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Recado da Autora
Cheap Trick
Prólogo
Flórida Sul 2007
***
Assim como fiz nos últimos três anos, passaria os próximos dez
dias em um retiro e não teria comunicação com o mundo exterior.
Não só era a política do acampamento, era quase impossível devido
à localização da montanha e falta de torres de celular. As ligações
raramente aconteciam, mas estranhamente algumas mensagens de
texto chegavam. Prometi enviar uma mensagem para minha mãe
assim que eu chegasse, lembrei-lhe de que entregaria meu telefone
para ficar trancado durante a permanência no acampamento. Ela
sempre podia ligar para o telefone fixo do acampamento, em caso de
uma emergência.
Quando ela se afastou do nosso abraço que notei que ela estava
chorando. —Bettina? — Eu perguntei, minha preocupação óbvia. —
O que há de errado?
—Eles pensaram que ele estava gripado. Mas não é isso que ele
tem. É muito pior. — Ela fez uma pausa e fechou os olhos. Eu a
observei engolir. O clique da bomba de gasolina desligando pareceu
surpreendê-la e seus olhos se abriram. —É meningite e Josh está em
estado crítico, — explicou ela, soltando a mangueira de seu tanque
e devolvendo-a à bomba. Virando-se para mim, ela disse: —Ele
pode morrer disso, Mimi. E é altamente contagioso. O acampamento
tem que ficar fechado até que seja desinfetado e receber sinal verde
do Departamento de Saúde.
Meus olhos se arregalaram quando senti o impacto do que ela
me disse. Uma buzina nos interrompeu e nós nos viramos para ver
um senhor que havia estacionado atrás do carro de Bettina. Ele nos
deu um olhar amável e indicou que gostaria que nós saíssemos para
que ele pudesse usar as bombas. Nós duas entramos em nossos
carros e dirigimos a curta distância até a frente da entrada da
mercearia. Saindo de nossos veículos, ficamos atrás do meu e
continuamos nossa conversa. Depois de dez minutos, nós nos
acalmamos o suficiente para trocar abraços e nos despedir.
Eu sabia que era ele. Eu não sei dizer como sabia, ou como
era mesmo possível, mas eu podia sentir o calor de seus olhos
quando penetraram minhas costas. Como se em um sonho, eu me
virei devagar. Apontei meu olhar para a entrada da loja e vi
Christian Bear.
Ele deveria ter ficado agradecido por Axel ter lhe dado um
emprego. Depois de sair da prisão, ele teve a opção de trabalhar na
equipe de paisagismo de seu pai, ou pedir para Axel outra chance no
conserto de carros e motocicletas. Ele tinha que ficar fora do radar
da lei, e parecer estar se misturando à sociedade como um mecânico
foi um bom começo. Ele estava morando na casa do seu irmão mais
velho, Slade, no quarto de hóspedes, até que ele descobrisse o que
queria fazer com sua vida.
Outra não. Outra que não entendia que um boquete era apenas
um boquete. Não é uma porra de proposta de casamento. Ele
acabara de completar vinte e três anos, mas conhecia o tipo. Como
ele se enrolava com essas mulheres, não fazia ideia. Ela gostaria de
conversar e se conectar com ele. Ela diria que entendeu as
profundezas de sua dor e podia curá-lo de dentro para fora.
Havia apenas uma que poderia ter sido mais. Apenas uma por
quem ele tinha sentimentos.
Como isso escapou dele? Como ele não sabia? Como ele não
ouviu seus pais falando sobre a mudança de um de seus amigos mais
próximos, pelo país?
Não havia como seus pais não saberem disso, concluiu. Eles
tinham intencionalmente mantido em segredo, e ele queria saber
por quê. Ser pego de surpresa desse jeito o irritou até o limite.
Enquanto todos estavam no saguão da casa de seus pais se
abraçando e se despedindo, ele se esgueirou para o quarto para se
isolar, muito irritado.
—Cristian?
—Eu nunca tive a chance de dar isso de volta para você. — Ela
deu-lhe um pequeno sorriso. Ele distraidamente pegou a jaqueta
que lhe emprestara há muitos meses. Mimi olhava para ele com seus
grandes olhos castanhos enquanto ambos seguravam a jaqueta,
nenhum deles disposto a soltar. Ele lentamente puxou, e em vez de
liberá-la, ela segurou e deixou que ele a puxasse para mais perto. Ele
viu algo nos olhos dela, então. Ele viu recognição. Ela estava
percebendo neste exato momento como ele se sentia, como ele
sempre se sentiu sobre ela, mesmo que ele nunca tivesse sido capaz
de se expressar.
Ela assentiu. —Eu quero ir, — disse ela em voz baixa. Sua testa
se enrugou. —Pelo menos, acho que sim.
—Quando?
—Mimi, — ele falou atrás dela. Ela parou e olhou para ele, a
mão segurando a maçaneta. —Você ficou desapontada por Slade
não estar aqui esta noite? Você sabe, para dizer adeus?
—Eu não contei para a mamãe. Vou ligar para ela e papai, da
estrada. —
Ele deve ter sentido meu olhar porque ele olhou para mim e
sorriu. —Como você tem passado? O que você tem feito?, — ele
perguntou antes de voltar os olhos para a estrada.
—Sua mãe já se casou com aquele cara que ela estava vendo? O
cara que foi uma das razões por trás de sua mudança para Montana?
— Uma batida passou. —Qual era o nome dele de novo— — antes
que eu pudesse responder, ele perguntou — —James, não era?
—Sinto muito, Mimi. O barco se foi. Eles devem ter tirado para
dar uma volta.
Ele olhou para mim, seus olhos quentes, e eu tive uma memória
instantânea de nossos poucos momentos juntos em seu quarto,
quando éramos adolescentes. Eu rapidamente desviei o olhar.
1 jogo onde dois jogadores oponentes rebatem um disco que flutua sobre uma camada de ar frio no
intento de marcar pontos inserindo-o na meta adversária.
me sentiria quando ficasse cara a cara com a mulher que havia
capturado o coração de Christian Bear?
Ele agora estava tão perto que eu podia sentir o cheiro dele. Era
uma mistura do cheiro limpo que eu detectei no Pumpkin Rest e algo
cru e masculino. Assaltou meus sentidos de uma maneira que eu não
esperava. Meus olhos estavam nivelados com o peito dele, e quando
os levantei pude ver o pulso batendo em seu pescoço. Antes que eu
tivesse a chance de responder, senti suas mãos nos meus quadris e
percebi que ele estava tirando meu celular do meu bolso. Minha
reação imediata foi tirá-lo dele, mas ele foi mais rápido, segurando-
o bem acima do meu alcance. Ele se afastou de mim enquanto
olhava para o meu celular.
—Estou voltando para o seu carro, mas você vai ficar aqui.
Ele se virou e foi até a porta. Não olhou para trás, ignorando-
me gritando seu nome antes que ele batesse a porta atrás dele.
Capítulo 4
Fort Lauderdale, Flórida, 2002
Ainda olhando para seu pai, Christian percebeu que sua irmã
de sete anos, Daisy, estava ao alcance da voz. Ele abaixou a voz e
disse: —Algo não está certo. Você costumava pedir à Mimi para ser
babá, e eu não acredito, por um segundo, que ela tenha se ocupado
demais. Você não queria que ficássemos juntos, e agora você sabia
que eles estavam se mudando. E você não queria que eu soubesse
disso. Por quê?
—Não seja tão duro com ele, querido. — — Christy disse a
Anthony, enquanto dava ao seu filho um olhar compreensivo e
triste. Ela sabia que, sob a raiva, Christian estava sentindo a dor do
amor não correspondido. Ela o observara, em silêncio por Mimi,
durante anos. E ele estava certo. Ela e Anthony desencorajaram
qualquer contato entre os adolescentes desde o ano passado. Eles
até deixam Christian ficar na cadeia por uma de suas pequenas
acrobacias, por mais tempo do que o necessário, para mantê-lo
distraído e longe de Mimi Dillon. E eles tiveram um bom motivo. Eles
sabiam que chegaria o dia em que Ginny se mudaria da Flórida. Sua
amiga estaria se desconectando de todos e de tudo associado ao seu
passado. Era imperativo que ela deixasse o estado, e a razão por trás
disso era enorme. Eles também sabiam que era algo que nunca
poderiam compartilhar com outra alma, e isso incluía seus filhos,
Slade e Christian.
—Se você levantar sua voz para sua mãe assim de novo, eu vou
bater seus dentes em sua garganta. Você ouviu —
—Eu não achava que tia Ginny sabia o que tinha acontecido
com Mimi. — Christian respondeu, seu tom de voz mais calmo.
—Ela não sabe, e ela nunca vai saber. Quebrar os laços conosco,
e do sul da Flórida, vai garantir isso. Ela quer começar de novo, e nós
estamos respeitando seus desejos, Christian. A culpa é sua por
enrolar tanto tempo no departamento de romance. Talvez se você
fosse mais agressivo com seus sentimentos por Mimi, as coisas
poderiam ser um pouco diferentes. Talvez você tivesse confiança em
seu destino específico. Você está levando isso muito pessoalmente.
— — Anthony cruzou os braços e recostou-se no carro de Christy.
—Eu prefiro um filho que usa seu cérebro para ser bem-
sucedido, e mais importante, sabe quando usar sua força e quando
não. Eu não estou dizendo a você para não ser físico. Estou dizendo
para você ser esperto sobre isso. Qualquer coisa feita com pressa e
raiva vai voltar a te morder.
Ele teve muito tempo para pensar durante sua longa viagem
para a Carolina do Sul, e estava certo de que havia colocado sua raiva
original sobre o passado atrás dele. Ele estava genuinamente feliz
em vê-la no Pumpkin Rest e pensou em ficar limpo com ela e
esperando que ela tivesse uma conversa civilizada com ele. Não foi
até que ela entrou em sua caminhonete que a raiva começou a ferver
novamente. Memórias de sua última noite juntos, e a promessa vazia
a que ele se agarrou por cinco longos anos, ameaçou ferver a
superfície quando ela olhou pela janela da caminhonete e começou
a inventar mentiras sobre seu novo padrasto, James. Uma vez que
eles chegaram na casa, ele decidiu dar-lhe outra chance e estava
aproveitando sua brincadeira despreocupada durante a turnê da
casa. Somente quando ele começou a fazer perguntas que já sabia as
respostas, com base em fatos do relatório do investigador
particular, ele começou a mudar de ideia. Esses fatos não eram
particularmente importantes, e ainda assim, Mimi se sentia
obrigada a mentir sobre eles. Quando ela descobriu a mentira sobre
a visita de sua família, ele usou sua raiva como uma desculpa para
contê-la e sacou as algemas antes que ele pudesse se conter.
