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A Elite of Elmwood Academy distorceu meu mundo, mas eles são meus agora.

Minha família.

Minha vingança.

Minha única saída do inferno.

Quatro caras que se tornaram mais do que apenas uma dor na minha bunda. E todos

eles querem a mesma coisa que eu.

Vingança.

Mas há espaço para mais um no nosso pequeno pacto? Ou a garota antes de mim

voltou no pior momento, bem em uma guerra de poder e riqueza?


ÍNDICE
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Epílogo
CAPÍTULO UM

O que você diria para a irmã que você nunca conheceu? Nunca soube dá existência até
meses antes do seu aniversário de dezoito anos? Fazer uma piada? Jogar com calma? Corra e
se esconda? Todos esses pensamentos cruzaram minha mente em segundos enquanto eu
olhava em seus profundos olhos castanhos.
Oi, Mana. Onde você esteve por toda a minha vida?
Eu duvidava que essa fosse a primeira impressão que eu queria causar. Para não
mencionar, minutos atrás eu tinha acabado de ser detida sob a mira de uma arma pelo meu
meio-irmão psicopata. Meu corpo ainda tremia com as consequências. E agora que pensei
nisso, ele também havia agredido minha irmã, que estava na minha frente.
E se tivesse sido ela quem encontrou Carter em vez de mim?
Um pensamento aterrorizante. Foi por causa dos vícios doentios e retorcidos de Carter
que Kenna deixou Elmwood.
Uma vez que nossos olhos se encontraram, nenhum de nós foi capaz de desviar o
olhar. Nós não éramos idênticos, mas as semelhanças eram o suficiente para serem
assustadoras pra caralho. Ninguém se moveu ou disse nada enquanto nós dois avaliamos um
ao outro, e a festa barulhenta se calou, todos os olhos se voltando para nós.
Que porra?
Uau.
É a…?
Os murmúrios continuaram. Se os outros garotos da Academia tivessem a impressão
de que Kenna e eu éramos parecidos, qualquer dúvida seria desacreditada ao nos vermos lado
a lado. Nossa semelhança era incrível. Eles podem não adivinhar que somos trigêmeos, e por
que o fariam? Até onde eles sabiam, os Edwards tinham um par de gêmeos.
— Puta merda. Kenna? — Micah exclamou, suas covinhas enfeitando ambos os lados
de suas bochechas enquanto ele sorria amplamente. Ele foi para um abraço, levantando-a do
chão e girando-a. O cabelo escuro balançava com o movimento, enquanto sua risadinha soava
acima da música.
O transe foi quebrado, dando-me alguns segundos para me recompor.
A mão de Brock descansou nas minhas costas, me ajudando a centrar minha mente
rodopiante. De repente parou de funcionar. Eu não sabia o que fazer ou dizer, então eu apenas
fiquei ali ao lado dele, me confortando em seu calor.
Esta noite inteira estava começando a ser demais.
Eu nem tive tempo de processar Carter invadindo o quarto de Brock, infectando seu
computador com Deus sabe que tipo de vírus, e apontando uma arma na minha cara. Não era
assim que eu imaginava conhecer minha irmã pela primeira vez. Esgotado. Agitando. Uma
porra de uma bagunça quente.
— Você está bem, Firefly? — Brock sussurrou em meu ouvido.
Ele não queria a verdade, então eu não disse nada, torcendo os anéis em volta dos
meus dedos enquanto eu olhava boquiaberta para Kenna. Em noites como essa eu me
perguntava se algum dia ficaria bem.
Os pés de Kenna tocaram o chão, e Fynn se moveu em seguida, envolvendo-a em seus
braços fortes. — Faz muito tempo, KK.
Mads sorriu, observando sua prima e melhor amiga com entusiasmo.
A festa recomeçou lentamente, as pessoas tendo muita porcaria para falar agora. Eles
nem sabiam metade disso, mas aposto que havia toneladas de especulações. Kenna fixou seu
olhar em Brock, e então eles se voltaram para mim. — Então é verdade. — Seus olhos me
examinaram da cabeça aos pés. — Uau. Eu não acreditei quando me contaram, mas...
— Engraçado, hein? — Sério, Josie? Essas são suas primeiras palavras para a irmã
que você nem sabia que tinha? Deus, onde era a mesa mais próxima para eu rastejar?
— Sim, você poderia dizer isso, — ela respondeu, ainda olhando para mim como se
eu fosse um fantasma. Eu conhecia bem o sentimento.
— O que você está fazendo aqui? — Grayson exigiu, a carranca em seus lábios
profunda e feroz. Ele era o único que não parecia emocionado com Kenna aparecendo do
nada.
Kenna sorriu para nosso irmão, cruzando os braços sobre a camiseta branca que ela
usava. Ela parecia a garota rica perfeita em seu jeans puído e sapatos de lona branca. Sua pele
era mais bronzeada do que a minha, como se ela passasse horas no sol ou usando loções
bronzeadoras. — Ei para você também, mano.
Grayson balançou a cabeça, jogando uma mecha de cabelo do mesmo tom que o de
Kenna e o meu, se o meu não fosse rosa. — Isso não é engraçado. — Eu não conseguia
decidir com o que exatamente ele estava chateado. Será que Kenna apareceu na festa com
Carter não muito longe? Ou foi por causa do espetáculo que seu súbito retorno criou? Eu não
era capaz de ler totalmente Grayson ainda.
Ela enrolou o braço no de Mads. — Frio. Mamãe e papai sabem onde estou. Foi
minha escolha sair.
— E eles concordaram com isso? — Grayson respondeu com ceticismo.
— Acho que posso tomar a decisão de voltar para casa, Grayson. E acredite ou não,
eles apoiaram minha decisão. Eles acham importante que todos passemos tempo juntos. —
Ela revirou os olhos enquanto dizia a última parte. — Além disso, quero terminar meu último
ano na Elmwood Academy com meus amigos. — Ela virou a cabeça para Mads e sorriu.
— Ainda não é seguro, — ele apontou, enfiando as mãos nos bolsos traseiros. Ainda
estávamos chamando a atenção, nossos colegas da Academia ocasionalmente lançando
olhares para este lado e espionando a conversa.
— Eu sei. Mas aprendi que o mundo não é um lugar seguro. Todos aqueles milhares
de dólares em terapia realmente valeram a pena, — Kenna retrucou sarcasticamente.
Os olhos de Brock se estreitaram. — Grayson está certo. — Sua voz estava tensa.
Kenna prendeu uma mecha solta de cabelo que tinha escorregado de seu rabo de
cavalo atrás da orelha, um toque de rosa manchando suas bochechas. — Isso é tudo que você
vai me dizer?
Mads revirou os olhos. — Algumas coisas nunca mudam. Brock ainda é evasivo e
misterioso. E Grayson ainda é o idiota.
O olhar do meu irmão se estreitou para nossa prima enquanto ele a ignorava.
Ela retribuiu o gesto.
Brock Taylor tinha mais de um metro e oitenta de beleza. Não eram apenas seus olhos
marcantes ou os ângulos agudos de sua mandíbula, mas também a maneira como ele se
portava e comandava uma sala. Brock saiu do meu lado, dando alguns passos à frente para
dar um abraço rápido em Kenna. Não havia nada de romântico nisso. Ele não demorou, e
ainda um lampejo de ciúme acendeu dentro de mim. — Bem-vinda ao lar, Kenna, — eu o
ouvi murmurar.
Um lampejo de decepção passou por sua expressão, e isso me fez imaginar o que
exatamente ela estava esperando.
E por que diabos isso era tão estranho?
Claro, eu tinha assumido que conhecer a terceira parte do nosso trio de trigêmeos seria
todo tipo de estranho, mas acho que uma parte de mim também acreditava ou esperava que
seria uma reunião alegre. Como se estivéssemos nos abraçando e chorando, balbuciando
sobre sempre querer uma irmã e tal.
Ficou claro que meu encontro com Kenna não seria assim, e realmente, foi meio
ingênuo da minha parte pensar que seria. Ela era uma estranha para mim. E eu para ela. Por
que ela confiaria em mim, especialmente depois de tudo que ela passou? Ter a guarda
levantada provavelmente era inteligente.
— Gente, isso é motivo de comemoração. Todos os Edwards sob o mesmo teto, —
Micah anunciou, pegando uma garrafa de cerveja aleatória da mesa do console e levantando-a
no ar. — É hora da porra da festa! — E esse era o Micah em poucas palavras, o playboy de
cabelo platinado da Elmwood Academy. Mas para aqueles que o conheciam bem, veriam que
por trás dos olhos azuis claros, ele queria ser amado.
Apenas como eu.
Micah e eu compartilhamos isso em comum; ele era apenas muito melhor em encobrir
e suprimir toda a mágoa e dor.
Irônico que eu sentisse vontade de chorar, mas não pelos motivos que eu esperava. Eu
não tinha certeza do porquê. Talvez a noite estivesse apenas me alcançando, mas eu era
totalmente a favor da sugestão de Micah. Eu tive que me soltar. — Eu definitivamente
preciso de uma bebida, — murmurei baixinho para ninguém em particular. Uma sensação
avassaladora de abafar minhas emoções surgiu dentro de mim, e eu só queria esquecer tudo
em uma garrafa de bourbon. Mas honestamente, eu não era exigente. Não no momento. Eu
tomaria qualquer coisa dura com gelo. Jack Daniels. Tequila. Vodka. Apenas me passe uma
garrafa.
Micah passou um braço em volta do meu ombro, me puxando contra seu lado. Ele
cheirava bem. Mas, novamente, todos os quatro faziam de sua maneira única. — Depois da
noite que você teve, Josie Jo, eu diria que você ganhou uma, — disse ele.
Brock fez uma careta para seu amigo.
Ele não foi o único que notou a facilidade entre Micah e eu. Muita coisa mudou desde
que Kenna partiu. A Elite não trazia qualquer um para o seu rebanho, independentemente da
relação de sangue em potencial, e eu podia ver que ela estava curiosa sobre como eu consegui
me tornar tão próximo dos quatro caras.
Esta estava se tornando uma fodida noite interessante.
— Eu também gostaria de uma bebida, — anunciou Kenna, surpreendendo a todos,
inclusive a mim. Ela me enviou um sorriso amigável quando todos os olhos se voltaram para
ela.
— Não, — Grayson estalou. — Não está acontecendo. Não essa noite.
— Quem morreu e te fez rei? — Kenna mordeu de volta.
Eu ri, o que me rendeu uma carranca do autoproclamado rei da Elmwood Academy.
Ignorei Brock e sua carranca feroz.
— Merda, nenhuma de vocês deveria estar bebendo, — disse Grayson, incluindo-me
na mistura. Isso não ia voar. Ele pode mandar em Kenna, mas eu não dou a mínima para
quem ele era. Irmão ou não.
Eu atirei-lhe um olhar estreito. — Desde quando você se tornou tão puritano?
Desta vez Kenna riu. — Ela tem razão. Você precisa se soltar, mano. Tudo bem não
ser um babaca o tempo todo.
A expressão de Grayson se contorceu com linhas de teimosia enquanto ele enfiava a
mão em seu cabelo escuro. — Vocês duas não estão se juntando a mim. Não é assim que isso
vai funcionar.
Eu levantei uma sobrancelha. — Sério. Por favor, me diga, irmão. Como isso vai
funcionar então?
Algumas garotas passaram por nós, olhando para Grayson, mas ele não as viu. —
Fácil. Vocês duas vão para casa. Agora.
— Grayson! — Kenna gritou. — Eu não sou uma criança. Eu não preciso que você
cuide de mim.
— Está tudo bem, — Mads interveio. — Vou me certificar de que ela chegue em casa.
Por favor, deixe-a ficar. Só um pouquinho, Grayson. Não a vejo há meses. Além disso, acho
que seria divertido para Josie e Kenna conversarem. Quando foi a última vez que todos nós
estávamos juntos?
Brock pegou minha mão, entrelaçando seus dedos nos meus. — Josie e eu estamos
indo embora.
Ele puxou meu braço, mas eu afundei meus pés, recusando-me a me mover. — Nós
estamos?
Aqueles olhos aqua olharam de volta para mim, um lampejo de calor no centro deles.
— Sim, Firefly.
Kenna pegou o carinho. Seus olhos saltaram entre Brock e eu, nos observando com
mais cuidado. Isso me deixou mais nervosa do que já estava, especialmente quando me
lembrei de que Brock e Kenna tinham uma coisa. Bem, de acordo com Brock, era apenas
pelas aparências. E se isso fosse verdade, então eu não tinha nada para me sentir ciúmes.
Certo?
Ainda assim, eu me encontrei querendo colocar distância entre Brock e eu. Acabei de
conhecer minha irmã. Eu queria que ela gostasse de mim. Não me odeie de cara, e algo me
disse para andar com cuidado quando se tratava de Brock e Kenna.
Eu teria que ser uma idiota para não perceber a tensão vibrando dos dois. Foi
desconfortável e me fez sentir como se estivesse sendo empurrada para fora, que era eu quem
estava interferindo.
Talvez eu estivesse.
Tentei desembaraçar nossos dedos, mas o aperto de Brock só aumentou.
Os lábios muito brilhantes de Kenna se transformaram em um beicinho quando ela
olhou para Brock. — Não a faça ir embora. Acabei de chegar e estou morrendo de vontade de
conhecer minha irmã perdida. Você realmente vai tirar isso de mim?
De jeito nenhum Brock cairia nessa. Uma vez que ele se decidiu, ele nunca mais
recuou. Esperei para ouvi-lo dizer não.
— Você tem uma hora, e então vamos embora, — respondeu ele, parecendo tudo
menos feliz com isso.
Eu pisquei. O que diabos aconteceu? Ele nunca cedeu tão facilmente. Nem mesmo
para mim.
Kenna sorriu vitoriosamente.
Minha mão tocou o ombro de Brock, um pensamento apenas me ocorreu. — Espere.
Esta não é a sua casa? Por que você está indo embora comigo?
— Porque você e eu precisamos conversar sobre o que aconteceu. Sua voz caiu, e a
aspereza que ouvi nela me fez querer me inclinar para mais perto dele.
O que diabos foi isso tudo? Diga-me como Brock me ordenando fez meu coração
pular. Eu sabia que tinha problemas sérios, mas puta merda... eles estavam piorando desde
que o conheci.
— Hmm, — disse Kenna, apertando os lábios. — Isso soa suculento. Diga. O que eu
perdi?
— Droga, garota. Por onde diabos eu começo?
Brock lançou um olhar duro para Mads que basicamente se traduzia em cale a boca.
Novamente com a vibração estranha, pois ele fez um trabalho de merda escondendo
seu descontentamento.
Fynn se remexeu, jogando o boné de beisebol para trás na cabeça. — Então, o que vai
ser senhoras? Cerveja? Bebida mista? Vinho? — ele perguntou, mudando rapidamente de
assunto. A mudança repentina não passou despercebida para mim, Fynn vindo em socorro de
seu amigo.
— Vou tomar um spritzer, — disse Kenna, se jogando em um dos sofás próximos.
— Eu também, — acrescentou Mads, sentando-se ao lado de sua prima.
— Josi? — Fynn instigou, levantando a sobrancelha com um sorriso torto. Se a Elite
tivesse um — cara legal, — seria Fynn Dupree. Ele tinha a pele mocha mais suave que eu já
tinha visto. Mechas encaracoladas escapavam da parte de trás de seu chapéu. Ele sempre
conseguia me fazer sorrir, mesmo no pior dos dias.
— Algo duro nas rochas. E traga a garrafa, — eu respondi.
— Firefly, — Brock rosnou, me puxando para uma cadeira com ele, então eu estava
meio sentada em seu colo.
Virei a cabeça para o lado e torci o nariz para ele. — Ganhei-o.
Micah riu, agitando o topo da minha cabeça enquanto se sentava no braço da nossa
cadeira. — Eu juro, Josie Jo. Eu deveria ter visto você primeiro. Você e eu seríamos épicos
juntos.
Fynn foi buscar bebidas para nós. Grayson foi com ele para ajudar, empurrando
Micah no ombro enquanto ele serpenteava ao redor da mobília.
Eu me encolhi. — Um desastre épico. Além disso, eu não fico com caras com quem
minhas amigas foderam. Apenas caras com quem sua irmã ficou, disse uma voz no fundo da
minha cabeça, o que não era totalmente verdade. Brock alegou que eles nunca ficaram.
Micah piscou para Mads, ganhando um olhar azedo do meu primo. — Não é tarde
demais para pular a onda da Elite. Estou sempre disponível em modo de espera se você
mudar de ideia.
Brock bateu as costas de sua mão no estômago de Micah. Não com força, mas com
força suficiente para transmitir seu aviso. Afaste-se, cara.
Mas isso só fez Micah rir. Ele se afastou da nossa cadeira e foi se sentar ao lado de
Mads e Kenna no sofá, que se abaixaram para dar espaço para ele.
— Ok, eu não entendo. O que está acontecendo? — Kenna perguntou, percebendo a
estranha vibração entre a Elite.
— Carter esteve aqui esta noite, — Micah respondeu, seu sorriso desaparecendo. Este
era um tópico que o playboy sedutor levava a sério.
— O que! — Mads gritou, sua voz ecoando sobre a conversa e a música de fundo.
Seus olhos cinza-pomba se voltaram para mim, a preocupação amortecendo sua excitação. —
Você está bem?
Quão assustador que ela imediatamente soube de alguma forma que eu estava
envolvido. Eu balancei a cabeça. — Estarei atrás de uma bebida. Meus nervos ainda estão
desgastados.
Kenna me estudou novamente, mas não só a mim. Seu olhar saltou entre Brock e eu.
O líder da Elite estava com a mão na minha coxa, e eu podia sentir seu corpo embaixo do
meu. Ele usava sua personalidade entediada, fingindo não dar a mínima para nada, mas eu
sabia melhor. A raiva ainda estava sob a superfície.
Micah explicou alguns detalhes para Kenna e Mads, atualizando-os rapidamente.
Toda a merda louca sobre Carter invadindo o quarto de Brock, roubando o pen drive,
instalando algum tipo de spyware no computador de Brock, e o destaque da noite, me
segurando sob a mira de uma arma enquanto ele me fazia fazer todo o trabalho sujo para ele.
Desgraçado.
Kenna, de Grayson e Mads, já conhecia algumas das tretas anteriores com Carter que
aconteceram nos últimos meses, pelas quais eu estava grata. Eu não sabia se seria capaz de
assistir a uma recontagem de tudo, desde me agredir até me sequestrar.
Eu não podia acreditar que Carter me tinha sob a mira de uma arma apenas alguns
minutos atrás. Tipo, que diabos! Ouvir seu nome mencionado fez meu estômago revirar. Eu
deveria estar pirando mais do que estava. Eu não sabia o que isso dizia sobre mim. Talvez eu
estivesse ficando muito familiarizado com situações perigosas.
A mão de Brock apertou minha coxa suavemente, tirando um pouco da tempestade
que girava dentro de mim. Ele sabia que tinha o poder de fazer isso? — Ele se foi, — ele
sussurrou em meu ouvido, de alguma forma lendo minha mente. — Ele conseguiu o que
queria.
Eu nem percebi que estava carrancuda até então.
Fynn e Grayson voltaram com bebidas. Eles as distribuíram, e eu peguei meu copo e
dei a Fynn um sorriso de gratidão.
Kenna torceu a tampa de seu spritzer e tomou um gole. Sua perna cruzada saltou no
ar. — Então, os rumores são verdadeiros. Brock Taylor finalmente se apegou a uma garota.
Nunca pensei que veria o dia.
— Muita coisa aconteceu desde que você partiu, — Mads disse, seus lábios curvados
em um sorriso cheio enquanto ela olhava para Brock e para mim.
— Você escolheu um momento infernal para voltar — acrescentou Fynn, tomando um
gole de sua garrafa de cerveja enquanto se sentava na mesa de centro.
Brock não moveu um músculo, e sua falta de resposta se arrastou no ar entre o grupo.
Limpei a garganta, girando o gelo no meu copo. — É complicado, — eu disse,
porque, na verdade, não havia outra maneira de explicar nosso relacionamento. As coisas
estavam confusas entre Brock e eu, mas acho que hoje chegamos a um ponto crucial. Ele era
meu.
Kenna descruzou as pernas, equilibrando a bebida no joelho. — O que com ele não é?
— Eu posso concordar com isso, — eu murmurei, levantando meu copo em saudação.
Kenna balançou a cabeça. — Eu sinto muito. Não quero ficar olhando para você, mas
não consigo evitar. Isso não parece real. Mads, me belisque. — Sua prima obedeceu e Kenna
gritou. — Eu não quis dizer literalmente.
Micah se inclinou para frente, colocando os cotovelos sobre os joelhos. — Isso é tão
estranho para o resto de nós.
O olhar de Mads percorreu o grupo, enquanto ela batia na borda de seu spritzer com o
polegar. — Você acha que nunca vai ser estranho?
Eu bufei. — Talvez em uns dez anos.
Seguiu-se uma pausa antes de Kenna dizer: — O que não entendo é por que ninguém
me contou? Eu tive que voltar para casa para descobrir? Não estou culpando você, apenas
curiosa.
Olhei para Grayson, que estava reclinado em uma cadeira idêntica à que Brock e eu
estávamos sentados. Suas longas pernas esticadas sob a mesa de café enquanto seu olhar
disparou para mim e então pousou de volta em Kenna. Um suspiro escapou de seus lábios. —
Eu pedi para ela não fazer isso.
Ela engoliu. — Por que? Você não acha que descobrir que temos uma irmã também
me preocupa?
Grayson deu-lhe um olhar aguçado. — Você sabe porque.
Seus ombros se endireitaram. — Em algum momento, Gray, você tem que parar de
tomar decisões por mim. Não sou tão frágil quanto todos vocês pensam que sou.
— Claro que você não é, — Mads interrompeu. — Você está ótima, a propósito.
Muito boa.
Kenna virou seu olhar de Grayson para mim. — Caso você não tenha percebido, nossa
família está tão ferrada quanto a outra. Provavelmente mais.
— Você deveria conhecer minha família, — eu disse asperamente. — Quero dizer,
meu meio-irmão é Carter Patterson.
Seus lábios se contraíram, embora uma sombra se moveu em seus profundos olhos
castanhos. — Ok, você venceu.
Micah inclinou a cabeça para o lado. Eu não gostei do brilho em seus olhos e me
preparei para algo estúpido sair de sua boca. Ele não decepcionou. — Alguma chance de
vocês duas estarem interessadas em realizar um sonho meu ao longo da vida? Eu nunca fiquei
com gêmeos, e vocês são as mais próximos—
Uma rodada de nãos atravessou o grupo, impedindo-o de terminar sua frase.
Mads o golpeou no peito, tomando cuidado para não derramar sua bebida. — Deus,
Micah, você tem sorte de Brock não chutar a merda fora de você.
— Nós somos irmãos. O que aconteceu com o que é meu é seu? — Ele estava
provocando Brock. Pelo menos, eu tinha certeza, mas em algum momento, Micah iria longe
demais. Era esse ponto que me preocupava.
A mandíbula de Brock apertou. — Isso é uma coisa que não estamos compartilhando.
Revirei os olhos quando Micah me mostrou suas covinhas. — Você não pode culpar
um cara por tentar. E se eles tivessem dito sim?
Enquanto nos sentamos lá durante a próxima hora, mais e mais pessoas da escola
tiveram a coragem de vir para dizer oi para Kenna. Ficou claro o quão popular ela era, e isso
me deixou curiosa. Se eu não tivesse expulsado Ava da festa, ela teria vindo e abraçado sua
velha amiga? Eu me encolhi com a ideia de Kenna estar perto de meu inimigo.
Quase todo mundo fez algum tipo de comentário sobre o quanto Kenna e eu nos
parecemos, mas ninguém lhes deu uma razão para isso. E eles não perguntaram, não com um
Brock carrancudo olhando para eles. Kenna apenas riu ou mudou rapidamente de assunto. Ela
era muito boa em conduzir uma conversa.
Eu estava no meu terceiro drinque, ou talvez fosse o meu quarto. Eu tinha o mau
hábito de perder a conta. Brock deslizou os braços em volta de mim e me levantou da cadeira,
ficando de pé atrás de mim. Ele conseguiu fazer tudo isso enquanto ainda mantinha as mãos
em mim. — Vamos, Firefly. É hora de ir.
Inclinei-me para ele enquanto ele pegava o copo da minha mão e o colocava sobre a
mesa.
Kenna fez beicinho e os olhos tristes. — Agora? Mas estávamos apenas nos
conhecendo.
Mas desta vez, Brock não sucumbiu. — Se você voltar, terá o resto do ano letivo para
se familiarizar.
Ela se encolheu, seu beicinho se transformando em uma carranca. Alguém não gostou
de não conseguir o que queria. Depois de passar apenas uma hora com Kenna, ela era bem
como eu imaginava. Doce. Energético. E vão. Mas de vez em quando, eu pegava um lampejo
de uma emoção que eu não conseguia identificar. Raiva. Ciúmes. Amargura. O que quer que
ela estivesse sentindo, ela estava tentando ao máximo mascarar, o que me fez pensar, por que
esconder?
Brock manteve um braço seguro em volta de mim. Ele pegou os olhares de Micah,
Grayson e Fynn. — Vocês podem fechar isso? Quero que todos tenham ido embora quando
eu voltar.
— E se eu não estiver pronta para sair? — Eu argumentei, achatando minha palma em
seu peito. Seu coração disparou sob minha mão.
— Você não tem escolha, Firefly. — E como se ele antecipasse que eu estava a
segundos de fazer outra cena, porque aparentemente, era nisso que eu era bom, Brock
começou a mergulhar e me puxar por cima do ombro, expondo minha bunda até o teto.
Graças a Deus, porra, eu não tinha decidido usar uma saia esta noite.
— Espere! — Eu gritei, tentando empurrar o cabelo rosa do meu rosto enquanto ele
caía em meus olhos, caindo pelas costas dele. — Eu preciso da minha bebida.
Ele ignorou meus protestos e saiu da sala como se fosse a coisa mais casual me
carregar pela casa dele.
Talvez Brock estivesse certo. Precisávamos conversar bem. Sobre como ele não pode
simplesmente me obrigar a fazer o que diabos ele queria.
CAPÍTULO DOIS

Brock me arrastou para fora da casa, seu aperto firme em minhas pernas no caso de eu
fazer um barulho, o que eu contemplei enquanto estava sendo conduzido pela casa, mas
finalmente decidi não. Acho que criei drama suficiente para segunda-feira. Não há
necessidade de alimentar mais as hordas.
Mas se ele continuasse me maltratando e me chicoteando, teríamos um problema. Ele
abriu a porta do passageiro de seu Land Rover, me jogando no banco. — Você sabe, para
alguém que tem experiência em lidar com mulheres, você executou tão mal, — eu disse
amargamente.
Humor puxou o canto de sua boca, e que boca comestível. Eu tinha passado muito
tempo sem o gosto dele. — Conte suas estrelas da sorte, tudo o que fiz foi carregá-la para
fora. Eu poderia ter espancado você.
Por que isso soava menos como uma punição e mais como uma promessa? — Há algo
seriamente errado com você. Além disso, eu teria preferido a surra.
Ele se inclinou e capturou minha boca com a dele, fazendo com que meu corpo inteiro
se iluminasse como o vaga-lume que ele me chamava. Brock terminou o beijo cedo demais
para o meu gosto. — E é por isso que você me ama. Nós dois estamos fodidos, — ele
murmurou.
Meus olhos ficaram presos nos dele, e o fogo nas profundezas da água embaralhou
meu cérebro. — Talvez.
— Fique quieta, Firefly, — ele ordenou, prendendo meu cinto de segurança no lugar
como se para me conter. O pensamento fez minha mente desviar para outras maneiras que
Brock poderia me conter. Aparentemente, a combinação de álcool e quase levar um tiro me
deixou com tesão, porque tudo que eu parecia ser capaz de pensar era quão rápido eu poderia
tirar Brock de suas roupas.
Revirei os olhos quando ele fechou a porta e deu a volta no carro. O motor ganhou
vida depois que ele entrou e prendeu o cinto de segurança. — Onde estamos indo? — Eu
perguntei, enquanto Brock dirigia o SUV em sua garagem, o portão se abrindo
automaticamente. Eu cruzei minhas mãos em meu colo para evitar que meus dedos
encontrassem o caminho para o corpo de Brock.
A rua em que sua casa ficava estava cheia de carros estacionados ao lado. Eles
percorreram mais de um quilômetro e meio e cobriram as ruas laterais. Eu não sabia como
diabos Micah, Grayson e Fynn tirariam todas aquelas pessoas de lá antes que Brock voltasse
para casa.
Quero dizer, ele estava indo para casa, certo?
Ele não achou que eu planejava passar a noite com ele, achou? Mas a ideia tinha
mérito. Eu sentia falta de passar minhas noites com ele. Viver em sua casa por esse curto
período de tempo me estragou seriamente.
Eu balancei minha cabeça, limpando o emaranhado de pensamentos. O Land Rover
era confortável pra caralho, mas não o suficiente para eu querer dormir nele. Além disso,
desde que morava com os Edwards, eu não conseguia deixar a garota má Josie ficar fora até
muito tarde. E nem mesmo a tentação de Brock Taylor estragaria meu relacionamento com
meus pais biológicos. Eu não podia deixar.
Virando à esquerda, ele respondeu: — Para uma carona—.
Eu o estudei. Se eu olhasse para Brock por muito tempo, minha cabeça girava.
Poderia ter sido a bebida também, mas a maior parte era o rosto de Brock. — Agora?
— Sim, firefly. Nós dois precisamos disso.
Esse código era para outra coisa? Ou ele realmente só queria relaxar e trabalhar essa
adrenalina no meu corpo que parecia não ir embora? Mas como poderia? Desde humilhar
Ava até o momento em que Carter fechou a porta atrás de mim até o segundo em que vi o
rosto de Kenna, meu coração estava batendo sem parar.
Nem tudo foi ruim. Pôr fim ao esquema estúpido com Brock e meu arqui-inimigo foi
muito satisfatório. A expressão em seu rosto. Impagável.
— Por quanto tempo? — Eu perguntei. — Não quero chegar muito tarde em casa.
Seus olhos permaneceram na estrada, mas eu peguei a sobrancelha levantada quando
um carro passou do outro lado da estrada, seus faróis brilhando sobre seu rosto. — Mas você
não tem nenhum problema em aparecer bêbada?
— Eu não estou bêbada, — eu contestei. Não inteiramente. Eu estava a caminho de
ficar fodidamente bêbada e teria se Brock não tivesse me forçado a sair.
— Não, mas você estava tentando, — disse ele, ecoando meus pensamentos.
Verdadeiro. Foi por isso que Brock insistiu que partíssemos? Ele estava me mantendo
por agir estúpida, fazendo algo que eu me arrependeria? Ele estava certo embora. Aparecer
bêbado na casa dos Edwards não era o que eu queria fazer. Eles me receberam em sua casa,
me deram estabilidade e segurança. Ficar bêbado não foi como eu os paguei.
Afundei mais no assento e suspirei. — Deus, eu devo a você um obrigado? — O ar
fresco da noite que entrava pela janela me deixou sóbria.
Ele me deslizou um olhar, um sorriso arrogante enganchando seus lábios. — Não se
preocupe. Eu planejo cobrar minha dívida hoje à noite.
Um bufo escapou de minhas narinas mesmo quando um arrepio passou por mim.
Brock era apenas o tipo de distração que eu precisava da minha mente revivendo aqueles
minutos com Carter esta noite. Antes, eu estava concentrada em Kenna, mas agora era Brock
quem mantinha meu foco. — É assim mesmo? O que você tinha em mente? — Eu desafiei,
olhando para seu perfil.
Ele virou o volante para a direita, empurrando-me no meu assento. O Land Rover
parou repentinamente na beira da estrada quando o cascalho cuspiu dos pneus. Outro carro
buzinou ao passar, mas nem Brock nem eu nos importamos. Seus olhos capturaram os meus
quando ele se mexeu no banco para me encarar. — Isso. — Ele se inclinou sobre o console
central, colocando a mão atrás da minha cabeça, e me puxou para ele enquanto seus lábios
batiam nos meus.
Quente. Tanto maldito calor queimou entre nós. Parecia que se continuássemos nos
beijando, um de nós se queimaria. Ou nós dois. Mas nenhum de nós deu a mínima.
Suspirei em sua boca, e sua língua varreu, acariciando a minha. Ele era meu. Brock
fodido Taylor era meu. Eu queria saborear o alto que subiu através de mim com o
conhecimento. Não sei o que fiz para que um Elite se apaixonasse por mim, mas queria ouvi-
lo me dizer as palavras novamente.
Eu nunca me cansaria de ouvi-los. Não de seus lábios.
Nem eu nunca ficaria entediada com o jeito que ele beijava.
— Eu estive esperando para fazer isso a noite toda, Firefly, — ele murmurou, seus
dedos emaranhados no meu cabelo e enrolados em um punho para me impedir de ir longe
demais. — Beije-me novamente. Beije-me como se sentisse minha falta.
— Eu senti sua falta, — eu admiti, correndo meus dedos pelo seu peito. — Mas isso
não significa que eu te perdoo tão facilmente. Eu odeio o que você fez, se suas intenções
foram boas ou não, e isso me machucou. Verdade, Brock e eu naquela época nunca nos
comprometemos oficialmente com nenhum tipo de relacionamento além de foder amigos,
mas ele ainda era importante para mim.
Seus olhos escureceram. — Acho que então terei que fazer as pazes com você.
— O que você está esperando?
Uma risada profunda veio dele quando seus lábios passaram pela minha boca para
roçar o lado da minha mandíbula. Seus dedos se moveram para o botão da frente do meu
jeans, abrindo-os com pouco esforço.
Estremeci ao primeiro toque de seus dedos na minha pele. — Brock, — eu engasguei,
virando minha cabeça para procurar seus lábios.
Deus, eu já estava molhada, e ele nem me tocou lá.
Eu o queria dentro de mim, mas Brock tinha outras ideias. O zíper do meu jeans se
abriu, abrindo espaço para seus dedos. Ele as deslizou em minha calcinha fina, movendo-se
lentamente em direção ao meu centro. A necessidade pulsava através de mim. Meus quadris
levantaram um pouco, empurrando seus dedos para onde eu os queria – bem dentro de mim.
Minha cabeça caiu para trás contra o assento, e eu mordi meu lábio quando seus dedos
encontraram o ponto de prazer. Um gemido ronronou na minha garganta, e eu o senti sorrir
quando ele pegou o lóbulo da minha orelha entre os dentes.
Ele sabia o que estava fazendo comigo, o poder que tinha sobre meu corpo, e adorava.
A questão é que eu também adorei.
Seus dedos empurraram dentro de mim, movendo-se para dentro e para fora. Meus
quadris o incitaram a ir mais rápido, mais longe, enquanto eu perseguia o orgasmo subindo
rapidamente em meu núcleo. Desejo construído; tão ofuscante, eu jurava que estrelas giravam
atrás dos meus olhos.
Eu desejava tocá-lo, beijá-lo, mas nossas posições no carro também não facilitavam,
não quando seus dedos estavam dentro de mim fazendo coisas gloriosas com meu gatinho.
— Mais rápido, — eu respirei, minha mão agarrando a parte de trás do encosto de
cabeça. Eu queria sua boca ali, sua língua mergulhando onde seus dedos me acariciavam. Eu
queria essas malditas calças fora. Se estivéssemos no meio do nada, eu teria exigido que ele
me levasse no capô de seu carro.
— Tem certeza? — ele perguntou, me torturando enquanto diminuía o ritmo. Sua voz
estava grossa com luxúria, e eu estava fodidamente feliz por não ser a única sofrendo. Se ele
apenas acabasse com meu tormento...
— Brock, — eu choraminguei. — Por favor.
Olhos nublados de desejo, ele olhou para mim. — Jesus, você é linda. Como posso
dizer não? — ele sussurrou, nossas respirações se misturando. Seus dedos mergulharam em
mim, e meus quadris afundaram.
À beira do puro êxtase, meus olhos se fecharam, e com mais algumas carícias de seus
dedos, meu clímax rasgou através de mim. Os tremores balançavam e balançavam como
ondas de eletricidade. Ele me beijou então, como se tentasse provar o prazer que ele criava.
Brock e eu parecíamos nunca ter a intenção de acabar aqui, e ainda assim, não
conseguíamos ficar sozinhos sem arrancar as roupas um do outro.
Quando o beijo terminou, momentos se passaram e eu não conseguia me mexer. Meus
membros, lânguidos e pesados, afundaram no assento de couro. Brock tirou a mão do meu
jeans, e eu ainda estava sentado lá, me aquecendo no arrebol.
O rádio zumbia baixo ao fundo. Eu estava tão consumido com Brock que
desapareceu. — Você está bem? — ele perguntou.
Virando a cabeça para o lado, olhei para o cara no outro assento. A protuberância
contra a frente de suas calças não diminuiu. Eu sorri. — Pergunte-me novamente amanhã.
— Agora que tiramos isso do caminho...
Meus olhos dispararam para a protuberância, e eu mordi meu lábio inferior. — Este
pode ser o ato mais altruísta que você já fez. — Eu apertei novamente o botão do meu jeans e
puxei o zíper para cima.
Ele riu, e eu amei o som. Escuro. E travesso. — Eu nem sempre sou um idiota.
Eu bufei. — Quem disse?
Descansando a mão no topo do meu assento, ele me prendeu com um olhar. — Quero
deixar as coisas claras entre nós, sem equívocos.
— Ficou muito claro quando você me disse que me amava.
— Verdadeiro. Acho que nenhum de nós esperava acabar aqui. Eu nunca quis me
apaixonar por você. — Ele enrolou uma mecha do meu cabelo sobre o dedo indicador. — A
coisa de Ava era parcialmente eu tentando provar a mim mesmo que eu não precisava de
você, que você era como qualquer outra garota.
— Então, quando você descobriu que estava apaixonado por mim? — Eu cutuquei,
porque as garotas precisavam saber dessa merda.
Seus olhos se estreitaram enquanto sua mandíbula flexionava, um pequeno
movimento que eu achei tão fodidamente quente. — Depende. Você quer dizer quando me
apaixonei por você ou quando admiti para mim mesmo que estava apaixonado por você?
— Existe alguma diferença? — Eu joguei de volta para ele.
Uma sobrancelha escura arqueou.
— Ok. Ambos, — eu esclareci, não me conformando com um ou outro. Eu queria
tudo.
Ele chupou o lábio inferior e gemeu. — Você precisaria conhecer os dois. Não é o
suficiente que eu tenha dito as palavras em voz alta. Sinceramente, não tenho certeza do
momento exato em que me apaixonei por você. Várias lembranças vêm à mente. Mas eu sei o
momento exato em que finalmente admiti isso para mim mesma.
— O suspense está me matando, — eu disse, sorrindo.
Seus olhos ficaram fixos nos meus. — Esta noite. Essa merda que você fez com Ava,
minando o que eu tinha planejado, eu sabia que você não era apenas outra garota. Só alguém
com uma mente tão perversa quanto a minha poderia ser alguém por quem me apaixonei.
Surpresa cintilou sobre mim. — Ótimo, então foi minha natureza corrupta que fez
você se apaixonar por mim.
— Isso e sua bunda, — disse ele com um sorriso malicioso. — Eu realmente amo sua
bunda.
Revirei os olhos. — Touché. Você tem uma bunda muito gloriosa, Taylor.
Seus olhos brilhantes perderam um pouco de sua leveza, e eu senti que as coisas
estavam prestes a ficar sérias. — Apesar de sua bunda gloriosa, o que você fez esta noite foi
imprudente. Ava pode não ser tão louca quanto Carter, mas ela é imprevisível. Ela não vai
esquecer o que você fez.
Algo escuro se contorceu e se enrolou dentro de mim enquanto aquelas memórias
indesejadas de Carter deslizavam em minha mente. Eu queria empurrá-los de lado e me
agarrar ao bom que Brock trouxe para minha vida, mas não era tão simples quanto querer. —
Se você está esperando que eu me desculpe por roubar seu trovão, não prenda a respiração.
Não me arrependo nem por um segundo em envergonhá-la na frente de todos. Não depois de
tudo que ela fez comigo. Ela merece muito mais do que ser usada.
Ele prendeu a mecha de cabelo enrolada em seu dedo, trazendo meu rosto para mais
perto dele. — Deus, eu adoro quando você fala sobre vingança. Fica tão quente.
— Há algo seriamente errado com você.
Seus lábios se curvaram em um sorriso maroto. — Agora que você é minha, você está
prestes a descobrir o quão confuso eu realmente sou.
O nó que começou a apertar no meu estômago se desfez. — Bom. Porque eu estou tão
fodida.
Ele soltou o cacho do meu cabelo, mas mantendo o rosto perto do meu. — E é isso
que te torna perfeita para mim.
Meu coração acelerou quando seus olhos desceram para meus lábios, e eu os senti
curvar. — Ainda bem que tivemos essa conversa.
— Eu também, exceto que eu terminei de falar. — Seus lábios desceram sobre os
meus. Ele me possuiu. Meu coração. Meu corpo. Minha alma. Eu era o que prometi a mim
mesmo que nunca seria – propriedade de um da Elite. E a única razão pela qual eu estava
bem com isso era porque eu possuía Brock. Nós possuímos um ao outro.
Meia hora depois, Brock apagou os faróis quando entrou na garagem dos Edwards. O
carro de Grayson já estava lá, pelo menos o que ele levou para a festa esta noite, o que
significava que ele e Kenna já estavam em casa.
Brock me beijou novamente antes que eu alcançasse a maçaneta da porta. — Firefly,
tenha cuidado com Kenna.
Lancei-lhe um olhar por cima do ombro enquanto saltava do Range Rover, meus
lábios se curvando ligeiramente. — Não se preocupe, Taylor, eu não vou deformá-la muito.
— E antes que ele pudesse me repreender, eu mandei um beijo para ele e fechei a porta. Algo
sobre as linhas de estresse que apareceram em sua testa criou uma gota de desconforto em
meu intestino.
Também pode ser que eu estivesse sozinho pela primeira vez desde o incidente com
Carter. Apesar de não querer que meu cérebro se debruçasse sobre essas memórias, eu sabia
que elas iriam me assombrar esta noite.
Digitando o código da porta, eu a empurrei suavemente e a fechei atrás de mim com
um clique silencioso. Olhei pelos painéis da janela para ver o SUV de Brock rodando de ré na
calçada.
Um leve suspiro me deixou, e eu pressionei um dedo em meus lábios, lembrando da
sensação de sua boca na minha – o gosto dele.
Girando ao redor, eu me dirigi para as escadas até que uma luz amarela suave chamou
minha atenção no corredor. Mudando de direção, segui a luz que vinha da cozinha. Conforme
me aproximei, vozes abafadas murmuraram no corredor. Curioso para saber quem ainda
estava acordado àquela hora, caminhei na ponta dos pés pelo corredor escuro e espiei a
cozinha.
Kenna e Grayson estavam reunidos ao redor da ilha no centro da sala, uma variedade
de lanches espalhados sobre o balcão.
Grayson ergueu o olhar enquanto eu permanecia na porta, lutando com a decisão de
voltar despercebida ou limpar minha garganta. Eles pareciam tão naturais e confortáveis,
como se não tivessem se separado nos últimos dois anos. Eu não tinha certeza se deveria
interromper, mas era tarde demais agora. — Você acabou de entrar? — Grayson perguntou,
me localizando.
Eu balancei a cabeça e entrei na sala, sentando em uma das banquetas ao longo da
ilha. — Sim.
Grayson empurrou a tigela de salsa para mim. — Lanche de fim de noite?
Um leve sorriso traçou meus lábios. — Deus, sim. Estou morrendo de fome. Não me
lembro quando comi pela última vez.
— Onde você e Brock foram? — Kenna perguntou, colocando um salgadinho na
boca. Ela havia tirado os sapatos debaixo da cadeira.
Dei de ombros, sentindo minhas bochechas quentes. — Em nenhum lugar, realmente.
Nós apenas dirigimos e, humm, conversamos.
Grayson engasgou com um chip e bateu no peito algumas vezes com o punho
fechado, como se isso ajudasse o chip a cair. Seus lábios se curvaram. — Conversar, claro.
Desde quando Brock e você apenas conversam ?
Enfiando a mão no saco, tirei uma tortilha e mergulhei na xícara de salsa. — Isso,
irmão, não é da sua conta.
— Confie em mim. Não quero que seja da minha conta. A ideia de você e meu melhor
amigo…— Seus lábios se voltaram para baixo. — Ainda não consigo entender,
independentemente de ter visto demais com meus próprios olhos.
— Vocês dois parecem ter realmente se conhecido. Estou com ciúmes — admitiu
Kenna, olhando para a tortilha que ela quebrou ao meio.
Terminei de mastigar antes de responder: — Aconteceu por acaso—.
Kenna girou sua cadeira para frente e para trás enquanto ele pegava seu copo de água.
— Você quer dizer, Carter aconteceu.
Uma pausa atingiu a sala. Grayson e eu olhamos um para o outro enquanto estávamos
congelados, sem saber como proceder. Este era um assunto delicado, mais para Kenna do que
para mim. Carter tinha feito um mundo de merda para mim, mas eu fui salvo todas as vezes.
Kenna não teve tanta sorte. Ninguém a salvou naquela noite.
O comentário de Brock sobre ser cuidadoso ecoou na minha cabeça. Eu já tinha
fodido? Seria uma jogada minha, Josie, sabotar inconscientemente uma boa situação antes
que ela tivesse a chance de se tornar permanente.
A risada de Kenna finalmente quebrou o silêncio, e ela quase cuspiu um gole de água.
— Oh meu Deus. Você deveria ver os rostos de vocês. Você pensaria que eu morri. Está bem.
Seriamente. Você pode dizer o nome dele.
— Eu prefiro não, — eu gemi. — Eu gostaria de poder esquecê-lo completamente.
Apagar completamente a existência dele da minha vida.
— Conheço bem o sentimento. Eu gostaria de ter sido capaz de ver o rosto dele
quando ele deu sua primeira olhada em você, — ela disse, um sorriso ainda em seus lábios.
Talvez Kenna estivesse mais forte agora, pois quando olhei para ela, ela não parecia
uma garota frágil prestes a desmoronar. Nem alguém que se encolheria na presença do meu
meio-irmão. Mas eu sabia melhor do que ninguém. As aparências podem enganar. — Foi
ódio instantâneo, — respondi. — Não nos suportamos. — Eu não duvidava que o idiota via
Kenna cada vez que olhava para mim.
— Eu realmente não quero falar sobre o idiota, — Grayson murmurou, e notei o
aperto em sua mandíbula. Ele tinha tantos motivos para desprezar Carter quanto Kenna e eu.
Duas dessas razões sentadas na frente dele.
— Eu tenho algo sobre o qual podemos conversar, — Kenna disse em um tom que eu
reconheci bem. Era um que eu usava com frequência. Na verdade, era mais um estilo de vida
para mim. Sarcasmo. — Como prometemos contar tudo um ao outro. — Seus olhos
brilhantes foram direcionados para Grayson enquanto ela cruzava os braços.
Grayson estremeceu. — Quantas vezes eu tenho que dizer que sinto muito? Eu
deveria ter lhe contado sobre Josie.
— Sim, você deveria, — Kenna concordou. — E eu vou precisar que você se desculpe
pelo menos mais uma dúzia de vezes. Até que eu decida perdoá-lo. — Ela descruzou os
braços e virou a cadeira para mim. — Eu já te disse o quanto eu gosto do seu cabelo? Pelo
menos eu sei que ficaria bem de rosa.
Eu ri. — Verdadeiro. Espero que você não se importe que eu peguei emprestadas
algumas de suas roupas.
Ela balançou a cabeça. — Claro que não. Eu não posso te dizer quantas vezes sonhei
em ter uma irmã. Eu não posso acreditar que você é real.
Nós três trocamos um olhar antes de cair na gargalhada. Quem teria pensado que
minha vida acabaria aqui?
Eu estava com medo que não durasse – que esta família em que eu tropecei iria
embora se eu piscasse.
CAPÍTULO TRÊS

Domingo de manhã tomamos nosso primeiro café da manhã em família. Era


barulhento, caótico, todos falavam ao mesmo tempo, e eu adorava cada segundo disso. Fiquei
feliz em observar a dinâmica familiar enquanto enfiava meu rosto cheio de waffles, bacon e
ovos.
Chandler Edwards, meu pai biológico, aprendi durante a semana que estive com eles,
era um workaholic. Não importava que dia fosse ou que horas: seu trabalho parecia nunca ter
descanso. Depois do café da manhã, ele se retirou para seu escritório em casa para fazer
algumas ligações. Grayson e Kenna também partiram, Kenna para se preparar para a escola
na segunda-feira, e Grayson para... Na verdade, eu não sabia o que Grayson estava fazendo.
Provavelmente merda de Elite. Mas ele pegou um de seus carros depois de um banho rápido e
foi embora.
Eu estava meio tentada a mandar uma mensagem para ele, mas eu não queria que ele
se sentisse como se eu estivesse presa a ele agora que morávamos juntos. Ele precisava de
seu espaço, e eu precisava do meu. Nossas vidas se cruzaram o suficiente como era.
O que me deixou sozinha com Liana, minha mãe biológica.
Eu tinha ficado bastante confortável perto dela, mas ela ainda era uma estranha para
mim, e eu para ela. Ainda estávamos capinando o estágio de conhecer você, e tudo bem. Eu
estava gostando do processo. Foi um pouco esmagador às vezes, porque não era apenas com
Liana que eu estava me familiarizando. Havia Chandler, e agora Kenna também. Eles,
entretanto, apenas me tinham. Eu não coloquei Grayson na mistura, já que já tivemos a
chance de nos conhecer.
Eu me ofereci para ajudar Liana com os pratos, mas ela me lembrou que Elise cuidaria
deles mais tarde. Certo. Elise. A mulher idosa que ajudava a administrar a casa dos Edwards.
Ela era o tipo de avó doce que parecia se importar genuinamente com a família. E ela me
acolheu imediatamente no redil.
Sem saber o que fazer comigo mesma depois do café da manhã, sentei-me à mesa da
cozinha com Liana, tomando nosso café frio. Os pratos já haviam sido retirados. — Eu nunca
pensei que teria todos os meus filhos em um quarto. Sawyer teria amado você, — ela disse
com um sorriso carinhoso.
Sawyer era o irmão mais velho de Grayson e Kenna. O meu também, na verdade, mas
nunca tive a chance de conhecê-lo. Sawyer foi morto em um acidente de corrida de carro. Eu
me perguntei o que Liana pensava sobre Grayson seguindo os passos de seu irmão mais
velho? Eu não ia mencionar isso, apenas no caso de ela não saber. — Como ele era? — Eu
me ouvi perguntar, e então rapidamente me arrependi da minha língua solta. E se ela não
estivesse confortável falando sobre Sawyer? A última coisa que eu queria fazer era deixá-la
triste ou chateada.
Mas quando eu olhei para cima da minha caneca de café, ela tinha um sorriso suave.
Talvez Liana precisasse falar sobre Sawyer. — Ele era vivaz e tinha uma paixão pela vida.
Ele e Grayson não poderiam ser mais opostos e, no entanto, eram melhores amigos. Sawyer
era ferozmente protetor com sua irmã, um papel que Grayson assumiu desde que Sawyer
faleceu.
Eu nunca fui boa em situações envolvendo a morte. Não tendo experimentado alguém
próximo a mim falecer, eu me senti estranha. — Eu sinto muito pelo que aconteceu com
Sawyer. Não consigo imaginar o quão difícil deve ter sido para todos vocês.
O pequeno sorriso em seu rosto permaneceu, mas seus olhos cinzas brilharam com um
lampejo de tristeza que só uma mãe sentia. — Foi. Mas sinto que me deram uma segunda
chance com você. Eu não quero tomar isso como garantido. Nem um segundo, então você
terá que me avisar se eu for demais ou começar a sufocá-la.
— Tudo bem, — eu concordei. Cresci a maior parte da minha vida com um pai
carente, mas de outras maneiras. Angie precisava de atenção. E álcool. Pode ser revigorante
ter uma mãe que não colocou suas próprias necessidades e desejos em primeiro lugar.
Liana cruzou as pernas. Ela usava um par de calças pretas finas, parecendo chique
mesmo no café da manhã. Ela não estava descalça como eu, mas usava chinelos finos sobre
os pés. — Me conta. Como foi conhecer Kenna ontem à noite? ela perguntou, mudando de
assunto. — Eu queria que ela esperasse até esta manhã quando estávamos todos em casa, mas
assim que ela descobriu sobre você, não havia como mudar de ideia. Ela tinha que ver você.
Eu me sentei na minha cadeira, deixando meu café quase vazio na mesa. Tantas
emoções misturadas se agitaram na minha barriga. Bom e mau. A noite passada tinha sido
uma porra de montanha-russa, mas me fiz voltar ao momento em que tinha visto Kenna com
Mads. — Foi incrível, depois que superei o choque.
— Kenna adora fazer uma entrada. Ela pode parecer tímida, mas não deixe essa
inocência enganar você. Eu sei que Grayson já contou um pouco sobre a história de Kenna.
Ela pode ser um punhado. Aconteceu mais alguma coisa na noite passada?
Eu enruguei meu nariz, desconfortável com ela pegando meus sentimentos. Eu
precisava trabalhar na minha cara de pôquer. Mas não foi Kenna quem arruinou minha noite.
Esse prêmio foi para Carter. Dei de ombros. — Na verdade, não. Também foi estranho, mas
de um jeito bom. Isso faz sentido? — Deus, eu esperava que eu não estivesse estragando isso.
Descrever minhas emoções não era algo em que eu fosse bom, o que provavelmente tinha
algo a ver com minha criação.
Agora pode ser um ótimo momento para marcar uma consulta com um psiquiatra.
— Eu entendo completamente, — Liana concordou. — Parece muito como eu me
senti. Eu não sabia o que dizer para você, ainda não sei se estou sendo honesta. Não quero
fazer nada que te aborreça. Você já passou por tanta coisa. Acima de tudo, eu só quero que
você se sinta segura.
Sua sinceridade me tocou. — Sim. Mais do que você sabe.
— Vai levar algum tempo para que todos nós nos sintamos confortáveis uns com os
outros.
Mordi o interior da minha bochecha. — Você estava preocupada sobre como Kenna
reagiria quando descobrisse?
Liana assentiu. — Eu estava. Ela cresceu sendo a única garota com dois irmãos
protetores. Ela está acostumada a ser o centro das atenções. Temo que ela possa ficar com
ciúmes.
Foi isso que Brock quis dizer no carro ontem à noite, sobre ser cuidadoso com Kenna?
— É uma coisa boa que eu odeio os holofotes. — Exceto desde o momento em que entrei na
Elmwood Academy, parecia que eu não tinha feito nada além de ocupar o centro do palco.
Toda semana eu de alguma forma consegui me tornar o tema quente, a maioria não é boa.
Bem, agora que Kenna estava de volta, eu ficaria de lado com prazer e a deixaria ficar
no centro das atenções. Ser popular não era minha praia.
Liana riu. — Se houver alguma coisa que você precise ou algo em sua mente, eu
quero que você saiba que pode vir até mim. Nenhum julgamento. Sou um bom ouvinte,
apesar do que Grayson e Kenna possam dizer.
Ela era uma boa ouvinte.
Desdobrando as pernas, ela apertou as mãos sobre as coxas. — Eu estava pensando
que poderíamos começar a pintar e decorar seu quarto. Eu sei que você vai para a faculdade
em breve, mas eu gostaria que você tivesse um lugar aqui para ficar.
Fiquei tocado, e meu coração apertou no meu peito. Liana era maravilhosa. Eu só
esperava não desapontá-la. Aquelas velhas dúvidas sobre os danos que Angie causara
continuaram a surgir lá dentro, principalmente quando eu menos queria.
Como agora.
Em vez de sentir que nunca seria o suficiente, eu deveria aproveitar esse tempo com
ela. Ainda era muito estranho para mim chamar qualquer um deles de mamãe e papai. E por
enquanto, todos concordamos que Liana e Chandler estavam bem.
Uma hora depois, depois de tomar banho e me vestir, nós dois estávamos no quarto de
hóspedes onde eu estava dormindo. Liana entrou com livros de amostra de tecidos e cores de
tinta, junto com seu iPad. Esta mulher levou a decoração a sério. Por outro lado, o estado
imaculado de sua casa mostrava seu estilo e o orgulho que ela tinha de onde morava.
Ela pesquisou uma dúzia de amostras de cores de tinta na parede e deu um passo para
trás para ver com os olhos de um designer. — Qual deles? — ela perguntou, olhando para
mim.
Eu não podia acreditar que esta era a minha vida agora. Eu sempre tive meu próprio
quarto. Não um desse tamanho, mas eu sempre fui capaz de torná-lo meu, dar-lhe aquele
toque de Josie. A diferença dessa vez… eu não tinha orçamento, um conceito tão estranho
para mim. Eu não sabia o que fazer. Ou o que comprar. Havia muito maldito espaço para
preencher.
Eu lutei com meu lábio inferior, examinando as cores. Para esta sala, eu queria algo
diferente – algo novo – sem lembranças de Angie. Eu não queria que a vida sangrasse nesta.
— Este, — eu disse, apontando para uma tinta cinza escuro, apenas tons acima do preto.
Ela ergueu uma sobrancelha fina, nenhum fio de cabelo fora do lugar. — Tem
certeza?
Eu balancei a cabeça. — Se estiver tudo bem, mas apenas como uma parede de
destaque. — Eu queria manter os outros de um branco limpo e suave.
— Vou avisar o pintor para começar amanhã. Agora em tecidos. — Acabou que
projetar e decorar um quarto era um trabalho. Sentamos na cama, passando por tecidos para
cortinas e roupas de cama. Eu tracei a linha quando ela puxou seu laptop para a mobília,
assegurando-lhe que o que já estava na sala era bonito o suficiente.
Liana não protestou, mas eu pude ver que ela pensou sobre isso. Fechando seu laptop,
ela o colocou em seu colo. — Tem outra coisa que eu queria falar com você.
— Hum? — Eu respondi, puxando meu olhar do tecido cinza bonito para olhar para
Liana. Notei as linhas sérias que enrugaram no canto de seus olhos, a mesma forma que a
minha.
— Chandler e eu queríamos que você soubesse que conversamos com nossos
advogados. Nenhuma ação legal foi tomada contra Angélica. Ainda não, — acrescentou. —
Nós não queremos fazer nada nesse sentido sem falar com você primeiro. Entendo que este é
um assunto delicado e quero que você saiba que seus sentimentos são importantes para nós.
Respirei fundo para deixar que tudo isso acontecesse. — O que isso significa,
exatamente?
— Ao envolver nossos advogados na situação, podemos garantir que ela não tente
alegar que estamos abrigando um fugitivo. Isso evitará que você tenha que voltar para aquela
casa. Era isso que você queria, sim?
Eu balancei a cabeça. Eu podia imaginar muito bem como Angie recebeu a notícia.
Ela sabia agora onde eu estava, para quem eu tinha corrido, e sabia que ela não tinha a menor
chance de me ter de volta. Sem dúvida, ela estava algumas garrafas mergulhada em um
estupor de fim de semana. — Obrigado por me avisar. Por tudo isso. Você não tem ideia do
que significa para mim estar aqui. — Onde era seguro e quente. Onde eu não precisava me
preocupar com o que meu irmão psicopata poderia fazer comigo quando eu estivesse
dormindo. Guardei todos esses comentários para mim mesma, mas Liana provavelmente
podia ver em meus olhos.
— Queremos ter certeza de que você está protegida e segura. Nossos advogados
entrarão em contato com os Pattersons. Vamos tentar manter o máximo possível fora da
imprensa e não chamar muita atenção. Você não precisa se preocupar com nada, — ela
assegurou. — Mas quando isso sair, quero que você esteja preparado.
— Eu entendo, — eu respondi, meu peito de repente parecendo pesado.
Ela escovou uma mecha do meu cabelo rosa atrás da minha orelha. — Nós não
faremos nada que você não esteja bem. A única coisa que importa é você.
Lágrimas ardiam em meus olhos.
Eu ainda não tinha decidido como me sentia em relação a Angie. A ideia dela atrás
das grades não era uma foto que eu queria ver, apesar de tudo. Eu não lhe desejei mal. Eu
simplesmente não queria vê-la. Não tão cedo, isso era.
Mas era evidente que era hora de falar com meu pai, Easton. Ele tinha que saber a verdade.

