Você está na página 1de 275

Créditos

Nosso grupo traduz voluntariamente livros sem previsão de lançamento no


Brasil com o intuito de levar reconhecimento à obra para que futuramente
seja publicado. O CS não aceita doações de nenhum tipo e proíbe que suas
traduções sejam vendidas. Também deixamos claro que, caso o livro seja
comprado por editora no Brasil, retiraremos de todos os nossos canais e
proibiremos a circulação através de gds e grupos, descumprindo,
bloquearemos o responsável. Nosso intuito é que os livros sejam
reconhecidos no Brasil e fazer com que leitores que nunca comprariam a obra
em inglês passem a conhecer. Nunca diga que leu o livro em português,
alguns autores (e eles estão certos) não entendem o motivo de fazermos isso e
o grupo pode ser prejudicado. Não distribua os livros em grupos abertos ou
blogs. Além disso, nós do grupo sempre procuramos adquirir as obras dos
autores que traduzimos e também reforçamos a importância de apoiá-los, se
você tem condições, por favor adquira a obra também. Todos os créditos à
autora e editora.
Gatilhos

Menção a suícidio, homofobia, transfobia, ataques de pânico, abuso


psicológico (gaslighting) e racismo.
Dedicatória

Para todos que se sentiram muito deslocados, muito negros,


muito estranhos, ou muito trans para ter um feliz para sempre,
aqui está sua permissão para fazer o seu próprio.
Contents

Capa
Página do Título
Créditos
Gatilhos
Dedicatória

Passo 1: The Meet Cute


Sábado, 26 de maio
Domingo, 27 Maio
Segunda, 28 de Maio

Passo 2: The Hand of Destiny


Quinta, 31 de Maio

Passo 3: The Invitation

Passo 4: The Consultation (aka The First Date)


Saturday, 2 de Junho

Passo 5: The Trip (aka The Fall Part 1)


Domingo, 3 de Junho

Passo 6: The Hesitation

Passo 7: The Tether


Segunda, 11 de Junho

Passo 8: The Fall


Quarta, 20 de Junho
Sexta, 22 de Junho

Passo 9: The Catch


Segunda, 25 de Junho
Terça, 26 de Junho
Quarta, 28 de Junho
Domingo, 1 de Julho

Passo 10: The Release


Segunda, 2 de Julho
Segunda, 2 de Julho
Quarta, 4 de Julho
Quarta, 4 de Julho
Quinta, 5 de Julho

Passo 11: The Gesture


Saturday, 28 de Julho
Domingo, 29 de Julho

Passo 12: The Happily Ever After


Sexta, 3 de Agosto
Sexta, 10 de Agosto
Aviso
Passo 1: O Encontro Fofo
O momento em que o Destino os junta e você se conecta
com essa pessoa, mesmo se apenas por um momento, de
um jeito que você nunca se conectou com ninguém antes.
Sábado, 26 de maio

MeetCuteDiary postou:
Tudo começou com uma sorveteria.
A doçura já estava no ar, o açúcar correndo em minhas veias, me
deixando bêbado. Eu nunca tinha ido à loja antes, mas um amigo a
recomendou como o lugar mais delicioso da cidade, e eu precisava
saber com certeza.
Mas então eu o notei. Ele entrou com um grupo de amigas o
cercando, e eu não pensei muito sobre isso quando elas se sentaram à
mesa logo atrás da minha. Claro, eu não tinha dado uma boa olhada
nele, e não é como se eu tivesse ido a uma sorveteria em busca de
amor.
Terminei meu sundae e empurrei minha cadeira para trás, pronto
para ir. Mas no momento em que tentei me levantar, ele se recostou,
esticando os braços e esbarrando em mim. Eu me virei, os olhos se
arregalando quando o encarei, e finalmente dei uma boa olhada nele –
alto, cabelo escuro, uma mandíbula tão perfeita que ele poderia muito
bem ter sido a inspiração para o David.
— Oh, hum, desculpe — ele disse, se apressando para tirar uma
mecha de cabelo do rosto.
Minha respiração ficou presa na garganta, mas consegui dizer
rapidamente. — Não, foi minha culpa.
Ele sorriu de volta para mim, e eu podia dizer que ele estava
nervoso, mas eu não o questionaria. Afinal, eu estava nervoso
também. Quando nos afastamos, não achei que o veria novamente.
Enquanto descia a rua, ouvi o som de passos apressados atrás de
mim. Quando me virei, lá estava ele, uma expressão preocupada no
rosto e sua respiração ofegante.
— Ei, hum, você esqueceu sua carteira — disse, com o rosto
vermelho de tanto correr. Ele a estendeu para mim e eu peguei com as
mãos trêmulas.
Eu ri. — Foi mal.
— Está tudo bem. — disse. — Na verdade, estou feliz por ter a
chance de te ver outra vez. Eu estava me perguntando se talvez você
gostaria de tomar um café comigo?
E estamos namorando desde então.
Anônimo

Bbsdate respondeu: Essa é a postagem mais fofa do MCD de todos os


tempos! Estou muito feliz por vocês!
Unrulycatmom respondeu: Parabéns, vocês dois!
Jdbarry respondeu: Não posso esperar para ter algo assim um dia!
Tão lindo!
Carregar mais comentários . . .
A carona tem cheiro de maconha, o que, considerando que estou em Denver,
Colorado, a caminho de um churrasco na faculdade, tenho que admitir que é
um pouco estereotipado, até para mim. Meu irmão, Brian, está sentado na
janela oposta, conversando animadamente com nosso motorista como a
verdadeira borboleta social que ele é. Eu? Eu estou com meus olhos treinados
no meu telefone, lendo as DMs enviadas após a minha última postagem no
blog. Eu atiro de volta pequenos emojis de coração e toneladas de
agradecimento aos meus muitos fãs adoráveis. Apenas o suficiente para
mostrar a eles que ainda me importo, já que estarei preocupado com o tempo
em família pelo resto do dia.
Montanhas passam voando do lado de fora da janela, e eu tenho que me
impedir de ficar boquiaberto com elas porque, uau, literalmente tudo é lindo
aqui – as árvores, as montanhas, a grande maioria dos caras que encontrei
desde que desembarquei.
É engraçado porque estou nesse lugar estranho que é tão diferente de
onde vim, mas também é um pouco reconfortante. Não há ninguém aqui para
lembrar quem eu costumava ser, para me falar que tenho que viver como vivi
nos últimos dezesseis anos de minha existência. Estou correndo pela estrada
da minha nova vida sem ninguém para tentar controlar ela.
E mesmo que eu não mude, há uma parte de mim que está começando a
ser envolvida pela magia um pouco também. Como se tudo que eu precisasse
fosse uma mudança de cenário para minha vida real começar.
Então, quando Brian me convidou para ir a bro-fest da faculdade,
concordei hesitantemente. Quer dizer, sair com meu irmão e todos os seus
irmãos de fraternidade não é exatamente minha definição de diversão, mas
estou preso aqui no verão, enquanto meus pais fazem a grande mudança da
Flórida para a Califórnia, e mesmo que os universitários sejam irritantes, não
consigo exatamente encontrar combustível para o meu blog trancado em um
armário o dia todo.
Quer dizer, eu sou basicamente o super-homem queer, colocando uma
identidade secreta que me deixa ainda mais atraente, apenas para que eu
possa sair por aí salvando pessoas com meu projeto ultrassecreto.
É chamado de Meet Cute Diary, um blog criado para levar amor às
crianças trans necessitadas.
De muitas maneiras, é a coisa mais importante da minha vida.
Eu bloqueio meu telefone e coloco no bolso, olhando para Brian para ter
certeza de que ele não está olhando por cima do meu ombro. Ele se inclina
para frente em seu assento e faz uma piada de pai sobre as montanhas lá atrás,
enquanto o motorista força uma risada falsa enquanto nos guia para fora da
rodovia. Na rodovia, quase posso fingir que ainda estou na Flórida, mas no
segundo em que pegamos a saída, as montanhas imponentes e a vegetação
roubam meu fôlego. Este minúsculo carro parece ainda menor com árvores e
formações rochosas olhando para nós.
Brian bate a mão no encosto do banco do passageiro, que está totalmente
puxado para cima, com um minúsculo saco de lixo pendurado em volta do
encosto de cabeça. — Estou te dizendo, cara, aquela jogada foi a pior que eu
já vi em toda a temporada. Tipo, completamente amador.
Ugh, ele está falando sobre esportes? Nojento.
Quando éramos crianças, Brian e eu éramos muito próximos. Temos
apenas uma diferença de idade de três anos e costumávamos compartilhar
tudo – brinquedos, música, amigos. Então ele conseguiu um carro e uma vida
social próspera, e logo eu saí do seu caminho para que ele pudesse
impressionar todos os seus novos amigos. E faz sentido. Ele é o tipo atlético,
convencionalmente atraente, muito bonito. Hetero. Cis.
Ele foi a segunda pessoa para quem eu falei. Eu disse a ele um pouco
antes do Natal no ano passado, pensando que poderia ser mais fácil, já que
ele morava do outro lado do país. Ele aceitou muito bem, embora um pouco. .
. com excesso de cuidado? Ele continuou me enviando links para livros sobre
pessoas trans e atores trans conseguindo papéis e quase qualquer artigo que
vagamente se relacionasse com transnidade. Foi tudo meio ridículo, mas eu
preferia que ele se envolvesse um pouco demais na minha transição do que
rejeitá-la abertamente.
E, de certa forma, sinto que as coisas entre nós ficaram melhores do que
quando éramos crianças. Talvez seja só eu. Parece que tudo está melhor agora
que me tornei quem sou.
Quando o carro para na frente do que parece ser uma casa de fraternidade,
Brian abre a porta e pula para fora como se estivesse prestes a correr uma
maratona, embora tenha uma longa bandeja de metal na mão. Eu reviro meus
olhos antes de deslizar atrás dele.
Eu pisco por conta da luz do sol dominadora, e Brian ri, batendo a mão no
meu ombro enquanto diz: — Não se preocupe. É apenas sol. Não vai te
matar.
O que é ousado da parte dele dizer, já que minha aversão ao sol é em
grande parte culpa dele. Meu "quarto" atual é um armário, que eu disse a
Brian é abuso infantil, mas não é o espaço ou mesmo a metáfora preguiçosa
que me incomoda. Eu basicamente acabo dormindo demais todas as manhãs,
já que nenhuma luz do sol entra, o que significa que eu perco meu valioso
tempo em Denver e ainda mais tempo valioso nas redes sociais com todos os
meus velhos amigos da Flórida.
Esta semana que passei em Denver é também a primeira semana que
passei abertamente trans, e é sufocante ficar trancado o dia todo. Eu quero
deixar meu cabelo solto, ou pelo menos o que sobrou dele já que eu cortei a
maior parte para a minha transição.
Chegamos ao quintal enfumaçado e somos imediatamente recebidos por
um grupo barulhento de estudantes universitários. Brian passa a bandeja para
um cara com um boné de beisebol, que abre a tampa com uma sobrancelha
arqueada. A multidão é muito branca, então eu não ficaria surpreso se eles
nunca tivessem visto onigiri antes, mas Brian ficou acordado até tarde na
noite passada fazendo-os. Ele está se divertindo com a culinária há mais ou
menos um mês, desde que começou a namorar uma garota branca que gosta
de "cozinhas exóticas". É tudo parte da fixação da garota heterossexual por
atletas que "abraçam seu lado feminino" cozinhando e cuidando de animais,
mas definitivamente não usando vestidos ou maquiagem.
Maggie se aproxima e beija a bochecha de Brian. Eu nunca a tinha visto
pessoalmente antes, mas ela é bonita daquele jeito de garota branca alta e
magra, com cabelos castanhos na altura da cintura e unhas de acrílico.
Brian me apresenta ao grupo, dizendo: — Este é meu irmão, Noah.
Uma garota negra com linda pele escura e um afro fodão dá um tapinha
no ombro de Brian e diz: — Oh, um irmão de verdade?
E Brian enrubesce, seus olhos se arregalando enquanto ele pula para
defender minha masculinidade ou algo assim. — Sim, claro que ele é meu
irmão de verdade. Por que você acha que ele não é de verdade? Ele é
totalmente válido…
— Brian — eu digo, usando uma tosse para encobrir o riso borbulhando
em meu peito, — tenho certeza que ela quer saber se somos irmãos de
fraternidade.
Brian solta uma lufada de ar e diz: — Oh, é claro. Irmãos biológicos.
A garota ri, e Brian desajeitadamente me afasta para me apresentar ao
resto da festa. Eu não sei o que ele espera disso, já que não é como se eu
pretendesse lembrar mais do que dois nomes. O destaque de hoje deve ser os
hambúrgueres grátis, que ainda nem estão prontos. Suspiro.
Uma vez que Brian me libera da minha prisão social, eu caio em uma
cadeira no gramado e pego meu telefone. Em uma situação ideal, esta seria a
parte em que tropeço no amor da minha vida, mas, em vez disso, estou
pensando em novas ideias para o Meet Cute Diary.
Tudo começou assim, para eu explorar minhas fantasias mais selvagens
como um menino trans vivendo em uma cidade conservadora. Cada vez que
eu via o potencial para um encontro fofo na vida real, eu anotava, editava e
adicionava um final digno da Disney. Então eu postaria a coisa como um
"usuário anônimo" neste blog centrado em trans, e as pessoas desmaiariam e
torceriam pelo eu imaginário que encontrou o amor de sua vida em um taco
bar ou uma biblioteca.
E sim, começou como o auge da minha imaginação desenfreada e
necessidade desesperada de afeto, mas agora? Deus, tornou-se um centro de
conversa trans, um blog com mais de cinquenta mil seguidores do Tumblr
torcendo por todas essas pessoas trans em suas buscas para encontrar o amor.
E por mais que eu ame a atenção, há algo mágico em saber que tantas pessoas
se reuniram por trás dessa crença no amor verdadeiro por pessoas como eu,
especialmente quando tenho apenas meia certeza de que acredito nisso.
— Sim, Noah vai ficar comigo no verão.
Eu olho para cima para ver Brian e Maggie olhando para mim, Maggie
com um pequeno sorriso no rosto. Ela pode não estar sentada no colo de
Brian, mas se eles se aproximarem, eu precisaria de um pé de cabra para
separá-los.
— Por que você está falando de mim? — Eu pergunto.
Brian levanta uma sobrancelha. — Por que você vai ficar comigo no
verão?
— Você gosta de jogar trivia, Noah? — Maggie pergunta. — Vamos
todas as terças-feiras se você quiser se juntar a nós.
Eu não gosto, de fato, de jogar trivia. Acho que é uma perda de tempo
completa e total, e se Brian não estivesse namorando Maggie, tenho certeza
de que ele concordaria comigo. Mas eu poderia encontrar caras bonitos no
jogo, e há chance de eles serem do tipo intelectual, pelo qual estou totalmente
interessado.
— Claro — eu digo.
Brian tem algo parecido com alívio estampado em seu rosto. Eu sei que
ele está ansioso para que Maggie e eu sejamos amigos, então não vou dizer a
ele que ela não se parece com ninguém com quem eu passaria muito tempo.
Eu vou deixá-lo aproveitar este momento.
Brian se levanta para pegar uma cerveja para os dois, então eu me levanto
para não ficar sozinho com Maggie.
A comida está pronta, então pego um prato de papel e vou para os
cheeseburgers enquanto penso em como abordar este momento
potencialmente transformador. O hambúrguer está queimado, mas começo a
enfiar tudo na boca de qualquer maneira. Comida de graça é comida de graça.
Voltando para o grupo, escorrego em algo, e tudo fica mais lento, meus
olhos se arregalam enquanto meu corpo é lançado em direção ao chão como
um ímã.
E então um par de braços me envolve, me pegando como um pára-quedas
pouco antes de eu atingir o chão e cuidadosamente me colocando de pé.
Eu me viro, meu braço encostando no cara que me pegou. Ele é muito
fofo – olhos azuis brilhantes, um pouco de barba por fazer no queixo, vestido
com uma jaqueta de homem.
— Uau, você está bem? — ele pergunta.
Eu aceno porque minha voz está presa em algum lugar na minha
garganta.
Ele sorri e, por um segundo, posso fingir que ele está flertando comigo.
Quer dizer, sou fofo como o diabo, e ele provavelmente está pensando em
como o destino deve ter trabalhado horas extras para nos unir. Seus olhos
vagaram sobre mim uma vez, como se estivesse tentando me absorver,
memorizar cada linha do meu corpo para que ele nunca se esqueça deste
momento que passamos juntos.
Esta é a parte em que ele dirá que não costuma ir a festas da faculdade,
mas está feliz por ter ido a esta. Vou rir timidamente, estendendo minha mão
enquanto me apresento, e ele vai ficar extasiado, com as mãos tremendo
quando ele retribui o gesto.
Então ele diz. — Tenha cuidado da próxima vez. Você quase caiu.
— Sim — eu digo, mas ele já está indo embora. Seu rosto já está sumindo
da minha mente, mas Deus, aquele poderia ter sido o encontro perfeito e fofo.
Por que ele não podia simplesmente falar comigo?
Mas também sei como isso funciona. Eu sou um cara gay trirracial trans
que só aparece quando o sol se alinha com a lua e a Terra se inclina de cabeça
para baixo. Caras como eu não conseguem apenas tropeçar no encontro
perfeito e fofo. Não, se queremos encontros fofos, temos que fazê-los nós
mesmos.
Domingo, 27 de maio

MeetCuteDiary postou:
Eu balancei a cabeça, meu coração disparado. Ele era o cara mais
bonito que eu já tinha visto – uma daquelas barbas de lenhador
gostosas e olhos verdes brilhantes. — Me desculpe —, eu disse. — Eu
posso ser desajeitado às vezes.
E ele riu, com um brilho nos olhos ao dizer: — Está tudo bem.
Estou feliz que você não fez uma piada sobre se apaixonar por mim.
Eu ri também. Ele enfiou as mãos nos bolsos e disse: — Sabe, não
posso acreditar que não nos conhecemos antes.
— Acabei de me mudar para cá.
— Oh, bem, você gostaria que alguém mostrasse a cidade algum
dia?
Eu sorri, calor se espalhando por mim. — Eu adoraria.
E nós temos saído desde então.
Anônimo

Bubblebabe respondeu: Isso é tão lindo! Amei esse!


Kissmelikeyoumissme respondeu: Quero um relacionamento assim!
Fungeonparty respondeu: Obrigado por compartilhar sua história!
Foi tão reconfortante de se ler!
Carregar mais comentários . . .
— Deus, Noah, isso é tão clichê.
Reviro os olhos, mas tento manter meu rosto imóvel para que minha
máscara não se rache. — Sim, esse é o objetivo do Meet Cute Diary.
Becca ri, mas posso dizer que ela já está repassando a história com o
olhar de editora, mesmo através da tela do meu telefone.
Becca e eu somos melhores amigos desde o ensino médio, mas eu só
contei a ela o grande e mau segredo do Diário recentemente. Ela foi a
primeira pessoa para quem me assumi no primeiro ano, mas ainda não
conseguia me forçar a contar a ela sobre o Diário. Não é tão assustador agora
que estou assumido e não vivo mais com aqueles intolerantes da Flórida, mas
me abrir para ela foi um grande primeiro passo para aceitar quem sou,
verdadeiramente trans. De certa forma, o Diário é a minha mais íntima
exploração, o tipo que só deve ser compartilhado com dez mil estranhos que
nunca me conhecerão na vida real.
Mas eu não tive escolha a não ser contar a ela alguns meses atrás, depois
que a coisa explodiu. Era impossível para mim responder todas as mensagens
que recebia, responder aos comentários e publicar postagens de blog que
valessem a pena. Agora Becca é minha caçadora de lugares fofos e editora
oficial de encontros, encontrando os lugares perfeitos para encenar meu
potencial encontro fofo e vasculhar toda a porcaria que eu toco e fazer sua
mágica, o que tem feito o número de leitores do Diário crescer mês a mês.
Nem mesmo é considerado uma interrupção no nosso encontro mensal no
spa, uma nova tradição que criamos para manter nossas vidas conectadas
enquanto estamos a quilômetros de distância.
E até agora, está funcionando, eu acho. Ela está em seu banheiro, os pés
afundados em sua banheira, e eu estou com esta máscara facial de lama
lavanda que comprei na Target. Não é a mesma coisa que ver um ao outro
oito horas por dia na escola ou ela vasculhar minha lancheira todos os dias
porque meus pais fazem doces porto-riquenhos matadores e os pais dela
aquecem com chá no microondas, mas é um começo.
— Ele era muito fofo —, digo, verificando a hora no meu telefone para
ter certeza de que não deixei a máscara por muito tempo. Quase tão fofo
quanto o cara da sorveteria com seu cabelo escuro e encaracolado e o som de
sua voz quando ele me passou minha carteira. Na verdade, eu mal me lembro
de como sua voz soou, já que nunca chegou até a porta, e estava muito alto lá
dentro, mas posso sonhar.
— Bem, acho que você disse mais palavras verdadeiras para esse cara do
que na sorveteria, então já é um avanço.
E eu acho que pode ser verdade, mas o que eu amei no encontro fofo da
sorveteria foi a tensão no ar, o cenário estético, a montagem. Muito melhor
pensar que encontrei o amor da minha vida cercado pela minha sobremesa
favorita do que em uma festa suada de fraternidade, embora eu ache que isso
não importa de qualquer maneira, já que os dois foram apenas — inspirados
na realidade.
— Eu acho que os fãs vão escolher qual história é o amor verdadeiro, —
eu digo. — O encontro fofo na sorveteria já é uma das minhas histórias mais
populares. Claramente ele era minha alma gêmea.
— Você sabe que relacionamentos reais exigem trabalho de verdade,
certo? — Becca diz. — Você nunca vai encontrar uma verdadeira alma
gêmea se continuar vivendo indiretamente por meio do blog. Você tem que
olhar para a vida, você sabe, real.
— O blog é a vida real —, digo, porque é a minha vida. É a melhor
coisa que já fiz e provavelmente farei. É todo o trabalho da minha vida e
minhas esperanças e sonhos perfeitamente embalados para compartilhar com
um mundo de estranhos.
— Não, é fantasia. Não é como se tudo fosse apenas um cruzeiro após o
encontro.
— O que me lembra! — Eu canto, pegando meu telefone para procurar o
arquivo.
Eu sabia que Becca diria algo assim, então estou trabalhando na solução
perfeita. Veja, Becca constitui o lado mais cínico da nossa dupla. Mesmo
quando nos conhecemos durante um projeto de ciências, ela era o tipo de
pessoa que não aceita besteiras e faz o trabalho, e eu respeito isso, mesmo
que não seja o jeito que eu prefiro fazer as coisas. Gosto de acreditar em
finais felizes e magia oculta porque, bem, o mundo meio que é uma merda e,
às vezes, a esperança de um romance de conto de fadas é tudo o que temos.
Enquanto isso, Becca sempre foi um pouco cética sobre como encontrar o
romance perfeito desde que seus pais se divorciaram na sétima série, mas ela
não é seus pais e nem eu.
Assim que o arquivo é enviado, eu olho para o meu telefone e encontro os
olhos dela. Ela parece estudiosa por um momento enquanto lê a nota antes de
finalmente explodir em uma gargalhada incontida.
— Que diabos é esse lixo? — ela diz entre risos.
Eu reviro os olhos. — São meus doze passos para o relacionamento
perfeito! Você sabe, porque não termina apenas com o encontro fofo.
Becca geme. — Noah, eu quis dizer que você tem que se comprometer
com um relacionamento e se esforçar para ficar com a pessoa, não esperar por
— ela aperta os olhos para a tela — A viagem, também conhecida como, a
primeira parte de se apaixonar.
Ela começa a rir de novo, mas eu simplesmente a ignoro. Ela pode ser
cética o quanto quiser, mas onde ela se preocupa com fatos e lógica, eu sou o
especialista em amor, e não tenho dúvidas de que encontrei ouro. — É tudo
uma questão de monitorar as etapas para que você saiba que seu
relacionamento está no caminho certo —, eu digo. — Dessa forma, posso
interromper mais cedo se estiver fadado ao fracasso de qualquer maneira.
— Isso é literalmente o oposto do que eu quis dizer.
— Bem, então talvez você deva ser mais específica da próxima vez.
Ela suspira como se dissesse estou muito cansada para continuar te
chamando a atenção, então, faça o que quiser , suspiro, mas o jeito que ela
olha para mim agora é doloroso. Eu sei que ela está preocupada comigo por
estar assumido no mundo, sozinho. Bem, assumido para o mundo e no mundo
off-line pela primeira vez, mas eu assegurei a ela que estou bem. As coisas
são diferentes agora.
Claro, meus pais ficaram um pouco estranhos quando me deixaram em
Denver e continuaram dirigindo para Cali, e sim, meu irmão é um pouco
atleta e um garoto de fraternidade, e eu acho que ele nem sabia o que a
palavra “trans” significava até que eu disse a ele que se aplicava a mim, mas
as coisas não são de todo ruins. Não são mesmo. Estou finalmente longe de
nossa antiga escola secundária – um lugar tão conservador que a única garota
trans que já se assumiu foi intimidada até uma tentativa de suicídio antes de
desistir durante meu primeiro ano. Um lugar onde a oração e Deus vinham
antes de todas as coisas, e que Deus estava ainda menos convencido da minha
existência do que eu da dele.
E claro, estamos fazendo essa coisa de longa distância, mas ainda tenho
Becca. Ela ainda é minha melhor amiga e, mesmo quando estou em busca de
amor e ela está fazendo um programa de faculdade on-line de super elite com
a Universidade do Colorado neste verão, sinto-me bastante confiante de que
ela nunca será capaz de me substituir completamente. Eu sou muito especial.
E toda vez que ela abre suas transcrições, ela verá o Colorado e, com
sorte, pensará em mim, então tem isso.
— Noah.
— O que? — Eu pergunto.
— Você viu isso?
Meu telefone acende com o link que ela me enviou. Eu clico nele e
encontro uma conta chamada KissyKissyBangBang – que
surpreendentemente não é um robô pornô – reblogou a história mais recente
de Meet Cute Diary com: todo esse blog é uma pilha de bobagem. nenhuma
dessas histórias é real. pare de acreditar nisso.
O que, quer dizer, ok, recebo todo tipo de ódio no blog do Diário, mas
este é diferente. Muito diferente. Eles incluíram um link no final de seu
discurso e, assim, estou olhando para um blog inteiro chamado
DebunkingMCD dedicado a encontrar todas as lacunas e inconsistências na
trama nas histórias de Meet Cute Diary e “prová-las falsas”. Eu posso sentir
minha máscara facial rachando enquanto linhas de estresse se formam na
minha testa.
— Noah, você está bem?
Mas não estou ouvindo nada do que Becca está dizendo. Estou rolando,
rolando sem parar, lendo com entusiasmo cada uma das postagens. E eles são
bons. Mesmo. Eles apontam erros nas linhas do tempo, localidades, tudo. É
como se essa pessoa tivesse seguido todas as postagens no ano passado
apenas para ter munição suficiente para provar que nada era real.
E se isso não fosse ruim o suficiente, eles têm uma sessão inteira para
cagar comigo , me chamando de adolescente que provavelmente nunca teve
um encontro. Dizendo que não posso saber nada sobre o amor, e sou patético
por estar investido em romance trans. Eles chegam ao ponto de vincular
postagens sobre psicologia e como esses relacionamentos nunca poderiam
funcionar.
— Noah!
Eu congelo, minha voz trêmula quando digo: — Sim.
A voz de Becca é gentil quando ela fala a seguir, como se ela soubesse
que qualquer palavra poderia ser o suficiente para me quebrar. — Vai ficar
tudo bem. Não importa o que essa pessoa poste, contanto que as pessoas
desconsiderem, e eles vão. Eles amam o Diário.
E eu estou concordando porque ela está certa. Ela tem que estar. Este
diário é um farol de esperança para pessoas trans em todo o mundo. Eu não
posso acreditar que tudo está sendo desvendado porque algum troll teve
muito tempo em mãos. O diário é importante e as pessoas verão isso. Eles
vão ignorar este troll e se unir pelo Diário. Eles precisam.
Segunda, 28 de maio

DebunkingMCD postou:
É honestamente constrangedor ver todos vocês acreditarem nessa
porcaria do Meet Cute Diary. Não há muitas pessoas trans no mundo,
e eu prometo a você que nem todas têm finais felizes. Por que você
não olha para os FATOS reais de uma vez? Vou continuar coletando
mais deles no meu blog para pessoas que se preocupam com a lógica
e a razão.

Danidani respondeu: Pare com esse ódio, é constrangedor!


Everyelliotistrans respondeu: Você tem certeza? Você falou com o
mod sobre isso?
Toorealtofeel respondeu: Eu sempre soube que tinha alguma coisa
estranha com esse blog. Obrigado por esclarecer.
Carregar mais comentários . . .
Terça de manhã, Brian começa seu trabalho em um acampamento de verão,
e eu vou para a cidade para encontrar um café. Ele não mora muito longe da
cidade, mas eu pego uma carona de qualquer maneira porque não tenho o
trabalho de andar.
Becca me enviou uma lista de cafés com bom gosto estético na área,
então escolho um ao acaso e saio. Preciso de algo para me manter ocupado
enquanto Brian não estiver por perto, para não passar o dia todo verificando o
Diário. Apenas entre segunda-feira à noite e terça-feira de manhã, perdi quase
cem seguidores. Eu continuo dizendo a mim mesmo que eles eram todos bots
de qualquer maneira, e o Tumblr está finalmente limpando alguns deles, mas
ninguém acredita nisso.
A fila na loja sai pela porta, e considero me virar e ir para outro lugar. A
verdade é que é um bom dia, e este lugar tem a vibe perfeita para o meu
Instagram. Quero garantir que tenha fotos adoráveis o suficiente em Denver
para convencer todos em casa de que minha vida não foi nada além de arco-
íris e luz do sol desde que parti.
Alguém mantém a porta aberta para mim, e eu passo pela soleira. O
cheiro dos grãos de café me envolve e eu inalo profundamente porque,
caramba, eu amo o cheiro do café. Estou tão longe que nem consigo ler o
amplo menu escrito à mão atrás do balcão, então pego meu telefone e procuro
o lugar no Yelp. Tem ótimas críticas, sabe, se eu confiasse nas pessoas na
internet para ditar minhas escolhas de vida.
Eu ligo a câmera selfie para poder tirar meu cabelo do rosto. Quando
meus pais me disseram que nos mudaríamos para a Califórnia no outono, e eu
não voltaria para a minha escola, eu nem havia pensado sobre o que isso
significava. Parecia apenas um toque repentino de liberdade – uma chance de
viver minha verdade. Então eu deixei escapar que era trans, e enquanto eu
estava sentado lá em seu silêncio atordoado esperando que eles
respondessem, tudo que eu conseguia pensar era em quão rápido eu poderia
começar a transição. A questão é que eu nem sabia o que era a palavra “trans”
até o primeiro ano, quando aquela garota mergulhou e se colocou na linha ao
se assumir. Claro, houve uma parte de mim que sempre pareceu um pouco
diferente, mas todo mundo sente, certo? Foi só depois de saber sobre outra
pessoa trans que comecei a procurar os termos, a me pesquisar e a pesquisar a
transição. E tudo parecia um sonho distante que eu nunca poderia realizar até
que percebi que deixaria a Flórida para trás para sempre.
Isso foi há apenas três semanas, mas naquele momento, cortei a maior
parte do meu cabelo e comprei metade de um guarda-roupa novo. O
problema é que eu nunca tive o cabelo menor que na altura dos ombros antes,
e eu não sei como estilizá-lo, então ele meio que fica um puf em volta da
minha cabeça.
Estou quase na caixa registradora agora, e posso apenas ver o caixa
bonito parado atrás do balcão. Ele tem pele escura e os olhos castanhos mais
profundos que eu já vi, e um par de óculos hipster acomodado
confortavelmente em seu rosto. Eu gostaria de poder fazer mais pelo meu
cabelo, mas está tudo bem. Eu consigo
Aproximo da caixa registradora e o caixa diz: — Bom dia. O que posso
fazer por você? — Seu crachá diz Ben. Bonito, claro, simples. Eu gosto.
— Oi —, digo com um sorriso, — posso pedir um café com leite de
baunilha médio sem chantilly?
— Absolutamente. Eu procuro agradar.
Eu sorrio.
— Há mais alguma coisa que eu possa fazer por você?
Sim, sim? Você poderia totalmente ser meu namorado. Mas eu apenas
digo: — É só isso. Obrigado, Ben.
Ele sorri e sinto meu coração acelerar. Essa é a parte em que ele me
pergunta como eu sabia seu nome e eu faço uma piada sobre ser capaz de ler
seu crachá, e então estamos rindo, segurando a fila, e ele me passa seu
número de telefone na borda da minha xícara.
Ele diz: — Posso anotar um nome para o pedido?
— Noah, — eu digo.
Ele rabisca em um copinho de papel antes de deslizar pela fila. — Isso vai
ser quatro e vinte e cinco.
Eu entrego a ele meu cartão de crédito – bem, o cartão de crédito que
meus pais me mandaram – e vejo enquanto ele pega o plástico sem dizer uma
palavra.
Finalente, ele olha para mim com uma expressão suave no rosto, e
percebo que este é o momento em que ele me diz que o lembro de alguém de
sua infância. Vamos falar um pouco sobre nossas esperanças e sonhos, e
antes que eu perceba, ele vai me pedir para encontrá-lo nos fundos depois de
seu turno porque ele não consegue se afastar.
Ele diz: — Seu cartão foi recusado.
— Eu… é o quê?
— Você tem outro método de pagamento? — ele pergunta.
Eu balanço minha cabeça. — Você pode tentar de novo?
Ele assobia, passando o cartão mais uma vez antes de balançar sua linda
cabeça e entregar de volta para mim. — Desculpe, não foi. Você tem outro
cartão?
E tipo, não, eu não. Só recebi este há algumas semanas porque meus pais
se sentiram mal por me mandar para o deserto sem dinheiro no meu nome.
Mas então vejo a oportunidade que o destino me apresentou. Posso dizer a
Ben que não tenho dinheiro, que estou sozinha no mundo, sem como pagar, e
ele vai sorrir e dizer: É por conta da casa. Eu não posso resistir à um sorriso
como o seu.
— Não tenho mais nada —, digo.
Ben estremece. — Me desculpe, cara. Vou ter que passar para o próximo
cliente.
Eu não digo nada enquanto saio da fila e caminho até a porta. Então,
talvez as coisas não dêem certo com Ben. Está bem. Honestamente, eu nem
mesmo quero escrever sobre ele no Diário. Acho que é melhor seguirmos
caminhos diferentes.
Pego meu telefone e ligo para minha mãe. Na verdade, não falo com
nenhum dos meus pais há alguns dias. Eu imagino que eles estão ocupados
tentando arrumar uma casa ou algo assim.
A chamada toca por alguns segundos antes de minha mãe finalmente
atender com um, — Sim, querido?
— Meu cartão de crédito não está funcionando. Você pagou?
A linha fica muda por um momento, e posso ouvir alguma distorção
distante ao fundo, provavelmente o rádio de um carro.
— Sim. — Sua voz corta novamente, e eu percebo que é o ponto em que
ela geralmente se dirige a mim pelo nome. Ela tem feito isso menos desde
que eu saí, provavelmente tendo problemas para se lembrar de Noah, uma
vez que não se parece em nada com o meu nome morto. — Eu paguei o
cartão, mas não tenho certeza de como você conseguiu gastar quase
quatrocentos dólares em uma semana.
Eu congelo, parando no meio da calçada. As ruas não estão
particularmente movimentadas, mas a chamada de atenção ainda me faz
sentir como se estivesse em exibição. — Bem, eu tive que pegar caronas em
todos os lugares e, você sabe, despesas.
— O cartão era para ser apenas para comida. Brian disse que a maioria
das coisas estão a uma curta distância, então ele não pode simplesmente levar
você para o resto?
A verdade é que eu estava fazendo muitas coisas sozinho, em parte
porque Brian não queria passar cem por cento do tempo com seu irmão mais
novo, mas também porque esperava achar meu encontro fofo, o que
obviamente ainda é um trabalho em andamento. E, francamente, não sou fã
de caminhar. Além disso, Becca escolhe os locais fofos para conhecer, e eu
não vou dizer a ela para parar de me enviar lugares fofos só porque estão a
alguns quilômetros de distância! — Brian tem estado ocupado —, eu digo, —
e eu tenho comprado comida.
— Eu li os nomes dos fornecedores. Havia uma livraria, uma sorveteria . .
.
— Sorvete é comida! — Eu digo.
Minha mãe suspira, e estou feliz por ter ligado para ela e não para meu
pai. Ele sempre foi mais rígido no que diz respeito aos meus hábitos de
consumo. — Ok, bem, não podemos pagar uma segunda fatura para que você
possa conseguir um sorvete. Eu bloqueei o cartão.
— Espere aí, o que eu faço agora? — Eu pergunto.
Ela ri. — Ser responsável e conseguir um emprego? Tenho certeza de que
seu irmão não se importará em deixar você lá.
O que, sim, ok, talvez, mas definitivamente não era o que eu tinha em
mente para meus planos de verão.
— Eu tenho que ir, — minha mãe diz. — Estamos chegando em casa e
preciso falar com o corretor de imóveis. Talvez peça algum dinheiro ao seu
irmão, se você acha que isso vai ajudar.
Mas eu sei que Brian não vai me dar dinheiro. Ele é pior do que meu pai,
com apenas cerca de um quinto da riqueza.
— Eu amo você. Me liga se precisar de alguma coisa.
Estou prestes a dizer que preciso de dinheiro quando a ligação termina.
Sei que provoquei isso por ser muito determinado com as postagens do
Diário. Não é barato encontrar caras bonitos em cada estética boba, sorvete e
cafeteria da cidade, mas não é nisso que eu quero pensar agora. Inferno, são
dez da manhã, não tomei café e estou preso.
Eu vasculho meus bolsos enormes – eles são provavelmente minha
segunda parte favorita sobre a transição – e pego minha carteira. Eu tenho
algumas notas lá e um cupom Arby's, que eu nem tenho certeza do porque
tenho. Verifico meu aplicativo do Starbucks, mas só tenho uns dois dólares, o
que não chega nem perto de um café com leite.
Eu volto para a rua e começo a andar, esperando encontrar um Dunkin's
ou algum lugar com café barato que por acaso esteja contratando
adolescentes. É muito ridículo minha mãe esperar que eu consiga um
emprego em uma cidade sem carro. Quer dizer, duvido que haja muitos
lugares contratando aqui, mesmo que estejamos bem perto da universidade e
de algumas lojas decentes e, francamente, não quero contar com meu irmão
me levando para o trabalho. Isso é impossível.
Continuo andando até encontrar uma cafeteria anunciando um especial de
um dólar. Entro, pago em dinheiro e escolho uma mesinha lateral sob uma
estante alta. Não é o mais fofo, mas serve. Assim que pego minha xícara com
uma pequena flor de espuma flutuando no topo, eu a seguro tempo suficiente
para tirar a selfie perfeita. Ok, para tirar quinze selfies ruins e uma que eu
goste.
Indo contra meu próprio interesse, abro o aplicativo Tumblr e verifico a
contagem de seguidores do Diário. Droga. Já perdi mais duzentos nesta
manhã. Quem quer que seja esse troll, eles não vieram para brincar e estão
matando meus seguidores como moscas.
Volto ao blog deles para me torturar um pouco mais. É convincente,
usando os menores detalhes que escrevi nas histórias para apontar exatamente
onde elas deveriam acontecer e adicionando detalhes sobre cada local que
aparentemente refutam as histórias. Além disso, eles têm fontes e estatísticas
sobre quantas pessoas trans vivem em Miami – de onde eles rastrearam todas
as primeiras histórias – e sobre como é quase impossível haver tantas
histórias fofas.
E, honestamente, isso me irrita. Não sou o primeiro blogueiro a ser alvo
de alguém aleatório com muito tempo disponível e uma barra de pesquisa do
Google funcionando, e eles estão certos de que os encontros não são reais,
mas são histórias. Que tipo de perdedor você tem que ser para gastar seu
tempo desmascarando todas as histórias fofas que encontrar nas redes
sociais? E mesmo que não sejam reais, eles dão esperança às pessoas. Não é
isso que importa?
Quando minha raiva começa a queimar mais quente que o meu café,
desisto de salvar meu dia e mando uma mensagem para Brian me buscar,
dizendo: Mamãe bloqueou meu cartão. Vem me buscar.
Estou na orientação. Me manda o endereço que eu vou te buscar
quando terminar aqui.
Então eu mando, e me encontro sentado na calçada, odiando minha vida
pelas próximas três horas.
DebunkingMCD postou:
Já que vocês ainda não acreditam em mim, aqui estão mais alguns
links para vocês. Apenas 0,6% da população é trans, a cidade de
Miami tem menos de quinhentas mil pessoas e apenas 6% dessa
população tem entre quinze e dezenove anos. Isso deixa cento e
oitenta pessoas potencialmente destacadas em mais de uma centena de
histórias postadas neste blog. Devemos acreditar que uma a cada duas
pessoas trans em Miami está tendo a história de amor definitiva?

Byawndone respondeu: Uau, nunca pensei nisso dessa forma. Acho


que isso não faz muito sentido, não é?
Bdpwsqr respondeu: São apenas números! Talvez algumas pessoas
tivessem vários encontros fofos? E algumas pessoas estão no
armário!
Ilybromine respondeu: Ugh, Sabia que era muito bom para ser
verdade
Carregar mais comentários . . .
Não consigo escrever no Diário. Provavelmente é um tiro no meu pé, já que,
na verdade, eu deveria estar online provando às pessoas que o amor é real,
mas não consigo superar o nó no estômago. Só quero dormir para sempre, ou
pelo menos até que minha mãe restaure meu cartão de crédito.
Eu me esqueço completamente de ter concordado em ir ao jogo de trivia
até que Brian bate na porta do armário com, — Noah, devemos sair em cinco
minutos, e eu preciso dos meus sapatos.
Então eu levanto relutante, usando um pouco de água remodelo meu
cabelo crespo e borrifo um pouco de colônia leve para que pelo menos cheire
como se eu tivesse tentado.
Entramos no carro sem falar e Brian liga alguma estação de rock clássico
antes de sair para a rua. Depois de alguns minutos, ele diz: — Então, além de
perder sua única fonte de renda, como foi o dia de hoje?
Desde que me assumi para ele, não há muitos segredos entre nós, mas ele
não sabe sobre o Diário. Tipo, claro, ele sabe que eu tenho um blog e passo a
maior parte da minha vida na internet, mas ele não conhece nenhum dos
detalhes, e pretendo que continue assim. Além do fato de que ele acha que é
inútil e imaturo, eu simplesmente não quero que as pessoas saibam sobre
isso. É coisa minha, e um pouco coisa da Becca, mas de mais ninguém.
Eu dou de ombros. — Foi bom, eu acho. Como foi a orientação?
— Bem tranquilo. Sou amigo de algumas pessoas que trabalham no
acampamento, então acabei de assumir o cargo de conselheiro para me
manter ocupado durante o verão. Mamãe está fazendo você arrumar um
emprego?
Eu aceno, observando as montanhas ao longe. Deus, elas são lindas. É tão
fácil fingir que nunca morei na Flórida, e se eu não odiasse tanto o ar livre,
elas podiam até ser um ótimo material para o Diário, mas do jeito que está,
vou precisar pelo menos ganhar dinheiro suficiente para continuar minha
caçada de encontros fofos de sempre, se vou continuar postando e ter uma
chance contra o troll.
— Já era hora, considerando que você nunca trabalhou um dia na vida.
Eu reviro meus olhos.
— Você quer trabalhar no acampamento? — Brian pergunta. — Eu posso
conseguir um emprego para você. Se eu disser a eles que você é minha ir…
— ele congela antes de terminar — . . .mão, tenho certeza que eles vão ficar
bem com isso.
Eu sorrio, me virando para ele. — Boa defesa.
Ele suspira. — Eu sinto muito.
E eu sei que ele sente, mas com certeza é engraçado ver como ele fica
confuso depois que ele fala errado, como se finalmente eu fosse o irmão
legal, e ele é o estranho tentando acompanhar meus movimentos.
— Acho que vou conseguir um emprego sozinho —, digo. — Sem
ofensa, mas morar com você e trabalhar com você parece um pouco extremo.
Ele sorri. — Sim, eu entendo. Só me avise se precisar de ajuda ou algo do
tipo.
Eu sorrio de volta. — Você vai se arrepender disso.
Acabamos em uma cervejaria que serve hambúrgueres caríssimos e
duzentas cervejas diferentes. Todas elas parecem iguais para mim, então eu
não me preocupo em contar. Maggie já está nos esperando lá com alguns
caras e a garota negra do churrasco. Ela dá um beijo rápido na bochecha de
Brian, e eu me pergunto se eles estão se segurando porque eu estou lá. Eu
poderia lembrá-los de que tenho dezesseis anos e não sou facilmente
corrompido por demonstrações de afeto em público, mas então, eu não me
importo que eles se mantenham na “indicação livre”.
Maggie anota todos os nossos nomes e nós nos amontoamos ao redor da
mesa enquanto ela grita: — Ok, se você sabe a resposta, me fala, mas não
muito alto, e eu anoto. Não quero que outras equipes roubem nossos pontos.
Parece bastante redundante, já que mal consigo ouvir o que ela está
dizendo a meio metro da minha cara e, francamente, não estou
particularmente ansioso para chegar mais perto dela do que já estou.
Espero até que Brian decida pedir algo antes de fazer o pedido também,
pois não posso pagar e sei que ele não vai me deixar lavando pratos. As
perguntas voam e tento pensar sobre as primeiras, mas sou péssimo em trivia
e nem sei do que o mestre de cerimônias está falando. Eu só fico checando
meu telefone, vendo minha contagem de seguidores travar e queimar mais do
que as piadas de merda do mestre de cerimônias.
Minhas DMs estão lotadas com algumas mensagens bem desagradáveis
também. Algumas pessoas me chamam de mentiroso, algumas pessoas me
chamam de abusador e algumas pessoas me chamam de coisas tão vulgares
que eu passo pelas palavras porque parece sujo até mesmo reconhecer que
elas estão lá. E sim, há algumas mensagens positivas, algumas pessoas me
pedindo para refutar as afirmações contra o Diário, mas minha mente se
concentra nos ataques. Eu sei que não deveria responder a eles e alimentar o
fogo, mas eu meio que quero xingar alguns deles para tirar um pouco dessa
raiva do meu sistema.
— Oye, chega de telefone, — Brian chia, pegando meu telefone da minha
mão.
Eu afasto sua mão antes que ele possa tocar, mas acho que ele venceu de
qualquer maneira, já que tirou minha atenção do Diário. — Pare de ser chato.
— Viva um pouco —, diz Brian. — Seus amigos do blog podem esperar.
— Eles são chamados de seguidores, o que você saberia se não tivesse
nascido no início do milênio —, eu digo.
Brian gagueja.
— Então, você está gostando de Denver até agora, Noah?
Eu me viro para ver Maggie sorrindo para mim. Ela tem os lábios mais
finos deste lado do Pacífico, mas ela faz funcionar com um toque de brilho
labial.
— É legal. — Não quero dizer que está muito frio para um verão e que
gostaria de estar em Chicago ou em algum lugar onde tudo esteja a menos de
um quilômetro de distância. Sério, eu não sei por que Brian queria ir para a
faculdade aqui. Claro, nossa antiga diretora, Sra. Cabrera, era ex-aluna da UC
Denver – e todos a amavam, entre a natureza maternal e as imitações precisas
de personagens – mas ainda não acho nenhum dos elogios que ela tinha para
a faculdade supera o clima e a falta de pessoas de cor.
— Ele vai gostar ainda mais quando conseguir um emprego —, diz Brian.
Ele mexe o canudo em sua água, o que é estranho, porque eu não acho que já
vi Brian exibir um tique nervoso antes. Ele deve gostar de Maggie. Suspiro.
— Oh, você está procurando um emprego? — ela pergunta.
Eu resisto à vontade de revirar os olhos. Se ela é tão importante para
Brian, provavelmente é melhor que eu não a afugente com minha sagacidade
mordaz e sarcasmo de grau A. — Sim, você sabe, tenho que carregar meu
peso.
— Minha livraria favorita está contratando, por coincidência. Você
deveria dar uma olhada —, ela diz.
Eu fico olhando para ela sem expressão porque trabalhar em uma livraria
parece chato e, se eu não queria que Brian me arranjasse um emprego, a
última coisa que eu preciso é um emprego arrumado pela sua namorada.
Ela não parece perceber que meu olhar não está pedindo para ela
continuar, porque ela enfia a mão em sua pequena bolsa Kate Spade e tira um
cartão de visita. — Eles são pequenos e vendem principalmente livros locais,
mas o proprietário é muito legal. Pode ser um bom trabalho de verão para
você.
Pego o cartão porque Brian está olhando e coloco no bolso. Não posso
dizer que não estou planejando ir atrás da oferta, mas posso tentar ser
educado.
— É aquele que faz todas aquelas leituras e outras coisas? — Brian
pergunta, e é tão vago que não tenho certeza se ele conhece o lugar ou apenas
acha que isso o faz parecer mais impressionante.
— Sim, é esse mesmo —, diz Maggie. Ela pisca para mim e diz: —
Quando você estiver trabalhando lá, deveria totalmente me dar um desconto.
Eu sorrio com a piada – pelo menos, espero que seja uma piada – e volto
para o meu telefone. Estou com pouco mais de mil seguidores nesta manhã e
meu estômago está revirando. Sim, o Meet Cute Diary não está indo muito
bem. Vou ter que encontrar um jeito de parar aquele troll antes que a coisa
toda acabe em chamas.
Passo 2: A Ajuda do Destino
O momento em que o Destino os junta sem se importar
com os motivos, e você percebe que não é algo do qual
você pode simplesmente se afastar
Inbox (36)
Hannahm3421 perguntou: Caro Noah, a próxima história do Diário
sairá logo? Eu tive uma noite muito difícil ontem à noite e fui ler um
novo post apenas para ver que li todos os mais recentes. Eu sei que
alguém disse algumas coisas ruins sobre o Diário, mas as pessoas
ainda estão enviando, certo?
Quarta de manhã, Brian vai trabalhar e eu estou preso no sofá pesquisando
empregos em potencial enquanto Becca vai ao dentista. Ela diz que a
recepcionista de lá é super gostosa, mas eu também não sei o que ela acha
que vai sair de tentar namorar uma garota que provavelmente é pelo menos
alguns anos mais velha do que nós. Mas então, Becca sempre foi mais do
lado de “olhar as vitrines” do namoro, então talvez ela não se importe com
isso.
De qualquer forma, levará pelo menos uma hora antes que ela me mande
todos os detalhes, então estou na minha terceira página de pesquisa na
esperança de ser produtivo. Quer dizer, eu poderia “ir para a cidade”, como
meu pai costumava dizer, mas ninguém mais contrata assim. O problema é –
bem, há muitos problemas: minha idade, minha falta de diploma
universitário, minha experiência zero e minha falta de habilidades especiais.
Eu coloco meu telefone de lado e, por um momento, até considero
desligá-lo. Cada segundo que tenho meu telefone na mão é mais um segundo
que me sinto obrigado a folhear minha caixa de entrada e ver todas as
mensagens grosseiras que chegam. Respondi a algumas das respostas
positivas, agradecendo o apoio e apresentei uma declaração dizendo aos meus
seguidores para não acreditarem no troll, mas, fora isso, não sei o que dizer, e
cada mensagem me faz sentir mais culpado por não ter uma resposta. Becca e
eu devemos pensar em um plano para consertar tudo assim que ela tiver
algum tempo livre, então, por enquanto, eu meio que quero fingir que nada
existe – sem trabalho, sem diário e definitivamente sem trolls para arruinar
minha vida.
Então penso naquele pequeno cartão de visita que Maggie me entregou
ontem à noite. Bem, a coisa do troll me fez pensar em Maggie, e então
cheguei no cartão de visita. É toda uma reação em cadeia. De qualquer forma,
eu odeio a ideia de dever um favor a ela, mas se for um trabalho simples,
posso ficar apenas o tempo suficiente para ganhar algum dinheiro rápido, isso
me dará tempo para resolver toda a situação com o Meet Cute Diary. Ou,
melhor ainda, vai me distrair por tempo suficiente para que o problema
desapareça.
Eu me levanto e vasculho minha pilha de roupa suja para encontrar o
cartão escondido em minhas calças.
Eu começo buscando o lugar no Instagram. Não sei há quanto tempo eles
existem, mas o lugar parece um pouco antigo, com linhas de musgo ao longo
do lado de fora, e há um pequeno café no pátio, então espero poder tomar um
café grátis quando trabalhar lá.
O lugar se chama Sur La Page Books, e eu digito no Google para procurar
escândalos óbvios ou impasses que ameacem a vida. Depois de esclarecer
isso, eu decido ligar para eles e ver se contratam adolescentes.
O telefone toca algumas vezes e uma voz profunda vem do outro lado da
linha: — Oi, o que posso fazer por você?
O que parece uma introdução desejosa, mas digo: — Oi, gostaria de saber
se vocês aceitam inscrições de emprego?
— Hum, sim, claro, eu acho —, o cara diz. — Não sei qual é o processo
oficial. Só me dê um minuto.
Eu fico parado enquanto o cara abaixa o telefone, o som de passos e
conversas abafadas ao longe. Alguns instantes se passam antes que ele volte e
diga: — Ei, desculpe, na verdade não aceitamos inscrições, mas se você
quiser vir mais tarde, pode dar uma entrevista.
— Mais tarde? Hoje?
— Sim, você pode fazer uma da tarde?
Eu olho para o relógio do meu telefone. É um pouco depois do meio-dia.
Não tenho dinheiro para carona, mas provavelmente é apenas uma caminhada
de cerca de vinte minutos, então, se eu sair logo, posso chegar a tempo. Quer
dizer, essa é uma oferta muito repentina, e eu consideraria isso um sinal, se
alguma vez tivesse visto um.
— Claro —, eu digo.
— Legal. Eu vou avisar ela que você está vindo.
A linha morre antes que eu possa perguntar quem ela é e o que
exatamente eu deveria estar vestindo para a tal entrevista, mas está tudo bem.
Se o destino está me pressionando para conseguir este trabalho, então é
melhor eu seguir o fluxo e dar uma olhada.
Eu não tenho nada nem vagamente elegante desde as renovações do meu
guarda-roupa, mas eu finjo – jeans preto um pouco limpo, uma camiseta sob
o colete. Nunca fiz uma entrevista de emprego antes e tudo que tenho como
referência é Queer Eye, mas também não tenho muito com que trabalhar,
então corto minhas perdas e sigo em frente. Então pego um currículo que fiz
em minha aula de informática no primeiro ano, mudo as informações de
contato e imprimo-o antes de sair correndo.
Demoro meia hora para caminhar até a livraria, e tenho certeza de que
isso tem muito pouco a ver com o fato de que estou extremamente fora de
forma. Parece sim como nas fotos do Instagram, tirando o fato de que é um
pouco maior pessoalmente, preso entre dois pontos de venda vazios que
parecem estar assim há muito tempo.
Quando eu passo pela primeira vez pela soleira, um pequeno sino toca, e
o cara do telefone grita: — Um segundo!
Minha primeira impressão é que há muito lixo neste lugar. Caixas e mais
caixas de livros se alinham no chão, trocadilhos cafonas cobrem as paredes e
um cheiro suave de canela me envolve. Eu ouço passos antes de ver o cara
enquanto ele passa pelo enorme estoque de livros.
Então eu congelo. É o cara da sorveteria.
Agradeço silenciosamente aos deuses fofos.
— Oi, posso ajudar em alguma coisa? — ele pergunta. Ele parece um
pouco diferente do que quando o encontrei na sorveteria – seu cabelo está um
pouco mais bagunçado, suas roupas um pouco mais casuais, nenhum grupo
de amigos o ladeando – mas seus olhos são tão sonhadores quanto. Ele não
parece me reconhecer, mas talvez ele esteja apenas indo com calma, tentando
desacelerar sua respiração enquanto seu coração dispara com a simples visão
de mim.
Eu o sigo. — Sim, estou aqui para a entrevista.
— Oh —, diz ele como se estivesse surpreso por eu ser o cara do telefone.
Eu conheço a sensação.
E minha voz tende a ser três oitavas mais alta pessoalmente. Ainda não
desaprendi esse hábito.
— Me dê um segundo. Amy está lá atrás.
Ele corre de volta pela pilha de livros, e me pergunto se deveria ter lido
mais antes de vir. Quero dizer, eles não me deram muito tempo para me
preparar para a entrevista. Se alguém perguntar, meu autor favorito é
Fitzgerald porque eu amo frutas, especialmente quando estão com raiva.
É disso que se trata, certo? Talvez eu não devesse ter obtido todo o meu
conhecimento de The Grapes of Wrath de VeggieTales.
Uma mulher grita: — Desculpe! — E então eu a vejo correndo para me
encontrar. Ela é baixa, gordinha, seu cabelo em um corte meio pixie. — Oi,
você está aqui para a entrevista, certo?
— Certo —, eu digo, entregando meu currículo.
Ela sorri e pega sem olhar para ele, depois aperta minha mão. Ela é uma
daquelas senhoras brancas de meia-idade que exageram dramaticamente e
usam as mãos para ilustrar, nem sei o quê. — Eu sou Amy —, ela diz. —
Qual é o seu nome, querido?
— Noah.
— É um prazer conhecê-lo, Noah. Então, tudo que eu procuro é tipo,
alguém para ficar de olho na loja. Tenho muitas coisas para fazer nos
bastidores e não posso deixar Drew no caixa o dia todo sem uma pausa.
Aparentemente, é um crime ou algo assim.
Ela ri e eu forço um sorriso. Drew, hein?
— De qualquer forma —, diz ela, — não dá muito trabalho. Você só
precisa cuidar do caixa e ajudar os clientes a encontrar coisas se estiverem
procurando. Toda a loja está organizada em ordem alfabética.
Eu olho em volta para os livros espalhados porque eu duvido que seja
organizado, mas eu não interrompo. É um milagre que esta senhora esteja até
mesmo me considerando neste momento.
— Qualquer um —, ela diz, — o que você acha? Você gosta de livros?
Eu concordo. — Sim, Fitzgerald é ótimo.
Ela ri, batendo em meu ombro. — Você lê clássicos? Você me pareceu
mais um garoto que lê mangá.
Eu pisco — Espere, isso conta?
— Sim, claro que faz. — Ela ri, me conduzindo mais para dentro da loja.
— Temos uma sessão inteira para isso. Essas crianças vêm aqui e estão
famintas. De que tipo você gosta?
— Tudo isso —, digo, minha mente vagando em direção à enorme pilha
de mangás que empacotei antes da mudança. Agora está tudo na Califórnia,
provavelmente acumulando poeira em algum armazenamento público. Tendo
crescido com os avós japoneses, sempre gostei de animes, mangás e aqueles
programas de ação cafonas com artes marciais especializadas, mas
principalmente os afastei na escola primária quando todos começaram a me
chamar de weeb ou a me pedir para ser waifu ou o que quer que seja. Eu
estava tipo, como eu posso aproveitar essa parte da minha cultura quando as
pessoas a transformaram em uma moda passageira e uma piada? Mas eu
nunca desisti do mangá. É apenas o único lugar onde ainda posso encontrar
uma narrativa que reconhece essa parte da minha herança.
Claro, todos os professores e bibliotecários que conheci deixaram bem
claro que qualquer coisa com imagens não contava como um livro "real"
depois que você passava dos tipo. . . seis anos. Então, livros com imagens,
direção de texto invertida e narrativas orientais? Definitivamente não. E,
francamente, embora o mangá sempre tenha sido uma grande inspiração para
mim em termos de histórias, não consigo me lembrar da última vez que falei
sobre isso.
— Eu comecei esta nova série sobre uma garota que está fugindo dessa
maldição. . .
— Este é popular. As crianças vêm aqui querendo falar sobre isso por
horas e, bem, eu simplesmente não entendo —, diz ela, balançando as mãos
no ar. — Academia alguma coisa. Boca alguma coisa?
— Boku No Hero Academia?
— Sim, é esse mesmo! Você leu?
Dou de ombros porque, sim, eu li, mas ela não precisa saber até que ponto
eu li.
— Adorável! Tenho algumas perguntas para você, só para ver se você se
sairá bem aqui.
— Legal, estou pronto! — Eu digo.
— Digamos que um cliente chegue com uma devolução, mas não tenha o
recibo —, diz Amy. — O que você pode fazer em uma situação como essa?
— Devolver o livro?
— Não, não —, ela diz, balançando a cabeça. — Se eles não têm recibo,
não sabemos se compraram o livro em nossa loja. Então, o que você
consideraria fazer em uma situação como essa? Sinta-se à vontade para
pensar um pouco.
Eu paro, pesando a situação.
Sinceramente, não sei nada sobre como trabalhar no varejo e,
francamente, o capitalismo é uma farsa, então, se essa pessoa quiser devolver
o livro, quem sou eu para dizer não? Mas, obviamente, Amy está procurando
um tipo específico de resposta aqui, então preciso agir com cuidado.
Por fim, digo: — Posso perguntar onde compraram o livro?
Amy suspira. — Claro, mas se eles vão devolvê-lo à nossa loja, já
sabemos a resposta. E daí se eles roubaram ou algo assim? Não vamos apenas
dar a eles um reembolso, certo?
— Então eu deveria. . . chamar a policía?
Os olhos de Amy se arregalam. Drew nos espia por trás do balcão,
segurando o riso. Finalmente, Amy suspira novamente, colocando a mão no
meu ombro enquanto diz: — Noah, você parece um garoto legal, mas estou
pensando que talvez você não tenha talento para trabalhar com vendas.
— Eu. . . ah.
Amy se manda para a sala dos fundos, e eu fico lá congelado por um
momento, a vergonha tomando conta de mim. Bem, pelo menos não devo
esse favor a Maggie agora.
Um assobio atravessa a loja, e eu olho para cima para encontrar Drew
acenando para mim.
Claro, eu poderia simplesmente deixar a loja e me salvar de mais
humilhação, ou poderia tomar isso como a Mão do Destino, o Destino nos
aproximando contanto que eu pudesse agarrá-la.
Eu me arrasto até o balcão e digo: — Então, você viu isso, hein?
Drew ri, inclinando-se contra o balcão. — Eu assumo que tenha sido a
sua primeira entrevista.
— De emprego? Sim —, eu digo. — Já fiz entrevistas pessoais, mas
apenas coisas online.
— Oh, que tipo de coisa? — ele diz.
E faço uma pausa porque não esperava que ele me perguntasse sobre isso,
então não pensei que mencionar seria uma grande coisa. Mas é claro que são
todas coisas do Diário que eu não consigo falar em uma conversa casual,
então eu olho para a pilha de livros e me apresso para mudar de assunto.
— Este lugar não deveria estar em ordem alfabética ou algo assim?
Ele estremece, seguindo meus olhar pela loja. — Bem, sim, deveria, mas
há alguns novos lançamentos que foram chegando esta semana, então
estamos meio atolados. Posso te ajudar a encontrar algo?
Eu dou de ombros, inclinando minha cabeça em direção a ele. — Acho
que estou apenas apreciando a paisagem.
Ele sorri e, uau, é super fofo e é exatamente o tipo de reação que eu
esperava. Dentes brancos perfeitos contra lábios rosados perfeitos. Eu
imagino que ele beija bem. Esta é a parte em que ele fala sobre seu amor
apaixonado por livros, e então ele diz alguma frase cafona sobre isso não ser
tudo pelo que ele é apaixonado, e antes que você perceba, estamos nos
beijando em uma pilha de livros, ganhando pedaços de papéis em lugares
estranhos.
— Você está bem? — ele pergunta, levantando uma sobrancelha. —
Você parece muito feliz.
— Oh o que? Sim, estou ótimo. Estou aliviado porque a entrevista
acabou. — Eu dou risada.
Ele ri, e é um som muito bom. Como sinos de vento, ou aquele cover de
Haley Reinhart de "Can't Help Falling in Love". Então ele diz: — Desculpe,
não foi tão bem. Você gosta de café? Temos um café no pátio que só
funciona quando o verão começa oficialmente, em junho, mas posso fazer
algo para você agora mesmo, se quiser. Considere isso um prêmio de
consolação, já que você veio até aqui.
Oh meu Deus. Ele está me chamando para um café. — Eu adoraria um
latte de baunilha.
Ele sorri. — Clássico. Eu vou fazer. Olha o caixa?
— Entendido.
Eu deslizo para trás da caixa registradora como se fosse chegar algum
cliente e apenas me balanço nos meus calcanhares enquanto Drew volta para
trás. Eu acho que seria rude estar no meu telefone enquanto estou no balcão,
mas eu quero enviar uma mensagem de texto para Becca e dizer a ela como
essa coisa toda está indo bem. Quer dizer, quais são as chances de eu tropeçar
no cara da sorveteria de novo? E agora ele está me fazendo café, que é
exatamente o tipo de criatividade que preciso em um parceiro perfeito.
Poucos minutos depois, Drew volta para a sala com um copinho de papel.
Não tem o padrão floral de leite que eu esperava, mas acho que ainda conta
para a criatividade. Quero dizer, ele fez, então isso é definitivamente um
começo.
Eu felizmente aceito, sorrindo enquanto tomo um gole e engasgo.
— Você está bem? — Drew pergunta, um sorriso bobo no rosto.
Eu concordo. — Sim, só está quente —, eu digo, o que não é totalmente
verdade. Quer dizer, sim, está quente, mas também está muito amargo, como
se ele tivesse esquecido que a baunilha é um ingrediente dos lattes de
baunilha. Mas tudo bem. Não estou recusando o café de graça, especialmente
o café de graça feito só para mim por um garoto lindo.
— Então, você é tipo um grande nerd literário? — ele pergunta.
Eu rio. — Não mesmo.
— Então, por que se candidatar para trabalhar em uma livraria?
— Vou ficar aqui com meu irmão durante o verão e preciso de dinheiro
—, digo. Eu dou uma olhada na desordem e seguro para não estremecer. — A
namorada dele recomendou o trabalho.
— Você não gosta dela?
Eu inclino meu rosto para baixo. — Eu não disse isso.
Ele sorri. — Não precisava. Seu tom disse isso por você.
— Eu não desgosto dela. Ela só… eu não sei. Não é o meu tipo de pessoa,
eu acho.
— Isso importa? Quero dizer, ela está namorando seu irmão, não você —,
diz ele.
Eu aceno porque eu sei que ele está certo, e se Brian gosta dela, isso é
tudo o que importa, mas também é uma pena quando alguém de quem você
gosta está com alguém que você odeia. Especialmente quando esse alguém
está lentamente os transformando em outra pessoa. — Eu acho que uma parte
de mim se sente um pouco excluído, sabe? Como se ele se aproximar dela,
isso pode significar me afastar para passar mais tempo com ela.
E, honestamente, não acredito que acabei de dizer isso. Eu nunca fui
muito aberto sobre minhas inseguranças, mas essa em particular não é nem
mesmo algo que eu disse a Becca.
Já estou impressionado com o quão confortável me sinto perto dele, como
se ele estivesse lentamente me abrindo e derramando meus segredos mais
profundos no balcão.
Drew sorri, mas acho que deve ser um daqueles sorrisos tranquilizadores.
— Tenho certeza de que você não será excluído. Quero dizer, você é família.
Você estava por perto primeiro.
Eu dou de ombros. — Sim, mas primeiro nem sempre significa melhor.
E Deus, eu odeio isso.
Quinta-feira, 31 de maio

