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RESUMO
O presente artigo esboça uma discussão sobre as políticas sociais no contexto neoliberal, sem,
contudo, ignorar os antecedentes históricos cujo qual processo perpassou. O cenário político,
econômico e social, evidenciam uma dicotomia entre os avanços no campo dos direitos
sociais e o novo modelo de ajuste estrutural do capitalismo, cujo qual recebe
questionamentos, principalmente no que diz respeito a conduta do Estado. Em termos de
Brasil, essa política de ajuste, tem culminado em situações preocupantes, tanto no plano
econômico quanto no social, preponderantemente porque, as políticas sociais e o próprio
contexto social observados no contexto histórico desse país, possuem peculiaridades se
comparado aos países considerados desenvolvidos, que devem ser analisadas com maiores
critérios. O ideário Neoliberal defende, em linhas gerais, a redução dos gastos sociais e a
reforma do Estado, tornando-o um “Estado Mínimo”, desfazendo ou enfraquecendo as
estruturas jurídicas de direitos, outrora legalmente conquistados, através dos movimentos
sociais e populares. A política econômica Neoliberal é, em suma, uma transformação do
próprio capitalismo contemporâneo, na tentativa de se reinventar, todavia, seus rebatimentos
no âmbito das políticas sociais têm promovido um retrocesso ao passo que favorece o
desmonte dos direitos sociais, a mercantilização da saúde, e ações de cunho paliativo e focais
da assistência social. Não obstante, o cenário de pandemia da COVID 19 no Brasil, revela que
a depender da opção da política de ajuste fiscal adotada, pode-se determinar medidas de
enfrentamento a doença capazes de obterem maior ou menor êxito. Numa escala mais
perversa, vivenciamos o conflito da economia em primeiro plano, exercendo poder de império
inclusive sobre vidas humanas.
ABSTRACT
This article outlines a discussion about social policies in the neoliberal context, without,
however, ignoring the historical background which the process passed through. The political,
economic and social scenario show a dichotomy between advances in the field of social rights
and the new model of structural adjustment of capitalism, which is questioned, especially with
regard to the conduct of the State. In terms of Brazil, this adjustment policy has culminated in
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worrying situations, both in economic and social terms, mainly because social policies and the
social context itself observed in the historical context of this country, have peculiarities when
compared to countries considered developed , which should be analyzed with greater criteria.
The Neoliberal ideology defends, in general lines, the reduction of social expenses and the
reform of the State, making it a “Minimum State”, undoing or weakening the legal structures
of rights, formerly legally conquered, through social and popular movements. Neoliberal
economic policy is, in short, a transformation of contemporary capitalism itself, in an attempt
to reinvent itself, however, its repercussions in the sphere of social policies have promoted a
setback while favoring the dismantling of social rights, the commodification of health, and
palliative and focal social assistance actions. Nevertheless, the COVID 19 pandemic scenario
in Brazil reveals that, depending on the option of the fiscal adjustment policy adopted, it is
possible to determine measures to fight the disease capable of achieving greater or lesser
success. On a more perverse scale, we experience the conflict of the economy in the
foreground, exercising power of empire even over human lives.
Keywords: Social Policy, Social Rights, Capitalism, Neoliberalism, COVID Pandemic 19.
RESUMEN
Este artículo esboza una discusión sobre las políticas sociales en el contexto neoliberal, sin
ignorar, sin embargo, el trasfondo histórico por el que atravesó el proceso. El escenario
político, económico y social muestra una dicotomía entre los avances en el campo de los
derechos sociales y el nuevo modelo de ajuste estructural del capitalismo, que es cuestionado,
especialmente en lo que respecta a la conducta del Estado. En términos de Brasil, esta política
de ajuste ha culminado en situaciones preocupantes, tanto en términos económicos como
sociales, principalmente porque las políticas sociales y el contexto social mismo observado en
el contexto histórico de este país, tienen peculiaridades en comparación con países
considerados desarrollados, que deberían ser analizados con mayor criterio. La ideología
neoliberal defiende, en líneas generales, la reducción de los gastos sociales y la reforma del
Estado, convirtiéndolo en un “Estado Mínimo”, deshaciendo o debilitando las estructuras
jurídicas de derechos, anteriormente legalmente conquistadas, a través de movimientos
sociales y populares. La política económica neoliberal es, en definitiva, una transformación
del propio capitalismo contemporáneo, en un intento por reinventarse, sin embargo, sus
repercusiones en el ámbito de las políticas sociales han propiciado un retroceso al mismo
tiempo que favorecen el desmantelamiento de los derechos sociales, la mercantilización de la
salud y acciones paliativas y asistenciales sociales focales. Sin embargo, el escenario de la
pandemia de COVID 19 en Brasil revela que, dependiendo de la opción de política de ajuste
fiscal que se adopte, es posible determinar medidas para combatir la enfermedad capaces de
lograr mayor o menor éxito. En una escala más perversa, experimentamos el conflicto de la
economía en primer plano, ejerciendo el poder del imperio incluso sobre vidas humanas.