***

Ninguém, exceto Kenna, acordou animado para ir à escola na segunda-feira. Eu meio


que entendia o entusiasmo dela. Voltar para casa, rever velhos amigos e poder recuperar a
vida. Eu entendi tudo.
Mas ela estava muito animada, pulando pela casa às 7h. Ela cantou no chuveiro. Subiu
e desceu as escadas como uma líder de torcida no crack. E isso foi tudo antes mesmo de eu
me arrastar para fora da cama para tomar café.
Meus olhos ainda estavam semicerrados. Meu cabelo estava uma bagunça. E eu ainda
estava de pijama enquanto estava na cozinha com Grayson enquanto o redemoinho conhecido
como Kenna passava. — Ela sempre foi uma pessoa matinal? — Eu resmunguei, observando
a cafeteira preparar meus grãos.
Grayson grunhiu. — É tão chata pra caralho.
— Linguagem, — Elise repreendeu enquanto se ocupava na cozinha, fazendo o café
da manhã para Grayson. Recusei sua oferta de preparar algo para mim. Eu nunca comia
muito de manhã.
Pegando minha caneca de café, acrescentei uma quantidade razoável de creme de leite
e montes de açúcar. Eu precisava da pressa para passar o dia. Eu me virei e encarei Grayson,
que estava relaxado em uma cadeira com um prato de bagels. — Então, irmão. Eu preciso de
um favor.
— Não, — afirmou.
— Você nem sabe o que é ainda, — eu bufei.
Suas feições permaneceram impassíveis enquanto ele colocava a gravata da Academia
no pescoço. — Eu não preciso. Eu já sei que isso vai te colocar em apuros.
Ele tinha um ponto. Tomei um gole do meu café e me encostei no balcão. — Eu
preciso ir ver meu pai depois da escola. Easton, — eu esclareci. A dinâmica familiar estava
confusa nos dias de hoje.
Fazendo um nó com a gravata, ele olhou para mim. — E você quer que eu vá com
você?
Eu balancei minha cabeça. — Não. Acho melhor falar com ele a sós. Empresta um
carro? Você tem uma dúzia.
Suas sobrancelhas se franziram enquanto ele considerava, a gravata pendurada
frouxamente em volta do pescoço. — Primeiro, eu não tenho uma dúzia. Nem todos são
meus. Alguns deles eram de Sawyer. Em segundo lugar, eu me sentiria melhor se alguém
fosse com você, mas, — ele acrescentou rapidamente, porque ele podia ver que eu estava
prestes a discutir. — Entendo. Aqui. — Ele me jogou um molho de chaves do bolso de sua
calça preta da Academia. Peguei o chaveiro suavemente, o que foi impressionante, já que eu
ainda estava grogue. — Eu ia pegar o jipe esta manhã. Você toma em vez disso. Confio que
suas habilidades de direção são melhores do que suas habilidades com pessoas?
Meus lábios se contraíram enquanto eu girava o chaveiro na minha mão. — Não há
nada de errado com minhas habilidades pessoais. Todo mundo na escola é uma merda. E eu
sou um excelente motorista, você deve saber.
— Você é um Edwards. É melhor você ser. Está no seu sangue.
Eu sorri. — Obrigado, Grayson. Sério. Para tudo. Não sei o que teria feito sem você.
— Vamos torcer para que você nunca tenha que descobrir, — ele murmurou.
CAPÍTULO QUATRO

Segundas-feiras eram uma merda, de um modo geral. Mas esta era diferente. Foi pior.
Sentei-me no estacionamento da escola, olhando para a estrutura gótica parecida com
um castelo que era a Academia Elmwood.
Kenna foi com Grayson para a escola depois de importuná-lo por vinte minutos para
se apressar. Ansiosa não começou a descrever como Kenna se sentia ao retornar à Academia.
Ela queria chegar cedo o suficiente para checar com o escritório principal sua agenda e, claro,
surpreender seus velhos amigos.
Não que fosse uma grande surpresa.
Todo mundo estaria falando sobre o retorno de Kenna Edwards depois que ela se foi
por dois anos, graças à noite de sábado. A escola inteira já saberia.
Fiquei grata por Grayson me emprestar o Jeep. O pensamento de ver Easton depois da
escola me encheu de tanta apreensão. Ele merecia saber que eu não era sua filha biológica,
mas honestamente, não deveria ser eu quem tinha que contar. A cadela do ano estaria muito
envolvida em si mesma, seus sentimentos e sua vidinha perfeita implodindo para dar a
mínima para seu ex-marido.
O que Grayson não sabia, o que ninguém sabia, era que depois que terminei aquela
conversa devastadora com Easton, planejei procurar um emprego depois da escola. Eu não
tinha contado a Grayson sobre o trabalho de meio período principalmente porque ele não
gostaria da ideia. Nem Brock.
Os Edwards tinham sido tão generosos comigo e, embora fossem meus pais
biológicos, era estranho confiar neles para tudo. Eu precisava do meu próprio dinheiro. Todo
mundo estava falando sobre faculdade, preenchimento de formulários, mas eu nem tinha
dinheiro suficiente na minha conta bancária para cobrir as taxas de inscrição, muito menos as
mensalidades.
Eu tinha certeza que os Edwards iriam querer pagar pela minha educação. Imagine
enviar três filhos para a faculdade ao mesmo tempo! Um pensamento assustador. Mas para
eles, eles nem piscaram um olho ao custo.
Agora tudo que eu tinha que fazer era passar o dia escolar. Não é uma tarefa tão
difícil, a menos que você fosse eu e houvesse pessoas que você temia ver.
Como Ava. E Carter.
Eu bati minha testa no volante, pensando em matar aula e ir direto para a oficina
mecânica de Easton. Prefiro passar o dia com um bando de caras velhos gordurosos do que
em uma escola de idiotas ricos, a Elite excluída. Eles eram os únicos idiotas ricos que eu
suportava e, claro, Mads. Ela não contava como um idiota rico. Eu provavelmente deveria
adicionar Kenna à lista de pessoas que eram aceitáveis na Academia, mas se eu removesse o
aspecto de irmã e apenas pensasse em Kenna como outra garota... eu não achava que ela e eu
teríamos sido amigas.
Doeu-me admitir isso, mesmo para mim mesma.
Antes de ligar o motor do jipe novamente e dar ré, peguei minha bolsa do banco do
passageiro e saí. Deslizando o chaveiro em um pequeno bolso com zíper na minha mochila,
joguei a alça sobre meu ombro e examinei o estacionamento, procurando por um certo Land
Rover.
Ele não estava aqui. Ainda não.
Suspirei, decepcionada. Eu queria o conforto de sua presença. Sua reputação criou um
escudo ao meu redor, e isso soava tão bom agora.
Parece que eu teria que suportar as massas sozinha.
Senti os olhos e ouvi os murmúrios. Não era surpresa que meus colegas estivessem
interessados no retorno de Kenna. Onde ela esteve? Por que ela voltou? Eu quase podia ouvir
as perguntas queimando em suas cabeças enquanto eu caminhava pelo corredor até o meu
armário.
Era estranho não ter um da Elite andando ao meu lado. Eu passei minha vida inteira
sem ser perseguida, e ainda alguns meses na Academia e tornou-se estranho não ser seguida.
Errado. Isso foi tão errado.
E, no entanto, eu não dei a mínima.
Eu queria minha Elite. Eles eram meus. Então, onde diabos eles estavam?
Pegando meu telefone, virei a esquina prestes a enviar uma mensagem de grupo. Quer
dizer, eu não podia simplesmente gritar com Brock. Fiquei irritada com todos eles. Deus, até
meu irmão me abandonou. Mas ele tinha que lidar com Kenna, eu me lembrei. Então talvez
eu o deixasse fora do gancho. Mas os outros... eles estariam recebendo uma bronca de mim.
Meus dedos estavam voando sobre as teclas, botas batendo no chão de pedra quando
meus ouvidos ouviram alguém dizer: — Tal mãe, tal filha. Mentirosa inútil.
Eu levantei minha cabeça tão rápido e parei ao lado de duas garotas que eu reconheci
do time de líderes de torcida. Eu não conseguia lembrar seus nomes. Não dava a mínima para
se importar com quais eram seus nomes. — Que porra você acabou de dizer para mim? — Eu
gritei.
A cabeça de vento não tinha falado diretamente comigo, mas com sua amiga. Ela
poderia muito bem ter dito isso na minha cara. Foi alto o suficiente para eu ouvir. Cansei de
ignorar os comentários maliciosos. Eu não ficaria mais calado. A única maneira de obter
respeito nesta escola era ser a melhor vadia. Eu não tinha certeza se queria respeito. E eu não
queria ser a melhor vadia da pirâmide de líderes de torcida, mas não sabia se tinha escolha.
Essas garotas da Academia estavam me empurrando contra uma parede, figurativamente, e se
eu não fizesse nada sobre isso, figurativamente me tornaria fisicamente.
Ava poderia ter sido derrubada na hierarquia, mas outra cadela se aproximaria e
tomaria seu lugar. Era assim que o ensino médio funcionava.
— Procure você mesmo, — ela zombou, seus olhos se movendo por cima do meu
ombro.
Eu me virei, o coração batendo no meu peito antes mesmo de ver o que ela estava
falando, porque eu já sabia que não ia gostar.
Filho da puta.
Salpicada em uma fileira de armários com tinta spray rosa brilhante estava a frase: JJ
NÃO É VÍTIMA. FRAUDE. MENTIROSA. PROSTITUTA.
Meu armário era um daqueles contaminados com pichações. Não foi difícil descobrir
quem era JJ. Josie James.
Carter, eu rosnei silenciosamente. Ninguém além de um pequeno grupo, que incluía
Carter, sabia quem eu realmente era. Eu confiei na Elite e Mads, mas Carter…
A fúria rolou através de mim. O bastardo. Quando Carter não estava tentando agredir
garotas, ele estava fofocando, espalhando porcaria pela escola. Isso tinha o nome dele escrito
por toda parte.
O que diabos ele queria de mim agora!?
Ele acabou de me torturar? Provavelmente. Talvez ele não tenha conseguido o que
estava procurando no computador de Brock... ou conseguiu. Um pensamento assustador.
— Como é ser a garota mais odiada da escola?
Eu gemi e encarei Mads, virando as costas para a merda espalhada alto e desagradável
para todos verem. — Eu juro que vou acabar com ele antes do ano letivo acabar, — eu jurei
com veneno cuspindo em meu tom.
— Você está pensando que foi Carter? — ela perguntou, olhando as palavras atrás de
mim.
Meu nariz se alargou quando respondi: — O primeiro e único—.
O olhar de Mads caiu para o meu. Ela abraçou seu laptop contra o peito, um olhar
sóbrio em seus olhos cinzas.
— Você não é a única irmã que foi marcada. — Eu pulei com o som da voz profunda
que veio da minha esquerda, mas relaxei um segundo depois quando reconheci quem era.
Micah. Eu nem tinha ouvido ele se aproximar.
— Kenna? — Eu assumi.
Ele assentiu.
— Que filho da puta, — eu disse com desgosto.
Micah mostrou suas covinhas de cair a calcinha, bagunçando o topo de seu cabelo
platinado com os dedos. — Sim. Seu meio-irmão é um verdadeiro vencedor.
— Ele não é meu meio-irmão. Não mais, — eu rapidamente esclareci. — Se o
bastardo vai acabar comigo e com minha família, então…— Estendi meus braços e gritei: —
É verdade. É tudo fodidamente verdade. — De repente, eu estava tão puta comigo mesma por
não pular o inferno fora deste dia.
Minha pequena explosão no corredor fez exatamente o que eu esperava. Estudantes do
ensino médio eram tão fodidamente previsíveis. Eles olharam. Eles sussurraram. Eles riram.
Eles gritaram de volta, porque é claro, havia algum atleta idiota que pensou que seria hilário
chamar um lobo nos corredores.
E teria sido se eu estivesse no clima.
Eu não estava.
— Você perdeu a cabeça, — Mads respondeu, sorrindo. — E eu amo isso.
Micah jogou sua jaqueta por cima do ombro, enganchando-a em um dedo. — E Ava?
Ela poderia ter escrito com a mesma facilidade. Tem um certo estilo feminino.
Ele tinha um ponto. Carter não era meu único inimigo na Academia. De qualquer
forma, quem quer que fosse, eles teriam que fazer muito mais para perfurar essa pele grossa
que desenvolvi. — Amadores, — eu resmunguei. Eu enfrentei Mads e Micah enquanto um
sorriso astuto se curvava. — Preciso da sua ajuda, — eu disse.
O nariz de Mads enrugou. — Uh-oh. Você tem esse olhar em seu rosto.
— Qualquer que seja. — Girei o botão do meu armário, digitando a combinação. —
Não é como se eu estivesse pedindo para você me ajudar a me livrar de um cadáver. Eu só
preciso que você espalhe algo pela escola. — Abri meu armário e rapidamente enfiei o suéter
de botão da Academia que trouxe comigo.
Micah levantou uma sobrancelha, interessado. — O que você tem em mente?
Abrindo minha bolsa, peguei meu laptop e enfiei a bolsa no armário. — Apesar do
que meu armário diz, eu quero que você diga a verdade sobre quem eu sou. Está na hora, e
será uma coisa a menos que Carter pode segurar sobre mim. Essa era uma narrativa que eu
queria controlar. Eu não ia deixar Carter me chantagear novamente ou tentar usar isso contra
mim, particularmente para ferir a Elite. Nós já tínhamos feito esse jogo.
Micah ergueu a mão, com a palma voltada para mim, e baixou a voz ao dizer: — Juro
dizer a verdade. Toda a verdade. E nada além da verdade. — Ele não podia nem mesmo
entregar uma declaração juramentada sem sorrir.
Mads o cutucou na lateral com o cotovelo, enquanto eu revirava os olhos.
— Deus, eu realmente amo ser seu amigo, — ele proclamou, sorrindo como um
garotinho. — Ninguém provoca merda melhor do que você, Josie Jo.
Ignorando Micah, Mads mordeu o lábio. Ela pintou os lábios com um tom de vinho
tão profundo que quase parecia preto. Eu não pude deixar de pensar que Ainsley teria
aprovado. — Você tem certeza que deseja fazer isso?
— Positivo, — eu respondi, sem hesitação, fechando meu armário e olhando para o
grafite mais uma vez antes de ir para a aula.
Que saibam que o idiota não significava nada para mim. Ele pensou que poderia me
machucar vandalizando meu armário? Parecia um enorme passo para trás de estar sob a mira
de uma arma.
— O que Kenna disse? — Eu perguntei, lembrando que Micah havia mencionado que
meu armário não era o único vandalizado. — Além disso, como diabos eles sabiam que
armário seria dela? Hoje é seu primeiro dia de volta.
Mica deu de ombros. — Boa pergunta. Nenhuma pista, mas dizia: 'Tarde demais, KK.
Você já foi substituída. Em tinta spray rosa também.
Eu afundei contra meu armário. Para mim, a mensagem era clara e, de certa forma,
ainda dirigida a mim. — Parecia ter irritado todo mundo nesta escola.
— Nem todos, — disse Fynn, juntando-se ao nosso pequeno grupo e movendo-se
entre Mads e eu. Ele colocou o braço em volta de mim, me dando um aperto suave. — Eu
ainda gosto de você, JJ.
Fiquei tentada a descansar minha cabeça em seus ombros sólidos. Fynn Dupree era
alguém em quem você podia se apoiar. Ele nunca vacilaria ou cairia. — Onde está Brock? —
Eu perguntei, olhando de soslaio para ele.
Suas feições ficaram ofendidas. — O que? Não, olá, Fynn? Como você está?
— Onde está Brock? — Eu reiterei, não caindo no ato de ai de mim.
Os lábios de Fynn se contraíram. — Grayson pediu a ele para ajudar com Kenna.
A decepção rodou com a raiva ainda fluindo dentro de mim. E então veio a culpa. Eu
não deveria estar chateada. Ele estava sendo um bom amigo, não apenas para Kenna, mas
também para Grayson. — Oh. Isso faz sentido. — Era seu primeiro dia de volta, e ela já
estava sendo atacada. Claro, eles iriam querer ficar de olho nela. O fodido Carter ainda estava
solto, vagando pelos corredores da Academia e torturando a todos nós com sua presença
maligna.
Fynn captou a expressão cabisbaixa que eu mal tentei esconder. — Kenna pode ser...
difícil. Ela tenta ser dura, mas nenhum de nós quer vê-la seguir um caminho ruim novamente.
Este não é o momento ideal para ela voltar. Não quando tanta coisa está acontecendo.
— Todo mundo continua insinuando coisas assim, mas ainda tenho que ver o que elas
significam.
— Você vai, — disse Mads. — Apenas espere.
Eu queria? Eu estava torcendo para que ela fosse capaz de resistir às tempestades que
viriam. Que nós duas faríamos.
CAPÍTULO CINCO

Eu poderia ter ido até a James Auto reparo com os olhos vendados. Até onde eu
conseguia me lembrar, o pequeno prédio de tijolos no lado sul de Elmwood, a apenas alguns
quarteirões do centro da cidade, era a loja do meu pai. Ele me levava para trabalhar com ele
nos fins de semana. Fui lá depois da escola quando Angie estava muito ocupada fazendo as
unhas ou pintando o cabelo. E como o homem que o possuía, este edifício tinha sido uma
constante em minha vida. Confiável. Consistente. Robusto.
Angie odiava tudo naquele lugar. Ela odiava como Easton chegou em casa com graxa
e sujeira sob as unhas. Como suas roupas estavam sempre manchadas com manchas de óleo
ou algum outro tipo de gosma. Odiava o cheiro de suor, metal e borracha velha que grudava
em sua pele.
Eu amei tudo.
E quando virei a esquina, avistando a velha placa que pendia um pouco torta acima da
porta, toda a merda da escola hoje foi embora. Isso, como a casa em Brightwater Lane, era o
lar.
Ter um filho recém-saído do ensino médio forçou meu pai a tomar decisões rápidas
sobre seu futuro. Ele não precisava mais pensar em si mesmo, e Easton James era homem o
suficiente para assumir a responsabilidade de um bebê e uma esposa. Ele não fugiu de suas
escolhas, e ele fez com que eu soubesse todos os dias que eu nunca fui um erro.
Engraçado, acontece que eu nunca fui dele para começar.
Meu pai sabia que precisava descobrir sua merda rápido se quisesse sustentar uma
família. A coisa favorita de Angie para reclamar era dinheiro. Ou a falta dele.
Easton era bom em consertar merda, então ele conseguiu sua certificação de mecânico
direto do ensino médio e trabalhou duro, e eventualmente abriu sua própria loja. A pressão de
sua esposa provavelmente teve muito a ver com essas decisões e o cronograma em que foram
executadas, deixando meus pais em dívida profunda antes dos trinta.
Ele sempre se esforçava tanto para agradá-la. Olha onde diabos isso o levou.
Dívida. E divórcio.
Eu nunca conheci uma alma mais trabalhadora do que meu pai.
Guiando o jipe entre dois carros velhos e enferrujados, mudei a marcha para
estacionar e desliguei o motor. O jipe era áspero e malvado o suficiente para não parecer
deslocado nesta parte da cidade. Se eu estivesse no Lamborghini ou Bugatti, isso teria sido
um convite para ser assaltada ou ter o carro roubado.
Cresci sabendo que não morávamos no melhor bairro, mas meu pai tinha um jeito de
me fazer sentir segura quando estava por perto. E quando ele não estava, ele me fez manter
Mace na minha bolsa e no meu carro. O carro que Angie vendeu.
Cadela.
A memória do meu pequeno Corolla fez meu sangue ferver.
Quando saí do carro, aqueles fios de inquietação que estiveram emaranhados dentro
de mim o dia todo se enrolaram em uma bola. O dia inteiro na escola, eu tinha pensado sobre
que tipo de relacionamento Easton e eu teríamos depois de hoje, o que só aumentou a
ansiedade que eu já sentia. Ele ainda iria querer me ver? Ele olharia para mim de forma
diferente? Ele ainda me consideraria sua filha? Eu tinha cerca de um milhão de perguntas a
mais na minha cabeça.
E eu não saberia nenhuma das respostas a menos que desse o primeiro passo.
Em uma inspiração profunda, minhas mãos úmidas envolveram a maçaneta da porta, e
eu a abri, o pequeno sino no alto soando pela loja. Os caras se revezaram na recepção, e hoje
Tank ficou com o canudo curto. Tank parecia pertencer a uma gangue de motoqueiros.
Áspero e áspero retratava o mecânico de longa data em um T. Seu pão cinza escuro era mais
longo que seu cabelo. Merda. Pode ter sido mais longo do que o meu. Ele não era o tipo de
cara com quem as pessoas fodem, mas mal sabiam eles, o grande lobo mau era na verdade
um moleque.
Tank olhou para cima e me deu um sorriso torto, enquanto cruzava os braços que
poderiam ser confundidos com pítons em um peito musculoso. Tatuagens cobriam cada
centímetro de pele saindo de sua camiseta. — Se não for Josie Posy.
Tank sabia que eu odiava esse apelido, e foi exatamente por isso que ele continuou a
usá-lo desde que me lembro. Tank era como um segundo pai para mim, sempre dando
sermões sobre meninos, não andar à noite e como eu deveria ficar longe de problemas.
De alguma forma eu consegui fazer tudo isso acima. Tanto para ouvir os mais velhos.
Meus lábios se curvaram quando parei na frente da mesa e apoiei meus braços na
madeira desgastada. — Ei, Tanque. Meu pai está por perto?
Os alegres olhos azuis de Tank brilharam. — Onde mais ele estaria? — Atrás de Tank
havia uma porta de vidro e uma grande janela que dava para a garagem da loja. Dois carros
estavam estacionados lá dentro, um deles no elevador. Um dia bastante lento para a loja,
parecia.
— Bom ponto, — eu respondi.
— Em seu escritório, — ele resmungou com um aceno de cabeça em direção ao fundo
do saguão. — Sabe, os caras sentem falta de ver você na loja. Você costumava deixar Ed
louco, sempre ficando sob os pés.
Ed Conner foi outro dos mecânicos que trabalhou com meu pai. Sorri com as
lembranças do Ed rabugento me perseguindo pela loja, cuspindo merda sobre isso não ser
lugar para uma criança.
— Posso não ter mais cinco anos, mas aposto que ainda posso deixar Ed louco.
Tank riu, uma risada profunda e gutural.
Se eu não fizesse uma pausa rápida para isso, Tank continuaria na memória por uma
hora. Eu não tinha esse tipo de tempo. Hoje não.
Eu queria acabar com isso.
— Obrigado, Tank, — eu disse, andando até a porta fechada no corredor curto.
A nostalgia veio em ondas quando eu levantei minha mão, batendo meus dedos contra
a porta. — Sim. — A voz abafada de papai veio do outro lado.
Girei a maçaneta de latão e empurrei a porta. As paredes estavam rebocadas com
placas antigas. Easton estava sentado atrás de um computador que parecia estar em sua última
etapa. A coisa zumbia tão alto que havia uma boa chance de explodir. Nada neste escritório
havia mudado em dez anos, incluindo o homem atrás da mesa.
O rosto cansado do meu pai se iluminou quando ele me viu, e aquele nó no estômago
cresceu. Eu odiava, absolutamente odiava o que estava prestes a fazer com ele. — Ei, garota.
Você está bem? Está tudo bem? — A preocupação saltou em seus olhos, e quem poderia
culpá-lo? A última vez que nos vimos, os policiais o ameaçavam de abrigar um fugitivo.
Tanta coisa aconteceu em tão pouco tempo.
Eu me sentei em uma das cadeiras desgastadas que estavam no canto da sala. A outra
tinha pilhas de papéis. — Não, não realmente, — eu admiti, torcendo meus dedos. —
Precisamos falar sobre a mamãe. — Eu não via nenhum ponto em rodeios.
Ele inclinou sua cadeira giratória para longe do computador e recostou-se. Sombras
pairavam sob seus olhos. — Ela fez alguma coisa? Você está machucada? — Seu olhar
imediatamente começou a escanear sobre mim, olhando para mim com um olhar paternal
mais crítico.
— Há dezessete anos, — respondi.
— Josie, — disse ele, balançando a cabeça. — Você sabe que eu nunca me arrependi
de um dia desde que você nasceu. Sua mãe... foi difícil para ela deixar de lado seus sonhos.
Deus, como ele ainda poderia defendê-la, mesmo depois do que ela tinha feito? Eu
sabia que ele ainda a amava, mas em algum momento, ele precisava tirar as vendas e acordar
o inferno. — Isso não foi o que eu quis dizer.
Suas sobrancelhas se juntaram, parecendo confusas. — Eu não estou acompanhando.
— Eu não sei como dizer isso, e honestamente, é uma merda que eu seja a única que
está dizendo a verdade. Mas…. — Respirei fundo e soltei: — Eu não sou sua filha.
Ele piscou, a confusão se aprofundando em suas feições ainda bonitas. Ele não era tão
velho, não para pais com uma filha de quase dezoito anos, mas eu juro, desde que minha mãe
e eu saímos, ele parecia mais velho do que seus trinta e cinco anos. — Você não pode estar
falando sério, Josie. O que está causando isso? Eu sei que você está com raiva de sua mãe—
— É a verdade, — eu interrompi com mais convicção. Claro, eu estava chateada com
Angie, e antes de sair daqui, Easton James pode estar sentindo algo além de perda e tristeza
por sua ex-esposa.
Ele esfregou a mão sobre o rosto, sobre a barba por fazer que cobria seu queixo e lado
de suas bochechas. Ele não se barbeava há alguns dias. — Eu sei que sua mãe nem sempre foi
fiel, mas os casos só aconteceram depois que você nasceu.
Ok, eu não queria saber quantas vezes Angie traiu Easton. Uma vez foi demais. Eu
balancei minha cabeça. — Não, pai, — eu disse, minha voz trêmula. Isso foi tão difícil.
Muito mais difícil do que eu imaginava na minha cabeça. — Eu quis dizer que nenhum de
vocês são meus pais biológicos. Angie não é minha mãe. Houve uma sensação de alívio ao
dizer isso em voz alta que eu não esperava estar lá. Passei minha vida dizendo a mim mesma
que não seria nada como minha mãe, e agora esse medo se foi.
Suas sobrancelhas se enrugaram. — Eu estava no seu nascimento, Josie. O que deu
em você?
Isso não estava indo bem, mas não importa como eu entregasse a notícia, eu não
poderia esperar que fosse de outra maneira além de uma merda. — Sei que isso é difícil de
acreditar, mas Angie me tirou do hospital. Ela não deu à luz a mim, mas a outro bebê que não
sobreviveu—.
— Isso é ridículo. Claro, você é minha filha. Seu tom afiado.
Eu pressionei para frente. — Você se lembra de ouvir sobre outra mulher dando à luz
no mesmo dia? Ela teve trigêmeos.
Eu vi o momento em que ele se lembrou saltando em seus olhos azuis. Medo me
encheu, quando uma pontada me atingiu no peito.
— Trigêmeos não são uma ocorrência diária. O hospital provavelmente estava
zumbindo com a notícia, — continuei, e eu sabia que ele estava juntando as peças pouco a
pouco, antecipando o que viria a seguir. — Eles estavam na UTIN com sua filhinha.
Ele assentiu. — Eu lembro. Um menino e duas meninas—. Uma luz sóbria nublou
seus olhos. — Uma das meninas...
— Ela fez isso, — eu forneci.
Seu olhar segurou o meu.
— Exceto que o bebê não era um dos trigêmeos. Era seu bebê, — eu disse
suavemente, em uma triste tentativa de amortecer a verdade.
Ele respirou fundo. — Não, isso não pode ser. Quem te disse uma coisa dessas? — E
aqui veio a negação. Eu conhecia bem a gama de emoções.
— Não importa quem ou como eu descobri, apenas que é verdade. — Esta próxima
parte seria chupar à décima potência. — Foi feito um teste de DNA que prova que sou filha
deles. Eu sei quem são meus pais biológicos. Eu os conheci.
— Você os conheceu, — ele repetiu. — Quando?
— Alguns dias depois que eu fui para casa, — eu admiti, torcendo meus dedos juntos
no meu colo.
— Isso não pode ser real. Sequestro? Não quero acreditar. — Mas eu podia ver em
seus olhos que ele sabia que Angie era capaz de tal crime. Ela encontrou uma maneira de
conseguir o que queria por qualquer meio necessário, incluindo quebrar a lei, se essa fosse a
única maneira.
— Eu confrontei Angie. Ela admitiu tudo, inclusive que nunca lhe contou.
Seus ombros caíram e seus olhos ficaram vidrados. — Eu não sei o que dizer. — Ele
olhou para cima, encontrando meu olhar, e eu prendi a respiração. — Preciso falar com sua
mãe, com Angie, — ele rapidamente corrigiu. — Oh Deus. — Ele passou a mão pelo cabelo
escuro. A verdade estava afundando.
Minha respiração saiu em uma longa liberação. — Eu sei. É muito foda.
— Você é…. — Ele engoliu o que eu pensei que poderia ter sido um pedaço de
emoção. Era tão malditamente difícil vê-lo lutar com seus sentimentos. Eu sabia o quão
selvagem e fora de controle eles podiam girar. — Você os conheceu?
Era um momento apropriado para dizer a ele que eu estava morando lá? Eu não queria
mentir, mas também não queria machucá-lo mais. Já havia muitas mentiras. Eu não poderia
adicionar outro, independentemente do quanto isso pudesse lhe causar dor. Agarrando o topo
dos meus joelhos, eu assenti. — Eu tenho ficado lá. Grayson, um dos caras que veio me
visitar quando eu estava ferido, ele é meu irmão.
— Você tem um irmão?
Eu balancei a cabeça. — E uma irmã.
— Trigêmeos, — disse ele, como se testando a palavra.
— Sim. Trigêmeos, — eu repeti, sem saber mais o que dizer.
Ele ficou em silêncio quando baixou a cabeça em suas mãos. Seus ombros tremeram
quando ele balançou a cabeça, o choque e a descrença de tudo finalmente se instalando. Eu
podia contar em uma mão o número de vezes que vi meu pai chorar ao longo dos anos. Ele
era um cara durão que sempre colocava uma frente forte, então vê-lo mostrar uma emoção tão
profunda, me estripou.
Eu apenas sentei na cadeira, sem saber o que eu poderia fazer para aliviar a dor e
confusão que ele provavelmente estava sentindo. Eu não sabia se havia algo que eu pudesse
fazer ou dizer. Não agora. Não quando estava tão fresco.
Meus olhos se encheram de lágrimas quentes quando me lembrei de como foi
perceber que Easton não era meu pai. A lenta compreensão de que Easton não era meu pai
havia cortado a surpresa inicial de que eu não tinha parentesco com Angie. Doía respirar,
tanta pressão apertava meu peito. Obriguei-me a me levantar e andar ao redor da mesa com
pernas pouco firmes. Eu coloquei uma mão em seu ombro. — Pai?
Seu corpo deu um longo suspiro, subindo e descendo sob minha mão. — Josie, — ele
respirou, levantando-se rapidamente e me puxando em seus braços. Ele me segurou por um
longo momento, sem dizer uma palavra, e quando finalmente falou, sua voz estava rouca. —
Você ainda é minha. Eu não me importo com o que um maldito teste diz. Eu ainda quero ser
seu pai.
Eu sorri e olhei para ele através dos olhos nublados e lacrimejantes. — Bom, porque
eu ainda quero que você seja meu pai.
Uma risada saiu dele. — Nada poderia mudar o que eu sinto por você. Você sempre
será minha.
Lágrimas quentes rolaram pelo meu rosto. — Eu sinto muito. Eu sinto muito.
Ele limpou a garganta. — Você não tem nada para se desculpar. Eu só sinto muito por
toda a porcaria que você teve que colocar, que você teve que ser a única a vir aqui. Deveria
ter sido Angie. Ela devia isso a mim para me dizer na minha cara.
— Concordo.
— Você sabe o que eles planejam fazer?
— Os Edwards? Seus nomes são Chandler e Liana Edwards, — eu informei. — E eles
só querem me proteger. Eles não vão prestar queixa se eu não quiser. Não vejo sentido, já que
farei dezoito anos no próximo mês.
Limpando a parte de trás do antebraço sobre os olhos brilhantes, ele disse: — Ela
nunca mereceu você.
— Ela nunca nos mereceu, — eu corrigi.
Ele bagunçou o topo da minha cabeça, bagunçando meu cabelo, o que geralmente me
irritava, mas hoje, eu não dou a mínima. — Eu sei que isso foi difícil para você, mas eu
aprecio você me dizendo a verdade. Você é meu tudo, e eu não posso acreditar—— Ele ficou
todo engasgado novamente.
E dei-lhe outro abraço. Eu não sabia o que era mais difícil. Ter que deixá-lo assim, ou
realmente dizer a ele que eu não era sua filha biológica? Eu não queria que as coisas ficassem
estranhas ou distantes entre nós, e disse a mim mesma que não deixaria isso acontecer. Que
não importa o quão ocupada minha vida ficasse, eu arranjaria tempo para ligar para ele ou
pelo menos enviar uma mensagem.
Fiquei na porta, sabendo que tinha chegado a hora de sair. — Não seja uma estranha,
— disse Easton, abrindo a porta do escritório para mim.
Dei-lhe um sorriso triste. — Nunca.
Saí rapidamente do prédio, acenando para Tank enquanto saía. Ele podia ver que algo
pesado aconteceu entre nós, e eu sabia que ele iria vigiar Easton. Tank era um amigo bom e
leal.
Sentada no jipe, dei uma longa última olhada na James Auto Repair, me perguntando
se algum dia voltaria a pisar lá. Eu tinha que acreditar que eu iria – que sempre seria uma
parte da minha vida. Recusei-me a deixar Angie tirar isso dele.
CAPÍTULO SEIS

Meu telefone tocou segundos depois que eu deslizei o Jeep para uma vaga de
estacionamento do lado de fora do Lazy Ray's, um bar e pizzaria que não estava muito longe
da Academia. As lágrimas haviam secado, mas aquela sensação de vazio e dor permanecia
dentro do meu estômago, e eu estava feliz por ter decidido procurar um emprego de meio
período depois de revelar o segredo profundo e sombrio da minha família. Foi fodidamente
estranho. Eu não sabia mais como chamá-los. Quem eram Eaton e Angie para mim agora?
Esperava que eu parasse de me referir a eles como minha mãe e meu pai? Estava tudo bem
em ainda se referir a eles como família? Ou pelo menos Easton, porque vamos ser sinceros,
eu parei de pensar em Angie muito antes de descobrir que ela não era minha mãe.
Talvez eu devesse ir a uma livraria a caminho de casa e ver se havia algum livro sobre
vítimas de sequestro infantil. Mas realmente, eu provavelmente deveria pedir ajuda
profissional. Kenna tinha. Não havia vergonha em pedir ajuda, então por que eu só brincava
com isso? Por que não procurei maneiras de lidar com todo esse estresse e merda na minha
vida?
O que eu precisava agora era uma maldita distração. Minha mente foi imediatamente
para Brock. Não era o tipo de distração que eu tinha em mente, mas Brock e sexo pareciam
estar sempre juntos quando a outra pessoa precisava esquecer a porra do mundo.
Desligando o motor, peguei meu telefone no porta-copos. Ele tocou antes mesmo de
meus dedos tocarem. O nome de Brock apareceu na tela.
Era disso que eu estava falando. Era como se ele soubesse. Que fodidamente
assustador.
Apertei o botão para aceitar a chamada, colocando-a no viva-voz. — O que você quer
Taylor? — Eu respondi. Uma parte de mim estava irritada com ele. Era irracional ficar com
ciúmes por ele passar a maior parte do dia pairando sobre Kenna, mas se eu fosse honesta
comigo mesma, que era o que eu estava tentando fazer, eu estava com ciúmes. Eu o vi por um
total de cinco minutos. Não que eu precisasse de toda a atenção dele o dia todo, mas às vezes
parecia que eu tinha mais um relacionamento com Micah ou Fynn do que com Brock – pelo
menos na escola.
— Onde você está? — sua voz profunda e sexy perguntou do outro lado do telefone,
enviando uma vibração de borboletas girando dentro da minha barriga.
Uma olhada no painel me disse que seu treino de futebol depois da escola havia
terminado quarenta minutos atrás. Eu levantei meu olhar e olhei para a placa de contratação
que estava na janela do Lazy Ray's. — Fui ver meu pai, — respondi.
— Grayson me disse. Você não deveria ter ido sozinha. — Ele parecia irritado.
— Estou bem. De qualquer forma, você não estava ocupado com Kenna? Como ela
está? — Eu rapidamente acrescentei, para encobrir o quão ciumenta essa primeira pergunta
soou. Brock e eu não tivemos muito tempo para conversar durante a escola hoje, e eu entendi
o porquê. Grayson era seu amigo. Assim como Kenna. Era óbvio que ele os protegeria, sendo
este o primeiro dia de volta de Kenna.
Tenho certeza que até o final da semana, as coisas iriam melhorar e voltar ao normal.
Então, novamente, o único normal que eu conhecia na Academia era o caos. Não tenho
certeza que era onde eu queria voltar. Seria bom pelo menos uma vez se as coisas se
acalmassem. Eu até ficaria chato por um tempo.
Mas isso não parecia provável. Não com Ava e Carter ainda na escola, e agora Kenna
de volta...
Se ao menos eu pudesse sacudir essa sensação estranha na boca do estômago de que
algo horrível estava no horizonte. Eu não sabia o que era. Eu não sabia quando isso
aconteceria. Só que estava chegando.
Ele não disse nada por um momento, como se estivesse dissecando cada palavra
minha e analisando minha voz. Aposto o estoque de garrafas de vodka de Angie que Brock
estava sorrindo do outro lado da linha. — Eu não quero falar sobre sua irmã, — ele
finalmente disse.
Meus lábios se contraíram com a mandão irritada de seu tom. — Ok. Esta é a sua
maneira de me dizer que sente minha falta?
— Eu quero ver você, — afirmou.
— Não posso. Estou ocupada. Eu tenho dever de casa e merda.
— Firefly, — ele rosnou. — Se você está tão ocupada, então por que você está
sentada na frente de uma pizzaria de merda no Jeep de Grayson?
Como diabos?
Eu girei meu olhar por cima do ombro, olhando pela janela, e então para o outro lado,
procurando pelo SUV de Brock. Não havia nenhum Land Rover à vista. Além do Jeep,
apenas alguns carros estavam no estacionamento. Ainda era cedo para o jantar, não que este
lugar tivesse pessoas fazendo fila para entrar. Meus olhos se estreitaram em um elegante
Town Car com janelas completamente escurecidas. Parecia algo que o FBI dirigiria, ou um
investigador particular. — Você está fodidamente me seguindo?
— Você não pode se surpreender. Não depois de toda a merda em que você se meteu.
Ele não negou. O homem não tinha vergonha.
Revirei os olhos. — O que. O. Real. Inferno, Taylor. Namorada ou não, você não
pode me espionar só porque quer. Não gosto de ser seguida.
— E eu não gosto de ver você coberta de hematomas. Lide com isso, — ele latiu de
volta.
Eu bufei. — Você é impossível. — Assim que desligarmos, eu tinha toda a intenção
de ir até quem Brock havia contratado e dizer a eles para se perderem. — Eu ainda estou
ocupada.
— Venha, — ele ordenou.
— Eu não posso, — eu insisti, mantendo meu plano original. Eu precisava de
dinheiro, o que significava que eu precisava de um emprego, mesmo um péssimo em uma
pizzaria decadente.
— Tudo bem, então eu vou.
Deus, ele era implacável. — Brock, — eu gemi. — Eu não posso simplesmente trazer
um cara para a casa dos Edwards. Seria muito estranho.
— Eu não sou um cara qualquer, — ele me lembrou. — Eu praticamente cresci na
casa deles. Você tem seu próprio quarto, não tem? Grayson me disse que Liana estava
ajudando você a decorá-lo.
Grayson precisava aprender a manter a boca fechada. Eles passaram o tempo todo
falando sobre mim? Imaginei que isso dava nos nervos de Grayson. Eu sorri com o
pensamento. — Eu nem contei a eles sobre nós.
— Eles sabem, — afirmou.
— O que! Como? — Eu gritei, sentando-me mais ereta no assento de couro.
— Grayson.
Cristo. Quem teria pensado que meu irmão sombrio e taciturno era uma maldita
Chatty Cathy em casa. — Você não vai desistir, não é?
— O que você acha, Firefly?
— Que eu preciso de um novo namorado.
— Diga de novo, — ele exigiu.
Eu sabia o que ele queria. — Dizer o quê? — Eu retruquei, fingindo ignorância. Ele
fez isso muito divertido para irritar suas penas. Estava se tornando meu passatempo favorito.
— Que eu sou seu namorado.
Meus dedos se atrapalharam com o volante. — Não por muito tempo se você
continuar controlando minha vida.
Ele riu, e o som rouco enviou uma explosão de calor através de mim. — Vejo você
em uma hora.
Revirei os olhos e saí do carro, caminhando em direção ao pub. — Eu te ligo mais
tarde, Taylor. — E antes que ele pudesse rosnar ou murmurar meu nome um pouco mais,
desliguei e enfiei meu telefone de volta no bolso.
Dentro do Lazy Ray's, a primeira coisa que notei foi o cheiro. Eu não conseguia
identificar, mas era algo como queijo misturado com cerveja. Não era um cheiro horrível,
mas não totalmente apetitoso. Meu olhar varreu o lugar, as velhas cadeiras e mesas de
madeira, o chão ligeiramente pegajoso que meus sapatos grudaram enquanto eu caminhava,
eventualmente pousando em um cara com cachos castanhos na altura dos ombros que estava
limpando a bancada do bar.
Seus olhos se ergueram quando me aproximei. — Posso ajudar? — ele perguntou,
enquanto continuava os movimentos circulares de limpeza.
Dois caras tipo motoqueiros estavam sentados no bar, cada um bebendo uma caneca
de cerveja, olhos grudados no jogo de futebol na TV. Eles eram os únicos clientes no local,
mas tive a sensação de que eram regulares. Limpei a garganta e respondi: — Estou aqui por
causa do cargo—.
O cara se endireitou, e dei uma olhada no nome bordado no canto de sua camisa preta.
Zeke. — Você é da Academia? — Zeke perguntou.
Minhas mãos descansaram no topo do bar. — Sim, como você sabia?
Seus olhos verdes suaves desceram e depois voltaram quando ele me olhou. — O
uniforme é uma oferta inoperante.
Caralho. Eu tinha esquecido que ainda estava vestida com minhas roupas da
Academia. — Certo. Isso. — Eu puxei a ponta da minha saia, sentindo-me ridiculamente
deslocada. Eu planejei me trocar depois da escola, mas esqueci completamente depois da
confissão emocional com Easton.
— Você já serviu em um restaurante antes? — ele perguntou.
Eu balancei minha cabeça. — Não. Mas eu aprendo rápido e trabalho duro.
Ele franziu os lábios. — Como é sua agenda? Estamos procurando principalmente
ajuda de fim de semana e talvez uma ou duas noites durante a semana.
— Eu posso fazer isso. Estou livre a qualquer hora depois das quatro.
Um sorriso irônico curvou os lábios de Zeke. — Normalmente minha irmã cuida das
entrevistas, mas ela não está aqui no momento. Você vai ter que lidar comigo. Sente-se. —
Ele fez uma pausa. — Qual o seu nome?
— Josi. Josie James, — eu respondi, afastando uma das banquetas altas e pulando
para cima.
— Bem, Josie, você tem certeza de que quer trabalhar em um lugar como este? Não
parece ser o seu estilo.
Ele assumiu porque eu fui para a Academia, que eu era um pirralho rico e mimado. E
ele não estaria exatamente errado, exceto que minha situação era única, e eu não estava com
vontade de entrar nos detalhes da minha vida. — Acabei de me mudar para cá no verão. Eu
costumava ir ao Pub.
— Minha irmã vai para o Pub. Eu me formei há alguns anos. Achei o nome familiar.
Por favor Deus. Não deixe que ele saiba quem eu sou. O casamento de Angie com
Steven fora a matéria de capa do jornal, para seu deleite.
Ele dobrou a toalha de limpeza e a colocou em algum lugar embaixo do bar. —
Talvez você conheça minha irmã. Ray Graham.
Engoli. O public era enorme em comparação com a Academia, pelo menos no que diz
respeito ao tamanho da turma. Mas eu conhecia Ray Graham, tivemos algumas aulas juntos
ao longo dos anos, mas não conversamos muito. Ela andava com a multidão áspera e
desorganizada que tendia a ter problemas. Fazia mais sentido agora que eu tinha visto o pub.
Raios preguiçosos. — Você nomeou o bar em homenagem à sua irmã?
Seus lábios se contraíram. — Meu pai fez. Ele faleceu há cerca de dez anos. Ray e eu
administramos o lugar desde então. Tem certeza de que quer trabalhar aqui? — Ele levantou
seu marrom em questão e descrença.
— Sim, — eu confessei, me surpreendendo.
Cruzando os braços sobre o peito, ele me olhou por mais um momento. — Parece que
você tem coragem. Bom. Você vai precisar. Aqui está o acordo. Que tal fazermos um teste
por uma semana ou duas, veja se você gosta. Se você se encaixa e pode lidar com o trabalho,
o trabalho é seu.
Algo como felicidade borbulhou dentro de mim. — Obrigado. Eu realmente gostei
disso.
— Você pode começar sexta-feira? — ele instigou.
Eu balancei a cabeça. — Depois da escola.
— Bom. É uma das nossas noites mais movimentadas, então não se deixe enganar
pela multidão quieta hoje. Este não é o tipo de trabalho em que você senta na sua bunda
bonita e pinta as unhas.
Eu levantei meu queixo. — Entendi. Acho que você vai descobrir que não sou uma
princesa mimada. Não tenho medo de sujar as mãos.
— Zeke! Outro, — um dos caras no bar gritou.
Zeke inclinou a cabeça na direção do cliente, tirando um copo da prateleira pendurada
acima do bar. — Ray tem a decisão final de contratação. Ela vai repassar os detalhes do
pagamento e tal. Um conselho, fique do lado dela.
Eu sorri. — Notado.
— Vejo você na sexta à noite, Corajosa.
CAPÍTULO SETE

O SUV de Brock estava estacionado na entrada circular dos Edwards quando eu parei.
Ele era demais, e ainda assim, eu não podia ignorar a excitação que a visão de seu carro me
deu. Eu não queria pensar em como meu corpo reagiria quando visse o pacote inteiro.
Pegando minhas coisas do jipe, subi os degraus da varanda da frente e entrei pela
porta da frente. A quietude da casa me atingiu enquanto eu tirava meus sapatos no saguão.
Onde estava todo mundo?
O pensamento mal passou pela minha cabeça quando Grayson veio passeando pelo
corredor, uma maçã na boca. Ele mordeu um pedaço e me notou de pé na porta. — Você
acabou de chegar em casa? — ele perguntou, depois de mastigar e engolir.
Deslizei minha bolsa pelo ombro, deixando-a cair levemente no chão. — Sim. Onde
está todo mundo?
— Kenna saiu com amigos. Papai ainda está no trabalho. E mamãe saiu há uma hora
para alguma coisa do clube. Ele listou o paradeiro de todos. — Elise fez o jantar antes de sair
para a noite. Está na geladeira se você estiver com fome.
Faminto, meu estômago roncou com a menção de comida. Fazia horas desde a última
vez que comi. A comida estava longe de ser uma preocupação. — Obrigado.
— Então, como foi? — ele perguntou, inclinando um ombro contra a parede, levando
a maçã à boca para outra mordida.
— Doloroso pra caralho. Nunca mais quero fazer isso. — Minha voz soava tão
exausta quanto eu me sentia.
— Parece duvidoso que você vá.
Meus lábios se contraíram. — Espertinho.
Ele empurrou a parede, indo em direção às escadas. — Oh, — ele disse, virando-se e
andando para trás, sorrindo para mim. — Brock está em seu quarto.
Eu xinguei baixinho. Grayson tinha me distraído, e eu esqueci momentaneamente do
carro de Brock lá fora. — Seriamente? Ele não tem vergonha?
Grayson soltou uma risada ofegante. — Nenhuma.
Mudando de direção, segui Grayson escada acima em vez de entrar na cozinha. Meu
estômago teria que esperar um pouco mais. Parei na porta do meu quarto e olhei para minha
cama. Brock estava deitado no colchão, com as mãos atrás da cabeça, olhos fechados.
Apoiando um ombro na porta, levei um momento para apreciar a vista. Deus, que
porra de visão era. Havia algo em seu cabelo escuro bagunçado, as tatuagens cobrindo seus
braços e a roupa toda preta que estimulava meus hormônios. A luxúria se enrolou dentro de
mim, e eu tive que engolir um gemido.
— Você vai ficar aí parada e babar em cima de mim a noite toda, ou você planeja se
juntar a mim na cama? — Ele virou a cabeça para o lado, cílios longos se abrindo para me
encarar com aqueles malditos olhos. Eu juro que era como olhar para o oceano, tão
assustadoramente de tirar o fôlego. Os cantos de seus lábios se inclinaram.
Idiota presunçoso.
Uma parte de mim odiava o poder que ele tinha sobre meu corpo, o que ele podia me
fazer sentir apenas com sua voz. Continuei parada na porta, balançando a cabeça e não
fazendo nenhum movimento em direção a ele, independentemente da atração magnética que
me chamava para ele. Eu não pude impedir o sorriso estúpido de puxar meus lábios. Brock e
eu em uma cama quando não havia pais em casa... Eu sabia exatamente onde isso levaria, não
que eu não fosse tentada, porque Jesus sempre estava. Ele não tinha o direito de ser tão
delicioso. Eu definitivamente queria lambê-lo. Quem precisava de jantar quando eu tinha um
bufê inteiro de Brock Taylor no meu quarto?
Foco, Josi! E não em seu corpo, pelo amor de Deus. — O que você está fazendo
aqui? — Eu perguntei, ficando exatamente onde eu estava na porta.
Ele rolou para o lado na cama, apoiando a cabeça na parte de trás dos dedos. A calça
de moletom que ele usava estava baixa em seus quadris, desafiando meus olhos a permanecer
no flash de abdômen duro que espreitava para fora da camiseta. Ele havia subido quando ele
levantou o braço. — Eu te disse. Senti a sua falta.
Meu coração deu uma cambalhota no meu peito, e eu senti a atração hipnótica de
Brock me chamar. Cedendo, eu entrei no quarto. — Você não pode ficar muito tempo.
Aqueles lábios diabólicos se curvaram. — Liana sabe que estou aqui. Quem você acha
que me disse que eu poderia esperar no seu quarto?
Senti minhas bochechas esquentarem com a ideia de Liana pensando no que Brock e
eu poderíamos estar fazendo sozinhos no meu quarto. — É melhor você estar brincando.
Suas mãos se estenderam, envolvendo meu pulso, e me puxaram para a cama. — Ao
contrário de Angie, Liana me ama. — Com outro puxão, ele rolou de costas e eu caí em cima
dele. Suas mãos foram para meus quadris, me deslocando para que eu ficasse perfeitamente
alinhada com os planos duros de seu corpo.
— Brock, — eu gemi, colocando minha palma em seu peito enquanto eu olhava para
seu rosto. Por que nossos corpos tinham que se encaixar tão perfeitamente juntos?
Seus dedos acariciaram minhas costas, desenhando padrões preguiçosos. — Você
nunca me contou o que estava fazendo no Lazy Ray's.
Propositalmente. Suspirando, eu cedi, deixando todo o meu peso afundar nele. Eu
descansei minha cabeça no travesseiro ao lado dele, meu nariz roçando sua bochecha. — Me
candidatei a um emprego depois da escola, — respondi.
— Por que? Se você precisa de dinheiro—
Levantando, coloquei um dedo sobre seus lábios, silenciando-o. — Não se atreva a me
oferecer dinheiro, Taylor, — eu avisei, lançando-lhe um olhar sombrio enquanto meu rosto
pairava sobre o dele.
Literalmente não teve nenhum efeito sobre ele. — Eu não vejo qual é o problema, —
ele disse contra meu dedo, sua respiração aquecendo minha pele.
— Só as pessoas que têm mais dinheiro do que Deus dizem merdas assim.
Seus dedos deslizaram sobre minha bunda. — Você percebe que agora inclui você. Os
Edwards são ricos. Não apenas rico. Mas como rico.
— Mais rico que sua família? — Eu perguntei com um sorriso malicioso e desafiador.
— Não, — ele murmurou, deliberadamente roçando seus lábios sobre meu queixo.
Eu balancei minha cabeça. — Você não tem vergonha.
— E você me ama por isso, — ele sussurrou, sua respiração se misturando com a
minha enquanto seus dedos enrolavam ao redor da minha bunda e levantando minha saia
xadrez no processo.
Uma dor de desejo floresceu entre minhas pernas, e meu corpo instantaneamente
reagiu à sensação de seu pau duro pressionando através de sua calça de moletom naquele
local que latejava por ele. — Hum. Se você diz. — Meus olhos ficaram pesados.
— Beije-me, Firefly, — ele exigiu, amassando minha bunda para que ela pressionasse
mais forte contra ele.
Alinhando meus lábios para que eles estivessem a uma polegada de distância dos dele,
eu murmurei, — Sem chance no inferno, Taylor. — E então comecei a dar um beijo na ponta
de seu nariz. — Você deveria ter tomado um banho frio depois do treino. — Senti seu pau
ficar mais duro através de sua calça de moletom.
— Desde quando você se tornou uma provocação? — ele perguntou, conseguindo de
alguma forma manter seu tom casual quando eu estava à beira de gemer.
Eu não era uma provocação. Qualquer coisa menos. Eu não sabia nada sobre provocar
um cara, a menos que enrolar o cabelo e lamber os lábios contasse como provocação. Quando
se tratava de Brock, eu não precisava tentar. As coisas simplesmente aconteceram. — Nós
não estamos fazendo sexo nesta cama. Ou em qualquer lugar nesta casa. Está claro? — Tentei
parecer severa e manter meu rosto sério, mas seus malditos quadris rolaram sob os meus.
Brock não jogou limpo.
Ele piscou, completamente imperturbável. — Meu SUV está lá fora.
Eu desatei a rir. — Eu não vou entrar no seu carro para fazer sexo.
— Mas você quer.
— Eu nunca disse que não queria fazer sexo com você, só que isso não estava
acontecendo.
Ele abaixou a cabeça, pegando o lóbulo da minha orelha entre os dentes. — E não há
nada que eu possa fazer para mudar sua mente?
Meus olhos ficaram pesados de desejo. — Eu não iria tão longe, mas Liana ou
Chandler poderiam voltar para casa a qualquer minuto. Sem falar que não estamos sozinhos.
— Gosto de viver no limite.
Passei a ponta do meu polegar sobre seu lábio inferior. — Eu também, — murmurei,
selando meus lábios nos dele. Era para ser apenas um beijo rápido, um gosto para satisfazer
esse desejo que eu tinha por ele. Eu deveria saber que um gosto nunca seria suficiente.
Especialmente quando ele me pegou de surpresa. Eu esperava um golpe de calor, uma
fome desesperada de seus lábios, mas o que eu consegui em vez disso me destruiu.
Brock não era doce. Ele não saboreava.
Esta noite. Ele fez os dois.
Seus lábios se moveram lentamente sobre os meus como se ele tivesse a noite toda
para me beijar. As mãos no meu corpo suavizaram, arrastando-se suavemente pelas minhas
costas. Meus ossos derreteram.
É apenas um beijo. Mas foi um beijo cheio de promessas. Foi um beijo que ofereceu
conforto e segurança, um beijo para curar toda a dor e emoções cruas que me rasgavam por
dentro.
Brock sabia. Ele entendeu o que eu precisava mais do que eu.
Ele me fez sentir amada. E confortada. Ele me lembrou que eu não estava sozinha.
Se ele continuasse me beijando assim, eu poderia começar a chorar, e ainda assim, eu
não queria que ele parasse. Suspirei em sua boca, meus dedos varrendo seu cabelo.
— Ei, posso ver suas anotações de...
Eu pulei ao som da voz de Grayson, interrompendo o beijo, mas Brock manteve seu
braço em volta de mim, me impedindo de rolar para longe dele. Grayson parou na minha
porta e piscou para Brock e eu na minha cama. — Merda, desculpe. Eu não sabia que você
ainda estava aqui, — ele disse, esfregando a mão na nuca sem jeito.
— Bem, eu estou, — Brock rosnou, encarando Grayson.
Eu bati em seu estômago com as costas da minha mão. — Não seja um idiota. Ele é
seu melhor amigo, — eu rebati para Brock, me afastando dele e sentando na cama para que
meus pés ficassem pendurados para o lado. Eu ajustei minha saia, puxando a bainha para
baixo.
— Então ele deveria saber melhor do que invadir seu quarto enquanto estou aqui, —
Brock murmurou, claramente irritado com a interrupção.
— Ela é minha irmã. E você está na minha casa, — Grayson apontou.
— Confie em mim, eu sei, — ele resmungou, passando a mão pelo cabelo.
— Isso vai se tornar uma coisa entre vocês dois? Porque eu não estou bem com isso.
Vocês precisam dar um jeito nessa merda. Rápido, — eu acrescentei, meus olhos saltando
entre eles. — Ele é meu irmão. Brock é meu namorado. E vocês são melhores amigos. Lide
com isso.
Kenna apareceu na porta ao lado de Grayson. — Ei o que está acontecendo?
— Nada. Absolutamente, porra nenhuma, — Brock resmungou.
Seu olhar pousou em Brock, notando-o esparramado na minha cama. — Ah, eu não
sabia que você estava aqui.
Fui eu, ou seu rosto de repente se iluminou quando viu Brock? Até que, claro, ela me
viu sentada na beira da cama e percebeu em que quarto Brock estava.
O cara em questão sentou-se, franzindo a testa. — Isso não vai funcionar, Firefly.
Olhei por cima do ombro e fiz uma careta. — Eu tentei te dizer.
Aqueles olhos azuis tempestuosos se voltaram para Kenna e Grayson. — Fora, — ele
rosnou, irritação perceptível em sua expressão.
Kenna piscou seus grossos cílios negros, um lampejo de surpresa no tom que ele usou,
e então cruzou os braços. — Você não pode nos expulsar. Nós moramos aqui.
— Estou com Kenna, — eu concordei, ainda sorrindo.
Os lábios de Grayson se contraíram quando nós três encaramos Brock – os trigêmeos
contra ele.
Os olhos de Brock escanearam entre nós, estreitando. — Ok, isso é assustador pra
caralho. Ver vocês três assim, juntos.
— Você nos viu juntos na outra noite. Por que agora é tão diferente? — Eu contra-
ataquei.
— Eu não sei, — ele admitiu, ainda nos olhando de forma engraçada. — Talvez
porque seja a primeira vez que vocês tomaram uma posição juntos. Ou talvez seja porque eu
posso ver que todos vocês compartilham uma teimosia semelhante.
— Você costumava dizer isso o tempo todo sobre Grayson e eu. Como éramos
teimosos — lembrou Kenna.
Acabei de imaginar Brock tenso? Meus olhos mudaram entre Kenna e Brock. Mais
uma vez, não pude deixar de perceber essa vibração estranha. Algo estava acontecendo, e eu
planejava perguntar a Brock o que diabos era, assim que estivéssemos sozinhos novamente.
Sempre que isso pode ser. Acabou sendo mais cedo do que eu esperava.
Brock empurrou para fora da cama, pegando minha mão no processo. — Vamos,
Firefly. Estamos indo embora.
— Acabei de chegar em casa...
Ele se abaixou, me pegou e me jogou por cima do ombro sem perder uma única
batida. Kenna e Grayson se separaram ao mesmo tempo, permitindo que ele passasse pela
porta.
— Droga, Brock. Ponha-me no chão, — eu exigi, depois de recuperar o fôlego. Todo
o sangue correu para minha cabeça.
Seus passos largos devoraram o corredor. — Se você continuar se contorcendo assim,
nós dois vamos cair da escada.
Eu já tinha feito isso e não tinha vontade de repetir o ato. Deixei meu corpo relaxar
quando o que eu queria fazer era chutá-lo nas bolas. — Você não pode simplesmente me
arrastar por aí porque você está com vontade.
Seus braços ficaram seguros contra minhas pernas. — Por que não? Você é minha.
Eu bufei. — Eu sou sua namorada, não uma maldita bolsa de ginástica.
— Está muito lotado no seu quarto.
— Isso é um pouco extremo para uma chamada de espólio.
Ele bateu na minha bunda. — Não se trata de sexo, mas tenho que dizer, ter sua bunda
na minha cara está me fazendo duvidar dessa afirmação. — Brock saiu para o quintal dos
Edwards.
Uma rajada de ar frio passou por mim, causando arrepios em meus braços. Um
momento depois, meus pés tocaram o chão. Eu inclinei minha cabeça para trás, olhando em
seus olhos enquanto eu esperava a corrida de sangue diminuir. — Então me diga, o que é
isso?
O luar atingiu o lado de seu rosto, que ainda tinha uma expressão séria. — Você.
Minhas sobrancelhas se juntaram. — Eu fiz alguma coisa?
— Por onde eu começo? Mas não, não foi isso que eu quis dizer. Você foi ver Easton
hoje.
— E…? — Eu instiguei, não conseguindo ver onde essa conversa estava indo.
— Eu queria ver se você estava bem. — Sua voz suavizou. — Não deve ter sido fácil
para você dizer a alguém que é seu pai há dezessete anos que ele não é realmente seu pai.
Meu coração bateu no meu peito. — Não foi. Mas se eu falar sobre isso, há uma boa
chance de eu começar a chorar.
— Isso seria uma coisa ruim? — ele perguntou, tocando o lado do meu rosto.
— Tenho medo de não parar, — eu admiti.
— Você e eu mantemos nossas emoções reprimidas. Usamos coisas como sexo e
álcool para lidar com o que não queremos sentir. — Movendo a mão, ele colocou uma mecha
de cabelo atrás da minha orelha com o dedo médio. — Eu só quero que você saiba que você
tem uma terceira opção. Eu.
Apenas Brock poderia ir de completo idiota a querido em um piscar de olhos. Dois
segundos atrás, eu queria amarrá-lo pelas bolas; agora eu queria que ele me abraçasse a noite
toda. Aquele poço de sentimentos que eu enterrei fundo veio à tona, e de repente eu estava
chorando, exatamente o que eu estava evitando. — Por que você foi e disse isso? Eu estava
indo muito bem, — eu solucei, minha voz vacilando enquanto eu empurrava seu peito.
Ele não se mexeu, mas me puxou em seus braços. Enterrei meu rosto no espaço entre
seu pescoço e ombro, agarrando-me a ele como se minha vida dependesse disso. Eu tinha
sido deslocada tantas vezes nos últimos seis meses, mas aqui, envolta no calor de Brock, era
o único lugar que parecia um lar. — Você nem sempre tem que ser corajosa. Não comigo. —
Seus dedos correram suavemente pelo meu cabelo enquanto eu chorava exausta.
Este dia estava se tornando uma catástrofe emocional.
Mas ele estava certo. Eu me senti melhor deixando de lado todos esses sentimentos, e
não havia ninguém com quem eu me sentisse mais seguro baixando minha guarda do que ele.
— Porra. — Eu funguei, enxugando agressivamente meus olhos molhados. — Eu
odeio chorar. Porque você fez isso?
— Porque eu amo você. Porque eu não suporto ver você ferida ou com dor. — Foi
então que notei a fúria subjacente que pulsava em seus olhos, mas ele se inclinou, beijando
meus lábios suavemente. Eu não podia provar nada da raiva que eu sei que ele sentia. Não
para mim. Mas por mim.
Atordoada, olhei para seu rosto parcialmente envolto em sombras. A outra metade
brilhava à luz das estrelas. — É melhor você tomar cuidado, Taylor, ou você vai perder seu
status de idiota.
Ele bufou. — Não é provável.
Um suspiro deixou meu corpo. — Obrigado por estar aqui. — Eu não sabia o quanto
eu precisava dele, precisava deixar ir todas aquelas emoções acumuladas que eu estava
suprimindo por muito tempo.
Seus lábios se torceram nos cantos. — É o que os namorados fazem.
Ouvi-lo dizer que ele era meu namorado enviou uma onda de euforia pela minha
espinha. Minhas bochechas aqueceram. — Cala a boca, — eu disse, empurrando em seu
peito.
— Eu não me importo quantas vezes eu preciso te dizer... você não está sozinha. Pode
parecer assim, mas você tem pessoas que te amam. Você tem uma família, e não estou
falando sobre os Edwards ou Angie e Easton. Grayson, Fynn, Micah e eu somos sua família.
Ele quis dizer isso. Toda palavra. Eu podia ver em seus olhos, e ele ainda não tinha
terminado. — Não importa que não compartilhemos o mesmo sangue ou DNA, embora no
seu caso, você realmente compartilhe DNA com Grayson, além do ponto. O que importa é a
nossa lealdade uns com os outros. Nós sempre teremos suas costas. Mesmo quando você faz
merda.
Como ele sabia o que eu estava sentindo quando metade do tempo eu não sabia? Era
verdade, apesar de estar cercada de pessoas, havia um vazio esculpido dentro de mim que
continuava a crescer como um câncer. Tudo que eu sempre quis foi uma família. Mas ele
estava certo. Eu tinha uma família. Pode não ser um tradicional, mas isso importa? Eu
realmente me importo com a norma social ou com o que uma família deveria ser? Minha
família era bagunçada e não convencional. Tudo que eu tinha visto e aprendido sobre uma
família tinha me causado dor – o tipo de dor que deixava cicatrizes.
Eu ri sobre um pedaço de emoção que ficou preso na minha garganta. Eu não acho
que tinha mais lágrimas para chorar, mas de alguma forma Brock conseguiu convocar
algumas novas. — Você estava em um rolo. Por que você teve que ir e arruinar um momento
tão romântico?
Ele encolheu os ombros. — Como você tão gentilmente me lembrou, eu tenho uma
reputação a zelar.
— Não sei o que faria sem você.
— Você sobreviveria. É o que fazemos. — Seus olhos brilharam à luz das estrelas. —
E, Firefly, você não está trabalhando no Lazy Ray's.
Eu gemi. Tanto para pensar que as coisas estavam indo bem entre nós. Se
começássemos por este caminho, só terminaria em uma briga. Eu não estava com vontade de
lutar com ele, não depois do que acabamos de compartilhar. — Começo na sexta.
— Não está acontecendo.
Eu enruguei meu nariz. — Acho que vamos ver quem ganha na sexta-feira, — eu
respondi, mantendo minha voz leve.
Seus braços apenas se apertaram ao meu redor. — Você torna muito difícil mantê-la
segura.
— Não é como se você não tivesse alguém me observando a cada segundo.
— Verdade. — Seu queixo caiu no meu ombro.
Ficamos sob as estrelas, apenas nós dois com a lua como companhia. Seus braços
ficaram em volta de mim. Eu não sentia paz assim há meses, e eu não queria que isso
acabasse. Eu estava meio tentada a pedir a ele para entrar no meu quarto e me segurar, só
para que eu pudesse dormir um pouco esta noite. Eu estava tão Mas à medida que a escuridão
da noite crescia, Brock desembaraçou os braços e disse boa noite, deixando-me sozinha. E eu
o deixei sair. Meus olhos se agarraram a ele até que ele desapareceu.
CAPÍTULO OITO

Ava não apareceu no dia seguinte na escola ou no seguinte. Sussurros de sua ausência
viajaram pelos corredores, todos especulando sobre seu paradeiro e se ela mostraria seu rosto
novamente.
Ela pode ter vergonha de vir para a escola, algo que eu não entendi muito bem. Sim,
eu a humilhei, mas merda, ela fez muito pior comigo, e nunca uma vez eu corri e me escondi.
Esta semana não faltou emoção, isso é certo. Se os corredores não estivessem
zumbindo sobre mim, Kenna, Elite ou Ava, todo mundo estava falando sobre o grafite e
quem estava por trás disso.
Ninguém sabia. Ainda não.
Eu poderia adivinhar.
Espalhando um pedaço de abacate no meu muffin inglês, peguei o tempero do bagel
para polvilhar por cima. Eu tinha dez minutos para terminar meu café da manhã antes que
Grayson, Kenna e eu saíssemos para a escola. Dei minha primeira mordida quando Kenna
entrou na cozinha parecendo toda arrumada. Seu cabelo escuro caía solto sobre os ombros,
sem um cacho fora do lugar. Sua maquiagem foi habilmente aplicada, ao contrário da minha.
Eu tinha ido para a aparência natural hoje. Aka, eu não tive tempo de aplicar nem mesmo
uma rápida camada de rímel.
Dormir ultimamente tem sido difícil. Passei a maior parte das minhas noites jogando e
virando, pensando em Angie, Easton e Carter. Era como a calmaria antes da tempestade. Eu
sabia que a qualquer minuto o trovão iria cair, os ventos uivariam e as chuvas cairiam.
Basicamente, a merda atingia o ventilador, e isso estava me fazendo perder o sono à noite.
— Ei, — eu cumprimentei com a boca cheia de torrada de abacate, sentindo-me
grogue e nojenta. Minha camisa branca estava para fora da minha saia, minhas meias pretas
estavam torcidas, e eu mal tinha energia para jogar meu cabelo em um coque bagunçado
antes de descer correndo as escadas.
— Bom dia, — ela sorriu, pegando a outra metade do meu muffin inglês do meu
prato. Eu quase dei um tapa na mão dela, antes de me lembrar que Kenna não era Grayson.
Kenna e eu ainda estávamos na fase de nos conhecermos. Talvez compartilhar comida fosse
uma coisa de trigêmeos. Independentemente disso, eu não estava acostumado a compartilhar.
Nada. Eu cresci como filha única, e essa coisa de família instantânea estava me deixando em
um loop. Eu não sabia como deveria agir. — Grayson está esperando no carro, — disse ela,
inclinando o quadril contra o balcão enquanto dava a mordida mais delicada possível do meu
café da manhã.
— Merda, — eu murmurei, pegando minha metade do prato, e peguei minha caneca
de café para viagem.
Kenna segurou a porta aberta para mim enquanto eu a seguia ao acaso. Deus, eu
estava uma bagunça do caralho hoje. Grayson buzinou segundos antes de Kenna e eu
virarmos a esquina em direção à garagem.
Meus nervos esgotados saltaram. — Deus, segure seus malditos cavalos. Estamos
chegando, — eu murmurei, olhando para o jipe e o motorista dentro. Não sei como fiz isso,
mas de alguma forma consegui enfiar o muffin inglês na boca e enfiar o dedo médio para
cima, derrubando Grayson.
O tolo sorriu quando subi no banco do passageiro, despejando minha porcaria no chão
e meu café no porta-copos. Kenna e eu concordamos em nos revezar na espingarda. Parecia
justo, embora eu não desse a mínima onde estava sentado no carro. Mordendo um pedaço de
muffin inglês, prendi meu cinto de segurança assim que Grayson deu a ré.
— O que esta acontecendo com você? — Grayson perguntou, me dando um olhar de
soslaio antes de sair para a rua.
Obviamente, eu sabia que não estava no meu melhor, mas ele tinha que apontar isso e
me fazer sentir pior? Eu sabia que ele não pretendia sair como um idiota, porque eu podia ver
em sua expressão que ele estava apenas preocupado. — Eu só não tenho dormido, — eu
admiti, olhando pela janela, terminando a última mordida do meu café da manhã. Pelo menos
eu tinha comido esta manhã. — Não é grande coisa.
— Ele tentou falar com você? Grayson perguntou com um endurecimento repentino
de sua mandíbula.
Eu não precisava de Grayson para esclarecer quem ele era. Carter sempre foi o
culpado. Eu balancei minha cabeça, pegando meu café. — Não, ele nem sequer olhou na
minha direção.
— E isso deixa você desconfortável, — concluiu.
— Sim, — eu confessei, tomando meu café. — Sim. Ele está tramando algo. Eu só sei
disso.
Os olhos de Grayson se voltaram para o espelho retrovisor. — Kenna? E você?
— O que você acha? — ela estalou. — Eu não estive sozinho por dois segundos. Eu
não consigo nem fazer xixi sozinha quando estou na escola.
— Você é quem decidiu voltar para casa, — Grayson a lembrou, não a resposta que
ela estava procurando.
— Boa coisa, ou eu ainda não saberia que eu tinha uma irmã, — ela resmungou,
fazendo beicinho com seus lábios brilhantes recém-aplicados.
Grayson parou o carro no semáforo a apenas alguns quarteirões da Academia. —
Brock está te seguindo hoje, — ele informou, olhando para mim.
Eu levantei minha sobrancelha. — Você quer dizer que o rei de Elmwood está me
agraciando com sua presença? A que devo a honra?
Uma sugestão de um sorriso puxou os lábios de Grayson. — Bata a merda fora de
mim. Eu não quero ser pego no meio do seu caso de amor.
O canto da minha boca se contraiu. — Tarde demais, irmão.
Kenna se inclinou para o lado, suas mãos agarrando a parte de trás do meu assento. —
Você e Brock parecem ter chegado perto. Ele geralmente não deixa estranhos entrarem,
especialmente tão rapidamente.
Eu me virei no meu lugar para olhar para ela, porque era estranho falar com ela sem
ver seu rosto. — Eu não teria sobrevivido a esses últimos meses sem ele e a Elite.
— Ah sim. A Elite, — ela disse zombeteiramente. — Eu tinha esquecido o quanto a
escola gira em torno deles quatro. Estar longe nos últimos dois anos me fez esquecer o poder
e a influência que eles exercem. De certa forma, não posso dizer que senti falta. Mas,
novamente, eu fiz.
— Eu sei o que você quer dizer, — eu concordei, devolvendo meu café para o porta-
copos que estava entre Grayson e eu. — Pode ser um pouco demais. Quando cheguei à
Academia, não entendi, por que todos se importavam tanto com a Elite. — Minha voz caiu
em um tom assustador como se eles fossem os grandes lobos maus. — Eu pensei que eles
eram todos idiotas. Venha para pensar sobre isso, isso não mudou. Eles ainda são idiotas
gigantes, eu só gosto deles agora.
— Ei, eu estou no carro, você sabe, — Grayson resmungou.
— Mas, — eu continuei. — Quando você precisa deles, eles sempre parecem estar lá.
É meio estranho. Você só precisa encontrar uma maneira de passar por todas as garotas de
prontidão, as aspirantes loucas e as carrancas ameaçadoras.
Kenna sorriu. — Precisamente. — Ela afundou de volta em seu assento, cruzando as
pernas enquanto uma luz perversa brilhava em seus olhos. — Ouvi dizer que você dormiu
com Brock durante o casamento de sua mãe.
— Kenna! — Grayson assobiou.
Eu sabia que isso viria eventualmente. Eu só esperava que fosse quando eu tivesse
mais sono e pelo menos duas xícaras de café. Acho que não. Também parecia um jab. Talvez
ela não quisesse dizer isso dessa forma, mas pensei que talvez fosse hora de Kenna e eu
falarmos sobre Brock. Eu não conseguia afastar a sensação de que ela estava abrigando
alguns sentimentos de dois anos por ele.
A última coisa que eu queria fazer era criar uma barreira entre mim e a irmã que eu
não sabia que tinha. Este parecia um período crucial para o nosso relacionamento. A forma
como nos demos bem nos próximos meses poderia fazer isso ou quebrá-lo. Eu sabia que nada
disso era fácil para ela, chegar em casa e encontrar um estranho virtual havia entrado em sua
família.
— Está bem. Sério. Neste ponto, não é segredo como eu conheci Brock. — Inclinei a
cabeça para poder ver Kenna melhor no banco de trás. — Você provavelmente vai ouvir um
monte de merda sobre mim. Algumas delas você já conhece. Algumas delas não passam de
mentiras. E algumas são bem verdadeiras, inclusive dormir com Brock. Eu não tenho
vergonha disso. E sabe qual foi a melhor parte daquela noite? Quando Angie entrou.
Não sei o que me fez contar a Kenna esse pequeno detalhe. Parte disso provinha do
ciúme, um ciúme que poderia ser infundado. E parte disso era ver a reação dela, chocá-la,
porque a verdade era que nem sempre fui uma pessoa legal. É uma das razões pelas quais
Brock e eu nos encaixamos tão bem. Nós dois tínhamos escuridão. Ele pode ter mais, mas eu
tinha meu quinhão de cicatrizes.
Kenna piscou.
— Nojento, — Grayson gemeu enquanto girava suavemente o volante. — Guarde
esses detalhes para você. A última coisa que eu preciso de manhã cedo são imagens de você e
Brock nus.
— Então você definitivamente não quer ouvir sobre o que fizemos na outra noite em
seu jipe. — Claro, eu estava blefando. Nós só tínhamos brincado em seu SUV.
O olhar de Grayson disparou para mim antes de retornar à estrada. — Josie, eu juro
por Deus, você está indo para a escola amanhã, e você pode esquecer de pedir um carro
emprestado novamente.
Eu ri.
Grayson virou o jipe para uma vaga de estacionamento vazia bem entre o Land Rover
de Brock e o Hummer de Micah.
Kenna foi o primeiro a sair.
Antes que eu pudesse juntar minhas coisas e alcançar a maçaneta, Brock abriu minha
porta e me puxou para um beijo. — Você está atrasado, Firefly.
Meus lábios formigaram com o beijo. — Manhã difícil.
— Rápido de manhã é o meu favorito, — disse Micah, aparecendo na frente do Jeep
com Grayson.
— Eu vou ficar doente, — disse Grayson, fingindo tossir e apertando o estômago.
Meus lábios se curvaram.
— Parece que o pichador atacou novamente, — Kenna anunciou, seus olhos focados
na frente da escola.
Brock enrijeceu ao meu lado enquanto todos nós olhávamos para o que havia
capturado a atenção de Kenna. Meu olhar seguiu também, meu coração chutando no meu
peito quando vi a pintura. Eu não conseguia entender o que o pichador poderia ter exposto
sobre mim agora.
A tinta spray rosa cobria o gramado meticulosamente bem cuidado da frente da
Academia, brilhante e ousado contra a grama verde. Era difícil ler no estacionamento, então
todos nos dirigimos para a escola. Todos que passavam olhavam e murmuravam.
AVA PODE TER SIDO ABANDONADO. MAS HÁ UMA NOVA CADELA NA
CIDADE.
Olhei de soslaio para Kenna. Ela era a nova cadela na cidade? Ou eles se referiam a
mim? Eu ainda era tecnicamente a garota nova, já que Kenna conhecia a maioria de nossos
colegas de classe a vida toda.
A tensão irradiava entre nós cinco. A última coisa que esta escola precisava era de
outro valentão à mão. — Isso exclui Ava como a culpada? — eu murmurei.
— Visto que ela não apareceu na escola a semana toda, ela parece menos propensa a
ser responsável.
Eu concordei com Grayson.
— Isso não nos diz respeito. Não, a menos que essa pessoa decida usar ações em vez
de palavras. Não temos tempo para nos preocupar com brincadeiras do ensino médio, —
afirmou Brock.
Certo. Havia um estuprador ainda vagando pelos corredores da Elmwood Academy.
CAPÍTULO NOVE

