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“Quem é?”
Estou tão feliz, que não consigo acreditar que isso vai mesmo
acontecer. Depois que eles se foram, subi correndo para o meu
quarto e fiquei mais de meia hora debaixo do chuveiro, tentando
assimilar a notícia.
PARIS.
Quem diria que eu teria essa oportunidade tão cedo?
Saio do banho, visto uma calça e uma camisa velha. Sento na
cama e esfrego meus cabelos com a toalha. Será que a ansiedade
vai me deixar dormir?
Será uma viagem curta, mas quero aproveitar cada segundo.
Longe de memórias ruins de um relacionamento que foi trágico.
Aberta à novas possibilidades.
O que será que me aguarda?
Isso tudo é um sonho.
Só pode ser.
Alguns dias depois...
Tento não olhar pela janela e ver meu irmão e minha mãe
acenando do portão de casa, porque sei que vou chorar, ainda mais.
O percurso demora um pouco, mas logo chegamos ao
aeroporto. Encontro Vanessa, Ricardo, Gustavo e Fernanda me
esperando perto da entrada, cada com um com suas malas.
― Ahhhhhhh, estou tão feliz por esse momento. ― Vanessa
pula em cima de mim. ― Nem acredito que você vai com a gente.
― Nem eu estou acreditando ― digo, um pouco envergonhada.
― Sério, gente. Eu vou pagar para vocês todos os gastos da viagem,
eu juro.
Gustavo me dá um abraço.
― Relaxaaaaa, Mari. Aproveita que isso ainda é comemoração
do seu aniversário.
Abraço Fernanda e, depois vejo Ricardo. Ele me dá um sorriso
caloroso e eu retribuo.
Mas é só isso.
Será que ele ficou pensando no beijo tanto quanto eu?
Não posso pensar nisso.
Acordo do meu devaneio com a Vanessa pedindo meu
passaporte. Nós vamos até o guichê da companhia para despachar
nossas malas.
E é isso.
O sonho está começando e eu mal posso acreditar.
Eu sou um desgraçado.
Primeiro, porque estou a léguas de cumprir com isso. E, se
Mariana está agora nos meus braços, é porque já me apeguei a ela,
desde o primeiro momento que a vi.
Que Deus me ajude.
Ricardo me beijou mais algumas vezes no Trocadéro e tiramos
mais fotos também. Segundo ele, as fotos seriam para marcar o dia
em que eu embarquei em sua loucura.
Não sei se quero me lembrar disso, no final, quando tudo
acabar. Porque até agora não sei onde estava com a minha cabeça
ao aceitar isso.
Ele estava bem animado e então recebeu uma mensagem de
Vanessa. Ela está nos esperando em um restaurante.
Saímos do Trocadéro e, quase caí no meio da rua, porque é
impossível andar por Paris e não se encantar com cada esquina.
Ricardo até riu quando me pegou impressionada ao ver uma
barraquinha de crepes.
― É um pouquinho longe para irmos a pé. Topa ir de ônibus? ―
Ricardo pergunta.
― Opa, busão em Paris, por que não?
Ele ri e então vamos até um ponto de ônibus. Ricardo vê em um
aplicativo qual temos que pegar e onde temos que descer.
― Em dez minutos ele chega. ― Ricardo guarda o celular no
bolso e me puxa para seus braços. ― Tá gostando da viagem?
Estranho um pouco essa situação, mas depois me acostumo.
― Estou sim. ― Sorrio. ― Não pensei que seria assim. Não a
viagem, mas sobre nós dois.
Ele ri. Um riso tão bonito que me rouba o fôlego.
― Paris é a cidade do amor. Coisas assim acontecem.
― Ricardo! ― Dou um tapa em seu peito e ele ri mais ainda.
Não quero pensar sobre amor e relacionamento tão cedo. Não é
que eu desacreditei do amor depois do que Marlon fez comigo, mas
sei que ainda vai demorar muito tempo para encontrar um sentimento
tão nobre como esse.
Ricardo Alencar seria o último da lista dos candidatos a saber o
que é amor verdadeiro.
O ônibus se aproxima e nos soltamos. Me sento ao lado da
janela e Ricardo senta ao meu lado. Observo um pouco do transporte
público e admiro como é limpo e bem cuidado.
― Ah, se no Brasil fosse assim... ― falo baixo, mas ele ouve e
concorda.
― Seria ótimo.
Nos olhamos e sorrimos um para o outro.
― Por que não de metrô? ― Fico curiosa, porque sei que muita
gente usa o metrô por ser fácil e bem rápido. Obrigada, Google, por
suas informações.
― Não gosto de andar de metrô aqui. Sempre tem um
engraçadinho querendo nos furtar.
Ricardo puxa a minha mão, que estava descansando em meu
colo, e a leva até os lábios.
― Precisamos esquentá-las.
Não sei como reagir a essa carícia. Ricardo parece tão...
romântico. Será que ele age assim com as outras também?
As outras...
Não quero pensar nisso agora.
Puxo minha mão de volta e a enfio no bolso da blusa.
― É, ainda bem que há aquecedor aqui dentro.
Ricardo assente e se ajeita no banco. Parece não ter gostado
muito da minha atitude, mas o que posso fazer?
Não é apenas curtição?
― Vamos. ― Ele me cutuca. ― Temos que descer no próximo.
Descemos na próxima parada e, ao começarmos a caminhar,
Ricardo segura a minha mão novamente.
― Não gosto que a puxe de mim ― ele diz, entrelaçando nossos
dedos.
― Ricardo... isso não é...
Ele não deixa eu terminar de falar, porque anuncia o restaurante
que Vanessa e os outros nos esperam. Somente quando chegamos à
porta que ele me solta.
Vanessa e os outros estão sentados em uma mesa nos fundos.
Vamos até eles, que nos recebem com a animação de sempre.
― Nossa, onde vocês estavam? ― Fernanda resmunga. ―
Demoraram tanto!
Ricardo puxa a cadeira para mim e depois se senta ao meu lado.
― Levei a Mari para ver a Torre Eiffel ― Ricardo explica.
― Hummm. ― Fernanda nos encara de um jeito estranho, como
se soubesse o que está acontecendo. Eu desvio o olhar para
Vanessa e Gustavo.
― Perdoem por ter dormido tanto!
― Imagina, Mari. ― Gustavo sorri. ― Você estava bem
cansada. Precisava mesmo dormir.
O restaurante é italiano então apostamos no de sempre.
Macarronada nunca é demais.
Começamos uma conversa sobre a cidade e coisas aleatórias.
Rimos das piadas que Gustavo gosta de contar e, depois que
comemos, continuamos conversando ainda mais.
Então, certo momento, sinto a mão de Ricardo apertando
levemente meu joelho. Olho no mesmo instante para ele, assustada,
e ele sorri. Logo depois, ele se aproxima do meu ouvido e sussurra:
― Não sei se vou conseguir cumprir aquela promessa.
Olho para Vanessa e Gustavo, mas eles estão ocupados,
perdidos em seus próprios mundos. Fernanda está procurando
alguma coisa no celular.
Arregalo os olhos para Ricardo.
― Qual pro... promessa?
― De deixar isso em segredo.
― Por quê? ― pergunto, em um tom bem baixo.
Ele se aproxima novamente do meu ouvido e sussurra:
― Porque estou louco para te beijar mais uma vez.
Meu Deus do céu. O que faço para controlar esse homem?
Olho novamente para os meus amigos e, por alguma sorte do
destino, eles estão ocupados demais para notar o clima tenso entre
Ricardo e eu.
