Você está na página 1de 165

Sinopse

Prólogo
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Catorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Vinte e um
Vinte e dois
Vinte e três
Vinte e quatro
Vinte e cinco
Vinte e seis
Vinte e sete
Vinte e oito
Vinte e nove
Trinta
Trinta e um
Trinta e dois
Trinta e três
Trinta e quatro
Agradecimentos
Sobre a autora
Leia também
Créditos
Sinopse

Quando entrou para universidade Dorfstan para cursar Literatura,


Katherine sabia que estava indo contra tudo o que seus pais haviam
planejado para ela, pois o desejo deles era que ela fosse para universidade
rival, a Foxnory.
A rivalidade entre as duas universidades sempre foi muito forte e
atravessava anos gerando inúmeras disputas entre os estudantes. Kath sabia
disso, mas só viu as coisas se tornarem mais intensas no momento em que
se tornou líder de torcida do time de basquete, pois o armador e astro do
time adversário era Dominic Hernandez.
Ela e Dominic se conheciam desde crianças e provocavam um ao
outro em todas as oportunidades possíveis. Contudo, as coisas mudaram
quando Kath percebeu que estava interessada por ele.
Katherine torcia para que o que ela estava sentindo estivesse errado.
Ela não podia se apaixonar pelo astro do time rival, mas após seus lábios
tocarem os dele, ela sabia que tinha perdido essa jogada.
Entretanto, quando um grande segredo é revelado, ele ameaça tudo
aquilo que eles estavam começando a construir juntos.
Entre amizades, conflitos e dramas familiares, era o seu coração que
estava em jogo naquele momento.
Prólogo

Mais um dia, mais um jogo.


Sinceramente, só esperava que a gente não saísse perdendo dessa
vez, mas levando em conta os nossos adversários, quase podia sentir o
cheiro da derrota.
Dorfstan e Foxnory são rivais desde a primeira competição entre
universidades e toda essa rivalidade só foi se intensificando com o passar
dos anos. Hoje em dia, falar o nome uma da outra é começar uma guerra
repleta de argumentos.
O sonho dos meus pais sempre foi que eu fosse para Foxnory, mas o
meu amor pelos livros me levou até a Dorfstan, o lugar que eu escolhi para
cursar literatura.
Desde o início, a minha decisão gerou um mal-estar enorme lá com
a minha família, mas não me deixei vencer e mantive a minha decisão.
Meus pais tiraram metade da minha mesada e eu entrei para o time das
líderes de torcida para balancear as coisas, fazendo algo que eles queriam.
Voltar a animar não estava nos meus planos, mas eu tinha feito isso
durante todo o ensino médio, então, quando entrei na quadra, pronta para
começar a me preparar, eu o vi.
Dominic Hernandez.
Às vezes eu sequer suportava olhar aquele rostinho perfeito. Com
seus quase dois metros de altura, ele tinha os olhos castanhos claro e os
cabelos pretos lisos em um corte baixo, era musculoso e perspicaz demais
quando se tratava das minhas intenções, ele me viu entrar e piscou para
mim, revirei os olhos e o ignorei, indo até minha equipe de líderes.
A raiva que eu sentia pelo Dom sobrepunha a rivalidade entre as
universidades. Nós nos conhecíamos desde crianças e em algum momento
durante a minha adolescência, eu fiquei caidinha por ele, mas quem não
ficaria? Ele já era muito bonito naquela época e todas as minhas amigas
também gostavam dele.
Eu achava que teria alguma chance pela amizade dos nossos pais,
mas quando ele começou a namorar a minha melhor amiga, eu o risquei da
minha listinha de futuros pretendentes por completo.
Não ficar com Dominic naquele momento modificou de algum jeito
a minha personalidade, deixei de ser uma menininha ingênua e daquele
momento em diante, decidi que não correria atrás dos caras, eles que teriam
que vir até mim.
Desde então, nunca mais me frustrei com nenhum relacionamento.
Eu deixava corações partidos e não o contrário.
Comecei a me alongar e logo o jogo começou. Entre passes e cestas,
nosso time já começou perdendo. Respirei fundo e sem nos abalarmos, a
capitã puxou o grito de guerra da Dorfstan, a nossa torcida nos apoiou e o
Luke, capitão do nosso time, quase marcou uma cesta de três pontos. Houve
uma comoção geral e isso nos animou mais ainda.
Mas quando Foxnory tomou a bola e o Dylan passou a bola para o
Dominic marcar uma cesta de três pontos, eu praguejei.
Caralho! Que time é esse?!
O Dom foi ovacionado pela torcida dele e depois de falar com os
colegas de time, apontou para mim e fez um coraçãozinho com as mãos,
dando um sorrisinho debochado. Lhe ofereci o meu dedo do meio e lhe dei
as costas, virando para torcida.
Ele adorava me provocar.
No final do jogo, nós perdemos com uma diferença bem grande de
pontos e mesmo desanimados, fizemos o show final, já que aquela era a
nossa quadra e precisávamos encerrar o jogo.
Fiquei no topo da pirâmide novamente e quando eu despenquei lá de
cima, uma sensação gostosa de adrenalina percorreu o meu corpo. Eu
adorava!
Depois da nossa apresentação, me despedi da minha equipe e
caminhei até o meu dormitório com a minha mochila nas costas. Estava
distraída, escolhendo uma música no meu celular quando alguém entrou no
meu caminho.
— O que você quer, Dominic? — perguntei, vendo que Dylan e
April estavam o esperando um pouco mais afastados.
— Queria ver como você estava depois do jogo de hoje. — ele
provocou, querendo tocar no meu rosto e eu me afastei.
— Se veio tripudiar, pode ir embora. Você não é bem-vindo aqui. —
falei, passando por ele, mas Dominic segurou meu braço, me obrigando a
ficar no mesmo lugar. — O que você quer além me irritar, Dom?
Ele deu um sorrisinho torto e respondeu — Nada além disso, na
verdade, queria que você avisasse aos seus pais que não vou poder jantar
com eles no fim de semana. Preciso me preparar para um seminário.
Revirei os olhos, me soltei dele e exclamei irritada:
— Fale com eles você mesmo, filhinho favorito. Aproveita e
prepara os papeis da adoção. Era só o que me faltava ser garota de recados!
— Esse ciúme é uma das coisas que mais gosto em você, Kath! —
ele disse, rindo.
— Vai se foder, Dominic! E dá o fora da minha universidade! —
gritei, saindo de perto dele.
Uma outra coisa que me irritava profundamente no Dominic era o
fato dele conseguir me provocar tão fácil. Bastava ele tocar no nome dos
meus pais que eu me chateava. Toda essa predileção por ele me aborrecia
muito, já que para os meus pais Dominic era tudo o que eles queriam que eu
fosse.
Um

Encarei-me no espelho. Estava enrolando o máximo que podia para


encontrar os meus pais, pois sabia que nenhum dos dois aprovaria o look
que escolhi para essa noite.
Como eu queria ficar mimando minha sobrinha Ava. Depois de
passar tão pouco tempo com ela hoje, eu adoraria fazer uma noite de
cinema e muita pipoca com ela.
Mas não, meus pais tinham que me obrigar a ir para esse jantar,
fazendo eu me sentir culpada por não ter feito as escolhas que eles queriam
mais uma vez.
Meu vestido rosa brilhante reluzia em contraste com a minha pele.
Seu comprimento ia até as minhas coxas e meu cabelo liso tinha ganhado
graciosas ondas. Fiz uma maquiagem leve e coloquei o meu inseparável
gloss rosa.
Na hora em que precisávamos sair, desci e encontrei meus pais já
dentro do carro. Minha mãe olhou para mim de uma maneira que se não
corrêssemos o risco de nos atrasar, ela teria me mandado trocar de roupa.
Assim que entramos no luxuoso salão de festas, observei a beleza
daquele lugar. Geralmente eventos assim eram bem suntuosos. Havia
muitos lustres espalhados pelo salão, além do espaço para que as pessoas
pudessem circular antes do jantar. Próximo às mesas e cadeiras havia um
palco para os discursos e leilões que normalmente eram feitos. Eu estava
rodeada de pessoas esnobes, seguindo meus pais para onde quer que eles
fossem como se fosse uma sombra deles.
Olhei meu reflexo em uma das janelas, com certeza esse não era o
lugar onde eu queria estar.
Estava distraída pegando uma taça de vinho branco quando ele se
aproximou ao lado da família, o cara que para os meus pais era um
verdadeiro exemplo de filho perfeito.
Dominic Hernandez estava muito bonito como sempre, ele me
cumprimentou com um sorriso charmoso, me avaliando por completo e
mostrou interesse pelo que os nossos pais conversavam.
Eu só queria sair dali, então não fiz a mínima questão de participar
da conversa e teria saído de perto deles sem dizer sequer uma palavra, mas
minha mãe obviamente não concordava com isso e tratou de me incluir no
assunto.
— Como está em Dorfstan, Katherine? Sua mãe acabou de nos
contar que você faz parte da equipe de líderes agora. — Marien, a mãe do
Dominic, perguntou com um sorriso amável.
— Vai muito bem, senhora Hernandez. Estou muito feliz em poder
fazer algo a mais pela universidade. — falei a ela.
— É uma pena que a Kath não esteja em Foxnory ao lado do
Dominic, mas ela não nos escuta, decidiu fazer as escolhas dela e seguiu
com isso mesmo comigo e o pai dela sendo contra. — minha mãe começou
com o monólogo sobre como eu era uma péssima filha por não fazer o que
eles queriam.
Revirei os olhos e sutilmente me afastei, indo até a sacada mais
próxima, eu precisava fumar.
Peguei o cigarro na minha bolsinha e o acendi, estava dando uma
tragada quando ele apareceu para me provocar, como sempre.
— Você sabe que isso não faz bem para o seu pulmão, não é? — ele
comentou, sarcasticamente.
— Hoje não, Dominic. — falei rudemente, eu realmente não estava
afim de replicá-lo.
— Qual é, Kath? Eu realmente espero que você saiba que isso não
faz bem para você, ainda mais sendo filha de médicos! Eles já devem ter lhe
falado sobre estragos do cigarro. — ele disse e eu revirei os olhos mais uma
vez naquela noite.
— Eu não quero ser rude, mas já sendo, se eu quisesse um texto
sobre o assunto eu pesquisava. Será que você pode sair daqui? Eu quero
ficar sozinha. — falei, erguendo uma das sobrancelhas e ele percebeu que
eu não estava a fim de brincadeiras.
— Já estou indo, então. Te vejo nos jogos, Kath. — ele disse, me
deixando sozinha.
Não fumei por muito tempo, apaguei o meu cigarro e fui ao
banheiro tirar todos os indícios do que eu estava fazendo.
Quando voltei para o salão, o jantar ia começar a ser servido e eu me
sentei ao lado dos meus pais. Felizmente os Hernandez estavam em outra
mesa.
Fui obrigada a escutar minha mãe falar sobre o quão perfeito
Dominic era durante todos os pratos, me deixando ainda mais entediada.
Após o jantar, meus pais foram cumprimentar mais alguns amigos e
eu aproveitei e fui esperá-los do lado de fora do salão, quando fui
surpreendida mais uma vez.
Dessa vez foi uma surpresa agradável. Julian Clark apareceu ao meu
lado com um sorriso bem cafajeste em seu rosto.
— É, boneca, parece que só nos encontramos nesses eventos. — ele
declarou, parando na minha frente.
— É para manter a magia do negócio, se nos víssemos o tempo
todo, não seria do mesmo jeito. Você iria se apegar… — falei, ajeitando sua
gravata.
— Eu iria me apegar? Só nos seus sonhos, boneca. — ele afirmou,
se aproximando mais de mim — No mesmo lugar de sempre? — ele
cochichou.
— Te vejo em meia hora. — falei e ele me roubou um selinho,
saindo de perto de mim.
Olhei ao redor para ver se os meus pais já estavam vindo, mas
encontrei apenas o Dominic me encarando. Eu o encarei de volta, mas ele
desviou o olhar. Não demorou muito até que nossos pais saíssem juntos do
salão.
Durante a ida para casa, aproveitei que estava sozinha no banco
traseiro do carro e troquei mensagens com a Briella, minha melhor amiga.
Kath: Indo para casa, vou só trocar de roupa e sair novamente...
Brie: Mas já? Vai para onde?
Kath: Sair com o Julian...
Brie: Ah é, seu amiguinho colorido... me esqueci da sua transa
anual.
Kath: Hahaha, amiga se é bom para nós dois, pra quê parar? Eu
estou solteira, ele também e graças ao todo poderoso, ele nunca quis nada
mais que isso, então deixa eu aproveitar.
Brie: A sua completa aversão a compromissos ainda me choca,
acredita?
Kath: Hahaha já devia estar acostumada. Acabamos de chegar,
preciso ir!
Brie: Tá certo, toma cuidado e me manda mensagem quando
chegar.
Kath: Tá bom, mamãe.
Guardei o celular na bolsa e entrei em casa. Me despedi dos meus
pais e segui para o meu quarto. Tirei o vestido rosa que eu estava vestindo,
coloquei uma roupa mais confortável e saí escondida para que ninguém me
visse.
Pedi um motorista de aplicativo e segui para o apê do Julian. Ele
mal utilizava aquele lugar, então era nosso sempre que ambos estávamos na
cidade.
Assim que entrei no apartamento, Julian enlaçou minha cintura e sua
língua pediu passagem entre os meus lábios. Suas mãos acariciaram as
minhas costas, me puxando para mais perto.
Segundos depois senti seus lábios em meu pescoço e ele me ergueu,
fazendo com que eu prendesse as minhas pernas em sua cintura e ele me
levou até a cama.
Seus lábios voltaram a tocar o meu pescoço, suas mãos perpassavam
lentamente por cada parte do meu corpo e eu me entreguei a ele mais uma
vez.
--
Depois de ficar por alguns minutos na cama, satisfeita ao lado do
Julian, me levantei, procurando as minhas roupas e ele disse:
— A noite como sempre foi maravilhosa. É sempre um prazer te
encontrar nesses jantares chatos.
— Só posso dizer o mesmo. — falei, colocando o meu sutiã.
— Quer que eu te leve em casa?
— Não precisa, vou pedir um motorista de aplicativo.
— Se você quer assim... Até algum dia, boneca. — ele disse, dando
um sorrisinho sacana.
— Até algum dia, Julian. — falei, lhe mandando um beijo e saí do
apartamento em direção à minha casa.
Dois

Escutei o meu celular tocando e me remexi na cama. Quem poderia


estar me ligando tão cedo? Ignorei o toque insistente e cobri meu rosto com
o travesseiro para aplacar o som.
Não deu muito certo, então eu resolvi atender.
Quando vi o nome da Briella na tela do meu celular, praguejei por
ter demorado tanto.
— Bom dia, mamãe. — atendi, um pouco sonolenta.
— Bom dia, flor do campo. Não vou nem perguntar como foi a noite
porque não quero saber! — ela declarou, rindo.
— Você é tão sem graça. Brie! — falei, rindo também.
— Acabei de chegar e o meu garotinho tá aqui, todo mal-humorado.
— ela disse com um pouco de tristeza na voz.
Minha melhor amiga era mãe de um garotinho de três anos que
morava com os avós enquanto ela estudava e trabalhava para dar um futuro
melhor para ele.
— Ah, eu estou morrendo de saudades dele, manda uma foto do
nosso mascotinho depois.
— Mando sim! Pode deixar!
— Vai fazer o que hoje? — perguntei, enquanto me levantava.
— Vou ficar em casa grudadinha nele, estava morrendo de saudade
do meu filhote. — ela disse com uma voz fofa.
— Imagino, mas você está fazendo o melhor para ele. — falei,
lembrando-a.
— É nisso que me apego todos os dias, amiga.
Conversamos mais um pouco e nos despedimos.
Passei a manhã com a Ava, minha sobrinha estava cada dia mais
esperta. Apertei suas bochechas e tomamos café da manhã na beira da
piscina, onde eu matei toda a saudade que estava sentindo.
A casa dos meus pais era uma verdadeira mansão, então passei o dia
me dividindo em inúmeras brincadeiras para alegrá-la e com isso, o
domingo passou rápido.
Na manhã seguinte bem cedo, tomei café com o meu pai e me
despedi da Ava ainda dormindo, antes de fazer o caminho de volta até
Dorfstan.
Assim que cheguei no meu dormitório, – um prédio de três andares
com quatro quartos por andar, uma lavanderia e os banheiros no térreo – fui
direto para o meu quarto, cumprimentei as poucas pessoas que estavam no
corredor e assim que passei da porta do meu quarto me joguei na cama.
Enfim, paz!
Eu amava estar na casa dos meus pais apenas por causa do meu pai
e da Ava, porque fora eles dois, aquele era um ambiente sufocante demais
para mim.
Principalmente quando minha mãe tentava a todo instante me fazer
mudar de curso.
Revirei os olhos e respirei fundo. Depois de tanto tempo eu já devia
estar acostumada.
Quando eu ia me levantar para arrumar as minhas coisas, Briella
passou pela porta e se jogou ao meu lado. Seu rosto estava vermelho e eu
sabia que ela tinha chorado. Era sempre assim quando ela voltava da casa
dos pais.
A Brie era mais alta que eu, então tive que me ajeitar na cama antes
de acariciar seus cabelos cacheados.
— Como foi com nosso mascotinho? — perguntei depois de um
tempo.
— Foi bem, ele está tão crescido.
— Eu vi nas fotos, está ficando um homenzinho.
— Sim! Sinto tanto por estar longe… — ela disse, com um pesar na
voz.
— Amiga, você faz isso tudo por ele. Vai valer a pena, acredite! — a
consolei.
— Eu tento, amiga. Juro que sim, mas é tão difícil não deixar a
saudade me consumir.
— Eu entendo, mas você só está fazendo o melhor para ele. Se o Joe
estivesse aqui conosco, você iria vê-lo bem pouco também com toda a
rotina do trabalho e da universidade.
— Eu sei! Só preciso respirar fundo e seguir em frente, quem sabe
isso acabe mais rápido? — ela falou limpando as lágrimas do seu rosto e me
deu um abraço apertado antes de se levantar. — Deixa eu te falar antes que
eu esqueça, vi o Dylan esse fim de semana.
— O Dylan, melhor amigo do Dominic ou ou o Dylan que trabalha
na cafeteria? — questionei.
— O amigo do Dominic. Ele me viu com o Joe quando estávamos
no mercado. Estranhei vê-lo por lá, aquela cidade é tão pequena que todo
mundo se conhece e eu tenho certeza de que nunca o vi por lá. — ela
comentou, enquanto tirava algumas coisas da sua mochila.
— Estranho, ele falou com você? — perguntei, me sentando na
cama.
— Ele levou um susto quando me viu também. Acenou rapidamente
e saiu com uma mulher que eu acho que era a mãe dele ao lado. — ela
respondeu.
— Vai ver ele se mudou com a mãe para lá. Lembro que em um
desses almoços com os meus pais e com os Hernandez, a mãe dele
comentou que o Dom tinha ido ajudar um amigo com a mudança. — falei a
ela.
— É, talvez seja isso. — ela concluiu.
— Que tal comida chinesa hoje? — perguntei.
— Gostei da ideia, mas preciso de um banho. — ela disse, se
levantando.
— Eu também! Vamos logo antes que o nosso cantinho nos jardins
fique cheio. — falei, pegando a roupa no armário e a minha necessaire.
--
A semana foi cheia. Conteúdos acumulados, pesquisas para serem
feitas e artigos para serem lidos. Além disso, teríamos jogo na sexta-feira,
por isso os treinos tinham aumentado durante a semana.
Assim que entrei no ginásio, encontrei a Meredith, a capitã da nossa
equipe, sendo jogada para cima pelos nossos companheiros de grupo.
— Não estou vendo os sorrisos felizes, Mer! — gritei e ela ao me
ouvir, deu um sorriso bem debochado.
Coloquei minha bolsa na arquibancada e comecei a me alongar. Não
demorou muito até a Meredith aparecer na minha frente.
— Semanas de jogos são exaustivas, mas ainda bem que dessa vez
não é contra a Foxnory. — ela disse.
— Ainda bem mesmo, tô cansada de ver o nosso time perder.
— Nem me fala, custa esses meninos se esforçarem mais? A gente
rala tanto animando a torcida.
— Eu sei! E ainda dizem que isso que fazemos é fácil. — falei,
revirando os olhos e nós seguimos para o centro do ginásio para fazer os
passos completos.
— Cinco, seis, sete e oito.... — a capitã gritou e a música começou a
tocar.
--
Na sexta-feira eu tinha um relatório para fazer, então fui para a
Cafeteria que ficava entre as duas universidades.
Assim que me sentei em uma das cadeiras, o Quentin apareceu. Ele
era um fofo e dono do lugar.
— O que a minha cliente favorita vai querer por hoje? — ele
perguntou com um sorriso.
— Eu sei que você diz isso a todos, Quentin, mas não vou negar que
eu amo! Vou querer o de sempre e para acompanhar, uma fatia daquela
maravilhosa torta de maçã.
— É pra já! — ele disse, anotando o pedido e saindo da mesa.
Abri meu notebook e enquanto ele ligava, meu celular começou a
tocar. Era a minha mãe.
— Oi, mãe. — falei, assim que atendi.
— Katherine, querida, nesse fim de semana teremos um novo
evento para ir e é extremamente importante que você nos acompanhe nele.
— Eu? A Claire não pode ir com você?
— Não pode, sua irmã está em um congresso. — ela disse e eu
revirei os olhos.
— Eu também poderia ter alguma coisa para fazer.
— Eu sei que você não tem nenhum compromisso, vou mandar as
chaves do quarto em que você vai ficar através de um mensageiro para seu
dormitório junto com o endereço. Esteja lá amanhã pela manhã e dessa vez
arrume uma roupa decente. Ainda não acredito que você usou aquele
vestido no jantar.
— Tudo bem, vou sair daqui logo depois do jogo para estar bem
disposta para o evento amanhã. — falei me rendendo às vontades dela.
Assim que terminei de copiar o artigo, paguei o café e a torta e fui
até uma boutique que tinha próxima do campus. Comprei dois vestidos: um
dourado com decote corpete para usar durante o dia e um azul acinzentado
para vestir à noite.
Comprei também dois pares de sapatos novos para compor o look e
fui para o meu quarto no dormitório. Arrumei as roupas que eu usaria nesse
fim de semana e deixei todas elas no meu carro.
Voltei para o dormitório e comecei a me preparar para ir animar.
Coloquei o uniforme das líderes e quando ia começar a me maquiar, Briella
entrou no quarto, equilibrando inúmeros livros em seu braço.
— Quer ajuda? — perguntei e ela colocou os livros sobre a cama.
— Não precisa! Amiga, onde você estava hoje? Sumiu o dia todo!
— ela questionou, preocupada. A Brie tinha um jeito muito mãezona.
— Então, primeiro fui na cafeteria terminar um artigo que eu
precisava entregar hoje e depois fui comprar umas roupas.
— Mais roupas, Kath!?
— Vou para outro evento com os meus pais esse fim de semana e
precisei comprar outro vestido porque todos os que tenho aqui são curtos.
— Tia Kris deve ter odiado o vestidinho rosa, hein?
— Odiar é pouco para o que ela deve ter sentido amiga, mas já
comprei outro. Depois te mando uma foto.
— Certo, nos vemos que dia agora?
— Só no domingo. Vai comigo para o jogo? — perguntei e ela se
deitou na cama, resmungando.
— Estou exausta! No próximo eu vou, prometo!
— Eu vou cobrar! — falei me levantando, já tinha terminado a
maquiagem.
Peguei a minha bolsa, me despedi da Brie e segui para o ginásio.
Três

Assim que o jogo acabou - nós finalmente tínhamos ganhado - eu


me despedi dos meus companheiros de equipe e fui direto para o meu carro,
um dos poucos luxos que permiti os meus pais darem a mim de presente, o
meu porshe vermelho.
Joguei a minha bolsa e a mochila no banco traseiro, coloquei o
endereço do resort no GPS e segui pela estrada.
Cheguei no resort exausta, minha cabeça estava começando a doer e
eu só queria ir diretamente para o meu quarto e descansar.
Quando passei pela recepção, tinha uma mulher loira lixando as
unhas e assistindo novela através de uma pequena televisão.
Eu não queria incomodá-la, sabia que estava tarde e que de
madrugada ninguém quer ser simpático com ninguém, eu mesma não
queria, mas o segurança que estava no corredor não estava muito de acordo
com isso.
— Boa noite, senhorita. Primeiro é preciso fazer o check-in na
recepção antes de ir para os quartos. — ele explicou ao me parar.
— Boa noite, eu já estou com a chave do meu quarto, então suponho
que a minha mãe fez o check-in mais cedo quando chegou. Eu adoraria
ficar aqui conversando mais sobre isso, mas estou exausta e ansiosa para
chegar ao meu quarto, então será que você pode me dar licença? —
perguntei, tentando não ser grossa.
O segurança me deixou passar e eu comecei a procurar o meu
quarto. Aquele resort tinha um estilo mais intimista, então os quartos eram
como pequenas cabanas distribuídas a uma certa distância uma da outra.
Como eles eram todos iguais, tive que prestar bastante atenção nos
números, até encontrar o meu. Abri a porta e coloquei a minha mala em um
canto, apenas para poder procurar o interruptor e clarear o quarto que estava
escuro e não me deixava enxergar quase nada.
Fui tateando a parede até encontrar e quando as luzes se acenderam
iluminando tudo, eu percebi que não estava sozinha.
Tinha um homem no quarto, mais precisamente deitado na minha
cama.
— AAAAAAAAAH! — gritei e ele se levantou, assustado.
Não era um estranho, Dominic Hernandez estava no meu quarto,
deitado na minha cama, sem camisa.
Oh, céus!
— Por você está gritando, Kath? Caramba é uma da manhã! Que
inferno você está fazendo no meu quarto? — ele perguntou mal-humorado
enquanto passava a mão sobre seus olhos.
Eu desviei a atenção do seu peitoral definido para poder me
concentrar na resposta que daria e olhei em os seus olhos.
Ele disse que aquele era o quarto dele!?
— Seu quarto? Bebeu? Minha mãe reservou esse quarto para mim,
tanto que eu já estou com a chave desde hoje de manhã. — falei, irritada.
— Eu fiz o check-in quando cheguei. Esse era um dos poucos
quartos disponíveis, acho que você se enganou e entrou no quarto errado,
perturbando o meu sono. — ele disse, levantando da cama e pegando sua
camisa no cabideiro.
— Eu sei que está tarde, por isso eu tomei o maior cuidado para
entrar no quarto certo. Eu não sei por que a gente tá discutindo isso aqui,
vamos para recepção que eu vou pedir para a moça arrumar outro quarto
para você. — declarei, pegando a minha bolsa sob a mala e fui até a porta.
Curiosamente Dominic não replicou e me seguiu. No meio do
caminho, ele disse:
— Por que eu tenho que mudar de quarto?
— Porque o quarto é meu e o errado aqui é você, queridinho. —
falei enquanto entravamos na recepção.
— Boa noite, em que posso ajudá-los? — a recepcionista perguntou
assim que paramos em seu balcão.
— Queremos um novo quarto. — respondi, mas ela me ignorou,
olhando para Dom e direcionando uma nova pergunta para ele.
— Algum problema com o quarto, senhor Hernandez? — ela
questionou com um sorriso.
— Problema nenhum, mas deve ter acontecido algum equívoco, pois
temos a chave do mesmo quarto. — ele explicou, retribuindo o sorriso e eu
revirei os olhos.
— Você está hospedada aqui, não me recordo do seu check-in. —
ela disse, me encarando.
— Eu cheguei agora. Não fiz check-in porque minha mãe reservou
esse quarto e me enviou a chave hoje pela manhã para que eu não tivesse
transtorno algum ao chegar e pudesse descansar. — falei, impaciente.
— Bem, se a senhora tivesse feito o check-in quando chegou, eu
conseguiria ver que o quarto já estava ocupado e poderia resolver esse
problema. — a recepcionista disse, enquanto digitava algo em seu
notebook.
— E não pode resolver agora por quê? O erro foi de vocês que
deram o meu quarto para outra pessoa. — questionei, irritada.
— Bem, senhora, vocês provavelmente vieram para o evento que
teremos durante o dia. Por causa dele todos os nossos quartos estão
ocupados, então não há muito que eu possa fazer. Peço desculpas pelo erro
e tentarei resolvê-lo amanhã pela manhã. — ela respondeu calmamente com
um sorriso.
Respirei fundo e passei a mão por meus cabelos, pronta para soltar
alguns palavrões quando Dominic colocou a mão sobre a minha e interferiu.
— Nós entendemos, sem nenhum problema. Eu e a Katherine já nos
conhecemos e não será um desconforto para nós dividirmos o quarto essa
noite. — e dito isso, ele deu boa noite e me puxou pela mão para fora da
recepção.
— Por que você fez isso? — perguntei, me soltando do seu aperto.
— Porque você ia causar um escândalo e eu preciso descansar. Vou
representar os meus pais nesse evento e preciso estar com a mente limpa
para aguentar todos esses velhos falando sobre a mesma coisa sem fazer
cara feia. — ele respondeu e eu expirei fortemente antes de andar mais
rápido em sua frente.
Assim que entrei no quarto, arrastei minha mala e entrei no
banheiro. Encarei o meu reflexo e passei a mão pelo meu rosto,
massageando-o. Minha expressão estava tão cansada.
Liguei o chuveiro quente, deixando a água encher a banheira.
Apesar do horário eu precisava relaxar.
Retirei minha necessaire da mala e o meu baby-doll. Apesar de não
querer usar algo tão curto ao lado do Dominic, eu não tinha muita escolha,
minhas outras roupas não serviam para dormir.
Fiz o meu ritual de skin care e coloquei uma máscara relaxante antes
de entrar na banheira. A água estava perfeita, então eu encostei minha
cabeça e acho que acabei cochilando, porque despertei assustada com as
batidas na porta.
— Katherine, você tá bem? Aconteceu alguma coisa? Se você não
responder eu vou arrombar essa porta. — Dom bradou do quarto.
— CALMA! — gritei — Tá tudo bem, eu só cochilei, já estou
saindo. — falei, vendo que já não tinha mais quase nenhuma espuma na
banheira. Eu provavelmente cochilei por muito tempo.
Depois de colocar o meu baby-doll, saí do banheiro arrastando
minha mala pelo quarto e notei que Dominic observava cada um dos meus
passos. Ele estava deitado na cama e não havia tirado a camisa – pelo bem
da minha sanidade.
— Você vai continuar na cama? — perguntei, enquanto fazia um
coque frouxo em meus cabelos.
— E onde mais eu dormiria, Kath? — ele perguntou, parecendo
estar aborrecido.
Passei meus olhos pelo quarto até encontrar um pequeno sofá no
canto.
— Achei que você dormiria, ali. — respondi, apontando para o
móvel.
— Olha o meu tamanho, eu mal caberia ali. Não abro mão da cama,
eu cheguei aqui primeiro. Dorme lá você. — ele replicou.
— Você vai usar esse argumento infantil de eu cheguei primeiro?
Pelos deuses, Dominic, esperava mais de você! — falei e ele me encarou.
— No momento eu não estou com saco para provocações. Se não
quiser dormir na cama, dorme no sofá, eu não vou sair daqui. Boa noite. —
ele disse deitando de lado, puxando a coberta e fechando os olhos.
Suspirei e apaguei as luzes do quarto, me deitando ao lado dele. A
distância entre nós dois até que era confortável devido ao tamanho da cama.
Me ajeitei com o cobertor que ele tinha colocado no meu lado da
cama e adormeci.
Quatro