Ele disse a si mesmo que Mimi seria apenas outra transa sem
significado. Tudo o que ele tinha que fazer agora era se convencer
de que ele acreditava nisso.
Capítulo 6
Pumpkin Rest, Carolina do Sul 2007
Fazia apenas alguns meses desde que minha família tinha feito
a mudança para a Carolina do Norte. Sentei-me no balanço da
varanda da frente e escrevi em meu diário enquanto refletia sobre o
verão. Eu estava exultante que minha família optou por ir tão longe
quanto a Carolina do Norte, em vez de se mudar todo o caminho para
Montana. O rangido preguiçoso do balanço era reconfortante,
reconfortante assim como minhas lembranças felizes do meu
primeiro verão nas montanhas.
Ele.
Christian Bear.
Como eu não percebi quando ainda morava em Fort
Lauderdale? Lembrei-me de sentir atraída por ele na manhã em que
ele me levou para casa depois de cuidar da sua irmãzinha, Daisy, na
noite anterior. Na mesma noite, sofri uma rejeição humilhante de
seu irmão mais velho, Slade.
Eu assenti.
—O que você fez com seus braços? — — Ele quase parecia que
se importava.
***
—Qual é?
Eu estava pronta para dizer a ele que a comida era a coisa mais
distante da minha mente, quando ele começou a andar de volta para
a casa. —Cozinha é por aqui, — disse ele sem olhar para trás. Eu
comecei a segui-lo quando o ouvi dizer com um sorriso em seu tom,
—Sonhadora Mimi.
Capítulo 8
Pumpkin Rest, Carolina do Sul 2007
—Eu acho que não tem nada a ver com isso, — respondeu
Christian. —Eu queria ver você, e como eu disse antes, eu não peço.
Mimi não pôde conter sua surpresa, e ele lhe deu um sorriso
torto. —É um segredo de família, — ele admitiu. —Agora se sente e
eu vou trazer um prato.
Estúpido idiota, acha que pode me dar ordens por aí. Lembra-
me de outra pessoa com sobrecarga de testosterona.
—Sim, ela fará treze anos no ano que vem, — ele respondeu.
Ela deu-lhe um largo sorriso. —Eu não posso hoje à noite. Mas
eu posso amanhã à noite. — Ela lutou para esconder seu leve rubor,
inclinando o queixo para baixo. —Se você estiver disponível.
—Eu venho aqui buscar você depois que o tribunal liberar. Soa
como um plano?
***
Ele se sentou novamente e olhou para a foto. Ela era uma linda
garota de quinze anos, mas agora estava deslumbrante. O completo
oposto de Bevin, ele meditou. Mimi tinha um olhar sombrio e
sensual. Ele imediatamente determinou que seu apelo era apenas
porque ela não estava tentando ser sexy. Ela era naturalmente
atraente. Ele balançou a cabeça para impedir que os pensamentos
descessem uma estrada que não podia ser percorrida. Então seus
olhos pousaram em um dos capuzes de Christian que ele deixou
pendurado sobre a cadeira da sala de jantar adjacente e um
pensamento ridículo saltou para a frente de seus pensamentos.
—Não era Mimi! — Ele disse para si mesmo, e riu. —Meus olhos
estavam pregando peças em mim. — Agora que ele não estava
preocupado com Christian, ele poderia se concentrar em sua
pesquisa de trabalho.
Já que ele não podia resolver isso até a manhã seguinte, Slade
decidiu abrir o laptop e entrar no Facebook. Ele confirmou que
Christian estava em Jacksonville, então ele não tinha razão para
olhar a foto da garota novamente. Ele disse a si mesmo que era para
desafiar sua avaliação anterior. A garota não era Mimi Dillon, e ele
queria ter certeza. Ele passou por suas notificações e não conseguiu
encontrar a foto novamente, então ele espreitou a página do irmão
mais novo de seu amigo. Mas a foto com Mimi sumiu. Ele balançou a
cabeça e disse a si mesmo que não estava familiarizado o suficiente
com as mídias sociais para saber o que estava fazendo. Ele fechou
seu laptop ao mesmo tempo em que seu celular tocou.
—Eu não sei, — veio sua resposta suave atrás de mim. —Eu
acho que você vai ter que perguntar a eles um dia.
—Eu não sei se você está falando a verdade sobre os textos, mas
não importa de qualquer maneira. Eu perdi meu telefone depois que
te levei para casa. Minha mãe me deu um novo com um novo
número.
—Oh, eu não tenho dúvida que as enviei, e nem dúvida que você
as recebeu, — eu bufei. Eu podia sentir minha pressão sanguínea
subindo.
—Eu não vejo como você pode negar isso, desde que você me
escreveu de volta. Ou aquele pequeno detalhe escorregou em sua
mente?
Capítulo 11
Fort Lauderdale, Flórida, 2002
—Eu não sei se ele conhece alguém da Califórnia. Eu sei que ele
nunca, nem uma vez, recebeu uma carta manuscrita. De ninguém. O
que devemos fazer? — Seus grandes olhos azuis estavam
preocupados.
Caro Christian,
Eu sei que faz meses desde que nos mudamos, e sinto muito que
demorei tanto para entrar em contato com você. É meio complicado.
Minha mãe se casou com o homem que você nos ouviu falando. James.
Ele é um bom homem e estou feliz por minha mãe. Eu ainda sinto falta
do meu pai, mas gosto de ver minha mãe tão feliz.
Amor,
Mimi.
Depois de ler a carta em voz baixa, Christy gentilmente a
dobrou e colocou de volta no envelope. Ela não precisou perguntar
a Anthony o que deveriam fazer. Ela sabia que Christian nunca veria
isso.
Ele parou de andar e nivelou seu olhar com o meu. —Eu posso
acreditar que um dos meus pais pode ter interceptado as cartas que
você me enviou, mas eu não posso nem imaginá-los escrevendo de
volta para você fingindo ser eu. Eles não fariam isso, Mimi.
Especialmente se foi tão doloroso quanto você está aludindo. —
—Eu recebi uma carta que foi assinada por você, Christian.
Quem faria isso? Quem, além de seus pais, teria acesso ao seu e-
mail?
Ele não disse nada, mas ficou parado olhando para mim. Então
me ocorreu.
A raiva que pensei ter visto segundos antes foi substituída por
outra coisa. Poderia ter sido um pouco de admiração por adivinhar
o que ele fez. Ele me deu um leve aceno de cabeça.
Ele estava em pé na frente dela. Ela ficou na ponta dos pés e deu
um beijo em seus lábios. —Vai!
***
—Só que você não tem que dividir isso com a defesa, — ela
silenciosamente o informou. —Eles já têm isso, Slade. Eles estão
retendo isso da acusação. — Ela fez uma pausa antes de resmungar
baixinho, —Bem, pelo menos um cara está.
—Ela sabe da sua família. E ela tem sério desprezo por ciclistas
em particular.
De todas as perguntas que ele poderia ter feito a ela, ele teve
que começar com uma sobre seu namorado? Ele parecia um
adolescente ciumento. Christian observou os olhos de Mimi se
arregalarem e sua boca formou um ‘O’. Ela não estava esperando
essa pergunta. Ele terminou de se importar com a razão pela qual
ele a rastreou. Era óbvio que ela ainda estava mentindo sobre
receber uma carta dele. Quando ele lhe perguntou detalhes sobre a
carta que ele supostamente enviou, ela fez uma birra e hesitou. Mas
ela também se desculpou e ofereceu uma trégua. Ele queria gastar o
tempo que tinha com ela brigando pelo passado, ou ele queria
começar de novo como ela sugeriu? Ele escolheu o último e deixou
escapar a única pergunta verdadeira que o assombrava desde que
recebera o relatório daquele investigador particular.
—Eu não sei se estou apaixonada por ele. Talvez. Eu não tenho
certeza. — Ela soltou um suspiro e esperou que ele respondesse.
—Se você não tem certeza, então você não está apaixonada. —
Ele disse a ela com naturalidade.
—E você acha que é bom que eu não esteja apaixonada por ele?
— Ela não conseguia acreditar no que achava que ele estava
dizendo. Até mesmo a implicação dificultava que ela engolisse.
Ela deu um passo para trás e olhou para ele. —Eu não me
lembro de você ser tão arrogante, Christian. — Ela deu outro
pequeno e hesitante passo para trás, ignorando o calor que estava
se formando em sua barriga. Era difícil não sentir o calor em seus
olhos.
—Saia! — Eu gritei.
Eu revirei meus olhos. —Eu não vou sair até você sair.
—Eu vou assumir que você não era a Bela. Deixe-me pensar...
— Eu fiz uma pausa. —Você foi o arrogante e egocêntrico Gaston?
—Eu não disse isso. Só quero ter certeza de que não, — disse
ele, descansando as mãos em seus quadris. Depois de ajeitar os
olhos sobre o abdômen, olhei de volta para o rosto dele.
—Sim?
Ele fez uma rápida busca na casa e, mesmo sem colocar uma
camisa, voou pela porta da frente e correu loucamente para o local
onde havia escondido os dois conjuntos de chaves. Ele segurou-os
na mão e coçou a mandíbula enquanto olhava em volta. Ela
realmente pensou que poderia andar a distância para a cidade antes
que ele pudesse alcançá-la? Ele estava subindo em sua caminhonete
e prestes a recuar quando viu seu carro aparecer. Ela parou atrás
dele, estacionou e saiu de seu SUV.
Seu rosto suavizou. —Eu não sei como ser de outra maneira,
Mimi. Estou tentando. Mas é quem eu sou. — Um momento passou
e ele voltou a falar. —Vou colocar uma camisa e fazer um bule de
café. Você quer café da manhã?
Minha mãe parou nas escadas e se virou para encarar Jason. Ela
voltou a subir as escadas até o porão, em pé na frente de Jason. —Eu
comprei todas as suas roupas desde que você era um bebê, Jason. Eu
não lembro de ter comprado para você aquela bandana quando
morávamos na Flórida. Estou guardando essas roupas. — Ela disse,
acenando para a cesta descansando contra seu quadril. —E quando
eu voltar para cima, vou olhar na minha cômoda e ver se a minha
bandana está faltando.