― Por favor... ― murmuro e ele balança a cabeça
negativamente com um sorriso idiota.
― Aiiiiiiii! ― Fernanda dá um grito tão alto que assusta a todos
nós. ― Olheeeem! ― Ela vira o celular. ― Vai ter um show da minha
banda favorita da vida! Temos que ir!
Vanessa revira os olhos.
― Ahhhh, vamos! Por favor! ― Fernanda suplica, fazendo
aqueles olhos de gatinho do Shrek. ― Estamos em Paris, de férias,
pelo amor de Deus!
― Vocês estão a fim? ― Vanessa pergunta para nós.
― Sim.
― Não ― Ricardo responde por cima de mim.
― Sim ou não? ― Vanessa arqueia a sobrancelha.
― Não, na verdade ― respondo, tentando encontrar meios de
me explicar.
― A Mari quer dizer que ela não está a fim de ir em um show.
Ela quer conhecer mais da cidade. Sem falar que íamos comemorar o
aniversário dela, não é? ― Ricardo me ajuda.
Vanessa olha bem nos meus olhos e respira fundo.
― Ainnn, amiga! Você se importa se comemorarmos amanhã?
Acho que o Ricardo pode te mostrar algumas coisas bem legais hoje.
― Vanessa dá uma piscadinha para o irmão.
Ricardo dá de ombros, como se aquilo fosse totalmente natural.
― Vocês vão perder ― Fernanda retruca, mexendo no celular.
― Mas... é a sua primeira vez na cidade. Tudo é empolgante mesmo.
Olho para Ricardo e ele está encostado no assento da cadeira,
com um sorriso vitorioso.
Que Deus me ajude.
Ficamos ali por algum tempo até que o frio aumenta mais um
pouco. Gustavo recolhe nossa bagunça em uma sacolinha e Vanessa
guarda a toalha.
São 16h, mas o sol já começou a se pôr.
― Está com frio? ― Ricardo se aproxima.
― Um pouco. Não tanto quanto ontem.
Ele dá mais um passo.
― Eu posso te esquentar, se você quiser.
Abro um sorriso.
― Bem conveniente para você, não é?
― Para você também.
Neste momento, Gustavo chama Ricardo e ele vai até o amigo.
Enquanto eles conversam, Fernanda se aproxima de mim.
― Então, vocês estão ficando? ― Ela fica ao meu lado, olhando
para o rio.
― Quem?
― Não se faça de desentendida. Eu vi como vocês se olharam e
sei que ele passou a noite no seu quarto.
― Como sabe? ― pergunto, com a curiosidade me corroendo.
Fernanda ri, uma risada sem humor.
― Eu fui atrás dele. Sabe como é, né. Em viagens assim,
sempre nos sentimos solitários.
Engulo em seco ao ouvir a confissão da Fernanda. Então, ela e
Ricardo já tinham se envolvido?
Como eu nunca soube disso?
― Mas... se ele escolheu você, que seja. ― Ela dá de ombros.
― Mas sabe ― Fernanda se vira para mim ―, se quer um conselho,
aproveite enquanto pode. Ricardo não é como Marlon, que namorou
com você por tanto tempo. Ricardo é avesso a relacionamentos e sei
que isso é apenas uma distração para a viagem. Sempre foi assim e
não vai ser desta vez que será diferente.
Minha garganta está seca e não sei nem o que dizer. As
palavras de Fernanda invadem meu peito como se fossem uma faca.
Ela tem razão, é claro, mas ouvir isso, dos lábios de uma amiga, dói
mais do que posso imaginar.
Por que estou me sentindo assim? Eu sei que isso é “curtição de
viagem”. Fomos claros um com o outro.
Mas por que dói?
― Também só estou curtindo o momento ― digo, desviando o
olhar para um cruzeiro que está passando. ― Acabei de sair de um
relacionamento. Sem chances de me envolver seriamente com outra
pessoa. Ainda mais, com Ricardo, que nunca levou ninguém a sério.
Fernanda coloca uma mão sobre o meu ombro.
― Não fique chateada. Só estou dizendo isso, porque quero o
seu bem. E sei o quanto você sofreu ou está sofrendo por causa do
Marlon. Não quero que passe isso novamente.
― Não vou passar.
Respiro fundo, tentando não ficar chateada com as coisas que
ela me disse.
Ricardo Alencar é um cretino.
E isso que estamos vivendo é apenas curtição.
Não posso levar isso a sério.
Voltamos para o apartamento, exaustos, perto da meia-noite.
Paris parece uma cidade relativamente pequena, mas quando você
se dispõem a conhecê-la a pé, percebe que isso, talvez, não seja a
melhor ideia, ainda mais quando o sedentarismo está ativo em sua
vida.
Me mantive afastada de Ricardo enquanto estávamos com os
outros. Não queria comentários ou, para falar a verdade, fiquei bem
desestimulada depois das coisas que Fernanda me disse.
Então, quando chegamos ao apartamento, Ricardo me pediu
para ir até o meu quarto. E eu menti, dizendo que estava me sentindo
mal e que queria descansar.
Sento na cama, tiro minhas botas e respiro fundo.
Acho que não consigo ser assim, como Ricardo, como
Fernanda. Eles são tão liberais, se divertem com quem querem e
depois pulam para outro. Eu ainda sou aquela menina que sonha com
o amor verdadeiro, com um casamento e uma família.
E sei que Ricardo jamais poderá me oferecer isso.
Talvez eu deva acabar logo com isso. Foi apenas uma noite, que
diga-se de passagem, foi uma das melhores noites da minha vida.
Mas eu não quero correr o risco de me apegar a ele.
Ricardo Alencar é um homem perigoso, no sentido de despertar
sentimentos proibidos. E eu não posso me apaixonar.
Para não pensar nessas coisas, tiro a roupa e vou direto para o
banho. Abro o chuveiro e me enfio na água quentinha.
Ensaboo meu corpo e fecho os olhos, enquanto a água cai sobre
minha cabeça. Neste momento eu só desejo que ela leve todos esses
pensamentos ruins.
Eu preciso ser feliz.
Sinto a presença de alguém dentro do banheiro. Viro a cabeça
rapidamente para ver quem é e meu coração dá um salto ao ver
Ricardo, nu, pronto para entrar no banho comigo.
Ele não diz nada. Eu, tampouco.
Meus olhos descem pelo seu corpo e ele é simplesmente
maravilhoso.
Ricardo entra na pequena banheira e envolve a minha cintura,
puxando as minhas costas de encontro ao seu peito.
Fecho os olhos enquanto sinto seus lábios beijando meu
pescoço. Suas mãos percorrem minha barriga, meus seios, e ele
parece não se cansar disso.
― Você fugiu de mim o dia todo ― ele diz, em meu ouvido.
Não respondo.
― Por que está agindo assim?
O que vou dizer? Que fiquei chateada ao me lembrar de que ele
é apenas um cafajeste que está me usando como uma diversão?
E o pior, eu estou aceitando!
― Eu disse que não estava me sentindo bem, Ricardo ― digo,
entre um suspiro e outro. ― O que você está fazendo aqui?
Ele vira meu corpo para que eu fique de frente. A água cai entre
nós, mas não é empecilho para ele.
― Não posso passar a noite sem você.
― Está se referindo a mim, Mariana, ou a uma mulher? ― Deixo
escapar a pergunta de uma maneira ríspida, mas logo me arrependo.
Ele arqueia um pouco a sobrancelha.
― O que disse?
