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UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ (UFOPA)

INSTITUTO DE CIÊNCIA DA SOCIEDADE (ICS)


CURSO DE GESTÃO PÚBLICA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL (GPDR)
POLITICAS AFIRMATIVAS E DIREITOS HUMANOS

Katarina Raquel Pereira Pinheiro

DESIGUALDADE E POBREZA NO BRASIL: retrato de uma estabilidade


inaceitável
Ricardo Paes de Barros, Ricardo Henriques e Rosane Mendonça

SANTARÉM-PARÁ
2024
Fichamento Textual Simples

Inicialmente, Barros, Henriques e Mendonça (2000) contextualizam a evolução


da pobreza no Brasil entre 1977 e 1998, com base nas Pesquisas Nacionais por Amostra
de Domicílios (PNADs) realizadas pelo IBGE. Destacam a complexidade da definição
de pobreza e a importância de considerar as condições de vida socialmente
estabelecidas. A pobreza é analisada principalmente em termos de insuficiência de
renda, indicando que, em 1998, cerca de 14% da população vivia em famílias com renda
inferior à linha de indigência e 33% em famílias com renda inferior à linha de pobreza.
Ao longo das duas décadas analisadas, a intensidade da pobreza manteve relativa
estabilidade, com flutuações associadas à dinâmica macroeconômica do período.
Embora a porcentagem de pobres tenha declinado ligeiramente, o número absoluto de
pobres aumentou devido ao crescimento populacional. Houve uma aceleração no
contingente de pessoas pobres no final dos anos 80, mas vale destacar que cerca de 10
milhões de brasileiros deixaram de ser pobres após a implantação do Plano Real. No
entanto, ainda existem cerca de 50 milhões de pessoas pobres, com renda média cerca
de 55% abaixo da linha de pobreza, e 21 milhões de pessoas indigentes com renda
média cerca de 60% abaixo da linha de indigência.

Os autores ainda ressaltam que a pobreza responde a dois determinantes


imediatos: a escassez agregada de recursos e a má distribuição dos recursos existentes.
A importância da escassez de recursos na determinação da pobreza brasileira é avaliada
em comparação com o resto do mundo, análise da estrutura da renda média do país e o
padrão de consumo médio da família brasileira. Destaca-se a importância de analisar a
estrutura da pobreza no Brasil em comparação com outros países do mundo. Nesse
sentido, é feita uma comparação da renda per capita e do grau de pobreza no Brasil com
outros países, visando verificar se o grau de pobreza no Brasil é mais elevado do que em
nações com renda per capita semelhante. Essa análise considera a baixa renda per capita
brasileira e o elevado grau de desigualdade na distribuição dos recursos como
componentes importantes para compreender a pobreza no país. São propostos exercícios
redistributivos para demonstrar o impacto que uma divisão mais equitativa dos recursos
poderia ter na redução da pobreza. Por fim, o padrão de consumo das famílias
brasileiras com renda per capita em torno da média nacional é brevemente descrito,
evidenciando que a pobreza no Brasil está mais relacionada à distribuição dos recursos
do que à sua escassez.
A análise comparativa da estrutura da distribuição de renda mundial revela que o
Brasil está entre o terço mais rico dos países do mundo, com cerca de 64% dos países
tendo renda per capita inferior à brasileira e aproximadamente 77% da população
mundial vivendo em países com renda per capita inferior à do Brasil. Dessa forma,
apesar de o Brasil possuir muitos pobres, sua população não está entre as mais pobres
do mundo. Esses pontos ressaltam a complexidade da situação da pobreza no Brasil e
sua relação com a distribuição de recursos em comparação com outros países,
desmistificando a visão simplista de considerar o país como exclusivamente "rico" ou
"pobre". Ao comparar o grau de pobreza no Brasil com o observado em países com
renda per capita similar, fica evidente que a intensidade da pobreza nacional é
significativamente superior à média desses países, sugerindo a relevância da má
distribuição dos recursos para explicar essa disparidade. Sendo assim, levanta-se o
questionamento se a sociedade brasileira, com sua atual dotação de recursos, seria capaz
de erradicar a pobreza internamente. Ao analisar estimativas da evolução do Produto
Interno Bruto (PIB) per capita e da renda familiar per capita em relação às linhas de
indigência e pobreza, conclui-se que uma distribuição equitativa dos recursos nacionais
disponíveis seria mais do que suficiente para eliminar toda a pobreza, indicando a
inexistência de escassez de recursos.

