. Ainda em Goiás, instalou-se a montadora de
máquinas agrícolas John Deere em Rio Verde.
A dinâmica de crescimento de outros setores da indústria vem reduzindo a participação da
indústria de alimentos, que estão localizadas, principalmente, em Itumbiara, Jataí, Mineiros,
Mozarlândia e Rio Verde, mas, esse ramo da indústria ainda responde por mais de 40% da produção
industrial de Goiás e apresenta fortes relações com a economia local. Jaraguá e Senador Canedo se
destacam como polos da indústria do vestuário e da indústria calçadista, respectivamente, e, do
mesmo modo que a indústria alimentícia, apresenta fortes vínculos com a economia regional. Portanto,
o fortalecimento dessas indústrias poderá contribuir significativamente para o crescimento da
agricultura na região Centro oeste, o que possibilitará expandir a produção agrícola para as regiões
pobres e pobres+ com fortes efeitos sobre a pobreza rural.
A despeito do sucesso da indústria de metalurgia básica (8,2% a.a.), que respondeu por cerca
de 10,0% da produção industrial em 2007, da indústria de máquinas e equipamentos (15,9% a.a. entre
1996 e 2007) e de veículos automotores, reboques e carrocerias (31,6% a.a. entre 1996 e 2007), que
juntas responderam cerca de 8% da produção industrial de Goiás no ano de 2007, a manutenção desse
crescimento depende da instalação de novas empresas na região, processo moroso que, devido a
fatores externos ao Brasil, não deverá ocorrer na mesma intensidade nos próximos anos. Ou seja, a
instalação desses complexos industriais foi importante para a região, porem, seu crescimento deverá
se restringir no futuro. A despeito dessa restrição futura, é de se esperar que esses investimentos
tenham efeitos de transbordamento para a agricultura e os serviços, notadamente pelo crescimento da
classe media e melhoria no padrão de consumo das famílias, mas, esse transbordamento em grande
medida será restrito ao Estado de Goiás, com pouco efeito sobre a pobreza na região Centro Oeste
como um todo.
Já as indústrias de material eletrônico, de aparelhos e equipamentos de comunicações,
equipamentos médico-hospitalares, de instrumentos de precisão e ópticos e de equipamentos para
automação industrial, apesar da pequena expressão na produção industrial de Goiás, menos de 1% no
ano de 2007, apresentaram o maior crescimento estadual na ultima década, acima de 20% a.a.. Essas
indústrias tem maior efeito de transbordamento regional que a indústria de alimentos e que a indústria
de veículos e maquinas e equipamentos, pois, além de requererem constantes avanços tecnológicos
obtido de fortes relações com instituições de ensino e pesquisa, os quais podem ter efeito de
transbordamento para a região Centro Oeste como um todo, geram empregos qualificados e
promovem o setor de serviços. Ainda, o crescimento desse segmento industrial não deverá sofrer
restrição tão intensa como o de da metalurgia, veículos, maquinas e equipamento nos próximos anos
de modo que, o fortalecimento desse segmento industrial deve ser focos de politicas de combate a
pobreza regional.
No Mato Grosso do Sul, além do extrativismo mineral, a produção industrial se baseia na
indústria de alimentos, que responde por mais de 60% do produto industrial estadual. No setor de
alimentos a indústria da carne tem maior destaque, pois, responde por mais de 50% desse setor. Ou
seja, a produção industrial do Mato Grosso do Sul se baseia em uma indústria com pequeno efeito de
transbordamento regional e reduzida capacidade de desenvolvimento socioeconômico, pois, não
requerem investimentos pesados em pesquisa, geram empregos de baixa qualificação e,
consequentemente, tem pequeno poder de promoção da classe media. Porem, essa situação no Mato
Grosso do Sul tende a ser revertida com os recentes investimentos realizados na indústria de papel e
celulose, uma indústria com maior capacidade de geração de empregos e distribuição de renda que as
tradicionais do estado e, apesar de ainda responder por menos de 5% da produção industrial do estado,
cresce a taxas superiores a 30% a.a.. Ainda, essa indústria instalou-se na região leste do estado, uma
região classificada como pobre, ou seja, além dos seus efeitos de transbordamento regionais,
contribuirá para redução da pobreza em um espaço critico do Centro Oeste.
Além do setor de papel e celulose, os investimentos recentes realizados na agroenergia, que já
responde por cerca de 5% da produção industrial do Estado e cresceu cerca de 30 a.a. entre 1996 e
2007, promoverão o desenvolvimento socioeconômico do estado. Alguns já se arriscam a comentar
que o Mato Grosso do Sul em breve passará de importante produtor de carne a maior produtor de
agroenergia do Brasil. Porem, os principais investimentos foram realizados na região Sul do estado,
uma região classificada como rica e rica+. Assim, politicas de incentivo a instalação desse segmento
industrial no leste e no nordeste do estado devem ser objeto de interesse para redução da pobreza.
Ainda quanto ao Mato Grosso do Sul, é importante destacar o crescimento da indústria de
confecção de artigos do vestuário (21,0% a.a. entre 1996 e 2007) e da metalurgia básica (24,7% a.a.
entre 1996 e 2007), que, apesar de ambas responderem por cerca de 2% da produção industrial do
estado em 2007, tem grande potencial de geração de empregos sem grande requerimento em
qualificação. Essa indústria, apesar de não gerar empregos muito qualificados e, consequentemente,
não promover significativamente o crescimento da classe media, é importante para absorção da mão-
de-obra regional rural que possivelmente ocorrerá com a urbanização da região.
O Mato Grosso é o estado da região Centro Oeste que apresenta maior participação da
indústria de transformação na produção industrial, mais de 98% no ano de 2007. Se, por um lado essa
é uma noticia importante, por outro lado, na ultima década a indústria de transformação perdeu espaço
para a indústria extrativa. Ainda, a diversificação da indústria de transformação mato-grossense é
bastante restrita, somadas a fabricação de alimentícios e bebidas e a fabricação de produtos de madeira
respondem por mais de 70% da produção industrial do estado.
A indústria de alimentos mato-grossense, que representou cerca de 60% da produção industrial
em 2007, cresce e tem fortes ligações com a produção agrícola regional, porem, ainda se dedica ao
processamento de alimentos básicos com pequeno efeito sobre o desenvolvimento da economia local.
A promoção desse setor industrial no Mato Grosso seria importante para o desenvolvimento
socioeconômico da região Centro Oeste, porem, o avanço da indústria de alimentos no estado requer
infraestrutura, notadamente em transporte, o que é uma das principais carências do estado.
Quanto a indústria da madeira, além de não ter efeito de transbordamento significativo para a
economia regional por gerar poucos empregos de baixa qualificação, requer pequeno investimento em
pesquisa e esta calcada na extração e não no cultivo de madeira. Assim, investimentos nesse segmento
da indústria não fazem sentido para o desenvolvimento socioeconômico regional.
Apesar desse quadro preocupante da indústria mato-grossense, as indústrias têxtil, de couros e
química apresentaram crescimento significativo, todas cresceram a taxas superiores a 15% a.a. entre
1996 e 2007. As duas primeiras têm fortes relações com o setor agrícola regional e podem absorver
uma mão-de-obra menos qualificada contribuindo para mitigar a pobreza advinda da urbanização.