MeetCuteDiary postou:
Tudo começou em uma padaria, nós dois capturando o olhar um
do outro lado da sala e minha respiração foi varrida quase
imediatamente. Não tive coragem de falar com ele e fui para casa sem
esperança, sabendo que nunca mais o veria.
Então, quando entrei na livraria no dia seguinte, todo bem vestido
para minha entrevista, a última coisa que eu esperava era encontrá-lo
ali como se o destino estivesse nos unindo. Enquanto ele folheava um
livro no balcão da frente, seu corpo congelou, seus olhos erguendo-se
para encontrar os meus.
— Oi —, ele disse. Ele parou por um momento, como se seu
coração estivesse batendo muito rápido para ele pensar. — Você
deve… você está aqui para a entrevista?
Eu balancei a cabeça lentamente. — Eu estou.
Ele sorriu. — Vou chamar o gerente. — Ele se virou para se
retirar para a sala dos fundos e fez uma pausa, sua mão vagando
preguiçosamente em direção ao seu cabelo escuro e encaracolado. Ele
se virou lentamente, com os olhos arregalados ao dizer: —
Independentemente do que aconteça na entrevista, você gostaria de
tomar um café comigo mais tarde?
Eu sorri. — Eu adoraria.
E estamos namorando desde então.
Anônimo

Roseybride respondeu: Isso é incrível! Eu amei vocês terem se


encontrado outra vez!
Crystalsandgems respondeu: Isso é tão fofo! Eu quero uma história
assim.
Thedemonsangel respondeu: Essa história é tão fofa. Pena que
provavelmente é falsa.
Carregar mais comentários . . .
— Ele te chamou para tomar um café? — Becca pergunta.
Encolho os ombros. — Ele fez café para mim. É ainda mais fofo. Você
adicionou criatividade na minha lista, certo?
Quando Becca e eu decidimos mergulhar no cenário do namoro, também
escrevemos um para o outro uma lista de qualidades de namorado aprovadas
pelo melhor amigo. Fui super minucioso com a dela, me certificando de
incluir coisas como “deve reconhecer que 1989 é melhor que Reputation” e
“melhor não comer a pipoca em encontros no cinema”. Coisas que
importam, mas podem passar despercebidas no calor do momento. Eu só me
preocupo, às vezes, que ela possa ter sido um pouco relaxada com o meu, já
que ela nunca levou esse tipo de coisa muito a sério. Nós dois juramos que
não os leríamos de verdade até que estivéssemos certos de que encontramos
“aquele”, e há anos venho tentando fazer com que Becca fale, mas sou um
bom amigo que mantém o que promete então a lista que ela escreveu para
mim ainda está escondida em uma caixa de sapatos debaixo da minha cama.
Becca revira os olhos. — Colocar uma K-Cup em um Keurig não é
criatividade.
— Foi um latte. É fofo e conta —, digo. — Acho que há muito potencial
aí. Eu diria que já estamos na segunda etapa.
— Como?
Eu reviro meus olhos. — Meus Doze Passos para o Relacionamento
Perfeito? Etapa dois: a mão do destino. É quando o destino os une apesar de
tudo. Eu preciso te dar um panfleto?
— Ok, Noah, chega de livros de romance para você.
Isso é um tipo de exagero, já que a maior parte da minha experiência de
romance vem de fan fiction e Wattpad, que Becca sabe, já que foi ela quem
me indicou as fan fictions em primeiro lugar. a maioria dos meus fandoms
vem de Becca. Ela sempre foi muito melhor em coisas da mídia, e é mais
divertido assistir suas críticas a qualquer programa novo que ela esteja
assistindo enquanto eu aponto todos os personagens fictícios do que sentar no
meu quarto lendo mangá sozinho. Ou, pelo menos, foi quando ainda
podíamos assistir as coisas pessoalmente.
— Eu não preciso deles. Vou viver o romance dos livros —, digo, o que é
meio lamentável. — De qualquer forma, como foi seu dia com a Dentista
Querida?
Becca revira os olhos, mas já posso ver um rubor subindo por suas
bochechas. — Foi bom. Meus dentes estavam limpos como de costume.
— Ok, mas você pelo menos conseguiu o número dela?
— Não, não consegui, porque isso seria estranho e eu gostaria de poder
voltar a minha dentista, obrigado.
Isso é justo, mas enquanto Becca sempre enfatiza que acha que estou me
jogando no oceano do amor sem nada para me proteger das ondas, ela está
com muito medo de sair do maldito cais. E, claro, eu poderia dar ênfase em
tudo. Você não pode encontrar o amor se não correr riscos, mas eu sei que
ela dirá que está perfeitamente bem com isso. É como se ela não pudesse
fazer nada sem seus pais aparecendo na parte de trás de sua cabeça e a
acorrentando
— Olha, deixa que eu cuido da minha própria vida amorosa —, diz
Becca. — Vá se perder fantasiando com caras que você nunca mais verá.
Ignoro o comentário dela e digo: — Sou seu melhor amigo e especialista
em romance de nossa dupla. Ajudar com sua vida amorosa é meio que meu
trabalho.
Ela resmunga. — Apenas me deixe entender as coisas aqui, ok? Você está
a mil milhas de distância. Não faz sentido para você tentar controlar isso.
E eu não posso fingir que não machuca, porque eu sei que a distância nos
separa, mas isso não significa que ela tem que deixar isso ficar entre nós.
Finalmente, suspiro e digo: — Tudo bem. Então, sobre o diário. O que eu
faço?
Becca suspira também, mas é seu suspiro longo e doloroso, aquele que
diz eu quero ajudar você, mas não faço milagres. — Acho que a melhor
coisa que você pode fazer é tentar refutar o troll, certo?
— Tudo bem —, digo, — mas como posso refutar um troll, sendo que ele
está certo?
E muito, muito dedicado. Eles fazem novas postagens a cada poucas
horas – provavelmente têm uma fila inteira cheia deles – e eu fiquei em
silêncio sobre o Diário desde que começaram. Espero que a história da
livraria Babe Meet Cute seja o suficiente para distrair as pessoas por um
tempo, mas, honestamente, sinto que estou apenas colocando um band-aid em
um machucado infeccionado. É só uma questão de tempo antes que todo o
membro seja amputado.
— Nós só temos que separar algumas das falhas em sua lógica —, diz
Becca.
— Tipo, por exemplo, eles começam citando estatísticas sobre a
quantidade de pessoas que moram em Miami, certo? Mas todo mundo sabe
que Miami é uma armadilha para os turistas. Você pode apenas dizer que as
pessoas estavam visitando.
Não é o pior plano, mas parece um pouco fraco. É fácil perder a confiança
das pessoas, mas não é tão fácil recuperá-la.
— Você acha que eles vão acreditar se eu postar isso? — Eu digo.
Becca ri. — Claro que não. Vou postar em um blog separado. Eles
estarão mais propensos a acreditar se vier de alguém não filiado ao Diário.
— Legal! Te amo! — falo, e só assim, parece que Becca está de volta
para resolver todos os meus problemas, como ela sempre fez.
Passo 3: O Convite
É o primeiro passo na direção de algo mais íntimo, o
momento em que a pessoa oferece e a outra diz “Sim.”
Inbox (57)
Emsayshey perguntou: oi noah. queria agradecer por continuar com o
mcd. ver outras pessoas trans falando sobre suas histórias de amor
todos os dias me faz seguir em frente. me faz sentir como se houvesse
o mesmo esperando por mim, e eu só tenho que continuar vivendo
tempo suficiente para isso acontecer. mas o blog do tal hater está
tornando difícil ser um fã do diário. você pode pedir a alguns dos
anons que enviaram suas histórias para deixar alguma prova para que
as pessoas parem de acreditar nos haters? valeu!
Na manhã seguinte, acordo com o som de Brian batendo a porta ao sair e
imediatamente verifico o Diário. Eu ainda estou perdendo seguidores, então
eu mando uma mensagem para Becca tipo Ei, fez o post ou não? mas ela não
responde, então eu leio algumas mensagens que só me deixam infeliz antes
de finalmente rastejar para fora da cama
Vou para a cozinha para esquentar alguns restos de arroz con pollo da
noite passada. Parte do impulso culinário de Brian envolve abraçar nossa
herança cultural – branco e japonês do lado da nossa mãe e afro-caribenho do
lado do nosso pai – pela primeira vez em seus dezenove anos no planeta. Não
é nada espetacular, mas é bom ter algo que pelo menos tenha gosto de casa
enquanto estou tão longe.
Meu polegar abre o aplicativo Tumblr com a memória muscular, e eu
verifico minhas notificações recentes para ver mais pessoas comentando
sobre o encontro fofo na livraria. Apesar de toda a negatividade, ainda há um
bom número de comentaristas empolgados, então não posso ficar muito
chateado. Então, sinto meu estômago embrulhar ao me lembrar da entrevista
de ontem. Sim, isso foi muito humilhante, e não posso dizer que estou pronto
para enfrentar o mundo da procura de emprego novamente, mas também
estou um pouco triste com Drew. Bem, com o fato de que provavelmente
nunca o verei novamente, já que não consegui o emprego.
Estou terminando o café da manhã quando meu telefone toca, e meu
primeiro instinto é jogá-lo do outro lado da sala porque meu telefone nunca
toca. Quer dizer, às vezes minha mãe liga, mas eu não reconheço o número
na minha tela. Eu nem tenho certeza de qual é o código de área e, conhecendo
da minha sorte, se eu responder, vou acabar em uma lista permanente de
spam de telemarketing.
Então, talvez seja a mão do Destino que me empurra, me fazendo tropeçar
enquanto saio da cozinha e corro para pegar meu telefone antes que ele bata
no azulejo, acidentalmente atendendo a chamada no processo.
— Olá? — A voz do outro lado diz, e eu congelo.
— Drew? — Eu digo.
— Eu. . . sim. Noah?
— Hum, ei —, eu digo. — Como você conseguiu meu número?
— Ah, hum, do seu currículo —, diz ele. — Isso não é assustador, é?
E, francamente, se ele não fosse um cara super gostoso com quem eu tive
dois encontros perfeitos, poderia ser, mas como é, meu coração bate nos
ouvidos quando digo: — De jeito nenhum. Então, como vai?
— Você se importa em vir à loja? Eu meio que quero falar com você
sobre uma coisa —, diz.
E há um milhão e meio de coisas que algo poderia ser. Talvez Amy tenha
mudado de ideia sobre me dar o trabalho, ou talvez ele não tenha conseguido
dormir na noite passada, imagens minhas passando por sua cabeça e fazendo-
o perder o fôlego. Talvez tudo o que ele pudesse fazer fosse esperar até esta
manhã para finalmente fazer a ligação, para nos aproximar novamente.
— Claro, estou dentro.

Desta vez, ando um pouco mais rápido, a emoção dirigindo a cada passo. Eu
chego à loja em apenas cerca de vinte minutos e espreito pela janela para ver
Drew parado na caixa registradora contando dinheiro.
Quando eu bato no vidro, seu olhar dispara e um sorriso se abre em seu
rosto quando ele me vê.
Depois de colocar o dinheiro de volta na caixa registradora, ele desliza até
a porta, destrancando-a por tempo suficiente para eu entrar.
— Você chegou aqui mais rápido do que eu esperava —, diz ele.
Eu sorrio. — Bem, eu estava por aqui, então não era grande coisa.
— Posso ir fazer um café para você, se quiser.
Eu sorrio enquanto me jogo no tapete ao lado de uma caixa aberta de
livros. Eles são da seção de autores locais, este título específico é chamado de
The Blonde Conspiracy. — Obrigado! — Eu digo, e enquanto Drew vai até o
fundo para preparar um café com leite para mim, eu fico olhando para a capa
do livro artisticamente ilustrada e me pergunto como deve ser ter um livro
publicado em uma livraria local. Antes do Diário, eu costumava tentar
escrever novos projetos toda vez que a inspiração surgia, mas sempre os
abandonei. Eles simplesmente nunca se sentiram tão inspirados, como se não
tivessem uma vida real para eles.
Drew sai com outra xícara de café e entrega para mim. Eu sorrio de novo,
notando o pequeno símbolo de reciclável na parte inferior. Sempre quis um
cara que luta por uma causa, então isso parece mais um sinal. Eu tomo um
gole, com cuidado para não me queimar antes de dizer: — Então, por que
você queria que eu viesse?
— Eu meio que quero te perguntar uma coisa, se você não se importa —,
diz ele.
Eu digo: — Vá em frente —, antes de tomar outro gole.
— Você é dono do blog Meet Cute Diary?
Eu engasgo, o café escorrendo da minha boca para a frente da minha
camisa. Drew contorna o balcão e retorna com alguns guardanapos, mas
ainda estou tossindo meus pulmões.
Como diabos ele sabe sobre o Meet Cute Diary?
— Vou interpretar isso como um sim —, diz ele, sorrindo para mim. —
Isso é muito legal. Acho que nunca conheci uma celebridade antes.
Pego os guardanapos dele e os uso para tentar limpar a bagunça na minha
camisa. Meus olhos ardem quando pergunto: — Como você sabe disso?
— O blog? — Ele dá de ombros. — Eu acompanho há seis meses e
também vi as histórias postadas no Insta. E tem aquela pessoa no TikTok que
os interpreta. Difícil não notar um blog tão fofo.
Lágrimas brotam dos meus olhos. — Você acha que é fofo?
— Bem, sim. Um monte de gente encontrando o amor na rua? Ele
apareceu no meu painel um dia, então eu enviei para minha prima. Ela é
trans.
Eu aceno com a cabeça, mas minha mente está indo muito rápido para
acompanhar qualquer uma dessas coisas. Drew sabe sobre o Meet Cute
Diary. Drew segue o Meet Cute Diary.
— De qualquer forma, tinha um post sobre uma sorveteria tipo há uma
semana que parecia muito familiar, e outro sobre uma livraria, e parecia
muito com este lugar, e eu não queria ser arrogante por perguntar, mas. . . —
Ele encolhe dá de ombros novamente, encostando-se na prateleira mais
próxima. — E. . . quero dizer, o nome do administrador é Noah.
Eu estou tremendo. Puta merda. Nunca, em meus sonhos mais loucos,
pensei que chegaria a esse ponto.
E todas as vezes que pensei em ser pego por alguém, pensei que seria um
dos fanáticos da minha antiga escola. Eu sempre me preocupei que eles
pudessem me descobrir, descobrir que eu era trans e apoiar o amor trans em
vez de denunciar tudo como um pecado, e então eu seria expulso ou suspenso
ou receberia oração nas missas semanais da escola.
Mas isso é diferente. Meu coração está batendo forte no meu peito, mas
animado, não apavorado. É o momento em que minha máscara foi retirada e a
identidade civil revelada, mas nas mãos de um fã, alguém que está pronto
para me dar toda a gratidão que minha máscara me negou por tanto tempo.
Então ele diz: — Isso significa que todas as histórias são inventadas?
Quero dizer, dado que todas as que foram comigo tiveram finais alternativos.
E eu estou murchando, a respiração escapando de mim enquanto um
rubor aquece meu rosto. — Sim —, eu digo. — Elas são todas inventadas.
Falsos encontros fofos.
Ele arqueia uma sobrancelha. — Quer dizer, são histórias legais, mas por
que passar por todo esse aborrecimento se elas nem são reais?
Parece uma pergunta estranha, já que estamos literalmente parados no
meio de uma livraria. Mas é claro que ele não entenderia. Ele provavelmente
teve toneladas de namoradas com histórias super fofas envolvendo todas elas.
Ele é um lindo cara cis branco. Ele pode conseguir quem quiser, e tenho
certeza que ele só pensa em quando vai se casar e começar uma família, não
em se vai.
Eu poderia pegar qualquer volume nesta loja e mostrar a ele seu final
feliz. Claro que ele não conseguia entender por que alguns de nós estamos tão
desesperados para fazer o nosso.
— Às vezes as pessoas precisam de ajuda para acreditar no amor —, eu
digo. — Tento dar isso a eles com o Diário. — Eu não conto a ele sobre
minhas fantasias. Ainda não chegamos a esse nível de relacionamento.
Ele sorri. — Isso é muito legal da sua parte. Quer dizer, tentando ajudar
estranhos aleatórios assim. A maioria das pessoas não se importaria.
E eu sorrio porque, uau. Becca é a única pessoa que sabe sobre o Diário
porque mesmo depois de mudar meu nome e sair de casa, algo nisso sempre
pareceu um tabu. Como, talvez, se eu expressasse meu raciocínio por trás da
criação do Diário, todo mundo pensaria que eu era uma criança perdida
fazendo um grande negócio por nada. Mas ouvir essas palavras agora,
especialmente de um cara que eu meio que usei para inventar minhas
histórias – bem, é super fofo.
Mas agora ele também sabe que é falso, e talvez ele não saiba sobre o
troll, mas ele também poderia saber, e ele poderia fornecer a eles mais
informações para destruir tudo.
— Posso ser honesto com você? — Eu pergunto.
Ele da de ombros. — Não tenho nada contra isso.
— Há um troll tentando provar que o Meet Cute Diary não é real.
Ele arqueia uma sobrancelha. — Mas não é real.
— Eu sei, mas as pessoas precisam acreditar que é, sabe? Eu não quero
que as pessoas deixem de acreditar que as pessoas trans podem ter um
romance digno de conto de fadas. Eu não quero que percam isso, mas se
forem convencidas de que é tudo falso. . .
— Tenho certeza de que as pessoas simplesmente vão ignorar. O blog é
tão popular, e as pessoas praticamente te adoram.
Mas não tenho tanta certeza. Já perdi quase dois mil seguidores e só se
passaram alguns dias.
— Eu sei que provavelmente não parece grande coisa para você, mas há
tantas pessoas para quem isso é importante —, eu digo. — Quer dizer, recebi
mensagens de pessoas dizendo que o Diário é a razão pela qual não se
mataram. Eu não posso apenas assistir isso pegar fogo.
— Não, eu entendo —, diz ele. — Prima trans, lembra?
Eu expiro. — Então você não vai contar a ninguém que é falso?
Ele concorda. — Definitivamente não. Na verdade, eu vou superar você
nisso. Diga-me o que posso fazer para ajudar.
O que, a oferta é doce o suficiente que já fez meu coração disparar, mas
eu apenas rio, desajeitadamente virando meu rosto. — A verdade é que a
única maneira que conheço de salvar o Diário é provando de alguma forma
que todas essas histórias falsas são reais.
Se fosse uma ficção romântica, essa seria a parte em que ele pega minha
mão e diz: Não posso mudar todas as histórias, mas estou no comando desta,
e acho que podemos torná-la real. Apenas me use.
Em vez disso, ele diz: — Apenas me use. . .
Espere o que?
— O-o quê? — Eu digo, definitivamente eu acidentalmente derramei
meus pensamentos no mundo real e o ouvi mal.
Ele dá de ombros. — Vamos jantar. Depois, você pode postar algumas
fotos e contar a todos que você conhece que o Diário é real, porque uma das
histórias era sobre você. Parece bom?
Eu pisco, minha mente falhando em calibrar. Ele acabou de sugerir uma
AU de falso namoro? Estou em uma AU de falso namoro?
— Você tem certeza que quer fazer isso?
Ele ri, empurrando a estante e fechando o espaço entre nós. — Por que
não? Quer dizer, eu amo o seu blog, então provavelmente vamos nos dar
muito bem, e eu não posso recusar a chance de dar uma olhada nos bastidores
quando tenho certeza que muitas pessoas matariam por uma. Além disso, eu
odiaria ver o blog desmoronar por causa de algum troll.
Ficamos em silêncio por um momento, meu coração batendo forte em
meus ouvidos. Gostaria que Becca estivesse aqui para ver isso, ou pelo
menos uma equipe de filmagem para que eu pudesse filmar e mostrar a ela
mais tarde.
Drew arqueia uma sobrancelha e diz: — Então, isso é um não…?
— É um sim! — Eu digo, um pouco rápido demais e um pouco alto
demais.
— Desculpe, quero dizer, é – sim, eu gostaria.
A porta da frente se abre e meus olhos voam para pegar Amy entrando
pela porta.
— Drew! — Amy solta.
Drew revira os olhos, voltando para trás do balcão. — Sempre pronto
para trabalhar, tia Amy.
Amy vai para a sala dos fundos e Drew sorri para mim. — Podemos
resolver os detalhes mais tarde, ok? Durante o jantar?
Eu sorrio. — Parece perfeito.
Inbox (83)
Anônimo perguntou: O encontro da livraria era super fofo, mas acho
que isso é mais fácil quando você inventa tudo, né? Você vai
responder as chamadas de atenção ou só continuar postando essas
hiatórias não explicativas vagas? É muito patético continuar
ignorando todos. Se você é um mestre do amor, deve parar de se
esconder atrás de histórias falsas ou, pelo menos, admitir tudo e
deixar de ser duas caras.
Mando mensagem para Brian para que ele saiba que não precisa me buscar
porque tenho um encontro. Ele responde com “Isso é uma piada?” então nem
me preocupo em responder.
Apesar de ter sido abertamente rejeitado para o cargo, ninguém me manda
para fora da loja. Na verdade, passo o resto do dia procurando novos
empregos e lendo alguns dos comentários do Diário em minha última
postagem para Drew, que está muito animado com eles. Os bons, de qualquer
maneira. Eu meio que pulo os ruins. Becca me respondeu no meio do dia para
dizer: Desculpa, esqueci de postar por causa de um trabalho da escola.
Vou cuidar disso mais tarde. Então, conto que tenho uma solução para que
ela não tenha que se preocupar com isso, embora uma parte de mim esteja
meio magoada por ela ter esquecido do Diário tão facilmente.
Às seis horas, Drew fecha a loja e se vira para mim. — Que tipo de
comida você gosta?
Eu dou de ombros. — Todo tipo de comida. Comida é boa.
— Eu gosto de como você pensa.
Ele pega minha mão, o que pode ser um exagero, já que nós dois estamos
apenas fingindo estar atraídos um pelo outro, e então caminhamos pela faixa
até onde a maioria dos negócios ativos está. Ali estão alguns bares, alguns
clubes, algumas lojas de sobremesa. Drew me leva em direção a um pequeno
restaurante chique, e eu me arrependo de derramar café na minha camisa já
grande quando entramos.
O anfitrião está todo vestido de preto, seu cabelo meio ondulado como se
o vento fizesse o penteado perfeito em seu caminho para o trabalho. Não
posso reclamar quando ele nos leva a uma mesa alta, que, você sabe, é meio
difícil de alcançar quando você tem cerca de um metro e sessenta.
De qualquer forma, quando me sento no assento, o anfitrião já se foi,
deixando dois menus para nós na mesa.
— Peça o que quiser —, diz Drew. — Eu pago para você.
Eu suspiro. — Porque ainda não tenho salário?
Drew ri. — Temos que fazer isso parecer um encontro de verdade. Ah, e
provavelmente deveríamos tirar uma selfie antes de sairmos daqui.
— Oh, certo —, eu digo.
Quando Drew sugeriu pela primeira vez o encontro falso, não parecia tão
real quanto agora. Claro, não é o encontro que me pega desprevenido, mas a
realidade da postagem, de anexar meu rosto da vida real a esta pessoa online
que mantive separada de mim por tanto tempo. — Eu, uh, só um segundo.
Eu escorrego para fora da minha cadeira e vou direto para o banheiro,
esquivando-me de um garçom chocado que sai da cozinha. É um espaço
muito chique, considerando que o objetivo é dar uma cagada, mas as luzes
fazem minha pele parecer amarela enquanto eu me olho no espelho.
Não posso dizer que passo muito tempo olhando meu próprio reflexo.
Quer dizer, provavelmente deveria, já que mereço esse tipo de beleza na
minha vida, mas odeio a sensação de olhar para um estranho. Como se
alguém fizesse photoshop em minha imagem antes de jogá-la no espelho, e
agora estou mais baixo e mais magro e parecendo muito mais feminino do
que deveria ser.
E assim que eu postar essa foto, meus seguidores não me verão mais. Eles
não vão ver o Noah que se parece com Pharrell ou Rock ou Bruno Mars. Eles
vão ver aquela pessoa no espelho, aquele que o mundo continua tentando
desenterrar, não importa o quanto eu trabalhe duro para encobri-lo.
Mas essa postagem vai salvar o Diário e, não é sobre mim. Se usar um
rosto ao qual não me sinto conectada é o suficiente para salvar o amor trans, é
o mínimo que posso fazer. Além disso, o mod Noah é uma pessoa que usei
por tanto tempo, quem se importa se eu tiver que ajustá-lo um pouco? Nada
demais.
Eu molho um pouco as mãos e uso para alisar um pouco o cabelo. Então
respiro fundo algumas vezes para afastar a ansiedade antes de voltar para o
restaurante e deslizar para o meu lugar.
Drew me olha de soslaio quando me sento, então apenas digo: — O diário
é muito importante para mim. Eu não compartilho isso com muitas pessoas.
Ele acena com a cabeça uma vez. — Sim, isso faz sentido.
— Eu só quero que tudo isso corra perfeitamente —, eu digo. — Você
sabe, para o Diário.
Drew sorri. — Bem, eu agradeço por você ter me contado o grande
segredo, e estou feliz em ajudar. Certamente é melhor do que ficar em casa
assistindo Rick e Morty.
Eu retribuo seu sorriso e procuro algo para cortar a estranheza no ar.
Finalmente, eu digo: — Então, você faz isso com frequência?
Drew arqueia uma sobrancelha. — Oh, sim, eu saio com todos os
entrevistados.
A risada sai de mim naturalmente, como se a piada fosse parte de um
roteiro que ele escreveu só para mim. — Bem, é tecnicamente um encontro
falso —, digo, embora, se ele for um verdadeiro fã de romance, ele saberá
exatamente como isso geralmente termina. — E obrigado por isso, por falar
nisso. Eu agradeço você ter se ofertado para ajudar o Diário.
Ele me encara por um momento antes de dizer: — Para ser honesto, tenho
pensado em você desde todo o incidente da sorveteria.
Eu franzo minhas sobrancelhas, meu coração acelerando. — Porque
nossas mãos se encontraram?
— Bem, sim, eu acho, mas na verdade eu estava pensando sobre a
postagem do blog. Eu não sei. Foi lindo, se isso não for estranho. E foi
incrível quanta atenção recebeu por um post tão curto.
E eu sorrio porque há algo incrivelmente romântico na ideia de que esse
cara esteve apaixonado pela minha escrita antes mesmo de me conhecer. E,
bem, é muito engraçado que ele pense que essa é a parte estranha, e não o
fato de que eu escrevi uma história falsa em que ficamos juntos sem saber
nada sobre ele.
— O ponto era fazer as pessoas acreditarem no amor —, eu digo.
Ele sorri. — Sim, acho que funciona.
É como se alguém tivesse afrouxado um parafuso na minha mandíbula
porque eu simplesmente não consigo parar de sorrir.
Então ele diz: — Você acha que isso vai ser suficiente para salvar o
Diário?
Eu paro, o sorriso desaparecendo do meu rosto. — Quer dizer, espero que
sim. Não sei o que fazer além disso.
Ele mexe na borda de seu menu, sua voz subindo uma oitava quando ele
diz: — Sabe, se você precisar da minha ajuda com o Diário, eu ficaria feliz
em ajudar. Quer dizer, sou um grande fã. É como ajudar a fazer um filme da
Disney.
E tudo em que posso pensar é que é lindo como ele é um pouco tímido,
mas no bom sentido.
— Eu adoraria —, eu digo.
Ele me dá um sorriso lindo enquanto meu coração dá cambalhotas no
meu peito. É apropriado que nosso encontro falso termine com uma das
minhas maiores excitações – um sorriso criado para partir corações

Assim que o jantar acaba, Drew insiste em me dar uma carona e me


acompanhar até o apartamento de Brian. Não sei se ele só quer que passemos
mais tempo juntos, ou se está preocupado que o motorista vá me sequestrar
ou algo assim, mas é bom, e eu nunca vou reclamar sobre mais tempo gasto
olhando ansiosamente em seus olhos.
Eu pulo para fora e Drew me puxa de lado, dizendo que deveríamos tirar
uma selfie no meio-fio para mostrar como nosso encontro terminou. Eu
concordo, arrumando a pose para a foto perfeita antes de agradecê-lo e ir para
o apartamento de Brian, alcançando ao mesmo tempo a porta da frente e a
chave enterrada em algum lugar no meu bolso apenas para descobrir que a
última não está lá. Que diabos? Por que calças masculinas têm bolsos sem
fundo?
Eu gemo, tocando a música-tema de Victorious até que Brian finalmente
abre a porta com um olhar mortal em seu rosto. — Por que você está
batendo?
— Eu perdi minha chave —, eu digo, passando por ele e indo para a sala
de estar. — Provavelmente está nas minhas outras calças.
— Caramba. Você perde tudo?
— Obviamente não.
Eu pulo para trás ao som de uma risada, me virando para ver Maggie em
pé na cozinha, um prato cheio de pastelitos equilibrado em uma mão.
Eu me viro para perguntar o que diabos ela está fazendo aqui, e olhar para
Brian, mas ele já está atravessando o espaço de volta para ela, deslizando um
braço em volta da cintura dela enquanto diz: — Você gostou?
Ela sorri. — Estão incríveis. Estou tão orgulhosa de você.
E então eles se beijam, e eu luto e não consigo evitar que meu lábio se
enrole. — Eu tenho que ligar para Becca —, eu digo, indo para o meu
armário.
— Ok, mas você tem que me contar sobre o seu encontro mais tarde! —
Brian grita atrás de mim.
Eu paro, me virando para ver se ele está brincando. Mas seus olhos estão
voltados para Maggie, os dois praticamente deslizando um contra o outro.
Reviro os olhos e entro no quarto, fechando a porta atrás de mim.
Minha primeira tarefa é responder a algumas das mensagens que tenho
ignorado. Depois de enviar algumas desculpas sinceras por não responder e
como farei outra declaração em breve, trabalho este post dramático sobre
como o Meet Cute Diary começou como minha própria exploração do meu
primeiro relacionamento, e então entro nisso tudo sobre como algumas das
histórias não batem porque mudamos certos detalhes para manter a
identidade das pessoas em segredo. Então eu explico que toda a história da
livraria era sobre Drew e posto a selfie que tiramos hoje à noite como prova
final.
Eu considero enviá-lo para Becca primeiro, mas ela tem estado tão
ocupada ultimamente. Além disso, esta postagem é extremamente pessoal, e
não quero perder a coragem de publicá-la esperando uma resposta.
Minhas mãos tremem quando eu clico em postar, mas eu dei o meu
melhor. Espero que a postagem se torne viral em alguns dias, e não apenas
iremos parar de perder seguidores em massa, mas teremos um novo ataque de
seguidores ansiosos querendo saber sobre Drew e eu.
Então eu ligo para Becca. Ela atende no terceiro toque, mas diz: — Ei,
não posso falar muito. E aí?
— Você não quer ouvir sobre o meu encontro?
Então ela grita, e eu jogo minha cabeça para trás até que ela termine.
— Ok, você tem quinze minutos, então eu tenho lição de casa. Vai.
Então, divago sobre o encontro falso, começando com como ele me
convidou para tentar salvar o Diário e como ele tem sido um grande fã faz um
tempo. Digo a ela como devemos ser obviamente compatíveis, já que ele
adora minha escrita, e como, uma vez que o encontro falso salve o Diário,
provavelmente vamos nos apaixonar, já que, você sabe, é assim que toda
história de namoro falsa termina.
— Ok, mas você acha que um encontro falso vai ser suficiente para parar
esse troll? Quer dizer, depois de todos os esforços que eles fizeram apenas
para cagar no Diário?
— Eu tenho tudo sob controle, Becca —, eu digo. Ela não tem sido
exatamente super fiel ultimamente, então provavelmente é mais fácil para
mim lidar com isso sozinho. — E quando Drew e eu nos apaixonarmos
desesperadamente um pelo outro, não importa o que algum troll tenha a dizer
sobre isso.
Becca deixa escapar um daqueles suspiros de Deuses profundos, você é
ingênuo. — Apenas me prometa que, se ele sair da linha, você não vai deixar
que pise em você.
— Eu não faria isso.
— Você fez isso com o Gustavo!
Ela está certa, é claro. Gustavo foi meu primeiro encontro no primeiro
ano, quando eu ainda estava tentando me convencer de que talvez eu pudesse
ser uma garota se tentasse o suficiente. Fomos ao cinema e comprei pipoca
para ele, que ele se recusou a compartilhar comigo. Então ele me calou todo o
filme e me largou no cinema, então eu tive que ligar para minha mãe para me
buscar. E claro, eu teria saído com ele novamente se Becca não tivesse
tomado a frente acabado com aquilo, mas Drew não é assim. Ele não foi nada
além de gentil comigo. E também sou diferente agora. Eu sei quem eu sou.
Está tudo bem.
— Só não quero que você fique tão envolvido em seus contos de fadas a
ponto de ignorar o que está bem na sua frente —, diz ela.
— Sim, sim, eu sei —, eu digo. — Não preciso mais que você cuide de
mim, ok? Se você pode lidar com sua vida amorosa, eu posso lidar com a
minha.
Brian bate na porta, espiando por tempo suficiente para dizer: — Ei,
Maggie acabou de sair, se quiser me atualizar sobre as coisas.
Eu sorrio para ele. — Sim, só um segundo.
Ele fecha a porta e digo a Becca que devo ficar com ele um pouco.
— Sim, vai —, diz ela. — Seus quinze minutos já acabaram de qualquer
forma.
— Eu vou te atualizar amanhã. Ah, e não se esqueça de checar o Diário.
Brian me espera na sala, um pequeno prato de pastelitos no sofá. Eu me
jogo ao lado dele e pergunto: — Esta é a minha parte?
— Se você quiser.
Mas não tenho tanta certeza, sabendo que Maggie esteve por tudo isso.
Na verdade, Brian tem uma marca de batom na bochecha, o que me diz não
só que eles ficaram uns sobre o outro, mas que Maggie nem compra batom à
prova de manchas. Uau.
— De qualquer forma —, diz Brian, apoiando os pés na mesinha de
centro. Tem um monte de livros de mesa, incluindo um velho livro de
receitas de gelatina que tenho certeza que ele nunca abriu. — Como foi o
encontro? Bom?
Eu afasto o pensamento de Maggie entrando em nossas vidas para fora da
minha cabeça e penso em Drew, um sorriso aparecendo no meu rosto. —
Sim, foi muito bom. — Brian não precisa saber que foi um encontro falso e,
considerando que estamos no caminho certo para ser o casal perfeito, só faz
sentido que Brian pense que já estamos juntos.
— Bom, estou feliz. Quando vou conhecê-lo?
Eu me encolho, embora provavelmente não deva me sentir muito sobre
isso. Drew é ótimo e Brian provavelmente vai amá-lo, mas nosso
relacionamento é muito novo. A última coisa que preciso é que Brian afaste
Drew com sua conversa esquisita sobre esportes e, ocasionalmente, culinária.
Só para garantir, eu digo: — Provavelmente nunca
Brian ri, mas seus olhos se estreitam um pouco como se ele estivesse
tentando descobrir o que estou escondendo. Ele faz uma pausa por um
segundo e diz: — Uh, na verdade eu queria te perguntar, você gosta de
garotas ou garotos?
Eu rio e dou de ombros. — Quer dizer, eu definitivamente prefiro homens
e pessoas alinhadas ao masculino, mas não posso dizer que nunca me senti
atraído por nenhuma mulher antes. Acho que também não gostaria de
descartar nada muito rápido.
Ele me olha como se não estivesse entendendo bem, mas diz: — Ok,
legal. Eu só estava me perguntando porque percebi que não sabia.
— Sim, acho que minhas preferências de namoro foram totalmente
eclipsadas pela coisa trans, certo?
E ele parece que acabei de derramar água gelada em sua camisa. É
estranho porque me sinto mais aberta em ser eu mesmo perto dele agora,
sabendo que ele me aceita como eu sou e não espera que eu seja a irmã
perfeita ou algo assim, mas também parece que falamos línguas diferentes.
Como se qualquer coisa que eu digo corresse o risco de confundi-lo tanto a
ponto dele não conseguir mais distinguir em cima de embaixo.
— Quero dizer, não é uma grande coisa —, diz ele. — Você ser ser trans.
Eu não acho que mude muito. Quer dizer, obviamente é bom que você sinta
que está sendo você mesmo agora. Só quis dizer que isso não muda a maneira
como vemos você, sabe?
— Espere, você quer dizer que ainda pareço uma menina? — Eu digo,
mãos subindo para minha boca para um efeito dramático
E Brian dá um pulo para trás, um terror absoluto tomando conta de seu
rosto. — O que? Não! Eu não quis dizer isso de jeito nenhum! Eu só quis
dizer…
— Está tudo bem, cérebro —, eu digo, observando a cor voltar ao seu
rosto. Já se passaram anos desde que eu o chamei assim – uma pequena
lembrança de quando não tínhamos TV a cabo e só tínhamos DVDs antigos
da televisão dos anos 90. Às vezes, gostaria que pudéssemos voltar a isso –
eu sendo Pinky porque meus pais pensaram que eu precisava de tudo rosa
para satisfazer a emoção de ter uma filha, e Brian sendo o cérebro porque eu
não conseguia descobrir como falar seu nome.
Mas, honestamente, essa pessoa parece totalmente estranha para mim
agora, e não é porque eles costumavam usar a cor rosa, porque eu ainda amo
rosa, e quem não gosta está errado. É que, naquela época, eu estava disposto
a ser qualquer coisa que as pessoas me dissessem para ser. Não me importava
que estivesse morrendo por dentro porque não sabia viver de outra maneira.
Mas como você aprende a respirar e depois opta por ser sufocado dia após
dia?
Eu sou Noah agora, e sempre fui. Não é minha culpa que ninguém
acreditou em Noah até que ele não os deu outra escolha.
— Noah —, diz Brian, apoiando a mão no meu braço, — sinto muito. Eu
sei que não sou perfeito em relação a essa coisa toda, e sinto muito se fiz
você se sentir desconfortável.
Eu sorrio, envolvendo meus braços ao redor dele. — Não seja
ridículo.Você é ótimo. Eu amo você.
Ele me aperta contra si, e quase posso fingir que sempre fomos assim:
Brian e Noah. Não importa como eu nasci ou quem eu pensava que era
naquela época. Eu sou eu e nós somos irmãos, e não há nada no mundo que
possa mudar isso.
Passo 4: O Teste (O Primeiro Encontro)
É onde um relacionamento começa. O momento em que é
dada à semente a chance de crescer e criar raízes.
Inbox (228)
Anônimo perguntou: Parabéns, Noah! Nunca estive tão feliz por
outra pessoa!
Romlover2203 perguntou: Você está sempre dando, e agora você está
recebendo! Estou tão feliz por você!
Majorfanboi15 perguntou: Pediu pro seu vizinho posar para a foto?
Eu digo que é fake.
Acordo na manhã seguinte para descobrir que minha postagem, viralizou.
Não é bem a sensação de estar no topo do mundo, maior do que a vida,
ganhando um biscoito grátis no Publix que eu esperava, mas é bem legal. Eu
tenho uma caixa de entrada cheia de pessoas me parabenizando por encontrar
um namorado, e uma caixa de entrada inteira de ódio que eu olho e apago.
Vou checar as mensagens positivas mais tarde. Tenho que aparecer para os
seguidores.
Eu verifico minha contagem de seguidores e descubro que está um pouco
estabilizada. Não está exatamente de volta aos números originais, mas é um
pouco maior do que quando fui para a cama na noite passada.
Abro minhas mensagens para encontrar uma mensagem de Becca
dizendo: Boa! e outra de Drew dizendo: Bom dia. Tem planos pra hoje?
Na verdade, eu não planejava fazer muita coisa, fora comer, assistir anime
e talvez tomar banho, mas quero saber o que ele tem em mente, então digo:
Na verdade não. E você?
Quer dar uma passada aqui na loja?
Meu rosto esquenta enquanto eu digito de volta: Claro.
Eu me visto e aliso meu cabelo, o que, sim, é praticamente uma causa
perdida.
Não posso dizer o que Drew está planejando se ele está me pedindo para
passar por lá, mas possibilidades infinitas flutuam como pequenas bolhas em
volta da minha cabeça, e eu tenho que ter certeza de que estou gostoso. Brian
já se foi quando eu arrombo a porta. É bom sair, estou me sentindo ótimo, e
estou começando a gostar da caminhada.
As ruas estão mais movimentadas do que o normal, e me pergunto se todo
mundo está apenas curtindo os primeiros dias do verão. Eu não posso culpá-
los por terem aquela vitalidade extra em seus passos, porque eu sei que
certamente tenho. Mas também está frio, e não tenho certeza se os colorados
sabem o que a palavra "verão" significa.
Eu entro na loja sabendo que provavelmente tenho um sorriso
terrivelmente embaraçoso no rosto.
— Dia!
Drew está organizando uma pilha de livros e levanta os olhos quando me
aproximo, com um sorriso surgindo em seu rosto. — Ei. Você parece feliz.
— Estou feliz —, digo. É difícil não estar quando o Diário está em alta
novamente e eu estou me encontrando com um cara gostoso que está fadado a
se apaixonar desesperadamente por mim. Sento-me em frente a ele e resisto
ao impulso de ajudá-lo a separar os livros. Eu não deveria estar me
esforçando já que nem mesmo serei pago por isso.
— Então, assumo que deu tudo certo com o Meet Cute Diary? — ele diz.
Eu sorrio e aceno. — E, quero dizer, não faz mal que eu consiga ver você.
Ele sorri, mas há um leve rubor aparecendo em suas bochechas de
qualquer maneira. — Percebi que você não me marcou na postagem. Você
pode na próxima vez, se quiser. Eu não me importo.
Nem me ocorreu perguntar a ele o nome de seu blog, mas eu
provavelmente deveria ter assumido que ele tinha um, já que ele segue o
Diário. Eu puxo meu telefone do bolso, abrindo o aplicativo Tumblr e
passando para ele. — Então eu tenho que seguir você.
Ele sorri, pegando o telefone e digitando algo nele. — Vou almoçar em
meia hora e podemos fazer algo se você quiser. Quer comer alguma coisa?
Sabe, manter as aparências?
Ele devolve o telefone e eu aceito, meu coração batendo forte com suas
palavras. — Absolutamente.

Não tenho certeza de quanto tempo ele pede para a pausa do almoço, mas
pegamos uma carona até este quarteirão cheio de lojas de fotos e comida
tailandesa. Drew me guia em direção a um pequeno restaurante chinês local,
e entramos, o cheiro de pato imediatamente caindo sobre nós.
— Você me parece o tipo de pessoa que gosta de comida exótica —, diz
Drew.
E não tenho certeza do que há de — exótico — na comida chinesa
decente, mas meu estômago já está roncando só de ficar parado na porta da
frente e estou com fome demais para me importar. Pegamos uma mesa e, para
minha alegria, o cardápio está repleto de churrasco chinês. Não posso dizer
que sou o mais versado em comida chinesa, mas se for carne e for churrasco,
não vou reclamar.
— Os tamanhos das porções são enormes, então não vai com calma —,
sugere ele.
Eu sorrio. — Você subestima o quanto eu posso comer.
Apesar disso, sim, vou pegar leve porque não quero zerar a carteira dele,
mas caramba, minha boca está salivando.
— Então, deveríamos definir alguns parâmetros sobre isso? — ele
pergunta.
Eu congelo, meu lábio subindo. — O que você quer dizer?
— Bem, se vamos construir todo esse relacionamento falso, sinto que
temos que definir algumas regras básicas —, diz ele. — Você sabe, como
quem tem permissão para saber e como vamos nos comportar em público e
essas coisas todas.
Este é um pequeno soluço que eu não esperava, mas não muito difícil de
resolver. — Quanto menos pessoas souberem, menor será a chance do troll
descobrir —, eu digo.
Ele concorda. — Verdade. Então, isso significa que provavelmente
devemos agir como um casal em público, hein?
Eu dou de ombros, mas estou muito bem com isso. — Devemos nos
comportar o mais naturalmente possível.
— Então, nada de flertar com mais ninguém? — ele diz.
Eu balanço minha cabeça. — Definitivamente não. E devemos fazer todas
as coisas que faríamos se estivéssemos namorando, — eu digo.
— Especialmente online, certo? — ele diz. — Já que o troll pode estar
assistindo. Certifique de me marcar em tudo, e eu vou reproduzir no meu
blog também.
Eu sorrio.
— Então, quais são seus planos para o verão?
Faço uma pausa, esperando para ver se ele vai me perguntar mais alguma
coisa sobre o nosso namoro falso antes de voltar ao menu. É basicamente um
trabalho de tempo integral apenas tentar manter o controle de todos os
números de pratos que desejo pedir. — Trabalhar, você sabe, assim que eu
encontrar um emprego. Provavelmente passar algum tempo com meu irmão.
Eu não tenho muito planejado. — E, claro, ter o romance perfeito e fofo, mas
não preciso contar isso a ele.
— Para onde você vai depois?
— Califórnia.
Ele sorri. — Parece legal. Eu nunca não morei em Denver.
— Eu morei na Flórida toda a minha vida até agora. É uma grande
mudança, mas estou feliz com isso —, eu digo. A verdade é que estou bem
em nunca mais voltar para a Flórida enquanto eu viver. As únicas boas
lembranças que tenho desse lugar são com Becca, e ela pode simplesmente
vir me visitar em Cali.
— Posso mostrar a cidade se você quiser —, diz ele. — Há algumas
coisas legais aqui. Estamos um pouco limitados porque não tenho carro, mas
ainda há algumas coisas incríveis, especialmente se você gosta de atividades
ao ar livre.
Eu não gosto, de fato, de ar livre. Insetos, grama molhada, serviço de
celular instável? Sim, parece um pesadelo vivo. Mas pode ser fofo fazer
algumas coisas ao ar livre com um par. Talvez uma curta caminhada, um
campo de flores ou uma observação das estrelas ao luar.
Eu sorrio. — Claro, eu adoraria.
Ele sorri de volta. — Meus amigos vão fazer uma fogueira esta noite, se
você quiser ir.
Oh, fogueiras são sexy. Definitivamente estou dentro.
Nunca fui a uma fogueira antes, então já sinto que estou subindo de nível.
Este não é apenas um daqueles eventos fofos que só existem nas músicas
antigas da Taylor Swift, mas é perfeito para conseguir mais algumas fotos
para o Diário.
Quando pegamos nossa comida, eu praticamente engulo a minha e os
olhos de Drew se arregalam como se ele não tivesse imaginado que era
fisicamente possível para mim comer tanto. Quando eu era mais jovem,
minha mãe sempre dizia que você não deve comer muito quando está
conhecendo um cara – se ele acha que você tem um grande apetite, ele não
vai querer namorar você. Parece justo que agora que tenho idade suficiente
para tomar minhas próprias decisões, eu faça exatamente o oposto.
— Estou feliz por você ter sido entrevistado para trabalhar na loja,
mesmo que você não tenha conseguido o emprego —, diz Drew, e eu
congelo, a gordura de pato escorrendo pelo meu queixo.
— Espera, sério?
— Sim —, ele diz. — Estou feliz por ter te conhecido. Tipo, conhecer
você. Ser fã do blog não conta.
Eu sorrio, afinal, como você não sorriria com algo assim?
— E estou feliz que você será minha companhia na fogueira.
Eu congelo. — Espere —, eu digo, porque temos que fazer isso direito.
Os passos um e dois eram simples, mas a noite passada foi o primeiro
encontro ou seria a fogueira? Acho que depende do que considero ser o
Convite, que, para fins de Diário, foi quando ele sugeriu o namoro falso, mas
isso não pode contar como um Convite real porque foi obviamente encenado.
A fogueira poderia ser o segundo encontro, mas isso significaria que nunca
teríamos uma Consulta adequada, o que poderia nos ferrar a longo prazo…
— Noah? — ele diz.
Eu olho para cima para encontrá-lo olhando para mim, agora mesmo
percebendo que meu garfo está a meio caminho da minha boca, então eu o
coloco suavemente no meu prato. — Desculpe —, eu digo. — Apenas
resolvendo alguns detalhes executivos.
Ele levanta uma sobrancelha, mas não pergunta.
Não é o jantar perfeito e a noite sob as estrelas que eu sempre imaginei,
mas talvez a fogueira pudesse ser um bom primeiro encontro. Isso
significaria apenas que o resto disso fazia parte do planejamento do Diário,
então não conta.
Quando saímos do restaurante, Drew desliza sua mão na minha e dá um
beijo rápido na minha bochecha. — Que tal? — ele diz.
E uau, eu sei que tudo isso é falso, mas parece muito real – a sensação de
sua mão na minha, a gentileza quando ele me beijou, o tom baixo de sua voz
como se estivéssemos compartilhando algum segredo íntimo, que, eu acho
que meio que estamos.
— É perfeito —, eu digo.
Ele sorri. — Então, você quer voltar para a loja?
E quase parece uma piada que ele está mesmo perguntando. Quero dizer,
ele é lindo e estamos trabalhando para criar o romance perfeito, mesmo que
ainda não seja totalmente real. Por que eu iria querer ir para casa?
Eu aperto sua mão, com um sorriso no rosto enquanto digo: — Eu
adoraria voltar para a loja com você.
E quando ele liga para a carona, tudo que consigo pensar é que, pela
primeira vez na vida, as coisas estão na verdade se alinhando com as histórias
que criei na minha cabeça.
Becca, você NÃO vai acreditar no que aconteceu agora mesmo!
Me liga quando der!
Entregue

— Você fez o quê?


