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Especificidades da pobreza rural na região Centro Oeste do Brasil

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Brazilian Agricultural Research Corporation (EMBRAPA) University of Campinas
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Especificidades da pobreza rural na região Centro Oeste do Brasil

Pedro Abel Vieira1 e Antônio Márcio Buainain2

Introdução
Nas duas ultimas décadas o Brasil passou por profundas transformações que, para alguns autores,
privilegiaram uma realidade ‘primário exportadora’ calcada na agricultura e na mineração. Nesse caso,
a dinâmica brasileira ocorreu na contramão das teorias de Lewis e dos preceitos cepalinos sobre o
desenvolvimento (GONCALVES, 2010), o que tem grande impacto sobre as diversas vertentes e
dimensões da pobreza.

1
Pesquisador da Embrapa Transferência de Tecnologia, pedro@campinas.snt.embrapa.br.
2
Professor Doutor do Instituto de Economia da Unicamp, buainain@gmail.com.
As dimensões da pobreza
São vários os conceitos de pobreza, porém, todos convergem para que a pobreza seja uma situação
de insegurança derivada da impossibilidade de acesso a recursos para satisfazer as necessidades
físicas, sociais e/ou psíquicas básicas do ser humano tais como alimentação, habitação, educação,
saúde e segurança. São vertentes da pobreza o desemprego, a distribuição de renda, a segregação
social e a democracia. De modo geral, se avalia a pobreza como função da renda, ou seja, é um
conceito fundamentalmente econômico, a despeito de ter impactos políticos e sociais. Assim, há
dois conceitos básicos de pobreza: a pobreza absoluta e a pobreza relativa. Uma pessoa, ou um
domicílio, é pobre quando a renda não garante as necessidades básicas de reprodução física,
medida por uma quantidade mínima de calorias, de moradia, de vestuário e de locomoção, porem,
se a renda não permite adquirir os bens necessários à reprodução física, é um caso de pobreza
extrema. Além da intensidade de pobreza, a sua desigualdade é um indicador importante. Outro
conceito de pobreza, a pobreza relativa, considera a vertente monetária. Nesse caso, é considerado
pobre o indivíduo, ou domicilio, cuja renda é inferior a um determinado valor, variando entre 40 a
60% dependendo da região, da renda média. Considerando o exposto, a profundidade e as
desigualdades entre os pobres são os fatores mais importantes uma vez que a pobreza monetária,
absoluta ou relativa, é insuficiente e pode conduzir à interpretações errôneas. A pobreza não é
apenas monetária, ela possui várias dimensões havendo a necessidade de considerar indicadores
que considerem as vertentes não monetárias como saúde, educação, segurança, segregação social e
instituições (democracia), entre outras. Dada a facilidade do recorte, a dinâmica do produto é um
bom indicador para espacialização da pobreza, a partir do qual é possível analisar as demais
vertentes da pobreza de modo a caracterizar as suas dimensões (ONU, 2003).

Esse debate não considera que a dinâmica da agroindústria brasileira moderna é complexa e
promoveu transformações no setor industrial, principalmente, no setor de serviços, o setor dinâmico
das economias modernas. Essas transformações, que vão desde a economia, com destaque para
macroeconômica e a abertura comercial que afetaram significativamente a estrutura produtiva do país,
até sua estrutura social, com destaque para o crescimento da classe média e a conseqüente mudança
nos padrões de consumo, passando pela política e as conseqüentes alterações nas relações de poder
dos grupos de interesse, foram intensas no Centro Oeste brasileiro nas duas ultimas décadas.
Considerando que o centro dinâmico da economia brasileira é o setor agrícola e que as grandes
transformações desse setor na ultima década ocorreram na região Centro Oeste, pode se afirmar que
essa região tem papel fundamental na atual conformação brasileira (VIEIRA JUNIOR, 2006).
A questão da pobreza, em qualquer nação, aparece sob diversos ângulos e, de modo geral, as
opções para supera-la não têm dado respostas condizentes às suas causas ou origem. A pobreza não
pode ser definida de forma única e universal, contudo, é inquestionável que se refere a situações de
carência em que os indivíduos não conseguem manter um padrão mínimo de vida condizente com as
referências socialmente estabelecidas em cada contexto histórico.
Nas ultimas décadas o Brasil melhorou o seu Índice de Desenvolvimento Humano absoluto,
porem, recuou no ranking mundial de desenvolvimento humano como consequência da má
distribuição de renda, uma das causas fundamentais da pobreza brasileira. No caso do Centro Oeste,
conforme ficará demonstrado nesse trabalho, a prosperidade agrícola, que refletiu na renda e no
aumento do emprego, contribuiu para aliviar as desigualdades, o que, conjugado à baixa densidade
populacional no campo, não torna a questão da pobreza rural tão grave quanto em outras regiões
brasileiras como o norte e o nordeste. Porem, essa dinâmica exitosa, conforme também ficará
demonstrado, criou zonas de exclusão, o que é próprio do sistema capitalista brasileiro podendo
representar um problema no futuro. Ainda, como também será demonstrado, a dinâmica econômica do
Centro-Oeste foi calcada na abundancia de recursos naturais, notadamente terras para agricultura e
mineração, o que representa um limite ao atual modelo de desenvolvimento. Assim, a questão central
da região Centro-Oeste na atualidade não é a situação da pobreza rural, mas, o que fazer para garantir
a prosperidade no futuro.
Em anos recentes, há crescente preocupação da sociedade com a necessidade de reverter à pobreza,
haja vista o atual slogan do Governo Federal: “Um país rico é um país sem pobreza. Para tanto, vem
se criando mecanismos de participação e controle social, programas, projetos e ações que indicam um
movimento de transformações positivas. Porem, para o estabelecimento de políticas adequadas, além
de quantificar, é necessário qualificar espacialmente as vertentes e as dimensões da pobreza.
Partindo do suposto que a questão central do Centro-Oeste não são os indicadores habituais de
pobreza como a renda, a educação, a saúde ou o emprego, mas, o que fazer com a dinâmica
socioeconômica atual de modo a garantir baixos índices de pobreza rural no futuro, esse trabalho se
propõem a quantificar e qualificar espacialmente a relação entre o produto alguns indicadores de
pobreza como a renda e a educação. Para tanto, nos dois primeiros tópicos, serão apresentadas uma
breve descrição da região Centro Oeste e as principais transformações contemporâneas. No segundo
tópico serão discutidas as dinâmicas espaciais dos produtos agrícola, industrial e serviços. A partir da
dinâmica espacial do produto, serão discutidos os seus efeitos sobre a renda e a educação, bem como,
a sobre a estrutura espacial populacional. A análise conjunta dos resultados obtidos indicará as
mudanças estruturais ocorridas na região Centro Oeste e seus impactos sobre a pobreza rural, assunto
do quarto tópico. A partir dessa análise, no ultimo tópico, serão propostas politicas para superação da
pobreza rural no Centro Oeste.

1 A região Centro Oeste


Composta em sua maior parte por áreas de cerrado, mas abrangendo também a planície do
Pantanal, a oeste, e a Floresta Pré-Amazônica, ao norte do Mato Grosso, o Centro- é constituído
atualmente pelo Distrito Federal, além dos Estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
A região Centro-Oeste do Brasil, apesar de sua ocupação ter iniciado no século XVI, por longo
período foi considerada como exemplo de vazio demográfico ou, no máximo, pensado como uma
região vocacionada para atividades agrícolas de subsistência, extrativismo e mineração rudimentar. Na
atualidade se constitui um exemplo de região de fronteira agrícola que se consolida como área de
moderna produção agroindustrial após a transformação de sua base produtiva. Sua ocupação efetiva é
recente, ocorreu após a década de 1930 e consolidou-se entre as décadas de 1930 a 1970 como uma
região de fronteira agrícola e polo de absorção de excedentes populacionais. Como um espaço de
fronteira agrícola, sua ocupação ocorreu nas áreas com maior aptidão agrícola e infraestrutura em
transportes, porem, nas décadas de 1950 e 1960, o Distrito Federal, em função dos investimentos
públicos para implantação de Brasília, apresentou desenvolvimento distinto da região Centro Oeste,
característica que perdura na atualidade.
Nas últimas décadas sua economia foi baseada predominantemente na pecuária e na agricultura,
além do extrativismo de madeira e de algumas experiências de mineração. Quanto à mineração, com
raras exceções ao norte de Goiás, é uma atividade em decadência e que provocou poucos
encadeamentos com a economia regional. Já o extrativismo da madeira, que antecedeu a pecuária e a
agricultura na região amazônica, deixou legados negativos à região a exemplo da degradação
ambiental.
Os sistemas agrícolas resultaram na produção de matérias-primas e produtos de exportação,
notadamente grãos e carnes, desencadeando processos de industrialização regional com unidades
intensivas em capital e de alta produtividade, notadamente da agroindústria. Os desdobramentos desse
processo resultaram na transformação da base econômica primária, a qual alterou os setores
secundário e terciário regionais.
Ainda há que se considerar que a região Centro-Oeste possui extensa região de fronteira
internacional, fato importante na sua colonização, notadamente na década de 1930, e, atualmente, com
grande potencial estratégico a exemplo do Mercosul e da ligação com o Oceano Pacífico. Fato
importante a destacar sobre a geopolítica, em função das ligações de determinados espaços do Mato
Grosso do Sul com países vizinhos como Argentina e Paraguai, foi a ênfase do governo federal já na
década de 1930 em integrar esses espaços à economia nacional. Assim, houve a implantação da
ferrovia e a intensificação dos fluxos mercantis com o Sudeste que geraram polos de desenvolvimento
precoces no Mato Grosso do Sul e Goiás.
Objeto de políticas de incentivo à modernização agrícola enfatizando as áreas de cerrado, o
Centro-Oeste apresentou seu crescimento mais pronunciado após a década de 1970, quando lá se
estabeleceram empresas agroindustriais, de capitais nacionais e internacionais. Esse crescimento é
resultado do fomento e de investimentos estatais em infraestrutura, implementados de forma decisiva
a partir do Plano de Metas e responsáveis pela modernização das vias de transporte, da base energética
e das telecomunicações. A infraestrutura foi complementada por incentivos fiscais, crédito subsidiado
e atuação de órgãos oficiais, sem os quais dificilmente se integrado aos mercados interno e externo. A
despeito desses investimentos, é notória a precariedade logística da região Centro Oeste, notadamente
no estado do Mato Grosso.
O crescimento econômico da região Centro-Oeste nas últimas quatro décadas foi superior às
demais regiões brasileiras, exceto a região Norte. A região Centro-Oeste, que teve a menor queda na
proporção de pessoas com renda per capita abaixo de meio salário-mínimo, indicativo de pobreza
absoluta, apesar do crescimento populacional, registrou a melhor média do país de expansão do
Produto Interno Bruto (PIB) por habitante nas ultimas quatro décadas. A desagregação das taxas de
crescimento em diversos períodos indica que as décadas de 1960 e 1970 foram extremamente
positivas para o Centro-Oeste, e, mesmo na década de 1980, quando as taxas nacionais foram
reduzidas, a economia da região manteve crescimento positivo.
O crescimento econômico da região Centro-Oeste, por um lado, pode ser explicado pela
diversificação da base produtiva, e, por outro, pelo crescimento populacional que ocupou grandes
áreas inóspitas, caracterizando a região como de fronteira agrícola. Ainda, se atribui importância aos
investimentos e despesas em bens e serviços realizados pelo setor público na região, o que tem
beneficiado essa região para criação e manutenção de demanda agregada. Entretanto, é inegável que o
crescimento econômico da Região Centro-Oeste nas últimas quatro décadas é consequência do setor
agrícola, cujo maior crescimento ocorreu entre as décadas de 1970 e 1990.
A dinâmica agropecuária tornou o Centro Oeste no principal produtor e exportador de carnes e
grãos do Brasil com competitividade acima da media mundial. Estudos indicam que o Centro Oeste
produz soja com custo 30% inferior a média dos Estados Unidos da América. Essa alta eficiência
decorre de uma variedade de fatores ambientais, mas, é inquestionável o progresso tecnológico fruto
de pesquisa agrícola, a exemplo da Embrapa, e a participação do capital como o aumento significativo
do numero de tratores. Porem, o sucesso do Centro Oeste carrega grande vulnerabilidade em
decorrência da sua alta dependência de commodities cuja característica histórica é a alta volatilidade
da renda.
O avanço da fronteira agrícola também provocou intensa degradação ambiental e o
crescimento da indústria extrativista, notadamente a extração de madeira na região amazônica. Por
muitos anos o Mato Grosso foi um dos campeões de desmatamento e queimadas no Brasil. Esse
processo está sendo contido, porem, existem passivos ambientais que, se por um lado são problemas
principalmente por conter a dinâmica de desenvolvimento regional, por outro lado, podem ser novas
oportunidades de desenvolvimento à região.
Além da volatilidade na renda e da degradação ambiental, a dinâmica agrícola do Centro Oeste
promoveu pequena diversificação da produção agrícola e, embora tenha aumentado o numero de
propriedades, ainda é grande a concentração de terras na região, notadamente no Mato Grosso do Sul.
Historicamente a conjugação de crescimento acelerado e concentração fundiária resultam em
acentuada urbanização com impactos negativos sobre a violência, a pobreza e demais indicares sociais.
A expansão da fronteira e as mudanças na produção agrícola impactaram o setor industrial
regional, com destaque para a indústria de alimentos, de insumos agrícolas e a indústria de
transformação de produtos agrícolas, a exemplo do esmagamento de soja. Ambos impactaram o setor
de serviços, o qual cresceu e se diversificou nas ultimas décadas gerando uma dinâmica econômica
virtuosa. A despeito desse sucesso a dinâmica econômica do Centro-Oeste não fomentou indústrias de
maior complexidade e motoras da econômica mundial, a exemplo da eletrônica e de fármacos, as
quais tem maior impacto sobre o setor de serviços3. Assim, apesar de virtuosa, a dinâmica economia
do Centro-Oeste passa por um momento de novas definições, pois, além de manter a atual dinâmica
calcada nos setores primários, necessita diversificar e incorporar setores mais complexos da
econômica. Nesse sentido, o Estado de Goiás, é um exemplo, pois, recentemente recebeu
investimentos autônomos ao setor agrícola como a indústria automobilística, a farmacoquímica e a
3
Segundo IEDI (2011) os objetivos de uma política industrial para o Brasil seriam: i) Criação no país de bases de
produção de produtos de alto valor agregado destinados simultaneamente aos mercados interno e externo; ii) incentivo aos
setores de base tecnológica incluindo suas cadeias de insumos e componentes, bem como as atividades de Pesquisa &
Desenvolvimento onde são criadas e desenvolvidas as novas tecnologias; iii) desenvolvimento industrial regional com
foco em ações visando potencializar vocações regionais, dinamizar o emprego industrial em regiões de menor
desenvolvimento ou em decadência industrial. Assim, o Brasil deve orientar sua política industrial para os setores em que é
maior a competitividade atual da indústria sem prejuízo ao desenvolvimento dos setores nos quais o Brasil já conquistou
competitividade internacional. A política industrial deve contemplar o desenvolvimento e/ou a implantação no país dos
complexos industriais de produtos com maior valor agregado e alto conteúdo tecnológico. Esses produtos apresentam
maior dinamismo no mercado internacional e os complexos que os produzem geram salários elevados e melhor
distribuição de renda na cadeia produtiva. Em suma, a política industrial deve: i) promover a competitividade da indústria;
ii) ampliar acesso a mercados e a competitividade setorial dos segmentos industriais tradicionais; iii) fomentar o
desenvolvimento dos complexos industriais de produtos com maior valor agregado e alto conteúdo tecnológico; iv)
incentivar as atividades de P&D, a criação e o desenvolvimento de novas tecnologias; e v) aumentar as exportações e
incentivar a substituição competitiva de importações, de forma a reduzir a excessiva exposição externa da economia.
Assim, os objetivos finais são diversificar e fortalecer a indústria, aumentar o crescimento econômico e o emprego,
contribuir para a redução das desigualdades regionais e de renda.
indústria de equipamentos de precisão, entre outros. Observa-se que esses investimentos autônomos
ao setor agrícola foram calcados na logística de Goiás e nas politicas publicas estaduais.
O Centro- Oeste recebeu um grande fluxo de migrantes de outras regiões do país registrando
um crescimento populacional acelerado, particularmente nas áreas urbanas. Depois do Sudeste, o
Centro- Oeste é a região do país que tem a maior parcela da população vivendo em áreas urbanas.
Essa dinâmica populacional, em conjunto com a dinâmica econômica, teve impactos sobre a
pobreza da região. A parcela da população em situação de pobreza do Centro Oeste é maior do que no
Sul e Sudeste, mas menor do que no Norte e Nordeste. Alguns trabalhos citados por Vieira Junior et al
(2006) e Correa e Figueiredo (2006) indicam que a prosperidade agrícola no Centro-Oeste, que se
refletiu na renda e no aumento do emprego, não tem contribuído para aliviar os índices de
desigualdade, porem, o processo de modernização, embora não tenha eliminado, aliviou a pobreza
rural. Assim, embora a desigualdade entre a pobreza urbana e rural no Centro Oeste seja maior que
nas regiões Sul e Sudeste, em números absolutos, a pobreza rural não se constitui um problema tão
grave quanto nas demais regiões do Brasil. Ou seja, a questão da pobreza rural no Centro-Oeste passa
por problemas estruturais mais complexos que nas regiões Sul e Sudeste, principalmente, pela
concentração espacial da pobreza e pela maior dicotomia entre os espaços urbano e rural, que é
favorecida pelas distancias e pela carência em infra-estrutura do Centro-Oeste.
O quadro de desigualdade social, de crescimento populacional e urbanização acelerado,
conjugado ao crescimento econômico heterogêneo, juntamente com a debilidade da presença do
estado em diversos espaços do Centro-Oeste, contribuíram para gerar algumas disparidades intra-
regionais e, a despeito da pobreza rural não se constituir em grave problema da região, essa dinâmica
pode, no futuro, ter reflexos negativos sobre a pobreza rural. Assim, a despeito do sucesso no
crescimento econômico calcado no setor agrícola, a dinâmica econômica atual do Centro Oeste
precisa ser analisada no sentido de homogeneizar o desenvolvimento social. Se essa dinâmica virtuosa
pode colapsar no futuro com aumento da pobreza, os recentes investimentos realizados em Goiás dão
conta que uma nova dinâmica econômica pode permear o Centro Oeste difundindo a riqueza, assunto
discutido no tópico a seguir.

2 As principais transformações no Centro Oeste


O desenvolvimento do Centro Oeste baseou-se em quatro grandes fatores combinados que criaram
vantagens competitivas regionais: i) os recursos naturais abundantes de qualidade e baratos,
especialmente a terra; ii) a inovação tecnológica no setor agropecuário levando a alta produtividade da
terra, do capital e da mão-de-obra; iii) a capacidade empreendedora e inovadora de sua população,
principalmente dos imigrantes com tradição no setor agrícola; e iv) os grandes projetos de
desenvolvimento regional custeados por investimentos públicos e pelo capital internacional. Essas
vantagens caracterizaram a região como uma fronteira agrícola extremamente dinâmica e
compensaram as limitações decorrentes da distancia e da carência em infraestrutura, notadamente em
logística. Essa dinâmica teve impactos positivos sobre a economia regional, porem, também teve
alguns impactos negativos como a concentração da renda e o confinamento da pobreza em espaços
aonde moderna agropecuária não penetrou. Quando analisado pelo Índice Firjan de Desenvolvimento
Municipal (IFDM) 4 a região Centro-Oeste apresentou avanços na redução da pobreza no sentido
amplo, ou seja, considerando nas dimensões de emprego e renda, educação e saúde considerados pelo
IFDM. A média dos municípios do Centro-Oeste no ranking nacional do IFDM passou da 2.486
posição no ano de 2000 para a 2.372 posição no ano de 2007 (Figura 1) com destaque para o indicador
da educação regional que passou de 0,5300 no ano de 200 para 0,7007 no ano de 2007. Ainda,
observa-se que a redução da pobreza não ficou concentrada aos espaços mais ricos do Centro-Oeste,
citam-se como exemplos os municípios de Lucas do Rio Verde/MT (679 posição em 2000 e 73
posição em 2007), Catalão/Go (767 posição em 2000 e 126 posição em 2007), Nova Mutum/MT
(1.358 posição em 2000 e 129 posição em 2007) e Crixás/Go (1999 posição em 2000 e 210 posição
em 2007). Por outro lado, alguns espaços ricos, a exemplo de Brasília que passou da 82 posição para
170 posição no ranking nacional, tiveram uma piora no cenário nacional e alguns municípios no
Centro, ao Norte e ao Nordeste do Mato Grosso, além do Norte de Goiás, apresentam-se entre os
piores do país.