Quanto a indústria química, os principais investimentos foram para a produção de insumos
genéricos para a agricultura. Apesar dessas plantas não requererem investimentos significativos em
pesquisa, se trata de uma fonte promissora para o dinamismo da economia regional e para superação
da pobreza. Porem, como esse segmento também estará atrelado ao desempenho das commodities
agrícolas, não contribuirá para redução da instabilidade econômica a que a região está submetida.
De um modo geral a indústria no Centro Oeste, com exceção de Goiás, é bastante incipiente e
está calcada na indústria de alimentos e da madeira, ou seja, indústrias ligadas ao setor agrícola.
Recentes investimentos em agroenergia, em papel e celulose, em química, na indústria têxtil e de
couros, representam boa perspectiva para o desenvolvimento e estabilização da economia regional,
porem, ainda é tímido para superação da dependência regional do setor agrícola. Ou seja, a economia
e, consequentemente a pobreza na região, por muito tempo serão dependentes do desempenho de
commodities agrícolas, notadamente carnes, laticínios e produtos da Lavoura temporária.
Considerando a extensão agrícola da região, a concentração de atividades agrícolas e indústrias,
é possível inferir que a superação da pobreza regional depende, em grande medida, da diversificação
da agricultura, a qual será possível pelo crescimento e diversificação da indústria, a qual contribuirá
para crescimento do setor de serviços, aumento da classe media e a melhoria no padrão de consumo
das famílias, entre outras. O fortalecimento da indústria da madeira, em grande medida, é um
retrocesso à região. Já, o crescimento quantitativo e, principalmente, qualitativo da indústria de
alimentos é uma excelente opção para superação da pobreza regional. Porem, o desenvolvimento da
indústria de alimentos requer infraestrutura, principalmente, de transportes, no que a região ainda é
carente.
A indústria têxtil, de confecções, de couro e a química seguem a mesma logica da indústria de
alimentos para a região Centro Oeste. Ainda, como com a industrialização a urbanização regional será
inexorável e essas atividades empregam mão-de-obra menos qualificada que os segmentos industriais
mais dinâmicos, a promoção desses setores da indústria se justifica plenamente. Porem, esse processo,
além da infraestrutura, requer atenção imediata para a educação e qualificação da mão-de-obra
regional, pois, esse processo poderá resultar em nova onda de migração das regiões Sul e Sudeste para
o Centro Oeste.
Quanto a Goiás, a dinâmica industrial é promissora para o crescimento econômico e distinta do
Centro Oeste como um todo. A indústria goiana é bastante diversificada e dispersa espacialmente.
Observa-se que essa diversificação não ocorreu na esteira do crescimento agrícola, ela foi fruto de
politicas para infraestrutura e educação, entre outras, que possibilitaram ao estado sediar industrias
como a automotiva, farmacoquimica e de equipamentos de precisão, os quais independeram da
dinâmica agrícola. Apesar desse progresso de setores industriais alheios ao setor agrícola, em grande
medida, a indústria goiana ainda tem fortes ligações com o setor agrícola. Por outro lado, os
segmentos da indústria que não estão ligados diretamente á agricultura, a exemplo dos equipamentos
hospitalares e de precisão, promoverão o crescimento e diversificação no consumo das famílias, o que
terá efeitos sobre a agricultura regional. Esse crescimento ocorrerá, principalmente, na produção de
produtos da Lavoura Permanente e na Horticultura, atividades que podem ser desenvolvidas nas
regiões marginais às lavouras temporárias, a exemplo do norte e do oeste goiano, em substituição as
áreas de pastagem e de algumas Lavouras Temporárias. Esse deslocamento da produção agrícola
resultará na geração de mais e melhores empregos que a pecuária bovina e as lavouras temporárias,
com efeitos positivos para a redução da pobreza nessas regiões. Porem, devido a questões tributárias,
os efeitos positivos sobre o setor agrícola, em grande medida, devem ficar retidos a Goiás com
transbordamento marginal, quem sabe até negativo, para o Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Assim,
se por um lado a indústria goiana promoverá a agricultura estadual, por outro lado, poderá incentivar a
migração do setor agrícola mais atrasado para os estados vizinhos.
O exemplo de Goiás é próprio para caracterizar a importância da indústria na superação da
pobreza rural, porem, também esclarece a importância de politicas nacionais, pois, a promoção de um
espaço pode deslocar a pobreza para espaços mais carentes o que, além de concentrar a pobreza, irá
intensifica-la.
4 A dinâmica social
4.1 População
A ocupação do Centro-Oeste foi orientada como fronteira agrícola, a qual, devido a
possibilidade da valorização das terras, atua como um polo de absorção de excedentes populacionais.
No Centro Oeste. Essa expansão populacional foi acompanhada por grandes fluxos migratórios nas
décadas de 1970 e 1980 (Tabela 3) gerando taxas de crescimento populacional e de migração
superiores às respectivas médias nacionais. Na década de 1970, quando a região absorveu mais de 1,3
milhão de migrantes, ocorre o auge de crescimento da população do Centro-Oeste, nesse período seu
crescimento populacional foi maior que o dobro das taxas nacionais. A participação da população do
Centro-Oeste na população nacional passou de 5,45% em 1970 para 7,36% em 2010.
Tabela 3. População Total no ano de 2010 (Pop. Total 2010) e participação porcentual da população
rural (Ruralização 2010) no ano de 2010, bem como, as respectivas taxas anuais (Viés) de variação
entre os anos de 1970 a 1980, 1980 a 1991, 1991 a 2000 e 2000 a 2010, além da participação
porcentual de imigrantes (Não Naturais 2000) na população total no ano de 2000 e as respectivas taxas
anuais (Viés) entre os anos de 1980 a 1991 e 1991 a 2000. (Elaboração própria com dados de IBGE,
2010).
A despeito das migrações a do crescimento populacional, o Centro Oeste ainda apresenta baixa
densidade populacional. São exceções o Distrito Federal e seu entorno, a região Central e parte da
região Norte de Goiás, nucleada por Goiânia, o Sudoeste Goiano, nucleado por Rio Verde, o Sudoeste
do Mato Grosso do Sul, nucleado por Dourados, e alguns municípios isolados a exemplo de Catalão e
Itumbiara em Goiás, Campo Grande e Ladário no Mato Grosso do Sul, Cuiabá, Várzea Grande,
Rondonópolis e Sinop no Mato Grosso. As maiores taxas de crescimento populacional ocorreram nas
regiões Sul, Sudoeste e Norte do Mato Grosso; Sudoeste e Leste do Mato Grosso do Sul; Sudoeste e
Leste Goiano. Conforme indica o Teste de Moran, essas regiões serviram de polos de atração
populacional, pois, suas taxas de crescimento foram significativamente diferentes dos vazios
demográficos da região Centro Oeste, a exemplo do Pantanal, do Nordeste do Mato Grosso e do Norte
de Goiás (Figura 13).