Quando abri os olhos na manhã seguinte, notei que toda a distância


entre nós dois havia sido eliminada, eu e Dominic estávamos tão próximos
que conseguia sentir sua respiração em meus cabelos.
Sua boca estava próxima da minha testa e seus braços abraçavam
meu corpo, deixando-me praticamente sobre ele. Minha cabeça estava
encostada entre seus ombros e seu peitoral, e uma das minhas pernas estava
enroscada com a dele.
Como tínhamos acabado nessa posição e por que eu me sentia tão
confortável com ela!?
Nunca admitiria isso para ninguém, nem sob tortura, mas eu estava
gostando tanto de estar ao lado de alguém e nós nem tínhamos feito sexo.
Algo não estava certo e eu precisava urgentemente ir para o meu
lado da cama.
Quando senti Dominic se mexendo eu fechei os olhos e fingi que
estava dormindo. Tentei respirar calmamente para que ele acreditasse e
parece que funcionou, já que ele tomou muito cuidado para se desvincular
de mim e sair da cama.
Tive a sensação de ser observada, mas não abri os olhos para
conferir. Assim que ouvi o som de uma das portas se fechando, eu abri os
olhos e peguei o meu celular.
Mandei uma mensagem para Brie e conferi as minhas redes sociais.
Quando o som de água caindo parou, eu voltei a fingir que estava
dormindo.
Covarde? Talvez! Mas eu era péssima com conversas matinais, por
isso eu evitava dormir com os caras que eu saía.
Quando a porta do banheiro se abriu, o cheiro do perfume
amadeirado dominou o quarto. O inspirei suavemente e tentei não fazer
movimentos bruscos.
E quando Dominic finalmente saiu do quarto, eu me levantei e
comecei a me arrumar para o evento. O vestido dourado era levinho e
perfeito para ocasião.
Depois do banho, fiz uma maquiagem suave e liguei o meu baby-
liss para fazer algumas ondas no meu cabelo.
Encontrei os meus pais alguns minutos depois. Minha mãe não
reclamou da roupa e isso foi um alívio para mim, já que tinha escolhido
uma roupa para agradá-la.
O evento começou em um dos salões externos do resort. O espaço
estava decorado com inúmeras fotos das ações que as famílias já tinham
feito. Com um discurso de uma das famílias mais tradicionais da cidade,
esse era um evento anual de caridade, então todos se esforçavam para
parecer ainda mais ricos.
Segui meus pais como uma sombra e mantive a minha pose de filha
perfeita, cumprimentando a todos com um sorriso amável.
Vi Dominic constantemente, pois como ele mesmo tinha me dito
noite passada, seus pais não estavam e ele precisava representá-los muito
bem.
O dia foi bastante entediante, o único momento em que consegui me
distrair foi durante uma apresentação de teatro das crianças que moravam
em uma das ongs que a família Ferraz apoiava.
Enquanto comia a sobremesa, uma torta de morango recheada com
cream cheese, Dominic se sentou ao meu lado e eu perguntei:
— Cansou de ficar falando com os velhotes?
— Cansei, eles só têm dois assuntos: As novas esposas e os
investimentos que estão fazendo. Até me perguntaram quando eu vou me
casar. — ele disse, parecendo completamente exausto com aquilo tudo.
— Bom saber que eu fiz a escolha certa não indo para o outro salão.
Fiquei aqui assistindo as apresentações e comendo tudo o que tenho direito
a fim de evitar qualquer tipo de conversa. Você devia experimentar a torta,
está uma delícia! — sugeri a ele, que procurou um garfo sobre a mesa e
tomou um pedaço da minha torta. — Você é muito folgado, Dom! Pede uma
para você.
— Deixa de ser egoísta, Kath. — ele disse, pegando outro pedaço —
Deveria ter ficado aqui também, mas precisava tratar de alguns assuntos
que o meu pai me pediu. — revelou, depois de mastigar.
— As apresentações deram um toque especial hoje, normalmente
esses eventos durante o dia são bem entediantes. O bom é que à noite tem o
leilão, pretende levar algo essa noite?
— Têm algumas coisas interessantes, mas não pretendo dar lances
muito altos.
— É para caridade, Dominic! Não se economiza dinheiro com isso.
— Eu sei, mas não sei se você lembra que eu ainda sou
universitário.
— Gasta um pouco da sua mesada, tenho certeza de que seus pais
não vão se importar. Tem um fim de semana na Itália que parece
imperdível! — falei, antes de pegar o último pedaço. — Preciso ir ver onde
minha mãe está ou ela vai reclamar durante todo o jantar. — revelei, me
levantando da mesa.
— Eu vou ficar por aqui, nos vemos mais tarde, Kath. — ele se
despediu e eu saí andando pelo grande salão em busca da minha mãe.
--
À noite, estávamos nós dois no quarto. Como eu tinha chegado
primeiro, tomei meu banho, coloquei a roupa íntima, um roupão por cima e
fui até a penteadeira do quarto para me maquiar e arrumar o meu cabelo.
Enquanto eu colocava os cílios postiços, Dominic entrou no quarto e
perguntou, enquanto pegava sua mala.
— Me espera para irmos juntos?
— Claro. — respondi, sorrindo para ele.
Depois de terminar a maquiagem, tinha feito os olhos mais
marcantes dessa vez, fui para os meus longos cabelos pretos e fiz alguns
cachos com o baby-liss, deixando-os ondulado.
Coloquei o meu vestido, tinha escolhido um azul acinzentado com
decote de coração e uns detalhes brilhantes sobre ele. Seu tecido era leve e
ainda tinha uma fenda em uma das pernas.
Estava tentando subir o zíper na parte de trás do vestido quando
Dominic saiu do banheiro. Novamente seu perfume amadeirado invadiu o
quarto e me deixou levemente balançada. Ele estava vestindo uma calça
social, com uma camisa branca e um blazer por cima.
Seus cabelos estavam molhados e penteados para trás, quando
nossos olhares se cruzaram, ele perguntou:
— Precisa de ajuda com o vestido?
— Na verdade sim. Achei que conseguiria sozinha, mas pelo visto,
não. — falei rápido demais, eu estava nervosa e isso era muito incomum.
Fiquei de costas para Dominic e resolvi ficar calada. Escutei seus
passos pelo quarto até chegar a mim e quando suas mãos tocaram as minhas
costas e sua respiração chegou ao meu pescoço, eu fiquei completamente
arrepiada.
Pensei em falar alguma coisa, mas a tensão entre nós dois era
palpável. Meu corpo ansiava por Dominic Hernandez enquanto meu
cérebro gritava repetitivamente que eu não poderia ficar com ele.
Cinco

Chegamos juntos no evento. Dominic mantinha uma das mãos na


minha lombar enquanto me guiava até a nossa mesa.
Desde o episódio do zíper, as coisas estavam meio estranhas entre
nós dois. Ele tinha sentido alguma coisa também e eu tinha percebido isso
quando me virei para agradecê-lo e ele não falou absolutamente nada e
quase gaguejou ao dizer que precisávamos ir.
Ao chegarmos na mesa em que meus pais estavam com alguns
amigos, Dominic puxou a cadeira para que eu me sentasse antes de se
sentar ao meu lado. Depois de breves cumprimentos, minha mãe disse:
— Não gostei da fenda, mas esse está melhor que o outro. — ela
não perderia a oportunidade de reclamar de algo, mesmo em um elogio.
Lhe ofereci um sorriso sem replicar e prestei atenção na decoração
do salão que dessa vez estava mais simplista, eles só tinham adicionado
alguns lustres pelo espaço para iluminar o local e colocado algumas flores
pelo palco para evidenciá-lo.
Aproveitei que um garçom estava passando e peguei uma taça de
vinho e, enquanto a bebericava, olhei os rostos conhecidos na nossa mesa;
um dos amigos do meu pai, Kevin, estava com a sua nova esposa, Laysa.
Ela era bem mais nova que ele e claramente ainda estava se acostumando
com esse meio, já que ela não parava de perguntar inúmeras coisas à minha
mãe que respondia tudo com educação, mas sem a menor paciência.
Ao lado do Kevin estava Matthew. Ele era um amigo próximo da
minha família e da do Dominic, lembro de sempre vê-lo na minha casa
durante a minha infância e nós compartilhávamos a mesma cor dos olhos, o
que não era incomum quando meu pai tinha os olhos azuis e minha mãe
olhos verdes, dando a mim um tom de azul esverdeado.
Assim que ele notou que eu estava o observando, Matthew me
incluiu na conversa.
— Katherine, estava agora mesmo conversando com Dominic sobre
as universidades. Como vão as coisas na Dorfstan? Ganhamos alguns
jogos? — ele questionou em um tom brincalhão. Matthew também tinha
estudado lá.
— Vão bem. Quando não jogamos contra a Foxnory conseguimos
ganhar. Apesar do Luke ser um bom capitão, ele não consegue jogar por
todo time. — respondi, enquanto o prato de entrada era servido.
— Como se aquele babaca jogasse bem. — Dom resmungou ao meu
lado.
— Acredito que seja a hora de trocar de treinador. O senhor Jones
era bom na minha época, mas hoje em dia deve estar ultrapassado. —
Matthew disse e eu assenti, concordando.
— Realmente, talvez esse fosse o momento. Não aguento mais
perder pro time desse convencido aqui. — falei, empurrando Dominic
levemente e ele riu.
Laysa aproveitou esse momento para focar em nós dois e não na
minha mãe.
— Ai, meu Deus! — ela disse com sua voz anasalada — Vocês são
tão fofos... Há quanto tempo estão juntos?
Dominic e eu trocamos olhares por alguns segundos e quando eu ia
responder, minha mãe disse um pouco ácida:
— Dominic e Katherine não estão juntos, bem que eu queria que a
minha Kath colocasse a cabeça no lugar e se relacionasse com alguém
como o Dominic. Talvez ele colocasse um pouco de juízo em sua cabeça.
Meu pai a repreendeu com o olhar e eu respirei fundo e bebi o meu
drink para não responder à minha mãe naquele momento. Todos na mesa,
além da minha mãe, ficaram desconfortáveis com a sua resposta, então
Dominic colocou sua mão sobre a minha perna, apertando-a levemente, me
confortando e eu consegui voltar a respirar normalmente.
O prato principal foi servido e o leilão começou. Estava tão
incomodada com o comentário da minha mãe que nem estava dando
atenção a ele. Assim como no outro jantar, eu só queria sair dali.
Me incomodava muito essa visão que a minha mãe tinha de mim.
Era difícil nunca ser suficientemente boa para agradá-la. Durante a minha
infância eu lutei para ser melhor que a Claire em alguma coisa, apenas para
ter o reconhecimento dela, mas nada que eu fizesse era digno de um elogio.
Aprendi a tocar piano, falava mais de duas línguas além do inglês,
cavalgava excepcionalmente bem, mas nada disso adiantou. Então, quando
eu comecei a fazer as coisas que eu queria, me tornei a filha rebelde e
comentários como aquele que ela havia feito no jantar eram rotineiros.
Minha avó dizia que era porque minha mãe era igualzinha a mim
quando mais jovem e para ela, era como estar se vendo no espelho, que ela
estava tentando evitar que eu cometesse os mesmos erros, mas eu duvidava
disso. Minha mãe não se importava comigo a esse ponto.
Estava me preparando para levantar da mesa quando anunciaram o
fim de semana em Portofino, uma comuna italiana na região da Ligúria.
Tinha desejado esse fim de semana durante todo o dia e agora não me sentia
bem nem para dar um lance.
A mão de Dominic ainda pairava sobre a minha perna e quando eu
coloquei a mão sobre a dele para tirá-la, ele segurou-a e deu um lance
absurdamente alto antes de sorrir para mim e aquilo me desestabilizou
completamente.
Quando eu escutei que ele tinha levado o fim de semana, eu falei a
ele:
— Para quem não queria dar lances altos, você acabou de se
contradizer!
— É para caridade, Katherine, e além do mais eu sempre quis
conhecer essa parte da Itália. — ele explicou.
— Essa é uma das poucas áreas que eu não conheço. Como a minha
avó mora em Roma, sempre conhecemos algum lugar novo quando vou
visitá-la. — declarei e ele soltou a minha mão para que pudéssemos
bebericar o vinho que tinha acabado de ser servido e eu senti falta daquele
toque.
— Sinto saudades da minha abuela, mas meus pais e eu estamos
planejando uma viajem ao México para vê-la. Apesar de insistirmos, ela
não quis vir morar conosco. — ele revelou enquanto conversávamos. Eu
não conhecia a avó do Dominic, mas já tinha ouvido muitas histórias sobre
ela, pois ele sempre ia visitá-la com seus pais, mesmo depois de adulto.
Após a sobremesa, todos foram levados para a área reservada para
dança. Novamente Dominic me acompanhou com a mão na minha lombar e
me perguntou assim que a voz do Harry Styles reverberou nos altos
falantes.
— Dança comigo?
— Claro que sim.
Fomos até o centro do salão onde inúmeros casais dançavam ao
nosso lado. Minhas mãos estavam em seu pescoço e suas mãos estavam nas
minhas costas.
Palavras não precisavam ser ditas, bastava olhar para ele para
perceber que algo tinha mudado entre nós dois. Estávamos tão envolvidos
um no outro que não percebi quando a música parou de tocar.
Só notei que estávamos dançando sem música quando Julian
apareceu atrás do Dominic.
Nos soltamos e enquanto Julian sorria para mim, Dominic parecia
não ter gostado de ter sido interrompido.
— Será que podemos dançar agora, boneca? — Julian perguntou,
estendendo sua mão para mim.
Dominic me olhou, pareceu que ia dizer algo, mas saiu de perto de
nós dois sem ao menos se despedir.
Tentei dar atenção ao Julian enquanto dançávamos, mas não estava
escutando nada do que ele dizia. Procurei Dominic por todo salão e não o
encontrei, o que era bem estranho, pois ele não costumava deixar os eventos
muito cedo, ainda mais quando precisava representar os seus pais.
Assim que a música terminou, saímos do salão e fomos para perto
do bar. Esperei enquanto Julian pegava um drink e quando ele voltou,
entregou-me a taça e disse:
— Você parece estar no mundo da lua hoje.
— Desculpa por isso, Julian. Acho que estou cansada e vou para o
meu quarto. — respondi a ele.
— Será que eu posso te acompanhar até lá? Tenho certeza de que
posso fazer esse cansaço evaporar rapidinho. — ele falou, se aproximando
de mim.
— Acho melhor não, estou dividindo o quarto com uma pessoa e eu
realmente quero descansar. — falei, devolvendo a taça intacta para ele.
Chega de bebidas para mim essa noite.
— Tudo bem, percebi que você estava meio aérea enquanto
dançávamos. Posso ao menos te acompanhar até o quarto? — ele
questionou e eu assenti.
Me despedi rapidamente dos meus pais e do Matthew que estava ao
lado deles e saí do salão. Julian caminhou ao meu lado e assim que
chegamos, ele colocou uma das mechas do meu cabelo atrás da minha
orelha e colocou sua mão em meu pescoço, me dando alguns beijos naquele
mesmo lugar.
— Será que eu não consigo mesmo te convencer a irmos para o meu
quarto? — ele insistiu mais uma vez.
Sempre que eu e Julian nos encontrávamos, acabávamos transando.
Era algo natural para a gente e o fato de eu não querer ficar com ele agora,
usando a desculpa de estar cansada, era estranho até para mim.
— Hoje não, eu realmente preciso descansar. Vou embora cedo
amanhã. — falei e ele parou de me beijar, mas não se afastou.
— Tudo bem, boneca. — respondeu, me dando um selinho. — Nos
vemos amanhã então. — ele disse e eu assenti antes dele ir embora.
A luz do quarto estava acesa, o que indicava que Dominic estava ali.
Respirei fundo e abri a porta. Ao passar por ela, escutei vozes e percebi
naquele instante que Dominic estava acompanhado por uma mulher.
Seis

Britney Ferraz estava sentada ao lado de Dominic na cama. Sua mão


estava sob a perna dele, enquanto a outra segurava uma taça com vinho
branco.
Ela usava um vestido vermelho com um decote bem escandaloso e
Dominic estava sem o blazer com alguns botões da sua camisa social
abertos. Ele segurava um copo com whisky e parecia bem interessado no
que ela estava falando.
Eles estavam tão próximos e pareciam tão íntimos um do outro, que
nem perceberam quando eu entrei no quarto. Mas assim que me viu,
Dominic se levantou e Britney virou para ver o que tinha acontecido.
— Katherine, querida. Não achei que o Dom estivesse falando sério
quando disse que vocês dividiam um quarto. — ela disse, se aproximando
de mim para me cumprimentar com dois beijinhos.
Me controlei para não revirar os olhos com aquela voz enjoada que
ela tinha e respondi:
— É, não tivemos muita escolha quanto a isso, mas não vou
atrapalhar vocês.
Andei até a minha mala, mas Dominic interferiu:
— Não precisa sair do quarto, eu e a Britt vamos para outro lugar.
— ele a conduziu para fora do quarto e eu respirei fundo antes de seguir
para o banheiro.
Enquanto tomava uma ducha, questionei a mim mesma do porquê
de eu estar tão irritada com o Dominic por trazer alguém para o nosso
quarto. Tudo bem que estávamos dividindo-o, mas era normal que ele
estivesse com alguém e aquilo não deveria me afetar.
Esse fim de semana não estava me fazendo bem.
Depois de vestir o meu baby-doll e de fazer um coque nos meus
cabelos, me deitei na cama, colocando os meus fones de ouvido e abri o
aplicativo de música.
Enquanto Sam Smith cantava Dancing with a Stranger, Dominic
entrou no quarto. Tivemos uma breve troca de olhares antes dele entrar no
banheiro.
Quando ele voltou para o quarto fiz o máximo para ignorá-lo.
Fechei os olhos e ignorei o quanto o cheiro do seu perfume mexia comigo,
mas quando tive a sensação de estar sendo observada. abri os olhos e
encontrei Dominic praticamente sobre mim.
Ele falou alguma coisa, mas eu não entendi, então tirei os fones e
perguntei:
— O quê?
— Será que podemos conversar ou você vai continuar fingindo que
eu não estou aqui. — ele questionou, se sentando na cama.
— O que você quer, Dominic?
— Quero te pedir desculpas por ter trazido a Britney para cá.
Imaginei que você ficaria com aquele outro cara e que não voltaria para o
quarto.
— Você não tinha o direito de trazer ela para cá independente de eu
estar em outro quarto. Essa cama é nossa, imagina o nojo que eu sentiria
por saber que aquela insuportável dormiu nesses lençóis.
— Eu não tinha o direito? Como você falou, esse quarto é nosso.
Você com certeza traria aquele babaca para cá se tivesse oportunidade. —
ele replicou.
— Eu definitivamente iria para outro lugar por te respeitar,
Dominic. Alugaria um quarto se fosse preciso, com certeza muitas pessoas
já foram embora essa noite.
— Você prefere que eu vá para outro quarto? — ele perguntou.
— Dominic, nós vamos embora amanhã pela manhã. Eu preciso
dormir, então faz o que você quiser. — respondi, já farta daquela
discussãozinha.
Me deitei de costas para ele e apaguei a luz do meu abajur. Dominic
expirou pesadamente antes de se deitar, sem desligar o seu.
Ficamos em completo silêncio e quando percebi que a sua
respiração tinha se acalmado, me virei encontrando seu rosto sereno
adormecido.
Era estranho perceber que sentiria falta disso, de dormir ao lado
dele, de tê-lo tão perto de mim. Não conseguia pôr em palavras o que eu
sentia por Dominic, mas definitivamente, não me sentia assim a muito
tempo.
Quando ele abriu os olhos e me encarou, eu levei um susto e pensei
em me virar e fingir que aquilo não tinha acontecido, mas resolvi não me
acovardar, então o encarei também.
— Não marca nada para o fim de semana do feriado da
Independência. — ele falou suavemente quase sussurrando.
— Por quê? — perguntei, o feriado seria em duas semanas.
— Quero te levar para Portofino. — justificou.
— Foi por isso que você deu um lance tão alto? — questionei,
surpresa.
— Você disse que queria conhecer o lugar e eu não vejo problemas
em realizar esse desejo. — ele respondeu e nós nos encaramos por longos
segundos.
— O que estamos fazendo, Dominic? — questionei, enquanto sua
mão sutilmente acariciou os meus cabelos.
— Eu não sei. — ele disse, se aproximando um pouco mais de mim
como se soubesse exatamente o que eu queria.
— Eu não vejo como isso pode dar certo. — falei quando seu rosto
estava quase colado ao meu e todas as suas intensões tinham ficado bem
claras.
— Nós podemos fingir apenas essa noite. — ele disse segundos
antes dos seus lábios encontrarem os meus e nossas bocas se conectarem
em um beijo de tirar o fôlego.
Suas mãos foram até o meu cabelo, segurando-o enquanto ele me
virou, vindo para cima de mim. Toquei seu corpo, enquanto seus lábios me
devoravam com intensidade.
Com uma tranquilidade que me fez enlouquecer, ele me tocou,
enviando ondas de prazer por todo o meu corpo, enquanto eu me perdia nos
seus belos olhos castanhos.
Pouco a pouco nossas peças de roupa voaram pelo quarto até não
restar nada além dos nossos corpos ansiando um pelo outro.
Minhas mãos arranhavam suas costas enquanto seus lábios
devoravam os meus e a fricção entre os nossos corpos me levava a loucura.
Será que todas as nossas provocações tinham sido preliminares?
Porque só isso explicaria tanta tensão sexual naquele quarto.
Ao me preencher, nossos corpos se conectaram como peças de um
quebra-cabeça e quando ele começou a se movimentar dentro de mim,
tomei as rédeas da situação e mostrei a ele que dois poderiam jogar aquele
jogo.
Nunca tinha sido dessa maneira, nunca foi tão bom desse jeito.
Quando ficamos completamente extasiados, ele me abraçou para
que eu ficasse com a cabeça sobre seu peito e ao escutar o som ritmado do
seu coração batendo, eu percebi que não haveria nada para se arrepender
daquela noite.
E pela primeira vez em muito tempo eu não senti vontade de ir
embora.
Sete

Quando senti a claridade em meus olhos, me vi obrigada a abri-los e


acordar, o que era uma pena tendo em vista que estava tendo um sonho tão
bom, mas ao contrário da manhã anterior em que acordei enroscada com
Dominic na cama, dessa vez eu estava completamente sozinha.
O fato de estar nua por debaixo dos lençóis me fazia ver que a noite
anterior não tinha sido apenas um sonho.
Procurei por vestígios de Dominic pelo quarto, mas não o encontrei
nem no banheiro e a sua mala tinha sumido. Não havia nenhum bilhete ou
mensagem no meu celular.
Ele tinha simplesmente ido embora sem me dizer nada. E isso fez
todo o meu bom humor se esvair.
Fui para o banheiro e depois de uma ducha breve, prendi os meus
cabelos em um rabo de cavalo e coloquei um conjuntinho laranja que
valorizava o meu corpo. Coloquei os meus óculos escuros, peguei a minha
mala e fiz o checkout no resort.
Caminhei até o estacionamento e enquanto andava, avistei Dominic
vindo da área da piscina.
Então ele não tinha ido embora.
Apressei os meus passos, mas ele me alcançou.
— Bom dia, cariño! — ele me cumprimentou carinhosamente.
— Olá, Dominic. Pensei que tivesse ido embora. — respondi,
friamente.
— Não fui. Achei que voltaria para o quarto antes de você acordar,
mas fiquei preso em uma reunião com os sócios do meu pai até agora. —
ele se explicou.
— Não me deve explicações. — falei antes de continuar andando
em direção ao meu Porsche, mas Dominic segurou o meu braço, me
mantendo no lugar e sussurrou no meu ouvido:
— Eu sei que não, mas quis contar mesmo assim. Daria tudo para
acordar com você e quem sabe nós repetiríamos a noite passada?
— Só se for nos seus sonhos, meu amor. — falei me soltando dele e
ele riu, me seguindo — Vai ficar me perseguindo agora?
— Estava esperando você me oferecer uma carona.
— E por que eu faria isso? — questionei, erguendo uma das
sobrancelhas.
— Porque eu vim junto com Matthew, mas ele não vai embora agora
e eu não aguento mais um dia inteiro com esse pessoal.
— Devia ter pensado nisso antes e vindo com o seu carro. — falei e
ele revirou os olhos.
— Sério isso, Kath? Vai me negar uma carona.
— Claro que não, só queria te irritar um pouco. — falei, abrindo as
portas.
Dominic colocou as nossas malas no banco de trás e se sentou no
banco do passageiro.
Depois de colocarmos os cintos, eu liguei o carro e o vi mexendo no
som.
— Nada disso! — falei, batendo na mão dele — A motorista que
escolhe as músicas. — cliquei na minha playlist de Divas pop e ele revirou
os olhos mais uma vez.
Estávamos saindo do estacionamento quando o Julian apareceu na
minha janela.
— Será que tem espaço para mim aí, boneca? — ele perguntou e eu
não tive escolha senão assentir, mesmo vendo que Dom não tinha gostado
nada da minha decisão.
Julian se sentou no banco de trás, ficando praticamente entre mim e
Dominic. Assim que saímos do Resort ele disse:
— Acredita que o meu carro quebrou? Vou ter que pagar um
guincho para vim buscá-lo aqui.
— Nossa, que péssimo! Vai ficar uma nota para levá-lo até a sua
cidade. — falei olhando para ele rapidamente através do retrovisor.
— Até que não vai ficar tão caro. Acabei não te contando ontem,
mas estou me transferindo para Foxnory.
— Sério? Achei que você gostasse da sua universidade. —
questionei surpresa e vi que Dominic também tinha ficado.
— Eu gostava de lá, mas queria estar perto de você. E como na
Dorfstan não tinha o meu curso, seremos rivais apenas nas universidades,
boneca. — ele respondeu.
— Bem, espero que você goste de lá. — falei a fim de encerrar
aquela conversa que tinha tomado um rumo muito estranho.
Dominic aumentou um pouco o som e ninguém falou nada por um
bom tempo. Passei o caminho todo tentando entender aquela atitude do
Julian. Nós sempre colocamos limites na nossa relação e ele sempre soube
que eu não queria nada sério. Saber que ele tinha mudado de faculdade
apenas para ficar mais perto de mim me deixava um pouco receosa em
relação a ele.
Assim que chegamos na Foxnory, Dominic desceu do carro, pegou
sua mala e não disse nada. Estranhei sua atitude, mas não tive nem tempo
de pensar muito nela porque Julian quase me deu um selinho quando estava
descendo do carro, só não me beijou porque virei o meu rosto a tempo.
— Nos vemos depois, boneca. — ele disse e eu apertei um pouco o
volante do carro antes de seguir para a minha universidade.
Estacionei em frente ao meu dormitório e antes de descer, vi que
tinha recebido uma mensagem, era do Dominic.
Dominic: Desculpa por ter sido um babaca. E obrigado pela
carona!
Assim que terminei de ler a mensagem um sorrisinho brotou no meu
rosto e meu coração começou a bater mais rapidamente.
Aqueles não eram bons sinais!
Desci do carro e quando cheguei no meu quarto, encontrei Briella
em uma chamada de vídeo com o Joe. Ele estava mostrando-lhe os
desenhos que tinha feito enquanto minha amiga o admirava com os olhos
cheios de lágrimas.
Me sentei ao seu lado e ela finalmente percebeu a minha presença, a
abracei e ela disse:
— Olha só quem chegou, Joe! A sua madrinha! — rapidamente o
pequeno olhou para tela e ao me ver fez festa!
— Oi, dinda! Saudade! — ele disse antes de me mandar uns beijos.
— Que saudades, meu amor! Prometo te ver em breve com a sua
mamãe, tá! — falei e ele assentiu com um sorriso no rosto.
Deixei-os no momento mãe e filho e fui tomar um banho para me
livrar do suor da viagem. Quando voltei para o quarto, Briella ainda estava
chorando, dessa vez de tristeza. A chamada de vídeo já tinha acabado.
Consolei a minha amiga por um tempo e deixei que ela aliviasse sua
tristeza em meus braços. Tudo o que a Brie fazia era pelo Joe, o fruto do seu
primeiro relacionamento que infelizmente não tinha acabado muito bem.
Eu odiava me sentir tão impotente em relação a isso, não havia nada
que eu não faria para deixar essa situação mais fácil para os dois, mas
enquanto a Brie estivesse na universidade, o melhor para Joe era ficar com
os pais dela.
Oito

Na manhã seguinte, eu e a Briella tínhamos a mesma aula no


primeiro horário, então saímos juntas do dormitório. Passamos na cafeteria
para tomar um café e papeamos um pouquinho com o Quentin antes de
irmos para a aula.
Depois da primeira aula me separei da minha melhor amiga e segui
em direção ao outro prédio, onde eu teria um seminário. No meio do
caminho meu celular começou a tocar e eu só atendi porque vi que era a
minha mãe.
— Oi, mãe. Aconteceu alguma coisa? — perguntei rispidamente, já
que a dona Kris não me ligava à toa.
— Olá, Katherine. Soube que você e Dominic dividiram um quarto
no resort e até saíram de lá juntos ontem pela manhã. — ela comentou
sutilmente.
— Sim, mãe. Você está me contando algo que eu já sei. Quer me
dizer algo além disso? — questionei sem paciência para tanta enrolação.
— Já vi que não está de bom humor.
— Eu só não estou com tempo para ficar jogando conversa fora
agora, mãe.
— Tudo bem, só quero que saiba que se você estiver mesmo saindo
com Dominic, espero que esteja levando ele a sério. É um rapaz direito e de
excelente família, não é como os caras que você fica pela noite, então não
brinque com ele porque eu não vou abrir mão de uma amizade de anos por
causa de você. — ela disse e instantaneamente meus olhos encheram de
lágrimas, eu nunca fui prioridade para minha mãe, eram sempre os outros
primeiro.
— Não está acontecendo nada entre mim e o Dominic, pode ficar
tranquila. Algo mais?
— Não, nada. É até melhor que não esteja acontecendo nada entre
vocês, ele merece alguém melhor. — ela falou e aquilo para mim foi a gota
d’água.
— Preciso desligar. — encerrei a ligação sem me despedir e corri
até o banco mais próximo, me sentando nele.
Eu odiava essa sensação, mas não sabia como ainda não havia me
acostumado com ela. Minha mãe sempre me tratou desse jeito e com
relação ao Dominic não seria diferente, afinal ela o colocava em um
pedestal que infelizmente eu jamais alcançaria.
Respirei fundo e me levantei, seguindo para o auditório. Fiz
algumas anotações e tentei focar o máximo possível no que os palestrantes
estavam falando.
Ao fim do seminário, fui para minha outra aula e segui o resto da
manhã assim. Quando voltei para o meu quarto, Briella estava se arrumando
para ir trabalhar, ela era garçonete em um pub localizado entre as duas
universidades e ficava lá até o lugar fechar. Não era o melhor dos empregos,
mas juntando as gorjetas e o salário que ela recebia dava uma boa grana.
Já tentei várias vezes ajudar Briella financeiramente, mas ela não me
deixava fazer isso de jeito nenhum e para não abalar a nossa amizade eu
evitava tocar nesse assunto.
Quando minha melhor amiga olhou para mim ela soube que tinha
algo errado.
— O que aconteceu? Por que essa carinha triste? — ela perguntou,
apertando as minhas bochechas.
— Nada demais. — respondi, me jogando na cama.
— Não adianta me enganar, mocinha! Vamos conversar quando eu
voltar do trabalho, me espera acordada. — ela avisou enquanto colocava
sua mochila.
— Tá bom, te espero. Bom trabalho! — falei, me despedindo
enquanto ela saía do quarto.
Aproveitei esse tempo sozinha para colocar uma música relaxante e
planejar a minha rotina de estudos. Enquanto eu escrevia o resumo de um
livro, meu celular alertou uma mensagem.
Ignorei e foquei nos estudos.
Minutos depois ele alertou outra mensagem e deixando a
curiosidade me vencer, eu peguei o meu celular encontrando duas
mensagens: Uma da Meredith e outra do Dominic.
Abri primeiro a mensagem do Dom.
Dominic: Ei, Kath! Por acaso os meus fones ficaram com você?
Não os encontrei na minha mala.
Aquela mensagem era a desculpa mais esfarrapada para falar
comigo, já que ele nem tinha levado fones para a viagem. Lembro disso
perfeitamente porque em nenhum momento o vi usando, nem no carro.
Não o respondi e segui para a mensagem da Meredith.
Mer-Capitã: Ei, bonita! Treino hoje às 17:00 horas. Fui avisada
que teremos jogo na sexta e não no sábado. Montei uma coreografia nova e
precisamos ensaiar.
Kath: Oi, Mer! Tudo bem, te vejo em algumas horas.
Encarei a tela do meu celular por alguns minutos e apesar da
vontade que eu sentia de falar com Dominic, as palavras da minha mãe
ainda estavam fortes na minha cabeça.
Então deixei o celular de lado e fui terminar o meu resumo.
--
No decorrer da semana percebi que ignorar o Dominic não havia
sido a melhor das minhas ideias, já que ele não parava de me mandar
mensagens.
Elas já haviam pulado o nível de assuntos aleatórios e agora ele só
me pedia para parar de ignorá-lo e para conversar comigo.
Dominic me mandava pelo menos três mensagens por dia, me
lembrando da existência dele, como se já não fosse suficiente pensar nele
diariamente.
Então, disposta a tirar Dominic dos meus pensamentos, aceitei o
convite do Luke, o capitão do time de basquete, para jantarmos juntos.
Estava terminando de me arrumar quando Briella perguntou, ela
estava deitada na cama fazendo um trabalho da faculdade.
— Tem certeza de que você quer mesmo sair com o Luke?
— Tenho. Apesar de tudo ele é um cara legal, só precisa ser menos
esnobe, não que isso me incomode muito tendo em vista a mãe que eu
tenho. — respondi, enquanto passava a máscara de cílios.
— O que realmente me incomoda é ver você saindo com esse cara
para esquecer o Dominic.
— Não vamos falar sobre ele de novo, já conversamos na segunda-
feira.
— Mas parece que o que eu falei não foi o suficiente. Poxa Kath,
você tá gostando de um cara pela primeira vez em muito tempo e não quer
dar o braço a torcer por causa da sua mãe? Isso não entra na minha cabeça!
— ela exclamou mais uma vez, indignada.
— Nós não daríamos certo, aceita isso e segue em frente, Brie.
— Vocês nem tentaram! O Dom tá te enchendo de mensagens, não
sei como não veio aqui ainda e você tá escutando a sua mãe e saindo com o
Luke hoje. Um cara que você nem gosta!
— Eu posso gostar dele, basta eu me esforçar. Sério, Brie, preciso
disso hoje, será que a gente pode não discutir? — pedi a ela.
— Tudo bem! Tenha um bom encontro. — ela disse, me dando um
abraço e um beijo na testa.
Saí do dormitório e encontrei o Luke me esperando em frente ao seu
carro. Seguimos até o restaurante e durante o caminho, ele não parou de
falar sobre sua nova casa de campo que tinha ganhado da sua mãe, os carros
que tinha em sua garagem e sobre a sua enorme coleção de tênis.
Me controlei para não revirar os olhos muitas vezes e rezei para que
a nossa conversa não se resumisse a esses assuntos.
O restaurante que fomos era um dos mais exclusivos da cidade e ao
entrarmos, nos encaminharam rapidamente para a nossa mesa.
Estava analisando o cardápio quando o Luke chamou a garçonete
que nos atenderia.
Tirei os olhos do papel quando vi que ele estava fazendo o pedido
para nós dois e resolvi intervir encontrando April, melhor amiga do Dom,
atendendo a nossa mesa.
Nove