― Nada... ― Desvio o olhar. ― Acho que isso é um erro,
Ricardo.
Ele fica em silêncio, parece pensar no que eu acabei de dizer.
― O que a maldita Fernanda disse, que a deixou assim?
― Não foi ela! ― protesto. ― Ninguém precisa me dizer nada.
Eu fui louca quando aceitei isso. Eu não sou assim, Ricardo. Eu sou
uma garota que quer um cara legal, que quer um namoro sério.
Alguém que curte Sandy e Junior. Alguém que quer ter dois filhos,
uma menina e um menino, de preferência. Não sou como essas
garotas que passam na sua vida, que gostam do que você gosta. Que
ficam com um cara e depois ficam com outro, como se fosse apenas
uma roupa diferente. Essa não sou eu.
Faço o meu desabafo e depois fico em silêncio. Eu já deveria ter
deixado isso bem claro desde o começo.
― Você acha que eu não sei quem você é? ― Ricardo pergunta.
Suas mãos estão na minha cintura. ― Tirando a parte de você gostar
de Sandy e Junior, acha que eu não sei que você é diferente de todas
as garotas, pelo menos, a maioria, com quem me envolvi? Acha que
não sei que você quer um namorado sério e comprometido?
― Então, por que está fazendo isso comigo? ― pergunto
baixinho, ainda não consigo encarar seus olhos.
Ricardo encosta seu corpo no meu e sua testa na minha.
― Porque eu sou loucamente apaixonado por você, droga.
Desde a primeira vez que a vi entrando na universidade, com aquela
mochila da Risca que você tanto gosta. Desde aquele momento eu
fiquei como um maluco, pensando no dia em que a teria assim, nos
meus braços.
Fecho os olhos e as palavras dele invadem o meu coração. Isso
não é possível.
― Não fale mentiras, Ricardo.
― Não estou mentindo. Olhe em meus olhos ― ele ordena e eu
o obedeço. ― Eu nunca pude me aproximar, porque Marlon correu na
frente e você só teve olhos para ele. Que chance eu teria, se você
estava apaixonada por aquele imbecil?
Não sei o que dizer. Sinceramente, essas palavras me chocam.
Pensei que era brincadeira quando ele disse que já me observava
antes.
― Mas... e as outras?
Ele respira fundo e se afasta de mim.
― Eu não queria ser cretino o suficiente para torcer que o seu
namoro desse errado. Procurei em outros corpos, encontrar você.
Toco o ombro de Ricardo e ele parece envergonhado pelo o que
acabou de dizer.
― Eu... não imaginava. ― O puxo para ficar de frente a mim. ―
Jamais imaginei que você sentia isso. Nós nunca tivemos uma
amizade, apenas trocávamos cumprimentos. Como eu podia
imaginar? Achei que você estava brincando, quando disse que... bem,
quando disse que me queria, mesmo quando eu estava namorando
com Marlon.
Ele pega a minha mão e a leva até os lábios.
― Eu sempre fui amarradão em você. Sempre. Mas você
escolheu aquele idiota. Eu só podia torcer para que você fosse feliz.
Uma barreira em meu peito cai nesse momento e é como se
uma luz se acendesse. Droga, ele não está mentindo, eu vejo isso em
seu olhar. Eu vejo isso na maneira como beija minha mão, como me
olha com adoração.
Como eu nunca prestei atenção nisso antes?
Ah, sim. Eu estava cega em um relacionamento com Marlon, que
só me rendeu um par de chifres.
― E eu a quero. Quero agora, quero amanhã e quero depois. ―
Ele se aproxima, enlaçando a minha cintura. ― Eu a quero quando
acabar essa viagem. A quero pelo resto deste ano e pelo ano que
vem inteiro. Você será a minha dama e eu serei o seu cavalheiro.
Ricardo beija meu pescoço e eu não tenho mais como retroceder
diante disso. Ele me desarma de todas as maneiras possíveis. Mas,
antes que isso continue, eu preciso falar mais uma coisa:
― Ricardo.
Ele brinca com meu seio e resmunga um “humm?”
― Você precisa saber o que eu sinto. Não é assim que um
cavalheiro tira informações de uma dama.
Ele para imediatamente e me encara.
― Tem razão. Não deixei você dizer o que acha disso tudo.
― Bem, eu disse.
― Disse antes de saber que eu sou um alucinado por você.
― Tá... ― Reviro os olhos. ― Eu não sei, Ricardo...
Ele faz uma carinha triste e eu sinto vontade de rir.
― Não sei o que vai acontecer ― completo. ― Você precisa
saber que eu ainda não consigo devolver esse sentimento na mesma
proporção. Eu acabei de sair de um relacionamento de dois anos.
Ele balança a cabeça afirmativamente.
― Mas você não gosta de mim, nem um pouquinho?
Faço uma careta pensativa.
― Me acha bonito, pelo menos?
Rio da sua pergunta.
― Eu sinto alguma coisa. Não sei dizer o que é, mas desde o dia
que você me beijou, sei lá. Alguma coisa aconteceu.
Seus olhos brilham em êxtase.
― Mas calma... eu ainda tenho medo. Nós estamos em outro
país, não sabemos como será quando voltarmos ao Brasil. As garotas
que você costuma ficar, estão lá, esperando por você.
― Eu não quero nenhuma outra. ― Ele me puxa para o seu
peito. ― Tem uma música que diz:
“Foi você!
Que fez meu mundo desandar
E me perder ao te encontrar
Se conto as horas pra te convencer
Que é você
E não me importa mais ninguém
Pra te ter vou mais além
2
E nada vai tirar você de mim”
Não sei se fui grosso, mas espero que ela entenda que o que
aconteceu, não acontecerá mais.
A única que eu quero daqui para frente, está aqui ao meu lado,
deitada de bruços, com a respiração tranquila.
É a única que quero.
Abro os olhos, já tateando ao meu lado na cama. Viro de lado e
Ricardo não está mais aqui. Para aonde ele foi?
Me sento e instantaneamente olho para a janela. Estou
quebrada e preciso tomar algum remédio para dor no corpo. Primeiro
que, andar por esta cidade não é fácil, ainda mais para uma pessoa
sedentária como eu. Segundo, porque... Ricardo é demais e eu sinto
até vergonha de lembrar como foram essas últimas noites.
Meus olhos vão direto para uma sacola aos pés da cama. Pego-
a e encontro uma caixinha comprida lá dentro. Abro-a e encontro
aqueles docinhos franceses, que são coloridos. Os famosos
“Macarons”.
Observo-os por alguns instantes e a porta do quarto se abre, de
repente. Ricardo vem trazendo uma mesinha com o café da manhã.
― Bom dia, bela moça! ― ele diz, animado. ― Trouxe seu café
da manhã, com as especialidades de Ricardo Alencar.
Ele coloca a mesinha em cima do meu colo e se senta ao meu
lado.
― É sério que você fez tudo isso? ― pergunto, observando
todas as delícias que ele trouxe.
― Não. Eu fui até uma Boulangerie.
― E o que seria “Boulangerie”? ― pergunto, tentando imitar o
sotaque francês.
― Uma padaria, mas falando assim, em francês, é mais chique.
Rio, tentando ajeitar meu cabelo que deve estar uma bagunça.
Olho para a bandeja e há inúmeras delícias. Pães de frios, croissants,
docinhos, bolinhos. Uma perdição.
Enfio a mão e pego um bolinho. Ricardo me encara.
― Aqueles Macarons... ― digo, com a boca cheia. ― Obrigada.