Fiquei depois da escola para ver os rapazes praticarem. Já fazia um tempo, e eu sabia
que todos se sentiam melhor sabendo onde eu estava. Como se tivesse se tornado uma
segunda natureza, cada um deles se revezou me procurando nas arquibancadas durante o
exaustivo exercício e jogo de scrimmage que o treinador Q os colocou.
A única queda…
Cárter estava lá. Passamos a duração da prática trocando olhares de morte. Eu não sei
como o bastardo teve a coragem de mostrar seu rosto depois de invadir a casa de Brock. A
última coisa que eu queria fazer era dar crédito ao meu ex-meio-irmão por qualquer coisa. Eu
não conseguia parar de olhar para ele, me perguntando qual esquema maligno ele estava
tramando em seguida.
— Pare, — Mads insistiu, jogando um braço em volta do meu ombro. — Se você
olhar com mais força para Carter, suas bolas entrarão em combustão espontânea.
Eu inclinei minha cabeça em direção a ela. — E isso seria uma coisa ruim como?
Ela levou aos lábios o cigarro que mantinha escondido embaixo da arquibancada,
dando uma tragada rápida enquanto o treinador Q não estava olhando. — Bom ponto, —
disse ela, exalando uma baforada de fumaça. — Olhe para longe, porque agora eu quero
desesperadamente ver o lixo dele pegar fogo.
Eu franzi meu rosto em desgosto. Normalmente a fumaça do cigarro me incomodava,
mas de alguma forma com Mads, eu não parecia me importar. Talvez fosse o jeito que se
misturava com o perfume dela que eu não achava repugnante. — Você pode imaginar o
cheiro? Não, obrigado.
Brock jogou a bola no campo, e eu assisti enquanto ela espiralava direto para as mãos
de Micah. — A propósito, onde está Kenna? — Eu perguntei, voltando minha atenção para
Mads.
Ela revirou os olhos cinzas enquanto tirava o braço do meu ombro e passava o cigarro
para a outra mão. — Tentando recuperar seu lugar no time de líderes de torcida. — Pelo tom
de sua voz, eu poderia dizer o que Mads achou da ideia.
Meus olhos dispararam mais uma vez para Carter, depois que eu disse a mim mesma
que não olharia para o idiota novamente. — Isso é uma boa ideia, considerando quem está no
time de futebol?
Batendo a ponta do cigarro contra o assento de metal, as cinzas caíram no chão. —
Exatamente! Esse era o meu ponto. Ela não vai me ouvir. Talvez você possa falar com ela.
Carter caiu no chão com um baque, o barulho do estofamento de plástico ecoando
pelo campo. Grayson caiu com força em cima dele. O sofá Q soprou seu apito longo e forte.
Os caras ainda deram todos os tiros possíveis em Carter. Acho que eles vieram treinar só para
ter a chance de colocar as mãos nele.
— Duvidoso, — eu respondi, observando Grayson se afastar lentamente de Carter. —
Kenna e eu não conversamos muito. — A menos que fosse sobre Brock.
— Três é uma multidão? — Mads adivinhou.
Puxei meu suéter de malha da Academia mais apertado ao meu redor enquanto uma
brisa fresca soprava pelo campo e nas arquibancadas. — Você não pensaria assim, mas eu
meio que sinto que ela pensa que eu estava tentando roubar a vida dela. E eu podia ver como
ela veria assim. — Suspirei. — Eu não quero substituí-la. Eu realmente quero ser amiga dela.
Mads escovou uma mecha de seu cabelo, que tinha soprado em sua boca. — Mas você
está tendo dificuldade em se conectar.
Eu balancei a cabeça. — Não tenho certeza se temos muito em comum além de você e
a Elite. Ela disse alguma coisa para você?
Ela brincou com o cigarro quase apagado. — Uh-
— Merda, desculpe. Eu não queria colocá-lo em uma posição embaraçosa. Eu nunca
pediria para você escolher entre nós. Eu provavelmente deveria reservar as queixas de Kenna
para Ainsley, o que me lembrou, eu realmente precisava ligar para ela. Este foi o tempo mais
longo que já passamos sem falar. Eu odiava a distância que havia crescido entre nós.
Mads sorriu. — Eu sei. Somos amigos, e é natural que você queira falar comigo sobre
o que está acontecendo em sua vida, incluindo Kenna. Para ser franco, ela é... diferente. E
não consigo descobrir se ela está sobrecarregada com tudo ou se realmente mudou.
Eu não conseguia me perguntar se a mudança que Mads viu foi para melhor. Outro
golpe duro caiu sobre o campo, chamando minha atenção. Desta vez, era Carter pairando
sobre Micah.
Porra.
— Uma briga está prestes a começar, — eu murmurei.
— Sim, — Mads concordou, enquanto nós dois assistimos Grayson vir correndo pelo
campo de futebol, batendo em Carter por trás. Segundos depois, o apito do treinador Q soou,
seguido por sua fúria. Maddy balançou a cabeça. — Rapazes. Eles são tão previsíveis.
O treinador chamou o treino depois disso, jogando uma toalha branca no ar. Sua
cabeça careca recém-raspada brilhava vermelha de fúria. Eu me senti mal pelo treinador Q.
Esse time e o jogo significavam muito para ele e para a escola – era a carreira dele. Elmwood
tinha a reputação de vencer, e o treinador podia ver o troféu escapando deles quando seus
craques se desintegraram.
A equipe resmungou e gemeu enquanto se dirigia para o vestiário. Carter se perdeu no
meio do grupo, mas meus olhos o identificaram. Ele lentamente recuou até ser o último em
campo.
Eu estava de pé e fora do meu assento, agarrando a mão de Mads antes que eu pudesse
adivinhar o que estava fazendo. — Vamos, — eu disse para minha prima, puxando-a escada
abaixo.
Ela tinha outro cigarro entre os dedos enquanto gritava atrás de mim. — Eu sei que
você está quente pelo pau de Brock, mas qual é a pressa? Ele ainda tem que tomar banho.
Um pequeno sorriso brincou em meus lábios, apesar do peso repentino pressionando
meu peito. — Isso não é sobre Brock. Ele provavelmente vai me matar se descobrir. A merda
estúpida que eu fiz, e ainda assim isso não me impediu. — Carter! — Chamei antes que Mads
percebesse o que eu estava fazendo.
Ela tirou a mão dos meus dedos. — Que porra é essa, Josie, — ela sussurrou baixinho.
O estrago já estava feito. Carter me ouviu, e o idiota fez uma pausa, virando-se. Os
retardatários ainda estavam pendurados nas arquibancadas e nas laterais, e dois dos
assistentes técnicos estavam em campo pegando equipamentos. Eu não estava sozinho, e o
conhecimento me fez mais corajosa do que teria sido em outra situação.
O capacete de Carter pendia de seus dedos, e suor cobria seu couro cabeludo,
deixando as mechas cor de areia selvagens. Ele passou a mão livre pela bagunça úmida.
Quando seu olhar pousou em mim, um sorriso se espalhou por seus lábios.
Eu queria socá-lo na garganta. Eu queria tirar sangue.
— A resposta é não, — ele disse presunçosamente.
— Você nem sabe a pergunta, — eu retruquei rapidamente, mantendo minhas costas
retas enquanto o encarava.
Mads pode não estar feliz com minha escolha de arrastá-la comigo, mas como uma
verdadeira amiga, ela me protegeu. — Você realmente quer morrer, não é? Se você for pego
falando com ela, o que você acha que vai acontecer? — ela desafiou.
Ele deu a Mads um olhar azedo e voltou a ignorá-la. — Eu não quero os segundos
desleixados de Brock.
Eu bufei, meus dedos enrolados em minhas palmas, unhas cravadas na minha pele. —
Mentiroso. Você aproveitaria a chance de me foder.
Então ele foi e disse a única coisa que ele sabia que me faria ficar vermelho. — Kenna
está de volta. Para que eu preciso de você?
Mads perdeu então. — Se você olhar para ela, porra, — ela rosnou, avançando para
Carter.
Eu agarrei seu braço, puxando-a de volta para o meu lado. Eu não confiava em Carter.
Mads jogou o cigarro na cara dele.
Carter apenas riu.
Mantendo um aperto firme no braço de Mads, dei um passo para frente, colocando-me
ligeiramente na frente dela e arrastando: — Isso não é sobre você ou eu.
Ele mordeu a isca. — O que é isso então?
Eu mastiguei o interior da minha bochecha. — Como está Angie?
O saco de bolas zombou. — Bêbado, como sempre. Seria uma pena se algo
acontecesse com ela. Um tombo na escada, talvez.
— Se você machucá-la, eu vou arrancar seu pau e mostrar a todos o quão pequeno ele
é, — eu ameacei, querendo dizer cada palavra, e eu deixei ele ver.
Uma gota de suor escorreu por sua testa. Ele limpou com as costas da mão, a luva
preta ainda cobrindo os dedos. — O que você se importa com o que acontece com a cadela
que sequestrou você?
— Eu só fodido, — eu atirei de volta. — Está claro?
— Qualquer que seja. Ela não é da minha conta. Eu não poderia me importar menos
com o que sua mãe faz ou quem ela faz. Merda. Talvez eu leve essa buceta de puma para um
test drive.
Ele estava propositalmente tentando me irritar. E estava funcionando. — Qual é o
sentido de tudo isso? O que você espera ganhar? — Eu sinceramente perguntei, esperando
entender um pouco sua mente distorcida.
— Vingança.
— Não sei por que me incomodo. Você nunca será um humano decente.
— Como você? — Ele riu. — Você pode descobrir até onde está disposto a ir para
salvar alguém que ama.
Eu inclinei minha cabeça para o lado. — Diga-me, Carter, quem você ama então?
— Eu mesmo, — ele respondeu sem hesitação.
— Sua bunda deve estar com muita inveja de toda a merda que sai da sua boca, — eu
disse, desgosto grosso em minha voz.
O olhar de Carter deslizou sobre minha cabeça um segundo antes de alguém irritado
dizer: — Temos algum problema aqui?
Eu me virei ao som da voz ameaçadora de Brock. Ele ficou rígido com a Elite ao seu
lado.
Micah estalou os dedos com um sorriso. Ele queria bater a merda viva fora de Carter.
Fynn franziu a testa, cada centímetro glorioso dele rígido de tensão. Grayson flanqueou o
outro lado de Mads.
Um músculo ao longo da mandíbula de Brock se contraiu. Ele estava fodidamente
chateado e fazendo o seu melhor para manter esse temperamento crescente sob controle. E
realmente, eu não podia culpá-lo.
Carter adorava brincar com fogo. Brock só precisava de uma pequena faísca para
acender toda a força de sua raiva. — Você pode querer manter sua garota em uma coleira
mais curta. Você nunca sabe quando a merda pode explodir.
— Se eu jogasse um pedaço de pau, você iria embora? — Eu retruquei, incapaz de
parar as palavras voando dos meus lábios.
Brock inclinou a cabeça para o lado, seu peito subindo. — Isso é uma ameaça?
— Quando nossas conversas não terminam com ameaças? Eu odiaria quebrar a
tradição. Eu preciso tomar banho. Vou me certificar de enviar seu amor para Angie, — ele
disse para mim com um sorriso de merda que me fez desejar que Brock já tivesse batido nele.

***
Na sexta-feira, o pichador atacou novamente, outra nova mensagem espalhada para
todos verem. Desta vez estava esparramado na porta do banheiro feminino do lado de fora do
laboratório de ciências no segundo andar.
KENNA NOVO E MELHORADO? NÃO DEIXE ELA TE ENGANAR. ELA
NÃO É TÃO DOCE QUANTO PARECE.
— Quem é esse idiota? — Mads refletiu enquanto ela, Fynn e eu encarávamos o
grafite rosa.
— Isso não parece com o Carter, — eu respondi, deslizando um dedo pela tinta.
Estava seco. Não que eu esperasse que estivesse molhado. Alguém tinha que estar invadindo
a escola à noite para enviar essas mensagens. — Mas parece pessoal, — acrescentei.
— Eu concordo, — disse Fynn, seus olhos verdes frios. — Você vai estar no jogo
hoje à noite, certo? — ele perguntou.
Rápido. Pense em uma mentira. O problema era que eu era péssimo em mentir. Mas
eu era bom em desviar. — Você está preocupado com a minha segurança?
Ele sorriu. — Sempre. Como cada segundo de cada dia. Eu não sabia que uma única
garota poderia se meter em tantos problemas.
Revirei os olhos. — Muito dramático. Você está começando a soar como Micah.
— Ai. Falando em Micah... — O olhar cintilante de Fynn mudou para Mads enquanto
passávamos pelo banheiro e entramos na sala do laboratório ao lado. — Ele parece estar te
cansando, Clarke.
Ela bufou. — Ele deseja. Em seus malditos sonhos, é a única maneira de Micah
conseguir chegar a algum lugar comigo novamente.
Suas palavras podem ter transmitido convicção e força de vontade de ferro, mas eu
sabia que Mads tinha uma fraqueza pelo playboy, gostasse ou não. Seu corpo poderia ter
gritado que Micah não tinha chance no inferno, mas como Fynn, eu estava um pouco
preocupada com minha amiga. Às vezes, eu pensei que Micah poderia realmente gostar de
Mads, mas no próximo fôlego ele estaria cercado por três garotas ou eu o peguei beijando
garotas aleatórias.
Isso me deixou confuso. Eu não conseguia imaginar como Mads se sentia em relação
a ele. Irritado, imaginei. Micah parecia incitar duas emoções em meu melhor amigo. Raiva. E
desinteresse.
Mas, quando ela pensou que ninguém estava prestando atenção, eu a peguei
observando Micah com outra emoção, uma que a deixou vulnerável. Eu não queria ver meu
amigo machucado novamente.
Talvez, eu precisasse ter uma conversa séria com o flerte de Elmwood.
CAPÍTULO DEZ

Sexta à noite foi meu primeiro turno no Lazy Ray's. Os caras também tiveram um
jogo de futebol, que funcionou a meu favor. Enquanto eles jogavam uma bola e lutavam na
terra, eu servia as mesas. Bem, aprendendo a. Quão difícil poderia ser embaralhar alguns
hambúrgueres e cervejas para um bando de caras motoqueiros?
Além de Brock e Mads, eu não tinha contado a ninguém sobre meu trabalho de meio
período, nem mesmo Liana e Chandler. Por um lado, eu sabia como Brock que eles tentariam
me convencer de que um emprego não era necessário. E por mais que eu apreciasse o que
eles tinham feito por mim, eu não estava confortável com eles por tudo. Eu precisava me
sustentar, precisava do meu próprio dinheiro, precisava me sentir independente. E até que eu
tivesse certeza de que esse emprego estava travado, eu não queria lidar com a decepção de ter
que contar a alguém que eu fui demitida.
Eu deveria saber em Elmwood, nada fica escondido.
Uma vez que os caras estavam no ônibus para o jogo em uma escola vizinha, eu saí no
Jeep de Grayson. Fiquei chocada por Brock não ter insistido que eu pegasse o ônibus com ele
para o jogo fora de casa, mas já que Carter estava lá, eu entendi por que ele não tinha feito
isso. Eu não poderia imaginar ser enfiado em um ônibus com a Elite e Carter. Fale sobre a
porra de tenso.
Brock assumiu que eu estaria saindo com Mads e Kenna esta noite, mas apenas Mads
sabia a verdade, algo que ela me repreendeu, mas ela também entendeu. Eu sabia que Brock
descobriria; ele sempre fez. Eu só queria que fosse depois que meu turno acabasse. Eu segui o
lema — é melhor pedir perdão do que pedir permissão, — não que eu precisasse da
permissão de Brock para nada. No entanto, eu tinha certeza de que a decisão iria me morder
na bunda, mas isso estava no futuro. Eu estava vivendo no agora.
E agora, eu tinha um emprego para garantir – dinheiro para ganhar.
Rapidamente olhando pela janela, eu me certifiquei de que não havia ninguém no
estacionamento e troquei meu uniforme da Academia por algo mais confortável para uma
noite de mesas de garçons. Prendendo meu cabelo em um coque bagunçado, eu pulei para
fora do Jeep e entrei no Lazy Ray's.
Ray Graham parecia sexo em uma vara. Tudo o que eu conseguia pensar quando pus
os olhos nela pela primeira vez foi graças a Deus que Micah não estava aqui. Ele iria comê-
la imediatamente. Ela me lembrou Mads, mas mais áspera nas bordas, menos refinada. Seu
cabelo loiro escuro caía em ondas naturais e sempre parecia que ela tinha acabado de descer
da traseira de uma motocicleta. Suas pálpebras estavam esfumaçadas, acentuando a cor e a
forma de seus olhos verdes claros que só aumentavam o apelo sexual. Ela usava um jeans
rasgado semelhante ao meu e uma camiseta branca que estava amarrada em um nó logo
abaixo dos seios.
— Bem, se não é Josie James, — Ray cumprimentou, ziguezagueando em torno de
uma mesa em que ela tinha acabado de derrubar duas canecas de cerveja, e veio em minha
direção. Até sua arrogância e voz eram sexy.
Eu fiquei tensa por um momento antes de expirar e sorrir. Ver o rosto dela fez minha
vida no Public parecer um milhão de anos atrás. Isso me fez pensar como seria minha vida se
eu nunca tivesse ido embora. Não adianta insistir no que não pode ser. — Aposto que você
nunca pensou que me veria novamente. — Não que tivéssemos nos visto muito no Public.
Nem Ray nem eu corremos na mesma multidão.
— Claro, meu irmão iria contratá-lo, — disse ela, seus olhos me olhando da cabeça
aos pés. — Que cara não faria?
Enfiei minhas mãos nos bolsos traseiros do meu jeans. — Obrigado, eu acho.
Seus lábios franzidos lutaram contra um sorriso. — Sorte nossa, em um lugar como
este com homens mais velhos privados de sexo, sua aparência funciona a nosso favor.
Meu olhar fez uma varredura rápida do lugar. — Bom saber.
— Eu juro, caras literalmente só pensam com seus paus. Eu admito, meu primeiro
pensamento quando Zeke me disse que estava lhe dando um julgamento foi que ele queria
entrar em suas calças. Aviso justo, ele ainda pode.
— Droga, Ray! Eu posso ouvir você, — Zeke chamou do bar. Como ainda era bem
cedo, o pub não tinha muitos clientes, apenas alguns para uma cerveja depois do trabalho.
— Essa é a questão. Estou cansado pra caralho de você transando com meus amigos,
— Ray gritou de volta. Ninguém no bar piscou um olho, como se estivessem acostumados
com o irmão e a irmã brigando como se fosse uma ocorrência regular. E eu tinha uma
suspeita sorrateira que era.
Zeke sorriu para mim, enchendo um copo com gelo. — Ainda bem que Josie não é
sua amiga.
Ray fez um grunhido no fundo de sua garganta como se ela pensasse que seu irmão
era o maior idiota do mundo. — Ainda não, ela não está. — Ray voltou seu olhar para o meu,
revirando os olhos. — Ignore o perdedor atrás do bar. Eu costumo fazer.
Eu estava no trabalho há menos de cinco minutos e já sabia que adoraria trabalhar
aqui. Ou, pelo menos, aproveite as brincadeiras dos donos. — Ignorar idiotas é minha
especialidade.
Ela riu. — Eu acho que você vai se sair bem. Vamos experimentá-lo hoje à noite e ver
como você se encaixa. E se você não fizer isso, sem amarras. Eu vou te pagar pela noite e
provavelmente nunca mais te verei.
— Soa como um plano. Só para você saber, eu agradeço a chance, — eu respondi.
Ray me olhou enquanto colocava uma caneta atrás da orelha. — Não sei por que uma
garota que se mudou para o lado superior de Elmwood precisa de uma chance, mas não é da
minha conta.
E meu respeito por Ray aumentou um pouco. Durante a hora seguinte, Ray examinou
o básico enquanto o bar ainda estava lento, mostrando-me como o sistema de computador
funcionava, os itens do menu, que bebidas serviam, o que Zeke faria principalmente, já que
nem Ray nem eu tínhamos 21 anos. Mas o Lazy Ray's me pareceu o tipo de estabelecimento
que gostava de quebrar as regras.
— Bem-vindo a bordo, Spunky, — Zeke cumprimentou enquanto Ray me mostrava
onde eles guardavam os copos.
— Zeke, olhe para o bar e mantenha suas malditas mãos longe dela, — Ray
repreendeu. — Não estamos misturando negócios com prazer... de novo, — acrescentou.
Os lábios de Zeke se contraíram. — O que você disser, Ray. Ele piscou para mim.
Acompanhei Ray a maior parte da noite, ajudando quando podia. Algumas horas
depois, o lugar ficou tão cheio que eu não sabia como eles conseguiam reunir tanta gente.
Nesse ponto, eu não tive escolha a não ser entrar e pegar quantas mesas eu conseguisse, e
quando a pressa acabou, me senti bem - me senti bem, empolgado.
— Muito louco, hein? — Ray perguntou quando finalmente tivemos um momento
para respirar e fazer uma pausa. Ela afundou em uma das cadeiras do bar. Eu peguei o ao lado
dela. Um momento depois, Zeke colocou duas cervejas abertas no bar.
— Você merece, — disse ele, notando minhas sobrancelhas levantadas. — Então, o
que você acha, Ray? Spunky é um goleiro?
— Eu admito, eu tinha minhas dúvidas sobre você, mas acho que você encontrou uma
maneira de se encaixar em dois mundos. — Ray ergueu a cerveja no ar e sorriu. — Já estava
na hora de eu conseguir ajuda aqui.
Sorrindo, eu bati o gargalo da minha garrafa de vidro com o dela.
— Aqui. — Zeke me jogou algo debaixo do bar. — Você vai precisar disso.
Peguei o pacote branco e desdobrei para encontrar uma camisa do Lazy Ray como a
que Ray usava. — Acho que vou ficar toda emocionada, — eu disse, fingindo uma fungada.
— Você está livre amanhã à noite? — perguntou Ray.
— Eu sou agora.
A porta soou atrás de nós, e Ray gemeu. — Parece que o intervalo acabou. Vamos
receber alguns retardatários tarde da noite agora que os jogos de futebol terminaram.
Merda. Eu estava tão ocupada que tinha esquecido completamente de Brock. Meu
telefone estava no meu bolso de trás no silencioso. Eu estava meio com medo de me virar por
medo de que fosse Brock carrancudo na porta. Mas não era Brock parado na frente do pub.
Eu exalei, aliviada por ver Mads e Kenna. — O que vocês estão fazendo aqui?
Mads olhou para Ray com cautela. — Apenas verificando você.
— Eles são amigos seus? — perguntou Ray.
Eu balancei a cabeça.
— Eu vou deixar você cuidar deles. Meus pés estão me matando. — Ray pulou do
banco, levando a cerveja com ela enquanto ela se arrastava para a cozinha.
Conduzi Mads e Kenna a uma mesa na extremidade do pub. — Ok, me diga o que
realmente está acontecendo.
— Brock está vindo para cá, — Mads anunciou. — Você não respondeu a nenhuma
das mensagens ou ligações dele.
Filho da puta. — Agora? — Eu gritei, meus olhos correndo para a porta, meio
esperando vê-lo entrando. Eu sabia que esse momento era inevitável, mas agora que estava
quase chegando, eu não estava preparada. — Tenho andado meio ocupado.
— Por que você está trabalhando aqui? — Kenna perguntou, olhando para o bar mal
iluminado como se fosse um casebre infestado de ratos. Seu nariz enrugou.
— Por que alguém trabalha? Dinheiro, — eu respondi, tentando manter o sarcasmo do
meu tom.
— Você percebe que somos ricos, — ela declarou sem piscar. Não foi dito com
malícia. Para Kenna, era apenas um fato.
Eu fiz uma careta. — Minha situação é um pouco complicada.
Ela piscou. — Não precisa ser.
— Vocês ainda estão servindo? — Mads se intrometeu, sentindo a tensão crescente
entre Kenna e eu. Minha irmã e eu não poderíamos ser mais diferentes, e isso se mostrava
quanto mais nos conhecíamos.
— A cozinha fica aberta por mais uma hora, e depois é só o bar. Vocês querem algo
para beber ou comer? — Eu perguntei, precisando fazer algo além de ficar aqui e esperar
Brock vir correndo como o próprio diabo pelas portas da frente.
Sem olhar para o menu, Kenna sorriu e disse docemente: — Vou tomar uma cerveja
—.
Meus lábios viraram para baixo quando mudei a maior parte do meu peso para um pé.
— Sim, não está acontecendo.
— Você estava bebendo um, — ela apontou obedientemente com o que eu estava
reconhecendo como seu biquinho característico.
— Privilégios do empregado. E não quero ser demitido no meu primeiro dia. — Eu
tinha acabado de conseguir a porra do emprego pelo amor de Deus.
Eles acabaram pedindo coca-cola e um aperitivo. Eu rapidamente fiz o pedido deles,
peguei as bebidas e voltei para a mesa. Depois de verificar para ter certeza de que ninguém
mais precisava de nada, eu desabei em uma cadeira em frente a Mads, um longo suspiro
exalando dos meus lábios.
Mads tomou um gole pelo canudo, me olhando por cima do copo. — Você parece
cansado.
— Cadela... — Eu sorri, rolando meu pescoço em uma triste tentativa de resolver as
torções. — —Estou fodidamente exausto. Essa merda de restaurante não é brincadeira, — eu
admiti.
— Quer sair e fumar um cigarro? — Ela parecia tão esperançosa que eu realmente me
senti mal.
O nariz delicado de Kenna se enrugou. — Nojento, eu ainda não consigo acreditar que
você chupa essas coisas. Há coisas melhores para chupar.
Mads cuspiu sua bebida, rindo. — Vagabunda.
Um grupo de garotos da Academia entrou, preenchendo três das mesas. Ray acenou
para que eu ficasse enquanto ela se aproximava para cumprimentá-los. — Desde quando as
pessoas da Academia ficam aqui? — Eu perguntei.
— Desde que se espalhou a notícia de que a namorada de Brock Taylor trabalha aqui,
— Kenna informou.
Já? Como o f—
O rosto de Mads congelou quando seu olhar se ergueu sobre minha cabeça, seu
canudo a meio caminho de sua boca. Então os arrepios irradiaram sobre minha pele, e eu
soube antes mesmo que ele falasse que Brock tinha entrado no bar.
— O que você está fazendo?
Ao som daquela voz irritada e profunda, fechei os olhos e exalei. Lentamente, virei
minha cabeça para o lado e olhei para cima para encontrar a expressão severa de Brock. Ele
havia tomado banho recentemente e usava jeans escuros e uma camisa branca. Meus olhos o
devoraram ao mesmo tempo em que me senti puxada para ele. — Como você me achou? —
Eu perguntei, meus sentidos inundados pelo cheiro dele.
— Eu sempre vou te encontrar, Firefly. Agora responda a pergunta, — ele rangeu.
— O que parece que estou fazendo? Estou trabalhando. Agora saia antes que você me
coloque em apuros.
Ele não fez tal coisa. Em vez disso, ele virou a cadeira ao lado de Kenna e a montou.
— Você faltou ao jogo esta noite.
— Foi minha primeira noite. — Um arrastar de cadeiras soou atrás de mim, e eu sabia
sem olhar que a Elite havia chegado. Micah, Fynn e Grayson puxaram cadeiras extras,
colocando-se entre nós. A mesa definitivamente não era grande o suficiente para sete de nós,
então me levantei, oferecendo meu lugar para um dos caras. — Agora que você trouxe
metade da Academia com você, eu tenho que voltar ao trabalho.
— Não vá embora. Ainda não, — Micah implorou, me oferecendo um sorriso com
covinhas. — Você ainda não pegou meu pedido.
— Vocês não vão ficar, — eu insisti.
Ninguém na mesa moveu um músculo.
Eu estava cansado demais para discutir. — Tudo bem, — eu bufei, cedendo. — O que
você quer?
Os caras recitaram vários itens do menu, e eu os rabisquei no pequeno bloco branco.
— Pequeno lugar pitoresco que você escolhe para trabalhar, — disse Grayson.
Atirando-lhe um sorriso sarcástico, eu o afastei quando fui fazer seus pedidos.
Alguém assobiou enquanto eu me afastava. Tenho certeza que era Micah.
— Pare com isso, — eu ouvi Brock resmungar antes que suas vozes se perdessem na
conversa da multidão.
Enquanto eu estava sentado por esses poucos minutos, várias outras crianças
entraram. Desta vez era um grupo do Público.
Ray saiu da cozinha enquanto eu fazia o pedido, uma bandeja de bebidas em sua mão.
Ela os deixou na mesa e cumprimentou outro enquanto eu terminava de digitar as bebidas e
comida para a Elite. Ray deu um pequeno choque no meu quadril com o dela, e eu dei um
passo para o lado, deixando-a usar a máquina. — Você não mencionou que Brock Taylor é
seu namorado.
Como ela descobriu isso? Sem dúvida, os rumores sobre mim também estavam se
espalhando pelo Público. Parecia que eu não poderia escapar deles, não importa onde eu
tentasse me esconder. — Não achei importante.
— Ele é uma Elite. A Elite, — ela enfatizou, dando uma olhada por cima do meu
ombro.
— Eu sei, — eu suspirei com uma pitada de aborrecimento. Às vezes eu só queria ser
normal e me misturar com todo mundo, uma tarefa quase impossível quando você era amigo
dos quatro.
— Além de ser lindo, ouvi dizer que ele é um idiota. Sem ofensa, — acrescentou.
— Nenhuma tomada. E você não está errado. Brock é um idiota, mas não para aqueles
que estão perto dele.
— Figurado. Você não me parece alguém que aguentaria besteira.
— O fato de eu conhecer a Elite será um problema? — Melhor lidar com isso agora.
Eles eram um acessório permanente na minha vida, não algo que eu pudesse remover. E nem
eu queria.
Ray foi até o bar para pegar suas bebidas com Zeke. Eu acompanhei. — Eu não vejo
como, especialmente se eles continuarem pedindo e trazendo suas groupies, — ela disse.
Revirei os olhos. — É tão irritante como todos na escola os seguem.
— E os seus amigos? Eles são…? — ela pediu, notando que a Elite estava sentada
com eles e não o contrário, o que teria sido o protocolo normal.
Ajustando meu cabelo em um coque bagunçado fresco, o cheiro de pizza, cerveja e
graxa pairava no ar, grudado em minhas roupas, minha pele e sim, meu cabelo. — Minha
irmã e meu primo, — eu respondi, lançando um olhar na direção deles. Kenna riu de algo
estúpido que Micah disse.
— Espere. Você é filho único — proclamou Ray, sobrancelhas franzidas e
justificadamente confusa.
Porcaria. Essa parte da minha vida ainda não havia sido divulgada como de
conhecimento público, e eu não tinha certeza se estava pronta para divulgar todos esses
detalhes. — Longa história, — eu simplesmente respondi.
Esperei que Ray voltasse com as perguntas de acompanhamento, me forçando a
contar a ela, porque era óbvio que eu estava escondendo alguma coisa. A natureza humana
nos deixou curiosos, mas Ray me surpreendeu. — Bem, você sempre precisa de alguém para
descarregar, eu sou um bom ouvinte.
Algo me dizia que Ray era exatamente isso. Alguém em quem eu pudesse confiar e
me apoiar. Engraçado como nunca saíamos na escola, e ainda assim, eu senti mais um
vínculo com ela depois de uma noite do que com minha irmã depois de uma semana.
Totalmente ferrado.
Algumas pessoas com quem você clicou instantaneamente. Eu só queria que Kenna e
eu tivéssemos.
Peguei a comida quando estava pronta e trouxe-os para a mesa, notando que Brock
tinha virado sua cadeira para frente novamente. — Vocês ganharam o seu jogo? — Eu
perguntei. Tem sido um começo difícil para a temporada, graças a todo o drama da equipe
interna entre a Elite e Carter. Se eles começassem a perder jogos, isso poderia prejudicar seu
futuro.
— Que tipo de pergunta é essa, JJ? — Fynn perguntou, sua expressão cheia de
autoconfiança.
Micah deixou cair um braço atrás da cadeira de Mads. — Claro que ganhamos.
Mads prontamente empurrou a mão dele, derrubando-a das grades traseiras de sua
cadeira. — Mãos para si mesmo, Bradford.
Micah riu, amando cada segundo que teve sob a pele de Mads.
— Existe uma festa? — Pergunta idiota. Sempre havia uma festa. A pergunta que eu
deveria ter feito era onde era a festa.
Brock inclinou a cabeça. — Você pode apenas me perguntar se eu vou a uma festa.
— Quem disse que eu me importo? — Eu retruquei, mas na verdade, foi precisamente
por isso que eu perguntei. Não que eu não confiasse nele para ir a uma festa sem mim. Era
em cada garota que eu não confiava.
O que me fez pensar. Eu confiava em Brock? Ele me disse uma e outra vez que ele
não era material para namorado, e ainda assim, aqui estávamos em um relacionamento.
Eu estava perdido em minha cabeça quando Brock agarrou meu pulso e me puxou
para baixo em seu colo. — Você não tem nada para se preocupar, — ele sussurrou em meu
ouvido. — Além disso, eu não quero festa. Quero você. — Suas mãos deslizaram ao redor de
meus quadris para minhas coxas, movendo-se entre minhas pernas.
Uma lança de desejo se espalhou por mim com a sensação de seu toque. — Não
posso. Meu turno não acabou, — eu consegui dizer, minha voz rouca demais para o meu
gosto, e minha tentativa de me livrar de seu aperto acabou sendo uma má ideia. Isso fez com
que minhas bochechas esquentassem, sabendo que todos na mesa poderiam adivinhar por que
de repente eu estava tão fodidamente corada.
— Eu não vou sair daqui sem você, Firefly.
Revirei os olhos. — Só porque você rosna para mim não significa que eu tenho que te
ouvir. Não posso sair até que este lugar seja esvaziado. E não se atreva a tentar me tirar
daqui, — eu avisei, sentindo seus músculos vacilarem. Eu levantei a mão para afastá-lo.
— Multar. Eu cuidarei disso. — Brock me entregou seu cartão. — Fechar nossa
conta.
Eu pisquei. — Você está indo.
— Se for a única maneira de tirar você daqui, então sim. Estarei no estacionamento.
Não me faça esperar muito, Firefly. Você não vai gostar das repercussões, — ele avisou, mas
a mão entre minhas pernas sugeria um tipo de punição diferente do que sua voz sugeria. Eu
não sabia o que era mais ameaçador.
— Brock, — eu assobiei, mas ele me levantou de seu colo.
A outra Elite seguiu, já de pé e fora de suas cadeiras. Era como se todos no bar
observassem cada movimento deles. Brock se contorceu, e todos estavam prontos para pular.
Quando a Elite foi embora, todos os outros foram embora nos próximos vinte minutos,
enquanto Ray e eu corríamos para fechar as guias. As mesas esvaziaram tão rápido quanto
encheram.
Quarenta minutos depois, Ray estava sentado no bar, contando as gorjetas e as vendas
enquanto eu enchia os saleiros e pimenteiros. Descansando depois da correria, levei meu
tempo arrumando as coisas, sem pressa, independentemente de saber que Brock estava
esperando por mim do lado de fora do prédio.
— Isso foi... interessante, — disse Zeke enquanto limpava o bar, guardando copos
limpos e copos.
— Sim, — eu concordei, olhando para o bar quase vazio.
— Ainda meio impressionante, — Ray disse, sorrindo.
— Não os deixe ouvir você dizer isso, — eu gemi, enchendo o último dos saleiros.
Um sorriso torto tocou os lábios de Zeke. — Eu tive um pressentimento sobre você.
Ray enfiou uma pilha de notas em uma bolsa com zíper. — Eu tenho que te lembrar
que ela tem namorado? Um que vai chutar sua bunda em todo o país, devo acrescentar.
— Quando levar um chute na minha bunda me impediu de fazer alguma coisa? —
Zeke respondeu como se fosse algo para se gabar.
— Bom ponto. Isso só mostra o quão burro você é. — Girando a banqueta, Ray me
encarou. — Vejo você amanhã, Corajoso. — Ela me entregou uma pilha de notas, e eu
levantei minha sobrancelha. — Suas dicas para a noite.
Piscando, peguei o dinheiro. Havia um monte de singles e fives, mas parecia mais do
que eu esperava fazer em uma única noite. — Eu me sinto como uma stripper que não ficou
nua.
Ela riu. — Melhor show.
Com meu bolso cheio de mais dinheiro do que eu tinha em muito tempo, eu acenei
adeus para Ray e Zeke, saindo para a noite animada. Eu pensei que seria apenas Brock e a
Elite esperando no estacionamento, não metade da maldita escola. Internamente eu gemi,
vendo todas as pessoas que se reuniram, sentadas em seus carros, descansando contra o
prédio de tijolos vermelhos desbotados e angustiados. Bem, já foi vermelho. Estava mais
branco e cremoso agora. Alguém tocou música de seu carro, o baixo sendo levado pelo vento.
Encontrei Brock e a Elite no final do estacionamento, sob um poste de luz. Mads
estava sentada no capô do carro, um cigarro entre os lábios. Micah e Grayson estavam
sentados dentro do Jeep de topless, o carro em que eu dirigi até aqui. Estava muito frio para
dirigir o jipe sem o teto e as portas. Brock se inclinou contra seu SUV com Fynn, Kenna entre
eles. Ela estava com a mão no braço de Brock, rindo. Eu disse a mim mesma que não era
grande coisa o quão próximos eles eram, que era ridículo ter ciúmes.
Mas dizer a mim mesma essas coisas não fez as emoções desaparecerem, não importa
o quanto eu quisesse. E eles eram extraordinariamente difíceis de controlar quando eu estava
exausto.
No segundo que Brock me notou, seus olhos me seguiram enquanto eu cruzava o
estacionamento. Era impossível que meu corpo não fosse afetado por aqueles olhos. Havia
algo na maneira como ele olhava para mim. Era como se ele me visse de uma forma que
ninguém mais via, visse os pedaços de mim que ninguém se deu ao trabalho de ver. Brock,
ele notou tudo em mim. Apesar de estar irritada com a festa no estacionamento e Kenna
flertando com meu namorado, ou talvez por esses motivos, fiquei na ponta dos pés quando o
alcancei e pressionei meus lábios nos dele em um beijo por nenhum motivo além do que eu
queria. para.
E eu poderia, porque Brock fodido Taylor era meu.
Suas mãos se moveram para meus quadris, me mantendo perto. — Não pense que
você vai se safar com apenas um beijo. Não depois de me fazer esperar a noite toda, Firefly.
Revirei os olhos. — Por favor, não me diga que você trouxe a porra da festa para o
meu trabalho.
Brock deu de ombros. — Eu não posso evitar o que eles fazem.
— Sim, você pode, — eu insisti.
Ele me deu um sorriso conhecedor. — Você quer sair daqui?
— Foda-se sim. — Eu estava muito exausto para lidar com todas essas pessoas. Eu
ansiava por silêncio.
— Você não pode sair, — Kenna lamentou. — A festa está apenas começando. — Ela
virou aquela expressão inocente de corça em Brock, e seu corpo se encolheu contra o meu.
Desta vez Brock não sucumbiu àqueles olhos fazendo beicinho que estavam tão
acostumados a conseguir o que queria. — Eu vou te levar para casa.
Uma pequena flor de vitória floresceu dentro de mim. Parecia que ultimamente ele
estava colocando Kenna em primeiro lugar. E embora eu entendesse que a segurança dela era
importante, que o que Carter tinha feito com ela era pura maldade e intolerável, eu queria ser
a primeira na vida dele. Eu já tive que competir com a Elite pela atenção dele, o que não me
importava, porque nunca parecia uma competição. Eles me incluíram. Eles me fizeram um
deles.
Minha expressão se iluminou quando dei um passo para trás e joguei as chaves do jipe
para Grayson.
— Você está decolando? — Grayson perguntou, que estava ocupado discutindo com
Micah e Mads sobre alguma jogada durante o jogo desta noite. Eu poderia dizer pelo brilho
diabólico nos olhos azuis claros de Micah, ele estava intencionalmente irritando Grayson, e
Mads se juntou para se divertir. Eu não sei se foi uma coisa boa, ter Micah e Mads se unindo.
Brock assentiu, entrelaçando seus dedos com os meus. — Eu a levarei para casa, —
ele disse a Grayson.
— Deixe-me adivinhar, os pais foram embora. Para onde agora? — Micah perguntou,
saltando do Jeep e se inclinando ao lado de Mads contra seu carro.
— Dubai, — Brock respondeu categoricamente. Os pais de Brock eram donos de uma
cadeia de hotéis em todo o mundo. Dubai era seu mais novo local, e seus pais estavam
supervisionando a construção e a abertura do hotel.
— Fantástico, — Mads comentou.
— Então por que não levamos essa festa para sua casa? — Kenna sugeriu, olhando
esperançosamente para o grupo.
— Kenna, — Grayson disse severamente, um aviso transmitido em seus olhos.
Para alguém que foi drogado e estuprado em uma das festas da Elite, eu não entendia
muito bem o desejo de Kenna de querer constantemente ir a essas reuniões. Ela estava
tentando reviver o passado? Ela só queria continuar saindo? Ou ela honestamente gostava de
festejar? Ela não era uma grande bebedora, não que eu tivesse visto. Ela gostava de manter
um na mão, mais para mostrar. Eu não conseguia descobrir seus motivos. Talvez ela só sentia
falta de seus amigos.
A música no estacionamento diminuiu quando um carro de polícia parou no semáforo
do outro lado da rua. Parecia que esta festa estava prestes a ser encerrada de qualquer
maneira. — Não esta noite, — Brock disse, tirando sua chave do bolso. Ele apertou o botão
de desbloqueio, e o Land Rover fez um barulho de clique engraçado, não o bip-bip usual.
As sobrancelhas de Brock imediatamente se juntaram quando seu olhar encontrou o
de Fynn. Eles devem ter tido o mesmo pensamento, porque seus olhos se arregalaram
segundos antes de ambos se mexerem. A próxima coisa que eu sabia, Brock bateu em mim,
seus braços enrolando apertados ao meu redor enquanto caímos no chão.
CAPÍTULO ONZE

Ele me cobriu com seu corpo, suas mãos dobrando minha cabeça em seu peito. Eu
estava prestes a abrir minha boca e perguntar a ele que porra é essa quando a explosão
ensurdecedora correu sobre o estacionamento.
Meu corpo estremeceu, o chão tremendo e vibrando por baixo com tanta força que
jurei que nos engoliria. Gritos de choque e terror ecoaram pelo estacionamento. Medo e
adrenalina pulsavam em minhas veias enquanto as batidas continuavam, mas em doses
menores, e levei alguns segundos para perceber que eram detritos caindo no chão. Não
apenas o solo. Ele ressoava no metal dos carros, mas nada era pior do que o som de alguém
sendo atropelado ou atingido por... o que era? O que explodiu?
Momentos se passaram com Brock me segurando firmemente presa ao chão, seu
corpo como um escudo. Parecia que os efeitos ondulantes da explosão nunca iriam acabar. O
que tinha que ser apenas alguns segundos pareceu se arrastar como longos minutos enquanto
o terror me mantinha paralisada.
Mesmo quando Brock lentamente se afastou de mim de uma forma que me fez pensar
se ele estava ferido, eu ainda não me movi. O mundo ficou ensurdecedoramente silencioso
antes que meus malditos ouvidos começassem a soar como se uma maldita arma tivesse
disparado dentro da minha cabeça. Eu não conseguia ouvir nada, nem mesmo Brock
chamando meu nome. Suas mãos vieram para emoldurar meu rosto, puxando meu olhar para
o dele. Eu vi seus lábios se moverem, vi eles formarem meu nome, mas nada. Apenas o
zumbido persistente que não parava.
Eu me empurrei para cima no asfalto para uma posição sentada, piscando as manchas
que pontilhavam atrás dos meus olhos. O olhar de Brock escaneou sobre mim, verificando se
havia ferimentos, eu assumi. Eu não podia sentir meu corpo, não podia dizer se havia feridas
mais graves do que os cortes e contusões que eu sabia que nós dois sofremos. O lado de sua
cabeça sangrou, um fluxo vermelho brilhante descendo por sua têmpora. Meu estômago se
apertou com a visão de ver seu sangue. Brock Taylor era fodidamente invencível para mim.
A ideia dele doía...
Ele enviou meu pânico em uma pirueta. Girando e girando. Deus, eu poderia
desmaiar.
De alguma forma, consegui ficar consciente. Agora mesmo, meu corpo estava muito
em choque para sentir qualquer dor, mas amanhã, todas as dores se tornariam conhecidas.
Meus olhos percorreram o estacionamento. Fynn tinha Kenna em seus braços não
muito longe de Brock e de mim. Micah tinha Mads empurrado contra seu carro, e Grayson
estava agachado no jipe. Havia outros corpos procurando abrigo, ou agachados no chão, com
as mãos sobre a cabeça. Eu não sabia dizer se alguém estava gravemente ferido, mas meus
amigos estavam bem.
Uma rajada de alívio espiralou através de mim. Mas durou pouco, pois tive um
vislumbre do Land Rover de Brock. Estava pegando fogo e, pelo que eu podia dizer, tinha
sido a fonte da explosão.
Brock fez uma careta para seu SUV enquanto cautelosamente me ajudava a ficar de
pé. Eu não tinha certeza se estava pronta para ficar de pé, mas sabendo que Brock estava lá
para me pegar estabilizou minhas pernas trêmulas. As pessoas ao redor do estacionamento
começaram a se mexer, e do outro lado da rua, vermelho e azul brilharam pela noite.
O calor das chamas ainda piscando e lambendo o SUV aqueceu minha pele a ponto de
ser quase desconfortável. Eu recuei, me aproximando de Mads e Micah.
— Puta merda, cara! Que porra acabou de acontecer? — Micah ainda estava com o
braço em volta de Mads, que estava claramente abalado. Eu nunca tinha visto seus olhos
cinzas tão grandes e tão alarmados. Mads parecia ileso: Micah tinha sofrido o impacto do
impacto. Eu queria abraçá-lo por isso e faria uma vez que eu me orientasse.
Sua voz soou tão abafada, o zumbido ainda proeminente em meus ouvidos, mas não
tão ruim quanto antes.
— Você está bem? — Brock perguntou a ele.
Micah assentiu, e Brock voltou seu olhar para os outros. Fynn ajudou Kenna a ficar de
pé, dando a Brock a ponta de sua cabeça — estamos bem—.
As sirenes do carro da polícia apitaram quando o policial parou seu veículo em uma
parada brusca. Não tinha sido uma manobra suave como você vê nos filmes, mas caótica,
enquanto ele se esquivava de crianças e carros para chegar ao local. Felizmente, ele já ligou e
a ambulância estava a caminho para atender qualquer pessoa que precisasse de assistência
médica.
O choque inicial começou a diminuir, e outros que estavam no estacionamento
começaram a murmurar, corajosamente saindo de suas posições agachadas. O policial saiu de
seu carro, avançando em nossa direção com propósito. Ele ordenou que todos se afastassem
do SUV em chamas.
Ray e Zeke saíram correndo do prédio e vieram investigar assim que o policial nos
alcançou. O braço de Brock estava seguro em volta de mim, e eu fiquei na proteção de seus
braços.
— Vocês estão machucados? — perguntou o oficial.
— Não, — respondeu Grayson pelo grupo. — Todo mundo parece bem.
— A ambulância deve estar aqui em um minuto, — ele informou, olhando para o
carro em chamas. — Você vai querer fazer um check-out só para ter certeza.
Meu irmão assentiu. — Nós vamos, — Grayson assegurou.
— Puta merda! — Ray exclamou quando o oficial foi verificar o próximo grupo. —
Você está bem?
— Que porra aconteceu? — Zeke perguntou, uma carranca profunda em seus lábios
enquanto ele olhava fixamente para o Land Rover. Foi um dos eventos bizarros e surreais dos
quais você não conseguia tirar os olhos.
Ninguém teve a chance de informar Zeke e Ray, porque o policial que respondeu
primeiro voltou para nós, deixando seu parceiro para fazer as rondas. — Disseram-me que o
dono do carro está aqui.
Brock levantou dois dedos no ar. — Isso seria eu.
— Eu estou supondo que você não ateou fogo, Sr. Taylor.
Brock nem sequer piscou para o policial chamando-o pelo nome, o que me fez
acreditar no policial... Eu olhei para o crachá dele. O oficial Davidson e Brock tiveram
negócios antes. — Não. Definitivamente não. Foi manipulado.
O oficial Davidson enganchou os polegares no cinto. — Você tem certeza disso?
— Positivo. Ele disparou quando destranquei o carro. — Limpe a porta do lado do
motorista. Estava parado em desordem do outro lado do estacionamento. Sorte para Brock e
eu, estávamos saindo do lado do passageiro do SUV com os outros. Estremeci ao pensar no
que teria acontecido se Brock estivesse na porta do motorista, tentando entrar.
A explosão poderia tê-lo matado.
Minha cabeça girava, ainda tentando entender a ideia de que alguém tinha
deliberadamente colocado uma bomba no carro de Brock. Até que Brock expressou sua
suspeita em voz alta, eu não tinha pensado sobre por que seu carro estava pegando fogo ou
como.
— Você tem alguma ideia de quem iria querer machucá-lo? — O oficial Davidson
perguntou assim que as luzes piscantes da ambulância dobraram a esquina. Eu vi o vermelho
e o branco antes de meus ouvidos captarem as sirenes.
O olhar de Brock se conectou com o de Micah, Fynn, Grayson antes que ele
respondesse à pergunta do oficial. — Sim, — Brock admitiu, passando a mão pelo cabelo,
sacudindo pedaços de detritos. — Carter Paterson.
Meu coração afundou para fora do meu peito. Era o único nome que fazia sentido,
principalmente se Brock fosse o alvo. Se fosse eu que eles queriam matar, a lista de suspeitos
teria sido maior. Eu tinha conseguido fazer um quinhão de inimigos. Carter. Av. Izzy. Emily.
Eu até adicionaria Angie e Steven à lista.
— Você e o Patterson têm história, se bem me lembro, — comentou o oficial
Davidson. Eu podia estar vendo merda, mas podia jurar que seu olhar vacilou para Kenna.
— Nós temos, — Brock disse solenemente.
— Vou precisar receber depoimentos de todos vocês, então não vá a lugar nenhum.
Seja examinado pelos paramédicos e depois volte aqui para me ver. Só depois de nos
falarmos, você pode ir para casa. Aqueles de vocês que têm menos de dezoito anos, liguem
para seus pais. Vou limpar este lugar. — Um caminhão de bombeiros parou atrás do lado da
rua, o mais próximo possível do carro de Brock. Os bombeiros saltaram imediatamente, e o
oficial Davidson se aproximou para dar-lhes os detalhes da cena.
— Isso é loucura, — Mads assobiou. Ela ainda estava enrolada contra Micah, seu
braço ao redor dela. — Eu preciso de uma porra de um cigarro, — ela proclamou, seus dedos
tateando no bolso de trás.
— Não! — veio uma série de protestos.
Seus olhos se arregalaram, e ela soltou um longo suspiro como se quisesse acalmar
seus nervos em frangalhos. — Certo. Incêndio. Não é uma boa ideia.
— Alguém vai me dizer o que diabos está acontecendo? — Ray exigiu, com as mãos
nos quadris. Eu tinha que dar crédito à garota. Ela não encolheu ou hesitou na frente da Elite,
nem mesmo quando eles voltaram seus olhos desconfiados para ela.
Brock levantou um marrom, seus lábios pressionados em uma linha firme. —
Conversamos depois. Não aqui, — descartando completamente Ray como se ela não
existisse, e no mundo Elite, ela não existia.
— Eu vou ligar para nossos pais, — Grayson ofereceu.
— Vou levar Kenna para ser examinado, limpar esse corte, — disse Fynn.
Meus olhos correram para Kenna, que estava mais ou menos em silêncio. Seus olhos
castanhos eram tão grandes e brilhantes. Ela tinha um pequeno ferimento no braço, mas
estávamos todos arranhados.
Grayson assentiu em aprovação. — Obrigado, cara, — ele disse a Fynn, e havia muito
mais naquela pequena declaração. Fynn havia protegido Kenna, se colocado na linha de
perigo para protegê-la da maior parte da explosão.
— É o que fazemos, — Fynn respondeu e então conduziu Kenna para longe das
brasas crepitantes que consumiam o SUV.
Os bombeiros estavam desenrolando suas mangueiras enquanto o policial Davidson e
alguns outros policiais que chegaram fizeram suas rondas pelo estacionamento, instruindo
qualquer pessoa que não estivesse ferida ou não precisasse de atendimento médico a sair
depois de falar com eles para prestar depoimentos.
Enquanto esperávamos que alguém tomasse nossas declarações, arrastei Brock para o
paramédico, forçando-o a limpar e enfaixar o corte em sua têmpora. Ele não ficou satisfeito
com a minha insistência, mas ainda assim me agradou. Brock insistiu que eles me
examinassem e cuidassem de minhas feridas antes que ele deixasse alguém olhar para ele. Eu
relutantemente concordei porque era a única maneira de fazê-lo se comportar. Depois que o
EMT limpou os poucos cortes que sofri e me olhou, me deram tudo certo. Fiquei sentado na
parte de trás da ambulância enquanto um paramédico cuidava do ferimento de Brock. Ele só
estremeceu uma vez quando o cara pontilhava trocas com solução sobre o corte.
— Isso pode precisar de pontos, — o EMT informou, evitando o olhar hostil de Brock
que não tinha deixado sua expressão desde que seu carro explodiu.
— Está tudo bem, — Brock insistiu. — Não vou ao hospital. — Finalidade atou sua
voz já firme. Eu sabia melhor do que empurrá-lo ainda mais.
Eu dei ao jovem paramédico um sorriso de desculpas. — Ele está apenas fazendo seu
trabalho. Não seja difícil, — eu disse para Brock.
Ele estava prestes a responder quando outra coisa o distraiu. Inclinando-se
ligeiramente para o lado, ele enfiou a mão no bolso de trás, tirando o telefone. Enquanto ele
verificava sua mensagem, fiz uma pergunta ao EMT.
— Quanto tempo até o zumbido nos meus ouvidos desaparecer?
O paramédico que tratava de Brock e eu tinha vinte e poucos anos, com um penteado
curto e moderno e pelos faciais aparados. Ele era atraente se você gostasse de um cara de
uniforme. Eu não estava. Ele me ofereceu um sorriso amigável. — Pode ser alguns dias.
— Maravilhoso.
Brock se levantou de repente, seu telefone apertado em sua mão. — Vamos, Vaga-
lume. — Ele estendeu a mão.
Sem hesitar, coloquei minha mão na dele e pulei da traseira do caminhão da
ambulância. — O que há de errado? — Eu tinha ficado muito bom em ler Brock, embora ele
mantivesse sua expressão educada – uma máscara constante protegendo seus verdadeiros
sentimentos. Mas para aqueles que estavam perto dele, eles podiam ver além da frente.
Ele estava fodidamente lívido.
— Este. — Ele ergueu o telefone para que eu lesse o texto espalhado pela tela. OLHO
POR OLHO. OU UM CARRO POR UM CARRO. VERIFICA.
Congratulei-me com a súbita onda de raiva. Era melhor do que ter medo. — Idiota, —
eu assobiei baixinho. — Ele não vai parar até matar um de nós.
Os olhos aqua de Brock brilharam. — Se ele tivesse te machucado seriamente—
Eu coloquei minha mão em seu braço, parando-o. Brock olhou para mim. — Ele não
fez. Você se certificou disso.
Um raro lampejo de remorso passou por seus olhos. — E se eu não tivesse sido rápido
o suficiente? E se você tivesse entrado no carro?
Eu balancei minha cabeça. — Não. Você não pode se deixar levar por aí. — Se ao
menos eu pudesse seguir meu próprio conselho e parar meus pensamentos sombrios. A
imagem de Brock abrindo a porta do carro foi repetida várias vezes desde a explosão. Não,
isso não tinha acontecido, mas eu podia imaginar tudo muito bem. — Você deveria mostrar o
texto para o oficial, — sugeri.
— É de um número anônimo, — respondeu ele. — Não posso provar que foi Carter.
Mads acabou de dar sua declaração ao policial quando Brock e eu nos reunimos ao
grupo. Kenna parou de roer as unhas quando notou Brock, mas parecia que ela já tinha feito
um número na manicure. Ela se endireitou do carro de Mads como se fosse ficar ao nosso
lado, até que seus olhos se voltaram para mim e ela se lembrou de que Brock não estava
sozinho. Ela se recostou no carro e bufou, — Eu não entendo. Por que Carter tentaria matá-
lo? É sobre mim, porque eu voltei?
Eu quase bufei, mas consegui apagá-lo rapidamente. Claro, Kenna pensaria que Carter
explodir o carro de Brock era sobre ela, porque tudo era sobre ela. Ok, talvez não seja justo,
mas se havia algumas coisas que eu aprendi sobre minha irmã na última semana, era que ela
gostava de ser o centro das atenções. Ela gostava de pessoas pontilhando sobre ela e
conseguindo o que queria.
A maioria das pessoas descreveria Kenna como doce e inocente, mas eu estava
começando a acreditar que era um ato, algo que ela fazia deliberadamente – uma persona. Eu
até chegaria a chamar isso de manipulação.
Brock balançou a cabeça, os olhos duros como granito. — Não. Pode ter começado
com você. Mas essa coisa comigo e Carter foi além de buscar justiça. Ele sabe a merda que
eu tenho sobre ele, e ele quer vingança. É sobre me parar. E como ele pode me machucar. Eu
tenho algo que ele quer desesperadamente colocar em suas mãos.
A Elite e Mads olharam para mim.
Engoli em seco, um arrepio de desgosto passando por mim.
— Você está brincando, — Kenna disse em um sopro de sarcasmo. — Josi.
— Eu gostaria que isso fosse uma piada, — Brock disse sobriamente.
Meus braços foram ao meu redor, procurando alguma aparência de calor para
perseguir o frio que tomou residência dentro de mim.
Os olhos de Brock brilharam, um músculo tiquetaqueando em sua mandíbula. — Ele
está me enviando mensagens a semana toda, usando Josie para me provocar porque ele sabe
que é o único botão que ele pode apertar para obter uma resposta minha.
— O que? — Eu girei e o encarei. — Você não mencionou nada sobre textos. O que
eles disseram?
— Mais tarde, — Brock disse, a voz tensa. Seu olhar levantou sobre a minha cabeça.
Virei-me para ver o que chamou sua atenção, esperando que fosse um dos policiais
olhando para falar conosco novamente.
Errado.
Um Town Car preto parou no estacionamento, e Chandler Edwards saiu do veículo
parecendo um senhor da máfia. Algo perigoso e feroz refletiu nas feições do meu pai
biológico, uma severidade não-foda-me-comigo que eu tinha vislumbrado em Grayson antes.
Seu terno listrado estava passado, menos a jaqueta que provavelmente estava
pendurada na parte de trás do banco do passageiro, e sua camisa branca estava limpa, o botão
de cima desabotoado. Uma simples corrente de ouro pendurada em seu pescoço, fina e cara.
Kenna correu para Chandler. Ele a abraçou em um abraço reconfortante enquanto seus
olhos examinavam os rostos, encontrando Grayson e por último eu. Uma sensação de alívio
aliviou um pouco da tensão acumulada ao redor de seus olhos. Mantendo um braço em torno
de Kenna, Chandler caminhou até onde estávamos. — Todos foram examinados pelo
médico?
Grayson assentiu. — Sim, ninguém ficou gravemente ferido, — ele informou ao
nosso pai.
— Você é sortudo. As coisas poderiam ter sido piores. Grayson me deu um resumo
rápido do que aconteceu no telefone. Eu sei que nunca seria sua intenção colocar minhas
filhas em perigo, e eu quero te agradecer por mantê-las seguras. — Ele falou com Fynn,
Brock e Micah, olhando para cada um deles nos olhos. Respeito e apreço brilhavam para eles,
apesar da dureza que ainda estava gravada em seu rosto.
— É o que fazemos. Eles nunca deveriam ter sido colocados em perigo para começar,
— disse Brock.
— Eu concordo, mas vamos lidar com isso mais tarde. — Ele mudou para Grayson.
— Eu não contei a sua mãe o que aconteceu. Eu não queria preocupá-la até ver vocês três
pessoalmente. Agora que tenho, vou falar com os oficiais. Fique aqui. E então eu vou te levar
para casa.
Ver Chandler me fez pensar se deveria ligar para Easton. Uma parte de mim
realmente queria, mas uma parte maior de mim percebeu que isso tornaria a situação
embaraçosa, e já tínhamos muito o que lidar.
Chandler voltou depois de alguns minutos. Foi bom, pelo menos uma vez, ter um
adulto por perto para assumir o comando. — Brock, você vai ficar conosco esta noite, — ele
informou.
Meu queixo caiu mais ou menos. Ele não havia sugerido que meu namorado passasse
a noite sob o mesmo teto que eu! Eu não conseguia descobrir se isso era uma bênção ou uma
maldição.
— Isso não é necessário, senhor, — Brock respondeu respeitosamente. — Estou bem.
— Você está, mas como você não tem um veículo, eu tenho que insistir. Já falei com
seus pais no caminho para cá. Eles acham que é uma boa ideia para pelo menos esta noite.
Discutiremos mais acomodações pela manhã, mas todos concordamos que provavelmente
não é seguro para você sozinho, — explicou Chandler.
Brock não era facilmente influenciado. Estava acostumado a viver sozinho. — Eu não
quero colocar sua família em perigo.
Chandler colocou a mão no ombro de Brock. — Você é da família, Brock. Sempre
foram. Cuidamos uns dos outros. É o que fazemos, não foi isso que você disse?
— Ele tem você lá, — Micah apontou como o idiota brincalhão que ele era.
— Acho que todos nos sentiríamos melhor sabendo que você não estava sozinho —
disse Fynn, passando a mão pelo queixo.
Embora Brock fosse seu líder e geralmente tomasse as decisões, ele também sabia
quando ouvir as preocupações de seus amigos. Era o que os tornava uma unidade tão forte,
sua capacidade de confiar um no outro.
Ele cedeu, mas não facilmente.
— Maddy, seus pais devem estar aqui em um minuto, — Chandler informou.
Mads levantou a cabeça, uma mão estendendo-se para agarrar o ombro de Micah
como se uma tontura a atravessasse. Seu rosto ficou pálido como um fantasma, algo que eu
não notei até agora. — Eu vou…. — E ela desmoronou, os olhos rolando na parte de trás de
sua cabeça.
Micah a pegou antes que ela caísse no chão.
— Preciso de um médico! — Chandler ordenou, sua voz ecoando pelo
estacionamento.
CAPÍTULO DOZE

— Como está Mads? — Eu perguntei quando Kenna entrou na sala. Depois do que
pareceu uma hora que nunca terminaria, finalmente estávamos em casa, mas isso não
significava que estava tudo bem. Meu primo foi transportado para o hospital. Micah tinha ido
com Mads, enquanto Brock, Kenna, Grayson e eu estávamos todos esperando ansiosamente
por notícias.
No segundo que o telefone de Kenna tocou, estávamos todos na beira de nossos
assentos. Nenhum de nós tinha sido capaz de se concentrar em mais nada. Não o bombardeio.
Não Carter. Só Mads.
Alguns longos e tensos minutos depois, Kenna se deixou cair em uma das enormes
cadeiras, com o celular na mão. — Micah disse que ela vai ficar bem. Seus pais estão com ela
agora.
— Graças a Deus. — Um suspiro longo e exausto passou pelos meus lábios. — Eles
estão mantendo-a durante a noite?
Kenna balançou a cabeça. — Não. Eles descartaram uma concussão, já que ela não
bateu a cabeça. Apenas um ataque de pânico. Eles vão soltá-la em alguns minutos.
Brock esfregou a mão no queixo. — Que merda de noite.
— Aquele bastardo, — Grayson fumegava, ainda empolgado com o carro de Brock e
o susto de Maddy. — Ele foi longe demais desta vez.
Tudo sobre esta situação estava fora de controle. Liana não tinha recebido a notícia de
que seus três filhos estavam envolvidos em um pequeno carro-bomba. Seu pobre coração. Ela
já tinha passado por tanta coisa com seus filhos. O colapso de Kenna. Meu sequestro. E a
morte de Sawyer. Ela não seria capaz de lidar com isso se algo acontecesse com um de nós, e
quem poderia culpá-la.
Chandler fez uma xícara de chá para ela depois de explicar a situação. Ela derramou
lágrimas, abraçando a cada um de nós, incluindo Brock. Chandler finalmente a levou para a
cama meia hora atrás, assegurando-lhe que estávamos todos seguros.
Mas estávamos?
Nenhum de nós sabia onde Carter estava. Ou o que o psicopata pode fazer a seguir.
Kenna, como o resto de nós, ainda usava suas roupas rasgadas. Ela tinha um rasgo na
lateral de seu moletom Elmwood. Seu cabelo castanho emaranhado em torno de seu rosto. —
Não entendo. Alguém me explique por que Carter está tentando matar Brock, — ela exigiu,
um pouco histérica. — Nada disso faz sentido.
— Acho que ele não gostou do que encontrou no meu computador, — Brock disse
com uma ponta de sarcasmo.
— O que estava lá? — Eu perguntei, puxando minhas pernas para cima no sofá ao
lado dele e descansando meu queixo em cima dos meus joelhos.
Um músculo tiquetaqueou ao lado de seu pescoço. — Vídeo dele fazendo o que
Carter faz de melhor.
Vago como de costume. Eu entendi que ele não queria chatear Kenna ou a mim ainda
mais, mas nisso, a ignorância não era felicidade. Pode fazer mais mal do que bem.
— Se você tem isso, então por que você não o entregou à polícia? O que está nos
impedindo de condená-lo? — Frustração iluminou seus olhos, uma emoção que todos nós
sentimos muitas vezes quando se tratava de Carter.
— Você está disposta a testemunhar contra ele, porque você sabe que se eu entregar o
que tenho à polícia, é exatamente isso que vai acontecer, — afirmou, lembrando a Kenna que
ela se recusou a fazer exatamente isso dois anos atrás.
Ela lutou com o lábio inferior entre os dentes, sem dizer nada.
— Isso é o que eu pensei, — Brock afirmou. — Não que isso importe, mas eu tinha
planejado levar o que eu recolhi para a polícia, até—
— Até o que? — Kenna gritou. — Então você está dizendo que não há outra maneira
senão eu me humilhar publicamente? Ele já fez isso um milhão de vezes comigo!
O olhar de Brock encontrou o meu, e meus olhos piscaram para o Band-Aid de
borboleta branca não muito longe de sua testa, um lembrete de que as coisas poderiam ter
sido piores.
— Você está brincando, — Kenna soltou. — Por que tudo tem a ver com ela?
Pisquei, tentando acompanhar a conversa e a atitude que estava recebendo de Kenna.
— Kenna, — Grayson avisou, sua voz caindo em desaprovação. — Josie não pediu
isso mais do que você pediu para Carter te drogar.
— Eu sei disso, — ela bufou. — Eu só quero que isso acabe.
— Todos nós gostamos, — Brock concordou, sua mão movendo-se para minha perna,
curvando-se ao redor dela por nenhuma outra razão além da necessidade de me tocar.
— Como Carter sabia que você estaria no Lazy Ray's hoje à noite? — Eu perguntei
enquanto minha panturrilha esquentava com seu toque.
— Todo mundo sabia, — Kenna interveio. — Pode muito bem haver um aplicativo de
rastreamento Elite disponível para download. A notícia se espalha como fogo quando um dos
caras é visto. Se houver um, os outros não ficam muito atrás.
Então, Carter saber para onde a Elite tinha ido depois do jogo foi fácil com as mídias
sociais.
Os lábios de Brock se transformaram em uma carranca mais profunda. — Ele deve ter
esperado até que estivéssemos todos dentro do bar e aproveitado a oportunidade para plantar
o dispositivo.
O pé de Grayson bateu no chão quando ele me perguntou: — Alguma chance de sua
nova forma de emprego ter câmeras?
Eu não tinha notado nenhum, e Lazy Rays não parecia o tipo de lugar que gastava
dinheiro com segurança. — Duvidoso, e mesmo que tenham feito por acaso, tenho certeza de
que a polícia já os confiscou.
— Não podemos confiar no PD de Elmwood para fazer seu trabalho, — disse Brock.
— Eles viraram o rosto para suas indiscrições por muito tempo. Cansei de jogar pelas regras.
Eu não gostei do som de seu tom. Sentando-me, peguei a mão que estava na minha
perna e entrelacei nossos dedos. — Ele não vale a pena arruinar sua vida. Eu não vou deixar
você fazer nada que termine com qualquer um de vocês atrás das grades. Olhei incisivamente
para Grayson e Brock para entender meu ponto de vista, não que isso ajudasse muito, porque
nenhum deles nunca me ouviu.
— Você não gosta de caras de macacão laranja? — Kenna brincou, tentando adicionar
humor à vibração séria que desceu sobre a sala como uma nuvem escura, enquanto também
me cutucava.
— Se alguém pode fazer as roupas da prisão parecerem quentes, é Brock, — eu rebati.
— Mas não o ponto. A única pessoa vestindo um traje de presidiário será Carter. — O que
me lembrou do que Brock mencionou sobre as mensagens de texto de Carter. Qual o melhor
momento para voltar a esse pequeno pedaço de informação mencionado rapidamente? Eu
virei meu foco para Brock. — Que outras mensagens Carter lhe enviou?
Mas foi Grayson quem respondeu. — Não é apenas Brock. Ele está nos enviando
mensagens ameaçadoras.
Eu joguei minhas mãos no ar. — Eu não posso acreditar que vocês ainda estão
guardando segredos. Eu pensei que era um de vocês, parte da Elite, — eu disse, marcando o
ar com aspas.
— Algumas merdas nunca mudam, — Kenna comentou, balançando a cabeça,
parecendo imperturbável. — Eles realmente disseram que você era um deles?
Eu não vi como isso era relevante para a nossa situação, mas tanto faz. — Eles
fizeram. E se um de vocês tentar me dizer que foi porque você estava me protegendo, eu vou
bater em você. E não um tapa feminino.
Grayson esfregou sua mandíbula como se estivesse imaginando o quão forte eu
poderia ser capaz de derrubá-lo. Pode não nocauteá-lo frio, mas eu poderia prometer que iria
doer.
A expressão de Brock se fechou. — A verdade é que você não quer ver a merda que
ele enviou. Era para provocar uma briga. Ele está tentando nos atrair para fazer uma jogada
estúpida.
— Brock, — eu rebati.
— Eu os deletei.
— O mesmo, — Grayson ecoou, seguindo o exemplo.
— Besteira, — eu disse, a palavra voando para fora da minha boca enquanto eu
olhava para os dois ferozmente.
— Mostre-lhe as fotos, — Kenna provocou, e eu não estava muito feliz com o tom de
sua voz.
Mas nem Grayson nem Brock estavam se mexendo. — Olha, foi uma longa noite. Por
que não vamos para a cama? — Grayson sugeriu, suavemente tentando nos desviar das
mensagens. — Podemos conversar sobre isso pela manhã, depois de dormirmos um pouco e
nos limparmos — acrescentou ele, notando as discussões que se formavam em Kenna e em
meus olhos. — Eu não sei vocês, mas eu estou morrendo de vontade de tirar essas roupas. —
Ele puxou a ponta de sua camisa, fuliginosa. Todos cheiramos como se tivéssemos acabado
de voltar de uma fogueira.
A verdade era que eu estava exausto pra caralho, e a menção de ir para a cama fez
meus ossos doloridos gemerem. — Queimá-los? — Eu não pretendia ser engraçado, mas não
pude conter o comentário.
Os lábios de Grayson se contraíram. — Algo assim, — disse ele, avançando na
cadeira para se levantar.
— Multar. Tanto faz, — Kenna bufou, levantando-se rapidamente. — Não é como se
alguém sentisse minha falta. — E com essa declaração irreverente, ela jogou o cabelo por
cima do ombro e saiu da sala.
CAPÍTULO TREZE