— Não vou querer o vinho e acho que eu mesma gostaria de fazer o


meu pedido. — disse a ela, olhando diretamente para Luke.
— Tudo bem, então ela mesma vai te dizer o que quer. — ele falou
contrariado, fechando o cardápio e o colocando sobre a mesa.
— O que você gostaria, senhorita Taylor? — April perguntou,
virando toda a atenção para mim.
Analisei o cardápio rapidamente e fiz o meu pedido.
— Gostaria de um risoto de camarão e para acompanhar uma água
com gás. — assim que terminei de falar, ela se retirou da mesa com os
nossos cardápios, restando apenas eu e Luke e um silêncio desagradável
entre nós dois por longos minutos.
Estava admirando a decoração parisiense do lugar quando ele me
perguntou:
— Animada com o jogo amanhã?
— Sim, espero que o nosso time ganhe dessa vez. — respondi a ele.
— Treinamos muito essa semana, estamos muito focados, mas o
time adversário tem uma vantagem ao ter o Hernandez no time.
— Realmente, ele é um excelente jogador.
— O que é que rola entre vocês dois? Sempre achei estranha a
relação de vocês em quadra, o capitão e a líder do time adversário, isso
seria quase um escândalo. — ele questionou erguendo uma das
sobrancelhas.
— Eu e Dominic nos conhecemos faz muito tempo. O que você vê
em quadra são apenas provocações.
— Bom saber disso, não sabe por quanto tempo eu esperei por uma
chance com você. — ele disse, tocando a minha mão sobre a mesa. Por
sorte, no mesmo instante o nosso pedido chegou.
Mesmo enquanto comíamos, Luke não parava de falar sobre ele e
aquilo era extremamente irritante, pois não existia uma conversa sobre a
mesa, apenas um monologo muito entediante.
Quando acabamos de comer, ele pediu a conta e eu vi April mais
uma vez. Revê-la me fez lembrar do Dominic e de como eu ainda o estava
ignorando.
Voltamos para o dormitório e eu fiz questão de controlar o rádio
durante o caminho, me dando a oportunidade de deixar que a música
preenchesse o ambiente.
Não aguentava mais escutar a voz do Luke. Aceitar aquele convite
não tinha sido uma das minhas melhores ideias.
Assim que estacionamos, eu me virei para ele e falei:
— Obrigada pelo jantar, Luke! Nos vemos amanhã! — e desci do
carro.
Estava caminhando até a entrada do meu dormitório quando senti
uma mão segurar o meu braço, me virei para ver quem era e encontrei o
Luke.
— Esqueci alguma coisa? — perguntei, me soltando do seu aperto.
— Quer dizer que eu te levei para jantar naquele puta restaurante
caro e nem vou te comer essa noite? — ele questionou, irritadiço.
— Você é realmente um babaca, Luke! Vou ignorar essa sua
pergunta. — falei, me virando e ele segurou meu braço novamente, dessa
vez mais forte.
— Não vou sair daqui sem nada, quero pelo menos um beijo. — ele
falou, me puxando para mais perto.
— Me solta agora, Luke, ou eu vou começar a gritar! — avisei a
ele, mas Luke nem se mexeu.
— Não saio daqui sem pelo menos um beijo. A gente pode transar
outra noite. — ele disse, colando sua boca em meu ouvido, me sacudi
tentando me afastar, mas ele não me soltava.
Ia começar a gritar quando a Briella apareceu assoprando o apito
para emergências que tínhamos recebido no começo do semestre.
— Solta ela agora, Luke! Ou eu vou chamar a segurança do campus.
— ela gritou e ele me soltou quando viu algumas pessoas olhando das
janelas do dormitório. Erguendo os braços, ele voltou até o seu carro. Fui
até a Brie que me recebeu com um abraço e eu a agradeci por ter me
protegido.
Depois de um longo banho, me deitei ao lado de Briella em sua
cama e ela perguntou:
— Como você está? Tem certeza de que não quer que eu chame
alguém para fazermos uma reclamação?
— Eu estou bem, Brie. E não precisa chamar ninguém, amanhã tem
jogo e eu não quero prejudicar o time. — justifiquei.
— Foda-se o time, ele ia te beijar a força, Kath!
— Ele não ia fazer isso, acho que não teria coragem.
— Você está em negação, ele com certeza forçaria um beijo ou até
coisa pior! Nunca fui com a cara dele e agora sei o motivo.
— Será que a gente pode não pensar mais nisso? Quero descansar,
tenho um dia cheio amanhã... Vai comigo para o jogo? — perguntei
enquanto ia para minha cama.
— Vou ver se consigo sair mais cedo do trabalho, quero estar por
perto caso precise de alguma coisa.
— Você é um anjo na minha vida, Brie.
— Você que é um anjo na minha. Fica bem e qualquer coisa eu tô
aqui. — ela disse, erguendo a mão até a minha e nossos dedos se apertaram
por alguns segundos.
--
Devido a apresentação de um trabalho, cheguei praticamente em
cima da hora do jogo. As líderes já estavam se aquecendo e eu fui logo me
juntando a elas. O time Foxnory já estava em quadra, se aquecendo. Assim
que vi Dominic, um sorriso brotou nos meus lábios. E quando nossos olhos
se cruzaram, eu esperei por uma provocação, mas ele nem me deu atenção,
seguiu arremessando as bolas como se eu não estivesse ali.
Era estranho estar no mesmo ambiente que o Dom sem as nossas
costumeiras provocações, mas o que eu poderia esperar já que vinha
ignorando-o por dias?
E apesar de tentar afastá-lo, meu coração me lembrava
constantemente do quão bom era tê-lo por perto.
Parei de admirá-lo, mas quando o time da Dorfstan entrou em
quadra e eu vi que o Luke estava entre eles, senti um frio na barriga e me
virei para a torcida.
Apesar de ter dito para Briella que aquela situação não tinha me
abalado, ela tinha me deixado mais frágil do que eu já estava.
Meredith veio animar ao meu lado e perguntou:
— Como você está? Soube o que aconteceu ontem entre você e o
Luke.
— Está tudo bem. Briella apareceu a tempo, mas acho que ele não
faria nada na frente do meu dormitório. — respondi.
— Não apostaria nisso, já ouvi algumas histórias sobre o Luke... —
ela comentou e antes que eu pudesse perguntar mais sobre isso o juiz apitou
o início da partida.
Após o início do jogo, eu não consegui tirar os olhos do Dominic,
ele era ainda mais impressionante em quadra e estava extremamente focado
nesse jogo.
A maneira como se mexia ou como falava com os seus
companheiros de time, seu olhar era de um homem determinado, mas
quando Dom deu uma cotovelada bem agressiva no Luke em meio a uma
jogada eu percebi que talvez ganhar não fosse o seu foco principal naquela
noite.
Dez

No decorrer do jogo Dominic continuou bem agressivo com Luke.


Todas as suas jogadas perdiam o propósito, pois ele só queria agredir o
outro capitão. Isso já estava ficando bem nítido para todos que estavam
assistindo aquela partida.
Faltando alguns minutos para o intervalo, Dom empurrou Luke com
tanta força que ele caiu em cima da arquibancada. Todos nós nos
assustamos e o juiz deu uma advertência em Dom, tirando-o do jogo.
O observei ir até o banco onde estavam os seus colegas de time,
escutei o treinador berrar em seu ouvido, mas ignorando a todos, Dominic
pegou sua mochila e saiu da quadra.
Não pensei muito no que estava fazendo, mas fui atrás dele. Assim
que saí da quadra, pingos de chuva caíram sobre mim e eu percebi que
estava chovendo muito.
Coloquei a minha mão sobre os meus olhos e procurei pelo Dom,
encontrando-o a alguns metros do portão, encostado em uma parede.
Andei até ele e quando estava me aproximando, ele gritou:
— Saí daqui, Katherine! Eu não quero conversar! Chegou a minha
vez de te ignorar!
Mesmo com aquelas palavras ditas com tanta raiva, continuei me
aproximando dele, meus pensamentos estavam confusos, mas eu nunca quis
magoá-lo.
— Não faz assim, vamos conversar. — falei, passando a mão pelo
meu rosto molhado.
— Agora você quer conversar? Eu te mandei mensagens a semana
toda. Agi feito um idiota para descobrir que você estava saindo com aquele
babaca ontem! — ele gritou mais uma vez.
— Eu nunca te prometi nada, Dom. Nós nunca daríamos certo. —
afirmei, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.
— Aquela noite prova o contrário. — ele retrucou, tocando a minha
mão sutilmente.
— Não sou boa o suficiente para você. — declarei olhando nos seus
olhos em meio a chuva que caía em nós dois.
Ele segurou o meu queixo e disse:
— Você é tudo o que eu sempre quis, Kath. — e nossos lábios
gelados se encontram em um beijo apaixonante. As mãos de Dominic
colaram meu corpo ao dele e eu ainda não conseguia acreditar nas palavras
que saíram da sua boca.
Ele queria estar comigo.
Apesar de estar nos braços dele ser uma das melhores sensações que
já experimentei, depois de tantos minutos na chuva nós dois estávamos
tremendo de frio.
Então corremos até o meu dormitório e alagamos os degraus até
entrarmos encharcados em meu quarto. Briella estava ajeitando os cabelos,
pronta para sair e estranhou a presença de nós dois ali.
— O jogo já acabou? — ela perguntou, indo até o armário e jogando
duas toalhas. Dominic agarrou as duas e me entregou uma, eu estava
tremendo de frio.
— Ainda não, saímos mais cedo. — respondi e nós duas trocamos
olhares bastante significativos.
— Certo. Vou buscar uma sopa na cantina, acho que vocês vão
precisar. — ela disse, olhando para nós dois antes de sair do quarto.
É, nós duas definitivamente conversaríamos sobre isso quando
Dominic fosse embora.
Voltei a me secar e Dominic também, ele mexeu em sua mochila,
tentando ver se conseguiria algo para vestir. Virei de costas para ele e
coloquei um casaco de moletom sobre a roupa de líder, tirando-a e logo em
seguida coloquei a calça.
Quando me virei para Dominic, notei que ele trocou o uniforme por
um seco, seus cabelos estavam bagunçados, mas ainda assim ele continuava
muito bonito. Ao contrário de mim que estava com a maquiagem borrada e
com o cabelo bem bagunçado.
Ele sorriu para mim e foi inevitável não retribuir.
Nos encaramos por alguns segundos antes dele me beijar
novamente, suas mãos me seguraram junto a ele antes de cairmos na minha
cama.
Seus lábios deixaram a minha boca e trilharam o meu pescoço. Em
outra situação eu jamais o pararia naquele momento, mas nós precisávamos
fazer dar certo e daquele jeito não funcionaria.
— Dom, nós precisamos ir com calma. — falei, o afastando
sutilmente.
— Tudo bem, só estava tentando mostrar o quanto eu gosto de estar
com você, cariño. — ele disse, afastando o cabelo do meu rosto e me dando
um selinho.
— Também gosto de estar com você e gosto quando me chama
assim, mas para isso dar certo, vamos com calma e não vamos contar a
ninguém sobre nós dois, pelo menos por enquanto. — falei, enquanto
acariciava seu rosto.
— Com contar a ninguém você quer dizer aos nossos pais? Porque
eu não devo nada a ninguém para manter a nossa relação em segredo.
— Eu sei que não, mas eu adoraria que eles não soubessem de nada
ainda. Você conhece a minha mãe, Dom.
— Sim e ela me adora... — ele começou a dizer, mas eu o
interrompi.
— Por isso mesmo. Será que você pode ter um pouco de paciência
em relação a isso? Sei que divide tudo com os seus pais, mas eu realmente
não queria que eles soubessem de nada por enquanto.
— Tudo bem. — ele disse, se levantando e me puxando com ele —
Preciso ir. Dylan deve estar me procurando, já que saí sem dizer nada. Nos
vemos amanhã?
— Não sei se a galera vai ver com bons olhos você transitando pela
Dorfstan... — falei e ele meneou a cabeça, concordando.
— Realmente... O que acha de ir ao meu apartamento então? Eu
posso cozinhar para você. — ele disse enquanto colocava uma mecha do
meu cabelo atrás da minha orelha e mantinha sua mão em meu pescoço.
— Adorei a ideia, nos vemos amanhã então. — lhe dei um sorriso e
ganhei um beijo apaixonado.
Fomos interrompidos quando Briella bateu na porta. Dominic se
despediu dela assim que saiu do quarto e minha amiga entrou com dois
potes de sopa.
— Me conta tudo agora!!! — ela gritou, erguendo um dos potes
para mim.
Segurei-o, me sentei na cama e conclui:
— Ah amiga, acho que estou apaixonada!
Assim que as palavras saíram da minha boca, me dei conta do que
realmente tinha dito. Eu estava apaixonada por ele. Apaixonada por
Dominic mais uma vez e mesmo com as palavras da minha mãe rondando
os meus pensamentos, eu sentia uma fagulha de esperança em meu peito
que talvez aquilo entre nós dois pudesse dar certo.
Onze

No dia seguinte acordei relativamente cedo, acho que por estar


ansiosa, afinal, aquela era a primeira vez em que eu iria ao apartamento do
Dominic. Apesar de já ter recebido alguns convites para acompanhar os
meus pais até onde ele morava, eu sempre recusava por odiar ver todo o
favoritismo deles com ele e por ser muito perto da Foxnory.
Depois de fazer a minha higiene matinal e um bom skin care, vesti
um vestido amarelo e calcei o meu all-star azul. Coloquei o protetor solar,
passei um liptint, coloquei os meus óculos escuros e peguei a minha bolsa,
saindo do quarto sem me despedi da Briella.
Ela estava dormindo e eu preferi não a acordar, afinal ela só
conseguia dormir um pouco mais nos fins de semana.
Enquanto descia as escadas do dormitório, encontrei algumas
meninas da minha turma, uma delas, a Natasha, me parou e disse:
— Oi, Katherine! Não sei se lembra de mim, fazemos literatura
inglesa juntas.
— Oi, Natasha. Lembro de você sim, aconteceu alguma coisa? —
perguntei, colocando os óculos sobre os meus cabelos.
— Não, quer dizer... — ela falou, soando insegura, contorcendo os
dedos um no outro — Soube do que o Luke quase fez com você anteontem.
— Ah, é. Ele foi um completo babaca! A minha sorte foi que a
Briella apareceu e as outras meninas do prédio também e ele foi embora.
— Eu queria ter tido essa sorte. — ela comentou, abaixando a
cabeça, fazendo com que seus cabelos cobrissem o seu rosto.
— Ele fez algo com você? — questionei, temendo a resposta que
receberia.
— Não chegou a me violentar, mas me agarrou em uma dessas
festas e não parou mesmo eu pedindo para que ele parasse. Foi nojento e eu
fico enjoada só de lembrar, ele só parou quando eu lhe dei um chute no
meio das pernas e corri. — ela relatou.
— Você foi muito corajosa. — falei, segurando as mãos dela.
— Eu só estou te dizendo isso para que você saiba que você não foi
a única. Eu também não fui a única e provavelmente outras mulheres já
foram assediadas por ele nesse campus... Preciso ir. — ela falou, soltando
abruptamente suas mãos da minha e desceu as escadas correndo à minha
frente.
Fui durante o curto caminho até a casa do Dom pensando nas
palavras dela. Meredith já tinha me dito a mesa coisa. Uma sensação ruim
percorreu o meu peito e eu tive a certeza de que precisava fazer algo.
Assim que estacionei em frente à casa do Dominic, mandei uma
mensagem para ele, avisando que eu tinha chegado.
Kath: Dom, já cheguei!
A resposta veio quase que instantaneamente.
Dominic: Pode subir, já liberei sua entrada.
Dispersei os meus pensamentos, não deixei que a insegurança me
abalasse e subi até o andar onde ele morava.
Assim que cheguei em frente ao apartamento 37, toquei a
campainha e rapidamente Dominic abriu a porta, me recepcionando com
um sorriso apaixonante.
Ele me puxou com uma das mãos e colou sua boca na minha, me
beijando intensamente.
— Ô, Dom! Desgruda da mina e a deixa falar com a gente também.
— escutei Dylan gritar e Dominic riu antes de separar os lábios dos meus.
Ele entrelaçou sua mão na minha e nós seguimos até a sala.
— Oi, Katherine! — Dylan me cumprimentou com um aperto de
mãos animado — O cara aqui tava ansioso pela sua chegada. — ele disse,
apertando um dos ombros do Dom.
— Oi, Dylan! Não posso julgá-lo porque estava ansiosa também. —
falei com ele, enquanto o Dominic beijava os meus cabelos.
Além de nós três, uma quarta pessoa também estava na sala, mas ela
não parecia muito feliz em me ver.
— Oi, April! — a cumprimentei com um aceno breve.
— Oi, Katherine! Resolveu trocar de capitão hoje? Porque se me
lembro bem, anteontem você estava com o da sua faculdade. — ela
perguntou bem ácida.
— April, não começa com isso. — Dominic interveio, a advertindo.
— É, vamos comprar umas coisas comigo para minha mãe. —
Dylan disse, erguendo a mão para ela, fazendo-a levantar-se do sofá.
O olhar que eu recebi da April enquanto ela passava por mim, me
fez ter mais certeza de que ela não me queria ali e que achava que eu estava
brincando com o Dominic. Aquilo me murchou completamente e o meu
amado percebeu isso.
— Não fica assim não, ela vai perceber o quanto você é legal. — ele
disse, me virando para que eu ficasse de frente para ele e me deu um
selinho — Já tomou o café da manhã?
— Ainda não. — falei, dando um sorrisinho leve.
— Então vem que eu vou fazer um café da manhã para você. — ele
disse, me levando para a cozinha.
No meio do caminho joguei a minha bolsa sobre o sofá e me sentei
em uma das bancadas, me apoiando no balcão e observando o Dom
cozinhar para mim.
Depois de comer as panquecas e beber o café que Dominic tinha
preparado para mim, fomos até seu quarto. Ele era bastante espaçoso, os
tons escuros predominavam o ambiente contrastando com o branco dos
móveis.
— O que vamos fazer hoje? — perguntei, fazendo um coque frouxo
nos meus cabelos.
— Bem, eu preciso levar o cachorro do meu vizinho para passear.
Ele é um senhorzinho já e todas os dias eu levo o Roger para dar um
passeio pelo condômino. — ele falou, colocando algumas coisas no bolso.
— Ah, que fofo da sua parte. Eu amo animais, tinha um gatinho
quando criança, mas deixamos ele com a minha avó na Itália quando eu era
pequena para fazer companhia a ela. Você vai conhecer o Senhor Bigodes
quando formos para lá. — falei, me levantando e enlacei os braços em seu
pescoço.
— Senhor Bigodes? — ele questionou, bem humorado.
— Eu tinha seis anos, Dom! — falei rindo e ele me roubou um beijo
antes de sairmos.
Encontramos o seu Natanael nos aguardando com um belíssimo
labrador de pelos caramelos. O cachorro se animou ao ver o Dom e depois
de conversamos brevemente com o senhorzinho, entramos no elevador e
seguimos para o nosso passeio de mãos dadas.
Doze

Depois daquele dia na casa do Dom, eu ia para a casa dele


praticamente todos os dias. Estávamos vivendo a fase que a Brie nomeou de
“Lua de mel”, eu nunca tinha tido um namorado antes, então achava um
pouco estranho toda essa necessidade que sentia em estar perto do Dominic.
Às vezes isso me assustava, mas era tão bom estar com ele que eu
enfrentava os meus receios.
Passei praticamente toda a semana fugindo das investidas
desagradáveis do Luke. Não tínhamos tido treino essa semana e eu ainda
não havia conseguido conversar com a Meredith com calma, mas eu não
tinha esquecido o que a Natasha tinha me contado. Eu estava determinada a
fazer algo, mas não tinha poder nenhum sozinha.
E mesmo sem os treinos, não conseguia evitar os encontros com
Luke, já que tínhamos aulas nos mesmos prédios. Era completamente
nojento a maneira que ele me olhava e me cantava, isso me incomodava
demais.
Mas eu ignorava até ter algo que eu pudesse fazer.
Além do Luke, Julian tinha se organizado na Foxnory e estava
investindo muito em mim, me mandando presentinhos, mensagens muito
amorosas e apesar e evitá-lo constantemente, ele parecia não entender e
continuava insistindo.
Cheguei exausta no dormitório depois de uma aula extremamente
teórica e cansativa, assim que entrei no quarto encontrei Briella se
arrumando para ir trabalhar.
— Oi, amiga! — ela disse assim que me viu.
— Oi, Brie! Estou indo pro apê do Dom, quer uma carona? —
perguntei, colocando umas roupas na bolsa, ia deixar para tomar banho lá
no apartamento dele.
— Quero sim! Bom que já aproveito para fazer hora extra. — ela
concluiu, colocando seu crachá.
Terminei de fechar a minha bolsa e fomos juntas até o meu Porshe.
Durante o curto caminho, falamos sobre os desafios diários do trabalho dela
no bar e sobre o Joe, o nosso mascotinho que estava cada vez mais esperto.
Depois de deixar Briella no trabalho, fui até o apartamento do
Dominic. Ele já tinha liberado a minha entrada, então subi sem problemas.
Toquei a campainha e surpreendentemente foi o Dylan quem abriu a
porta para mim.
— Oi, Dy! Cadê o Dominic? — perguntei, ajeitando a alça da minha
bolsa no meu ombro.
— Tá no quarto, enfurnado lá desde que chegou. Está com um caso
delicado para analisar e isso está o consumindo. — Dylan me explicou
enquanto andávamos até a sala.
— Bem, vou lá ver se ele já terminou. —concluí indo até o quarto.
Encontrei Dominic super concentrado em frente ao seu notebook,
rodeado de muitos papéis em sua mesa.
Andei até ele e coloquei as mãos em seus ombros, massageando-os.
Ele levou um pequeno susto quando percebeu que eu estava ali.
— Cariño, não te vi chegar. — ele falou, me dando um selinho e me
puxou para seu colo.
Aprofundei o nosso beijo, levando minhas mãos até os seus cabelos
enquanto ele apertava a minha bunda me trazendo para mais perto. Seu
gosto se misturava ao meu e eu notava cada vez mais o quanto eu estava
viciada naquele homem.
— Muito ocupado hoje? — questionei quando nos separamos.
— Preciso terminar esse estudo de caso e dessa vez é um dos mais
problemáticos.
— Entendo, vou te deixar trabalhando então, vou tomar um banho e
ver se o Dylan não quer pedir uma pizza. — falei me levantando do seu
colo, mas ele segurou a minha mão e perguntou:
— Quer companhia nesse banho? — assenti com um sorriso e nós
dois fomos juntos para o banheiro onde nos amamos ardentemente.
Após o banho, coloquei uma camisa do Dominic que ficava bem
grande em mim e fui até a sala, me joguei no sofá e Dylan apareceu
voltando da cozinha com uma pizza.
— Acredita que eu ia falar com você para pedir uma pizza? —
questionei rindo.
— Acredito! — ele disse, rindo também me oferecendo uma das
cervejas — Acho que precisamos de uma dessas depois dessa semana que
tivemos.
— Com certeza! — beberiquei a cerveja e perguntei — Não vi a
April desde que cheguei, ela saiu ou tá se escondendo para não falar
comigo?
A minha relação com April não estava sendo das melhores. Ela
sempre me dava umas encaradas e evitava falar comigo quando eu estava
no apartamento, me fazendo por muitas vezes não me sentir bem vinda.
— Ela saiu com a namorada. — ele respondeu, dando play no filme.
— Acho que ela não gosta de mim. Acho não, tenho certeza! —
contei a ele.
— Ela só precisa se acostumar. April é muito protetora e ela só não
quer que o Dom se machuque.
— Eu também não quero. — repliquei, mordiscando a pizza.
Ficamos alguns minutos em silêncio até que ele perguntou:
— Como a Briella está?
Estranhei sua pergunta, mas respondi:
— Está bem, a deixei no trabalho antes de vir para cá.
— Vocês são muito amigas, né?
— Muito! Não sei o que faria sem ela. De onde vocês se conhecem?
— questionei, curiosa.
— Às vezes eu preciso ir ao bar resolver algumas coisas e a Briella
sempre me ajuda com isso. — ele respondeu, sem se aprofundar no assunto,
no mesmo momento em que o Dominic apareceu na sala.
Meu amado se sentou ao meu lado e roubou um pedaço da minha
pizza.
— Pega uma para você! — falei a ele.
— Achei que íamos voltar a dividir comida. — ele retrucou.
— Hoje não! — repliquei e ele riu.
Ficamos por um bom tempo na sala conversando com o Dylan. O
filme que ele colocou era bastante interessante e logo estávamos criando
teorias sobre.
Enquanto eles conversavam, mandei uma mensagem para Briella,
pois estava muito curiosa sobre esse relacionamento dela com o Dylan.
Kath: Amiga, o que é que está acontecendo entre você e o Dylan e
por que você não me contou NADA sobre isso? Me responde assim que ler
essa mensagem!
Briella: Tô muito ocupada, não posso te responder.
Assim que li a resposta dela olhei para o relógio e percebi que
estava mentindo para mim para evitar a conversa.
Pedi licença aos meninos e fui até o quarto do Dominic, me deitei
em sua cama e liguei para minha melhor amiga.
— Esqueceu que eu conheço os seus horários, Briella Tompson? —
questionei assim que ela atendeu.
— Eu posso estar trabalhando ainda, Kath. — ela respondeu
evasiva.
— Não estou escutando a barulheira do bar muito alta, então eu
presumo que você já esteja no seu horário de descanso na lanchonete ao
lado.
— Odeio o quão bem você me conhece, Kath!
— Você me ama! Agora me conta sobre você e o Dylan! —
indaguei, curiosa.
— Não tem nada para contar! — ela foi evasiva mais uma vez.
— Para com isso, Brie! Ele já me contou que vocês se veem de vez
em quando no bar. Há quanto tempo isso está acontecendo?
— Amiga, eu realmente o ajudo no bar, mas não tem nada demais.
Você tá levando para um lado romântico e a realidade tá bem longe disso.
— Que saco! É uma pena, porque ele gosta de você! — falei a ela.
— Você tá fantasiando isso.
— Não tô e percebi isso pelos brilhos nos olhos enquanto ele falava
sobre você.
— Você tá viajando muito nisso, Kath! Cadê o Dominic para fazer
você usar a sua boca para outras coisas e não me importunar?
— Ele tá conversando com o Dylan, mas eu sei que você quer
descansar e como eu também preciso, vou desligar. Conversamos mais
sobre isso amanhã.
— Esse assunto já acabou.
— Não acabou, não. — avisei enquanto nos despedíamos.
Assim que desliguei o celular, Dominic entrou no quarto e se deitou
sobre mim, seus lábios tocaram os meus com intensidade e enquanto sua
boca devorava a minha, a sensação de estar apaixonada crescia em meu
peito.
Treze

Encostei minha cabeça sobre o peito de Dominic, ainda estávamos


em sua cama e um filme qualquer passava na televisão enquanto ele
acariciava os meus cabelos.
— O feriado já é na segunda. Estive pensando, podemos ir amanhã à
noite, ficar em Portofino no fim de semana e irmos visitar a sua avó na
segunda antes de partimos. — ele comentou e eu ergui o meu rosto para
encará-lo.
— Nós vamos ver a minha avó? — questionei com um sorriso e ele
assentiu.
— Imaginei que fosse gostar. — ele disse, beijando suavemente a
minha testa.
— Eu amei! Sinto muita saudade dela. Depois que ela e a mamãe se
desentenderam, as visitas a ela se tornaram mais escassas e com a
universidade, fico sem tempo para fazer algo além dos caprichos da minha
mãe. — desabafei.
— Sinto muito por isso, cariño. Nunca entendi muito bem a sua
relação com a Kris, ela sempre me tratou tão bem e eu a via tratar a Claire
do mesmo jeito, mas com você sempre foi diferente. — ele falou, mexendo
no meu cabelo.
— Eu realmente queria saber o que eu fiz para minha mãe me tratar
assim. Eu sempre me relacionei melhor com o meu pai, sempre fui sua
garotinha e ele me apoia em tudo. Foi o único que me parabenizou quando
eu passei para Dorfstan, em meio aos gritos da minha mãe eu encontrei nos
braços do meu pai forças para não desistir.
— Gosto muito do Willian. Ele é um cara incrível mesmo e espero
que um dia as coisas entre você e a sua mãe se resolvam, mas caso não se
resolva, posso te emprestar a minha quando você quiser um chamego de
mãe.
— Olha que eu jamais recusaria a oportunidade de ter um chamego
da Marien. Amo conversar com ela e sinto saudades de quando ela levava
Tamales para comermos. Era o ponto alto do meu dia.
— Vou falar com ela para fazer de sobremesa quando formos jantar
lá e falando em ir para casa dos meus pais, quando vamos contar a eles? —
ele questionou, segurando em meu queixo.
— Será que nós podemos esperar mais um pouco? Só mais uns
dias?
— Cariño, não entendo o porquê de escondermos o nosso
relacionamento. Sei que é recente, mas vamos viajar no fim de semana,
estamos constantemente um com o outro, por que não contar aos nossos
pais?
— Porque contar a eles desencadearia tanta coisa e eu realmente
não estou a fim disso agora. — respondi e ele se sentou na cama
bruscamente, me obrigando a sentar também.
— E quando você vai estar a fim disso? Vamos esperar mais
algumas semanas para você me descartar e não precisar contar nada a
ninguém? — ele indagou, levantando um pouco o tom de voz.
— Não leva as coisas por esse caminho, Dominic. — falei, me
levantando da cama — Custa confiar um pouco em mim? Eu sei do meu
passado, mas não gosto de ser definida por ele... Eu estou gostando de você
de verdade. Acha que eu arruinaria isso contando para minha mãe agora? —
perguntei, antes de entrar no banheiro batendo a porta com força.
Encostei-me nela e deslizei até que estivesse sentada, coloquei as
mãos sobre o meu rosto e senti vontade de gritar só de lembrar as palavras
da minha mãe.
Tranquei a porta assim que escutei Dominic bater nela, eu precisava
de um tempo.
— Kath, cariño... Desculpa. Saia do banheiro e vamos conversar
melhor. — ele falou do outro cômodo, mas eu não respondi.
Fui até o chuveiro, me despindo no caminho e deixei que a água me
fizesse ver as coisas de maneira mais clara.
--
Quando saí do banheiro, encontrei Dominic deitado em sua cama
com os braços cruzados sobre o seu peito.
Andei até a minha bolsa e comecei a me trocar. Enquanto eu me
vestia, ele falou:
— Cariño... — mas eu o interrompi.
— Conversamos amanhã. Preciso descansar, tenho aula no primeiro
horário. — falei, enquanto me deitava na cama.
Ele não insistiu em uma nova conversa e apenas me envolveu com
seus braços, deixando-me juntinha a ele. Eu não reclamei, pois naquele
momento era tudo o que eu precisava.
--
Acordei cedo por causa da minha aula. Quando o meu despertador
tocou eu considerei desligá-lo e voltar a dormir, mas essa era uma das
matérias mais importantes desse semestre e eu não poderia me dar ao luxo
de faltar.
Me desvencilhei do Dominic que ainda dormia serenamente e fui até
o banheiro. Me arrumei rapidamente e segui até a cozinha, precisava comer
algo antes de sair ou desmaiaria de fome.
Assim que entrei na cozinha, avistei April fazendo um café. Lhe dei
bom dia e ela me respondeu cordialmente.
Enquanto ela fazia o café, eu fiz um sanduíche. O silêncio na
cozinha era muito desconfortável, mas não sentia que ela me daria espaço
para uma conversa, então foquei em comer.
Quando já estava terminando, Dominic apareceu. Ele vestia roupas
de academia, já que depois de levar o Roger para passear ele iria malhar.
Meu amado, caminhou até mim e beijou o meu pescoço.
— Me espera que eu te levo até a universidade. — ele disse, antes
de se afastar e ir até a geladeira.
— Não precisa, eu vim de carro.
— Eu sei, vamos no meu e depois eu deixo o seu no dormitório. —
ele falou e eu resolvi não contestar ou iria acabar me atrasando.
— Tudo bem, vamos logo se não vou chegar atrasada. — falei,
pegando a minha bolsa.
Dominic e eu descemos de mãos dadas até o estacionamento. O
clima entre nós dois estava estranho e eu não esperava que fosse diferente
depois da nossa conversa na noite anterior.
O som do carro preencheu o vazio das nossas conversas durante o
curto caminho até Dorfstan. Assim que ele parou em frente ao prédio da
minha aula, eu me preparei para descer e disse:
— Obrigada. Deixei a chave do Porshe na mesinha da sala. —
estava descendo do carro quando ele segurou meu braço, me mantendo no
mesmo lugar.
Me virei para encará-lo.
— Me desculpa por ontem. Foi insensível da minha parte não pensar
nas possíveis reações dos seus pais e só pensar nos meus. Eu gosto demais
de você, Kath, para deixar alguém arruinar o que nós dois estamos
construindo. — ele desculpou-se e eu o beijei delicadamente.
Nos despedimos carinhosamente um do outro e eu fui para minha
aula. Ao fim dela, tive que passar na biblioteca antes de seguir para aula
seguinte.
Como teria a tarde livre, fui para o meu quarto no dormitório
arrumar a minha mala. Enquanto separava algumas roupas que combinavam
com o clima de Portofino naquele fim de semana, liguei para o meu pai,
pois estava com saudades de conversar com ele.
— Oi, pai! Está ocupado? — perguntei assim que ele atendeu.
— Para minha princesinha eu nunca estou. Como você está,
querida? — ele questionou, carinhosamente.
— Tudo bem por aqui! Só as aulas me consumindo como sempre,
mas e o senhor? Como vai a saúde? Está se cuidando direitinho?
— Estou sim, filha. Fiz um check-up essa semana e está tudo bem.
O que vai fazer no feriado? Virá passar conosco?
— Não, pai, esse ano não. Estarei viajando... — falei, meio evasiva.
— Hum e é com alguém que eu conheça?
— É sim.
— Não me diga que está saindo com Julian Clark de novo? — ele se
queixou.
— Não é com o Julian que eu vou viajar, papai. É com o Dominic,
nós estamos juntos. — falei, sentindo um peso evaporar das minhas costas.
— O Dominic é um ótimo garoto. Fico feliz em saber disso, filha.
— ele disse eu não consegui conter o sorriso que brotou no meu rosto.
— Não sabe como me deixa feliz ao escutar isso! Só te peço uma
coisa: Não conte à mamãe ainda, por favor! — pedi.
— Tudo bem, filha. Sei que quando chegar o momento certo você
vai contar a ela.
— Eu te amo demais! Vamos almoçar juntos semana que vem,
certo?
— Vamos sim. Venha para casa e eu peço para prepararem o seu
prato favorito.
— Combinado!
— Te amo, minha filha! Faça uma boa viagem e não deixe de dar
notícias. — meu pai disse e depois de assegurá-lo que o deixaria a par dos
meus passos na Itália, nos despedimos e eu desliguei.
A reação do meu pai havia sido melhor do que eu esperava. Agora
só restava contar aos pais do Dominic e à minha mãe. Eu sei que os pais
dele teriam uma reação parecida com a do meu pai. Já minha mãe
provavelmente partiria meu coração em pedaços, me dizendo, mais uma
vez, que eu não era boa o suficiente para ele.
Catorze

