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DA EDUCAÇÃO
AULA 3
A
Desigualdade
no Brasil.
ABERTURA
Olá!
BONS ESTUDOS!
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI
REFERENCIAL TEÓRICO
BOA LEITURA!
direitos;
DOI: 10.1590/0103-11042018S305
RESUMO Este artigo analisou avanços na redução das desigualdades no Brasil durante o período
de 2003 a 2015, para além da perspectiva de renda. Os dados refletem que, embora transfor-
mações relevantes tenham ocorrido, mesmo assim, o Brasil persiste como um dos países mais
desiguais do mundo. Entretanto, ao colocar uma lupa nos dados de acesso a bens e serviços dos
5% e dos 20% mais pobres disponibilizados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD), os achados se contrapõem ao lugar comum de que só se promoveu acesso à renda e ao
consumo dos mais pobres no período estudado, inexistindo alterações significativas no quadro
de acesso a direitos básicos, políticas públicas de educação, saúde e de infraestrutura.
4 Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS)
– Porto Alegre (RS), Brasil.
Orcid: https://orcid.
org/0000-0002-6140-
6800
gabrielrhoe@gmail.com
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer
SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 42, N. ESPECIAL 3, P. 54-66, NOVEMBRO 2018 meio, sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado.
Faces da desigualdade no Brasil: um olhar sobre os que ficam para trás
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 55
estão excluídos de praticamente todo o acesso humanizada sobre as faces que a desigual-
a direitos, bens e serviços produzidos pelo con- dade pode assumir em uma sociedade como
junto da sociedade. a nossa, agregando empatia ao debate e
O outro estudo refere-se ao Relatório da ampliando uma visão crítica que apoie a
Comissão sobre Medição do Desempenho compreensão sobre as múltiplas situações
Econômico e Progresso Social instituída pela de privações de direitos e as políticas que
União Europeia, coordenado por Joseph podem contribuir estrategicamente para a
Stiglitz, Amartya Sen e Jean-Paul Fitoussi4, e mitigação das desigualdades. Há questões
apontam as limitações da comparação entre determinantes aqui. O acesso – ou o não
o Produto Interno Bruto e rendimentos acesso – à água, saneamento, energia, edu-
entre países, em função dos distintos bens e cação, saúde, moradia e bens de consumo,
serviços públicos assegurados aos cidadãos como geladeira, telefone, entre outros, não
em diferentes contextos. Essa análise cor- são dimensões periféricas da desigualdade.
robora as preocupações apresentadas neste A urgência e a prioridade de acesso a esses
artigo. Os autores chamam a atenção para direitos aos mais pobres podem ocorrer con-
a dificuldade de comparar, por exemplo, comitantemente às mudanças estruturais
gastos com saúde entre Estados Unidos que demandam tempo de implementação, ou
da América (EUA) e França, serviço larga- seja, são a longo prazo.
mente privado no primeiro, e público no O que para parte da população é um bem de
segundo. Nos levantamentos dos países que consumo, para os mais pobres é um ‘não direito’
decidem ampliar a oferta pública de alimen- e um limitante, muitas vezes estrutural, às suas
tação escolar, educação, saúde e assistência oportunidades de desenvolvimento e à possibi-
social, há que considerar a ‘gratuidade’ do lidade de uma vida digna e segura.
acesso em relação à necessidade de compra Uma visão reducionista da desigualdade
de serviços nos demais países, em que essa conduz sempre a uma visão reducionista da
oferta não é generalizada. Assim, a análise da emancipação e da liberdade humana. A busca
desigualdade de renda pode não estar incor- pela desnaturalização da desigualdade passa
porando uma parte expressiva do bem-estar pela conscientização de que se trata de um
que não é comprado no mercado, mas que é conjunto de injustiças. A desigualdade social é
provido pelo Estado. sempre uma relação política passível de ser en-
É absolutamente importante discutir a frentada pela ação do Estado e afirmada pelas
desigualdade do ponto de vista da renda, lutas coletivas por direitos, cujo efeito demo-
olhando o estoque de capital e o patrimônio crático pode ser desestabilizador de privilégios
acumulado pelos ricos. No entanto, o olhar historicamente reproduzidos pelas elites.