Olhei para o teto, desejando que meu corpo relaxasse, que meu cérebro se desligasse.
Uma maldição suave escorregou pelos meus lábios enquanto o zumbido em meus ouvidos
não parava. Era mais proeminente agora que eu estava sozinho sem ninguém para conversar.
O sono não seria fácil esta noite.
Correção. De forma alguma.
Minha mente continuou a reviver as memórias desta noite. A explosão. A sensação do
corpo de Brock batendo no meu. As réplicas que pareciam que nunca iriam acabar. Horror
após horror cambaleou como um filme ruim.
Eu gemi e me joguei na cama pela enésima vez. Meus olhos seguiram as sombras no
quarto enquanto dançavam no fluxo de luar que espreitava por uma fresta na cortina.
Mas não foi apenas o carro pegando fogo que interrompeu minha capacidade de
dormir. Parte da minha inquietação provinha de Brock dormindo no corredor de mim.
Uma vez que meu cérebro percebeu o quão perto ele estava, não conseguiu parar
todos aqueles pensamentos menos do que puros. Tinha que haver algo seriamente errado
comigo. Eu tinha passado por algo traumático, e tudo que eu pensava era se Brock estava
dormindo nu no quarto ao lado.
Mordi meu lábio inferior, sabendo que não deveria nem pensar em entrar furtivamente
no quarto dele. E, no entanto, uma vez que a ideia surgiu na minha cabeça, tornou-se mais
atraente a cada segundo.
Não faça isso, Josie, minha consciência avisou, mas eu nunca fui muito boa em ouvi-
la. Por que começar agora? E se você for pega?
Não é como se os Edwards não soubessem que Brock e eu estávamos namorando. Eu
só não tinha certeza se eles perceberam que éramos sexualmente ativos. Essa foi uma
conversa que não surgiu, graças a Deus. Ainda não, mas imaginei que em algum momento
um deles me sentaria. Pareciam o tipo de pais que conversavam sobre sexo com os filhos.
A de Angie consistia em — Não faça isso ou você vai acabar como eu—.
Sim, isso não tinha realmente funcionado.
Mas para ser justo, perder minha virgindade com Harvey não teve nada a ver com
Angie. Foi minha escolha. Algo que eu queria fazer... na época.
Porra, se eu não precisasse de Brock agora. Não era nem sobre sexo. Eu só queria
dormir ao lado dele, sentir seu corpo quente contra o meu e adormecer ao ritmo suave de sua
respiração.
Foda-se.
Eu não podia sentar aqui e pensar nele nem mais um segundo. Eu simplesmente
deslizaria pelo corredor e me deitaria na cama dele.
Jogando para trás os cobertores, eu caminhei descalça até a porta em apenas uma
camiseta enorme que veio até minhas coxas, e cuidadosamente a abri. Por algum milagre, não
chiou como o normal. Os quartos de Grayson e Kenna ficavam do outro lado do corredor, e
Brock dormia no quarto ao lado do meu.
Conveniente?
Claro que sim.
Mas eu não acho que os Edwards tinham conveniência em mente quando colocaram
Brock ao meu lado. Duvido que eles estivessem preocupados comigo entrando furtivamente
em seu quarto. Provavelmente foi a coisa mais distante de suas mentes depois da noite de
merda que todos nós tivemos.
Um olhar para o corredor vazio era tudo que eu precisava. Fechando silenciosamente
a porta do quarto atrás de mim, fui na ponta dos pés até o quarto ao lado e escutei por um
tempo. A casa estava silenciosa. Minha mão alcançou a maçaneta.
Clique.
Ao som suave de alguém saindo de seu quarto, congelei.
Filho da puta.
Meu coração trovejou em meu peito, e desviei meu olhar pelo corredor a tempo de ver
Kenna sair de seu quarto. Antes que ela pudesse me ver, voltei para as sombras, mergulhando
no banheiro do corredor.
Que porra ela estava fazendo acordada?
Matar meu plano perfeito para entrar no quarto de Brock, é isso. Não que eu me
importasse se Kenna me visse. Eu não acho que ela iria me denunciar, mas honestamente, eu
não podia ter certeza. Algo me impediu de me mostrar.
Observei Kenna fechar cuidadosamente a porta e ficar ali, aparentemente lutando com
algo internamente. Em um hábito semelhante do qual eu era culpado, ela mordeu o interior de
sua bochecha e olhou para a porta de Brock.
Eu segurei minha respiração.
Não.
Ela não iria.
Ela iria?
Eu devia estar interpretando mal o que estava acontecendo. Certo?
Kenna, finalmente se decidindo, caminhou até a porta de Brock.
Oh infernos não.
Ela se aproximou, e pude distinguir a hesitação em suas feições.
O que devo fazer? Eu queria saltar para fora e arrebentar sua bunda.
Ela parou na frente de seu quarto.
Eu confiava em Brock, não confiava? De jeito nenhum isso foi um encontro
arranjado. Ele não iria. Mas foi a incerteza que me fez ficar no banheiro, escondida na
escuridão. Eu queria confiar em Brock. Eu realmente queria, mas eu vim de um mundo onde
a confiança significava pouco.
Kenna ergueu a mão, parando um pouco antes de bater os dedos na madeira. Seu olhar
foi para a maçaneta enquanto ela chupava o lábio inferior. Ela estava pensando seriamente
em entrar? Eu a deixaria?
Felizmente para nós duas, não tivemos que descobrir. Decisão tomada, ela bateu
suavemente na porta. Se Brock estivesse dormindo, duvido que fosse alto o suficiente para
acordá-lo. Ela mudou seu peso, mexendo com uma pulseira em seu pulso, aquela que eu notei
que ela nunca tirava.
Ela estava nervosa, outro sinal que me fez pensar que esta não era uma reunião pré-
planejada. Mais rápido do que eu esperava, a porta do quarto se abriu. — Eu quase pensei
—— A voz de Brock foi cortada quando ele viu quem estava do lado de fora de sua porta.
Sem camisa, seu abdômen dourado era uma visão bem-vinda. Do meu esconderijo, tive que
abafar um gemido, minhas unhas se curvando contra o batente da porta do banheiro. Levei
um momento antes que meus olhos apreciassem o resto dele, ficando completamente
pendurada na visão de sua barriga e na forma como as calças de moletom emprestadas
descansavam em seus quadris. Puta merda, ele as usava bem. Seu cabelo escuro estava
emaranhado e só se emaranhava mais enquanto ele passava a mão pelos fios, encostando-se
na porta.
— Kenna, — ele murmurou, os olhos apertados, um lampejo de alarme soou nas
bordas. — Algo está errado? É Mads?
Deste ângulo, eu não conseguia ver o rosto de Kenna. Ela estava de costas para mim,
mas ela balançou a cabeça. — Não, ela está bem até onde eu sei. Eu simplesmente não
conseguia dormir.
Ele cruzou os braços sobre o peito. — É esperado. Duvido que qualquer um de nós
consiga dormir muito esta noite.
— Não quero ficar sozinha. — Seu tom manipulador enviou um calafrio em meus
ossos. Ele não podia ouvir?
Clareza escureceu seus olhos, quando ele entendeu por que ela veio até ele. — Isso
não vai acontecer, Kenna. Você sabe que estou com Josie.
— Ela não precisa saber, — ela disse suavemente.
Minha boca se abriu. Essa cadela. Ela não apenas sugeriu que Brock mentisse para
mim.
— Assim como nos velhos tempos, — ela acrescentou, e embora eu não pudesse ver
seu rosto, eu sabia muito bem que ela tinha colocado aquele sorriso ingênuo e sedutor que
provavelmente tinha a maioria dos caras beijando seus pés.
Mas não Brock. — Olha, eu entendo que as coisas ficaram embaçadas para você no
passado, mas eu pensei que tinha deixado claro antes de você sair. Não há nada entre nós.
— Mas isso foi porque eu era a irmã de Grayson. Você claramente não tem um
problema com isso agora.
Os lábios de Brock permaneceram virados para baixo, mas eu peguei o lampejo de
impaciência em seus olhos. — A situação é diferente.
O queixo de Kenna se ergueu no ar. — Como? Porque ela foi sequestrada quando
bebê? Ela ainda é nossa irmã.
— Diferente em você não é Josie. Eu amo-a. — Sua entrega foi dura, mas não vi outra
maneira de fazer Kenna entender.
— E você não me ama. — Sua voz falhou, e eu podia ouvir que ela estava perto de
chorar. — O que a torna tão especial? Eu costumava ser aquela que vocês protegiam. Você
foi tão longe a ponto de fazer o mundo pensar que estávamos namorando, — ela lembrou.
Um músculo estalou em sua mandíbula. — Na época, pensei que seria o suficiente
para mantê-la segura. Não era. Se você tem tanto medo de ficar sozinha, vá bater na porta de
Josie. Tenho certeza de que ela poderia usar a companhia.
— Você é um idiota, sabia disso, Brock Taylor? Eu gostaria de nunca ter posto os
olhos em você.
— Você e todas as garotas da escola provavelmente desejam o mesmo, — ele
retorquiu, seu rosto o epítome da calma e serenidade.
— Exceto por minha irmã, — ela rosnou.
— Boa noite, Kenna, — ele declarou, fechando a porta na cara dela.
Eu não conseguia parar o sorriso estúpido.
Kenna bufou, incapaz de acreditar que tinha sido rejeitada. Acho que aqueles shorts
brancos e sutiã de renda não funcionaram.
Antes que ela corresse pelo corredor, eu saí do banheiro. — Pelo menos eu sei que
não são meus amigos que vão tentar roubar meu namorado. Não. É minha irmã.
Kenna girou. Seus olhos estavam brilhantes e brilhantes com lágrimas frescas que ela
rapidamente enxugou. — Você estava me espionando? — ela atirou em mim com acusação, a
dor se transformando rapidamente em raiva.
Como se ela tivesse o direito de ficar chateada. Essa honra foi reservada toda para
mim.
— E se eu estivesse? — Eu contra-ataquei. — Você pode aprender muito sobre uma
pessoa quando ela não sabe que você está lá.
— Isso também é chamado de invasão de privacidade, — ela sussurrou antes de virar
as costas para mim e ir levemente para seu quarto.
Eu estava bem atrás dela. Essa conversa não acabou. — Como você tentando se
esgueirar para o quarto de Brock? — eu acusei.
Ela parou depois de abrir a porta do quarto e me encarou. — O que você está fazendo
escondida no banheiro?
Eu levantei uma única sobrancelha, cruzando meus braços sobre meu peito enquanto
meus lábios se curvavam presunçosamente. — Eu vou te dar um palpite, — eu respondi, meu
olhar se deslocando para a porta de Brock antes de retornar para ela. — Aposto que ele não
fecha a porta na minha cara.
Ela suspirou, seus olhos rolando. — Não é o que você pensa. Sinceramente, não
consegui dormir.
Bufando, eu balancei minha cabeça. — E eu poderia aceitar isso, especialmente
sabendo que você era próxima dele, que você tinha sido amiga, mas está claro para mim
agora que você nunca quis apenas ser amiga dele, não é?
Algo como raiva contorceu suas feições. — Eu nunca vou saber agora.
Meus olhos permaneceram centrados nos dela. — E eu estou supondo que é minha
culpa.
— Onde mais eu deveria colocar a culpa? — Ela era direta, seus olhos castanhos
cansados.
— Você não gosta muito de mim, não é, Kenna? — Eu não via sentido em fingir. As
mentiras. Os jogos. A falsidade... essas eram coisas do meu passado.
— Você é minha irmã.
— Isso não faz você gostar de mim automaticamente.
A alça fina de seu sutiã rendado escorregou pelo ombro e ela a puxou de volta no
lugar. — Não, eu acho que não. Não é que eu não goste de você, apenas parece que cheguei
em casa e você assumiu minha vida.
Eu me perguntei se ela se sentiria assim, e eu poderia até simpatizar com o quão
difícil isso deve ser, mas o que eu não podia perdoar era sua falta de respeito pelo meu
relacionamento com Brock. Ela cruzou uma linha lá. Se isso fosse apenas sobre Kenna e eu,
eu poderia trabalhar com nossas diferenças, aceitar que talvez nunca fossemos amigos,
independentemente de eu ainda querer muito isso. Eu só não sabia como.
Minha carranca vacilou. — Sinto muito por você se sentir assim. Eu não pedi nada
disso.
— E é isso que o torna pior. Eu pedi isso. Eu gostava da minha vida... antes, — ela
disse em um tom que esfriou o ar entre nós.
Antes que eu pudesse responder, não que eu soubesse o que eu teria dito, a porta de
Grayson se abriu. Ele piscou para Kenna e para mim, os olhos caídos de sono. Ficou claro
que o havíamos acordado. A culpa se infiltrou na minha barriga, especialmente quando meu
olhar localizou os arranhões ao longo do lado de seu pescoço. Todos nós estávamos sofrendo
de uma forma ou de outra com os eventos desta noite.
— Que porra está acontecendo agora? — ele exigiu grogue, esfregando a mão sobre
os olhos como se para limpar os últimos grãos de nebulosidade.
— Nada, — Kenna respondeu rapidamente, puxando a ponta do sutiã cortado que
expunha metade de sua barriga lisa. — Nós simplesmente não conseguíamos dormir.
A tensão de merda pairava no ar entre Kenna e eu. Grayson teria que estar meio
adormecido para não perceber, o que ele estava, mas aqueles olhos castanhos sonolentos se
estreitaram e se voltaram para mim.
Eu permaneci em silêncio, esperando para ver se ela contaria a ele.
Ela não.
Mas Grayson não era estúpido. — Eu não sei o que aconteceu, mas vamos lidar com
isso pela manhã. Estou muito cansado para o drama feminino.
Não havia muito o que dizer. Eu disse minha parte. Kenna fez beicinho e fechou a
porta de seu quarto. Ela estava chateada. Mas eu também estava.
Grayson olhou para mim, uma carranca estragando seus lábios. — Você está bem?
Eu balancei a cabeça, esfregando a mão no meu braço.
— Bom, não me acorde novamente a menos que a casa esteja pegando fogo.
Meus lábios se contraíram. — Entendi, chefe.
Grayson balançou a cabeça, arrastando-se de volta para a cama.
— Foda-se, — eu murmurei baixinho, apoiando minhas costas contra a parede e
jogando minha cabeça para trás. Eu tinha duas opções aqui. Eu poderia continuar com o meu
plano, esgueirar-me para o quarto de Brock, ou eu poderia recuar para o meu quarto e
chafurdar na miséria, raiva, e a merda da mão que eu tinha recebido nessa coisa chamada
vida.
Havia também a pequena preocupação de que Kenna pudesse me delatar se eu
passasse a noite com meu namorado.
Infelizmente, eu estava a ponto de não dar a mínima. Tudo o que aconteceu hoje foi
demais, e a única maneira que eu seria capaz de lidar com isso seria estando cercada por
Brock.
Eu caminhei pelo corredor. Ao contrário de Kenna, não bati em sua porta. Já tinha
acontecido bastante comoção no nosso corredor esta noite, e embora o quarto dos Edwards
ficasse no primeiro andar da casa, eu não queria arriscar mais nenhum barulho desnecessário.
A porta do quarto se fechou suavemente atrás de mim quando entrei no quarto
banhado em escuridão absoluta. Meus pés descalços ficaram em silêncio enquanto eu cruzava
a sala, apenas o zumbido das pás do ventilador de teto cortando o ar fazia algum som.
Lenta e hesitantemente, atravessei a sala, tomando cuidado para não esbarrar em nada.
Depois de alguns segundos, meus olhos se ajustaram e pude distinguir uma forma adormecida
na cama. Indícios de seu cheiro flutuaram no ar, atraindo meus pés para se moverem mais
rápido.
Ele estava de costas para mim, deitado de lado com uma perna fora das cobertas. Esta
era sua maneira favorita de dormir. Meus olhos correram sobre a tatuagem em suas costas, e
eu me coçava para traçar as linhas, para sentir seu calor sob meus dedos.
Quando me aproximei da beirada de sua cama, pude ver mais do que ouvir o ritmo
suave e uniforme de sua respiração, suas costas caindo e subindo. Meu joelho pressionou no
colchão enquanto eu deslizava minha mão sobre suas costas e ao redor de seu abdômen
plano. Enrolando-se ao lado dele, aqueles músculos tremeram sob meu toque.
As mãos de Brock agarraram meus pulsos, me surpreendendo. Ele os ergueu de seu
peito, um gemido baixo e rouco se moveu através de seu peito quando ele disse, — Kenna, eu
te disse—
— Isso parece minha irmã? — Eu murmurei, pegando o lóbulo de sua orelha entre
meus dentes. — E eu quero saber por que você acha que eu sou ela?
— Firefly, — ele rosnou por razões completamente diferentes. Um arrepio passou por
ele quando eu passei minha língua sobre aquele ponto sensível em sua orelha. Toda a tensão
em seu corpo desapareceu, e eu quase me senti mal por ralhar com ele. Quase. Eu queria
ouvir sua explicação.
Ele se virou, seus braços me pegando e me puxando firme contra ele. Meu coração
torceu no meu peito. Parecia que eu não era o único que estava sentindo falta do outro. — Eu
literalmente estive sentado aqui pensando quanto tempo eu teria que esperar para entrar no
seu quarto.
— É assim mesmo? — Eu respondi baixinho, um sorriso tocando o canto dos meus
lábios. — Não tente mudar de assunto. Por que você achou que eu era Kenna no começo?
Suas sobrancelhas se juntaram e seu corpo se contraiu por um segundo antes de
relaxar novamente. — Ela veio ao meu quarto há alguns minutos.
Cedendo ao desejo anterior, deixei minha unha delinear a tatuagem feita em seu
braço. — Por que?
Ele deu de ombros, sua mão descansando na parte inferior das minhas costas. — Por
algo que não existe.
— Ela teria algum motivo para acreditar que pode haver algo entre vocês? — eu
pressionei. Minhas inseguranças queriam que ele me assegurasse que nada estava
acontecendo com Kenna e ele.
Sua testa pressionada contra a minha. — Não de mim. Nunca fomos assim. Achei que
tinha deixado claro que nada daquilo era real.
O fato de minha irmã ter tentado entrar no quarto do meu namorado no meio da noite
deixou um gosto ruim na minha boca. Que tipo de pessoa fez isso? Eu entendi que Kenna e
eu não nos conhecíamos bem, mas ela sabia muito bem que Brock e eu estávamos juntos. Eu
não estava dando a ela nenhum passe livre.
Ela e eu teríamos uma conversa apropriada amanhã. Eu não estava varrendo isso para
debaixo do tapete e fingindo que não aconteceu. Não é meu estilo. Ela pode estar acostumada
a manipular as pessoas com seus lábios carnudos e olhos inocentes, mas essa merda não
funcionou comigo.
A brincadeira que eu estava sentindo se dissipou. Brock percebeu. — O que há de
errado? — Sua mão suavemente roçou minha bochecha.
Meu olhar encontrou o dele. — Nada. Eu também não conseguia dormir.
— Você está tendo pesadelos de novo?
Eu não queria mentir, mas também não queria preocupá-lo, então a melhor aposta era
fugir das perguntas. — Não essa noite.
Ele não era facilmente dissuadido, e ele podia me ler como um livro. — Há algo mais.
Eu posso ver isso em seus olhos. O que você não está me dizendo, Firefly?
— É que essas coisas com Kenna são muito mais difíceis e complicadas do que eu
esperava. Tenho certeza que ela me odeia. — Várias vezes eu fui avisado sobre o estado
frágil da saúde mental da minha irmã, mas a garota que eu conheci na semana passada não
era como eu esperava. Ela parecia vulnerável ou fraca para mim. Eles não viram como ela
usou sua suposta ingenuidade para envolvê-los em seu dedo? Ou talvez não tanto mais, e era
isso que a deixava tão chateada.
Sua mão deslizou pelo lado do meu quadril, deslizando sob minha coxa para puxar
minha perna para que descansasse em cima da dele. — Tenho certeza de que é um ajuste para
todos, ter vocês três em casa. Vai levar tempo. O mundo dela virou de cabeça para baixo
como o seu. Imagino que será difícil por um tempo até que ela encontre seu lugar novamente.
Ela esperava voltar e retomar sua vida de onde partiu, mas dois anos se passaram. Muita coisa
aconteceu, e foi ingênuo da parte dela acreditar que todos estaríamos apenas esperando que
ela voltasse.
Eu levantei minha cabeça, descansando meu queixo em seu peito. — Ela quer você,
— afirmei corajosamente. Eu não adoçaria a situação. Ele precisava perceber o que estava
acontecendo aqui.
Ele rapidamente passou os olhos pelo meu rosto. — Eu não sou um prêmio. Ela não
pode competir pela minha atenção.
— Você não gosta de ser objetivado como um pedaço de carne?
Seus lábios se contraíram. — Você sabe o que eu estou dizendo. Não importa o que
ela diga ou faça. Ou o que eu fiz no meu passado. Tudo mudou quando te conheci.
— Boa resposta. — Satisfeita, eu me inclinei e pressionei meus lábios contra os dele.
Eu mantive curto, sabendo que se eu demorasse muito, eu nunca conseguiria dormir esta
noite, e agora que eu estava com Brock, a exaustão bateu em mim. Sua mera presença
acalmou cada membro e músculo do meu corpo. Eu bocejei. — Você vai me segurar?
— A noite toda, — ele sussurrou, me acomodando em seus braços. Ele colocou os
cobertores sobre nós, não que eu precisasse deles. O calor de seu corpo era suficiente para me
manter aquecida.
Fechando os olhos, a ansiedade, a preocupação, o medo, o ciúme, tudo isso foi
embora.
— Como você espera que eu durma quando você está vestindo isso? — ele perguntou
depois de um momento de silêncio, seu dedo deslizando dentro da faixa da minha calcinha.
— Ao fechar os olhos, — eu murmurei, uma sugestão de sorriso puxando meus
lábios.
— Hum. Eu posso não gostar que você esteja trabalhando naquele bar, mas foi
definitivamente quente ver você correndo por aí, recebendo pedidos.
Minha sobrancelha levantou. — Você tem uma queda por garçonetes, Taylor?
— Só quando elas se parecem com você.
— Então, se Kenna fosse—
Seus lábios me cortaram, me silenciando de terminar essa declaração. — Não,
FireFly. Só você. Você pode compartilhar DNA com Kenna e Grayson, mas há apenas um de
você.
Eu me aninhei mais perto de seu ombro, meus olhos atraídos para seu rosto. — Então
não é como se você estivesse transando com seu melhor amigo.
Aqueles olhos se fecharam. — Não tinha sido até você colocar a ideia na minha
cabeça.
Meus lábios se curvaram. — De nada.
As pontas de seus dedos deslizaram sobre minha barriga, fazendo com que os
músculos tremessem. — É melhor você encontrar uma maneira de apagar isso da minha
cabeça. Não quero pensar em Grayson quando estou dentro de você.
Eu enruguei meu nariz. — Bruto. Eu também não quero isso. Boa noite, Taylor, — eu
disse com um sorriso, fechando meus olhos mais uma vez.
Desta vez ele permaneceu em silêncio, seus dedos desenhando círculos preguiçosos, e
eu adormeci com facilidade, as batidas constantes de seu coração contra a palma da minha
mão me seguindo em meus sonhos.

***

Algo quente deslizou pela minha pele. Minha parte inferior do estômago para ser
exata, e eu me esforcei para empurrar a nuvem de sono que ainda me agarrava. Eu finalmente
abri meus olhos, e o quarto ainda estava quase todo escuro, apenas um pouquinho de luz
suave espiou pela cortina, me dizendo que ainda não era de manhã, mas em algum lugar entre
a hora em que a noite estava prestes a passar. tocha para o dia.
A cabeça de Brock não estava onde deveria estar no travesseiro ao meu lado, mas
mais abaixo na cama, mergulhada sobre minha barriga. Sua respiração flutuou sobre minha
pele.
— O que você está fazendo? — Engoli em seco quando sua língua saiu, não mais
certa se eu me importava, só que ele não parou.
— Você precisa de mim para soletrar para você? — Suas palavras deslizaram
levemente sobre minha pele, e eu respirei fundo.
— Idiota, — eu murmurei, meus dedos entrelaçando em seu cabelo.
— Isso significa que você quer que eu pare? — Sua cabeça se ergueu ligeiramente
como se fosse cumprir sua ameaça.
Eu definitivamente não queria que ele parasse. Meu corpo já zumbia, despertando
meu desejo. — Não se você quiser acordar com as bolas ainda presas.
Sua risada fez cócegas no meu abdômen antes que ele se movesse mais para cima do
meu abdômen, empurrando para cima a barra da minha camiseta enorme. Cada centímetro
era uma tortura lenta, exceto que a verdadeira tortura começou quando seus lábios se
fecharam sobre meu mamilo.
Meus olhos se fecharam. Sua língua passou sobre o broto duro, e eu virei minha
cabeça para o lado, gemendo contra o travesseiro.
Levantando a cabeça, ele olhou para mim com olhos ardentes. — Você vai ter que
manter o barulho no mínimo, Firefly, a menos que você queira acordar a casa inteira.
Eu olho para seus lábios. — Eu? Você é quem está falando tudo.
Aqueles lábios exuberantes se ergueram nos cantos quando ele baixou a cabeça para
voltar para mais.
Doce Jesus.
Meu corpo já estava tão excitado, e o fogo inundou minhas veias rugindo enquanto ele
devorava meu peito. Cada terminação nervosa cravada com eletricidade, precisa cantarolar
através de mim.
— Deus, eu sinto sua falta. Sinto falta disso, — eu respirei, minha voz rouca. Eu o
queria pressionado em mim. Eu queria sentir o comprimento duro como pedra dele aninhado
entre minhas pernas. Meus dedos procuraram seu peito, correndo sobre os cumes firmes.
Uma sensação de satisfação felina passou por mim quando mergulhei meus dedos em sua
boxer e um silvo expelido contra meu peito.
— Firefly. — O apelido arrancou de seus lábios em um gemido próprio.
O prazer dele enchendo minha mão me deixou mais molhada, e inclinei meu corpo em
direção a ele, buscando mais contato.
Sua mão me segurou através da minha calcinha de algodão, e meus quadris arquearam
para cima, esfregando contra ele. O atrito não foi suficiente.
Eu precisava de mais.
Enredando meus dedos em seu cabelo sedoso, guiei sua cabeça para perto da minha.
Seus lábios pressionaram com força contra os meus, impiedosos em sua ganância por mim.
Minha respiração saiu rápida entre os beijos quase punitivos enquanto ele me devorava,
beliscando, tomando e chupando, enquanto eu o acariciava com minha outra mão.
Ele enrolou os dedos na borda da minha calcinha, puxando-os para baixo sobre minha
bunda. — Tire-os, — ele ordenou, e eu levantei meus quadris e me mexi para fora deles o
resto do caminho.
Uma corrida me atingiu quando seus olhos correram pelo meu comprimento. Como se
ele não pudesse apenas olhar, ele colocou as costas da mão perto do meu pescoço e deixou
seus dedos percorrerem meu corpo.
Minha ingestão repentina de ar encheu a sala, e eu fechei meus olhos, cavalgando a
dor apertada que queimava em meu núcleo.
Antes que eu soubesse o que estava acontecendo, ele colocou a boca onde sua mão
estivera, passando a língua sobre a protuberância latejante. Quando ele chupou em sua boca,
eu apertei minhas mãos em seu cabelo, moendo meus quadris contra sua boca.
— Brock, — eu gritei, mais alto do que pretendia, mas não consegui me conter.
Oh Deus.
Ele só continuou a provocar e atormentar, arrastando e circulando sua língua sobre
meu clitóris de novo e de novo. — Deus, eu amo o seu gosto, — ele murmurou contra a
minha carne quente e molhada. Ele deslizou um dedo dentro de mim. — Tão macia e
apertada.
Ele estava tentando me matar com a boca. — Eu quero você dentro de mim, — eu
ofegava, rolando meus quadris caso minhas palavras não fossem suficientes.
— Sempre com tanta pressa.
Ele poderia me culpar? Sua boca estava de volta em mim, e tudo que eu podia fazer
era morder meu lábio para manter o grito dentro que ameaçava liberar.
— Por favor, — eu implorei, a única palavra tremeu dos meus lábios.
Outro momento de doce tortura se passou antes que ele avançasse pelo meu corpo,
lábios roçando meu queixo. — Eu suponho que você não tem um preservativo com você?
O que ele me perguntou? Minha cabeça estava tão cheia de necessidade pulsante que
eu mal conseguia pensar, muito menos compreender suas palavras. Algo sobre um
preservativo. — Não preciso de um, — eu engasguei. — Estou tomando pílula. — Lembrei
que ele gostava de jogar pelo seguro, e o fato de que ele não tinha proteção com ele era meio
alarmante, mas acho que ele não tinha planejado me foder.
Mal sabia ele que acabaria passando a noite na minha casa.
Eu me perguntei se ele realmente pararia. Ele não confiava em mim ou confiava que
eu tomava a pílula religiosamente?
Capturada pelo intenso calor nos olhos aqua de Brock, nunca imaginei que alguém
pudesse me querer tanto. Foi profundo. — Vire, — ele exigiu em um estrondo suave e sexy.
Excitação correu pelo meu sangue quando eu fiz o que ele pediu, levando minha
bunda nua para seus olhos se deleitarem. Virei minha cabeça para o lado no travesseiro,
precisando ver um vislumbre dele enquanto ele se posicionava atrás de mim.
Abrindo minhas coxas ligeiramente, ele se preparou sobre mim e cutucou sua ponta
no centro entre as minhas pernas. Agarrei o cobertor em minhas mãos, minha respiração
parou enquanto eu esperava que ele me enchesse. A antecipação me matou enquanto ele me
mantinha em suspense, me provocando e esfregando seu pau no meu clitóris latejante.
Quantas vezes eu tive que implorar a ele? Outro apelo estava na ponta da minha
língua prestes a escapar quando ele deslizou dentro de mim. Puro êxtase irradiava do meu
centro até que eu estava envolvido em um calor glorioso.
Brock empurrou mais fundo dentro de mim, e meu corpo se apertou ao redor dele,
segurando-o o maior tempo possível antes que ele puxasse muito devagar e bombeasse de
volta para dentro. Seu impulso tornou-se mais forte, mais rápido. Eu queria mais.
Mais dele.
Mais dessa correria.
Mais. Mais. Mais.
Impulso por impulso, eu acompanhei seu ritmo, dando e exigindo. Foi libertador tê-lo
dentro de mim sem uma borracha no caminho, o prazer aumentado ao sentir sua umidade se
misturando com a minha.
Porra, eu o amava. Até as partes irritantes.
Nesta posição, seu pau acariciava de forma diferente, e o filho da puta sabia o que
estava fazendo. Meu orgasmo veio rápido, rasgando através de mim.
Meu. Porra. Deus.
Brock Taylor tinha o poder de me desvendar.
Eu apoiei uma mão contra a cabeceira da cama, minha outra mão envolvendo sua
nuca enquanto a onda de prazer balançava pelo meu corpo. Ele revirou os quadris, arrastando
a felicidade, e apenas quando essas contrações começaram a desaparecer, ele bateu em mim,
encontrando sua liberação. — Firefly, — ele gemeu em meu cabelo, sua semente derramando
em mim.
Meus membros derreteram no colchão quando deixei meu peso afundar. Respirei
pesadamente, meu coração ainda batendo no meu peito. — Talvez eu não consiga me mover
pelo resto da noite, — eu murmurei, o lado do meu rosto pressionado no travesseiro.
Brock rolou para o lado. Ele tirou uma mecha de cabelo úmido da bochecha que eu
estava com preguiça de mover. — Conseguimos fazer isso não em um carro.
— Ou em um sofá, — acrescentei, um pequeno sorriso enfeitando meus lábios.
Ele arqueou uma sobrancelha. — Tem um lá embaixo.
Eu belisquei na lateral. — Nem pense nisso. Como sempre. Não vamos fazer sexo no
sofá dos meus pais.
Pegando minha mão, ele a colocou em seu peito. — Provavelmente uma boa ideia, já
que sei que Grayson teve seu quinhão de conexões lá.
Meu rosto inteiro se enrugou. — Bruto. Por que você me diria isso? Nunca mais serei
capaz de olhar para ele da mesma forma, para não mencionar sentar nele.
— Eu tenho algo que você pode sentar, Firefly, — ele informou naquela voz
encharcada de sexo que ele sabia que me deixava louco.
— Você não acabou de dizer isso para mim.
Ele me deu um sorriso.
CAPÍTULO QUATORZE

O café da manhã foi estranho pra caralho.


E só piorou quando lembrei que prometi a Mads que iria fazer compras com ela e
Kenna hoje. Eu tinha que encontrar uma maneira de sair disso para o bem de todos. Kenna e
eu não estávamos exatamente nos falando no momento. E foi uma boa ideia sair depois da
merda com o carro de Brock? Além de alguns arranhões e um corte ou dois, eu literalmente
não sofri ferimentos graças a Brock.
Dei uma mordida na minha fruta fresca, basicamente evitando contato visual com
todos. Por que eu não tinha pulado o café da manhã? Ou pelo menos fez o café da manhã na
cama? Qualquer coisa para evitar essa estranheza desconfortável que pairava no ar.
O garfo de Grayson caiu em seu prato. — Ok, quem vai me dizer o que diabos
aconteceu na noite passada? — ele perguntou, fazendo questão de olhar para Brock, Kenna e
depois para mim. — E não estou falando do carro de Brock. Vocês estão agindo como se
estivessem bêbadas e fizeram sexo a três ontem à noite.
Ninguém disse nada. Kenna empurrou seu waffle no prato, fingindo estar interessada
em sua comida. Brock fez uma careta, provavelmente tentando descobrir como explicaria a
outra irmã de seu melhor amigo fazendo um movimento com ele.
e então lá estava eu. Minhas bochechas ficaram rosadas.
— Por favor, Deus, me diga que você não fez? — Grayson gemeu como se estivesse
realmente doente.
— Não! — Kenna e eu dissemos ao mesmo tempo, nossos olhos se arregalando.
— Claro que não, — Brock proclamou, recostando-se em sua cadeira.
Nem Chandler nem Liana estavam na cozinha, ou essa conversa nunca teria se
desenrolado assim. Liana estava fora para sua corrida matinal e Chandler estava no escritório.
O homem não sabia o que eram fins de semana.
— Tudo bem, — retrucou Grayson, estreitando os olhos. — Então por que as coisas
estão tão estranhas agora? Tem algo a ver com o fato de que vocês duas me acordaram com
suas brigas no meio da noite? ele dirigiu a Kenna e a mim.
Kenna abriu a boca, mas Grayson levantou um dedo.
— Eu não quero ouvir a mesma desculpa de merda que você me deu ontem à noite, —
ele disse a ela. — Nenhum de nós dormiu ontem à noite, isso é óbvio. O que eu quero saber é
sobre o que vocês duas estavam discutindo.
Eu esfaqueei um morango com meu garfo, esperando para ver se Kenna diria alguma
coisa. Seu silêncio falou muito. Ela não tinha intenção de contar a Grayson o que aconteceu.
Eu sempre tive que ser o cara mau, mas talvez este fosse o momento perfeito para limpar o ar
entre Kenna e eu com Brock e Grayson aqui.
Eu inclinei minha cabeça para o lado. — Você vai contar a ele, ou eu? Eu perguntei a
ela, colocando o morango na minha boca.
Os lábios de Kenna se estreitaram. — Não é da conta dele, — ela mordeu de volta.
— Kenna, — Grayson retumbou, cruzando os braços sobre o peito. — O que não é?
Revirando os olhos, eu soltei, — Kenna tentou entrar no quarto de Brock ontem à
noite. — Estrondo. Aí eu falei. E foi como se uma bomba explodisse na sala.
O caos desceu, todos falando ao mesmo tempo.
— Eu não posso acreditar que você acabou de dizer isso, — Kenna lamentou,
desistindo de qualquer pretensão de realmente comer sua comida.
— Filha da puta, — Grayson assobiou, baixinho.
— Aqui vamos nós, — Brock disse secamente, roubando um pedaço de fruta do meu
prato.
— Não é verdade? — Eu respondi sem rodeios, olhando incisivamente para minha
irmã.
Ela se contorceu sob meu olhar direto.
— Você sabia que ela veio ao meu quarto? — Brock perguntou, suas sobrancelhas
franzidas em confusão.
Eu balancei a cabeça. — Eu estava a caminho de lá eu mesma, — expliquei,
escovando atrás da minha orelha uma mecha solta de cabelo rosa que escapou do meu nó
bagunçado.
— Espere. O que? — Grayson piscou, espanto brilhando em seus olhos castanhos. —
Eu sei por que Josie estava entrando sorrateiramente no quarto de Brock. Isso faz sentido,
apesar da ideia me dar arrepios, mas por que você foi ao quarto de Brock? ele perguntou,
prendendo Kenna com uma carranca enquanto tentava juntar as peças. — É melhor não ser
pelo que estou pensando, porque se for, isso é muito fodido, Kenna. Até para você.
— Eu não consegui dormir, ok, — ela bufou, de repente odiando os holofotes. — E
essa é a verdade.
— Então faça um chá, beba um pouco de leite morno, ou alguma merda, — eu
retruquei, irritação e mágoa evidentes em meu tom.
Kenna deixou cair os cotovelos sobre a mesa, inclinando-se para frente. — Olha, você
pode não entender, mas antes de você, eu confiava neles. Ele não teria pensado duas vezes
antes de me deixar dormir em seu quarto. Nenhum deles teria.
Grayson limpou a garganta. — Sim, antes de você crescer seios.
Ela atirou punhais em Grayson. — Não é engraçado.
— Vamos deixar isso claro agora, porque eu não quero jogar. Não com você. Não
com ninguém. Você tem uma queda pelo meu namorado, — eu disse, incapaz de conter a
aspereza em meu tom.
— Jesus, — Grayson amaldiçoou. — Você só tinha que voltar para casa e complicar
tudo, não é?
— Você quer que eu vá embora de novo, é isso? — Kenna latiu de volta, acenando
com o garfo no ar. — Dessa forma você pode voltar a fingir que eu não existo e Josie pode
ser sua irmã perfeita.
— Estou longe de ser perfeita, — murmurei, não tendo certeza de que meus dois
centavos importavam. — Na verdade, eu sou provavelmente a pessoa mais fodida nesta mesa.
Kenna zerou seus olhos hostis para mim. — Não parece de onde estou sentada.
— Você não pensaria isso se estivesse aqui há um mês, — eu disse, a comida
espalhada na minha frente não era mais apetitosa. — E acredite em mim quando digo a você,
não estou tentando tirar nada de você. Não sua família. Não seu irmão. Não seus amigos. Eu
realmente queria uma irmã.
Kenna me deu um sorriso azedo. — Desculpe, eu te decepcionei.
Eu bufei. — Mas você está? Desculpe?
Liana entrou, detendo a briga. — Bom dia, — ela cumprimentou, um pouco ofegante,
e foi até a cafeteira. Seu longo cabelo castanho estava preso em um rabo de cavalo, uma faixa
de suor em volta da cabeça. Ela usava leggings de treino e um moletom fino com zíper. —
Todo mundo dormiu bem?
Grayson engasgou com seu suco.
Brock limpou sua garganta, movendo suas pernas debaixo da mesa, evitando o olhar
de Liana.
Kenna fez uma careta, enfiando o garfo no prato.
E peguei meu café.
A estranheza palpável pairava no ar. Liana olhou para nós por cima da borda de sua
caneca. — Pergunta idiota. Tenho certeza de que foi uma noite perturbadora para todos
vocês, — disse ela, interpretando mal o silêncio que perdurava na mesa. Ela se recostou no
balcão. — Eu também não dormi. Eu simplesmente não posso acreditar que Carter não está
na cadeia. Isso tem que parar. — Era estranho ouvir um adulto querer a mesma coisa que nós.
Parecia que todo esse tempo os adultos estavam contra nós, mas não nesta casa. Não quando
sua filha foi aterrorizada por ele.
Eu não tinha contado a Liana ou Chandler sobre as coisas que Carter tinha feito
comigo, e até onde eu sabia, nem Grayson. Se soubessem, o que fariam?
— Você não precisa se preocupar com ele agora, — disse Grayson, linhas de
preocupação gravadas em sua testa.
Apesar do suspiro que a deixou, eu podia ver a preocupação esmagando-a. — Bem,
por mais estressante que isso seja, estou aliviado que nenhum de vocês tenha se ferido
seriamente.
— Você ouviu alguma coisa sobre Mads esta manhã? — Eu perguntei,
cuidadosamente mudando de assunto. Eu não podia suportar ver a tensão em seu rosto.
Grayson me deu um olhar de apreciação. Ele não queria chatear nossa mãe.
Liana assentiu. — Eles a soltaram ontem à noite. Foi um leve ataque de pânico.
Graças a Deus não foi nada mais grave. Isto me lembra. Kenna, você acha que é uma boa
ideia você sair depois do que aconteceu? Por que você não fica em casa hoje? Mande Maddy
vir. Vocês podem assistir a filmes, e eu posso pedir para Elise fazer alguns lanches. Assim
como nos velhos tempos. Será divertido. — Eu tinha que dar crédito a ela por tentar fazer
parecer atraente.
— Mãe, — Kenna gemeu, revirando os olhos. — Você não pode me manter presa
depois de cada coisa ruim que acontece. A vida é bagunçada. Preciso aprender a lidar com
essas situações, conselho do terapeuta. Você sabe, aquele que você gastou milhares de
dólares para eu ver.
— Sim, Kenna. Eu sei, — Liana respondeu secamente. — Eu apenas pensei que seria
bom para você, Maddy e Josie passarem algum tempo juntas.
— Nós estamos, — Kenna insistiu. — Josie está vindo com a gente. — E ainda assim
ela parecia menos do que entusiasmada com a ideia.
— Sim? — Liana perguntou, e o olhar de esperança em seus olhos fez meu estômago
apertar.
Eu engoli em seco. Merda. Não havia como sair das compras agora.
Kenna me chutou debaixo da mesa, e eu fiz uma careta para ela antes de levantar meu
olhar para Liana. Eu me forcei a assentir. — Sim. Eu vou. — Foi a única coisa que pude
responder, porque todo o resto seria mentira. A última coisa que eu queria fazer era adicionar
mais estresse ao que Liana já sentia. Se ela descobrisse que Kenna e eu não estávamos
exatamente nos dando bem, provavelmente partiria seu coração já frágil.
Liana bateu um dedo contra sua xícara de café. — Acho que isso me dará a chance de
dar os retoques finais em seu quarto se você for passar o dia, — ela me disse.
— Já parece maravilhoso, — assegurei, sorrindo.
— Só queremos que você se sinta confortável aqui. Eu sei que pareço um disco
quebrado, mas esta é a sua casa.
— Mãe, é muito cedo para quebrar a coisa mole, — Grayson murmurou, dando uma
mordida nos ovos mexidos. Elise, a cozinheira dos Edwards, era uma maldita magia na
cozinha. Tudo o que ela fazia tinha um sabor celestial.
— Falando de casa, — Brock se intrometeu, chamando a atenção de Liana. — Eu
provavelmente deveria voltar para o meu.
— Não tão rápido, — ela disse, pousando seu café. — Conversei com seus pais esta
manhã antes da minha corrida. Eles querem que você fique aqui até eles voltarem de Dubai
na próxima semana.
— Semana que vem? — Brock ecoou, suas sobrancelhas juntas. — Eu não acho que
eles deveriam voltar até meados de dezembro.
— Eles estão encurtando a viagem. Então, você terá o Dia de Ação de Graças
conosco. Não posso deixar você passar o feriado sozinho. Eu não vou permitir.
O olhar de Brock foi para o meu por um breve momento enquanto ele pesava suas
opções, e eu soube o momento em que ele parou de pensar em ficar aqui como um fardo e
mais como uma oportunidade. — Você sabe quantos feriados eu passei sozinho? Muitos.
Uma vibração atingiu meu peito. Ele não parecia ressentido ou triste. Sua voz era
simplesmente monótona, indiferente, e ainda assim, eu ainda não conseguia parar de sentir
simpatia pelo garotinho que teve que passar tanto de sua infância sozinho.
— Exatamente por que você está ficando aqui, — Liana afirmou firmemente. —
Enquanto as meninas estão fora, Grayson pode levá-lo para pegar o que você precisa para a
escola e tal. É uma semana curta de qualquer maneira.
Brock limpou a garganta. — Obrigado, Sra. E.
Ela sorriu. — Você é da família, Brock. Apenas aceite. Especialmente porque você
pode se casar com minha filha no futuro.
Grayson e eu cuspimos nossas bebidas, que por acaso pegamos ao mesmo tempo.
Brock congelou.
Kenna franziu a testa.
E o sorriso de Liana só aumentou quando ela deu a volta no balcão para sair. — Ah, e
esta noite, dormimos em nossos próprios quartos. Entendi?
Minhas bochechas queimaram. Merda.
— Pego, — Grayson riu, balançando para trás em sua cadeira, parecendo que ele
estava aproveitando cada segundo de sua mãe torturando Brock.
— Não vai acontecer novamente, — Brock assegurou a Liana.
Seus lábios se curvaram em um sorriso suave. — Estou feliz que ela tenha você.
Eu não podia acreditar que isso acabou de acontecer. — Ela tem câmeras escondidas
que eu não conheço? — Eu perguntei quando ela saiu da cozinha.
Grayson riu. — Não que eu saiba, mas ela ocasionalmente espia seu quarto. Acho que
ela só quer ter certeza de que você ainda está lá.
Bem, merda.
CAPÍTULO QUINZE

O motor suave do BMW branco ganhou vida. Kenna estava sentada no banco do
passageiro de couro amanteigado, olhando pela janela basicamente para uma parede de
tijolos. Ela prefere olhar para a garagem do que para mim. Ponto tomado. O último lugar
onde Kenna queria estar era trancado em um carro comigo, e se não limpássemos o ar agora,
isso tornaria essa viagem de compras miserável.
Um suspiro profundo saiu do meu peito quando desliguei o rádio. — Olha, eu sei que
você não quer que eu vá junto.
— Tanto faz, — ela respondeu rispidamente, ainda se recusando a olhar para mim.
Eu coloquei o carro em marcha à ré, deixando as rodas rolarem para fora da garagem.
— Eu sou a única que deveria estar chateada aqui.
— Você não está? — ela desafiou, virando a cabeça e levantando uma sobrancelha
fina.
Os músculos do meu maxilar doíam de tanto apertar. — Estou mais magoada do que
com raiva.
— Que faz de nós duas.
Arrastar-me para fora do meu mau humor não foi fácil quando Kenna não cedeu nem
um centímetro. — Olha, eu entendo que a Elite é importante para você, especialmente Brock.
Eu sei como é depender deles. Acredite ou não, temos uma coisa em comum.
— Você quer dizer outra coisa além de Carter assediando nós duas, — ela murmurou.
Eu aliviei o carro até o limite de velocidade. Deslizou pela estrada sem esforço. —
Ok, faça disso duas coisas que temos em comum então. Além de compartilhar o mesmo
inimigo assustador, nós os temos.
— Eu fiz até você, — ela apontou. — Agora todos eles correm para protegê- la. Você
é uma deles. Eu nunca tive isso.
As folhas esvoaçavam dos galhos das árvores, caindo em cachos na beira da estrada.
Levou apenas uma única rajada de vento para pegá-los e enviá-los girando no ar. — É por
isso que você está tão chateada? — Eu dei uma olhada nela.
Ela puxou um par de brincos de argola de sua bolsa e os encaixou em suas orelhas
enquanto respondia: — Não é apenas ser uma Elite, mas o que significa e o que significa para
todos os outros.
— Viemos de mundos muito diferentes e, embora as aparências não signifiquem nada
para mim, sei como é não pertencer. — Minha garganta engrossou.
Sua cabeça inclinou para o lado, olhando-me astutamente. — Isso vai se transformar
em uma história triste sobre o quão difícil sua vida foi? Porque se sim, não estou interessada.
Meu pé pressionou mais firme no acelerador, ganhando o peso da minha frustração.
— Bom, porque eu não dou a mínima para o seu status social ou quão popular você é. Deus,
você pode ser a pessoa mais egocêntrica que eu conheço.
Abaixando o espelho de maquiagem, ela olhou para si mesma, antes de responder: —
Obrigada—.
A doçura amarga em seu tom me fez querer bater sua cabeça no pára-brisa, mas então
me lembrei que ela era sangue. Nós éramos uma família. — Isso não foi um elogio, — eu
disse categoricamente. Ela não podia ver o quão egoísta ela era, quão superficial o mundo em
que ela vivia era e a fazia?
Kenna deu de ombros, um fantasma de um sorriso em seus suaves lábios rosados. —
No meu mundo, é um elogio.
Eu balancei minha cabeça, mudando meu pé para quebrar quando algum idiota na
minha frente cortou na minha pista. Minha mão pousou na buzina por nenhuma outra razão
além de me sentir bem. — Esta pode ser a conversa mais estranha que eu já tive.
— E com Carter? Tenho certeza que você teve algumas conversas bem bizarras com
ele. Ainda não consigo acreditar que você viveu com ele. Ela estremeceu. — Eu teria
morrido.
— Alguns dias eu pensei que sim. — A admissão saiu dos meus lábios antes que eu
percebesse o quão vulnerável era a declaração.
Ela fechou a bolsa a tiracolo de grife e a colocou na lateral do assento. — É por isso
que ele gosta de você.
Eu pisquei. — Quem? — Eu não tinha certeza se ainda estávamos falando sobre
Carter, porque ele era a última pessoa cujos sentimentos eu dava a mínima.
— Brock, — ela declarou, sua voz mudando como se a confissão lhe causasse dor. —
Você é forte. Não estou falando fisicamente, porque ele tem um ego e gosta de usar seus
músculos. Estou dizendo que, apesar de tudo, de tudo o que você passou, você tem essa
confiança em você.
Minhas sobrancelhas se juntaram enquanto eu pensava sobre sua avaliação de mim
através dos olhos de Brock. Ela estava confundindo meu sarcasmo com confiança? Para mim,
foi mais um mecanismo de defesa, não uma escolha de estilo de vida. — Você quer dizer
minha atitude de eu-não-do-me-ga-merda?
Ela assentiu, fazendo seu rabo de cavalo balançar. — É isso.
Eu bufei. — Na maioria das vezes eu não sei o que diabos estou fazendo, então parece
que eu não dou a mínima.
Suas bochechas ficaram levemente rosadas. — Realmente não importa. É legal.
Eu estreitei meus olhos, achando difícil acreditar que eu tinha ouvido direito. — Você
acha que eu sou legal?
Ela revirou os olhos. — Não deixe isso subir à sua cabeça. — Um minuto se passou
apenas com o rádio ligado baixinho. — Quer você acredite em mim ou não, eu sinto muito
por ontem à noite, — ela admitiu.
Mordi a ponta do lábio, pensando em como responder. — Porque você se fez de boba
ou porque Brock recusou?
— Ambos, — disse ela. Seus lábios se voltaram para baixo. — Mas eu recebi minha
resposta ontem à noite. Eu não vou cometer esse erro novamente, então você pode ficar
tranquilo. Seu namorado está a salvo de mim. Eu nem quero vê-lo.
— Vai ser meio difícil, já que ele vai morar em nossa casa na próxima semana.
— Gah, — ela gemeu. — Não me lembre.
Mads estava sentada no meio-fio do lado de fora de sua casa, um cigarro entre os
lábios. Ela deu uma última baforada quando me viu encostar o carro, jogou a fumaça no chão
e a esmagou com o sapato. Abrindo a porta do carro, ela virou a cabeça para o lado, soltando
uma baforada de fumaça antes de pular no banco de trás. — Rápido, acelere antes que minha
mãe saia. Ela está implorando para conhecê-la.
Apesar de Kenna se recusar a cancelar a viagem de compras, mandei uma mensagem
para Mads para ter certeza de que ela estava seriamente disposta a isso. Até me ofereci para
levar Kenna pessoalmente, se ela quisesse ficar em casa e descansar. Nós entenderíamos
totalmente.
Isso tinha sido uma grande foda não.
Olhei pelo espelho retrovisor, nossos olhos se conectando. — Ela sabe sobre mim?
Mads assentiu, prendendo o cinto de segurança. Seu cabelo com mechas loiras estava
reto e longo hoje. — Tia Liana contou a ela na sexta à noite enquanto estávamos fora.
Eu me encolhi com a menção da noite passada. A memória do meu primeiro emprego
sempre seria manchada por Carter. Eu estava cansado desse idiota arruinando minha vida. —
Nós já conhecemos sua mãe, — eu apontei, com as inúmeras vezes que eu estive na casa de
Mads.
— É verdade, mas ela pensou que você era apenas minha amiga que coincidentemente
se parecia muito com a sobrinha dela. Mas agora que ela sabe quem você é…
— Ela está mais interessada, — eu terminei. Afinal, eu era sobrinha dela. Claro, ela
iria querer me ver.
— Exatamente. Quer dizer, eu meio que entendo. Você é família. É apenas o
momento é muito ruim com o que aconteceu ontem. Eu não posso lidar mais com ela
pairando. E— – sua voz ficou animada enquanto o carro se afastava de sua casa – — tenho
uma surpresa para você.
Meus olhos voltaram para o espelho, pegando seu sorriso bobo. Ela estava
definitivamente tonta e tramando alguma coisa.
— Acho que não consigo lidar com mais surpresas. — Meus dedos apertaram o
volante, meu coração tropeçando um pouco com o pensamento do que Carter tinha planejado
em seguida. Eu não queria pensar nele. Hoje nao. Eu tinha o suficiente acontecendo com
Kenna para ter que me preocupar com o idiota de Carter também.
Um maldito problema familiar de cada vez, por favor.
— Você vai adorar este. Promessa. — Ela piscou, um sorriso presunçoso curvou em
seus lábios.
Eu não tinha tanta certeza sobre isso.
As árvores se alinhavam ao lado da estrada quando saí do bairro de Mads na Chestnut
Drive. Alguns dos galhos estavam quase nus, enquanto outros ainda se agarravam às cores
vibrantes e ousadas de ouro, vermelho profundo e laranja queimado, um lembrete de que o
inverno estava se aproximando.
— Onde está minha surpresa? — Kenna perguntou, virando-se em seu assento para
olhar nosso primo. Ela apertou o elástico que prendia seus longos cabelos no que chamei de
pônei líder de torcida. Ele estava no topo de sua cabeça, e os cachos balançavam com seus
movimentos.
— Sua surpresa sou eu não chutando sua bunda. Eu sabia que você tinha uma queda
por Brock, mas sério, Kenna? Que porra você estava pensando? — Mads não se incomodou
em adoçar seus sentimentos.
Meus olhos ficaram grudados na estrada, mas eu ouvi a desaprovação na voz de Mads
e sabia que isso faria Kenna se irritar. Na mente de Kenna, Mads era a única pessoa que
sempre estaria ao seu lado, não importa o que acontecesse.
Eu odiava que Mads estivesse preso no meio entre nós. Quando mandei uma
mensagem para ela esta manhã, ela teve a mesma reação que Grayson quando expliquei o que
aconteceu. Descrença. Eu precisava de alguém para desabafar.
Kenna se virou, os lábios apertados e irritados. — Deus, você também não. Eu não
acho que posso fazer outra palestra de escoteira.
— Alguém tem que colocar algum juízo em você, — ela respondeu.
Abaixando a cabeça contra o assento de couro, Kenna olhou pela janela lateral e
resmungou como se tivesse perdido o fogo para se defender, ou talvez sua consciência
finalmente a pegou. Ela já havia se desculpado. — Não podemos apenas ter um dia de
diversão, como costumava ser? Você, eu, os cartões de crédito dos nossos pais?
Eu devo estar ficando mole. O que havia em Kenna que poderia me enfurecer em um
momento e depois puxar meu coração no próximo? — Que tal fazermos um pacto por hoje,
— sugeri, por algum motivo sentindo pena de Kenna. Eu podia ver o quanto ela se agarrava
ao passado. Eu fugi do meu. E Kenna queria reviver a dela.
— O festival de vadias termina agora. Combinado? — Mads insistiu, pulando na
onda.
Mads, Kenna e eu nos entreolhamos. Apesar de nossas diferenças, fossem morais ou
valores contrastantes, éramos uma família. — Feito, — Kenna e eu dissemos juntos.
— Finalmente, — Kenna respirou, o primeiro sorriso natural que eu acho que vi
dançando em seus lábios.
Quinze minutos depois, chegamos ao shopping, e uma onda de nostalgia tomou conta
de mim. O carro passou por um café ao ar livre se preparando para abrir as portas para o
almoço. Foi lá que Ainsley e eu comemos uma semana antes do início das aulas. Foi lá
também que coloquei um rosto no nome Brock Taylor.
Há quanto tempo parecia aquele dia. E como eu tinha sido muito ignorante em relação
ao meu futuro.
Sacudindo as lembranças, vasculhei as ruas em busca de uma vaga para estacionar,
tarefa que a essa hora de sábado era penosa. Depois de circular a área por alguns minutos,
consegui um lugar enquanto uma velha senhora lenta e cautelosamente saiu. Eu chicoteei o
BMW entre as linhas brancas antes que alguém o roubasse de mim. As cadelas ricas deste
lado da cidade eram impiedosas quando se tratava de fazer compras.
— Então, quando essa surpresa ocorre? — Eu perguntei, saindo do carro e jogando a
alça da minha bolsa de lona barata na minha cabeça.
— Em breve. Eu acho, — Mads respondeu, olhando para seu telefone enquanto
Kenna espiava por cima do ombro para ver quem ela estava mandando mensagem.
— Em qual loja estamos causando danos primeiro? — Eu perguntei, juntando-me a
eles na calçada em frente ao carro.
Kenna passou o braço pelo de Mads e depois pelo meu. — Shades, obviamente.
Shades era uma butique da moda que vendia o que eu chamava de chique chique de
Cali. Tinha uma coleção eclética de boho, de inspiração vintage e artística. Coisas que eu
nunca poderia pagar, então eu não tinha motivo para fazer compras lá, exceto para agradar
Ainsley.
— Alguém mais notou aquele carro preto nos seguindo por todo o caminho até aqui?
— Mads perguntou, olhando para um conhecido e elegante Town Car que passava com
janelas tão ridiculamente escurecidas que você não podia ver através delas.
Acenei para o motorista, dando ao carro um sorriso amargo. — Está bem. Brock está
me seguindo.
Mads piscou, seus passos vacilantes. — Com licença?
Dei de ombros, grata pelo moletom de lã quente que eu usava. A claridade do sol
enganava. Fornecia pouco calor contra a brisa fresca de novembro. — Você não pode
realmente estar tão surpresa.
A expressão facial de Mads sumiu. — Eu não sou. Estou chocada que você esteja tão
tranquila sobre isso.
— Eu não me importo, — eu admiti, poupando meu detalhe protetor um último olhar.
— Saber que ele está por perto me faz sentir melhor. Acho que me tornei imune à presença
dele.
Nossos pés se moviam em sincronia pela calçada enquanto passávamos pela fonte no
centro da praça. — Uau. A Josie que eu conheci teria o Brock por suas bolas por tê-la
seguido, — Mads comentou com precisão.
— Oh, eu rasguei um novo para ele, mas seus motivos eram bons, apesar da minha
falta de privacidade. — E honestamente, eu estava tão preocupado ultimamente que eu meio
que esqueci o detalhe que me seguia.
— Ele está fazendo as malas? — Kenna perguntou, olhando para as placas do carro
quando ele parou no sinal de pare na nossa frente.
— Você quer que eu pergunte? — Eu retruquei, meio brincando.
Shades estava a apenas alguns quarteirões de onde eu estacionei. A porta tiniu quando
nós três entramos. Uma prateleira de suéteres aflitos chamou minha atenção, e eu fui na
direção deles, mas só dei alguns passos antes de Mads me parar.
— Sua surpresa está aqui, — ela informou com um sorriso largo.
Minhas sobrancelhas franziram. — Na loja?
Mads assentiu, seus olhos prateados brilhando. Ela colocou as mãos nos meus ombros
e me virou de volta para a porta.
O que diabos está acontecendo?
— Surpresa! — Mads gritou assim que alguém entrou pela porta de vidro.
A surpresa tinha cabelos de arco-íris distintos que pareciam ter sido recentemente
iluminados. O raio de cores se misturou quando uma rajada de vento a seguiu para dentro da
loja. — Ainsley? — Eu sussurrei, me perguntando se meus olhos estavam manifestando meu
melhor amigo.
— Que porra é essa, Jos. — Ainsley sorriu, seu batom preto brilhante estalando contra
seus dentes brancos austeros. — Não me diga que você já se esqueceu de mim.
Minha próxima respiração, eu tinha meus braços ao redor dela e eu não queria soltá-
la. Seu perfume característico de amora fez meu peito apertar de emoção. — O que você está
fazendo aqui? — Algumas coisas nunca mudam, e eu estava tão feliz por ela ser uma delas.
Eu perdi tudo sobre ela. Seu estilo gótico louco. A risada dela. Ela não fala besteira.
Ninguém no mundo me conhecia como Ainsley fez. Ela era conforto e facilidade. Ser
seu amigo era fácil. Eu não era a namorada de Brock ou a novata. Eu não era o alvo ou a
vítima. Eu era apenas Josie.
— Mads me ligou. Disse que você precisa de um amigo, — ela respondeu, me
abraçando de volta com a mesma força.
Lágrimas ardiam em meus olhos. — Eu senti tanto sua falta.
Ela se afastou e me estudou, preocupação instantânea brotando em suas íris verdes
musgosas. — Não fique toda sentimental comigo.
— Eu disse que você ia adorar. — Mads enfrentou Ainsley. — Ei estranha. — Ela deu
um abraço rápido em Ainsley.
Limpei a umidade sob meus olhos, feliz por não ter colocado muita maquiagem. Meu
rímel era à prova d'água, então eu estava apostando nesse significado à prova de rasgos
também. — Droga. Você me fez chorar.
Mads bateu no meu ombro com o dela. — Para que servem os amigos?
Engoli em seco, tentando me recompor. — Obrigado. Verdadeiramente. Você não tem
ideia do quanto eu precisava disso. Preciso de vocês.
Minhas duas melhores amigas sorriram uma para a outra.
Ainsley deu uma longa olhada em Kenna e soltou uma lufada de ar. — E você deve
ser a duplicata. Uau, seus pais realmente copiaram e colaram os genes. Kena, certo? Eu ouvi
muito sobre você.
Kenna olhou meu melhor amigo criticamente. — Eu não tenho que perguntar se eles
eram bons ou ruins.
Ainsley levantou uma única sobrancelha. — Já chegamos, hein? A rivalidade entre
irmãos. — Ela sempre foi boa em captar vibrações.
Eu estava prestes a intervir e rapidamente mudar de assunto antes que as coisas
aumentassem, mas uma voz estridente gritando o nome de Kenna me parou. Eu me encolhi.
Demorou dois segundos para o meu humor exultante falhar. Dois segundos do som da
voz de Izzy Clayton para aumentar minha pressão arterial. Foi como pregos em um quadro-
negro e produziu TEPT instantâneo.
Meu coração começou a acelerar. Filho da puta.
— E lá se vai meu sábado, — murmurei enquanto Kenna se virava para o lado para
ver quem chamava seu nome.
Izzy e Emily passaram pela porta atrás de Ainsley, parecendo que tinham acabado de
gravar um videoclipe. — Eu disse a você que era ela, — afirmou Emily para Izzy, seus olhos
azuis escuros pousando em Kenna.
— Era difícil dizer com todo o lixo remanescente, — Izzy zombou quando seu olhar
disparou de mim para Ainsley.
Ainsley trocou então nós estávamos ombro a ombro. — Estas são as cadelas do beco,
não são?
Eu balancei a cabeça. — Duas das três.
Um sorriso malvado se espalhou nos lábios de Ainsley. — Bom. Eu me perguntei
quando eu conseguiria usar meus dedos. — Ela pegou sua bolsa. — Elas são super fofas, em
forma de gatinho. As orelhas pontudas parecem pontudas o suficiente para quebrar a pele.
Franzindo o cenho, Izzy deu um passo para trás, mais perto da porta, apenas no caso
de Ainsley quebrar a soqueira. — Você não tem alguma outra loja para manchar com sua
vadiagem? Quero dizer, eu entendo que ela é sua irmã, mas não entendo por que você
escolheu sair com ela, — ela disse para Kenna.
— Especialmente depois do que ela fez com Ava. — Emily estalou sua língua,
balançando seu cabelo ruivo.
As bochechas de Kenna ficaram vermelhas.
— Por que vocês não vão embora? — Mads sugeriu. — Eu odiaria fazer uma cena e
ser expulsa da minha loja favorita.
— Você costumava ser legal. Espere. Não, — Emily recuou. — Você não era. Nós
apenas toleramos você por causa de Kenna.
Irmã. Minha mente ecoou a palavra. Foi o que Izzy disse. Irmã. Eu me virei para
Kenna. — Você contou a elas? Eu pretendia manter a emoção fora da minha voz, mas falhei.
Nós voltaríamos ao comentário de Ava em um minuto. Eu só podia desempacotar uma de
suas escavações idiotas de cada vez. Seus cérebros do tamanho de ervilhas não conseguiam
lidar com tópicos de salto muito rápido. Era como se eles tivessem inalado muito spray de
cabelo e esmalte de unhas ao longo dos anos, e de alguma forma o pensamento de Kenna
dizendo a verdade sobre quem eu era, parecia outra traição.
Estávamos desenhando mais do que alguns olhos, incluindo a senhora que trabalhava
no chão. — Por que eu não faria? — Kenna disse bruscamente. — Elas são minhas amigas.
Além disso, todo mundo sabe, graças ao pichador. Foram eles que revelaram seu segredo, não
eu.
Eu não queria entrar na escolha de merda de amigos que Kenna tinha, Mads excluída.
— Onde está a abelha rainha? Ela não esteve na escola a semana toda. Um sorriso de escárnio
cruzou meus lábios.
Izzy passou sua bebida de café bougie para a outra mão. Parecia que ela queria jogá-lo
na minha cara. — Por favor, não finja que não sabe. A culpa é sua que Ava transferiu as
escolas. Os olhos frios de Izzy me encararam.
Se olhares pudessem matar, eu estaria morto no chão, mas fiquei na loja
presunçosamente satisfeito. A ideia de nunca mais ver o rosto de Ava me encheu de alegria.
— O que? Por que? — Kenna perguntou enquanto colocava a camisa que ela estava
olhando de volta na prateleira, Izzy e Emily ganhando toda a sua atenção.
As líderes de torcida continuaram a me lançar olhares feios enquanto Emily rosnava:
— Por que você não pergunta à sua irmã? Você ouviu o que ela fez.
Essas cadelas.
Eu sorri. — Cuidado, ou eu vou derrubar vocês duas em seguida. Fique fora do meu
caminho.
Ainsley empurrou em direção a eles, querendo assustá-los. Funcionou.
Izzy e Emily ofegaram como se nunca tivessem sido ameaçadas antes. A xícara de
café na mão de Izzy derramou na borda, pingando no punho do que parecia ser um suéter
muito caro.
Eu bufei.
A carranca de Kenna se aprofundou. — Para que escola ela vai?
Mantendo um olho em Ainsley e em mim, Emily respondeu: — Ela está na Berkton
Prep.
A Berkton Prep era uma escola particular como a Elmwood Academy, na cidade
vizinha. Senti pena das garotas que frequentavam a Berkton e de quem Ava escolhesse como
sua próxima vítima, porque valentões como ela não ficavam satisfeitos se não tivessem
alguém para fazer miseráveis. Isso me fez pensar o que havia de tão ruim na vida elegante de
Ava que ela tinha que menosprezar e assediar os outros. Ou talvez a cadela fosse apenas má
como Carter. Explicou por que eles se davam tão bem, uma equipe assustadora.
— Quem se importa? — Mads zombou. — Ela teve o que mereceu. A merda que ela
fez, Ava tem sorte de ninguém prestar queixa.
Deus, eu amava Mads. Ela era uma verdadeira amiga. Eu odiava admitir que estava
um pouco preocupado com a volta de Kenna, Mads e eu não estaríamos tão próximos, mas
até agora, esse não era o caso, e eu não poderia estar mais feliz com isso.
Eu tinha muito poucos amigos para começar, menos a Elite. Eles eram uma raça
diferente de amigos. Algo mais. Algo que não podia ser classificado ou colocado em uma
caixa.
Kenna olhou para sua prima, uma expressão engraçada em seu rosto como se Mads
fosse um quebra-cabeça que ela estava tentando decifrar. — Ela é minha amiga. — Kenna
estava na torcida com Izzy, Emily e Ava.
— E você sabe que ela era uma cadela. Quantas vezes você voltou do treino
reclamando dela? Mads disse, chamando Kenna.
Não era assim que eu esperava que nossa viagem de compras se desenrolasse, e eu
podia ver essa situação terminando com uma nota amarga.
Izzy e Emily zombaram, claramente chocadas que Kenna iria sujar sua melhor amiga
assim. A coisa toda era risível.
— Você está do lado de quem? — Kenna estalou.
— Não é tão simples, — Mads saltou em minha defesa. — Muita coisa aconteceu
desde que você partiu. Um monte de merda que você não conhece.
— Claramente. Você costumava ser minha melhor amiga. — Olhos castanhos
ardentes dispararam para mim, acusação ardendo neles.
Aqui vamos nós novamente. Eu chamei ou o quê?
Outra coisa para Kenna me culpar. Ela não tinha apenas perdido Ava e o cara que ela
estava apaixonada por anos, mas agora Mads também. Kenna estava acostumada com o
primo vindo em sua defesa. Este era um novo território para Kenna, e eu não achava que
minha irmã gostasse.
Seria inteiramente minha culpa aos olhos de Kenna.
— Eu ainda sou, — Mads defendeu, parecendo magoado.
— Você é? — Kenna acusou, levantando a voz e não se importando que ela estivesse
fazendo uma cena. — Porque não parece que você está do meu lado.
— Por que eu tenho que escolher lados? Novidades, Kenna. Vocês duas são minhas
primas. Esta não é a batalha dos trigêmeos, pelo amor de Deus. Você disse que tinha
mudado. Que as coisas eram diferentes…— Mads balançou a cabeça, a dor nublando
seus olhos cinzas.
— Você é quem mudou, — Kenna atirou, fazendo com que Izzy e Emily zombassem.
Se eu não soubesse melhor, os dois apareceram aqui só para causar problemas.
Eu olhei para eles.
— Você tem razão. Eu mudei, — Mads concordou. — Acabei com a merda.
— Esta foi uma má idéia. Era para sermos apenas nós. Você e eu, — Kenna disse a
Mads antes de passar por Izzy e Emily.
— Onde você está indo? — Mads chamou por ela.
— Isso importa? — Kenna atirou por cima do ombro.
— Você não tem um carro, — eu apontei, saindo atrás dela. — Eu vou te levar, — eu
ofereci quando sua mão disparou para a porta. Eu não estava disposto a deixá-la vagar
sozinha.
Ela ergueu o queixo e cerrou os dentes. — Não se preocupe. Vou chamar um carro.
Eu não preciso de nada de nenhum de vocês. — Ela abriu a porta, uma rajada de vento
soprando em seu rosto, enviando seu cabelo em um redemoinho selvagem muito parecido
com seu temperamento.
— Kenna! — Mads a chamou, mas ela continuou andando pela saída da loja.
— Devemos ir atrás dela? — Ainsley perguntou, apesar da expressão sombria em seu
rosto. Ela sabia que Kenna era da família, mesmo que não parecêssemos nos dar bem.
— Não, — Mads suspirou em derrota, seus ombros caindo. — Basta deixá-la ir.
Quando Kenna entra em um de seus humores, é melhor deixá-la se acalmar. Seu
temperamento pode ser vil.
— Conheço outra pessoa que tem um temperamento desagradável. Deve correr na
família, — Ainsley murmurou quando Izzy e Emily deixaram a loja, sorrisos satisfeitos em
seus lábios.
— Sim, — Mads concordou enquanto nós três ainda estávamos na frente da loja
olhando para a porta, Kenna fora, não mais à vista.
CAPÍTULO DEZESSEIS