Já estava anoitecendo quando Dominic apareceu em frente ao meu


dormitório. Como prometido, ele trouxe o meu Porshe enquanto Dylan
vinha dirigindo o carro dele. O melhor amigo do Dom nos levaria até o
aeroporto aquela noite.
— Está atrasado! — avisei assim que ele jogou a minha chave para
que eu agarrasse.
— Tivemos um problema na hora de sair com os carros. — ele se
justificou, me abraçando. Beijou a minha testa e logo depois seu olhar
recaiu sobre a minha mala. — Precisa de tudo isso para um final de
semana?
Iria levar duas, além da minha bolsa de mão.
— Preciso, até parece que não me conhece. — falei a ele.
— Não levou isso tudo para o resort. — ele comentou, arrastando as
minhas malas.
— Bem, naquele fim de semana eu não queria impressionar
ninguém. — provoquei-o com um sorriso e nós entramos no carro.
Dylan e Dominic foram conversando sobre o campeonato durante
todo o caminho até o aeroporto. Entre jogadas e pontos eles até tentaram me
incluir na conversa, mas preferi terminar a leitura de Orgulho e
Preconceito, um dos clássicos que teria que ler para um trabalho da
universidade.
Levamos um pouco mais de duas horas para chegarmos no
Aeroporto Internacional de Los Angeles. Nos despedimos do Dylan e eu
perguntei a ele:
— Pode entregar a chave do meu carro para Briella hoje à noite? Sei
que normalmente você encontra com ela e ela já tinha ido para o trabalho
quando saímos.
— Claro, pode deixar, Kath. — ele respondeu, um pouco tímido.
E Dominic e eu seguimos até a área do check-in. Despachamos as
nossas malas e fomos para a área de embarque, já que tínhamos chegado
praticamente em cima da hora do nosso voo.
Me sentei ao lado do Dom e ele entrelaçou os nossos dedos.
Tínhamos tido muita sorte ao conseguir um voo com apenas uma escala.
Iríamos de Los Angeles até Amsterdã, onde ficaríamos lá por duas horas até
seguirmos para Génova.
--
Foram um pouco mais de doze horas de voo. Apesar de ter dormido
bastante, eu ainda me sentia cansada. Depois de termos seguido todo o
protocolo ao desembarcar no Aeroporto Internacional Cristóvão Colombo
em Génova, esperei Dominic alugar um carro, e enquanto isso cuidei das
nossas malas e comprei dois sucos.
O dia estava quente.
— Consegui um carro e segundo o GPS não leva nem uma hora para
chegarmos em Portofino. — ele avisou, me dando um beijo.
— Que bom! Não vejo a hora de chegarmos no hotel! — falei a ele
enquanto andávamos.
Realmente não levou muito tempo para chegarmos na encantadora
Vila de Portofino. Não deu para apreciar tudo do carro, mas teríamos tempo
para fazer isso mais tarde.
Fizemos o check-in na nossa reserva e subimos até o nosso quarto.
Muito cavalheiro, Dominic abriu a porta para mim e eu corri até a
varandinha que tínhamos para apreciar a vista.
Inúmeros barcos e iates luxuosos cobriam a costa paradisíaca.
Dominic enlaçou minha cintura com seus braços e beijou meu
pescoço. Coloquei as minhas mãos sobre a dele, me aconchegando junto a
ele e nada parecia tão perfeito quanto aquele momento.
Descansamos um pouco e fomos almoçar no restaurante que tinha
ao lado do nosso hotel.
Com a ajuda dos nossos celulares, seguimos pelas ruas de Portofino
admirando a arquitetura das charmosas casas em tons pastéis.
Enquanto saboreávamos um delicioso gelato, apreciamos as artes
que eram exibidas em pequenas barraquinhas pelas ruas, algo que
contrastava muito bem com as boutiques luxuosas que tinham por ali.
Enquanto comprava algumas peças, Dominic foi comprar algo que
ele não me contou o que seria, preferindo me deixar curiosa.
Seguimos de mãos dadas até alguns pontos turísticos como o Museo
del Parco e a Chiesa di San Giorgio, uma igreja católica que já dava sinais
do tempo, mas isso não tirava a sua beleza. Me senti muito bem em estar ali
e no lado de fora, apreciamos uma vista nova de Portofino.
Conversamos com alguns turistas que assim como nós dois, estavam
ali para conhecer o lugar e eles indicaram alguns pontos para conhecermos
no dia seguinte.
Voltamos para o hotel e depois de um longo banho, coloquei um
vestido lilás e fiz uma maquiagem bem simples, já que meu rosto ainda
estava corado por causa do sol.
Novamente de mãos dadas, seguimos até o restaurante e jantamos
frutos do mar, acompanhados de um delicioso vinho que combinava
perfeitamente com o que estávamos comendo.
Trocamos olhares o tempo todo e eu já não conseguia mais negar o
quanto estava apaixonada pelo homem à minha frente.
Quando terminamos, seguimos numa direção oposta ao hotel e eu
questionei:
— Para onde vamos?
— Planejei algo diferente para essa noite. — ele disse, me roubando
um beijo.
Seguimos até um dos iates que estava ancorado e depois de
subirmos, ele seguiu até uma parte do mar mais afastada da cidade onde as
poucas luzes dos iates vizinhos iluminavam, deixando que as estrelas nos
banhassem com seu brilho.
Fomos até o convés de proa e eu exclamei:
— Esse lugar é absolutamente lindo! — abracei-o.
— Não mais que você! — ele respondeu, segurando o meu rosto
com as duas mãos — Uns anos atrás eu nunca pensaria em nós dois desse
jeito, mas olhando nos seus olhos agora, eu vejo o quanto a gente se
completa.
Então seus lábios encontram os meus em um beijo apaixonante, suas
mãos agarram os meus cabelos me puxando para mais perto dele, enquanto
as minhas perpassam seu corpo.
Ele tinha me dado algo para acreditar, nós completávamos um ao
outro e eu não podia deixar que nada abalasse isso.
Sem nos separarmos, chocando os nossos corpos com algumas
partes do iate, encontramos o nosso quarto.
Me deitei na cama e não demorou para que Dominic se jogasse
sobre mim com algumas peças de roupas a menos. Ele me cobriu com
carícias e beijos molhados, enviando ondas de prazer por todo o meu corpo.
Não demorou para que o meu vestido saísse lentamente de mim, deixando
tudo mais intenso.
Seus olhos castanhos não desgrudavam dos meus e seu cheiro me
inebriava.
Entre corpos suados e gemidos de prazer, uma sensação prazerosa
tomou conta do meu corpo e se prolongou até atingirmos o ápice.
Estávamos extasiados ao lado um do outro. Enquanto trilhava um
caminho de beijos em seu pescoço, Dominic acariciava meu corpo,
provocando arrepios por onde sua passava.
— Comprei algo para você. — ele disse suavemente antes de
levantar e pegar algo no bolso da sua calça.
Ele se deitou ao meu lado novamente e me mostrou um colar
dourado com estrelas e pedrinhas brilhantes entre elas.
— Quando eu vi esse colar tive a certeza de que ele estava no lugar
errado ao não estar no seu pescoço. — ele murmurou, me ajudando a
colocar o colar.
— Eu amei! — exclamei, completamente encantada. Encostei meus
lábios nos seus, beijando-o profundamente antes de me entregar a ele mais
uma vez.
Quinze

Na manhã seguinte, após um banho recheado de carícias, tomamos


um café da manhã caprichado no convés superior.
Como Dominic tinha cuidado para que algumas das nossas malas
estivessem no iate, coloquei um dos meus biquinis e fui me bronzear um
pouco no convés.
Dom tinha ido conversar com o capitão e quando voltou, entramos
no mar e mergulhamos em águas cristalinas. Aquele lugar era
completamente encantador.
— O que acha de irmos até o Castelo Brown? Conversei com o
piloto e ele disse que pode nos deixar próximos da entrada.
— Acho ótimo. — falei, entrelaçando as minhas pernas em sua
cintura — Contei ao meu pai sobre nós dois antes de virmos.
— É mesmo? E qual foi a reação dele?
— Ele gostou muito, sabe que meu pai sempre gostou de você. Pedi
para ele não contar para minha mãe por enquanto.
— Eu já entendi que todo esse segredo é para ela não saber. Você
acha que ela não vai gostar de ver nós dois juntos.
— Dom, a minha mãe acha que eu não sirvo para você. Ela já me
disse isso várias vezes, então não quero ter que aturar os comentários dela
agora que estamos tão bem.
— É que estamos muito felizes ao lado um do outro. — ele replicou,
tentando me animar — Nada do que a sua mãe disser vai mudar o que eu
sinto por você.
Nos beijamos apaixonadamente antes de voltarmos para o iate.
Após o almoço, saímos do iate e seguimos por uma trilha até chegar
no Castelo Brown. Do lado de fora era possível ter uma vista espetacular de
Portofino, então apreciamos aquele momento registrando-o de muitas
maneiras antes de adentramos aquele local repleto de histórias.
No final do passeio, aproveitamos para ir ao Faro Punta del Coppo.
O farol ficava próximo ao castelo, então fomos até lá apreciar a paisagem e
a brisa fresca que o mar trazia nas nossas últimas horas naquela cidade.
Quando voltamos para o hotel, não demoramos muito. Pegamos
apenas as malas que haviam ficado lá, fizemos o checkout e seguimos pela
estrada até Génova.
Enquanto Dominic devolvia o carro que havíamos alugado, fui atrás
do nosso voo que segundo o painel sairia no horário.
Após o check-in, despachamos as nossas malas mais uma vez e
aguardamos a hora em que embarcaríamos para Roma.
Enquanto aguardávamos, recebi uma mensagem da Briella com uma
foto do Joe e mostrei ao Dominic.
— Olha como meu afilhado é lindo! — exclamei, encantada — Não
encontrei nada para ele ou para a Ava em Portofino. Espero que em Roma
eu tenha mais sorte. — comentei com ele.
— Acho que a sua avó pode te ajudar nisso. Comentei com o meu
pai que passaria em Roma e ele quer que eu almoce com um possível sócio
dele por lá, você se importa? Sei que essa viagem era para ser só nos dois.
— ele questionou enquanto brincava com nossos dedos entrelaçados.
— Não tem problema, Dom. Vamos dormir no hotel quando
chegarmos, amanhã vamos para casa da minha avó e vou gostar de ter um
tempo só com ela enquanto você resolve essas coisas para o seu pai. —
respondi e ele me deu um selinho — Depois dessa reunião, poderíamos ir
comprar algumas coisinhas e dar uma passadinha no Coliseu antes de
voltarmos.
— Acho uma ótima ideia! — ele declarou um pouco antes do nosso
voo ser chamado.
Uma hora e alguns minutos depois, desembarcamos em Roma.
Pegamos um taxi até o hotel e depois de jantarmos, fomos vencidos pelo
cansaço e dormimos completamente emaranhados um no outro até a manhã
seguinte.
A casa da minha avó, não era muito distante do hotel, então não
demoramos para chegarmos lá.
Durante o caminho, fui apreciando a beleza de Roma, me vi
pequena com os olhos brilhando por encontrar aquela cidade pela primeira
vez. Sempre tive uma memória muito afetiva com esse lugar, afinal minha
avó se mudou logo após a morte do meu avô e nos primeiros anos
visitávamos ela continuamente.
Minha avó, Kristen, morava em uma casa modesta em uma rua
muito arborizada. Toquei a campainha e levou alguns minutos para que ela
abrisse a porta. Minha avó era baixinha e tinha os cabelos grisalhos,
arrumados em ondas, presos com uma tiara. Usava um vestido azul plissado
com mangas.
— Katherine! Minha neta, que bom te ver. Nem me contou que
viria. — ela disse, me abraçando e eu logo senti o cheiro de fumaça nela.
Provavelmente estava fumando antes de chegarmos.
— Quis fazer uma surpresa, estava com saudades! — expliquei a
ela.
— Que bom que veio, também estava com saudades. Entrem! Não
fiquem aí na porta. Quem é esse belo rapaz com você? — ela perguntou,
encarando o Dominic.
— Vovó, esse é Dominic, meu namorado. — o apresentei para ela e
não pude deixar de notar o sorriso que o Dominic abriu ao me ouvir dizer
aquilo.
— Eu lembro de você. Pouco, mas lembro. A minha memória já não
está das melhores, mas fico muito feliz em saber desse namoro. Minha neta
se faz de independente, mas gosta de ter quem cuide dela. Então conto com
você para isso. — Vovó comentou com o Dominic, me deixando espantada
com a sua colocação sobre mim.
— Vovó! — ralhei com ela.
— Pode deixar que cuidarei bem ela. — ele disse, concordando com
o que minha vó havia dito.
— Não contei nenhuma mentira. Fiquem à vontade que vou buscar
um suco para vocês. O dia está quente. — ela disse, indo até a cozinha.
Aproveitando que estávamos sozinhos, Dom me segurou com suas
mãos firmes, me beijou suavemente e disse:
— É uma pena que eu não possa ficar, acho que estar aqui me
renderia mais momentos como esse. É incrível como a sua avó consegue te
ler tão bem.
— Ela sempre foi assim. Quando eu era criança não entendia muito
bem, mas hoje vejo que muita coisa que ela me falou fez bastante sentido
depois. — encostei minha cabeça em seu peito e ficamos assim por um
tempo.
Não demorou para que o senhor Bigodes aparecesse ronronando em
meus pés. O peguei no colo e Dominic afagou os seus pelos, ele estava bem
mais gordinho que da última vez que o tinha visto.
Quando minha avó voltou, Dominic se despediu dela que reclamou
um pouco por ele ter que ir tão cedo e após mais uns beijos, acenei em
despedida ao vê-lo entrar no táxi.
Vovó e eu nos sentamos no sofá que ela tinha em sua varanda
repleta de plantas e flores. Enquanto eu bebericava o suco, ela acendeu um
cigarro e começou a fumar; um vício que infelizmente ela não largava. O
cheiro não me incomodava tanto, então não fiz nenhum comentário sobre
isso. Coloquei o copo sobre a mesinha e o senhor Bigodes apareceu, ele se
deitou sobre o meu colo e eu acariciei seus pelos.
— Como anda a sua relação com a sua mãe? — minha avó
perguntou depois de um tempo.
— Como sempre vó, parece que nunca vou ser o que a mamãe quer,
por mais que eu me esforce. — desabafei.
— Kath, sua mãe nunca foi fácil e eu acho que uma das razões para
ela te tratar assim é porque você lembra muito ela quando tinha sua idade.
A Kris sempre foi muito intempestiva. Eu achei que as coisas mudariam
quando ela se casou com seu pai, mas não mudaram. Precisou de uma
traição para fazerem as coisas mudarem. — ela refletiu e eu estagnei ao
ouvir a última frase.
— Traição? Quem traiu quem? — perguntei abismada.
— Isso foi há muito tempo, Kath. Foi antes de você nascer, Claire
ainda era muito pequena. Sua mãe cometeu um deslize e seu pai a perdoou,
não se apegue a isso. — ela pediu, colocando a mão sobre a minha e eu
assenti.
Conversamos sobre como as coisas estavam na universidade, ela me
contou sobre as coisas que tinha feito durante esses anos que não nos
vimos, lhe mostrei fotos de toda a família e ela pegou um dos seus álbuns
para me mostrar.
Nele havia muitas fotos dela com a minha mãe quando tinha mais
ou menos a minha idade, era notável no tom de voz da minha avó o quanto
ela amava e sentia saudades da minha mãe.
Eu sabia que elas tinham se desentendido pelo fato da minha avó se
recusar a parar de fumar e o orgulho de ambas não deixava que elas
passassem por cima disso e seguissem em frente. Confesso que eu mesma
comecei a fumar apenas para irritar a minha mãe, pois sabia que ela não
gostava, mas era algo que eu fazia raramente quando queria desestressar.
Enquanto olhava o álbum, encontrei uma foto da Kris com Matthew,
abraçados no clube de golfe e pelo cabelo que a minha mãe estava usando,
aquilo havia sido antes do papai e ela se casarem.
— Não sabia que mamãe e Matthew já se conheciam. — comentei
com a vovó.
— Matthew foi nosso vizinho antes de se mudar da Califórnia. Por
muitos anos acreditei que sua mãe se casaria com ele e não com o seu pai.
— ela explicou, analisando a foto que eu estava olhando — Mas aí ela
conheceu o Willian e você já sabe de toda a história.
— É estranho saber que eles já se conheciam. A vida toda sempre
achei que o Matthew fosse amigo apenas do meu pai... — concluí,
colocando a foto de volta no álbum.
— Já chega de vermos fotos. Que tal irmos na feirinha que tem aqui
do lado? Quero comprar algumas verduras. — ela declarou, fechando o
álbum de maneira abrupta e colocando-o sobre a mesinha.
Fui com ela até a feira e a ajudei, segurando todas as frutas e
verduras que ela estava comprando. O que minha avó tinha me contado
sobre a traição da minha mãe não saía da minha cabeça, apesar dela ter me
pedido para que eu não me apegasse àquela informação, saber que a minha
mãe não era quem eu pensava abalava toda a imagem que eu tinha dela.
Quando Dominic apareceu para me buscar algumas horas depois,
me despedi da minha avó com um abraço apertado e promessas de que eu
não demoraria a aparecer novamente. No carro, encarei a paisagem com os
pensamentos confusos até que Dominic segurou a minha mão, me
obrigando a encará-lo.
— Aconteceu alguma coisa? — ele perguntou.
— Descobri que a minha mãe traiu o meu pai quando a minha irmã
era pequena e eu ainda estou processando essa informação.
— Imagino que não deva ser fácil, mas não se prende a isso, eles se
resolveram.
— Eu sei, só é estranho perceber que a minha mãe não é nada
daquilo que ela me pressiona tanto para ser. Ela exige tanto de mim e eu
nunca consigo ser boa o suficiente para ela. — desabafei, me encostando
em seu peito.
Dom acariciou os meus cabelos e disse:
— Sua mãe é uma pessoa difícil e é uma pena que ela não consiga
apreciar a filha incrível que tem ao lado dela. — ele levantou meu rosto,
segurando o meu queixo — Estou apaixonado por você ser desse jeito que
é, não mude nada além do que você deseja mudar e entenda que você não
precisa agradar a sua mãe em tudo. É você quem precisa ser feliz consigo
mesma. — seus lábios tocaram os meus em um beijo profundo e molhado
devido as lágrimas que escorreram no meu rosto depois de todas as palavras
ditas por ele.
— Você não sabe o quanto me faz feliz te ter ao meu lado. Eu te
amo tanto. — declarei, voltando a beijá-lo apaixonadamente, sem me
importar com o lugar em que estávamos.
Dezesseis

Dominic e eu não ficamos muito tempo em Roma. Depois de muitas


compras que me fizeram exceder o peso da minha bagagem, enfrentamos
longas horas de voo e de estrada até chegarmos em Dorfstan.
Já tinha amanhecido quando Dylan estacionou em frente ao meu
dormitório e apesar da vontade que eu sentia de apenas entrar no quarto e
dormir, meu senso de responsabilidade me impedia, já que teria aula em
uma hora.
Me despedi do Dominic com um selinho depois dele me ajudar a
levar as malas até o meu quarto e tentei fazer o mínimo de barulho para não
acordar a Briella, mas foi só eu abrir a porta de um dos armários para ela
despertar.
— Desculpa, amiga! — falei, pegando um dos meus vestidos.
— Tudo bem, já estava na hora de acordar mesmo. Tenho que
estudar, as provas finais estão chegando, mas antes vem cá. — ela disse,
enquanto caminhava até mim, me puxando para um abraço. — Que
saudade! Quero saber de tudo!
— Tenho tanta coisa para te contar! O fim de semana foi incrível e a
visita à minha avó foi reveladora, mas preciso de tempo para conversarmos
direito. Hoje ainda é sua folga? — perguntei, colocando alguns materiais na
minha bolsa.
— É sim! Noite das garotas? — ela questionou animada.
— Noite das garotas! Vou comprar o vinho e você pede as pizzas. —
falei e ela assentiu, me abraçando mais uma vez.
Assim que entrei na minha primeira aula, percebi que a minha
semana não seria fácil. O professor havia acabado de passar um projeto
enorme para minha turma e para piorar, no sorteio dos grupos eu tinha
ficado em um com o Luke.
Como o professor pediu que começássemos a organizar o trabalho
durante aquela aula, nos sentamos em grupos e o Luke veio justamente para
o meu lado.
— Oi, docinho. Acho que já posso pedir aquele beijo, né? — ele
sussurrou e eu revirei os olhos.
— Será que você pode ser menos babaca e me deixar em paz? —
questionei, irritada.
— Nunca, docinho. Só paro quando consigo o que quero. — ele
avisou e eu arrastei a minha cadeira para o mais longe possível dele e
foquei no que a líder do meu grupo, a Mary, estava falando.
Após alguns minutos acertando o que cada um iria fazer, anotamos
os e-mails em uma folha para que pudéssemos enviar cada parte do projeto
e o professor liberou a turma.
Depois de horas intensas de aula e de uma palestra obrigatória para
o meu curso, fui até o mercado comprar um vinho e no meio do caminho
liguei para o Dominic.
— Oi, cariño! — ele me cumprimentou assim que atendeu.
— Oi, amor. Tô ligando para avisar que não vou pro apê hoje.
— Tudo bem, vai descansar, né? Estou exausto aqui!
— Na verdade vou ter uma noite das garotas com a Brie. É a folga
dela, vamos beber e comer pizza no nosso quarto.
— Isso parece melhor que dormir, mas não esquece de descansar.
— Pode deixar! — falei, vendo uma outra ligação aparecer na tela
do meu celular, era a minha mãe. — Amor preciso desligar, minha mãe tá
me ligando e para ela fazer isso só pode ser algo sério.
— Tudo bem, te ligo depois. — nos despedimos e eu desliguei,
atendendo em seguida a ligação da minha mãe.
— Oi, mãe! — cumprimentei-a enquanto estacionava.
— Katherine, por que não veio para o nosso almoço ontem? — ela
questionou com um tom de voz que eu conhecia muito bem, ela estava
irritada.
— Eu estava viajando. — respondi.
— Ah, deixa eu adivinhar: Com o novo caso da vez? Eu esperava
mais de você. Achei que a sua família fosse mais importante. — ela
comentou sarcasticamente.
— E quando a senhora não espera mais de mim, hein, mamãe? Já
estou acostumada a não atingir as suas expectativas. — falei, enquanto
escolhia um dos vinhos tintos, a deixando sem palavras por alguns
segundos.
— Liguei para te falar sobre o evento nesse fim de semana. Será na
nossa casa e é imprescindível que você esteja conosco, afinal, temos uma
imagem a zelar.
— Tudo bem, estarei em casa. — concluí enquanto caminhava até o
caixa.
— Ótimo, se vista adequadamente. — ela avisou em um tom ácido.
— Pode deixar, não pretendo repetir o vestido rosa. — retruquei,
usando o mesmo tom e nós desligamos sem nos despedirmos.
Na volta até o dormitório, me lembrei de uma das minhas primeiras
frustrações com a minha mãe.
--
Cheguei toda animada em casa, pois tinha acabado de ganhar
um prêmio por ter soletrado corretamente diversas palavras na minha sala.
Segurava em minhas mãos um troféu bem simples com uma estrela
brilhante em seu topo. Mal conseguia conter a minha felicidade, mas
aguardei durante todo o dia para contar à minha mãe sobre o que tinha
feito.
Durante todos esses anos vi minha mãe presentear a Claire com um
dos mais belos sorrisos sempre que ela conquistava alguma coisa e além do
carinho de mãe, ela sempre deixava a minha irmã escolher o prato que
iríamos jantar naquela noite para comemorar, tudo virava uma festa.
Então quando minha mãe atravessou a porta, eu agarrei as suas
pernas em um abraço e exclamei:
— Ganhei uma coisa hoje!
— Não tenho tempo para isso, Katherine. Preciso organizar o
jantar, receberemos visitas hoje. — ela me afastou sem muita paciência,
mas eu não desisti.
— É importante! Ganhei um troféu por ter soletrado muitas
palavras na minha sala. — revelei muito animada enquanto corria atrás
dela.
— Um prêmio de soletração? Isso não é grande coisa, Katherine.
Vai chamar a sua irmã que preciso da ajuda dela. — ela ordenou, sem nem
olhar para mim.
Toda a minha animação se esvaiu naquele momento.
Completamente arrasada fui chamar a Claire e depois fui para o meu
quarto, onde fiquei até que o jantar fosse servido.
Dominic estava lá com a sua família, ele sorriu para mim, mas eu
não retribuí. Estava chateada demais.
Me sentei ao lado do meu pai que ao notar o meu semblante triste,
perguntou:
— Aconteceu alguma coisa, minha filha? — apenas acenei com a
cabeça, negando, no exato momento em que a minha mãe chamou sua
atenção e disse:
— Escute isso, Willian! Dominic ganhou um prêmio de soletração
em sua escola hoje! Só por causa disso encomendei um bolo para
comemorarmos.
Meus olhos se encheram de lágrimas e eu pisquei bem devagar para
que elas caíssem suavemente sobre o meu rosto, de uma maneira que
ninguém percebesse. Infelizmente eu nunca era boa o suficiente para minha
mãe.
--
Pensar em todas as coisas que a Kris tinha me dito durante todos
esses anos sempre me machucava e me fazia reviver lembranças horríveis.
Respirei fundo e pela primeira vez em muito tempo não me senti
angustiada depois de uma conversa com ela.
Coloquei o vinho sobre o banco do carona e segui para o dormitório.
Dezessete

Assim que cheguei ao nosso quarto, notei que a Brie ainda não tinha
chegado, então fui arrumando as coisas para adiantar.
Coloquei o vinho para gelar no frigobar e juntei as nossas camas
para que pudéssemos nos deitar confortavelmente para assistirmos aos
filmes clássicos que sempre víamos em noites como essa.
Olhei as horas e percebi que já era para Briella ter chegado. Talvez a
fila da pizzaria estivesse grande, mas ela não tinha me mandado nenhuma
mensagem, o que era bastante incomum.
Alguns minutos depois, quando já estava colocando o meu pijama,
minha melhor amiga entrou no quarto com três pizzas empilhadas em sua
mão.
— Nem me esperou, né, apressadinha? — ela questionou, colocando
as pizzas sobre a penteadeira.
— Eu ia esperar, mas você não chegava nunca. A fila da pizzaria
estava muito grande? — perguntei, abrindo uma das caixas e pegando uma
fatia da pizza de muçarela.
— Até que não estava tão grande, mas encontrei o Dylan na fila e
nós conversamos um pouco enquanto esperávamos. — ela respondeu,
enquanto pegava seu pijama e sua necessaire.
— Hum, você e o Dylan, hein... Quando vai me dizer o que
realmente tá acontecendo entre vocês dois para que a gente possa sair em
um encontro duplo? — comentei antes de tirar outro pedaço da fatia.
— Eu preciso ir tomar banho, volto daqui a pouco! — concluiu,
saindo apressadamente pela porta.
— Você pode fugir, mas essa noite você não me escapa, Briella
Tompson! — gritei bem alto para que ela escutasse.
Enquanto eu esperava, liguei a televisão e fui procurar o primeiro
filme da nossa noite de garotas, o clássico, Como se fosse a primeira vez.
Quando Briella voltou para o quarto, nos sentamos na cama com as
pizzas e duas taças cheias de vinho. Esperei que ela estivesse bem
confortável onde estava e comentei:
— Eu gosto do Dylan, sabe? Ele é o único além do Dominic que
conversa comigo naquele apartamento.
— As coisas com a April ainda estão difíceis?
— Estão, ela acha que eu estou brincando com o coração do
Dominic por ter me visto jantar com o Luke naquele dia. — expliquei.
— Falando no diabo, semana que vem os jogos voltam, como você
se sente com isso? — ela perguntou preocupada.
— Um pouco ansiosa, não vou negar, mas estou pensando no que
posso fazer para mudar isso. Conversei com a Natasha aqui do dormitório
antes de viajar e ela me disse que o Luke a assediou também e que
provavelmente já deve ter feito isso com outras garotas no campus.
— E não houve denúncias, né? Porque acho que ele não se manteria
na posição em que está se alguém tivesse dito algo.
— Esse é o problema, amiga. Para fazer alguma coisa a minha
palavra só não basta, a reitoria não faria nada quanto a isso.
— Realmente, mas nós vamos pensar em alguma coisa. — ela
concluiu, me abraçando.
Voltamos a prestar atenção no filme e enquanto eu bebericava um
pouco do meu vinho, Briella disse:
— Não existe nada entre mim e o Dylan, não sei nem se somos
amigos. Eu gosto de conversar com ele, me sinto muito bem ao lado dele,
mas é só isso. Desabafamos sobre os nossos problemas um com o outro,
mas ele nunca demonstrou querer nada além disso.
— Quando ele me perguntou sobre você, pareceu muito interessado,
mas eu o acho tímido, então talvez se você tomar a iniciativa alguma coisa
aconteça.
— Não sei se quero atrapalhar isso que já temos. Tenho medo das
coisas ficarem estranhas e ele se afastar. Um dos melhores momentos do
meu dia é quando conversamos no trabalho, mesmo com toda essa situação
do pai dele e tal. Além de você, ele é a única pessoa que eu não sinto
nenhum julgamento quando falo sobre a minha vida.
— Isso é maravilhoso, Brie. Desde o que aconteceu com o pai do
Joe a sua resistência em confiar em outras pessoas aumentou e eu fico
muito feliz em ver você confiando em alguém. — falei e ela expirou o ar
que nem parecia estar segurando.
— Vamos parar de falar da minha inexistente vida amorosa e vamos
falar sobre a sua mãe. O que a sua vó lhe contou? — Briella questionou
antes de morder a sua fatia de pizza calabresa.
Bebi um longo gole de vinho e disse:
— Ela me contou que a minha mãe traiu o meu pai quando a Claire
era pequena e eu ainda não tinha nascido.
— Não acredito! A tia Kris?! — ela exclamou, surpresa.
— Ela mesma. Vovó me disse para eu não me apegar a isso e o
Dominic me disse a mesma coisa quando eu lhe contei, mas é algo que
simplesmente não sai da minha cabeça. Ele não merecia isso. — desabafei.
— É uma situação muito complicada, amiga. Mas foi há muito
tempo e talvez o melhor seja você não se apegar a isso mesmo. Só vai fazer
você criar caraminholas nessa cabeça e isso não vai mudar em nada o
relacionamento dos seus pais.
— Eu sei, é só muito estranho ver que a minha mãe não é a pessoa
que eu imaginava que era.
— Ninguém é perfeito, Kath. — ela disse, apertando uma das
minhas mãos — Agora me conta sobre a parte romântica da sua viagem.
Quero saber de tudo, quer dizer quase tudo, me poupa dos detalhes
sórdidos. — ela concluiu e nós duas gargalhamos.
Procurei o meu celular pela cama e comecei a lhe mostrar as fotos
que eu havia tirado em Portofino.
--
No decorrer da semana, vi Dominic muito pouco. Além de eu estar
me dedicando muito ao projeto, Dom estava ajudando Matthew com alguns
processos e estava indo todos os dias para casa dele após as aulas e isso
dificultava muito que víssemos um ao outro.
Na manhã de sexta-feira quando estava saindo da cafeteria, Dominic
me ligou e eu atendi rapidamente.
— Oi, amor!
— Oi, cariño! Que tal jantarmos juntos hoje? Acho que consigo
finalizar as coisas hoje à tarde.
— Essa é uma proposta muito tentadora, mas Claire me mandou
uma mensagem ontem pedindo que eu fosse com ela hoje para casa dos
meus pais.
— Amanhã tem o evento de caridade da clínica dos seus pais, né?
Com tantos documentos na cabeça acabei esquecendo.
— É amanhã sim, a Claire vai discursar e talvez queira que eu a
ajude com isso.
— Entendo, nos vemos amanhã então. Contaremos aos seus pais?
Ou melhor à sua mãe?
— Acho melhor não, ela surtaria se tirássemos o foco do evento e é
isso que aconteceria se contássemos — hesitei um pouco antes de continuar
— Podemos contar no jantar de aniversário do meu pai, no fim de semana
que vem.
— Eu gosto dessa ideia.
— Eu também. Vai ser um jantar mais íntimo do que o evento do
fim de semana, creio que basicamente estarão pouquíssimas pessoas além
das nossas famílias.
— Ótimo! Sinto sua falta.
— Eu também. — falei a ele e depois de trocarmos algumas
declarações, nos despedimos e eu desliguei, seguindo para minha aula.
Quando estava entrando no prédio mexendo no meu celular, acabei
não prestando tanta atenção no caminho e esbarrei em alguém.
Levantei o meu rosto e encontrei o Luke, ele segurou os meus
braços me impossibilitando de sair do lugar.
— Você já pode me soltar. — avisei, encarando-o.
— Acho que não quero fazer isso. — ele falou, segurando os meus
braços ainda mais forte.
— Você está me machucando, me solta agora! — exclamei,
completamente furiosa.
— Eu não entendo, Kath. — ele disse, aproximando seu rosto do
meu pescoço — Por que você não quer ficar comigo? — ele questionou,
enquanto eu mexia o meu corpo tentando ficar o mais distante possível dele.
— Porque eu não quero, custa você entender isso? E se você não me
soltar agora, eu vou na reitoria reportar isso a eles. — avisei-o firmemente e
o vi se afastar um pouco de mim, sem me soltar.
— Pode ir, aproveita e manda um oi para o meu pai por mim. — ele
concluiu, soltando os meus braços e me dando um beijo na bochecha antes
de se afastar completamente.
Extremamente enojada, fui até o banheiro e enquanto eu lavava o
meu rosto, todas as peças se encaixaram na minha cabeça e de repente tudo
fez sentido.
Talvez todas as meninas que o Luke tinha assediado tivessem
denunciado, mas como o reitor era o seu pai, todas as queixas contra ele não
resultavam em nenhuma punição.
Respirei fundo e caminhei até a sala, mas durante todo o dia foi
difícil prestar atenção na aula com tanta coisa rondando os meus
pensamentos.
Dezoito