2000 2007

4
A metodologia do IFDM distingue-se por ter periodicidade anual, recorte municipal e abrangência nacional. Estas
características possibilitam o acompanhamento do desenvolvimento humano, econômico e social de todos os 5.564
municípios brasileiros de forma objetiva e com base exclusiva em dados oficiais relativos às três principais áreas de
desenvolvimento: Emprego e Renda, Educação e Saúde (FIRJAN, 2010).
Figura 1. Posição dos municípios da região Centro-Oeste no ranking nacional do Índice Firjan de
Desenvolvimento Municipal nos anos de 2000 e 2007. (Elaboração própria com dados de FIRJAN,
2010).

Essa dinâmica também teve impactos negativos sobre o meio-ambiente5, os quais tendem a serem
contidos na atualidade contribuindo para frear o crescimento econômico regional calcado na expansão
da fronteira agrícola. Ou seja, a onda de expansão que gerou resultados positivos nas condições de
vida da população, mas, confinou a pobreza e o atraso em espaços onde a moderna agropecuária não
penetrou, na atualidade tende a arrefecer. O crescimento e a modernização da economia regional
convive, em alguns aspectos agrava, com desigualdades intra-regionais, resultado do dinamismo
desigual. Além da diferença no ritmo de crescimento estadual, com destaque para o Mato Grosso, o
dinamismo da economia é bastante distinto, refletindo nos indicadores sociais. Um estudo do
Ministério da Integração Nacional, apresenta os espaços com nível de renda e dinamismo diferenciado
no território regional. Destacam-se vários espaços classificados como ‘estagnado de media renda’ e
‘renda menor’. As áreas mais pobres do Centro-Oeste, caracterizadas como ‘menor renda’,
distribuem-se no oeste do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, nordeste e parte do centro do Mato
Grosso e grande parte do norte e nordeste de Goiás (Mapa 1).

5
Dentre vários fatores responsáveis pela degradação ambiental, a prática de queimadas é reconhecida como das mais
importantes no Brasil. Se possuem algumas vantagens aparentes e imediatas, as queimadas provocam, a médio e longo
prazo, a perda da biodiversidade, aumento do efeito estufa, o empobrecimento do solo, com a perda da fertilidade e
destruição dos microorganismos, favorecem a erosão, a poluição do ar, aumentam a ocorrência de doenças respiratórias, e
causam toda sorte de problemas como fechamento de aeroportos, cortes em linhas de transmissão de energia, falta de
visibilidade em estradas, entre outros. Em todo o país, essas queimadas são resultantes do manejo inadequado das culturas
e a expansão das fronteiras agrícolas que, sem planejamento ambiental, fomentam a destruição e degradação dos
ecossistemas (DARCIE, 2002).
Mapa 1. Politica Nacional de desenvolvimento do Centro-Oeste (Ministério da Integração, 2008).

O arrefecimento dessa dinâmica pode impedir a homogeneização da riqueza regional, ou seja, a


região Centro-Oeste, mais do que um problema de pobreza rural, pode ter um problema futuro
estrutural caso não sejam adotadas medidas para manutenção do seu desenvolvimento. Assim, a
questão central no Centro-Oeste é o que fazer para a manutenção e ampliação dos já ganhos obtidos,
além de incorporar novos vetores de desenvolvimento e de distribuição da riqueza. Nesse sentido,
amadurecem mudanças no perfil econômico e social do Centro-Oeste que sinalizam para um novo
modelo de desenvolvimento. A região, notadamente Goiás, começa a experimentar um movimento de
transição da expansão da fronteira agrícola e consolidação da moderna agropecuária centrada em
commodities para o desenvolvimento de novas atividades econômicas com diversificação produtiva,
alta tecnologia e aproveitamento sustentável dos recursos naturais.
A expansão econômica do Centro-Oeste na década de 1970 foi calcado em investimentos e
programas de desenvolvimento públicos com ênfase no setor agrícola. Os investimentos privados
atuais enfatizam a diversificação produtiva da indústria resultando em um movimento bastante distinto
do primeiro, notadamente, quanto a preservação ambiental. Nessa direção, além de investimentos
industriais que adensam as cadeias produtivas do agronegócio já existentes, são realizados
investimentos na diversificação do setor agrícola, a exemplo da indústria de celulose e da borracha, e
em setores distintos do agronegócio como a farmacoquímica, a indústria automobilística e a indústria
de equipamentos de precisão.
Além das oportunidades nas próprias cadeias produtivas dominantes na região, a ampliação da
renda e o processo de urbanização contribuem para a formação de um mercado interno regional com
demandas consistentes em produtos agrícolas ainda não produzidos intensamente na região, a exemplo
de hortifrúti, bens industriais e serviços modernos como os financeiros, educação e saúde. Essa
dinâmica também gera novas oportunidades de desenvolvimento pela demanda em infraestrutura a
exemplo do saneamento e da construção cível. O mapa 2 apresenta alguns dos investimentos
realizados recentemente na região Centro Oeste que podem favorecer a agregação de valor na
agropecuária e a diversificação econômica regional.
Mapa 2. Investimento no Centro Oeste na década de 2000 (Ministério da Integração, 2008).

Se, por um lado, as questões contemporâneas relacionadas ao meio-ambiente contribuem para


frear o desenvolvimento do Centro-Oeste, por outro lado, a gama de investimentos, calcadas em uso
sustentável do meio-ambiente, geram novas oportunidade de crescimento e inclusão social. Nesse
sentido, é importante destacar que a biodiversidade, a ampla disponibilidade de recursos naturais,
incluindo beleza cênica, e a necessidade de respostas ao desmatamento desenfreado e a exploração da
madeira, abrem grandes oportunidades de investimento no setor agrícola como o reflorestamento de
áreas degradadas conjugadas com a venda de créditos de carbono e aproveitamento sustentável da
madeira; diversificação da produção agrícola mais intensiva em terra e mão-de-obra como os hortifrúti;
aproveitamento da informação genética da biodiversidade para produção de fármacos, cosméticos e
essências, entre outros produtos; e a produção de biocombustível. Além disso, os recursos naturais e
as belezas cênicas regionais constituem grande potencial para expansão do turismo. Nesse sentido, a
nova onda de expansão conta com as mesmas vantagens competitivas da onda anterior, mas,
acrescenta o aproveitamento sustentável dos recursos naturais.
‘Enverdecimento’ da economia
Nos últimos anos o conceito de economia verde vem ganhando força como um novo paradigma
econômico, no qual a riqueza material da sociedade não é forçosamente obtida à custa de aumento
dos riscos ambientais, da escassez de recursos e das disparidades sociais. Para a transição a uma
economia verde é fundamental criar as condições para que os investimentos públicos e privados
incorporem critérios ambientais e sociais. A transição implica em desafios e oportunidades nos
setores denominados de capital construído: energia, indústria de transformação, transporte,
resíduos, construção e turismo. Nos três primeiros destes setores, as maiores oportunidades para
produção de riqueza usando menos recursos materiais e energia. No caso da indústria de
transformação, o estudo aponta grandes desafios e oportunidades. O ‘enverdecimento’ da indústria
de transformação é essencial para qualquer esforço no sentido de dissociar as pressões ambientais
e o crescimento econômico. A atividade manufatureira verde se difere da convencional na medida
em que se propõe a reduzir a quantidade de recursos naturais necessários para produzir bens
acabados por meio de processos mais eficientes de uso a de energia e materiais, reduzindo também
as externalidades negativas da produção associadas aos resíduos e à poluição. Assim, surge uma
ampla gama de áreas para investimento e inovação verde na indústria de transformação, incluindo
design e desenvolvimento de produto, substituição de materiais e energia, controle e modificação
de processo, e novos processos e tecnologias limpas. Uma estratégia da oferta envolve redesenho e
melhoria da eficiência dos processos e tecnologias empregadas nos principais subsetores da
indústria de transformação intensivos em materiais (metais ferrosos, alumínio, cimento, plástico,
etc.). Já a estratégia da demanda envolve a alteração da composição da demanda tanto da indústria
como do consumidor final. Isso requer modificação do produto final, ou seja, priorizar o uso de
bens finais que incorporem materiais e energia com muito mais eficiência e/ou de produtos de
design que exigem menos material na sua fabricação. Todos os diferentes ramos da indústria de
transformação têm potencial significativo de melhoria da eficiência energética ainda que em grau
variável e com várias necessidades de investimento. Estimativas indicam que investimentos em
eficiência energética durante as próximas quatro décadas poderiam reduzir o consumo de energia
industrial por quase metade em comparação com o modelo atual de negócios. Em relação à
melhoria da eficiência no uso de materiais, o desenvolvimento de parques ecoindustriais permitiria
a implementação eficaz da produção em circuito fechado, elevando a vida útil dos materiais. O
cenário de investimento verde para a indústria de transformação sugere que consideráveis
melhorias na eficiência energética podem ser alcançadas. O investimento verde também
aumentará o emprego no setor, com efeitos consideráveis na geração de empregos indiretos (IEDI,
2011).
3 A dinâmica do Produto
Entre os anos de 1996 a 2007, o Produto Interno Bruto per capita (PIBpc) da região Centro Oeste
(5,47 % a.a) variou a taxas superiores à brasileira (2,60 % a.a). Esse crescimento do produto apresenta
forte relação espacial com a adequação agrícola e a malha rodoviária (Figura 3), o que caracteriza a
região como uma fronteira agrícola. Essa dinâmica de fronteira agrícola constituiu espaços com alto
crescimento do PIBpc localizadas, principalmente, em um eixo que se estende do leste do Mato
Grosso do Sul, até Cuiabá no Mato Grosso, com ramificações à Oeste para Corumbá/MS e a Leste até
Rio Verde no Sul Goiano. Além desse eixo as mesoregiões Norte e Nordeste do Mato Grosso;
Sudoeste do Mato Grosso do Sul; Sul, Centro e Norte de Goiás, bem como, alguns municípios
isolados também apresentaram alto PIBpc no ano de 2007.
Considerando a metodologia descrita para análise do produto, a região Centro Oeste apresenta
uma região de pobreza sobre um eixo que inicia na mesoregião Norte de Goiás e se ramifica para o
Centro e Noroeste goianos. Além desse eixo, a região Centro Oeste apresenta municípios pobres+ no
norte, Nordeste e Centro-Sul do Mato Grosso; Sul e Oeste do Mato Grosso do Sul; e Noroeste e
Centro de Goiás.
Produto e pobreza
O capitalismo, segundo seus defensores, é o meio mais eficiente e eficaz de prosperidade,
desenvolvimento e eliminação de pobreza, pois, cada indivíduo, por depender basicamente do seu
próprio esforço, por ter direito a acumular e desfrutar dos produtos gerados deste esforço e por ter
de assumir e colocar em risco seu próprio patrimônio é motivado a utilizar seus recursos
(materiais e intelectuais) da forma mais eficiente. A forma mais eficiente é aquela que gera maior
riqueza para a sociedade, ou seja, é aquela na qual há maior crescimento do produto per capita,
assim, é possível classificar a dinâmica econômica de um espaço como rico+, rico, pobre ou
pobre+ segundo o produto per capita. Considerando a questão do produto per capita, o sentido de
acumulação de um espaço, aqui denominado por acumulação setorial ( %PIB Setor ), pode ser
indicado pela posição relativa da razão entre os produtos per capita nos setores agrícola
( PIB Agricola ), industrial ( PIB Industria ) e de serviços ( PIB Industria ) com o produto per capita total
PIBSetor
( PIBTotal ) dado por %PIBSetor  100 * , o que possibilita classificar os espaços conforme
PIBTotal

descrito a seguir:

Espaço Participação setorial (%) Espaço Participação setorial (%)


AGRÍCOLA+ Agrícola > 67 AGRIINDU Agrícola > Industrial e ambos > 33
INDUSTRIA+ Industrial > 67 AGRISERV Agrícola > Serviços e ambos > 33
SERVIÇOS+ Serviços > 67 INDUAGRI Industrial > Agrícola e ambos > 33
AGRÍCOLA Agrícola > 33 e demais < 33 INDUSERV Industrial > Serviços e ambos > 33
INDUSTRIA Industrial > 33 e demais < 33 SERVAGRI Serviços > Agrícola e ambos > 33
SERVIÇOS Serviços > 33 e demais < 33 SERVINDU Serviços > Industrial e ambos > 33
MISTA Todos < 33

Essa classificação deve ser complementada pelas perspectivas futuras de crescimento setorial, aqui
denominado por viés de acumulação. Assim, é pertinente analisar a taxa de crescimento dos
produtos nos setores nos setores agrícola ( PIB Agricola ), industrial ( PIB Industria ) e de serviços

( PIB Servicos ) em relação ao crescimento do produto Total ( PIBTotal ) por


 PIB 1 
  n

 
Setort1
PIBTotalt1 
PIB Setor  100 *     1 em que PIB Setort 0 , PIB Setort1 , PIBTotalt 0 e PIBTotalt1
 PIB Setort 0  

 PIBTotalt 0  
 

referem-se aos produtos setoriais e ao produto total na data inicial e na data final da série
analisada, respectivamente, e n refere-se ano numero de anos da série.
A despeito dessa caracterização, algumas regiões classificadas como ricos+ na Figura 2 no
Nordeste do Mato Grosso, no Sul e no leste do Mato Grosso do Sul, no pantanal e no norte de Goiás
apresentaram uma dinâmica distinta pelo fato de não estarem localizados em áreas adequadas à
agricultura e/ou por não serem servidas pela malha rodoviária. Por outro lado, municípios como
Campinapolis/MT, Formosa/GO e Planaltina/GO, apesar de serem servidos por rodovias e estarem
localizados em regiões com aptidão agrícola favorável, apresentaram dinâmica do produto insuficiente
sendo classificados como pobres+ (Figura 2).
Essas constatações sugerem a necessidade de um estudo mais detalhado sobre a dinâmica do
produto na região Centro Oeste, aonde a variação do produto definiu algumas regiões com alta taxa de
crescimento do PIBpc em detrimento de outras (Figura 2).

2007 Q VIÉS Q

2007 M VIÉS M
Figura 2. Representação, em base municipal, dos quintis (Q) e do índice de Moran (M) do: Produto
Interno Bruto per capita no ano de 2007 (2007, R$ de 2000 deflacionado pelo deflator implícito do
PIB nacional), variação porcentual anualizada entre os anos de 1996 a 2007 do Produto Interno Bruto
per capita (VIÉS, %a.a.) na região Centro Oeste (Elaboração própria com dados de IPEADATA,
2011).
Figura 3. Áreas do Centro-Oeste adequadas, com restrições e inadequadas à produção agrícola (IBGE,
2011) e malha rodoviária federal.

Observa-se na Figura 2 que os espaços ricos+, de modo geral, estão circundadas por espaços ricos,
os quais estão circundadas por espaços médios e assim sucessivamente até os espaços pobres+.
Aplicando-se o Teste de Moran6, observa-se (Figura 2) que a dinâmica do produto no Centro Oeste, de
modo geral, se deu na forma de grupamentos, ou seja, que alguns municípios apresentam efeitos de
transbordamento aos seus vizinhos na geração de riqueza constituindo os espaços ++. O teste de

6
Um aspecto da análise espacial é a dependência espacial, mostrando como os valores estão correlacionados no espaço.
Uma das funções utilizadas para estimar quanto o valor observado de um atributo numa região é dependente dos valores
desta mesma variável nas localizações vizinhas é a autocorrelação espacial. O índice global de Moran é a expressão da
autocorrelação considerando apenas o primeiro vizinho cuja hipótese nula é de independência espacial, ou seja, seu valor
seria zero. Valores positivos (entre 0 e +1) indicam para correlação direta e negativos (entre 0 e –1) correlação inversa. O
diagrama de espalhamento de Moran é uma maneira adicional de visualizar a dependência espacial. Para tanto, a análise de
um gráfico com os valores normalizados (valores dos atributos subtraídos de sua média e divididos pelo desvio padrão) e a
média dos vizinhos, indica a dependência espacial segundo os seguintes quadrantes: Q1com valores e médias positivas (++)
e Q2 com valores e médias negativas (--) indicam pontos de associação espacial positiva, no sentido que uma localização
possui vizinhos com valores semelhantes; Q3 com valores positivos e médias negativas (+-) e Q4 com valores negativos e
médias positivas (-+) indicam pontos de associação espacial negativa, no sentido que uma localização possui vizinhos com
valores distintos (ANSELIN, 1995).
Moran também indica que a riqueza os espaços ++ se deu em detrimento dos municípios vizinhos,
representados por -+ na Figura 2, do que se infere que o conjunto de municípios ricos e representados
por +- na Figura 2 podem estar deprimindo seus vizinhos. Desse modo a configuração desses espaços
tende a agravar a distribuição da riqueza, pois, além da questão da concentração espacial, o
crescimento econômico dos espaços ricos+ e ricos se da pela expulsão da pobreza para os espaços
periféricos médios e assim sucessivamente até os espaços pobres+, o que está em acordo com as
afirmações de Furtado (2000) e Wallerstein (1979)7.
Para esses autores, de modo geral, o desenvolvimento econômico é um processo no qual a renda
aumenta durante um longo período de tempo. O setor de serviços, seguido do industrial, são os que
apresentam maior potencial para o desenvolvimento socioeconômico, cabendo ao setor agrícola
suportar os setores dinâmicos da economia fornecendo alimentos, matéria-prima, além de atuar como
um reservatório de mão-de-obra. Assim, a equalização na distribuição da riqueza em regiões contendo
espaços desiguais requer tratamentos desiguais, pois, a dinâmica ‘natural’ agravará a concentração da
riqueza. O Centro-Oeste apresenta correlações espaciais significativas entre a geração de riqueza,
expresso pelo PIB per capita na Figura 2, e a participação dos produtos agrícola (8,9%), industrial
(13,3%) e de serviços (77,7%), indicando que a análise do desenvolvimento socioeconômico dessa
região requer a espacialização da dinâmica dos setores agrícola, industrial e de serviços (Figura 4).

2007 VIÉS

7
Wallerstein (1979) rejeita a hipótese de ‘Terceiro Mundo’ argumentando que o sistema econômico mundial é uma
complexa rede onde a relação capital e trabalho, bem como o seu fim que é a acumulação de capital, é dinamizada pela
competição entre os agentes, incluindo, mas não limitando, os estados e nações. Para ele, o capitalismo está longe de ser
homogêneo nas vertentes econômica, politica e cultural, sendo a diferença fundamental no desenvolvimento
socioeconômico a acumulação de capital e poder politico. Assim, Wallerstein propôs a divisão do mundo nas regiões
centro, semiperiferia e periferia, as quais têm funções determinadas e distintas no sistema econômico mundial,
notadamente, quanto ao trabalho e a acumulação de capital. O pensamento de Wallerstein coaduna com Furtado (2000),
quem consideram o subdesenvolvimento como uma forma de organização social no interior do sistema capitalista. Furtado
é contrário à ideia de que o subdesenvolvimento é uma etapa para o desenvolvimento, pois, o subdesenvolvimento é um
processo estrutural específico e não uma fase pela qual tenham passado os países hoje considerados desenvolvidos. Os
países subdesenvolvidos tiveram, segundo Furtado (2000), um processo de industrialização indireto, ou seja, como
consequência do desenvolvimento dos países industrializados. Por outro lado, os países subdesenvolvidos sustentam o
processo de desenvolvimento dos países industrializados fornecendo alimentos e matérias-primas produzidas em locais
com mão de obra abundante.
Figura 4. Espaços da região Centro Oeste segundo a participação no ano de 2007 (2007) dos produtos
agrícola, industrial e de serviços no Produto Interno Bruto per capita municipal além da variação
porcentual anualizada entre os anos de 1996 a 2007 das respectivas participações (Elaboração própria
com dados de IPEADATA, 2011).

Observa-se (Figura 4) que, a despeito de ser considerada como uma região de fronteira agrícola e
o crescimento da participação do setor industrial ser predominante entre os anos de 1996 a 20078, a
região Centro Oeste apresentava no ano de 2007 uma economia baseada no setor de serviços 9 .
Mantidas essas condições, a dinâmica econômica do Centro Oeste sinaliza por crescimento dos setores
industrial e de serviços, o que é positivo, porem, haverá um desencadeamento entre os setores da
economia, o que pode resultar em problemas para o desenvolvimento econômico regional.