—Eu ouvi você e Micah, — foi tudo o que eu disse. Micah era o
pai de Grizz, meu avô biológico. Nós morávamos na montanha de
Micah desde que nos mudamos para a Carolina do Norte. Ele
também era um pregador amado na pequena comunidade de Pine
Creek, onde nos instalamos permanentemente. Grizz não perguntou
como ou quando eu os ouvi. Ele apenas balançou a cabeça
lentamente e respondeu com naturalidade: —Eu matei o marido
abusivo de uma prima distante. Eu fiz parecer um acidente. Ele não
fará falta. Eu fiz um favor à família e à comunidade dele. —
Eu olhei para ele enquanto ele levava a caneca para a boca, mas
em vez de tomar outro gole ele olhou para mim.
Mimi olhou para ele. Ele estava sentado de costas contra uma
árvore e seus antebraços apoiados nos joelhos dobrados, uma mão
pendurada na garrafa de água que ele acabara de tomar. Sua testa
se curvou com curiosidade. —Esperou por mim? — Ela questionou.
—O que aconteceu?
—Isso soa como eu, — disse ele com um sorriso de lado. —Você
se lembra quando eu tentei te ensinar a andar de bicicleta? Tinham
acabado de pavimentar nossa calçada e você caiu. Ficou muito
machucada. Eu lembro que você tinha piche e cascalho grudados em
seus joelhos e cotovelos.
Ela tentou não sorrir. —Foi um grande feito para uma criança
de dez anos. Como você roubou uma Harley de novecentos quilos?
—Eu tinha quase onze anos e era uma moto muito menor, —
ele corrigiu. —Mas ainda não foi fácil.
Uma vez que já era uma fonte de discórdia entre eles, ela
decidiu não mencionar que ela, propositadamente, suprimiu mais
dessas lembranças depois que recebeu sua carta. Com as duas mãos,
Mimi pegou uma das suas e a segurou com força. —Eu me lembrei
de ter visto você na sala de espera do hospital quando meu pai foi
baleado, e como você ficou com raiva. Depois que ele morreu, minha
mãe me fez lembrar de nossa amizade. Eu fiz pouco disso porque
tinha me convencido de que essas memórias eram exageradas.
—Eu estava com raiva, — ele respondeu, com raiva na sua voz.
Ele se lembrou do dia claramente, enquanto todos esperavam no
hospital pela notícia da condição de Tommy Dillon. —Você estava
jorrando em lágrimas por todo o Slade, se bem me lembro.
—Slade não tinha que me dizer, Mimi, porque fui eu quem disse
para salvá-la.
Capítulo 19
Pumpkin Rest, Carolina do Sul 2007
Eu mal notei quando ele veio atrás de mim até ouvi-lo dizer, —
Eu acho que é uma coisa boa eu ter estocado os mantimentos.
—Você pode começar com estes, mas me salve alguns. Eles são
meus biscoitos favoritos. — Confessei, ainda me recusando a olhar
para ele.
Christian me levou.
Eu assenti.
—Eu sei que você provavelmente não está com fome agora, mas
eu estava pensando se você gostaria de ir para lá, talvez pudéssemos
encontrar uma loja no caminho. Eu vi alguma coisa no noticiário
sobre uma tempestade de neve que pode chegar. Eu não trouxe uma
jaqueta pesada e não tinha certeza se você tinha alguma coisa
quente para usar, apenas no caso. —
Nós não fomos longe quando ele anunciou: —Parece que não
há muita escolha para estações de rádio.
—Eu tenho alguns CDs que gravei. — Eu apertei o play no som
do carro. Eu vi um meio sorriso quando ‘The Weight’, do The Band,
começou.
—Vou lhe contar uma coisa sobre mim. E você me diz algo
sobre você que pode se relacionar com isso. Podemos fingir que é
uma espécie de jogo.
Seus olhos se voltaram para os meus e ele respondeu
asperamente: —Você está tentando ver o que, se alguma coisa,
temos em comum.
Eu olhei pela janela para que ele não me visse sorrir. Ele estava
certo. Encaixando minha cabeça, eu disse a ele: —Talvez seja um
jogo estúpido. —
—Ser um criminoso?
Ela olhou para cima e deu um leve aceno de cabeça. —Eu sei.
Mas não posso deixar de me perguntar se Mimi teria sido boa para
Christian.
—Não correndo o risco de Christian descobrir que Grizz não
morreu no corredor da morte. Ele tem dezoito anos, mas ainda não
está maduro o suficiente para ser confiável, querida.
***
—Acho que ela comeu tudo para que pudesse assistir ao seu
programa favorito. Além disso, não é muito difícil misturar quatro
ingredientes de uma receita de caçarola, embora eu tenha arruinado
algumas dessas no passado. — Christy riu.
Como era o seu hábito noturno, Anthony e Christy
limparam os pratos do jantar, antes de se retirarem para o quarto
da família e desfrutar de uma xícara de café assistindo ao noticiário
da noite.
—É claro, baby.
—Eu fiz isso para vingar pelo que ele planejou fazer com você.
Ele tem sorte de não ter visto você nua, porque eu teria arrancado
seus olhos. Ou que ele não tenha estuprado você, porque eu teria
cortado o seu...
—Ouvi dizer que ele usou a tatuagem para fazer você pensar
que ele era um cara legal. Provavelmente lhe deu uma falsa sensação
de segurança sobre ele. Era uma tatuagem religiosa, certo?
—Você foi para a prisão por isso. — Foi uma declaração, não
uma pergunta.
—Alguns meses.
Abby era uma irmã que eu nunca ouvi falar. O calor que senti se
espalhando pelas minhas veias encontrou o caminho para o meu
peito e meu coração deu uma palpitação.
Já que Christian não sabia que Grizz estava vivo, eu não podia
compartilhar minha preocupação com ele sobre ter alguém do
passado de meu pai vivendo a apenas algumas horas, em vez de
vários estados. Mas também sabia que meu pai não se aventurava
longe de casa e, quando o ver novamente, eu o avisarei.
—Eu precisava fazer alguma coisa, para lidar com isso, então
você não precisaria. Eu fiz isso para protegê-lo. — Eu bati, meu
queixo sobressaindo.
Ele olhou para mim e eu dei a ele um sorriso sincero. Ele puxou
as bordas de sua boca em um sorriso largo que fez minha pele
formigar. Eu esperava que ele insistisse que eu fosse primeiro,
então fiquei totalmente surpresa quando ele perguntou: —Você tem
alguma lembrança de nós brincando de casamento quando éramos
crianças?
E eu acreditei nele.
Tia Tillie era a tia de Grizz e irmã mais velha de Micah, meu
avô. E na moda típica da Tia Tillie, ela decidiu que a família poderia
se beneficiar de um pequeno descanso longe dos gêmeos. Como um
sargento reunindo as tropas para chamadas, ela organizou
um regime de babás e primos em torno do relógio que ficava em
casa e cuidava dos bebês.
Nós quatro nos despedimos e saímos da casa carregando
nossas malas durante a noite. Minha mãe se dirigiu para o carro
quando Grizz agarrou seu braço.
Olhei para o chão, mas pude ver com minha visão periférica que
ele andou em direção à mamãe e a puxou para perto, envolvendo os
braços musculosos e muito tatuados ao redor dela. —Espero que
você não se importe com o meu esquema para ter você sozinha, —
disse ele enquanto enterrava o rosto em seu cabelo.
—Eu preciso disso, Grizz. Eu não acho que posso ficar três dias
inteiros sem bombear. Meus seios vão explodir. Eu preciso de um
jeito de tirar o leite.
***
—Não leia em voz alta. Eu não acho que posso suportar ouvir
isso. — Implorei, meu crânio batendo de uma dor de cabeça
instantânea.
Eu queria que meus pais não fossem embora por três dias. Por
mais que eu precisasse que minha prima e melhor amiga me
consolassem, o pensamento de ouvi-la bater em Christian o tempo
todo era demais. Eu sabia que ela fazia isso para me fazer sentir
melhor, mas não funcionaria. A única coisa que eu queria fazer era
apagar Christian Bear da minha memória junto com o meu
constrangimento e desgosto.
—Mimi. Mimi!
Senti suas mãos em cada um dos meus ombros, antes que ele
beijasse o topo da minha cabeça.
Eu acho que essa era a maneira dele me dizer que não tinha
feito sexo com ninguém desde que tinha sido liberado. Eu não tinha
certeza de como responder, então fui com a verdade: —Eu não
tenho uma DST, e não vou engravidar.
E eu entrei em pânico.
—Mimi?
Que Lucas?
—Sim, eu guardei.
—Eu não sou uma alma perdida, Mimi. Eu nunca fui. Uma ruim?
Talvez. Mas não perdida. Eu sabia quando éramos crianças que
nossas almas estavam amarradas. Eu sei que você sentiu isso
também, mas você perdeu, ou esqueceu, em algum lugar ao longo do
caminho.
—O que aconteceu mais cedo não tem nada a ver com isso, —
eu disse a ele quando dei um passo para trás e acenei a mão entre
nós. —Sou eu.
Ele não disse nada, então olhei de volta para ele. Ele tinha um
olhar estranho no rosto.
—O quê? — Eu perguntei.
—Em Gênesis diz que um homem deixará seu pai e sua mãe e
se apegará a sua esposa, e eles se tornarão uma só carne. — Eu
pisquei para ele, sem saber onde isso estava indo quando outro me
ocorreu. —Além disso, há um sobre o que Deus uniu, não deixar
ninguém separar.
—Quem disse que não será real? — Ele olhou para o céu e
gritou, —Deus, se você é real e está ouvindo, então você sabe, estive
apaixonado por essa mulher toda a minha vida. Eu estou pedindo a
Você, — ele hesitou e ergueu minha Bíblia enquanto procurava as
palavras certas. —Pelo poder do que diz aqui, para mostrar à Mimi
que nosso casamento será real e que Você dará sua aprovação.
Estava nevando.
Capítulo 27
Pumpkin Rest, Carolina do Sul 2007
Ele usou sua língua para lentamente descer pelo meu estômago,
e mais uma vez focou no lugar que provocou tanto prazer menos de
uma hora antes. Eu gritei o nome dele desta vez, e ainda estava
tentando recuperar o fôlego quando ele fez o seu caminho de volta
para me encarar. Abri os olhos e sorri, alcançando sua dureza, mas
ele enxotou minha mão. Acho que fiquei surpresa porque ele
explicou: —Como eu lhe disse antes, não quero mais esperar para
estar dentro de você, Mimi.