Eu reviro meus olhos. Meus pais estão dirigindo até outra casa, já que a
última não deu certo, e a estática é ruim o suficiente para que eu seja forçado
a me repetir a cada dois segundos. Minha mãe sempre foi o tipo de pessoa
que precisa fazer três coisas ao mesmo tempo, o que significa que a grande
maioria das minhas conversas com ela ultimamente tem sido na estrada. Não
posso dizer que sou bem-educado em imóveis ou empréstimos ou o que seja
que eles estão tentando fazer funcionar agora, mas sei que estão tendo
problemas para garantir uma casa porque os custos são tão altos ali e é um
"mercado de locatários" ou algo assim.
— Tive uma entrevista de emprego em uma livraria —, digo.
— Oh, isso é ótimo, querido!
Decidi que era hora de atualizar meus pais, porque não falo com eles há
alguns dias e porque quero o cartão de crédito de volta. Eu não tenho que
dizer a eles que já fui recusado para o trabalho. Na verdade, espero que, se
eles acharem que minhas perspectivas de emprego são positivas, estejam
dispostos a contribuir para minhas despesas de viagem.
— Sim, o único problema é que não posso pagar uma carona para ir e
voltar das entrevistas —, digo. — Me sinto mal por forçar Brian a fazer isso,
já que ele também trabalha e tem que chegar cedo.
Posso praticamente ouvir minha mãe revirar os olhos e dizer: — Você
quer o cartão de crédito de volta.
— Quer dizer, se você não se importar…
Meu pai ri ao fundo. Ele sempre disse que eu sou como um coelhinho –
fofo demais para resistir, mas perigoso para subestimar. Não posso dizer que
nego isso.
— Você pode ter o cartão de volta, mas é melhor não abusar dele
novamente, e espero que consiga um emprego —, diz ela.
— Obrigado, mamãe!
— Mais alguma coisa que você queira nos contar antes de chegarmos à
nova casa?
Eu faço uma pausa. Uma parte de mim sente que deveria contar a eles
sobre Drew. Quer dizer, não estamos oficialmente juntos, ou o que quer que
isso signifique, mas vamos a uma festa com os amigos dele esta noite, e
estamos acertando em cheio nessa coisa de namoro falso. Eu disse a ele que a
melhor maneira de ter certeza de convencer os fãs do Diário é se
comprometer com isso. Afinal, se pudéssemos nos convencer de que somos
um casal, ninguém online teria motivos para duvidar de nós. E, quando
voltamos para a loja, basicamente agimos como um casal, e Drew chegou a
dizer a Amy que íamos sair. Definitivamente se aproximando da viagem.
Ou já estamos lá?
Honestamente, ainda não tenho certeza se esta noite representa a Consulta
ou se isso foi o jantar. Essa lista inteira era mais fácil de seguir antes que eu
tivesse que colocá-la em prática.
Claro, meus pais parecem estar tendo problemas o suficiente para
conseguir um segundo filho. Não sei se eles já estão prontos para entrar no
território do namorado do nosso filho.
— Noah? — minha mãe diz, e meu coração palpita um pouco com o quão
natural isso soa agora, como se ela tivesse tido tempo para praticar como
dizê-lo. — Está tudo está?
— Sim —, eu digo, tomando uma decisão repentina. — Está tudo ótimo.
Fiz um amigo na entrevista e vamos sair hoje à noite.
Meu pai ri. — Que tipo de amigo?
Aqui vou eu. — O tipo garoto —, eu digo.
Há um silêncio do outro lado da linha. Bem, silêncio vocal e um pouco de
estática. Então minha mãe diz: — É um tipo de garoto amigo ou namorado?
— Um pouco mais do segundo, eu acho.
A linha fica quieta novamente. Então eu ouço meu pai suspirar, e parece
que minha mãe está passando o telefone para ele. — Noah —, ele diz, sua
voz gentil, — eu sei que você é menino agora, mas as mesmas regras
reprodutivas ainda se aplicam.
— E estou desligando agora. Tchau, pais! Amo vocês!
Eu pressiono o botão de desligar antes que meu pai possa me dar o
sermão de ter certeza que ele se protege. Foi ruim o suficiente da primeira
vez.
De qualquer forma, tenho trabalho a fazer. Considerando que isso poderia
potencialmente ser a Consulta, eu seria amaldiçoado se eu parecesse bem.
Sábado, 2 de junho

MeetCuteDiary postou:
Nada como ter planos para o fim de semana e t alguém especial
para compartilhar isso com você. ;)

Uncharming respondeu: MDS, Noah, estou tão feliz por vocês dois!
Bubblebath respondeu: Noah!!! Isso é tão fofo!!!
Gen54life respondeu: Esse blog é MÁGICO. Você é literalmente
Cupido!
Carregar mais comentários . . .
A festa começa às sete, embora ainda não esteja escuro. Deixo um post
provocativo para meus seguidores para aquecer um pouco para as fotos que
vou postar depois da fogueira. Basicamente, quero deixar claro que sou o Rei
do Amor e deixar o troll tremer na base enquanto me vê transcender a internet
para me tornar um deus do amor. E é bom ver todos os comentários positivos,
permitindo que eles me acalmem para o meu grande encontro.
Enquanto espero que Drew me busque, envio uma mensagem de texto
para Becca com o link do blog de Drew, mesmo que ela tenha me enviado
uma mensagem mais cedo para me avisar que ela estaria fora de contato
enquanto estuda para uma grande prova. Então eu sento no sofá e procuro por
mim mesmo para ter uma ideia da personalidade de Drew. Ele não faz
postagens originais, na maioria das vezes apenas compartilha coisas do
fandom. Eu pulo todo o texto de Star Wars e DC, já que nunca gostei de
nenhum deles. É bom termos fandoms diferentes. Isso significa que podemos
compartilhar um com o outro e encontrar novas paixões.
Eu paro na postagem do Diário, Drew reblogou a postagem detalhando
nosso relacionamento. Ele acrescentou um comentário sobre como somos
importantes um para o outro, o que parece um pouco forte, considerando que
apenas começamos a fingir que estamos saindo, mas as respostas são todas
muito favoráveis, então provavelmente está tudo bem.
Enfim, Drew aparece alguns minutos depois e me manda uma mensagem
para sair.
— Você poderia ter entrado —, digo quando o cumprimento na rua. Seu
cabelo tem aquele tipo de aparência bagunçada ao vento e suas roupas
parecem cuidadosamente escolhidas, mesmo na estranha iluminação amarela
perto da rua.
Ele sorri. — Parece um pouco cedo para conhecer o irmão, não acha?
Seu amigo mora bem longe da cidade. Não consigo ver muito quando as
luzes da cidade desaparecem atrás de nós, mas há um contorno fino e escuro
de montanhas à distância e as estrelas já estão começando a ganhar vida.
A casa parece bastante normal – dois andares aninhados em uma pequena
colina com uma passagem de pedra que leva até a varanda. Drew me leva
para o quintal, onde as pessoas já estão em um lindo pátio de pedra forrado
com pequenas luzes brilhantes. Ariana Grande flutua ao nosso redor a partir
dos alto-falantes embutidos na beirada do pátio.
A galera é composta por oito pessoas, a maioria segurando copinhos
vermelhos ou cigarros. Seis garotos, duas garotas, provavelmente todas cis, a
julgar pela vibe de atleta que estão passando.
— Ei, Drew!
O cara que está acenando para nós tem uma aparência muito amigável,
grandes músculos sob uma camiseta preta e coque masculino. — E aí cara?
Drew dá um soquinho no cara. — Nada demais. Tentando fugir do
trabalho.
— Cara, você é tão velho pra caralho.
Drew me bate com o ombro e diz: — Este é Noah. Noah, este é Freddie.
Nós nos formamos juntos.
Eu congelo, meus olhos se arregalam. — Espere, quantos anos você tem?
— Ah Merda! — Freddie diz, se virando para os outros participantes da
festa. — Drew vai para a cadeia!
Minha mente roda enquanto a realidade da minha situação recai sobre
mim. Não acredito que em meio a toda emoção, nem pensei em perguntar a
idade dele. Quer dizer, merda, ele poderia ter trinta anos, três diplomas
universitários e duas ex-esposas. Ok, provavelmente não as graduações.
Drew revira os olhos e se volta para mim. — Dezoito —, diz ele. — Nós
nos formamos no mês passado.
Eu soltei um suspiro. Drew tem apenas dezoito anos e, na verdade, tenho
dezesseis, então poderia ser pior. Não é nem tecnicamente ilegal. É
basicamente a linha perfeita entre namorar um garoto da faculdade e namorar
um garoto do ensino médio.
Então, com idade suficiente que provavelmente não vou falar para Brian,
mas nada com o que me preocupar. Sério, o que eu deveria estar preocupado
é como vamos fazer funcionar esse primeiro encontro, que eu tenho apenas
setenta e oito por cento de certeza que é na verdade o primeiro encontro, mas
não posso simplesmente fingir que é o segundo encontro quando não temos a
base do primeiro encontro. Não, as estrelas podem ter se alinhado para nos
levar até aqui, mas se vamos continuar atingindo todos os alvos, não posso
simplesmente sentar e deixar isso ao acaso.
Drew envolve um braço em volta da minha cintura e diz: — Você quer
uma bebida ou algo assim?
Eu não posso dizer que sou um grande bebedor. Na verdade, não posso
dizer que estive em uma festa em que se bebia álcool antes deste verão. Mas
também estou ciente de que estou em um evento com um grupo de novos
estudantes universitários, e não é como se eu nunca tivesse visto um filme
adolescente antes. Eu sei como isso funciona – todos nós roubando goles de
copos vermelhos Solo enquanto nos perdemos em nossa juventude enquanto
toca uma música alegre e boa que vai nos embalar. Eu não vou ser o perdedor
em nosso primeiro encontro que estraga o clima sentando no canto mexendo
com os polegares, e Drew provavelmente está hiperconsciente de nossa
diferença de idade agora, então eu preciso fazer uma declaração, mostrar a ele
que sou maduro e totalmente o tipo de cara que se encaixa com seus amigos.
— Claro.
Drew vai pegar as bebidas e eu me sento com o resto do grupo. Eles
parecem como se estivessem brigando por algum videogame ou algo assim,
então eu meio que me sento e finjo que estou interessado.
— Você fuma, Noah?
Eu olho para o cara ao meu lado. Ele é o único membro do grupo que não
é branco, então estou tentado a me aproximar um pouco mais dele. Eu olho o
cachimbo em seu colo, lembrando a mim mesmo que maconha é totalmente
legal aqui, e provavelmente não importaria mesmo se não fosse. Eu preciso
ser o Noah Legal. O Noah Suave. Noah do segundo encontro.
— Uh, não, não, na verdade, — eu digo. Suave. Eu considero dar um
soquinho nele de qualquer maneira. Talvez seja uma daquelas cenas em que o
garoto nerd diz: — Ah, que diabos! — então eu dou uma longa tragada, e de
repente todos estão torcendo por mim enquanto eu surfo no colchão direto do
telhado.
Drew se senta ao meu lado e me passa um copo de plástico. Eu não tenho
ideia do que tem nele, mas eu tomo de qualquer maneira, lutando contra o
gosto terrível.
— Noah é da Flórida —, diz Drew.
Um dos caras sem nome se vira para mim e diz: — Merda, lá é, tipo, país
das armas, não é?
— Eu sou de Miami —, eu digo. — Eu só conheço três pessoas que tem
uma arma.
Uma das garotas se inclina em minha direção, seu rosto corado como se
ela estivesse bebendo há muito tempo. — Nossa, você deve ir à praia tipo
todos os dias. Eu gostaria de poder ser tão bronzeada.
Eu pressiono meus lábios porque eu honestamente não sei como
responder.
Drew ri, e não sei dizer se ele a acha engraçada ou apenas sabe que foi
uma coisa ridícula de se dizer, e me pergunto se devo dizer algo sobre como a
coisa toda é desconfortável. Então ele diz: — Então, fogueira?
Freddie se estica e diz: — Eh, pode ser. Jeff, vá buscar os fósforos.
Um garoto magricela com cabelo escuro revira os olhos antes de se
levantar e correr para dentro de casa.
Eu não teria imaginado pela frente, mas o quintal de Freddie é enorme e a
fogueira fica em algum lugar perto do meio. Todos nós nos juntamos ao redor
dela – o que provavelmente não é o mais seguro, já que não tenho certeza de
quanto todo mundo está bebendo – e Jeff volta correndo com um pacote de
fósforos.
Drew envolve seu braço em volta da minha cintura novamente, me
puxando para ele. Está quase completamente escuro agora, pequenas estrelas
piscando acima de nós. A multidão aplaude quando Freddie joga o fósforo e a
pilha se ilumina.
O calor me assusta, e dou um passo para trás, um sorriso já se formando
em meu rosto por causa de Drew atrás de mim.
Ele se inclina para mim e pergunta: — Quer tirar uma selfie?
Eu aceno enquanto ele puxa seu Galaxy e me vira para que a fogueira
fique atrás de nós. As chamas amplificam as sombras em nossos rostos, mas
sua câmera ainda consegue filtrar a luz da maneira certa. Eu sorrio quando
seu dedo paira sobre o botão, e quando ele está prestes a clicar nele, seu rosto
se vira, seus lábios capturando os meus.
Ele se afasta; minhas bochechas estão vermelhas. Ele olha para o telefone
para verificar a imagem. — Nada mal —, diz ele, segurando para que eu veja.
Quer dizer, você só pode ver um terço do meu rosto por causa do ângulo
da cabeça dele, mas no que diz respeito a fotos fofas de fogueira, está
definitivamente entre os dez primeiros.
— Envie isso para mim —, eu digo. — Quero postar no Diário.
Ele ri, colocando o telefone de volta no bolso. — Tudo bem, mas sem
mais conversas sobre o diário. Você terminou o trabalho da noite, então
vamos nos divertir.
Eu sorrio. — Estou surpreendentemente satisfeito com isso.

Eu não sei quantos drinks eu bebi, mas domingo de manhã, eu encontro Drew
na livraria como planejado, tirando o fato de que eu me sinto morto. Tive que
encostar minha cabeça contra a janela fria no caminho para não cair em cima
do carro de Brian, e agora estou de pé com minha cabeça contra o balcão para
parar de latejar .
Foi uma noite ótima. Não contei quantas vezes Drew e eu nos beijamos,
mas foi definitivamente mais do que o número de bebidas que tomei. Foi um
pouco estranho estar perto de seus amigos, já que eles são um pouco mais
velhos e esmagadoramente brancos, mas depois de uma hora ou mais, todos
começaram a se borrar em um grupo grande e harmonioso. Ou talvez eu só
estivesse bêbado. Eu não sei.
— Noah?
— Mmmmm.
Eu me afasto enquanto a mão de Drew se arrasta pelas minhas costas. Eu
não tinha percebido que ele estava tão perto.
— Você está bem? — ele pergunta.
Eu concordo. — Só uma dor de cabeça.
Ele joga a cabeça para trás e ri, e o som parece uma marreta contra o
interior do meu crânio. Eu descanso minha cabeça em seu ombro, o cheiro de
sua colônia me atingindo como um tapa na cara, mas está tudo bem. É um
tipo bom de dor.
Ele passa a mão pelas minhas costas. — Então, talvez da próxima vez
você não deva se sentar e beber durante a noite.
Eu rio. Embora tenha começado como minha tentativa de acompanhar
Drew e seus amigos, não demorou muito para eu perceber que estava me
divertindo muito. Ainda assim, é bom ouvi-lo dizer isso. Como se tentar
acompanhá-lo seja ridículo, porque ele não se importa se eu beba ou fume ou
me sente em um canto brincando com meus polegares.
— Foi divertido —, eu digo. — Acho que. . . bem, posso ter ido um
pouco mais longe do que deveria.
— É esse o seu jeito de me pedir para ficar de olho em você no futuro? —
ele pergunta.
Eu dou de ombros. — Não me importo de ter você para me proteger.
— Você viu minha postagem? — Drew pergunta, mas tenho que admitir
que não. Não é como se eu estivesse particularmente alfabetizado tropeçando
em casa e desabando na minha cama na noite passada.
Pego meu telefone para percorrer seu blog. É basicamente a mesma
postagem repetida, já que ele a fez trinta vezes respondendo aos comentários.
É a nossa foto na frente da fogueira com o comentário — aquele momento
em que você oficializa as coisas.
— Espere, — eu digo. — Somos oficiais?
Ele sorri. — Bem, namorados falsos oficiais. Espero que você não se
importe que eu tome liberdade criativa na história. Eu só percebi que já que
as pessoas ficavam pedindo mais detalhes, deveríamos dar a elas o que elas
queriam, certo? Essa é a primeira postagem que fiz com mais de dez notas,
então eu diria que me saí muito bem.
Isso é definitivamente um eufemismo, já que a postagem tem quase mil
notas agora, e eu nem mesmo a postei da conta oficial do Diário. Eu acho que
alguns fãs com seguidores suficientes deram ao post engajamento, o que pode
ser uma coisa boa, desde que não saia muito do controle.
— Você deveria me dizer primeiro da próxima vez, — eu digo. — Quero
dizer, quero ser capaz de controlar a narrativa que estamos pintando.
— Sim, totalmente, eu entendo, — Drew diz enquanto arruma uma pilha
de marcadores. — Eu acho que fui pego no momento, sabe? Não é todo dia
que faço parte de algo tão legal e me diverti muito na noite passada.
Eu sorrio, o calor me enchendo. Lembro a mim mesmo que isso é bom,
não apenas para o Diário, mas para nosso relacionamento de longo prazo.
Afinal, foi Drew quem nos tornou falsos oficiais, o que pode significar que
ele está disposto a nos tornar verdadeiros oficiais, como se talvez ele gostasse
tanto de mim quanto eu dele.
— Drew! — Amy grita, enviando outra onda de dor percorrendo minha
cabeça. — Se você não colocar sua bunda de volta no trabalho, eu juro por
Deus!
— Desculpe, tia Amy, — Drew responde, se afastando apenas o
suficiente de mim para parecer que ele tem uma tarefa em mente. Ele abaixa
a voz e diz: — Ela está pegando no meu pé ultimamente. Ela não conseguiu
ganhar uma ajuda extra, e acho que esse é o meu problema agora.
Eu rio, mas a verdade é que meio que me arrependo de ter ido à loja. Não
que eu não ame a ideia de passar meu domingo com Drew, mas minha cabeça
está se partindo, e eu meio que quero rastejar para a cama por mais mil anos.
— Você pode ir ao meu apartamento mais tarde? — Eu pergunto.
Drew sorri. — Absolutamente. Assim que meu turno terminar, eu estarei
lá.
— Então eu provavelmente deveria ir para casa, — eu digo, já pegando
meu telefone para chamar uma carona. Considerando que estou pagando
apenas por uma viagem só de ida, meus pais definitivamente não podem
chamar isso de abuso dos privilégios do cartão de crédito. Eu só tenho que ter
certeza de deixar de fora a parte de estar de ressaca demais para funcionar
quando eu explicar a viagem.
— Antes de você ir, — Drew diz, deslizando de volta até mim e
envolvendo um braço em volta da minha cintura. — Para o Diário, sabe.
E então seus lábios estão contra os meus, meu corpo derretendo contra o
seu lado e minha cabeça girando, mas desta vez no bom sentido.
Passo 5: A Viagem (A Paixão, parte 1)
É o momento em que você perde o fôlego pela primeira
vez e percebe que essa pessoa é importante para você.
Domingo, 3 de junho

DebunkingMCD postou:
Vocês estão falando sério? Este menino de 12 anos arranja um
namorado e, de repente, os fatos não importam para vocês?
Literalmente, nada disso faz sentido. Vou postar mais links mais tarde

Alwaysforever respondeu: Você é um estraga prazeres. Vê se cresce!


D.ashing respondeu: Não sei não. Só porque não é comum não
significa que não é verdade, né?
Dontdrinkthebeanwater respondeu: MDS, agora você está sendo
irritante. O Diário é real. SUPERA.
Carregar mais comentários . . .
Brian se dividiu desde que toda essa coisa de aprender a cozinhar decolou, e
eu acordo de uma soneca do meio-dia com o cheiro de curry pairando sobre
mim. Curry na verdade parece uma ótima ideia, já que não comi o dia todo e
só saio cambaleando do armário pouco depois das quatro e, sério, nem
preciso me preocupar com ele adicionando muitos temperos ou qualquer
coisa, já que ele só está aprendendo como cozinhar para corresponder às
expectativas de Maggie.
Quando entro na sala de estar – mancando um pouco porque ainda estou
meio desorientado – Brian levanta uma sobrancelha. Sento-me em um dos
bancos do bar e Brian diz: — Achei que você deveria estar procurando
emprego.
Eu gemo, descansando minha cabeça no balcão. Através da névoa da
ressaca, eu quase me esqueci disso. — Não cheguei muito longe.
Ele balança um pouco a cabeça enquanto desliga o fogão. — Eu quero
saber por quê?
Eu encolho os ombros. — Provavelmente não. Honestamente, não tenho
certeza de como devo encontrar um emprego, de qualquer forma.
— É esta a sua maneira de me pedir para arranjar aquele emprego no
acampamento de verão?
Na verdade, não tinha pensado muito sobre a oferta de Brian desde que
ele a mencionou pela primeira vez, mas agora que ele está trazendo o assunto
de novo, parece uma boa ideia. Quer dizer, terei meus fins de semana livres e
não vou precisar me preocupar com transporte, já que Brian pode me levar.
— Você pode? — Eu pergunto.
Ele me dá um daqueles olhares de eu sabia que chegaria nisso e diz: —
Sim, provavelmente. Teria sido mais fácil se você tivesse dito algo antes, já
que já estamos na metade da orientação, mas posso tentar.
Estou meio impressionado que ele facilitou tanto, considerando que
recusei uma semana atrás.
Então ele se vira para e aponta uma colher de pau para mim. — Mas
qualquer coisa que você foda reflete em mim, então é melhor você ser
perfeito, entendeu?
Essa é a resposta que eu esperava. — Eu vou, — eu digo. — Uma lousa
limpa. Novo começo. Entendi.
Brian revira os olhos, voltando para o jantar.
— Eu convidei Drew para vir mais tarde, — eu digo.
— Esse era o seu encontro na outra noite?
Eu concordo. Eu reconheço que Brian só está entendendo metade da
história, já que ele não sabe que Drew e eu não somos totalmente reais, mas
não é importante. Vamos nos encaixar e, depois da fogueira, acho difícil
acreditar que ele ainda não começou a desenvolver sentimentos por mim.
Afinal, já faz algum tempo que estamos rondando a viagem, então é apenas
uma questão de tempo antes de sairmos do parque também.
— Olha, eu não quero ser o cara mau aqui… — ele começa.
— Nunca te impediu antes…
— . . .Mas você estava bebendo na outra noite? Com aquele cara? —
Brian diz.
Eu encolho os ombros. — Isso importa?
— Você é um adolescente, você vai fazer o que quer fazer, mas isso não é
do seu feitio. Quero dizer, você é um nerd, não um festeiro.
Eu reviro meus olhos. Isso é algo que Brian diria, mas, ele é a última
pessoa que deveria estar me julgando, considerando que ele vai a festas desde
que tinha treze anos. — Parece que o pote está chamando o kernel preto.
— Em primeiro lugar —, diz Brian, — é uma chaleira. Em segundo
lugar, não estou julgando você, ok? Eu só acho que é meio preocupante que
você comece a sair com um cara que acabou de conhecer e de repente ele te
fez fazer coisas que você nunca faria por conta própria.
Mas esse é o ponto principal! Drew está me fazendo diversificar, para
tentar coisas que sempre tive medo de fazer antes. É uma coisa boa.
— Eu vou ficar bem —, eu digo.
— Ok, eu confio em você —, diz ele, com o mesmo tom de: é melhor
você não me decepcionar, que nossa mãe sempre usa. — De qualquer forma,
como está o curry?
Eu encolho os ombros. — Nada mal —, eu digo, e ele sorri porque sabe
que esse é o maior elogio que vou lhe dar. — Onde você conseguiu a receita?
— Eu pergunto.
— Da mamãe.
Eu congelo, a colher a meio caminho da minha boca. Já era ruim o
suficiente quando ele estava jogando todas essas receitas do Food Network
para agradar Maggie, mas a receita da nossa mãe? O alimento é sagrado em
nossa família. Ela poderia muito bem ter passado o anel de noivado da
família!
— Vou sair da sala quando seu namorado chegar —, diz ele, pegando sua
própria tigela. — Não quero pensar no que vocês estão fazendo.
— Não somos assim —, digo.
Bem, ainda não de qualquer maneira.
— Sim, ok —, diz Brian. — Eu acredito totalmente nisso.
Mas a verdade é que estou tentando levar as coisas devagar. Ou, bem,
mais devagar do que meu corpo provavelmente quer. O problema em
construir o relacionamento perfeito é que a base tem que ser firmada antes
que toda a diversão possa acontecer, e todos sabem o que acontece quando
você não deixa o concreto secar adequadamente antes de mergulhar. Tenho
que nos guiar cuidadosamente através da viagem se vamos ter uma chance a
longo prazo, e isso significa não nos precipitarmos em nada muito sério até
que ambos tenhamos saltado.
Bem, isso, e eu nem tenho certeza se estou pronto para chegar na parte
física com um garoto. Eu só namorei uma pessoa,quando eu ainda não sabia
que na verdade que era um menino – foi muito estranho –, e odiei cada
segundo disso. E eu conheço tantas pessoas que já tiveram vários
relacionamentos, se apaixonaram, fizeram sexo, mas também conheço um
bom número que não. Eu simplesmente odeio sentir que há algum
cronograma tentando me dizer quando tenho que chegar a cada nova etapa.
Parece que todos estão pegando o elevador para alguma festa secreta na
cobertura, e eu nem tenho permissão para dar uma olhada.
E se todos subirem antes de mim, eles vão trancar as portas?
— O que quer que vocês dois façam —, diz Brian, — apenas tenham
cuidado, ok?
— Papai já me deu o discurso sobre proteção, — eu digo.
Brian ri, se aproximando de mim e bagunçando meu cabelo enquanto eu o
afasto. — Eu só quis dizer, você sabe, vá com cuidado. Eu não quero ter que
juntar os cacos se esse cara quebrar seu coração.
E eu sei que essa é a maneira de Brian de dizer que faria exatamente isso
se Drew acabasse não sendo o cara certo, eu tenho certeza que ele é, e talvez
eu devesse agradecê-lo, mas minha mente já está tentando montar o visual
perfeito para esta noite.
E então um pensamento me ocorre, do qual provavelmente me
arrependerei mais tarde, embora eu saiba que não tenho outra escolha. — Ei,
Brian —, eu digo, — você quer me ajudar com meu cabelo?
No momento em que Drew começa a bater na porta da frente, eu estou
vestido com um par de jeans skinny e uma camisa de botão. Normalmente, eu
coloco um colete ou outra coisa para torná-lo especialmente delicado, mas
não quero parecer que tentei demais. Afinal, Drew está me visitando em casa,
o que significa que preciso apenas de um look casual o suficiente para que ele
pense que me pegou de surpresa, como se eu não estivesse esperando muito
ansiosamente por ele.
— Oh, Drew —, eu digo quando abri a porta e fiz sinal para ele entrar. —
Eu não esperava você tão cedo.
Ele ri, envolvendo um braço em volta da minha cintura. — Pensei em ir
para casa trocar de roupa depois do trabalho, mas não queria perder tempo.
Eu sorrio. — Sabe, você não precisa se esforçar tanto para manter as
aparências enquanto estamos sozinhos.
Isso é uma manobra, é claro. Isso dá a ele a oportunidade de dizer, eu sei,
mas cada vez que penso em você, meu coração acelera e não consigo
imaginar te deixar ir.
— Seu irmão está em casa, não é? — Drew diz. — Não quero cometer
um deslize.
Eh, não é a resposta que eu esperava, mas provavelmente é melhor. Eu
não quero que nos tornemos muito clichês ou previsíveis.
Eu o arrasto até o sofá e o sento. Eu já espelhei meu telefone na TV, e
uma vez que sua bunda bate nas almofadas, eu pressiono o play na pequena
lista de reprodução romântica que criei para nós. é difícil encontrar as
canções românticas perfeitas com todos cantando sobre amor não
correspondido, rompimentos ruins e sexo. Passei uma hora inteira
vasculhando as listas de reprodução de “cafeterias” das pessoas até que
encontrei músicas lentas, doces e enjoativas o suficiente para durar algumas
horas.
Estou aberto à ideia de olhar em seus olhos por toda a eternidade, mas sei
que pode ser estranho, já que não somos .
um casal.

— Está com fome? — Eu digo. — Meu irmão cozinha. Ou eu poderia


pegar uma bebida para você ou…
— Não —, ele diz, pegando minha mão e me guiando até o sofá. — Não
se preocupe com isso. Só quero passar um tempo com você.
As palavras me pegam desprevenido. Deus, eles soam como algo que eu
escreveria no Diário, palavras tão perfeitas que você não pode deixar de
desmaiar.
— Bem, você me pegou —, eu digo.
— Noah, eu… — Mas sua voz é cortada como se essas fossem as únicas
palavras que ele conhecia. Eu posso senti-lo se inclinando para mim, e eu
estou me recostando, esperando que ele me diga que esperou a vida toda por
alguém como eu, e não há nada que ele queira mais do que nos tornar
permanentes.
E então ele está me beijando, seus lábios explorando os meus… como…
eh, esqueça. Não tenho tempo para pensar em analogias extravagantes. Estou
nadando em seu beijo e tudo desaparece. Eu não sei como isso se encaixa em
nosso cenário de namoro falso. É o treinamento para mais beijos em público,
apenas nos deixando no clima? Ou é apenas no caso de Brian sair do quarto?
Mas, não importa, porque sentado naquele sofá, o Diário começa a sumir.
Eu não sei se ele sente isso também, mas há uma fome real por trás dos meus
beijos, uma eletricidade real nos envolvendo e nos amarrando, seja qual for
os títulos que jogamos sobre a coisa toda.
Esta não é para o Diário. Este é para mim.

OI? Rebecca?? Preciso te contar sobre meu encontro! ME LIGA!


Entregue

Na manhã seguinte, Brian me acorda cedo e me leva para trabalhar com ele,
embora eu ainda não tenha sido contratado. — Será mais fácil para você se
atualizar se você já estiver lá. Além disso, assim que eles o conhecerem,
tenho certeza de que estarão mais inclinados a contratá-lo.
— Porque eu sou bonito demais para resistir? — Eu digo.
Ele geme. — Só deixe a conversa comigo, ok?
O “acampamento” não é o que eu esperava. Nenhuma cabana
extravagante com uma placa de Bem-vindo ao acampamento pendurada na
porta da frente. Nenhum lenhador robusto é visto na entrada, de flanela
xadrêz e cortando lenha. Nenhuma criança usando gorros de alce bregas
enquanto correm em direção ao lago inexistente, esperando para pular do cais
quase estável para a água verde e turva. Na verdade, nem mesmo é um
acampamento de verdade. É apenas um grande centro comunitário em blocos
na base das montanhas, dividido em três edifícios brancos igualmente
enfadonhos e mais estacionamento do que vegetação real ao redor.
— Todas as atividades ao ar livre são realizadas fora do local, e todo
mundo só pega um ônibus —, diz ele.
— Ugh, isso é decepcionante. Pensei em pelo menos tirar fotos minhas
descendo uma cachoeira de caiaque para o meu blog.
— Você percebe que não está aqui para se divertir, certo?
— Hm?
Entramos na pequena área de escritórios, onde duas pessoas mais velhas
estão paradas. E quero dizer mais velhos. . . cinquenta, talvez? Onde estão
todos os caras gostosos de vinte e poucos anos e usando shorts?
Ninguém olha para cima quando entramos, e estremeço com o
pensamento de que eles podem estar ocupados. Quer dizer, este é um
acampamento de verão, certo? Tudo que você precisa fazer é deixar as
crianças correrem e se certificar de que não se afoguem ou algo do tipo.
Parece bem fácil.
— Ei, Georgette —, diz Brian para a mulher que embaralha os panfletos
atrás de uma longa mesa de madeira. Ela tem uma sombra de olho verde
horrível que a deixa pálida, mas também há gatinhos fofos na gola de sua
camisa, então acho que eles se cancelam. — Este é meu irmão, Noah. Ele está
procurando um emprego para o verão, se houver espaço.
A voz de Brian é doce, uma daquelas vozes que tenho certeza que as
vovós amam. Estou meio que esperando que Georgette corra ao redor da
mesa e belisque suas bochechas.
— Quantos anos tem ele? — ela pergunta, nem mesmo tirando os olhos
do trabalho.
— Dezesseis.
Ela olha para cima e parece me ver, seus olhos se estreitando
ligeiramente. — Normalmente não contratamos adolescentes.
— Ele não seria o primeiro, certo? — Brian diz. — Noah trabalha muito
duro e vai se dedicar totalmente.
Ela olha entre nós dois lentamente, meticulosamente, como se ela fosse
um gato escolhendo qual de nós agarrar primeiro. Finalmente, ela diz: —
Você está com sorte. Um de nossos conselheiros juniores voluntários desistiu
ontem, o que significa que nossa única chance de substituí-los será com um
salário pago. Você lida bem com crianças de quatro a sete anos?
Estou surpreso que ela ainda não tenha me chamado de criança, mas eu
apenas digo: — Sim, eu amo crianças!
Tenho certeza de que Brian pode ver através das minhas mentiras com
bastante facilidade, mas ele apenas sorri para Georgette. Ela olha de Brian
para mim novamente antes de dizer: — Não tenho tempo para fazer uma
entrevista, mas podemos começar e deixar seu supervisor decidir se você se
encaixa. Isso vai nos poupar algum tempo de qualquer maneira. Você
receberá um salário semanal se ficar.
Eu quero dizer um salário semanal? É isso? Em vez disso, apenas sorrio e
digo: — obrigado!
Georgette me passa um panfleto com as palavras Bicormac Springs
Summer Camp na frente, depois se vira para Brian e diz: — Você pode levá-
lo ao centro de recreação?
— Sim —, diz Brian, rapidamente me guiando pela porta enquanto o
sorriso desaparece do meu rosto.
— O que foi isso? — Eu pergunto.
Brian ri. — Georgette não é a mais amigável, mas ela tem um coração
muito bom, pelo que posso dizer. Eu queria simplificar isso para que eu
pudesse começar a trabalhar.
— Achei que fosse apenas orientação —, digo.
Ele dá de ombros. — Sim, é, mas estou fazendo treinamento de RCP¹.
Você sabe, porque eu tenho idade suficiente para ser algo além de ser babá de
um bando de crianças de seis anos.
Eu reviro meus olhos. — Irra.
O centro de recreação é provavelmente o maior espaço aqui. É pior do
lado de fora – a tinta branca descascando e a grama ao redor parecendo bem
marrom – mas por dentro parece meio que um ginásio de colégio, das
arquibancadas às paredes semi-acolchoadas. O chão parece uma quadra de
basquete, mas as linhas não estão marcadas. Há algum espaço contra a parede
oposta forrada com mesas, e há quatro pessoas se movimentando carregando
coisas de uma rampa perto das arquibancadas.
— Ok —, diz Brian, dando um tapinha no meu ombro. — Boa sorte,
mano. Vejo você depois do trabalho.
Ele sai do centro de recreação e eu fico ali parado sem jeito por um
momento, enquanto considero para onde ir. Não há muitas pessoas na sala,
muito menos um grupo de boas-vindas de crianças da minha idade esperando
para me mostrar minha tarefa. Na verdade, entre as pessoas que entram e
saem do centro e as duas pessoas que estão limpando ou o que quer que seja,
a única pessoa que parece ter quase a minha idade é uma criança sentada em
uma das mesas distantes folheando uma pilha de papéis.
É uma caminhada meio longa, mas eu engulo e sigo em sua direção.
Espero que ele possa me dizer no que estou me metendo ou, pelo menos,
espero que esses papéis sejam um guia de boas-vindas e um mapa.
Conforme me aproximo da mesa, percebo que o cara parece meio mal-
humorado e hostil, o que é bem lamentável, já que ele é muito bonito – maçãs
do rosto salientes, uma leve camada de sardas, lábios expressivos. Eu me
aproximo da mesa e digo, — Oi —, acenando para dar um efeito. — Hum, eu
queria saber se você sabe para onde eu devo ir. Eu sou novo e…
E então ele abre a boca, mas não são palavras que saem. É vômito. Em
cima de mim.
Eu grito, o que é a única reação racional, e enquanto a umidade escorre
lentamente pela minha perna, espero que as pessoas corram e tentem me
salvar, mas ninguém pisca.
O garoto finalmente parece reconhecer que estou tomando seu café da
manhã e diz: — Meu Deus.
— Você está dizendo, oh meu Deus, mas não é você que está coberto pela
bile de outra pessoa! — Eu grito.
— Lamento muito —, diz ele, mas já estou me afastando para certificar
de que não tem outra dose à espera.
Ele pega um walkie-talkie da mesa e fala nele, dizendo: — Bev, você
pode trazer algumas toalhas e, hum, sabonete?
— Sabonete? — Eu digo. — Como isso vai ajudar?
— Eu-eu não sei —, diz ele. Ele me diz para esperar lá enquanto ele pede
a alguém para limpar a cena, mas tenho certeza de que ele está apenas
tentando escapar do olhar mortal que estou jogando para ele.
Então eu fico lá como a exposição de arte mais nojenta do mundo,
tentando não pensar sobre isso, por mais cinco minutos antes que uma mulher
– estou supondo que Bev – apareça com algumas toalhas e me arraste de
volta para me enxaguar. E agora, além de arruinar uma das melhores adições
ao meu novo guarda-roupa, estou tremendo no frio do Colorado, cheirando a
tecido encharcado e nem sei o que mais.
— Caramba —, diz Bev, sua voz um pouco nasalada. — Começo difícil
de manhã, hein?
E ela ri, mas eu estou fervendo. Quer dizer, além do fato de que essa
coisa toda é tão nojenta que estou preocupado com se respirar vai me deixar
com náuseas, é absolutamente humilhante. É meu primeiro dia em um novo
emprego e já vou ser o alvo da piada porque o Sardas não aguentava o
almoço. Quero dizer, inferno, ele deveria ser o único aqui fora se
transformando na porra de um picolé, não eu. E assistir Bev se divertindo
como ela reflete sobre o quão sortuda ela é por não ser eu está me irritando.
Finalmente, eu digo: — Sim, manhã difícil, mas provavelmente não tão
ruim quanto a daquele cara. Eles o deixaram vir trabalhar assim?
Bev balança a cabeça lentamente. — Devin terá que ir para casa passar o
dia.
Oh, é esse o nome dele? Nojento. Tenho certeza de que ele vem de
alguma família branca rica e está aqui apenas para matar o tempo durante o
verão. E quanto mais penso nisso, mais inexplicavelmente zangado fico. Quer
dizer, vamos lá. Eu nem queria estar aqui em primeiro lugar, e só consegui o
emprego porque Brian deu um jeitinho.
— De qualquer forma, você deveria voltar para dentro. Podemos ter
algumas calças sobrando no armazenamento, se você quiser trocar as suas.
— Obrigado —, eu digo, porque é a coisa educada a se dizer, mas vamos
ser sinceros aqui. Minhas calças são de camurça, e ela não tem nada que
valha a pena substituí-las.
Eu volto para o centro de recreação para descobrir que há mais pessoas do
que antes. É uma espécie de alívio saber que pelo menos uma parte
considerável da equipe não viu minha humilhação. Só espero poder acobertar
isso. Então, posso trabalhar para ser pago para poder voltar ao meu verão.
Inbox (537)
Redgreenmachine perguntou: Ei, Noah! Amo o blog. Você já pensou
em dar conselhos amorosos?
Unpinupgod perguntou: Sei que você deve estar ocupado com o
namorado novo, mas quando teremos posts novos? Semanalmente?
Anônimo perguntou: Não sei se você viu minha pergunta semana
passada, mas eu queria saber se você vai postar fotos novas logo?
O dia leva uma eternidade para terminar, antes de eu finalmente conseguir
entrar de volta no carro de Brian e fingir que não perdi um dia inteiro ali.
Quando voltei para o centro de recreação, descobri que Devin já tinha saído.
Chocante. De qualquer forma, passei por um “treinamento”, que basicamente
significava falar sobre as coisas que eu deveria e não deveria fazer com
crianças indisciplinadas, lidando com regulamentos de segurança ou o que
fosse, e repassando os fundamentos do que o acampamento oferecia, noventa
por cento dos quais Eu não estaria nem perto porque não era um adulto legal
com nenhuma habilidade especial.
E, claro, como se as coisas do acampamento não pudessem ficar mais
ruins, não há absolutamente nenhuma rede de celular, então eu não tenho a
chance de olhar as postagens do Diário até estar voltando até o carro. As
pessoas estão devorando meu relacionamento com Drew, na verdade ainda
mais do que os encontros fofos. Os engajamentos estão nas alturas e as
pessoas continuam pedindo mais postagens, então é justo que eu cumpra.
Qualquer coisa para mostrar ao troll que sua tentativa de me derrubar me
elevou ainda mais.
Então eu vejo o que está causando o ataque de mensagens positivas –
Drew me marcou em outro post, este uma recapitulação detalhada do nosso
encontro na noite passada, além de uma foto minha pegando bebidas na
cozinha que eu nem tinha percebido que ele tirou. A postagem é fofa e está
gerando muito engajamento no Diário, mas ainda me atinge como um tapa na
cara. Bem, um tapa nas fantasias, eu acho, já que a noite passada tinha sido
quase fofa o suficiente para eu acreditar que nosso relacionamento não era
apenas um show para um bando de fãs da internet.
Brian me cumprimenta com um “já voltou ao telefone?” Porque ele foi
obviamente criado por homens das cavernas e não entende que só porque
algo é digital não o torna menos importante do que algo na vida real.
Eu apenas resmungo em resposta enquanto coloco meu telefone virado
para cima no meu colo e coloco meu cinto de segurança.
— Suas calças estão bem?
Eu gemo antes de finalmente olhar para cima para encontrar sua
expressão maliciosa. — Você ouviu?
Ele ri. — Certeza que todo mundo ouviu. Essa história se espalhou tipo
um incêndio.
Eu forço para baixo o calor subindo em minhas bochechas e me viro para
olhar pela janela. Sim, o acampamento de verão foi uma má ideia. Eu deveria
ter apenas me inscrito para uma Old Navy ou algo assim.
— Não é grande coisa —, diz Brian enquanto sai do estacionamento. —
Quer dizer, isso deu uma boa risada, mas você não é a primeira pessoa que já
recebeu um vómito e não será a última. Embora você possa ser a primeira
pessoa a ser vomitada por outro membro da equipe.
Eu reviro meus olhos.
— De qualquer forma, tente não se preocupar muito com isso —, diz
Brian. — Quer dizer, é um acampamento de verão. Todo mundo está
recebendo alguma merda desagradável neles.
— Isso não me faz querer voltar —, eu digo.
Brian encolhe os ombros. — Então não faça isso, mas você vai ter que
arranjar outro emprego ou mamãe vai ficar chateada.
E obviamente eu sei disso, mas ouvi-lo dizer isso só baixa meu humor
ainda mais. É melhor Becca responder esta noite porque tenho muito a dizer.

Becca? Olá? Sou eu, ainda esperando uma resposta!


Becca, vamos, isso está ficando ridículo.
VOU BLOQUEAR VOCÊ SE VOCÊ NÃO RESPONDER!
Entregue

Na verdade, Becca não atende, então acabo ligando para Drew. Ele me
coloca no viva-voz porque está consertando a bicicleta de seu irmão mais
novo ou algo assim, o que significa que tenho que manter a classificação livre
na minha fala caso alguém entre, mas, uau, falo tudo.
E depois, ele diz algo como: — Você é tão bravo?
Então eu falo de novo.
— Ok, ok, — ele diz, — respira. Pelo menos você tem um emprego,
certo?
Talvez, e talvez eu não esteja bravo com ele, mesmo que ele tenha
postado sem minha permissão de novo, estou apenas chateado porque as
coisas têm estado bagunçadas ultimamente – vomitado, o surto massivo nas
demandas do Diário desde que o troll apareceu, sendo meio ignorado por
Becca.
E sim, é a última parte que dói mais.
— Noah?
— Desculpa, — eu digo. — Estou um pouco distraído.
— Algo com o Diário? — ele pergunta.
— Não —, eu digo, — e para ser honesto, não acho que você possa
ajudar com isso.
Ficamos em silêncio por um tempo e, por um momento, me pergunto se
ele desligou. Em seguida, ele diz: — Sinto muito.
E é tarde, e eu tenho que acordar cedo amanhã de manhã para trabalhar
em um trabalho que não tenho certeza se quero, mas de repente eu quero vê-
lo.
— Quanto tempo você vai levar para terminar essa bicicleta? — Eu
pergunto.
— Acabei de terminar, por quê?
— Você quer ir olhar as estrelas ou algo assim? De preferência algo super
romântico? Hum, sabe, para o Diário.
Ele ri e diz: — Estarei aí em vinte minutos.

Uma coisa boa sobre namoro falso com um cara cis mais velho é que
podemos andar por aí à noite sem nos preocupar se alguém pular sobre nós.
Afinal, Drew tem quase um metro e oitenta de altura e, embora não seja um
jogador de futebol, não tenho dúvidas de que ele daria um soco bem feio se
tentasse.
Está frio pra caralho, e eu não percebo até que já estamos a alguns
quarteirões do apartamento. Como um verdadeiro herói do romance, ele tira a
jaqueta e a joga em volta dos meus ombros, e eu me aconchego no cheiro
opressor de sua colônia até me deixar tonta.
— Então, onde estamos indo? — Eu pergunto.
Ele encolhe os ombros. — Não faço ideia. Achei que poderíamos andar
até encontrar algo legal.
Mas está tudo praticamente fechado, então estamos apenas curtindo a
noite. Eu não me importo. Não é como na Flórida, onde os mosquitos
enxameiam cada centímetro do seu corpo se você ousar sair depois das sete.
O ar está frio e seco contra a minha pele, embora minha respiração fique mais
difícil a cada passo.
— Você não faz muitas caminhadas, não é? — pergunta.
Eu dou risada, balançando minha cabeça. — Eu sou da Flórida. O mais
próximo que temos de uma montanha lá embaixo é um depósito de lixo.
Drew estremece. — Nojento. Você tem que sair mais. Tenho certeza que
você pode encontrar uma trilha incrível para caminhadas em Cali.
Mas não quero pensar em Cali, ou no fim do verão e em nós seguirmos
caminhos diferentes. Só quero pensar nas estrelas enquanto olham para nós
como se fôssemos as duas únicas pessoas no mundo, o calor de sua jaqueta
fazendo cócegas em minha pele.
— Drew? — Eu chamo.
Ele se vira para olhar para mim e eu só quero beijá-lo. Então eu beijo.
Seus dedos serpenteiam por baixo de sua jaqueta enquanto tentam
encontrar minha pele. Eles estão frios quando deslizam por baixo da minha
camisa e sobem no meu peito.
Seus beijos são famintos, como se ele estivesse tentando ter controle
sobre meu corpo, e uma parte de mim quer deixar. Diz que sou jovem e é
verão, e devo apenas me render a todos os desejos que já passaram pelo meu
cérebro.
Mas outra parte de mim sente que algo está errado. Eu me afasto dele,
minha respiração irregular por causa da caminhada e do beijo.
— Sinto muito —, digo, mas não tenho certeza do porquê. Quer dizer, ele
me beijou de volta, então ele não deve ter odiado, mas não há ninguém por
perto para quem atuar, e eu não tenho certeza do que isso significa para nós
ou para mim ou qualquer outra coisa.
— Algo errado? — ele pergunta.
E eu não sei. Talvez eu tenha seguido muito bem os passos para o
relacionamento perfeito, e esteja me perdendo na hesitação que nos levará ao
pico perfeito, mas Deus, eu gostaria que pudéssemos superar isso já. Drew
está olhando para mim como se sentisse falta do meu corpo contra o dele, e
eu quero dar isso a ele.
Mas também quero ir para casa.
— Sinto muito —, eu digo. — Estou apenas ficando meio cansado.
Ele passa a mão pelo cabelo e suspira. — Sim, está muito tarde, hein?
Você quer voltar?
Eu aceno, aliviado por ele não me pressionar para mais nada. Ele apenas
desliza sua mão na minha, e nós contornamos a rua novamente, rastejando no
nosso caminho de volta para o apartamento. Finalmente, quando estamos lá
embaixo, começo a puxar sua jaqueta para devolver a ele, mas ele diz: —
Está tudo bem. Eu pego na próxima.
Eu quero protestar porque algo sobre o peso disso parece muito pesado
em meus ombros, mas eu não. Eu sei que já arruinei sua noite. A última coisa
que quero fazer é insultá-lo.
Ele me deseja boa noite e eu corro escada acima, protegendo meu rosto
do frio e da humilhação que toma conta de mim.
Inbox (783)
Anônimo perguntou: Ei, Noah! Suas postagens estão sendo
excluídas? Eu não vejo nenhuma faz um tempo
Msjaygatsby perguntou: Tenho certeza de que sua caixa de entrada
está cheia, mas você recebeu minha última pergunta? Eu não quero te
perseguir.
Pinkpurpleblue perguntou: Quando recebemos atualizações do
relacionamento? Aliás, amo esses encontros mais que fofos!
Na manhã seguinte, Brian não pergunta por que eu saí tão tarde, mas sei que
ele me ouviu chegar em casa. Parte de mim está aliviada que ele está me
dando espaço, mas a outra parte deseja que ele aja mais como nossos pais –
me dando um sermão sobre ser responsável e ficar seguro e me fazer sentir
como se todas essas decisões não estivessem penduradas apenas em meus
ombros, mesmo que eu meio que falei merda para ele outro dia.
Estou exausto, já que não fui dormir até quase duas e Brian me acordou
às seis e meia. É bem ridículo que eles nos façam vir tão cedo, já que o
acampamento ainda nem começou, mas acho que a orientação de Brian
envolve um trabalho real que leva tempo real, em vez de ficar sentado
ouvindo um monte de velhos falando sobre seus netos.
As luzes brilhantes do centro de recreação me dão dor de cabeça e luto
para manter os olhos abertos enquanto me jogo nas arquibancadas. O erro que
cometi ontem foi pensar que precisava encontrar algumas responsabilidades.
Eu sou praticamente inútil por aqui, então se alguém precisar de mim, eles
vão me encontrar.
E embora eu tenha me envergonhado ontem à noite, eu queria que Drew
estivesse aqui. Não, eu gostaria de estar de volta à livraria. Drew poderia me
preparar café e poderíamos conversar sobre o Diário, e as coisas se
encaixariam.
— Bom Dia.
Eu olho para cima e me encolho. Devin está parado perto de mim, um
porta-copos quadrado nas mãos com dois copos Starbucks dentro.
— O que? — Eu solto.
— Eu. . . sinto muito por ontem —, diz ele. — Eu trouxe uma oferta de
paz.
Suas mãos estão tremendo tanto que tenho certeza que ele vai derramar o
café quente em mim. Dois por dois, eu acho.
Eu me levanto e estabilizo o porta copos antes que ele escorregue de suas
mãos. — Os dois são para mim? — Eu pergunto.
Seus olhos se arregalam. — Você quer os dois?
Eu dou de ombros, mas decido pegar um dos copos. Se ele derrubar o
outro, é problema seu. — O que é? — Eu pergunto enquanto levo a tampa
aos meus lábios.
— Vanilla latte.
Eu congelo, pensando em jogar a maldita bebida na sala, mas também
percebendo que esta é minha única chance de tomar um café durante o dia. —
Como você sabia que lattes de baunilha são minha bebida favorita?
Devin pisca, retirando seu próprio copo da sacola e colocando o papelão
feio na arquibancada. — Eu não sabia —, diz ele. — Acho que eles são um
clássico.
Aceitando que ele não tem perseguido secretamente minha vida desde
antes de conhecê-lo, tomo um gole e, Deus, sinto falta do café Starbucks. Tão
doce e puro.
Estou esperando que Devin entenda isso como sua deixa para ir embora,
mas em vez disso, ele se senta, graciosamente a cerca de um pé e meio de
distância de mim. Ele começa a mexer na tampa do copo e diz: — Lamento
muito por ontem. Eu não pensei que isso fosse acontecer.
Eu reviro meus olhos. — Sim, nem eu. Sempre otimista.
Ele olha para cima e sorri, mas eu não sei de que diabos ele está sorrindo.
— Eu esperava que pudéssemos começar de novo. Você sabe, porque
trabalharemos juntos durante o verão.
Parece um pouco hipócrita dizer a ele para ir se foder enquanto estou
bebendo o café que ele me trouxe, mas também não tenho certeza de como
deixar claro que não vim aqui para fazer amigos.
Finalmente, suspiro, pondo meu café na mesa e estendendo a mão para
ele, dizendo: — Noah.
Ele o pega e sorri. — Devin.
— Então, eu ouvi.
— Você é irmão de Brian, certo? — ele diz.
Eu paro, uma sobrancelha levantada. — Ele te contou sobre mim?
Devin balança a cabeça. — Acabei de ouvir algumas pessoas no
escritório falando sobre.
Ficamos em silêncio, e o único barulho de fundo era o som de tênis
rangendo no chão recentemente encerado. Talvez eu deva encontrar algo para
fazer. Me sinto meio mal sentado por aí quando estou sendo pago, mas eu
simplesmente não quero sentar mais com Devin.
Eu me levanto e olho para ele com um sorriso forçado. — Bem, é melhor
eu ir.
Ele olha para mim, as sobrancelhas franzidas. — Onde você está indo?
— Você sabe, tenho que trabalhar. Arrumar essas coisas ou o que for.
Devin pisca uma vez e diz: — Não fazia ideia que você estaria tão
ansioso.
— Tenho que me sustentar, — digo, quase para me virar e fugir.
Então Devin diz: — Tudo bem, se você diz. Estamos limpando a sala de
ensaio.
Eu congelo. Ele acabou de dizer “estamos?” — Hum, o quê?
— Quero dizer, tem sido usada o ano todo para se preparar para
programas, mas é onde as crianças mais novas estarão…
— Você tem certeza de que é minha tarefa? — Eu digo, esperando que
ele diga algo como Oh, não, eu só estava balbuciando porque sou um idiota!
Vá encontrar sua verdadeira missão.
Em vez disso, ele dá de ombros e diz: — Quer dizer, sou seu supervisor,
então. . .
— Você é meu o quê? Você tem uns doze anos.
Ele ri, levantando-se. E sim, ele é mais alto do que eu, o que não percebi
antes. — Na verdade, tenho dezessete anos —, diz ele, — mas faço parte do
conselho estudantil que organiza o acampamento. Está pronto?
Claro que não estou, mas eu aceno de qualquer maneira, porque agora eu
sei que meu salário está na palma da mão dele.