Por conseguinte, os autores discutem a distribuição de recursos como forma de


erradicar a pobreza, destacando que uma distribuição equitativa não é necessariamente
justa ou desejada. Um exercício hipotético é proposto, onde o poder público
identificaria os indivíduos pobres e transferiria recursos para tirá-los da pobreza.
Segundo o exercício, seriam necessários cerca de R$ 6 bilhões para retirar da indigência
a parcela mais extrema da população pobre e R$ 29 bilhões para erradicar toda a
pobreza. No entanto, ressalta-se que esse exercício ideal não leva em consideração os
custos de administração e os problemas de focalização do programa.

O texto aborda questões importantes relacionadas ao padrão de consumo,


condições habitacionais e desigualdade de renda no Brasil. Dois pontos principais são
abordados: o padrão de consumo das famílias brasileiras com renda per capita próxima
à média nacional e a desigualdade de renda destacada pelos autores. As famílias
brasileiras com renda per capita próxima à média nacional têm um padrão de consumo
que revela gastos significativos com alimentação, representando cerca de 47% dos
gastos totais. Isso é um reflexo da realidade econômica do país e ressalta a importância
da alimentação como parte significativa do orçamento familiar. Ademais, as condições
habitacionais também são abordadas, mostrando que a maioria dos domicílios nessas
regiões tem acesso a condições básicas de abastecimento de água e coleta de lixo. No
entanto, o acesso ao esgotamento sanitário é destacado como um ponto que precisa de
atenção, com apenas 85% dos domicílios dispondo de esgoto sanitário via rede coletora
de esgoto. Outro ponto crucial é a discussão sobre a desigualdade de renda no Brasil. O
texto ressalta que a desigualdade distributiva é um dos principais determinantes da
pobreza no país, visto que ele compara o grau de desigualdade de renda no Brasil com o
observado em outros países e destaca a estabilidade surpreendente da desigualdade ao
longo das últimas décadas, apesar das transformações e flutuações macroeconômicas.

Posteriormente, o texto aponta uma comparação internacional do coeficiente de


Gini, revelando que o Brasil possui um dos maiores graus de desigualdade de renda do
mundo. Apenas a África do Sul e Malawi apresentam um grau de desigualdade maior
que o do Brasil, com um coeficiente de Gini próximo a 0,60. Esse valor coloca o Brasil
em um patamar alcançado por apenas quatro países, ressaltando a extensão da
desigualdade no país em comparação com outras nações. Menciona a razão entre a
renda média dos 10% mais ricos e a renda média dos 40% mais pobres, destacando que
o Brasil é o país com o maior grau de desigualdade nesse aspecto. A renda média dos
10% mais ricos representa 28 vezes a renda média dos 40% mais pobres, o que
evidencia uma disparidade significativa na distribuição de renda no país.

Outro indicador apontado é a razão entre a renda média dos 20% mais ricos e
dos 20% mais pobres, confirmando novamente a posição singular do Brasil em termos
de desigualdade de renda. Esses dados contundentes reforçam a conclusão de que o
Brasil possui um grau extraordinário de desigualdade de renda, contribuindo
significativamente para os níveis elevados de pobreza em comparação com outros
países de renda per capita similar. Essas informações reforçam a importância de
políticas públicas e iniciativas voltadas para reduzir a desigualdade e promover uma
distribuição mais equitativa da renda no Brasil. O combate à desigualdade é essencial
para promover um desenvolvimento econômico sustentável e inclusivo. Posteriormente,
os autores apresentam uma análise detalhada da evolução da desigualdade de renda no
Brasil ao longo das últimas décadas. Os autores apontam que, apesar das flutuações
observadas, a desigualdade de renda se manteve surpreendentemente estável, sem
qualquer tendência ao declínio significativo. O texto ressalta que a instabilidade
macroeconômica no final da década de 80 resultou em um crescimento acelerado do
grau de desigualdade, atingindo níveis extremos.