INTRODUÇÃO
Uma realidade pandêmica posta num país que perpassa por políticas de cortes e
baixos, ou quase nenhum, investimentos para as áreas de saúde, educação e pesquisa. Um
Estado mínimo instalado à revelia, representado pela figura do atual Presidente da República,
que não se intimida em deixar claro sua posição de governo, que é priorizar o setor econômico
e desmantelar o frágil sistema de direitos e garantias sociais.
Assim, temos o embate polarizado entre pesquisadores, cientistas e profissionais
da saúde, que, de um lado, defendem ações protetivas contra a covid 19, por meio do
isolamento social, uso de máscaras e contínua higiene das mãos, vacinação em massa, além da
implementação de políticas sociais de renda mínima a toda população que foi e está sendo
mais vulnerabilizada com as consequências efetivas da pandemia, alinhada com o contínuo
investimento nas áreas de saúde e de pesquisas.
Em contraponto, tem-se um governo despreparado, que desqualifica agências,
Expressões as quais se dão através das relações de exploração e dominação do capital. É nessa
lógica que o Brasil se vê amparado atualmente, e essa lógica veem se alimentando e se
fortificando a partir da difusão de ideologias conservadoras, patriarcais, classistas, sexistas e
racistas.
O desmonte dos investimentos sociais e de seus sistemas de proteção num cenário
de pandemia, não só caracteriza a perversidade das relações sociais de capital vigente, mas
coloca em perigo a sobrevivência humana. A classe pauperizada, neste contexto, atravessa
dificuldades desde a inacessibilidade a testes de detecção do vírus, até o próprio tratamento da
infecção. O caos advindo da pandemia no país propicia condições mortíferas, sobretudo para
as populações mais pobres, que são submetidas a situações limitantes, marcadas pelo risco
permanente de contágio.
Isso nos leva a compreender que a gestão de um Estado pode estabelecer normas,
ou não, que valorizem a vida. Conforme aponta Antunes (2020), a crise instaurada no Brasil é
decorrente de anos, a pandemia veio, no entanto, para evidenciar a letalidade de um governo
liberal, conservador, marcado por políticas de austeridade e práticas neoliberais, em que não
se toca nos pilares estruturantes das desigualdades sociais, pelo contrário, só as intensifica.
Na complexidade da fase histórica vivida, o mundo do trabalho e dos movimentos
sociais necessita se reconstruir, articulando atuações de enfretamento às metamorfoses do
capital.
Pensar sobre políticas sociais nunca foi tão necessário num cenário paradoxal
como esse, em que, de um lado, tem-se uma população emergente de condições mínimas de
sobrevivência, e do outro, uma conjuntura econômica perversa, imperativa e letal. E apesar da
dicotomia, o capital se movimenta, se articula e se impõe.
Contudo, é prudente elucidar os vieses em que a “política social” pode assumir, a
depender da política econômica adotada pelo Estado. É partindo dessa problemática que
encaminharemos nossa discussão.
BREVE HISTÓRICO
políticas em que o Estado se conjectura frente a sociedade. Não obstante, podemos inferir que
as políticas sociais só podem ser entendidas com base na estrutura capitalista e no movimento
histórico das transformações sociais dessas mesmas estruturas (FALEIROS, 2000).
Não obstante a esse quadro, tem-se a adoção das políticas keynesianas, haja vista
as mudanças proferidas pela crise do sistema econômico liberal, principalmente no tocante a
prevalência das práticas do laissez-faire, que abriu espaços para o que a literatura denomina,
em geral, de Estado Interventor ou Regulador, com ações reguladoras no âmbito da economia
e sociedade. É neste contexto de crise do modelo liberal que o Estado passa a ser considerado
a solução para os problemas emergentes, através das políticas keynesianas.
Evidencia-se que a política social está no centro do embate econômico, como uma
estratégia não só econômica como também política. Segundo Behring (2002, p. 173), ocorre
um: “deslocamento (…) de parte do conflito capital/trabalho para a lógica da cidadania e dos
direitos sociais ou, na linguagem de Bowles e Gintis, uma proeminência do eixo distributivo
na luta de classes, sendo seu maior foco o Estado”.