Becca, estou fervendo, e nem mesmo é com você. Me mande uma


mensagem de volta, por favor. Eu preciso FALAR.
Não Recebida

Devin põe um pouco de música indie rock enquanto varremos a sala de


ensaios. É uma sala muito pequena e obviamente feita para dançarinos, uma
vez que há barras de balé e caixas em cima de caixas de fantasias.
— Não importa como empacotamos tudo, porque eles vão olhar tudo
novamente mais tarde. Apenas prenda as caixas com fita adesiva e nós vamos
tirar da sala.
Eu aceno, pegando a fita adesiva e colocando tantas coisas de fantasia
perdidas quanto possível em cada caixa. É um trabalho muito servil, então
pelo menos eu não tenho que colocar muito esforço.
É uma pena ficar preso aqui quando prefiro responder às mensagens do
Diário. Minha caixa de entrada nunca recebeu tantas mensagens por dia e,
francamente, estou atrasado em respondê-las. É como se todos quisessem dar
uma olhada especial no meu relacionamento e, embora reconheça que este é o
preço do estrelato, estou ficando sem energia para acompanhar.
Eu mantenho um canto interno constante de Por favor, não fale comigo.
Por favor, não fale comigo. Devin se senta a alguns metros e começa a
empacotar as caixas, e nosso trabalho é agradavelmente silencioso.
Então ele diz: — Você está em Denver só para o verão, certo?
Eu apenas aceno, mantendo meu rosto voltado para baixo.
— Já teve a chance de dar uma olhada na cidade? Há algumas coisas
legais no centro e…
— Eu tenho um namorado, — eu digo, e ele cai no meio da sala como um
maldito OVNI.
Devin pisca uma vez e diz: — Parabéns?
Eu balanço minha cabeça, olhando para baixo antes que minhas
bochechas corassem — Eu só quis dizer que ele está me mostrando a cidade.
Estamos dando algumas voltas.
— Oh isso é bom.
Caímos em silêncio de novo e estou meio aliviado por ter interpretado
mal sua conversa fiada e ele não estar tentando flertar comigo. Pelo menos
isso é uma coisa a menos com que se preocupar.
Estou meio que esperando o resto da nossa equipe aparecer e me libertar
do cativeiro, mas parece que a equipe é apenas Devin e eu, que é basicamente
tudo que eu não quero no verão. Ele continua batendo papo, e eu faço o que
posso para deixar o mais óbvio possível que não quero conversar, pois estou
cansado e estressado e não sou um grande fã de “trabalho” em geral, mas o
cara não posso dar nem uma maldita dica.
E eu não quero gritar com ele e mandá-lo se foder, já que sei que uma
palavra ruim dele significará Noah desempregado de novo, mas entre toda a
pressão do Diário e não ser capaz de falar com Becca e o fato de meu telefone
não captar um único sinal desde que entrei está cada vez mais difícil de
evitar. Minha única esperança neste momento é que eu possa ficar por tempo
suficiente para Georgette me dar uma segunda chance quando eu finalmente
perder o controle e receber um relatório ruim.
Até lá, eu só tenho que manter minha cabeça baixa. Ou, bem, neste caso,
acenar com a cabeça o suficiente para parecer que estou ouvindo uma palavra
que ele diz. Então posso me distrair pensando em Drew ou no Diário e rezar
para que o dia acabe
Passo 6: A Hesitação
O momento em que você percebe que as coisas estão
progredindo e pensa: “Isso é demais”, apenas para
fortalecer o vínculo no futuro.
Inbox (937)
Anônimo perguntou: Caro Noah, adoro ouvir sobre seu
relacionamento! Comecei a seguir o Diário há um ano porque foi
incrível ouvir sobre todas essas pessoas trans encontrando o amor,
mas, honestamente, isso significa muito mais para mim. É legal que
pessoas trans possam ter encontros fofos, mas relacionamentos
duradouros como o seu? É incrível! Você é um verdadeiro ícone, e eu
admiro muito você. Obrigado por cultivar um relacionamento tão bom
e nos deixar acompanhá-lo. Isso significa o mundo para muitos de
nós.
Não vejo Drew pelo resto da semana. Ele me diz que tem um monte de
coisas para fazer na loja, e então que deveria levar seu irmão a um show ou
algo assim, e há todas essas coisas importantes acontecendo, mas uma parte
de mim sente que ele está apenas me evitando. Quer dizer, quão ridículo eu
fui na noite passada? Agora ele não quer nada comigo porque eu o recusei. E,
francamente, depois de quão ansioso ele é para se envolver com todas as
coisas do Diário, me deixou meio apavorado. Eu fui um encontro tão horrível
que ele está correndo assustado, ainda mais do que o natural para a hesitação,
e eu não vou saber o que fazer se ele nunca mais quiser falar comigo.
Sexta-feira é o último dia da orientação antes do acampamento de verão
começar na segunda-feira, então todo mundo está agitado e enlouquecido
porque há tanto a ser feito. Devin e eu basicamente terminamos de preparar
tudo para as crianças na quarta-feira, então sexta-feira de manhã, ele traz
rosquinhas e ficamos sentados sem fazer nada. Passei o dia rodando as
mensagens de fãs do Diário que tirei print naquela manhã, pois sabia que
ficaria sem rede. Eles são doces e emocionantes, e é como se o Diário
ganhasse uma vida totalmente nova quando todos descobriram que eu era
uma daquelas histórias fofas – como se eu tivesse me tornado não apenas um
moderador, mas um padrinho de contos de fadas para doar amor entre todos
os jovens trans na internet.
É estranho, mas legal, e as pessoas me tratam como se eu fosse um tipo
de deus.
E meu estômago se revira, porque se Drew terminar comigo, não sou
apenas eu na reta. É o Meet Cute Diary também.
Eu me lembro que estou apenas preso na fase de hesitação por mais
tempo do que deveria. Depois disso, vem a corda, o vínculo inquebrável
formado entre nós que tornará nosso relacionamento mais forte do que nunca.
Eu só tenho que parar de me distrair e me concentrar em nos manter no
caminho certo.
Então, quando Drew me mandou uma mensagem depois do trabalho na
sexta-feira perguntando se eu queria fazer algo legal para o Diário na manhã
de sábado, eu ignoro a voz no fundo da minha cabeça dizendo mas nós íamos
dormir! e digo a ele que estou disposto a tudo. Ele diz que chegará às oito
para me buscar, e eu passo a próxima hora e meia escolhendo uma roupa.
Este é o ponto em que Becca geralmente intervém, mas eu não tenho ouvido
falar dela também, então estou sozinho.
Na manhã de sábado, Drew me leva a Red Rocks, sobre a qual ouvi falar
na teoria, mas nunca vi na vida real. É este anfiteatro ultrajante esculpido na
paisagem montanhosa e, supostamente, os concertos lá são a coisa mais legal
de todas por causa da reverberação natural. Não há nenhum show
acontecendo, mas as pessoas parecem ter se levantado cedo para iniciar suas
rotinas de exercícios. As pessoas correm, algumas praticam ioga e alguns
turistas aleatórios param tirando fotos.
— Isso é lindo —, eu digo, porque é, e estou tentando me perder nisso. É
definitivamente um dos dez melhores locais para fotos de deixe-todos-meus-
amigos-com-inveja-da-minha-mudança-pelo-país, mas o mais importante,
estou aqui com Drew.
Há um pouco de tensão no ar entre nós, mas não tenho certeza de como
me livrar dela. Já faz um tempo que não nos vemos, e ainda não sei por que
ele estava me evitando, e então há um pensamento persistente pairando sobre
minha cabeça depois de ler aquelas mensagens do diário. Se as pessoas se
importam mais com meu relacionamento com Drew do que com os
encontros, o Diário não terá chance se ele terminar nosso relacionamento
falso.
Eu dou um passo para mais perto dele, mas minhas mãos estão tremendo
e eu acidentalmente esbarro nele. Eu me afasto, optando por cruzar os braços,
mas Drew não parece notar.
— Sim, pensei que poderíamos começar com ioga e depois passar para os
pesos.
Eu me encolho, mas tento disfarçar. Sou grato por ele querer sair hoje, e a
última coisa que quero fazer é ofendê-lo, insultando seus planos de encontro.
— Hum, eu não gosto de atividades físicas. . .
Ele ri, passando o braço em volta dos meus ombros. — Eu estou
brincando. Achei que poderíamos fazer uma pequena sessão de fotos para o
Diário.
Meus olhos se arregalam com isso, meu coração acelerando, a tensão
quebrando ao nosso redor. Eu nunca fiz uma sessão de fotos e, honestamente,
quase não há fotos minhas em qualquer lugar porque sempre fui o único
amigo no grupo que sabe segurar uma câmera. Mas este lugar é lindo, e o sol
está na altura certa, e eu adoro a ideia de fazer algumas fotos. E Drew está me
dando um sorriso como se ele tivesse esquecido completamente que nosso
relacionamento é falso e talvez ele tenha sentimentos por mim, e todo o
constrangimento de antes estava apenas na minha cabeça.
Drew me dá um beijo rápido na bochecha e começa a me indicar o palco.
— Vamos começar aqui.
— Você trouxe uma câmera? — Eu pergunto.
Ele ri. — Vamos apenas usar meu telefone.
Então, passamos a próxima hora fazendo poses e tirando fotos. Ele para
um turista aleatório e pede que tirem algumas fotos de nós juntos, e então
trocamos, eu tentando descobrir como navegar em um celular que não é um
iPhone enquanto ele se curva e faz caretas para a câmera.
Assim que terminamos, começo a rolar pelas fotos para encontrar minhas
favoritas. As fotos de casal são fofas, e mando todas para mim mesmo para
que possa usá-las no Diário. Minhas fotos pessoais são um pouco menos
impressionantes. A luz está apagada e meu nariz parece meio grande na
maioria deles, como se Drew não tivesse olhado antes de tirar as fotos, mas
pelo menos as pedras vermelhas são mais visíveis. Eu não posso esperar que
ele seja bom em tudo. Na verdade, é meio cativante que minhas fotos sejam
uma droga, como se ele estivesse tão envolvido no momento de estar comigo
que não conseguia se concentrar em tirar as fotos certas.
— Ok, você está pronto para a parte dois?
Eu olho para Drew, que está sorrindo para mim.
— Parte dois?
— Com certeza, — ele diz. — Eu nunca te acordaria tão cedo se tivesse
apenas uma coisa planejada.
Eu passo o telefone de volta para ele, e ele chama uma carona. Na
verdade, não sei para onde estamos indo até que saímos do carro e Drew diz:
— Como alguém novo na cidade, você tem que apreciar a vista.
— A vista?
— Sim. Você vai ver o que quero dizer quando chegarmos ao topo. É
uma experiência completa.
Eu olho para a estrada que parece estar serpenteando montanha acima. —
Vamos dirigindo?
Drew ri, pegando minha mão e me levando em direção a uma trilha de
caminhada. Oh infernos não.
— Você tem que caminhar se quiser a experiência completa.
— Mas eu estou de jeans skinny.
Ele ri de novo. — Você vai ficar bem, Noah. Faça isso pelo diário. Você
não acha que nossos fãs vão querer ver fotos nossas contra o horizonte da
cidade?
E eu suspiro porque por mais que eu odeie caminhar ou qualquer outra
coisa que possa ser considerada "exercício", e mesmo que eu tenha dito a ele
que não sou muito de atividades ao ar livre, poderia ser uma bela foto para o
Diário, e eu não posso reclamar quando ele está se esforçando tanto para
mantê-lo à bordo.
Mas acho que ele me superestima porque talvez a oitocentos metros
daqui, já sinto que minhas pernas estão queimando. Ele começa a falar sobre
como é um dia tão bom para sair, e como, claro, você sabe, se você vai fazer
um piquenique ou ir à praia. Este é um novo nível de tortura.
Não tenho certeza de quanto tempo leva para chegarmos ao topo, mas
literalmente todo mundo passa por nós – o casal branco com um bebê em um
daqueles transportadores de peito, o grupo de adolescentes carregando
mochilas enormes de livros, o garoto com seus avó de cem anos.
— Vou ter que tirar você de casa com mais frequência —, diz Drew
quando chegamos ao topo, e estou quase desmaiando e me tornando um com
o cimento. Eu apenas sorrio e aceno com a cabeça através da minha batalha
contra meus pulmões enquanto eles lutam para dar o fora de mim.
— Da próxima vez, posso sugerir uma fonte termal?
Drew ri, mas ele já está me conduzindo em direção à borda antes que eu
possa recuperar o fôlego. Eu entendo por que ele queria vir aqui. A vista é
espetacular – toda Denver, as montanhas, é um negócio real. Mas puta merda,
há manchas pretas na minha visão, e eu suspiro: — Você tem água?
Ele balança a cabeça. — Podemos conseguir um pouco depois de
descermos.
Descermos?
— Vamos tirar uma foto —, diz ele, pegando seu telefone. — Podemos
apenas fazer uma selfie, se quiser.
Eu aceno, mas o que eu quero é um galão de água e minha cama. E talvez
uma massagem porque minhas pernas vão doer pelo próximo mês.
Ele passa seus braços em volta de mim e coloca a câmera selfie, e eu
estremeço. Parece que acabei de ser cuspido de um tornado.
Ele sorri. — Diga queijo!
— Por favor, por favor, não tire uma foto minha parecendo uma noiva
mista de Frankenstein.
Drew ri novamente e tira a foto. Ele desliza o telefone de volta no bolso e
diz: — Eu acho você fofo.
Eu reviro meus olhos. — Não, você não acha. Literalmente, ninguém
acha que estou bonito agora.
Ele sorri. — Relaxe, Noah. Nem tudo tem que ir para o Diário. É apenas
para lembrar este dia, sabe?
E suspiro porque meio que quero desmaiar de exaustão, mas uma parte de
mim sente que deveria estar agradecido. Com encontros falsos ou não, ele
planejou todo o dia para nós, e aqui estou eu reclamando porque o nunca
exercito as pernas é literalmente nunca e eu não pensei em perguntar o que
vestir antes de deixar o apartamento esta manhã. Mas se ele quiser se
lembrar desse dia além de postar para os seguidores do Diário, isso significa
que ele gosta de passar tempo comigo, certo? Que não é tudo apenas
encenado?
E talvez ele esteja certo. Eu não tenho que postar tudo no Diário, mesmo
que seja esse o motivo de me colocar nessa tortura. O que importa é que
estamos construindo nosso relacionamento de acordo com as etapas, e isso
será importante no longo prazo.
— Você quer voltar, ou quer apreciar a vista um pouco mais? — ele
pergunta.
— Vamos olhar mais um pouco. — Não há nenhuma maneira de eu
sobreviver à viagem de volta se não tiver a chance de recuperar o fôlego.
Eu me inclino contra ele enquanto olhamos para o horizonte da cidade.
Ele mantém seu braço em volta de mim, e eu sou grato por isso, tanto porque
é fofo quanto porque tenho certeza de que vou cair sem o apoio.
Finalmente, digo a ele que estou bem e descemos a montanha. Minha
garganta está pegando fogo no momento em que um motorista chega para nos
levar ao nosso próximo local, e imagino que meu cheiro seja terrível. Uma
coisa que sinto falta nos dias em que costumava carregar uma bolsa é que
nunca mais tenho spray corporal comigo. O que eu não daria por um banho
de graça ou mesmo um pouco de Febreze.
— Vou levar você para almoçar —, diz Drew, e sorrio porque poderia
usar o combustível e a água, que ainda não bebi.
Quando saímos do carro, estou cambaleando. Drew me guia em direção
ao restaurante, e nós nos sentamos em um pequeno pátio, onde finalmente
posso desmaiar e tomar dois copos de água.
— Você está bem? — ele pergunta.
Eu aceno, mas sinto que minha vida inteira está pegando fogo. Vou para
casa após esta data para desmaiar por três anos e nunca mais sair do meu
armário.
Ele sorri, colocando a mão sobre a minha. — Eu provavelmente deveria
ter te avisado sobre a caminhada.
Eu rio, limpando um pouco de suor do meu rosto. — Está bem.
— Sim, dá pra ver.
Eu coro, virando meu rosto. — Desculpa.
— Podemos guardar os encontros ao ar livre para depois que você entrar
em forma —, diz ele. — Honestamente, eu só fiquei muito animado, já que
não vi você a semana toda. Quer dizer, animado para trabalhar nas
atualizações do Diário, é claro. Não posso dizer que não senti falta de toda a
atenção.
Eu olho para ele, minha boca escancarada. — Espere, sério? Achei que
você estava me evitando.
— Eu disse que estava ocupado.
— Eu sei, mas pensei que você estava apenas fazendo aquela coisa em
que as pessoas dizem que estão ocupadas porque são legais demais para dizer
que não querem ver você.
Ele ri, e parece adorável, e eu sinto toda a hesitação desaparecer de mim.
Por que eu recuei? Por que esqueci a sorte que tenho por ter encontrado
Drew?
— Eu definitivamente queria ver você —, diz ele. — As coisas estão
meio difíceis em casa.
— Como assim? — Eu pergunto, minha voz baixa. Eu não quero que ele
sinta que tem que responder, mas se ele quiser, eu quero que ele responda.
Ele me dá um sorriso suave e diz: — Meus pais estão se divorciando. Não
é grande coisa para mim, mas meu irmão tem nove anos e está levando muito
a sério. Tenho tentado mantê-lo animado, sabe?
— Eu entendo totalmente, — eu digo. — Me avisa se eu puder ajudar em
alguma coisa. Talvez possamos levá-lo ao cinema ou algo assim.
— Acho que ele adoraria. Obrigado.
E eu quero estender o braço para beijá-lo, mas sei que há pessoas por aí
que provavelmente vão nos olhar de soslaio e, provavelmente estou com
gosto de suor, o que é nojento. Eu apenas me inclino para trás na minha
cadeira para olhar o menu. Está bem. Eu posso ser paciente. Vejo muito
tempo em nosso futuro para beijar.
Becca
Ei, desculpa, a merda saiu do trilho. Me liga?

Depois que chego em casa, tomo um banho e tiro uma longa soneca.
Acordo logo depois das cinco com uma mensagem de texto de Becca dizendo
que ela finalmente está pronta para conversar.
Então, eu a enfrento e ela está sentada em sua cama com seu yorkie,
Noodles.
— Ei, estranho —, ela diz.
Eu reviro os olhos. — O que está acontecendo? Não tenho notícias suas
faz muito tempo.
Ela suspira, dando tapinhas na cabeça de Noodles uma vez antes de
colocá-lo no chão. Ele parece entender que o FaceTime significa nenhum
tempo para Noodles, porque ele dá um pequeno grunhido antes de pular da
cama.
— Você sabe, tem escola e… — Ela para. — Bem, comecei a falar com
essa garota.
Eu grito e ela revira os olhos. — Não, sério, quem é ela? Fala!
Becca suspira novamente e diz: — Eu vou te contar tudo, mas não fique
bravo, ok?
Eu levanto uma sobrancelha. — Por que eu ficaria bravo?
— É Gina Paris.
Eu congelo, meu lábio curvando um pouco. Então, Gina Paris é essa
garota da nossa – bem, da Becca – escola, e ela é o tipo fofo e alegre com
cabelos esvoaçantes e luxuriantes e um sorriso de estrela de TV. Meio que
me lembra Maggie, sem o paladar para cozinha “exótica”. De qualquer
forma, o problema é que ela também faz parte de um grupo denominado
Forward Thinkers no campus, que trata do feminismo e dos direitos das
mulheres, que, por definição, inclui apenas mulheres cis.
— Por que você está falando com Gina Paris? Fazendo a lição de casa?
Becca revira os olhos. — Eu sabia que você ficaria bravo.
— Claro que estou bravo! — Eu digo. — Você está flertando com uma
TERF!
— Ela não é TERF! — Becca diz. — Sério, ela não é. Eu falei com ela
sobre isso. Ela apóia mulheres trans. Ela simplesmente não consegue colocar
o resto do grupo a bordo.
— Sim, tenho certeza. Super conveniente.
Becca geme. — Tanto faz. Olha, a questão é que não estamos mais
conversando, ok? Não deu certo e eu simplesmente superei isso.
Ficamos quietos e eu não sei o que dizer. Quer dizer, sinto muito,
geralmente é a resposta esperada, mas não sinto. Eu quero que Becca seja
feliz, mas ela pode ser feliz com alguém que não é uma TERF. Essa parece
ser a resposta óbvia.
— Drew me levou a um encontro interessante hoje, — eu digo.
Becca me olha como se estivesse prestes a desligar. Então ela diz: —
Onde ele te levou?
Então, eu conto tudo que ela perdeu, finalmente terminando com todas as
coisas de mais cedo, de Red Rocks ao meu quase apagão durante o almoço.
Finalmente, Becca diz: — Então, vocês ainda são uma coisa?
— Não somos uma coisa.
Becca zomba, mas parece haver um pequeno sorriso em seu rosto, como
se ela estivesse um pouco feliz por não ser a única que ainda está solteira.
Então, quase me sinto mal dizendo: — As coisas estão indo muito bem
—, porque sei que deve ser uma sensação de merda saber que estou
construindo um relacionamento incrível quando o dela não deu certo. Mas
também espero que ela pelo menos fique feliz por mim, e talvez um pouco
dessa felicidade a ajude a esquecer Gina Paris para sempre. — Quero dizer,
tecnicamente ainda somos namorados falsos, mas ele definitivamente gosta
de mim. Nós superamos a Hesitação e estamos no limite, e então tenho
certeza que vamos finalizar tudo.
Becca revira os olhos, mas é um algo melhor do que desligar. — Sim, ok.
Você não acha que essas categorias são um pouco ridículas?
— Não, de jeito nenhum —, eu digo, e, eles são ótimos. Eles não são
apenas o rascunho perfeito para o Diário, mas estão todos funcionando, como
se eu tivesse recebido uma inspiração divina ao escrevê-los. É a maneira
perfeita de nos guiar para um relacionamento seguro e duradouro.
— Você não acha que é uma espécie de exploração tentar enganá-lo para
que ele se apaixone por você usando seu amor pelo Diário?
Que, uau, ok, rude. Não é como se eu tivesse encontrado um cara
qualquer na rua e dito a ele que ele tinha que se apaixonar por mim. O diário
sou eu. São todos os meus desejos, esperanças e sonhos internos. Drew foi
quem sugeriu o encontro falso em primeiro lugar, e se ele não quisesse
concordar, ele poderia parar a qualquer momento.
E eu sei que estou olhando furioso quando digo: — Acredite em mim,
Drew está a fim de mim. Não estou explorando nada, apenas ajudando-o a
ver com mais clareza.
— Acho que você só precisa ter certeza de que está interessado nele, não
apenas usando-o para marcar pontos de verificação em seu painel.
— O que isso quer dizer? — Eu solto.
— Isso significa que há uma diferença entre estar afim de alguém porque
você acha que é a pessoa certa para você e estar afim de alguém porque você
sabe que ela é errada para você e você prefere se preparar para o fracasso do
que ter que enfrentar o trabalho de um verdadeiro relação. E, francamente,
nenhum dos “romances” do seu Diário jamais pareceu algo que você quisesse
se comprometer e Drew não é diferente.
Um silêncio pesado paira entre nós enquanto eu luto contra a vontade de
dizer algo de que vou me arrepender.
— Eu gosto dele —, eu digo, mas, francamente, estou prestes a terminar
esta conversa. Sei que as coisas não estão indo muito bem para Becca agora,
mas não achei que ela descontaria em mim.
— Então, estou feliz por você —, diz ela, mas ela não parece nada feliz.
Ela parece ciumenta e talvez um pouco vingativa, como se ela não fosse ficar
satisfeita até saber que também estou infeliz.
Passo 7: A Ligação
É o momento em que você forma uma conexão que é
impossível quebrar, o momento que muda você para
sempre.
Inbox (1,047)
Anônimo perguntou: Ei, Noah! Percebi que você não está
respondendo às mensagens como costumava fazer. Você
provavelmente está ocupado tendo o relacionamento mais fofo de
todos os tempos com Drew! Quando você puder, pode nos atualizar
sobre como as coisas estão indo e talvez postar mais algumas fotos de
casal? Obrigado!
Quando chego ao trabalho na segunda-feira, o lugar já está repleto de
crianças e seus pais. Parece que todos estão fazendo fila para se inscrever e
pegar seus panfletos de segurança ou o que for.
Dormi durante quase todo o fim de semana porque estava cansado até os
ossos e, como previsto, literalmente tudo dói. Mesmo agora, estou meio
mancando em direção ao centro de recreação porque cada passo parece com a
morte e minha postura usual parece uma contorção miserável. A boa notícia
foi que a armadilha mortal de Drew de um encontro ganhou muita força e as
pessoas passaram todo o fim de semana me parabenizando e delirando sobre
o quão grande eu sou.
— À sua esquerda.
Eu quase salto para fora da minha pele quando me viro para encontrar
Devin andando atrás de mim.
— Que porra é essa, cara? — Eu pergunto.
Ele dá de ombros. — Eu estava apenas avisando que estava aqui.
Deus, odeio quando as pessoas se aproximam sorrateiramente de mim.
Ele tem outro porta-café, dois copos Starbucks nele. Ele puxa um e passa
para mim. — Vanilla latte.
Eu balancei minha cabeça. — Não preciso que você compre café para
mim —, digo, o que é verdade porque não só parece explorador deixá-lo
gastar cinco dólares em café para mim todas as manhãs, mas se vou meu
relacionamento com Drew uma coisa real, é estranho deixar outro cara me
comprar café.
— Eu tenho um vale especial, compre um, leve outro —, diz. — Apenas
pegue.
O que, quer dizer, se for de graça…
Pego o copo e tomo um gole, o calor e a doçura me invadindo. Junto
todas as minhas forças para não gemer em voz alta enquanto fazemos o nosso
caminho para o centro de recreação, Devin segura a porta aberta para mim.
— Espero que você esteja animado —, diz. — Hoje é o dia em que tudo
acontece!
— Você quer dizer, o dia em que começaremos a ser babás?
Ele ri, mas eu não estava brincando. — Sei que você está aqui apenas
porque precisa ser pago, mas as crianças são muito amáveis. Acho que você
vai gostar delas.
Provavelmente não, considerando que odeio crianças, mas eu aceno de
qualquer maneira porque não quero que ele me denuncie.
O centro de recreação está mais ocupado do que eu nunca. Parece que
parte do ataque violento de crianças e pais transbordou para cá, mas as
crianças parecem menores, ou talvez seus pais sejam apenas mais altos do
que os pais de fora…
— Devíamos cumprimentar alguns dos pais, — Devin diz, mas sua voz
vacila e ele parece um pouco verde.
Dou um passo para longe dele para evitar uma repetição da semana
passada. — Por que?
— Porque eles vão querer conhecer as pessoas que supervisionam seus
filhos.
Eu suspiro porque sei que ele vai me arrastar até lá contra a minha
vontade e fazer eu me misturar. Ele toma outro gole de seu café e suspira,
apertando os punhos trêmulos. — Ok, vamos fazer isso.
Devin me leva para a frente para que possamos nos apresentar aos pais
que preenchem lentamente o centro de recreação, e sua voz treme a cada frase
que ele solta. Seguro a vontade de alertar os pais para que se afastem alguns
metros e fazemos nossa ronda, falando sobre como estamos — animados —
para conhecer seus pirralhos.
Finalmente, eliminamos a maior parte da multidão. Todo mundo parece
estar indo em direção às arquibancadas, e Devin me guia para fora do centro
de recreação e em direção à sala de ensaio.
— Os pais vão passar por uma orientação rápida, depois vamos buscar as
crianças. Durante os acampamentos diurnos, temos crianças de quatro a sete
anos. Apenas as crianças de oito a treze anos fazem os acampamentos
sleepaway.
Eu sei que o acampamento funciona em ciclos semanais, então todas as
crianças aqui hoje terão ido embora na próxima segunda-feira, mas ainda
parece exaustivo. Eu nunca percebi que me sentiria tão feliz por nunca ter ido
para um acampamento de verão.
— Eu não vou cuidar dos acampamentos sleepaway — eu digo.
Devin sorri. — Eu sei, mas você pode querer reconsiderar isso mais
tarde. É a melhor parte do acampamento.
Eu reviro meus olhos.
No momento em que as crianças correm para a sala de ensaio, grandes
sorrisos idiotas em seus rostos, estou trabalhando com o resto da minha
energia do café e pronto para ir para casa. Devin assobia para chamar a
atenção deles – quase me assustando no processo – e então ele faz todos se
sentarem em um grande círculo para que possam dizer seus nomes e falar
sobre coisas que gostam.
— Eu vou começar —, diz Devin, seu sorriso tão grande quanto o das
crianças babonas. — Eu sou Devin! Meus pronomes são ele/dele, e eu adoro
filmes da Disney. Alguém viu Coco?
E toda a sala irrompe quando as crianças começam a gritar sobre seus
filmes favoritos da Disney ou simplesmente a gritar de forma ininteligível.
Devin assobia novamente, e todos eles param como moscas presas em
uma armadilha. Eu me pergunto se eles vêm programados assim ou se deram
algo para eles durante a orientação.
— Incrível! — Devin diz. Ele se vira para mim e diz: — Sua vez!
Eu pisco para ele porque esta é a coisa mais humilhante que fiz desde que
fui escalado para o papel do Peru de Ação de Graças em uma maldita peça
pré-escolar. Eu suspiro e digo: — Eu sou Noah. Meus pronomes são ele/dele
e eu gosto de anime?
E eu tenho certeza que nenhuma dessas crianças sabe o que é um anime,
mas eles explodem novamente, como se fosse a coisa mais legal que eles já
ouviram e, na verdade, é bem legal. Como ter seu próprio esquadrão de
torcida que o aplaude por não fazer nada em particular.
Devin assobia novamente e faz um gesto para a menina sentada ao meu
lado. Ela é uma garota morena, seu cabelo amarrado em pequenas tranças
com esses laços rosa fofos neles. Ela sorri largamente e diz: — Eu sou
Bailey. Eu declaro ela, e Moana!
E as crianças perdem tudo de novo.
Eu me viro para Devin, que honestamente parece que caiu no maior
estado de euforia, e não posso deixar de rir porque, uau, essas crianças nem
sabem do que estamos falando, mas com certeza estão se divertindo. Eu me
pergunto se eu já fui assim. Eu duvido.
Levamos meia hora para dar a volta no círculo e, quando terminamos,
metade das crianças está brincando com os sapatos ou engatinhando no chão.
Devin desenrola uma TV velha e um DVD player ainda mais antigo e
coloca um pequeno disco dentro. Ele chama a atenção das crianças e faz com
que se reúnam na frente da tela antes de apertar o play. Em seguida, ele
diminui as luzes e se senta ao meu lado no fundo da sala.
Não tenho certeza de qual filme ele escolheu, mas há um monte de
anúncios da Disney, então acho que isso resolve tudo.
Baixo a minha voz e digo: — Isto é um zoológico.
Ele sorri. — Você só tem que os manter entretidos. Tudo o que eles
querem é se divertir.
Ficamos em silêncio quando o filme começa. Então eu viro minha cabeça
e digo: — Por que você começou introduzindo seus pronomes? As crianças
nem sabem o que isso significa.
— Talvez não, mas eles vão ouvir sobre essas coisas em algum lugar,
então por que não começar agora? Posso apresentar isso aqui, ou posso
esperar que outra pessoa os ensine errado.
Eu arqueio uma sobrancelha. — Você não me parece um ativista dos
direitos trans.
Devin ri. — Eu sou não-binário.
— Espera, sério?
Ele dá de ombros. — Não me diga que você pensou que eu era cis.
Uma criança na parte de trás do grupo se vira, coloca um dedo nos lábios
e faz um som alto de shhh para Devin. Devin levanta as mãos em sinal de
rendição e faz um movimento para zipar os lábios.
Eu reviro meus olhos, mas é meio amável o quão bem Devin parece se
dar bem com essas crianças. Eu nunca teria paciência para isso, mas me
pergunto se há uma criança trans no grupo que encontrará muito mais
confiança em assumir por ter conhecido Devin. Inferno, se alguma garota
trans que eu nunca conheci pessoalmente pode me inspirar a me aceitar no
colégio, eu imagino que Devin abrindo essas crianças para pronomes agora
fará toda a diferença. Imagine saber que ser trans não é apenas uma coisa,
mas algo que você tem permissão para ser. Eu me pergunto se eu teria me
encontrado antes.
E talvez isso seja parte de me encontrar agora. Talvez essa seja a maneira
do destino me ajudar a encontrar uma criança como eu e dar a ela algo que eu
nunca tive.
E talvez isso não signifique nada, mas ainda não consigo deixar de sorrir.
Só ficamos com as crianças até uma hora. Em seguida, mais dois
conselheiros os levam para passar algumas horas ao ar livre até que os pais os
busquem. Devin parece quase melancólico ao vê-los ir, e então me diz para
começar a limpar.
Além de apenas pegar todos os lápis de cera e DVDs espalhados, também
temos que esfregar o chão para limpar todos os fluidos corporais que as
crianças deixaram para trás. O dia me convenceu firmemente de que crianças
são nojentas, e eu prefiro cortar meu próprio útero à mão do que dar à luz
uma, mas pelo menos está basicamente acabado e estou sendo pago.
Devin coloca essa playlist, e não sei se é intencionalmente gay – Halsey,
Hayley Kiyoko, Troye Sivan – ou se isso acaba acontecendo quando você é
gay e curte seu pop indie.
— Você teve um dia divertido? — ele pergunta. Ele puxa um limpador
de spray para limpar todas as janelas e espelhos.
Eu dou de ombros. — Não sei se ‘diversão’é a palavra certa para isso,
mas não foi tão terrível.
Ele ri. — Quando comecei a trabalhar no acampamento, era muito
estressante, mas está melhorando. Você meio que percebe que eles são
crianças, o que significa que, por mais indisciplinados e incontroláveis que
possam ser, eles também lhe darão muito mais espaço de manobra do que
qualquer adulto.
Ele provavelmente está certo sobre isso, mesmo que tivesse que usar
alguma palavra estranha do SAT para explicar. Não posso dizer que fiz algo
particularmente bem hoje, mas as crianças pareciam gostar bastante de mim.
Uma garotinha até me trouxe o desenho de um coração e disse: — Eu te
amo, Sr. Noah —, o que foi fofo.
— Há quanto tempo você trabalha no acampamento? — Eu pergunto.
— Este é o meu segundo ano —, diz Devin. — Eu não moro em Denver
há muito tempo, mas se eu morasse, provavelmente estaria aqui há mais
tempo.
É meio nauseante como ele está apaixonado pelo acampamento e pelas
crianças e todo aquele jazz, mas estou tentando dar uma chance a ele. Eu
ainda não consigo dizer que Devin é a minha xícara de chá – entre o assobio
estranho e balançar a cabeça enquanto ele limpa e o sorriso arrogante, ele é
apenas animado demais para o meu gosto – mas algo sobre ele se assumindo
para mim me fez gostar dele um pouco mais. Como se talvez não sejamos
totalmente opostos, e eu aguentaria ser um pouco mais legal com ele.
Eu passo meu esfregão no chão. — De onde você se mudou?
— Flórida – saco de bolas de Satanás.
Eu rio porque costumávamos chamá-lo assim também. É o pequeno pênis
pendurado na borda dos EUA. — Eu também sou da Flórida —, eu digo. —
Qual condado?
— Dade, você?
Eu congelo, meu esfregão parando no meio do caminho. — Também.
Ele sorri. — Mundo pequeno.
Ele está definitivamente certo sobre isso. — Por que você saiu?
A sala fica em silêncio depois disso, o som de Troye Sivan abafado no
fundo, e eu me pergunto se eu passei dos limites. não importa muito. Estou
apenas conversando um pouco, mas parece que perguntei a ele sobre sua avó
morta ou algo assim.
Finalmente, ele diz: — Eu me assumi na escola e as pessoas não
aceitaram muito bem.
Eu congelo, minhas mãos segurando o cabo do esfregão até que tenha
quase certeza de que vou ficar com farpas. — Porque você se assumiu não
binário?
Ele ri, mas soa vazio. — Na verdade, eu pensei que era uma garota trans.
Eles não aceitaram isso.
E de repente algo clica em mim e o esfregão cai de minhas mãos, a
madeira colidindo com o chão em uma estalo oco.
Devin me encara, as sobrancelhas levantadas. — Você está bem?
— Você foi para o St. Francis? — Eu pergunto, minha voz suave.
E os olhos de Devin se arregalam. — Como você soube disso?
— Porque eu estava um grau abaixo de você, — eu digo. — Eu me
lembro quando você se assumiu. Estava por toda a escola.
E Devin fica vermelho, o que provavelmente é justo, já que acabei de
colocá-lo na berlinda assim. Ele vira o rosto para longe de mim, mas já que
ele está limpando um espelho, não adianta muito. — Sim, eu – foi um erro.
— Um erro?
— Quer dizer, eu pensava que era uma garota naquela época, e acho que
uma parte de mim pensava que, se eu assumisse, as coisas seriam mais fáceis.
Em vez disso, eu fui intimidado até o fim, e agora eu nem sei o que eu sou,
sabe?
Eu balanço minha cabeça porque ouvi-lo dizer que foi um erro me deixa
inexplicavelmente zangado. Quer dizer, eu nunca o conheci de verdade na
escola, mas a história de uma garota trans corajosa o suficiente para viver sua
verdade no St. Francis? Essa merda me fez continuar. Essa foi a razão pela
qual tive a coragem de examinar a transnidade em primeiro lugar. Foi a razão
pela qual fiquei acordado por horas, encontrando as palavras certas, olhando
para a transição. Foi a razão pela qual finalmente tive confiança para dizer a
Becca e Brian quem eu sou, para fazer o Diário. É por isso que Noah existe.
E Devin está dizendo que foi tudo um engano?
— Não foi um erro —, digo.
Ele olha para mim então, seus olhos arregalados encontrando os meus
através do espelho.
— Achei que você fosse a pessoa mais corajosa do St. Francis. Inferno,
em todo o maldito país. Só me assumi porque tive você como modelo. Não se
atreva a chamar isso de erro.
Ele cora, sua voz suaviza quando diz: — Obrigado.
Eu reviro meus olhos. — Pelo que?
— Por dizer isso.
Ficamos em silêncio por um momento, e eu luto para me concentrar em
meus movimentos com o esfregão, em vez da tensão estranha pairando no ar.
Finalmente, Devin diz: — Eu pensei que era um idiota, sabe? Por sempre
pensar que era trans, em primeiro lugar. Eu me senti um mentiroso e um
constrangimento e uma vergonha para pessoas trans de verdade.
Eu levanto uma sobrancelha. — Por que?
Ele dá de ombros. — Porque depois que saí e nos mudamos para cá, não
me sentia mais como uma menina. Pelo menos, não.
— Você se sente como uma agora?
Ele dá de ombros novamente. — Eu não sei. Quer dizer, eu não me sinto
como um menino. Quase nunca me sinto, mas não sei se o que estou sentindo
é disforia ou só…
Ele para, e eu quero dizer a ele que entendo. Quer dizer, não totalmente,
porque sou um menino e sei que sou um menino, mas isso não significa que
não foi difícil descobrir. Houve momentos em que pensei que talvez estivesse
apenas sendo dramático, talvez eu fosse apenas uma moleca que não gostava
de usar vestidos. Eu não precisava ser um menino, certo?
Exceto que eu sou.
Eu coloco o esfregão e me sento no chão. Não somos particularmente
próximos, mas algo sobre estar no nível dos olhos dele parece melhor agora.
Eu digo, — Houve rumores sobre o que aconteceu depois que você se
assumiu. Eles são verdadeiros?
Ele para de esfregar o espelho e se vira para mim. — Quais?
— Aqueles que diziam que você tentou se matar?
Ele suspira, mas eu não preciso que ele continue falando. Inferno, aquele
suspiro sozinho pesa algumas milhares de libras, e eu sinto que posso ver
todo o peso de sua miséria no colégio refletido em seus olhos.
Finalmente, ele diz: — Sim, eu tentei. É por isso que meus pais me
tiraram da escola e nos mudamos para o outro lado do país. Eles pensaram
que fugir me faria melhor.
— Foi?
Ele ri, mas não responde. Não tenho certeza do que esperava da conversa,
mas está muito claro para mim que acabou. Pego o esfregão novamente e
começo a esfregar o chão com mais força do que deveria. Acho que parte de
mim espera poder apagar mais do que germes e manchas de sujeira, como se
o passado pudesse ser lavado com a mesma facilidade.

Ei, Becca, eu preciso mesmo falar com você. Por favor me liga
quando puder.
Entregue

No caminho do trabalho para casa, Drew me manda uma mensagem


perguntando se eu quero ir ao cinema e, claro, digo que sim. Normalmente
nos encontramos no apartamento de Brian antes de cada encontro, porque
Drew diz que é uma configuração melhor para as histórias do Diário, uma
vez que não há pais por perto, mas ele diz que está trazendo seu irmão desta
vez e me pede para encontrá-lo na casa deles. Eu concordo, copiando e
colando o endereço no app de caronas.
A casa de Drew meio que me deixa boquiaberto porque não é nada do
que eu esperava. Há um caminhão enorme coberto de lama na garagem e três
bandeiras americanas no gramado, e há um capacho que diz: invasores serão
alvejados. Os sobreviventes serão atingidos novamente. Tipo, eu percebi que
ele era branco, mas nunca pensei que a casa dele seria tão branca.
Tenho certeza absoluta de que acertei o endereço, mas ainda estou um
pouco apreensivo quando bato na porta da frente.
Em seguida, ele se abre quase imediatamente, e Drew está lá com o olhar
mais estressado em seu rosto, que derrete um pouco quando ele me vê. Ah.
— Ei —, diz ele, mas parece que está dando um suspiro. — Deixa só eu
pegar meu irmão e então podemos ir.
Espero que ele me convide para entrar, mas ele não o faz, simplesmente
deslizando de volta e fechando a porta comigo ainda de pé na varanda. Um
minuto depois, a porta se abre novamente e ele sai, uma versão de nove anos
dele seguindo atrás.
— Noah, aqui é Jordan. Jordan, este é meu namorado, Noah. — Apesar
de ser tudo uma atuação, as palavras fluem casualmente da língua de Drew
como se ele estivesse se entregando ao movimento, e eu não posso deixar de
sorrir.
— Oi —, diz Jordan, mas não parece muito entusiasmado com isso. Na
verdade, depois de passar o dia com as crianças no acampamento, essa
criança parece quase morta.
Drew chama nossa carona e todos nós sentamos no banco de trás. —
Você tem uma casa interessante —, eu digo.
Drew estremece. — Ugh, sim. Meu pai é meio assim.
E de repente estou um pouco aliviado por ele não me convidar para
entrar.
— Vocês tipo. . . beijam e outras coisas? — Jordan pergunta.
Drew empurra seu ombro, uma expressão mortificada em seu rosto. —
Eu disse para você não dizer merdas como essa. Que diabos?
— É só uma pergunta.
— Está tudo bem —, eu digo, e, depois do acampamento, eu não acho
que há muita coisa que qualquer criança poderia dizer para me pegar
desprevenido. Ficamos sentados em silêncio até que finalmente chegamos no
cinema e Jordan corre na frente para entrar na fila de ingressos, e eu não
posso deixar de sentir que Devin saberia exatamente o que dizer. Inferno, ele
teria Jordan pendurado em seu braço em uma hora, e eles fariam tatuagens
iguais no final da noite.
— Sinto muito por isso —, diz Drew enquanto caminhamos para a fila.
— Está tudo bem —, eu digo. — Eu só queria ser melhor com crianças.
Ele sorri. — Você é perfeito. Sério. Eu disse a Jordan que você se
ofereceu para ir ao cinema com ele, e ele ficou emocionado. Ele é apenas
uma merda em mostrar para você.
Isso é tanto um alívio quanto extremamente enervante. Deus, e se eu o
desapontar? Isso poderia ter um efeito terrível no meu relacionamento falso-
mas-que-logo-será-real.
— De qualquer forma —, diz Drew, — as coisas estavam ficando super
complicadas, então obrigado por nos tirar de lá.
— Seus pais? — Eu pergunto.
Drew dá de ombros, mas é bastante óbvio que isso significa que sim. —
Acho que eles costumavam fingir que gostavam um do outro pelo bem de
Jordan, mas basicamente quase desistiram disso. Agora é apenas um campo
de batalha, e eles não dão a mínima para quem são as vítimas.
— Eu sinto muito, — eu digo, e eu sinto. Meus pais sempre se deram
bem, e nunca houve um momento em que eu duvidei que eles se amavam ou
a mim. Não consigo imaginar viver de outro jeito.
— Está tudo bem —, diz ele. — Eu queria estar com você. As coisas
ficam muito melhores quando você está por perto, e focar no Diário tem sido
uma verdadeira tábua de salvação para mim ultimamente.
Eu sorrio. Há uma pressão no meu peito, apertando meu coração e meus
pulmões, entrelaçando minhas terminações nervosas, como se fosse a corda –
o momento que nos une para sempre.
— Venham logo! — Jordan grita.
E Drew grita de volta: — Calma ai! O filme só começa em uma hora!
Eu rio, entrelaçando meus dedos com os dele. — Está bem. Podemos
pegar uma pipoca para casais ou talvez um Icee?
Ele sorri. — Ok, mas temos que fazer isso parecer legítimo, então vamos
pegar apenas um canudo.
Segunda, 11 de Junho

MeetCuteDiary postou:
Ei, galera!
Desculpa, eu tenho estado meio que sumido. Drew e eu temos
passado muito tempo juntos, e acabamos de sair do encontro no cina
mais fofo do mundo. Obrigado por todo o apoio e lerei suas
mensagens em breve! Ah, e aqui estão algumas fotos!

Babbyabby12 respondeu: Ahh! Isso é adorável! Estou tão feliz por


vocês!
Mysticmayhem respondeu: Não se preocupe! Nós entendemos!
Vocês são como almas gêmeas!
Krismaastime respondeu: Obrigado por compartilhar isso! Tão fofo!
Carregar mais comentários . . .
Apesar da insistência de Brian, não chego em casa em um horário razoável
e, quando chego, fico acordado até tarde atualizando o Diário com fotos do
cinema. Quero ter certeza de que a corda está aberta para meus seguidores,
para que eles percebam o quão legítimos Drew e eu estamos nos tornando.
Sem surpresas, na manhã seguinte, Brian teve que literalmente me arrastar
para fora da cama e me colocar no chão até que eu finalmente gemesse e
levantasse a tempo suficiente para me trocar.
Estou mais aliviado do que posso colocar em palavras quando dou de cara
com Devin carregando mais duas xícaras de café.
— Você ainda tem cupons? — Eu pergunto.
Devin revira os olhos. — É um especial, não um cupom.
— Tanto faz. Espero que dure o verão todo.
Devin sorri enquanto me entrega o copo, e eu o bebo, escaldando minha
boca rapidamente, mas também acordando.
E enquanto a energia flui através de mim, eu penso sobre ontem – sobre o
filme com Drew e como foi o revestimento de aço sobre nosso vínculo. E
então penso em Devin e na maneira como deixamos as coisas. Ele não parece
nem um pouco incomodado, mas quando entramos na sala de ensaio, eu
digo: — Desculpe por ontem.
Ele se vira para mim, a cabeça inclinada para o lado. — O que sobre
ontem?
— As coisas ficaram um pouco estranhas quase no final —, eu digo. —
Eu obviamente falo demais.
Ele sorri, e ilumina seu rosto e realça seus olhos azuis. — Você estava
indo bem. Eu só. . . bem, eu fiquei um pouco preso na minha cabeça, eu acho.
Eu não pergunto a ele sobre o resto porque parece meio injusto. Em vez
disso, tratamos de preparar as coisas para as crianças e, com certeza, quinze
minutos depois, elas estão correndo para a sala como um rebanho de vacas
prontas para pastar.
Na verdade, não sei se as vacas são rápidas. Eu nunca interagi com uma
vaca.
Devin deixa todas as crianças o mais organizadas possível, então começa
a distribuir os suprimentos de artesanato. Eles devoram, gritando, berrando e
rindo enquanto pegam seu papel e começam a desenhar formas absurdas
detalhando seu "verão perfeito" nele.
— Eles têm um talento real —, eu digo sarcasticamente, e Devin ri.
Ele me entrega uma folha de papel e um bloco de notas para repousá-la, e
nós dividimos uma caixa de lápis de cor entre nós.
— Quem define o currículo? — Eu pergunto.
Ele sorri. — Eu não. Caso contrário, estaríamos fazendo alguns slow
jams e um concurso de dança.
Eu reviro meus olhos. — Eu não gostaria de ver isso.
Ele ri de novo.
Eu nem sei o que vou desenhar até que me pego fazendo uma versão
horrível da livraria. Tem um retângulo para o pequeno balcão e um monte de
quadrados menores para as pilhas de livros que revestem o chão que eu
espero que Drew tenha conseguido arrumar agora. Outro retângulo mais
longo para a porta dos fundos e, em seguida, algum polígono estranho que
deveria se parecer com a caixa registradora.
— O que é isso? — Devin pergunta, e eu rapidamente cubro meu papel
com a mão.
— Rude. Nada de espiar.
Devin ri, voltando à sua própria pequena exibição da natureza em sua
folha. Pequenas montanhas, um campo de flores, um rio amplo. Estou meio
bravo porque é muito bom, como se ele estivesse desenhando por referência
ou algo assim.
— Eu não sabia que você sabia desenhar —, digo.
Ele sorri, adicionando uma camada de sombra às ondas arrebatadoras de
seu rio. — Bem, você não sabe nada sobre mim, sabe?
E, na verdade, ele está certo. Quer dizer, eu sei que ele é trans — não
binário, mas não tenho ideia de onde ele se encaixa no espectro. Ele é de
Miami, costumávamos ir para a mesma escola, mas fora isso, não posso dizer
muito. Inferno, eu nem sei qual é o sobrenome dele.
— Então, em que você está trabalhando? — ele pergunta novamente.
Eu suspiro. — É a livraria onde conheci meu namorado —, digo.
— Isso foi neste verão? — ele pergunta.
E, honestamente, parece uma acusação. Você está tão apegado a um cara
que conhece há algumas semanas?
Mas a voz de Devin é suave e brilhante e seus olhos são tão imparciais
quanto os olhos azuis podem ser. Ele provavelmente está apenas curioso, e é
apenas minha insegurança que me faz sentir como se ele estivesse me
julgando.
— Sim, foi neste verão, — eu digo. O som de nossos lápis de cor
preenche o silêncio que se seguiu entre nós.
Assim que as crianças ficam entediadas, jogamos heads up, seven up e
four corners, e depois sentamos todos para assistir a outro filme. Não sei
quantos DVDs Devin tem em estoque, mas estamos acabando com eles bem
rápido.
Então chega o almoço, e todas as crianças correm para pegar seus
pequenos sanduíches e Rice Krispies de suas lancheiras, e Devin me dá um
tapinha no ombro e diz: — Você pode cuidar deles um pouco? Eu estou indo
ao banheiro.
Eu aceno porque o que mais devo dizer? Não, idiota, vai mijar no chão?
Mas eu não quero que ele vá. Há duas pausas para ir ao banheiro por dia para
as crianças, então eu nunca esperei ficar sozinha com todas elas. É como
supervisionar um cão raivoso e decidir tirá-lo da coleira. Ele é tudo o que
tenho para manter essas crianças na linha.
Tento me concentrar em superar o momento. É apenas o almoço, que
logo descubro que é muito mais difícil do que parece. Ao longo de vinte
minutos, um garoto enfia o sanduíche na calça, outro passa molho de maçã no
espelho e o outro começa a chorar sem motivo aparente. Os outros sete
conseguem se manter vivos, embora eu ache que estou um pouco preso para
notar se eles estão comendo seu almoço ou apenas pintando seus rostos com
ele.
Estou tentando puxar o garoto do molho de maçã para longe do espelho e
impedi-lo de tocar em qualquer outra coisa quando uma das coordenadoras
chega para levá-los para suas atividades da tarde. Ela revira os olhos para
mim, que, ok, eu sei que sou ruim com crianças. E então ela os reúne e eles
saem correndo felizes como se eu fosse o único mal-comportado.
Minhas mãos estão pegajosas e Devin ainda não voltou, o que, qual é,
quem leva meia hora na porra do banheiro? Então, vou lavar minhas mãos e
ver que tipo de férias casuais do meio-dia Devin decidiu tirar para si.
Quando chego ao banheiro masculino, parece muito vazio. Vou até a pia
e abro a torneira, esfregando os restos de maçã da minha pele. O banheiro é
muito limpo para um acampamento de verão, e estou um pouco surpreso.
Não é um lugar ruim para correr se eu precisar escapar de um enxame de
crianças.
E então eu fecho a torneira e pego algumas toalhas de papel do
distribuidor mais próximo. Ao jogá-los no lixo, escuto um som suave e
ofegante que a princípio pensei ser o ar-condicionado, mas logo percebi que
era outra pessoa no banheiro.
Existem apenas duas cabines, e as portas de ambas estão fechadas, mas
não vejo nenhum pé embaixo delas. — Olá? — Eu digo, e sim, é
provavelmente um fantasma, o que me torna a mulher branca prestes a morrer
nesta situação.
Estou prestes a sair correndo do banheiro antes que a ira de Satanás possa
cair sobre mim quando uma das portas do box se abre e Devin sai.
— Onde você estava? — Eu pergunto. — Eu tive que lidar com aqueles
pequenos demônios sozinho.
— Desculpe —, diz ele, mas sai em uma pequena lufada de ar, e só então
eu percebo como ele está pálido.
— Você está bem? — Eu pergunto.
E ele acena com a cabeça, mas vamos ser sinceros, ele claramente não
está bem. Ele meio que sai mancando da cabine e se inclina no balcão, mas
seus braços estão tremendo enquanto ele se levanta.
Meu primeiro pensamento é que talvez ele esteja com febre, mas quando
toco seu braço, ele parece mais frio do que quente. Ele não se afasta de mim,
mas me deixa guiá-lo para uma posição sentada no chão do banheiro e, por
um momento, nem estou preocupado com o quão sujo o lugar provavelmente
ficaria se eu tivesse uma luz ultravioleta e como minhas calças
provavelmente ficarão nojentas quando eu me levantar.
Seu ar sai em respirações curtas e irregulares, e eu me pergunto se talvez
ele tenha asma ou se está tendo uma reação alérgica ao sanduíche de
manteiga de amendoim de alguém, mas além da inalação aguda e do suor em
sua testa, não parece haver qualquer outra coisa errada com ele – sem
urticária, sem lábios inchados, sem rosto arroxeado quando ele dá seu último
suspiro.
Então, tenho basicamente duas opções – posso buscar ajuda, ou posso
apenas sentar com ele e esperar que ele melhore. Estou prestes a me levantar
e chamar um coordenador, mas há algo em seus olhos que parece medo, e
não sei se é algo que ele quer guardar para si. Inferno, se ele quisesse que eu
procurasse ajuda, ele teria dito algo quando eu perguntasse se ele estava bem,
certo?
— Devin —, eu digo, minha voz baixa. — Eu quero te ajudar, mas você
tem que me dizer o que fazer.
Ele ri, mas sai mais como uma tosse. — Desculpe, — ele diz. — Estou
bem.
— Você não parece bem.
Ele pega minha mão, com as palmas frias e úmidas, e fica sentado
olhando para ela como se fosse um manual de como respirar o ar da Terra.
E eu só fico sentado lá porque não sei mais o que fazer. Afastar-me dele e
buscar ajuda parece uma merda, e eu nem conheço a manobra de Heimlich,
então me sinto como um saco de batatas sem valor.
Finalmente, sua respiração começa a se equilibrar e ele solta minha mão,
enxugando as lágrimas de seus olhos.
— Você está bem? — Eu pergunto.
Ele acena com a cabeça, mas não é tão reconfortante, já que ele esteve
dizendo que estava bem o tempo todo. Ele limpa a garganta e me dá um
pequeno sorriso. — Desculpe por isso.
— Está tudo bem —, eu digo. Sua voz ainda está um pouco trêmula, mas
ele parece basicamente bem, então eu me levanto e estendo minha mão para
ele, e ele a pega, se levantando. — O que aconteceu?
Ele encolhe os ombros. — Ataque de pânico.
E eu já ouvi falar de ataques de pânico antes, mas nunca vi um ao vivo.
Eles deveriam estar apenas na cabeça de alguém. Eu não pensei que eles
seriam tão assustadores.
— Fiz alguma coisa – alguma coisa afetou você? — Eu pergunto, mas
soa estranho até para os meus próprios ouvidos. Estou tentando ser tranquilo
sobre isso. Não é estranho, não sei como lidar com o jargão de pessoas com
doenças mentais, mas também não tenho ideia do que estou fazendo.
Ele sorri e diz: — Não, na verdade não. Às vezes eles simplesmente
acontecem, mas eu estou bem.
E eu sei que a coisa respeitosa a fazer é dizer que eu entendo totalmente e
dizer a ele que pode falar comigo se precisar de alguma coisa e depois ir
embora, mas eu meio que fico olhando para ele por um momento porque não
tenho certeza o que dizer. Ou, bem, como dizer. E eu me sinto péssimo, mas
meu corpo não está me ouvindo.
Devin caminha até a porta do banheiro, mas então ele faz uma pausa,
voltando-se para olhar para mim, e estou meio que esperando que ele me
chame a atenção por estar encarando. Em seguida, ele diz: — Isso vai soar
estranho, mas você se importaria de me fazer um favor?
E eu aceno, porque não é como se houvesse outra resposta apropriada.
Ele olha para os próprios sapatos por um momento, depois diz: — Tenho
pensado nos meus pronomes e quero experimentar alguns novos.
— Como ela/dela? — Eu pergunto.
Ele encolhe os ombros. — Talvez não esses também. Eu não sei. Eu
estava pensando em usar algo mais neutro. — Ele faz uma pausa, seus olhos
vagando pelo chão novamente como se o pronome perfeito estivesse apenas
esperando no chão. — Não quero complicar muito as coisas. Eu só… não
tenho mais certeza de como me sinto confortável com ele/dele.
— Devin, eles são seus pronomes. Você não precisa considerar ninguém
antes de escolher.
Seus olhos se arregalam, e então eu não sei o que muda, mas ele sorri
como se todos os seus problemas tivessem desaparecido, e é um lindo sorriso.
— Obrigade, Noah. Você se importa em usar elu/delu para mim de agora
em diante?
Eu reviro meus olhos. — Não, eu não me importo. Eles são seus
pronomes.
E elu sorri de novo e, por um momento, meu coração fica pesado. Em
seguida, elu diz: — Espero que as coisas não tenham ficado tão ruins
enquanto estive fora.
E o cheiro de compota de maçã me invade e todo o meu corpo se contrai.
Eu gemo, passando por elu para voltar para o corredor. — Vamos passar a
tarde limpando.

Sério, Becca, eu sei que você está ocupada, mas vamos lá! E o
nosso dia no spa???
Entregue

No caminho para casa, Brian para para pegar Maggie na casa de algum amigo
ou algo assim. Eu não os vi juntos recentemente, mas se isso era para me dar
alguma esperança de que eles estariam se separando em breve, fiquei
completamente arrasado no momento em que Brian saltou do carro e correu
para abraçá-la. Nojento.
Brian me chuta para fora do banco do passageiro para que Maggie possa
pular na frente, e eu apenas reviro os olhos antes de deslizar para o banco de
trás. Está bem. Estou tentando fingir ser invisível em vez de ficar de vela
para eles.
Percebi que Maggie não me convidou para nada desde o jogo de trivia, e
não sei se isso é um reflexo do quanto perdemos feio ou o fato de eu não ter
conseguido o emprego na livraria e, por extensão, o desconto dela. Brian
afirma que ela não tem feito nada digno de Noah recentemente, mas ele
também está mais obcecado por Maggie do que antes. É como se cada receita
que ele tenta fazer, mais o convence de que ele precisa ser o chef perfeito dos
sonhos de Maggie, o que também é nojento.
Maggie continua falando sobre assistir esse filme gay porque ela tem um
amigo gay, e meus olhos reviram em minha mente com o absurdo. Quero
dizer, sério, quem age como se soubesse algo sobre ser gay só porque tem um
amigo gay?
E Brian ri junto como se ela fosse a pessoa mais engraçada que ele já
conheceu, e eu terei que lavar minhas orelhas com sabão. Ele nunca teria
pensado que as piadas dela eram engraçadas antes. Inferno, um ano atrás, nós
dois estaríamos tirando sarro de como ela soa ridícula, e ainda assim eu fui
amarrado por quinze minutos de total tortura antes de finalmente chegarmos
em casa.
Quando Brian destranca a porta do apartamento, vou direto para o meu
armário. Ele grita algo sobre o jantar atrás de mim, mas eu simplesmente o
ignoro enquanto fecho a porta. Esta é a parte em que ligo para Becca apenas
para obter uma mensagem sobre a caixa de mensagens estar cheia, e antes
que eu possa sequer pensar sobre meu próximo movimento, estou ligando
para Drew. Eu conto a ele sobre o trabalho e ele fala sobre seu irmão, e
nenhum de nós está falando muito sobre algo importante, mas não importa.
De alguma forma, sinto que ele sabe exatamente do que preciso.

Drew sai do trabalho pouco depois das cinco, então ele passa pelo
apartamento para que possamos tirar mais algumas fotos para o Diário. Não
me incomodo em dizer a Brian que estou descendo, já que ele e Maggie estão
tão presos um ao outro que nem perceberão que eu fui embora.
Drew está sentado na calçada, o telefone em mãos e os olhos grudados
nele. E tem muito para se admirar – o arco de suas costas, a forma como seu
cabelo escuro reflete a luz do sol, a linha perfeita de sua mandíbula.
Ele se vira, seus olhos se arregalando quando me vêem. — Oh, ei.
— Ei, — eu digo, sentando no meio-fio ao lado dele.
— Tudo bom? — ele pergunta.
Eu dou de ombros. — Além de ter que cuidar de Devin? Sim, está tudo
bem, eu acho.
Drew arqueia uma sobrancelha. — Não é o colega que vomitou em
você? Achei que você o odiasse.
— Devin usa pronomes elu/delu —, eu digo. — E eu não sei. Eu acho
que elu não é tão ruim. Como você está?
Ele encara o chão. — O trabalho é um pé no saco. Estamos nos
preparando para um evento com autor, então temos que ter o controle de
todos os seus livros como se alguém .
aparecesse para comprá-los.

Eu arqueio uma sobrancelha. — Você não acha que vão?


