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Lucas tinha tudo – popularidade, uma namorada


dedicada, um melhor amigo que era como um irmão e uma mãe
amorosa que faria qualquer coisa por ele. Sua vida estava no
caminho certo para ser bem sucedida e satisfatória, até que o
acidente mudou tudo. Aconteceu numa noite durante uma
chuva repentina. Naquela noite, três jovens vidas foram
perdidas e uma vida ficou irremediavelmente alterada. Como o
único sobrevivente, Lucas encontra-se cercado por agitadas
fofocas sobre sua imprudente embriaguez na pequena cidade
que ele costumava chamar de lar. Em meio a própria culpa e
ódio a si mesmo, Lucas se esforça para encontrar esperança,
encontrar a paz, e talvez, até mesmo encontrar o amor
novamente.

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Prólogo
Eu não me lembro do acidente. Isso é o que eu falo para cada pessoa que
pergunta... E todo mundo pergunta. Você poderia pensar que as pessoas parariam
de perguntar depois de um tempo, mas eles não pararam. Você poderia pensar que
as pessoas tentariam evitar falar de um acidente tão horrendo, mas elas não
evitaram. Você acharia que as pessoas teriam respeito suficiente por alguém, pelo
inferno pessoal de alguém para não trazer isso perto deles, mas eles
trazem. Quando as pessoas têm a coragem de realmente falar comigo, é geralmente
uma das primeiras coisas que elas perguntam.
Porque eu sou o único que sobreviveu.
Sim, eu digo a todos que perguntam que não me lembro de nada... Mas, a
verdade é que me lembro de tudo. O canto dos pneus quando perdi o controle do
carro, o barulho alucinante de metal contra metal quando batemos no parapeito

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naquela curva muito aguda, os gritos arrancados da garganta da minha namorada,
quando deslizamos ao longo do penhasco. Lembro-me de tudo...
Era quase verão quando o acidente aconteceu. Passamos por um período
de seca em Oregon, quando um aguaceiro repentino atingiu forte no município. Em
poucos segundos, centímetros de água estavam na estrada. Mas meus amigos e eu
não nos importávamos com isso, nós nem sequer pensamos nisso. Estávamos com
dezessete anos, éramos invencíveis. A morte acontecia com pessoas muito mais
velhas do que nós. Nada poderia nos prejudicar... Nada poderia nos tocar.
Meu melhor amigo, Darren, estava no banco de trás com sua namorada,
Samantha, ou Sammy, como todos nós a chamávamos. Eles namoravam desde o
nosso primeiro ano de escola. Eles estavam completamente apaixonados um pelo
o outro, o que resultava em infinitas provocações da minha parte.
— Você está tão derrotado! — Eu sempre dizia a ele quando ele me
abandonava, mais uma vez, para sair com ela.
— Lucas, um dia você entenderá — ele sempre respondia.
E de certa forma, eu entendi. Sammy era perfeita para ele: inteligente,
engraçada, aventureira, e mais importante – paciente. Alta e atlética, era a capitã
da equipe de vôlei feminino, por isso Darren e eu fomos a um monte de jogos. Isso
me serviu bem; os shorts que elas usavam eram muito apertados. Também foi
assim que conheci a minha namorada, Lillian. Ela era nova na escola no ano
passado, e Sammy a trouxe para o nosso pequeno grupo após ela tentar e entrar
para a equipe. Ela era loira e de olhos azuis, delicada e em boa forma, esculpida
perfeitamente em todas as áreas certas; praticamente uma boneca Barbie, como
eu muitas vezes brincava com ela. Ela era extrovertida, cheia de vida e
paqueradora. Não levou muito tempo para envolver os braços em volta de mim,
jogar suas mãos no meu ondulado cabelo castanho e com um leve beijo nos lábios,
proclamar-me como dela.
Levou menos tempo para eu realmente ser dela. E eu era. Eu me apaixonei
por essa menina de uma maneira que me fez de repente entender por que Darren
me abandonava o tempo todo. Eu faria isso com ele também: dispensando-o para
um jogo de basquete em sua garagem, cancelando com ele quando tínhamos planos
de montar motos com seu irmão, e trocando-o depois da escola quando ele queria
ir beber à beira do rio... Tudo para sair com ela.
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Darren não se deixou intimidar pela concorrência, entretanto, éramos
amigos desde o jardim de infância. Sempre que eu ia resmungar com ele, ele ria e
dizia: — Olha... você entende agora, certo?
E eu estava começando. Eu amava Lil e estava morrendo de vontade de lhe
dizer, quando ela entrou no banco da frente do carro ao meu lado naquela noite. Na
verdade, eu repassei várias maneiras de dizer isso enquanto nós quatro
retornávamos da festa em que fomos, 40 minutos de distância da nossa casa em
Willamette Valley.
A resposta para a segunda questão que todo mundo sempre me pergunta,
eventualmente, e que você provavelmente está se perguntando agora, é não... Eu
não bebi naquela noite. Darren, Sammy e Lil fizeram jus a festa, no entanto. Lil até
me ofereceu um pouco, mas não era realmente minha coisa e eu segui com o
refrigerante pela noite.
Quando Darren tentou dar um soco em algum presunçoso garoto de
fraternidade da universidade comunitária, eu decidi que ele teve o suficiente para
a noite e roubei as chaves do carro. Ele lutou comigo por dois segundos antes de
perceber que a luta era inútil. Por um lado, ele era menor e mais magro do que eu,
mal chegando ao meu queixo, e nem próximo da minha estrutura muscular, e
quando lutamos – sobre assuntos muito importantes, como quem teria a
confortável cadeira, enquanto observávamos o pay-per-view de luta – eu sempre
ganhava. E em segundo lugar, ele não podia mais ficar em linha reta, e se inclinou
para o lado, enquanto tentava me xingar, fazendo ambos gargalhar.
Eventualmente, porém, eu acho que Sammy forçou sua língua na garganta
dele e descreveu todas as coisas que poderiam fazer no banco de trás, enquanto eu
dirigia para casa, o que finalmente convenceu-o de que era uma ótima ideia. Ela
piscou para mim depois que disse isso, seu cabelo castanho avermelhado bonito e
brilhante com vida à luz do fogo, bem como a si mesma. Sammy sempre pode
encontrar uma maneira de pacificar a cabeça quente de Darren.
Então, não, eu não estava bêbado e não estava drogado. Não havia nada
física ou mentalmente de errado comigo naquela noite, independentemente do que
as pessoas em nossa pequena cidade acreditavam. O fato era que eu dirigia um
carro que eu não estava totalmente acostumado a dirigir – pior ainda, era de câmbio
manual, o qual não era um dos meus pontos fortes – e eu dirigia numa estrada que

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não conhecia muito bem, já que Darren nos levou para a festa. E eu dirigia muito
rápido.
Mesmo com tudo isso, porém, eu estaria bem.
Eu ia bem antes do acidente, brincando com meus amigos, enquanto os
três repassavam uma garrafa de cerveja e riam da fraca tentativa de Darren em
defender a honra de Sammy. Eu estava bem até o ponto em que eu não estava. A
noite estava escura como breu quando o aguaceiro repentino caiu e obscureceu
minha visão ainda mais. Estava mesmo bem com isso, até que passei em uma
polegada de água livre a poucos metros da curva. O carro começou a aquaplanar
imediatamente e meu instinto foi parar o carro. Pisei no freio e o carro derrapou,
começando a girar. Eu não tinha controle sobre o carro quando entramos na curva
da estrada, e a lateral direita bateu na grade, acertando um ponto fraco e caindo
para o lado.
Aí é onde interrompo com força a minha memória. Mesmo assim, estava
sempre comigo. As árvores chicoteando pelo carro. Vidro quebrando. Pessoas
gritando. A garrafa de cerveja derramada entre Lil e eu. Uma batida forte de um
galho de árvore dobrando o carro para o lado. O vento me açoitando. A porta de Lil
batendo em uma pedra na parte inferior da colina íngreme. A cabeça de Lil batendo
na janela, estilhaçando-a, e seu crânio. Seus gritos parando. Darren voando sobre
Sammy quando seus corpos soltos no banco romperam o ordinário metal do carro
de Darren e desapareceram na escuridão. Meu corpo sacudindo dolorosamente
contra as minhas limitações. Minha cabeça chicotando de volta para bater na
janela. Tudo ficando tranquilo... tudo ficando preto.
Sim, eu dei a cada pessoa com quem conversei a mesma resposta: Eu não
me lembro do acidente. Mas eu lembrava. Lembrava-me de cada detalhe, embora
rezasse para esquecer. Isso me perseguia durante o dia, mas não era nada
comparado ao inferno que passava durante a noite, quando eu revivia o
acontecimento em meus sonhos. Meus gritos, muitas vezes me acordaram, e os
braços da minha mãe já estavam muitas vezes em torno de mim, enquanto eu
lutava para lembrar que eu sobrevivi e estava a salvo na minha cama.
Como eu gostaria que o mesmo pudesse ser dito sobre o meu melhor amigo,
o amor da sua vida... e o amor da minha vida.

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Capítulo 1
O Primeiro Dia do Resto da Minha Vida

Três meses depois daquela noite fatídica, quando setembro chegou, minhas
feridas externas tinham curado, mas eu ainda era uma bagunça por dentro. Minha
mãe me disse repetidamente que eu poderia me matricular em outra escola, que
eu não precisava voltar às memórias e às fofocas que me aguardavam na minha
antiga escola.
A cidade em que vivíamos era pequena, e o acidente e as mortes
subsequentes foram notícia de primeira página todos os dias desde que
aconteceu. A especulação sobre o meu estado mental quando eu retornava daquela
festa foi a primeira coisa discutida. A tempestade monstruosa que
momentaneamente afogara o município naquela noite era irrelevante para os
meninos da cidade. Eles me proclamaram quase que instantaneamente um
bêbado, alegando que eu tinha tudo, mas matei meus amigos, por quase
propositadamente mergulhar o carro sobre o penhasco.

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Embora nenhuma evidência física apoiasse a teoria de que eu fizera isso
intencionalmente, e mesmo eu sendo testado no hospital e livre de quaisquer
substâncias que alteram a mente, havia poucos na cidade que realmente
acreditavam que eu era inocente. Felizmente para mim, eu acho, minha mãe era
uma parte dessa pequena multidão. Acho que ela estava predisposta a acreditar
no melhor de mim, no entanto.
Com o retorno à escola cada vez mais perto, fui golpeado com os
pensamentos de deixar a segurança da minha casa, onde vim a recuperar o corpo,
mas não a alma, e comecei a ter ataques de pânico que me dobravam e me
deixavam incapaz de respirar completamente. Foi quando minha mãe se ofereceu
para me levar 15 minutos de distância para a escola mais próxima, apenas para
que eu não tivesse que tolerar o escrutínio.
Quase concordei com ela, especialmente quando esbarrei no irmão mais
novo de Darren, um dia, em uma das raras ocasiões em que eu deixei a minha
casa. O irmão de Darren, Josh, era um ano mais novo do que nós, apenas
começando seu primeiro ano. Ele e Darren eram próximos e ele idolatrava seu
irmão mais velho. Ele saía com a gente, muitas vezes, e quase foi com a gente
naquela noite trágica. Na verdade, ele estaria no banco de trás com Darren e
Sammy se não tivesse sido castigado por aprontar fora de casa na noite anterior.
Ele não disse muito para mim quando esbarrei com ele na calçada em frente
do único cinema na cidade. Ele saía de um show com a namorada quando seus
olhos escuros travaram nos meus. Eles imediatamente se estreitaram em raiva e
desde que a loucura da cabeça-quente corria naquela família, ele caminhou até
mim e me golpeou. Eu poderia tê-lo impedido. Ele era menor e ainda mais magro
do que seu irmão, mas eu não tinha vontade de lutar com ele. Eu meio que
concordei com a sua raiva. Meio que me odiava também.
Sua namorada o arrastou para longe de mim quando parecia que ele queria
começar a me espancar. Relutantemente, ele a deixou puxá-lo para longe, gritando
enquanto ia: — Seu filho da puta! Você deveria ter morrido! Seu maldito

bêbado! Eu odeio você! Eu odeio você! — Ele continuou e continuou com esse tipo
de coisa, até que finalmente estava fora do alcance da voz.
Como eu disse, era quase o suficiente para me convencer de que uma
mudança de chão era necessária. Mas eu não podia. Não poderia fazer isso com a
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minha mãe. Ela já trabalhava em dois empregos para se certificar de que ela e eu
tínhamos o suficiente para comer e um lugar para ficar. Não poderia sobrecarregá-
la ainda mais, fazendo-a dirigir 30 minutos longe de seu caminho, duas vezes por
dia, todos os dias, para me deixar e me pegar na escola. E eu dirigir não era uma
opção. Eu não dirijo mais... nunca.
Éramos apenas nós dois depois que o meu pai a deixou quando eu tinha
três anos. Não tenho nenhuma ideia para onde ele foi ou se ele sequer pensou em
nós. Na verdade, eu não pensava muito sobre ele e minha mãe nunca falou sobre
ele. Era só quando os eventos pai e filho apareciam que eu lembrava que as
crianças deveriam ter uma mãe e um pai. Mamãe e eu fizemos muito bem, e isso
era cem por cento normal para mim.
Então, com o coração pesado, eu disse que não, disse a ela que eu
suportaria a zombaria e olhares curiosos e voltaria para Sheridan High para meu
último ano de escola. Mais um ano e então eu poderia deixar esta cidade para
começar a faculdade em algum lugar longe da enxurrada de lembranças. Mais um
ano. Eu poderia dar isso à minha mãe.
— Luc, o ônibus estará aqui em dois minutos. — Minha mãe se virou para
mim na cozinha, seus olhos verde-castanhos estreitaram-se em preocupação para
seu único filho. — Tem certeza que não quer carona, querido?
Minha mãe foi uma bela mulher em sua juventude, mas sua vida foi dura,
e ela estava um pouco exausta por isso. Seu rosto estava sempre um pouco abatido,
com os olhos sempre um pouco cansados, o rosto sempre um pouco afundado, sua
pele pálida sempre um pouco pálida, e seu – muito cedo para apenas quarenta e
cinco anos – cabelo castanho grisalho, claro, que sempre parecia um pouco sem
vida no rabo de cavalo apressado que ela usava. E esta manhã, ela parecia ainda
mais desgastada.
A catástrofe não foi fácil para ela também. Ela adorava todos eles: Darren
era um segundo filho, Sammy uma filha adotiva e Lil – eu acho que a mãe já se
imaginava escolhendo as roupas de bebê para o neto que Lil certamente daria a
ela. Mas nenhuma dessas dores se compara com a dor de quase perder seu próprio
filho, de estar tão perto. O susto deixara linhas profundas de preocupação
permanentes em suas feições.

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Eu beijei uma mecha cinza em seu couro cabeludo. — Sim, mamãe. Tenho
certeza. Isso será ruim o suficiente sem a minha mãe me dando carona.
Ela suspirou tristemente e apertou minha mão grande em suas pequenas. A
contemplação em seus olhos tinha um olhar que eu já vi muitas vezes nas últimas
semanas. Ela estava me bebendo, me absorvendo, no caso de não me ver
novamente. Eu sempre a deixava fazer isso. Não importa quanto tempo ela
precisava fazer isso.
Seus olhos começaram no meu cabelo, castanho e ondulado, e permaneceu
até aprovar, então ela pulou até a linha da minha mandíbula, lisa, pela primeira
vez em semanas, desde que eu realmente raspei esta manhã. Ela observou minhas
outras características e parou em meus olhos, uma cópia exata de seu tom avelã.
Ela alisou a minha camiseta preta e chegou por trás dela para me entregar
a minha jaqueta esportiva. Seus olhos sobre as grandes letras do nosso último
nome – West – a única coisa que meu pai realmente me dera. Ela assentiu com a
cabeça enquanto me olhava colocar a jaqueta. Seus olhos tristes viajaram de volta
para os meus, e um sorriso triste para combinar surgiu em seus lábios. — Tenha
um bom dia, Luc.
Engoli em seco e acenei com a cabeça para ela, tentando um sorriso de
tranquilidade, mas falhando miseravelmente. — Obrigado, mãe. — Eu beijei a sua
cabeça de novo e saí pela porta da frente.
Minha mãe me assistia quando eu estava fora no chuvisco da chuva da
manhã. Eu vi a mão dela afastando a cortina de renda frágil na cozinha e vi a
sombra de seu rosto enquanto ela olhava por cima de mim, me protegendo com
sua visão e múltiplas orações silenciosas. Voltei-me para prestar atenção à estrada.
Como a chuva aumentou, meus olhos pousaram em um ponto do
pavimento, onde uma pequena poça de água começava a se formar em um declive
na calçada. Vi aquela poça, hipnotizado. Gotas pesadas mergulharam no pequeno
círculo de água, espirrando as bordas para fora ainda mais com cada gotejamento
constante. Dentro de instantes, havia um centímetro de profundidade na poça. Em
minha mente, a poça de repente se tornou um enorme lago na superfície da agora
vasta calçada. Em minha mente, os carros voavam sobre aquele lago, nenhum
deles tendo um problema com a profundidade da água, enquanto os seus pneus

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quebravam as ondas na superfície. Então, de repente, eu dirigia o Geo do Darren
através desse lago, e quase no instante em que os pneus atingiram a água, comecei
a perder o controle. Eu também comecei a ter dificuldade para respirar.
A buzina soou para mim. Ainda perdido na minha visão, eu imaginava a
minha mão no volante, mantendo pressionada a buzina enquanto eu tentava
endireitar o carro se debatendo. Alguém gritava... ou eles gritavam? Sempre muitos
gritos. Senti-me debruçar sobre minha respiração ainda mais fraca.
Um toque no meu ombro me assustou. Olhei para o rosto preocupado da
minha mãe, as gotas de chuva escorrendo pelo seu rosto, como lágrimas. Ainda
confuso, eu me perguntava o que fazia chorando no carro de Darren.
— Você está bem, Lucas? — Ela perguntou enquanto tocava meu rosto.
— Ele vai entrar ou não? — A voz áspera me trouxe completamente de volta
à realidade. Eu olhei para um motorista de ônibus ranzinza me olhando irritado e
percebi que ele estava deitado na buzina e gritando comigo enquanto eu estive...
confuso. Olhei as janelas do ônibus e percebi mais do que alguns estudantes rindo
de mim. Grande.
— Eu estou bem, mãe. — eu murmurei dando-lhe um abraço e me
esgueirei para o ônibus.
Todo mundo olhava para mim quando as portas fecharam e o ônibus
começou a se afastar. O espetáculo na calçada não foi a única razão, também. Não
era só um veterano que estava no ônibus e não dirigia para a escola. Não foi por
que eu peguei o primeiro lugar vazio e não reconheci nenhum deles. Foi porque
todos sabiam quem eu era, até o calouro. Eu era famoso... pelo pior motivo possível.
Sheridan era uma pequena cidade em Oregon e Sheridan High era ainda
menor. A escola inteira consistia de cerca de trezentas pessoas, e isso era uma
estimativa elevada. Um monte de gente conhecia e gostava dos meus amigos. Todo
mundo no ônibus sabia a minha história. Todo mundo no ônibus tinha uma
opinião sobre a minha história. Alguns ficaram quietos sobre isso... outros, nem
tanto.
Atrás de onde eu estava sentado na primeira fila, ouvi claramente: — Sim,
eu ouvi que ele bebeu uma dúzia de cervejas e mal conseguia enxergar direito, e
muito menos dirigir.

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Eu apertei meu queixo quando as palavras cristalinas me bateram, eles nem
mesmo tentavam esconder o fato de que falavam de mim. Em uma voz igualmente
alta, alguém ao lado da primeira pessoa respondeu com: — Ah, é? Ouvi que Darren
tentou pegar as chaves, mas ele ameaçou deixá-lo inconsciente se ele fizesse.
Agarrei minhas mãos e fechei os olhos enquanto as lágrimas começaram a
enchê-los. Eles estavam tão errados... todos eles ouviram tudo tão errado. Mas
nada do que eu dissesse mudaria a sua opinião, de mim ou da noite em questão. Eu
cerrei os dentes e imaginei Darren no banco ao meu lado, virando-se e explodindo
com eles em minha defesa, como eu sabia que ele faria. Imaginei Sammy sentada
ao lado dele, colocando a mão em seu ombro para tentar acalmá-lo, e embora uma
parte de mim não queira, apesar de doer como o inferno, eu imaginei Lillian
colocando sua mão quente na minha, apertando-a forte e sussurrando o quanto
ela me adorava, pedindo que relaxasse o meu punho.
O balbuciar atrás de mim não parou, no entanto, e essas lágrimas em meus
olhos ameaçavam derramar pelo meu rosto. Eu afastei a imagem dolorosa de meus
amigos e as palavras cruéis atrás de mim. Para bloquear tudo, eu comecei a
cantarolar na minha cabeça. Eu poderia fazer isso. Poderia dar a minha mãe um
ano e então sair desse pesadelo... fisicamente, pelo menos.
Consegui ignorar a monotonia dessa forma pelo o resto da viagem de
ônibus. Não poderia ter sido mais do que um passeio de 10 minutos, mas
pareceram horas. Quando o ônibus parou em frente à escola, e olhei para as duas
garotas sentadas no banco à minha frente, eu percebi que meu zumbido mental
mudara para um zumbido sonoro e elas me olhavam como se eu também fosse um
doente mental. Suspirei e calei a boca.
A parte hidráulica do ônibus gritou quando ele reduziu até parar e a porta
imediatamente guinchou aberta. Eu voei para fora do meu assento e para fora da
porta, querendo estar longe das más-línguas atrás de mim antes que eu fizesse
algo realmente estúpido. A poucos metros de distância do ônibus eu parei e olhei.
Sheridan High. Não é exatamente uma impressionante escola da Ivy League,
mas me intimidava profundamente de qualquer maneira. Como vivemos no que
seria considerado pela maioria uma área rural, a escola não era muito grande ou
demasiado extravagante. Ela consistia principalmente em um edifício retangular
de dois andares entediantes que alguém no mundo arquitetônico tentou fantasiar

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com uma fachada de tijolo delineando as portas duplas da entrada e ressaltando
cada janela.
Entretanto, não era o melhor trabalho, pois de vez em quando aqueles
tijolos se soltavam isoladamente ou até mesmo juntos. Na verdade, o terceiro tijolo
da esquerda, na quarta janela inferior, era frequentemente usado como um local
para esconder coisas, uma vez que os tijolos eram completamente removíveis, mas
ainda pareciam perfeitamente intactos a menos que você os tocasse. O tijolo
debaixo dela havia corroído em uma forma côncava criando um buraco pequeno
perfeito. Darren prendera alguns sacos de maconha lá uma vez, provavelmente de
algum veterano que precisava de um esconderijo rápido. Era um lugar muito
discreto, eu não tinha ideia como ele descobriu sobre isso.
Tirando essa esquisitice, o resto do edifício era terrivelmente simples. O
prédio ao lado era igualmente austero. Era um quadrado atarracado com pintura
cinza e desbotada, e as janelas eram suficientemente grandes para três pessoas se
arrastarem para fora ao mesmo tempo, se tivessem o desejo de fazê-lo. Eu tinha a
sensação de que eu teria esse desejo este ano frequentemente. Era a sala em que
comíamos a comida que o distrito escolar considerava um almoço nutritivo. Era
também a sala onde Lil e eu nos beijamos pela primeira vez. Quero dizer, em que
realmente nos beijamos, e não o momentâneo lábio contra lábio que ela gostava de
me dar esporadicamente ao longo do dia, antes mesmo que fôssemos um
casal. Não, o beijo vamos-ir-ao-que-interessa-e-nos-conectar-a-um-nível-
molecular. Um beijo que me deixou sem fôlego e querendo mais, e provavelmente
começou todo o processo de me apaixonar por ela.
Fui empurrado por trás por estudantes sinuosos através do campus em seu
caminho para mais um ano de triste vida escolar, e saí das minhas memórias
dolorosas. A chuva parara na curta viagem, mas a umidade agarrou-se ao ar e eu
tremia na minha jaqueta. Comecei a andar com o rebanho, mantendo a cabeça
baixa, olhando a grama crescendo através de fissuras no pavimento. Ajustando a
minha mochila no meu ombro, eu empurrei minhas mãos nos bolsos do meu
jeans. Por um momento, me senti invisível na escola que eu tinha certeza que não
estava animada para me ver. Esse pensamento foi confirmado quando ouvi atrás
de mim:
— Ei, idiota!

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Não sei porque, mas instintivamente me virei para olhar. Provavelmente não
deveria ter virado, mas novamente, o que aconteceu provavelmente aconteceria se
eu olhasse ou não. A pedra do tamanho do meu polegar passou zunindo pelo ar e
me deu um tapa bem na têmpora. Focando tanto em não me concentrar em nada,
não fui rápido o suficiente para evitá-la, e cara, doeu. Eu trouxe uma mão para a
minha cabeça e senti o sangue ao lado do meu olho. Grande.
— Aprenda alguns reflexos, bebum — Josh zombou de mim, de pé a poucos
metros de distância, com uma variedade de amigos rindo próximos de sua
idade. Ele vestia uma jaqueta esportiva um pouco grande demais que combinava
com a minha, e brevemente me perguntei se ele finalmente estava no time de
futebol do colégio este ano; Darren o ajudara a praticar para seu teste antes do
acidente, para que todos nós pudéssemos estar na equipe.
Tirando os olhos de suas roupas, eu subi para o rosto dele. Seus olhos
escuros dançavam enquanto esperava eu ficar com raiva e atacá-lo. Ele
provavelmente adoraria se eu fizesse isso. Eu sabia que ele me culpava por seu
irmão. Eu sabia que ele me odiava porque ele assumiu, como todo mundo, que eu
estava bêbado. Eu me virei e fui embora. Enquanto virava, vi seu corpo magro
começar a tremer de raiva. Ele estava louco por isso... demasiadamente.
— Covarde! — Ele gritou atrás de mim, e fechei os olhos, ignorando-o. Mais
um ano.
Eu entrei no prédio principal e imediatamente virei à direita. Tecendo o meu
caminho através das multidões desocupadas que notaram o incidente do lado de
fora e definitivamente me notaram agora, eu tentei o meu melhor para ignorar o
chiado de sussurros, enquanto eu passava pelas pessoas com quem eu fui para a
escola por anos. Mesmo assim, eu peguei pedaços enquanto passava
apressadamente.
— Você ouviu... bebendo cervejas... Lillian tentou parar... vomitando
quando ele entrou em... nunca deveria ter... sempre bêbado... perdedor...
Obriguei-me a ignorar os olhares e o atual zumbido de conversa que me
seguiu até o salão, e com força empurrei a porta do banheiro. Sentindo a minha
respiração começar a enfraquecer, eu debrucei sobre a pia e descansei minha

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cabeça contra a superfície fria do espelho. Eu trabalhei para acalmar a respiração
que eu podia sentir ficando cada vez mais fraca.
Era como se essas pessoas com quem eu cresci de repente não me
conhecessem. Nunca fui um cara que ficava bêbado e vomitava em todos os
lugares. Qualquer um que já festejou comigo, pelo menos, antes daquela noite,
confirmaria a você num piscar de olhos. Eu era o único que me continha, que com
relutância bebia e, geralmente, parava na segunda. Não era a minha praia. Era a
de Darren. Era ele quem amava ficar tonto, e ele geralmente tentava me puxar ao
longo de seu passeio. Eu geralmente não o seguia, no entanto. Na verdade, eu só
estive bêbado uma vez na minha vida... E foi uma experiência ruim o suficiente
para que eu nunca sentisse a necessidade de repeti-la.
Mas essas pessoas... você acharia que eu era a criança do pôster para abuso
de substâncias.
Olhei para cima quando meus pulmões pareciam mais limpos. O rosto
olhando para mim no espelho estava quase irreconhecível. E não por causa do
pequeno corte bem na borda da minha sobrancelha que deixava um rastro de
sangue até a minha bochecha. Não, o cara era estranho porque parecia... mais
velho, como se um verão de tristeza, culpa, raiva e tudo mais tivesse me envelhecido
pelo menos uma década.
Joguei um pouco de água fria no meu rosto, encolhendo-me uma vez que
entrou em minha pele cortada, e gentilmente limpei o sangue e a pequena
quantidade de sujeira em mim. Olhando para a minha cara pingando, eu passei a
mão para baixo e sufoquei a esmagadora sensação súbita de desespero absoluto
que escapara de mim.
— Você vai chorar?
A voz suave me fez girar ao redor e lá, sentada no chão na outra extremidade
do banheiro ao lado dos sanitários estava... uma garota. Ela deve ser nova, já que
eu nunca a vi antes, e em uma escola deste tamanho, você encontrava todos, pelo
menos uma vez. Ela tinha cabelo preto puxado em tranças quase infantis e
calmamente pegava um fio de tecido em seus jeans rasgados. Seus olhos, de um
cinza estranhamente claro que não combinava com seu cabelo super escuro,
observavam os meus com um olhar que era em algum lugar entre divertido e

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preocupado. Ela empurrou o polegar em direção à porta, um anel de prata nele
piscando sob as luzes.
— Eu posso sair se você quiser?
Surpreso ao ver uma menina no banheiro dos homens, alguém que
obviamente esteve lá por um tempo, aliviei meu humor. Eu torci meus lábios como
se não tivesse estado perto de quebrar, mesmo que estivesse.
— Não, eu não vou... chorar. Caras não fazem isso. — Eu enfatizei caras
apenas no caso de que ela não estivesse ciente que estava à espreita no banheiro
dos homens, embora ela realmente não poderia ter perdido os mictórios.
Ela levantou a borda do lábio.
— Certo... — inclinando a cabeça, ela apontou para onde eu fui ferido. A
pedra deixara um ligeiro inchaço. — O que aconteceu, West?
Abri minha boca para dizer nada quando como ela me chamou registrou no
meu cérebro. Levantei minha cabeça de volta para ela.
— Como você sabe o meu nome?
Ela começou a rir, e o som ecoou pela sala de azulejos, enchendo-a com
certa música alegre. Ela não me respondeu, apenas balançou a cabeça, como se
eu fosse a coisa mais bonita, a coisa mais alheia que já viu.
Foi quando isso me bateu, e tenho certeza que devo ter ficado vermelho
brilhante quando a estupidez fluiu através de mim. Sim, o meu nome não era
exatamente difícil de decifrar quando ele estava escrito em letras maiúsculas de
dez centímetros nas minhas costas. Graças a esta maldita jaqueta que todos os
membros do time de futebol usavam como símbolo de unidade, ou algo assim, todo
mundo dentro de uma quadra ao meu redor sabia o meu nome. Decidi então que
não a usaria novamente.
— Certo... a jaqueta.
Ela riu um pouco mais quando olhou para mim. Percebi que seu sorriso era
agradável, parecia iluminar seu rosto sob a escuridão do cabelo.
— Então... — ela tentou novamente, — Ferimento de guerra? — Ela
apontou novamente para a minha cara.
Desviei o olhar e murmurei: — Não é nada.

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Olhei para ela ainda no chão e pensei que ela parecia prestes a desafiar a
minha resposta, bastante ousadia dela desde que eu não a conhecia. Um leve
sorriso surgiu em meus lábios e relaxei minha postura, só então percebendo que
ainda estava tenso. Sua objeção morreu quando ela notou que eu relaxei
também. Ali estava uma pessoa na escola que não olhava para mim criticamente,
que não me julgava, que não me odiava. Aqui estava uma pessoa... Que não
sabia. Eu fiz uma careta. Pelo menos, ainda não.
Ela franziu o cenho quando viu a minha mudança de expressão e parecia
prestes a me questionar de novo, mas a superei nisso.
— Por que você está aqui? — Minha mão virou para indicar o banheiro.
Ela deu de ombros e deslizou até a parede para ficar de pé. Seus jeans
rasgados estavam pareados com uma camisa de mangas compridas e ela
distraidamente brincava com as mangas compridas demais, como se tivesse
esticado o tecido em seu hábito inconsciente. Ela estremeceu um pouco, e notei
que ela não tinha um casaco.
— Parecia um lugar tão bom quanto qualquer outro para se esconder.
Olhei ao redor do banheiro com os meus olhos. — Interessante escolha —
eu murmurei enquanto analisava o grafite nas divisórias, as marcas de água no
teto e os sinais indicadores ao longo da borda do piso ao redor dos mictórios que
claramente indicavam, homens mijam aqui.
Ela riu de novo do meu olhar. — Estava tranquilo aqui. Sem meninas, pelo

menos. — Um olhar cruzou suas feições que eu não consegui identificar. Ele

rapidamente sumiu quando sua expressão pacífica retornou. — Meu nome é


Sawyer... se você me perguntar.
— Ah... bem, oi. — Eu me atrapalhei em torno de palavras, enquanto a
estranheza do nome dela me surpreendeu. Eu queria perguntar, mas não queria
ser rude.
Ela suspirou, interpretando o meu olhar estranho, e percebi que todos
devem perguntar a ela. — Sim, como em Tom and Huck1. Meus pais são grandes

fãs de Twain. Suponho que poderia ter sido pior. — Ela balançou a cabeça,

1 Tom e Hulk – em busca do grande tesouro. Filme americano, lançado em 1995.

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aborrecimento claro em suas feições. O olhar a deixou ainda mais bonita, e eu tive
que sorrir com sua reação ao seu próprio nome.
Ela suspirou de novo e se abaixou para pegar uma desbotada mochila de
cor verde-oliva que não parecia guardar muita coisa. — Bem, foi bom conversar
com você, West. Te vejo em torno desta... grande escola.
Ela abriu a porta para o corredor muito mais silencioso, e antes que
desaparecesse completamente, eu gritei: — É Lucas...
Ela desapareceu tão rápido que não tinha ideia se me ouviu ou não.
Suspirei tristemente. A próxima vez que a visse... ela saberia. Alguém nesta
escola sentiria que era seu dever alertar a nova garota sobre o psicopata vagando
pelos corredores. Uma nota amarga tocou por mim de forma inesperada. Como se
todos fossem perfeitos, como se nenhum deles nunca tivesse ficado atrás do
volante, quando não deveria ficar – e nem foi isso o que aconteceu
comigo. Hipócritas. Eu suspirei de novo. Foi bom ter alguém olhando-me nos olhos
quando falava comigo, e aquele riso... não ouvi um genuíno em
anos. Provavelmente, desde aquela noite.
Limpei as gotículas de água remanescentes do meu rosto e então, com um
suspiro longo, controlando a respiração, abri a porta – bem quando a campainha
tocou. Droga, agora acima de tudo... eu estava atrasado.

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Capítulo 2
Um ato de bondade

Corri pelo corredor até o lance de escadas para o segundo andar. Passando
três portas fechadas, achei aquela em que estaria no meu primeiro período de aula
– Inglês. Coloquei meus dedos na maçaneta e fechei os olhos por um segundo,
dando um grande fôlego. Com um suspiro agudo, eu abri a porta e fui recebido
com silêncio absoluto.
Olhei para a sala, realmente não desejando, mas como o antigo hábito de
entrar em uma sala de aula e procurar os meus amigos. Fiquei imediatamente
triste por fazer. Cada pessoa olhava para mim. A maioria dos rostos com olhos
apertados e os lábios mais apertados, alguns apenas olhavam curiosos, mas cada
cabeça estava virada em minha direção.
Quando os meus olhos foram para o fundo da sala em silêncio, eu percebi
que estava errado, nem todo mundo olhava. Uma cabeça ainda estava caída, a dona
da mesma rabiscando em um caderno à sua frente. Uma ligeira curva levantou

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meu lábio quando reconheci a menina do banheiro na fila de trás. Ela apenas fazia
suas próprias coisas, alheia à súbita tensão na sala. Vê-la era calmante, e meus
olhos pousaram por mais alguns segundos antes de retornar para frente da classe
onde a professora limpava sem jeito a garganta.
— Lucas, hum... vá em frente e... sente-se.
Reynolds, a nossa professora de Inglês, me dava olhares nervosos,
obviamente, não sabia como lidar comigo. Perguntei-me por um momento se ela
esperava que eu quebrasse e começasse a choramingar bem na frente dela. Seus
olhos pálidos olhavam para minhas feições, nunca se fixando em uma, enquanto
ajustava e reajustava uma pilha de papéis em suas mãos.
— Eu vou... hum... deixar o atraso passar... só por hoje. Eu tenho certeza...
eu tenho certeza que você... tem...
Ela deixou seus pensamentos morrerem e momentaneamente me divertia
com a ironia de uma professora de Inglês lutando para colocar suas palavras
juntas. Eu tenho... o quê? Dificuldade? Uma manhã horrível? Bem, claro, é claro
que eu estava. O que mais terá para mim hoje, mais um pesadelo? Não é como se
alguns dos Fantasmas da Escola apareceriam enquanto eu andava pela escola hoje
seria agradável para mim. Não é como se o corpo estudantil fosse caloroso e
acolhedor. Não, hoje só seria uma droga.
Não disse nada disso a ela, no entanto. Ajustei minha mochila e comecei a
caminhar para o único assento disponível, na fileira de trás. Eu não faria a Sra.
Reynolds ficar mal na frente de sua classe, esse não era o meu estilo. Além disso,
eu gostava dela. Cada indivíduo na escola gostava dela. Ela começou a trabalhar
aqui logo após a faculdade, e como resultado, ela parecia (e era) não muito mais
velha do que os alunos. Ela manteve o cabelo castanho claro cortado em um corte
pixie, elegantemente curto, que Lil costumava delirar, e suas roupas eram sempre
as mais novas, mais recentes tendências, que Sammy costumava ficar
excitada. Quanto a Darren e eu... bem, vamos apenas dizer que ela preenchia muito
bem essas tendências.
Forçando os pensamentos de meus amigos para o fundo da minha mente,
eu passei por um membro do meu time de futebol. Will McKinney. Ele e eu tivemos
uma competição amigável pelos os últimos dois anos sobre quem seria o
quarterback. Eu o venci em ambos os anos, mas ele estava alegre com a derrota, e
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em tom de brincadeira disse que acabaria quebrando minha perna um dia e sairia
da reserva. Hoje era, aparentemente, aquele dia.
Seu pé direito saiu enquanto eu caminhava e, como um idiota, meu pé
pegou a ponta do mesmo. Eu tropecei em cima dele e, como se isso não fosse ruim
o suficiente, ele levantou o pé uma vez que me empurrara e eu não consegui me
equilibrar. Fui direto para o chão, batendo em uma mesa ao longo do caminho com
a minha mão e batendo com o meu joelho dolorosamente no chão duro. Grande.
Reynolds repreendeu Will e começou apressar pelo corredor para me ajudar
a ficar de pé. A classe toda riu enquanto me levantava sozinho antes que ela
pudesse chegar até mim. Uma professora me ajudando a ficar de pé realmente não
era o que eu precisava. Encolhi os ombros, olhei para trás para os olhos
preocupados, e disse que estava bem. Com um olhar para um sorriso discreto de
Will com o canto do meu olho eu terminei de caminhar os dois assentos à mesa
aberta na fileira de trás. Will bateu os punhos com o outro membro da equipe na
sala, Randy Harlow. Os dois riram enquanto os estudantes ao seu redor
felicitavam-no por me fazer parecer incrivelmente estúpido.
Sentando-me, lancei um rápido olhar para a pessoa ao meu lado. A menina
do banheiro. Qual era o nome dela? É isso mesmo... Fãs de Twain... Sawyer. Ela
finalmente olhou para cima quando ouviu as risadinhas na sala e me olhava com
curiosidade. Virei a cabeça e olhei para a minha mesa de novo. Ela não teria que
ser curiosa por muito mais tempo... Alguém poderia dizer a ela.
Eu podia sentir seus olhos cinzentos olhando para mim e tive a sensação
de que ela me perguntaria se eu estava bem, mas naquele momento, a Sra.
Reynolds retomou a classe.
— Ok, pessoal, como eu dizia, há um conselheiro de luto no quadro de
funcionários em tempo integral este ano, por isso, se algum de vocês necessitar
falar sobre... — eu olhei para ela quando o que ela dizia afundou em meu cérebro,

e ela olhou para mim, ao mesmo tempo, — bem, qualquer coisa, alguém estará lá

para você. — Ela disse apenas para mim e eu senti minha respiração acelerar de
uma forma que eu estava ficando acostumado. Deus, eu não queria chorar aqui.
Quebrei o contato visual com ela, olhando para baixo novamente, para o
piso de madeira sob minha mesa de metal duro. Eu me concentrei em inspirar e

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expirar como uma pessoa normal, não deixando que aquele ataque de pânico me
levasse de novo. Reynolds continuou descrevendo os deveres do conselheiro e como
todos passamos por algo trágico há alguns meses e a escola não esqueceria
disso. Desejei que esquecesse. Eu queria que todo mundo esquecesse, para que eu
pudesse passar alguns segundos em paz. Mas eu não era o único sofrendo... e
algumas pessoas realmente queriam falar sobre isso. Ouvi algumas fungadas ao
redor da sala e senti olhares quentes iluminando meu corpo.
Eu queria correr.
Limpando a garganta e soando como se estivesse à beira das lágrimas ela
mesma, a Sra. Reynolds passou para a próxima ordem do dia. Esperava que fosse
algo banal, como uma mudança no código de vestimenta ou algo assim. Não
foi. Hoje apenas não era o meu dia.
— À luz da recente tragédia, a escola decidiu implementar uma política
muito mais dura com substâncias ilegais. Sem drogas, sem álcool, sem armas...
dentro ou fora do campus. Qualquer ofensa resultará na suspensão imediata. A
segunda infração levará à expulsão imediata.
Um zumbido deu a volta na sala e levantei a cabeça para olhar para ela,
incrédulo. Era compreensível que a escola seria dura com esse material nas
dependências da escola, mas a escola tentaria impedir estudantes do ensino médio
de dar festas fora do campus? Por minha causa? Algumas palavras duras foram
murmuradas e mais do que alguns olhares agressivos foram enviados no meu
caminho.
Ela levantou a mão e o zumbido acalmou, mas não parou. — Agora, isso

não é punir, é para desencorajar. Queremos todos seguros. — Ela estendeu as


mãos magras para o lado, como se estivéssemos todos juntos nisso. Ouvi algumas
pessoas murmurar meu nome e xingar. — Haverá também o início do Clube Seguro

e Sadio, para promover ainda mais... um estilo de vida mais cauteloso. — Seus
olhos desviaram-se para os meus novamente e eu poderia dizer então que ela
acreditava nisso também. Ela pensou que eu tinha bebido. Por sua aparência e
tom ela não parece me condenar por isso – erros acontecem depois de tudo – mas
ela acreditava nisso, e esperava que eu me juntasse a este pequeno clube de
pureza.

22
Minha mandíbula se apertou. Estavam todos tão errados. Respire...
expire. Acalme-se. Olhei para a menina nova, Sawyer. Ela encontrou meu olhar e
sua testa franziu, como se não conseguisse entender, porque eu estava
constantemente sendo alvo. Suspirei baixinho, ela entenderia em breve.
Reynolds deixou escapar um suspiro e balançou a cabeça, um grande
sorriso iluminando seu rosto quase sombrio. Notei que algumas meninas da sala
limpavam as lágrimas de suas bochechas, e alguns caras ainda murmuravam
sobre a postura de não-substâncias que a escola tomava. Ninguém olhou para mim
novamente, mas senti o calor de cada olhar inexistente. As próximas palavras da
Sra. Reynolds não fizeram absolutamente nada para dissipar essa sensação.
— Ok, em sua primeira missão real, eu pegarei leve com vocês. Basta
escrever uma redação de duas páginas sobre o que você fez neste verão. Simples
certo?
Meu queixo caiu quando fiquei boquiaberto para ela. O que eu fiz neste
verão? Lamentei a perda de três dos meus melhores amigos. Eu gritei. Xinguei
Deus. Chorei, não, eu soluçava por incontáveis horas. Fui a funerais onde crianças
e adultos me evitavam. Eu estava sozinho... no meu sofrimento e na minha culpa
esmagadora. Ainda estava. E ela queria que eu... escrevesse sobre isso?
Os olhos dela olharam no meu rosto enquanto examinava a sala cheia de
gemidos. Eles passaram sobre os meus conforme ela olhava para todos os alunos,
em seguida, a cabeça chicoteou de volta ao redor para olhar para mim. — Ah...

Lucas. — Seu rosto empalideceu e sua boca caiu aberta quando compreendeu o

que me pediu. Seus olhos lacrimejaram e ela balançou a cabeça. — Você não
precisa... você pode escrever o que quiser.
Cada cabeça na sala virou para olhar para mim, amargura, um pouco de
raiva pura e simples, alguns apenas com curiosidade. Minha respiração ficou rasa
de novo e eu podia sentir meu estômago começar a subir. Deus, eu vomitaria aqui
na frente de todos. Peguei minha bolsa e saí correndo da minha cadeira. Não
poderia fazer isso. Não podia sentar-me calmamente mais lá. Vir hoje foi uma má
ideia.
Como nossos lugares tinham uma barra segurando a mesa, você tinha que
entrar e sair delas da mesma forma, então precisei passar por Will

23
novamente. Vendo como ele tinha o nível de maturidade de uma criança de cinco
anos de idade, ele enfiou o pé para fora de novo. E já que hoje não era realmente o
meu dia, e eu me concentrava mais em não vomitar, hiperventilar ou alguma
estranha mistura dos dois, eu tropecei em seu maldito pé novamente.
Caí duro, ambas as mãos e os joelhos batendo no chão neste momento. A
sala inteira riu e minha cabeça começou a nadar. Eu queria que acabasse
logo. Tudo que fiz foi cometer um erro. Tudo que fiz foi dirigir mal e perder o controle
do carro. Por que ninguém acredita nisso?
Mãos macias me ajudaram a levantar e uma voz murmurou em meu
ouvido. — Está tudo bem, Lucas. Tudo ficará bem.
Meu coração parou. Era a voz de Lillian que eu ouvi falar no meu
ouvido. Seu tom de voz doce, musical que levara meu coração direto para perto de
implodir com o amor de quando ela estava viva, e eu ouvia de novo, ouvindo
claramente. Minha cabeça disparou quando minhas pernas se endireitaram
debaixo de mim. Eu virei minha cabeça para trás, esperando ver Lillian, ver seus
braços delicados sob meus cotovelos, ajudando a me firmar. Mas não era o cabelo
pálido de Lil que encheu minha visão. Não, era o cabelo preto.
Minhas sobrancelhas enrugaram quando olhei de volta para os olhos
cinzentos de Sawyer. Ela soou muito como Lil. Estendi a mão e agarrei uma mecha
de seu cabelo, ignorando o som da classe ainda rindo e Reynolds tentando, sem
muita sorte, dominá-los. O cabelo dela era suave, mas inegavelmente preto. Não
entendi. Meus olhos lacrimejavam e a visão obscurecida foi adicionada aos meus
problemas respiratórios e estomacais.
— Lil? — Eu perguntei em voz baixa, imaginando se eu ficara
completamente louco.
— Vamos lá — a voz suave de Sawyer respondeu, não soando mais como
Lillian.
Ela estendeu a mão atrás dela para pegar a bolsa do chão e, em seguida,
me arrastou para frente. Por um momento, eu não conseguia entender o
porquê. Quando chegamos à frente, ela rapidamente disse a Sra. Reynolds que
estava me levando para ver o conselheiro. Eu queria revirar os olhos e dizer-lhe
que estava bem. Queria sentar-me e gritar com todo mundo que eu estava bem. Eu

24
não podia, no entanto. Não conseguia falar e meus olhos realmente começavam a
lacrimejar. Eu acabara de ouvir claramente a voz da minha namorada morta. Eu
não estava bem.
Reynolds concordou e moveu os braços em direção à porta, quase
parecendo aliviada que eu estava prestes a passar por ela. Um pedaço de papel
amassado atingiu a parte de trás da minha cabeça enquanto Sawyer abriu a porta,
mas eu ignorei. Ignorei tudo e foquei em colocar um pé na frente do outro,
mantendo minha respiração profunda e segurando meu estômago. Isso foi o
suficiente para pensar.
A porta se fechou atrás de mim e eu me inclinei, colocando minhas mãos
em meus joelhos e curvando-me, rezando para não ficar doente na frente dela. Ela
passou a mão nas minhas costas, enquanto eu tomava embaraçosamente grandes
respirações.
— Você está... bem? — Ela perguntou hesitante.
Eu balancei a cabeça com força. Bem? Não, eu não estou, por um longo
tempo.
— Você quer que eu te leve a esse conselheiro? — Ela ajustou sua mochila
no ombro por cima da cabeça para que a alça repousasse sobre o peito.
Mais uma vez eu balancei minha cabeça. Não, eu não queria falar com
algum conselheiro de luto do ensino médio. O que eles sabiam sobre ser
responsável por acabar com a vida de três pessoas que você amava? Que conselho
eles poderiam possivelmente me dar? Um dia de cada vez. As coisas vão
melhorar. O tempo cura todas as feridas. Era tudo uma porcaria e não quero ouvir
isso.
— Não... eu só quero... calma — eu finalmente saí entre grandes
respirações.
Ela assentiu com a cabeça e começou a me afastar da sala. Confuso, olhei
em volta.
— O que você... para onde vamos?
Ela meio que sorriu para mim, suas tranças balançando nos ombros.
—Para algum lugar tranquilo.

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Ela me puxou para baixo até o primeiro andar e por um momento eu pensei
que ela nos levava de volta para o nosso banheiro. Ela pode ter estado realmente
prestes a fazer isso, mas quando chegamos ao último passo na escada, notamos o
treinador Taylor entrar lá. Nós dois achatamos contra a parede para que ele não
nos visse.
O treinador foi meu mentor no futebol desde que eu joguei o primeiro ano
Junior Varsity. Enquanto ele era um homem excepcionalmente duro e severo, ele
sempre esteve lá para mim, me apoiando e me incentivando em seu jeito tipo
sargento. Darren e eu. Ele foi o único a ver real potencial em mim e trabalhara
incansavelmente para alimentá-lo. Eu não tinha certeza do que ele acreditava sobre
o acidente... Mas eu tinha certeza que não queria descobrir ainda.
Sawyer não parecia querer um encontro com um professor também, então,
uma vez que a porta do banheiro fechou, ela me puxou na direção oposta. Ela nos
levou para o armário do zelador e senti meu corpo tenso. Crianças ficavam lá
dentro, exatamente como faziam em cada colégio da América. Não era isso que fazia
meu estômago já se embrulhar em nós dolorosos, entretanto. Não, eu não estava
com medo de estar em um espaço escuro e fechado com uma garota bonita. Eu
estava com medo dos fantasmas que me esperavam na sala.
Lil e eu estivemos quase nus naquele armário antes. Eu sei... Não é
romântico, mas estávamos apaixonados e desesperados para nos unir e só... sentir
um ao outro. Aquela sala segurava os ecos dos gemidos leves e memórias de pele
macia e beijos quentes. Mesmo sem andar para o armário, flashes do encontro
encheram minha cabeça: a camisa de Lil caindo no chão, seguido pelo seu sutiã,
minha camisa passando para a pilha, ela me sentando em uma cadeira dobrável,
montando meu colo, nossos peitos nus apertados, os meus lábios em sua pele
perfumada... frutada, como pêssegos, as mãos serpenteando entre nós
desabotoando meu jeans...
Eu me afastei de Sawyer assim que a mão dela alcançou a maçaneta. Ela
olhou para mim surpresa, e talvez um pouco magoada também, mas não podia me
preocupar muito com ofendê-la, porque eu estava prestes a perder qualquer
quantidade de alimento que estava no meu estômago. E fazê-lo em cima dela
definitivamente a ofenderia mais.

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Fugi pela porta da frente e desci os poucos degraus que levavam ao
edifício. Acabara de fazer isso e na beira da escada meu estômago decidiu que tinha
o suficiente. Caindo de joelhos na bela casca de árvore que circundava alguns
arbustos decorativos sob as janelas... eu vomitei. Ótimo.
Foi só uma vez, e muito rápido, mas foi o suficiente para me fazer sentir
como um idiota quando senti Sawyer observando atrás de mim. Eu silenciosamente
agradeci o destino que eu estava a poucos metros da janela e não acabara de fazer
isso na frente de uma sala cheia de estudantes desavisados. Com a mão trêmula,
eu limpei a minha boca e sentei-me sobre os calcanhares.
Depois de algumas calmantes respirações profundas na quietude da manhã
gelada, eu virei minha cabeça para olhar para Sawyer. Não tinha ideia do que ela
achava disso, o que ela pensava sobre mim. Se ela tivesse juntado qualquer das
conversas que provavelmente ouviu pela escola, esta manhã, então, ela
provavelmente achou que eu estava de ressaca e o álcool saía pelas tripas.
Olhando para a sua cabeça escura inclinada para o lado, sobrancelhas
enrugadas, tudo que eu podia ler nela era preocupação. Ainda sem dizer nada, ela
estendeu a mão para mim. Olhei para o lado, o anel de prata em seu polegar que
brilhou mesmo na luz cinza desbotada deste dia nublado, e finalmente, estendi a
mão para agarrá-la com a minha.
Sua mão estava gelada, uma vez que já estávamos fora, notei então que ela
ainda não tinha um casaco e que estava levemente trêmula. À medida que nos
encaramos por um momento, eu deixei cair a mão, tirei a minha jaqueta e a
coloquei ao redor de seus ombros. Ela começou a protestar e recuar, embora seu
rosto parecesse relutante em fazê-lo, mas imediatamente interrompi suas objeções.
— Não quero isso — foi tudo o que eu disse. E não queria isso. Não queria
a lembrança do cara popular, despreocupado que eu costumava ser. Eu não era
mais ele e não queria fingir que era. Nunca mais queria usar aquela maldita jaqueta
novamente.
Ela apenas balançou a cabeça, enquanto absorvia a expressão no meu rosto
e a regularidade morta do meu tom. Ela passou os braços pelas mangas e abraçou
o tecido no peito, como se não usasse um casaco em tanto tempo que esquecera
quão bom era estar quente e enclausurada.

27
Eu tremi um pouco no frio agora, mas o acolhi. Ele acordou meus sentidos
e abriu minha cabeça. Meus pulmões deliciaram-se com o ar fresco e úmido
conforme eu sugava respirações muito longas. Sawyer me estudou em silêncio por
um momento, antes de silenciosamente dizer: — Você quer que eu te leve para
casa?
Olhei para baixo, enquanto pensava sobre isso. Eu quero ir para casa? Eu
me puni o suficiente por um dia? Tentei imaginar voltar para aquele prédio, passar
por diversas pessoas que uma vez foram amigos, pessoas que agora mal olham
para mim, passar por várias lembranças dos amigos que eu perdi... tanto os vivos
quanto os mortos.
Meus olhos incharam com mais daquelas lágrimas terríveis, e olhando para
ela eu só poderia dizer, — Sim.
Ela assentiu com a cabeça enquanto seus olhos passaram pelos
meus. Ainda não sabia o que ela pensava de mim, mas ela foi a única a mostrar-
me um pingo de amizade e compaixão, e avidamente, eu tiraria tudo o que podia
dela antes que ela fosse varrida para longe de mim também.
Querendo pegar a mão dela novamente, mas não querendo interromper o
calor de onde ela se aconchegava na minha jaqueta, peguei minha mochila, de onde
escorregou do meu ombro quando eu vergonhosamente vomitei. Pendurei em cima
de mim e enfiei as mãos nos bolsos. Ao mesmo tempo, nós dois começamos a
caminhar em direção ao estacionamento dos alunos. Todo mundo estava lá dentro,
enchendo suas cabeças com peças vitais de informação que certamente
precisariam para sair lá fora, no mundo real, por isso, não encontramos
ninguém. Sawyer estava quieta no caminho até lá, o que eu apreciei. Ela parecia
ter tomado o meu pedido anterior de silêncio literalmente.
Abordamos um modelo mais antigo do Camaro SS e ela diminuiu a
velocidade e soltou a bolsa, removendo-a do peito debaixo da minha jaqueta. Sorri
para o carro antigo enquanto ela vasculhava dentro da bolsa pelas chaves. O carro
era preto com listras brancas e definitivamente viu melhores dias, mas ainda era
muito legal. Darren amava carrões. Ele sempre brincou sobre melhorar o Geo dele
para parecer como um Trans Am, com uma águia de fogo na parte dianteira e um
painel removível no teto. Fechei os olhos quando a lembrança da conversa me
inundava. Ele nunca conseguiria seu Trans Am agora.
28
A mão leve no meu ombro me acordou, e olhei para ver Sawyer, chaves na
mão, silenciosamente me confortando. Deus, quantas vezes ela fez isso nessa
manhã? Tentei sorrir e caminhei para o outro lado do carro, balançando a
cabeça. Ela deve pensar que sou um maluco. Bem, talvez eu fosse.
Ela abriu seu lado e entrou enquanto eu esperava. Este carro antigo não
tinha travas elétricas, então ela estendeu a mão sobre o assento e abriu meu
lado. Entrei e estiquei minha estrutura de 1,88cm no couro preto do
assento. Apesar de estar degradado do lado de fora, estava bem conservado no
interior, limpo, brilhante e levemente com cheiro de limão. Eu sorri para uma
pequena bola de discoteca pendurada no espelho retrovisor enquanto ela ligava o
carro, o rosnado do motor, o ronronar inconfundível de um carro potente.
Sawyer saiu do estacionamento e dirigiu para as proximidades da minha
casa. Vivemos fora da principal avenida que levava direto para a escola. Tudo o que
ela tinha a fazer era continuar em linha reta e assim que a cidade começasse a
desaparecer, ela chegava a nossa casa, a última casa antes do pequeno vestígio de
civilização da cidade acabar. Literalmente, onde a calçada termina.
No banco do motorista, ela mordeu o lábio e parecia mal conter sua
curiosidade. Não parecia que ela perguntaria, mas se remexia em seu
assento. Imaginei que se eu fosse ela, eu teria um zilhão de perguntas para este
garoto estranho ao meu lado.
— Vá em frente — eu disse em voz baixa, finalmente, quebrando o nosso
silêncio.
Suas palavras se derramaram em uma corrida, como se uma vez que eu dei
permissão a ela, ela não conseguia segurá-las.
— O acidente que todos continuam a mencionar, você estava envolvido
nisso? — Ela olhou para mim, seus olhos cinzentos de repente muito tristes por
ela não poder conter suas perguntas.
Mantendo meu rosto tão calmo quanto poderia, eu simplesmente disse: —

Sim. — Na minha cabeça eu preparei a minha resposta para a pergunta que todo
mundo pergunta...

29
— Ah... eu sinto muito. Ouvi dizer que pessoas morreram... — seus olhos
voltaram para a estrada enquanto eu ficava tenso, tanto por suas palavras quanto
por onde eu sabia que a conversa ia. Não me lembro? Eu estava bêbado?
Ela olhou para mim com apenas os olhos e senti a pergunta vindo. Ela
mordeu o lábio e abri minha boca para dar a resposta. — Você... você está bem

com isso? — Sua mão estendida para indicar a sua condução.


Não esperava que ela perguntasse isso, a minha resposta para a pergunta
que eu pensei que ela faria derramada dos meus lábios antes que eu pudesse
impedi-la. — Não.
Ela totalmente olhou para mim, alarmada e sem saber o que fazer. O carro
diminuiu a velocidade e começou a virar, como se fosse encostar. Eu balancei
minha cabeça e comecei a cuspir minhas palavras. — Não, não, não é isso... eu

estou bem. Deus, eu sinto muito. — Seu rosto parecia irremediavelmente confuso

agora. Era uma espécie adorável. — Eu sou um idiota... está tudo bem. Eu estou
bem.
Ela estreitou os olhos. — Por que você disse não? — Voltando-se para a
estrada, sua velocidade voltou ao normal.
Exalei, o peso do mundo em minha respiração. Porque sou um idiota. — Eu
acho que... eu não esperava que você perguntasse isso. As pessoas sempre
perguntam... outra coisa.
— Oh — ela disse calmamente. — O que você achou que eu perguntaria?
Suspirei e olhei para fora da janela. As casas foram ficando mais
distantes, chegávamos ao fim da cidade e no final deste passeio de carro estranho.
— Se eu me lembro. — Eu sussurrei minhas palavras para o vidro da janela ao
meu lado.
— Oh — foi sua resposta calma. Depois de alguns momentos de silêncio,
ela disse, — Eu não perguntaria isso. — Olhei para ela, surpreso; a maioria das
pessoas morria de vontade de saber o que eu sabia. Desde que eu nunca falei sobre
isso, só havia especulações sobre o acidente, e a maioria estava errada.
Ela encolheu os ombros quando olhou para o meu rosto e, em seguida,
voltou para fora da janela. — Ou você não lembra... o que é bom, ou você lembra...

30
o que deve ser horrível. — Ela olhou para mim novamente. — De qualquer
maneira... por que eu quero que você pense sobre esse momento terrível de novo?
— Ela franziu a testa como se estivesse com raiva. — Eu sou a idiota. Não deveria
sequer tocar no assunto. — Seus olhos se voltaram para a estrada. — Sinto muito.
Eu quase ri. Ela estava arrependida... por me perguntar sobre o que todo
mundo certamente cochichava hoje? Eu era a fofoca da cidade. Estava tão
acostumado a todo mundo tentando meter o nariz nos meus negócios e na minha
vida pessoal que era quase surpreendente para mim que uma pessoa nesta terra,
não só não quer saber, mas se sentiu culpada por ainda trazer o assunto à tona. Eu
poderia beijá-la. Um sorriso genuíno cruzou meus lábios quando eu relaxei de volta
em meu lugar.
— Não se preocupe com isso. Eu disse que você poderia perguntar. — Uma
pequena risada escapou-me, em seguida, e ela olhou para mim com uma expressão
estranha. Eu realmente devo parecer um doente mental para ela.
Nós dirigimos o resto do caminho em um silêncio confortável, e apontei para
a minha casa quando nos aproximamos dela. A casa não era nada espetacular, um
andar, três quartos, uma tinta azul desbotada e uma caixa de correio que nunca
ficaria completamente fechada.
Ela estacionou na calçada vazia e parou o carro, mas não desligou. Olhei
para ela quando coloquei minha mão sobre a porta. Sua presença era tão calmante
para mim, eu estava relutante em sair. Ficar sozinho agora, embora melhor do que
estar na escola, não seria exatamente uma coisa fácil – eu tinha muitos fantasmas
na minha cabeça hoje.
— Você... — eu apontei novamente para a casa, indicando a porta branca
com três janelas minúsculas embutidas na parte superior da mesma. — Você quer
entrar?
Sawyer me olhou com um pequeno sorriso em seus lábios, suas mãos
nunca saindo do volante. Ela parecia prestes a sorrir totalmente e eu tinha certeza
que ela diria que sim e se moveria para fechar o carro, mas em vez disso os lábios
curvaram torcidos para baixo em uma careta e ela balançou a cabeça, balançando
suas tranças adoravelmente. — Não, eu não posso.

31
Eu fiz uma careta também, então percebendo minha expressão ela
rapidamente acrescentou: — Não me interprete mal, eu gostaria de poder, mas os

meus pais... — ela revirou os olhos e suspirou. — Eles são meio agitados, e teriam

a minha bunda se eu fugir da escola hoje. — Ela me deu um olhar irônico. —


Estou em liberdade condicional.
— Ah. — Eu estava curioso sobre o porquê, mas uma coisa que aprendi ao
longo dos últimos meses era não me meter. Se ela quisesse dizer mais, ela o
faria. Não tinha necessidade de forçá-la. Ela mordeu o lábio enquanto me
observava, quase como se estivesse preocupada se eu perguntaria. Ela relaxou
visivelmente quando dei de ombros e disse: — Bem, obrigado pela carona. — Olhei

para baixo e balancei a cabeça. — E por não me dar muita porcaria por surtar.
Olhei para ela quando senti a mão no meu ombro. Era pequena, mas
quente, e o calor infiltrou em minha pele através da minha camiseta clara.
— Está tudo bem. Você parecia ter um dia daqueles. — Seus dedos caíram
no meu braço para tocar a minha mão, o calor seguindo. — As pessoas não

parecem gostar muito de você... — ela ficou em silêncio quando disse isso, e
parecia mais uma observação casual do que uma pergunta sem rodeios. Ela foi tão
boa para mim hoje que senti a necessidade de respondê-la.
— Eles não... eles me culpam. — Eu olhei pela janela e minha mão apertou
a maçaneta da porta. — Acham que eu estava no volante com os meus amigos
enquanto estava enlouquecidamente bêbado e, então, dirigi de forma imprudente,
matando todos eles. Acham que os forcei a entrar no carro, obrigando-os a ir
comigo. Eles praticamente acham que eu sou um monstro.
Minha voz se tornou dura e áspera com a minha raiva súbita. Ninguém
entendeu o que aconteceu. Nenhum deles naquela escola acreditou em mim
quando eu disse que estava sóbrio. Nenhum deles.
Sawyer engasgou ao meu lado. Eu me virei para olhar para ela e vi
claramente a dor em seu rosto. Eu estava confuso por um momento, até que a
outra mão surgiu e forçosamente relaxou o aperto que eu tinha em seus dedos. Eu
vacilei e me afastei. Em algum lugar no meu discurso acalorado, eu devo ter
agarrado sua mão e apertado... forte. Eu a machuquei.

32
— Desculpe. — eu murmurei.
Ela riu um pouco e esfregou a palma da mão. — Está tudo bem.

Sua risada soltou minha raiva súbita e acrescentei, — Não foi isso que

aconteceu. Eu perdi o controle... mas não foi isso o que aconteceu. — Este foi o
mais próximo que eu cheguei a admitir para alguém que eu me lembrava. Claro,
eu disse a todos que não bebi na festa, mas o acidente de verdade? Eu encobri isso
com amnésia fingida.
Sawyer parou de rir e inclinou a cabeça, enquanto me olhava. O silêncio no
carro parecia engrossar e girar em torno de nós, mas não era opressivo ou
pegajoso. Como a mão dela, era quente e reconfortante. Eu ainda segurei minha
respiração, no entanto. Eu podia ver o debate em seus olhos; ela julgava o meu
personagem com base em tudo o que ela viu e ouviu, e decidia neste exato
momento, se eu era culpado do crime que os outros já me condenaram.
Finalmente ela abriu a boca para falar e meu corpo ficou tenso em
preparação para a sua condenação. Foi tão bom ter alguém que me olhasse de
forma diferente. Abaixei minha cabeça quando o seu discurso, finalmente,
conseguiu sair de seus lábios. — Eu acredito em você.
Eu derrubei meus ombros até que suas palavras me acertaram, então a
minha cabeça levantou e meu rosto surpreso olhou para o dela sereno. — Você

acredita em mim... por quê? — Ninguém mais fez, mesmo as pessoas que me
conheciam há anos, que cresceram comigo. Por que esta estranha acredita em
mim, quando eles não o fizeram?
Esse leve sorriso iluminou seu rosto novamente. — Eu comecei a ser uma

boa juíza de caráter e... — ela deu de ombros. — Eu acho que você tem uma coisa
muito boa. Se você diz que não aconteceu da forma como as pessoas fofocam, então
acredito em você. Creio que foi apenas um acidente.
Olhei para ela, sem palavras. Senti meus olhos lacrimejando e trabalhei em
controlar as lágrimas teimosas. Apenas um acidente. Parecia tão simples
assim. Sim, acho que mesmo no mais simples dos termos, foi apenas um acidente,
um acidente que poderia ter acontecido com qualquer um naquela noite. Acidentes
acontecem... aconteceu. Mas isso aconteceu comigo e as coisas mudaram. Ele

33
aconteceu comigo e meus amigos foram mortos por causa disso. Isso era tudo o
que importava. Enquanto isso, seria bom se a cidade acreditasse em mim e
enquanto era excepcionalmente bom que Sawyer acreditava em mim... Realmente,
era irrelevante. Bêbado ou não, sóbrio ou não, nada disso realmente importava...
eles ainda estavam mortos. Essa era a minha verdade.
Eu não disse nada disso a ela, porém, apenas balancei a cabeça e,
finalmente, abri a porta. Ela se inclinou sobre o assento e gritou atrás de mim
quando eu saí do veículo. — Lucas? — Abaixei-me e coloquei a cabeça para
dentro; o aroma de limão do seu carro lutou com o cheiro pútrido da lata de lixo
na calçada. Ela começou a tirar a minha jaqueta. — Aqui... você pode ter isso de
volta.
Eu balancei minha cabeça. — Não. Não quero isso. — Eu repeti minha

frase anterior, e ela parou no meio de se contorcer para olhar para mim. — Fique
com ela.
Ela parecia confusa e um pouco aliviada, como se realmente não quisesse
desistir de seu calor. Eu balancei a cabeça para ela e rapidamente fechei a porta
antes que ela pudesse protestar mais.
Caminhando até o degrau da frente, eu me preparei para uma tarde de
piedade, e muito provavelmente, choro. Quando ouvi seu carro começar a se
afastar, eu me virei. Observei-a acenar da janela quando ela recuou para a rua e,
então, voltou para a escola.
Vejo você por aí, menina do banheiro.
Bem, meu primeiro dia não foi grande, mas acho que poderia ter sido
pior. Eu poderia ter vomitado em Sawyer. Simples assim.

34
Capítulo 3
Eu, meus amigos e eu.

Já era tarde quando minha mãe voltou para casa, bem depois da meia-
noite. Eu já tinha amuado por horas, assisti a chuva quando ela voltou e re-
umedeceu a calçada do lado de fora, e fiz um jantar de Hot Pockets de calabresa
para mim. Um dia tão produtivo. Eu estava deitado no sofá, assistindo TV tarde da
noite quando ouvi a porta da frente se abrir. Um flash de culpa passou por mim
quando olhei para a minha minúscula mãe em seu uniforme de garçonete.
Ela parecia exausta, seu rabo de cavalo mal segurando o cabelo que frisara
um pouco na tempestade. Uma longa mecha caiu livre e ela enfiou atrás da orelha
quando se virou para mim com uma pequena carranca em seus lábios. Ignorando
o olhar que claramente disse: você não deveria estar dormindo? Olhei para a grande
mancha de café na parte da frente da saia.
— Teve uma boa noite? — Eu perguntei, antes que ela pudesse lançar um
discurso é uma noite de escola.

35
Ela suspirou e jogou sua pesada bolsa no balcão da cozinha antes de
caminhar até a sala para sentar-se no sofá ao meu lado. Eu coloquei meu braço
em volta dos seus ombros e ela apoiou a cabeça no meu. — Foi... tudo bem.
Eu sabia que ela estava mentindo. Eu poderia dizer pela sua voz, seu rosto
e a sua aparência geral que a noite não foi bem. Mamãe trabalhava à noite em um
restaurante na orla da cidade. O pequeno restaurante era um dos lugares favoritos
para muitos dos habitantes locais, mas também era frequentado por jogadores do
cassino fora da cidade e visitantes da prisão federal nas proximidades. A mistura
dos três grupos nem sempre era pacífica. Pela aparência de seu uniforme e a
aspereza de seu suspirar, alguém não ficou muito satisfeito com o serviço de hoje
à noite. Eu queria perguntar a ela sobre isso, mas conhecia a minha mãe o
suficiente para saber que ela nunca confiaria seus problemas em mim. Para mim,
a vida seria sempre... tudo bem.
— Como foi seu primeiro dia? — Sua cabeça levantou do meu ombro e seu
olhar se estreitou enquanto preocupação verdadeira o enchia. Os altos e baixos de
sua vida podem ser aceitáveis para ela, mas a minha vida era uma história
completamente diferente. Às vezes eu me perguntava por que minha vida sempre
foi muito superior em sua lista de prioridades do que a dela própria.
Eu lhe dei um sorriso cansado. — Foi... tudo bem.
Ela franziu o cenho e se afastou do meu abraço para me estudar melhor. Eu
não tinha certeza do que viu, mas poderia imaginar bem o suficiente – olhos
ligeiramente vermelhos de cansaço e um ataque vergonhoso de choro antes, roupas
desordenadas e cabelo despenteado, roupas amassadas devido a inquietação. Eu
provavelmente puxava o tudo bem tão bem quanto ela. Infelizmente para mim, ela
era uma mãe, e não estava disposta a deixar-me ir longe com uma mentira
deslavada como a que eu acabei de deixar escapar. A vida poderia ser injusta assim.
— O que aconteceu, Lucas?
Suspirei e olhei para longe dela. Como posso dizer a ela? Como posso
adicionar preocupações à essa mulher? Ela já tinha bastante delas. Não podia dizer
a ela sobre os olhares. Não podia dizer a ela sobre os sussurros. Eu definitivamente
não poderia dizer-lhe sobre a conversa, os empurrões no ônibus. Não podia dizer a
ela sobre Josh, ansioso por uma luta. Não podia dizer a ela sobre Will

36
repetidamente me fazendo tropeçar em Inglês. Não podia dizer a ela que vomitei
nos arbustos. Havia tanta coisa que eu não podia dizer a ela... assim como não
podia contar a ela sobre isso nessa noite. Não lhe faria nenhum bem saber. Na
verdade, só a machucaria. Não havia como eu, um garoto de dezessete anos de
idade, poder ajudá-la... a não ser isto. Eu omitiria.
Eu olhei novamente para seus olhos preocupados e muito calmamente
disse: — Eu pulei algumas aulas. Vou precisar de um passe.
Ela abriu a boca para me questionar mais, e então fechou. Pesquisando
meus olhos, ela deve ter notado algo nas profundezas castanhas, algo que a fez
perceber que eu não entraria em detalhes para ela. Era a minha maneira de
protegê-la. Um pequeno sorriso iluminou as próprias bordas de seus lábios e ela
suspirou de novo. — Ligarei para a escola de manhã. — Ela carinhosamente beijou

minha testa. — Durma um pouco, Lucas. Você tem escola amanhã.


Ela se levantou, esfregando um ponto em suas costas enquanto se virava
para ir pelo corredor até seu quarto. — Boa noite, mãe — eu disse suavemente
atrás dela, e ela retornou um boa noite em troca. Olhei para as minhas mãos, eu
gostaria de poder dizer-lhe tudo. Tudo sobre aquela noite, tudo o que aconteceu
hoje, mesmo o que aconteceu esta manhã na calçada. Mas eu não podia, e não
fiz. A carga era minha para suportar, não dela.
Esfreguei os olhos e voltei a assistir a um comercial que parecia passar em
uma sequência sem fim. Parecia apenas alguns segundos mais tarde, quando a
almofada do outro lado de mim comprimiu, e eu olhei para ver uma Lillian muito
viva e bonita sorrindo brilhantemente para mim.
— Ei, Lucas! Que espetáculo fascinante estamos assistindo? — Seus lábios
cheios curvaram-se suavemente quando ela virou a cabeça para olhar para a TV.
— Oh, Deus, essa coisa de pesca de novo? — Ela se virou para mim, ainda fazendo
beicinho. — Você não está pensando seriamente em comprar aquela coisa, não
é? Você nem mesmo pesca.
Nada sobre ela estar lá parecia estranho para mim. Lillian muitas vezes
vinha em horas estranhas da noite, só para passar um tempo comigo. Ela fugia de
sua casa e esgueirava-se para a minha, só para se aconchegar no sofá e assistir

37
televisão por algumas horas antes de voltar. Era sempre uma surpresa agradável
quando ela aparecia.
Eu sorri e trouxe meu braço em torno dela, ela riu inclinando-se para o meu
lado.
— Talvez eu queira começar a pescar.
Ela me beijou suavemente. — A pesca leva uma eternidade, Luc. O que eu
devo fazer enquanto você está fora brincando com truta?
Eu segurei seu rosto pálido, ligeiramente destacado com um blush rosado,
e beijei-a com ternura, saboreando a sensação de seus lábios contra os meus. —
Você pode vir comigo? Nós poderíamos fazer isso, enquanto esperamos.
Ela riu contra meus lábios e passou a mão pelo meu peito enquanto nossas
bocas se moviam em perfeita sincronia. Algo sobre a conversa desencadeou uma
memória em mim. Como um déjà vu, eu senti como se eu tivesse visto e feito tudo
isso com ela antes. Eu me afastei de sua boca, o cheiro familiar de batom de cereja
quase me dominando. — Eu estou sonhando... não estou?
Ela suspirou e seus olhos pálidos estavam tristes quando ela olhou para o
meu rosto. — Sim, eu sinto muito.

Apesar da dor súbita no peito, eu sorri. — Não sinta. Tanto quanto os

sonhos são... — eu balancei minha cabeça, — ... este não é tão ruim.
Sua mão no meu peito repousava em meu coração e minha outra mão
serpenteava em torno de sua cintura para puxá-la para mim. Minha percepção de
que isto não era real não alterou o fato de que ela parecia real. Suas mãos sobre
mim eram quentes e vivas. A respiração dela contra o meu rosto era suave, e senti
o cheiro persistente de seu doce favorito, Mentos de menta. Seu corpo era cheio de
curvas e sedutor – perfeito – quando ela se apertava contra mim.
Ela me beijou e depois um suspiro triste escapou. — Por que você não fala

com ninguém, Luc? Por que deixa todos eles...? — Seus olhos se estreitaram em

fúria. Era um olhar tão adorável sobre ela que eu sorri. — Eu vou matar Josh por
aquela pedra!

38
Eu ri e ela fez uma careta para mim. — Isso é um pensamento

divertido. Minha namorada morta me defenderá. — Beijei seu nariz e ela deu um

sorriso quando me afastei. — Mesmo morta, você é adorável.


Lillian sacudiu a cabeça e beijou minha bochecha. Então, ela se aninhou
na curva do meu pescoço e soltou um suspiro profundo. Fechei os olhos e apertei-
a, de repente com medo de que a qualquer momento eu acordaria e ela iria embora.
— Você deveria falar com alguém, Lucas. Não deve passar por isso sozinho.
— Eu posso falar com você — eu sussurrei.
Ela se afastou para olhar para mim, seriedade marcando suas feições. —

Você sabe que isso é ridículo, certo? — Desviei o olhar e dei de ombros, sua mão

veio até minha bochecha trazendo o meu olhar de volta para ela. — Diga para
alguém que você se lembra. Diga o que aconteceu... com a água, a estrada. Eles
pararão esse absurdo sobre você estar embriagado, Luc. Eles vão entender.
Entretanto, eu já balançava a cabeça, e as lágrimas começavam a se
formar. — Eu não posso, Lil. Não posso falar sobre o que aconteceu, sobre o que

eu fiz. Não posso falar sobre matar você. — Uma lágrima escorreu pelo meu rosto

e seus dedos roçaram. Seus olhos lacrimejaram, observando minha queda. — Não
importa como ou por que isso aconteceu. Eu ainda matei todos vocês.
— Não, foi um acidente, Luc. Converse com alguém. — Ela olhou para
baixo por um momento e sua voz estava estranhamente moderada quando ela falou
novamente. — Talvez... talvez essa nova garota.
Eu pisquei e confusão passou por mim antes de eu entender sua expressão
estranha. Minha mão estendeu e agarrou o seu queixo, fazendo com que seus olhos
tristes olhassem para mim. — Nada está acontecendo comigo e com ela, Lil. Eu
não estou interessado nela... só em você.
Lillian deu um sorriso tão triste que os olhos de repente, pareciam felizes
em comparação. — Você não percebe quão horrível isso é?

— Horrível? Que eu queira ficar com você?


Ela se inclinou e me beijou. A doçura de seus lábios roubou minha
respiração e, por um momento esta foi a experiência mais real que eu tive em

39
meses. Ela se afastou do nosso contato íntimo lentamente, seus lábios relutantes
em deixar os meus. Eu ansiava por mais.
— Sim, Lucas... eu estou morta — ela sussurrou.
Eu queria discutir. Queria gritar para ela que ela era mais real do que
qualquer coisa que eu senti em muito tempo, eu começava a acreditar que estar
acordado era o sonho. Queria dizer a ela que, com ela em meus braços, eu poderia
finalmente respirar de novo. Queria mantê-la em meus braços e respirar
constantemente dessa forma, para sempre. Queria, finalmente, dizer-lhe que eu a
amava.
Mas naquele momento... Eu acordei.
Minha cabeça levantou do sofá com um impulso e, olhando em volta, notei
que a TV ainda estava ligada, passando alguma notícia da manhã com convidados
que estavam muito felizes para a hora desumana. A luz da madrugada nebulosa
filtrou através das janelas de frente para o leste. Eu também tinha um torcicolo no
pescoço do tamanho do Texas. Grande. Dormi no sofá... de novo.
Fechei os olhos quando as memórias do meu sonho me inundaram. De certa
forma, era melhor do que o pesadelo que muitas vezes eu tinha sobre o acidente. De
certa forma, era pior. A memória dela estava fresca novamente. Eu podia sentir
seus braços, seus lábios... o corpo dela. Podia ouvir sua risada. Deus, eu poderia
até mesmo sentir o cheiro dela novamente. Lágrimas rolaram sob minhas
pálpebras fechadas, esperando para cair no momento em que os abrisse. Eu tomei
uma respiração que exalou em um soluço acumulado. Minhas mãos vieram para
cobrir o meu rosto, enquanto as lágrimas insistentes não esperaram pela minha
permissão para cair. Eu soluçava tão silenciosamente quanto podia, então não
acordaria e preocuparia a minha mãe.
Deus, eu sinto sua falta, Lil.
Depois de um tempo, eu tomei banho e vesti-me para o dia. Não me
preocuparia com a tentativa de voltar a dormir. Não queria sonhar com ela de
novo... e eu desesperadamente queria sonhar com ela de novo. Mas a escola estava
há um par de horas de qualquer maneira. Qualquer sonho que tivesse seria curto,
e se a veria daquele jeito de novo, eu queria o máximo de tempo possível. Meu
Deus, que pensamento confuso: dormir, talvez sonhar... mas só se tiver tempo para
se comprometer com isso.

40
Suspirando, eu fiz um bule de café. Mamãe franziu a testa para mim
bebendo aquilo, mas, como um monte de coisas na minha vida ultimamente, ela
deixou passar. Era quase como se eu tivesse um cartão permanente saia livre da
cadeia. Ela me deixou escapar por fazer as coisas que nunca teria conseguido
escapar antes. Perder aula, por exemplo. Se eu tivesse feito isso no ano passado,
ela teria a minha cabeça. É claro que, se fosse no ano passado, eu a perderia para
procurar problemas com Darren. Muita coisa podia mudar em um ano.
Pensei sobre o meu amigo quando peguei o pote de café espesso, preto e
incrivelmente forte – uma vez que decidi começar a beber, não enrolei, fui direto
para o material forte.
A cara de zoação de Darren surgiu na minha cabeça mais fácil do que há
algum tempo; talvez ver Lil aguçou a memória de Darren em mim também. Eu
podia ver claramente os seus olhos castanhos se acenderem rapidamente com
malícia e os rebelde cabelos castanho escuro, que sempre apontavam para cima
em algum lugar, mesmo que Sammy continuamente tentasse alisá-lo. Geralmente
o fazia grunhir, simulava um exaspero e divertidamente empurrava suas mãos
maternais para longe.
Imaginei-o recostado na minha cozinha, os braços cruzados sobre o peito,
franzindo a testa para mim e balançando a cabeça. — Vamos lá, Lucas, mate aula
comigo hoje.
Sorri lembrando-me da conversa que tivemos meses atrás. — Não posso,
Darren. Eu tenho um teste de matemática no primeiro período.
Ele revirou os olhos e balançou a cabeça novamente. — Então... M80s2,

Luc! Malditos M80s! Vamos explodir alguma merda! — Seus olhos se iluminaram
com a perspectiva. Embora ele fosse dois meses mais velho do que eu, às vezes, ele
parecia cerca de três anos mais novo. Ele e Josh colocaram os fogos de artifício...
em algum lugar. Eles sempre encontravam entretenimento questionável.
Sorri mais amplo. — Nós vamos. Eu te encontro depois da escola.
Seu rosto normalmente feliz escureceu um pouco e ele torceu os lábios em
claro desagrado sobre algo. — Eu não posso, depois da escola. Josh quer vir,

2
Fogos de artifícios, usado nos Estados Unidos como explosivos, são considerados muito perigosos.

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também, e ele ainda está de castigo. Ele tem que ir para casa depois da escola, e
minha mãe teria minha cabeça se eu não levá-lo.
Nunca perguntei o que Josh fizera (ele ficava constantemente de castigo por
algo), então agora não tinha ideia de por que era um problema. Mas,
aparentemente, Josh faltar a aula não traria ira para Darren, então ele estava
totalmente a favor desse plano. Claro que, com aqueles dois, notas forjadas se
tornaram quase uma forma de arte.
— Eu encontrarei com vocês na hora do almoço, ok? Vamos explodir
alguma merda, então.
Quase senti vontade de rir quando me lembrei o que acabamos
explodindo. Darren pegara um gnomo de jardim da casa de seu vizinho e o pobre
coitado concreto encontrou seu criador na beira do rio. O vizinho de Darren
perguntou aos pais dele durante semanas se eles viram aquilo. Felizmente para
Darren, eles nunca descobriram... embora, acho que isso não importa agora.
— Luc?
A visão de Darren, acenando para a minha sugestão e ficando animado
sobre o que poderíamos fazer, de repente desapareceu da minha vista, ao som da
voz da minha mãe. Virei a cabeça, minha mão ainda estava apertada ao redor do
bule de café cheio, pronto para derramar em meu copo. Percebi que, para ela, eu
acabara de ainda estar de pé no balcão segurando um bule de café, sem fazer nada
por... Deus sabe quanto tempo.
— Você está bem?
Balancei a cabeça enquanto ela caminhava pela nossa pequena cozinha. A
cozinha consistia de um fogão ao lado de uma máquina de lavar louça perto de
uma pequena pia ao lado de uma geladeira. Em algum lugar naquele espaço
apertado, eles colocaram um balcão, apenas o suficiente para a cafeteira. A outra
parede da sala tinha um retângulo estreito de uma mesa debaixo de uma grande
janela que dava para a nossa garagem. Havia apenas duas cadeiras, uma para a
mamãe e uma para mim. Depois de me dar um abraço e de me examinar, mamãe
sentou-se na sua cadeira tradicional.
Enchi automaticamente uma caneca para ela. Como de costume, ela não se
aprofundou mais longe em meus pensamentos, me dando o meu espaço. Por que

42
embora eu soubesse que havia um olhar solene no meu rosto, ela deveria saber de
qualquer maneira. Havia realmente apenas três coisas em que eu pensava muito:
Sammy, Darren e Lillian. Qualquer um dos três causaria a ela, e a mim, um pouco
de dor, então não entro em detalhes.
Enchi uma caneca para mim e me juntei a ela na mesa. Nenhum de nós
comia coisa alguma; nós nunca tivemos estômago para alimentos antes das dez da
manhã. Não éramos o que você chamaria de pessoas de café da manhã.
Mamãe estava vestida e pronta para seu primeiro trabalho do dia, o cabelo
em um rabo de cavalo arrumado que eu sabia que cairia aos pedaços na hora do
almoço. Ela vestia calça jeans e uma camisa polo com Hardware de Andy, no canto
superior esquerdo. Ela trabalhava lá até às cinco horas e, em seguida, trocava de
roupa, às vezes em sua caminhonete, e dirigia-se para o restaurante. Ela conseguiu
um emprego em uma loja de ferragens, não só para garantir sustento, mas também
para garantir que estaria bem informada sobre reparos domésticos e
manutenção. Ela dependera completamente de um homem uma vez na vida dela,
e não queria precisar fazer isso de novo nunca mais. Ela me ensinou tudo o que
aprendeu ao longo dos anos; eu aprendi muito com a minha mãe.
Sentindo seus olhos me observando de novo, eu trouxe um assunto que
pensei que poderia trazer uma pequena quantidade de alegria para ela. Foi
certamente o único ponto brilhante no meu dia de ontem. Meus lábios se curvaram
em um apertado sorriso contido. — Eu conheci uma garota ontem.
Ela arregalou os olhos, antes de voltar ao normal. Ela usava uma expressão
de cansaço e felicidade. Gostei de ver o último, mas não o primeiro. Mamãe sabia
que quando eu disse: — Eu conheci uma garota — eu quis dizer isso em apenas a
forma mais literal que poderia ser tomada. Não havia interesses potenciais de amor
por mim. Não agora. Não quando o meu coração estava deitado em um frio e
escuro...
Mamãe interrompeu meus pensamentos rodopiantes. — Oh, é? — Ela
suspirou baixinho quando olhou para o meu rosto.
Eu tossi e me forcei a me animar por ela. — Sim, no banheiro. — Inclinei-

me conspiratório. — No banheiro dos homens.

43
Mamãe riu. Sua risada foi curta e parecia um pouco enferrujada por não
ser utilizada a muito tempo, mas foi genuína e o sorriso no rosto de repente ficou
tão real quanto aquela risada. — Parece uma garota interessante.
Pensei sobre o encontro e acenei com a cabeça quando tomei um longo gole
do meu café potente. — Ela é. — Meu sorriso novamente foi genuíno e minha mãe
percebeu e levantou uma sobrancelha antes de deixar seu rosto relaxar em
neutralidade. Ela não queria criar esperanças de que eu segui em frente. Ou isso,
ou ela tinha dificuldades de aceitar que eu segui em frente assim. Ela amava Lil
também.
— Esta garota do banheiro tem um nome?
Deixei escapar uma risada suave com a minha mãe usando a mesma
expressão que eu usara; meu riso era um pouco enferrujado também. — Sawyer.

Mamãe ergueu as sobrancelhas e eu assenti. — Sim, como Tom Sawyer. —

Balancei minha cabeça. — Seus pais são fãs. — Mamãe riu de novo e fiquei
encantado com o som raro, feliz que eu lhe dera uma razão para produzi-lo. Com
uma voz pensativa, acrescentei: — Ela é nova este ano e ela foi realmente... boa
para mim ontem.
A risada de mamãe terminou quando ela pegou o meu tom de voz e o olhar
no meu rosto. Mamãe ouvia a fofoca também e, provavelmente poderia adivinhar
como o meu dia realmente foi, entretanto. Alguém me mostrar um pouco de
cordialidade estaria em alta consideração em seus olhos. Eles começaram a
lacrimejar agora, quando ela, aparentemente pela centésima vez esta manhã, me
olhou.
— Estou contente, Lucas — ela sussurrou.
Eu balancei a cabeça e ambos voltamos calmamente a tomar nossa
cafeína. Depois de muito tempo, momentos de silêncio, quando minha caneca
estava finalmente vazia, eu me levantei, dei-lhe um beijo na cabeça e saí para pegar
minha mochila. Também peguei um casaco liso, cinza, enterrado no fundo do
armário de casaco. Mamãe se levantou e me observava da porta de entrada da
cozinha. Seus olhos pegaram a falta da minha jaqueta esportiva, mas não
perguntou para onde foi. Sua ausência, junto com a minha, deve ter preenchido
um monte de espaços em branco para ela sobre o que realmente aconteceu na
44
escola. Ela suspirou e me ofereceu uma carona de novo, que eu não quis, mais
uma vez. Desejando-me sorte, ela disse que me amava e retornei ambos os
sentimentos para ela. Então, ela me abraçou e nos separamos para o dia.
Fui lá fora para andar alguns quilômetros até a escola. Era cedo e eu tinha
tempo hoje. Também ainda estava nublado, mas a manhã estava seca, e parecia
que ficaria desse jeito. Mas, realmente, mesmo que estivesse chovendo, eu
preferiria andar alguns quilômetros em uma chuva torrencial do que entrar
naquele maldito ônibus novamente.
A caminhada para a escola era longa e com um toque monótono. Encontrei
a minha mente apagando enquanto contava as rachaduras no pavimento. Ele
permaneceu seco, e na rachadura três mil quatrocentos e cinquenta e dois, eu
finalmente cheguei na Sheridan High. Era cedo, e apenas um par de corpos
estavam ao redor da escola. Não olhei para cima para ver se eles me notaram. Em
vez disso, imediatamente fiz o meu caminho para o prédio principal e subi as
escadas para minha aula de Inglês.
A sala estava vazia quando fui tomar meu lugar na mesa que sentei
ontem. Olhei em volta para as outras vinte ou mais mesas, todas vazias e
aguardando seus ocupantes, os alunos ainda em seu caminho para a escola ou
comendo o seu café da manhã, ou possivelmente até mesmo dormindo ainda.
Por um segundo, me lembrei que Sammy estaria nesta classe comigo. Nós
quatro organizamos nossos horários para que um ou todos nós tivéssemos aulas
juntos. Acabou com apenas Sammy e eu neste primeiro período. Lillian esteve
realmente animada que sua melhor amiga estaria em uma aula comigo
novamente. Sua planta, como ela mesma disse, para lembrar-me sutilmente de
aniversários, feriados e nosso aniversário. Porém, a classe de Geometria do ano
passado acabara sendo – Sammy escavando segredos sobre Darren de mim.
Imaginei Sammy na cadeira à minha frente, virando para sorrir para mim,
seu cabelo castanho avermelhado balançando sobre seu ombro. — Então, Luc...
sério, o que Darren diz sobre... a nossa noite?
Corei e revirei os olhos quando me lembrava dela me perguntando sobre
uma conversa muito particular que tive com Darren após a primeira vez deles. —
Sammy... eu não falarei sobre isso com você.

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Ela inclinou-se sobre sua cadeira, sorrindo ainda mais. — Vamos lá, você
tem que me dizer, Luc. Eu sei que ele falou com você sobre isso. Ele fala com você
sobre tudo. Então... o que foi que ele disse? — Uma pequena carranca apareceu

nos cantos de sua boca. — Foi ruim? Será que ele não... gostou?

Dei-lhe a minha melhor cara de você está brincando?. — Ele é um cara... é


claro que ele gostou.
Seu sorriso correspondente foi brilhante, e seus olhos brilhavam de
alegria. — Ha! Eu sabia que ele falou com você.
Suspirei por ficar preso em seu interrogatório, enquanto ela ria e pedia
detalhes. Olhei ao redor da sala com os meus olhos e então me inclinei para
frente; ela se inclinou para mim também. — Você não pode dizer a ele que eu

disse. Ele me mataria. — Ela fez uma promessa rápida com os dedos e suspirei de

novo, perguntando como consegui ser sugado para fofocas de garotas. — Ele disse

que foi incrível... como, a melhor coisa que ele já experimentou. — Seus olhos
ficaram embaçados enquanto ela mordeu o lábio. Dei de ombros, ficando um pouco
desconfortável. — Ele disse que te ama ainda mais. — Eu me encolhi um pouco

quando ela parecia prestes a gritar de alegria de garota. — Isso é


suficiente? Podemos não falar sobre isso de novo... nunca?
Ela sorriu e acenou com a cabeça, então se inclinou totalmente para frente
e beijou minha testa. — Obrigada, Luc! Deus, você é o melhor!
Balancei a cabeça para ela e sorri calorosamente para a bela garota que
capturara o coração de meu amigo. Seu cabelo castanho avermelhado enquadrava
o mais bonito rosto em forma de coração e seus olhos castanhos eram tão leves
que eram quase de ouro. Aqueles olhos eram sempre tão cheios de amor e riso. Ela
raramente tinha um dia triste. Ela era tão malditamente feliz, ela estava quase
borbulhante, mas nunca de uma forma desagradável. Apenas de uma maneira que
fazia você querer estar perto dela. Seu entusiasmo pela vida fazia você querer ter
esse entusiasmo também. Eu sentia falta disso...
— Bom dia, Lucas.
Pisquei para fora da minha memória e olhei para a mesa do professor, onde
a Sra. Reynolds colocava uma pilha de papéis. — Bom dia, Sra. Reynolds.

46
Ela sentou na beirada da mesa e cruzou os braços sobre o peito. Em um
dia normal, eu teria notado que suas pernas eram longas e magras na saia justa
que usava, mas não notara esse tipo de coisa há um tempo. Ela me deu um sorriso
suave, arrependida. — Me desculpe por ontem. Isso foi... — ela fez uma pausa,

repensando seu comentário. — Este será um período de adaptação para todos,


Lucas. As coisas vão melhorar.
Balancei a cabeça, mas não disse nada. Suponho que as coisas
melhorariam. Quero dizer, como elas poderiam possivelmente piorar? Ela mordeu
o lábio e inclinou a cabeça enquanto me olhava. Eu me perguntava o que eu parecia
para ela. Ela via o adolescente problemático fora de controle que os alunos me
fizeram ser, ou ela só via um adolescente que cometera um erro terrível? De
qualquer forma, eu sabia que ela me via como culpado, e isso fechou minha
garganta e eu só podia vê-la me observando.
Finalmente, ela falou. — O conselheiro ajudou?
Fiz uma pausa, debatendo se eu deveria ser verdadeiro. Isso quase me fez
rir. Ser verdadeiro nesta cidade não parece importar muito. Não querendo entrar
em detalhes com ela, eu só balancei a cabeça novamente. Ela suspirou e parecia
querer desesperadamente me fazer falar com ela, mas não tinha ideia de como fazê-
lo. Eu também não e permaneci em silêncio.
Um silêncio constrangedor cresceu na sala, enquanto observávamos um ao
outro. Finalmente terminou, com a chegada de mais alguns alunos. Reynolds se
endireitou quando entraram na sala de aula. Seu rosto relaxou em um sorriso
agradável enquanto ela cumprimentava cada um deles pelo nome. Ela parecia
realmente amar seu trabalho. Eu só a deixei desconfortável. Compreensível, eu
suponho.
Os alunos me ignoraram enquanto se acomodavam em seus lugares. Bem,
a maioria deles me ignorou. Um par deles me encarou abertamente e um ou dois
me fulminaram, mas os ignorei, e eles finalmente me ignoraram em troca.
Fiquei olhando para a minha mesa quando Randy e Will chegaram
juntos. Ouvi sua risada profunda e senti seus passos pesados quando o linebacker
e agora quarterback caminhavam para os seus lugares. Ouvi o meu nome, seguido
de mais risadas e senti meu rosto esquentar. Eu tinha certeza que eles riam de

47
minhas repetidas quedas ontem. Ah, e fugir da sala. Eu definitivamente não
ganhara nenhum ponto. Oh, bem, hoje seria melhor. Pelo menos eu não fugiria...
espero.
Eles desmoronaram em suas cadeiras, o metal raspando contra o chão
quando os seus tamanhos deslocaram as mesas. Olhei para cima e vi-os bater os
punhos em uma demonstração de camaradagem e amizade. No ano passado, eu
seria incluído nesse ritual, enquanto eles brincavam, perguntando quando eu
terminaria com Lillian para que Will pudesse namorar com ela. Ele tivera uma
grande paixão por ela de um dia para o outro. Percebi que só contribuiu para as
razões pelas quais ele não gostava de mim.
Olhei para a minha mesa novamente e me deliciava com o silêncio de todos
me ignorando. Era melhor do que perguntas, melhor do que acusações e muito
melhor do que ser intimidado. Eu ainda olhava para a minha mesa quando senti
um corpo sentar na cadeira ao lado da minha. Olhei para Sawyer sentada ao meu
lado. Seu cabelo longo preto estava solto hoje e cobria as grandes letras do meu
nome na jaqueta esportiva que ela ainda vestia. Eu estava um pouco surpreso que
ela ainda vestia. Talvez ela não tivesse outra jaqueta? Ela parecia usar o mesmo
jeans rasgado e desbotado. Com toda a alienação ligada a mim na escola, eu achava
que ela iria querer evitar associar-se comigo. Ainda bem que seu cabelo cobria meu
nome nas costas dela, eu acho.
Olhei novamente para minha mesa, mas olhei mais uma vez ao ouvir sua
voz suave. — Oi, Lucas.
A sombra de um sorriso levantou meus lábios, enquanto eu observava seus
olhos cinza analisar o meu rosto, julgando meu humor hoje, talvez se perguntando
se eu faria outra corrida para a fronteira. — Ei, Sawyer.
Ela olhou para os atletas alguns lugares na frente de nós e, em seguida, de
volta para mim. — Como... você está?
Olhei para baixo como se verificasse minha temperatura emocional. Como
eu estava? Como estava hoje? Mal me segurando por um fio... esperando pela
próxima catástrofe atacar... assombrado por imagens de meus amigos e da minha
namorada...
— Eu estou bem — eu sussurrei.

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Do canto do meu olho, eu observava sua mão começar a levantar e vir em
minha direção. Meus nervos atiraram diretamente para o meu peito com o
pensamento dela colocar a palma da mão reconfortante no meu ombro. Eu gostei
dela fazer isso ontem, e uma parte de mim queria isso de novo hoje. Outra parte
de mim queria passar por isso sozinho e, no momento, eu escutei essa parte. Virei
na cadeira para encará-la e ela rapidamente levou a mão estendida para mim até
seu cabelo, prendendo uma mecha atrás da orelha. Eu me encolhi mentalmente
com a ausência de seu toque, mas dei um pequeno sorriso para ela.
— Como foi o resto do seu primeiro dia ontem?
Ela não pareceu comprar o meu sorriso falso, mas não me pressionou sobre
isso também. Em vez disso, ela suspirou e revirou os olhos. — Chato. Coisas

padrão de colégio... panelinhas e clichês. — Ela disse a última parte em voz baixa.
Fiz uma careta quando olhei em seu rosto. Seus olhos de repente focados
em sua mesa e seus dentes mordendo o lábio. Algo aconteceu com ela ontem depois
que eu saí. Eu esperava que não tivesse nada a ver com o fato dela sair
comigo. Talvez ela já tivesse sido associada comigo, e foi condenada ao ostracismo
por isso.
De certa forma, esse microcosmo de mundo poderia ser extremamente cruel
para os recém-chegados. Não foi assim com Lil ano passado, mas ela entrara no
nosso grupo quase que instantaneamente e, embora isso soasse terrivelmente
arrogante, Darren, Sammy e eu... bem, nós estávamos no tipo de ponto focal da
multidão popular. Estávamos na classe dominante na escola, e quando Lil se
juntou as nossas fileiras, especialmente quando ela e eu começamos a namorar, a
escola praticamente a idolatrou. Mas também pode ser exatamente o oposto disso,
e pela expressão no rosto de Sawyer, eu começava a pensar que era assim que seu
dia foi.
— Ei, você...?
Comecei a perguntar a ela sobre isso, quando a campainha tocou de
repente. Os alunos vadiando ao redor das mesas de seus amigos encontraram seus
lugares e mais alguns vieram do corredor. Houve um deslocamento contido em
cadeiras quando as pessoas se preparavam para mais um dia de aprendizagem
fascinante. Assisti Sawyer por mais alguns segundos enquanto ela estudava sua

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mesa. De repente, seus olhos levantaram para encarar os meus e vi algo em seu
contato visual – um sentimento quase inabalável de que estávamos conectados,
que eu e ela éramos o mesmo. Sorri e acenei para ela, já não sentia a necessidade
de perguntar a ela sobre como foi seu dia. Não era necessário. Entendi que seu dia
foi mal, assim como ela entendeu que o meu foi mal, e eu não a pressionaria mais
do que ela me pressionaria.
Queria alcançar e segurar a mão dela, ficar fisicamente ligado a ela
enquanto estávamos visualmente conectados. Não fiz, no entanto. Nós estávamos
muito distantes para que isso fosse uma manobra oculta e a última coisa que eu
queria era trazê-la para mais fofocas. Olhamos um para o outro por alguns
momentos mais longos e, em seguida, afastei nossos olhares quando a Sra.
Reynolds começou a aula.
Com exceção de alguns olhares cortantes atirados na minha direção, a aula
passou sem momentos terríveis. Todos se voltaram para seus trabalhos sobre o
seu verão e eu entreguei o trabalho que consegui escrever em um dos meus
momentos mais calmos na noite anterior. Eu escrevi sobre A situação da Mãe
solteira. Era o mais longe do meu próprio inferno pessoal que eu poderia conseguir,
mas perto o suficiente de casa para significar algo para mim. Parecia a coisa certa
a fazer.
Depois da aula, eu hesitei na minha mesa até que a maioria das pessoas na
sala saiu. Eu me senti melhor sobre o dia, já que fiz isso uma hora inteira, e não
queria que esse sentimento fosse arruinado por Will e sua forma infantil de
tormento. Quando o vi novamente segurando calouros em armários e jogando os
alunos impopulares em latas de lixo como no ano passado, eu comecei a me
perguntar por que ele e eu sequer fomos amigos. Era uma inevitabilidade se tornar
amigos das pessoas em seu círculo social, mesmo que essas pessoas eram meio
que... idiotas? Algo para analisar mais tarde, eu acho. Talvez na minha aula de
Filosofia no terceiro período.
Mas, por agora, eu teria que pegar História. Pendurei minha mochila por
cima do ombro e sorri para Sawyer, que esperava para sair da classe comigo, ou
talvez, assim como eu. Ela sorriu de volta. — Parabéns, West, você passou pela
aula inteira.

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Eu ri e me admirei que essa foi a segunda vez hoje que fiz isso, e ambas as
vezes foi por causa dela. — Sim, obrigado... — eu fiz uma careta. — Qual é o seu

sobrenome? — Eu dei um sorriso torto quando um pensamento me ocorreu. — É


Finn? Porque isso seria simplesmente incrível.
Ela fez uma careta e eu ri de novo com o olhar bonito em seu rosto. — Não.

— Ela finalmente riu também e revirou os olhos. — É Smith.


Meu riso morreu quando novos alunos começaram a chegar na sala de
aula. — Bem, obrigado, Smith. — Eu indiquei a porta. — Vamos?
Ela sorriu para o meu galanteio e então seguimos até o corredor e saímos
da sala. Uma vez no corredor, perguntei-lhe qual era sua próxima aula.
— Ciência... química. — Ela franziu a testa, não parecendo muito animada
com a perspectiva. Fiz uma careta, desejando que ela dissesse História. Química a
colocaria no prédio retangular atrás do prédio principal, que abrigava as aulas de
Ciências e Astronomia. Minha aula de História era no primeiro andar. Quando me
perguntava se eu deveria levá-la para a aula de qualquer maneira, ela olhou para
mim. — Qual é a sua próxima aula?

Eu suspirei dramaticamente. — História... blé.

Ela riu da minha expressão. — Não critique História. É muito importante.

— De repente, seu rosto ficou excessivamente sério para uma adolescente. — Você
sabe o que dizem sobre isso.
Eu meio que sabia o que diziam sobre isso... algo sobre a aprender a partir
disso, ou estaria destinado a repeti-la. Abri minha boca para perguntar qual citação
era, mas ela começou a olhar ao redor e murmurou: — Eu tenho que ir. — Ela
indicou as primeiras portas do piso que levavam ao prédio de ciências. Eu não
percebi, andando com ela, que já deixara para trás o primeiro andar.
— Ok, talvez nós tenhamos outra aula juntos hoje. — Ela me deu um olhar
de cumplicidade, como se já soubesse a resposta para isso, e suponho que ela já
sabia, desde que ela já passou por um dia de aula, e teria ouvido o meu nome
jorrando repetidamente em minha ausência, se tivéssemos mais aulas. Por seu
olhar, eu adivinhava que tínhamos. Eu me perguntava quais?

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Eu me debatia sobre o olhar estranho de Sawyer quando entrei na sala de
aula. Pensar em sua expressão quando ela fez esse comentário sobre História, me
impediu de pensar na minha própria situação. Quando fui recebido por uma sala
cheia de olhares silenciosos, lembrei-me de repente. Varrendo a sala, percebi que,
pelo menos ninguém da minha equipe de futebol estava aqui... talvez não
tropeçaria hoje. Balancei minha cabeça quando fiz meu caminho para um
assento. Eu realmente não devia pensar nisso como minha equipe mais. Não fui
para as eliminatórias durante o verão, por razões óbvias, e a equipe já estava bem
estabelecida para o ano, já com um par de meses de práticas. Eu esperava o
treinador me chamar para me juntar à equipe, mas ele não chamou, e não
importava se ele tivesse. A vida não era mais importante para mim. Eu não queria
isso.
Sentei-me no fundo da sala e ignorei os olhares ao meu redor. Quando o
sino tocou e agitou o professor que estava quase dormindo em sua mesa, senti os
olhos no meu lado direito. Duas meninas me olhavam – implacavelmente – e não
apenas os olhares curiosos ou funestos que eu estava habituado a receber. Não,
estes dois eram firmes... olhares determinados, e suspirei mentalmente. Aqui
vamos nós outra vez.
— Lucas — sussurrou uma. Olhei para a loira morango e reconheci como
Eliza Wood. Darren tinha uma queda por ela na quinta série. Ela namorou com ele
por um dia e, então o deixou por um aluno da sexta série, ele ficara esmagado.
Sorri por dentro com essa memória, mas não mostrei no meu rosto. Só olhei
para ela enquanto o professor andava preparando a classe. Ele escreveu algo em
letras grandes no quadro branco, e o cheiro de marcador de tinta seca, de repente
encheu a pequena sala.
Eliza olhou para o professor e, em seguida, de volta para a amiga. Reconheci
a garota latina pequena demais – Gabriela Hernandez. Sammy quase socou a
garota por espalhar boatos sobre Darren dormir com ela. Foi a única vez que eu vi
Sammy realmente louca. Darren achou que a coisa toda, assim em suas palavras,
foram fodidamente quente.
Eliza se inclinou para mim e suprimi o desejo de me inclinar para longe. —

Então... Luc, diga-nos... o que você se lembra? — Ela ergueu as sobrancelhas com

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expectativa, como se de repente eu me inclinaria para ela e confessaria todos os
meus segredos mais íntimos. Eu resisti a cada desejo em meu corpo para fazer cara
feia e dizer-lhe para ir se foder.
Exalei lentamente e olhei de volta para minha mesa. Não falei sobre isso
com ninguém. Nunca disse nada à minha mãe. Nunca disse nada no
hospital. Nunca disse nada à polícia. Não tinha nada a dizer a ninguém, a não ser,
o que eu estava prestes a dizer para a garota intrometida ao meu lado.
— Nada, Eliza. Eu não me lembro de nada.
Ela suspirou, exasperada. — Oh, vamos lá, Luc, ninguém acredita
nisso. Quero dizer, como você se esqueceu de algo assim?
Gabriela apareceu ao lado dela. — Certo, isso deve ter tipo, cauterizado seu

cérebro ou algo assim. — Apertei meu queixo quando seu tom ficou pensativo. —
A menos que... você estivesse simplesmente muito bêbado para lembrar? Isso faz
sentido. — Olhei para elas quando elas acenaram uma para a outra com
conhecimento de causa.
— Eu não bebi! — Meu tom foi aquecido... E um pouco mais alto do que o
necessário. Cada cabeça na sala virou para mim e senti minhas bochechas ficarem
vermelhas. Grande.
— Lucas West. — O professor, o Sr. Davis, um homem grisalho com óculos
de lentes grossas e uma grande barriga, olhou para mim de frente da classe.
Cruzando os braços sobre o peito, ele olhou para mim enquanto Eliza e Gabriela
riam. — Que bom que você pode se juntar a nós hoje. Que tal fazer menos barulho,
enquanto você está aqui?
Ele levantou uma sobrancelha para mim e eu rapidamente olhei para a
minha mesa, bloqueando as vozes divertidas na sala. — Sim, senhor. — Eu
geralmente não dizia senhor para os professores, mas era uma maneira fácil de
deslizar para trás em suas boas graças e eu realmente só queria sentar lá e
silenciosamente desaparecer.
As meninas riram ao meu lado, mas não fizeram mais perguntas. Não teria
importância se elas fizessem; eu acabei de respondê-las. Minhas respostas nunca
importaram de qualquer maneira. Olhei para a cadeira à minha esquerda. Em

53
Inglês, Sawyer estivera naquele lugar e de repente eu desejei voltar a essa classe,
mesmo com Will e Randy lá. Sua presença era tão calmante.
Atualmente, um rapaz pálido e loiro, chamado Simon, estava sentado lá,
me ignorando. Esse assento deveria ter sido de Darren. Esta era a nossa aula
juntos este ano, apenas nós homens. Nós teríamos usado essa aula para recuperar
o atraso e os passeios, planos, sem as interrupções constantes de nossas belas,
mas tagarelas namoradas.
Darren era bom em encontrar coisas para fazer nesta cidade pequena, e
esta seria a aula em que estaríamos sintonizados para discutir o assunto. Imaginei-
o ali, um olhar irritado em seu rosto ao ouvir as baboseiras que o professor jorrava
sobre a guerra civil, e em voz baixa passando por cima de seu plano para raptar o
gato de seu vizinho e ver se a criatura miando conseguia encontrar o caminho de
casa a partir de uma milha de distância. Eu falei rapidamente para ele desistir
desse plano, no ano passado.
O resto da aula passou calmamente. Ninguém mais teve a coragem de me
perguntar qualquer coisa. Tenho certeza que todos ouviram a minha resposta, de
qualquer maneira. Mais uma vez, eu deixo a maioria das pessoas na sala sair antes
de mim – menos momentos difíceis assim. Voltei ao segundo andar para minha
aula de Filosofia. Era a última porta no corredor, e lentamente marchei em direção
a ela. Houve olhares e cochichos no corredor. Vagamente ouvi meu desabafo na
classe repetido novamente para mim e, claro, pelo tempo que andei no meio da
multidão cada vez menor de pessoas, a história foi alterada para que eu tivesse
gritado: Eu bebi.
Suspirei e afastei isso da minha mente. Não conseguia parar o trem de
fofocas, e não poderia alterar o seu curso. Essas pessoas precisavam de um vilão
e minha sobrevivência assegurara um para eles. Todos nós temos que jogar nossas
peças, certo?
Parei com a mão na porta da minha classe do terceiro período, de repente
nervoso. Não pelos olhares que eu ficava cada vez mais acostumado. Não, meus
nervos estavam assim pelo fato de que Lillian e eu planejamos assistir esta aula
juntos. Eu me inscrevi nessa aula, porque parecia boa para as aplicações da
faculdade. Lil assinou comigo, porque ela amava o assunto. Ela ainda tinha
objetivos elevados de se tornar uma conselheira, um dia. Eu não tinha certeza que

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demônios me assombraria quando eu abrisse a porta. Virei a maçaneta com o
sonho de ontem à noite na minha cabeça. Talvez não seria tão ruim imaginá-la
novamente. Eu meio que gostei de ver vislumbres de Sammy e Darren hoje, talvez
ver Lil assim, seria agradável.
Rapidamente abri a porta e entrei. Eu fiz um bom tempo e a classe só estava
meio cheia. Esperava que no meio do caminho um espectro de Lil pairasse no meio
da sala, mas não o fez. A sala estava vazia, uma sala de aula genérica do ensino
médio cheia de cartazes sobre de Sócrates e Freud nas paredes.
Corri para tomar um lugar na parte de trás, enquanto eles ainda estavam
desocupados. Felizmente, a nossa escola seguia a regra do primeiro a chegar, será
primeiro a escolher seu lugar. Os alunos começaram a se acumular, e como eu
poderia ter previsto, nenhum dos meus antigos colegas de equipe entrou pela porta,
optando por ficar onde era mais fácil conseguir um A. Mas uma surpresa agradável
entrou quando o sino tocou.
Sawyer passou pela porta, quando a coisa desagradável soou, e
rapidamente correu para um lugar. Ela parecia um pouco sem fôlego, enquanto se
sentava em seu lugar já tradicional à minha esquerda. Seus olhos cinzentos
voltaram a brilhar nos meus com um sorriso brincalhão em seus lábios. Ela sabia
que eu estaria aqui. Ela sabia que teríamos esta aula juntos.
Sorri enquanto observava seu trabalho em acalmar a respiração. Era um
longo caminho desde o edifício de ciência para o segundo andar do prédio
principal. Inclinei-me perto dela. — Você não planejou sua programação muito
bem.
Ela franziu o cenho quando tomou um par de respirações profundas. — Eu
planejei muito bem.
Sorri para ela. — Você acabou de passar do segundo andar, para o prédio
mais distante, e depois de volta para o segundo andar. Como é um bom
planejamento?
Seus lábios se torceram enquanto pensava em uma resposta. — Não me

inscrevi para os esportes este ano. — Sua cabeça indicou o caminho que tomara.

— Isso só compensa isso. — Balancei a cabeça para ela e ela suspirou, admitindo

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a derrota. — Eu registrei tarde o cadastro. Deram-me o que ainda estava em
aberto.
O sorriso saiu do meu rosto quando percebi que ela pegou os pontos que
foram desocupados... pelos meus amigos. Voltei-me para frente da sala, de repente,
tendo uma visão de Lillian – acima de Sawyer. Foi muito, muito difícil. Senti as
lágrimas se formando e o enorme desejo de correr. Fechei os olhos e tomei
respirações longas e profundas. Senti a mão de Sawyer no meu braço e senti aquele
calor tranquilo que ela parecia gerar por todo o caminho através do meu
casaco. Não me importa quem assistia no momento, eu levantei e agarrei a mão
dela com a minha própria. Apertei, e por longos minutos estávamos sentados na
fileira de trás, as nossas mãos entrelaçadas no caminho do corredor entre nós.
Finalmente me senti normal, o suficiente para abrir os olhos. O professor
já começara a aula e fazia a chamada; meu nome era o último, como de
costume. Enquanto esperava, ainda segurando a mão de Sawyer, senti os olhares
ao meu redor. Eu senti-os e os ignorei. Ouvi os muitos sussurros e ouvi o nome de
Sawyer repetido nos sussurros. Eu me senti mal que minha tentativa de mantê-la
fora do círculo de fofocas, esta manhã, por não fazer exatamente o que eu fazia
agora, falhou horrivelmente. Se eu já não tivesse conseguido isso ontem, eu
finalmente arrastei-a para a minha miséria.
Sentindo-me culpado, eu deixei cair a mão. Olhei para ela e pensei que ela
parecia magoada por um momento. O olhar se desvaneceu quando encontrou meus
olhos, então eu não podia ter certeza. Ela só me deu um pequeno sorriso
tranquilizador... e ele me acalmou. A paz em seu olhar tomou conta de mim, e me
senti voltando ao normal, o meu momento doloroso empurrado para trás. Não
podia pensar sobre Lil aqui ainda, não como os outros. Meu sonho trouxera todos
os detalhes dela para a superfície. Ela era cristalina na minha cabeça, e memórias
de nós agora me faria em pedaços. Foi muito difícil. Com ela, era muito difícil.
Perdi meu nome sendo chamado pela primeira vez e o professor teve que
repetir. Levantei o olhar e Sr. Varner olhava diretamente para mim; obviamente ele
sabia que eu estava aqui, mas esperava por uma resposta. — Aqui — eu
murmurei, e ele sorriu para mim.
O Sr. Varner era o equivalente masculino da Sra. Reynolds: jovem, elegante,
e como Sammy me informou uma vez – quente como o inferno. Havia rumores em
56
torno da escola que ele era uma espécie de playboy, cabelo grosso e escuro, olhos
azuis penetrantes e boa aparência de estrela de cinema global, eu podia vê-
lo. Darren me disse uma vez que ele ouviu que o Sr. Varner saía com os alunos às
vezes. Eu não achava que isso era verdade, e certamente ninguém nunca o pegou
ou o acusou de nada, mas as meninas da turma estavam todas olhando para ele
como se ele pudesse tentar varrê-las fora de seus pés a qualquer
momento. Enquanto os boatos flutuando em torno deste professor eram mais
socialmente aceitáveis do que as minhas fofocas, eu pensei que talvez, de todos os
professores da escola, ele entenderia minha situação e seria mais compassivo com
isso.
Eu estava errado.
Ele me repreendeu por uns bons cinco minutos pela ausência na classe no
primeiro dia de escola, e, em seguida, puniu a classe inteira com um trabalho para
sexta-feira, que ele altamente indicou que era culpa minha. As meninas na sala de
aula nunca perderam seu olhar de adoração para ele, só endureceram seus olhares
para mim, como se eu tivesse realmente dado a elas a tarefa. Decidi que nenhuma
quantidade de estudar filosofia me ajudaria a entender o gênero feminino – elas
eram apenas incompreensíveis.
Depois da aula, Sawyer deu a volta em sua mesa para vir e ficar ao meu
lado. Como a maioria dos alunos saiu da sala, ela indicou a porta com a cabeça,
seu cabelo longo e escuro fluía sobre o ombro com o movimento. Meus olhos
pousaram em sua jaqueta – minha jaqueta – e eu esperava que o meu nome ainda
estivesse coberto em suas costas, por causa dela.
— Vamos. — Ela colocou a mão no meu cotovelo e suavemente puxou, e
eu tive a súbita sensação de que ela realmente queria pegar minha mão de novo. Eu
debati sobre segurar a dela. Ela parecia tão agradável durante as aulas, mas eu
odiava a ideia de criar mais problemas para ela. Além disso, apenas alguns
estudantes viram nosso contato íntimo. Nós dois andando pelo corredor de mãos
dadas, mesmo que fosse apenas um gesto amigável, seria um anúncio em neon
nesta escola. Não queria ela sendo examinada, por isso fugi do seu toque e comecei
a andar em direção à porta. Ela franziu o cenho, mas me seguiu.
— Aonde você vai para a próxima? — Eu perguntei, quando começamos a
caminhar lado a lado no corredor.
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Ela entortou um sorriso. — Eu preciso fazer uma parada no meu armário
e então temos aula juntos.
Correspondi seu sorriso quando olhei para ela. Um dos benefícios de uma
escola pequena, suponho, é você topar um monte com os mesmos alunos após a
aula. Havia um intervalo de quinze minutos entre o terceiro e quarto período, então
tínhamos tempo para fazer vagarosamente nosso caminho até o primeiro andar,
onde estavam os armários dos veteranos. Pensei sobre a próxima aula e engoli um
caroço que estava de repente na minha garganta. Matemática. Todos nós teríamos
essa aula juntos. Nós faríamos o nosso próprio grupo de estudo e ajudaríamos uns
aos outros a passar nos testes. Ok, Lil, Sammy e eu estudaríamos e ajudaríamos
uns aos outros a passar pelos testes. O plano de Darren era copiar de Sammy.
Imaginei-a no corredor, enquanto nos aproximávamos dos armários. Ela
bateria forte no braço de Darren após ele dizer isso a ela e o informaria que ele
absolutamente não poderia enganá-la. Darren e eu trocaríamos pequenos sorrisos
– é claro que ela o deixaria trapacear. Não havia muita coisa que Sammy não
deixaria Darren fazer.
Fui até meu armário atribuído e parei diante dele, pegando os armários à
direita e à esquerda do meu. Darren subornara alguém no escritório no ano
passado para ter os nossos armários juntos. Lillian brincara na época que era
quase como se nós vivêssemos juntos enquanto estávamos na escola. Corri meus
dedos sobre o armário ao lado do meu, o que seria dela. Minha respiração começou
a ficar mais fraca.
Dedos tocaram os meus e eu me assustei, quase esperando ver Lillian
novamente. Olhei e vi Sawyer me observando com curiosidade, os dedos sobre os
meus no armário. Ela torcia a combinação da fechadura com a outra mão. Isso
finalmente me bateu, então, ela abria o armário de Lil. Choque tirou meu fôlego.
— Este é o seu?
Seu rosto estava curioso quando olhou para cima em meu rosto
empalidecido. — Sim... aquele é o seu?

Ela indicou aquele ao lado dela, e eu distraidamente assenti. — Deram-lhe

o de Lil — eu murmurei sob a minha respiração.

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— Lil? — Sua mão se fechou ao redor da minha, e ela parou de tentar abrir
seu armário. — Quem é Lil? Eu já ouvi o nome em sussurros, mas ninguém

realmente falará sobre ela... e ontem... — ela olhou para os meus olhos
arregalados. Não tinha certeza se eu poderia contar a ela sobre Lillian.
— Ontem? — Eu perguntei em voz baixa, tentando prolongar a minha
agonia.
Ela olhou para cima e para baixo no corredor, onde eu assumi que um
aglomerado de pessoas nos assistia estando ao lado um do outro com a mão sobre
a minha. Resisti à vontade de me afastar dela, para poupá-la dos rumores. Ela se
aproximou de mim, quando olhou de volta para o meu rosto, os nossos corpos
quase se tocando, e mais uma vez resisti ao desejo de ter algum espaço entre
nós. Ela não deve estar tão perto de mim. Eu não era bom para ela.
— Você me chamou de Lil ontem em Inglês... você parecia muito confuso.
Abaixei minha cabeça e fechei os olhos. Quase esqueci que eu ouvira a voz
de Lil e fiquei confuso, pensando por um momento que Sawyer era ela. Eu fui um
desastre emocional naquele dia... acho que eu ainda estava. Senti uma bolha de
lágrima sob a minha pálpebra e tentei fazer retornar para o meu corpo, mas
escapou com minhas palavras. — Lillian era minha namorada... ela morreu no
acidente.
O início de um soluço começou a sair e mordi meu lábio com força e
descansei minha cabeça contra o meu armário, não querendo quebrar no meio da
escola. A outra mão de Sawyer veio até as minhas costas, onde ela esfregou me
consolando por cima do meu casaco. Ela deu um passo ainda mais perto, por isso
ficamos pseudo-abraçados, o movimento me protegendo da vista do público e
criando uma pequena bolha de privacidade enquanto estávamos juntos, ao lado do
armário da minha namorada morta.
— Eu sinto muito, Luc. Eu não sabia.
Balancei a cabeça contra o metal frio e me concentrei em longas inaladas
pelo nariz e exalar pela boca. Eu não quebraria no corredor. Não em torno destas
pessoas. Sawyer colocou a cabeça contra seu armário e olhou para mim. Olhei para
ela quando outra lágrima rolou pelo meu rosto, e senti imediatamente a conexão
novamente, como se aqui estava alguém que conhecia a minha dor. Nossos olhos

59
se seguraram por longos segundos, e então ela soltou seu aperto sobre a minha
mão e afastou a lágrima do meu rosto.
Apenas quando me senti melhor, uma mão empurrou minhas costas, forte,
e me empurrou para os armários. Virei minha cabeça e automaticamente entrei na
frente de Sawyer. Josh ficou na minha frente. Seu rosto se contorceu em uma
careta e seus olhos escuros estalaram entre Sawyer e eu. Eu quase podia ver a
acusação nos olhos, Como você ousa seguir em frente! Será que Lillian, Sammy e
meu irmão não significam nada para você?
Engoli minha réplica irritada à pergunta não formulada e tentei lembrar-
me que, não muito tempo atrás, Josh foi um bom amigo... e ele era tudo que eu
deixei de Darren. — Josh, podemos falar sobre...?
No minuto em que meu tom calmante o atingiu, seu rosto se contorceu em
fúria. Ele não queria ouvir. Ele não queria pensar em mim como qualquer coisa,
além de uma criatura maligna, sem alma que devastou sua família. Era quase como
se ele tivesse morrido naquele carro, pois ele era inatingível para mim agora. Ele
trouxe as mãos para cima e me empurrou de novo, empurrando Sawyer e eu de
volta para os armários. Ela guinchou no último minuto e tentou afastar Josh,
enquanto ele gritava obscenidades para mim.
— Ei, parem com isso! — O treinador Taylor caminhou até onde um círculo
de alunos incentivadores estava reunido, os alunos incentivando Josh. Ele puxou
Josh de cima de mim enquanto os alunos começaram a gemer por causa da luta
encerrada. — Você! Para o escritório da diretora, agora!
Ele agarrou a camisa de Josh pelo colarinho e começou a arrastá-lo para
longe. Enquanto andava com ele, o treinador voltou para onde eu ainda me
inclinava contra os armários. — Eu quero falar com você mais tarde, West. — Ele
ergueu as sobrancelhas e deu-me o olhar que fazia a maioria dos calouros correr
para fazer o que solicitou. Não me intimidava, porém. Eu realmente não queria
ouvir o que ele tinha a dizer.
A multidão começou a dispersar depois do desaparecimento de Josh, um
monte deles me jogando olhares de mau humor, como se fosse minha culpa que o
treinador parara Josh de chutar a minha bunda. Balancei a cabeça e observei-os

60
sair. Sawyer abriu e fechou seu armário ao lado do meu e balançou a cabeça
também. — Nunca é um momento de tédio perto de você, não é?
Olhei para ela, querendo explicar e também não querendo
explicar. Finalmente, decidi que um pouco de informação era necessário. — Meu
melhor amigo Darren estava no acidente, bem como a sua namorada Sammy. Eles
morreram. — Balancei a cabeça na direção que Josh seguiu. — Esse é o irmão
mais novo de Darren.
Sawyer se virou para olhar atrás dela antes de balançar os cabelos escuros
ao redor para olhar para mim de novo. Seus olhos cinzentos se estreitaram em
raiva e eu interpretei o seu olhar. — Sim, ele me culpa pela morte de Darren. —

Olhei para o teto e fechei os olhos. — Nós costumávamos ser amigos e agora ele

me odeia... espalha mentiras sobre mim. — Eu tinha certeza de que mais do que
alguns dos rumores em torno da cidade eram continuamente circulados por causa
de Josh, e depois de testemunhar o meu momento de ternura com Sawyer, eu tinha
certeza que os rumores agora voariam sobre ela também. Não me surpreenderia
se, no final do dia, eu tivesse engravidado Sawyer. Muito engraçado, considerando
que eu ainda era virgem.
O tom de Sawyer combinava com o calor que eu vi em seus olhos. — Sem
ofensas para sua cidade natal, Lucas, mas estou começando a odiar essas pessoas.
Estalei meus olhos abertos e olhei para o rosto fofo e raivoso dela. Sorri um
pouco olhando para ela, pensando que sua irritação parecia algo como a versão
feminina de Darren. — É... às vezes eu odeio também. — Endireitei e desencostei
dos armários, decidindo naquele momento não usá-los. Prefiro arrastar uma
mochila pesada ao redor. — Mais um ano... isso é tudo que eu tenho que dar a
este lugar.
Ela finalmente sorriu para mim e, juntos, caminhamos para a aula de
matemática.

61
Capítulo 4
Parece Lar para mim

Matemática era ensinada pela Sra. Chambers. Ela era pequena e gorda com
cabelos castanhos crespos e um vigor com a matemática que eu nunca
entenderia. Ela andou na frente da sala, claramente animada para ensinar nossas
mentes a absorver todas as facetas intrincadas de equações avançadas. Enquanto,
Sawyer e eu pegávamos os assentos em nossa seção preferida na fila muito atrás,
eu esperava que ela permitisse calculadoras.
Como de costume, vários alunos olharam para mim quando entraram na
sala. Vários olhavam para Sawyer agora, também. Ignorei os olhares; Sawyer
calmamente devolveu. Eu me arrepiei quando três membros da equipe de futebol
entraram. Eles se sentaram em volta da menina mais inteligente da nossa
classe. Com o olhar de adoração que ela deu a cada um deles, eu tinha certeza que
eles ganharam um tutor e não teriam problemas em passar. Cada um deles me deu
um olhar duro antes de se estabelecer em seus lugares, felizmente, perto da frente

62
da sala. Nenhum deles me incomodava fisicamente, apesar de tudo. Talvez Will
tivesse me proclamado seu bode expiatório e ninguém mais foi autorizado a mexer
comigo. Ou talvez o plano fosse apenas me ignorar. Afastei as memórias de cada
um deles me aplaudindo nas costas depois de uma vitória difícil no ano anterior.
Era difícil de acreditar que uma vez eu considerei o time quase uma – família.
Sra. Chambers começou energicamente a fazer a chamada. Ela gaguejou
em meu nome e olhou para mim com uma cara de surpresa, como se acabasse de
perceber quem eu era, e que eu estava em sua classe. Aparentemente, as coisas
além de adição e subtração levavam um tempo para filtrar em seu cérebro. Eu
disse: — Aqui — e olhei para a minha mesa, não querendo ver outro professor me
dando olhares tanto condenando ou simpatizando.
A classe passou com o tédio entorpecente de um assunto sem interesse que
está sendo empurrado goela abaixo. Matemática não era um ponto alto para mim
em um dia bom... e hoje não era exatamente um dia bom. Foi melhor do que ontem,
mas ainda assim, não é um grande dia.
Eu me distraí no meio da aula e visões de Sammy suspirando e inclinando
seu queixo em sua mão na minha frente encheram minha cabeça. Imaginei Darren
ao lado dela sorrindo indecentemente e sussurrando palavras sujas. Ela rindo
baixinho e sussurrando para ele calar a boca, o que só o fazia usar palavras ainda
mais sujas. Eu os assisti jogar este jogo antes. Ao final da aula, ela estaria corando
fracamente, tanto envergonhada... quanto possivelmente excitada. Eu tentei não
pensar sobre isso de qualquer maneira.
Senti uma visão de recordação de Lillian ao meu lado, mas não me virei
para olhar. Na minha visão, a ouvi rir suavemente para Darren e Sammy. Fechei
os olhos ao ouvir aquela risada na minha cabeça. Era o som mais bonito do
mundo. Lentamente abri meus olhos e considerei virar minha cabeça para deixar
a visão me tomar completamente... mas resisti. Lembrei-me do meu sonho e da dor
que senti quando esse sonho terminara. Por mais que eu gostasse de viver nas
memórias dela, se eu fizesse isso agora, provavelmente começaria a berrar.
Em vez disso, apertei os punhos e cravei os dedos em minhas mãos,
banindo a imagem de Darren e a paquera de Sammy, forçando minha mente a
voltar ao presente. Lutei para absorver a lição sendo ensinada, mas senti olhos em
mim, e finalmente, virei minha cabeça. Sawyer me olhava com um olhar um pouco

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preocupado. Ela provavelmente viu meu torvelinho de emoções, e após o nosso
momento nos armários, deve ter pensado que eu teria um completo colapso ou iria
enlouquecer. Forcei meu corpo a relaxar e sorri para ela, deixando seu rosto
completamente livre da memória, me acalmar novamente. Se eu quisesse suportar
um ano disso, eu realmente precisava desligar melhor a minha mente.
Sawyer sorriu para mim, seus dedos girando em torno de um fio de cabelo
escuro. Ela olhou para a professora ruidosa e, em seguida, de volta para mim.
Inclinando a cabeça, ela murmurou: — Você está bem?
Forcei um sorriso mais largo e acenei com a cabeça, voltando meu olhar
para a professora. Sim, eu definitivamente precisava relaxar.
Depois de matemática foi o almoço. Eu sentei na minha mesa e fingi folhear
o livro de matemática, como se estivesse terrivelmente interessado no assunto. Eu
não estava. Só queria que a sala toda saísse antes de eu cair fora. Não pensava em
ir para o refeitório com o resto deles. Não tinha certeza de onde eu iria, mas fazer
uma caminhada de desfile através do refeitório não era algo que eu queria
participar.
Infelizmente, o meu interesse fingido em matemática levou a Sra. Chambers
a se aproximar e conversar na minha orelha sobre isso. Ela parecia alheia aos
sussurros e rumores em torno de mim quando os outros alunos deixaram a sala
de aula, os atletas me dando um último olhar antes de partirem com sua professora
de verdade, a estudante nota A que claramente os adorava.
Com sua personalidade enérgica, era difícil avaliar o que a Sra. Chambers
pensava sobre mim e os destroços. Isso não tinha nada a ver com a matemática,
de modo que ela não discutia o assunto. Mas ela entrou em uma extremamente
longa palestra sobre as formas infinitamente surpreendentes que a trigonometria
poderia ser aplicada à vida cotidiana.
Acho que ela teria conversado comigo por todo o período de
almoço. Felizmente, Sawyer suavemente interveio e educadamente pediu licença
por nós dois. Sra. Chambers parecia relutante em deixar ir o seu potencial
protegido (provavelmente fingi meu interesse um pouco bem demais ao assentir e
concordar com ela em todas as oportunidades possíveis), mas, eventualmente, a
mulher enérgica recuou e Sawyer e eu deixamos a sala de aula vazia.
— Obrigado — eu murmurei enquanto caminhávamos pelo corredor vazio.
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Ela sorriu para mim. — Não é um problema. Eu não sabia que você era tão
nerd.
Correspondi o seu sorriso enorme, quando olhei nos olhos cinza pálido e
cabelos incrivelmente escuros. — Esse sou eu... idiota total.
Ajustei minha mochila pesada e enfiei as mãos nos bolsos do meu
jeans. Sawyer atirou o braço pelo buraco ao longo do meu lado que eu criei
empurrando meus dedos em meus jeans e andou perto de mim. Era uma espécie
de movimento íntimo, e de imediato, as memórias de andar nestes corredores com
Lil, dessa forma, me agrediram.
Lembrei-me dela, olhos azuis olhando para os meus castanhos, enquanto
ela encostava a cabeça no meu ombro. — O que você quer fazer no

almoço? Podemos comer com Darren e Sammy... ou... — ela mordeu o lábio

manchado de pêssego e ergueu as sobrancelhas sugestivamente, — poderíamos

tentar fazer no armário de novo? — Ela riu e me abraçou apertado. — Talvez não
sejamos interrompidos por outro casal, desta vez?
Fechei os olhos e parei de andar. Afastei meu corpo de Sawyer, sabendo que
eu estava sendo rude, mas precisando que a memória de Lillian me deixasse. Ainda
não... Isso machuca muito. Senti meus olhos e a minha respiração se
acelerar. Deus, acalme-se. Eu deveria ser capaz de pensar nela. Não posso, pelo
menos, pensar nela?
— Luc?
Por um momento, a visão ainda era tão forte que ouvi a voz de Lil novamente
e não Sawyer. Empurrei esse sentimento para trás, junto com essas lágrimas
teimosas, e forcei os olhos a se abrirem. Sawyer estava lacrimejada na minha visão
e eu sabia que, pela segunda vez hoje, eu estava prestes a derramar algumas
lágrimas na frente dela. Ela tinha um olhar tão dolorido e compassivo em seu rosto
que senti meu corpo relaxar e minha respiração voltar. Concentrei-me em coisas
sobre Sawyer que não eram nada como Lil, nada como alguém que poderia atiçar
uma memória em mim – a inclinação do nariz, o ângulo de seu queixo, a ligeira
formação de amêndoa de seus olhos que sugeria herança asiática em algum lugar
profundo em seu sangue.