Ele entrou em mim devagar, sem tirar os olhos dos meus para
poder avaliar minha reação. Ele parou quando eu dei um leve
estremecimento, mas sem fôlego, disse a ele: —Tudo bem. Continue.
—Porque naquela noite que você saiu da minha vida com sua
mãe e James, você levou meu coração com você.
Capítulo 28
Pumpkin Rest, Carolina do Sul 2007
—Eu não fiz isso, e sei que não sobrou de quem ficou na casa
por último. — Seus olhos não estavam acusando, mas calorosos e
preocupados.
Quando ele não disse nada, eu cortei meus olhos de volta para
os dele e pude ver, pela sua testa enrugada, que ele tentava
entender. Em vez de tentar explicar a psicologia por trás de por que
eu faria isso, o que eu não tinha certeza se ele me entendeu, soltei a
desculpa que usava para continuar a fazer isso.
Eu assenti.
Soltando minha mão, ele se levantou e olhou para mim. —Ele
não morreu no corredor da morte?
Beijando a ponta do meu nariz, ele disse: —Eu não vou fingir
que entendo o problema do transtorno alimentar, mas isso não
muda o que sinto por você. E eu estou supondo que você pode obter
alguma ajuda com isso?
—Nós vamos ter certeza que você vai procurar um. — Ele me
deu um sorriso largo. —Seu pai morto-vivo e a última coisa que você
mencionou também não mudam meus sentimentos. De fato, não
consigo pensar em nada que você possa me dizer que me faça não te
amar, ou pensar menos de você. —
—Não estou feliz como você pensa. Estou feliz que você não
seja perfeita, Mimi. Eu preciso que você não seja perfeita. Pensar
que você não tinha nenhum tipo de falha estava me incomodando.
—Montar o quê?
***
—Talvez tenha feito. — Sua resposta foi casual, como se ele não
tivesse um cuidado no mundo.
—Dizer-te o quê?
—Que bom que você está aqui, Blue. — Disse Mickey. —Nós
poderíamos usar alguma informação sobre o negócio da Phillips. É
um pouco mais delicado do que estamos acostumados. Talvez
algumas de nossas antigas táticas de gangues possam ser úteis aqui.
Você estava por aí naquela época. O que você acha?
—Seu pai sabe que você está aqui? — - Perguntou Blue, desta
vez com uma voz mais curiosa. —Eu sei que ele se mudou para cá,
da outra costa, para se distanciar de sua antiga equipe. Ouvi dizer
que ele está completamente limpo agora. Faz um negócio de
sucesso. Estou surpreso que ele permitiria isso.
—Sim, mas tenho mais tempo que o normal. Eu não tenho que
estar no tribunal porque meu caso tem uma continuidade de
quarenta e oito horas. — Levantou a bolsa que estava
carregando. —Trouxe seus italianos favoritos. Onde está o papai?
—Porque ele instruiu, quem quer que tenha seu telefone, para
notificá-lo no número de telefone do qual ele ligou. E ele está
dizendo a essa pessoa como responder aos seus textos. Nas duas
vezes em que ele ligou para você, ele provavelmente lhe deu uma
desculpa do motivo pelo qual ele não está ligando do telefone
dele. Ele te convenceu que está chamando você de Jacksonville
enquanto usa o telefone de seu amigo, quando ele está realmente a
três estados de distância usando um telefone que ele provavelmente
comprou pelo caminho. — Olhando para Christy, Bill continuou: —
Estou certo? —
Ela assentiu.
—Quando ele não está ajudando minha mãe a criar dois filhos
de quatro anos, ele treina e reabilita cães. E quando ele não está
fazendo essas coisas, ele passa o tempo fazendo a nossa casa auto-
sustentável. Ele tem painéis solares instalados para energia, poços
cavados para água fresca. Coisas assim.
A longa viagem me deu tempo para pensar. Poderia meu pai ser
o Fantasma que deu ordens por trás de um teclado de computador?
Eu não conseguia imaginá-lo fazendo isso. Tudo o que eu disse a
Christian era verdade. Grizz manteve-se muito ocupado, e quando
tinha tempo livre, ele usava para andar de moto. Mas isso não
significava que ele não encontrasse tempo para escapar sozinho. Ele
poderia ter um laptop escondido em algum lugar, ou talvez tivesse
usando o da minha mãe quando ninguém estava por perto. Depois
dela importunando e então insistindo até que ele finalmente
cedesse e conseguisse um. Ela só usou para procurar receitas ou
procurar fóruns de pais. Eu sabia que ele estava muito interessado
no mercado de ações e negociando, mas nunca perguntei como.
Talvez ele tenha usado o laptop dela. E se esse fosse o caso, tenho
certeza de que havia algum tipo de tecnologia que Bill usava para
torná-lo impossível de ser rastreado. Ele poderia até estar fazendo
o que eu fiz todos esses anos atrás, quando eu tentei estabelecer
contato com Christian, usando computadores públicos. Meu pai
usando um computador público? Eu imediatamente descartei o
pensamento. A menos que... e se o desprezo de Grizz pela tecnologia
não fosse nada além de um ardil engenhoso que permitisse ele ainda
administrar sua antiga gangue?
O que eu fiz?
Olhei para ele, mas ele deve ter visto algo na minha expressão
que o fez continuar.
Eu olhei para o perfil dele e ele deve ter sentido meu olhar
porque se virou e olhou para mim. Eu tinha certeza de que ele ia me
dizer que queria passar os poucos dias que nos restavam na
cama. Sua resposta me surpreendeu.
Esta deveria ser a parte em que o cara diz à garota que não era
real e que ele gostava do tempo que passavam juntos, depois tirava
sarro dela por pensar que eles eram realmente casados. Mas não foi
isso que Christian fez.
***
Era o mesmo anel que ele segurou por anos e colocou no meu
travesseiro na noite passada.
Eu levei os poucos minutos que ele tinha ido, para olhar para o
fogo, e fui imediatamente hipnotizada pelas chamas. Sentei-me e
observei as faíscas voarem das madeiras em chamas e
desaparecerem. Eu nunca tinha pensado muito na cor do fogo. Eu
pensei que eles eram principalmente uma combinação de laranja e
vermelho, mas este era diferente, e de repente eu percebi o porquê.
Eu não me lembro onde eu tinha aprendido, mas me lembrei de
saber que os fogos mais quentes queimam em azul. O mesmo azul
que vi nos olhos de Christian. A intensidade que senti em seu olhar
era mais quente do que qualquer chama em que eu colocasse meus
olhos. E todos sabiam que se você brincasse com fogo, você se
queimaria. Não houve medo em minha revelação. Porque eu sabia,
com cada fibra do meu ser, Cristian nunca me queimaria. Senti o
peso do colchão quando ele se sentou atrás de mim e me virei para
ele. Ele estava segurando sua arma que obviamente recuperou da
mesa de cabeceira
—Por favor, não a traga para dentro da casa dos meus pais
amanhã. — Implorei.
—Eu não vou machucar seu pai, Mimi. — Sua respiração fez
cócegas no meu pescoço enquanto ele se aninhava.
Ele riu. —Eu posso lidar com Grizz, e não vou precisar de
uma arma para fazer isto.
E ele fez.
faça com que ele ative o rastreador em seu carro. Se ela está de
volta na escola, então você pode ligar para ela. Talvez ela não
quisesse voltar para casa e não quisesse ferir nossos sentimentos.
Ginny sacudiu a cabeça. —Não. Não. Mimi não faria isso, Grizz.
Ela podia dizer, pela expressão dele, que ele sabia que ela
estava certa. —Dê-me cinco minutos. Certo? — O que ele não podia
dizer, era se Mimi não chegou ao acampamento tinha alguma coisa
a ver com seu passado, ele não queria alertar quem quer que sua
filha estivesse. A pessoa cujo pescoço, Grizz planejou estalar.
—Oh, Christian, diga que você não fez isso na cara dela. —
—Ela está no banheiro. Ela está bem, Grizz. — Veio a voz suave
de Tia Christy. —E nós estamos tão chateados quanto você. Nós não
sabíamos e apenas descobrimos. Nós voamos em breve...
—Você não parece muito surpreso ao ver que seu velho amigo
ainda está vivo. — Era a voz de Christian, e estava cheia de
sarcasmo. Eu sabia que ele estava falando com seus pais. Mas eu não
queria desviar a atenção da nossa situação. Eu queria abordar isso
de frente. Era hora de me apresentar.
—Eu não sei o que diabos está acontecendo aqui, mas assim
que eu falar com a minha filha...
—Eu não sabia que você poderia lidar com uma arma, Mimi. —
Disse Christian, enquanto os outros apenas olhavam.
Coloco a arma em uma mesa lateral. —Eu sou filha do meu pai.
Meu pai ficou quieto, mas não conseguiu manter seu olhar
furioso à distância, quando Christian e eu iniciamos nossa
explicação. Deixamos muitos detalhes para fora. No que nos dizia
respeito, a única coisa importante era que queríamos estar juntos.
—Esqueça Jodi e Blue, — meu pai latiu. —Você sabe que seu
marido... — Seus olhos se estreitaram para mim antes de continuar,
—esteve na prisão? — Ele olhou ao redor da sala e acrescentou: —
Eu tive uma conversa com Bill no caminho de volta até a montanha.
—Mas você pode ver como isso parece, certo? Não tem como
você e Christian se apaixonarem em menos de dez dias. — Ela
acenou com a mão pelo ar. —Ele tem que voltar para a Flórida e você
tem que voltar para a escola. Não vai funcionar.
Ela sorriu. —Claro que sei disso. Nós conversamos sobre você
esperando. Eu acho que isso significa que Lucas não fez nenhum
avanço? Ele estava respeitando seus desejos?
—Você não está, nem fazendo sentido, Mimi. Como você acabou
de esquecer que você sempre conheceu Christian? — Ela estava
ficando frustrada e, em vez de se lançar em acusações sobre como
encontrar minha certidão de nascimento virou meu mundo de
cabeça para baixo, fazendo com que eu me isolasse das pessoas
importantes da minha vida, ofereci a explicação mais simples que
fazia sentido.