Essa configuração populacional resultou em dois polos de alta densidade populacional, um
nucleado pelo Distrito Federal e Goiânia e outro nucleado por Cuiabá, que tiveram sua densidade
populacional aumentada diferentemente dos seus vizinhos conforme indicado pelo Teste de Moran
(Figura 13). Quanto aos núcleos de atração do Mato Grosso do Sul, observa-se que não houve
interação significativa com seus vizinhos, ou seja, a região de Dourados, Campo Grande, Ladário e
Figueirão, não foram polos de atração populacional. Essa dinâmica pode ter impactos sobre a pobreza
caso o aumento da densidade populacional, por exemplo, não seja acompanhada de melhoria na
infraestrutura. As melhorias de infraestrutura estão intimamente ligadas ao PIB e a principal atividade
regional, ou seja, regiões pobres com baixa participação dos setores de serviços e da indústria,
atividades que promovem a classe media e, consequentemente, as reinvindicações politicas da
população, terão maior dificuldade em superar os desafios impostos pela pobreza. Assim, o Norte de
Goiás e Nordeste e Norte do Mato Grosso, que apresentam altas taxas de crescimento da população,
são pobres e tem suas economias calcadas na agricultura, por principio, terão maiores problemas em
superar os desafios impostos pela pobreza de modo geral. Já as regiões do Pantanal, Sudeste e parte do
Nordeste do Mato Grosso, além de parte do Norte e Noroeste de Goiás, que, apesar de pobres e tendo
sua economia calcada na agricultura, não terão aumento significativo da pobreza devido às baixas
taxas de crescimento da população. Não obstante, os polos de crescimento populacional nucleados
pelo Distrito Federal, Goiânia e Cuiabá, todos ricos e com economia calcada na indústria e nos
serviços (Figura 2 e Figura 4), também podem apresentar aumento da pobreza caso não sejam
adotadas politicas compatíveis com o aumento da densidade populacional.
Já o Mato Grosso do Sul, de modo geral, não apresenta polos de atração populacional e, as
regiões onde o crescimento populacional é maior, a exemplo do Sudoeste e Leste, são ricas e suas
economias estão calcadas na indústria e nos serviços. Ainda, a região do Pantanal Sul Mato-grossense,
além de não representar um polo significativo de crescimento populacional, tem o município de
Corumbá como indutor de riqueza calcada na indústria e nos serviços.
Figura 13. Representação, em base municipal, dos quintis (Q) e do índice de Moran (M) da Densidade
populacional (População 2010, Habitantes. Km-2) no ano de 2010, bem como, sua variação porcentual
anualizada entre os anos de 1996 a 2010 (Viés, %a.a.) na região Centro Oeste. (Elaboração própria
com dados de IBGE, 2010).
A analise da dinâmica populacional pode indicar regiões com potencial para agravamento da
pobreza, porem, há que se considerarem os espaços com problemas de pobreza na zona rural. Apesar
de não se dispor de informações sobre as dimensões da pobreza na zona rural, algumas inferências
podem ser obtidas por uma proxi da espacialização da participação da população rural na população
total, a ruralização, e a dinâmica do produto apresentadas na Figura 2 e na Figura 4.
Observa-se que o Centro Oeste, a despeito de ser uma fronteira agrícola, apresenta uma das
menores ruralizações do país, o que indica pelo caráter empresarial do setor agrícola e implica numa
agricultura moderna, diferentemente da região Sul do Brasil onde, a despeito de também ser uma
agricultura moderna, a participação da mão-de-obra familiar é significativa na agricultura. Essa taxa
de ruralização reduziu entre as décadas de 1970 a 2000, tendo arrefecido após esse período. Esse
arrefecimento não pode ser considerado como um aumento da mão-de-obra familiar no setor agrícola,
antes pode ser interpretado como um período de redefinição da estrutura agrícola da região que
aumentou as participações de espécies como a borracha e a cana-de-açúcar, espécies mais intensivas
em mão-de-obra além de requerem mão-de-obra menos qualificada que as espécies predominantes na
região como a soja, o milho e o algodão. Além dessa redefinição, observa-se que o crescimento da
silvicultura e da pecuária bovina podem estar intimamente ligadas à ruralização, pois, as regiões com
maior índice de ruralização coincidem com regiões de maior expressão da pecuária bovina e da
silvicultura.
As mesoregiões Norte, Nordeste e Sudoeste mato-grossenses, o Leste e Norte de Goiás, bem
como, os entornos de Cuiabá no sentido Sudeste e Campo Grande no sentido Centro Norte,
apresentam os maiores índices de ruralização, além do que as taxas de ruralização desses espaços são
positivas (Figura 14). O Índice de Moran indica que esses espaços apresentam crescimento
populacional distinto dos demais, do que pode se inferir que o aumento da população na ultima década
no Centro Oeste foi predominantemente urbano. Ainda, como pode ter havido expulsão da população
carente dos espaços mais dinâmicos para os mais deprimidos, é de se supor que a migração intra-
regional se deu para a zona rural nas regiões mais ruralizadas. Como nas mesoregiões Norte, Nordeste
e Sudoeste do Mato Grosso, bem como, no Norte de Noroeste de Goiás, a pecuária bovina é
expressiva e houve expansão da cana-de-açúcar no Sudeste do Mato Grosso do Sul e da silvicultura
para produção de celulose e da borracha no Leste do Mato Grosso do Sul, pode se inferir que essas
atividades estão absorvendo a mão-de-obra rural regional, o que não significa aumento da mão-de-
obra familiar na agricultura.
Se por um lado o crescimento dessas atividades agrícolas promove o desenvolvimento
econômico dessas regiões, por outro lado, podem estar contribuindo para o agravamento da pobreza
rural, pois, apesar da evolução tecnológica que esses setores sofreram na ultima década, em grande
medida eles são geradores de emprego assalariado sazonal e de menor qualificação que as produções
de soja, milho e algodão.
Figura 14. Representação, em base municipal, dos quintis (Q) e do índice de Moran (M) da
participação porcentual da população rural (Ruralização 2010, População Total.População Rural-1) no
ano de 2010, bem como, sua variação porcentual anualizada entre os anos de 1996 a 2010 (Viés, %a.a.)
na região Centro Oeste. (Elaboração própria com dados de IBGE, 2010).
Quanto à dinâmica demográfica, em 1970, o Mato Grosso do Sul era relativamente mais
populoso que Goiás e Mato Grosso, sendo o sudeste do Mato Grosso a menos populosa de todo o
Centro-Oeste. Entretanto, mesorregião ultrapassou o norte matogrossense em 1990.
Na década de 1980, as mesorregiões do Pantanal e o sul goiano foram as que tiveram as
menores taxas de crescimento, embora por razões distintas, pois, enquanto o primeiro é historicamente
caracterizado por baixa densidade populacional e estagnação econômica, o sul goiano sofreu a
substituição de suas culturas de subsistência por culturas intensivas, com destaque para a soja.
No Mato Grosso, durante a década de 1980 e 1990, houve crescimento das mesorregiões norte
(11% a.a.), nordeste (5,2% a.a.) e centro sul (5% a.a.). Na mesorregião norte, o município de Alta
Floresta por exemplo, passou de 14 mil habitantes, em 1980, para 66 mil, em 1991. Ainda, municípios
com menos de mil habitantes em 1980 passaram para mais de 10 mil habitantes, a exemplo de
Guarantã do Norte e Matupá. Na mesorregião nordeste, municípios como Campinópolis e Vila Rica
atingiram taxas de crescimento superiores a 12% ao ano. Ressalta-se que a expansão da fronteira
agrícola e a extração de madeiras no norte do estado foram importantes vetores do crescimento
populacional no Mato Grosso.