8
Do total de 466 municípios da região Centro Oeste no ano de 2007, 207 (44,4%), 96 (20,6%), 61 (13,1%), 60 (13,0%), 35
(7,5%), cinco (1,1%) e dois municípios apresentaram crescimento (Viés) Industrial+, Serviços+, Industrial, Serviços,
Agrícola+, Misto e Agrícola, respectivamente.
9
Do total de 466 municípios da região Centro Oeste no ano de 2007, 141 (30,6%), 134 (28,7%), 73 (15,6%), 72 (15,5%),
21 (4,5%), sete (1,5%), sete (1,5%), cinco (1,1%), quatro (1,0%) e dois municípios foram classificados como ServAgri,
Serviços, AgriServ, Serviços+, ServIndu, Agrícola +, Agrícola, InduServ, Industrial+ e Industrial, respectivamente, no
ano de 2007.
AGRÍCOLA Q INDÚSTRIA Q SERVIÇOS Q

AGRÍCOLA M INDÚSTRIA M SERVIÇOS M

Figura 5. Representação, em base municipal, dos quintis (Q) e do índice de Moran (M) da participação
porcentual dos setores agrícola, industrial e de serviços no Produto Interno Bruto no ano de 2007 no
Centro Oeste (Elaboração própria com dados de IPEADATA, 2011).

Observa-se (Figura 5) que, partindo da região Sudeste, a participação da agricultura e da indústria


no PIB crescem e dos serviços decresce com efeito de transbordamento positivo entre os municípios
para o setor agrícola (++) e negativo (--) para o setor industrial e o setor de serviços. Essa analise
corrobora a hipótese da fronteira agrícola e da economia mais complexa que a moderna agricultura
brasileira engendra. Assim, a ocupação da região Centro Oeste se deu pela agricultura, partindo da
região Sudeste pelos eixos das rodovias BR 163, BR 158, BR 252 e BR 364 (Figura 3). O setor
agrícola engendrou um setor de serviços, o qual predomina na região, e um setor industrial ainda
incipiente.
A dinâmica do produto na região Centro Oeste indica problemas futuros, pois, se por um lado a
manutenção das proporções entre os setores na região é desejável, por outro lado, haverá municípios
especializados segundo os setores da economia, o que implica em probabilidade de maior
instabilidade socioeconômica intra-regional. Essa instabilidade pode gerar bolsões de pobreza com
reduzida possibilidade de migração intra-regional da mão-de-obra, pois, os municípios tenderão a
dispor de mão-de-obra especializada segundo seu setor predominante. Considerando que a dinâmica
da região Centro Oeste é de fronteira agrícola e, consequentemente, os setores industrial e de serviços
mantem fortes relações com o setor agrícola, a instabilidade socioeconômica regional pode ser
agravada e sua superação passa pela requalificação da mão-de-obra.
Apesar dessa dinâmica, há grupos de municípios no norte e nordeste do Mato Grosso, noroeste de
Goiás e leste do Mato Grosso do Sul com participação expressiva, crescente e distinta de seus
vizinhos (+-) para o setor de serviços. Ainda, há grupos de municípios no entorno do Distrito Federal
e no Mato Grosso do Sul com efeito de transbordamento positivo (++) para o setor de serviços.
Já a indústria apresenta uma dinâmica distinta, pois, além dos esperados municípios próximos à
região Sudeste, há um grupo de municípios mato-grossenses no outro extremo do eixo de
desenvolvimento com participação expressiva, crescente e distinta dos vizinhos (+-) da indústria no
PIB. Ainda com relação à indústria, existe um grupo de municípios mato-grossenses nucleados entre
Cuiabá e Pontes e Lacerda e outro grupo de municípios goianos nucleados entre Mozarlandia,
Porangatu, Niquelandia e Cavalcante, além de municípios isolados com a mesma dinâmica da
indústria. Há que se observar que, tanto nos grupos quanto nos municípios isolados, ocorre efeito de
transbordamento (-+) para municípios vizinhos com participação da indústria abaixo da media
regional.
Da analise sobre a dinâmica do produto na região Centro Oeste pode se inferir que,
predominantemente, sua ocupação se deu como fronteira agrícola, porem, há espaços com dinâmicas
distintas e que, portanto, requerem uma analise detalhada. Por outro lado, a despeito do sucesso na
ocupação da região Centro Oeste com variação do PIB per capita acima da média nacional, o setor
agrícola regional vem apresentando sinais de fadiga no processo de aumento e distribuição da riqueza,
o que remete e necessidade de inovação na matriz produtiva regional passando pela diversificação da
produção agrícola. Por outro lado, pela necessidade de desconcentração industrial, típica das
economias emergentes, alguns segmentos da indústria brasileira, notadamente a agroindústria, estão
migrando das regiões Sul e Sudeste para a região Centro Oeste. A dinâmica contemporânea da
produção na região Centro Oeste, agricultura fomentando os serviços e a indústria, e nova dinâmica
em função da desconcentração industrial das regiões Sul e Sudeste do Brasil, tem efeitos significativos
sobre a estrutura produtiva regional e, consequentemente, sobre as dimensões e vertentes da pobreza.
Da analise dos setores agrícola, industrial e de serviços na região Centro Oeste, é possível inferir que,
apesar de ser a mais recente, e talvez a última, fronteira agrícola no Brasil, sua ocupação baseou-se
numa agricultura moderna gerida em bases empresariais, a qual promoveu o setor de serviços e a
agroindústria. Considerando que, grosso modo, o setor industrial e de serviços requer mão-de-obra
mais qualificada que o setor agrícola promovendo maior distribuição da renda, por principio, a
dinâmica do produto na região Centro Oeste contribuirá para aumento das disparidades intra-regionais,
pois, os municípios com maior participação da indústria e de serviços tendem a se desenvolver e gerar
mais riqueza. O desenvolvimento desses municípios tende a elevar os seus custos de vida fomentando
a migração da pobreza para os municípios mais pobres e com a economia calcada na agricultura, ou
seja, no caso dessa dinâmica se confirmar, além do aumento da pobreza, haverá concentração espacial
da pobreza nos municípios com economia agrícola. Para mitigação dessas consequências sobre as
diversas dimensões da pobreza, há necessidade de politicas que promovam uma distribuição espacial
mais equânime dos setores da economia, além da requalificação da mão-de-obra que possivelmente
venha a ser marginalizada. Porem, a despeito das evidencias históricas que confirmam essa seqüência,
há que se qualificarem quais os serviços, as indústrias ou as produções agrícolas regionais, assunto
discutido a seguir.

3.1 O setor agrícola


Composta em sua maior parte por áreas de cerrado, mas, abrangendo também a planície do
Pantanal e a Floresta Pré-Amazônica, o Centro-Oeste apresenta clima adequado à produção dos
principais produtos agrícolas comercializados no mundo. A precipitação da região Centro-Oeste é
dividida em duas estações: i) a estação chuvosa, entre outubro a março, tem balanço hídrico que
permite a produção agrícola, com raras exceções, sem irrigação suplementar; e ii) a estação seca, entre
abril a setembro, apresenta intenso déficit hídrico inviabilizando a produção agrícola sem irrigação
suplementar, técnica recomendada na região devido radiação solar nesse período.
O relevo predominante varia entre plano a ondulado, portanto, adequado à agricultura
mecanizada e à irrigação. Os solos são antigos, profundos e, à exceção da depressão do Pantanal, bem
drenados, porem, o bioma dos cerrados apresenta solos com baixa fertilidade natural e ácidos o que
limita a produção agrícola. Não obstante, essa limitação pode superada pela técnica denominada de
‘construção do solo de cerrado’, desenvolvida por grupos de pesquisa entre as décadas de 1960 a 1980.
Essa técnica consiste na adequação da fertilidade dos solos para produção agrícola seguindo uma
sucessão de espécies pouco exigentes, a exemplo do arroz, seguida por espécies mais exigentes, a
exemplo da soja, até o cultivo de espécies bastante exigentes, a exemplo de algodão, fruteiras e
hortaliças (MIYASAKA, 1986).
A partir da década de 1970, incentivado por programas públicos a exemplo do Polocentro10 e
Prodecer11, houve o deslocamento da fronteira agrícola12 no Centro Oeste. A dinâmica de ocupação
agrícola do Centro Oeste (Figura 6), que é relativamente recente, teve um vetor, partindo da fronteira
com a região sudeste do Brasil, orientada pela aptidão agrícola e a malha rodoviária (Figura 3), que
coincidem com a dinâmica do produto apresentada na Figura 2. Observa-se que a pastagem e a
agricultura seguiram os eixos das rodovias BR 262 em direção ao Mato Grosso do Sul, BR 364 em
direção ao Oeste de Goiás e Mato Grosso e BR 153 em direção ao Norte de Goiás.
O deslocamento da fronteira agrícola foi calcado na pecuária de corte bovina extensiva seguida
de agricultura. Na medida em que as áreas foram se adequando à produção agrícola e a infraestrutura
se consolidou, a pecuária foi substituída pela produção agrícola conforme preconizava a técnica de
construção dos solos dos cerrados. Com o avanço da agricultura as pastagens foram se deslocando em
direção à região Norte do Brasil, mas, também ficaram confinadas em espaços com menor aptidão
agrícola, notadamente no leste do Mato Grosso do Sul, no Pantanal, no leste e no Nordeste do Mato
Grosso, no oeste de Goiás e norte de Goiás. Com o avanço das tecnologias agrícolas, em meados da
década de 1980, foi possível a substituição do bioma natural por espécies agrícolas, notadamente arroz
e soja. Assim, diferente dos demais espaços, as regiões central e norte do Mato Grosso houve
participação expressiva de lavouras sem a precedência de pastagens (Figura 6).
Essa dinâmica configurou espaços distintos no Centro Oeste. Aquelas onde a substituição da
pastagem pela agricultura não foi tão intensa coincide com as regiões pobres e pobres+ da Figura 2 e,

10
O Polocentro teve como objetivo propiciar a ocupação racional e ordenada dos cerrados, difundindo a tecnologia
agropecuária, permitindo elevados níveis de produtividade, e ao mesmo tempo, aumentando e preservando a fertilidade do
solo. O Programa beneficiou principalmente médios e grandes produtores no período em que vigorou (1975-1982). O
Polocentro procurou transformar a agricultura de subsistência em uma agricultura empresarial, no sentido de uso de
práticas agrícolas modernas e a integração com o mercado, através de ampla assistência técnica, apoio financeiro e de
infraestrutura (MAROUELI, 2003).
11
O programa Desenvolvimento dos Cerrados (PRODECER), uma cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento
dos Cerrados, foi idealizado em 1974 e implementado a partir de 1978 numa região até então pouco considerada para
agricultura, o Cerrado do Brasil central. O objetivo estimular e desenvolver a implantação de uma agricultura moderna,
eficiente e empresarial, de médio porte, na região dos cerrados, com vistas ao seu desenvolvimento, mediante a
incorporação de áreas ao processo produtivo, dentro de um enfoque sustentável. Também se buscou criar infraestrutura
que permitisse o crescimento econômico e social da região, que passou a atrair migrantes de outros pontos do país
(MAROUELI, 2003).
12
Segundo Castro e Fonseca (1995) as transformações produtivas incentivadas no Centro-Oeste, podem ser divididas em
três fases: 1) A primeira começa no final dos anos 60, com a chegada dos pioneiros da soja no Mato Grosso do Sul,
marcando a fase da adaptação dessa cultura no cerrado e uma incipiente atividade agroindustrial de beneficamento de
grãos, especialmente em Goiás; 2) A segunda ocorre na primeira metade da década de 80, com a expansão e consolidação
do sistema de produção de commodities milho e principalmente soja sob as estratégias dos grandes capitais de
comercialização desses produtos; e 3) Após 1985 ocorre o deslocamento de capitais do Centro-Sul para o Centro-Oeste e a
consolidação do complexo grãos-carne.
portanto, apresentam economias menos dinâmicas e, provavelmente, com maior intensidade de
pobreza que as regiões onde a agricultura prosperou. Já nos espaços onde a agricultura prosperou
coincidem com as regiões ricas e ricas+ da Figura 2. Conforme discutido no tópico anterior que a
dinâmica da riqueza confinou as camadas menos favorecidas da sociedade em alguns espaços e,
portanto, os efeitos da pobreza nesses espaços devem ser mais intensos, pode-se inferir que, se por um
lado o avanço da fronteira agrícola promoveu o desenvolvimento, por outro lado foi um fator de
exclusão socioeconômica. A despeito dessa inferência, ainda não é possível afirmar que essa dinâmica
tenha sido perniciosa ou um fator de geração de pobreza. Por principio, a dinâmica da fronteira
agrícola no Centro Oeste teve mais benefícios que malefícios, pois, incorporou essa região à matriz
produtiva nacional com ganhos inquestionáveis ao país. Porem, conforme discutido no tópico anterior,
caso não sejam adotadas medidas preventivas, essa dinâmica poderá engendrar zonas de concentração
da pobreza.

1975
Pastagem Lavouras

1985
Pastagem Lavouras
1995
Pastagem Lavouras

2005
Pastagem Lavouras

Figura 6. Porcentual das áreas municipais do Centro Oeste ocupadas por pastagens e por lavouras nos
anos de 1975, 1985, 1995 e 2006 (Elaboração própria com dados de IBGE, 2011).

Na década de 1970 a predominância agrícola no Centro Oeste era do arroz do milho e do feijão
e, até 1980, a região não produzia mais do que 10 espécies com participação inexpressiva do algodão
e da soja, culturas que foram vetores das mudanças estruturais na agricultura do Centro Oeste a partir
dos anos 80. Ainda na década de 70 é interessante observar que a pecuária e a produção de arroz
apresentavam alguma integração com os demais mercados nacionais, porem, as produções de feijão,
milho e mesmo do café (menos de 2% da área agrícola em 1975), apesar de ser uma espécie com
mercado nacional e internacional relativamente desenvolvido na época, destinavam-se ao consumo
interno, ou seja, as atividades agrícolas não geravam relações econômicas significativas com os
demais mercados nacionais e internacionais.
Além do aumento na produção, a agricultura no Centro Oeste acumulou ganhos de
produtividade acima da média nacional (Figura 7) e se diversificou (Figura 8Figura 7). Os ganhos de
produtividade foram, principalmente, nas culturas do arroz, do algodão, da soja, do milho, além da
bovinocultura. Esses ganhos tornaram o Mato Grosso um importante produtor de algodão e soja. O
Mato Grosso do Sul, além da soja, é um importante produtor de milho, de bovinos para corte e vem
obtendo destaque na produção de cana-de-açúcar e de outras espécies para agroenergia de modo que,
além do principal produtor de carne brasileiro, desponta como o Estado da Agroenergia Brasileira . Já
Goiás, além dos destaques na produção de algodão, girassol, milho, soja, leite, suínos e bovinos de
corte, é o maior produtor nacional de sorgo e de tomate. Ainda, assim como o Mato Grosso do Sul,
Goiás vem obtendo destaque na cana-de-acúcar e outras fontes de biomassa para agroenegia.
Ainda quanto aos ganhos de produtividade, o Centro Oeste desenvolveu sistemas de produção
modernos e mais intensivos em capital das principais espécies vegetais e animais, o que implicou em
ganhos de escala e redução no risco da produção. Cita-se como exemplo dessa dinâmica a produção
de algodão com alto índice de mecanização, alta produtividade da terra e do capital e menor oscilação
no rendimento da cultura. Porem, devido a fatores de risco contemporâneos e externo à produção
agrícola, a exemplo do cambio, os ganhos de escala e a intensidade de capital deixam a região sujeita
à instabilidades que fogem ao controle dos agentes nacionais.

3.500 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste


3.000
2.500
Kg.ha-1

2.000
1.500
1.000
500
0
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008
Figura 7. Rendimento médio das principais espécies da Lavoura Temporária 13 nas regiões Sul,
Sudeste, Centro Oeste, Nordeste e Norte do Brasil entre os anos de 1990 a 2009. (Elaboração própria
com dados de IBGE, 2011).

Os ganhos de escala e o aumento na intensidade do capital foram importantes para redução na


pobreza da região, pois, essas atividades, além de gerar mais empregos que a bovinocultura de corte
extensiva que as precedeu, conformou uma classe media com um padrão de consumo mais elevado
que o anterior, o que implicou no avanço do setor de serviços. Porem, se por um lado a especialização
e a escala favorecem o desenvolvimento econômico, permitem melhor aplicação do capital e facilitam
a gestão, por outro lado, a diversificação, que é a interação de vários sistemas de culturas e criações,
possibilita várias fontes de renda durante o ano agrícola evitando, além do risco à produção por
condições adversas, os riscos contemporâneos do setor agrícola. A diversificação, através da adequada
combinação de linhas de produção complementares e suplementares, imprime economia de escopo à
atividade agrícola determinando o uso mais intensivo dos recursos ambientais e materiais disponíveis,
favorecendo o uso contínuo da mão-de-obra e, consequentemente, evita o problema do desemprego e,
principalmente, da urbanização. Como exemplo da diversificação agrícola, em 1980 a região produzia
11 espécies vegetais, com destaque para o arroz e para a bovinocultura de corte, e, em 2007, a região
produziu mais de 35 espécies vegetais. Ainda em 2007, a pecuária se diversificou com a produção de
suínos e aves, além da incipiente produção de hortícolas e silvícolas.

13
Foram considerados: Algodão herbáceo em caroço (Quilogramas por Hectare), Alho (Quilogramas por Hectare),
Amendoim em casca (Quilogramas por Hectare), Arroz em casca (Quilogramas por Hectare), Aveia em grão (Quilogramas
por Hectare), Batata-doce (Quilogramas por Hectare), Batata-inglesa (Quilogramas por Hectare), Cana-de-açúcar
(Quilogramas por Hectare), Cebola (Quilogramas por Hectare), Feijão em grão (Quilogramas por Hectare), Fumo em folha
(Quilogramas por Hectare), Girassol em grão (Quilogramas por Hectare), Mamona (Quilogramas por Hectare), Mandioca
(Quilogramas por Hectare), Melancia (Quilogramas por Hectare), Melão (Quilogramas por Hectare), Milho (em grão)
(Quilogramas por Hectare), Soja em grão (Quilogramas por Hectare), Sorgo em grão (Quilogramas por Hectare), Tomate
(Quilogramas por Hectare) e Trigo em grão (Quilogramas por Hectare).
Figura 8. Índice de diversificação14 do setor agrícola no Centro Oeste em base municipal. (Elaboração
própria com dados de IBGE, 2011).

A despeito dessa dinâmica virtuosa e da aparente diversificação, a agricultura do Centro Oeste


ainda está concentrada nas Lavouras Temporárias e na Pecuária15 (Tabela 1), o que representa um
risco de instabilidade econômica e social para a região. Ainda, alguns espaços do Centro Oeste,
notadamente em Goiás, no Pantanal do Mato Grosso e na região norte mato-grossense, apresentam
uma agricultura pouco diversificada (Figura 8) o que constitui em potencial problema socioeconômico
para o futuro.

14
No índice de diversificação, definido pela expressão: I = 1/ΣFx 2, em que, Fx é a fração da renda bruta total proveniente
da linha de exploração X, foram consideradas os valores das produções de Aves, Suínos, Bovinos, Ovos, Leite, Abacaxi,
Abobora, Algodão, Alho, Amendoim, Arroz, Aveia, Batata-inglesa, Cana-de-açúcar, Cebola, Ervilha, Fava, Feijão, Feijão
de corda, Forrageiras, Fumo, Gergelim, Girassol, Mamona, Mandioca, Melancia, Melão, Milho, Milho forrageiro, Soja,
Sorgo, Sorgo forrageiro, Tomate, Trigo, Abacate, Banana, Borracha, Cacau, Café, Castanha de caju, Coco-da-baía, Erva-
mate, Figo, Goiaba, Guaraná, Laranja, Limão, Mamão, Manga, Maracujá, Marmelo, Palmito, Pimenta-do-reino, Tangerina
e Uva.
15
A Pecuária e a Lavouras Temporárias representaram mais de 95% do valor da produção agrícola regional.
Tabela 1. Valor da produção dos Produtos da Lavoura Temporária 16 (Temporária), da Lavoura
17 18 19
Permanente (Permanente), da Pecuária (Pecuária), dos Produtos Hortícolas
(Horticultura) e dos Produtos Silvícolas20 (Silvicultura) no ano de 2007 (R$ 2007), a taxa de
crescimento anual desses valores entre os anos de 1996 a 2007 (Viés 2007), a participação
desses produtos no valor total da produção agrícola no ano de 2007 (% 2007) e a taxa de
crescimento anual dessas participações (Viés %) na região Centro Oeste, bem como, a
participação porcentual dessas produções nas respectivas produções brasileiras no ano de
2007 (CO/Br 2007) e a taxa de crescimento dessas participações (Viés CO/Br). (Elaboração
própria com dados de IBGE, 2011).