A culpa se instalou logo depois que Kenna partiu. Eu estava com meus dois melhores
amigos, e ela estava em algum lugar se sentindo sozinha e abandonada, duas coisas que eu
conhecia bem. Nunca foi minha intenção fazê-la se sentir assim. Eu queria que Kenna me
aceitasse como eu era, me respeitasse.
Eu não tinha que fazer o mesmo?
Mesmo se ela fosse como aquelas garotas que eu detestava?
Nenhum de nós no clima de compras, Mads, Ainsley e eu desistimos das lojas por
comida. Quando eu estava estressado, normalmente procurava bebida ou sexo para não sentir
nada. Como nenhum deles estava prontamente disponível, optei por comida.
A vibração do dia ficou mais ou menos sombria, mas eu ainda tentei gostar de sair
com Ainsley, já que tinha sido muito longo. Mads também fez o possível para manter uma
atitude leve e divertida, mas eu podia ver o quanto sua cusparada com Kenna a incomodava.
Meu coração doeu por Mads, e fiquei chateado com a forma como Kenna a tratou. Foi errado
e injusto para Kenna colocar Mads entre nós, tentar forçá-la a escolher.
Eu gostaria de pensar que eu nunca colocaria meus amigos nessas situações.
Era pouco depois das quatro horas quando entrei na casa, subindo as escadas para
tomar banho rapidamente e me preparar para o trabalho. Eu tinha que estar lá em menos de
uma hora. Independentemente de como meu dia começou, eu estava grata por poder passar
um tempo com Ainsley. Ela foi a única pessoa que me manteve com os pés no chão, me
lembrou de quem eu era e de onde vim neste mundo ganancioso e materialista em que agora
vivia.
Muitas vezes eu perdi a simplicidade da minha vida antes. Mas então eu imaginei sem
Brock, e eu não podia imaginar voltar a como as coisas eram antes da Elite.
Simplesmente não era possível.
Fale do maldito diabo e ele aparecerá. Brock estava no meu quarto, e a julgar pelo
olhar em seu rosto, ele não estava feliz com alguma coisa. — O que aconteceu? — Eu
rapidamente perguntei depois de entrar na sala e avistá-lo. Fiquei na porta, esperando que ele
desse a má notícia.
Ele se sentou na beirada da minha cama. Seus olhos se ergueram para os meus, e eu
não gostei do tumulto que vi neles. — Por que Kenna me ligou chorando para buscá-la? O
que aconteceu?
Eu empurrei, pego de surpresa. — Você está brincando comigo? Ela ligou para você.
Malditas figuras. — Minha pressão arterial subiu, e eu podia sentir minha raiva tomando
forma. — Você nem tem carro! — Eu apontei, tentando descobrir como ela esperava que ele
a salvasse.
Ele deu de ombros. — Eu levei um dos meus pais quando voltei para pegar algumas
coisas da minha casa.
Meus braços cruzados sobre meu peito de onde eu estava no centro da sala. — Então
você a pegou?
Ele ergueu as sobrancelhas. — O que você queria que eu fizesse? Deixá-la encalhada?
Eu fiquei boquiaberta para ele por um momento antes de balançar a cabeça. — Ela
não estava presa. Mads, Ainsley e eu estávamos todos lá. Foi ela que colocou sua calcinha
muito apertada em um maço e saiu como uma pirralha mimada. Você poderia ter enviado
Grayson ou um dos outros caras para pegá-la. Não havia como confundir a irritação em meu
tom. Ficou claro, e se por algum motivo ele não podia ouvir, ele podia muito bem ver na
minha expressão.
Brock fez uma careta. — Você teve outra briga?
— Não sei. Por que você não me conta o que ela disse?
Ele se levantou, caminhando para mim com apenas alguns passos. — Ela não me deu
os detalhes, exceto que você e Mads se juntaram a ela. Ela estava muito chateada para eu
conseguir qualquer informação.
Meu pescoço se esticou para trás enquanto eu olhava para seu rosto, sobrancelhas
juntas. — E você acredita que eu faria isso?
Ele não disse nada, e seu silêncio falou muito.
Eu entendi que Brock e eu tínhamos moral frouxa quando se tratava de vingança e
justiça, que nós dois poderíamos fazer o que fosse necessário para proteger aqueles com
quem nos importamos, independentemente dos custos, mas eu também não era uma porra de
um valentão. Não sem uma boa razão. E intimidar minha família não estava na minha casa do
leme moral.
— Ok, sim, eu faria isso com alguém como Ava, — eu admiti enquanto ele ainda
olhava para mim com aquele rosto ilegível. — Alguém que desprezo, mas não odeio Kenna.
Não a entendo, mas meus sentimentos estão longe do que sinto por Ava. Mas, se ela
continuar tentando tirar você de mim, ela e eu teremos um problema real.
Ele abaixou a cabeça, trazendo seu rosto mais perto do meu, e meu coração gaguejou.
Seu cheiro flutuou em minha direção quando ele disse suavemente: — Deixei claro para ela
que nunca haverá nada além de amizade entre nós. Eu só posso lidar com um de vocês.
Eu não estava deixando ele ir tão fácil, apesar dos fogos de artifício explodindo dentro
de mim com sua proximidade. — Eu não posso acreditar que você está no meu quarto, pronto
para me condenar sem esperar para ouvir meu lado das coisas. Ela mencionou que Izzy e
Emily apareceram, e elas começaram a coisa toda? Eu estou supondo pelo olhar em seu rosto,
não. Elas falaram sobre a transferência de escola de Ava e como foi minha culpa, o que, tudo
bem, vou levar crédito parcial por essa merda.
Seus olhos escureceram, ficando tempestuosos. — Izzy e Emily estavam lá?
Deus, mesmo irritado ele era fodidamente lindo. Tão lindo que era muito fácil para o
meu cérebro esquecer por que eu estava irritada com ele. — Seu cara não lhe dá um relatório
completo do meu paradeiro? Mads o viu hoje.
— Ainda não falei com ele. Ele só informa se houver problemas. Caso contrário, só
conversamos a cada poucos dias.
— Bem, encontrar Emily e Izzy é como descobrimos que Ava foi transferida para
Berkton Prep, — informei categoricamente. — Eu não posso acreditar que você caiu no
truque mais antigo do livro. Eu me ofereci para dar uma carona para Kenna para casa. Ela se
recusou e foi embora. Você não vê o que ela está fazendo? — Ficou tão claro para mim. Ela
queria Brock, e ele adorava ser o herói.
— Ela passou por muita coisa, — ele defendeu, racionalizando seu comportamento.
Exatamente o oposto do que eu queria ouvir.
— E eu também! — Eu arremessei de volta, empurrando em seu peito. Eu não queria
mais que ele estivesse tão perto.
Ele mal se mexeu e não deu uma dica. Levantando a mão, ele roçou as costas de seus
dedos sobre o lado da minha bochecha. Seus dedos eram gentis, cuidadosos para evitar
quaisquer hematomas ou arranhões que ainda permaneciam na minha pele da explosão de
ontem. — Eu sei. Esta não é uma competição de quem foi mais fodido.
Eu empurrei minha cabeça para o lado, longe de sua mão. — Eu nunca afirmei que
era. — Eu balancei minha cabeça, incapaz de acreditar que Brock e eu estávamos brigando
sobre Kenna. — Qualquer que seja. Eu tenho que ir trabalhar. — Eu me movi em direção ao
banheiro, mas só dei três passos antes das mãos de Brock envolverem minha cintura, me
girando para encará-lo.
Seus olhos estavam mais escuros agora de uma forma que a maioria das pessoas
acharia alarmante, e ainda assim, uma emoção correu através de mim. — Você não vai voltar
lá, Firefly. Eu proíbo.
Eu enfiei meu dedo em seu peito, não me importando com o quão sexy ele parecia me
ordenando. — Ninguém, nem mesmo você, pode me proibir de fazer qualquer coisa. — Desta
vez, quando eu saí de seu abraço, ele não me parou. Corri para o banheiro, batendo a porta
atrás de mim.
Nesse ritmo, eu chegaria atrasada no meu segundo dia de trabalho e provavelmente
seria demitido, supondo que já não estivesse depois da noite passada.
Eu nem sabia o que diria para Zeke e Ray. Eu era parte do motivo pelo qual um carro
pegou fogo no estacionamento deles. Se o fogo tivesse se espalhado e danificado o prédio
deles... acho que não conseguiria enfrentar nenhum deles novamente. O Lazy Ray's era seu
sustento.
Atrás da porta fechada, joguei a água do chuveiro e rapidamente tirei minhas roupas,
esperando alguns segundos para que a água esquentasse antes de entrar. Meus músculos
doloridos cantavam quando o calor da água e o vapor os atingiam. Não era nada como os
ferimentos que eu sofri de Ava, Izzy e Emily, e eu provavelmente estaria sofrendo mais se
não fosse por Brock. Se ele não tivesse reagido tão rápido quanto reagiu, me protegendo com
seu corpo, a própria explosão teria me derrubado descuidadamente no chão.
Ele me protegeu como sempre fazia, e era por isso que meu peito estava tão apertado
agora. Ter Brock duvidando de mim me cortando como uma faca, e se eu continuasse
pensando naqueles sentimentos que oscilavam entre mágoa e raiva, eu afundaria no chuveiro,
me enrolaria em uma bola e choraria.
Eu não precisava de olhos inchados antes do trabalho.
Eu me recusei a derramar uma única maldita lágrima.
Enrijecendo meu queixo e lábios, voltei meu foco para outro lugar, pegando o xampu
e ensaboando-o no meu cabelo. A porta do banheiro se abriu, e eu me xinguei por não abrir a
fechadura. — Eu não estou interessada em ficar nua com você, — eu disse, mergulhando meu
cabelo de volta no jato de água e enxaguando as bolhas de xampu que faziam o quarto cheirar
a maçãs.
— Tudo bem, — sua resposta áspera veio do outro lado da parede de azulejos. Meu
banheiro contíguo tinha um chuveiro separado com uma parede inteira para privacidade,
então eu não podia vê-lo sem enfiar a cabeça na esquina. Não que eu precisasse, porque um
momento depois, ele entrou no chuveiro totalmente vestido.
— Brock, — eu gritei. — Que diabos está fazendo?
Ele achatou as duas mãos de cada lado de mim contra a parede, a água encharcando
sua camiseta branca e jeans. — Deixando bem claro que nossa conversa está longe de
terminar.
Revirei os olhos. — Você não podia ter esperado que eu terminasse.
— E perder a oportunidade de te ver assim? — Seus olhos deslizaram pelo meu
corpo, o que instantaneamente me traiu e respondeu à maneira como ele olhou para mim.
— Liana e Chandler—
— Não estão em casa, — ele terminou, avançando para que o comprimento de seu
corpo duro se encaixasse no meu. O material de algodão esfregou contra meus seios.
— Você vai me atrasar, — eu disse, tentando um caminho diferente para fazer Brock
me deixar ir antes que eu cedesse e cedesse ao desejo de tomar sua boca com a minha. Meus
olhos não conseguiam parar de olhar para seus lábios. — Podemos discutir o quanto você
quiser quando eu chegar em casa hoje à noite, se isso te deixar feliz.
— Eu não quero brigar com você, Firefly, a menos que isso signifique que vamos
fazer as pazes mais tarde. — A ponta de seu polegar correu sobre meu lábio inferior, pegando
gotas de água.
Eu bufei. — Não prenda a respiração, Taylor.
Ele enganchou um dedo sob meu queixo e inclinou meu rosto para trás. Eu deixei
meus olhos se moverem para cima para encontrar os dele, a água escorrendo pelos lados dos
meus braços e pernas. — Eu não gosto disso. Você trabalhando lá... me dá um mau
pressentimento, — disse ele.
— Eu preciso disso, — enfatizei, deixando-o ver o que este trabalho significava para
mim. Isso me deixou vulnerável, e só por Brock eu me exporia assim.
Ele segurou meu olhar com tanta intensidade, e eu juro que ele olhou para minha
alma. Isso me fez pensar o que ele viu quando ele olhou para mim assim. Depois de um
momento, um pouco do estresse que apertava seu rosto se afrouxou, e ele suspirou. — Eu
posso ver isso. Eu não vou ficar no seu caminho. — Ele deu um passo para trás, dando-me
espaço para me mover.
Virei-me para que o spray do chuveiro atingisse minhas costas. — Mas... — eu
acrescentei, porque eu podia sentir que havia algo mais que ele queria dizer. Brock raramente
cedeu em qualquer coisa.
— Mas eu preciso saber que você está segura.
A água escorria pelas minhas costas, e eu peguei o condicionador, lembrando que eu
estava com um limite de tempo. — E como você propõe que façamos isso? Você já tem
alguém me seguindo em todos os lugares que eu vou. Não é o suficiente?
Ele pegou a garrafa de mim, apertando uma bola de condicionador em sua mão. —
Ontem, eu teria ficado satisfeito com um detalhe de segurança. Hoje, nada parece ser
suficiente. Eu não sei, mas esta noite, eu vou trabalhar com você, — ele afirmou, passando a
gosma sedosa no meu cabelo.
Engoli. Havia algo sexy nele condicionando meu cabelo. Seus dedos eram gentis
enquanto corriam pelos fios molhados e rosados. — Você vai o quê?
— Você me ouviu, — disse ele, juntando meu cabelo.
— Eu fiz, e estou tentando me convencer de que minha audição não é ruim. Você não
pode vir trabalhar comigo. Não é assim que um emprego funciona, — argumentei, meu olhar
atraído para a camisa colada em seu peito como uma segunda pele. Definiu cada músculo de
seu abdômen.
— Vou ser bom para os negócios, Firefly, — afirmou, sem ceder um centímetro.
— É disso que tenho medo, — murmurei, deslizando meus dedos sob sua camisa
molhada e avançando o material sobre seu abdômen. — Já que você está aqui, você também
pode usar a água.
Brock se inclinou, alinhando seus lábios aos meus, e sussurrou: — Eu odeio
desperdiçar uma oportunidade.
Eu sorri em seu beijo. — Eu apenas aposto.

***
Eu não podia me dar ao luxo de uma única distração enquanto descia as escadas
correndo em um par de meus jeans mais confortáveis e minha camiseta do Lazy Ray. O
banho demorou duas vezes mais do que deveria, graças ao corpo irresistível de Brock. Eu o
amaldiçoei a cada passo.
A distração em questão ficou atrás de mim. — Eu vou te dar uma carona, já que nós
dois vamos para o mesmo lugar.
— Essa é uma boa ideia? Foi escaneado em busca de bombas? — Eu perguntei,
principalmente provocando ele enquanto pegava meu moletom com zíper do armário do
corredor e deslizava meus braços nas mangas.
Brock balançou a cabeça, esperando por mim.
— Cedo demais? — Eu brinquei mal, meus lábios se contraindo. Eu ainda não o havia
perdoado completamente, mas achei difícil ficar brava com o idiota, mesmo quando ele
merecia o tratamento do silêncio.
— Ele não vai chegar a menos de dez metros do meu carro sem que eu saiba primeiro,
— ele jurou, determinação brilhando em seus olhos.
— Bom saber, e eu não quero os detalhes. Só que você estará seguro é o suficiente
para mim. Abri a porta da frente, prestes a entrar, quando uma voz me parou.
— Brock, eu... — Kenna desceu correndo as escadas, parando quando seu olhar
pousou em mim e todo o comportamento em sua expressão mudou, passando de euforia para
reserva de aço. — Oh. Você está em casa.
— Você também, eu vejo, — eu disse, minha voz menos que agradável. Meu olhar
voltou para Brock enquanto ele olhava para Kenna. A tensão aumentou no ar entre nós três.
Isso poderia ficar mais desagradável? Como eu me encontrei em uma guerra estranha por um
cara com minha irmã? Porque era assim que parecia, como se estivéssemos lutando pelo afeto
de Brock.
— Você precisava de algo? — Brock instigou Kenna, sua mão apoiada na porta aberta
sobre minha cabeça.
Seus dedos torceram sobre o corrimão enquanto ela chupava o canto do lábio inferior.
— Eu ia pedir uma pizza e não sabia se você queria salsicha ou calabresa, — ela respondeu,
parecendo insegura.
— Pegue o que quiser. Estou saindo. — Seu tom permaneceu nivelado quando ele
respondeu.
Kenna desceu outro degrau, curvando os lábios. — Você está indo?
Foi um pouco de pânico que ouvi em sua voz? Não me diga que ela estava com medo
de ficar sozinha? Ou isso era apenas mais um truque? Eu me importei?
Independentemente disso, eu não estava por perto para descobrir. Eu estaria atrasada
como estava. — Eu tenho que ir.
— Como o inferno, — Brock rosnou, seus dedos agarrando meu braço antes que eu
pudesse deslizar completamente para fora da porta. Ele virou a cabeça para Kenna. —
Grayson está a caminho de casa. Ele deve estar aqui em alguns minutos. Tranque a porta atrás
de nós.
— Por favor, fique, — eu rebati. — Eu odiaria interromper seus planos para o jantar.
— Eu me virei, correndo pela varanda da frente.
Brock estava em meus calcanhares. — Firefly, — ele chamou atrás de mim em um
huff, me alcançando com dois passos.
Amaldiçoei suas longas pernas e o perfurei com um olhar de não-me toque. — Deixe-
me ir ou estamos prestes a ter nossa primeira explosão bem aqui no meu jardim da frente.
— Furefly, — ele rugiu novamente.
Eu balancei minha cabeça. — Não. Apenas não.
Seus dedos afrouxaram, e eu decolei, correndo pela garagem até o BMW. Brock
estava na frente do carro, fazendo uma careta para mim enquanto eu pulava no banco do
motorista e apertava o botão de partida. Acelerei o motor uma vez e mandei o carro para trás,
os pneus girando.
CAPÍTULO DEZESSETE

A palma das minhas mãos bateu no volante depois que parei no estacionamento do
Lazy Ray. Meu olhar foi para o local carbonizado no chão onde o carro de Brock esteve, a
área marcada com fita amarela.
Será que eu me enfureci por causa da pizza?
Ok, para ser justa, a questão foi muito mais profunda do que ele jantando com minha
irmã. Sim, eu estava sendo super sensível devido à nossa briga anterior, mas eu só precisava
de alguns minutos sozinha para limpar minha cabeça. Eu sabia que Brock não estaria muito
atrás de mim.
Ele poderia ter me deixado sair sozinha, mas isso não significava que eu estava
sozinha.
Eu odiava brigar com Brock, particularmente sobre Kenna. Ela se tornou um ponto
sensível em nosso relacionamento, que ainda era muito recente para lidar com problemas
como este.
A maneira como terminamos as coisas pesou em minha mente durante toda a primeira
hora do meu turno, e apesar de dizer a mim mesma que não o queria aqui, meus olhos
continuaram a desviar-se para a porta, esperando o momento em que ele entrasse.
Ele estava me dando espaço, ou ele estava tomando espaço. Eu não conseguia decidir
qual.
A agitação do jantar de sábado apenas começou e, em comparação com a noite
passada, beirava o patético. Apenas um punhado de pessoas comeu ou sentou no bar
assistindo a um jogo de futebol da faculdade.
— Você tem algo em mente? — Ray perguntou, batendo o quadril contra o balcão do
bar ao meu lado enquanto eu esperava Zeke preencher um pedido de cerveja.
Peguei uma pilha de guardanapos extras para a mesa doze. — Muito. Acho que meu
cérebro pode explodir se eu adicionar mais uma coisa para pensar.
— Tem algo a ver com o que aconteceu ontem? ela perguntou, não de uma forma
curiosa, mas mais preocupada.
Eu já tinha pedido desculpas um zilhão de vezes quando cheguei ao meu turno, e Ray
sendo Ray apenas ignorou o incidente como se não fosse grande coisa. Mas era. —
Indiretamente, — eu admiti.
— Hmm, — ela franziu os lábios para algo atrás de mim. — E aquele pedaço de
bunda quente que acabou de entrar pela porta? Eu estou supondo que tem algo a ver com ele
também?
Meus olhos se voltaram para a entrada, já sabendo quem seria. Claro como a merda,
Brock Taylor estava na frente do bar, seus olhos imediatamente colidindo com os meus. Uma
vez que eles me encontraram, eles ficaram, inabaláveis.
Pela rigidez de sua mandíbula, pude ver que ele ainda estava irritado comigo. O que
mais havia de novo? Aparentemente, o espaço não foi suficiente para esfriar seu
temperamento.
— Onde está a comitiva? — Ray sussurrou, movendo-se para o meu lado. — Ouvi
dizer que ele nunca vai a lugar nenhum sem a Elite.
— Isso não é exatamente verdade, — eu murmurei, lembrando dos guardanapos
extras que a mesa doze havia pedido.
Ray equilibrou uma cerveja em cada mão. — Puta merda. Ele está vindo para cá? Oh
meu Deus. Meu cabelo. — Com o canto do olho, vi as cervejas vindo em minha direção e as
peguei sem derramar nenhuma em minhas mãos. Ray alisou o cabelo dela com movimentos
frenéticos. — De repente não consigo respirar, — ela ofegou.
— Eu conheço bem o sentimento, — eu murmurei, meu olhar ainda preso com o de
Brock. Ele teve esse efeito em mim também. Eu não conseguia desviar o olhar.
Meu pulso acelerou quando ele se aproximou o suficiente para que eu pudesse
finalmente pegar uma pitada de seu cheiro, e meu corpo inteiro relaxou. — Você está aqui.
Franzindo a testa, ele enfiou as mãos nos bolsos traseiros. — Onde mais eu estaria? Se
você insiste em trabalhar, então não tenho escolha a não ser estar aqui também.
Eu coloquei uma mão no meu quadril, deslocando a maior parte do meu peso para um
pé. — Você poderia ter enviado um dos caras.
— Eu poderia ter. Você prefere que eu ligue para Micah? — ele perguntou com uma
sobrancelha levantada em questão.
— Pode ser. Pelo menos ele não vai passar a noite inteira me encarando, — eu
retruquei.
— Não, apenas dando em cima de você. — Brock pegou uma das cervejas da minha
mão e tomou um gole.
— Ei, — eu repreendi. — Eu precisava disso.
— Eu também, Firefly, — ele murmurou, tomando outro longo gole de cerveja.
Eu torci meu nariz. — Você acha que Carter vai aparecer no meu trabalho?
— Sim, — afirmou ele com naturalidade.
O triste era que eu também.
— Ray! — Zeke gritou do bar.
Eu tinha esquecido completamente que ela estava ao meu lado. Ray piscou, como se
ela estivesse saindo de um transe, ainda mais ou menos olhando para o meu namorado, mas
eu não podia culpá-la por isso. Brock não era apenas atraente pra caralho, ele também tinha
uma intensidade sobre ele que capturava as pessoas.
— Ray, este é Brock. Meu namorado. Ray é meu chefe, — eu expliquei, fixando-o
com um olhar agradável. Eu não me incomodei com o nome dele, porque ela sabia que ele
era.
Brock poupou-lhe um olhar de dois segundos, que era tudo o que ele dava à maioria
das pessoas. — Você é Ray. Lugar interessante.
— Era do meu pai, — ela conseguiu dizer.
Zeke balançou a cabeça, rindo dela atrás do bar. Seu olhar estalou para ele, e ela o
descartou, apenas fazendo Zeke rir mais.
— Eu deveria me desculpar pelo problema ontem à noite, — ele disse a ela, me
chocando. — Não posso prometer que mais não chegará à sua porta.
— Brock, — eu assobiei, a cerveja na minha mão quase transbordando.
Ele me ignorou e continuou. — Você sabe quem eu sou? — ele perguntou de uma
forma que sugeria que ela teria que ser uma eremita para não saber quem ele era.
Ray assentiu. — E Grahams não foge de problemas quando envolve um amigo.
Eu pisquei. Ray sabia sobre mim? Certamente, a Elite tinha a reputação de causar
estragos, mas ela olhou diretamente para mim quando falou. Dificilmente éramos amigos,
não tenho certeza se dois dias no trabalho foram suficientes para formar esse vínculo, mas
apreciei seu apoio.
— Todas as cartas na mesa, pode não ser uma boa ideia eu trabalhar aqui, — eu a
avisei, mesmo que isso me custasse meu emprego. Zeke e Ray não foram nada além de gentis
e solidários. Eles tinham me dado uma chance. Eu lhe devia o mesmo respeito.
Este lugar era o meio de sobrevivência de sua família. Eu não seria capaz de viver
comigo mesmo se algo acontecesse com ele por minha causa.
Ray segurou meu olhar. — Você precisa deste emprego, certo?
Eu balancei a cabeça.
A expressão de Ray ficou séria, a clareza iluminando seus olhos verdes musgosos. —
Eu posso não entender no que você se meteu, e não é da minha conta até que alguém o faça
meu. Zeke pode não parecer muito...
— Ei! — Zeke protestou.
— Mas ele pode lidar com ele mesmo, — ela continuou, arrasando bem acima da
explosão de Zeke. — Nós dois podemos.
— Obrigado, eu acho, — Zeke retrucou com os lábios retos antes de encher a cerveja
que faltava de Ray e sair para pegar um pedido de um dos motoqueiros na extremidade do
bar.
Um entendimento passou entre Ray e Brock, o suficiente para que ele parecesse
satisfeito. — Bom. Vou me certificar de manter este lugar ocupado enquanto Josie está
trabalhando. É o mínimo que posso fazer.
Ray deu um aceno curto. — Se for como ontem à noite, eu diria que vale a pena o
risco.
Meu olhar voou entre eles. — O que acabou de acontecer?
— Negócios, Firefly. Ray e eu chegamos a um entendimento.
Ray pegou a cerveja ainda na minha mão e a que Zeke deixou no balcão e foi entregá-
las à mesa. — E de alguma forma eu não consigo decidir se isso é uma coisa boa ou não, —
eu murmurei, indo para o meio-dia.
Brock me deu um tapa na bunda. — Vai trabalhar. Está prestes a ficar agitado aqui.
— E isso é uma coisa boa como? — Eu chamei por cima do ombro.
Claro, Brock foi bom em sua palavra. Dentro de uma hora, o Lazy Ray estava
estourando. Mais ocupado do que ontem à noite, se isso fosse possível. Ray teve que chamar
uma de suas outras garotas para ajudar no último minuto. Foi demais para Ray e eu sozinhos.
Zeke estava amarrado atrás do bar, incapaz de ajudar.
Corri para fora da cozinha, virando a esquina rapidamente para onde o bar guardava
condimentos, guardanapos e talheres. O pequeno corredor também levava aos banheiros,
onde uma pequena fila se formou do lado de fora da porta da garota. Peguei uma garrafa de
molho picante para a mesa três e um conjunto extra de talheres.
— Eu não acreditei neles quando me disseram que você estava trabalhando aqui, —
disse uma voz atrás de mim, alta o suficiente para ser ouvida sobre a conversa do bar.
Eu pulei como um gato prestes a perder sua última vida, sabendo de quem era a voz
diante dos meus olhos conectados com aquele rosto arrepiante. — Carter, — eu engasguei,
minha mão voando para o meu coração. Meus olhos dispararam para o lado onde ficava a
sala de jantar principal. Eu podia ver Brock sentado no final do bar com Fynn, e ele podia me
ver, mas não Carter. O idiota se posicionou o suficiente no corredor para que ele não fosse
visível do bar. — Que porra você está fazendo aqui? — Eu assobiei, recuando até chegar à
estação de condimentos.
Merda. A maldição explodiu como uma bomba na minha cabeça. Nós não estávamos
exatamente sozinhos, mas ele ainda encontrou uma maneira de me encurralar.
Não é bom.
O medo cobriu a parte de trás da minha garganta, queimando como ácido. Sua
presença tendia a trazer a adrenalina em mim. Era como uma resposta involuntária que meu
corpo não conseguia parar.
Ele deu um passo mais perto, aumentando o fator de intimidação. Seus olhos azuis
eram duros, e suas roupas eram todas pretas como se ele esperasse problemas. — Você não é
exatamente a pessoa mais fácil de ficar sozinha.
— Por uma boa razão, seu psicopata. Toda vez que estamos sozinhos, você tenta me
matar, — eu respondi, rezando para que minha voz soasse mais firme do que a inquietação
dentro de mim.
Ele estalou a língua. — O xingamento é necessário?
— Sim! — Eu gritei, meus dedos agarrando a garrafa de molho picante.
— Ok, isso é um pouco dramático. Nem sempre, — ele disse levianamente.
— Qualquer que seja! Saia daqui antes que eu comece a gritar. Eu me atrapalhei com
a tampa da garrafa, desenroscando-a lentamente sem chamar sua atenção. Pelo menos esse
era o plano. Se ele tentou alguma coisa...
Ele ergueu as mãos, mostrando-as para mim. — Frio. Estou aqui apenas para entregar
uma mensagem.
Estar tão perto de Carter foi um lembrete rápido de quão grande ele era. Brock pode
ter altura em Carter, mas havia uma razão para Carter jogar na defesa e não no ataque no time
de futebol da Academia. — Acho que recebemos a mensagem em alto e bom som ontem à
noite. Você poderia ter matado alguém. O que há de errado com você? — eu assobiei.
Ele inclinou a cabeça para o lado, absolutamente nenhum remorso ou emoção em seu
rosto. — Ah, isso não foi nada. Apenas uma amostra do que virá se ele não deixar isso passar.
— Você pode deixá-lo ir? — Eu rebati, a tampa do molho picante completamente
desatarraxada.
— Não quando ele pretende me destruir, — ele disse sem rodeios.
Este era um jogo distorcido de quem poderia destruir quem primeiro. — E as
mensagens estúpidas que você está deixando por toda a escola? Qual é o sentido de revelar os
segredos sujos de todos? — Eu o mantive falando para distraí-lo da garrafa em minhas mãos.
Carter merecia mais do que apenas molho picante em seu rosto.
A confusão cintilou em seus olhos brevemente, apenas por um segundo ou dois. —
Desculpe desapontá-la, irmã. Por mais que eu queira levar o crédito pelo pichador, a obra não
é minha.
Carter era um daqueles criminosos que gostavam de receber crédito por seus crimes.
Ele queria o reconhecimento, como se fosse um prêmio, e lançou dúvidas o suficiente para eu
pensar que talvez não fosse ele quem estava marcando a escola. — Quem é então?
Ele deu de ombros, mudando sua postura de uma forma que me encurralou mais do
que eu já estava. — Não é problema meu. Não arrisquei vê-lo por isso.
— Tudo bem, eu vou morder a porra da isca. O que você veio me dizer? — Eu disse a
mim mesma que não me importava com o que ele tinha a dizer, e ainda assim meu pulso
latejava no meu pescoço.
Um sorriso pomposo se abriu em seus lábios, aumentando seu fator assustador. —
Preste atenção nas manchetes.
Eu pisquei. Foi isso? Uma mensagem vaga sobre a notícia? Eu odiava eventos atuais e
raramente pegava um jornal ou assistia ao noticiário na TV. E eu não estava prestes a
começar só para procurar algum tipo de ameaça subliminar que Carter estava tentando me
enviar. Eu me recusei a jogar seus jogos. — Que porra isso significa?
— Você vai descobrir em breve.
Eu tive o suficiente. Antes que eu perdesse a coragem, joguei a garrafa no rosto de
Carter, dando-lhe um bom puxão para que uma boa dose de molho de pimenta voou em seu
rosto. Saí do corredor, evitando qualquer tentativa das mãos de Carter tentando me agarrar.
Como esperado, sua primeira reação foi tirar o molho ardente dos olhos. Ideia
horrível. Ele apenas conseguiu esfregar, piorando a situação em seu rosto. Não que eu desse a
mínima.
— Sua vadia, — ele rosnou.
— Eu não sei quantas vezes eu tenho que te dizer. Fique. O. Porra. Longe de mim, —
eu avisei, a fúria fervendo em meu intestino. Medo e raiva tendiam a andar de mãos dadas.
Vendo que ele não me prendeu mais, Carter se virou e disparou pelo corredor em
direção à porta dos fundos para o estacionamento lateral.
Fiquei de pé, me sentindo mais abalada com o encontro do que pensava, olhando para
a porta como se esperasse que ele voltasse. Prendendo o lábio entre os dentes, considerei
correr pelo corredor e trancar a porta, mas isso foi risco de incêndio.
Alguém deslizou a mão sob meu cotovelo, e eu empurrei, girando ao redor, pronto
para estourar o culpado no nariz. Uma lufada de ar deixou meu peito, e eu deixei cair o punho
fechado para o meu lado, minha outra mão ainda segurando o molho picante.
Fynn ergueu ambas as mãos. — Uau, rebatedor. Sou só eu.
Uma onda de alívio fluiu através de cada célula do meu corpo. — Merda, — eu soltei.
Ele franziu as sobrancelhas, seus olhos verdes escurecendo. — Diga-me que não foi
Carter que acabei de ver sair pela porta dos fundos.
Arrepios cobriram meus braços. — Era.
— Porra. — Os olhos de Fynn ficaram duros como vidro, os músculos de seus braços
e pescoço se contraindo.
Ele começou a decolar na mesma direção que Carter tinha ido, mas eu o peguei na
porta, agarrando seu pulso antes que ele pudesse persegui-lo. — Fynn, não.
O olhar afiado de Fynn olhou para mim. — Por que diabos não? — Seu peito estufado
sob a camisa azul-marinho escura.
Sob meus dedos, eu podia sentir o quão rápido seu coração estava acelerado. —
Porque eu não quero que você vá atrás dele sozinho, é por isso. Não quero que você se
machuque.
Eu podia ver Fynn lutando. Ele era a Elite responsável, aquele que não era cabeça
quente ou imprudente. Ele era meticuloso e calmo. Usualmente. — O que ele disse? — ele
exigiu, seus lábios em uma linha reta e apertada.
Minha mão caiu de seu braço, convencida de que Carter tinha ido há muito tempo e
Fynn ficaria parado. — Algum disparate sobre ver as manchetes.
Ele se virou e pressionou as costas na porta, seus olhos procurando meu rosto por uma
resposta que nenhum de nós tinha. — O que isso significa?
Eu balancei minha cabeça. — Eu não sei, e também não tenho certeza se quero
descobrir.
CAPÍTULO DEZOITO

Aomingo veio e se foi. Independentemente de eu ter dito a mim mesma para não
checar, folheei o jornal da manhã depois que Chandler terminou de folheá-lo com seu café.
Nada. Pelo menos nada que me chamou a atenção. Eu não via como as próximas eleições
locais ou a seção de esportes eram relevantes para Carter ou para mim.
Na segunda-feira, eu quase esqueci a mensagem estúpida de Carter, principalmente
quando vi que o bandido do grafite atacou novamente.
QUERIDOS KERRI E IZZY. GAROTAS MORTAS NÃO PODEM BEIJAR E
CONTAR. VOCÊ VAI LEVAR SEUS SEGREDOS PARA A Tumba?
Kerri Huntington era uma das garotas do time de líderes de torcida com Izzy Clayton
e Ava Whitmore. Interessante ver o tagger segmentando outra pessoa para variar. Isso me deu
sentimentos mistos.
Ou talvez eu tenha falado cedo demais. Quarta-feira, outra mensagem apareceu, e esta
parecia chegar mais perto de casa do que a anterior. Desta vez, sua calúnia rosa foi rabiscada
no campo de futebol.
HÁ TANTO QUE VOCÊ PODE ENTERRAR. A VERDADE SEMPRE SAI.
A mensagem não nomeou ninguém específico desta vez, e ainda assim parecia
dirigida à Elite. Ou estava se referindo a Carter? Honestamente, havia muitas pessoas nesta
escola com segredos.
Independentemente disso, Brock finalmente parecia preocupado com quem era esse
pegador misterioso. — Acho que é hora de acabar com essa merda.
— Eu concordo, — acrescentou Grayson, olhando para a grama exuberante que havia
sido contaminada com tinta spray rosa. O campo de futebol era grama de Elite, e rabiscar o
grafite aqui já era uma mensagem.
— Você ainda não tem ideia de quem está por trás disso? — Eu perguntei, mais
curioso do que nunca sobre a identidade do pichador. Como eles entraram na escola?
Grayson balançou a cabeça. — Não, mas tínhamos outras coisas em mente. Nenhum
de nós pensou muito em quem estava por trás das mensagens.
Uma história diferente se eles começassem a revelar os segredos da Elite.
— Eu meio que acho que é... corajoso, — disse Kenna, inclinando-se para o lado. Ela
estava com o cardigã azul escuro da Academia hoje, mas mesmo isso não foi suficiente para
proteger contra o frio de novembro que varreu o ar esta manhã.
— Corajoso? — Grayson ecoou, dando-lhe um olhar estranho.
— Sim, — ela assentiu.
— Como diabos você imagina? — Grayson questionou.
— É preciso coragem para expor as pessoas por suas mentiras. Todos nesta escola têm
medo de vocês quatro e do que pode acontecer se eles fizerem algo para irritar um de vocês.
Isso significa que eles não têm medo de você. — Eu não sabia se concordava com a lógica de
Kenna. O pichador mais ou menos ameaçou ou insinuou a exposição. Eles pareciam querer
nos provocar com a possibilidade de nossos segredos serem revelados. Basicamente, se não
fossemos donos deles, o pichador o faria.
— Bem, eles deveriam ter medo, — Brock disse, seu ombro tocando o meu enquanto
ele estava ao meu lado.
Abracei meu laptop no peito, desejando não ter esquecido minha bolsa em casa. Isso
significava que eu tinha que carregar a coisa o dia todo. — Não se esqueça, você foi uma
daquelas pessoas que o pichador expôs, — eu lembrei Kenna.
Ela deu de ombros. — Eu sei, mas eles têm um certo talento que posso apreciar.
Grayson revirou os olhos. — Tanto faz, Kenna.
Brock e Grayson começaram a se afastar do campo de futebol, movendo-se em
direção à entrada da escola. Kenna e eu seguimos. — Carter jura que não é ele, — eu disse.
— E você acredita nesse pedaço de merda? — Grayson bufou.
Uma veia no pescoço de Brock latejou com a simples menção do nome de Carter.
Grayson tinha razão. Não havia nenhuma razão lógica para eu acreditar em Carter. No
entanto, isso não parecia com ele. Parecia pessoal, mas não de uma forma agressiva que
normalmente era o estilo de Carter. Ele gostava de ameaçar cara a cara, facas, revólveres,
punhos, esse tipo de coisa. Ele era o tipo de idiota que ficava físico. Essa pessoa se escondeu
atrás de suas palavras. Eles eram secretos e misteriosos, quase como se tivessem medo de
serem descobertos.
Mas esse não foi o destaque da minha quarta-feira.
Enquanto Brock, Grayson, Kenna e eu atravessávamos o estacionamento,
ziguezagueando entre os carros em direção à escola, meu telefone tocou na minha mão ao
mesmo tempo que o de Brock, Grayson e Kenna tocou.
Que diabos?
Isso foi fodidamente estranho.
Nós quatro trocamos um olhar antes de cada um de nós checar nossos telefones,
parando no meio do estacionamento. Eu senti como se estivesse no meio de um episódio de
Gossip Girl. Mas em vez de A, era C me atormentando.
A mensagem de texto era um único link para um artigo de notícias. Examinei a
manchete e meu estômago caiu.
Ex-astro de futebol e esposa de membro da comunidade local presa.
O momento havia chegado. Aviso de Carter.
Eu nunca tinha clicado em um link tão rápido na minha vida. Eu tinha que saber se
isso era verdade. Angie foi presa?
— Merda, — eu ouvi Grayson assobiar ao meu lado, e mesmo que eu sentisse seus
olhos se erguerem para mim, os de Kenna também, eu continuei a olhar para o meu telefone,
meu coração batendo no meu peito.
Meu mundo inteiro pareceu parar enquanto eu folheava o artigo, incluindo uma foto
de Angie em seu casamento glamoroso, bem ao lado da foto tirada ontem à noite.
— Isso não pode ser verdade. — Olhei para a tela, lendo a manchete uma e outra vez.
— Eu gostaria que não fosse, — disse Grayson sombriamente. — Está em todas as
redes sociais.
Filho da puta.
Eu disse a mim mesma para não olhar, mas fiz assim mesmo, e lá estava, em todo o
meu feed, pessoas postando e compartilhando as notícias sobre Angelina Patterson, a esposa
de Steven Patterson, uma figura proeminente e respeitada de Elmwood. Ele continuou
dizendo como a prisão ocorreu depois que o casal estava casado há menos de um ano.
Eu estava doente do estômago. Não importa quanta raiva e ressentimento eu tivesse
em relação a Angie, eu não queria arruinar a vida dela, não como se ela tivesse estragado a
minha. Eu não tinha isso em mim. Para não mencionar, chamou mais atenção para mim e
para os Edwards, nenhum dos quais eu queria. Olhei para cima. — Eu não acredito. Como
isso aconteceu? — Apenas algumas pessoas sabiam sobre o que Angie havia feito dezessete
anos atrás. Não havia prescrição para o sequestro, então não importava há quanto tempo o
crime havia sido cometido. Com provas, ela poderia ser acusada e condenada.
Que provas a polícia tinha que poderia tê-la levado à prisão? E quem lhes deu essa
informação?
Percorri a lista de pessoas. Eu. Os Edwards. A elite. Carter. Kenna. Loucos. Ainsley.
Angie. Talvez Steven. Eu não tinha certeza se Carter ou Angie tinham contado a ele.
— Não foram nossos pais, — disse Grayson, tão casualmente que acreditei nele. Um,
Liana me disse que ela não iria avançar com qualquer tipo de acusação contra Angie sem
minha permissão primeiro. Nem Chandler nem Liana me pareceram o tipo de pessoa que
quebrou sua promessa. Dois, eu não tinha contado a Grayson sobre a mensagem de Carter. Só
Fynn sabia, e eu o fiz prometer que me deixaria contar a Brock.
E eu tinha planejado.
Eu só não tinha chegado a isso ainda.
A conclusão lógica era que Carter foi o culpado que a entregou. Ele não só tinha a
informação, mas também as provas à sua disposição. Havia também uma pequena chance,
muito pequena, de que Steven ou mesmo Angie fossem os responsáveis. A culpa foi demais
para ela? Ela havia se entregado?
Essa foi uma pergunta simples para eu responder. De jeito nenhum. Angie não tinha
escrúpulos em seu corpo. Ela não teria se entregado e arriscado o bom nome que tanto tentara
construir para si mesma. Ela tinha trabalhado muito duro para conseguir a vida rica e fabulosa
que ela sempre sonhou.
A mensagem de Carter voltou para me assombrar.
Preste muita atenção nas manchetes.
Idiota!
— Eu não estou pronta para isso, — eu disse para Brock, pânico correndo em meu
intestino. Eu não estava pronto para toda a atenção que viria por ser a vítima nesta história ou
ver o caso de Angie ser exposto publicamente. Teria que ir a tribunal? Os Edwards? Tantas
perguntas desconhecidas, de repente eu não conseguia respirar.
A mão de Brock veio para a parte inferior das minhas costas, descansando lá. — Ei,
vai ficar tudo bem. Você não está sozinha. Você tem a família ao seu lado.
Ele quis dizer minha família Elite? Ou os Edwards. Talvez ambos.
Apreciei o gesto e sua preocupação, mas parte do dano já havia sido feito muito antes
de eu conhecer a Elite. Eu poderia ser um deles agora, e ao longo da última semana isso me
rendeu uma aparência de respeito na Academia, ou pelo menos, ninguém me assediou. Mas
eu ainda tenho o olhar e sussurros.
Agora, com todas as empresas de notícias locais relatando a prisão de Angelica
Patterson, a esposa do conhecido ex-jogador de futebol profissional Steven Patterson, seu
rosto continuaria sendo estampado em toda a Internet. E com isso vieram os detalhes e a
pesquisa. Eu era o coração da história. Meu rosto seria espalhado com a mesma frequência.
Enquanto eu caminhava entorpecida para a escola, minha mente girando, senti os
olhos de cada pessoa na Academia em mim. Aluna. Faculdade. Funcionários. Não houve
exceções.
— As pessoas nesta escola não têm nada melhor para fazer do que olhar? — Kenna
resmungou, seu olhar examinando os rostos pelos quais passamos. Ela gostou da atenção,
mas não do tipo negativo que era tudo que eu parecia atrair.
Eu não os vi. Não se importou em ver aqueles que ficaram boquiabertos. O
constrangimento já se apoderou de mim, e eu seriamente me perguntei o que eu ainda estava
fazendo na escola. Este era o último lugar que eu queria estar.
Mas eu tinha alguém para encontrar primeiro.
Forcei meus olhos a levantar do chão e percorrer os rostos que desejava evitar,
procurando por um em particular. Ignorando seus olhares e expressões de julgamento,
acelerei o ritmo, precisando encontrá-lo antes que o sinal tocasse. Merda, eu não dou a
mínima se eu tivesse que invadir cada sala de aula, eu encontraria o idiota.
Mads e Micah vieram correndo pela esquina, seus olhos pousando em mim. Eu não
parei de andar. — O que tem a bunda dela pegando fogo? — Ouvi Micah perguntar.
— O que você acha, idiota, — Mads retrucou.
Brock agarrou meu braço, me parando. — Por mais que eu ame correr atrás de você,
sua próxima aula é por aqui. — Ele apontou na direção oposta em que eu estava andando.
Para alguém que raramente me acompanhava até a aula, fiquei surpreso que ele conhecesse
meu horário de aula. Então, novamente, eu não estava. Brock fez questão de saber tudo sobre
mim.
Irritado que eu tinha sido detido, eu olhei para ele. — Há algo que eu preciso fazer
primeiro. — Eu não tinha intenção de ir para a aula depois de qualquer maneira.
Sua mão afrouxou no meu braço, mas ele não soltou. — Eu conheço esse olhar. É
aquele que diz que você está prestes a ter problemas e me irritar.
— Deus, você é bom neste jogo, — eu respondi sarcasticamente.
— Josie, sério. Péssima ideia — advertiu Grayson, adivinhando a quem minha raiva
era realmente dirigida.
— Preciso saber se foi ele. — Não que eu pudesse esperar que Carter admitisse merda
alguma, mas ainda assim, eu tinha que fazer algo com toda essa porcaria que eu estava
sentindo.
— Tudo bem, mas você não vai sozinho, — Brock admitiu entre os dentes cerrados,
finalmente soltando meu braço.
Minha raiva caiu um pouco com o apoio inabalável de Brock, mesmo quando ele não
concordou com minhas escolhas. Além de Ainsley, eu nunca tive isso antes de vir para a
Academia, e eu não tinha apenas Brock nas minhas costas. Eu tinha Mads e a Elite também.
— Obrigado. Por tudo, mas principalmente pela compreensão.
— Vamos ver o quão compreensiva eu sou depois. — Não havia nada suave em sua
expressão. Se Carter olhasse para mim do jeito errado, eu não duvidaria que Brock colocaria
sua cabeça na parede de pedra. Sem perguntas.
Encontrei Carter do lado de fora do laboratório de ciências com Shawn e Porter,
demorando-se no corredor antes que a campainha tocasse. — Isso não demorou tanto quanto
eu pensava, — Carter disse quando me viu, seu rosto em um sorriso. O idiota era tão
presunçoso.
— Bem, se não são os três maiores babacas da Academia. — O punho de Micah foi
direto para o estômago de Carter. Nenhum aviso. Seu punho apenas voou pelo ar,
conectando-se com um baque.
Carter se dobrou. — Que porra é essa, cara, — ele ofegou.
Brock e Grayson olharam para Shawn e Porter, esperando para ver se algum deles
faria alguma coisa. O único músculo que se moveu de qualquer um deles foram seus sorrisos
se transformando em carrancas.
— Vou simplificar isso. Você entregou sua madrasta? Micah perguntou a Carter,
puxando a gola de sua camisa e forçando-o a olhar para cima.
— Eu não estaria me ameaçando, — ele ofegou.
— Por que? Porque você acha que tem merda em nós? Boa sorte com isso, — Brock
desafiou, confiante pra caralho. Era intimidante, que era exatamente como ele queria que
Carter se sentisse. Blefe ou não.
— Não me faça bater em você, — Micah disse, sorrindo como se esperasse que Carter
não cooperasse para que Micah pudesse bater seus punhos nele novamente. Ele o empurrou
contra a parede.
— Acabei de entregar a mensagem, não é mesmo, mana? — Carter me deu um olhar
conhecedor, e eu fumei por dentro. Era como se o bastardo soubesse que estava me
dedurando por não ter contado a Brock sobre ele.
Os dedos de Brock se curvaram em seus lados enquanto ele decidia se deveria ou não
apenas bater em Carter ou me questionar.
Essa porra.
Todo mundo queria ficar entre Brock e eu? Mas realmente, isso era comigo. Eu
deveria ter contado a ele sobre a vinda de Carter para o Lazy Ray's, mas eu sabia que ele
exigiria que eu desistisse. Para não mencionar, o eu-te-disse-para que se seguiria.
Meus olhos se estreitaram em Carter. — Você fez isso?
— Não, — ele reafirmou com veemência, enquanto ainda olhava para Micah com
cautela. — Como eu disse, sou apenas o mensageiro.
Eu empurrei para frente, mas não fui muito longe. Grayson e Brock estavam lá, me
ladeando de cada lado. — Mensageiro para quem? Como você sabia que ela seria presa?
Carter deu de ombros com indiferença. — Seu namorado não é o único com conexões.
— Você é um idiota, — eu cuspi.
Carter limpou a sujeira invisível da frente de sua camisa. — Olhe para a companhia
que você mantém. Além disso, não sou o único com segredos para revelar. Não é mesmo,
Kenna? Carter zombou. Seus olhos azuis errantes prenderam minha irmã.
Movimento errado.
A mão de Micah atingiu como uma víbora, envolvendo a garganta de Carter, e o
prendeu ainda mais contra o armário. — Não diga o nome dela, porra. Sempre. Está claro?
Eu não tinha pensado em Kenna quando confrontei Carter. Esta foi a primeira vez que
ela o viu de perto? Eu sei que ela tinha combinado sua agenda com o conselheiro da
Academia para se certificar de que ela não teria aulas com Carter.
Meu olhar deslizou para minha irmã, preocupação batendo em mim. Ela parecia um
cervo congelado nos faróis.
Mads veio para o lado dela, colocando um braço protetor ao redor de sua prima. —
Venha, vamos. Precisamos ir para a aula—.
Kenna obedeceu, ansioso para ficar longe de Carter. Eu balancei minha cabeça em
desgosto com meu ex-meio-irmão, minha cabeça embaralhada. Era difícil acreditar em
qualquer coisa que ele dissesse. Ele era o único que fazia sentido. Tinha que ser ele.
Por que você se importa tanto? Eu me perguntei. Eu não sabia a resposta, além de não
ter lidado totalmente com meus sentimentos por Angie. Ainda havia muita mágoa, dor e raiva
para chegar ao fundo. Era como se eu apenas arranhasse a superfície e tivesse um milhão de
camadas a mais para descascar antes de chegar ao que era real.
Grayson e Micah ficaram para trás, para quê, eu não me importei. Eu deixei Brock me
puxar para longe, seguindo Mads e Kenna pelo corredor. O sinal de alerta tocou, sinalizando
que tínhamos apenas cinco minutos para entrar em nossas salas de aula. Meu primeiro
período foi do outro lado da escola e acima de um nível.
— Não foi Carter, — Kenna disse suavemente enquanto nos aproximávamos da
escada. Foi aqui que nos dividimos, mas ao som da voz de Kenna, paramos.
Mads estudou Kenna, linhas de preocupação marcando sua testa. — Você não pode
acreditar em nada do que ele diz.
Coloquei minha mão no corrimão enquanto Kenna levantava a cabeça, nossos olhares
colidindo. — Não tenho certeza, mas acho que pode ter sido seu pai, — ela concluiu, soando
como se estivesse surpresa, tendo acabado de encaixar as peças que faltavam no quebra-
cabeça.
Eu pisquei. — Meu pai, — eu me ouvi repetir. Confusão misturada com as batidas
rápidas do meu coração. — O que? Por que você diria isso?
Ela mordiscou o lábio inferior. — Eu não pensei muito sobre isso no outro dia quando
ele veio para a casa.
— Easton? — eu esclareci. — Ele veio para a casa? Quando? — Eu exigi, meus
pensamentos correndo a mil por hora.
Ela pensou de volta, sua concentração fazendo seu nariz apertar. — Deve ter sido
sexta-feira depois que você foi trabalhar. Eu estava me preparando para sair com Mads.
Na noite em que o carro de Brock pegou fogo. Eles acabaram parando e me vendo
antes do meu turno terminar no Lazy Ray's. Brock apareceu logo depois deles. — Ele nunca
disse nada para mim, — eu murmurei.
— Eu não sabia quem ele era no começo e quase não o deixei passar pelo portão. Eu
disse a ele que você não estava em casa, mas ele disse que não estava aqui para vê-lo. Ele
queria falar com mamãe e papai.
Respirei com dificuldade pelo nariz. — Oh meu Deus. Ele não.
Ela assentiu. — Papai não estava em casa. Chocante, certo, — ela disse
sarcasticamente. — Mas mamãe o levou para seu escritório. Eu sei que não deveria, mas eu
estava curiosa sobre ele e o que ele queria. Eu não podia acreditar que ele apareceu em nossa
casa.
— Você ouviu a conversa deles, — Brock adivinhou, como se fosse algo que Kenna
fazia com frequência.
Ela torceu o nariz para ele. — Qualquer que seja. É uma coisa boa que eu fiz, ou
estaríamos sentados aqui sem explicação. De qualquer forma, como eu estava dizendo, fiquei
curioso, então escutei, esperando que ele pedisse dinheiro à mamãe ou pedisse desculpas.
— Meu pai... Easton... — eu corrigi, porque essa merda de pai-não-pai estava ficando
confusa pra caralho, — nunca pediria dinheiro. Ele não é Angie. O homem tem orgulho e
respeito próprio. E ele não sabia o que ela tinha feito. Ele está tão magoado com isso quanto o
resto de nós.
Kenna saiu do caminho para deixar um rapaz e uma garota descerem as escadas. —
Você tem razão. Não que minha opinião importe, mas eu gosto dele. Ele parecia... genuíno.
De qualquer forma, eles falaram principalmente sobre você. Ele se desculpou pelo que Angie
havia feito. Uma vez que seu nome foi mencionado, a conversa derivou para como Grayson e
Josie descobriram a verdade. Easton disse que foi carma que Angie conseguiu a vida que
sempre quis, mas ao preço de seu passado ser exposto. Suas vozes ficaram mais baixas, e eu
ouvi um embaralhamento de papel. Ele saiu com um arquivo na mão. Eu não pensei muito
nisso, mas agora…
— Ele tem a evidência, — Brock forneceu. Evidência que Grayson e eu demos a
Liana.
Eu balancei minha cabeça, meus pensamentos girando. — Eu preciso falar com ele,
— eu disse, minha mão se movendo no corrimão.
A expressão de Brock ficou severa quando ele entrou na minha frente. — Firefly.
— Não posso estar aqui agora. — Meus olhos imploraram para que ele entendesse.
Por dentro, eu era uma bomba de emoções esperando para detonar, e qualquer um ao meu
redor arriscaria ser atingido por estilhaços. A pedra e os tijolos da Academia pareciam estar
me pressionando.
— Vocês vão para a aula, — ele instruiu os outros.
Kenna parecia prestes a discutir, até que Mads a beliscou debaixo do braço e depois
arrastou Kenna pelo corredor. Grayson e Micah foram embora, cada um indo para sua
primeira aula. Eles não tinham ideia de como eu estava grata por um momento sozinha.
Bem, não totalmente sozinho.
A mandíbula de Brock apertou. — Vamos, Firefly. Estou dirigindo.
Eu coloquei a mão em seu peito. — Você não precisa fazer isso.
Seus dedos resistentes cobriram os meus, pegando minha mão na dele. — Onde fores
eu vou. Além disso, nós dois poderíamos usar um dia longe daqui.