No período entre 1991 a 1996 imprimiu-se nova dinâmica aos municípios do Mato Grosso,
pois, apesar da diminuição no ritmo de crescimento populacional de todas as mesorregiões, o Estado
consolidou a predominância de uma base populacional urbana, com taxas de crescimento urbano
superiores a 3,5 % a.a. nas mesorregiões norte, nordeste e sudoeste. No norte a taxa de crescimento da
população rural também foi positiva.
Em Goiás, a taxa de crescimento da população total, no período 1991 a 1996, chegou a ser
negativa para a mesorregião norte (-0,27% a.a.) e de apenas (0,43% a.a.) para o noroeste. Em
contrapartida, o Leste goiano passou por um período de grande dinamismo, crescendo a uma taxa de
4,9% ao ano no período 1980 a 1991 e de 5,6% a.a. no período 1991 a 1996. Merece destaque a
assimetria dessa mesorregião, ao norte a mais pobre e despovoada de Goiás contrastando com o
entorno do Distrito Federal. Na messorregião sul de Goiás, a população rural decresce em todos os
municípios, embora seja a mesorregião em que a população rural, em seu conjunto, menos decresceu
no Estado. Trata-se de uma área de ocupação mais antiga, na qual ainda subsistem áreas de lavoura e
pecuária tradicionais.
Na década de 1990, apesar da redução geral, algumas taxas de crescimento populacional ainda
foram bastante elevadas no Centro-Oeste. Entretanto, o crescimento rural positivo foi bastante pontual,
predominando nas mesoregiões norte e nordeste do Mato Grosso o que caracteriza esses espaços como
últimas áreas de fronteira. Observa-se que a década de 1990 pode ser considerada como de
consolidação da urbanização regional (Figura 14), pois, à exceção do Distrito Federal que aumentou a
relação entre a população urbana e rural, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso apresentaram
taxas crescentes dessa relação na ultima década. Esse movimento de urbanização pode ser atribuído ao
sistema de produção agrícola intensivo em capital predominante na região que inibe a
desconcentração fundiária e a agricultura familiar.
Após a década de 1990 reduziu a migração de outras regiões para o Centro-Oeste e, portanto, o
crescimento populacional das localidades urbanas na região ficou condicionado à dinâmica migratória
intra-regional. Esse fenômeno tem reflexos na rede urbana regional principalmente em termos de
concentração e consolidação de centros urbanos que já haviam se destacado sem o surgimento de
novos espaços urbanos de grande expressão. A imigração para o Centro-Oeste também teve como
destino seu interior, reforçando a importância desse componente populacional na dinâmica de
crescimento dos municípios, inclusive nos pequenos e intermediários.
Considerando a dinâmica populacional do Centro-Oeste, observa-se a migração seguindo a
adequação à produção agrícola em movimento característico de fronteira agrícola. Alguns autores
citados por Castro de Rezende (2002 A e B), Castro (2003) e Duarte e Castro (2004), destacam como
oportunidade de investimento os baixos preços da terra. A melhor evidência para esse argumento é a
preponderância de grãos e pecuária bovina de corte, pois, essas atividades usam intensivamente o fator
terra, o fator mais barato que a região possui. Entretanto, há que se considerar em contraposição ao
baixo preço da terra o custo de construção do solo do cerrado, composto, além do custo de adequação
da área, pela restrição inicial a produtos de maior retorno econômico e de apenas uma produção anual
em função da limitação hídrica. Assim, os sistemas produtivos agrícolas intensivos em capital e
tecnologia prevalecentes no Centro-Oeste se devem, além da oferta ambiental e da carência em
infraestrutura que limitam produções de maior retorno econômico como as Lavouras Permanentes, ao
comprometimento da agricultura familiar, fonte de mão-de-obra para a agricultura patronal, em razão
da limitação em obter renda durante o período seco. Assim, são prejudicadas as atividades que usam
intensivamente a mão-de-obra contribuindo para o alto grau de mecanização na agricultura. Por outro
lado, o relevo plano e os solos profundos, bem drenados e dotados de características físicas adequadas
para a produção agrícola causam uma redução do custo da mecanização, que em razão da ausência de
um mercado de aluguel de máquinas, estimula a produção em grande escala em detrimento da
pequena escala.
Quanto a urbanização, observa-se que, além de arrefecido do fluxo migratório que poderia
contribuir para o aumento da pobreza, também há redução na intensidade de urbanização no Centro
Oeste, a segunda região mais urbanizada do país. Esses dados indicam que, como a população rural é
minoria no Centro Oeste, a questão da pobreza rural não deve ser um problema da região.
Em algumas mesorregiões do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e, inclusive de Goiás, há
aumento da ruralização. Em alguns espaços como o norte de Goiás e o Nordeste do Mato Grosso esse
movimento indica problemas de transferência da pobreza urbana para o campo pois se tratam de
espaços pobres e pobres+ com predominância da pecuária bovina extensiva. Felizmente não é o que
acontece no Centro Oeste como um todo, pois, no Sul do Mato Grosso do Sul e Centro do Mato
Grosso a ruralização está ocorrendo em regiões ricas e ricas+ com predominância de Lavouras
Temporárias e da Indústria. Nesses últimos espaços a dinâmica indica que está havendo superação da
dicotomia entre os espaços urbano e rural, o que, conjuntamente com a desconcentração fundiária que
predomina nesses espaços e seus efeitos sobre a urbanização, é positivo para superação da pobreza
rural.
A ruralização em mesorregiões com predominância da indústria pode ter futuros distintos.
Cita-se como exemplo as diferenças entre o pantanal do Mato Grosso do Sul e o norte goiano. Em
ambas as mesorregiões há ruralização, possivelmente por conta da dinâmica industrial e seus
encadeamento econômicos, porem, enquanto no pantanal a indústria da sinais de fadiga, no norte
goiano ela é prospera. Assim, a despeito de ambas as mesorregiões partirem da mesma base, o futuro
da pobreza rural é mais preocupante no pantanal que no norte goiano.
4.2 Renda
A renda familiar média nas áreas rurais do Brasil teve um crescimento de quase 30% entre 2004
e 2008. O rendimento familiar médio nas áreas urbanas do país em 2008 foi de R$ 786, enquanto nas
áreas rurais foi de R$ 360, portanto, inferior ao salário mínimo Mesmo assim, o valor ainda é inferior
à metade da renda registrada nas áreas urbanas do país. A renda média das famílias da Região Centro-
Oeste cresceu significativamente no mesmo período, perdendo apenas para as famílias da região
Sudeste. Também cresceu a renda das famílias rurais que, em 2008 era de R$ 606,00 perdendo apenas
para a região Sul. (IPEA, 2010).
Quanto a concentração da renda, expressa pelo Índice de Gini na Figura 15, observa-se que
houve melhora significativa no Brasil entre os anos de 1995 a 2008, porem, a região Centro Oeste foi
a que apresentou o pior desempenho nesse período, passou da terceira para a primeira posição quanto
a concentração de renda. Porem, quando considerados os gêneros, observa-se que, enquanto a
desconcentração da renda para os homens brasileiros (-0,80% a.a.) foi maior que para as mulheres (-
0,73% a.a.) entre os anos de 1995 a 2009, o Centro Oeste apresentou tendência inversa, a
desconcentração de renda para o gênero feminino (-0,46% a.a.) foi o dobro da masculina.