65
Concentrar-me em sua singularidade desligou minha mente, e eu dei-lhe
um leve sorriso enquanto seus lábios se viraram para uma pequena carranca. —

Desculpe — eu murmurei quando retomei a caminhada.


Ela esperou um par de passos e, então, me alcançou com a cabeça
abaixada, com as mãos agora no revestimento do meu casaco esportivo que ela
usava. Perguntei-me por um momento se ela leu demais em eu dar-lhe aquele
casaco ontem. Talvez ela pensasse que éramos um casal agora? Se for assim, a
minha rejeição bem agora provavelmente feriu seus sentimentos. Acho que eu devia
uma explicação a ela. Olhei para onde ela estudava o chão enquanto
caminhávamos.
— Não é você, Sawyer. — Balancei a cabeça de volta para onde eu tive a
minha mais recente histeria. — Lil e eu costumávamos... — minha voz embargada

e precisei limpá-la para continuar a falar: — ... nós costumávamos ser assim e,
por um momento, me lembrei de como era com ela e não posso...
Fechei os olhos e engoli o nó em minha garganta. Senti a mão de Sawyer no
meu braço e fiz uma pausa para olhar para ela. — Me desculpe se eu tiver que te
afastar, às vezes. Eu apenas não estou pronto para... estar perto de alguém...
agora.
Deus, eu esperava que ela não se ofendesse com isso.
Ela não pareceu estar. Suas bochechas coradas quando a compreensão a
inundou. Ela olhou para o corredor e depois de volta para mim. — Eu sinto muito,

Lucas. Eu não tentava... — ela encolheu os ombros e olhou um pouco

embaraçada. — Eu não tento... estou muito confortável com você. Mas eu sei que
você está passando por algo terrível e, provavelmente, não sente o mesmo por
mim...
Sorri e inclinei a cabeça. — Você não tem ideia, Sawyer... nenhuma. Acho

que eu não teria durado 20 minutos hoje se não fosse por você. — Balancei minha

cabeça. — Se você soubesse quanta... paz que eu encontro com você.

Ela me deu um sorriso, mas depois seu rosto acalmou para a seriedade. —
Eu não tento substituí-la, Luc. Só quero ser sua amiga.

66
Olhei para ela por longos segundos, enquanto um silêncio confortável
construiu entre nós. Finalmente, eu sussurrei: — Você é minha amiga... você é a

única que eu tenho. — Eu posso conhecê-la só por um dia, mas a verdade dessa
frase soou através de cada parte de mim.
Seus olhos lacrimejaram e ela deu um passo incerto em minha direção,
como se quisesse me abraçar, mas não tinha certeza se isso era certo. Fechei a
distância para ela, trazendo meus braços em torno dela tão platonicamente
possível. Nós dois suspiramos no conforto que o abraço nos trouxe. Depois de um
longo momento, nos separamos e continuamos nossa caminhada para fora do
prédio para... algum lugar.
Acabamos comendo nosso almoço em seu Camaro no estacionamento. Foi
perfeito. Ela estacionou em um canto do estacionamento e as poucas pessoas que
vimos não foram tão longe para nos incomodar. Ela apertou o botão em seu carro
e liguei o rádio para uma estação de rock dos anos sessenta. Eu relaxei de volta no
banco e peguei a minha comida da minha mochila; em algum momento de minha
neblina na noite passada, eu fiz um almoço. Quando Sawyer não pareceu ter
qualquer coisa, além de uma maçã na bolsa, dei-lhe a metade do meu sanduíche e
um saco de pretzels. Ela sorriu desculpando-se, mas não recusou minha oferta, e
terminamos o período de almoço no conforto do seu pequeno carro.
Quando o relógio em seu braço mostrou que o nosso tempo livre acabou,
nós voltamos para o campus para terminar o nosso dia. Sawyer fez seu caminho
para o seu quinto período na aula de informática, onde planejava matar o tempo
na Internet sempre que podia. Sorri para ela quando nos separamos. Tinha
Astronomia, no prédio retangular que abrigava todas as aulas de
ciências. Enquanto caminhava pela calçada sob o beiral lembrei-me que esta
deveria ter sido a minha classe com Sammy e Lil. Elas se sentariam lado a lado na
minha frente, fofocando sobre a mais recente fraqueza das celebridades ou deslize
fashion. Sorri quando imaginei o cabelo avermelhado escovado de Sammy contra o
cabelo pálido de Lil. Imaginei Lil girando em seu assento para piscar para mim, e
senti meu coração se apertar. Engolindo em seco, eu bani a visão que não estava
pronto para ter ainda e caminhei até a porta do lado de fora que levava a minha
turma.

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Imediatamente avistei Josh quando abri a pesada porta. Seus olhos fixos
nos meus se estreitaram com raiva, um estado em que ele parecia residir
permanentemente. Ele estava sentado ao lado de algumas líderes de torcida e
Randy, do time de futebol. Ele olhou para Randy e sussurrou algo, então Randy
me olhou entrando na sala e fez uma careta. Grande.
Mantendo a cabeça abaixada, eu caminhei para um lugar vazio na parte de
trás, do outro lado da pequena sala. Infelizmente, Josh tinha outras ideias. Ele
atravessou a sala para parar na minha frente. Contei até três, enquanto ele estava
ali, com os punhos cerrados ao lado do corpo. O professor estava na frente da sala,
escrevendo algo no quadro enquanto as crianças atravessavam a porta, então
percebi que Josh não tentaria me bater. Respirando fundo, eu olhei para ele.
— O que, Josh? — Eu disse calmamente.
Sua mandíbula antes apertada relaxou. — Eu tenho detenção por sua

causa, idiota. — Eu me perguntava como ele bater em mim contra um armário foi

minha culpa, mas não disse nada. Ele se inclinou para perto de meu silêncio. —
Finalmente faço parte do time do colégio este ano. Se você conseguir me expulsar
da equipe, eu vou... eu vou... — ele procurou meu rosto enquanto procurava as
palavras.
— Você o quê, Josh? Vai me matar? — Meus lábios se curvaram em um
sorriso cansado.
Seu rosto ficou todo vermelho enquanto olhava para mim com uma raiva
súbita. Virei a cabeça para olhar para frente quando senti os olhos na sala
assistindo a cada movimento nosso. Eu tinha certeza que mais do que alguns
daqueles olhos estavam dispostos para Josh finalmente me bater. De uma forma
estranha, eu queria que Josh me batesse de novo. Talvez fosse tirá-lo do seu
sistema neste momento, se ele fizesse isso na frente de tantas pessoas, e talvez
então nosso relacionamento poderia ser... bem, pelo menos não tão antagônico. O
professor pigarreou quando o sino tocou, e com o canto do meu olho eu vi Josh
mexer um pouco com o som inesperado.
Josh olhou em volta para os alunos sentados. Ele se virou para mim e me
olhou de cima a baixo. — Isso não acabou, Lucas.

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Eu suspirei enquanto ele voltava ao seu lugar. — Eu não pensei que tivesse,
Josh.
Ele me lançou um olhar uma vez que se sentou com Randy, e me perguntei
se ele me ouviu. Balancei minha cabeça e pensei que Darren daria um pontapé em
seu irmão por estar tão antagônico comigo. Darren e eu nos dávamos muito bem,
em sua maior parte, mas certamente tivemos nossas desavenças antes. Ele
realmente me golpeou uma vez quando pensou que eu havia tocado em Sammy.
Alguém na escola começou o rumor de que Sammy e eu nos beijamos na
biblioteca, e Darren imediatamente me deu um soco, logo que me viu.
Isso me atingira, especialmente desde que eu ainda não ouvira o rumor. Eu
andava com Sammy no momento e ela brigou com Darren após ele me bater. Ela
começou a rir quando ele confessou por que fizera isso, e então eles passaram cinco
minutos sugando o rosto um do outro enquanto eu esfregava meu maxilar
dolorido. Darren pediu desculpas para mim e eu aceitei seu pedido de desculpas...
batendo com força nele de volta. Olho por olho, certo?
Quando a aula começou, eu sorri com a memória do rosto chocado de
Darren. Sua surpresa rapidamente se transformou em diversão, e fingimos lutar
por quinze minutos, enquanto Sammy riu de nós dois. Tenho certeza de que as
palavras: — Vocês são idiotas — cruzou os seus lábios em algum ponto. Nunca
descobri quem começou aquele pequeno rumor. Tenho certeza de que quem quer
que fosse, provavelmente, estava feliz ao me ver agora.
A aula passou rapidamente. Na verdade, achei o assunto fascinante e
prestei atenção no professor em vez de sonhar com os meus distantes amigos, como
fiz muitas vezes hoje. Muito cedo, a campainha tocou, e nosso professor, um
homem mais velho enrugado chamado Sr. Thomson, quase careca e com óculos de
aros grossos era o epítome de um nerd da ciência, fez um gesto, uma espécie de
adeus com a mão, e se virou para o quadro, apagando seus desenhos. Esperei que
Josh saísse antes de mim. Ele me deu um olhar que eu me acostumei a ver nele, e
então saiu pela porta com Randy e uma das líderes de torcida loira.
Eu me levantei e peguei minha bolsa antes de fazer o meu caminho para a
saída. Josh não estava do lado de fora esperando por mim como eu esperava que
ele estivesse, e além de alguns olhares, eu caminhei para a minha última aula em
paz – arte. Nós quatros deveríamos estar nessa classe, também. Ela seria a nossa
69
aula divertida antes de Darren e eu irmos para a prática do futebol e as meninas
para a prática de voleibol.
Arte estava em um edifício que quase parecia um barraco, em frente à porta
dos fundos do ginásio. Eu entrei na classe e encontrei as pessoas já desenhando
ou rabiscando no papel e não prestaram atenção em mim. Apreciando a
invisibilidade, eu encontrei um assento.
Sentei-me em um cavalete e esperei que a professora, a Sra. Solheim, uma
mulher que ainda parecia estar presa nos anos 60, com cabelos ondulados até a
cintura e um olhar de paz, graças à automedicação, no rosto, caminhasse até
mim. Seu sorriso era brilhante quando se aproximou, e o calor me chocou por um
momento... até que ela me chamou de Tom. Eu balancei a cabeça e disse: — Não,

eu sou o Lucas. — Então, ela franziu a testa e balançou a cabeça lentamente, como
se lembrasse de repente quem eu era... e o que eu fiz.
Ela olhou para um par de cadeiras vazias na sala, e eu tinha a sensação de
que ela via meus amigos, também. Segui seu olhar e vi Darren momentaneamente
fazendo um sinal de ela é maluca com os dedos, fazendo a minha visão de Sammy
rir em sua mão. Antes que eu pudesse impedir, pensei em Lil dando a Darren um
olhar de censura, seus lábios carnudos franzidos em desagrado. Lembrei-me de
meu sonho, de beijar aqueles lábios ontem à noite, e senti meus olhos ficarem
pesados enquanto seus cabelos bonitos e brilhantes dançavam ao redor de seus
ombros, enquanto balançava a cabeça para Darren. Minha respiração parou
quando seu rosto se virou para mim e assisti com admiração seus lábios se
curvando em um sorriso fácil e ela abriu a boca para falar.
— Lucas?
Pisquei para a voz desconhecida vinda de seus lábios e olhei para a Sra.
Solheim, que tentava explicar a tarefa que eu perdi na introdução de ontem. Eu
estava completamente envolto em minhas memórias e me distraí. Não tinha ideia
do que ela falava. Engoli a dor na garganta ao ver Lil tão claramente de novo e me
forcei a concentrar-me na professora.
— Eu sinto muito... o quê?
Ela suspirou, revirou os olhos e explicou a tarefa para mim novamente. Seu
olhar para mim como se eu estivesse no espaço e não com ela, era meio que

70
engraçado, mas não poderia encontrar força em mim mesmo para rir. Essa visão
da minha namorada foi repentina. Eu não estava preparado para isso, não que eu
já estivesse. Quando a professora foi embora, eu senti o início da dor no meu peito,
o desespero voltando. Girei meus olhos ao redor da sala, desejando que Sawyer
tivesse essa aula comigo também, mas ela não o tinha. Ela não estava lá. Preciso
passar por isso sozinho.
Fechei os olhos e imaginei o rosto de Sawyer – seu cabelo preto como a noite
e olhos cinzentos de tempestade. Era uma combinação estranha, mas muito
atraente, também. A visão de seu rosto não detinha recordações adicionais de meus
amigos, apenas uma paz que eu quase podia sentir lavar o meu corpo. Minha dor
momentaneamente me deixou. Abri os olhos e peguei um lápis sobre o
cavalete. Nossa tarefa era desenhar algo que me fazia sentir em casa. Naquele
momento, e tão estranho quanto o pensamento era, só uma coisa me fez sentir em
casa para mim. Com muito cuidado, e em detalhes, tanto quanto eu poderia fazer
em uma hora, comecei a desenhar o seu rosto... O rosto de Sawyer.
Depois da aula, eu estava um pouco surpreso ao ver seu rosto real
novamente. Eu saía do prédio e debatia se ia a pé para casa quando quase dei de
cara com dela. Ela acabara de sair de uma das salas ligadas a parte de trás do
ginásio. Uma das salas era usada para a banda, a outra para o coral. Eu me
perguntava a qual delas ela pertencia, mas não perguntei porque parecia que ela
havia chorado. Ela se assustou quando esbarrou em mim e olhou para o meu
rosto. Minha jaqueta estava em suas mãos e sua bolsa estava pendurada a esmo
no ombro, papéis amontoados visíveis na parte de cima, como se ela tivesse fugido
da sala às pressas.
— Sawyer, você está bem?
Ela passou a mão sob as pálpebras e deu um sorriso rígido. — Sim, eu

estou bem. — Ela lançou um olhar por cima do ombro, e meus olhos a seguiu. Ela
olhava uma garota alta de cabelos cor de mel que saía da sala do coral. Fiz uma
careta quando a reconheci – Brittany Faulkner. A família de Faulkner era a mais
velha em nossa pequena cidade. Seus antepassados foram os fundadores da
cidade, na verdade. Isso mesmo – nossa cidade realmente teve Malucos Pais
Fundadores. A cidade ainda era grande em termos de patrimônio e todos os

71
Faulkners tinham uma atitude superior. Eles também tinham uma boa quantidade
de dinheiro para somar com o prestígio, e meio que governavam a cidade. E
Brittany... governava a escola.
Ela era uma parte do círculo social com Darren, Sammy, Lil e eu. Ela
também era uma daquelas pessoas que eu não estava certo do porque éramos
amigos dela. Ela não estava em boa forma. Mas era atraente, muito atraente, e
estava de olho em mim desde a nona série. Ela era, na verdade, a primeira menina
que me deixou tocá-la. Aconteceu após minha prática no primeiro ano, e eu sempre
soube que não teria necessariamente que parar minhas mãos de levantar a sua
camisa. Eu sempre soube que poderia ir muito mais longe com ela... eu só não
queria.
Sawyer rapidamente desviou o olhar do brilho de Brittany quando os olhos
castanhos de Brittany nos varreram. Continuei a olhar para ela, perguntando-me
o que ela fez ou disse a Sawyer. Um olhar estranho cruzou seu rosto; seus olhos
se estreitaram para mim com desprezo, muito parecido com Josh, na verdade, mas
seus lábios se curvaram em um pequeno e convidativo sorriso, como se eu ainda
pudesse fazer mais do que apenas senti-la... ela apenas me odeia ao mesmo tempo.
Eu franzi a testa ao vê-la me observando.
Brittany sorriu e depois se afastou. Ela estivera num acesso de raiva perto
de mim, desde que comecei a namorar Lil, talvez mesmo antes disso, mas
definitivamente depois de Lil e eu nos unirmos. Eu suspeitava que ela estivesse
com ciúmes, mas ela nunca realmente agiu como se estivesse. Era apenas um tipo
estranho de sentimento que eu costumava ter enquanto estava perto dela. Uma luz
súbita explodiu na minha cabeça enquanto me perguntava se ela era a pessoa que
costumava espalhar rumores fraudulentos sobre mim.
Depois que ela foi embora, concentrei a minha atenção de volta em Sawyer
colocando meu casaco de volta. — Ela está te incomodando? — Perguntei a ela.

Ela balançou a cabeça. — Não se preocupe com isso, Luc. Eu posso lidar
com putas.
Eu fiz uma careta e comecei a responder quando ela me olhou e manteve
meu olhar. Seus olhos voltaram à sua cristalina paz e sua voz caiu para aquele tom
estranhamente sério. — Eu lidei com muito pior. Sou capaz de lidar com ela. —

72
Ela balançou a cabeça enquanto eu me perguntava o que ela queria dizer. — Não
é nada.
Dei de ombros, pensando que ela me diria quando e se estivesse
pronta. Uma ideia me ocorreu quando percebi que eu passei o dia todo na escola e
agora eu estava livre. Sorri verdadeiramente pela primeira vez hoje. — Nós

terminamos Sawyer... estamos livres. — Sorri mais amplo quando ela me deu um

sorriso torto. — Quer vir até a minha casa? — Inclinei-me e levantei uma

sobrancelha. — Temos Hot Pockets.


Ela riu e começou a acenar com a cabeça, mas, em seguida, ela fechou os
olhos e seu olhar feliz se transformou em um descontente. — Ugh, eu não posso.

— Comecei a perguntar, porque meu rosto caiu também, mas ela respondeu antes
que eu pudesse. — Eu tenho que me inscrever no Clube Seguro e Sadio. — Ela

suspirou e chutou uma pedra no chão. — Parte da minha liberdade condicional

— ela murmurou com tristeza.


— Oh. Você está se juntando ao clube da pureza... realmente?
Ela olhou para mim e fez uma careta. — Não por escolha. Era a única

maneira dos meus pais me darem um pouquinho de folga. — Seus ombros caíram
enquanto falava.
Levantei uma sobrancelha para ela quando olhei sua expressão abatida. —
Você queimou sua antiga escola ou algo assim?
Diversão iluminou seu rosto enquanto ela ria. — Eu gostaria. — Quando

sua risada desapareceu, seus olhos assumiram um olhar cauteloso. — Não, foi...

outra coisa. — Ela olhou para longe, obviamente não querendo falar sobre isso, e
eu deixei a conversa. Mais uma vez, ela me diria quando estivesse pronta. Eu não
estava prestes a empurrar.
— Tudo bem, então... vamos lá.
Ela olhou para mim com uma cara satisfatoriamente assustada. — O
quê? Você vem?
Dei de ombros. — Não tenho mais nada para fazer... e preciso de uma
carona para casa.
73
Radiante, ela me abraçou apertado. Eu saboreei o calor do seu abraço e
fiquei encantado por realmente fazer alguém nesta escola feliz... por ficar. Eu ri e
abracei-a de volta. Ela se afastou de mim abruptamente e parecia um pouco
envergonhada por seu súbito ataque. Eu ri de novo com o olhar em seu rosto,
quando começamos a voltar para o prédio principal.
Passamos por grupos de pessoas indo para o estacionamento, e assisti
outros grupos de crianças sair para os inúmeros ônibus estacionados esperando
por eles. Vários alunos nos olharam caminhando juntos, mas os ignoramos.
Estávamos ficando bons nisso, embora eu ainda me sentisse um pouco mal que só
a minha presença causava uma pequena tempestade de fofocas em torno dela. Eu
esperava que Brittany não estivesse atacando-a por minha causa... talvez por ela
usar a minha jaqueta, ou algo estúpido assim.
— Você não tem treino? — Ela perguntou enquanto caminhávamos, os
dedos pegando nas mangas da minha jaqueta, seu hábito de brincar com eles ainda
em pleno vigor.
Sorri tristemente quando olhei para ela. — Não. Não este ano. Não mais.

— Eu pensei sobre Josh, Randy, Will e todos os outros da minha antiga equipe
reunidos com o treinador no campo agora mesmo. Embora eu estivesse feliz por
não encontrar qualquer um deles mais hoje, uma parte de mim sentia falta da
minha velha rotina. Mas isso mudou, junto com todo o resto.
Sawyer olhou para mim com olhos curiosos. — Simplesmente não parece

mais tão importante — respondi a sua pergunta não formulada em voz baixa. Seus
olhos claros me olharam com um profundo entendimento e ela balançou a cabeça,
como se soubesse exatamente o que eu quis dizer. Sorri e senti aquela profunda
conexão enquanto andamos o resto do caminho em silêncio.
O clube da pureza se encontrava no primeiro andar do prédio
principal. Quando nos aproximamos da porta da sala de aula, vimos o cartaz feito
à mão sobre a janela – Clube Seguro e Sadio: porque nos preocupamos com
você. Revirei os olhos. Deus, eu realmente não queria estar aqui, mas não queria
me separar de Sawyer, ainda. Eu ainda esperava que ela viesse mais tarde. Faria
a noite passar muito mais rápido se eu pudesse compartilhar um pedaço dela com
ela.

74
Sawyer colocou a mão na maçaneta e se virou para olhar para mim. Ela
revirou os olhos, também, e suspirou. — Pronto? — Ela murmurou.

— Claro — eu respondi, quando ela abriu a porta.


A sala não estava muito cheia, não é muito surpreendente, eu
suponho. Havia talvez oito pessoas lá e o professor orientador, a Sra. Reynolds. Ela
se iluminou quando Sawyer entrou na sala; e eu pensei que ela começaria a brilhar
quando reparou em mim.
— Sawyer, Lucas. Estou tão feliz que vocês decidiram se juntar a nós. —
Ela se aproximou e colocou a mão no meu ombro e outra vez, eu senti que sua
declaração era apenas para meu benefício. Demos-lhe sorrisos indiferentes e ela
nos dirigiu a alguns lugares vazios.
Uma onda de sussurros nos seguiu quando caminhamos para o fundo da
sala. Sentamos em um par de mesas, nos pressionando juntos e balançando os
pés na extremidade. Esperamos em silêncio, enquanto mais alguns estudantes
entravam. Sawyer olhou para baixo e começou a brincar com a barra da manga da
minha jaqueta ao redor de seu pulso, enquanto eu esquadrinhava a sala. Peguei
mais do que um par de pessoas dando-me olhares curiosos. Um casal sorriu
ironicamente e um deles até deu um sorriso encorajador, mas a maioria franziu a
testa um pouco, com certeza eu estava aqui apenas para zombar de seu clube
estúpido, provavelmente. Bem, eu não estava. Eu não estava aqui para zombar ou
me envolver. Eu estava aqui para passar o tempo com Sawyer. Como os olhares
continuaram, eu comecei a me perguntar se isso era uma má ideia e se não deveria
apenas me separar dela. Oh bem.
Eventualmente Reynolds começou a reunião e agradeceu a todos nós por
vir. Ela assegurou a todos que, juntos, poderiamos ajudar a orientar o corpo
discente para uma vida limpa e sóbria. Mordi de volta um sorriso divertido. Um
pequeno clube pararia estudantes do ensino médio de se rebelar com festas
secretas e álcool obtido de forma ilegal? Eu não penso assim. Sawyer riu baixinho
ao meu lado, e então, habilmente trocou para uma tosse na mão quando um casal
olhou para trás e para ela. Bati em seu ombro com o meu e sussurrei para ela levar
isso a sério. Ela olhou para o meu meio sorriso e riu.

75
Após as apresentações, passamos uma hora escolhendo os cargos do
clube. Os discursos para o potencial presidente duraram quinze minutos. Mediante
o voto, eu estava pronto para sair, mas permaneci lá e gostava da presença de
Sawyer na mesa ao meu lado enquanto sussurramos discursos mais interessantes
para os candidatos durante toda a reunião. Sawyer quase me fez rir em voz alta
várias vezes com seu senso de humor seco. De certa forma, ela realmente me
lembrou de Darren, e tive a súbita sensação de que ele teria gostado dela.
Felizmente, nem Sawyer nem eu fomos nomeados para quaisquer posições,
e, eventualmente, as eleições terminaram com Sally Hoffen ganhando a cobiçada
posição presidencial. Peguei minhas coisas para sair de lá, e quando ia perguntar
a Sawyer se ela ainda queria vir, a Sra. Reynolds veio para o nosso lado.
— Lucas... eu poderia falar com você por um momento? — Seu rosto jovem
parecia muito preocupado, e me encolhi com o que ela queria. Eu não conseguia
negar um pedido direto feito por um professor, no entanto.
— Hum... claro — disse lentamente.
Ao meu lado, Sawyer pendurou a bolsa no ombro e me deu um olhar de
simpatia. — Desculpe, Luc, não posso ficar por aqui. Meus pais me esperam em

casa logo após a reunião. — Meu rosto caiu enquanto eu olhava para ela. Droga,
eu esperava que pudéssemos sair mais, mas ela precisava ir. Droga, eu teria que
ir a pé para casa agora também. Ela colocou a mão no meu braço e murmurou: —
Tenha uma boa noite. Até amanhã.
Balancei a cabeça e vi a sua presença reconfortante sair da sala. Com um
suspiro, me virei para enfrentar a Sra. Reynolds, que assistia Sawyer sair
também. Finalmente, ela se virou para mim e me encarava com seus lábios
comprimidos em uma linha fina. — Você não leva isso muito a sério. — Eu franzi
a sobrancelha enquanto tentava entender o que ela falava. Vendo a minha
confusão, ela preencheu os espaços em branco. — A reunião, todo o tempo você

distraía ou falava com Sawyer. — Ela baixou a voz e se inclinou para mim,

trazendo-lhe a mão de volta ao meu braço. — Você, de todas as pessoas, Lucas,

deve levar isso a sério. Estamos aqui para ajudá-lo. — Sua voz transmitia a sua

76
verdadeira preocupação com o que viu claramente como um adolescente
severamente perturbado, e imediatamente me irritei com a implicação.
Eu me afastei dela. — Vim aqui por Sawyer. — Balancei minha cabeça, de

repente sentindo muita raiva. — Não estou interessado em seu pequeno clube. —
O sarcasmo na minha voz era inconfundível, e Reynolds endireitou-se e recuou um
passo.
Ela cerrou o maxilar com o meu tom e seus olhos brilharam com algo que
quase parecia raiva, também. — Bem, para o seu futuro... espero que você

reconsidere. — Seu rosto se suavizou enquanto sua súbita raiva saiu. — Nós
estamos sempre aqui para você, Lucas.
Balançando a cabeça, virei-me para longe dela e saí da sala. Sua implicação
era muito clara – você tem um problema e precisa se juntar ao nosso pequeno
grupo para que possamos deixá-lo sóbrio. Deus, desde quando estar bêbado uma
vez na minha vida constitui um problema com a bebida? Só vai mostrar como pode
ser fácil para as pessoas acreditar na mentira... e como as pessoas podem ser
resistentes a acreditar na verdade.
Em um acesso de raiva, eu caminhei para o estacionamento, que dava de
frente para a rua, que me levava para casa. Eu não gostava de ficar zangado com
a Sra. Reynolds. Eu gostava dela, e ela estava apenas preocupada com meu bem-
estar, uma das poucas pessoas nessa cidade que realmente se importava
comigo. Eu estava cansado de ser encarado como alguém especial depois da escola.
No meio do estacionamento, um sinal sonoro me tirou do meu
devaneio. Atordoado, olhei para o carro que fazia o ruído. Parei de andar e inclinei
a cabeça quando notei o Camaro de Sawyer vindo na minha. Meus lábios se
curvaram em um sorriso automaticamente quando ela parou ao meu lado. Abaixei-
me quando ela abriu sua janela.
— O que você ainda faz aqui? — Perguntei a ela.
Ela sorriu e deu de ombros, sua mão descansando sobre o volante. —

Acabei de me lembrar de que você provavelmente precisava de uma carona. — Ela

balançou a cabeça escura. — Meus pais podem esperar alguns minutos.


Sorri e passei na frente do seu carro para chegar ao lado do
passageiro. Acomodando-me no familiar assento, eu coloquei minha cabeça para
77
trás e inalei o aroma limpo de limões. Eu estava extremamente grato por não
precisar ir a pé para casa, mas não queria que Sawyer sofresse para o meu
conforto. — Você não precisa fazer isso. Não quero que você fique em apuros por
minha causa.
Ela riu e olhou para mim. — Já estou em um estado constante de

problemas. Realmente, isso não é nada. — O sorriso dela se transformou em

preocupação quando ela virou para enfrentar a estrada. — O que a Sra. Reynolds
queria?
Suspirei e passei a mão no meu cabelo. — Oh, apenas o seu discurso básico

de, Você tem um problema, vamos ajudá-lo. — Grunhindo de irritação, eu olhava

pela janela para a pequena cidade. — Até parece que eu era Lindsey Lohan, na
maneira que todos olham para mim.
Sawyer bufou. — Acho que eles não olham para você como se você fosse

um desgraçado, uma estrela decadente. — Ela olhou para mim e sorriu, e não
pude deixar de sorrir de volta.
— Você sabe o que quero dizer — eu murmurei.
Ela riu por mais um minuto quando se voltou para a estrada. Em seguida,
sua expressão ficou mais séria. — Você... você bebia muito, Lucas? — Ela me
espiou pelo canto do olho e tentei manter a carranca do meu rosto. Aparentemente,
não fiz um trabalho muito bom, porque ela rapidamente acrescentou: — Eu só...

eu não sei, Lucas. Acabei de conhecer você. Não sei como você era antes... — ela

deu de ombros. — Ainda acredito que você não estava bêbado naquela noite, mas
me perguntava por que todos são tão rápidos em acreditar nas histórias.
Relaxei e olhei de volta para a calçada desfocada. Eu não deveria ficar
arrogante com ela; era uma pergunta justa. Ela realmente não me conhece, e tenho
certeza que ela estava recebendo um turbilhão de informação desagradável sobre
mim. Ela deve se perguntar se o meu ser sóbrio naquela noite era uma raridade.
Suavemente, eu suspirei na janela.
— Não... eu nunca fui realmente um grande bebedor. Apenas não gosto
disso, de estar fora de controle assim. — O cansaço me dominou quando olhei para

78
ela. — Eu estive bêbado exatamente uma vez na minha vida... e foi meio que um

desastre. — Balancei a cabeça e olhei através do para-brisa. — Todos sabem sobre


mim, também. Minha... resistência... era uma espécie de piada interna com meus
amigos. Oh, vamos Lucas bêbado – assinalando o tema da missão impossível. —
Eu suspirei de novo e senti sua mão serpentear sobre a minha para apertar. Atei
nossos dedos juntos e relaxei ainda mais em seu toque.
— Por que é nisso que eles acreditam, então?
— Eu não sei — sussurrei.
Ela apertou minha mão e deixamos a conversa desvanecer. Um silêncio
quente caiu sobre o carro, fechei os olhos e me concentrei na sensação de sua
pequena mão na minha. Foi bom segurar a mão de alguém novamente. Eu
acariciava meu polegar ao longo do lado dela e senti a mão dela endurecer antes
de relaxar. Sua pele era macia e sedosa e sorri com a sensação dela deslizando
sobre a minha. Eu tinha certeza que minha mão parecia áspera em comparação,
mas Sawyer nunca reclamou ou retirou a mão, apenas continuou a deixar-me
segurar a sua e acariciá-la com a minha.
Empurrei para trás as lembranças de fazer isso com Lil, enquanto o carro
de Sawyer acelerava para a minha casa. Lil e eu demos muito as mãos, mas
normalmente só caminhando entre as classes, na forma mais tradicional. Se
estivéssemos sozinhos em um carro silencioso... bem, geralmente fazíamos mais
do que dar as mãos. Empurrei as memórias de volta também. Tentando distrair
minha mente de vaguear por um beco que eu não estava pronto para ir ainda, me
concentrei nas depressões e curvas da mão de Sawyer quando o meu polegar
estendeu para sentir mais dela. Varri meu polegar sobre o dorso da mão, deslizando
ao longo dos graciosos ossos e as juntas lisas. Ajustei minha mão para que eu
pudesse varrer o meu polegar até a palma da mão, sentindo as bordas do monte
que levaram para o vale no centro exato. Então meu polegar viajou diretamente
para baixo naquele vale, caminhando para seu pequeno pulso.
Ela abruptamente puxou a mão da minha, assustada, eu abri meus
olhos. Corei um pouco, pensando que eu fui além dos termos de nossa amizade
com a minha pequena exploração de corpo. Eu estava prestes a gaguejar um pedido
de desculpas, quando percebi que ela girava o volante para parar na minha

79
casa. Estudei seu rosto enquanto ela fez, mas não vi qualquer irritação ou
constrangimento. Na verdade, ela parecia um pouco pálida quando endireitou o
volante e estacionou o carro.
O pedido de desculpas ainda estava na ponta da minha língua, mas ela
chegou antes de mim. — Estamos aqui... — ela me olhou um pouco envergonhada
e passou a mão que eu malditamente acariciei em seu cabelo, colocando algumas
mechas escuras atrás da orelha.
Olhei para a minha casa e depois de volta para ela. — Ah... obrigado pela

carona. — Ela assentiu com a cabeça e me deu um pequeno sorriso. Eu não


conseguia afastar a sensação de que eu errei, por isso esse pedido de desculpas,
finalmente, se escoou para fora de mim. — Eu sinto muito sobre... — apontei para

a mão que pegava a manga da jaqueta. — Eu só... não estava pensando. Me


desculpe se isso a deixou desconfortável.
Ela olhou para baixo e pensei ver uma leve cor em seu rosto, mas seu cabelo
caiu em torno de seu rosto e eu não podia ter certeza. Resisti à vontade de varrer
o cabelo para trás para que eu pudesse vê-la melhor. — Está tudo bem, Lucas. Eu

gostei... — senti um persistente mas no ar, mas ela não disse mais nada. Essa
explicação encheu o carro com uma estranha tensão e eu abri minha porta para
quebrá-la. Ela finalmente olhou de volta para mim quando eu fiz isso.
Coloquei um pé fora da porta e fiz uma pausa, olhando para ela. — Eu sei

que você tem que ir, mas... você quer entrar? — Sorri para ela. — Afinal, você já
está em apuros.
Ela sorriu um pouco e, em seguida, olhou para a mão dela... a mão. — Não,

é melhor não empurrá-lo. — Ela olhou de volta para mim. — Vejo você amanhã,
Lucas.
Tive a súbita sensação de que ela diria sim se esse momento estranho no
carro não tivesse acontecido, e uma culpa estranha passou por mim. Olhei para o
meu pé na calçada antes de levantar meu olhar até seus olhos cinzentos à
espera. — Tudo bem. Vejo você, Sawyer. — Eu comecei a ficar de pé e depois parei,

fixando o meu peso de volta no assento do carro. — Obrigado... por hoje. Eu acho

80
que não faria isso sem você. — Sorri calorosamente no final e ela devolveu, com os
olhos procurando o meu rosto.
Eu me perguntava o que ela procurava quando ela finalmente respondeu. —

Você é bem-vindo, Luc... a qualquer momento. — Ela suspirou, e então seus olhos
se moveram e estabeleceram nos meus. Eu sorri, acenei com a cabeça e comecei a
sair do carro. Eu estava no meio do caminho de pé quando ela falou. — Luc? —

Voltei-me para ela. — Você quer que eu pegue você na parte da manhã? Então

você não precisa andar — ela rapidamente acrescentou.


Eu me animei com a ideia de passar mais tempo com ela e não precisar
andar todo o caminho até a escola de novo amanhã. Além disso, a vantagem
adicional de não pular em outro ônibus, caso o tempo dê uma guinada para pior. —
Eu adoraria isso... obrigado.
Seu sorriso brilhante combinou com o meu próprio e alegremente saí do
carro e fechei a porta. Eu sorria e acenava como um idiota quando ela saiu no carro
e fugiu, de volta para a cidade. Fiquei imaginando onde ela vivia por um momento
e então, empurrando as mãos nos bolsos, virei- me e fiz o meu caminho para dentro
da minha pequena casa para uma noite emocionante de fazer lição de casa,
assistindo programas de televisão sem graça, e talvez para o jantar, apenas algo
diferente... Hot Pockets de presunto e queijo.

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Capítulo 5
E as coisas começaram tão bem...

Eu mexi na minha cama e suspirei quando o farfalhar dos lençóis me trouxe


à consciência. Sabia que estava escuro, ainda no meio da noite, e não me incomodei
em abrir meus olhos. Quando mudei minhas pernas debaixo das cobertas, eu colidi
com outro par de pernas. Confuso, estendi a minha mão e, na verdade senti outro
par de longas pernas nuas, bem torneadas. Ainda mais confuso, segui as pernas
até um traseiro muito firme. Minha mão escorregou sobre o que só poderia ser o
meu favorito par de calcinhas de seda.
Sorri para o corte lembrando-me deles, a maneira como eles ficavam contra
a pele marfim, a cor rosa claro com um gigante coração vermelho na parte de trás,
e a palavra amor escrito em vermelho na frente. Meus dedos correram para frente
e senti a diferença onde o tecido da palavra destacou-se contra a seda. Um suspiro
suave feminino escapou enquanto corria a minha mão e ajustei meu corpo para
sentir mais da pessoa deitada ao meu lado. Minhas mãos correram até a sua

82
barriga nua e meu corpo respondeu imediatamente. Senti as inspirações e
expirações rápidas correndo a minha mão por sua pele nua. Senti a respiração
clara no meu rosto e ouvi um gemido no meu ouvido. Mordi o lábio e continuei
subindo, na esperança de encontrar o que eu sabia que era tipicamente combinado
com aquela lingerie sexy. Meus dedos correram sobre o tecido cobrindo os
seios. Tracei duas letras de um lado do sutiã L e O, então a minha mão se moveu
para sentir o outro lado de seda. Com certeza – V e E.
Pressionei meu corpo incrivelmente pronto contra a figura ao meu lado. Fui
recompensado com pernas magras enredando sobre a minha e uma mão quente
nas minhas costas me puxando apertado. Eu gemia quando nossas partes baixas
se conectaram. Minhas mãos continuaram em cima daquele sutiã incrivelmente
sexy até um pescoço delgado; eu podia sentir as batidas do coração enfurecido em
suas veias quando trouxe meus lábios para eles. O cheiro familiar de perfume
misturado com o sabão de banho de pêssego me encheu. Minhas mãos se
emaranharam ainda mais no cabelo longo e sedoso, e um suspiro baixo e
apaixonado escapou dos lábios macios quando a minha língua encontrou um ponto
sensível na curva do pescoço dela, um lugar que eu conhecia muito bem.
Pequenas mãos subiram minhas costas, sob a minha camisa, e agarraram
a minha pele nua quando nossos corpos deslocaram e se moveram juntos,
provocando um ao outro, satisfazendo um ao outro. Meus lábios se moviam por
seu pescoço perfumado e, incapaz de aguentar mais, eu avidamente encontrei sua
ávida boca na escuridão. Eu pressionei ao longo do seu corpo quase nu ao lado do
meu enquanto a minha língua sentia e encontrava o seu ritmo. Minha companheira
da meia-noite devolveu ambas as minhas ações prontamente e ainda deixou
escapar um gemido alto no ar.
— Silêncio, Lil, você vai acordar a minha mãe — murmurei entre nossos
lábios.
— Desculpe, Luc... isso só parece incrível — ela murmurou sem fôlego.
Sorri e rolei de costas, pressionando meu corpo duro com firmeza no
dela. Eu sabia exatamente que parecia incrível para ela; isso foi algo que fizemos
várias vezes. Na verdade, nós fizemos isso duas noites antes do acidente, quando
fui acordado de um sono profundo para encontrar Lillian despindo-se na cama
comigo.
83
Oh, espere... nós fizemos exatamente esta mesma coisa, mesmo até às mais
íntimas. Eu me afastei de seus lábios.
— Estou sonhando de novo... não estou? — Finalmente abri meus olhos e
olhei para a visão de uma deusa loira mordendo o lábio e se contorcendo embaixo
de mim enquanto nossos corpos estão pressionados juntos.
Suas mãos chegaram até o emaranhado no meu cabelo quando ela me
puxou para um beijo que me deixou dolorido. — Sim... Deus, sim — ela
murmurou. Não tinha ideia se ela estava respondendo a minha pergunta ou
sendo... satisfeita. E com o olhar no rosto dela, eu realmente não me importo. Meu
sonho de duas semanas atrás não foi nada em comparação com este, e mesmo
sabendo que isso me mataria quando acordasse, eu ansiosamente devolvi o beijo
profundo e decidi que a dor valeria a pena se eu tivesse que sentir isso novamente.
Suas mãos se abaixaram para tirar a minha camisa e deixei. Havia uma
ânsia em nosso desejo de estar tão nu quanto podíamos com o outro e encontrei
as calças pijama com que dormi rapidamente descartadas ao lado da cama com a
minha camisa. Nossos corpos com fome um do outro quando pequenos suspiros e
gemidos encheram o ar. Ela me fez calar e por esse motivo, mais alguns na verdade,
eu a fiz calar.
Nós fizemos tudo isso antes. Lil tinha o hábito de esgueirar-se de sua cama
e para a minha. Era um hábito que eu gostava muito. Ela apareceu em quase nada
algumas vezes e quase me levou à loucura, mas nunca fomos até o fim. Enquanto
nós dois dissemos que não estávamos prontos, em momentos como estes, eu acho
que era apenas o fato de que minha mãe estava no final do corredor e o medo de
acordá-la que parara aquelas sessões íntimas de ser o nosso primeiro tempo
juntos, a nossa primeira vez.
Não que a gente não experimentasse. Não que a gente não trouxesse um ao
outro a liberação. Nós acabamos nunca fazendo sexo tecnicamente. Quando nossos
corpos freneticamente esfregaram juntos, e percebi que nada disso era mesmo real,
comecei a me perguntar por que não poderíamos agora. Não acordaríamos a minha
mãe em um sonho... e parecia tão real...
Minhas mãos deslizaram por sua pele suave para sua roupa de baixo, e
comecei a tirá-la. Sua mão rapidamente encontrou a minha e me parou. — Não —

84
ela respirava. — Não estou pronta para isso. — Suas pernas envoltas mais

firmemente ao redor da minha e ela puxou nossos quadris juntos. — Assim,


assim. Eu ficarei quieta... prometo.
Eu gemia baixinho quando percebi que eu estava muito perto de já
terminar. — Eu quero mais, Lil. Quero tudo de você.
Ela me beijou e acelerou seus quadris, talvez na esperança de acelerar o
final para que eu não conseguisse convencê-la do contrário. — Ainda não, Luc...
em breve, mas ainda não.
Minha mente voltou para uma conversa semelhante que eu tive com a
Lillian real. — Por que não? Estamos tão perto, Lil. Estou tão pronto para você. Eu
quero agradá-la assim. Você não quer?
Suas costas arqueadas e sua cabeça caíram para trás. — Oh, sim... Deus,

sim. — Quando ela soltou um gemido, eu me mudei para puxar para baixo a
calcinha... mas era tarde demais. Com um grito abafado no meu ombro ela foi ao
auge. Vendo e ouvindo isso, sabendo que eu fiz isso com ela... bem, maldição se eu
não atingi o meu também. Eu desisti de sua calcinha e caí sobre seu corpo,
estremecendo enquanto montava a sensação com ela.
Sem fôlego, a puxei novamente para olhá-la. Eu acariciava seus cabelos do
rosto e suavemente a beijei. — Deus, Lil, isso foi... mas... nós poderíamos ter...

Ela mordeu o lábio e balançou a cabeça. — Eu não estou pronta, Lucas.

— Mas este é o meu sonho. Você ainda não está pronta, mesmo no meu
sonho?
— Eu sei, Luc, eu sinto muito. Pelo menos eu posso te dar isso. — Ela
atirou as mãos em volta do meu pescoço enquanto eu rolava para o lado dela. Ela
franziu o cenho me olhando. — Você não deveria sonhar comigo, Luc,
especialmente assim. Isso não vai ajudá-lo a me esquecer.
Eu pisquei para ela. — Por que eu iria querer esquecê-la? — Eu beijei o

seu nariz. — Eu gosto de estar com você. Isto é melhor do que qualquer coisa que
está acontecendo comigo no mundo real. Se eu nunca pudesse acordar... eu seria
tão feliz.

85
Ela imediatamente se afastou de mim. — Não diga isso. — Ela me
empurrou para longe dela e confuso, tentei puxá-la de volta para mim. Agilmente,
ela escapou e ficou em pé ao lado da cama. — Nunca diga isso de novo. — Ela
colocou as mãos nos quadris de uma maneira que era suposto ser uma ameaça,
mas na verdade, era apenas cativante. — Ou eu não vou voltar. — Ela ergueu o
queixo desafiadoramente e uma risada suave me escapou.
Ela estreitou os olhos para mim até que eu concedi. — Tudo bem. Espero
acordar logo e me juntar às fileiras de adolescentes no mundo inteiro.
Ela sorriu e logo em seguida fez uma careta. — Ah... desculpe. Adeus,
Lucas.
— Adeus? O que você...?
O estridente zumbido agudo no meu ouvido me acordou do meu sonho e
quebrou minha conversa com Lillian. Bati a mão no despertador estúpido e olhei
para onde Lil estava de pé com as mãos nos quadris. Em vez da escuridão da noite,
uma luz pálida da manhã iluminava meu quarto... que estava completamente
vazio.
Não esperava ter um sonho parecido com ela. Dor brotou em mim, mas
depois de um longo momento, consegui empurrá-la de volta. Não, isso foi bom,
mais do que bom, e eu não sofreria com uma memória agradável. Além disso, ele
parecia tão real... talvez eu tivesse encontrado uma maneira de estar com ela
novamente. Deus, isso soou louco. Mas ainda assim, isso parecia tão real. Senti o
corpo dela novamente. Ouvi seus gemidos novamente. Vi sua gloriosa
libertação. Eu... oh, droga.
Eu prestei atenção ao meu redor e, com certeza, algumas coisas que
acontecem nos sonhos também acontecem na vida real. Suspirei irritado e levantei
para tomar um banho. Oh bem, ainda era um sonho agradável, e eu não estava
prestes a chorar por isso, embora eu deixasse algumas lágrimas cair no chuveiro.
Após me limpar e me vestir, eu me arrastei para a cozinha para uma xícara
de café com a mamãe. Conforme a nossa rotina habitual, ela me fez perguntas
gerais sobre como iam as coisas. Dei-lhe respostas gerais, dizendo que as coisas
iam bem.

86
Já estava por algumas semanas na escola agora e enquanto o corpo
estudantil não foi exatamente caloroso para mim, eu deixei de ser um objeto de
interesse e mais uma relíquia esquecida na fileira de trás. Isso me serviu bem. Se
eles me ignoravam, não falariam comigo. E se eles não falavam comigo, eles não
me fariam perguntas dolorosas que eu não queria responder, perguntas que
enfrentei frequentemente na primeira semana de aula, quando vários alunos, como
Eliza e Gabriela, se tornaram mais corajosos e rapidamente perguntavam se eu (A)
me lembrava de algo e (B) se estava bêbado. Eu sempre disse não a ambas e
esperava que eles aceitassem.
Eventualmente, eu desapareci na parte de trás de sua consciência. Todo
mundo, exceto Josh e Will. Eles ainda me incomodavam incansavelmente. Will
aproveitou todas as oportunidades para me fazer parecer um idiota, questionando
a classe em voz alta sobre minhas ações ou mesmo tentando me causar dano físico
com mais acidentes. Foi chato, mas fiz o meu melhor para ignorá-lo, esperando
que ele acabasse ficando entediado com o seu jogo e desistisse.
Josh... Ele ainda estava determinado a chutar a minha bunda, mas nunca
parecia ter um momento livre para fazê-lo. Ser novo na equipe de futebol
provavelmente ajudou a mantê-lo ocupado. E também ajudou que a namorada dele
o pegou com as mãos cheias no traseiro de alguma líder de torcida depois do treino
um dia. Ouvi falar que a briga foi elétrica e faria qualquer briga entre nós parecer
cortês em comparação. Enquanto eu não tinha nada contra a namorada de Josh
(ela me ignorou na maior parte, isto é, quando ela não estava afastando Josh de
mim), eu estava feliz pelas mãos sinuosas de Josh. Melhor ele apalpar o traseiro
de alguma líder de torcida, do que danificar permanentemente a nossa amizade –
se ela já não estivesse danificada permanentemente.
Mamãe e eu bebemos nossos cafés em silêncio, encarando um ao outro na
pequena mesa na nossa pequena cozinha. Seu trabalho não a deixava descansar
completamente e ela ainda parecia cansada e abatida. Acho que uma boa parte era
ainda a sua preocupação comigo, sobre como eu me reintegrava na sociedade. Eu
queria garantir a ela que estava tudo bem, então tentei dar um sorriso genuíno
perto dela. Ela parecia não comprá-lo, mas, ao mesmo tempo, ela não discutiu com
isso, me dando espaço para lamentar. E eu ainda estava de luto.

87
Minhas visões dos meus amigos ainda estavam comigo. Lembrei-me de
conversas que tive com eles em cada esquina da escola. Lembrei-me de enfrentar
Darren no gramado da frente, ter uma luta empolgante de bola de neve com
Sammy, quando um suave respingo no chão nos cumprimentou quando saímos de
uma classe no ano passado, e... lembrei de Lil. Suspirei em minha xícara de café
quando a coloquei em cima da mesa. Eventualmente, comecei acrescentar suas
lembranças na mistura. Eram as dela que doíam mais, é claro, e eram as mais
insistentes em aparecer. Cedendo, eu engoli o caroço doloroso e deixei suas
lembranças me lavar. Lágrimas picaram meus olhos nas primeiras vezes que isso
aconteceu e a mão calmante de Sawyer no meu braço me tirou de qualquer visão
em que me perdi.
Mas com o tempo, as memórias não me causavam tanta dor, e as visões de
nós juntos filtravam através de meu dia: encostado na parede com ela em meus
braços enquanto observávamos os estudantes passando no corredor, lançando
chicletes ao outro conforme estudávamos na biblioteca, ela me provocando com
esses pequenos shorts apertados quando eu ia vê-la terminar a prática. Lembrei-
me de sua respiração, seu cheiro, seu riso, seus olhos, seu amor... um amor nunca
falado em voz alta, mas evidente em cada movimento que ela fez ao meu redor.
Mas as memórias mais intensas eram em forma de sonho e esta manhã foi
definitivamente a mais intensa de todas elas. Era em sonhos que ela parecia viva
novamente. Se eu tivesse um sonho bom, a gente passava conversando, rindo... e
se beijando. A noite passada foi muito boa. Por mais estranho que pareça, eu
começava a viver para aqueles momentos em que eu dormia.
Pensando profundamente, eu virei minha xícara de café nas mãos. Uma
curta buzina quebrou o silêncio. Assustado, olhei para fora da janela. O Camaro
de Sawyer estava parado na rua, como em todas as manhãs, quando veio para me
pegar. Levantei-me, peguei minha mochila, e dei um beijo na cabeça da minha
mãe. Ela também se levantou e caminhou comigo até a porta.
— Tenha um bom dia, Lucas. — Ela sorriu calorosamente enquanto seus
olhos me estudavam.
Fiz uma pausa, deixando-a mergulhar, e uma tristeza momentânea encheu-
me por ela ainda precisar fazer isso cada vez que nos separamos. — Você também,

mãe. — Eu dei um breve abraço e abri a porta para encontrar Sawyer.


88
— Ela poderia vir em algum momento — minha mãe disse enquanto eu
saía pela porta. Ela olhou para fora e acenou para a forma de Sawyer no
carro. Sawyer acenou de volta. — Eu não mordo — completou.

Eu ri e olhei para ela. — Eu sei, mãe. Estamos apenas... atrasados. Outra


vez, ok?
Ela assentiu e se inclinou para beijar minha bochecha. Deixei-a e, em
seguida, caminhei até o carro de Sawyer e entrei. O cabelo preto de Sawyer estava
puxado para trás em um arrumado rabo de cavalo e meu nome nas costas se
destacou claramente. Tentei não me preocupar com isso. A escola definitivamente
a associou comigo agora, uma vez que raramente nos separamos, e se a
incomodava, bem, ela nunca me deixava ver mais do que a carranca ocasional e
um esconder rápido dos olhos.
Seus olhos lívidos olharam para mim, e para a minha mãe ainda observando
da porta. Ela colocou o carro em sentido inverso e disse calmamente: — Sua mãe
parece muito boa.
Eu me inclinei para trás e olhei para ela. — Ela é. Você deve conhecê-la
algum dia.
Ela voltou para a rua e mudou a direção do carro. — Umm... certo. Talvez...

algum dia. — Ela mordeu o lábio. — Os pais... me deixam nervosa. — Ela olhou
para o sorriso no meu rosto e riu, seu rabo de cavalo saltando com sua risada.
Balancei a cabeça e sorri para ela. Ela resistiu vir para minha casa depois
da escola, mesmo eu perguntando a ela praticamente todos os dias. Ela sempre
disse que seus pais a queriam em casa logo após as reuniões do clube da pureza,
mas muitas vezes eu me perguntava se ela simplesmente não queria vir, e usava
isso como desculpa. Quando me pegava na parte da manhã, ela sempre buzinava
para mim, mas nunca entrou. Minha mãe perguntou sobre isso também, e eu tentei
dar explicações plausíveis... que eram quase sempre: — Estamos atrasados. —
Tenho certeza que a minha mãe sabia que tinha tempo de sobra para a viagem
relativamente curta, mas ela não questionou a minha resposta. Ela raramente
fazia.
Virei a cabeça para ver a cidade passar, enquanto Sawyer aumentou o
volume da música. Não tinha certeza sobre o que Sawyer era tão relutante, mas eu
89
não a pressionava sobre isso. Se ela realmente quisesse vir, ela faria. E além dos
fins de semana, quando me unia com o meu sofá, passamos muito tempo juntos
na escola e depois.
Ambos estávamos presos com o clube; ela, porque seus pais exigiram, por
alguma razão, e eu, porque gostava de passar o tempo com ela. Havia reuniões três
vezes por semana, que geralmente se transforma em sessões de terapia de grupo
de adolescente problemático. Sawyer e eu geralmente nos desligávamos à medida
que sussurrávamos à distância, no canto da sala, para grande irritação de
Reynolds. Fora dessas reuniões, o clube se reuniu duas vezes por semana nos
eventos. Estes eram geralmente as práticas de uma das muitas equipes esportivas,
de onde os professores pareciam pensar que os problemas resultavam.
Infelizmente, esses eventos me traziam em estreita proximidade com as pessoas
que não ligava muito para mim; Josh, Randy, Will e o resto do time de futebol. Eu
me escondi na última fileira da arquibancada com Sawyer enquanto o resto dos
membros do clube andava para cima e para baixo do campo, tentando em vão
recrutar mais membros.
Balancei a cabeça para a memória de Josh olhando para mim durante o
último evento. Ele olhou para mim o tempo todo, como se eu tivesse reunido este
grupo de pessoas, pessoalmente, só para incomodá-lo. Se o treinador não estivesse
ali, olhando-me com quase tanto interesse como Josh, já que ele ainda não
conseguira me encurralar na conversa que ele queria, tenho certeza que Josh
tentaria começar algo.
Sawyer me notou balançando a cabeça no carro. — Você está bem? — Ela,
de alguma forma, parecia me fazer esta pergunta quase todos os dias.
Eu sorri e olhei para ela. — Sim, eu estou bem.
A única razão de eu aturar tudo isso era para sair mais com ela. Nosso
pequeno clube da pureza me deu uma hora e meia extra com ela e era mais uma
hora e meia que eu não precisava passar sozinho. Ela me trouxe tanto conforto. Eu
só gostaria de poder retribuir o favor.
— Você tem certeza? Você teve um sonho ruim de novo? — Ela disse essa
última parte em silêncio e me encolhi na minha cabeça.

90
Ela me pegou uma vez, quando acordei tarde de um sonho particularmente
ruim. Não, pesadelo era uma descrição mais apropriada. Eu ainda estava uma
bagunça, olhos inchados de tanto chorar, quando me embaralhei em seu
carro. Mamãe me queria em casa nesse dia, mas eu queria ficar com Sawyer, então
engoli isso e fui para a escola. Fui capaz de dizer apenas que tive um sonho
ruim. Sawyer não pediu mais detalhes. Ela sabia que qualquer sonho que eu tive
que me deixou de joelhos só poderia ser sobre uma coisa – e ela não precisava de
uma explicação sobre isso.
Balancei a cabeça para a sua pergunta. — Não, eu tive um bom sonho. —
Eu corei quando disse isso, recordando a minha fantasia cheia de vapor. Sawyer
me deu um olhar curioso, mas felizmente não pediu nenhuma explicação sobre
isso, também.
— Bom. Prefiro que os seus sonhos sejam bons. Você deve conseguir uma
liberação em algum lugar.
Mordi o lábio e olhei para fora da janela quando o meu rubor se
aprofundou. Felizmente, Sawyer olhava novamente para frente e não percebeu.
Deus, boa escolha de palavras. Suspirei baixinho, pensando nesta manhã
novamente. Aquele foi um sonho realista. Se separar do sonho não foi doloroso,
ainda que eu tentasse não me sentir assim, eu estive malditamente perto no sonho
e foi... incrível. Fechei os olhos e inclinei a cabeça para trás no assento, revivendo
aquele momento... revivendo Lil.
— Luc?
A voz de Sawyer me assustou, e levantei a cabeça para olhar ao redor do
estacionamento da escola. Olhei para seus olhos claros me estudando; sua cabeça
estava ligeiramente inclinada, como se perguntasse se eu deixara o meu corpo por
um tempo. Eu me perguntei quanto tempo estive sentado aqui, enquanto
rememorava estar com Lillian novamente. Meu corpo se sentia quente e seguro
nesse sonho. Estremeci um pouco quando o frio do carro silencioso me bateu e
desejei poder rastejar para o sonho quente novamente.
— Desculpe... distraído. — Ela parecia prestes a perguntar se eu estava
bem de novo e a interrompi abrindo a minha porta e disse: — Pronta?

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Ela assentiu com a cabeça e abriu a porta também. Nós dois saímos e
fizemos o nosso caminho através do campus para o prédio principal para o primeiro
período de Inglês. Ainda atraímos olhares quando as pessoas nos observavam, mas
ninguém disse nada ou fez nada para nos incomodar. Fomos notados com desgosto
e depois desconsiderados. Fiquei aliviado por isso, mas quando olhei para baixo
em Sawyer, eu me perguntava se as coisas seriam melhor para ela se ela se
distanciasse de mim, também. Talvez ela tenha mais vida social aqui se não estiver
sempre perto do pária.
Ela olhou para mim e sorriu calorosamente, parecendo não se importar nem
um pouco com a reação do corpo estudantil, não se ela precisasse andar
comigo. Isso é o que eu gostava de pensar que ela pensava de qualquer
maneira. Esquecendo que eu não deveria por causa dela, eu pendurei o meu braço
por cima do seu ombro e puxei-a com força para mim. Esta manhã começou muito
maravilhosamente, e talvez eu pudesse relaxar hoje e deixar o resto ser... bem...
não desagradável seria uma melhoria. Sawyer endureceu sob a minha jogada quase
íntima, mas depois relaxou e atirou o braço em volta da minha cintura. Calor
infiltrou em mim, estranhamente me lembrando do meu sonho. Antes que eu
pudesse analisá-lo ainda mais, porém, notei Josh e Will. Não pude deixar de notá-
los... eles bloqueavam nosso caminho.
Parei e dei um passo na frente de Sawyer, quebrando nosso contato. O que
quer que esses caras queriam, não tinha nada a ver com ela, e não os deixaria
machucá-la. Eu não tinha vontade de enfrentá-los, mas faria se isso significasse
proteger Sawyer. Josh olhou por cima do ombro para Sawyer e fez uma cara de
nojo. Eu me irritei com o olhar e me esforcei para manter a minha raiva sob
controle. Eu não precisava começar alguma coisa. Eu precisava passar por este
ano em paz, sem nada muito prejudicial na minha ficha.
— O que você quer, Josh? — Meus olhos foram até Will, perguntando-me
qual o papel que ele desempenharia em tudo isto. Ele cruzou os braços sobre o
peito e sorriu para mim, mas não disse nada.
Um pequeno círculo de estudantes começou a se formar em torno de nós,
sentindo a tensão se construindo no ar. Amaldiçoei silenciosamente. Se Josh não
planejara me bater antes, ele poderia fazer isso agora, quando tinha uma
audiência. Por outro lado, ele não gostaria de ser chutado para fora da equipe de

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futebol, e o treinador tinha uma política rígida de briga. Se ele desse um soco
primeiro... ele estava fora. Me endireitei, inconscientemente, me inclinei em
antecipação. Ele não me atacaria, mas mesmo assim não gosto disso. Ele não
poderia permitir.
Ele inalou e franziu a testa quando pareceu perceber isso também. Em
seguida, um sorriso diabólico iluminou seu rosto com um brilho escuro. Engoli sob
esse olhar, perguntando-me o que significava. — Tenha um bom dia na escola,

Lucas. — Suas sobrancelhas subiram significativamente quando sua voz ficou

sombria para combinar seus olhos. — Você merece.


Então ele se virou e passou por mim, batendo no meu ombro e me
empurrando para trás um passo para Sawyer. Arrisquei um rápido olhar para ela
e ela parecia prestes a pular em Josh. Eu não queria que ela se metesse em
problemas por mim e rapidamente balancei a cabeça para ela, quando nossos olhos
se encontraram. Ela entendeu e mordeu o lábio para permanecer em silêncio, os
braços cruzados sobre o peito desafiadoramente.
Olhei para trás para ver Will descruzando os braços e endireitando sua
postura. Ele ficou lá com um sorriso torto enquanto me observava. Ele não fez
nenhum movimento ameaçador em direção a Sawyer ou eu. Ele só continuou a
ficar ali. Sentindo-me desconfortável, mas querendo sair, eu cuidadosamente
caminhei em torno dele.
Eu deveria ter esperado por isso, realmente deveria. Sabia que ele tinha o
nível de maturidade de um aluno do jardim de infância, mas sinceramente estava
mais preocupado com a expressão sombria no rosto de Josh – que definitivamente
significava algo – e não percebi o pé de Will. Não o peguei rapidamente
serpenteando para pegar o meu e ele tinha pés velozes. Isso fez dele um bom
substituto para mim no campo de futebol. Infelizmente, isso também foi a minha
queda esta manhã... literalmente.
Eu esbarrei na ponta de seus dedos com os meus e tropecei. Ele ergueu o
pé mais alto e me senti perdendo o equilíbrio. Antes que eu perdesse
completamente, um ombro foi sob o meu e uma mão segurou meu peito. Eu me
atrapalhei um pouco, mas consegui não cair. Meu rosto corado de qualquer

93
maneira enquanto o pequeno círculo ainda vadiava, esperando por uma luta, achei
minha quase queda até hilária.
Sawyer não. Depois de me firmar completamente, deixou cair sua mochila
aos meus pés e empurrou as duas mãos no peito de Will rindo. — Cresça, seu filho
da puta!
Ele ficou surpreso com a inesperada explosão e, então, seu rosto encobriu
com raiva. Ele deu um passo em seu ataque e olhou de soslaio para ela. — Oh, a

prostituta delinquente tem uma voz. — Parecia que ele queria empurrá-la de volta,
mas não foi tão longe a ponto de começar algo com uma menina. Em vez disso, ele
segurou os pulsos dela para baixo e olhou seu corpo se debatendo de modo
selvagem para mim, de pé, atordoado atrás dela. — Fazendo a sua puta lutar suas

batalhas para você, Luc? — Ele balançou os quadris para ela sugestivamente. —
Talvez eu devesse explorar esta também. Ela é gostosa, tem uma espécie de fogo,
mal-intencionada. — Ele olhou para ela com um olhar malicioso, enquanto os
estudantes ao redor riam ainda mais. Sério, onde estava um professor quando você
precisava de um?
Meu rosto corou mais, mas com raiva dessa vez. Dei um passo em direção
a Will, já levantando meu braço preparado para o soco que desejava. Eu ficaria em
apuros por protegê-la. Sawyer não precisava de mim, entretanto. Ela conseguiu
liberar um braço e rapidamente se preparou para ele. Sem tapa de mulherzinha no
rosto – ela fechou a mão em um punho apertado e socou-o bem no queixo.
Ele a soltou, recuando em estado de choque e trazendo uma mão para
esfregar sua lesão. Seus olhos tinham pura fúria agora. Sawyer deu um passo para
longe dele, massageando sua mão. Aproveitei o espaço entre eles e me aproximei
de Will, afastando-o mais de Sawyer com ambas as mãos contra o seu peito.
— Vai bater em uma menina agora, Will? É o que você fará? O treinador
adoraria isso... me pergunto quanto tempo você ficará como quarterback. — Will
empalideceu quando minhas palavras afundaram, e de repente se deu conta que a
luta contra Sawyer, ou eu, não era do seu interesse. Cuspiu em meus pés e se
virou, marchando em direção ao prédio principal.
Eu suspirei enquanto o via sair. Nós o veríamos novamente dentro de
alguns minutos; uma das principais desvantagens de frequentar uma escola
94
pequena. Tanto para o meu dia não-desagradável. Bem, talvez o pior já passou com
ele. Sawyer veio atrás de mim e colocou a mão no meu braço. A multidão começou
a se dispersar quando as pessoas começaram a perceber que ninguém, isso
significa eu, seria derrubado no chão.
Olhei para Sawyer e sua mão que deveria estar dolorida. Apontei para
ela. — Você está bem? Quer parar no posto de enfermagem?

— Não, estou bem. — Ela sorriu maliciosamente. — Não é a primeira vez


que bato em um idiota.
Levantei uma sobrancelha para isso e ela riu um pouco com o meu
olhar. Ela assentiu com a cabeça em direção à porta da frente. Com outro suspiro,
eu balancei a cabeça e estendi a mão para pegar a mochila dela. Em seguida,
seguimos para o primeiro período de Inglês. Recebemos alguns olhares enquanto
andamos pelo corredor, mas ignoramos; estávamos acostumados com a
manifestação. É verdade, os estudantes estavam um pouco mais interessados em
nós agora do que estiveram nos últimos tempos, graças à exibição de testosterona
do Josh e Will lá fora, mas se Sawyer e eu ficamos bom em algo, era em nos desligar
do mundo lá fora.
Caminhando pelas escadas, eu notei que ela ainda esfregava sua mão. —

Você tem certeza que está tudo bem? — Perguntei, estendendo a mão e agarrando
a mão dela, assumindo a massagem.
Ela olhou para mim e depois para as nossas mãos por um longo momento
antes de responder. — Claro, ela já se sente melhor. — Ela sorriu. — Realmente
valeu a pena.
Sorri de volta, dei-lhe um breve abraço em volta dos ombros, e soltei sua
mão. — Bem, obrigado por sua corajosa tentativa de defender a minha honra. —
Eu sorri quando disse isso, momentaneamente, lembrando uma versão de sonho
da Lil ameaçando bater em Josh. Lil provavelmente adoraria Sawyer por acertar
Will.
Chegando ao topo da escada, Sawyer parou e olhou acima para o meu
rosto. Talvez interpretando mal a minha expressão, ela franziu a testa. — Acabei
de ganhar pontos legais para você, não foi?

95
Eu ri. — Você acha que eu ainda tenho pontos legais? Tenho certeza que

perdi todos quando matei... — eu fechei minha boca e mordi o lábio. Quando matei
os meus amigos. Quando matei os amigos deles.
Os olhos de Sawyer se arregalaram quando o que eu não terminei de dizer
registrou nela. Ela começou a sacudir a cabeça e tinha uma expressão de, Não fale
assim, claramente escrita em seu rosto. Antes de começar a dizer o quão especial
era, peguei a mão dela e levei-a para o Inglês. Ela não gosta quando digo coisas
desse tipo... a verdade era difícil, mas não preciso de uma palestra, esta
manhã. Receberia o suficiente disso dos professores.
Não resistindo ao meu puxar para a aula, mas continuando com o olhar,
Eu quero falar com você, em seu rosto, Sawyer e eu entramos na sala juntos, de
mãos dadas.
Vários pares de olhos seguiram o movimento íntimo, um gesto geralmente
reservado para o comportamento namorado/namorada. Mas não éramos; era
diferente com a gente. Eu não queria me importar com o que os alunos aqui
pensavam. Inferno, eu tinha certeza que todos pensavam que nós estávamos
dormindo juntos, de qualquer maneira, mas me preocupava com Sawyer ficando
presa no meio disso, por isso deixei cair a mão e fui direto para o meu lugar,
evitando cuidadosamente um Will tempestuoso olhando para nós.
Olhei para Sawyer quando ela se sentou na fileira de trás comigo; ela
cuidadosamente me ignorou, estudando sua mesa. Não sabia o que isso significava.
Ela ainda pensava em coisas para me dizer? Esperava que não. Eu não precisava
de uma lição sobre vivacidade. Ela geralmente não tentava me oferecer qualquer
um. Ela apenas parecia saber instintivamente quando pressionar e quando recuar,
quando me fazer perguntas e quando se afastar. Mas agora, parecia que algo a
incomodava.
Reynolds começou a aula, dando-nos mais detalhes sobre a manifestação
preparatória hoje, após o último período. Todas as aulas seriam 15 minutos mais
curtas para que pudéssemos nos reunir no ginásio para comemorar o não pode
perder, jogo de futebol da temporada contra nossos rivais escolares – o que significa
que eles serão a escola mais próxima de nós e, portanto, era considerada o inimigo.
Tentei ignorar o discurso de Reynolds sobre quão grande o jogo seria e como
o espírito da escola pode fazer você se sentir como parte de algo maior. Eu fui uma
96
parte de algo maior, e uma parte de mim ainda sentia falta disso. Eu sentia falta
dos jogos e da camaradagem da equipe. Sentia falta de Darren sentado ao meu lado
no banco, esperando a nossa vez no campo para que ele pudesse marcar o
touchdown da vitória. Bem, é assim que ele sempre pensou que o jogo acabaria.
Retornando meu foco para o presente, eu virei no meu lugar para enfrentar
Sawyer. Ela ouviu o meu movimento e olhou para cima. — O que está

acontecendo? — Eu murmurei para ela. Ela balançou a cabeça e fiz uma careta.

Ela olhou para baixo e bem rápido, em seguida de volta para mim. — Nada

— ela murmurou. Eu fiz uma careta mais dura e cruzei os braços. Ela suspirou e
estendeu a palma da mão. Eu olhei para isso e para ela, confuso. Ela suspirou de
novo, enquanto a Sra. Reynolds tagarelava sobre o orgulho da escola e da alegria
de viver isso livre de substância.
— Você deixou cair isso — ela murmurou, enquanto apontava para a mão
dela.
Eu estava irremediavelmente confuso até que percebi o que ela queria
dizer. Eu deixei cair sua mão quando os estudantes olharam para nós. Suponho
que poderia parecer uma rejeição a ela... especialmente, se ela pensou que nós
éramos mais do que apenas amigos íntimos. Droga, eu realmente não queria ter
essa conversa estranha, mas eu realmente não podia deixá-la pensar que havia
algo entre nós; nada mais do que uma ligação íntima – quase familiar – ligação que
eu não podia suportar ser tirada de mim. Eu a amava... só não como desse
jeito. Meu coração ainda era de Lil.
Comecei a falar, quebrando nosso discurso silencioso para que eu pudesse
quebrar seu coração, se ela tivesse se apaixonado por mim.
Ela chegou antes de mim, no entanto. — Você está com raiva de mim... —

ela sussurrou. — Fiz alguma coisa de errado?


Eu feri os sentimentos dela, a fiz pensar que eu estava com
raiva? Imediatamente, balancei minha cabeça quando percebi onde a cabeça dela
estava. — Não. — Eu indiquei a sala com os olhos. — Todo mundo olhava para
nós, para você. Eu não os queria olhando para você assim e cochichando sobre
você, sobre nós.

97
Ela riu baixinho e seu rosto relaxou quando percebeu que eu não tinha
sentimentos ruins por ela. — Luc, eles já falam sobre nós. — Ela deu de ombros

como se não importasse. — Eu já estive grávida, sofri um aborto espontâneo e pedi

para você se casar comigo. — Ela se inclinou enquanto meus olhos se


arregalaram; eu assumi que estávamos associados sexualmente, mas eu realmente
não ouvi os rumores. Somente aqueles sobre minha falta de sobriedade pareciam
chegar até mim. Talvez eu apenas deixava de lado aqueles que não giravam
unicamente em torno de mim. Uau, tão narcisista.
Sawyer continuou quando me inclinei para ela, — Pelo que ouvi, o Sr.
Varner nos pegou em cheio fazendo sexo no banheiro dos homens no primeiro
andar, depois da escola uma tarde. — Ela riu um pouco e minha boca caiu; os

rumores eram muito mais sórdidos do que eu imaginava que seriam. — É claro
que, em seguida, os rumores dizem que ele se juntou a nós.
Eu ri alto com isso e tive uma reprimenda firme da Sra. Reynolds, enquanto
Sawyer ria baixinho ao meu lado. Murmurando um pedido de desculpas à
professora, olhei para onde Sawyer ainda ria. Ela encontrou meus olhos e a
felicidade genuína nesses olhos cinzentos elevou meu espírito. Esta manhã, não
importa, porque aqui estava um ser humano que olhou para mim, não só como se
eu valesse a pena, mas como se eu fosse a pessoa mais interessante na escola.
À medida que passamos pela nossa aula de Inglês, eu pensei nos rumores
que circulavam sobre nós e me perguntei o que eu poderia fazer sobre eles. Isso
não parecia incomodar Sawyer nem um pouco, mas eu realmente não quero que
ela sofra por minha causa. E a natureza dos boatos... eu peguei Sawyer olhando
para mim algumas vezes durante a aula e pensei que sua expressão era próxima
de como Lil costumava me olhar, quase sonhadora. Talvez a gente tivesse que ter
essa conversa estranha depois de tudo.
À medida que nos separamos para a próxima aula, eu me perguntava como
trazer isso até ela. Talvez eu devesse falar com a minha mãe primeiro. Ela era
bonita na sua juventude, e provavelmente afastara mais de um pretendente. Não
que eu fosse bonito... embora, antes de Lillian, eu tive minha parte de meninas
apaixonadas. Havia uma garota que costumava passar pelo meu armário todo
dia. Isso costumava fazer Darren rir muito, e ele sempre me provocava para beijá-

98
la. Ele parecia pensar que a faria desmaiar e ele realmente queria ver isso. Sammy
bateu nele quando ouviu o seu comentário. Então calmamente foi até a menina e
disse algumas frases para ela. A menina assentiu e saiu, nunca assombrando meu
armário novamente. Ainda não tenho ideia do que Sammy disse a ela. Eu poderia
usar um pouco da magia de Sammy agora.
Mas Sawyer não me parece ser desse tipo, de se grudar em um menino
simplesmente porque ele era atraente. Talvez eu estivesse errado sobre a sensação
ocasional que eu tenho dela. Nunca fui amigo de uma garota antes. Quero dizer,
Sammy e eu éramos amigos, mas eu era amigo de Darren primeiro e a nossa
amizade nasceu devido a atração entre eles, e o fato de que Darren mal ia a algum
lugar sem ela. Não gostar de Sammy acabara nunca sendo uma opção, não se eu
quisesse continuar amigo de Darren. Mas eu realmente gostava dela, todo mundo
fez. Ela era a minha única experiência real com amizades femininas. Talvez eu
estivesse fazendo muito disso. Talvez eu estivesse deixando os rumores distorcer a
forma como eu imaginava que Sawyer se sentia sobre mim. Uau, havia o narcisismo
novamente. Tenho que trabalhar nisso.
No momento em que me encontrei com Sawyer de novo, eu superei a mim
mesmo, e qualquer estranheza entre nós se foi completamente. Éramos apenas um
casal normal de amigos, como sempre fomos. E eu estava feliz. Minha felicidade
ficou comigo todo o caminho até a aula do Sr. Varner, até mesmo sobrevivendo a
um incidente de corar quando peguei um par de meninas olhando para o professor
e depois de volta para Sawyer e eu. Agora que eu sabia o que seus sorrisos queriam
dizer, meu rosto corou furiosamente e estudei minha mesa por uns bons 20
minutos, provavelmente confirmando suas suspeitas. Sawyer, pegando toda a
troca, riu ao meu lado.
Meus bons sentimentos ficaram comigo durante a aula de Filosofia,
Matemática e almoço no carro de Sawyer. Eles ficaram comigo até o ponto em que
eu tinha uma aula com o Josh. Então, eles meio que desvaneceram de mim. Bem,
desvanecer é uma palavra muito descontraída. Foi tirado com força de mim, com
Josh me batendo.
Quando entrei em Astronomia, o professor, o Sr. Thomson, estava ausente,
atrasado para a aula ou fora em algum recado rápido. De qualquer maneira, ele
nos deixou sozinhos. Eu deveria ter percebido imediatamente que algo estava

99
errado pelos múltiplos pares de olhos me observando através das janelas enquanto
eu caminhava até a porta. Isso deveria ter sido uma bandeira vermelha, mas eu
estava tão acostumado com as pessoas olhando para mim que nem sequer me
perturbou.
O que aconteceu a seguir, sim.
Abri a porta como de costume, e fechei atrás de mim, normal. Foi quando
parou a normalidade. Andei alguns metros para dentro da sala quando uma
campainha soou de um dos corredores. Virei a cabeça para ver Randy fazendo o
som, um sorriso malicioso no rosto. Eu não tinha certeza do porquê até que fui
atingindo com força total no peito, caindo pesadamente no azulejo frio do chão. O
ar foi tirado de mim e minha cabeça bateu dolorosamente para trás, com um estalo
que certamente até mesmo os alunos na última fila devem ter ouvido. Minha visão
turva pegou a forma de Josh zombando de mim no meu peito, me pressionando
para baixo com todo o seu peso, então eu ainda não conseguia inspirar. Eu não
conseguia respirar e minha visão foi mudando de turva para cinza ao preto nas
bordas. Eu ia desmaiar.
Com um gemido de dor, eu empurrei Josh tão forte quanto eu podia. Eu
estava fraco e ferido do ataque repentino, mas Josh era menor do que eu e eu
começava a entrar em pânico por falta de ar. Empurrei-o de cima de mim e oxigênio
doce queimou meus pulmões. Minha visão voltou lentamente... junto com a minha
audição. Em vez do som do sangue sussurrando através de meus ouvidos e
latejando na minha cabeça, eu ouvi o riso, o que parecia ser a sala inteira rindo.
Josh estava em pé na minha frente, inclinando-se e ria
muito. Cuidadosamente, eu olhei em volta. Notei que a maioria, mas não todos,
riam junto com ele. Esfreguei minha cabeça e sentei, tentando firmar a
respiração. Vozes de pânico começaram na parte de trás e filtraram até mim. As
pessoas começaram a virar e sentaram nos bancos, ainda lutando com risos. Eu
comecei a levantar quando Josh se aproximou e me empurrou de volta para baixo
antes de ir para o seu lugar. Meu corpo atordoado não poderia responder rápido o
suficiente para impedi-lo, e sentei com um baque.
— Foda-se, Josh — Eu disse asperamente... bem quando o professor
entrou na sala.

100
— Lucas West! Cuidado com a língua ou você irá direto para a detenção! E
saia do chão. — Sr. Thomson parecia irritado, possivelmente pela primeira vez que
eu já vi. Tão rapidamente quanto pude, me levantei e peguei minha mochila de
onde caíra do meu ombro para o chão, alguns dos seus conteúdos se derramando
pelo chão.
Cuidadosamente fiz meu caminho para o meu lugar, me perguntando que
parte do meu corpo doía mais, a minha cabeça ou meu quadril. Meu ego não era
mais um problema; manteve-se firmemente ligado ao frio piso de azulejo. Não que
me restasse muito para começar, mas ainda assim, a classe inteira rindo de mim,
e me olhando, mais uma vez, como um idiota... bem, é uma porcaria. Mantive meus
olhos grudados no meu livro por toda a aula, enquanto o ataque ocasional de risos
surgia ao redor da sala de aula. Ótimo. Como eu pensei que hoje fosse mesmo um
dia semi feliz?
Esperei no meu lugar até que toda a classe saísse. Josh e Randy riram
quando saíram, Josh me lançando um sorriso diabólico. Eu esperava que o que
quer que ele sentisse que eu merecia estivesse finalizado, e me deixasse em paz por
um tempo. O professor me deu um último olhar de reprovação quando saí da sala,
murmurando um pedido de desculpas pelo o meu desabafo mais cedo. Sem
ninguém ficando para trás para me atormentar ainda mais, eu caminhei para a
aula de arte em paz.
Terminamos nosso projeto se sente em casa há um tempo e fiz um bom
retrato de Sawyer que realmente me fez ganhar um A. No ano passado, eu planejei
que arte seria uma tarefa fácil, jogando conversa fora de classe com Darren, Sammy
e Lil, mas descobri que eu realmente tinha um talento especial para isso. Sra.
Solhem elogiou qualquer peça que entreguei, oferecendo algumas sugestões e
comentários úteis, embora ela ainda, mais frequentemente do que não, me
chamava de Tom. Eu mesmo me vi respondendo ao nome em mais de algumas
ocasiões.
Atualmente, nós trabalhávamos em arte abstrata, e eu trabalhava em vários
tons de cinza que altamente complementou os olhos de Sawyer. Normalmente eu
pintava ou desenhava algo que me lembrava dela; isso fez a aula mais agradável
para mim do que tentar canalizar meus sentimentos artísticos para meus amigos
mortos. Sawyer era paz. Sawyer era conforto. E eu esperava com toda a esperança
101
que quando eu visse Sawyer depois da aula, ela teria alguma coisa para ajudar
com a dor de cabeça que Josh me deu quando bateu minha cabeça no chão.
Sra. Solheim caminhou ao redor da classe, enquanto outros alunos
diligentemente trabalhavam em seus projetos, oferecendo dicas para enfatizar o
estilo. Ela passou por mim e deu um tapinha no meu ombro, murmurando: —

Bom trabalho, Tom. — Sorri e reprimi uma risada, enquanto ela continuava
andando pela sala.
No meio da aula, senti como se estivesse morrendo. Um ponto sensível na
parte de trás da minha cabeça latejava, e cada pulso de sangue fez minha testa
sentir como se tentasse expandir para fora... e falhando. Tinha certeza que algo
dentro de mim estava quebrado.
Mordendo meu lábio para me impedir de pedir um passe para ver a
enfermeira, eu de alguma forma consegui passar o resto da aula. Eu me arrastei
para fora, esfregando minhas têmporas e me deparei com Sawyer fora do prédio,
esperando por mim. Seu cabelo preto ainda estava em um rabo de cavalo elegante
e ela tinha as mãos enfiadas nos bolsos da minha jaqueta esportiva. Ela olhava
para a sala do coral, mastigando um pedaço de chiclete e assistindo Brittany sair
da classe com algumas meninas bajuladoras, a maioria delas em suas roupas de
líder de torcida para a manifestação preparatória.
Andei até estar ao lado dela e melancolicamente disse: — Ei. — Ela se
assustou com qualquer coisa que pensava e olhou para minha cara servil.
— Deus, você parece uma merda. O que aconteceu? — Seus olhos
percorriam o meu corpo, em busca de alguma lesão externa.
Suspirei e apertei a ponte do meu nariz, na esperança de parar de alguma
forma as batidas. — Oh, eu só tive um encontro... com o chão.

— O chão? Huh?
Tirei minha mão do meu nariz e ajustei a alça da minha mochila no meu
ombro. — Não foi nada, apenas Josh provando que ele é o grande homem no

campus agora... e que me odeia. — Balancei a cabeça com raiva, o que causou

uma dor cortante por todo o caminho até os meus ombros. — Nada que eu já não
soubesse.

102
Sua boca caiu quando ela se aproximou de mim. — Ele atacou

você? Na classe? — As mãos dela vieram até a minha cabeça, apalpando as


depressões. Eu respirei fundo, quando ela encontrou o ponto sensível na parte de
trás.
Tirei suavemente suas mãos. — Está tudo bem. Ele meio que me atacou e
bati minha cabeça. Estou bem, realmente. Foi mais constrangedor do que qualquer
coisa, ele me pegando de surpresa assim.
— Aquele pequeno canalha! — Sua mandíbula apertou de raiva, e por um
momento eu me preocupei que ela tentaria encontrar Josh e se vingar. Em seguida,
o rosto relaxou quando olhou para mim de novo. — Devemos ir à enfermaria. Você
pode ter uma concussão.
Eu ri e ela torceu os lábios para mim. — Não acho que ele me bateu tão
forte. Eu poderia tomar um Advil3 ou algo assim. Eu tenho uma dor de cabeça
furiosa.
Seu rosto se iluminou. — Oh, eu tenho aspirina.
Ela vasculhou sua bolsa, enquanto eu abria a minha e pegava a meia
garrafa de água vazia do meu almoço. Ela encontrou um pequeno recipiente branco
e abri-o, tirou um par de pílulas. Eu engoli os comprimidos sem olhar e bebi minha
bebida. — Obrigado — eu murmurei após beber o resto da minha água. Meu corpo
esperando que essas malditas coisas fizessem efeito logo.
— Claro. — Ela me olhou de novo, quase parecendo a minha mãe por um
momento. Então agarrou meu cotovelo e me puxou em direção ao ginásio. Eu dei-
lhe um olhar estranho. Ela suspirou, então, explicou: — O clube da pureza
promoverá a segurança na manifestação. Todos precisam estar lá, incentivando as
crianças a participar da diversão limpa. — Ela parecia triste quando me puxou
para a manifestação.
— E por que apenas não ignoramos isso? — Perguntei, igualmente
sombrio.

3 Ibuprofeno – um anti-inflamatório.

103
— Porque os meus pais souberam disso e acham que é uma ótima ideia.
— Ela me deu um olhar seco. — Eles disseram a Reynolds para ligar se eu
abandonasse. Aparentemente, ela concordou. — Ela revirou os olhos.
Eu repeti o gesto, mas a segui. Se ela tivesse que sentar-se no inferno, eu
sentaria com ela. Entramos no ginásio, e eu peguei a familiaridade dele com uma
pontada. Eu tive claramente uma visão de Sammy e Lillian jogando conversa fora
em uma das arquibancadas que ladeavam o chão envernizado. Darren,
orgulhosamente vestindo sua camisa de futebol, estava de pé no chão em frente a
elas com suas mãos em conchas e gritando com as líderes de torcida para virar
suas saias para cima. Sammy bateu no seu traseiro, rindo de sua exibição. Ela
revirou os olhos para Lillian, que acenava do outro lado do ginásio para onde eu
estava prestes a caminhar até eles em minha memória.
— Luc? — Olhei para Sawyer me observando. — Você está bem? Sua
cabeça melhorou?
Eu dei um pequeno sorriso para ela e acenei com a cabeça. Minha dor de
cabeça foi se afastando. Na verdade, eu começava a me sentir muito bem, quase
leve e arejado. Sorri mais largo e coloquei minha mão em seu ombro. Ela acenou
de volta para mim, e começamos a caminhar para baixo da linha de arquibancadas
até o fim. Ouvi vários gritos pejorativos para mim, vindo tanto das arquibancadas
quanto do chão, onde a equipe se reunia para o evento, mas eu ignorei. Eu me
senti bem e seguraria esse sentimento por tanto tempo quanto pudesse.
Havia professores suficientes e funcionários ao redor, e fizemos isso até o
outro lado do ginásio sem sermos abordados. Acenamos para a Sra. Reynolds
quando passamos por ela, por isso ela sabia que estávamos aqui; então
sorrateiramente passamos os outros membros do clube da pureza e nos abaixamos
para o espaço estreito entre a última seção da arquibancada e a parede. Uma vez
lá, caí contra a parede para me sentar no chão. Inclinei minha cabeça para trás e
fechei os olhos, esperando pelo aumento do volume do espírito da escola para
acabar logo com isso.
Descansando assim, minha cabeça começou a nadar, e me senti um pouco
tonto quando a música da banda iniciou e foi respondido com um rugido
retumbante do corpo discente. Os alunos nas arquibancadas diretamente em

104
frente de onde estávamos sentados no chão começaram a gritar e marchar; a
torcida organizada começara. De repente não me importava que estivéssemos
aqui... aqui era bom. Quando os sons de alguém em um microfone apresentando
os membros da equipe encheu meus ouvidos, eu estendi a mão e agarrei a mão de
Sawyer.
Sorri enquanto minha cabeça derivava em um agradável nevoeiro... aqui era
muito bom.

105
Capítulo 6
Uma greve

Macia. Suave. Pequena. Perfeita.


Meus dedos traçaram linhas sobre a mão de Sawyer. Paz tomou conta de
meu corpo quando o meu enorme sorriso se espalhou ainda mais. Sobre o barulho
do ginásio alto, ouvi a voz musical de Sawyer me perguntando se eu me sentia
melhor.
Hmmm... eu estava, muito melhor. Balancei a cabeça para ela e notei quão
desconectado esse movimento parecia do resto do meu corpo. Era quase como se
a minha cabeça não fosse minha. Ri com a ideia e fiz de novo.
Eu ri novamente e virei minha cabeça de lado a lado, me divertindo com a
forma da luz e sua lentidão. Era como se meu cérebro estivesse a dois segundos
atrás de minha cabeça. Ri e olhei na direção de Sawyer. Lentamente abrindo meus
olhos, eu vi Sawyer juntando as sobrancelhas. O olhar não era nada como a paz
que eu sentia, e querendo que ela relaxasse, eu levantei minhas mãos e tentei
suavizar as rugas de preocupação. Segurei seu rosto e estiquei meus dedos sobre

106
as sobrancelhas e na testa. Suas sobrancelhas se juntaram ainda mais, enquanto
eu tentava alisá-las e ri novamente. Sua pele era como seda sob meus dedos, desisti
de tentar relaxar a expressão dela e senti aquela sedosidade com as pontas dos
meus dedos de repente sensíveis.
— Uau, você é perfeita — eu sussurrei, minha voz parecendo lenta e um
pouco arrastada. Inclinei-me mais perto dela, sua respiração suave no meu rosto
enquanto ela me olhava com os olhos arregalados. — Sua pele é tão suave, como

pétalas de flores. — Meus dedos traçaram suas claras bochechas, sua testa, abaixo
da linha do nariz, através da plenitude de seus lábios. Ela inalou uma respiração
rápida para isso e eu segui o movimento dos lábios, hipnotizado. Inclinei-me ainda
mais perto dela e seu perfume me bateu; um doce perfume suave que me deu água
na boca. — Você ainda cheira a flores. — Inclinei-me ainda mais perto até que
nossos narizes se tocaram, minhas mãos ainda acariciando seu rosto. O calor do
nosso corpo juntos queimando todo o caminho através do meu corpo, me
chamuscando em lugares sensíveis. — Eu me pergunto como é o seu gosto...
Inclinei-me ainda mais, avançando meus lábios nos cheios
dela. Antecipação encheu o espaço entre nós e sua respiração suave na minha
pele. Calor percorreu pelo meu corpo e cada parte de mim se sentia leve e arejado,
despreocupado... destemido. Eu ri com o sentimento e, em seguida, nossos lábios
finalmente escovaram juntos. Ela suspirou em minha pele quando nos
encontramos.
Oh, Uau.
Sua pele não era nada em comparação com a carne macia. Eu queria
mais. Queria aquela suavidade em toda parte. Queria isso agora. Mudei a minha
mão ao redor de seu pescoço e puxei-a com força para perto de mim, deslocando
minha cabeça para que eu pudesse separar nossos lábios e esgueirar a minha
língua dentro dela. Eu estava duro na minha ânsia e ela se afastou de mim. Ou
tentou; eu tinha um aperto firme em seu pescoço e puxei-a de volta. Empurrei
minha língua na sua boca, saboreando-a novamente. Ela era o paraíso. Ela era
doce, suave, atraente e excitante, e eu queria muito mais.
— Pare com isso, Luc!

107
Meu mundo de repente se deslocou para trás e confuso, eu pisquei e olhei
em volta. A boca de Sawyer não estava mais na minha. Na verdade, ela estava a
cerca de sessenta centímetros longe de mim, encolhida junto a parede, respirando
pesadamente, e olhando para mim como se eu fosse um estranho. — O que há de

errado com você? — Ela perguntou com a cabeça abaixada.


Levantei e me afastei dela. Não havia nada de errado comigo. Meu corpo
discordou. O movimento súbito ao me levantar fez minha cabeça girar e depois
tudo escurecer. Caí de joelhos e pousei duramente sobre a madeira do
ginásio. Minha respiração saiu em uma corrida quando as minhas mãos caíram no
chão. Tomei uma respiração profunda, firmando e senti mãos pequenas segurando
meus ombros. Som correu para os meus ouvidos – os sons do ginásio barulhento,
sons da banda, sons dos gritos das líderes de torcida, sons de Sawyer, me pedindo
alguma coisa uma e outra vez. Minha cabeça não conseguia separar as
peças. Comecei a entrar em pânico.
Quando minha visão começou a clarear, levantei-me mais devagar. Mas
minha visão nadou e girou quase violentamente. Eu não conseguia me concentrar
em um objeto por muito tempo. Vi Sawyer, aparentemente preocupada, e então ela
se moveu para a arquibancada e um mar de camisas multicoloridas, azuis e
brancas. Isso me deixava enjoado. Recuei, longe das arquibancadas. Sawyer tentou
agarrar a minha camisa, me parar, mas eu empurrei as mãos dela e retrocedi... em
direção à quadra.
A luz do ginásio me bateu em cheio e senti meus olhos lacrimejar. Olhei
para o mar de rostos, não reconhecendo qualquer um deles, e agarrei minha
cabeça, tentando parar o girar. Eu não podia. Comecei a respirar mais pesado e
retrocedendo mais, até que um arco gigante pairava sobre minha cabeça. Pensei
ouvir o meu nome e o riso, mas a língua murmurava antes de chegar a meus
ouvidos, e não conseguia entender nada.
Um rabo de cavalo preto longo encheu minha visão, mas de repente eu girei
e virei para um curto, um corte pixie em um cabelo castanho. — Lucas? — Braços
me puxaram de volta para a arquibancada e eu tropecei ao redor, de repente meus
pés grandes demais para o meu corpo. O cabelo curto na minha frente virou para
o cabelo preto ao meu lado. — O que há de errado com ele, Sawyer? — Preocupação

108
encheu ambas as faces e com minha cabeça estabilizada em uma posição, distingui
a Sra. Reynolds na minha frente, com os braços magros sobre o meu, o seu corpo
esbelto perto de mim, e minha mão levantou tentadoramente para perto de seu
quadril. Um incêndio surpreendente passou por mim em sua proximidade.
— Eu não sei. Ele disse que tinha uma dor de cabeça mais cedo...?
Eu dei um passo ainda mais perto de Reynolds e trouxe meus braços ao
redor da cintura dela. Ela era magra, cheia de curvas e quente. Ela me deixou
quente. — Ei, Sra. Reynolds. Deus, você é quente, totalmente fodível. — Eu me
inclinei para ela, então nossas cabeças se tocaram. Minhas palavras ainda estavam
arrastadas e lentas, mas ela aparentemente me ouviu muito bem... bem com todo
mundo na arquibancada perto de nós. Um suspiro simultâneo ecoou em torno de
mim e Reynolds afastou e ficou cerca de três tons de vermelho.
Assim como minha cabeça lenta queria saber o que eu disse que estava tão
errado, a Sra. Reynolds levou a mão até que ela ia me dar um tapa. Pisquei e tentei
me concentrar em sua mão e, então, a mão relaxou e caiu de volta para seu
lado. Sem dizer uma palavra, ela tirou os meus braços e agarrou meu pulso, me
arrastando para fora do ginásio. Passamos por todas as arquibancadas novamente
no nosso caminho, mas quase não notei. Eu só podia olhar extasiado para as linhas
do laminado no chão enquanto tropeçava e caminhava atrás dela.
E, de repente, eu estava caindo. Eu não tinha reflexos para falar, e sem
chance de conseguir me segurar, eu caí pesadamente sobre o lado do meu rosto.
Estranhamente, não senti o impacto. Só senti a frieza do chão debaixo de mim. Na
verdade, achei um pouco legal na minha pele levemente aquecida, então ri e fiquei
onde estava no chão. Outros sons risonhos encheram meus ouvidos e eu ri mais,
pensando que todos nós soamos agradáveis juntos.
Então senti um par de braços debaixo de mim e fui levantado no ar. O
movimento brusco fez minha cabeça girar e meu estômago dar uma guinada. Tentei
vomitar, mas nada saiu, e gemi. Conforme em endireitava, a sensação de náusea
passou e respirei um suspiro de alívio rápido. Então fui empurrado para
frente. Alguém atrás de mim disse algo ao longo das fileiras sobre ser gentil e mãos
firmes estavam em meus ombros e eu era guiado para fora da sala.
Quando a porta se fechou atrás de mim, um coro de massa de riso
estourou. Eu achei que soava bonito, e virei- me para voltar para o som. Eu fui
109
energicamente redirecionado e forçado a descer degraus e passar por outro
conjunto de portas, para um frio que me fez estremecer.
— O que há de errado com ele? — A cabeça preta disse estas palavras ao
meu lado e uma mão quente apertou sobre a minha. Segurei apertado, saboreando
o calor como a frieza súbita em torno de mim e meus dentes batendo.
— Ele está obviamente bêbado, senhorita Smith... você está? — Uma voz
profunda atrás de mim disse e eu tentei reconhecer a voz.
— Não, Sr. Varner... e ele também não está. Eu estive com ele a maior parte
do dia e ele não bebeu. — Eu inclinei minha cabeça na voz falando ao meu lado,
era linda... como um anjo.
A voz profunda e masculina atrás de mim continuou: — A maior parte do

dia – não todo. Ele poderia ter tomado algo em sua última aula. — Mãos levemente
empurraram meus ombros e eu tropecei em meus pés enormes, quase tropeçando
no concreto duro, antes de essas mãos deslocarem abaixo dos meus ombros, me
mantendo em pé.
A mão quente na minha foi acompanhado pela outra e virei minha cabeça
para olhar para um belo par de olhos cinzentos... olhos de anjo, eu tinha
certeza. Sorri calorosamente para ela e ela fez uma careta. Eu chateei o meu
anjo? Os olhos cinzentos deixaram o meu rosto para a voz, atrás de mim. — Nós
seríamos capazes de sentir o cheiro se ele tivesse, e ele não o fez. Eu estou dizendo,
ele estava bem antes da manifestação preparatória. — Seu lábio inferior preso em
um beicinho perfeito e parei de andar. Eu queria sentir aquele lábio novamente. Tão
suave.
Inclinei-me para fazer contato com ela e fui duramente empurrado para
frente. Meus pés tropeçaram, e só os fortes braços me salvaram do chão frio. Um
longo suspiro exasperado soou do meu ajudante atrás de mim. — Bem, ele
esgueirou algo no caminho até lá. Ele, obviamente, não está bem agora.
A mão quente voltou a minha de onde foi empurrada. Eu apertei-a, nunca
querendo que o calor me deixasse. O cabelo negro balançou de lado para o outro
enquanto meu anjo falou: — Não, ele não fez. Ele só tomou aspirina... só... só
aspirina.

110
Outro longo suspiro atrás de mim e um suspiro surpreendentemente
feminino do outro lado de mim. — Certo... Aspirina forte então. — Uma mão me
firmou e outra foi tirada de mim, separando meu anjo e eu, a uma distância que
parecia tão longe de mim que poderia ter sido um continente diferente. — Vá para

casa, senhorita Smith. Reynolds e eu vamos cuidar disso. — Eu tentei copiar o


movimento, automaticamente, e caí sobre o peito forte atrás de mim. Eu fui
empurrado para frente e a mão voltou ao meu ombro. O suspiro voltou também.
— Não, eu quero ficar com ele. — A voz do meu anjo era doce no meu
ouvido quando ela se inclinou para mim. Virei a cabeça e tentei descansar em seu
ombro, mas tropecei em uma pedra, em vez disso, e quase caí no chão novamente.
A voz atrás de mim ficou severa enquanto suas mãos me endireitavam
novamente. — Eu não estava pedindo... vá para casa!

— Sim, senhor.
Muito a contragosto, a mão quente se afastou de mim. Entrei em
pânico. Não, meu anjo não poderia me deixar. Ela deixava tudo bem. Minha vida
estava bem por causa dela. Se ela me deixasse, a escuridão se instalaria... eu
sabia. De alguma forma, era a única coisa que meu cérebro em frangalhos sabia
com certeza – que ela não podia me deixar.
Eu me afastei das mãos fortes atrás de mim e joguei os braços ao redor da
cintura do meu anjo. — Não, não, não, não... por favor, não a mande embora. Por

favor, não mande meu anjo embora. — Mãos tentaram me puxar e lutei contra
eles, com todos os músculos descoordenados que eu tinha. Mãos macias varreram
meu rosto e uma voz suave balbuciou que tudo ficaria bem. Mas nem tudo estaria
bem, não se fosse embora. Eu comecei a chorar. — Por favor, Deus... não. Não a
leve também. Eu preciso dela. Por favor, não a leve para longe de mim,
também. Você pega todo mundo.
Meus braços apertados firmemente em torno dela e comecei a chorar em
seu ombro. As mãos fortes pararam de tentar me separar do meu conforto e mãos
macias correram para cima e para baixo das minhas costas suavemente. Outro par
de mãos levemente escovaram meus ombros. — Está tudo bem, Lucas. Ela pode
ficar com você... pelo menos até sua mãe chegar. Está tudo bem.

111
Meus soluços pararam quando duas pequenas mãos aliviaram a dor da
solidão repentina no meu corpo. Minha cabeça relaxou em um mesmo nevoeiro de
paz e puxei minha cabeça do ombro úmido do meu anjo para ver seu rosto. Suas
bochechas estavam tão molhadas quanto a minha sentia. Eu fiz uma careta e
segurei-as em minhas mãos. — Não... não chore. Anjos não choram. — Olhamos
um para o outro por um momento, seus olhos cinzentos sacudindo o meu rosto,
parecendo preocupada e assustada. Eu senti a onda de felicidade dentro de mim e
desejava partilhar com ela. Ainda segurando seu rosto, inclinei-me para perto. —

Eu te amo. Você é tudo para mim... tudo. — Alegria tomou conta de mim e me
inclinei para sentir a maciez de seus lábios novamente.
Mãos ásperas me puxaram de volta me fazendo caminhar em direção a um
edifício de aparência achatada. — Jonathan, cuidado com ele. — A outra voz
feminina soou descontente com o homem atrás de mim.
— Está ficando frio parado aqui fora. Não vou esperar enquanto estes dois
curtem. Eu gostaria de chegar em casa em algum momento esta noite. — Mãos me
empurraram para frente e estendi a mão para o meu consolo. Ela estendeu a mão
para trás, facilmente alcançando a minha forma arrastada, e segurando minha
mão apertada. Tudo estava certo com o mundo com meu anjo novamente ao meu
lado.
O tempo avançava e recuava ao meu redor, nada disso faz sentido e nada
disso importa. Eu tinha uma mão macia na minha, e isso era tudo em que eu me
concentrei. Uma parte de mim estava consciente de ir ao posto de enfermagem no
primeiro andar, onde algo frio e úmido foi colocado em minha mão livre e uma voz
firme me mandou beber. Eu ri disso até que uma voz doce me pediu para beber, e
eu cumpri. Quando a suave bebida me bateu, minha garganta apertou na sede
repentina e bebi tudo o que me foi dado em questão de segundos. Meu corpo foi
empurrado com força para baixo em um quadrado plano, liso e outro copo frio foi
dado a mim. Eu bebi aquele também.
Uma voz masculina e feminina se afastaram de mim e pensei que ouvir as
palavras chamar a sua mãe. Ignorei-os quando a mão quente na minha me apertou
forte e uma cabeça levemente descansou no meu ombro. Eu relaxei completamente
onde fui colocado, e descansei minha cabeça em cima de uma no meu ombro. Eu

112
ri e foi legal, então fiz isso de novo. A cabeça debaixo de mim suspirou e deslocou-
se para olhar para mim.
— Lucas... o que há de errado com você?
Dei de ombros, dei uma risadinha e descansei minha testa contra a dela. —

Nada... eu me sinto ótimo. — Minhas palavras ainda pareciam grossas na minha


boca, ri de novo e balancei a cabeça contra a dela.
— O que você fez?
Eu ri e tentei refazer meus passos por um momento, quando não me sentia
assim – leve, aéreo e livre. Dei de ombros novamente. — Eu não sei.
Um suspiro escapou do meu anjo e ela olhou para baixo. Eu trouxe a minha
mão até sua bochecha e fiz levantar os olhos para os meus, puxando um pouco
para trás para que eu pudesse olhar para eles. — Não fique triste... eu me sinto

ótimo. — Sorri e acariciei a pele macia e sedosa sob meu polegar.

Os olhos dela fixos nos meus. — Claro, você se sente agora. Ligue para mim

amanhã. — Ela suspirou de novo, enquanto eu distraidamente ri. Em seguida, ela


mordeu o lábio e os meus olhos focaram como feixes de laser sobre a pele macia. Os
lábios se separaram e palavras escaparam-lhes. — Eu sei... eu sei que você está
perdido agora... mas, você quis dizer isso?
Eu balancei a cabeça. — Sim... quis dizer o quê?
Ela suspirou, o ar escovando meu rosto cheirando maravilhosamente ao
chiclete que ela ainda mastigava. — Quando você disse que me amava?

Eu virei os meus olhos para encontrar os dela. — Claro que eu te amo. —


Eu dei de ombros outra vez, amando o quão maravilhoso essas palavras soaram
alto. — Eu te amo mais do que qualquer coisa. Você é minha melhor amiga.

Ela fechou os olhos quando eu disse isso. — Certo... melhor amiga.

Sorri enquanto meus olhos focavam seus lábios macios, macios. — Eu te

amo, Sawyer. — Minha cabeça avançou até sentir aqueles lábios novamente. Eu
escovei contra eles e suspirei feliz. Eles se mudaram ligeiramente, separando um
pouco, trazendo novas superfícies para sentir, uma nova suavidade para explorar
e suspirei de novo, muito feliz. Minha mão percorreu o pescoço fino e subiu até o

113
barbante de seda em seu rabo de cavalo. É tão bom. Inclinei-me mais para ela,
querendo sentir mais do seu corpo, mais de sua pele, mais de seus lábios. Mais...
só... mais. Nossos lábios se abriram mais, e tive uma sensação rápida da sua
língua, a encontrando calorosa e receptiva. De modo muito agradável. Eu gemi e a
desejei novamente.
A cabeça virou para o lado, quebrando nosso contato. — Não, Lucas... pare.

Eu mudei meus lábios para seu pescoço macio, com fome de sua pele. —
Por quê? É uma sensação agradável... tão incrivelmente bom.
Um gemido suave escapou dela, fazendo coisas inesperadas para o meu
corpo, mas ela me empurrou para trás e segurou minha cabeça longe dela. — Bom

não é suficiente. — Levantei minha cabeça em suas mãos, confuso, e ela

suspirou. — Amigos não fazem isso. Nós não podemos fazer isso. — Seus olhos
ficaram tristes quando ela olhou para o meu rosto. Eu odiava quando ela parecia
triste. — Especialmente quando você está assim...
Eu me afastei e olhei para sua expressão, algo começando a registrar em
mim. — Eu estou deixando você triste? — Ela mordeu o lábio e assentiu com a
cabeça, e de repente eu queria chorar de novo. Eu poderia até sentir meus olhos
lacrimejando. — Eu só queria fazer você se sentir bem, como eu. — Eu agarrei o

seu rosto, de repente, assustado. — Não quero te machucar. Eu nunca mais quero
te machucar. Você é tudo para mim.
Ela tirou as mãos do rosto e acenou com a cabeça. — Eu sei, Luc... e você

significa tudo para mim. — Ela passou a mão pelo meu rosto. — Mais do que você

imagina. — Eu sorri, mas não entendi. Ela balançou a cabeça. — Vamos sentar
aqui e esperar pela sua mãe.
Ela enrolou-se no meu ombro, uma mão no meu peito, e esperamos... e
esperamos... e esperamos. Em algum lugar em toda a espera e bebendo água – a
partir do copo sem fim que a Sra. Reynolds nunca deixava secar por muito tempo
– minha cabeça começou a limpar e comecei a lembrar. Ainda me sentia leve e
arejado, mas eu poderia pensar mais com a cabeça e menos com... meu corpo.
Fechei os olhos e deixei minha cabeça bater na parede atrás de mim. O
enorme ponto sensível do meu crânio também retornava, e respirei rápido. Sawyer

114
olhou para mim do meu ombro. — Oh Deus, Sawyer... minha mãe vai me matar.

— As minhas palavras ainda eram lentas, como se demorasse um segundo para o


meu cérebro pensar e minha boca falar.
Olhei para ela e ela sorriu para mim. — Sim, acho que ela vai. — Ela mudou

de sua posição e caiu contra mim encolhendo os ombros. — Se serve de consolo,


os meus pais vão me matar também. Chegarei muito tarde em casa.
Suspirei e olhei para baixo. De repente, lembrei-me de todas as coisas que
eu fiz e disse... para ela. Olhei para trás para ela, um pouco assustado. — Ei... eu
sou... eu realmente sinto muito...
Ela corou e não me deixou terminar. — Não... não se preocupe com

isso. Você só está... confuso. Acontece com os melhores de nós. — Corei e desviei

o olhar, mas olhei para trás quando senti seus olhos queimando em mim. — Você
sabe o que... o que você tomou?
Meu cérebro ainda lento tentando lembrar o que aconteceu. Tudo o que eu
conseguia lembrar foi ter uma dor de cabeça e depois não ter dor de cabeça. Franzi
as sobrancelhas, tentando pensar com mais força. — Não, eu só me lembro de você

me dar... — eu olhei para ela, formando um nó horrível no estômago. — O que


você me deu, Sawyer?
Seu rosto parecia confuso enquanto olhava para mim. — Aspirina. Eu te
disse isso. Eu sempre carrego um pouco para dores de cabeça e outras coisas.
O nó no estômago cresceu e minha mente obscura tentou pensar racional
e não emocionalmente. — Não... não era apenas aspirina. A aspirina não faz isso
comigo. O que era?
Agora ela parecia com raiva. — Era apenas aspirina. — Ela colocou a mão
no meu braço quando eu trouxe a minha mão até a ponte do meu nariz. Minha
cabeça ainda estava tão nebulosa... as coisas simplesmente não faziam sentido. —
Olha, Luc, eu sei que você ainda está confuso, então tentarei não ficar louca aqui...
mas não uso drogas mais do que você usa, e eu definitivamente não escorreguei
nada. Por que eu faria isso?

115
Deixei a minha mão no meu rosto e suspirando, voltei a olhar para ela. —

Eu não sei. — Eu dei de ombros. — O que está acontecendo comigo, Sawyer? Sinto

que estou prestes a começar a voar. — Eu franzi a testa. — Ou caindo... realmente,


qualquer um dos dois se encaixaria.
Ela deu uma tapinha no meu braço e sacudiu a cabeça. — Eu não sei,

Luc. Eu gostaria de saber. — Eu queria perguntar mais. Eu queria falar mais com
ela. Queria pedir desculpas por empurrar minha língua em sua garganta, mas
naquele momento... minha mãe apareceu.
Parecendo esgotada e em pânico, vestindo seu uniforme da loja de
ferragens, ela voou para o posto de enfermagem e imediatamente trouxe os olhos
para o meu. Eu descobri que não conseguia encontrar as profundezas dos seus
olhos castanhos idênticos ao meu e olhei para o chão. Sawyer apertou minha mão,
quando todo o meu corpo ficou tenso, à espera da explosão própria dos pais que
eu podia sentir que vinha.
Senti um corpo se mover na minha frente e um par de pequenos sapatos
pretos encheu minha visão. Prendi a respiração. Então minha mãe se agachou na
minha frente, colocando suas mãos pequenas nos joelhos e movendo a cabeça para
que olhasse para mim. Eu timidamente encontrei o olhar dela, rezando para que
meu cérebro ainda flutuante não dissesse nada estúpido.
Seus olhos preocupados prenderam nos meus. — Lucas... você está bem?

— Eu esperei ouvir a raiva na voz dela, mas tudo o que eu ouvi foi preocupação. Eu
exalei e relaxei. Estupidamente eu balancei a cabeça, minha visão girando um
pouco quando fiz.
Todo o rosto da minha mãe relaxou e com um profundo suspiro, ela jogou
os braços em volta de mim e apertou-me com força. — Deus, você me assustou.
Quando eles ligaram, eu pensei... eu pensei... você me assustou, Luc.
De algum lugar do meu corpo, culpa brotou, me enchendo completamente,
até que se manifestou fisicamente quando lágrimas corriam pelo meu rosto. Eu
machuquei esta mulher pequena, quente, amorosa... profundamente. — Eu sinto

muito, mãe — eu disse entrecortado, minha voz lutando com as palavras. Eu senti
como se fosse chorar de soluçar... e então eu chorei.

116
Ela me sacudiu e me fez calar enquanto suas mãos esfregaram minhas
costas. Eu senti Sawyer apertar minha mão e, em seguida, liberá-la e eu pendurei
meus braços ao redor da minha mãe, puxando-a apertado enquanto eu chorava
em seu ombro. Eu não conseguia entender por que eu chorava... e não conseguia
parar também.
— Está tudo bem, Lucas... respire... está tudo bem.
Ela repetiu até que finalmente parei de choramingar. Minha mãe se afastou
de mim e limpou meu rosto com seus polegares. Eu fungava e olhei para suas
feições tristes. Eu fiz isso. Eu a deixei triste. Eu nunca a deixei triste. Ela olhou
para Sawyer sentada ao meu lado e sorriu levemente para ela.
— Sra. West?
Minha mãe virou para olhar para a Sra. Reynolds em pé atrás dela. — Posso

levá-lo para casa? — Ela perguntou em voz baixa.


Reynolds acenou para ela, sacudindo um rápido olhar para mim antes de
apontar com o dedo a um escritório adjacente. — Sim, eu só preciso falar com você

em particular por um momento. — Sua expressão cansada e, talvez, um pouco

triste, e ela continuou lentamente. — Sinto muito, mas temos políticas estritas
sobre abuso de substâncias. Haverá repercussões disso.
Minha mãe engoliu em seco e olhou para baixo. Ela soltou um suspiro e
balançou a cabeça antes de se levantar e seguir a Sra. Reynolds em uma pequena
sala, onde a Sra. Reynolds fechou a porta atrás delas. Assisti através do vidro e me
perguntei qual seria o meu destino. Cansaço infiltrou em mim e eu tinha o forte
desejo de me deitar no colo de Sawyer e tirar um cochilo. Sua mão quente voltou
para a minha e olhei para ela.
Ela enxugou uma lágrima perdida. — Você está bem, Lucas?

Eu sorri com um canto da minha boca. — Você me pergunta muito isso.


Ela sorriu de uma forma que combinava com o meu e deitou a cabeça no
meu ombro. Eu coloquei minha cabeça na dela novamente e fechei meus olhos, a
sensação leve e aérea mudando para tristeza.
— É porque eu nunca acredito na sua resposta — disse ela.
— Oh — eu murmurei, sonolento.

117
Senti sua cabeça virar debaixo de mim e levantei a minha, descansando
suavemente contra a parede atrás de mim, meus olhos ainda fechados. — O que

você acha que eles farão com você? — Ela perguntou, e abri meus olhos para olhar
para a minha mãe falando com a Sra. Reynolds, que balançava a cabeça, parecendo
se desculpar.
— Me chutar para fora. — Eu disse calmamente.
— Não, eles não fariam... fariam?
Balancei minha cabeça lentamente ao ouvir a preocupação genuína em sua
voz. Encolhi os ombros. — Estou na escola... fodido. — Eu dei de ombros

novamente. — Eles vão me expulsar. — Eu olhei de volta para as janelas onde a


Sra. Reynolds dizia alguma coisa para minha mãe, que já estava com uma mão
sobre os olhos. — Eles me odeiam de qualquer maneira — eu murmurei.
Sawyer apertou minha mão, mas não olhei para ela. Culpa me encheu de
novo enquanto eu observava minha mãe desesperadamente tentar e lutar por
mim. — Eles não vão, Lucas — Sawyer disse baixinho ao meu lado.

Eu finalmente olhei para ela. — O quê? — Minha língua parecia sólida na


minha boca e meus olhos queriam fechar novamente.
Ela suspirou e balançou a cabeça, seu cabelo escuro balançando por cima
da minha jaqueta. — Eles não te odeiam... nem todos eles de qualquer
maneira. Alguns estão apenas confusos. Você não se lembra do acidente... e há
tantos rumores sobre isso. — Ela encolheu os ombros. — Eles apenas não sabem
no que acreditar.
Raiva passou por mim, e virei minha cabeça para frente e não olhei para
ela. — Eu não bebi... eles poderiam acreditar nisso.

Ela suspirou e descansou a cabeça no meu ombro novamente. — Eu sei,


Luc... eu sei.
Ficamos assim até a minha mãe e a Sra. Reynolds voltarem da pequena
sala; ambas as mulheres pareciam tristes e desgastadas. Reynolds apertou as
mãos na frente dela e, limpando a garganta, me falou em sua voz mais
profissional. — Lucas, não sabemos o que você tomou, mas é óbvio que você tomou
alguma coisa. Falei com a diretora e está suspenso da escola por duas
118
semanas. Você não será permitido dentro ou perto do campus até a sua suspensão
acabar, mas se Sawyer quiser, ela pode pegar seu trabalho escolar, assim você não
fica para trás. Não temos nenhum desejo de prejudicar suas boas notas, e mesmo
que agora você tenha isso em seu registro permanente... eu acredito que você é um
estudante bom o suficiente para não afetá-lo muito quando você se aplicar para as
faculdades ainda este ano. — Ela sorriu calorosamente, como se tudo estivesse
bem. Minha mãe suspirou baixinho ao seu lado.
Minha mente cansada tentou processar a longa corrente de palavras, mas
eu meio que fiquei preso na primeira parte. Franzi a testa, sem entender. — Você

está... me dando umas férias? — Ouvi Sawyer ao meu lado relinchando por apenas
uma fração de segundo antes que ela trocasse para uma tosse.
O rosto de Reynolds endureceu. — Não... é um castigo, Lucas. Tempo para

você pensar sobre o que você fez... o que quer que seja. — Sua expressão relaxou

e ela acrescentou: — Além disso, te coloca muito mais perto de duas regras
nossas. Mais uma infração como esta, Luc... e você vai embora.
Engoli em seco quando esse pensamento realmente penetrou — Eu não fiz

isso — eu sussurrei.
Reynolds me deu um sorriso que mostrou claramente que ela não acreditou
em mim completamente. — Não deixe que isso aconteça novamente, Luc. — Ela
olhou para baixo por um momento e, com um pequeno suspiro olhou
novamente. — Nós também... — ela suspirou, sacudiu a cabeça e começou tudo

de novo. — Eu sinto muito, Luc, mas a diretora acha que você estar no Clube
Seguro e Sadio dá um mau exemplo. Me desculpe... mas você está fora.
Isso realmente me chocou mais do que as férias que me era dada. Eu me
levantei. Bem, eu tentei. Levou um par de vezes antes que eu fizesse
completamente. Sawyer se levantou comigo, me apoiando com uma mão em meu
peito. — O quê? Não... — esse era o meu tempo livre com Sawyer, se eles tomassem
isso de mim, eu passaria esse tempo sozinho na minha casa... com pensamentos
que eu não precisava pensar mais do que já fiz. Eu queria Sawyer, eu queria a
paz. — Por favor?

119
Reynolds me deu um olhar de simpatia com a suplicação em minha
voz. Olhei para minha mãe e ela pareceu surpresa. Eu não contei a ela sobre o
clube, e meu desejo óbvio de permanecer nele a fez retroceder. Olhei para a Sra.
Reynolds com os olhos que eu esperava que combinassem com a minha voz. Eles
não podiam tirar isso de mim também...
Ela mordeu o lábio. — Vou falar com a diretora, novamente, Luc. Talvez...

— ela colocou a mão em seu queixo e, em seguida, seu rosto se iluminou. — Vou
perguntar a ela sobre você vendo o conselheiro. Talvez se você tiver uma sessão
com ele, ele vai considerar deixar você se juntar ao nosso grupo.
Seu rosto se iluminou mais quando meu queixo caiu. Meu cérebro podre
preso na palavra conselheiro. Eu não queria um conselheiro... mas eu queria
Sawyer. Olhei de volta para Sawyer e ela deu um sorriu encorajador para mim. —

Sim, está bem. — Eu me encontrei dizendo as palavras, mesmo sem querer dizê-
las.
Reynolds fez um barulho satisfeito e até a minha mãe parecia suspirar de
alívio. Reynolds se aproximou de mim e colocou a mão no meu braço. — Estou

muito feliz que este clube passou a significar tanto para você, Lucas. — Seus olhos

ganharam um brilho apaixonado. — Eu sei que podemos ajudá-lo.


Internamente, eu suspirei. Externamente, dei uma sugestão de um sorriso
e acenei com a cabeça. Eu queria ir embora. Queria esquecer este dia que nunca
deveria ter acontecido. Eu queria finalmente cochilar. Com um abraço de despedida
rápido da Sra. Reynolds e uma grande quantidade de ajuda de Sawyer com o meu
corpo lento, eu estava finalmente no carro da minha mãe e acenando para Sawyer
através do vidro enquanto ela mordia o lábio e me via ir embora. Depois de um
rápido, e felizmente silêncio, indo para casa, minha mãe me ajudou na cama, e eu
com gratidão adormeci... deixando meu pesadelo desse dia escoar de mim.
Eu adormeci por meros segundos quando uma voz em meu quarto me
acordou. — Então, o que diabos foi isso, Luc? Você estava drogado na

escola... você? — Eu abri meus olhos e vi Darren no lado mais distante do meu
quarto, girando uma das minhas bolas de futebol em sua mão. No mesmo instante,
eu sabia que não estava acordado, e um dos meus amigos mortos decidiu fazer

120
uma aparição durante o sono induzido por drogas. Não estava com disposição para
isso no momento.
— Vá embora... minha cabeça ainda dói. — Joguei os lençóis por cima do
meu crânio dolorido e tentei ignorar seus risos altos.
— Vá embora? Finalmente tenho a minha chance de algum tempo na tela.
— Eu afastei minhas cobertas para encará-lo. Ele sorriu para meu rosto não-
divertido. — Lil monopolizou tudo. — Seu sorriso virou diabólico quando se

aproximou da cama. — Claro, ela pode entretê-lo de maneiras que eu não posso.

— Jogando a bola no ar, ele gemeu indecentemente se sentando na beira da


cama. — Bom trabalho sobre o encontro da meia-noite, a propósito... foi incrível.

Corei e revirei os olhos. — Eu sei que você é apenas um sonho, mas pare
de mexer ao redor dos meus outros sonhos.
Ele riu jogando a bola mais algumas vezes. — Mas esses são os

interessantes. — Ele pegou a bola e de repente jogou no meu peito. Felizmente, eu

consegui pegá-la no tempo. — Além disso — ele apontou para a sua cabeça, —

Eu sou você... não é como se eu pudesse mantê-lo fora de sua própria cabeça. —
Eu dei a ele um olhar vazio enquanto tentava absorver isso, e ele riu novamente.
Deitou-se na cama enquanto eu me sentava. Joguei a bola para o chão e passei a
mão pelo meu cabelo. — De qualquer forma, finais felizes são os melhores — ele

murmurou enquanto olhava para mim intencionalmente. — Certo?

Corei novamente. — Já acabou?

Rindo, ele sentou. — É... eu acho. — Ele franziu a testa quando um

pensamento súbito lhe ocorreu. — Ei... é melhor nunca convidar Sammy para suas
pequenas histórias sexuais. Vou chutar o seu traseiro.
Balancei a cabeça para ele e depois ri do absurdo de tudo isso. Ele
finalmente riu comigo. — É bom ver você, cara. Eu senti sua falta.

Darren tem um olhar sentimental em seu rosto. — Ah, chegaremos a nos


abraçar agora?

121
Eu ri e joguei meu travesseiro nele. Ele pegou sem esforço. Balancei minha
cabeça de novo, e de repente me senti bem, e seu rosto ficou pensativo. — Sério, o
que foi isso, cara? Na escola? O que aconteceu?
Meu rosto ficou especulativo quando olhei para seus olhos escurecidos. —
Eu não sei.
— Você precisa descobrir isso, Luc. Você não fez isso, então alguém drogou
você... e se isso acontecer novamente... — ele deu de ombros, eu suspirei e passei
a mão pelo meu rosto.
— Eu sei... eu estou ferrado.
Ele riu e olhei para ele por entre os meus dedos. — Deus, Lucas... o que

você disse a Sra. Reynolds. Porra, que estava quente! — Ele riu mais ainda. — Eu
gostaria de ter tido a coragem de dizer isso a ela.
Gemi e coloquei minha cabeça de volta na parede. — Merda... eu esqueci

sobre isso. Todo mundo me ouviu dizer isso também. — Darren riu um pouco mais

e levantei a cabeça para encará-lo. — Não é realmente tão engraçado.

Ele inclinou a cabeça para mim de novo, ainda rindo. — Sério? Se fosse eu
dizendo que ela era totalmente fodível você não riria agora?
Tentei encarar, mas estourei em gargalhadas ao invés disso. Ele tinha um
ponto. Se alguém, a não ser eu, dissesse isso, eu estaria rolando no chão. Quando
meus risos diminuíram, eu tirei as cobertas de cima de mim. Olhei para mim
completamente vestido com uma agitação divertida da minha cabeça, coloquei
meus pés no chão e sentei na beira da cama com Darren. Seus risos cessaram
também quando ele olhou para mim, os cotovelos sobre os joelhos.
Olhei para os sapatos em meus pés. — Eles me farão ver um conselheiro

— eu murmurei mal-humorado.
— Bom — Darren respondeu imediatamente. Olhei para ele, e ele deu de
ombros. — Você deveria falar com alguém, Luc, depois do que você passou. —

Comecei a objetar, quando ele me interrompeu: — E não, conversar com invenções

de sua imaginação não conta. — Ele revirou os olhos e olhei para os meus sapatos.

122
— Vocês são os únicos com quem eu quero falar. Vocês são os únicos que
importam. — Meu tom de voz era suave, mas firme.

Ele suspirou e depois riu e olhei para ele de novo. — E aquela garota

quente, ardente... Sawyer? — Eu sorri, mas depois parei e balancei a cabeça.

— Não, eu não preciso trazê-la para o meu drama... mais do que eu já faço.
— Exalei alto e a minha cabeça caiu em minhas mãos. — Deus, eu totalmente a
beijei. Eu não tenho certeza se ela gosta de mim assim, mas...
— Ela beijou de volta? — Disse Darren simplesmente.
Olhei para ele, minhas mãos ainda enroladas no meu cabelo. — É... pelo
que eu me lembro.
Ele entortou um sorriso para mim. — Bem, então, sim... ela gosta de você.

Suspirei e olhei para o chão. — Ótimo... agora eu terei que machucá-la. Eu

gostaria que não tivesse acontecido. — Eu suspirei de novo.

— Por quê? — Darren levantou e caminhou até um espelho na parede. Na


borda interna, uma foto de nós quatro foi dobrada sob o quadro e ele puxou-a para
olhá-la. — Ela é bonita e interessante e vocês parecem gostar um do outro. Por

que não ir para ela? — Ele olhou para mim novamente, meus olhos se desviando
para a foto à esquerda dele.
— Porque estou com Lil — respondi automaticamente.
— O quê?
Deixei de olhar a foto e olhei em seu rosto. Seus olhos castanhos se
estreitaram para mim e seu cabelo permanentemente espetado para cima parecia
enfatizar sua expressão interrogativa.
— Estou com... — comecei a repetir.
Ele me interrompeu: — Não, eu ouvi você... eu só não entendo. — Com a

foto ainda na mão, ele caminhou até ficar ao meu lado. — Você recusa uma garota

viva que claramente adora você — ele apontou para Lil na foto, com os braços finos

circundando meu pescoço, — por uma menina morta que você só tem em... em
seus sonhos?

123
Engoli o nódulo doloroso na minha garganta com a lembrança feliz que a
foto invocava em mim. Minha mãe tirou em alguma tarde aleatória de sábado aqui
em casa. Não há nada especial no dia, era apenas um sábado, um sábado que
passamos juntos, um sábado que todos nós pensamos que teríamos centenas
mais. Eles morreram três semanas depois que a foto foi tirada.
— É uma sensação real, Darren. Isso parece real.
Ele jogou a foto para mim, enviando-a voando em meu peito antes que
caísse no chão aos meus pés. Apanhei quando ele fez um som irritado. Meus dedos
traçaram a borda afiada da imagem antes de arrastar sobre o rosto de Lil. Na foto,
Darren estava de pé atrás de uma Sammy brilhantemente sorridente, com os
braços em volta da sua cintura, segurando-a com a cabeça descansando no
pescoço dela. Lillian e eu estávamos de pé ao lado deles, os meus braços em volta
de sua cintura, sua cabeça ligeiramente inclinada para olhar para mim. Ela era tão
linda. Por apenas um momento, eu me perguntei se eu poderia controlar o meu
sonho o suficiente para trazê-la para mim. Eu queria me concentrar nela, mas
Darren arrebatou a foto de mim e minha linha de pensamento desapareceu.
— Você é um pouco louco, Luc — ele murmurou, ainda balançando a
cabeça.
Levantei e, peguei a foto dele, colocando-a em seu lugar no
espelho. Apertando e encostando na superfície fria, reflexivo, eu murmurei, — É...
talvez. Matar seus amigos faz isso com você.
Um longo suspiro me respondeu, e quando o meu olhar se desviou para trás
no espelho, vi o rosto de Darren amolecer com simpatia. Ele se aproximou e colocou
a mão no meu ombro. Ele estava prestes a falar, quando, de repente, Sammy saiu
de trás dele. Sorri quando encontrei os olhos dela no espelho. Os dela eram
quentes, um lindo marrom dourado, e seu sorriso era suave e amigável quando
caminhou até Darren e pegou a sua mão livre.
— Oi, Lucas. — ela sussurrou.
Eu me virei para olhá-la, com o cabelo castanho avermelhado brilhando na
penumbra do meu quarto. — Ei, Sammy... é bom vê-la.
Ela assentiu com a cabeça e mordeu o lábio. Ela olhou para Darren e ele
olhou para ela. O amor que se passou entre eles naquele olhar me atingiu como

124
uma bola de demolição no centro do meu peito, e por um momento, eu queria
chorar por ter tomado aquele amor desta terra. Engoli a dor e vi meus amigos de
almas-gêmeas.
— É hora de ir, Darren — disse Sammy baixinho, a outra mão indo para
sua bochecha.
Ele acenou para ela e olhou para mim. — Eu te vejo por aí, Luc... e tome
cuidado. Alguém fez isso para você.
Eu sorri para ele. — Quem não faria, Darren?
Ele franziu a testa para mim e parecia prestes a discutir, quando de repente
eu acordei.

125
Capítulo 7
O que aconteceu comigo?

Acordei do meu sonho com uma nebulosidade na minha cabeça. Os


momentos de sonho foram escorregando de mim, mas tentei segurá-los. Darren e
Sammy. Fechei os olhos e empenhei os detalhes que eu poderia lembrar –
brincando com Darren, ele me provocando de novo, ele preocupado comigo e
querendo saber o que aconteceu comigo. O que aconteceu comigo?
Abri os olhos e olhei ao redor do meu quarto cheio de luz. Pela aparência
das coisas, eu dormi até quase ao meio-dia. Minha cabeça estava melhor... grogue,
mas melhor. Minhas pernas estavam pesadas com o sono, mas as estendi e tentei
resolver os problemas. Memórias da torcida organizada encheram meu cérebro com
a memória do meu sonho. Eu fiz o papel de idiota.
Suspirando, sentei-me em minha cama, esticando os braços sobre a
cabeça. Eu estava dolorido e duro... e com tanta sede que dói para
engolir. Levantei-me e minha cabeça flutuou. Fiquei completamente imóvel até que

126
o sentimento rapidamente passou. Eu não tinha ideia do que foi feito para mim
ontem, mas sabia que eu não fiz isso. Quando dei pequenos passos calculados até
a minha porta, eu corri através de uma lista de pessoas que adorariam me
envergonhar. Infelizmente, a lista era extremamente longa.
Até o momento que me arrastei até o banheiro, eu tinha uma lista, que
consistiu de um terço do ensino médio. Isso não ajudava. Inclinando-me sobre a
pia, liguei a água, abri mão do copo e segurei minha cabeça debaixo da pia,
deixando a água fria bater na minha língua, quase suspirando com a alegria do
líquido hidratante correndo na minha garganta.
Sim, ontem foi embaraçoso... mas há várias outras maneiras de me
constranger. Isso foi um plano bastante elaborado para me deixar confuso na
escola, e enquanto eu tenho certeza que ele foi hilário para o meu algoz, era apenas
um efeito colateral de seu verdadeiro propósito... me expulsar. Água continuou
escorrendo em mim, ressecando minha sede enquanto eu pensava sobre isso. A
escola estava reprimindo drogas e álcool. Todo mundo achava que eu tinha um
problema de qualquer maneira, ao ponto de ninguém questionar eu estar confuso
na escola. E agora, mais um erro e eu estaria fora daquela escola. Bem, pelo menos
Josh adoraria isso.
Eu imediatamente me endireitei e olhei para mim mesmo no espelho. A água
pingava do meu queixo e escutei a força crescente da mesma saindo da
torneira. Josh. Na lista dos que não só queria me envergonhar, mas me queria indo
embora... ele estava no topo. Mas o que ele fez para mim... e como? Tentei me
lembrar de quando eu o vi pela última vez. Era fácil de lembrar. Ele bateu em mim
e, em seguida, sentou no meu peito até que eu não conseguia nem respirar. Suas
palavras naquela manhã ecoaram na minha cabeça – Tenha um bom dia na escola...
você merece.
Isso é o que ele quis dizer... ele me queria fora.
Desliguei a água e olhei para as poucas gotas restantes penduradas
ferozmente no metal cromado. Água... aspirina. Foi quando eu comecei a me
sentir... diferente. Se Sawyer realmente só me deu Aspirina, e eu acreditava que
ela fez, ela era a única pessoa na escola que realmente gostava de mim, então tinha
que ser a minha água. Ele fez alguma coisa com a minha água. Mas quando?