sobre a desigualdade não pode ignorar a ne-
cessidade de superar a assimetria de acesso
a bens e serviços. Uma parcela expressiva Considerações
da população vem vivendo à margem de metodológicas
condições mínimas de vida. Elevá-las a um
patamar de dignidade não pode ser conside- Para construir os dados apresentados neste
rado um valor secundário no debate sobre artigo, escolhemos dois recortes popula-
desigualdade. Esse tema é, sem dúvida, um cionais: os 5% e os 20% mais pobres com-
dos mais relevantes aprendizados e evidên- parados ao universo da população usando
cias do período de conquistas sociais que o os dados da Pesquisa Nacional por Amostra
Brasil viveu recentemente. de Domicílios (PNAD)5 de 2002 a 2015,
Assim, queremos adicionar ao escopo da que utiliza para o cálculo dos indicadores
análise econômica uma perspectiva mais dos mais pobres: o conjunto da população,
Figura 1. Percentual da população de 15 a 17 anos que frequenta escola no ensino médio ou etapa de ensino posterior, por faixa de renda, e de 18 a 24
anos que frequenta escola no ensino superior (inclusive mestrado e doutorado), por faixa de renda
70% 20%
18%
18%
60%
57,9%
16%
50%
14%
18,9
40,8% 43,4%
12%
40%
10% 9,9%
39,0%
30%
8%
Total da população
30,1
20% 6% 20% mais pobres
16,3%
4,7% 5% mais pobres
4%
10%
10,7% 2%
2,5%
0,3%
0% 0% 0,2%
2002 2009 2015 2002 2009 2015
Fonte: IBGE/PNAD5.
Figura 2. Percentual de domicílios particulares permanentes com acesso à água por rede geral, poço ou nascente com canalização interna, por faixa de
renda, e percentual de domicílios particulares permanentes com energia elétrica, por faixa de renda
99,7%
100% 100%
95,2% 99,2%
88,6% 96,7%
90% 98,6%
85,4%
95%
80%
76,0%
70% 63,3%
90%
88,5%
60%
50% 85%
49,6%
40% 81,3%
Total da população
80%
30% 20% mais pobres
5% mais pobres
20%
75%
10%
0%
70%
2002 2009 2015 2002 2009 2015
Fonte: IBGE/PNAD5.
Um fenômeno a ser valorizado nessa inclu- foi exponencial, passando para 91,2% ( figura
são são os milhões que passam a integrar o 3). A ampliação da renda e do crédito, a de-
consumo, concorrendo para a dinamização soneração da linha branca e a chegada do
do mercado interno. Programa Luz para Todos em territórios sem
Em 2002, o acesso a refrigerador ou energia elétrica explicam parte do aumento
freezer chegava somente a 44,1% dos lares das aquisições desse bem durável pelas
mais pobres. O crescimento nesse segmento camadas mais pobres.
Figura 3. Percentual de domicílios particulares permanentes com geladeira ou freezer, por faixa de renda, percentual de domicílios particulares
permanentes com máquina de lavar, por faixa de renda, e percentual de pessoas de referência dos domicílios com posse de telefone celular, por faixa
de renda
100% 70%
98,2%
95% 95,0% 7,0
91,2% 60% 61,1%
90% 87,3%
85%
50%
80%
75%
40%
70%
33,9%
65% 43,2 30%
28,9%
60%
60,0%
20%
55% 18,1%
50%
10%
45% 5,4%
44,1%
40% 0% 2,9%
100%
90% 91,2%
86,6%
80%
79,3%
70%
60%
50%
40%
Total da população
34,6%
30% 20% mais pobres
5% mais pobres
20%
10% 8,7%
5,1%
0%
2002 2009 2015
Fonte: IBGE/PNAD5.