Depois que desliguei, olhei para minha prima e ri. —Eu sabia
que ela checaria se eu estava realmente aqui. Note como ela ligou
para o seu telefone fixo de propósito?
***
—Então eu acho que é uma coisa boa que nós temos um pastor
na família, — eu provoquei. Eu já expliquei para Christian que eu
estava pronta para perguntar se poderíamos esperar até o outono
para nos casarmos, em vez de depois da formatura, quando o último
comentário da minha mãe sobre o meu pai não permitindo que me
esfregasse do jeito errado.
—Sim, você pode, Mimi. Você tem alguns dias antes de ter que
voltar para a escola e pode perder alguns dias também. Viaje de
volta para Fort Lauderdale comigo e você pode voar de volta e ir
direto para a escola.
Eu devo ter feito uma cara estranha, porque ele parou no meio
de subir o zíper para perguntar: —Você está bem, Mimi? Você vai
ficar enjoada? Você não precisava engolir. Poderia ter cuspido para
fora.
—Tenho certeza que meu pai lhe dará uma turnê depois que
falarmos com você, — respondi.
Ela olhou para mim e depois para Christian. —Eu pensei que
era para o seu próprio bem. E seu pai concordou comigo. — Olhando
para mim, ela disse com um sorriso simpático: —E eu só estava
fazendo o que sua mãe me pediu. Cortando o contato com sua
família. Não preciso explicar a vocês dois o que estava em jogo.
Ela olhou para mim. —Eu admito que joguei todas as suas
cartas, Mimi. Eu não estou negando isso. — Ela se virou para
Christian. —Mas essas três cartas foram parar no triturador. Não
há como ninguém, além de seu pai, tê-las visto, muito menos
respondido a elas. — Ela balançou a cabeça. —Estou perdida.
Não tenho uma explicação.
Ela tentou beijá-lo, mas ele virou o rosto. Ele agarrou-a por seus
pulsos, soltando-os do pescoço e dizendo: —Não, obrigada, Autumn.
Isso durou mais tempo do que deveria. Não me deixe encontrar você
na minha cama novamente. Nunca.
***
Caro Christian,
Eu acho que esta será a última carta que você vai receber
de mim. Eu não sei porque eu estou incomodando desde que você
nunca respondeu as três primeiras. Eu tenho duas teorias. Uma, eu fui
uma completa idiota dizendo como eu me sentia. Que talvez eu tenha
visto mais sobre a nossa última vez juntos, e essas cartas são apenas
um incômodo, e você não quer ficar em contato comigo. A outra teoria
é que você não está recebendo minhas cartas porque elas estão sendo
interceptadas por seus pais. Se for esse o caso, peço respeitosamente
à tia Christy ou ao tio Anthony que não façam isso. Se você está
recebendo essas cartas e não as dando para Christian, por favor,
reconsidere o que você está fazendo. Você pode pensar que é para
nosso próprio bem, mas você está errado.
Minha mãe teve os bebês. Ela jurou que ela era a única
mulher na história que correu bem além de sua data de vencimento
enquanto carregava gêmeos. Todos nós dissemos a ela que achamos
que o médico pode ter calculado mal. Provavelmente é uma
combinação dos dois. De qualquer forma, eles são lindos e saudáveis,
e minha mãe está brilhando. Ela está um pouco mais cansada do que
o habitual, mas ela mal mostra. Ela teve um menino e uma menina.
Seus nomes são Dillon e Ruth. Eles transformaram nossas vidas de
cabeça para baixo de um jeito bom.
Ariel Lipman
Com Amor,
Mimi.
***
—Como ele poderia não ter me dito que tem uma filha? — Eu
mal sussurrei. —Eu estive com ele, vinte e quatro horas por dia, e
por mais de uma semana. Eu compartilhei todos os segredos, bons e
ruins.
Sentindo que eu não queria que ela chegasse mais perto, ela
parou. —E quando seu avô estava contando histórias sobre Grizz
criando gêmeos na sua idade, eu comecei a falar sobre como
Anthony e eu estávamos passando pela mesma coisa com Abby, mas
Christian me interrompeu.
—Nós tivemos a custódia legal dela, desde que ela tinha seis
meses de idade. — Ela admitiu. —Autumn nunca quis uma
criança. Ela queria um meio de prender Christian. Ele foi condenado
à prisão antes de ela dar à luz. Com ele fora da rotina, ela não teve
vontade de cuidar de Abby, ou ser mãe.
Todos nós ouvimos meu pai gritar por tia Christy. Ele
aparentemente não sabia onde ela estava. Foi a nossa deixa para nos
juntarmos aos outros.
—Eu só não vejo por que você não poderia me dizer quando eu
perguntei sobre a tatuagem. — Eu respondi, completamente
exasperada. —Isso parece ruim. Parece que você me enganou. E
agora estamos legalmente casados. É como se você tivesse me
prendido de propósito.
Quando não olhei para ele, ele me puxou para ele, lutando
comigo até que fui forçada a olhar para ele.
Eu assenti.
—Eu nunca fo, — ele parou e suspirou. —Eu nunca dormi com
nenhuma garota sem usar uma. Sempre. Eu até parei de dormir com
Autumn por um tempo, mas ela era persistente. A única coisa que
posso imaginar é que ela mexeu algumas vezes e teve que
sabotar. Eu não sei. Talvez tenha furado com alfinetes a
embalagem? De qualquer forma, como você provavelmente pode
imaginar, a primeira coisa que insisti em fazer foi um teste de
DNA. Abby é definitivamente minha, então essa é a única maneira
que poderia ter acontecido.
—Até você, Mimi. Você é a única mulher com quem eu não usei
preservativo. Talvez no fundo eu quisesse que você engravidasse.
***
—Papai, você...
—Mas, tudo isso de lado, ela acredita que ele realmente ama
você. Acredita que ele sempre amou. Eu realmente entendo isso. Eu
sempre fui destinado a estar com sua mãe. É algo que você sente
bem aqui. — Ele bateu levemente meu coração com os dedos.
Eu tremi com a percepção de que meu pai não era alguém para
fazer ameaças vazias, e que ele ainda tinha os meios para compensar
isso.
Parte II
Capítulo 42
Fort Lauderdale, Flórida 2007
Seus olhos se abriram e ele disse: —Eu não sei. Desde que
você começou a se movimentar?
Ele zombou.
—E não sei bem qual é o papel dela. Quero dizer, seus pais têm
a custódia legal de Abby, certo? — Eu perguntei.
—Sim, — foi tudo o que ele disse. —Mas ela consegue Abby
todos os fins de semana de sexta à noite até domingo à noite. A
última vez que a viu foi há dois meses. Logo antes que eu saí da
prisão.
—Não vá lá. Meus pais foram justos, e a única razão pela qual
eles conseguiram a custódia de Abby foi porque a mãe de Autumn
pediu ajuda a eles. Ela é uma boa dama; ela está em cadeira de
rodas. Autumn morava em casa e tentava empurrar Abby para ela. A
pobre mulher não conseguia lidar com uma criança e meus pais
intervieram.
Eu fiquei aliviada. Eu não queria pensar que os pais de Christian
estavam mantendo Autumn longe de sua filha. Aparentemente, isso
tinha partido de Autumn. Ainda assim, eu não acreditaria,
ingenuamente, que a garota que manipulara uma gravidez me veria
como outra coisa além do inimigo público número um.
—Ela vai pagar por escrever essa carta para você, Mimi. E não
diga que pode não ter sido ela. Eu vou tirar a verdade dela.
—E eu ainda acho que você pode pedir à minha mãe para ajudá-
la a encontrar um terapeuta, — acrescentou.
—Eu estive no funeral dele todos esses anos atrás, Mimi. E você
também.
—O que você quer dizer com você não sente? Você não está
chateado com a explosão de Slade?
—Não.
Eu sabia que ele estava se referindo a não estar lá para sua filha,
e o tempo que ele passou na prisão longe dela.
—Eu acho que isso é parte do problema, — acrescentei. —Ele
acha que deveria ter havido consequências por violar sua liberdade
condicional e me sequestrar.
—Sim. E mais uma vez, ele está certo, e eu não estou bravo por
ele estar chateado. — Acrescentou Christian rapidamente. —No
entanto, estou louco por ele ter sido um idiota na sua frente. E ele
também teria na frente de Daisy se mamãe não a tivesse mandado
embora.
—Sim.
***
Ou era?
—Sua esposa sabe que eu te chupei toda vez que você pisou
neste bar?
E ele fez. Ele me disse palavra por palavra tudo o que foi dito no
depósito.
—Bom. — Foi tudo o que ele disse antes de inclinar meu queixo
para cima. Nossos olhos se encontraram e ele disse: —Estou feliz
que você estivesse ouvindo, Mimi. Pelo menos você sabe que estou
dizendo a verdade.
—Se você tivesse uma franja, você seria uma sósia. Eu não
posso acreditar que você nunca viu uma delas.
—Ela cura doenças para ganhar a vida, e ele é dono de uma loja
de iscas. Isaac é um bom amigo de Christian. Eu acho que você não
teve a chance de conhecê-lo ainda?
—Como assim?
Eu só consegui assentir.
—Oh! — Ela riu. —Não. Eu não acho que eles são minha
xícara de chá.
—Daisy, você sabe onde Christian esteve nos últimos três anos?
—Eu tenho doze anos, Mimi, não dois!, — disse ela com um
sorriso.
—Ele visitou muito aqui desde que ele saiu? — Eu girei meu
dedo na areia.
—Então, o que eu estou ouvindo é que Abby não viu você com
seu irmão?
O rosto de Erin ficou sério, e ela se inclinou para nós para que
os homens não a ouvissem.
***
—Eu não consigo entender por que você pensaria que Slade
tinha sentimentos por mim. — Eu soltei uma respiração
exasperada. —Parecia que estávamos fazendo progressos com a
Abby.
—Erin, — eu interrompi.
—Seja como for, — disse ele. —Eu ouvi Erin dizer que ela
estava lá apenas para ajudá-lo a superar um coração partido. Isso
me fez pensar que sua explosão de ontem tinha mais a ver com você
do que eu fugir com todas as minhas coisas.
—Eu espero que eu não prove que você está errada, baby.
—E ele não vai contar para sua mãe o que você fez? O que você
pediu a Micah para fazer? — Christian xingou baixinho quando ele
pegou uma luz vermelha.
Eu assenti. —Eu pedi a ele para não fazê-lo, e acho que ele vai
honrar meu pedido.