Além de tudo, o Plano Real não teve um impacto significativo na redução da


desigualdade, apesar da redução da pobreza. Ao longo das décadas analisadas, a
desigualdade de renda no Brasil se mantém em níveis muito elevados, com os 20% mais
ricos recebendo uma renda média entre 24 e 35 vezes superior à dos 20% mais pobres.
Essa análise revela a persistência de uma perversa estrutura de distribuição de renda no
Brasil, com o coeficiente de Gini mantendo-se em um patamar elevado e os níveis de
desigualdade sendo muito superiores aos observados em outros países da comunidade
internacional.

A grande desigualdade na distribuição de renda no Brasil, com os 10% mais


ricos detendo metade da renda das famílias, enquanto os 50% mais pobres possuem
apenas cerca de 10% dessa renda. Além disso, o 1% mais rico detém uma parcela da
renda superior à metade da população mais pobre. Isso evidencia uma simetria social
perversa e aponta para a necessidade de políticas que estimulem o crescimento
econômico e diminuam a desigualdade para combater a pobreza de forma eficaz. O
texto também discute a sensibilidade da pobreza em relação à desigualdade de renda,
mostrando que alterações no grau de desigualdade têm um impacto maior na redução da
pobreza do que alterações no crescimento econômico. Isso sugere que políticas focadas
na redução da desigualdade podem ter um impacto significativo na diminuição da
pobreza.

Com base no texto, fica claro que o crescimento econômico é uma via
importante para combater a pobreza, mas é um processo lento. O texto destaca que um
crescimento de 3% ao ano na renda per capita pode reduzir a pobreza em
aproximadamente um ponto percentual a cada dois anos. No entanto, aponta que um
crescimento contínuo e sustentado de 3% ao ano levaria mais de 25 anos para reduzir
significativamente a proporção de pobres no Brasil. Além disso, o texto menciona que a
pobreza reage com maior sensibilidade aos esforços de aumento da equidade do que aos
de aumento do crescimento. Isso sugere que políticas focadas em promover uma
distribuição mais justa da riqueza podem ter um impacto mais imediato na redução da
pobreza do que simplesmente buscar um crescimento econômico.
A sugestão de priorizar a busca por maior equidade social como elemento
central de uma estratégia de combate à pobreza parece desafiar a ideia tradicional do
"crescer o bolo para depois distribuir", enfatizando a importância de abordagens mais
equitativas. O texto levanta questões pertinentes sobre as estratégias de combate à
pobreza e destaca a importância de considerar não apenas o crescimento econômico,
mas também a equidade social. É um convite à reflexão sobre as políticas e abordagens
adotadas para lidar com esse desafio complexo.

Por fim os autores concluem que, apesar do reconhecimento da importância da


redistribuição de renda para combater a pobreza no Brasil, os mecanismos utilizados
para reduzi-la foram extremamente limitados em seu impacto. A análise mostra que a
queda na pobreza ao longo das últimas décadas decorreu principalmente do crescimento
econômico, com o papel da redistribuição de renda sendo bastante limitado, exceto em
momentos específicos. O texto expressa certo desconforto com a constatação de que,
apesar da importância da redistribuição de renda, a estratégia predominante tem sido
essencialmente baseada no crescimento econômico, o que é considerado como uma
"não-estratégia" eficaz no combate à pobreza. Parece que o autor está sugerindo que a
abordagem predominante precisa ser repensada para alcançar um impacto mais
significativo na redução da pobreza. Isso certamente levanta questões importantes sobre
as políticas públicas e estratégias econômicas adotadas no Brasil.

Referência:
BARROS, Ricardo Paes de; HENRIQUES, Ricardo; MENDONÇA, Rosane.
Desigualdade e pobreza no Brasil: retrato de uma estabilidade inaceitável. Revista
brasileira de ciências sociais, v. 15, p. 123-142, 2000.

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