Antes de pegar a estrada em direção a casa dos meus pais, mandei


uma mensagem para Briella contando a ela sobre o que o Luke tinha feito e
quem era o seu pai. Minha melhor amiga tentou me tranquilizar, dizendo
que conseguiríamos fazer algo mesmo assim e eu me esforcei parar
acreditar nela.
Quando estacionei em frente à casa dos meus pais, minha pequena
sobrinha Ava correu em minha direção, assim que saí do carro e eu a peguei
em meus braços, apertando-a carinhosamente.
— Tia Kath, que saudade de você! — ela disse, enchendo o meu
rosto de beijos.
— Também estava com saudades, minha princesa. Como você está?
Como estão as coisas na escola? — perguntei enquanto colocava ela no
chão e comecei a retirar a minha bolsa e algumas sacolas do carro.
— Eu tô bem. Tirei boas notas na escola e a mamãe disse que vai
me dar um gatinho. — ela respondeu, muito animada.
— Eu disse que estou pensando em te dar um gato e não que vou te
dar um, Ava. — Claire, minha irmã, explicou enquanto se aproximava de
nós duas.
— Ah, mamãe, mas eu quero tanto! — minha sobrinha exclamou,
agarrando-se nas pernas da mãe.
— Eu sei, por isso estou pensando com bastante carinho — ela disse
à filha antes de me puxar para um abraço — É bom te ver, Katherine.
— É bom te ver também, irmã. Onde estão a mamãe e o papai? E o
Zac? — questionei enquanto atravessávamos as portas dessa enorme casa.
— Papai tinha uma cirurgia essa noite e provavelmente vai chegar
mais tarde. Mamãe está no escritório checando algumas coisas para o
evento, sabe como ela é perfeccionista. E o Zac está viajando, tínhamos um
congresso para ir esse fim de semana, mas eu optei por vir para o evento ou
a mamãe surtaria.
— Entendo, vou colocar as coisas no quarto e tomar um longo
banho de banheira antes do jantar. — avisei as duas e subi para o meu
quarto.
Assim que atravessei as portas, joguei a bolsa e as sacolas sobre a
cama e fui até o banheiro. Creio que fiquei uns bons minutos com meu
corpo submerso nas águas enquanto escutava a voz relaxante de Miley
Cyrus cantando Nothing Breaks like a heart.
Me arrumei, colocando um conjunto de moletom, pois a temperatura
era sempre mais fria naquela parte da cidade e desci indo em direção à mesa
de jantar.
Minha mãe, Claire e Ava já me aguardavam, me sentei ao lado da
minha sobrinha depois de cumprimentar a todas.
Enquanto comíamos, minha mãe disse olhando para mim:
— Esperava ver você apenas amanhã.
Ia responder, mas Claire interveio:
— Eu pedi para que a Kath viesse hoje, mamãe. Preciso que ela dê
uma olhada no meu discurso. Acho que está faltando alguma coisa e ela
sempre teve um olho bom para textos.
— Não é à toa que está seguindo carreira nisso, quando poderia
estar usando esse dom para coisas mais produtivas. — respirei fundo e
ignorei a provocação. Odiaria discutir na frente da Ava.
— Leva o texto lá no quarto depois do jantar, eu posso ver o que
falta e aproveito para dar o presente que comprei para a Ava. — falei
sorrindo para minha sobrinha.
— Você trouxe de Roma? Mamãe me mostrou uma foto sua lá, disse
que vai me levar para que eu conheça a minha bisa e eu estou tão ansiosa!
— ela exclamou, animadíssima.
— Sim, trouxe de Roma especialmente para você. — falei,
apertando carinhosamente seu nariz.
— Não sabia que tinha ido visitar a minha mãe no feriado. — Kris
comentou.
— Estava perto de Roma e resolvi aproveitar a oportunidade para
vê-la. Fazia anos que não via a minha avó. — respondi, sucintamente.
— E como ela está? Ainda fumando como se fosse uma garota da
sua idade? — minha mãe questionou.
— Ela está bem, se cuidando do jeito dela. O senhor Bigodes
também está sendo bem cuidado, está até mais gordinho e preguiçoso. —
falei olhando para Claire que sorriu.
— Aquele gato sempre foi uma bola de pelos preguiçosa. — ela
comentou antes de bebericar o seu suco.
Enquanto comíamos a sobremesa, minha mãe monopolizou a
conversa falando apenas sobre o evento que aconteceria amanhã. Ao
terminarmos, subi para o meu quarto com a Ava enquanto a Claire ia buscar
o seu discurso.
— Deixe-me pegar a sacola com o seu presente, Ava. — falei, indo
até um dos armários.
Entreguei à minha sobrinha o seu presente e ela abriu com rapidez.
— Uma mulher maravilha com asas igual ao do filme! Eu amei!!!
— ela gritou, completamente encantada com a boneca em suas mãos.
— Como eu sei que essa é sua heroína favorita, eu não resisti
quando vi a boneca na vitrine. — disse a ela.
— Tia, esse é o melhor presente de todos! Eu vou mostrar para
mamãe, muito obrigada! — ela falou, me dando um abraço apertado antes
de sair.
Deitei-me na cama e fiquei olhando as minhas redes sociais até
Claire entrar sozinha no quarto.
— Cadê a Ava? — perguntei.
— Resolveu ligar para o pai para mostrar o presente mais incrível
do mundo que ela ganhou. — minha irmã falou com um sorriso.
— Preciso me esforçar para manter o título de tia favorita ou as
irmãs do Zac a roubam de mim. — falei e Claire riu antes de me entregar os
papéis com seu discurso.
Reli todo o texto com ela e apontei os principais pontos que ela
poderia mudar e o que ela poderia acrescentar. Fizemos as mudanças e
quando terminamos, ela me agradeceu e foi para o seu quarto.
Aproveitei que não estava com tanto sono assim e liguei para o meu
amado.
— Oi, cariño. — ele me cumprimentou carinhosamente como
sempre, assim que atendeu.
— Oi, amor. Atrapalho? — perguntei ao ouvir o som da impressora
ao fundo.
— Não, estou só imprimindo alguns documentos para o Matthew.
— Você ainda está na casa dele? — perguntei, estranhando por
causa do horário.
— Estou, precisamos finalizar alguns pontos do caso ainda hoje, já
que a audiência é na semana que vem.
— Entendo, tenho certeza de que você vai se sair muito bem.
Imagino que essa experiência tenha sido ótima para você.
— Sim, Matthew é um cara incrível e muito paciente, me ensinou
muita coisa.
— É uma pena que eu não o conheça tão bem. Soube pela minha
avó que o Matthew e a minha mãe já foram grandes amigos.
— É mesmo? Sempre achei que ele fosse mais próximo do seu pai.
— Foi o que sempre pensei também, mas vou deixar você focar no
seu trabalho, nos vemos amanhã.
— Vou chegar mais cedo para matar a saudade que estou sentindo
de você antes que os outros cheguem.
— Mal posso esperar por isso. — trocamos algumas declarações de
amor antes de desligarmos.
Dezenove

Na manhã seguinte, a casa estava um caos. Pessoas andando de um


lado para o outro, tentando deixar tudo absolutamente do jeito que a minha
mãe queria.
Optei por pegar rapidamente algo para comer na cozinha e voltei
para o meu quarto. Enquanto comia torradinhas e bebericava um suco de
laranja, meu pai entrou no quarto e se sentou ao meu lado na cama.
— Bom dia, papai! — o cumprimentei com um beijo rápido em sua
bochecha.
— Bom dia, minha princesa. Soube que chegou ontem, como foi a
viagem até aqui? — ele questionou, preocupado.
— Foi tranquila, vim antes porque a Claire me pediu ajuda com o
discurso que ela vai fazer hoje à noite.
— Fico feliz que tenha ajudado sua irmã. Você e o Dominic
pretendem contar à sua mãe sobre o relacionamento de vocês hoje?
— Eu preferi deixar para contar no seu jantar de aniversário. Acho
que a mamãe não iria gostar que toda a atenção que deveria ir para ela e
para o evento fosse para mim hoje.
— Entendo e gosto da ideia. Como estão as coisas entre vocês?
— Estão bem, pai. Eu gosto do Dominic e ele gosta de mim. Somos
mais felizes juntos.
— Isso é perceptível, minha filha. — ele falou, acariciando meu
rosto.
Eu amava o meu pai e apenas por amá-lo tanto eu resolvi parar de
pensar que a minha mãe o tinha traído, se ele sabia e tinha superado, ótimo.
Não seria eu a remoer isso.
— Quando vamos voltar a almoçar juntos durante a semana? Sinto
falta disso.
— Eu também, filha. Tenho andando tão ocupado com a clínica e
com os plantões no hospital, mas daremos um jeito. Pensou no que te falei
sobre alugar um apartamento fora do campus e sair do dormitório?
— Pai, estou tão atarefada esse semestre que sendo bem honesta
com o senhor, nem parei para pensar nisso. Sei que conversamos sobre isso
novamente esse ano antes das aulas voltarem, mas eu gosto muito do
dormitório e de dividi-lo com a Briella.
— Eu sei disso, Kath. Mas estou pensando no melhor para vocês. Eu
estudei na Foxnory e sei que esses dormitórios do campus não são seguros.
Você pode convidar a Briella para ir com você, seria um espaço legal para
que o Joe pudesse visitá-la em alguns fins de semana.
— Nunca tinha pensando por esse lado, pai. Vou conversar com ela
quando voltar para o dormitório. Tem uns prédios entre as universidades,
acho que encontraríamos um apartamento bacana por lá.
— Fico feliz que dessa vez essa conversa está terminando com você
considerando essa ideia. Te amo, filha. — ele concluiu, beijando a minha
testa e saindo do quarto.
Aproveitei o tempo sozinha para separar algumas roupas para levar
comigo quando eu voltasse e fui trabalhar no projeto que apresentaríamos
essa semana, já que ele valia metade da nota final.
--
O evento estava prestes a começar e eu ainda não tinha visto
Dominic em lugar algum, me olhei no espelho novamente e ajeitei alguns
fios do meu cabelo, arrumei o macacão que estava usando e refiz mais uma
vez o laço que o prendia em minha cintura.
Eu estava nervosa, isso era inegável.
— Ainda bem que te encontrei — minha irmã disse, enganchando
meu braço no dela e me arrastando para a área externa da casa — Viu a
mamãe por aí? Estou fugindo dela.
— Ainda não a encontrei, por que está fugindo? Esse é o meu papel.
— Mamãe cismou que existe uma crise no meu casamento e não
para de falar sobre isso. — Claire falou e eu revirei os olhos.
— Isso tudo porque o Zac não está aqui para o evento?
— Como se ela precisasse de mais que isso para especular alguma
coisa. — ela disse, enquanto acenávamos para algumas pessoas — Já sei
porque não encontramos a mamãe, ela está bajulando seu rapazinho de
ouro. — minha irmã comentou olhando em direção as mesas e eu o vi ao
lado da minha mãe.
Dominic usava uma camisa social com uma calça jeans que ficava
muito bem nele. Comecei a sorrir apenas por olhá-lo. Era inegável o quanto
eu estava apaixonada.
— Eu estou vendo esse sorrisinho... — minha irmã falou antes de
bebericar o seu drink.
— Não tem sorrisinho nenhum. Você está vendo coisas, Claire. —
retruquei, saindo de perto dela antes que eu falasse demais.
Andei até onde minha mãe estava com os Hernandez e
cumprimentei cada um até me aproximar para falar com o Dominic. Mas
diferente do que normalmente fazia, ele apenas apertou a minha mão
friamente e não falou mais nada.
Murchei no mesmo instante sem entender a atitude dele. Até seus
pais estranharam, já que apesar de estarmos sempre nos provocando,
éramos muito amigáveis um com o outro.
Fiquei um tempo escutando o que eles conversavam e logo depois
fui atrás de outra bebida.
Tentei conversar com Dominic no decorrer do evento, mas essa
parecia mais uma missão impossível, devido ao fato dele nunca estar
sozinho. Tive que engolir o ciúme que senti de cada uma das garotas que
minha mãe apresentava a ele.
Isso só me fazia beber mais.
Quando a noite caiu, eu já estava levemente alcoolizada, por isso
optei por beber água enquanto a minha irmã fazia um lindo discurso no
palco. E apesar de saber o quanto aquele momento era importante para ela e
para os meus pais, não pude deixar de me retirar daquele local quando vi
Dominic entrando em casa.
Apressei os meus passos e o encontrei no corredor que levava até o
escritório dos meus pais.
Nos encaramos por alguns segundos e eu perguntei, elevando o meu
tom de voz:
— Que merda está acontecendo?
— Não sei do que está falando, não está acontecendo nada.
— Nada? Você mal falou comigo, me evitou durante todo o evento e
mal olhou nos meus olhos até alguns segundos atrás.
— Pensei que fosse isso que você queria.
— Nunca te disse que queria isso, nosso relacionamento nunca foi
assim. Até os seus pais estranharam a maneira como você me tratou na
frente deles, então seja sincero comigo.
— Não tem nada acontecendo, eu só estou com muita coisa na
cabeça e acabei agindo desse jeito com você, desculpa. — ele disse, me
puxando para os seus braços, envolvendo-me em um abraço e beijou a
minha testa.
— Tudo bem — suspirei — O que acha de conhecer o meu quarto,
senhor Hernandez? Porque eu acho que esse evento já deu para mim. —
falei, ainda encostada em seu peito.
— Posso te levar até lá, mas não posso demorar. Minha intenção
nunca foi ficar até muito tarde nesse evento, já que acabei não terminando
tudo o que tinha que fazer ontem. — ele explicou enquanto subíamos as
escadas.
— Ah, por isso Matthew não veio? Normalmente ele sempre está
presente nos eventos. — perguntei enquanto abria a porta do meu quarto.
— Acho que sim, não o vejo desde ontem. — ele respondeu
enquanto eu tirava os meus saltos.
— Ele não perdeu muita coisa, esse evento definitivamente foi o
mais chato de todos. Odiei ver a minha mãe praticamente jogando aquelas
garotas em cima de você. — admiti, me deitando na cama e puxando-o para
se deitar comigo.
— Não precisa ter ciúmes, eu só tenho olhos para você, Katherine
Taylor. — ele se declarou, me dando um selinho e começou a acariciar os
meus cabelos. Seu cafuné foi a última coisa de que me recordo antes de cair
no sono.
Vinte

Quando acordei na manhã seguinte, estava sozinha no meu quarto e


a minha cabeça parecia que ia explodir. Por sorte, tinha um remedinho ao
lado da minha cama com um copo d’água.
Tomei o remédio, peguei o meu celular e vi que já tinha passado das
dez horas. Fui até o banheiro e depois de um banho, saí de lá renovada.
Coloquei os meus óculos escuros e desci até a área da piscina onde
encontrei minha sobrinha na água enquanto minha irmã estava sentada em
uma das cadeiras, lendo uma revista médica.
— Bom dia, bela adormecida. — ela me cumprimentou com um
sorriso.
— Para mim o bom dia só vai começar depois que o remédio fazer
efeito. Por que me deixou beber tanto ontem? — perguntei, sentando-me ao
lado dela.
— Você fugiu de mim, irmãzinha. Infelizmente não tive nenhum
controle sobre você.
— Eu bebo muito quando estou chateada, é um hábito ruim.
— Com certeza não deve ter sido fácil ver mamãe apresentando
inúmeras pretendentes ao Dominic. — ela comentou.
— Não foi, mas não posso me chatear porque ele queria contar
sobre nós dois para todo mundo ontem e eu não quis. — revelei, enquanto
prendia meu cabelo em um coque frouxo.
— Ainda bem que você não negou que estava acontecendo alguma
coisa de novo. Não sei como mais ninguém percebeu você encarando cada
passo dado por aquele homem ontem.
— Estava furiosa por ele estar me evitando, mas conversamos
enquanto você discursava e ficou tudo bem. Pelo menos eu espero que sim.
— Que bom! Há quanto tempo isso está acontecendo?
— Há algumas semanas... Eu estou muito apaixonada por ele, irmã.
— Isso é perceptível! Ele te levou para a Itália no feriado? — ela
perguntou, super interessada e eu lhe contei sobre o nosso incrível fim de
semana juntos em Portofino.
--
Quando estacionei em frente ao meu dormitório, mandei uma
mensagem para Dominic enquanto subia as escadas.
Kath: Amor, que tal jantarmos juntos hoje com a Brie e o Dylan?
Poucos minutos depois a resposta dele chegou.
Dominic: Cariño, infelizmente hoje não vai dar. Ainda estou
bastante atarefado.
Kath: Tudo bem, quer que eu vá ficar com você? Também preciso
estudar, mas mal nos vimos essa semana.
Dominic: Melhor não, não vou conseguir te dar atenção.
Reli aquela mensagem duas vezes e completamente frustrada, joguei
o meu celular sobre a cama. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu me
senti uma tola por me abalar com aquilo, mas alguma coisa estava errada,
aquele não era o Dominic que ficou ao meu lado durante todo esse tempo
que tínhamos estado juntos.
Cobri o meu rosto com as mãos e resolvi focar em outra coisa. Sem
o meu celular, saí do quarto em direção à biblioteca do campus e fiquei lá
pelo resto do dia.
Quando voltei para o meu quarto, Briella estava ao telefone falando
bem nervosa com alguém, mas ao me ver, ela desligou.
— Caramba! Onde é que você estava? Eu estava aqui surtando de
preocupação! — ela exclamou, me puxando para um abraço.
— Eu estava na biblioteca. Por que todo esse surto, Brie? —
perguntei sem entender toda aquela agonia.
— Você não levou a droga do seu celular e depois do que aconteceu
com o Luke você não pode me culpar por ficar completamente paranoica
quando você some sem avisar nada a ninguém. — ela explicou ainda bem
nervosa e eu entendi.
— Desculpa, amiga. Eu só precisava ficar um pouco sozinha.
Dominic está muito estranho comigo e eu não estou lidando bem com isso.
Não foi minha intenção te preocupar, juro. — desabafei, abraçando-a
novamente.
— Tranquilo, amiga. Eu só me preocupei, não consigo ficar
tranquila sabendo que o Luke tá te rondando. — ela falou, me apertando em
seus braços.
— Ainda estou pensando no que posso fazer quanto a isso, mas meu
pai conversou comigo sobre a ideia do apartamento de novo e ela nunca
pareceu tão certa quanto agora. O que você acha? Teríamos um espaço para
nós duas e você poderia trazer o Joe nos fins de semana.
— Não sei, Kath. Morar num apê agora seria ótimo e poder trazer o
Joe seria incrível, mas só de pensar nos gastos que nós teríamos eu fico
desanimada.
— Eu sei, mas meu pai vai cuidar do aluguel e das contas. Só
teríamos que nos preocupar com a nossa alimentação mesmo e no final de
tudo, acho que economizaríamos bastante renunciando aos pratos da
cantina. — falei e ela pareceu pensar um pouco antes de responder.
— Se for assim, nós podemos começar a procurar apartamentos
então. Tem certeza que tá tudo bem para o seu pai arcar com tudo isso? —
ela perguntou e eu gritei animada.
— Amiga, ele pagaria absolutamente tudo para me ver longe desse
dormitório. Fico tão feliz por você embarcar nessa comigo, não me imagino
morar em um lugar sem você. — declarei e nos apertamos mais um pouco.
Decidimos começar a procurar apartamentos desde já, pois na
semana seguinte teríamos avaliações e precisaríamos focar nelas.
--
Durante os dias que se seguiram, Briella e eu aproveitávamos o
intervalo entre as aulas para procurarmos apartamentos, a cada dia
visitávamos dois em prédios perto do campus.
Tínhamos nos apaixonado por um no mesmo condomínio onde
Dominic morava e agora esperávamos que meu pai resolvesse todos os
trâmites para que pudéssemos nos mudar.
Com toda essa correria de procurar apartamentos e finalizar o
projeto que seria entregue na sexta-feira, eu mal vi o Dominic.
Estávamos cada vez mais distantes um do outro e isso partia meu
coração em pedaços. Revivi as nossas últimas conversas para tentar
entender o que tinha motivado tal atitude dele, mas nada fazia sentido para
mim e apesar de ele dizer que estava tudo bem e que nada estava
acontecendo, eu já não sentia mais verdade nas palavras dele.
Era quinta-feira e eu estava a caminho do treino quando meu celular
começou a tocar, era o meu pai.
— Oi, pai! — falei assim que atendi.
— Oi, filha. Já acertei tudo com o dono do apartamento. Como já é
um costume eles alugarem para universitários, os trâmites são mais rápidos,
então preciso que você mude as contas do apartamento para o seu nome e
que no domingo você vá buscar a chave e se cadastrar direitinho no
condomínio.
— Certo, pai! Muito obrigada, vou falar com a Briella para
resolvermos logo isso.
— Não precisa agradecer, filha. Não sabe o quanto fico feliz com
essa sua mudança. Tudo certo para o jantar no sábado? — ele perguntou,
me lembrando que eu tinha falado a ele que apresentaria Dominic como
meu namorado em seu aniversário.
— Acho que sim, pai. O Dom tá meio atarefado, mas vou acertar
tudinho com ele. Preciso desligar agora, tenho treino.
— Certo, fica bem, filha! — nos despedimos e eu desliguei.
Encarei meu celular por alguns segundos e pensei em ligar para
Dominic, mas desisti quando vi meus colegas de equipe entrando na quadra.
Essa ligação ficaria para outra hora.
Vinte e um

Enquanto treinávamos, o time de basquete da universidade apareceu


para treinar também e entre eles estava o Luke.
Assim que me viu no canto da quadra, ele se aproximou de mim e
disse em tom provocativo:
— Pronta para amanhã, docinho? Espero que sim, porque eu quero
tirar uma boa nota e, quem sabe a gente não saia para comemorar depois?
— A única coisa que estou pronta agora é para te empurrar se você
não começar a respeitar o meu espaço pessoal. — avisei, colocando a mão
em seu peito para afastá-lo.
— Adoro o quanto você é arredia, mas eu nunca perco, docinho. E
eu ainda vou te ganhar. — ele avisou, colocando a mão sobre a minha.
No momento em que eu iria responder, Meredith apareceu e avisou:
— Seu treino é para lá, Luke! Dá o fora da nossa área ou vou
chamar o treinador. — ele ergueu as duas mãos em sinal de rendição e se
afastou.
Agradeci a Mer por isso e ela colocou um dos braços sobre os meus
ombros e me levou para o outro lado da quadra para que pudéssemos
começar a treinar os saltos.
Quando voltei para o quarto, esperei Briella aparecer e contei a ela
sobre as novidades do nosso apartamento. Ela ficou bem animada e nós
começamos a organizar a nossa mudança para o domingo.
Quando terminamos já estava bem tarde e eu demorei a pegar no
sono. Pensei em ligar para Dominic ou lhe mandar uma mensagem, mas
acabei desistindo.
Decidi que teríamos uma conversa definitiva no dia seguinte, não
poderíamos mais ficar do jeito que estávamos.
--
Entrei atrasada na quadra, quase em cima do horário do jogo por
causa das apresentações dos projetos no seminário.
Apesar do professor ter liberado alguns jogadores antes que todas as
apresentações terminassem, esse privilégio não se estendeu para as líderes
de torcida e eu tive que ficar no auditório até que todos terminassem para
receber uma boa nota.
Assim que cheguei perto da minha equipe, comecei a me alongar e a
procurar Dominic pela quadra. O encontrei se aquecendo e praticando
alguns arremessos, ele sorriu para mim e eu percebi o quanto estava
sentindo falta daquele sorriso.
Trocamos olhares por alguns segundos e eu desejei que pudéssemos
parar aquele jogo e sair dali apenas para conversarmos, mas infelizmente,
aquele era o lugar onde precisávamos estar.
Fizemos barulho para o nosso time e a nossa torcida nos
acompanhou, ovacionando. Quando eles entraram em quadra, as líderes da
Foxnory também estavam bem animadas e logo a quadra se tornou um caos
devido a tanto barulho e troca de ofensas.
Todo aquele princípio de confusão só foi cessado quando o juiz
começou o jogo. Naquela noite os jogadores da Dorfstan pareciam estar
jogando melhor, já que logo no início da partida eles marcaram duas cestas
de três pontos.
Luke marcou uma delas e apontou para mim durante a sua dancinha
sensual de comemoração. Eu revirei os olhos, mas percebi que Dominic
tinha visto toda aquela situação e pela sua cara, não tinha gostado nada da
atitude do capitão do time rival.
Passei as mãos em meus cabelos e temi alguma atitude precipitada
por parte do meu namorado, ele já tinha sido expulso do outro jogo e eu não
queria que ele acabasse tomando uma punição mais grave hoje.
O jogo voltou a rolar e a todo instante me mantive aflita,
principalmente quando Dominic começou a se defender mais
agressivamente no momento em que tentavam tirar a bola dele. No instante
em que se iniciou o intervalo, pensei em ir falar com Dominic para que ele
não desse importância àquilo, mas não podia fazer isso em frente as duas
universidades.
Poderiam interpretar errado e isso acabaria gerando uma confusão
maior.
Fiz o show do intervalo com a minha equipe e enquanto executava a
coreografia, vi o treinador conversando com Dominic em um canto mais
afastado e esperei que aquele papo dos dois relembrasse ao meu namorado
o real objetivo daquele jogo.
Quando o intervalo acabou, os jogadores voltaram à quadra e dessa
vez não houve faltas mais graves além das normais em jogo.
No final da partida, Foxnory venceu Dorfstan novamente, mas dessa
vez por uma diferença pequena de pontos. Ambos os times tinham jogado
muito bem.
Depois de aturar algumas provocações da universidade adversária,
segui para fora da quadra e esperei pelo Dominic encostada na parede em
que nos reconciliamos pela primeira vez.
Como eu sabia que ele demoraria devido a vitória do seu time,
peguei meu celular e vi uma mensagem da Briella. Ela tinha me mandado
uma foto do Joe brincando com os ursos do Toy Story que eu tinha mandado
para ele.
Sorri ao ver aquela imagem, mas mudei totalmente de humor
quando percebi quem estava parado bem na minha frente. Estava tão
distraída com o celular que nem percebi Luke se aproximando.
— Não ganhamos hoje. O que você acha de me consolar, docinho?
— ele questionou, tentando tocar o meu rosto, mas eu me afastei.
— Quantas vezes mais eu tenho que pedir para você me deixar em
paz, Luke? — perguntei, sem nenhuma paciência.
— Você pode pedir quantas vezes quiser, docinho. Mas eu sou um
homem muito paciente e só paro quando conquisto aquilo que eu quero. —
ele respondeu, se aproximando ainda mais, colocando os braços ao meu
redor e me cercando.
No momento em que eu ia empurrá-lo, escutei a voz do Dominic.
— Algum problema por aqui?
Luke olhou para ele e pareceu se intimidar com a postura de
Dominic e o jeito com que ele o encarava, pois se afastou de mim e
respondeu:
— Problema nenhum. Te vejo depois, docinho.
Cobri meu rosto com as duas mãos e pensei no que dizer, meus
pensamentos estavam tão confusos que eu nem sabia por onde começar.
— Aquele babaca fez alguma coisa com você? — Dominic
perguntou e como eu demorei um pouco para responder, ele respirou fundo,
indo na direção em que Luke tinha saído.
— Espera! Ele não fez nada. — respondi, segurando em seu braço, o
mantendo perto de mim.
— Não parecia que ele não estava fazendo nada. Vou só ter uma
conversinha com ele para que aprenda a não intimidar mulheres por aí. —
ele falou, se virando outra vez, mas eu intervi, ficando em sua frente.
— Amor, não vale a pena. Luke é filho do reitor e isso só traria
problemas. — disse a ele.
— Não me importo com isso, Kath! Não vou deixar que ele fique te
tratando assim, sem respeito algum.
— Por favor, vamos para o seu apartamento. Esquece isso. — pedi,
segurando seu rosto e ele assentiu cedendo. Entrelaçou sua mão na minha e
nós dois seguimos para o seu carro.
--
Saí do banheiro com a camiseta do Dominic e o encontrei sentado
em frente ao notebook. Pedi espaço e me sentei em seu colo, me agarrando
a ele. Como eu tinha sentido saudades de momentos assim.
Beijei seu rosto e ele retribuiu, buscando a minha boca e me
beijando intensamente.
Passei a mão em seus cabelos e o encarei olhando bem fundo de
seus olhos castanhos. Eu sabia que tinha acontecido alguma coisa e que ele
estava escondendo algo, mas já não queria mais perguntar. Estava cansada
desse joguinho que só nos afastava um do outro.
Coloquei as mãos em sua nuca e disse:
— Você é muito transparente, meu amor. Eu sei que aconteceu
alguma coisa e tudo bem não me contar. Não vou mais perguntar ou forçar
nada, só quero te pedir que não se afaste mais de mim, isso me machuca
mais do que você imagina.
Encostei a cabeça em seu peito e ele me abraçou mais forte,
sussurrando inúmeras desculpas.
Vinte e dois