Figura 4. Taxa de mortalidade infantil no Brasil e por região (por 1.000 nascidos vivos) e média anual de atendimentos médicos e de enfermagem por
habitante na atenção básica
-53%
30 -47%
23,4 25
20 -37%
-36%
12,9 -33%
15
10
2002 2015
Diminuiu
45% 5
0
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul
2,8 +75%
2,6
2,4
+78%
2,2
+64%
2,0 +60% +53%
1,8
1,6
1,4 +63%
1,2
1,0
0,8
0,6 2002
0,4 2015
0,2
0
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Brasil
Figura 5. Variação percentual do rendimento médio domiciliar per capita real entre 2002 e 2015, por quintis de renda
Total 38%
4º quintil 49%
3º quintil 68%
2º quintil 81%
Fonte: IBGE/PNAD5.
assistência social, prevista desde a Constituição do período foram fruto de decisão política,
Federal de 1988, ousou tocar na franja margina- afastando a aceitação de uma condenação
lizada da sociedade; e a resposta foi imediata: natural e inevitável à desigualdade. Registrar
milhões de jovens na escola na idade certa, que continuamos sendo uma nação extrema-
jovens negros e negras nas universidades, mente desigual não é suficiente. A desigual-
queda vertiginosa da mortalidade infantil. dade do Brasil pode e exige ser mudada.
Ao colocar uma lupa sobre os 5% e os
20% mais pobres da sociedade brasileira e
perceber o processo silencioso de inclusão Colaboradores
e redução de parte importante das desi-
gualdades ocorridas, esta perspectiva não se Campello T contribuiu para a análise e in-
encerra em si mesma, mas se soma às demais terpretação dos dados, revisão crítica do
abordagens que buscam compreender os conteúdo e aprovação da versão final do
caminhos para se trilhar a redução das de- manuscrito. Gentili P contribui signifi-
sigualdades. Há muitos desafios e muitas cativamente para a elaboração, redação e
dívidas ainda pendentes. revisão do artigo, aprovando sua versão final.
Este artigo joga luz sobre o que ocorreu Rodrigues M contribuiu para a concepção,
entre 2002 e 2015, evidenciando os resul- planejamento, análise e interpretação dos
tados decorrentes das políticas públicas e dados. Hoewell GR contribuiu para a análise
que estabeleceram novos patamares para a e interpretação dos dados, revisão crítica do
agenda brasileira de combate à pobreza e de conteúdo e aprovação da versão final do ma-
enfrentamento às desigualdades. Os avanços nuscrito. s
Referências
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olhar sobre os que ficam para trás. Brasília, DF: Fa- Janeiro: IBGE; 2015.
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FILESx2017/CR2/p456.pdf. es.mds.gov.br/sagirmps/ferramentas/docs/Cader-
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3. Piketty T, Saez E. Income inequality in the United
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118(1):1-41. Nascidos Vivos. Brasília, DF: Datasus; 2015.
PORTFÓLIO
O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil está entre os dez maiores do mundo.
Em termos de recursos minerais, hídricos e potencialidade agrícola, o Brasil
também se destaca como um dos países mais ricos do mundo.
Mesmo com a melhora nos últimos anos, existem no país cerca de 36 milhões de
pessoas consideradas pobres (e cerca de 10 milhões abaixo da linha da pobreza).
RESENHA DE 20 A 35 LINHAS.
Com base nisso, responda: como se explica o fato de um país tão rico como o
Brasil ter uma população tão pobre?
Reflita sobre isso e busque dados na literatura que apoiem sua opinião sobre este
assunto.
OBS: Para redigir sua resposta, use uma linguagem acadêmica. Faça um texto com
no mínimo 20 linhas e máximo 35 linhas. Lembre-se de não escrever em primeira
pessoa do singular, não usar gírias, usar as normas da ABNT: texto com fonte
tamanho 12, fonte arial ou times, espaçamento 1,5 entre linhas, texto justificado.
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PESQUISA
AUTOESTUDO - PESQUISA.
BOM TRABALHO!