Considerando que esse comportamento seja semelhante para as populações rural e urbana, é de
extrema relevância para a pobreza rural ao se considerar que a superação da pobreza rural é mais
difícil para o gênero feminino.
0,65
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
0,60
Índice de Gini
0,55
0,50
0,45
1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Figura 15. Índice de Gini da distribuição do rendimento mensal de todos os trabalhos das pessoas de
10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência, com rendimento de trabalho, por
Grandes Regiões brasileiras entre os anos de 1995 a 2009 (Elaboração própria com dados de IBGE,
2010).
Observa-se (Figura 16) que o estado onde ocorreu a maior desconcentração de renda foi Mato
Grosso, seguido de Goiás, Mato Grosso do Sul e do Distrito Federal. Essa dinâmica está em acordo
com o deslocamento da fronteira agrícola, pois, conforme se observou no tópico sobre a dinâmica do
produto (Figura 4 e Figura 5), a agricultura mato-grossense sofreu intenso processo de industrialização
com reflexos positivos sobre o crescimento do setor de serviços. Porem, conforme também se
observou no tópico sobre a dinâmica do produto, a econômica do Mato Grosso é a mais
mercantilizada, o que indica que a capacidade de desconcentração da renda desse estado pode ser
comprometida no futuro. No outro extremo, o Distrito Federal, que apresentou a maior concentração
de renda e a menor taxa de desconcentração da renda no período considerado, deve ser excluído da
análise da distribuição de renda no Centro Oeste, pois, além de apresentar indicadores muito distintos
dos demais estados, sua dinâmica economia, conforme se observou no tópico sobre a dinâmica do
produto, é fortemente influenciada pelo setor de serviços públicos.
Goiás apresentou uma desconcentração de renda interessante, pois, foi o estado que apresentou
o maior crescimento da população com renda ate dois salários mínimos e a maior redução da
população com renda superior a 20 salários mínimos. Desse modo, no ano de 2008, mais de 33 e 88%
da população goiana tinham renda até dois e até 10 salários mínimos, respectivamente. Essa dinâmica
da renda está em acordo com a dinâmica do produto goiano, um estado onde o setor industrial
apresenta forte encadeamento com o setor agrícola e promove o crescimento do setor de serviços,
notadamente dos serviços menos qualificados que é importante para superação da pobreza rural.
Da analise da concentração de renda no Centro Oeste pode se depreender que a região, apresar
do dinamismo econômico, carece de incentivos à desconcentração da renda. Tomando-se Goiás como
exemplo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul carecem de politicas para promoção da indústria ligada
ao setor agrícola, além de politicas que incentivem o crescimento de indústrias autônomas. Essas
politicas, além de favorecerem a desconcentração da renda, promoverão uma maior integração entre
os espaços urbano e rural, condição essencial para superação da pobreza rural em uma região que,
devido a suas condições ambientais e geográficas, notadamente a extensão espacial, tem uma
agricultura calcada na produtividade da terra, do capital e da mão-de-obra. Essa característica da
agricultura no Centro Oeste, corroborada pela baixa densidade populacional e pela carência em
infraestrutura, limita a diversificação da produção agrícola com atividades mais intensivas em mão-
de-obra.
2002
2003
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2008
Figura 16. Participação porcentual da população com rendimento até dois salários mínimos (----),
entre dois a 10 salários mínimos (----), entre 10 a 20 salários mínimos (----) e com mais de 20 (----)
salários mínimos no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal entre os anos de 1995
a 2009 (Elaboração própria com dados de IBGE, 2010).
Considerando as informações sobre renda das famílias e sobre taxa de urbanização no Centro
Oeste é possível inferir que pobreza rural não é um grande problema para a região. Porem, há que se
considerarem as diferenças intra-regionais, pois, conforme se demonstrou nos tópicos anteriores sobre
a dinâmica econômica e sobre a população, a região Centro Oeste é heterógena quanto a riqueza, a
população e a urbanização, consequentemente, deve ser heterogênea com relação à renda. Além da
situação presente, deve se considerar o futuro, pois, conforme também se demonstrou, a região Centro
Oeste, além de heterogênea, é bastante dinâmica com algumas mesorregiões apresentando sinais de
fadiga na dinâmica econômica.
Apesar de tratar com dados defasados, observa-se (Figura 17) que, de modo geral, as maiores
renda rurais, bem como, os maiores crescimento da renda rural entre 1996 a 2000, não coincidem com
os espaços com maior índice de diversificação agrícola (Figura 8). As exceções são a mesorregião
Norte do Mato Grosso e a mesorregião Leste do Mato Grosso do Sul. Dessa analise pode se inferir
que, diferente de outras regiões brasileiras, no Centro Oeste a diversificação da produção agrícola não
contribui para aumento da renda das famílias rurais. Muitas podem ser as causas dessa contradição,
porem, como a agricultura do Centro Oeste é baseado na exploração em escala da terra e do capital e a
diversificação agrícola é típica do minifúndio e da agricultura familiar, pode se supor que a principal
fonte de renda das famílias rurais é o trabalho assalariado e as principais Lavouras Temporárias,
notadamente algodão, milho e soja. Essa hipótese se reforça quando comparadas aos espaços com
maior renda das famílias rurais e os espaços produtores de algodão, cana-de-açúcar, milho e soja, além
de aves e suínos (Erro! Fonte de referência não encontrada. e Figura 9).
Considerando que a agricultura constituída por Lavouras Temporárias, aves e suínos é o
dinamizador da economia no Centro Oeste com reflexos positivos sobre o setor de serviços e a
urbanização, fica patente que a pobreza rural onde essas atividades predominam não é um problema
extremo. Porem, conforme discutido nos tópicos anteriores, essa economia é relativamente instável e
dependente de fatores exógenos ao setor e ao país, ou seja, a questão da pobreza rural nesses espaços,
apesar de não ser um problema no presente, pode aumentar. Nesse caso, sua superação será complexa
dada a estreita ligação entre ela e o desempenho dessas atividades agrícolas. Ou seja, o aumento da
pobreza rural no Centro Oeste, além de ser instável, está sujeito à fatores incontroláveis pelos agentes
públicos e privados nacionais e, apesar não ser um problema atual, merece alguma reflexão.
Verifica-se também estreita relação entre a pobreza rural no ano de 2000, bem como sua
variação entre 1996 a 2000, e a produção de bovinos de corte (Erro! Fonte de referência não
encontrada.), notadamente na região do Pantanal, Nordeste e Leste do Mato Grosso e Oeste de Goiás.
Essa análise corrobora a hipótese que a bovinocultura de corte da região Centro Oeste não gera renda
e, sendo sinônimo do atraso para o desenvolvimento socioeconômico regional, atua como um dreno
para as migrações intra-regionais. Ou seja, essa analise reforça a hipótese que o desenvolvimento
socioeconômico do Centro Oeste cria espaços virtuosos em detrimento de espaços deprimidos. Nesses
espaços mais dinâmicos ha crescimento da classe media e elevação do custo de vida, com expulsão
dos menos favorecidos para os espaços mais atrasados, no caso da bovinocultura de corte. Essa
situação indica que a dinâmica econômica do Centro Oeste não está sendo suficiente para
desconcentração fundiária, aumento da agricultura familiar e superação da dicotomia entre os espaços
urbano e rural, e muito menos está incrementando o setor de serviços, notadamente os serviços
domésticos e de menor qualificação importantes para absorção pelo espaço urbano da pobreza rural.