127
Lembrei-me de quando ele me abordou. Ele me segurou por um longo
tempo. Eu estava mais preocupado com a tentativa de respirar do que o que mais
acontecia. Talvez Randy foi até a minha mochila, e colocou na minha água. Fechei
os olhos e passei a mão pelo meu rosto quando eu me lembrei de pegar minha
mochila do chão... e colocar o conteúdo para dentro. Eu assumi que caíra por
escorregar do meu ombro, mas muita coisa caiu fora. É, realmente fazia mais
sentido que alguém mexeu nela. Eu costumava almoçar com esses caras o tempo
todo. Randy saberia que eu sempre bebia água com o meu almoço e eu geralmente
guardava um pouco para depois da escola. Eles costumavam me provocar sobre
isso – de que eu não conseguia nem mesmo entornar a água.
Apertei a mão em um punho e bati com ele na parede ao lado do espelho. Eu
ouvi o estalo do gesso e senti a dor sacudir o meu braço, mas ignorei. Josh deve
ter percebido que, se ele me machucasse o bastante, eu poderia precisar da minha
água. Na verdade, para ele era um tiro no escuro que seu plano desse certo... que
eu realmente beberia na escola, mas as probabilidades eram, eu beber em algum
lugar, e acho que ele esperava que eu fosse ser preso por alguém; a nova política
da escola era válida em qualquer lugar... isso acontecendo na escola, em uma
manifestação preparatória, bem, isso foi apenas um bônus feliz para ele. Foda Josh
e sua maldita vingança. Darren teria o seu traseiro se ele soubesse o que ele
orquestrou contra mim.
Eu não sabia o que fazer com Josh agora. Uma parte de mim esperava que
de alguma forma, ao longo do tempo, alguma coisa da nossa velha amizade voltaria.
Uma parte de mim esperava que além de qualquer coisa que ele parasse de me
odiar. Eu queria falar com ele em várias ocasiões, mas seus olhares maléficos ou
suas palavras cruéis sempre me pararam. Ele não queria falar, ele queria
brigar. Então agora o que devo fazer? Realmente não quero brigar com um amigo...
mas então, nós realmente não éramos mais amigos. Se ontem me mostrou alguma
coisa, foi que eu falhava em não deixá-lo me envolver. Em meu estado atual de
espírito, não tinha certeza se eu seria capaz de não envolvê-lo. Se ele continuasse
com isso, não tinha certeza do que eu faria, e esse pensamento não me emociona.
Deus, eu só precisava de mais um ano. Menos do que isso, na verdade. Eu
poderia estar fora desta cidade no verão.

128
Tirei minha mão da parede e culposamente olhei para as rachaduras
nela. Preciso corrigir isso antes que a mamãe note. Cuidadosamente abri a mão e
olhei para meus dedos ásperos. Eu corri um dedo sobre eles, enxugando um
pouquinho de sangue. Ótimo. Virei a torneira novamente e lavei o
sangue. Prejudicar objetos inanimados não ajudaria em nada. Apressadamente, eu
terminei no banheiro e depois me arrastei até a cozinha para comer. Eu estava
morrendo de fome.
Caminhei lentamente pela sala, olhando em volta procurando a minha mãe,
certamente, com raiva. Não a vendo, cautelosamente continuei até a cozinha. Olhei
ao virar da esquina, mas não a vi ali, também. Curioso com sua ausência, fui até
a geladeira. Arranquei uma nota da porta, a minha curiosidade foi imediatamente
reprimida.
Tive que ir para o trabalho para cobrir as horas que eu perdi ontem. Coma
alguma coisa. Eu te amo, mamãe.
Suspirei e li a nota novamente. A culpa passou por mim que ela deveria
trabalhar esta tarde, porque perdeu o seu turno no restaurante ontem à noite. Ela
não receberia pelo seu tempo ausente e não podíamos nem mesmo ficar algumas
horas sem remuneração, de modo que ela entrou no que deveria ser o seu dia de
folga, para compensar as horas. Por minha causa.
Suspirei e coloquei a nota no balcão. Nada nela parecia irritada. Nem, Nós
falamos sobre isso quando eu chegar em casa. Nem, Você está de castigo, então não
saia de casa. Nada. Apenas, eu te amo, coma alguma coisa.
Mais uma vez, mamãe deixaria essa passar. Sentindo-me horrível, eu fui
fazer um sanduíche. Minha mãe pode deixar isso passar, mas a escola não iria. Eu
estava fora de lá por duas semanas. Eu tinha que sorrir um pouco e sacudir a
minha cabeça pelo fato de que ser dispensado da obrigação da escola era
considerado um castigo... mas então eu fiz uma careta. Duas semanas sem escola
significavam duas semanas sem Sawyer. Ela não podia faltar comigo, e ela já
poderia estar em apuros com seus pais super rígidos por se atrasar tanto em voltar
para casa, esperando na escola por tanto tempo comigo. Eles podem até mesmo ter
a castigado... o que significava que eu realmente não a veria por muito tempo. Não
tinha certeza se eu poderia lidar com isso. Talvez eu tenha cruzado a linha em

129
nossa amizade, mas falei sério quando disse que ela era minha melhor amiga. Ela
era... e eu a perderia.
Acabei fazendo o meu sanduíche de manteiga de amendoim e geleia e me
arrastei até a sala para comer. Minha cabeça estava ligeiramente normal, embora
três vezes grande demais para o meu corpo. Descobri que se eu me sentasse e não
mexesse muito, não era tão ruim. Liguei a TV enquanto comia a passo de caracol,
tentando não me mover ou pensar.
Terminei minha refeição e fui me perder na simplicidade de alguns
espetáculos extravagantes quando uma batida suave soou na porta. Olhei para
mim mesmo, para as calças de pijama e camiseta surrada que a mamãe me ajudou
a vestir na noite anterior, quando ela conseguiu me deixar pronto para dormir, e
suspirei. Nada como um homem crescido quase precisando de ajuda para trocar
de roupa. Empurrei de lado essa humilhação e levantei-me, decidindo que eu
estava digno o suficiente para atender a porta. Era, provavelmente, apenas o
correio de qualquer maneira.
Andando devagar e com cuidado, cada passo meticulosamente traçado
antes de ser executado, finalmente cheguei à porta quando outra batida suave
ecoou através dela. — Espere — eu murmurei enquanto virava a maçaneta. Com
a expectativa de ver a nossa atarracada senhora do correio com um olhar exausto
no rosto e uma pilha de cartas muito grande para a nossa caixa, eu estava além de
surpreso ao ver Sawyer em pé no meu degrau, esfregando as mãos nervosamente
e deslocando seu peso.
Sorri e abri mais a porta. — Ei... o que você faz aqui?
Ela retornou meu sorriso e girou o anel em seu dedo polegar, um hábito que
às vezes fazia quando estava nervosa. Fiz uma careta enquanto me perguntava se
eu a deixava nervosa. Quão mal que eu estraguei tudo ontem?
— Eu queria ter certeza que você estava bem. — Seus olhos claros correndo
sobre o meu rosto, me estudando como a minha mãe fazia, às vezes.
Mudei meu peso e notei a sensação de peso em todo o meu corpo... e o
retorno da minha sede. — Eu estou bem, eu acho.

130
Ela franziu o cenho, mas assentiu. Um silêncio constrangedor construiu
quando eu estava na porta e ela se mexeu na escada. Finalmente, ela murmurou:
— Bem, tudo bem. Eu só queria ter a certeza...
Ela começou a se afastar, para ir para o seu carro, e estendi a mão e agarrei
seu braço para detê-la. Ela olhou para a minha mão e, em seguida, para o meu
rosto. Eu não podia ler sua expressão, mas esperava que ela estivesse bem com o
contato.
— Espera... — eu disse. — Você... você ficará comigo por um tempo? —
Orei para que ela dissesse que sim. Seria tão bom estar com ela um pouco, antes
de nossa separação forçada.
Finalmente, ela balançou a cabeça e deu um passo para frente. — Acho
que um pouco. Meus pais tiveram que sair da cidade em uma missão, então eu
tenho algumas horas antes de enviarem uma patrulha de busca atrás de mim. —
Ela levantou um canto do lábio e eu tive a impressão que ela estava meio que me
provocando.
Relaxei meu domínio sobre ela e afastei-me da porta para que ela pudesse
entrar. — Minha mãe saiu também... assim você não precisa ficar nervosa
correndo dela.
Ela assentiu com a cabeça, enquanto entrava em minha casa, e uma parte
de mim ficou emocionada que ela estava finalmente dentro da minha casa. Ela
olhou para as coisas quando entrou – fotos na parede, bugigangas nas prateleiras,
o mobiliário incompatível. Eu segui atrás dela enquanto ela caminhava para o sofá
da sala e fiz sinal para ela se sentar, quando ela olhou para mim com incerteza.
Ela deu de ombros tirando a minha jaqueta, atirando para o lado do sofá,
antes que finalmente se sentasse. Eu cuidadosamente sentei ao lado dela, com a
cabeça e o corpo ainda sentindo os efeitos dos múltiplos abusos de ontem. De
repente, lembrei-me da minha sede e olhei para ela.
— Preciso de um pouco de água... você quer alguma coisa? — Ela balançou
a cabeça e continuou olhando para a minha casa enquanto lentamente me
levantava e conseguia um grande copo da cozinha. Quando sentei novamente, ela
pegava nas mangas de sua camisa, mas um leve sorriso verdadeiro iluminava seus
lábios. Sorri da mesma maneira ao vê-lo... e ao vê-la no meu sofá. — Estou feliz

131
que você veio. Estou feliz que você finalmente entrou. — Eu levantei uma
sobrancelha, ou tentei de qualquer maneira, e ela riu.
— Sim, bem, ontem foi... — ela puxou sua manga longa e estudou o tecido
do sofá no espaço entre nós, — ...estranho. — Ela olhou para mim e senti meu

rosto corar em constrangimento ao lembrar. — Eu só queria ter certeza que você


estava bem.
Como se suas palavras me lembrassem da situação do meu corpo, eu tomei
um longo gole da minha água. Seus olhos observavam cada movimento meu,
enquanto eu inclinava para trás, tendo o máximo que pude. O líquido frio aliviando
minha dor me lembrou da minha revelação no banheiro. Quando tirei o copo dos
meus lábios e coloquei-o sobre a mesa de café, suspirei baixinho.
— Eu sei o que aconteceu comigo.
— O quê?
Olhei para ela e seu cabelo longo e escuro fluía sobre os ombros. Eu tinha
um forte desejo de colocar uma mecha atrás de sua orelha, mas fechei minhas
mãos e inclinei-me sobre os joelhos, resistindo ao desejo. Não quero enganá-la...
mais do que eu sabia que eu já fizera.
— Josh — eu disse simplesmente. Quando seus olhos pareciam perplexos,
eu preenchi o pequeno detalhe que pude. — Ele fez Randy dosar minha garrafa de
água com... alguma coisa, enquanto ele estava ocupado me enfrentando em
Astronomia. Quando a bebi mais tarde com sua Aspirina, tomei tudo de qualquer
droga que ele me deu. Ácido, ecstasy, speed4... algo assim.
Seus olhos se arregalaram quando ela se aproximou de mim no sofá. — O
quê? Por que ele faria isso?
— Eu acho... — eu olhei sobre suas feições antes de continuar, — Eu acho
que ele me quer expulso da escola. Se ele me expulsar... bem, as minhas chances
de sair daqui diminuiria consideravelmente. Ou ele realmente quer que eu fique
por aqui... ou ele quer me arruinar. — Balancei a cabeça e olhei para o show

inocente passando na TV. — Estou supondo que é o último.

4 Nome popular da Anfetamina

132
A mão de Sawyer veio descansar no meu joelho e olhei para ele e depois
para ela. Sentindo um vazio começando a me dominar, me inclinei para trás no
sofá e coloquei meu braço em volta dos seus ombros, puxando-a para perto, em
um abraço lado a lado apertado. Os braços dela pendurados ao redor de mim, com
as mãos segurando o meu corpo, e ela suavemente exalou. Engoli a súbita
emoção... e a culpa de não poder manter nosso relacionamento em um nível não-
físico por muito tempo. Eu não poderia evitar. Eu precisava tanto dela.
Abaixei minha cabeça na curva do seu pescoço e exalei uma respiração
hesitante e soou à beira das lágrimas. Eu esperava que meu corpo não seguisse
por esse caminho. Realmente eu não precisava chorar mais perto de Sawyer... ela
viu o bastante disso. Ela começou a esfregar minhas costas e sussurrou palavras
suaves em meu ouvido. Relaxei sob suas mãos e senti aquela paz familiar lavar
sobre mim.
Eu me afastei e virei minha cabeça para que nós estivéssemos a apenas
alguns centímetros de distância. Seus lábios se separaram enquanto ela
suavemente soprava sobre mim. Lembrei-me do meu sonho com Darren, ele queria
que eu seguisse em frente com Sawyer e deixasse Lil para trás. Olhei para os lábios
de Sawyer, tão perto dos meus, o sol brilhando neles convidativamente. Lembrei-
me do calor suave deles ontem, o som suave que ela fez quando eu a toquei. Sua
respiração parou, enquanto eu olhava para a forma de seus lábios bem
torneados. Belos lábios, realmente.
Mas diferente de Lil... diferente do que eu queria. Eu ainda queria estar com
Lillian, e não poderia continuar a brincar com a cabeça de Sawyer. Isso não era
justo.
Aqueles lábios começaram a vir em minha direção e instintivamente
recuei. Olhei para os olhos de Sawyer e vi dor e rejeição lá. Ela começou a virar a
cabeça para longe de mim e deixou cair os braços do meu corpo. Minha mão foi
para a sua bochecha e ela deu as costas para mim.
— Você é minha única amiga, Sawyer. Sinto muito sobre o que aconteceu
ontem. — Segurei seu rosto suavemente, certificando-me que ela mantinha contato

visual comigo. — Me desculpe se eu te machuquei... ou enganei você. — Meus

133
olhos acesos quando os dela se encontraram com os meus. — Você é minha melhor
amiga. Eu não quero te perder nunca... mas isso é tudo que eu posso ser agora.
Seus olhos ficaram vítreos, mas ela balançou a cabeça e tirou minha mão
de seu rosto. Ela segurou-a no colo. — Eu sei, Lucas. Eu entendo... sobre ontem.

Não estou com raiva... ou enganada. — Desde que me senti como se acabasse de
quase ter outro momento impróprio, eu queria dizer mais, dizer algo, mas ela
mudou o tópico, efetivamente fechando a porta, por enquanto. — O que você fará
sobre o Josh?
Relaxei de volta no sofá, soltando minha cabeça para trás sobre a almofada
e olhando para o teto. Ela entrelaçou os dedos. Fechei os olhos e suspirei
baixinho. — Não tenho ideia... — eu virei minha cabeça e abri os olhos para olhar

para ela. — Sugestões?


Ela sorriu e colocou as pernas debaixo dela, mudando o rosto para mim no
sofá. — Chutar a bunda dele com tanta força que ele estaria com muito medo de
tentar alguma coisa?
Ela riu baixinho e me juntei a ela. — Sim, eu poderia sempre tentar isso...

Ela parou de rir e uma seriedade nos cobriu. — Luc... você deve informar

um dos professores. Reynolds, talvez? Diga a ela que ele drogou você. — A outra
mão se fechou sobre os nossos dedos entrelaçados e ela pressionou suavemente.
Olhei para nossas mãos por um momento, e então balancei minha
cabeça. — Por quê? Você sabe como eles me veem. Eles não acreditariam em mim.

Mesmo Reynolds não acreditaria em mim. Ninguém acredita em mim. — Eu


sussurrei a última parte.
Ela suspirou e desviou o corpo para descansar a cabeça no meu ombro. —
Eu acredito em você, Luc.
Eu pressionei meus lábios em seu cabelo. — Obrigado — eu respirei.
Ela ficou comigo por um tempo no sofá, segurando a minha mão e
assistindo ao show estúpido na TV comigo. Relaxei novamente nas almofadas, com
cuidado para não me mover muito quando minha cabeça limpou, e beber
continuamente do meu super grande copo de água. Sawyer descansou a cabeça no
meu ombro e um silêncio confortável caiu entre nós.
134
Eu a vi com o canto do meu olho enquanto descansamos juntos. Ela
ocasionalmente ajustava a cabeça dela contra mim, seu cabelo escuro fluindo pelo
meu braço enquanto se aconchegava no meu lado. Seus dedos contra os meus
eram quentes e secos, confortáveis. A outra mão brincava com um remendo
desgastado em seu par de jeans usado muitas vezes e os dedos dos pés, apenas
aparecendo de onde ela os dobrou sob si mesma, inconscientemente desenhando
padrões no sofá. Ela parecia totalmente confortável e relaxada comigo, e eu
igualmente relaxei, feliz que eu não estraguei tudo com a minha mente muito
prejudicada ontem.
Ela me notou aparentemente olhando para ela e se afastou para olhar para
mim. — O quê? — Ela perguntou quando me olhou rapidamente.

Sorri com a reação dela e balancei a cabeça. — Nada. Eu apenas observava

você. — Ela olhou para mim com um quase estranho olhar de apreciação, e

rapidamente cobri o que, mais uma vez, poderia ser uma declaração enganosa. —

Isso é bom. Por que você não queria ficar comigo aqui antes de hoje? — Eu levantei
minha cabeça enquanto observava a reação dela.
Ela se afastou do meu ombro e mordeu o lábio. — Eu já queria... é só...

— Minha mãe? — Perguntei, enquanto me mexia um pouco para encará-


la.
Ela se mexeu também e colocou seu longo cabelo atrás das orelhas. —

Não... não realmente. — Ela olhou para baixo e suspirou. Por um momento, achei
que ela não explicaria isso para mim. Isso seria bom; eu ainda não a pressionava
por detalhes que ela não queria dar. Quando eu estava prestes a puxá-la de volta
para o meu ombro, para que pudéssemos continuar assistindo TV, ela olhou para
cima e me respondeu. — Fiz algo realmente estúpido com uma cara ainda mais

estúpido, e estou tentando... — ela olhou para longe de mim, — estou tentando

ser mais esperta. — Ela olhou para mim e fez uma careta. — Às vezes, sinto como
se não estivesse conseguindo isso.
Eu fiz uma careta, também, de repente minha mente cheia de perguntas. —

Você não... você não queria estar aqui comigo, porque pensou... — eu não tinha
certeza de onde ir com isso e deixei a minha frase no ar.
135
Ela olhou por cima do meu rosto confuso e suspirou. — Eu sempre quis
entrar, Luc, de verdade, eu quis... eu quero. Apenas não queria ter muito carinho
por você — ela olhou para baixo e pegou em um fio de tecido no joelho, — se isso
não fosse durar.
— Ei... Sawyer... — minha mão começou a chegar para sua bochecha, mas
ela olhou para ela e fiz uma pausa.
Deixei minha mão quando ela olhou para cima e encontrou meu olhar. —

Eu sei que você está sofrendo, e você precisa de alguém por perto, Luc. — Ela

encolheu os ombros. — Apenas não tinha certeza se seria sempre eu.


Balancei minha cabeça, nem mesmo capaz de compreender isso. Por que
eu não gostaria que ela estivesse perto de mim? Sempre quis ter ela por perto. —

Sawyer, você quer dizer cada... — eu não consegui terminar meu pensamento
emotivo e o deixei morrer entre nós.
Ela silenciosamente me viu lutar para encontrar algo interessante para
dizer a ela, então ela disse: — Além disso, meu pai realmente não me deixa vir. Ele

nem sequer gosta de eu estar aqui agora, no fim de semana. — Ela encolheu os
ombros, como se estivesse apenas usando-os para proteção.
Um pouco da tensão que crescia na sala desapareceu, e deixei os meus
pensamentos mais emotivos divagar com isso. Abraçando o olhar semibrincalhão
no rosto dela, eu perguntei — Por que seus pais são tão rigorosos com você? —

Levantei uma sobrancelha maliciosamente. — Além de sair comigo, parece que


você tem bom senso.
Ela riu um pouco com a minha declaração e se inclinou para mim. — Bem,
lembra da coisa estúpida que eu fiz?
Fiz uma careta quando pensei novamente no seu comentário anterior. —
Com o menino estúpido?
Ela assentiu com a cabeça. — É... — então, uma profunda tristeza marcou

suas feições. — Eles se mudaram para cá por causa do que eu fiz. Ambos deram

muito para fazer isso, e nós não tínhamos muita coisa para começar. — Ela correu

um dedo sobre seus jeans furados e suspirou. — Eu errei muito com eles, e eu...

136
eu não abuso. — Ela olhou para mim e suspirou, enquanto eu fazia uma careta. —
Eu mereço o seu rigor.
Sem querer, eu murmurei, — O que você fez, Sawyer?
Ela mordeu o lábio e balançou a cabeça, obviamente não querendo falar
sobre isso. — Eu cometi um erro — ela finalmente sussurrou. Ela ergueu as
sobrancelhas no final de sua fala e eu deveria entender isso. E entendi. Se alguém
entendia erros... era eu.
Quando seus olhos começaram a encher d’água, eu deixei cair a conversa e
puxei-a com força para mim. Senti ela chorar silenciosamente no meu ombro e
segurei sua cabeça com uma das minhas mãos enquanto a outra segurava suas
costas, puxando-a ainda mais perto.
— Está tudo bem, Sawyer... eu entendo.
Não entendo os detalhes, mas entendi a emoção. Tudo o que ela fez
desenraizou sua família e a colocou perto de uma prisão domiciliar. Tudo o que ela
fez machucou e continuou a feri-la. Tudo o que ela fez a fez se sentir como uma
pária no resto da nossa escola. E tudo o que ela fez era provavelmente a razão pela
qual ela e eu nos conectamos tão rapidamente. Ela realmente me fez entender a
minha dor e solidão. Ela sentiu a sua própria versão do mesmo.
Segurei-a um pouco mais, até que, enxugando os olhos, ela se afastou de
mim e disse que seus pais logo estariam em casa e que ela precisava ir. Balancei a
cabeça e caminhei com ela até a porta, entregando-lhe a minha jaqueta esportiva
antes dela abrir a porta. Ela sorriu quando escorreguei-a, e sorri olhando para
ela. Não sabia toda a sua história, assim como ela não sabia toda a minha, mas
precisávamos um do outro de qualquer maneira, e eu gostava que era um
sentimento mútuo.
Acenei enquanto observava seu carro. Então sentei no sofá e evitei me
mover ou pensar. Eu meio que consegui fazer ambos.
O resto da minha tarde foi maçante e improdutiva. Bem, supondo que
finalmente consertei a parede rachada no banheiro. Não tive tempo para isso até
depois que minha mãe chegou em casa, mas ela não disse nada sobre isso, se a
viu. Ela não disse muita coisa, na verdade. Só que me amava e se eu quisesse falar
com ela sobre qualquer coisa, ela estava aqui para mim.

137
Eu levei isso a sério, mas decidi manter meus demônios para mim
mesmo. Mamãe não precisa saber as coisas que eu sabia. Ela não precisava de
minhas memórias assombrando-a, como me assombravam. Fiquei em silêncio
sobre todos os assuntos dolorosos que giravam em torno da minha cabeça,
enquanto a ajudava a fazer um jantar mais substancial do que os meus habituais
Hot Pockets.
Ela falou sobre alguns de seus clientes mais agradáveis, enquanto comemos
nossa refeição. Ela sempre menciona os mais agradáveis para mim, tanto no
restaurante quanto na loja de ferragens. Ela normalmente retém qualquer coisa
dolorosa, e uma fração de segundo depois desejava que ela se abrisse comigo, e
percebi o quão parecido nós éramos. Eu não pedi a ela para derramar seus segredos
e deixei-a ficar com seus próprios demônios, assim como ela costuma me deixar
ficar com os meus.
Entre uma garfada de comida, ela falou casualmente: — Vi o xerife hoje no
restaurante. Ele disse, Olá.
Eu sorri e balancei a cabeça, retomando minha alimentação enquanto
pensava sobre ele. Xerife Whitney foi o primeiro a me encontrar naquela noite. Não
sei quanto tempo fiquei naquela ravina, entrando e saindo da consciência, mas sua
voz chamando foi tão milagroso para mim como o fato de que eu conseguira passar
por essa provação com apenas alguns arranhões e hematomas.
Ele desceu até mim, imediatamente curioso, abrindo minha porta e
checando meu pulso. Olhei fracamente para ele, seu cabelo e olhos azuis
prateados. Ele parecia quase irreal para mim, primeiramente. Claro, minha visão
nadava dentro e fora enquanto um choque gelado me inundava. Mas eu ainda
percebi o nítido uniforme marrom, manchado de lama, seus joelhos impregnados
com isso, como se ele tivesse caído algumas vezes no caminho para baixo até mim,
e a imponente faixa preta segurando suas algemas e armas. Quando olhei para as
algemas de prata, me perguntei se ele as usaria em mim quando me empurrasse
no banco de trás de seu carro; certamente, ele iria me prender. A cerveja de Lil
derramou em todo o assento, absorvendo minha calça jeans, e eu sabia que
cheirava a ela.
Mas ele não prendeu. Seu rosto suavizou com simpatia enquanto verificava
meus sinais vitais. — Tudo ficará bem, Lucas. Eu cuidarei de você.

138
Não tinha ideia do que isso significava na época, e, honestamente, eu ainda
não sabia. Afastando-me, ele verificou os meus amigos enquanto pedia ajuda
novamente em seu rádio preso ao ombro. Fechei meus olhos para que eu não
estivesse tentado a vê-lo examinar Lil. Eu já vira. Eu já derramara lágrimas por
ela, um monte de lágrimas. Eu não queria fazê-lo novamente.
O choque me manteve em uma espécie de dormência congelada, enquanto
esperava a ambulância que me tiraria de lá. Com a ajuda do xerife Whitney, os
paramédicos conseguiram me levar de volta até o morro íngreme em algum tipo de
maca estranha. Quando estavam prestes a fechar as portas atrás de mim, eu olhei
para o xerife que me olhava com uma expressão mórbida.
— Meus amigos? — Eu sussurrei.
Ele fechou os olhos por alguns instantes e, em seguida, balançou a cabeça
para mim. Foi quando a dormência do meu estado induzido por choque passou. Foi
quando eu comecei a soluçar. Acho que chorei todo o caminho para o hospital.
Suspirei quando espreitei a minha mãe. Ela tinha um leve sorriso nos lábios
enquanto comia seu jantar. Acho que para ela, o xerife era uma memória feliz. Ele
meio que salvou a minha vida, afinal. Peguei a comida no meu prato enquanto
pensava em outra memória com ele... mais tarde no hospital. Não sei quanto tempo
eu estava lá, mas eu fui testado e verificado, picado e cutucado. Um IV de algum
fluido pingava em mim, e eu mal conseguia manter os olhos abertos quando deitei
na cama estéril, enquanto minha mãe se sentava em uma cadeira ao meu lado,
segurando minha mão, com os olhos vermelhos e irritados de tanto chorar. Eu
olhei para ele letargicamente quando ele entrou na sala, ainda parecendo
lamacento e despenteado. Ele encontrou os olhos da minha mãe e se aproximou
para colocar suavemente a mão em seu ombro. Olhando para mim, ele suspirou,
seus olhos excessivamente úmidos.
— Eu sinto muito, Lucas. Nós tentamos... senhorita Tate já foi embora. —
Ele olhou para baixo, enquanto engolia mais lágrimas. Tate... era o sobrenome de
Lillian. Ele olhou novamente para cima e continuou com uma voz grossa. —
Encontramos o Sr. McCord e a senhorita Carter não muito longe do local da
queda... ambos estavam inconscientes, quase mortos.

139
Uma onda de esperança dolorosa me atravessou diretamente – Darren e
Sammy estavam vivos. Meu queixo caiu para perguntar onde estavam, como
estavam, se eu poderia vê-los, mas seu rosto desligou minhas perguntas. Ele caiu
em desânimo e minha mãe suavemente soluçou. Balancei minha cabeça enquanto
ele me dava a notícia que eu não queria ouvir. — Senhorita Carter... morreu, pouco
depois que a encontramos. Simplesmente não havia nada que pudéssemos fazer
por ela.
Uma lágrima vazou pelo meu rosto... não Sammy. Fechei meus olhos e rezei
para que ele me dissesse que Darren sobreviveu, que eu não estava sozinho, que
eu não matei todos eles. Por favor, não leve todos.
Uma exalação suave me encontrou e todo o meu corpo se apertou em
antecipação. — Sr. McCord... tinha vários ferimentos internos. Nós pensamos que

ele ainda poderia... — eu abri meus olhos, meu corpo tremia com a tensão. O rosto

do xerife Whitney parecia desgastado e abatido quando ele encontrou meu olhar. —
Ele morreu na ambulância, Lucas. Eu sinto muito... todos eles se foram.
Tentei desligar a memória de se dividir em histeria após ouvir o destino de
meus amigos. Mesmo assim, flashes de gritos, choro, bramidos e tentando danificar
qualquer coisa ao meu redor encheram minha cabeça. Eu estava tão louco de
tristeza que o xerife precisou me conter, prendendo meus braços na cama. Eu não
tinha controle sobre mim mesmo... mas, quantas vezes você ouviu que três das
pessoas que você mais ama no mundo já se foram? Felizmente, não muito
frequentemente.
Desviei o olhar do suave sorriso da minha mãe e empurrei meu prato
comido pela metade. Eu não poderia terminar agora; meu apetite desapareceu com
a última memória. Desculpei-me e levantei da mesa. Mamãe olhou para minha
cara, preocupada, e perguntou se eu estava bem. Eu menti e disse a ela que estava,
que eu estava cheio, e depois escorreguei no meu casaco e saí pela porta dos
fundos.
Sentei-me no quintal atrás da casa e olhei para uma bola de futebol no
quintal. Era a bola do meu sonho com Darren. Na realidade, foi aqui. Peguei e
agarrei em minhas mãos, saboreando a sensação familiar dela. As saliências sob
meus dedos alinharam automaticamente no local correto, e sua textura

140
esburacada enviava lembranças mais que agradáveis para mim. Flexionei meu
braço e falsifiquei um passe, mantendo a bola na minha mão, mas permitindo que
o meu corpo lembrasse o instinto de jogar. Isso me relaxou e fiz isso mais algumas
vezes.
Xerife Whitney. Queria que minha mãe não tivesse falado sobre ele. Não era
culpa dele que o associava com algo tão horrível, mas eu fiz. Ele era realmente um
homem muito bom e foi um dos poucos nesta cidade que acreditou em mim. Claro,
ele era um homem de fatos, e o meu sangue estava limpo então — boom –
inocente. Se ao menos todos os outros pudessem ser tão facilmente convencidos.
Ele visitara algumas vezes durante o verão, principalmente falando com a
minha mãe na sala de estar, enquanto eu estava enrolado em posição fetal na
minha cama. Mas ele parou e me contou que tudo ficaria bem, e, eventualmente,
tudo melhoraria. Ele sempre colocou uma mão reconfortante no meu ombro e falou
com aquela voz suave reservada para aqueles à beira de um colapso
emocional. Acho que eu estava. Talvez eu ainda estivesse.
Joguei a bola no ar algumas vezes e agilmente peguei. O Xerife não me
acusou de nada. Nem homicídio, nem condução imprudente, nem uma MIP5... Nem
mesmo uma multa. A cidade e até mesmo algumas das famílias do falecido (Josh
em particular), estava em um alvoroço sobre isso. Todos sentiam que eu era
culpado, e que, basicamente, me safei com o assassinato. A maioria das pessoas
achava que eu não era cobrado porque a cidade gostava da minha mãe, tinha um
fraquinho por ela, mesmo. Pessoas simpatizavam com a situação dela e não queria
que ela fosse punida pelo comportamento imprudente de seu filho.
Não sei se isso era verdade ou não. Eu não conhecia o sistema legal bem o
suficiente para saber como o xerife poderia ter me acusado de qualquer
maneira. Tudo o que eu sabia com certeza era que eu não fui legalmente punido, e
me sentia horrivelmente culpado por isso.

5 Minor in Possession – leis estaduais específicas que ditam a punição para um menor em posse de
álcool, maconha ou outras substâncias controladas. Geralmente é um contravenção leve.

141
Capítulo 8
Isolamento

A primeira semana do meu isolamento forçado foi a mais longa da minha


vida. Não porque senti falta da escola ou da maior parte do corpo
discente. Não. Não, eu definitivamente não senti falta dos olhares, dos sussurros
ou dos olhares indisfarçáveis. E definitivamente não senti falta do Josh e Will
tentando o máximo para fazer cada segundo da minha vida uma miséria.
Não, o que fez minha semana longa, o que fez a solidão infiltrar-se em cada
parte de mim, foi o fato de que eu sentia falta de Sawyer. Ela era realmente a única
coisa que eu ansiava por dia. Depois que nos separamos naquela tarde de sábado,
ela seguiu em frente com sua vida e eu com a minha. A primeira parte do meu
castigo passou sem trocar sequer uma palavra com ela. Isso era pior do que
qualquer outra coisa que a escola poderia sonhar para mim.
Tentei acreditar que era por causa de seus pais superprotetores e não o par
de momentos embaraçosos que tivemos recentemente. Tentei acreditar, mas eu

142
não estava 100% certo. E não tinha nenhum jeito de me manter em contato com
ela. Ela não possui um telefone celular e eu não estava prestes a deixá-la em apuros
ligando para a casa dela, não se seus pais tinham um problema comigo, o que, se
ouviram apenas metade dos rumores circulando, eles provavelmente tinham. Eu
não tinha como perguntar a ela se estava tudo bem entre nós, por isso, acabei
sentado e olhando para o telefone na maioria das noites, esperando que ela me
ligasse – como uma garota apaixonada da escola esperando um menino ligar. Eu
sabia que era ridículo, mas não conseguia parar de fazer isso. Eu sentia falta da
voz dela.
E suponho que eu não ajudava a minha solidão de nenhuma forma. Não fiz
nada de construtivo durante o meu tempo livre. Essencialmente, sentei-me ao
redor da casa e pensei. Pensei em assuntos que eu não queria pensar. Pensei sobre
o meu momento embaraçoso na manifestação preparatória – tudo graças a
Josh. Pensei sobre o quão errado esse relacionamento era. Pensei nos meus
amigos. Pensei na noite em que foram tirados de mim. Pensei mais sobre o acidente
na primeira semana do que pensei desde que aconteceu. Sem nada para fazer e
nada para me distrair, eu pensei nisso de cinquenta mil maneiras na minha
cabeça. Coisas que meus amigos poderiam ter feito diferente. Coisas que eu poderia
ter feito diferente. Coisas que eu poderia ter lidado melhor. Adeus, eu poderia ter
dito...
Estranhamente, os únicos escapes dos meus pensamentos inquietantes
eram os meus sonhos. Eu estava tendo sonhos agradáveis com meus amigos, e,
mais frequentemente do que não, eu estava ciente de meus sonhos. No minuto em
que vi um dos meus amigos deveriam-estar-falecidos, minha mente parecia
registrar instantaneamente que eu não estava mais na realidade. Acho que o fato
de suas mortes era uma verdade muito grande para ser ignorada, mesmo durante
o sono REM6.
Mas isso não me incomoda, eles aparecerem e conversarem comigo. Muito
pelo contrário – eu gostei, sequer olhei para frente. Conversei com os três, Darren,
Sammy e Lil, até mesmo começando a ficar forte o suficiente para trazê-los

6 O sono R.E.M., ou Rapid Eye Movement (movimento rápido dos olhos), é a fase do sono na qual
ocorrem os sonhos mais vívidos. Durante esta fase, os olhos movem-se rapidamente e a atividade
cerebral é similar àquela que se passa nas horas em que se está acordado.

143
conforme a minha vontade, às vezes. Eu também comecei a ter mais controle sobre
outros aspectos de meus sonhos. Poderia prendê-los por mais tempo e, por vezes,
eu até poderia alterar a definição, como quando Darren veio e queria ir andar de
bicicleta na sujeira. Andamos da minha sala de estar para o que deveria ter sido a
cozinha, mas em vez disso foi em um campo vazio com motos guardadas, porque é
isso o que eu queria ver. Estava capacitado para ter esse nível de controle.
Agora, isso não quer dizer que eu tinha o controle perfeito. Às vezes havia
um céu azul no meu quarto, e às vezes chovia Mentos (o que Lil realmente apreciava
muito), e às vezes, só às vezes, eu sonhava que dirigia. Enquanto eu odiava aqueles
pesadelos, os bons sonhos que eu tinha eram poderosos o suficiente para fazer
dormir valer o risco.
Às vezes eu me encontrei com meus amigos individualmente, às vezes em
grupos de dois e às vezes todos nós saímos juntos. Mas os sonhos mais intensos,
os que eu poderia me perder por dias, aqueles eram todos com Lil; apenas ela e eu
juntos, sozinhos no meu quarto, no escuro. Seminus e querendo
desesperadamente um ao outro. Nunca avançamos mais do que quando na vida
real, mas eu estava perto de estar pronto, perto de querer a memória... mais do
que temer.
Eu comecei a apreciar o meu tempo gasto sonhando, e temia o meu tempo
acordado, tanto assim que comecei a procurar maneiras de prolongar o sono.
Dormia tão frequentemente quanto podia ao longo do dia, e quando isso parou de
funcionar, eu procurei no armário de remédios da minha mãe até que encontrei
seu estoque de Ambien7, o esconderijo, ela não sabia que eu estava ciente. Comecei
a tomá-los como doces, querendo sair da zona e estar com meus amigos, mesmo
que fosse tudo na minha cabeça. Eu sabia que era um mau hábito para começar,
e nunca fui de usar nada sem prescrições antes, mas eu queria vê-los, e isso
realmente ajudou.
Acabara de tomar dois, quando Sawyer apareceu inesperadamente.

7 Zolpidem - é um fármaco hipnótico (indutor do sono), do grupo das imidazopiridinas, não-


benzodiazepínico, de rápida ação e de curta meia-vida. Utilizado para tratamento da insônia.

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Pelo que pude me lembrar do passar dos dias, era quinta-feira à tarde,
quando uma batida clara soou através de minha porta. Apenas começando a sentir
os efeitos colaterais das drogas para insônia que eu tomei, eu me arrastei até a
porta, realmente não me importando quem era. Ainda em minhas calças de pijama
(com as quais eu vivia), eu apertei meus olhos quando a luz do dia me
atingiu. Minha mente começando-a-calmaria se assustou na semiconsciência ao
ver Sawyer em pé com seu cabelo super escuro diante de mim.
— Ei... oi — murmurei quando seu rosto encheu minha visão. Encostei-
me no batente da porta e pisquei para afastar o sono tentando se estabelecer em
mim.
— Ei — ela respondeu de volta, enquanto seus olhos cinzentos pálidos
olhavam a minha cara. Eles se estreitaram com preocupação, enquanto seus lábios
se curvaram para baixo em um amuo adorável. — Você parece horrível. Você está
bem?
Eu sorri e uma risada sonolenta me escapou com a frase familiar passando
por seus lábios. — Eu estou bem... apenas descansando. Entre. — Dei um passo
atrás e virei meu braço para indicar a sala atrás de mim.
Ainda franzindo a testa para mim, ela passou. Corri a mão pelo meu cabelo
despenteado e, em seguida, pelo meu rosto desgrenhado, percebendo que eu não
fazia a barba a um tempo e... na verdade, eu não tomei banho em algum tempo, e
provavelmente parecia – e cheirava – uma porcaria. Considerei ir para o chuveiro
enquanto Sawyer olhava ao redor da minha sala de estar, mas descartei a ideia
quando ela sentou no meu sofá e olhou para mim ainda na porta. Eu não a via há
muito tempo; eu não queria perder um minuto.
Balancei a cabeça para limpar as teias de aranha e suavemente fechei a
porta da frente antes de me juntar a ela no sofá. Eu queria jogar meus braços em
torno dela e espremê-la com força, mas não fiz. E não só porque eu não queria ser
enganador mais... eu também não queria ofendê-la com o meu cheiro rançoso.
Ela colocou a mochila no chão diante de nós e a abriu. Ela começou a
remexer dentro dela quando aquela voz esplêndida que eu senti tanto falta falou
baixinho para mim. — Desculpe, eu estou tão atrasada na obtenção de suas coisas.

— Ela suspirou com irritação, enquanto minha mente lenta tentou entender o que

145
ela falava. — Meus pais tinham problemas comigo vindo para cá. — Ela balançou

a cabeça. — Eu disse a eles que era apenas para entregar a sua lição de casa, mas
eles ainda surtaram.
Ela pegou uma pasta e alguns papéis que encontrou e entregou para
mim. Minha mente juntou as peças depois que ela disse dever de casa e sorri
quando peguei a pilha. Eu esqueci que ela faria isso por mim. Ela suspirou de novo
e encontrou meus olhos, quando eu estava prestes a agradecer. — Sra. Reynolds

teve que ligar para eles e explicar a situação. — Ela revirou os olhos. — Ela
realmente precisou lhes pedir para me deixar ajudá-lo. Eu acho que ela viria aqui
sozinha se recusassem novamente. Felizmente eles não o fizeram, e tenho
exatamente 20 minutos depois do clube da pureza para que você os pegue todo dia.
Meu sorriso lento ficou mais amplo ao ouvir sua história. Eu senti tanta
falta dela, e ela estava lá fora lutando por mim. Ela balançava a cabeça para os
seus pais protecionistas quando estreitou os olhos novamente e procurou os meus
piscando. — Você tem certeza que está bem? Você parece... cansado.
Esfreguei meus olhos para tentar me manter acordado, para desfrutar de
meus vinte minutos, se isso era tudo o que eu tinha. — Sim, eu só tomei um par
de pílulas para dormir da minha mãe antes de você chegar aqui. Elas estão
começando a fazer efeito... sinto muito.
O silêncio me respondeu, e olhei para Sawyer que estava sentada muito reta
no sofá, com os olhos arregalados. — Você o que?

Franzi minhas sobrancelhas para sua expressão estranha. — Eu tomei

algumas pílulas para que eu pudesse descansar. Não é grande coisa, Sawyer. —

Eu coloquei a mão em seu ombro. — Relaxe.


Ela olhou para a minha mão brevemente antes de se inclinar para mim e
segurar o meu rosto; seus olhos procuraram os meus atentamente. Eu inalei uma
respiração rápida com a sua proximidade e energia nervosa passou por mim. — O
que você está fazendo, Sawyer?
Seu rosto e voz assumiram aquele tom muito-velho-para-dezessete anos
que ela tinha às vezes. — Quantos você tomou, Lucas?

146
Eu zombei e afastei-me dela, segurando suas mãos com as minhas. —
Dois... relaxe.
Segurei suas mãos com firmeza quando ela tentou levantá-las na minha
cara de novo. A irritação em seu rosto combinava com a irritação no meu. — Eu
pensei que você não usasse drogas, Lucas.
Sentindo-me envergonhado e irritado com a pergunta dela, e seu tom de
voz, eu soltei suas mãos e levantei do sofá. — Eu tomei dois comprimidos para me
ajudar a dormir, Sawyer. Não é grande coisa. Você está agindo como se eu fosse
um viciado em drogas!
Ela também se levantou e deu um passo na minha frente. — É perigoso,

Lucas. É muito fácil de... — ela fechou a boca e lentamente balançou a cabeça,
seu cabelo escuro ondulou ao redor das bordas da minha jaqueta esportiva que ela
usava todos os dias. — Não é um bom hábito a se começar. — Ela se aproximou
de mim, ignorando todo o odor que eu certamente produzia, e colocou a mão no
meu braço. — Por favor.
Olhei para o seu rosto preocupado, seus olhos começando a ficar
enevoados. Confuso, eu só podia dizer: — Eu só quero dormir, Sawyer. Eu só... eu

preciso... — dei de ombros e minhas costas, de repente, pareciam blocos de

concreto. — Eu só quero dormir e passar por cima disso. Através de tudo isso...

Seus braços me envolveram quando ela me abraçou forte. — Você não pode,

Luc. — Senti que ela exalou uma respiração gaguejada e coloquei meus braços ao

seu redor protetoramente, puxando-a apertado. — Por favor... não... — ela

balançou a cabeça no meu peito. — Encontre outra maneira de lidar com isso...
Debrucei-me sobre ela, descansando minha cabeça na dela e saboreando
seu calor. Eu me senti mais leve com ela perto de mim, mais seguro com ela me
segurando. Sentindo-me como se eu pudesse fazer qualquer coisa com seus braços
em volta de mim, eu finalmente suspirei derrotado. — Ok, Sawyer... eu não vou

tomá-los mais. Prometo. — Corri a mão pelas suas costas, pelos cabelos e
começamos a balançar juntos. Ela assentiu com a cabeça no meu peito e nos
abraçamos por alguns longos segundos.

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Com o tempo pressionado sobre nós, nós finalmente nos separamos. Ela
enxugou os olhos úmidos e olhou para mim. Eu trouxe uma mão ao seu rosto e
franzi a testa. Eu a machuquei, e não entendia o porquê. Balancei minha cabeça e
sussurrei: — Me desculpe, se eu preocupei você.
Com a minha mão ainda em seu rosto, o meu polegar começou a escovar
sua bochecha. Seus lábios se separaram quando encaramos um ao outro e esse
sentimento quente, confortável, tomou conta de mim. Eu poderia enfrentar o dia
se eu soubesse que teria esse momento de paz com ela. Não era o mesmo horário
que estamos habituados a ter na escola, mas por enquanto, teria que servir.
Sem pensar nisso, eu abaixei minha cabeça e apertei levemente meus lábios
nos dela. Eu só estive consciente de fazê-lo após o fato. Me afastei dela, meus olhos
arregalados e com medo. Ótimo. Eu acabei de cruzar as linhas de nossa amizade
de novo? Quantas vezes ela me aturaria emocionalmente empurrando ao seu
redor? — Desculpe — eu gaguejei imediatamente.
Seus olhos estavam meio fechados e sua respiração vinha mais
rápida. Deixei minha mão acariciando seu rosto quando seus olhos se abriram
totalmente e encontraram os meus. Suas bochechas levemente coradas, ela olhou
para longe de mim. — Nós devemos... devemos passar os deveres de casa — ela
murmurou se afastando de mim e sentando no sofá.
Corri a mão pelo meu cabelo e amaldiçoei sob a minha respiração. Deus,
Lucas... o que aconteceu com o não ser enganoso?
— Certo. — Cuidadosamente sentei ao lado dela, observando o seu rosto
por qualquer sinal de raiva ou vergonha. — Obrigado por fazer isso por mim.
Ela assentiu com a cabeça enquanto pegava a pilha de papéis que caíram
da minha mão quando me levantei. Ela começou a folheá-los, escolhendo notas
que ela escreveu, um monte de notas na verdade. Observei-a com atenção
enquanto ela repassava todos os deveres que reunira para mim. Percebi que não
estaria mais entediado enquanto ela passava lição após lição. Desliguei-me do
dever enquanto a observava. Ela parecia bem... mas evitou olhar diretamente para
mim.
Quando terminou, ela olhou para o relógio na parede. — Droga, estou

atrasada. — Ela pegou sua bolsa e se levantou, ainda sem olhar para mim. — Eu

148
passarei por aqui amanhã, ok? Talvez eu saia do clube mais cedo e nós teremos
um pouco mais de tempo juntos.
Ela passou por mim e foi para a porta. Levantei-me e estendi a mão para
ela, apenas pegando seus dedos enquanto ela corria para longe de mim. Ela olhou
para mim, com os olhos bem guardados.
— Sinto muito sobre anteriormente, Sawyer. Às vezes eu só... eu não penso.
— Balancei a cabeça, sentindo-me realmente estúpido.
— Não... às vezes você não faz. Ou você me empurra ou me puxa para perto,
Lucas. — Ela balançou a cabeça e tirou os dedos dos meus. — Um dia você terá

que decidir que direção você quer ir. — Ela recuou, procurando o meu rosto, e em

seguida, virou e abriu a porta. — Vejo você amanhã. — Seu rosto ficou

perturbado. — Por favor, não tome mais dessas pílulas.


Balancei a cabeça e ela começou a sair. Logo depois que ela desapareceu
sua cabeça preta apareceu de volta à vista. Com seus lábios torcendo em uma
careta, ela acrescentou: — E talvez amanhã... você poderia tomar um banho.
Embora fosse difícil, eu fiz o que Sawyer pediu e parei de tomar as pílulas
para dormir. Eu não estava viciado a elas nem nada, mas era tentador saber que
eu poderia estar dormindo, poderia estar com Lil, mas agora eu precisava esperar
até que meu corpo estivesse pronto para dormir, ao invés de tentar forçá-lo.
Quando levou alguns dias para as drogas sanguessuga saírem totalmente do meu
sistema, e o meu corpo parar de se sentir lento durante o dia, percebi que talvez
eu tivesse exagerado, e estava grato pelo pedido de Sawyer. Ela estava certa; elas
não eram uma boa ideia. E eu ainda conseguia ver meus amigos. Meus bons
sonhos continuaram mesmo depois que eu parei de me medicar sozinho.
Era um dia perfeitamente quente de primavera, e eu andava em um campo
ao lado de um córrego perto da minha casa. O som de água espirrando suavemente
sobre pequenas pedras atingiram meus ouvidos e o calor do sol bateu no meu
rosto. Luz espreitou através dos furos na camada de nuvens, e a grama verde e
alta, que fazia cócegas em meus pés descalços, se destacou por esses raios
brilhantes. O campo quase parecia um tabuleiro de xadrez gigante, e ali, em pé, no
espaço onde a rainha descansaria, estava a minha rainha. Suas mãos estavam
atrás dela e um sorriso beatífico estava em seu rosto enquanto esperava por mim.
149
Meu sorriso acompanhou o dela enquanto eu caminhava através dos
fragmentos de escuridão e luz até onde ela estava, banhada pelos raios dourados
do sol. Seu cabelo pálido quase ofuscou o sol e o tecido solto do vestido rosa claro
vibrou com a brisa suave, levantando um pouco no joelho para insinuar as coxas
bem torneadas embaixo.
Juntando-me a ela nesse lugar de sol, eu segurei seu rosto macio e exalei
aliviado com o contato. Firme, a pele macia encontrando meus dedos e, mais uma
vez, segurá-la era tão real para mim como qualquer coisa que eu já senti quando
acordado. Ela ergueu o queixo e seus olhos azuis refletiam a luz e brilhavam com
a vida. Ela se inclinou para mim e eu me inclinei para baixo; seus lábios eram
quentes e suaves quando nos unimos.
Eu me afastei dela lentamente, serpenteando uma mão em torno de sua
cintura fina para descansar na parte baixa das costas, a outra deslizando do seu
rosto até a alça fina do vestido. — Ei, Barbie, eu senti sua falta.
Ela riu quando suas mãos quentes mudaram para descansar no meu
peito. — Eu também senti sua falta, Luc... e não me chame de Barbie.
Eu ri com a discussão familiar e a puxei rente ao meu corpo. Beijei-a antes
de responder. — Por que não?
Sua mão correu para cima e para baixo do meu peito, sentindo os músculos
sob a camisa fina. Mordi o lábio enquanto observava seus olhos seguindo o
caminho de seus dedos. — Porque, isso implica que eu sou falsa e de plástico. —
Seus olhos se levantaram para encontrar os meus e o canto de seu lábio subiu em
um sorriso irônico. — E eu não sou.
Inclinei-me para beijar aqueles lábios sorrindo afetadamente, persistente
no canto, enquanto seu cheiro me enchia. Ela era tão real. — Eu sei que você não

é, Lil... você é real. — Eu me afastei e dei meu próprio sorriso torto. — E acho que
você está sendo um pouco injusta com a Barbie.
Sua cabeça inclinou para trás em uma gargalhada e seus olhos dançaram
com alegria quando encontraram os meus novamente. Engoli um pouco na visão
desta bela mulher diante de mim, e eu não conseguia conter o sossego da minha
respiração. O corpo dela se contorceu em meus braços quando ela conseguiu ficar

150
ainda mais perto de mim, uma de suas pernas se esgueirando entre as minhas. —
Então como estou sendo injusta com a Barbie?
Tentei sorrir, mas minha respiração definitivamente saía mais rápido que o
sangue correndo pelo meu corpo. Parecia real e, como sempre, eu estava
superconsciente de cada centímetro dela que estava em contato comigo: minha
mão contra o contorno firme de suas costas, a perna dela contra o meu joelho,
quadris pressionados contra minha coxa, seu estômago pressionado contra o meu,
suas mãos correndo por cima do meu peito, sua boca a centímetros dos meus
lábios.
— Bem — eu disse sem fôlego, — olha tudo o que ela fez com sua vida:
médica, advogada, veterinária, professora...
Ela riu de novo e trouxe seu nariz até o meu, esfregando-o contra mim,
quando a boca dela ficou ainda mais perto. — Ótimo. Então agora eu sou de
plástico e leviana.
Fechei os olhos e procurei seus lábios, encontrei-os prontos e ansiosos. Nós
pressionamos um contra o outro, precisando um do outro, mas ela se afastou antes
que eu pudesse aprofundar o beijo. Sua respiração pesada, com os olhos cheios de
desejo, ela passou as mãos no meu peito e colocou ao redor do meu pescoço. —
Eu não sou volúvel... eu sei exatamente o que eu quero.
Eu exalei fortemente em suas palavras, meu coração acelerado. — Eu quero
você, Lil.
Suas mãos estenderam para agarrar a parte de trás do meu cabelo. — Eu
quero você também, Lucas.
Sem outra palavra, a minha mão em seu ombro apertou seu pescoço e
puxou sua boca para a minha. Paixão inflamou em nós dois e nosso ternos beijos
suaves transformaram-se em ardentes beijos abrasadores. Eu me inclinei para
trás, puxando-a comigo e deixei-me cair sobre minhas costas. Ela veio comigo,
nossos lábios separados por uma risada curta quando, em vez de aterrar
duramente na grama, pousamos no colchão macio da minha cama. Rolei sobre ela,
minha mão deslizando por sua coxa e por baixo do vestido quando uma nuvem
cobriu o sol, momentaneamente escurecendo a parte do campo em que ainda
estávamos.

151
Ela suspirou e arqueou as costas enquanto minha mão deslizava mais e
mais para cima, deslizando sem esforço até sua pele cremosa. Suas mãos
emaranhadas no meu cabelo, puxando-me para aprofundar mais o beijo. Sua
língua encontrou e acariciou a minha, degustando, saboreando. Ela tinha o mesmo
gosto de sempre, ela cheirava como sempre, era a mesma sensação de
sempre. Minha mão, finalmente, chegou do seu caminho da perna até a sua parte
traseira e eu gemi baixinho quando nada impedia o seu avanço; ela não usava
calcinha.
— Oh, Deus, Lil — eu murmurei, enquanto deixava cair a minha cabeça
na curva de seu pescoço. Ela gemeu e moveu levemente seu quadril contra o meu
corpo. O sangue foi diretamente até a minha metade inferior e eu endureci quase
dolorosamente. Eu balançava contra seu quadril e soltei uma respiração
irregular. — Eu estou pronto, Lil. Estou finalmente pronto.
Eu me afastei para olhá-la, a paixão em seus olhos, a boca aberta e
esperando por mim. Tão perfeita, tão bonita e tão real. — Eu não quero parar nesse

momento. — Ela fechou os olhos e puxou meu cabelo, asperamente trazendo meus
lábios de volta para ela.
Enquanto uma nova intensidade nos prendia, uma de suas mãos soltou
meu cabelo e arrastou para o meu peito. Ela serpenteou entre nós, abriu o zíper do
meu jeans e colocou os dedos quentes em torno de mim. Mordi o lábio com a
sensação. — Lil...
Minha mão segurando o seu traseiro moveu para frente e levemente
acariciei a pele sensível. Engoli em seco e murmurei algo incoerente. Ela gemeu e
empinou contra minha mão. Quase involuntariamente, meu dedo escorregou
dentro dela. Ela gemeu e balançou contra mim. — Luc, não pare...
Mal ciente de qualquer coisa, a não ser onde os nossos corpos intimamente
se tocavam, eu milagrosamente notei algo. Tudo que estava fora do meu quarto, ao
ar livre, parara. As sombras em movimento ao nosso redor pararam. Os sons do
riacho ao nosso lado pararam. O farfalhar das folhas no alto das árvores
pararam. Os guinchos dos pássaros chamando seus companheiros
pararam. Tenho certeza de que até mesmo o sol parou. Era como se o mundo inteiro
prendesse a respiração e nada existia, somente Lil e eu... e este momento. Este era

152
o momento em que nunca cheguei a ter na vida real. Este era o momento que
finalmente comecei a ter aqui, no mundo do meu sonho. Eu tinha certeza que me
mataria depois, mas agora... eu estava pronto.
Tirei minha mão dela. Lil agarrou-me perto quando eu fiz. Tirei
delicadamente a mão de perto de mim. Ela olhou para mim, então, com os olhos
borrados com a necessidade. Nunca quebrando o contato visual, eu deslizei minha
calça para baixo, o vestido amassado, e me coloquei em cima dela. Nossas roupas
desapareceram naquele momento e nossas peles se encontraram; a dela era quente
e macia enquanto ajustava-se debaixo de mim. Sua mão acariciou a minha
bochecha e uma expressão estranha, quase tristeza, atravessou seu rosto. Fiz uma
pausa enquanto observava a emoção passar por ela.
— Lil?
Ela mordeu o lábio, assentiu com a cabeça e me apertou contra ela,
sentindo o calor dela me pedindo para ir em diante. Respirei fundo e Lil fez o
mesmo, ambos se preparando para algo maior do que cada um de nós. Inclinando-
me para beijá-la, eu lentamente pressionei para a frente. Nós dois engasgamos
quando a ponta de mim escorregou dentro. Foi intenso... E só o começo. Eu ofegava
contra seus lábios, sua respiração correspondendo a minha, e me ajustei para esse
primeiro empurrão.
— Lucas?
Uma batida forte na porta e uma voz insistente da minha mãe
imediatamente me trouxe de volta à realidade. Minha mente, pelo menos, meu
corpo ainda lutava com as emoções que eu acabara de deixar para trás. Amaldiçoei
silenciosamente e engoli o ar, tentando firmar a minha
respiração. Cuidadosamente me sentei na cama e notei que, mais uma vez, os
sonhos às vezes se manifestam na vida real. Eu estava duro como uma
rocha. Grande. Agradável momento, mamãe.
— O quê? — Eu disse, com o que eu esperava que fosse uma voz grogue.
— Desculpe, querido, eu preciso ir trabalhar... mas alguém está aqui para
ver você. — A voz de minha mãe através da porta foi levada às pressas, como se
estivesse atrasada.

153
Rapidamente disse um: — Obrigado! — De modo que ela sairia e me
deixaria sozinho com minha situação. Desejei que quem mais estivesse lá saísse
também. Então fiquei nervoso que talvez fosse Sawyer. Realmente não precisava
dela me vendo assim.
Levantei-me e tentei pensar em outra coisa que não no meu sonho... como
quem visitava a esta hora. Realmente não acho que Sawyer viria antes da escola, e
não pude deixar de me perguntar quem seria. Quando os restos de meu sonho
desvaneceu-se de mim, a tristeza passou por mim. Esse sonho foi tão real... e
novo. Eu queria continuar e queria que acabasse. As emoções opostas limparam o
sono do meu sistema e... igualaram... meu fluxo de sangue. Até o momento em que
abri a minha porta, eu estava fisicamente quase normal. Emocionalmente, eu
estava em todo o lugar.
Olhei em volta quando entrei na sala de estar, mas não vi minha mãe em
qualquer lugar. Era incomum ela ir embora sem se despedir de mim cara a
cara. Mesmo que eu ainda dormisse, ela abriria a porta para me olhar antes de
dizer adeus. Quem quer que esteja aqui deve ter realmente a aterrorizado. Gostaria
de saber quem poderia ser para apertar tantos nós nervosos em meu estômago.
Cautelosamente, eu entrei na cozinha e congelei imediatamente na porta,
minha respiração presa.
Um homem sentou-se à mesa, olhando para suas mãos. — Xerife Whitney?

— Eu disse timidamente quando dei um passo para dentro da cozinha.


Não era que eu não vi o xerife desde aquela noite, mas, como sempre, ao vê-
lo, as lembranças me inundavam primeiro. Memórias dolorosas. A voz tensa do
passado encheu minha cabeça enquanto eu olhava sua forma imponente, vestido
da cabeça aos pés com seu uniforme marrom, Sinto muito, Lucas... todos eles se
foram... Eu empurrei para trás aquela conversa horrível e foquei na versão atual do
tenso xerife na minha frente.
Ele se virou para olhar para mim quando entrei, seus olhos de aço mudando
para o meu corpo antes de descansar no meu rosto. Corei ligeiramente, esperando
que a minha situação tenha se acalmado o suficiente para que ele não pudesse
dizer. Acho que ele não falaria disso nem nada, mas ainda era embaraçoso.

154
Engoli o meu mal-estar e fui até a mesa, tomando o assento à sua
frente. Curiosidade me ultrapassou e soltei. — Por que você está aqui?
Percebi o quão grosseiro que foi logo depois que eu disse isso. Corei mais,
mas fiquei em silêncio, à espera de alguma resposta.
Ele suspirou e passou a mão pelo cabelo grisalho. — Sua mãe. Ela me
contou sobre o que aconteceu para você ser suspenso – na escola.
Meus olhos se arregalaram. Ela disse a ele? Ele, de todas as pessoas? Um
homem da lei que poderia... bem, eu não sabia o que ele poderia fazer sobre isso,
tanto tempo após o fato, mas ainda assim, o que ela pensava?
— Eu... hum... — eu gaguejava em minhas palavras, não tendo qualquer
ideia do que dizer.
Seus olhos se estreitaram para mim. — Eu sei que você já passou por muita

coisa, filho, mais do que a maioria na sua idade. — Ele abaixou a cabeça, os olhos
quebrando o contato e, novamente, sua voz no passado entrou no meu cérebro,
todos eles se foram...
Apertei meu queixo, segurando as minhas emoções por um fio fino,
enquanto ele continuava. — Aquela noite foi... horrível... para um monte de gente.

— Ele olhou para mim e implorei aos meus olhos não para lacrimejar. — Mas
espero que você seja inteligente o suficiente para não ir por esse caminho. — O

olhar de aço em seus olhos suavizou com preocupação. — Eu já vi tantos perder o


seu caminho assim, com drogas ou álcool. Não se deixe ser um deles, Luc. Você é
mais forte do que isso.
Minha boca se abriu com a sua implicação. Ele acreditava que eu não
bebi naquela noite, mas agora ele pensou que eu era um drogado? — Eu não... eu

não estou... — eu respirei fundo para me acalmar. — Alguém me deu alguma


coisa. Eu não uso drogas.
Seu olhar de aço retornou. — Sim, sua mãe disse isso. — Ele acenou com
a cabeça, pensativo, enquanto eu refletia sobre o seu comentário. Minha mãe
acreditara em mim prontamente quando eu disse que alguém me drogara. Claro,
ela iria; ela acreditava em tudo o que eu disse a ela nos últimos tempos. Ela passou
essa informação para o xerife, por algum motivo estranho, e ele parecia acreditar

155
também. Eu me perguntei o que ele faria com essa informação. Bem, tudo o que
ele conseguiu trazer à tona sobre o incidente, ele não conseguiu a informação de
mim. Eu não estava prestes a dar o nome de Josh – não pela escola, ou minha mãe,
e definitivamente não para o xerife Whitney. Eu já tinha problemas suficientes
sendo aceito nesta cidade; não há necessidade de adicionar Narc8 à minha lista de
razões para as pessoas me odiarem.
O xerife se ajeitou em sua cadeira, inclinando-se sobre as mãos cruzadas
no centro da mesa pequena. Involuntariamente me inclinei para trás, mantendo o
espaço entre nós. — Eu só espero que você pense sobre o que eu disse. Talvez

moldarão como você reage a isso... a tudo isso. — Ele se levantou e colocou a mão
no meu ombro. Olhei para ele, dividido entre o desejo de gritar a minha inocência
e o desejo de explodir em lágrimas na enchente de emoções que sempre residiram
em mim. — Isso ficará melhor, Luc... você vai ver.
Ele olhou como se quisesse dizer mais, seu rosto lutando com alguma
emoção antes de voltar para o ar de profissionalismo que ele geralmente usava. Ele
bateu no meu ombro algumas vezes enquanto eu ridiculamente assentia. Eu
concordava com ele? Se sim, não era voluntário. Ele acenou com a cabeça para
trás e, em seguida, caminhou da cozinha, deixando-me com os meus pensamentos
rodando. Um remanescente vago do meu sonho se levantou em mim, eu quero você
também, Lucas, seguido imediatamente por palavras assombrosas do xerife,
naquela noite, todos eles se foram. Fechei os olhos e forcei tudo para fora, só me
permitindo ouvir o veículo do xerife, uma vez que se afastou.
Ver o xerife perturbou o resto do meu dia. Sawyer percebeu quando veio
depois da escola. Embora ela geralmente me perguntasse se eu estava bem, e se as
minhas férias iam bem, hoje ela me perseguiu por uma resposta mais honesta
quando eu dei minha resposta típica de: — Tudo bem. — Talvez fosse o olhar na
minha cara, ou talvez a assustei o suficiente com as pílulas, ela simplesmente não
deixaria respostas genéricas voar de agora em diante. Seja qual for o caso, ela
continuou examinando meu humor até que confessei sobre a visita do xerife.
Não era que a visita foi ruim, ou que ele fez ou disse alguma coisa para me
perturbar, não foi isso de qualquer maneira, mas vê-lo de novo, e, especialmente,

8 Abreviação para um agente da Narcóticos.

156
estar a sós com ele, reabriu velhas feridas e as cicatrizes recentes machucavam. Em
vez de passar o dever de casa comigo, Sawyer se sentou comigo no sofá, segurando
a minha mão e dizendo que ela não iria a lugar algum e me ajudou a passar por
tudo. Ela me garantiu que eu só tinha mais um dia de escola e um último fim de
semana, e então nós estaríamos juntos a maior parte do dia, quase todo dia.
Eu apertei sua mão com gratidão, não sei o que eu faria sem ela. Olhei
adiante, em estar na escola com ela novamente, e temia estar na escola com ela
novamente. Eu deixei uma espécie de bagunça para trás com meu espetáculo no
ginásio. Os alunos não me deixariam esquecer disso facilmente.
Minha mãe não disse nada sobre a visita surpresa do xerife quando chegou
em casa tarde da noite, apenas me perguntou como eu estava e como foi meu
dia. Minha resposta para ambas era previsível – bem. Ela assentiu com a cabeça e
aceitou isso e me deu um beijo suave na cabeça antes de bocejar e andar pelo
corredor até o quarto dela. Eu assisti o local de onde saíra da minha vista por um
longo tempo antes de me levantar e ir para o meu quarto, na esperança de que,
talvez, eu pudesse trazer Lil para mim. Eu realmente não pensava em continuar o
que estava prestes a fazer hoje de manhã; eu só precisava que ela falasse
comigo. Eu precisava dela esta noite. Precisava do conforto dela.
Minha cabeça nem bem bateu no travesseiro e de repente eu estava
sentado... e ao volante de um carro. Confuso, eu comecei a entrar em pânico. Eu
não dirigia. Nunca dirigia. Não mais, não desde a noite do acidente. Por que eu
estava atrás do volante? E de quem era o carro? Eu nem sequer possuía um carro.
Minhas mãos apertaram no volante e meu coração disparou dolorosamente
quando gotas grossas salpicaram no para-brisa. O limpador de borracha gritou em
protesto quando ele rapidamente deslizou para frente e para trás através do vidro,
espalhando a chuva mais do que removendo. Eu mal conseguia distinguir as barras
amarelas no meio do asfalto. Eu não conseguia tirar meus olhos da estrada e minha
respiração começou a engatar quando levantei meu pé do acelerador e preparei
para pisar no freio. Eu queria parar.
— Ei, eu não faria isso.
Virei minha cabeça para a direita e soltei um suspiro pesado, quando vi
quem estava sentado ao meu lado. — Darren? — Ele torceu os lábios e sorriu para
mim, e imediatamente comecei a relaxar. Era apenas um sonho. Eu deveria saber
157
disso, mas geralmente em sonhos você não sabe. Meu aperto no volante, o volante
do Geo de Darren, percebi de repente, se afrouxou. Eu respirei profundamente e
tentei me acalmar, olhando para a estrada e concentrando-me nas faixas amarelas
novamente.
— O que estamos fazendo aqui? Eu não dirijo, Darren... nunca. — Tentei
levantar o meu pé do acelerador novamente para que o carro gradualmente
diminuísse até parar, mas eu não poderia levantar o pé, e o carro realmente
acelerou.
Ao meu lado, Darren riu e olhei para ele. — Sim, eu sei, Miss Daisy. — Sua

diversão suavizou a seriedade. — É por isso que estou aqui. Eu ficarei com você,

Lucas. — Ele colocou a mão no meu braço. — Eu estou com você, cara.
Engoli em seco e concentrei-me na estrada de novo, desejando poder
controlar meu sonho agora, alterar a definição, desacelerar o carro... parar o
carro. Pensei em pisar nos freios novamente e meu pé levantou com sucesso do
acelerador.
Darren tossiu ao meu lado, apontou o dedo para o meu pé, e depois sacudiu
a cabeça para o outro lado enquanto abanava o dedo.
Confuso e frustrado, eu deixei cair meu pé de volta no acelerador.
Darren ergueu as sobrancelhas para mim. — Você não pode pisar nos
freios, Lucas. Eu sei que você quer, mas você não pode. É assim que você perdeu
o controle pela primeira vez. — Ele balançou a cabeça para mim novamente. —
Você não aprendeu nada com Sem Licença Para Dirigir9?
Relaxei mais e até ri um pouco. — Certo. Eu quase me esqueci da sua teoria
de que todas as lições da vida podem ser aprendidas através da observação dos
filmes dos anos oitenta.
Ele riu ao meu lado e me virei para ver a sua cara feliz, esquecendo
momentaneamente o meu horror de dirigir novamente. — Isso mesmo. — Ele

levantou a mão para mim e começou a bronca com os dedos. — Você tem The

9 Ele cita o filme americano License to Drive, no Brasil lançado com o nome de Sem licença para
dirigir. Filme americano de 1988, uma comédia que conta a historia de Les Anderson, um jovem
que após não passar no teste de habilitação sai escondido com o carro de seu avô sem saber que
causará um tremenda confusão.

158
Breakfast Club10 – todos podem aprender a conviver se estão trancados em uma
sala por tempo suficiente. — Ele enumerou outro dedo, enquanto eu ria ao lado

dele, meus olhos ainda colados aos deles. — Top Gun11 – enfrente seu medo de

frente e você certamente o conquistará. — Ele estendeu os dedos e suspirou

satisfeito, fechando os olhos escuros. — E o meu favorito... Weird Science12.


Eu fiz uma careta e levantei a cabeça para ele. Eu já vi esse filme antes, e
além de crianças transformando uma boneca Barbie na mulher mais perfeita do
mundo, eu não vejo nenhum significado profundo nele. — O que há para aprender
em Weird Science?
Ele abriu os olhos, o brilho neles igualando o seu sorriso diabólico. — Ah...

as coisas que Kelly LeBrock13 poderia me ensinar. — Eu ri bastante com isso e


balancei a cabeça. Darren torceu seus lábios para mim, enquanto eu ainda ria
dele. — Falando de mulheres... o que está acontecendo com você e Lil?
Tirei a mão do volante e virei ainda mais, então meu corpo estava quase de
frente para ele. — O que você quer dizer?

Ele levantou uma sobrancelha para mim. — Hum, eu acho que você
sabe. Uma pequena reunião em um campo, uma cama de repente aparecendo,
roupas de repente desaparecendo... você não se lembra de nada disso?
Apertei os olhos para ele. — Você deveria cair fora desses sonhos.

Seu rosto ficou sombrio. — Luc... você não pode fazer isso, cara. Você não
pode ficar com ela assim... não mais.
— Por que eu não posso? É o meu sonho... minha cabeça. — Meu tom
ficava um pouco irritado, mas eu não podia ajudá-lo.

10 Lançado no Brasil como Clube dos Cinco, produzido em 1985. A história mostra um dia na vida
de cinco adolescentes que, por terem se comportado mal na escola, ficam detidos um sábado inteiro
e tendo que redigir um longo texto, com mais de mil palavras, sobre o que eles pensam sobre si
mesmos. Apesar de muito diferentes, eles acabam se conhecendo melhor e dividindo seus dramas
pessoais.
11 Ou Ases Indomáveis, 1986.
12 Lançado no Brasil, como Mulher Nota 1000, em 1985. Dois nerds adolescentes tentam resolver
seus problemas amorosos criando uma mulher perfeita através de uma simulação de computador.
Uma tempestade inesperada faz com que a simulação ganhe vida e a mulher, Lisa, se materializa
milagrosamente e foge ao controle de seus criadores.
13 Atriz que vivia a mulher que dá título ao filme Mulher Nota 1000.

159
Darren balançou a cabeça, segurando meu olhar. — Porque é
estúpido. Você apenas se machucará. Tudo isso é estúpido. Você deve nos deixar
ir, não nos puxar com mais força.
Inclinei-me para ele, minha mão livre indo para o meu peito. — Você sabe
o quê, minha vida é uma droga! E o idiota do seu irmão não faz nada mais fácil. Se
eu conseguir até mesmo um momento de paz e conforto quando estou
com minha namorada, então eu terei tudo que eu posso conseguir!
O rosto de Darren se fechou como uma tormenta quando ele olhou para seu
colo. — Eu vou chutar o traseiro de Josh por drogar você — ele
murmurou. Erguendo a cabeça, ele trouxe seu olhar intenso para o meu. — Mas
isso não muda o fato de que você não deve se esconder com a gente em seus
sonhos. Ela não é sua namorada mais! Você não pode continuar ignorando as
relações reais por Lil, por nós – estamos mortos, Luc. Estamos mortos!
Raiva súbita e inexplicável passou por mim. — Eu não trouxe você aqui,

Darren. Se não quer me ver, então não apareça! — Eu me arrependi imediatamente


de dizer isso, desde que eu adorava vê-lo. Imediatamente me acalmei e queria ter
de volta as minhas palavras, mas Darren fez uma careta e se afastou de mim,
mordendo o lábio para segurar seu temperamento explosivo.
Então sua boca se abriu e sua carranca desapareceu. Ele empalideceu
visivelmente antes de lentamente voltar a me encarar. Com uma voz suave, ele
disse: — Ei, cara, eu sinto muito.
Minhas sobrancelhas se unindo conforme eu tentava descobrir por
que ele estava arrependido por meu desabafo. — O que... por quê? Sinto muito,
cara, eu não deveria ter dito isso.
Ele balançou a cabeça e apontou para o para-brisa. Eu saltei, lembrando
que eu não estava realmente em um bom sonho, tendo uma discussão amigável
com Darren. Eu estava em um pesadelo, dirigindo por uma estrada escura e
molhada, a estrada escura molhada. Virei novamente e agarrei o volante com as
duas mãos, tentando me concentrar no que eu fazia. Meu coração acelerou e minha
respiração veio em puxadas irregulares; eu poderia facilmente ver uma curva
perturbadoramente familiar na estrada através do para-brisa e da chuva que caía.

160
A voz de Darren ecoou assustadoramente ao meu lado. — Eu sinto
muito. Esta é a parte que você não vai gostar.
O carro começou a deslizar sobre a água e instintivamente pisei nos freios.

161
Capítulo 9
Primeiro Dia, Segunda Volta.

Acordei gritando e jogando minhas mãos em cima da cama, tentando me


impedir de cair nesse penhasco novamente. Meu coração disparou enquanto eu
gritava mais e mais, não era capaz de dissociar completamente daquele pesadelo
horrível. Braços quentes me pegaram e uma voz suave abafada sussurrava
repetidamente no meu ouvido. Eventualmente a voz calma da minha mãe me
trouxe à realidade e quando eu deixei o sonho ir, meus gritos se transformaram em
soluços. Deus, eu odiava sonhar com o acidente. Mesmo com a ajuda de Darren...
eu odiava sonhar com o acidente.
Mamãe se arrastou para a cama comigo e ficou lá até que ela precisou ir
trabalhar na manhã seguinte. Embaraçosamente a agarrei com força, relutante em
deixá-la sair, com medo de que o pesadelo encontraria uma maneira de voltar e me
assombrar, mesmo acordado. Ela suavemente beijou minha testa e sussurrou que
tudo ficaria bem e que ela estaria de volta logo que pudesse.

162
Fiquei acordado, olhando para as rachaduras do meu teto e implorando
para minha mente ficar em branco. Ela não o fez. Flashes de chuva e estrada e
sangue riscavam minha visão. Memórias de gritos rodaram no meu cérebro, alguns
de Lil, alguns meus. Eu ainda olhava para o teto quando Sawyer apareceu na
minha porta. Pisquei quando olhei para ela, perguntando-me quanto tempo eu
estive deitado na cama, girando em pensamentos sombrios. Ela começou a explicar
que bateu por um tempo, quando percebeu o olhar no meu rosto, imediatamente
parou de falar.
— Luc? O que é isso? — Ela veio para a beira da cama e sentou, tirando
um pouco do cabelo da minha testa.
— Nada... eu estou bem. — Mesmo quando eu disse isso, senti uma lágrima
escorrendo pelo meu rosto. Seu polegar roçou-a e ela imediatamente se arrastou
debaixo das cobertas comigo, atirando os braços ao redor do meu pescoço.
— Está tudo bem, Lucas. Está tudo bem. — Sua voz suave murmurou em
meu ouvido e qualquer força que eu deixara em mim falhou. Eu cedi ao desespero
com o qual meu pesadelo me encheu. Meus braços pendurados em torno de seu
corpo, eu chorei, coração arrancando soluços que eu não podia segurar mais. Foi
constrangedor e eu odiava fazer isso, mas não conseguia parar a dor esmagadora
mais do que eu poderia parar a respiração gaguejada que eu tomava.
Sawyer nunca reclamou ou tentou se afastar do meu abraço sempre
apertado. Ela colocou a mão no meu cabelo e esfregou a outra pelas minhas costas
em padrões calmantes. Eventualmente, sua voz e seu toque calmante me
acalmaram ao silêncio. Ou isso, ou eu esgotei todas as lágrimas em meu corpo.
Provavelmente, o último.
Com algumas respirações irregulares, e um golpe rápido do meu nariz na
minha manga, eu virei para olhá-la. Ela sorriu calorosamente para mim, seu cabelo
preto com as tranças infantis que eu vi no primeiro dia de escola. Deitei-me no meu
travesseiro e ela se apoiou sobre um cotovelo, olhando para mim. Eu funguei
algumas vezes e olhei para longe dela, envergonhado. Senti seus dedos escovar
sobre minha testa novamente e, em seguida, no meu rosto, me virando para olhá-
la. Com os olhos acanhados, eu fiz.
— Eu tenho alguns deveres para você.

163
Sorri genuinamente e relaxei novamente nos travesseiros, grato por ela não
perguntar sobre o meu colapso, grato por ela não mencionar isso. Eu ri levemente
e passei a mão em meus olhos, na esperança de limpar os restos do meu desânimo.
— Ah bom... eu estava ficando um pouco entediado.
Ela me deu um rápido sorriso, seus olhos observando o meu rosto antes de
descansar em meus olhos novamente. — Eu só vou pegar minha bolsa. — Seu

rosto endurecido em seriedade. — Eu já volto, Lucas.


Engoli em seco e acenei com a cabeça, enquanto ela deslizava para fora da
minha cama e fora do meu quarto. Atirei um braço sobre os olhos e tentei não ficar
muito envergonhado com o meu colapso. Eu ainda estava, entretanto. Assim que
eu pensei que deveria ir atrás dela, eu senti seu retorno ao meu quarto e a ouvi
vasculhar sua bolsa. Olhei por debaixo do meu braço quando a senti levantar as
cobertas e rastejar de volta para a cama comigo. Ela tirou a minha jaqueta
esportiva e colocou a mochila no chão. Ela brincou com as longas mangas de sua
camisa, enquanto equilibrava um livro sobre os joelhos debaixo dos meus lençóis.
Sentei e encostei-me à parede, sorrindo para o seu hábito familiar. Quando
eu estava alerta o suficiente para ouvir o meu dever de casa, ela começou a expor
tudo para mim. Eu me encolhi com a nossa lição de matemática e sorri diante do
ensaio fácil que Reynolds nos dera. Antes que eu percebesse, Sawyer olhava para
um relógio na parede e praguejava, murmurando que estava atrasada.
Ela escorregou para fora da minha cama e começou a colocar suas coisas
de volta. Eu fui para a borda e sentei, colocando os pés no chão. Eu a vi
empurrando as coisas em sua mochila e rapidamente colocou minha jaqueta de
volta. Esta era a última vez que ela vinha me dar a minha lição de casa. Eu não
tinha certeza se seus pais protetores sequer a deixariam vir após esta visita, e ela
estar no meu quarto agora, pode ser a última vez que isso vai acontecer.
Estendi a mão para ela, uma vez que ela tinha tudo pronto para ir, e
entrelaçamos nossos dedos juntos. Ela olhou para onde estávamos unidos e olhou
para mim com um sorriso suave.
— Obrigado, Sawyer... por tudo. — Eu suavizei meu olhar e esperava que
ela entendesse por tudo que eu realmente quis dizer tudo – muito mais do que
apenas me trazer o meu dever de casa diariamente. Ela pode não entender, mas

164
me ajudou a sobreviver no meu isolamento. Não acho que eu poderia ter feito isso
sem ela.
Seus olhos lacrimejaram, enquanto ela segurava o meu olhar. — Você é

bem-vindo, Lucas. — Ela engoliu em seco e balançou a cabeça. — Bem, eu acho

que verei você na segunda-feira. Eu meio que sentirei falta de vir. — Seus

pensamentos corriam junto com o meu; eu sentiria falta disso também. — Talvez

meus pais fiquem bem com visitas curtas... — ela deixou a frase sumir e mordeu
o lábio.
Sorri e balancei a cabeça, tentando não criar minhas esperanças. — Espero

que sim... eu realmente gosto disso. — Levantando-me, eu cerquei-a em um abraço


caloroso. Ela parou por um momento e, em seguida, devolveu o gesto. Resisti à
vontade de beijar a cabeça dela e sussurrar o quanto ela significava para
mim. Resisti à vontade de dizer a ela o quanto eu sentia por estar tão confuso
emocionalmente, que eu não poderia dar a ela o que suspeitava que ela queria de
mim. E resisti à vontade de puxá-la mais apertado, para nunca deixá-la ir. Em vez
de tudo isso, eu a segurei por mais alguns segundos, e então a deixei ir e dei um
passo atrás. — Até segunda-feira, Sawyer.
Ela assentiu com a cabeça e ajeitou a mochila em seu ombro antes de se
virar para sair do meu quarto. Eu a parei na porta. — Sawyer? Quão ruim a escola
será?
Ela fez uma careta e olhou para baixo. Não tomo isso como um bom
sinal. Suspirando, ela relutantemente levantou a cabeça para olhar para mim. —
A maioria das pessoas pensa que você tomou alguma coisa, ficou alto ou bêbado...
ou algo assim. Ouvi Brittany dizendo que ela viu você tomar algumas pílulas ao
sair da aula de arte.
Eu não estava muito surpreso com isso; a fábrica de fofocas era previsível. A
expressão de Sawyer escureceu. — E então, aquela cadela passa a maior parte do
coro contando histórias sobre como você fica confuso todas as noites e aparece na
sua porta, tentando fazer sexo com ela. — Um leve rubor encheu as bochechas

quando a raiva passou por ela. — Ela sempre me olha quando diz isso, como se

165
você estivesse me traindo ou algo assim. — Seu rosto ficou branco. — Não que
nós sejamos um casal. É que... tudo o que eles acreditam que nós...
Balancei minha cabeça enquanto ela balbuciava algumas vezes, tentando
se explicar. — Eu sei, Sawyer. Eu entendo. — A escola infelizmente conectou
Sawyer a mim, praticamente desde do primeiro dia, mesmo com as minhas
tentativas fracassadas para não chamar a atenção indesejada para ela.
Fiz uma careta enquanto considerava as mentiras descaradas de
Brittany. Interessante que ela me pintava claramente na escola. Bem, eu sempre
suspeitei que ela estava mais interessada em mim do que deixava
transparecer. Esta era uma maneira dela viver uma fantasia comigo e me fazer
parecer ainda pior, tudo ao mesmo tempo. Ganha em todos os lados, eu acho. Não
era como se eu fosse desmenti-la. Ninguém acreditaria em mim mesmo.
Eu sorri torto, sabendo que não havia nenhum humor em meu rosto. —

Oh, bem, acho que poderia ser pior. — Ela balançou a cabeça e olhou para
baixo. Lembrei-me de minhas suspeitas de que ela era ridicularizada mais do que
ela me deixava ver e caminhei até ela, colocando uma mão em seu braço. — Você
está bem, Sawyer? Eles... eu estou piorando as coisas para você? Seria melhor para
você, se não fôssemos amigos? — Eu sussurrei essa última parte, esperando que
ela não dissesse sim e aproveitasse a oportunidade para se afastar de mim.
Sua cabeça se levantou e seus olhos arregalados olharam para minha
cara. — Não, não, Lucas... não pense assim. — Sua mão esgueirou-se para

descansar no meu peito e ela deu um passo mais perto de mim. — Você faz minha

vida melhor, Lucas. Se você soubesse o quanto... — ela mordeu o lábio e balançou
a cabeça, os olhos começando a encher de água novamente. Comecei a fazer uma
pergunta, mas ela me interrompeu. — Não se preocupe com o que dizem de
mim. Eu não me importo. Nada disso importa para mim – as panelinhas, a fofoca,
eu não me importo. — Ela trouxe a outra mão até colocá-la no meu peito, os dedos

pressionando levemente em mim quando ela se inclinou mais perto. — Isso é o que

importa para mim. — Ela engoliu em seco e procurou meu rosto. — Você... você é
o que importa para mim.

166
Engoli em seco e calor me inundou. Meu consolo, a única pessoa viva que
realmente me trouxe uma paz verdadeira, encontrou a paz em mim também. Não
entendia como isso era possível, como eu poderia de alguma forma trazer a sua
alegria, mas de alguma forma, era assim, e esse pensamento me fez sentir satisfeito
e completo – cheio de algo que eu não sabia nem como expressar
completamente. Balancei a cabeça para ela, um sorriso enorme iluminando meu
rosto. — Você não sabe o que isso significa para mim, Sawyer. Você não poderia
entender o quanto eu te amo.
Eu congelei quando o que eu acabei de dizer registrou na minha cabeça. Em
todo o tempo que estive com Lillian, eu nunca realmente disse essas palavras para
ela. E aqui, agora, eu conhecia Sawyer por apenas alguns meses, e as palavras
escaparam sem esforço. Eu vi seu rosto pálido e sua boca cair aberta. Eu lembrava
vagamente que esta não era a primeira vez que eu dizia a ela que a amava. Alguma
memória nebulosa de uma conversa contaminada por drogas flutuou em torno de
minha cabeça, mas o embaraço com o meu comportamento, então, e meu desabafo
agora, forçou-o de volta. Não sabendo mais o que fazer, e não realmente
entendendo o que eu quis dizer, dizendo a ela que a amava, eu rapidamente
acrescentei: — Como amiga, minha melhor amiga.
Sua boca se fechou e ela engoliu; uma emoção estranha passou por seu
rosto antes de seu sorriso pacífico retornar. — Eu também te amo, Lucas... como
meu melhor amigo.
Sorri com as palavras dela, e o fato de que eu mesmo poderia ter alterado a
situação de ser apenas amigos. Puxei-a para um abraço apertado antes de
retroceder e brincando me afastar dela. — É melhor você ir. Você já está atrasada,
e nunca vai convencê-los a deixá-la vir se eu sempre reter você até tarde.
Ela riu e acenou com a cabeça. — Sim, você está certo. Tenha um bom fim
de semana, Lucas.
Mentalmente eu fiz uma careta com a perspectiva de mais longos dias sem
ela, mas para ela, eu só balancei a cabeça. — Você também, Sawyer.

167
Segunda-feira veio sem muito alarde, apenas uma leve garoa no ar fresco
de novembro. Vesti-me e fiquei pronto para a escola com um nó no estômago. Eu
estava fora por um tempo agora e, enquanto o meu exílio não foi agradável, não era
também o pensamento do movimento através dessas salas novamente, sentindo
todos os olhares aquecidos e ouvindo vozes abafadas enquanto eu passava. Eu
fiquei muito bom em me sintonizar antes do incidente, mas agora parecia que eu
recomeçava o ano. Bem, pelo menos eu tinha Sawyer comigo. Isso ajudou
tremendamente.
Terminando de me arrumar, eu passei a mão sobre a minha camisa branca
de manga comprida e me estudei no espelho do banheiro. Eu passei um produto
no meu cabelo ondulado tentando domar a bagunça, me barbeei esta manhã, mas
mesmo assim os meus olhos pareciam assustados. As íris castanhas olhando para
mim no espelho eram apenas um pouco grandes demais, a respiração saindo dos
meus lábios pálidos estava um pouco rápida demais. Joguei um pouco de água no
meu rosto e fechei os olhos, tomando respirações longas e profundas.
Eu não precisava de outro ataque de pânico. Depois do meu primeiro dia
horrível na escola, aqueles realmente diminuíram, e eu não precisava que eles
aparecessem novamente. Claro, eu também atribuí isso a Sawyer e a sua presença
calmante. Abri os olhos e forcei um sorriso na minha cara estressada. Eu a veria
em breve e a maioria, se não toda a minha ansiedade, escaparia com seu sorriso
alegre.
Eu me arrastei para a cozinha e preparei uma jarra de café para minha mãe
e para mim. Ela saíra ontem à noite para pegar um turno extra no jantar e eu
acordei antes dela. Eu fiz o pote extra forte, sentindo-me como se precisássemos
muito do impulso hoje. Assim que eu estava sentado à pequena mesa, ela apareceu
na porta, bocejando e alongando.
Ela sorriu para mim e bagunçou meu cabelo, arruinando todo o semblante
de arrumação que eu consegui esta manhã. Isso realmente não importa para mim,
então devolvi o sorriso caloroso. Ela franziu a testa quando viu isso, e percebi que
ainda usava o meu sorriso forçado. Meu rosto não relaxou em um genuíno.
— Você quer que eu ligue para a escola, Lucas? Mais um dia, certamente
não doeria nada. — Ela passou a mão pelo meu rosto, olhando para minhas
características, se preocupando comigo.
168
Engoli em seco e tentei suavizar o meu sorriso rígido. — Não, mais um dia
não ajudará nada. Preciso acabar logo com isso.
Ela assentiu com a cabeça e olhou para mim por um longo tempo, antes de
se servir de uma caneca e sentar em seu lugar na mesa, no mesmo local que o
xerife esteve na semana passada. Eu pensei sobre aquela conversa quando a
mamãe deu o primeiro gole da bebida fumegante. — Você teve uma boa visita com

Xerife Whitney na semana passada? — Ela perguntou em voz baixa.


Olhei para o rosto dela, assustado que os nossos pensamentos estavam
correndo tão paralelos um com o outro. — Hum, sim... eu acho. — Eu queria
perguntar o que ela estava fazendo dizendo essas coisas pessoais sobre a nossa
vida a uma pessoa de alto nível, mas não conseguia pronunciar as palavras para
interrogá-la. Ela já desistiu o suficiente por mim. Se ela precisava de alguém para
conversar... bem, eu preferiria que não fosse ele, mas isso não era realmente minha
escolha.
Ela assentiu com a cabeça e um pequeno sorriso iluminou os lábios antes
de tomar outro gole. Ela fez uma careta um pouco e torci meus lábios
consoladoramente. — Desculpe... está um pouco forte, não é?

Ela riu e olhou para mim por cima do copo. — Sim, até mesmo para você.

— Ela abaixou a caneca e sua voz se suavizou. — Mas, suponho que você precisava
de ajuda extra hoje. — Seus olhos embaçaram, enquanto ela continuava olhando

para mim. — Eu sinto muito, Lucas... pelo que hoje será para você.
Balancei a cabeça e corri os olhos para o meu copo quase cheio. Ocupei-me
em esvaziá-lo, desligando a minha cabeça da visão da minha mãe ficando
emocional sobre o meu bem-estar. Essa visão certamente me abalaria hoje, e não
preciso disso agora. Agora, tudo o que eu precisava fazer era focar em manter a
minha paz interior. O restante funcionaria muito bem.
Eu praticamente inalava o fundo do meu copo quando uma buzina na porta
sinalizou a chegada de Sawyer. Um verdadeiro sorriso se espalhou no meu rosto
enquanto eu olhava pela janela e a vi verificando sua aparência no espelho
retrovisor. Olhei para minha mãe para dizer adeus. Ela me olhava com um pequeno
sorriso torto.

169
— O quê? — Eu perguntei cautelosamente.
Ela balançou a cabeça. — Oh, nada. — Seus olhos desviaram-se para a

janela e, então voltaram para mim. — Estou feliz que há alguém lá fora que pode

fazer seu rosto parecer assim de novo. — Seus olhos ficaram momentaneamente
saudosos, e nublaram de novo, com o que poderia facilmente tornar-se lágrimas.
Olhei para baixo e dei de ombros, não querendo aprofundar meu
relacionamento com Sawyer. Era muito complicado para eu pensar na maioria dos
dias, eu não preciso dela tentando analisá-lo, também. — É melhor eu ir, ela está
esperando.
Mamãe se levantou e me deu um abraço rápido. — Claro, querido. — Ela
se afastou para olhar para mim, seus olhos varrendo lentamente sobre o meu rosto,
me examinando. — Tenha um bom dia, Lucas.
Eu dei um sorriso hesitante antes de pegar minha mochila e o casaco do
chão, perto da porta da frente. — Eu tentarei — eu murmurei, enquanto segurava
os dois. Com um último abraço nela, abri a porta e acenei para Sawyer com um
sorriso idiota na cara. Passou um longo tempo desde que a vi pela manhã.
Sawyer acenou de volta para mim e depois para a minha mãe na porta,
enquanto eu abria a porta do carro para entrar. O aroma de limão muito familiar
tomou conta de mim e eu estava instantaneamente calmo. A familiaridade da
fragrância facilitou minha respiração e meu coração apertou. Exalei e me afundei
no banco, enquanto ela saía da minha garagem. Com um último olhar para a figura
da minha mãe se afastando da nossa porta, eu virei minha cabeça para enfrentar
Sawyer.
— Ei — eu disse agradavelmente, com uma mola na minha voz.
Ela olhou para mim e sorriu, com o rosto radiante com essa cortina de
cabelo liso escuro. — Ei, mesmo. Você está em um humor muito melhor do que eu

esperava encontrá-lo. — Ela levantou uma sobrancelha e depois voltou sua


atenção para a estrada.
Eu ri e voltei minha atenção para a ameaça iminente da escola diante de
nós. — Na verdade não. Estou feliz em vê-la.

170
Eu a senti virar para olhar para mim e encontrei seu olhar. — Estou
contente em vê-lo também. Eu senti falta disso.
Meus olhos se suavizaram enquanto eu olhava para ela quando ela se voltou
para a estrada. O sol da manhã brilhava no seu brilho labial recém-aplicado e uma
mecha de cabelo escuro caiu perto de seu olho, implorando para ser escondido
atrás de sua orelha. Ela realmente era muito bonita. — Sério? — Eu sussurrei,
sem querer dizer nada.
Ela se virou para mim. Seus olhos pousaram nos meus lábios e um
sentimento estranho brotou em mim antes que ela de repente quebrasse o contato,
e firmemente fixou os olhos na estrada à nossa frente novamente. — Bem, sim. —

Ela encolheu os ombros com indiferença. — Eu não tinha ninguém para reclamar
sobre as minhas escolhas musicais.
Ela me deu um sorriso malicioso antes de estender a mão e aumentar o
volume em seu rock indie14 de mulherzinha. Eu gemi de forma dramática e revirei
os olhos, agradecido que o sentimento estranho me deixava, e a familiar paz
reconfortante voltava. Nós dois rimos enquanto ouvíamos sua música odeio-
homens nos últimos minutos antes de chegarmos no meu inferno pessoal –
Sheridan High.
Ela parou o carro, a música de repente parou no meio de uma frase, eu sou
melhor sozinho. Senti um medo esmagador se fechar sobre mim. Meu peito apertou
enquanto eu olhava para a variedade de carros já no estacionamento. Reconheci
alguns – Will, Randy, Brittany e a picape maltratada que Josh dirigia este
ano. Olhar para os carros era como olhar para uma linha de pessoas que gostariam
de me ver ser atropelado por eles. Tentei não me importar, mas o meu peito
começou a fechar e minha respiração começou a engatar. Ficava cada vez mais
difícil até mesmo mantê-la.

14 Indie rock (ou "rock independente" em português) é um gênero musical surgido no Reino
Unido e Estados Unidos durante a década de 1980. É enraizado em gêneros mais antigos, como
o rock alternativo, o pós-punk e o new wave. O termo é frequentemente utilizado para descrever os
meios de produção e distribuição de música underground independente e dissociada de
grandes gravadoras, assim como o estilo musical a utilizar originalmente este meio de produção.

171
Uma mão quente tocou meu queixo, cuidadosamente virando minha
cabeça. Olhei para o rosto calmo de Sawyer. — Estou aqui, Lucas. Isso ficará bem.

— Ela assentiu encorajando e segurou meu rosto.


Engoli em seco e mantive contato visual com ela, sentindo a serenidade me
lavar. Eu poderia fazer isso. Só mais alguns meses, e então eu iria embora. Eu
poderia fazer isso. Minha respiração igualou e a dor no meu peito afrouxou. Com
um último longo suspiro, eu balancei a minha disponibilidade para ela e abri a
porta.
Nós fizemos todo o caminho até as portas principais do prédio com um
pouco mais do que o dobro do corpo estudantil. Eu começava a me sentir calmo e
confiante de que tudo ficaria bem – bem, normal, de qualquer maneira, o que era
geralmente eu ser completamente ignorado, o que era bom. Abri a porta pesada e
galantemente conduzi Sawyer para dentro, sua respiração um sopro visível à
medida que ela ria de mim no ar frio. Eu ri com ela e juntos atravessamos as portas
como qualquer par de estudantes normais do ensino médio.
Mas eu não era normal. Eu realmente não queria estar aqui. E, quando a
pesada porta se fechou ameaçadoramente atrás de mim, eu me lembrei desse fato
ao olhar em um par de olhos acalorados.
— Ah bom... você está de volta. Aproveitou o seu tempo de folga? — Josh
recostou-se contra a fileira de armários em frente das portas principais e zombou
de mim, com os braços cruzados sobre o peito.
A raiva cresceu em mim quando lembrei o que este pequeno bosta fez para
mim há duas semanas, o constrangimento, o banimento, mas, principalmente, a
separação forçada da minha melhor amiga. Não lhe dei a chance de dizer muita
coisa quando um ruído baixo veio surpreendentemente do meu peito e as palavras:
Seu filho da puta! descansaram na ponta da minha língua.
Mas não tive a chance de dizer isso, pois a minha mão foi subitamente
agarrada e puxada para longe do meu corpo, e eu tinha pouca escolha a não ser
segui-la. Comecei a me afastar da mão para voltar para onde Josh sorria batendo
em um amigo dele no peito e murmurando algo que fez o pequeno grupo rir e
apontar para Sawyer e eu.
— Não, Lucas. Ele não vale a pena.

172
Virei e encontrei a minha voz acalorada quando as palavras finalmente
saíram. — Ele me drogou, Sawyer. Ele merece ter seu traseiro chutado! — Por um
momento, imaginei Darren golpear sua cabeça e bater o irmão contra os
armários. Darren poderia ser impetuoso quando ele estava envolvido e, ao mesmo
tempo ele nunca deu um soco no seu irmão, mas eu sabia que ele teria se a situação
exigisse isso. E esta situação definitivamente chamava por isso.
Sawyer continuou puxando a minha mão, me afastando da luta para a qual
eu estava todo preparado. — Na verdade, ele merece isso — ela murmurou com
tristeza. Parando quando finalmente alcançou as escadas, ela colocou a mão no
meu rosto. — Mas não no meio do corredor, perto de todas essas pessoas. Não
quando você já tem uma restrição contra você. Você não precisa do problema, Luc.
Eu funguei e meu corpo começou a tremer com o desejo de fazer... alguma
coisa, bater... alguma coisa. Passou um longo tempo desde que eu tive raiva pura
correndo em mim e, por um momento, eu deixei essa pressão de calor atravessar
minhas veias e escurecer meu semblante. — Talvez eu queira o problema — eu
rosnei. Josh foi longe demais desta vez. Talvez ser expulso valesse a pena.
Os olhos de Sawyer se arregalaram, mas ela foi interrompida por uma voz
atrás dela antes que pudesse dizer qualquer coisa. — Existe um problema aqui?
Olhei por cima do ombro de Sawyer para o treinador Taylor em pé atrás
dela. Imediatamente endireitei minha postura ao ver o homem que foi uma figura
de autoridade para mim por um longo tempo. — Não, treinador — respondi
automaticamente. A raiva me deixou quando olhei para ele, e minha voz perdeu
sua borda dura.
O treinador sempre foi duro, mas justo, com Darren e eu, e nós aprendemos
a respeitá-lo. Darren costumava brincar que o treinador poderia ser o meu pai que
foi embora, já que ele realmente parecia com uma versão mais velha de mim – o
mesmo corte de cabelo castanho e sempre desalinhado, os mesmos olhos
castanhos, um pouco mais intenso nele, o mesmo queixo, o mesmo nariz, a mesma
constituição no geral. Eu sempre ri quando Darren começava um ataque histérico
sobre isso, entretanto. Eu posso não ter conhecido realmente meu... pai biológico,
mas eu sabia que o treinador não era ele. Por um lado, eu vi fotos do meu pai, e ele

173
e o treinador não eram nada parecidos. Em segundo lugar, eu realmente não gosto
de pensar no treinador transando com a minha mãe. Ugh.
O treinador bufou e inclinou a cabeça, quando olhou para mim e depois
para o corredor para onde Josh e seus amigos ainda riam. — Vamos conversar,

West. — Ele cruzou os braços sobre a polo azul e branca, cores da escola, e
estreitou os olhos para mim. O olhar neles não convidou interrogatório.
— Eu tenho que ir para a aula... — comecei sem muita convicção e balancei
a cabeça na direção da escada. Sawyer, ao meu lado, se mexeu
desconfortavelmente, parecendo que não tinha certeza se ela deveria ficar ao meu
lado ou me deixar em paz com o treinador.
Ele bufou novamente e torceu os lábios, o olhar de desagrado em sua
expressão dura. — Isso não foi um pedido.
Olhei para baixo e acenei com a cabeça antes de dar a Sawyer uma cara de,
Desculpa, e dizendo a ela que eu a encontraria na aula de Inglês. Ela balançou a
cabeça para mim e, em seguida, rapidamente olhou para o homem intimidante ao
meu lado antes de correr escada acima. Vi-a sair, virando a esquina e ser seguida
pelo que parecia ser um esquadrão de estudantes, e, então eu suspirei e virei para
enfrentar o treinador.
Ele imediatamente começou o discurso que provavelmente preparou para
mim no primeiro dia. — Investi muito tempo em você, West, e é assim que você me

paga? — Seus braços cruzados sobre o peito mudou-se para os quadris e seu rosto
assumiu um olhar severo, todos os ângulos agudos e arestas duras, não parecia
muito comigo mais. — Você largou a equipe no seu último ano, nem mesmo se
preocupou em aparecer para os testes neste verão, ou até mesmo me dizer que não
ia. — Ele apontou irritado para o final do corredor, onde alguns alunos nos

observavam conversar, ou melhor, assistiam o treinador conversar comigo. — Você


me deixou preso com McKinney como seu substituto pelo o amor de Deus.
— Will é bom... — eu tentei humildemente.
Seus olhos se estreitaram enquanto sua voz ficou ainda mais severa. — Will
tem bons pés, mas as mãos são uma porcaria. Ele é mais desastrado com a bola

174
do que um calouro tentando soltar seu primeiro sutiã. Nós precisávamos de você
neste ano.
Olhei para longe dele. — Coisas vieram...

Ele bufou e olhei para ele. — Sim, eu sei sobre tudo o que veio. — Seus

olhos duros viraram desaprovação. — Ficando bêbado com seus amigos, ficando
atrás do volante quando não deveria, eles ficando mortos...
Seu rosto suavizou de uma forma que eu nunca vi antes, e minha garganta
se fechou. Deus, eu não queria chorar na frente deste homem. Ele colocou a mão
no meu ombro em uma rara demonstração de compaixão. — Eles farão falta...

Darren especialmente. — Um meio sorriso estranho iluminou seu rosto e pisquei

para vê-lo; o treinador não sorria muito, nem mesmo quando vencíamos o jogo. —
Agora, ele tinha grandes mãos. Eu o faria um quarterback, se ele não fosse um
grande corredor.
Quando suas palavras morreram entre nós, e sua suavidade momentânea
para com os estudantes falecidos passou, seus olhos e rosto endureceram
novamente. Engoli em seco e tentei me concentrar no que ele dizia e não em como
ele me fazia sentir. Além da angústia por mencionar meus amigos, nenhum
professor me chamara de bêbado ainda, abertamente assim, e meu estômago
revirava. O treinador nunca foi de medir as palavras, entretanto. Ele tirou a mão
do meu ombro e colocou as duas mãos em seus quadris novamente. — Eu aceitaria
você de volta, mesmo com tudo isso. Eu faria testes de drogas em você e,
provavelmente, o manteria no banco mais do que o habitual, mas eu aceitaria você
de volta. Eu te deixaria sóbrio e conseguiria você de volta nesse campo.
Suspirei e mordi minha língua; ele não acreditaria na minha inocência,
mesmo se eu tentasse proclamar isso. O treinador não era facilmente influenciado
uma vez que ele entrou por um caminho. E agora ele estava firmemente no, Lucas
foi para o lado negro do caminho. Ele jogou uma mão no ar quando balançou a
cabeça. — Mas, então, você vai e fica alto na escola, e anda espalhafatosamente
ao redor da minha manifestação preparatória como se fosse o seu próprio delírio
pessoal! O que diabos foi isso, Lucas West?
Engoli o meu embaraço e meu orgulho e inclinei a cabeça, sem dizer
nada. Finalmente, ele fez um barulho descontente. — Esportes seria uma melhor
175
saída para você, West. Ele ainda faria. É muito tarde para o futebol, mas talvez
você considere outra coisa. Beisebol... ou algo assim.
Sua voz se suavizou, apenas uma fração, e eu olhei para ele. Um pouco da
borda dura sumiu de seu rosto e suas sobrancelhas estavam levemente
contorcidas, quase como se ele estivesse preocupado. — Qualquer coisa, menos

drogas e álcool, Luc. — Então ele abaixou a cabeça e a máscara de severo


disciplinador adolescente caiu completamente no seu rosto. Ele inalou um pouco
e balançou a cabeça, quando uma emoção terna tocou sua voz. — Eu odiaria
perder mais um.
Sem olhar para mim de novo, ele bateu no meu ombro e se afastou pelo
corredor, latindo para alguns estudantes ociosos para ir para a aula. O
disciplinador severo estalou de volta no lugar. Achei que eu não podia me mover
depois que ele me deixou. Minha visão nadou quando meus olhos lacrimejaram e
eu mal podia distinguir a forma do treinador deixando o edifício. Houve um
momento em que as suas palavras severas significavam tudo para mim. Ele poderia
me esmagar ou levantar-me com uma frase. Ele, aparentemente, ainda tinha esse
efeito em mim e engoli várias vezes para lutar para retroceder a minha culpa
esmagadora e remorso. Ele estava errado sobre mim... todos eles estavam, e os
esportes não importam muito mais. Exalei por dez longos segundos, fechando os
olhos. Mais alguns meses. Isso é tudo que eu precisava aguentar.
Os olhos de Sawyer trancaram nos meus no segundo que entrei na sala. Eu
dei um sorriso vago e um aceno rápido. O sino tocou quando eu subia os degraus
e Reynolds apenas começava a classe quando eu entrei. Assim como o meu
primeiro dia, eu interrompi as coisas novamente. Reynolds parecia melhor
equipada para lidar comigo desta vez, no entanto.
Ela me deu um sorriso quando me aproximei dela. A sala estava
completamente silenciosa e senti o calor físico de todos esses olhos olhando para
mim. Isso me fez virar desconfortavelmente quando a Sra. Reynolds colocou uma
mão amiga no meu ombro. Um risinho subiu ao redor da sala com o contato, e
lembrei-me imediatamente o que eu disse a ela na frente de boa parte do corpo
discente. As palavras totalmente fodível passaram pela minha cabeça e meu rosto
corou de calor, provavelmente ficando vermelho brilhante.

176
As risadas mal contidas ficaram mais altas, mas a Sra. Reynolds ignorou. —

Oh bem, Lucas, você está de volta. Vá em frente e tome o seu lugar. — Como ela
parecia deixar meu atraso passar de novo, eu não disse nada, apenas acenei com
a cabeça e segui o meu caminho até Sawyer.
— Oh, Luc? — Sua mão tocou meu braço para me parar, e uma nova
explosão de risos atingiu a sala. Ela pareceu notar neste momento e fez uma careta
para algumas das pessoas mais barulhentas, Will entre eles. — Só queria lembrá-

lo que o seu encontro com o conselheiro começa hoje. — Seus olhos se iluminaram
com essa perspectiva e sua voz estava perto de borbulhante quando ela
continuou. — A diretora deixará você voltar ao Clube Seguro e Sadio uma vez que

você completar uma sessão de seis semanas. Não é ótimo? — Ela apertou o meu
braço para dar ênfase e resisti à vontade de revirar os olhos e suspirar. Seis
semanas... grande.
— Uh... sim. Obrigado.
Cheia de exuberância, ela levantou o braço em direção ao corredor,
indicando que eu deveria me sentar. Eu encontrei os meus olhos com Sawyer,
enquanto um coro suave de risos me seguiu no corredor. Sawyer sorriu e revirou
os olhos para mim e eu ri.
Quando estava prestes a passar por Will, eu olhei cuidadosamente para
seus pés. Eu não precisava que hoje fosse uma completa repetição do primeiro dia.
Aparentemente, seu pé não estava. Will tinha outras maneiras de me
constranger. Bem enquanto eu andava, ele agarrou sua mesa com ambas as mãos
e empurrou seus quadris para cima, fazendo com que suas pernas elevassem a
mesa do chão alguns centímetros. Ele deitou a cabeça para trás e gemeu baixinho:
— Oh Deus, Sra. Reynolds. Oh yeah, yeah, foda... sim, ensina-me.
Tropecei um pouco sobre os meus pés quando toda a classe, com exceção
de Sawyer, é claro, explodiu em voz alta, rindo. Reynolds escrevia algo no quadro,
cuidadosamente transcrevendo-o do livro didático, e aparentemente perdera a
exibição de Will. Ela pediu silêncio e deu a sala um olhar severo, mas não disse
nada diretamente para Will. Eu tinha certeza que ela teria se tivesse ouvido
isso. Ele provavelmente pegaria uma detenção, no mínimo.

177
Com as bochechas em chamas, sentei-me na cadeira e coloquei minha
cabeça para baixo na minha mesa. Eu queria rastejar em um buraco minúsculo e
nunca mais sair. Mas não estive em um pequeno buraco pelas duas últimas
semanas e ainda fui infeliz? Suspirei e desejei poder tirar uma soneca no primeiro
período – eu daria qualquer coisa para ver Lil logo em seguida.
Uma mão suave no meu braço me fez olhar para Sawyer. Coloquei minha
cabeça para o lado quando tranquilidade envolveu a sala de aula. Ela deitou a
cabeça sobre a mesa e nós olhamos um para o outro, enquanto a Sra. Reynolds
passava o plano de aula atual. Eventualmente, olhar para Sawyer nivelou minhas
emoções, e sorri para ela. Ela sorriu de volta e murmurou: — Você está bem?
Fechei os olhos e ri de sua preocupação sem fim por mim. Ao reabri-los, eu
acenei para ela e murmurei: — Somente envergonhado.

Ela mordeu o lábio e depois sorriu diabolicamente. — Você deve estar —

ela sussurrou: — falando com um professor assim. — Ela levantou uma

sobrancelha para mim e balançou a cabeça. — Garoto safado — ela murmurou.


Mordi o lábio para não rir em voz alta e levantei a cabeça da minha
mesa. Fiquei maravilhado com a capacidade ímpar de Sawyer de sempre me fazer
sentir melhor, seja com o silêncio ou um toque reconfortante ou mesmo um
comentário espertinho. Ou talvez fosse apenas sua simples presença. Estendi a
minha mão para ela através do corredor, enquanto Sra. Reynolds repassou a lição
de casa da semana passada – lição de casa que eu só fui capaz de fazer graças a
esta bela dádiva de Deus ao meu lado. Ela levemente pegou minha mão e enrolamos
nossos dedos indicadores juntos.
— Obrigado — eu sussurrei.
— A qualquer hora — ela sussurrou de volta.
Sawyer e eu esperamos na sala depois da aula, esperando que a maioria,
se não todos, os alunos saíssem. Reynolds nos observou, mas não disse nada,
provavelmente acostumada com Sawyer e eu sempre parecendo ficar na sala de
aula até que estivéssemos sozinhos. Quando Sawyer não podia esperar mais, sua
próxima aula sendo tão longe daqui, fomos para as portas principais.
Sawyer perguntou sobre o que o treinador queria e com um profundo
suspiro, eu disse a ela. Ela não tinha certeza como processar a conversa. Por um

178
lado, ele parecia se importar comigo. Por outro lado, ele pensou que eu estava até
a cintura com drogas. Finalmente, ela balançou a cabeça e mais uma vez me
encorajou a dizer a um professor sobre Josh, sobre o que realmente aconteceu. Dei-
lhe um leve sorriso, mas mantive minha boca fechada. Eu não seria um Narc com
Josh, e não vi muito o ponto de falar sobre isso, de qualquer maneira. Assim como
o treinador, a mente das pessoas já estava decidida.
Ela torceu seus lábios quando nos separamos, parecendo entender onde
minha cabeça estava. Suponho que ela lidaria com tudo isso de forma
diferente. Bem, talvez não. É muito mais fácil dar conselhos do que segui-los.
História correu muito bem, com apenas alguns olhares e sussurros,
geralmente seguido por risadas claras. Mantive minha cabeça abaixada e fiz o meu
melhor para ignorar tudo isso. Graças ao empenho de Sawyer em continuar
pegando minhas tarefas para mim, eu voltei bem para o balanço das coisas, e se o
Sr. Davis se assustou com a minha presença na sala depois de estar ausente por
tanto tempo, ele não mostrou. Na verdade, os únicos comentários que recebi foram
de Eliza, que perguntou se a minha namorada ia parar de pertubá-la com relação
às lições. Olhei fixamente para ela sem entender enquanto processava isso. Nunca
descobri como Sawyer conseguiu dever de casa de todas as minhas aulas, mesmo
as que não compartilhamos. Devo ter mencionado Eliza a ela em algum momento
e ela arrumou um jeito de falar com a mulher. Muito impressionante. Gostaria de
saber com quem ela conversou em Astronomia?
Perguntei a Sawyer sobre isso quando nos encontramos para o próximo
período, e ela apenas sorriu e deu de ombros, como se não fosse grande coisa. Ela
explicou que ouviu Eliza falando de mim no laboratório de informática um dia e
deduziu que fazíamos história juntos. Ela estava no coral com uma das líderes de
torcida que fazia Astronomia e a convenceu a entregar suas anotações, e se
encontrou com a minha professora de arte depois do coral, já que os edifícios eram
bem próximos um do outro. Balancei a cabeça para ela e sorri, espantado por quão
longe ela foi para me ajudar, e também um pouco surpreso por ela encontrar
alunos dessa escola que a ajudariam, sabendo muito bem que eles estavam
realmente me ajudando.
Sussurrávamos sobre isso durante Filosofia quando o Sr. Varner veio pelo
corredor e parou bem na frente da minha mesa. Um riso suave subiu ao redor da

179
sala, e me lembrei das fofocas que flutuavam em torno de nós três. Encarando seus
olhos apertados, eu também me lembrei dele ajudando meu corpo crivado de
drogas a sair do ginásio e seguir até o edifício principal, onde ele chamou a minha
mãe, assustando-a com suas respostas vagas. Ele teve uma visão close-up de mim
alto, e não ficou muito emocionado com isso. Ele parecia ainda menos
entusiasmado enquanto fazia uma careta para mim agora.
— Algo que você gostaria de compartilhar com a classe, Lucas? — Sua voz
era baixa e enquanto não ameaçava de qualquer forma, não era amigável também.
Balancei minha cabeça. — Não, Sr. Varner.
Ele cruzou os braços sobre o peito e deu um meio sorriso. Ouvi um suspiro
de uma aluna ao meu lado e tive que me impedir de rolar os olhos. Sim, ele era
atraente... mas ele também era um idiota. Eu não entendia por que as meninas por
aqui podem ser tão rápidas em ignorar esse fato. — Você tem certeza? Você não
gostaria de nos esclarecer sobre como você passou a sua... pausa?
A sala se acalmou, e ouvi o farfalhar das pessoas se virando em seus
assentos. Não tirei os olhos do professor, mas eu imaginava que todo mundo
acabara de deslocar para assistir a isto. Balancei a cabeça, esperando ele soltar
isso antes que eu gritasse algo para ele ou chorasse. Com a forma como a minha
manhã seguia, eu poderia fazer qualquer um.
Ele se inclinou sobre a mesa e eu involuntariamente me inclinei para
trás. — Da próxima vez que você ficar doidão... você faz isso no relógio de outra

pessoa. — Ele olhou para Sawyer antes de deslocar seus olhos de volta para o

meu. — Agora, você dois – fiquem quietos. — E com isso, ele se endireitou e
caminhou de volta para a frente da sala.
Engoli em seco e olhei em volta. Com certeza, a maioria das pessoas se virou
para mim, alguns com rostos chocados, de boca aberta e alguns com sorrisos mal
contidos. Um a um, elas seguiram o Sr. Varner, e viraram em seus
assentos. Minhas bochechas estavam com um toque de vermelho quando as suas
palavras brilharam através de mim. Assim, não há sua vida é melhor sem drogas
discurso do Sr. Varner, então. Não, apenas um comentário, eu sei que você é um
garoto confuso, que apenas fará de qualquer jeito, então faça longe de mim, então
não tenho que pegar os pedaços de sua vida inútil. Ponto de vista estranho para um

180
professor de filosofia ter. Enquanto eu olhava para a minha mesa, eu comecei a
pensar que talvez o Sr. Varner deveria ter escolhido um grau diferente na
faculdade.
— Bem, isso foi desnecessário — Sawyer murmurou quando nos reunimos
perto do seu armário durante o intervalo.
Olhei para ela enquanto ela colocava alguns livros e pegava outros,
colocando-os em sua mochila. Ajustei minha mochila pesada no meu ombro
quando me inclinei contra o fresco armário de metal. Eu nunca usei o meu. Nem
sequer chegaria perto desses armários se Sawyer não quisesse usar o de Lil... o
dela. Eu geralmente evitava olhar quando ela abria, como se de alguma forma, uma
parte de Lil tivesse ficado presa lá quando ela morreu, e cada vez que a porta era
aberta, um pouco de sua luz brilhava, e eu não podia suportar ver. Ridículo? Sim,
eu sei, mas essa é a sensação que me dava.
Hoje, porém, eu olhava para a coisa sem vida, enquanto Sawyer arrumava
algumas coisas dentro dele, apenas esperando que uma faísca de Lil me enchesse.
Eu não sonhei com ela desde o nosso último... encontro. Desde que foi meio que
um sonho intenso, e que foi cortado de forma tão abrupta... e eu estava apenas
tendo um dia de merda, eu queria realmente ver Lil novamente. Queria ver se ela
estava bem, se estávamos bem. Deus, eu realmente parecia louco. Queria sonhar
com minha namorada morta para que eu pudesse ter certeza que ela não estava
assustada com o sexo que quase tivemos... em um sonho. Tudo isso estava na
minha cabeça. Ainda assim, parecia tão real quanto qualquer outra coisa.
— Lucas? — A voz de Sawyer quebrou meus pensamentos bizarros.
— O quê? Oh, Sr. Varner, certo. — Eu me afastei dos armários e observei
alguns dos estudantes andando pelo corredor. A maioria deles olhava para mim.
Alguns sussurravam, alguns riam, e alguns até mesmo faziam uma careta. Virei
para observar Sawyer fechar seu armário. — Sim, ele é apenas um idiota.

Ela franziu a testa e, em seguida, sorriu. — É estranho que ele ensina


Filosofia, certo?
Eu ri e passei um braço em volta dos seus ombros, puxando-a com força
para mim. — O que é estranho é como você e eu somos iguais, às vezes. — Ela

181
franziu o cenho para mim quando olhou para o meu rosto, mas, então, ela riu
comigo.
Deixei cair meu braço dos seus ombros, ainda relutante em ser muito
amigável com ela perto de tantos olhos fofocando, apesar de que era muito inútil
agora, e todos criariam quaisquer histórias que queriam, de qualquer
maneira. Quer dizer, só esta manhã, Eliza não a chamara de minha namorada? Eu
fiz uma careta quando percebi que nunca corrigi isso. Deslizando rapidamente o
meu sorriso de volta, eu comecei a andar pelo corredor com Sawyer. De pé, perto
um do outro, mas nunca tocando, fizemos o nosso caminho para a nossa próxima
aula.
Matemática.
É um assunto complicado para tentar aprender por conta própria, mesmo
se você é muito bom nisso. E eu... luto com ele. Mentalmente planejando
abandonar esta classe no próximo semestre, eu passei toda a aula com a minha
cabeça pulando do quadro para o meu livro para o meu papel em um padrão de
triângulo acaso estranho. Praticamente mastiguei meu lápis enquanto tentava
entender o que diabos a Sra. Chambers falava.
Quando chegou a hora de estudo livre no final da aula, ela veio para seu
aluno favorito e tentou me ajudar a alcançá-los. Fiquei imensamente grato que ela
se preocupava mais com seu sujeito amado do que com a fábrica de boatos que
atravessa estas paredes. Acho que eu poderia ter deitado em uma pilha do meu
próprio vômito induzido pelo álcool e ela ainda tentaria me ajudar se eu mostrasse
apenas um pouquinho de interesse pela matemática. Ela definitivamente escolheu
certamente o principal.
Embora eu soubesse que passar na classe com um B seria um objetivo
elevado, eu me senti muito melhor com a situação uma vez que a aula acabara. Eu
me senti ainda melhor sobre isso quando compartilhei o meu sanduíche com
Sawyer no carro. Ela teve um caso grave de risos quando descreveu o meu rosto
para mim enquanto eu tentava entender algoritmos. Tentei zombar dela, mas
acabei estourando de tanto rir, também. Sentindo a necessidade de uma liberação
catártica, eu trouxe o Sr. Varner mastigando-me, o treinador me prendendo no
corredor e a exibição sexual de Will durante a aula.

182
Com lágrimas de riso escorrendo pelo rosto, ela perdeu quase todo o
controle quando reexecutei o momento brilhante de Will para ela. — Oh, sim, sim...
foda, me ensine.
Comecei a rir descontroladamente e nós dois nos preparamos para uma
libertação longa e feliz. Eventualmente, nos acalmamos e descansamos novamente
nos assentos, olhando um para o outro. Derivamos perto da nossa alegria, e nossos
ombros tocaram entre o vazio criado pelo seu console central. Nossas cabeças
descansaram no limite dos encostos de cabeça à medida que encaramos um ao
outro.
Tentando equilibrar a respiração, mas ainda sorrindo, nós olhamos um
para o outro. O conforto familiar tomou conta de mim quando me perdi em suas
profundezas cinzentas. Um olhar semelhante passou sobre ela, e eu queria ficar no
carro eternamente.
Ela se inclinou para frente e uma mecha de cabelo escuro caiu sobre seu
olho. Sem pensar nisso, eu estendi a mão e enfiei atrás da orelha. Então me vi
correndo os dedos pelos seus cabelos antes de levantar minha mão até tocar seu
rosto frio. Então meu polegar começou a acariciar sua bochecha. Embora o carro
estivesse um pouco frio, senti calor se espalhar por mim quando nos tocamos. Vi
sua respiração falhar e seus olhos passarem sobre o meu rosto. Meus olhos foram
sobre os dela, fixando-se em seus lábios. Inconscientemente, me encontrei
inclinando para frente.
— Luc... vamos nos atrasar — ela sussurrou, apenas momentos antes de
nos unirmos.
Assustado e de volta à realidade, eu deixei cair a minha mão da sua pele e
puxei de volta. — Certo. — Olhei para baixo e, então, espiei para ela debaixo da

minha testa. Ela mordia o lábio. — Desculpe — eu murmurei.


Ela me deu um sorriso vago e se virando abriu a porta do carro. Fechei os
olhos para a minha estúpida falta de autocontrole, e com um suspiro pesado, abri
a minha porta. Ela não disse nada enquanto esperava por mim na frente de seu
carro, apenas brincou com as mangas da minha jaqueta e mordeu o lábio. Senti a
necessidade de dizer algo, mas não sabia o que dizer, então dei um meio sorriso e
acenei a cabeça para a escola.

183
Ela se juntou ao meu lado e ficou quieta no caminho para as nossas
próximas respectivas classes. Sua cabeça estava abaixada e seu cabelo escuro
cobria sua expressão. Queria pará-la e varrer o cabelo do rosto para que eu pudesse
ver o que ela pensava. Queria dizer a ela que eu lamentava, mais uma vez, por ficar
perto do limite da nossa amizade. E uma minúscula partícula estranha, em mim...
queria beijá-la, queria encontrar conforto nos seus lábios, assim como encontrei
conforto em sua voz e sua risada... e em seus olhos. Eu não faria isso, no
entanto. Isso seria egoísta. Não, se ela estava interessada em mais. Não quando
meu coração ainda pertencia a Lil...
Perdido nesses pensamentos, eu continuei a andar até a mão de Sawyer
pegar meu cotovelo e me fazer parar. Olhei para cima e percebi que estávamos em
nossas encruzilhadas, à esquerda eu ia para Astronomia e à direita ela ia ao
laboratório de informática. Eu nem notei a viagem.
Olhei para ela e peguei a expressão séria no seu rosto. Engoli em seco,
pensando que ela finalmente me diria que não podia lidar com ser minha amiga
mais, não quando constantemente a puxava para perto e empurrava-a para
longe. Meu estômago doía enquanto esperava sua rejeição.
— Não se atreva... a começar algo com Josh. Basta deixá-lo para lá, Lucas.
— Seus olhos aborrecidos em mim, exigindo e pedindo ao mesmo tempo.
Relaxei quando percebi que ela não me deixaria de lado.
Então, um fogo lento começou a queimar dentro de mim. Eu quase esqueci
que teria esta classe com Josh. Quase esqueci que eu precisaria suportar sentado
em uma sala com ele por uma hora, não sendo capaz de fazer qualquer coisa com
a mistura de raiva e tristeza borbulhando dentro de mim. Os olhos de Sawyer se
estreitaram ainda mais quando ela viu a minha expressão.
— Falo sério, Lucas. — Ela balançou a cabeça. — Ele não vale a pena você
ser expulso daqui. Não dê a ele o que ele quer.
Pisquei e dei um passo atrás. A raiva começou a desvanecer-se de mim,
quando percebi que ela estava certa. Se eu deixar minhas emoções assumirem o
controle e ser chutado daqui, ele teria exatamente o que esperava com sua estúpida
pequena proeza. Ele ganharia. Enquanto eu tinha certeza que não era realmente
um jogo para qualquer um de nós, eu não estava disposto a dar a ele a satisfação

184
de eu fugir. Não, se eu tivesse que lidar com ele pelo resto do ano, então ele tem
que lidar comigo também.
— Não vou tocá-lo, Sawyer... eu prometo. — Sua postura relaxou, junto
com seu rosto. Ela procurou em mim um sinal de alguma mentira às minhas
palavras e eu dei um sorriso irônico. — Eu prometo, ok?
Ela mordeu o lábio de novo e balançou a cabeça.
Uma pequena risada me escapou. — Além disso, eu acho que
deixarei você lutar todas as minhas batalhas por mim. Você bate melhor do que eu
mesmo.
Ela riu e me deu um abraço antes de precipitadamente ir para a sua
classe. Eu sorri, olhando-a sair, e, em seguida, virei para o caminho que me levava
para o meu próximo encontro com o irmãozinho de Darren. Enquanto eu
caminhava pela estrada de concreto, lembrei-me de andar neste caminho exato no
ano passado com Darren. Naquela época, o nosso maior dilema era o marco
adolescente aproximando, conhecido como o baile.
— Três centenas de dólares, Luc. Isso é o quanto essa dança estúpida vai
me custar... trezentos dólares. — Darren balançou a cabeça para mim na minha
memória e franziu a testa para seus problemas de dinheiro.
Sorri para ele. — Sim, mas Sammy será eternamente grata a você por
aparecer na limusine que ela quer.
Ele me deu um sorriso diabólico enquanto caminhávamos, parando uma
fração de segundo para acenar para um grupo de amigos quando passeamos. —
Cara, Sammy é grata comigo cinco vezes por semana... e não me custou trezentos
dólares.
Parei de andar. — Cinco vezes por semana?

Ele sorriu e acenou com a cabeça. — Pelo menos. Às vezes mais, se os pais

dela viajam no fim de semana. — Ele encolheu os ombros. — O que posso dizer –
minha menina é uma aberração de tesão.
Sorri para as palavras que eu sabia que Sammy tranquilamente bateria nele
se ela o ouvisse repeti-las. Comecei a andar ao lado dele de novo, balançando a
cabeça. Ele olhou para mim, pensativo. Você e Lil ainda não...

185
— Não, nós estamos... esperando. O momento acabou nunca sendo o
certo... — eu dei de ombros e deixei a frase morrer. Lil e eu conversamos sobre
isso várias vezes, mas de alguma forma, nenhum de nós sentia que era o momento
certo. Esperávamos o momento perfeito.
Darren riu ao meu lado. — Bem, não espere muito tempo ou algo
acontecerá e arrancará essa gostosa de você. Além disso, é apenas sexo,
Lucas. Acho que vocês estão fazendo disso um negócio muito maior do que
realmente é.
Eu fiz uma carranca enquanto caminhávamos sob o beiral do edifício de
Ciência, Darren acenando uma saudação a outro grupo de amigos que passavam
por nós. Troquei minha carranca por um sorriso malicioso enquanto olhava para
ele. — Diz o homem que esperou dois anos para ficar com sua... aberração.
O rosto de Darren nublou-se enquanto olhava para mim. Eu sabia que ele
e Sammy tinham uma situação diferente de Lil e eu. Quero dizer, eles estavam
com apenas quatorze anos quando ficaram juntos, mas foi divertido provocá-lo
sobre isso, especialmente se ele me provocaria.
Darren estava prestes a responder à minha brincadeira quando um par de
braços pendurou por cima dos nossos ombros. — Quem é uma aberração?
Olhei para Josh pendurado em nós, com o rosto brilhando em adoração por
seu irmão mais velho. — Sua futura cunhada — eu disse a ele, brincando.
Darren me deu um tapa no peito quando Josh de repente agarrou ambos
os ombros de Darren, sacudindo-o. — Sério? Como louca-pervertida? Sortudo,
Shelly só me deixa tocá-la.
Darren sorriu para Josh, bagunçando seu cabelo e atirando um braço por
cima do ombro dele. Ele apontou para mim. — Bem, você tem mais do que Lucas

— ele zombou. Ambos riram bastante de mim, então, quando bati no peito de
Darren e disse onde ele poderia enfiá-la.
Ao passar sob o beiral consideravelmente mais escuro, eu me lembrei
claramente de Darren e Josh com rostos sorridentes. A forma como os seus olhos
brilhavam com vida e alegria, a forma como um braço estava em volta do outro,
apoiando-se mutuamente. Melhores amigos de uma forma que Darren e eu nunca

186
seríamos. Me rasgou ver o rosto jovial em Josh então, mas tudo estava perdido
agora. Tristeza por aquela infância desaparecida, sugou os meus remanescentes
picos de raiva e senti apenas melancolia quando abri a porta para a aula.

187
Capítulo 10
O Jogo da Vida

Os olhos de Josh foram a primeira coisa que notei quando entrei pela
porta. Eles estavam presos diretamente em mim, como se ele me esperasse passar
por ele. Mantive minha expressão vazia enquanto o observava deslocar para um
sorriso de escárnio. Ele estava sentado em sua mesa conversando com Randy, que
também se virou para olhar para mim. Randy me deu uma breve olhada e depois
desviou os olhos para olhar para a frente da classe. Com lembranças de um tempo
mais feliz na minha cabeça, pensei mais uma vez em tentar ter uma conversa
civilizada com Josh.
Respirei fundo e fechei os olhos por um segundo antes de fazer a
tentativa. Seu corpo inteiro ficou tenso quando me aproximei dele, e vi seu escárnio
virar raiva. Ele, obviamente, não queria que eu me aproximasse dele e
provavelmente não queria que eu falasse com ele. Lentamente soltei a respiração
profunda e parei na beirada da mesa. Randy se virou para olhar, seus olhos
nervosos.

188
O professor, o Sr. Thomson, olhava pela janela, esperando o sino tocar e o
resto dos alunos entrarem na classe. Ele estava completamente alheio ao drama e
à tensão se acumulando dentro da sala. Os alunos não estavam. Senti os olhos
voltando-se para mim e ouvi cadeiras rangendo quando corpos viraram nelas,
ansiosos por uma luta.
Eu não daria a eles uma. Esse não era mais o meu desejo. Atento ao rosto
tempestuoso e temperamento excitável de Josh, eu lentamente comecei. — Não
quero começar algo com você, Josh, eu só quero falar.
Os olhos de Josh se estreitaram. — Não tenho nada para te dizer.

Eu suspirei. — Vamos lá, pare já com isso. Você me fez parecer idiota, tudo

bem? Você me fodeu e quase me expulsou daqui. — Levantei minhas mãos em

uma expressão exasperada. — Isso não é o suficiente?