― Não podíamos sair daqui sem que você experimentasse
esses doces horríveis.
― Você não gosta? ― Arregalo os olhos.
― Não. Não tem gosto de nada.
Balanço a cabeça rindo e Ricardo se junta a mim no café da
manhã. Ele diz quais são seus planos para o dia de hoje e eu assinto.
Claro que não deixo de pensar que hoje será nosso último dia na
cidade.
E depois tudo vai voltar a ser como era.
Batidas na porta tiram a nossa atenção. Ricardo se levanta e vai
até ela, abrindo-a.
― Posso entrar? ― Vanessa está em pé na porta, com os olhos
fechados. ― Vocês não estão pelados, né?
Minhas bochechas esquentam e é inevitável sentir vergonha.
― Entra logo ― Ricardo diz e ela abre os olhos.
― Ah... que bom. Não gostaria de ver vocês em uma má
situação.
Ricardo ergue uma sobrancelha, entediado.
― Pode me deixar a sós com minha amiga? ― ela pergunta,
assim que entra. ― Você já a teve por todos esses dias.
― Não começa com drama... ― ele responde. ― Acho que ela
apreciou a minha companhia, muito mais do que se estivesse com
vocês.
Vanessa semicerra os olhos.
― Sai logo daqui.
Ele ri e faz uma reverência muito engraçada antes de nos deixar
a sós.
Assim que ele fecha a porta, Vanessa passa os olhos pelo
quarto.
― Eu não tinha entrado aqui ainda. É bem legal.
― É, sim.
Vanessa se aproxima.
― Pelos céus, você está nua? Não acredito nisso.
Neste momento me lembro de que estou somente enrolada nos
lençóis.
― Oh... desculpa...
― Estou brincando, louca. ― Vanessa se senta na cama. ― Ain,
não vou mentir. Estou muito feliz por vocês. Eu sei que Ricardo
sempre foi apaixonado por você e...
De repente, ela arregala os olhos e tapa a boca, como se tivesse
falado demais.
― Você sabia? ― pergunto. ― Por que nunca me disse nada?
― Ele te contou? ― Vanessa devolve. ― Não acredito que ele
teve finalmente a coragem para confessar.
Balanço a cabeça, sem acreditar em suas palavras.
― Ainda é difícil de acreditar, você sabe.
― Eu sei que meu irmão é um cachorro. Ou, pelo menos, foi.
Mas ele era assim porque não tinha você. Sabe aquela história de
“vou me divertir com os errados até chegar ao certo”? Era tipo isso.
― Não sei...
― O que você sente por ele?
Vanessa me encara, com expectativa.
― Não vou ser hipócrita de dizer que não sinto nada por ele.
Ricardo é bonito, gentil...
― Bom de cama ― Vanessa diz.
― O quê?
― Claro que é. ― Ela revira os olhos. ― Olha pra você. Fez
sexo a viagem inteira. Vai me dizer que se ele não fosse bom, você
teria ficado assim?
― Vanessa!
Ela ri e eu não sei onde enfiar a minha cara.
― Não precisa ter vergonha. Somos amigas, esqueceu?
― Tá, é só que... é tudo muito estranho. Alguns dias atrás eu
jamais pensaria em algo assim. Sempre tive medo até de ficar
sozinha com ele em algum corredor da faculdade, devido à sua fama
nada apropriada. Agora, veja só onde estou.
― Ah, amiga... ― Vanessa pega em minha mão. ― Ricardo
gosta mesmo de você. Não estou falando isso porque você é minha
amiga e eu gostaria de tê-la como cunhada, claro que é também, mas
não é só por isso. Faz um tempão que eu vejo ele sofrendo por ver
você com aquele imbecil do Marlon.
Respiro fundo.
― Quando ele soube que o Marlon tinha te traído, quis dar uns
murros na cara dele. Eu que não deixei, falei que ficaria estranho
fazer isso, sendo que vocês nem conversavam direito.
― Eu tenho medo de como será quando voltarmos.
Olho para além de Vanessa e confesso todos os meus receios:
― Tenho medo de que ao chegar lá, ele veja que eu sou
simplesmente uma bolsista da universidade, enquanto as garotas
mais ricas se jogam aos seus pés. Tenho medo de que ele não
consiga viver em um relacionamento e acabe tudo como aconteceu
com Marlon. Eu não aguentaria mais uma traição.
― Ricardo jamais faria isso com você.
― E que garantia posso ter? ― Encaro-a. ― Até dias atrás ele
era o maior pegador de toda a universidade.
Vanessa respira fundo e aperta minha mão, mais uma vez.
― Você vai ter que confiar na palavra dele e nos gestos do dia a
dia. Ele pode ter sido um cretino, mas talvez porque ele procurava
nas outras o que só encontrou em você. Quem nunca errou?
É difícil se entregar em um relacionamento sendo que o outro
que estava acabou tão mal.
― Vamos mudar de assunto. E o noivado, está feliz?
― Ahhhhh nem me fale! ― Vanessa se joga na cama. ― Foi tão
lindo. Até agora nem acredito.
Sorrio, feliz pela felicidade da minha amiga. Gustavo sempre foi
diferente dos outros. Eles se apaixonaram e logo começou a falar
sobre casamento. Pensávamos que ele queria esperar a faculdade
terminar, mas agora, vemos que não.
― Quero ser madrinha ― digo.
― Mas é claro! ― Vanessa me encara. ― Assim que voltarmos
ao Brasil, já vamos começar a correr atrás das coisas. Pretendemos
nos casar em junho.
Vanessa me embola em suas conversas animadas, me
distraindo de todos os meus temores. Pegamos o celular e entramos
no “Pinterest” para procurar as tendências do ano para casamentos.
Depois de um tempo planejando o casamento da minha amiga,
ela me deixa a sós e vou tomar um banho. Visto as roupas de frio
porque é óbvio que quero aproveitar ao máximo o último dia na
cidade.
Ligo pelo Skype para a minha mãe e converso por um bom
tempo. Depois converso com meu irmão também, que está radiante
por ter a casa e a atenção só para ele.
Agora, próximo ao horário do almoço, Ricardo entra novamente
no quarto, totalmente arrumado e um perigo para o meu pobre
coração.
― Está com fome?
― Um pouco, mas não faz muito tempo que tomei aquele café
da manhã.
― Então, vamos, quero te levar em um local bem bacana.
Antes de sairmos do apartamento, constatamos que Fernanda
está doente. Pegou uma gripe e seu nariz está vermelho e
escorrendo. A chamamos para ir conosco, porém, ela rejeita.
Vanessa e Gustavo dizem que tem outros planos e que não querem
interferir em nosso momento.
A verdade é que eles querem ficar sozinhos.
Ricardo e eu saímos nas ruas gélidas de Paris e eu deixo que
ele me guie por onde quer ir. Passamos por várias ruas lindas. Vejo
bancas de frutas, lojas de roupas, Boulangerie, tudo no estilo francês,
que, particularmente, acho muito encantador.
― Tem fôlego? ― Ricardo me pergunta, enquanto subimos uma
pequena ladeira.
― Depende. ― Dou um meio sorriso. ― Por quê?
― Vamos ao ponto mais alto de Paris.
― Uau, sério?
― Sim, quero que conheça a Sacré Coeur ou a Basílica do
Sagrado Coração.
Gosto de igrejas, apesar de não ser uma pessoa religiosa. Gosto
de ver suas construções, analisar suas formas, a história por trás de
cada pedra. Tenho certeza de que essa será emocionante.