—Pedido? Ou teste?
***
Eu fui até ele com tudo que eu tinha, mas ainda não era o
suficiente. Ele continuou a me empurrar até que eu estava à beira da
exaustão, minha camisa saturada de suor. Eu diminuí a velocidade
tentando recuperar o fôlego. Ele sabia que eu precisava descansar e
parou de me instigar por um minuto.
Direita. Esquerda.
—Por causa das coisas que ele diz para mim e como isso me faz
sentir. — Eu gaguejei.
—Continue indo. Você está indo muito bem.
Gancho e um cruzado.
Gancho e um cruzado.
—Se você me acertar onde você quer bater em Ed, você diminui
sua chance de fazer amor novamente antes de sair hoje à noite.
Ele estava certo, então eu fui para o seu queixo, mas ele se
esquivou de mim facilmente.
Meu cérebro ansiava por café enquanto meu corpo gritava por
um analgésico. Meu pai parecia estranhamente quieto quando nos
sentamos à mesa do café da manhã. Pouco tempo depois, Ruthie e
Dillon abriram os presentes que eu lhes trouxe. Depois de discutir
seus novos brinquedos, cada um deles pegou uma das minhas mãos
e me levou para baixo, para seus quartos no porão, para me mostrar
o resto de seus presentes.
Eu não tinha percebido o quanto eu sentia falta deles. Fui pega
de surpresa quando outro rosto apareceu na minha cabeça. Era em
forma de coração e emoldurado com cachos negros — Abby. Como
foi possível amar uma criança que eu mal conhecia? Sentir a falta
dela tanto quanto eu sentia falta do pai dela?
—Ele está checando seu carro — sob o capô, pressão dos pneus.
Você conhece seu pai. Ele quer ter certeza de que tudo está bem
antes de você voltar para a escola.
Ela balançou a cabeça. —Seu pai... — Ela fez uma pausa para
esclarecer antes de continuar. —Tommy me disse que cuidaria
disso. Eu não tenho ideia do que ele fez com isso.
Seu rosto suavizou quando ela disse: —Mas para mim, não. Eu
tinha tudo. Seu pai era respeitado, e por isso eu não queria nada. —
Sua voz ficou melancólica quando ela olhou para a vista. —Eu era
amada e tinha tudo. — Ela suspirou, —Meu maior problema naquela
época era pensar que era meu trabalho mudá-lo.
Ela usou as duas mãos para levar sua caneca aos lábios. Depois
de tomar um gole, ela disse: —E você sabe que ele ainda é a mesma
pessoa que era naquela época. Sim, ele definitivamente fez
mudanças para o positivo. Mas lá no fundo, ele ainda é o homem que
me sequestrou quando eu era adolescente.
Eu sabia o que ele tinha feito com o neto de Myrtle Blye, Tom
Deems. Eu também sabia que ele não tinha se comportado
totalmente desde então. Eu só consegui assentir.
***
Eu disse a ele que tinha ficado a noite na casa dos meus pais
em vez de dirigindo para o campus, e como os gêmeos me
acordaram pulando em cima de mim. Eu compartilhei que nunca
tinha percebido antes como era deprimente encontrar meu
dormitório, e que já parecia uma eternidade até a minha
formatura. Ele me contou que hoje era seu primeiro dia de volta
ao trabalho e já enfrentara Axel com sua tarefa de trabalho.
Christian preferiu trabalhar nas motos, mas Axel precisava que
ele trabalhasse nos carros. Eu podia ouvir a apreensão em sua
voz quando ele me disse que iria para a casa de seus pais para o
jantar, e ia fazer outra tentativa de chegar perto de Abby.
Bleh.
—Você não vai negar que andou por aí pelas minhas costas?
— Eu joguei nele.
—Claro que eu transei por aí. Eu não conseguia isso com você!
— Ele cuspiu. Seus olhos estavam implorando quando ele começou
a andar em minha direção, dizendo: —Eu nunca trairia você depois
que nos casássemos, Mimi. Nunca.
—Você tem sido uma provocadora por meses, Mimi. Isso pode
ser tudo, menos civilizado. — O desprezo em seu olhar me
interrompeu, mas recuperei a compostura. —Você me fez parecer
um idiota.
—Eu não sabia que ele usava óculos. — Sandy tirou o telefone
da mão de Jeanie. —E eu ainda acho que ela é a criança mais linda
que eu já vi.
—Eu tenho permissão para ficar fora dois dias. Cheguei aqui
a tempo de ver você atravessar o palco e eu vou embora
amanhã. Você já me contou sobre seus planos com suas amigas e
eu não vou interferir. Tudo o que eu estou perguntando é, depois
que elas adormecerem, você se esgueira para o quarto 204. — Ele
me deu um cartão-chave. —Eu esperarei por você, baby.
***
Sem olhar para mim, ele disse: —Eu amo você, Mimi. Não há
muito que eu possa lhe dar, exceto minha bênção. Espero que
signifique alguma coisa.
—Significa mais do que você poderia saber, pai. E você vai ver.
Christian vai provar a si mesmo. Eu sei que ele vai.
Ele olhou para mim e seu sorriso era genuíno, mas seus olhos
transmitiam melhor sobre Christian.
Sem tirar os olhos dos meus, ele começou: —Eu, Christian Bear,
tomo você, Mimi, como minha esposa. — Ele sorriu e meu coração
se derreteu.
—Eu sei que já faz semanas, mas ainda não encontrei outro
lugar. Pelo menos não um que eu goste.
—Eu sei, — ele respondeu. —Mas, se você for para a ioga, então
não podemos jantar juntos. Vai ser tarde demais para ela.
Não estava quente, mais como abafado, mas não era devido à
temperatura.
Eu sabia por que ela pensava isso, mas a palavra saiu antes que
eu pudesse parar. —Por quê? — Eu gritei.
—Não vai demorar muito mais tempo quando ela não fará esse
tipo de ofertas, — veio a voz profunda do tio Anthony. Todos nós
olhamos para ele. —Muito em breve será sobre garotos e
maquiagem. Estou surpreso que já não seja. — Eu podia ver pela
expressão dele, que já se preparava para lamentar a perda de sua
futura filha adolescente. Eu estava inclinada a concordar. Eu tinha
notado a maneira como Daisy olhara para meu irmão Jason e meu
primo Scott, em nosso casamento.
—Daisy é diferente!, — tia Christy interveio. —Ela é muito
orientada para a família. Ela nos prefere sobre seus amigos.
Voltando para tia Christy, eu disse a ela tudo o que Nick tinha
me dito.
***
—Você não parece com você mesma. Está tudo bem, baby? —
Sua preocupação refletida de volta para mim em seus olhos.
—Eu não acredito que ele tenha nascido mal, Christian. Ele
conhecia o mal porque vivia com ele todos os dias, mas ele não
nasceu assim.
—Tenho certeza que você está certa, Mimi. Mas isso importa
agora?
—Acho que não, — respondi. —Eu só estou querendo saber se,
você sabe..., — eu não consegui terminar minha pergunta.
—Você é Mimi Bear. — Ele falou com meu perfil enquanto seu
polegar esquerdo brincava com meu mamilo. —Minha esposa e a
mulher que eu sempre amei. Você andou em linha reta por tanto
tempo, você está se punindo por sentir a menor emoção de fazer
algo que você considera ruim.
—Mimi?
—Sim?
Jolly Roger, por outro lado, fez mais uma tentativa de me fazer
amiga. Tenho certeza que ele me viu e se certificou de nos
encontrarmos. Ele nunca foi importuno ou intrusivo, apenas gentil
e bondoso. Eu sabia o que ele estava tentando fazer, mas nunca
funcionaria, e eu disse isso. Ele estava sob a impressão equivocada
de que Christian e eu poderíamos realmente ser amigo de Nick e
Rachel. Eu finalmente disse a ele, de uma forma gentil, que ele estava
perdendo seu tempo. Eu realmente gostava de Roger, e
ocasionalmente chegava cedo ao meu encontro para conversar com
ele por alguns minutos extras a cada semana.
—Por que você está falando do meu pau? Se você não calar
a boca, eu vou bater na porra da sua cabeça com ele. — O
sotaque de Nigel era forte e eu podia ver por que as mulheres
achavam atraente.
Eu escutei as brincadeiras, e tentei não deixar a revelação
anterior de Debbie, sobre o paradeiro desconhecido de
Christian, incomodar-me.
—O que ele disse foi mais do que leve, Mimi. — Ele rosnou. —
Dizer algo depreciativo sobre você foi a pior coisa que ele poderia
ter feito. Mesmo que eu não tivesse ouvido, mas chegasse em mim,
eu teria feito a mesma coisa.
—Estou surpreso que você não tenha visto mais disso, Mimi. —
Disse-me tio Anthony. —É muito comum nesses lugares que os
homens abusem de suas mulheres. Até mesmo compartilhá-las com
outros homens. Você, sua mãe, Christy, e algumas outras, são raras
exceções.
Eu sabia que ele estava certo com base em algumas das
histórias da minha mãe. Tia Christy baixou o garfo. —E aquele cara
legal você trabalha com ele, Christian? Qual era o nome dele? Aquele
com quem você parou de sair porque sua esposa tentou arrumar
namoradas para você.
—Glen e Susan podem ser uma boa sugestão, mãe. Eles são um
casal legal e não têm nada a ver com motociclistas. No entanto, eles
montam. — Christian pareceu pensativo por um momento. —E Glen
e eu temos muito em comum. Nós dois preferimos trabalhar em
motocicletas mais do que carros. — Então ele olhou para mim e
disse: —Você gostaria de sua esposa, Mimi.
—Você tem que ir com o seu instinto, — disse tia Christy antes
de dar outra mordida no bolo.
Sim, minha mente respondeu. Como o instinto que diz que
talvez eu não vá comprar uma casa com Christian depois de tudo. O
pensamento fez meu coração doer.
—Talvez o Ghost tenha dito a ele para ir até lá, — ela respondeu
com uma voz zombeteira e assustadora.
Eu não poderia ter concordado mais com ela, mas eu ainda não
tinha certeza de onde Christian estava sobre o assunto. Percebi que
os pais dele olhavam para ele, esperando que ele dissesse alguma
coisa e, quando não o fez, mudei de assunto.
Ele assentiu.
—Sim, tudo bem, Mimi. — Ele esfregou a mão pelo rosto. —Eu
prometo. Agora me diga.