Ele estava junto de sua mesa e senti a tensão na sala triplicar. Ele era mais
baixo do que eu, bastante, mas sua confiança de que poderia chutar a minha
bunda era evidente em cada movimento que fazia. Seus lábios se torceram em um
pequeno sorriso. — Eu não sei do que você está falando, Luc. — Ele me olhou de

cima a baixo com desprezo. — Você fez suas próprias escolhas ruins... como
sempre.
Fechei os olhos para a insinuação clara daquela noite. — Josh, nós
costumávamos ser amigos. Vamos lá, cara...
Abri meus olhos quando dedos me empurraram para trás. O rosto de Josh
parecia ainda tempestuoso. — Eu costumava ser um monte de coisas, Luc. — Sua
voz aumentou e deu um passo em minha direção, até que estávamos frente a
frente. — Um irmão... um melhor amigo. — Seu dedo me cutucou no peito e sua

voz aumentou ainda mais. — Você tirou tudo isso de perto de mim! Você! Então
não me dê a porcaria de, vamos!
Neste ponto, o Sr. Thomson finalmente percebeu que uma tempestade se
formava em sua sala. Ele se levantou e rapidamente correu para Josh e eu. Eu
estava tão debilitado com emoção das palavras de Josh que não me afastei dele, e
o Sr. Thomson precisou usar os braços para literalmente nos afastar. Nós dois
olhamos para seu rosto irritado quando ele falou. — Chega! Acabe com isso ou

189
ambos terão detenção! — Ele me empurrou para longe de onde eu ainda estava de

pé, tristemente atordoado. — Sente-se, Lucas! — Ele me virou e me empurrou em


direção a minha mesa. Tropeçando um pouco, eu finalmente comecei a me mover
por conta própria. Ouvi-o virar e latir para Josh: — Você também!
A campainha tocou bem quando me sentei, e com um rápido olhar para um
raivoso Josh, eu voltei minha atenção para o Sr. Thomson; seus olhos se
estreitaram e tremulavam entre nós dois. — Não haverá nenhuma luta na minha
sala de aula! Entenderam?
Relutantemente concordei e olhei para Josh, que fazia o mesmo. A tensão
no ar começou a dissolver e alguns estudantes ao meu redor soltaram as
respirações que prendiam. Alguns riram, e alguns começaram a fazer apostas em
um nocaute depois da escola. Pelo que pude entender, as chances não estavam a
meu favor. Apertei minha mandíbula e tentei relaxar o meu corpo. Não sei por que
eu tentei isso mesmo. Não havia nenhum argumento com Josh, não com o quanto
ele me odiava.
Fechando os olhos, ouvi o Sr. Thomson começar a aula e foquei apenas no
relaxamento e na respiração. Eu tentei. Tentei deixar ir a minha própria raiva e
resgatar um pouco da minha amizade com Josh. Mas não. Eu falhei, e agora eu
preciso deixá-lo ir. Eu não tentaria falar com ele novamente. Eu só preciso ignorar
quaisquer tentativas que ele fizer para me envolver. Na verdade, eu acabarei
ignorando qualquer coisa prejudicial que ele fizer para mim. Mesmo que ele de
alguma forma consiga chutar a minha bunda, tudo o que ele receberá de mim será
uma aceitação silenciosa.
Porque, apesar de não poder concordar com os métodos de Josh, eu meio
que entendia sua ira; eu ficaria com raiva também se eu achasse que Josh ficara
bêbado e matara todos eles. Isso me rasgaria por dentro, e provavelmente nunca o
perdoaria, também. E enquanto eu acho que nunca iria aos extremos de Josh... eu
me odiava o suficiente para que pudesse simpatizar com Josh querendo me
destruir.
O resto da turma continuou com os olhares tradicionais e sussurros. Na
primeira metade da aula, houve alguns olhares estranhos cheios de tensão entre
os alunos no espaço entre Josh e eu. Eles pareciam acreditar que nos lançaríamos

190
um para o outro no meio do discurso do Sr. Thomson sobre os mistérios dos
buracos negros. Mantive minha cabeça erguida e foquei em ouvir o professor,
eventualmente, as pessoas começaram a relaxar, percebendo que nada
aconteceria.
Tentei me concentrar no professor, mas tudo que eu ouvi em minhas
orelhas eram as palavras marcantes de Josh, Você tirou tudo isso de perto de
mim! Eu sabia que ele estava certo. Sabia que estando bêbado ou não, ele estava
certo. Era eu dirigindo naquela noite. Eu fiz isso... eu, e agora Darren foi embora
por causa disso. Josh nunca olharia para o passado, e toda a amizade que
aparentemente já tivemos foi embora. Suspirei enquanto pensava em como Darren
ficaria desapontado com isso. Eu sabia que ele preferia que Josh e eu estivéssemos
unidos com a sua morte, apoiando um no outro para suporte e conforto. Mas isso
não era um filme da Disney, e o que Josh queria de mim não era conforto – ele
queria vingança.
Entristeceu-me deixar essa amizade ir. Josh realmente era tudo que eu
deixara de Darren, mas eu não conseguia segurar alguém que não me queria,
alguém que ativamente me odiava. Deixá-lo ir seria a melhor solução para nós
dois. Seria difícil deixar sua raiva e tormentos deslizar para longe de mim sem
reagir, mas mesmo com tudo o que ele fez até agora, eu ainda não bati nele, e
realmente, eu pensei que me drogar foi o pior que ele podia fazer. Eu só preciso ter
mais cuidado com as minhas coisas ao seu redor... ou de seus auxiliares.
Com um olhar feio para mim depois da aula, Josh foi arrastado à força para
fora da sala por Randy, que olhou para mim com uma cara estranha de quase
desculpa. Eu não tinha ideia do porquê. Certamente ele esteve mais do que feliz
em cumprir as ordens de Josh e dosar a minha água. Não é como se ele fosse
caloroso em relação a mim em todo este ano.
Até o momento em que me arrastei para fora da porta, os dois foram
embora, e respirei fundo, deixando a frescura no ar limpar meus pensamentos. Eu
andava com a cabeça baixa e me concentrei em colocar um pé na frente do
outro; isso era o suficiente para me concentrar no agora. Ouvi um zumbido vago
de sussurros enquanto caminhava e senti mais do que alguns olhos, mas fiz o meu
melhor para não me preocupar com eles. Mais uma classe e eu seria capaz de ver
Sawyer novamente. Então esse sentimento de discórdia levantaria de mim.

191
Entrei na aula de arte e imediatamente sorri quando a Sra. Solheim virou
com a minha entrada e exclamou: — Bem-vindo de volta, Tom! — Eu balancei
minha cabeça e fiz meu caminho para o meu lugar, não sentindo a necessidade de
corrigi-la. Sorri quando pensei que talvez eu apenas mudaria meu nome e seria
este ilusório Tom a partir de agora. Uma pequena risada escapou de mim, quando
percebi como o meu novo nome se encaixaria tão bem com Sawyer. Estávamos
ligados em tantos níveis surpreendentes.
Um casal de estudantes que trabalhavam intensamente olhou para mim ao
ouvir minha risada. Eles piscaram, pareciam surpresos ao ver meu assento
ocupado, e depois voltaram para o que trabalhavam. Sorri e deixei os sons de
atividade relaxar meu humor. Arranhões leves no papel, o leve cheiro de tinta a
óleo e os murmúrios suaves de Sra. Solheim enquanto andava por toda a sala
verificando o progresso dos estudantes, aliviou a tensão da última aula para longe
de mim. Estabeleci-me, me preparando para trabalhar na minha última versão da
minha graça salvadora, Sawyer.
Sra. Solheim nunca comentou o fato de que todos os meus assuntos, em
qualquer meio de comunicação que ela nos ensinava, eram garotas de cabelos
escuros com olhos cinzentos claros. Eu nem sabia se ela fez a conexão, desde que
ela estava mais interessada em fomentar nossas técnicas do que naquilo que
escolhemos pintar. Arte foi a classe que eu não tive qualquer dever de casa para
Sawyer recolher, o que era uma coisa boa, já que eu estaria realmente
envergonhado entregando a Sawyer pedaços de sua própria imagem para entregar
para mim, e nada mais me emocionou o suficiente para pintá-lo. A professora disse
a Sawyer que eu poderia apenas trabalhar em um projeto enquanto estava fora, e
entregá-lo quando voltasse.
Cavei na minha mochila até que encontrei a versão dela esboçada em carvão
que eu criara durante a minha pausa. Desdobrei o papel e estendi no meu cavalete
para fazer alguns retoques antes de entregá-lo. Era a minha peça favorita dela,
talvez por causa do estilo, ou talvez porque eu tive muito tempo para trabalhar
nele. Durante meus momentos mais lúcidos eu passava horas repassando os
pequenos detalhes de seu rosto, detalhes que eu amava: a ponte de seu delicado
nariz, a pequena sarda ao lado de seu olho esquerdo, uma covinha na bochecha
que só aparecia quando ela me dava um meio sorriso irônico, o olhar em seus olhos

192
quando eu sabia que ela se preocupava comigo, a maneira como o lábio superior
formaram o duplo arco perfeito de um coração...
Um rosto inclinando-se ao meu lado me assustou do meu trabalho, e olhei
para a professora se inclinando, inspecionando meu desenho. — É isso que você
fez enquanto estava fora, Tom?
— Sim... e é Lucas, Sra. Solheim. — Eu realmente não deveria deixá-la me
chamar pelo nome errado para sempre, tão bom quanto o alter ego era.
Ela olhou para mim e franziu a testa um pouco quando olhou nas minhas
feições. — Ah, certo, é claro. — Ela olhou por cima do meu desenho novamente e

suspirou, um sorriso vindo aos seus lábios. — É uma bela peça, Lucas. Seus traços
são delicados e intrincados, um grande feito com carvão vegetal. Você realmente é
muito talentoso. — Ela se endireitou e deu um tapinha no meu ombro. — Eu
posso ver que você trabalhou muito nisso. É muito bom. Bom trabalho, Tom...
Lucas.
Sorri de orelha a orelha enquanto ela se afastava, feliz que o meu retrato a
agradou. Olhei para o rosto de Sawyer por longos minutos, quase arrependido de
deixá-lo ir. Oh bem, eu o conseguiria de volta em breve e eu precisava da
nota. Suspirei e escrevi meu nome na parte de trás, me preparando mentalmente
para deixar mais uma coisa que me importava ir.
Exalei um suspiro feliz quando as aulas do dia finalmente acabaram. Eu fiz
isso. Eu sobrevivi ao que era essencialmente outro primeiro dia de escola. Foi
emocional e embaraçoso, frustrante e definitivamente difícil, mas agora acabou, e
nada disso importava. Agora eu tenho que ver Sawyer, e isso era o suficiente para
colocar uma mola no meu passo quando eu saí da sala de aula.
Tropecei no meu passo quando vi Sawyer em uma conversa acalorada com
Brittany do lado de fora da sala do coral. Rapidamente percorri o espaço entre os
dois prédios, esperando que eu pudesse parar o que elas discutiam.
Brittany estava cercada por sua legião de seguidoras. A maioria delas eram
meninas que eu conhecia há anos e saí em várias ocasiões. Elas me notaram vindo
e deram um tapinha no ombro de Brittany. Ela cessou bruscamente seu
comentário para Sawyer e olhou para mim, seus olhos castanhos se
estreitando. Seus ombros se endireitaram e ela varreu o cabelo quase-loiro para

193
trás por cima do ombro. Seu rosto se contorceu em um sorriso de escárnio cruel,
e eu me perguntava como eu a achara atraente.
Ela deu um passo em minha direção, casualmente empurrando o ombro de
Sawyer novamente. Os olhos de Sawyer encontraram os meus, seu maxilar
cerrado, os punhos em bolas apertadas. Parecia que ela queria bater em Brittany,
apesar do olhar em seus olhos aparentar que ela queria começar a soluçar. Meu
coração foi capturado pela dor que eu vi em seu rosto e eu esperava que tudo isso...
não tenha sido por minha causa. Ela sofreu o suficiente por minha causa.
Brittany deu um passo para mim, seu sorriso de escárnio se voltando para
um sorriso cúmplice. — De volta para mais, Lucas? Eu já te disse não uma dúzia

de vezes. Você realmente precisa se livrar de mim. — Sua voz caiu sedutoramente
e eu tive a impressão que isso não era realmente o que ela dizia a todos. Eu tinha
a sensação de que se eu secretamente dissesse para ela me encontrar no meu
quarto esta noite... ela faria.
Meu rosto escureceu, eu dei um passo até Sawyer e a puxei para
mim. Sawyer tentou dar um passo para trás, mas a segurei com força. — Você está

bem? — Sussurrei enquanto olhava para ela, ignorando momentaneamente


Brittany e seu grupo de amigas rindo. Sawyer mordeu o lábio e assentiu com a
cabeça, mas seus olhos ainda estavam cheios de lágrimas não derramadas.
Uma mão se estendeu e empurrou meu ombro. Minha cabeça se voltou para
Brittany, certo que ela se aproximou de mim, estava praticamente na minha cara.
Brittany não gostava de ser ignorada. — Eu estava falando com você, drogado...
ou está alto demais para perceber?
Resisti à vontade de dar um tapa no olhar presunçoso de seu
rosto. Conhecendo Brittany, ela provavelmente gostaria disso. — O que você disse

a ela? — Eu disse com os dentes cerrados, tentando desesperadamente segurar as


minhas emoções sempre mudando.
— O que eu disse para o lixo branco? — Ela encolheu os ombros como se
realmente não desse a mínima para a discussão que elas estavam tendo. — Apenas

comentávamos suas atividades extracurriculares. — Ela olhou para Sawyer e seu


sorriso virou arrogante. Ela adorava isso.

194
Fechei os olhos, querendo ir embora, querendo puxar Sawyer para longe
desta escola e longe dessas pessoas. — O que você está falando? — Eu murmurei
ao invés disso.
Ela se inclinou perto de mim, os lábios praticamente no meu ouvido. Eu me
encolhi longe dela quando ela falou com uma voz rouca. — Eu apenas me desculpei

por seu namorado não ser um bom homem prostituto. — Os olhos dela desceram

pelo meu corpo sedutoramente e com desprezo. — Mas o que você pode esperar de
um alcoólatra drogado?
Sawyer estava vermelho brilhante e sua boca se abriu em protesto claro. —
Ele não é um...
Pensando apenas em me afastar de Brittany e seus estranhos sinais
contraditórios, eu interrompi Sawyer... e disse algo realmente estúpido. — Eu não
sou namorado dela, Brittany. Deixa ela em paz.
Com essas palavras, agarrei a mão de Sawyer de repente pálida e a arrastei
para longe do grupo. Atrás de mim, ouvi Brittany exclamar: — Oh Deus, ele transa

com ela, mas nem mesmo a quer! — Então, ainda mais alto, a ouvi gritar, —
Desculpe, lixo branco! Acho que eu não tinha nada para me desculpar!
Exalei lentamente e apertei a mão de Sawyer na minha. Amaldiçoei sob a
minha respiração por dizer algo tão estúpido para Brittany. É verdade, não havia
nada falso sobre a declaração, mas, de todas as coisas que Brittany disse, isso era
o pior para eu me opor. Ao escolher negar essa declaração, eu apenas dei a Brittany
um arsenal de tortura para esguichar em Sawyer. Em uma frase, eu praticamente
confirmei tudo o mais que ela disse sobre mim e minimizei a importância de Sawyer
na minha vida.
Deus, eu sou um idiota.
— Sinto muito — eu murmurei, quando Sawyer correu ao meu lado para
acompanhar o meu ritmo acelerado. Olhei para ela e vi que seus olhos não estavam
tão aguados, mas ainda pareciam tristes. O resto de seu rosto retornou para sua
compostura normal e eu tinha certeza de que ninguém, além de mim, perceberia o
fraco descontentamento em seus olhos. Eu diminuí o ritmo e ela olhou para
mim. — Sawyer... sinto muito sobre o que eu...

195
Ela balançou a cabeça e me cortou. — Você não disse nada que não é
verdade.
Parei de andar e ela parou comigo, procurando meus olhos, como se
procurasse alguma pista sobre como eu realmente me sentia por ela. Eu gostaria
de poder explicar, gostaria de poder dizer que ela era a única que fez eu me
entusiasmar de uma maneira que fez minha mãe sorrir, que ela era a pessoa que
eu pintei em cada aula de arte, que ela era a minha casa. Eu não podia dizer nada
disso, porém, não sem confundi-la ainda mais.
— Eu não deveria ter dito isso assim... especialmente para alguém como
Brittany. Isso saiu como se eu não me importasse com você, o que não é
verdade. Sinto que só piorei as coisas para você.
Sua mão subiu para escovar minha bochecha e ela engoliu em seco. — Está

tudo bem, Lucas. Elas só... — ela suspirou e olhou para o lado, deixando cair sua
mão.
— Elas o quê, Sawyer?
Ela olhou para baixo e seus olhos olharam para os meus sapatos. — Ela
me provoca com a coisa toda de lixo branco desde o primeiro dia, quando encontrei
com ela no estacionamento. Eu estava escondida no banheiro naquele dia porque
ela me perseguiu por todo o caminho até o edifício sobre as minhas-roupas-de-
segunda-mão e mochila-barata. Ela pensou que era hilariante eu não ter uma
jaqueta quando chovia... — ela olhou para o lado do campus onde deixamos

Brittany e suas aspirantes, — quando me viu usando a sua jaqueta mais tarde
naquele dia... ela só... deu um toque a mais à sua provocação.
Abri a boca, surpreso com sua revelação e olhei para trás com Sawyer. Tive
o súbito desejo de correr para lá novamente e dizer para a cadela da Brittany que
eu nunca me importei com ela e nunca o faria, de modo que ela era a única que
deveria superar isso... o que diabos era ela. As palavras de Sawyer me trouxeram
de volta, no entanto.
— Isso não importa, Luc. Pode me incomodar às vezes as brincadeiras e me
entristecer, mas — ela fungou e endireitou os ombros, — eu sei que minha família

luta com dinheiro e outras coisas. Eles fazem o melhor que podem para mim. —

196
Uma sabedoria raramente vista em uma pessoa da sua idade penetrou em sua
voz. — Eu sei o que é importante... e o que não é, e Brittany e suas comparsas...

não são. — Seu rosto endurecido nessa máscara séria que ela podia escorregar

dentro às vezes. — Eu não deixarei alguém assim destruir a minha vida. Tudo

isso... — ela apontou para o terreno da escola, sem tirar os olhos dos meus, —...
é apenas temporário, Luc. Lembre-se disso.
Acenei com a cabeça e, em seguida, balancei a cabeça para ela, incrédulo. A
maioria dos estudantes, inclusive eu, não poderia passar pelo ensino médio, pode
parecer sufocante demais na nossa jovem existência. — Quantos anos você tem?

— Eu murmurei.
Ela riu, como a aluna que ela realmente era, e começou a andar em direção
ao prédio principal novamente. — Tenho dezessete anos, Lucas... dezoito em

janeiro — acrescentou com um sorriso.


Eu joguei um braço em volta dos seus ombros enquanto combinava com
seu ritmo. — Uau, eu estou pendurado com uma mulher mais velha. — Eu sorri

para ela. — Acho que tenho alguns desses pontos de legal de volta.
Ela soltou uma risada verdadeira e passou um braço em volta da minha
cintura. Senti a tensão da nossa conversa e o confronto com Brittany morrer
quando seu conforto infiltrou em mim. Sawyer olhou para mim. — Ei, bom
trabalho a propósito.
— Huh?
Ela sorriu quando nos aproximamos da porta do prédio principal, onde o
Clube Seguro e Sadio se reunia. Abri a porta para nós, enquanto ela
cuidadosamente respondia. — Bem, você não está machucado ou sangrando,

então eu entendo que você fez o que eu pedi e deixou Josh sozinho. — Seu rosto
sorriu para mim quando ela entrou pela porta.
Eu fiz uma careta, enquanto a seguia. — Talvez eu só ganhei a luta. —
Levantei uma sobrancelha para ela e ela riu novamente.
— Bem, você não está fora do campus, então suponho que você não o puxou
e bateu nele.

197
Eu ri e depois dei de ombros. — Eu disse que ficaria longe... eu fiquei. —
Não mencionei que tentei ter uma conversa de verdade com ele. Ela não foi bem de
qualquer maneira, por isso, não há muito a dizer.
Ela se aconchegou de volta ao meu lado enquanto caminhávamos pelos
corredores vazios. — Estou feliz, Luc. — Ela descansou a cabeça contra mim e eu

sorri. — Eu não quero vê-lo em mais problemas.

Descansei minha bochecha na sua cabeça. — Nem eu — eu murmurei.


Chegamos à porta da sala e a abri, preparando-me para ir com ela. Ela
colocou a mão no meu peito. — Você não tem que chegar a sua... coisa?
Confuso, eu estava prestes a perguntar sobre o que ela falava quando de
repente me bateu. Oh, droga... o conselheiro. Com tudo o que aconteceu hoje, eu
esqueci completamente que o inferno esperava por mim. Fiz uma careta quando
percebi que nos separaríamos agora.
Ela levou a mão até minha bochecha, acariciando com as costas das
juntas. — Ei, sorria. Não será tão ruim. Talvez você até goste?
Dei-lhe um, Sim, claro com meu rosto e suspirei, olhando ansiosamente
para a porta do clube da pureza. O pensamento de que eu estava com saudades de
estar em uma reunião do clube da pureza me fez rir. Com um aceno de cabeça, eu
disse adeus e dei um abraço rápido em Sawyer antes que ela entrasse na sala de
aula sem mim. Olhando fixamente para a porta fechada, eu esperei por dez longos
segundos antes de me virar e ir para o escritório... onde o meu novo inferno pessoal
esperava por mim.
Bati de leve na opaca porta fechada com a palavra conselheiro em letras
pretas colada sobre ela. Este era tecnicamente o escritório da orientadora, onde
ajudava os sêniores a requerer às faculdades, juniores a montar um ano sênior
com períodos mais livres, e calouros e secundaristas a encontrar uma maneira de
esquivar dos esportes e escrita. O conselheiro de luto que eles trouxeram em tempo
integral este ano, cortesia para mim, dividia o escritório com ela. Eu suponho que
esse arranjo foi bastante útil para os curadores, já que, tecnicamente, eles não
precisaram ceder a porta.
Esperei alguns segundos, esperando que ela não tivesse me ouvido e eu
poderia sair, sabendo que eu tentara. Não tive essa sorte. Assim que eu voltava

198
para sair correndo, para esperar no corredor por Sawyer, uma voz suave me
respondeu.
— Venha, Lucas.
Eu me encolhi, tanto porque ela me ouviu, quanto ela porque sabia que era
eu aqui. Com um suspiro pesado, eu abri a porta e entrei. Tenho certeza que era a
minha imaginação, mas a temperatura pareceu cair alguns graus uma que vez
passei pelo batente da porta. Fechei a porta atrás de mim e senti a vibração do eco
melancolicamente por toda a sala. Revirando os olhos para os meus próprios
dramas, eu dei um passo para dentro da sala e olhei para a minha segunda casa
pelas próximas seis semanas.
Eu fui ao escritório do conselheiro algumas vezes, mas isso foi quando ele
era apenas da orientadora. Sorri internamente na tentativa da escola dividir
casualmente uma sala em duas. A solução para o problema era uma linha invasora
de dois armários laterais de 1,82m de altura em uma linha reta até o centro da
sala. As gavetas em direção a Área do orientador, com sua mesa colocada a esmo
no canto. Ela tinha uma cadeira para os visitantes e uma resistente caixa cheia de
livros de capa dura estava sobre ela. Aposto que ela adorava ter seu espaço de
trabalho pessoal reduzido pela metade assim.
A parte de trás dos armários eram igualmente apertada, mas uma
tentativa foi feita para criar um espaço de trabalho suave. A mesa do conselheiro
de luto foi feita especificamente para o canto e se encaixava muito bem no espaço
que lhe foi dado. Esperando uma espreguiçadeira ou sofá em frente a ela, eu estava
um pouco surpreso ao ver uma cadeira de escritório padrão como assento do
cliente. O resto da sala estava cheia com um ambiente quase de spa, com: velas,
imagens suaves de cachoeiras e jardins de pedra, jazz suave tocando
suavemente. Uma divisória usada em casas japonesas do tipo sanfonada estava
dobrada sobre si mesma contra o gabinete de arquivo. Acho que quando uma
sessão ocorria, ela a abria, dando a pobre alma deprimida alguma falsa ilusão de
privacidade. Como se houvesse alguma verdadeira privacidade nesta escola, ou
nesta cidade para esse assunto.
— Venha, Lucas. Sente-se.
Tomei um último olhar para a sala vazia, bem, vazia, exceto pela conselheira
sentada em sua mesa, escondida no oásis de seu pequeno escritório, e
199
suspirei. Irritado por ter que fazer isso, de mau humor caminhei até ela, jogando
minha mochila no chão sem a menor cerimônia antes de cair na cadeira. Ela me
viu sentar, e um pequeno sorriso levantou os cantos de seus lábios. Ela me
lembraava um duende. Por quê? Não sei. Ela não era um pequeno duende usando
sapatos com fivelas e uma cartola verde. Nada de verde nela, na verdade. Era
provavelmente o cabelo vermelho-brilhante – com cachos elásticos e um respingo
de sardas correspondentes marcando o nariz e bochechas, tudo isso destacando
seus olhos incrivelmente azuis. Se já não tivesse ouvido sua voz, eu esperaria um
sotaque irlandês sair de sua boca.
Ajustei meu corpo desconfortavelmente na cadeira enquanto nos
encaramos. Ela se sentou na cadeira, distraidamente girando um lápis nas
mãos. Ela tinha mãos grandes. Elas combinavam com sua estrutura robusta e sua
sólida estrutura óssea. Ela não era uma flor delicada e pequena. Eu poderia
facilmente imaginá-la agarrando um arado para lavrar uma dessas encostas
irlandesas.
Ficando desconfortável com o silêncio que nos envolvia, eu tossi e olhei ao
redor do seu escritório novamente. Ela finalmente falou enquanto me observava
avaliar o meu ambiente.
— À procura de uma fuga, Lucas?
Voltei a minha atenção para ela, notando quantas vezes ela já usara o meu
nome. Talvez fosse alguma técnica de conselheiro para nos fazer parecer velhos
amigos já. Isso poderia funcionar melhor se eu soubesse o nome dela
também. Balancei minha cabeça, mas não respondi verbalmente.
Ela sorriu e estendeu a mão. Quase lendo meus pensamentos, ela disse: —
Meu nome é Sra. Ryans, mas você pode me chamar de Beth.
Sentindo-me estranho, eu peguei a mão dela. Seu aperto era firme como eu
suspeitava que seria. Desajeitadamente balancei por um momento e gratamente
puxei minha mão de volta para o meu colo, quando ela soltou. Ela inclinou a cabeça
enquanto me avaliava e eu não podia evitar, mas me perguntava qual psicose ela
já atribuiu a mim. — Você sabe por que está aqui, Lucas?

200
Suspirei e olhei para o teto, já odiando isso. — Porque eu estava fud... —
eu olhei para baixo, para a pessoa semelhante a um professor na minha frente e
mudei a minha linguagem grosseira: — ... debilitado... na escola.
Seus lábios se torceram em um sorriso irônico e eu tinha certeza que ela
sabia exatamente o que eu diria. — Isso é o que você fez para chegar até aqui. Mas
por que você está aqui, Lucas?
Franzi a testa, já perdido. Por que os terapeutas sentem a necessidade de
falar em círculos? Ela não podia me dizer que eu era um confuso desperdício de
espaço e me deixar ir? — Eu não entendo... não é o mesmo?

Ela sorriu e balançou a cabeça. — Não, nem mesmo remotamente.

Fiz uma careta, ainda confuso, e balancei a cabeça também. — Bem, você
é a única com os diplomas. Você não deveria me dizer?
Ela levantou uma sobrancelha vermelha para mim. — Você quer que eu
diga?
Suspirei e revirei os olhos. — Você fará a coisa responder a cada pergunta
com uma pergunta?
— Você quer que eu faça isso, Lucas? — Quando eu fiz uma carranca de
novo, ela riu um pouco e acrescentou: — Foi uma piada.
Surpresa passou por mim que ela fez isso e nós dois rimos, o que me
atraiu. Eu não sei porquê. Acho que eu esperava severidade e dureza de um
conselheiro. Encontrei-me relaxando um pouco e senti um leve sorriso iluminar
minhas características.
Seu rosto se iluminou consideravelmente. — Ah, você sabe como sorrir. Eu

começava a me perguntar. — Olhei para baixo e dei de ombros, tentando não me

divertir com ela. Suavemente, ela acrescentou: — Você parecia com raiva quando
se sentou. Por quê?
Olhei novamente para ela, não sei por que ela não podia adivinhar isso. Eu
fui pego fazendo algo impróprio, que nem sequer era minha culpa, e esta foi a
minha punição. Por que eu estaria feliz com isso? Um tiro de verdadeira raiva
queimou dentro de mim, então, quando me lembrei de tudo o que aconteceu para
eu chegar aqui, neste escritório, conversando com alguém que eu não queria

201
falar. Eu não queria falar com ninguém, ninguém vivo de qualquer maneira. Eu
zombei quando respondi a ela. — Eu só estou aqui porque o Clube Seguro e Sadio
me chutou para fora, e eu quero voltar. Me deixa com raiva ter que fazer isso.
— Por quê?
Ela inclinou a cabeça para mim, parecendo estar verdadeiramente
fascinada pela minha resposta. Eu me perguntei se isso era outra técnica – fingir
interesse. Ela provavelmente preparava uma lista de supermercado na cabeça
dela. Esse pensamento enfureceu meu já acelerado temperamento. Eu
realmente não queria estar lá. — Porque sim!
Ela apenas olhou para a minha resposta e eu afundei para uma resposta
mais substantiva. — Quero dizer, Deus, o maldito lema do clube é porque nos

preocupamos com você. — Joguei meus braços para os lados quando comecei a

ficar chateado. — É suposto ser um clube para adolescentes problemáticos que

querem transformar suas vidas ao redor... e eles me chutaram para fora! —


Lágrimas surpreendentemente vieram aos meus olhos quando pela primeira vez
pensei sobre isso verdadeiramente. — Eu, o garoto na escola que as pessoas olham
como se... como se eu fosse um nada além de um confuso pedaço inútil de
merda! Aquele que mais precisa de ajuda, o mais bagunçado aqui... e eles não me
ajudarão! — Eu trouxe as minhas mãos no meu peito quando senti lágrimas reais

caírem nas minhas bochechas. — Eu quero entrar... e eles não me aceitarão. O

que isso quer dizer? — Joguei minhas mãos no ar de novo, constrangido com as
minhas palavras e as minhas lágrimas, mas também me sentindo aliviado por tirar
essa desconhecida ferida do meu peito.
Esperava que ela me dissesse que a escola estava certa. Esperava por ela
me dizer que eu não pertencia a esse clube. Eu esperava que ela me repreendesse
por minha língua. Esperava que ela recomendasse vários programas de doze
passos. O que eu não esperava... era ela dizer o seguinte:
— Bem, Lucas... parece hipocrisia para mim.
A refutação estava em meus lábios e imediatamente caiu da minha língua
como a minha boca aberta. Percebi, então, a inclinação de sua cabeça e que ela
verdadeiramente me ouvia, e esse brilho nos seus olhos mostrava o seu verdadeiro

202
interesse no meu bem-estar. Olhei para ela, de repente, não vendo alguém enviado
pelo destino para me torturar ainda mais pelos meus erros. Pela primeira vez... eu
vi um ser humano vivo com quem eu poderia falar. Quero dizer, realmente
conversar. Isso me apavorava. Engoli em seco e empurrei o terror gelado de volta. O
que dizer ainda era a minha escolha.
Deixando meu pânico momentâneo abaixar, eu calmamente respondi: —
É... eu também.
Falamos sobre as coisas mais mundanas no resto do meu tempo lá – a
minha relação com a minha mãe, a minha relação inexistente com o meu pai, o
que eu gostava de fazer, o que eu costumava gostava de fazer, o meu plano para o
próximo ano. Ela não me perguntou sobre o acidente. Ela não me perguntou sobre
as fofocas que giravam em torno de mim. Ela não perguntou sobre a minha relação
com Sawyer, ou qualquer outra garota quanto a esse assunto. Ela nem sequer me
perguntou sobre o incidente que me levou ao seu escritório, em primeiro
lugar. Depois da minha explosão emocional, suas perguntas eram mansas e fáceis
de responder. Quando me levantei para sair, eu estava um pouco surpreso com a
coisa toda e aliviado por conseguir passar por isso, sem fazer de mim mesmo um
grande idiota.
Apenas cinco semanas e quatro dias pela frente. Grande.
Eu esperei por Sawyer do lado de fora do corredor do Clube Seguro e Sadio,
desde que a minha sessão não durou tanto tempo quanto seu encontro. Eu estava
imerso em meus pensamentos sobre a minha hora com a Sra. Ryans... Beth,
quando a porta se abriu e estudantes começaram a sair. Eu mal notei os sussurros
e olhares enquanto estava sentado no chão e esperava que Sawyer me
visse. Eventualmente, todos os estudantes saíram. Eu podia ver Sawyer ainda
falando com a Sra. Reynolds na sala de aula. Ela estava com a cabeça abaixada e
ouvia a Sra. Reynolds falar com uma expressão solene no rosto.
Sra. Reynolds alcançou a mão dela, mas, em seguida, surpreendentemente
tomou-lhe o pulso em seu lugar. A cabeça de Sawyer levantou para olhar para ela
e se afastou por reflexo, uma expressão quase alarmada no rosto. Levantei-me,
perguntando-me se Sawyer estava prestes a entrar em outra briga, mas desta vez
com um professor, um professor geralmente simpático. Sawyer começou a sacudir

203
a cabeça para Reynolds, seu rosto parecendo cada vez mais assustado a cada
segundo.
Quando entrei pela porta, a Sra. Reynolds se virou para olhar para mim e
soltou o braço de Sawyer. Sawyer olhou para mim e me deu um sorriso largo,
embora seu rosto estivesse quase um branco doentio. Franzindo minhas
sobrancelhas, eu andei até o lado dela.
— Tudo bem... por aqui? — Eu perguntei, me sentindo estranho por ter
que quase enfrentar um professor.
Sra. Reynolds me deu o seu caloroso rosto simpático de professor. — Claro,

Lucas. — Os olhos foram até Sawyer depois de volta para o meu. — Sawyer e eu

estávamos... conversando. — Antes que eu pudesse responder, seus olhos

brilharam. — Como foi a sua sessão? Ouvi que a Sra. Ryans é ótima. Ela é? Correu
tudo bem?
As perguntas dela saíram em rápida sucessão e precisei focar nelas com
tanta força que momentaneamente esqueci do incidente em que pisara. — Uh...
era... foi bem, eu acho.
Ela colocou a mão no meu ombro. — Ótimo! Estou tão feliz, Lucas. — Ela
me deu um tapinha antes de acenar para Sawyer e, então, se voltou para sair da
sala.
Voltei-me para Sawyer. — Bem, isso foi estranho. — O rosto de Sawyer
ainda era uma sombra branca fantasmagórica como os olhos fixos na porta onde
Reynolds acabara de sair. — Ei, você está bem?
Sawyer saiu de seu torpor e ergueu os olhos para mim. Alguma cor voltou
para ela quando me olhou. Ela me deu aquele sorriso torto que eu amava, o que
mostrava minha covinha favorita. — Não é a minha fala?

Eu ri e pendurei meu braço em volta dos seus ombros. — Aparentemente,


hoje não.
Ela se inclinou para o meu corpo quando começamos a sair da sala. —

Como foi o seu encontro? — Ela perguntou.

Mantendo a cabeça reta, eu disse a ela sem rodeios: — Foi bom.

Ela se afastou de mim, franzindo a testa. — Luc...


204
Suspirei e olhei para os meus pés se arrastando, atravessando as múltiplas
fissuras em cerâmica do corredor. — Realmente, foi bom. Não foi ótimo, nem
horrível... só... tudo bem.
Ela aninhou no meu lado de novo. — Tudo bem... bem, eu estou feliz que
não foi horrível.
Eu inclinei minha cabeça contra a dela. — Sim, eu também — eu murmurei
em seu cabelo negro e sedoso. Um cheiro fraco do limão que enchia o carro dela
bateu no meu nariz e eu sorri – contente, novamente.
Sawyer estava quieta na volta para casa, e eu não me intrometi em tudo o
que ela estava pensando. Eu mesmo, escolhi olhar para fora da janela e refletir
sobre o meu próprio dia. Além da provocação de Will em Inglês, realmente, o
encontro com Josh foi a pior parte do meu dia. Até o meu desabafo com o
conselheiro não havia superado esse momento. Suspirei e pensei novamente sobre
Darren estar decepcionado comigo, pelo fato de que eu não poderia salvar a minha
amizade com o seu irmão. Talvez eu sonhe com ele hoje à noite e nós poderíamos
falar sobre isso?
Uma mão na minha perna me tirou dos meus pensamentos
estranhos. Piscando, olhei ao redor da minha garagem. Quanto tempo eu fiquei
distraído no carro de Sawyer?
Seus dedos tocaram minha bochecha. — Você está bem? — Ela perguntou,
me estudando.
Sorri e balancei a cabeça para ela. — Você tinha que dizer uma hoje, não
é?
Ela deu um pequeno sorriso nervoso. Deixou apenas as pontas de seus
dedos no meu rosto antes de puxar a mão. Eu vi seus olhos ligeiramente
amendoados me observar, nenhum de nós sentindo a necessidade de quebrar o
contato. Sorri e então balancei cabeça para a porta. — Suponho que seus pais não
deixariam você entrar um pouco?
Ela torceu os lábios antes de suspirar. — Não... eu perguntei, mas, eles
sabem que você está de volta na escola, e não acham que eu preciso... estar aqui.
— Balancei a cabeça e olhei para baixo, odiando que seus pais tinham sentimentos
tão fortes a meu respeito quando sequer me conheciam.
205
Seus dedos voltaram a minha bochecha e olhei para ela novamente. — Não

é você, Lucas. — Ela fez uma careta. — Bem, não é principalmente você. Sou eu,
principalmente... ok?
Sorri novamente e inclinei-me para os seus dedos, balançando a cabeça,
mas não a compreendendo. Eu ainda não sabia o que ela fez para deixar seus pais
tão perturbados. Ela simplesmente não parece chocante para mim. Ela parecia
bem ajustada e responsável e sábia além de seus anos. Uma parte de mim queria
que seus pais apenas superassem tudo o que aconteceu com aquele rapaz e
começassem a confiar nela novamente. Brevemente me perguntei se eles não
gostavam de mim simplesmente porque eu também era um menino. Talvez não
tivesse nada a ver com a minha reputação, afinal, embora, eu suspeito que isso
ajudou.
Com seus dedos ainda na minha bochecha, cheguei por trás de seu pescoço
e puxei sua testa na minha. Suspirando, descansei minha cabeça, juntos por um
segundo antes de me preparar para sair dali. Pelo menos, era apenas algumas
horas hoje e não um dia inteiro. Esse pensamento me incentivou e eu sorri quando
me afastei dela e abri a porta. Ela tinha um pequeno sorriso pensativo em seu rosto
enquanto me via sair. Acenei para a porta e, em seguida, a fechei e fiquei ali,
enquanto ela se afastava.
Sentindo que o dia terminara com uma nota otimista, entrei na minha casa
para uma longa noite de dever de casa, TV ruim e Hot Pockets.

Mamãe trabalhava até tarde no restaurante e ainda não tinha chegado


quando arrastei meu corpo cansado para a cama. Eu vesti meu pijama, deitei
minha cabeça no travesseiro e fechei os olhos, todo o pensamento em por favor, me
deixe ver os meus amigos repetindo na minha cabeça.
Dentro de momentos meus olhos estavam pesados e dormi sossegado. Eu
flutuava naquele reino de inconsciência durante o que pareceu uma eternidade,
apenas escuridão, a escuridão, o nada... paz. Então, eu estava na minha sala,
totalmente vestido e olhando pela janela ensolarada. A mão no meu ombro me
assustou e eu me virei lentamente, com um sorriso se espalhando por todo o meu
rosto quando fiz isso. — Lil?

206
Cabelo castanho avermelhado e olhos dourados encontraram a minha visão
e eu sorri mais amplo. — Ei, Sammy.

Ela riu e me envolveu em um abraço caloroso. — Oh, Luc, é tão bom ver

você. — Ela se afastou e olhou para minha cara. — Nossa última visita quase não

teve tempo suficiente. — Balancei a cabeça e sorri quando a segurei perto de


mim. A última visita foi há um tempo, quando comecei o meu hiato da escola; ela
veio com Lil, e nós três nos encontramos brevemente antes do sonho se afastar de
mim. Isso foi há muito tempo, ou assim parecia agora que estávamos a sós. Ela riu
em meus braços e me abraçou apertado novamente antes de soltar. — Darren

chutaria o seu traseiro se nos visse abraçando assim — ela murmurou, quando
brincando empurrou meu ombro para trás.
Sorri para ela. — Yeah, Lil também. — Eu recuei e admirei minha linda

amiga, praticamente minha irmã. — Você e eu geralmente não ficamos sozinhos.

— Eu fiz uma careta enquanto considerava isso. — Na verdade, nunca estivemos


sozinhos... nem nos meus sonhos... — Eu suspirei enquanto sua expressão se

suavizava. — Deus, você está aqui para dizer que eu sou louco também? Para me
dizer para afastar de Lillian e viver a minha vida? Blá, blá, blá...
Ela sorriu amplamente, sacudiu o cabelo castanho avermelhado e riu
quando eu cruzei meus braços sobre o peito. — Não, Luc. Você teve um dia

difícil. Não vou censurá-lo por querer ver um rosto amigável. — Sua expressão

ficou séria antes de mudar para uma carranca brincalhona. — Eu estou aqui...
para chutar sua bunda.
Curiosidade cresceu em mim quando ela abriu um sorriso, dando um passo
para o lado para que eu pudesse ver atrás dela, o jogo de tabuleiro criado no meio
do chão da sala, destacado em uma mancha brilhante de luz solar. Eu olhei para
ela novamente e ri. Olhando para o jogo de novo, minha risada se transformou em
uma gargalhada. — Você vai me bater... no jogo da vida? Sério?

Pegando minha mão, ela me levou a um lado do tabuleiro. — Pareceu-me

apropriado — disse ela sobre seu ombro.

Eu dei um sorriso irônico. — Legal.

207
Ela sentou de pernas cruzadas em um lado do tabuleiro enquanto eu tomei
o outro. Momentaneamente olhei para os outros dois lados vazios. Olhei para seus
olhos brilhando calorosamente ao sol e me deixei sentir a paz que a sua companhia
me passava. Sammy e eu sempre ficamos bem, mas, na verdade, tanto quanto eu
gostava de estar com ela agora, eu queria ver todos.
Indiquei o espaço livre em torno do tabuleiro. — Precisamos de mais

jogadores. Você se importa? — Ela balançou a cabeça, ainda sorrindo, e me


concentrei com tudo o que tinha no local no chão à direita da Sammy. Vagamente
a princípio, depois mais solidamente, Darren finalmente apareceu e ela sorriu para
ele. Ele olhou para nós e, então, para baixo, para o tabuleiro entre nós. —

Fantástico! — Ele olhou para ambos, Sammy e eu, quando levantou um dedo no

ar. — Eu sou o médico!

Sammy revirou os olhos, mas riu. — Você não pode gritar as ocupações,
Nimrod.
Darren lhe deu um olhar nivelado. — E ainda assim, eu apenas fiz. — Ela
começou a protestar, mas ele se inclinou e a beijou, cortando sua objeção, como
sempre fazia. — Ei, sexy.
Sorri ao vê-los se beijando, feliz que Darren não me incomodaria sobre
trazê-los aqui, que ele apenas conversaria comigo. Virando minha cabeça, me
concentrei no ponto ao meu lado. Nada aconteceu no início e comecei a me
preocupar de que nada viria. E então, tão de repente que me surpreendeu, Lil
estava sentada ao meu lado, rindo de Darren e Sammy que brincavam de bater um
no outro.
— Ei, linda — eu sussurrei, enquanto me inclinava para beijá-la. Ela sorriu
de tirar o fôlego e encontrou os meus lábios no meio do caminho. Fiz uma pausa
depois de alguns leves toques em sua pele macia, perfumada. — Estamos bem? —
Eu sussurrei, sabendo quão ridículo soou, mas precisando de sua reafirmação de
qualquer maneira. Nosso último encontro foi... intenso. Sua mão veio até minha
bochecha e ela mordeu o lábio enquanto procurava meu rosto. — Luc... eu...
De repente, uma almofada do sofá me bateu na lateral da cabeça. Irritado,
me virei para olhar para um Darren rindo. Ele estendeu as mãos. — O quê? — Ele

208
apontou para mim. — Você teve um dia difícil e nos trouxe até aqui para se
divertir... certo? Não alguma efusão emocional de tudo o que está acontecendo,
tudo o que nunca chegou a dizer um ao outro — suas mãos imitaram seus lábios

falando, — yada, yada, yada...


Eu ri e me senti relaxar. Ao meu lado, Lil relaxou também.
— Sim, vamos jogar. — Decidi então que quaisquer conversas dolorosas
que eu queria ter com Lil sobre nossas intimidades ultimamente, e com Darren
sobre seu irmão, podiam esperar. Hoje à noite, eu só queria me divertir com meus
amigos novamente.
Jogando esse jogo da vida no sonho com meus amigos falecidos trouxe um
sorriso aos lábios, que durou todo o tempo. Segurei a mão de Lil enquanto
brincávamos um com o outro sobre as carreiras que recebemos – ela uma bem paga
superstar; eu, um artista esforçado – e dei um beijo nela quando ela se
casou. Depois de ver isso, Darren comentou que ela estava traindo seu triste
marido, o que nos fez rir. Por sua parte, Darren manteve o clima leve na sala,
ajudando a dar-me uma lembrança agradável para levar comigo amanhã, quando
voltasse ao cruel mundo real. Eu queria poder ficar neste quarto tranquilo para
sempre, jogar jogos de tabuleiro com os meus amigos – observar o olhar de Lil para
mim com amor, vendo Sammy rir quando ela ganhou dinheiro, e assistindo Darren
se queixar da vida de Sammy.
— Sério, outro garoto? Você é parte cachorro ou algo assim? — Ele
resmungou quando ela desembarcou em ainda outro espaço bebê.
Ela sorriu e deu de ombros. — Acho que sou muito fértil. Além disso, eu

gosto de crianças. — Ela levantou uma sobrancelha para ele. — Elas ajudam a

ganhar o jogo, sabe. — Ela lançou um olhar aguçado em sua peça de carro.

Darren fez uma careta para seu jogo de tabuleiro lotado de carro. — Pelo
amor de Deus, Sammy... você já tem cinco bastardos. Eles nem sequer cabem no
carro. — Ele sorriu para ela. — Você não poderia recusar o seu marido caloteiro,

de vez em quando? — Ele apontou para a parte de trás do carro dela, onde uma

pessoa azul solitária foi cercada por um mar de rosa. — Quero dizer, você coloca o

209
pobre desempregado punheteiro no banco de trás. — Ele sorriu enquanto Lil e eu

ri. — Quanto amor poderia haver?


Sammy torceu os lábios numa expressão tanto de divertimento quanto de
irritação. — É melhor do que a sua situação. — Ela apontou para o carro de

Darren, onde apenas a sua peça azul e uma peça rosa caída residia. — E o que
exatamente a sua esposa faz de qualquer maneira, com a cabeça enterrada em seu
colo assim?
Eu ri quando olhei para o carro de Darren; ele realmente fez parecer assim.
Darren riu para ela e sorriu sedutoramente. Ele lançou um olhar para mim
e eu sabia que ele estava prestes a dizer algo pelo qual ele apanharia. Quando ele
respondeu, sua voz era profunda e rouca. — Aí é exatamente onde eu prefiro
minhas mulheres.
Com certeza, a mão de Sammy piscou para fora e bateu-lhe no peito. Ele
grunhiu enquanto ela ria dele. — Oh, vamos lá, Cherry Pie15 — ele disse brincando
para ela.
Ela engasgou com seu apelido. Enquanto ele me disse uma vez que a
chamava assim por causa de seu cabelo avermelhado, ela sempre escolheu ver o
lado mais sujo do nome do animal de estimação, e, geralmente, sempre batia nele
quando ele dizia isso. Embora, o brilho nos seus olhos sempre que ele falava, me
fez ter certeza de que o apelido seguiria sobre ela. Eu também tinha certeza que o
nome foi repetido na cama deles, com resultados bem menos violentos.
Com um sorriso travesso, ela alcançou atrás dela um recipiente que estava
cheio de petiscos e alguns chips que eu havia conjurado. Mergulhando seu dedo,
ela retirou uma bola e, em seguida, rapidamente jogou em Darren. Isso bateu em
sua camisa e ele olhou para a bagunça, surpreendido. Seus olhos levantando para
onde ríamos incontrolavelmente. Seu rosto surpreso virou diabólico. — Ah, é
agora!
Darren agarrou seu pulso e a puxou para cima dele quando ele se deitou ao
lado do tabuleiro. Ele a virou de costas e começou a correr as mãos para cima e
para baixo de seus lados, segurando as pernas firmemente entrelaçados na

15 Termo pejorativo, se referindo a uma buceta virgem. Ou pode ser referir também a um gato.

210
sua. Ela gritou e se contorceu enquanto ele fazia cócegas. Entre seus ataques de
riso e lágrimas, implorou para que Lil e eu a ajudassemos, mas enxugando
lágrimas dos nossos olhos, nós balançamos nossas cabeças. Nenhum de nós se
misturaria em sua paquera.
Lil e eu olhamos um para o outro quando nossos amigos deslocavam para
luta livre... ou preliminares. Ela passou a mão na minha testa e afastou um pouco
do meu cabelo. Ela parecia devastada sobre algo. Eu estava prestes a perguntar o
que, quando ela se inclinou para frente e pressionou seus lábios nos meus. Sua
mão serpenteava atrás do meu pescoço, me puxando mais perto, para que nossas
bocas se movessem juntas. Meu coração disparou e eu segurei seu rosto com as
minhas mãos, meus dedos roçando as maçãs do rosto enquanto as pontas dos
meus dedos se enrolavam em torno de seu cabelo sedoso e pálido.
Assim que o beijo foi aprofundando, outro travesseiro me acertou. Sério e
irritado agora, eu olhei para Darren. Ele levantou as mãos em sinal de rendição
sob a intensidade do meu desprezo. — Ei... eu sei como vocês dois são quando

começam... — ele apontou para o jogo de tabuleiro entre nós, — podemos terminar
o jogo antes do início da nudez?
Lil, com o rosto ainda em minhas mãos, riu constrangida, e se afastou de
meus dedos. Sorri e ri com ela, combinando seu tom de voz, e então a coloquei no
meu colo para que eu pudesse colocar meus braços ao redor dela e sentir a vida e
o calor da mulher que eu amava enquanto terminávamos nosso jogo. Ela riu e se
sentou, agarrando minha mão e entrelaçando os dedos enquanto descansava no
meu peito. Beijei sua cabeça, o cheiro de seu shampoo favorito de repente me
agredindo enquanto as extremidades de seus longos fios de cabelo faziam cócegas
no meu braço. Com um sorriso estampado em meu rosto, eu a segurei firme e me
inclinei para girar o disco – pronto para terminar o meu jogo da Vida.

211
Capítulo 11
Feliz Ação de Graças

Retornar ao ritmo escolar era praticamente perfeito. Antes que eu


percebesse, as pessoas passaram a me ignorar assim como nos velhos tempos. Até
mesmo Josh deu uma pausa no escárnio e simplesmente se afastou de mim; talvez
a nossa conversa finalmente o alcançou. Eu estava tão acostumado a ver a raiva
em seu rosto que não fazia ideia do que significava o vazio.
Uma parte de mim se deleitava com o silêncio que permeava o meu dia. Uma
parte de mim ansiava por amizades e reconhecimentos educados que eu tive dessas
pessoas na maior parte da minha vida. Mas isso foi há muito tempo, emocional, se
não fisicamente, e eu não deveria me debruçar nisso. Se não fosse por Sawyer,
porém, eu acho que eu teria desaparecido na parede da escola, envolto em minha
solidão e arrependimento.
Felizmente para mim, Sawyer fez o seu melhor para me trazer à vida. Bem,
ela fez o seu melhor para me fazer sorrir de qualquer maneira. Seus pais ainda não
cederam quanto a visita após a escola, então tudo o que tínhamos era o nosso

212
tempo na escola e as infindáveis caronas que ela me dava. Contudo, aproveitamos,
rindo e contando piadas e histórias ao longo do dia. Sawyer tinha um talento
especial para saber exatamente em que humor eu estava e a habilidade de ligá-lo,
se necessário.
Ela não fala muito sobre seu próprio humor, mas mantive um olho nela
após qualquer aula que não compartilhamos, procurando algum sinal de que ela
foi maltratada pelas meninas na escola. Eu estava um pouco chocado quando ela
confessou que era provocada por ser pobre. Acho que eu nunca percebi.
Ela era brilhante, quente e engraçada, e isso chamou mais a minha atenção
do que o que ela vestia. Claro, agora que a minha atenção foi trazida para isso, eu
vi que ela usava quase a mesma roupa exatamente todos os dias: o mesmo jeans
com as lágrimas nos joelhos, o mesmo anel de prata em seu polegar, os mesmos
tênis Converse. Realmente, alternava apenas a camisa de manga comprida ou
blusa. E sobre tudo isso, ela sempre usava minha jaqueta esportiva. Eu finalmente
percebi que aquela realmente era a sua única jaqueta. Eu também apenas percebi
o que eu entregar a ela no primeiro dia significou para ela. Tenho certeza que ela
provocou a raiva de alguns poucos no corpo estudantil, e, provavelmente, de seus
pais, também, ao vestir uma jaqueta de um garoto, mas era algo que ela não tinha
e que ela queria desesperadamente, e um estranho deu a ela. Se fosse comigo,
provavelmente me sentiria muito ligado a essa pessoa.
Enquanto almoçávamos no carro dela, eu também notei que, na maioria
das vezes, ela não tinha nada para comer, e eu acabava compartilhando o meu
almoço com ela. Não era nem mesmo um pensamento consciente da minha parte,
eu só automaticamente pegava o que eu tinha e dividia.
Minha mãe e eu nos esforçávamos para equilibrar o orçamento, embora se
recusasse a me deixar arranjar um emprego e ajudá-la com as contas. Ela disse
que eu precisava ter dezessete anos quando eu tinha dezessete anos, e tenho uma
vida inteira de trabalho pela frente. Mas ainda podíamos proporcionar as
necessidades básicas. Sawyer parecia viver com um pouco menos do que isso. Isso
me fez sentir ainda mais protetor com ela.
Eu pensei em enfrentar Brittany, que parecia liderar o grupo que mais a
provocava, mas não fiz. Eu sabia que não gostaria que Sawyer tentasse enfrentar
Will ou Josh, então eu não tentaria lutar suas batalhas por ela. Além disso, ela

213
parecia ter um grande controle sobre o que era realmente importante na vida. Ela
entendeu melhor do que a maioria que situações ruins não eram necessariamente
permanentes, e que a vida poderia melhorar.
Eu tinha menos controle sobre isso. Costumo me sentir um pouco
melancólico sobre minha vida. Era menos intenso quando Sawyer estava presente,
mas ainda estava lá, e quando ela ia embora, às vezes tornava-se
insuportável. Meus sonhos aliviavam essa dor, mas acrescentaram uma diferente,
também. Eu senti falta dos meus amigos após o nosso jogo de tabuleiro
improvisado, o qual Sammy prontamente ganhou. Quando acordei na manhã
seguinte, eu olhei para o meu teto por uns bons dez minutos, revivendo o sonho,
forçando a memória... desejando que fosse real, desejando poder rastejar dentro
daquele sonho e desaparecer – ficar lá para sempre. Meus sonhos sempre me
pareciam tão reais. A risada de Sammy, os comentários sujos de Darren, os doces
toques de Lil... todos eles pareciam mais reais do que a desolação de ser quase
invisível na escola. Minha cabeça batia no travesseiro todas as noites, pronta para
deixar meu dia ir e passar mais algum tempo com eles.
Nem sempre deu certo, eu nem sempre os vi, mas quando os via, era divina
felicidade... e tortura pura. Porque uma parte de mim sabia que não importa quão
real isso parecesse, não era. Meus amigos morreram e estavam enterrados,
mudaram para algum lugar que eu não poderia segui-los. E isso meio que me
matou.
Considerei falar com o conselheiro sobre meus sonhos, sobre como eu
viveria neles se eu pudesse, mas nunca toquei no assunto. Não trouxe muito ao
redor da Sra. Ryans. Claro, ela fez um monte de perguntas e, eventualmente, me
fez falar sobre algumas das coisas mais cotidianas na minha vida, mas meus
amigos eram um problema que eu contornei. Ela pareceu perceber isso
também. Ela tentava casualmente deslizá-los na conversa – então, como vão as
coisas na sala de aula? Alguma pessoa tem brigado com você? Alguma vez você
brigou com os seus amigos... ou Darren ou Sammy ou Lil? Como eram esses
relacionamentos?
Ah... fácil.
Eu olho para baixo, dou de ombros e digo a ela o padrão. Não quero falar
sobre isso resposta de que tudo estava bem.

214
Ela finalmente trouxe o incidente que me enviou a ela primeiramente – eu
estar claramente drogado na escola. Ela perguntou por que eu fizera isso, e de
forma tão pública, e eu dei de ombros para ela e comecei a dizer eu não sei, quando
em vez disso o que saiu foi: — Eu não fiz. Eu fui drogado.
Suas sobrancelhas se ergueram tão alto quanto a minha. Eu realmente não
tinha a intenção de mencionar isso. Trancando meu queixo para não derramar
mais, vi os olhos arregalados me encarar. — Não? — Ela inclinou a cabeça
enquanto seus olhos se estreitavam, me avaliando, em busca da honestidade... ou
a mentira.
Arrumei a minha postura e levantei meu queixo, encontrando-a
diretamente nos olhos. Eu poderia ser culpado de um monte de coisas na vida, mas
isso era uma coisa que eu não era culpado. Sentindo um estranho tipo de
autoconfiança, decidi seguir com isso. — Não... alguém colocou alguma coisa na
minha água. Eu acidentalmente bebi, quando Sawyer me deu uma aspirina para a
dor de cabeça.
Ela bateu um lápis sobre a mesa enquanto me olhava, pensativa. Eu não
sabia ao certo o que viu: um mentiroso, um garoto problemático, uma vítima. Eu
não sabia o que eu queria que ela visse, também. Não tinha vontade de qualquer
uma dessas coisas. Finalmente, ela baixou a voz enquanto falava: — Isso é uma
acusação séria, Lucas. Você falou com alguém sobre isso?
Balancei minha cabeça. Sem querer, deixei escapar: — Eu não tenho a
melhor reputação. Ninguém acreditaria em mim.
Ela se endireitou na cadeira. O rosto dela lutou com alguma coisa, e eu me
perguntava se ela ainda acreditava em mim. A vibração surpreendente no meu
estômago me pegou de surpresa, e percebi que eu queria que ela acreditasse em
mim. Quase precisava que ela acreditasse. Seu rosto finalmente se estabeleceu em
uma máscara profissional e ela se inclinou para frente sobre os cotovelos. — Você
sabe quem fez isso?
Imediatamente balancei a cabeça novamente. Uma pequena fatia de
felicidade irrompeu através de mim que ela parecia acreditar na minha história,
mas ainda não mencionaria o nome de Josh. Essa era uma lata de vermes que eu

215
não precisava abrir. Além disso, eu o deixaria ir... deixaria o que ele fez para mim
ir. Falar sobre o assunto, faria com que ele fosse preso – nada disso importava.
Ela estreitou os olhos para mim de novo e eu sabia que ela não
acreditava nisso. Esperava que ela me pressionasse sobre isso, mas ela
surpreendentemente mudou o curso da nossa conversa. Talvez a minha admissão
a fez acreditar que eu admitiria mais. — Lucas... você pode me dizer o que se
lembra do acidente?
Minha boca abriu quando o que ela perguntou me fez retroceder. Ela
perguntou sobre os meus amigos, mas nunca isso, nunca sobre o acidente real.
Foi uma grande mudança do que falávamos que minha mente estava atordoada
demais para responder corretamente. Felizmente, eu estava tão acostumado à
mentira que isso automaticamente rolou a minha língua. — Nada. — Com meus
sentidos recuperados, fiquei irritado com a pergunta. Por que todos sentem a
necessidade de perguntar isso? — Eu pensei que estivesse aqui por chamar a

atenção na escola. O que... isso... tem a ver com alguma coisa? — Eu sabia que
meu rosto estava em uma carranca, mas não conseguia amolecer.
O dela se suavizou quando olhou minha expressão. Em voz baixa, ela
respondeu: — Está tudo conectado, Lucas. Tem certeza que não se lembra? O que
você fazia antes do acidente?
Rindo, falando... vivo. Balancei a cabeça com veemência. — Não sei. Eu...
eu não me lembro. Eu já disse isso!
Seu rosto ainda calmo, embora eu acabei de gritar com ela, ela disse: —
Qual é a última coisa que se lembra?
Apertei a cadeira, preparando-me para ficar em pé e sair correndo da
sala. Calor e raiva percorriam minhas veias, todos com uma borda de gelo, uma
ponta de medo. Queria que ela parasse. Não quero falar sobre isso. Falar sobre isso
seria como pegar uma faca e cortar o meu próprio coração. Eu não era capaz
disso. Minha garganta fechou e balbuciei palavras, enquanto lágrimas nublavam
minha visão. — Eu... eu... eu não sei. Por favor... pare...

216
Uma lágrima rolou pelo meu rosto e ela suspirou baixinho quando viu. —
Eu sinto muito, Lucas. Sei que é doloroso, mas é parte do processo. Você precisa
tirar esse peso de cima de você. Está sufocando você. Não vê isso?
Balancei minha cabeça, enquanto mais lágrimas seguiam a primeira. Engoli
em seco, odiando me sentir a beira de gritar e chorar. Eu podia sentir as horríveis
lágrimas e olhei para o chão para tentar me acalmar. Querendo que isso acabasse,
eu murmurei: — Nada, não me lembro de nada.
Ela me respondeu igualmente baixinho, talvez reforçada pelo fato de que eu
não fugi da sala ainda. — Dizem que havia cerveja no carro, mas seu teste no
hospital deu negativo... o que você bebia, Lucas?
Minha cabeça disparou quando a segunda pergunta mais popular passou
por seus lábios. Eu não poderia evitar a dor na minha cara por ela perguntar isso.
Com tudo o que falei e cada conexão que pensei ter com ela, eu meio que esperava
que ela instintivamente soubesse a resposta para isso. Com um eco de traição na
minha voz, respondi a sua pergunta mais profundamente do que costumo
responder a alguém. — Não... eu não bebi. Peguei as chaves porque Darren estava

bêbado, então os levei para casa. Eu estava completamente sóbrio. — Dureza


entrou na minha voz quando balancei a cabeça, outra lágrima
caindo. Amargamente eu cuspi: — Você pode acreditar nisso ou não.
Ela olhou para sua mesa antes de levantar o olhar para o meu. Compaixão
cruzou seu rosto enquanto lentamente me respondia. — Você está na defensiva.
Seu olhar compassivo aumentou minha irritação. Não quero falar sobre
isso. Eu não entendia por que não podia deixá-lo ir. Bravo comigo por me abrir
com ela, eu cuspi: — Ninguém acredita em mim mesmo, então o que importa o que
eu digo? Se eu me lembro ou não? Se eu bebi ou não? Nada disso importa.
Seus olhos se arregalaram quando surpresa cruzou suas feições. —

Lucas... essa é a sua voz. — Ela se inclinou sobre a mesa novamente, seus elásticos
cachos vermelhos escovando alguns papéis, enquanto tentava ficar ainda mais
perto de mim, talvez para transmitir que ela realmente estava do meu lado. — É a
única voz que importa. Você é a única pessoa que estava lá.

217
Meu rosto empalideceu quando eu peguei o erro em sua sentença. Com
apenas um fantasma de uma voz, eu murmurei: — Não, eu não era o único lá...

esse é o problema. — Minha mente voltando para os meus amigos gritando no


carro... a cabeça de Lil batendo na janela. Senti meu estômago revirar.
— Isso é verdade. — Ela se recostou na cadeira e suspirou baixinho. —
Tudo bem, você é o único que sobreviveu.
Sua voz era suave e cheia de ternura, mas meu estômago se apertou e
minha cabeça começou a nadar. Abaixei minha cabeça e olhei para o meu colo,
desejando poder desaparecer. — Eu sei... — Esse era um fato do qual eu estava
horrivelmente ciente.
Ela se inclinou outra vez e surpreendentemente colocou a mão no meu
ombro. — Então... Lucas, um dia você realmente tem que começar a viver.
Olhei para ela olhando para mim com uma cara genuinamente
simpática. Meu corpo começou a tremer com o constrangimento de não quebrar
em seu escritório. Ela bateu em muitos pontos doloridos – golpe após golpe. Eu
estava esgotado, estava exausto... estava feito. Eu precisava sair de seu
escritório. Eu precisava de um dos meus confortos, seja Sawyer ou uma versão de
Lil no sonho. Em pé com as pernas bambas, eu sussurrei: — Terminamos?

Ela me viu lutando com múltiplas emoções e, em seguida, assentiu. — Sim,


Luc. Vejo você na segunda-feira, após a pausa de Ação de Graças.
Balancei a cabeça distraidamente enquanto saía da sala. Eu quase esqueci
que teria uma pequena folga, tanto dela quanto da escola por um longo fim de
semana. Claro, isso significava que de Sawyer também. Apertei meu estômago e
saí do seu escritório e da escola, para que eu pudesse sentir o chocante ar fresco
em toda a minha pele pegajosa. Sentei em um degrau do lado de fora das portas
principais e deixei cair a minha cabeça em minhas mãos, finalmente perdendo isso.
Sawyer me encontrou assim, o que pareceu uma eternidade depois. Não
percebi a princípio. Realmente não notei a enxurrada de corpos andando por mim
e pés se arrastando sob a minha visão, enquanto mantinha minha cabeça
descansando em meus braços, abraçando os joelhos. Realmente não percebi nada
até que senti os braços de Sawyer furtivamente em volta dos meus ombros. Ela me

218
puxou para ela e funguei, implorando que a torrente de lágrimas não começasse
novamente.
Sawyer beijou minha cabeça e esfregou minhas costas, não perguntando o
que estava errado. Ela não precisa. Ela sabia que eu acabara de vir do
conselheiro. Se eu estivesse chateado, ela sabia o porquê. O que mais me levava a
chorar desesperadamente além dos meus amigos? Não muito.
Ela beijou minha cabeça de novo e, em seguida, colocou a dela nas minhas
costas enquanto continuava esfregando círculos em minha jaqueta. Ela suspirou
baixinho e finalmente senti a paz de seu toque rastejar para dentro de mim. Ela
sussurrou que tudo ficaria bem e nos sentamos em silêncio por longos momentos.
Eventualmente, eu mudei a minha posição e ela levantou a cabeça do meu
corpo. Timidamente virei para olhá-la, perguntando-me quão horríveis meus olhos
estavam. Ela mordeu o lábio enquanto olhava para a minha expressão, e então
balançou a cabeça e colocou a mão no meu rosto. Eu funguei novamente e fechei
os olhos, apoiando-me em seu toque, roubando seu calor e bondade.
— Pronto para ir para casa? — Ela sussurrou, e eu cansado concordei. Eu
queria ir embora. Queria ir para a cama e nunca mais sair.
Ela ajudou-me a levantar e atirou a mão sobre o meu braço. Ela olhou para
trás e acenou para alguém, e olhei para trás, vendo a Sra. Reynolds nos observando
com uma expressão preocupada. Afastei-me antes que ela pudesse vir até mim. Eu
odiava a professora me vendo desta forma. Eu odiava alguém me vendo dessa
forma, realmente.
Sawyer me levou para casa naquele silêncio confortável e
surpreendentemente desligou o carro quando parou na minha casa. Olhei para ela
e pisquei sonolento. — O que você está fazendo? — Minha voz ainda estava
arranhada por chorar com tanta força nos degraus.
Ela colocou a mão no meu braço. — Estou sendo uma amiga.
Ela abriu a porta, enquanto eu sem entusiasmo abri a minha. Ela agarrou
meu braço novamente, enquanto eu pegava minha mochila e minhas chaves. Eu
não tinha certeza o que ela pensava em fazer, e não queria deixá-la em apuros, mas
eu estava eternamente grato por ela não me deixar ainda.

219
De alguma forma consegui abrir a porta e ela me puxou até o meu
quarto. Eu estava tão triste que não conseguia nem saber o porquê. Ela pegou a
mochila do meu ombro e, então, tirei meu casaco. Ela gentilmente me empurrou
para sentar na cama, e então desamarrou e tirou meus sapatos.
Confuso, eu a vi levantar minhas pernas sobre a cama e, em seguida,
suavemente me empurrar para baixo até que minha cabeça tocou o
travesseiro. Comecei a dizer alguma coisa, mas ela se deitou na beira da cama de
frente para mim, trazendo as pernas para cima da minha e envolvendo os braços
em volta de mim. Ela me puxou para seu ombro e senti a emoção borbulhar
novamente. Eu não tentei, mas quando meus braços serpentearam em volta de sua
cintura, eu senti as lágrimas ressurgindo. Abaixei minha cabeça e deixei as
lágrimas caírem sobre sua camisa. Ela me fez calar, me embalou e sussurrou que
tudo ficaria bem, enquanto eu embaraçosamente chorei nos seus braços.
Ela ficou comigo assim, gentilmente me balançando, até que minhas
lágrimas diminuíram e finalmente dormi, e com gratidão, o sono me levou.
Acordei com seus braços ainda em volta de mim. Eu não tinha certeza de
quanto tempo eu dormi, mas tinha certeza de que Sawyer entraria em um monte
de problemas por ainda estar comigo. Mesmo amando o conforto de seus braços ao
redor de mim, a culpa passou por mim. Por mais que isso significasse que ela
ficara, eu não queria que ela se metesse em encrencas por minha causa.
Afastando-me, eu levantei a cabeça de seu ombro e grogue, falei: — Sawyer,

você deve ir. Eu não quero... — a minha palavra áspera cortou quando a minha
visão turva clareou e vi os braços de quem estavam ao meu redor. Um pequeno
sorriso atingiu os meus lábios, quando reconheci os cabelos dourados e claros
olhos azuis. Com um suspiro falho, eu apertei os meus braços em volta dela,
puxando-a tão apertado para mim quanto eu podia. — Lillian.
Ela esfregou minhas costas e, em seguida, passou os dedos pelo meu
cabelo, puxando minha cabeça na curva de seu pescoço. — Lucas...
Ela beijou minha cabeça e encostou seu rosto em mim enquanto eu tomava
respirações longas e profundas, saboreando a sensação da lembrança dela sob
meus dedos enquanto a apertava com força, a lembrança de quando ela
cantarolava baixinho no meu ouvido e a lembrança do seu cheiro quando meu

220
nariz descansou contra sua clavícula. Soube imediatamente que eu ainda dormia,
possivelmente com os braços de Sawyer ao meu redor, mas não me importei. Eu
tinha a minha garota e a agarrei com tudo dentro de mim. Eu podia sentir as
lágrimas se formando enquanto me lembrava do meu dia emocional, e as engoli de
volta, pois não queria chorar em mais um ombro feminino.
Ela beijou minha cabeça de novo e, então, beijou minha bochecha. —

Lucas... — ela se afastou para plantar mais um beijo ao longo da minha


mandíbula, então eu virei a minha cabeça para que nossos lábios pudessem se
tocar. A emoção rompeu sobre mim ao sentir seus lábios macios se moverem sob
os meus. Um pequeno soluço escapou de mim sem a minha permissão e suas mãos
voaram para as minhas bochechas. — Oh, Lucas... — ela murmurou no espaço

entre nossos beijos — Eu sinto muito.


Outro soluço me bateu enquanto minhas mãos subiam para envolver suas
longas mechas loiras e ela aprofundou o beijo. Com os dedos afastou algumas
lágrimas perdidas, a emoção ameaçando me ultrapassar. Eu tinha a minha
garota. Minha garota me amava. Minha garota estava aqui comigo. Minha garota
era real, tão real quanto qualquer outra coisa.
Relaxei na sensação de lábios se movendo e os dedos suaves e,
eventualmente, a respiração tornou-se irregular por um motivo
diferente. Debrucei-me sobre ela, empurrando-a suavemente de volta nos
travesseiros. Seus dedos correndo para agarrar o meu cabelo e ela fez um barulho
suave quando me puxou para ela. Uma das minhas mãos deixou seu cabelo para
trilhar seu ombro e deslizar sobre seu peito. Toquei suavemente a forma moldada
do sutiã antes de deslizar a mão sob a camisa. Ela suspirou enquanto meus dedos
deslizavam pela pele cremosa, e eu respirei rápido; o sutiã desaparecera.
Seus dedos puxaram meu cabelo e os lábios ferozmente atacaram os meus
enquanto eu passava meu polegar sobre o ponto sensível. Com um suspiro gutural,
eu levantei a sua camisa e mudei os meus lábios para a pele delicada. Ela arqueou
contra mim, os dedos incitando a minha cabeça para mais perto. Meus lábios a
cobriam, minha língua girava em torno dela e gentilmente deixei meus dentes
raspar contra ela. Ela murmurou meu nome e passou a perna para cima e para

221
baixo na minha panturrilha. Eu dei um beijo entre os seios e depois levantei a
camisa para levar a minha atenção para o outro.
Foi quando meu mundo mudou.
De repente, Lillian não se contorcia embaixo de mim. De repente, ela estava
de pé, perto da janela, mordendo o lábio inferior. Eu caí para frente sobre os
travesseiros quando seu corpo desapareceu e me levou um segundo para ajustar-
me à nova situação. Sentimento real ou não, foi uma experiência estranha. Olhei
para ela olhando para mim com uma expressão preocupada, o cabelo pálido
capturando a luz fraca do que parecia ser raios matinais.
— Lil?
Ela me deu um olhar simpático e deu um passo em minha direção antes de
pausar. — Eu sinto muito, Luc. — Ela balançou a cabeça. — Não foi por isso que
vim aqui.
Minhas sobrancelhas se uniram enquanto eu tentava entender a mudança
repentina no quarto. Eu estava emotivo quando ela chegou, mas ela me acalmou e
me despertou. Eu não fazia ideia do porquê ela me afastava agora. — Lil, o que há

de errado? — Eu dei um tapinha na cama ao meu lado quando rolei para encará-

la. — Volte para mim.


Parecia que ela queria dar um passo, mas se forçava a não dá-lo. Ela
balançou a cabeça e mordia o lábio com tanta força, que eu tinha medo dela
machucar a si mesma. — Eu não posso, Luc. Vim aqui para te confortar. Eu sei o

quão difícil foi hoje, mas não podemos... não devemos... — ela suspirou e fechou
os olhos por um segundo, e por um momento, ela parecia tão cansada quanto
eu. Ela inclinou a cabeça quando os abriu novamente. — Luc, nós não devemos
ficar juntos... dessa forma.
Sentei na beira da cama, minha respiração falhando. — Por que não, Lil? É
você e eu... o que poderia estar mais certo do que isso?
Ela balançou a cabeça tristemente. — Não está ajudando você, Lucas. Veja

quão difícil hoje foi para você... você não podia nem falar sobre nós. — Ela encolheu

os ombros quando me indicou e depois a ela. — Isso não está ajudando você a
seguir em frente.

222
— Isso é por causa do campo? Porque nós quase... — ela olhou para baixo,
e me levantei, caminhando até onde ela estava na janela. Eu gentilmente coloquei
minha mão sob o queixo, levantando a cabeça para que ela olhasse para mim. —
Você queria, Lil. Nós dois queríamos...
Ela assentiu com a cabeça. — Eu sei... estávamos prontos. — Ela trouxe

uma mão para o meu rosto, esfregando o polegar para trás e para frente. — Mas

fazer amor comigo... não te trará felicidade na vida real, Luc. — Ela deixou cair

sua mão, seus olhos enevoados. — E é nisso que eu preciso pensar – a sua

felicidade, enquanto você está vivo. — Com sua voz emocionada, ela engoliu em
seco.
Coloquei minhas mãos em sua cintura, avançando em sua direção. — Você

está... terminando comigo, Lil? — Descansei minha cabeça contra a dela, sabendo
que a minha pergunta era estúpida, uma pessoa morta não pode terminar com
você, mas meu coração disparou de qualquer maneira.
Ela exalou entrecortada e levou as mãos ao meu rosto. — Oh, Lucas... não.

— Ela balançou a cabeça dela contra a minha. — Eu não sou capaz de fazer isso,
nem mesmo na morte — ela sussurrou.
Baixei os lábios para encontrar os dela e ela retribuiu meu beijo
hesitante. — Lillian... eu... eu...
Eu te amo. Eu te adoro. Nunca vá embora. Eu preciso de você... fique comigo,
porque nunca vou amar ninguém além de você. Eu queria dizer, queria finalmente
abrir o meu coração para essa pessoa quente, maravilhosa em meus braços... mas
eu não podia. Por alguma razão, eu não podia, e minha garganta se fechou
completamente.
— Eu sei, Luc — ela sussurrou, enquanto me beijava uma última vez. Ela
se afastou para olhar meu rosto. — Estou contente que você está finalmente

começando a falar com alguém sobre algumas coisas, Lucas. — Ela meio que

sorriu. — Alguém vivo.

— Eu realmente não disse nada...

223
Ela colocou as mãos nos meus braços, esfregando-os para cima e para
baixo. — Ainda não, mas você está tentando. É um começo. Você deve contar a ela

sobre o acidente, Luc. Ela tem razão, você não deve guardar para você. — Fiz uma
careta e comecei a abanar a cabeça. Não quero falar sobre isso. Ela suspirou com
a minha reação. — Talvez seja a hora de você se abrir... para Sawyer.
O nome de Sawyer em seus lábios me deu uma sensação estranha,
culpado. Olhei para baixo e mordi meu lábio, sabendo que no sonho Lil estava bem
ciente de tudo o que aconteceu entre nós dois. Senti sua mão no meu queixo e
relutantemente olhei para ela. — Eu sei, Luc. Você é... próximo a ela. — Seu

sorriso era triste, quando ela correu o polegar ao longo da minha mandíbula. —
Esse é o caminho das coisas, Luc. Isso é normal, isso é o que prosseguir deveria
ser. É saudável e eu... eu quero isso para você.
Seus olhos embaçaram e quando uma lágrima correu por sua bochecha, eu
trouxe seu rosto para o meu, beijando-a mais e mais. — Não, não, Lil. Não ligo
para ela como me importo com você. Somos apenas amigos. Eu não estou com ela
e nunca estarei. Eu nunca faria isso com você. — Eu me afastei quando mais
lágrimas derramavam de seus olhos. Eu não tinha ideia se ela estava triste por
causa da minha relação com Sawyer... ou por causa do que acabei de dizer. Isso
derramou enquanto meu próprio conflito corria dentro de mim — Lillian, é você
quem eu am...
Precipitadamente acordei, antes que as palavras deixassem totalmente
minha boca.
Apertei meus olhos fechados, querendo que o sono me levasse, desejando
que meu sonho voltasse, exatamente onde eu parei, desesperado para terminar de
contar a Lil que eu a amava, finalmente tirando isso do meu peito. Eu não podia,
entretanto. Eu estava acordado, e o sono me escapava. Eu desisti e abri os olhos,
olhando para minha realidade. O frio foi a primeira coisa que notei. Embora um
cobertor estivesse sobre meu corpo vestido, um arrepio passou por mim. Um frio
que disse, Isso é real, Luc. Aquilo era falso e isto é real.
Agarrei o cobertor e trouxe-o mais para cima do meu peito. A segunda coisa
que notei foi que estava escuro. Olhei pela janela, não sendo capaz de dizer se eu
apenas tirei um longo cochilo e fui dormir cedo, ou se apaguei completamente e
224
era antes do amanhecer. Um rápido olhar sobre o meu relógio confirmou que era o
último. Eu adormeci nos braços de Sawyer e dormi a noite inteira. Minha mão foi
para o local onde Sawyer me confortou. Eu me perguntei quanto tempo ela ficou...
e se ela ficou em apuros por isso.
Suspirei e me enrolei em uma bola, com uma sensação de frio, solidão e
cansaço de tanto sono. Meu sonho começou tão reconfortante, mas se virou contra
mim e um poço de gelo foi solidamente estabelecido no meu estômago. Se Lil virasse
as costas para mim... eu não tinha certeza de como viver a minha vida. Eu não
poderia imaginar noite após noite solitária, sem nunca vê-la novamente. Não queria
nem imaginar.
O som de alguém acordado me colocou em movimento. Levantei e limpei o
sono de meus olhos, bocejando e alongando, tudo ao mesmo tempo. Me arastei
para a sala de estar e percebi a luz da cozinha acesa, então caminhei até lá.
Sorri enquanto observava minha pequena mãe vestida com seu roupão e
difusos chinelos cor de rosa preparando um peru. Suas mãos se moviam com
facilidade sobre a grande ave enquanto enchia uma das extremidades com recheio
e, em seguida, o colocou em um saco de forno. Com tudo o que eu sentia
ultimamente, eu esqueci completamente que hoje era Dia de Ação de
Graças. Minha mãe sempre teve que trabalhar no restaurante à noite (era uma
noite movimentada no restaurante, visto que aqueles sem uma família iam para
uma boa comida), assim mamãe sempre preparava o jantar cedo, sempre fazia uma
enorme ave, para que então tivéssemos sobras para sempre. Acho que minha mãe
se sentia culpada por meu hábito de jantar Hot Pocket.
Ela olhou para mim quando percebeu minha entrada, então olhou para o
relógio. — Bom dia, querido, você acordou cedo.

Dei de ombros e fui até a cafeteira para fazer um pouco de café. — Acho
que isso é o que acontece quando você vai para a cama à tarde.
Ela piscou antes de retornar a preparação da ave. — Tarde? Você dormia
profundamente quando cheguei em casa, mas ainda estava vestido, então eu o
cobri. — Ela fez uma pausa antes de levantar a pesada ave para colocá-la no

forno. — Você caiu no sono no período da tarde? Você se sente bem, querido?

225
Dei de ombros novamente e acenei com a cabeça. — Sim, eu estou bem,

mãe. Apenas cansado, eu acho. — Ela parecia prestes a dizer mais sobre o assunto,

mas a distraí abrindo a porta do forno e comentando sobre seu peru. — Eu sei que
você ama peru, mãe, mas essa ave é enorme.
Ela sorriu quando deslizou a bandeja pesada no forno. — Bem, eu tenho

uma confissão. — Fechei a porta e ela limpou as mãos em um pano pendurado

sobre a alça. Seu rosto parecia animado e culpado. — Não fique louco... — ela
começou e fiz uma careta; quando as pessoas começam frases dessa forma,
geralmente nunca termina bem.
— O que você fez, mãe? — Cruzei os braços sobre o peito e me encostei ao
balcão, esperando.
Ela mordeu o lábio, mas sorriu. — Bem, eu não queria dizer nada, porque

eu tinha certeza que não aconteceria. — Ela balançou a cabeça. — Na verdade, eu


tinha certeza que não iria, até que recebi um telefonema ontem à noite no jantar.
— Ela sorriu e seu rosto inteiro iluminou; por um momento ela parecia dez anos
mais jovem.
Tentei manter minha cara feia, mas sorri ao vê-la tão feliz. — O que você
está falando?
Ela colocou a mão no meu braço. — Eu convidei Sawyer e os pais dela para

jantar. — Ela riu suavemente. — Eles disseram que sim.

Meu sorriso caiu. — Você o quê?

Ela franziu as sobrancelhas com a minha reação. — Eu convidei... achei


que você gostaria disso? Vocês dois parecem tão próximos...
Balancei minha cabeça tentando entender o que acontecera. Os pais de
Sawyer tinham regras firmes, e não pareciam gostar de mim. Eles concordaram em
vir aqui? Vir... eu veria Sawyer hoje. Eu me preparei para uma longa semana sem
ela, e aqui estava eu, ficando pelo menos mais um dia com ela, os pais ou
não. Finalmente sorri e abracei minha mãe, que riu como se fosse dez anos mais
jovem. — Não, eu estou feliz, muito feliz. Apenas chocado, eu acho.

226
Eu me afastei e olhei para minha maravilhosa mãe apreciativamente. —

Obrigado, mãe. — Balancei a cabeça em descrença. — Não posso acreditar que


você fez isso por mim.
Ela balançou a cabeça e deu um tapinha no meu rosto. — Oh, Luc... não

há nada que eu não faria por você, você sabe disso. — Ela voltou a preparar o
jantar e sorri suavemente para ela antes de terminar a minha tarefa de fazer café
para nós dois. Ela olhou para mim por cima do ombro. — Não foi fácil, porém. Seus
pais foram muito resistentes...
Suspirei enquanto enchia o pote com água. — Acho que eles não gostam
de mim.
Ela franziu o cenho. — Eles nem sequer o conhecem.

Evitei o olhar dela e despejei a água no bule. — Os rumores estão por toda

parte, mãe. Tenho certeza de que ouviram. — Eu sussurrei isso e estudei o fluxo
de água, como se a minha vida dependesse de vê-la entrar na máquina. Mamãe e
eu não costumávamos discutir a torrente de fofocas que me rodeava. Na verdade,
nós geralmente ignorávamos esse assunto... um monte de assuntos, na verdade.
Sua mão tocou meu braço. — Luc... olhe para mim. — Brevemente
fechando meus olhos, virei a cabeça para ver o meu tom exato de olhos
calorosamente me absorvendo. — Nós teremos que convencê-los que os rumores

são apenas isso... rumores. — Ela deu um tapinha no meu braço e, em seguida,

levou a mão ao meu rosto enquanto meus olhos embaçavam. — Você é um bom
menino, Lucas. Sawyer tem sorte de ter você, e eles verão isso. Eu prometo.
Funguei e balancei a cabeça, sorrindo um pouco para liberar a emoção que
se construía. — Sim, claro, mãe. — Ela deu um tapinha no meu braço uma última
vez e, então, voltou a preparar a refeição. Terminei de fazer o café, ignorando o
vazio de sua promessa e focando no sentimento em vez disso. Por um momento eu
me perguntei por que minha mãe ainda estava sozinha. Ela era maravilhosa,
acolhedora e tão aberta para amar alguém. Ao vê-la com o canto do meu olho, eu
esperava que sua própria solidão não fosse por minha causa.
Ajudei a minha mãe na cozinha pelo resto da manhã com as coisas que ela
sentia que minhas mãos inexperientes não poderiam atrapalhar – principalmente
227
descascando batatas e abrindo a lata de cranberries. Trabalhamos em um silêncio
confortável, curtindo a companhia um do outro sem sentir a necessidade de
preencher o espaço com conversa fiada. Nos vestimos e limpamos a casa, colocando
uma música alegre no processo. O tempo passou e a cozinha se encheu com um
aroma que fez meu estômago fazer um estrondo. Mamãe riu com o som alto e
colocou um cookie de tamanho gigante na minha boca, logo quando a campainha
tocou.
Sorrindo ao redor da ponta do enorme lanche, meu estômago vazio de
repente parecia cheio de borboletas fervilhando quando percebi quem estava aqui
– Sawyer. Peguei o biscoito, dando uma grande mordida, e ansiosamente fiz meu
caminho até a porta. Abri com minhas bochechas cheias do meu prazer e comecei
a rir da minha expectativa.
Os olhos cinzentos pálidos de Sawyer foram a primeira coisa que notei,
seguido por seu sorriso enorme e o cabelo liso, super escuro, preso atrás por dois
clips de prata que brilhavam sob o sol do meio-dia. Então desviei o meu olhar para
suas mãos estendidas em sua frente, segurando uma torta de abóbora. — Olá,

Lucas! Trouxemos a sobremesa! — Ela riu adoravelmente, parecendo estar tão


animada por me ver como eu estava em vê-la. Sorri e peguei a torta dela com uma
mão enquanto cobria meu biscoito e colocava minha mão ao redor da cintura dela,
puxando-a para um abraço apertado.
Foi quando percebi que ela não estava sozinha. Uma voz profunda limpou
sua garganta atrás dela e abri meus olhos, olhos que não percebi que tinha
fechado, e olhei para o pai de Sawyer carrancudo para mim. Opa. Minha mão boba
tocando sua filha provavelmente não era a melhor maneira de fazê-lo se sentir à
vontade comigo. Imediatamente soltei minha mão de sua cintura e me
endireitei. Com a minha cara de adulto, entreguei o restante do cookie para Sawyer
(que deu uma grande mordida com um sorriso maior ainda no rosto), e estendi a
mão para ele.
Engolindo o restante do biscoito na minha boca, eu disse: — Olá, senhor,

eu sou Lucas West. — Minha seriedade desapareceu quando prazer entrou em

mim. — Estou tão feliz que você veio.

228
O pai de Sawyer era intimidante. Ele parecia ser aquele que ficaria em casa
cortando madeira no meio da floresta, e me perguntei brevemente o que ele fazia
para ganhar a vida. Ele era uns bons cinco centímetros mais alto do que o meu
1,87m e muito mais largo do que eu. Seu cabelo era de um castanho arenoso e
seus olhos tinham uma cor azul-acinzentada que combinava com Sawyer. Senti
meu sorriso deslizar quando seus lábios se contorceram em um aspecto não-
divertido, e me afastei um passo de Sawyer, só para estar no lado seguro. Ele
pigarreou algum tipo de resposta e, em vez de apertar a minha mão, protetoramente
colocou a mão no ombro de Sawyer.
Engoli em seco e me senti dando um passo para trás até que uma voz ao
lado dele falou. — Estamos muito encantados por ser convidados. Obrigada,
Lucas.
Olhei para a mãe de Sawyer. Sempre imaginei que ela fosse uma versão
mais velha de Sawyer – cabelo super escuro e bonitos olhos cinzentos – mas ela
não poderia ter sido mais diferente. Seus olhos tinham uma forma amendoada
ligeiramente mais perceptível do que Sawyer e eram de um claro castanho
dourado. Seu cabelo era marrom e ela não parecia nada com Sawyer, além da
retidão. Mas seu sorriso... esse era exatamente igual.
Ela estendeu a mão para mim e eu levemente apertei. — É bom finalmente

conhecê-lo, Lucas. Sawyer nos falou muito sobre você. — Olhei para Sawyer; ela
parecia extremamente envergonhada, e tentava retirar a mão do seu pai de seu
ombro.
Reprimi um sorriso ao ver rosto irritado de Sawyer e dei um passo para trás,
indicando para entrarem. — Por favor... entrem.
A mãe de Sawyer sorriu e pegou a mão de seu marido, instando-o a
atravessar o limiar. Ele parecia segui-la com relutância, ainda habilmente
mantendo sua outra mão em Sawyer, a sua mensagem alta e clara – não
toque. Corri a mão pelo meu cabelo, enquanto fechava a porta atrás deles.
Eu chamei a atenção de Sawyer enquanto comia o resto do meu biscoito. Ela
revirou os olhos para o aperto firme do pai dela e, então, me deu aquele sorriso
torto que eu amava. Enquanto seus pais olhavam para a minha casa, olhei para a
sua roupa. Geralmente não notava o que ela usava, mas não pude deixar de notar

229
hoje, era tal mudança de seu jeans padrão e camisa. Hoje, ela usava um
vestido. Era simples, verde e de mangas compridas, mas combinando com o cabelo
escuro e pele clara, ela era linda. Sorri e murmurei: — Eu gosto de seu vestido.
Sawyer e eu éramos bons em leitura labial, fazemos muito durante a aula,
ela sorriu e virou a bainha na altura do joelho em uma rápida reverência. Eu
comecei a rir e seu pai imediatamente virou sua atenção de volta para
mim. Aparentemente no piloto automático, com a mão puxou Sawyer de volta para
ele e ela guinchou com o movimento brusco. Ela virou a cabeça para olhar para
ele, assim que a minha mãe saiu da cozinha, passando as mãos em suas calças.
— Ah, bom. Mark, Pam, você vieram. — Minha mãe estendeu a mão para
o par.
A mãe de Sawyer, Pam, pegou a mão de minha mãe entre as suas e apertou-
a calorosamente. — Bem, foi muito generoso de sua parte nos convidar, Victoria.
Como poderíamos dizer que não?
Ela olhou para o marido, que limpou a garganta e se afastou de Sawyer. —

Sim, muito obrigado. — O pai de Sawyer, Mark, tinha uma voz tão grave e profunda
como o seu tamanho, ele fazia minha mãe parecer uma anã, quando apertou a mão
dela depois de sua esposa. Seu rosto se suavizou em genuína bondade, contudo, e
peguei isso como significado que seu problema era comigo e não com minha
mãe. Isso era de se esperar, eu suponho.
Minha mãe sorriu balançando as mãos, feliz por ter companhia em sua casa
novamente. — Por favor, me chame de Vicky, só minha mãe me chama de Victoria.

— Ela olhou para Sawyer em pé ao meu lado depois que as apresentações foram
concluídas. — Oh, Sawyer... você está linda, querida.

Sawyer corou e abaixou o olhar para o elogio. — Obrigada, Sra. West.


Sawyer e minha mãe nunca foram oficialmente apresentadas, mas elas
viram uma a outra muitas vezes, inclusive no momento lamentável em que eu
estava esgotado na enfermeira. Havia familiaridade suficiente entre elas para que
eu não necessitasse fazer quaisquer apresentações. Além disso, minha mãe
adorava Sawyer. Sawyer me fez sorrir num momento em que não havia muito a
fazer. Isso foi o suficiente para praticamente tornar Sawyer da família.

230
Mamãe olhou para mim, um enorme sorriso no rosto. Percebendo a torta
em minhas mãos, ela a agarrou e bagunçou meu cabelo. Engoli o embaraço,
enquanto ela alegremente me agradeceu por segurá-la. Ela artisticamente
agradeceu os pais de Sawyer por trazê-la, elogiando o sapato da Sra. Smith e a
gravata do Sr. Smith. Ambos os pais de Sawyer se vestiram para a ocasião,
provavelmente nas melhores roupas que possuíam. Com a facilidade de alguém
acostumado a dar jantares, que nós realmente nunca tínhamos, ela conduziu
ambos os pais na cozinha para ajudá-la a abrir uma garrafa de vinho. Ela piscou
para mim antes de desaparecer com eles, e eu sorri; mamãe acabara de me dar um
tempo sozinho com uma garota. Comecei a me perguntar o quanto mamãe gostava
de Sawyer.
Balancei a cabeça para o sofá e Sawyer me seguiu. Sentou ao meu lado,
mexendo um pouco quando se lembrou que usava um vestido e não calças de brim,
e finalmente, cruzou as pernas discretamente na frente dela. Ela recostou-se
comigo no sofá e colocou a mão sobre a minha, entrelaçando nossos dedos.
— Eu não esperava vê-la por um tempo. — Eu disse em voz baixa sobre a
música.
Ela encolheu os ombros. — Não esperava por isso também. — Ela olhou

novamente para a cozinha. — Eles me disseram ontem à noite, quando voltei da


sua casa. Estavam um pouco loucos por estar atrasada, mas quando eu disse a
eles que você estava... — ela parou, e eu corei e olhei para baixo. Que eu estive
chorando como um bebê. Grande, ela disse isso a eles? Oh bem, isso era
provavelmente a coisa menos embaraçosa que ouviram falar de mim. Ela limpou a
garganta. — De qualquer forma, depois disso, eles me contaram sobre o convite, e

implorei a eles para dizer sim. — Olhei para ela quando a senti apertar minha

mão. — Surpreendentemente, eles disseram que tudo bem. — Ela sorriu e se


inclinou para o meu lado.
Eu me inclinei para ela, sugando-lhe conforto, tão certamente como o seu
calor. — Bem, eu estou feliz por eles aceitarem.

231
Uma pequena carranca virou seus lábios para baixo. — Você está

bem? Depois da noite passada, eu quero dizer. — Sua mão livre se aproximou da

minha bochecha. — Você estava muito chateado...


Engoli em seco e desviei o olhar para o anel em seu dedo polegar fechado
em meus dedos. Meu próprio polegar subiu para acariciar o metal frio. — Sim, eu
estou bem. Era apenas... muito...
Deixei a fala morrer, não querendo entrar em detalhes. Sawyer não pediu,
ao contrário, mudou o tópico para os pais superprotetores e a lista de regras que
deram a ela antes de sair de casa, uma das quais ela já quebrou por estar sozinha
comigo. Eu ri e ela emendou isso com: — Bem, tecnicamente eles disseram que
não era pra eu ficar sozinha no seu quarto com você, então acho que isso é bom.
Ela apertou minha mão e eu ri e me inclinei para sussurrar em seu ouvido:
— Então, eu acho que não deveria dizer que estávamos na minha cama na noite
passada.
Ela riu e olhou para a cozinha novamente. — Deus não, eles me arrastariam
para fora daqui tão rápido, que você veria os rastros de fumaça.
Suspirei e olhei para seu rosto, enquanto ela dava uma risadinha. — Eles
realmente não se importam comigo, não é?
Seu riso diminuiu quando ela retornou meu olhar. — Eu disse a você... não

é você, Luc. — Ela mordeu o lábio e eu poderia dizer que havia um grande e gordo
mas, depois disso. Fiz um gesto com a mão para ela cuspir isso. Ela riu um pouco
e deu de ombros. — Bem, vamos lá. Eu tenho uma história de más escolhas
quando se trata de rapazes e, aqui estou eu, saindo com um menino bonito que
acabou suspenso da escola por estar drogado e é cercado por rumores sórdidos de
problemas com bebida. Você faz a matemática.
Ela me olhou com aquele adorável meio sorriso, e sorri sem
querer. Ignorando a dolorosa verdade em sua declaração, eu me concentrei no lado
que eu poderia desprezar. — Você acha que... eu sou bonito?
Ela riu tão alto que nós dois olhamos para a cozinha, mas minha mãe fazia
um ótimo trabalho de impedir a interferência para nós. Rimos e conversamos mais
um pouco enquanto minha mãe ocupava seus pais, mas, eventualmente, mamãe

232
saiu e fez sinal para nós que o jantar estava pronto. Nossa cozinha era muito
pequena para que todos pudessem comer, então colocamos uma mesa de jogo e
algumas cadeiras dobráveis na sala de estar. Depois que todos encheram seus
pratos com a deliciosa comida cheirosa, nos esprememos junto à mesa, Sawyer e
eu de um lado, enquanto nossos pais pegaram os três lados restantes.
Sawyer e eu rimos e batemos o outro, brincando em nossa proximidade, o
que fez seu pai fazer uma carranca e limpar a garganta para nós. Sawyer torceu os
lábios para ele, mas endireitei-me e parei de brincar. Ele nos olhou durante toda a
refeição, como se esperasse que eu fizesse... alguma coisa. A mãe de Sawyer nos
olhava também, mas escondeu habilmente entre conversas educadas com a minha
mãe. O pai dela não se importava em ser educado; ele praticamente gritava se
afaste para mim. Eu acharia engraçado, se ele não fosse tão intimidante.
Por sua vez, Sawyer parecia dividida entre aceitar o rigor de seus pais e
dizer-lhes para parar com isso. Eu não tinha certeza de onde era a linha para ela,
mas quando o pai dela sugestivamente pigarreou quando ela se inclinou para me
pedir o sal e a pimenta, eu pensei que ela se aproximava rapidamente.
Sawyer se recostou na cadeira e depois fez uma careta para ele. Ele
encontrou seu olhar por um segundo antes de passar os olhos para mim. Por um
momento, eu vi os olhos cinzentos de Sawyer olhando para mim, e a semelhança
momentânea me relaxou um pouco... até que ele falou.
— Então, Lucas...
Meu corpo ficou tenso na possível lista de perguntas que ele poderia
fazer. Sawyer ficou tensa ao meu lado também. Ele olhou para ela e fechou a boca,
talvez mudando de ideia. Ele torceu os lábios e, suspirando um pouco, deu de
ombros. — Para ser perfeitamente honesto, só concordamos em vir aqui hoje
porque Sawyer nos pediu.
Todos na mesa pararam de comer, e uma tensão desconfortável encheu a
sala. Olhei para minha mãe, que franzia a testa para ele. Ele limpou a garganta e
continuou: — Mas, agora que estamos aqui, eu acho que essa é a oportunidade

perfeita para dizer que... — ele respirou fundo e se virou para a minha mãe, — ...
o seu filho precisa manter distância da nossa filha.

233
A boca da minha mãe caiu aberta em choque, seu rosto empalidecendo na
franqueza de sua declaração. Eu me senti começando a tremer de raiva ao lado de
Sawyer, e até mesmo a mãe de Sawyer fechou os olhos e baixou a cabeça. Ou
Sawyer ou a minha mãe estavam prestes a perder isso, eu podia dizer a partir de
sua aparência e linguagem corporal. Surpreendentemente, eu perdi primeiro.
— O quê? Por quê? Por causa do que aconteceu com meus amigos? Por
causa dos rumores sobre aquela noite? — Balancei minha cabeça. — Não são

verdadeiros. — Ruidosamente jogando meu garfo no meu prato, eu gritei: — Eu


não sou um bêbado!
Seus olhos intensos estavam focados em mim, mas as próximas palavras
ditas vieram da mãe de Sawyer e não dele. — Não, Lucas. Isso não é por causa de

sua... situação, não somente por isso de qualquer forma. — Eu balancei a cabeça,
confuso. Ela suspirou e segurou a mão de sua filha, apertando com
cuidado. Sawyer parecia prestes a jogar o prato no chão. — Isso é por causa da...

situação de Sawyer — ela disse em voz baixa, com os olhos implorando a sua filha
para se acalmar.
A raiva em meu corpo instantaneamente evaporou, substituída pela
preocupação com a minha melhor amiga. Olhei para Sawyer, que balançava a
cabeça, as lágrimas começando a encher os olhos. — Eu não entendo —sussurrei.
Sawyer tirou a mão de sua mãe, que parecia magoada pela rejeição. A voz
profunda de seu pai me respondeu, uma suavidade surpreendente nele. — Ela
passou por muita coisa neste último ano e não precisa de alguém... como você... a
arrastando para baixo novamente.
Eu me irritei com o tom pejorativo na palavra você, mas era Sawyer que
perdeu as estribeiras. — Ele não me arrasta para baixo, papai. — Suas mãos

voaram no ar quando ela olhou entre seus pais. — Eu estou melhor, você mesmo
disse isso!
— Isso é por causa de seus esforços, querida. — Sua mãe estendeu a sua
mão novamente, enquanto minha mãe e eu trocamos olhares confusos. Eu
realmente não tinha ideia do que falavam.

234
Sawyer se afastou da mão de sua mãe novamente e balançou a cabeça, uma
lágrima caindo de seu rosto. — Não – é por causa dele! Estou melhor por causa

dele! — Mais lágrimas caíram e sua voz começou a ficar trêmula. Não me
importando que seus pais estavam me condenando na frente dela, eu passei meus
braços em torno de Sawyer e a puxei com força, a minha necessidade de confortá-
la mais forte do que qualquer aviso severo que seu pai poderia me dar. Ela se
inclinou para o meu lado enquanto as lágrimas corriam livremente. — Você não
pode nos separar, pai, precisamos um do outro.
Seu tom de súplica rasgou o meu coração, e as lágrimas ardiam meus
próprios olhos. Eu não tinha certeza do que acontecia, mas eu sabia que este
momento era crucial para o nosso relacionamento. Se os pais dela a proibissem de
me ver... eu não tinha certeza do que aconteceria comigo. — Ela está certa... por

favor? — Olhei entre seus pais, implorando claramente através dos meus olhos e
da minha voz.
Os olhos de seu pai surpreendentemente se tornaram simpáticos e quase
aparentava tanto cansaço como os olhos de minha mãe tantas vezes. — Nós apenas
não queremos vê-la ferida, Sawyer...
Imediatamente respondi para ela. — Eu nunca a machucaria, ela significa
muito para mim. Ela é minha melhor amiga.
Minha mãe, finalmente superando o choque, começou a falar, mas a mãe
de Sawyer colocou a mão em seu braço, olhando fixamente para o marido, que
parecia analisar minhas palavras. Finalmente, ele disse lentamente: — Só... um
amigo. Você não tem interesses românticos nela?
Sawyer se endireitou do meu lado e passou a mão sobre os olhos. — Pai!
Ignorei seu protesto e segurei seu olhar, sabendo que este era o ponto
crucial para o pai dela. Esta era a maneira que eu poderia mantê-la perto...
empurrando-a para longe. — Não... não, eu não estou interessado nela dessa
forma. Eu estou com alguém... mais. Eu tenho uma namorada.
A sala inteira silenciou enquanto minhas palavras se afundavam. Sawyer
minuciosamente avançou para longe de mim, afastando meu braço dela. Eu não
conseguia olhar para ela, mas imaginava que seu rosto estivesse confuso, talvez

235
até mesmo machucado. Olhei para minha mãe uma vez que não parava de olhar
para Sawyer, com espanto evidente em suas feições. Ela não sabia o que eu queria
dizer, ela nunca me viu com ninguém além de Sawyer. Ela não sabia que eu falava
de Lillian. Os pais de Sawyer olharam um ao outro com rostos surpresos. A mãe
de Sawyer olhou para Sawyer, preocupada, mas o seu pai olhou para mim,
satisfeito.
— Oh, bem... isso muda um pouco as coisas. — Ele sorriu e se inclinou
para trás em sua cadeira. — Ok, então, Sawyer, se ser amiga dele significa tanto
para você, acho que nós podemos apoiar. Você têm melhorado e talvez seja por isso
que... — ele pensou por um momento, enquanto eu tentava entender sobre o que
eles falavam. Quando eu estava prestes a fazer uma pergunta, ele sorriu e se
inclinou para frente em sua cadeira. — Ok, as breves visitas que tiveram antes

estariam bem – mas lembre-se, breves. — Ele apontou para mim quando disse
isso, e eu engoli e assenti.
Finalmente olhei para Sawyer, preocupado que eu tivesse a deixado
magoada, mas ela olhava para seus pais com desdém. — Bem, obrigada, pai, por

trazer isso aqui e me envergonhar completamente. — Ela levantou e jogou o

guardanapo em seu prato. — A refeição foi maravilhosa, Sra. West, por favor, me

desculpe. — Com isso, ela deixou a mesa e saiu, fechando a porta atrás dela.

Seu pai suspirou e olhou para a mãe dela. — Acho que eu poderia ter lidado
com isso de forma diferente.
Sua mãe torceu os lábios para ele. — Você acha isso, Mark?

Ela começou a ficar de pé para ir atrás de sua filha, quando a parei. — Você

se importa se eu...? — Eu balancei a cabeça para onde Sawyer foi, e sua mãe
sentou e acenou com a cabeça.
Quando comecei a ficar de pé, o pai dela colocou a mão no meu braço. —

Eu não tentava insultá-lo, filho. Eu sei que você significa muito para ela. — Ele

suspirou, cansado. — Só estou tentando protegê-la. — Seus olhos envelheceram


dramaticamente enquanto olhava para mim.

236
Engoli em seco e acenei para ele antes de olhar para a minha mãe. —

Estarei de volta em um minuto — eu disse a ela enquanto me levantava. Ela


assentiu com a cabeça, fracas manchas vermelhas em suas bochechas por ouvir
seu filho ser meio que atacado bem na frente dela. Ela lançou olhares para os pais
de Sawyer e me perguntei se palavras seriam ditas quando eu sair... provavelmente.
Suspirando, eu fui até a porta. Fechei os olhos, antes de abri-la, não
gostando de ver o efeito da minha declaração em Sawyer. Ela sabia que não
estávamos juntos assim, nós conversamos sobre isso muitas vezes, mas às vezes...
às vezes sentimos como se estivéssemos de qualquer maneira, e eu realmente não
tinha nenhum desejo de magoá-la ao menosprezar o nosso relacionamento na
frente de sua família. Era apenas um meio para um fim.
Fechei a porta atrás de mim e cautelosamente fiz meu caminho para onde
ela estava sentada no degrau da frente, os braços ao redor de seus joelhos. Ela não
olhou quando me sentei, só abraçou os joelhos com mais força. Estava frio lá fora
e nenhum de nós tinha casacos. Querendo saber se eu deveria, eu coloquei a mão
sobre seus ombros e a puxei para mim. Ela suspirou e apoiou a cabeça contra mim.
— Desculpe por isso — eu murmurei, enquanto corria a mão para cima e
para baixo de seu braço.
Ela olhou para mim. — Meu pai é um idiota — ela mordeu.

Sorri para ela e balancei a cabeça. — Ele só se preocupa com você... isso é
tudo.
Ela se inclinou para trás e olhou por cima do meu rosto. — Eu sei — ela
sussurrou.
Eu queria perguntar a ela sobre as muitas partes da conversa que eu não
pude entender, mas seus olhos ainda pareciam excessivamente úmidos, e não
queria fazê-la quebrar. Eu queria fazê-la feliz, assim como ela tantas vezes me
fez. Queria reiterar a boa notícia que saíra de todo o fracasso, que ela poderia me
visitar novamente, mas ela começou a falar antes que eu pudesse.
— O que você quis dizer... com ver alguém, Lucas? Você... você tem
namorada? — Sua voz era quase um sussurro e vacilou no fim de sua pergunta.
Fiquei olhando para os meus sapatos, não era capaz de olhá-la nos
olhos. Eu não podia dizer a ela sobre Lillian – sobre encontrá-la em meus sonhos,
237
sobre todas as vezes que ficamos íntimos ultimamente, e como isso era
aparentemente melhor para mim do que qualquer coisa, na realidade, bem, quase
nada mesmo. Eu não poderia dizer a ela que, para mim, Lil ainda era minha
namorada; ainda estávamos apaixonados, ainda juntos. Eu não podia dizer a ela
nada disso, ela não entenderia.
Ainda não encontrando seus olhos, eu sussurrei: — Não, não há ninguém.

— Ninguém vivo de qualquer maneira. — Foi apenas uma coisa a dizer... para tirá-
lo de nossas costas. — Finalmente olhei para ela. — Quero dizer, ele não precisa
se preocupar com a gente. Nós somos apenas amigos... certo?
Ela sorriu fracamente para mim. — Sim, certo... é claro.

Sorri e a puxei com força. — Feliz Ação de Graças, Sawyer.

Ela riu e colocou a cabeça em meu ombro. — Feliz Ação de Graças, Lucas.

238
Capítulo 12
Amizades

Sawyer e eu fizemos algo nesse fim de semana que nunca fizemos antes –
ela veio, e nós assistimos a um filme. Seus pais de fato relaxaram suas regras em
torno de mim, já que eu jurara não ter qualquer interesse além da amizade com
ela. Gostaria de pensar que a decisão, foi em parte, porque eles confiavam em
Sawyer também. Ela era a pessoa mais confiável que eu conhecia, e eu realmente
não conseguia ver o que ela poderia ter feito para deixá-los tão autoritários.
Considerei tocar no assunto enquanto sentávamos juntos no meu sofá
assistindo alguma comédia romântica que ela pegou no supermercado antes de
vir. Eu não estava realmente interessado no filme, o qual mostrava mais interesse
em mostrar o peito nu de Matthew McConaughey que qualquer enredo, mas eu
estava interessado em passar um tempo com ela, então mantive meus gemidos e o
rolar de olhos para mim mesmo.
Sentamos na mesma almofada, nossos quadris se tocando e meu braço
pendurado ao redor de seus ombros. Ela colocou os pés em cima do sofá e virou os

239
joelhos para mim, com a cabeça apoiada no meu ombro. Se seu pai estivesse aqui,
ele provavelmente teria revogado seus privilégios de visitação
imediatamente; parecíamos um pouco aconchegantes demais para amigos
platônicos. Mas assim era apenas como nós éramos. Nós apreciamos o conforto do
toque do outro, e quando estávamos a sós, muitas vezes tínhamos prazer nisso.
Meu polegar acariciou seu braço enquanto via o filme passar e, em vez disso
pensei sobre o que dizer a ela. Eu queria saber o que era tão misterioso. Queria
saber o que ela fizera que desenraizara sua família e praticamente colocou uma
coleira nela. Eu também queria respeitar o seu silêncio.
E Deus sabe, eu não era o mais vocal sobre os meus próprios
segredos. Nunca falei com ela sobre o acidente. Na verdade, eu nem sequer trouxe
aquela noite com ela. As poucas vezes que ela me pegou chorando sobre isso eram
as únicas vezes que o assunto surgiu. Normalmente, quando eu estava com ela, eu
tentava empurrar essa parte da minha vida para longe.
As partes ruins de qualquer maneira, eu ainda queria as partes boas, as
lembranças felizes e acima de tudo, os sonhos incríveis que eu tinha com meus
amigos. Eu ainda ansiava por aqueles e tentei trazê-los para mim todas as noites. E
Lillian... ela não reapareceu para mim, mas eu estava pronto para ela, pronto para
dizer a ela que a amava. Talvez falar que tinha uma namorada em voz alta durante
o jantar de Ação de Graças finalmente quebrara essa última barreira em mim. Eu
estava pronto para seguir em frente... com ela.
E estava bem ciente do paradoxo nisso. Eu estava ciente de que avançar
com uma garota morta não era realmente possível. Mas era real o suficiente para
mim. Sua morte criou um buraco em mim, e eu avidamente o preencheria com a
sua presença etérea. Assim que eu conseguir que ela reapareça para mim, é claro.
Eu considerei falar com Sawyer sobre ela... mas eu não podia. Não haveria
nenhum ponto nisso. Eu sabia exatamente o que ela diria, exatamente o que
alguém diria, Isso é loucura, Luc. Isso não é um relacionamento de verdade. E
Sawyer pode realmente tornar essa conversa pior, acrescentando: É por isso que
você não ficará comigo, porque está apaixonado pela sua namorada morta e vivendo
suas fantasias com ela... em seus sonhos?
Meu estômago se apertou com apenas o pensamento de ouvir Sawyer dizer
essas palavras. Eu sabia que a situação a machucaria... e não queria fazer isso. Ela

240
era tudo para mim. Assim, nosso primeiro tempo de verdade juntos, não na escola,
e não sob o pretexto de dever de casa, foi gasto principalmente em silêncio, cada
um de nós respeitando o desejo do outro para a privacidade. E eu amei cada
segundo, independentemente daquele corpo ridiculamente bronzeado do caricato
homem.
Zombando de sua escolha de filme e prometendo escolher o próximo, eu me
separei dela duas horas mais tarde. Poucas horas depois disso, após jantar com a
minha mãe, que convenientemente tinha incumbências, enquanto Sawyer nos
visitava, eu fui para a cama, esperando encontrar a outra mulher da minha vida.
E eu encontrei... mais ou menos.
Eu consegui me levar ao campo um pouco além da minha casa
novamente. Esse campo salpicado com a luz solar e com um riacho borbulhando
ao lado dele. O ar estava quente e alegre, e uma leve brisa agitou meu cabelo
bagunçado. Era idílico, e eu estava orgulhoso de mim mesmo por recriá-lo. De
alguma forma, eu ainda consegui trazer a cama novamente.
Eu estava sentado na beira dele e esperei... esperei que ela viesse até mim. O
céu escureceu e momentaneamente fiquei preocupado de perder o controle e
começaria a chover. Não queria sonhar com a chuva. Concentrei-me nas nuvens,
exigindo que elas se abrissem e a luz do sol me banhasse. Demorou um pouco,
mas finalmente um eixo brilhante me bateu na cara e eu pisquei, de repente cego.
— Impressionante, você está ficando muito bom nisso.
Sorri e trouxe a minha mão sobre os olhos para olhar para Lil de pé ao lado
da cama na minha frente. Mas, não era Lillian. Meus olhos se abriram ainda mais
quando eu percebi o cabelo vermelho brilhando ao sol. Eu estive tão concentrado
em Lil que realmente não esperava ver ninguém. Na minha surpresa, eu perdi o
controle de um aspecto do sonho que eu usava no momento e caí duramente no
chão quando a cama debaixo de mim desapareceu.
Grunhi quando aterrissei dolorosamente nas minhas costas. Esfregando
meu traseiro, eu fiz uma carranca para Sammy, que ria enquanto olhava para
mim. Balançando a cabeça, ela estendeu a mão e me ajudou a levantar. Ela
incisivamente olhou para o local onde a cama estivera. — Não é quem você
esperava?

241
Balancei a cabeça surpreso e a puxei para um abraço. Não, não é quem eu
esperava, mas um amigo bem-vindo de qualquer maneira. — Ei, Sammy.

Ela me segurou forte. — Ei, Lucas.


Nos separamos e ela olhou para o cenário romântico que eu forneci. Olhei
em volta também e me senti corar; Sammy sabia exatamente o que aconteceu aqui,
no meu sonho de encontro fumegante. Ela sorriu quando notou meu rosto. —

Obrigada por se livrar da cama. — Rindo, ela empurrou levemente meu ombro

para longe dela. — Acho que você e eu não precisaremos dela, mas talvez Darren

e eu possamos usá-la mais tarde. — Ela riu de novo e o calor radiante diminuiu o
meu desconforto.
— Onde está, Lil? — Perguntei em voz baixa, uma vez que seus risos
diminuíram.
Ela suspirou e chutou uma pedra na grama. — Ah, Luc... ela queria que eu
viesse no lugar dela. Tentar falar com você...
Suspirei e sentei à mesa da cozinha... que de repente estava no campo onde
a cama esteve um segundo atrás. — Sobre o quê, Sammy?
Em vez de pegar a outra cadeira, ela deu a volta e se agachou na minha
frente. Ela pegou as minhas duas mãos e correu os dedos sobre o dorso enquanto
as segurava. — Você precisa parar com isso, Lucas.
Endureci e balancei a cabeça, tanto não querendo parar quanto não
querendo ouvir outro amigo me pedir para parar. — Não... por quê? — De repente

me senti muito sozinho. — Vocês não querem me ver? — Eu sabia que a minha
voz era baixa e patética, mas era assim que me sentia.
Olhei para o meu colo e senti uma de suas mãos me liberar e tocar em
minha bochecha. — Claro que sim, Lucas. Queremos ver você. Nós te veríamos
todas as noites, se dependesse de nós...
— Mas... — eu murmurei.

242
— Mas, estamos tentando fazer o que é melhor para você. E isso — ela
acenou com a mão ao redor do dreamscape16 que eu criara para Lil — isso não
está certo.
Balancei minha cabeça. — É apenas um sonho, Sammy... eu sei disso. Mas
isso me traz conforto. Por que não posso ter isso? Por que não posso ter vocês... e
Lillian?
Sua mão voltou a minha no meu colo. — Porque não é apenas um sonho
para você, não é só conforto. É um encontro... com ela. Um encontro que você
esperava que levasse a... mais. — Ela levantou as sobrancelhas me dando um

olhar severo. — Você está tentando continuar o relacionamento que teve com ela
em sua cabeça. E ainda avançar.
— Eu só quero dizer a ela que a amo. Não estou tentando... — eu dei de
ombros sem muita convicção. — Eu só quero finalmente dizer a ela que a
amo. Nunca consegui...
Sammy suspirou e levou a mão ao meu rosto de novo, passando-a pelo meu
rosto. — Você honestamente acha que ela não sabia disso?
Fechei os olhos para a referência a Lillian no passado; lágrimas começaram
a queimar neles. Tentei engolir a dor, mas eu não podia. Lillian não era passado...
não aqui. Aqui, ela estava viva. Aqui, ela era real. — Eu quero ver Lil agora, Sammy.

— Eu arranhei, minha voz áspera com emoção mal contida.


Eu senti Sammy levantar e abri meus olhos para ver sua forma magra
agarrar a outra cadeira e colocá-la perto de mim. Ela sentou ao meu lado e segurou
minha mão, muito parecido como Sawyer faria. — Eu sinto muito, Lucas... não
esta noite.
Apertei a mão dela enquanto meus olhos lacrimejavam ainda mais. — Por

favor — eu não sabia a quem eu implorava – Sammy, Lillian, meu mundo de


sonho... ou a mim mesmo.

16 Sonho geralmente surrealista

243
Sammy foi quem respondeu, entretanto. — Ela não aparecerá para você

hoje à noite, Luc. Por mais que você tente, isso não acontecerá. — Ela levantou

apenas um canto de seus lábios carnudos. — Sou eu ou nada.


Caí contra a minha cadeira antes de inclinar a cabeça sobre o ombro de
Sammy. Eu a levaria em qualquer dia. Ela inclinou a cabeça contra a minha e
murmurou no meu cabelo — Você está desapontado por ser apenas eu?

Ergui a cabeça para olhar para ela. — Não, não, é claro que não, Sammy.

— Engoli em seco e olhei para baixo. — Eu só... meu último momento com Lil não
terminou bem, e eu queria falar com ela sobre isso.
Sammy suspirou e apertou minha mão. — Eu sei. Seus últimos momentos
a sós com ela têm sido meio que... intensos.
Dei de ombros e desviei os olhos. Não havia nada que eu pudesse esconder
dos meus amigos. Aqui não. — Certo, eu acho que você está se metendo nos meus
sonhos, assim como Darren? Suponho que pedir a você para não fazê-lo seria tão
ridículo quanto pedir a ele. — Dei de ombros de novo e olhei para ela, sentindo
meu rosto corar.
Ela riu um pouco. — Gostaria de dar privacidade a vocês, se eu pudesse,

Luc, mas você sabe que eu realmente não tenho uma escolha. — Seu dedo
estendido até tocar minha cabeça e eu entendi a referência. Tudo isso estava na
minha cabeça; todos sabiam o que eu sabia. Eu dei um sorriso irônico. Lil saberia
que eu disse a Sammy que a amava agora. Claro, não era um grande segredo. Nós
dois sabíamos que nos amávamos; simplesmente não conseguíamos dizê-lo.
Sammy apoiou o queixo no meu ombro enquanto eu pensava em minha
namorada indescritível. — Darren tem um ponto, sabe, sobre você nos puxando

para você. — Olhei para ela com o canto do meu olho, querendo me opor
novamente, mas segurando a minha língua. Suspirando, ela ergueu o queixo do
meu ombro. — Nós amamos você, Luc, mas você não pode ter uma vida como esta,

vivendo sempre em sua cabeça com a gente. — As pontas de seus dedos

acariciaram meu rosto. — Que futuro há para você desse jeito?

244
Dei um sorriso cansado e balancei a cabeça. — Vocês parecem não
entender isso. Eu não me importo. Não me importo com a vida. Eu quero
vocês. Quero meus amigos. Quero continuar vindo aqui, e ver você e Darren... e
Lil.
— Você não pode continuar a ter... momentos intensos com ela, Luc. —
Seus olhos dourados se estreitaram para mim, um raio de luz incidiu sobre eles, e
pareciam brilhar com a vida e tão prontamente me lembrei nela. — Você a

machuca e faz com que se sinta realmente culpada. — Ela encolheu os ombros,

enquanto eu fazia uma careta. — Ela se sente muito mal com os momentos que
ela já deixou acontecer.
Minha boca caiu. Eu nunca imaginei fazer minha namorada se sentir mal
por tocá-la. — Ela se sente mal... por quê?
Frustração atravessou o rosto de Sammy, como se falasse em uma língua
estrangeira para alguém que não conseguia entender. E de certa forma, eu não
entendia. O que havia de errado comigo tendo uma vida de fantasia ativa com meus
amigos? Eu não prejudicava ninguém. Ninguém sabia quantas vezes eu andava
com eles. O mundo real não continha nada estimulante para mim de qualquer
maneira. Tudo que eu queria estava bem aqui. Bem, além de Sawyer, eu acho. Ela
era a única coisa pela qual valia a pena sair da cama.
— Porque ela quer que você siga em frente. Ela vê como você se isola e
desliga, mal falando com ninguém, sem dizer o suficiente para o seu conselheiro.
— Ela ergueu as sobrancelhas e me olhou incisivamente. — Se não fosse por
Sawyer, eu acho que você estaria mudo.
Dei de ombros e olhei para o jogo de sombras e luz em todo o
campo. Brevemente me perguntei se eu deveria fazer chover de qualquer
maneira. Coincidiria com o meu humor caso Sammy e eu estivéssemos
encharcados. — Não tenho nada a dizer — eu disse, sem rodeios.
Ela soltou um grunhido irritado e olhei para ela. Sua testa estava enrugada
com determinada irritação. Era um olhar estranho de ver em Sammy, que
raramente ficava com raiva. — Você não é a mesma pessoa, Lucas.

245
Minha própria irritação perfurou. — É claro que não sou. Eu matei todos
os meus amigos, você tem alguma ideia do que isso fez comigo?
Seu rosto imediatamente suavizou, sua mão voltou para o meu rosto. —
Sim... eu tenho.
Enquanto o polegar acariciava o meu rosto, eu sussurrei, — Por favor,
posso ver Lil agora?
Ela suspirou e balançou a cabeça, lágrimas transbordando em seus
olhos. — Eu sinto muito, Luc... não esta noite.
Acordei depois disso, desejando poder voltar para o sonho e moldá-lo do
jeito que eu queria, torcer os meus amigos do jeito que eu queria. Mas então,
isso seria completamente falso. Se eu fizesse meus amigos fazerem e dizerem o que
eu queria, bem, então realmente eles teriam partido. Fechei os olhos, me
perguntando se eu estava completamente louco.
Era bem cedo quando senti que eu poderia me levantar e começar a me
preparar para a volta à escola na segunda-feira. Tomei banho, fiz a barba e vesti
uma camisa de mangas compridas e largas calças jeans. Eu arrumava meu cabelo
no espelho quando a foto escondida na borda me chamou a atenção. Puxei para
fora e olhei para a imagem de nós quatro felizes. As coisas eram tão
diferentes. Darren e Sammy vinham tentando convencer Lil e eu a viajar para Los
Angeles durante o verão. Nós provavelmente iríamos. Provavelmente nos
empilharíamos no carro de Darren e criaríamos uma lembrança que ficaria comigo
até meu leito de morte. Acho que esse verão deixou uma impressão duradoura em
mim, apenas não da maneira que eu esperava.
— Luc?
Eu me virei para olhar a minha porta aberta e vi minha mãe se inclinando
contra ela, me olhando. Eu dei um sorriso indiferente antes de olhar para a foto
mais uma vez e, em seguida, a coloquei no espelho novamente. Ainda olhando para
o meu cansado reflexo, a ouvi dizer que fizera um pouco de café. Balancei a cabeça
para seu reflexo, observando seus olhos cansados.
Andei até ela e pendurei meu braço em seu ombro, caminhamos juntos até
a cozinha para começar o nosso ritual matinal. Ela sorriu para mim e deu um
tapinha no meu peito. Quando chegamos, nós bebemos o nosso café em silêncio,

246
eu olhando pela janela, pensando no sonho com Sammy, enquanto mamãe
calmamente completava um jogo de palavras cruzadas.
A buzina me assustou de meus pensamentos, e olhei para a minha mãe. Ela
estudava o relógio e eu quase podia vê-la monitorando mentalmente os
minutos. Olhei para o relógio, mas nenhum de nós estávamos atrasados para os
nossos dias.
— Você está bem, mamãe? — Perguntei, quando eu estava para pegar
minha mochila.
Com o olhar impaciente de alguém esperando por alguma coisa, ela sorriu
e disse: — Claro, está tudo bem, querido. — Ela se levantou e beijou minha

bochecha. — Tenha um bom dia, Luc.


Balancei a cabeça e desejei o mesmo para ela. Com um último abraço antes
de colocar o meu casaco, eu desejei um bom dia a minha mãe e fui ao encontro de
Sawyer. Deveria ter um olhar estranho no meu rosto quando entrei no carro para
Sawyer atirar olhares preocupados para mim por todo o caminho até a escola.
Assim que chegamos ao estacionamento, ela finalmente virou para me encarar
enquanto desligava o carro. — Você está bem, Luc... quero dizer, realmente
bem? Você parece... silencioso.
Pisquei, me fazendo deixar ir à noite que eu tive, joguei a minha melhor
cara. — Eu estou bem. — Suas sobrancelhas se juntaram e pensei que talvez eu

não estivesse fazendo isso direito. Eu balancei minha cabeça. — Eu estou... —


comecei a dizer: Eu estou bem, mas olhando para o seu rosto preocupado, acabei
dizendo: — Apenas um sonho estranho, isso é tudo. — Dei de ombros. — Só estou
tentando processá-lo.
Seu rosto se suavizou. — Oh. Você quer falar sobre isso? — Ela colocou a
mão sobre a minha e esfregou seu polegar sobre o dorso.
Sorri para ela e o calor, mas balancei a cabeça. Ela não entenderia. — Não...

— olhei para baixo e para ela com o canto do meu olho, esperando que ela
comprasse minha próxima frase. — Eu não... lembro o suficiente, para falar sobre
isso.

247
Ela assentiu com a cabeça e apertou a minha mão, não pedindo mais
detalhes. — Bem, basta ter em mente que os sonhos são apenas sonhos. — Ela

sorriu calorosamente, enquanto, sem saber, quebrou meu coração. — Eles não
significam nada.
Senti o aperto no meu peito e olhei para longe dela quando abri a porta. Ela
abriu a dela também e me encontrou na frente do carro dela, estendendo sua mão
para mim. A peguei com a minha cabeça ainda abaixada, desejando que as
lágrimas ficassem em meus olhos.
Sonhos não significa nada? Mas... e se os sonhos eram tudo o que eu tinha?

Apesar do recesso de Ação de Graças ser curto, parecia reenergizar a


escola. Havia uma sensação de último dia escolar em todo o campus, dos
professores e estudantes. Todo mundo parecia pronto para deixar a escola e ir
relaxar e se divertir durante as férias de inverno. Quando andei pelo grupos de
pessoas com a minha cabeça abaixada, eu podia ouvi-los fazendo planos para a
próxima miniférias em algumas semanas.
Eu não tinha planos. Não tinha vontade de fazer planos. Tudo o que eu
realmente queria era continuar vendo Sawyer todos os dias e se eu não poderia
fazer isso na escola, então, pelo menos eu poderia esperar que ela viesse à minha
casa. Acho que de certa forma, esses eram meus planos.
Os alunos zumbiam com energia de férias e mais do que alguns perceberam
minha presença novamente em sua excitação. Não que eles achassem excitante
falar comigo, mas a energia reprimida deles precisava de alguma libertação, e me
atormentar era uma maneira de fazer isso.
Will manteve seus empurrões, empurrando e tropeçando, com sucesso me
esparramou no corredor em uma tarde de uma maneira tão indiferente, que parecia
que eu tropecei no nada e decidi me estender em forma de águia no chão para o
inferno disso. Sim, quando isso aconteceu os alunos que estavam no corredor
acharam hilário.
E, claro, Josh superou nossa intensa conversa e começou a tentar agitar as
coisas de novo. Ele foi incitado por algumas pessoas ao seu redor, instando-o a
tentar chutar a minha bunda. Parei inclusive de procurar por ele. Definitivamente,
eu não poderia impedi-lo de me atacar, mas eu podia controlar como eu respondia
248
a ele. Não doía menos, ouvi-lo me atacar verbalmente, mesmo sem reconhecer a
sua existência, mas isso me manteve em uma espécie de zona de dormência, onde
não choro, grito ou bato nele. Isso foi uma melhora no meu livro, então abracei a
dormência.
Brittany continuou me atormentando também, e, à sua maneira distorcida,
Sawyer também. Quando me encontrei com Sawyer após a aula de arte, Brittany
lançou comentários depreciativos em minha direção para suas amigas, então
sorriu para mim sugestivamente quando elas estavam ocupadas rindo. Eu não
tinha ideia do que ela esperava ganhar flertando e sacaneando comigo, mas eu
queria que ela parasse. Realmente queria que ela parasse de atormentar
Sawyer. Eu encontrei Sawyer em mais de uma ocasião com um olhar magoado no
rosto enquanto algumas meninas, lideradas por Brittany, se afastavam rindo. Eu
suspeitava que a minha observação insensível sobre não ser o namorado dela era
a culpada.
O boato era que eu amava o fato de estar fisicamente perto de Sawyer, mas
parecia estar emocionalmente distante dela – como Brittany cruelmente disse, eu
transava com ela, quando nem sequer me preocupava com ela. Como a maioria das
coisas sobre mim, isso não poderia estar mais longe da verdade, e também como a
maioria das coisas sobre mim, isso não poderia ter sido mais prontamente aceito
por parte dos alunos no Sheridan High.
Mais do que alguns olhavam para nós, balançando a cabeça e sussurrando,
enquanto caminhávamos pelo corredor. Agora, eu não só era um bêbado, eu era
desprezível também. Perfeito. Apenas o que eu sempre quis ser quando crescesse.
Mantive minha cabeça baixa, ficando fora das conversas, e ignorei a
agitação e zumbido em torno de mim. Além de Sawyer, eu ignorei quase tudo, e
estava ficando excepcionalmente bom nisso. Também não me abri mais em minhas
sessões de aconselhamento. Eu estava na metade do meu tratamento e percebi que
precisava apenas aparecer nas próximas semanas e as coisas voltariam ao
normal. Bem, ao meu normal, de qualquer maneira.
Sra. Ryans pareceu notar que eu me fechava e mudou suas táticas. Ela
falou mais sobre o incidente que me levou ali, tentando me fazer falar sobre o
envolvimento de Josh, o que eu não queria, e tentando me fazer dizer a ela o que
eu senti durante o incidente. Isso me surpreendeu no início. Quer dizer, eu estava

249
drogado, eu realmente não sentia nada. Mas então percebi que não era verdade, a
maioria dos meus sentimentos, ao lado da infeliz cantada com a Sra. Reynolds,
foram acerca de Sawyer.
Cometi o erro de mencionar a Sra. Ryans, ou Beth, como ela ainda
continuava tentando me convencer a chamá-la, e abri um novo portal na minha
cabeça para ela cavar através da minha relação com Sawyer. Dei o padrão, nós
somos apenas amigos, mas ela não pareceu comprá-lo. E provavelmente não
ajudou o fato dela propositadamente manter um ouvido na fofoca em torno da
escola e, sem dúvida, ouviu falar sobre a maldade que girava em torno de nós.
Eu não sabia o que dizer sobre isso. Quero dizer, nós éramos apenas amigos
e os rumores estavam longe disso. Mas uma parte irritante de mim lembrou do
beijo em Sawyer, lembrou-me de seus lábios nos meus, e ponderei. Porém, isso não
poderia ser mais do que amizade, não com o meu envolvimento contínuo com Lil
(que ainda me evitava), mas não mencionei isso a Sra. Ryans. Ela provavelmente
me trancaria em um quarto acolchoado ou algo assim, e Sawyer e eu éramos
suficientemente complicados sem colocar a minha marca especial de louco nisso.
Sawyer começou a aparecer na minha casa todos os dias depois da
escola. Era o ponto alto do meu dia. Não era como se não nos víssemos o tempo
todo, mas havia algo sobre estar sozinho em minha casa, longe do escrutínio do
corpo discente. Isso era relaxante e abaixávamos nossas guardas um pouco. Nós
conversamos, rimos e assistimos a filmes e, por vezes, se seus pais a deixassem
ficar até mais tarde, ela ainda me deixava fazer a minha especialidade para o jantar,
Hot Pocket. Não falamos sobre qualquer coisa excessivamente profunda, nada
sobre seu segredo, nada sobre o meu, mas conversamos sobre os rumores na escola
e os tormentos do Will, Josh e Brittany. Já estávamos ligados, mas passando por
esse caos juntos... eu não sei, nos unimos ainda mais. Eu me senti mais seguro
com ela do que com qualquer um, além da minha mãe, é claro.
E estávamos confortáveis juntos. Nos esticamos no sofá, minhas pernas
longas ocupando todas as almofadas, a dela casualmente sobre a minha quando
se aninhou debaixo de um cobertor para assistir a um filme que alugara – um que
eu aprovara primeiro. Estávamos deitados desse jeito, meus braços em volta dela
enquanto ela se estendia na minha frente, à beira do sofá, minha cabeça contra o
braço da poltrona, assistindo um dos Exterminadores, quando meus olhos

250
começaram a se fechar. Totalmente satisfeito e feliz com ela em meu aperto, deixei-
me relaxar no sono...
O som da água caindo encheu minha cabeça, levantando a minha
consciência. Cada gota parecia um gongo batendo no meu cérebro, porque era
muito alto, ou talvez porque tudo estava tão silencioso. Eu não tinha certeza de
onde estava por um momento e não conseguia lembrar o que aconteceu. Tudo o
que eu estava ciente era do som da chuva pingando em vinil e metal, e depois,
lentamente, me tornei consciente do som de água escorrendo pelo vidro. Eu me
mexi e abri os olhos. Imediatamente, eu inalei uma respiração afiada e minha visão
nublou, enquanto dor vibrava através do meu crânio. Trouxe uma mão para o lado
da minha cabeça e senti o sangue lá. Então me lembrei de onde eu estava e o que
aconteceu.
Eu estava nos restos amassados do carro de Darren. Acabamos de passar
por cima da barragem e tive um violento passeio descendo a colina íngreme,
terminando com um estalo doloroso contra a janela lateral. Lembrei daquele golpe
sólido, senti a dor da minha cabeça colidindo contra o vidro; meu pescoço lembrou
disso também. Mas a minha janela permaneceu intacta e, além da mancha de
sangue no lado do meu crânio e da dor gritando em todo o meu corpo sacudido, eu
estava vivo. Milagrosamente, eu estava vivo.
Meus olhos reorientados para a água escorrendo pelo para-brisa, como a
correnteza de um rio. A chuva repentina ainda fluía forte em torno de nós.
Espera... nós... meu cérebro nebuloso lutou para se lembrar de que eu não era o
único no carro. Lembrei de Lillian batendo a cabeça com força contra sua janela, e
me perguntei se isso a machucou tanto quanto isso me
machucou. Cuidadosamente, estendi a minha mão para ela. Na escuridão das
fracas luzes da colisão, eu só podia ver o contorno de seu corpo caído contra a
porta do lado do passageiro.
— Lil?
Minha mão roçou seu ombro, mas ela não se moveu com o contato. — Lil?