***

Olhei pela janela, meu joelho saltando enquanto eu mastigava a ponta das minhas
unhas. Minha mente evocou uma imagem de Angie atrás das grades e, uma vez lá, a imagem
ficou estampada atrás dos meus olhos. Aberto ou fechado, eu não conseguia me livrar da
derrota que vi em sua expressão. Imaginei que ela estivesse sofrendo em sua cela. Nada de
mimosas matinais. Nada de roupões de luxo. Nada de banhos de espuma. A vida atrás das
grades estava prestes a se tornar real.
— Ela vai ver um juiz esta manhã, — Brock disse, quebrando o silêncio e lendo meus
pensamentos. Ele era bom em saber como minha mente funcionava, estranhamente. — Eles
vão definir a fiança. Ela vai sair esta tarde.
Ouvi-lo reiterar o que eu imaginei que aconteceria tirou um pouco do nervosismo. —
Assumindo que Steven pague a fiança dela, — eu reclamei.
— Ele vai, — Brock disse confiante. — Os Pattersons adoram a imprensa. Bom ou
ruim, o bastardo de alguma forma vai tirar vantagem disso.
Eu bufei. — Não sei como alguém poderia transformar essa situação em algo positivo.
Brock tamborilou os dedos no volante. — Você ficaria surpreso com o que as pessoas
podem inventar. Ele encontrará uma maneira de limpar o nome dela ou obter uma sentença
seriamente reduzida. Ele não pode ter sua esposa na cadeia. Não é bom para a imagem dele.
Verdadeiro.
Eu tomei uma respiração visível, observando o mundo passar. — Eu nem sei por que
eu dou a mínima.
— Porque você é humano, — ele racionalizou. — E apesar de tudo, ela foi sua mãe,
boa ou má, por dezessete anos. Não podemos deixar de querer que eles nos amem.
Eu tinha a janela quebrada, precisando de ar fresco, e apesar de estar frio hoje, não foi
a brisa que me fez tremer.
Brock percebeu. Ele tendia a sempre ver os pequenos detalhes e aumentava o calor
um pouco, mas o frio dentro de mim era tão profundo que nenhuma quantidade de calor
poderia descongelá-lo. Eu só conseguia pensar em uma fonte forte o suficiente, e ele se
sentou ao meu lado.
Brock tirou uma mão do volante e pegou a minha, envolvendo nossos dedos.
Meu pai realmente entregou Angie? Eu tive tanta dificuldade em acreditar. Easton não
era vingativo, mas tinha um forte senso de certo e errado.
Eu tinha que falar com ele.
Eu estava fora do carro no momento em que parou na frente da loja. Brock se
esforçou para desligar o motor e pular atrás de mim, murmurando uma maldição baixinho. Eu
invadi a loja, sem parar na mesa, e fui direto para o escritório, que estava vazio.
Retrocedendo, fui até a porta de vidro atrás do balcão e a empurrei, Brock logo atrás de mim.
O zunido e o zunido de uma chave de impacto ecoaram pela garagem. Foi alto o suficiente
para que Easton não me ouviu chegando, não até que houve uma pausa no barulho e eu disse:
— Por que você fez isso? — As palavras explodiram fora de mim.
Easton saiu de debaixo do carro e piscou, parecendo confuso ao me ver. — Josi? O
que você está fazendo aqui? — Ele olhou para Brock, finalmente percebendo que eu não
tinha vindo sozinha. — Vocês dois não deveriam estar na escola?
— Você viu as notícias esta manhã? Angie foi presa—.
Easton esfregou a nuca, espalhando algum tipo de mancha escura e oleosa em sua
pele. — Eu sei. Achei que teria tempo de lhe contar antes que chegasse ao noticiário.
— Como você pode? — Eu levantei, sentindo-me traída.
Espanando as mãos nas calças já manchadas, ele respondeu com olhos sérios. — Eu
não tive escolha. O que ela fez foi errado. Isso impactou muitas vidas para ficar impune.
Eu finalmente notei alguns dos outros caras parados assistindo e ouvindo nossa
conversa. Mas realmente, como eles não poderiam? Eu estava praticamente gritando pela
garagem, e Brock apenas ficou ao meu lado, as mãos enfiadas nos bolsos, me deixando
reclamar. — Eu pensei que você ainda a amava. — Não era uma boa desculpa, e eu sabia que
estava me agarrando a palha. Uma parte de mim sabia que a verdade tinha que vir à tona, eu
só queria ter tido mais tempo antes do meu mundo implodir... de novo.
— Eu me importo com ela, — ele assegurou. — Esta não foi uma decisão que tomei
de ânimo leve.
Eu bufei. — Eu não queria isso. Estou farto de pessoas falando e sussurrando sobre
mim. Estou farto deles terem pena de mim ou julgarem a minha vida. — Descarreguei tudo.
— Eu não tive a chance de recuperar o fôlego, e agora isso. Estou me afogando.
— Nunca foi minha intenção te machucar, Josie. — Ele parecia sincero e arrependido.
— Eu sei disso, — eu disse, minha voz suavizando. Ficar com raiva de Easton não era
uma tarefa simples.
Ele olhou para um Brock por um momento, que continuou de pé protetoramente ao
meu lado. Ele estava lá se eu precisasse dele, e a mensagem era clara para Easton. — Eu
deveria ter pensado em você e seus sentimentos em tudo isso antes de tomar a decisão
precipitada de ir à polícia. Você tem razão. Eu deveria ter te contado, e me desculpe se te
machuquei. Não consigo imaginar o quão difícil e confuso tudo isso deve ser para você.
Ele não tinha ideia. — Não é que eu não ache que o que ela fez foi errado. Ela mudou
toda a minha vida. É apenas….
— Você não sabe como se sentir sobre ela, — ele terminou, entendendo a turbulência
dentro de mim. — E tudo bem. Eu luto com meus sentimentos por ela também.
Eu vim aqui para obter respostas, e Easton foi direto comigo, independentemente de
eu concordar ou não com suas escolhas.
Senti alívio?
Eu teria me sentido melhor se fosse Carter quem tivesse sido preso.
— Eu tenho que voltar, — eu murmurei, precisando sair da garagem. Eu precisava de
ar fresco e espaço, mas não achava que todo o espaço do mundo iria me consertar.
— Josie, — Easton chamou quando me virei para sair. — Você vai ficar bem? — ele
perguntou quando eu levantei meu olhar de volta para ele.
Eu sabia que ele queria segurança de mim, e se eu não lhe desse algo, ele carregaria
sua culpa e se preocuparia comigo. Duas coisas que eu não queria. Então, ofereci a ele um
pequeno sorriso e respondi: — Sempre sou—.
Entorpecido, eu afundei no banco do carro de Brock.
— Para onde, Firefly? — Brock perguntou suavemente.
— Apenas dirija, — eu disse, olhando pela janela. Eu não me importava onde ou por
quanto tempo. Eu só queria continuar me movendo até que essa dor dentro de mim
diminuísse.
CAPÍTULO DEZENOVE

Devido ao feriado, tivemos uma semana curta na Academia, então não me senti mal
por faltar às aulas hoje. Os trabalhos escolares tendiam a ser leves nos feriados. Eu
definitivamente estava ansiosa por um longo fim de semana longe de toda a porcaria da
escola, mais ainda porque Brock ficaria conosco durante o Dia de Ação de Graças.
Nós não corremos para casa imediatamente. Conforme solicitado, Brock apenas
dirigiu, nos levando para fora dos limites da cidade, onde a vista se tornou algo de um cartão
postal. Montanhas ondulantes cobertas de sempre-vivas vibrantes, bordos e carvalhos. Ele
circulou o lago prateado enquanto eu olhava para a superfície lisa da água refletindo o céu
claro acima. Era uma vista deslumbrante e um dia muito bonito para ser desperdiçado com
sentimentos ruins e situações tristes e confusas.
Por que eu não poderia ter um dia normal, um piquenique à beira de um lago de tirar o
fôlego com um garoto lindo? Eu até daria um passeio de outono. Era demais querer um
encontro comum com meu namorado sem lágrimas, facas ou inimigos malucos com
vinganças?
Brock não exigiu nada de mim. Ele me deixou fervilhar na minha cabeça, permitindo-
me classificar minhas emoções emaranhadas. Nós dois tínhamos muito em nossas mentes, e
havia algo calmante em estar na companhia um do outro sem dizer uma palavra.
Talvez ser capaz de fazer isso com ele e não sentir a necessidade de preencher o vazio
com conversa fiada disse algo sobre nosso relacionamento.
Quando chegamos em casa algumas horas depois, a casa estava vazia, felizmente. Até
Elise devia estar fazendo recados, provavelmente se preparando para o jantar de Ação de
Graças. Ainda tínhamos mais de uma hora antes do fim das aulas, mas depois havia futebol e
treino de torcida.
O que Brock e eu poderíamos fazer com a casa só para nós?
Algumas coisas me vieram à mente.
O chuveiro foi ligado no banheiro quando eu me joguei de bruços na cama. Ele estava
conosco há apenas alguns dias, e o quarto já cheirava a ele. Eu enterrei meu rosto no
travesseiro e inalei, deixando meus olhos se fecharem enquanto eu ouvia a água batendo
contra o piso do chuveiro.
Um zumbido vibrou na mesa, interrompendo meus poucos minutos de descanso. Abri
meus olhos e olhei para o telefone que Brock deixou carregando na mesa de cabeceira.
Eu não deveria. Eu não tinha motivos para checar o telefone dele, e ainda assim, uma
vez que o pensamento entrou na minha cabeça, eu não conseguia deixá-lo ir. Nem mesmo
meu namorado nu no chuveiro poderia me tentar.
Racionalizações eram muito fáceis de fazer. E se algo acontecesse na escola? E se
Carter tivesse feito alguma coisa? Machucou Ainsley? Ou Kenna? Quer dizer, eu não era o
tipo de namorada que bisbilhotava o telefone do namorado, mas isso não era espionagem.
Isso pode ser importante.
Vibrou novamente, a tela se acendendo.
Foda-se.
Esticando meu braço, peguei seu telefone da mesa, olhando para a visualização da
mensagem na tela de bloqueio. Não era de um número em seus contatos, mas a mensagem
curta fez meu estômago revirar.
Ainda não terminei com você. Não até eu destruir você.
Rapidamente passei a mensagem, meus dedos tateando para digitar a senha. Um nó se
formou no meu estômago, crescendo nos poucos segundos que levou para o telefone
desbloquear e a mensagem aparecer na tela.
Que porra?!
Uma série de textos entre essa pessoa misteriosa e Brock se espalharam pela tela.
Percorri a mensagem, folheando o texto. Todos eles eram praticamente as mesmas ameaças
de merda. Eu mato e seus cachorrinhos também. Eu vou rasgar sua namorada por
dentro. Você não vai querê-la quando eu terminar.
Pelo tom da mensagem e pelo fato de me mencionarem continuamente em algum ato
grotesco, era fácil deduzir quem estava atrás do outro telefone.
— Que idiota, — eu murmurei. Carter era pior que um idiota, mas meu cérebro estava
frito demais para pensar em algo cruel e apropriado o suficiente para chamar esse idiota. Eu
costumava me orgulhar de ser criativo e sarcástico. O sarcasmo era meu superpoder. Mas
Carter tinha encontrado uma maneira de sugar a maldade artística de mim.
Brock mencionou que Carter estava enviando mensagens para ele. Ele tinha mais ou
menos ignorado, mas o que eu vi criou uma tempestade de terror e fúria dentro de mim.
Me deparei com uma foto, e meu coração parou.
Era eu dormindo na minha cama na casa dos Patterson. Carter tinha tirado as cobertas
antes de tirar uma foto minha em apenas uma camiseta grande demais, com a mão na minha
coxa. Sob a foto havia um texto que gelou meu sangue. As coisas que eu fiz com ela
enquanto ela dormia sob o meu teto.
Um estremecimento de repulsa passou por mim ao pensar em Carter me tocando sem
que eu soubesse, em meu sono, o estado mais vulnerável em que uma pessoa poderia estar.
Doente. Pensar em Carter entrando no meu quarto e tirando fotos minhas me deu o pior caso
de arrepios de todos os tempos.
Achei que poderia estar doente.
A pior coisa que eu poderia fazer era continuar rolando, mas foi exatamente o que eu
fiz. Pensar em Carter atormentando Brock com todos esses textos sexuais e gráficos quase me
deixou no limite. Eu tive que me conter para não atirar de volta um milhão de mensagens
minhas, chamando-o de cada mentira.
Outra mensagem chegou, e meu pulso disparou. Rolei de volta para o início, meus
olhos lendo o novo texto.
Você acha que ela gostaria disso?
Minhas palmas ficaram suadas enquanto eu esperava pelo que vinha a seguir. Sentei-
me na cama, o telefone tão apertado na minha mão que as articulações dos meus dedos
doíam.
Os três pontinhos na parte inferior da tela me provocavam. Olhei para eles com força,
desejando e não querendo que isso acontecesse ao mesmo tempo. Por que eu estava me
torturando? Eu deveria apenas colocar o telefone de Brock de volta, fingir que não vi nada.
E então surgiu a imagem.
Senti a cor sumir completamente do meu rosto.
Uma foto minha apareceu, acorrentada a uma parede com nada além de um sutiã de
renda preto e uma calcinha. Um lenço de seda estava enrolado em volta dos meus olhos. O
rosto era meu, mas não o corpo. Parecia ter sido tirada em algum tipo de masmorra sexual,
provavelmente uma sala escondida no porão dos Patterson. Steven fez uma parte do porão
convertida em uma adega anos atrás. Quem poderia dizer que não havia um painel secreto
que levava a algo bizarro e sombrio?
Seu filho devia ter herdado suas tendências pervertidas de algum lugar. Certo?
A imagem foi claramente alterada. Eu não me importava com quantas drogas Carter
poderia ter me dado quando eu não sabia. Essa foto não era minha. A cabeça tinha sido
esbofeteada no corpo de outra pessoa. Ele nem tinha feito um bom trabalho ao tentar fazer o
trabalho de hacker parecer real.
Eu conhecia bem meu corpo, e aqueles não eram meus seios, nem minhas pernas. Mas
o visual estava lá. Carter pretendia fazer Brock imaginar isso, uma imagem minha que iria
assombrá-lo.
Porra. Isso me aterrorizaria.
O chuveiro desligou. Eu não me incomodei em colocar o telefone de Brock de volta
ou escondê-lo, porque eu não podia deixar esses textos passarem sem falar com ele. Eu
duvidava que discutir isso me faria sentir melhor. Carter precisaria estar morto ou atrás das
grades para que isso acontecesse.
E dias como hoje, parecia que isso nunca seria provável.
Brock saiu do banheiro cheio de vapor minutos depois, uma toalha enrolada na cintura
e seu cabelo escuro molhado e levemente encaracolado. Seus olhos passaram de contentes a
suspeitos quando pousaram em mim e viram minha expressão.
— O que aconteceu? É sua mãe? Ela não conseguiu fiança? — ele perguntou,
saltando para uma conclusão que fazia sentido.
Na verdade, eu tinha esquecido brevemente dela em vez do texto de Carter. — Não é
isso. Eu não verifiquei. Você recebeu um texto.
Suas sobrancelhas franziram de uma forma que dizia que ele não precisava saber de
quem era. Eu peguei o aperto de sua mandíbula enquanto ele se virava para a cômoda onde
ele tinha uma bolsa cheia de roupas. Ele puxou uma camiseta cinza limpa e me encarou.
Virei seu telefone e mostrei a ele a mais nova foto minha. — Você ia me mostrar isso?
Os músculos de seu peito endureceram antes que ele puxasse a camiseta. — Não, —
afirmou. — Você tem o suficiente para lidar. Além disso, estou lidando com isso.
— Quão? — Eu exigi, fugindo para a beirada da cama, deixando cair o telefone no
meio do colchão.
Ele apoiou as mãos na cômoda atrás dele. — Eu não quero você envolvido.
Eu olhei duro para ele. — Não, você não pode fazer isso. Já estou envolvido.
— E esse é o problema, Firefly. — Deixando cair a toalha, ele não teve vergonha, e
nem eu quando meu olhar se desviou sobre ele. Eu não pude evitar. Ele era um espécime
muito bom para não apreciá-lo. Ele me deixou tomar o meu preenchimento antes de puxar um
par de moletom. — Quanto mais profundamente envolvido você fica, mais difícil é mantê-lo
seguro.
Engoli em seco, tentando me agarrar à razão de estar irritada com ele, mas depois
daquela pequena exibição... correção, não tão pequena exibição, achei desafiador. — Você
nem sempre tem que me proteger.
Ele empurrou a cômoda e caminhou até a cama, parando quando estava diretamente
na minha frente. — Talvez não. Mas eu quero.
Um suspiro deixou meus lábios, e eu abaixei minha testa em seu peito. Eu poderia
culpá-lo por se importar o suficiente comigo para querer me manter segura? Se os papéis
fossem invertidos, eu faria tudo ao meu alcance para evitar que ele se machucasse. — Deus,
eu realmente odeio ele.

***

O Dia de Ação de Graças era um dia destinado a comemorar. Para família e amigos.
Por agradecer. Para bênçãos.
Não para lágrimas e mágoa.
Angie, como Brock previu, conseguiu pagar fiança. A parte de mim que ainda se
importava com ela estava aliviada por ela não passar o Dia de Ação de Graças sozinha atrás
das grades. Mas eu duvidava seriamente que seria uma celebração alegre na casa dos
Patterson. Conhecendo Angie, o Dia de Ação de Graças poderia ser de duas maneiras. Ela
montaria um evento espetacular ou passaria o feriado com Jack, Daniels e José, algumas de
suas garrafas favoritas. Realmente, porém, ela não era exigente. Qualquer bebida forte faria o
trabalho.
E antes que meu jantar acabasse, eu desejaria uma garrafa de algo forte também.
O Dia de Ação de Graças começou maravilhoso, cheio de risadas, felicidade e uma
tonelada de comida. Elise precisava de um aumento para o banquete que ela oferecia. A
comida fluiu desde o momento em que acordei até o jantar. Futebol jogado sem parar na
televisão. Apostas foram feitas, muito ricas para o meu sangue, mas foi divertido como o
inferno ver Chandler, Grayson, Brock e até Kenna entrar em ação. A casa estava barulhenta,
em constante estado de vivas, xingamentos e risos sem parar. Eu tenho futebol suficiente na
escola, mas isso era de alguma forma diferente de assistir meu namorado e a Elite, menos
intenso. A competição amistosa era viciante e, em pouco tempo, Liana e eu nos vimos
sugadas.
Essa energia continuou durante o jantar, enquanto nos sentamos ao redor da mesa.
Pratos e tigelas de comida foram distribuídos, batatas, peru e recheio, todos os
acompanhamentos padrão. Juro que poderia comer as batatas da Elise todos os dias da minha
vida.
Eu tinha uma colher cheia a meio caminho da minha boca quando meu telefone tocou
no meu bolso. Normalmente eu não teria verificado a mensagem. Telefones na mesa durante
o Dia de Ação de Graças pareciam rudes, mas algo me fez rapidamente enfiar as batatas na
boca e pegar meu telefone.
Tirei-o do bolso de trás, tomando cuidado para manter o telefone embaixo do pano
branco enquanto desbloqueava o telefone. Brock me lançou um olhar de soslaio por um
segundo antes de voltar para a conversa ao som de Grayson mencionando seu nome.
Eu achava que Angie me desejaria um feliz Dia de Ação de Graças? Easton tinha no
início do dia. Mas eu já tinha estabelecido que Angie não era Easton. Eles nem estavam na
mesma liga parental.
Eu sabia disso na minha cabeça. Pena que meu coração ficou desapontado.
Ela nem era minha mãe, e de alguma forma ela ainda conseguiu me machucar.
O número não era de Angie. Era um contato desconhecido, o que era uma enorme
bandeira vermelha. Era o mesmo número que havia me enviado a notícia da prisão de Angie
na segunda-feira.
Desta vez foi uma foto.
E em dois segundos, a alta que eu tinha estado o dia todo desmoronou. O peru que eu
comi revirou meu estômago.
Olhei para a foto de Brock e Kenna em uma posição comprometedora. Ela tinha seu
corpo pressionado contra o dele, prendendo-o em seu SUV, seus lábios travados no que
parecia ser um beijo intenso, os dedos de Brock em seus quadris. A foto foi tirada de lado em
tal ângulo que ambos os rostos eram facilmente reconhecíveis. Não havia como confundir as
duas pessoas na foto.
Deixei escapar um pequeno suspiro, apenas alto o suficiente para Brock, que estava
sentado ao meu lado, ouvir.
Eu não conseguia tirar meu olhar da imagem, mesmo quando senti o olhar de Brock e
senti a carranca que de repente aprofundou seus lábios. Seu corpo ficou tenso e seus dedos
foram pegar meu telefone, mas eu o tirei de seu alcance.
Estávamos chamando muita atenção. Eu levantei meus olhos e notei que Grayson e
Kenna estavam olhando para nós com olhares confusos e questionadores. Eu podia ler a
mente de Grayson. Que porra está acontecendo? Essa foi definitivamente a pergunta que vi
refletida em seus olhos de conhaque.
Como um relacionamento ruim, voltei para a foto.
Como ele ousa. Como ele se atreve! O fato de que Carter conseguiu arruinar minhas
primeiras férias com minha família não passou despercebido para mim.
Eu adoraria acreditar que foi photoshopado como as fotos que Brock recebeu, e talvez
fosse, mas não mudou como eu me senti vendo os dois de lábios fechados. Foi uma merda.
Como um chute no estômago sugado, me deixando sem fôlego.
Provavelmente era uma foto mais antiga de dois anos atrás, foi o que eu disse a mim
mesma. Agora, se eu pudesse apenas me fazer acreditar. Independentemente de quando, eu
tinha certeza que havia uma explicação razoável para Brock ter sua língua na garganta da
minha irmã.
É melhor que haja, porque o ciúme criou sua cabeça feia dentro de mim. Minhas
emoções não se importavam se era ontem, dois anos atrás ou cinco anos. Havia algo
incrivelmente doloroso em ver seu namorado com outra garota, principalmente quando essa
garota era sua irmã que se parecia muito comigo.
Eu poderia ter passado a minha vida inteira sem ver essa imagem, porque agora que
eu tinha, era tudo em que eu conseguia pensar.
Qual era a mensagem que Carter estava tentando enviar? Que Brock estava me
traindo? Ou o idiota estava apenas tentando mexer com a minha cabeça? Me fazer duvidar do
cara que eu mais confiava?
Eu estava indo com a opção D. Todas as opções acima.
Outra mensagem veio enquanto eu olhava para a tela, a conversa ao redor da mesa
como ruído de fundo para o ciúme e a dor em brasa atravessando meu coração. Você
realmente acha que é a única garota com quem ele está brincando? Há mais de onde
isso veio. Se você quiser vê-los, encontre-me no domingo à meia-noite. Atrás da escola.
Venha sozinho ou a prova queima.
Meu coração ameaçou sair do meu peito. Li o texto novamente.
Ele não podia estar falando sério. Por que eu iria encontrá-lo sozinho? Tinha que ser
Carter. Certo? Era tão óbvio.
E se por algum pequeno acaso não fosse Carter, eu estava pensando em conhecer essa
pessoa?
Eu seria uma idiota do caralho, como uma daquelas garotas em todos os filmes de
terror que entram sozinhas na casa abandonada. Eu não era burro. Eu encontraria uma
maneira de enganar o lunático ou usaria isso como uma oportunidade. As rodas na minha
cabeça giraram.
E se não foi Carter, qual foi o motivo dessa pessoa? Brock Taylor estava me traindo
honestamente? Como quando ele tinha tempo?
— Josi.
Olhei para cima, e pela expressão preocupada no rosto de Liana, percebi que não era a
primeira vez que ela chamava meu nome. — Desculpe. Eu me afastei por um momento. —
Deixei cair meu telefone no meu colo, lutando contra a vontade de rastejar para debaixo da
mesa. Minhas bochechas aqueceram quando todos na mesa olharam para mim. Liana e
Chandler provavelmente assumiram que era vergonha, mas Brock e Grayson sabiam melhor.
Foi a fúria que manchou minhas bochechas de cor.
Liana me ofereceu um sorriso suave e compreensivo. — Impressionante, não é?
Peguei meu garfo e me forcei a sorrir, quando senti vontade de derramar lágrimas de
frustração. Eu estava tão farto com a merda de Carter. — Talvez um pouco, mas de um jeito
bom, — admiti, porque parecia o melhor curso de ação. Eu não queria alarmá-la. Grayson,
Kenna e eu concordamos que essa merda com Carter ficou entre nós. Envolver Liana só
causaria estresse. Nenhum de nós queria isso.
A conversa recomeçou e eu me obriguei a participar, dando as respostas apropriadas.
Meu apetite desapareceu, mas continuei a colocar comida na boca, não querendo que Liana
pensasse que algo estava errado.
Eu não podia olhar para Brock ou Kenna, não sem ver flashes da foto.
Minha mão se curvou sob a mesa, a outra apertando contra o meu garfo. Se Carter
aparecesse na porta da frente dos Edwards agora, eu enfiaria meu garfo entre seus olhos. Foi
um pensamento horrível para uma pessoa horrível, mas não tão ruim quanto a próxima ideia
que surgiu na minha cabeça.
Eu precisava parar com os planos impulsivos malucos. Eles tendiam a me colocar em
apuros.
Se eu fosse, não seria o momento perfeito para vingar o idiota? Eu duvidava que ele
veria isso chegando. Ava conseguiu o que tinha vindo. Agora era a vez de Carter. Se eu não
conseguisse prender o idiota, então a vingança era a próxima melhor coisa.
Mas como?
Eu tive pouco tempo para planejar ou preparar. Eu teria que fazer valer os poucos dias
que eu tinha.
De alguma forma, consegui passar o resto do jantar e da sobremesa sem criar uma
cena. Isso tinha que ser um disco de Josie. A última coisa que eu queria fazer era arruinar o
Dia de Ação de Graças de Liana, não quando ela estava tão animada por ter uma casa tão
cheia. Eu estava ciente dos olhares penetrantes de Brock e das carrancas de Grayson do outro
lado da mesa.
Eu não podia esconder ou fingir que a foto não existia. Brock teve um vislumbre
disso. Se ele viu ou não de quem era a foto, ainda não se sabia, mas ele sabia que isso me
chateou.
Ajudei a limpar a mesa com Kenna. Elise tinha ido para casa mais cedo para passar
um tempo com a família. Acontece que Liana não era fria e insensível como Angie, que teria
feito sua equipe trabalhar o dia inteiro, sem se importar que eles pudessem ter suas próprias
famílias esperando por eles.
Brock e Grayson enxotaram Liana para fora da cozinha, deixando apenas nós quatro
lavando a louça, uma tarefa que Kenna não ficou muito feliz quando Brock nos ofereceu para
lidar com eles. Ela pulou para a ilha, mergulhando o dedo em um pote de chantilly. — Eu não
estou lavando. Acabei de fazer minhas unhas, — afirmou.
— Tudo bem, você pode secar, — respondeu Grayson, jogando uma toalha para
Kenna. Ele abriu a água da pia e abriu a máquina de lavar louça, que Elise já havia esvaziado
no início do dia. A mulher era uma dádiva de Deus.
Eu disse a mim mesma para me concentrar na tarefa estúpida de limpar os balcões,
pratos e mesa, para não deixar minha mente vagar pelo texto, mas era muito difícil com as
duas pessoas envolvidas bem na minha frente.
Brock me pegou olhando carrancudo para uma pilha de pratos sujos. — Deixe-me ver,
— ele exigiu, estendendo a palma da mão e inclinando o quadril contra o balcão. A firmeza
em seu tom chamou a atenção de todos.
— Ver o que? — Grayson perguntou, franzindo o cenho no canto da boca enquanto
olhava por cima do ombro para nós. Ele desligou a água, banhando a cozinha em um silêncio
desconfortável.
— As mensagens que Carter enviou a ela, — Brock respondeu.
Os olhos de Grayson se estreitaram, olhando para mim. — Ele está enviando
mensagens para você?
— Aparentemente ele está, — Brock respondeu, não me dando a chance de falar. —
Quanto tempo? — Sua voz caiu para oitavas perigosas geralmente reservadas para quando ele
estava prestes a machucar alguém.
Eu respirei fundo, meus dedos se firmando no balcão. — Quem diabos você pensa
que é, tentando me intimidar assim? Não sou eu que enfio a língua na garganta de outra
garota, — eu lancei nele, finalmente deixando minhas emoções tomarem conta de mim.
Um pouco da ferocidade em suas feições suavizou, como se ele finalmente percebesse
que estava direcionando parte de sua raiva para a pessoa errada. — Do que você está falando,
Firefly? Eu não estive com mais ninguém desde o casamento.
Não é 100 por cento preciso. Ele teve aquele pequeno caso com Ava, mas eu mais ou
menos o perdoei por isso. Brock se comprometendo com uma garota era um grande negócio
no campus. Inferno, era um grande negócio em Elmwood.
— Se isso é sobre a foto que você recebeu, você, de todas as pessoas, deveria saber
melhor do que acreditar em qualquer coisa que ele te mandasse, — Brock apontou.
Verdade. Muito verdadeiro. Eu tinha sido um dos súditos de Carter.
Uma dor surda estava se formando atrás do meu olho direito, enquanto a dúvida
encontrava seu caminho dentro de mim. Eu estava exagerando? A única maneira de descobrir
era mostrar as provas.
Meus ombros se endireitaram, e eu me preparei, sem saber o que sairia da boca de
Brock. Mal sabia ele, eu já havia deletado a mensagem sobre conhecer essa pessoa no
domingo à noite. — Ok. Você quer fazer isso. Vamos fazer isso. — Relutantemente, eu
peguei meu telefone, desbloqueando a tela e entregando para Brock. Eu nem queria ver de
novo. — Importa-se de explicar isso?
Este único momento capturado partiu meu maldito coração, um coração que nunca
quis se apaixonar, nunca quis ser vulnerável a outro humano, nunca quis ser exposto ou se
importar tão profundamente com outro.
Kenna e Grayson espiaram por cima do ombro de Brock para dar uma olhada.
Eu assisti a reação de Brock primeiro.
O choque, o aperto de sua mandíbula quando seus olhos passaram da surpresa para a
fúria gelada. Eu pensei que ele poderia esmagar meu telefone em suas mãos.
A reação de Kenna não foi tão fácil de desfazer. Era como ler uma página em branco.
Nada estava lá. Esperei para ver o reconhecimento, mas ela apenas piscou.
— Você deve estar brincando, — Grayson deixou escapar. — Que porra é essa, cara?
— Ele estava naturalmente chateado, mas não tão furioso quanto eu. Minha raiva foi mais
profunda do que ciúme e confiança quebrada. — É melhor não ser o que parece, — alertou.
— Porque se for, não tenho escolha a não ser chutar sua bunda.
— Brock? — Eu pedi em um tom seco, esperando que ele explicasse isso.
Ele franziu a testa, passando a mão pelo cabelo escuro. — Não é o que você pensa.
Meus olhos se estreitaram, e eu rebati: — Sério? Porque a evidência parece muito
condenatória.
— Jesus, sério. — Grayson gemeu, balançando a cabeça em frustração.
— É falso, certo? Isso não aconteceu. Você não faria isso.
Ele parecia dividido. — Eu não.
— Então, você está dizendo que ele alterou esta foto, como as outras? — Eu
pressionei, não deixando sua expressão deter minha raiva.
Seu olhar nunca deixou o meu, e eu vi o arrependimento e a culpa dentro dele. — Não
exatamente.
— Que porra isso significa? — Grayson gritou entre os dentes cerrados, tomando
cuidado para não levantar a voz muito alto, mas ainda assim transmitir a gravidade da
situação. — Ou aconteceu ou não aconteceu. Está cortado e seco.
— É minha culpa, — Kenna desabafou, chamando nossa atenção.
Uma batida se passou antes que Grayson dissesse: — Por que não estou surpreso?
Você não pode continuar fazendo essa merda.
— Não é como se eu tivesse planejado. Eu não posso evitar o que eu sinto, — ela
defendeu, seu temperamento queimando.
O reconhecimento de que a foto era real fez com que o medo chegasse ao fundo do
meu estômago. Eu não tinha percebido o quanto eu estava me agarrando à esperança de que a
foto fosse falsa.
— Quando foi isso? — Grayson exigiu.
Eu amo que meu irmão os questionou com todas as perguntas que eu queria saber.
Isso me salvou de gastar a energia de ter que perguntar a mim mesmo. Além disso, eu não
confiava em nada para sair da minha boca agora.
— Alguns dias depois que eu voltei para casa, — Kenna admitiu, olhando para o pote
de chantilly ainda em suas mãos.
— E o que? Você ficou aí parado, — eu gaguejei para Brock, bloqueando meu
telefone. Não queria ver a foto novamente.
Ele fez uma careta, os lábios apertados com força. — Não foi assim. Eu a afastei. Mas
ela não é uma garota qualquer. Ela é a irmã do meu melhor amigo. Eu não queria machucá-la.
Sua explicação me cortou. — Você só tem garotas se jogando em você para a
esquerda e para a direita. Tenho certeza de que é uma grande dificuldade para você. —
Comecei a me virar, desejando a solidão do meu quarto.
Brock não estava me deixando sair. Seus dedos envolveram meu braço, me impedindo
de sair. Ele parecia ofendido. — Eu não fiz nada que faria Kenna acreditar que há algo mais
entre nós além da amizade.
Eu odiava pra caralho que Carter me fizesse duvidar da pessoa que eu mais amava.
Brock não me deu nenhuma razão para não confiar nele, não quando se tratava de assuntos do
coração. Manter a mim e à Elite a salvo, isso era outra questão. Ele foi direto comigo, até
mesmo sobre a merda de Ava. Então, por que eu estava tendo tanta dificuldade com isso?
Eu o ouvi recusar Kenna com meus próprios ouvidos.
O ciúme primitivo dentro de mim estava tornando difícil para mim aceitar isso.
— É verdade, — Kenna interveio. — Ele me disse mais de uma vez que não tem
sentimentos por mim assim, apesar de ter sido difícil de aceitar. Mas eu juro para você, eu
não fiz nada desde aquela noite em que fui ao quarto dele.
Brock olhou para o telefone. — Tudo o que ele enviou foi a foto? Nada mais? — ele
perguntou com ceticismo, e com razão, olhando de volta para mim.
Eu estava ferida e louca o suficiente para realmente mentir. Mas não com minhas
palavras, apenas com minhas ações enquanto eu balançava a cabeça. Eu não poderia dizer por
que não contei a Brock sobre o texto. No fundo, uma parte de mim queria ver a outra prova.
Brock afirmou que não tinha sentimentos por Kenna. Isso era tudo o que Kenna estava
fazendo? Era ela que ficava se jogando nele? Ele realmente a afastou?
As sobrancelhas de Grayson se juntaram. — Isso me faz pensar quem mais esse idiota
está fodendo com esses textos.
As palavras assim que saíram da boca de Grayson, três pares de olhos se voltaram
para Kenna. Se fôssemos fazer uma lista de todas as pessoas que Carter assediaria, ela estaria
no topo. Ele não seria capaz de resistir.
Sua expressão era toda a confirmação que precisávamos.
— Droga, Kenna, — Grayson amaldiçoou. — Por que você não disse nada?
— Porque eu não queria que você surtasse como você está agora, — ela latiu de volta,
sacudindo um dedo de chantilly para ele. — Eu não vou fugir de novo.
Com uma carranca profunda, Grayson escovou sua camisa, manchando o creme
branco. — Não esta bom o suficiente.
Kenna bufou e pulou do balcão. — É estúpido, ok? Ele está apenas tentando me
atingir, e eu não queria que Carter pensasse que ele tinha influência sobre minha vida. Então
eu os ignorei.
Ser ignorado só enfureceria Carter. Isso o deixaria louco a ponto de escalar a merda
para o próximo nível. Se você não jogasse os jogos dele, ele mudava as regras.
Grayson começou a andar pela cozinha e divagar. — Eu sabia que era uma má ideia
você voltar para casa. A merda só ficou mais bagunçada. Você acabou de dar a ele outro alvo
para acertar.
Os olhos de Kenna se arregalaram por um segundo antes de diminuir. — Nem pense
em sugerir que eu volte para Clearbrooke. Eu não vou. Ela cruzou os braços em desafio.
Brock nivelou Kenna com um olhar fixo. — Ninguém está sugerindo que você vá
embora. Só precisamos parar de brigar entre nós.
— O que precisamos fazer é parar esse bastardo. — Grayson bateu uma mão fechada
em sua outra palma. Ele estava excitado, pronto para colocar os punhos em alguma coisa.
— Estamos trabalhando nisso. — A implicação no tom de Brock deu a impressão de
que ele estava mais determinado do que nunca a cuidar de Carter de uma vez por todas.
Mas como? Nessas últimas semanas, a Elite não fez nada para retaliar.
Eu estudei Brock. — O que você não está me dizendo?
Sua expressão ficou cautelosa, e eu sabia que ele estava prestes a vomitar alguma
besteira que iria me irritar. — Nós não queremos nenhum de vocês envolvidos. Mas vamos
apenas dizer que ele não chegará à formatura.
Eu bufei. Brock deveria saber melhor do que pensar que eu ficaria apenas sentado à
margem. — Quantas vezes eu tenho que dizer isso? Kenna e eu estamos envolvidos quer
você queira ou não. Nós somos os principais assuntos da paixão de Carter.
— Deus, não me lembre, — Brock resmungou.
— Estou com Josie nessa, — Kenna disse.
Brock e Grayson trocaram um olhar, e eu pude ver que eles realmente pensavam que
poderiam manter Kenna e eu fora de seus planos. Fechei os olhos com Kenna, e algo se
passou entre nós. Imagine se Kenna e eu nos uníssemos em vez de ficarmos em lados
imponentes. Podemos entrar em todos os tipos de merda.
E então, Brock Taylor?
CAPÍTULO VINTE

A Black Friday era aparentemente uma tradição na casa de Edwards, que consistia em
acordar de madrugada, consumir baldes de café, fazer compras até cair e depois assistir a
filmes o resto do dia. De alguma forma, Grayson e Brock saíram da parte comercial da
tradição.
Eu tinha que dizer que era bom passar um tempo apenas com Liana e Kenna, e apesar
do constrangimento entre Kenna e eu, eu ainda consegui ter um dia de garotas divertido. As
multidões, os negócios emocionantes e as compras de Natal momentaneamente tiraram minha
mente esta noite.
Eu ainda não tinha decidido sobre o encontro secreto com o texter anônimo, que sem
dúvida era Carter. Só por essa razão, eu nem deveria pensar em ir. Seria imprudente.
Estúpido. Perigoso.
E mesmo assim eu ainda considerei.
Por quê?
Eu acreditava que ele tinha a prova que alegava ter? Kenna já admitiu que foi ela
quem beijou Brock. Não, ele não a empurrou imediatamente, mas ele não queria ferir seus
sentimentos. Para a Elite, Kenna era uma flor delicada que precisava ser manuseada com o
maior cuidado.
Eu chamei de besteira total. Minha irmã não era delicada. Ela era praticamente uma
mestre da manipulação, dando a Angie uma corrida pelo seu dinheiro.
Falando em Angie, não ouvi nada desde que ela pagou fiança e foi libertada da
custódia. Eu disse a mim mesma que era outra razão para fugir no domingo. Não que eu
acreditasse que Carter me daria informações verdadeiras sobre ela. Eu deveria apenas ligar ou
dar uma passada e ver por mim mesma, mas eu não estava pronta para um cara a cara com
Angie, mas isso não significava que eu parei de me preocupar com ela.
O que ela fez foi imperdoável.
E ainda assim, uma parte de mim queria perdoar, queria que ela melhorasse, que
pedisse ajuda, porque nem todas as minhas lembranças eram horríveis. Mas é claro que esses
foram os que mais se destacaram.
A única pessoa que eu nunca poderia perdoar era Carter.
Diziam que vingança era um prato que se come frio. Carter pode descobrir qual é o
gosto disso.
O resto do feriado passou voando, e quando a noite de domingo chegou, eu não queria
que acabasse. Não que eu estivesse temendo meu retorno à escola, mas estava quase com
medo de mim mesma. Eu tinha passado os últimos dois dias repassando essa ideia
imprudente que eu não conseguia deixar de lado. Uma vez que estava dentro da minha mente,
a ideia fervia e fervia enquanto eu trabalhava nos detalhes, contemplava os perigos e pensava
nos possíveis problemas que poderiam ocorrer. Havia muito. Muitos. O suficiente para que,
se eu pesasse os prós e os contras, no papel tudo me dissesse que esse era um plano ruim.
FML.
Minha cabeça estava aninhada na dobra do braço de Brock, enquanto estávamos
esparramados no sofá no andar de baixo da sala de cinema. Tigelas de pipoca vazias estavam
espalhadas, junto com várias embalagens de doces. Os créditos rolaram no final do filme, que
foi a escolha de Kenna de O Diabo Veste Prada. O filme a encaixou perfeitamente, e foi, sem
surpresa, seu favorito.
Perdi a conta de quantos assistimos, e tanto Chandler quanto Liana foram para a cama
antes mesmo de começarmos o que acabamos de terminar. Visto que Chandler era um
produtor de cinema, pode-se imaginar que a seleção de filmes na casa dos Edwards era
incrível.
Eu bocejei, me soltando dos braços de Brock e sentando no sofá. Já passava das onze
e meia. — Eu terminei, — eu anunciei, já sentindo falta do calor do corpo de Brock. — Eu
vou para a cama. — Era uma desculpa esfarrapada de estar cansado, quando na verdade eu
estava bem acordado. O bocejo fora forçado.
Brock olhou para mim, me dando uma olhada, e me fez pensar se ele sabia que algo
estava acontecendo. Ou talvez tenha sido decepção que eu vi. Não tínhamos ficado muito
tempo sozinhos, independentemente de morarmos sob o mesmo teto. Ele estava esperando ou
esperando que eu entrasse em seu quarto esta noite?
Eu estaria escapando, mas não para a cama dele.
— Estou com Josie. Eu vou para a cama também, — Kenna disse, desdobrando-se de
uma das espreguiçadeiras. Ela jogou o cobertor de lado, balançando as pernas sobre a borda
da cadeira. Nós dois estávamos vestidos com roupas igualmente confortáveis.
— Seriamente? — Grayson reclamou. — É cedo ainda. O que há com vocês duas?
— Foi um longo fim de semana, e temos escola de manhã. Estou batendo forte. Já
perdi metade das minhas partes favoritas do filme porque adormeci, — respondeu ela.
Verdadeiro. Ela tinha, fazendo pequenos, minúsculos roncos durante as partes
silenciosas do filme.
Inclinei-me e beijei Brock. No momento em que nossos lábios se tocaram, ele
suspirou, serpenteando uma mão em volta do meu pescoço, mantendo minha boca selada à
dele. Senti sua relutância em me deixar ir, e a culpa pesava dentro de mim.
Ele não se importava que tivéssemos uma audiência, mas se enchia de mim. Senti que
algo, como eu, o incomodava. O beijo, quando ele deslizou sua língua contra a minha, parecia
mais do que um beijo de boa noite.
— Ok, o suficiente, — Grayson gemeu. — Você está arruinando a vibe.
Eu ri, meus lábios se curvando em um sorriso contra os dele antes de me afastar para
olhar em seus olhos. — Noite.
Os olhos de Brock me seguiram enquanto eu me levantava, e a atração que estava
sempre entre nós me puxou. A cada passo que eu dava em direção à porta, ela puxava com
mais força, como se sentisse que eu estava prestes a fazer algo descuidado e quisesse me
impedir.
— Terror, ação ou pornografia? — Ouvi Grayson perguntar a Brock quando saí.
Eu disse a mim mesma que isso era bom para eles. Eles precisavam de algum tempo
de melhor amiga sem garotas.
Arrastando minha bunda até meu quarto, segui atrás de Kenna. A memória dela
beijando Brock ainda estava fresca e aparecia na minha cabeça em momentos aleatórios ao
longo do dia. A noite parecia ser seu momento favorito para me atormentar com a imagem.
Era difícil acreditar que meu relacionamento com ela era tão difícil e nada como eu
havia sonhado. Eu estava tão animada para finalmente conhecer minha irmã, mas desde o
primeiro dia, as coisas ficaram tensas e estranhas entre nós.
Ela parou em sua porta, o moletom enorme caindo de um de seus ombros. — Eu sei
que já disse isso antes, mas eu sinto muito. Aquele beijo foi antes de eu perceber o quão sério
ele é sobre você. Eu não queria acreditar que ele tinha mudado. Mas ele tem. Ele realmente te
ama.
Com um encolher de ombros, tentei fazer parecer que estava mantendo a calma. —
Agradeço o pedido de desculpas. Talvez demore um pouco para superar isso.
— Justo. — Ela mexeu no cabelo, um hábito nervoso que notei que ela fazia com
frequência. — Você é muito mais legal do que você quer que as pessoas pensem. Estou feliz
que ele se apaixonou por alguém digno de seu amor.
Surpresa, eu pisquei. — É você que está agitando a bandeira branca?
Seus lábios brilhantes se contraíram. — Boa noite. — Ela se virou e fechou a porta,
me deixando sozinha no corredor.
Balançando a cabeça, fui para o meu quarto, fechando suavemente a porta atrás de
mim. Para matar o tempo, escovei os dentes, lavei o rosto, prendi o cabelo em um coque
baixo e usei o banheiro. Colocando uma calça jeans preta e vestindo um moletom da mesma
cor, tive a ideia de me misturar na noite, tornando mais fácil para mim sair de casa às
escondidas. Olhei para o relógio, vendo que tinha apenas quinze minutos para chegar à
escola. Seria perto, mas eu estava apostando em Carter por perto só porque eu sabia que ele
estava ansioso pela chance de fazer o que ele planejava para a noite.
Peguei a bolsa que tinha embalado hoje cedo cheia de provisões, incluindo Mace, uma
lanterna, uma câmera de vídeo, fita adesiva, corda, caneta taser e um canivete que encontrei
no quarto de Grayson. Deslizando meus braços pelas alças, eu a aconcheguei sobre meus
ombros e fui até a porta. Era arriscado fugir. Eu poderia ser pego pelas câmeras ou acionado
os sensores de movimento, e também havia a possibilidade de que Brock espiasse no meu
quarto a qualquer momento. Até agora, tinha sido eu na ponta dos pés na dele.
Abrindo a porta, coloquei minha cabeça para fora no corredor escuro, ouvindo
qualquer tipo de movimento. Satisfeita que o corredor estava livre, fechei a porta e passei na
ponta dos pés pelos quartos de Kenna e Grayson. Brock e Grayson ainda estavam na sala de
cinema, e nenhum som veio do outro lado da porta de Kenna quando passei.
Desci as escadas, atravessei o corredor e saí pela porta dos fundos da cozinha sem
incidentes. Pressionando minhas costas para a casa, eu me afastei, tomando cuidado para
evitar as câmeras e luzes de movimento. Havia uma seção na lateral da casa que não tinha
câmeras nem sensores.
Cada passo que eu dava, meu coração batia em meus ouvidos, e eu pensava em me
virar pelo menos um zilhão de vezes. Quase fez.
Eu me arrependeria de ter escapado? Carter tentaria me machucar novamente?
Uma parte de mim tinha medo de Carter. Eu seria um tolo se não fosse. Outra parte de
mim parecia que eu estava tão fodido quanto ele, apenas de maneiras diferentes. Não que eu
acreditasse que merecia ser drogada, sequestrada, ameaçada com uma faca e mantida sob a
mira de uma arma.
Havia outros jovens de dezessete anos por aí com tanta merda em suas vidas?
Levaria vinte minutos para ir a pé da Academia dos Edwards a pé, pelo menos. Eu não
tinha esse tipo de tempo.
Correndo pela grama do vizinho até a rua, contornei os salgueiros que ladeavam o
final da entrada e parei onde havia escondido uma bicicleta que havia encontrado na
garagem. Muito provavelmente Kenna ou Liana.
Eu estava prestes a subir e pedalar minha bunda para a Academia, quando ouvi algo.
Parecia pneus esmagando pedras e, à medida que se aproximava, ouvi o zumbido suave de
um motor de carro.
Que porra?
Quem estava saindo da casa dos Edwards àquela hora da noite?
A menos que eu não fosse o único a fugir?
Eu me agachei, me escondendo atrás do grande tronco da árvore, e esperei até que o
carro se aproximasse. Não poderia ser, poderia?
Minha sorte não foi tão ruim assim, foi?
Era.
Os faróis do carro estavam desligados, mas reconheci a marca e o modelo. O pequeno
BMW branco de Kenna, aquele que ela mal dirigia e que normalmente ficava brilhando e
bonito na frente da casa, diminuiu no final da entrada.
Onde diabos ela está indo?
De repente eu não me importei com meu disfarce sendo descoberto e saí para a
estrada quando o carro deu ré na minha frente. O motorista olhou para cima, notando-me.
Kenna e meus olhos se encontraram.
A janela do carro baixou e eu me aproximei. — O que você está fazendo? — Eu
sussurrei.
— Eu poderia te perguntar a mesma coisa, — ela retrucou, os olhos castanhos
estreitados. — Você me deu um ataque cardíaco.
Descansando minhas mãos contra a moldura da janela, eu retruquei. — Achei que
você tivesse ido dormir.
Ela me deu um olhar aguçado que dizia que ela supunha a mesma coisa. Seu olhar
passou ao meu redor em direção à casa que se erguia em uma pequena colina. — Rápido,
entre antes que alguém nos veja.
Eu pensei sobre isso por uma fração de segundo. Kenna jogou uma chave no meu
plano. — Merda, — eu murmurei baixinho e corri ao redor do carro, pulando no banco do
passageiro. Empurrei a bolsa que estava ali no chão. Ele chacoalhou, metal estalando juntos,
mas eu não prestei muita atenção. Meu foco permaneceu em Kenna. Vestido igual a mim,
todo preto.
Quando eu caí de costas no meu colo, ela colocou o pé no acelerador, acendendo os
faróis assim que saímos da casa.
Colocando meu cinto de segurança no lugar, tentei entender o que diabos estava
acontecendo e como minha noite havia descarrilado tão rapidamente. — Onde estamos indo?
— Eu perguntei.
— Isso importa? — ela mordeu de volta, mantendo o carro na velocidade perfeita do
motorista.
Embora seu olhar estivesse na estrada, eu a lancei um olhar. — Sim. Isso meio que
faz. Por que você está se esgueirando? Você está conhecendo um cara? — Era a única razão
que fazia sentido para mim.
Ela bufou absurdamente. — Não. E eu posso ver o que está passando pela sua cabeça.
Brock está com Grayson, então você pode ter certeza de que isso não tem nada a ver com ele.
O pensamento passou pela minha cabeça, mas como Kenna apontou, eu sabia onde
Brock estava. — Então, se isso não tem nada a ver com ele ou um cara, então o que é isso?
Ela não respondeu imediatamente, tomando seu tempo decidindo se eu era confiável.
— Vingança.
Surpresa passou brevemente pelo meu rosto. — Deve correr na família, — eu
murmurei.
— Por que você está se esgueirando? — ela perguntou, piscando para virar a próxima
à esquerda. O tique-taque constante encheu o carro, mais alto com o rádio desligado.
— Vingança, — eu repeti sua razão para fugir.
Os lábios de Kenna se contraíram. — Parece que podemos ter algo em comum, afinal.
Eu não tinha certeza se a vingança era algo que deveríamos nos orgulhar de
compartilhar, mas havia coisas piores pelas quais Kenna e eu poderíamos nos unir. Pelo
menos não era heroína ou metanfetamina. — Quanto você quer apostar que é a mesma
pessoa, — eu retruquei, pensando em apenas um indivíduo que Kenna odiava o suficiente
para se vingar – o mesmo idiota que eu fiz.
Ela fez a curva com facilidade, os dedos deslizando junto com o volante. — Eu não
tenho tanta certeza sobre isso. O meu não é apenas uma única pessoa, mas toda a porra da
escola.
Com as sobrancelhas franzidas, olhei para o perfil de Kenna. — Estou confusa. —
Mudando para cruzar as pernas, chutei algo no chão. Abaixei-me e vi a mochila preta,
lembrando que a havia jogado no chão do carro. O zíper estava aberto e, quando passamos
sob um poste de luz, peguei o flash de uma lata de metal. Parecia uma lata de spray.
Meu olhar subiu, prendendo Kenna com um olhar de descrença. Não poderia ser. De
jeito nenhum. Mas a evidência estava aos meus pés.
Seus olhos focaram na estrada à frente, ela não tinha notado o que eu tinha visto. —
Muitas pessoas simplesmente pararam de falar comigo depois de todo o incidente com Carter,
— ela começou a explicar. — Foi como se eu fosse a pessoa que fez algo errado.
— As pessoas não sabem como reagir ao trauma, então simplesmente o ignoram. Não
dá certo.
Ela bufou, parando o carro em um sinal de parada. Essa estrada nos tirou do
condomínio fechado em que morávamos. — Não, isso não acontece, — ela concordou, sua
dor batendo perto da minha. — Eu odeio quando as pessoas ficam na ponta dos pés ao meu
redor. Isso só piora as coisas.
Abaixei-me, envolvendo meus dedos em torno de um cilindro frio. — É por isso que
você precisa disso? — Eu perguntei, mostrando uma das latas de spray rosa.
Seu olhar deixou a estrada por tempo suficiente para olhar para mim e ver o que eu
segurava na minha mão. — Não é o que você pensa.
Eu levantei uma sobrancelha. — Sério? Porque o conteúdo desta bolsa sugere que é
exatamente o que estou pensando. Eu não posso acreditar. Você é o pichador.
Ela soltou um suspiro e murmurou: — Há coisas piores que eu poderia ter feito.
Eu balancei minha cabeça, jogando a lata de volta na bolsa. — Eu não entendo. Por
que? — Não fazia sentido. Todas aquelas mensagens expondo as pessoas. me expondo! Sem
mencionar o número de vezes que Kenna escapou e voltou para a casa. Eu nunca teria
suspeitado dela. E por que eu? A pichadora havia escrito sobre si mesma.
Seus ombros caíram depois de ficarem tensos por um momento. — Eu te disse. Eu fui
a vítima, mas fui tratada como um pária, enquanto o monstro que destruiu minha vida
continuou a ser celebrado como um herói do futebol—.
Compreendi a raiva, a injustiça e o isolamento que ela deve ter sentido. — Mas por
que me chamar ? — Meu peito se contraiu. Saber que ela estava por trás de expor meu
segredo doeu. Mais do que eu queria.
Ela engoliu em seco, suas feições quase arrependidas. — Eu estava com raiva de você
então. Você tem que entender como foi para mim voltar para casa e descobrir que fui
substituído.
— Mas eu não substituí você, — argumentei, embora seus sentimentos não fossem
algo que eu pudesse descartar. As emoções nem sempre podiam ser controladas. Quem sabe?
Se eu tivesse me colocado no lugar dela, poderia ter encontrado maneiras de me rebelar
também. Cada um de nós tinha sua própria maneira de lidar com as situações. Quem era eu
para julgá-la?
Ela mordeu o lábio inferior. — Não me senti assim quando cheguei em casa, mas sei
disso agora.
Eu realmente acreditei nela. Nos últimos dias, houve uma mudança em Kenna. Ela
poderia ter me aceitado, aceitado meu relacionamento com Brock, e eu como sua irmã. —
Isso é tão surreal. Meu cérebro não consegue entender que você é o responsável. De certa
forma, estou meio impressionado.
Um sussurro de um sorriso curvou em seus lábios. — Isso me dá uma corrida, — ela
admitiu.
— Você costuma participar de atividades criminosas? — Eu estava mais ou menos
brincando, mas também não.
Ela olhou para a esquerda e depois para a direita para o tráfego antes de fazer outra
curva. Não havia nenhum. Não a esta hora da noite. — Só quando o clima bater.
Curioso, perguntei: — Quantas vezes você escapou?
Ela bateu o polegar no volante. — Você quer um número preciso?
— Cristo, — eu exalei entre meus dentes. — Se eles descobrissem que você estava
fugindo sozinho...?
— É por isso que você não vai contar a eles. — Ela olhou para mim, buscando a
confirmação de que eu guardaria seu pequeno segredo.
Ela estava me pedindo para mentir para a pessoa mais importante da minha vida. Eu
fiz uma careta. — Eu não vou mentir para eles. — Eu não poderia fazer isso. Nem mesmo
para minha irmã.
— Engraçado, porque tudo o que eles parecem fazer é esconder a verdade de nós dois.
Ela me tinha lá. — Eu não vou dizer nada a menos que eles perguntem, — eu corrigi.
Mentira por omissão era uma mentira com a qual eu poderia viver. E eles não teriam motivos
para suspeitar de Kenna, então imaginei que o segredo dela estava seguro. Por enquanto. —
Quem é o alvo desta noite?
Seu sorriso era assustador. — Oh, alguém que você definitivamente aprovará. Esta
noite é um grande espetáculo.
CAPÍTULO VINTE E UM

Eu odiava admitir o quão intrigado eu estava, e a ideia de ficar com a Academia, para
todos os idiotas que falavam merda sobre mim, me atraiu. — Alguma chance de você querer
se juntar? Eu tenho um pequeno retorno para lidar esta noite.
Sua sobrancelha fina e escura se ergueu. — Você nunca me disse por que você
escapou.
Meu olhar se desviou pela janela, observando o borrão das árvores passar. — Acredite
ou não, eu estava a caminho da escola, — eu disse, voltando-me para ela.
Esfregando a ponta do nariz, ela perguntou: — Sério? Pelo que?
— Lembra daquela foto que recebi?
Ela fez uma cara de nojo. — Ugh, não me lembre. Prefiro esquecer que isso
aconteceu. Seria ainda melhor se você esquecesse que aconteceu.
— Eu não desejo, — eu murmurei. — Mas havia mais do que uma foto. Ele me
mandou uma mensagem—.
Seus olhos se estreitaram, os músculos das bochechas se contraindo como se ela
tivesse uma ideia de que merda Carter me enviou. — O que disse?
Eu exalei, esperando que isso liberasse um pouco da pressão que começou a se
acumular no meu peito à medida que nos aproximávamos da Academia. Presumi que Kenna
ainda tinha a escola como destino. — Ele queria me encontrar esta noite.
Sua cabeça estalou em minha direção. — Você está me cagando? Você não vai
mesmo, vai?
Eu me atrapalhei com a ponta da minha manga. O moletom começou a se desgastar de
uma maneira que eu adorava, e estava desgastado e desgastado. Minha voz não parecia ser
capaz de formar a palavra sim.
O carro diminuiu a velocidade enquanto Kenna processava meu silêncio. — Oh meu
Deus. Você vai. Você ficou maluca?
— Pode ser.
Uma lâmpada se acendeu na cabeça de Kenna. Seus olhos se arregalaram. — Merda,
isso significa que ele está na escola agora.
Olhei para o relógio. Faltavam dois minutos para a meia-noite. — Provavelmente.
Ainda temos tempo para dar a volta por cima.
— Eu não posso deixar você ir sozinha. Que tipo de irmã eu seria? — ela respondeu
sem hesitação.
Minhas mãos achatadas em minhas coxas, dedos pressionando o material. — Uma
inteligente.
— Verdade, — ela concordou quando passamos por um carro aleatório na estrada
tranquila. — Mas decisões inteligentes não acontecem em nossa família. Você ainda não
percebeu isso?
Meus lábios se contraíram, aliviando um pouco da pressão que apertava meu peito
quando eu pensava em Carter. — Esta é uma ideia totalmente fodida, mas me escute. Eu
tenho esse plano.
Ela mordeu o lábio inferior, olhando para a estrada à nossa frente por alguns segundos
antes de responder: — Estou ouvindo—.
Rapidamente repassei os detalhes enquanto Kenna dirigia. Nada sobre este plano era
infalível. Cerca de uma dúzia de coisas podem dar errado. Mas... se conseguíssemos fazer
isso, nada seria mais doce do que ver Carter humilhado.
Quando terminei, Kenna sorriu para mim. — Você é malvada.
— Eu culpo a Elite por meus caminhos tortuosos, — eu disse severamente.
— Estou dentro, — disse ela, assim.
Pisquei, surpresa. Mas eu realmente deveria ter sido? Ela tinha um saco de tinta spray
em seu carro. Estava ficando claro que Kenna tinha um lado selvagem — que ela gostava de
andar na linha do perigo. Isso me fez pensar o quanto da adrenalina que ela perseguia era
culpa de Carter. Mais um motivo para buscar justiça. Parecia que Kenna e eu estávamos
cansados de esperar que os canais apropriados fizessem seu trabalho. Agora, era a nossa vez.
Era hora de fazer justiça com nossas próprias mãos.
— Tem certeza? — Eu perguntei, dando a ela a chance de recuar agora. — Pode ser
perigoso. E se Carter não estiver sozinho? — Meu meio-irmão assustador gostava de ter
apoio.
— Vamos avaliar a escola primeiro. Eu tenho isso. — Ela puxou algo do porta-copos
e os balançou no ar. Era um jogo de chaves.
Deus, ela estava cheia de surpresas. — Estou presumindo que essas são as chaves da
Academia.
— Sim.
— Como...? Não. — Eu balancei minha cabeça. — Eu nem quero saber.
Ela riu.
Quem teria pensado que vingança, ter um inimigo comum, seria o que finalmente
uniria Kenna e eu?
Que fodido.
Eu não queria ser grata a Carter por nada. E eu não sou. Mas a verdade é que Kenna e
eu talvez nunca tivéssemos encontrado algo em comum se não fosse pelo trauma que ambos
passamos.
A Academia apareceu e Kenna apagou as luzes antes de passar pelo estacionamento
principal. — Você ainda está planejando marcar? — Eu perguntei.
— Definitivamente, acontece que minha mensagem esta noite vai muito bem com o
seu plano. É como se o destino nos unisse por esse motivo.
Foi um pouco estranho que eu estivesse feliz por Kenna querer fazer isso comigo? —
Se isso for verdade, posso apenas dizer, destino ou destino, como você quiser chamar, é uma
cadela perturbada.
Ela sorriu. — Touché.
O estacionamento estava totalmente deserto quando Kenna dirigiu o BMW para o
estacionamento dos professores no lado leste do prédio. Era também o mais distante do
campo de futebol, o que me deixava nervoso, mas se tudo corresse conforme o planejado,
então eu não tinha motivos para me preocupar com nossa fuga. Deveria ser uma navegação
suave, e Kenna e eu poderíamos fazer uma dança da vitória pelo campus.
Kenna desligou o motor depois de estacionar debaixo de uma árvore, o ponto mais
distante de qualquer poste de luz, o carro escondido pelas sombras e escuridão. De longe,
você não seria capaz de dizer que um carro estava estacionado aqui. Claramente, Kenna tinha
feito isso antes.
— Você tem tudo o que precisa? — ela perguntou, olhando para mim.
Eu balancei a cabeça. — Eu penso que sim.
— Perfeito. — Ela pegou a bolsa aos meus pés, puxando-a para o colo. — Você sabe
que quando Brock e Grayson descobrirem, nunca mais poderemos sair de casa.
— Sempre há aquela pequena chance de eles não descobrirem. — Minha voz estava
fina, sem qualquer esperança real de que pudesse acontecer.
— Devíamos ter dado pílulas para dormir durante o filme.
Eu não poderia dizer se ela estava brincando ou não. — Kenna!
Kenna desabotoou o cinto de segurança e fechou sua bolsa de guloseimas de grafite.
— O que? Não me diga que você não estava pensando a mesma coisa. Nossa liberdade
depende disso. Como eu disse, não vou voltar para Clearbrooke. Aquele lugar pode beijar
minha bunda.
Eu tinha pensado que Kenna estava feliz com sua vida morando em Clearbrooke, mas
agora eu não tinha tanta certeza. — Esta será sua última tag então? — Eu perguntei.
— Terá que ser se Grayson descobrir que sou eu quem está por trás de todas as
mensagens. — Não havia dúvidas sobre o olhar aguçado que ela dirigiu para mim.
O que ela realmente queria dizer era que, se eu gritasse e dissesse a verdade a Grayson
ou Brock, então ela não teria escolha.
Suspirei. — Vamos apenas passar esta noite primeiro. Então vamos lidar com as
consequências mais tarde.
Ela levantou o capuz, protegendo parte do rosto, mas não os lábios. Eles se curvaram.
— Ao infinito e além.
Pisquei, olhando para Kenna como se ela fosse uma alienígena. — Você realmente
acabou de citar Toy Story ?
Dando de ombros, ela abriu a porta do carro. — Foi a primeira coisa que me veio à
cabeça.
Parecendo dois bandidos prestes a invadir e entrar, o que era mais ou menos
exatamente o que estávamos fazendo, Kenna e eu corremos pelo terreno vazio até as portas
laterais. — Não há câmeras? — Eu sussurrei, meus olhos percorrendo o prédio. A Academia
parecia ainda mais assustadora à noite. Sua aparência de castelo gótico se encaixa
perfeitamente em um set de filme de terror.
Grito. Grito. Grito. Um corvo empoleirado em uma das torres pontiagudas protestou
ao nos ver rastejando nas sombras.
— Há câmeras em cada uma das duas entradas principais e uma no escritório. Mas
nenhum nas salas de aula ou na maioria dos corredores, — ela informou.
Ou ela estava saindo com a Elite por muito tempo ou Kenna era um mentor disfarçado
de uma rica líder de torcida que fingia não ter cérebro. — Como você sabe dessas coisas? —
Eu perguntei quando nos aproximamos da porta lateral.
Ela pescou as chaves do bolso de seu moletom. — Vale a pena estar envolvido nas
atividades escolares.
— Eu não saberia.
Inserindo a chave, ela abriu a porta e, juntos, deslizamos para dentro da Academia. Os
corredores vazios eram assustadores sem a constante conversa e rangido dos tênis, mas
mesmo em um fim de semana, ainda tinha aquele fedor. Produtos de limpeza misturados com
angústia adolescente. — Vamos examinar os outros estacionamentos e depois o campo de
futebol. Devemos ser capazes de vê-lo de dentro da escola com isso. — Ela tirou um binóculo
da bolsa enquanto caminhávamos pelo corredor escuro.
Meu rosto enrugou. Eu estava quase com medo de perguntar. — Diga-me por que
você carrega binóculos com você? — Não parecia ser uma ferramenta necessária para
marcação.
As solas das nossas botas eram de borracha e quase silenciosas enquanto
continuávamos pelo corredor. — No começo, eu os usava para vasculhar a escola para ter
certeza de que não havia guardas de segurança ou alguém em nossa casa para eu entrar
furtivamente.
Faz sentido, e muito completo. — Você é definitivamente melhor nisso do que eu.
As sobrancelhas de Kenna se ergueram. — O que tem na sua bolsa?
Dei de ombros. — Oh, a merda geralmente de vingança. Algemas, corda, fita adesiva,
câmera de vídeo, uma faca.
A boca de Kenna caiu. — Oh meu Deus, isso é mais como um saco de assassino em
série.
Passamos pelo escritório da instalação, e um leve toque de café dormido permaneceu
na porta. — Eu estava brincando sobre algumas coisas, mas eu trouxe maça e um taser.
— Onde você conseguiu um taser? — Ela parecia genuinamente intrigada.
— Pedi emprestado de um amigo.
Kenna olhou para mim enquanto nos aproximávamos do corredor principal. — É
estranho que eu esteja estranhamente animada?
— Provavelmente, mas honestamente, eu também estou. — Tudo sobre isso era
bizarro, mas eu iria continuar, e eu estava realmente feliz por ela estar comigo. Não havia
mais ninguém com quem eu preferisse torturar alguém do que minha irmã. Bem, talvez a
Elite também.
Mas Kenna e eu precisávamos disso. Tivemos que retomar o poder. Mostre a Carter
que não tínhamos mais medo de sua bunda manca – que as garotas também podiam ser
assustadoras pra caralho.
Verificamos a entrada norte primeiro antes de nos mudarmos para o lado oeste da
escola, onde ficavam o ginásio e os vestiários. Kenna tirou o binóculo e espiou pela janela da
porta lateral, examinando o campo de futebol.
Vinte segundos depois, ela murmurou: — Ele está lá. — Seu corpo inteiro enrijeceu,
causando uma reação em cadeia dentro de mim, só de ouvir que ele estava perto.
Meu coração ficou uma merda no meu peito, batendo tão forte que pensei que meu
coração fosse pular. — Ele está sozinho?
Ela levou mais um momento ou dois para continuar vasculhando a área. — Só vejo
um carro. Ele está parado sob um poste de luz. De tão longe, não consigo ver seu rosto
claramente, mas parece com ele.
Os pelos dos meus braços se arrepiaram. — O que ele está fazendo?
— Andando, — ela sussurrou. — Ele fica checando seu telefone.
Eram oito e meia da noite. Eu estava oficialmente atrasada, mas como eu previ, Carter
demorou para o caso. Ele não queria deixar passar esta oportunidade. O idiota não tinha ideia
de que estava recebendo um especial de dois por um.
Eu soltei um suspiro. — Eu deveria vir sozinha, mas estou me arriscando aqui e
assumindo que ele não vai se importar que eu tenha trazido você.
— Você está de brincadeira? Ele vai ter a maior ereção de sua vida, — ela disse
enquanto continuava a monitorar Carter através dos binóculos.
A repugnância passou por mim. — Bruto. A última coisa em que quero pensar é no
pau de Carter.
— Não é tão impressionante, confie em mim, — ela murmurou friamente.
O fato de ela poder brincar sobre o que aconteceu com ela me fez acreditar que ela
curou mais do que eu pensava. Parecia um grande passo.
Eu estremeci. — Estou oficialmente colocando uma meia neste tópico. Temos
assuntos mais importantes. Como vamos abordar Carter.
— Ataque surpresa.
— Isso é o que estou pensando. Ele não sabe sobre você. Usaremos isso a nosso favor.
Eu vou primeiro. — Tirei a caneta de choque da minha bolsa. — Você acha que pode lidar
com isso? — Eu perguntei, segurando-o para ela pegar.
Seus olhos brilharam. — Quão difícil isso pode ser? Eu apenas pressiono e aponto.
— Desde que funcione, não me importa o quão habilidoso ou desleixado o ato seja
feito. — Vasculhei a bolsa, tirando o canivete antes de entregar o resto para Kenna.
Ela deslizou as alças pelos braços, prendendo minha bolsa nas costas. — Apenas o
distraia o suficiente para eu me esgueirar atrás dele. Eu vou dar um tiro na bunda dele. Mal
posso esperar para ver o choque em seu rosto. Isso não vai nocauteá-lo, vai?
Eu balancei minha cabeça. — Eu não acho. Mas vai confundi-lo e desorientá-lo por
um tempo.
— Desapontamento. É melhor doer como uma cadela. Vamos. Vamos nos esgueirar
pela entrada dos fundos — ela instruiu, assumindo o papel de sócia com facilidade.
Levou mais alguns minutos para voltar e virar pelo corredor sul que levava ao pátio e
depois ao estacionamento dos fundos. Kenna abriu a porta suavemente, com cuidado para não
fazer muito barulho.
— Espere, — ela sussurrou enquanto eu caminhava. Agachada na porta, ela pegou
uma pedra e a jogou na luz do teto acima da porta. A lâmpada quebrou, cobrindo este lado da
escola na escuridão.
Eu fiquei boquiaberta para ela. Quem era Kenna Edwards? — Ok, você está
começando a me assustar.
Ela me deu um sorriso afiado, mas eu também pude ver os nervos que ela tentou
esconder. — Altura de começar. Você está acordada, irmã.
— Lembre-se, se algo der errado, você liga para Brock, — eu ordenei, segurando seu
olhar.
Ela fez uma cruz no coração. — Promessa.
Deixei Kenna na esquina enquanto saía de trás do prédio, forçando meus pés a se
moverem um por um. Era como se estivessem sobrecarregados com areia molhada. Não olhe
para trás. Não olhe para trás, eu disse a mim mesma. Era meu trabalho manter Kenna
segura, garantir que ela não fosse descoberta até o momento certo. O tempo foi fundamental.
Eu não poderia foder isso.
Uma dose perversa de ansiedade bateu em meu peito, coagulando como batatas
podres, mas apesar da sensação nauseante em meu estômago, continuei. A cabeça de Carter
se ergueu no segundo em que ele me ouviu chegando. Então sua risada perfurou a noite, um
som perturbado e distorcido. Isso fez meus ouvidos formigarem de uma maneira assombrosa.
Seus dentes brilharam. — Você está um pouco atrasada, mana. Eu estava começando
a acreditar que você não viria.
— Estou aqui. Agora me mostre a prova, — eu exigi, orgulhoso de quão estável
minha voz permaneceu, quando por dentro eu tremi.
Sua boca torceu para o lado em um sorriso torto. — Você nunca gostou de rodeios. É
o que te deixa chata.
— E ainda assim você se diverte brincando comigo o máximo possível. — Eu inclinei
minha cabeça para o lado. — Diga-me como isso faz sentido? — Estar tão perto de Carter
causou estragos em meus nervos, mas eu não queria deixá-lo ver meu medo. Fique calma,
Josie. Mantenha-o focado em você. Mudei meu corpo de uma forma que forçou Carter a ficar
de costas para a escola.
Ele se inclinou contra um dos postes de luz ao longo do lado do campo, com o
telefone na mão. — A vida é confusa. Não é para fazer sentido.
Meus dedos se curvaram ao meu lado, o canivete frio contra minha mão. — Acabe
com a besteira filosófica. Você é a última pessoa de quem eu tiraria lições de vida.
Seus lábios se contraíram tortuosamente, fazendo minha pele arrepiar, seus olhos
brilhando em satisfação crua. — Você veio sozinha. — Ao contrário de mim, ele não estava
vestido para atividades criminosas. Ele usava apenas um par de moletom da academia e um
moletom com capuz, como se estivesse correndo para o campus.
A maneira como ele me lembrou que éramos apenas ele e eu aumentou o fator medo.
Ele era bom em intimidação sutil. Eu endureci meu queixo. — Eu não vim despreparada, —
eu respondi, piscando a lâmina firmemente apertada na minha mão. — Você está armado? —
Eu perguntei, imaginando se ele tinha seu kit de estupro em seu carro. Ele não carregava nada
e não tinha bolsos para esconder uma arma que eu pudesse ver.
Lentamente, Carter levantou os braços, me mostrando as mãos. Uma delas segurava o
telefone e a outra estava vazia. Depois de um momento, ele deixou cair os braços, passando
os dedos livres pelo cabelo dourado soprado pelo vento. Tinha crescido mais nas últimas
semanas. — Quer você acredite em mim ou não, eu não vou te machucar.
Um bufo passou pelo meu nariz. — Seu histórico anterior mostra o contrário. Além
disso, você não precisa de uma arma para me machucar. Havia outras maneiras. Como
punhos e fotos do meu namorado com minha irmã, por exemplo.
— Verdade. Sua mãe voltou para casa, infelizmente. Ouvi dizer que foi seu pai quem
a entregou. Selvagem.
— Como ela está? — As palavras saíram da minha boca, ansiosas demais, e eu me
amaldiçoei. Por dentro eu me sentia dividido em dois. Angie não tinha feito nada além de
machucar, e ainda assim, eu não conseguia parar de me preocupar com ela. Provavelmente
resultou de anos de criação dela em vez de ela me criar. Com certeza era assim às vezes.
Muitas vezes eu a ajudei a tropeçar dentro de casa, a coloquei na cama, colocando aspirina e
água na cabeceira da cama para quando ela acordasse nebulosa, com uma ressaca terrível.
— Ela sente sua falta. Bem, não tanto quanto ela sentiu falta da garrafa. Você deveria
voltar para casa.
Idiota. Que jogo sujo para puxar meu coração apenas para dar um tapa no vício dela
na minha cara. — Boa tentativa. Eu não pertenço mais lá. E eu nunca vou morar na mesma
casa com você de novo, — eu cuspi, deixando meu desprezo escorrer como veneno em minha
voz.
Ele zombou. — Você deveria ter me escolhido em vez dele, então eu não teria que
quebrar seu pequeno coração.
Eu peguei um flash de movimento na escuridão atrás de Carter e sabia que Kenna
estava se movendo para matar, mas mantive meu olhar centrado em Carter, não querendo que
ele percebesse sua presença. — Ah, tenho certeza que você sentiria tanto prazer em quebrar
meus ossos quanto nisso. — Não importa o que ele me mostrasse em seu telefone, eu preferia
acreditar em Kenna e Brock sobre qualquer prova que Carter pudesse ter, independentemente
do quão prejudicial. E não havia nada agradável em ver seu namorado com outra garota. Ou
pior, vê-lo com minha irmã.
— Eu te avisei para não confiar na Elite. Eu disse que Brock iria te jogar de lado. Ele
se atrapalhou com seu telefone, desbloqueando a tela de bloqueio.
— Não vamos fingir que você se importa comigo. Tudo que sai da sua boca é mentira.
Em que porra devo acreditar? As fotos não contam toda a verdade, principalmente se tiverem
sido alteradas.
— Eu vou deixar você ser o juiz, — disse ele, seus dedos deslizando sobre a tela do
telefone.
Este era o momento ideal para Kenna fazer sua jogada, enquanto ele estava ocupado
puxando as chamadas fotos incriminatórias. Eu permiti que meu olhar se movesse por apenas
um momento para encontrar o dela. Ela estava pronta, arma de choque apertada em seus
dedos e a poucos metros de onde ele estava.
Pode ter sido apenas um instante que eu olhei para trás de Carter, mas ele sentiu algo e
olhou por cima de seu telefone para mim, uma carranca marcando seus lábios. — O que você
está escondendo? — ele perguntou, seus olhos azuis cautelosos se estreitando.
Meu pulso aumentou. Seu olhar desviou do meu rosto, cortando a escuridão atrás de
mim. Se ele olhasse por cima do ombro, nosso elemento surpresa seria destruído. Seus olhos
continuaram a se mover, aproximando-se cada vez mais de Kenna. O pânico muitas vezes me
fez fazer merdas estúpidas, e por dentro, meu pânico arranhou como uma fera selvagem,
destruindo minha compostura. Eu não podia deixá-lo ver Kenna, então fiz a primeira coisa
que me veio à mente.
Seus olhos se moveram para o lado, seu corpo ligeiramente inclinado, e foram apenas
alguns segundos antes que ele se virasse e avistasse Kenna. Eu tive que fazer algo.
Rapidamente! Meu cérebro funcionou mal. Eu congelei, perdendo um tempo precioso que
não tinha.
Então eu estava me movendo antes de perceber o que estava fazendo. Se eu tivesse
tempo para realmente pensar sobre isso, eu teria inventado uma distração melhor. Mas a
ampulheta estava sem areia.
Agarrando os lados de seu rosto, eu o virei para mim assim que pressionei meus
lábios nos dele.
A repulsa ondulou como ondas no meu estômago, e cada instinto do meu corpo gritou
para eu me afastar, arrancar meus lábios dos dele, colocar distância entre nós antes que ele
me agarrasse.
A reação de Carter era esperada. Ele apertou seus lábios nos meus, seus dedos se
movendo para meus quadris e cavando, me impedindo de ir a qualquer lugar. Pareceram
horas, esperando que Kenna o acertasse com o taser. A língua de Carter apertou contra meus
dentes, e eu engasguei, sem saber por quanto tempo mais eu poderia deixá-lo me tocar.
Então veio o zumbido.
CAPÍTULO VINTE E DOIS