— Por favor, é mais fácil esses autores escreverem fanfic. O trabalho
deles é um lixo.
Isso é um pouco duro, considerando que meu trabalho não é exatamente
"literário", mas sei que ele não se refere a mim. Só estou sendo inseguro
porque minhas histórias fofas de encontros têm sido muito monótonas para
postar ultimamente, como se não conseguisse encontrar inspiração agora que
não posso simplesmente dar em cima de qualquer cara com quem tenho
contato e, mais do que tudo, eu quero estar abraçado com ele, mesmo que ele
só esteja aqui para que possamos tirar algumas selfies.
— De qualquer forma —, Drew diz como se fosse exatamente a deixa,
— vamos fazer essas fotos para que eu possa voltar para casa. Eu tenho um
encontro hoje à noite.
Eu congelo, meu sangue gelando. — Um- um encontro?
Ele ri, batendo a mão no meu ombro. — Não esse tipo de encontro. Eu
não trairia o Diário assim. Esses comentários são a minha fonte de
serotonina. — O que me faz sentir melhor e pior ao mesmo tempo. Ele se
levanta, estendendo a mão para mim. — Alguns amigos estão vindo para
uma campanha D&D, sabe.
O que, francamente, não sei nada sobre D&D, mas isso soa muito melhor
do que a ideia de Drew abraçado com outra pessoa. Eu empurro o
pensamento para fora da minha cabeça, lembrando a mim mesmo que não
estamos namorando de verdade e que sua lealdade a mim tem tudo a ver com
o Diário de qualquer maneira, mas uma parte de mim ainda está um pouco
nervosa, como se eu nunca tivesse considerado o possibilidade de ele passar
para algo melhor, e agora que está aí, não tenho como escapar.
Posamos para a foto, um braço em volta do pescoço dele e o outro
segurando meu telefone para que eu possa tirar a foto. E então ele pressiona
seus lábios nos meus, e enquanto a câmera dispara, posso fingir que isso é
tudo de que precisaremos, nós dois envolvidos um no outro.
Ele se afasta quase imediatamente, me pedindo para passar o telefone
para que ele possa dar uma olhada. Então ele ri, jogando a cabeça para trás.
— Você é muito baixo para tirar uma foto assim. Deixa que eu tiro.
Então, concordo porque tudo isso significa que temos que tentar
novamente, e este é um momento em que não tenho problemas em reviver
para sempre.
Passo 8: A Paixão
O momento em que o amor assume tudo.
Inbox (1,292)
Bbybby33 perguntou: Ei, Noah! Você não está respondendo mais
perguntas? Estou tentando entrar em contato com você há semanas, e
minha amiga me disse que lhe enviou uma pergunta e também nunca
ganhou uma resposta.
— Espera, o que aconteceu?
Eu suspiro. Estou tentando colocar minha mãe em dia sobre o que tenho
feito na semana passada, mas ela escolheu o pior momento possível para
ligar. Drew e eu estamos neste pequeno ponto de mergulho chamado Paradise
Cove e entre o casal barulhento que finalmente parecem estar se arrumando
para ir e a pequena corrida das fontes através de uma fenda na formação
rochosa, é muito barulhento aqui.
Normalmente, nunca seríamos capazes de fazer isso em uma terça-feira,
mas na verdade tivemos muita sorte. Tive uma semana de folga, já que
concordei em fazer um acampamento sleepaway de sexta a segunda-feira, e
Amy decidiu fechar a loja naquele dia para fazer o inventário. Não estou
exatamente ansioso para passar um fim de semana inteiro com um bando de
monstros gritando e ao ar livre num lugar acidentado, mas paga tanto quanto
eu ganharia em três semanas juntas, então eu não poderia dizer não. Ao todo,
acabou sendo a chance perfeita para nós fazermos algo legal sem uma
multidão lotando o espaço público.
E mesmo que Drew tivesse prometido que nossos encontros poderiam ser
dentro de casa de agora em diante, e houvesse um café que eu teria preferido
dar uma olhada, concordei em vir porque estava na lista das 10 coisas que
Noah tem que fazer antes de deixar o Colorado que Drew me fez, e eu não
posso ignorar um gesto tão fofo. Bastou alguns lembretes de que isso é tudo
pelo Diário, e posso fazer alguns sacrifícios por isso.
— Não é grande coisa —, digo. — Eu posso te atualizar mais tarde. Estou
com Drew agora.
Meus pais ainda não resolveram nossa situação de moradia e, nesse ritmo,
não tenho certeza se iremos nos mudar para a Califórnia, mas meu pai
começou a trabalhar esta semana, então minha mãe está procurando uma casa
sozinha, enquanto eles estão morando em um hotel.
— Tudo bem, Noah —, diz, e é bom como o nome simplesmente sai de
sua língua agora. — Apenas tenha cuidado. Eu sei que você gosta desse
garoto, mas. . .
— Desculpe, perdendo a conexão —, digo antes de encerrar rapidamente
a chamada. Uma pequena notificação de número aparece no meu aplicativo
Tumblr e eu me encolho. Eu provavelmente deveria responder a alguns deles.
Drew ri. — Tão ruim assim?
Ele está deitado em uma toalha esperando que eu termine a ligação e,
sério, não estou reclamando. Ele está muito gato quente nessa bermuda. Eu
bloqueio meu telefone e o guardo. Eu já deixei Drew esperando por tempo
suficiente.
E, eu odeio nadar em público porque não posso exatamente ficar sem
camisa, e eu não quero usar um biquíni, mas ele insistiu que fizéssemos esse
encontro para o Diário. Então, estou com uma bermuda e uma camiseta por
cima que espero que não saia voando assim que pular na água. Claro, olhando
por cima da saliência até a água, estou um pouco hesitante em pular. E, quero
dizer, não está quente.
— Você está pronto para entrar? Drew pergunta.
Eu olho para a água novamente e digo: — Mais tarde?
Ele revira os olhos. — Vou jogar você lá dentro.
Eu balanço minha cabeça, lábios pressionados. — Você pode, mas ficará
solteiro, falso ou não.
Ele ri, inclinando-se em minha direção. — Vamos. Viemos até aqui.
— Eu sei, mas você parece esquecer que sou de um lugar chamado
Sunshine State, onde temos praias quentes e terras planas.
— É exatamente por isso que você deve entrar —, diz ele. — Experiência
única na vida.
E eu sei que ele está certo. Inferno, uma das coisas que amo nele é a
maneira como ele me leva a fazer coisas que eu nunca faria de outra forma,
ou, sabe, não quero fazer. É fofo e está começando a parecer que somos um
daqueles casais que fazem um ao outro amadurecer.
Ele sorri para mim, a voz baixa quando ele diz: — Faça isso pelo diário?
Finalmente, suspiro e digo: — Tudo bem, mas se eu entrar em choque,
você terá que me pescar. Combinado?
Ele sorri, pegando minha mão e me colocando de pé. — Combinado. Vou
fazer a contagem regressiva.
E Deus, eu não quero pular. Eu quero ficar na borda como uma covarde e
odiar minha vida. Mas isso é importante. Estamos no Passo 8: a paixão. Esta
é a parte em que cedemos ao amor e permitimos que nossas vidas se
misturem. É uma questão de confiança e paixão, e que melhor maneira de
provar isso do que pular de um penhasco juntos na água gelada, certo?
Ele me puxa para frente, me levando até a borda. Eu não sei o quão alto
estamos. 9 metros? 40? Inferno, poderia ser até 3 mil neste ritmo.
— Três —, diz ele, e tento me concentrar no som de sua voz, aquele tom
suave e familiar em que estou me afogando. Quero continuar me afogando
nele. Eu quero que ela me alcance, em vez da água batendo nas rochas
abaixo.
— Dois.
E eu engulo meu medo, o forço para baixo mais rápido do que uma queda
dessas rochas. Eu amo ele. Eu preciso confiar nele. Eu preciso me render
completamente.
Um.
E nós pulamos, nossos corpos se lançando na água como um meteoro
caindo na Terra. E então explodimos em um mundo de agulhas afiadas. O
frio arranca o fôlego dos meus pulmões e eu engasgo, chutando e tentando
encontrar a superfície, mas estou desorientado demais para sentir qualquer
coisa.
Eu vou morrer. É isso. Acabou.
E então meu rosto surge na superfície, e eu percebo que o braço de Drew
está em volta da minha cintura, me mantendo de pé.
Eu gaguejo, meus dentes batendo quando digo, — Frio.
E Drew ri, nossas pernas se batendo enquanto navegamos, mas quero
envolver meus braços em volta do pescoço dele e puxá-lo para mim. Esta é
uma cena saída de um filme. Inferno, é uma cena saída das minhas fantasias
mais selvagens.
Ele pressiona seus lábios nos meus rapidamente, mas eu já sinto minha
boca perseguindo a dele, implorando para que ele não vá.
— Emocionante, certo? — ele diz.
— Você é um daqueles fãs de adrenalina esquisitos?
Drew ri, e por mais que eu ame o som disso, estou congelando e pronto
para sair. Nós rastejamos para fora da água, e ele ainda está rindo,
provavelmente mais de mim desta vez.
Eu me viro e o puxo para mim, esmagando meus lábios contra os dele, e
ele envolve seu braço em volta da minha cintura novamente, me segurando
como se eu fosse delicado. Eu sei que meus mamilos estão cutucando minha
camisa, meu peito provavelmente proeminente contra o tecido molhado, mas
eu nem me importo. Eu não me importo com a minha aparência agora. Eu
tenho Drew. É isso que importa.

— Eu preciso te falar uma coisa —, digo, e mesmo depois do mergulho


que acabamos de dar, eu sei que esta é a queda muito mais arriscada.
Ele sorri, uma sobrancelha levantada. — O que?
— Eu. . . — Eu paro, meus olhos arregalados. Eu sei que isso é um risco,
mas é um sobre o qual já me decidi. Eu só preciso que meus lábios se movam
de acordo. Finalmente, digo: — Eu não quero mais fingir que namoro você.
Eu quero namorar você de verdade.
E ele ri antes de pressionar seus lábios nos meus novamente. E meu
coração bate um pouco mais forte. Minha respiração ainda está rasa por causa
do frio, mas quase parece que ele está roubando meu fôlego com cada beijo
que ele coloca contra minha pele.
Quando ele se afasta, ele diz: — Achei que tínhamos acabado com aquele
namoro falso há um tempo.
Eu congelo, meus olhos se arregalando. — Espere o quê? Quando?
Ele encolhe os ombros. — Desde o seu apartamento. Eu achei que estava
bem claro que nós dois gostávamos um do outro e o resto era apenas
brincadeira.
E uau, ok, eu perdi totalmente isso. Aqui eu pensei que estava nos
conduzindo por essa romântica montanha-russa. Nunca me ocorreu que Drew
pudesse ter sua própria trilha em mente.
— Eu não fazia ideia —, digo, e ele ri novamente.
Ele me puxa para ele e eu sorrio, pressionando meus lábios nos dele.
Em seguida, ele sussurra: — Nunca conheci ninguém como você antes,
Noah. Você é especial.
E enquanto suas mãos exploram meu corpo, me sinto mais amado do que
nunca, como se cada toque de sua pele contra a minha fosse uma confissão
sussurrada de como somos perfeitos um para o outro.
Quarta, 20 de junho

MeetCuteDiary postou:
[. . .] Finalmente, nós pulamos na água juntos, perdendo-nos nos
braços um do outro. Foi tudo muito romântico e doce. Foi o momento
em que soubemos que estávamos destinados a ficar juntos.
Enfim, aqui estão algumas fotos de antes!

Justintimetostealyogirl respondeu: Uau, eu gostaria de ter um amor


como o seu.
Hearliessquiddyshopesanddreams respondeu: Vocês são lindos!
Estou com ciúmes!
Poppinpoppyseed respondeu: Você é o especialista em amor. Estou
tão feliz por vocês!
Carregar mais comentários . . .
— Você já fez as malas?
Eu reviro meus olhos, meu telefone no meu colo enquanto espero que
Drew me responda. — É só quarta-feira!
— Sim, mas você não vai fazer as malas na sexta-feira de manhã, então
devia fazer isso agora.
— Ainda tem um dia no meio, irmão.
Todo o meu tempo livre foi ocupado por Drew, então quando Brian me
pediu para assistir novamente Fullmetal Alchemist: Brotherhood com ele, eu
não pude dizer não. Quer dizer, poderia, mas não faria isso.
E com Brian tão obcecado por Maggie – e eles planejando passar todo o
tempo livre na quinta-feira juntos, fazendo o que quer que os casais
heterossexuais façam – parecia justo que eu lhe desse uma companhia
decente por um tempo. Você sabe, alguém que não o trata como um
restaurante japonês barato.
Agora estamos esparramados na frente da TV, empanadas frescas entre
nós, e ele decidiu aproveitar este momento de união fraternal para me dar um
sermão sobre meus planos de última hora para fazer as malas. Típico.
Eu continuo tentando espremer algumas respostas na DM, mas, entre
encher minha cara e ler as legendas, é meio difícil. Estamos sentados aqui há
quase duas horas e eu só terminei uma e meia.
— Você vai passar um fim de semana inteiro em uma cabana. Vai morrer
se esquecer alguma coisa —, diz Brian.
— Pare de me tratar como uma diva.
— Você é uma diva. Você sempre foi uma diva. Você vai morrer uma
diva.
Eu gemo, virando meu rosto por tempo suficiente para encerrar minha
resposta e clicar em enviar. Então eu congelo, bato no rosto de um jeito que
só uma lembrança repentina de algo importante pode fazer.
— Ei, Brian, posso pegar seu cartão de crédito emprestado? — Eu
pergunto.
— Por quê?
— Eu quero pegar uma faixa para a viagem, — eu digo. Eu estava
adiando porque, na verdade, estou com o peito muito achatado e não tenho
muita disforia nessa região, mas, depois da viagem para Paradise Cove, sinto
que devo ter um. Você sabe, especialmente se eu estiver passando um fim de
semana na floresta com um monte de gente que mal conheço.
Brian balança a cabeça. — Use o seu cartão.
— Não posso —, eu digo. — Mamãe deixou bem claro que é apenas para
comida e às vezes transporte.
— Então vai no Target e compre com dinheiro.
Eu estreito meus olhos para ele. — Cara, que tipo de Target vende faixas
de qualidade?
Ele me olha como se eu tivesse chamado o tofu de "cultura vegana". —
Todas? Elas ficam na seção de escritório
Eu gemo, jogando minha cabeça para trás para dar um efeito dramático.
— Não quero uma faixa, — digo. Então aponto para o meu peito, lábios
pressionados juntos. — Quero um binder.
Seus olhos se arregalam por um minuto, e então ele diz: — Oh, um
binder.
— Sim.
— Minha carteira está no balcão.
Eu reviro meus olhos e atravesso a sala até o bar. É bom que ele tenha me
lembrado, porque, do contrário, não haveria nenhuma maneira de ser enviado
a tempo. Do jeito que está, já tenho que pagar uns vinte dólares a mais para
despachar o frete. Eu nem mesmo tenho certeza de qual tamanho comprar,
mas vou apenas dar um palpite e seguir em frente.
Pego o cartão e me jogo no sofá para verificar. Em seguida, uma pequena
mensagem de Drew aparece na minha tela.
Meus pais estão brigando outra vez. Jordan e eu vamos passar a
noite na casa da Amy.

Deve ser muito ruim se Drew nem mesmo se sente mais confortável em
ficar em casa. Eu respondo: Posso fazer alguma coisa para ajudar?
A tela do meu telefone muda quando Drew me liga, e eu murmuro um
rápido — Me dá um segundo — para Brian antes de pedir licença e ir até
meu armário.
— Ei, está tudo bem? — Eu pergunto enquanto fecho a porta atrás de
mim.
— Sim, só precisamos de uma mudança de cenário —, diz ele. — Na
verdade, eu queria falar com você sobre o Diário.
— Oh? O que tem ele?
— Bem, já que você vai viajar para o acampamento, quer que eu atualize
para você?
Eu estremeço, minha mente voltando para todas as postagens que Drew
fez sem permissão. Bem, e sua bagunça de blog. Não é horrível, por si só.
Quer dizer, não há nada de errado em casais terem gostos totalmente
diferentes, mas não sei como me sinto sobre ele correr solto com o Diário por
um fim de semana inteiro, especialmente porque não posso contar com o
sinal para monitorá-lo.
— Hum, está tudo bem —, eu digo. — Vou agendar algumas postagens e
responde aos comentários mais tarde. — Embora eu ache que não tenho
respondido aos comentários, então isso pode ser irrelevante.
— Oh, ok, — Drew diz. — Eu só pensei que poderia me dar algo
divertido para fazer enquanto espero você voltar.
Meu coração está meio pesado e estou quase tentado a ceder, mas este é o
Diário. Não estou pronto para correr esse tipo de risco, mesmo que ame
Drew. — Posso desistir da viagem, se você quiser.
— Não, não faz isso —, diz ele. — Quer dizer, o dinheiro é bom e você já
perdeu uma semana de trabalho. Nós ficaremos bem.
— Ok, — eu digo, mas me sinto um pouco apreensivo.
— Sério, Noah, — ele diz. — Eu não preciso que você cuide de mim. Eu
apenas pensei que iria me divertir nas redes sociais por um fim de semana,
mas não é grande coisa.
— Você ainda pode postar, — eu digo. — Quer dizer, se você quiser
postar sobre nós e o Diário, não me importo.
Drew ri. — Sim, eu sei. Meu blog atingiu quase três mil seguidores desde
que mencionei pela primeira vez que namoro você, então tem isso. Vou
escrever algumas coisas fofas e deixar todos os seus seguidores com inveja.
Eu sorrio. — Ok, apenas não faça nada exagerado. Queremos ter certeza
de que é natural para os leitores — .
— Eu entendi. Confie em mim.
Inbox (1,453)
Missamericanbi perguntou: Eu sei que você provavelmente não vai
ver isso, já que também não respondeu a ninguém, mas, se você tiver
a chance, tenho uma amiga que tem estado muito triste ultimamente.
Ela é trans, o namorado dela acabou de terminar com ela e eu
esperava que você pudesse lhe dar alguns conselhos, uma vez que seu
relacionamento é tão ideal? Por favor, isso significaria o mundo para
ela.
Fiel à minha palavra, faço as malas na quinta à noite, logo depois da meia-
noite. Estou lutando para juntar tudo e mal me lembro de experimentar meu
binder antes de enfiá-lo em minha mochila. Eu agendo algumas postagens
para o Diário, já que não estarei por perto para atualizá-lo, e faço o meu
melhor para responder a todas as perguntas sobre minha postagem de
Paradise Cove. É bom ver que o Diário está ainda melhor do que eu e quase
dobrou de seguidores desde que apresentou Drew. Eu mandei um e-mail para
Drew com um arquivo de fotos, ideias de histórias e outras coisas para que
ele possa se divertir postando enquanto eu estiver fora. Estou um pouco
preocupado com o que ele tem em mente, mas confio nele, e é só um fim de
semana.
Sexta de manhã, Brian me arrasta para fora da cama e vamos para o
acampamento. Temos que nos encontrar lá e reunir todas as crianças. Então,
pegamos um ônibus para o chalé. As crianças que estamos levando são um
pouco mais velhas do que meu grupo normal – os de 8 a 12 anos de idade – e
estou um pouco nervoso com isso, honestamente. E depois há a coisa de
compartilhar uma cabana. Não sou bom em espaços compartilhados ou ao ar
livre, ou, em qualquer espaço que não posso cuidar completamente de acordo
com minhas preferências pessoais.
Quando Brian e eu estacionamos, já há um grupo de pais dizendo tchau
para os filhos e ajudando-os a entrar no ônibus. Georgette está lá e me diz
para esperar no ônibus enquanto eles continuam carregando, então eu vou,
apertando minha mochila para caber no corredor.
Devin está sentado perto do fundo, uma rosquinha pendurada em sua
boca. Elu acena para mim e faço a caminhada miserável da vergonha
enquanto minha bolsa bate em tudo em um raio de oito quilômetros.
Quando chego à última fileira, Devin se inclina um pouco para que eu
possa jogar minha bolsa no chão e deslizar ao lado delu.
— Bom dia —, elu diz, todo brilhante e alegre, mesmo que ainda não
sejam nem oito horas.
Eu sorrio de volta para elu, mas é mais como uma careta.
Devin ri, me passando um copo do Starbucks e, honestamente, não tenho
certeza do que fiz para merecer. Entre o frio da manhã no Colorado e a falta
de sono – que é principalmente minha culpa – o café parece vida em minhas
mãos, respirando suavemente em mim.
— Você está animado? — Devin pergunta.
E é uma pergunta bem inútil, já que qualquer um pode dizer que não
estou. É ruim o suficiente que eu nunca tenha feito um acampamento
sleepaway antes, mas também sei que é provável que eu perca o sinal e Drew
não será capaz de me localizar se ele precisar de mim. Considerando que esta
é a nossa primeira vez separados como namorados de verdade – ou, bem,
como qualquer coisa na verdade – me sinto péssimo sabendo que não posso
garantir uma resposta a tempo.
Devin abre uma caixa de donuts, e eu pego um porque vou morrer antes
de recusar comida grátis. É doce contra a minha língua, e eu apenas o deixo
assentar na minha boca por um momento enquanto meu cérebro luta para
acordar.
— Espero que não seja um problema —, diz elu, — mas estive pensando
sobre o assunto do pronome de novo.
Eu me viro para elu, esperando parecer mais uma pessoa humana agora.
— Você quer mudar de novo?
Elu encolhe os ombros. — Eu não odeio elu/delu, mas não parece certo,
sabe? Como ele/dele, eu acho.
— Então, o que você quer usar agora?
Devin olha para mim como se elu estivesse preocupado que eu ficasse
bravo, antes de suspirar e dizer: — Ile/dile parece bom?
E eu nunca tinha ouvido esses sons antes na minha vida, mas eu aceno de
qualquer maneira. Não é meu trabalho dizer a Devin quais pronomes ile pode
ou não usar.
Eles dirigem o ônibus mais rápido do que o esperado e, nos próximos
vinte minutos, estaremos correndo pela rua, indo para o meio do nada.
Pego meu telefone para verificar se há sinal ou uma mensagem de Drew.
Parece que tenho o primeiro, mas não o segundo ainda.
Devin tem uma linha de açúcar no lábio dile por causa do donut, então eu
pego um guardanapo e o enfio em sua cara.
Ile ri, puxando da minha mão e limpando o açúcar. — Desculpa.
Eu reviro meus olhos. — Você se desculpa demais.
Ficamos sentados em silêncio por um tempo. Eu nem percebo que
desmaiei até que meu telefone vibra, o movimento me chocando e me
acordando, e eu me afasto de onde minha cabeça caiu no ombro de Devin.
— Que diabos? — Eu digo.
Os olhos dile se arregalam. — O quê?
— Você me deixou dormir no seu ombro?
— Eu não deveria ter deixado você dormir no meu ombro?
Eu cruzo meus braços enquanto clico no meu telefone. — Eu tenho um
namorado.
Devin ri. — Você adormeceu. Isso não é traição.
Mas sinto que sim.
Eu afasto a sensação enquanto olho para o meu telefone, uma mensagem
de Drew colorindo a tela. Ei, as coisas estão ficando meio difíceis aqui.
Você pode conversar?
Eu suspiro, digitando rapidamente, Estou trabalhando, mas ligo para
você mais tarde?
Okay.
E oficialmente me sinto o pior namorado do mundo, mas não sei mais o
que fazer.
Minha caixa de entrada do Tumblr está cheia de mensagens, mas
simplesmente desligo as notificações, já que não tenho energia para
responder agora e deveria me concentrar em trabalhar neste fim de semana.
Quando chegamos ao nosso destino, todos nós saímos do ônibus e eles
fazem uma contagem formal antes de sermos divididos em grupos. Existem
cinco cabines e dez líderes, incluindo Devin e eu. Nosso principal trabalho
nesta viagem é apenas ser RAs da cabine e garantir que todos sejam
comportados na hora de dormir. Por enquanto, conduzimos nosso grupo de
seis meninos até nossa cabana e os deixamos escolher seus beliches e colocar
suas coisas no chão.
Eu olho para o meu telefone novamente e, felizmente, parece que ainda
tenho sinal na cabine.
Devin grita: — Ok, dez minutos, então vamos para o lago!
Pego minha bolsa e procuro o protetor solar e imediatamente percebo que
esqueci de embalar. Perfeito.
— Protetor solar?
Eu olho para cima para ver Devin segurando uma lata de spray para mim,
e eu a pego, espirrando rapidamente em meus braços e pernas. Normalmente
não me queimo muito, mas o câncer de pele é real.
Eu entrego o protetor solar com um murmúrio, — Obrigado.
— Sem problemas —, diz ile. — Tem algo errado? Você parece
incomodado.
Mas eu apenas balanço minha cabeça porque falar com Devin sobre meu
namorado parece errado. Quer dizer, nem tenho certeza se somos amigos ou
apenas colegas de trabalho, e não parece certo despejar esse tipo de coisa em
alguém que mal conheço.
Reunimos as crianças e nos dirigimos para o lago, onde os outros grupos
estão começando a se formar. Há oito outros conselheiros conosco, além dos
coordenadores Georgette, Bev e esse cara chamado Frank, que juro nunca ter
visto antes na minha vida. Durante o dia, nosso trabalho no fim de semana é
basicamente fazer tudo o que os coordenadores mandam, seja ajudar as
crianças nas atividades ou apenas procurar o papel higiênico extra. No
primeiro dia, estou inflando um monte de carros alegóricos e, mesmo que não
seja a pior tarefa que eu poderia estar fazendo, eu meio que gostaria que a
carga de trabalho fosse um pouco mais intensa para que eu pudesse parar de
pensar em Drew.
Eu ligo para ele durante a minha pausa para o almoço, mas a conexão é
instável, então não conversamos muito. Ele apenas desabafa sobre como as
coisas estão uma merda em casa e como ele está tendo problemas para animar
Jordan. Eu prometo que podemos fazer algo divertido quando eu voltar, mas
parece vazio. Se eu fosse um namorado decente, estaria lá agora.
Sexta, 22 de junho

Lectabaeries postou:
Sabe quando você ama um blog porque é tão sincero e real, e
então o criador apenas meio que desaparece e parece que você está
assistindo a 15ª temporada de um programa que deveria ter sido
cancelado depois da quinta?

NotGreenberg respondeu: Tipo o Meet Cute Diary? Porque eu me


sinto assim.
Ifyoumissme2 respondeu: Pode falar que é o the Meet Cute Diary.
Yeahyahya respondeu: Eu quase rebloguei isso e marquei o Meet
Cute Diary, mas melhor não.
Conforme o dia chega ao fim, pego meu telefone para ligar para Drew.
Apesar de uma conexão bastante consistente, mas fraca durante todo o dia,
não tenho sinal. Eu luto contra a vontade de jogar meu telefone no lago.
Brega como sempre, Devin tem nossas crianças agrupadas em um círculo
ao redor de uma fogueira. Não tenho certeza de onde ile conseguiu o pequeno
ukulele rosa, mas ile está tocando um acorde enquanto as crianças se sentam
com marshmallows os assando.
Sento-me ao lado dile, o calor fazendo cócegas em meu rosto. Ainda nem
está totalmente escuro, mas todo esse estado é tão frio, e eu superei isso.
Devin se inclina em minha direção, tocando o ukulele e sorrindo como
um idiota total. Eu ê empurro para trás, mas ile não para de tocar.
Devin começa a cantar alguma música folk, e a voz dile é super fina e
irritante, mas está ajudando a acalmar um pouco meus nervos. Eu sei que não
há muito que eu possa fazer sobre a situação de Drew, mas não é como se eu
estivesse salvando sua vida ou algo assim. Tenho que acreditar que ele ficará
bem por um fim de semana sem mim.
Pego alguns dos marshmallows e começo a trabalhar no meu próprio
assado. Na verdade, nunca fiz um antes, e estou tentando adquirir a
habilidade observando um bando de crianças de oito e nove anos de idade
fazer isso.
O garoto ao meu lado – acho que o nome dele é Hector ou algo assim –
balança a cabeça preguiçosamente antes de arrancar o material da minha mão
e dizer: — Deixa que eu faço isso.
É o que eu faço, porque não preciso começar uma briga com uma criança
pequena, especialmente uma que esteja familiarizada com objetos
pontiagudos e fogo.
— Ok, nova música! — Devin diz, apoiando o uke no joelho dile. — O
que vocês acham? Algum pedido especial?
Algumas crianças começam a gritar o que suponho serem cantigas de
fogueira. Até Cooper, esse garoto quieto que geralmente sorri bobo para tudo,
está com a mão balançando no ar, e esse garoto barulhento chamado Dylan,
que sempre se senta com ele, está com as mãos em concha ao redor da boca
enquanto grita seu pedido. Desgraça, eu não sei nada sobre acampamento e
menos sobre músicas folclóricas cafonas, mas logo Devin começa a tocar
novamente e as crianças começam a cantar junto como se estivessem na
igreja.
Devin me cutuca com o ombro dile, e eu não sei o que quer de mim
porque eu literalmente não conheço as palavras, mas eventualmente começo a
bater palmas junto com Hector e algo estranho se passa em mim.
Camaradagem? Como se eu estivesse cercado por pessoas que se preocupam
comigo e querem me ver feliz? Há uma espécie de euforia fluindo por mim, e
quando olho para Devin, não posso evitar, mas sinto que sou querido lá,
como se talvez eu me encaixasse neste quebra-cabeça melhor do que jamais
pensei que poderia.

Drew
Aff, estou tão entediado e com saudades de vc. Esse lugar é um
saco.
Vi esse vídeo e lembrei de você. [Link]
Esse acampamento é mais interessante que eu, hein?
Ah, você provavelmente não tem sinal, né? To com saudades.
Espero que vc receba isso.

A manhã seguinte é péssima. Não estou apenas compartilhando o banheiro


com outras sete pessoas, mas não há Starbucks – ou café – e todas as crianças
estão gritando e reclamando, e eu só quero voltar para a cama.
Finalmente, eu me arrasto para me trocar com apenas tempo suficiente
para ajudar Devin a lutar com todas as crianças para que possamos ir para o
lago. Estou vestido com meu calção de banho com uma camiseta por cima e
meu binder por baixo, já que aparentemente o plano é andar de caiaque ou
algo do tipo hoje.
Todos nós fazemos fila para pegar nossos coletes salva-vidas, e então a
equipe começa a ajudar as crianças a vestir os deles. Quer dizer, eles são
muito simples de vestir, mas as crianças ficam ali enfiando os braços nos
buracos errados e jogando os membros como se não conseguissem lembrar
como usá-los. Leva só uma hora para preparar todos e, em seguida, Georgette
chega para fazer uma verificação rápida de segurança antes que todos possam
ir para seus respectivos botes.
A água está calma, mas a coisa toda ainda parece meio assustadora. Quer
dizer, pra ter uma ideia, está congelando pra caralho lá fora, mas há vários
salva-vidas treinados na equipe, e cada um de nós está pegando caiaques
duplos em grupos para que nenhuma das crianças fique desacompanhada.
O garoto com quem estou indo primeiro se chama Chad, que fala
dormindo e baba no travesseiro. Quando entramos no barco, ele já está
balançando, a excitação percorrendo seus membros e sendo a única coisa que
nos impede de afundar.
Pegamos os remos e Chad está quase pronto para nos girar em círculos.
Tento manter a calma enquanto digo: — Vamos fazer isso juntos, ok? — Mas
tenho certeza de que ele nem está ouvindo.
Devin já está indo para o lago, Cooper ajudando a guiar o barco. Ele e
Devin cruzam a água suavemente, e Devin me lança um sorriso rápido
enquanto eles deslizam à nossa frente.
Eu suspiro, mergulhando meu remo na água e gentilmente nos guiando.
Chad afunda a direita também e começa a cuspir com a boca, como um peixe
moribundo.
Quando voltamos para a costa, estou com frio, molhado e ansioso para
vender meus ovos para a ciência.
Devin me ajuda a sair do caiaque e quase tropeço no dile.
— Você quer me ajudar com o almoço? — ile pergunta.
Dou uma olhada rápida em Chad e balanço minha cabeça
apressadamente. Eu não sei quem está levando o resto das crianças para fora
e, francamente, não me importo. Qualquer coisa para me tirar do frio parece a
ideia perfeita.
Entramos no pequeno refeitório. É pequeno o suficiente para que nosso
grupo quase não caiba, mas não é meu problema. Devin me leva para a
cozinha, que é basicamente uma palavra chique para — cômodo com uma
geladeira enorme — . Pegamos bandejas de comida e as colocamos nas
mesas. Devin faz esse pequeno giro enquanto ile equilibra uma bandeja na
palma da mão antes de deslizá-la sobre a mesa com um leve chiado.
— Nós apenas temos que os aquecer e colocar para fora —, explica
Devin.
Eu concordo. Tenho sorte que Devin tenha feito tudo isso antes e parece
mais do que contente em me arrastar junto. Eu não fui feito para essa coisa de
acampamento de verão.
— Espero que sua viagem não tenha sido tão ruim —, diz Devin.
— Viagem?
— O caiaque.
Eu estremeço. — Eu não quero pensar nisso.
Ile ri. — Eu estava pensando…
— Sobre?
— Mudar meus pronomes de novo?
Eu olho para ile, mas ile está olhando para os sapatos. — Alguma razão
em particular?
— Eu não sei. Acho que estou tentando encontrar um bom equilíbrio, mas
não tenho certeza de onde me encaixo, sabe?
— Então, o que você estava pensando?
— El/del?
— Isso parece melhor para você? — Eu pergunto.
El dá de ombros. — Eu não sei. Eu gosto que eles sejam neutros, sabe?
Parece menos mentira.
— Então você acha que é agênero? — Eu pergunto.
Devin abre uma das embalagens de alumínio e meu estômago ronca. Ai
meu Deus, macarrão com queijo. — Acho que não —, diz ele. — Eu não
acho que sou um menino, no entanto. Ou uma garota, por falar nisso.
Eu me forço a me concentrar mais nel e menos na comida. — Você já
pesquisou isso?
E acena com a cabeça, sinalizando para eu pegar outra embalagem para
que possamos levá-la para fora. — Eu pesquisei, e eu passei por alguns
termos, mas nenhum deles pega, sabe? Gênero fluido, bigênero, demigirl – eu
meio que acabei no genderqueer, mas eu não sei para onde ir a partir daí.
Eu aceno com a cabeça, embora, honestamente, a maioria desses termos
sejam muito estranhos para mim. Todos eles simplesmente se enquadram na
categoria "não-binária", e eu nunca pensei muito nisso além disso.
Há uma longa mesa esperando por nós com slots para cada embalagem.
Nós as colocamos e ligamos o aquecedor para que a comida fique com uma
temperatura comestível.
— A verdade é que, se eu tivesse que descrever, diria que sou como 2 por
cento de leite.
Eu me viro para el, as sobrancelhas franzidas. — Você é como o quê?
— Sabe, dois por cento de leite? Como se eu fosse dois por cento menino,
mas ninguém sabe o que diabos são os outros noventa e oito por cento.
Eu paro, minhas mãos meio pairando perto dos aquecedores para se
aquecer. — Hum, eu não acho que é assim que funciona. Tenho certeza de
que 2% é uma medida de gordura.
— Oh. — Devin parece um pouco desapontado com isso, mas então
encolhe os ombros e diz: — Bem, a coisa de menino de dois por cento ainda
está de pé. Tipo, às vezes eu me sinto como um menino, mas não sei se é
porque estou com um pouco de disforia e todos me dizem que é isso que eu
devo ser, ou se eu me sinto assim, sabe?
E eu não sei completamente porque tenho certeza absoluta de que sou um
menino, mas eu entendo onde el quer chegar. Há momentos em que não
odeio meu corpo e, na verdade, gosto de usar vestidos e slogans de poder
feminino. Não é que eu seja uma garota, mas é uma pele que usei por tanto
tempo, às vezes eu sinto que deveria apenas me deixar deslizar de volta para
ela por um tempo. É apenas aquela pessoa que eu costumava ser tentando se
infiltrar na pessoa que sou agora.
— De qualquer forma, — Devin diz, me levando de volta para a cozinha
para que possamos pegar mais comida, — às vezes fica muito complicado. E
estou sempre preocupado se vou escolher alguma coisa, e então as pessoas
vão me dizer que essa é a minha forma final, sabe? Como se você não
pudesse voltar.
— As pessoas não podem te dizer quem você é —, eu digo.
El sorri, mas meio triste, e uma parte de mim deseja poder voltar no
tempo e lutar contra quaisquer demônios que Devin enfrentou desde que se
assumiu pela primeira vez. Eu gostaria de poder apagar algumas dessas
cicatrizes.
— Quando eu disse a todos que era uma menina, tiveram muitas reações
negativas, mas meus pais e alguns de meus amigos pareciam estar bem com
isso —, diz el. — Então eu disse a eles que não tinha mais certeza se era uma
menina, e a reação foi. . . bem, parecia que eles pensaram que talvez eu
estivesse fingindo desde o início.
— Por que você estaria fingindo? — Eu pergunto.
El dá de ombros. — Eu acho que faz mais sentido para eles do que a ideia
de eu não saber meu sexo. Meus pais mudaram de ideia e me deram muito
apoio desde então, mas eu não falo mais com esses amigos.
Eu suspiro porque, sim, isso é difícil. Eu sei que se eu mudar de ideia,
decidir que sou uma garota ou um demiboy ou em algum outro lugar no mapa
de gênero infinito, Becca não se importará. Brian provavelmente me
compraria um dicionário de termos para que eu pudesse analisar todos os
potenciais, e meus pais provavelmente apenas pediriam que eu usasse um
crachá até que acertassem meu novo nome. Nenhum deles agiria como se eu
estivesse apenas fingindo. Eu nem consigo imaginar como isso seria
invalidante.
— Noah?
Eu olho para cima para encontrar Devin olhando para mim.
— Você pode pegar isso?
— Oh, sim, — eu digo, pegando a próxima bandeja. — Você é a primeira
pessoa trans com quem eu conversei. Você sabe, além do online.
— Sério? — Devin pergunta.
— Sim. É por isso que significou muito para mim quando você se
assumiu no meu primeiro ano. Não posso dizer que já tive uma pessoa trans
para admirar antes.
Devin está praticamente brilhando quando el coloca a bandeja na mesa,
um sorriso ultrapassando seu rosto. Há um rubor cobrindo suas bochechas
quando ele diz: — Honestamente, depois de tudo o que aconteceu,
basicamente me arrependo de ter saído do armário desde que fiz isso.
— Você não se sente livre? — Eu pergunto. — Quer dizer, agora que
você não precisa mais mentir para si mesmo?
— Sim e não? — el passa a mão por seus cabelos e diz: — Não me sinto
muito como uma fraude, mas também meio que me sinto. Estar entre rótulos
às vezes parece que não pertenço a lugar nenhum, ou estou apenas fazendo
algo do nada porque não gosto do que a sociedade me pede. Eu sei que é
ridículo, mas nem sempre é assim.
Devin faz uma pausa antes de me dar outro sorriso e dizer: — Mas
obrigado por dizer isso. Significa muito. Inferno, parece que talvez eu tenha
me assumido por um motivo.
Eu retribuo o sorriso porque não sei mais o que fazer. Parece meio injusto
que el tenha passado por todo o trauma e luta para que eu pudesse ter uma
saída mais fácil, especialmente quando as coisas ainda não estão fáceis para
el agora.
Mas por mais egoísta que seja, estou muito feliz por ter feito isso. Não
apenas para mim, embora eu saiba que nunca teria tido a força para admitir
tudo sozinho se não tivesse visto ile fazer isso primeiro. Mas também para o
Diário e todas as mensagens que recebi dizendo que ele salvou suas vidas. Se
Devin não tivesse sido meu modelo, eu nunca teria me encontrado e nunca
teria começado o Diário, e isso significa que todas essas pessoas trans nunca
teriam encontrado sua fé no amor. E mesmo que eu não possa contar a ile
sobre o Diário e tudo o que el significa para tantas pessoas, uma parte de mim
espera que eu possa inconscientemente passar a informação para el, mostrar a
el o quão importante foi sua escolha.
— Ainda temos mais algumas bandejas —, diz Devin.
E eu aceno porque sei que não posso voltar e consertar tudo, mas o
mínimo que posso fazer é ajudar a carregar um pouco do peso agora.
Passo 9: Segurança
O momento em que a outra pessoa te pega nos braços e
te mostra que seus sentimentos são correspondidos.
Segunda, 25 de junho

And.rew03 postou:
[. . .] Ele não conseguia parar de me enviar mensagens de texto
enquanto estava no acampamento sobre o quanto sentia minha falta e
queria me ver novamente. É difícil ficar longe de alguém de quem
você tanto gosta.
Então, quando ele voltou para a cidade, já tínhamos planos
traçados. Eu sabia que tinha que fazer algo especial para compensar o
quão solitário ele se sentia sem mim para lhe fazer companhia. Era
como um filme se desenrolando na vida real enquanto ele corria para
os meus braços, e eu o balançava, lágrimas escorrendo por seu rosto
como se nosso tempo separados tivesse sido um pesadelo terrível e
tudo estava perfeito agora que ele estava aqui.

Dksjdh respondeu: Vocês são perfeitos! Isso é incrível!


Bitchardsmyfather respondeu: Direto de um conto de fadas, juro.
Dua12 respondeu: Você é um mestre do amor! Onde você esteve
durante meu último relacionamento???
Carregar mais comentários . . .
Em recuperação da minha viagem de acampamento do inferno, eu ia passar
o dia dormindo. Voltamos um pouco depois do pôr do sol de ontem, e então
eu tive que tomar um banho de três horas para lavar o acampamento – desisti
de tirar o que quer que fossem aquelas manchas das minhas roupas – então só
fazia sentido eu apagar por 12 horas ou mais. Então Drew me mandou uma
mensagem logo depois das sete e meia dizendo que queria me ver, eu
relutantemente saí da cama, joguei todas as roupas que encontrei por aí que
não estavam sujas e fiquei na rua esperando que ele chegasse.
— Ei, — eu digo enquanto ele sai do carro.
Ele levanta uma sobrancelha. — Sério?'Ei' é tudo que eu recebo?
Eu reviro os olhos e ele me beija, sua mão traçando uma linha do meu
queixo até o meu cabelo. Eu não sou fã de pessoas brincando com meu
cabelo – é difícil o suficiente de domar sem pessoas aleatórias enfiando os
dedos nele – mas posso sentir o quanto ele sentiu minha falta em seu beijo,
então não digo nada quando ele se afasta.
— Tudo bem? — Eu pergunto.
Ele dá de ombros e, não tenho certeza do que fazer. Recentemente, ele
tem sido bem aberto comigo sobre tudo, então se ele sente que não pode falar
nisso, deve ser muito ruim.
— Estou feliz por você ter tirado o dia de folga —, diz ele. Ele pega
minha mão e começa a me guiar rua abaixo. Eu não sei para onde estamos
indo, mas eu o deixo nos levar.
— Sim, mas é apenas o dia —, eu digo. — Eu tenho que voltar para o
acampamento amanhã.
Drew suspira. — Eles são tão inflexíveis quanto a roubar você de mim,
hein?
Eu sorrio. Eu não sei se Drew se deixou apaixonar desde aquele dia em
Paradise Cove ou se todos os problemas com seus pais apenas o fizeram cair
mais, mas ele parece que está afundado, e meu pé está pairando sobre o freio.
Um pouco. Eu não quero que ele acidentalmente nos jogue de um penhasco.
— Você tem planos para hoje? — Eu pergunto.
— Café da manhã em um café?
Finalmente. Algo perfeitamente minha estética.
É um pequeno restaurante francês, e eles obviamente estão abrindo agora
para o dia porque um cara de avental está limpando as janelas e uma garota
com o mesmo avental parece estar arrumando a vitrine. Drew sabe que eu
odeio manhãs, mas pelo menos não há fila e é fácil para nós entrarmos, pedir
nosso café e doces e esperar apenas alguns minutos antes que eles nos sejam
entregues no balcão.
Sentamos em uma pequena mesa de madeira rústica e assentos brancos
macios. Levo meu bolinho de mirtilo à boca antes de notar Drew olhando
para mim. Não, espere, ele está olhando para o meu bolinho.
— Algo errado? — Eu digo.
Ele treme como se tivesse esquecido que eu estava lá. — Desculpe, — ele
diz. — Só perdido nos meus pensamentos, acho.
— Quer conversar sobre isso? — Eu ofereço.
Ele olha para as mãos por um momento e diz: — Sobre o divórcio dos
meus pais… — Ele faz uma pausa por um momento antes de olhar para mim
e dizer: — Na verdade, eu não quero falar sobre isso. Esquece. Você viu as
postagens do diário que fiz enquanto você estava fora? As pessoas os
amaram. Eu poderia te substituir como o mod do diário, e eles nem
perceberiam.
Eu não tive tempo de verificar as postagens, mas agora estou um pouco
nervoso enquanto pego meu telefone e olho seu blog. Ele está certo sobre as
pessoas amarem os posts. Há toneladas de reações e uma tonelada de notas
sobre eles, muito mais do que suas coisas anteriores, mas eles também são
muito intensos, todos falando sobre como desesperadamente eu o amo e sinto
sua falta e não posso viver sem ele.
— Por que todas essas postagens são sobre mim? — Eu pergunto,
tentando evitar que minha voz soe na defensiva. — Quer dizer, você poderia
ter escrito sobre seus próprios sentimentos também. Não só os meus.
Ele dá de ombros. — Bem, claro, eu acho, mas você é muito mais
interessante para as pessoas, e eu fico muito mais engajado quando as
postagens centram em você. Além disso, foi mais divertido pensar sobre o
quanto você sentiu minha falta do que ficar sentimental comigo mesmo.
— Eu entendo —, eu digo, — mas parece que você colocou palavras na
minha boca, sabe?
— Não é uma grande coisa —, diz ele. — Além disso, minha vida está
uma merda agora, e os fãs me fazem sentir melhor. Você não está bravo com
isso, certo?
— Não, eu acho que não, — eu digo.
Ele abre um sorriso e diz: — De qualquer forma, como foi o
acampamento?
Eu gemo, uma parte de mim esperando que, se eu contar essa história da
forma mais terrível possível, ele se sentirá melhor sabendo que não teve o
pior fim de semana possível, e eu não terei que me sentir culpado por não
gostar dos seus posts. — Aquelas crianças eram um pesadelo —, eu digo. —
E aquela cama parecia feita de pedras.
Drew ri e diz: — Você não quer filhos?
— Por que eu iria querer algo que tenho que pagar e que também é
praticamente certeza que me trará depressão clínica?
Drew dá de ombros. — Ok, então logicamente pode não fazer muito
sentido, mas eu não sei. Eu consigo me ver tendo filhos.
Eu reviro meus olhos. — Bem, você pode adotá-los, porque eles não vão
sair de mim.
Eu congelo, as implicações do que eu acabei de dizer caindo sobre mim.
Mas Drew ainda está sorrindo como se achasse minha resposta fofa, então
espero que ele apenas tenha entendido isso como uma resposta sarcástica e
não como um — ficaremos juntos para sempre, certo? — Na verdade, a
intensidade de seus olhos é um pouco desconcertante, como se ele estivesse
esperando que fosse exatamente o que eu quis dizer e ele está prestes a se
ajoelhar.
Meu bolinho deixa migalhas, mas vou em frente e coloco tudo na boca
para me distrair. Drew sentiu minha falta e ele está obviamente se
envolvendo em nosso relacionamento como uma forma de escapar do
divórcio dos pais. Eu não deveria usar isso contra ele.
Além disso, ele salvou o diário. Não posso esquecer isso.
— Deve ter havido algo de que você gostou —, diz Drew. — Quer dizer,
você teve que passar um tempo infinito com a natureza. Teve algo que você
não queria que acabasse?
E penso no cheiro de grama molhada todas as manhãs, o que me dá nojo
infinito, o frio da água que só ficava mais frio quanto mais ficávamos lá fora,
a dor de cabeça constante das crianças gritando. Havia o espaço limitado do
banheiro, a comida seca que tínhamos que continuar reaquecendo, o silêncio
absoluto e a escuridão da noite que meio que me assustavam pra caralho.
Eu ficaria feliz em nunca mais voltar lá, mas enquanto procuro por
qualquer coisa que me deixou vagamente feliz, por Drew, eu continuo
voltando para a mesma coisa.
Devin.
Eu engasgo com meu bolinho, levando meu café aos lábios para
acobertar. Eu sufoco — Não — antes de tomar um grande gole para limpar
minha garganta. E está quente, e eu tusso, o café escorrendo pelo meu queixo.
Drew ri, pegando alguns guardanapos da mesa para limpar meu rosto. —
Eu sei que você gosta de cafeína, mas isso é um meio ridículo.
Eu sorrio. — Sinto muito.
E eu sinto. Eu não sei por que Devin está surgindo na minha cabeça
quando eu não estou nem aí assim. É legal, mas não tem nada como Drew, o
engraçado, talentoso e lindo Drew.
— Então o que você quer fazer depois? Vou passar o dia todo com você.
— Por causa dos seus pais? — Eu pergunto.
Ele acena com a cabeça, mas seus olhos caem sobre a mesa. — Sim.
Tenho que ir embora, sabe?
— Você quer buscar Jordan e nós podemos ir fazer alguma coisa? — Eu
pergunto.
— Não, não precisamos fazer isso —, diz ele, pegando seu muffin de
nozes de banana. — Quer dizer, ele tem amigos, sabe? Ele provavelmente vai
sair com um deles de qualquer jeito. Melhor fazermos alguma coisa, só nós
dois.
Ele está agindo meio nervoso, o que é super estranho para Drew, mas eu
me pergunto se ele está apenas estressado depois de proteger seu irmão
durante todo o fim de semana. E, ele provavelmente não está muito
preocupado com ele se está sugerindo que o deixemos em casa. Não quero
sobrecarregar Drew com mais nada se puder evitar.
— OK. Onde a próxima? — Eu pergunto.
E Drew sorri. — Você está de brincadeira? Eu tenho uma lista completa.
— Não devemos ficar fora muito tempo porque quero atualizar o Diário
—, digo. Eu deveria adicionar mais atualizações, e eles estão tão apaixonados
por Drew agora que algumas fotos com ele devem os manter apaziguados por
um tempo. — E devemos tirar algumas fotos também.
Drew revira os olhos. — Não podemos ter um encontro sem o diário?
O que parece quase hipocrisia, já que ele estava falando agora pouco
sobre o quanto ele ama a atenção, mas eu encolho os ombros. — Não vou
atualizar até chegar em casa.
— Tudo bem, e não fale sobre isso também. Tenho muitas coisas
planejadas e quero que aproveitemos.
Terça, 26 de junho

Wehavechemistry postou:
Alguém conhece algum blog que posta histórias de romance
curtas e fofas? De preferência de não-ficção? Desde que o Meet Cute
Diary parou de postar, preciso de algo novo para ocupar meu tempo

Gogogadget63 respondeu: Ah, Noah provavelmente está ocupado


com o namorado. Eles são tão fofos!
Jiggypuff respondeu: Na verdade, gosto mais dos posts sobre
relacionamento deles do que os do antigo diário.
Gogogadget63 respondeu: Eu também! Drew é tão encantador. Não
me importo se as postagens do Noah são sobre isso agora!
Chego em casa tarde e descubro que tenho três ligações perdidas de Becca.
Em minha defesa, Drew e eu estivemos bem ocupados o dia todo. Depois do
café da manhã, ele me arrastou para uma – felizmente curta – caminhada,
depois para o cinema, então passamos duas horas nos beijando em outro
filme. E eu o disse algumas vezes que provavelmente deveria ir, mas ele
pareceu sentir muito a minha falta enquanto eu estive fora, não queria apenas
levantar e sair quando ele claramente queria que eu ficasse por perto. Me
sinto mal por não ter atendido as ligações de Becca, mas também estou
aborrecido por ela ter me ligado três vezes, como se eu só devesse estar
esperando por ela, mesmo que ela mal tenha tempo para mim.
Eu ligo de volta e cai no correio de voz, o que me irrita, o que significa
que eu vou para a cama com raiva e acordar com mais raiva ainda.
Devin me traz o café como costume, mas isso não faz nada para melhorar
meu humor. Na verdade, me sinto meio mal porque el parece muito feliz e sei
que sou apenas uma nuvem de tempestade pairando sobre.
— Tem alguma coisa errada?
Eu encolho os ombros. — Não tem sempre?
Devin sorri e bate no meu ombro com o seu. — Posso falar sobre algo ou
distraí-lo?
Eu sorrio de volta. — Distrações são bem vindas.
— Então eu tenho um presente para você.
Devin verifica ao redor uma vez para ter certeza de que ninguém está nos
observando, o que é ridículo, já que estamos sentados na sala de ensaio,
sozinhos. Em seguida, el puxa seu telefone e abre um pequeno gráfico
bonitinho com letras azuis em forma de bolha e uma Terra sorridente e
vermelha.
— Você tem um momento para falar sobre nosso Senhor e salvador, Mãe
Natureza?
Eu rolo meus olhos. — Você não é hippie, é?
Devin ri. — Não, eu só me importo com o mundo em que vivemos. Vou
dar uma festa de reciclagem neste fim de semana, se você quiser ir.
— Uma festa de reciclagem? — Eu pergunto.
Devin acena com a cabeça. — Sim, é quando um grupo de pessoas se
reúne e todos nós reciclamos nosso lixo e, então, fazemos coisas com a merda
que estamos jogando fora. É tudo muito econômico.
— Certo —, digo, porque não sou convidado para muitas festas, mas
definitivamente nunca fui convidado para uma como essa antes. — Vou
pensar.
Devin sorri. — Você não tem que ir se não quiser, mas eu gostaria que
fosse. Passei as últimas semanas procurando projetos de artesanato.
Penso no pequeno doodle que fiz durante a nossa primeira semana, e não
posso deixar de imaginar que essas ideias de artesanato são provavelmente
bastante impressionantes. Sério, eu sou péssimo em qualquer coisa
relacionada à arte, mas não parece o pior evento de todos os tempos. Sempre
quis fazer artesanato.
— Você pode trazer seu namorado também, se quiser —, diz Devin.
— Você lembra que eu tenho namorado?
Devin revira os olhos. — Por favor, você fala dele o tempo todo. Ele é
totalmente bem-vindo.
Eu sorrio. — Tudo bem, eu vou.
Pelo que vale a pena, Devin faz um ótimo trabalho em me distrair. Uma
vez que as crianças vão para fora, el puxa os submarinos para nós dois, e
ficamos sentados por um tempo fingindo que não temos que limpar.
— Então você me traz comida de graça agora? — Eu pergunto, mordendo
o sanduíche.
Devin encolhe os ombros. — Tenho assado mais, então pensei em lhe dar
algo para experimentar.
Eu paro, meus olhos arregalados. — Espere, você assou isso?
— O pão.
— Obviamente. — Mas é ridiculamente incrível, apenas crocante o
suficiente nas bordas, mas macio no meio.
Devin ri. — Quando comecei a fazer terapia, meu terapeuta me disse que
eu precisava pegar um hobby, então comecei um monte de outros diferentes,
e acho que eles meio que travaram.
— E ser padeiro? — Eu pergunto.
— Meu pai cozinha muito —, diz Devin. — Depois que eu. . . bem, eu
acho que meu pai pensou que seria bom para nós termos algo para criar um
vínculo, sabe? Então, começamos a cozinhar juntos e agora é apenas uma
espécie de coisa. Normalmente nos fins de semana.
Caímos em silêncio e me sinto mal procurando por qualquer outra coisa,
pois já reabri, provavelmente, a pior lata de minhocas do mundo.
Felizmente, passo o resto das minhas horas de trabalho pensando em
Devin e aquele pão transformador, então só me lembro de Becca enquanto
pego minhas coisas e entro no carro de Brian, clicando em meu telefone para
descobrir que perdi mais três ligações.
Eu gemo, minha cabeça caindo para trás contra o encosto de cabeça.
Brian suspira, girando a chave na ignição. — Por favor, não se machuque.
Eu não quero ter que te levar ao pronto-socorro.
— Como você lida com amigos que estão sendo irracionais?
Ele me olha de lado e diz: — Normalmente, me certificando de que não
sou eu que estou sendo irracional primeiro.
E eu odeio que el tenha dito isso porque é uma coisa muito Brian de se
dizer, e eu sei que há uma boa chance de que el esteja certo. E talvez eu
precise melhorar na coisa da autorreflexão, mas também não sei por que
Becca estaria com raiva de mim. Porque estou com Drew? Isso parece
mesquinho. Pode ser porque eu não apoiei sua paixão pelo TERF, mas isso
não deveria ter sido uma surpresa.
Mas talvez seja mais antigo do que isso. Talvez ela esteja brava porque eu
saí de casa durante o verão, e agora estou no Colorado tendo o melhor
relacionamento da minha vida enquanto ela está presa na Flórida odiando
cada minuto.
Mas não é minha culpa, e ela sabe disso. Ela não pode ficar brava com
isso, pode?
Quando eu volto para o apartamento, eu me tranco no armário e ligo para
Becca no FaceTime, pulando nos meus calcanhares esperando que ela
finalmente responda.
Finalmente, seu rosto aparece e ela diz: — Noah?
— Ei —, eu digo, — sinto muito por tudo que fiz para irritá-la, Becca.
Você é minha melhor amiga e eu. . .
— Cale a boca só um segundo.
Então é o que eu faço.
— Você tem checado o Diário ultimamente?
E tenho que admitir que sou uma pessoa terrível e não tenho feito isso.
— Bem, vá agora. Você precisa ver isso.
Então, pego meu laptop e puxo meu painel do Tumblr para ver as
notificações. Estou meio que esperando encontrar vinte mil mensagens de
ódio ou algo assim, mas em vez disso, encontro o Bunfrees, o site de notícias
super popular. Espera, o que.
Parece que algum escritor de Bunfrees decidiu fazer uma exposição sobre
a cultura do amor da geração Y – como se a geração do milênio não tivesse
quarenta anos e casada agora – e eles decidiram incorporar o Diário em um
dos posts. O que, você sabe, seria muito legal se eles me pagassem por isso.
Mas esse não é o problema. O problema é que as pessoas estão cercando
pelo Tumblr como um enchame – vários prints da seção de comentários do
post do Bunfrees dizendo: — Este blog é uma mentira e essas histórias foram
roubadas. Esta é sobre meu amigo, e eles nunca deram permissão para ser
usada. . .
O que, é ridículo, já que eu literalmente inventei todas as histórias do
Diário. Mas, uau, eles até criaram um link para outro blog onde postaram
uma história sobre um amigo que conheceu um carinha em uma sorveteria há
oito meses. E os detalhes são diferentes – a descrição da loja, deixando um
telefone em vez de uma carteira, literalmente todo o diálogo – mas as pessoas
estão engolindo tudo, e eu estou quase pronto para arrancar meus cabelos.
Isso não é como o hater antigo. Mesmo se eu postar trinta fotos de Drew e eu
nos beijando, isso ainda não refutará essas afirmações.
Pode não ser tarde demais para fazer uma declaração, mas então, é minha
palavra contra a deles, e isso provavelmente não terá muito peso.
Por que as pessoas continuam fazendo isso?
— Que diabos? — Eu digo.
Eu ouço Becca suspirar, mas ela não diz nada. Acho que ela está tão
perdida quanto eu.
— Tenho certeza de que tudo vai passar —, ela diz finalmente. — Quer
dizer, as pessoas roubam coisas o tempo todo e ninguém se importa.
Mas eu me importo. Mesmo que as pessoas continuem seguindo o Diário,
isso significa que elas pensam que eu sou um ladrão e não tem problema com
isso. Eu não quero que pensem que eu sou um ladrão!
— Talvez eu possa falar com as pessoas, — digo. — Se eu contar que a
história não é sobre eles, talvez concordem em admitir que não o roubei.
— Noah, elas sabem que você não roubou, ok? O objetivo do Diário é
que as pessoas postem suas histórias anonimamente, então elas são
intencionalmente vagas. Como você vai provar que a história não é sobre elas
quando metade dos detalhes são diferentes e elas ainda estão te atacando?
Eu descanso minha cabeça contra a parede, lutando para processar tudo.
Quer dizer, o Diário é o trabalho da minha vida. É provavelmente a coisa
mais importante que já criei. Eu não posso simplesmente deixar tudo isso ir
pelo ralo.
— Não faça nada precipitado, ok? — ela diz. — Espere alguns dias antes
de tentar se envolver. Ah, e você provavelmente deveria me colocar em dia
sobre tudo que você tem explodido no meu telefone.
Então, tento desviar minha atenção do Diário enquanto a coloco em dia
com todas as coisas que ela perdeu. Ela não se preocupa com a coisa de não
atender minhas ligações e, parece que fica mais confortável evitando
qualquer coisa que tenha a ver com ela, mas menciona que começou a falar
com outra garota – uma que não é uma TERF – no Instagram, o que admito
ser um pouco vago para mim, mas a digo que estou feliz por ela de qualquer
maneira. Estou. Quero dizer, claro, vai ser uma pena ter que explicar para sua
família que ela conheceu sua namorada em uma plataforma de mídia social
do Facebook, mas é melhor do que sentir solidão.
Em seguida, ela habilmente direciona a conversa de volta aos meus
problemas. Eu a pego sobre o acampamento e então começo a falar sobre
Drew e todo o tempo que temos passado juntos.
— Acho que ele está finalmente ficando sem ideias criativas para
encontros, então isso é bom —, eu digo.
— Isso é bom?
A verdade é que prefiro apenas me enrolar no sofá com ele e assistir a
filmes ruins do que caminhar até as tocas do dragão e balançar em vinhas na
Amazônia. Eu simplesmente não tenho energia para todas essas atividades ao
ar livre de qualquer maneira, e às vezes parece que todo o nosso
relacionamento é construído em torno das coisas que fazemos mais do que
das pessoas que somos.
— Você e Devin parecem muito próximos —, diz Becca.
Eu ri. — Não, na verdade não. Somos menos próximos e mais
constantemente forçados a estar perto um do outro porque trabalhamos
juntos.
— Bem, você ainda fala sobre ele como se o achasse muito legal.
— Devin usa pronomes el/del —, eu digo, provavelmente um pouco na
defensiva, uma vez que el ainda não decidiu quais pronomes prefere de
qualquer maneira. E eu não sei se eu diria que acho que el é legal, exatamente
porque é um nerd total que é apaixonado por reciclagem e arte e canções de
fogueira, mas eu me sinto meio protetor com el, embora eu nunca lhe
contasse isso .
Becca está me dando esse olhar, e não posso dizer que senti muito a falta
dele. É aquele olhar que diz: Estou lendo profundamente em sua mente agora
coisas que você provavelmente nem sabe sobre si mesmo. Eu levanto a mão
para me proteger do seu olhar e digo: — É muito fofo, sabe? E é tão estranho
porque eu sei que se eu estivesse em sua posição, eu estaria socando os rostos
das pessoas e serrando metade dos EUA, mas Devin apenas. . . Eu não sei.
Becca ri, mas eu não sei do que diabos ela está rindo porque eu não disse
nada engraçado. Quando eu abaixo minha mão e pergunto o que a faz ter um
ataque de risos, ela simplesmente começa a rir de novo. E, honestamente, é
bom ouvi-la rir, mas é muito irritante que ela esteja rindo de mim.
Eu gemo, mas estou feliz por tê-la de volta. Ainda há essa tensão estranha
entre nós, mas também nos sentimos mais próximos do que desde que antes.
Eu a fiz prometer manter contato antes de finalmente desligar, meu corpo
inteiro exausto. Eu sei que Becca me disse para não falar nada, mas deixo
uma resposta rápida de qualquer maneira, basicamente apenas dizendo que o
Diário nunca postaria histórias roubadas. Então eu apago antes mesmo de por
meu telefone para carregar.
Quarta, 27 de junho

Juleslovesny postou:
Hum, então acho que o Meet Cute Diary está compartilhando
postagens roubadas agora?? Como isso aconteceu? Alguém conhece
algum blog alternativo porque estou cansada de todo o drama neste.
Primeiro, descobrimos que é falso e agora é uma história de roubo?
Sim, estou fora. O blog não vale o aborrecimento.