Centro-Oeste Relação CO/Brasil


R$ 2007 Viés R$ % 2007 Viés % CO/Br 2007 Viés CO/Br
TEMPORÁRIA 21.032.092,00 18,11 64,58 3,23 22,95 4,04
PERMAMENTE 471.330,00 8,88 1,45 -4,83 1,89 -2,73
PECUÁRIA 10.678.194,96 9,98 32,79 -3,87 24,04 2,15
HORTICULTURA 259.812,00 15,39 0,80 0,85 6,98 2,15
SILVICULTURA 127.783,00 9,72 0,39 -4,10 4,43 0,36
TOTAL 32.569.211,96 14,41 100,00 0,00 19,43 2,81

A região Centro Oeste tradicionalmente estava relacionada com a pecuária de corte. Essa
atividade sofreu alguma diversificação com a inclusão da produção de aves e suínos e aumento da
produção de leite nas ultimas três décadas, porem, a bovinocultura de corte ainda representava mais de
25% do valor da produção agrícola no ano de 2007. Desses 25%, cerca de 24% se referem à bovinos
vendidos, indicando que, em grande medida, a produção é abatida em outros Estados brasileiros. Esse
cenário não contribui para geração de empregos e renda, pois, na cadeia bovina de corte, a geração de
emprego e de renda é relativamente menor que no segmento industrial. Ou seja, a bovinocultura de
corte se modernizou com ganhos de produtividade, passou de aproximadamente 0,6 cabeça por

16
Abacaxi, Algodão herbáceo, Alho, Amendoim, Arroz, Aveia, Batata-doce, Batata-inglesa, Cana-de-Açúcar, Cebola,
Centeio, Cevada, Ervilha, Fava, Feijão, Fumo, Girassol, Juta, Linho, Malva, Mamona, Mandioca, Melancia, Melão, Milho,
Rami, Soja, Sorgo, Tomate, Trigo e Triticale.
17
Abacate, Algodão arbóreo, Azeitona, Banana, Borracha, Cacau, Café, Caqui, Castanha de caju, Chá-da-Índia, Coco-da-
baía, Dendê, Erva-Mate, Figo, Goiaba, Guaraná, Laranja, Limão, Maçã, Mamão, Manga, Maracujá, Marmelo, Noz,
Palmito, Pera, Pêssego, Pimenta-do-reino, Sisal ou agave, Tangerina, Tungue, Urucum e Uva.
18
Aves Abatidas, Aves Vendidas, Bicho da Seda, Bovinos Abatidos, Bovinos Vendidos, Suínos Abatidos, Suínos
Vendidos, Lã, Leite, Mel, Ovos de Codorna e Ovos de Galinha.
19
Abobrinha verde, Açafrão, Acelga, Agrião, Aipo, Alcachofra, Alface, Alho-porró, Almeirão, Aspargo, Azedinha,
Batata-Baroa, Berinjela, Bertalha, Beterraba, Brócolis, Bucha, Caruru, Cebolinha, Cenoura, Cheiro verde, Chicória,
Chuchu, Coentro, Cogumelos comestíveis, Couve, Couve-flor, Erva-doce, Ervilha, Espinafre, Gengibre, Hortelã, Jiló,
Manjerona, Maxixe, Mostarda, Nabiça, Nabo, Pepino, Pimenta, Pimentão, Quiabo, Rabanete, Repolho, Rúcula, Salsa,
Taioba e Vagem.
20
Casca de acácia negra, Lenha, Madeira em tora para papel, Madeira em tora outra finalidade, Mudas de eucalipto,
Mudas de pinheiro e Mudas de outras espécies florestais.
hectare na década de 1970 para mais de uma cabeça por hectare no ano de 2007, porem, os maiores
ganhos para geração de renda são exportados para outros Estados, notadamente São Paulo, onde estão
localizados os frigoríficos. A exceção foi o Mato Grosso do Sul onde o abate de bovinos passou de
0,06 cabeças per capita no ano de 1996 para mais de 0,09 cabeças per capita no ano de 1996.
Apesar de pouco expressivo, o aumento no abate de bovinos na região Centro Oeste,
notadamente no Mato Grosso do Sul, contribuiu para a geração de emprego e renda, porem, após o
ano de 2006, o abate per capita apresentou redução, notadamente no Mato Grosso do Sul. Mantida
essa tendência, apesar da pecuária bovina de corte da região Centro Oeste não ser grande empregadora,
essa situação se torna preocupante ao se considerar que essa atividade está concentrada espacialmente.
Considerando ainda que, tradicionalmente, a mão-de-obra empregada pela pecuária bovina de corte é
de baixa qualificação e especifica, pode se inferir pela dificuldade na realocação dessa mão-de-obra
nas demais atividades agrícolas do Centro Oeste.
Quanto à produção de leite, aves e suínos, observa-se que há uma crescente concentração
espacial, notadamente em Goiás para o leite, Mato Grosso do Sul e Goiás para aves e Mato Grosso do
Sul e Mato Grosso para suínos. Como essas duas ultimas atividades, notadamente no setor industrial,
são mais intensivas e requerem mão-de-obra mais especializada que a bovinocultura de corte
extensiva, além promover maior integração com mercado local pelo uso de maquinas/equipamento e
insumos modernos, é possível que a suinocultura e a avicultura fomentem a classe media com reflexos
positivos sobre o consumo das famílias, o que resulta na diversificação da produção agrícola local e
redução na pobreza rural. Ainda, como essas atividades apresentam maior integração com outras
produções agrícolas, notadamente o milho e a soja, podem contribui para estabilização do emprego e
da renda regional. Porem, a despeito do potencial na mitigação da pobreza rural que essas atividades
representam, há que se considerar que as suas participações estão muito aquém do valor da
bovinocultura de corte, além de estar concentrado espacialmente, o que reduz as suas capacidades de
mitigação da pobreza rural nas regiões de maior concentração da bovinocultura de corte.
Quanto à Lavoura Temporária, o sucesso da região Centro Oeste é inquestionável, observa-se
que sua produção apresentou crescimento maior que da agricultura nacional e se diversificou, em
2007 o Centro Oeste não produzia apenas cinco (centeio, fava, juta, linho, malva e rami) das 31
espécies consideradas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica. A despeito desse
crescimento e da inclusão de novas espécies como a ervilha, o girassol e o triticale, houve
concentração na soja, no milho, no algodão herbáceo e na cana-de-açúcar. A produção dessas espécies
na região Centro Oeste apresentaram ganhos de produtividade do capital, da terra e da mão-de-obra,
com destaque nesse ultimo fator para a colheita mecanizada do algodão e da cana-de-açúcar. Em
grande medida, esses ganhos forma decorrentes do uso intensivo de tecnologia e de investimentos em
maquinas/equipamentos e infraestrutura. Ainda, considerando o aumento e a melhor distribuição de
renda, com possíveis impactos positivos sobre o aumento da classe média e do consumo das famílias
que essa agricultura proporcionou, bem como, a otimização do capital investido no setor agrícola, as
produções de algodão, milho, soja, além da criação de suínos e aves, fomentaram a diversificação da
produção agrícola, pois, os espaços com maior índice de diversificação (Figura 8) coincidem com os
principais espaços produtoras das espécies vegetais e animais. Essa dinâmica, que coincidiu com o
preconizado pela técnica de construção dos solos dos cerrados, potencializou a e diversificou a
economia do Centro Oeste, notadamente, pela maior geração de renda e emprego que a bovinocultura
de corte que a precedeu, porém, observa-se que essas espécies apresentam suas produções
concentradas espacialmente (Figura 9) e durante o período das águas.
A concentração da produção agrícola durante o período das águas implica em sazonalidade do
emprego, na década de 80 era pratica comum a migração de operadores de maquinas e motoristas das
regiões Sul e Sudeste durante os períodos de semeadura e colheita da soja e do arroz. Apesar da maior
integração, a exemplo do milho e da soja com a pecuária, da instalação da indústria de transformação
e diversificação da produção agrícola, fatores que contribuíram para mitigar a sazonalidade do
emprego nas culturas de soja, milho e algodão, ainda ocorre migração sazonal de trabalhadores para a
região Centro Oeste do Brasil. Também se observa que as regiões produtoras, notadamente da soja, do
milho e do algodão, apresentam alta relação com a PIB per capita apresentado na Figura 2, do que
pode ser inferir que o dinamismo produtivo da região Centro Oeste, em grande medida, depende da
produção dessas espécies. Essa situação, além de contribuir para a concentração da riqueza, torna a
região vulnerável às oscilações da rentabilidade dessas culturas, as quais, por serem consideradas
commodities, têm a seus preços dependentes de variáveis exógenas ao setor, a exemplo do cambio,
incorporando uma fonte de risco de difícil gestão para o produtor rural.
As principais espécies da Lavoura Temporária, a exceção da cana-de-açúcar que esta em fase de
transição, gera mais e melhores empregos que a bovinocultura extensiva e menos empregos que a
maioria das Lavouras Permanentes e a produção de aves, leite e suínos. Essa situação tem reflexos
sobre a pobreza, pois, além da geração de emprego temporário, a renda do produtor rural e,
consequentemente, do trabalhador, são flutuantes e dependem de fatores exógenos ao setor e a região.

Algodão Cana-de-açúcar
Milho Soja

Figura 9. Quintis do Valor da Produção Agrícola Municipal per capita de Algodão, Cana-de-açúcar,
milho e soja na região Centro Oeste no ano de 2007. (Elaboração própria com dados de IBGE, 2011).

A produção dessas espécies, inclusive a cana-de-açúcar mais recentemente, requer mão-de-obra


mais especializada que a agricultura e a pecuária que as precedeu. Isso implica em aumento da renda
do trabalhador rural, porém, além da sazonalidade do emprego, essa transformação requer
qualificação da mão-de-obra. Desse modo, apesar de não haver desemprego e migrações significativas
quando comparado às ocorridas na década de 1980, a manutenção do emprego rural, além da
diversificação da produção agrícola com espécies da Lavoura Permanente, requer programas de
qualificação da mão-de-obra, notadamente quanto aos operadores de maquinas agrícolas modernas.
Quanto às Lavouras Permanentes, potencialmente geradoras de renda e emprego, além de, em
grande medida, não estarem tão sujeitas a riscos exógenos como as principais Lavouras Temporárias
produzidas na região Centro Oeste, observou-se uma involução durante os anos de 1996 a 2007. Das
espécies consideradas nessa classe, a banana (0,4% da renda agrícola total), o café (0,3% da renda
agrícola total), os citros (0,2% da renda agrícola total) e a borracha (0,2% da renda agrícola total) são
as principais, porem, a castanha de caju (178% a.a. entre 1996 a 2007), o coco-da-baía (20% a.a. entre
1996 a 2007), o palmito (39% a.a. entre 1996 a 2007) e a uva (13% a.a. entre 1996 a 2007), espécies
potencialmente geradoras de renda e emprego pela possibilidade de industrialização e pela intensidade
de mão-de-obra agrícola, têm crescido na região. Ainda, a produção dessas espécies pode se localizar
nas áreas pobres, mitigando o efeito de concentração espacial da riqueza que a pecuária e as Lavouras
Temporárias vem causando. Cita-se como exemplo um investimento na produção de uva para
fabricação de suco na região Norte do Mato Grosso, que, apesar da carência de infraestrutura para
escoamento da produção, tem obtido sucesso gerando mais de 200 empregos. Observa-se que o
incentivo à produção dessas espécies, à exceção do café, pode ter efeito significativo na mitigação da
pobreza rural, porem, a despeito inquestionável do potencial ambiental que a região apresenta para
suas produções, o incremento de suas produções é limitado pela carência de infraestrutura,
notadamente energia elétrica para irrigação e armazenamento da produção nas propriedades rurais,
além de estradas e ferrovias para escoamento da produção.
Semelhante à produção da Lavoura Permanente, a produção da silvicultura tem grande potencial
de geração de riqueza, renda e emprego na região. Cita-se como exemplo os investimentos na
produção de seringueiras e de florestas para celulose no leste do Mato Grosso do Sul, ambas
responsáveis diretas pela criação recente de uma região Rica+ (Figura 2) entre os municípios de Ribas
do Rio Pardo e Aparecida do Taboado, passando por Três Lagoas. Essa era uma região com reduzido
potencial agrícola para Lavouras Temporárias devido à qualidade dos solos e, ate recentemente,
explorada pela bovinocultura extensiva para abastecimento de frigoríficos sediados em São Paulo, o
que implicava em pobreza rural.
Quanto a horticultura, uma atividade intensiva em mão-de-obra com reduzida flutuação da
demanda e geradora de renda, a região Centro Oeste apresenta potencial ambiental para a sua
produção, porem, devido as suas características produção e consumo locais, o crescimento dessa
atividade fica dependente do aumento da população e da renda, ou seja, o incremento dessa atividade
será possível nas regiões ricas e ricas+ da Figura 2. Ainda, semelhante às Lavouras Permanentes, essa
atividade depende de infraestrutura e de logística apurada para exportação às demais regiões e Estados
brasileiros.
Considerando o exposto, a dinâmica agrícola da região centro Oeste obteve ganhos
consideráveis, pois, partindo da bovinocultura extensiva, na atualidade apresenta uma base produtiva
agrícola eficiente e diversificada. Como pensado pelos programas Polocentro e Prodecer,
desenvolveu-se no Centro Oeste uma agricultura moderna em bases empresariais poupadora de mão-
de-obra, porém, concentradora de renda. Assim, o desenvolvimento agrícola da região dependeria do
sucesso dessa agricultura, sucesso inquestionável na produção das Lavouras Temporárias, o qual
promoveria encadeamentos com a agroindústria e o setor de serviços estimulando a produção local de
Lavouras Permanentes e a Horticultura, as quais contribuiriam para a desconcentração da renda e
redução da pobreza rural.
Em alguma medida, a politica para desenvolvimento da agricultura no Centro Oeste foi exitosa,
notadamente quanto à pecuária que evoluiu na produção de leite, aves e, mais recente, suínos, com
forte encadeamento com as Lavouras Temporárias. Porem, a industrialização da pecuária de corte, que
obteve algum avanço no passado, mostra sinais de fadiga. Além dessas questões, o sucesso das
Lavouras Permanentes, da Silvicultura e da Horticultura, depende fundamentalmente de investimentos
em infraestrutura, quesito no qual a região Centro Oeste fica aquém do necessário e das demais
regiões do país.
A dinâmica da fronteira agrícola também impactou a estrutura fundiária da região, pois,
conforme se verifica na Figura 10 e na Tabela 2, entre 1996 a 2007, de modo geral, houve
desconcentração da terra na região com aumento das propriedades até 100 hectares, ligeiro aumento
das propriedades entre 100 a 1.000 hectares e acentuada redução das propriedades com mais de 1.000
hectares. Porem, a desconcentração fundiária não foi homogêneo, Goiás e o Distrito Federal, embora
já apresentassem maior desconcentração fundiária, apresentaram as maiores reduções das áreas com
módulos maiores que 1.000 hectares e o único estado a apresentar alguma redução nas áreas entre 100
a 1.000 hectares. Já o Mato Grosso, que apresentava a maior concentração de terras em 1997,
apresentou a menor redução nas áreas com modulo superior a 1.000 hectares.

< 100 Viés < 100

100 ~1.000 Viés 100 ~1.000


> 1.000 Viés > 1.000

Figura 10. Quintis da participação municipal dos módulos de área até 100 hectares (< 100), entre 100
a 1.000 hectares (100 ~ 1.000) e mais de 1.000 hectares (> 1.000) no ano de 2007, bem como, as
respectivas a taxas de crescimento anual entre os 1996 a 2007 (Viés) na região Centro Oeste.
(Elaboração própria com dados de IBGE, 2011).

Tabela 2. Participação porcentual das áreas com módulos menores que 100 hectares (< 100 ha), entre
100 a 1.000 hectares (100 a 1.000 há) e maiores que 1.000 hectares (> 1.000 há) nos anos de 1997
(1997) e 2007 (2007), bem como, as respectivas variações percentuais anuais entre os anos de 1997 a
2007 (Viés %a.a.). (Elaboração própria com dados de IBGE, 2011).

UF < 100 ha 100 a 1.000 ha > 1.000 ha


1997 2007 Viés (%a.a.) 1997 2007 Viés (%a.a.) 1997 2007 Viés (%a.a.)
GO 15,72 18,55 2,46 50,19 47,66 -0,50 33,07 27,37 -20,75
MS 6,90 8,09 3,65 28,72 29,53 0,18 64,14 61,59 -2,73
MT 5,54 7,55 4,95 20,78 21,82 1,07 70,87 69,49 -0,27
Média 11,17 13,47 3,41 37,70 36,80 0,09 49,71 45,84 -11,54

A despeito de Goiás ter apresentado a maior desconcentração fundiária, cumpre observar que o
Sul e o Sudoeste do estado, semelhante ao que ocorreu no norte e nordeste do Mato Grosso que já
apresentava relativa desconcentração fundiária, houve aumento da concentração fundiária. Ainda, o
Pantanal, notadamente no Mato Grosso do Sul, e o Leste do Mato Grosso do Sul, também
apresentaram expressiva concentração fundiária.
A dinâmica da estrutura fundiária na região Centro Oeste esta em acordo com o preconizado nos
Planos de Desenvolvimento. Na medida em que a fronteira agrícola avança, a economia local se
dinamiza fomentando uma classe media que diversifica o consumo e demanda melhor infraestrutura
impactando positivamente a diversificação da produção agrícola e contribuindo para redução da
concentração fundiária. Essa dinâmica é importante para contenção da urbanização em uma região
com intensa atividade econômica e polo de atração migratório, pois, caso não haja desconcentração
fundiária e integração entre os espaços urbano e rural, o aumento da pobreza urbana, que é um
problema maior que a pobreza rural, é inevitável.
No Centro-Oeste essa dinâmica foi parcialmente bem sucedida, pois, as maiores concentrações
fundiárias ocorreram justamente nas áreas consideradas pobres e pobres+ da Figura 2, a exceção do
sudoeste goiano, uma região rica.
A despeito da importância da concentração fundiária para o desenvolvimento socioeconômico,
há que se considerar que, tão importante quanto a estrutura fundiária é a produtividade da terra. Nesse
caso, a concentração fundiária em uma região com predominância da pecuária de corte extensiva, que
gera menos de 0,2 empregos por hectare de baixa qualificação e com reduzida articulação com os
demais setores da economia, é pior que a mesma concentração em uma região explorada por Lavouras
Temporárias, a exemplo da soja que gera mais de um emprego por hectare com maior qualificação e
maior articulação econômica que a pecuária de corte extensiva. No caso do Centro Oeste, observa-se
que as maiores concentrações fundiárias, inclusive a maior tendência de concentração, coincidem em
grande medida com as áreas aonde a pecuária de corte extensiva tem maior participação, a exemplo da
do Pantanal, da região leste e Nordeste do Mato Grosso, do Oeste Goiano e do Leste do Mato Grosso
do Sul. Quanto ao Leste do Mato Grosso do Sul, devido as recentes mudanças na estrutura da
produção agrícola com inclusão da Silvicultura e da Heveacultura, essa não é uma questão tão
preocupante para a pobreza, porem, nas demais regiões, notadamente no Pantanal, é um potencial
fator para aumento da pobreza.
Do exposto sobre o setor agrícola do Centro Oeste, verifica-se que a região incorporou as
transformações produtivas e, portanto, conforme preconizado pelos programas de desenvolvimento
que pautaram o deslocamento da fronteira agrícola no Centro Oeste, a região pode ter auferido os
ganhos sociais e econômicos previstos, assunto a ser discutido nos próximos tópicos. A despeito
desses resultados positivos, essa dinâmica confinou o atraso em alguns espaços, o que representa uma
pressão potencial sobre a pobreza no futuro. Assim, independente das próximas analises, fica patente
que a região Centro Oeste carece de politicas que, além de reforçar o sucesso da agricultura nas
Lavouras Temporárias, incorpore nesses espaços maior produtividade da terra pela adoção de sistemas
de produção integrados a exemplo da ocupação simultânea de mesma área pela Lavoura Temporária,
pela pecuária e pela Silvicultura, a chamada Integração Lavoura pecuária Floresta. Quanto à
bovinocultura de corte extensiva, além da integração com as Lavouras Temporárias e a Silvicultura, é
preciso melhorar os índices de produtividade do capital, notadamente pelo aumento do abate na região.
Ainda, seguindo o exemplo do Leste do Mato Grosso do Sul, é preciso reforçar a ocupação com a
Silvicultura ou com Lavouras Permanentes das áreas marginais às Lavouras Temporárias e atualmente
ocupadas pela bovinocultura de corte extensiva. Quanto ao Norte do Goiás e o Pantanal, essas regiões
merecem atenção especial, pois, devido as suas limitações ambientais naturais, a agricultura e a
pecuária ficam comprometidas, restando a diversificação econômica da agricultura pela integração
com outros setores da economia, notadamente serviços. Além dessas considerações, cumpre observar
que um grande limitante para o crescimento do setor agrícola na região Centro Oeste, notadamente nas
regiões mais deprimidas economicamente, é a carência da infraestrutura, fatores limitantes à qualquer
processo de superação da pobreza.