Afastei meus lábios dos de Carter, empurrando seu peito enquanto o zumbido agudo
da eletricidade zumbia pela noite, um som que fez meu corpo pular. Não foi surpresa que
sacudiu dentro de mim, mas interesse. Eu nunca tinha visto alguém com tased antes.
— Que p—? — Carter ficou pálido.
Kenna encostou a caneta no pescoço de Carter antes que ele percebesse o que estava
acontecendo. Sua grande forma convulsionou, espasmos como algo de um desenho animado.
Eu poderia ter gritado TIMBER enquanto seu corpo se endireitava e caía no chão.
A contração não parou, não por mais alguns segundos, mas isso era tudo que eu
precisava para distribuir a segunda rodada do castigo de Carter. Com um leve tremor na
minha mão que poderia ser medo ou excitação, eu puxei a Maça do meu bolso e atirei nos
olhos de Carter, dando a cada um um longo spray.
Dando um passo para trás, eu espalhei o punho do meu moletom na minha boca.
Porra. Porra. Porra, isso foi nojento. Eu queria vomitar. Eu cuspi várias vezes, tentando tirar
o gosto desagradável dele dos meus lábios. Nem mesmo esfregar a mão na boca me livrou de
sua vileza.
Kenna saiu de trás do poste de luz, a caneta taser ainda na mão. Uma rajada de vento
rasgou o campo, arrancando o capuz de Kenna de sua cabeça. — Puta merda! Isso foi
incrível. — Seus olhos estavam brilhantes enquanto ela olhava para Carter.
Eu tive uma reação diferente, mas cada um na sua. — Foi alguma coisa, — eu
retruquei. — Rápido, pegue a corda. Precisamos amarrá-lo antes que ele perceba o que está
acontecendo. Eu não sabia por quanto tempo exatamente Carter ficaria desorientado, mas era
melhor se mover rápido do que arriscar.
— Eu só preciso fazer uma coisa primeiro. — Ela puxou o pé para trás e chutou
Carter na virilha.
Ele estava gemendo e chorando antes, e agora Kenna o deixou ofegante. Seu corpo
tentou se enrolar em posição fetal, mas ele não tinha plena função de seus músculos,
deixando-o caindo no chão como um peixe fora d'água.
— Isso é por me estuprar, idiota, — Kenna cuspiu, e então literalmente cuspiu nele.
— E acredite em mim, não é suficiente. — Nunca seria suficiente. Não importa o quanto
qualquer um de nós machuque Carter, isso não apagaria as cicatrizes mentais. Eles poderiam
clarear com o passar dos anos, mas algumas marcas eram permanentes.
— Você terminou? — Eu perguntei.
— Nem um tiro longo, — ela respondeu, mas abriu minha mochila e tirou a corda.
— Ajude-me a pegar as mãos dele, — eu direcionei, embolsando a Maça. Eu o queria
por perto, caso precisasse lhe dar mais uma ou duas doses.
Kenna jogou a corda em volta do pescoço e se agachou, agarrando um dos pulsos de
Carter, enquanto eu agarrava o outro. Ao contato, pude sentir pequenas convulsões de seus
músculos. Juntos, arrastamos Carter até o poste de luz. Era grosso e resistente como merda. A
única maneira de Carter sair dessa confusão seria se ele conseguisse desatar os nós. Uma
possibilidade, mas um risco que teríamos que correr. Kenna e eu já estaríamos muito longe,
mas isso prejudicaria meu plano se ele se soltasse.
— Por que diabos ele é tão pesado? — Kenna ofegou enquanto nós dois lutávamos
para puxar Carter apenas alguns metros.
— Músculo. Isso seria muito mais fácil se ele dispensasse a academia e comesse
Twinkies o dia todo, — eu gemi, puxando com toda a minha força. Meus músculos se
retesaram contra o peso de Carter.
— Nada disso, — ela concordou.
Nós o posicionamos logo após o poste de metal, manobrando seus braços ao redor
dele. Kenna se abaixou e começou a enrolar a corda intrincadamente por cima e por baixo de
seus pulsos, enrolando-a várias vezes, criando uma espécie de nó confuso.
Impressionado, perguntei: — Onde você aprendeu a fazer isso?
— Meu—nosso pai, — ela corrigiu, mantendo sua concentração nas cordas enquanto
terminava de amarrar as mãos de Carter no poste. — Navegamos uma tonelada crescendo.
— Faz sentido. E os pés dele? Acha que devemos amarrá-los também?
O queixo de Carter caiu em seu peito. — Pena que não temos algemas, — ela
comentou, se afastando dele.
Eu fiz uma careta para ele. — Confie em mim, eu pensei sobre isso. Não poderia
marcar nenhum sem levantar questões. — Eu estava brincando mais cedo quando disse que
tinha algemas na minha bolsa.
Endireitando-se, ela esfregou as mãos. — Isso terá que servir, mas acho que pode ser
mais interessante se ele puder se levantar. O que você acha?
Eu apertei meus lábios. — Hmm, você faz um bom ponto. Vamos deixar os pés dele
soltos.
Carter começou a parecer mais lúcido. Seus olhos ainda estavam bem fechados, e
poderia levar algum tempo até que ele pudesse abri-los sem uma sensação de queimação. A
área ao redor de seus olhos ardeu de irritação. — Que porra você pensa que está fazendo? —
ele resmungou.
— Tendo um pouco de diversão, — Kenna murmurou perto de seu ouvido. — Não foi
isso que você me disse?
Meu coração deu uma batida irregular no meu peito. Isso era apenas algo doentio e
distorcido que Carter diria.
— Estou feliz que você não tenha perdido a consciência. Isso não seria tão satisfatório
se você tivesse feito isso, — ela disse, dando um tapa na bochecha dele.
— Cadela, — Carter sibilou, sua voz áspera e áspera. O bastardo se contorceu em
grande desconforto. Não era nada comparado à dor e agonia que ele infligia a outras garotas.
Alcançando meu bolso para pegar meu canivete, eu o abri. Seu corpo enrijeceu com o
som. — Acho que você não precisa de seus olhos para saber o que é isso. — Corri a parte
traseira fria da faca ao longo do pescoço de Carter. — Tente não se mexer. Posso cortar
acidentalmente sua orelha ou uma artéria vital. Eu nunca fui bom em anatomia.
— Vocês vadias vão pagar por isso, — ele rosnou.
— Não, é você quem vai pagar, — eu fervi, deixando minha raiva ultrapassar meu
medo, e comecei o processo de cortar suas roupas. Arrastando a faca pela frente de sua
camisa de manga comprida, a lâmina partiu o material, apesar das tentativas patéticas de
Carter de tentar mexer ou mover as mãos para dificultar. Não que fosse uma tarefa fácil, mas
com Kenna lá, era administrável.
— Devo atirar nele de novo? — ela ofereceu com muita ansiedade.
Os olhos de Carter estavam inchados, vermelhos e inchados por causa do spray de
pimenta. Ainda levaria cerca de vinte minutos antes que os efeitos passassem, mas doeu
como uma cadela. — Não, — ele protestou rapidamente, um ar de desespero entrando em
suas feições.
Eu balancei minha cabeça. — Ainda não. Ele vai cooperar, não vai?
Carter se acalmou, exceto pela contração ocasional que ele não conseguia controlar.
Fazendo um corte em ambos os ombros, Kenna e eu rasgamos o material pela manga,
jogando-o de lado e deixando Carter sem camisa. Agora para as calças. Uma tarefa que nem
Kenna nem eu estávamos ansiosos para realizar.
Nós duas olhamos para a calça de moletom da Academia que estava pendurada em
seus quadris e o tufo de cabelo que desaparecia no cós. — Devemos pedra, papel, tesoura? —
ela ofereceu, olhando de soslaio para mim.
O ranho escorria de seu nariz enquanto ele lutava para lidar com a maça queimando
seus olhos. — Vou sair daqui. O que você acha que vou fazer com você então? — ele
ameaçou, independentemente de sua posição.
Sua ameaça era muito real, apesar de ter sido dita com uma voz grave e nariz
escorrendo, e eu seria um tolo se não levasse a sério. Eu não sabia o que ele faria quando esta
noite acabasse, mas eu também não me importava. Pressionei a lâmina contra sua barriga lisa.
— Eu não dou a mínima. Não sobre você.
— E o seu namorado? Você se importa com ele, não é? E a intimidação continuou.
Era tudo o que ele tinha. Ameaças e intimidações eram as armas favoritas de Carter, e eu
odiava admitir, ele de alguma forma as tornou eficazes o suficiente para funcionar em muitas
pessoas, inclusive eu.
Mas não esta noite - esta noite eu tinha o poder. Seu destino estava em minhas mãos.
E eu gostei.
Eu deixei a faca escorregar. Cortou perfeitamente uma ondulação do músculo do
estômago, um pequeno corte, mas o suficiente para tirar sangue e fazê-lo estremecer. — Opa,
— eu disse.
— Você me cortou, — ele engasgou, genuinamente surpreso.
Eu olhei para ele, piscando o canivete na frente de seu rosto. — O que você estava
dizendo?
— Eu vou matar você. Eu vou te matar, porra, — ele rangeu entre os dentes cerrados.
Suspirei. — Essa ameaça está ficando velha. Você deveria ter me matado quando teve
a chance. Meu olhar se ergueu para Kenna. — Aqui, segure isso. Se ele mover um músculo,
corte-o.
— Com prazer, — ela sorriu.
Agarrando seu sapato, eu o arranquei, jogando-o na grama. Eu fui para o próximo,
mas havia uma falha nesse plano. O idiota não parava quieto, os efeitos do taser lentamente
se dissipando, dando a ele mais controle sobre seus movimentos. Ele tentou me chutar
enquanto eu pegava o outro sapato.
— Porra! — Eu gritei, frustrada quando caí para trás de bunda. Obviamente, este não
foi um plano muito bem pensado.
A próxima coisa que eu soube foi que Kenna estava com o pé enfiado em seu
estômago. Ele fez um barulho estranho de oomph, seguido por um chiado. Era tudo que eu
precisava. Afastando-me da bunda, corri para pegar o sapato, arrancando-o de seu pé.
— Prostituta, — ele soltou em uma expiração. — Você não passa de prostitutas.
Neste ponto, eu estava alheio ao seu xingamento. Ele ricocheteou em mim como se
houvesse um escudo que eu tinha erguido ao meu redor. Olhei para Kenna, verificando como
ela estava. Os nós dos dedos em volta do canivete estavam brancos, não de medo, mas de
raiva.
A raiva vibrou dela em ondas quentes.
— Kenna, — eu chamei, querendo que ela desviasse sua atenção de Carter. Ela
continuou a encará-lo com um olhar que prometia a morte. Isso me assustou. Ela pode
realmente esfaqueá-lo. Por mais que eu quisesse que Carter fosse embora, eu não estava
prestes a me envolver em assassinato.
— Kenna! — Eu assobiei mais alto. — Olhe para mim.
Ela finalmente tirou os olhos de Carter. — Ele merece muito mais do que humilhação.
— Ele faz, — eu concordei. — E até que a polícia finalmente tenha provas ou um
caso contra ele, isso é o melhor que podemos fazer.
Kenna piscou lentamente. — Não é o suficiente.
— Não, não é. Você quer parar? — Eu perguntei.
— Definitivamente. Não, — disse ela com veemência.
— Por que você não me dá a faca, e você recebe as pílulas. Ok? — Estendi minha
mão, palma para cima.
Ela observou Carter por mais tempo do que eu gostaria, desperdiçando um tempo
precioso. No final, ela abaixou a lâmina levantada, virou-a e estendeu a alça para eu pegar, o
que fiz rapidamente.
Enquanto Kenna tirava as pílulas para dormir, enfrentei Carter. Eu não queria que
Kenna tivesse que tocá-lo, não que eu estivesse emocionada em colocar meus dedos em
qualquer lugar perto de seu pau, mas eu também nunca fui forçada a tê-lo enfiado dentro de
mim. Se eu pudesse salvar Kenna do trauma, eu o faria.
Antes que eu perdesse as bolas (trocadilho intencional), eu me atrapalhei com o cós de
seu moletom, enrolando meus dedos ao redor deles. Eu rocei a parte inferior de seu abdômen,
e eles tremeram ao meu toque.
— Cuidado, ou você pode me excitar. — Ele mexeu os quadris, empurrando o dito
pau na minha mão.
Isso causou uma reação diferente dentro de mim – repulsa como nunca senti. — Deus,
você é nojento. — Eu estremeci, rangendo os dentes enquanto me empurrava para trás. —
Apenas cale a boca.
Ele me lançou um sorriso irônico. — Não vamos fingir que você não está tentando
colocar suas mãos em volta do meu pau desde que você se mudou.
— Você deve ter um problema de escuta, porque eu tenho certeza que ouvi Josie dizer
para você calar a boca, — Kenna fervia, sua cabeça levantando.
— Você quer um pedaço disso também? — ele zombou, sabendo quais botões apertar.
— Deus, eu deveria amordaçar você, — eu resmunguei, meus dedos coçando para
esbofeteá-lo.
— Isso não é uma má ideia. — Kenna pegou um pedaço de sua camisa descartada. —
Abra bem, — ela iscou docemente.
Carter apertou os dentes. Se ela não quisesse arriscar ser mordida e possivelmente
contrair raiva, colocar a mordaça em sua boca seria difícil, mas apenas a perspectiva de
segurar o pano perto de sua boca era suficiente para calá-lo... por enquanto.
— Você pegou as pílulas? — Eu perguntei, atraindo seu foco de volta para mim.
Ficou claro que precisávamos de outra tática para terminar o trabalho.
— Sim, eu as peguei, — ela respondeu com um sorriso. Ela estava gostando disso.
Relutantemente, devolvi a faca a ela.
Kenna esmagou algumas pílulas brancas com a parte de trás da lâmina, despejando o
pó na água que eu trouxe. Ela voltou a tampar a garrafa e sacudiu-a. — Pena que essas não
são as mesmas merdas que você usou em mim, — ela disse para Carter. — Você deveria
saber como é ser indefeso, mal se lembrar do que aconteceu, mas voltar em fragmentos
quando você menos espera.
Carter riu, um som doentio e cruel para alguém amarrado. Se não tivéssemos o tased e
maceado, o idiota teria gostado imensamente disso. — Eu não estou bebendo isso.
— Você vai se você quiser manter suas bolas presas, — eu retruquei.
— Você não tem coragem, — ele cuspiu.
Eu inclinei minha cabeça quando me agachei ao seu nível. — Você tem razão. Mas
Kenna sim. Eu não iria testá-la.
— De baixo para cima, — disse ela, balançando a água atada na frente de seu rosto.
— Vá se foder.
Mantendo minha posição, eu o deixei ver a raiva latente em meus olhos. — Você
mexeu com a família errada.
Acenei com a cabeça para Kenna e juntos entramos. Ela beliscou suas bochechas com
o polegar e os dedos indicadores enquanto eu segurava sua cabeça firme, tentando forçar sua
boca aberta apenas o suficiente para derramar a água. Teimoso, ele apertou os dentes e lutou
contra o nosso domínio, mas ele ainda estava fraco, uma bênção que trabalhou a nosso favor.
— O que foi que você disse a todos na escola sobre mim no dia seguinte? Que eu
implorei pelo seu pau. — Kenna desencadeou mais de dois anos de dor e danos emocionais.
Incapaz de se conter, Carter cuspiu: — A verdade hu-
No momento em que abriu a boca, Kenna espremeu um jorro de água em sua boca.
Ele tossiu, engasgando com o líquido misturado com pílulas para dormir. Não lhe dando a
chance de travar sua mandíbula novamente, ela empurrou a abertura da garrafa em sua boca e
derramou outro gole em sua garganta.
— Isso deve ser bom o suficiente para torná-lo uma vítima mais flexível, — eu disse.
Provavelmente não o derrubaria totalmente, principalmente se sua adrenalina estivesse
bombeando. Eu pensei. Quer dizer, eu não era médico, mas Angie usou isso em mais de uma
ocasião quando teve uma noite difícil. Combinado com álcool, a colocou em um sono
profundo.
Kenna recuou alguns passos de Carter e sentou-se na grama. Ele ainda estava
tossindo, água pingando de seu queixo. Ela pegou sua mochila e tirou uma de suas latas de
tinta. O rolamento de esferas dentro chacoalhou quando ela o sacudiu. — Quanto tempo você
acha que temos?
Eu caí ao lado dela, descansando meus cotovelos em cima dos meus joelhos. — Não
muito. — Brock descobriria que eu tinha ido eventualmente, e quando o fizesse, seria apenas
uma questão de tempo antes que ele aparecesse. Eu estava surpreso que meu detalhe não
tinha me seguido esta noite. Talvez ele tivesse marcado horas ou adormecido em seu carro.
O ombro de Kenna bateu levemente no meu. — É estranho que este seja o maior
tempo que passamos sozinhas juntas?
— Provavelmente, — eu concordei, levantando meu rosto para as estrelas. — Mas
ninguém mais passou pela merda que passamos. Acho que é meio poético.
Ela arrancou a tampa da lata de spray. — Eu também.
— A conversa de coração para coração está realmente aquecendo, — Carter
interrompeu. — Está me dando tempo para contemplar todas as maneiras pelas quais vou ter
você de volta.
Eu balancei minha cabeça. — A vingança é uma pílula amarga. Apenas pegue isso.
Não seja covarde pelo menos uma vez na vida.
Alguns minutos se passaram e as pálpebras de Carter começaram a cair, as drogas
finalmente fazendo seu trabalho. Eu me levantei, tirando a grama de cima de mim. — Ajude-
me a tirar isso dele.
Kenna se levantou, e cada um de nós agarrou a ponta de uma perna da calça. — Tem
certeza que queremos ele nu? A ideia de ver o pau dele de novo está me dando urticária.
— Eu nunca tinha visto, e estou tendo essas mesmas urticárias. Feche os olhos —
sugeri.
Mais corajosa do que eu teria sido na situação dela, ela manteve os olhos abertos
enquanto nos puxamos juntos em um puxão rápido, tirando o moletom de Carter. Eu gemi.
Porra. Desejei ter fechado os olhos. Esta era uma imagem que eu não queria reter, mas de
alguma forma suspeitava que seria uma memória que eu nunca esqueceria.
Kenna olhou para ele e piscou. — Por que não estou surpresa que ele não esteja
usando boxers?
O bastardo estava duro.
Seus lábios se curvaram em um sorriso presunçoso. — Acesso rápido, querida. Você
nunca sabe quando vai precisar.
Eu jurei, se ele tivesse acesso às suas mãos, ele teria se agarrado com orgulho.
— Eu nunca vi um pau mais feio na minha vida, — eu engasguei.
Tirando o canivete descartado da grama, Kenna segurou a lâmina contra seu pau.
Apesar de estar cansado, os olhos azuis de Carter se arregalaram ao ver algo afiado tão perto
de seu precioso lixo. — Eu poderia cortar isso para que você não possa foder outra garota
novamente.
— Uau! — Ele tentou se esquivar, mas com o poste em suas costas, não havia para
onde ir sem arriscar a parte sensível de sua masculinidade ser cortada. — O que você quer?
Um maldito pedido de desculpas? Tudo bem, me desculpe, — ele desabafou, soando tudo
menos sincero.
Kenna riu. — Você sente muito. Você arruinou minha vida, e tudo que você tem a
dizer é uma patética desculpa. Vá se foder, Carter. Eu não quero suas desculpas.
— Isso não é mais engraçado. — Isso era verdadeiro pânico em sua voz?
— Nunca foi para ser engraçado, — eu respondi. — Estudar alguém não é engraçado.
Sequestro não é engraçado. Ter seu pai protegendo você não é engraçado.
— Você me quer de joelhos? Qualquer que seja. Eu vou fazer isso. — A rapidez com
que ele mudou seu tom de ameaça para implorar por misericórdia.
— Você parou quando eu pedi? Quando eu estava chorando? Quando eu estava
implorando para você sair de cima de mim? O peito de Kenna arfava e eu me perguntava se
isso era de alguma forma terapêutico para ela.
Não tivemos misericórdia. Quando você empurra alguém tão longe quanto Carter
empurrou Kenna e eu, você não pode esperar simpatia, não quando tanta dor, mágoa e fúria
abastecem nossas veias.
— Você queria isso, — ele zombou.
A risada que borbulhou fora de mim era perturbada. — Se você realmente acredita
nisso, então você precisa de ajuda mais do que eu.
— Você é patético pra caralho, — ela cuspiu, um olhar de ódio contraindo suas
feições.
— Eu tenho que concordar. Definitivamente, precisamos documentar esse momento.
Você não concorda? — Peguei meu telefone e abri meu recurso de câmera. Tirando uma foto
dele, eu me certifiquei de manter qualquer parte de Kenna fora do quadro, exceto seu braço,
que ainda segurava a faca perto de seu pau.
— Seguro, — eu disse. — Eu odiaria que isso acabasse online.
— Tudo bem, pegue quantos quiser. Apenas me deixe ir, — ele negociou, a luz de
cima caindo sobre ele.
— Como é ser impotente? À mercê de outra pessoa? — Eu sabia que tinha atingido
minha marca.
Ele deixou cair a cabeça para trás contra o poste, os olhos injetados de sangue. —
Vocês duas são vadias loucas. Você sabe disso?
Meu sorriso era maligno. — É preciso um louco para conhecer um.
— Aqui. — Kenna me jogou algo pequeno de sua bolsa. — Ficar louco.
Peguei o marcador permanente e levantei uma sobrancelha. O que ela queria que eu
fizesse com isso? Levei um segundo, e então olhei para Carter. Sua nudez era uma tela em
branco esperando para ser pintada.
Eu sorri, tirando a tampa. Este foi um elemento adicional ao meu plano que eu poderia
apoiar. — Fique quieto, — eu disse a ele, não que ele fosse lutar muito. As pílulas para
dormir estavam profundamente em seu sistema agora, tornando-o quase delirante, mas ele
manteve a consciência como o idiota teimoso que ele era.
Pegando sua lata de spray, Kenna começou a escrever sobre a grama com letras em
negrito, rosa enquanto eu atacava sua testa. Escrevi tantas palavras vis que consegui pensar
sobre seu peito, braços e pernas até que ele parecesse uma obra de arte viva. — Eu sou um
estuprador— escrito em grandes letras cor-de-rosa na grama à sua frente.
Meu telefone tocou no meu bolso, mas eu o ignorei, prendendo a tampa de volta no
marcador. Eu tinha um pressentimento de quem estaria explodindo meu telefone a esta hora,
e eu não estava pronta para lidar com ele ainda. Se eu estava certo, então meu tempo aqui
acabou. O Calvário estava a caminho. — Precisamos nos apressar, — eu disse para Kenna,
olhando para ela.
Ela terminou os últimos retoques antes de darmos um passo para trás para admirar
nosso trabalho. Kenna colocou a mão na frente do rosto, bloqueando o pau encolhido de
Carter de sua visão enquanto examinava nossa obra-prima. — Você fez bem, irmã.
Os cantos da minha boca se contraíram. — Idem. — Eu retirei meu telefone. — Diga
queijo, — eu disse a Carter, levantando minha câmera e tirando uma dúzia de fotos ou algo
assim. — Isso vai ficar ótimo no anuário da escola. O que você acha, Kenna? Eu perguntei,
mostrando-lhe o telefone.
— Nenhum último ano está completo sem uma brincadeira épica. Eu diria que
vencemos. — Ela passou o braço em volta do meu ombro. — Acho que nosso trabalho aqui
está feito.
Nós juntamos nossas coisas do chão, coletando qualquer evidência, e o tempo todo
Carter não calou a boca enquanto nos implorava para libertá-lo. Ele não entendeu? Isso fazia
parte do plano. A diversão realmente começou amanhã de manhã, quando toda a escola
testemunhou em primeira mão nossa criação.
— Ei! Você não pode me deixar aqui! — ele gritou enquanto Kenna e eu trotávamos
em direção à escola.
— Não podemos? — Eu gritei por cima do ombro.
— Quem vai nos parar? — Kenna gritou de volta.
— Vou congelar até a morte!
Eu me virei, andando para trás, e gritei: — Não esta noite você não vai. — Estávamos
tendo uma noite quente fora de época. Ele pode sofrer um pouco. — Além disso, tenho
certeza de que alguém o encontrará antes que qualquer dano sério ou permanente aconteça.
Kenna agarrou minha mão, e eu girei para frente, correndo pela grama, deixando a
escuridão nos engolir. Nós rimos, nos sentindo muito felizes com nós mesmos. — Eu não
posso acreditar que conseguimos isso.
— Deus, foi ótimo, — eu admiti.
Kenna abriu a boca, mas rapidamente a fechou quando viramos a esquina, um feixe de
faróis pousando diretamente sobre Kenna e eu. Tive vontade de levantar as mãos no ar e
esperar ser preso. Tinha esse tipo de vibração.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS

Era a segurança do campus em uma patrulha noturna? Ou alguém chamou a polícia?


Os xingamentos e gritos de Carter não foram exatamente discretos.
Eu congelei, contemplando minhas opções. Devo correr? Eu não podia deixar Kenna
para trás para lidar com as consequências. Eu suspeitava que ela correria ao meu lado se eu
escolhesse decolar. Será que chegaríamos ao carro dela? Para onde mais havia para onde
fugir? Dentro da escola? Nós nunca chegaríamos a tempo.
Porra. Porra. Porra!
O carro rolou para parar, os faróis brilhantes brilhando em nossos rostos, tornando
difícil ver quem estava dentro. Alguém saiu do carro, e meu coração trovejou em meus
ouvidos. Apertei os olhos contra as luzes ofuscantes, desejando que quem estava ao volante
as apagasse.
Formigamento se espalhou por todos os pontos do meu corpo, e eu sabia exatamente
quem era a figura que vinha em minha direção. — Brock?
As narinas do meu namorado se dilataram quando ele parou na minha frente. —
Firefly, você tem algumas explicações a dar.
Esta noite estava se transformando em um maldito circo.
Uma longa expiração saiu de mim.
— Kenna? Isso é você? — Grayson saiu do carro e olhou para Kenna e para mim. —
Que porra vocês duas estão fazendo aqui? Vocês fugiram juntas?
— Não, eu disse.
— Sim, — Kenna respondeu ao mesmo tempo.
Trocamos um olhar e corrigimos nossas declarações. — Mais ou menos, — eu admiti.
— Qual é? — Brock perguntou secamente, cruzando os braços.
— Isso importa? — Eu respondi. — Kenna e eu tínhamos algo para cuidar. Acabamos
agora. — Tentei passar por ele, mas ele não estava conseguindo. Eu sabia que tinha sido uma
ação inútil. Ele não me deixaria sair sem respostas.
Os dedos no meu braço me puxaram para o lado dele. — O que era tão importante que
você teve que sair no meio da noite e não contar a ninguém?
— Boa pergunta. Kenna? — Eu incitei, jogando a bola em sua quadra. Foi uma
desculpa total, mas meu cérebro deu errado. Eu não conseguia inventar uma mentira rápido o
suficiente. Realmente não queria. — Esta pode ser uma boa hora para admitir seu pequeno
hobby noturno.
Ela entendeu a dica. Eu estava tentando manter minha promessa a ela. Se eles
descobrissem o que fizemos com Carter... lívido não seria uma palavra forte o suficiente para
descrever o que eles sentiriam. — Certo. Ok, então aqui está o negócio. Josie me pegou
fugindo e exigiu vir comigo ou ela diria a você que eu saí.
— Uh o quê? — Eu gritei antes de pensar ou ter a chance de dizer à minha boca para
ficar quieta.
Ela me deu um olhar severo. — É verdade. Ela é uma narc.
— Kenna, — Grayson rosnou. — Vá direto ao ponto.
Ela revirou os olhos, mantendo-se mais calma do que eu. — Então, você conhece o
pichador que vem revelando os segredos de todos.
Engoli em seco, incapaz de acreditar que Kenna estava prestes a revelar seu segredo.
Ela parecia tão inflexível antes da noite começar.
Grayson suspirou, perdendo a paciência. — Sim, o que isso tem a ver com vocês
duas?
— Estou chegando lá, — Kenna mordeu de volta, olhando para nosso irmão.
O olhar duro de Brock se estreitou ainda mais. — Não me diga que você está tentando
pegá-los em flagrante.
Kenna balançou a cabeça. — Não. Até esta noite, era só eu. Josie não teve nada a ver
com isso, — ela esclareceu. — Sou eu que tenho deixado as mensagens na escola.
Meu olhar disparou sobre meu ombro para onde deixamos Carter. Com o motor do
carro, não consegui mais ouvir seus apelos para ser liberado, ou ele simplesmente desistiu.
Independentemente disso, não poderíamos ficar aqui por muito tempo.
Grayson jogou as mãos no ar. — Realmente, Kenna. Não é hora de brincar.
— Eu não acho que ela está brincando, você está, Kenna? — Brock disse, seu olhar
mudando entre minha irmã e eu.
— Puta merda. Sério, Kenna. Grayson balançou a cabeça, descansando sua bunda no
pára-choque de seu Jeep enquanto enfiava a mão em seu cabelo. — Por que você faria isso?
Isso é uma questão de atenção?
— Não, — ela afirmou. — Isso é sobre todas as pessoas que me esfaquearam pelas
costas, pessoas que eu achava que eram meus amigos. Mereciam ser desmascarados. Eu
queria fazê-los suar, fazê-los pensar se seriam chamados a seguir.
Grayson se encolheu, suas feições perdendo um pouco de sua ferocidade. — Ok, eu
posso entender isso. Então por que jogar Josie ou a Elite embaixo do ônibus?
— Ela teve suas razões, — eu disse, vindo em sua defesa. — Não importa agora.
Kenna e eu trabalhamos nisso.
Brock ergueu uma sobrancelha. — Não tão rápido, Firefly. Estou realmente
interessado em quem você estava encontrando no meio da noite. Com certeza não era eu.
— Não, não foi você. — Como os faróis estavam me dando uma enxaqueca, caminhei
até a frente do jipe e me inclinei na grade ao lado de Grayson. — Você se lembra do texto
que Carter me enviou, a foto de você e Kenna?
Brock se eriçou, seu olhar nunca deixando meu rosto. — Infelizmente.
Isso ia dar merda. Às vezes, guardar segredos era mais fácil do que dizer a verdade.
— Ele me pediu para encontrá-lo aqui esta noite, — murmurei, evitando seus olhos. Eu não
queria ver a decepção ou a fúria neles.
— E você pensou que era uma boa ideia pra caralho, — ele retumbou, incapaz de
manter o temperamento de sua voz.
Eu finalmente olhei para cima. — Encontrá-lo sozinho? Não. Mas minha agenda esta
noite não tinha nada a ver com as fotos estúpidas de você no telefone dele. Eu vim porque
queria vingança.
Brock me entendeu melhor do que ninguém, então ele perguntou em voz baixa: — O
que você fez?
Kenna e eu trocamos um olhar, e algo se passou entre nós. Eu não sabia sobre ela, mas
por dentro eu ainda estava com a adrenalina do que nós dois tínhamos conseguido fazer
sozinhos. Não caras. Sem Elite. Apenas Kenna e eu.
Havia uma doce satisfação em lidar com Carter sozinho, sem ajuda. Parecia algo que
precisávamos fazer, independentemente das consequências. — Nós o deixamos saber que não
somos vadias para brincar.
O olhar de Grayson disparou em direção ao campo de futebol, apenas parte dele
visível desta direção, e mesmo assim, estava muito longe. Seu rosto ficou pálido. — Você
não o matou, não é?
Eu engasguei. — Cristo. Não somos assassinos.
O nariz de Grayson enrugou. — Não, mas vocês duas são um problema.
Brock ficou em silêncio. Não é uma coisa boa. Ele era mais assustador quando não
dizia nada, e eu podia dizer pelo endurecimento de sua mandíbula e o brilho de fogo que
cintilou em seus olhos azuis, ele estava fodidamente chateado comigo.
Kenna ergueu o queixo. — O que somos é épico pra caralho. Josie e eu formamos
uma ótima equipe.
Grayson enfiou as mãos nos bolsos traseiros, uma carranca roçando seus lábios. — E
isso me assusta. Eu não tenho certeza se eu gosto mais quando você se odiava ou isso…
Um segundo carro virou a esquina, e meus dedos apertaram com mais força minha
bolsa, até que percebi que nem Brock nem Grayson estavam preocupados com o recém-
chegado.
Eu reconheci o carro quando ele parou. Hummer de Micah. Duas figuras saíram do
veículo. — Na próxima vez que vocês decidirem brincar de esconde-esconde, escolha um
lugar mais legal que a escola. — A voz de Micah atravessou a escuridão, soando divertida
como sempre.
— Micah e Fynn, — Kenna exalou. — Eu deveria saber.
A outra metade da Elite entrou na frente do carro, então os faróis não nos impediam
de vê-los. Os olhos de Fynn percorreram meu rosto antes de encontrar meu olhar. Uma
pergunta silenciosa passou por mim. Você está bem?
Eu balancei a cabeça.
Ambos pareciam ter acabado de sair da cama, não que isso diminuísse sua
sensualidade. — Você os encontrou, — afirmou Fynn, olhando para Grayson e Brock.
Kenna colocou a mão no quadril. — O que? Você ligou para a equipe da SWAT
também?
Grayson empurrou o carro. — Você tem sorte que não chamamos a polícia.
— Como se, — ela retrucou, revirando os olhos castanhos.
— Podemos não ter chamado a polícia, mas a segurança do campus fará uma
varredura em breve, — aconselhou Micah, verificando seu telefone.
— Eles não vão chegar por mais uma hora, — ela informou em seu tom de sabe-tudo.
Micah deu a Kenna um olhar engraçado. — Como você sabe disso?
— Kenna é o pichador, — informou Grayson.
Micah piscou, abrindo um sorriso. — Respeito.
Fynn o empurrou no braço. — Não é a resposta apropriada, mano.
Qual foi a resposta adequada? Quero dizer, nós seis estávamos no estacionamento da
Academia no meio da noite com nosso adversário amarrado no campo de futebol.
— Dê-me suas chaves, Kenna, — Grayson exigiu. — Estou dirigindo. — Ele não
esperou que ela protestasse e jogou o dele para Brock. — Certifique-se de levá-la para casa,
— ele aconselhou, acenando para mim. Obviamente, este pequeno arranjo tinha sido pré-
arranjado.
Brock deu um pequeno aceno de cabeça, reconhecendo que ouviu Grayson. —
Vamos, firefly. — Como se ele não confiasse em mim para chegar ao carro por conta
própria, sua mão deslizou sob meu braço.
— Eu posso ir para o carro, — eu disse, tentando puxar meu braço para fora de seu
alcance, o que só fez com que sua carranca se aprofundasse.
— Desculpe por levantar vocês, — Brock disse roucamente para Micah e Fynn
enquanto me guiava para o Jeep. — Eu aprecio você ajudar.
Fynn me deu um olhar compreensivo que dizia que sabia exatamente o quão
desconfortável minha viagem de carro para casa seria. — A qualquer hora, cara. Somos uma
família. — Ele acenou para nós, Micah balançando a cabeça ao lado dele.
Silêncio tenso entre Brock e eu durante as milhas que ele colocou entre a Academia e
nós. Eu não sabia o que dizer. Ele nunca esteve tão bravo comigo antes. Acho que preferiria
que ele gritasse comigo.
— Você não quer saber o que fizemos? — Eu perguntei, quebrando o vazio estranho.
Eu não aguentava mais. — Você veio até aqui e nem está curioso sobre o que Kenna e eu
estávamos fazendo na última hora?
O carro de Kenna já estava na garagem quando Brock estacionou o jipe. — Não. Isso
só vai me enfurecer mais.
Eu não queria levar nossa briga para dentro, onde poderíamos acordar Chandler ou
Liana, então não fiz nenhum movimento para sair do carro. Tirei meu cinto de segurança e
me virei para ele. — Eu não entendo por que você está tão chateado comigo. O que eu fiz de
diferente da merda que você fez?
Brock bufou. — Não é o que você fez. É como você fez isso. Não espero que você me
conte todos os detalhes de sua vida, mas algo assim... não afeta apenas você. Ele abriu a porta
do jipe. — Estamos envolvidos também, — disse ele logo antes de sair.
Ok, pule ficar no carro. Eu o segui, pulando do carro atrás dele. Eu o cruzei na frente
do Jeep. — Você está dizendo que está chateado por não ter ajudado? Você teria me parado.
— Malditamente certo. — Ele me agarrou, me batendo contra seu peito. — Você sabe
por quê? Se ele tivesse te machucado esta noite... — A raiva ficou presa em sua garganta,
junto com outra coisa. Temer? — Eu o teria matado. — Várias vezes ele ameaçou matar
Carter, mas desta vez, eu acreditei que ele teria cumprido a ameaça. A pura fúria em seus
olhos rodou como uma tempestade violenta.
Eu passei meus braços ao redor dele. — Eu sei que o que eu fiz foi imprudente, e me
desculpe se eu assustei você.
Seu corpo estava rígido contra mim. — Quantas vezes eu disse para você não ser
imprudente?
— Perdi a conta.
A tensão, espessa e dolorida, pairava entre nós. — Você é muito importante para mim.
Você sacudiu o ninho de vespas. Você tem ideia de quão feia será a retaliação dele? Carter
não vai deixar passar o que você fez esta noite. Ele vai encontrar uma maneira de machucá-lo
de volta. Não posso deixar isso acontecer.
Meus olhos procuraram os dele. — Você está dizendo que eu tornei essa vingança
entre você e Carter mais difícil?
Brock franziu a testa para mim. Tudo o que ele tinha feito esta noite foi franzir a testa
para mim. — Não importa para mim. Vales a pena.
Quando ele disse merda assim para mim, meu coração não pôde deixar de derreter.
Esta noite tinha sido longa, e eu estava exausta demais para discutir. Toda a minha energia foi
usada em Carter. — Eu não quero brigar com você, — eu disse suavemente.
— Somos parceiros, — ele inclinou meu queixo para cima com o polegar. — Você
deveria ter me contado. Você é uma de nós. O que você faz nos afeta. Estaríamos lá para
você. Kenna também.
Eu deixei cair minha testa em seu peito. — Eu sei, — eu sussurrei, lentamente
levantando meu olhar. — Você já pensou que talvez eu estivesse protegendo você?
Suas sobrancelhas se juntaram. — Elaborar. E isso não sou eu sendo sexista.
— Você tem muito mais a perder do que eu se algo der errado. Se Carter decidir ir à
polícia e tentar apresentar queixa contra mim, eu não queria que seu nome cruzasse os lábios
dele.
— Você acha que isso o impediria? Quer eu estivesse lá ou não, Carter ainda poderia
me dar o nome da polícia.
Verdadeiro. Seria como ele aproveitar uma oportunidade para machucar Brock. —
Parece que nós dois fazemos um grande esforço para proteger o outro.
Ele passou os braços em volta de mim, prendendo-me mais perto dele. — O que eu
vou fazer com você? — ele murmurou no topo do meu cabelo.

***

A porta do quarto de Kenna se abriu com um rangido. — Você chegou em casa, —


ela sussurrou, lançando a Brock um olhar.
Surpresa passou por minhas feições. — Você estava esperando por mim?
Ela encostou o ombro no batente da porta. — Eu só queria ter certeza de que você
chegou em casa em segurança. — Seu olhar foi para Brock por um segundo. Ela estava
preocupada com Brock?
Brock lançou a Kenna uma expressão de desconfiança. — Eu vou para a cama. Posso
confiar em vocês duas sozinhas?
— O que você acha? — Kenna respondeu sarcasticamente.
— Que eu vou instalar barras de ferro em suas janelas e uma fechadura em sua porta,
— ele retrucou sem piscar.
Eu coloquei minha mão em seu peito. — Ou eu poderia apenas dormir com você esta
noite.
— Finalmente, uma ideia que eu aprovo. — Brock mergulhou e pressionou seus
lábios nos meus. — Vejo você em um minuto. — Independentemente de ele ainda estar
chateado comigo, isso não parecia diminuir sua necessidade de me ter em sua cama.
Nós dois precisávamos do conforto um do outro esta noite. Por razões diferentes, mas
o fato era que nos apoiamos um no outro, bom ou ruim.
Kenna havia trocado seu equipamento criminal por um par de calças de pijama e
regata combinando. — Você não é tão ruim, — ela disse depois que Brock foi embora.
Um sorriso parcial tocou meus lábios. — Posso dizer o mesmo sobre você. Obrigado
por me proteger esta noite.
— A qualquer momento.
Sorrimos um para o outro por mais um momento. — É selvagem. Nunca imaginei que
teria coragem de fazer o que fizemos esta noite.
— Eu não acho que vou conseguir dormir esta noite. Minha adrenalina ainda está
bombeando. — Kenna colocou a mão sobre o coração, sentindo-o bater no peito. — Pelo
menos você tem algo para fazer esta noite, — ela disse, seu olhar demorando na porta do
quarto de Brock.
Eu ri. — Ele não está feliz comigo no momento.
O ar soprava pelo nariz dela. — Por favor, isso não vai impedi-lo.
Esfregando o músculo na parte de trás do meu pescoço, pensei no cara esperando por
mim no final do corredor. — Vejo você pela manhã.
Kenna sorriu. — Não perderia. Eu nunca estive tão animado para segunda-feira.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO

O chuveiro no banheiro adjacente funcionava, e eu não queria nada mais do que me


juntar a ele naquela felicidade quente e fumegante, mas eu tinha algo que precisava fazer
primeiro. Era cedo. O sol tinha nascido há apenas uma ou duas horas. Nenhum de nós tinha
dormido muito. Não por falta de tentativa, mas como Kenna, eu não conseguia fazer meu
cérebro desligar.
Esta noite foi a última noite de Brock antes de ir para casa. Seus pais estariam voando
amanhã à noite. Era difícil dizer como ele se sentia com a chegada deles. Ele parecia
indiferente.
Eu sentiria falta dele. Tê-lo aqui na última semana tinha sido reconfortante. A casa
inteira sentiria sua perda, eu tinha certeza.
Fiquei grata por ter outra noite com ele, porque ontem à noite não era como eu queria
terminar sua estadia aqui. Eu precisava de uma renovação, uma chance de dar a ele uma
despedida digna de ser lembrada.
Como todas as manhãs, eu verifiquei meu telefone. As fotos de Carter buckass nu e
amarrado como o porco que ele era já estavam circulando online, incluindo um vídeo dele
chorando e implorando. Não é um visual particularmente bom para o jogador de futebol duro.
Quando cheguei à escola na segunda de manhã, era tudo sobre o que se falava. A
segurança do campus bloqueou a área na tentativa de manter os alunos afastados, mas não
impediu ninguém de tirar um milhão de fotos. A coisa toda foi documentada desde o
momento em que um membro da equipe o encontrou até quando ele foi solto e enrolado em
um cobertor. Havia até fotos dele sendo escoltado para a ambulância para ser examinado no
hospital.
Kenna bateu no meu ombro, desviando meus olhos do campo de futebol. Ela chegou
com Grayson esta manhã. Parecia que o sistema de amigos estava de volta ao lugar, não que
tivesse parado, mas os caras estavam mais alertas. — Nós somos lendas do caralho, — ela
gritou, jogando seu cabelo.
Eu a calei. Eu não queria que fosse de conhecimento público que Kenna e eu éramos
as partes responsáveis. Ela pode querer a notoriedade, mas eu era bom ficar nas sombras. —
Eu não tenho tanta certeza sobre isso, — eu retruquei. — Ninguém sabe que fomos nós. E
vamos manter assim. — Ninguém exceto Carter e a Elite. Eu nem tinha contado para Mads.
Ainda não.
— Talvez eles devessem saber, — Kenna disse, seus olhos brilhando para alguém que
mal conseguiu dormir. Tinha que ser a maquiagem que dava a ela aquele brilho renovado,
quando eu parecia a irmã zumbi que acabou de sair da cova.
Grayson mexeu no cabelo, uma tarefa inútil com o vento que estávamos tendo hoje.
— Não, a menos que você queira ser presa, — alertou.
— Você não quer fazer isso, — Brock ecoou em sua voz assustadora não tão legal. —
Se você colocar Josie em risco de alguma forma, eu vou impedi-la.
Kenna revirou os olhos. — Deus, relaxe, Hulk. Implicar Josie implicaria a mim. Além
disso, não podemos ter certeza de que Carter não nos acusará de qualquer maneira.
Eu não tinha pensado tão à frente. As consequências do que Kenna e eu fizemos
estavam se tornando realidade esta manhã. Eu passaria o resto do dia na escola olhando para
a porta para os policiais aparecerem e lerem meus direitos?
— Ele não vai, — Brock assegurou baixinho quando cruzamos para a calçada.
— E como você sabe disso? — Eu perguntei, enquanto dois caras que estavam
conversando deram um passo para trás, saindo do nosso caminho.
Brock ficou perto do meu lado, abrindo a porta da escola para eu passar. — Isso traria
uma tempestade de merda sobre ele. Ele não quer o calor, não quando tem tanto a esconder.
Verdadeiro. Sem falar que Steven ficaria furioso por ter que pegar Carter na
delegacia. Ele pode tentar puxar alguns favores, mas essa merda já se espalhou como uma
DST.
Brock e eu nos separamos de Grayson e Kenna. Tínhamos aulas em diferentes seções
da escola, e eu precisava pegar algo do meu armário primeiro. Mads cruzou nosso caminho.
Ela enganchou seu braço no meu. — Estou roubando sua namorada. Isto é uma emergência.
— Ela parecia assustada, não a reação que eu esperava de ver a merda sobre Carter. —
Rápido, pátio, agora, — ela sussurrou em meu ouvido. — Eu tenho algo para te dizer. — Ela
me puxou pelos corredores.
Nós só tínhamos uns dez minutos antes de nossa primeira aula começar. Não há muito
tempo para recuperar o atraso, mas tive a impressão de que o que quer que estivesse na mente
de Mads, ela estava explodindo para tirar isso do peito. — Eu tenho algo para te dizer
também.
Ela empurrou as portas do pátio. — Ok, mas eu primeiro. — Brock seguiu atrás de
nós, franzindo a testa. Mads girou. — Oh não. Você não. — Ela colocou um dedo em seu
peito para detê-lo.
Brock arqueou uma sobrancelha, mas não disse mais nada, apenas se inclinou contra a
parede de pedra onde ele poderia me manter em sua linha de visão.
— O que aconteceu? Você está bem? — Ela me deixou preocupado.
— Apenas a pior coisa possível, — ela respondeu, dando a um trio de meninas do
segundo ano que estavam sentadas em nosso banco o olhar mortal. — Vazem, — ela estalou
para elas, e elas obedeceram, rapidamente pulando para seus pés.
O que havia com ela? Um milhão de cenários passaram pela minha mente, mas não o
que saiu de sua boca. Eu deveria ter adivinhado embora.
— Eu dormi com Micah, — ela desabafou, jogando sua bunda na superfície dura do
banco.
Eu senti que era apenas uma questão de tempo até que Micah a cansasse. Seu charme
era irresistível, e eles tinham química. Toda aquela briga sarcástica era apenas um disfarce
para a tensão sexual não dita. — Você acabou de dizer que fez sexo com Micah? — Eu
perguntei, lentamente me abaixando ao lado dela.
Ela deixou cair a cabeça em suas mãos. — É aquele fodido sorriso estúpido. Em um
minuto estávamos falando sobre você, e no próximo seus lábios estavam colados aos meus.
E sobre todas as coisas entre beijar e foder? Isso também aconteceu? Não que eu me
importasse de um jeito ou de outro. Eu só queria meu amigo feliz, mesmo que isso
significasse que a pessoa com quem eles estão felizes fosse Micah. — O que você estava
fazendo com Micah no domingo? Como diabos meu nome leva vocês a fazerem sexo? Eu
perguntei, confusa com toda a situação.
— Isso não é importante. Eu tentei ser razoável, me convencer a não cometer outro
maldito erro, mas era como se a única vez que eu pudesse respirar era quando ele estava me
beijando.
Pisquei algumas vezes tentando processar tudo isso. — Sim, isso se chama amor.
Seu rosto ficou branco com a menção da palavra com L. — Eu não estou fodidamente
apaixonado por aquele idiota. Não é possivel.
Eu arqueei uma sobrancelha.
Ela olhou para mim e então amaldiçoou baixinho. — Filho da puta. Isso não pode
estar acontecendo. Por que ele? Por que meu coração não podia se apaixonar por outra
pessoa? Alguém que não seja uma Elite.
— É tão ruim namorar o Micah? Sim, ele flerta com todas as garotas, mas na verdade
acho que ele se preocupa com você. Ele não se importa com aquelas outras garotas. Eles não
significam nada. Mas você definitivamente significa algo para ele. — Eu estava fazendo a
coisa certa como amiga, encorajando-a a lhe dar outra chance? E se não tivesse sido nada
além de uma aventura para Micah? E se eu estivesse completamente errada sobre ele ter
sentimentos por Mads? Não era como se ele tivesse vindo e me dito que gostava dela.
— Eu não sei, Josie. Toda vez que penso em Micah e eu juntos, não posso deixar de
pensar que ele vai estragar minha vida. — Ela parecia tão desanimada, não exultante como
alguém apaixonado deveria se sentir.
Eu coloquei meu braço em volta dela. — Por experiência pessoal, não é tão ruim
namorar um Elite.
— O que eu faço? Eu não quero vê-lo. Não até eu descobrir merda.
— Você precisa falar com ele... mas talvez não hoje, — acrescentei. — Eu acho que
Micah pode estar meio ocupado. Posso pedir a Brock que designe Micah para Kenna ou para
mim.
— Designe? — ela repetiu, franzindo as sobrancelhas. — Eles só fazem essa merda de
guarda-costas quando algo acontece. O que eu perdi?
Eu deixei cair minhas mãos no meu colo, dedos se atrapalhando. — Estou assumindo
que você não ouviu ou esteve online recentemente.
Ela balançou a cabeça. — Não, eu estive muito ocupada surtando sobre Micah. Não
consegui me concentrar por dois segundos.
— Provavelmente é melhor se eu apenas mostrar a você, — eu disse, pegando meu
telefone da minha bolsa. Abri uma das minhas contas de mídia social e parei em uma foto de
Carter e virei o telefone para ela ver.
— Puta merda. Isso é... oh meu Deus. Isso é. Todo mundo já viu isso? — Ela pegou
meu telefone, percorrendo as outras fotos, os olhos se arregalando a cada uma.
— Praticamente toda a porra da escola. Eles apenas o levaram para o hospital alguns
minutos antes de você chegar aqui.
— Como isso aconteceu? Foi o pichador? — ela perguntou, notando todos os grafites
em seu rosto, corpo e grama na frente dele.
— Sim e não, — eu respondi, pressionando meus dedos nos joelhos.
Suas sobrancelhas se juntaram ainda mais. — Estou confusa.
Eu queria tanto contar tudo a ela, e estava tudo na ponta da minha língua, mas... —
Kenna tem um segredo. Não é o meu lugar para dizer isso. Vocês deveriam conversar, mas
posso dizer que Kenna e eu nos unimos ontem à noite e deixamos Carter saber que ele não
pode mais mexer com a gente.
Ela arrastou o olhar do telefone e olhou para mim com perplexidade. — Você está
dizendo que você e Kenna fizeram isso?
Eu balancei a cabeça.
— Sagrado. Porra. — Ela deixou suas mãos caírem em seu colo, meu telefone ainda
agarrado em seus dedos. — Eu não posso acreditar que vocês fizeram isso sem mim. Que
diabos?
Eu não acho que agora era o momento apropriado para apontar que ela estava ocupada
transando com Micah enquanto Kenna e eu estávamos transando com Carter. — Não foi
planejado, exatamente.
Seus lábios se inclinaram. — Nunca estive tão orgulhosa. Conte-me tudo. Não deixe
de fora nenhum detalhe. Quero aproveitar sua pequena vitória. Então eu vou te dar um
sermão sobre como isso foi estúpido.
Eu ri, me sentindo fodidamente fantástica – pelo menos no momento.
— Eu não posso acreditar que você e Kenna fizeram isso. Isso ficará na história da
Academia como a melhor brincadeira de todos os tempos.
Exceto, para Kenna e eu, era mais do que uma brincadeira.
— Eu teria adorado ter estado lá. Ainda estou chateada que você não me ligou. — Ela
não parecia chateada, mas eu entendia sua necessidade de querer ser incluída. Mads pode
nunca ter sido uma vítima direta de Carter, mas ela já havia testemunhado o suficiente de sua
merda. — Já lhe disse que você é um gênio?
Eu sorri. — Hoje nao.
Ela balançou a cabeça, me devolvendo meu telefone. — Brock deve estar perdendo a
cabeça.
— Isso é um eufemismo.
— Bem, eu nunca pensei que ficaria do lado do ditador, mas ele tem uma boa razão
para se preocupar, — disse ela, sua expressão se tornando solene. — Carter vai encontrar
uma maneira de machucar você de volta.
Isso era algo que eu pensava desde a noite passada, quando Brock expressou seus
medos. — E quando ele fizer isso, não vou facilitar as coisas para ele.

***

Nos dias seguintes, Carter não voltou à escola. Sua ausência deveria ter aliviado
minha preocupação, mas teve o efeito oposto. Cada dia que passava sem ele retaliar, ou pelo
menos me ameaçar de alguma forma, despertou a crescente inquietação dentro de mim.
Kenna não parecia ter as mesmas preocupações. Não que ela não achasse que Carter
teria isso para nós, porque isso, todos concordaram, mas ela previu que o cachorro estava
lambendo suas feridas antes de morder.
Eu tinha acabado de terminar um exaustivo turno da semana no Lazy Ray's. Fiz uma
varredura rápida embaixo do bar enquanto Ray contava o dinheiro da noite. Ela era uma
chefe bastante perspicaz, ao contrário de Zeke, e percebia que algo me incomodava.
— Nenhum guarda-costas esta noite? — Ray perguntou, enfiando um maço de
dinheiro em um envelope com zíper.
Brock apareceu em todos os meus turnos, exceto esta noite. Apoiei-me no cabo da
vassoura. — Não, minha irmã e meu irmão vão me buscar esta noite. Eles estão esperando lá
fora.
Zeke entrou pela sala dos fundos carregando uma grande caixa de cerveja
engarrafada. — Ei, eu queria te perguntar mais cedo, aquele garoto vai para sua escola, não
é? Aquele que foi amarrado a um poste de luz?
Engoli. Carter era a última pessoa sobre quem eu queria falar, mas não foi surpresa
que Zeke tenha ouvido sobre o que aconteceu e tenha ficado curioso. As fotos ainda estavam
sendo divulgadas.
— Ele era seu meio-irmão, não era? — Ray perguntou, somando dois e dois.
— Sim, mas não estamos perto, — eu respondi entorpecida.
Ray girou a banqueta. — Por que tenho a sensação de que você está de alguma forma
envolvida nisso?
Eu precisava trabalhar na minha cara de pôquer. — É melhor você não saber, caso a
merda caia no ventilador.
— Você prevê que ele atinja o ventilador? — Zeke perguntou, seus olhos se
estreitando. As feições em seu rosto mudaram de um garoto de faculdade bonito para um
bandido de rua implacável.
Agarrei o cabo da vassoura como se fosse minha tábua de salvação. — Eu adoraria
dizer que não, mas eu honestamente não sei. Carter é capaz de qualquer coisa, incluindo ferir
pessoas próximas. — Isso foi um aviso. Eu queria que eles estivessem alertas, para ficarem
seguros.
— Entendi, — disse Ray. — Você não precisa se preocupar conosco. Nós temos este
lugar seguro.
Eu esperava que isso fosse verdade. Eu tinha visto a espingarda que Zeke mantinha
debaixo do bar, mas pensei que era mais uma arma de intimidação para controlar
motoqueiros desordeiros. Mas poderia funcionar se Carter mostrasse seu rosto uma noite.
Depois de terminar minhas tarefas de encerramento, juntei minhas gorjetas e fui para
fora para o carro estacionado perto da porta da frente. As luzes de corrida estavam acesas,
lançando um brilho suficiente para eu ver para onde estava indo.
— Ei, obrigado por me pegar, — eu disse, me arrastando para o banco do passageiro e
deixando meu corpo cansado desmoronar no banco. Eu estava desejando um banho mais do
que minha cama. Eu tive que tirar o cheiro de comida gordurosa do meu cabelo.
— Isso me tira da casa e Grayson da minha bunda, — disse Kenna.
Grayson estava sentado atrás, resmungando. Sua forma musculosa fazia o carro
parecer pequeno e um pouco apertado. — Quaisquer problemas? — ele perguntou.
Eu balancei minha cabeça. — Não.
— Bom. Deixe-me mandar uma mensagem para Brock e dizer a ele que estamos a
caminho de casa, — Grayson disse, seus joelhos batendo na parte de trás do meu assento
enquanto ele tentava dar mais espaço para suas longas pernas.
Kenna e eu reviramos os olhos enquanto ela colocava o carro em marcha e pisava no
acelerador. — Você precisa de um banho. Você cheira a cerveja e pizza. Ela enrugou o rosto.
— Está no meu cabelo. Quer cheirar? — Eu levantei um pedaço do meu cabelo rosa e
o empurrei na frente de seu nariz.
— Saia daqui, — ela gritou, empurrando minha mão. — Você vai me fazer correr
para fora da estrada.
— Por que Grayson não dirigiu? — Olhei por cima do ombro e arqueei uma
sobrancelha em questão.
Grayson ainda estava mexendo em seu telefone enquanto falava sem rodeios: —
Porque eu não queria seu cabelo enfiado no meu nariz.
Eu sorri para ele.
Grayson disparou uma rodada de mensagens na parte de trás, e eu relaxei minha
cabeça no banco, ouvindo o rádio. Meus olhos ficaram pesados, embalados pela vibração
suave do motor do carro enquanto Kenna acelerava até o limite de 80 quilômetros por hora.
Um minuto ou dois se passaram, quando notei Kenna se mexer em seu assento. Seus dedos
segurando o volante se apertaram, enquanto seus olhos voltavam para o espelho retrovisor.
Eu conhecia Kenna o suficiente para saber que algo a estava incomodando. — O que
há de errado? — Eu perguntei, a tensão em suas feições amplificando.
— Nada... eu espero, — ela respondeu, mordendo os lábios enquanto seu olhar
voltava para o espelho. — É só que esse carro atrás de mim veio do nada.
Estava escuro como a merda esta noite, a lua estava escondida atrás de um
aglomerado de nuvens sombrias, então eu podia ver como ela poderia não ver aquele carro
até que estivesse em cima de nós. Olhei por cima do ombro pela janela traseira para verificar
por mim mesma, e com certeza, uma caminhonete ou algum tipo de SUV estava praticamente
beijando a traseira da BMW de Kenna. Seus faróis brilhavam intensamente através do nosso
carro. — Esse idiota está com as luzes acesas? — Eu perguntei, minha pressão arterial
subindo. Eu poderia não estar dirigindo, mas isso não significava que eu não poderia ter um
caso sério de raiva na estrada.
Grayson levantou a cabeça do telefone, percebendo que Kenna e eu estávamos
preocupados com alguma coisa. — O que aconteceu?
— Apenas algum idiota sendo um idiota, — eu murmurei, mas mesmo quando as
palavras caíram da minha boca, um calafrio patinou no meu pescoço.
Grayson olhou pela janela traseira para verificar por si mesmo.
— Devo apenas encostar e deixá-lo passar? — ela perguntou, como um motorista
responsável ou minha avó.
— De jeito nenhum. Foda-se esse idiota, — eu respondi. Kenna teve sorte que ela
estava dirigindo, ou eu já teria verificado o freio dele.
O empurrão acelerou, acelerando seu motor V8. A essa hora da noite, muito poucos
motoristas estavam na estrada, então era apenas Kenna e esse idiota atrás de nós pelo que eu
podia ver. Na segunda vez, ele acelerou a besta turbinada, pisou no acelerador e desviou para
a outra pista para passar.
Incapaz de me conter, me inclinei, invadindo o espaço pessoal de Kenna, meu dedo
médio erguido. — Idiota! — Eu gritei, desligando o carro. Não que eles pudessem ter me
ouvido por cima do ronco profundo do motor da caminhonete, mas eu entendi meu ponto de
vista.
Kenna manteve os olhos na estrada, balançando a cabeça. — Puta merda. Você é
Insana. Você vai nos matar. Esse cara provavelmente tem uma arma e vai voltar e atirar em
nós.
Eu me mexi de volta em meu assento, ajustando meu cinto de segurança. — Pessoas
como ele deveriam ter sua licença cassada. Além disso, temos Grayson, — eu disse com
confiança.
— Quem não tem uma arma, — disse ele do banco de trás, carrancudo.
Kenna revirou os olhos. — O que você é, a boa polícia de condução?
Apertei os olhos. — Engraçado. — Um suspiro saiu um segundo depois. — Desculpe.
Trabalhar me deixa puta.
Kenna riu. — Por que você acha que eu não tenho um emprego? Você deveria
desistir. Eu sei que você sente uma obrigação absurda de pagar a faculdade, mas sério, você
acha que nossos pais vão deixar isso acontecer? Como alguém que viveu com eles por toda a
vida, você está desperdiçando seu tempo no Lazy Ray's.
— Pode ser. — Eu poderia reclamar de estar cansado, mas eu realmente gostava de
trabalhar. Gostava ainda mais de ter o meu próprio dinheiro.
Kenna fez uma careta para o espelho retrovisor, e uma sensação ruim se infiltrou em
minhas entranhas. — É aquele carro de novo, — ela disse suavemente, algo assustador em
seu tom quando uma súbita explosão de faróis acendeu.
— Você está me cagando. — Eu virei minha cabeça ao redor, vendo um caminhão
familiar saindo do acostamento da estrada e vindo atrás de nós, rápido.
— Esse filho da puta, — Grayson jurou, seus dedos agarrando a parte de trás do meu
encosto de cabeça enquanto ele se virava. — Ele deve ter encostado e esperado até que
passássemos.
— Eu disse que ele voltaria com uma arma.
Por uma vez, Kenna pode estar certa. O frio anterior saiu do meu pescoço e desceu na
ponta dos pés pela minha espinha. Isso não foi coincidência. Algo estava errado.
— Ligue para Brock, — Grayson ordenou enquanto olhava pela janela traseira para o
caminhão que se aproximava.
Sem questionar ou argumentar, peguei meu celular. — Bata no acelerador, — eu disse
a Kenna, enquanto me atrapalhava com meu telefone.
Seu pé bateu no pedal. — Aguentar. — Seu aviso veio um pouco tarde demais, a onda
do BMW me jogando de volta contra o banco.
Grayson apoiou a mão no teto do carro. — Cristo, Kenna. Você vai nos matar. Eu
disse que deveria ter dirigido.
— Agora não é hora de apontar dedos, — ela latiu de volta, linhas de concentração
vincadas em sua testa.
O telefone tocou no meu ouvido. Vamos. Vamos. Pegar.
— Porra. Ele vai nos atingir, — disse Kenna rapidamente, empurrando o carro para a
esquerda, cruzando para a outra pista para evitar uma colisão.
Minha mão disparou na minha frente, apoiando-se no espaço acima do porta-luvas.
Isso não estava acontecendo. Eu dei uma olhada atrás de nós, avaliando a situação. Ele tinha
recuado quando Kenna voltou para sua pista novamente. Não que houvesse qualquer tráfego
próximo. As estradas ainda estavam desertas. — Qual é a porra do problema desse cara? —
Eu gritei.
— Eu não sei, mas temos que sair daqui, — Grayson latiu.
Kenna empurrou o BMW com mais força, mas não foi páreo para o caminhão atrás de
nós.
— Firefly, — disse uma voz profunda do telefone pressionado no meu ouvido.
Porra finalmente. Soltei um suspiro de alívio. Apenas ouvir sua voz de alguma forma
me fez sentir mais segura, o que era uma loucura, porque ainda estávamos com muitos
problemas. — Brock, eu-
BAM!
Metal esmagado contra metal, um som estridente que perfurou meus ouvidos. Kenna
perdeu o controle do carro, o impacto fez o BMW girar. Ela lutou com o volante, tentando
ganhar algum tipo de controle, mas não havia nada que nenhum de nós pudesse fazer.
Kenna e eu gritamos, nossos gritos ecoando no mesmo tom de terror. O carro bateu na
beira da estrada e capotou várias vezes. Eu não tinha ideia de quantas vezes o carro compacto
rolou. O mundo simplesmente girou.
Minha cabeça voou contra a janela, batendo contra o vidro. Brock. Mesmo enquanto
as estrelas dançavam atrás dos meus olhos e minha visão turva, eu jurava que o ouvi chamar
meu nome.
Então não importava. Nada importava, porque tudo ficou preto.
CAPÍTULO VINTE E CINCO

Baque. Baque. Baque.