Rosiesreallysmelllike respondeu: Isso parte meu coração. Adorava


esse blog!
Uwuknifedaddy respondeu: Então, alguma coisa sobre aquele blog
era real? Aposto que ele nem saiu com aquele cara Drew.
Bolliehiliday respondeu: Quem se importa se eles forem roubados!
Está na internet! Isso os torna grátis!
O resto da semana passa enquanto tento equilibrar o Diário, Becca – que
parou de responder novamente – e Drew, que chegou ao ponto de me ligar no
segundo que eu saio do trabalho e quer ficar ao telefone a maior parte da
tarde. Meu único tempo real de inatividade é o momento depois que as
crianças vão embora e eu passo meu tempo limpando com Devin, que fez de
me trazer o almoço uma coisa normal tipo me trazer café como se tivesse um
medo horrível de morrer de fome antes do verão terminar. Lembro a mim
mesmo que não há nada intrinsecamente não platônico sobre me trazer
almoço todos os dias – mesmo que eu comece a assar biscoitos com lindos
desenhos de cobertura – o que significa que não estou sendo desleal com
Drew, que, na verdade, não tenho tempo suficiente para pensar em ser
desleal.
Sexta-feira de manhã, dormi demais e, depois de um sermão de Brian
sobre um passeio de carro, finalmente pulo para fora e vou para a sala de
ensaios. Devin já está lá, e há algumas mesas longas alinhadas ao redor da
sala com pequenas cadeiras na frente delas. Devin distribui folhas de papel,
glitter, tesouras e pincéis.
Eu congelo enquanto entro na sala, uma melodia suave se despejando
sobre mim que eu primeiro confundi com uma gravação estranha a cappella
de Shawn Mendes. Então eu percebo que é Devin, cantando baixinho
enquanto coloca a merda na mesa como uma princesa da Disney.
Eu rio e pulo, deixando cair a braçada de suprimentos de arte enquanto os
pequenos frascos de glitter rolam pela mesa.
— Eu não sabia que você cantava —, digo, lembrando de como eu fui
terrível na fogueira. Acho que pensamos que as notas ruins eram um ótimo
complemento para as letras cafonas.
Devin olha para mim, com o rosto corado, e diz: — Eu. . . eu não sabia
que você estava aqui. Eu normalmente não canto em público.
— Eu estava meio atrasado.
Eu ê ajudo a pegar os suprimentos caídos antes de preencher os espaços
vazios ao longo da mesa. — Você tem talento para tudo? — digo.
Devin pisca e diz: — Quer dizer, não para muitas coisas. . .
Eu reviro meus olhos. — Sério? Você canta, toca uke, desenha…
O rubor de Devin aumenta e el diz: — Tenho certeza de que você é bom
em muitas coisas. — Devin está ativamente evitando meus olhos agora, como
se el pensasse que olhar para o chão de alguma forma me faria desaparecer.
— Na verdade. Quer dizer, eu escrevo de vez em quando, mas é bem
medíocre.
— Oh? Que tipo de escrita?
Se el fosse qualquer outra pessoa, eu pensaria que estava zombando de
mim, mas el apenas olha para mim com curiosidade.
Eu encolho os ombros. — Eu só invento pequenas histórias às vezes.
Nada sério.
— Tenho certeza de que são ótimas —, diz el. — Quero dizer, você
parece o tipo de pessoa que seria um grande escritor. Você já pensou em
seguir carreira nisso?
Encolho os ombros novamente. — Não é esse tipo de escrita.
Eu me viro para ê olhar, mas el já seguiu em frente, vasculhando alguma
pasta nos arquivos. Eu meio que quero perguntar o que el quis dizer com isso,
mas também estou preocupado em não gostar da explicação, então coloco o
último frasco de glitter para baixo e digo: — Para que serve tudo isso, afinal?
— Eu só pensei que as crianças poderiam trabalhar em algumas
decorações de quatro de julho, sabe? Algo para pendurar por este lugar.
— Hoje é sexta-feira, o que significa começar na segunda-feira, teremos
um novo lote de crianças. Pessoalmente, acho isso revigorante. É um alívio
saber que a criança que atirou um lápis em mim na quarta-feira não vai durar
muito mais tempo, e é legal conhecer novas crianças, cada uma trazendo algo
único para a mesa. Mas eu sei que Devin sente falta deles. Mesmo depois que
as crianças se foram, e fala sobre cada uma delas individualmente, como se
fossem pessoas que conhecemos por toda a vida, em vez de alguns dias. Acho
que faz sentido, já que agora ele estuda em casa e provavelmente não tem
muitos amigos.
— Você não me pediu para desenhar nada legal —, brinco.
Devin se encolhe. — Sim, sobre isso. Sua arte é – bem, vamos apenas
chamá-la de trabalho em andamento.
Eu ri. — Sobre aquela festa no sábado. . .
Devin se vira para mim, mas seus olhos parecem estar tendo problemas
para encontrar os meus. — O que tem isso?
— Falei com Drew sobre isso e ele disse que está pronto para partir —,
digo.
E o rosto de Devin se ilumina quando ele sorri. — Mesmo? Você está
vindo?
Só aceno, porque seu sorriso meio que me congela. Drew achou que toda
a ideia de uma festa de reciclagem parecia piegas, mas eu o convenci a fazer
isso prometendo que iríamos a um social na casa de seu amigo com
antecedência.
— Estou tão feliz que você pode vir —, diz Devin. E parece de repente
perceber que deveria estar trabalhando em algo e volta ao assunto. — Eu sei
que você provavelmente tem uma tonelada de outras coisas que poderia estar
fazendo, significa muito para mim que você esteja vindo.
— Estou animado com isso —, digo, e estou falando sério. Devin e eu
não saímos juntês fora do trabalho, então não posso deixar de sentir que esta
festa vai determinar nosso status como colegas de trabalho ou amiguês. E eu
não tinha percebido antes, mas quero que sejamos amiguês. Há algo sobre
Devin que torna mais fácil conversar com el do que qualquer outra pessoa
que eu conheço. Talvez seja porque el é a única pessoa trans que conheço, ou
porque tem esse jeito que sempre parece que está feliz por estar perto de mim
e aberto a qualquer coisa que eu tenha a dizer. Tudo o que sei é que el tem o
tipo de energia que torna cada dia mais brilhante. É como a personificação
humana de um café com leite de baunilha – quente, doce e exatamente o que
eu preciso para melhorar meu humor.
— Quando as crianças chegam, Devin os arruma com seus materiais de
arte e, em seguida, senta-me como uma criança de seis anos e me passa um
papel e um lápis.
— É fácil —, diz el, traçando algumas formas em seu próprio papel. —
Eu vou te mostrar como desenhar coisas simples.
E eu o vejo traçar linhas no branco, mas uau, não é fácil. Eu não sei quem
o convenceu disso, mas tudo meio que parece um absurdo para mim, até que
uma bandeira detalhada começa a aparecer em todas as marcas de grafite.
Penso em dizer a el que sou uma causa perdida e arte definitivamente não é
minha praia, mas há algo calmante em ver el desenhar, cantarolando uma
melodia lenta enquanto trabalha. Quase como se fosse o único lugar onde
Devin se sente verdadeiramente confortável, e eu não posso deixar de me
perder nel também.
Inbox (1,627)
Anônimo perguntou: Caro Noah, tem havido muita conversa sobre as
histórias de roubo no Diário recentemente, mas isso não é verdade,
certo? Sou um grande fã do Diário e quero acreditar que é uma fonte
genuína de boa vontade para as pessoas trans. Por favor, diga que é
apenas um hater e não real.
Sábado de manhã, tomo café da manhã com Brian, que parece ter cansado
de lidar com minha bagunça. Eu me sinto mal, já que o usei principalmente
como motorista/chef nas últimas semanas e perdi todo o meu tempo livre
com Drew. Estou indo para a Califórnia em pouco mais de um mês e sinto
que perdi a maior parte da minha oportunidade de ver meu irmão. Não é
como se Brian não tivesse seus próprios amigos, então não é meu trabalho ser
babá dele, mas também sinto que tenho decepcionado todos em minha vida
ultimamente, especialmente porque não tenho as respostas para todos as
perguntas inundando minha caixa de entrada. Eu me sinto preso em algum
lugar entre correr e ficar preso, e eu só quero afogar essa sensação com suco
de laranja e xarope.
— A mamãe já lhe deu alguma atualização sobre a casa? — Brian
pergunta.
Não, ela não ligou, mas também é minha culpa, porque eu não ligo para
ela há mais de uma semana. E, quero dizer, claro, pode ser ela quem sempre
liga primeiro, mas ela também sabe que estou ocupado com o trabalho, Drew
e tudo mais que estou sempre colocando antes da minha família. Já é ruim o
suficiente eu ser o pior irmão de todos, mas agora sou o pior filho também.
Eu mereço uma medalha.
— Você está bem? — Brian pergunta.
E é muito injusto da minha parte reclamar com ele sobre meus problemas,
que não são nada além de culpa minha, mas eu sou uma pessoa terrível, então
faço isso de qualquer maneira. — Eu sinto que tenho sido um irmão horrível
ultimamente —, digo.
Ele levanta uma sobrancelha. — Porque você usou meu cartão de crédito
e não me pagou de volta?
— Que. . .? Uau, ok, sim, eu fiz isso, mas vim aqui para desabafar sobre
meus problemas, não levar sermão.
Eu suspiro, apunhalando minha pobre torrada francesa com meu garfo
antes de dizer: — Sim, talvez. E apenas roubei de você em geral.
Olho para cima para ver Brian me encarando com os olhos estreitos. —
Quem é você e onde está meu irmão?
Eu reviro meus olhos. — Deixa pra lá então.
— Sério, não sei por que você está se preocupando com isso —, diz
Brian. — Somos uma família. É nosso trabalho pegar coisas uns aos outros.
— Sim, então quando foi a última vez que você pegou algo de mim? —
pergunto.
Ele encolhe os ombros. — Você está se deixando ficar confortável
demais. Você não vai estar esperando quando eu atacar.
Eu sorrio. — Então você não está com raiva de mim?
— Se eu estivesse com raiva de você, seria por algo mais irritante. Como
nunca definir um maldito alarme pela manhã.
— Sim você está certo. Eu sou muito chato.
— Está tudo bem —, diz ele. — Você sempre foi chato. De qualquer
forma, você é bem-vindo para sair com Maggie e eu mais tarde, se quiser.
Tento impedir que meu lábio se enrole, mas tenho certeza de que Brian vê
mesmo assim. — Desculpe —, digo, — mas vou sair com Drew.
— Oh, certo, — ele diz. — Bem, com certeza é uma coisa boa que você
tenha planos, caso contrário, eu pensaria que você odeia Maggie.
Eu suspiro. — Não a odeio —, digo, o que é verdade. — Ódio é uma
palavra forte, mesmo que eu não goste dela. — Eu só não gosto que você
esteja diferente desde que começou a sair com ela.
Brian levanta uma sobrancelha. — Cara, eu estou na faculdade. Eu me
mudei para outro lugar no país. Seria muito mais estranho se eu não tivesse
mudado, e acredite em mim, isso tem muito pouco a ver com Maggie.
E por um lado, sei que ele está certo, mas ainda meio que odeio isso.
Parece que estou perdendo o controle, e sei que não é justo porque Brian
pode fazer o que quiser com sua vida, mas é o mesmo quando Becca me disse
que estava conversando com um TERF. Odeio saber que as pessoas que amo
estão a apenas um relacionamento de decidir que não sou mais tão
importante.
— Eu simplesmente não entendo por que você não adotou um
cachorrinho em vez disso.
Brian ri. — Ok, bem, isso não vai acontecer, então o que está
incomodando você? É o seu namorado?
— É Becca —, eu digo. — Bem, e Devin, e acho que Drew um pouco
também.
— Você não está namorando todos eles em segredo, está?
Eu reviro meus olhos. — Vai se foder, Brian. Você sabe que Becca é
lésbica.
— E sério, sou totalmente gay. Apenas um punhado de não-caras que já
me agradaram, e Becca absolutamente não é uma dessas pessoas.
— Estou apenas tentando ter certeza de que estamos na mesma página.
Mas não podemos estar, na verdade, porque ele não pode saber sobre o
Diário, o que significa que não pode saber sobre as complexidades do meu
relacionamento com Drew. Ele não pode saber como nos conhecemos ou por
que ficamos juntos, ou que temos que ficar juntos porque os apoiadores do
Diário se preocupam mais com meu relacionamento com Drew do que com
minha escrita, então perder Drew significa perder o Diário, e eu não posso
deixar isso acontecer.
Inbox (1,809)
Breakyourheartsomeday perguntou: Ei, Noah, eu sei que você
provavelmente está superocupado, mas eu queria saber quando
teremos mais atualizações de relacionamento. Eu sei que você está
lidando com o artigo, mas eu adoraria ver mais atualizações de
relacionamento quando você tiver a chance. Eles me fisgaram no
blog!
Drew aparece no apartamento pouco depois das cinco. Compramos
sanduíches na rua antes de ir para a festa.
— Não confio que tenham comida —, diz ele. — Eles comem umas
merdas estranhas.
Eu rio, mordendo um sanduíche de peru e meio que desejando ter algum
molho para colocar nele ou algo assim. Na verdade, eu meio que me pergunto
o que é essa "merda estranha" que os amigos de Drew comem.
Provavelmente tem mais tempero do que peru puro. — Não se esqueça do
lance de Devin mais tarde.
Drew sorri, limpando minha boca com o polegar. — Sim, eu sei, preciso
reciclar plásticos ou algo assim.
O amigo de Drew tem um apartamento, o que eu acho que é parte do
motivo pelo qual ele está dando uma social e não uma festa de verdade. Sete
pessoas ao redor da piscina aquecida no pátio da cobertura do prédio. É muito
bom, cercado por luzes de cordas cintilantes, um bar não utilizado ao lado e
uma grade que leva a uma vista deslumbrante do bairro.
Todos cumprimentam Drew quando chegamos, algumas pessoas dando
tapinhas nas costas dele e um cara branco de camuflagem passando uma lata
de cerveja para ele.
Muito parecido com a fogueira, há um número surpreendentemente
pequeno de meninas. Ou seja, uma, que parece que já está muito bêbada
enquanto se pendura no braço de um cara branco que também parece muito
bêbado.
— O que você tem feito, cara? — um dos caras pergunta. Acho que é ele
quem mora lá, já que tem um cartão-chave em mãos. Ele é magro, com franja
emo que cai sobre os olhos e uma tatuagem serpenteando pelo pescoço.
— Nada demais —, Drew diz. Ele se senta em uma das cadeiras do pátio
e abre a cerveja. — Principalmente tentando aproveitar o verão. Um último
hoorah antes da volta as aulas.
— Quem é seu companheiro aqui?
Drew sorri para mim e diz: — Este é Noah, meu namorado. Noah, este é
Matt. Costumávamos esquiar juntos.
— Droga, cara, eu não sabia que você era gay —, diz Matt.
Drew ri. — Eu não sou. Noah é especial.
E eu sei que ele fala isso como um elogio, mas me faz sentir meio sujo,
como se eu simplesmente não fosse garoto o suficiente ou uma anomalia para
ser considerado alguma coisa. Eu puxo o braço de Drew um pouco para
chamar sua atenção mas ele me dá de ombros, contando uma piada para Matt,
então eu apenas guardo para mais tarde. Quer dizer, não é como se Drew
fosse um ativista dos direitos trans. Ele não tem tanto conhecimento sobre o
assunto, então vou apenas mencionar isso quando tiver uma chance. Nada
demais.
Puxo uma cadeira ao lado de Drew e deslizo nela, mas ninguém se
incomoda em me oferecer uma bebida ou qualquer coisa. Eu não sei se
percebem que eu sou muito mais jovem do que eles, ou se simplesmente não
se importam, já que eu sou apenas o acompanhante de Drew.
Matt acende um baseado e dá uma tragada antes de passá-lo para Drew,
que, na minha experiência, nunca fumou antes. Mas ele pega mesmo assim.
Honestamente, parece que acordei na pele de outra pessoa por um momento,
e estou preso tentando lembrar quem eu sou, como cheguei lá e por que
existem muitas pessoas ao meu redor. Eu me inclino para trás no meu assento
e olho para as luzes, silenciosamente contando os segundos até que
finalmente possamos sair e ir para a casa de Devin.
Drew parece muito contente em ficar aqui beber a noite toda, e eu não sei
se ele está se divertindo com velhos amigos ou se é um reflexo de como o
divórcio de seus pais o está afetando. Pouco depois das oito, dou um tapinha
no ombro dele e digo: — Você está pronto para ir?
Ele ri, suas palavras um pouco arrastadas quando ele diz: — Espere,
estamos apenas começando.
O que parece uma coisa bem ridícula de se dizer, considerando que eles
estão em sua vigésima terceira rodada de Texas Hold’em. — Ok, mas está
ficando meio tarde, e eu quero chegar à festa de Devin antes que todos vão
embora.
Drew revira os olhos. — Ok, bem, você já sabe que é uma festa de merda
se você está preocupado com todo mundo ir embora às oito horas.
Algumas pessoas na mesa riem e eu respiro fundo antes de dizer: — De
qualquer maneira, prometi a el que estaria lá, então devemos ir.
— Meu Deus, Noah, relaxa —, ele se acomoda na cadeira. — Vamos
ficar mais algumas rodadas e depois podemos ir, ok?
— Cara, aonde vocês estão indo? — Matt pergunta. Ele tem outro
baseado nos lábios.
Drew sorri. — Noah tem um amigo dando uma festa de reciclagem de
merda.
A mesa começa a rir, e eu prendo a respiração, lembrando a mim mesmo
que Drew está bêbado e está apenas agindo assim em influência de pessoas
babacas. Ele normalmente não é assim.
— Isso é pior do que aquela festa do relógio de anime que meu ex me
convidou! — a garota diz, jogando a cabeça para trás para rir, mas quase
caindo da cadeira.
— Sim, é muito constrangedor, certo? Eu não sei por que Noah quer tanto
ir —, Drew disse, lançando um olhar na minha direção como se me dando a
oportunidade de mudar de ideia para este mar de idiotas.
— Porque eu sou amigo de Devin —, digo.
Matt ri. — Você precisa de amigos mais legais, cara.
— Aparentemente, o que eu preciso é de um namorado que cumpra suas
promessas, mas não tenho certeza se vou encontrar um aqui —, eu falo.
A mesa fica quieta e é uma espécie de alívio. Se qualquer um deles
cuspisse outra rodada de besteira, havia uma boa chance de eu dar um soco
na boca de alguém.
Drew coloca suas cartas na mesa antes de se levantar e me guiar até a
grade enquanto alguém grita: — Esperem, eu quero ver a briga!
— Você está com raiva de mim? — Drew pergunta.
E eu nem sei por que ele está perguntando porque estou claramente bravo
com ele. — Eu prometi a Devin que estaríamos em sua festa, então vamos
embora. Já dividimos nosso tempo.
— Sim, ok, mas é uma festa de reciclagem. Não é como se Devin
precisasse de nós lá.
— E seus amigos bêbados precisam de você aqui porque. . .?
Drew revira os olhos. — Você vê Devin todos os dias no trabalho, certo?
Eu vejo esses caras uma vez a cada poucos meses, e com tudo o que tem
acontecido ultimamente, é muito revigorante, sabe? É a primeira vez que
consigo me soltar desde que meus pais nos disseram que estavam se
separando.
— Eu entendo, mas. . .
— Você não pode ficar feliz por mim um pouco? Eu preciso disso —,
Drew diz, baixando a voz.
E suspiro porque não quero ser o namorado de merda, que o arranca de
sua única noite de felicidade em um longo tempo. Mas também não quero ser
o amigo de merda que cancela no último minuto. Especialmente depois de
como el parecia animado quando eu disse que iria para sua festa.
E agora eu sei que todos os amigos de Drew estão me observando para ter
certeza de que vou ser o "namorado legal" e dar a ele exatamente o que ele
quer, mas por que isso tem que vir às minhas custas? Inferno, nós resolvemos
tudo isso de antemão para que eu isso não acontecesse na frente de um monte
de pessoas bêbadas, mas agora estou me irritando de qualquer maneira.
— Olha, se você não quer estar aqui, talvez você devesse ir sozinho —,
diz Drew. — Quero dizer, se você não quiser ficar comigo. . .
— Isso não tem nada a ver com o fato de eu querer ou não ficar com você
—, digo. — Eu quero ficar com você, ok? Mas eu fiz uma promessa, e agora
você está me pedindo para quebrá-la para que possa tomar mais algumas
cervejas ilegalmente. Por que isso me torna o cara mau?
Mas eu já sei o que está acontecendo aqui e sei como isso vai acabar.
Drew não vai à festa de Devin esta noite. Inferno, ele provavelmente estava
planejando não ir o tempo todo, e se eu tentar ir sozinho, ele vai usar isso
para terminar comigo e reclamar que tudo é minha culpa.
E se Drew terminar comigo, vou perder a última âncora que mantém
meus fãs com o Diário. Muitos deles disseram que Drew é a principal razão
pela qual permanecem, e com o Bunfrees assustando as pessoas, não há como
continuar sem ele.
— Só mais algumas, ok? — Drew diz, e eu aceno com a cabeça, embora
nós dois saibamos que não serão apenas mais algumas rodadas.
Eu me esgueiro de volta para o meu assento e pego meu telefone para
enviar uma mensagem de texto para Devin, mas meus dedos tremem
enquanto digito a mensagem. Eu não quero enviar. Não quero concluir o fato
de que não estarei lá – que vou ficar preso aqui pelo resto da noite. Mas eu
envio mesmo assim.
Poucos minutos depois, recebo a resposta: Sem problemas! Espero que
esteja tudo bem. Vejo você no trabalho :)
E me pego lutando contra as lágrimas porque prefiro estar no trabalho do
que aqui. Inferno, eu prefiro estar em qualquer outro lugar.

Domingo de manhã, fico na cama até tarde porque ainda estou de ressaca
das cervejas que bebi depois da minha briga com Drew. E tipo, isso significa
muito, porque eu odeio cerveja.
Finalmente saio do quarto logo após às uma e encontro um post-it na
porta da frente que diz: Saí com alguns amigos. Tire o lixo.
— Excelente.
Normalmente, se eu estivesse com esse humor péssimo, eu ligaria para
Drew e pediria a ele para sair comigo, mas isso definitivamente não vai
acontecer. Não sei se ele vai se desculpar pela noite passada ou não, mas não
quero vê-lo, mesmo que ainda esteja se recuperando do divórcio dos pais.
E depois há o fato de que hoje é a primeira manhã em que não recebi uma
mensagem de "bom dia" dele e tenho certeza de que ele não se esqueceu
simplesmente.
Ligo para Becca, esperando que ela possa me ajudar com o Diário. Para
minha surpresa absoluta, ela atende no terceiro toque, com a voz baixa
enquanto diz: — Olá?
— Oh meu Deus, Becca, você não vai acreditar. . .
— Noah —, ela me corta, e eu congelo porque algo em sua voz
simplesmente não soa bem. Não parece Becca.
Ficamos em silêncio por um momento antes de ela dizer: — Não quero
falar com você agora.
— Eu. . . — Honestamente, não acho que ela já tenha dito algo assim para
mim antes, e eu nem tenho certeza de como responder. Finalmente, eu digo:
— Aconteceu alguma coisa? Você está com raiva de mim?
Ela suspira. — É meio interessante como você sempre pergunta se estou
bravo com você, em vez de perguntar como estou.
Sim, ela está certa. Eu não fiz isso. — Eu sinto Muito. Eu estive muito
ocupado com Drew e. . .
— E eu não preciso que você termine isso. É sempre a mesma coisa com
você. Nossa amizade é sempre uma rua de mão única, e eu só. . . eu
simplesmente não posso lidar com isso agora, ok? Eu preciso de espaço.
Meu coração dá um salto e sinto que vou vomitar. — Você está dizendo
que não quer mais ser minha amiga?
— Claro que não. Só estou dizendo. . . — Becca faz uma pausa, sua voz
sumindo. A estática crepitante se interpõe entre nós por um momento antes
de ela dizer: — Quando você me disse que estava se mudando para o outro
lado do país, chorei por três dias.
— Eu também. — Não tenho certeza de onde isso vai dar, mas a deixo
falar.
— Mas não pelas mesmas razões, ok? Eu estava apavorada. É como se eu
não conseguisse lembrar quem eu era antes de sermos amigos ou quem eu
sou sem você. Eu senti como se tudo de mim estivesse desaparecendo.
— Você acha que eu não senti o mesmo?
— Claro que não, Noah. Quero dizer, sim, você sentirá minha falta e terá
que fazer novos amigos e aprender a navegar em uma nova escola, mas você
sabe quem você é. Você sempre soube quem você é e, mais do que tudo,
sempre fui apenas a melhor amiga de Noah.
Eu não falo Eu não posso. Como você responde a algo assim?
A ideia de que Becca não é nada além de minha amiga é honestamente
tão absurda. Ela tem sido meu escudo desde que nos tornamos amigos, a
pessoa que pula na minha frente sempre que algo dá errado. Foi ela quem me
impediu de fazer coisas imprudentes e quem me orientou a tomar a decisão
inteligente.
Mas talvez seja esse o problema. Eu sempre me coloquei tão longe dos
holofotes que sua única escolha foi trabalhar nos bastidores.
— Estamos crescendo, sabe? — Becca diz, sua voz baixa como se ela
estivesse preocupada que eu ficasse bravo. — Você está se mudando e logo
estaremos indo para a faculdade. É ingênuo pensar que poderíamos ficar
juntos para sempre. Sempre chegaria um dia em que você não atenderia o
telefone.
— Então você parou de responder primeiro?
— Não é isso que você faria?
E, claro, é exatamente o que eu faria! Esse é o problema!
Supõe-se que Becca seja a madura, a cola. Embora eu tivesse um ataque e
agisse como uma criança, ela deveria ser a base para garantir que eu não
caísse em um abismo sem fim. O que eu deveria fazer quando ela
simplesmente parou de estar lá?
Mas seus medos são meus medos, e eu tenho tanto medo de todas as
coisas que vou perder, nunca me ocorreu que Becca teria medo de perder as
mesmas coisas.
Porque estou sempre me colocando em primeiro lugar.
— Então, o que você quer que eu faça? — Eu pergunto, tentando manter
meu nível de voz.
— Você está chateado —, diz ela.
— Não, — eu digo, e honestamente explode minha mente que eu quero
dizer isso. Eu não sou louco. Eu só estou. . . bem, acho que só quero aprender
a mexer nas cortinas por um tempo, para que ela possa fazer uma pausa. —
Quero dar a você o mesmo apoio que você sempre me deu, então me diga
como, eu acho.
Becca solta um suspiro. — Eu só preciso de um pouco de espaço. Algum
tempo para descobrir as coisas.
— OK.
— E Noah?
— Sim.
— Você sempre será meu melhor amigo. Eu prometo.
E eu sei que ela fala sério, mas também sei que as coisas não duram para
sempre. O que quer que seja, está mudando, e eu só tenho que manter a
esperança de que nosso novo algo seja suficiente.
Quando desligamos, volto imediatamente para o Diário. Eu sei que
prometi a ela que não faria nada sem falar com ela primeiro, mas foi ela quem
disse que não queria falar, então. . .
Domingo, 1 de Julho

MeetCuteDiary postou:
Corre o boato de que o Diário está postando histórias roubadas
sem permissão para usá-las. Eu não sei quem começou esse boato, ou
por que você odeia tanto o Diário, mas você pode, por favor, me
mandar uma mensagem e nós podemos resolver isso? Você vai
machucar tantas pessoas por causa de um boato que nem sabe se é
verdade. Por favor, entre em contato comigo, e nós resolveremos isso.
Por favor.
Passo 10: Libertação
O grande conflito que tenta separar vocês dois, o
momento em que você pensa que talvez o relacionamento
não sobreviverá.
Segunda, 2 de julho

Itwasntme postou:
Alguém mais viu aquele post do Meet Cute Diary e ficou um
pouco apreensivo? Vocês acreditam que o Diário é inocente aqui? eu
ñ sei se quero continuar a apoiá-los com todo este drama

Undeservedpressure respondeu: O diário é definitivamente o


culpado aqui. Basta olhar para o desequilíbrio de poder. Esse blog
é enorme!
FOBwrotethissongaboutme respondeu: Eu também não sei, mas
provavelmente vou desistir. Isso é muito estressante para mim.
Barelybaileye respondeu: Noah e Drew são tão fofos! Quem se
importa com o que aconteceu com os encontro
Carregar mais comentários . . .
Não estou ansioso para a segunda-feira, então, quando chega, fico
desapontado, mas não surpreso. Chego à sala de ensaio depois de passar dez
minutos esperando no estacionamento para evitar Devin. Espero que grite
comigo por furar no sábado, mas quando passo pela soleira, encontro el
trabalhando como de costume. El olha para cima e diz: — Ei, você pode
pegar o giz no armário?
Acenando, passo para el o caixote cheio de caixinhas de giz de cera, mas
el não fala mais nada.
É hora de arrancar o Band-Aid. — Você está com raiva de mim? — Eu
pergunto.
— Com raiva? Por que?
Rolo meus olhos. — Porque eu furei com você na última hora.
Devin olha para mim do chão e sorri. — Achei que você tinha um
motivo.
É, eu tinha um motivo, mas ainda sinto que estou me deixando escapando
com muita facilidade. Quer dizer, não deveria importar que eu não tenha
aparecido? Ou el se importa tão pouco comigo que não sou importante?
— Eu tinha —, digo, — mas ainda assim, eu ainda te fiz uma promessa e
quebrei. Como amigo, isso é uma coisa muito ruim de se fazer.
Devin encolhe os ombros. — Sim, acho que sim, mas você não pode
evitar se algo acontecer, e não vou usar isso contra você.
— Droga, Devin! — Eu grito, e el se encolhe como se não achasse que
minha voz pudesse ficar tão alta. — Você não fica brave com nada?
— Eu fico bravê —, el diz. — Eu só não estou brave com você. Não vejo
como isso me faz ruim nesta situação.
Eu também não, mas estou bravo e não sei mais em quem descontar.
Sério, acho que minha raiva deveria ser direcionada a Drew, mas não sei
como fazer isso sem afugentá-lo. E não posso ficar com raiva de Becca
porque fui eu que a afugentei, e mesmo se eu não tivesse, ela não atenderia o
telefone para eu dizer a ela como é irritante que ela nunca atenda o telefone.
E não posso descontar em quem quer que esteja mexendo com o Diário,
porque se eles me responderem, tenho que tentar ser civilizado para que não
prejudiquem tudo em que trabalhei tanto.
Portanto, não posso dizer que estou bravo com Devin, mas, infelizmente,
el é quem por perto e acabou experimentando minha ira.
Eu suspiro, sentando ao lado del no chão. — Sinto muito —, digo.
— O que aconteceu? — el pergunta.
— Por que eu não fui?
— Claro, se é isso que o deixa tão estressado.
E uma parte de mim quer contar a el sobre o Diário porque não tenho
mais ninguém com quem conversar, e não é como se houvesse qualquer razão
para eu sentir que não posso confiar nel. Inferno, el é a pessoa mais doce que
já conheci e, no mínimo, sinto que devo a el algum tipo de explicação de por
que tenho sido um amigo tão terrível.
— É uma história muito longa —, eu digo.
El acena com a cabeça. — Entendi.
— Eu quero te contar sobre isso, no entanto. Eu só. . . bem, vai ser muito
estranho interromper no meio quando as crianças chegarem.
Devin me olha com os olhos arregalados como se nunca tivesse pensado
que aceitaria sua oferta. — Você pode me contar depois do trabalho, se
quiser.
Eu aceno, um pequeno sorriso no meu rosto. — Sim, eu gostaria disso.
Obrigado. — O silêncio cai sobre nós por um segundo antes de eu dizer: —
Então, acho que a festa correu bem?
— Teria sido melhor se você estivesse lá —, Devin diz antes de se virar
para olhar para suas mãos. — Quer dizer, hum, bem, você sabe que eu não
tenho muitos amigos, então eram principalmente amigos dos meus pais e
apenas algumas pessoas do acampamento que trabalham com minha mãe.
— Ah —, eu digo. — Não parece tão ruim.
Devin sorri. — Não, quero dizer, não foi. Fizemos algumas coisas legais.
Espera, vou te mostrar as fotos.
El pega seu telefone, puxando um álbum de fotos de pequenos artesanatos
de papel e passando para mim. Alguns dos participantes foram obviamente
melhores do que outros. Há algumas crianças segurando florzinhas feitas de
páginas de livro, cadernos encadernados feitos de jornal, uma garrafa de
plástico transformada em vaso.
Eu suspiro, passando o telefone de volta. — Desculpe, por eu ter perdido.
Devin sorri. — Está tudo bem. De qualquer maneira, eu dei a festa
principalmente para as crianças. Os pais trabalham com minha mãe e estão
sempre procurando atividades divertidas para elas.
— Onde sua mãe trabalha? — Eu pergunto.
— Na escola que dirige o acampamento. Ela ensina espanhol —, diz el.
E, uau, parece que há muito mais coisas que eu deveria perguntar a el –
sobre suas habilidades artísticas, há quanto tempo sua mãe é professora, todas
as pequenas coisas que acho que nunca falamos de verdade – mas já posso
ouvir as crianças correndo no corredor, então acho que é hora de começar a
trabalhar.
À medida que as crianças entram na sala, faço o possível para tirar meus
problemas pessoais da cabeça, embora não seja tão fácil assim. Já estou
começando a ficar nervoso ao falar com Devin – e se eu cometi um erro
pensando que posso confiar nel? – o que só me deixa mais nervoso sobre
como minhas DMs podem parecer.
Quando terminamos nosso turno do dia, Devin me dá um tapinha no
ombro e diz: — Você quer tomar um chá ou algo assim, e podemos
conversar?
É um pedido tão simples, mas parece quase carregado. É ruim sair com
um amigo quando estou brigando com meu namorado? Não deveria ser,
certo? Então, por que me sinto culpado por dizer sim?
— Eu só tenho que deixar Brian saber que não irei para casa com ele —,
eu digo.
Devin sorri. — Sem problemas. Eu vou te deixar em casa depois.
Eu levanto uma sobrancelha. — Você dirige?
— Por que isso é tão suspeito para você?
E não deveria ser, mas acho que em algum lugar na minha mente eu
classifiquei Devin como uma criança inocente que precisa ser protegida,
embora el seja um ano mais velho que eu.
Eu mando uma mensagem para Brian e, assim que tive o ok, saímos para
o carro de Devin. El dirige um pequeno Honda que tenho certeza que seria
engolido pela neve em um instante.
Eu subo no banco do passageiro e me encontro cercado por uma camada
suave de. . . lavanda?
— Que cheiro é esse? — Eu pergunto, meio que esperando que el diga
que tem um jardim cheio crescendo em seu porta-mals.
— Óleos essenciais —, diz Devin, conectando seu telefone para tocar
música. — Tenho estado muito interessado neles ultimamente.
Não tenho certeza do que dizer sobre isso, então apenas me sento lá
dentro. Devin dirige com muito mais confiança do que eu esperava de alguém
com seu nível de ansiedade. E não tem porta traseira nem nada, mas dirige
um pouco além do limite de velocidade, fazendo uma curva rapidamente
antes que o semáforo mude.
— Como você é mais confiante ao dirigir do que interagindo com os
outros? — Eu pergunto.
El sorri. — Acho que isso só mostra o quão aterrorizantes os humanos
podem ser.
Paramos no estacionamento de um pequeno café. Não tenho certeza do
que atraiu Devin a este lugar, mas pego as palavras – boba – e – chá – na
placa e me pergunto se isso é algum tipo de armadilha para me atrair e me
manter preso aqui para sempre, como nos livros de Percy Jackson.
— Espero que esteja tudo bem —, diz Devin. — Podemos ir para outro
lugar se você não gostar.
Eu lanço um sorriso para el e digo: — Confie em sua escolha, Devin.
El enrubesce e desliga o carro.
O café está quase vazio, o que é ótimo. É um pouco depois das três e
meia de um dia de semana, então acho que não é muito surpreendente. Há
uma mulher asiática baixinha atrás do balcão, e eu começo a pular nos meus
calcanhares porque este pode ser meu primeiro chá autêntico desde que
cheguei ao Colorado. Surpreendente.
Não demoramos muito para fazer o pedido, e enquanto tomo um gole de
um glorioso chá tailandês, Devin diz: — Então, sobre o que você quer
conversar?
E eu me engasgo com uma bolinha de tapioca enquanto tudo me atinge de
uma vez. Certo. A razão pela qual viemos aqui.
— É uma história muito longa —, digo novamente, principalmente para
que eu possa adiar ter de contá-la. El está olhando para mim com os olhos
bem abertos e sei que deveria simplesmente começar a falar, e provavelmente
vou me sentir melhor quando tudo estiver fora de mim. Mas e se eu não
quiser isso?
— Se você está mudando de ideia, não precisa me dizer —, diz,
brincando com o canudo de seu próprio chá de taro. — Eu não vou ficar
chateade.
— Porque você nunca fica chateade com nada —, eu digo.
— Porque isso é obviamente algo muito pessoal para você, e se você não
quiser falar sobre isso, não deve se sentir pressionado a fazê-lo.
— Você viu isso em algum programa do TLC?
El sorri. — Olha, eu só estou tentando ser útil. Eu sei que é difícil falar
sobre algumas coisas, e não nos conhecemos há muito tempo.
O que, agora que disse isso, meio que me impressiona. Na verdade, só
nos conhecemos há um mês, mas estou prestes a revelar todos os meus
segredos mais profundos. Deus, o que há com el que me deixa tão ansioso
para entregar tudo?
E então percebo que é o fato de que el não está me obrigando a isso. El
diz que não preciso dizer nada – que posso ir embora e fazer tudo meu tempo
– e sei que é isso mesmo. El não está dizendo isso para soar superior ou para
me culpar a confessar, e algo sobre isso é reconfortante demais para resistir.
Então, conto tudo a el – sobre Becca e nossa amizade ao longo da vida e
como tudo isso se parece tenso desde que cheguei ao Colorado. Sobre o Meet
Cute Diary e tudo o que ele significa para mim e para tantas outras pessoas.
Sobre Drew, como nos conhecemos, como nos juntamos, todas as coisas que
foram construídas desde então. Provavelmente é uma hora mais tarde quando
termino de falar e todo o gelo derreteu no meu chá, mas, uau, estou me
sentindo mais leve.
— De qualquer forma —, digo, — é isso. Eu só. . . não sei o que fazer a
respeito de nada, então estou apenas desabafando com você.
— Sinto muito, Noah —, diz el, e parece que estar falando sério. —
Provavelmente não sou a melhor pessoa para lhe dar conselhos, já que não
tenho muitos amigos, mas pode ajudar se você falar com Becca.
— Eu tentei falar com ela —, digo. — Ela não quer falar comigo.
Devin sorri. — Eu quis dizer, assim que você conseguir falar com ela.
Parece que você fala mais sobre você do que sobre ela.
— Nós falaríamos sobre ela se ela oferecesse algo.
— Às vezes é difícil para as pessoas fornecerem informações
voluntariamente, mas quando alguém pergunta, fica um pouco mais fácil.
Eu levanto uma sobrancelha. — Falando por experiência própria?
El limpa a garganta, os olhos pousando na mesa. — Depois da minha
tentativa de suicídio, perdi a maioria dos meus amigos. Eles simplesmente
não conseguiam lidar com isso, sabe?
Eu faço uma pausa, minha voz presa na minha garganta. — Sinto muito,
Devin.
— Está tudo bem —, el diz, sorrindo para mim novamente como se eu
fosse o único que precisava ser consolado. — Eu só acho que às vezes
perdemos amizades porque esperamos que as coisas se encaixem, mas às
vezes, as peças são teimosas e você mesmo tem que dar o primeiro passo. Eu
odiaria ver você perder uma amiga tão boa porque você não tentou opções
suficientes.
— Eu não posso forçá-la a falar comigo —, digo.
— Não, mas você pode ter certeza que ela sabe que ela pode falar com
você, se ela quiser. O que quer que ela esteja passando pode parecer díficil.
Você apenas tem que mostrar a ela que pode ser mais fácil se você estiver
com ela.
— Ok, então o que eu faço sobre Drew? — Eu pergunto.
Devin encolhe os ombros. — Eu não sei. Eu não sou seu terapeuta.
E eu rio porque a maneira como el diz isso me pega completamente
desprevenida, embora eu saiba que el está certe. — E aqui eu pensei que você
era apenas um poço infinito de bons conselhos.
— Acabei de lhe dizer o que gostaria que alguém tivesse dito aos meus
amigos quando eu estava passando por um momento difícil. Bem, e algumas
coisas que aprendi com meu terapeuta. Eu nunca tive um namorado, então
você está por conta própria nesse assunto.
Faço uma pausa, uma urgência inexplicável tomando conta de mim
enquanto digo: — Você não gosta de meninos?
El olha para mim por cima de seu canudo, um rubor rastejando em suas
bochechas. — Por que você acha isso?
Não tenho certeza por que de repente parece tão importante, então eu
apenas digo: — Você acabou de dizer que nunca teve um namorado.
— Isso não significa que eu não goste de meninos. Significa apenas que
não namorei ninguém.
— Ninguém nunca? — Eu pergunto.
Devin encolhe os ombros. — Isso é uma coisa ruim?
— Você tem quase dezoito anos, não é?
— Isso não é tão velho quanto você faz parecer.
Sim, eu sei disso. Eu acho que parece estranho para mim que alguém
pudesse ficar tanto tempo sem um namorado e não estar nem mesmo
procurando um. Encontrar um namorado significava tudo para mim até
encontrar Drew.
— Você é gay? — Devin pergunta.
— Eu acho que sim. Quer dizer, algumas meninas são atraentes, mas
gosto principalmente de meninos ou pessoas masculinas. Então, não sei como
você chamaria isso.
Devin ri. — Isso soa muito bi para mim.
Eu sorrio. — Ok, eu sou bi, então. E você?
— Eu não sei. Eu costumava dizer que era gay, mas acho que isso não se
aplica, já que nem sei meu próprio sexo. Eu diria que sou um andrófilo, no
entanto.
— Essa não é uma palavra chique para pedófilo, é?
Devin engasga, uma mão chegando à sua boca enquanto el tosse.
Finalmente, e diz: — Não, não é! Isso significa que eu só gosto de caras.
Eu sorrio. — Bom, assim está melhor.
Devin ainda parece um pouco enjoado, o que é uma resposta bastante
compreensível. El leva um momento para se recompor antes de dizer: — Eu
nunca tive um namorado, mas não é porque eu não quero um. Tenho quase
certeza de que sou assexual, mas isso não afeta minhas preferências de
namoro, sabe?
Eu levanto uma sobrancelha. — Você é muito exigente para encontrar
alguém?
Devin revira os olhos. — Ninguém nunca gostou de mim assim.
Eu rio, mas o momento passa e percebo que está totalmente sério. — Isso
é ridículo. Por que alguém não gostaria de você?
El dá de ombros. — Como eu deveria saber? Acho que simplesmente não
sou uma pessoa agradável. Pergunte às pessoas da Flórida e do Colorado.
Mas, honestamente, é uma noção absurda para mim. Claro, Devin é meio
estranhe, um pouco excêntrique e não consegue segurar muito bem o
conteúdo de seu estômago, mas também é super doce, talentose e criative, de
mente aberta e compassive. El está sempre trabalhando por uma causa,
tentando ajudar a próxima geração e sorrindo, apesar de cada coisa terrível
que aconteceu com el. Devo acreditar que ninguém se sente atraído por isso?
— Você obviamente anda por aí com pessoas horríveis, se ninguém gosta
de você —, eu digo. — Isso é tão ridículo.
Devin cora novamente e, neste ponto, estou preocupado que el fique
permanentemente rosa. — Acho que ainda não conheci a pessoa certa.
— Você vai —, eu digo. — Sabe, eventualmente. Alguém que aprecia o
quão íncrivel você é.
E há algo em seus olhos quando el olha para mim, um sorriso suave em
seu rosto. — Valeu. Isso significa muito.
— Você tem planos para o 4 de julho? — Eu pergunto.
— Trabalhar?
Eu rolo meus olhos. — Depois.
— Meus pais costumam dar uma festinha —, diz e. — Nada grande.
Apenas alguns amigos e alguns fogos de artifício.
Eu sorrio, esperando que el me perguntem se eu quero ir. E esperando. E
esperando. . .
— Você não vai me convidar? — Eu pergunto.
Devin fica vermelho. — Eu. . . sinto muito, só achei que você faria algo
com Drew.
Eu provavelmente deveria ter percebido isso também, considerando que
ele é meu namorado, mas também não sei se faremos alguma coisa juntos por
um tempo. Acho que depende de ele se desculpar ou não.
Eu sei que deveria querer que ele se desculpasse – e tenho certeza que
uma parte de mim quer, já que somos endgame e tudo mais – mas não quero
pensar nele agora. Honestamente, estou mais interessado em passar o 4 de
julho com Devin.
— Eu ainda posso passar um tempo com você, mesmo estando com Drew
—, eu digo, mas quando as palavras saem da minha boca, eu percebo o quão
vazias elas soam. Eu literalmente fiz a mesma promessa no fim de semana
passado e falhei.
Mas Devin apenas sorri e diz: — Ok, eu adoraria ter você lá. Vai ser bom
ter alguém lá que tem a minha idade.
Desta vez, vou para a casa de Devin primeiro. Dessa forma, Drew não
pode me impedir de partir, e posso manter minha promessa.
Segunda, 2 de julho

Isleofsunshine postou:
@MeetCuteDiary Eu sei quem falou aquilo de você, mas essa
pessoa não vai falar ou revelar o próprio nome. Se você tem algo a
dizer, posso fazer isso por você.
Devin me deixa do lado de fora do prédio, e eu pego o elevador. Minha
mente está girando desde que saímos e eu lembrei que preciso checar o
Diário.
Estou prestes a enfiar minha chave na porta quando ouço uma risada alta
e estridente vindo do outro lado. Maggie?
Coloco meu ouvido contra a porta e ouço Brian dizer: — Noah pode ficar
com isso, mas vou esconder a maior parte. Ele vai comer tudo
O que, dada a minha semana, é um insulto Estou prestes a abrir a porta e
colocar Brian em seu lugar quando Maggie diz: — Ele come muito para uma
garota —, e eu congelo, minha mão pairando perto da maçaneta.
— Ele é um garoto —, Brian diz, sua voz forte.
Maggie ri. — Okay, tá, mas ainda tem um corpo de garota. Qualquer um
pensaria que ele comeria como uma garota.
Brian fica quieto por um momento e então diz: — Só porque ele nasceu
num corpo feminino, não significa que ele tem corpo de menina ou que é uma
menina.
— Por que você está sendo tão dramático sobre isso? Ele nem está aqui.
Quase consigo imaginar Brian revirando os olhos, as costas rígidas
enquanto diz: — Porque ele é meu irmão? Não importa se ele não pode ouvir
você. Você ainda deve respeitá-lo.
Meu coração bate um pouco mais rápido quando eu imagino Brian parado
na cozinha, seus olhos se estreitando acusatoriamente para Maggie. Quer
dizer, é revigorante ouvi-lo me defendendo, embora ele pense que não estou
por perto para ouvir isso, mas é ainda melhor saber que eu estava certo sobre
Maggie ser um monte de bosta.
Uma fantasia rápida de Brian apontando para a porta enquanto Maggie
sai, cabeça baixa e uma mala na mão vem à mente antes de eu balançar minha
cabeça e decidir parar de escutar. Eu sei que eles provavelmente vão se
reconciliar em algumas horas e cair nos braços um do outro logo depois
disso, mas um cara pode sonhar.
Começo para destrancar a porta apenas para ouvir o clique da fechadura
do outro lado. Eu salto um pé para trás para não parecer que estava lá
ouvindo quando a porta se abriu, Brian e Maggie olhando para mim.
— Ei! — digo, dando a eles um aceno rápido.
Brian levanta uma sobrancelha. — Estou levando Maggie para fora —,
ele diz.
Eu aceno, o contornando para entrar no apartamento. — Legal. É bom ver
você, Maggie! — digo, embora seja tudo menos sincero. Em seguida, vou
direto para o meu canto.
Não sei se Maggie me oferece uma resposta e, honestamente, não me
importo em descobrir. Fechando a porta do quarto atrás de mim, eu me jogo
no colchão e pego meu laptop.
No segundo que eu abro o Tumblr, meus olhos se fixam no pequeno
número vermelho sobre minhas perguntas. Ok, não é mais tão pequeno.
Quando passou de dois mil? Inferno, eu mal me lembro disso passando por
duzentos.
Abrindo minhas notificações, encontro alguém que me marcou em uma
postagem dizendo que retransmitirá uma mensagem para o troll. Perfeito.
Poderiam ter me enviado uma DM como uma pessoa normal, mas ao invés
disso, decidiram tornar tudo isso público como se estivessem apenas
saboreando minha miséria.
Eu clico no blog deles e mando uma DM, dizendo: Ei, eu só quero dizer
que sinto muito pelo mal-entendido e que se quiserem que eu remova
uma história do blog, eu posso fazer isso. Também devemos discutir
como querem se retratar, já que as histórias não são roubadas e isso foi
apenas uma coincidência estranha.
Brian bate na porta uma vez antes de dizer: — Noah, venha me ajudar a
enrolar alguns rolinhos de ovo.
Eu suspiro e pressiono enviar antes de fechar meu laptop e fazer meu
caminho para a cozinha. — Eu estava ocupado —, eu digo.
Ele sorri. — Então isso significa que você não está mais, certo? Essas
coisas demoram uma eternidade.
Sento em um dos bancos do balcão e puxo as pequenas embalagens para
mim. Eu costumava ajudar minha mãe a enrolá-los quando éramos crianças e,
sim, eles demoram uma eternidade. E há uma precisão cirúrgica em garantir
que você os enrole o suficiente para que não derramem, mas também em não
rasgar a fina embalagem de farinha.
Trabalhamos em silêncio por alguns minutos enquanto empurro o Diário
para fora da minha cabeça apenas para tê-lo substituído por um pensamento
mais irritante. — Então, o que você está escondendo de mim?
Brian olha para mim como se eu tivesse começado a falar japonês. — O
que?
— Você disse a Maggie que eu como tudo, então você estava escondendo
a maior parte de alguma coisa. O que era?
Eu encontro os olhos de Brian, mas ele parece muito congelado, como se
não pudesse ouvir nada do que estou dizendo.
— Olá, cérebro —, eu digo.
— Noah, sinto muito —, diz.
Eu levanto uma sobrancelha. — Então você não tem comida para mim?
Ele revira os olhos. — Você sabe o que eu quero dizer.
E sim, eu sei, mas estou meio que ignorando porque é mais fácil sugerir
algo totalmente fora do assunto do que abordar o fato de que Brian está
namorando uma transfóbica. Quer dizer, já era ruim o suficiente quando
Becca estava conversando com um TERF, mas era apenas uma conversa, e eu
vi a maneira como Brian olha para Maggie. Odeio sentir que estou
oferecendo a Brian a oportunidade de escolher Maggie em vez de mim.
Mas também não posso simplesmente fingir que não aconteceu.
Brian abaixa a colher de madeira que estava usando para colocar a carne
nas embalagens de rolo de ovo e diz: — Você ouviu toda a conversa?
Eu encolho os ombros. — A maior parte dela.
— Eu. . . eu sinto muito. Eu sinto. Eu nunca pensei que Maggie iria. . .
— Está tudo bem —, digo, porque eu não quero que ele reitere tudo que
Maggie disse. Ouvir aquilo uma vez foi o suficiente. — Obrigado por me
defender.
Ele sorri. — Você é meu irmão. Como eu não defenderia?
E eu sorrio de volta. Ok, talvez Brian não esteja escolhendo Maggie em
vez de mim. Talvez ele possa encontrar uma maneira de se equilibrar entre a
transfobia de merda dela e eu, sem nunca nos forçar a nos misturar. Não é a
pior opção, considerando que sou muito bom em mentir para mim mesmo.
Brian pega a colher novamente, trabalhando na confecção de seu próprio
rolo de ovo longo e magro, enquanto eu faço o meu curto e rechonchudo.
Honestamente, quanto mais carne você enfia nos primeiros, menos precisa
fazer. É um plano infalível.
Em seguida, ele faz uma nova pausa e diz: — Eu terminei com Maggie.
Minha cabeça levanta com isso e eu luto contra a vontade de lançar meu
punho no ar como aquela cena icônica de Breakfast Club e me decidir —
Que? Por quê?
Brian revira os olhos novamente. — Porque eu não posso estar com
alguém que fala merda sobre meu irmão mais novo, ok?
Limpo uma lágrima falsa do meu olho, minha voz alta quando digo: —
Você não precisava fazer isso por mim.
Brian balança a cabeça, usando a colher para atirar pedaços de carne em
mim. — Que droga, Noah, nós dois sabemos que você queria isso.
— Eu sou tão óbvio?
— Sim —, ele diz. Então olha para baixo e diz: — Mas quem sabe, talvez
eu deva apenas confiar no seu julgamento de agora em diante.
— Porque eu sou um gênio?
— Estou implorando pelo quinto neste caso.
Eu sorrio, mas também, meu coração está leve. Chega de Maggie. Chega
de Brian e Maggie. Quero dizer, uau, que bem-aventurança total e completa.
Então Brian diz: — Eu não sabia que você e Devin eram tão próximos.
Eu congelo, o calor subindo para meu rosto. — Não estamos! — Eu
estalo, mas acho que não é totalmente verdade. Não pensei que estivéssemos
tão próximos antes desta tarde, mas agora ele sabe sobre o Diário, o que
significa que basicamente faz parte do meu círculo íntimo. Inferno, ele sabe
mais do que Brian.
— Ele é legal. Você não precisa ficar tão na defensiva —, diz Brian,
colocando cuidadosamente a saliência em uma das embalagens. Ele
definitivamente parece mais confortável agora que os holofotes estão fora
dele.
— Devin usa pronomes e/el agora, — eu digo reflexivamente. — E eu
não estou na defensiva. Só não quero que as pessoas tenham a ideia errada.
— Sinto muito sobre os pronomes, e quem exatamente são as pessoas?
Eu encolho os ombros porque não consigo explicar. É algo sobre a
maneira como Becca riu de mim quando eu contei a ela sobre Devin, como se
ela pensasse que há algo acontecendo lá que simplesmente não existe. E
agora o jeito que Brian está falando sobre eles como se eu devesse estar
pensando em quem levar ao baile ou algo assim.
— Oh, Drew veio enquanto você estava fora —, diz Brian.
Minhas mãos saltam de um rolo de ovo dobrado pela metade. — O que?
Por que você não começou com isso?
Brian encolhe os ombros. — Eu meio que esqueci, para ser honesto. Ele
perguntou se você estava em casa. Eu disse que você tinha saído com um
amigo e ele simplesmente foi embora.
Minhas mãos estão tremendo, mas não tenho certeza do porquê. Isso é
uma coisa boa, certo? Significa que ele veio se desculpar? Ou significa que
ele veio terminar comigo?
— Aconteceu alguma coisa entre vocês dois? — Brian pergunta e, por um
momento, posso ouvir uma nota de tristeza em sua voz, como se eu
provavelmente devesse ter contado a ele sobre tudo isso antes.
— Eu. . . eu não sei, — eu digo. — Fomos a uma festa e as coisas ficaram
meio estranhas. — Afasto as embalagens. Não consigo reunir forças para
lidar com eles adequadamente.
— O que ele fez?
Eu encolho os ombros. — Ficou bêbado e não quis ir embora, embora
devêssemos ir à festa de Devin.
— Então, vocês estão brigando ou algo assim?
— Sinceramente não sei, mas se ele veio aqui à minha procura,
provavelmente devia ir falar com ele. Eu não quero que ele tenha ideias
engraçadas sobre onde eu estive.
Brian suspira. — Termine de rolar esses rolinhos de ovo primeiro.
Eu gemo, mas obedeço. Eu sinto que devo isso a ele.
— Além disso, Noah?
Eu olho para cima.
— Só porque ele é seu namorado não significa que você deve nada a ele,
ok? Se ele está ficando possessivo. . .
Eu balanço minha cabeça. — Ele está bem, Brian. Só não quero que ele
fique com ciúmes.
— Eu sei. Só tome cuidado, ok? Alguns caras não agem da mesma forma
quando estão com ciúmes.
E eu sei o que ele está tentando me dizer, mas algo assim não se aplica a
Drew. . . pelo menos, não acho que poderia.
Tento ligar para ele assim que terminar de enrolar o último rolinho de
ovo, mas ele não atende o telefone. Acabo conseguindo uma carona até a casa
dele, batendo na porta e esperando pacientemente que alguém finalmente a
abra.
A porta se abre e um homem branco mais velho com olhos estreitos olha
para mim. — Não aceitamos advogados aqui.
— Estou aqui para ver Drew, — digo.
Ele me olha como se estivesse prestes a me empurrar para fora de sua
porta antes de voltar para casa e fechar a porta. Estou prestes a me virar e sair
quando a porta se abre novamente, desta vez Drew espiando a cabeça para
fora. — Noah? O que você está fazendo aqui?
— Brian me disse que você veio, então pensei em retribuir o favor. Você
quer conversar?
Ele sai para a varanda e fecha a porta atrás de si. — Sim, eu quero, mas
eu não quero fazer isso aqui.
— Por causa de seus pais?
Ele concorda. — Vamos apenas. . . você quer dar um passeio?
Concordo com a cabeça, embora Drew more em um bairro totalmente
suburbano, e parece meio vago para nós simplesmente dar um passeio por
essas ruas residenciais. Os vizinhos provavelmente estão acostumados com
ele por perto, então espero que ninguém tente atirar em nós.
A casa de Drew é a terceira do fim da rua, mas alcançamos a placa de
pare antes que ele comece a falar.
— Lamento pelo sábado —, diz ele.
— Não consigo imaginar por quê.
Ele sorri. — Eu não queria beber muito, então eu meio que me envolvi
com tudo e lamento que você não tenha ido à festa do seu amigo.
Há algo no jeito que ele fala que meio que me deixa mal. — Não pude ir
— como se eu tivesse me perdido e simplesmente não conseguisse, ao
contrário de ele me dizer ativamente que eu só poderia ir se quisesse
terminar.
— Esquece, — eu digo.
— Espera. — Ele pega minha mão, me virando para encará-lo. — Eu te
amo, Noah. Eu quero fazer as pazes com você.
Meu coração pula uma batida. Eu sabia que ele me amava quando
chegamos ao outono – quero dizer, esse é o ponto principal dessa etapa, na
verdade – mas ainda é bom ouvi-lo dizer isso. Isso limpa minha cabeça, me
lembrando da importância do que construímos entre nós. — Oh? Quão?
— Eu tenho um amigo que está oferecendo uma noite na floresta para o
Quatro de Julho. Vai ser super legal.
Eu estremeço, a imagem perfeita de nós parecendo mais como vidro
quebrado.
— Isso é um não? — Drew pergunta.
Eu balancei minha cabeça. — Não, não é um não, é só – os pais de Devin
estão dando uma festa e eu prometi a eles que iria.
Drew geme. — Devin de novo? Mesmo?
— O que isso significa? — Eu pergunto, ombros tensos. — E é meu
amigo, e eu já perdi sua última festa.
— Parece que vocês dois estão ficando terrivelmente próximos. Você
estavam juntos hoje? Quando fui ao seu apartamento?
Eu rolo meus olhos. — Que diferença faz?
— Olha, eu não me importo com quem você sai, certo? Mas quando você
está constantemente tentando se livrar da mesma pessoa, é difícil não ficar
com um pouco de ciúme.
— Me livrar de você? Concordamos em ir à festa juntos e hoje você
apareceu sem me avisar que estava vindo —, digo. — Nada disso é minha
culpa.
Drew suspira. — Apenas me diga uma coisa. Você contou a eles sobre o
Diário?
Eu paro, uma sobrancelha levantada. — E se eu fizesse?
— Deus, Noah, o Diário deveria ser o nosso negócio. Agora você está
apenas compartilhando com alguém?
— Eu fiz o Diário, — eu digo. — É a minha coisa. Posso escolher a quem
contar.
Drew faz uma pausa como se estivesse procurando as palavras certas.
Finalmente, ele diz: — Eu sei, e não quero brigar com você. É apenas. . .
Depois de tudo que vem acontecendo ultimamente, só quero poder passar um
tempo com você. Você sabe, sem Devin entre nós.
— El não está entre nós, — digo. — Eu estou indo para a festa de Devin
no quatro de julho. Podemos fazer algo depois, se você quiser. Estarei livre
depois das sete.
Eu congelo quando as palavras saem da minha boca, esperando que ele
revide – dizer que isso simplesmente não é aceitável. Seu rosto está franzido,
suas sobrancelhas tensas como se ele não pudesse relaxá-las, e ele está
obviamente chateado comigo, mas eu vim até aqui para pedir desculpas e
quase não sinto como se tivesse uma. Inferno, parece que tudo mudou, e
agora eu devo sentir culpa por algo que não fiz.
Eu odeio saber que se ele me disser que não posso ir para a casa de
Devin, eu não irei. Nada mudou, e se ele insistir que a única coisa que
mantém nosso relacionamento é a natureza terrível dos amigos dele, não terei
escolha. Porque eu não posso perder o Diário, e agora, a única coisa que
mantém meus seguidores por perto é o amor por Drew.
Meu amor por Drew. Porque nos amamos, certo? Esse é o ponto
principal.
Finalmente, ele suspira, passando a mão pelo cabelo. Ele se afasta de mim
como se fosse desaparecer na noite antes de voltar, suas sobrancelhas
finalmente relaxadas. — Ok —, diz ele. — Vou planejar algo divertido para
nós.
Forço um sorriso no rosto porque deveria estar grato. Eu posso sair com
Devin e passar um tempo com Drew fazendo qualquer encontro bonitinho
que ele planeje para nós.
Mas, estou apenas cansado
Quarta, 4 de julho

Perrilicious postou:
Estou meio envergonhado de ser fã do Meet Cute Diary agora.
Peço desculpas aos meus seguidores por ter promovido este blog. Eu
oficialmente parei de seguir ele e não vou mais falar sobre.