3.2 O setor industrial


Tradicionalmente a indústria foi uma atividade pouco significativa no Centro-Oeste e, como um
macro agregado político-administrativo, cumpre historicamente a função geral de complementar a
economia do Sudeste. Os sistemas produtivos do Centro Oeste eram responsáveis pela produção de
matérias-primas para a agroindústria e produtos de exportação, notadamente grãos, carnes, minerais e
madeira. As explorações minerais e a indústria da madeira não fomentaram grande desenvolvimento
regional, pois, a mineração, historicamente, não promove transbordamentos regionais, o mesmo
ocorrendo com a indústria da madeira no Centro Oeste que era calcada no extrativismo. Assim, a
agricultura foi quem desencadeou o processo de industrialização regional, empreendido por unidades
modernas e de alta produtividade, com representativos impactos à montante e à jusante, porem,
sempre ligadas ao setor agrícola a exemplo de frigoríficos, fabricas de rações e processadoras de
alimentos. O resultado dessa dinâmica foi uma transformação na base econômica do Centro-Oeste
impulsionada pelas ligações promovidas pela agroindústria nos setores secundário e terciário com
destaque no cenário nacional para o crescimento da indústria em Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso
do Sul, enquanto o Distrito Federal perdeu participação e, como sua indústria está intimamente ligada
à Goiás, não será objeto desse tópico (Figura 11). Como historicamente a agroindústria não requer
grandes inversões em capital ou tecnologia apurada como os setores líderes da indústria mundial na
atualidade, o desenvolvimento industrial da região Centro Oeste, apesar de seu sucesso, foi limitado
pela sua natureza (CANO, 1985; CANO, 1998; CASTRO, 1995).

10 Mato Grosso do Sul (1,02% a.a) Mato Grosso (1,67% a.a)


Goiás (1,90% a.a) Distrito Federal (-2,18% a.a)
9
8
7
6
%
5
4
3
2
1
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Figura 11. Participação porcentual no Brasil do valor de transformação industrial no Distrito Federal,
Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso entre os anos de 1996 a 2007. (Elaboração própria com
dados de IBGE, 2011).

Historicamente a indústria extrativa predominou no Centro Oeste (Figura 12), com destaque
para extração vegetal no Mato Grosso do Sul (erva-mate) e Mato Grosso (poaia, borracha e madeira) e
de minerais metálicos no Mato Grosso do Sul e Goiás e minerais não metálicos no Mato Grosso do
Sul, Mato Grosso e Goiás. As extrações vegetais, embora importantes para alguns espaços no passado,
não tiveram maiores influencia no contexto socioeconômico atual e há muito entraram em declínio na
região. O extrativismo mineral, a exceção dos minerais metálicos em Goiás, também vem
apresentando sinais de fadiga, o que indica problemas para os seus espaços de influencia. É
interessante observar que, apesar dos municípios onde está instalado as minerações serem
classificados como ricos e ricos+ (Figura 2), a atividade exerce algum efeito de transbordamento aos
municípios vizinhos, os quais são classificados como pobres e pobres+, de modo que o declínio da
mineração contribuirá para o aumento da pobreza nos espaços de influencia da mineração. Esse
problema se potencializa ao se observar que as economias sub-regionais são calcadas na mineração
com participação pouco expressiva da agricultura e dos serviços, a exceção de Corumbá que tem
participação expressiva do setor de serviços (Figura 5). Ou seja, a dependência da mineração desses
espaços é um problema potencial para a pobreza no futuro e o incentivo à agricultura e aos serviços
poderá mitigar esse potencial.
Além do declínio da indústria de mineração na região Centro Oeste, é interessante observar
que a indústria extrativa está sujeita a grande variação (Figura 12) influenciada por questões externas
à região, a exemplo dos preços internacionais das commodities que inflaram o desemprenho desse
setor industrial em Goiás e no Mato Grosso nos últimos anos.
Na última década o Centro Oeste experimentou uma nova dinâmica no setor industrial,
indústrias mais expressivas foram atraídas pela energia abundante fornecida pelas hidroelétricas do
complexo de Urubupungá no Mato Grosso do Sul, de São Simão, Itumbiara e Cachoeira Dourada em
Goiás. Com isso, a indústria de transformação, embora com uma taxa de crescimento mais modesta
que a indústria de extração em função dos aumentos nos preços internacionais das commodities a
partir de 2004, apresentou um crescimento mais constante na região (Figura 12), o que tem impactos
positivos sobre a mitigação da pobreza regional. Ainda cabe observar a maior capacidade de geração
de riqueza da indústria de transformação, notadamente em Goiás que representa cerca de 50% do
valor de transformação da indústria regional (Figura 12).

Crescimento
1.400 Extrativa MS (16,28% a.a.) Transformação MS (17,29% a.a.)
Extrativa MT (23,66% a.a.) Transformação MT (17,90% a.a.)
1.200 Extrativa Go (25,22% a.a.) Transformação Go (17,64% a.a.)
Extrativa DF (12,00% a.a.) Transformação DF (13,52% a.a.)
1.000
800
%
600
400
200
0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Participação
Extrativa MS (-1,15% a.a.) Transformação MS (-0,28% a.a.)
Extrativa MT (5,13% a.a.) Transformação MT (0,23% a.a.)
60 Extrativa Go (6,46% a.a.) Transformação Go (0,01% a.a.)
Extrativa DF (-4,78% a.a.) Transformação DF (-3,49% a.a.)
50

40

% 30

20

10

0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Figura 12. Crescimento e participação regional no valor de transformação da indústria de extração


(Extrativa) e na indústria de transformação (Transformação) no Distrito Federal (DF), Goiás (Go),
Mato Grosso do Sul (MS) e Mato Grosso (MT) entre os anos de 1996 a 2007. (Elaboração própria
com dados de IBGE, 2011).

Goiás é o estado mais industrializado da Região, entre 1996 a 2007 a participação regional da
sua indústria cresceu 0,54% a.a. (Figura 12). Em Goiás está localizado o Distrito Agroindustrial de
Anápolis que na última década recebeu diversos tipos de indústrias, principalmente de medicamentos,
o que faz do município maior polo farmacoquímico do Brasil. Além dessa indústria, instalaram-se
recentemente em Goiás as montadoras de automóveis Hyundai, em Anápolis, e Mitsubishi em Catalão,
importante polo de mineração e metalomecânico. Ainda em Goiás, instalou-se a montadora de
máquinas agrícolas John Deere em Rio Verde.
A dinâmica de crescimento de outros setores da indústria vem reduzindo a participação da
indústria de alimentos, que estão localizadas, principalmente, em Itumbiara, Jataí, Mineiros,
Mozarlândia e Rio Verde, mas, esse ramo da indústria ainda responde por mais de 40% da produção
industrial de Goiás e apresenta fortes relações com a economia local. Jaraguá e Senador Canedo se
destacam como polos da indústria do vestuário e da indústria calçadista, respectivamente, e, do
mesmo modo que a indústria alimentícia, apresenta fortes vínculos com a economia regional. Portanto,
o fortalecimento dessas indústrias poderá contribuir significativamente para o crescimento da
agricultura na região Centro oeste, o que possibilitará expandir a produção agrícola para as regiões
pobres e pobres+ com fortes efeitos sobre a pobreza rural.
A despeito do sucesso da indústria de metalurgia básica (8,2% a.a.), que respondeu por cerca
de 10,0% da produção industrial em 2007, da indústria de máquinas e equipamentos (15,9% a.a. entre
1996 e 2007) e de veículos automotores, reboques e carrocerias (31,6% a.a. entre 1996 e 2007), que
juntas responderam cerca de 8% da produção industrial de Goiás no ano de 2007, a manutenção desse
crescimento depende da instalação de novas empresas na região, processo moroso que, devido a
fatores externos ao Brasil, não deverá ocorrer na mesma intensidade nos próximos anos. Ou seja, a
instalação desses complexos industriais foi importante para a região, porem, seu crescimento deverá
se restringir no futuro. A despeito dessa restrição futura, é de se esperar que esses investimentos
tenham efeitos de transbordamento para a agricultura e os serviços, notadamente pelo crescimento da
classe media e melhoria no padrão de consumo das famílias, mas, esse transbordamento em grande
medida será restrito ao Estado de Goiás, com pouco efeito sobre a pobreza na região Centro Oeste
como um todo.
Já as indústrias de material eletrônico, de aparelhos e equipamentos de comunicações,
equipamentos médico-hospitalares, de instrumentos de precisão e ópticos e de equipamentos para
automação industrial, apesar da pequena expressão na produção industrial de Goiás, menos de 1% no
ano de 2007, apresentaram o maior crescimento estadual na ultima década, acima de 20% a.a.. Essas
indústrias tem maior efeito de transbordamento regional que a indústria de alimentos e que a indústria
de veículos e maquinas e equipamentos, pois, além de requererem constantes avanços tecnológicos
obtido de fortes relações com instituições de ensino e pesquisa, os quais podem ter efeito de
transbordamento para a região Centro Oeste como um todo, geram empregos qualificados e
promovem o setor de serviços. Ainda, o crescimento desse segmento industrial não deverá sofrer
restrição tão intensa como o de da metalurgia, veículos, maquinas e equipamento nos próximos anos
de modo que, o fortalecimento desse segmento industrial deve ser focos de politicas de combate a
pobreza regional.
No Mato Grosso do Sul, além do extrativismo mineral, a produção industrial se baseia na
indústria de alimentos, que responde por mais de 60% do produto industrial estadual. No setor de
alimentos a indústria da carne tem maior destaque, pois, responde por mais de 50% desse setor. Ou
seja, a produção industrial do Mato Grosso do Sul se baseia em uma indústria com pequeno efeito de
transbordamento regional e reduzida capacidade de desenvolvimento socioeconômico, pois, não
requerem investimentos pesados em pesquisa, geram empregos de baixa qualificação e,
consequentemente, tem pequeno poder de promoção da classe media. Porem, essa situação no Mato
Grosso do Sul tende a ser revertida com os recentes investimentos realizados na indústria de papel e
celulose, uma indústria com maior capacidade de geração de empregos e distribuição de renda que as
tradicionais do estado e, apesar de ainda responder por menos de 5% da produção industrial do estado,
cresce a taxas superiores a 30% a.a.. Ainda, essa indústria instalou-se na região leste do estado, uma
região classificada como pobre, ou seja, além dos seus efeitos de transbordamento regionais,
contribuirá para redução da pobreza em um espaço critico do Centro Oeste.
Além do setor de papel e celulose, os investimentos recentes realizados na agroenergia, que já
responde por cerca de 5% da produção industrial do Estado e cresceu cerca de 30 a.a. entre 1996 e
2007, promoverão o desenvolvimento socioeconômico do estado. Alguns já se arriscam a comentar
que o Mato Grosso do Sul em breve passará de importante produtor de carne a maior produtor de
agroenergia do Brasil. Porem, os principais investimentos foram realizados na região Sul do estado,
uma região classificada como rica e rica+. Assim, politicas de incentivo a instalação desse segmento
industrial no leste e no nordeste do estado devem ser objeto de interesse para redução da pobreza.
Ainda quanto ao Mato Grosso do Sul, é importante destacar o crescimento da indústria de
confecção de artigos do vestuário (21,0% a.a. entre 1996 e 2007) e da metalurgia básica (24,7% a.a.
entre 1996 e 2007), que, apesar de ambas responderem por cerca de 2% da produção industrial do
estado em 2007, tem grande potencial de geração de empregos sem grande requerimento em
qualificação. Essa indústria, apesar de não gerar empregos muito qualificados e, consequentemente,
não promover significativamente o crescimento da classe media, é importante para absorção da mão-
de-obra regional rural que possivelmente ocorrerá com a urbanização da região.
O Mato Grosso é o estado da região Centro Oeste que apresenta maior participação da
indústria de transformação na produção industrial, mais de 98% no ano de 2007. Se, por um lado essa
é uma noticia importante, por outro lado, na ultima década a indústria de transformação perdeu espaço
para a indústria extrativa. Ainda, a diversificação da indústria de transformação mato-grossense é
bastante restrita, somadas a fabricação de alimentícios e bebidas e a fabricação de produtos de madeira
respondem por mais de 70% da produção industrial do estado.
A indústria de alimentos mato-grossense, que representou cerca de 60% da produção industrial
em 2007, cresce e tem fortes ligações com a produção agrícola regional, porem, ainda se dedica ao
processamento de alimentos básicos com pequeno efeito sobre o desenvolvimento da economia local.
A promoção desse setor industrial no Mato Grosso seria importante para o desenvolvimento
socioeconômico da região Centro Oeste, porem, o avanço da indústria de alimentos no estado requer
infraestrutura, notadamente em transporte, o que é uma das principais carências do estado.
Quanto a indústria da madeira, além de não ter efeito de transbordamento significativo para a
economia regional por gerar poucos empregos de baixa qualificação, requer pequeno investimento em
pesquisa e esta calcada na extração e não no cultivo de madeira. Assim, investimentos nesse segmento
da indústria não fazem sentido para o desenvolvimento socioeconômico regional.
Apesar desse quadro preocupante da indústria mato-grossense, as indústrias têxtil, de couros e
química apresentaram crescimento significativo, todas cresceram a taxas superiores a 15% a.a. entre
1996 e 2007. As duas primeiras têm fortes relações com o setor agrícola regional e podem absorver
uma mão-de-obra menos qualificada contribuindo para mitigar a pobreza advinda da urbanização.
Quanto a indústria química, os principais investimentos foram para a produção de insumos
genéricos para a agricultura. Apesar dessas plantas não requererem investimentos significativos em
pesquisa, se trata de uma fonte promissora para o dinamismo da economia regional e para superação
da pobreza. Porem, como esse segmento também estará atrelado ao desempenho das commodities
agrícolas, não contribuirá para redução da instabilidade econômica a que a região está submetida.
De um modo geral a indústria no Centro Oeste, com exceção de Goiás, é bastante incipiente e
está calcada na indústria de alimentos e da madeira, ou seja, indústrias ligadas ao setor agrícola.
Recentes investimentos em agroenergia, em papel e celulose, em química, na indústria têxtil e de
couros, representam boa perspectiva para o desenvolvimento e estabilização da economia regional,
porem, ainda é tímido para superação da dependência regional do setor agrícola. Ou seja, a economia
e, consequentemente a pobreza na região, por muito tempo serão dependentes do desempenho de
commodities agrícolas, notadamente carnes, laticínios e produtos da Lavoura temporária.
Considerando a extensão agrícola da região, a concentração de atividades agrícolas e indústrias,
é possível inferir que a superação da pobreza regional depende, em grande medida, da diversificação
da agricultura, a qual será possível pelo crescimento e diversificação da indústria, a qual contribuirá
para crescimento do setor de serviços, aumento da classe media e a melhoria no padrão de consumo
das famílias, entre outras. O fortalecimento da indústria da madeira, em grande medida, é um
retrocesso à região. Já, o crescimento quantitativo e, principalmente, qualitativo da indústria de
alimentos é uma excelente opção para superação da pobreza regional. Porem, o desenvolvimento da
indústria de alimentos requer infraestrutura, principalmente, de transportes, no que a região ainda é
carente.
A indústria têxtil, de confecções, de couro e a química seguem a mesma logica da indústria de
alimentos para a região Centro Oeste. Ainda, como com a industrialização a urbanização regional será
inexorável e essas atividades empregam mão-de-obra menos qualificada que os segmentos industriais
mais dinâmicos, a promoção desses setores da indústria se justifica plenamente. Porem, esse processo,
além da infraestrutura, requer atenção imediata para a educação e qualificação da mão-de-obra
regional, pois, esse processo poderá resultar em nova onda de migração das regiões Sul e Sudeste para
o Centro Oeste.
Quanto a Goiás, a dinâmica industrial é promissora para o crescimento econômico e distinta do
Centro Oeste como um todo. A indústria goiana é bastante diversificada e dispersa espacialmente.
Observa-se que essa diversificação não ocorreu na esteira do crescimento agrícola, ela foi fruto de
politicas para infraestrutura e educação, entre outras, que possibilitaram ao estado sediar industrias
como a automotiva, farmacoquimica e de equipamentos de precisão, os quais independeram da
dinâmica agrícola. Apesar desse progresso de setores industriais alheios ao setor agrícola, em grande
medida, a indústria goiana ainda tem fortes ligações com o setor agrícola. Por outro lado, os
segmentos da indústria que não estão ligados diretamente á agricultura, a exemplo dos equipamentos
hospitalares e de precisão, promoverão o crescimento e diversificação no consumo das famílias, o que
terá efeitos sobre a agricultura regional. Esse crescimento ocorrerá, principalmente, na produção de
produtos da Lavoura Permanente e na Horticultura, atividades que podem ser desenvolvidas nas
regiões marginais às lavouras temporárias, a exemplo do norte e do oeste goiano, em substituição as
áreas de pastagem e de algumas Lavouras Temporárias. Esse deslocamento da produção agrícola
resultará na geração de mais e melhores empregos que a pecuária bovina e as lavouras temporárias,
com efeitos positivos para a redução da pobreza nessas regiões. Porem, devido a questões tributárias,
os efeitos positivos sobre o setor agrícola, em grande medida, devem ficar retidos a Goiás com
transbordamento marginal, quem sabe até negativo, para o Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Assim,
se por um lado a indústria goiana promoverá a agricultura estadual, por outro lado, poderá incentivar a
migração do setor agrícola mais atrasado para os estados vizinhos.
O exemplo de Goiás é próprio para caracterizar a importância da indústria na superação da
pobreza rural, porem, também esclarece a importância de politicas nacionais, pois, a promoção de um
espaço pode deslocar a pobreza para espaços mais carentes o que, além de concentrar a pobreza, irá
intensifica-la.