O plano Keynesiano se caracteriza pela institucionalização das demandas do
trabalho, em que o Estado passa a mediar os conflitos, e é nesse espaço que são dão a
segmentação das demandas e questões. No que diz respeito ao plano econômico, a
intervenção se dá por meio dos investimentos públicos, cujos quais asseguraria o aumento da
atividade econômica, já que tais serviços se constituem como meios de sociabilização entre a
força de trabalho e os custos de reprodução. Na esfera social, asseguraria o estado de bem-
estar, ou seja, a existência em níveis elevados, e não somente o de mera subsistência. No
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âmbito político, tem-se uma maior integração dos setores subalternos à vida política e social
e, por conseguinte, à ordem socioeconômica.
Laurell (2002), aponta que política pertinente, seguindo o Keynesianismo, será
aquela que, na pretensão de incentivar o crescimento econômico e aumentar o nível de
emprego, atue sobre as variáveis independentes do sistema econômico, demostrando assim, a
importância da intervenção do Estado. Verifica-se que a Política Social começa a se destacar
no campo econômico e político, dadas a conjuntura e reinvenção do sistema capitalista, já que
a intervenção do Estado se dá por meio delas.
Vale ressaltar, dentro da proposta de estudo, que existem várias formas de análise
e interpretação acerca das concepções sobre Política Social, do Estado de Bem-Estar Social e
demais categorias apresentadas aqui. Com base nessa relação conflituosa, o entendimento face
as Políticas Sociais devem ser pensadas além de meras concessões do capital, e, portanto,
ultrapassar a abordagem de cunho economicista, reducionista e fatalista, bem como mera
vitória do proletariado, considerada uma visão simplista e ingênua. Ao contrário, devem ser
compreendidas e analisadas como resultantes das relações antagônicas e conflituosas entres as
diversas esferas do processo de produção e reprodução social. (FALEIROS, 2000)
A análise das Políticas Sociais será aqui abordada como uma categoria
contraditória e dialética, que expressa uma área de colisão instável entre acumulação e
equidade, na busca de uma análise teórica mais próxima da complexidade totalitária do
processo. Ressalta-se, é claro, que estamos longe de uma definição única de interpretação
sobre esse fenômeno.
Seguindo essa concepção, a Política Social pode ser caracterizada como um
movimento contraditório, tendo em vista que atende os interesses da classe dos representantes
do trabalho, ao conceder ganhos reivindicativos face o capital, e, também, aos interesses da
acumulação capitalista, favorecendo a manutenção do potencial produtivo laboral, bem como,
em algumas situações, desmobilizando a estrutura sindical dos trabalhadores.
A Política Social pode ainda ser apreendida ora como engodo, outrora como
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produtivas.
O Estado intervencionista ou o Estado de Bem-Estar Social, surgiu como forma de
contraponto às consequências impostas pelo liberalismo, trazendo, por conseguinte, melhora
nas condições dos direitos civis e sociais. A tentativa de reverter os processos outrora
promovidos pela economia autorregulável se fortaleceu e progrediu, como um movimento de
resposta à acumulação de capital, no sentido de corrigir seus efeitos, considerados
catastróficos até aquele momento.
Segundo Forigo (2012) tratou-se de mecanismos de proteção social que visavam
garantir a cidadania dos indivíduos, sendo realizados por meio da intervenção do Estado,
restringindo os privilégios empresariais e, por isso, contou com grande apoio popular. A
intervenção do Estado buscou ter como funções a redistribuição da renda, a regulamentação
das relações sociais, além da responsabilidade por determinados serviços de cunho coletivos
É importante ressaltar que o Estado de Bem-Estar Social se contrapôs as regras
impostas pela economia liberal, promovendo dentre tantas outras ações, o fortalecimento dos
movimentos de trabalhadores, o que contribuiu de maneira ímpar à promulgação de direitos
sociais outrora marginalizados pela classe dominante.
Laurell (2002, p. 75) resume da seguinte maneira a extensão do Estado de Bem-
Estar Social:
espontânea, com o mercado livre de qualquer intervenção. Por outro lado, podemos inferir
que a política adotada pós liberalismo se configurou como uma tentativa do capitalismo em
manter suas estruturas produtivas, corrigindo os erros ora cometidos, e de reformular novas
estratégias de reprodução, uma delas, foi a garantia de direitos sociais.