Bunbunbun respondeu: Oh inferno, o que ele fez??? O que eu


perdi???
Judgingbyyourmakeup respondeu: Você não precisa se desculpar.
Eu também caí nessa
Donttrustabro respondeu: Todas as coisas boas chegam ao fim, eu
acho. Eu também parei de seguir.
Carregar mais comentários . . .
Quarta de manhã, eu acordo com três mensagens – uma de Devin, uma de
Drew e outra daquele idiota do tumblr.
Devin diz, Feliz 4 de julho! com um monte de emojis de comemoração e
isso me faz sorrir enquanto eu vou checar as outras notificações no meu
celular.
Drew diz, Tudo pronto! Te vejo às 6! o que me deixa péssimo porque eu
especificamente disse que o veria às sete.
E a mensagem do idiota do Tumblr vem na forma de uma postagem de
blog no meu painel, mas definitivamente é perfeitamente clara.

Noah, o mod do blog Meet Cute Diary, entrou em contato comigo


pedindo que sua vítima se retratasse de sua declaração. Ele nem teve
coragem de responder à postagem que eu fiz, ao invés disso, tentou fazer
tudo isso em particular para que o resto do Tumblr não pudesse
responsabilizá-lo ou pudesse esquecer suas ações, mas eu não vou deixar
isso isso passar. A vítima de Noah não acha que a história roubada foi
uma coincidência, e eles não estão retirando o depoimento a menos que
ele prometa parar de postar cutes de encontros roubados e mudar o blog
para um blog sobre seus relacionamentos ou algo assim. Qualquer outra
coisa parece uma zombaria da dor que ele causou, e não vamos tolerar
isso.

E apenas, uau, foda-se. Não estou interessado.


Eles não entendem que o objetivo do blog é dar esperança às pessoas
trans? Para mostrar a todos que podemos ter as mesmas oportunidades que os
cis? Se eu fizer o blog apenas sobre Drew e eu, tudo que estou mostrando é
que algum acaso pode acontecer e uma pessoa trans ocasional pode encontrar
alguém. Isso não significa nada!
E sim, eu usei Drew para salvar o blog, e com certeza, esses podem ser
meus posts mais populares, mas nosso relacionamento é forte o suficiente
para brilhar como um farol para pessoas trans em todos os lugares? Mesmo
quando me lembro de que o amo e que somos perfeitos um para o outro, não
posso deixar de sentir que estou flutuando em algum espaço liminar tentando
encontrar o chão. É como se eu não conseguisse diferenciar o que quero para
o Diário e o que quero para mim, ou, bem, o que eu quero de jeito nenhum.
Afasto o pensamento da cabeça porque é ridículo, não estou mais
interessado nisso e já estou atrasado para o trabalho.
Então, quando chego ao trabalho, estou quase pronto para socar um bebê.
Ok, talvez eu não soque um bebê, mas eu definitivamente pego meu café da
cafeteira e bebo a coisa quente como um gremlin raivoso.
— Ei —, Devin diz, pegando suavemente o copo da minha mão antes que
eu possa jogá-lo através da sala. — Eu sei que as coisas estão um pouco
difíceis, mas se afogar em café não vai resolver isso.
— Não sei mais o que fazer —, digo, e parece que estou tirando um peso
dos ombros. — Não sei como salvar o Diário.
— Talvez você não precise —, diz Devin.
Eu levanto uma sobrancelha. — Isso é para ser alguma merda filosófica?
El sorri. — Eu só quis dizer, talvez você esteja estressado por encontrar
uma solução para algo que se resolverá sozinho. Talvez você se sinta melhor
se apenas der um passo para trás e respirar um pouco.
E sei que el provavelmente está certo porque geralmente está, mas odeio
saber que isso está fora do meu controle.
Quando as crianças vêm correndo, tento me distrair atendendo às
necessidades delas. Eu ando pela sala oferecendo substituir seus lápis e
ajudá-las a organizar seus esboços, o que apenas resulta em uma criança
jogando um lápis no meu rosto e me dizendo para ir embora.
Devin me puxa de lado e diz: — Você quer dar um passeio? Eu posso
cobrir para você.
Me sinto um idiota total por dizer sim e sair da sala, mas sei que meio que
preciso. Parece que tudo está desmoronando ao meu redor. Eu me convenci
de que enquanto eu seguisse as regras no meu relacionamento com Drew, as
coisas com o Diário se resolveriam, que ele era a cola que faltava para manter
tudo junto e um romance perfeito poderia salvar tudo. Mas agora as coisas
com Drew parecem mais falsas do que quando começaram, e não sei onde
estou com Becca, e o Diário está escapando de entre meus dedos.
No final, meus doze passos não ajudaram em nada, exceto me deixar
vazio e cercado por mais merda do que eu posso aguentar. Deus, isso é
basicamente pílula dietética de romance. E o que isso me torna? Mesmo
depois de tentar provar que aquele troll estava errado, é como se tudo o que
eu fizesse fosse provar que ele estava certo.
Eu limpo meus olhos, as lágrimas cobrindo meus dedos. Eu nem tinha
percebido que precisava chorar até as lágrimas começarem a cair, e antes que
eu percebesse, estou sentado na grama, as lágrimas escorrendo pelo meu
rosto em um fluxo incontrolável.
Eu volto para o corredor meia hora depois, uma quando já estou sem
lágrimas. Devin olha para mim como se estivesse preocupado, mas não diz
nada, e eu sou grato por isso, da maneira que el sempre parece saber
magicamente do que preciso.

Limpamos tudo e finalmente saímos um pouco depois das três. Eu escorrego


para o banco do passageiro do carro de Devin, a voz baixa enquanto digo: —
Você se importa de me levar até a casa de Drew mais tarde?
— Claro, eu não me importo.
— Ele quer que eu o encontre às seis.
— Oh.
E eu odeio saber que Devin provavelmente está magoado por eu ter de ir
mais cedo, mas el não vai dizer nada sobre isso porque acha que a culpa é
sua, e não minha. E eu odeio que fiquemos menos de três horas juntes,
embora eu prefira passar o resto do dia com el em vez de fingir que amo
qualquer encontro supernão-eu que Drew planejou para nós.
— Estou feliz por você ter me convidado —, digo, meio que esperando
que el ouça o tom do que estou tentando dizer. Estou muito feliz por poder ir
à sua festa, mesmo que seja por pouco tempo.
Devin sorri para mim. — Meu pai sempre faz croquetas caseiros para
essas coisas. Você vai amar.
Eu sorrio de volta.
A casa de Devin é o epítome dos subúrbios de gente branca. Quer dizer,
literalmente têm uma cerca de estacas aqui, embora seja cinza em vez de
branca. Há uma fila de carros do lado de fora da casa e uma linha de fumaça
saindo do quintal. Uma pequena lacuna na garagem fica esperando o carro de
Devin, el desliza para dentro habilmente antes de desligar o motor.
— Meus pais ficarão muito felizes em te conhecer —, diz el.
Eu levanto uma sobrancelha. — Você fala sobre mim?
El enrubesce. — Eu. . . bem, às vezes eu. . . eles gostam de conhecer
meus amigos.
Saio do carro e olho para a casinha branca com a pequena varanda de
madeira e o pequeno jardim colorido serpenteando em volta dela. É quase
cômico como isso é pitoresco.
Entramos no quintal pela cerca aberta. O pátio é muito bonito, com uma
pequena propagação de pedra. Há uma grelha, que é a fonte óbvia da fumaça,
e uma longa mesa de piquenique com os alimentos já servidos.
Um pequeno grupo de pessoas de meia-idade – talvez dez ou doze – está
parado com taças de champanhe e garrafas de cerveja enquanto conversam
sobre cortar grama e entrar em clubes de golfe. Honestamente, não tenho
ideia do que estão conversando, mas olhando para eles, parece que esses são
os tópicos de conversa mais prováveis.
Apenas uma mulher na multidão parece ter menos de cinquenta anos –
talvez cerca de trinta e tantos anos. Ela é bonita – lábios vermelhos carnudos,
cabelo loiro tingido volumoso que desce em ondas pelos ombros, pele
castanha clara e uma figura curvilínea pressionada em um vestido vermelho
que se alinha no corpo. Devin me puxa para perto dela e lhe da um abraço,
que ela devolve enquanto conversa com este casal branco, provavelmente na
casa dos cinquenta anos.
Devin se agarra a ela enquanto ela encerra a conversa e, finalmente, se
vira para nós. — Mãe, quero que você conheça Noah —, el diz, e faço uma
pausa, com os olhos arregalados. Mãe?
Ela olha para mim e sorri, e posso ver a semelhança. Eles têm o mesmo
sorriso largo, desinibido e com covinhas. — É um prazer conhecê-lo, Noah,
— ela diz, e ela tem um pouco de sotaque de Miami. — Você pode me
chamar de Luly.
— Prazer em te conhecer também —, digo, porque sempre me sinto
estranho em chamar pais pelo primeiro nome.
— A comida está pronta? — Devin pergunta. — Estou morrendo de
fome.
A mãe de Devin olha para el com uma sobrancelha levantada e diz: —
Quando você não está? Seu pai já fez algumas coisas.
Devin sorri e me aponta na direção certa. — Vamos buscar comida.
Atravessamos o pátio até a longa mesa de piquenique e, vejam só, na
verdade já tem muita comida. Devin pega dois pequenos pratos de plástico e
me passa um para que possamos seguir em frente. Parece que parte da
comida foi trazida pelos convidados, e é bastante óbvio quais são as porções
– caçarola de brócolis, caçarola de atum, salada de atum, salada de batata.
Ugh, salada de verdade.
Eu pego uma grande porção de arroz con pollo para ajudar a limpar
minha cabeça de todas as saladas não naturais do mundo. E, claro, pego
alguns croquetas, já que Devin delirou com sobre eles antes.
Há um pequeno jardim no canto do quintal e uma versão menor da longa
mesa de piquenique lá fora. Devin e eu nos sentamos e começo a despejar
comida na goela porque não tenho vergonha.
Devin sorri e diz: — Como está?
— Incrível —, eu digo, porque é. — Melhor comida cubana a mais de
uma milha de Miami.
Devin ri, mas apesar de sua ânsia anterior de chegar à comida, el não está
comendo, apenas meio que empurrando as coisas em seu prato.
— Algo errado? — Eu pergunto.
Os olhos de Devin se arregalam, mas el balança a cabeça. — Não. Nada
está errado.
Ficamos sentados em silêncio por um momento antes de Devin dizer: —
Na verdade, vou correr para o banheiro bem rápido.
— Tudo bem —, eu digo, mas el já está cruzando o pátio.
Pego um croquete crocante e levo à boca. Merda. Devin não estava
brincando. Eles são bons e, por incrível que pareça, me fazem sentir um
pouco de saudades de casa. Ou talvez não seja de casa que estou sentindo
falta. Talvez seja a simplicidade das coisas naquela época e a sensação de que
as coisas iriam se resolver sozinhas.
Eu limpo meu prato e verifico meu telefone. Passa um pouco das quatro e
perdi uma mensagem de Drew dizendo: Mal posso esperar para te ver esta
noite. Não se esqueça, 6 da tarde.
Tipo, não me diga. Ele achou que eu iria aparecer às seis horas amanhã de
manhã?
Eu suspiro, colocando meu telefone de volta no bolso. Devin está no
banheiro há um tempo, mas não sei se é estranho para mim ir atrás del.
Inferno, eu nem sei se tenho permissão para entrar na casa.
Espero mais alguns minutos para ver se vamos sair casualmente, mas
depois de quinze minutos, decido dar uma olhada e ter certeza de que não
está doente ou algo assim.
Eu caminho até o pátio e deslizo pela porta de vidro para dentro da casa.
A cozinha foi lindamente planejada, com um piso plano aberto que se espalha
em uma sala de estar de madeira. Agora, se eu fosse um banheiro, onde
estaria?
Há um corredor e, antes, uma portinha. Decido bater nele antes de abrir e
descobrir que é apenas um armário de armazenamento. Eu dou uma rápida
olhada ao redor para ter certeza de que ninguém está me olhando antes de
entrar em um armário, e sigo para o corredor. Eu saio para a entrada da frente
com tetos abobadados e uma tonelada de luz natural. Caramba, é lindo pra
caramba aqui.
E então vejo a escada. Eu subo e olho ao redor. A porta do quarto
principal está aberta, embora eu imagine que Devin não esteja lá. Continuo
pelo corredor e encontro outro quarto, provavelmente del. É simples e limpo,
as paredes são verde-oliva e a cama arrumada com almofadinhas de orelha de
rato. A estante está completamente desarrumada, e o uke rosa de Devin está
em uma mesa ao lado de um laptop aberto.
E, do outro lado do corredor, há outra porta com uma luz acesa embaixo.
Eu atravesso e rapidamente bato na porta, dizendo: — Devin, eu espero que
seja você aí.
Eu espero um minuto e considero se talvez eu deva fugir rapidamente
antes que a porta se abra e um dos amigos dos pais de Devin me encontre
rastejando ali. Em seguida, a porta se abre lentamente e Devin olha para mim.
— O que?
Mas sua voz soa meio trêmula, então eu digo: — Você está bem? Você
saiu já faz um tempo.
Sua respiração engata e el diz: — Desculpe, eu só. . .
— Está tudo bem —, eu digo. Faço uma pausa antes de acrescentar: — Se
você não estiver bem, tudo bem também. Quer dizer, se você quiser falar
comigo sobre algo, você pode. Estou pronto para ouvir.
Seus olhos se arregalam um pouco, e então el diz: — Você pode me dar
um minuto? Te encontro no meu quarto.
Eu aceno, e el fecha a porta.
Sento em sua cama porque não sei mais o que fazer. Não quero mexer em
suas coisas porque parece terrivelmente invasivo, mas também me sinto
estranho só de ficar ali sentado olhando para os esboços que estão
pendurados em suas paredes, mas eles são legais – algumas paisagens
concretas e alguns redemoinhos abstratos de cor. Quase parece que estou
dando uma espiada em sua cabeça por um momento, embora não tenha
certeza do que isso significa.
A porta do banheiro se abre e, em seguida, Devin entra na sala, seu rosto
pálido quando se senta ao meu lado.
— Eu. . . — El congela, e nós mergulhamos no silêncio. Quero dizer que
pode falar comigo, mas não sei como. Não quero pressionar el a falar se não
estiver pronte.
Por fim, digo: — Comi os croquetes. Eles estavam ótimos, como você
disse.
E Devin sorri para mim, mas eu sei que é forçado, e Deus, eu só quero
entrar sua mente e descobrir o que está errado para que eu possa consertar.
Finalmente, el diz: — Sinto muito. Eu convidei você aqui para se divertir
e agora estou apenas. . .
— Pare —, eu digo. — Pare de se torturar. Você não fez nada de errado,
certo? Só estou preocupado com você.
Devin engole e entrelaça suas mãos. — Eu não quero ser um fardo para
você.
— Você não é —, eu digo. — Você é meu amigue e eu quero ajudar. Por
favor fale comigo.
— Eu simplesmente tive muita ansiedade desde esta manhã.
— Sobre a festa? — Eu pergunto.
E dá de ombros. — Sim, e sobre você vir. Acho que. . . bem, só não quero
que você tenha uma opinião ruim sobre mim. E eu sei que parece ridículo, e
provavelmente é, mas é apenas um medo que eu tenho, e não posso fazer isso
ir embora.
— Eu nunca teria uma opinião ruim sobre você —, eu digo.
El ri, mas soa como se estivesse forçando a sair de seus pulmões
fechados. — Você me odiou quando nos conhecemos, não é? E eu sei que é
minha culpa por vomitar em você, mas. . .
— Eu não te conhecia naquela época —, eu digo, — mas eu te conheço
agora, e acredite em mim, eu acho você incrível.
Sua respiração parece meio superficial, e sinto que deveria fazer algo para
acalmar el, mas não sei o quê. Honestamente, eu nem sei o que há nessa
situação que está estressando el tanto.
Por fim, el olha para mim e diz: — Faz muito tempo que não me sinto
próxime de ninguém e eu. . . não quero estragar tudo, sabe? Mas sempre me
sinto como se estivesse fazendo isso.
Pego sua mão porque não sei mais o que dizer. A verdade é que não
percebi o quanto precisava de Devin até agora, e não é apenas por causa de
como as coisas têm sido complicadas com Becca, Drew e o Diário. El é
importante para mim. El é uma daquelas pessoas que tornam cada dia mais
brilhante, cada dificuldade um pouco menos assustadora. E o pensamento de
que el acha que eu o odiaria – que eu genuinamente não gostaria de ter nada a
ver com el – é tão absurdo que não sei como expressar isso.
Sua respiração parece acalmar um pouco, mas sua mão ainda parece um
pouco trêmula na minha.
— Devin —, eu digo finalmente, — você é ume grande amigue.
Honestamente, você é incrível, e sinto muito que você não veja isso, mas
farei o que puder para te provar isso.
El aperta minha mão e sorri. — Obrigado.
Eu envolvo meus braços em torno del, deixo el descansar sua cabeça no
meu ombro por um tempo. Odeio saber que isso é tudo o que posso fazer,
mas me recuso não fazer nada.
Quarta, 4 de julho, 17:46
Ei, Drew. Desculpe, vou me atrasar um pouco. Surgiu uma coisa.
Entregue
Demora um pouco para Devin se sentir melhor, então paramos na frente
da casa de Drew cerca de vinte minutos depois das seis, e dou um último
aperto na mão de Devin antes de sair.

Drew me encontra na varanda, seus olhos se estreitaram. — É tarde demais


para fazer nossa reserva.
Eu encolho os ombros. — Desculpa. Eu te disse, aconteceu uma coisa.
— Com Devin?
— Sim?
Drew revira os olhos, os braços cruzados sobre o peito. — Olha, eu não
sei o que está acontecendo entre vocês dois. . .
Eu levanto a mão. — Eu vou te parar bem aí. Você que insistiu que eu o
encontrasse às seis, embora eu tenha dito que não estaria pronto antes das
sete, então se você está bravo porque eu estou atrasado, talvez você devesse
ter ouvido o que eu te disse em vez de colocar constantemente suas
necessidades à frente das minhas.
— Sério? — Drew se encaixa. — Eu te disse seis porque a única reserva
que o restaurante tinha era às seis e meia. O que eu deveria fazer?
— Escolher um restaurante diferente! — Eu grito. A rua está vazia, mas
não consigo evitar a sensação de que um bando de vizinhos intrometidos
provavelmente está nos espiando pelas cortinas agora. — Não deveria ser tão
difícil para mim dizer não a algo e para você aceitar isso.
Respiro fundo, lembrando a mim mesmo que preciso manter a calma. Isso
é pelo o diário. Eu não deveria estar afastando Drew.
— Eu só estava tentando fazer algo bom para você.
Eu me esforço para manter meu nível de voz quando digo: — Não, você
estava tentando fazer algo bom para nós, mas você não consegue entender
que nós significa que eu deveria ter tanto a palavra quanto você. Você sabe,
porque quando você está lidando com um casal, duas pessoas estão
envolvidas.
— E por duas pessoas, você quer dizer você e Devin, certo?
— Que diabos, Drew?
— Estou falando sério. Você continua falando sobre nós, mas só quer
ficar com el. Mesmo achando que meus pais estavam se divorciando, você se
importava mais com el do que comigo!
E de repente eu sinto como se o mundo tivesse sido jogado fora de seu
eixo. Como se alguém tivesse ligado um interruptor e a gravidade tivesse sido
desligada para sempre. Minha voz está baixa quando digo: — O que você
quer dizer com achando que seus pais estavam se divorciando?
Drew empalidece por um momento, e isso é tudo de que preciso para me
virar e começar a andar pela rua sem ele.
— Noah, espera! — ele chama.
Mas eu recuso. Isso é absolutamente ridículo.
— Me desculpa, ok? — Drew grita, ainda me seguindo. — Eles estavam
se divorciando, mas decidiram ficar juntos.
— E você não pensou em me dizer isso? — Eu grito, me virando para
encará-lo. Ele é muito mais alto do que eu, mas agora, ele parece pequeno. —
Você sabia que eles iam ficar juntos na outra noite no telhado? Você sabia?
Ele me encara por um momento sem uma resposta antes de dar um aceno
lento.
— Você sabia que o relacionamento de seus pais estava bem, mas você
usou isso para me culpar por perder a festa de Devin? Como isso é justo?
Eu nem mesmo mencionei o fato de que foi uma merda ele tentar me
culpar em primeiro lugar. Acho que isso é mais do que bom o suficiente para
deixar meu ponto muito claro.
— Eles não estão bem —, diz, mas está murchando muito rápido, como
se percebesse que já perdeu a batalha. — Olha, me desculpe, ok? Eu não
queria perder você.
— Não, não —, eu digo. — E adivinhe, você acabou de me perder porque
não vou namorar um mentiroso.
Drew balança a cabeça. — Sério? E quanto ao Diário?
Meu sangue gelou.
Seus olhos se estreitam quando ele diz: — Você precisa de mim, não é?
Para mantê-lo? O que você vai fazer se terminar comigo?
— Como você ousa! — Eu grito. — Você vai ficar aqui e tentar usar o
Diário contra mim? Sério? Eu confiei em você com isso!
Drew revira os olhos. — Parece que você confiou em muitas pessoas com
isso! — ele grita de volta. — E eu não posso acreditar que tive que ficar para
trás em meu próprio relacionamento com algum blog de merda.
Uma voz no fundo da minha cabeça diz que preciso ouvi-lo, pelo Diário.
Mas quem estou enganando? O diário está morto. Metade do mundo
pensa que é tudo plagiado, e a outra metade não se importa de qualquer
maneira, porque em todas as minhas tentativas de "salvar" o Diário, eu o
drenei até que ele fosse apenas um fantasma do que deveria ser. Não mais um
paraíso para pessoas trans. É apenas uma mentira, eu expus meu
relacionamento de merda para me convencer de que sou feliz quando nunca
estive mais miserável.
Provavelmente não há como salvar o Diário, mas mesmo se houver, não
envolve Drew. Inferno, envolver Drew foi provavelmente o maior erro que já
cometi.
— Você se ofereceu para ajudar. Você não pode distorcer isso e fazer ser
sobre você.
E Drew apenas cruza os braços, as sobrancelhas franzidas. — Certo,
porque é sobre você. Como todo o resto. Você pode estar com raiva de mim
por mentir, Noah, mas a única razão pela qual fiz isso foi porque você se
importava mais com o Diário do que comigo. É por isso que nosso
relacionamento se desfez.
— Não cabe a você definir os mas aqui —, digo entre os dentes cerrados,
o que não foi minha melhor escolha de palavras, mas estou com raiva demais
para me importar. — Eu sugiro que você volte para aquela casa antes que eu
entre com uma ordem de restrição.
Drew recua como se eu tivesse acabado de lhe dar um tapa no rosto, e
talvez eu devesse, porque ele ainda parece querer me alcançar para me puxar
de volta para ele. Por um momento, parece que estamos suspensos naquele
quadro congelado antes que todo o mundo retroceda para detalhar como eu
cheguei nessa situação, porque nem mesmo entendo como me permiti entrar
nessa situação.
Finalmente, ele balança a cabeça, me olhando feio antes de voltar para
casa e bater a porta.
Quarta, 4 de julho

IsleofSunshine postou:
Depois de falar com Noah e dar a ele a chance de resolver as
coisas sobre o Meet Cute Diary, parece muito claro que ele não se
desculpará por roubar as histórias das pessoas e continuará a fazê-lo.
Estou bloqueando qualquer pessoa que continue a seguir ou se
associar a esse blog e recomendo que o resto de vocês façam o
mesmo.

Lapislady3 respondeu: Uau, obrigado por nos avisar. Isso é horrível.


Notyagirl respondeu: Eu sabia que ele não era coisa boa. Nojento.
Undesireable27 respondeu: Ugh, eu bloqueei ele. Valeu por avisar!
Carregar mais comentários . . .
Caminho alguns quarteirões até finalmente me sentir seguro e chamar Devin
para me buscar. El para no meio-fio quinze minutos depois com uma
expressão sombria.
— O que aconteceu?
Encolho os ombros. — Acho que estou solteiro.
El me pede para continuar, mas não tenho energia para isso. Eu quero
fingir que nada disso nunca aconteceu.
— A festa ainda está acontecendo na sua casa? — Eu pergunto.
Devin acena com a cabeça. — Todo mundo está se preparando para
começar os fogos de artifício. Você quer se juntar a eles? Posso levá-lo de
volta para a sua casa, se preferir.
Nego balançando a cabeça. Não quero ir para casa e me afundar na minha
solidão. — Quero voltar para a sua casa.
Então el me leva.
A mãe de Devin me lança uma espécie de olhar de pena quando
entramos, e não posso deixar de me perguntar quantos desses estranhos
sabem exatamente por que estou de volta de repente. Devin me entrega uma
caixa de fogos e eu a rasgo, os dedos arranhando avidamente o papelão até
que eu finalmente cavo no plástico.
Devin coloca a mão sobre a minha e diz: — Você está bem?
Aceno, sacudindo minha mão. — Apenas me dê um isqueiro.
Então, acendemos alguns fogos e tento me deixar levar pelas luzes
brilhantes e cores bonitas.
O pai de Devin leva todos para a rua para que possamos começar a
acender alguns dos maiores. Sua mãe me passa uma taça de champanhe, que
aceito antes de seguir todos para fora.
E, claro, os fogos de artifício são lindos, e eu tiro algumas fotos para
postar no Instagram, mas meu coração não está nisso. Inferno, estou
começando a desejar apenas ter me trancado no quarto e nunca mais sair.
Conforme as coisas começam a desacelerar, Devin coloca a mão no meu
ombro e diz: — Você quer subir um pouco?
E eu aceno porque espero que o silêncio seja agradável. E, a ideia de ficar
a sós com el por um tempo também parece legal.
Lá dentro, Devin põe um pouco de música e eu desabo em sua cama.
— Espero que esteja tudo bem —, diz Devin.
Eu gemo. — Drew mentiu para mim, então eu terminei com ele. Não
posso ficar perto de mentirosos. Eu os odeio pra caralho, e eles estragam
tudo.
— Oh.
Ficamos sentados em silêncio por alguns momentos antes de Devin dizer:
— Noah, tenho que ser honeste com você. Eu menti para você também.
Eu congelo, a dor em meu coração se espalhando. Na verdade, sinto que
estou prestes a sair correndo pela porta, ou pior, simplesmente desmaiar ali
mesmo. Tipo, quantas surpresas eu posso aguentar em uma noite?
Em vez disso, minha boca fica aberta enquanto a palavra — O quê? —
cai fora dela.
Devin pega minha mão e luto contra o desejo de puxá-la para longe. —
Você sabe que eu trago café todas as manhãs antes do trabalho?
O silêncio se estende entre nós por um segundo antes de eu conseguir
dizer: — Sim?
— Bem, eu menti sobre ter um desconto. Eu sabia que você não me
deixaria comprar para você se soubesse que eu estava pagando, mas o cupom
só vale depois das duas, e eu sei o quão cansado você fica sem café. . .
— Espera, — digo, interrompendo el no meio da frase, — foi sobre isso
que você mentiu?
Devin acena com a cabeça sobriamente.
— Nada mais? Só o cupom?
El dá de ombros. — Eu não acho que haja mais nada.
Eu rio, soltando sua mão. É estranho porque o riso é bom, mas também
ruim, como se eu estivesse feliz, mas também triste. Ou talvez seja a
felicidade caindo no meio de uma piscina de tristeza, as duas coisas se
misturando até eu rir tanto que lágrimas brotam dos meus olhos. Limpo-as
enquanto ainda consigo me convencer de que são lágrimas de felicidade e
digo: — Tudo bem, não era disso que eu estava falando. Quer dizer, você
deveria ter me contado e pelo menos me deixado contribuir um pouco porque
não consigo nem imaginar quanto dinheiro você gastou comprando café para
mim todas as manhãs...
— Não é grande coisa, mesmo —, diz Devin. — Eu gosto de levar café
para você.
Eu sorrio, mas posso sentir as lágrimas de tristeza tentando emergir por
trás dos meus olhos. — Drew mentiu para mim sobre seus pais se
divorciarem. Aparentemente, ele sabe há um tempo que eles não estão se
separando, mas estava usando isso para me convencer a passar mais tempo
com ele.
— Sinto muito, Noah, — Devin diz. — Isso é horrível.
Sim, é, e é bom ouvi-el dizer isso, porque me mostra que não estou
apenas exagerando sobre a coisa toda. Mas também odeio a sensação de que
Devin está com pena de mim, como se eu precisasse explicar a el que estou
bem e não é grande coisa.
Antes que eu possa estragar o momento, Devin diz: — Não quero
ultrapassar nenhuma barreira aqui, mas por que você estava namorando ele
em primeiro lugar se ele precisava de uma desculpa para fazer você passar
mais tempo com ele?
— Não é como se eu não tivesse saído com Drew antes de ele me contar
sobre o divórcio de seus pais. Me encantei com ele no momento em que nos
conhecemos. Inferno, fui eu quem instigou tudo, que nos guiei através de
passos de relacionamento perfeito para que tudo pudesse dar certo para nós.
E talvez eu não tivesse passado tanto tempo com ele nas últimas duas
semanas se soubesse, mas isso não significa que não gostava dele. Eu tentei
tanto fazer Drew parte do meu mundo. Não é minha culpa que ele tenha
ficado inseguro de qualquer maneira.
Embora eu ache que Drew estava certo sobre uma coisa – todo o nosso
relacionamento era baseado no Diário. Foi por isso que começamos a sair, e
mesmo enquanto estávamos juntos, era a coisa que mais me importava, a
razão pela qual eu continuei nos guiando quando provavelmente deveríamos
ter parado há muito tempo. E a verdade é que, na maior parte do tempo que
passei com Drew nas últimas semanas, teria preferido passar com Devin.
Mas Drew estava sempre tão chateado com tudo o que estava
acontecendo com seus pais, e eu me preocupava que, se não o fizesse feliz,
ele terminaria comigo e isso sabotaria o Diário.
E agora estou sentado no quarto de Devin, e os pais de Drew não estão se
divorciando, e não sei o que vai acontecer com o Diário, mas sei que meu
relacionamento com Drew não vai mudar nada isto. Mesmo que este seja
apenas o estágio de Libertação – mesmo que eu apenas tenha que esperar que
Drew faça seu grande e abrangente gesto para me conseguir de volta – isso
não salvará o Diário.
O que significa que a única coisa que me mantém leal a Drew é Drew.
E não tenho certeza se esse é um motivo bom o suficiente.
Eu olho para Devin e sinto o calor subir no meu rosto porque eu tinha
esquecido como seus olhos são lindos e como seus lábios são fofos, e não
quero pensar sobre isso agora. Eu não gosto de Devin. Não posso gostar.
— Está tudo bem se seus sentimentos sobre Drew mudarem, sabe? —
Devin diz. — Quero dizer, só porque você gostava dele antes, não significa
que fez algo errado por não querer mais ficar perto dele.
Mas não quero ouvir isso de Devin agora. Não quero que me trate como
uma criança que precisa de conselhos tipo o biscoito da sorte.
E mais do que tudo, não quero pensar no que virá depois. Não quero
pensar em deixar Drew ir e seguir em frente e nos sentimentos que terei que
reconhecer se fizer isso aqui.
Eu reviro meus olhos e digo, — Só esquece isso, ok? Você não sabe nada
sobre Drew ou eu, então deixa para lá.
E a expressão de Devin murcha, mas não consigo me forçar a confortá el
agora. Eu só preciso pensar. Eu preciso me trancar e pensar.
— Preciso ir para casa, — digo.
Eu me levanto da cama, já a meio caminho da porta quando Devin diz: —
Espere, pelo menos me deixe levar você.
E aceito porque está ficando meio tarde e o apartamento é muito longe.
Sei que deveria me desculpar por brigar com el, talvez agradecer por me
oferecer carona, mas só consigo pensar em voltar para casa. Meu coração
pesa no meu peito e meu corpo parece tenso, como se estivesse esperando por
uma resposta, e eu sei que só há um lugar para encontrá-la.

Quando chego em casa, Brian não está lá. Provavelmente curtindo o 4 de


julho com seus irmãos da fraternidade, já que Maggie não está mais na cena.
Corro para o meu canto e procuro a pequena caixa de sapatos onde mantenho
minha lista de qualidades de namorado aprovadas pelo melhor amigo. Tenho
certeza de que trouxe comigo. De jeito nenhum eu deixaria na Califórnia com
meus pais.
Eu solto um suspiro de alívio quando finalmente a encontro, meus dedos
traçando a tampa com amor por um momento. Então eu o abro, puxando o
envelope no qual Becca preencheu todas as coisas que eu preciso em um
parceiro ideal. Prometi a ela que não iria abrir até que achasse que tinha
encontrado a pessoa certa, mas preciso ter certeza. Preciso saber se é a
libertação, ou apenas o fim, ou algo totalmente diferente.
Desdobro a pequena folha de papel para ler sua lista, que é cerca de vinte
itens mais curta do que a que escrevi.

Deve ser alguém com quem você pode falar da mesma maneira que
falaria comigo.
Alguém que se dá bem com sua família e lhe dá as boas-vindas na
família deles.
Alguém que entende que você come como um monstro e o apóia
com uma boa comida.
Alguém que é honesto e vulnerável com você e permite que você
seja um idiota obstinado, mas no bom sentido.
Alguém que te faz sorrir.

E eu já posso sentir as lágrimas transbordando em meus olhos porque é


claro que Becca enxergaria além das besteiras que eu escrvi tipo precisa
reconhecer que Miley Cyrus não canta bem e ver o que eu preciso. E é claro
que ela me faria jurar que só leria quando eu precisasse, para não ser capaz de
confundir a mensagem com um monte de besteira de conto de fadas.
E, claro, isso não se aplica a Drew.
Claro que se aplica a Devin.
Lágrimas correm pelo meu rosto enquanto pego meu telefone, embora eu
não saiba o que espero conseguir com ele. Perdi o diário. Perdi Drew. E,
francamente, depois da minha saída brusca, eu duvido que Devin queira
alguma coisa comigo também.
Mas, enquanto olho para a tela, sei exatamente com quem quero falar,
mesmo antes de meu dedo tocar o aplicativo de contatos e puxar o número.
Eu ligo para Becca mesmo sabendo que não devo, e quando ela atende o
telefone, eu começo a chorar, as lágrimas afogando cada palavra que eu
queria dizer.
— Noah? Noah, você está bem? — ela pergunta.
E não posso falar porque estou chorando muito.
Finalmente, ela me interrompe e diz: — Você está em casa? Eu preciso
pegar um vôo para...
— Não —, eu digo, embora minha voz ainda esteja embargada pelo
choro.
E posso praticamente sentir sua confusão pelo telefone, mas preciso ser
razoável. Ela vai fazer uma viagem inteira para me ver só para que eu possa
chorar em seu ombro por causa de todas essas coisas, mas isso é tão egoísta
da minha parte. E pior, não vai ajudar nosso relacionamento. Tenho que
aceitar que ela está certa e, quando o verão acabar, Becca e eu estaremos
vivendo no mesmo país. Se eu não conseguir lidar com isso sozinho, nunca
sobreviverei na Califórnia.
Finalmente, ela suspira e diz: — Tudo bem, diga-me o que aconteceu.
Mas se você está com problemas, pode apostar que estou indo.
Eu respiro fundo e a ponho em dia sobre tudo, incluindo o fiasco com
Drew e a percepção caiu sobre mim no quarto de Devin.
— Então? — ela diz quando eu finalmente termino a história.
Eu engasgo com um soluço. — Então, eu acho que estou apaixonado por
Devin —, digo, e Deus, dizer isso em voz alta faz com que pareça muito mais
real, como se fosse algum ser senciente aqui para me arrastar para o inferno
ou algo assim.
Então Becca começa a rir, e eu sinto que estou exposto, embora esteja
sozinho . Finalmente, ela parece se controlar e diz: — Graças a Deus.
— Graças a Deus?
— Sim, eu pensei que você nunca perceberia. Você estava tão envolvido
no oh, Drew é tão sexy e sabe como fazer um café com leite! Oh Drew, ele
está indo para a faculdade! Ele planeja encontros grandes e complicados
que nem ao menos combinam com a minha personalidade, porque ele só quer
se exibir!
— Isso. . . eu não falo assim! — Mas não importa, porque nós dois
sabemos que ela está certa. Fiquei tão envolvido em nossos encontros fofos –
em todas as partes superficiais de nosso relacionamento – que nunca percebi
que, em um nível celular, simplesmente não somos compatíveis. Era um
daqueles relacionamentos perfeitos no Instagram, exceto que além das fotos e
das legendas cafonas, somos apenas duas pessoas que não têm nada em
comum e nada nos mantém unidos. Somos água e óleo, mas continuei
tentando nos misturar porque havia ficado muito preso em uma medida
arbitrária de felicidade.
— Então, o que você vai fazer agora? — Becca pergunta.
Eu não sei. Só falta um mês para eu partir, e nem sei se Devin está
vagamente interessado em mim e ainda não sei como salvar o Diário.
— Sinto muito, Becca —, eu digo, minha voz um sussurro contra a
estática do telefone. — Eu... eu tenho sido um amigo horrível.
Ela suspira, mas não fala. Ficamos sentados em silêncio por um momento
antes de, finalmente, ela dizer: — Você foi pego em seus cinco segundos de
fama. Entendo.
E eu rio porque é claro que ela simplesmente ignoraria tudo como se
nunca tivesse importado, mas posso ouvir uma mudança em seu tom, como
se talvez estejamos começando de novo, e estou mais grato do que posso
colocar em palavras. — Como estão as coisas? — Eu digo. — Quero dizer,
como vai você? Espero que esteja tudo bem?
— Honestamente? Não estão ótimas, mas eu não quero falar sobre isso
—, diz. Em seguida, ela faz uma pausa antes de acrescentar: — E não é você.
Quer dizer, não é que eu não queira falar com você. Eu só. . . preciso de
tempo para lidar com tudo antes de falar sobre isso. Espero que esteja tudo
bem.
— Claro —, eu digo, e eu quero dizer isso. É como Devin disse. Ela
sempre foi meu pilar, e quero que saiba que pode falar comigo e que, se
precisar de mim, farei o que puder para retribuir o favor.
Quinta, 5 de julho

Francinethescenequeen postou:
De acordo com aquele post que está circulando, bloqueei o Meet
Cute Diary e bloquearei qualquer pessoa que não seguir o exemplo.
Não podemos permitir que mestres manipuladores percorram a
comunidade LGBT. Vamos parar com esse abuso agora

Lipstickbitch respondeu: Concordo totalmente. Apenas me diga


quem bloquear.
Jjbaberams respondeu: Deixei de seguir, mas não vou bloquear
ninguém que não o fizer. Parece um exagero.
Ppaddamson respondeu: Você não acha que isso é meio extremo?
Nós nem ouvimos o lado de Noah?
Apesar do mundo fazendo cambalhotas ao redor de mim, eu apareço no
trabalho na manhã seguinte e tento fingir que nada mudou. Claro, isso
imediatamente falha completamente quando vejo Devin sentade no canto da
sala. Quando el olha para mim, meu coração dispara, e não é porque de
repente eu percebo o quanto estou interessado nel. El está com o rosto todo
maquiado, do blush à sombra, e puta merda, está incrível.
Eu paro, minha mão na porta.
— Bom dia, — el diz.
— Bom dia.
Devin empurra um copo da Starbucks para mim e diz: — Sinto muito por
mentir para você, mas eu queria trazer café para você, se estiver tudo bem.
Eu sorrio, entrando na sala e me sentando ao lado deles antes de pegar o
copo. — Obrigado.
De perto, é quase impossível resistir à vontade de tocar nel. Quero dizer,
el parece uma obra de arte, desde a linha perfeita de sua mandíbula até as
maçãs do rosto perfeitamente contornadas.
— Estou horrível, não estou? — Devin pergunta.
— O que? Não! — Digo, calor subindo em meu rosto. — Eu estava
pensando que você está muito bonite.
El sorri. — Mesmo?
— Sim, está perfeito. Quer dizer, você está perfeite. Você segue um
tutorial ou algo assim?
Devin ri. — Eu pedi para minha mãe fazer. Eu sei que parece muito
idiota, mas ela sempre disse que queria uma filha com quem pudesse fazer
maquiagem, então. . .
— Você está incrível —, eu digo, e está mesmo. Tipo, pra caralho, e eu
odeio estar vendo el de uma forma diferente do que via alguns dias atrás.
Inferno, geralmente nem gosto de garotas, mas olhando para Devin assim,
não consigo me lembrar por quê.
— Espero que esteja tudo bem entre nós —, diz Devin. — Quero dizer,
depois de ontem à noite. Eu estava preocupado por ter te feito ir embora.
Eu coloco a mão sobre a del para que el pare de falar. — Você não me fez
ir embora —, digo. — Eu só tinha algumas coisas em que pensar. Me
desculpe. E sinto muito por ter surtado com você. Nada disso é sua culpa.
El sorri. — Está bem. Estou feliz que tudo tenha voltado ao normal com a
gente.
Sim, normal, o que quer que isso signifique.
Eu me forço a seguir em frente pelo resto do dia, e acho que me saí muito
bem porque Devin não parece muito assustado comigo. Mas, é difícil fingir
que as coisas não mudaram entre nós, e é ainda mais difícil fingir que não
estou completamente apaixonado por el, desde a maneira como fala com as
crianças até a maneira como ri, como el ficou com essa maldita maquiagem.
E tento dizer ao meu corpo para calar a boca por um segundo porque
Devin é ume amigue, e a última coisa que quero fazer é arriscar isso, mas não
dou ouvidos de qualquer maneira.
— Você falou com Drew? — Devin pergunta enquanto limpa a mesa de
artesanato.
Eu congelo. Honestamente, eu empurrei Drew o mais longe possível da
minha cabeça desde a nossa briga. Não só eu estava preocupado em analisar
meus sentimentos por Devin, mas a coisa toda me fez sentir meio sujo e eu
não queria muito lidar com isso.
Eu suspiro. — Não, não falei com ele. — E eu meio que não quero. Mas
então, ele vai correr atrás de mim? Pedir desculpas? Organizar algum tipo de
reencontro do ano? Afinal, deveríamos estar no passo do Gesto agora, e isso
significa que ele poderia aparecer a qualquer minuto com um flash mob e
uma dúzia de rosas. Se ele tentar me tirar do chão de novo, posso acabar
caindo na dele, embora saiba que não deveria. Há uma parte de mim que ama
o amor, e acho que essa parte achava que amava Drew.
— Eu sinto muito por tudo, — Devin diz. — Eu espero que as coisas
fiquem melhor.
— Eu não —, digo, e Devin faz uma pausa, com a mão no meio de um
golpe. — Quer dizer, eu quero que o estresse, a raiva e tudo isso vá embora,
mas não quero Drew de volta. Acho que namorar com ele foi um erro.
Bem, talvez não totalmente um erro, já que salvou o Diário e me lembrou
do que o Diário deveria ser – um paraíso para pessoas trans, não uma
performance para aumentar meu ego. E me aproximou de Devin. Eu acho que
foi um acidente – um daqueles arranhões acidentais que mudam a direção de
sua vida das maneiras mais sutis. Como um encontro fofo, um muito mais
discretos do que todas aquelas histórias de amor me levaram a acreditar.
Às vezes, os verdadeiros encontros fofos são os amigos que fazemos ao
longo do caminho, ou algo piegas assim.
— Bem, pelo menos você pode encontrar outra pessoa agora, — Devin
diz, e eu não posso deixar de sorrir porque já estou seguindo em frente muito
rápido. Então el diz: — Um relacionamento à distância teria sido difícil de
qualquer maneira. Pelo menos assim você pode encontrar alguém na
Califórnia.
Se fosse um romance, esta seria a parte em que grito Não quero ninguém
na Califórnia! Quero você! Mas tudo que consigo fazer é continuar varrendo
o chão com um murmúrio: — Sim.

Tento me permitir esquecer Drew. Ou, bem, me permito parar de me


preocupar se ele vai aparecer na minha varanda para confessar seu amor por
mim. Estou muito confiante de que acabou.
É libertador seguir em frente, mas também me deixa um pouco nervoso,
porque significa que a única coisa que me impede de confessar meus
sentimentos para Devin sou eu mesmo.
E o fato del ter até dito que um relacionamento à distância provavelmente
não funcionará, e temos menos de um mês juntos antes de eu me mudar. E é
muito improvável que el tenha sentimentos assim por mim. Mas, ainda assim,
a maioria das coisas volta para mim.
Quando chego ao trabalho na sexta-feira, Devin me passa um panfleto
com o título Natal em julho!
— Todos os anos, a equipe faz uma pequena celebração de Natal, Amigo
Secreto e outras coisas para comemorar o fim do acampamento.
E aqui estava eu pensando que colocar as decorações de Natal antes do
Halloween era ridículo.
Devin me entrega um pequeno envelope verde e diz: — Não me diga
quem você pegar. É amigo secreto por um motivo.
Reviro os olhos e abro o envelope, tirando uma pequena folha de papel de
dentro. Claro. É Devin. Há uma pequena lista rabiscada de opções de
presentes: um cartão-presente da Starbucks, que é bastante previsível,
qualquer fita washi colorida, que é menos previsível, e a última diz apenas
biscoitos, o que eu posso fazer. Então, no final da lista, há um pequeno
asterisco que diz: Se nos conhecermos, adoraria se você me surpreendesse
com algo pessoal. Ugh, ótimo. Mais trabalho.
— Você deve fazer uma pequena lista para si mesmo – mantenha tudo
abaixo de quinze dólares – e eu a darei para a pessoa que tirou seu nome —,
diz Devin.
— Eu não deveria tirar um nome? — Eu pergunto, colocando o pequeno
envelope no meu bolso. A verdade é que estou feliz por ter tirado Devin.
Inferno, se este fosse um romance de verdade, ele teria me tirado também, e
quando trocamos presentes, também trocamos sentimentos.
Estou tão ferrado com meus sentimentos.
— Você foi a última pessoa, então recebeu o último envelope. Desculpa.
Honestamente, a pior parte de toda essa situação é saber que tudo está
planejado para a próxima sexta-feira, também conhecida como o último dia
de acampamento e, potencialmente, a última vez que verei Devin. Essa é a
parte que mais me incomoda.
Eu rabisco algumas opções de vale-presente aceitáveis antes que as
crianças cheguem. É estranho pensar que provavelmente vou sentir falta
delas, mesmo que não me lembre de nenhum de seus nomes. Passo meu
envelope para Devin, e el começa a falar com as crianças, contando-lhes
sobre o projeto de artesanato de hoje, e tudo em que consigo pensar é o que
seria um presente surpresa aceitável para el.
Quer dizer, a mensagem diz especificamente, "se nos conhecemos", e não
para ser filosófico, mas acho que não nos conhecemos muito bem. Eu só
descobri que seu sobrenome era Salazar depois de ler na lista de Natal, e não
posso deixar de me perguntar se talvez eu esteja apenas me enganando.
Talvez eu não esteja apaixonado por el. Talvez eu esteja fazendo a mesma
coisa que fiz com Drew, pulando de um penhasco literal porque eu só quero
estar apaixonado por alguém tanto que nem me importo para onde estou
correndo.
Mas então, isso importa? Tem que ser amor para eu dar a el um presente
de não-natal super incrível? Eu tenho que decidir até a próxima sexta-feira?
Devin se senta ao meu lado e coloca a mão sobre a minha. — Você está
bem? Você parece estressado.
Eu olho para el e tudo que posso pensar é se sabe ou não o que sinto por
el. Quer dizer, Becca não pareceu nem um pouco surpresa com minha
confissão. Isso significa que Devin percebera também? El sempre parece
saber do que preciso, então isso significa que sabe como me sinto?
Mas não é como se eu pudesse simplesmente perguntar a el se meus
sentimentos são óbvios sem expor esses sentimentos, e, não é seu problema.
Eu deveria apenas me concentrar em encontrar um presente e seguir em
frente com minha vida.
— Estou bem —, digo, mas não tenho certeza se el acredita em mim.
Tudo bem, no entanto. Eu também não acredito em mim.

Quando entro no carro de Brian naquela tarde, coloco o cinto de segurança e


digo: — Há algum shopping onde possamos ir?
Ele se vira para mim, uma sobrancelha levantada. — Isso é para o amigo
secreto?
Eu concordo.
— Sim, tem um shopping, mas não se estresse muito. A troca de
presentes não é grande coisa —, diz ele.
— Para mim é.
— Por que?
Eu encolho os ombros. — Eu tirei Devin.
Brian me encara como quem diz oh, inferno antes de sair para a rua. — É
melhor você começar do começo.
Então eu o faço. Ou, sabe, só digo as coisas importantes – o rompimento
com Drew, eu ter percebido que tenho sentimentos por Devin. Não me
preocupo em entrar nos detalhes do Diário. Eu o amo e tudo, mas prefiro
manter essa parte para mim. Na verdade, talvez seja porque eu o amo que
quero manter essa parte para mim. Talvez eu esteja finalmente percebendo
como é importante para mim ter uma vida fora do Diário. Afinal, Brian e eu
finalmente recuperamos nosso ritmo, e ele é uma das únicas pessoas com
quem posso ficar offline – como Noah. Eu não quero perder isso.
Quando termino, estamos entrando no estacionamento do shopping e
Brian está balançando a cabeça. — Eu nunca percebi que você seria um
jogador.
Eu rolo meus olhos. — Eu só quero dar a el um bom presente —, eu digo.
— Especialmente porque posso nunca mais ver el novamente depois.
— Você não vai convidar Devin para sair? — Brian pergunta.
Eu encolho os ombros. — Por que eu deveria?
— Porque você gosta del?
— Não significa que el está interessado em mim —, digo.
— Ok, talvez não, mas você nunca saberá se nunca tentar. Se você me
perguntar, acho que a festa de Natal seria uma grande oportunidade. Você já
estará dando um presente a el, e el estará com esse clima feliz de feriado.
Eu gemo. — Cale a boca, ok? Eu só quero passar este verão.
— Tudo bem —, diz, — mas tenho quase certeza de que você vai se odiar
quando se mudar para a Califórnia sem nunca perguntar a el como se sente.
E odeio que Brian me conheça tão bem e quase sempre esteja certo.
Caminhamos pelo shopping por algumas horas, mas não consigo
encontrar nada que pareça certo. Quer dizer, eu quero surpreender Devin com
algo que vai arrasar, mas Deus, é só quando eu saio tropeçando de uma loja
de quadrinhos que eu percebo que não sei nada sobre el. El gosta de anime?
Animais empalhados? Memes? Eu literalmente não sei.
Tudo que sei é que el toca uke e tem uma bela voz para cantar e fica
incrível com delineador. E el é bom em desenho. Talvez eu deva comprar um
caderno de desenho ou algo assim.
Mas isso não é nada pessoal.
Brian sorri ao dizer: — Você sempre pode comprar um buquê de rosas e
ler um poema. . .
Eu bato em seu braço o mais forte que posso, e ele estremece enquanto
esfrega a área dolorida. Acertou em cheio.
— Ok, tudo bem —, diz ele. — Que tal algo relacionado ao
acampamento?
— O acampamento? — Eu digo.
— Sim, uma escultura de caiaque ou algo assim. Você sabe, algo que fara
el olhar nos próximos anos e lembrar de você.
O que na verdade não parece a pior ideia, mas não consigo pensar em
nada relacionado ao acampamento que não seja supergenérico. Além disso,
este não é seu primeiro verão no acampamento. El pode pensar em qualquer
outra coisa antes de pensar em mim, e isso só me deixa triste.
Inbox (2,108)
Undeadandunsurprised perguntou: Ei, Noah! Como você e Drew
estão? Você postará mais no Diário em breve? Eu sinto falta de te ver
no meu painel. Obrigado!
Acabo comprando o presente de Devin online de última hora e pagando
quase vinte dólares em frete expresso. Eu faço um trabalho desleixado ao
embrulhá-lo com um papel esquisito de Papai Noel que Brian guardou e,
eventualmente, decido ir para a Target e apenas comprar uma sacola e enchê-
la com papel de seda.
Sexta de manhã, eu apareço cedo para o trabalho com tudo tremendo.
Não é só porque tenho certeza de que meu presente é medíocre e Devin vai
odiá-lo, mas também porque não consigo parar de pensar no que Brian disse.
O quanto vou me arrepender se deixar o dia passar sem dizer a el como me
sinto? Mesmo que eu só tenha mais três semanas em Denver, vou passar o
resto da minha vida me perguntando o que essas três semanas poderiam ter
sido?
Acho que uma parte de mim esperava que nossa última semana juntos
fosse o suficiente para fazer meus sentimentos vacilarem. Você sabe, estando
cara a cara com minha própria mortalidade, eu perceberia que
relacionamentos são inúteis, e seria melhor apenas encontrar uma pessoa
aleatória na Califórnia.
Em vez disso, meus sentimentos só ficaram mais fortes, e cada vez que eu
olho para el, sinto que meu coração vai pular do meu peito.
E não é como se eu não tivesse tido oportunidade de contar a el antes de
hoje. Entre a limpeza e a preparação pela manhã e o almoço, eu basicamente
tive um número infinito de chances, mas cada vez que abria a boca, acabava
despejando qualquer lixo aleatório que me afastasse dos meus sentimentos. E
sim, agora é minha última chance, e há uma possibilidade cada vez maior de
estragar tudo também.
Eu deixo meu presente no escritório antes de ir para a sala de ensaio.
Estou muito cansado porque ainda não tomei meu café, mas queria entrar
antes de Devin. Passei a noite pesquisando no Google algumas decorações de
Natal fofas – porque mesmo com o tutorial de Devin, eu sabia que não
haveria como desenhar algo decente sozinho – e quero pendurá-las antes de
entrar.
Uma vez que localizo a fita adesiva, começo a trabalhar colando
pequenos flocos de neve de papel nas janelas e pequenos enfeites de
pretensiosos contra o espelho. É tudo muito ridículo, honestamente, já que
não é Natal e vamos ter que gastar um tempo limpando tudo mais tarde, mas
eu sei que isso fará Devin sorrir, e se este for nosso último dia juntos, eu não
quero perder minha chance de ver el.
Devin aparece quando estou colocando o último enfeite. El olha para mim
com os olhos arregalados, e percebo que está usando maquiagem novamente.
Ou, pelo menos, estaria, se não estivesse escorrendo por seu rosto em uma
torrente de lágrimas.
— Devin? — Eu digo. — O que aconteceu? Você está bem?
E por um momento tenho uma sensação de aperto no estômago, dizendo-
me que esqueci que é judeu ou algo assim, e tudo isso é terrivelmente
inapropriado.
Então el ri, passando a mão no rosto e só piorando o fiasco da
maquiagem. — Eu só. . . eu não posso acreditar que este é o último dia, sabe?
Vou sentir falta de vir aqui todos os dias e de ver todas essas crianças.
Eu sorrio porque vou sentir falta de tudo também, mas ainda dói que el
não tenha me mencionado.
Aceito meu café grátis e digo: — Você vai voltar no ano que vem, não
vai?
El suspira. — Eu não sei. Meu pai está procurando uma possível
promoção e, se ele conseguir, provavelmente não ficaremos em Denver.
Meu coração dói mais com isso. Para onde vai a seguir? Nova York?
Maine? Já é ruim o suficiente saber que vou para a Califórnia, mas pode ser
isso.
— De qualquer forma, — Devin diz, forçando um sorriso em seu rosto.
— Hoje é um bom dia e quero que seja feliz. Sem lágrimas.
Eu sorrio. Isso é uma coisa tão Devin de se dizer.
Então seus olhos se arregalaram novamente como se el finalmente
percebesse o trabalho que fiz. Um sorriso lento surge em seu rosto enquanto
diz: — Oh meu Deus, Noah, você fez tudo isso?
Eu encolho os ombros, mas quero fazer uma reverência ou algo assim,
porque saí da cama cedo para isso.
Devin se vira para mim, as lágrimas crescendo em seus olhos novamente,
mas el apenas sorri, um sorriso tão brilhante que me lembra exatamente por
que valeu a pena trabalhar através da minha névoa antes do café. — Está
lindo.
Eu rolo meus olhos. — É apenas um pouco de papel e tinta de
computador.
Mas fico feliz que el pense que está lindo. Agora nós dois temos algo
lindo para iluminar nosso último dia de trabalho.