Assim, a dinâmica econômica do Centro Oeste calcada na agricultura, apesar de virtuosa, ira confinar
a pobreza rural em espaços como o Pantanal, o Nordeste do Mato Grosso e o Oeste de Goiás.
Figura 17. Representação, em base municipal, dos quintis da renda familiar rural per capita (Renda) e
da relação entre a renda familiar e a renda urbana (Rural x Urbana) no ano de 2000, bem como, suas
variações porcentuais anualizadas entre os anos de 1996 a 2000 (Viés, %a.a.) na região Centro Oeste.
(Elaboração própria com dados de IBGE, 2010).
Apesar dessas constatações, a análise da pobreza rural não deve se restringir à dinâmica da
agricultura. Observa-se (Figura 17) que a relação entre a renda das famílias rurais e a renda das
famílias urbanas não apresenta relação significativa com a pobreza rural. Cita-se como exemplo o
município de Corumbá/MS que, apesar de suas famílias rurais serem consideradas pobres e estar em
um espaço aonde a pecuária de corte é significativa, apresenta pequena diferença entre as rendas rurais
e as urbanas. Ainda quanto ao exemplo de Corumbá, é interessante observar que foi considerado uma
região rica+ para o produto, ou seja, apesar de Corumbá apresentar um PIB per capita alto, a renda é
exportada do município, e, tanto as famílias urbanas quanto as rurais são pobres. Como há exportação
da renda e não há encadeamento com o setor agrícola e muito menos a promoção do setor de serviços,
a superação da pobreza rural nesse município passa por medidas autônomas à atividade da mineração.
No caso de Corumbá o turismo, assim como a aquicultura, pode ser opções para dinamizar a economia
local e superar a pobreza rural. Porem, esse município é carente em infraestrutura para ambas as
atividades. Essa interpretação é valida para outros espaços cuja economia está calcada na indústria de
extração, a exemplo da região Norte de Goiás.
É interessante observar que a mesorregião Leste do Mato Grosso do Sul apresenta índices
médios de renda rural. Não é possível atribuir essa renda a indústria de papel e celulose, que iniciou
sua instalação no inicio da década de 2000, período considerado para analise da renda rural. É
provável que uma analise da renda rural com dados recentes indiquem elevação da renda rural nessa
região, bem como, concentração da renda no setor urbano.
Se contrapondo aos espaços dedicados à indústria extrativa e aos espaços onde a economia está
intimamente ligada à agricultura e a dinâmica econômica não é suficiente para superação da pobreza
rural com uma provável migração intra-regional, observa-se que o Sudoeste, o Leste o Centro de
Goiás, apresentam municípios com rendas rurais elevadas em 2000 e elevadas taxas de crescimento
dessa renda entre 1996 a 2000. Ainda, observa-se que esses municípios apresentaram as maiores
diferenças entre a renda rural e a renda urbana. Nesse caso, a dinâmica industrial, promoveu
concentração da renda no espaço urbano, porem, a melhoria no padrão de consumo das famílias
urbanas teve impactos positivos sobre as famílias rurais que se dedicaram a atividades mais intensivas
como a criação de aves e leite, além da Horticultura e as Lavouras Permanentes. Essa dinâmica só
viabilizou pela infraestrutura existente, que, além de possibilitar a industrialização e a consequente
melhoria no consumo, possibilitou atividades agrícolas mais intensivas em terra e capital.
Por outro lado, embora a defasagem entre os dados de renda e da dinâmica econômica não
permitam uma analise mais apurada, pode se supor que a dinâmica industrial dessas regiões
possibilitou maior integração entre os espaços urbano e rural. Desse modo, a dinâmica industrial
fomentou o setor de serviços e ambos, promoverem o emprego absorvendo inclusive mão-de-obra da
zona rural. É relativamente comum no sudoeste goiano famílias rurais cujo um ou mais membros
prestam serviço no espaço urbano. Essa dinâmica é importante notadamente quanto aos serviços
domésticos e de baixa qualificação, o que possibilita absorção da mão-de-obra rural pouco qualificada
pelo setor urbano.
4.3 Educação
Educação engloba os processos de ensinar e aprender resultando na transferência do
conhecimento. A educação coincide com os conceitos de socialização e endoculturação, mas, não se
resume a estes sendo um fenômeno indispensável ao desenvolvimento socioeconômico e, portanto,
uma importante dimensão da pobreza. Há muito se associa a superação da pobreza com o aumento da
renda, que, por sua vez, está associada ao crescimento econômico como função do desempenho dos
setores industrial e de serviços. Assim, criava-se o dilema de causação circular, pois, apenas as
sociedades mais desenvolvidas gerariam riqueza, consequentemente renda, suficientes para o
desenvolvimento da educação. Em um contexto contemporâneo, são vários os exemplos, incluindo o
Brasil, de que essa dimensão da pobreza pode ser superada por politicas publicas rompendo assim
com a causação circular descrita por Myrdal21.
A educação no Brasil apresentou melhorias significativas: houve redução na taxa de
analfabetismo e, ao mesmo tempo, aumento da escolaridade média e da frequência escolar. O Centro
Oeste é a região com alguns dos melhores indicadores da educação no Brasil, porem, ao se considerar
as diferentes Unidades Federativas, mais uma vez, o Distrito Federal apresenta indicadores que podem
distorcer essa afirmação (Figura 18).
21
Gunnar Myrdal (1957) é um dos autores do modelo de causação circular, cujo foco era as relações entre espaços com
desenvolvimentos heterogêneos que acarretavam uma trajetória de crescente agravamento das disparidades regionais.
Myrdal contesta à assertiva que o equilíbrio estável da economia seria garantido pelos mecanismos de mercado e que nas
relações de comércio entre regiões com desenvolvimento diferentes haveria uma tendência à igualação dos custos e da
produtividade dos fatores produtivos. Ele afirma que as forças de mercado tendem a aumentar, e não a diminuir, as
desigualdades regionais. Esses efeitos de causação cumulativa, ou desequilíbrios espaciais cumulativos, decorreriam de
que, qualquer que fosse a área onde surgisse um investimento novo, este tenderia a se auto alimentar com as economias
internas e externas geradas à custa dos recursos das regiões consideradas periféricas, ou com repercussões negativas sobre
o desempenho socioeconômico dessas regiões. Ou seja, quando se inicia um processo de industrialização num determinado
centro, esse espaço regional se torna capacitado a originar um encadeamento de uma série de efeitos que se repercutem de
modo favorável sobre o potencial competitivo dessa região. As regiões mais ricas, centrais, exercem um efeito polarizador
sobre as regiões mais pobres, periféricas, correspondendo a acréscimos de remuneração obtidos pelos fatores trabalho e
capital nas regiões centrais, que não são compensados pelo movimento de capitais dessas para as regiões periféricas. Como
consequência, os fluxos de capital e tecnologia revertem em benefício das regiões centrais, de igual modo ocorrendo com a
extensão de redes de transporte e de comunicações, implantados segundo uma lógica que privilegia os interesses das
regiões mais dinâmicas em termos econômicos. Como resultado desse tipo de interações, consolida-se um modelo de
interdependências espaciais onde a região dominada, periférica, está inserida numa lógica de divisão internacional do
trabalho, ou nacional, ou ainda regional, que lhe é desfavorável nos termos de troca e numa hierarquia de espaços
polarizados em decorrência de decisões político-institucionais emanadas da região central dominante.