De acordo com Netto (1995, p. 68), esse foi o “[...] único ordenamento sócio-
político que, na ordem do capital, visou expressamente compatibilizar a dinâmica da
acumulação e da valorização capitalista com a garantia de direitos políticos e sociais
mínimos”.
Reportando-se ao Brasil, o país também adotou o Estado de regulamentação,
tendo como referência os países desenvolvidos. Contudo, a análise do Estado de Bem-Estar
Social deve considerar o contexto político, econômico e cultural que se conjecturaram nesse
país, em que o capitalismo se deu tardiamente. Segundo Laurell (1995, p. 158), o próprio
processo histórico de constituição dos Estados e a conformação das instituições estatais e
ideologias nacionais foi diferente dos países europeus e dos Estados Unidos.
A implantação do Estado de Bem-Estar Social na América Latina se deu num
ambiente político de ditaduras militares, como por exemplo no Brasil e no Chile, o que
dificultou os processos democráticos, ao passo que restringia as ações dos partidos, dos
sindicatos e de quaisquer outros movimentos reivindicatórios, impedindo o alcance ou avanço
das políticas sociais. Uma outra característica que vale ser ressaltada, refere-se a diferenciação
das estruturas de classes observados entre países da América Latina e o norte-americano e os
europeus. O contexto social dos países da América Latina apresenta uma elevada diferença
entre as classes, marcado pelo empobrecimento e desemprego das populações urbanas. O que
se observou nesses países foi uma maior carência de apoio das políticas sociais se comparado
aos Estados Unidos e países europeus, em que os os programas de assistência médica, auxílio
para maternidade, doença ou perda da renda em virtude de acidente, dentre outros foram
divididos com o setor privado, diferente do que ocorreu na América Latina, em que todas as
ações ficaram por conta do Estado.
O ADVENTO DO NEOLIBERALISMO
Netto (1995, p. 77), define a política neoliberal como “[...] uma argumentação
teórica que restaura o mercado como instância mediadora societal elementar e insuperável e
uma proposição política que repõe o Estado mínimo como única alternativa e forma para a
democracia”.
Para Laurell (2002, p, 67), o neoliberalismo propõe um “[...] Estado mínimo,
normativo e administrador, que não interfira no funcionamento do mercado, já que sua
intervenção, além de deformar os mercados de fatores, produtos e ativos, geraria espirais
inflacionários”.
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Isso implica dizer que o mercado deve vir em primeiro lugar, sendo superior ao
Estado. Se o Estado de Bem-Estar Social outrora não conseguiu controlar e mitigar todos os
problemas de ordem econômica, ao menos contribuiu para o avanço no campo da garantia dos
direitos sociais. O modelo neoliberal, por sua vez, segue caminho contrário, com a negação
das conquistas sociais, apontando para um futuro incerto das classes mais pauperizadas.
Nessa dinâmica, os países que adotaram o modelo neoliberal de Estado têm
planejado suas políticas econômicas baseando-se nas seguintes proposições: a) superioridade
do livre mercado; b) individualismo metodológico; c) contradição entre liberdade e igualdade
(a desigualdade é que estimula a iniciativa pessoal e a competição, sendo está a justificativa
para a retirada dos benefícios sociais do Estado); d) desregulamentações estatais e
privatizações, o que dá outro nível de liberdade. (LAURELL, 2002, p. 80)
Isso nos faz lembrar das proposições de Polanyi (2000), no que se refere ao
fenômeno da mercantilização do trabalho e das relações sociais, em que se estabelece que
intervenção na história”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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2002.
FALEIROS, Vicente de Paula. A política social no estado capitalista. 8ª Ed. São Paulo:
Cortez, 2000.
GOMES, Fábio Guedes. Conflito social e welfare state: Estado e desenvolvimento social
no Brasil. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rap/v40n2/v40n2a03.pdf. Acesso em: 01
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LAURELL, Asa Cristina (Org.). Estado e políticas sociais no neoliberalismo. 3ª Ed. São
Paulo: Cortez, 2002.
MOTA, Ana Elisabete (Org.). A nova fábrica de consensos: ensaios sobre a reestruturação
empresrial, o trabalho e as demandas do Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1998.
PAULO NETTO, J. Crise do socialismo e ofensiva neoliberal. 2. ed. São Paulo: Cortez,
1995.
PEREIRA, Luís Carlos Bresser. A Reforma do Estado dos anos 90: Lógica e Mecanismos
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SADER, Emir e GENTILE, Pablo (ORG). Pós – neoliberalismo II: Que Estado para que
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