—Eu nunca disse que ouvi de Debbie, e você prometeu que não
perguntaria. — Eu chorei.
—Eu não tenho que perguntar, — ele zombou. —Eu disse a Joe
para cobrir para mim, e isso teria incluído ela.
—Ela não é tão nova assim, Mimi. — Ele respondeu, seu tom
mais calmo.
—Talvez ela realmente se importe comigo, Christian. Talvez ela
se importe mais sobre a minha amizade do que esse clube estúpido.
—Parece que sim, — disse ele. —Se eu contasse a Joe sobre isso,
ele ficaria chateado. Isso faz com que pareçam ruim.
Eu não podia ter certeza, mas parecia que ele estava tentando
não sorrir. —Sim, eu me lembro. Traição era uma dos seus
problemas.
—Qual clube?
***
—Não, — ele me disse. —Eu só sei que toda vez que eu tomo
banho com você, meu cabelo é tão longo, metade dele fica molhado.
Eu não sinto vontade de secá-lo ou de ir para a cama com o cabelo
molhado.
Passamos a tarde com Glen e Susan e ficamos tristes por ter que
recusar um convite para o Dia de Ação de Graças na casa deles. Eu
disse a eles que iríamos gastá-lo com meu avô na Carolina do
Norte. No início, eu havia lidado com perguntas casuais sobre minha
família dizendo que eles moravam em Montana. Depois de um
tempo, Christian me lembrou em particular de ter cuidado. —Eu
entendo por que você ficou presa à história de Montana, Mimi, mas
o que você vai fazer se realmente disser isso para alguém que esteja
familiarizado com Montana, e começar a fazer perguntas mais
profundas?
—Rachel.
—Eu quero dar uma olhada, mas sim, estará pronto. Eu sei que
é no último minuto, mas você pode checar e ver se ele quer passar?
—O que quer que esteja errado com o carro de Tom. Você foi
capaz de ajudá-lo? — Eu perguntei enquanto tentava acompanhar
seus longos passos de volta para a garagem.
—Slade disse sim ao convite. Ele está levando Erin para jantar,
mas disse que parariam no caminho.
***
—Eu não sabia que você andava de moto. — Erin passou a mão
sobre o assento de couro.
—Eu não, — disse Slade. —Pelo menos eu não tenho em muito
tempo, — ele corrigiu. Eu podia ver a excitação que ele não
conseguia disfarçar. —É o modelo de aniversário de cem anos. —
Ele disse com reverência. Ele balançou a perna por cima do assento,
tomando cuidado para não chutar Erin no processo. —E difícil de
encontrar.
Christian assentiu.
—Slade?
—A tocha que ele carrega. É para a mesma pessoa que você fez
alusão há todos aqueles meses atrás, quando nos encontramos na
casa de seus pais? — Perguntei.
—Se eu não tivesse usado a camisa dele, ele não estaria com
meu cheiro. — Ela disse enquanto raspava o limão da tábua de corte
em uma tigela.
—Eu pensei que talvez ele estivesse passando por isso. Ele
tinha ido todo o verão sem vê-la quando ela não aceitou a posição
temporária na biblioteca de direito. Ele tirou algumas mulheres,
mas me disse que suas conversas nunca iam além de onde elas
trabalhavam, o que elas usavam e o que elas levavam. Slade sentiu
que Bevin era uma mulher de substância. Alguém cujas discussões
não seriam baseadas em coisas materialistas. — Ela andou com a
tábua e a faca para a pia e começou a enxaguá-las. —Aparentemente,
essa garota fez uma impressão sobre ele. — Sacudindo as mãos e
pegando um pano de prato, ela acrescentou: —E eu não acho que
eles falaram muito.
—Acho que você e eu sabemos que, pelo modo como Bevin saiu
daquele restaurante, ela está interessada. Não é?
—Sinto muito por não ter vindo até você com isso antes, —
disse Tom, desculpando-se. —Richard e eu nunca temos motivo
para olhar para isso. Eu o instalei há um tempo, antes que você e
Mimi se mudassem para cá quando o filho de um vizinho invadiu
casas. Aquele garoto foi mandado para a escola militar e nós não
tivemos nenhum problema desde então. Eu não sei o que me fez
decidir hoje, mas estou feliz por ter feito isso. Algumas dessas
imagens remontam a meses.
Christian se inclinou para perto da tela e apertou os olhos
enquanto observava uma figura curvada em um capuz preto
aproximando-se do carro de Mimi com uma jarra. O diesel no tanque
dela. Ele também observou quando o homem deu a volta ao lado de
sua casa e desapareceu de vista. Entrou pela janela fora do alcance
da câmera, pensou Christian. Havia imagens do intruso perto de
seus arbustos da frente, onde a mangueira estava bem arrumada em
volta do suporte. O incidente de inundação. A cada vez, a figura
solitária era vista do lado de trás da casa vazia. Claro, ele poderia ter
andado pelo quintal e contornado o lago para chegar à casa deles,
mas o instinto de Christian disse a ele que a pessoa de preto estava
agachada na casa vazia ao lado da deles. Mimi tinha detectado um
cheiro quando eles se permitiram verificar a casa. O estranho estava
à espreita até então? O último feito do homem foi curioso e foi há
pouco mais de um mês atrás. Ele se aproximou do carro de Mimi, do
lado do motorista, mas Christian não sabia o que estava fazendo. Ele
não podia lembrar-se de Mimi dizendo-lhe algo incomum sobre seu
carro. Talvez o cara tenha ficado assustado e fugido antes de causar
qualquer dano.
—Um velho inimigo de Grizz. Uma mulher que ele rejeitou pela
mãe de Mimi. O namorado que ela largou na faculdade. — Ele
esfregou a mão pelo rosto em frustração. —Uma idosa esteve onde
ela trabalha e contou que uma mulher que Grizz matou anos atrás
ainda tem irmãs que moram por aqui.
Slade soltou um assobio baixo. —Eu entendo a conexão de
motociclista, mas você acha que as irmãs de uma das vítimas de
Grizz saberiam quem é Mimi? — Ele perguntou.
—Parece que sim, mas não posso correr nenhum risco. Quando
meu instinto me disse que algo não estava certo no posto de gasolina
esta manhã, eu ia pedir para você me encontrar um cara que
pudesse vigiar Mimi por mim. Eu não queria ir a ninguém no meu
círculo, incluindo Blue ou nossos pais, porque se é alguém que está
perto de nós, eu não quero que eles saibam que eu estou com eles.
—Por que você não nos convida para ficar para jantar e
podemos correr de volta quando as meninas estão ocupadas? —
Slade perguntou.
Eu só consegui assentir.
Então é aí que está a peça que faltava. Abby deve ter de alguma
forma contrabandeado para fora de casa depois de uma de suas
visitas, e Autumn encontrou durante um de seus raros fins de
semana com sua filha. A rainha pendurada no pescoço no final de
uma corda indicava que Autumn decidira intensificar seu
jogo. Como ela ousa me ameaçar e usar a preciosa fita de cabelo de
Abby e seu amor por nossas peças de xadrez para fazer isso! Eu
estava furiosa.
—Eu espero que ela não esteja no metrô quando você ligar para
ela, — Britney riu.
Ela assentiu.
Mas por quê? Por que Susan guardaria rancor contra mim? Mas,
eu nem sequer a conhecia quando recebi a primeira nota.
Eu fiz uma careta. Eu sabia que Susan tinha uma irmã e uma
sobrinha que morava na Geórgia, mas eu não sabia que elas estavam
visitando. Susan tinha compartilhado recentemente com o grupo,
que sua irmã era uma reclusa que não dirigia e mal a deixava em
casa. Ela não estava em um relacionamento abusivo. Tinha um
marido bom e gentil que fazia o possível para encorajá-la a ser mais
social.
Uma das mulheres começou a oferecer uma explicação. —
Começamos sem Susan. Tivemos sorte de ela ainda ter um clube de
leitura hoje à noite.
—Mesmo que elas estejam exaustas, acho que Susan quer que
sua irmã tenha alguma interação com amigas, já que ela vai levá-la
de volta antes de nos encontrarmos novamente. — A morena
sussurrou.
—Eu não posso ficar, mas desde que eu estava por perto, eu
queria dizer olá. — Eu menti. —Você vai dizer a ela por mim?
—Claro.
—Sim.
—Slade? — Eu respondi.
Não houve gentilezas ou conversa fiada. Eu tive que puxar o
telefone para longe da minha orelha quando ele gritou: —Mimi,
onde diabos você está?
Eu endureci com o tom em sua voz. —Não que seja da sua conta,
Slade, mas estou no Axel's. Eu só parei para ver Christian.
—Sim, quando ele sai daqui à noite, ele vai de motocicleta para
casa. — Glen me informou.
Era óbvio que ele estava me traindo, e minha amiga não estava
me evitando porque não fazíamos mais parte da cena do
motociclista. Eu não tinha dúvidas de que meu marido havia
ordenado que ela ficasse longe de mim. Eu teria preferido um tiro
no peito do que o que eu estava sentindo. Uma mistura de raiva,
vergonha, tristeza e autocondenação desceu sobre mim de uma só
vez. Debbie me viu e começou a se levantar. Ela estava andando na
minha direção quando eu me virei e voltei para o estacionamento.
Tola, estúpida, ingênua, idiota. Foi sobre a gangue. Era sobre ser
filha do Grizz. Isso é tudo que eu era para Christian. Um troféu para
exibir na frente de seus amigos criminosos. Ele queria tudo e me
manipulara em acreditar que me amava desde que éramos crianças.
Tudo funcionou para sua vantagem. Ele tinha uma mãe para sua
filha e estava disputando o lugar de líder do clube. E ele me colocou
entre a cruz e a espada. Eu estava travada. Tudo o que ele tinha que
fazer era dizer a Blue que Grizz estava vivo. Diga isso a alguém, e
meu mundo, assim como o da minha família, se desintegraria.
Ele tinha que estar por trás das notas desagradáveis, a peça de
xadrez. Para qual finalidade? Para me fazer pensar que eu estava
louca? Parece um filme de Alfred Hitchcock em que o marido
continuava convencendo sua esposa de que ela era louca, me veio à
mente.
—Mimi! Mimi!
—Vá embora, Debbie. — Eu disse sem olhar para ela, meu carro
a metros de distância.
—Você só tem que aceitar, Mimi. Isso vem com o resto. — Ela
choramingou.