3.3 O setor de serviços


O setor de serviços tem se tornado cada vez mais atuante e presente na economia. Segundo
estudos do Banco Mundial, é o segmento que mais tem gerado empregos atualmente. O setor de
Serviços evolui numa economia de mercado, e no Centro Oeste, na seguinte ordem: i) inicialmente,
quando uma economia é pouco desenvolvida, a atividade agrícola é predominante, como ocorre ao
norte do Mato Grosso; ii) O investimento em infra-estrutura e tecnologia e a exploração de matérias-
primas fomentam a atividade industrial, o que alavanca os mercados de massa voltados para o
consumo de produtos fomentando o setor agrícola, como ocorre atualmente em Goiás; iii) o aumento
da renda per capita, gera oportunidades para a oferta de serviços, como ocorre no eixo entre Brasília,
Anápolis, Catalão e Goiânia; iv) a participação dos serviços na economia cresce, incluindo aquela
parcela informal dos pequenos negócios gerados no setor de serviços: lavanderias, perueiros, taxistas e
seguranças, entre outras classes que absorvem mão-de-obra de baixa qualificação, em geral, oriunda
do meio rural. Também crescem os serviços especializados como assistência técnica, consultorias e,
principalmente, serviços bancários, principais dinamizadores da economia que retroalimentam a
dinâmica econômica contribuindo para superação da pobreza. Ou seja, historicamente, a participação
dos serviços cresce na esteira do próprio desenvolvimento da economia com impactos positivos para o
setor agrícola. Além desses efeitos, o crescimento do setor de serviços contribui para absorção da
mão-de-obra menos qualificada que, provavelmente, ficara marginalizada no processo de
industrialização, assim como, para desconcentração espacial da riqueza que é inerente à
industrialização.
A despeito da importância do setor de serviços para superação da pobreza, o Brasil não dispõem
de dados que possibilitem caracterizar regionalmente o setor de serviços com precisão. Assim, além
de algumas analises superficiais, esse tópico fara algumas inferências sobre o setor de serviços na
região Centro Oeste.
Assim como a agricultura e a indústria, o setor de serviços na região Centro Oeste teve
desempenho superior a media brasileira, enquanto o setor de serviços no Brasil cresceu à taxa de 5,61%
a.a. entre 1996 a 2008, no Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul as taxas foram
de 6,91, 6,36, 5,62 e 7,35% a.a., respectivamente. O pior desempenho foi no Mato Grosso do Sul, um
estado cuja agricultura e a indústria apresentaram desempenho inferior aos demais, o que confirma a
necessidade de crescimento da agricultura e da indústria para dinamizar o setor de serviços.
Ao se considerar o desempenho, em base municipal, do setor de serviços na região Centro Oeste
(Figura 5), verifica-se, em ordem decrescente, estreita associação direta com o desempenho da
indústria (Figura 5), com o índice de diversificação agrícola (Figura 8), com a criação de aves e suínos
(Erro! Fonte de referência não encontrada.) e com as culturas de soja e de milho (Figura 9), além
de uma relação inversa com a pecuária bovina de corte (Erro! Fonte de referência não encontrada.),
o que confirma as capacidades dessas atividades em dinamizar a economia. Considerando que, entre
outras atribuições, o setor de serviços é fundamental para absorção do excedente da mão-de-obra com
menor qualificação, pode se inferir que as regiões onde predomina a pecuária bovina, justamente as
mais pobres, terão os maiores problemas com a pobreza durante o crescimento econômico do Centro
Oeste. O mesmo poderá ocorrer nos espaços onde a mineração é expressiva, decadente e também
predomina mão-de-obra com baixa qualificação a exemplo de Corumbá, a exceção nesse caso é o
norte de Goiás onde a mineração é crescente.
Uma questão central na análise do desempenho do setor de serviços é distinguir entre serviços
de baixa e alta qualificação, questão prejudicada pela carência de dados no Brasil. A administração
publica, apesar de ser um setor de serviços decresceu entre os anos de 1996 a 2008 (-5,28% a.a.) na
região Centro Oeste, ainda teve o maior peso no PIB Serviços regional no ano de 2008 (33,7%).
Seguindo a administração publica, no ano de 2008 vieram os setores do comércio com 13,7%,
atividades imobiliárias e aluguel com 7,5%, intermediações financeiras com 6,9% e transportes com
6,8% e comunicação com 5,9% do PIB Serviços regional.
Há que se considerar que a administração publica e atividades imobiliárias tem menor efeito
sobre a dinâmica socioeconômica e são motivadas por questões alheias à dinâmica da pobreza objeto
desse artigo, assim, considera-las na análise regional poderá distorcer as conclusões. Desse modo, a
analise do setor de setor de serviços ficará restrita ao comercio, as intermediações financeiras, aos
transportes, a comunicação, ao alojamento e alimentação e aos serviços domésticos.
O Distrito Federal apresenta o maior PIB per capita de serviços da região, mais de 90% do PIB
Total é composto pelo PIB Serviços, enquanto a participação do setor de serviços no PIB Total nos
demais estados é inferior à 60%. A maior participação no PIB Serviços do Distrito Federal em 2008
foi da administração publica, a qual cresceu a taxa de 9,31% a.a. entre 1996 a 2008. Ainda, o Distrito
Federal representa mais de 50% do setor de serviços regional e seu crescimento só foi inferior ao do
Mato Grosso. Considerando o exposto sobre o setor de serviços do Distrito Federal, inclui-lo na
analise regional poderá distorcer as interpretações.
Analisando o desempenho do comercio, verifica-se que sua maior participação no PIB Serviços
estadual no ano de 2008 foi no Mato Grosso (25,5%), no entanto, as demais atividades do PIB
Serviços desse estado foram inferiores às respectivas em Goiás e ao Mato Grosso do Sul. Essa analise
indica que o Mato Grosso possui uma economia mercantilizada, ou seja, a capacidade do setor de
serviços em promover o desenvolvimento econômico e mitigar a pobreza é reduzida em relação aos
outros estados. A mercantilização do setor de serviços é característica de regiões onde a indústria não
é desenvolvida e a agricultura é uma atividade econômica relevante. De modo geral a
‘desmercantilização’ de uma economia é obtida com investimentos autônomos em outros ramos
indústria e dos serviços distintos da base econômica local calcada na agricultura. Conforme se
verificou no tópico anterior, a capacidade de crescimento da indústria no Mato Grosso é
comprometida pela natureza de suas indústrias e pela carência de infraestrutura, assim, o crescimento
do setor de serviços no Mato Grosso dependerá de investimentos autônomos e independentes do setor
agrícola, a exemplo do turismo.
No caso do turismo, considerando uma proxi com serviços de alojamento e alimentação, Mato
Grosso teve o pior desempenho regional, porem, a taxa de crescimento dessa atividade entre os anos
de 1996 a 2008 foi significativa. Essa situação indica que o turismo no Mato Grosso tem potencial de
crescimento, mas, carece de fomento e de infraestrutura. Considerando que o Mato Grosso apresenta
um limite a sua industrialização e que apresenta regiões pobres, a exemplo do Pantanal onde a
diversidade o potencial de turismo é grande, justifica-se investimentos nessa atividade como meio de
superação da possível pobreza que possa existir nesse espaço mato-grossense.
Por outro lado, Mato Grosso foi o Estado com maior crescimento das intermediações financeiras
entre 1996 a 2008, de comunicações e de transportes, atividades que depende do desempenho dos
demais setores da economia. Esses crescimentos indicam que os demais setores da economia mato-
grossense estão pujantes carecendo de algum fator para crescimento, no caso infraestrutura em
transporte, comunicação e turismo.
O Mato Grosso do Sul foi o estado com maior participação dos transportes no setor de serviços,
atividade que cresceu significativamente entre 1996 a 2008. Esse fato possivelmente é influenciado
pela sua posição geográfica e pela atividade de mineração. Semelhante ao Mato Grosso esse estado
apresentou taxa de crescimento significativa para as intermediações financeiras e de comunicação,
indicando pela possibilidade de crescimento da economia como um todo. No caso do Mato Grosso do
Sul, observa-se que o setor de serviços cresceu significativamente no Leste e Sul (Figura 5), locais
onde foram realizados grandes investimento em papel e celulose a agroenergia, respectivamente. Essa
situação indica pela possibilidade de redução da pobreza nesses espaços, notadamente no leste uma
espaço pobre e pobre+.
Quanto ao turismo, apesar do potencial do estado, notadamente na região do pantanal que
apresenta municípios pobres, a taxa de crescimento entre 1996 a 2008 foi negativa (-1,53% a.a.), o
que colocou o estado com o pior desempenho regional nessa atividade no período considerado apesar
do estado contar com locais turísticos difundidos a exemplo do Pantanal e Bonito. Semelhante ao
Mato Grosso o turismo do Mato Grosso do Sul carece de promoção e de investimentos em
infraestrutura.
Goiás foi o estado com maior participação das atividades financeiras, de serviços domésticos e
de alojamento e alimentação no PIB Serviços no ano de 2008. Além disso, essas atividades tiveram
taxas de crescimento expressivas entre 1996 a 2008. O sucesso das intermediações financeiras em
Goiás pode ser atribuído à sua industrialização, o que também promoveu os serviços domésticos,
atividade importante para mitigação da pobreza em caso de urbanização. No caso de alojamento e
alimentação é possível que serviços de refeição industrial e o turismo de negócios tenham peso
considerável, mas, o setor de turismo em Goiás é bastante conhecido e desenvolvido, a exemplo das
aguas termais no sudoeste do estado, da chapada diamantina e do município de Goiás Velho.
Por principio, o de Goiás está ligado aos investimentos públicos no Distrito Federal, porem,
atribuir o desenvolvimento goiano é menosprezar fatores importantes da economia regional. Goiás,
antes de se beneficiar dos investimentos em infraestrutura realizados no Distrito Federal, é um
exemplo do encadeamento entre os setores agrícola, industrial e de serviços. Ainda, o sucesso desse
estado, também dependeu de investimentos na indústria autônomos ao setor agrícola, a exemplo da
indústria automobilística e a indústria farmacoquimica, os quais podem ter se beneficiado
parcialmente de transbordamentos do Distrito Federal, mas, também dependeu de outros fatores,
inclusive politicas publicas que incentivaram esses investimentos autônomos.
Da analise do setor de serviços no Centro Oeste é possível concluir que o Mato Grosso e o Mato
Grosso do Sul têm entraves para seu desenvolvimento econômico, quer seja pela concentração
espacial do setor agrícola, quer seja pela natureza de suas indústrias, mas, mais importantes que esses
entraves é a carência em infraestrutura, notadamente no Mato Grosso. Ainda nesses estados, os
investimentos realizados em papel e celulose, em agroenergia e, mais recentemente, em heveacultura,
são exemplos que o desenvolvimento econômico pode ser disseminado para as regiões pobres e
pobres+, marginais as Lavouras Temporárias, móvel da dinâmica econômica nesses estados.
Ainda quanto ao Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a região do pantanal apresenta limitações à
atividade agrícola, bem como a indústria, mesmo no Mato Grosso do Sul onde a mineração apresenta
indícios de fadiga. Nesse caso, o turismo, ou a pesca, podem ser atividades econômicas importantes
para superação da pobreza, porem, essas regiões carecem de infraestrutura, de capacitação da mão de
obra, de educação e, principalmente, de investimentos autônomos como ocorreu em Goiás e no leste
do Mato Grosso do Sul. As duas primeiras carências tem relação direta com o setor publico, enquanto
a segunda, apesar de depender de investimentos privados, também pode ser fomentada pelo poder
publico.
Goiás apresenta a economia mais dinâmica onde há integração entre os setores agrícola,
industrial com reflexos positivos sobre o setor de serviços. Essa dinâmica econômica confere ao
estado maior capacidade de superação da pobreza, quer seja pelo turismo, quer seja pelos serviços
domésticos, que seus pares regionais. Porem, há que se considerar que a pobreza tem varias vertentes,
assim, um processo de crescimento econômico intenso sem a devida infraestrutura urbana e rural,
além de educação, pode gerar problemas de concentração da pobreza no meio urbano, o que é pode
ser pior que a pobreza rural.

4 A dinâmica social

4.1 População
A ocupação do Centro-Oeste foi orientada como fronteira agrícola, a qual, devido a
possibilidade da valorização das terras, atua como um polo de absorção de excedentes populacionais.
No Centro Oeste. Essa expansão populacional foi acompanhada por grandes fluxos migratórios nas
décadas de 1970 e 1980 (Tabela 3) gerando taxas de crescimento populacional e de migração
superiores às respectivas médias nacionais. Na década de 1970, quando a região absorveu mais de 1,3
milhão de migrantes, ocorre o auge de crescimento da população do Centro-Oeste, nesse período seu
crescimento populacional foi maior que o dobro das taxas nacionais. A participação da população do
Centro-Oeste na população nacional passou de 5,45% em 1970 para 7,36% em 2010.

Tabela 3. População Total no ano de 2010 (Pop. Total 2010) e participação porcentual da população
rural (Ruralização 2010) no ano de 2010, bem como, as respectivas taxas anuais (Viés) de variação
entre os anos de 1970 a 1980, 1980 a 1991, 1991 a 2000 e 2000 a 2010, além da participação
porcentual de imigrantes (Não Naturais 2000) na população total no ano de 2000 e as respectivas taxas
anuais (Viés) entre os anos de 1980 a 1991 e 1991 a 2000. (Elaboração própria com dados de IBGE,
2010).

Centro Oeste Norte Nordeste Sul Sudeste Total

Pop. Total 2010 14.050.340 15.865.678 53.078.137 27.384.815 80.353.724 190.732.694


Viés 1970 a 1980 4,11 4,84 2,16 1,44 2,64 2,48
Viés 1980 a 1991 3,01 3,85 1,83 1,38 1,77 1,93
Viés 1991 a 2000 1,93 2,31 1,06 1,15 1,31 1,33
Viés 2000 a 2010 1,73 1,9 0,97 0,79 0,95 1,06
Ruralização 2010 11,18 26,49 26,87 15,07 7,08 15,65
Viés 1970 a 1980 -5,11 -1,43 -1,59 -3,86 -4,52 -3,02
Viés 1980 a 1991 -3,95 -1,74 -2,07 -3,34 -3,23 -2,55
Viés 1991 a 2000 -3,08 -2,75 -2,16 -2,74 -2,10 -2,37
Viés 2000 a 2010 -1,55 -1,16 -1,27 -2,11 -2,61 -1,63
Não Naturais 2000 34,81 22,02 6,81 11,95 18,81 15,76
Viés 1980 a 1991 -0,28 2,91 -2,25 -1,19 -0,21 -0,08
Viés 1991 a 2000 -0,37 -0,50 0,35 -0,10 0,41 0,29

A despeito das migrações a do crescimento populacional, o Centro Oeste ainda apresenta baixa
densidade populacional. São exceções o Distrito Federal e seu entorno, a região Central e parte da
região Norte de Goiás, nucleada por Goiânia, o Sudoeste Goiano, nucleado por Rio Verde, o Sudoeste
do Mato Grosso do Sul, nucleado por Dourados, e alguns municípios isolados a exemplo de Catalão e
Itumbiara em Goiás, Campo Grande e Ladário no Mato Grosso do Sul, Cuiabá, Várzea Grande,
Rondonópolis e Sinop no Mato Grosso. As maiores taxas de crescimento populacional ocorreram nas
regiões Sul, Sudoeste e Norte do Mato Grosso; Sudoeste e Leste do Mato Grosso do Sul; Sudoeste e
Leste Goiano. Conforme indica o Teste de Moran, essas regiões serviram de polos de atração
populacional, pois, suas taxas de crescimento foram significativamente diferentes dos vazios
demográficos da região Centro Oeste, a exemplo do Pantanal, do Nordeste do Mato Grosso e do Norte
de Goiás (Figura 13).
Essa configuração populacional resultou em dois polos de alta densidade populacional, um
nucleado pelo Distrito Federal e Goiânia e outro nucleado por Cuiabá, que tiveram sua densidade
populacional aumentada diferentemente dos seus vizinhos conforme indicado pelo Teste de Moran
(Figura 13). Quanto aos núcleos de atração do Mato Grosso do Sul, observa-se que não houve
interação significativa com seus vizinhos, ou seja, a região de Dourados, Campo Grande, Ladário e
Figueirão, não foram polos de atração populacional. Essa dinâmica pode ter impactos sobre a pobreza
caso o aumento da densidade populacional, por exemplo, não seja acompanhada de melhoria na
infraestrutura. As melhorias de infraestrutura estão intimamente ligadas ao PIB e a principal atividade
regional, ou seja, regiões pobres com baixa participação dos setores de serviços e da indústria,
atividades que promovem a classe media e, consequentemente, as reinvindicações politicas da
população, terão maior dificuldade em superar os desafios impostos pela pobreza. Assim, o Norte de
Goiás e Nordeste e Norte do Mato Grosso, que apresentam altas taxas de crescimento da população,
são pobres e tem suas economias calcadas na agricultura, por principio, terão maiores problemas em
superar os desafios impostos pela pobreza de modo geral. Já as regiões do Pantanal, Sudeste e parte do
Nordeste do Mato Grosso, além de parte do Norte e Noroeste de Goiás, que, apesar de pobres e tendo
sua economia calcada na agricultura, não terão aumento significativo da pobreza devido às baixas
taxas de crescimento da população. Não obstante, os polos de crescimento populacional nucleados
pelo Distrito Federal, Goiânia e Cuiabá, todos ricos e com economia calcada na indústria e nos
serviços (Figura 2 e Figura 4), também podem apresentar aumento da pobreza caso não sejam
adotadas politicas compatíveis com o aumento da densidade populacional.
Já o Mato Grosso do Sul, de modo geral, não apresenta polos de atração populacional e, as
regiões onde o crescimento populacional é maior, a exemplo do Sudoeste e Leste, são ricas e suas
economias estão calcadas na indústria e nos serviços. Ainda, a região do Pantanal Sul Mato-grossense,
além de não representar um polo significativo de crescimento populacional, tem o município de
Corumbá como indutor de riqueza calcada na indústria e nos serviços.

Densidade 2010 Q Viés Densidade Q


Densidade 2010 M Viés Densidade M

Figura 13. Representação, em base municipal, dos quintis (Q) e do índice de Moran (M) da Densidade
populacional (População 2010, Habitantes. Km-2) no ano de 2010, bem como, sua variação porcentual
anualizada entre os anos de 1996 a 2010 (Viés, %a.a.) na região Centro Oeste. (Elaboração própria
com dados de IBGE, 2010).
A analise da dinâmica populacional pode indicar regiões com potencial para agravamento da
pobreza, porem, há que se considerarem os espaços com problemas de pobreza na zona rural. Apesar
de não se dispor de informações sobre as dimensões da pobreza na zona rural, algumas inferências
podem ser obtidas por uma proxi da espacialização da participação da população rural na população
total, a ruralização, e a dinâmica do produto apresentadas na Figura 2 e na Figura 4.
Observa-se que o Centro Oeste, a despeito de ser uma fronteira agrícola, apresenta uma das
menores ruralizações do país, o que indica pelo caráter empresarial do setor agrícola e implica numa
agricultura moderna, diferentemente da região Sul do Brasil onde, a despeito de também ser uma
agricultura moderna, a participação da mão-de-obra familiar é significativa na agricultura. Essa taxa
de ruralização reduziu entre as décadas de 1970 a 2000, tendo arrefecido após esse período. Esse
arrefecimento não pode ser considerado como um aumento da mão-de-obra familiar no setor agrícola,
antes pode ser interpretado como um período de redefinição da estrutura agrícola da região que
aumentou as participações de espécies como a borracha e a cana-de-açúcar, espécies mais intensivas
em mão-de-obra além de requerem mão-de-obra menos qualificada que as espécies predominantes na
região como a soja, o milho e o algodão. Além dessa redefinição, observa-se que o crescimento da
silvicultura e da pecuária bovina podem estar intimamente ligadas à ruralização, pois, as regiões com
maior índice de ruralização coincidem com regiões de maior expressão da pecuária bovina e da
silvicultura.
As mesoregiões Norte, Nordeste e Sudoeste mato-grossenses, o Leste e Norte de Goiás, bem
como, os entornos de Cuiabá no sentido Sudeste e Campo Grande no sentido Centro Norte,
apresentam os maiores índices de ruralização, além do que as taxas de ruralização desses espaços são
positivas (Figura 14). O Índice de Moran indica que esses espaços apresentam crescimento
populacional distinto dos demais, do que pode se inferir que o aumento da população na ultima década
no Centro Oeste foi predominantemente urbano. Ainda, como pode ter havido expulsão da população
carente dos espaços mais dinâmicos para os mais deprimidos, é de se supor que a migração intra-
regional se deu para a zona rural nas regiões mais ruralizadas. Como nas mesoregiões Norte, Nordeste
e Sudoeste do Mato Grosso, bem como, no Norte de Noroeste de Goiás, a pecuária bovina é
expressiva e houve expansão da cana-de-açúcar no Sudeste do Mato Grosso do Sul e da silvicultura
para produção de celulose e da borracha no Leste do Mato Grosso do Sul, pode se inferir que essas
atividades estão absorvendo a mão-de-obra rural regional, o que não significa aumento da mão-de-
obra familiar na agricultura.
Se por um lado o crescimento dessas atividades agrícolas promove o desenvolvimento
econômico dessas regiões, por outro lado, podem estar contribuindo para o agravamento da pobreza
rural, pois, apesar da evolução tecnológica que esses setores sofreram na ultima década, em grande
medida eles são geradores de emprego assalariado sazonal e de menor qualificação que as produções
de soja, milho e algodão.

Ruralização 2010 Q Viés Ruralização Q

Ruralização 2010 M Viés Ruralização M

Figura 14. Representação, em base municipal, dos quintis (Q) e do índice de Moran (M) da
participação porcentual da população rural (Ruralização 2010, População Total.População Rural-1) no
ano de 2010, bem como, sua variação porcentual anualizada entre os anos de 1996 a 2010 (Viés, %a.a.)
na região Centro Oeste. (Elaboração própria com dados de IBGE, 2010).