Enquanto caminhamos, já consigo vê-la. Uma imponente
construção que só consegue me deixar ainda mais curiosa. No
caminho há inúmeras lojas, restaurantes charmosos, bancas
vendendo acessórios.
― Sabia que esse bairro abriga o famoso “Moulin Rouge"? ―
Ricardo pergunta, ao ver que estou calada, admirando cada coisa ao
meu redor.
Moulin Rouge foi um grande cabaré, construído em 1889. E isso
eu sei porque pesquisei algumas coisas antes de vir.
― Lá ainda funciona?
― Sim, tem alguns shows
― Você já foi? ― Sinto uma pontada de ciúme ao pensar em
Ricardo em um cabaré, apreciando belas mulheres quase nuas.
Ou nuas, vai saber.
Ele ri.
― Não, não fui.
― Hummm.
Ricardo solta a minha mão e me puxa de encontro ao seu corpo.
― Está com ciúme?
― Eu não! ― Quase grito e ele ri ainda mais. ― Ciúme de você?
Poupe-me!
Ricardo dá um beijo na minha bochecha e nós continuamos
nossa caminhada.
Ao chegar em uma ruazinha, ficamos de frente com uma
escadaria gigantesca, com muitas pessoas subindo por ela.
― Jura que vamos subir essas escadas?
Ricardo ri.
― Por que não?
Suspiro alto.
― Você é fitness. Eu não.
― Vamos de funicular, então.
Me reservo a não perguntar o que é isso, porque não quero
parecer idiota.
Ricardo me guia por outro caminho e então eu vejo o que é o tal
de “funicular”. Uma espécie de bondinho que vai subir o que eu teria
que deveria usando minhas perninhas.
Dou graças a Deus quando saímos do funicular bem de cara
com a igreja. O dia está lindo, apesar de frio e não acho que teria
ocasião melhor para apreciar essa vista.
Ricardo me puxa pela mão, animado, e tira o celular do bolso,
começando a me fotografar imediatamente. Faço algumas poses
sorridentes e ele parece se animar mais ainda.
Há um cara tocando violino e uma galera sentada nas escadas.
― Quer sentar um pouco?
― Ah, seria bom. Cansei um pouco, mesmo usando esse
funicular.
Ricardo ri mais uma vez.
― Sedentarismo tá complicado aí, hein.
Dou de ombros e nós nos sentamos na escada. Observo a
cidade de Paris logo abaixo de nós e é impossível não me emocionar.
Olho para Ricardo e ele também está absorto, perdido em
pensamentos enquanto olha para a frente. Analiso seu rosto, sua tez,
seus cabelos castanhos claros, seu nariz fino e reto, seus lábios bem
desenhados.
Nunca imaginei que estaria aqui. Nunca imaginei que estaria ao
lado dele. Nunca imaginei que eu sentiria essa vontade louca de
beijá-lo, até perder os sentidos.
Suspiro pesadamente porque não quero me sentir assim.
― Está feliz?
― Claro que estou. ― Sorrio e pego em sua mão. ― Isso é
muito mais do que eu poderia sonhar.
― Inclusive, estar comigo?
Não sei bem como responder a isso, mas balanço a cabeça
afirmativamente.
Ricardo levanta a mão e toca meu rosto com a ponta dos dedos
gélidos.
― Eu já sonhei em levá-la comigo, por vários lugares deste
mundo. Um sonho que parecia tão impossível... ― Ricardo desce o
olhar até meus lábios. ― Não imaginava que um dia isso seria
possível.
― Está falando sério? ― pergunto, porque ainda é difícil
acreditar em suas palavras.
― Como nunca estive antes.
Ricardo enfia a mão no bolso de sua jaqueta e me surpreende
ao estender a mão com uma caixinha de veludo vermelho.
Meu coração se acelera no mesmo instante ao pensar que
aquilo pode ser...
Não, não pode ser.
Ricardo abre a caixinha e me mostra um lindo anel prateado com
um diamante cravejado no meio.
Ele se levanta e depois se ajoelha à minha frente. As pessoas ao
nosso redor voltam a sua atenção para nós e eu sinto um misto de
vergonha e desespero.
― Mariana, sei que pode parecer cedo para você, mas acho que
já a esperei por muito tempo. Meus sentimentos por você são os mais
genuínos e não posso deixar de lado o desejo que tenho de
denominar o que sentimentos um pelo outro.
As pessoas começam a tirar fotos, mas minha atenção está nele.
Pelos céus.
― Sei que ainda não confia em mim completamente, mas não
quero que isso acabe quando entrarmos naquele avião. Não quero
passar as noites sonhando com seus lábios, sem poder te beijar. A
trouxe até aqui, no ponto mais alto desta cidade, aos pés dessa
igreja, para que saiba que o que sinto por você tem a magnitude
deste lugar, e para você saber que eu não mentiria com Jesus me
olhando tão de perto. ― Ele ri. ― Não quero imaginar como será
meus próximos dias, se você decidir não aceitar ao meu pedido.
Meus olhos estão cheios de lágrimas. Ricardo se levanta e se
aproxima um degrau.
― Mariana, você aceita ser minha namorada?
Olho ao redor e as pessoas aguardam atentas pela minha
resposta. É tudo tão rápido, tão cedo. Mas, mesmo assim, parece tão
certo.
Em poucos dias Ricardo arrancou de mim aquela tristeza, aquele
vazio que eu estava sentindo. Ricardo trouxe de volta o meu sorriso,
a minha vontade de experimentar pelo novo.
Fico em pé e me aproximo dele. Nossos corpos ficam a
centímetros de distância, enquanto encaro seus olhos repletos de
medo. Ele tem medo que eu recuse.
Mas não vou recusá-lo.
Não posso recusar um pedido tão sincero.
Coloco minha mão sobre a dele e respiro fundo.
― Não vou mentir que não sinto medo do futuro, Ricardo ―
abaixo o olhar ―, mas também não posso mentir dizendo que não
sinto nada por você. Que não sinto vontade de beijá-lo. Acredite,
também não quero que isso acabe quando entrarmos naquele avião.
Levanto o olhar e ele sorri.
― Mas... por favor. Não quebre a minha confiança. Não quebre
o meu coração.
― Eu jamais faria isso.
Sorrio e estendo a minha mão direita para ele. As pessoas
começam a aplaudir, enquanto Ricardo desliza o belo anel pelo meu
dedo. Quando ele termina, me pega no colo e gira comigo.
Nos beijamos com alegria, com amor.
E algo dentro de mim diz que estou no caminho certo.
Miserávelzinho.
O comentário foi feito no que era madrugada no Brasil, então,
provavelmente, ele ainda está dormindo e minha mãe não sabe de
nada. Se soubesse, meu WhatsApp estaria cheio de mensagens dela.
A porta se abre e Ricardo volta com as mãos cheias de sacolas.
― Até que enfim! ― Vanessa pega algumas para ajudá-lo. ― Já
pegou todas as suas coisas? As malas já estão prontas?
― Nossa, já começou o desespero ― ele reclama. ― Já tá tudo
pronto, Van. Relaxa que ainda temos tempo.
Ela vai para a cozinha resmungando alguma coisa e Ricardo se
senta ao meu lado, me puxando de encontro ao seu corpo.
― Muitas pessoas horrorizadas? ― ele pergunta, ao observar
que estou ainda lendo os comentários.
― Muitas.
Ele ri e deposita um beijo em meu rosto.
― Que fiquem. Não me importo.