— Eu cuidadosamente desapertei o cinto de segurança e, apesar de todos os


músculos do meu peito e quadris protestarem, cheguei tão perto dela quanto pude
nos nossos assentos. — Baby, fale comigo.

251
Enquanto a minha visão melhorava, eu olhei para o banco traseiro vazio, a
porta aberta, onde eu podia distinguir apenas a vegetação rasteira e as árvores
sombrias, antes que desaparecessem na espessa escuridão da noite. Lembrei de
Darren e Sammy, seus corpos soltos no banco rompendo aquela porta, a força do
impacto quebrando o insignificante metal do trinco. Onde eles estavam do lado de
fora? Estavam bem? Deus, por favor, deixe-os bem. Minha cabeça latejava e meu
coração disparou quando me virei para Lillian novamente.
— Lil, você viu onde Darren e Sammy foram? Lil?
Quando ela ainda não me respondeu, eu coloquei a minha mão em seu
rosto, seu rosto frio. Preocupado, finalmente percebi o vidro ainda ao redor de seu
corpo, com a cabeça apoiada contra a pedra saliente através dele, a mancha úmida
do sangue dela sobre a pedra, virando negra na escuridão. O vento entrava pela
janela quebrada, trazendo chuva com ele, umedecendo a blusa e short de Lil e
lavando o sangue pelos seus braços. Tanto sangue. Flashes de sua cabeça batendo
naquela pedra me assaltou. Ela bateu com tanta força. Sua frágil, frágil cabeça
bateu tão forte. Havia muito sangue...
Meu coração na minha garganta, falar pouco ainda era possível, eu virei o
rosto suavemente para olhar em seus olhos. — Lillian, baby? Por favor... me

responda... — sua cabeça não ofereceu nenhuma resistência e virou facilmente


com meu toque. Meus olhos arregalados travados nela, mas já era tarde
demais. Ninguém estava lá para olhar para mim...
Acordei com um sobressalto, gritando.
Eu estava em um carro frio, mal iluminado, em uma floresta escura, o som
da chuva ao meu redor, mas agora eu estava em uma sala quente, seca e bem
iluminada, deitado em um sofá macio, com uma TV cintilando em segundo plano,
piscando o final de um filme que eu não conseguia me lembrar. Eu não registrei
que era um sonho se desvanecendo, e desesperadamente confuso, eu não tinha
ideia de onde estava e o que era real. Ainda soluçando, me agarrei aos últimos
restos de meu pesadelo. — Não, não, não. Lil, fale comigo! Por favor... por favor,
não, fique...
Mãos, braços e cabelos voavam em volta de mim, levando-me para um
abraço apertado. Sons suaves entraram na minha orelha quando rompi em soluços

252
com a lembrança. Os olhos de Lil – bonitos, carinhosos, olhos-azuis pálidos
vazios... vagos... mortos. Eu soluçava ainda mais forte, falta de ar. — A chuva...
eu não consegui parar... tanta água... eu não conseguia parar... a pedra... oh Deus,
com a cabeça... muito sangue... há tanto sangue... eu não sei o que fazer...
— Está tudo bem, Lucas... deixe ir. Foi um sonho... você está seguro.
Foi um sonho. Eu estava seguro. Reconheci então que eu estava seguro no
sofá, embrulhado nos braços de Sawyer e não voltei lá novamente. Mas ela estava
errada, não era apenas um sonho, era uma memória e ela não estava
segura. Nenhum deles estavam. Minhas mãos apertaram sua cintura enquanto eu
enterrava minha cabeça em seu ombro, e continuei a me afundar, chorando
torturado.
— Deus, Sawyer, por que isso nunca para? Eu só quero que isso pare —
eu estalei entre as minhas lágrimas.
Senti seus dedos enxugando algumas lágrimas do meu rosto e quando meu
choro cessou, eu retrocedi para procurar seus olhos, para conforto ou talvez
esperança. Ela segurou meu rosto quando trancamos os olhares. Seus olhos
estavam úmidos e preocupados, tão compreensivos como os olhos poderiam
conseguir. Estendi a mão para pegar sua bochecha e seguramos no rosto um do
outro, quando mais algumas lágrimas caíram silenciosamente de mim. Engolindo
em seco, eu descansei minha cabeça contra a dela. — Eu só quero que isso pare.

— Eu me inclinei para que nossos narizes estivessem descansando lado a


lado; meu coração batendo em meus ouvidos. — Por favor... só faça parar.
A respiração de Sawyer era rápida no meu rosto através de seus lábios
entreabertos e me vi combinando seu ritmo. Não pensei em nada, apenas em
colocar de lado essa dor, e encontrei sua boca. Ela engasgou quando nossos lábios
se encontraram: macio, úmido e levemente salgado de minhas lágrimas. — Por

favor... faça parar — eu murmurei em torno de nossos lábios. Sua respiração ainda
estava rápida contra a minha pele e sua mão estendeu para tocar no meu
cabelo. Ela deixou escapar um ruído suave, e a dor persistente de meu pesadelo
desapareceu quando sua reação a mim agitou algo lá no fundo, algo que eu pensava
que estava tão enterrado que nunca ressurgiria na vida desperta. O calor do desejo

253
inundou através de mim e minha mão deslizou ao redor de seu pescoço, puxando-
a para mim.
Nossos lábios se separaram, e minha língua levemente deslizou para dentro
dela, roçando contra a dela. Ela gemeu e uma dor passou diretamente através de
mim, bloqueando todos os restos de minha memória viciosa. Ela era doce, como a
bala de melancia Jolly Rancher17 que ela chupou antes. Era indescritivelmente
bom e eu queria provar mais. Inclinei a minha boca de forma diferente e aprofundei
a nossa união, minhas mãos torcendo em seus cabelos escuros. Ela gemeu
baixinho novamente e a ligeira dor deslocou para uma necessidade quase
dolorosa. Eu precisava dela. Eu sempre precisava emocionalmente dela... mas isso,
isso era totalmente diferente.
Mantendo sua boca perto de mim, eu a mudei de nossa posição lado a lado,
de modo que suas costas estavam nas almofadas. Nunca quebrando o movimento
dos lábios, inclinei-me sobre ela, deslocando mais do meu corpo em cima dela. Seus
dedos caíram de meu cabelo para correr pelas minhas costas e meu corpo
estremeceu em resposta. Ela fez um barulho em sua garganta e envolveu as pernas
ao redor das minhas, enquanto eu cuidadosamente ajustava todo o meu corpo por
cima do dela; o cobertor que estava estendido sobre nós caiu no chão.
A necessidade crescendo através de mim invadiu meu bom senso, e antes
que eu pudesse analisar o que fazíamos, eu pressionava a parte mais sensível do
meu corpo contra a parte mais sensível dela. Eu estava duro, eu estava pronto, e
eu ansiava tanto que minhas pernas tremiam. Ela engasgou quando me sentiu e
apertou seus dedos em minhas costas quando estávamos conectados. Eu gemi com
a sensação dela e movi os lábios para seu pescoço.
Enquanto colocava beijos profundos do pescoço até a sua orelha,
começamos a nos mover juntos intimamente. Foi a coisa mais incrível que eu senti
(quando acordado) em muito tempo, e não demorou muito para que os nossos
movimentos se tornassem mais urgentes, juntamente com a nossa respiração. Era
quase como se o meu desespero anterior houvesse desintegrado a barragem entre
nós, e finalmente deixávamos que as semanas de atração reprimida extravasassem

17 Jolly Rancher é uma marca de doces doce, um pouco picante ou azedo, chicletes de frutas, balas,
pirulitos, sobremesas de gelatina e refrigerantes. O produto foi produzido originalmente pelo Jolly
Rancher Company, fundada em 1949 por Bill Harmsen de Golden, Colorado. O nome tinha a
intenção de sugerir uma empresa hospitaleira.

254
para nossos lábios e corpos. Nosso desejo de nos unir era quase frenético, com
nossos dedos puxando levemente, e provocativamente, nossas roupas, enquanto
nossos quadris se moviam em perfeito ritmo simulado.
Ela chupou meu pescoço, seus dentes levemente tocando minha pele,
enquanto minhas mãos deslizaram sob sua camisa para sentir a suavidade de seu
estômago, a renda do sutiã. Ela passou as mãos debaixo da camisa até minhas
costas. A sensação de suas unhas ao longo dos meus músculos nus enviou
eletricidade diretamente para baixo do meu corpo, me fazendo latejar com a
necessidade de liberar.
Eu assobiei em uma respiração afiada e empurrei com mais força contra
ela, desejando que fosse mais. Nossas bocas se encontraram novamente, e cada
pausa de nossos lábios trouxe uma respiração irregular ou um gemido suave. Eu
me ouvi murmurar mais e por favor. Ouvi-a chupar uma respiração erótica e
proferir o meu nome. Eu nunca ouvi tanta paixão e desejo vazando entre as sílabas
da palavra. Isso me desmoronou.
Impulsionado por puro desespero e necessidade, minhas mãos deslizaram
por seu corpo e puxei a calça jeans, querendo, querendo que a barreira entre nós
desaparecesse. — Por favor... eu preciso... mais. Mais perto... por favor, mais perto.

— Minhas palavras eram sem fôlego, indo até as calças entre nossos beijos
ardentes. Cada centímetro de mim parecia eletrificado, sensível, e cada esfregar,
gemido, e instante de carne em carne me queimou... mas eu ainda precisava de
mais.
Ela sussurrou o meu nome novamente, seguido por seus próprios pedidos
de mais, e então seus dedos se moviam entre nós. Acalmando meus quadris, ela
abriu sua calça jeans. Meu coração batendo forte, nossos lábios nunca parando, a
senti empurrá-las para baixo de seus quadris, e então seus dedos estenderam para
abrir o meu. — Oh Deus, por favor — eu murmurei, enquanto a ajudava a me
colocar na mesma posição que ela.
Livres da contenção de uma barreira de roupas, eu me coloquei novamente
em suas coxas. Suas mãos deslizaram e agarraram meus quadris, guiando-me
onde ela mais precisava de mim. Com um grito áspero, seu corpo todo se arqueou
contra mim quando nos pressionamos um contra o outro, desimpedido pelo tecido

255
grosso de nossas calças. Mordi o lábio e gemi profundamente, sentindo o calor de
seu corpo quando os materiais finos que nos separam deslizaram juntos. Era
felicidade. A felicidade que eu não sabia que eu ainda podia sentir ao estar
consciente.
Gritos vagos, suspiros e apelos murmurados pedindo mais encheram meus
ouvidos, alguns dela, alguns meus. Foi tão fácil estar com ela assim, que eu não
conseguia me lembrar por que nunca fiz isso antes. Não podia nem pensar em
todas as linhas de amizade que atravessávamos. Eu não conseguia pensar em
nada, na verdade. Minha mente desligara um tempo atrás e só a sensação, o desejo
e o instinto me dirigiam.
Suas próprias necessidades fora de controle pareciam dirigi-la também. Em
um rápido movimento e arquear de suas costas, suas mãos foram para seus
quadris e empurrou ainda mais seus jeans. Minha respiração engatou com a
antecipação de onde isso pode ir, de onde eu queria ir, e então eu rapidamente a
ajudei a deslizar o material volumoso por todo o caminho de suas pernas. Com a
calça jeans já não nos restringindo, me acomodei com mais firmeza no meio de
suas coxas e pressionei diretamente contra ela.
— Oh, Sawyer... Deus, sim — eu murmurei, quando finalmente fui capaz
de pressionar completamente tudo de mim contra ela. Eu definitivamente poderia
sentir sua prontidão para mim, para isso. Meu coração disparou e minha
respiração mal conseguia manter o ritmo de nossos quadris encontrando um ritmo
que era natural e atraente, e senti muito mais conectado do que fisicamente
estávamos. Com um grito, sua cabeça caiu para trás sobre as almofadas e as mãos
correram pelas minhas costas. Ela começou a ofegar em um ritmo inebriante e
suas mãos subiram ao meu cabelo emaranhado. Eu vi seu rosto com atenção,
sabendo que ela estava perto de vir e, oh Deus, como eu queria fazer isso com
ela. Minha respiração veio em um arfar mais rápido enquanto eu empurrava mais
e mais rápido contra ela.
Ela murmurou meu nome mais e mais, seguido de um leve não pare. Ela
fechou os olhos quando seu corpo se enrijeceu e êxtase tomou conta dela. Eu
queria mais. Eu queria parar de moer contra ela. Eu queria puxar sua calcinha
para baixo e deslizar dentro dela. Eu nunca fui tão longe com ninguém antes, mas
de repente eu queria isso mais do que queria o ar pelo qual ofegava. Eu imaginei

256
como isso se sentiria – seu corpo envolto em torno de mim: quente, úmido,
apertado...
Ela gritou e apertou minhas costas fortemente quando seu clímax se
intensificou. Um momento de desespero tomou conta de mim enquanto
incessantemente me movia contra ela. Agarrando seus quadris e puxando-a para
mim, eu inconscientemente comecei a puxar sua calcinha para baixo. Eu queria
tanto estar dentro dela. Eu queria tanto vir. E então, de repente, e para minha
surpresa... eu fiz.
Meus dedos se enroscaram em torno das bordas de sua calcinha, torcendo-
a, e deixei cair a minha cabeça em seu ombro. Ela me segurou firme contra ela, e
um longo grito me escapou, quando a euforia atravessou meu corpo. Ela passou
as mãos pelo meu cabelo quando um coro de Oh Deus passou pela minha cabeça
e, certamente, seguiu para fora da minha boca. Eu ofegava no ouvido dela, lutando
para controlar a minha respiração, enquanto ela passava a mão carinhosamente
pelas minhas costas e sussurrava meu nome.
Ouvir ela amorosamente dizer o meu nome estalou a realidade de volta para
mim. Oh, foda-se... não. O que acabei de deixar acontecer? O que acabei de
fazer? Ugh, e meio que em cima dela. Acabei de estragar tudo?
Congelado de terror, fiquei em cima dela, com a cabeça colada ao ombro,
até que nossas respirações voltaram ao normal. Sentindo um medo genuíno, eu
levantei a cabeça para olhar para ela. Olhamos um para o outro congelados, com
rostos chocados. Nós não fizemos sexo, tecnicamente, mas parecia que sim. Nós
estivemos tão conectados e necessitados, quase desesperados com o quanto
queríamos um ao outro. E eu queria muito mais do que apenas vir em minha
bermuda. Eu a queria de uma forma que eu nunca quis ninguém, além de Lillian.
O pensamento de Lil fez um flash de culpa gelada atravessar por mim. Isso
mataria Lil na próxima vez que eu a visse... e ela saberia; eu não podia esconder
nada de meus amigos. Eles sabiam o que eu sabia... e eles sabem sobre
isso. Imaginei que Lillian estaria chocada.
Por fim, sentindo-me um bruto horrível e um pouco culpado, eu levantei de
cima dela. — Eu deveria... eu vou... eu estarei de volta em um minuto. — Ela
apenas acenou com a cabeça quando me levantei e ajustei os meus jeans. Evitando
olhar para ela de novo, eu fui para o meu quarto. Troquei de cueca e me

257
limpei; felizmente a maior parte da confusão parecia ter ficado comigo. Vestindo
um moletom que estava no chão do meu quarto, eu passei a mão pelo meu cabelo
e suspirei.
Grande. Se eu não fosse enganoso antes... definitivamente era agora. Por
que me deixei ficar tão empolgado? Por que até mesmo comecei isso, quando eu
suspeitava que ela tinha sentimentos verdadeiros por mim? Pensei no meu
sonho. Pensei no meu desespero e na minha enorme necessidade de fazer com que
ele acabasse. Eu suspirei quando a resposta me atingiu – eu precisava da
liberação. Eu fui egoísta, e tomei algo dela que eu tinha certeza que ela me deixaria
ter. Fechei os olhos enquanto colocava minha mão na maçaneta da porta,
momentaneamente agradecendo meu súbito clímax por me impedir de ir até o fim
com ela. Não tinha certeza se ela deixaria isso acontecer ou não... mas eu tinha a
sensação de que ela deixaria. Porque ela gostava de mim, porque ela se importava
comigo... por algum motivo estranho. Eu esperava que ela não estivesse magoada
com o que aconteceu, mas não via como ela não podia estar. Deus, agora eu
realmente era desprezível.
Suspirando, abri minha porta e me preparei para enfrentá-la. Balançando
a cabeça, eu me perguntava como as coisas podem mudar tão rápido. Em uma
noite, eu consegui ferir as duas mulheres mais importantes para mim. Eu traí Lil
e enganei Sawyer ainda mais. Eu gostaria de poder refazer todo o dia. Inferno, se
eu pudesse refazer, então eu gostaria de poder voltar no tempo até aquela noite.
Voltei para a sala, onde ela estava sentada calmamente no sofá,
perfeitamente vestida e brincando com o anel em seu dedo polegar. Suspirei
baixinho ao ver o retorno do seu hábito nervoso e ela olhou para mim quando ouviu
o barulho. Fui me sentar ao lado dela, mantendo a maior distância entre nós que
eu poderia, sem ofendê-la. — Sawyer... — oh Deus, eu não quero ter que dizer

isso... — Eu estou... eu realmente sinto muito... sobre... isso. — Ela corou e


acenou com a cabeça, estudando o chão. Engoli em seco e senti minhas bochechas
aquecerem. Eu odiava isso. — Você quer falar sobre isso?
Eu realmente esperava que ela dissesse não, e nós poderíamos fingir que
nada disso aconteceu. Ela olhou para mim com olhos examinadores e me perguntei
se os meus pensamentos estavam todos em meu rosto. Eles devem estar, porque

258
depois de um momento de contemplação ela finalmente balançou a cabeça. — Eu
deveria... está ficando tarde, tenho que ir.
Corri a mão pelo meu cabelo e acenei com a cabeça quando ela se
levantou. Levantei-me ao lado dela e debati sobre agarrar a sua mão, ou colocar a
minha em seu ombro, ou até mesmo abraçá-la, mas tudo parecia estranho e
contraditório, por isso não fiz nada. — Tudo bem... hum... eu te vejo amanhã de

manhã, então? — Eu não quis que isso saísse como uma pergunta, mas saiu.
Ela assentiu, claramente imersa em pensamentos, e fez seu caminho até a
porta, onde pegou sua bolsa e casaco. Eu silenciosamente a observei colocá-los e
estender a mão para a porta. Meu coração se apertou com o pensamento da tensão
que eu coloquei entre nós; éramos tão perfeitos. Ela se virou para olhar para mim
com a mão ainda na maçaneta. — Boa noite, Lucas.

— Boa noite, Sawyer — eu sussurrei. E eu realmente sinto muito.

259
Capítulo 13
Estamos, ok? Eu estou, ok?

Acordei na manhã seguinte com um nó no estômago. Não, não é um nó. Um


nó parecia muito pequeno e simples. O que estava enrolado em meu estômago era
gigantesco – um super nó, exposto a alguns raios gama de outro mundo e causando
estragos no meu sistema digestivo com seu super tamanho e força. Um pouco
dramático, sim, mas isso é o que senti.
Felizmente, eu não tive nenhum sonho que valesse a pena me lembrar na
noite anterior. Felizmente, Lil e todos os meus amigos ficaram longe. Talvez
sentiram que eu precisava de espaço. Ou talvez foi apenas um acaso; sonhos são
geralmente aleatórios de qualquer maneira, independentemente do quanto eu
gostaria de pensar que eu possa controlá-los. Outro motivo para não falar sobre
eles com as pessoas. Isso torna o argumento de, Como você pode esperar viver em
um mundo além do seu alcance, sempre desejando e querendo que ele venha para
você? Um ponto muito válido.

260
Eu não precisava de outras pessoas me chateando por um ponto sensível
que eu tive com os meus sonhos, meu dilema com eles, se você me permite. Me
incomodava bastante não poder conversar sempre que eu queria, não poder ver
sempre que eu queria. Que às vezes eu tinha sonhos que não desejo a ninguém...
como o meu pesadelo na noite anterior.
Eu tremi enquanto estava deitado na minha cama, olhando para o meu teto,
lembrando-me dos fragmentos desse sonho. Ao contrário da maioria dos sonhos
com os meus amigos, eu não sabia que eu estava sonhando. Claro, esse sonho
realmente não era um sonho. Era uma lembrança. Eu estava revivendo
acontecimentos e pensamentos que realmente aconteceram, até virar a cabeça de
Lillian para fazê-la olhar para mim.
Fechei os olhos e lutei contra a bile subindo de repente na minha
garganta. Aquele foi o momento mais terrível da minha vida e não queria voltar a
ele. Mesmo assim, os meus gritos e clamores torturados no carro ecoaram pela
minha cabeça. Não sei quanto tempo eu gritei e a agitei, tendo o sangue dela em
cima de mim, mas, eventualmente, o choque tomou conta do meu corpo e eu sentei
no meu assento, sacudindo violentamente, vendo a chuva amenizar sobre o para-
brisa... esperando.
Olhando para trás, naquele momento, eu acho que esperava a morte me
levar também, não que alguém me salvasse. Acho que eu estava tremendo nesse
assento, orando que alguma lesão interna se tornasse conhecida. Esperando que
uma parte de mim sangrasse para que eu pudesse fechar os olhos e me juntar a
minha namorada, onde ela estava. E assim, sem saber que o Xerife Whitney estava
vindo, que ele estava perto de ser meu salvador, eu esperei... morrer.
Abri os olhos com essa memória indesejada queimando minhas
íris. Combinando com o super nó no meu estômago e a bile que eu lutava para
afastar e, bem, eu perdi todo o controle. Corri para o banheiro e ruidosamente
vomitei no vaso sanitário.
Perfeito... exatamente como eu gostava de começar o meu dia.
Ofegante, e exortando o meu corpo a se acalmar, eu descansei minha
cabeça no meu braço sobre o assento frio. Minha outra mão apertou meu estômago,
massageando, tentando aliviar a dor do desconforto. Fechei os olhos quando minha
respiração e estômago melhoraram. Sentindo um leve toque no meu ombro, eu

261
olhei atrás de mim. Minha mãe se inclinou sobre mim, preocupação evidente em
suas feições abatida.
— Você está bem? Você está doente?
Sentei em meus calcanhares, balançando a cabeça. — Não, eu...
Eu não sabia o que dizer. Não quero falar sobre o meu sonho. Nunca falei
sobre isso com ninguém. Tudo que eu sempre disse às pessoas, até a minha mãe,
foi que me lembrava de deixar a festa e a próxima coisa que eu sabia, eu acordava
no hospital. Deus, como eu queria que fosse verdade. Mas não era, e eu não podia
contar a ela sobre o sonho da minha lembrança de encontrar Lil morta... que levaria
a muitas outras conversas que eu não queria ter.
Dando em um sorriso fraco, eu balancei a cabeça novamente. — Eu estou
bem... Hot Pocket ruim.
Seu rosto se contorceu em compaixão dos pais, e, provavelmente, um pouco
de culpa por sempre me alimentar com aquilo. Sua mão veio até minha bochecha,
segurando. — Eu sinto muito, Luc. Eu realmente não deveria comprar essas coisas
para você.
Suspirei por meu disfarce estúpido fazer com que ela se sinta mal sobre si
mesma. Eu parecia ser realmente bom em fazer ela se sentir mal sobre si mesma.
Eu odiava isso. Levantei, me sentindo um pouco vacilante, e coloquei a mão no
ombro dela, puxando-a para um abraço rápido. — Eu estou bem... realmente. Foi

um momento estranho, mas ele foi embora agora. — Eu esperava que ele tivesse
ido por um tempo.
Ela devolveu meu abraço, seu rosto nunca relaxando de preocupação. —
Ah... tudo bem. Você quer ficar em casa? Devo ligar para a escola?
Considerei seriamente isso. Mas... tão apavorado como eu estava por ver
Sawyer novamente, evitá-la por um dia, provavelmente, só faria isso... a coisa...
entre nós, pior. Não, eu precisava tirar este constrangimento de nós para que
pudéssemos ter a nossa incrível amizade de volta. Eu dependia muito dessa
amizade.
Balançando a cabeça, eu reiterei: — Não, eu realmente estou bem.
Ela finalmente aquiesceu, beijando minha bochecha antes de sair para que
eu lavasse meus problemas para longe. Ou tentasse de qualquer maneira. A
262
sensação calmante de água quente e bolhas de sabão deslizando sobre a pele
apenas fez muito para aliviar a alma. Mas estar limpo, e eventualmente, vestido,
aliviou o buraco no meu estômago. Agora era apenas um pacote típico de nervos e
não uma versão melhorada de radiação que eu tinha ao acordar.
Tomando café com a mamãe na cozinha mais tarde, eu esperei Sawyer
aparecer. E esperei... e esperei. Comecei a me preocupar que ela me evitaria. Ela
disse apenas que me veria esta manhã... ela não disse que viria me buscar. Eu
estava tão acostumado a ser pego que eu meio que esperava isso agora. Muito
egoísta realmente.
Mamãe olhou para o relógio e franziu a testa. Mais alguns minutos e eu
teria que pegar o ônibus ou me atrasaria. Deus, eu realmente não queria subir no
maldito ônibus novamente. Me mexi na cadeira e virei a xícara de café em minhas
mãos, tentando parecer despreocupado. Certamente ela não me abandonaria?
— Hum... Luc? — Mamãe começou, olhando para o relógio novamente.
— Ela vai chegar aqui — eu murmurei, mais para mim do que para a minha
mãe.
— Bem, ela nunca atrasa e você se atrasará se ela não chegar aqui logo...
Parei de remexer e olhei para minha mãe, encontrando seu olhar. — Ela

vai chegar aqui. — Minha voz soou confiante, mas eu não estava. Quão mal eu nos
danificara?
Mamãe bagunçou meu cabelo, pegou minha xícara de café e foi até a pia. —

Tudo bem — ela disse enquanto lavava nossos copos. Ela olhou para o relógio de

novo e balançou a cabeça. — Desculpe, Luc, mas eu tenho um... encontro antes

do trabalho. — Ela encolheu os ombros e parecia realmente culpada. — Não posso


te dar uma carona hoje, querido... se ela não vier.
Levantei e atirei em um sorriso despreocupado. Caminhando até ela, eu
envolvi meus braços em torno dela e brilhantemente proclamei. — Tenha um bom
dia, mamãe... e não se preocupe, ela estará aqui.
Ela suspirou e segurou meu rosto enquanto seus olhos me examinavam.
Esperei pacientemente que ela terminasse e então ela pegou sua bolsa, beijou meu

263
rosto e me deixou sozinho na cozinha... com aquele nó gigantesco fazendo uma
reaparição.
Andei por alguns minutos e, então, decidi que o espaço fechado só me fazia
me sentir pior. O ônibus passou não muito tempo depois que minha mãe saiu e as
minhas opções para chegar à escola em tempo foram diminuindo. Acho que eu
poderia correr até lá... se eu realmente precisasse. Ou talvez eu pulasse o primeiro
período.
Saí e respirei o nítido ar frio de dezembro. Choveu durante a noite e tudo
estava escorregadio e úmido. Poças profundas preenchiam um local em nosso
gramado e à beira do caminho, fluindo na calçada como um rio estreito. Folhas
pingavam seu excesso de água e tudo ao redor estava denso e úmido. Eu não estava
ansioso para estar aqui.
Quando já havia aceitado mentalmente que ela realmente não viria, um
familiar Camaro parou em frente à minha casa. Uma Sawyer atrasada acenou para
mim através da janela, pedindo-me para obter a minha bunda no carro já. Eu saltei
de onde eu estivera estupidamente olhando para ela e rapidamente caminhei até
seu carro, entrei e fechei a porta atrás de mim. Ela saiu antes que a minha porta
fosse completamente fechada.
— Desculpe o atraso — ela murmurou quando acelerou pelas ruas
molhadas, o som da chuva espirrando sob o seu carro quase tão alto quanto o
barulho do motor do carro.
— Está tudo bem... estou feliz que você veio. — Eu me encolhi com a minha
escolha de palavras e olhei para fora da janela. A cidade acelerou e eu segurava a
maçaneta da porta, em parte nervoso por dirigir tão rápido na chuva, e outra parte
devido a tensão que eu sentia no carro.
— Por que eu não viria? — Ela atirou de volta, um nivelamento em seu tom
de voz que eu não gostei de ouvir.
Ela ignorou a insinuação do que eu disse, então eu ignorei também e olhei
para ela. Ela focou firme no caminho, muito resistente para isso não ser
intencional. Suas mãos estavam brancas enquanto agarrava o volante e respirava
superficialmente entretanto, seus lábios entreabertos. Suspirei com seu óbvio
desconforto. Eu não queria a gente desse jeito.

264
Quando eu estava prestes a falar, para pedir desculpas pelo meu
comportamento na noite passada, chegamos à escola e ela estacionou, desligou o
carro e abriu a porta, tudo em praticamente um movimento. Eu tive problemas
para me ajustar à sua rapidez, e me esforçava para pegar minha mochila do chão
e abrir a minha própria porta. Quando tive sucesso com ambos, ela estava a dez
passos na minha frente, andando rápido em direção ao prédio principal.
— Sawyer, espere — eu chamei enquanto corria para alcançá-la. O
estacionamento estava cheio de carros, e ninguém estava por perto. Tínhamos
apenas alguns segundos antes do sino tocar; mal temos tempo para chegar lá, e
definitivamente não tinha tempo para a conversa que eu senti que precisávamos
ter. De repente, tive a sensação de que isso era exatamente o que ela planejara esta
manhã. Chegar atrasada não foi um acidente.
Ela não disse nada e não diminuiu seu ritmo, mas as minhas pernas longas
a alcançaram com bastante facilidade e fizemos os passos finais até as portas em
um silêncio desconfortável. Vi a maneira como seu cabelo fluía atrás dela, sem
restrições de qualquer grampo ou elástico. Lembrei-me daquele comprimento
sedoso envolto em meus dedos ontem, lembrei de sua respiração no meu ouvido...
lembrei dos ruídos que ela fez e como ela apertou minhas costas quando chegou
ao clímax debaixo de mim. A forma como ela me abraçou forte quando eu também
a abracei.
Ela limpou a garganta e fez um gesto para a porta e eu acordei de meus
pensamentos, meu rosto corado quando percebi que já estávamos na aula de
Inglês. Na minha distração, eu perdi toda a viagem até aqui. Abri a porta, deixando
minhas quentes memórias desaparecerem; realmente eu não precisava pensar nela
dessa maneira.
Reynolds sorriu para a nossa entrada conjunta, e a campainha tocou bem
quando nos sentamos em nossos lugares. Ignorando as pessoas à minha volta, e
Reynolds perguntando como todos foram em sua última lição, um artigo de cinco
páginas onde deveríamos escrever sobre a pessoa que mais nos inspirou (eu acho
que ela tentava nos preparar para a nossa faculdade), eu olhei para Sawyer.
Diferentemente da maioria dos dias, Sawyer não olhou para mim. Ela
pendurou a minha jaqueta esportiva no encosto da cadeira e mastigava a ponta de
um lápis, atentamente ouvindo a professora. Nada em seu corpo ou na forma

265
casual que ela correu o polegar sobre a borda do seu caderno mostrou quaisquer
sinais de agitação, mas de vez em quando, apenas seus olhos passavam
rapidamente em minha direção, e eu sabia. Eu sabia que ela se forçava a não
devolver meu olhar sem piscar. Ela forçava a si mesma a me ignorar.
Quando nada mudou no meio da classe, eu não aguentei mais. Eu precisava
falar com ela; precisava saber se estava bem. Era, infelizmente, um período de
leitura silenciosa, e todos tinham seu nariz em um livro. Era muito calmo para ter
uma conversa sussurrada com ela.
Reynolds estava envolvida na leitura de nossos ensaios em sua mesa, sua
caneta vermelha voando sobre os papéis em que trabalhava, e o farfalhar do virar
das páginas entre os estudantes era o único ruído na sala. Sawyer enrolava uma
mecha de cabelo em seu dedo enquanto lia calmamente e eu olhava para o meu
livro, sem nem mesmo ver as minúsculas letras digitadas na página.
Querendo amaldiçoar por precisar recorrer a medidas de quinta série, eu
peguei meu lápis e silenciosamente rasguei uma folha de caderno ainda aberto
sobre a minha mesa. Escrevi uma pergunta nela e dobrei o mais silenciosamente
que pude. Estendi minha nota fechada para ela, mas seus olhos permaneceram em
seu livro. Preocupado que ela simplesmente me ignorasse, eu tossi e exagerei o
movimento de pegar com a mão.
Ela finalmente tirou os olhos de qualquer que seja o fascinante romance
que lia, e olhou para a minha mão. Ela lançou um olhar para os meus olhos e pude
ver claramente a relutância em seu rosto. Fiz um gesto de novo, minhas
sobrancelhas se juntando enquanto eu me preocupava. Com um suave suspiro, ela
finalmente se aproximou e pegou a nota da minha mão. Ela desdobrou, enquanto
mordi o lábio. Com um aceno de cabeça, ela pegou o lápis e escreveu algo próximo
a minha pergunta. Então ela redobrou e entregou-o para mim, sem me olhar. Abri
imediatamente.
No meu rabisco bagunçado eu escrevi: Estamos bem?
Em uma escrita elegantemente inclinada ela respondeu com: Sim.
Meu queixo caiu e olhei para ela. É isso aí, isso é tudo que eu recebo? A
resposta de uma sílaba para cobrir toda a tensão entre nós? Ela encontrou meu
olhar e apontei para o papel e balancei a cabeça, incrédulo para ela. Ela deu de
ombros e começou a voltar para o seu livro.

266
Irritado, eu escrevi: Você está me evitando? Decidido a não deixá-la com
outra pergunta sim/não, acrescentei: O que há de errado?
Ela pegou a nota, leu e respondeu com: Não. Nada.
Suspirando, e querendo gritar de frustração, eu escrevi: Fale comigo! Quase
rasguei o papel escrevendo com tanta força. Duramente entreguei a ela e olhei
enquanto ela suspirava e escrevia uma resposta. Era longa e relaxei.
Eu não sei o que dizer a você. Ontem à noite, não deveria ter acontecido por
vários motivos, mas não estou tentando evitá-lo. Prometo.
Fiz uma careta para o papel e olhei para ela. Ela mordia o lábio e girava o
anel em seu dedo polegar. Eu fiz mais uma careta quando escrevi: Você parece com
raiva de mim. E você? Você me odeia pelo que fiz?
Suas sobrancelhas se unindo até um ponto, quando ela leu
isso. Balançando a cabeça, ela respondeu com um, Não, eu não te odeio. Estou com
raiva de mim mesma. Eu não deveria ter deixado isso acontecer.
Incrédulo, escrevi de volta: Você? Fui eu quem começou. Eu que beijei você.
Quando escrevi essas palavras, realmente esperava que a nossa nota não fosse
confiscada e lida em voz alta. Reynolds não era o tipo de constranger os alunos
como isso, entretanto. Agora, se estivéssemos na sala de aula do Sr. Varner...
Você estava machucado. Você precisava de... alguma coisa. Eu deveria ter
afastado você, encontrado outra forma de consolá-lo. Estou com raiva de mim
mesma. Eu sei mais do que isso...
Eu não sabia o que ela queria dizer com essa última parte, mas eu estava
tão atordoado que ela estava com raiva de sua própria conduta que ignorei. Não a
culpei por se deixar levar quando eu praticamente a ataquei, especialmente quando
tinha certeza que ela tinha sentimentos por mim. Foi tudo culpa minha. Eu fui o
único com o lapso de julgamento. Eu fui o único a ser enganoso, novamente. Eu
disse a ela tanto quanto poderia e ela suspirou e olhou para mim um momento.
Mordi o lábio quando seu pulso realizava o delicado ato de escrita
cursiva. Você estava... debilitado. Eu entendo. Será que você poderia parar de se
desculpar? Você só está me fazendo sentir pior.
Eu entendi o que ela quis dizer com debilitado. Ela não quis dizer bêbado
ou drogado, ela quis dizer oprimido pela tristeza. Acho que eu estava. Isso ainda

267
não era desculpa para o que eu fiz e desejei cair aos seus pés e implorar seu
perdão. Eu só queria que as coisas voltassem ao normal.
Rabisquei às pressas de volta: Vou parar de me desculpar, se você parar de
estar brava com você mesma e me evitar – porque você está me evitando. Eu só quero
a gente de volta. Por favor?
Ela fechou os olhos por alguns instantes. Quando os abriu para olhar para
mim, eles pareciam excessivamente úmidos. Engoli em seco quando li sua
resposta. Tudo bem. Me desculpe se eu cheguei dessa forma. Realmente me atrasei
esta manhã, mas acho que me sinto meio estranha perto de você, uma espécie de
culpa e... raiva. Eu vou parar. Vamos deixar isso de lado e apenas ser nós
novamente. Ok?
Ela estendeu a mão para mim, quando li a nota e a agarrei
automaticamente. Meus olhos estavam excessivamente úmidos agora também. Eu
a fiz se sentir culpada e zangada. Eu não podia entender que a raiva que sentia era
apenas para si mesma. Uma parte dela tinha que me odiar um pouco. Se alguma
coisa, ela deveria me odiar por retroceder quanto a um relacionamento com ela. Eu
sabia que ela queria isso, bem, eu estava bastante seguro de qualquer
maneira. Mas eu estava... conquistado. Eu estava com Lil e só podíamos ser
amigos. Eu gostaria de poder dizer isso para ela.
Em vez disso, com uma mão eu escrevi: Então, estamos bem, então?
Ela o pegou, leu e acenou com a cabeça, sorrindo para mim. Relaxei de volta
no meu lugar e sorri sem entusiasmo. Eu queria acreditar que eu realmente estava,
mas uma parte de mim simplesmente não conseguia. Segurei a mão dela no resto
da aula, rezando para que isso fosse verdade.
O resto do dia passou com um estranho tipo de tensão entre nós. A tensão
que alguém no circuito nem notaria. Exteriormente éramos os mesmos.
Caminhamos para as aulas juntos. Conversamos sobre temas triviais com nossas
cabeças juntas. Eu ainda segurava sua mão durante os intervalos, precisando me
sentir perto dela, ainda que olhos observassem.
Ninguém mais notou a tensão em nossos rostos, a ligeira aresta de
desconforto em nossas vozes e a maneira quase apavorada que agarramos um ao
outro. E ninguém mais definitivamente notou o almoço tranquilo que tivemos no
carro dela. Ninguém mais estava lá para isso, e o sentimento estranho entre nós

268
só se intensificou nesse pequeno espaço. E, é claro, na proximidade de
confinamento, minha mente começou a vaguear para tocá-la novamente.
Quando ela comeu metade do meu sanduíche, eu a assisti lamber algumas
migalhas de seu lábio superior. Imediatamente imaginei sua língua ao longo de meu
lábio superior. Quando ela se inclinou e seu cabelo caiu sobre o ombro, eu
imaginava essa cortina de cabelos escuros juntando nossos rostos, roçando meu
ombro. Quando seus dedos foram ao redor de sua garrafa de água, imaginei-os em
volta de mim. E, quando ela inclinou a cabeça para tomar um gole daquela garrafa,
eu imaginava... atos muito mais íntimos.
Eu sabia que não ajudava no assunto, e me afastei dela para olhar pela
janela. Meu corpo começou a responder às fantasias que eu permiti, e me repreendi
mentalmente por ir lá. Isso estava errado em tantos níveis – errado com Lil, errado
com Sawyer. Mas, ainda assim, você só pode controlar o que seu corpo faz e sentir
muito. Algumas coisas são apenas instinto.
Eu estava tão perdido na minha neblina interior no resto do longo dia que
eu quase não notei nada dele. No momento em que Sawyer e eu nos separamos,
ela para o clube da pureza, eu para o aconselhamento, eu não podia me lembrar
de um único rosto que eu vi ou atribuição que me foi dada. A única coisa na minha
cabeça era Sawyer... e a culpa... e confusão. Quando sentei na minha cadeira e
olhei para as minhas mãos, comecei a pensar se o aconselhamento era o melhor
lugar para mim. Comecei a me perguntar se talvez eu devesse finalmente me abrir
para a Sra. Ryans. Contudo, apenas o pensamento trouxe de volta o super nó.
Ainda olhando para as minhas mãos, a ouvi me cumprimentar
alegremente. Retornei a saudação e meu lábio levantou em um pequeno sorriso
quando ela me pediu para chamá-la de Beth. Estudei as linhas e vincos dos meus
dedos quando o silêncio encheu a sala em torno de nós. Eu queria dizer alguma
coisa, mas o gigante no meu estômago me estrangulava – eu não podia
falar. Desajeitadamente me mexi na minha cadeira e me concentrei ainda mais no
meu polegar, esboçando mentalmente as linhas únicas que só pertenciam a minha
pele.
Sra. Ryans começou a falar comigo, me fazendo perguntas que necessitava
apenas um aceno de cabeça. Ela geralmente começava assim, para me soltar, eu
acho. Não importa minhas boas intenções ao longo do dia, não importa o quanto

269
eu queria falar com ela, às vezes, no momento em que eu me sentava nesta cadeira
em frente a ela, minha garganta sempre se fechava. Ela pareceu sentir isso e
facilitou a conversa para mim. Eu fiquei muito silencioso ultimamente, mas hoje,
eu estava quase mudo.
Como metade da sessão passou sem sequer um pio meu, e sem que eu até
mesmo olhasse para ela, ela finalmente suspirou e senti a mão dela tocar meu
ombro. Eu finalmente olhei para ela com o contato.
— Eu quero ajudá-lo, Lucas, mas não posso fazer isso se você não quer
falar comigo. — Seus olhos surpreendentemente azuis pareciam iluminados com

preocupação. — Por favor. Estou acostumada a um pouco de resistência as sua

parte, mas isso... — ela indicou onde eu estava sentado rigidamente com as mãos

agarradas no meu colo. — Eu não posso ajudá-lo, se você desligar completamente.


Tentei relaxar minha postura e dores desconhecidas me disseram que eu
mantive minha postura rígida por um tempo. Nem sequer notara. Suas claras
sobrancelhas vermelhas se juntaram quando ela tirou a mão do meu ombro e
recostou-se na cadeira. — As coisas estão diferentes hoje — ela supôs. —
Aconteceu alguma coisa?
Eu endureci novamente quando ela chegou mais perto da verdade. Seus
olhos pegaram a minha resposta e ela falou em voz baixa: — Alguém te incomodou?

— Ela sabia que eu estava atormentado. Ela sabia que alguém até mesmo me
drogou. Eu balancei minha cabeça – esse não era o meu problema hoje. Ela
suspirou e, então, um pensamento pareceu iluminar seu rosto salpicado. — É
Sawyer? Vocês brigaram?
Fechei os olhos e exalei. Uma parte do nervosismo ela adivinhou
corretamente, em parte fiquei aliviado por ela adivinhar corretamente. Senti o nó
começar a soltar e engoli ruidosamente algumas vezes, tentando soltar minha
língua também. Finalmente balbuciei: — Sim... não... eu não sei.
Abri os olhos para encontrá-la olhando para mim com uma expressão
exultante que ela inclusive tentou manter. Ela estava animada por eu falar, mesmo
que não fizesse muito sentido. Ela se inclinou sobre a mesa, seu cabelo vermelho

270
movendo sobre seus ombros quando ela fez isso. — Você pode me dizer o que
aconteceu?
Balancei a cabeça, então ela saberia que eu responderia, e então me fiz
mentalmente relaxar na minha cadeira. Escutei o jazz tranquilo que tocava ao
fundo e observei como tudo mais na sala ficou em silêncio. Ela normalmente
encontrava os estudantes durante o horário escolar. Eu era a sua exceção. Ela me
disse uma vez que marcava a tarde comigo, então teríamos mais
privacidade. Estava consciente que sua frágil tela japonesa pouco fez para bloquear
conversas e ela me encaixava em sua vida dessa maneira com a esperança de que
eu me abriria a ela se ninguém estivesse por perto para ouvir. Engoli em seco
novamente e esperava ser capaz de fazer isso hoje.
— Eu... nós... eu meio que... fiquei com ela... e estou realmente com
medo. Estou realmente com medo de ter destruído a nossa amizade... — minhas
palavras pararam, iniciaram e pararam, parecendo demorar uma eternidade para
sair, mas ela sentou-se pacientemente e esperou que eu terminasse.
Ela infinitamente levantou a sobrancelha para a minha admissão. Eu jurara
em sessões anteriores que não havia nada entre nós e agora eu deixei escapar que
talvez houvesse. Fechando seu rosto, ela disse: — Por que você está preocupado
com isso ser destruído? Vocês dois parecem se importar um com o outro. Talvez
você esteja apenas finalmente se aproximando. Isso é natural, Lucas.
Balancei a cabeça e limpei as mãos no meu jeans, ignorando a sensação
esvoaçante no meu estômago. — Não, nós não somos assim. — Eu suspirei. —

Bem, eu tenho certeza que ela gosta de mim desse jeito. — Corri a mão pelo meu
cabelo nervosamente. Tanto temendo quanto querendo terminar o meu
pensamento, eu sussurrei: — Eu tive um momento de fraqueza e... eu me

aproveitei desse fato. — Balancei a cabeça novamente, com raiva dessa vez. Minha

voz aquecida à medida que auto aversão correu através de mim. — Eu precisava
de conforto e roubei isso dela... e eu meio que me sinto como um filho da puta.
Eu esperava que ela concordasse comigo, a minha cabeça abaixada. É
exatamente assim que me senti hoje, um bastardo. Um desses caras que pegava
meninas ao redor, simplesmente porque podiam. Eu me senti horrível. Ela me

271
surpreendeu em vez disso, dizendo: — Você tem sentimentos por ela, bem, você
sabe.
Olhei para cima, já balançando a cabeça para ela, mas ela continuou, —

Tudo o que você me contou sobre ela... — ela balançou a cabeça, seus cachos

pulando alegremente, — isso não é um homem descrevendo uma amiga, isso é um


homem que descreve a mulher que ama.
Surpreso, falei antes que eu pudesse me impedir. — Não, eu não posso

gostar dela. Lillian é minha namorada, e não quero magoá-la. — Fechei


imediatamente a minha boca quando percebi o que eu acabei de dizer. Eu podia
sentir meu rosto pálido e implorei ao destino que ela de alguma forma não tivesse
ouvido isso.
Não tive essa sorte. Suas sobrancelhas se juntaram. — Lillian? — Ela olhou
para mim, sobre o meu ombro, e eu podia ver as peças do quebra-cabeça que foram
tiradas de mim sendo colocadas no lugar para ela. Com uma expressão que dizia
claramente, Eu entendo você melhor, seus olhos voltaram para mim e perguntou:
— Lucas... você tem medo de ferir Sawyer, ou você está com medo de machucar
Lillian?
— Ambas — eu sussurrei, desejando poder desaparecer.
Ela assentiu com a cabeça, como se finalmente entendesse. — Então, você
não se deixará ficar com Sawyer, reconhecer o amor que você sente por ela... porque
você ainda sente lealdade com a sua ex-namorada. Você ainda está ligado a ela.
Eu me irritei com seu resumo e respondi antes que minha cabeça pudesse
gritar para eu parar. — Ela não é minha ex! Nós ainda estamos juntos. Eu ainda

a vejo e... — eu me cortei, desejando que o nó de antes voltasse e apertasse a


minha garganta. Era exatamente por isso que eu não queria me abrir para ela. Eu
não podia falar sobre isso com ela, ela pensaria que eu estava louco.
Sua expressão cautelosa, ela lentamente disse: — Você ainda...? Você quer
dizer que ainda a vê?
Imediatamente me levantei, precisando sair de lá. — Eu tenho que ir. —
Sinalizei com a cabeça para a porta.

272
Ela se levantou, também, apressadamente alcançando o outro lado de sua
mesa para agarrar meu braço, me impedindo. — Não, fique. Por favor... fique e
converse comigo. Você ainda vê Lillian?
Balancei minha cabeça, as lágrimas se formando. Ela me colocaria em uma
cela acolchoada e me bombearia com antipsicóticos se eu dissesse a verdade. —
Não... eu... não, eu sei que ela está morta.
Sua mão correu descendo do braço para o meu cotovelo, me apoiando. Com
um aperto suave, ela perguntou: — Então, o que você quer dizer? — Eu hesitei,

começando a afivelar sob a tensão de esconder isso. Ela viu meu debate interno. —
Pode confiar em mim, Luc, você pode me dizer.
Eu me afastei, quebrando o contato. Inacreditavelmente assustado, eu
decidi deixar sair... ou talvez isso decidiu por mim. — Eu sonho com ela e é real...
tão real quanto qualquer coisa neste mundo. E dessa forma... ainda estamos
juntos. — Minha voz tremia e lágrimas escorriam do meu rosto enquanto eu
esperava ela me dizer que eu era louco.
Eu fui retrocedendo enquanto falava e finalmente esbarrei na maçaneta da
porta. Minha mão automaticamente agarrou-a, procurando escapar. Seu rosto caiu
em simpatia quando torci a maçaneta. Conforme eu puxei para abrir a porta, ela
balançou a cabeça para mim e meu corpo ficou tenso.
— Luc... oh, Lucas... isso não é real.
Engoli as lágrimas e fugi para o corredor.
Eu corria e enxugava as lágrimas do meu rosto quando a ouvi atrás de
mim. — Luc, espera. Por favor. — Eu continuei, lutando contra o instinto natural
que eu tinha de obedecer a um pedido feito a partir de uma figura de autoridade.
Eu diminuí a velocidade quando caminhei para a seção do salão onde o
clube da pureza apenas acabava de sair. Sentindo o pânico fluir em mim, eu parei,
sem saber para onde ir. Eu podia ouvir os saltos da Sra. Ryans clicando no salão,
enquanto se aproximava de mim, e eu podia ouvir o claro riso dos estudantes
enquanto deixavam a lotada sala de aula à minha frente. Minha respiração vinha
em arfadas, como se eu tivesse acabado de correr uma maratona e podia sentir a
queimação de uma maciça avalanche de lágrimas começando a se formar. Eu ia
quebrar; era mais uma questão de onde do que quando.
273
O cabelo preto de Sawyer entrou na minha visão quando ela saiu da sala
de aula, um grande sorriso em seu rosto enquanto ela falava com uma jovem
loira. Ela não me viu ainda, mas eu tinha certeza que o momento em que ela
olhasse nos meus olhos, eu começaria a chorar. Eu não queria chorar na frente
dela, especialmente sobre Lillian.
Eu recuei e corri para a Sra. Ryans. Ela olhou meu rosto em pânico,
enquanto eu olhava para Sawyer e me puxou para uma sala de aula. Eu quebrei
no minuto que a porta fechou. Ela me abraçou e me deixou chorar em cima dela. Eu
odiava. Eu odiava me sentir tão fraco na frente de uma figura como um
professor. Ela apenas me abraçou e esfregou minhas costas, porém, fazendo sons
suaves e não comentando.
Quando terminei, eu me afastei dela, limpando o nariz na minha manga e
virando meu rosto para longe dela. Sentei em uma mesa próxima e funguei, tendo
minha respiração e emoções sob controle. Sra. Ryans sentou em uma mesa perto
de mim e esperou pacientemente por eu mais ou menos me recompor.
Quando eu fiz, ela disse calmamente: — Lucas... você pode falar sobre ela
agora?
Eu sabia o que ela queria dizer e o início de um soluço subiu para minha
garganta. Balancei a cabeça e olhei para ela, com os olhos implorando para a
tortura ter terminado por um dia. Ela pareceu entender minha expressão e acenou
com a cabeça. Suas próximas palavras fizeram o soluço escapar, no entanto. —

Estou muito orgulhosa de você por me dizer. Eu sei que foi difícil. — Quando meus
olhos soltaram mais lágrimas embaraçosas, apressadamente me afastei, ela trouxe
uma mão no meu ombro. — Vamos deixar para outro dia, ok?
Com um suspiro trêmulo, eu balancei a cabeça, uma espécie de alívio
entorpecido me enchendo. Alívio que o peso do meu segredo foi levantado, alívio
por ela não me chamar de louco e alívio por não necessitar me abrir mais
hoje; minha ferida fresca doía bastante. Ela moveu a mão do meu ombro para o
meu joelho e acariciou um par de vezes.
— Eu tenho uma tarefa para você, entretanto.
Com uma voz ainda mais frágil, eu murmurei, — O quê?

Ela sorriu para mim. — Eu quero que você leve Sawyer ao baile de inverno.

274
Choque voou através de mim, como se ela apenas me pedisse para pular da
janela. O baile de inverno era a última função oficial da escola antes das férias de
inverno. Era semiformal e aberta a todos os estudantes. Eu fui no ano passado
com Lillian e os outros. Era uma noite de diversão com muitos amassos, beijos e...
— O quê? Eu não posso... Sawyer e eu não podemos... — eu gaguejava em
minhas palavras e não consegui terminar.
Uma expressão sombria marcou suas feições. — Isso é importante para
você, Lucas. Eu quero que você vá e acho que Sawyer é a melhor pessoa para ir
com você. É claro, quem você levará depende de você... mas eu quero que você vá,
independentemente de seu par.
— Mas... eu não danço. — Embora eu soubesse que a objeção não me
levaria a lugar nenhum
Ela sorriu com um canto de seu lábio. — Não é sobre a dança, Lucas, e

você sabe disso. — Seu rosto ficou sério novamente. — É sobre você se reconectar
com a sociedade, com os seus pares. É sobre você parar de estar desligado. É sobre
você viver... neste mundo.
Eu me irritei e ela afastou a mão do meu joelho. Esperei que ela fizesse mais
comentários sobre a minha vida de sonho, mas não o fez. Ela só segurou o meu
olhar e eu sabia que ambos sabíamos sobre o que ela falava. Balancei minha cabeça
e ela suspirou, mas deu de ombros. — Eu não posso fazer você ir, Lucas... mas eu

acho que isso o ajudaria. — Ela se levantou e colocou a mão no meu ombro. —

Pense nisso. — Seus olhos sobre minhas feições cansadas. — Pense se o que você

faz agora... melhora alguma coisa em sua vida. — Sua voz era suave e preocupada,
cheia de compaixão genuína e me encontrei acenando.
Fiquei naquela sala de aula depois que ela saiu, meu corpo girando com
tantas emoções, eu só podia sentir dormência. Meu queixo ergueu quando ouvi a
porta abrir. A cabeça de Sawyer apareceu, olhando ao redor. Ela me viu ainda
sentado em uma mesa e entrou na sala. — Aí está você. — Suas sobrancelhas
franzidas juntas enquanto eu olhava para ela fixamente. Não tinha certeza do que
eu parecia, mas eu sabia como me sentia: vazio, sozinho... cansado.

275
Ela sentou ao meu lado, não quebrando nosso contato visual. Sua mão
subiu para afastar um pouco de cabelo da minha testa e, em seguida, ela passou
os dedos pelo meu rosto, enxugando uma lágrima que eu nem percebi que estava
lá. Seu polegar continuou acariciando meu rosto enquanto olhávamos um para o
outro.
— Sessão difícil? — Ela sussurrou. Eu só conseguia engolir e acenar em
resposta. Ainda mais difícil. Com um suspiro, Sawyer colocou o braço ao meu redor
e me puxou para um abraço apertado. — Eu sinto muito, Luc. — Eu exalei quando
ela disse as palavras, sentindo como se ela estivesse pedindo desculpas por mais
do que apenas o meu encontro com a Sra. Ryans.
Sentindo a tensão entre nós escapar, eu a abracei de volta tão apertado e
sussurrei: — Eu sinto muito, também. — Ela balançou a cabeça em meu ombro e
eu sabia que ela sabia exatamente o que eu quis dizer com isso.
Ela me levou para casa e ficou comigo por um tempo, repassando o nosso
dever de casa de Filosofia, enquanto dissimuladamente olhava para se certificar de
que eu estava realmente bem. Á exceção da lição de casa, nós não conversamos
muito. Não contei a ela sobre a minha sessão, e ela não perguntou. Não falamos
mais nada sobre o que aconteceu entre nós; que estava superado e tratado. E
definitivamente não pedi a ela para ir ao baile. Era uma ideia tão louca que eu não
conseguia nem mesmo cogitar ainda.
Eu realmente não queria me reconectar com a sociedade, com os meus
colegas. Eles não queriam se reconectar comigo, também. Pelo menos a rejeição
era mútua. Eu não vi o ponto disso, e não vejo o mal de ter uma vida melhor nos
meus sonhos, louco como isso era. Por enquanto, ir a um bobo baile do colégio
parecia a sugestão mais louca.
Danças aparentemente estavam em meus pensamentos quando adormeci
naquela noite, entretanto. Inexpressivamente olhei ao redor, um ginásio totalmente
decorado para uma dança, com papel crepe azul e branco, uma música popular
genérica no fundo e uma bola de discoteca giratória suspensa no teto jogando
faíscas de luz em todo o piso laminado. Olhei para mim mesmo, vestindo calças
pretas e camisa branca de abotoar. Corri a mão pelo meu cabelo e senti o produto

276
estilizando-o para trás em ondas mais manejáveis. Olhei ao redor da sala vazia,
sentindo a imensa solidão dela. Onde estava todo mundo?
A sala de repente parecia... mais espessa. O cheiro de lírios e baunilha me
bateu e fechei os olhos, lembrando-me da fragrância usada por Lillian para
ocasiões especiais. Danças, encontros, noites quando ela sorrateiramente vinha
para a minha cama para ter intimidade comigo... as lembranças me atingiram,
engoli e sentei na arquibancada atrás de mim. Nervos em pânico passou por
mim. Ela finalmente reapareceria para mim. Eu estava prestes a finalmente vê-la
novamente... e ela saberia. Ela sabia que eu fui infiel a ela. Ela me odeia. Ela
finalmente me odeia... e eu merecia seu ódio.
Senti sua presença ficar ainda mais perto e todo o meu corpo ficou tenso. Eu
não poderia fazer isso. Não conseguia olhar para ela e quebrar seu coração, mesmo
sem ter que dizer uma palavra. Seus sapatos de salto alto encheram minha visão
quando infelizmente abri meus olhos. Engoli em seco, mas não olhei para ela. Não
queria ver aqueles dolorosamente belos olhos claros se encherem de lágrimas.
Ela não me deixaria simplesmente ignorá-la, no entanto. Ela se agachou e
olhou para mim. Evitei olhar para o rosto dela, o meu olhar, ao invés, indo para
seu vestido de seda azul escuro, as alças finas agarradas aos seus ombros
pálidos. Engoli em seco novamente.
— Lucas — ela sussurrou.
Fechei os olhos por breves instantes e, então, me fiz olhar para ela. Suas
mãos acariciavam meus joelhos quando ela se agachou na minha frente, um
pequeno sorriso brincando em seus lábios de pêssego. Uma pequena quantidade
de maquiagem esfumaçada nos olhos destacou as íris azuis brilhantes que me
olhavam com amor; apenas o menor indício de umidade estava nelas.
— Sinto muito — eu botei para fora imediatamente.
Ela balançou a cabeça, os firmes cachos loiros de seu intrincado penteado
saltando quando ela fez. — Não, Luc... está tudo bem.
Uma lágrima caiu do meu rosto quando engoli e falei as palavras que eu
estava com medo de dizer. — Eu... eu sinto muito por te trair. — Minha voz tremeu
e engoli de novo, olhando para as minhas mãos pressionando meu estômago.

277
Suas mãos subiram para pegar a minha e olhei para a imagem nebulosa
dela em minha visão aguada. — Isso é ridículo, Luc. — Ela balançou a clara cabeça

de novo. — Você não pode me trair... eu já...

Balancei minha cabeça e peguei o rosto dela. — Não para mim... não para

mim... — eu trouxe seus lábios nos meus, precisando do conforto. — Eu sinto

muito. Isso não acontecerá de novo, eu prometo — eu sussurrei contra sua boca.

Ela se afastou e suspirou entrecortada. — Eu quero que você faça isso,

Lucas. Quero que você siga em frente com Sawyer. — Os lábios dela se

aproximaram de um pequeno sorriso e senti meu coração se apertar. — Estou


dizendo que está tudo bem.
Eu acariciava seu rosto, afastando uma lágrima caída de seu olho. — Então
por que você está chorando?
Ela engoliu em seco, seu sorriso escorregando. — Só porque eu sei que é
certo... não significa que seja fácil.
Procurei seu rosto, não querendo ouvir. — Eu não posso ficar com ela,

Lillian... — Ela balancei a cabeça, como se soubesse o que eu diria em seguida. —

Eu não posso ficar com ela... porque estou apaixonado por você. — Procurei os

olhos lacrimejantes, quando reverentemente sussurrei: — Eu amo... você.

Seus olhos se fecharam e as lágrimas caíram de ambos. — Oh, Lucas... —

Ela os abriu novamente, dor e alegria claramente em seu rosto. — Eu também te

amo. — Ela se inclinou para me beijar e a puxei com força, nunca querendo deixá-
la ir.

278
Capítulo 14
Um momento de felicidade

Acordei na manhã seguinte com uma sensação no meu peito que beirava a
felicidade genuína. Olhei para o meu teto e absorvi cada detalhe do sonho que eu
acabara de ter: a forma como o cabelo de Lillian captou a luz cintilante da bola de
discoteca, a forma como o vestido de seda que ela usava se agarrou ao seu corpo
quando dançamos, a forma como os lábios repetiram várias vezes que ela me amava
muito.
Finalmente falamos. Nós finalmente passamos por essa última barreira
entre nós e expomos nossos corações um ao outro. Não foi nenhuma grande
surpresa, mas não fui capaz de dar esse salto na vida real. Ser capaz de fazê-lo,
mesmo em um mundo de fantasia, me deu um sentimento quase eufórico.
Estendi meus músculos quando um longo sorriso se espalhou no meu
rosto. O sonho durou muito mais tempo do que a maioria dos sonhos nos últimos
tempos. Era como se nenhum de nós quisesse abandonar esse momento de
paz. Recriamos a última dança que tivemos quando ela estava viva, menos o
enxame de pessoas. Isso acabou com Lillian e eu na pista de dança, e cada música

279
era lenta. Os braços dela no meu pescoço e o meu apertado ao redor da cintura
dela. Eu disse a ela sem parar que a amava, que precisava dela, e ela correu os
dedos pela parte de trás do meu cabelo e me beijou várias vezes.
Fechei os olhos, lembrando-me da sensação de seus lábios nos meus. Não
ligo para o que a Sra. Ryans disse – foi real. Tão real quanto estar deitado acordado
em minha cama, tão real como me arrastar na escola, e tão real como sair com
Sawyer.
Abri os olhos e suspirei. Sawyer. Enquanto a nossa relação se aglutinou de
volta à normalidade até o final do dia de ontem, eu não conseguia deixar de pensar
que estávamos à beira de alguma coisa. Que, se eu deixar isso acontecer
novamente, eu a empurrarei até o ponto onde não haverá como salvar nossa
amizade. Ela foi incrivelmente paciente comigo, até este ponto, mas eu podia ver a
tensão dos meus sinais mistos ficando sobre ela.
Não poderia imaginar estar em sua posição; gostar de alguém que
aparentemente flertava e agia como se gostasse de você, apenas para afastá-lo de
qualquer intimidade verdadeira. Mas, não poderíamos ser assim... mesmo se eu
compartilhar seus sentimentos, o que não tinha certeza se compartilhava ou não.
Quero dizer, como eu poderia pensar que amava Lillian e ter o meu coração doendo
por Sawyer? Eu não podia. Não. O que eu sentia por Sawyer era imenso conforto e
amizade sem limites – meu corpo quis traduzir isso em um relacionamento físico,
porque eu era um virgem de dezessete anos de idade. Isso fazia mais sentido.
Saí da cama e passei a mão pelo meu rosto. Eu não a levaria lá de novo,
contudo. Eu seria o amigo que Sawyer merecia e manteria a distância física. Eu
voltaria para uma relação homem/mulher mais normal, com pelo menos um pé de
distância em todos os momentos. Então, meus hormônios seriam mantidos sob
controle e ela não se machucaria mais. Eu poderia pelo menos fazer isso por ela.
E por Lillian.
Fiz o meu caminho para o banheiro para tomar banho e fazer a barba, o
tempo todo pensando em Lillian novamente. Eu a machucara. Ela pode ter tentado
empurrar isso estoicamente, dizendo que isso é a vida real e você deve aceitar, mas
eu poderia ver no ligeiro tremor de seu lábio e as poucas lágrimas que ela deixou
deslizar pelo seu rosto. Eu a abandonara, traíra, e ela estava devastada. Eu nunca

280
faria isso de novo. Nunca provocarei dor nela novamente. Nunca a deixaria ir... nós
ficaríamos juntos para sempre.
Ao sentar-me para tomar o meu café com a minha mãe, um sorriso ainda
estava comigo e ela ficou encantada de vê-lo. Ela comentou sobre isso e eu apenas
disse a ela que as coisas estavam bem. Não quero dizer a ela que Lillian e eu
finalmente avançamos no nosso romance. Ela me diria que era impossível e que eu
precisava de ajuda... etc., etc., etc. Eu não queria ouvi-lo. Me sentia bem, e
manteria esse sentimento, mesmo que isso significasse ser vago ou mesmo mentir
para as pessoas.
Sawyer surpreendeu tanto a minha mãe quanto eu por chegar alguns
minutos mais cedo e entrar. Mamãe levantou e cedeu a cadeira em que estava
sentada, em seguida, serviu uma xícara de café fresco para ela. Sawyer
educadamente agradeceu, torceu o anel em seu dedo polegar, e minha mãe se
inclinou em cima do balcão, sorrindo para nós dois.
Mamãe acreditava que Sawyer me fazia feliz e queria promover isso, queria
que estivéssemos juntos, ou talvez ela pensou que já estávamos. Para um
observador casual poderia parecer que sim, especialmente com ela ainda usando
minha jaqueta. Mas nós não éramos, e mesmo que ela me fizesse feliz, mais feliz
do que qualquer pessoa viva, não era ela quem me fazia sorrir sobre a minha xícara
de café.
— Você parece... melhor hoje — disse ela em voz baixa, uma vez que
finalmente fomos para a escola.
Sorri e brinquei com a bola de discoteca pendurada em seu espelho
retrovisor. A bola captou os raios da manhã e jogou pequenos pontos de luz sobre
o painel de instrumentos. Fez-me lembrar do meu sonho tão firmemente que eu
deixei escapar um suspiro de satisfação e me recostei na poltrona.
— Eu pareço? — Até mesmo eu pude ouvir a vivacidade na minha voz e ri
enquanto olhava para fora da janela. — Eu acho que eu tive uma boa noite.

— Oh. — Sua voz era genuinamente surpresa e olhei para ela. — Isso me
surpreende. Normalmente, quando você tem uma má sessão, você leva um par de
dias para superar... bem, para sorrir de novo, honestamente. — Ela encolheu os
ombros, seu olhar preocupado não deixando-a.

281
Suspirei enquanto pensava sobre a conversa de ontem com a Sra.
Ryans. Eu estraguei tudo. Eu falei demais e quebrei uma parede que não queria
quebrar. Eu precisava rapidamente tentar reparar essa parede agora; rebocar os
fragmentos antes de caírem completamente sobre mim. Ela sabia que eu sonhava
com Lillian. Ela sabia que eu considerava isso um relacionamento de verdade. Ela
certamente me atribuiria uma medicação agora... mas isso não significava que eu
precisava tomá-lo. Não preciso fazer nada que eu não queira. Bem, além de ir em
primeiro lugar.
Dei de ombros e disse a Sawyer a única coisa que discutimos que eu poderia
compartilhar. — Ela me surpreendeu mais do que qualquer coisa. Ela quer que eu

vá ao estúpido baile de inverno. — Balancei minha cabeça. — Não fui a um baile

desde... — mordi o lábio e olhei para fora da janela. — Isso simplesmente me pegou
quando ela me pediu para levá-la a algo como isso.
— Ela quer que você me leve... para um baile?
Virei a cabeça ao redor para ela na incredulidade em sua voz. Ela olhava a
rua. Seu cabelo estava puxado para trás em um rabo de cavalo limpo e arrumado,
dando-me uma visão perfeita de sua expressão. Ela tentava manter seu rosto
neutro, mas a observei por tempo suficiente para saber quando ela estava
animada. Os olhos dela ao longo da rua, provavelmente nem mesmo enxergando,
e um brilho alegre pareceu despertar neles. Os próprios cantos de seus lábios
enrolados em um leve sorriso e suas mãos apertaram o volante.
Oh Deus, ela queria ir. Eu nunca imaginei essa possibilidade. Não que eu
imaginara ir de qualquer modo, mas ainda assim, eu imaginei Sawyer sendo tão
resistentes à própria ideia assim como eu.
— Você... você quer ir? — Eu sussurrei, rezando para que ela dissesse
não... e sério.
Ela mordeu o lábio, seus olhos brilhando ainda mais quando se endireitou
na cadeira. — Eu não tive... eu perdi... — ela tropeçou nas palavras antes de

finalmente balançar a cabeça e suspirar. — Sim, eu sempre... — ela mordeu o


lábio de novo e um resplendor de luz percorreu seu rosto. Ela riu nervosamente e
disse simplesmente: — Sim.

282
Ela lançou um rápido olhar para mim, notou o olhar no meu rosto, que deve
ter estar em algum lugar entre humor e horror, e franziu a testa. — Mas você não

quer... — seus olhos voltaram para a rua. — Não, é claro que você não quer. Isso

era algo que você compartilhou com... — ela balançou a cabeça. — Oh, é por isso
que você estava chateado...
Consertei o meu rosto e comecei a dizer algo, mas ela me cortou. — Eu
sinto muito... é claro que você não quer ir. Foi estúpido da minha parte pensar que
você poderia...
Seu rosto aprofundou e ela fixou os olhos à frente. Meus pensamentos
gaguejaram e nenhuma palavra coerente saiu de mim. Fechei minha boca e olhei
para fora da janela, quando fizemos a última curva para o estacionamento da
escola. Nunca imaginei a conversa ocorrendo desta forma. Eu pensei que eu diria
os loucos planos de Sra. Ryans e ela riria comigo, concordando que a mulher era
maluca. Eu nunca considerei que Sawyer estaria realmente querendo ir comigo.
Observei-a morder o lábio enquanto estacionava o carro. Claro...
ela era uma garota. Por mais diferente que ela parecesse de outras garotas, tão
madura e pragmática como ela poderia parecer, às vezes, ela ainda era uma
garota. E eu sabia após ficar um ano com Lillian que as garotas gostavam de
dançar. Elas gostavam de se arrumar com esmero em vestidos colados e fazer
penteados. Elas gostavam da música alta, bregas arcos de balões e se posicionar
para tirar fotografias. Elas gostavam de ver seus homens se vestirem bem e agir de
forma mais cavalheiresca do que os adolescentes em geral agiam, trazendo-lhes
flores e levando-as para um bom jantar. Elas gostavam de ficar perto e pressionar
seus corpos contra seus homens, quase prometendo atos mais íntimos depois, se
eles agissem de maneira certa.
Suspirei quando ela desligou o carro. Se eu fizesse isso por ela, pedisse a
ela para ir, essa última parte poderia ser um problema. Não que eu deixaria que
algo acontecesse entre nós... novamente, mas violaria minha nova regra, distância
de um pé, se dançar lento a noite toda. Olhei para ela novamente quando ela
começou a abrir a porta. Acho que poderia colocar essa regra em espera por uma
noite.

283
— Sawyer — eu disse, para impedi-la de terminar de abrir sua rota de
fuga. Ela olhou para mim, uma leve vermelhidão ainda em suas bochechas. —
Você gostaria de ir ao baile comigo?
Seu rubor se aprofundou e ela soltou uma risada nervosa. Mantive meu
rosto firme e uniforme, então ela saberia que eu falava sério, que eu perguntava
seriamente. Suas sobrancelhas se ergueram quando ela olhou na minha cara. —

Você fala sério? — A voz dela combinava com seus olhos.

Balancei a cabeça e deixei um sorriso deslizar em meus lábios. — Sim.


Ela virou em sua poltrona de frente para mim, sua rota de fuga
momentaneamente esquecida. — Você não parece querer ir. Por que me pergunta?

Dei de ombros. — Honestamente, eu não quero ir. — Seu rosto escureceu

e rapidamente acrescentei: — Mas você quer... e depois de tudo...


Minhas palavras se perderam quando olhei em seu rosto abrandado. A luz
no início da manhã iluminando seu cabelo escuro e seu rosto brilhava para mim
como um anjo. Engoli em seco enquanto olhava suas feições, resistindo à vontade
de segurar sua bochecha de porcelana. Manter uma distância dela pode ser mais
difícil do que eu pensava. Ela inclinou a cabeça enquanto observava qualquer
emoção deslizando em minhas características. Engoli em seco novamente e olhei
para baixo, afastando a estranha sensação que começara a construir em mim.
— Depois de tudo o que você já aturou de mim, eu poderia, pelo menos,
fazer isso... — levantei os olhos e encontrei os olhos dela de novo —... por você.
Ela engoliu em seco quando procurou meu rosto. Obriguei-me a olhar para
ela com calma, sem piscar, não me preocupando com a deliciosa tensão que se
construía no carro. Ela trancou seu olhar ao meu, inclinando-se
ligeiramente. Meus olhos foram até seus lábios antes que eu me capturasse com
força e voltasse a olhar em seus olhos. Ela estendeu sua mão e afastou um pouco
de cabelo da minha testa. Eu queria me inclinar para o seu toque e me obriguei a
não reagir. Não me forcei a afastar, também. Ela não sabia sobre a minha nova
regra. Ela não percebeu que a quebrava. Eu não podia simplesmente iniciar algo
assim sem avisar primeiro.

284
Quando não reagi ou a toquei de volta, ela retirou a mão e colocou no
colo. — Tudo bem — disse ela lentamente. — Eu adoraria ir com você.
Ela sorriu e, em seguida, se virou para abrir a porta. A tensão saiu do carro
com ela e fiquei no meu lugar por um momento, perguntando-me como tanta coisa
mudou tão rápido. Eu não estava morto diante de tudo que aconteceu ontem?
Ela ficou do lado de fora de seu carro esperando por mim, clara alegria em
seus olhos. Balançando a cabeça, abri minha porta e me juntei a ela. Ela estendeu
a mão para mim e deu um passo dentro do raio de um pé que eu defini mentalmente
como uma zona de não entre. Eu não peguei a mão dela e dei um passo atrás.
Surpresa e confusão tomaram conta de seu rosto e eu suspirei, sabendo que eu
teria que falar sobre isso com ela, mais cedo ou mais tarde, e mais cedo era
provavelmente uma ideia melhor.
Ela começou a dar um passo em minha direção e estendi minhas mãos para
detê-la. Ela balançou a cabeça com o meu gesto, mágoa clara em seus olhos.
— Eu estive pensando — eu comecei, olhando em volta para ver se todos
os alunos estavam longe da gente. Alguns estavam, outros ficaram e observavam,
mas eu precisava fazer isso, por causa dela. Engoli em seco e continuei — Eu...

não quero machucá-la mais do que já fiz. — Ela parecia prestes a discutir, e

levantei minhas mãos. — Não, eu sei que você acha que é tão culpada quanto eu
sobre o que aconteceu na outra noite, mas a verdade é que...
Fiz uma pausa, sem saber o que dizer a ela. Comecei esta conversa sem
pensar em como eu poderia explicar para mantê-la longe de mim sem machucá-la
ainda mais. Ela dera a impressão de que gostava de me tocar, gostava de estar
perto. Se de repente eu a afastasse e dissesse a ela que não a queria fisicamente
perto de mim... bem, eu não podia ver como isso não iria machucá-la. A menos
que... a menos que eu jogasse o cartão que todos os caras da minha idade
tem. Deus, eu odiava jogar isso. Eu não era um Neanderthal... eu tinha
controle. Geralmente.
Eu meio que sorri e dei de ombros. — Eu sou apenas um cara. Você é uma

garota muito bonita e quando você está perto de mim, meu corpo reage a... —

minhas bochechas aqueceram, mas eu me fiz dizê-lo — Eu nunca tive relações


sexuais com ninguém e eu realmente quero... e como você me toca o tempo todo,
285
eu esqueço que somos apenas amigos e tudo o que posso pensar é que você tem
seios e que eu gostaria de... — engoli em seco, querendo rastejar de volta para o

carro. — Eu sinto muito. Eu só consigo me controlar a tal ponto. Acho que devemos
manter alguma distância entre nós a partir de agora.
Oh, Deus. Eu queria... morrer.
Seu rosto caiu em choque tantas vezes enquanto eu falava que era quase
cômico. Ela cuspiu sobre o que comentar primeiro. — Distância? De mim? Você

gosta do meu...? Você quer...? Espere, você é... virgem? — Ela balançou a cabeça
em descrença enquanto eu fechava os olhos, querendo avançar para a parte em
que este era apenas um fato entre nós, e nós nunca conversaríamos sobre isso...
nunca mais. — Você... você acha que eu sou bonita?
Abri os olhos e sorri para o espanto em seu rosto enquanto ela pensava
nisso. Podia dizer apenas que é claro que ela era bonita, e encontrei-me
sussurrando: — Eu acho que você é linda. — Minha voz saiu quase reverente, e
me dei um tapa mentalmente. Deus, eu poderia muito bem enfiar minha língua em
sua garganta. Que seria tão enganoso. Um calor se estabeleceu em mim com esse
pensamento, e balancei a cabeça para quebrá-lo.
Seus olhos umedeceram e sua boca abriu novamente. Suspirando com a
forma como a minha manhã não seguia tão perfeitamente como eu imaginara –
talvez Sawyer e eu já cruzamos a linha de amizade muitas vezes? – enfiei minhas
mãos firmemente nos bolsos e fiz um sinal com a cabeça para o prédio principal. —

Vamos nos atrasar — eu murmurei, e imediatamente comecei a andar.


Ela andou ao meu lado, com seu olhar nunca deixando o meu por mais de
alguns segundos, fizemos o nosso caminho para a aula. No caminho, notei coisas
que eu não notara antes – indicações para o próximo baile de inverno estavam por
toda parte. Cartazes feitos à mão foram fixados a cada poucos metros ao fundo do
corredor, uma grande faixa pendurada sobre a janela na escada e avisos 8x10
foram afixados em cada porta de sala de aula, incentivando os alunos a comprar
ingressos para o último baile deste ano. Agora que eu concordei em ir, eu não
conseguia escapar. Interessante como eu bloqueara tudo para fora antes.
Sawyer manteve-se distante de mim, mas limitada em seu lugar com um
sorriso largo no rosto. Eu não tinha ideia do que acontecia em sua cabeça. Era
286
realmente apenas sobre se vestir bem e nos divertirmos juntos, ou ela imaginava
ter seus braços em volta do meu pescoço a noite toda? Corei enquanto pensava
sobre quão perto ela estaria e por quanto tempo. Eu me perguntava se talvez eu
devesse falar com Lil para tranquilizá-la de que nada aconteceria. Eu estava apenas
sendo um bom amigo e deixando o meu conselheiro feliz. Mas, conhecendo Lillian,
ela estaria entre lágrimas e sorriria dizendo que eu deveria deixar algo acontecer,
que eu deveria estar com Sawyer e não com ela, ou algo igualmente ridículo. Não
era como se ela fosse romper comigo, mas ela estava bem insistente para eu romper
com ela. Como se alguma vez eu fosse fazer isso.
Eu cuidadosamente passei por Will no caminho até o meu lugar. Quando
olhei para ele, porém, ele estava ocupado em uma conversa com Randy e nem
sequer me notou. Randy olhou para mim e, então, rapidamente voltou para a
conversa intensa com Will. Eles pareciam discutir sobre o último jogo de futebol.
A temporada terminou antes das férias de Ação de Graças e nossa equipe...
não foi bem. Eu encontrei o treinador no corredor após a derrota na final e ele
realmente fez uma careta para mim. Com o fato de que Will tende a deixar cair a
bola, a outra equipe se aproveitou disso e marcou muito, e isso foi de alguma forma
minha culpa. Ele murmurou que eu provavelmente o deixaria no beisebol também
e, em seguida, saiu correndo pelo corredor. Eu não vi o Treinador desde então, mas
tenho a sensação de que quando a primavera chegasse, ele estaria em cima de mim
para tentar. Eu não tinha planos.
Sawyer me preencheu com fragmentos dos jogos de futebol, uma vez que
ela foi para a maioria deles. Me surpreendeu no início, quando ela admitiu que foi...
eu não fui à nenhum. Ela disse que foi com o Clube Seguro e Sadio. O grupo foi
em todos os jogos para tentar dissuadir as fileiras da libertinagem nas festa pós-
jogo. Os jogos eram nas noites de sexta, e antes daquele fatídico jantar de Ação de
Graças, a gente geralmente se separava na sexta-feira até segunda-feira de
manhã. Nunca me ocorreu que ela iria aos jogos sem mim. Ela disse que não iria
se seus pais não insistissem. Aparentemente, eles queriam que ela se reconectasse
com a comunidade também.
Ela, rindo, me falou sobre o quão terrível os jogos foram. Eu acho que ela
tentava me animar, deixando-me saber que eu fazia falta. E de uma forma
microscópica, isso me fez feliz. Uma pequena parte de mim gostou do fato de que

287
a minha ausência foi notada de alguma maneira. Pelo menos para o treinador, se
não para o resto da equipe. Para o resto deles... bem, eu acho que eles preferem
aceitar a perda do que eu jogando com eles. E Will foi especialmente tempestuoso
perto de mim quando derrota após derrota começou a ser atribuída a ele. Ele
começou a atuar como se eu ser um jogador melhor fosse uma falha de caráter e
eu precisasse ser humilhado. Ao sentar-me, estava grato que sua conversa com
Randy o manteve fora do meu cabelo, por uma manhã, pelo menos.
Sawyer tinha um sorriso adorável no rosto durante toda a aula. Ela parecia
achar minhas várias mortificantes revelações cativantes. Eu ainda me sentia
corado de vergonha. Eu realmente não queria dizer nada disso, especialmente a
parte de ser um virgem, mas eu não podia dizer a verdadeira razão pela qual eu
precisava de espaço, e parecia uma desculpa tão boa como qualquer outra. Talvez
se eu não tivesse adicionado essa última parte sobre ela ser bonita, ela não ficaria
tão emocionada.
Trabalhamos em relatórios dos livros que deveríamos ter terminado ontem
e Sawyer me deu um pequeno sorriso conhecedor a cada poucos minutos. Eu não
podia deixar de sorrir de volta para ela, mas me pergunto se algumas das minhas
admissões foi o melhor.
Eu fui com ela até as portas da frente, depois da aula e quando nos
separamos, ela se inclinou para mim, mas nunca realmente me tocou. Com uma
risada, brincando, ela afirmou que iria para seu treino, ofegando até o prédio de
Ciência para uma aula, só para depois voltar e seguir para o segundo andar. Eu ri
com ela e desejei sorte em seu teste de química.
Quando a vi novamente ela ofegava sob sua respiração, mas seu rosto ainda
estava animado, espantosamente perto de exultante. Suspirei mentalmente, mas
retornei seu sorriso radiante para seu benefício. Ela corria mais atrasada do que o
habitual e assim que cruzou a porta, a campainha tocou. Quando perguntei o que
ela fazia, ela timidamente admitiu que conversava com Sally Hoffen, presidente do
Clube Seguro e Sadio, sobre o baile. Elas falavam sobre penteados e ideias de
vestido. Ela me disse que estava preocupada sobre como arcar com um vestido o
suficiente bom quando a interrompi.
— Você disse a Sally que vamos juntos? — Eu não tinha a intenção do meu
tom soar áspero, mas na minha surpresa, saiu dessa forma. Eu raramente falava

288
com alguém além de Sawyer, por isso sempre meio que acreditei que ela evitava
conversas com outras pessoas além de mim. Mais uma vez, eu posso ser um pouco
egoísta.
Seu rosto feliz caiu enquanto olhava para mim. Imediatamente me senti mal
por estourar sua bolha animada e tentava me desculpar, quando o Sr. Varner bateu
com a mão na minha mesa. Eu pulei e me virei para olhá-lo com os olhos
arregalados.
— Sr. West, senhorita Smith... preciso separar os pombinhos? — Seus
olhos se estreitaram quando ele olhou entre nós. Entre as risadas que
atravessavam a sala de aula, eu ouvi alguma sonhadora suspirar.
— Não — eu murmurei, esgueirando na minha cadeira.
Ele cruzou os braços sobre o peito, e embora eu quisesse que fosse um
sonho no qual eu poderia afastá-lo, ele permaneceu de pé na frente da minha
mesa. — O que você falava, afinal? — Os olhos observaram ao redor dos alunos

ouvindo atentamente, e meu rosto corou. — Eu sempre me perguntei o que é tão

vital que os alunos escolhem sintonizar e me deixar de fora. — Suas mãos fizeram
um gesto de siga em frente e sentou na borda da mesa na minha frente – a garota
quase desmaiou em seu assento. — Então, vá em frente... somos todos ouvidos.
Sawyer corou vermelho brilhante enquanto eu balançava minha cabeça. De
jeito nenhum eu confessaria para ele, eu prefiro a detenção. Infelizmente, a garota
cuja mesa serviu de apoio para o Sr. Varner decidiu ser o animal de estimação do
professor. Eu só podia imaginar que favor ela pensou ganhar. — Eles falavam sobre

ir ao baile juntos, Sr. Varner — disse ela animada.


Ele sorriu para ela e depois olhou para nós novamente com a cabeça
inclinada. — O baile... tão tocante. — Ele levantou de sua mesa, fazendo-a

suspirar, e se aproximou da minha, inclinando-se sobre a borda. — Eu irei nesse

baile, Sr. West. — Os olhos dele no meu com desprezo. — E se você cheirar a
álcool... você partiu.
Meus olhos se estreitaram e me senti começando a ficar de pé. Eu queria
tirar esse olhar complacente de seu rosto, e com a onda de embaraço e raiva
correndo por mim, eu pensei que poderia fazê-lo. Quando eu no meio de levantar,

289
senti uma mão no meu braço e olhei para Sawyer, que balançava a cabeça para
mim enfaticamente.
O Sr. Varner sorriu e levantou imediatamente. Ele levantou os dois dedos
em mim. — Duas faltas, Lucas.
Cerrei os punhos e me forcei a ficar sentado e quieto enquanto ele voltava
para a frente da sala. Os alunos ao meu redor começaram a rir e sussurrar, e eu
sabia que a fábrica de rumor acabara de fundamentar uma nova história. Talvez
nesta aqui eu realmente batesse no bastardo.
Eu ainda estava fumegante com o incidente com o Sr. Varner quando
Sawyer e eu nos reunimos em torno de seu armário mais tarde. Mantive de costas
para os armários, não olhando para eles. Esta manhã começou tão bem, mas foi
constantemente em uma espiral descendente. Tentei deixar o calor deslizar por
mim enquanto descansava minha cabeça no metal frio. Olhei para cima quando
Sawyer fechou seu armário com uma batida.
— Ele é um idiota! Não entendo o que as meninas veem nele. — Ela me
deu um olhar aguçado. — Será que um rosto esculpido realmente compensa as
pobres habilidades sociais agora?
Sorri para seu mau humor, sentindo o meu morrer. — Esculpido? — Eu
provoquei.
Ela retornou o meu sorriso e franziu a testa um pouco. — Você está com
raiva por eu dizer a Sally?
Com seu rosto preocupado, ela se inclinou contra seu armário. Assisti seu
ombro comprimir contra o armário que deveria ter sido da minha namorada e
suspirei. Desejei que Lil estivesse aqui. Eu desejei dormir e assim poder vê-la. Eu
afastei o meu estranho desejo e mudei meu foco para Sawyer novamente.
Balancei a cabeça para ela. — Não, apenas me surpreendi, isso é tudo. Às
vezes eu esqueço que você tem uma vida sem mim.
Ela sorriu e começou a estender a mão para mim, mas depois parou. Eu
estava feliz por ela parar, mas encontrei-me com uma dor real pela perda. Isso seria
muito mais difícil do que eu pensava. — Eu não tenho muito de uma vida, se isso
faz você se sentir melhor.

290
Com um sorriso, ela começou a andar pelo corredor em direção a
matemática e eu a acompanhei. Ela olhou para mim com uma seriedade em seu
rosto que eu conhecia muito bem. Ela estava prestes a dizer algo além da sua
idade. — Você poderia ter isso também, você sabe.

Eu franzi a testa, confuso. — Huh?

Ela balançou a cabeça. — Ter uma vida. Ter outros amigos.

Gelo brilhou através de mim, mas eu joguei um sorriso. — Por que eu iria

querer outros amigos, quando estou perfeitamente satisfeito com você? — Mudei
o meu sorriso para um torto e mordi de volta o que eu realmente sentia. Ninguém
na escola queria uma amizade comigo. Ninguém, além de Sawyer. Ela era tudo que
eu tinha aqui. Realmente, ela era tudo que eu tinha quando estava acordado.
Sawyer parecia ouvir as minhas palavras silenciosas enquanto
caminhávamos entre as multidões que eu sentia olhando e cochichando sobre
nós. Minha próxima aparição em um evento escolar seria bem conhecida até o final
do dia. — Eu sei que já mencionei isso antes, Luc, mas nem todo mundo aqui está
contra você.
Eu zombei, sem querer soando irritado e amargo, mas claramente ouvi isso
na minha própria voz de qualquer maneira. — Certo, mas nada de recadinhos

carinhosos aqui. — Olhei em volta para as pessoas que eu conhecia desde


praticamente o jardim de infância. Não sabia o que Sawyer via, mas tudo o que vi
foram cabeças inclinadas juntas em fofocas, e eu estava cansado de ser fofoca.
Sawyer suspirou. — Bem, há Randy, e esse é apenas um exemplo.
Parei no corredor quando sua observação casual se estabeleceu em meu
sistema. Ela estava brincando? Ela olhou ao redor quando sentiu que eu não estava
ao lado dela mais e, então, olhou para mim, as sobrancelhas levantadas. Eu estava
a dois passos atrás dela, meu queixo caiu no que só poderia assemelhar-se a
expressão de uma pessoa com deficiência mental. — Randy? — Eu disse,

incrédulo, enquanto ouvia os estudantes preenchendo o corredor silencioso. —


Você fala sério? Você sabe o que Josh o fez fazer comigo. Você acha que ele quer
ser meu amigo?

291
Meu tom foi ficando cada vez mais alto enquanto eu falava, e Sawyer olhou
ao redor do corredor antes de se aproximar de mim, bem dentro da minha zona de
um pé. Eu estava tão irritado que não me importava, no entanto. Silenciosamente,
ela sussurrou: — Sim, Lucas, Randy. Se você prestasse um pouco mais de atenção,

você veria que ele se sente muito mal por drogar você. — Eu comecei a me afastar,

mas ela agarrou meu braço, arrastando-me para mais perto. — Josh o enganou
para fazer isso. Randy me disse que Josh disse a ele que era um laxante
líquido. Randy não sabia o que aconteceria. Ele só queria que você sofresse um
pouco. Ele não sabia que você ficaria suspenso.
Eu me afastei de seu braço, separando-nos. Eu tinha certeza que parecia
que estávamos tendo uma briga de namorados, mas, independentemente de
minhas ações, não era com Sawyer que eu estava com raiva. Não, eu estava com
raiva de todo mundo – todos eles, todos os meus molestadores, todos os
murmuradores e todos os curiosos. — Quando é que você...? — Balancei minha
cabeça, realmente não me importando quando ela teve esta conversa coração para
coração com um dos meus algozes. — Bem, isso é muito melhor. Fico feliz que ele

só queria me mandar para o banheiro por algumas horas. — Eu joguei minhas

mãos para cima, quando a minha voz ficou alta novamente. — Deus, que alívio,
Sawyer!
Com seu rosto corado e, com uma sacudida irritada de sua cabeça, ela saiu
correndo pelo corredor. Fechando os olhos e amaldiçoando meus dramas, corri
atrás dela. Todo mundo assistiu nossa saída. Eu agarrei seu cotovelo direito
quando ela escorregou na porta. Ela olhou para onde nos tocávamos e, em seguida,
para o meu rosto. Manchas vermelhas ainda marcavam seu rosto e eu suspirei,
odiando por machucá-la. Ignorando todas as pessoas na sala de aula, ignorando a
escrita do professor no quadro branco, ignorando o meu próprio desejo de manter
uma distância entre nós – ignorando tudo, eu a puxei para um abraço apertado.
— Eu sinto muito. Eu sou um idiota, me desculpe — eu sussurrei em seu
cabelo.
Ela assentiu com a cabeça no meu peito e devolveu meu abraço
apertado. Suspirei enquanto mantinha meus olhos fechados. Lá estava eu, apenas
algumas horas depois de dizer a ela que eu precisava de espaço físico, segurando-
292
a firme, enquanto temia desaparecer se não o fizesse, enquanto todos os olhos em
torno de nós assistiam. Eu tentava evitar enganá-la, e tentava evitar mais boatos
sobre nós... e falhava miseravelmente. Umas risadinhas abafadas encheram a sala
e finalmente me separei dela, sentindo o calor no meu rosto. Seu rosto estava
vermelho, assim que olhou ao redor da sala quase cheia, e sem jeito ajustou a bolsa
em seu ombro.
Fiz um gesto para os nossos lugares e sentamos com gratidão. Alguns olhos
seguiram-nos antes de se entreolharem. O sussurro começou novamente. Eu
peguei o meu livro e folheei as páginas, não vendo qualquer uma delas. Ouvi
Sawyer ao meu lado fazer o mesmo e sorrateiramente olhei para ela. Ela olhava
para sua mesa, mas encontrou o meu olhar quando sentiu meus olhos.
— Sinto muito — eu murmurei novamente, e ela balançou a cabeça.
A campainha tocou, o professor se virou de onde escrevia equações no
quadro e tudo voltou para a normalidade. Bem, tão normal como as coisas sempre
são para mim. Pensei nos comentários de Sawyer durante a aula. Eu ignorei a
minha reação exagerada a eles e realmente foquei no que ela dizia. Eu não podia
acreditar. Não vejo como alguém nesta escola iria querer algo comigo. Não era como
se ninguém nunca se aproximou de mim, além de me fazer as perguntas que eu
respondi tantas vezes, eu estava de saco cheio disso. Eu parara de responder um
tempo atrás. E Randy... ele estava definitivamente fora. De jeito nenhum ele
buscava ser meu amigo. De nenhum maldito jeito.
As coisas voltaram ao normal com Sawyer durante o almoço no carro
dela. Nós relaxamos em nossos lugares, comemos nossos sanduíches e ela
comentou que seu pai finalmente conseguiu um emprego na empresa madeireira,
por isso as coisas melhoravam para sua família. Ela alegremente mordeu seu
próprio PB & J18 quando disse isso. Pisquei para ela com surpresa quando ela
disse. Eu não percebi que seu pai estava desempregado. Eu sabia que as coisas
estavam difíceis para eles, mas nunca soube por quê, e nunca perguntei.
— Isso é ótimo, Sawyer. Eu não sabia que ele procurava. — Peguei um
canto do meu próprio presunto e queijo e enrolei em uma bola antes de comê-lo.

18 Peanut butter and jelly sandwich – Sanduíche de manteiga de amendoim e geleia.

293
Ela viu o meu hábito antes de responder. — Yeah. Ele e minha mãe
deixaram seus empregos quando nos mudamos para cá. Ambos procuravam, mas
os tempos estão difíceis... — ela encolheu os ombros e parecia realmente
culpada. Eu me perguntava por que, até que me lembrei que seus pais largaram
tudo e se mudaram para o meio do nada – a partir de Portland, ela me disse uma
vez – por causa dela.
— Você quer falar sobre o que aconteceu, Sawyer? — Perguntei em voz
baixa enquanto ela estava distraída, olhando por cima do meu ombro.
Ela trouxe os olhos para os meus e abanou a cabeça, saindo de seu mini
transe. — Não. — Ela sorriu e seu rosto ficou animado novamente. — Eu quero

falar sobre o baile. — Ela sorria de orelha a orelha e não pude deixar de sorrir com
ela. Ela estava tão animada sobre este baile estúpido.
Revirei os olhos, mas depois ri e começamos a falar dos detalhes. O baile
era na última sexta-feira antes da escola entrar em recesso para os feriados. O
tema era o País das Maravilhas no inverno, é claro, e esperava-se que ambos,
rapazes e moças vestissem roupas bonitas. Sawyer estava um pouco preocupada
com isso, de não ser capaz de pagar qualquer coisa, mesmo remotamente bom,
ainda, apesar do seu pai já estar empregado. Eu disse a ela que a minha mãe tinha
um par de vestidos de festa bonitos que provavelmente caberia nela se ela quisesse
usar um. Ela me olhou estranhamente e disse que precisaria olhá-los
primeiro. Então abriu um grande sorriso e começou a falar sobre corsages.
Falávamos sobre jantar na minha casa para economizar dinheiro, e ela me
fez prometer que não seria o meu Hot Pocket padrão enquanto caminhávamos para
nossas próximas aulas. Balancei a cabeça para ela quando nos separamos. Para
alguém que parecia quase antissocial às vezes, com certeza ela estava gostando
disso.
Enquanto eu caminhava para Ciências, estava surpreendentemente grato a
Sra. Ryans por trazer a ideia. Talvez seja bom sair no mundo real. Quando abri a
porta para a Astronomia, eu reconsiderei.
Josh olhava para mim, e rapidamente abaixei minha cabeça e quebrei o
contato visual. Não tivemos quaisquer confrontos por um tempo e eu tentava
manter isso assim. Ouvi sua risada e resisti ao impulso de olhar quando me sentei.

294
Mantive os olhos para frente, e comecei a sonhar com Lillian para me
distrair; eu não podia esperar para ver ela esta noite. Eu estava no meio de
reimaginar a dança lenta com ela no meu sonho, meus dedos em sua cintura, os
dela na parte de trás do meu cabelo, quando um pedaço de papel enrolado me
bateu no lado da cabeça. Irritado, eu olhei antes que pudesse me parar.
Josh ria, zombando cruelmente enquanto Randy o segurava pelo braço,
impedindo-o de lançar outro pedaço. Tirando-o, eu exalei lentamente e olhei para
frente novamente.
— Ei, Luc — ouvi Josh dizer do outro lado da sala. — Ouvi que seu par
para o baile aprovou você. — Fechei os olhos e me concentrei em minha respiração,
com foco em não reagir. Não levou muito tempo para que essa pequena briga se
transformar em dramaticidade do ensino médio. Josh, aparentemente desfrutando
de minha tentativa de não-reação, continuou: — Ouvi que ela só concordou em ir

primeiramente por ser sua motorista. Pelo menos um de vocês é inteligente —


acrescentou.
Minha cabeça girou ao redor enquanto eu visualmente cravava pregos em
seu corpo. Isso? Essa era a maneira que ele conduziria nossa briga no
corredor? Agarrei a borda da minha mesa, meus dedos cavando fortemente o topo
de madeira, exortando ao surto de raiva que ele despertou em mim para
diminuir. Ele começou a balançar sorrindo com a minha reação e eu comecei a
tremer com a restrição. Mordendo o lábio para não dizer para ele ir para o inferno,
eu me forcei a olhar para frente novamente. O riso do seu lado da sala ficou ainda
mais alto.
Felizmente, a campainha tocou e o professor começou a aula. Eu sabia que
era tarde demais, no entanto. Eu sabia que o corpo estudantil pegaria essa fofoca
patética e correria com ela. Até o final do dia, a própria ideia de ir ao baile com
Sawyer seria como ir com um bafômetro ligado ao meu braço; alguém para me
manter sob controle, desde que, obviamente, não poderia fazer isso por conta
própria. Suspirei quando escutei o que uma vez foi o meu assunto favorito. O que
mais eu poderia esperar dessas pessoas? Definitivamente não é amizade. Sawyer
estava tão errada quanto a isso.

295
Logo que pude, corri para fora da classe. Mesmo sentando na parte de trás,
eu saí para o frio ar fresco antes de todos. Eu vi Josh sorrir dissimuladamente
quando saí da sala.
Praticamente acelerando meu caminhar para minha próxima aula, eu
imaginei um Darren irado ao meu lado. Imaginei-me impedindo-o de se virar e
bater sem parar em Josh, bem como o tempo que eu precisei impedi-lo de ir atrás
de algum sênior que disse que Sammy tinha uma bunda gorda. Pessoalmente, eu
pensei que o cara estava chateado por Sammy o recusar, mas Darren tomou isso
como um ataque pessoal a sua namorada. Ele estava determinado a dar ao cara
um nariz quebrado... no meio da aula de história norte-americana. Eu o arrastei
para fora da sala com os dois braços fechados sob os cotovelos enquanto ele gritava
ameaças para o imbecil.
Imaginando conter um esquentado Darren da luta ajudou a acalmar a fera
dentro de mim, e me senti mais relaxado com cada passo mais longe de Josh. Por
mais que eu entendesse a sua raiva, tentando ignorar as mágoas e insultos, uma
parte de mim só queria chutar sua bunda! Bem como Darren fez quando ele
finalmente topou com esse cara numa festa algumas semanas mais tarde.
Usar a memória do temperamento de Darren, moderou o meu, e eu estava
calmo novamente quando passei pelas portas para a aula de arte. Josh ficou para
trás no dia e eu poderia deixá-lo ir. Eu facilitei um sorriso no meu rosto e
trabalhava no meu projeto mais recente, quando senti a Sra. Solheim chegar ao
meu lado. Ela me elogiou pelo meu trabalho e, em seguida, alegre disse: — Ouvi
dizer que você vai ao baile, Tom. Isso é ótimo!
Ela foi embora antes que eu pudesse responder, e balancei minha cabeça
enquanto a observava; suas calças soltas e túnica fluíam em uma miríade de cores
contrastantes que era quase atordoante de olhar. Como a minha excêntrica
professora de arte já ouviu isso? As notícias viajavam tão rápido por aqui.
Esperei Sawyer sair do coro do lado de fora da sala de arte. Tentei ir a um
dos seus concertos uma vez, mas ela me disse que preferia não me ter lá, então
nunca a ouvi cantar. Ela explicou como tem um solo que nunca seria capaz de
fazer se soubesse que eu ouvia. Eu estava morrendo de vontade de ouvi-la cantar,
especialmente se ela era boa o suficiente para o professor colocá-la para cantar
sozinha, mas eu respeitava o desejo dela e fiquei de fora. Olhando para isso, eu me

296
perguntava se tinha mais a ver com manter-me longe de seus pais do que com seus
nervos. Ou talvez fosse uma combinação dos dois.
Esperei por um tempo e fiz uma careta. Ela estava demorando muito tempo
para sair dali. Lembrando-me da avalanche de boatos que começou, eu comecei a
me preocupar com ela. Brittany pulou em qualquer coisa que pudesse provocá-la,
e eu lhe entreguei um pequeno e agradável buquê para escolher. Comecei a andar
até a sala, logo quando o seu cabelo negro saiu pela porta.
Ela olhou imediatamente para mim e começou a andar de encontro a
mim. Ela caminhou erguida e ereta e não olhou para trás. Eu olhei. Brittany e o
grupo que geralmente se reuniam em torno de sua rainha, acabavam de sair do
prédio. Elas olhavam para Sawyer e riam. Brittany olhou além de Sawyer, para
onde eu estava de cara feia para ela. O sorriso caiu de seus lábios, e ela olhou para
mim. Então seus lábios se torceram em um olhar que claramente dizia, venha me
pegar. Eu não estava prestes a fazer isso.
Ignorando-a, eu me concentrei em Sawyer enquanto ela se aproximava e
ajustava a bolsa em seu ombro. — Tudo... ok? — Eu perguntei, olhando para
forma de Brittany que se afastava, seus quadris balançando de um modo tão
exagerado que ficou claro que não era uma caminhada natural. Ela confirmou isso,
olhando por cima do ombro para mim. Ela murmurou algo para a garota ao lado
dela, o que fez a outra garota rir e olhar para mim, também. Quando o riso comum
cessou, sua amiga a virou para ela, enquanto Brittany zombou e provocativamente
passou a mão pelo seu traseiro.
Balancei minha cabeça para sua estranha atitude comigo e me voltei para
Sawyer, que olhava para ela também. Eu estava prestes a perguntar o que Brittany
fez, quando ela me interrompeu. — Eu nunca posso dizer se ela quer ferrar você...

ou matá-lo. — Ela se virou para mim com as sobrancelhas franzidas.

Balancei minha cabeça e suspirei. — Eu sei... eu também não posso. O que


ela disse para você?
Ela balançou o cabelo, o rosto relaxando quanto ela disse. — Não
importa. Eu não sei qual é o problema dela comigo, e não posso controlar o que ela
faz ou diz... — ela suspirou e deixou um sorriso caloroso tocar seus lábios. — Mas
ainda cabe a mim como eu reajo a isso, certo?

297
— Você soa como minha conselheira agora.
— Bem, talvez eu descobri minha vocação na vida.
Eu ri. — Ser minha conselheira? Você acha que seria um trabalho ao longo
da vida?
Ela riu, olhando para mim com adoração clara em seu rosto. — Eu espero
que sim.
Engoli em seco ao ver o olhar em seus olhos e depois nervosamente ri. —
Bem, não espere que isso pague muito.
Ela riu e colocou as mãos nos bolsos. Por um segundo, eu senti falta de não
conseguir segurar a mão dela, mas era o melhor. Eu não deveria ser tão amigável
com ela, se não iria para qualquer lugar diferente, além de, bem, amizade. Enfiei
as mãos nos bolsos, igualmente, e fizemos o nosso caminho para as nossas
próximas atividades em um silêncio confortável.

298
Capítulo 15
Deixa a minha fantasia feliz, isso é tudo que eu peço

Hesitei com a mão na maçaneta da porta, uma bola dura se formando no


meu estômago. A sessão de ontem foi horrível – emocional e exaustiva. Não queria
uma repetição daquele dia. Não queria confessar mais dos meus segredos para a
pessoa do outro lado da porta. Claro, ainda faltava mais duas semanas para eu
deixar as sessões, e se eu alguma vez quis voltar para o clube da pureza com
Sawyer, eu precisava fazer isso. Quando a minha mão girou a maçaneta devagar,
eu me perguntei se essa era mesmo a verdadeira razão pela qual eu ainda
continuava vindo aqui dia após dia.
Abri a porta e entrei, o jazz familiar soou em meus ouvidos. Sra. Ryans
sentada em sua mesa, as mãos descansando confortavelmente no colo, esperando
por mim. Seu cabelo elástico foi preso por um clipe, e apenas alguns cachos soltos
roçavam os ombros. Seus olhos azul-gelo ficaram calorosos ao me ver e ela apontou
para a cadeira do outro lado da mesa em forma de L que compunha seu espaço de
trabalho.

299
Olhei para o computador atrás dela quando me sentei, olhando a proteção
de tela de linhas coloridas girando e inclinando sobre si mesmas; uma progressão
constante de ser virada pelo avesso. Isso me lembrou de como me sentia vindo
aqui, como qualquer sessão virava algum pedaço de mim de dentro para fora, e,
eventualmente, eu seria apenas uma pilha confusa de gosma no tapete.
— Olá, Lucas.
Sua voz baixa e calorosa me trouxe de volta ao presente e afastei meus olhos
do seu computador para encontrar o seu olhar. Engoli um feixe repentino de
nervosismo e balancei minha cabeça em saudação a ela. Ela olhou para minha
cara, e talvez vendo a tensão lá, franziu a testa ligeiramente. Quase imediatamente
a carranca desapareceu e ela começou a fazer perguntas fáceis, me relaxando.
Quando eu me sentia mais à vontade, ela habilmente começou a virar a
conversa para questões mais difíceis, perguntas que eu não queria responder. —
Como você se sente ultimamente?
Dei de ombros. — Bem como costumo me sentir, eu acho. — Ela ergueu as
sobrancelhas para mim e balançou a cabeça, incentivando-me a expandir
isso. Balancei a cabeça e encontrei um sorriso rastejando no meu rosto, lembrando
meu sonho ontem à noite com Lillian. — Na verdade, eu acordei feliz hoje... muito

feliz. — Não mencionei que a escola meio que arruinou meu zumbido; apenas
sendo verdadeiramente, puramente feliz, pelo menos uma vez hoje foi muito
impressionante para mim.
Ela deve ter pensado assim também. — Isso é ótimo, Lucas. — Seu rosto
se iluminou quando disse isso, e eu poderia dizer que ela realmente falava sério.
— Foi porque você sonhou com Lillian ontem à noite?
O sorriso caiu imediatamente da minha cara. Senti o retorno do nó, e
balancei a cabeça negativamente. Eu deixaria que muito disso escapasse; eu não
podia arriscar que mais saísse. Ela franziu a testa enquanto olhava para mim. —
Sério? Você não falou com ela ontem à noite? Contar para ela sobre o seu dia,
talvez?
Engoli em seco. Isso era exatamente o que aconteceu na noite
passada. Conversamos enquanto dançamos. Eu disse a ela tudo o que aconteceu
comigo desde o nosso último encontro. Eu disse tudo que estava no meu coração,
300
coisas que nunca disse a uma pessoa viva. Minhas esperanças, meus desejos...
todas as coisas que eu queria para nós dois. Ela ouviu e sorriu, só um traço de
tristeza em suas feições quando falei sobre como seria nossa vida – juntos para
sempre na minha cabeça.
Balancei minha cabeça novamente, e Sra. Ryans comprimiu os
lábios. Olhando para baixo em sua mesa, ela torceu um lápis nas mãos. Depois de
um momento, ela olhou de volta para mim. Não sendo capaz de encará-la, eu
desviei meus olhos. — Luc, eu realmente gostaria de ajudá-lo. Você pode me falar
sobre ela... está tudo bem.
Silenciosamente, eu disse: — Não há nada para contar. Eu... eu não a vi.

— Engoli em seco novamente e arrisquei um olhar para ela. Ela não parecia
comprar minha mentira. Sentindo a necessidade de mudar de assunto, eu disse a
ela: — Eu convidei Sawyer para o baile.
Ela piscou para mim, e, em seguida, um enorme sorriso iluminou seu
rosto. — Isso é maravilhoso, Lucas. Verdadeiramente, maravilhoso. Acho que vocês
terão um grande momento.
Sorri e relaxei no meu lugar. — Sim, talvez. — Um enorme sorriso

estampou no meu rosto. — Sawyer está tão animada para ir. Ainda não tenho

certeza sobre a coisa toda, mas o olhar em seu rosto quando perguntei a ela... —

eu ri e balancei a cabeça lentamente, olhando para o meu colo. — Aconteça o que


acontecer lá, valerá a pena, depois de ver esse olhar.
Ergui os olhos para os dela; ela ainda sorria calorosamente para mim. —
Eu nunca teria pensado que um baile estúpido seria tão importante para ela, mas
você deveria vê-la... ela brilha. — Uma risada suave me escapou enquanto eu
pensava sobre seu prazer quando discutimos as escolhas de flores. Ela decidiu por
um corsage de margaridas, de todas as coisas.
— Bem, a maioria das meninas gosta de bailes. Tenho certeza que Lillian e
você foram a alguns? — Distraidamente assenti, ainda pensando na maneira como
os olhos de Sawyer se iluminaram quando ela mencionou em ir até a lanchonete,
assim a minha mãe poderia nos ver.

301
Ouvi a Sra. Ryans fazer sua próxima pergunta e me encontrei respondendo
instintivamente. — Eu não sabia que seguiria com o seu plano louco quando ela
apareceu para mim ontem à noite, mas, não, Lillian ficará bem com isso. Ela quer
que eu esteja com Sawyer... — eu congelei quando o que ela perguntou finalmente
filtrou na minha cabeça. Ela perguntou se Lillian tivera um problema comigo indo
para um baile com outra garota. Pensava sobre outras coisas e respondi
reflexivamente. Ela acabara de preparar uma armadilha para mim e como um
idiota, eu caí diretamente nela. Ela pegou completamente a minha mentira.
— Então você viu Lillian na noite passada. — Ela manteve o rosto e a voz
neutros, mas eu pensei poder detectar preocupação.
Balancei minha cabeça. — Não quero falar sobre ela. Ela não é uma parte

disso... de eu estar drogado na escola, e é por isso que estou aqui. — Meu tom de
voz era insistente e desesperado. Eu queria parar todas essas conversas paralelas
que tivemos. Nenhuma delas tinha nada a ver com Josh me drogar.
Ela balançou a cabeça para mim. — Lucas — disse ela em voz baixa. —
Eu te disse antes, foi isso que fez você chegar até aqui... mas não é por isso que
você está aqui.
Meu rosto endureceu. — Sim, é por isso. A única razão pela qual estou aqui
é para completar a minha punição para que eu possa voltar para o clube. Só estou
aqui porque eu estava drogado e fui pego.
Ela se recostou na cadeira e cruzou os braços sobre o peito. — E por que
você quer voltar para o clube?
Eu fiz uma careta. — Porque... eu... eu quero... ajudar... a escola.
Ela levantou uma sobrancelha para mim, mais uma vez pegando a minha
mentira. — Você não mostra nenhum interesse em fazer parte desta escola, nem
mesmo de ser parte desta comunidade. Por que realmente você quer voltar?
Eu suspirei, sabendo que precisava confessar. — Para ficar com Sawyer.

Ela assentiu com a cabeça, como se soubesse disso. — Mas... você não quer

estar com ela. — Eu balancei minha cabeça, a ponto de discutir e ela emendou

rapidamente. — Não mais do que um amigo. Você quer manter essa distância por
causa de Lillian. Porque, na sua mente, você ainda está com ela. Porque sua culpa
302
e vergonha... não deixará você soltar seus amigos. Você segura tão apertado... você
está se afogando. Você não fala com ninguém. Você mal olha para alguém. Você se
afasta de tudo. Alguém droga você... e você não faz nada. Seu corpo ainda está
neste mundo... mas lentamente você o deixa. Você vê como isso está
conectado? Você vê por que realmente está aqui?
Meu rosto pálido, eu murmurei: — Não, por quê?

Ela colocou a mão no meu braço e suspirou. — Uma parte de você quer se
reconectar, Lucas. Uma parte de você quer ficar com Sawyer. Uma parte de você
quer pertencer a este mundo. Uma parte de você quer viver, Lucas. Você apenas
tem que estar disposto a deixar essa parte sair.
Eu não sabia o que dizer sobre isso, então eu não disse nada. Não fiz
nada. Olhei em seu computador e vi as linhas sinuosas novamente. Senti meu
estômago se apertar com a gélida familiaridade e me concentrei em manter minha
respiração natural e uniforme. Ouvi seu suspiro com a minha reação. Não sabia o
que ela queria de mim, mas eu não tinha mais nada para dar a ela hoje. Ela parecia
entender isso, sendo que o restante de nossa sessão foi tranquila, com o seu falar
e me escutar, assentindo ocasionalmente e murmurando uma palavra em
respostas quando era apropriado.
Quando o nosso tempo acabou, ela se aproximou de mim e colocou a mão
no meu ombro. — Eu sei que o seu tempo obrigatório aqui está terminando, mas

eu realmente gostaria de continuar vendo você. — Ela sorriu encorajando

enquanto o meu coração caía. — Eu gostaria de ajudar, Lucas.


Eu me levantei, sem dizer nada, apenas pensando, sem chance, bola de
neve!
Saí da sala e fui encontrar Sawyer. O clube da pureza estava tendo um dia
de evento, o que significa que perseguiam outros clubes e práticas esportivas para
recrutar mais membros. Era quase como uma seita estranha, liderados pela Sra.
Reynolds. Entretanto, funcionava; o clube triplicou de tamanho desde que Sawyer
e eu nos juntamos no início do ano letivo.
Eu os encontrei vadiando ao redor do time de basquete no
ginásio. Distribuíam camisetas para os jogadores, e eram ridicularizados pelos
referidos jogadores atrás de suas costas. Porém, não por todos. Alguns tinham

303
expressões pensativas e ficaram com as camisas, jogando-as sobre o seu ombro ou
rapidamente guardando-as em suas bolsas de ginásio. Algumas dessas pessoas
lançaram olhares rápidos para mim enquanto faziam isso e eu me perguntava se
eu era uma propaganda ambulante para participarem do clube. Não deixe que isso
aconteça com você.
Suspirei e revirei os olhos. Vi Sawyer com o canto dos olhos acima nas
arquibancadas, conversando com Sally novamente. Sally era pequena e larga, com
cabelos castanhos e cachos indefinidos. Seu estilo era meio que granola19, como
provavelmente também estava no Clube Salve a Terra. Mas ela tinha um dos
sorrisos mais bonitos que vi em algum tempo. Eu a conheço há muito tempo, mas
nunca realmente a conheci. Ela fazia Sawyer rir no momento, então gostei dela
imediatamente.
Eu fiz meu caminho quando membros do clube começaram a se despedir e
deixar o ginásio. Sawyer me viu e acenou. Hesitantemente, me aproximei dela, não
tendo certeza se a minha presença aqui era tecnicamente uma participação na
atividade do clube ou não. Eu não era bem-vindo para me juntar, mas não tinha
certeza se eu estava proibido, tampouco. Sally só me deu um leve sorriso quando
as alcancei. Eu vi a tensão no sorriso e pensei que ela provavelmente não aprovava
me ver por aí, mas era simpática o suficiente para não dizer nada diretamente para
mim.
Desviei o olhar e murmurei — Pronta, Sawyer?
Ela se levantou e alegremente disse adeus a Sally. Ela ainda estava
zumbindo sobre o baile; elas aparentemente falavam sobre isso. Quando ela pulou
da arquibancada, eu olhei para Sally. Ela assentiu educadamente para mim, mas
tinha um olhar estranho em seu rosto, quase compaixão e reprovação. Como se
entendesse que as coisas foram difíceis para mim, mas ainda não gostava de mim
ou o que eu fiz. Eu poderia entender isso.

19 Adjetivo usado para descrever pessoas que são ambientalmente consciente, de mente aberta,
socialmente consciente e ativa, anti-discriminação (racial, sexual, sexo, classe, idade, etc.) com
ênfase na vida orgânico e natural, que normalmente irá abster-se de consumir ou usar qualquer
coisa que contenha animais e subprodutos animais (para a saúde e / ou razões ambientais),
geralmente preocupados com o desperdício de recursos. Esta definição é muitas vezes confundida
com hippie.

304
Enquanto Sawyer e eu fomos embora, eu balancei a cabeça e suspirei. Ela
perguntou se eu estava bem e em vez de minha resposta habitual de bem, eu disse
a ela que Sally não gostava de mim.
Ela balançou a cabeça. — Não, ela gosta.

Eu dei um olhar vazio para ela. — Ela disse isso?


Ela franziu a testa e seus olhos se deslocaram para os cantos enquanto
corria através de conversas passadas em sua cabeça. — Bem, não, não mesmo. —

Ela olhou para mim novamente. — Ela nunca disse nada de ruim sobre você, no
entanto.
Sorri com isso, na sua lógica, não dizer nada era semelhante a gostar. —

Isso é porque ela gosta de você, Sawyer. — Incisivamente eu disse: — Acredite em


mim, ela não confia em mim e ela não gosta de mim. Se você dissesse a ela que iria
com outra pessoa para o baile, você veria. Ela provavelmente faria piruetas.
Sawyer suspirou quando abriu a porta do ginásio. — Nem todo mundo está
contra você, Luc.
Eu suspirei enquanto a seguia. — Então, você fica me dizendo...
Eu estava ansioso para ir para a cama depois de Sawyer sair. Eu queria
desesperadamente ver Lil. Desejando deitar e que a noite passasse muito
lentamente. Especialmente desde que mamãe trabalhava e não tinha ninguém para
me ajudar a passar o tempo. Acabei rastejando para a cama às seis e olhando para
o meu teto, esperando que o sono me reivindicasse. Quando isso não aconteceu,
eu considerei estalar um Ambien... mas lembrei da minha promessa para Sawyer
e seu rosto quando conversamos sobre isso, então eu não tomei.
Eventualmente, o meu corpo sucumbiu ao sono, e me afastei para a
inconsciência. Eu flutuava em um reino nebuloso, sem saber onde estava, quando
era ou mesmo o que eu era. Então meu mundo pareceu solidificar e eu tive a nítida
sensação de ar fresco escovando minha bochecha, seguido pelo som de cascalho
sendo triturado sob meus sapatos. Senti o cheiro de ar fresco e limpo e ouvi um
estrondo de trem à distância. Sorri quando percebi onde estava.
Eu me virei. Atrás de mim, estava uma casa de dois andares com aparência
decadente, com uma grande garagem retangular pavimentada e uma cesta de
basquete proeminente pairando sobre a garagem. A casa viu melhores dias, mas
305
sendo os pais ocupados com dois garotos indisciplinados, os reparos domésticos
caíram no esquecimento. Dois meninos indisciplinados... e eu, suponho, desde que
eu era como uma grande parte desta casa como os filhos de verdade, Darren e
Josh.
Olhei para a casa, relembrando. Eu não estive na casa na vida real desde o
acidente. A família de Darren ainda morava lá, eu apenas não era mais bem-
vindo. Olhando para a imagem perfeita que criei com minhas lembranças, eu sorri
quando olhei a janela do segundo andar sem um obturador20. Josh tentara se
esgueirar uma noite. Ele tropeçou e arrancou a madeira decorativa, e tanto ele
como o obturador caíram no chão. Eles nunca repararam a janela, usando o
dinheiro para reparar o braço de Josh ao invés disso. Eu levei meus olhos até a
calha que estava meio afastada da casa. Darren estava convencido de que ele era
Homem-Aranha quando tinha oito anos, e já tentara subir a casa para provar isso
para mim, desde que eu disse que ele estava cheio de porcaria. Ele percebeu que
não era o Homem-Aranha no minuto que a calha cedeu sob o seu peso, e ele caiu
no chão e torceu o tornozelo.
Observei as outras características que eu conhecia tão bem, assim como a
minha própria casa. O local descoberto sobre o telhado; nós usamos as telhas por
anos para pular de lá para sua piscina desmontável. O entalhe na porta da garagem
onde Darren acidentalmente encostara sua Geo. O longo arranhão ao longo do lado
da casa que Darren e Josh fizeram quando tentaram transportar uma mesa de
ping-pong convencional no caminho revestido de roseira que levava à porta da
frente. A única coisa que fizeram com sucesso naquele dia foi arranhar a casa e
atropelar algumas das amadas flores de sua mãe.
Ninguém na casa esteve feliz naquela noite. Ainda assim, tenho certeza de
que a mãe de Darren tomaria mil dessas noites em troca da noite que eu dera a ela
meses atrás. Um longo suspiro saiu de mim quando pensei na última vez que a
vi. Foi no funeral de Darren. Ela nem sequer olhou para mim. Eu não poderia me
levar a falar com ela ou com o pai de Darren. Eu os assisti na parte de trás da
cerimônia, imaginando o quanto eles me odiavam. Não vejo como eles poderiam
sentir nada menos do que ódio de mim.

306
Certamente era assim para os pais de Lil e de Sammy. A mãe de Sammy me
deu um tapa no funeral de Sammy. Minha mãe quase bateu na bunda da mulher,
mas a mãe de Sammy começou a chorar e teve que ser retirada pelos irmãos mais
velhos de Sammy. Toda a família deixou a cidade não muito tempo depois.
Os pais de Lil também se mudaram, voltaram para onde moravam
originalmente. Seus pais foram mais reservados perto de mim, parecendo não ter
qualquer raiva, apenas lamentavam. Eles lamentavam por trazê-la aqui, em
primeiro lugar. Eles lamentavam por incentivar nosso relacionamento. E eles
lamentavam por confiar em mim. A última coisa que seu pai me disse foi: — Como
pôde não ser mais cuidadoso.
Desde que me perguntei a mesma coisa todos os dias, eu só poderia acenar
a cabeça para ele e dizer: — Eu não sei. — Seus pais foram embora com sua irmã
mais nova não muito tempo depois. Os únicos que sobraram foram Josh, sua mãe
e seu pai. Não vi as duas últimas pessoas; nós evitamos tudo que possa nos colocar
em contato uns com os outros. Quanto a Josh... bem, ele eu não poderia evitar até
me formar.
Uma voz na minha frente me tirou da minha melancolia. — Segure.
Instintivamente olhei para cima, bem quando uma bola de basquete se
dirigia para o meu peito. Eu a peguei, minha cabeça olhando para Darren na minha
frente, rindo. Eu ri também e bati a bola no chão algumas vezes. Ele agachou para
defender a cesta atrás dele e me agachei, também, movendo a bola de um lado para
o outro.
— Ei, Darren, é bom ver você.
Ele mudou de um pé para o outro, observando meus movimentos. — Sim,
bem, eu fico entediado saindo apenas com duas meninas o tempo todo... pensei
em surpreendê-lo.
Eu ri imaginando ele, Sammy e Lillian andando ao redor de algum lugar
etéreo, à espera de uma porta de entrada abrir para os meus sonhos. Uma parte
de mim sabia que não era assim que funcionava, sabia que eles não eram pessoas
reais esperando por mim. Mas aliviou meu coração pensar neles dessa maneira,
pensar neles com uma vida plena e completa, mesmo quando eu não estava por
perto. Muito parecido com Sawyer, como eu plenamente percebi hoje.

307
Ele sorriu e de repente me mudei com a bola, girando ao redor dele quando
ele chegou perto de mim. O treinador estava certo, porém, Darren tinha boas
mãos. Ele serpenteou fora e arrancou a bola de mim, torcendo e tirando antes que
eu mal registrasse que a bola foi embora. Ela balançou através do aro e ele
bombeou um punho no ar.
Ele apontou para mim quando foi pegar a bola que começava a saltitar sobre
a grama. — Você ainda é ruim, Lucas. — Ele riu quando se abaixou para pegar a

bola. — Você achou que faria melhor em seus sonhos.


Exalei lentamente enquanto tomava o seu lugar, agachando-me na frente
da cesta. — Eu sou tudo sobre realismo — eu murmurei mal-humorado.

Ele driblou a bola e inclinou a cabeça para mim. — É por isso que você e
Lil ainda não fizeram isso?
Eu me endireitei com seu comentário e ele correu atrás de mim, marcando
outra cesta. Ele riu pegando a bola e jogando-a para onde eu ainda estava de pé
no mesmo lugar. Peguei e dei um olhar. — Nós vamos, Darren... em breve.
Driblei a bola e troquei de lugar com ele. Agachou-se, pronto para mim e
imediatamente tentei fingir e dar a volta nele. Não funcionou. Ele antecipou o
movimento e se abaixou sob minha mão para pegar o drible antes de
mim. Habilmente, ele girou e atirou a bola na cesta. Exibido.
Peguei a bola enquanto ele ria de mim novamente. — Você nunca vai

marcar, Luc. — Sabendo que ele quis dizer em mais de uma maneira, eu atirei com

força a bola para ele. Ele resmungou quando pegou. — Ei — ele murmurou.

Eu estava sob a cesta com os braços estendidos. — O que está realmente


em sua mente, Darren?
Ele quicou a bola ociosamente, enquanto olhava para mim. Finalmente, ele
suspirou e encolheu os ombros. — Apenas acho que é estúpido, Luc. — Cruzei os
braços sobre o peito e me inclinei para trás, esperando que explicasse isso. Ele
suspirou novamente e segurou a bola debaixo do braço. — Você esperou para ter
relações sexuais com Lil na vida real, mas tenta levá-la a percorrer todo o caminho
com você em seus sonhos? Você é louco, cara.

308
Olhei para ele quando irritação queimou em mim. Por que ele sempre tem
que ir lá? — Obrigado. — Meu tom era plano, nem um pouco divertido. Inalei,

levantei meu queixo e acrescentei: — Por que não deveríamos? Como você sempre
diz, é só sexo. Por que fazer um negócio tão grande com isso?
Ele olhou para mim, incrédulo, como se eu acabasse de perguntar a coisa
mais ultrajante que já ouviu. — Uh, porque ela está morta. Porque nós não
estamos falando de vocês adiando no baile, porque ela achava que era muito
clichê. Ela é um cadáver, cara.
Empalideci em sua dura escolha de palavras. — Você também.
Uma borda de seu lábio torceu em um sorriso irônico quando ele levou a
mão ao peito. — Sim, mas apenas conversamos. Não transamos.
Olhei para longe dele, desejando que ele deixasse isso ir e simplesmente
ficasse comigo, sendo apenas o melhor amigo que eu precisava que ele fosse. Minha
vida real era dura o suficiente. Eu não preciso que isso filtrasse em meus sonhos
também. — Eu quero, Darren. — Mais silencioso eu acrescentei, — eu sempre
quis.
Senti que ele veio até mim e colocou a mão no meu ombro. Relutantemente,
olhei para ele. Seu rosto era firme, mas profundamente compreensivo. — Mas você

não fez, Luc. Vocês decidiram esperar... e você perdeu o tempo. — Ele balançou a

cabeça, um sorriso triste em seus lábios. — Você tem que deixar isso ir.

Balancei minha cabeça, minhas sobrancelhas franzindo. — Não, eu não

posso... eu não... — fechei minha boca, e fiz uma pausa, me reorganizando. —


Dessa forma eu posso estar com ela. Podemos continuar exatamente de onde
paramos. Será como se nada de ruim tivesse acontecido. — Eu sabia que meus
olhos e voz imploravam a ele, e eu não sabia por que precisava tanto de seu apoio
nisso. Talvez eu estivesse apenas cansado de ser cobrado por pessoas sobre o
assunto.
Ele suspirou e colocou a bola no chão. Ela saltou apenas uma vez e, em
seguida, sinistramente se prendeu ao chão com um baque surdo. Darren passou
as mãos pelo cabelo e resmungou. — Mas coisas ruins aconteceram, Lucas. E você

não pode simplesmente desejar de longe. — Ele acenou com os braços ao redor

309
dele, indicando sua casa e garagem. — Cara, tudo isso está apenas na sua

cabeça. Se você tiver relações sexuais com ela, será apenas na sua cabeça! — Ele

me deu um olhar aguçado e enfiou um dedo no meu peito. — Você vai acordar
sozinho em sua cama, desejando ter algo mais.
Dei um passo para trás e empurrei os ombros para longe de mim. Senti
minha mandíbula apertar enquanto respondia. Ele batia muito perto de casa, e o
medo começou a se misturar com a minha irritação. — Então... isso vai parecer
real no momento.
Seu rosto permaneceu simpático, mas seu tom de voz traiu seu próprio
temperamento subindo. — Mas, Luc... não é. Ela está morta, homem... deixe-a ir,

vamos todos ir. — Ele deu um passo para frente e colocou as mãos sobre os meus

ombros como se quisesse sacudir algum sentido em mim. — Você morrerá virgem
porque não pode deixá-la ir. Sonhos molhados será a extensão de seus
relacionamentos, e isso não é justo para as pessoas reais que você ama. E ela ama,
você sabe. E você, também.
Bati seus braços para longe e levantei os meus no ar. — O que diabos você
está falando?
— Deus, nunca percebi o idiota de merda que você é. — Ele empurrou meu
ombro novamente. — Sawyer, idiota. Você quer ficar com Sawyer. Você sabia... né?
Eu me irritei, de repente furioso que todo mundo tentasse me dizer como
eu me sentia. Por todo mundo estar atrás de mim por querer estar com a
minha namorada. O que era tão errado sobre desejar ser fiel a minha
namorada? Não era possível as pessoas apenas deixarem à minha vida de
fantasia? Não era possível a minha vida de fantasia me deixar ter a minha vida de
fantasia? Eu dei um passo para trás e me movimentei em torno dele. — Por que
não podemos apenas ficar juntos e sair, como costumávamos fazer, Darren? Por
que você sempre tem que ficar atrás de mim?
Suas mãos estenderam para me parar e me virei para encará-lo. Eu pensei
que seus olhos estavam embaçados, mas não poderia realmente dizer pela minha
própria neblina de raiva. — Porque eu sou o seu melhor amigo. E às vezes isso
significa que eu tenho que dizer coisas que você não quer ouvir.

310
Balancei minha cabeça, minha raiva desaparecendo à medida que tristeza
me enchia. — Seu irmão, toda a sua família, a escola, Deus, toda a cidade... nada
lá é fácil para mim. Eu só preciso que você aceite que é assim que eu quero as
coisas... e seja meu amigo. Eu preciso disso, Darren. Preciso de vocês.
Seus olhos definitivamente molhados. — Eu sei, Luc. E se eu achasse que
o ajudaria, eu não diria nada. Mas, você me assusta. Você assusta a todos
nós. Você sobreviveu, Luc... — ele agarrou meus ombros, uma lágrima caindo de

seu rosto, —... então viva.