Quanto à dinâmica demográfica, em 1970, o Mato Grosso do Sul era relativamente mais
populoso que Goiás e Mato Grosso, sendo o sudeste do Mato Grosso a menos populosa de todo o
Centro-Oeste. Entretanto, mesorregião ultrapassou o norte matogrossense em 1990.
Na década de 1980, as mesorregiões do Pantanal e o sul goiano foram as que tiveram as
menores taxas de crescimento, embora por razões distintas, pois, enquanto o primeiro é historicamente
caracterizado por baixa densidade populacional e estagnação econômica, o sul goiano sofreu a
substituição de suas culturas de subsistência por culturas intensivas, com destaque para a soja.
No Mato Grosso, durante a década de 1980 e 1990, houve crescimento das mesorregiões norte
(11% a.a.), nordeste (5,2% a.a.) e centro sul (5% a.a.). Na mesorregião norte, o município de Alta
Floresta por exemplo, passou de 14 mil habitantes, em 1980, para 66 mil, em 1991. Ainda, municípios
com menos de mil habitantes em 1980 passaram para mais de 10 mil habitantes, a exemplo de
Guarantã do Norte e Matupá. Na mesorregião nordeste, municípios como Campinópolis e Vila Rica
atingiram taxas de crescimento superiores a 12% ao ano. Ressalta-se que a expansão da fronteira
agrícola e a extração de madeiras no norte do estado foram importantes vetores do crescimento
populacional no Mato Grosso.
No período entre 1991 a 1996 imprimiu-se nova dinâmica aos municípios do Mato Grosso,
pois, apesar da diminuição no ritmo de crescimento populacional de todas as mesorregiões, o Estado
consolidou a predominância de uma base populacional urbana, com taxas de crescimento urbano
superiores a 3,5 % a.a. nas mesorregiões norte, nordeste e sudoeste. No norte a taxa de crescimento da
população rural também foi positiva.
Em Goiás, a taxa de crescimento da população total, no período 1991 a 1996, chegou a ser
negativa para a mesorregião norte (-0,27% a.a.) e de apenas (0,43% a.a.) para o noroeste. Em
contrapartida, o Leste goiano passou por um período de grande dinamismo, crescendo a uma taxa de
4,9% ao ano no período 1980 a 1991 e de 5,6% a.a. no período 1991 a 1996. Merece destaque a
assimetria dessa mesorregião, ao norte a mais pobre e despovoada de Goiás contrastando com o
entorno do Distrito Federal. Na messorregião sul de Goiás, a população rural decresce em todos os
municípios, embora seja a mesorregião em que a população rural, em seu conjunto, menos decresceu
no Estado. Trata-se de uma área de ocupação mais antiga, na qual ainda subsistem áreas de lavoura e
pecuária tradicionais.
Na década de 1990, apesar da redução geral, algumas taxas de crescimento populacional ainda
foram bastante elevadas no Centro-Oeste. Entretanto, o crescimento rural positivo foi bastante pontual,
predominando nas mesoregiões norte e nordeste do Mato Grosso o que caracteriza esses espaços como
últimas áreas de fronteira. Observa-se que a década de 1990 pode ser considerada como de
consolidação da urbanização regional (Figura 14), pois, à exceção do Distrito Federal que aumentou a
relação entre a população urbana e rural, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso apresentaram
taxas crescentes dessa relação na ultima década. Esse movimento de urbanização pode ser atribuído ao
sistema de produção agrícola intensivo em capital predominante na região que inibe a
desconcentração fundiária e a agricultura familiar.
Após a década de 1990 reduziu a migração de outras regiões para o Centro-Oeste e, portanto, o
crescimento populacional das localidades urbanas na região ficou condicionado à dinâmica migratória
intra-regional. Esse fenômeno tem reflexos na rede urbana regional principalmente em termos de
concentração e consolidação de centros urbanos que já haviam se destacado sem o surgimento de
novos espaços urbanos de grande expressão. A imigração para o Centro-Oeste também teve como
destino seu interior, reforçando a importância desse componente populacional na dinâmica de
crescimento dos municípios, inclusive nos pequenos e intermediários.
Considerando a dinâmica populacional do Centro-Oeste, observa-se a migração seguindo a
adequação à produção agrícola em movimento característico de fronteira agrícola. Alguns autores
citados por Castro de Rezende (2002 A e B), Castro (2003) e Duarte e Castro (2004), destacam como
oportunidade de investimento os baixos preços da terra. A melhor evidência para esse argumento é a
preponderância de grãos e pecuária bovina de corte, pois, essas atividades usam intensivamente o fator
terra, o fator mais barato que a região possui. Entretanto, há que se considerar em contraposição ao
baixo preço da terra o custo de construção do solo do cerrado, composto, além do custo de adequação
da área, pela restrição inicial a produtos de maior retorno econômico e de apenas uma produção anual
em função da limitação hídrica. Assim, os sistemas produtivos agrícolas intensivos em capital e
tecnologia prevalecentes no Centro-Oeste se devem, além da oferta ambiental e da carência em
infraestrutura que limitam produções de maior retorno econômico como as Lavouras Permanentes, ao
comprometimento da agricultura familiar, fonte de mão-de-obra para a agricultura patronal, em razão
da limitação em obter renda durante o período seco. Assim, são prejudicadas as atividades que usam
intensivamente a mão-de-obra contribuindo para o alto grau de mecanização na agricultura. Por outro
lado, o relevo plano e os solos profundos, bem drenados e dotados de características físicas adequadas
para a produção agrícola causam uma redução do custo da mecanização, que em razão da ausência de
um mercado de aluguel de máquinas, estimula a produção em grande escala em detrimento da
pequena escala.
Quanto a urbanização, observa-se que, além de arrefecido do fluxo migratório que poderia
contribuir para o aumento da pobreza, também há redução na intensidade de urbanização no Centro
Oeste, a segunda região mais urbanizada do país. Esses dados indicam que, como a população rural é
minoria no Centro Oeste, a questão da pobreza rural não deve ser um problema da região.
Em algumas mesorregiões do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e, inclusive de Goiás, há
aumento da ruralização. Em alguns espaços como o norte de Goiás e o Nordeste do Mato Grosso esse
movimento indica problemas de transferência da pobreza urbana para o campo pois se tratam de
espaços pobres e pobres+ com predominância da pecuária bovina extensiva. Felizmente não é o que
acontece no Centro Oeste como um todo, pois, no Sul do Mato Grosso do Sul e Centro do Mato
Grosso a ruralização está ocorrendo em regiões ricas e ricas+ com predominância de Lavouras
Temporárias e da Indústria. Nesses últimos espaços a dinâmica indica que está havendo superação da
dicotomia entre os espaços urbano e rural, o que, conjuntamente com a desconcentração fundiária que
predomina nesses espaços e seus efeitos sobre a urbanização, é positivo para superação da pobreza
rural.
A ruralização em mesorregiões com predominância da indústria pode ter futuros distintos.
Cita-se como exemplo as diferenças entre o pantanal do Mato Grosso do Sul e o norte goiano. Em
ambas as mesorregiões há ruralização, possivelmente por conta da dinâmica industrial e seus
encadeamento econômicos, porem, enquanto no pantanal a indústria da sinais de fadiga, no norte
goiano ela é prospera. Assim, a despeito de ambas as mesorregiões partirem da mesma base, o futuro
da pobreza rural é mais preocupante no pantanal que no norte goiano.

4.2 Renda
A renda familiar média nas áreas rurais do Brasil teve um crescimento de quase 30% entre 2004
e 2008. O rendimento familiar médio nas áreas urbanas do país em 2008 foi de R$ 786, enquanto nas
áreas rurais foi de R$ 360, portanto, inferior ao salário mínimo Mesmo assim, o valor ainda é inferior
à metade da renda registrada nas áreas urbanas do país. A renda média das famílias da Região Centro-
Oeste cresceu significativamente no mesmo período, perdendo apenas para as famílias da região
Sudeste. Também cresceu a renda das famílias rurais que, em 2008 era de R$ 606,00 perdendo apenas
para a região Sul. (IPEA, 2010).
Quanto a concentração da renda, expressa pelo Índice de Gini na Figura 15, observa-se que
houve melhora significativa no Brasil entre os anos de 1995 a 2008, porem, a região Centro Oeste foi
a que apresentou o pior desempenho nesse período, passou da terceira para a primeira posição quanto
a concentração de renda. Porem, quando considerados os gêneros, observa-se que, enquanto a
desconcentração da renda para os homens brasileiros (-0,80% a.a.) foi maior que para as mulheres (-
0,73% a.a.) entre os anos de 1995 a 2009, o Centro Oeste apresentou tendência inversa, a
desconcentração de renda para o gênero feminino (-0,46% a.a.) foi o dobro da masculina.
Considerando que esse comportamento seja semelhante para as populações rural e urbana, é de
extrema relevância para a pobreza rural ao se considerar que a superação da pobreza rural é mais
difícil para o gênero feminino.

0,65
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

0,60
Índice de Gini

0,55

0,50

0,45
1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Figura 15. Índice de Gini da distribuição do rendimento mensal de todos os trabalhos das pessoas de
10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência, com rendimento de trabalho, por
Grandes Regiões brasileiras entre os anos de 1995 a 2009 (Elaboração própria com dados de IBGE,
2010).

Observa-se (Figura 16) que o estado onde ocorreu a maior desconcentração de renda foi Mato
Grosso, seguido de Goiás, Mato Grosso do Sul e do Distrito Federal. Essa dinâmica está em acordo
com o deslocamento da fronteira agrícola, pois, conforme se observou no tópico sobre a dinâmica do
produto (Figura 4 e Figura 5), a agricultura mato-grossense sofreu intenso processo de industrialização
com reflexos positivos sobre o crescimento do setor de serviços. Porem, conforme também se
observou no tópico sobre a dinâmica do produto, a econômica do Mato Grosso é a mais
mercantilizada, o que indica que a capacidade de desconcentração da renda desse estado pode ser
comprometida no futuro. No outro extremo, o Distrito Federal, que apresentou a maior concentração
de renda e a menor taxa de desconcentração da renda no período considerado, deve ser excluído da
análise da distribuição de renda no Centro Oeste, pois, além de apresentar indicadores muito distintos
dos demais estados, sua dinâmica economia, conforme se observou no tópico sobre a dinâmica do
produto, é fortemente influenciada pelo setor de serviços públicos.
Goiás apresentou uma desconcentração de renda interessante, pois, foi o estado que apresentou
o maior crescimento da população com renda ate dois salários mínimos e a maior redução da
população com renda superior a 20 salários mínimos. Desse modo, no ano de 2008, mais de 33 e 88%
da população goiana tinham renda até dois e até 10 salários mínimos, respectivamente. Essa dinâmica
da renda está em acordo com a dinâmica do produto goiano, um estado onde o setor industrial
apresenta forte encadeamento com o setor agrícola e promove o crescimento do setor de serviços,
notadamente dos serviços menos qualificados que é importante para superação da pobreza rural.
Da analise da concentração de renda no Centro Oeste pode se depreender que a região, apresar
do dinamismo econômico, carece de incentivos à desconcentração da renda. Tomando-se Goiás como
exemplo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul carecem de politicas para promoção da indústria ligada
ao setor agrícola, além de politicas que incentivem o crescimento de indústrias autônomas. Essas
politicas, além de favorecerem a desconcentração da renda, promoverão uma maior integração entre
os espaços urbano e rural, condição essencial para superação da pobreza rural em uma região que,
devido a suas condições ambientais e geográficas, notadamente a extensão espacial, tem uma
agricultura calcada na produtividade da terra, do capital e da mão-de-obra. Essa característica da
agricultura no Centro Oeste, corroborada pela baixa densidade populacional e pela carência em
infraestrutura, limita a diversificação da produção agrícola com atividades mais intensivas em mão-
de-obra.

Mato Grosso Mato Grosso do Sul


60 60
50 50
40 40
% 30 % 30
20 20
10 10
0 0
2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

Goiás Distrito Federal


60 60
50 50
40 40
% 30 % 30
20 20
10 10
0 0
2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008
Figura 16. Participação porcentual da população com rendimento até dois salários mínimos (----),
entre dois a 10 salários mínimos (----), entre 10 a 20 salários mínimos (----) e com mais de 20 (----)
salários mínimos no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal entre os anos de 1995
a 2009 (Elaboração própria com dados de IBGE, 2010).

Considerando as informações sobre renda das famílias e sobre taxa de urbanização no Centro
Oeste é possível inferir que pobreza rural não é um grande problema para a região. Porem, há que se
considerarem as diferenças intra-regionais, pois, conforme se demonstrou nos tópicos anteriores sobre
a dinâmica econômica e sobre a população, a região Centro Oeste é heterógena quanto a riqueza, a
população e a urbanização, consequentemente, deve ser heterogênea com relação à renda. Além da
situação presente, deve se considerar o futuro, pois, conforme também se demonstrou, a região Centro
Oeste, além de heterogênea, é bastante dinâmica com algumas mesorregiões apresentando sinais de
fadiga na dinâmica econômica.
Apesar de tratar com dados defasados, observa-se (Figura 17) que, de modo geral, as maiores
renda rurais, bem como, os maiores crescimento da renda rural entre 1996 a 2000, não coincidem com
os espaços com maior índice de diversificação agrícola (Figura 8). As exceções são a mesorregião
Norte do Mato Grosso e a mesorregião Leste do Mato Grosso do Sul. Dessa analise pode se inferir
que, diferente de outras regiões brasileiras, no Centro Oeste a diversificação da produção agrícola não
contribui para aumento da renda das famílias rurais. Muitas podem ser as causas dessa contradição,
porem, como a agricultura do Centro Oeste é baseado na exploração em escala da terra e do capital e a
diversificação agrícola é típica do minifúndio e da agricultura familiar, pode se supor que a principal
fonte de renda das famílias rurais é o trabalho assalariado e as principais Lavouras Temporárias,
notadamente algodão, milho e soja. Essa hipótese se reforça quando comparadas aos espaços com
maior renda das famílias rurais e os espaços produtores de algodão, cana-de-açúcar, milho e soja, além
de aves e suínos (Erro! Fonte de referência não encontrada. e Figura 9).
Considerando que a agricultura constituída por Lavouras Temporárias, aves e suínos é o
dinamizador da economia no Centro Oeste com reflexos positivos sobre o setor de serviços e a
urbanização, fica patente que a pobreza rural onde essas atividades predominam não é um problema
extremo. Porem, conforme discutido nos tópicos anteriores, essa economia é relativamente instável e
dependente de fatores exógenos ao setor e ao país, ou seja, a questão da pobreza rural nesses espaços,
apesar de não ser um problema no presente, pode aumentar. Nesse caso, sua superação será complexa
dada a estreita ligação entre ela e o desempenho dessas atividades agrícolas. Ou seja, o aumento da
pobreza rural no Centro Oeste, além de ser instável, está sujeito à fatores incontroláveis pelos agentes
públicos e privados nacionais e, apesar não ser um problema atual, merece alguma reflexão.
Verifica-se também estreita relação entre a pobreza rural no ano de 2000, bem como sua
variação entre 1996 a 2000, e a produção de bovinos de corte (Erro! Fonte de referência não
encontrada.), notadamente na região do Pantanal, Nordeste e Leste do Mato Grosso e Oeste de Goiás.
Essa análise corrobora a hipótese que a bovinocultura de corte da região Centro Oeste não gera renda
e, sendo sinônimo do atraso para o desenvolvimento socioeconômico regional, atua como um dreno
para as migrações intra-regionais. Ou seja, essa analise reforça a hipótese que o desenvolvimento
socioeconômico do Centro Oeste cria espaços virtuosos em detrimento de espaços deprimidos. Nesses
espaços mais dinâmicos ha crescimento da classe media e elevação do custo de vida, com expulsão
dos menos favorecidos para os espaços mais atrasados, no caso da bovinocultura de corte. Essa
situação indica que a dinâmica econômica do Centro Oeste não está sendo suficiente para
desconcentração fundiária, aumento da agricultura familiar e superação da dicotomia entre os espaços
urbano e rural, e muito menos está incrementando o setor de serviços, notadamente os serviços
domésticos e de menor qualificação importantes para absorção pelo espaço urbano da pobreza rural.
Assim, a dinâmica econômica do Centro Oeste calcada na agricultura, apesar de virtuosa, ira confinar
a pobreza rural em espaços como o Pantanal, o Nordeste do Mato Grosso e o Oeste de Goiás.

Rural 2000 Rural Viés


Rural x Urbano 2000 Rural x Urbano Viés

Figura 17. Representação, em base municipal, dos quintis da renda familiar rural per capita (Renda) e
da relação entre a renda familiar e a renda urbana (Rural x Urbana) no ano de 2000, bem como, suas
variações porcentuais anualizadas entre os anos de 1996 a 2000 (Viés, %a.a.) na região Centro Oeste.
(Elaboração própria com dados de IBGE, 2010).

Apesar dessas constatações, a análise da pobreza rural não deve se restringir à dinâmica da
agricultura. Observa-se (Figura 17) que a relação entre a renda das famílias rurais e a renda das
famílias urbanas não apresenta relação significativa com a pobreza rural. Cita-se como exemplo o
município de Corumbá/MS que, apesar de suas famílias rurais serem consideradas pobres e estar em
um espaço aonde a pecuária de corte é significativa, apresenta pequena diferença entre as rendas rurais
e as urbanas. Ainda quanto ao exemplo de Corumbá, é interessante observar que foi considerado uma
região rica+ para o produto, ou seja, apesar de Corumbá apresentar um PIB per capita alto, a renda é
exportada do município, e, tanto as famílias urbanas quanto as rurais são pobres. Como há exportação
da renda e não há encadeamento com o setor agrícola e muito menos a promoção do setor de serviços,
a superação da pobreza rural nesse município passa por medidas autônomas à atividade da mineração.
No caso de Corumbá o turismo, assim como a aquicultura, pode ser opções para dinamizar a economia
local e superar a pobreza rural. Porem, esse município é carente em infraestrutura para ambas as
atividades. Essa interpretação é valida para outros espaços cuja economia está calcada na indústria de
extração, a exemplo da região Norte de Goiás.
É interessante observar que a mesorregião Leste do Mato Grosso do Sul apresenta índices
médios de renda rural. Não é possível atribuir essa renda a indústria de papel e celulose, que iniciou
sua instalação no inicio da década de 2000, período considerado para analise da renda rural. É
provável que uma analise da renda rural com dados recentes indiquem elevação da renda rural nessa
região, bem como, concentração da renda no setor urbano.
Se contrapondo aos espaços dedicados à indústria extrativa e aos espaços onde a economia está
intimamente ligada à agricultura e a dinâmica econômica não é suficiente para superação da pobreza
rural com uma provável migração intra-regional, observa-se que o Sudoeste, o Leste o Centro de
Goiás, apresentam municípios com rendas rurais elevadas em 2000 e elevadas taxas de crescimento
dessa renda entre 1996 a 2000. Ainda, observa-se que esses municípios apresentaram as maiores
diferenças entre a renda rural e a renda urbana. Nesse caso, a dinâmica industrial, promoveu
concentração da renda no espaço urbano, porem, a melhoria no padrão de consumo das famílias
urbanas teve impactos positivos sobre as famílias rurais que se dedicaram a atividades mais intensivas
como a criação de aves e leite, além da Horticultura e as Lavouras Permanentes. Essa dinâmica só
viabilizou pela infraestrutura existente, que, além de possibilitar a industrialização e a consequente
melhoria no consumo, possibilitou atividades agrícolas mais intensivas em terra e capital.
Por outro lado, embora a defasagem entre os dados de renda e da dinâmica econômica não
permitam uma analise mais apurada, pode se supor que a dinâmica industrial dessas regiões
possibilitou maior integração entre os espaços urbano e rural. Desse modo, a dinâmica industrial
fomentou o setor de serviços e ambos, promoverem o emprego absorvendo inclusive mão-de-obra da
zona rural. É relativamente comum no sudoeste goiano famílias rurais cujo um ou mais membros
prestam serviço no espaço urbano. Essa dinâmica é importante notadamente quanto aos serviços
domésticos e de baixa qualificação, o que possibilita absorção da mão-de-obra rural pouco qualificada
pelo setor urbano.

4.3 Educação
Educação engloba os processos de ensinar e aprender resultando na transferência do
conhecimento. A educação coincide com os conceitos de socialização e endoculturação, mas, não se
resume a estes sendo um fenômeno indispensável ao desenvolvimento socioeconômico e, portanto,
uma importante dimensão da pobreza. Há muito se associa a superação da pobreza com o aumento da
renda, que, por sua vez, está associada ao crescimento econômico como função do desempenho dos
setores industrial e de serviços. Assim, criava-se o dilema de causação circular, pois, apenas as
sociedades mais desenvolvidas gerariam riqueza, consequentemente renda, suficientes para o
desenvolvimento da educação. Em um contexto contemporâneo, são vários os exemplos, incluindo o
Brasil, de que essa dimensão da pobreza pode ser superada por politicas publicas rompendo assim
com a causação circular descrita por Myrdal21.
A educação no Brasil apresentou melhorias significativas: houve redução na taxa de
analfabetismo e, ao mesmo tempo, aumento da escolaridade média e da frequência escolar. O Centro
Oeste é a região com alguns dos melhores indicadores da educação no Brasil, porem, ao se considerar
as diferentes Unidades Federativas, mais uma vez, o Distrito Federal apresenta indicadores que podem
distorcer essa afirmação (Figura 18).