Ricardo e eu ficamos mais um tempo assim, juntinhos. Fernanda
sai do banheiro e Gustavo ajuda Vanessa a arrumar a mesa para
tomarmos café da manhã.
― A Mari podia ajudar... ― Fernanda resmunga, então ouço
Vanessa responder:
― Para de reclamar.
Finjo que não escutei e tento me levantar, mas Ricardo me puxa
de volta.
― Não liga pra ela. Tá assim porque eu nunca quis nada sério
com ela.
― Então vocês já ficaram, mesmo?
Ricardo respira fundo, talvez se amaldiçoando por ter tocado
nesse assunto.
― Sim. Ano passado.
― Hummm.
Não gosto da ideia de saber que Fernanda provou o mesmo que
eu. Mesmo que isso tenha sido ano passado.
Ricardo dá um beijo em meu rosto.
― Passado é passado. Vamos pensar no futuro.
Ele entrelaça nossos dedos e o sentimento ruim de antes vai
embora no mesmo instante. Ricardo está certo, temos que olhar para
a frente, deixar para trás o que passou e tentar construir um
relacionamento novo.
Vanessa e Fernanda terminam de arrumar a mesa e nos
chamam para tomar o café da manhã.
Comemos tentando não fazer muita bagunça, mas é impossível,
ainda mais com as piadas que Gustavo gosta de contar. Quando
terminamos, ajeitamos tudo rapidamente, porque o carro já está lá
embaixo para nos levar até ao aeroporto.
Antes de sair do apartamento, olho ao redor e tento não ficar
melancólica. Ricardo me espera na porta com um sorriso acalentador.
― Podemos voltar outras vezes.
― Você pode voltar ― retruco. ― Eu nem deveria estar aqui.
― Você é a minha namorada. Acha que para aonde eu for vou
deixá-la para trás?
Encaro Ricardo e suspiro pesadamente.
― Eu amei a viagem. Não sei nem como pagar por isso.
― Eu sei como posso cobrá-la.
Sua voz tem um tom malicioso.
― Ah, sabe?
― Sei... ― Ele sorri. ― Na minha cama.
― RICARDO! ― Minhas bochechas esquentam no mesmo
instante.
― Oh, casalzinho aí! ― Vanessa volta para nos buscar. ― Vão
ficar morando aqui? Porque, se forem, avisem logo. Estamos indo.
Balanço a cabeça negativamente.
Puxo minha mala e os sigo.
Estranho.
Ricardo não me disse que iria para lá logo cedo. Mas como
estou com muita saudade, é claro que eu vou.
Digito uma mensagem dizendo que vou demorar um pouco.
Ainda mais para atravessar a cidade.
Ele responde dizendo que não tem problema.
Só percebo que esqueci meu celular em casa quando estamos
em uma cafeteria que eu adoro, perto do apartamento do meu pai.
Agora não há nem pretensão para ir buscá-lo.
― Então, seu pai quer mesmo vender aquele apartamento? ―
Eduardo pergunta, enquanto adoça seu café.
― Quer e eu também quero.
― Fiquei sabendo que você está namorando. É verdade?
Ele me encara, como se isso fosse um verdadeiro milagre.
― É sim. Vai, pode dizer que o mundo vai acabar, que isso é um
milagre e essas bobeiras que todo mundo diz.
Eduardo ri alto.
― Não vou dizer isso, meu amigo. Mas fico feliz em saber que
você finalmente entrou nos trilhos. Quem é a mocinha que conseguiu
essa façanha?
― Acho que você não vai se lembrar dela. É amiga da Vanessa.
Mariana.
Eduardo pensa um pouco.
― De nome, não lembro.
― Pois é.
― Então, a vida de gandaia acabou?
― Acabou ― digo, sentindo orgulho de mim mesmo. ― Ela é
uma pessoa incrível, não posso pisar na bola com ela.
― Olha só, tá apaixonadinho mesmo, hein!
Nós rimos e continuamos uma conversa sobre relacionamentos
e outras coisas sobre a vida de Eduardo.
Algum tempo depois, nós saímos da cafeteria e andamos até o
prédio. Quero que Eduardo tome conta disso, afinal, meu pai já disse
que o dinheiro que conseguir desse apartamento, poderei comprar
outro para quando Mariana e eu nos casarmos.
Casamento.
Quem diria que eu iria pensar logo nisso?
Mas é claro que vou pensar. Agora que consegui finalmente ficar
com ela, não quero perdê-la. Mariana encheu a minha vida de um
sentimento tão bom, que não posso nem pensar em perder.
Subimos pelo elevador e Eduardo já gosta do que vê logo de
cara.
― Vamos conseguir um preço bom por isso aqui.
― Ah, sempre cuidamos muito bem. E a área aqui é ótima.
Abro a porta para Eduardo e, então, meu coração quase para ao
ver a mulher sentada no sofá.
― Mas... ― As palavras somem da minha boca.
― Eu posso esperar lá embaixo, se você quiser ― Eduardo diz,
com aquele sorrisinho de “você nunca vai mudar”
Ai, meu Deus do céu. O que vou dizer agora?
― Não, digo... ― respiro fundo ―... espera um pouco lá
embaixo, por favor.
Eduardo vira as costas e se vai.
Olho para a mulher e não consigo esconder a minha frustração.
E, diabos, eu sequer lembrava que tinha dado uma chave para ela!
― O que você quer aqui? ― pergunto, rispidamente.
― Como você pergunta o que eu quero? ― Ela se levanta e vem
até mim. ― Achei que quisesse me ver.
Seguro seus braços antes que eles me toquem.
― Está ficando louca?
― Não minta para mim, Ricardo! ― ela grita. ― Você mandou
eu vir aqui. Disse que estava arrependido e que precisava me ver!
Antes que eu possa formular uma resposta, ouço uma voz atrás
de mim, chamando meu nome.
― Ricardo?
Luzia olha para a porta e meu coração congela no mesmo
instante. Viro a tempo de ver o olhar incrédulo de Mariana, que olha
de mim para a nossa professora.
― Ai, meu Deus. ― Ela leva as mãos à boca, os olhos
arregalados. ― Então era verdade?
― Mariana, não é isso... ― Dou um passo até ela, mas ela dá
dois para trás.
― Como não é? ― ela pergunta, parecendo que acabou de
levar um choque. ― Marlon tinha razão. Você e ela... ai, meu Deus.
Mariana vira as costas e sai correndo, antes que eu tenha a
chance de me explicar.
Luzia também está em choque, mas o seu medo é de que
Mariana faça um escândalo, certamente.
― Vai atrás dela, Ricardo! ― ela grita. ― Se essa menina falar
alguma coisa, minha carreira estará acabada!!!
Maldição.
― Eu não sei o que aconteceu, mas eu não te mandei
mensagem alguma. Eu sequer estou com meu celular aqui.
Luzia dá alguns passos para trás e eu saio rapidamente. O medo
de perder Mariana quer me sufocar, mas não posso pensar nisso
agora.
Isso tudo foi um mal-entendido e a vida está sendo muito sacana
comigo para me colocar em uma situação dessas. Eu tenho que me
explicar com ela.
Quando chego ao térreo, Eduardo está ao celular. Ele faz um
sinal para mim, mas balanço a mão para que ele espere. Vou até a
calçada e vejo Mariana caminhando rapidamente.
― Mariana, espera!!! ― Corro até ela e consigo puxá-la pelo
braço.
Ela vira para mim e seus olhos estão vermelhos. Seu rosto está
repleto de lágrimas.
― Você me enganou. Eu sabia. Eu sabia que não deveria
confiar em você.