Nossa festa de Natal em julho é exatamente como você imaginaria uma festa
de Natal estereotipada de escritório. Uma árvore de Natal alta e brega no
canto que alguém se deu ao trabalho de decorar com enfeites feitos à mão
pelas crianças, uma longa mesa de comida de bandejas de biscoitos
comprados em uma salada de macarrão de alguém, brancos idosos vestidos
com suéteres de Natal horríveis.
Todo mundo meio que flutua pela sala se misturando ou comendo. Sem
surpresa, Brian parece perfeitamente em casa entre a multidão mais velha,
enquanto eu estou quase saltando nos meus calcanhares enquanto espero que
Georgette chame o nome de todos para distribuir seus presentes do Amigo
Secreto. Honestamente, parece que estou em um centro de aposentadoria,
desde as lentas canções de Natal que provavelmente têm alguns séculos de
idade até os pequenos sanduíches chiques. Não consigo imaginar nenhuma
dessas pessoas se divertindo em festas. Você sabe, reais.
Georgette leva todos nós para o Amigo secreto e ela começa a xingar. Na
verdade, não sei se existe algum método acontecendo aqui, mas ela começa
com uma garota chamada Margaret e passa para Billy, e eu não tinha
percebido que havia tantas pessoas no acampamento que nem sequer
reconheço. Quer dizer, Bev está no canto conversando com Brian sobre algo
que provavelmente só os velhos acham engraçado, e aquele cara, Frank, do
acampamento do sleepaway também está aqui, mas os outros conselheiros
são todos estranhos, exceto Devin, que fica sentade sem jeito com suas mãos
fortemente atadas.
E com cada nome que passa, sinto meu coração subir no peito um pouco
mais enquanto espero pelo momento que vai nos levar juntos.
Georgette diz: — Holly, você é a próxima.
E meu coração começa a bater forte. Tipo, venha já. Dê as pessoas o que
elas querem!
Finalmente, quando ela chama o nome de Devin, el rapidamente pega seu
presente. E se vira, e seus olhos fixam-se nos meus, e parece que o mundo
está desacelerando, como se este fosse o momento em que tudo viria à tona e
nós trocamos um beijo sincero enquanto os créditos rolavam.
E então el passa para uma garota que eu não conheço, e els compartilham
algumas risadas, mas eu sinto meu estômago afundar. Tanto para a nossa
troca de presentes românticos. Só quero que essa festa acabe, como ontem.
Meu presente é de uma das voluntárias e ela me passa o presente sem
olhar para mim. É um cartão-presente da Target, o que é justo, já que minha
lista inteira era apenas de lugares para comprar cartões-presente, e meu
coração não está nisso de qualquer maneira. Estou apenas executando os
movimentos roboticamente.
Meu nome é chamado e eu luto para pegar o presente, e eu já sei que
Devin sabe que os tirei porque o meu é o último presente, e me sinto um
perdedor quando o passo para el e digo: — Feliz Natal em julho ou tanto faz.
Meu coração dói, meu peito balança, mas uma vez que o presente está
fora de minhas mãos, um pouco de alívio toma conta de mim. Meu destino
está selado.
Devin sorri, pegando a sacola da minha mão e dizendo: — Feliz Natal em
julho para você. — E me dá o sorriso mais lindo de todos. — E valeu.
Eu aceno, mas Deus, meu coração está tendo um momento difícil no meu
peito.
Todo mundo já está passando da troca de presentes enquanto Devin puxa
o papel de seda da sacola. Estou meio irritado que todos estão seguindo em
frente quando Devin ainda nem conseguiu abrir o presente, mas estou feliz
que seus olhos estão longe de nós, como se este momento fosse apenas nosso
para compartilhar. Finalmente, Devin agarra o presente, puxando-o e
desdobrando-o para revelar uma camiseta preta com as palavras Tem Leite?
nela.
Seus olhos se arregalam. — Isso é uma camiseta de leite?
E meu primeiro instinto é gaguejar: — Estava pensando no que você
disse, sabe, sobre leite e. . .
E me sinto o maior idiota do mundo por seguir o conselho de Brian e
fazer uma piada interna. Mas depois de dias procurando pelo presente
perfeito, eu quase desisti até que topei com a camiseta, e então tudo que eu
conseguia pensar era quando el disse que era dois por cento menino.
Devin ri e diz: — É incrível! Eu amei!
Eu sorrio. — Mesmo?
— Sim, é o melhor presente que já ganhei.
Eu rolo meus olhos. — Ok, você não precisa fingir que gosta tanto.
El bate no meu ombro. — Não, sério, e eu falo sério. Eu amo presentes
pessoais, e isso é muito atencioso. Eu amei mesmo.
Meu coração bate forte e el está me dando aquele sorriso com covinhas e,
Deus, quero beijar el, mas viro o rosto em vez disso.
Em seguida, Devin diz: — Também tenho algo para você.
Meus olhos disparam, rosto quente. — Espere o que?
— Quer dizer, eu sei que não sou seu amigo secreto nem nada, mas você
foi o amigo mais incrível neste verão e eu queria te dar uma coisa —, diz el.
Eu aceno, mas el já está pegando um pequeno pacote e passando para
mim. Está embrulhado em um pequeno papel de embrulho de pinguim, seus
grandes olhos azuis olhando para mim enquanto eu rasgo o papel.
E meus dedos congelam. É um caderno. Bem, acho que é mais como um
diário. Tem uma capa de tecido e páginas com pautas universitárias, e
pequenos desenhos semelhantes a rabiscos no canto de cada página – xícaras
de café, caiaques, espumantes, chá de boba.
— Eu fiz para você, — Devin diz, meus olhos flutuando para encontrar
seu rosto. — Quer dizer, achei que você poderia querer algo para escrever.
Sabe, algo diferente do Diário. Então você pode se concentrar em seu ofício.
Está tudo bem?
Tudo bem? Passei a semana passada tentando encontrar o presente
perfeito para Devin, e agora el me superou com um presente super atencioso
e feito à mão que de alguma forma parece resumir todo o nosso
relacionamento em um monte de adoráveis rabiscos. E el nem era meu amigo
secreto.
Eu olho para el e os encontro olhando para mim. Eu odeio que estamos a
apenas alguns centímetros de distância, mas parecem quilômetros.
E logo serão.
Eu suspiro, minhas mãos suadas. Sinto-me um pouco enjoado ao dizer: —
Quero falar com você sobre uma coisa. Tudo bem?
E os olhos de Devin estão arregalados, mas el acena com a cabeça de
qualquer maneira.
Eu pego sua mão e os puxo para fora do escritório. Não quero que todos
me ouçam despejar minhas entranhas. E sim, ok, eles provavelmente não
estão prestando atenção em nós de qualquer maneira, mas me faz sentir
melhor colocando algum espaço entre nós e eles. Ou talvez seja bom
caminhar, ter algum tempo entre este momento e o que sei que virá a seguir.
E, é claro, quando saímos para o corredor, eu olho para cima e vejo um
pequeno pedaço de visco pendurado logo acima da porta. Quem quer que seja
o idiota que colocou lá. . .
— Sobre o que você quer falar comigo? — Devin pergunta.
Tento pensar em maneiras de protelar, qualquer coisa que me dê uma
chance de recuperar o fôlego. E então eu me ouço dizer: — Eu gosto de você.
..
Devin sorri. — Eu espero que sim. Trabalhamos juntos durante todo o
verão.
Eu rolo meus olhos. — Não, tipo, estou atraído por você.
Os olhos de Devin se arregalam e me preocupo que el vá fugir ou
começar a engasgar ou algo assim, mas el apenas enfia a camisa debaixo do
braço e diz: — Oh.
— Sim, — eu digo. — Eu sinto muito. Eu sei como isso deve ser
estranho.
E sorri. — É lisonjeiro, na verdade.
— Bem, eu estou feliz, eu acho, — digo. — Acho que estava me
perguntando se você se sentiria da mesma maneira.
— Eu não pensei em você dessa forma, — Devin diz, e eu sinto meu
coração saltar do meu peito. Este parece ser um excelente momento para
mudar meu nome e me mudar para a Sérvia.
Então el diz: — Honestamente, acho que nunca senti atração por
ninguém.
Eu faço uma pausa, minha cabeça chicoteando. — Eu pensei que você
disse que gostava de caras.
— Eu gosto. No entanto, apenas romanticamente.
— É isso que eu estou dizendo.
— Você está dizendo o quê?
— Que estou romanticamente a fim de você!
E sim, eu acabei de gritar bem alto e tenho certeza de que todos no
escritório estão maravilhados com o quão perdedor eu sou. Na verdade, isso
provavelmente vai cair como uma daquelas histórias infames de "Festa de
Natal". Oh meu Deus! Vocês se lembram daquela vez que Noah gritou seu
amor para alguém que o rejeitou totalmente? Hilário!
A boca de Devin se abre, um rubor crescendo em suas bochechas, mas el
não diz nada, e não tenho certeza do que devo dizer neste momento. Sinto
que devo tranquilizar el, dizer que está tudo bem que el não sinta o mesmo.
E então el diz: — Espera, é mesmo?
Eu encolho os ombros. — Sim. Não é tão estranho assim.
El balança a cabeça. — Não, para mim é. Diga isso de novo.
Eu apenas levanto uma sobrancelha. — Por que?
— Apenas faça isso, por favor. Preciso ter certeza de que ouvi direito.
Deus, de todas as coisas que eu imaginei que Devin fosse, cruel não é
uma delas, mas eu agradeço de qualquer maneira. — Devin, eu tenho
sentimentos por você. Sentimentos românticos. Inferno, eu chegaria ao ponto
de dizer que estou apaixonado por você. Eu só. . . nunca conheci ninguém
como você antes e precisava que você soubesse como me sinto antes do fim
do acampamento.
E não sei o que estou esperando neste momento, mas certamente não é
que as lágrimas comecem a escorregar pelas bochechas de Devin, seus olhos
arregalados enquanto dizem: — Eu também te amo.
— Você. . . espera, o quê?
El dá de ombros. — Quer dizer, eu pensei que era totalmente óbvio.
Achei que foi por isso que você desistiu da festa. . . porque não queria que
seu namorado visse o quanto eu gostava de você.
Eu balanço minha cabeça porque eu sinto que ele acabou de começar a
falar em vulcano. — Você gosta de mim esse tempo todo?
El acena com a cabeça. — Sim, acho que sim.
E eu cruzo o espaço entre nós em um segundo, puxando seu rosto para o
meu, nossos lábios pressionados juntos. Meu nariz esbarra no del, nossos
queixos se comprimem.
E el recua, olhos arregalados, respiração irregular.
— Você está bem? — Eu pergunto.
El acena com a cabeça, mas eu poderia muito bem ter dado um soco no
peito del. Suas bochechas estão vermelhas, suas mãos trêmulas. — Sinto
muito, — el engasga. — É que. . . eu nunca beijei ninguém antes e eu. . .
Eu pego sua mão na minha, apenas para descobrir que também estou um
pouco trêmulo. Esfrego meu polegar sobre suas juntas. — Eu sinto muito. Eu
deveria ter perguntado primeiro.
Devin ri, apertando minha mão. — Tudo bem. Você apenas. . . você me
pegou desprevenido. Desculpa.
— Não. Não foi justo eu beijar você quando você não estava pronte.
Eu soltei sua mão, dando um passo para trás. El ainda parece um pouco
irregular, como se o vento tivesse soprado e nos sacudido profundamente.
Por fim, el sorri, com as bochechas vermelhas e diz: — Mas agora estou.
E sorrio de volta porque não consigo nem contar quantas horas passei
desejando poder beijar el. Mas agora posso.
Tento envolver meus braços em volta de seu pescoço, mas eles não são
longos o suficiente, então ficam pendurados desajeitadamente em seus
ombros, o que eu poderia me sentir pior se os braços de Devin tivessem uma
missão. Em vez disso, uma mão rasteja desajeitadamente contra meu braço
enquanto a outra permanece mole ao lado do corpo. Eu rio contra sua boca, e
el ri de volta, nossas risadas se misturando em uma respiração rápida e rostos
calorosos.
Quando finalmente nos separamos, tudo que quero fazer é puxar el de
volta para mim, mas não o faço. Enrolo nossos dedos e digo: — Obrigado
pelo presente. Acabei de perceber que ainda não tinha dito isso.
Devin sorri largo o suficiente para fazer minha cabeça girar. Então el diz:
— De nada. Devemos voltar para a festa, certo?
E eu concordo com a cabeça porque pelo menos quando estivermos lá
dentro, posso me perder em nosso tempo juntos e tentar esquecer que, em três
semanas, estarei na estrada para a Califórnia e longe del novamente.
Passo 11: O Gesto
É a maior jogada para salvar o relacionamento.
Sábado, 28 de julho

Howdyheather postou:
Então, o Meet Cute Diary acabou oficialmente? Não houve novas
postagens em um mês. Eu acho que o mod fugiu depois que a história
que vazou saiu? Alguém tem alguma recomendação nova?

Jjstiles respondeu: É tão doloroso. Tudo em uma história também.


Adorava esse blog!
Bimeariver respondeu: Eu não tenho nenhuma recomendação. O
MCD era único.
Umbrellaella respondeu: Não vou desistir ainda. Talvez seja apenas
um hiatus?
— Espera, el fez o quê?
Estou na cozinha com Brian ajudando-o a fazer curry quando ouço uma
batida na porta e meu coração pula uma batida.
— Desculpe, mãe, tenho que ir. Eu amo você!
Eu desligo, colocando meu telefone em um dos meus enormes bolsos
traseiros.
Devin sorri para mim quando abro a porta, rapidamente estendendo sua
mão e segurando um chá com leite tailandês com boba. Eu sorrio. Quer dizer,
basicamente passamos todos os dias juntos desde o acampamento, mas como
agora posso dormir até tarde porque geralmente nos encontramos depois do
almoço, el costuma me trazer outros presentes além do café.
— Obrigado, — eu digo, puxando el para um beijo rápido. E el se derrete
nele, como se cada beijo ê tivesse afrouxado um pouco mais até agora,
apenas parece amanteigado e doce entre nós.
— Fechem a porta! — Brian chama.
Devin se afasta, um rubor em suas bochechas. — Opa.
El entra e fecho a porta atrás de si, gesticulando para que se junte a nós na
cozinha. Uma coisa boa sobre namorar Devin é que não preciso me preocupar
em apresentá-l a Brian, já que tecnicamente els se conheciam antes de eu
entrar em cena. As coisas podem ser um pouco diferentes quando meus pais
vierem no final do verão, mas por agora, o constrangimento é totalmente
evitável e eu sou grato.
Bem, acho que há uma lista muito longa de razões pelas quais é bom eu
estar namorando Devin – el não me pressiona a fazer coisas que odeio, não
me culpa por expressar minhas próprias opiniões, nós, na verdade, temos
coisas em comum. . .
Na verdade, a única coisa boa que saiu de namorar Drew foi me preparar
para ser um namorado melhor para Devin, e talvez um pouco mais legal para
mim mesmo.
— O que vocês estão fazendo? — Devin pergunta.
— Curry. Você quer? — Brian diz.
Devin estremece. — Comida apimentada e eu não combinamos.
Eu ri. — Que tipo de cubano você é?
Devin sorri. — Do tipo com muita ansiedade e estômago fraco.
O que é justo, embora Devin esteja lidando com sua ansiedade muito bem
ultimamente. Eu não sei se é por tirar férias e não ter que me preocupar mais
com o trabalho ou o fato de que temos sido apenas nós dois saindo, sendo
todos adoráveis e privados, ou talvez uma mistura de ambos. De qualquer
maneira, parece que não estamos tendo muitos ataques de pânico
ultimamente, e é bom pensar que posso estar ajudando-os com isso.
A campainha toca novamente, o que me pega completamente
desprevenido, porque tenho quase certeza de que não há mais ninguém em
Denver com quem eu queira falar.
Eu me viro para Brian e digo: — Você convidou alguém?
— Não.
Então, vou até a porta. Sou muito baixo para ver através do pequeno olho
mágico, então espero que seja apenas uma entrega de pacote e não um cara
com uma máscara de esqui esperando para me sequestrar.
Abro a porta e congelo.
Mas não é um cara com uma máscara de esqui parado ali.
É Becca.
Eu grito, e ela grita de volta, e nós pulamos nos braços um do outro
apenas gritando de excitação.
— Caramba —, diz Brian. — Os vizinhos de baixo vão me expulsar da
cidade por causa de vocês dois.
Só para garantir, gritamos um pouco mais antes de entrarmos no
apartamento.
— O que você está fazendo aqui? — Eu pergunto. Eu me viro em direção
a Brian, olhos estreitos. — Você sabia que ela estava vindo?
Ele encolhe os ombros. — Só desde esta manhã.
Becca ri. — Eu disse a ele para não contar porque era para ser uma
surpresa —, diz ela. — Mas sim, resumindo a história, vim para Denver para
um workshop na universidade, então meus pais queriam tirar umas férias e
visitar alguma família em Boulder.
— Há quanto tempo você está aqui? — Eu pergunto.
— Partimos amanhã, por isso tive que parar para fazer uma surpresa antes
de partirmos.
— Oh meu Deus, espere, — eu digo.
Pego um envelope no balcão e o passo para ela. Eu estava indo
originalmente para enviá-lo para ela, mas como ela está aqui, ela pode muito
bem pegá-lo agora. Ela aceita com uma sobrancelha levantada antes de
colocá-lo no bolso de trás, mas ela já sabe o que é. Mandei uma mensagem de
texto para ela algumas noites atrás para que ela soubesse que revisaria sua
lista para algo útil, como alguém que lhe dá espaço para falar em seu próprio
tempo, enquanto ainda deixa claro que se importa e alguém que permite você
é a estrela do seu próprio show. Parecia justo já que ela já tinha feito muito
pelo meu relacionamento.
Parecia o mínimo que eu poderia fazer depois de ser uma amiga tão inútil.
Espero que ela precise disso mais tarde para sua namorada Insta, mas mesmo
que ela não precise, é uma coisinha boa para se lembrar de mim enquanto
estivermos a quilômetros de distância.
— Então, — Becca diz, com as mãos nos quadris, comandando toda a
atenção no espaço. — Você deve ser Devin.
Devin empalidece, brincando com suas mãos. — Hum, sim, eu sou.
Becca sorri, cruzando a sala e puxando Devin para um abraço que
eventualmente consegue retribuir. — Ugh, estou tão feliz por você não ser
Drew!
Devin pisca para mim, uma sobrancelha levantada. — Valeu?
— Ok, chega, — eu digo, empurrando minhas mãos entre eles e
separando-os. — Nada de conversa sobre Drew também. Deixem o passado
morto.
Não ouvi falar de Drew desde a luta e, na verdade, foi um grande alívio.
Se eu ainda estivesse preso nos doze passos, acho que poderia interpretar isso
como um sinal de que ele falhou totalmente, mas agora é apenas uma lufada
de ar fresco. Não sei se um dia o amei ou apenas amei a ideia dele, mas estou
mudando para coisas maiores e melhores, e onde quer que ele esteja, acho
que espero que ele também esteja. O que quer que o mantenha fora da minha
vida.
— Amém para isso —, diz Becca. — Então qual é o plano? Esquiar
montanha abaixo? Andar de caiaque em um rio barulhento?
Eu sorrio. — Verificar a loja de quadrinhos favorita de Devin?
Becca sorri. — Ugh, graças a Deus. — Ela se vira para Devin. — Aquilo
foi um teste. Você passou com louvor.
Devin ri, mas tenho certeza de que toda a atenção está deixando el um
pouco desconfortáveis. Seguro sua mão para que saiba que estou aqui se
precisar de mim. E, tipo, podemos escolher totalmente bater a qualquer
momento. Nós também estabelecemos esse limite.
— Espero que você não se importe que eu vá junto —, diz Becca.
— Obviamente não, — eu digo. — Você ainda tem que me colocar em
dia com tudo.
— Divirtam-se, crianças. Não sejam presos porque não irei pagar a fiança
—, diz Brian.
Eu rolo meus olhos. — Tanto faz, cérebro. Ok, quem vai dirigir?
— Eu posso fazer isso, — Devin diz.
— Tem certeza? O carro do meu tio é muito legal, e o cara é um idiota,
então eu nem me importo em acabar com a gasolina dele —, diz Becca.
Eu me viro para Devin, uma sobrancelha levantada. Quero que saibam
que não temos que se comprometer com nada que os deixe ansiosos.
Mas el apenas sorri de volta para mim e diz: — Não, está tudo bem. Acho
que estamos todos mais seguros no meu carro de qualquer maneira.
Eu sorrio. Provavelmente el não está errado sobre isso.

Acabamos em duas lojas de quadrinhos diferentes, além de uma livraria,


embora, felizmente, consigamos evitar a loja de Amy. Na livraria, Becca
rasga a seção de romance, fazendo piadas sobre todos os trocadilhos usados
nos títulos.
— Quando é que o seu romance vai ser assumido, Noah? — ela pergunta.
Eu rolo meus olhos. — Ok, primeiro de tudo, eu cansei de assumir. Acho
que saí do armário muitas vezes neste verão.
— Ugh, — ela geme, — esse seria o seu livro. Saindo do armário, mas
com um armário literal envolvido.
Eu rio, pegando um livro brilhante e colorido com um trocadilho
culinário na capa. Não tenho estado muito com disposição para ler
ultimamente e tenho evitado principalmente o Diário. Desde minha não
discussão com aquele troll, tentei postar um punhado de histórias, mas o
Diário está perdendo seguidores e, honestamente, não sei como salvá-lo.
Então, novamente, talvez seja eu. Talvez minhas histórias não tenham sido
inspiradas desde todo o fiasco com Drew. Talvez eu simplesmente não tenha
mais muita fé em conhecer cutes, especialmente considerando como Devin e
eu nos conhecemos.
Mas então, quem pode dizer que temos uma história de amor épica
quando nem posso garantir que somos endgame? Eu parto em uma semana, e
então é isso. Chega de Devin e Noah.
— Algo errado? — Devin pergunta. El desliza para perto de mim,
envolvendo um braço em volta da minha cintura.
Eu quero me inclinar para el, ê segurar perto para nossa última semana
juntos, mas Deus, quem disse que é melhor ter amado e perdido nunca
namorou Devin. Cada vez que olho para el, sinto que estou lentamente
arrancando minhas próprias unhas. Como se tivesse ganhado uma tesoura de
segurança infantil e agora preciso usá-la para cortar meu baço.
— Noah? — el diz, e eu encolho os ombros.
— Não é nada, — eu digo.
— Tudo bem —, diz Becca, colocando outro livro de volta na prateleira.
— Estou cansada de vasculhar títulos de livros ruins. Vamos almoçar.
Devin me lança um olhar rápido, mas já estou me virando e indo para o
carro.

Paramos em uma loja de fotos para almoçar e Devin pede um chá mate, e eu
fico olhando preguiçosamente para a xícara, tendo uma crise existencial.
Quer dizer, eu nem sabia que gostava de mate, muito menos o suficiente para
pedir um grande. O que mais eu não sei sobre el? Que outros segredos estão
esperando para rastejar para fora da madeira e destruir toda a nossa relação?
— Noah? — Devin diz, brincando preguiçosamente com seu canudo. —
Você está bem?
— Estou bem —, respondo, e é rude, e não sei por que faço isso, mas não
posso voltar atrás. Eu deveria estar aproveitando as últimas horas que tenho
com Becca e a última semana que passamos juntos, mas tudo que posso
pensar é em nosso rompimento iminente e quem vai dizer as palavras
primeiro. Vamos voltar para a lojinha de boba a que me levaram? O ginásio?
Starbucks? Nunca mais vou conseguir beber um latte de baunilha sem pensar
no amor que perdi?
Isso é diferente de perder Drew. Claro, eu estava temendo as
consequências finais, mas isso era porque eu sabia que não deveríamos estar
juntos e não queria ter que limpar a bagunça.
Mas Devin foi perfeito. Tenho sido mais feliz nas últimas duas semanas
do que em todo o meu tempo em Denver. Inferno, talvez minha vida inteira.
E foi tudo que imaginei para mim quando criei o Diário e tudo que pensei que
poderia encontrar com Drew, e agora devo desistir de tudo.
Becca pega meu chá da minha mão e aperta os olhos para vê-lo. — O que
eles colocam nessas coisas?
Devin ri, mas soa meio vazio. Ou sua risada sempre soou assim? Ótimo,
ainda nem terminamos, e já estou esquecendo o som da sua risada.
— Há mais alguma coisa que vocês dois queiram fazer? — Devin
pergunta.
Becca encolhe os ombros. — Na verdade, estou meio cansada.
Provavelmente voltarei para poder dormir um pouco.
Eu me engasgo com chá. — Espera, o que? Você já está indo? Quase não
passamos tempo juntos!
Becca levanta uma sobrancelha. — Você é quem está agindo como um
zumbi desde que saímos do apartamento.
E sim, eu sei disso, mas é porque estamos meio que sem tempo.
— Noah, está tudo bem, — Devin diz, estendendo a mão para mim, mas
eu a empurro para longe.
— Não, não está tudo bem! — Eu estalo. — Vocês dois estão me
abandonando e, aparentemente, eu sou o único que se importa.
A mesa fica em silêncio por um minuto, e eu me pergunto se fui longe
demais, afugentando as duas pessoas que mais significam para mim em
questão de segundos.
Finalmente, Becca diz: — Você é quem está se mudando para a
Califórnia.
E Deus, eu sei que ela está certa, mas isso é um golpe baixo pra caralho.
Sim, fui eu que a deixei na Flórida e eu quem vou Devin em Denver, mas não
é como se fosse propósito, ou mesmo por escolha própria. Ela acha que eu a
deixaria se eu tivesse escolha?
E sei que não estou sendo razoável, mas não consigo parar. Eu chicoteio
minha cabeça em direção a Devin, que está olhando preguiçosamente para
seus pauzinhos. — Você tem algo a dizer? — Eu estalo.
Devin olha para mim por um momento, como se verificando se minha
pergunta era dirigida a el, antes de dizer: — Não.
— Não?
— Eu não vou brigar com você, Noah. Se você quer atacar e arruinar
nossa última semana juntos, você vai fazer isso por conta própria.
Ficamos sentados durante o almoço em silêncio, mas mais do que
qualquer coisa, eu meio que só quero chorar.

Quando voltamos para o prédio, Becca se vira e vai para o carro de seu tio
com um rápido adeus para Devin e nada para mim. Eu não posso culpá-la.
Devin chega ao apartamento como costuma fazer, mas assim que
chegamos à porta, el se vira para sair.
— Espere, — eu digo.
Devin se vira hesitante, me olhando como se esperasse que eu jogasse
meu sapato nel ou algo assim.
— Você pode entrar um pouco? — Eu pergunto.
Devin acena com a cabeça e me segue para dentro.
Penso em ligar um pouco de música ou pelo menos a TV para preencher
o espaço com um pouco de barulho, mas sei que isso só vai me distrair.
Eu sabia desde a festa de Natal que isso estava chegando e continuei
adiando porque esperava que meus sentimentos desaparecessem e não doesse
tanto. Mas meus sentimentos não desapareceram, e estou começando a pensar
que nunca desaparecerão, e agora estou destruindo tudo por medo de não ser
capaz de me agarrar à única coisa que sei que não posso ter.
— Devin —, eu digo.
El já tem lágrimas nos olhos, então imagino que já saiba o que vem a
seguir. El esfrega a mão em seu rosto e diz: — Esta é a parte em que você diz
que não quer mais me ver, não é?
Espero que el baixe a mão antes de dizer: — Não é... estou indo embora
em breve e, quando for, não sei se nos veremos de novo e não sei como. . .
devo lidar com isso.
Devin olha para seus pés, uma expressão triste em seu rosto, e não sei o
que dizer. Não quero ê machucar, mas é tudo o que tenho feito, atacando
porque não sei como viver nisso entre o que deveria ter sido um
relacionamento perfeito.
Odeio saber que a dor em seu rosto é inteiramente minha culpa e, não
importa o que eu faça agora, vou continuar machucando el. E eu odeio saber
que não tem como continuarmos como éramos, e provavelmente el vai se
culpar por tudo isso, mas não sei como fazer melhor.
Por fim, digo: — Amo você, Devin. Eu só. . . eu gostaria de não estar me
mudando para a Califórnia. Eu gostaria de poder ficar aqui com você para
sempre, mas não posso, e isso significa que preciso aprender a viver sem
você por perto. Isso é difícil para você também, certo? Saber que estamos
seguindo caminhos separados? E eu simplesmente não sei se vale a pena a
dor de tentar manter um relacionamento durante tudo isso. Preciso de tempo
para pensar e decidir se vale a pena tentar fazer isso funcionar.
— Oh, — el diz.
E então mergulhamos no silêncio. Sinto que deveria dizer outra coisa,
mas não sei o que dizer. Pedir desculpas parece falso, e eu não sou
exatamente bom em confortar as pessoas, mas apenas ficar ali em silêncio
parece errado, como se eu estivesse extraindo sua dor.
Finalmente, Devin diz: — Independentemente do que você decidir,
espero que tudo corra muito bem para você na Califórnia, Noah. Eu quero.
Você merece ser feliz.
— Você também —, eu digo, porque não consigo pensar em mais nada, e
fico lá me sentindo como o idiota que diz "você também" quando o garçom
diz para você aproveitar sua refeição, mesmo depois que Devin sai, fechando
a porta atrás del.
Domingo, 29 de julho

Thebraveofheart postou:
Então. . . o Meet Cute Diary apenas. . . acabou? Parece que o mod
não está mais postando e todo mundo está partindo? O que devemos
fazer se quisermos histórias trans felizes?
Na manhã seguinte, eu acordo com uma dor de cabeça, que só parece justo.
Becca provavelmente já está na estrada de volta para a Flórida, e onde quer
que Devin esteja, acho que não tenho permissão para me preocupar com isso,
já que fui eu que pedi espaço. Tento fechar os olhos novamente quando ouço
uma batida flutuando na porta da frente. Foi isso que me acordou em
primeiro lugar?
Eu rastejo para fora da cama e deslizo para fora do armário. Brian não
está em lugar nenhum, e o pequeno relógio digital acima do fogão diz que é
pouco depois das dez.
Abro a porta para encontrar um cara que não reconheço segurando um
pequeno pacote. — Noah? — ele pergunta.
Eu concordo.
— Eu moro no final do corredor. Uma criança me deu isso e me disse
para dar a você às dez.
Estou hesitante em aceitar o pacote dele porque, inferno, pode ser antraz,
mas eu aceito, fechando a porta atrás de mim.
Não é uma caixa grande e estou um pouco assustado, mas arranco a fita
assim mesmo e abro para revelar um copo Starbucks reutilizável. Pego e
encontro uma pequena carta dobrada colada com fita adesiva no interior, que
diz:
Noah,
Há um latte de baunilha grátis esperando por você no Starbucks.
Vá buscá-lo e peça espuma extra. Ah, e então, você sabe, siga as
instruções e outras coisas.
Com amor,
Devin

No final do bilhete está um endereço, provavelmente para o Starbucks. Eu


digito no meu GPS – apenas cerca de dez minutos a pé daqui.
Eu não sei o que está acontecendo, e dada a nossa conversa na noite
passada, eu não tenho certeza de como me sentir sobre isso, mas se Devin se
deu ao trabalho de falar com algum estranho aleatório apenas para chamar
minha atenção, eu sinto que o mínimo que posso fazer é seguir em frente.
Cerca de meia hora depois, estou vestido e pronto para ir. Parece uma
preparação matinal apressada, mas eu tive que encontrar um equilíbrio entre
parecer bem para Devin e sair daqui em uma hora razoável.
Entro no Starbucks, copo na mão, e entro na fila, que felizmente é curta.
Quando chego ao balcão, digo: — Oi, estou aqui para comprar um café com
leite de baunilha com, hum, espuma extra?
A caixa levanta uma sobrancelha, em voz baixa enquanto diz: — Você é
o Noah?
Eu concordo.
Ela ri, pegando a xícara e passando-a pela linha. — Seu namorado parece
ser muito gentil.
Eu sorrio, embora provavelmente devesse corrigi-la. Ela me passa um
pequeno pedaço de papel dobrado e diz: — Boa sorte.
Desdobro o próximo, que diz:

Noah,
se você está lendo isso, significa que está seguindo minha busca, e
eu agradeço porque me esforcei muito nisso. De qualquer forma,
pegue seu café e saia do Starbucks. Há uma carona esperando para
levá-lo ao seu próximo destino.
Com amor,
Devin

Um barista coloca meu café no balcão. Eu pego antes de sair pelas portas
da frente. Um veículo compartilhado está parado do lado de fora, o que é
super suspeito, mas respiro fundo e deslizo para o banco de trás.
— Para onde vamos? — Eu pergunto.
O cara dá de ombros. — Estou apenas seguindo o mapa, garoto.
Também super explicado.
Eu preguiçosamente bebo meu café, mas meus nervos estão ganhando
vida. Para onde diabos estamos indo, e que diabos Devin está planejando?
O carro para em frente à casa de chá onde Devin me levou quando contei
a el sobre o Diário. O motorista apenas me dá uma olhada até que finalmente
saio do carro. A loja parece fechada, então não tenho certeza do que estou
fazendo aqui até que o carro se afasta e me viro em direção ao
estacionamento para encontrar Becca olhando para mim.
— Becca? — Eu digo. — Achei que você já tivesse ido embora.
— Eu teria — , diz ela, — você sabe, se Devin não tivesse tentado me
envolver nessa coisa toda.
Eu sorrio. — Você tem um bilhete para mim?
— Talvez, — ela diz. — Você tem um pedido de desculpas para mim?
Deus, isso é tão Becca, mas é muito reconfortante ouvir agora. — Eu
sinto muito. Eu sinto muito, droga. Tenho sido um péssimo melhor amigo
porque estou com medo de perder você e com medo de ficar sozinho.
Ela sorri, rapidamente me puxando para um abraço, e eu não quero soltar,
mas eventualmente ela me empurra e diz: — Vamos lá. Tenho que voltar
antes que minha mãe fique chateada e você tenha alguém para conhecer.
— Meu bilhete? — Eu digo.
Ela revira os olhos e puxa um pedaço de papel do sutiã.
— Nojento —, eu digo.
Ela encolhe os ombros antes de deslizar para o banco do motorista do
carro de seu tio. Eu aperto o cinto antes de abrir o bilhete.

Noah,
sinto muito, a loja esteja fechada. Tive de escolher entre conseguir
Becca ou chá para você, e decidi pela primeira opção.
Você se lembra quando viemos aqui pela primeira vez? Foi a
primeira vez que você se abriu comigo sobre, bem, tudo. Não sei o
quanto tudo isso significou para você, mas significou o mundo para
mim. Não houve muitas pessoas com quem eu pudesse falar desde que
deixei a Flórida, mas naquele dia, com você, eu finalmente senti que
poderia ser eu. Como se eu não estivesse errade e, honestamente, isso
é exatamente o que eu precisava.
Sei que essas últimas semanas foram difíceis para você e, não sou
terapeuta, mas também sei o quanto você precisa de Becca agora. Ela
é um pilar em sua vida que eu nunca tive, e estou feliz, mas você deve
saber que me afastar dela não é o fim. Ela sempre será sua melhor
amiga, mesmo se vocês estiverem separados, e sempre amará você.
Assim como precisei aprender a me amar novamente, você precisa
aceitar que estar separado não significa estar sozinho. Depois de se
abrir para isso, você estará pronto para passar para a próxima etapa
de sua missão.
Becca te guiará.
Com amor,
Devin.
No momento em que Becca para o carro, há lágrimas escorrendo pelo
meu rosto. Eu sei que assim que eu sair, ela vai sair da minha vida por Deus
sabe quanto tempo, e dói só de pensar nisso.
— Você sabe o que está no bilhete? — Eu pergunto.
Ela encolhe os ombros. — Eu não li, se é isso que você quer dizer. Isso
pareceu meio invasivo, mas Devin me avisou.
— Sinto muito —, digo, e sei que ela sabe disso, mas não consigo
formular outras palavras.
— Noah, você sabe que sempre vou te amar, certo? — ela diz. — E eu
sempre estarei lá para você. Mesmo que nem sempre possa atender o
telefone.
E eu aceno porque eu sei, mas Deus, eu odeio isso.
Nós saímos do carro e ela deu a volta ao meu lado para me abraçar
novamente. Lágrimas escorrem pelo meu rosto e pelo ombro dela, e me sinto
meio mal por isso, mas é a minha hora de chorar. Eu mereço isso.
Finalmente, eu me afasto e digo: — É melhor você ir me visitar na
Califórnia.
Ela sorri. — Você está de brincadeira? Garotas de Hollywood? Meninas
de Santa Monica? Não vou perder isso. — Ela beija minha bochecha e
acrescenta: — Sabe, não sou uma pessoa que permite suas escolhas ruins na
vida.
Isso está muito claro.
— Então, se isso ajudar, não acho que Devin seja uma escolha de vida
ruim.
Eu levanto uma sobrancelha. — Longa distância nunca funciona.
Ela encolhe os ombros. — Quem sabe. Talvez às vezes isso aconteça. De
qualquer forma, você trabalhou tanto para encontrar um amor épico neste
verão. Parece um desperdício simplesmente jogá-lo fora, não acha?
Eu estreito meus olhos para ela com desconfiança, mas ela já está
voltando para o lado do motorista do carro. Ela dramaticamente abre os
braços como um apresentador de game show anunciando um carro novo. —
Termine sua missão. Deixe-me saber como ficou.
Eu sorrio. — Obviamente.
E então ela desliza de volta para o carro e vai embora.
E eu estou sozinho.
Espera.
Eu me viro para descobrir que estou parado no estacionamento do
acampamento, o escritório me encarando de volta. Mas o acampamento
acabou semanas atrás, então todo esse lugar deveria estar vazio, certo?
Eu sigo em direção ao escritório da frente para descobrir que as luzes
estão acesas lá dentro. Empurrando a porta, espero encontrar Devin lá com
um sorriso bobo em seu rosto, mas em vez disso encontro Georgette, que
parece entediada enquanto digita algo no computador.
Sua cabeça salta quando eu entro e ela diz: — Ah, Noah. Achei que você
estaria por perto em breve.
— Você também faz parte do esquema de Devin? — Eu pergunto.
Ela sorri talvez o primeiro sorriso que vi em seu rosto – e me entrega um
bilhete.

Noah,
Ok, quase pronto. Venha me encontrar onde nos conhecemos. Lá,
você receberá sua recompensa.
Com amor,
Devin

Suspiro, dando um aceno rápido para Georgette antes de ir para o centro


de recreação. Devin é literalmente a única pessoa que poderia me convencer a
correr tanto sem me dizer por quê. . .
Abro a porta e as luzes acendem, há confete e uma centena de balões
caindo do teto. Ah, e Troye Sivan tocando nos alto-falantes, o que é uma
coisa bem Devin.
Não posso deixar de rir porque está tudo muito bem pensado, exceto onde
diabos está Devin?
Dou alguns passos para dentro da sala, mas parece que estou sozinha.
Quer dizer, não há muitos lugares para se esconder aqui. E então vejo sapatos
logo abaixo da longa mesa que ainda não foi tirada da sala.
Contornando a mesa, encontro Devin sentado no chão, joelhos contra o
peito.
— Devin? — Eu digo.
El ergue os olhos, com os olhos vermelhos, e diz: — Oi. Desculpa.
— Desculpa?
Sento ao seu lado, sua respiração está ofegante. E tem leite? escrito na
camisa, o que me faz sorrir quando digo: — Você está bem?
— Sinto muito, — el diz. — Eu... eu sei que você adora encontros fofos,
e eu queria fazer algo para compensar a forma como nos conhecemos, mas eu
...
— Devin, está tudo bem —, digo, esfregando seu ombro. — Isso tudo é
muito fofo. Eu agradeço.
— Sinto muito pelo ataque de pânico.
— Por favor, não se desculpe por isso.
Dou alguns minutos para que sua respiração fique sob controle,
segurando suavemente sua mão enquanto respira fundo. Finalmente, el diz:
— Não quero te pressionar a fazer algo que você não quer fazer e sei que
você disse que precisa de espaço para decidir por conta própria, mas também
não queria apenas deixá-lo ir. Acho que nunca deixaria de me arrepender.
E olhando para Devin, tudo que quero fazer é beijar el. Bem, talvez não
tudo, mas é preciso toda minha força de vontade para ficar parado. — Você
disse que a longa distância seria difícil.
— Eu sei —, diz, — mas isso não significa que não vale a pena tentar,
certo? Quero dizer, se você quiser. Eu apenas penso . . . Sei que vai ser
difícil, mas queria mostrar a vocês que às vezes os projetos mais difíceis têm
a maior recompensa e, mais do que tudo, acho que vale a pena. Não é?
E, Deus, é assustador pensar em ter uma melhor amiga-à-distância e um
alguém-significativo-à-distância, tudo ao mesmo tempo, mas então, é mais
assustador desistir de Devin, alguém que fez uma caça ao tesouro inteiro
apenas para encenar um encontro fofo para me fazer feliz? Alguém que sabia
exatamente o que eu precisava melhor do que eu mesmo, e que me perdoou
antes que eu soubesse como começar a pedir perdão?
Eu sorrio, embora possa sentir as lágrimas ameaçando derramar dos meus
olhos a qualquer minuto. Eu envolvo meus braços em volta de sua cintura e
encosto minha cabeça em seu ombro. — Eu definitivamente quero. Não
quero ficar em uma casa de repouso pensando em como minha vida poderia
ter sido muito melhor se você ainda estivesse nela.
Devin ri, passando a mão para cima e para baixo nas minhas costas, e
meu aperto em torno del fica mais forte. Eu só quero segurar el e nunca mais
soltar.
0

Passo 12: O Felizes Para Sempre


Bem, o título já é bem explicativo por si só.
Sexta, 3 de agosto

MeetCuteDiary postou:
Tudo começou com um acampamento de verão.
Eu estava muito chateado com o fato de que eu tinha que estar lá.
Eu só tinha conseguido o emprego porque meu irmão tinha decidido
por mim que eu merecia, e enquanto eu esperava por caras gostosos e
um amor verdadeiro, tudo que eu estava conseguindo estava perdido e
confuso.
Parei para perguntar a um garoto da minha idade sobre o
funcionamento interno do acampamento e então as coisas desandaram
muito rápido.
Basicamente el vomitou em cima de mim e eu fiquei furioso
porque era nojento, mas também porque canalizei toda a minha raiva
de estar ali para essa pessoa, que foi a gota d'água.
Só no dia seguinte, depois que el me trouxe o café, é que ê vi pela
primeira vez. E só recentemente comecei a perceber o quão
importante aquele momento foi para mim. Pode não ter sido um
encontro fofo, ou pelo menos não um típico encontro fofo, mas foi
fofo porque foi a primeira vez que conheci a pessoa que mudou meu
mundo para melhor.
Passei todo esse tempo pensando que encontros fofos eram a
epítome da felicidade e que, se eu pudesse apenas dá-los aos meus
leitores trans, os estaria salvando do mundo ao seu redor. Agora
percebo que este Diário sempre foi uma aventura egoísta. Sobre me
dar esperança por um amor que eu nunca pensei que encontraria.
Mas eu encontrei. Portanto, embora este Diário tenha sido mais
uma coleção de minhas esperanças pessoais do que a biografia de
qualquer pessoa, espero que esta história dê esperança a alguns de
meus leitores também. Eu entendo se todos vocês quiserem abandonar
o navio, e ninguém vai culpar vocês. O fato é que menti e tentei fazer
com que todos pensassem que essas histórias eram verdadeiras,
quando isso nunca foi verdade. Até meu relacionamento com Drew
foi apenas um remake de Hollywood.
Espero que as verdades pessoais que todos vocês encontraram ao
ler este blog permaneçam com vocês, mesmo se vocês deixarem o
Diário para trás. No final do dia, acho que é disso que se trata o Diário
– lembrar a todos que você merece amor, e o mais importante é que
vocês saibam disso, não importa o que venha a seguir.
E não sei como será esse blog daqui a uma semana, um mês ou
um ano. Eu mal sei o que será amanhã, mas contanto que possa
significar algo para alguém – contanto que possa brilhar um pouco de
luz para uma criança trans em algum lugar que não tem nenhuma – eu
não vou desistir disso. Eu prometo.
— O que devo fazer com isso? — Devin pergunta, um pequeno pote de
granulado na mão.
Eu reviro meus olhos. — Coloque nos cupcakes, obviamente.
— Eca, não, isso é nojento.
— Tudo bem, — eu digo, arrancando o pequeno frasco de sua mão. — Eu
vou comer.
Devin estremece. — Oh, Deus, Noah, por favor, não me faça assistir isso.
Meus pais chegarão a qualquer minuto e depois nos levarão para jantar.
Eles passarão a noite em um hotel e, amanhã de manhã, nós três partiremos
para a Califórnia. Convidei Devin para me ajudar a fazer cupcakes, o que
basicamente se traduz em Devin fazendo cupcakes enquanto eu assisto, mas
eu só queria algo divertido para fazermos enquanto esperamos, de preferência
algo que mantenha nossas mãos ocupadas e algo que eu possa fazer para que
meus pais achem que meu tempo aqui foi produtivo.
O talento de Devin brilha nos redemoinhos elevados do glacê, e agora nós
dois podemos apreciá-los sem minha falta de habilidade desperdiçando a
massa perfeitamente boa.
Eu sou grato por como Devin se encaixa perfeitamente em minha vida, e
estou um pouco infeliz. Quer dizer, pelo menos se nos ressentíssemos um do
outro agora, seria muito mais fácil. Do jeito que está, minha vitória final é
mostrar isso aos meus pais quando eles entrarem.
— Você está bem? — Devin pergunta.
Eu encolho os ombros, porque odeio colocar meus problemas sobre eles.
E levanta uma sobrancelha e diz: — Noah, por favor, seja honesto
comigo.
Eu sorrio. — Me passa um cupcake?
E Devin me supera, segurando um cupcake para eu dar uma mordida, e é
doce e perfeito e eu quero beijar el, mas el está do outro lado do balcão e eu
não sou alto o suficiente.
— Então, algo interessante aconteceu na noite passada, — Devin diz.
Eu levanto uma sobrancelha. — Oh? O que?
— Meu pai conseguiu a promoção e vai aceitá-la.
Eu sinto minha respiração ficar presa na minha garganta. — Oh? Onde?
— Minhas mãos tremem de medo de que vamos dizer Nova York, ou
Vermont, ou Londres, em algum lugar, e vai ser difícil para nós até mesmo
usar o Skype.
Em seguida, enfia o dedo na cobertura do cupcake e levanta para lamber.
— Califórnia.
Meu queixo cai porque essa não é apenas a última coisa que eu esperava
que eles dissessem, mas é mais do que eu me permiti ter esperanças. — Você
está falando sério?
El acena com a cabeça. — Sim, em São Francisco.
E meu coração murcha porque San Francisco fica longe de Los Angeles.
Inferno, podemos muito bem estar em estados diferentes.
— Oh, — eu digo.
Devin franze a testa. — Achei que você ficaria mais feliz com isso. Tive
que sentar com meu pai em frente a um PowerPoint inteiro para convencê-lo
a não assumir o cargo em DC.
E eu sei que el provavelmente está pulando para alguma conclusão sobre
como estou triste porque não quero ficar perto del, então eu digo, — São
Francisco não é perto. Não é como se eu pudesse convencer meus pais a me
dirigirem seis horas para ver você.
Devin sorri. — Noah, eu tenho um carro. Eu vou te visitar.
Meus olhos se arregalam. — Tão longe?
E dá de ombros. — Se você quiser.
E é claro que eu quero que el faça isso. Não consigo pensar em nada que
eu queira mais. — Vou pagar pela gasolina —, digo. Não que eu tenha um
emprego, mas tenho certeza que o Banco de mamãe e papai podem descobrir
algo. Além disso, consegui economizar algum dinheiro – palavras que nunca
pensei que diria – do acampamento, então posso muito bem gastá-lo em
encontros com Devin, já que não vou precisar mais disso para inspirar o
conteúdo do Diário.
El sorri. — Não se preocupe com isso. Eu só quero poder ver você.
Meu telefone vibra, e presumo que seja Brian, que disse que estaria de
volta em uma hora, você sabe, espero que antes que nossos pais cheguem. Eu
olho para a tela e vejo que é na verdade uma dm no Tumblr, o que, porra,
ótimo.
Agora que oficialmente eliminei Drew de todos os cantos da minha vida,
finalmente fiz um post pedindo desculpas ao Diário por todas as minhas
mentiras e todas as outras besteiras que coloquei de volta quando pensei que
sabia algo sobre o amor .
Mas não fiquei para ver as respostas das pessoas. Honestamente, eu nem
sei mais o que o Diário deveria ser. Parece insincero continuar postando
histórias falsas, mas não quero tornar meu relacionamento com Devin um
éter super público. Uma parte de mim continua repetindo a voz de Drew,
enquanto ele diz que foi minha culpa que terminamos porque deixei o Diário
ficar entre nós. Sei que estávamos fadados ao fracasso o tempo todo, mas se o
Diário fez parte disso, não vou deixar isso bagunçar meu relacionamento com
Devin.
Além disso, no final das contas, o Diário é sobre pessoas trans e reviver
sua esperança de amor. Eu não quero que seja sobre mim. Eu quero que seja
sobre eles.
Mas ainda assim, isso me deixa perplexo. O Diário é importante, mas se
eu quero ajudar jovens trans da mesma forma que Devin me ajudou, não me
sinto mais a melhor pessoa para controlá-lo. Perdi a confiança dos meus
leitores e não sei como recuperá-la. Quando falei pela última vez com Becca
sobre isso, ela disse que talvez pudesse assumir por um tempo, mas acho que
deveria ser dirigido por um autor trans. Isso, e a escrita de Becca é uma
merda.
A mensagem é longa e considero simplesmente ignorá-la, mas, por fim,
aceito-a e leio:

Caro Noah,
Você não me conhece, mas há algum tempo sou seguidora do Meet Cute
Diary. Sou uma garota trans que mora em Wisconsin e namoro meu
namorado há quase dois anos. Nós nos conhecemos quando o carro de
meus pais quebrou e tivemos que pegar carona até uma parada próxima.
De qualquer forma, é uma história muito fofa e adoraria compartilhá-la
no Diário, mas prefiro que seja creditada em minha conta do que postada
anonimamente. Depois de ver você compartilhar sua própria história
publicamente, acho que significaria muito mais dessa forma. Isso é algo
que eu posso fazer? Por favor deixe-me saber!

Eu congelo, meus olhos vagando pela tela novamente enquanto releio a


mensagem.
— E aí? — Devin pergunta.
Eu passo o telefone e vejo enquanto ele examina a tela rapidamente. —
Uau, isso é muito legal. Você nunca recebeu um pedido de *submição antes?
Eu balanco minha cabeça. É engraçado porque é assim que o Diário
deveria ser, mas ele se perdeu em todas as histórias falsas e no meu próprio
ego.
— Você deveria publicar, — Devin diz, enfiando um bolinho na boca.
Eu deveria publicar. É tudo o que o Diário precisa para deixar de ser um
sonho meu e se tornar um local para a comunidade trans.
Ok, talvez não tudo, mas é definitivamente um começo, o que acho que é
tudo o que posso pedir.
— Vou ter que mandar uma mensagem de volta e dizer como enviar —,
digo, percorrendo seu blog para ver como ela é.
— Você vai abrir as inscrições para outras pessoas também?
Eu deveria, mas quais são as chances de outra pessoa se submeter?
Publiquei centenas de histórias falsas porque tinha certeza de que a única
maneira de as pessoas trans se sentirem representadas seria se eu as
inventasse. Mas talvez haja mais histórias para nós por aí, afinal. Inferno,
talvez não termine com os encontros fofos, como Becca disse, e há mundos
inteiros de possibilidades para histórias de amor trans.
Talvez seja a hora de deixar as pessoas contarem suas próprias histórias
de verdade.
Devin me passa outro cupcake e eu pego, saboreando a doçura de tudo.
Nossa história pode não ser convencional, mas é muito melhor do que eu
jamais pensei que poderia ser. Só posso esperar que o que todos os outros
trarão para o Diário seja o suficiente para levá-lo adiante, para torná-lo algo
tão poderoso e importante para a comunidade que não importa o que os trolls
tenham a dizer.
E olhando para Devin, sinto um pouco da tensão saindo dos meus
ombros. Talvez o maior erro que cometi neste verão foi tentar controlar tudo
quando o vento provavelmente sabe, o que é melhor sem a minha
intromissão. É hora de dar um passo atrás no Diário e deixá-lo seguir seu
curso.
Eu dei a meus seguidores todas as alegrias quando precisaram de mim,
então é hora de eu ter a minha.
Sexta, 10 de agosto, August 10

MeetCuteDiary postou:
Ei, pessoal! Estamos oficialmente abertos para submissões no
Diário. Se você deseja enviar anonimamente, pode fazê-lo entrando
no anonimato e enviando-nos uma pergunta. Se você quiser ser
creditado em sua história, inclua como gostaria de ser chamado e o
endereço do seu blog no pedido ou envie-nos um e-mail (o endereço
está em nossa bio)!
Obrigada!
Mod Becca
— Vocês conseguem me ver?
— Eu consigo.
— Espera aí.
O Wi-Fi está ruim desde que chegamos na nova casa, então tentar
hospedar uma chamada no Skype é um pesadelo. Tudo o que tenho são duas
caixas pretas e um áudio irregular.
Finalmente, as imagens aparecem – Becca, sentada em sua cama com
Noodles no colo, e Devin no chão de seu quarto, caixas empilhadas bem atrás
del.
— Olá, gente bonita —, digo.
Becca revira os olhos. — Pare de flertar comigo, Ramirez. Seu amor vai
ficar com ciúmes.
Devin ri. — Está tudo bem. Você estão espalhados pelo país. Não me
preocupo com essa competição.
— Ok, chega, — digo. — Esta é a primeira reunião oficial da equipe
Meet Cute Diary. Vamos falar sério.
Mas eu sabia que isso não seria sério.
Depois que abri as inscrições no Diário, só fez sentido recrutar Devin e
Becca para me ajudar. Quer dizer, os dois já investiram bastante no Diário e,
mais importante, em mim, então não é como se pudessem dizer não.
E embora Becca faça barulho sobre a coisa toda, eu sei que ambos estão
honrados por fazer parte do time. É diferente de quando arrastei Drew para
isso. Esta é uma parceria de três vias e igualdade, e não só fez o blog parecer
mais real e vivo, mas finalmente me deu a chance de me concentrar em outras
coisas da minha vida, como preparar meu guarda-roupa para um novo ano
letivo em uma nova cidade.
— Ok, vocês dois vão ter que fazer anotações, — digo.
Devin revira os olhos. — Excelente. Vou procurar uma caneta.
El se levanta para começar a vasculhar as caixas, então me sinto meio mal
por isso. El vai se mudar para São Francisco na próxima semana e prometeu
vir me ver antes do início do ano letivo, mas por enquanto está preso em
Denver, vivendo de caixas.
— Basta usar o telefone —, diz Becca.
— Nada como a boa e velha caneta e papel!
— Esta reunião é necessária? — Becca pergunta. — Achei que a questão
principal era se afastar do Diário e deixar as pessoas explorarem suas próprias
histórias.
— É —, eu digo, — mas ainda temos que mantê-lo organizado. Além
disso, estou me perguntando se talvez devêssemos deixar as pessoas
contarem seus romances, mesmo que não sejam belos encontros. Como vocês
dois sabem, alguns dos melhores relacionamentos florescem sem envolver a
fofura dos encontros.
Devin acena com a cabeça enquanto se senta novamente em seu colchão.
— Sim, também tenho essa impressão.
Becca geme. — Se vocês não pararem de ser fofos, vou encerrar a
ligação.
Devin sorri. — Desculpa. Honestamente, Noah, é o seu blog. Você deve
fazer o que achar melhor.
Mas não é mais meu blog, e estou bem com isso. Quer dizer, dificilmente
sou a mesma pessoa que era quando comecei, e agora, mais do que qualquer
coisa, quero que seja um recurso – algo que as pessoas em todo o mundo
podem recorrer e aprender. Você sabe, para que não cometam os mesmos
erros que eu cometi, mas também para que possam ter a chance de encontrar
o que eu tenho.
Gosto de saber que Becca e Devin fazem parte da equipe. Isso significa
que podem me ajudar a me orientar de volta aos eixos na próxima vez que eu
quase nos expulsar de uma cachoeira, e que melhor maneira de organizar meu
espaço na internet do que compartilhá-lo com as duas pessoas que mais amo?
— Ok, mas é melhor você não chamar de Diário-de-todos, mesmo que
não sejam encontros fofos —, diz Becca.
Eu ri. — Não definitivamente NÃO. Não acho que o nome precise mudar.
Eu só acho que devemos expandir para que não seja limitado por essa ideia
estranha do que o romance deve ser, sabe? Quero que as pessoas possam
celebrar quaisquer relacionamentos que as façam felizes. Acho que esse é o
espírito do Diário, de qualquer maneira.
E, não tenho certeza de como definir o sentimento que estou procurando,
mas está lá, eu sei que está, e não importa o tempo que demore para
descobrir, eu sei que terei as pessoas que amo me apoiando em cada passo do
caminho.
AVISO

Esperamos que tenha gostado do livro. Por favor, deixe uma avaliação
positiva no perfil da autora em redes como Amazon, Goodreads, Skoob etc.
Tudo bem se a resenha/avaliação for escrita em português, contanto que você
não diga que leu em português em momento algum, evitando também prints
do livro. Se tiver condições, por favor, adquira a obra, é o mínimo que
podemos fazer!

Você também pode gostar