MS Urbano (1,32% a.a.) MS Rural (2,32% a.a.)
MT Urbano (1,76% a.a.) MT Rural (3,00% a.a.)
9 Go Urbano (1,88% a.a.) Go Rural (2,94% a.a.)
DF Urbano (1,79% a.a.) DF Rural (0,82% a.a.)
8
Anos de estudo
3
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Figura 18. Porcentagem de pessoas com 10 anos ou mais de idade segundo a situação de domicílio e a
média dos anos de estudo entre os anos de 2001 a 2009 no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e
Distrito Federal.
Conforme observado nas as demais regiões do Brasil, observa-se (Figura 18) diferença
significativa entre a educação das populações urbana e rural na região Centro Oeste, porem, essa
disparidade não é tão acentuado como nas demais regiões do Brasil, perdendo apenas para a região
Sul. Isso indica que essa dimensão da pobreza rural na região Centro Oeste, na atualidade, não é
motivo de preocupação e, inclusive, é um importante fator para superação da pobreza rural regional no
futuro.
Excluindo o Distrito Federal e considerando os anos de estudo como uma proxy da educação, o
Mato Grosso do Sul é o que apresentava a melhor educação em 2001, porem, esse indicador sinaliza
um descuido com educação no Mato Grosso do Sul tanto no ambiente urbano quanto no ambiente
rural. O Mato Grosso, apesar de não ser tão rico e industrializado quanto Goiás, apresentou
desempenho significativo e consistente colocando-o como a melhor media regional de anos de estudo
urbano e ultrapassando Goiás quanto à população rural. Já em Goiás, apesar de ser o Estado mais rico
e industrializado da região e dos bons desempenhos da educação no ambiente urbano (1,88% a.a.) e
no ambiente rural (2,94% a.a.), a educação, notadamente no ambiente rural, ainda é um fator
preocupante.
A despeito de usar apenas um indicador como uma aproximação da educação estadual,
observa-se que a questão da educação no Centro Oeste independe da geração de riqueza e da
distribuição de renda, pois, o Mato Grosso, o pior estado quanto à concentração de renda e
industrialização da região, foi o que apresentou o melhor desempenho da educação. Já Goiás, um
estado rico e industrializado, apesar do bom desempenho da educação, não superou essa dimensão da
pobreza rural. Já o Mato Grosso do Sul, que apresentava bom indicador da educação em 2001, teve o
pior desempenho da região. Esses resultados podem ser atribuídos a politicas de educação estaduais e
a eficiência do gasto publico com educação, porem, alguns estudos indicam que maior capacidade de
gasto não implica necessariamente melhores resultados das políticas de educação oferecidas à
população, o que merece particular atenção dos gestores públicos para o detalhamento de situações
específicas. No caso do Centro Oeste, Zoghbi et al (2009) observou que o Mato Grosso do Sul, apesar
de conseguir um bom desempenho em âmbito nacional, têm baixa eficiência do gasto publico com a
educação, enquanto o Mato Grosso apresenta bom desempenho a alta eficiência do gasto publico com
educação. No caso de Goiás, que apresentou desempenho irregular para a população rural no período
analisado, a retomada da melhoria no ano de 2006 pode ser adotada à politicas publicas calcadas na
meritocracia.
De modo geral a educação privada é mais intensa no ambiente urbano, cabendo ao poder
publico a superação dessa dimensão da pobreza no ambiente rural. Dessa analise pode se inferir que, o
Mato Grosso, apesar da carência em infraestrutura, apresenta bons programas de educação tanto no
âmbito urbano quanto no rural. Goiás, que apresentava a pior educação regional no ambiente rural,
adotou medidas que possibilitam superar essa dimensão da pobreza rural. Já o Mato Grosso do Sul,
apesar de ainda apresentar a melhor educação rural, enfrenta problemas de desempenho,
provavelmente, ligados à gestão de recursos públicos. Desse modo, pode se inferir que, no que
depender da educação regional, a superação da pobreza rural do Mato Grosso, e possivelmente, de
Goiás, serão vitoriosos, enquanto o Mato Grosso do Sul enfrentará dificuldades.
Assim como há disparidades estaduais quanto a educação, a educação nos estados não é
homogênea. Apesar da defasagem das informações, observa-se na Figura 19 que os anos de estudo no
Centro Oeste apresentam alguma relação com a riqueza, como é o caso das mesorregiões central do
Mato Grosso, uma região rica e rica+, e nordeste do Mato Grosso e Norte de Goiás, regiões pobre e
pobre+, com alta e baixa média de anos de estudo, respectivamente. Ou seja, apesar de pouco
significativo, a dinâmica de deslocamento da fronteira agrícola no Centro Oeste, além de apresentar
boa relação com a geração e riqueza, tem efeitos sobre a educação, notadamente nas regiões onde
predomina a bovinocultura de corte extensiva,
Observa-se que a relação entre a dinâmica da fronteira agrícola e a educação não é tão
significativa quanto a riqueza dependendo em grande medida de politicas publicas, pois, alguns
municípios da mesorregião Leste do Mato Grosso, considerados pobres e pobres+, apresentam altas
medias de anos de estudo. Ainda, observa-se que essa dimensão da pobreza apresenta um efeito maior
de transbordamento municipal que a própria riqueza, pois, observa-se alta media de anos de estudo
para os municípios pobres vizinhos à Corumbá/MS, um município rico+. A despeito da alta media de
anos de estudo em Corumbá/MS, um município cuja economia está calcada na mineração, observa-se
baixa relação entre a riqueza e a educação nos municípios cuja economia esta calcada na mineração.
Ou seja, a educação depende tanto de politicas publicas quanto da geração de riqueza, pois, é bastante
provável que os bons indicadores de educação na região mesorregião central do Mato Grosso estejam
mais ligados à sua colonização do que a geração de riqueza.
Figura 19. Quintis, em base municipal, dos anos de estudo das pessoas com 25 anos ou mais de idade
e porcentagem de evasão escolar nas idades entre sete a 14 anos de idade na região Centro Oeste no
ano de 2000. (Elaboração própria com dados de IBGE, 2011).
Quando considerada a taxa de evasão escolar, observa-se que tem comportamento semelhante
ao deslocamento da fronteira agrícola (Figura 19), o que, possivelmente, esta relacionada com a
infraestrutura que tem forte relação com a dinâmica da fronteira agrícola.
Observa-se que a educação no Centro Oeste não representa um fator de pressão sobre a
pobreza e, apesar da educação apresentar alguma relação com a geração de riqueza e o deslocamento
da fronteira agrícola, no Centro Oeste ela depende de outros fatores, a exemplo das politicas publicas.
Assim, a industrialização e o crescimento da economia, necessariamente, não impactam positivamente
a educação, notadamente no ambiente rural que tem maior dependência de investimento público.
Ainda, essa dimensão da pobreza tem forte efeito de transbordamento municipal, indicando que
investimentos em educação tendem a ser diluídos espacialmente. Quanto a distribuição espacial, de
modo geral, o Mato Grosso do Sul e a mesorregião norte de Goiás poderão ter dificuldades para
superação da pobreza rural no que tange à educação. Assim, especial atenção devem ser dadas à
educação nesses espaços regionais.