― Não é isso! ― digo, desesperado. ― Eu não sei o que
aconteceu...
― Ricardo! ― ela grita, puxando seu braço de volta. ― Vai
mentir para mim, dizendo que não tem nada com a nossa professora?
― ela diz a última palavra como se estivesse pensando se deveria
mesmo pronunciá-la.
― Eu já tive. Mas não tenho mais!
― Então o que ela estava fazendo no seu apartamento?
― Eu... eu não sei!
Ela balança a cabeça negativamente, dá alguns passos para
trás.
― Resposta errada, Ricardo. Você é igualzinho ao Marlon. Só
pensam em nos usar e depois nos descartam. Me esquece!
Mariana vira as costas e sai correndo.
Passo as mãos pelos cabelos e a minha vontade é de socar o
primeiro infeliz que aparecer na minha frente.
Que inferno eu fiz para merecer isso? Certamente estou
pagando pelos meus pecados.
Ai, coração. Como você pôde ser tão tolo?
Entro no vagão do metrô e deixo as lágrimas descerem de uma
só vez. Eu sabia que isso poderia acontecer, afinal, Ricardo Alencar é
Ricardo Alencar. Eu só pensei que, pela primeira vez, ele poderia agir
com sinceridade.
Idiota!
Bastou alguns dias sem nos vermos, ele já correu para o
primeiro rabo de saia. Bem, vai saber se ela foi a primeira...
Nunca pensei que meu status de corna fosse ser levado a sério.
Será que isso é uma maldição? Será que preciso procurar uma igreja
para um exorcismo?
Não é possível!
Ricardo brincou comigo e eu caí. Acreditei naquelas palavras
doces, naquele pedido lindo aos pés da igreja. Acreditei que ele
realmente me amava.
Ah, mas ele não resistiu aos encantos da professora. Pelos
céus, a nossa professora!
Tento esconder ao máximo as lágrimas que insistem em cair,
mas as pessoas ao meu redor já notaram. Uma senhora se senta ao
meu lado e começa a me falar palavras doces.
Abro a porta com força, despejando a fúria que há em meu peito.
Não acredito que um maldito mal-entendido vai destruir o que levei
tempo para construir.
― Senhor Ricardo! ― Berenice, nossa empregada, me olha,
assustada.
― Onde está Vanessa?
― No quarto dela ― ela responde, temerosa.
Subo as escadas de dois em dois degraus. Sigo pelo corredor e
abro a porta de uma só vez.
― Hey!!! ― Vanessa grita. ― Não te ensinaram a bater antes de
entrar?
― Não estou para brincadeiras, Van. Cadê aquela sua amiga
desgraçada?
Vanessa me encara, como se eu fosse um extraterrestre.
― O quê???
Respiro fundo e fecho a porta. Me aproximo da cama.
― Só pode ter sido ela!
― Me explica o que está acontecendo! ― Vanessa se senta na
cama e eu ando de um lado para o outro.
― Quando cheguei ao apartamento, a Luzia estava lá. ― Olho
para ela e minha irmã ainda está sem entender.
― Mas você não deu um fora nela?
― Dei. Claro que dei. Mas quando cheguei com Eduardo, ela
estava lá me esperando, dizendo que eu havia mandado uma
mensagem, querendo uma reconciliação. ― Me sento na cama e
esfrego meu rosto, com frustração. ― Como se isso fosse possível e
como se tivéssemos um futuro.
Vanessa fica em silêncio.
― Nossa, Ricardo, você é muito idiota mesmo. Por que deu as
chaves do apartamento para ela?
Ignoro a pergunta porque nem sei onde eu estava com a cabeça
para fazer isso.
― Mariana chegou e a viu lá. É claro que as coisas que Marlon
disse no Natal fizeram sentido e ela juntou as peças. Agora acha que
eu a traí. Ou que já traía e continuei traindo.
― Ai, meu Deus.
Enfio meu rosto entre as mãos, sem saber o que fazer. Aliás, eu
sei exatamente.
― Mas como isso aconteceu?
― Eu esqueci meu celular em casa. Você o viu?
― Sim... ele está em cima da mesa de centro na sala. Eu ia
deixar no seu quarto, mas esqueci.
Neste momento, Vanessa para de falar e arregala os olhos. Até
parece que eu ouvi algo estalando em seu cérebro.
― Você disse que ela recebeu uma mensagem que você queria
vê-la?
Balanço a cabeça afirmativamente.
― E como Mariana chegou lá? Vocês tinham combinado algo?
― Não. Também queria saber como ela chegou lá.
― Você não comentou que iria para lá?
― Não. O único que sabia que eu estava indo para lá era o
Eduardo, que foi comigo e você.
― E Fernanda ― ela diz, acabando de confirmar o que
pressentia.
Nós suspiramos pesadamente.
― Espera um pouco.
Vanessa pula da cama e sai correndo do quarto. Alguns minutos
depois, ela volta, afobada, com meu celular em mãos.
― Vai, procura aí se tem mesmo essas mensagens.
Abro o aplicativo e elas realmente estão lá. Me amaldiçoo mil
vezes por não ter apagado o número da professora, mas agora, é
tarde demais.
― Essas mensagens foram enviadas logo depois que eu saí
com Eduardo ― digo, olhando a hora.
― Sim. Eu me lembro de ela ter ido ao banheiro. Desgraçada,
não achei que pudesse fazer algo assim.
Deixo o celular de lado e respiro fundo. O que diabos eu vou
fazer agora?
― Eu posso conversar com a Mari ― Vanessa se oferece.
― Ela vai pensar que você está tentando me defender. Preciso
arrumar um jeito de fazer a Fernanda confessar o que fez.
― Você tem um álibi. Eduardo estava ao seu lado o tempo todo
e ele pode confirmar que você saiu sem celular.
― Não sei. Mariana pode achar que... ah, você conhece a sua
amiga. Ela, provavelmente, não vai ouvir uma palavra do que eu
disser.
Vanessa coloca uma mão em meu ombro e suspira.
― Se acalme. Nós vamos resolver isso.
O que Fernanda não contava era que antes de considerar sua
amizade, Vanessa priorizava seu irmão. E, nesses casos, quando a
felicidade de Ricardo estava em jogo, ela se tornava uma fera.
Quando o porteiro avisou que Vanessa estava lá, querendo vê-
la, Fernanda sequer imaginou que a amiga já sabia de tudo.
E então, quando a campainha do apartamento tocou e a porta foi
aberta, Fernanda percebeu que estava encrencada. A julgar pela
feição de sua amiga.
Mas, então, Ricardo entrou na frente de Vanessa e cruzou os
braços, mantendo sua expressão séria.
― Ri...Ricardo? ― A alegria que Fernanda estampava, esvai-se.
― O que vocês estão fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa?
É claro que eles sabiam o que ela tinha feito, mas não esperava
que fosse descoberta tão rápido.
Ricardo coça o queixo.
― Aconteceu, sim. Mas... podemos entrar? ― Ele olha para
dentro. ― Não gostaria de conversar conosco na porta, não é?
Fernanda abre um sorrisinho sem graça.
― Claro que não. Entrem.
Vanessa e Ricardo entram assim que ela dá espaço. Quando ela
fecha a porta, Ricardo se aproxima de um vaso de flores caríssimo e
o joga no chão.
― Não! ― ela grita, mas é tarde demais. ― Ai, meu Deus... esse
vaso é muito caro! Meu pai vai me matar.
― Nossaaaaa, desculpa. ― Ricardo finge remorso. ― Hoje
estou tão desastrado.