Quando acordei na manhã seguinte ao lado de Dominic em sua


cama, ele já estava acordado, mexendo em seu celular.
— Bom dia, amor. — falei, entrelaçando nossos dedos e beijando
sua mão.
— Bom dia, cariño. Meus pais acabaram de me mandar uma
mensagem, perguntando se eu vou com eles para o jantar de aniversário do
seu pai hoje à noite. — ele comentou, virando-se para mim.
— E o que você disse a eles? — perguntei.
— Falei para eles não se preocuparem que eu vou com a minha
namorada. — ele respondeu e foi inevitável não sorrir com uma resposta
como aquela.
— Boa resposta! — falei, lhe roubando um beijo. — Que tal
convidarmos o Dylan para ir conosco essa noite?
— O Dylan? — ele questionou, confuso.
— É, Briella sempre vai comigo nesses jantares de aniversário e
seria ótimo ter alguém lá para lhe fazer companhia.
— O que você está aprontando, Katherine Taylor? — ele perguntou,
me encarando.
— Nada, só dando uma forcinha aos nossos amigos...
— Se você diz... Acho que se você falar com ele as chances de ele
negar são menores. — ele falou, me beijando.
Depois que fizemos toda a higiene matinal, saímos do quarto de
mãos dadas, eu com uma das camisas do Dom e um shortinho confortável
por baixo e ele com apenas a parte de baixo do pijama, sem camisa.
Seguimos para a cozinha onde encontramos Dylan fazendo ovos
mexidos com bacon.
— Bom dia, casal! — ele nos cumprimentou e nós dois
respondemos.
— Bom dia, Dy! Vai fazer o quê hoje à noite? — perguntei,
enquanto Dominic colocava café em nossas xícaras.
— Acho que nada, por quê? — ele respondeu.
— Quer ir para o jantar de aniversário do meu pai com a gente?
— Do seu pai? Mas eu nem o conheço, Kath. Não seria estranho?
— Não! Meu pai é muito tranquilo. Tenho certeza que ele não vai se
importar de ter você lá, assim como a Briella vai gostar muito que você a
acompanhe. — comentei e vi o Dominic me encarar com um sorrisinho, ele
sabia bem o que eu estava fazendo.
— Ah, então tranquilo, eu vou sim. — Dylan respondeu antes de se
sentar ao meu lado e eu comemorei por dentro. Se a Briella não tomasse
uma iniciativa essa noite eu não sei quando o Dylan faria alguma coisa com
toda a timidez que ele tinha.
Dominic serviu ovos com bacon para a gente e enquanto comíamos,
conversamos sobre o jogo da noite passada.
--
Quando entardeceu, Dominic me levou até o dormitório e combinou
de vir me buscar em uma hora, pois a casa dos meus pais não era tão perto
assim das universidades.
Subi apressadamente as escadas e assim que entrei no quarto,
encontrei minha melhor amiga secando seus cabelos naturalmente
cacheados com a ajuda de um difusor de cachos.
— Oi, amiga! Sei que combinei de vir mais cedo, mas Dominic e eu
fomos levar o Roger para passear e na volta, seu Natanael passou mal e a
gente o levou para emergência e ficamos com ele até um parente chegar. —
expliquei a ela.
— Nossa, amiga! Mas ele tá bem? — ela perguntou, preocupada.
— Está, parece que foi só um susto. Deixamos o Roger no
apartamento do Dom, ele vai ficar lá até o seu Natanael melhorar.
— Entendo, que bom que vocês estavam por perto. — ela disse e eu
assenti — Estou em dúvida do que vestir essa noite. — revelou, apontando
para cama.
— Com certeza o macacão mostarda vai ficar perfeito em você e
combinar super com seu tom de pele. — falei, olhando as duas peças sobre
a cama: o macacão e o vestido.
— Vou com ele então. E você, já decidiu o que vai vestir?
— Vou com um vestido vermelho aveludado de alcinhas. Tô
apaixonada por ele desde que o vi em Roma. — falei, pegando-o no armário
e mostrei a ela — Vou pegar as minhas coisas para descer até o banheiro,
não vejo a hora de irmos para o apartamento.
— Eu também amiga, já acertei tudo com a companhia de água e
luz, tá tudo certo! — ela avisou e eu lhe dei um beijo esmagador na
bochecha.
— Não sei o que faria sem você! Mas me deixa adiantar, daqui a
pouco Dominic e Dylan estarão aqui. — comentei sutilmente, enquanto
pegava a minha necessaire.
— O Dylan vai com a gente? — ela perguntou, desligando o secador
para me ouvir melhor.
— Vai, eu o convidei.
— Eu vejo o que você está tentando fazer, Katherine! — ela falou,
balançando a cabeça negativamente.
— Que bom! Aproveita e toma uma atitude hoje à noite! — gritei,
antes de sair do quarto.
Minutos depois estávamos prontas, esperando Dominic e Dylan em
frente ao dormitório. Quando eles chegaram, fiz questão de ir na frente, ao
lado do Dom para que Briella e Dylan fossem lado a lado, no banco de trás.
No decorrer do caminho até a casa dos meus pais, conversamos
muito sobre o Joe e eu não pude deixar de sorrir ao notar o carinho que
Dylan já tinha pelo menino sem nem o conhecer.
Ao chegarmos no casarão dos Taylor, Briella e Dylan foram
andando na frente, enquanto Dominic e eu andávamos mais devagar atrás
deles. Eu estava nervosa e usando um salto enorme que não me dava
condições nenhuma de andar mais depressa.
Antes de atravessarmos a porta, ele me deu um selinho e nós
entramos de mãos dadas. Todos os olhares se viraram para a gente e eu
consegui ver a reação de cada um.
Os olhares surpresos dos pais do Dominic, o sorriso orgulhoso do
meu pai, a alegria encantadora da Claire e o olhar de descontentamento da
minha mãe.
Aquele último olhar me deu vontade de voltar pela porta que eu
tinha acabado de passar, mas Dominic era mais corajoso que eu e continuou
andando em direção aos seus pais, me apresentando como sua namorada.
Marien me deu um abraço apertado e disse que estava muito feliz
em me ter na família. Além deles, falamos com a minha irmã e o Zac que
depois de nos parabenizarem, explicaram que a Ava tinha ido para um
acampamento com as amigas e que por isso não estaria no jantar essa noite.
Depois de lamentar o fato da minha sobrinha não estar presente,
caminhamos em direção à minha mãe que sorriu ao ver Dominic e o
abraçou.
— Fico feliz que tenha vindo. — ela disse a ele.
— Não deixaria de vim em uma noite tão especial como essa. — ele
falou, me trazendo para mais perto dele.
Kris olhou para mim, pareceu que ia fazer um comentário, mas
quando meu pai se aproximou de onde estávamos, ela mudou de ideia.
— Pedi para prepararem seu prato favorito essa noite, filha. — ele
disse, beliscando sutilmente minha bochecha.
— É o seu aniversário, pai! Tinha que ser o seu prato favorito. —
protestei com ele.
— Por ser o meu aniversário eu escolhi o seu prato sem nenhum
problema. Temos que comemorar essa noite, eu estou muito feliz por vocês.
— papai disse, abraçando nós dois e meu coração se encheu de felicidade.
Como ainda levaria um tempo para o jantar ser servido, nos
sentamos na área externa para conversarmos enquanto isso.
Me sentei ao lado de Dominic que passou a mão sobre os meus
ombros e entrelaçou nossos dedos mais uma vez, enquanto conversava com
Dylan e Zac. No meu outro lado estavam Briella e Claire. Enquanto
pegávamos uma taça do vinho que estava sendo servido, minha melhor
amiga perguntou:
— Sua mãe falou alguma coisa?
— Nada, só falou com Dominic, mas nada em relação a nós dois.
— Estranho isso. — minha irmã comentou.
— Não acho. Mamãe não vai se indispor com Dominic, se ela tiver
que criticar o fato de estarmos juntos, vai falar isso apenas comigo quando
estivermos sozinhas.
— Complicado agradar sua mãe, hein, amiga! — Brie refletiu
enquanto bebericava seu vinho.
— Complicadíssimo! Mas vamos mudar de assunto, viemos para cá
para ficarmos livres da dona Kris por alguns minutos. — falei a elas.
— Bem, então deixa eu te contar uma coisa, um dos motivos de eu
estar relutando tanto a dar um gato a Ava é porque iniciei meu tratamento
para engravidar de novo. — Claire revelou com os olhos brilhando.
— Irmã! Que notícia maravilhosa! — falei a ela, me desvinculando
do Dominic para abraçá-la. A Claire teve muita dificuldade para engravidar
da Ava em sua primeira gestação e saber que agora ela estava recorrendo a
um tratamento para deixar as coisas um pouco mais fáceis, aquecia o meu
coração.
Vieram nos avisar que o jantar seria servido e logo nos levantamos
para entrar em casa. Enquanto decidíamos onde íamos nos sentar, Matthew
apareceu para nos cumprimentar.
— Katherine, que bom te ver. Já soube da novidade e estou muito
feliz por você e Dominic. — ele disse, me dando os cordiais beijos na
bochecha ao me cumprimentar. Apertou a mão de Dominic, o
cumprimentando e foi se sentar ao lado do Kevin e de sua esposa, Layla.
Senti Dominic ficar tenso ao meu lado e prontamente fui para sua
frente, o encarando.
— O que foi? — perguntei a ele.
— Nada, vamos nos sentar. — ele respondeu beijando a minha testa
e me levou até onde sentaríamos.
Vinte e três

O jantar correu maravilhosamente bem, e apesar da minha mãe


fingir que estava genuinamente feliz com tudo isso, era notável o quanto ela
estava incomodada.
Após o último prato ser recolhido, dona Kris olhou para mim e
disse:
— Venha me ajudar com a sobremesa, Katherine. — eu assenti e me
levantei, indo com ela até a cozinha, onde eu encontrei um bolo para o meu
pai.
— Quer que eu leve? — perguntei.
— Não, eu mesma posso levar.
— E por que eu estou aqui então?
— Eu espero que esse não seja mais um dos seus joguinhos,
Katherine. Não quero me indispor com os Hernandez por sua causa. — ela
bradou, apontando um dedo para mim e essa atitude foi a gota que faltava
para que eu transbordasse.
Eu havia chegado no meu limite.
— É só com isso que você se importa, não é, Kris? Com a merda da
sua imagem! — exclamei irritada, elevando o tom de voz e minha mãe
acertou um tapa em meu rosto.
— Olhe bem como você fala comigo! — ela gritou, levando uma
das mãos as têmporas.
Levei uma das minhas mãos ao meu rosto, completamente chocada
com o fato da minha mãe ter me batido. Naquele mesmo instante, Claire
entrou na cozinha, encarou nós duas e perguntou:
— O que está acontecendo? Layla me disse que ouviu vocês duas
discutindo.
Abri minha boca para responder à minha irmã, mas as palavras não
saíram. Inspirei profundamente, expirei com calma e voltei para o lado do
meu namorado deixando as duas na cozinha.
Dominic perguntou o que tinha acontecido, mas simplesmente
neguei com a cabeça e fiquei no meu próprio mundinho naquele momento,
completamente apática, encarando a taça que estava em minha frente.
Minutos depois, minha irmã apareceu sozinha com o bolo para o
nosso pai e logo depois minha mãe surgiu com algumas velinhas. Me
esforcei ao máximo para parecer feliz e animada, enquanto
comemorávamos o aniversário do meu pai, mas assim que ele assoprou as
velas eu me levantei pronta para ir embora.
— Será que podemos ir? — perguntei a ele.
— Mas já? Achei que gostaria de ficar mais tempo com a sua
família.
— Não quero. Se você quiser ficar, dou outro jeito de ir, mas
realmente quero ir para casa.
— Ei! Calma! Nós vamos. — ele falou, me roubando um selinho e
afagando os meus braços.
Fui até o meu pai e lhe dei um abraço bem apertado, avisando-o que
já ia embora.
— Mas já? Achei que dormiriam aqui para aproveitar a piscina
amanhã. — ele perguntou, levemente confuso.
— Não vai dar, pai. Precisamos estudar, pois as provas começam
essa semana e amanhã a Brie e eu vamos até o apartamento buscar as
chaves e tentaremos levar algumas coisas. — expliquei a ele.
— Tudo bem, não quero atrapalhar a mudança de vocês. O próximo
jantar será lá! — ele disse, beijando a minha testa e eu assenti.
Me despedi da minha irmã rapidamente e ela disse que me ligaria
para conversarmos. Fui até onde Dominic estava com seus pais para me
despedir deles.
Marien amorosamente me abraçou e eu quase desabei em seus
braços. Como eu sentia falta de um amor de mãe.
— Dominic me falou que você gosta dos meus Tamales e eu já
avisei a ele que o próximo jantar será lá em casa. Faço questão de prepará-
los para você. — ela falou, apertando as minhas duas mãos.
— É só marcar que nós estaremos lá. Essa semana será um pouco
corrida por causa das avaliações, mas na próxima estaremos livres. —
avisei a ela.
— Certo, verei um dia e aviso ao meu filho. — ela disse, me
abraçando mais uma vez.
Dominic terminou de conversar com seu pai, se despediu de sua
mãe e nós dois saímos, encontrando Briella e Dylan nos esperando.
Minha amiga veio ao meu lado e perguntou:
— Aconteceu alguma coisa, não foi?
— Sim, mas ainda não consigo falar sem desabar. Conversamos
depois, tudo bem? — questionei e ela assentiu.
Entramos no carro e Dominic foi por todo o caminho segurando
uma das minhas mãos, a estrada estava tranquila e a música que tocava no
carro foi me acalmando.
Nem percebi quando Dominic estacionou em frente ao seu prédio.
Olhei confusa para ele e falei:
— Precisamos levar a Brie primeiro.
— Dylan a leva, nós dois vamos subir. — ele falou, saindo do carro.
Me despedi dos dois e desci também. Subimos até o apartamento e
Roger nos recepcionou com muitos pulos em cima de nós dois. Afaguei
seus pelos e disse:
— Oi, garotão! — e ele latiu, virando para o Dominic que começou
a brincar com ele.
Deixei-os na sala e fui para o quarto, entrando direto no banheiro.
Comecei a retirar a minha maquiagem quando o Dominic apareceu.
Ele andou até onde eu estava, me abraçou, deixando as mãos na
minha cintura e beijou meu pescoço suavemente. Me virei para ele,
colocando as duas mãos em seus ombros e o beijei delicadamente,
aproveitando cada segundo daquele beijo até nos separarmos.
— O que aconteceu entre você e a sua mãe? Percebi que você
mudou completamente depois que saiu da cozinha sem ela. — ele
questionou, acariciando meu cabelo.
— Nós discutimos e ela me bateu. — falei, sentindo meus olhos se
enxerem de lágrimas.
— Como as coisas chegaram a esse ponto?
— Ela disse que esperava que estar com você não fosse um dos
meus joguinhos porque ela não queria se indispor com você e os seus pais.
Eu falei que ela só se importava com a própria imagem, então ela me deu
um tapa bem no rosto. Mas acredite, doeu muito mais emocionalmente do
que fisicamente. — respondi a ele pouco antes de desabar em lágrimas em
seus braços. Dominic me acolheu e me consolou até que eu parasse de
chorar.
Após um longo banho juntos, coloquei meu pijama e enquanto
penteava os meus cabelos, Dominic disse:
— Vou fazer um chá para você. — assenti e ele saiu do quarto.
Minutos depois fui ao encontro dele, mas quando percebi que Dylan
já havia chegado, me sentei em um dos sofás da sala e de prontidão Roger
se deitou com a cabeça sobre o meu colo. Acariciei seus pelos e Dominic
apareceu com duas xícaras, colocando-as sobre a mesa e se sentou ao meu
lado.
— Ainda estão muito quentes. — ele disse, acariciando os meus
cabelos.
— Dy como foi lá com a Brie? Vocês demoraram, foram para algum
lugar? — perguntei ao Dylan.
— Fomos na cafeteria, conversamos com Quentin, dividimos uma
fatia de torta de maçã e bebemos chocolate quente. Ela me contou sobre a
mudança de vocês amanhã. Se quiser ajuda é só falar. — ele respondeu,
enquanto ligava a televisão.
— Mudança? Por que que eu não estou sabendo disso, cariño? —
Dominic questionou ao meu lado.
— Aconteceu tanta coisa, que não consegui te contar antes e eu
pretendia de fato falar com você sobre isso essa noite. Mas resumindo,
Briella e eu vamos nos mudar para o prédio azul aqui do lado, papai acertou
tudo e nós pegamos as chaves amanhã.
— Entendi. Não gostei de ser o último a saber disso, mas estou feliz
por você sair daquele dormitório, principalmente depois da atitude do Luke
ontem.
— Não foi intencional, não fica chateado. — falei ao Dominic,
beijando seu rosto e depois me virei para Dylan e disse: — Toda ajuda
amanhã é válida. Já compramos a maioria das coisas e está tudo amontoado
no nosso quarto. Facilitou muito o apartamento ser mobiliado, mas ainda
assim faltaram algumas coisinhas.
— É só me avisar a hora que vocês forem precisar de mim. — ele
respondeu e eu falei a ele:
— Vou pedir para Briella te mandar uma mensagem.
Ficamos conversando na sala sobre o condomínio e enquanto eles
me davam umas dicas legais sobre o prédio, April entrou no apartamento e
depois de cumprimentar a todos, ela se sentou ao lado do Dylan.
— Nem para avisar que teríamos reuniãozinha. — ela falou,
jogando as pernas sobre o colo do Dylan.
Eu me abstive de fazer qualquer comentário, peguei a minha xícara
e comecei a bebericar o meu chá.
— Como vamos te avisar qualquer coisa se você nem para mais em
casa, April? — Dominic falou a ela.
— Tô muito ocupada com as coisas da universidade, com o meu
trabalho e com o meu relacionamento. Jaden e eu estamos considerando
morar juntas e se isso acontecer, vocês terão um quarto livre nesse
apartamento. — ela revelou a eles.
— Se isso for algo que você realmente quer, basta avisar. Vamos
apoiar qualquer decisão que você tome. — Dylan disse e ela o abraçou.
— É, baixinha, vamos te apoiar no que você decidir. — Dominic
disse, sorrindo para ela e April retribuiu com o mesmo gesto.
Coloquei minha xícara sobre a mesa e me levantei, Roger pulou do
sofá e caminhou junto comigo. Avisei ao Dominic que iria ligar para
Briella, me despedi do Dylan e da April e entrei no quarto, discando o
número da minha melhor amiga.
Vinte e quatro

No domingo de manhã, acordei cedo e enquanto levávamos o Roger


para fazer suas necessidades, fomos até o prédio em que eu moraria buscar
as minhas chaves.
Depois de acertar tudo com o proprietário, voltamos para o
apartamento do Dominic onde tomamos café da manhã ao lado do Dylan e
logo depois, seguimos para o meu dormitório na Dorfstan.
Mandei uma mensagem para Briella quando estávamos mais perto
para ela já ir se preparando. E basicamente toda a nossa manhã se resumiu a
viagens do dormitório até o nosso novo apartamento levando as nossas
coisas.
Quando finalmente tínhamos conseguido levar todas as coisas,
pedimos comida japonesa e a devoramos sentados sobre o tapete da sala.
Dominic estava ao meu lado, lutando com seus palitinhos enquanto eu
observava, completamente encantada as interações entre Briella e Dylan.
Depois de comermos, Dylan teve que voltar para o apartamento
deles para alimentar o Roger e fazer alguns trabalhos do seu curso. Dominic
continuou nos ajudando a carregar as coisas mais pesadas até anoitecer e
após se despedir de mim com um beijo apaixonado, ele foi embora.
Andei até Briella e a envolvi em um abraço apertado.
— Deu trabalho, mas tá ficando do nosso jeitinho! — ela exclamou,
animada.
— Sim! Fico muito feliz que a gente tenha tomado coragem para
mudar. — disse a ela, muito orgulhosa do que estávamos começando a
partir de agora.
--
Com as provas a caminho, nem tive tempo de curtir o meu
apartamento ou os benefícios do condomínio, só conseguimos terminar de
organizar tudo bem tarde, então, depois de jantarmos um delicioso fast-
food, fomos cada uma para o próprio quarto revisar os conteúdos das provas
que teríamos no dia seguinte.
Devido ao cansaço, acabei acordando atrasada e quase que acabei
não fazendo a primeira prova. A minha sorte foi ter uma professora muito
compreensiva que entendeu o meu atraso e só pediu que eu não o repetisse.
Assim que terminei a avaliação, segui até a biblioteca onde passei o
resto do dia. Quando cheguei em casa, conversei brevemente com Dominic
pelo telefone, pois assim como eu, ele também estava agoniado com as
provas.
Fiz um jantarzinho bem rápido e enquanto comia, assisti um
desenho animado para me distrair um pouco, antes de voltar para os
estudos. Acabei dormindo antes da Briella chegar do trabalho e não a vi até
a manhã seguinte.
Dessa vez, cheguei no horário e não tive nenhum problema, além de
me concentrar na prova. Quando terminei, fui novamente à biblioteca, pois
no dia seguinte teria avaliação de uma disciplina que o professor era muito
chato e adorava colocar pegadinhas em suas provas, por isso o conteúdo
precisava estar na ponta da língua.
Enquanto andava até o prédio da biblioteca, me surpreendi ao
encontrar a minha irmã no campus.
Claire estava com o rosto inchado e os olhos vermelhos de quem
tinha chorado muito em todo o caminho até ali. Foi quando eu soube que
tinha algo errado.
Quando estava perto o suficiente dela, segurei em suas mãos e
perguntei, completamente preocupada:
— Claire, o que você está fazendo aqui? O que aconteceu?
— Eu vim te buscar — ela começou a falar em meio a fungadas
devido ao choro — Papai sofreu um acidente de carro, precisamos ir ao
hospital imediatamente. — assim que as palavras saíram da sua boca, foi
como se o chão tivesse sumido abaixo dos meus pés. Se eu não estivesse me
segurando na Claire, com certeza eu teria caído, pois minhas pernas
fraquejaram.
— Como assim? O papai é a pessoa mais responsável em trânsito
que eu conheço! Foi muito sério? — perguntei, desesperada.
— Eu não sei muito bem, mamãe me ligou e foi tudo tão confuso...
Ela só me contou que um carro furou o cruzamento e acertou em cheio o
carro do papai que capotou algumas vezes. Eu não sei como ainda restam
lágrimas em mim porque eu chorei durante todo o caminho. O motorista do
aplicativo já estava desesperado. — ela explicou, começando a andar e eu a
segui.
— Você veio com um motorista? Eu não tenho condições nenhuma
de dirigir agora, deixa eu ligar para Dominic. — falei, segurando-a para que
ela parasse.
— Ele está esperando, eu sabia que você não teria condições de
dirigir. Eu nem sei como consegui explicar ao motorista onde era a
universidade. — ela disse, apontando para o carro que nos esperava um
pouco mais a frente.
Apressamos os nossos passos e depois da Claire dizer ao motorista o
endereço do lugar onde meu pai estava, ele seguiu em direção ao hospital
referência da cidade.
Claire buscou a minha mão e voltou a chorar desesperadamente ao
meu lado, entrelacei nossos dedos e tentei ser forte por ela pelo resto do
caminho, enquanto eu estava desabando por dentro.
Ao chegarmos no hospital, encontramos Kris na sala de espera e era
notável que ela já tinha chorado bastante. Minha mãe abraçou nós duas e
devido a tudo que estava acontecendo, eu resolvi ignorar todas as nossas
desavenças, pois precisávamos apoiar uma a outra naquele momento.
Nos sentamos ao lado da minha mãe e ela explicou que papai faria
uma cirurgia de emergência em alguns minutos e que precisaria de sangue.
— Eu posso doar, sou O+ e estou em um bom estado de saúde, não
bebi nas últimas horas, nem fumei. — avisei às duas.
— Eu não posso doar por causa do meu tratamento de fertilidade.
Não fiz um teste hoje, então existe a possibilidade, mesmo que seja remota,
de eu estar grávida. — Claire explicou, com o coração partido.
— Eu também não posso doar agora, estava bebendo com a Layla
quando recebi a notícia. — minha mãe se justificou.
— Eu vou doar, pode não ser muito, mas vou conseguir mais
pessoas que possam, sem sangue papai não vai ficar. — falei, me
levantando e andei de um lado para o outro, tentando me acalmar o
suficiente para pensar em quem poderiam ser os outros doadores.
Kris foi conversar com o médico e um tempo depois, um enfermeiro
apareceu com uma ficha para que eu preenchesse com as minhas
informações e logo depois eu fui levada para uma sala. Enquanto o
enfermeiro analisava a minha ficha, outro começou a preparar o meu braço
para doação. Estava tão agoniada que demorei a prestar atenção no que eles
estavam conversando.
— Que situação difícil, né cara! — o que estava preparando o meu
braço falou.
— Realmente, acho louvável a atitude dela ao fazer isso para o seu
pai adotivo, não tenho uma boa relação com o meu e não sei se faria isso
por ele. — o que estava com a minha ficha comentou e eu o encarei.
— O que você disse? Eu não sou adotada! — exclamei, levemente
irritada com aquela conversa.
— Me desculpe, senhorita, foi uma conclusão precipitada que tirei
devido à sua ficha, afinal, os tipos sanguíneos dos seus pais nunca gerariam
um como o seu. — ele explicou, enquanto analisava a minha ficha
novamente.
— Eu não sei se eu estou realmente entendendo o que você está
falando. Você está dizendo que os meus pais não são os meus pais? —
questionei, me encostando na cadeira em que faria a doação, ficando
enjoada com aquela conversa.
— A junção deles não geraria um sangue como o seu. Na verdade, é
completamente impossível que alguém com o sangue AB tenha uma filha
que seja O... — ele explicou e eu levei uma das mãos ao meu rosto, pois
finalmente as lágrimas tinham encontrado o seu caminho, deslizando sobre
minha face.
Aquilo não podia ser real.
Aqueles papéis tinham que ter alguma informação errada.
Porque se tudo aquilo que o enfermeiro tivesse me falado fosse
verdade, significava que meu pai não era realmente meu.
Vinte e cinco

Um pouco atordoada, pedi para o enfermeiro ao meu lado:


— Você pode tirar isso do meu braço?
— Posso sim, você não vai mais fazer a doação? Já estão
preparando o paciente para cirurgia. — ele avisou, enquanto soltava o que
tinha prendido no meu braço.
— Vou sim, só preciso fazer uma coisa antes, mas não vou deixar de
doar. — falei, saindo da sala.
Encontrei minha mãe na sala de espera, além dela, Claire estava
mais afastava falando ao telefone.
Quando Kris percebeu que eu estava ali, ela me encarou confusa e
perguntou:
— Já doou o seu sangue? Não pensei que te liberariam tão rápido
assim.
— Preciso te perguntar algo antes, mãe. E eu espero que você seja
muito sincera comigo. — falei a encarando.
— Pode perguntar, aconteceu alguma coisa?
— Willian é o meu pai? — questionei.
— Que pergunta besta é essa, Katherine? Isso é algum tipo de
brincadeira? — ela perguntou, desviando o olhar.
— Eu quero que você olhe para mim e me responda, Willian Taylor
é realmente o meu pai? — me aproximei mais dela com os olhos cheios de
lágrimas.
— Claro que é! De onde você tirou esse absurdo? Ele é o seu pai! —
ela exclamou, elevando um pouco o tom de voz.
— Para de mentir para mim! — gritei — Eu sei que ele não é o meu
pai biológico! Como você pôde fazer isso comigo? Como pôde mentir para
todo mundo durante todos esses anos! — exclamei, completamente
desnorteada.
Kris congelou onde estava e ao olhar para mim, a faísca de
esperança que eu tinha daquela história ser uma pequena confusão, se
apagou. Tudo era verdade.
— Willian Taylor criou você e te amou desde o dia em que você
nasceu, por que eu estragaria tudo contando que você era filha de outro
homem? Para mim, não valia a pena e eu preferi viver essa mentira do que
arruinar o meu casamento com essa verdade. — ela explicou tranquilamente
enquanto se sentava em uma das cadeiras e eu desabei, de joelhos no chão
chorando compulsivamente.
— Você não pode estar falando sério sobre isso, mãe! — Claire
exclamou, se aproximando de onde estávamos.
— Nunca falei tão sério na minha vida. Durante a gestação, eu até
pensei que fosse de Willian, mas quando eu vi os olhos de Katherine eu
soube imediatamente que não era dele. Mas quando seu pai a pegou no
colo, eu não quis estragar tudo de novo, tínhamos acabado de superar uma
crise no nosso relacionamento. Contar a verdade arruinaria tudo. — ela
revelou, sem nenhum remorso na voz.
— Será que você não entende que está arruinando com tudo agora?
Que destruiu a minha vida? Você preferiu me deixar viver uma vida repleta
de mentiras, apenas para não manchar a sua imagem! — gritei enquanto me
levantava, tentando limpar o meu rosto molhado pelas lágrimas.
— Eu fiz o que achei melhor, você pode não entender agora... — ela
começou a falar, mas eu a interrompi.
— Eu nunca vou entender. Nunca! — declarei, colocando as mãos
sobre as minhas têmporas e as massageei, tentando me acalmar e perguntei:
— Quem é o meu pai biológico?
— Vamos tomar uma água, Kath. Você precisa se acalmar. Papai
precisa de você, vamos focar nisso e depois em casa, você e a mamãe
conversam. — Claire disse, tentando me guiar para fora da sala de espera,
mas eu não saí do lugar, precisava saber a verdade.
— Quem é o meu pai biológico? — questionei mais uma vez,
olhando diretamente nos olhos da minha progenitora.
— Matthew Sanders. — ela respondeu, me atingindo por completo
com aquela resposta.
— Deve ser por isso que você nunca gostou de mim. — falei a ela,
antes de sair da sala.
Fiquei alguns minutos no corredor, tentando assimilar aquela
notícia. Matthew era o meu pai, o homem que minha avó pensou que se
casaria com Kris antes de Willian aparecer, o homem com quem minha mãe
o tinha traído.
Minha cabeça doía devido a toda aquela confusão, muita coisa para
assimilar em um único dia, mas eu não podia deixar aquele hospital antes
de fazer o mínimo por um homem que me deu tanto amor e carinho no
decorrer de todos esses anos.
Assim que voltei para a sala reservada para doações, o enfermeiro se
surpreendeu ao me ver e perguntou:
— Você está bem? Nós podemos encontrar outro doador se for
necessário.
— Não precisa, eu quero fazer isso. — respondi, me sentando na
cadeira e ele voltou a preparar o meu braço.
Enquanto doava sangue para meu pai, pensei no Matthew. Será que
ele sabia que eu era sua filha ou Kris havia mentido para ele também?
Pensei em Willian, em como ele se sentiria ao saber que eu não era sua filha
biológica, depois de se recuperar desse grave acidente.
Meus sentimentos estavam confusos como os meus pensamentos.
Não sabia como me sentir, já havia chorado tanto, mas parecia que a ficha
ainda não havia caído por completo.
Quando terminei de doar uma bolsa de 450 ml de sangue, fui
encaminhada para o refeitório, onde me alimentei. Enquanto comia, Claire
apareceu. Ela segurou minha mão sobre a mesa e me encarou por um
tempo.
— Como você está? — ela perguntou.
— Não tenho uma resposta para isso agora, só sei que não consigo
mais ficar aqui.
— E para onde você vai?
— Ainda não sei. Preciso andar um pouco, colocar meus
pensamentos em ordem. Estar nesse hospital depois de tudo o que
aconteceu me sufoca.
— Ainda não consigo acreditar em tudo isso, Kath. Parece surreal
para mim.
— Eu achava que conhecia nossa mãe até hoje, mas mais uma vez
ela me surpreendeu negativamente. Você pode me manter informada sobre
o estado do papai? Vou ficar com o celular o tempo todo. — perguntei,
enquanto me levantava.
— Eu te ligo, não se preocupe. — ela falou, me abraçando bem
apertado.
Saí do hospital e caminhei sem rumo por um longo tempo, tentando
colocar os meus pensamentos em ordem.
Era como se tudo começasse a fazer sentido, o jeito que a minha
mãe me maltratava por eu ser fruto de uma traição com um homem que ela
supostamente amou um dia.
Por todos esses anos eu desejei ter outra mãe e no final de tudo, o
destino havia me surpreendido com a descoberta de um outro pai.
Nunca tinha me sentido tão perdida.
Pedi um motorista de aplicativo e segui em direção à casa daquele
que era o meu porto seguro.
Quando toquei a campainha do apartamento de Dominic, não levou
muitos minutos para que ele abrisse a porta. Bastou vê-lo para que eu
desabasse em lágrimas novamente, dessa vez em seus braços.
Dominic me levou até seu quarto e me acalentou em seus braços por
um longo tempo sem fazer nenhuma pergunta. Ele apenas acariciou os meus
cabelos e disse que tudo ficaria bem.
No momento em que consegui me recompor, segurei seu rosto e o
beijei intensamente.
— Obrigada por estar aqui para mim. — declarei, me agarrando a
ele novamente.
— Eu sempre estarei aqui para você, cariño. Onde você esteve? —
ele questionou, beijando minha testa.
— Estava no hospital, meu pai sofreu um acidente. — revelei a ele.
— Como ele está? Foi muito grave?
— Ele precisou de cirurgia, o acidente foi delicado, um carro bateu
no dele em um cruzamento. Eu até doei sangue para o caso dele precisar
durante a cirurgia.
— Cariño, não seria melhor que você estivesse no hospital, com a
sua família? Acho que esse é o momento de passar por cima das desavenças
e apoiarem uma a outra. — ele questionou, acariciando os meus cabelos.
— Eu pensava assim também, mas antes de doar o sangue, descobri
que era impossível o meu pai ser realmente o meu pai por causa do tipo
sanguíneo dele. Loucura né? Lembra da traição? Fui gerada a partir dela. —
contei e senti o seu corpo ficar tenso junto ao meu, mas não dei tanta
importância pra aquilo no momento — Confrontei a minha mãe e ela me
contou que Willian não é o meu pai biológico e que ela sempre soube disso,
mas preferiu viver uma mentira durante todos esses anos. Você acredita
nisso? Como ela pôde fazer isso comigo durante todos esses anos? — me
desvinculei do abraço e olhei em seus olhos, o encarando — Descobri essa
noite que Matthew Sanders é meu pai biológico. — revelei e não encontrei
nenhum sinal de surpresa nas expressões de Dominic e isso só significava
uma coisa:
Ele já sabia.
Vinte e seis

Levantei do seu colo e me encostei na parede a sua frente.