O medo gélido que eu senti antes voltou, e de repente eu não queria estar
lá. Eu me afastei dele, sentindo-me como se estivesse em mais uma sessão de
aconselhamento e afastando a Sra. Ryans em vez de afastar meu melhor amigo. Por
mais que eu tentasse recriar minha antiga vida, de repente senti como se não
tivesse recriado absolutamente. — Preciso acordar agora, Darren. Nos vemos por
aí.
Seu rosto implorou para mim quando outra lágrima caiu de seu rosto. —
Espera... Luc...
Meus olhos se abriram e olhei para o meu teto, ainda vendo o rosto ferido
de Darren. Fechei os olhos e senti as lágrimas, mas as segurei e me fiz
levantar. Ainda era tarde da noite, não passou muito tempo, como parecia. Levantei
e passei a mão pelo meu rosto, querendo que o sonho desaparecesse da minha
memória. Eu estava muito acostumado a mantê-los, entretanto. Era um hábito em
mim, puxando cada momento dos sonhos para que eu não os esquecesse, a ponto
de não conseguir fazê-lo agora. A conversa se incorporou em mim, eu goste ou não.
Levantei e fiz meu caminho para minha porta, querendo um pouco de
água. Parei quando meu olho captou a imagem que sempre estava enfiada no meu
espelho. Olhei para o rosto de Darren nela e me perguntei se a minha versão de
sonho dele estava próxima do Darren real, como eu pensava que era. Infelizmente,
eu não tinha nada para comparar. Darren e eu nunca tivemos uma conversa sobre
dormir com uma garota morta na vida real. Na verdade, as únicas conversas que
tivemos sobre sexo foi ele me provocando pela minha falta dele. Ele nunca entendeu
por que Lillian e eu deixamos oportunidade após oportunidade passar. Às vezes eu

311
também não, mas pensávamos que teríamos mais tempo. Pensávamos que
teríamos todo o tempo do mundo. Estávamos tão errados.
Arranquei meus olhos do retrato e caminhei para o corredor, precisando da
água agora. Parei do lado de fora da minha porta e fiz uma pausa, cada fibra minha
disparando com energia antecipatória. Ouvi uma voz vindo da
cozinha. Imediatamente, olhei a porta da minha mãe. Era tarde, ou mais cedo,
dependendo da sua definição, e minha mãe deveria estar em casa. A porta estava
fechada e sua luz apagada. Não poderia dizer se ela estava lá ou não.
Voltei para o corredor e escutei mais duramente enquanto rastejava ao
longo da parede. Não sabia quem estava em nossa casa, ou se estavam ou não
fazendo mal a alguém, tudo que eu sabia com certeza, era uma voz profunda –uma
voz de homem, e estranhamente... familiar.
Parei na sala onde eu podia ouvir melhor, todo o meu corpo tenso. A voz
mais suave respondeu ao homem e reconheci como minha mãe. Relaxei quando
percebi que ela falava com alguém que ela conhecia. Isso provavelmente significa
que a pessoa não nos atacaria. Curiosidade me impeliu para frente apesar de
tudo. Com quem ela falava a essa hora?
As vozes eram baixas demais para entender as palavras, mas o tom era
suave, relaxado, e às vezes uma risada suave e feminina ecoou de volta para mim. A
energia que senti foi que ela estava tendo uma conversa amigável. Avancei ainda
mais, odiando que eu meio que a espionava, mas não era capaz de ficar sem
saber. Eu tinha um súbito respeito para gatos e seu temido senso de curiosidade.
Apenas quando pensei ouvir o homem dizer alguma coisa com o meu nome
nele, seguido por um longo suspiro e um, eu não sei, da minha mãe, eu
desajeitadamente bati contra a mesa próxima ao lado do sofá, derrubando um
porta-retrato em cima dela. Imediatamente corrigi, mas pelo silêncio na cozinha,
eu sabia que eles ouviram. Sentindo-me culpado e estúpido, eu corri para o meu
quarto.
Inclinando-me contra a minha porta, ouvi a porta da frente abrir e
fechar. Exalei baixinho e inclinei minha cabeça contra a madeira, imaginando o
que estava prestes a descobrir. Ouvi minha mãe vir pelo corredor e congelei, com
cuidado para não fazer um som, de modo que ela achasse que eu ainda estava

312
dormindo. Seus pés se arrastando pararam na minha porta e a senti se inclinar
perto dela.
— Luc? Você está acordado? — Ela perguntou em voz baixa. Segurei um
suspiro, dilacerado por querer mentir com o silêncio, e querer ser honesto e
confessar. — Lucas — ela disse novamente.
Deixei escapar um suspiro neste momento e virando, abri a porta. Escondi
o suficiente da minha mãe já; eu realmente não poderia lidar com escondendo
mais. — Sim, estou acordado — eu murmurei, quando culpado olhei para os meus
pés.
— Está tudo bem? — Ela perguntou e olhei para ela. Ela ainda usava seu
uniforme de garçonete e seu cabelo ainda estava puxado para trás em um rabo de
cavalo caindo aos pedaços. Ela parecia cansada e desgastada, mas um leve traço
de felicidade estava ao seu redor também. Nada óbvio, apenas uma ruga nas linhas
ao redor dos olhos e uma ligeira elevação do lábio, enquanto sua testa franzia com
preocupação... provavelmente nada, mas ninguém, além de mim, não perceberia.
Seus olhos idênticos analisaram meu rosto e rapidamente respondi. —

Estou bem... só não conseguia dormir. — Ela assentiu com a cabeça e levou a mão

até minha bochecha. Ela estava prestes a falar quando interrompi: — Alguém

estava aqui? Pensei ouvir a voz de um homem. — Corei um pouco ao admitir que
ouvi, mas, novamente, estava curioso.
Seu rosto empalideceu e ela afastou a mão do meu rosto. Ela abriu a boca
algumas vezes antes de me responder. — Uh, oh... isso era... — seus olhos corriam
rápidos sobre o meu rosto, e se eu não soubesse melhor, eu jurava que ela estava
à procura de uma mentira. — Hum, Jake... do restaurante. — Seu rosto relaxou

e ela casualmente lançou uma mão no ar. — Eu tive problemas para ligar o meu

carro e ele me seguiu até em casa, só para ter certeza de que eu estava a salvo. —

Ela sorriu e deu um tapinha no meu ombro. — Eu ofereci uma xícara de café antes
que ele fosse para casa. Sinto muito se acordamos você.
Eu fiz uma careta quando olhei em seu rosto. Isso pareceu genuíno
suficiente. Vi Jake algumas vezes. Ele era um cozinheiro e sempre ajudava quem
precisava. Ele seguindo minha mãe em casa só para ter certeza que ela conseguiu

313
voltar com segurança era exatamente algo que ele faria. Mas, ainda assim, algo
sobre a inclinação de sua mandíbula e o brilho nos seus olhos gritavam para mim
– não pergunte mais, basta acreditar em mim.
Suspirei, pensando que meu sonho deixara meus sentidos fora de
controle. Minha mãe não mentiria sobre algo assim. Ela pode tentar esconder o
quão difícil a vida dela era de mim, mas ela nunca mentiria descaradamente. Não
para mim.
Culpa passou por mim por eu não poder ser mais honesto com ela. Inclinei
e a puxei para um abraço. — Você não me acordou, mãe. — Suspirei de novo. —

Desculpe espiar... eu só não sabia quem estava aqui. — Apertei o abraço e

sussurrei em seu cabelo: — É o meu trabalho mantê-la segura, certo?


Ela devolveu meu abraço e depois se afastou. Ela levou a mão até minha
bochecha novamente e balançou a cabeça. — Não, é o meu trabalho mantê-lo
seguro. Não importa quantos anos você tenha... você ainda será meu filho, e eu
faria qualquer coisa por você. — Ela se inclinou para mim, o rosto de repente

intenso. — Você sabe disso, não é?

Pisquei para a sua expressão e acenei com a cabeça. — Sim, eu sei, mãe.

Ela assentiu e relaxou, deu-me um beijo na bochecha. — Tente voltar a


dormir, Lucas. Você precisa descansar.
Eu a observei andar pelo corredor até o seu quarto e, então, virou e fechou
a porta. Eu não tinha ideia se eu queria voltar a dormir de novo ou não. Não quero
lutar novamente com Darren. Eu odiava isso. Nosso tempo juntos era uma coisa
preciosa para mim e eu odiei desperdiçá-lo batendo-boca como garotas
caluniadoras. Balancei minha cabeça e suspirei. Bem, até mesmo uma briga com
Darren era preferível à dormência da minha existência cotidiana. Eu aproveitaria
a oportunidade da mesma forma que aproveitei a oportunidade cada vez que fechei
meus olhos.
Havia sempre um risco quando eu sonhava, sempre uma possibilidade de
que o agradável poderia se transformar em um pesadelo. Como o que me levou a
esse momento infelizmente apaixonado com Sawyer. Um momento que ainda me
atormentava, tanto pela forma apaixonada, quanto por quão horrível a memória
era. Eu odiava ferir ou confundir Sawyer. Ela era minha melhor amiga viva.
314
Com o que parecia ser o centésimo suspiro hoje à noite, eu rastejei de volta
para minha cama e coloquei a cabeça em meus braços. Olhei para as rachaduras
familiares e linhas falhadas no reboco. Linhas que eu realmente não podia ver no
quarto escuro, mas sabia que estavam lá. Distraidamente tracei mentalmente as
linhas, quando ouvi uma voz ao meu lado dizer calmamente: — Você realmente
deveria consertá-los um dia, Lucas.
Sorrindo muito, eu virei minha cabeça. — Ei, Barbie.
Os olhos claros de Lillian, cinza na escuridão do meu quarto, pareciam
brilhar para mim com vida. Ela bateu levemente meu braço. — Não me chame
assim.
Sorri e me inclinei para beijá-la. — Que tal... eu amo você, ao invés.
Eu me afastei para olhá-la e ela mordeu o lábio antes de balançar a cabeça
e suspirar: — Eu também te amo.
Ela se inclinou para mim, envolvendo as mãos no meu cabelo e me puxando
para cima dela. Minhas mãos em volta da sua cintura e correndo por sua
coluna. Um arrepio percorreu-me quando nossos corpos nus de repente
pressionaram juntos, e com um gemido profundo, eu me perdi na profundeza de
seu doce beijo.

315
Capítulo 16
Dia D

Eu estava frustrado. Não, eu acho que deixei a frustração para trás há


alguns dias. Agora, eu caminhava para uma profunda agitação crônica. Tenho
sonhado cada vez mais frequentemente com Lillian... e eles não iam como planejei,
ou mesmo como imaginei que seriam.
Esta manhã, bem como várias outras manhãs, eu acordei com o começo de
um sonho com ela. Foi um intenso, bem como vários outros sonhos que eu tive
com ela. Estávamos no meu quarto, ofegantes de desejo, e ela me disse que me
amava mais que tudo. Eu disse a ela que a amava também, e a queria
desesperadamente. Ela disse sim e me colocou em cima dela, nossos corpos se
contorcendo nus alinhados perfeitamente.
E foi quando eu acordei. E foi quando eu sempre acordei. Gostaríamos,
contudo de conseguir passar por este ponto.
Eu bati com força no travesseiro ao meu lado e amaldiçoei o fato de não
poder controlar os sonhos como eu queria. Eu não pude parar de acordar logo no

316
momento crítico e isso, inacreditavelmente, começava a me irritar. Eu queria estar
com ela... porque não podia estar com ela?
Eu me levantei, tomei banho, fiz a barba e me vesti para o meu dia. Era
sexta-feira. Era o dia, a sexta-feira do baile. O dia D. Eu sabia como seria a escola
hoje. Seria uma versão mais ampliada do que foi toda esta semana. Com a iminente
promessa de um recesso escolar no horizonte, e a esperança de romance (para as
meninas) e, possivelmente, depravação (para os meninos), com a noite chegando,
o corpo estudantil estava energizado.
Havia uma vibração constante ao redor das classes. Eu me desliguei da
maior parte, mas ainda peguei frases como: Com quem você vai? O que você
usará? Você acha que ele me beijará? Você acha que ela vai colocar para
fora21? Conversas pré-baile bastante padrão. Mantive minha cabeça abaixada e
empurrei tudo para fora. Especialmente quando ouvi o meu nome sussurrado em
mais do que algumas ocasiões. Esses eu tentei ignorar, mas ainda se infiltrou:
Lucas estará lá, acha que ele ficará sóbrio? Acha que ele vai batizar o
ponche? Sawyer realmente o impedirá de ficar bêbado? Sawyer bebe também? Ela
deve beber quando está grávida?
Sim, ainda havia rumores de gravidez flutuando sobre nós. Isso seria uma
gravidez muito milagrosa, se fosse verdade.
Pensar sobre o meu status de virgem trouxe a minha mente de volta para
Lillian. Eu não conseguia entender por que os sonhos me estalavam para fora. Eu
nunca os perdi de forma tão consistente no mesmo lugar antes. Era como se tivesse
um cinto de castidade etéreo e eu não era permitido a atravessá-lo. Nem sequer
tenho alguém com quem poderia falar sobre isso. Minha mãe? Deus, não. De jeito
nenhum. Sawyer? Acho que essa conversa só iria ferir seus sentimentos e me
deixar terrivelmente desconfortável. Minha conselheira? Não, ela não precisava de
mais munição. Ela já estava firmemente no palanque viva sua vida, ela e Darren,
ambos.
Suspirei e caminhei pela sala de estar. Eu não conseguia nem falar com o
meu melhor amigo sobre isso. Não quando ele estava tão morto e totalmente contra
isso acontecer, em primeiro lugar. Ele pensava que me machucaria mais. Não vejo

21 Gíria para uma menina que dispensa favores sexuais.

317
como isso era possível. O que poderia doer mais do que a dolorosa solidão com a
qual luto todos os dias? Honestamente, eu pensei que finalmente fazer amor com
Lil seria o melhor momento da minha vida.
Tentei expulsar quão triste essa declaração realmente era quando entrei na
cozinha. Um pote cheio de café quente me encontrou, junto com uma nota:
Tive um compromisso mais cedo. Vejo você mais tarde hoje à noite, no
jantar. Mal posso esperar para ver Sawyer toda arrumada! Amor, mãe.
Eu meio que sorri e me servi um copo. Mamãe, como uma típica mãe, estava
animada em ver Sawyer e eu vestidos como adultos em miniatura. Sawyer viera no
último fim de semana e experimentou alguns dos vestidos da mãe. Ela estava
relutante no início, nem mesmo querendo experimentar, mas eventualmente ela se
animou e experimentou os dois mais elegantes. Mamãe nunca se livrou de suas
roupas de festa. Muitos deles eram de antes de eu nascer, mas ela argumentou
que, eventualmente, ela pode ter alguma razão para usá-los e vestidos bonitos eram
caros. Enquanto via Sawyer rodopiar no quarto da minha mãe em dois desses
vestidos, eu pensei que a minha mãe era muito inteligente.
Bebi meu café em silêncio e me distraí olhando para fora da janela, à espera
de Sawyer vir me buscar como fazia todas as manhãs. Nossa política de não-toque
ia mais ou menos bem. Não seguramos mais as mãos e não abraçamos ou
colocamos um braço ao redor do outro. Honestamente, eu sentia falta do contato,
mas não era justo com ela ou com Lil continuar com o... bem, acho que flertar, na
verdade.
Não que fosse perfeito. De vez em quando escorregava. Uma vez, enquanto
assistia a um filme com ela (e vê-la mais do que o filme), a minha mão agiu por
conta própria e se aproximou a meia-almofada entre nós para agarrar seus
dedos. Eu não tinha a intenção de fazer isso, mas uma vez que ela se virou e sorriu
para mim, entrelaçando as mãos juntas, eu não fui capaz de me afastar, sem
ofendê-la, e passamos o resto do filme dessa maneira.
Então, houve momentos ocasionais em que eu só precisava que ela me
tocasse, precisava de suas carícias reconfortantes – más recordações, pesadelos,
maus encontros com aqueles que costumavam ser amigos ou, mais
frequentemente, as más sessões de aconselhamento. Bem, talvez não
necessariamente ruim, mas... difíceis. Feridas e cicatrizes eram levantadas e

318
esfregadas, e eu odiava. Eu odiava ir e odiava falar, no entanto, encontrei-me
dizendo mais e mais a cada sessão. E o assunto favorito da Sra. Ryans... era Lillian
e eu. Ela esquadrinhou uma visão sobre o nosso relacionamento diariamente.
Vendo o carro de Sawyer na garagem afastei meus pensamentos da minha
namorada, e terminei meu café frio, peguei minha bolsa e casaco e fui me encontrar
com Sawyer. Ela sorriu para mim enquanto eu abria a porta e sentava.
— Bom dia, Lucas.
Eu sorri para a sua cara feliz, com o cabelo de meia-noite puxado para trás
em um rabo de cavalo adorável, mostrando as perfeitas maçãs do rosto, que
estavam destacadas em um rosa rosado devido ao frio no ar. Balancei a cabeça
para ela, sabendo que seu sorriso era porque ela nos imaginava no baile naquela
noite. Quando retornei à sua saudação e saí da minha rua, eu esperava que toda
a provocação que ela sofreu recentemente valesse a pena. Eu só tive alguns
vislumbres delas, mas era o suficiente para ferver o meu sangue e me deixar
preocupado com ela. Mas ela rebatia Brittany e seu grupo de torturadores com um
encolher de ombros estilhaçador, assegurando-me de que nos divertiríamos.
Quando assisti a escola pairar cada vez mais perto do para-brisa, comecei
a me perguntar. Deixei de lado o medo na minha barriga quando ouvi Sawyer rir
ao meu lado e quase pular para fora do carro, uma vez que parara. Ela esperou por
mim no capô do carro e um sorriso verdadeiro se espalhou em meu rosto quando
me juntei a ela. Gostaríamos de nos divertir... de alguma forma.
O burburinho em torno da escola era exatamente o que eu esperava. Os
alunos estavam tão envolvidos com o próximo evento que eu era praticamente
ignorado. Além de um olhar estranho de Randy e um olhar sugestivo de Brittany,
eu passei o meu dia praticamente sem ser molestado. Josh nem sequer olhou para
mim. Claro, a grande briga que eu ouvi que ele teve com sua namorada no corredor
durante o intervalo pode ter tido algo a ver com isso. Eu só pego as palavras: —

Por que você não leva sua prostituta para o baile? — Antes de ela sair correndo, e
ele correr atrás dela. Eu suspeitava que talvez Josh foi apanhado com as mãos na
mercadoria de outra pessoa novamente.
Sra. Ryans empurrou e cutucou em nossa sessão, mas ela se segurou em
lugares que ela não costumava segurar, quase como se não quisesse arruinar

319
minha noite ao me levar em uma borda emocional. Nós conversamos muito sobre
o baile e o que significava para mim meio que reentrar na sociedade. Confessei o
meu medo sobre a questão, e ela me garantiu que era pior na minha cabeça do que
na realidade. Ela mais uma vez me incentivou a continuar a vê-la após o término
do meu tempo, e disse que eu poderia ligar para ela durante as férias de inverno
se precisasse falar com alguém. Ela até me deu seu cartão de visita com seu
número de telefone celular escrito no verso. Talvez foi isso o que me abriu. Talvez
seja isso que me fez perguntar quando íamos nos separar:
— Você acha que a vida nunca comete erros?
Eu olhava para baixo, olhando para o acentuado ângulo à direita da sua
mesa quando perguntei isso. No silêncio que cumprimentou a minha pergunta, eu
levantei minha cabeça para encontrá-la olhando para mim com uma expressão
estranha, esperançosa, mas triste também. Finalmente, ela balançou a cabeça e
disse em voz baixa: — Claro, o tempo todo. — Ela suspirou e olhou para o lápis

em suas mãos antes de encontrar o meu olhar novamente. — Tem gente que vive
e que não deveria... e até mesmo morre mais pessoas que não deveriam.
Ela me deu um olhar aguçado quando disse isso e eu assenti. Algo sobre a
frase me incomodava, porém, cutucando em um canto de difícil alcance de meu
cérebro, mas eu tentei empurrá-lo de lado quando vi Sawyer novamente. Seu
entusiasmo borbulhante, eventualmente, afastou todos os pensamentos dolorosos
de meus amigos, e com ela rindo e dizendo que me veria em poucas horas, ela me
deixou em casa.
E assim, antes que eu percebesse, meu dia acabou e eu me preparava para
a grande noite. Era um negócio ainda maior para mim do que apenas um baile –
esta seria a primeira sexta-feira à noite que eu realmente saí de casa em um tempo
muito longo. Pensando nisso, no meio de me vestir e tentar domar o meu cabelo
rebelde, meu estômago começou a dar pequenas cambalhotas. Empurrei de lado o
meu medo, o melhor que pude, e depois de ficar pronto, eu me sentei e esperei o
tempo passar. Demorou um pouco, o que o relógio na parede marcando
ameaçadoramente cada dolorosamente longo segundo, me lembrou.
Senti-me estranho à espera de Sawyer me pegar. Senti-me estranho por
duas razões muito diferentes. Uma delas, por sentir como se tivesse rebobinado

320
para esta manhã, e eu esperava que ela me pegasse para a escola de novo. O fato
de que nós, na verdade, voltávamos para a escola não ajudava. Em segundo lugar,
me senti estranho por não ser eu dirigindo para pegá-la. Não que eu quisesse
dirigir, não que isso ainda fosse uma possibilidade, não acho que eu poderia reunir
a coragem de ligar um carro. Mas, ainda assim, esse era o tipo de evento onde um
cara realmente deveria buscar a garota.
O único bônus de sua vinda para me pegar, eu suponho, é que eu não
precisava enfrentar a ira de seu pai. Talvez ira seja uma palavra muito forte, mas
ela me disse que ele tinha... reservas... sobre nós indo para um baile juntos. Sawyer
teria de tudo, mas prometeu a ele que não abriria as pernas para mim. Ela não
colocou exatamente dessa forma quando me disse envergonhada, mas essa foi a
impressão que tive. Fez-me corar só de pensar nisso, e eu não tinha certeza do
porquê. Talvez porque finalmente quebraríamos nossa regra de não-contato esta
noite. Quebraríamos repetidamente. Estaríamos perto, muito perto... a noite toda.
Limpei minhas mãos suadas em minhas calças pretas e peguei a caixa do
corsage, sacudindo o plástico transparente em minhas mãos, a intrincada
margarida criada dentro dela, deslocando para trás e para frente. Eu realmente
não deveria estar nervoso por segurá-la a noite toda. Não era como se algo fosse
acontecer. Até mesmo tive essa conversa com Lillian, finalmente, para garantir a
ela que íamos só como amigos e não significava nada. Ela olhou para longe de mim
depois que eu disse a ela isso, se desculpou por não poder estar lá comigo. Eu a
segurei e a beijei, e disse que ela estava comigo em todos os lugares em que eu
ia. Ela olhou para mim com tristeza e disse que eu não deveria estar com ela, me
disse que eu deveria estar com Sawyer, já que ela estava viva e poderia me dar a
vida que eu merecia. Eu disse para ela parar de ser ridícula, e a beijei com toda a
ferocidade que eu poderia reunir.
Ela sempre tentou deixar isso escapar em nossos encontros. Que o que
fazíamos não era certo, e que eu não deveria me guardar para ela quando eu tinha
uma garota bem viva diante de mim. Eu odiava quando ela dizia isso. Eu odiava
isso, mesmo depois de derramar o nosso coração um para o outro, ela ainda queria
terminar as coisas. Eu queria que ela entendesse que eu nunca faria.
Luzes salpicaram junto da janela da cozinha e levantei os olhos da mesa
para ver o carro de Sawyer na rua. Exalei lentamente e parei, enquanto observava

321
o carro ser desligado e seu brilho vir a luz quando ela abriu a porta. Tão bonita. Ela
viria até a porta para me pegar, assim como um encontro de verdade. Meu
estômago caiu novamente.
Renunciando o calor de uma jaqueta para o estilo, peguei minha caixa do
corsage e abri a porta para Sawyer. Prendi a respiração quando tive uma visão dela.
Ela parecia... como uma deusa. Ela usava um vestido de festa azul marinho da
minha mãe, de veludo e manga comprida. Não tinha certeza de que minha mãe o
usara, mas tinha um toque sexy. Era longo, quase arrastando no chão, mas não o
alcançando completamente graças aos sapatos de salto alto azul escuro que ela
também pegou emprestado. O vestido alargando levemente em torno de meio da
coxa, com uma fenda no meio começando bem acima do joelho, bem acima da
política da escola sobre comprimentos de saia curta. Eu esperava que eles tenham
esquecido, já que era tecnicamente um vestido. Um sugestivo par de pernas bem
torneadas muito acima da abertura, destacando suas panturrilhas muito bem
torneadas quando seus movimentos oferecia um vislumbre.
Mas realmente não era isso o que o tornava quente. Era o fato de que o
material de veludo se agarrava a cada curva, e não pude deixar de notar uma coisa
que nunca notei antes, algo que suas camisetas soltas e jeans desgastados
esconderam muito bem. Sawyer... tinha um corpo muito bom. Senti meu corpo
responder, apenas olhando-a, e mudei minha descrição inicial – o vestido não era
apenas um pouco sexy, era a coisa mais sexy que eu já vi. Eu realmente tentei
esquecer que era da minha mãe.
Recuperando a mim mesmo, eu saí e fechei a porta. — Você está ótima —
disse a ela. Muito eufemismo?
Ela riu e mordeu o lábio, olhando-me de cima a baixo. — Você está ótimo,
também.
Eu sabia que não chegava nem perto de sua perfeição, com minhas calças
pretas básicas e a tonalidade mais clara da camisa azul que complementava o tom
do seu vestido escuro. Nós optamos por nenhuma gravata, graças a Deus, e sapatos
pretos básicos. Honestamente, eu poderia ter ido à igreja e não a um evento
semiformal, mas Sawyer me queria assim, e esta noite era principalmente para
ela. Um agradecimento, se quiser pensar assim, por me aturar.

322
Ela passou a mão ao longo do meu cabelo, fixando uma parte confusa que
não veio a cooperar comigo, e senti meu corpo reagir ainda mais a ela com o leve
toque. Grande. E nós nem sequer começamos a dançar ainda. Talvez ter
emprestado a ela as roupas da minha mãe foi uma má ideia.
Querendo ser um cavalheiro, e confinando partes do meu corpo, eu
galantemente ofereci o braço e a levei para o lado do motorista do carro. Ela riu
deliciosamente enquanto eu a ajudava a sentar-se. A fenda de seu vestido se abriu
e pude ver uma expansão suave do interior da coxa antes dela ajustá-lo. Meu corpo
realmente gostou disso. Sentindo-me como um idiota, eu me mudei para o lado do
passageiro. Entrei com uma careta no rosto e olhei para ela segurando o volante
com seu vestido bonito, seu anel de ouro brilhando nas luzes do painel. Realmente
não era muito cavalheiro deixar que ela dirigisse. Eu realmente deveria...
— Lucas, você está bem? — Ela perguntou.
Eu rebati meus pensamentos, meu estômago começava a apertar com a
ideia de trocar de lugar, e joguei um sorriso. — Sim, estou apenas não me sentindo

um encontro muito bom. — Corei um pouco ao me chamar de seu encontro e


indiquei o lado do motorista, para cobrir o meu constrangimento momentâneo.
Olhou ao volante e assentiu. — Oh, você quer... dirigir?
Senti todo o sangue correr do meu rosto ao ouvir isso em voz alta. Pensar
era uma coisa, ter apresentado como uma opção viável, era outra completamente
diferente. Eu senti meu estômago dar uma guinada e ouvi meu coração bater tão
forte, que eu tinha certeza de que ela podia ouvi-lo também, no espaço
tranquilo. Suas sobrancelhas se ergueram e as mãos foram para o meu rosto,
parando o tremor repetidamente na minha cabeça, que não, eu não percebi que
fazia. Eu respirava com mais força enquanto olhava para ela atentamente.
Ela lentamente me trouxe de volta a um estado mais relaxado, segurando
meu rosto e me fazendo encará-la. Seus olhos cinzentos perfuraram os meus –
amorosos, preocupados, amigáveis e talvez, em algum lugar nas profundezas, algo
mais. Ela aplicou uma escura sombra esfumaçada no olho, rímel preto para
alongar e aumentar os cílios, e o impressionante tom acinzentado parecia estalar
para mim. Eventualmente, me senti calmo e acenei com a cabeça contra as suas

323
mãos, suavemente libertando o meu rosto e ignorando como seu toque quente
aqueceu a minha pele.
— Eu estou bem — eu murmurei. — É melhor eu ficar aqui, apesar de
tudo. — Eu dei de ombros, sentindo-me estúpido.

Ela sorriu e arrumou uma parte perdida do meu cabelo de novo. — Tudo
bem... desculpe por perguntar. Isso foi estúpido.
Olhei para baixo, balançando a cabeça. — Não... está tudo bem. — Notei a
caixa em minhas mãos e a abri. Com um sorriso, agarrei seu pulso e coloquei as
flores. Ela endureceu quando a toquei, mas sorriu quando percebeu o que eu
fazia. Admirou o seu pulso uma vez que as flores estavam no local, em seguida, ela
riu e me deu um olhar tão amoroso que uma dor me atravessou diretamente.
Engoli em seco e afastei meus olhos dela, varrendo-os sobre o intrincado
penteado de seu chocante cabelo preto, em vez disso. Ele foi meticulosamente
enrolado e preso no lugar de modo que a maior parte foi levantado para cima,
expondo seu pescoço esguio, mas algumas mechas longas foram deixadas soltas,
e tocavam o oco entre seu ombro e sua clavícula de uma maneira íntima. Engoli
em seco novamente e forcei meu foco para o inofensivo para-brisa. Essa seria uma
noite muito longa.
Ela ligou o carro e se afastou, indo para o restaurante. Minha mãe estava
animada para nos ver e nos ofereceu uma refeição grátis em troca de parar
lá. Desde que eu realmente não tinha experiência em cozinhar, e Sawyer não tinha
interesse em meus Hot Pockets, nós dois concordamos.
Chegamos ao restaurante poucos minutos depois, e sorri quando vi a minha
mãe na larga janela, conversando com um homem grisalho sentado sozinho em
uma mesa. Fiz uma careta enquanto observava seu riso e o inclinar para mais perto
dele. O homem riu também. Eu franzi a testa porque reconheci o homem. Xerife
Whitney. Ela conversava com o xerife.
Suspirei, não gostando de comer enquanto ele estava lá. Memórias
dolorosas se esgueiraram em mim, e brutalmente as bati para trás. Hoje não. Esta
noite era para Sawyer, e esse momento era para a minha mãe. Não deixaria meu
mau humor estragar a noite para qualquer uma delas.

324
Sawyer percebeu a minha tristeza. — Ei, nós poderíamos ir para outro lugar
se quiser. Voltar para a sua casa?
Olhei para ela; o perfeito arco em forma de coração de seu lábio foi pintado
em um tom agradável de avermelhado. — Não, aqui está bom. Eu não esperava...

— eu balancei minha cabeça. — Aqui está bom. Mamãe está morrendo de vontade
de vê-la de qualquer maneira. — Afastei uma mecha de cabelo de seu olho,
colocando-o atrás da orelha. Meus olhos varreram seu rosto quando o meu polegar
distraidamente acariciou sua bochecha. — Você não a decepcionará,

tampouco. Você está linda — eu sussurrei.


Oh meu Deus, Lucas, eu me repreendi. Se controle. Imediatamente tirei
minha mão que acariciava seu rosto e abri minha porta. Sim, esta noite seria
realmente uma longa noite.
Eu disse a ela para ficar onde estava antes de sair da minha porta, e
sorrindo como um idiota, eu fui para o lado dela para deixá-la sair do carro. Era
antiquado e estranho, já que ela dirigia, mas a fez rir e ela me recompensou com
um sorriso enorme, por isso valeu a pena. Estendi minha mão para ela e ela a
agarrou, entrelaçando os dedos quando se levantou. Eu não dei sequer um passo
para trás quando a puxei do carro, então ficamos muito próximos quando ela se
levantou. Meu coração começou a correr com o corpo envolto de veludo pressionado
contra mim. Com um sorriso cheio, ela olhou para a minha cara, seus olhos
passando rapidamente sobre o meu rosto. Os meus não estavam tão cavalheiros
mais e olhei descaradamente em seus lábios pintados.
Ela se inclinou para a frente, e instintivamente me inclinei. — Luc — ela
sussurrou.
— Sim — eu disse sem fôlego.
— Você me deixará sair do carro? — Ela me deu um sorriso irônico, sua
oh-tão-bonita covinha aparecendo.
Pisquei e percebi que meu corpo a prendia na porta do carro aberta. Corei
e soltei um riso nervoso enquanto pisava de lado. Eu me ouvi murmurar: —

Desculpe, você só parece realmente... bem — enquanto andávamos de mãos dadas


até a pequena lanchonete.

325
Ela riu. — Nunca percebi que tinha tal fetiche por vestidos de festas.
Brincando fiz uma careta para ela enquanto abria a porta do
restaurante. Imediatamente após entrar ouvimos: — Oh meu Deus! Você está

adorável! Não são adoráveis? — Minha mãe veio e deu a cada um de nós um abraço
enquanto sorria para nós. Enquanto eu observava ao redor do restaurante, olhos
como feixe de laser para mim, senti meu rosto corar. Nem todos os olhos acharam
que eu estava adorável.
Mamãe interrompeu seu abraço em mim para engolfar Sawyer. — Oh,

Sawyer, querida, você está linda, está muito bonita. — Ela olhou por cima do
ombro para o xerife sentado na mesa ao lado de nossa exposição, o olhar firme em
mim. — Ela não está bonita, Neil?
Eu pisquei enquanto observava o xerife virar sua cabeça grisalha para olhar
para Sawyer e sorrir. Minha mãe realmente o chamou pelo primeiro nome? Eu
sabia que eles eram amigos, bem, quero dizer, eu sabia que eles conversavam, mas
os primeiros nomes pareciam um pouco desrespeitosos e isso me surpreendeu. Seu
sorriso mudou para minha mãe. — Ela está linda. — Seu olhar se desviou para

Sawyer novamente. — Seu vestido está lindo nela, Vicky.


Balancei minha cabeça. Ele acabou de chamá-la pelo nome abreviado? A
estranheza só não ia parar. Antes que eu pudesse comentar sobre isso, e realmente,
os nervos já bloquearam minha garganta, minha mãe nos conduziu a uma mesa
reservada para nós, com elegantes cartões do lugar com os nossos nomes impresso
neles. Eu sorri para a tentativa dela de fazer da nossa refeição no restaurante uma
experiência mais sofisticada, e ajudou Sawyer a sentar no seu lado da mesa antes
que eu deslizasse sobre o meu. O vestido de Sawyer subiu um pouco até a coxa
quando ela deslizou pelo vinil que recobria a cadeira e reprimi um gemido. O
destino tentava me matar hoje à noite?
Mamãe sorriu para nós enquanto listava os pratos especiais como se fosse
uma cozinha cinco estrelas. Pedimos um aperitivo de tiras de frango,
hambúrgueres para o nosso prato principal e milk-shakes para beber. Mamãe riu
e bagunçou meu cabelo, imediatamente pedindo desculpas e tentando arrumá-lo.
Suspirei e a enxotei com um sorriso no meu rosto. Observei-a acenar para um
pequeno círculo de garçonetes e animadamente dizer a elas alguma coisa. Ela
326
olhou para nós por cima do ombro, e sabia que ela se vangloriava. Sorri ao vê-la; de
repente ela parecia dez anos mais jovem, rindo e sorridente com seus amigos. Os
amigos a ouviam respeitosamente, mas de vez em quando me davam olhares
estranhos, avaliando a minha aparência. Eu quase podia ver suas mentes tentando
igualar o retrato pintado pela mãe com a fofoca que correu como fogo ao redor desta
cidade. Os dois provavelmente não combinam bem.
Sentindo-me como se estivesse sendo levado a julgamento aqui na mesa,
eu parei de assistir o grupo e voltei a minha atenção para Sawyer. Ela me olhava
com uma expressão preocupada, e fiz o meu melhor para relaxar meu rosto. Suas
mãos estenderam por cima da mesa para a minha, e precisando de conforto, a
alcancei. Atamos nossos dedos e seu polegar começou a acariciar as costas da
minha mão. Ignorei a culpa que o pequeno gesto me deu. Esta noite era para ela,
e ela gostava de contato. Hoje à noite, eu não me afastaria, ela pode ter tudo o que
quiser de mim. Bem, até certo ponto, pelo menos.
Corei enquanto pensava sobre o momento íntimo que tivemos há algumas
semanas. Na minha cabeça, eu imaginei isso acontecendo novamente hoje à noite...
com ela naquele vestido. Meu rubor aumentou quando a imagem inundou o meu
cérebro claramente e minhas roupas estavam de repente muito
desconfortáveis. Respirando fundo, agradeci a Deus por estarmos sentados. Eu
precisava me controlar... e rápido.
— Você está bem, Luc? — Sawyer inclinou a cabeça para mim, algumas
mechas soltas de seu cabelo penduradas no ombro.
Eu sorri e ri, um pouco da minha tensão diminuindo. — Yeah. — Olhei

para a mesa e balancei a cabeça. — Estou muito bem.


Ela parecia prestes a me questionar ainda mais quando minha mãe voltou
com os nossos milk-shakes. Mamãe olhou para nossas mãos entrelaçadas
enquanto colocava nossas bebidas na mesa. Agradeci a ela enquanto soltava os
dedos de Sawyer para pegar o meu copo. Vi quando mamãe sorriu para nós e, em
seguida, caminhou até o xerife. Eles conversaram por um momento, enquanto eu
os observava atentamente. Os olhos dele, duas mesas a frente de nós, olhando para
mim descaradamente e abaixei a cabeça, não querendo ver mais. Não importava

327
que ele estivesse aqui. Olhei para Sawyer, alegremente saboreando seu shake. Ela
era tudo o que importava hoje. Estendi a mão e agarrei sua mão livre novamente.
Conversamos com facilidade e mamãe logo trouxe os nossos aperitivos e
pratos principais. Nós rimos enquanto comíamos, tornando a refeição tão chique
quanto podíamos com os nossos frágeis guardanapos de papel e cesta de plástico
de batatas fritas. Muito rápido a nossa refeição terminou e Sawyer levantou para
consertar seu batom. Eu sorri, olhando seu traseiro enquanto ela caminhava para
o banheiro. Esse vestido era realmente incrível.
Meu foco foi subitamente abalado quando alguém se sentou na mesa
comigo. Meu rosto empalideceu quando o Xerife Whitney se sentou à minha
frente. Tentei falar, mas minha garganta fechou novamente. Seus olhos
envelhecidos me perfurando. Eu poderia dizer que ele avaliava minha sobriedade e
senti meu maxilar apertar e meu queixo levantar. Talvez percebendo o desafio nos
meus olhos, ele balançou a cabeça e sorriu suavemente.
— Como você está, Lucas?
Dei de ombros e murmurei: — Tudo bem. — Eu estava um pouco surpreso
quando qualquer discurso saiu de mim.
Ele balançou a cabeça e levantou uma sobrancelha para mim. — Você
está... bem hoje à noite?
Deixei escapar um longo suspiro, acalmando-me. — Eu estou bem —repeti.

Ele ficou em silêncio por um momento e então suspirou. — Eu só estou

tentando cuidar de você, Lucas. Sua mãe e eu nos preocupamos com você. — Eu
me irritei com ele se colocando na mesma frase com a minha mãe. Por que ela
sentia a necessidade de confiar em um homem que trouxe de volta lembranças
horríveis para mim? Se havia uma pessoa que eu desejava nunca ver mais, era este
homem. Porque mesmo que ele estivesse perguntando sobre o meu atual nível de
consciência, e não daquela noite, e mesmo que, através de tudo, ele não foi nada,
além de bom para mim, tudo que eu ouvia na minha cabeça quando olhava para
ele era: Todos se foram. Eu sabia que não era certo, mas eu meio que o odiava por
isso.

328
Não disse nada ao seu comentário e ele finalmente suspirou de novo e se
levantou. — Bem, se divirta hoje à noite, Lucas. — Ele começou a se afastar, mas,

então, se virou para mim. — E fique sóbrio.

Ok, não foi isso o que ele disse. Ele disse: — E tome cuidado — mas ficar
sóbrio era o que eu ouvi. Balancei a cabeça e olhei para o guardanapo amassado
na minha frente.
Olhei para cima quando senti uma mão no meu braço. Sawyer ficou ao meu
lado, preocupação em seu rosto. Não querendo mais ver aquele olhar nela esta
noite, eu sorri e levantei, envolvendo meu braço em volta da cintura dela. O veludo
deslizou sob meus dedos enquanto minha mão descansou em seu quadril. Tentei
ignorar o quanto eu gostava disso, e disse alegremente: — Pronta para dançar? —
Ela sorriu e acenou com a cabeça, e com rápidos abraços de adeus para a minha
mãe, a qual parecia prestes a chorar, voltamos para seu carro. Ajudei-a de novo,
evitando olhar para aquela sedutora fenda no meio do vestido, e, depois, fomos
para uma noite de... diversão.
Respirei profundamente quando entramos no familiar, mas estranho,
estacionamento. Há tantos meses que não vinha aqui à noite que quase esqueci
quão diferente poderia parecer. As enormes luzes fluorescentes espaçadas
esporadicamente em torno do estacionamento exibiam uma cor magenta ímpar. As
bordas do estacionamento estavam escuras como breu. Eu sabia que durante o dia
um campo vazio cercava o estacionamento de um lado. Na escuridão, porém, tudo
o que podia ver era um mar de nada invadindo o estacionamento, quase como se,
a qualquer momento, aquela noite escura estenderia seu alcance e engoliria todo o
ensino médio.
Afastei a cabeça dos limites escuros do estacionamento quando Sawyer
estacionou sob uma luz rosa. Isso pode ser uma descrição um pouco
exagerada. Acho que eu estava um pouco nervoso. Enquanto eu olhava pela janela
as pessoas vestidas elegantemente andando de braços dados em direção ao grande
edifício quadrado onde se localizava o ginásio, eu percebi que não estava um pouco
nervoso, eu estava beirando ao aterrorizado.
Um leve toque no meu braço trouxe a minha atenção para Sawyer. Ela
relaxou em seu assento observando-me com um pequeno sorriso em seus

329
lábios. Sua mão acariciou meu braço quando ela falou comigo. — Ficará tudo bem,

Lucas. Vamos nos divertir. — Ela olhou pelo para-brisa os casais vestidos depois

virou os olhos para mim. — Só ignore-os e se concentre em mim. — Sua mão

estendeu para segurar a minha bochecha. — Esta noite é sobre você e eu. — Sua
voz era quase um sussurro e meu coração começou a bater mais rápido por uma
razão completamente diferente.
Eu dei um pequeno sorriso e acenei com a cabeça. Ela estava certa. Isso era
algo que ela realmente queria, e eu realmente queria dar isso a ela. O que o resto
do mundo pensava... era irrelevante. Sawyer era tudo que importava hoje. Eu devia
a ela um bom tempo. Eu devia muito a ela.
Eu dei um olhar que dizia claramente: Por favor, me deixe fingir que você
precisa da minha ajuda, e abri minha porta. Saindo, a vi me assistir da janela,
aquele pequeno sorriso satisfeito ainda em seus lábios. Abri a porta e estendi a
mão para ela. Ela riu enquanto me deixava ajudá-la novamente.
Estava frio lá fora e nenhum de nós optou por casacos, então fomos
rapidamente para o ginásio. Bem, o mais rápido que Sawyer poderia ir nesse
vestido e saltos. Nos aproximamos das portas da frente com uma multidão de
pessoas e senti a mão de Sawyer apertar a minha. Olhei para ela, mas seu rosto
não mostrou nenhuma tensão. Se ela estava nervosa por qualquer motivo, eu não
poderia dizer.
Ouvimos o barulho da música antes que nossos pés sequer cruzassem o
batente da porta. Era um pop alto, uma espécie de top hit das quarentas músicas
que devem ter tocado durante o verão, já que eu nunca as ouvi. Eu não ouvi muita
música nos últimos meses. Sawyer, ao meu lado, cantarolava, então pelo menos
um de nós se mantinha atualizado.
Fizemos check-in em uma pequena mesa colocada perto das
portas. Estranhamente, ele estava sendo administrada por membros do clube da
pureza. Eles tinham botões e panfletos para as pessoas pegarem e diziam a todos
para ter uma noite segura. Isso foi recebido com uma grande quantidade de
rolamento de olho e grunhidos de reconhecimento, mas não diminuiu os espíritos
dos membros. Acho que um sentimento geral de tristeza unicamente se espalhou
sobre as três pessoas alegres atrás da mesa quando Sawyer e eu nos aproximamos.

330
Sally foi a única a nos atender, e ela me deu um olhar perspicaz que era tão
óbvio para mim quanto o do xerife foi. Uma parte de mim queria se rebelar e
começar a agir como bêbado, mas não o fiz. Eu me endireitei e com calma encontrei
seus olhos. Tentei me lembrar que esta menina era amiga de Sawyer e só procurava
os melhores interesses de sua amiga. Eu também procurava os melhores interesses
de Sawyer, então eu meio que me senti ligado a Sally... mesmo ela não me
aprovando.
Ela finalmente assentiu para nós, dizendo que Sawyer estava linda e
desejou a Sawyer e eu uma noite segura. Ela enfatizou o seguro mais do que
enfatizara a qualquer um dos outros casais, e senti meu rosto
esquentar. Honestamente, estas pessoas pensavam que eu entraria no ginásio
doidão... de novo? Eu já tinha uma advertência; não tinha vontade de ser chutado
para fora daqui.
A foto obrigatória foi instalada em frente à mesa de check-in e Sawyer gritou
de alegria quando viu. Sorri para ela e em resposta a puxei para lá. Ficamos na fila
atrás de um casal que obviamente praticava para onde a noite previsivelmente se
dirigia. Havia um beijo profundo, agarrar de bunda e gemidos. Observá-los me
deixou muito desconfortável, e estava grato quando chegou a vez deles. Quando se
aproximaram do arranjo de flores falso na frente de um fundo preto e branco suave,
Sawyer se inclinou para mim e sussurrou: — Você acha que eles gostam um do
outro?
Olhei para ela e ri, enquanto o casal agarra-bunda cimentou o seu amor em
uma brilhante foto 8x10. Eu ri alto quando vi que o cara realmente segurou a
bunda da menina durante toda a sessão de fotos. Embora o casal fossem calouros,
eu de repente me lembrei de Darren e Sammy, parei de rir e olhei para longe.
Sawyer puxou meu braço quando foi a nossa vez. Agora, talvez eu tenha
sido excessivamente sensível ao humor das pessoas ao meu redor, neste ponto,
mas eu juro que ouviria um alfinete cair com o silêncio que posou ao lado dos vasos
de flores em nosso pedestal. Eu sabia que não era realmente possível com a música
alta soando da sala aberta ao lado, mas parecia que todos os seres humanos dentro
de um raio de seis metros de nós pararam de respirar. Eu sei que eu parei.
Sawyer me cutucou nas costelas. — Ei, relaxe. Você vai quebrar a minha
mão.
331
Eu comecei a relaxar quando percebi o quanto a segurava. Eu encontrei e
segurei seus olhos, deixando o conforto que encontrei lá me lavar, aliviando a
tensão na minha mão e meu corpo. Ouvi o clique e vi o flash de luz brilhante e
Sawyer e eu nos viramos para o fotógrafo.
— Foi perfeito — disse ele alegremente, conduzindo-nos ao lado para o
próximo par.
— Mas ainda nem olhávamos para você? — Perguntei, me sentindo um
pouco estúpido.
Ele sorriu e balançou a cabeça. — Confie em mim, garoto, isso foi perfeito.
Sawyer mordeu o lábio e um rubor rastejou em seu rosto. Ela sorriu para
mim e acenou com a cabeça para a mesa de pedidos. Dei de ombros e segui. Se
isso era bom com ela, então imaginei que eu não tinha reclamações. Depois que
encomendei um para ela, fizemos o nosso caminho para o ginásio principal, onde
eu podia ver as luzes rodopiando e corpos girando.
Quando entramos no salão, não pude deixar de notar a semelhança do
ginásio com a minha versão do sonho daquela noite que eu finalmente disse a
Lillian que a amava. Fora a multidão de corpos, era tão semelhante, que eu quase
esperei Lillian caminhar até mim e pedir uma dança. Meu coração se apertou
quando a levei – papel crepe como se fosse flocos de neve brilhando, arcos de balões
azuis e brancos, os balões dispersos flutuando até o teto alto, a bola de discoteca
suspensa jogando faíscas de luz em todos os lugares.
— Oh, Lil... — murmurei enquanto olhava ao redor, desejando que ela
estivesse aqui.
— O que, Luc?
Olhei para Sawyer sorrindo radiante para mim. Culpa me forçando a
empurrar de lado os pensamentos dolorosos em que eu começava a chafurdar
dentro, eu dei um sorriso e balancei a cabeça. — Nada — eu tentei dizer
despreocupadamente. Ela franziu a testa, mas então coloquei meu braço em volta
de sua cintura e a puxei para o meu lado e ela sorriu de novo, descansando a mão
no meu peito enquanto se contorcia em meus braços. Ela estava mais perto do que
geralmente ficávamos um com o outro, especialmente em uma multidão deste
tamanho, mas seu vestido e corpo pressionados contra mim varrerram todos os

332
pensamentos negativos da minha mente e me agarrei a isso, desesperado para fazer
esta noite memorável para ela.
Fomos para um lugar menos lotado e nos esgueiramos de volta para as
sombras para observar as pessoas um pouco. Estava escuro onde estávamos e não
havia muitas pessoas olhando em nossa direção. Eventualmente, ela deitou a
cabeça no meu ombro, e a senti suspirar satisfeita. Descansei minha cabeça contra
a dela, gostava de seu calor. Alguns olhos que passavam perto deram algumas
olhadas, e eu sabia que em pouco tempo, todos saberiam que estávamos aqui. Não
importava. Além de dançar, conversar e espero, rir, Sawyer e eu não daríamos um
show.
Enquanto a música soava à nossa volta e o enxame diante de nós cresceu
em tamanho, invadindo nosso local tranquilo e forçando-nos mais para trás nas
sombras, eu comecei a relaxar. Meu polegar preguiçosamente desenhou um grande
círculo sobre o veludo macio que cobria o quadril de Sawyer e suas unhas
começaram a acariciar levemente para trás e para frente ao longo do tecido da
minha camisa. Era perfeito. Era tranquilo. E, pela primeira vez desde que a Sra.
Ryans sugeriu isso, eu comecei a pensar que estarmos aqui foi uma ótima ideia.
Então, a mão de Sawyer deixou de levemente correr sobre meu peito para
correr levemente sobre meu estômago. Sua cabeça ainda descansava em meu
ombro e eu tinha certeza que ela estava distraída olhando as pessoas diante de nós
dançar, talvez nem mesmo consciente que moveu sua mão, mas eu estava.
Seu dedo mindinho levemente passou sobre o botão na minha calça e fechei
os olhos. Me senti muito bem. Lembrei daquelas mãos correndo até a minha pele
nua e minha mão apertou seu quadril. O movimento contínuo de sua mão começou
uma maravilhosa tensão no meu estômago, e mantive meus olhos fechados,
concentrando-me apenas onde ela me tocava.
Sua mão caiu milimetricamente, inconscientemente, e um dedo mal tocou
o topo do meu zíper. Eu gemi quando meu corpo instantaneamente, e não
sutilmente, respondeu.

333
Capítulo 17
Não é grande coisa

Imediatamente me afastei dela, quebrando todo o nosso contato. Ela se


sobressaltou quando olhou para mim, e dei um sorriso apertado. Ela franziu o
cenho. Ótimo. Eu não sabia como explicar que ela me excitava sem embaraçar a
nós dois e, possivelmente, estava ficando bem em ser enganador. Amaldiçoei
mentalmente meu corpo, dirigido por estúpidos hormônios e desejei que, apenas
por uma noite, eu pudesse desligar essa parte de mim. Às vezes, ser um cara de
dezessete anos de idade era um pé no saco.
Não sabendo mais o que fazer, eu estendi minha mão para ela e balancei a
cabeça para a pista de dança. Estava lotada, mas a música era rápida, por isso não
teria que realmente tocar muito. E agora, pelo menos até que eu pudesse me
acalmar um pouco, eu precisava de espaço.
Seu rosto se iluminou quando acenou com a cabeça, suas mechas soltas
saltando ao longo de seus ombros. Ela estendeu a mão para mim e meus olhos
pousaram no decote do seu vestido. Era mais fundo do que qualquer coisa que eu

334
vi vestida antes e revelava o início da clivagem entre seus seios. Havia mais do que
eu imaginara dela, e meu corpo já se agitava repassando a memória dos meus
dedos correndo sobre seus seios, sentindo a firmeza suave quando toquei neles
através de seu sutiã...
Oh, meu Deus!
Fechei os olhos por um segundo, quebrando meu inapropriado foco, e a
puxei para a pista de dança. Estaríamos mais expostos aos fofoqueiros aqui, mas
no momento eu prefiro ter esse tipo de exposição do que o tipo que meu corpo
começava a fazer. Eu poderia me esconder na luz piscando no meio da multidão
até que meu fluxo sanguíneo voltasse ao normal.
A energia da batida nos engolfou e os corpos dançando nos rodearam,
enquanto nos separávamos do mar e íamos para um local central. Peguei algumas
cabeças girando e sussurrando para os outros ao seu redor quando passei, mas
ignorei. Soltei a mão de Sawyer quando encontramos um lugar com espaço para
nos movermos.
Eu não era realmente um dançarino, mas que garoto na escola é? Os outros
ao meu redor faziam a dança Sim, eu estou aqui só para agradar a minha namorada,
na esperança de ter sorte mais tarde, então copiei. Sawyer no entanto... podia se
mover. Encontrei os meus olhos à deriva sobre seu corpo enquanto ela brincava
com a música animada. Ela cantou junto e moveu as mãos pelos cabelos, soltando
algumas mechas longas, o que só fez com que ficasse ainda melhor. Um leve rubor
penetrou em suas bochechas quando o calor da multidão e o vestido de mangas
compridas começou a grudar nela. Ela era intoxicante para assistir.
Percebi que não ajudava a minha situação e desloquei-me para olhar para
a multidão. Notei pares de olhos olhando para mim, mas muitos mais olhavam
para Sawyer. A maioria desses era caras, e a maioria tinha um brilho neles
enquanto observavam seu corpo se mover. Uma súbita onda de possessividade
tomou conta de mim, o que realmente me assustou com uma gélida lavagem de
espanto. Eu estava com ciúmes dela? Ela não era minha, muito longe disso... mas
não quero que ela se machuque. E enquanto eu olhava em alguns olhos
masculinos, tudo que eu vi foram uns idiotas e imbecis que pisariam em seu
coração se tivessem a chance. O inferno se eu daria a eles essa oportunidade. Eles
teriam mais facilidade de passar pelo seu pai superprotetor do que por mim.

335
Alguns caras olhavam para mim, mas a maioria se afastou e focou em seus
próprios encontros. A calma, satisfazendo minha paz interior passou por mim
quando seus olhos deixaram minha linda amiga. Hoje não, rapazes. Hoje à noite,
esse anjo, por alguma razão, era meu. Um sorriso estava preso em meus lábios na
maioria das músicas depois disso.
Finalmente, uma música lenta começou a tocar e Sawyer sorriu e estendeu
a mão para mim. Eu não tinha exatamente certeza de como o meu corpo
responderia ao dela estando tão perto de mim, mas não podia negar o que ela
queria. Hoje não. Rezando para que eu pudesse ficar no mesmo fluxo que consegui
obter, eu sorri e agarrei sua cintura, puxando-a para mim.
Meus dedos deslizaram sobre o achatado veludo de seu vestido. Os
contornos de seu corpo abaixo dele estavam muito óbvios. Deslizei sobre a
musculatura magra na lateral de seu estômago, ao redor das curvas de seus
quadris para a parte mais baixa de suas costas. Com seus braços atados ao redor
do meu pescoço, alguns dos meus dedos me desobedeceram e descansaram ao
longo do topo da sua bunda. Ela não percebeu ou não se importava, já que me
olhou com adoração.
Ela suspirou e inclinou a cabeça enquanto olhávamos um para o outro. Ela
me puxou mais apertado, descansando seu peito contra o meu. Seus seios
pressionados firmemente contra mim me fez engolir repetidamente, enquanto eu
procurava em meu cérebro outra coisa em que pensar. Não ajudando a situação de
modo algum, ela começou a correr a mão pela parte de trás do meu cabelo, trazendo
nossos rostos a poucos centímetros de distância.
Meus olhos derivaram para seus lábios e eu sabia... eu sabia que isso seria
um mau momento, se eu não fizesse algo para me distrair – logo. Rapidamente não
pensando em nada para dizer a ela, eu cuspi: — Então, senhorita estou-
secretamente-obcecada-com-bailes da escola, como é que você nunca foi a um
antes? — Ela deixou isso escapar durante as nossas sessões de planejamento para
esta noite e isso me surpreendeu. Para alguém tão por dentro disso, eu percebi que
ela esteve no comitê do baile em sua antiga escola.
Ela suspirou e desviou o olhar, o nosso corpo naturalmente se afastando
um do outro. Exalei um fôlego de alívio, mas não consegui entender a reação
dela. Ela mordia o lábio perfeitamente pintado e olhava para a multidão de casais
336
dançando intimamente, mas não parecia ver qualquer um deles. Eu
preguiçosamente me perguntava o que exatamente passava pela sua cabeça.
— Está tudo bem, Sawyer... pode falar comigo. — Reconheci
imediatamente a estranheza de eu dizer isso, já que eu nunca realmente me abri
para ela. Ela levantou uma sobrancelha enquanto se contorcia para me encarar, e
pensei que ela provavelmente pegou a estranheza disso também.
Ela não chamou minha atenção sobre isso, porém, apenas balançou a
cabeça. — Eu não tinha um encontro. — Eu fiz uma careta para a resposta
anticlímax dela. Certamente havia mais do que isso?
— Por que não foi sozinha... ou com um grupo de amigos? — Eu sabia que
algumas das meninas por aqui faziam isso ocasionalmente. Parecia socialmente
aceitável para as meninas isso – o poder das garotas e tudo. Se um grupo de
rapazes fazia isso, bem, havia um certo estigma social a ele.
Sawyer olhou para baixo antes de rapidamente olhar para mim. — Eu não
tive muitos namorados lá e a escola instituiu uma política de um cara e uma
menina de qualquer maneira. Isso deixou os pais alvoroçados no início, mas o que
você pode fazer?
Ela ainda mordia o lábio e aparentava realmente querer confessar algo. Eu
normalmente não empurraria, mas parecia que ela queria falar sobre isso,
simplesmente não estava lá ainda. Eu apertei sua cintura, puxando-a apertada
para mim novamente. — Ei... me diz.
Ela suspirou de novo quando olhou em meu rosto. Pensei que seus olhos
começavam a encher de água, mas não podia realmente ter certeza com as luzes
rodopiantes que piscavam sobre os nossos corpos. Ela abriu a boca e fechou-a, em
seguida, abriu-a novamente. Esperei pacientemente até que ela finalmente falou.
— O menino... o estúpido que te falei... — seu coração estava em seus olhos
quando me encarou. Sua voz diminuindo tanto, que precisei inclinar-me para ouvi-
la sobre a música. — Ele... — eu balancei a cabeça para ela e esfreguei a parte
baixa de suas costas, em silêncio, incentivando-a a se abrir para mim. Ela engoliu
em seco e, finalmente, disse. — Ele deveria me levar ao baile do ano passado.
Ela desviou o olhar, com os olhos definitivamente brilhando quando olhou
para o papel crepom e os balões soltos ao redor. — Eu estava tão animada para ir.
337
— Ela virou a cabeça para mim, o sorriso triste nos lábios me fazendo segurá-la
com mais força. — Ele era o cara mais popular da nossa classe, e minha turma

era por si só cerca de três vezes o tamanho de todo o corpo estudantil daqui. —
Sua cabeça sinalizou ao redor para a repentina sensação de vazio do ginásio. Uma
onda de ciúme brilhou através de mim, mas forcei para baixo e me fiz concentrar
em sua história.
— Era bonito e atlético, engraçado e encantador. — Seus olhos fixos no
meu, — E disse que me amava. — Ciúme surgiu em mim novamente, mas seu

lábio inferior começou a tremer, e mudei para a simpatia, em vez disso. — Eu


pensei que o amava. Eu o adorava. Deus, eu praticamente o idolatrava.
Ela olhou para os nossos corpos fortemente unidos e sua voz diminuiu
novamente. Baixei a cabeça para descansar contra a dela, para que pudesse ouvi-
la na sala barulhenta. — Duas semanas antes do baile, eu dei a ele minha

virgindade. — Ela olhou para mim e me forcei a não fechar os olhos e me debruçar
sobre a tristeza repentina que passou por mim. Tristeza que ela não estava no
mesmo nível que eu, que ela esteve assim com alguém antes, que alguém já a tocou
dessa forma. Mas me forcei a manter contato visual enquanto sua voz tremia com
suas próximas palavras. — Eu o amava e dei cada parte de mim... e ele... — sua
voz e rosto mudaram para um sorriso de escárnio cruel que nunca vi nela, nem
mesmo quando ela falou sobre Brittany, —... ele me deu um três em seu medidor
de merda.
Minha boca caiu aberta e um forte flash de raiva me queimou. — Ele o que?
A umidade em seus olhos construindo até o limite enquanto seu rosto se
suavizava em tristeza. — Ele jogava algum jogo estúpido com os amigos, algo que

seu irmão aprendeu na fraternidade. — Seus olhos olharam para a multidão de

novo enquanto seus braços se apertavam ao redor do meu pescoço. — Eles


pontuam ao dormir com diferentes tipos de meninas. Eu era do tipo baixo.
Ela engoliu em seco e abaixou a cabeça. Eu trouxe a minha mão até o seu
queixo e a fiz olhar para mim. Nossos pés desaceleraram para a imobilidade e a

338
segurei em meus braços. — Não, não, você não é. Você não é baixa em nada. Ele
é um idiota.
Ela fungou e engoliu as lágrimas, um leve sorriso brincando em seus
lábios. Eu acariciei meu polegar ao longo de sua bochecha antes de retornar a
minha mão até a cintura, puxando-a para um abraço. Ela retribuiu o abraço,
colocando a cabeça no meu ombro, com a boca virada para meu ouvido. Sem que
olhássemos um para o outro, ela continuou.
— Eu descobri sobre isso quando ouvi algumas meninas rindo de mim na
aula de ginástica. Elas disseram que havia um gráfico em seu armário e eu estava
nele, então eu o abri para ver por mim mesma... e era verdade. Ele dormiu com
meia dúzia de outras meninas enquanto eu pensava que éramos namorados, e
classificou todas com pontuação maior do que a minha. Não preciso dizer que não
fui ao baile com ele. Eu mal fui à escola depois disso. Simplesmente não conseguia
afastar a dor e humilhação. Não podia suportar olhar para o seu belo rosto
charmoso.
Segurei-a com força, minhas mãos subindo para envolver seus ombros,
desejando poder me envolver em torno de sua mágoa. Eu nunca amei alguém que
me usara assim. Eu quase não podia imaginar a tortura que deve ter sido para
ela. — Eu sinto muito, Sawyer — eu sussurrei.

Ela suspirou e se apoiou em mim. — Sabe qual é a parte mais estúpida? Eu


ainda o amava. Passei semanas perguntando o que fiz de errado, por que ele não
me amava como eu o amava. Uma parte de mim queria correr até ele e dizer que o
perdoava por tudo, pedir para ele me aceitar de volta. Mas comecei a vê-lo com
outras meninas... e eu não podia. Eu sabia que não me comparava. Eu sabia que
não tinha chance. Sabia que eu não valia nada.
Imediatamente me afastei dela e coloquei as duas mãos em seu rosto. —

Não, você não. Nunca diga isso. — Balancei a cabeça, sem acreditar que a pessoa
calorosa, maravilhosa entre as minhas mãos, poderia pensar que era tudo menos
que perfeita.
Ela fechou os olhos cheios de lágrimas e encostou a cabeça contra a
minha. Em um sussurro, ela continuou com suas memórias dolorosas. — Eu não

soube lidar com tudo isso muito bem e eu... eu fiz algo absurdamente estúpido. —

339
Sua voz baixou ainda mais, a ponto de mal poder distinguir as palavras sobre a
explosiva canção. — Eu ... fiquei...muito bêbada e ...
Ela parou e olhou para mim. Mordendo o lábio, ela balançou a cabeça
contra a minha. — Eu assustei meus pais. Eles me tiraram das últimas semanas
de aula e, eventualmente, me arrastaram para cá. Eles pensaram que eu ficaria
melhor em um ambiente menor, apesar de custar o trabalho deles, seus
amigos. Desistiram de suas vidas inteiras lá... por mim. — Um pequeno sorriso

iluminou seus lábios. — Tento nunca me esquecer disso, mesmo quando eles são

impossíveis sobre a nossa... amizade. — Sorri com ela e coloquei minhas mãos em
sua cintura novamente. Ela puxou a cabeça para trás, e sua voz assumiu o tom
encharcado de sabedoria que era velho demais para dezessete anos. — Esta cidade,
esta escola, era uma chance para eu começar de novo e nunca tomei isso como
garantido, mesmo quando as coisas aqui foram difíceis.
Ela pegou uma mecha solta de seu cabelo super preto, segurando para
mim. — Eu fiz isso para me lembrar que eu posso ser quem eu quiser ser. — Ela
olhou para a mecha e sorriu. — A cor original é marrom. Minha mãe teve a ideia
colori-lo para mim a cada poucas semanas. É a única coisa que nós ostentamos.
O sorriso no meu rosto desapareceu quando pensei em tudo o que ela me
confessou. Ao mesmo tempo que eu sofria com simpatia por ela, eu a admirava por
sua força. Talvez nossas situações não fossem exatamente iguais, mas ela
certamente lidou com o seu quinhão de suplício e ridículo. E ali estava ela,
começando de novo em uma nova cidade, determinada a atravessar a cada dia de
qualquer maneira que podia, muito parecida comigo.
Minhas mãos deslizaram até as suas omoplatas dessa vez, abraçando-a,
nossas cabeças descansando juntas. Meu coração aquecido enquanto a segurava
apertado, nunca querendo deixá-la ir, nunca querendo que ela se machucasse
novamente. A música cresceu em torno de nós e minha mão segurou seu
rosto. Ficamos mais juntos, e agora cada centímetro seu pressionava contra mim,
da cabeça aos pés. Paramos de nos preocupar em mover com a música há um
tempo e estávamos apenas parados juntos na pista de dança com os corpos
balançando, abraçados.

340
— Eu sinto muito, Sawyer. — Balancei minha cabeça contra a dela
enquanto o meu polegar acariciava sua bochecha, desejando poder lançar sua dor
para longe. — Eu gostaria de estar lá. Eu gostaria de ter conhecido você. — Eu
exalei baixinho e corri o dedo ao longo da borda de seu rosto. Eu podia ver seus
olhos começarem a encher de água novamente quando ela olhou para mim. — Eu
gostaria de poder salvar você disso.
Minha mão se moveu ao redor da parte de trás de sua cabeça, segurando-
a no lugar contra mim. Ela ergueu o queixo para que os nossos narizes
descansassem lado a lado e sua respiração levemente espalhou sobre mim. —
Nunca deixaria ninguém te machucar, Sawyer. Nunca te machucaria. Eu te amo
— eu sussurrei, minhas palavras não a afastou mais longe do que os centímetros
de distância que ela estava de mim.
Eu não sabia o que eu quis dizer com essa frase. Eu não conseguia pensar
em nada, a não ser nos sentimentos avassaladores que eu tinha por ela. Eu não
poderia processar qualquer coisa mais distante do que nomear esse
sentimento. Seus olhos lacrimejando ameaçavam soltar a umidade enquanto
sustentava meu olhar intenso.
— Eu também te amo — ela sussurrou, uma lágrima finalmente rolando
pelo seu rosto. Eu não sabia o que ela queria dizer com isso, também. Havia tantos
níveis diferentes de amor e era muito cansativo pensar nisso... então eu parei.
Minha mão voltou para sua bochecha, limpando a lágrima com o
polegar. Seus lábios se separaram, sua respiração acelerou, e meus olhos
pousaram no arco de coração perfeito. Encontrei-me fechando a distância entre
nós, meu lábio inferior escovando o seu superior. Fizemos uma pausa assim,
minha respiração mais rápida, o meu coração começando a correr e meu organismo
começando a reagir novamente.
— Lucas — ela sussurrou, seus lábios se movendo contra os meus
enquanto falava.
Minha garganta fechou e meus nervos cravaram. O bater no meu peito se
intensificou a um nível que eu pensei que poderia ser perigoso para mim, e a única
coisa coerente gritando na minha cabeça era Beije-a! O corpo dela pressionado
contra o meu, os lábios levemente se tocando, seus polegares acariciando a minha

341
nuca enquanto os meus esfregavam contra o tecido de seu vestido. Foi demais para
o meu corpo – muito emocional, muito sensual. Eu não podia evitar e não
conseguia parar, especialmente desde que eu lutei com meus hormônios durante
toda a noite de qualquer maneira, e seus quadris pressionados contra os meus só
agravaram a situação.
Ela suspirou e olhou para onde os nossos quadris se tocavam e eu sabia
que ela sabia. Eu sabia que ela podia me sentir ficando excitado por ela.
Inacreditavelmente constrangido que o que eu estive tentando desesperadamente
esconder dela estava sendo exposto, eu me afastei, soltando rapidamente as
minhas mãos para os meus lados. Me surpreendendo, ela deu um passo para
frente, pressionando-se contra mim de novo, e respirei rápido.
— Ah... Lucas... — ela sussurrou de novo, com a mão estendida para a
minha bochecha, lábios apenas evitando tocar o meu.
Meu coração bateu em meus ouvidos enquanto me debatia sobre cruzar
essa linha de novo, me debatia quanto a ceder ao sentimento contra o qual eu
lutava a noite toda, me debatia quanto a deixá-la entrar. Finalmente, parei de lutar
contra esse sentimento, visto que perdi a noite toda, de qualquer maneira. Me
odiando, eu me inclinei para a frente a quantidade infinitesimal necessária para
conectar nossos lábios; minhas mãos automaticamente deslizaram em volta da sua
cintura.
O beijo foi diferente de qualquer beijo que experimentamos antes. Por um
lado, eu estava em um melhor controle. Não estava tendo um colapso emocional e
não estava totalmente drogado. O beijo foi leve e lânguido; sentimos um ao outro,
absorvemos um ao outro, aprendemos um ao outro. Houve muita emoção no
movimento, que eu quase esperava que lágrimas saltassem dos meus olhos.
Nos separamos depois de um momento e quando meus olhos
preguiçosamente abriram, eu me concentrei na forma de sua boca enquanto ela se
afastava de mim. Meus olhos lentamente encontraram os dela, bem quando os dela
encontraram os meus. Podia ver as perguntas em suas profundezas; eu podia ver
o desejo também. Não sabia o que fazer. Não sabia o que era certo. Tudo o que eu
sabia era que seu corpo firme, envolto em veludo luxuosamente macio, ainda fazia
o meu corpo reagir. Tudo o que eu sabia era que minha respiração ficou mais
rápida enquanto eu olhava para ela. E tudo que eu sabia era que sentia falta do

342
calor de seus lábios nos meus. E precisava disso. Eu precisava dela de volta em
mim.
Possivelmente encontrando uma resposta para a sua pergunta não
formulada, ela se inclinou ao mesmo tempo que eu. Nossos lábios se encontraram
no mesmo lugar de antes, mas desta vez com um pouco mais de urgência. A minha
mão parou na sua coluna, diretamente na parte de trás de seu pescoço para
enredar alguns fios soltos do seu penteado. Algumas mechas de seda enfiaram-se
por entre meus dedos enquanto minha mão percorria todo o caminho até amassar
na parte de trás de seu cabelo, puxando-a para mim.
Eu não me importava que mostrássemos muito em público. Eu não me
importava que todos na escola saberiam sobre isso depois das férias. Pela primeira
vez, eu não me importava com as fofocas que nos cercavam. Eu me preocupava
com ela – sua boca, sua língua, sua respiração, seu corpo... seu coração.
Não conseguia parar de beijá-la. Não podia acreditar que ela deixava. Não
podia acreditar que eu deixava, mas eu não podia parar. Parte do meu cérebro
gritava que isso estava errado, muito errado, mas quando seus lábios macios se
moveram sobre os meus, tudo o que eu conseguia pensar era que isso parecia tão...
certo. Meu corpo dizia que eu precisava disso. Que este momento era perfeito e
meu cérebro devia calar a boca... e pela primeira vez, meu cérebro escutou.
Assim como suas mãos teciam pelo meu cabelo e nosso beijo aprofundava,
fomos subitamente separados. Tropecei enquanto era puxado à força para longe
dela. Ela tropeçou com o movimento brusco. Em pânico, olhei para um sorridente
Sr. Varner, que tinha uma mão no ombro de Sawyer e uma mão sobre o meu, nos
afastando. Pisquei por vê-lo nos segurando; eu não fui fisicamente afastado de uma
menina desde a sétima série.
— Não há preliminares na pista de dança. — Ele se inclinou para nós
dois. — Se você quiser fazer sexo, você dirige seu carro até o rio, assim como todas

as outras crianças. — Ele riu disso e me olhou, concentrando-se em meus olhos. Se


ele tivesse uma lanterna, ele a jogaria sobre a minha íris, certificando-se que estava
corretamente dilatada. Olhei para ele, mostrando que eu não estava sob quaisquer
influências. Ele sorriu novamente e balançou a cabeça antes de se virar e nos
deixar com a nossa dança lenta.

343
Olhei para Sawyer novamente, razão voltando para mim quando eu fiz. Eu
não deveria beijá-la. Ainda era realmente errado e enganoso, e jurei que não faria
isso esta noite. Por que nunca podia cumprir minhas promessas silenciosas a
ela? Em vez de apertá-la com força para mim de novo, eu mantive a nossa
distância. Evitei olhar nos olhos dela quando culpa passou por mim; culpa por ela
e culpa por Lillian.
Finalmente, olhei para a tigela de ponche na mesa de lanche e murmurei:
— Eu preciso de uma bebida. Quer uma?
Com uma voz suave, ela me respondeu: — Claro... eu acho.
Estudando o local no canto do ginásio onde a tigela de ponche estava, eu
estendi minha mão para ela, sem olhar em sua direção. Senti ela agarrá-la e
entrelaçar os dedos. Constrangimento e culpa me impedia de olhar para ela
ainda. Nada disso deveria acontecer. Eu tecia através da multidão, grato aos corpos
ao nosso redor por me darem uma desculpa para não ter que envolvê-la ainda. Ouvi
uma corrente de zumbido dos sussurros nos acompanhar e eu só podia imaginar
as histórias que acabei fornecendo a esta multidão:
— Você ouviu? Eles praticamente transavam na pista de dança. Ouvi que
Luc estava tão perdido que Sawyer teve que segurá-lo na posição vertical. Em
seguida, o Sr. Varner veio e Lucas começou uma briga com ele. Deus, ele apenas
tentava ser um professor responsável e Luc brigou nele – você sabe que eles tiveram
um ménage a trois, não é?
Suspirei e revirei os olhos para todas as possíveis bifurcações que o fluxo
da fofoca poderia percorrer. Eu apertei meu maxilar e aumentei o meu domínio
sobre Sawyer enquanto nos puxava no meio da multidão. Eles escolheriam o pior
e correriam com ele – assim que as coisas eram. Os comentários mais dolorosos, a
situação mais tortuosa – qualquer que fosse o melhor escândalo, isso é o que as
pessoas acreditariam. Culpa acalmou meu temperamento quando pensei que
Sawyer sabia como uma fofoca era nociva. Ela realmente era muito parecida
comigo... e lá estava eu, arrastando-a de volta para dentro da lama, quando ela
tentava reorganizar sua vida novamente.
Eu soltei a mão de Sawyer quando chegamos à mesa de 1,80m com uma
enorme tigela com um líquido rosa. Sawyer deu um passo ao meu lado, mas

344
mantive o meu rosto para frente, olhando para a tigela estúpida, a água
ligeiramente chapinhando no interior devido ao hip-hop batendo na sala. Sua mão
levantou e pensei que ela poderia me girar ao redor para olhar para ela, mas ela só
chegou até a mesa para pegar dois copos de plástico de uma grande pilha deles.
Ninguém cuidava da estação, então eu despejei o ponche em um copo
quando ela me entregou um. Sem olhar para ela, eu entreguei o copo cheio para
ela e agarrei um vazio. Enchi-o também e suspirei, odiando como eu arruinava a
noite dela. Claro, nós fomos inadequados, e eu sabia que precisaria ter uma
conversa sobre isso, mas não podia simplesmente ignorá-la pelo resto da noite. Não
prometi que faria esta noite memorável para ela? Que teríamos diversão? Eu sabia
que não estava sendo muito divertido no momento.
Nos afastamos da mesa, e finalmente virei para encará-la. Ela segurava o
copo com as duas mãos e olhava para o interior do líquido, um polegar acariciando
o anel em seu outro dedo. Suspirei e ela olhou para mim.
— Sawyer... — minha garganta secou de repente, tomei um enorme gole
de suco, quase engolindo a metade do copo em um gole. Foi quando toda a minha
noite mudou. Foi quando tudo em meu corpo mudou.
Minha garganta ardeu quando a enorme quantidade de líquido consumido
viajou por toda a extensão da mesma. Não sabia o que acabei de tomar, mas sabia
que uma grande parte disso era álcool. Algum idiota realmente batizou uma tigela
de ponche. Há um ano, eu pensaria que era engraçado, mas muito aconteceu em
um ano. Agora, enquanto tossia e cuspia o líquido poderoso, tudo o que aconteceu
naquele ano correu em mim. Mais especificamente, tudo o que aconteceu naquela
noite correu em mim.
Era o álcool. O cheiro. O sabor. O que quer que estava lá dentro acelerou
os meus sentidos. Era o mesmo que naquela noite. Era a mesma coisa exata que
Darren, Sammy e Lil beberam na festa da fogueira. Eu realmente não bebi nada,
mas minha boca esteve em Lillian, e o que ela provou, eu provei.
As memórias inundaram meu cérebro quando a minha visão começou a
nadar com a rapidez do álcool correndo em meu sistema. Afastei-me de Sawyer e
ela agarrou meu meio copo cheio e colocou em cima da mesa com o dela. Confusão
e compaixão estavam claros em seu rosto quando ela estendeu a mão para
mim. Minha mente cheia de imagens de passear em torno de uma fogueira e deitado

345
com Lil na praia. A lembrança do gosto de álcool em seu hálito, em sua língua, me
agrediu. Eu não conseguia apagar isso.
Meu estômago se levantou quando dei mais um passo para trás de
Sawyer. Não conseguia controlar meu corpo. Uma dose de álcool foi o suficiente
para trazer de volta todos os detalhes horríveis e maravilhosos daquela noite, e eu
geralmente tentei manter essas memórias enterradas dentro do meu
subconsciente. Minha mente flutuou na torrente súbita de reflexões – a investida
da chuva, a débil faixa amarela na estrada, o rangido do para-brisa, a risada de
Darren, a lata de cerveja que era passada para trás e para frente, o cheiro disso me
alcançando quando Lil entregou a Sammy.
Inclinei-me e apertei meu estômago, minha respiração embaraçosamente
rápida, quase fora de controle. Eu estava tendo um ataque de pânico no meio do
baile, um baile onde as pessoas já observavam cada movimento meu. Mas a minha
respiração era realmente o menor dos meus problemas. Meu estômago se apertou
com uma terrível familiaridade quando o rosto de Lil nublou meus olhos.
Olhei em volta, sabendo que eu não tinha muito tempo. Os olhos
arregalados de Sawyer encontraram os meus por um segundo e ela colocou a mão
nas minhas costas, perguntando o que estava errado. Eu não pude responder. Não
conseguia nem falar, porque meu estômago estava na minha garganta, impedindo
a fala. Infelizmente, isso não ficaria lá.
Um cesto de lixo de um lado da mesa com a tigela de ponche atraiu toda a
minha atenção e corri até ele, deixando Sawyer alguns passos atrás de mim. Com
as duas mãos nas bordas, inclinei-me e ruidosamente vomitei, e o líquido vil deixou
meu sistema em não um, mas três arremessos curtos.
Eu ofegava sobre a borda da cesta, sentindo meu estômago voltar ao seu
nível normal. O som da risada me atingiu por cima da música. Fechei os olhos e
senti calor no meu rosto. Vomitando no meio do ginásio não era exatamente a
melhor maneira de ficar imperceptível. Constrangimento me inundou, e
independentemente de querer dar a Sawyer um bom tempo, de repente eu queria
ir embora. Talvez tentar me reconectar com o mundo não era a melhor ideia, afinal.
Senti as mãos de Sawyer levemente esfregando minhas costas enquanto ela
se inclinava para perguntar se eu estava bem. Balancei a cabeça, ainda capaz de
ouvir risos ao meu redor. A lata cheirava a álcool agora, e inclinar-me sobre isso

346
me faria vomitar de novo, com relutância, endireitei e me concentrei na música,
por assim dizer. Eu me virei, limpando a boca com a manga, e fui recebido por
Sawyer, seus olhos cinzentos preocupados. Ela passou a mão na minha bochecha,
em seguida, colocou as costas da mão contra a minha testa, como se checasse para
ver se eu estava doente.
Eu balancei a cabeça e murmurei que estava bem, depois olhei atrás dela
ao ginásio lotado. Vários pares de olhos olhavam em nossa direção; alguns dos
alunos estavam debruçados juntos, em conversa com os seus parceiros, outros
riam sem rodeios. Dois indivíduos, gargalhando mais alto do que o necessário, me
chamaram a atenção. Josh e Will estavam na beira da pista, a poucos passos de
mim, de pé, juntos e segurando seus estômagos de tanto que uivavam.
Josh se controlou o suficiente para me dar um sorriso torcido, e tive a
sensação de que ele era ou responsável pela tigela de ponche ou sabia sobre
isso. De qualquer maneira, ele gostou da minha reação embaraçosa. Olhei ao redor
da sala, cheia de gente que eu nem sequer parecia conhecer mais, e virei,
necessitando sair de lá.
Sawyer agarrou meu braço quando virei para longe dela. — Onde você vai?
Olhei para as pessoas ao redor, suas risadas residuais ainda ecoando alto
em meus ouvidos. — Eu preciso... silêncio.
Ela assentiu com a cabeça, compreendendo, e pegou minha mão, me
tirando da sala. Ela me levou por um conjunto de portas abertas para o corredor.
Os banheiros estavam em uma das pontas e um enxame de estudantes estavam lá
embaixo. Ela nos puxou para o outro lado, onde era o escritório do treinador.
Ninguém estava ali e era pacificamente quieto. O corredor se transformou em um
curto espaço em T, com vestiário dos caras de um lado e das meninas no
outro. Paramos à medida que dobrava a esquina para o lado mais curto do T indo
ao vestiário das meninas. Debrucei-me contra a parede e fechei os olhos, querendo
voltar para casa.
Uma mão quente segurou minha bochecha e eu quase suspirei em voz alta
com o conforto de um toque. — Você está bem, Luc? O que aconteceu?
Abri meus olhos, não sei como explicar o meu mais recente colapso. Os
olhos de Sawyer seguravam uma profundidade de sentimento que tornava difícil

347
pensar com clareza. Eu queria confessar tudo para ela. Queria dizer tudo que havia
no meu coração e na minha alma, mas o medo bloqueou minha garganta. Falar
sobre aquela noite era tão difícil.
— Luc — ela sussurrou. — Você pode falar comigo.
Um canto do meu lábio levantou com as minhas palavras voltando para
mim. A culpa passou por mim. Ela confessou algo realmente difícil para ela falar
sobre esta noite... eu deveria fazer o mesmo. Talvez uma vez que passemos esse
obstáculo, tudo entre nós poderia ser falado.
— Eu me lembro de tudo... daquela noite. Cada complexo horrível
detalhe. Eu gostaria de poder esquecer. — Minha garganta ameaçou se fechar e
meu coração começou a correr novamente. Ela apenas olhou para mim com
expectativa, no entanto, e corei, percebendo que realmente nunca disse isso em
voz alta. Olhei para baixo e balbuciei algumas vezes enquanto ela se aproximava,
apoiando as mãos no meu peito.
— Foi o ponche. Josh, ou alguém, o batizou e isso me lembrou... me
lembrei de... — minha voz sumiu, minha garganta fechou.

— Isso o lembrou daquela noite... a noite do acidente?


Olhei para ela, meu rosto suavizando com alívio por ela entender. — Sim

— eu sussurrei. — Eu simplesmente não podia afastá-la. Não conseguia parar as


memórias do acidente de vir, e odeio pensar sobre o que aconteceu... — olhei para
ela, meu rosto empalidecendo enquanto me perguntava se acabei de dizer isso em
voz alta. Aparentemente eu disse.
Sua mão voltou para minha bochecha, os olhos correndo entre os meus. —

Você... lembra, Lucas? — Ela sussurrou.

Minha boca se abriu e queria gritar: — Sim! — Em vez disso, eu debatia


para quaisquer sílabas.
— Caralho! Você apareceu.
Sawyer e eu viramos a cabeça para olhar para a voz invadindo nossa
privacidade. Ela pertencia a Brittany, que saía do vestiário das garotas,
sozinha. Ela cambaleava um pouco, como se tivesse tido alguns copos de
ponche. Seu cabelo cor de mel estava preso perfeitamente formando uma massa

348
de cachos em cascata e seu vestido era curto e apertado. Ela parecia um milhão de
dólares, mas eu não passaria perto dela nem se me dessem dois milhões.
— Nos deixe em paz, Brittany — eu murmurei, minha voz embargada
quando emoções passaram por mim.
Ignorando Sawyer, Brittany zombou de mim. — Você acha que é tão

maravilhoso — ela arrastou enquanto afastava Sawyer, fazendo-a recuar um


passo. O rosto de Sawyer corou quando olhou para Brittany.
Tentando me afastar de onde Brittany agora me prendia contra a parede,
eu murmurei — O que você está falando?
Ela colocou as duas mãos em cada lado do meu corpo, inclinando-se para
mim. Instintivamente pressionei contra a parede para fugir. — O vestiário está
vazio. Poderíamos finalmente resolver isso... essa tensão entre nós.
Lancei um olhar para Sawyer. Seu rosto sombrio e as mãos fechadas em
punhos. Não querendo uma luta, eu gentilmente empurrei Brittany para longe de
mim. — O que você quer comigo, Brittany? Não entendo você.
Ela deu um passo para trás e cruzou os braços sobre o peito. Ao meu lado,
Sawyer relaxou sua postura, e pensei que talvez eu tivesse evitado a III Guerra
Mundial. Brittany me deu um olhar condescendente enquanto seus olhos me
varriam completamente. — Você... todos esses anos você agiu como se fosse muito
melhor do que eu.
Inclinei a cabeça, sem entender. Além de nossa sessão de amassos, eu
quase não a notei. Certamente nunca olhei para ela. Eu apenas tive outras coisas
surgindo, especialmente quando Lil e eu ficamos juntos. — Do que você está
falando?
Ela se aproximou de mim novamente. — Você sabe exatamente o que eu
estou falando. Você estava em cima de mim... quente para cavalgar, e então você
ficou todo santinho e nem sequer me tocou, como se eu fosse inferior a você ou
algo assim. — Seu lábio contorceu em um sorriso de escárnio. — Sr. Alto e

Poderoso quarterback e sua boneca Barbie, rainha do baile. — Ela zombou de

mim. — Como se você não quisesse me foder. — Seus lábios se curvaram


sedutoramente.

349
Revirei os olhos e saí de perto dela, mais próximo de Sawyer, que ouvia
atentamente. — Eu não quis... foder, Brittany. Nem perto disso.

— Seja como for, Lucas. Lembro-me de como você era, e sinto muito, mas...
— ela passou a mão no meu peito e me afastei, — a maneira como suas mãos
corriam para cima e para baixo do meu corpo nu — ela lançou um olhar para
Sawyer e de repente me dei conta, com uma onda de aborrecimento, por que ela
trazia isso, — a forma como sua língua sondou minha boca – você me queria.
Eu mais ou menos a empurrei para trás, com raiva por ela tentar machucar
Sawyer, trazendo algo que realmente não significou nada para qualquer um de
nós. Ela tropeçou com o movimento brusco, e pensei que ela poderia cair, mas ela
se endireitou no último momento.
— Se eu quisesse... eu levaria você. Deus sabe que não seria difícil... metade
da equipe fez.
Seu rosto empalideceu quando ela realmente olhou para mim. Com uma
nova dureza em sua voz, ela ergueu o queixo e disse: — Você não pode falar assim

comigo. Você não é mais um deus por aqui. — Ela riu uma vez sem nenhum traço

de humor. — Você tinha tudo, mas agora, bem, você afundou até o fundo do poço

social. Inferno, você está abaixo do poço, e eu acho isso muito... — ela sorriu, e

não de uma forma agradável, —... satisfatório.


Agarrei a mão de Sawyer, pronto para sair de perto de Brittany. Na minha
irritação, eu não pude deixar de rebater: — E, no entanto, você ainda tenta me
fazer foder você.
Ela inalou com altivez, tropeçando um pouco onde ela
estava. Momentaneamente considerei denunciá-la por embriaguez na propriedade
da escola, mas logo descartei. Independentemente do que ela faria para mim se os
papéis fossem invertidos, eu não começaria a denunciar as pessoas por
rancor. Assim que puxei a mão de Sawyer para sair do corredor, Brittany passou
com raiva por mim, batendo no meu ombro no processo.
Eu me virei para vê-la ir embora. Ela parou na esquina para o corredor
principal, com uma mão na parede para estabilizá-la. Ela olhou para mim, aquele
sorriso sugestivo retornando aos lábios. — Até mesmo eu não me importo de

350
mergulhar na lixeira de vez em quando, Luc. — Seus olhos pousaram no meu
corpo antes de passar rapidamente para Sawyer. Em seguida, com uma risada
gutural, ela desapareceu no corredor, provavelmente para se juntar ao baile.
Revirei os olhos e balancei a cabeça, virando-me sobre o meu ombro para
olhar para Sawyer. Eu tinha um pedido de desculpas pelos comentários de Brittany
prontos em meus lábios, mas o olhar no rosto de Sawyer fez com que ele evaporasse
completamente. Seu rosto estava pálido, e seus olhos começavam a lacrimejar
quando ela olhou para o local onde Brittany acabara de estar.
— Sawyer? — Eu disse baixinho, de repente, muito nervoso, mas querendo
saber o que ela pensava. Eu dei um passo à frente de sua linha de visão, e ela
piscou e olhou nos meus olhos.
Eu estava prestes a perguntar se ela estava bem, quando ela falou com uma
voz trêmula. — Você... namorou com ela?
Exalei lentamente, odiando Brittany por tão insensivelmente trazer à tona
aquele breve encontro inútil. Tentando exalar indiferença, eu disse: — Não. Nós só

ficamos uma vez. — Dei de ombros no que esperava que fosse de forma casual e

acrescentei: — Não significou nada.


Seus olhos se arregalaram e sua boca se abriu um pouco. Suas bochechas
recuperaram alguma cor e seus olhos se estreitaram para mim. — Não significou

nada? Você sabe o quanto ela me enche por sua causa? — Eu me encolhi e comecei

a pedir desculpas, mas ela me cortou. — Como ela me atormenta, isso obviamente
significou alguma coisa, pelo menos para ela. Por que você não me disse que tinha
uma história com ela? Não me admira que ela me odeie, Lucas.
Ela balançou a cabeça e se eu não soubesse melhor, eu juraria que um
lampejo de ciúme passou por seu rosto. Mas não poderia ser isso – ela era tão
diferente para mim do que essa mulher amarga. Ela não poderia estar com ciúmes
desse encontro sem sentido quando ela e eu tínhamos tanta coisa... alguma coisa.
Coloquei minhas mãos em seus ombros. — Não, realmente, não foi
nada. Eu não sei por que ela cismou com você... ou comigo. Acho que tudo tem
origem com Lil, na verdade. Ela simplesmente odeia perder, e eu realmente não dei
muita atenção a ela, especialmente quando Lil e eu começamos a namorar. — Eu

351
me senti como se não estivesse fazendo um bom trabalho para explicar. Minhas
mãos subiram para seu rosto, quase implorando para entender o quão pouco
Brittany significava para mim. — Mas não foi nada, Sawyer, apenas duas crianças
brincando. Não foi grande coisa.
Depois que eu disse isso, ela afastou minhas mãos para longe de seu rosto
e seus olhos se estreitaram em raiva. Eu dei um passo para trás, surpreso com a
reação dela e me perguntando o que eu disse para deixá-la louca.
— Não é grande coisa — ela disse em voz baixa, uma corrente fervente em
seu tom de voz.
Não sei o que eu fiz de errado, eu cautelosamente disse: — Yeah. Isso foi

apenas curtição... não era grande coisa. — Eu dei de ombros e levantei os braços
ligeiramente, esperando que ela entendesse o que eu quis dizer com isso.
O rosto dela ficou ainda mais tempestuoso, e de repente eu tive a impressão
de que cavava um buraco ainda mais profundo para mim. Só não tinha certeza do
porquê. Seu dedo de repente saiu para bater no meu peito. Fiz uma careta para o
movimento e suas palavras. — Apenas quando eu penso que você é diferente de
todos os outros caras, você me diz algo como isso, e soa como eles.
Pisquei, irremediavelmente confuso. — Sawyer, eu não... o que eu disse de
errado?
Ela puxou o dedo de volta, cruzando os braços sobre o peito e olhando para
longe de mim, em direção ao vestiário feminino. Sons vagos de música e pessoas
rindo derivavam do outro corredor até nós, mas eu não me importava com o
desastre vergonhoso que me conduziu até aqui poucos minutos atrás. Eu nem
sequer me preocupava com o estranho intercâmbio com Brittany. Tudo o que
importava era essa mulher na minha frente que parecia estar com raiva de mim
por alguma razão.
Não virando a cabeça para me olhar, ela falou com uma voz firme e
controlada. — Nada. Você não disse nada de errado, Lucas. Eu pensava... se talvez

você gozou em seu shorts com ela, também. — Então, ela olhou para mim, os olhos

com raiva, mágoa e à beira das lágrimas. — Eu me perguntava se isso não é grande
coisa.

352
Capítulo 18
Eu e minha boca grande

Fechei os olhos quando uma gélida compreensão me inundou. Oh,


merda. Ela pegou minhas palavras para Brittany e aplicou-as para o
nosso encontro íntimo. Eu não peguei os sinais de alerta a tempo, e enfiei o meu
pé na minha boca, ou na minha bunda... ou talvez em ambos. Eu fiz parecer que
acariciar os seios de uma mulher era tão casual num encontro para mim como
apertar as mãos de uma mulher – sem sentido, trivial e mundano. Mas o que
Sawyer e eu fizemos juntos não poderia estar mais longe dessas palavras.
Ouvi-a fungar e sufocar as lágrimas, e então senti o veludo de seu vestido
escovar contra mim quando ela passou. Abri os olhos e agarrei seu cotovelo, mas
ela se afastou e virou a esquina, fora da minha vista.
— Merda. Sawyer, espere — eu gritei atrás dela enquanto corria para me
recuperar.
Virando a esquina, olhei para o outro extremo, onde os alunos ainda
estavam perto dos banheiros. Sawyer estava apenas um ou dois passos na minha
frente, então a peguei facilmente, correndo na frente dela para fazê-la parar. Ela
353
parou bem antes de me tocar e fez um movimento para a direita, o que bloqueei. Ela
tentou a esquerda e bloqueei isso também. Como pedi várias vezes para ela parar,
ela finalmente suspirou e ficou parada, olhando para minha cara.
Engoli em seco quando vi as estrias negras de lágrimas ligeiramente
escorrendo nas suas bochechas. Estendi a mão para limpar uma. — Eu sabia que
você estava com raiva de mim por isso. Eu sabia que você estava mais chateada do
que parecia.
Ela se afastou de mim, passando os dedos sob os olhos para secar suas
bochechas. — Claro que estou chateada, Lucas. Eu quero estar com você. Mas não

sei o que você quer. — Tentei tocá-la novamente, mas ela afastou minhas

mãos. Suas bochechas estavam coradas e sua voz tremia. — Você acha que eu sou

bonita, e, obviamente, excito você. — Ela apontou para as minhas calças e senti o

calor e constrangimento fluir através de mim, enquanto ela continuava. — Mas

você não fica comigo. — Ela levantou a mão para indicar onde Brittany

desapareceu no corredor. — E agora eu sei o porquê.


Ela ergueu o queixo, tentando parecer forte, mas ele tremeu e, naquele
momento, ela parecia mais uma menina de coração partido do que a mulher sábia
a qual eu estava acostumado a ver. Suas próximas palavras trouxeram mais
lágrimas para os olhos e partiu meu coração. — E, obviamente, não significa para
você o que significava para mim. Você, obviamente, não sente o mesmo que eu. E
eu, obviamente – não sou grande coisa.
Suas lágrimas escorriam e eu não podia afastá-las. Agarrei-a e apertei-a
para mim. Ela lutou por um momento contra o meu abraço, então parou e caiu
contra mim. — Não, Sawyer. Eu prometo que não foi assim... não com você.
Senti um soluço claro em seu corpo, enquanto pressionava contra ela e
precisei engolir minhas próprias lágrimas por machucá-la. Eu não prometi que a
protegeria de todos os idiotas e imbecis do mundo? Quem diria que eu seria o maior
deles?
— Não, eu fui apenas uma liberação para você, porque você estava tendo
um dia ruim – isso é tudo o que eu fui para você — ela chorou no meu ombro.

354
Segurei a cabeça dela e beijei o topo da mesma. — Não, isso não é verdade...
bem, é verdade, mas não é...
Sua cabeça se separou do meu alcance quando ela se afastou para me
olhar. — É verdade?
Seu rosto cheio de listras me rasgou, e minhas mãos subiram para limpar
as listras negras, provocadas pelas lágrimas, tentando consertar sua bela
maquiagem. — Você e eu não somos nada como Brittany e eu. — Peguei seu rosto
novamente, fazendo-a manter contato visual comigo quando ela tentou se
afastar. Engoli, eu deixei meu coração derramar – não consciente das minhas
palavras, só necessitando que ela soubesse como eu me sentia sobre ela. — É
verdade que encontrei conforto em você, Sawyer. Tanto conforto... se você apenas
entendesse o quanto. Mas é mais do que apenas paz que encontro em você... eu
me importo com você. Você significa muito para mim. Você é tudo para mim. Eu
gosto de você. Realmente, gosto de você.
Ela se afastou de mim, agarrando meus pulsos e abaixando as minhas mãos
de seu rosto. Perplexa, ela murmurou: — Você gosta de mim? — Confusão me
varreu, mas antes que eu pudesse perguntar por que ela questionou a minha
afirmação, ela esclareceu. — Você disse que me amava... mais de uma vez, e então
você me beijou... de novo.
Desviei o olhar quando percebi que ao derramar meus sentimentos por ela,
eu os subestimei. Eu disse a ela em várias ocasiões que a amava, a mais recente
há pouco tempo na pista de dança. Agora, porém, aqui, quando realmente
importava, eu mudei para gostar. Eu podia ver como isso era confuso. Inferno, era
confuso para mim, e fui eu quem disse. — Sawyer...

Ela me interrompeu, abaixando-se para encontrar meu olhar errante. — E


posso ver nos seus olhos que você quer dizer isso, e que você não fala de amizade,
mais de amor, também. Mas então você retrocede, e não entendo o porquê. — Eu
olhava para ela, impotente, sem saber o que eu poderia dizer para fazê-la
entender. Ela ainda segurava meus pulsos em suas mãos, quase como se ela me
prendesse. E eu meio que me sentia assim, preso tanto pelo seu corpo quanto por
suas palavras.

355
Mas, então, ela mudou seu aperto e entrelaçou nossos dedos. Ainda em pé,
com apenas trinta centímetros a separando de mim, ela sussurrou sobre os sons
vindos do final do corredor agitado: — Eu sei que você já passou por muita coisa,
Lucas, e eu tento não levar para o lado pessoal quando você me afasta, mas estou
confusa. — Ela balançou a cabeça, os fios soltos de seu confuso penteado roçando

seus ombros. — Eu não sei o que você quer de mim, ou até mesmo como você

realmente se sente sobre mim. — Ela deu de ombros e falou as palavras que eu

não sabia como consertar. — Você me confunde.

— Sawyer, eu... — eu não tinha para onde ir com essa frase e a deixei
morrer entre nós.
Ela olhou para mim com expectativa, os olhos passando rapidamente entre
os meus, desejando que eu dissesse porquê não estávamos juntos. Eu queria
poder. Mas como eu poderia explicar por que só poderia haver amizade entre
nós? Especialmente quando empurrei os limites da amizade com tanta frequência.
No meu silêncio, ela veio com sua própria desculpa, que me rasgou. — Você
está me usando? Assim como aquele idiota na minha antiga escola?
Isso me empurrou para fora da minha agitação quando uma onda de raiva
passou por mim. Como ela poderia me comparar a esse canalha? Eu nunca a
machuquei assim. O pico de raiva acalmou quando percebi que a magoei. Talvez
sem intenção, e talvez não tão diretamente como o seu ex-idiota, mas a
machuquei. Ternamente, eu trouxe uma das nossas mãos atadas juntas para
acariciar a parte de trás de seu rosto. — Não, Sawyer, nunca.
Ela engoliu em seco e deu um passo em minha direção, fechando a
distância. — Se você não está me usando, então por que me afastou? Se você gosta
de mim, então por que não podemos estar juntos?
Os lábios tremeram quando ela falou, e outra lágrima desceu por sua
bochecha. Acho que foi aquela lágrima que finalmente me quebrou. Eu senti meus
próprios olhos encherem de água quando senti as palavras horríveis subindo na
minha garganta. As palavras que eu sabia que a machucaria e que a confundiria
ainda mais. As palavras que eu sabia que me faria soar como um lunático e mudar

356
para sempre a sua opinião sobre mim. Elas chegavam, entretanto... já era tarde
demais para segurá-las, bem como a lágrima escorrendo pelo meu rosto.
— Porque estou traindo Lillian e não posso deixar isso acontecer mais. —
Um claro grito me escapou e engoli para segurá-lo.
A boca de Sawyer se abriu quando confusão mostrou claramente no vinco
da sua testa. Seu tom de voz era baixo e plano, quando ela falou. — O quê? O que
você quer dizer?
Sentindo ela se afastar de mim, embora ela não estivesse, deixei cair as
mãos e agarrei seus braços, os dedos cavando o veludo macio que os cobriam. —
Eu sinto muito, mas estou apaixonado por Lil. Não quero machucá-la
mais. Nenhuma das duas.
Ela deu um passo para trás de mim, os olhos procurando o meu rosto
enquanto ela tentava entender o que eu dizia a ela. Eu queria voltar à conversa.
Eu queria voltar à noite. Eu queria nunca tê-la beijado na pista de dança. Eu nunca
a enganaria novamente, e então nada disso aconteceria. Ela não olharia para mim
como se eu estivesse estragado. Então eu nunca precisaria ouvir as próximas
palavras que ela falou para mim.
— Você está dizendo no tempo presente. Ela se foi, Lucas. Você sabe disse...
certo?
Sentindo mais lágrimas horríveis deslizarem para baixo da minha pele, eu
balancei a cabeça e dei um passo na direção dela. Embora ela ficasse onde estava,
eu a senti se afastar mais. — Eu sei. Eu sei disso, mas eu ainda a amo. — Minhas

palavras saíram mais rápidas enquanto eu tentava explicar. — Eu sonho com


Lillian, sobre como era estarmos juntos e parece... como costumava ser. Eu
encontrei uma maneira de ainda estar com ela. — Meus olhos procuravam os dela,

freneticamente, querendo que ela entendesse. — Você não vê? Não é que eu não
queira ficar com você, é que eu ainda estou com ela. Ela ainda é minha namorada.
Seu rosto assumiu uma expressão de incredulidade e preocupação, e eu
odiava vê-lo. — Mas... isso é loucura, Luc. Isso não é real.
O desespero penetrou em minha voz com o pensamento de seu olhar sobre
mim ser diferente a partir de agora. — É uma sensação verdadeira. — Balancei

357
minha cabeça enquanto minhas mãos aumentavam o aperto em seus braços. —
Quem dirá o que é mais verdadeiro, se a vida e os sonhos parecem o mesmo?
Suas mãos subiram para segurar meu rosto. Seu aperto era forte demais. —
Você não pode pensar assim. Você não pode viver assim.
Eu sorri. Parecia uma coisa estranha de se fazer, mas eu queria que ela
visse que eu gostava da minha vida de sonho e queria mantê-la. — Eu penso assim.

— Seus polegares começaram a acariciar meu rosto, o metal de seu anel era frio
contra meu rosto riscado de lágrimas. Senti meu estranho sorriso cada vez mais
amplo; eu provavelmente parecia tão louco como soava. — Eu encontrei uma
maneira de passar tempo com ela novamente, com todos eles. Quase sempre sei
que é um sonho, e quase posso controlá-los. Estou ficando muito bom nisso. Bem,
melhor de qualquer maneira, mas acho que com mais tempo eu estarei ótimo.
Ela parecia prestes a protestar, seu rosto uma máscara de preocupação
agora, mas eu venci a isso. — Não, eu sei o que você dirá, mas você está errada.
Eu posso viver dessa maneira. Posso tentar. Eu tenho – é melhor que qualquer
coisa por aí. — Eu balancei a cabeça para o riso ruidoso que eu podia ouvir se
construindo no outro lado do corredor de onde estávamos.
Seu rosto empalideceu e ela baixou as mãos do meu rosto. — Nem eu? —
Ela deu um passo para longe de mim.
Fechei os olhos. Mais uma vez, eu enfiei meu pé na minha boca. Mais uma
vez, eu esqueci que ela não percebia o quão importante ela era para mim, ela foi se
destacando entre as pessoas que eu mal conseguia olhar mais. Ela estava tão
acima de todos eles para mim. Ela não podia ver isso?
Abrindo os olhos, olhei para o rosto dela com o coração partido. — Não,
Sawyer. Eu... eu não quis dizer isso.
Fui até ela, passando os braços ao redor da cintura dela, puxando-a para
um abraço que eu senti que tanto precisava. Ela não resistiu, mas ela não me
abraçou também. Engoli algumas lágrimas incômodas, rezando para que minhas
palavras e ações insensíveis de hoje à noite não tivessem permanentemente nos
danificado. Tanto para dar a Sawyer uma experiência memorável. Embora talvez

358
eu tivesse conseguido até este ponto, só não da maneira que eu inicialmente
previra.
Descansando minha cabeça em seu ombro, eu exalei na curva do seu
pescoço. — Honestamente, Sawyer, você é a minha única razão para acordar.
Assim que senti os braços dela ao meu redor, os risos que ouvira no final
do corredor, de repente estavam do nosso lado. Ergui a cabeça do corpo de Sawyer,
perguntando quem nos incomodava agora. Senti meu domínio sobre ela aumentar
quando recebi a minha resposta.
Josh. Josh decidiu perturbar o nosso doloroso momento.
Passando a mão pelo meu rosto molhado, eu olhei para ele; eu não estava
com disposição para mais nenhum algoz esta noite. Eu não sustentei contato visual
com ele há algum tempo, e ele parecia divertido por eu segurar seu olhar. Atrás
dele, ouvi Will rir. Meu olhar mudou para Will quando o ouvi dizer sedutoramente:
— Ei, delinquente. Eu gosto do seu vestido. — Ele olhou para Sawyer de cima a
baixo e eu a puxei um pouco para trás de mim.
Sawyer não precisa exatamente da minha proteção, entretanto. De cima do
meu ombro ela disse para ele se foder. Os olhos dele expressivos sobre ela e
coloquei ainda mais do meu corpo na frente dela.
— O que você quer? — Meus olhos chicoteando entre os dois, mas também
na multidão reunida atrás deles, claramente esperando um confronto.
Josh cruzou os braços sobre o peito e zombou de mim. — Você gostou do
suco? Fizemos isso apenas para você.
Eu não estava muito surpreso que minhas suspeitas sobre a tigela de
ponche fossem corretas, por isso a minha expressão não mudou. Minhas palavras
assumiram um tom acalorado, no entanto, quando falei alto o suficiente para todos
no salão ouvir. — Você me drogou e agora você batizou o ponche? Está tentando
ser chutado para fora daqui?
Josh sorriu, seus olhos escuros olhando para onde os alunos estavam
reunidos. Will ao lado dele se deslocou inquieto, olhando para Josh e, depois, para
as pessoas enchendo o corredor, antes de seu olhar voltar para mim. Josh deu um
passo em minha direção e um silêncio caiu sobre a plateia rindo. Eu podia ouvir a

359
descarga dos banheiros à distância de tão quieto que estava. Mantendo a voz baixa
e fria, Josh disse: — Não, eu não estou tentando me chutar para fora.
Dando mais um passo para mim, seu dedo se aproximou para cutucar meu
peito. Eu ainda estava de pé, forçando-me a não reagir a sua provocação. — Mas
você precisa de algum castigo, então, sim, eu o droguei através do pobre estúpido
Randy... e você não pode fazer nada sobre isso, porque ninguém aqui acredita em
uma maldita coisa que você diz. — Ele sussurrava acaloradamente, bem na minha
cara. Eu podia ver a plateia atrás dele, juntando suas sobrancelhas, tentando pegar
algumas palavras, mas não conseguiram. Sua confissão só era ouvida por mim, e
eu já sabia disso.
Eu o empurrei para longe de mim, o meu controle momentaneamente
escorregando. Seu tamanho não era nada comparado ao meu, por isso, acabei
empurrando-o para Will. A plateia fez um ruído de aqui vamos nós quando Will
ajudou a endireitá-lo. Em seguida, Will deu um passo para frente, como se fosse
me atacar ao invés do Josh, mas Josh segurou-o com uma mão em seu peito. Will
era mais do meu tamanho e uma luta entre nós seria mais equilibrada, prudente,
mas ele parecia deixar Josh assumir a liderança nessa luta. Talvez ele entendeu
que isso era algo que Josh e eu precisávamos resolver. Ou talvez ele só tinha uma
mentalidade de seguidor e não estava a altura de tomar a iniciativa. Outra razão
do porque ele era péssimo como quarterback.
Sawyer, atrás de mim, era não uma seguidora no entanto, e tentou
esgueirar-se em torno de mim para colocar seus próprios dois centavos dentro. Eu
girei para colocar minhas mãos em seus ombros, parando-a. Josh olhou para ela,
seus olhos se estreitando na ligação evidente entre nós. Uma coisa que sempre
pareceu incendiar o temperamento de Josh era Sawyer e eu, como se ele me
quisesse chafurdando na escuridão, lutando para manter isso junto a cada dia, e
qualquer vislumbre de felicidade que eu mostrava era irritante para ele.
Mantendo os olhos fixos em Sawyer, Josh zombou: — Até a
sua namorada acha que você é um bêbado. — Seu tom acentuou duramente a
palavra namorada e ele quase parecia querer cuspir em seus pés. Acho que ele
teria, se estivéssemos do lado de fora. Sawyer eriçou em meus braços e a segurei,

360
ainda querendo saber como nos tirar disso sem punhos voando. Onde foram todos
os acompanhantes de qualquer maneira?
Josh estendeu a mão e olhou para ela, como se estivesse lendo uma
carta. — Você foi... machucado. Eu entendo. — Ele olhou para mim, com o rosto
exultante. Ele falava alto o suficiente para que todos pudessem ouvir agora e um
zumbido passou pela plateia.
Olhei para Sawyer conforme suas palavras desencadeavam uma
memória. Ele fazia de conta que lia uma carta, e ele implicava Sawyer, a quem todo
mundo achava que era minha namorada. Reconhecimento explodiu no rosto de
Sawyer, ao mesmo tempo em que no meu. Sawyer escreveu aquele bilhete na aula
de Inglês, um dia depois do incidente no sofá. Ela não disse isso como Josh pensou,
mas parecia ruim, muito ruim.
Viu isso? Onde viu isso? Sawyer não tinha esse bilhete? Procurei seu rosto
enquanto ela franzia a testa e olhava para o corredor, seus olhos passando
rapidamente para todos os lados, como se tentasse lembrar o que aconteceu com
essas provas incriminatórias.
Raiva brilhou dentro de mim com a ideia dos olhos de Josh nessa conversa
íntima. E se ele leu, provavelmente significava que uma boa parte da escola lera
também. Sawyer olhou para mim, rubor coloria suas bochechas, e eu sabia que ela
acabara de perceber isso também. Tentei lembrar o que dizia essa nota, mas tudo
o que eu conseguia lembrar era que falávamos sobre nosso momento de quase-
sexo. Eu me encolhi com o pensamento de fofocas sobre o nosso sagrado momento
voando ao redor da escola.
Minha regra autoimposta de nunca me envolver novamente com Josh
desapareceu na minha ira e embaraço. Mas mais do que isso, ela desapareceu,
porque eu sabia o quanto Sawyer seria ferida pela ideia dessas palavras girando
fora de controle. Eu não queria Sawyer magoada ou assediada por Josh. Eu faria
qualquer coisa para evitar isso.
Liberando Sawyer, eu andei até Josh e empurrei seu peito novamente. Ele
estava mais preparado para isso neste momento e me empurrou de volta. A plateia
atrás dele zumbia com energia e fileiras apertadas, efetivamente impedindo que
Sawyer e eu fugíssemos do ginásio. Irritado com a noite inteira, eu gritei: — Eu
não bebi, Josh!
361
Todos no corredor sabiam exatamente o que eu falava. Todo mundo sabia
que eu falava sobre a noite do acidente. A sala silenciou, esperando uma resposta
para as perguntas que eu sempre me esquivei. Além de Josh e eu andando para
frente e para trás, você poderia ouvir um alfinete cair.
— Oh, vamos, Luc – ninguém compra isso! — Josh me empurrou de novo,
me empurrando para Sawyer. Ela tropeçou, e eu girei para impedi-la de cair. Virei
a cabeça para Josh quando ele acrescentou: — Há uma testemunha de qualquer
maneira, Luc. Alguém viu você beber cerveja, assim pode parar de agir como um
maldito inocente!
Um murmúrio atravessou a multidão e Will, ao lado de Josh, cruzou os
braços sobre o peito e encontrou os olhos de Josh, balançando a cabeça. Várias
outras cabeças acenaram também. Nem todos, alguns rostos pareceram surpresos,
mas a maioria não se assustou com o anúncio de Josh. Isto era, aparentemente,
algo que a maioria do corpo estudantil já aceitou sobre aquela noite. Fiquei
surpreso por isso, enquanto ainda precisava ouvir.
Parecia que todo o sangue havia corrido do meu rosto quando me afastei de
Sawyer e fui até Josh. Ele passou a mão pelo cabelo escuro, mas não recuou.
— O que... quem? — Mesmo antes de dizer isso, eu sabia. Quem mais nesta
escola espalharia mentiras e fofocas sobre mim, tudo na esperança de me derrubar
em uma estaca? Quem mais, além daquela putinha com ciúmes? Meu rosto se
contorceu em um sorriso de escárnio, quando respondi minha própria pergunta. —
Brittany.
Josh sorriu. — Você se lembra de vê-la lá agora?
Corri as duas mãos nos meus cabelos e grunhi de frustração. Ouvi Sawyer
dizer alguma coisa atrás de mim, algo sobre Brittany sendo uma boceta, mas meu
foco estava sobre Josh e aquele maldito sorriso em seu rosto. — Deus, Josh! Ela
está mentindo! Você sabe que ela é uma mentirosa. Ela está sempre cheia merda
sobre mim, tentando iniciar uma merda. Ela não estava lá! Ela está louca comigo
por ignorá-la ou algo assim. Ela estava com ciúmes de Lil, porque depois que eu
conheci Lil, eu não toquei mais nela! — Eu sabia que divagava conforme berrava

para Josh, mas eu não podia segurar isso mais. — Ela não estava lá! Ninguém da
escola estava lá!
362
Josh se aproximou de mim, seu rosto tão escuro como o preto na roupa
preta que ele usava. Ele enfiou um dedo no meu peito novamente. — Como é
conveniente para você.
Passei a mão pelo meu cabelo novamente, arruinando qualquer aparência
de ordem, e apontei para o meu peito que ele parecia amar cutucar. — Droga,

Josh, você me conhece. — Eu freneticamente me dei um tapinha enquanto

balançava minha cabeça. — Eu bebo? Já estive bêbado?


Ele me empurrou para trás, cerrando as mãos como se quisesse fazer
mais. — Naquela noite – sim! Havia cerveja derramada em cima de você, Luc! Meu
primo estava no hospital – ele disse que você cheirava a isso!
— Foi aberta no carro, Josh, mas era de Darren, não minha. — Eu joguei
minhas mãos para cima, exasperado e senti a mão de Sawyer subir para descansar
no meu ombro, tentando me acalmar. Funcionou um pouco e com uma voz mais
calma eu acrescentei, — Por que... por que você acredita em boato e não em mim?
Josh deu um passo, bem no meu rosto, seus olhos selvagens com fúria e
ódio. Eu mal reconheci o garoto que eu conhecia. Fervendo, ele gritou: — Porque
você conseguiu se safar! Você escapou após matar todos eles! Você nem sequer foi
multado pela lata de cerveja aberta! Você escapou impune e todo mundo sabe o
porquê!
Sentindo lágrimas queimando meus olhos, tanto de raiva e tristeza, eu gritei
de volta: — Que diabos você está falando? — A mão de Sawyer apertou meu ombro
e a ouvi dizer algo sobre sair, mas Josh estava na minha cara e isso é tudo em que
eu poderia me concentrar.
Não retrocedendo uma polegada, ele gritou: — Sua mãe, Luc! Você escapou
disso porque sua mãe está fodendo o xerife! Ele cobriu para você, adulterou seu
teste no hospital, tudo para sua puta!
Foi quando eu vi vermelho. Foi quando eu não me importei em ser expulso
da escola. Foi quando não me importei que Sawyer estava bem atrás de mim, que
Will estava do outro lado do Josh, parecendo pronto para ajudar se necessário, ou
que uma grande massa de testemunhas estava atrás deles. Foi quando eu não me
importei com a promessa que fiz de nunca deixar Josh tirar o melhor de mim.

363
Foi quando Josh levou a melhor sobre mim.
Meu punho girou e solidamente acertou sua mandíbula. Eu tinha o
tamanho e a força, e seu corpo magro não era páreo para mim. Sua cabeça foi
lançada para trás com o soco e ele caiu no chão. Minha mão latejava com o soco,
mas ignorei, mantendo o punho fechado para quando ele se levantasse, quando
finalmente terminaremos isso. Eu estava sobre ele, a respiração pesada, como puro
veneno derramando em minhas veias.
— Foda-se!
Ele olhou para mim, um pouco atordoado, mas com um sorriso largo; um
rastro de sangue escorria de um corte em seu lábio inferior. Ele queria uma luta
comigo por um tempo e agora ele finalmente terá uma. Ele era pequeno, mas ele
era rápido. Ele levantou rapidamente e me socou no estômago antes que eu
pudesse bloqueá-lo. A plateia atrás de nós começou a incentivar uma luta e eu
sabia que isso acabaria comigo sendo expulso da escola para sempre.
Eu o empurrei para trás enquanto ficava sem fôlego. Ele fez que ia me
atacar, mas de repente foi agarrado por trás. Enquanto eu ofegava para recuperar
o fôlego, eu olhei para Randy segurando os braços de Josh atrás das costas. Will
olhou para Randy, mas não fez nenhum movimento para separar os dois. Josh
amaldiçoou e tentou se afastar do grande linebacker, mas se ele não era páreo para
mim fisicamente, então ele definitivamente não era páreo para Randy.
Ignorando o olhar de Randy que claramente disse: — Saiam daqui — eu
pisei até ao rosto fervendo de Josh. Raiva me levou a dizer minhas próximas
palavras e eu não estava nem mesmo ciente de dizê-las.
— Foda-se você e suas mentiras! — Olhei para o mar de rostos assistindo,
sempre observando. Quando ódio me encheu, eu não vi ninguém com nitidez. Eu
só vi um borrão de fofoqueiros, maldizentes, cruéis, bolhas humanóides em várias
formas, tamanhos e cores. Minha mente desviou para as inúmeras vezes que eles
riram de mim, olhando para mim, me atormentando... eu estava cansado de todos
eles.
— Foda-se todos vocês e suas mentiras! Querem ouvir o que soa como
verdade? — Afastei-me Josh e apontei minha mão para a plateia, de repente

tranquila. — Aqui está um pouco de verdade – eu não estava bêbado naquela noite

364
e me lembro de toda a merda! Não era o álcool que me ferrou, foi o estúpido
tempo. A maldita chuva estragou tudo. — Minha voz falhou e as formas indistintas

se diluíram enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas enfurecidas. — Essa


maldita chuva veio do nada e bateu forte, como se alguém ligasse a porra de um
chuveiro. Eu bati o pé no freio para parar e perdi o controle do carro. Eu estraguei
tudo – completamente sóbrio e todos eles morreram por causa disso! — Fiz um

gesto para mim com ambas as mãos, enquanto eu gritava para a multidão. — E
desejo todo dia ter morrido com eles!
Josh parou de se contorcer contra Randy e olhou para mim fixamente, sua
raiva aparentemente exaurida. A minha não foi ainda. Eu me aproximei dele
novamente. Randy soltou Josh e enfiou a mão no meu ombro, me avisando para
ficar para trás.
— Você não pode me machucar, Josh... porque eu já queria estar morto.
Eu me afastei dele quando a realização gélida me atingiu. Eu falei
demais. Eu exagerei. Senti as mãos de Sawyer nas minhas costas e sua voz doce,
finalmente, entrou na minha cabeça novamente. Ela me implorava para sair com
ela. Eu dei outro passo para trás e olhei para Josh novamente e, em seguida, a
multidão silenciosa. — Então me deixem em paz — eu sussurrei. — Todos vocês.
Virei a cabeça para os vestiários, necessitando fugir dessa bagunça e me
esconder por um tempo. Imediatamente o treinador saiu de um canto. Seus braços
estavam cruzados sobre a camisa polo com as cores da escola e a dureza de seus
olhos sobre mim e, então, para a plateia atrás de mim. Eu sabia que estava
eliminado. Eu sabia que ele ouviu e, provavelmente, viu a luta inteira. Meu rosto
caiu quando percebi que estava prestes a ser chutado para fora daqui,
permanentemente desta vez.
Ele estreitou os olhos para mim quando barrou o meu caminho. —
Problema aqui, West?
— Não, Treinador, eu estava de saída. — Eu sabia que ele não compraria
isso, mas o que mais eu poderia dizer a ele?
Ele balançou a cabeça e apontou no meio da plateia no ginásio. — A saída
é por ali.

365
Meu queixo caiu enquanto eu olhava para ele. Não havia como ele não ter
me ouvido gritar, e não havia como ele não ver a plateia cantando luta. Além disso,
ele já viu Josh, e seu lábio cortado o denunciava. Ele realmente me deixava ir?
Quando estupidamente olhei para ele, Sawyer puxando inutilmente o meu
braço, os olhos dele se suavizaram. Ele colocou a mão no meu ombro. — Eu sinto

muito, eu julguei mal, Luc — ele sussurrou. Eu só podia piscar as lágrimas e


acenar, quando finalmente deixei Sawyer me puxar pela multidão que começou a
se dispersar com a chegada de um professor.
Ela me puxou passando por um Will confuso e um Randy simpático. Ouvi
Randy murmurar algo enquanto eu passava por ele, mas eu estava muito
atordoado para registrar o som e mantive meus olhos colados nos saltos de Sawyer
na minha frente, me conduzindo a liberdade desta noite horrível. Antes de
desaparecer na academia, ouvi a voz do treinador gritar: — Não tão rápido,
McCord. Eu gostaria de uma palavra.
À medida que nos aproximamos da música alta e turbilhão de luzes do
ginásio, eu estava um pouco surpreso ao ver que a festa ainda continuava
forte. Senti como se todo o meu mundo acabasse de começar a girar para o outro
lado. As palavras de Josh queimavam meu cérebro, e eu mal podia me concentrar
em colocar um pé na frente do outro enquanto seguia Sawyer.
Ela parou no meio do ginásio e se virou para mim, com as mãos estendidas
para segurar minhas bochechas. Seus olhos estavam arregalados e preocupados à
medida que se ligavam nos meus, mas minha cabeça girava com tanta raiva e dor
que eu não podia dizer a ela que eu estava bem. Eu não poderia dizer nada para
ela. Sua boca se moveu e ouvi a fala imprecisa, mas palavras acaloradas ecoavam
na minha cabeça e eu não podia ouvi-la.
Sua mãe está fodendo o xerife! Ele cobriu para você... para a sua puta!
O rosto de Sawyer diretamente na minha frente começou a ficar nebuloso
em torno das bordas, quando eu comecei respirar mais e mais rápido. Eu podia vê-
la pronunciar — Respire, Luc — mais e mais, mas ainda não podia ouvi-la sobre
a música e a voz de Josh na minha cabeça. Sua imagem começou a nadar, e o
pânico começou a me dominar. Eu me afastei de suas mãos segurando meu rosto
e olhei em torno do ginásio, procurando algo para me firmar. Tudo o que eu via

366
eram rostos que eu não conhecia, olhando para mim, rindo, conversando e
sussurrando.
Suas vozes imaginárias filtraram na minha cabeça. — O viu vomitar...

bêbado... perdedor... o viu bebendo cervejas... sua mãe ferrou... — eu coloquei


minhas mãos sobre meus ouvidos para parar a avalanche de rumores de que se
traduziam em horrível fofoca.
Eu me virei e corri direto para a Sra. Reynolds. Seus olhos arregalados
quando viu minha expressão e ela agarrou meus ombros. — Luc? O que há de

errado? — Eu só podia balançar a cabeça, mal conseguindo respirar, muito menos


falar.
Eu saí de perto... e corri. Topei com alguns casais assustados, mas isso não
me impediu. Não parei até que estourei as portas principais do ginásio e corri para
o estacionamento. Caí de joelhos no concreto, deixando o ar fresco e frio encher
meus pulmões. Queimou, mas me sentia bem, eu engasguei. Minha respiração
finalmente normalizou e o meu ataque de pânico começou a diminuir.
Uma tristeza me encheu, coloquei a minha cabeça em minhas mãos e deixei
as lágrimas caírem. Que bagunça que eu fiz hoje à noite. Eu só queria dar a Sawyer
um bom tempo e lá estava eu, chorando dramaticamente de joelhos no
estacionamento.
Não sei quanto tempo fiquei lá, minha calça molhando no chão frio, mas,
eventualmente, ouvi dois pares de pés que se apressavam em minha direção.
Uma pausa atrás de mim enquanto o outro abaixou-se ao meu lado. Braços
me cercaram e o cheiro reconfortante de Sawyer me bateu. Minhas mãos se
afastaram do meu rosto e envolvi sua cintura. Eu descansei minha cabeça contra
seu ombro e ela me beijou antes de inclinar a cabeça dela contra a minha. Engoli
em seco várias vezes, sugando a culpa e a dor, enquanto ela me balançava e me
pedia para deixar sair.
Quando me senti mais no controle, eu levantei minha cabeça para olhá-
la. Seus olhos brilhavam com simpatia quando ela retornou meu olhar. — Sinto

muito, eu arruinei sua noite — eu sussurrei.

Ela beijou minha testa. — Não... não se preocupe com isso. Você está bem?

367
Sufoquei mais lágrimas e balancei a cabeça. Eu não tinha certeza de que
como eu estava, mas eu não estava nem perto de bem. Atrás de mim, ouvi: — Você
quer um pouco de ajuda para levar ele para casa, Sawyer?
Olhei por cima do ombro e vi a Sra. Reynolds em pé atrás de nós, tremendo
em seu vestido claro enquanto vigorosamente esfregava seus braços nus. Sawyer
olhou para mim e eu implorei com os olhos arregalados. Ela entendeu e balançou
a cabeça para a Sra. Reynolds.
— Não, eu posso lidar com isso, obrigada.
Reynolds não parecia convencida, mas apenas assentiu com a cabeça,
enquanto Sawyer me ajudava a levantar. Querendo que ela nos deixasse, eu tentei
dar em um sorriso. Reynolds franziu a testa ainda mais, então parei de tentar
parecer feliz. Ela suspirou e olhou para Sawyer. — Ligue para o meu celular se
você precisar de alguma coisa, Sawyer. Ah, e diga aos seus pais para vir em algum
dia da próxima semana.
Franzi minha testa com isso, e Reynolds mudou sua atenção para mim. Ela
bateu no meu braço, mas parecia que ela queria me abraçar. — Tudo ficará bem,
Lucas. Tenha um bom descanso... tudo bem?
Sentindo-me estúpido, eu assenti. Ela se virou e rapidamente voltou para o
ginásio quente. Virando-me para enfrentar Sawyer, eu não conseguia pensar em
nada para dizer a ela, a não ser — Você conhece a Sra. Reynolds?

Ela virou o lábio que isso foi a primeira coisa que eu escolhi comentar. —
Ela é prima de segundo grau da minha mãe... ou algo assim. Ela concordou em
ficar de olho em mim para ela.
Desviei o olhar e assenti, finalmente vendo por que a Sra. Reynolds sempre
parecia colocar tanta atenção pessoal sobre ela, ligando para seus pais se ela
faltava em manifestações preparatórias, muitas vezes mantendo-a por alguns
minutos sozinha depois do clube da pureza. Sawyer tinha um espião.
A mão de Sawyer agarrou a minha e ela me puxou em direção ao seu
carro. Melancolicamente a segui, odiando tudo o que aconteceu esta noite. A
música tocando no ginásio desapareceu a quase nada, uma vez fora, e no momento
em que chegamos ao carro dela, a noite estava tranquila. Entreguei as chaves do
carro, tendo ficado com elas, uma vez que o vestido fabuloso não tinha bolsos.

368
Ela abriu a porta e me ajudou como se eu fosse uma criança. Eu odiava que
ela sentisse a necessidade de agir como minha mãe depois de tudo que aconteceu
entre nós, mas silenciosamente sentei lá enquanto ela prendia meu cinto e, em
seguida, entrou do seu lado.
Ela tirou o corsage do seu pulso e o enrolou em volta de uma das
extremidades do seu retrovisor. Observei-a ajeitar algumas das dobradas e
quebradas pétalas de flores, pensando que essas flores esmagadas resumiam a
nossa noite muito bem. Melancolia tomou conta de mim e olhei para fora da janela
enquanto ela ligava o carro.
Ela não saiu com o carro, entretanto, e olhei para ela depois de alguns
longos segundos com o carro parado no estacionamento, o aquecedor ligado. —

Sawyer? — Perguntei em voz baixa.


Ela não me respondeu a princípio, só aqueceu as mãos com o calor
explodindo antes de diminuí-lo. Ela puxou a manga do vestido e em seguida se
contorceu em seu assento para me encarar. Sua expressão séria, ela calmamente
perguntou: — Você falava sério?
Sem saber a que parte da noite ela se referia, eu dei um olhar
interrogativo. — Sobre o quê?
Ela olhou para baixo por uma fração de segundo antes de levantar os olhos
para os meus novamente. Havia umidade em seus olhos cinzentos e eu odiava vê-
la. Comecei a me aproximar de seu rosto, mas suas palavras me congelaram. —

Você falava sério quando disse que queria estar morto? — Os olhos dela sobre os

meus à medida que o meu estômago caía. — Você realmente gostaria de estar
morto todos os dias?
Essa umidade construída jorrou num pequeno mar antes de romper a
barragem e se arrastar pelo seu rosto. Eu a assisti deslizar sobre sua pele,
querendo saber como responder a sua pergunta da forma mais honesta e
vaga. Sempre que alguém pergunta isso, a resposta que espera ouvir é não. Não, é
claro que eu não falava sério. Eu exagerei, ou isso era o calor do momento. Mas
para mim...

369
Eu desviei o meu olhar de seu rosto e não encontrei seu olhar. Balançando
a cabeça, eu sussurrei: — Não. Eu não falava sério. Eu não gostaria de estar
morto...
Não todo dia...
Esse era o ponto chave para mim, mas não estava prestes a compartilhar
isso com ela. O fato era que eu pensava sobre a morte. Como eu poderia não pensar
depois do que sofri. Imediatamente após o acidente, eu ansiava por isso. Eu não
queria viver em um mundo sem os meus amigos. Nunca compartilhei esse desejo
com ninguém, mas estava em mim... enterrado. E em dias ruins o suficiente, às
vezes ressurgia.
Sawyer balançou a cabeça e um sorriso iluminou os lábios. Ela exalou e
sua cabeça desceu para descansar contra a minha. Sua mão subiu para agarrar
minha bochecha e ela balançou a cabeça novamente. Minha mão foi até a parte de
trás de sua cabeça e a mudei para o ombro, puxando-a para mim para um abraço
apertado.
À medida que nos abraçamos com a luz rosada da lâmpada fluorescente
acima de nós, o único barulho no carro vindo do rádio, um pensamento persistente
penetrou na parte de trás da minha cabeça. A lembrança de uma conversa com a
minha conselheira, a sensação de que de alguma forma eu perdia algo
terrivelmente simples e todo esse sofrimento... não precisava acontecer.
Mas, quando Sawyer se afastou de mim, dizendo que me levaria para casa
agora, a sensação passou e uma onda de intensa raiva me bateu. Eu não tinha
vontade de ir para casa. Não quando minha querida mãe... era possivelmente uma
prostituta mentirosa.

370
Capítulo 19
A intervenção

Os olhos de Sawyer se arregalaram quando ela olhou para mim, e percebi


que tinha um sorriso de escárnio significativo no meu rosto. Eu mudei para o que
eu esperava que fosse um aspecto mais calmo. Sua testa franziu ao vê-lo, e pensei
que talvez eu estivesse falhando. Comecei a balançar a cabeça para ela. — Não, eu
não quero voltar para lá.
Ela ainda parecia confusa, mas, então, entendimento a atingiu e sua boca
se abriu. Seus olhos se estreitaram para mim, em parte preocupada, mas, em
parte, irritada, também. — Você não quer ir para casa? Por causa do que Josh

disse da sua mãe? — Ela colocou a mão no meu braço e se inclinou para mim. —

É provavelmente apenas mais um rumor estúpido. — Ela balançou a cabeça, seus

cachos macios escovando os ombros de veludo. — Não há mais verdade nisso do


que Brittany vendo-o beber naquela noite.

371
Engoli em seco e fechei os olhos para o que aquela revelação lembrou. Não
me admira que tantas pessoas acreditassem nas mentiras sobre mim. Brittany era
popular – abelha rainha, parte superior do rebanho, peixe grande em uma muito
pequena lagoa – pessoas eram propensas a acreditar nas coisas que ela dizia. Não
me admira que ninguém acreditasse nas minhas tentativas tímidas de negação.
Abri meus olhos e balancei a cabeça, cansaço e tristeza vencendo a minha
raiva. — Simplesmente não posso estar lá agora, Sawyer. Simplesmente não posso

estar em algum lugar onde ela está. — Engoli novamente e olhei para ela

suplicando. — Posso... posso ficar com você esta noite? — Eu sussurrei, sem saber
como ela reagiria a isso após o nosso momento caloroso no baile.
Ela suspirou e sua mão subiu para correr pelo meu rosto. Ela deve ter
notado algo em minhas características. Talvez seja a minha raiva se transformando
em melancolia, talvez por eu estar apenas me segurando, talvez eu não poderia
lidar com estar sozinho agora, de forma nenhuma. Por alguma razão, ela mordeu
o lábio e assentiu. — Sim, tudo bem. Você terá que esgueirar-se, no entanto.
Balancei a cabeça e relaxei no meu lugar. Ela me olhou por um momento
antes de virar o volante e começar a dirigir. Viramos na direção oposta da minha
casa no estacionamento, e senti um momento de culpa por Sawyer sair do seu
caminho para ir me buscar todo dia. Apenas outra coisa que eu precisava me
desculpar com ela. Quando tristeza caiu sobre mim, eu me perguntei por que ela
se preocupava comigo mesmo. O que eu dei a ela, além de confusão e
sofrimento? Ela deveria estar com outra pessoa, alguém que pudesse dar a ela o
que ela queria. Alguém que pudesse amá-la do jeito que ela merecia ser
amada. Alguém não... quebrado.
Suspirei para fora da janela enquanto observava a cidade passar e sentia a
mão dela agarrar a minha. Sentindo que a nossa regra de nenhum contato estava
tão abalada neste momento que isso nem sequer realmente importa mais, agarrei-
a com força. Seu polegar desenhou círculos na minha mão, me pedindo para
relaxar, e deixei meu aperto afrouxar um pouco.
— Ei, você quer falar sobre qualquer coisa... — ela perguntou, dando
olhares preocupados enquanto dirigia.
— Não... nada a dizer, realmente.