O mundo e o Brasil estão mudando. Essas mudanças geram novos desafios, os quais podem ser
convertidos em oportunidades para o Centro-Oeste, pois, podem estimular uma inflexão do atual
modelo de desenvolvimento para uma economia enfatizando o aproveitamento sustentável dos
recursos naturais, principal fator do desenvolvimento regional. Dependendo de como esses
investimentos sejam coordenados e a intensidade com que ocorram as mudanças, o Centro-Oeste
estará adiante desses desafios com possibilidade de se tornar um dos principais polos de
desenvolvimento nacional.
Para superação desses desafios o Centro-Oeste dispõem de ampla gama de potenciais: recursos
naturais abundantes e biodiversidade; grande manancial de recursos hídricos estratégicos ao país para
o transporte e a geração de energia; base agrícola moderna e competitiva; mercado interno em franco
desenvolvimento; boa escolaridade da população; boas redes de Pesquisa e Desenvolvimento,
notadamente no setor agrícola; e posição estratégica no contexto sul-americano. Porém, esses
potenciais são permeados por entraves que devem ser enfatizados: i) vulnerabilidade da economia pela
dependência de commodities e dos recursos naturais; limitado resultado social do dinamismo
econômico, notadamente quanto a estrutura fundiária e a urbanização; deficiência na qualificação da
mão-de-obra para atividades intensivas em conhecimento como a biotecnologia e a indústria
eletrônica, o que estimula o crescimento dos serviços menos qualificados; degradação dos
ecossistemas, desarticulação e precariedade logística; baixa diversificação e adensamento dos sistemas
produtivos; desigualdade socioeconômica intra-regional acentuada; intensa urbanização e dicotomia
dos espaços urbano e rural, além da desarticulação da rede de municípios; e carência de integração
física e logística com a América do Sul.
Quanto a pobreza, ficou demonstrado que, na atualidade, o Centro Oeste não apresenta problemas
tão graves com a pobreza rural quanto as regiões Norte e Nordeste. Porem, também ficou evidenciado,
que a dinâmica socioeconômica do Centro Oeste, calcada na exploração e abundancia de recursos
naturais, além de promover heterogeneidade no desenvolvimento necessita de investimentos
autônomos ao setor dinâmico da economia regional, o setor agrícola, conforme já indicava o Plano
Estratégico de Desenvolvimento do centro-Oeste (2007-2012), elaborado pelo Ministério da
Integração Nacional (Ministério da Integração Nacional, 2008).
A prevenção desse cenário passa pela implementação de politicas com ênfase na mitigação da
pobreza rural existente em alguns espaços como o Pantanal, o Norte e o Nordeste goiano, além do
Nordeste e do centro do Mato Grosso. Exemplos como o Leste do Mato Grosso do Sul, que
diversificou a produção agrícola, podem ser utilizados nesses espaços para superação da pobreza rural
existente e prevenção de incremento no futuro. Esses exemplos de superação são exigentes em
infraestrutura e logística, fatores em que as regiões do Pantanal, Norte e Nordeste de Goiás e Nordeste
do Mato Grosso são carentes.
Quanto ao Pantanal, dada a fragilidade de seu ecossistema e as restrições para desenvolvimento
da agricultura, a simples dotação de infraestrutura e logística não será suficiente para superação da
pobreza rural. Nessa mesoregião devem ser adotadas medidas que promovam sua industrialização
sustentável e calcada na biodiversidade, bem como, o turismo e a aquicultura. A promoção dessas
atividades econômicas no Pantanal promoverá o crescimento da classe media. Essa classe média
demandará produtos agrícolas intensivos em terra e mão-de-obra, a exemplo dos Hortifruti e das
Lavouras Temporárias, resultando em desconcentração fundiária, promoção da agricultura familiar e
superação da dicotomia entre os espaços urbano e rural, condicionantes para mitigação da pobreza
rural.
A prevenção da pobreza rural no Centro Oeste, principalmente dos ‘bolsões’ de pobreza, requer
investimentos autônomos ao setor agrícola de modo promover um crescimento regional
desconcentrado espacialmente da classe media. O crescimento desconcentrado da classe media
dinamizará o setor de serviços viabilizando a diversificação da produção agrícola, a desconcentração
fundiária e a integração entre os espaços urbano e rural com reflexos sobre a menor urbanização. Essa
dinâmica, além de infraestrutura, requer politicas de atração de investimento autônomos, os quais
devem ser realizados de modo coordenado para não fomentar ainda mais a concentração da riqueza
como está ocorrendo em Goiás. Essas inferências remetem a necessidade de um programa de
desenvolvimento regional que considere, além das peculiaridades espaciais da região Centro Oeste,
sua integração com os mercados nacionais e internacionais e a consequente instabilidade que a
economia regional apresenta atualmente.
Todas essas politicas passam pela educação, principalmente a qualificação da mão-de-obra que,
em um futuro próximo, ainda será expulsa do campo pelo processo de urbanização, bem como, da
mão-de-obra que permanecerá empregada no campo em atividades mais intensivas em capital.
Considerando que as politicas de contenção da urbanização sejam exitosas, também haverá
necessidade de qualificação e de assistência técnica à mão-de-obra que permanecerá no campo em
propriedades com exploração típicas da agricultura familiar.
Em linhas gerais, a superação da pobreza rural no Centro e a prevenção do seu crescimento
passam pela desconcentração fundiária e superação da dicotomia entre espaços rural e urbano, bem
como, pela diversificação da base econômica e redução na dependência dos mercados internacionais
de commodities, os quais requerem: i) infraestrutura; ii) adensamento do setor agrícola pela
agroindústria; iii) incentivo à novas explorações agrícolas como a silvicultura, a agroenergia e as
lavouras temporárias com ênfase na redução da dependência do mercado internacional; iv) produção
de espécies da biodiversidade regional dedicadas à processos industriais a exemplo das plantas
medicinais e condimentares; v) investimentos industriais autônomos ao setor agrícola de modo a
diversificar a economia regional e reduzir a dependência em commodities exportadas; vi) incentivo ao
turismo; e, principalmente, vii) um planejamento integrado para o desenvolvimento regional.
Essas linhas gerais dependem de politicas publicas e privadas, além da integração de ambas.
Porem, algumas politicas públicas podem ter efeito significativo para aceleração da nova onda de
desenvolvimento que permeia o Centro Oeste: i) redução no desmatamento e recuperação das áreas
degradadas; ii) exploração sustentável dos recursos naturais; iii) aumento da infraestrutura de
saneamento; iv) investimentos em saúde com ênfase na redução da mortalidade infantil; v) aumento
da escolaridade, redução do analfabetismo e qualificação profissional; vi) inclusão digital; vii)
aumento do numero de pesquisadores e de programas públicos de pesquisa e, principalmente, viii)
maior presença do estado, fortalecimento da organização da sociedade e maior participação social,
notadamente, nas regiões mais deprimidas.
As sugestões de politicas públicas aqui elencadas são gerais a qualquer região que pretenda a
superação da pobreza, mas, no caso do Centro Oeste, o principal diferencial é a preocupação com o
meio-ambiente. Assim, a exploração de recursos naturais deve deixar de ser uma questão que limita o
atual modelo de desenvolvimento para se tornar uma oportunidade de desenvolvimento e superação da
pobreza rural.
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