—Eu não tenho que aceitar nada, Debbie, e se você acha que
consegue, então você não é metade da mulher que eu pensava.
A paz caiu sobre mim, que só poderia ser descrita como o céu
enviado. Christian não estava aqui porque queria ser o líder do
clube. E ele não estava aqui para transar. Christian me amava. Ele
sempre me amou, e ele me lembrava disso todos os dias. Eu vi em
seus olhos, senti em seu toque. Ele poderia dissecar meus
pensamentos com um olhar. Ele me conhecia melhor do que eu
mesma. E se ele me conhecesse intimamente, então eu também o
conhecia. E eu sabia que ele não estava aqui porque queria estar.
Debbie disse que ele começou a vir logo depois do Dia de Ação de
Graças. Logo após nossa visita às montanhas. E se ele estivesse aqui
por causa de algo a ver com o meu pai? E se ele estivesse deixando
Krystal no colo para se mostrar? Eu preferia esse cenário sobre os
outros, e decidi que voltaria e pediria para ele voltar para casa.
—Não, eu acho que não. Vou voltar e pegar meu marido, e vou
pedir a ele para voltar para casa comigo. — Eu balancei a cabeça um
pouco antes de acrescentar: —Usar o clube como uma desculpa para
deixar sua mulher, não é aceitável. — Eu não sabia por que Krystal
estava sentada no colo de Christian, mas eu também não acreditava
que ele estava me traindo, e só fiz o último comentário como um
incentivo para Debbie. Ela não deveria suportar Joe sendo infiel, se
esse fosse o caso.
—Você não acha que eu não ouvi por aí sobre o Bear aparecer
aqui em cima? Ele vai ser prez, e você sabe disso. Tudo isso saiu pela
culatra em você. Mesmo as anotações que você fez Dennis colocar
em seu carro não funcionaram. — Ele fez uma pausa e acenou para
mim antes de terminar. —Você disse que eles seriam uma distração
e ficaria sob sua pele o suficiente para que ela não quisesse ter nada
a ver com o clube. Você disse que Bear a amava o suficiente para ir
embora. Aparentemente, a filha de Grizz não se assusta tão
facilmente e tem um pouco mais de determinação do que você
esperava.
—Foi você? — Eu interrompi, enquanto meus olhos cortavam
para Debbie. —Você foi a única que me ferrou todo esse tempo.
Tudo porque você pensou que Christian seria o líder do clube?
—Tudo isso porque você quer que Joe assuma o clube para o
Blue? — Eu bati minha mão contra a minha coxa. —Você poderia ter
me perguntado, Debbie. Você poderia ter ido em frente e perguntar
se Christian estava interessado? Se alguém é estúpido, é você.
Eu endureci porque sabia o que estava por vir. Ele estava louco
pelo que Christian tinha feito a ele e eu estaria no fim de sua ira. Eu
examinei o estacionamento. Nem uma alma viva. Eu era uma
corredora decente, mas seria rápida o suficiente para chegar à porta
dos fundos do bar e, se o fizesse, estaria destrancada?
—Você é a única que me disse para escolher essa luta com ele.
Eu nunca tinha visto o Bear em ação antes, e nem você. Você deveria
ter feito o seu dever de casa. Ele me bateu quase até a morte, e com
base no que você me mandou falar, ele teve razão para fazer isso.
—Ela tem mais razão do que eu para querer ver sua bunda
levanto chute, — ele rebateu enquanto apontava para um
Oldsmobile velho ostentando um porta-malas enorme.
—Foi tudo parte do truque, Mimi. Eu tive que fazer parecer que
eu queria estar aqui.
—Slade ligou para você? Foi por isso que você saiu para o
estacionamento? — - Eu perguntei sem olhar para cima.
—Eu lembro que foi o comentário dela que fez com que Nigel
dissesse o que disse. — Comentou Christian.
Blue puxou a barba. —Eu não estou ouvindo nada que aponte
para o envolvimento de Joe.
—Eu não acho que ele sabia, — eu disse, antes de olhar para o
meu marido em busca de tranquilidade. Eu sabia que Joe e Blue
voltaram. Depois que meu pai foi para a prisão, Blue desistiu de seu
emprego na companhia telefônica e entrara no negócio de
segurança doméstica. Blue foi quem apresentou Joe ao seu emprego
atual.
O Ghost
Slade usa seu fogo no interior, onde ninguém pode vê-lo. Ele
viveu toda a sua vida pelo livro porque ele tem um alto senso de
moral. Mas seu fogo está comendo-o vivo. As chamas estão
sempre lá, queimando-o de dentro para fora. Eu sempre suspeitei
disso, mas não via até que ele jogou minha tiara em Christian e o
atacou durante a primeira visita de Mimi. Slade sempre tentou
ser o filho estudioso, o homem atencioso que sempre respeitou
tudo o que fez. Eu o vi lentamente fervendo desde que ele
começou a trabalhar para o estado. Ele está exposto a injustiças
pelo que ele acredita ser o lado certo da lei, e isso está corroendo-
o.
***
Sua mãe estava certa. Ele era um barril de pólvora pronto para
explodir. Ele passou toda a sua vida se esforçando para fazer o que
era certo. Só para chegar à triste conclusão que ele sempre tentou
negar.
—Por quê?
—E você ainda acha isso? Mesmo depois que eu lancei sua tiara
em Christian?
—Sim, — ela sorriu. —Isso só confirmou que você precisava de
uma saída. Você pode usar isso para o bem, Slade. Eu fiz.
E foi o que Slade fez. Ele concordou em fazer isso em uma base
experimental, e sua primeira ordem de negócios foi lidar com o ex-
marido louco de Erin de forma discreta e não violenta. Ela agora
estava livre para estar com o homem que amava.
—O que você acha que estava por trás da oferta de Debbie para
que Joe instalasse câmeras de vigilância em sua casa? — Slade
perguntou.
Tia Christy pulou e disse: —Eu ainda acho que vocês dois
deveriam pensar melhor do que manter esse tipo de coisa um do
outro, e de nós. Somos uma família. Poderíamos ter ajudado.
—Estou tão feliz por termos decidido comprar esta casa. Ela
nos encaixa perfeitamente, você não acha? — Eu perguntei a ele.
—Eu também gosto disso, mas como eu disse antes, Mimi, casa
para mim é onde você estiver. — Ele levantou minha mão para sua
boca e beijou-a suavemente.
—Você sente falta? Você sente falta deles? —
Seu rosto ficou sério quando ele pegou a minha mão entre as
suas, e disse: —O casamento e a maternidade combinam com você
também, Mimi. Devemos dizer a eles hoje, ou esperar para ver se
funciona? — Ele beijou a ponta do meu nariz antes de deixar as mãos
caírem.
Epílogo
Ela deu-lhe um largo sorriso e disse: —É, meio que doí, mas não
é ruim.
—Vamos nos casar com a fonte de água dessa vez. — Mimi disse
a ele.
Ele respirou fundo e disse: —Eu sempre vou ganhar mais anéis
para você. Eu vou ganhar mil, cem anéis com diferentes diamantes
coloridos e você pode ter um para cada dia. Eu serei seu marido, eu
farei uma casa para você e vou comer sopa todos os dias, se isso é
tudo que você pode cozinhar. E se o médico não colocar um bebê em
sua barriga, então eu vou colocar um lá... Eu não sei como, mas é
assim que eu acho que os bebês entram nos estômagos das mamães.
Os papais os colocam lá. Foi o que Slade me disse, mas ele também
não sabia como. — Ele fez uma pausa antes de timidamente
acrescentar: —E você vai pertencer a mim, e eu vou te amar para
sempre, assim como meu pai diz à minha mãe.
Ela deve ter deixado cair o buquê enquanto ele estava lutando.
Mimi estava agora removendo sua camiseta que servia como um véu
e o estendeu para ele. Ele pegou-a e puxou-a sobre a cabeça,
percebendo que sentia a necessidade de cobrir sua pele escura. De
repente, ele queria tentar esconder-se dela.
Ele sentou-se um pouco mais alto para poder ver o rosto de sua
mãe no espelho retrovisor. —Você quer dizer preso junto? Como
com algemas?
Bevin, que andara em linha reta toda a sua vida, não podia
negar a emoção que surgiu ao fazer parte de algo tão secreto. Ela
facilmente se convenceu de que corrigiria um erro. E além disso,
deslizar a informação para Slade serviria a outro propósito. Ela
descobriria se estava atraída por uma pessoa de alto nível moral. Ou
não.
Descobriu-se que Slade Bear era uma pessoa honrada. Ele fez o
que era certo, apesar da possibilidade de ser expulso, ou se tornar
uma pária no escritório do defensor público. Mas nenhuma dessas
coisas aconteceu. O réu foi absolvido e Slade passou para o próximo
caso. Mas ela não seguiu em frente.
Celeste olhou para a filha e engoliu em seco. —Cada vez que ele
empurrava dentro de mim, ele sussurrava que estava arrependido.
Cada vez, uma e outra vez. Desculpe-me. Desculpe-me. Desculpe-
me. Até que ele terminasse. — Ela balançou para frente e para trás
como se a tempo de seus impulsos.
—Eu não estou sendo ridícula. Você sentiu algo por ele. Mesmo
que ele estivesse te estuprando, você de alguma forma romantizou
que ele não queria fazê-lo. Você se apegou a isso por anos. O que eu
não consigo descobrir é, por quê?
Foi depois desse encontro que Bevin decidiu que poderia dar
ao Slade Bear outra chance. Afinal, ela estava certa de que havia
desapontamento em sua expressão antes de fechar a porta na cara
dele, na noite em que ele chegara à sua casa. Mas ela também foi
cautelosa e pediu a um amigo que fizesse alguma vigilância leve e
não invasiva em Slade. Os resultados foram desoladores.
Ela pensou que tinha escapado até que sua amiga disse: —Faça
o que fizer, não olhe. Um dos caras mais gostosos que eu já vi, está
olhando para você.
Essa foi a primeira vez que alguém disse essas palavras para
Bevin e ela sabia, sem perguntar, que Slade Bear estava no
restaurante. Ela estava lutando para se virar ou não, quando as
próximas palavras de sua amiga decidiram por ela. —Oh, espere. Ele
está com uma mulher.
—Ela é pequena o suficiente para caber no meu bolso e tem
cabelo curto com mechas? — Bevin sussurrou.
Fim!