372
Ela suspirou, e olhei para ela. Seu rosto estava frustrado e ela mordia o
lábio. Eu sabia que disse muito esta noite que normalmente não digo, e ela queria
falar sobre isso. Ela queria mergulhar em mim e abrir todas aquelas cicatrizes para
que pudesse me ajudar a curar, bem como a Sra. Ryans, mas ela respeitava
bastante a nossa amizade para ainda não me pressionar sobre isso. Apreciei-a por
isso e me senti mal ao mesmo tempo.
Quando eu estava prestes a perguntar o que ela queria que eu falasse
primeiro, ela mudou de assunto. — Você ouviu Randy? — Ela perguntou,
levantando uma sobrancelha para mim.
Eu fiz uma careta e tentei pensar sobre o que ela falava, mas só conseguia
me lembrar de Josh. Josh e suas palavras cruéis.
Balancei minha cabeça, e ela esclareceu. — Ele pediu desculpas, Luc, por

drogar você. Ele disse isso repetidamente. — Ela olhou para a estrada rapidamente

e, em seguida, para mim, estreitando os olhos. — Você não ouviu isso? — Balancei
a cabeça novamente e ela suspirou, um sorriso suave e triste em seus lábios antes
de se voltar para a estrada. — Eu disse que ele se sentia mal. Eu disse que nem
todo mundo está contra você. Quero dizer, você viu o jeito que ele segurou Josh.
— Os olhos dela encontraram os meus novamente, calor nas profundezas
cinzentas. — Ele tentou ajudá-lo, Lucas.
Um flash surpreendente de ciúme passou por mim com o olhar em seus
olhos quando ela falou sobre Randy. Revirei os olhos e olhei para fora da janela. Nós
seguíamos para o campo, as casas ficando cada vez mais distantes. Sawyer,
aparentemente, vivia no meio do nada. À medida que me enchia de mais culpa
sobre o quão longe ela foi para me ajudar todo dia, a amargura entrou no meu tom.
— Sim, nada além de prestativo... Randy.
Ela diminuiu a velocidade e parou ao lado da estrada; a única coisa nos
rodeando eram campos de grama vazios. Olhei para onde estávamos e, em seguida,
olhei para ela, confuso. Ela não reconheceu a minha confusão, só virou na poltrona
de frente para mim.
— Ele tentou se desculpar com você no baile, e eu sei que ele queria, antes
mesmo disso. — Seu tom tem aquele som sábio em relação a isso e suspirei ao

373
ouvi-lo. Isso a fez franzir a testa. — Ele realmente se sente horrível por levá-lo a
ser suspenso, mas não foi capaz de dizer que está arrependido, porque você sempre
o afasta.
Levantei minhas sobrancelhas e estava prestes a protestar, mas ela
balançou a cabeça e não me deixou terminar. — Talvez não intencionalmente, Luc,
mas você anda por aí com a cabeça abaixada, realmente não percebendo nada nem
ninguém. — Seu rosto se suavizou e ela colocou a mão no meu joelho ainda

molhado. — Eu sei que você faz isso para se proteger, mas nem todo mundo te

odeia aqui. — Olhou para baixo e timidez entrou em sua voz. — Alguns de nós

ainda te amamos — ela sussurrou.


Seu olhar adorável acalmou meus nervos, mas suas palavras trouxeram
uma dor enterrada até a superfície. Pessoas rindo, brincando, me atormentando...
nenhum deles se importava. Ela estava errada. Balancei a cabeça para ela, e minha
voz saiu mais forte do que eu pretendia. — Você não sabe o que você está
falando. Você só está aqui há alguns meses. Eu estive por aí com essas pessoas
por toda a minha vida.
Ela olhou para cima, surpresa com o meu tom. — Eu sei...

Irritado comigo mesmo por descontar nela, eu acrescentei: — Eu pensei


que você odiasse essas pessoas... não é isso que você disse?
Ela deu de ombros e olhou para o lado, colocando uma mecha solta de
cabelo atrás da orelha. Seu rosto parecia dividido, como se não quisesse continuar
essa conversa, mas sentia que precisávamos. Eu realmente não quero. Eu queria
que ela concordasse comigo que todos eram uma droga e me segurasse em seus
braços toda a noite enquanto eu chorava sobre a minha existência miserável. Mas,
novamente, talvez eu só me chafurdava na pena.
— Isso foi antes de começar a conhecer alguns deles. — Ela espiou em mim
pelo canto do olho. — As pessoas no clube não são tão ruins, e as outras pessoas

me abordam nos jogos e outras coisas. — Quando inclinei a cabeça para ela, ela

me encarou e sorriu. — Eles perguntam sobre você, sabe, porque sabem que somos
próximos. Eles perguntam se você está bem.

374
Eu tinha uma réplica mal-humorada na minha língua, mas engoli quando
o que ela disse registrou comigo. — Eles... perguntam sobre mim? Se estou... ok?

— Eu não sei por que, mas me chocou que alguém, além dela, se importasse o
suficiente para perguntar sobre o meu estado mental.
Seu rosto suavizou ainda mais e ela levou a mão ao meu rosto, varrendo o
polegar ao redor do meu olho. — Yeah. Algumas pessoas simplesmente não sabem

o que dizer a você, outros estão dando espaço para você se lamentar. — Ela afastou

a sua mão enquanto minha boca se abria, chocado. Ela se encolheu. — Mas você
não fala com ninguém, Luc, ninguém além de mim. Você anda por aí com a cabeça
abaixada e ignora a todos. Isso te deixa inacessível. As pessoas simplesmente não
têm certeza do que fazer perto de você.
Desviei o olhar, absorvendo isso. Então, meu isolamento era minha culpa
agora? Inalei e suavemente disse: — Agora você realmente soa como minha

conselheira. — Balancei a cabeça, ainda sem olhar para ela, ainda imaginando
todas as pessoas que encontrei no meu dia. Não via nenhum deles do jeito que ela
descreveu.
— Que pessoas perguntam sobre mim? — Eu virei minha cabeça para ela
novamente, uma carranca em meus lábios. — As pessoas que sussurram sobre
mim e me ridicularizam? As que riem quando Will me tripudia ou incitam Josh a
chutar a minha bunda... essas pessoas?
Ela suspirou, segurando minha mão, ela apertou com força. — Não, Luc.

— Ela se inclinou para mim de novo, momentaneamente descansando a cabeça


contra a minha. — Você só vê o que você quer ver... nem todo mundo é assim. —
Ela se afastou para olhar para mim, seus olhos suaves com compaixão.
Suas palavras me deixaram perplexo. Eu não conseguia entender como
podemos ver a mesma escola de forma tão diferente. — Por que eu iria querer ver

isso? Por que eu quero que as pessoas me odeiem? — Sussurrei, minha voz
acalorada.

375
Ela me olhou por longos segundos antes de, finalmente, suspirar e tirar
alguns cabelos rebeldes da minha testa. Balançando a cabeça, ela disse: — Eu não
sei. Talvez... porque você se odeia.
Minha boca se abriu de novo e ela passou a mão em torno de minha
bochecha, segurando de novo. Balbuciei alguma coisa para dizer, mas não
conseguia me concentrar. Não poderia encontrar qualquer argumento para isso. Eu
meio que me odiava. Realmente não culpo ninguém na escola por sentir o que eu
sentia. Mas ela estava errada... não havia nenhuma compaixão por mim nessa
escola. Sem amizade, a não ser a dela.
Piscando súbitas lágrimas dos meus olhos, eu corri meu olhar sobre o para-
brisa, nos campos vazios em torno de nós. O vazio de repente parecia metafórico
de um modo horrível. — Por que estamos aqui? — Eu sussurrei, a fala finalmente
retornando para mim.
Ela retirou a mão do meu rosto e apontou para uma pequena luz suspensa
na quase escuridão, metros à frente de nós. — Aquela é a minha casa. — Ela olhou

para mim, os olhos se desculpando. — Desculpe, mas você terá que sair aqui e se
esgueirar através dos campos.
Balancei a cabeça e olhei para a vastidão escura entre nós e a luz. Fiquei
imaginando quantas vezes eu tropeçaria e cairia ao longo do caminho.
Ela soltou a minha mão e apontou novamente para a casa. — Meu quarto

é no andar de baixo, o nível do porão. — Ela olhou para mim. — Tenho certeza
que você passará pela janela. Vou abri-la para que você saiba qual é.
Balancei a cabeça e virei para abrir minha porta. Ela pegou minha mão
enquanto eu a abria. — Lucas. — Olhei para ela com expectativa, e ela mordeu o

lábio. — Eu te vejo daqui a pouco.


Balancei a cabeça e saí para a escuridão. Fechei a porta atrás de mim e,
então, vi quando ela se afastou, seus faróis traseiros se distanciando. No final da
estrada, ela girou na entrada da garagem de sua casa, os faróis atingindo uma casa
de fazenda de estilo mais antigo, de dois andares. Bem, acho que de três andares
se vivia no subsolo. Eu esperava conseguir passar pela janela. Esgueirando pela
casa não parecia divertido.

376
Preparando-me para alguns tropeços através do mato alto e escuro, que
havia entre nós, eu inalei profundamente e me dirigi ao encontro da parte traseira
da casa.
Até o momento em que atravessei o campo e cheguei ao canto escuro da
casa onde Sawyer indicara que era o quarto dela eu realmente tinha duas ou três
manchas de lama em mim, incluindo uma bastante embaraçosa na minha
bunda. Eu me limpei o melhor que pude e cuidadosamente me aproximei da casa.
Agachei, balancei a cabeça e me endireitei novamente. Ficar abaixado não me faria
menos visível, e na verdade, parecer um espreitador apenas aumentaria as chances
dos pais de Sawyer chamarem a polícia se por acaso me detectarem.
Andando sobre a grama macia, mais curta de seu gramado, estudei os
retângulos escuros das janelas de nível inferior. No canto mais distante da casa
havia uma aberta para mim. Olhei para as janelas do primeiro e segundo andar,
mas tudo ainda estava escuro lá dentro. Sem uma sombra gigante patrulhando,
protegendo a virtude da adolescente lá dentro. Embora com o que Sawyer me
confessara hoje à noite, minha virtude era a única que restava na casa. Super.
Abaixei-me à janela e comecei a abri-la mais. Ela rangeu horrivelmente e
um — Shhh! — Me respondeu de dentro. Tentando ser silencioso, cuidadosamente
a empurrei para abrir mais. A maioria dos quartos no porão tem aquelas janelas
meio estranhas que forçam para fora e fazem o acesso quase impossível, mas essas
janelas foram trocadas pelas mais tradicionais, embora ainda sejam janelas
pequenas. Os seus pais ou os proprietários anteriores não queriam que quem
vivesse neste quarto ficasse preso se houvesse um incêndio. O efeito colateral
indesejável era evidente quando o meu corpo apenas deslizou pela abertura – uma
saída de incêndio também servia como uma perfeita entrada depois do horário para
meninos.
Pulei para dentro do quarto de Sawyer e sorri enquanto olhava ao redor. Era
meio o que eu esperava que fosse. Seu mobiliário era branco e, embora claramente
de segunda-mão, os itens eram elegantes e sofisticados, feitos para um adulto. Mas
as cortinas e as roupas de cama pareciam perfeitas para uma pré-adolescente, com
tons de rosa quente, verde neon e lavanda. As paredes foram todas pintadas em
um infantil tom de rosa, quase como se seu pai estivesse tentando manter seu bebê
através da pintura. Pelo menos meia dúzia de cartazes de várias bandas de rock

377
estava pregada naquelas paredes cor de rosa, parece que o pai dela estava
falhando.
CDs e suas capas enchiam sua mesa, que tinha um leitor de CD mais
antigo, juntamente com uma mochila escolar. A estante ao lado da cama
transbordava de livros – clássicos, novelas, romances, e aquele escritor que
escreveu aqueles mistérios em que todos os títulos iniciavam com uma letra
diferente do alfabeto. Ela tinha até o M, tanto quanto eu poderia dizer. Ao contrário
do meu quarto, não havia roupa no chão. Ela deve guardá-las ordenadamente em
suas gavetas ou em seu armário. Sua cama estava bem feita, um desvanecido
ursinho de pelúcia branco estava sentado em seu travesseiro.
Ela pegou aquele urso de pelúcia, enquanto eu observava seus olhos
permanecerem nele. Um leve rubor penetrou em seu rosto enquanto murmurava,
— Barney. Eu o tenho desde que eu tinha dois anos. — Ela imediatamente colocou
Barney dentro de seu armário e um canto da minha boca levantou com sua
vergonha. Voltando para mim, ela me entregou um par de moletons e uma camisa
realmente grande. Peguei-os e levantei uma sobrancelha.
Com um olhar aguçado para as minhas calças enlameadas, ela disse: —
Eu pensei que você ficaria um pouco sujo por caminhar a pé pelos campos, então
peguei algumas roupas do meu pai. — Ela balançou a cabeça e sorriu ironicamente

para mim, exibindo sua covinha. — Parece que você encontrou todos os buracos
de lama.
— Está escuro lá fora.
Ela assentiu com a cabeça e fechou a janela que estupidamente deixei
aberta. — Eu sei... desculpe.
Balancei a cabeça e sorri para ela, finalmente, percebendo que ela tirou o
vestido. Usava calças de pijama com a palavra suculento na parte de trás. Isso é o
que chamou a minha atenção. Ela também vestiu uma camisa de manga comprida,
tirou a maquiagem e os grampos de seu cabelo escuro, deixando os cachos livres
pendurados nos ombros. Aparentemente, eu demorei um pouco para chegar aqui.
Ela olhou para o meu rosto que a encarava e explicou: — Meu pai realmente

não gostou desse vestido, então eu tirei o mais rápido que pude. — Ela revirou os

olhos. — Ele me esperava na cozinha. — Um pequeno sorriso levantou seus lábios


378
enquanto meus olhos se arregalavam, perguntando se ele viria ver como ela estava
enquanto eu estava aqui. Quase lendo minha mente, ela disse: — Ele não descerá
aqui. Ele me viu me preparar para dormir, então ele não se preocupará com comigo
escapando... não que eu faria.
Calmamente concordei, ainda com um pouco de medo de fazer qualquer
barulho. Ela riu do constrangimento no meu rosto e, em seguida, me empurrou
para a porta. Eu fiquei tenso automaticamente quando ela abriu, mas só levou ao
que parecia ser uma pequena sala de estar. Havia uma namoradeira, uma velha
TV e uma pequena pilha de filmes, todos de comédias românticas, dois com
Matthew McConaughey.
A partir daí, ela apontou para um quarto do outro lado do sofá. — O

banheiro é lá. — Ela me deu um empurrão amigável e sorriu quando olhei para ela
novamente.
Enquanto eu caminhava pela sala, notei a escada que levava até o andar
principal. Eu me senti exposto atravessando a linha de visão dessas escadas, como
se a qualquer minuto o pai dela fosse correr por ela e me cortar vivo. Considerei
brevemente não trocar de roupa, então eu poderia correr dele, se necessário, mas
eu estava muito sujo, e não quero ser descortês por bagunçar a casa de Sawyer.
Eu troquei e fiquei pronto para dormir, nervos subindo em mim com a ideia
de ficar aqui com Sawyer a noite toda. Nunca passei a noite com uma garota antes,
nem mesmo Lil. Não uma noite inteira de qualquer maneira. Não que eu precisasse
ficar na cama de Sawyer com ela ou qualquer coisa. Eu poderia deitar no chão, ou
melhor ainda, no sofá na sala de estar. Sentindo-me mais seguro com essa ideia,
eu espirrei um pouco de água no meu rosto, peguei minhas roupas sujas, e voltei
para o seu quarto.
Fiz uma pausa antes de atravessar o batente da porta, exalando uma
respiração rápida. Ela olhou para cima quando me viu, e descansou um livro que
lia sobre os joelhos, o de mistério com a letra L, pelo que eu podia ver na capa. Ela
dobrou o canto da página com o polegar e mordeu o lábio. Eu pensei que ela parecia
tão nervosa sobre isso como eu estava. Coloquei as minhas coisas em uma cadeira
em sua mesa, deixando os sapatos em cima da minha calça enlameada, e apontei
com o polegar para a porta.

379
— Eu não posso... eu posso ficar lá fora...
Ela franziu a testa e balançou a cabeça, dando um tapinha na cama ao lado
dela. — Esse sofá é horrível, na verdade. — Olhando para baixo, timidamente, ela

acrescentou: — Você pode ficar... comigo. — Ela espiou para mim e eu podia ver
claramente a esperança em seus olhos. Sabendo que eu não deveria incentivar essa
esperança, eu balancei a cabeça e sentei na cama.
Deitei-me sobre os travesseiros, ajustando minhas roupas de grandes
dimensões e apoiado nos meus pés descalços, por isso meus joelhos ficaram
levantados, apenas como Sawyer. Ela colocou o livro em sua mesa de cabeceira e
desligou a lâmpada ao lado dela. A escuridão tomou conta do quarto, e olhei para
a massa que eu sabia que era ela.
— Obrigado por fazer isso por mim — eu sussurrei para a escuridão.
Senti seu sussurro ao meu lado, ainda não era capaz de ver muito, mas um
vago esboço de sua forma. — Está tudo bem, Lucas. Eu sei que esta noite foi difícil
para você.
— Foi difícil para você também — sussurrei, as palavras quase
inaudíveis. Ela deve ter me ouvido, sua mão se esticou e agarrou meu braço. Seus
dedos percorreram o meu braço até que chegaram na minha mão, e nos atou
juntos.
Senti a cama se mexer enquanto ela girava seu corpo. Não podia ver os
joelhos levantados mais, então pensei que talvez ela tivesse virado para o seu lado
para me encarar. Eu me mexi para enfrentá-la. A noite entre nós fez parecer como
se fôssemos as únicas duas pessoas no mundo. Um calor e conforto se espalharam
por mim e fui para mais perto dela na pequena cama. Senti a ponta de seu corpo,
com os joelhos tocando minhas coxas, e suspirei baixinho.
— Luc?
A voz dela estava diretamente na frente do meu rosto, o cheiro mentolado
de seu creme dental sobre a minha pele. — Sim?
Senti-me suspirar e a forma da sua cabeça começou a ficar mais clara para
mim quando os meus olhos se adaptaram. Ela ficou em silêncio, não me
perguntando nada, e estudei a escuridão, desejando poder ver mais dela. Apenas

380
quando suas feições começaram a ficar mais claras, quando eu poderia dizer que
ela mordia o lábio, ela falou.
— É... é Lillian a única razão por que não estamos juntos?
Fiquei tenso, não sei como responder a isso. Por fim, sentindo que se
alguma coisa, eu devia a verdade a ela, eu disse: — Sim. — Vendo as sobrancelhas
unidas, mas sentindo-me envolto em segurança durante a noite ao meu redor,
acrescentei: — Eu ainda vejo Lillian, Sawyer.
Senti um sorriso vir aos meus lábios enquanto pensava sobre Lillian e quão
perto nós estivemos ultimamente. Como se a qualquer momento passaríamos por
essa última barreira física em nosso relacionamento. — Somos como
costumávamos ser. — Procurei o rosto de Sawyer, passando de um preto
indistinguível a um cinza desbotado, enquanto mais luz filtrava através de meus
olhos. Seu rosto tinha um olhar vazio enquanto ouvia, um olhar vazio forçado, e
decidi ser tão honesto com ela quanto eu poderia. — Eu realmente a machuquei,
quando ela descobriu sobre o que... quando...
Seus olhos abaixaram, e eu sabia que ela sabia que eu me referia ao nosso
momento íntimo. — Você deveria ver a cara dela, Sawyer. Eu a destruí. — Mordi
o lábio e balancei a cabeça, sentindo as lágrimas repentinas doer nos meus
olhos. Minha voz tremeu quando falei de novo e Sawyer ergueu o olhar para mim
novamente ao ouvi-lo. — Eu não farei isso de novo com ela. — Eu trouxe uma mão
para sua bochecha, esperando que ela pudesse ver o pedido de desculpas nos meus
olhos, ouvi-lo na minha voz. — Não posso deixar que qualquer outra coisa aconteça
entre nós. Eu não posso traí-la mais.
Ela engoliu em seco e seus olhos brilhavam de forma clara, evidente, mesmo
na escuridão. — Mas, não estamos tendo um caso... ou nada. Ela se foi, Luc.
Retirei minha mão de seu rosto e virei minha cabeça e corpo para longe
dela, olhando para o seu teto. Um salpico de brilho de estrelas escuras enunciando
eu te amo bem acima da cama. Eu suspirei, desejando que essas palavras fossem
tão simples quanto pareciam. — Eu tenho que ser fiel a ela, ela é minha namorada.

— Minha cabeça virou para ela. — E... sim, eu sei como isso soa. Sei que soa

381
completamente louco, e é por isso que nunca falei sobre isso com você antes. Mas
ainda é verdade... é como me sinto.
Ela ficou em silêncio um longo momento e então se apoiou sobre um
cotovelo. — Ok, Luc. Realmente não entendo isso e não concordo com isso... mas
eu não passei pelo que você passou, e não sei como eu reagiria.
Sua voz e seurosto assumiram a seriedade com a qual me acostumei ao
longo dos últimos meses, e automaticamente prestei mais atenção, chegando mais
perto. Ela olhou para o centímetro ou dois entre nós e, então, olhou para mim
novamente. — Só não... não me use. Se você não sente isso, tudo bem, mas não...
não vá mais lá. Por favor.
Apoiei-me no meu cotovelo, bem como, girando para encará-la. Resisti a
cada desejo que eu tinha de tocar seu rosto novamente. — Sinto muito sobre o que

continua acontecendo entre nós, Sawyer. Eu não sei o que... — mordi o lábio e

balancei a cabeça. — Mas eu não sou como aquele idiota que usou você... e
realmente sinto muito... por tudo.
Seus olhos ainda brilhando, ela balançou a cabeça e afundou em seus
travesseiros. Liberando os dedos, ela descansou a cabeça em seu braço. Copiei a
sua posição e nos entreolhamos em silêncio por alguns longos momentos. Eu senti
paz e me ajeitei para dormir. Depois de mais alguns segundos de silêncio, ela disse
calmamente: — Mas você gosta de mim?

Sorri no escuro, estendendo a mão para sua apertar mão livre. — Sim,
Sawyer. Eu gosto de você... muito.
Ela sorriu e olhou para baixo, então, tristeza passou sobre seu rosto e ela
se virou. Murmurei que estava arrependido de novo e ela engoliu em seco e
balançou a cabeça, olhando para as estrelas sobre sua cama. Por um momento,
imaginei que ela tinha exatamente o mesmo pensamento que eu sobre o amor a
alguns momentos atrás. Apertei a mão dela novamente e ela finalmente olhou para
mim.
— Você está com frio? — Perguntei em voz baixa.
Ela balançou a cabeça, mas estremeceu involuntariamente. Dei-lhe um
sorriso irônico e, então, puxei as cobertas. Levantei-as e estendi meus braços para
ela. Não tinha certeza do que eu queria que ela fizesse, eu só precisava dela
382
perto. Ela olhou para minha cara e gesto, e depois me deu um suspiro antes de
rastejar debaixo das cobertas. Ela se virou, e então me encarou, passei um braço
ao redor dela, mantendo-a quente, mantendo-a segura, e suplicava para não
enganá-la novamente.
Senti seu corpo relaxar ao meu e esfregava seu braço, querendo incentivar
o conforto que ela sempre me deu.
— Luc — ela virou a cabeça para olhar para mim.
— Sim?
Ela mordeu o lábio, e pensei que ela debatia se devia ou não perguntar
alguma coisa. Finalmente, ela sussurrou: — Você falou sobre o acidente de hoje à
noite. E você mencionou... pedaços antes. Você... você quer falar sobre o que se
lembra?
Eu fiquei tenso, mas me impedi de não reagir negativamente às suas
palavras. Memórias correram através de mim, contudo. Lembranças daquela noite
e de gritar com os estudantes mais cedo. Ambas as memórias eram igualmente
horríveis. Olhei para baixo e balancei a cabeça. — Sinto muito, Sawyer. Eu não
posso. Simplesmente não posso. É... muito difícil.
Quando olhei para cima, eu podia sentir minhas lágrimas, e sabia que
estavam perto de derramar agora. Ela assentiu com a cabeça e imediatamente
disse: — Você não precisa. Se não está pronto... você não precisa.
Senti-me instantaneamente começando a relaxar. Engolindo em seco, eu
achei sua mão de novo e apertei-a. — Me desculpe se arruinei sua grande noite,
Sawyer.
Ela virou em meus braços, com a cabeça girando ao redor, por isso ela
estava diretamente na frente do meu rosto de novo. — Você não fez isso, não
realmente. Eu ainda me diverti com você... na maior parte de qualquer maneira.
— Ela encolheu os ombros e, em seguida, deu-me uma cara de desculpas. — Eu
queria mostrar para você que a escola realmente pode ser divertida. — Seus olhos

encontraram os meus, parecendo genuinamente arrependida. — Sinto que falhei.

Puxei-a com força contra mim. — Eu tive um bom tempo com você... —
sorri e ela se virou para que seu lado estivesse aninhado em meu peito

383
novamente. Eu trouxe meus joelhos para cima, de modo que o dela se curvou ao
meu redor, e abaixei a cabeça para colocá-la contra seu ombro. Paz, amor e carinho
me inundaram. — Eu tive um bom tempo com você, Sawyer... foi com o mundo
todo que eu tive um problema.
Ela assentiu com a cabeça e apertou o meu braço, trazendo-o ao redor, de
modo que a palma da minha mão descansou contra seu coração. Ficamos em
silêncio depois disso, todas as palavras momentaneamente ditas, e então, o sono
nos encontrou e nos entregamos a ele.
O som da música entrou na minha consciência primeiro: forte, música alta
reverberando no meu peito e tímpanos. Ela estava alta, muito mais alta do que era
necessário para a grande sala retangular. Olhei para a bola de discoteca suspensa
no teto, girando tão rápido que as luzes rodando me deixavam com náuseas. Olhei
para os balões estourados jogados no chão, o chão cheio de pessoas, com o que
parecia ser todo o corpo discente. Eu não fazia ideia de por que eu estava de volta
no ginásio, de volta no baile, e por que a multidão de pessoas pareciam não
dançar. Eles pareciam se juntar em um círculo apertado em torno de duas pessoas
se movendo para trás e para a frente dentro dele.
Foi quando o choque passou por mim. Foi quando me vi entre as fendas de
corpos. Darren caminhou ao meu lado, cruzando os braços sobre o peito e olhando
para o outro eu se movendo ao redor de outra pessoa na abertura circular
permitida pelo corpo estudantil.
Relaxei, registrando um sonho em andamento. — Ei, cara — eu disse a ele.
A música em torno de nós de repente se suavizou e ouvi claramente quando
ele falou para mim. — Josh estava em boa forma esta noite. — Ele torceu os lábios
e balançou a cabeça, seu cabelo escuro combinando com o humor negro em seus
olhos. — Eu terei algumas palavras graves com aquele garoto na próxima vez que
eu vê-lo.
Balancei a cabeça e olhei para o círculo, que incluía Josh, assim como
eu. Estávamos aparentemente envolvidos em uma discussão acalorada, embora eu
não pudesse ouvir. O som da música, enquanto tranquila em torno de Darren e eu,
bloqueava todos os outros ruídos.

384
Sammy veio do outro lado de Darren, inclinando-se em torno dele para
acenar educadamente para mim. Balancei a cabeça e olhei, um pouco confuso
quando ela virou seus olhos castanhos dourados para assistir ao show com
Darren. Eu não sabia por que sonhava com isso. Este era um momento que não
queria reviver.
Enquanto pensava em tentar mudar o local, senti Lillian chegando ao meu
lado e pegando minha mão. Parei meus esforços e virei para sorrir para ela,
apertando os dedos pequenos. Ela me deu um pequeno sorriso em troca e se virou
para ver o show também.
Olhei entre os três, não sei por que eles tão intensamente assistiam isso
quando sabiam o que aconteceu, eles sabiam de tudo na minha
cabeça. Finalmente, me virei para olhar, a minha curiosidade misturada com
apreensão enquanto observava uma versão de mim mesmo com raiva gritar com
Josh. Eu odiava me ver assim. Odiava ouvir isso também, mas, infelizmente, eu
precisava – a música de repente parou quando foquei totalmente nos lutadores.
— Não é verdade! Tudo o que você pensa que sabe, não é verdade!
A forma irritada, magricela de Josh se aproximou de mim no círculo, me
empurrando contra a parede de ouvintes ansiosos. Os rostos nos observando
mantinham um cruel olhar de prazer; eles saboreavam o meu tormento. Sawyer
não estava à vista.
— Todo mundo sabe disso, Luc! — Ele olhou para a multidão e todos
começaram a balançar a cabeça e murmurar acordos. Ele voltou a enfiar um dedo
no meu peito. — Sua mãe é uma prostituta e o tirou de problemas! Porque você é
um bêbado desprezível, inútil, que matou o meu irmão!
Meu corpo no círculo empalideceu e se encolheu, amassando-se entre a
parede de corpos, parecendo derrotado. Mas o outro eu, o eu que assistia, ficou
furioso novamente. Eu dei um passo para frente, pronto para arrebentar a minha
versão de sonho de Josh, quando Darren de repente colocou a mão no meu ombro,
me parando.
Olhei para ele, mas ele ainda olhava atentamente para o irmão. Exalei uma
respiração lenta e virei para assistir também. A versão no sonho de mim afundou

385
de joelhos, desespero em todo o meu rosto. — Eu sinto muito... eu o matei. Eu
fugi com isso.
Josh se aproximou de mim, as mãos apertadas em seus lados. — Então,
você admiti que é um assassino?
Me vi abaixar minha cabeça e, em seguida, acenar. Eu sentia simpatia por
essa versão do sonho de mim, o que era uma coisa estranha de sentir. Não matei
meus amigos da maneira implícita de Josh... mas os matara, e meio que me sinto
como um assassino. Senti o aperto de Lillian na minha mão aumentar.
Josh zombou e olhou para a multidão. Com uma voz triunfante, ele
explodiu, — Ele admite isso! Ele admite que os matou sem piedade, friamente. —
Ele olhou para mim novamente, enquanto a multidão vaiava a sua opinião sobre
mim. Quando se acalmou, ele falou em voz baixa: — Bem, o que vamos fazer com
você agora?
A multidão começou a expressar suas opções, mais cruel e querendo mais
vingança. Engoli em seco enquanto observava todo o corpo estudantil, e uma
grande parte do corpo docente também, me instigar pelos meus crimes contra a
humanidade.
Josh ouviu as sugestões e, então, veio com uma própria. — Eu acho que

devemos fazer a única coisa justa. — Ele se agachou e levantou a cabeça caída.
Meus olhos se arregalaram tanto os meus quanto os da minha versão do sonho
enquanto eu observava sua mão balançar para trás, com uma pedra irregular do
tamanho de uma bola de tênis dentro dela.
— Olho por olho... bem, Luc?
Depois que percebi o que Josh faria, eu me libertei dos meus amigos e me
lancei para a multidão, tentando alcançá-lo. Meus amigos me deixaram ir, mas
isso não importava. A massa de corpos ansiosamente sedentos pelo meu sangue
era impossível de passar. Puxei e lutei e ainda dei socos, mas foi inútil. Eles eram
tão eficazes como uma barreira de concreto.
Por cima do barulho, ouvi Josh desdenhar: — Você quer morrer todos os
dias? Bem, hoje é seu dia de sorte!
Através dos corpos das pessoas, eu assisti com horror quando Josh trouxe
essa pedra para o lado da minha cabeça. Minha versão do sonho de mim não fez
386
nada, apenas continuou a olhar para Josh com os olhos pateticamente vazios. Eu
me virei e fechei os meus quando ouvi a nauseante conexão, o baque molhado
conforme meu cérebro era esmagado.
A multidão em volta de mim explodiu em aplausos e caí de joelhos, não
sendo capaz de suportar. Senti meu peito pesado e meu estômago subir, e passei
meus braços em volta de mim, tentando me manter unido.
Em seguida, o ginásio estava quieto, e meus amigos eram os únicos corpos
deixados no lugar. Sammy e Lillian agacharam-se em ambos os lados de mim,
enquanto Darren estava na minha frente. Olhei para ele, perguntando se o meu
rosto agora combinava com a cara da minha versão patética do sonho.
Ele suspirou e se agachou, colocando a mão no meu ombro. — O baile foi
horrível, Luc.
Engoli em seco quando olhei entre os três. É verdade, o baile foi ruim, mas
nem perto do que eu acabei de imaginar. Estabilizei minha respiração enquanto
trancava meus olhos com Lillian. Sua mão subiu para acariciar meu rosto e ela me
deu um sorriso triste.
Balancei a cabeça enquanto segurava seu olhar. — Eu sei. Eu tentei.

— Você não se esforçou o suficiente, Luc — disse Darren. — Você lidou


muito mal com isso.
Olhei para Darren novamente. — Eu segurei o melhor que pude, Darren.

— Olhei para o chão do ginásio vazio atrás de mim, quase esperando ver meu
sangue em toda parte. — Eu lidei com isso melhor do que aquilo.

— Você? — Ele perguntou e virei para olhar irritado. Ele deu de ombros. —
Você deixou que difamassem você. Você deixou que pegassem você. Você deixou
que fizessem de você uma vítima. — Os olhos dele foram até onde Josh acabara de
me matar.
Eu me irritei e levantei. — Eu disse a eles o que aconteceu. Disse sobre
aquela noite. Isso não conta para nada? Não é isso que todos vocês querem de
mim?
Sammy se levantou e colocou a mão no meu braço. — É um começo,

Luc. Mas você fez isso para afastar as pessoas. — Ela balançou a cabeça, seu

387
cabelo castanho avermelhado piscando em vermelho, onde a luz o atingia. — Você
fez isso para afastar as pessoas, e não para trazê-las para mais perto.
Balancei a cabeça, sem entender. — Eu falei... isso não é o suficiente?
Lillian colocou a mão no meu outro braço, o cabelo claro um nítido contraste
com Sammy. — Não, Luc. Você precisa parar de ficar na defensiva e começar a
deixar as pessoas entrarem. Como Sawyer.
Eu me afastei e olhei para os três, irritado e um pouco assustado. — O que
é isso? Algum tipo de intervenção etérea?
Os três olharam entre si e, em seguida, de volta para mim. Havia uma
solidariedade em seu silêncio que me irritou. Finalmente Lillian foi quem falou, e
ela o fez como se falasse pelo grupo. — Lucas, nós estamos preocupados com
você. Queremos que você seja saudável e feliz... e você não está.
Balancei a cabeça e agarrei suas mãos, segurando para mim. — Estou

feliz. Eu estou feliz aqui, com você. — Olhei para Darren e Sammy. — Com todos
vocês.
Darren bateu no meu ombro. — Mas sua vida real está sofrendo por causa
disso, Luc. Nos segurando tão apertado está afastando todo mundo, entretanto.
Balancei minha cabeça novamente, mas Sammy falou antes que eu pudesse
argumentar. — Olhe para Randy, Luc. Você nem sequer ouviu seu pedido de
desculpas... e tenho certeza que existem outros que querem fazer amizade com
você, pessoas que você nem vê.
Darren pegou seu discurso. — Porque você passa todos os dias em transe,
só pensando em como passar o tempo, para que você possa vir aqui novamente
para ficar com a gente.
Meu queixo caiu enquanto olhava entre os dois. — Então? O que está lá
fora é melhor do que o que está aqui?
Além de ver eu mesmo ser apedrejado até a morte, é claro.
A voz de Lillian era suave no meu ouvido, mas me surpreendeu no meu
âmago. — Sawyer.

388
Minha cabeça se voltou para ela, com os olhos lacrimejando. Sabendo que
o meu corpo físico atualmente estava de conchinha com Sawyer, senti culpa fluindo
através de mim. — Não, Lil. Eu disse não.

Seu sorriso em resposta foi triste. — Exatamente, Lucas. — Uma de suas

mãos levantando para alcançar e tocar meu rosto. — Você não pode afastar a
chance de amor verdadeiro devido aos encontros de 20 minutos que você tem
comigo.
Seus claros olhos azuis se encheram de água, mas fui eu quem finalmente
quebrou. Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto respondia a ela. — Esses

20 minutos valem a pena. — Olhei todos eles, desespero claro na minha cara e

voz. — Vocês valem a pena. Por favor...


Todos olharam uns para o outro novamente, as lágrimas de Sammy fluindo
tão livremente quanto as minhas. Darren fungou e olhou para o chão e um soluço
suave escapou de Lillian. De repente, tive a sensação de que isso não era apenas
mais um discurso, Lucas tem que viver. De repente, tive a sensação de que eles me
davam um discurso de despedida. Gelo disparou através de cada nervo do meu
corpo.
— Não faça isso... — minha voz era quase um sussurro, mas todos eles
voltaram suas atenções para mim. — Por favor — acrescentei, com a voz
deformada com a tensão.
Sammy se aproximou de mim, jogando os braços em volta do meu peito. —
Oh, Lucas. Você sabe o quanto eu te amo, não é?
Engoli em seco e balancei a cabeça, momentaneamente soltando a mão de
Lil para que eu pudesse agarrar os braços de Sammy. — Não, por favor... não.

Lágrimas pingavam de seu rosto quando ela começou a soluçar. — Eu sinto

muito, Lucas. Você precisa nos deixar ir senão você nunca se curará. — Suas mãos

agarraram meu rosto. — Eu te amo demais para deixá-lo desaparecer lentamente


por nossa causa.
Ela beijou minha testa e senti o calor correr através de mim. Eu comecei a
entrar em pânico. — Não, por favor Sammy. Eu farei qualquer coisa... qualquer
coisa. Basta ficar...
389
Ela chorou de novo, descansando a cabeça contra a minha. — Você é o

melhor, Luc... e quero que você seja aquele homem de novo. — Então, ela
desapareceu e eu segurava ar.
— Não! Não, por favor, Sammy. — Tentei trazê-la de volta mentalmente,
mas nada acontecia. Eu não conseguia controlar nada.
Darren se aproximou de mim, seus olhos lacrimejando enquanto olhava
minha busca frenética pelo rosto de sua namorada desaparecida. Seus braços
vieram ao meu redor em um abraço e momentaneamente esqueci meu horror de
Sammy sumir. Um novo horror me atingiu.
Minha boca abriu novamente enquanto eu segurava seus ombros. —

NÃO! Você não pode ir! Você não! — Minha voz se quebrou. — Você é meu melhor
amigo, e melhores amigos não vão embora!
Ele balançou a cabeça, as lágrimas finalmente correndo por suas
bochechas. — Eu já te deixei, Lucas. — Os olhos dele sobre a sala cheia de soluço,

soluços que percebi vinham de mim. — Isso não é real, cara.

Agarrei-o, tentando impedi-lo fisicamente de me abandonar. — Não... não,


eu não deixarei você. Você tem que ficar.
Um soluço suave escapou dele quando ele ignorou minhas tentativas de
mantê-lo no lugar e abaixou a cabeça. — Deveríamos ter feito isso há um

tempo. Talvez fosse mais fácil para você na época. — Ele ergueu a cabeça, quando

eu vigorosamente balancei a minha. — E isso é o que importa, Luc. Você. — Suas

mãos subiram para agarrar meu rosto. — Você é o único que restou. Não se
esqueça que você sobreviveu. Eu te amo, Luc.
Sentindo-o escorregar, eu comecei a repetir não mais e mais. Não importa...
ele desapareceu diante dos meus olhos. Um soluço rasgou através de mim e senti
um pedaço de mim se romper. Darren foi o meu melhor amigo desde que tinha
cinco anos de idade. Não houve um momento monumental na minha vida em que
ele não participou, ou que eu não contei a ele, mesmo após sua morte. Eu não
podia compreender a vida inteira sem ver seu rosto amigável.

390
Braços me envolveram, em seguida, e os meus soluços começaram a se
aglutinar em um longo lamento cheio de tristeza. Se eu não podia compreender
uma vida sem Darren, então, uma vida sem Lillian...
Eu girei e a puxei para mim, determinado a fazê-la ficar. Eu precisava
dela. Ela era o meu ar. Eu não poderia funcionar sem ela. Eu estava desesperado
no meu desejo de mantê-la perto de mim, puxando suas roupas, cabelos e
braços. Ela calmamente me silenciou e tentou sossegar o meu corpo. As mãos dela
vieram até meu rosto e ela o segurou, me fazendo olhar para ela, me acalmando.
Quando eu pude respirar mais normalmente, eu sussurrei, — Por favor,
não... por favor. Não me deixe...
Ela fechou os olhos, lágrimas caindo. — Luc...

Balancei minha cabeça, em pânico. — Não, não, não... eu não posso fazer
isso sozinho. É muito difícil. Eu preciso de você, Lillian. Vou mudar, serei melhor...
vou fazer de tudo. Apenas fique... preciso que você fique. Eu te amo. Eu te amo
muito.
Seus olhos se abriram e ela me beijou suavemente. — Eu sei, Luc, e eu
também te amo. É por isso que preciso fazer isso. Mas você não estará
sozinho. Você vai acordar, e Sawyer estará em seus braços... esperando.
Esfreguei minha testa rapidamente sobre a dela, não querendo ouvi-la. —
Não! Não quero acordar! Eu quero ficar aqui com você. Por favor?
Ela balançou a cabeça contra a minha. — E é exatamente por isso que eu
faço isso... por isso que não ficarei.
Eu me afastei para olhar para ela, meus olhos arregalados com a dor que
me cortava. — Mas por quê? Estamos tão perto... chegamos tão perto. — Beijei-a

repetidas vezes, esperando que eu pudesse convencê-la sobre quão certo era. —
Eu quero você... para sempre. Você é minha. Quero te mostrar. Quero fazer amor
com você.
Ela me empurrou para trás, me fazendo parar. — Não... não é real. Isso não
te ajudará. Você precisa estar com alguém de verdade.
Lágrimas escorriam de seu rosto e eu poderia dizer que a matava dizer estas
coisas, mas agora, a minha dor era tão incompreensivelmente grande, que eu não

391
podia sequer me preocupar com a dela. — Como você pode fazer isso comigo? Você
disse que nunca terminaria comigo... você mentiu.
Ela engoliu em seco, um soluço escapando dela. — Lucas... não...
Segurei fortemente seus braços, sentindo como se eu tivesse uma maneira
de fazê-la ficar... mesmo que fosse de forma manipuladora. — Não, você
prometeu. Você disse que nunca iria embora. Disse que sempre ficaria ao meu
lado. E exijo que você mantenha essa promessa. — Minha voz se quebrou,
enquanto horrivelmente torcia as palavras ternas que ela falara sobre o nosso
tempo juntos. Torcia em armas – armas projetadas para ferir, armas projetadas
para deixá-la se sentindo culpada.
Ela soluçou novamente quando encontrou meus olhos. — Oh, Luc, não...

— ela balançou a cabeça. — Assim como Darren já foi embora. Eu não posso
terminar com você, se eu já fui...
Balancei os braços, sabendo que eu provavelmente a machucava. — E
ainda assim você está. Não estou terminando com você! Você é a pessoa me traindo!
Um olhar brilhou em seu rosto uma vez que eu disse isso, e reconheci
imediatamente o meu erro. A minha arma falhou, porque não foi ela quem traiu o
relacionamento. Fui eu. Um momento de raiva infiltrou em suas feições quando ela
afastou minhas mãos de seus braços.
— Não, eu não te traí. Nunca faria isso. Mas não posso ficar aqui com
você. Não farei isso para você... ou para Sawyer. — Havia tensão em sua voz
enquanto falava, e uma nota clara de ciúmes quando disse o nome de Sawyer
novamente.
Culpa passou por mim, levando momentaneamente a minha força com
ela. Eu a envolvi em um abraço. — Eu sinto muito... por favor não vá. Por favor,
não se afaste de mim. Preciso de você. Preciso estar com você. Por favor...
Ela enrijeceu e depois relaxou, envolvendo os braços em volta de mim e
enfiando os dedos no meu cabelo. — Eu também sinto muito, Lucas. Eu te amo...
sempre, mas não posso ser essa pessoa para você. Não podemos estar juntos...
não, enquanto você ainda está vivo.
Então, ela desapareceu.

392
393
Capítulo 20
Corrigindo um erro

Acordei com um espasmo, simultaneamente com falta de ar e implorando


que Lillian ficasse. Silêncio e escuridão me responderam enquanto eu lutava para
rejeitar a realidade e voltar para a minha fantasia, ou o meu pesadelo, dependendo
de como você olhasse para ele. Perder todos os meus amigos em uma rápida
sucessão fez um buraco diretamente através de mim. Meu peito doía tanto quanto
doeu na noite do acidente. Era como se acontecesse de novo – como se eu estivesse
os perdendo novamente. Só que desta vez, parecia permanente. Eu sabia que
nunca os veria novamente.
Pânico se apoderou de mim, e meus arquejos para respirar se
transformaram em um ataque cheio de arquejos. Eu não conseguia respirar. Lutei
contra o desconforto físico, mas não era nada comparado com o buraco no meu
peito. Essa ferida ainda queimava ao longo das bordas, como se um ácido fosse
derramado em cima de mim, e me comesse vivo.

394
Eu girei e virei na cama, agarrando-me a qualquer coisa que eu poderia –
lençóis, cabelos sedosos, pele macia. Ouvi uma voz vaga me mandar calar e
perguntar o que estava errado, mas o bater do sangue correndo nos meus ouvidos
era intenso demais para realmente prestar atenção à voz. Além disso, as vozes dos
meus amigos vibravam através do meu crânio:
Você precisa nos deixar ir, senão você nunca se curará. Não se esqueça que
você sobreviveu. Eu te amo... sempre, mas... não podemos estar juntos...
Virei e estremeci na cama, enquanto mãos pequenas tentaram acalmar meu
tremente corpo. Infelizmente, a cama de Sawyer era menor do que a minha, e na
minha próxima maníaca torção eu caí, aterrissando dolorosamente de bruços no
chão duro. Eu gemi quando o pouco de ar que eu tinha dentro de mim era
empurrado com força dos meus pulmões. Tomando respirações curtas quando eu
podia, eu fiquei onde estava no chão.
Sawyer imediatamente correu para o meu lado, seus braços me
envolvendo. Seu rosto preocupado me olhou e depois olhou para cima; minha
queda não foi exatamente tranquila. Seu rosto voltou para mim, mas não conseguia
mais distinguir suas feições. Ela estava embaçada, como uma miragem, enquanto
meus olhos se enchiam de lágrimas incontroláveis.
Nós não podemos ficar juntos...
Engasguei e gaguejava, tentando chorar e falar ao mesmo tempo. As únicas
palavras que eu pude entender que saíram de minha boca foram: — Não deixe...

por favor... não me deixe... — Sawyer me recolheu em seus braços, puxando meu
corpo inerte de joelhos e me balançando, calmamente me tranquilizando que ela
nunca faria isso. Não sabia como dizer a ela que eu não a queria. Não sabia como
dizer a ela que eu acabara de perder todos que eu amava... além dela.
Depois do que pareceu uma eternidade de choramingos embaraçosos,
entorpecido deixai a minha cabeça cair em seu ombro. Eu me sentia esgotado, vazio
por dentro. Eu não tinha mais nada agora, nada para olhar para frente, apenas
longos dias de várias formas de tortura e noites intermináveis de... nada. Eles
foram embora... e eu sabia que não seria capaz de chamá-los até mim.
Nós não podemos ficar juntos...
Sawyer se sentou de joelhos na minha frente, segurando-me firmemente e
acariciando minhas costas. Quando sentiu minha respiração retornar para alguma
395
normalidade, ela se afastou. Suas mãos secas seguraram minhas bochechas, e
seus olhos brilhavam com lágrimas simpáticas ao ver a expressão no meu
rosto. Imaginei que se o olhar estava perto de como eu me sentia, então eu
provavelmente parecia caminhar para a morte. Bem, ajoelhando-me para a morte,
em todo o caso.
Engolindo em seco, ela começou a acariciar meu rosto. — Oh, Lucas... eu

sinto muito — ela sussurrou.


Eu franzi as sobrancelhas e inclinei a cabeça. Meu cérebro encharcado de
sofrimento não conseguia compreender sobre o que ela possivelmente se
desculpava. Interpretando o meu olhar confuso, ela balançou a cabeça e disse: —
Você sonhou com o acidente de novo? Você sonhou com o que você se lembra?
Balancei a cabeça para ela, por uma vez, na verdade, desejando ter
novamente esse sonho. Esse sonho seria absolutamente animador em comparação
com esse que acabara de alterar o meu futuro a partir deste momento em
diante. Encontrei a minha voz rangendo quando respondi a sua pergunta, que não
era realmente uma pergunta.
— Não... Lillian terminou comigo. Ela me deixou... todos eles me deixaram.
— Senti mais lágrimas caírem dos meus olhos e molhando os dedos de Sawyer. Eu
não me importava. Eu me preocuparia com lágrimas embaraçosas de agora em
diante? A partir de agora eu teria nada, a não ser as lágrimas embaraçosas?
Em uma espécie de transe oprimido, a observei ficar de boca aberta. Eu me
perguntei se ela sentia simpatia por mim... ou se concordava com a decisão dos
meus amigos. Bom para eles por deixar minha bunda louca. Eu me irritei com a
ideia de outra pessoa decidir qual era o melhor caminho para mim – eu estava
perfeitamente feliz com a minha vida delirante – e desajeitadamente eu levantei,
antes que ela pudesse responder.
— Preciso ir para casa. Você pode me levar?
Ela se levantou, colocando a mão no meu braço e olhando para fora da
janela. Ainda era bastante escuro lá fora, mas o sol nasceu e luz âmbar começava
a iluminar o mundo. Ela se virou para mim e balançou a cabeça. — Meus pais
provavelmente não acordaram ainda. Vou apenas deixar uma nota dizendo que eu
queria devolver o vestido o mais depressa possível.

396
Balancei a cabeça, mal ouvindo-a enquanto meus pensamentos
giravam. Eu não tinha certeza sobre querer estar em casa, mas, honestamente, eu
não sabia para onde ir para fazer este desespero construindo dentro de mim
acabar. Casa parecia um lugar tão bom quanto qualquer outro.
Eu coloquei minhas roupas sujas de novo, enquanto Sawyer se vestia no
banheiro. Quando saiu, ela olhou para mim e depois me deu um abraço rápido,
antes de pegar o vestido da minha mãe dizendo que me encontraria no seu
carro. Acenei em resposta, mas todo o meu corpo afundou. Eu me senti
derrotado. Senti-me como a minha versão do sonho que ficara com a cabeça
esmagada por Josh. Só que desta vez, meus melhores amigos fizeram a contusão.
Quando Sawyer desapareceu pelas escadas, eu me arrastei para fora da
janela. Caminhei até o carro, abri a porta destrancada e entrei, não realmente me
importando se os pais dela me viram aqui ou não. Ela saiu da porta da frente
alguns momentos mais tarde e se juntou a mim. Eu podia sentir seus olhos em
mim, mas os ignorei, estudando as manchas de lama em meus joelhos em vez
disso. Meio que parecia com a pedra que o Josh usou para me matar na noite
passada.
Ela limpou a garganta. — Luc...
Não respondi e ela suspirou, em seguida, ligou seu carro. Não olhei para
cima quando ela virou seu carro e foi para a minha casa. Nem sequer olhei para
ver se os pais dela ouviram a partida do carro e acenderam sua luz do quarto,
pensando no que sua filhinha fazia. Eu simplesmente não conseguia mais
encontrar dentro de mim força para me importar.
Nós não podemos ficar juntos...
Tempo avançou de uma forma quase surreal, e o que parecia apenas alguns
segundos mais tarde, ela parava seu carro e desligava na minha garagem. Pisquei
e olhei para ela. Ela parecia preocupada e eu me perguntava se eu ainda parecia
com a morte... ou talvez como os mortos-vivos seria uma descrição melhor. Como
se o meu corpo fosse animado por uma criatura irracional, pois certamente a
minha alma se foi. Meus amigos conseguiram rasgar isso em pedaços. O que os
meses de tortura nas mãos de Josh e os habitantes da cidade não conseguiram, os
meus amigos conseguiram em uma noite – eles me despedaçaram. Despedaçaram
o meu espírito e me deixaram ondulando ao vento... sozinho.

397
Sawyer disse meu nome de novo e de novo, mas eu ainda não respondi. Não
sabia o que dizer de qualquer maneira. Havia alguma coisa que eu poderia dizer
que não a machucaria ainda mais? Peguei o vestido da minha mãe no banco de
trás e me afastei dela, abrindo minha porta.
Ela levemente me surpreendeu, abrindo a dela também. Alguma parte do
meu cérebro queria que ela corresse para casa antes que seus pais descobrissem
que ela não estava lá... a maior parte do meu cérebro não se importava mais. Ela
me seguiu até minha porta, dizendo o meu nome mais algumas vezes. Cada vez
que as sílabas cruzavam seus lábios, mais tensão penetrava em sua voz.
Fiquei em silêncio até que entrei na sala de estar, sem a menor cerimônia
jogando o vestido da minha mãe no sofá. Foi a minha mãe que quebrou o meu
silêncio. Ela invadiu pelo corredor quando ouviu a porta da frente abrir. Seus olhos
estavam arregalados e vermelhos quando ela encontrou os meus. Olhei para ela
sem expressão, lembrando todas as coisas vis que Josh gritou para mim sobre
ela. Não sabia se era verdade... mas eu tive uma horrível torção como bola de fogo
no estômago que me disse que era. Essa bola expandiu queimando um pouco da
minha melancolia, como se descongelasse um pouco da dor ao redor do meu
coração.
Apertei os olhos para ela quando ela veio como uma tormenta até mim. —

Mãe — eu disse, sem rodeios. Ela ignorou meu tom e atirou os olhos para cima e
para baixo, como se procurasse por lesões.
— Você está apenas chegando em casa? Onde você estava? — Sua mão
apontou para o meu quarto. — Eu fui verificá-lo antes de precisar sair para um

trabalho e você não dormiu na cama. — Uma lágrima rolou pelo seu rosto quando

sua voz falhou. — Você tem alguma ideia de como eu estava apavorada,
Lucas? Onde você estava?
Ouvi Sawyer atrás de mim se deslocar e limpar a garganta. Ela começou a
dizer o nome de minha mãe, mas a cortei. Ignorando a pergunta de minha mãe, e
as lágrimas em seu rosto gasto, eu calmamente disse: — Não é um pouco cedo
para afazeres?

398
Isso assustou a minha mãe e ela se afastou, me avaliando. — Eu... eu só

tinha uma coisa que eu precisava... — sua mão levantou com o típico gesto dos

pais de ouve-me. — Não me distraia mudando de assunto – onde você estava?


Decidi dar o tom para esta conversa sendo honesto. Talvez se eu fosse
verdadeiro, mamãe seria também. — Passei a noite na casa de Sawyer... na cama

dela. — Ouvi Sawyer suspirar atrás de mim com a forma como eu formulara o
nosso arranjo inocente de dormir.
Claramente não esperando minha admissão, mamãe empalideceu e olhou
para Sawyer. Mamãe gaguejou um pouco enquanto considerava o que dizer sobre
o assunto. Curioso, deixei-a tropeçar nas palavras, não esclarecendo o que
realmente fizemos... ou não.
— Bem... eu não... você não pode... você é muito jovem. — O rosto dela
ficou consideravelmente vermelho quando ela olhou para Sawyer. Eu não olhei
para ela, mas eu tinha certeza que Sawyer estava vermelha. A mistura de raiva e
desespero na minha barriga me impedia de me sentir culpado por isso. Mamãe se
virou para mim. — Vocês dois são muito jovem para isso, Lucas. Devemos...
sentar... e falar...
Sua voz sumiu quando sorri. — Sobre o quê, mãe? Sexo? — Dei de ombros,
não sentindo constrangimento naquelas palavras que normalmente me
dariam. Senti Sawyer colocar a mão no meu braço. Ela aparentemente entendeu
para onde eu ia com essa conversa.
— Luc... não. Não é assim... — a ouvi murmurar. Minha mãe ouviu
também e desviou o olhar.
Eu trouxe os seus olhos idênticos aos meus de volta para mim com o meu
próximo comentário. — O que você pode me ensinar sobre sexo,

mãe? Especialmente sobre não tê-lo? — Cruzei os braços sobre o peito e me


recostei em um quadril.
Sawyer me pediu para parar com isso, mas eu não podia. Se eu desligar o
fluxo de raiva que sentia para minha mãe... a tristeza voltaria e me afogaria.
Inalei e esperei por sua resposta. Seu rosto empalideceu novamente
enquanto ela olhava para mim. Ela lambeu os lábios e alisou seu rabo de

399
cavalo. Todos os sinais de culpa. Meus olhos se estreitaram ainda mais com suas
ações confirmando minhas suspeitas. — Do que você está falando, Luc?

Inclinei-me para ela e ela deu um passo para trás. — O que você precisava

fazer? — Dei um passo em direção a ela, ignorando o apelo de Sawyer para eu ir

com ela. — Você tem que ir a um encontro agora cedo?


Súbitas memórias de sua ansiedade quando esperava Sawyer me pegar, ou
sua enérgica saída de casa quase uma hora antes de seu turno inundaram meu
cérebro. As peças começaram a se encaixar. — Você parece cansada... os visitantes

noturnos estão te segurando? — Essa memória me inundou também, e eu me


perguntei quem realmente estava aqui naquela noite... e se foi a primeira vez, ou
apenas a única vez que eu ouvi.
Ela deu um passo para trás, sacudindo a cabeça e gaguejando. — O que

é...? Por que você está...? O que você está realmente me perguntando? — Sua voz
era quase inaudível.
Tomei mais um passo em sua direção. Sawyer me implorou para não dizer
isso, mas eu precisava saber. Eu precisava da verdade. Eu disse isso.
— Estou perguntando se você está transando com o xerife. Se você é a puta
que todo mundo pensa que você é...
Realmente não tinha certeza se o rumor que Josh impiedosamente jorrou
era verdade ou não. Deus sabe, mentiras se espalham como fogo ao redor daqui,
mas as peças começaram a se encaixar cada vez mais a cada segundo – as reuniões
matinais, rindo com o misterioso visitante tarde da noite, os olhares que se
passaram entre a minha mãe e o xerife na lanchonete, o uso familiar de seus
primeiros nomes, os ocasionais toques muito amigáveis, suas frequentes visitas ao
longo do verão, o jeito que ele sempre me chamava de Lucas quando se referia a
todos os outros pelo sobrenome... o jeito que ele disse que cuidaria de mim na noite
do acidente.
Se fosse verdade, então tudo fazia sentido agora. E enquanto eu observava
o rosto pálido de minha mãe, próximo a um branco fantasmagórico, sua boca caiu
aberta e os olhos começaram a encher de água, eu sabia que era verdade. Minha

400
mãe estava dormindo com o xerife. Não, dormir era um equívoco; minha mãe estava
transando com o xerife, não envolvia dormir.
Seu choque momentâneo dissipou e de repente seu rosto endureceu; suas
mãos apertadas em punhos como se quisesse me bater. Ela deu um passo em
minha direção até que estava bem na minha cara. Não recuei. — Você não fala
assim comigo, Lucas Michael West!
Sawyer puxou meu ombro para trás e pude ouvi-la chorando. Ignorei e
foquei na mulher na minha frente que era meu brilhante exemplo do que um ser
humano deve ser. Ela parecia desbotada para mim agora. — Mas é verdade! Não
é? Você está dormindo com ele e é por isso que não estou na cadeia!
Ela prendeu a respiração quando deu um passo para longe de mim. Eu
podia ver o debate em seus olhos. Ela mentiu sobre isso por tanto tempo que
naturalmente ainda queria mentir sobre isso. Fogo queimou ainda mais quente em
mim por ela sequer considerar mentir para mim agora. Ela olhou para a minha
expressão acalorada e, finalmente, deixou escapar um longo suspiro. Recuando
novamente, seus ombros caíram em derrota. Pouco acima de um sussurro, ela
murmurou: — Sim, Lucas... é verdade.
Minha boca se abriu e uma fatia de dor atravessou por mim. Mesmo
sabendo... era difícil ouvir. Balancei minha cabeça, sentindo a mão de Sawyer em
meu ombro, confortando. Com uma voz suave eu disse: — Como você pôde? Como
você pôde mentir para mim... todo esse tempo?
Ela abaixou a cabeça e, à medida que mais raios solares iluminavam a sala,
pude ver uma gota de lágrima cintilar no chão. — Lucas... você não entenderia.

Meus punhos cerrados conforme a dor voltava para raiva. — Você está
certa, eu não sei. Você começou algo com ele só para me manter fora de
problemas? Era esse o problema?
A cabeça de mamãe disparou e ouvi Sawyer me pedir para ser
gentil. Ignorei-a e concentrei-me nos olhos de repente irados diante de mim.
— Não! Não houve... negócios. Não pedi a ele para fazer qualquer coisa,
Luc. — Ela jogou as mãos para seus lados. — Estamos juntos muito antes...

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Meus olhos se arregalaram, e ela parou de falar. — Vocês estavam juntos

antes...? Há quanto tempo você...? — Não poderia sequer compreender que minha
mãe mentiu para mim por... anos.
Seu corpo inteiro caiu e ela sentou pesadamente no braço do sofá, com as
mãos momentaneamente cobrindo o rosto antes de cair em seu colo. — Estamos

vendo um ao outro por cinco anos, Luc... — seus olhos envelheceram mais uma
década quando ela olhou para mim.
Senti todo o sangue escorrer do meu rosto. Pensei que eu poderia cair no
chão, mas Sawyer se abaixou sob meu ombro e de alguma forma eu fiquei em
pé. Cinco anos? Ela mentia para mim desde que eu tinha doze anos? Lentamente,
balançando minha cabeça, eu só podia dizer: — Mamãe... ele é casado...
Ela desviou os olhos e um soluço escapou. Sawyer deu um tapinha no meu
peito enquanto eu observava as lágrimas da minha mãe caírem. O fogo em meu
estômago se contorceu em algo podre e doloroso. Senti como se pudesse estar
doente. Eu queria correr. Por que entristeço todos que acreditam em mim?
— Eu sei, Luc... é por isso que eu menti. — Ela olhou para mim novamente,
os olhos implorando pelo meu entendimento. — Eu odiava fazer isso com você,
mas você era tão jovem. Eu não poderia te dizer...
Sawyer murmurou que ela deveria nos deixar em paz, mas eu agarrei a mão
dela com força. Eu não podia deixá-la sair por aquela porta agora. Sentindo isso,
ela ficou. Drenado e confuso, eu não podia ficar de pé no mesmo lugar por mais
tempo também. Eu me arrastei até o sofá, puxando Sawyer comigo, e afundei
pesadamente no local mais distante da minha mãe. Ela imediatamente estendeu o
braço para pegar a almofada, virando para me encarar. Sawyer se ajoelhou aos
meus pés, descansando a cabeça em seu braço sobre minhas pernas, me dando o
conforto que podia. Inconscientemente, eu coloquei minha mão em suas costas,
tirando o calor dela, desde que eu sentia como se não tivesse o meu próprio do lado
esquerdo.
Uma horrível tensão silenciosa se construiu na sala enquanto olhavam para
mim, esperando minha reação. Sentindo-me entorpecido, eu só poderia olhar
fixamente para a minha mãe. Não sabendo mais o que comentar, eu escolhi a única

402
coisa que parecia o mais irrelevante. — Ele é muito mais velho do que você, mãe...
quinze ou vinte anos.
Ela corou e olhou para a almofada que nos separa. — Eu sei, Luc. Isso não

importa para mim. — Ela olhou para mim e sussurrou: — Eu o amo.


Balancei a cabeça e olhei para Sawyer, que olhava para mim com os olhos
molhados, preocupada. Eu acariciava suas costas, enquanto pensava em minha
mãe ficando com ele, com um homem que quase podia ser meu avô. Não era um
pensamento agradável e isso não fez nada para o meu estômago. Eu mal podia
acreditar que esta era a realidade. Parecia que a vida era o sonho, o pesadelo. A
única pessoa que foi o meu exemplo de moralidade toda a minha vida tinha um
caso com um homem casado. Isso fundiu minha mente. Eu sabia que meu pai era
desprezível, mas minha mãe...? Talvez eu a coloquei em um pedestal, mas, até
saber disso, ela merecia um. Até agora, ela era uma santa.
Olhei para ela novamente. — É como se eu nem sequer soubesse quem

você... — sussurrei.

Seus olhos estavam pesarosos quando ela chorou baixinho o meu nome. —
Lucas...
Balancei minha cabeça, ignorando a dor em meu coração, concentrando-
me no fogo. — E quanto a sua esposa? Como você pôde fazer isso com ela? —
Imaginei a cônjuge de cabelos grisalhos do xerife, em casa sozinha, observando as
janelas e à espera de seu fiel funcionário público voltar para ela. Eu me perguntei
se ela sabia que seu funcionário público rotineiramente protegia e servia a minha
mãe.
Minha mãe respirou e encontrou meus olhos. — Não estou orgulhosa disso,

Lucas, e nós certamente não pretendíamos nos apaixonar... — ela balançou a

cabeça quando outra lágrima caiu de seu rosto. — Não é desculpa... mas sua
esposa esteve realmente doente por anos. Ele cuida dela o melhor que pode, mas
não há nada entre eles a um longo tempo. — Seus olhos me deram aquele olhar
suplicante novamente.
— Eles ainda estão casados, mãe. Ele deveria se divorciar dela, se ele quer
ficar com você.

403
Ela suspirou. — Não é tão simples assim, Luc. Ele a ama... de certa forma,

e ela é muito frágil. — Um olhar claramente de adoração a invadiu. — Ele não


quer arriscar a saúde dela virando o seu mundo de cabeça para baixo. Nós
mantemos isso calmo e discreto para que ela possa viver a vida que lhe resta em
paz.
Eu dei um olhar vazio para ela. — Oh. Meu. Deus. Você é uma delas. —

Ela piscou para mim e fiz um gesto para ela com desdém. — Você é uma daquelas
mulheres que acredita em tudo que o namorado diz... porque ele as amam e,
certamente, finalmente deixará a esposa. — Eu não conseguia nem esconder o

desprezo vazando para a minha voz e Sawyer apertou a mão no meu joelho. — Não
me diga que você acredita seriamente nessa história?
Boquiaberta, minha mãe olhou para Sawyer, para mim, e depois de volta
para Sawyer. Finalmente, ela olhou para mim e balbuciou: — Não é uma

história. Ele não... ele me ama. Ele é bom para mim. — Seus olhos endureceram

quando varreram meu rosto. — E muito poucos homens no mundo foram bons
para mim!
Afastei-me da clara referência dela ao meu pai há muito ausente. Sua
partida marcou minha mãe de uma forma que eu provavelmente não poderia
imaginar. Embora, com a forma como sentia que o meu peito tivesse sido escavado
com uma colher sem graça, eu começava a entender a dor de ser abandonado.
Vendo minha reação às suas palavras, ela sussurrou, — Ele é um bom
homem, Lucas... talvez você poderia dar uma chance a ele?
Minha cabeça voltou para ela. — Ah, sim, um verdadeiro exemplo reluzente.

— Mesmo quando disse isso, eu podia sentir a hipocrisia em minhas palavras. Eu


estava realmente condenando um homem por trair sua companheira? Eu não fiz o
mesmo? Eu não traí Lil ficando com Sawyer? Claro que não tive relações sexuais
tecnicamente, mas foi um dos momentos mais íntimos de minha vida... e
machuquei alguém que eu amava ao fazê-lo. Quem era eu para condenar o
xerife? Ou a minha mãe...
Fechei os olhos, quando pensamentos de Lillian me invadiram.
Nós não podemos ficar juntos...

404
Senti o desespero rastejando de volta, meus olhos começaram a arder, e
agarrei desesperadamente o fogo remanescente no meu sistema – qualquer coisa
para segurar a dor esmagadora. A voz irritada da minha mãe ajudou a atiçar o fogo,
e reabri os olhos para encontrá-la olhando para mim. — Não espero que você
entenda... você é apenas uma criança. Mas um dia, você entenderá.
Eu me irritei com seu uso condescendente da palavra criança e senti minha
mão apertar o tecido da camisa de Sawyer. Sua mão subiu para acariciar meu
braço em resposta e relaxei meu controle, sem tirar os olhos da minha mãe.
Seu rosto suavizou quando ela caiu no sofá. — Onde você ouviu sobre isso?

Mantendo minha voz monótona, eu disse: — No baile. As pessoas

sabem... todos sabem... — eu não estava realmente certo de como se disseminou


o rumor, mas com certeza explicou por que as pessoas não acreditavam que eu era
inocente. Acreditavam que o amante da minha mãe me cobriu... eles simplesmente
não tinham nenhuma prova.
Ela fechou os olhos. — Oh Deus...
Olhei a derrota em seu rosto, e pensei em como a cidade me via, como Josh
me via – um monstro, uma criatura horrível que matou seus amigos e foi embora
sem absolutamente nenhuma consequência. Olhando para frente, eu sussurrei: —
É por você que não fiquei em apuros?
Eu ouvi ela me responder, mas não olhei mais, em vez disso mantive meus
olhos voltados para o espaço vazio na parede acima do aparelho de televisão, um
local utilizado para colocar fotos de meus amigos antes de mamãe tirá-las. — Oh,
Luc... seu teste deu negativo no hospital...
Finalmente olhei para ela. Ela mordia o lábio e buscava meus olhos. Suas
pequenas mãos apertavam uma a outra tão apertado que estavam quase brancas.
— Havia uma meia dúzia de coisas que ele poderia ter me cobrado. — Dei
de ombros, irritado e dolorido por falar sobre aquela noite. — Tínhamos uma
cerveja aberta no carro, mamãe. Ele deveria ter me dado um MIP no mínimo,
condução imprudente, no máximo, ou até mesmo, eu não sei, homicídio culposo.

405
Seu olhar se voltou simpático e ela esticou o braço sobre o espaço entre nós
para tocar meu ombro. Obriguei-me a não me afastar. — Lucas... você acabou de
perder seus amigos, ele não sentia que precisava de ainda mais punição.
Então me afastei, dando-lhe um olhar exasperado. — Mamãe?
Ela deixou sua mão cair no sofá e abaixou a cabeça. Sawyer apertou meu
joelho de novo quando minha mãe sussurrou: — Eu não sei, Luc... talvez. — Olhou

para cima, mais lágrimas caindo dos olhos. — Eu não perguntei para ele.
Então, lá estava. Eu não fui punido por meu crime horrível, porque minha
mãe espalhava suas pernas. A parte do meu cérebro sabia que eu não era justo,
uma parte do meu cérebro sabia que simplificava as coisas, mas o fogo no meu
estômago empurrou todos os pensamentos racionais de lado. Meu desespero subiu
ao meu peito para se fundir com o tiroteio de fogo em minhas veias.
— Eu matei todos os meus amigos e escapei disso por sua causa! — Ouvi
a minha mãe e Sawyer começarem a se opor à palavra assassinato, mas eu as
cortei. — Não admira que todo mundo me odeie! — Raiva, medo, pânico e
depressão, tudo me inundou, me levantei e virei para enfrentá-las no sofá.
Sentindo-me como se nada fosse real mais, eu olhei para a minha mãe. — Não era
para ter acontecido dessa maneira!
Sawyer se levantou e colocou a mão no meu peito, me implorando para me
acalmar. Minha mãe se levantou e colocou a mão no meu braço, com os olhos
implorando para eu relaxar também. — Eu sei, Lucas... nada disso era para ter
acontecido.
Dei um passo longe de ambas, passando minhas mãos pelo meu
cabelo. Senti como se fosse explodir. Tudo o que eu conhecia caía aos
pedaços. Odiava isso... odiava a vida. Eu queria a minha vida de sonho novamente,
mas até mesmo isso foi embora de mim agora. Tudo se foi...
Nós não podemos ficar juntos... enquanto você ainda está vivo...
Foi quando meu cérebro explodiu. Eu juro, eu senti o momento exato em
que alguns neurônios falharam e uma parte da minha cabeça implodiu, conforme
a tensão emocional acumulada sobre ele finalmente me quebrou. Foi uma
experiência profundamente intensa, e essa ruptura fez com que um momento de
clareza me atingisse. As palavras da minha conselheira que beliscavam em meu
406
subconsciente de repente floresceram a vida diante dos meus olhos. Elas se
misturaram com as últimas palavras fatídicas de Lillian e, de repente, eu entendi
o que eu tentava entender. De repente, eu sabia exatamente por que tudo na minha
vida era como um desafio, por que tudo era tão difícil.
Você acha que a vida nunca comete erros?
Claro, o tempo todo. Algumas pessoas que vivem e não devem... e ainda mais
pessoas morrem, que não devem."
Eu sabia que a Sra. Ryans tinha a intenção de enfatizar a segunda metade
da frase, mas era a primeira metade que atormentara meu cérebro. Era a primeira
metade, e agora fez todo o sentido para mim quando colocado em combinação com
as palavras de Lillian. Claro, era tudo tão óbvio agora. Algumas pessoas que vivem e
não deveriam. Eu nunca deveria ter sobrevivido naquele acidente. A vida cometeu
um erro.
Um que eu poderia consertar.
Deixando cair as minhas mãos para os meus lados, eu olhei de uma mulher
para outra. Clareza e determinação me encheram. Eu poderia resolver isso. Poderia
corrigir o erro da vida. Poderia encontrar a paz. Fixando meu olhar sobre a minha
mãe, eu calmamente disse: — Não... minha vida não era para acontecer. Eu nunca
deveria ter sobrevivido.
Sua boca caiu, seu rosto se tornou mais branco do que esteve por toda a
manhã, e ela balbuciou as palavras. Eu não deixei que ela encontrasse
alguma. Imediatamente virei-me para Sawyer, enfiei a mão no bolso das suas
calças de brim e passei meus dedos em torno das chaves do seu carro. Antes que
ela pudesse reagir, eu puxei minha mão de seu bolso, disse que estava arrependido,
e corri para a porta da frente.
Ouvi as duas dizerem para eu esperar quando empurrei a porta. Ouvi a
tensão e preocupação em suas vozes e ouvi um longo soluço quando a porta se
fechou atrás de mim. Mas isso não importa, já era tarde demais. Um erro foi feito,
um grave, e eu não poderia deixá-lo ir sem solução.
Tudo fazia sentido agora. Por que eu não poderia me encaixar na escola. Por
que eu mal podia falar com alguém, salvo Sawyer. Por que, às vezes, eu quase não
me sentia mais humano. Eu sobrevivi a algo que não era para sobreviver. Na
verdade, eu morri naquele dia no barranco. A minha alma, o meu espírito, a minha

407
força de vida – o que você quiser chamá-lo – mudou, mas de alguma forma, meu
corpo se afastou. Eu estava à deriva, dividido entre os dois mundos. Tentei
preencher o vazio na minha vida, recriando os meus amigos em um dreamscape,
mas isso foi apenas um curativo, e eles estavam certos de qualquer maneira. Eu
não podia continuar assim. Eu precisava consertar o que a vida
desarrumou. Precisava estar com eles... totalmente.
Nós não podemos ficar juntos... enquanto você ainda está vivo...
Logo Lil... muito em breve...
Desci os degraus da frente, olhando as chaves para chegar a que parecia
ser uma chave de carro. Encontrei-a e agarrei com força, sentindo a mordida
implacável do metal em minha pele. Abri a porta destrancada do carro e pisquei
quando percebi que abri automaticamente o lado do passageiro. Eu estivera tão
acostumado a não dirigir que agora teria que tomar uma decisão consciente de
fazê-lo. Engoli em seco e olhei para o volante. De tudo o que eu faria hoje, isso
provavelmente seria o mais fácil. Meu coração ainda disparava, no entanto.
Fechando a porta virei para correr para o outro lado. Foi quando Sawyer
me alcançou. Ela golpeou meu corpo, empurrando meus ombros para trás, até que
sentei no capô do carro. Minha mãe estava a alguns passos atrás dela, medo em
seus olhos e lágrimas em seu rosto. Eu sobressaltei na minha nova posição e olhei
para Sawyer.
Ela era deslumbrante, mas também, eu vi o medo atrás dos seus olhos. Vi
o odioso terror encher seus olhos de lágrimas. — O que você está fazendo? — Sua
voz foi forçada, como se ela realmente quisesse gritar comigo.
Levantei e coloquei a mão em seu ombro. Ela se afastou de mim, tentando
manter seu olhar, tentando segurar a raiva, de modo que não
desmoronasse. Entendia completamente esse sentimento. Fiz isso apenas
momentos atrás. Checando as minhas emoções, eu estava um pouco surpreso que
tanto a minha raiva quanto meu medo se dissolveram. Não sentia nada, além de
paz. Eu esperava que Sawyer pudesse entender por que eu precisava fazer isso...
ela realmente era a melhor coisa que eu tinha aqui, mas eu não podia ficar. Não
era para eu ficar.
— Sawyer... eu tenho que fazer isso. Por favor, tente entender. — Minha
voz era tão calma e tranquila como eu me sentia, mas Sawyer só se abriu para
408
mim, olhando desesperadamente confusa e assustada. Trouxe a minha mão ao seu
rosto, as lágrimas caindo agora.
Minha mãe estourou em um soluço e apontou o dedo para Sawyer. — Eu

vou chamar o Xerife Whitney! Não o deixe sair até Neil chegar aqui, Sawyer! — Ela
virou e correu para dentro da casa, e eu sabia que o temporizador de quanto tempo
eu tinha para sair acabara de ser configurado. Eu poderia lutar contra Sawyer e
minha mãe... mas o xerife?
— Lucas... — Sawyer murmurou, a mão chegando ao meu peito, segurando
a minha camisa manchada. Lembrei então, que ainda estava bem vestido e um
pequeno sorriso tocou a minha boca. Combinava. Eu deveria estar bem vestido
para esta ocasião. Era uma espécie de um dia especial. Pelo menos eu ficaria bem
quando visse Lil novamente. Agora eu meio que queria ter ido com uma gravata
depois de tudo.
Sawyer franziu o cenho para o meu sorriso e descansei minha cabeça contra
a dela. Com tanta convicção quanto pude, eu sussurrei: — Eu finalmente entendi.
Dói muito. Vida... dói tanto. Não sinto que eu pertenço aqui. Desde o acidente, eu
não senti como se eu devesse estar aqui, e agora eu sei por quê. — Eu me afastei
para olhá-la. A dor em seus olhos me machucou, mas não mudou a minha
determinação. Não importa o que, eu precisava corrigir esta injustiça. Eu precisava
colocar a vida de volta em seu curso correto.
— Luc... eu não entendo. Você está exatamente onde você deveria estar...
— um soluço escapou e a apertei perto de mim, deslocando-nos, de modo que ela
estava de frente para o carro e eu estava livre dele. Suas mãos foram até meu rosto
enquanto nossas cabeças pressionaram juntas. Fechei os olhos. Sentiria tanta falta
dela, mas ela estaria melhor com outra pessoa de qualquer maneira, alguém que
fosse completamente parte deste mundo.
— Não, Sawyer. A vida, Deus, o destino... não sei, mas alguém cometeu um
erro, e eu nunca deveria ter sobrevivido àquela queda. É por isso que os meus
sonhos parecem tão reais, é por isso que estou tão atraído por eles. Preciso estar
com eles, com Lillian.
Chuva começou a cair então, não a chuva suave e gentil de uma tempestade
de primavera. Não, era pesada, uma chuva forte de um ataque de inverno. As gotas
409
que nos cercavam eram enormes, e em poucos segundos, os topos das nossas
camisas estavam encharcados. Interiormente sorri para a semelhança entre esta
chuva e a daquela noite fatídica. Era como se o universo entendesse a minha
intenção, e me ajudaria a corrigir o seu erro. Mais paz e autoconfiança passaram
por mim. Isso estava certo... era para ser assim.
Sawyer me olhou com cautela, a chuva escorrendo pelo seu rosto só
destacando aqueles vastos e preocupados olhos levemente amendoados. — O que

você está dizendo, Lucas? — Uma de suas mãos caiu de meu rosto e se arrastou
pelo meu braço, o braço em que a mão atualmente segurava com um aperto de
morte a chave do carro.
Sabendo que meu tempo acabava, e sabendo que Sawyer estava prestes a
fazer seu movimento para me parar, eu me inclinei para frente e trouxe meus lábios
nos dela, dando-lhe a última coisa que eu podia, embora ela merecesse muito
mais. Sua mão voltou para meu rosto enquanto nossas bocas se moviam
juntos. Ela me abraçou e um soluço escapou. Provei lágrimas junto com o seu
sabor doce e natural enquanto a chuva misturava os dois líquidos e encharcava
nossos corpos. Eu sabia que ela podia sentir o adeus em meu beijo. Senti isso
também. Eu sabia que isso seria para nós, e rezei para que os próximos meses não
fossem muito dolorosos para ela. Nunca quis fazer mal a ela... e isso é tudo que eu
sempre parecia fazer. No entanto, outra razão pela qual ela estava melhor sem mim.
Mentalmente me preparando, eu fiz algo que não estava orgulhoso, mas
precisava ser feito... por causa dela. Ela precisava me deixar ir. Ela precisava de
uma vida melhor com um homem melhor. Com esse pensamento ecoando na
minha cabeça, eu trouxe minhas mãos para os ombros e a empurrei para trás, com
força. Choque estava em seu rosto quando ela bateu no lado de seu carro, perdendo
o capô e caindo pesadamente no chão duro. Não fiquei para me certificar se ela
estava bem, não tinha tempo. Corri para a porta do lado do motorista, e uma vez
dentro, imediatamente a tranquei e, em seguida, estendi para o lado do passageiro,
trancando também.
Enquanto me sentava, Sawyer estava de pé na porta do motorista, com
lágrimas escorrendo junto com chuva. Ela agarrou a maçaneta da porta
freneticamente, gritando meu nome. Coloquei minha mão sobre o vidro e olhei para
ela com remorso. Eu sempre me arrependi por causar dor a esta bela mulher e
410
esperava que ela soubesse disso. Eu esperava que ela soubesse como eu me sentia
sobre ela, que ela soubesse que era a única coisa que iluminara a minha vida ao
longo dos últimos meses, e que eu realmente a amo. Eu ainda precisava fazer isso,
porém...
Ela colocou a mão sobre o vidro, flexionando os dedos como se estivesse
tentando atar nossas mãos através da barreira fria e molhada. Tirei minha mão e,
por força do hábito, afivelei o cinto de segurança. Parei com a chave apenas tocando
a ignição. Um breve momento de medo, misturado com determinação e expectativa,
corria através de mim. Se estabeleceu em paz quase que instantaneamente. Isso
estava certo... eu não tinha motivos para temer. Seus olhos se arregalaram
enquanto observava meus dedos inserir a chave, e então ela começou a bater no
vidro, talvez tentando quebrar a porta.
— O que você vai fazer, Luc? — Ela gritou comigo, com o rosto frenético.
Olhei para os olhos aterrorizados por um breve momento antes de
responder. — Só estou consertando um erro. — Virei a chave e liguei o carro, sem
tirar os olhos de Sawyer.
As mãos dela batiam impiedosamente no vidro quando o motor rugiu para
a vida; eu tinha certeza de que teria hematomas amanhã. — O que você vai fazer?

— Ela gritou novamente, as lágrimas em seus olhos quase indistinguíveis das


pesadas gotas caindo ao seu redor.
Um momento de tristeza brotou em mim. Ela era a única pessoa que eu
realmente sentiria falta, a única que nunca me decepcionou. Não, todas as
decepções da nossa relação vieram de mim. — Eu sinto muito — murmurei para
ela.
Ela balançou a cabeça, murmurando: — Não, por favor... não. — Do canto
do meu olho, eu vi a porta da frente da minha casa abrir e sabia que minha mãe
estava prestes a descer voando pelas escadas e se jogar em cima do carro em caso
de necessidade. Não queria isso.
Dei marcha à ré, encostando na calçada molhada na minha pressa. Minha
mãe correu para o lugar que eu acabara de estar, gritando para mim. Sawyer cobriu
a boca com as mãos, sacudindo a cabeça com horror. E então eu virei, deixando os
duas na garagem, em um aguaceiro, olhando assustadas e perturbadas. Me senti

411
mal pelo medo que elas tinham, e pela dor que eu sabia que elas atravessariam
uma vez que eu terminasse isso, mas eu precisava terminar. Eu nunca deveria ter
sobrevivido àquela queda. É por isso que tudo foi tão difícil ultimamente, e por isso
os meus sonhos pareciam mais reais para mim do que a vida. Eu não deveria estar
aqui. Um dia, eu tinha certeza que elas veriam isso.
Dirigi com mais firmeza do que jamais acreditei que podia. A chuva batendo
no para-brisa enquanto voava para fora dos limites da cidade, em direção a fatídica
rodovia. A investida provocava lembranças daquela noite. Elas despencaram no
meu cérebro, uma após a outra, cada uma apenas consolidando a minha decisão
– eu nunca deveria ter sobrevivido. Vi isso agora. A pequena bola de discoteca no
espelho retrovisor de Sawyer gentilmente balançou para trás e para frente como se
concordasse com a minha conclusão.
Eu não tinha certeza se seria capaz de encontrar o mesmo ponto da estrada
onde passei sobre o trilho. Estava escuro e chovendo naquela noite, mas então,
como um sinal de néon flamejante, a curva entrou em foco. Ela parecia brilhar para
mim. Fracas linhas pretas no asfalto da Geo de Darren estavam de repente como
enormes luzes de pouso, mostrando-me exatamente onde eu precisava ir sobre a
borda. O ponto exato de contato foi realçado por um memorial improvisado que
alguns estudantes da escola devem ter criado. Era para ser honorário, pelas vidas
perdidas, mas estava prestes a ser um alvo para uma outra vida, uma
que precisava ser perdida.
Enquanto eu passava pela curva, pude ver que o trilho de proteção
enfraquecido que eu acertei primeiramente foi substituído. Parecia forte e
resistente agora. Mas eu não estava mais em um barato carro de isopor. Eu estava
correndo em um carro potente e dada a velocidade suficiente, eu cortaria o metal
como manteiga. E, desta vez, meu objetivo era acelerar. Desta vez, os freios eram
a última coisa em minha mente.
Virei o carro para que eu pudesse me aproximar da curva na mesma direção
que estava naquela noite. Queria que tudo fosse igual, eu queria recriar
perfeitamente aquele momento – ajustar diretamente a linha cronológica. Se eu
pudesse, eu ficaria aqui até o anoitecer, pois seria tão escuro quanto à primeira
vez. Não tenho esse tempo, no entanto. Pois a minha mãe, a Sawyer ou o xerife me
encontrariam antes disso. Teria apenas que me contentar com o céu nublado e

412
nebuloso, nesta cinzenta manhã chuvosa. Oh, bem, isso me ajudou a ver
exatamente onde eu precisava ir de qualquer maneira.
Parei o carro uns oitocentos metros da curva e a encarei. Meu demônio. Era
como olhar para a parte mais escura de mim mesmo. Ali foi onde a minha vida se
transformou completamente. Foi onde a minha vida terminou. É onde a minha vida
acabaria. Soltei o cinto de segurança.
Desta vez... isso acabaria.

413
Capítulo 21
De volta ao começo

Momentos passaram enquanto eu olhava para a grade de metal de restrição


do meu destino. Não senti nada dentro de mim, além de convicção, uma
determinação fria de que tudo seria melhor depois que eu passasse por
isso. Realmente me reuniria com meus amigos. Sawyer seria libertada de sua
necessidade de cuidar de mim maternalmente, livre para encontrar um
relacionamento satisfatório com alguém que poderia amá-la do jeito que ela
merecia ser amada. Eu esperava que, quem quer que fosse, apreciasse a mulher
incrível em seus braços. E a minha mãe poderia viver sua vida com o xerife
Whitney... Neil. Com o segredo deles já exposto, eles poderiam ser mais abertos
uns com os outros. E eu não estando ao redor para causar preocupação e estresse,
ela poderia amá-lo de forma plena e completa. Sorri por saber que a minha mãe
não estaria sozinha.
Acelerei o motor algumas vezes com a chuva salpicando o trecho vazio da
estrada, encharcando-o. Ninguém passou ou veio atrás de mim enquanto eu estava
sentado, parado, no meio da minha pista. Ainda era início da manhã, e esta estrada
414
era pouco usada de qualquer maneira. O calmante aroma familiar de limão tomou
conta de mim e inalei profundamente, contente que este perfume calmante seria a
última coisa que eu levaria comigo. Os limpadores de para-brisa ruidosamente indo
e voltando, arranquei meus olhos do trilho de proteção, e assisti ao seu movimento
rápido, apreciando cada detalhe dos meus últimos momentos na Terra.
Não estava preocupado com a dor. Gostaria de aproveitar tudo para obter o
meu resultado final. Seja qual for a dor mortal, era necessária para passar deste
estado para o outro. Qualquer dor física não poderia comparar com os meus meses
de sofrimento emocional de qualquer maneira. O que eram ossos quebrados, cortes
e sangramentos comparado com o seu coração sendo rasgado e desfiado em
milhares de pedaços? Nada... absolutamente nada.
Uma canção em um dos CDs de rock de mulherzinha de Sawyer (que eu
realmente gostava secretamente) veio, e eu aumentei. Ironicamente, era uma
canção sobre sobreviver a uma tentativa de suicídio. Não gosto de pensar que o
que eu fazia era suicídio – eu apenas consertava um erro, mas suponho que isso
não seria dito no registro oficial da minha morte. A cidade correria com rumores
sobre como eu dirigi desenfreado e drasticamente acabei com minha própria vida.
Suspirei e esperava que minha mãe não precisasse ouvir muito sobre isso,
que as pessoas seriam gentis com ela sobre sua perda. Talvez o xerife e ela
pudessem se mudar uma vez que a esposa dele morresse. Eles poderiam curar um
ao outro. Sorri mais amplo quando imaginei a grande vida que poderiam ter juntos.
Conforme as letras assombrosas, mas belas, flutuavam através do meu
cérebro, eu voltei minha atenção para o trilho de proteção. Eu pisquei, surpreso,
quando notei um carro lá que não estivera antes. Um carro que eu conhecia muito
bem. Um carro que bloqueava o caminho pré-determinado de minha morte. Pisquei
novamente, sem entender o que o station wagon da minha mãe fazia estacionado
na minha frente. Como ela me encontrou tão rápido?
Então a porta do station wagon se abriu e uma figura saiu na
chuva. Imediatamente entendi como fui encontrado enquanto observava Sawyer
fechar a porta, suas roupas e cabelos encharcados pela chuva. Sawyer e eu quase
tínhamos o mesmo espírito, às vezes, e se alguém podia adivinhar onde eu acabaria
com a minha vida, seria ela.

415
Eu deveria ter percebido isso antes e não passado o precioso tempo
ruminando tanto. Eu deveria ter imaginado que o Clube Seguro e Sadio
provavelmente esteve aqui, em mais de uma ocasião, para manter o santuário que
era meio que a sua razão de ser. Embora Sawyer e eu nunca tenhamos falado sobre
este lugar, é claro que ela sabia exatamente onde era.
Ela ficou na frente da porta do carro desafiadoramente, braços sobre o peito,
e entendi claramente a mensagem, mesmo a esta distância, Você quer isso, você
terá que passar por mim para conseguir. Liguei o carro, esperando que ela se
mexesse. Ela não fez. Ela nem sequer pestanejou. Fiz isso de novo, deixando o
carro andar uns poucos metros. Nada. Ela nem sequer reagiu. Bem, talvez ela
levantara o queixo. Ela não cederia sobre este assunto.
Amaldiçoei e bati a mão no volante. Ela arruinava tudo! Ela nunca me
decepcionou antes. Por que fazia isso agora? Olhei para ela, o corsage ainda
pendurado no espelho retrovisor. Onde antes, eu vi as pétalas quebradas
simbolizando nossa noite horrível no baile, agora elas pareciam zombar do meu
desespero. Apertando minha mandíbula, me comprometendo à ação, liguei o carro
e bati no acelerador. Odiava levá-la comigo, mas eu precisava fazer isso, eu não
conseguia parar.
O carro moveu para frente, a chuva batendo com força no para-brisa. Ela
ainda não se mexeu. Eu ia acertá-la diretamente. Imaginei o carro cortando-a em
duas e lágrimas brotaram dos meus olhos. Imaginei a vida deixando seu corpo e
senti o soluço aumentar. As letras assombrosas sobre viver através da dor
reproduzidas através dos alto-falantes do carro, me queimando. O cheiro agradável
de limão sempre presente no carro de Sawyer me sufocou. Eu a amava... eu não
poderia matá-la.
Eu sabia que não pisaria no freio neste aguaceiro, então suavemente
diminuí a aceleração, o carro respondeu lentamente. Eu ainda ia rápido demais
para parar a tempo de bater ela, entretanto, então virei o volante, dirigindo à beira
da estrada. O carro atingiu o cascalho e pisei no freio, girando um pouco sobre as
pedras soltas, mas sem parar de deslizar.
Meu coração disparado com o que eu quase me comprometi a fazer, eu
amaldiçoei e bati a mão contra o volante repetidamente. Olhei pela janela para
Sawyer, do outro lado da rua, ainda de pé na frente do carro da minha mãe, me

416
observando. Seus olhos estavam arregalados e ela estava horrivelmente pálida,
tremendo incontrolavelmente. Ela pensou que eu não pararia. E ainda não se
moveu. Se eu fosse... ela ia.
Eu abri a minha porta com raiva por ela jogar sua vida fora por mim, e bati
a porta atrás de mim. Ela se endireitou com a minha aproximação, deixando cair
as mãos para os lados, os punhos cerrados para uma luta. Balancei minha cabeça
enquanto caminhava até ela, a chuva me encharcando, escorrendo pelo meu rosto.
— Que diabos você pensa que está fazendo?
Seus olhos se estreitaram enquanto ela olhava para mim, seus profundos
olhos cinzentos combinando com as nuvens de tempestade acima. — O que eu

estou fazendo? — Ela enfiou um dedo no meu peito. — Que diabos você está
fazendo?
Eu afastei seu dedo, frustração crescendo em mim. Eu precisava fazer
isso. Precisava fazer isso agora... enquanto eu ainda podia. — Saia do caminho,
Sawyer!
Ela cruzou as mãos sobre o peito novamente, empurrando o queixo para
mim. — Não! Isso é loucura, Lucas! Eu apenas não deixarei você fazer isso!
Joguei minhas mãos no meu cabelo molhado, desejando arrancá-lo do meu
couro cabeludo. Ela bagunçou tudo! E eu estava tão perto. — Ahhh! Isso já está

feito! — Eu puxei minha mão para a grade, indicando a ravina onde o meu corpo

morto já deveria estar. — Isto é o que deveria acontecer. Estou apenas consertando
um erro!
Ela empurrou suas mãos em meu peito, me fazendo dar um passo para
trás. Seu rosto em frente do meu, impetuoso e assustado. — Corrigindo um
erro? Você viveu por um motivo, Lucas!
Joguei meus braços para os lados. Gotas de água voavam das minhas mãos
chocando-se contra as gotas que caíam do céu. A violência no ar em torno de mim
só aumentava a minha convicção, hoje era um dia para destruição. — Não! Não há

nenhuma razão! — Nenhuma para permanecer vivo, de qualquer maneira. Eu


tinha muitas razões para parar.

417
Sawyer, seu rosto mais pálido do que já vi, se adiantou e segurou minhas
bochechas. Medo superando a fúria em sua voz enquanto falava sobre a chuva
caindo. — Este não é o caminho.

Balancei a cabeça em suas mãos, a minha própria raiva vazando. — Tem

que ser. Eu não posso seguir em frente, não posso voltar... isto é para mim. —
Meus olhos foram para o barranco novamente, esperando que ela entendesse,
esperando que eu entendesse.
Ela voltou a minha cabeça para ela quando comecei a olhar ansiosamente
para o ponto de impacto que eu tanto desejava encontrar. — Não! Você precisa

ficar aqui. Isso ficará melhor. — Seus olhos procuraram os meus freneticamente

enquanto ela engolia e mordia o lábio marcado com gotas de água. — Por favor,
acredite em mim.
Tirei suas mãos do meu rosto. Ela parecia tão pequena e frágil no momento,
e eu desejava que ela não testemunhasse isso. Seria melhor para ela se ela
descobrisse após o fato.
— Eu me lembro de tudo, Sawyer, e isso está me matando. Eu gostaria de
poder esquecer! Faria qualquer coisa para esquecer. Eu me lembro da chuva,
lembro de perder o controle. Lembro de bater no trilho de proteção e passar
diretamente através dele. Eu me lembro de todo mundo gritando e então eu me
lembro... silêncio... e sangue. Tanto sangue. Como posso esquecer isso? Como
posso possivelmente esquecer isso? Como posso seguir em frente? — Dei um passo

para trás dela, olhando para o trilho de proteção novamente. — Como


alguém supera isso?
Ela deixou escapar um soluço suave e virei meus olhos para ela. Eu então
desejei que ela não tivesse vindo. — Por favor, Luc! Eu não sei como, mas você
precisa encontrar uma maneira!
Coloquei minhas mãos em meu peito. — Mas é isso, eu não quero mais. Eu
não quero seguir em frente. Estou pronto!
Ela se atirou para o meu corpo, envolvendo suas mãos na minha cintura,
seu cabelo molhado aderindo em meus braços, como amarras tentando me vincular
a este mundo. — Não, você precisa ficar. Eu exijo que você fique! — Eu não pude

418
deixar de notar as semelhanças entre suas palavras e as palavras que eu disse
para Lillian. Não daria certo para ela mais do que funcionara para mim, no
entanto. Era tarde demais.
Tentei empurrá-la de cima de mim, mas ela agarrou e puxou em uma
tentativa feroz de ficar ligada ao meu corpo. Lutamos um com o outro, até que
estávamos ofegantes com o esforço; a chuva nunca parou a sua imersão
implacável.
Eventualmente, eu consegui agarrar firmemente os dois pulsos e mantê-los
na minha frente. Seus olhos me imploraram, com tanta certeza quanto a sua
voz. — Por favor, você precisa lidar com a dor – todos nós lidamos!
Exausto e frustrado com a batalha física e emocional que eu não estava
preparado, eu rebati: — Que diabos você sabe sobre dor, Sawyer?
Seus olhos endureceram e ela me deu um olhar que enviaria qualquer outro
garoto se proteger. Eu correspondi ao seu olhar, e não obstante, não recuei dessa
luta, não quando o que eu queria estava tão perto de mim, apenas alguns metros
acima do ombro dela.
Sem uma palavra, ela torceu os pulsos em minhas mãos e estendeu os
braços. Suas roupas e pele estavam tão molhadas que o tecido de suas longas
mangas se amontoou em torno de meus dedos, o material deslizando dos braços
até os cotovelos. Olhei para baixo, confuso... e então parei e olhei, minha boca
aberta.
— Eu posso não entender exatamente o que você sente, Lucas, mas eu
entendo a dor!
Eu não poderia responder a ela; eu ainda olhava para os seus
braços. Quando ela virou em minhas mãos, ela girou as palmas das mãos para
cima. Quando ela empurrou os braços para frente, meu aperto em sua camisa
expôs a face interna do seu braço. E, pela primeira vez, eu entendi por que Sawyer
sempre se vestia com roupas de manga comprida. Lembrei-me do seu hábito de,
inconscientemente, brincar com suas mangas longas, e pensei que talvez não fosse
um hábito inconsciente depois de tudo... talvez fosse um lembrete. Um lembrete
das grossas e longas cicatrizes de sete centímetros correndo verticalmente para
baixo de cada pulso.

419
Relaxei meu domínio sobre ela e passei o polegar em cada marca
reveladora. Ela tentou se afastar, mas eu a conhecia o suficiente para não deixá-la
continuar se escondendo de mim. Lembrei de seu olhar de pânico quando a Sra.
Reynolds segurou seu pulso, e pensei que isso era algo que ela provavelmente
escondeu de todos.
Minha própria dor momentaneamente esquecida, olhei para ela, lágrima e
chuva manchando seu rosto. — O que você fez, Sawyer? — Eu sussurrei.

Ela balançou a cabeça com remorso. — Algo tão estúpido... eu mal posso

acreditar, às vezes. — Nós dois relaxamos nossas posições, até que eu segurava

seus dedos, entrelaçando-os com o meu. — Depois que o idiota do cara me usou...
eu não pude lidar. Uma noite, sentada sozinha em casa, eu decidi que já era o
suficiente... minha vida nunca mais ficaria melhor. Eu nunca amaria assim
novamente, e nada além de dor me aguardava. — Deu de ombros, enquanto seus

olhos brilhavam para os meus. — Eu não queria viver mais um dia naquela agonia,
e não conseguia ver uma saída para isso. Eu arrombei o armário de bebidas do
meu pai e o armário de remédios da minha mãe, e comecei a tomar pílulas para
dormir com doses de uísque.
Seus olhos perderam o foco e olhou através de mim, de volta ao seu
passado. Segurei seus dedos apertados enquanto ela continuava com seu pesadelo.
— Quando isso não funcionou rápido o suficiente para mim... eu encontrei uma
faca em uma caixa na garagem. Sentei no chão e cortei cada braço. — Seu olhar

voltou para o meu. — Nem sequer pensei sobre isso... nem sentir isso. — Seu lábio

torceu ironicamente. — Eu me dei um trio de morte... uma das quais com certeza
me reivindicaria.
Ela piscou e balançou a cabeça, sua voz começando a vacilar. — Meus pais
chegaram em casa algum tempo após eu desmaiar, e me encontraram... sangrando
na garagem. — Ela fungou e lágrimas pesadas correram pelo seu rosto já

molhado. — Quase que não chegam a tempo. Mais alguns minutos... — ela

suspirou. — É por isso que eles não me dão muita liberdade agora, por que se
mudaram para o meio do nada. Eles têm medo que eu tente isso de novo.

420
Ela soltou uma das minhas mãos e afastou as lágrimas e chuva da minha
bochecha, misturando-as em minha pele enquanto me acariciava levemente. —
Mas eu nunca, nunca tentei isso de novo. Porque eu vejo agora... que as
coisas não melhoram. — Ela se aproximou de mim para que nossos corpos se
tocassem. Vagamente percebi que a chuva começava a diminuir, apenas algumas
gotas espirravam nas bochechas e cabelos negros quando ela carinhosamente
olhou para mim. — Eu vejo por sua causa, Lucas... porque me apaixonei por você.
Ela se inclinou e roçou os lábios contra os meus. Senti uma tristeza
esmagadora entrar em mim quando seus lábios tocaram os meus. Tristeza por
talvez eu não poder continuar com isso... tristeza por talvez ter que suportar essa
tristeza ininterruptamente. Eu não podia. Não poderia imaginar outro dia me
sentindo assim. Um soluço me escapou enquanto as nossas bocas se moviam
juntas.
— Eu não posso... não posso... — eu murmurei entre o nosso beijo.
As mãos dela se aproximaram do meu rosto, as cicatrizes ainda visíveis para
mim na minha aguada visão periférica. — Você pode... vou te ajudar. Eu te amo.
Eu vi uma mancha de sol iluminar o topo do carro velho da minha mãe
atrás dela, e sabia que a tempestade passava, se movendo para outro local. Pânico
se apossou de mim; parecia que minha janela de oportunidade se fechava. Como
se eu não fizesse isso agora, quando as condições eram semelhantes à daquela
noite, então eu nunca seria capaz de fazê-lo...
Balancei a cabeça e dei um passo atrás dela. A chuva em torno de mim
mudava para um banho suave. Eu corria contra o tempo. Minha respiração
começou a vir em acentuadas puxadas – eu precisava fazer isso. — Eu sinto

muito... não sou tão forte como você, Sawyer. — Recuei mais longe e sua mão
serpenteou para pegar minha camisa molhada agarrada ao meu corpo
tremendo. Ela agarrou e puxou, tentando me manter perto dela, os olhos
arregalados.
— Você é! Você é mais forte do que você pensa. — Ela balançou a cabeça,
com os cabelos aderindo ao pescoço. Uma mancha de luz solar brilhante bateu, e
por um momento, ela realmente se parecia com o anjo que ela era. Sentiria tanta
falta dela.
421
— Você é maravilhoso, Lucas. — Sua outra mão subiu para agarrar a
minha camisa, me puxando para ela. — Você é quente, engraçado e amoroso. Você
pertence aqui... comigo.
Minha voz saiu em um soluço enquanto tentava remover os dedos das
minhas roupas. — Eu não deveria estar aqui... — eu removi com sucesso suas
mãos e apertei-as na minha, querendo que ela entendesse que eu precisava fazer
isso, e precisava fazer isso sozinho. — Por favor... saia, Sawyer. Você não deveria
ter que ver isso.
Soltando as mãos, eu me virei para correr de volta para o Camaro. Teria
que encontrar outra maneira ao redor dela se ela não se mover. A chuva parava,
eu precisava me apressar. Mas Sawyer não me deixaria ir sem uma luta. Quando
me virei, ela lançou os braços em volta da minha cintura, me restringindo
fisicamente com tudo dentro de seu pequeno corpo. Torci em seus braços, lutando
para me libertar. — Pare, Sawyer, me deixe ir!

Ela chorou nas minhas costas, sua voz quase abafada com a nossa luta. —
Não, eu nunca deixarei ir, Luc!
Lutamos juntos, mas eu era mais forte que ela. Finalmente nos puxei para
o meio da estrada. Comecei a entrar em pânico à medida que ficamos mais expostos
a estrada aberta. Serviria meu propósito se um carro voasse ao redor da curva e
me acertasse, mas eu não queria ver Sawyer se machucando. Pânico me deu a
vantagem extra que eu precisava para romper com o aperto cheio de adrenalina de
Sawyer. Eu finalmente a tirei de mim e dei-lhe um empurrão, apenas com a
intenção de atrasá-la e me dar o tempo que eu precisava para voltar para o carro.
Enquanto corria, assisti-a cair duramente no chão. As mãos ampararam
sua queda, mas ainda assim parecia que tinha ferido, e por um segundo, eu debati
sobre virar e ajudá-la. Mas senti a luz solar no meu rosto e não gotas de chuva, e
fui em direção ao carro ainda ligado. Eu não tinha tempo para ajudá-la.
Quando abri a porta, ouvi atrás de mim — Você não me ama?
Ela gritou e o som de sua pergunta ecoou por todo meu corpo. Fechei os
olhos e respirei fundo. Virando, eu abri meus olhos para vê-la de pé no meio da
estrada, com os braços estendidos. Seu rosto tinha mais medo, raiva e amor do
que já vi em alguém.

422
— Sim — eu disse, simplesmente.
Suas mãos se apertaram em punhos enquanto olhava do outro da estrada
para mim. Olhei rapidamente para a estrada, rezando para ela se mover antes que
se machucasse. Aparentemente em sincronia novamente, suas palavras ecoaram
meus pensamentos. — Você disse que nunca me machucaria. — Ela apontou para

o barranco no qual eu estava louco para ir novamente. — Isso me machucará,


Lucas!
Caí enquanto a assistia. Esse seria o meu único arrependimento, e ela sabia
disso. Ela cavava o dedo na ferida e isso fez desta uma decisão quase difícil para
mim. Eu sentiria falta dela, e não tinha vontade de machucá-la. Contudo, não
podia ver uma maneira de contornar isso... e era tarde demais para parar.
— Por favor, perdoe-me... — eu implorei.
Ela caminhou até onde eu estava de pé próximo a porta aberta. Uma parte
de mim relaxou que ela agora estava segura, uma parte de mim se preocupou que
desde que ela conseguiu me fazer pausar, ela agora conseguiria me fazer parar, e
então eu falharia. Eu não queria falhar. Não podia mais viver assim... eu não
queria.
Ela deu um passo até a mim, pressionando seu corpo molhado, tremendo
no meu. — Não, eu não te perdoo. Eu nunca vou te perdoar por isso.
Meu rosto caiu quando ela confirmou que o meu maior arrependimento era
uma promessa. — Mas... mas você entende. — Minha mão estendeu a mão para
o pulso dela, levantando.
Ela entendeu a referência e balançou a cabeça, levantando seu outro punho
para nivelar com o primeiro. — Foram erros que eu de alguma forma consegui

sobreviver. — Ela balançou a cabeça de novo e, em seguida, agarrou meu rosto. —


Não cometa o meu erro.
Confusão me inundou, quando o som de gotas de água encheu meus
ouvidos; água pingando de folhas e galhos, e não do céu. A tempestade parou. O
som era uma reminiscência daquela noite, da água pingando no carro. Eu tremi, e
não por causa do frio.

423
— Erro? — Eu sussurrei, sem entender a simples palavra. O único erro
que eu vi foi a minha vida ser permitida a continuar. Era para eu morrer. Era
predestinado, e você não mexe com o destino.
Meus olhos se afastaram para o barranco e ela trouxe a minha atenção de
volta para ela. — Sim, Luc... erro. Você estava destinado a viver. Você foi salvo. —

Ela balançou a cabeça, seu rosto suave com compaixão. — Você foi poupado...
assim como eu.
Eu balançava a cabeça, lágrimas frescas caindo, mas ela continuou antes
que eu pudesse protestar. — Você preferia que eu estivesse morta, Lucas? Que eu

não sobrevivesse? — Balancei a cabeça violentamente e a puxei para perto de


mim. Não, eu não podia imaginar esse destino. Ela exalou em meu ombro
encharcado, os braços ao redor do meu pescoço. — É o mesmo que eu sinto por

você. — Sua mão segurando meu cabelo liso e ela se afastou para olhar para mim

atentamente. — Você é meu milagre. Não tome isso de mim.


Senti algo em mim rachar e eu queria protestar, mas as palavras
falharam. Parecia que a janela foi totalmente fechada, fechou-se, para nunca mais
ser reaberta. Eu perdi minha chance. Desespero penetrou naquelas rachaduras e
um soluço suave me escapou. Sawyer carinhosamente acariciou minha bochecha.
— Eu amo você, Lucas. De coração e alma, eu te amo. Não posso imaginar um
mundo sem você nele. Por favor... fique.
Eu ainda não podia responder; soluços roubavam minhas palavras. A dor
que eu sentia dentro de mim brotou a um ponto tão doloroso que eu pensei que eu
poderia rachar. Eu nunca veria Lil novamente. Nunca veria qualquer um deles
novamente. Como falhei no meu intento, comecei a sentir o frio gélido que parara
por um tempo. Meu corpo começou a tremer com severidade conforme as roupas
molhadas colavam à minha pele molhada, criando um frio do lado de fora que
combinava com a frieza que me esvaziava por dentro.
Sawyer acariciou meus braços tremendo, ignorando como o seu próprio
corpo molhado tremia também. — Fique aqui — ela sussurrou. — Fique aqui
comigo. Nós descobriremos isso juntos.

424
Frieza e solidão tomaram conta de mim, e finalmente eu quebrei. Afundei
no assento e deitei sobre os meus joelhos, soluçando. Ela se ajoelhou comigo, as
mãos acariciando minhas costas. Ela murmurou palavras de amor e incentivo
durante a minha dor saindo em lamentos. Quando eu pude respirar através da
tortura, eu murmurei em meus joelhos.
— Eles se foram... todos eles se foram.
Ela murmurou em meu ouvido em resposta. — Eu sei, Luc. Mas eu não
vou embora. Eu estou bem aqui... e não vou a lugar algum. Nem eu nem a sua mãe
deixaremos você. — Enquanto ela falava, a senti se aproximar e desligar o
carro. Meu choro aumentou.
Era uma promessa vazia; ninguém pode dizer que nunca irá embora, não
com a vida sendo tão imprevisível quanto poderia ser. Entendia isso melhor do que
a maioria. Mas as palavras me deram o pequeno vislumbre de algo de qualquer
maneira. Algo que quase me fazia sentir que tudo ficaria bem, e lutei para segurar
isso, absorvê-lo dentro de mim para que pudesse superar a tristeza
esmagadora. Mas era uma emoção escorregadia, e não consegui agarrá-la
totalmente. Inclinei-me e continuei os meus soluços.
Ouvi palavras escapar através das minhas lágrimas, embora não tivesse
controle sobre elas. — Eles me abandonaram... Lil me abandonou...
Ouvi-me repetindo uma e outra vez de uma forma quase maníaca, e Sawyer
continuou seu tom calmante e movimentos suaves, dizendo repetidamente: — Eles
não abandonaram, Luc... eles morreram. Ninguém te deixou... eles foram tirados
de você. Há uma diferença...
— Oh Deus, Sawyer... eles realmente se foram... — o choro ganhou
seriedade nesse ponto.
Não sei quanto tempo ela confortou meu corpo em prantos, mas,
eventualmente, ao longe, ouvi uma sirene se aproximar. Não levantei meu olhar do
meu colo, enquanto a sirene ficava mais alta e mais alta. Murmurei mais palavras,
algumas coerentes, algumas não, e Sawyer me deu respostas reconfortantes em
troca, sempre assegurando-me de que ela estava aqui, e que ela não ia embora.
Suas mãos calorosas esfregavam minhas costas enquanto minha cabeça
repousava sobre meus joelhos. A sirene parou e ouvi uma porta abrir à distância,

425
mas parecia nebuloso, como se eu ouvisse através de um túnel. Pensei que eu
talvez desmaiaria de tensão, mas de alguma forma a consciência ficou comigo. E
então, através dessa névoa, ouvi uma voz chamando meu nome em
pânico. Levantei minha cabeça, não sei quem chamava por mim. Notei com tristeza
as manchas azuis do céu sem nuvens acima de mim, marcadas por apenas
algumas amostras de nuvens cinzentas da tempestade agora, e aquelas não
pareciam ter uma gota de chuva nelas. Eu falhei. Alguma minúscula parte do meu
cérebro sentiu alívio quando Sawyer me segurou.
A pessoa continuou a gritar meu nome, e o corpo de Sawyer foi empurrado
de lado para dar espaço para a minha mãe. Sawyer deu um passo para trás, seus
olhos tempestuosos nunca deixando meu rosto enquanto minha mãe se agachava
na minha frente. Ela jogou os braços ao meu redor e apertou tão forte que eu não
conseguia respirar totalmente. Eu a deixei. Culpa me encheu quando ela começou
a soluçar. A culpa aumentou dez vezes quando ela começou a soluçar desculpas.
— Eu sinto muito, Luc. Eu sinto muito, eu menti. — Uma figura saiu atrás
dela, colocando uma mão em seu ombro.
Olhei da minha mãe para o xerife de pé perto de Sawyer na porta do carro
aberta. Seu rosto estava solene, os olhos de aço lacrimejantes. Ele piscou algumas
vezes e balançou a cabeça. — Eu também sinto muito, Luc. Desviamos ter contado
para você.
Abaixei minha cabeça e fechei os olhos. Eu não queria ver sua dor. Era
muito mais fácil imaginá-la anos depois do fato, quando já tivesse superado. Mas
minha ausência seria tão dolorosa para eles como a morte de meus amigos era
para mim. Talvez pior, pois eles teriam a culpa adicionada ao sentir como se eles
tivessem me empurrado sobre a borda... o que não fizeram, não especificamente,
de qualquer maneira. Foram vários pequenos eventos que fizeram isso parecer ser
a única saída. Enquanto eu mudava meu foco entre a minha mãe, o xerife e Sawyer,
clareza me encheu de novo, uma clareza menos dramática do que antes, mas não
menos profunda. Eu não queria machucar as pessoas que me amavam. Não queria
que sentissem a dor que eu sentia. Não queria que se sentissem responsáveis pela
minha morte, da maneira que eu sentia responsável por meus amigos.
Eu não queria... morrer.

426
Pendurei meus braços ao redor da minha mãe e segurei-a para
mim. Enquanto ela chorava, meus olhos se encontraram com Sawyer. — Sinto

muito — eu disse baixinho, falando para as duas.


Ambas balançaram a cabeça, minha mãe à beira de um colapso emocional
em meus braços. Finalmente o xerife Whitney a puxou de volta. Ela virou e o
abraçou de uma forma que eu nunca a vi abraçar ninguém. Olhei para eles um
momento, ao óbvio amor entre eles, e pensei que talvez minha mãe tivesse razão.
Talvez eu era muito jovem para entender a sua situação. Respirei fundo, liberando
lentamente. Bem, talvez eu fosse jovem demais para entender completamente, mas
não era muito jovem para unicamente condenar no princípio. Quem era eu para
julgar onde duas pessoas encontram o amor?
Um soluço escapou de mim e os meus pensamentos se voltaram para o meu
amor... Lillian. Sawyer retomou sua posição de cócoras na minha frente, com as
mãos molhadas, esfregando minhas pernas trêmulas. Ela olhou para o meu rosto
com olhos preocupados. — Lucas?
Um soluço eclodiu quando uma onda de culpa e tristeza tomou conta de
mim. Eu poderia ter sido capaz de deter o desejo de acabar com a minha vida – e
inclusive isso meio que ainda oscilava de um lado para o outro – mas o desejo de
viver não estava exatamente me trazendo sentimentos alegres. Não, eu não era
oprimido por alguma súbita necessidade de aproveitar o dia e aproveitar ao máximo
cada momento. Eu ainda estava esmagado – devastado e me sentindo sozinho. Eu
ainda me odiava... e o que eu fiz.
— Eu os matei, Sawyer... todos eles.
Lágrimas caíram dos meus olhos e ela segurou meu rosto. — Não... foi um

acidente, Luc. Deixe-os ir, querido. — Ela corou um pouco após dizer isso, e eu
sorri por um microssegundo antes da tristeza tomar conta de mim, me esmagando.
Eu sabia que se fosse sobreviver a este dia... eu precisaria de ajuda. Deslizei
para a frente um pouco e coloquei a mão no meu bolso de trás. Encontrando minha
carteira, eu peguei e dei para a minha mãe. Ela pegou com uma expressão ansiosa,
querendo me ajudar de qualquer maneira possível. Ela levantou uma sobrancelha
e no meio das lágrimas eu disse para ligar para Beth. Ela olhou para Sawyer,

427
confusa, e Sawyer, sua mente em sintonia com a minha novamente, felizmente
explicou por mim.
— Sua conselheira... Sra. Ryans. Seu cartão deve estar em algum lugar.
Minha mãe concordou e imediatamente pegou o telefone celular enquanto
o xerife Whitney observava a estrada, sempre ciente do perigo potencial de tantos
carros parados à direita da estrada em uma curva fechada. Ouvi a voz animada da
minha mãe, falando rápido e emocionalmente com alguém do outro lado do
telefone. Eu sintonizei e foquei em Sawyer, foquei na minha paz. Tentei fazer com
que o conforto que eu costumava sentir com ela retornasse para mim. Era mais
difícil agora; eu tinha muito mais lembranças dolorosas ligadas a ela que
antes. Mas vendo aqueles olhos pálidos olhando para mim sem pestanejar,
observando a bela forma de seus lábios, o arco de suas sobrancelhas, o local onde
sabia que minha covinha escondida estava enterrada, finalmente, encontrei um
pequeno nível de conforto. Sabendo que isso era provavelmente tudo o que eu teria
hoje, eu me encharquei.
— Obrigado — eu sussurrei, minha voz tão rouca que era quase cômica.
Ela não riu, entretanto. Em vez disso, lágrimas escorreram de seus olhos. —
Você é bem-vindo... nunca tente isso de novo.
Um pequeno sorriso surgiu em meus lábios e assenti. Exaustão me
ultrapassou e abaixei minha cabeça para a dela. Ela correu os dedos pelo meu
cabelo em um padrão repetitivo, calmante e esperamos. Esperei me sentir bem o
suficiente para viver.
A dormência se estabeleceu dentro de mim e eu estava vagamente
consciente de vozes falando sobre mim em segundo plano. Olhei sem realmente
ver, a minha cabeça um quadro em branco pela primeira vez. Tomei consciência
de ser retirado do carro e colocado no banco do passageiro, embora não tivesse
ideia de quem realmente me mudou de lugar. Então, o carro começou a andar e eu
deixava este lugar amaldiçoado. Eu ia para casa.
Uma mão veio agarrar a minha e eu a apertava, sem saber quem era. A voz
suave e reconfortante encheu o carro e peguei apenas o tom suave, feminino, não
as palavras. Dentro de instantes, parávamos na minha garagem, onde um carro
estranho já estava estacionado na rua, esperando por nós. O wagon da minha mãe

428
parou ao nosso lado, e olhei para o seu rosto cansado me olhando através da
janela. Ela saiu do carro e abriu a minha porta, me ajudando.
Eu a olhava fixamente enquanto ela pegava minha mão e me ajudava a ficar
de pé. Ela estava mais seca do que eu, mas parecia tão desgastada; seus olhos
estavam vermelhos e seu rosto estava um pálido doentio. O xerife veio para ajudá-
la, depois de dirigir até a nossa casa, e os dois desajeitadamente me levaram para
dentro. Eles me acompanharam até o sofá e me sentei nele. Eu meio que me senti
como uma boneca de pano, uma concha vazia que as pessoas poderiam
movimentar e vestir para parecer humano, mas eu não tinha certeza se era isso
que eu era mais.
Ouvi a voz de Sawyer entrar na casa e instintivamente me virei para olhá-
la. Ela caminhava pela porta com a Sra. Ryans... Beth. Ela animadamente disse
alguma coisa para ela. Beth assentiu e me olhou com a sobrancelha franzida. Na
minha neblina dormente, eu não conseguia entender as palavras, mas posso
imaginá-las muito bem. Sawyer repetia os eventos que aconteceram na rodovia. Eu
não me importava. Não ligo para o que Sawyer disse a ela. Não tinha mais nenhum
segredo.
Mamãe ansiosamente levantou e foi até Beth, agarrando-lhe as mãos e
fazendo um barulho suplicante. Eu não podia dizer o que ela dizia, ambas, mas
percebi que ela implorava a profissional para salvar seu filho machucado. Se eu
pudesse sentir todas as emoções no momento, eu provavelmente me sentiria muito
culpado por isso.
Beth assentiu e tentou remover as mãos do aperto de mamãe, mas mamãe
a segurava com força, como se ela fosse sua tábua de salvação ou algo assim.
Eventualmente, o xerife se aproximou e a afastou, puxando-a para a
cozinha. Sawyer me olhou no sofá e parecia dividida, se devia ou não se juntar a
mim. Observei-a com curiosidade, sem saber o que eu queria, desde que não
deixava nada entrar plenamente na minha consciência. Beth trouxe uma mão em
seu ombro e disse alguma coisa para ela. Sawyer acenou para ela e, então, se virou
para esperar na cozinha, dando-me um olhar solidário antes de sair.
Beth se aproximou e sentou em uma cadeira ao lado do sofá. Ela não disse
nada, apenas sorriu para mim. Estupidamente sorri de volta, assim como a boneca
mais uma vez, imitando a vida, mas não é realmente o que significa isso. Ela inalou

429
um grande fôlego e soltou o ar lentamente. Eu fiz o mesmo. — Lucas... — ela disse

suavemente. Balancei a cabeça e esperei. — Como você está?


Olhei para baixo, dormência ainda era o sentimento predominante no meu
corpo. Sabendo que nada me machucaria agora, eu olhei para ela e fui mais
honesto do que eu costumava fazer. — Eu tentei me matar hoje.
Ela me deu um sorriso simpático e acenou com a cabeça. O orgulho em seu
rosto por admitir algo extremamente doloroso, livremente, era evidente. — Eu sei,

Lucas — ela sussurrou. — Estou tão feliz que você ligou para mim.
Exalei e parecia o meu primeiro exalar verdadeiro em meses. Senti pedaços
de mim reenergizar com a exalação. Reiniciando, como se eu tivesse reiniciado a
mim mesmo, e o computador dentro de mim foi reprogramado. Esperava que todo
o bug que estava no meu sistema fosse apagado com este reinício.
No resto da manhã, eu falei. Beth ocasionalmente me fez perguntas, mas,
principalmente, era apenas eu falando. Contei tudo. Não escondi nada, nem um
pouco de escuridão, sem limite da insanidade, nem o ódio por mim mesmo –
nada. Quando minhas emoções voltaram à vida... doeu, e tive vários ataques de
pânico que Beth calmamente me ajudou a respirar completamente. Então eu
entrava em crises de choro e ela esfregava meu braço e me dizia para continuar.
Eventualmente, porém, disse tudo o que engarrafara desde o acidente.
Em algum momento, me deitei no sofá e joguei o braço sobre os
olhos. Ocasionalmente ouvi pessoas falando baixinho na cozinha, ou objetos se
movendo ao redor, e eu sabia que cada pessoa poderia ouvir o que eu dizia. Ainda
assim não parei, apesar de tudo. Falei da festa que fui naquela noite. Falei de
Darren e Sammy, a nossa amizade e seu vínculo eterno um com o outro. Falei do
acidente e meu horror a respeito dele. E falei de Lillian.
Era mais doloroso falar dela, mas eu falei. Falei de todos os aspectos do
nosso relacionamento. Quão íntimo foi em vida, mas como nunca demos o último
salto, admitindo o nosso amor em voz alta, e como nunca compartilhamos
fisicamente o amor um com o outro. Admiti ainda os detalhes mais íntimos de como
quase fizemos as duas coisas em meus sonhos. Entrei em uma quantidade
embaraçosa de detalhes sobre o quão perto chegamos a quase consumar nosso
relacionamento. Tenho certeza que corei algumas vezes, mas Beth apenas acenou

430
com a cabeça e me incentivou a continuar, e eu fiz, porque eu precisava falar sobre
isso com alguém... vivo.
Horas mais tarde, quando as minhas palavras acabaram, fiquei no sofá,
enquanto Beth foi falar com a minha mãe por um momento. Acenei com a cabeça
para ela, exausto demais para falar mais, mas consegui agradecer antes que ela
saísse da sala. Eu fui drenado nesses dois dias excessivamente emocionais. Ou
seria apenas um dia desde o baile? Pareciam anos.
Senti-me em carne viva, por dentro e por fora, mas um pequeno sorriso
estava no meu rosto enquanto olhava para o teto. Ainda sentia uma tristeza horrível
e uma grande dor – que não desaparecerá magicamente ou algo assim – mas eu
me sentia mais leve. E, pela primeira vez em muito tempo, talvez pela primeira vez
desde o acidente, senti algo mexendo dentro de mim que quase se assemelhava...
a esperança.
Sawyer saiu e sentou na beira do sofá, enquanto os adultos conversavam
sobre mim na cozinha. Agarrei a mão dela, e pestanejando olhei-a. Eu podia sentir
a necessidade de sono me enchendo e ela parecia ver isso em mim, também. Ela
se abaixou e tirou um pouco de cabelo da minha testa antes de me beijar. Seus
cachos negros varreram meu peito, e o aroma familiar reconfortante de limão,
tomou conta de mim quando ela me deu um abraço rápido.
Inclinando, ela sussurrou em meu ouvido: — Vá dormir um pouco,
Lucas. Eu te amo.
Senti um amor encher o meu peito construído de dor, e pendurei meus
braços ao redor dela, puxando-a com força para mim. — Fique comigo — eu
apenas guinchei, minha garganta áspera de falar e chorar. Ela assentiu com a
cabeça, e trouxe as pernas para cima do sofá, envolvendo seus braços em volta de
mim. Apesar de nossas roupas estarem ainda um pouco úmidas ela me abraçava
em seu calor e no seu amor. Fechei os olhos, sentindo o sono se aproximando
rapidamente.
Antes que completamente me entregasse a ele, eu virei para me enterrar
ainda mais em seu abraço, me abrigando. Minha cabeça caiu na curva de seu
pescoço, e beijei sua pele quente. — Eu também te amo — eu sussurrei, antes de
desmaiar de exaustão.

431
Não tive sonhos naquele dia e fiquei aliviado por isso.

432
Capítulo 22
Quão diferente o mundo pode parecer

Sawyer não deixou meu lado durante muito tempo. Ou eu estava em sua
casa, em seu quarto, no andar de baixo, ou ela estava pendurada comigo na minha
casa. Levou um pouco de esforço para ter esse tipo de folga para ela; seus pais
ficaram furiosos quando acordaram na manhã da minha tentativa e descobriu que
ela se foi. Isso fez minha mãe ir até lá (nada menos com Xerife Whitney) para
convencê-los de que Sawyer salvara minha vida e não devia ser punida por isso. É
claro que nenhum de nós mencionou que eu passara a noite anterior na cama com
ela. Clemência não ia tão longe, afinal.
Após essa revelação, os pais dela encorajaram muito mais nosso
relacionamento. Eles me deram mais atenção quando me aproximei, e tentei me
envolver em troca. Às vezes parecia forçado, como quando estávamos todos
sentados no jantar e eles começavam a discutir o que Sawyer fez para mim. Eu
poderia dizer que eles estavam orgulhosos dela, e embora fossem respeitosos

433
comigo, evitando qualquer um dos motivos reais pelos quais eu fiz a tentativa, uma
bola de gelo atava meu estômago. Só a mão de Sawyer na minha pele fazia derreter.
O tempo livre que passamos a sós foi gasto falando normalmente. Uma vez
que ela e Beth finalmente conseguiram me abrir, eu não conseguia calar. Passei
sobre todos os aspectos do acidente com Sawyer. Ela sempre me garantiu que foi
apenas um acidente horrível que poderia acontecer com qualquer um. Eu também
falei sobre cada sonho com ela – cada pesadelo e cada fantasia. Eu queria pular
aqueles com Lil, mas com uma mão quente nas minhas costas, Sawyer me
incentivou a não deixá-la de fora, desde que ela era tão vastamente importante
para mim. Então, eu não deixei. Passei sobre cada intimidade e todos os desejos
que eu já tive. As bochechas de Sawyer coraram e ela estudou as mãos... mas
ouviu.
Surpreendentemente, isso ajudou. Não sei por que. Não sei por que o
simples ato de compartilhar a sua carga com outra pessoa torna mais leve, mas eu
certamente me senti assim. Perdi completamente o desejo que eu tinha de dirigir
até a curva... ou mesmo de vê-la de novo, na verdade. Isso não quer dizer que tudo
na minha vida ficou imediatamente perfeito, mas já não sentia a necessidade de
corrigir o erro, como tão ingenuamente coloquei.
Eu me arrepiei quando pensei sobre o que eu quase fiz, o que eu teria feito
se Sawyer não tivesse me parado. Eu tinha tanta certeza. Estava absolutamente
certo que o que estava prestes a fazer era o caminho correto para mim. Não tinha
reservas sobre acabar com a minha vida, e o conhecimento me deu calafrios. O fato
de que Sawyer sabia, e passou por uma decisão tão arrepiante quanto a minha,
nós ligou de uma maneira que ultrapassou o período relativamente curto de tempo
que nos conhecíamos. Era como se as nossas tragédias compartilhadas
rapidamente nos encaminhara em um relacionamento que parecia ser para a vida
toda. Ela era minha melhor amiga. Ninguém me entendia como ela e provavelmente
ninguém mais o faria. E quando nossas conversas começaram a terminar com
beijos apaixonados, comecei a entender que ela seria minha amiga e minha
amante. Ela seria a minha primeira... eu tinha certeza disso.
Quando meu tempo de cura e de paz com Sawyer acabou e o Ano Novo
chegou, nós voltamos para a escola. Eu estava nervoso no primeiro dia. Eu deixara
uma bagunça para trás na noite do baile, e não fazia ideia do que esperar das

434
pessoas. Mas Sawyer apertou minha mão, e jurou nunca mais sair do meu lado,
mesmo quando tivemos que nos separar.
A primeira pessoa que vimos foi Randy. Ele estava do lado de fora do edifício
principal, chutando a grama que surgia através de uma rachadura. Deixei escapar
um longo suspiro quando o vi, mas em seguida, me endireitei e me fiz aproximar
dele. Eu sofrera mais ultimamente; eu poderia lidar com isso.
Ele olhou para cima quando nos sentiu de pé na frente dele. Seus olhos se
arregalaram quando encontraram os meus, e percebi que passou um longo tempo
desde que eu tinha de bom grado o olhado diretamente nos olhos. Na verdade, esta
pode ser a primeira vez em todo o ano que eu propositadamente encontrei o olhar
de alguém. Ele começou a falar imediatamente.
— Ei, Luc, eu sinto muito sobre... a coisa em Astronomia... — sua voz
sumiu e me obriguei a não estremecer. A coisa, que ele se referia de modo tão
simples me fez parecer um idiota e ser temporariamente expulso da escola.
Decidindo que nada disso importava, eu apertei a mão de Sawyer e deixei
um sorriso suave alcançar meus lábios. — Está tudo bem, Randy. Entendo que

você não sabia o que realmente fazia comigo... e te perdoo. — Coloquei a mão em
seu ombro e me afastei.
Exalei uma respiração rápida quando entrei no edifício principal. Olhando
para trás, vi Randy me olhando através da porta. Ele ainda parecia realmente
culpado, mas tinha um leve sorriso nos lábios. Ele acenou para mim através da
porta e virei minha atenção para Sawyer, que sorria radiante para mim.
— Você fez muito bem. — Ela apoiou o queixo no meu ombro enquanto
olhava para mim. Eu sorri e me inclinei para ela, descansando minha cabeça
contra a dela.
— Por sua causa — eu sussurrei.
Ela franziu a testa e balançou a cabeça, não querendo levar o crédito por
eu me abrir. Sorri e cortei sua objeção. — Eu não estaria aqui se não fosse por
você, então eu te darei todo o crédito hoje.
Ela suspirou e revirou os olhos, e me inclinei mais para pressionar meus
lábios nos dela. Seus dedos estenderam para escovar minha bochecha enquanto
nossos lábios se moviam suavemente, mas intensamente juntos. Podia sentir os

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olhares dos alunos na sala, mas os empurrei para fora da minha mente. Sawyer
era minha, e pela primeira vez, eu queria que todos soubessem disso. Eu não
esconderia nada dela novamente.
Nossa sessão de amassos foi abruptamente interrompida por uma mão no
meu ombro. Eu desviei meu olhar dela para olhar ao treinador. Eu me encolhi,
lembrando da última vez que o vi. — Vão para a aula, pombinhos — ele
bruscamente latiu para nós.
Sawyer empalideceu em seu tom, mas eu estava acostumado ao seu
comportamento rude. Olhando para os meus pés por um segundo antes de decidir
segurar seu olhar de aço, eu disse tão estoicamente quanto pude, — Treinador...

estou em apuros? — Eu bati em outro estudante, afinal de contas, e merecendo


ou não, deveria haver algum tipo de punição para isso.
O lábio do treinador enrolara ironicamente. — Por beijar? Não, acho que

deixarei isso passar. — Ele apontou um dedo no meu peito. — Só desta vez,
entretanto.
Sawyer riu nervosamente enquanto eu lentamente disse: — Não... por bater
em Josh no baile.
O treinador me deu um olhar aguçado e cruzou os braços sobre o peito. —

Não sei do que você está falando, Luc. — Eu gaguejei e abri e fechei a boca algumas

vezes. O treinador olhou para cima e para baixo no corredor. — É como eu disse a

diretora, a luta acabou no momento em que cheguei lá. — Os olhos dele voltaram

para os meus. — Não vi ou ouvi nada... então como vou saber quem levou um
soco?
Um fluxo de incrédulos ruídos estúpidos saiu da minha boca. Ele não ouviu
nada? Eu estava cem por cento certo que esse não era o caso. Mas, então, o
treinador era justo, embora duro. Ele provavelmente ouviu Josh verbalmente me
levar direto para essa luta. Quem sabe, talvez ele sentia que Josh teve o que
mereceu. Eu tive.
O treinador colocou a mão no meu ombro, seu rosto brilhando. — Bem,
nós sempre podemos conversar sobre isso mais tarde... quando você aparecer para
a prática de beisebol dentro de algumas semanas. — Ele bateu no meu ombro e

436
piscou para mim. Ao observá-lo ir embora, eu tinha certeza que estaria no time de
beisebol nesta primavera.
Enquanto Sawyer e eu subimos as escadas para a aula, eu prestei atenção
às pessoas que nos rodeiavam. Uma das coisas que Sawyer e eu falamos
longamente durante as férias foi o meu hábito de desligar, de ajustar o mundo ao
meu redor. Ela entendeu completamente o desejo, dizendo que fez a mesma coisa
em sua escola, mas entortava a minha percepção das pessoas. Eu não poderia
mudar o passado, e não podia mudar o que certas pessoas acreditavam, mas
quando abri meus olhos e olhei em volta, vi que mais pessoas realmente olhavam
para mim com preocupação e curiosidade do que raiva pura e simples. Foi uma
experiência de abrir os olhos para mim.
Obriguei-me a dar sorrisos apertados e pequenos acenos para as pessoas
que eu conhecia muito bem. Mais frequentemente do que não, eu recebi um sorriso
e aceno de volta. Ainda havia rumores e fofocas rodando enquanto eu caminhava
pelo corredor, mas o que notei foi que agora a conversa não parava sempre que eu
passava. Como eu prestava mais atenção, pude ouvir que um monte de pessoas
conversava... e não tinha nada a ver comigo. Corei um pouco com quão egoísta eu
poderia ser. Mas quando você se sente horrível sobre si mesmo, parece que o
mundo inteiro vira as costas para você, sussurrando sobre você... condenando
você. Mas quantas vezes esso é realmente o caso? Provavelmente não tão
frequentemente como eu acreditava. Ao estudar as pessoas nos corredores,
comecei a entender a verdade mais e mais. Principalmente, eu vi pessoas falando
sobre suas próprias vidas, envoltas em seus próprios dramas. A maioria só me
registrou com um olhar superficial.
Isso não quer dizer que todo mundo falava sobre suas próprias
vidas. Algumas cabeças dobraram juntas em sussurros ásperos que paravam e se
viravam com olhares arregalados quando eu passava. Até peguei algumas palavras
em referência à minha revelação – que me lembrei do acidente, e a minha versão
dos acontecimentos, muito diferente de todas as fofocas. Fiquei ao mesmo tempo
aliviado e triste por saber que a verdade circulava em meio às mentiras. Esperava
que a maré começasse a mudar agora.
Quando entramos na sala de aula, notei os vários pares de olhos curiosos
e atenciosos. Aqueles olhos pegaram minha mão segurando a de Sawyer e notei

437
alguns sorrisos entre os rostos. Obriguei-me a encontrar todos os olhos e sorrir de
volta. Isso surpreendeu muito poucos deles e comecei a me perguntar o quanto
me fechei recentemente.
Reynolds nos deu uma calorosa saudação, sua mão tocando o ombro de
Sawyer, os olhos estudando os meus. Eu dei um sorriso genuíno e um aceno
amigável. A prima distante de Sawyer sempre foi gentil comigo e eu não me esqueci
disso. Ela falou com a gente por um momento antes da aula, perguntando como
foram as férias de Sawyer e como eu estava. Eu não tinha certeza o que ela sabia,
mas sendo da família, eu pensei que ela provavelmente sabia muito sobre o que
realmente aconteceu comigo após sairmos do baile. Eu disse que estava melhor, e
ela me deu um sorriso como resposta.
Sawyer e eu fizemos o nosso caminho para os nossos lugares, nos
separando para descer nossos corredores separados. Parei na mesa de Will quando
notei seu pé deslizando para me fazer tropeçar. Interiormente, sorri – algumas
coisas nunca mudam. Virei para enfrentá-lo e ele sentou-se reto, desafio nos seus
olhos. Deixei minha alegria interior mostrar em meu rosto. Eu lidei com coisas
muito piores do que tropeçar, parecia bobo e infantil para mim agora. Uma leve
risada me escapando, eu apontei para o seu pé.
— Você se importa se eu não tropeçar mais? É meio que estúpido... você
não acha?
Um par de alunos sentados perto dele riu, inclusive Randy. Will corou e
olhou ao redor, retraindo seu pé. — Que seja, Lucas — ele rosnou. Sentindo-me
magnânimo, eu bati em seu ombro enquanto passava. Ele pareceu assustado com
isso e virou para me ver caminhar até Sawyer.
Ela novamente sorriu para mim quando me sentei. — Eu te amo — ela
murmurou.
— Eu também te amo — eu disse, alto o suficiente para os que me rodeiam
ouvissem claramente. Seus olhos olharam ao redor e seu rosto se encheu de uma
cor rosada. Era lindo nela. — Venha aqui. — Inclinei-me, tocando meus lábios nos
dela, e ela sorriu e inclinou-se também. Nossas bocas se encontraram no meio do
corredor e compartilhamos um breve beijo no meio da aula.