— Você sabia sobre isso, Dominic? —questionei com a voz
tremendo.
— Não tinha certeza. — ele respondeu e eu coloquei as mãos sobre
o meu cabelo, enquanto escorregava junto a parede até me sentar no chão
frio do seu quarto.
— Foi por isso que você estava agindo estranho e se afastando de
mim. — acusei-o, sentindo as lágrimas voltarem a encher os meus olhos.
— Cariño, pensei milhões de vezes em te contar sobre as minhas
suspeitas, mas eu não tinha certeza de nada! Os vi discutindo antes de
deixarmos o resort, encontrei e-mails trocados entre Matthew e Kris quando
estava trabalhando na casa dele. E-mails que questionavam se você era filha
dele. Todo o lance da traição ficou ainda mais claro, porém até então eram
só especulações minhas, não tinha certeza de nada! — ele se justificou,
ajoelhando em minha frente, colocando suas mãos sobre o meu joelho.
— Você devia ter me contado. — falei, tirando suas mãos de mim e
me levantei, indo em direção à porta — Preciso de um tempo, Dominic. Um
tempo para colocar os meus pensamentos em ordem e durante esse tempo,
não quero que você me ligue ou tente falar comigo, preciso que haja um
espaço entre mim e você. — saí pela porta e ignorei todos os seus pedidos
para ficar e conversar.
Estava magoada e me sentia traída.
Assim que entrei no elevador, encostei-me nas paredes e voltei a
chorar. Já havia chorado tanto durante esse dia que não sabia como ainda
restava água em meu corpo.
Segui para o meu apartamento e quando atravessei a porta, encontrei
Briella e Dylan conversando na sala. Ao me ver, minha melhor amiga veio
até mim, mas eu simplesmente balancei a cabeça em sinal negativo e fui até
o meu quarto. Andei por ele, indo até a suíte, tirando as minhas roupas no
caminho e debaixo do chuveiro, eu tentei aos poucos renovar as minhas
energias para ficar firme diante de tudo o que estava acontecendo.
Ainda enrolada na toalha, procurei um pijama para vestir e encontrei
uma das camisas do Dominic entre elas. Abracei-a sentindo o seu cheiro e
as lágrimas voltaram a cair novamente.
Passei tantos dias pensando no que tinha de errado no nosso
relacionamento para no final de tudo, ele estar mesmo me escondendo algo.
Aquilo quebrava o meu coração em pedaços.
Vesti o pijama e me deitei na cama com sua camisa em mãos,
abracei-a e voltei a chorar. Em meio a soluços, notei Briella entrando no
quarto. Ela se deitou ao meu lado e me consolou pelo resto da noite.
--
Na manhã seguinte acordei bem perto da hora do almoço. Briella
tinha deixado comida pronta para mim e desejou que eu estivesse me
sentindo melhor em um bilhete colado na geladeira.
Minha melhor amiga sabia que eu não estava bem, mas não me
pressionou a contar-lhe nada sobre o que tinha acontecido, ela respeitava o
meu tempo e eu era muito grata a isso, pois seria incapaz de lhe revelar tudo
sem chorar.
Enquanto almoçava, Claire me ligou e me contou que a cirurgia do
papai tinha ido perfeitamente bem, que ele já estava no quarto e que ia me
passar os horários de visitas. Agradeci a ela por isso, mas quando ela
começou a falar sobre a mamãe eu desliguei o telefone.
Não queria ouvir minha irmã tentar defender o indefensável.
Passei o resto do dia deitada no tapete da sala com os pés sobre o
sofá, assistindo vídeos que não ficariam por muito tempo na minha
memória. Estava muito entediada quando percebi um gatinho arranhando o
vidro da porta que levava para a varanda.
Ele era um filhotinho ainda, bem peludinho e preto com os olhos
amarelos. Andei até a porta e com calma me agachei ao lado dele para tocá-
lo. Ele deixou que eu acariciasse os seus pelos e foi assim que notei que ele
não tinha nenhuma coleira em seu pescoço.
Talvez ele estivesse perdido assim como eu.
O peguei no colo, acariciando seus pelos e ele mordiscou levemente
os meus dedos, arranhando-os bem pouquinho, pois seus dentes ainda eram
bem pequenos.
Andei com ele até o meu celular e pesquisei o que gatinhos filhotes
poderiam comer e servi um pouco de leite em um pratinho. Estava
encantava observando-o bebendo rapidamente todo o líquido quando
Briella chegou.
— Temos um gato agora? — ela perguntou, colocando alguns sacos
de mercado sobre o balcão.
— Ainda não sei, esse neném apareceu por aqui e eu resolvi
alimentá-lo.
— Não é bom alimentar gatos de rua se não vai ficar com eles,
Kath. Eles acabam se acostumando.
— Eu sei, mas e se ficarmos com ele? — perguntei, olhando para
ela.
— Não sei se é uma boa ideia. Com tudo o que aconteceu você vai
acabar usando esse gato para tirar a atenção das coisas que você realmente
deveria fazer. — ela respondeu, colocando algumas coisas no armário.
— Essa não é a minha intenção... Ele é só um bebê e precisa da
gente. — falei, me levantando com ele, levando-o até ela.
Briella acariciou os pelos do bichinho e disse:
— Tudo bem, mas vamos ver se ele não é de alguém primeiro, antes
de nos apegarmos.
— Pode deixar! — falei, colocando o gatinho no chão, observando
ele ir se enroscar em nosso tapete felpudo.
No decorrer dos dias não saí do apartamento, conversei com o
porteiro pelo interfone sobre o gato e questionei se ele sabia de quem era.
Ele disse que eram poucos moradores que tinham animais no prédio, mas
que ia procurar saber se algum deles sabia do gatinho perdido.
O gato que carinhosamente eu tinha apelidado de Banguela por
causa do filme Como treinar o seu dragão estava cada vez mais apegado a
mim, me seguia o tempo todo e até dormir enroscado nos meus pés ele
dormia, me obrigando a não me mover durante a noite.
Liguei para minha universidade e conversei com eles sobre o
acidente que tinha acontecido com o meu pai. Eles me informaram que
entendiam o meu afastamento e que eu precisava solicitar as segundas
chamadas das provas que ainda faltava fazer.
E o mais importante foi que durante esses dias eu não tive nenhum
contato com a Kris ou com Dominic, ignorei todas as ligações dos dois.
Obviamente meu ex-namorado me ligou mais que a minha própria mãe.
Hoje era sábado e eu iria visitar o meu pai. Tinha pedido para Claire
observar os horários que a Kris ia visitá-lo, para que eu fosse em um
diferente e não me encontrasse com ela.
Depois de preencher uma ficha, me direcionaram para o quarto onde
meu pai estava. Assim que abri a porta, encontrei-o bem debilitado e com
dois membros do seu corpo com gesso. Aquilo partia o meu coração.
Me aproximei dele e segurei sua mão, meu pai ainda estava
dormindo, por isso acariciei seus dedos e só o observei por alguns minutos
antes de ir embora.
Quando cheguei em casa naquele dia, Briella já estava me esperando
e me abraçou assim que cruzei a porta e nos braços da minha melhor amiga,
contei a ela tudo o que tinha acontecido, dessa vez sem derramar tantas
lágrimas.
Vinte e sete

No domingo tentei focar nos estudos, pois estávamos no final do


semestre e eu precisava conquistar uma boa nota nas provas que eu faria
ainda essa semana.
Enquanto eu tentava focar na leitura da mesma página mais uma
vez, meu celular começou a tocar e eu só atendi porque era uma pessoa que
apesar de eu ignorar há um bom tempo, ainda mostrava que se importava
comigo.
— Oi, Julian. — cumprimentei-o assim que atendi.
— Oi, Kath! Acabei de falar com a minha mãe e ela me contou
sobre o acidente que o seu pai sofreu. Liguei para saber como você estava.
— Não muito bem, Julian. Não vou mentir para você, mas a cada
dia tento ficar melhor. — revelei, fechando o livro para focar na nossa
conversa.
— Imagino, sei que essa situação não deve ser fácil... O que acha de
sairmos juntos agora? Sei de um lugar que iria te animar. — ele propôs.
— Pode ser, acho que sair desse apartamento vai me fazer bem.
— Apartamento?
— É, me mudei faz alguns dias, vou te mandar o endereço por
mensagem.
— Certo! Passo para te buscar em meia hora. — ele avisou e depois
de nos despedirmos, eu desliguei.
Encarei o celular por alguns segundos, o plano de fundo ainda era
uma foto minha com o Dominic. Eu ainda o amava muito, mas meu coração
ainda estava magoado demais para perdoá-lo.
Depois de um banho refrescante, coloquei um macacão bem
folgadinho e calcei uma rasteirinha. Peguei uma bolsa pequena e coloquei
tudo o que eu poderia precisar e fiz uma maquiagem leve em meu rosto, que
não ajudou muito a esconder as olheiras que haviam surgido devido à
insônia que eu andava sentindo.
Procurei na gaveta um dos meus óculos escuros e quando o
encontrei, Julian me mandou uma mensagem, avisando que estava me
esperando em frente ao prédio.
Julian sorriu para mim assim que me viu e me fez sorrir pela
primeira vez em muitos dias. Nos abraçamos e entramos em seu carro.
— Não vai me contar para onde vamos? — perguntei, olhando para
ele.
— É uma surpresa, mas tenho certeza de que você vai gostar. — ele
respondeu, ligando o rádio do seu carro, fazendo a voz da Pink reverberar
nas caixas de som.
Minutos depois, quando estacionamos no parque da cidade, eu
soube exatamente por que estávamos ali.
— Não acredito que você lembrou! — exclamei, espantada.
— Eu sempre prestei muita atenção em tudo o que você me falou,
Kath, e lembro muito bem de uma certa noite em que estávamos juntos.
Você me disse que tinham inaugurado esse borboletário e que você adoraria
visitá-lo devido a sua paixão por esses animais. — ele revelou, enquanto
andávamos pelo lugar.
— Julian! Você nunca acertou tanto na vida! Eu realmente precisava
estar aqui. — falei, abraçando-o rapidamente.
Seguimos andando e durante a trilha, me vi encantada com todo
aquele espaço repleto de borboletas das mais diversas espécies, respirar
novos ares me fez refletir sobre muitas coisas.
No momento em que terminamos uma das trilhas, antes de fazermos
o caminho de volta pelo outro lado, resolvemos nos sentar perto de uma
barraquinha. Julian comprou água e picolés para nós dois. Então nos
deliciamos sem muita conversa.
Quando terminamos, nos deitamos no gramado e observamos o céu
azul. Enquanto olhávamos para ele, Julian comentou:
— Senti sua falta. Sei que a nossa relação nunca foi para nos
envolvermos emocionalmente um com o outro, mas nas últimas vezes que
nos encontramos, eu já estava muito envolvido! Minha paixão me cegou e
quando eu percebi, você já estava com outro e eu resolvi me afastar de vez.
Mas quando minha mãe me contou sobre o acidente do seu pai, eu pensei
que talvez você estivesse precisando de um amigo. — ele desabafou,
segurando uma das minhas mãos.
— E eu estava. Vir aqui hoje me fez um bem enorme, você nem
imagina! Essa última semana foi bem difícil e estar aqui hoje me fez ver
que eu preciso ter coragem para enfrentar algumas coisas nesses dias que
virão.
— Conta comigo! Nossa amizade mudou, mas eu ainda estou aqui
por você. — ele falou e eu apertei sua mão, grata por tê-lo ao meu lado —
Agora me diz se você também não está vendo aquele formato de cachorro
nas nuvens? — ele questionou, mudando o foco da conversa e eu segui com
a brincadeira.
Minutos depois estávamos seguindo pelo outro lado da trilha, onde
eu fiquei completamente fascinada com algumas espécies raras que eles
tinham por ali.
Ao sairmos do borboletário, Julian me perguntou se não poderíamos
almoçar juntos e eu aceitei. Atravessamos a rua e comemos em um pequeno
restaurante que tinha ali por perto. A aparência caseira do lugar lhe dava um
ar bem charmoso, a comida estava absolutamente deliciosa.
Logo depois do almoço, seguimos em direção ao meu apartamento.
No meio do caminho, pedi ao Julian:
— Você pode me levar até o hospital referência?
— Claro! Sem problema nenhum. — ele respondeu, mudando a
rota no GPS.
Peguei o meu celular e enviei uma mensagem para Claire,
perguntando se Kris estava no hospital. Minha irmã me respondeu uns
minutos depois, informando-me que ela estava em casa.
Respirei aliviada.
Uma batalha de cada vez.
No momento em que Julian estacionou o carro em frente ao
hospital, eu disse:
— Muito obrigada pelo dia de hoje, Julian. Significou demais para
mim.
— Para mim também foi muito bom. Quer que eu entre com você?
— Não, preciso fazer isso sozinha. — acenei para ele, me
despedindo, antes de atravessar as portas do hospital.
Depois de preencher uma ficha com algumas informações e pegar o
meu crachá de visitante, segui até o quarto em que meu pai estava
internado. No instante em que abri a porta, minhas pernas fraquejaram um
pouco.
Eu não estava pronta para aquela conversa, mas precisava ser
sincera com ele e acabar de vez com aquele segredo.
Assim que meu pai percebeu a minha presença, ele desligou a
televisão e exclamou, animado:
— Minha princesa! Já estava estranhando não te ver aqui. — seu
semblante estava melhor e ele já conseguia se sentar mais corretamente,
apesar do braço direito e perna esquerda completamente engessados.
— Que bom que o senhor está bem, pai! — falei, me aproximando
de sua maca e acariciando sua mão.
— Em breve estarei novinho em folha! Esse acidente foi só um
contratempo, mas sente-se aqui. Vamos conversar! — me sentei ao seu lado
em uma cadeira que estava ali para visitantes, encarei o meu pai por um
tempo, mas as palavras pareciam não querer sair da minha boca — Eu
conheço esse olhar, o que anda te afligindo, minha filha? — ele perguntou e
aquelas palavras foram os gatilhos que eu precisava para contar a ele toda a
verdade.
Vinte e oito

— Pai, o senhor está se recuperando ainda, não quero que fique


nervoso. — falei, ainda receosa de contar a ele tudo que pretendia devido ao
seu estado.
— Eu estou bem, minha filha. Não esqueça que sou médico,
acredite em mim, não vai fazer mal desabafar. — ele disse, apertando a
minha mão na sua.
— Tudo bem, quando eu fui para Itália visitar a vovó, ela me contou
que um tempo antes de eu nascer você e a mamãe tiveram uma crise devido
a uma traição. Como as coisas se resolveram entre vocês depois disso? —
questionei, estudando suas expressões enquanto eu falava.
Papai, sereno como sempre, respondeu:
— Eu me apaixonei pela sua mãe no momento em que meus olhos
cruzaram com os dela, e quando a gente ama uma pessoa, a gente tende a
perdoar as falhas. O que aconteceu naquela época, serviu de aprendizado
para nós dois. Conversamos e superamos. A nossa família era prioridade
naquele momento.
— Fiquei muito chateada quando descobri da traição e tentei não dar
tanta importância a ela porque vocês tinham se resolvido e isso eram águas
passadas, mas antes de doar sangue para o senhor no dia do acidente, eu
descobri uma coisa que reviveu toda essa história na minha cabeça. —
revelei a ele com os olhos se enchendo d’água.
— Katherine, eu sei que não sou seu pai biológico. Eu sempre
soube. — ele concluiu calmamente, apertando suavemente a minha mão e
eu o encarei, incrédula.
— Como assim, você sempre soube? Kris te contou? Por que vocês
acharam que eu não merecia saber? — perguntei, enquanto lágrimas
escorriam pelo meu rosto.
— Eu sou médico, minha filha. Soube desde o dia em que você
nasceu. Kris nunca me contou nada, mas não precisavam de palavras, você
era minha filha, independente de qualquer coisa e eu te acolhi do mesmo
jeito que fiz com Claire. — ele respirou fundo, antes de concluir — Eu
sempre achei que sua mãe lhe contaria algum dia e não nego que sempre
temi o dia em que ela lhe contasse. Não queria que você quisesse ter outro
pai, confesso que foi um pensamento egoísta naquela época, mas com o
passar dos anos, não houveram conversas sobre esse assunto e eu supus que
talvez seu pai biológico não quisesse ser pai.
— Isso foi injusto comigo! Eu merecia saber da verdade! Eu
merecia ter o direito de escolha quanto a conhecê-lo ou não! Vocês
esconderam isso de mim por tempo demais e com certeza eu não merecia
descobrir na sala de espera de um hospital, enquanto o senhor estava prestes
a entrar em cirurgia! — exclamei aos prantos, enquanto me levantava.
Andei de um lado para o outro no quarto, tentando colocar os meus
pensamentos em ordem.
— Eu sinto muito por isso, minha filha. Sei que sua relação com a
sua mãe nunca foi das melhores, mas ela sempre fez o que foi melhor para
você. — ele falou, tentando me acalmar.
— Ela nunca pensou em mim! — gritei — Kris sempre pensou
somente nela, no quanto a verdade arruinaria o casamento de vocês! Nunca
foi sobre mim porque o meu pai biológico sempre esteve por perto e
bastava ela me contar! Mas ela nunca colocaria em risco a imagem de
família perfeita diante da sociedade. — desabafei e ele me encarou por
alguns segundos, depois me chamou para que eu deitasse ao seu lado.
A maca era pequena, mas fui até ele me tremendo um pouco devido
ao choro e me deitei ao seu lado. Meu pai me abraçou com o braço que
estava bom, enquanto eu encostava minha cabeça sobre seu peito.
— Sabia que eu nunca tive coragem de perguntar à sua mãe sobre o
seu pai biológico? Preferi criar suposições sobre ele, mas não me
surpreende você saber, já que sempre foi a mais corajosa de todos nós. —
ele comentou, acariciando os meus cabelos.
— Não sou corajosa, pai. Desde que descobri tudo isso, terminei o
meu namoro e estou evitando o máximo de pessoas que eu posso.
— Entendo. Respeite seu tempo e quando você se sentir pronta, vai
conversar com essas pessoas que você anda evitando. Conversa com o
Dominic, com a sua mãe e até com o seu pai biológico se você se sentir
pronta para isso. — ele me aconselhou.
— Não sei se quero outro pai, estou satisfeita em ter só você. —
falei, abraçando-o.
— Sou muito grato por isso, mas eu nunca vou deixar de ser seu pai,
Katherine. E acho que o seu outro pai merece saber da filha maravilhosa
que ele tem. — ele falou, me abraçando também.
— Vou pensar sobre isso. Também acho que ele não merece viver
no escuro assim como eu vivi durante todos esses anos. A verdade precisa
ser dita. — falei e ele assentiu, depositando um beijo na minha testa.
Ficamos abraçados até o horário de visitas acabar, me despedi do
meu pai com o coração mais leve e com o desejo de tentar resolver as
coisas.
No caminho de volta para o meu apartamento, repassei toda a
conversa que eu tinha tido com o meu pai naquela tarde, fiquei muito triste
ao saber que ele sempre soube, mas não julguei sua atitude de não me
contar porque ele sempre esperou que minha mãe fizesse isso e ela nunca
fez até o dia do acidente.
Parei o carro no semáforo e encostei minha cabeça no volante,
pensando em qual atitude eu deveria tomar agora e quando a luz verde se
acendeu, eu fiz o retorno e fui em direção a casa daquele que além de mim
merecia saber toda a verdade.
Fiquei parada em frente à casa do Matthew por longos minutos. Eu
sabia que ele estava em casa devido as luzes acesas, mas ainda não havia
tido coragem para sair do carro e fazer o que eu tinha planejado fazer
durante todo o caminho.
Minhas mãos suavam e as minhas pernas tremiam. Quando todo
aquele nervosismo ameaçou tomar conta de mim, eu respirei fundo, me
munindo de coragem e saí do carro, andando rapidamente até a porta.
Toquei a campainha duas vezes e logo em seguida dei algumas
batidinhas na porta, quando me preparei para bater de novo, ela foi aberta.
Matthew se surpreendeu ao me ver ali e eu analisei as nossas
semelhanças antes de abrir a minha boca. Além dos nossos olhos serem
muito parecidos, havia também alguns traços em seu rosto que se pareciam
com o meu.
— Katherine, aconteceu alguma coisa? O que você faz aqui? — ele
questionou e eu engoli em seco antes de responder.
Resolvi falar logo a verdade de maneira direta, ele merecia saber e
infelizmente seria eu a contar.
— Matthew, vim até aqui porque preciso te contar uma coisa: sou
sua filha biológica.
Vinte e nove

Assustado com a minha revelação, ele disse:


— Entre, por favor. Vamos conversar lá dentro. — ele abriu a porta
e eu entrei.
Sua casa era térrea e tinha uma decoração muito simplista, mas nada
que me surpreendesse, já que Matthew era solteiro.
Andei até a sala e ele fez um sinal para que eu me sentasse no sofá.
Depois de andar para um lado e para o outro por um tempo, ele se sentou na
minha frente e colocou os braços sobre a perna, entrelaçando seus dedos.
— Não sei nem o que dizer... Você tem certeza do que me contou?
— ele questionou, balançando uma das pernas em um claro sinal de
nervosismo.
— Eu não viria aqui se não tivesse certeza do que te falei.
— Me desculpa, não estou duvidando de você, mas questionei tanto
a Kris sobre isso e ela sempre negou, me taxando de maluco por pensar algo
do tipo.
— Claro que ela negaria. Minha mãe nunca arruinaria o casamento
dela com essa verdade e acredite em mim quando te digo isso, pois essas
foram as palavras que ela usou enquanto me contava. — expliquei e ele
passou as mãos pelos cabelos em mais um sinal de nervosismo e me
encarou, seus olhos estavam molhados — Não estou aqui para te cobrar
nada. Só achei que você não merecia ficar no escuro quanto a isso, assim
como eu fiquei. Merecíamos ter sabido de tudo desde o começo. — falei me
levantando e fui em direção a saída.
— Espera, Katherine. — ele disse segurando um dos meus braços,
me obrigando a ficar no mesmo lugar — Eu sei que você já tem um pai e
que talvez não precise de mim, mas eu sempre quis ter uma filha e... — suas
palavras se perderam quando ele começou a chorar bem na minha frente.
Fiquei sem reação por alguns segundos até envolvê-lo em um
abraço. Matthew chorou copiosamente por alguns minutos até se recompor.
— Não vim aqui para tornar as coisas mais difíceis para nós dois,
precisamos de um teste de DNA porque apesar de conseguir ver as
semelhanças em nós dois eu já não acredito mais tanto assim na palavra da
minha mãe. — pedi a ele.
— Sem problemas, vou encontrar uma clínica que seja discreta para
que possamos fazer isso. — ele concluiu e eu assenti.
— Certo, só me avisa a hora e o lugar e eu estarei lá. Agora preciso
ir, amanhã preciso refazer algumas provas e tentarei estudar um pouco hoje.
— expliquei enquanto andava até a porta.
— Tudo bem, hum, o que acha de almoçarmos juntos essa semana?
Eu conheço ótimos restaurantes no entorno da universidade. — ele propôs,
um pouco inseguro.
Toda essa situação não era confortável nem para mim, nem para ele.
— Pode ser, eu mando uma mensagem e nós combinamos tudo. —
falei, antes nos despedirmos.
Voltei para o meu carro, segurei no volante e respirei fundo antes de
voltar para o apartamento.
Quando cheguei, Briella ainda não tinha chegado. Deitei-me no sofá
e logo o Banguela apareceu e mordiscou os meus dedos que estavam quase
tocando o chão.
Peguei o meu gato no colo e acariciei os seus pelos.
— Preciso te levar ao veterinário para ver se está tudo bem com
você e se suas vacinas estão em dia. Estava esperando para ver se você era
de alguém, mas parece que você vai ser meu, coisa fofa. — beijei seus pelos
e me levantei.
Após um banho, resolvi fazer um jantar para quando Briella
chegasse. Fui até a cozinha e coloquei a água para fazer um macarrão. Tirei
alguns bifes e o requeijão para gratinar com os brócolis.
Enquanto a água esquentava, fiquei mexendo no meu celular e
inconscientemente, acabei em uma pasta repleta de fotos minhas com
Dominic.
Como eu sentia sua falta!
Ainda o amava. Mais do que eu conseguia pôr em palavras, porém,
esse tempo longe um do outro seria bom para nós dois. Eu precisava desse
tempo para mim antes de voltar para ele.
No momento em que tirei os brócolis do forno, Briella atravessou a
porta do nosso apartamento.
— Ei! Por onde você esteve durante todo o dia? Senti saudades dos
meus updates de hora em hora sobre o gato. — ela comentou, colocando
sua bolsa sobre o balcão.
— Passei boa parte do dia fora. Fui visitar o meu pai e depois de
uma longa conversa com ele eu fui até o Matthew e tivemos uma conversa
igualmente difícil, onde surpreendentemente eu não chorei. — revelei a ela
que prontamente correu até onde eu estava e me envolveu em um abraço.
— Sei que deve ter sido difícil, mas estou muito feliz por você ter
feito algo além de vegetar por esse apartamento. — ela me apertou mais
uma vez em seus braços — Isso merece uma comemoração!
— Amiga, você não sabe o quanto eu adoraria entornar uma garrafa
de vinho com você, mas eu preciso revisar alguns assuntos antes de dormir
para as provas que vou fazer amanhã e infelizmente, para fazer isso preciso
estar sóbria. — lamentei, ainda em seus braços.
— A gente bebe depois então. Vou tomar um banho e volto para
gente jantar. — ela falou, caminhando para seu quarto.
— Ótimo! Tô te esperando para conversarmos sobre as visitas
constantes do Dylan aqui no apê.
— Ah! Perdi a fome! — ela gritou de seu quarto.
— Nem vem com essa, tô esperando! — gritei de volta.
Minutos depois, nos sentamos juntas, estreando a mesa do nosso
apartamento, já que sempre fazíamos as nossas refeições no sofá, e
começamos a nos servir.
Enquanto comíamos, eu perguntei:
— Como vão as coisas entre você e o Dylan, já virou amizade ou tá
mais para romance?
— Não vou mentir que no início eu não sabia o que nós tínhamos.
Achei que estávamos construindo uma amizade porque eu o ajudava com o
pai dele, mas depois do aniversário do Willian, nós fomos comer juntos
antes dele me deixar em casa e eu percebi que queria muito mais que a
amizade dele. Desde então, temos conversado o tempo todo. Às vezes ele
vai me buscar no trabalho para que eu não volte sozinha ou vem ficar aqui
comigo. — ela me contou com uma carinha de apaixonada.
— Own, vocês combinam demais! Mas vamos ao que interessa, já
se beijaram? — perguntei, erguendo as sobrancelhas para ela.
— Sim, em uma dessas noites em que ele foi me buscar no trabalho
nos beijamos e foi diferente de tudo o que eu já experimentei. Foi incrível!
— Estou tão feliz por você! — comentei, animada.
— É bom se sentir apaixonada de novo. Já tinha até me esquecido
como era estar assim... Falando em paixão, quando você vai voltar a falar
com o Dominic? — minha melhor amiga perguntou antes de bebericar o seu
suco.
— Ainda não sei, preciso desse tempo sem ele, eu entendo a atitude
que ele tomou, mas não consigo deixar de ficar magoada quando lembro
que ele foi só mais um que me escondeu alguma coisa.
— Isso é completamente compreensível. O tempo vai curar as
feridas e resolver as coisas entre vocês. — ela disse, apertando a minha mão
sobre a mesa.
Conversamos um pouco mais sobre o Joe e quando terminamos de
jantar, ela se ofereceu para cuidar dos pratos e eu fui direto para o meu
quarto.
Me sentei em frente a escrivaninha e abri o meu caderno e dois
livros. Seria uma longa noite.
Trinta

Essa semana havia sido tão corrida que eu mal tinha tido tempo para
fazer outra coisa, além de estudar muito e tentar recuperar o tempo perdido.
Fiz a segunda chamada das provas – que estavam bem mais difíceis
por serem provas diferentes - e além disso, me esforcei para prestar atenção
nas aulas, pois tinha perdido muito conteúdo.
Durante esses dias, conversei muito com o meu pai. Ele ainda estava
internado, mas seguia tendo uma recuperação muito boa que nos dava
esperanças de que ele fosse logo para casa. Conversei bastante com
Matthew também. Ele me ligava todos os dias e nós conversávamos um
pouco. Era difícil criar um vínculo como aquele nessa altura do
campeonato, mas nós estávamos tentando.
Em meio a essa rotina louca de estudos, levei Banguela no petshop e
oficializei sua adoção, além de me certificar que ele tivesse todos os
cuidados necessários.
Hoje era sexta-feira e eu estava esperando Matthew em frente a
saída da Dorfstan, iríamos juntos a uma clínica para fazer o exame de DNA
e depois almoçaríamos em um restaurante próximo à praia.
Fui conferir as horas no relógio no exato momento em que seu carro
estacionou ao meu lado. Entrei e nós seguimos para a clínica, conversando
sobre a universidade e as coisas que ele havia feito enquanto estudava.
Ao chegarmos lá, todo o processo foi mais rápido do que eu
esperava. Preenchemos uma ficha com algumas informações e foi tirado
uma amostra de saliva minha e do Matthew. Teríamos que esperar entre
duas ou três semanas até que o resultado saísse.
Saímos da clínica e seguimos para o restaurante. Ao chegarmos lá,
nós dois escolhemos a mesma opção de camarão que tinha no cardápio.
— Não sabia que você gostava também. — ele comentou, após o
garçom recolher nossos pedidos.
— Eu amo, mas ninguém da minha família é muito fã. Comi um
prato com camarão em Portofino faz algumas semanas e posso te afirmar
que foi uma das melhores coisas que já comi na vida. — revelei a ele.
— Ainda não conheço a Vila de Portofino, mas está na lista dos
lugares que quero muito conhecer, você foi com o Dominic, certo? Lembro
que ele ganhou esse passeio no leilão. — ele perguntou e eu tomei um
longo gole do meu vinho, antes de responder.
— Hum, sim. Eu fui com o Dominic, nós estamos juntos na época.
— E não estão mais? Desculpa ser tão intrometido, mas Dominic é
um rapaz incrível, me ajudou tanto com um caso uns dias atrás.
— Eu sei, ele me contou que estava trabalhando com você, mas nós
dois estamos dando um tempo. Foi muito difícil descobrir que ele estava me
escondendo coisas também e apesar de amá-lo, ainda estou magoada. —
desabafei.
— Entendo e acho melhor mudarmos de assunto, pois quero ver o
seu lindo sorriso de novo, então, que tal compartilharmos as nossas
melhores histórias de viagens? Acho que isso é algo que temos em comum.
Amamos viajar. — ele disse, sorrindo para mim. Eu retribuí o gesto e logo
depois, comecei a lhe contar sobre um viagem memorável à Noruega, onde
vi as belíssimas auroras boreais pela primeira vez.
--
Quando cheguei em casa, meu gatinho correu até mim e eu me
abaixei para pegá-lo e acariciei seus pelos. Quando me levantei, coloquei
minha bolsa sobre o balcão e Briella apareceu com duas xícaras em mãos,
aquilo era no mínimo estranho.
— Sua mãe está aqui? — perguntei, pois o Joe ficaria conosco esse
fim de semana, então talvez ela tivesse trazido ele ao invés da Briella ir
buscar.
— Não, mas sua mãe está. — ela respondeu e eu engoli em seco,
estagnando no mesmo lugar.
— O que ela está fazendo aqui? Por que você a deixou entrar, Brie?
— Eu não posso barrar sua mãe na porta, Kath! Apesar de não
concordar com as coisas que ela fez, ela é sua mãe e disse que veio
conversar com você. — ela disse, segurando minhas mãos.
— Eu não quero conversar com ela! Por que ela não pode respeitar o
meu tempo e esperar?
— Ela é sua mãe, você sabe bem como ela é e se não quiser
conversar com ela, só escuta o que tem para te falar. — minha amiga me
aconselhou e eu concordei com ela.
Apesar de não me sentir minimamente pronta para encarar a minha
mãe, caminhei até o meu quarto onde a encontrei me esperando, sentada na
cadeira próxima a minha escrivaninha.
— Katherine, que bom que resolveu aparecer. Estou te esperando
faz um bom tempo. — ela falou assim que me sentei em sua frente.
— Você não me avisou que viria. — rebati, rudemente.
— Eu sei. Não vim aqui para discutir, tenho pensado muito nos
últimos dias e resolvi fazer terapia. — ela comentou, colocando os óculos
de sol sobre a cabeça.
— Que bom, tenho certeza de que a terapia só te trará benefícios.
— Sim, tenho lido muito sobre e pensei se você não gostaria de
fazer terapia comigo. — ela declarou, me encarando e eu fiquei surpresa
com o convite.
— Nós duas fazendo terapia juntas? — questionei para ver se eu
tinha mesmo entendido certo.
— Sim, eu sei que cometi muitos erros em relação a maneira como
te tratei e tudo o que fiz durante esses anos. Quero de algum jeito me
desculpar por isso. — ela falou com os olhos molhados e imediatamente
senti vontade de chorar também — Sei que não fui uma boa mãe e só tomei
total consciência de que tinha errado tanto quando te vi chorando naquele
hospital, me senti um monstro e não uma mãe. — ela concluiu antes de
começar a chorar copiosamente na minha frente.
Derramando algumas lágrimas, me agachei diante dela e abracei
suas pernas encostando a cabeça em um gesto muito semelhante ao que eu
fazia quando criança.
Ela acariciou os meus cabelos, enquanto soluçava e me pediu
desculpas inúmeras vezes. Aquela foi a primeira vez que senti minha mãe
tão vulnerável a ponto de sentir verdade em cada palavra que ela me dizia.
Foi a primeira vez em muito tempo que eu senti que ela me amava.
--
Na manhã seguinte, acordei escutando muitos passos pela casa, o
que era bem estranho, então me levantei rapidamente para ver o que estava
acontecendo.
Noite passada havia sido difícil, eu e minha mãe conversamos por
horas até ela ir embora. Foi uma conversa, longa e difícil, porém
extremamente necessária. Nos reconectamos bastante depois daquela
conversa.
Quando cheguei na sala, encontrei Joe correndo pelo apartamento.
Meu afilhado tinha crescido bastante desde a última vez em que eu o tinha
visto.
— Joe! — exclamei e ele parou onde estava, se virando para me ver.
— Oi, dinda! — ele disse, correndo até mim.
O peguei no colo e o enchi de beijos enquanto ele me falava com
seu dialeto infantil tudo o que tinha feito antes que eu acordasse.
— O que vocês irão fazer hoje? — perguntei à Briella, enquanto eu
brincava com o Joe.
— Vamos no zoológico com o Dylan. — ela respondeu com um
sorriso.
— Passeio em família! Amo! Se divirtam muito! — falei, colocando
o Joe no chão.
— Não quer ir com a gente? — ela questionou, enquanto arrumava
uma mochilinha para o meu afilhado.
— Não! Vou deixar vocês irem em família mesmo! — falei e ela riu,
fechando a mochila.
Fui preparar meu café da manhã e nesse meio tempo, Dylan
apareceu e eu apreciei, encantada, eles saindo juntos.
Trinta e um