Os Bittencourt são família que se orgulham de suas coleções de
artigos antigos adquiridos em viagens ao exterior.
Artigos, muitas vezes, caríssimos.
Do outro lado, Vanessa derruba uma escultura de gesso.
― Nossa! Também estou, acredita?
Fernanda arregala os olhos.
― Parem! ― grita, o desespero tomando conta de seu ser. ― O
que vocês querem???
Vanessa e Ricardo se olham, como se ambos fossem do FBI.
3
Ou quem sabe, Bonnie e Clyde , prontos para cometerem o maior
dos crimes.
― Só queremos que você confesse que enviou mensagens com
o celular do Ricardo. Mensagens essas, que o prejudicaram... e
muito.
Ah, então seu plano funcionou.
Na realidade, Fernanda não esperava que desse certo, mas já
que deu, deixaria que eles pensassem o que quisessem.
― Vocês estão loucos. Eu jamais faria algo assim!
Ricardo se aproxima de outro vaso e ameaça empurrá-lo.
― Eu vou chamar os seguranças! ― Fernanda rosna. ― Não
podem invadir a minha casa e sair quebrando tudo, com acusações
infundadas.
Vanessa respira fundo e se senta no extenso sofá branco.
― Não são acusações infundadas. Só havia você em casa e
meu querido e, idiota, irmão, esqueceu o celular onde você poderia
alcançar com suas patas. Desculpa, Fer, mas eu também acho que
foi você.
Fernanda passa a andar de um lado para o outro, nervosa.
― Não fui eu! E eu, por acaso, tenho culpa se você fica
mantendo encontros com a professora da universidade?
Ricardo cruza os braços. Vanessa também.
E Fernanda, então, percebe que falou demais.
Pelos céus, como é burra!
― Digo, digo... ― Tenta remendar. ― Não sei o que aconteceu,
mas...
― Cala essa boca, sua vadia. ― Vanessa se levanta do sofá e
parte para cima dela, puxando-a pelos cabelos. ― Vamos dar uma
voltinha. Você precisa consertar essa merda toda.
Fernanda grita, esperneia, mas é tarde demais.
Quem disse que sairia ilesa ao mexer com um Alencar?
Vanessa me surpreende a cada instante.
Quando ela disse que resolveríamos essa situação, não imaginei
seu plano mirabolante. Os pais de Fernanda prezam muito sua
coleção de esculturas e vasos que eles trazem de suas viagens para
a Índia, Egito... países exóticos.
É claro que me deu uma dor no coração ter que destruí-los. Mas,
antes aqueles vasos quebrados, do que meu coração.
Eu não sei o que faria sem a minha irmã...
E é claro que antes de irmos para a casa de Mariana, Fernanda
abriu o jogo e disse que estava enciumada, por isso agiu dessa
maneira. Espero que Mariana acredite e não pense que manipulamos
Fernanda para dizer tal coisa.
Liguei para Eduardo também, afinal, ele é prova de que esqueci
meu maldito celular em casa e ele se dispôs no mesmo instante a ir
conosco e me ajudar, provando que estou dizendo a verdade.
Assim que chegamos em frente à casa da Mariana, meu coração
se afunda, porque sei que ela não irá querer me ouvir. Mas eu preciso
tentar, não posso deixar um mal-entendido destruir a nossa vida.
― Não sei o que você viu nela... ― Fernanda resmunga, na
parte de trás.
― Cala a boca ― Vanessa retruca, olhando-a pelo retrovisor. ―
Não é da sua conta se meu irmão gosta dela ou não. Você precisa
aprender a respeitar o relacionamento dos outros.
Fernanda cruza os braços, emburrada.
Essa cena seria cômica, se não fosse trágica. Fernanda está
agindo como uma criança mimada.
― Sua mãe deveria ter lhe dado uns bons tapas quando era
criança ― Vanessa diz.
― Esperem aqui ― digo, retirando o cinto e saindo do carro.
Fecho a porta e me aproximo do portão. A casa está silenciosa,
mas imagino a tempestade de fúria no peito de Mariana.
Respiro fundo.
Que Deus me ajude.
Bato palmas algumas vezes e logo ouço um: “já vai” de dona
Márcia. Minhas mãos estão tremendo e minha respiração está
irregular.
Então, é isso que é o medo de perder alguém que se ama?
― Ai, meu Deus ― a mãe dela diz assim, que sai na porta. ― O
que você quer aqui?
Então ela já sabe.
Seguro o portão com as duas mãos.
― Por favor, preciso falar com a Mariana...
― Ela não quer te ver! ― Márcia se aproxima. Está furiosa. ― É
melhor você ir embora. Eu te falei que...
― Foi tudo um mal-entendido! ― Balanço a cabeça. ― Por
favor. Eu trouxe as pessoas que vão poder provar que estou falando
a verdade.
Márcia vacila um pouco.
― Sei que é difícil acreditar no que estou dizendo, mas eu
jamais trairia a sua filha. Eu a amo e o que aconteceu foi tudo uma
armação da Fernanda, que eu achei que era nossa amiga.
― Olha... ― Ela respira fundo. ― Ela está dormindo. Chorou
muito desde que chegou e pediu que se você viesse, era para
mandá-lo embora.
Encaro a mãe dela por alguns instantes e meu olhar suplicante
parece mexer com ela.
― Não gosto de me meter nessas coisas, mas acho que vocês
precisam mesmo conversar.
Márcia pega a chave em seu avental e abre o portão para mim.
Dou sinal para minha irmã e ela sai do carro, acompanhada por
Eduardo. Fernanda reluta um pouco, mas Vanessa sussurra algo
para ela que a faz descer no mesmo instante.
A mãe de Mariana abre espaço para nós entrarmos e logo fecha
o portão.
― Esperem aqui na sala, vou chamá-la.
― Não seria melhor se eu fosse lá? ― Vanessa se coloca na
frente. ― Sabe como é, né. Eu sou amiga dela e posso convencê-la a
ouvir meu irmão.
Márcia nos olha por alguns instantes e depois suspira.
― Tudo bem, vai lá.
Vanessa abre um sorriso animado e sobe as escadas
imediatamente. Fernanda e Eduardo se sentam no sofá e eu fico
andando de um lado para o outro, impaciente.
Será que ela irá me ouvir?
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Minha chefe me odeia – Parte I
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“Lauren Stewart sonha com o dia em que será uma estrela do Rock.
A convite de sua melhor amiga, Jessica, ela parte para a Califórnia
em busca de novas oportunidades que poderão colocá-la no caminho
do sucesso. Porém, Lauren não contava que um acidente de trânsito
mudaria sua vida, ao colocar Bruce Hastings em seu caminho.
Bruce é um empresário, apaixonado por sua única filha, mas que
carrega consigo um passado terrível e cheio de mágoas. Entretanto,
suas convicções serão colocadas em jogo quando conhecer a rebelde
Lauren, que não abaixará a cabeça mediante as suas “regras”.
Lauren e Bruce são completamente diferentes, mas, aos poucos, vão
perceber que aquela famosa lei de que “os opostos se atraem” faz
mais sentido do que um dia já imaginaram.”
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Quando você passa – Sandy & Junior
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Aquela História – Banda Strike
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Bonnie Elizabeth Parker e Clyde Chestnut Barrow foram um casal de
criminosos americanos que viajavam pela região central dos Estados Unidos
da América com sua gangue durante a Grande Depressão, roubando e
matando pessoas quando encurralados ou confrontados. Wikipédia