21
Gunnar Myrdal (1957) é um dos autores do modelo de causação circular, cujo foco era as relações entre espaços com
desenvolvimentos heterogêneos que acarretavam uma trajetória de crescente agravamento das disparidades regionais.
Myrdal contesta à assertiva que o equilíbrio estável da economia seria garantido pelos mecanismos de mercado e que nas
relações de comércio entre regiões com desenvolvimento diferentes haveria uma tendência à igualação dos custos e da
produtividade dos fatores produtivos. Ele afirma que as forças de mercado tendem a aumentar, e não a diminuir, as
desigualdades regionais. Esses efeitos de causação cumulativa, ou desequilíbrios espaciais cumulativos, decorreriam de
que, qualquer que fosse a área onde surgisse um investimento novo, este tenderia a se auto alimentar com as economias
internas e externas geradas à custa dos recursos das regiões consideradas periféricas, ou com repercussões negativas sobre
o desempenho socioeconômico dessas regiões. Ou seja, quando se inicia um processo de industrialização num determinado
centro, esse espaço regional se torna capacitado a originar um encadeamento de uma série de efeitos que se repercutem de
modo favorável sobre o potencial competitivo dessa região. As regiões mais ricas, centrais, exercem um efeito polarizador
sobre as regiões mais pobres, periféricas, correspondendo a acréscimos de remuneração obtidos pelos fatores trabalho e
capital nas regiões centrais, que não são compensados pelo movimento de capitais dessas para as regiões periféricas. Como
consequência, os fluxos de capital e tecnologia revertem em benefício das regiões centrais, de igual modo ocorrendo com a
extensão de redes de transporte e de comunicações, implantados segundo uma lógica que privilegia os interesses das
regiões mais dinâmicas em termos econômicos. Como resultado desse tipo de interações, consolida-se um modelo de
interdependências espaciais onde a região dominada, periférica, está inserida numa lógica de divisão internacional do
trabalho, ou nacional, ou ainda regional, que lhe é desfavorável nos termos de troca e numa hierarquia de espaços
polarizados em decorrência de decisões político-institucionais emanadas da região central dominante.
MS Urbano (1,32% a.a.) MS Rural (2,32% a.a.)
MT Urbano (1,76% a.a.) MT Rural (3,00% a.a.)
9 Go Urbano (1,88% a.a.) Go Rural (2,94% a.a.)
DF Urbano (1,79% a.a.) DF Rural (0,82% a.a.)
8
Anos de estudo

3
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Figura 18. Porcentagem de pessoas com 10 anos ou mais de idade segundo a situação de domicílio e a
média dos anos de estudo entre os anos de 2001 a 2009 no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e
Distrito Federal.

Conforme observado nas as demais regiões do Brasil, observa-se (Figura 18) diferença
significativa entre a educação das populações urbana e rural na região Centro Oeste, porem, essa
disparidade não é tão acentuado como nas demais regiões do Brasil, perdendo apenas para a região
Sul. Isso indica que essa dimensão da pobreza rural na região Centro Oeste, na atualidade, não é
motivo de preocupação e, inclusive, é um importante fator para superação da pobreza rural regional no
futuro.
Excluindo o Distrito Federal e considerando os anos de estudo como uma proxy da educação, o
Mato Grosso do Sul é o que apresentava a melhor educação em 2001, porem, esse indicador sinaliza
um descuido com educação no Mato Grosso do Sul tanto no ambiente urbano quanto no ambiente
rural. O Mato Grosso, apesar de não ser tão rico e industrializado quanto Goiás, apresentou
desempenho significativo e consistente colocando-o como a melhor media regional de anos de estudo
urbano e ultrapassando Goiás quanto à população rural. Já em Goiás, apesar de ser o Estado mais rico
e industrializado da região e dos bons desempenhos da educação no ambiente urbano (1,88% a.a.) e
no ambiente rural (2,94% a.a.), a educação, notadamente no ambiente rural, ainda é um fator
preocupante.
A despeito de usar apenas um indicador como uma aproximação da educação estadual,
observa-se que a questão da educação no Centro Oeste independe da geração de riqueza e da
distribuição de renda, pois, o Mato Grosso, o pior estado quanto à concentração de renda e
industrialização da região, foi o que apresentou o melhor desempenho da educação. Já Goiás, um
estado rico e industrializado, apesar do bom desempenho da educação, não superou essa dimensão da
pobreza rural. Já o Mato Grosso do Sul, que apresentava bom indicador da educação em 2001, teve o
pior desempenho da região. Esses resultados podem ser atribuídos a politicas de educação estaduais e
a eficiência do gasto publico com educação, porem, alguns estudos indicam que maior capacidade de
gasto não implica necessariamente melhores resultados das políticas de educação oferecidas à
população, o que merece particular atenção dos gestores públicos para o detalhamento de situações
específicas. No caso do Centro Oeste, Zoghbi et al (2009) observou que o Mato Grosso do Sul, apesar
de conseguir um bom desempenho em âmbito nacional, têm baixa eficiência do gasto publico com a
educação, enquanto o Mato Grosso apresenta bom desempenho a alta eficiência do gasto publico com
educação. No caso de Goiás, que apresentou desempenho irregular para a população rural no período
analisado, a retomada da melhoria no ano de 2006 pode ser adotada à politicas publicas calcadas na
meritocracia.
De modo geral a educação privada é mais intensa no ambiente urbano, cabendo ao poder
publico a superação dessa dimensão da pobreza no ambiente rural. Dessa analise pode se inferir que, o
Mato Grosso, apesar da carência em infraestrutura, apresenta bons programas de educação tanto no
âmbito urbano quanto no rural. Goiás, que apresentava a pior educação regional no ambiente rural,
adotou medidas que possibilitam superar essa dimensão da pobreza rural. Já o Mato Grosso do Sul,
apesar de ainda apresentar a melhor educação rural, enfrenta problemas de desempenho,
provavelmente, ligados à gestão de recursos públicos. Desse modo, pode se inferir que, no que
depender da educação regional, a superação da pobreza rural do Mato Grosso, e possivelmente, de
Goiás, serão vitoriosos, enquanto o Mato Grosso do Sul enfrentará dificuldades.
Assim como há disparidades estaduais quanto a educação, a educação nos estados não é
homogênea. Apesar da defasagem das informações, observa-se na Figura 19 que os anos de estudo no
Centro Oeste apresentam alguma relação com a riqueza, como é o caso das mesorregiões central do
Mato Grosso, uma região rica e rica+, e nordeste do Mato Grosso e Norte de Goiás, regiões pobre e
pobre+, com alta e baixa média de anos de estudo, respectivamente. Ou seja, apesar de pouco
significativo, a dinâmica de deslocamento da fronteira agrícola no Centro Oeste, além de apresentar
boa relação com a geração e riqueza, tem efeitos sobre a educação, notadamente nas regiões onde
predomina a bovinocultura de corte extensiva,
Observa-se que a relação entre a dinâmica da fronteira agrícola e a educação não é tão
significativa quanto a riqueza dependendo em grande medida de politicas publicas, pois, alguns
municípios da mesorregião Leste do Mato Grosso, considerados pobres e pobres+, apresentam altas
medias de anos de estudo. Ainda, observa-se que essa dimensão da pobreza apresenta um efeito maior
de transbordamento municipal que a própria riqueza, pois, observa-se alta media de anos de estudo
para os municípios pobres vizinhos à Corumbá/MS, um município rico+. A despeito da alta media de
anos de estudo em Corumbá/MS, um município cuja economia está calcada na mineração, observa-se
baixa relação entre a riqueza e a educação nos municípios cuja economia esta calcada na mineração.
Ou seja, a educação depende tanto de politicas publicas quanto da geração de riqueza, pois, é bastante
provável que os bons indicadores de educação na região mesorregião central do Mato Grosso estejam
mais ligados à sua colonização do que a geração de riqueza.

Anos de Estudo Evasão Escolar

Figura 19. Quintis, em base municipal, dos anos de estudo das pessoas com 25 anos ou mais de idade
e porcentagem de evasão escolar nas idades entre sete a 14 anos de idade na região Centro Oeste no
ano de 2000. (Elaboração própria com dados de IBGE, 2011).

Quando considerada a taxa de evasão escolar, observa-se que tem comportamento semelhante
ao deslocamento da fronteira agrícola (Figura 19), o que, possivelmente, esta relacionada com a
infraestrutura que tem forte relação com a dinâmica da fronteira agrícola.
Observa-se que a educação no Centro Oeste não representa um fator de pressão sobre a
pobreza e, apesar da educação apresentar alguma relação com a geração de riqueza e o deslocamento
da fronteira agrícola, no Centro Oeste ela depende de outros fatores, a exemplo das politicas publicas.
Assim, a industrialização e o crescimento da economia, necessariamente, não impactam positivamente
a educação, notadamente no ambiente rural que tem maior dependência de investimento público.
Ainda, essa dimensão da pobreza tem forte efeito de transbordamento municipal, indicando que
investimentos em educação tendem a ser diluídos espacialmente. Quanto a distribuição espacial, de
modo geral, o Mato Grosso do Sul e a mesorregião norte de Goiás poderão ter dificuldades para
superação da pobreza rural no que tange à educação. Assim, especial atenção devem ser dadas à
educação nesses espaços regionais.

5 Considerações sobre a pobreza rural no Centro Oeste


O Centro-Oeste se aproximou do Sul e do Sudeste em desenvolvimento social na ultima década,
foi a região onde houve maior crescimento da renda, além de bons índices de desempenho da
educação. No Centro Oeste todos os espaços melhoraram suas condições de vida, mas, não
uniformemente. Pior do que o desenvolvimento heterogêneo, a dinâmica do Centro Oeste cria espaços
ricos que sobrevivem pela concentração da pobreza (Mapa 1).
O desenvolvimento socioeconômico do Centro Oeste tem forte relação com o setor agrícola e
com o deslocamento da fronteira agrícola constituindo uma economia com fortes relações mundiais no
agronegócio e alguma inserção na mineração, o que acentua a influencia dos processos externos no
seu desenvolvimento socioeconômico. As lavouras temporárias foram indutoras do desenvolvimento
socioeconômico, pois, conforme se demonstrou, a substituição da bovinocultura de corte extensiva por
Lavouras Temporárias teve forte relação com a geração de riqueza e superação das dimensões da
pobreza, notadamente a renda. Porem, essa dinâmica, apesar de promover alguma desconcentração
fundiária e integração entre os espaços urbano e rural, não foi suficiente para conter a urbanização
regional, o que transfere a pobreza para o espaço urbano um problema maior que no espaço rural.
Além de não promover a desconcentração fundiária e a consequente superação da dicotomia entre os
espaços urbano e rural de modo amplo, a dinâmica econômica do Centro Oeste promove uma
ruralização em espaços pobres e pobres+, o que se constitui em problema para o futuro.
Quanto à educação, apesar da menor relação e, possivelmente, o desempenho da educação
depender de outros fatores além da mudança na base agrícola, observa-se que, de modo geral, as
Lavouras Temporárias afetaram positivamente a educação.
A despeito de a região ter seu desenvolvimento calcado na agricultura, alguns espaços foram
dinamizados pela mineração. Nesse caso, observa-se que os espaços do Centro Oeste aonde
predomina a mineração apresenta maiores problemas com as varias dimensões da pobreza.
A despeito desse bom desempenho da economia no Centro Oeste e da articulação entre o setor
agrícola estimulando indústrias e o setor de serviços, o desenvolvimento socioeconômico do Centro
Oeste apresenta limites. O exemplo de Goiás, bem como algumas experiências no Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul, indica que a continuidade do desenvolvimento depende de investimentos
autônomos ao setor agrícola e da melhoria na infraestrutura, primordialmente nos transportes. Esses
investimentos autônomos e a infraestrutura viabilizam o crescimento do setor de serviços, o qual tem
forte influencia para superação da pobreza, além de possibilitar maior integração entre os espaços
urbano e rural.
A superação da dicotomia entre os espaços urbano e rural é condição essencial para superação da
pobreza rural em uma região que, apesar de alguns espaços apresentarem ruralização, de modo geral
apresenta forte urbanização. Apesar dos exemplos positivos de diversificação da produção agrícola
com silvicultura e heveacultura em espaços pobres como o leste do Mato Grosso do Sul, ficou
demonstrado que a diversificação da produção rural no Centro Oeste com atividades mais intensivas
em mão-de-obra é prejudicada pela extensão espacial e pela oferta ambiental, as quais favorecem a
produtividade do capital. Assim, a superação da pobreza rural no Centro Oeste dependerá em grande
medida da geração de empregos nos setores industrial e de serviços superando a dicotomia entre
urbano e rural.
Quanto a pobreza rural, a despeito da carência de dados, pode se inferir que o Centro Oeste não
apresenta graves problemas na atualidade, porem, conforme se demonstrou, a dinâmica da fronteira
agrícola tende a concentrar a pobreza em alguns espaços, notadamente aquelas com predominância da
pecuária bovina de corte extensiva e da mineração. Considerando que esses espaços são os que
apresentam maiores índices de ruralização, é de se supor que, se no presente a região não tem maiores
problemas de pobreza rural, no futuro a região Centro Oeste poderá apresentar ‘bolsões’ de pobreza
no campo.
Como conclusão final, o sucesso econômico e social do Centro Oeste não garante sua
sobrevivência. O Centro Oeste carece de investimento em infraestrutura, atenção quanto a educação e
de politicas que, além de favorecer o encadeamento com setor agrícola, notadamente a agricultura
familiar, promova investimentos autônomos no sentido de superar a dicotomia entre os espaços
urbano e rural. Algumas ações estão sendo realizadas, porem, essas ações são prioritariamente nas
regiões de maior dinamismo intensificando as disparidades intra-regionais. Ou seja, mais do que ações
e investimentos, o Centro-Oeste carece de um Plano de Desenvolvimento regional integrado.

6 Sugestões de politicas para mitigação da pobreza rural no Centro Oeste

O mundo e o Brasil estão mudando. Essas mudanças geram novos desafios, os quais podem ser
convertidos em oportunidades para o Centro-Oeste, pois, podem estimular uma inflexão do atual
modelo de desenvolvimento para uma economia enfatizando o aproveitamento sustentável dos
recursos naturais, principal fator do desenvolvimento regional. Dependendo de como esses
investimentos sejam coordenados e a intensidade com que ocorram as mudanças, o Centro-Oeste
estará adiante desses desafios com possibilidade de se tornar um dos principais polos de
desenvolvimento nacional.
Para superação desses desafios o Centro-Oeste dispõem de ampla gama de potenciais: recursos
naturais abundantes e biodiversidade; grande manancial de recursos hídricos estratégicos ao país para
o transporte e a geração de energia; base agrícola moderna e competitiva; mercado interno em franco
desenvolvimento; boa escolaridade da população; boas redes de Pesquisa e Desenvolvimento,
notadamente no setor agrícola; e posição estratégica no contexto sul-americano. Porém, esses
potenciais são permeados por entraves que devem ser enfatizados: i) vulnerabilidade da economia pela
dependência de commodities e dos recursos naturais; limitado resultado social do dinamismo
econômico, notadamente quanto a estrutura fundiária e a urbanização; deficiência na qualificação da
mão-de-obra para atividades intensivas em conhecimento como a biotecnologia e a indústria
eletrônica, o que estimula o crescimento dos serviços menos qualificados; degradação dos
ecossistemas, desarticulação e precariedade logística; baixa diversificação e adensamento dos sistemas
produtivos; desigualdade socioeconômica intra-regional acentuada; intensa urbanização e dicotomia
dos espaços urbano e rural, além da desarticulação da rede de municípios; e carência de integração
física e logística com a América do Sul.
Quanto a pobreza, ficou demonstrado que, na atualidade, o Centro Oeste não apresenta problemas
tão graves com a pobreza rural quanto as regiões Norte e Nordeste. Porem, também ficou evidenciado,
que a dinâmica socioeconômica do Centro Oeste, calcada na exploração e abundancia de recursos
naturais, além de promover heterogeneidade no desenvolvimento necessita de investimentos
autônomos ao setor dinâmico da economia regional, o setor agrícola, conforme já indicava o Plano
Estratégico de Desenvolvimento do centro-Oeste (2007-2012), elaborado pelo Ministério da
Integração Nacional (Ministério da Integração Nacional, 2008).
A prevenção desse cenário passa pela implementação de politicas com ênfase na mitigação da
pobreza rural existente em alguns espaços como o Pantanal, o Norte e o Nordeste goiano, além do
Nordeste e do centro do Mato Grosso. Exemplos como o Leste do Mato Grosso do Sul, que
diversificou a produção agrícola, podem ser utilizados nesses espaços para superação da pobreza rural
existente e prevenção de incremento no futuro. Esses exemplos de superação são exigentes em
infraestrutura e logística, fatores em que as regiões do Pantanal, Norte e Nordeste de Goiás e Nordeste
do Mato Grosso são carentes.
Quanto ao Pantanal, dada a fragilidade de seu ecossistema e as restrições para desenvolvimento
da agricultura, a simples dotação de infraestrutura e logística não será suficiente para superação da
pobreza rural. Nessa mesoregião devem ser adotadas medidas que promovam sua industrialização
sustentável e calcada na biodiversidade, bem como, o turismo e a aquicultura. A promoção dessas
atividades econômicas no Pantanal promoverá o crescimento da classe media. Essa classe média
demandará produtos agrícolas intensivos em terra e mão-de-obra, a exemplo dos Hortifruti e das
Lavouras Temporárias, resultando em desconcentração fundiária, promoção da agricultura familiar e
superação da dicotomia entre os espaços urbano e rural, condicionantes para mitigação da pobreza
rural.
A prevenção da pobreza rural no Centro Oeste, principalmente dos ‘bolsões’ de pobreza, requer
investimentos autônomos ao setor agrícola de modo promover um crescimento regional
desconcentrado espacialmente da classe media. O crescimento desconcentrado da classe media
dinamizará o setor de serviços viabilizando a diversificação da produção agrícola, a desconcentração
fundiária e a integração entre os espaços urbano e rural com reflexos sobre a menor urbanização. Essa
dinâmica, além de infraestrutura, requer politicas de atração de investimento autônomos, os quais
devem ser realizados de modo coordenado para não fomentar ainda mais a concentração da riqueza
como está ocorrendo em Goiás. Essas inferências remetem a necessidade de um programa de
desenvolvimento regional que considere, além das peculiaridades espaciais da região Centro Oeste,
sua integração com os mercados nacionais e internacionais e a consequente instabilidade que a
economia regional apresenta atualmente.
Todas essas politicas passam pela educação, principalmente a qualificação da mão-de-obra que,
em um futuro próximo, ainda será expulsa do campo pelo processo de urbanização, bem como, da
mão-de-obra que permanecerá empregada no campo em atividades mais intensivas em capital.
Considerando que as politicas de contenção da urbanização sejam exitosas, também haverá
necessidade de qualificação e de assistência técnica à mão-de-obra que permanecerá no campo em
propriedades com exploração típicas da agricultura familiar.
Em linhas gerais, a superação da pobreza rural no Centro e a prevenção do seu crescimento
passam pela desconcentração fundiária e superação da dicotomia entre espaços rural e urbano, bem
como, pela diversificação da base econômica e redução na dependência dos mercados internacionais
de commodities, os quais requerem: i) infraestrutura; ii) adensamento do setor agrícola pela
agroindústria; iii) incentivo à novas explorações agrícolas como a silvicultura, a agroenergia e as
lavouras temporárias com ênfase na redução da dependência do mercado internacional; iv) produção
de espécies da biodiversidade regional dedicadas à processos industriais a exemplo das plantas
medicinais e condimentares; v) investimentos industriais autônomos ao setor agrícola de modo a
diversificar a economia regional e reduzir a dependência em commodities exportadas; vi) incentivo ao
turismo; e, principalmente, vii) um planejamento integrado para o desenvolvimento regional.
Essas linhas gerais dependem de politicas publicas e privadas, além da integração de ambas.
Porem, algumas politicas públicas podem ter efeito significativo para aceleração da nova onda de
desenvolvimento que permeia o Centro Oeste: i) redução no desmatamento e recuperação das áreas
degradadas; ii) exploração sustentável dos recursos naturais; iii) aumento da infraestrutura de
saneamento; iv) investimentos em saúde com ênfase na redução da mortalidade infantil; v) aumento
da escolaridade, redução do analfabetismo e qualificação profissional; vi) inclusão digital; vii)
aumento do numero de pesquisadores e de programas públicos de pesquisa e, principalmente, viii)
maior presença do estado, fortalecimento da organização da sociedade e maior participação social,
notadamente, nas regiões mais deprimidas.
As sugestões de politicas públicas aqui elencadas são gerais a qualquer região que pretenda a
superação da pobreza, mas, no caso do Centro Oeste, o principal diferencial é a preocupação com o
meio-ambiente. Assim, a exploração de recursos naturais deve deixar de ser uma questão que limita o
atual modelo de desenvolvimento para se tornar uma oportunidade de desenvolvimento e superação da
pobreza rural.

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