Duas semanas depois

Algumas vezes eu ainda parava para pensar e refletia se isso era real
mesmo. Minha mãe e eu estávamos construindo, a cada semana, um
relacionamento melhor onde eu me sentia cada vez mais amada e onde
conhecíamos melhor uma a outra.
No decorrer dos últimos dias, iniciamos as sessões de terapia com
uma terapeuta muito recomendada pelas amigas da minha mãe. Na primeira
sessão, Kris me disse o quanto estava feliz por estarmos ali, dando aquele
passo. Nós choramos muito e com o passar das sessões, eu sentia que as
coisas só melhoravam.
Além de estar me relacionando melhor com a Kris, meu
relacionamento com Matthew ia muito bem também. Nós continuávamos
conversando todos os dias, frequentávamos a casa um do outro e
almoçávamos juntos toda semana. Ele era um homem muito divertido e em
alguns dias receberíamos o resultado do teste.
Meu pai Willian também estava se recuperando bem. Hoje ele
receberia alta e estávamos preparando uma surpresa para ele em casa.
Minha mãe tinha ido buscá-lo enquanto eu e a Claire cozinhávamos o
almoço.
— A costela está quase pronta! — falei, fechando o forno. Olhei
para Claire e a observei terminando de fritar as batatas.
— Vê o macarrão para mim? Tá quase pronto! — ela pediu e eu abri
a panela, parti um com o garfo e vi que estava bom sim.
Como Claire estava ocupada, resolvi começar a temperar o
macarrão. Enquanto colocava alguns temperos que cheiravam muito na
panela, minha irmã colocou a mão sobre a boca e saiu correndo da cozinha.
Me dividi em terminar de fritar as batatas e temperar o macarrão,
antes de ir até ela. Encontrei a Ava sentada em frente ao banheiro, no quarto
da minha irmã.
— Cadê a sua mãe? — perguntei à minha sobrinha.
— Tá no banheiro. Ela tá com a barriga dodói, vomitou tudo. — ela
explicou, com seu jeitinho infantil.
Bati na porta e questionei:
— Claire, estou aqui! Abre a porta! Quer que eu te leve no hospital?
— Não precisa, eu fiquei enjoada com o cheiro dos temperos lá na
cozinha, já coloquei tudo para fora. — ela disse, saindo do banheiro.
— Tem algo que você não tá me contando, Claire? — indaguei,
encarando-a.
Minha irmã demorou um pouco para entender do que eu estava
falando e respondeu esperançosa:
— Você acha que pode ser?
— Não custa testar. Você tem algum aí na sua bolsa ou eu preciso
dar uma saidinha rápida para comprar?
— Não precisa, eu sempre ando com um na bolsa. — ela falou,
pegando o teste de gravidez e voltou para o banheiro.
Enquanto esperava o resultado, eu e Ava brincamos com as bonecas,
já que a minha sobrinha parecia tão alheia a conversa que eu havia tido com
sua mãe. Minutos depois quando Claire saiu do banheiro com o teste em
mãos aos prantos, eu soube que tinha dado positivo.
Eu seria tia novamente.
No momento em que os meus pais chegaram, houve uma
comemoração dupla, pela alta do meu pai e pela gravidez da Claire. Nos
sentamos todos juntos à mesa e durante o almoço, interagimos como uma
família de verdade.
Depois de almoçarmos, observei encantada ao lado do meu pai, Kris
e Ava brincando no jardim. Meu celular alertou para uma mensagem da
Meredith. Ela estava me convidando para uma festa que teria no campus
mais tarde. Falei com ela que veria com Briella e liguei para minha melhor
amiga.
— Brie! Festa na república do Nick hoje. Meredith acabou de me
convidar, vamos? — perguntei, assim que ela atendeu.
— Katherine? É você mesma que está me convidando para uma
festa? Logo eu? Acho que não vou em uma desde que tive o Joe. — ela
respondeu, rindo um pouco.
— Exagerada! Mas vem comigo, vamos comemorar o quase fim do
semestre. — implorei, usando a voz mais convincente que eu tinha.
— Tá bom, eu vou! Acho que tenho o vestido perfeito para usar essa
noite! — ela disse, cedendo às minhas vontades e começando a se animar.
— Ah, mal posso esperar para vê-lo! Vou para casa cedo para nos
arrumarmos juntas.
— Te espero! — nos despedimos e eu desliguei.
Meu pai se virou, me encarando e disse:
— Toma cuidado nessa festa! Não beba nada que lhe oferecerem.
— Eu sei me cuidar, pai! — respondi, o abraçando apertado e nesse
exato segundo o meu celular tocou.
Era o Matthew.
— Oi, Matthew! Tudo bem? Aconteceu alguma coisa? —
questionei, me levantando.
— Oi, querida. A clínica acabou de me ligar. Eles queriam me dar o
resultado, mas eu acho que deveríamos estar juntos nesse momento. Você
está no seu apartamento? — ele perguntou.
— Estou na casa dos meus pais, mas posso te encontrar na sua casa,
já que não é tão longe assim. Eles vão te ligar em quanto tempo?
— Em vinte minutos.
— Dá tempo então, está nervoso?
— Nem um pouco. Cada minuto que passei com você durante essas
semanas me fizeram ter mais certeza de que você é minha filha.
— Também não penso mais que seja uma mentira da minha mãe,
nos vemos em alguns minutos. — falei, me despedindo e desligamos.
Voltei até onde meu pai estava e avisei:
— Preciso ir!
— Mas já? Achei que a festa seria só à noite. — ele indagou.
— Tenho que passar em um lugar antes. — respondi, beijando suas
bochechas, omitindo para onde eu iria. Tínhamos decidido – Matthew e eu
– que só contaríamos que ele era o meu pai biológico quando tivéssemos o
resultado do exame.
Me despedi da Ava e da minha mãe e segui para casa do Matthew.
Como cheguei antes dos vintes minutos, Matthew ligou para a
clínica e solicitou os resultados, ele segurou a minha mão quando a mulher
ao telefone disse:
— O resultado do exame realizado na nossa clínica afirma que há
sim um vínculo paternal entre Matthew Sanders e Katherine Taylor.
Respirei aliviada e não contive o sorriso ao abraçar Matthew. Ele
também estava muito contente e me chamou de filha inúmeras vezes
enquanto nos abraçávamos.
Claramente estávamos os dois emocionados. Depois de um longo
abraço. brindamos juntos ao dia em que, oficialmente, eu ganhei mais um
pai e que ele ganhou uma filha.
Trinta e dois

Enquanto nos arrumávamos, observei o quanto a minha melhor


amiga estava belíssima em seu vestido vermelho vinho com um decote em
v que só a favorecia.
— Meredith disse que vai nos esperar em frente a república, que não
vai entrar antes de nos encontrarmos porque a possibilidade de nos
desencontramos em meio a tanta gente é muita! — falei para Briella,
enquanto aplicava o iluminador.
— Acho melhor também. As festas nessa república são
enlouquecedoras! Dylan até perguntou se poderia me encontrar lá. — ela
comentou, aplicando a máscara em seus cílios.
— E o que você disse a ele? — perguntei, antes de passar o meu
batom.
— Que ele poderia ir sim, mas que não queria nenhuma confusão
por causa dessa rivalidade absurda entre as universidades. — ela respondeu,
ajeitando o cabelo.
— A galera da república é meio surtada, mas acho que não vão criar
confusão por causa disso. Sempre entra gente de fora nas festas. — falei e
ela assentiu, concordando.
Terminamos de nos arrumar e eu ajeitei o meu vestido azul em
frente ao espelho, ele tinha um decote cruzado que deixava minha barriga
um pouco à mostra. Tinha comprado ele em Roma também, ao lado de
Dominic.
Será que ele iria para festa com o Dylan? Provavelmente sim. Ele
não deixaria o melhor amigo ir até a Dorfstan sozinho.
Dispersei os meus pensamentos e nós descemos para o
estacionamento e seguimos para a festa no meu porshe.
Encontramos Meredith próxima à república e entramos juntas. A
casa estava muito cheia e extremamente barulhenta, praticamente
impossível de conversar. Andamos até a cozinha, esbarrando em muitas
pessoas pelo caminho para poder passar, onde eu me sentei no balcão e
enchi o meu copo com uma bebida.
Na cozinha ainda dava para conversar, pois o barulho não estava tão
alto. Briella mexia no celular enquanto a Meredith comentava sobre novas
coreografias. Olhei ao redor e encontrei várias pessoas da minha turma e do
time da universidade, afinal essa era a república do Nick e ele fazia parte do
time de basquete.
Estava bebericando o meu suco alcoólico quando o vi. Dominic
entrou na cozinha ao lado do Dylan, confirmando o que eu havia pensado e
quando seus olhos se cruzaram com os meus, eu percebi o quanto sentia sua
falta.
Me preparei para falar com ele, já que ele estava vindo na minha
direção, mas quando Meredith me puxou para fora da cozinha eu vi que
aquela conversa teria que ficar para outra hora.
Dancei em meio aquelas pessoas, cantei ao lado delas e me diverti
enquanto a música tocava até precisar ir ao banheiro.
— Preciso ir ao banheiro! — gritei no ouvido da Mer para que ela
pudesse me ouvir.
— Eu vou com você! — ela gritou de volta.
Nos esprememos entre os outros convidados para sair da sala e
estávamos subindo as escadas quando Nick segurou Meredith no meio da
escada e tascou um beijão nela. Soltei a mão da minha amiga e deixei que
ela se resolvesse com seu casinho complicado.
O banheiro do corredor estava ocupado, então fui no que tinha em
um dos quartos. Lavei minhas mãos e estava quase abrindo a porta quando
escutei a porta do quarto ser batida com força.
Encostei o meu ouvido na porta e tentei ouvir alguma coisa para ter
certeza de que eu não encontraria um casal nas preliminares no momento
em que eu abrisse a porta.
— Me deixa sair! Já disse que não quero fazer isso. — uma mulher
gritou do outro lado.
— Eu prometo que você vai gostar, docinho. — um homem falou e
eu percebi que conhecia aquela voz.
— Para, Luke! — a mulher gritou outra vez e eu tive certeza de
quem era o homem com ela.
Abri a porta de maneira intempestiva e encontrei Luke prensando
Tyra contra o armário. Ela trabalhava meio período na biblioteca da
universidade e cursava jornalismo. Já tínhamos conversado algumas vezes
devido as minhas idas frequentes até a biblioteca. Ao me ver, ele se
assustou e soltou os braços dela, aproveitando a deixa, Tyra saiu correndo
do quarto, batendo a porta em seguida, me deixando a sós com ele.
Luke correu até mim e eu tentei fugir dele, mas de onde eu estava,
não tinha muito para onde correr. Eu estava cercada. Pensei em voltar ao
banheiro, mas ele me alcançou antes, seu olhar parecia de um predador
faminto atrás de sua presa, me debati, tentando me soltar, mas ele
bruscamente me jogou na cama.
Luke montou em cima de mim, conseguindo me manter
parcialmente imóvel devido ao seu peso.
— Sai de cima de mim, Luke! — gritei, socando-o incontáveis
vezes até que ele segurou os meus pulsos, colocando-os sobre a minha
cabeça.
— Eu te avisei que ia te ganhar, docinho. Sou um homem que não
desiste fácil. — ele disse, com uma voz sórdida que me deixou enjoada.
Virei meu rosto quando ele tentou me beijar e isso o deixou irritado.
Luke segurou os meus pulsos com apenas uma mão, com a outra ele
apertou minhas bochechas mantendo meu rosto parado e me beijou à força
apenas para me mostrar quem mandava ali. Sua mão saiu do meu rosto e
calmamente ele começou a acariciar o meu corpo, me fazendo temer o que
poderia acontecer em seguida.
Me sentia completamente impotente naquele momento. Luke era
muito mais forte que eu e se não aparecesse alguém para me tirar daquele
pesadelo, o pior se concretizaria.
— Ainda nem acredito que eu finalmente vou ter você. Mesmo
sendo tão arisca, eu gosto. — ele passou o dedo sobre a minha boca e eu o
mordi.
— Sai de cima de mim, Luke! Eu não quero nada com você, será
que não entende isso? — questionei, batendo os meus pés na cama.
— Isso pode ser bom para nós dois, basta você colaborar. — ele
falou, tentando me beijar outra vez, mas novamente eu virei o rosto.
Luke então começou a beijar o meu pescoço, enquanto suas mãos
passeavam pelo meu corpo. Fechei os meus olhos, tentando controlar as
lágrimas que temiam cair e desejei mais uma vez que alguém aparecesse e
me tirasse daquele pesadelo.
Trinta e três

No instante em que as mãos de Luke estavam prestes a adentrar a


minha calcinha, a porta se abriu, me fazendo derramar as lágrimas contidas.
Dominic foi para cima de Luke, o arrancando de cima de mim,
iniciando uma luta corporal. Entre socos trocados, eu resolvi sair e pedir
ajuda.
Aquilo estava ficando fora de controle.
Apesar do barulho, os meninos da república apareceram junto com
Dylan para separar os dois. Briella veio até mim e me abraçou, enquanto
alguém avisava que tinha chamado a polícia.
Apesar das tentativas de Dylan e de mais dois rapazes de segurar
Dominic, ele estava irredutível, querendo partir para cima do Luke mais
uma vez mesmo que ambos estivessem com os rostos sangrando.
— Qual é, cara! Respira! Aqui nós respeitamos a rivalidade entre as
universidades e se querem brigar, vão ter que fazer isso lá fora. — Nick
falou, apontando para Dominic.
— Você não me pediria calma se soubesse o que ele ia fazer. —
Dominic retrucou, friamente.
— E o que ele ia fazer? Teve gente que chamou até a polícia, cara!
Se for alguma besteira, vou acabar me encrencando com a universidade à
toa. — Nick perguntou ao Dominic, mas eu respondi:
— Ele tentou me violentar.
Todos que estavam no quarto me encararam e Briella me abraçou
mais uma vez.
Nick saiu do quarto, mas os outros rapazes continuaram segurando o
Luke. Dominic se afastou do Dylan e me envolveu em seus braços, me
levando de volta ao meu porto seguro. Me agarrei a ele como se fosse a
minha fortaleza e desejei que aquele pesadelo acabasse logo.
Quando a polícia chegou, Nick já tinha dispersado a maioria das
pessoas que estavam na festa. Uma policial me questionou sobre o que
aconteceu depois de ficar à par da situação e eu dei o meu depoimento a ela,
tentando não vomitar e ignorando os embrulhos no meu estômago ao
vivenciar outra vez – mesmo que na minha memória – tudo o que tinha
acontecido.
Tyra, a mulher que o Luke quase violentou, também depôs. O
depoimento dela foi crucial para dar mais credibilidade ao meu e depois de
tomarem mais alguns depoimentos, levaram o Luke para a delegacia com
eles.
Pedi para Nick tomar conta da Meredith antes de ir para a delegacia
formalizar a queixa, pois minha amiga estava desolada, se culpando por ter
me levado até aquela festa. Antes de entrar no carro, garanti à Mer que ela
não tinha culpa de absolutamente nada.
Entrei no carro e me sentei ao lado de Dominic, que prontamente
segurou a minha mão enquanto Dylan dirigia. No meio do caminho, liguei
para Matthew, expliquei a ele toda a situação e pedi que ele estivesse lá
como meu advogado para que Luke não saísse impune disso, por mim e
pelas outras garotas que ele tinha assediado.
Matthew chegou à delegacia antes do meu depoimento. Super
preocupado ele me abraçou e se certificou de que eu estava realmente bem
antes de me levar para a sala da delegada, onde além de detalhar mais uma
vez o que tinha acontecido naquela noite, contei também sobre o constante
assédio que vinha sofrendo por parte dele na universidade.
Quando saímos da delegacia, Matthew me perguntou:
— Tem certeza de que não quer ir a um hospital?
— Tenho, só quero ir para casa e apagar essa noite da minha
memória. Obrigada por estar aqui. — Agradeci-o, lhe dando um abraço.
— Estarei presente sempre que precisar de mim e não se preocupe,
cuidarei desse caso com o máximo de atenção. Esse rapaz não vai se safar
dessa. — ele avisou enquanto eu ainda estava em seus braços.
Nos despedimos e eu fui até o carro onde, Dylan, Briella e Dominic
me esperavam. Enquanto seguíamos para o meu apartamento, Dominic
disse:
— Fico feliz que tenha resolvido as coisas entre você o Matthew, ele
merecia alguém como você na vida dele.
— Aprendi a amá-lo com o passar dos dias. Antes a ideia de ter dois
pais parecia estranha demais para mim, mas não imagino mais a minha vida
sem as nossas conversas diárias. — falei, sorrindo para ele que retribuiu o
gesto, encerrando a conversa por ali.
Nós estávamos tão próximos antes e agora parecia haver um abismo
entre nós dois. Estávamos cada um em uma extremidade do carro, a tensão
pelo ocorrido parecia ter se dispersado e agora não conseguíamos nem jogar
conversa fora. Éramos quase dois estranhos.
Quando Dylan estacionou em frente ao meu apartamento, ele e a
Briella saíram do carro, deixando nós dois ali dentro sozinhos. Encarei
Dominic e havia tanta coisa para dizer, o quanto eu o amava, o quanto
tinham sido horríveis esses dias sem ele, o quanto eu havia sentido sua falta.
Mas eu apenas propus:
— Fica comigo essa noite? — e ele assentiu. Subimos juntos para o
meu apartamento, surpreendendo os nossos amigos mais próximos.
Percebi que Banguela estava dormindo no sofá quando
atravessamos a porta, por isso não acariciei os seus pelos e seguimos direto
para o meu quarto. Dominic seguia os meus passos em silêncio. Fui até o
banheiro e ao ver o meu reflexo, tomei uma noção real do que quase
poderia ter acontecido e imediatamente comecei a chorar.
Me agachei, segurando no balcão quando senti as minhas pernas
fraquejarem e Dominic apareceu para me confortar.
Ele se sentou ao meu lado e me acalentou, colocando-me em seu
colo. Enquanto acariciava os meus cabelos, ele disse que tudo ficaria bem e
que eu poderia chorar o quanto desejasse.
Dominic cuidou de mim pelo resto da noite, me ajudou a tomar
banho e a vestir o meu pijama, pediu para Briella ficar comigo enquanto ele
se trocava e se deitou ao meu lado, em minha cama.
As lágrimas já tinham cessado, mas uma sensação ruim ainda
habitava o meu peito.
— Obrigada por estar aqui para mim. — falei, acariciando seu rosto.
— Eu sempre vou estar aqui para você, cariño. Independentemente
de qualquer coisa. — ele disse, beijando a minha mão.
— Senti saudades de ouvir você me chamando assim, senti saudades
de você. — declarei, passando a mão por seus cabelos.
— Senti saudades de você também, de nós. Mas entendi que tinha
errado e te magoado e respeitei o seu tempo. E olhando para trás agora, vejo
que esse tempo não foi de todo o ruim, me fez amadurecer o que sentia por
você. Não deixei de te amar e acho que agora te amo até mais. — declarou,
acariciando minha bochecha.
— Eu te amo tanto! Você me salvou essa noite, Dominic, e acho que
palavras não são o suficiente para demonstrar o quanto sou grata por te ter
ao meu lado. — falei, me aproximando o suficiente para seus lábios
encontrarem os meus e iniciarmos um beijo apaixonado que representava
um novo começo para nós dois.
Trinta e quatro

Depois daquela conversa e de uma noite compartilhando o amor que


sentíamos um pelo outro, na manhã seguinte me sentia mais forte do que
nunca para enfrentar os desafios que surgiriam pela frente ao lado de
Dominic.
Quando abri os olhos, notei que ele tinha acabado de acordar
também, por isso me agarrei a ele e o meu amado me envolveu com seu
braço e beijou a minha testa.
— Bom dia, cariño. — ele disse, após me beijar.
— Bom dia, amor. Saudade de acordar com você, tem aula hoje pela
manhã? — perguntei.
— Não, só treino. — ele olhou no relógio as horas e completou —
Preciso estar lá em alguns minutos.
— Achei que passaríamos a manhã juntos.
— Infelizmente não posso faltar. Com a final do campeonato
amanhã, precisamos estar bem treinados. — ele me deu um selinho e se
levantou.
— Ainda bem que a final é na Foxnory, porque eu acho que vocês
levarão esse campeonato mais uma vez.
— Talvez sim, o time da Dorfstan melhorou bastante e agora com a
saída do Luke, talvez eles deem uma chance para um armador melhor. —
ele disse, trocando de roupa.
— Você acha que Luke não estará no jogo amanhã? — questionei a
ele.
— Tenho certeza. Matthew já deve estar na universidade, se
certificando do afastamento dele até que o caso seja concluído.
— Espero que sim! — falei, vendo Dominic ir ao banheiro.
Levantei-me e enquanto escovava os dentes, meu namorado se
despediu de mim e foi embora, pois ainda teria que passar em seu próprio
apartamento antes do treino. Depois de finalizar a minha higiene matinal,
fui até a cozinha, encontrando Banguela no caminho. Peguei meu gatinho
no colo e li o bilhete que Briella tinha deixado na geladeira, avisando que
tinha um seminário hoje e que só voltaria para casa à tarde.
Coloquei iogurte em uma xícara, acrescentei granola e fui até a
varanda, onde apreciei a tranquilidade daquela manhã. Depois que comi,
Banguela se deitou sobre a minha barriga e eu acariciei seus pelos,
pensando no quão era injusto ele passar boa parte do dia sozinho naquele
apartamento.
Semestre que vem seria ainda mais puxado e eu não achava isso
legal, então liguei para Claire.
— Oi, irmã! — falei assim que ela atendeu.
— Oi, Kath! É estranho você me ligar pela manhã, o que você quer?
— ela perguntou, bem humorada.
— O que você pensa de mim!? Liguei para saber como está o meu
sobrinho. — respondi, disfarçando.
— Não sabemos o sexo ainda. Para de insistir que é menino, eu
tenho certeza que vem outra menina.
— Vai ser menino só para te contrariar. Como Ava está lidando com
tudo isso?
— De um jeito péssimo! Nunca a vi fazer tanta birra assim, não
cansa de dizer que queria um gato e não um irmão novo. — Claire revelou,
completamente indignada e eu não consegui conter o riso.
— E se eu te disser que tem um gato aqui para Ava?
— Como assim? Explica isso direito, Kath!
— Eu adotei um gato faz um tempo, mas o bichinho tá ficando tanto
tempo sozinho que eu já estou ficando com dó dele. Mesmo partindo o meu
coração, acho que ele seria muito mais feliz morando com vocês, pois aí, na
sua casa teria alguém para ficar com ele o tempo todo. — expliquei a ela.
— Podemos fazer isso então, pode trazer ele aqui que eu vou contar
a Ava a novidade.
— Ótimo! Vou só tomar um banho e arrumar todas as coisas dele,
nos vemos em breve. — Despedimo-nos e desligamos.
Beijei a carinha do Banguela algumas vezes antes de procurar as
suas coisas pela casa, me partia o coração ter que fazer isso, mas eu sabia
que era o melhor para ele e que tinha tomado a decisão certa.
Principalmente porque quando cheguei na casa da minha irmã e o
entreguei à minha sobrinha, ela deu um sorriso tão grato que me fez ver o
quanto Banguela seria amado e feliz ali.
Durante a tarde, fui para aula de Teoria da literatura e enquanto
prestava atenção no artigo que estávamos discutindo em sala, meu celular
notificou uma mensagem. Era Matthew me avisando que Luke estava
suspenso até que o caso fosse concluído, mesmo com os protestos do reitor,
pois essa tinha sido uma decisão da diretoria da universidade.
Agradeci a ele pelo empenho e ele me disse que só estava fazendo o
melhor para filha dele. No final da aula fui até a biblioteca buscar alguns
livros que eu iria precisar para fazer alguns resumos e quando estava indo
em direção ao meu carro, meu celular tocou. Era Meredith.
— Oi, Mer! — falei assim que atendi.
— Oi, amiga. Como você está?
— Na medida do possível, bem. Fui conversar com a minha
terapeuta antes de vir para universidade e me senti melhor.
— Que bom! Fiquei muito preocupada, nem sei se marco um treino
para hoje, mesmo a final sendo amanhã.
— Acho que um ensaio é necessário, Mer! É o último jogo do
campeonato, precisamos fazer bonito!
— Verdade e já não ensaiamos há um tempo, vou mandar
mensagem para todos da equipe. Me encontra na quadra?
— Claro que sim! Nos vemos lá! — desliguei e depois de deixar os
livros no carro e pegar o uniforme que eu deixava nele para emergências
como essa, fui até a quadra onde encontrei Meredith carregando uma caixa
de som.
— Vou trocar de roupa! — avisei e ela assentiu. Quando voltei,
alguns colegas já tinham chegado, então pacientemente a nossa capitã
começou a nos ensinar uma nova coreografia.
Poderíamos até perder amanhã, mas não ficaríamos por baixo em
relação à torcida.
--
Estava terminando de me maquiar quando Briella apareceu no meu
banheiro e perguntou:
— É muito exagerado?
Olhei para minha amiga, vendo-a usar uma camisa com o número e
o nome do Dylan nas costas.
— Está perfeito! Eu adoraria estar vestindo uma das camisas do
Dominic agora, mas como tenho que me ater ao uniforme, vou usar apenas
isso aqui. — falei, mostrando a ela um pin de coração nas cores da Foxnory
com um número 77 cravado dentro dele.
O número do Dominic.
— Tenho certeza de que ele vai amar a homenagem. — Briella
disse, me devolvendo o pin e prontamente eu o prendi no lado esquerdo do
meu peito.
Finalizei a maquiagem e arrumei o meu cabelo, deixando-o bem
preso em um rabo de cavalo. Como Briella também já estava pronta,
seguimos para Foxnory.
Briella foi sentar-se junto à torcida do time rival devido ao uniforme
que ela estava usando. Eu me juntei à minha equipe e nós começamos a
animar. Observei a quadra, a final estava linda, e encontrei Julian ao lado de
uma garota na arquibancada. Eles pareciam bem íntimos e eu fiquei feliz
por ele estar com alguém.
Agitamos muito quando o time da Dorfstan entrou em quadra e
assim como Dominic tinha me falado, eles colocaram um novo armador em
quadra e Nick tinha ficado como capitão.
Quando o time da Foxnory entrou em quadra, olhei para Dominic
completamente apaixonada e ele me encarou do mesmo jeito. Qualquer um
que nos olhasse, perceberia o quanto estávamos envolvidos um com o
outro.
No momento em que o jogo começou, ficou perceptível o quanto a
dinâmica do time da Dorfstan estava diferente. Os rapazes estavam super
entrosados e acertando muitas cestas. O time de Dominic não ficava muito
atrás, tornando aquela final muito emocionante.
Entre passes e cestas, eu assistia abismada o placar do jogo se alterar
em tão pouco tempo. Estava praticamente impossível opinar quem seria o
vencedor daquela partida.
Então, quando faltavam apenas segundos para o final do jogo,
ambos os times estavam empatados, a torcida estava tensa ao nosso redor.
Nick correu pela quadra e quando estava quase lançando a bola, Dylan a
tomou e passou-a para Dominic que a jogou para cesta em uma distância
espetacular, marcando três pontos de uma maneira inacreditável, antes de o
jogo acabar, tornando o seu time campeão.
Comemorei a vitória do meu amado, recebendo olhares estranhos ao
meu redor, mas não me importei.
Dominic correu até mim, completamente emocionado, depois de ser
parabenizado pelos seus colegas de time e me deu um beijo avassalador em
frente a todas aquelas pessoas, pois finalmente não tínhamos mais nada para
esconder.

FIM
Agradecimentos

Essa foi uma das experiências mais intensas que já tive com a
escrita, me dediquei muito para desenvolver essa história, me apaixonei por
seus personagens no decorrer da escrita e agora estou muito feliz em poder
dividir esse livro com vocês.
Aos meus incríveis leitores, muito obrigada pelo apoio e carinho,
seja lendo as minhas histórias aqui ou no wattpad, saibam que vocês me
impulsionam demais a continuar escrevendo.
As minhas amigas, Lidiane Souza e Esthefanny Bezerra, muito
obrigada por todo o carinho que vocês tiveram com esse livro, os
comentários que vocês fizeram foram essenciais para o desenvolvimento
dessa história.
E por fim, obrigada a você que está lendo, espero que tenha gostado
da Katherine e do Dominic e da história que eles começaram a construir
juntos.
Sobre a autora

Mila Maia é geminiana, baiana, formada em Pedagogia e se tornou escritora


para dar vida aos personagens que não saiam da sua cabeça. Apaixonada
por livros, filmes e séries, escreveu o primeiro romance em 2016 e desde
então nunca mais parou. Autora de alguns livros e contos publicados na
Amazon e no Wattpad.

Facebook / Instagram / E-mail / Wattpad / Twitter


Leia também

Mais uma chance para o amor – Trilogia chances – I


Uma nova chance ao amor – Trilogia Chances – II
Uma chance para recomeçar – um conto da Trilogia Chances
Outra chance ao amor – Trilogia Chances – III
Um natal da família Sullivan – um conto da Trilogia Chances
Apenas um olhar
Apenas fique
Me ame outra vez
Box - Trilogia Chances
Não foi por acaso
Aconteceu no verão – Série Estações – Livro 1
Neros
Cartas para mamãe
Um doce reencontro
Tinha que ser você
Parte de mim
Just Friends
Gabi e Edu – Um conto de natal
Minha estrela
Duplamente amor
Por trás das cenas
A babá dos meus filhos
Meu namorado de mentirinha
Ainda penso em você
O amor de um pai
Créditos

Copyright 2020 © Mila Maia


Capa e diagramação:
Mila Maia
Revisão:
Elaine C.
Imagens:
AdobeStock
Está é uma obra fictícia. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas
ou mortas é mera coincidência. Nenhuma parte deste livro pode ser
utilizado em quaisquer meios existentes sem a autorização por escrito da
autora.
Todos os direitos reservados.
Edição digital / Criado no Brasil.
Table of Contents
Sinopse
Prólogo
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Catorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Vinte e um
Vinte e dois
Vinte e três
Vinte e quatro
Vinte e cinco
Vinte e seis
Vinte e sete
Vinte e oito
Vinte e nove
Trinta
Trinta e um
Trinta e dois
Trinta e três
Trinta e quatro
Agradecimentos
Sobre a autora
Leia também
Créditos

Você também pode gostar