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A FOME NO BRASIL:
elementos sobre configurações e formas de enfrentamento
RESUMO
ABSTRACT
1 INTRODUÇÃO
*
Estudante de Serviço Social/ UFMA
São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005
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isso tem que recorrer aos lixões, a mendicância, ou comer menos que o necessário a sua
condição de ser humano; permanece em situação de fome ou insegurança alimentar, tendo,
por conseguinte problemas na sua nutrição. Em todos estes casos, fome, desnutrição e
insegurança alimentar; o “organismo perde as potencialidades físicas, intelectuais e
sociais”.(PONTIFÍCIO CONSELHO “COR UNUM”, 1996).
Existe uma grande dificuldade de mensurar a quantidade de pobres/indigentes no
país, atualmente toma-se por referência, a mais atualizada pesquisa nesta área, a Pesquisa
Nacional de Amostragem por Domicílios (Pnad) do IBGE, de 1999, atualizada em 2001, que
adotou a metodologia do Banco Mundial, ou seja, a definição de uma linha de pobreza,
considerando pobres as pessoas que ganham menos de US$ 1,08 por dia. No Brasil,
todavia considera-se que a renda familiar não está destinada somente aos bens de
consumo. De acordo com a “linha de pobreza média ponderada para o Brasil”, R$ 71,53 por
pessoa, indica-se a existência de 46 milhões de indivíduos com renda de R$ 39,11; milhões
de famílias em situação de indigência. E, como estamos expondo, a fome é uma questão
social que vem se acirrando no decorrer do desenvolvimento do sistema capitalista e que
está extremamente ligada à pobreza e a desigualdade social. De acordo com o PNUD
(2000) a desigualdade social no Brasil é uma das maiores do mundo, os 10% mais ricos do
país tem uma renda trinta vezes maior do que os 40% mais pobres (WOLFF, 2002). A
pobreza e indigência tem no Brasil um dos números mais expressivos, em duas décadas
(1977/1998) o número de indigentes, baseando-se na referência de US$ 1 por dia caiu de
16,3% para 13,9%; e de pobres (US$ 2 por dia) de 39,6% para 32,7%, ou seja uma queda
irrisória, tendo em vista os alto índices demonstrados. O nordeste concentra 30% da
população brasileira e 63% dos indigentes do país. (GUILHON, 2001)
A concentração fundiária também tem altos índices; 1% dos maiores
estabelecimentos tem 42% da área total ocupada e apenas 3% dos estabelecimentos
menores tem 53% da área ocupada. Existem 176 milhões de hectares de terra improdutivas
(35.000 latifúndios), e em contrapartida 5 milhões de famílias sem terra (WOLFF, 2002).
De acordo com o relatório da CEPAL (2000) na década de 1990 houve uma
diminuição de 48% do número de empregos da indústria. Pochmann (2000 in GUILHON
2001) estima que em 1999 o número de desempregados chegava a 7 milhões de pessoas.
A ONU (2002) no relatório sobre a situação de fome no Brasil constatou que um
em cada três brasileiros sofre de desnutrição, índice considerado um dos maiores do
mundo, e que a maior causa deste fenômeno seria a desigualdade social; este estudo foi
realizado pelo relator da ONU, o suíço Jean Ziegler. E ainda, 55 milhões de brasileiros são
pobres e 21 milhões estão abaixo da linha de pobreza, sendo que a fome e a miséria têm
seus maiores quadros no Nordeste e Sudeste. Para as Nações Unidas o Brasil como um
dos maiores exportadores agrícolas do mundo, tem uma produção de alimentos capaz de
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alimentar toda a sua população. O país teria uma quantidade de alimentos suficiente para
suprir as necessidades calóricas em até 2,9 quilocalorias por dia para cada um dos seus
milhões de habitantes, contudo 16 milhões de pessoas vivem com menos de 259 calorias
por dia no Brasil, um índice muito aquém do valor estipulado pela ONU como o mínimo para
a sobrevivência (1,9 Kcal/ por dia). A ONU também destacou que os maiores obstáculos
para acabar com a fome no país seriam o salário mínimo, “insuficiente para que uma pessoa
possa comprar o mínimo necessário pra se alimentar em um mês”, e outro seria a falta de
acesso à terra que impede o desenvolvimento da agricultura familiar.
Em relação à fome desencadeiam-se manifestações, embates e lutas, tanto dos
setores dominantes, quanto da classe subalterna em busca de soluções às situações
enfrentadas. No decorrer da história brasileira comparecem uma multiplicidade de formas de
enfrentamento. Ainda no século XIX e decorrer do século XX houve diversas lutas sociais
lideradas pelas classes populares, muitas classificadas como revoltas ou “insubordinações”,
não se percebia a problemática que estava por traz destas manifestações. Bonfim (2000)
destaca algumas destas lutas revelando que há muito tempo a exploração, a pobreza, a
desigualdade social, e como conseqüência a fome, fazem parte do cenário de nosso país.
Dentre estas dá enfoque às Sociedades Mutualistas (meados do século XIX), à Revolta
de Ibicaba (1851), ao Protesto contra a alta de gêneros alimentícios em Salvador
(1858), à Revolta contra comerciantes estrangeiros e os altos preços das mercadorias
importadas e o baixo valor das mercadorias nacionais; ao Movimento do quebra-quilos
(1862), às Lutas por melhorias salariais e de condições de vida da classe operária nos
centros urbanos e lutas no campo no inicio do século XX; ao Comício contra a carestia,
20 de fevereiro de 1913; aos Atos contra o desemprego e a carestia no Rio de Janeiro e
São Paulo em 1914; ao Movimento de comitês do combate a fome (RJ) em 1918, ao
Movimento do cangaço (1925-1938), a “Marcha da Fome” (Rio de Janeiro-1931). Em
1946 a “Campanha popular Contra a Fome”; entre 1951 e 1953 em São Paulo as
“Passeatas da panela vazia”; em 07 de agosto de 1963 acontece o “Dia nacional de
protesto contra a carestia”; em 1973 o “Movimento contra o custo de vida” em São
Paulo, em 1980 o I Congresso Nacional de luta contra a Carestia.
Com relação às formas de enfrentamento por parte do Estado, verifica-se no
Brasil, que apenas com o fim da Segunda Guerra mundial travam-se a primeira discussão
sobre Segurança alimentar, inicialmente voltadas as políticas de abastecimento alimentar e
de desenvolvimento agrícola. Com a crise do capital na década de 30, o Brasil passa a
priorizar o crescimento da produção interna industrial há uma grande migração da
população para os centros urbanos, e como seqüela o inchaço das cidades, e o aumento
das questões sociais, entre elas a do abastecimento alimentar.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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