O ruído surdo continuou em repetição sem fim. Levei mais alguns segundos, ou talvez
minutos, antes que eu percebesse que era o latejar da minha cabeça. Porra, parecia que estava
aberto. Eu definitivamente tinha levado um sério golpe.
Tentei abrir os olhos, piscando, mas estava presa naquele lugar nebuloso entre a
consciência e a inconsciência. Acordar! uma voz na minha cabeça pediu.
Através da neblina, uma sombra se moveu. Meus olhos estavam tão pesados, cada
piscada demorava muito, exigia muito do meu esforço, como se minhas pálpebras estivessem
levantando pesos. Mas através de cada piscar, eu vi a figura se mover em direção a Kenna.
Kenna. Oh meu Deus. Ela esta bem?
Alarme subiu pelo meu sangue, correndo para a minha cabeça e fazendo com que as
batidas aumentassem. Esta pessoa estava aqui para nos resgatar? Pedaços e pedaços dos
últimos minutos piscaram na minha frente, mesmo assim, eu pude compreender um pouco o
que aconteceu. A figura lutou para puxar Kenna para fora do carro. Ela não lutou. Ela não se
mexeu. E isso me preocupou.
Eu gemi.
— Eu estarei de volta para você, mana. — Aquela voz. Essa maldita voz. E por
apenas uma fração de segundo, o rosto embaçado clareou.
O horror gelou meu sangue.
NÃO. NÃO. NÃO.
Tentei estender a mão, tentei agarrar Kenna, mas minha cabeça caiu com um baque
quando a inconsciência me levou de volta ao esquecimento.

***

Acorda caralho! uma voz exigiu novamente – mais alta e mais persistente –
irritantemente. Desta vez, quando acordei, a dor acompanhou a batida na minha cabeça. Um
longo gemido saiu dos meus lábios, e eu levantei minha mão para o lado do meu crânio.
Coisas quentes e pegajosas revestiam meus dedos.
Sangue.
Meu sangue.
Por que eu estava sangrando? Por que estava tão escuro? E que porra era aquele bipe
constante?
Eu vi o pára-brisa rachado e lascado primeiro, e a memória horrível me atingiu de
uma vez. Tínhamos sofrido um acidente de carro. Havia um caminhão. Ele nos atingiu,
enviando o BMW de Kenna para o lado da escarpa. Parecia que uma árvore havia impedido
seu carro de cair ainda mais morro abaixo, e estava ligeiramente inclinado.
Minha respiração acelerou. Um acidente de carro explicou a dor irradiando por todo o
meu corpo e o sangue escorrendo da minha cabeça.
Porra. Tudo doeu. Esse foi meu primeiro pensamento, seguido por... Oh, merda.
Kenna.
Onde ela estava? Ela estava ferida?
Sacudi a dor, tentando me mover, mas algo me prendeu. — Kenna, — eu gemi, mas
não houve resposta. Virando minha cabeça para o lado, o banco do motorista estava vazio.
Meus olhos fizeram uma varredura rápida na frente do carro. Um dos faróis brilhou na
escuridão, mas não vi um corpo. Não consegui encontrar Kenna em lugar nenhum.
Acho. Acho. Acho.
Grayson!
Ele deve ter ajudado Kenna a sair do carro. Eu me virei, e o medo arranhou minhas
entranhas. Grayson estava caído no banco de trás, sangue pingando de um corte acima do
olho. Ele não estava em condições de puxar corpos para fora do carro, e seu cinto de
segurança ainda estava preso. Ele não tinha se movido.
Então quem?
Um flash do rosto de Carter escureceu atrás dos meus olhos. Aquele filho da puta.
— Firefly!
Meu apelido gritou através da escuridão, seguido pelo arrastar de cascalho e
aceleração de passos que se aproximavam.
Hope espiou através da confusão dentro de mim. — Brock? — eu murmurei. Estou
ouvindo merda agora? Por que Brock estaria aqui? Ele não estava no carro conosco. Não
fazia sentido.
— Firefly, Deus, não se mexa. — Medo não era algo que eu ouvia na voz de Brock
com frequência, mas eu o ouvia agora. — Eu vou te tirar daqui.
Meu pescoço virou em direção ao som de sua voz. Seu rosto apareceu através da
minha janela quebrada. Eu não me importava como diabos ele me encontrou. Eu estava tão
aliviado que ele estava aqui, que eu não estava sozinho.
Ele lutou com a porta amassada, as dobradiças gemendo e gritando em protesto, mas
Brock estava determinado. Ele não deixaria o metal impedi-lo de chegar até mim. Ela se
abriu e ele foi direto para o meu cinto de segurança, destravando-o com um clique.
Suas mãos me alcançaram, mas pararam antes de realmente me tocar. — Você pode
se mexer? — ele perguntou suavemente, seu tom escondendo o furacão que eu vi se
formando em seus olhos.
— E-eu acho que sim. — Eu estava quase com medo de tentar. Um motor acelerou na
minha cabeça, pelo menos eu pensei que era na minha cabeça, mas me puxou de volta. —
Brock. Espere. — Agarrei seu braço, lembrando-me de uma peça vital que faltava. — Você
tem que me ouvir. Ele tem Kenna.
Brock olhou fixamente em meus olhos, confusão nublando as íris azuis. — Quem tem
Kenna? — Seu olhar mudou para o banco do motorista vazio. Ele estava tão focado em mim
que eu nem acho que ele percebeu que Kenna estava faltando. — Onde ela está?
— Ele a levou. Carter a levou, — eu disse, rouca e frenética.
— Você tem certeza?
Assenti, o que era uma má ideia, mas deixei de lado a dor pelo bem de Kenna. Ela
precisava de mim. Ela estava em apuros. — Ele nos tirou da estrada. — Eu não podia
acreditar, mas era a única coisa que fazia sentido. Carter deve ter sido o único no caminhão.
De que outra forma ele foi capaz de chegar a Kenna tão rapidamente?
Pneus giraram não muito longe do acidente, cuspindo pedras e sujeira. A cabeça de
Brock girou em direção à estrada. De onde o carro de Kenna havia parado, não podíamos ver
a rua claramente, apenas o feixe de luzes piscando acima de nós e o zumbido do motor como
o que parecia o caminhão enquanto se afastava.
— Eu cuidarei disso. — Brock imediatamente pegou seu telefone e discou. — Nós
temos um problema do caralho, — disse ele, mortalmente sombrio, quando a outra pessoa na
linha atendeu. — Você viu aquele caminhão? Siga isso.
Eu queria perguntar para quem ele ligou, mas ele estava no telefone novamente,
ligando para outra pessoa. — Micah, eu preciso de você. Tenho Grayson comigo.
Pelo processo de eliminação, a segunda pessoa que ele ligou foi Micah, o que
significava que Fynn devia ser o motorista que seguia Carter. O que era tão impressionante
era sua obediência cega. Ninguém fez perguntas. Eles apenas seguiram o comando, não
porque eram soldados, mas porque confiavam um no outro. Os quatro responderam um ao
outro sem palavras desnecessárias.
O olhar de Brock foi para o banco de trás ao som de Grayson gemendo. — Grayson,
cara. Diga-me que você está bem. — Grayson não respondeu, e Brock amaldiçoou baixinho
antes de colocar seu foco de volta em mim. — Micah estará aqui em breve. Tudo ficará bem.
Eu prometo.
— Como você me achou?
Seus dedos se levantaram, roçando suavemente uma mecha de cabelo molhada de
sangue, para que ele pudesse inspecionar o corte na minha cabeça. — Você não se lembra?
Você me chamou.
Certo. Eu estava esperando que ele respondesse quando o caminhão nos atingiu.
— Eu ouvi o estrondo, — disse ele cuidadosamente. — Eu juro, Firefly. Desde que te
conheci, nunca senti medo antes. Agora é uma maldita ocorrência diária com você.
Desde o momento em que percebi que Carter tinha Kenna, o verdadeiro medo tomou
conta do meu coração, apertando-o a cada segundo que ele a tinha. — Isso é tudo minha
culpa. Se eu não a tivesse envolvido naquele plano estúpido, ela não estaria em apuros agora.
Seus dedos deslizaram para o meu queixo. — Você sabe que isso não é verdade.
Carter estava esperando pela oportunidade.
Meus olhos estremeceram. — Que porra vamos fazer?
A linha esculpida de sua mandíbula se firmou e seus olhos brilharam. — Nós vamos
detê-lo. Isso termina hoje à noite.
Não gostei do som baixo de sua voz ou da forma como suas pupilas escureceram, mas
concordei. Pelo bem de todos nós, tínhamos que acabar com a loucura de Carter.
— Eu preciso ligar isso. Grayson precisa de atenção médica. E você também. — Ele
tirou o telefone do bolso de trás.
Eu balancei minha cabeça. — Não, eu estou bem. Eu não estou deixando você.
Ele olhou fixamente para mim antes de discar 911. — Houve um acidente na Rota 25.
Um capotamento. Há um passageiro ferido no banco de trás. — Ele desligou, não ficando na
linha como o operador insistiu.
Meu olhar se moveu para Grayson. Ele ainda não tinha recuperado a consciência. —
Ele vai ficar bem?
— Grayson é muito teimoso para ser gravemente ferido.
Verdadeiro.
Brock me levantou do carro e me colocou em seus braços com tanto cuidado que
quase me fez chorar. Mas eu endureci meu lábio. Eu tinha que ser forte por Kenna. Ela
precisava de nós.
— Ele me disse que estava voltando para mim, — eu murmurei, com certeza eu me
lembrava dele sussurrando em meu ouvido. Eu descansei minha cabeça no ombro de Brock.
— Se você não tivesse chegado aqui quando chegou...
Ele pressionou sua bochecha contra o topo da minha cabeça. — Não. Não pense
assim. Eu não posso ir lá. Não sei o que teria feito se chegasse aqui apenas para descobrir que
você se foi.
Um arrepio me percorreu. Eu não sabia se foi causado por choque ou outra coisa. —
Estou com medo, Brock. Mais assustado do que eu já estive na minha vida.
Ele me puxou mais apertado contra seu peito. — Eu preciso verificar Grayson. Você
aguenta?
Eu balancei a cabeça. — Sim, acho que sim. — Minha cabeça estava mais clara agora,
a brisa fresca como um respingo de água fria, acordando meu corpo. Ele me colocou de pé e
esperou uma batida para ter certeza de que eu não desmaiaria. — Eu estou bem, — eu insisti.
— Vá ver como ele está.
Ele não demorou muito, não mais do que um minuto, e o tempo todo eu estava com
muito medo de olhar para Grayson novamente. Por favor, Deus, deixe-o ficar bem. Se eu não
precisasse de uma carona para casa hoje à noite do meu trabalho, nada disso teria acontecido.
Eu não pude deixar de me culpar, sentir como se eu fosse de alguma forma
responsável pelo acidente – pelo sequestro de Kenna. Se eu nunca tivesse feito aquela
brincadeira estúpida de vingança com Carter...
Porra!
Um carro parou com um guincho no acostamento da estrada assim que Brock voltou.
Ele emoldurou meu rosto com as mãos, olhando profundamente em meus olhos. — A
ambulância estará aqui em um minuto. Fique com-
Grayson gemeu novamente. — Josi? — ele raspou. — Kenna?
Um pedaço de pressão esvaziou como um balão no meu peito. Grayson estava
acordado. Isso era um bom sinal, pensei. — Grayson, — eu exalei, movendo ao redor de
Brock para a porta do banco de trás aberta. Ele parecia uma merda, mas pelo menos seus
olhos estavam abertos. — Ei, você vai ficar bem, — eu disse, cuidadosamente pegando sua
mão.
— Carter, — ele murmurou, a garganta arranhando e macia, como se doer falar. —
Ele esteve aqui.
Uma fita de surpresa vibrou dentro de mim. — Você também o viu?
— O bastardo me derrubou. — Como se ainda pudesse sentir o golpe, Grayson levou
a mão até o lado da mandíbula, onde de fato havia um corte no canto do lábio.
— Idiota, — eu assobiei e me endireitei, girando. — Brock você...?
Ele se foi.
Aquele filho da puta.
Ele estava indo atrás de Carter. Sem mim. Ah, porra, não.
— Fique aqui, — eu gritei para Grayson e saí, mais rápido do que minhas pernas
bambas eram capazes, mas eu não me importei. Eu me empurrei e tropecei colina acima para
encontrar Micah e Brock parados na frente do Hummer de Micah.
— Você está indo. — Minha voz saiu estridente e em pânico.
Brock me encarou com um olhar de desagrado. — Precisamos pegar Kenna. Se Carter
a tiver, não posso deixá-lo machucá-la novamente.
Dei um passo para ele, meus dedos agarrados desesperadamente à sua camisa. Eu não
podia deixá-lo ir, não sem mim. — Eu vou também. — Eu não me importava se os
paramédicos ou policiais achavam suspeito que o motorista e o passageiro tivessem fugido do
local. Eu só me importava em encontrar Kenna. Isso era tudo o que importava.
Brock franziu o cenho. — Firefly.
— Ela é minha irmã, — eu o lembrei, mantendo minha posição.
— E você é meu tudo. — Ele disse a declaração com tanta convicção que minha
garganta fechou. — Não posso me preocupar com você.
Eu queria correr para seus braços, mas eu tinha que ficar firme ou ele me deixaria para
trás. E isso não estava acontecendo. Meu queixo se projetou, apesar do meu coração dar uma
cambalhota no meu peito. — Eu vou fodidamente com você, Brock. Ou encontrarei meu
próprio caminho.
Ele amaldiçoou, olhando para mim, e eu pude ver que ele queria continuar discutindo,
mas não havia tempo. Virando-se para Micah, ele disse: — Fique com Grayson. Vou mandar
uma mensagem de texto para você com o endereço assim que eu tiver notícias de Fynn.
— Tenha cuidado, — Micah disse, segurando o olhar de Brock. — As chaves estão
no carro, junto com tudo que você precisa.
— Obrigado, cara. — Ele apertou o ombro de Micah.
O olhar de Micah foi para o BMW destruído na beira da estrada. — Nós somos uma
família. Vamos pegar esse bastardo.
Brock deslizou atrás do volante quando Micah veio até mim e subiu no assento do
Hummer. Eu dei a ele um olhar que transmitiu mil palavras, e então Brock se afastou do
acostamento, girando os pneus.
Assim que o carro estava acelerando pela estrada, ele pegou o telefone e colocou no
viva-voz. — Fynn, — ele disse no momento em que a ligação foi conectada.
— Eu peguei ele. — A voz de Fynn soou alta e clara dentro do Hummer.
— Onde? — Brock perguntou brevemente.
— Você não vai acreditar nessa merda. A Academia. Ele acabou de parar — informou
Fynn.
Os nós dos dedos de Brock ficaram brancos no volante. — E Kenna?
— Ele a tem.
Ele bateu a palma da mão no volante, e eu vacilei. — Não faça nada até eu chegar lá.
Está claro? — Brock ordenou.
Fynn não foi rápido em responder. Uma batida de silêncio se passou antes que ele
dissesse: — Eu não gosto disso.
Meus dedos agarraram a borda do assento quando Brock fez a próxima curva muito
rápido. — Estaremos lá em menos de cinco. Fique de olho nele.
— Micah está com você? — perguntou Fyn.
Brock olhou para mim. — Não. É Josie.
Fynn amaldiçoou. — Que porra é essa.
— Ei, — eu protestei. — Estou no carro, você sabe.
— Você não deveria estar envolvido nisso, — disse Fynn com desaprovação. — Você
está dando a ele exatamente o que ele quer.
— Alguém realmente sabe o que o doente está procurando? — eu posei. Ele tinha as
evidências que a Elite reuniu sobre ele, e ainda assim não era suficiente.
— Confie em mim, eu também não gosto. Mas ela não me deu escolha, — Brock
disse, ambos me ignorando e me irritando ainda mais.
Fiel à sua palavra, entramos no estacionamento da Academia em menos de cinco
minutos. Estacionando ao lado do SUV de Brock, Fynn saiu do Land Rover. — Ele levou
Kenna para dentro da entrada sul, — ele disse no segundo que Brock abriu a porta.
O olhar de Brock cortou a escuridão para o caminhão estacionado na grama. — Como
diabos ele entrou?
— Kenna tem um molho de chaves, — eu interrompi, chamando sua atenção.
— Kenna e seus malditos segredos. — Brock contornou o Hummer para o lado do
passageiro, abrindo o porta-luvas e tirando algo. Eu peguei o brilho do aço quando ele enfiou
o item sob a camisa e na faixa de seu jeans.
Meu olhar se alargou. Merda de repente tomou uma nota seriamente ameaçadora. —
Isso é uma arma?
Brock fechou a porta do carro com um clique suave, tomando cuidado para manter
nossa presença longe de Carter. — Sim, — ele afirmou categoricamente. — Você tem o seu?
— ele perguntou a Fynn.
Fynn deu um aceno curto. — Fechado e carregado.
Fiquei entre os dois, minha cabeça balançando para frente e para trás. — Uau. Não
estamos matando ninguém. Percebido? — Eu disse severamente.
— Isso será com Carter, — Brock respondeu.
Meu intestino não se acalmava. Nervos e medo correram soltos dentro de mim. —
Você acha que ele a está machucando? Meus olhos se voltaram para a escola gótica que se
agigantava na nossa frente.
— Só há uma maneira de descobrir. Vamos lá. E não importa o que aconteça, Firefly,
você precisa ficar atrás de nós. Promete-me.
Olhei-o diretamente nos olhos e disse: — Prometo—. O que ele não viu foram os
dedos cruzados nas minhas costas.
Brock esmagou seus lábios contra os meus para um breve beijo que traduziu para,
porra, não se machuque. Recebi a mensagem. E o mesmo aconteceu com ele.
Juntos como uma equipe, nós rondamos em direção à porta sul da escola. Fiquei perto
de Brock, Fynn assumindo a liderança. Por que esse lado da escola? O que estava aqui? O
ginásio? Havia algum simbolismo para ele trazê-la aqui?
— Então ele a tem dentro? — uma voz murmurou atrás de mim.
Um grito subiu rapidamente na minha garganta. Brock virou-se para mim, de alguma
forma antecipando o que eu estava prestes a fazer, gritar a porra da minha cabeça, e cobriu
minha boca com a mão. Ele olhou nos meus olhos. — São apenas Grayson e Micah.
Os pelos eriçados em meus braços relaxaram lentamente, junto com meu ritmo
cardíaco acelerado, e Brock tirou a mão da minha boca. — Grayson, — eu assobiei. — Que
porra. Por quê você está aqui? — Ele literalmente assustou dez anos da minha vida.
— Igual a você. Para trazer nossa irmã de volta.
— Micah, — eu repreendi.
Ele ergueu as mãos. — Eu não estou entrando no meio de uma disputa familiar. Meu
melhor amigo pediu minha ajuda. Como eu poderia recusar? Além disso, eu não poderia
deixar vocês três se divertirem.
Talvez fosse melhor que eles estivessem aqui – a Elite completa.
Ladeados por quatro caras letais e gostosos, entramos na escola. Imaginei que metade
das garotas da escola morreriam para estar no meu lugar, até perceberem que isso não era
uma fantasia fumegante, mas um maldito pesadelo.
Fynn abriu a porta e entramos, um a um em fila indiana, abraçados à parede no
escuro. O sinal vermelho de saída acima da porta lançava um pequeno brilho no chão. O que
agora? Acontece que Carter respondeu a pergunta na minha cabeça. Era como se ele quisesse
que o seguíssemos, que fôssemos encontrados, e talvez ele quisesse.
— Grite de novo, e eu vou bater em você com mais força desta vez. — Sua voz ecoou
no corredor.
Meus passos vacilaram ao saber que Carter havia batido nela. Grayson colocou uma
mão firme sob meu cotovelo. Quantas vezes? Que ferimentos ela sofreu nas mãos dele versus
aqueles que ela sofreu no acidente? Mas até o acidente de carro foi culpa de Carter. Então, na
verdade, toda a sua dor era devido a Carter.
Fynn fez um movimento com a mão, indicando o vestiário masculino no corredor.
Passamos correndo pelos dois conjuntos de portas duplas do ginásio, chegando ao vestiário.
A voz de Carter veio do outro lado. — Seus meninos estão tomando seu tempo doce
resgatando você. Talvez seja porque você não significa nada para eles, — ele cuspiu. Eu
podia ouvir o arrastar de seus sapatos enquanto ele andava de um lado para o outro no
vestiário.
Kenna deu um grito abafado e meu corpo ficou tenso.
Ela estava viva. Isso era algo para segurar.
— Se você não tivesse fodido tudo, — ele continuou seu discurso. — Seria Josie
sentada naquela cadeira. Para o seu bem, é melhor você rezar para que eles apareçam.
Um estrondo balançou no peito de Brock com a menção do meu nome.
Como Kenna havia estragado seus planos?
O silêncio se estendeu, e eu prendi a respiração.
Brock assentiu, e Fynn ergueu a mão novamente, desta vez passando os dedos. Um.
Dois. Três.
Ele abriu a porta.
Brock já estava com a arma na mão, e Fynn alcançou a dele enquanto passava pela
soleira. A Elite se movia como uma só. Eu estava muito atordoado para fazer qualquer coisa
além de assistir do canto, enquanto os quatro giravam para a fileira de armários, revelando-se.
Brock e Fynn cada um com suas armas apontadas para o alvo.
Eu observei a expressão no rosto de Brock. Uma máscara de indiferença desceu sobre
suas feições, encobrindo a fúria fumegante que irradiava por baixo. Para Carter, ele pareceria
não afetado, intocável. — Acabou, porra, Carter. Abaixe a arma, — Brock ordenou com
calma fria.
Oh. Meu. Deus. Ele tinha uma arma.
Saí do meu esconderijo enquanto Brock rosnava meu nome, seu braço correndo em
volta da minha cintura, me puxando para o seu lado, enquanto ainda apontava a arma para
Carter.
— Olá, mana, — o idiota disse asperamente, seus lábios se curvando em um sorriso
sinistro que fez meu estômago revirar.
Eu não dou a mínima para o meu ex-meio-irmão e não lhe poupei nada além de um
olhar fugaz enquanto meu olhar frenético procurava Kenna no quarto. Mãos e pés amarrados
a uma das cadeiras dos treinadores, lágrimas escorriam pelas bochechas de Kenna,
encharcando a bandana amarrada em sua boca. Ela tinha alguns cortes no rosto, mas nenhum
outro sinal visível de ferimentos, não como Grayson havia sofrido. Mas a verdadeira ameaça
era a arma que Carter havia pressionado em sua têmpora.
Meu olhar colidiu com o de Kenna, e meu coração se partiu em um milhão de pedaços
pelo medo que vi neles. Ela me implorou para ajudar. Talvez fosse uma coisa de trigêmeos,
mas eu jurava que podia sentir a profundidade de seu terror dentro de mim. Era paralisante.
Senti minhas pernas cederem, mas Brock estava lá para me manter de pé.
— Seu filho da puta, — Grayson jurou, seus punhos fechados tremendo de raiva em
seus lados.
— Mova-se e eu estouro os miolos dela em cima de você, — ele advertiu muito
suavemente. Havia uma calma tão estranha em seu comportamento.
— Uau, cara. Você realmente perdeu sua merda, — Micah disse; seus olhos
normalmente brincalhões eram lascas de gelo astutas.
Levou todo o meu autocontrole para não correr pela sala. Ninguém moveu um
músculo. Inferno, eu mal respirei. — Não faça isso, Carter. Não a machuque. É a mim que
você quer. Certo?
O corpo de Brock se encolheu contra o meu. — Cala a boca, Firefly. Então me ajude
Deus, eu mesmo vou remover você. — Para provar seu ponto, seu aperto em volta da minha
cintura aumentou.
Eu o ignorei, sabendo que Brock poderia muito bem me pegar e forçar minha bunda
para fora da Academia, mas eu tinha que fazer algo para parar o medo de Kenna. Eu não
aguentava mais. — Deixe-me tomar o lugar dela. — As palavras saíram da minha boca.
— NÃO! — Brock rugiu, movendo seu corpo na minha frente. — Isso não vai
acontecer. Vou atirar em você antes de deixá-la chegar a três metros de você. Não havia
como questionar a certeza de sua ameaça, nem a arma que Brock segurava firme na cabeça de
Carter.
Mas Carter falou comigo como se não tivesse ouvido Brock. Idiota. — Você trocaria a
vida dela pela sua? — Ele parecia genuinamente surpreso. — Admirável. Mas estúpido, visto
que Kenna é a criatura mais egoísta do planeta. Você não é? — ele disse, cutucando a cabeça
de Kenna com o cano da arma.
Lágrimas frescas brotaram em seus olhos enquanto ela soluçava por trás da mordaça.
— Ela é família. Nós costumávamos ser uma família, — eu disse, esperando que ele
tivesse um pingo de humanidade dentro dele. Eu realmente nunca pensei em Carter como
uma família, mas nesta situação, eu o deixaria pensar que éramos tão grossos quanto ladrões.
— Abaixe a arma, Carter.
— Boa tentativa. Eu quase acredito que você se importa. Mas então me lembro do que
você fez comigo.
— Essas foram algumas fotos épicas. — Micah estava se regozijando com ele
enquanto Fynn e Brock mantinham suas armas apontadas para Carter. Se Carter não tivesse
sua 9mm na cabeça de Kenna, ele já teria uma bala nele.
Um músculo se contraiu no maxilar de Fynn, e eu pude ver o quanto ele queria
colocar as mãos em Carter, dar uma surra nele, até matá-lo. Parecia ser um sentimento
unânime dentro da Elite. No momento em que Carter abaixasse a arma da cabeça de Kenna,
mesmo que só um pouquinho, eles o atacariam.
Eu não aguentaria ver Kenna assim. — Apenas admita o que você fez. Então tudo isso
vai acabar. Não é isso que você quer? Para que isso pare?
— O que eu quero nunca poderei ter.
Eu engoli em seco. Maldito inferno. Por favor, Deus, não deixe que ele diga isso.
Os olhos enlouquecidos de Carter pousaram em mim. — Você.
Cristo. A repulsa caiu em meu intestino, subindo na minha garganta como ácido
ardente.
— Por que eu? — Eu não entendia essa obsessão. Será que ele só queria o que a Elite
tinha? Não. Não a Elite. Brock. Primeiro, foi Kenna, mas isso não foi real. Carter não sabia
que a afeição de Brock por Kenna tinha sido uma encenação.
— Porque você vai machucá-los mais. Eles tiraram tudo de mim.
Estava na ponta da minha língua para educá-lo que foram suas escolhas estúpidas que
o trouxeram aqui. Eu precisava mantê-lo falando, dar a Elite uma chance de ultrapassá-lo sem
machucar Kenna, mas é claro, eu não conseguia afastar a sensação de que alguém estava se
machucando esta noite. Eu só rezei para que fosse Carter e ninguém que eu amasse.
Mantendo minha atenção centrada em Carter, tentei novamente. — Não entendo. Qual
é o ponto em tudo isso? O pen drive que você tanto queria? Me assediando? Estuprar Kenna?
Eu não entendo. Por que você faria tudo isso? — Tinha que ser mais do que ferir a Elite. Eu
era apenas um peão. Ele realmente não me queria. Ele queria me usar.
O olhar de Carter foi para Brock por apenas uma fração de segundo, mas finalmente
me ocorreu.
A verdadeira obsessão de Carter não era eu.
Era Brock.
Ou querendo o que Brock tinha. Sua influência. Sua popularidade. Seu poder.
Ele queria a porra da vida de Brock. Amigos. Amiga. Status. Respeito. Por que eu não
tinha visto antes? Brock viu a verdadeira fixação de Carter?
Eu vacilei com a percepção. — Oh meu Deus. Você está obcecada pelo meu
namorado. Isso é o que é isso. Não sou eu. Não é Kenna. É Brock.
A Elite não teve muita reação, e eu assumi que era porque eles já tinham um palpite
sobre a paixão de Carter.
Mas Carter... ele explodiu. — Cala a boca. Você não sabe do que está falando. Eu o
odeio.
Sua súbita explosão de raiva apenas reforçou minha teoria. A reação imediata de
Carter foi negar a verdade. Ele tinha feito isso muito rápido e com muita emoção.
Micah esfregou a mão na nuca, zombando de Carter. — Parece que Josie Jo atingiu
um nervo.
O olhar de Brock pegou o meu de lado, e ele fez um pequeno aceno com os olhos, me
enviando uma mensagem. Ele queria que eu mantivesse Carter falando, continuasse
empurrando ele. Eu não sabia o que ele tinha planejado, mas falar merda com meu ex-meio-
irmão era algo que eu poderia fazer.
Grayson e Fynn ficaram em alerta máximo, apenas esperando, enquanto Micah e eu
assumimos o papel de atraí-lo.
Carter agarrou um punhado do cabelo de Kenna, puxando sua cabeça para trás
enquanto ele ainda enfiava a arma em seu crânio.
O corpo de Grayson estremeceu e eu gritei, minhas mãos voando na minha frente,
sinalizando para Carter parar. Machucar Kenna também causou dor a Grayson e a mim. Nós
três estávamos ligados de uma forma que eu não entendia completamente, mas eu
literalmente doía por dentro.
— Pare, — eu implorei, lágrimas nublando meus olhos enquanto eu olhava para
Kenna. — Simplesmente pare. — Minha voz soou tão vazia, um reflexo do que eu sentia por
dentro.
— Você quer que eu admita que eu fodi os miolos de sua irmã. Que eu gostava de
cada grito de dor, as súplicas para parar, — ele desabafou, acenando com a arma, — que eu
sonhava em fazê-la de novo e de novo.
— Eu quero que você admita que você a drogou e a estuprou. Que você me drogou e
todas aquelas outras garotas.
— Não havia outras garotas. Na verdade, não. Apenas vocês duas. Todas aquelas
outras garotas eram apenas putas que desistiram livremente. Eles sabiam das drogas, do
sexo. Eu tive que praticar de alguma forma para a coisa real.
Merda. Eu ia ficar doente.
— Exceto que Kenna saiu e você apareceu, — Carter me disse.
— Não fale com ela, porra, — Brock retrucou friamente o suficiente para congelar o
quarto.
Carter apenas riu, balançando a cabeça, os olhos ainda fixos em mim. — Achei que
estava tendo uma segunda chance. Você se parecia tanto com ela, e ainda assim, você era
diferente. Eu te queria mais. Mas é claro que, como Kenna, você só o viu.
— Da próxima vez que você gostar de uma garota, você pode tentar ser legal com ela
em vez de forçá-la, — eu retruquei sarcasticamente.
— Não teria importância. A Elite sempre recebe a primeira escolha, não é mesmo?
— Verdade, — admitiu Micah. — Mas a diferença é que nunca tivemos que forçar
uma garota.
— Então você está admitindo que drogou e estuprou minha irmã, — eu disse,
mudando o assunto da Elite e voltando para Carter.
— Se é isso que você precisa ouvir. Sim. Eu fiz. Mas deveria ter sido você.
Brock quase perdeu a cabeça naquele momento. Ele teria atacado Carter se Micah não
estivesse ao lado dele para detê-lo. Graças a Deus, Micah tinha os reflexos de uma maldita
chita. Ele agarrou Brock, segurando-o de volta.
Carter estalou a língua, a arma em suas mãos levantando uma polegada e retomando
sua posição firme contra a têmpora de Kenna.
Kenna choramingou, e eu tentei dizer a ela com meus olhos que tudo ficaria bem.
Brock sacudiu Micah, assassinato vibrando dele. — Você acabou de cavar sua própria
cova, idiota. — Ele ergueu o telefone e apertou o play. Toda a nossa conversa foi
reproduzida. — Já foi carregado na minha nuvem e enviado a todos nesta sala, incluindo o
PD de Elmwood e a mídia. Acabei de fazer de você o estuprador mais famoso da história de
Elmwood.
— Você está blefando porra, — Carter rugiu, seu rosto ficando vermelho.
— Você está disposto a correr esse risco? Acabou, cara. Abaixe a arma, — Fynn disse
a Carter, lançando-lhe um olhar duro.
— Xeque-mate, vadia. — Mica sorriu.
— Não acabou até eu dizer que acabou! — Carter gritou, inclinando-se mais perto da
beira de perder a porra da cabeça. Eu vi o brilho desequilibrado assumir, sabia que ele estava
prestes a fazer algo devastador, e se eu não fizesse algo para detê-lo, meu mundo inteiro seria
abalado.
Tudo aconteceu ao mesmo tempo, mas o tempo parecia muito lento. Carter deu um
passo para trás de Kenna, e a arma apontada para sua cabeça se moveu, movendo-se em nossa
direção.
Os olhos de Carter pousaram em Brock e ficaram lá. Ele ia atirar nele – levar a pessoa
que eu amava.
Grayson pulou para Carter ao mesmo tempo que gritei o nome de Brock, meus pés de
repente se movendo para frente. Eu não pensei. Meu corpo apenas reagiu. Eu tinha que
proteger Brock. Eu tive que parar a bala. Como se isso fosse possível, mas meu cérebro não
estava pensando racionalmente, não quando a vida de Brock estava em perigo.
— Josi! — Brock rugiu meu nome.
Estrondo!
A arma disparou.
Alguém gritou.
Uma garota.
Mas não poderia ter sido Kenna, ela ainda estava amordaçada, o que significava... que
alguém era eu.
Um choque passou pelo meu lado direito, logo acima do meu quadril. Eu tropecei. A
sala explodiu em caos, mas eu vi e ouvi muito pouco disso. Meus ouvidos estavam zumbindo,
e eu entrei em choque.
Não registrei a dor. Ou o sangue. Nem mesmo quando bati no chão. Uma dormência
fria se moveu através de mim.
— Ligue 911! — alguém gritou.
Brock caiu no chão ao meu lado, e uma rajada esmagadora de alívio passou por mim.
Mas durou pouco, pois vi uma mancha de sangue em sua camisa. Ele tinha sido baleado?
Não fazia sentido. Houve apenas uma bala, pensei. Então, novamente, não muito fazia
sentido no momento.
— Que porra é essa, Firefly. — Brock me puxou em seus braços, me embalando em
seu peito, as pernas espalhadas em cada lado de mim. Achei que ele poderia ser mais pálido
do que eu.
— Desculpe, — eu engasguei.
Sua mão pressionou o meu lado, diminuindo o fluxo sanguíneo. — Não fale. Você vai
ficar bem. Você me ouve? Eu me recuso a deixar você morrer.
Um bufo fraco passou pelo meu nariz. Eu tive uma noite infernal, e imaginei que
parecia bastante assustada.
Sua mão pressionou firmemente contra a ferida ao meu lado, meu sangue cobrindo
seus dedos.
— Eu odeio sangue, — eu sussurrei, minha cabeça caindo para o lado. Nesse ritmo,
eu estaria coberto da cabeça aos pés nele. A lateral da minha têmpora e o cabelo ainda
estavam cobertos de crostas do ferimento que sofri no acidente de carro.
Grayson tinha Carter empurrado para o chão. Ele o atacou logo depois que a arma
disparou e arrancou a arma das mãos de Carter. Fynn mal conseguiu conter Grayson
enquanto lutava para tirá-lo de Carter. Não sei quantas vezes ele bateu em Carter. — Eu
deveria matar você, porra! — meu irmão ferveu, empurrando o cano de sua arma na lateral da
cabeça de Carter.
Carter soltou uma risada amarga. — Faça isso. O que me resta para viver?
Grayson pressionou a arma mais fundo na carne de Carter, sua mão tremendo de
raiva. — É melhor você torcer para que ela viva. Ou você vai implorar pela morte.
As sirenes da polícia soaram ao longe. — Deixe-o apodrecer na cadeia, — disse Fynn,
puxando Grayson de cima de Carter. — A morte é uma fuga muito fácil para ele. Ele viverá
no inferno todos os dias.
Carter tinha atirado em mim. Ele seqüestrou Kenna, a manteve refém. Nem mesmo
seu pai seria capaz de tirá-lo com um tapa nos pulsos desta vez, e isso, combinado com sua
confissão completa, significava que Carter estava indo embora.
Finalmente. Eu poderia descansar.
CAPÍTULO VINTE E SEIS

Bip. Bip. Bip.


Esta foi a segunda vez que eu acordei com um tom repetitivo que não parava. Foi
diferente do primeiro. A sala estava silenciosa, e o bipe soava como uma máquina familiar.
Uma sensação de déjà vu percorreu meu corpo. Eu estive aqui antes. Uma estranha sensação
de segurança tomou conta de mim – ou talvez fossem as drogas – quando percebi onde
estava. Em um hospital.
Meus olhos pesados se abriram e pisquei rapidamente para limpar a sonolência deles.
Olhei para a máquina monitorando meus batimentos cardíacos e sinais vitais.
— Oh meu Deus, — uma voz exalou. — Você está acordada. — Uma mão quente
alcançou a minha, e eu levantei meu olhar para o rosto de Mads.
Seus olhos estavam brilhantes e brilhantes como se ela estivesse chorando. Inchaço
vermelho os cercava. — Eles prenderam Carter. Brock deu-lhes a gravação, e Kenna
finalmente concordou em testemunhar contra ele, — ela saiu correndo, rapidamente tentando
me dar todos os detalhes.
Foi difícil para mim pegar tudo e juntar as peças, mas o pesadelo voltou quando ela
começou a falar, como uma onda gigante me levando para baixo. Quando finalmente
atravessei a superfície, meu peito doeu e fiquei sem ar.
Eu tinha sido fodidamente baleado.
Ela gentilmente se sentou na beirada da minha cama de hospital, tomando cuidado
para não me tocar. — Deus, o que você fez... Merda, Josie. Isso foi tão estúpido.
— Eu tive que, — eu murmurei, a garganta arranhando. — Ele teria atirado em
Kenna.
— Sim, mas você levou um tiro, — ela apontou.
Eu ainda não conseguia acreditar. Nenhum dos eventos parecia real.
— O médico disse que foi um tiro certeiro, a bala passou direto. Nenhum órgão vital
foi atingido. Ele disse que você teve sorte. — Mads bufou. — Diga isso ao seu namorado
superprotetor que está chafurdando na culpa e na miséria por horas. — Ela apertou minha
mão. — Estou tão feliz por você não ter morrido. Eu não sei o que eu faria sem você, garota.
— Onde ele está? — Eu perguntei.
— Ele não saiu do seu lado. — Ela inclinou a cabeça para cima, os olhos se movendo
para o outro lado da sala.
Eu lentamente virei minha cabeça e vi Brock esticado em uma cadeira, no que tinha
que ser a posição mais desconfortável. Sua cabeça descansava na superfície dura da parede,
mãos cruzadas no colo, olhos fechados. Sangue crosta em sua camisa, meu sangue e uma
folha de gaze branca enrolada em seu braço, abaixo do ombro.
— Ele está bem? — Eu vagamente me lembrei de Brock pulando atrás de mim.
— Sim. A bala atingiu-o depois de te atingir. Ele apenas adormeceu não muito tempo
atrás, — Mads sussurrou. — Apesar de sua boa aparência, ele não é um paciente muito
complacente.
O tubo em meu braço bombeava-me cheio de fluidos e remédios, e quando levantei
minha mão, a dor irradiava para o lado da minha barriga, não muito longe do meu quadril.
Certo. Ferimento de bala. Todo o meu lado esquerdo foi embrulhado e colado. — Há quanto
tempo estou aqui?
— Cinco horas, — Mads informou, e ela parecia estar aqui esperando pela maioria
deles. Linhas cansadas pendiam sob seus olhos, e seu cabelo estava preso em um coque
bagunçado. — Os médicos disseram que a cirurgia foi um sucesso. Eles acreditam que
pegaram todos os pequenos fragmentos de bala. Eu acho que, mesmo que a bala tenha
passado direto, ela ainda pode deixar para trás pequenas lascas de metal.
Bom saber.
— Sua mãe e seu pai estão fora de si. Uma filha no hospital, a outra na delegacia.
— Kenna está bem?
Mads assentiu. — Ela vai testemunhar e finalmente apresentar queixa contra Carter
pelo que aconteceu nos últimos dois anos. Acho que vão deixá-la ir em breve. Tio Chandler e
tia Liana saíram há alguns minutos para ficar com Kenna, depois que prometi que não sairia
do seu lado.
— Bom, ela precisa deles. — Eu tinha meu namorado e meu melhor amigo. Kenna
precisava de nossos pais mais do que eu.
— E os outros? — Eu perguntei, precisando saber se a Elite estava segura.
Kenna me deu um sorriso tranquilizador. — Grayson e Fynn foram para a delegacia
com Kenna. Micah foi buscar um café para nós. Ele deve voltar a qualquer minuto.
Eu levantei minhas sobrancelhas, porque mover qualquer outra coisa exigia energia
que eu não tinha. Acontece que levar um tiro foi sugado. — Mica, hein?
Ela revirou os olhos, os dedos se atrapalhando com o lençol branco. — Sim, bem.
Ainda não me decidi sobre ele.
— Obrigado, Mads, por ficar.
— Você é meu primo, meu melhor amigo. Eu te amo.
Eu não deveria estar tão feliz. Talvez fossem as drogas. Ou talvez fosse assim que a
segurança se sentia. Independentemente disso, eu não queria que essa leveza em meu coração
parasse. Todos nós íamos ficar bem. — Eu também te amo.

***

A próxima vez que acordei, o quarto estava mergulhado na escuridão. Mads se foi, e a
cadeira ao lado da minha cama estava vazia.
— Firefly, — uma voz sussurrou do canto, e eu tive que piscar algumas vezes para
encontrá-lo.
Brock estava nas sombras, muito longe. — Brock. — Minha voz quebrou sobre o
nome dele.
Ao som de seu nome, ele correu para frente, caindo cuidadosamente na lateral da
cama. — Você está acordado.
Eu estendi minha mão, descansando em sua coxa. — Você ainda esta aqui.
Seus dedos entrelaçaram com os meus. — Como se eu fosse embora. Você nos deu
um susto desagradável. Que porra você estava pensando, pulando na minha frente?
Apesar da dor que era mais proeminente do que antes, estreitei meus olhos para ele.
— Que eu estava salvando sua vida.
Ele balançou a cabeça, olhando para nossas mãos unidas por um segundo antes de
erguer o olhar de volta para o meu. — Da próxima vez que enfrentarmos uma bala, deixe-me
ser o herói. Essa merda vai prejudicar minha reputação, ter uma garota me salvando.
Eu o belisquei na coxa. — Como se você se importasse com sua reputação, Brock
Taylor.
— Finalmente, — Micah explodiu da porta. — Quem diria que alguém tão pequeno
poderia dormir tanto. — Ele me deu um sorriso com covinhas quando meus olhos colidiram
com os dele, e piscou para mim.
Fynn foi o próximo, passando pelos ombros largos de Micah para entrar na sala. —
Você está acordada.
— Estava na hora. O café aqui é atroz, — afirmou Grayson, carregando uma sacola
branca. — Ei, eu pensei que você poderia usar um café com leite. — Ele colocou a bolsa na
bandeja do hospital e tirou uma xícara branca do meu café favorito.
— Obrigado, — eu disse com um sorriso. Brock me ajudou a me apoiar em uma pilha
de travesseiros com muito cuidado.
Micah ficou encostado na porta como se estivesse guardando. — Você parece muito
bem para uma garota que levou um tiro ontem à noite.
Revirei os olhos. Eles eram uma das poucas coisas que não doía. — Se você gosta de
garotas que parecem estar à beira da morte.
Fynn pegou um dos cafés e se jogou na cadeira. — Não. Você não se dá crédito
suficiente, JJ.
Brock pegou um dos copos para si mesmo, franzindo a testa enquanto dava a cada um
de seus amigos um olhar aguçado. — Ok, essa merda de bater na minha namorada não é mais
fofa.
— Diz você. Eu particularmente gosto, — eu disse, tomando um gole do meu café
com leite.
— O mesmo, — Micah concordou com uma risada triste. — Além disso, ela não é só
sua. Ela é nossa.
— Mas ela é minha namorada, — ele enfatizou novamente, sobrancelhas franzidas.
— Estamos realmente discutindo sobre quem me possui mais? — Eu estava muito
feliz em vê-los para repreendê-los pelo fato de que ninguém me possuía.
Grayson limpou a garganta. — E agora terminamos de flertar com minha irmã, — ele
afirmou secamente, apenas fazendo Micah sorrir ainda mais amplamente.
Soltei um longo suspiro, meu peito mais leve. Tudo ficaria bem. Eles estavam todos
aqui. Seguro. Vivo. Minha.

***

Tive alta do hospital no mesmo dia da primeira aparição de Carter no tribunal. Saber
que ele estava atrás das grades me deu uma sensação de liberdade que eu não sentia há meses.
Brock me empurrou para fora do hospital. O homem se recusou a sair do meu lado e
passou as noites em uma cama na minha sala de recuperação. Eu tinha o quarto mais animado
do hospital, e não pude deixar de sentir simpatia pelas enfermeiras que brigaram para serem
designadas para o meu quarto. Eles passaram mais tempo olhando para a Elite, rindo e
flertando com os caras do que cuidando de mim. Não que eu precisasse deles, quando eu
tinha quatro caras me adorando a cada momento.
Tenho certeza de que eu era invejado por todos no hospital.
E as enfermeiras ficaram um pouco tristes demais para me ver partir.
Eu, por outro lado, estava tão pronto para ir para casa, para dormir na minha cama. Eu
pensei que estando em casa, os caras iriam relaxar em suas visitas. Isso também não foi o
caso. Eles voltaram para a escola e ainda vinham me ver sempre que tinham.
As semanas seguintes foram monótonas. Eu amei cada segundo disso. Bem, se
recuperar de um tiro não foi um passeio no parque, mas ser capaz de respirar sem esforço sem
se preocupar com o que Carter faria a seguir era libertador de maneiras difíceis de colocar em
palavras.
Havia uma parte da minha vida que ainda pendia como um pedaço de barbante
cortado. Em algum momento durante minha recuperação, decidi encerrar este último capítulo
inacabado de minha vida. Foi então que eu seria capaz de seguir em frente sem
arrependimentos.
— Isso é o que você quer? — Brock perguntou, me olhando com cautela. Seu cabelo
escuro tinha aquele aspecto naturalmente bagunçado que eu adorava.
Eu balancei a cabeça. — Você pode parar de me tratar como se eu fosse quebrar.
Estou bem, Brock. Seriamente. Eu não mentiria para você.
Seus lábios se contraíram. — Ver sua namorada levar um tiro faz algo com um cara.
Não estou pronto para ver você se machucar novamente. Mesmo que seja apenas
emocionalmente.
Deitando minha cabeça em seu ombro, eu me deixei aquecer no calor fornecido, tanto
por dentro quanto por fora. — Pode doer dizer adeus, mas preciso disso para realmente me
curar.
— Eu sei. Eu realmente gostaria de poder suportar a dor por você, — ele respondeu,
colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.
— Brock, você já fez o suficiente. — Ele carregava muita culpa daquela noite. Eu
sabia que ele se culpava, mas a única pessoa culpada era Carter. E ele teria seu julgamento.
Ele tocou seus lábios nos meus. — Eu te amo, Firefly. — Perdi a conta do número de
vezes que ele disse aquelas três grandes palavras, mas nunca me cansei de ouvi-las.
— Tão fodidamente, — acrescentei, beijando-o de volta. — A propósito, você não
pode simplesmente dizer isso toda vez que não quer falar sobre algo.
Um sorriso suave surgiu em seus lábios. — Eu não sei do que você está falando.
O julgamento de Angie foi esta semana e está recebendo muito mais imprensa do que
eu queria. Repórteres tinham ido acampar do lado de fora da Academia na esperança de tirar
uma foto minha ou conversar com meus colegas, que estavam ansiosos demais para derramar
sujeira em mim.
A Elite me protegeu quando puderam dos repórteres. Apressando-me para dentro do
carro, bloqueando-me das fotos. Entre as acusações de sequestro de Angie e a prisão de
Carter, Kenna e eu estávamos em todas as manchetes locais. Chegou até a ser notícia estadual
e nacional, graças à singularidade de nossa situação. Nem todos os dias uma vítima
sequestrada voltava para casa depois de quase dezoito anos. Claro, as pessoas ficaram
intrigadas e queriam saber mais sobre nossa história.
Eu só queria ser normal. Isso não mudou, mas acabei aceitando que o normal nunca
faria parte da minha vida.
De alguma forma distorcida, eu estava grato a Angie. Sem ela destruindo seu
casamento com Easton e se casando com Steven, eu nunca teria conhecido Brock, nunca teria
encontrado minha família.
Só por isso, eu não poderia odiá-la.
Este seria meu último adeus. Eu estava fechando o capítulo desta parte da minha vida
e, independentemente do que o juiz considerasse uma punição adequada, Angie ficaria no
passado.
Eu tinha um futuro brilhante com Brock e a Elite.
Brock se inclinou na borda de seu novo Land Rover. Era parecido com o antigo e se
encaixava no estilo de Brock. Eu não podia vê-lo dirigindo qualquer outra coisa. — Você não
tem que fazer isso, — disse ele, novamente permitindo que eu me curvasse.
— Eu sei, mas eu preciso. — Foi como eu segui em frente. Alcançando sua mão,
entrelacei nossos dedos por um momento, precisando tocá-lo. — Eu não poderia fazer isso
sem você. Obrigado por ter vindo.
— Estou feliz por uma vez que você não tentou vir sozinho.
Eu ri, e isso tirou um pouco da borda. — Eu ainda posso te expulsar daqui.
Um sorriso travesso tocou o canto de sua boca. — Eu gostaria de ver você tentar.
Meu peito subia e descia enquanto eu exalava, me preparando.
Olhei para a casa dos Patterson, perdida em uma abundância de sentimentos. Nada
além de tijolos, madeira, pedra e pregos. No entanto, para mim, representou muito mais.
Esta casa mudou minha vida para o bem e para o mal.
O mal respirava dentro daquelas paredes, e as pessoas que moravam lá fizeram um
grande esforço para manter esse mal escondido.
Estava disponível agora para todos verem... graças à Elite.
Kenna finalmente enfrentou o monstro que a atormentava, que fodeu sua vida assim
como ele ajudou a remodelar a minha.
Mas eu não estava aqui para Carter. Foi só porque ele estava sentado atrás das grades
que eu me senti segura em aparecer, e saber que Brock esperava ao lado do carro também me
fez corajosa.
— Estarei esperando, — ele assegurou, dando um último aperto na minha mão.
Assentindo, comecei a subir o caminho para a porta principal. Memórias da primeira
vez que vi a casa voltaram para mim. Eu estava tão intimidada por tudo isso. A casa. A
Academia. Este mundo de classe alta.
Eu dei uma olhada por cima do ombro para ele quando cheguei à porta. Uma faixa do
sol poente iluminou o lado de seu rosto, lavando-o em um brilho quente vermelho-alaranjado.
Ele não sorriu ou me tranquilizou, mas se inclinou contra seu carro como se fosse pular para a
batalha por mim se alguém tentasse me machucar.
Antes de mudar de ideia e correr de volta para o SUV de Brock, toquei a campainha,
lambendo meus lábios secos enquanto esperava. Ela já estaria bêbada? Era tarde da noite.
Normalmente, ela já teria uma ou duas garrafas inteiras. Talvez este não fosse o momento
ideal para aparecer, mas hoje era minha noite de folga do Lazy Ray's, uma rara noite de
sábado. Eu deveria estar passando com meu namorado, enrolada no sofá assistindo a um
filme ou saindo com os caras perto de uma fogueira, assando cachorros-quentes.
Haveria muito tempo para isso, eu me lembrei.
O Natal estava ao virar da esquina. Meu primeiro não apenas com Brock, mas com os
Edwards também. Eu não podia imaginar o quão grande seria um evento de Natal na
extremidade superior de Elmwood. Eu estava animado para descobrir.
Angie abriu a porta e piscou, me olhando boquiaberta, incrédula. Seus dedos
agarraram a porta com mais força como se quisesse se firmar, seu rosto empalidecendo.
Olhei para a mulher que tinha sido a causa tanto da infelicidade quanto da alegria em
minha vida. Mais miséria se eu estivesse sendo honesto, mas era um sentimento conflitante,
vê-la depois de tanto tempo. Ela parecia ter envelhecido dez anos em apenas algumas
semanas. O julgamento estava cobrando seu preço.
O cabelo comprido e escuro pendia liso e reto sobre os ombros, não polido em algum
updo ou desgrenhado por dedos bêbados puxando-o. Ela não usava maquiagem, e eu não
conseguia me lembrar da última vez que tinha visto seu rosto natural. Sua pele tinha um
brilho natural, mas havia sombras escuras sob seus olhos, como se ela não estivesse dormindo
bem à noite.
— Josephine, — ela engasgou; um brilho assombrado surgiu nos olhos escuros como
se ela estivesse vendo um fantasma.
Foi triste que meu primeiro pensamento tenha sido surpresa, que seu hálito não
cheirasse a bebida?
— É realmente você? — ela suavemente perguntou.
— Oi, — eu respondi, as palavras me faltando.
Sua mão voou para o coração. Lágrimas cobriram seus olhos. — E-eu não achei que
veria você de novo.
— Eu não tinha certeza que você faria, — eu admiti.
— Você quer entrar? Esta ainda é sua casa, — ela disse, muito esperançosa.
Eu balancei minha cabeça. — Não, não é. E eu só vim dizer…— Por que isso foi tão
difícil? Por que minha garganta teve que fechar agora com as palavras? Eu só queria tirar isso
e ir embora.
E, no entanto, uma pequena parte de mim, aquela garotinha que ainda buscava amor e
aceitação, queria que a mulher que eu acreditava ser minha mãe me abraçasse.
Imaginei o rosto de Brock, senti sua presença na entrada da garagem, a alguns metros
de distância. Era tudo que eu precisava para me recompor e engolir o nó de emoção preso na
minha garganta. Levantando o queixo, reuni coragem e disse: — Eu te perdôo—.
Lágrimas se acumularam em seus olhos, explodindo livres e rolando por suas
bochechas. — Eu senti tanto sua falta, querida.
Carter tinha me dito isso, mas eu podia ver por mim mesmo que ela realmente sentia
minha falta. — Você parece... saudável. — Ela o fez, e ainda mais se ela dormisse um pouco.
— Eu parei de beber, — ela informou. — Meu advogado disse que ajudaria meu caso
se eu não aparecesse no tribunal perdido.
Fiquei surpresa que ela ouviu. — Independentemente do motivo, estou feliz.
— Eu não sei como você pode me perdoar depois de tudo que eu fiz. O que Carter
fez...
Às vezes era difícil decifrar quando ela estava sendo sincera. — É no passado, — eu
disse. O objetivo de vir aqui tinha sido deixar de lado o ressentimento e os rancores que eu
estava guardando. Foi a única maneira de me curar.
— Estou feliz que você veio. As coisas não têm sido as mesmas desde que você
partiu.
Meu olhar passou por ela para dentro da casa. — Você tem Steven agora. Parece que
ele está ao seu lado.
Uma emoção cruzou suas feições. Dúvida? — Mesmo com os melhores advogados,
não será um caso fácil. Talvez você pudesse falar com seu pai? Fazer com que ele retire as
acusações? Ela estava desesperada para salvar sua vida.
Minha guarda subiu. — Você quer dizer Easton?
— Sim, seu pai, — ela enfatizou novamente, e eu percebi que ela ainda não entendia
completamente. Sim, Easton ainda era meu pai para mim, mas parecia que Angie estava
desconsiderando os Edwards. Eu não queria acreditar que ela fez isso de propósito, mas foi a
sensação que tive.
Tinha sido um erro vir aqui? — Não funciona assim. Não há nada que Easton ou os
Edwards possam fazer agora para ajudá-la.
Seus olhos se estreitaram, e eu vi um flash da Angie que eu odiava. — Não vai? Ou
não pode?
Eu balancei minha cabeça, percebendo que não chegaria a lugar nenhum com ela. —
Não é por isso que estou aqui. Eu vim para te perdoar e isso é tudo. Não há nada que eu possa
fazer. — Suspirei, desapontada por não me sentir melhor. — Já disse tudo o que vim aqui
dizer. — Eu a abracei, cedendo ao desejo anterior. — Adeus, mãe, — eu sussurrei, minha voz
tremendo. Eu mesmo estava perto das lágrimas. Fechar este capítulo da minha vida provou
ser mais difícil do que eu esperava. Eu saí de seu abraço, apesar de sua relutância em me
deixar ir.
— Josephine, — ela me chamou enquanto eu me virava para descer da varanda da
frente.
Se eu me virasse agora, talvez não fosse capaz de ir embora. Eu tinha que ser forte e
firme. Eu tinha que fazer isso por mim mesmo – pelo meu futuro.
Continuei andando, forçando meus pés a se moverem um na frente do outro, direto
para os braços de Brock.

***

Quando você está no meio das coisas, parece que nunca vai sair dela. Agora que eu
estava do outro lado, às vezes era difícil acreditar que minha vida poderia ser tão tranquila e
mundana. Ninguém me ameaçou. Eu não me preocupei em ser ferido todos os dias. E não
doeu quando eu ri. Era genuíno.
Carter estava na cadeia, e Kenna e eu finalmente estávamos livres. Parecia que ele
ficaria fora por um longo tempo.
Eu queria marcar minha jornada, um lembrete de que eu havia sobrevivido, e foi
assim que me encontrei em uma loja de tatuagem no meu aniversário de dezoito anos. Aquela
arma de tatuagem zumbiu na mão da garota enquanto ela a segurava acima do meu pulso.
— Pronta? — ela perguntou. Starla foi uma das tatuadoras que trabalharam na Elite.
Ela não tinha mais de um metro e meio, tinha metade de sua cabeça raspada, com uma
tatuagem de dragão onde seu cabelo tinha estado uma vez. Ela era basicamente foda.
E eu gostei dela instantaneamente.
Meus lábios levantaram. — Definitivamente.
Eu não senti a picada depois de cinco minutos. Não que não doesse, porque havia dor,
mas comparado ao que eu tinha passado, a picada de uma agulha era insignificante. Vinte
minutos depois, olhei para a tatuagem pequena, mas significativa, totalmente apaixonada por
ela. — É perfeito, Starla.
— Combina com você — disse ela, espalhando um pouco de vaselina na tinta fresca.
— Não consigo decidir se você é uma garota de sorte ou apenas incrivelmente corajosa, Josie
James. Conheço os caras há alguns anos e eles não deixam qualquer um entrar.
— Não, eles não fazem, — eu concordei, meus olhos encontrando os de Brock do
outro lado da loja. Ele estava alcançando um dos outros tatuadores, folheando o flash.
Mantendo meus olhos fixos nos dele, me levantei da cadeira e caminhei até ele. A
maneira como ele olhou para mim... deveria ter sido proibido. — Finalizado? — ele
perguntou em uma voz que me disse que ele estava morrendo de vontade de me pegar
sozinho.
Eu puxei minha manga para cima e revelei os pequenos vaga-lumes esvoaçantes com
tinta. — O que você acha? — Eu perguntei, olhando para seu rosto. — Você marcou mais do
que meu coração. Eu sempre serei seu, Brock fodido Taylor. Para todo sempre.
Um sorriso lento se espalhou por seu rosto, e o centro de seus olhos escureceu. —
Não tenho certeza se mereço você.
Eu sorri para ele, e eu sabia que provavelmente parecia estupidamente feliz, porque eu
estava. — Provavelmente não, mas você está preso comigo. Da próxima vez, tatuagens
combinando.
Sua risada roçou minha bochecha. — O que você quiser, Firefly. Vamos, os caras
estão esperando lá fora.
Os olhos de Micah, Grayson e Fynn atraíram para Brock e eu quando saímos da loja
de tatuagem. Pequenos flocos brancos caíram do céu azul claro, o sol brilhante e alto no céu.
Era a primeira nevasca da temporada, e eu tive vontade de dançar na rua e pegar cristais de
neve na minha língua.
Os três estavam descansando ao redor do Land Rover, conversando sobre Deus sabe o
quê, sem prestar muita atenção aos flocos de neve caindo ao redor deles. Pelos sorrisos em
seus rostos, eu tinha certeza que não queria saber.
Os caras me deram merda sobre minha tatuagem, mas era tudo tão normal. — O que
agora? — Eu perguntei, mais do que um pouco nervoso com o futuro. Eu me senti tão incerta
sobre tudo isso. Nós fomos reunidos e ligados pela merda com Carter. Será que todos nós
desvendaríamos agora que não tínhamos nada com que nos preocupar? O que aconteceria
com Brock e eu? Para a Elite? Eu não tinha ideia do que faria depois da formatura, mas pelo
menos pela primeira vez em meses, eu poderia finalmente colocar toda a minha energia e
foco nos estudos, e ganhar aquela bolsa de estudos.
Brock olhou para cada um de seus amigos e sorriu. — Aproveitamos nosso último ano
juntos, como veteranos. Nós nos formamos, porra.
O calor ganhou vida em meu peito. Talvez eu estivesse ficando menstruada, ou talvez
fossem as férias invadindo, mas eu estava me sentindo sentimental como uma merda. — Não
consigo imaginar não estarmos juntos. — Eu não estava me referindo apenas a Brock e a
mim, mas à Elite, Mads e Kenna também. Éramos uma unidade, um pacote.
— Sempre seremos nós cinco, Firefly.
— Malditamente correto, Josie Jo. — Micah abriu caminho entre Brock e eu, jogando
seu braço sobre meu ombro e ignorando o olhar de Brock enquanto ele dava um beijo na
minha testa.
Fynn me encaixou do outro lado. — Nós te amamos, JJ.
Meu coração pulou. Não da mesma forma que ouvir Brock confessar seu amor, mas
foi bom do mesmo jeito, ser amado pela Elite, cada um à sua maneira.
Grayson cruzou os braços. — Vai demorar muito mais do que a faculdade para nos
separar.
— Acho que provamos isso este ano, — disse Fynn.
— Além disso, quem disse que não vamos terminar todos na mesma universidade, —
acrescentou Micah.
Eu engasguei. — Você pode imaginar? A Elite… na faculdade. Acho que vocês nos
expulsariam no primeiro mês.
O lábio de Micah se curvou. — Algo pelo que esperar.
— Eu peço desculpa mas não concordo. Mais como algo para temer, — eu murmurei.
Mas no fundo, o pensamento de ir para a mesma universidade que os quatro me encheu de
calor e entusiasmo. Parte de mim realmente queria que isso acontecesse, e então eu não teria
que lidar com as despedidas. Acho que nunca poderia dizer adeus a eles.
Meu coração iria quebrar.
Os quatro eram mais do que importantes para mim. Eles eram família. Eles estavam
em casa. Eles eram meus.
EPÍLOGO
GRADUAÇÃO

Micah Bradford me puxou para um abraço, bagunçando o topo do meu cabelo. —


Você está pronta para o verão de sua vida, Josie Jo?
Lancei-lhe um olhar de soslaio. Ele usava seu roupão de formatura azul escuro, o boné
solto na outra mão. — Não. Desculpe decepcionar. Essa festeira está aposentada, pelo menos
até a faculdade. Estou tirando o verão para fazer nada além de sentar à beira da piscina,
aproveitar o sol e servir as mesas.
A cabeça de Micah caiu em seu peito enquanto ele roncava.
Mads bateu no peito dele com as costas da mão. — Vamos apenas aproveitar este
momento e nos preocupar com o verão amanhã.
Eles estavam namorando. Tinha sido nos últimos cinco meses. As coisas realmente
começaram para eles depois do Natal. Eu estava feliz por minha prima, e se Micah a fez feliz,
então eu apoiei totalmente o relacionamento deles.
Mas... no segundo que ele saísse da linha, eu seria a primeira em seu rosto. Amigo ou
não, ele teria que lidar comigo se partisse o coração de Mads. Novamente.
Mads revirou os olhos. — Seriamente. Já é ruim o suficiente que eu tenha que lidar
com você por mais quatro anos.
Micah abriu um sorriso. — Nós vamos ter a porra da Kingsley University.
O que no início do ano parecia apenas um sonho, tornou-se realidade. Eu não tinha
ideia do que a admissão de KU pensava em aceitar Brock, Micah, Mads, Kenna e eu, mas
seriam quatro anos interessantes, para dizer o mínimo.
Fynn e Grayson frequentavam a Universidade de Dupree, a apenas duas horas de KU.
Ainda não tinha escapado que nosso grupo estaria se separando no final do verão, o que me
fez pensar que talvez Micah estivesse em alguma coisa. Sim, eu queria um verão frio, mas
também queria torná-lo memorável. Este foi o nosso último verão antes de sermos lançados
ao mundo.
Só de pensar nisso trouxe uma lágrima ao meu olho. Eles se tornaram uma parte tão
importante da minha vida. Eu não conseguia imaginar um segundo do meu futuro sem os
quatro.
Fynn recebeu uma oferta de bolsa de estudos de um dos melhores times de futebol
americano universitário, e Grayson aposentou a camisa no final da temporada de futebol. Ele
ainda não sabia o que queria estudar, mas eu tinha toda a fé do mundo nele. Ele iria encontrar
aquela coisa que o intrigava, pela qual ele tinha paixão. Inferno, talvez ele acabasse como um
produtor de cinema como o velho.
Kenna, Mads e eu estávamos juntos no dormitório. Eram quartos quádruplos, o que
significava que haveria outra garota designada conosco. Brock queria ligar para o reitor e
puxar alguns pauzinhos para que ele e eu pudéssemos ficar na mesma sala, principalmente
uma das casas do campus, mas eu não queria começar meu primeiro ano de faculdade com
tratamento especial. Ele não estava muito feliz com a minha decisão de ficar com as meninas,
mas eu prometi que depois do nosso primeiro ano, nós poderíamos fazer a casa toda no
campus juntos.
— Aqui. — Brock me entregou um envelope branco.
— O que é isso? — Eu perguntei, estreitando meus olhos enquanto o pegava.
Eu não sei como ele conseguiu fazer um vestido de seda parecer bom, mas ele fez. Eu
estava convencido de que nada parecia ruim para ele. — Você vai ter que abri-lo, — disse
ele, balançando para trás em seus calcanhares.
Estávamos no pátio da Academia sob um corniso florido. O chão aos nossos pés
estava coberto de pétalas brancas caídas. — Eu odeio surpresas, — eu respondi. Ele sabia
disso.
Um sorriso arrogante rachou sobre seus lábios. — Você vai adorar este.
— O que é que você fez?
— Apenas abra o maldito presente, Firefly.
Revirando os olhos, rasguei o envelope pela costura, puxei o pedaço de papel e o
desdobrei. — O que é isto? — Eu perguntei enquanto meus olhos examinavam o texto.
— Continue lendo, — ele insistiu, vindo para ficar atrás de mim.
Minhas costas pressionadas em seu peito quando ele se inclinou sobre meu ombro,
sua bochecha roçando a minha. — Isto é para Ainsley, — eu disse. Por que ele me daria uma
carta endereçada ao meu melhor amigo?
— Uh-huh, — ele sussurrou perto do meu ouvido enquanto eu continuava a ler.
— É uma carta de aceitação para KU. Estou confusa. Ela disse que não podia pagar as
mensalidades.
Suas mãos pararam nas laterais dos meus quadris. — Bem, você não me deixou
consertar nossa situação de vida, então o mínimo que eu podia fazer era ter certeza de que
você tinha os melhores colegas de quarto.
Eu inclinei minha cabeça para o lado. — Ainsley? Ela vai ser nossa quarta colega de
quarto? De jeito nenhum. Você fez isso? Como? — Minha mente pulou por todo o lugar,
perguntas cuspindo uma após a outra. Não havia como Ainsley pegar seu dinheiro, mesmo
que isso me deixasse feliz. Mas Brock era um idiota persuasivo e geralmente conseguia o que
queria.
— A Universidade concede bolsas integrais todos os anos para cinco alunos. Eu
apenas cutuquei o conselho escolar para dar uma olhada mais de perto na inscrição de
Ainsley.
Girando ao redor, eu joguei meus braços ao redor dele, o papel enrugando na minha
mão. — Eu não posso acreditar que você fez isso.
Sua voz baixou quando ele disse suavemente: — Eu farei qualquer coisa para te fazer
feliz.
Uma lágrima escorregou, deslizando pelo meu rosto. Fiquei na ponta dos pés e selei
meus lábios nos dele.
— Eu te amo, Firefly.
— Tão fodidamente, — eu murmurei contra sua boca.

FIM

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