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Sawyer, Randy, Will e eu, fomos chamados ao escritório da diretora na
metade do primeiro período. Isso realmente causou mais alvoroço entre os
estudantes do que Sawyer e eu nos beijando. Eu encontrei os olhos de alguns
rostos enquanto saía e fiquei um pouco surpreso com a simpatia que vi lá. Fomos
levados para a sala da diretora, um por um e contei nossa versão da luta. Enquanto
eu esperava que a escola apenas deixasse passar, parecia que não iriam. Apenas
não tinham certeza do que aconteceu. Como eu fui o último do nosso grupo a
entrar, eu comecei a entender por que eles estavam tão confusos.
Enquanto me sentava na cadeira de costas reta, escutei a severa mulher
mais velha diante de mim me dar detalhes conflitantes. Como se verificou, havia
muita discussão sobre quem realmente deu o soco. Metade das testemunhas
afirmou que Josh fez isso, enquanto a outra metade afirmava que ele foi
atingido. Sawyer presa ao meu lado, disse que Josh era um valentão e me
encurralou. Will colado em Josh, dizendo que surtei e fui para cima dele, e Randy
disse que perdeu o primeiro tempo, mas tentou impedir Josh de me atacar. O resto
do corpo estudantil que foi entrevistado ficou dividido igualmente entre as
histórias.
Havia tantas perguntas sobre o assunto que a diretora decidiu não
suspender nenhum de nós pela luta. Ela acabou dando a Josh e eu uma semana
de detenção em vez disso, e me pediu mais aconselhamento, bem como uma rodada
de sessões para Josh. Eu pensava em continuar de qualquer maneira, mas me
deixou feliz que Josh precisava ir agora, também. Verdadeiramente isso foi o
melhor. Ele, obviamente, tinha problemas com a morte de seu irmão, e nunca seria
uma pessoa melhor se um profissional não intervisse e o ajudasse. E eu estava
certo que Beth poderia ajudá-lo. Um pequeno benefício da dissolução da nossa
amizade, eu suponho.
Josh entrou na antessala quando eu saía. Sawyer, que ficou esperando por
mim depois de sua reunião, levantou e olhou para nós um tanto nervosa. Eu
segurei o olhar de Josh e ele segurou meu. Nenhum de nós falou e uma tensão
estranha construiu na sala de espera. Finalmente, e surpreendentemente, Josh
olhou para baixo e murmurou: — Sinto muito.
Minha boca caiu em choque, até que entendi. Enquanto o treinador me
deixou ir com apenas algumas palavras na noite do baile, ele segurou Josh e teve

439
uma conversa com ele. Sabendo muito bem quão intensa uma conversa com o
treinador poderia ser, eu percebi que Josh tinha o temor de Deus colocado nele,
muito mais do que a diretora, com uma ameaça vazia de suspensão, jamais poderia
colocar. Josh não se importaria de ter um curto período de férias do campus pela
briga, mas ser expulso da equipe no próximo ano – agora isso era o suficiente para
praticamente tê-lo lambendo os calcanhares de alguém.
Ele ainda melancolicamente olhava para o chão enquanto eu caminhava ao
seu redor até Sawyer. Peguei a mão dela e fui para a porta. Parando no meio do
batente da porta aberta, eu me virei para olhar para ele. Ele ainda olhava para o
chão, com a cabeça inclinada para baixo. Por um momento, lembrei-me do garoto
sorrindo feliz que costumava pendurar nos ombros de Darren, querendo ser como
seu irmão mais velho. Ver quão pouco dessa pessoa ficou me entristeceu.
— Eu sinto muito, Josh. Eu o amava muito.
Josh levantou a cabeça e olhou para mim, com lágrimas em seus olhos
agora. Engoli em seco ao ver, meus olhos lacrimejando. Josh só olhou para mim
um momento, depois balançou a cabeça e fez o seu caminho para a sala da
diretora. Sawyer e eu exalamos juntos, apertando as mãos um do outro e nos
preparando para o restante do nosso dia.
Ele passou mais suave do que eu imaginava. Enquanto continuava me
forçando a encontrar os olhares das pessoas e reconhecê-los com sorrisos ou
acenos, eles começaram a sentir-se mais confortáveis perto de mim. Na classe do
Sr. Varner, algumas pessoas ao meu redor se sentiram confortáveis o suficiente
para me perguntar se o que ouviram falar sobre o baile era verdade – se eu
realmente confessei que me lembrei de tudo, se realmente estava sóbrio e a chuva
realmente causara o acidente. Se formou um nó no estômago e precisei lutar contra
o impulso natural de me desligar e não dizer nada, mas com Sawyer apertando
meu joelho, eu finalmente me fiz confessar a verdade sobre os acontecimentos
daquela noite.
O Sr. Varner virou para a classe em mais algumas ocasiões, enquanto
perguntas sussurradas e consolos giravam em torno de mim, mas quando o tempo
da aula acabou, as pessoas ali olhavam para mim de forma diferente.
Foi a mesma coisa no restante das minhas aulas. A maioria das pessoas
simplesmente não tinha ideia do que acreditar, e tomaram minhas vagas negativas,

440
misturadas com o meu silêncio, como uma admissão de culpa. Geralmente bastava
apenas explicar as coisas uma vez que era questionado para as pessoas ficarem
simpáticas. E achei que quanto mais eu falava sobre isso, mais fácil
era. Eventualmente, eu nem sequer lacrimejava quando as pessoas perguntavam.
Eu me sentia muito mais confortável na escola, e com toda a honestidade,
comigo mesmo quando fui para a Astronomia. Havia algo de cura em um punhado
de colegas me dizendo que foi um acidente, e que eu não era o culpado. Havia
também algo calmante nos mesmos estudantes pedindo desculpas por pensar mal
de mim. Não compensou todas as pequenas torturas que eu sofri, mas ajudou.
Não me interpretem mal, nem todas as pessoas imediatamente gostaram de
mim de novo. Enquanto eu caminhava pelos corredores ou nas salas de aula, ainda
havia uma sacudida da cabeça com eventual raiva e olhar severo, mas nem todos
podem ser convencidos da verdade. Algumas pessoas acreditam no que querem
acreditar. Às vezes, você tem isso, só para dar sentido ao mundo. Eu entendi isso,
e não guardei isso contra qualquer um que sentiu a necessidade de me ver como o
vilão. Eu só não concordaria com eles. Esse era o meu objetivo de qualquer
maneira.
Enquanto caminhava pelas portas da Astronomia, meus olhos
automaticamente foram para Josh. Ele manteve a cabeça baixa, sem olhar para
mim. Balancei a cabeça, aceitando a verdade do nosso relacionamento, e fiz meu
caminho para o meu lugar. Não sabia se Josh finalmente acreditou em mim, mas
sabia que ele finalmente me deixaria em paz. Encontrei consolo naquilo que pude,
e, silenciosamente, desejei o bem dele enquanto o observava na classe.
Mais algumas pessoas vieram até mim depois, e me fiz falar com eles, sendo
tão aberto e honesto como pude. Um ou dois se ofereceram para me acompanhar
até a minha próxima aula e concedi, não tendo certeza se eu queria o negócio, mas
querendo me encaixar novamente com as pessoas. Eles conversaram sobre os
acontecimentos em suas vidas, e assenti e forneci alguns Estou ouvindo como
respostas. Meus pensamentos eram mais sobre Josh, porém, quando o assisti
desaparecer para sua próxima aula.
Minha mente se concentrou novamente nas coisas que poderiam me fazer
sentir bem na aula de arte. Sra. Solheim nos devolveu algumas de nossas peças
que ela finalmente avaliou durante as férias. Chamando-me de Tom, e dizendo,

441
mais uma vez, quanto talento ela achava que eu tinha, ela me devolveu o desenho
a carvão que eu fiz de Sawyer. Ela me deu um A. Sorri enquanto alisava a imagem
do papel da mulher que eu conhecia tão bem, uma mulher que me trouxe de volta
da beira do abismo. Meu dedo traçou a curva de sua bochecha no papel e de
repente eu sabia o que eu queria fazer com esta peça que significou muito para
mim.
Coloquei-a na mochila e comecei a trabalhar na próxima imagem da mulher
que eu amava.
Não muito depois, eu a vi novamente. Seu cabelo preto fluindo atrás dela
na brisa fria, seu pequeno corpo envolto na minha jaqueta esportiva. Agora eu
amava como o meu nome nas costas deixava implícita a minha reivindicação sobre
ela. Sob essa jaqueta, eu sabia que ela vestia sua camisa típica de mangas
compridas, e também sabia que a camisa fazia muito mais do que mantê-la
quente. Seu anel no polegar brilhou repentinamente com a brilhante luz solar e
seu brilho triunfante correspondeu ao olhar triunfante em seu rosto quando ela se
aproximou de mim. Eu sorri ao ver o brilho de felicidade em seus olhos, me
perguntando se eu tinha alguma coisa a ver com isso.
Ela atirou os braços em volta do meu pescoço quando finalmente me
encontrou no meio dos edifícios que abrigam as aulas de arte e coral. Ela
imediatamente se inclinou para pressionar levemente seus lábios nos
meus. Minhas mãos automaticamente enrolando em volta da cintura e nos
abraçamos como se estivéssemos separados durante todo o dia, e não apenas nas
duas últimas aulas.
— Por que parece uma eternidade desde que eu te vi? — Ela perguntou,
ecoando meus pensamentos novamente.
Eu sorri e balancei a cabeça. — Porque foi. — Ela revirou os olhos, mas
riu, um olhar de triunfo ainda no rosto. Afastei-me para examinar a expressão dela.
— Alguma coisa... acontecendo?
Ela sorriu e tirou uma das mãos do meu pescoço, mostrando-me uma nota
dobrada dentro de seus dedos. Agarrei de sua mão fria e desdobrei com uma mão,
enquanto ela me olhava com um sorriso irônico. Quando a letra familiar saltou
para mim, eu sobressaltei e encontrei seu olhar novamente.

442
— Nossa nota? Aquela que Josh sabia?
Ela assentiu com a cabeça.
— O que aconteceu com ela?
Ela deu de ombros e me abraçou apertado. — A sua ex favorita
aparentemente roubou da minha mochila. Não percebi então, mas Sally me disse
que ouviu Brittany comentando sobre isso hoje. — Ela me deu uma piscada e um

sorriso malicioso. — Então, com certeza, eu precisava pegar de voltar.

Balancei a cabeça para ela, perguntando como ela conseguiu isso. — Eu te

amo — eu murmurei, antes de abaixar meus lábios nos dela novamente. Ela riu,
mas não poderia me responder, já que eu não estava exatamente a deixando
falar. Não preciso que ela me diga, de qualquer maneira. Eu já sabia exatamente o
quanto Sawyer me amava. Ela provou isso para mim na estrada.
Seus dedos se curvaram no meu cabelo quando os meus correram até suas
costas, puxando-a mais apertado. Atrás dela, ouvi uma série de ruídos
descontentes e abri meus olhos. Eu poderia apenas ver Brittany, de pé a vários
metros de distância de nós, observando-nos beijar. Fechei os olhos novamente,
bloqueando-a para fora. Não poderia impedir os ciúmes de Brittany... e eu estava
quase certo que era o suficiente para ela. Ela nunca me mostrou nada nem perto
parecido com o amor, nem mesmo antes, quando brincávamos ao redor. Era uma
das razões por ter sido tão fácil descartar o encontro. Eu era um brinquedo para
ela, algo que ela gostava de brincar e não gostava de compartilhar, mas
definitivamente nada a impediria de me lançar no meio-fio, quando lhe
convinha. Esse tipo de jogo era algo que eu nunca tive qualquer interesse em jogar,
independentemente de quão atraente ela fosse.
Minhas mãos apertaram Sawyer, deleitando-se com alguém que realmente
se importava comigo. Quando os ruídos de Brittany finalmente desapareceram no
silêncio, eu me lembrei o que eu queria fazer no início da aula de arte. Quebrei
nosso beijo e sorri para Sawyer. Sua boca ainda separada, a respiração
ligeiramente mais pesada e os olhos ligeiramente vidrados. Era um olhar
incrivelmente atraente, um que sugeria onde o nosso relacionamento poderia
eventualmente ir, e eu engoli ao vê-lo.

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Piscando e gaguejando vagamente, palavras incoerentes, estendi minha
mão atrás de mim até a minha mochila. Ela me soltou quando entendeu o que eu
fazia. Se aproximando mais, ela ficou me olhando com curiosidade. Sorrindo, eu
encontrei a imagem que desenhara e entreguei a ela. Ela colocou a nossa nota no
bolso antes de pegar a minha foto e desdobrá-la.
Seus olhos se arregalaram quando olhou para a intrincada versão dela em
carvão que eu desenhara. Como ela estava sem palavras por tanto tempo, eu
comecei a ficar nervoso por ela não ter gostado. Talvez ela pensasse que fosse
assustador ou algo assim. Eu comecei a saltitar ansiosamente, à espera de alguma
resposta dela.
Finalmente ela levantou os olhos do papel; eles estavam aguados quando
ela olhou para mim. Ela balançou a cabeça e tentou falar, mas não
conseguiu. Quando franzi a testa, ela finalmente engoliu em seco e disse: — Você
desenhou... a mim?
Balancei a cabeça e sorri, relaxando com a admiração que ouvi na voz
dela. — Eu sempre desenhei você. Sempre — adicionei em um sussurro.
Ela olhou para o papel novamente, seu dedo traçando a mesma curva em
seu rosto que eu traçara antes. — Você me desenhou... linda — ela murmurou
baixinho, claramente surpresa por eu fazer uma coisa dessas.
Minha mão chegou até o seu queixo, levantando-o para que ela olhasse para
mim. — Você é linda.
Uma lágrima caiu de seu rosto e a escovei com o polegar. Seus olhos
lacrimejantes ligaram nos meus enquanto o vento frio continuava a soprar o cabelo
em volta dela, levantando e liberando as extremidades em uma onda contínua de
movimento. — Eu amei. Eu te amo, Lucas.
Sorri e abaixei para beijá-la novamente. No momento em que nos
separamos, estávamos atrasados para os nossos próximos compromissos.
Nós separamos em frente a porta do clube pureza. Sawyer brincando
agarrou as bordas do meu casaco, me puxando para ela para um beijo rápido. Eu
ri e transformei em um beijo mais longo. Ela suspirou e olhou para mim um pouco
sonhadora quando se afastou. Balancei minha cabeça enquanto a observava abrir
a porta e desaparecer na sala de aula lotada. Às vezes, ainda era difícil acreditar

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que alguém como ela poderia amar alguém como eu. Mas eu podia ver agora que
esse pensamento era mais impulsionado pelo ódio de mim mesmo do que qualquer
outra coisa. Antes do acidente, eu nunca questionei o fato de que alguém tão bonita
e incrível como Lillian me amava; nunca sequer me ocorreu na época que eu não
era digno dela. Não, toda a minha dúvida era por causa do acidente, e da minha
parte nele. Autodesprezo pode fazer um número em sua autoestima e eu ainda
trabalhava nisso.
Quando abri a porta com a palavra conselheiro em negrito e letras pretas,
um sorriso surgiu na minha cara. Eu trabalhava nisso, e essa era a pessoa que me
ajudaria.
Seu sorriso era amplo e radiante quando me notou caminhando por sua
porta. Seu flamejante cabelo estava solto ao seu redor, grandes cachos caindo ao
redor de seus ombros, destacando seus cristalinos olhos azuis. Aqueles olhos
brilharam para mim com afeto genuíno quando me sentei em frente a ela. Sentei-
me com um sorriso sereno no rosto e fiquei maravilhado com o quão drasticamente
a minha atitude em vir aqui mudara desde o início. Além de estar com Sawyer,
conversar com Beth era um dos pontos altos em meu dia.
— É bom ver você, Lucas — Ela disse calorosamente, seus olhos enrugando
nos cantos, mostrando uma vida de momentos felizes, dos quais eu parecia fazer
parte.
Sorri para ela, relaxando no meu lugar. — É bom ver você também, Beth.

— O sorriso dela aumentou com o meu uso informal de seu primeiro nome. Resisti
a falar com ela com qualquer tipo de familiaridade por um longo tempo, mas depois
do meu momento na estrada, eu precisava deixá-la entrar para me salvar.
Assim como fiz todos os dias desde que chamei por ela, comecei a contar a
ela o que estava em minha mente. Ela me surpreendeu durante as férias de
inverno, aparecendo na minha casa todas as manhãs. Ela definitivamente não
estava sob nenhuma obrigação de fazer isso, e isso aparentemente estava além de
qualquer coisa que um conselheiro de luto escolar deveria fazer, mas ela não
escutara minhas tentativas tímidas de dizer que não era necessário. Ela
simplesmente me disse que era, e me incitou a falar com ela.

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Eu não era tão relaxado e falava livremente, como eu estava agora, contando
a ela sobre o meu encontro com a diretora e com Josh, e repassando todo o
dia. Mesmo depois de derramar a minha alma no dia do incidente da estrada, era
uma luta me forçar a falar com ela. Depois de desligar por tanto tempo, me abrir
foi um processo gradual e doloroso. Talvez seja isso que ela quis dizer quando disse
que era necessário me ver todos os dias. Talvez ela soubesse que se não atasse
enquanto o ferro estava quente, eu começaria a me fechar novamente. Eu não
sei. Como eu disse antes, era ela com os diplomas, não eu.
Com prazer no meu rosto, eu disse a ela que dei a imagem que desenhara
de Sawyer a ela, e sua reação ao me ver retratando-a tão lindamente como a vi.
Ela sorriu com uma aresta em seu lábio enquanto girava um lápis nas
mãos. — Às vezes, não nos vemos tão claramente como os outros veem. — Olhei
para ela e balancei a cabeça, sabendo que ela não falava necessariamente de
Sawyer mais. Ela sorriu mais ao me ver concordar com sua declaração. Algum
tempo atrás, eu teria discordado dela. — Estou feliz por você vir me ver por um
pouco mais de tempo, Lucas.
Balancei a cabeça e olhei para baixo. Eu disse a ela sobre a minha punição
por brigar com Josh, o aconselhamento adicional que foi me dado, parte da nova
política da escola para tentar reabilitar os alunos em vez de apenas puni-los
abertamente. Enquanto eu considerava o quanto estar aqui me ajudou, eu acho
que talvez a escola estivesse certa. Eu comecei a ter um pouco de esperança para
Josh. Esperava que ele se abrisse para Beth mais fácil do que eu fiz.
Ela continuou enquanto eu pensava sobre isso. — Honestamente, Lucas,
eu gostaria de ter visto você mais cedo... no primeiro dia de aula, se não
imediatamente após a tragédia.
Olhei para ela de novo, relembrando esse tempo horrível. Mamãe já havia
tentado em algumas ocasiões me levar a um conselheiro, mas ela poderia muito
bem ter me prendido em um quarto vazio por todo o bem que me fez. Eu
simplesmente não estava pronto para falar com ninguém. — Não gosto de falar
sobre... coisas... a ninguém.
Ela assentiu com a cabeça, batendo o lápis sobre a mesa algumas vezes. —

Eu notei isso. — Eu ri e ela acrescentou: — Mas você está muito melhor. Você

446
percorreu um longo caminho até se abrir, Lucas. Isso é muito difícil de fazer,
especialmente a um completo estranho. Você deve estar muito orgulhoso de si
mesmo.
Sentindo-me constrangido, baixei a cabeça e dei de ombros. Eu me
perguntei se ela estava orgulhosa de mim por tentar fugir da vida, vivendo em uma
fantasia. Eu não poderia imaginar que ela diria que era saudável... ou normal. Eu
me encolhi, mas perguntei de qualquer maneira. — O que eu fiz, criar um mundo

de sonhos com meus amigos, é loucura? — Olhei para ela, encolhendo-me. — Eu


sou louco?
Ela me olhou por um momento, batendo o lápis contra os lábios antes de
responder. — Desde que você está me perguntando isso, mostra que você não é

louco. — Eu me encontrei relaxando infinitamente, e isso me surpreendeu. Não


percebi que ficara tenso esperando por sua resposta. Acho que uma parte de mim
realmente estava preocupada se ela confirmasse o que eu secretamente temia.
Ela sorriu enquanto me observava sentado na minha cadeira. — Lucas,
você já passou por algo que a maioria das pessoas não pode sequer pensar, não
quero nem imaginar. — Ela balançou a cabeça e vi os cachos vermelhos pulando
sobre os ombros. Inexpressivamente deixei suas palavras entrar na minha
cabeça. — Acho que a sua mente lidou com isso da única maneira que podia. Pode
não ter sido a opção mais saudável... mas eu diria que você vai muito bem, em
consideração.
Eu me permiti um sorriso irônico. — Considerando que eu quase tentei me

matar para me juntar aos meus amigos de sonho? — Eu estava um pouco surpreso
com o quão casualmente eu poderia falar sobre o maior, bem, o segundo maior,
acontecimento trágico da minha vida. Isso era apenas um testemunho de quão
confortável eu me tornei perto de Beth.
Ela sorriu ironicamente em troca. — Mas você não se matou, e você pediu
ajuda. Pediu a minha ajuda. Isso é muito grande, em comparação a como estava
quando caiu mal humoradamente na minha cadeira, há algumas semanas. Você
não acha?

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Suas palavras ecoaram meus pensamentos anteriores sobre o meu tempo
aqui e sorri ao ouvir as nossas mentes funcionando paralelamente. A suave risada
me escapou enquanto eu olhava para as minhas mãos no meu colo, lembrando do
meu mau humor no primeiro dia. — Talvez...

Ela suspirou baixinho e olhei para ela com o canto do meu olho. — Não
posso imaginar exatamente o que você já passou, Lucas, mas posso imaginar a sua
dor.
Levantei minha cabeça, outro sorriso irônico torcendo meus lábios. — Você

pode imaginar a dor de assassinar todos os seus amigos? — Eu me arrependi


imediatamente após dizer isso, tanto por causa de quão insensível soou, quanto
por que uma fatia de dor me atravessou ao dizê-lo. As coisas estavam melhores,
mas não era como se eu estivesse magicamente curado e a morte dos meus amigos
já não me incomodasse mais. Ela incomodava. A cura não acontece durante a
noite. É dolorosamente lenta, e a ausência dos meus amigos ainda me balançou
profundamente. Baixei a cabeça novamente.
Beth viu minha expressão mudar e colocou alguns dedos no meu
ombro. Olhei para cima e poderia dizer que havia lágrimas em meus olhos. Pisquei,
não querendo chorar hoje. — Você não os matou, Lucas. Em seu coração, você
sabe disso. Foi um acidente... um trágico acidente.
Vi seu rosto encher de simpatia por mim. Sentindo-me quente e seguro em
seu spa como um oásis, eu disse algo que nunca teria proferido apenas algumas
semanas atrás. — Não acho que foi um acidente.
Ela piscou e franziu a testa. Eu tinha certeza que ela acreditou em mim
quando eu disse que estava sóbrio, e a chuva e velocidade foram a minha ruína
naquela noite. Ela também sabia que eu estava bem consciente do que causou o
acidente, então eu quase podia ver sua mente tentando entender o que eu quis
dizer com a minha declaração. — Claro que foi, Lucas. O que mais poderia ser?

Olhei para baixo, não sendo mais capaz de encontrar seus olhos. — Foi
descuido, imprudência. Era eu pensando que éramos invencíveis e não...
suavizando, para pensar sobre quão precioso era o que eu carregava... — olhei

para ela, lágrimas em meus olhos novamente. — Eu fui estúpido.

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Seus dedos apertaram no meu ombro com simpatia antes de se afastar. Um
leve sorriso triste em seus lábios. — Mais ou menos a definição de acidente, não
acha?
Engoli seco, balançando a cabeça. — Não... isso parece... mais como

destino. — Engoli em seco, não tinha certeza se ela entenderia. Não tinha certeza
se eu entendia, era apenas um sentimento predominante em mim às vezes, como
se não importasse o que eu fizesse de diferente naquela noite... eu ainda estaria
aqui, neste escritório, de luto.
— Você acha que seus amigos estavam fadados a morrer?
Parecia tão bobo quando ela disse isso que eu suspirei e abaixei minha
cabeça. — Não sei. — Dei de ombros. — Mas, eles estão mortos por minha causa.
Silêncio encheu a sala. Bem, não exatamente o silêncio visto que ela tinha
algum suave jazz calmante tocando no fundo, mas Beth não respondeu ao que eu
disse. Eu deixei o silêncio entre nós esticar através do tempo que eu poderia
aguentar, então olhei para ela. Ela me olhava com uma expressão pensativa no
rosto sardento. Por fim, em voz baixa, ela falou. — Não se pode aceitar o perdão de
outras pessoas até que você o aceite de si mesmo, Lucas.
Engoli a dor que a fala dela me deu. Isso bateu tão perto de casa. Tentando
livrar-me da dor do ódio de mim mesmo que sempre permaneceu na extremidade
do meu ser, dei-lhe um sorriso fraco e torto. — Isso parece saído de um livro.
Ela não me deu o sorriso que eu esperava em troca. Em vez disso, seu olhar
permanecia completamente sério enquanto estudava a minha expressão. Eu podia
sentir meus olhos lacrimejarem novamente sob esse olhar, e parei de lutar contra
os meus sentimentos. Deixei meus olhos se encherem e as lágrimas escorrerem
pelo meu rosto. Seu rosto ainda não mostrando nenhum humor, seus olhos claros
assistindo minhas lágrimas caírem, ela calmamente disse: — Está escrito em um
livro por uma razão.
Eu poderia apenas acenar enquanto silenciosamente chorava. Eu supunha
que estivesse. Eu sabia que precisava deixar isso pra lá, esse sentimento de ódio
que eu tinha em mim. Eu sabia que precisava chegar a algum tipo de acordo de
paz, se eu quisesse seguir em frente, e sabia que meus amigos e Lillian queriam

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isso para mim. Eu sabia que Sawyer e minha mãe queriam isso para mim. E uma
pequena parte de mim, queria isso para mim, também.
Finalmente, o rosto de Beth relaxou e ela suspirou suavemente, trazendo a
mão para o meu ombro novamente. — Nós chegaremos lá, Luc. Eu prometo.

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Capítulo 23
Você nunca esquece... sua primeira vez

Chegar lá levou mais tempo do que eu jamais pude imaginar. Mas tive o
máximo de ajuda quanto uma pessoa poderia pedir. Beth se reuniu comigo
diariamente, mesmo depois de concluídas minhas sessões obrigatórias. Decidi
abrir mão de voltar ao clube da pureza para continuar me encontrando com ela.
Descobri que nossas sessões eram infinitamente úteis, e percebi que Sawyer e eu
víamos o suficiente um ao outro, de forma que eu poderia provavelmente suportar
o resto do ano sem estar no clube com ela.
Isso não quer dizer que eu não participava de nada. Sawyer e Reynolds
falaram com Sally e a convenceram a me deixar participar dos eventos sociais do
clube. Eu não tinha certeza se, agora que a escola sabia da minha história, era de
repente socialmente aceitável eu ser um empertigado e respeitável membro do
Clube Seguro e Sadio, ou se agora Sally apenas confiava em mim com Sawyer, mas
depois de uma breve conversa com a diretora, ela prontamente concordou em me
deixar ir aos jogos e bailes e até mesmo a dois concertos do coral (eu adorava ter

451
uma desculpa para ouvir Sawyer cantar, e ela era maravilhosa nisso), tudo para
espalhar a alegria de viver a vida livre de substâncias.
Desde que eu superei a ideia desbaratada de um clube tentando mudar o
comportamento adolescente, comecei a ver que o clube realmente ajudava algumas
pessoas. Como ficou maior, o clube começou a fazer seus próprios eventos – bailes,
captação de recursos e de noites de boliche – tudo em uma tentativa de mostrar
aos estudantes como se divertir de uma forma limpa. Conforme Sawyer e eu fomos
a esses eventos, comecei a ver as pessoas realmente começarem a vir à vida. Assim
como eu, alguns deles se escondiam, talvez com drogas, álcool ou promiscuidade
em vez de isolamento autoimposto, mas quando deixavam essa parte de suas vidas
irem, floresciam de uma forma que era inspiradora de ver. Eu meio que me orgulho
de ser um pseudomembro de tal grupo que muda vidas.
Quando o inverno começou a dar espaço para a primavera, o clima para
mim descongelou também. Alguns idiotas ainda escolhiam falar mal de mim, e
Brittany ainda tentou, de maneira quase cômica, criar uma barreira entre Sawyer
e eu. Nesse ponto, ela nos separar era tão impossível, que todas as suas fracas
tentativas de fofocas conseguiram dar a Sawyer e eu motivos para rirmos durante
o almoço. A maioria do corpo estudantil, porém, estava aberto para a ideia de me
aceitar de volta, agora que eu estava aberto à ideia de deixá-los.
Seguindo o conselho de Sawyer e de Beth, me mantive emocionalmente
disponível para as pessoas; permitindo que eles entrassem, permitindo que eles
falassem comigo e falava com eles em troca. A maioria deles só precisava ouvir
minha história uma vez e depois se contentavam em deixar meu passado morrer e
aceitar quem eu era agora. A maioria das pessoas apenas estava confusa pelo
redemoinho de rumores e meu desprezível silêncio. Eles não entendiam e tinham
medo de perguntar.
Eventualmente, eu formei um pequeno círculo de colegas, amigos
mesmo. Randy e Sally começaram a ficar mais perto da minha vida, saíam com
Sawyer e eu muitas vezes. Randy tentou até mesmo jogar beisebol comigo, e
fizemos uma equipe. Eventualmente, essa equipe começou a parecer como uma
segunda família, assim como o futebol há apenas um ano, e comecei a estar mais
envolvido na vida de meus companheiros de equipe. Não era igual ao grupo fechado
que eu tinha antes, mas era o suficiente para começar a me trazer de volta à vida.

452
E Josh... bem, após o começo do segundo semestre, Sawyer e eu criamos
uma programação que nos levou a ter quatro de cinco aulas juntos, mais um
período livre de estudo, e eu não o vi muito. A escola não era grande o suficiente
para eu nunca mais vê-lo novamente, mas sem uma aula juntos, o contato que
tivemos era mínimo – esbarrando no outro no corredor, vendo-o brigar com sua
namorada em frente ao campus, ou, ocasionalmente, avistando-o falando com o
Will nos degraus do edifício principal quando Sawyer e eu nos aproximávamos para
o primeiro período.
Ele não falava muito comigo, mas não tentou começar nada também. Era
quase como se eu tivesse me tornado invisível para ele. Quase. Às vezes, o pegava
me olhando do outro lado da sala ou olhando para mim um pouco mais do que o
necessário quando passamos um pelo outro nas escadas.
Não sabia o que ele pensava de mim, se ainda me odiava, ainda me
culpava. Pensei em perguntar para Beth o que ele disse sobre mim durante as
sessões, mas decidi não fazer isso. Não queria que ela conversasse com alguém
sobre algo que ela e eu discutimos, não que ela faria, e acreditei que Josh sentia o
mesmo.
Quase três meses depois de nossas breves palavras um com o outro no
escritório da diretora, quando eu tinha certeza que nunca conversaríamos de novo,
nos esbarramos no banheiro dos homens do primeiro andar. Eu lavava as mãos
quando ele entrou. Olhei pelo espelho automaticamente e olhei novamente quando
o vi de pé na porta. Seus olhos se encontraram com os meus, e por um segundo,
eu tinha certeza que ele sairia. Ninguém mais estava lá, e eu tinha certeza que Josh
não queria ficar sozinho comigo.
Surpreendentemente, ele não saiu. Ele fungou e olhou para baixo, em
seguida, entrou no banheiro, deixando a porta se fechar atrás dele. Eu dei um
passo para longe da pia, enxugando minhas mãos no meu jeans, e querendo saber
o que dizer a ele. Ele manteve a cabeça baixa e fez como se fosse ao sanitário, me
excluindo. Mas então ele parou e olhou para mim.
Engoli em seco e meu rosto se suavizou ao ver o olhar abatido em seu
rosto. Os círculos sob seus olhos eram de um profundo púrpura-azul escuro. Seu
cabelo escuro estava desgrenhado e despenteado, tão desgrenhado quanto suas
roupas largas sob a sua jaqueta esportiva folgada. Ele parecia mais cansado do

453
que alguma vez o vi, e eu não poderia ajudar, mas acho que não importa a luta que
tivemos no início do ano, eu queria vê-lo sorrindo e feliz novamente. Uma pequena
parte de mim ainda queria que ele me atacasse novamente. Mesmo que seu sorriso
fosse vingativo naquela época, então, pelo menos era um sorriso.
— Você está... bem, Josh? — Ocorreu-me, então, que apesar de Josh ter
um círculo de amigos, nenhum deles, provavelmente, investiu em sua
felicidade. Josh não tem exatamente uma Sawyer para cuidar dele.
Ele piscou, aparentemente surpreso por eu perguntar isso. Ele começou a
sacudir a cabeça, como se fosse dizer que estava bem, mas em seguida, ele
suspirou e pareceu cair. — Não — ele sussurrou. — Sinto falta dele.
Engoli em seco e acenei com a cabeça, caminhando até ficar na frente de
Josh. Ele olhou para mim, piscando devagar como se quisesse dormir, mas não
fosse capaz disso a muito tempo. Eu entendia isso. — Eu também... todos os dias.
Josh assentiu e olhou para os nossos pés. Ele ficou em silêncio por longos
segundos e comecei a pensar que talvez ele dissera tudo o que diria para
mim. Debati sobre me virar para sair, quando ele falou de novo. — Você jura que
estava sóbrio...?
Mordi o lábio e engoli o nó que de repente agarrou minha garganta. Josh
me espiava, apenas um toque de raiva em seus olhos escuros enquanto esperava
pela minha resposta, esperando ver se eu seria verdadeiro. Balancei a cabeça e
minha voz estava grossa quando isso finalmente saiu. — Eu juro, Josh. Juro pela
sepultura dele. Realmente foi apenas um horrível... acidente.
Alívio – e um pequeno filete de paz – percorria em mim quando essa palavra
passou meus lábios. Foi um acidente e, finalmente, admitir isso a alguém me fez
sentir mil vezes mais leve. Josh inclinou a cabeça, avaliando a sinceridade na
minha voz. Finalmente, ele engoliu em seco e olhou para baixo de novo, mas não
antes que eu visse lágrimas começarem a se formar. Deixei-o manter sua emoção
escondida de mim, deixei-o manter a cabeça abaixada.
Coloquei minha mão em seu ombro, apertando com força. — Sinto muito,

Josh. Se eu pudesse mudar aquela noite... — não terminei isso. Era bastante
implícito que logicamente eu faria as coisas de forma diferente. Só não sabia o quê.

454
O que aconteceu não era algo que eu poderia evitar sem alguma previsão
do que aconteceria. Na época, eu fiz o que podia para ser um amigo responsável,
conduzindo os meus outros amigos bêbados para casa. Talvez eu pudesse ter
diminuído a velocidade, talvez eu pudesse garantir que os meus amigos estivessem
com os cintos de segurança. Mas, realmente, isso mudaria o resultado? Senti outro
fio de paz fluir em mim. Eu fiz o que pude... o resto não dependia de mim.
Josh olhou para o meu toque, seu rosto molhado, e acenou com a cabeça
solenemente. Eu queria abraçá-lo, mas também não queria forçar esta conexão
tênue que estávamos tendo. Querendo ajudar, de alguma forma, mas sem saber
como, tirei minha mão e coloquei de volta sem jeito no meu bolso. — Ouvi dizer
que você foi mandado para a Sra. Ryans.
Ele acenou com a cabeça, com os olhos protegidos, e continuei com um
encolher de ombros. — Yeah. Eu não estava muito emocionado ao vê-la no início,

também. — Olhando para baixo, acrescentei: — Ela realmente me ajudou,


entretanto.
Mordi o lábio para me impedir de perguntar se ela o ajudou, se ainda o
ajudava. Espiei maliciosamente para ele, para ler seu rosto. Ele olhava para longe
de mim, olhando para a porta. Eu me perguntei se ele se debatia sobre sair, mas
em vez de se mover, ele falou. — Ela tem ajudado, eu acho. É difícil... mas eu estou
começando a gostar de falar com ela.
Olhei para cima e ele encontrou meu olhar. Sorrindo, eu concordei com
ele. — Bom.
O silêncio se estendeu entre nós enquanto simplesmente olhávamos um
para o outro. Pensando que Sawyer estouraria lá procurando por mim, eu virei
para me mover. Meu movimento quebrou o nosso olhar silencioso e quando a
minha cabeça virou para a porta, ele falou de novo.
— Você ainda deseja se matar? — Eu hesitei e olhei para ele, perguntando
se ele sabia sobre a rodovia. Seus olhos molhados novamente enquanto seu rosto
ficava desolado. Ele balançou a cabeça e com uma voz hesitante perguntou: —
Será que isso nunca vai embora?
Finalmente entendendo que ele falava sobre seu estado mental mais do que
o meu, voltei-me para ele. — Não, eu não quero morrer mais. — Nitidamente

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segurando seu olhar, eu calmamente disse: — Fica melhor. Dia a dia... isso ficará
melhor.
Ele engoliu e acenou com a cabeça, com a cabeça abaixada
novamente. Decidindo que se justificava, dei-lhe um abraço rápido. — Ligue para

mim se você precisar, Josh. — Ele murmurou alguma coisa soando como um
acordo enquanto vagamente me abraçava de volta.
Sentindo que Josh precisava de um minuto sozinho para se recompor, eu
caminhei até a porta. Enquanto a abria, o ouvi dizer: — Sinto muito por drogar
você, Lucas.
Olhei de volta para seu triste rosto cansado, me perguntando se eu nunca
mais veria aquele garoto que eu conhecia. Balancei a cabeça para ele e segui para
o corredor, onde Sawyer imediatamente agarrou minha mão e me perguntou se eu
estava bem. Eu ri da sua incessante preocupação e disse tudo o que acontecera.
Mais tarde, com Beth, eu repeti o encontro. Ela não pareceu surpresa ao
ouvir isso e eu pensei que talvez Josh já dissera a ela. Me agradou que ele estivesse
se abrindo para ela também. Mais uma vez, a minha esperança por ele
disparou. Conversamos mais sobre Josh e depois a nossa conversa mudou para o
tópico que começara a surgir recentemente – Sawyer e eu.
Falei abertamente para Beth sobre tudo – passado e presente, e meu estado
virginal não foi exceção. À medida que os meses de um relacionamento
reconfortante com Sawyer passaram, eu comecei a sentir algo que me surpreendeu
um pouco. Comecei a me sentir como se quisesse seguir em frente com ela, além
do que eu fiz com qualquer garota. Esse era um passo muito grande para mim,
considerando o fato de que eu estive esperando por uma menina morta por um
longo tempo agora.
Esperando uma resposta típica como espere até que você esteja casado do
adulto na minha frente, eu estava muito surpreso quando ela disse que achava que
estava tudo bem, desde que estivéssemos prontos, emocional e fisicamente. Ela me
alertou para estar seguro em nossos corpos e em nossos corações. Achei um
conselho muito mais útil.
Como se viu, o aspecto físico da proteção não era um problema. Sawyer
confessara para mim uma noite, durante uma conversa francamente honesta, que

456
seus pais a fizeram tomar pílula após sua tentativa de suicídio, quando a verdade
por trás de sua razão para a tentativa apareceu. Eles assumiram uma abordagem
de melhor prevenir do que remediar para toda a questão, e Sawyer não sentia a
necessidade de dizer a eles que era uma precaução desnecessária, já que ela
pensava nunca mais dormir com alguém depois daquela terrível experiência. Claro,
uma vez que ela me conheceu, tomar a pílula parecia sensato para ela também, e
ela continuou com isso. Isso me fez corar, pensando em quanto tempo desde o
nosso encontro que ela estava interessada em mim... assim.
Ela foi responsável em sua primeira vez; eles usaram preservativo. O que
acabou por ser uma coisa boa, desde que ele acabou por ser um completo
idiota. Desde que ela estava protegida da gravidez agora, graças aos seus pais
superprotetores, e ambos nossos corpos bastante inexperientes eram
completamente saudáveis, ela me disse que quando estivéssemos prontos para ir
lá, ela não queria uma barreira de preservativo. Ela não queria barreiras entre nós,
físicas ou não. Toda a revelação me deixou estranhamente feliz. Eu seria o primeiro
homem a estar dentro dela, pele com pele. E espero que o último. Não era
exatamente a virgindade, mas era o suficiente para me fazer sentir como se eu teria
uma reivindicação ao longo da vida dela. Uau, eu acho que eu estava um pouco
possessivo.
Isso deixaria nossos corpos bem seguros e sadios, restando apenas as
considerações dos nossos corações. E a medida que passamos mais tempo juntos
intimamente, amando um ao outro com beijos carinhosos e carícias, eu me senti
mais à vontade com o futuro dos nossos corações. Ela me amava... e eu a
amava. Agora que eu não guardava uma parte de mim mesmo dela, o nível de amor
que eu sentia era quase surpreendente. Era algo que eu me convenci de que nunca
sentiria novamente por uma pessoa viva. E eu queria mostrar a ela o quanto sentia
isso, mas eu queria ter certeza que estava pronto pelas razões certas. Bem, para
ser honesto, eu segurei parcialmente por causa dos nervos. Mas, principalmente,
eu segurei porque queria ter certeza que o momento não tivesse nada a ver com
Lillian.
Não sonhei com meus amigos desde que se despediram de mim, e sentia
alívio e tristeza com isso. Eu sabia que era tudo na minha cabeça, mas então
novamente, eu sabia disso o tempo todo. Não fez a fantasia menos viciante,

457
sabendo que era falso. Era quase melhor, já que eu tivera algum nível de controle,
embora nunca tanto quanto eu queria. Mas ainda assim uma parte de mim queria
aquela fantasia de volta, se alguma coisa, apenas para dizer adeus de forma menos
dolorosa. Escapavam-me, entretanto, e os meus sonhos eram constantemente...
esquecíveis.
Visto que Sawyer e eu nos aproximamos ainda mais um do outro, eu tomei
isso como sendo uma coisa boa, como se a ausência de Lillian fosse a sua maneira
de dizer: Vá em frente, viva a sua vida. Eu não vou interferir. Eu queria dizer isso a
Sawyer. Queria dizer a ela que finalmente eu estava pronto para passar por essa
etapa final com ela, que eu deixaria o meu passado com Lillian ir. Dias mais tarde,
quando estávamos no meu quarto após a prática de beisebol, eu corri
preguiçosamente meus dedos pelo seu cabelo e pensei que talvez pudesse
finalmente dizer a ela.
Minha mãe tinha a noite de folga da lanchonete e teria um bom jantar com
o xerife Whitney. Desde que a sua relação veio a público, eles decidiram contar a
sua esposa a verdade. Decidiram fazer isso juntos, e eu apoiara a sua decisão. Um
relacionamento de verdade não podia continuar com mentiras, de qualquer uma
das partes. Pelo que ouvi da minha mãe depois, sua esposa não foi surpreendida
pelo anúncio.
Com um suspiro profundo, ela admitiu que sabia há dois anos; seu marido
não foi tão bom em esconder o segredo. Ela também admitiu que não se
importava. Isso pareceu estranho para mim no início, até que minha mãe explicou
mais tarde. Sua esposa sabia que estava morrendo, e queria deixar o marido
feliz. Mamãe o fazia feliz.
Ele continuaria vivendo com sua esposa, embora em quartos separados, de
modo que o xerife poderia cuidar dela até que morresse, a sua relação com a mamãe
agora era aberta para todo mundo ver, e encontros noturnos eram uma coisa mais
frequente. Minha mãe estava mais feliz do que alguma vez vi, e eu deixei minhas
dúvidas sobre a natureza de seu relacionamento ir. Se todas as partes estavam
bem com isso, quem era eu para criticar?
Então, minha mãe estava fora com o namorado, e os pais de Sawyer não a
esperavam de volta por mais algumas horas, uma vez que eles estavam bastante
confortáveis comigo neste momento e permitiram a Sawyer muito mais tempo nas

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visitas. Estávamos sozinhos... completamente sozinhos. Nada de pais... sem
fantasmas. Ninguém além de nós dois estava no meu quarto, e na minha cabeça.
Quando nos beijamos e envolvemos nossos braços e pernas, eu senti que
era o momento perfeito para dizer a ela que eu queria estar com ela, que eu estava
pronto para estar com ela. Eu simplesmente não sabia como falar. Mas, como ela
sempre fazia quando estávamos juntos, Sawyer falou meus pensamentos para
mim.
Sua mão subiu e as costas dos seus dedos correram sobre a minha
bochecha enquanto ela amorosamente olhava para mim. Eu me inclinei para beijá-
la, mas sua voz me fez parar. — Sinto como se tivéssemos chegado muito perto,

Lucas. E se você estiver pronto para seguir em frente... eu também estou. —


Afastei-me e olhei para sua expressão subitamente séria. Os olhos dela nos meus
enquanto ela continuava: — Não quero apressá-lo, se ainda for muito cedo

depois... — ela encolheu os ombros e mordeu o lábio. — Só queria que você

soubesse... que se você estiver pronto... eu não diria não. — Sua mão segurou meu

rosto enquanto seus olhos olhavam meu rosto. — Eu te amo — ela sussurrou.
Engoli a emoção quase esmagadora ao ouvir sua simples declaração. Saiu
tão facilmente de seus lábios, mas transportava tal peso com ela. — Eu também

te amo, Sawyer. — Meus dedos que corriam em seu cabelo pararam em sua
mandíbula e meu polegar roçou a pele macia. Pensei em suas palavras, sobre tudo
o que aconteceu este ano, sobre tudo o que aconteceu em nossas curtas vidas. E,
enquanto eu delineava o perfeito arco em forma de coração de seu lábio superior
com o polegar, eu pensei em Lil... em tudo o que perdi com ela, porque esperei por
tanto tempo. — Estou pronto, Sawyer. Estou pronto... agora.
Eu me inclinei para beijá-la, mas ela se afastou de mim. Ela me olhou com
cautela. — Tem... tem certeza?
Sorri e minha mão se aproximou e carinhosamente tocou em sua testa,
seguindo do seu cabelo até o ombro. — Eu não poderia estar mais certo. — Segui
por sua camisa de algodão, levemente roçando o tecido com a parte de trás da
minha mão. — Se o ano passado me ensinou alguma coisa... é não adiar as coisas

importantes. — Meus olhos se levantaram de onde assistiam meus dedos traçar o

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redemoinho do cabelo dela. — Esperei tanto tempo com Lil... nunca tive a chance
de dizer a ela que a amava, muito menos...
Eu engoli esse pensamento e comecei um diferente. — Você e eu esperamos

até que eu tinha certeza que eu poderia... estar com outra pessoa. — Meus olhos

procuraram os dela atentamente. — Eu posso, e não quero esperar mais. Não


quero esperar para estar com alguém que eu amo... e eu te amo, Sawyer. Com tudo
dentro de mim, eu te amo e quero te mostrar. — Olhei para baixo e senti o calor

do meu corpo, o desejo na minha voz. — Eu quero fazer amor com você...
Ergui os olhos para os dela. Eles embaçaram quando ela olhou para mim e,
em seguida suas mãos emaranharam no meu cabelo e me puxou para ela. Seus
lábios encontraram os meus e mudei o meu corpo, então eu estava deitado bem
em cima dela. Uma de suas mãos percorria minhas costas enquanto eu
pressionava meu corpo no dela. Ela engasgou com a sensação de mim e engatou
sua perna ao redor da minha, nos atraindo mais apertado. Eu aprofundei o beijo.
Suas mãos puxaram a minha camisa e a ajudei a passar o tecido pela minha
cabeça. Seus olhos em meu peito enquanto as unhas levemente arrastavam em
meus músculos. Eu assobiei uma respiração suave, enquanto a dela
acelerou. Nossos olhos se encontraram novamente e meu corpo esquentou ainda
mais com o desejo que vi no seu rosto. Nossos lábios se encontraram enquanto
suas mãos voltaram ao meu bagunçado cabelo ondulado. Minha mão deslizou até
sua camisa enquanto nossas bocas provavam, sentiam e acariciavam uma a
outra. Senti seus seios através do leve tecido de seu sutiã, e um tremor passou pelo
meu corpo. Ela gemeu na minha boca quando passei os polegares sobre os picos
sensíveis. Precisando de mais de sua pele nua, arranquei a camisa dela e fiz uma
pausa para olhar para baixo e ver seu sutiã preto, o qual era do mesmo tom escuro
do seu cabelo. Eu parei de respirar.
— Você gostou?
Consegui arrastar meus olhos até seu rosto, e seus lábios se torceram em
um sorriso suave.
— A calcinha combina — ela sussurrou.
Fechei meus olhos quando um arrepio passou por mim e uma vibração
pulsava na parte inferior do meu corpo. — Sim — eu sussurrei. — Eu gosto. —
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Meus dedos correram por suas costas quando meus lábios viajaram ao longo do
seu maxilar até a sua orelha. Com cuidado, puxando um lóbulo eu murmurei, —
Eu quase odeio ter que tirá-lo...
Ela gemeu e arqueou as costas, e a minha mão ajuntou o tecido e
desabotoou o fecho. Suavemente, o puxei pelos ombros e olhei para sua inegável
beleza, sem adornos e sem a interferência do sedutor tecido. Ela era perfeita. —

Você é linda — eu murmurei, quando minha cabeça abaixou para provar a pele
tentadora. Ela estava ofegante e esfregava as pernas na minha quando finalmente
mudei para o outro.
Trilhei beijos suaves até seu abdômen. Minhas mãos levemente correndo
em seus lados fazendo cócegas, e ela riu, em seguida, gemeu. Toquei a minha
língua em seu umbigo e fechei os olhos ao ouvir o som que ela fez. Ele foi direto
para o meu corpo já duro e eu sabia que precisava que ela me tocasse logo. Eu
tracei uma linha com o nariz em sua cintura e beijei o botão no seu jeans antes de
abri-lo.
Ela me ajudou a descer o zip e removê-los. Mordi o lábio quando vi a
combinação mencionada da roupa íntima e tive que desviar o olhar da visão
excessivamente erótica antes que me perdesse. No segundo que tirara com sucesso
seu jeans, suas mãos vieram até meu jeans. Eu estava tão pronto para ela, o
sentimento das pontas dos dedos roçando-me através do tecido me fez chupar uma
respiração rápida e murmurar o nome dela.
Ela me rolou para minhas costas enquanto abria-os e deslizou para
baixo. Levantei meus quadris para que ela pudesse tirá-los, e ela me beijou, através
do tecido da minha cueca boxer. Engoli em seco e acalmei meus quadris para me
impedir de terminar isso antes mesmo de começar. Não percebendo quão perto me
deixou, ela puxou minha calça jeans por todo o caminho até tirá-la.
Não querendo me perder completamente se ela fizer isso de novo, eu tirei
minha cueca, enquanto ela estava preocupada com minha calça caindo no
chão. Quando ela virou para mim, seus olhos se arregalaram quando me viu nu. Eu
corei quando seus olhos ficaram focados em minha metade inferior. Nervos de
repente apertaram meu estômago com o que faríamos, o que eu finalmente

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faria. Talvez Darren estivesse certo, talvez eu valorizei demais o sexo na minha
cabeça. Agora, a expectativa meio que me esmagava.
— Estou nervoso — eu sussurrei.
Seus olhos imediatamente voaram para a minha cara. — Por quê? Sou

apenas. — Ela sorriu encorajadoramente, como se aquelas palavras me ajudariam.


Engoli em seco e balancei a cabeça, apoiando-me em um cotovelo ao lado
dela. — Exatamente... é você. — Suspirei e passei a mão pelo seu braço, os olhos

acompanhando o movimento. — Não quero decepcioná-la — eu sussurrei.


Sua mão se moveu debaixo do meu queixo, levantando-o e me fazendo olhar
para ela. — Você... nunca poderia me decepcionar, Lucas. Nunca. — Eu comecei
a protestar, mas ela rapidamente se inclinou e me beijou, cortando minhas
palavras. — Não estou me sentindo muito confiante sobre mim também, sabe.

Quero dizer, o último cara com quem estive me avaliou em três. — Balancei minha

cabeça, mas ela rapidamente me cortou novamente. — Mas sempre me senti


confortável com você, e eu sei que isso será perfeito... porque é você e eu. Isso é
tudo o que importa, isso é tudo o que sempre importou... você e eu.
Suspirei e a deixei aprofundar o beijo; ela me atraiu em sua boca, em sua
paixão quando nos deitamos lado a lado. Eu queria acreditar nela. Queria acreditar
que eu não estragaria isso. Possivelmente ainda sentindo minha tensão, ela correu
os lábios em meu ouvido e com a voz rouca sussurrou: — Apenas me diga o que
você precisa... e vou fazê-lo.
A resposta saiu da minha boca sem qualquer pensamento consciente. —

Só quero que você me toque — eu sussurrei.


Ela gemeu com as minhas palavras e deslizou as mãos pelos meus lados,
correndo-as ao longo dos meus quadris. Comecei a mover em cima dela quando ela
deslizou as mãos sob a sua própria roupa de baixo e a tirou. Fiz uma pausa,
absorvendo todo o efeito dessa bela mulher, nua, deitada na minha cama... para
mim.
Minha respiração disparou e uma dor aguda me atravessou
diretamente. Com os meus olhos nunca deixando o seu corpo sensual, eu
observava a maneira como ela deslizava as mãos sobre si mesma, ao longo de suas

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curvas, sobre os ossos do quadril e por seu estômago. E mais uma vez comecei a
me mover sobre ela, necessitando estar com ela, e novamente fui distraído por sua
mão, mergulhando para baixo para tocar a parte interna da minha coxa.
Minha respiração acelerou enquanto eu esperava que ela me tocasse. Eu
não tinha certeza de quanta expectativa eu poderia levar. Apenas quando eu tinha
certeza que era tão difícil quanto humanamente possível aguentar, seus dedos me
tocaram e endureci ainda mais. Eu senti seus lábios pressionados contra os meus,
ao mesmo tempo em que seu polegar me acariciava. Eu tentei impedir, mas um
gemido profundo seguido de uma inspiração rápida atravessou meus dentes,
escapou dos meus lábios.
Automaticamente aprofundei o beijo, combinando com sua intensidade e
fôlego enquanto sua mão corria pelo meu comprimento. Quase choraminguei na
eletricidade percorrendo meu corpo. Ouvindo as palavras gentis de encorajamento,
movi meus quadris contra a sua mão. Eu chupava o lábio inferior, enquanto ela
me apertava com mais força. Eu adorava a sensação de seus dedos em torno de
mim, e nos imaginei já unidos.
Relaxei no ritmo de sua mão e todos os meus nervos desapareceram com o
acerto do movimento. Nossos lábios nunca parando, a respiração apenas
aumentando, Sawyer pegou a sua mão livre e com um estímulo gentil, me pediu
para finalmente me colocar imediatamente em cima dela.
Ainda movendo delicadamente sua mão no meio de nós, eu senti uma
tensão maravilhosa se construir e sabia que eu estava ficando perigosamente perto.
Entrei em pânico por um momento, de repente preocupado que eu me perderia
antes de realmente começar. Mas estava se aproximando, cada vez mais perto a
cada segundo, e, eventualmente, parei de me preocupar com isso. Ouvi o nome de
Sawyer passar por meus lábios com um mais e sim, seguido de perto. Minha testa
balançava contra o dela, meus movimentos rápidos combinados com os dela, e
minhas mãos cravaram em seus ombros.
Assim que eu senti meu estômago se apertar com o início da minha
libertação, sua mão me soltou e sua outra mão acalmou meus quadris. A sensação
imediatamente desapareceu de mim e um gemido desapontado escapou dos meus
lábios antes que eu pudesse impedi-lo.

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Sua boca veio a minha, beijando-me suavemente, acalmando com toques
relaxantes e palavras suaves. Seus beijos gentis viajaram para a minha orelha onde
ela sussurrou: — Está tudo bem, Lucas. Isso será melhor... eu prometo.
Com isso, ela ajustou suas pernas e guiou-me para ela. Seu calor me
chamou, e eu sofria com a necessidade de me empurrar profundamente dentro
dela. Eu resisti, porém, e levantei a cabeça para olhar em seus olhos claros
cinzentos olhando para mim com tanto carinho.
— Isso significa tudo para mim, Sawyer. Você significa tudo. Eu te amo.
Seus olhos embaçados e com a sua mão me pediu para começar. Engoli em
seco quando deslizei dentro dela. — Eu também te amo, Luc — ela sussurrou,
quando tirou a mão e puxou meus quadris em sua direção, me afundando todo o
caminho dentro dela com um gemido profundo.
Fiquei muito emocionado quando ela me acolheu, centímetro por
centímetro, até nossos quadris descansarem niveladamente juntos. Ela me
completava como se fosse feita... só para mim. Eu não podia fazer nada. Não
conseguia respirar, não conseguia me mover. Tudo o que eu podia fazer era ficar
lá e tentar absorver o fato de que eu estava dentro dela – éramos um.
— Mova em mim, Lucas.
Sua voz doce me acordou do meu estado superestimulado e eu inalei uma
respiração profunda, estabilizando. Lentamente, movi meus quadris para trás e,
em seguida, igualmente devagar para frente novamente. Eu nunca, não importa
quantas vezes na minha vida eu fizer isso, vou esquecer o primeiro empurrão. Foi
elétrico. Foi a terra tremendo. Foi um prazer delicioso, tanto mais porque eu estava
experimentando com ela.
Tudo começou na extremidade e disparou por todo o caminho através do
meu corpo, estremecendo em ondas. Gritei com o êxtase dela e coloquei a minha
cabeça em seu ombro. Suas mãos me embalaram e nossos quadris começaram um
lento e simples ritmo – nenhum dos dois querendo apressar este momento.
Eu meio que senti como se devesse fazer algo mais por ela – tocá-la, beijá-
la ou sussurrar palavras de amor eterno, mas eu achei que tudo o que eu podia
fazer era manter minha cabeça enterrada em seu ombro, fazendo ruídos de
choramingos enquanto novos sentimentos explosivos e sensações disparavam

464
através de mim. Mesmo sabendo que não era a primeira vez dela, como era a
minha, havia gemidos suficientes e sons gerais de aprovação passando por seus
lábios me fazendo acreditar que, o que eu estava fazendo, era o suficiente para ela.
Por vontade própria, nossos quadris começaram a balançar juntos mais
rapidamente e meu choramingo mudou para uma espécie de gemido
incontrolável. Eu senti aquela insuportavelmente maravilhosa tensão se construir
em mim novamente, mas mais forte do que eu já senti antes. A necessidade de
aliviar essa pressão maravilhosa era tão forte que agarrei seus quadris e comecei a
me mover de forma mais agressiva. Engasguei com a sensação e murmurei
palavras incoerentes de mais e forte. Isso estava funcionando; o acúmulo estava
por vir.
Seus murmúrios de prazer se transformaram em gritos definitivos de
êxtase. Enquanto eu ofegava com a necessidade pura, ela jogou a cabeça para trás
e gritou meu nome. Sentei um pouco para vê-la, seu cabelo preto espalhados por
meus travesseiros brancos, o peito arfando com seu esforço, os claros olhos
fechados. Foi a coisa mais linda que eu já vi. E então eu senti isso – eu a senti me
apertando de forma mais intensa e erótica. Tenho certeza de que um Oh meu Deus,
Sawyer, caiu de meus lábios antes do meu estômago se apertar e eu comecei a
lançar dentro dela com uma intensa voracidade que eu nunca senti antes.
Ela puxou e prendeu minha cabeça em seu pescoço conforme nossos
quadris desaceleravam para um suave balanço. Carinhosamente beijei seu
pescoço, seu rosto, seus lábios, e então saí cuidadosamente dela. Gentilmente, eu
retirei meus braços de debaixo dela, rolando em minhas costas e trazendo-a
comigo. Ela deitou a cabeça no meu peito enquanto o nosso coração desacelerava
em sincronia com nossa respiração. — Deus, Lucas... eu senti você.

Beijei o topo de sua cabeça e a apertei com força. — Eu senti você, também.

— Eu me afastei para olhar para ela; seus olhos cinzentos dançavam de alegria. —
Eu te amo tanto, Sawyer. Isso foi... incrível.
Sorri e ela riu e então me beijou suavemente. — Eu sei. Eu disse que você

não me decepcionaria. — Eu ri e ela passou o dedo no meu rosto. — Eu também

te amo, Lucas... muito. — Ela deitou a cabeça no meu peito, aconchegando as


pernas para cima perto da minha. Quando um arrepio passou por nós, eu trouxe

465
um cobertor em torno de nossos corpos nus e ela enterrou ainda mais perto de
mim. Fechando os olhos, eu soltei um longo suspiro, deleitando-me com a
tranquilidade que eu sentia.
— Você está bem? — Ela sussurrou, quebrando nosso silêncio.
Ela olhou para mim novamente, preocupação em seus olhos. Eu sabia o
que ela queria dizer com essa pergunta. Ela não perguntava se eu estava
fisicamente bem – eu estava, ela verificava o meu estado mental, assim como
sempre fez. Eu acabara de fazer algo com ela que sempre achei que faria com Lillian
primeiro. Ela queria ter certeza que eu estava bem com a minha decisão, após o
fato. Desviei o olhar, olhei para dentro de mim. Eu estava bem? Pesquisando os
pedaços do meu coração e cabeça, tudo que eu poderia encontrar em mim era a
felicidade. Felicidade, e uma tranquilidade profunda de paz que pensei que
estivesse perdido para sempre para mim.
Voltei-me para ela e beijei sua testa. — Sim, estou ótimo.
Ela suspirou feliz, colocando beijos leves ao longo do meu peito. Sorri mais
amplamente com cada passagem de seus lábios sobre a minha pele. Eu senti que
poderia ficar lá, nu, na minha cama com ela, por alguns dias. Eu odiava que nós,
eventualmente, teríamos que nos separar. Ela ergueu o corpo para cima e beijou
meu queixo antes de apoiar os cotovelos em cima do meu peito e descansar a
cabeça em suas mãos.
Quando ela deixou uma de suas mãos levemente acariciar meu rosto, a
cicatriz em seu pulso foi exposta. Meus olhos se fecharam nela, odiando o que
fizera para si mesma, lembrando o que eu quase fiz para mim.
Ela percebeu o meu olhar e falou baixinho: — Você sabia que... que não

falhei em me matar? — Meus olhos se voltaram para os dela, surpresos e


apavorados. Os olhos dela nos meus, a mão no meu rosto ficou tensa, então os nós
dos dedos roçaram minha pele. Os olhos dela foram para a cicatriz que eu sabia
era visível no pulso que eu não podia ver. — Fui bem sucedida na minha
tentativa. Eu morri no hospital.
Minha mão deixou o seu quadril para pegar seus dedos acariciando meu
rosto. Beijei os nós dos dedos, mantendo-os nos meus lábios enquanto engolia o
nó horrível no estômago. Eu não poderia imaginar ela morrendo. Um leve sorriso

466
iluminou os lábios enquanto sua mão apertou a minha, seus belos olhos cinzentos
em nossos dedos. — Por um minuto, eu estava morta. Mas de alguma forma, de

alguma forma eles me trouxeram de volta. — Seus olhos voltaram para os meus e

ela me deu um olhar aguçado. — E não há nada como a morte para fazer você
reavaliar sua vida. Eu acho que você entende isso.
Puxei sua mão de meus lábios e a virei de modo que pudesse ver a
cicatriz. Agarrei o outro pulso e o virei para que eu pudesse ver os dois na minha
visão, juntos. As mãos dela ficaram tensas, e ela parecia um pouco relutante em
deixar-me examiná-las tão de perto, mas é claro, que ela deixou. Não tínhamos
mais segredos. Coloquei beijos leves ao longo de cada uma, sentindo a diferença
na textura de sua pele, onde ela tentou separar-se deste mundo. Eu estava tão
grato que ela não foi autorizada a partir.
— Estou feliz que você voltou — eu sussurrei.
As mãos dela se contorceram nas minhas para alcançar e segurar minhas
bochechas. Seus olhos envidraçados novamente com a umidade, enquanto ela
olhava para o meu rosto, e suas feições assumiram aquela expressão que era tão
além de sua idade. Lembrei imediatamente de cada palavra sábia que já a ouvi
dizer para mim. Agora entendia muito melhor como ela ganhara essa sabedoria.
Ela se inclinou, colocando um leve beijo em meus lábios. — Estou feliz que
você voltou, também.

467
Capítulo 24
Graduação

A primavera começou esticando mais os dias, quentes e ensolarados, uma


dica da promessa que o verão se aproximava. Energizado, o corpo estudantil cria
confusão para os professores, que tinham a difícil tarefa de tentar tolerar toda essa
energia. Eu senti tanto uma vontade quanto uma resistência para a chagada do
verão.
Sentia-me ansioso para fugir dos limites de atribuições, testes e trabalhos
de casa, e relaxar por alguns meses antes de começar a faculdade. Sawyer e eu
aplicamos juntos para diferentes faculdades e universidades. Ambos fomos aceitos
no estado de Oregon, por isso decidi me inscrever lá. Escolher esta escola era uma
escolha natural para mim; eu iria onde quer que a Sawyer fosse. Não faríamos a
coisa de relacionamento a distância, porque eu não a deixava ficar mais do que
alguns metros longe de mim, um quilômetro, no máximo.
Os pais de Sawyer nos surpreenderam ao admitir que investiram em um
fundo de educação desde que ela era bebê. Embora a sua família tenha enfrentado

468
tempos difíceis após deixar tudo e se mudarem, eles não tocaram no fundo, não
querendo roubar a chance de Sawyer de ter um futuro promissor. Como ambos
conseguiram trabalhos, entretanto, e se saíam muito bem agora, as coisas
realmente começavam a melhorar para a família Smith.
Sendo uma mãe lutando sozinha, minha mãe não foi capaz de planejar a
minha educação tão bem assim, mas o treinador tinha alguma influência com o
treinador no Oregon State – ele era seu cunhado, ou algo assim, e eu tive permissão
para tentar entrar no time de futebol. Mesmo eu não jogando neste ano, eu fui bem
o suficiente para que me fosse oferecida uma bolsa parcial de estudos e uma
posição na equipe. Eu ficaria na segunda ou até mesmo na terceira corda, mas
pensei que não era nada mau para um calouro que tivera algum tempo muito
necessário fora do jogo.
Isso fez Sawyer revirar os olhos, desde que ela namorava seriamente um
atleta do futebol americano universitário. Eu ri quando eu disse a ela que ela já
tinha como pré-requisito a jaqueta esportiva do namorado. Claro, a dela era do
colégio. Brincando, eu disse a ela que a levaria ao estado de Oregon, com o meu
nome em letras berrantes nas costas.
Ela começou a me fazer cócegas e depois, eu revidei divertidamente
enfrentando-a. Uma coisa levou a outra, e no final do nosso jogo de luta, nós
desabamos na minha cama, nus e ofegantes, corações disparados e corpos
cansados... e delirantemente felizes. Ela finalmente admitiu que namorar um
quarterback de faculdade pode não ser tão ruim, mesmo se ele estivesse apenas na
segunda corda.
Essas eram as coisas que me faziam olhar para frente. O que fazia meu
estômago se contorcer em nós dolorosos, era o próximo aniversário de morte dos
meus amigos. Senti que se aproximava o fechamento do ano escolar. Suas mortes
ocorreram não muito tempo depois do fim do ano letivo. Por causa das diferenças
nos dias de folga e duas pausas da escola em janeiro, o aniversário cairia
exatamente na noite de formatura. Meio que tem um sentido simbólico e
apropriado... e esse tipo de droga.
O círculo de amigos próximos que consegui me cercar até o final do ano,
compreendia e apoiava o que esse dia significava para mim. Randy e Sally, que
começaram a namorar depois de irem a um baile do Clube Seguro e Sadio juntos,

469
eram especialmente simpáticos. De certa forma, era igualmente difícil para eles,
meus amigos não eram apenas os meus amigos, depois de tudo, mas mesmo assim,
eu não acho que eles entendiam totalmente a minha apreensão.
Fazia meses desde que eu tive qualquer tipo de visão dos meus amigos. Os
sonhos pararam uma vez que os meus amigos dolorosamente se despediram de
mim na noite do baile, mas eu continuava a ter memórias vívidas deles em torno
dos lugares em que estivemos juntos: Darren e eu no rio, Sammy e eu jogando
vídeo game enquanto Darren cochilava no meu sofá, e Lillian. Havia tantas
lembranças dela, que por um tempo, elas me assaltavam perto de cada turno.
Sawyer me ajudou a atravessar as dolorosas, e lutou pelas felizes. Uma
parte de mim estava tendo um momento difícil para deixar esta cidade, por causa
disso. As memórias, embora às vezes dolorosas, eram tudo que eu tinha
deles. Quando me mudasse para outra cidade, não haveria nada para me lembrar
deles. Eu perderia isso também. Mas... eu supunha que era apenas uma parte de
deixar ir.
E eu não teria que desistir de cada lembrança. Surpreendentemente, Josh
me ligou. Ele estava chorando, uma bagunça completa, e eu corri para a casa dele
para vê-lo. Eu realmente dirigi o carro da minha mãe até lá, o que dizia muito sobre
o quanto eu estava preocupado com ele. Dirigir ainda era algo que me deixava
nervoso, e eu geralmente evitava estar ao volante.
Mas Josh precisava de mim, e larguei tudo para ajudá-lo. Estar em sua
casa novamente me feriu, e inesperadamente valorizei o quão difícil era para
Josh. Tudo ali era o mesmo – cada quadro, cada lembrança de infância, e todos os
prêmios que Darren já ganhou. Estavam todos no mesmo lugar de quando Darren
estava vivo. E o seu quarto, em frente ao de Josh, era exatamente o mesmo, quase
um santuário da sua vida. Ele ainda cheirava a Darren quando entrei no quarto e
encontrei Josh soluçando no chão.
Conversamos por horas. Ele conversou comigo sobre tudo que passou desde
que Darren morreu. Confessou o quanto me odiava, simplesmente porque
precisava odiar alguém. A dor enorme de perder Darren, e não tendo ninguém, a
não ser o destino como culpado. Ele não entendera isso no momento, realmente
acreditando que eu fui descuidado e dirigi bêbado com amigos que estavam
relutantes em se juntar a mim.

470
Aparentemente, Brittany foi muito convincente quando ele conversou com
ela no funeral de seu irmão. Inflamou-me que ela tenha aproveitado aquele
momento doloroso para virar Josh contra mim. Ela realmente era uma
manipuladora, vadia vingativa. Ele disse que ouvira falar sobre o xerife e minha
mãe ao ouvir algumas garçonetes fofocando no restaurante. Após a história de
Brittany, testemunhando que me viu beber na festa, ele imaginou que a minha
ligação com o xerife permitiu que eu saísse impune por matá-los.
Assegurei-lhe que não aconteceu dessa forma. Ele disse que sabia disso
agora. A Sra. Ryans o ajudou ver que ele transformara sua tristeza em raiva e usava
o redemoinho de fofoca para alimentá-la. Mas tudo era apenas uma distração,
então ele não precisaria lidar com isso. Agora que ele precisou lidar, ele lutava com
isso.
Eu disse a ele que me esforcei muito, mas podíamos apoiar um ao outro. Ele
concordou, e começamos a nos encontrar depois disso. Trouxe-me conforto que
eventualmente eu poderia emendar a fenda com a família do Darren. Seus pais
ainda estavam distantes de mim, nem condenavam nem apoiavam, mas senti que
poderia me reconectar com seu irmão mais novo, o que animou bastante o meu
espírito.
Mamãe estava igualmente ansiosa e resistente a me ver ir para a
faculdade. Uma parte dela não queria deixar seu bebê fora de sua vista,
especialmente com o ano tumultuado que eu tive. Acho que era apenas o fato de
que eu ia com Sawyer que a fez ficar bem com tudo isso. Aquelas duas se ligaram
de tal forma que quase ofuscou o quanto minha mãe era ligada a Lillian. Sawyer
salvou minha vida. Sawyer foi uma dádiva de Deus para a minha mãe. E, para
mim, também.
Mas minha mãe também estava quase ansiosa para eu ir embora. Esse fato
era, principalmente, porque ela se preparava para ir morar com o namorado.
Algumas semanas atrás, a saúde da esposa dele piorara. O xerife Whitney ficara
com ela no hospital, e até o fim ofereceu o conforto e a companhia amigável que
uma vida inteira de casamento proporcionara a eles. Foi agridoce para mim, e talvez
para a mamãe também. Ela finalmente teria a relação que ela queria com ele há
anos, mas a um alto preço.

471
O xerife esteve compreensivelmente triste após a morte de sua esposa,
atormentado pela culpa e remorso e uma alegria subjacente de que ele poderia
seguir em frente com a minha mãe agora, ou assim ele me confessou uma noite
quando nós nos sentamos juntos no sofá, assistindo a um jogo de beisebol.
Durante a conversa, ele confessou que decidira não me acusar de qualquer coisa
naquela noite fatídica, em parte por causa da minha mãe; ele não queria que ela o
odiasse. Então ele se virou em seu assento e me deu um olhar duro, férreo.
— Mas mais do que isso, Lucas... eu não queria puni-lo mais. — Ele olhou
para longe de mim e sua voz se suavizou. — Quando disse a você no hospital que
eles morreram... quando você ficou completamente perdido... foi quando decidi não
puni-lo com qualquer coisa.
Minha boca caiu aberta, e tentei responder com algo coerente, mas não
consegui. Ele olhou para minha cara se debatendo e depois acenou com a cabeça,
um pequeno sorriso em seus lábios. — Então, não culpe sua mãe por isso. Fui eu.

— Ele suspirou e baixou a cabeça. — Nada que eu fizesse legalmente o puniria


mais violentamente do que como você já tinha sido punido. — Ele olhou para cima

e engoli e assenti. Sua testa franzida. — Sinto muito se essa decisão causou mais
problemas para você. Eu entendo que algumas pessoas ficaram chateadas por você
não ficar em apuros?
Baixei a cabeça. — É... algumas.
Sua mão veio até meu ombro e olhei para ele, para este homem severo, mas
carinhoso, que provavelmente seria o meu padrasto um dia. — Eu sinto muito por
isso, Lucas. Eu tentava melhorar as coisas para você. Acho que não consegui.
Olhei para ele por alguns segundos antes de responder. — Você ajudou. Eu
não acho que eu poderia ter lidado com qualquer coisa... mais do que o que eu
precisava fazer. Então... obrigado.
Ele acenou com a cabeça, seus olhos ligeiramente mais úmidos do que o
habitual. Com uma risada, ele atirou o braço sobre meu ombro e me puxou para
um abraço lateral rápido. Minha mãe nos encontrou assim, e achei que ela
começaria a chorar bem ali. Ela queria desesperadamente que seu filho e namorado
fossem amigos e não poderia estar mais feliz em ver isso começar a acontecer.

472
E foi, de certa forma. Estar perto do xerife ainda trazia aquele acidente
horrível a minha mente, mas quanto mais tempo eu passava com ele, mais
memórias novas começaram a se formar sobre aquelas dolorosas – mamãe
aconchegada com ele no sofá, o xerife e eu jogando bola no quintal, rindo juntos
sobre as palhaçadas na cidade de uma louca que vagava em torno da rua principal
completamente nua. Eu nunca esqueceria os meus amigos, ou aquela noite, mas
começava a acreditar que poderíamos ser uma família unida, felizes mesmo.
Assim, com excitação e trepidação, eu estava pronto para me formar na
minha pequena escola. Andando pelos corredores no meu último dia oficial lá, eu
não pude evitar as lágrimas que brotaram em meus olhos. Felizmente não comecei
a chorar enquanto passava o meu último dia, mas me afetou. Eu estava preso a
esta escola de uma forma mais emocional do que eu percebi no meu primeiro dia
de retorno após o acidente. Esta escola foi uma grande parte das amizades e amores
que eu formei. Uma parte de mim lutou em deixar ir.
— Você está bem? — Sawyer perguntou estendendo a mão e apertando a
minha mão com a dela, deixando os dedos entrelaçarem, como ela gostava. Seu
cabelo estava preso em tranças, adoravelmente charmoso, o mesmo estilo que ela
tinha no nosso primeiro dia juntos.
Sorri com a pergunta dela enquanto caminhávamos para o refeitório para
almoçar com Randy e Sally, que davam beijinhos de claro afeto, enquanto
caminhavam na nossa frente. Eu assisti o grande linebacker e a menina
rechonchuda de cabelos crespos que roubara seu coração, e meu sorriso se
alargou. A vida certamente poderia surpreender às vezes. Eu nunca imaginaria os
dois juntos no início do ano. Olhando para o anjo de olhos cinzentos olhando para
mim com uma adoração aberta reforçou esses pensamentos. Eu nunca acreditaria
naquele primeiro dia que eu poderia me sentir da maneira que me sentia quando
olhava para ela, quando fazia amor com ela. Nunca teria imaginado que
sentimentos tão fortes fossem possíveis fora dos livros de romances.
Inclinando para escovar seus lábios com os meus, eu sorri contra sua
boca. — Eu estou maravilhoso. — Minha mão livre estendeu para acariciar uma
das longas caudas do seu cabelo e tive um breve flash da fantasia de menina da
escola em minha cabeça enquanto me afastava. Meu sorriso se alargou. Ela olhou

473
duvidosa, porém, enquanto procurava meus olhos, e balancei a cabeça em sua
preocupação sem limites.
Meus olhos passaram para a ruidosa e barulhenta cafeteria quando
entramos nela. Alguns dos alunos olharam para cima quando entrei, alguns
sorriram e acenaram para mim. Alguns me olharam fixamente por um momento,
antes de voltar para suas conversas. Josh encontrou meu olhar enquanto eu
esperava na fila com Sawyer, decidido a gastar o nosso último dia com um pouco
de comida quente que eu ouvi falar que era quase comestível e vagamente se
assemelhava de pizza. Josh me deu um aceno educado antes de voltar para o que
parecia ser uma discussão com a namorada, ele sempre parecia estar em uma
discussão.
Alguns dos estudantes saíram para comer suas refeições, era meio dia,
quase verão, e o ar estava quente no dia ensolarado, decidimos nos juntar a eles,
escolhendo um lugar vago sob uma árvore frondosa. Mesmo que Sawyer e eu
estivéssemos vestidos em trajes típicos de verão, calções e camisas leves, sua
camisa ainda era de manga comprida. Ela ainda brincava com aquelas mangas de
vez em quando, esticando o tecido com o seu hábito. Eu já sabia por que ela se
vestia desse jeito, e quando de mãos dadas sentávamos na grama, meu polegar
veio para varrer a cicatriz em seu pulso. Ela não recuou mais quando fiz isso, agora
completamente confortável comigo explorando seu corpo. Além disso, acho que ela
entendia que eu fazia isso como um silencioso agradecimento aos céus por mantê-
la aqui... para mim.
Meus olhos sobre os prédios familiares e memórias de meus amigos me
assaltou. Atraí-os para mim, absorvendo-os, nunca querendo esquecer um
instante que eu passei aqui com eles. Senti um queixo descansando no meu ombro
e me puxei para fora dos meus pensamentos, e olhei para Sawyer sentada do meu
lado.
— Você tem certeza que está bem? Você parece um pouco... triste. — Ela
beijou meu ombro e, em seguida, descansou a bochecha em cima dele.
Beijei sua testa e me permiti um sorriso triste. — Acho que estou apenas...
relembrando.

474
Ela levantou a cabeça e segurou o meu olhar. — Sobre Lillian. — Ela disse
isso com calma, mas eu a conhecia o suficiente para saber que havia um traço de
tristeza ali, enterrado profundamente sob a superfície. Ela sabia que ela e eu
fomos além do que Lil e eu alguma vez compartilhamos juntos, mas também sabia
que Lil nunca deixaria meu coração. Ao contrário de uma ex de quem eu
simplesmente me afastara, Lillian morreu no meio do nosso caso de amor. E uma
parte de mim, uma parte minúscula de mim, sempre seria apaixonado por ela.
Beijei sua cabeça novamente e balancei a minha. — Não, não apenas Lil.

— Meus olhos percorreram o campus de novo. — Todos eles. Eu sinto que quando
sair daqui... deixarei todos para trás, permanentemente.
Sua mão subiu para tocar meu rosto e olhei para ela. Pisquei, quando
percebi que a minha visão estava embaçada e não podia vê-la claramente. Ótimo.
Acho que eu começaria a chorar hoje. Ela limpou uma lágrima que conseguira
escapar antes que nossos companheiros de almoço vissem. Seu olhar suavizou
enquanto observava as emoções correndo no meu rosto.
Ela assentiu com a cabeça e ficou pensativa por um instante. — Você quer

falar sobre isso? — Seus olhos percorreram o campus, antes de voltar para os

meus. — Ajudará você a lembrar, se disser em voz alta.


Sorrindo, assenti. Olhei para baixo, recompondo-me, e então comecei a
dizer-lhe sobre cada momento que me lembrava com eles. Eu estava um pouco
surpreso com o quão fácil era falar sobre eles agora, mas meses de aconselhamento
me ensinaram a me abrir, e ninguém nesta terra me deixava mais confortável do
que Sawyer, assim me abrir para ela era particularmente fácil, especialmente agora
que estávamos tão perto.
Algumas das lembranças que eu tinha eram difíceis, e meus olhos
lacrimejaram de novo, mas felizmente não caíram mais lágrimas. Algumas
lembranças eram bem-humoradas e compartilhamos algumas boas
risadas. Sawyer segurou minha mão e escutou com muita atenção enquanto eu
contava histórias sobre pessoas que nunca teve a oportunidade de conhecer. Fiquei
um pouco triste por ela não conhecê-los; ela adoraria os meus amigos. Mas então...
se ela os conhecesse, nosso relacionamento seria completamente diferente.

475
Randy e Sally interromperam com algumas histórias deles, e eu ouvia
atentamente as suas histórias com meus amigos. Ouvir sobre eles através dos
olhos de outras pessoas curava. Eventualmente, um pequeno círculo se formou
perto de nós, com mais pessoas compartilhando suas recordações. Mais lágrimas
brotaram de meus olhos enquanto ouvia os outros compartilhar as suas
memórias. Levantou o meu coração ouvir o quão profundamente meus amigos
faziam falta, e não apenas para mim. Levantou o meu coração o fato de que eles
nunca seriam esquecidos.
À medida que o pequeno círculo começou a parecer uma grande sessão de
terapia de grupo e as histórias se tornaram mais alegres, notei Josh nos arredores,
ouvindo. Fiz um gesto para ele com o meu dedo, mas ele balançou a cabeça e ficou
onde estava, a metros de distância das lembranças felizes, mas ainda absorvendo.
Eu entendi. Mesmo no meio de todo o calor que eu sentia do grupo, uma
parte de mim se sentia sozinho e triste. Uma parte de mim queria se afastar e
recuar em minha concha, mas eu sabia que não me faria nenhum bem, por isso
eu fiquei. Fiquei, ouvi e até mesmo contribuí com as minhas próprias histórias. No
momento em que as pessoas começaram a se dirigir para a aula e que era apenas
Sawyer e eu desfrutando do nosso período livre ao sol, eu senti como se as
memórias fossem moldadas e envoltas em gesso – nunca escapando da minha
cabeça.
Naquela noite, Sawyer veio à minha casa, toda adornada em um bonito
vestido lavanda. Seu cabelo super negro teve as camadas da frente puxado para
trás em um clipe simples, expondo seu longo pescoço elegante. Eu disse que ela
parecia incrível e pressionei o material sedoso ao meu corpo. Meus dedos
deslizaram facilmente ao longo de seus contornos e minha cabeça rebobinara ao
nosso encontro – os sons que ela fizera quando os meus lábios viajaram através de
sua pele lisa, o rápido pulsar do seu coração quando minha língua varreu pequenos
círculos ao longo da artéria em seu pescoço magro.
Seus olhos fumegavam quando encontraram os meus, e pensei que talvez
meus pensamentos picantes estivessem aparentes no rosto. Ou isso, ou ela gostou
das calças pretas e a camisa azul escuro que eu vestia, completo com uma gravata
desta vez. Talvez ela estivesse tendo seus próprios pensamentos picantes. Eu
esperava que seus pensamentos estivessem em consonância com os meus

476
novamente. Seus dedos deslizaram em minha gravata, arrastando para baixo no
meu peito, enquanto olhava por cima do meu cabelo mais-arrumado-do-que-o-
habitual. Ela mordeu o lábio e voltou sua atenção para os meus olhos castanhos,
olhos que eu imaginava deviam estar fumegantes em retorno aos delas. — Você

está ótimo — ela sussurrou.


Sorri e a puxei ainda mais apertado, desejando que minha mãe não
estivesse em casa se preparando para a cerimônia de formatura, desejando que
tivéssemos mais tempo antes de precisarmos sair para a cerimônia... desejando
poder rasgar a roupa dela bem aqui. Bem, talvez hoje à noite... depois? Agora que
fazíamos sexo regularmente, eu me vi querendo isso o tempo todo. Felizmente,
Sawyer tinha um apetite que combinava com o meu. Estávamos a caminho de
rivalizar com a média semanal de Darren e Sammy.
Seus olhos se arrastaram sobre o meu corpo e eu senti o calor daquele
olhar, mesmo através das minhas roupas. Meu corpo começou a reagir a ela, com
as curvas de seu corpo enfatizadas pelo material de cetim, seus dedos explorando
meus músculos do peito, e seus olhos me despindo mentalmente. Quando eu
estava prestes a afastar o sinal revelador do meu desejo dela, ela apertou seus
quadris nos meus.
Ela estendeu a mão para me beijar, com um sorriso brincalhão nos lábios
e clara luxúria em seus olhos. — Eu gostaria que tivéssemos mais tempo — ela
sussurrou enquanto nos beijávamos ferozmente, suas palavras novamente
combinando com os meus pensamentos enquanto estávamos apertados juntos a
poucos metros da porta da frente. Ela não chegou muito longe antes que nossos
hormônios assumissem.
Comecei a apoiá-la na porta, sem mais me importar muito que a minha mãe
estivesse no quarto dela. Ela engasgou quando pressionei contra ela. Meus lábios
viajaram até seu pescoço, de volta para sua artéria, onde seu coração estava
disparado novamente. — Você me deixa louco... eu quero você. — Um ruído erótico
passou pelos lábios dela e suas mãos corriam pelo meu traseiro, puxando meus
quadris e me moendo nela. Comecei a procurar por lugares na minha cabeça onde
poderíamos ir e minha mãe não nos interromperia.
— Lucas... e Sawyer? Vocês estão prontos?

477
— Deus, sim... — me ouvi murmurar. Sawyer começou a rir e me afastei
do seu corpo, rindo também. À medida que nos afastamos um do outro, eu atirei
uma resposta à pergunta assustadoramente cronometrada da minha mãe sobre o
meu ombro. — Sim, mãe, Sawyer está aqui.
Balançando a cabeça, eu virei para encará-la. Ela ainda estava apoiada
contra a porta, rindo, o rosto corado de vergonha e desejo. Meu corpo estremeceu
e suspirei, sabendo o que eu tive que esperar para essa conexão maravilhosa. Meu
sorriso se transformou em um irônico. — Quando partimos para a faculdade
mesmo?
Ela riu mais e estendeu a mão para mim. Agarrei-a e, juntos nós fomos até
o sofá para que meu corpo pudesse se acalmar um pouco antes da minha mãe
entrar na sala. Eu olhei para ela quando nos sentamos. — Desnecessário será
dizer que... eu realmente gosto do seu vestido.
Ela revirou os olhos e riu novamente. — Eu deveria ter me lembrado que
vestidos extravagantes são seu calcanhar de Aquiles.
Sorri para o comentário dela. Meu olhar foi para o espaço acima do aparelho
de televisão. A parede esteve vazia por muito tempo, mas minha mãe lentamente
começou a colocar imagens de Sawyer e eu. Entre as fotos de dias aleatórios, estava
a imagem tirada de nós dois no baile de inverno. Nele, Sawyer olhava para mim e
eu olhava para ela. Mesmo através do perfil de nossos rostos, o olhar de amor
passando entre nós era inconfundível. O fotógrafo estava certo quando me
assegurou que estava perfeita.
Bem ao lado dessa imagem, estava uma que foi tirada há algumas semanas
no Baile de Final do Ano Sênior. A mãe de Sawyer saiu escondida de seu pai e
reservara um vestido de mangas compridas magnificamente justo. Era de corte
baixo com uma fenda até uma perna. Em uma maravilhosa cor de meia-noite que
combinava muito bem com o cabelo de Sawyer, o vestido apertado enfatizara cada
curva de seu corpo. Meu corpo realmente gostou disso. Mal conseguimos passar
pela metade da dança antes que nossos corpos estivessem excessivamente
despertados e precisávamos mudar de ambiente. Sawyer estava certa... eu tinha
uma queda por ela em vestidos sexy.

478
Nós dois ríamos sobre isso quando minha mãe finalmente se juntou a nós
na sala de estar. Ela usava um vestido de verão com grandes flores sobre ele. Ela
deixou seu cabelo solto, enrolando-o em grandes ondas que quase escondiam as
mechas cinzas. Com um sorriso radiante no rosto enquanto observava nós dois de
mãos dadas no sofá, ela parecia ter metade de sua idade. Sorri para seu entusiasmo
juvenil com o evento potencialmente chato.
Ela cruzou à frente do sofá e agarrou uma mecha lisa do cabelo de
Sawyer. Seus olhos lacrimejaram enquanto examinava a minha namorada. Me fez
rir ver que ela já estava quase chorando; ela choraria muito antes de realmente
entregar o meu diploma.
Sua mão se arrastou pelo cetim cobrindo o braço de Sawyer, até os
pulsos. Ela agarrou os dedos de Sawyer e apertou por um segundo, enquanto
Sawyer sorria para ela. — Sawyer, querida, você é tão bonita. Esse vestido é lindo.

— Mamãe se virou para olhar para mim. — Ela não é linda, Lucas?
Tentei esconder uma careta, mas Sawyer viu e riu. Nós dois sabíamos do
meu pensamento sobre o vestido. — Sim, mamãe, ela é linda. — Eu sussurrei essa
última parte diretamente para Sawyer, e suas faces coraram de uma cor tão perfeita
que qualquer marca de maquiagem famosa esperaria imitar.
Mamãe deu um tapinha no meu ombro. — Você é muito bonito também,

Lucas. Eu juro, você parece mais com seu pai a cada dia. — Eu olhei para ela
quando ela disse isso. Não falamos muitas vezes sobre o meu pai. Honestamente,
nem sempre falamos dele. O sorriso da minha mãe estava triste, e não tinha certeza
se eu queria ficar mais parecido com o meu pai a cada dia. Sua melancolia quase
que imediatamente foi embora e seu rosto voltou a brilhar. — Neil estará aqui a
qualquer minuto, e depois nós poderemos ir.
Ela sentou na cadeira ao lado do sofá e recatadamente cruzou os tornozelos,
o rosto sonhador com a menção de seu namorado. Olhando para baixo, ela mordeu
o lábio. — Hum, eu não voltarei após a cerimônia, Lucas. — Ela espiou para mim,
e juro que ela corava. Finalmente, ela ergueu o queixo e me deu um olhar
nivelado. — Eu passarei a noite com Neil.
Eu não tinha ideia do que dizer a isso. Por um lado, eu aceitara seu
relacionamento, e estava emocionado por ela estar feliz. Por outro... minha mãe
479
praticamente apenas me disse que faria sexo hoje à noite. Meu estômago revirou
um pouco quando eu categoricamente disse: — Tudo bem.
Ela sorriu como uma garota da escola, e Sawyer riu ao meu lado. Mamãe
mudou seu foco para ela. — Seus pais veem esta noite, querida? Adoraria
conversar com sua mãe de novo.
Sawyer concordou. — Sim, eles me encontrarão lá. Um grupo de garotas
sênior irá a uma festa de pijama na casa de Sally depois, por isso estou levando
meu próprio carro. — A assisti sem expressão, sem perceber que ela fizera planos
sem mim. Sua mão apertou a minha sutilmente, mas ela não se virou para olhar
para mim. Eu me perguntava sobre seu movimento; obviamente deveria transmitir
algo para mim. Então isso me bateu tão forte que eu realmente gemi, rapidamente
passando para uma tosse quando minha mãe olhou para mim de forma estranha.
Sawyer acabara de mentir. Ela não tinha intenção de ir até a casa de Sally
esta noite. Ela passaria uma noite... comigo. Talvez originalmente ela planejasse
ficar a maior parte da noite comigo e sair pela manhã antes de pensar em Sally,
mas minha mãe acabara de lhe entregar um passe durante a noite. Mamãe não
voltaria para casa hoje à noite... e Sawyer não me deixaria. Minha calça ficou um
pouco desconfortável enquanto eu pensava sobre isso. Apertei a mão dela de volta
muito mais forte do que ela apertou a minha.
Não consegui me concentrar em qualquer uma das conversas que tivemos
depois disso, enquanto esperávamos Neil aparecer. Eu estava pronto para
ultrapassar a parte vestida da noite. Embora, eu teria que dizer a Sawyer em algum
momento para não mudar de vestido depois da cerimônia...
O xerife Whitney, uh, Neil, estacionou ao lado de onde eu estacionara o
carro de Sawyer. Embora dirigir da minha casa até o colégio era bastante breve, eu
exalei de alívio quando eu virei a chave desligando o carro. Geralmente eu deixava
Sawyer nos levar para todos os lugares, mas esta noite parecia ser o tipo de ocasião
em que eu deveria ser um cavalheiro e levá-la. Especialmente com ela parecendo
tão boa naquele vestido de seda.
Sua mão veio para o meu joelho enquanto eu observava Neil sair de seu
carro e caminhar até a porta da minha mãe, acompanhando-a de seu carro
exatamente como eu queria acompanhar Sawyer. Talvez ele sentiu que à noite

480
pediu um pouco de cavalheirismo, ou talvez fosse apenas um remanescente de sua
geração. Provavelmente era apenas assim que as coisas eram feitas naquela
época... ele era um pouco mais velho do que a minha mãe. Mas se isso não a
incomodava, acho que eu não deveria deixar isso me incomodar.
Olhei para Sawyer novamente enquanto ela apertava meu joelho. Seu rosto
tinha um sorriso caloroso nele combinando com o meu enquanto eu olhava para
ela. — Você foi ótimo, Luc.
Sabia que ela falava sobre a minha condução, e senti minhas bochechas
coradas com o calor, tanto pelo seu encorajamento quanto ao fato dela sentir que
precisava me encorajar. Eventualmente, eu passaria por esse obstáculo e me
sentiria mais à vontade ao volante novamente. Só me levaria muito mais tempo do
que eu esperava. Pelo menos eu não tive mais ataques de pânico com apenas o
pensamento de ficar atrás do volante. Isso era alguma coisa.
Balancei a cabeça para ela e abri a minha porta. Ela esperou em seu
assento, sabendo que eu queria agir como adulto para ela, e me viu caminhar ao
redor do carro. Abri a porta e rapidamente a varri em meus braços para um beijo
rápido, surpreendendo-a e fazendo-a soltar um grito curto. Um grunhido infeliz
atrás de mim chamou a minha atenção, e virei para olhar por cima do meu
ombro. Encontrei imediatamente o olhar intimidante do pai de Sawyer. Parece que
ele também acabara de chegar. Ele gradualmente aceitou que a nossa amizade
puramente platônica mudara para algo muito mais profundo depois daquele dia
na estrada e, enquanto Sawyer me garantiu que ele realmente gostava de mim,
geralmente ele não gostava de me ver com as minhas mãos e boca sobre a sua
menina.
Imediatamente dei um passo para longe dela, não querendo levá-la para
qualquer dificuldade desnecessária que poderia impedi-la de passar a noite comigo,
ou com Sally, como seus pais acreditavam. Eles poderiam ter aceitado o nosso
relacionamento, mas não estavam dispostos a nos perdoar por ter relações sexuais.
Ainda que Sawyer e eu estivéssemos com dezoito anos agora, e tecnicamente
éramos adultos, eles ainda eram pais e, assim como a minha mãe, eles
provavelmente fingiam que nós dois decidimos adiar o material físico até que
estivéssemos na faculdade, se não após casar. Eu não estava prestes a deixar
escapar a qualquer um deles que definitivamente não era mais o caso.

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Sawyer calmamente caminhou até seu pai e atirou os braços magros ao
redor de seu pescoço maciço, dando-lhe um leve beijo na bochecha. Podia-se ver o
grande homem praticamente derreter quando a abraçou de volta. Sua mãe se
separou para conversar com Neil e minha mãe, e deu a sua filha um abraço
caloroso quando seu pai a deixou ir. Então a mãe dela me abraçou e disse que
estava orgulhosa de nós. O pai de Sawyer apenas balançou a cabeça e resmungou
para mim novamente.
Caminhando de mãos dadas, Sawyer e eu nos separamos dos nossos pais
e nos dirigimos para a parte de trás do ginásio onde o resto dos sêniors estava à
espera. Éramos cerca de oitenta alunos nesta pequena escola, e a maioria
conversava com amigos, em grupos de cinco ou seis alunos. Todo mundo estava
vestido semiformalmente, a maioria já com suas becas penduradas sobre os seus
ombros.
Sawyer e eu recebemos as nossas por Sally, que imediatamente começou a
conversar com Sawyer sobre sua festa. Eu não fazia ideia de que Sally tinha
consciência de que Sawyer não iria. Pelo visto, Sawyer não disse a ela
ainda. Desligando da conversa de garotas, eu dei uma olhada em volta para os
estudantes reunidos vadiando na sala do coral, à espera de seus cinco segundos
de reconhecimento por quatro anos de trabalho duro.
Era um mar de azul diante de mim. Vestes azuis e chapéus azuis
quadrados, com franjas azuis e brancas penduradas na parte superior. A sala
gritava o espírito da escola e zumbia com a energia animada das pessoas prontas
para deixar esse espírito para trás. Olhei para os alunos com os quais fiquei mais
próximo ao longo dos últimos dois meses e dei-lhes breves sorrisos quando nossos
olhos se encontraram. Randy acenou para mim, e eu acenei de volta. Ele
conversava com alguns dos jogadores sêniors de futebol, incluindo Will.
Will revirou os olhos para mim quando os meus encontraram os dele, mas
não fez nenhum movimento para me contrariar. Embora nunca tivéssemos
acalmado, o nível de provocação diminuiu uma vez que eu comecei a enfrentá-
lo. Eu o reduzi a síndrome do pequeno homem no campus. Durante muito tempo,
eu tinha tudo o que ele queria – a posição de sucesso como zagueiro na equipe e
Lillian firmemente ao meu lado, completamente apaixonada por mim. Vendo-me

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cair daquela altura era um alvo muito tentador para afagar seu ego. Esperava que
o rompimento da nossa amizade valesse a pena para ele. Não era para mim.
Meus olhos passaram pelos vários professores na sala, a Sra. Reynolds e o
Sr. Varner entre eles. Curiosamente, eles conversavam próximos. Enquanto eu
olhava, sua mão roçou sua coxa sugestivamente. Fiz uma careta com o pensamento
dela namorando esse idiota. Depois de tudo o que ela fez para mim este ano, eu me
sentia um pouco protetor com ela; odiaria que ela acabasse com um idiota. Quando
ela afastou os dedos dele, um sorriso irônico tocou meus lábios. Talvez ela estivesse
bem consciente de sua natureza e podia ver além do rosto que distraía as meninas
do colégio. Boa. Eu prefiro vê-la com um homem que parecia um troll, do que com
um homem que, na verdade, era um.
Com irritação no rosto, os olhos do Sr. Varner deslizaram sobre os
meus. Eles se estreitaram enquanto me examinava e eu sabia que olhava para ele
com uma expressão que provavelmente parecia presunçosa, e não mudei nada
dessa expressão enquanto continuava a olhar para ele. O cara era um idiota e
merecia ser fuzilado. Ele quebrou o nosso contato visual, afastando-se da Sra.
Reynolds.
Ousada com seu cabelo pixie, ela se virou para olhar para mim e seu belo
sorriso se alargou. Agora que eu conhecia a linhagem, eu pensei que podia ver a
semelhança com Sawyer na forma de seus olhos e na cor de seu cabelo castanho,
cabelo que combinava mais com a mãe de Sawyer, já que Sawyer tingia o dela. O
corpo também era muito parecido, enquanto a saia que Reynolds usava se agarrava
em suas coxas e a blusa florida mostrava um profundo decote. Depois de um breve
sorriso e aceno para ela, virei para ver os outros alunos, precisando de todas as
referências para tirar o corpo de Sawyer da minha cabeça.
À medida que me distraía olhando para o mar de azul e branco, de repente
eu vi claramente Darren, Sammy e Lil, em suas vestes, conversando uns com os
outros com largos sorrisos. Não os visualizava a semanas, e sorri, dando boas-
vindas, especialmente hoje. Darren olhou para mim e acenou com um brilho
brincalhão em seus olhos escuros. Seu cabelo escuro, em típica desordem,
enfatizou sua malícia. Sorri imaginando que Darren poderia ter planejado alguma
brincadeira para seu breve momento de fama. Conhecendo Darren, ele subiria no
palco vestindo apenas boxers sob essa beca, ele aproveitaria aquele momento para

483
mostrar a bunda para a multidão e aplausos estrondosos viriam do corpo
estudantil.
Meu olhar se desviou para a versão imaginária de Sammy segurando a mão
de Darren. A imaginava alegre e gritando mais alto que qualquer pessoa para
ele. Suas travessuras nunca a deixavam com raiva. Irritada às vezes, claro, mas
nunca com raiva. Ela raramente não tinha nada além de um sorriso feliz no rosto
e minha visão dela agora não foi diferente. Ela virou a cabeça castanho
avermelhado para dizer algo para Lillian em pé ao lado dela e meu olhar mudou
também.
Uma vibração passou por mim. Provavelmente isso nunca pararia quando
a imaginasse, mas a dor era embotada quando ela encontrou meu olhar e sorriu
para mim. Um sorriso triste estava na minha cara enquanto eu imaginava isso, se
o ano passado não tivesse acontecido, no ano passado nesta data exata, eu estaria
de pé ali com eles, rindo de todos os problemas que causamos no último ano e
planejando sair com um estrondo antes de nos separarmos para a
faculdade. Engoli em seco e apertei minhas mãos involuntariamente.
— Ei. — Uma voz suave ao meu lado quebrou a minha visão, e pisquei
várias vezes antes de olhar para Sawyer ao meu lado. Eu sabia que meus olhos
estavam molhados quando ela olhou para mim. — Você está bem? — Ela balançou
levemente as nossas mãos unidas e relaxei meu aperto de morte sobre ela.
Balancei a cabeça, mas depois parei e balancei a cabeça. Com uma ligeira
elevação de meu lábio, eu dei de ombros. — Foi hoje. — Ela balançou a cabeça e
se inclinou contra mim, entendendo o que eu quis dizer. O acidente que aconteceu
hoje. Engoli em seco e continuei: — Eu nunca imaginaria a um ano, que eu me
formaria hoje sem eles...
A minha voz sumiu quando minha garganta se fechou. Os olhos de Sawyer
ficaram molhados e ela balançou a cabeça novamente. — Eles estariam tão
orgulhosos de você, Luc.
Fechei os olhos para isso e assenti. Sim, eles estariam. Eles estariam muito
contentes por eu sobreviver a este ano, sobreviver ao tormento, sussurros, e a dor
auto infligida. Eles estariam orgulhosos por eu seguir em frente. Eles estariam
alegres por eu ter um grande potencial na vida à minha frente, com uma garota

484
incrível ao meu lado, e mesmo que eu desejasse com cada partícula de vida dentro
do meu corpo que eles tivessem sobrevivido também, eu estava orgulhoso
deles. Orgulhoso por conhecê-los, orgulhoso por amá-los, e orgulhoso por eles me
amarem também. Orgulhoso por que tivemos o tipo de amizade que algumas
pessoas viviam a vida inteira sem experimentar. E guardaria isso comigo... para
sempre.
Eventualmente, o Sr. Varner e Reynolds nos organizaram em longas filas
em ordem alfabética. Sendo o único W na minha classe, eu estava na parte de trás
da última fila. Sawyer olhou para mim de onde estava em sua fila e sorriu de forma
brilhante, a franja farfalhando em seu chapéu quando virou a cabeça. Ela
murmurou Eu te amo, e virou antes que eu pudesse dizer alguma coisa de
volta. Sorri ao vê-la conversar com Sally, que estava na fila ao lado dela.
Reynolds passou em cada fila, parabenizando os sêniors. Ela parou na
frente de Sawyer e disse algumas palavras, com os olhos brilhando quando sorriu
para sua prima. Elas compartilharam um abraço rápido e, em seguida, a Sra.
Reynolds continuou passando pela fila até a mim. Ela balançou a cabeça quando
estava na minha frente, e sabia que ela tinha uma tonelada de coisas que ela queria
me dizer. Eu podia imaginá-las: Você percorreu um longo caminho, eu estou feliz
que o Clube Seguro e Sadio ajudou você, me desculpe por duvidar de sua inocência,
estou aqui se precisar de mim. Tudo o que ela acabou dizendo foi: — Eu estou

orgulhosa de você, Lucas. — Sorri ao vê-la se mover até a frente da fila. Isso era o
suficiente.
Ela abriu a porta e saiu para o ginásio. Com um olhar de tédio absoluto em
seu rosto modelo, o Sr. Varner disse aos alunos reunidos que era hora de acabar
com isso. Jogou a mão para a porta aberta que a Sra. Reynolds acabara de
atravessar. Quando a primeira menina na fila, Abby Adams, não se moveu rápido
o suficiente, ele começou a fazer um gesto de comece a se mexer com a mão,
continuamente girando-a em um círculo, enquanto a fila eventualmente marchava
para frente.
O Sr. Varner estava ou irritado por ser colocado de plantão com os sêniors
ou irritado que a Sra. Reynolds lhe dispensou. Eu esperava que fosse o último, mas
na verdade, apenas ele estar irritado era bom para mim. Ele tinha um olhar
irremediavelmente exasperado em seu rosto no momento em que me aproximei
485
dele, e dei um breve sorriso para ele. Ele olhou e colocou a mão no meu ombro, me
segurando para trás do resto do grupo.
Seus olhos procuraram o meu rosto. — Sóbrio? Eu não preciso de você
retardando as coisas lá em cima.
Revirei os olhos e me afastei de seu toque. Aqui estava uma pessoa que
pensaria o pior de mim, não importa o quê. Tentei não levar isso para o lado pessoal
quando pensei no seu mau humor durante todo o ano. Ele simplesmente não ligava
muito para os alunos, não era necessariamente sobre mim, embora eu tenha
certeza que ele não gosta de mim mais do que o resto. Seriamente não tinha
nenhuma ideia de como consegui obter um A em sua classe.
Levantei meu queixo enquanto segurava seu olhar. — Eu não bebo. —
Meus olhos foram para o batente da porta agora vazio e, em seguida, de volta para
ele. — E não tenho nenhuma intenção de reter seus... planos, Jonathan. — Eu
não pude evitar o meu sorriso travesso; eu tinha certeza que seus planos não eram
aqueles que ele queria.
Ele estreitou os olhos ainda mais e empurrou minhas costas para que eu
andasse de novo. — Você já está retendo meus planos — ouvi-o murmurar quando
saí para a pista envernizada do ginásio. Mais uma vez, eu pensei que o Sr. Varner
escolhera o caminho errado na vida.
Pisquei quando saí para a sala relativamente mais brilhante e fiz uma pausa
de um segundo para olhar o mar de rostos nas arquibancadas. Vários membros
mais jovens do corpo estudantil estavam aqui, para dizer adeus aos seus amigos
mais velhos, e reconheci vários pais dos garotos da minha turma. Enquanto estava
sozinho junto à porta da sala do coral, várias cabeças nas arquibancadas se
viraram para olhar para mim. De repente me lembrei do ginásio lotado rindo de
mim enquanto eu tropeçava ao redor como um idiota, completamente dopado. Eu
tinha certeza que essa multidão não começaria a rir, zombar ou jogar tomates
podres em mim, mas o escrutínio fazia o meu rosto corar.
Corri para a última fila de cadeiras dobráveis colocadas diante de um palco
improvisado no centro do ginásio. Os estudantes da minha fileira estavam quase
todos sentados na hora que corri até eles. Sentei na beirada e olhei para minha fila
de companheiros vestidos de azul para encontrar Sawyer, que estava inclinada

486
para frente em sua cadeira e olhando para mim. Sua cabeça estava inclinada e com
a sobrancelha franzida; ela, obviamente, se perguntava porque me atrasara. Sorri
com o quanto ela se preocupava comigo e balancei a cabeça para ela, querendo que
ela aproveitasse seu momento, suas realizações. Eu queria que ela, por uma vez,
colocasse meu coração de lado, mesmo que apenas por alguns momentos.
Eu me acomodei no meu lugar enquanto os estudantes em suas becas na
minha frente relaxaram, preparando-se para, pelo menos, uma hora de tédio. Olhei
para os alunos e pais assistindo seus entes queridos, olhando para a minha
mãe. Encontrei-a de imediato. Ela estava sentada quase diretamente atrás de mim
no centro da parte inferior da arquibancada. Ela estava sentada entre a mãe de
Sawyer e Neil, mas ela não procurava por mim, ela estava inclinada conversando
com alguém sentado na frente dela.
Meus olhos se arregalaram quando percebi com quem ela conversava
tanto. Não acho que eu poderia ter ficado mais surpreso. Ela conversava com
Josh. Não sabia o que me assustou mais, o fato de que ela realmente parecia ter
uma conversa séria com ele, uma mão solidariamente em seu ombro, ou o fato de
que ele realmente veio para a cerimônia. Ele não tinha nenhuma razão verdadeira
para estar aqui. Quero dizer, ele tinha alguns amigos na classe, mas provavelmente
os veria depois da festa de qualquer maneira. Por que sentar-se com toda pompa e
circunstância, se você não precisa?
Eles terminaram a conversa e minha mãe se inclinou para dar um abraço
rápido nele. Lembrei-me, então, que minha mãe não sabia todas as coisas que Josh
disse e fez para mim ao longo do ano. Tudo que ela sabia era que ele era irmão
mais novo de Darren, e que ele estava provavelmente tão quebrado com a perda
como eu estava. Fiquei instantaneamente feliz por nunca contar a ela sobre
qualquer um de seus tormentos. Ele poderia ter sido um idiota para mim, mas ele
merecia a bondade da minha mãe. Mesmo se ele tivesse deixado implícito que ela
era uma prostituta.
Josh parecia um pouco desconfortável, vagamente devolveu o abraço e
depois assentiu educadamente para Neil antes de virar para frente novamente. A
diretora começou a cerimônia, e a sala se acalmou quando as pessoas se viraram
para ouvir. Ignorei-a e mantive meu olhar sobre Josh. Ele olhou para mim com o
rosto inexpressivo. Por fim, uma aresta de lábio levantou para um sorriso. Eu sorri

487
ao vê-lo, imaginando que era o melhor que eu conseguiria. Era algo, porém, e muito
melhor do que ele arremessar uma pedra em mim.
Eu virei para ouvir os tons monótonos da diretora conforme ela fazia seu
discurso pré-embalado. Eu me distraí quando sua voz me acalmou a um nível de
um estado semiconsciente. Pensei no ano e tudo o que aconteceu. Pensei nas
pessoas que eu amava agora e as pessoas que eu amava, então. Pensei em meus
amigos e como eles deveriam estar aqui.
Reynolds havia confessado que a escola agonizara sobre o que fazer para
eles. Alguns membros do colégio queriam ter um memorial durante a cerimônia,
mostrando slides deles e alguns alunos fariam discursos. Meu estômago se
contorceu com o pensamento de ter que ver isso. Eu não tinha certeza se eu
poderia, mesmo depois de todo esse tempo.
Alguns outros professores queriam apenas fazer um memorial simbólico,
deixando lugares vazios e reconhecendo seus nomes nos lugares corretos entre os
outros alunos; indicá-los, mas não reviver a tragédia. Pensei que seria uma coisa
realmente decente para fazer.
Mas alguns dos professores mais expressivos, e suponho que o Sr. Varner
estava entre eles, causou um grande tumulto sobre a coisa toda, insistindo que
houve memoriais durante o verão e os alunos tiveram na equipe de funcionários
um conselheiro de luto o ano todo para lidar com a dor deles. Eles sentiam que a
graduação deve celebrar apenas as conquistas dos vivos, os mortos não devem ser
trazidos durante um momento tão alegre.
Eu fiquei realmente ofendido com isso, especialmente porque eu tinha
certeza que os professores que protestaram apenas queriam acelerar o calvário
para que seus verões pudessem começar. Infelizmente, a diretora concordara com
os membros do corpo docente mais expressivos e nada seria feito. No aniversário
da morte trágica dos meus amigos, nada seria feito para honrá-los. Quanto mais
tempo eu sentei na minha dura cadeira de espaldar, mais esse pensamento não
parecia bom para mim.
Eram pessoas, pessoas que eu amava muito. Não é um evento em que
poderiam ser deixados de lado porque trazê-los poderia deixar algumas pessoas
desconfortáveis. Eu sabia que seria difícil para mim ouvir seus nomes e ser
lembrado de sua ausência, mas era direito deles. Eles lutaram durante os anos de

488
aprendizagem. Todos eram decentes, se não bons alunos. Todos participaram de
atividades extracurriculares e eram membros ativos da comunidade. Eram
amados. Eles se formariam com honras se suas vidas tivessem continuado
normalmente. Bem, Darren passaria apenas raspando, mas tenho certeza que ele
se formaria.
Eles mereciam mais do que serem varridos para debaixo do tapete. Eles
mereciam o reconhecimento deles.

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Capítulo 25
Um tempo para dizer adeus

Após o longo discurso, bons desejos e faça a sua vida significar algo,
finalmente passou, e as primeiras fileiras de estudantes se levantaram para fazer
o seu caminho até o palco. Eles estavam impacientes à medida que esperavam na
fila, e a diretora se dirigia a eles, um de cada vez. Um salpico de aplausos veio após
cada nome e o estudante pegava seu pedaço de papel enrolado.
Ocasionalmente o nome de um aluno inspiraria maior aplauso do que
outro. Geralmente era devido a uma pequena brincadeira que o aluno puxava,
embora ninguém tentou nada tão dramático como mostrar a bunda para multidão,
como Darren faria. Às vezes era porque esse aluno era visto como popular, como
os ruídos estrondosos que Brittany recebeu. Mas eu sabia melhor do que ninguém
que a popularidade não tem nada a ver com merecimento, e eu estava contente
com o fato de que provavelmente só receberia um educado e silencioso bater de
palmas.
Finalmente, minha fila se levantou para uma explosão de aplausos e
fizemos o nosso caminho para área de espera; acho que a reação ruidosa tinha
490
mais a ver com o fato de que éramos a última fila do que com o nome do aluno
sendo chamado. Sawyer olhou para mim quando seu nome foi o próximo a ser
chamado e me deu um sorriso deslumbrante. Eu sorri de volta, feliz que após tudo
que foi dito e feito, eu ainda a tenha. Esse ardor ficaria comigo por vários anos,
talvez para sempre.
Seu nome foi finalmente chamado e trouxe meus dedos na minha boca para
deixar sair um assobio ensurdecedor para ela. Seus aplausos foram decentemente
altos de qualquer maneira – ela fez um trabalho muito melhor de se integrar este
ano do que eu – mas gostei de fazer a minha parte para ajudá-la a se sentir
querida. Era o mínimo que eu podia fazer.
Ela riu enquanto pegava seu diploma e apertou a mão da diretora. Suas
bochechas estavam vermelhas do ligeiro embaraço de todos os olhos sobre ela, e
ela estava linda para mim enquanto descia as escadas do outro lado do ginásio. Ela
manteve os olhos em mim enquanto caminhava de volta ao seu lugar, um sorriso
irônico nos lábios. Ela sabia muito bem que eu criara o tumulto. Eu ri quando a vi
se sentar.
Até então, eu era o próximo na fila, e o último a subir. Um silêncio atingiu
a sala segundos antes do meu nome ser chamado. Senti o calor de cada par de
olhos em mim e levantei meu queixo, determinado a passar por isso. Algumas
pessoas ainda pensavam mal de mim, e a maior parte não podia deixar de pensar
na tragédia quando olhavam para mim, mas não preciso deixar meu doloroso
passado me definir. Como Sawyer me disse uma vez, podemos escolher quem
queremos ser.
— Lucas Michael West — a diretora categoricamente entoou.
Os aplausos começaram tão suaves como imaginei que seria, mas enquanto
eu seguia até o centro do palco, foi ficando significativamente mais alto. Não em
qualquer lugar perto do nível do passeio da Brittany em frente ao palco, mas ainda
assim elevado. Um sorriso se arrastou até o canto do meu lábio quando deixei a
aceitação, a qual eu tive tanta certeza que nunca conseguiria, me encharcar. Deixei
me encharcar com a minha própria aceitação. O que foi que Beth me disse? Você
não pode aceitar o perdão de outras pessoas até que você perdoe a si mesmo. Meu
sorriso se alargou à medida que me deixei aproveitar esse perdão. Eu me sentia
melhor do que senti a um tempo.

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Estou firmemente agarrando a mão da diretora e apertando-a, tendo meu
diploma com a outra mão. Ela me deu um sorriso de lábios apertados e um breve
aceno de cabeça. Seu aperto de mão era nítido, breve e direto ao ponto – você já se
formou, ótimo, ao lado, por favor. Depois de nos separarmos, ela começou a voltar
para o microfone, obviamente, assumindo que eu continuaria, desceria do palco e
faria o meu caminho para o meu lugar sem sua direção. Não tinha a intenção de
fazer isso ainda.
Lutando contra um súbito nó nervoso no estômago, eu pisei na frente dela,
diretamente em frente ao microfone. Olhando assustada com a minha manobra
ousada, ela parou e olhou para mim, em vez de me puxar para trás. Aproveitei o
momento de hesitação para olhar para a multidão de rostos chocados.
Silêncio caiu instantaneamente no ginásio, as pessoas se perguntavam o
que diabos eu fazia. Limpei o sapo da minha garganta e comecei o discurso que
acabara de pensar quando sentado e esperando a minha vez.
— Meu nome é Lucas West. — Eu parei, meu rosto ficando um pouco
vermelho quando percebi que, mesmo que não soubessem, eu tinha certeza que a
maioria deles saberia após a diretora acabar de anunciar no microfone. — Mas,

vocês já sabem disso. — Meus olhos na multidão, vendo a minha mãe, parecendo

orgulhosa, mas confusa. — Eu sei que todos querem seguir com a sua noite... mas
eu não posso deixar esta noite passar sem reconhecer... as três pessoas que
deveriam estar em pé aqui comigo esta noite.
De algum lugar no ginásio escutaria um alfinete cair com o silêncio, eu
imaginava ter ouvido o Sr. Varner suspirar. Engoli em seco e olhei para a
diretora. Ela parecia dividida entre me empurrar para longe do microfone e me
deixar finalizar, desde que, obviamente, tinha a atenção de todos ali. Tentei ignorar
esse fato continuando com o que eu precisava fazer. Meus olhos voltaram para a
assembleia diante de mim. Procurei Sawyer e segurei o olhar dela, puxando a força
de seus olhos aprovadores.
— Darren McCord... Samantha Carter... e... Lillian Tate. — Minha voz
falhou no nome de Lil, mas ignorei. Meus olhos esvoaçaram sobre a multidão,
repousando sobre pessoas que eu conhecia e pessoas que eu não conhecia. — Eles
morreram há um ano, esta noite, e merecem algum reconhecimento. Peço que todos

492
nós façamos um momento de silêncio, para as três vidas que foram perdidas. Eles
podem ter ido embora... — meus olhos se voltaram para descansar em Josh, com

o rosto branco, as faces molhadas —... mas eles não serão esquecidos.
Baixei a cabeça e senti um farfalhar de vários corpos fazendo o mesmo. Um
silêncio espesso permeou o lugar e tudo em que eu conseguia pensar era
naquela noite. Tentei me concentrar mais nos momentos anteriores – rindo com
Sammy, fazendo palhaçadas com Darren, beijando Lillian. Até o final, foi uma noite
incrível para nós três. Me trouxe um estranho tipo de paz que a última noite deles
na Terra foi boa.
Quando minhas memórias seguiram seu curso, minha cabeça
levantou. Olhei para a multidão novamente. Algumas cabeças ainda estavam em
reflexão, alguns já em lágrimas. Alguns olhavam para mim com uma expressão
endurecida, talvez desejando que eu não trouxesse isso aqui, talvez ainda
acreditando nas fofocas que giravam ao redor da cidade. Quando senti a diretora
dar um passo em minha direção, eu continuei antes que ela pudesse me parar.
— Eu sei que um monte de hipóteses sobre mim... e aquela noite, correram
ao redor desta cidade, e sei que não fiz muito para dissuadir esses rumores... —
eu assisti cada cabeça levantar para me encarar. Quando a minha voz no microfone
morreu, um completo silêncio caiu sobre a sala novamente. — Talvez o meu próprio
silêncio ajudou a fazer os rumores parecerem verdadeiros.
Com os olhos fixos em Sawyer, eu engoli e continuei: — Espero que vocês

possam entender tudo isso... que eu venho passando por algumas coisas. —
Sawyer me deu um sorriso caloroso e comecei a falar, como fiz quando estava
sozinho com o meu conselheiro, não consciente dos olhos em mim, apenas sentindo
a necessidade de liberar este fardo dos meus ombros.
— Eu me lembro de tudo sobre o acidente. — Balancei minha cabeça
enquanto mantinha meus olhos nos brilhantes olhos de Sawyer. — Eu sempre me

lembrei de tudo. — Ouvi um zumbido começar em torno do ginásio, quando as


pessoas absorviam, e meus olhos se voltaram para a multidão. Muitos dos alunos
não ficaram surpresos com isso desde que eu falara com eles mais frequentemente

493
nos últimos tempos, mas alguns dos adultos na plateia pareciam genuinamente
chocados, e alguns pareciam irritados.
Fechei os olhos e suspirei, desejando não precisar fazer isso. Desejando que
meus amigos estivessem sentados em seus lugares, rindo de mim fazendo um
espetáculo de mim mesmo. Mas desejar não muda nada e esta era a minha
realidade, uma realidade que eu precisava compartilhar esta noite. — Darren, Lil
e Sammy beberam... Darren estava muito bêbado. Eu bebia refrigerante, então
peguei as chaves dele. — Olhei para a plateia. Silêncio atingiu o ginásio novamente
com as minhas palavras, e encontrei um estranho tipo de força a partir disso. Eu
estava preocupado que algum descrente poderia se levantar e começar a abusar
verbalmente de mim nesse ponto, mas todo mundo ficou em silêncio, escutando.
— O acidente não foi causado porque eu estava... confuso. — Eu fechei os
olhos. — Foi aquela anormal. Nós íamos bem a caminho de casa e o carro de

Darren começou a aquaplanar na estrada. — Fiz uma pausa, sentindo a fatia de


dor que sempre me batia quando pensava sobre aquele momento. Reabri os olhos
e procurei a plateia até que me conectei com a minha mãe. Concentrei-me no amor
que eu sentia derramando dela e com uma voz muito mais calma, continuei. — Eu
cometi um erro. Eu dirigia muito rápido e tudo que eu queria era parar... então
bati o pé no freio. Perdi completamente o controle do carro e fomos diretamente
para aquela curva acentuada. Não podia fazer nada para nos parar, e batemos o
trilho duro... e passamos por cima. — Mantive meus olhos em minha mãe. Havia
lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Minha voz falhou quando comecei a falar
novamente. — Eu cometi um erro... e todos eles morreram por causa disso.
Olhei para a multidão e vi vários rostos com lágrimas não derramadas e
várias com as bochechas molhadas. Eu estava um pouco assustado ao perceber
que as minhas estavam molhadas também. — Eles eram meus melhores amigos,
e sinto falta deles todos os dias, e sei que muitos de vocês se sentem da mesma
maneira. — Deixei meus olhos voltarem para os sêniors diante de mim. — Eles
gostariam de estar aqui, graduando com a gente hoje.
Engoli em seco ruidosamente. — Eu daria qualquer coisa para ser capaz de
voltar para aquela noite, um ano atrás, sabendo o que sei hoje, e mudaria tudo o

494
que aconteceu. Eu sairia mais cedo, ou dirigiria mais lento, ou voltaríamos para
casa a pé. — Eu suspirei, sabendo que, mais uma vez, desejar não mudaria

nada. — Não... eu convenceria a todos a não ir em primeiro lugar. Eu os


convenceria a ficar na minha casa e ficaríamos seguros. Eu sei que não posso voltar
atrás e mudar alguma coisa, mas eu daria qualquer coisa para ter os meus
amigos... nossos amigos... de volta.
Funguei e procurei os olhos pensativos dos alunos na minha frente, a
maioria deles cheios de lágrimas. Parei quando meus olhos se apoderaram de
Sawyer de novo. Os dela estavam tão molhados como os meus enquanto ela
balançava, me incentivando. — Eu pensei em me juntar a eles muitas
vezes. Achava que a vida de todo mundo seria melhor se eu nunca tivesse
sobrevivido, se eu estivesse morto também. E eu queria morrer. Eu tentei... morrer
com eles. — Olhei para a minha mãe. Seu rosto empalideceu quando sua mente
voltou para aquele terrível dia na estrada, quando eu estava decidido a tirar minha
própria vida.
Engoli em seco e falei diretamente para ela. — Eu queria tornar a vida de

todos mais fácil. Queria que a minha tortura acabasse. — Fiz uma pausa enquanto
a observava começar a soluçar baixinho nas arquibancadas. Neil colocou uma mão
reconfortante sobre seus ombros e a puxou para o seu lado. Os pais de Sawyer, os
seus rostos tão molhados e perturbados como minha mãe, deram um tapinha em
suas costas em simpatia. Meus olhos nos dela abaixaram para Josh. Ele olhava
para mim com os olhos arregalados e a boca aberta. Ele não sabia que eu passei
de querer morrer para tentar fazer isso acontecer. Com uma pequena voz eu falei
para ele. — Mas não posso mudar o passado e preciso viver com o que eu fiz. E eu
vou.
Afastando meus olhos para longe do rosto ferido de Josh e da dor da minha
mãe, eu inalei uma respiração profunda, limpa e varri o auditório novamente. —
Se algum de vocês ainda optar por acreditar nas mentiras, e ainda escolher me
odiar... eu não vou usar isso contra você. — Eu definir meu maxilar e levantei meu

queixo. — Mas, não irei me juntar a vocês e me odiar mais. Eu cometi um erro,

um erro que qualquer um poderia ter feito. — Minha voz e rosto suavizaram, olhei

495
para baixo e balancei a cabeça. — Eu paguei a minha penitência, e agora... eu
seguirei em frente. Agora, eu farei o que Darren, Sammy e Lillian queriam que eu
fizesse. — Levantei meus olhar, meus olhos automaticamente ao radiante rosto de

Sawyer. — Agora, eu viverei.


Dei um passo para longe do pódio e pisquei algumas vezes quando olhei em
volta. Não houve palmas estóicas como seria de esperar depois de um discurso
como esse, apenas algumas fungadas e algumas palavras murmuradas, e um mar
de avaliação, de caras pensativas. Não tinha certeza se o meu discurso mudou os
sentimentos de alguém sobre mim – aqueles que ainda acreditavam no pior, depois
de todo esse tempo, provavelmente sempre acreditariam no pior – mas eu precisava
fazer isso, e enquanto eu deixava o palco para me juntar aos meus colegas, eu senti
uma paz calma fluindo através de mim por ter feito isso.
A diretora rapidamente encerrou a noite e, em seguida, todo o ginásio
explodiu em comemoração. Juntei-me a eles. Eu fiz isso. Eu consegui passar ao
longo do ano mais ou menos inteiro. Enquanto a multidão de estudantes
graduados começava a se dispersar, encontrei Sawyer e a levantei a cerca de um
pé no ar. Ela gritou e me abraçou com força, sussurrando quanto orgulho tinha de
mim, falando sobre o meu discurso. Eu a coloquei no chão e peguei o rosto dela,
dando um beijo longo e lento que não terminara até que alguns dos alunos ao nosso
redor começaram a bater em nossas costas para nos parabenizar.
Mais pessoas do que eu teria esperado me deram palavras de aprovação
pela minha homenagem aos nossos colegas perdidos. Reynolds veio até mim com
lágrimas em seu rosto, dizendo que meu discurso foi lindo. Sra. Solheim se
aproximou de mim um minuto depois, fazendo Sawyer rir quando ela me chamou
de Tom. Ao ouvir a voz de Sawyer, ela se virou reconhecendo-a, e piscou os olhos,
como se olhasse para algo que não podia ser real. Sawyer olhou para ela
estranhamente, mas entendi a reação da minha professora avoada. Sra. Solheim
provavelmente pensou que ela via a arte ganhar vida em frente de seu rosto. Eu
desenhei, pintei e esculpi várias versões de Sawyer durante o ano todo, e embora
a Sra. Solheim tenha conversado com Sawyer no início do ano letivo, quando
Sawyer viera recolher os trabalhos de casa para mim, não acho que ela percebeu
que o meu tema era uma pessoa real até este exato momento.

496
Enquanto eu observava a minha estranha professora se recuperar e voltar-
se para flutuar entre os sêniors, uma mão bateu em minhas costas. Virei para ver
o treinador em pé atrás de mim. Pisquei e balancei a cabeça, como se eu visse algo
que não poderia ser real. O treinador tinha lágrimas em seus olhos. Com orgulho
claro no rosto, ele agarrou o meu ombro e me puxou para um abraço rápido. Isso
me assustou muito.
Soltando rapidamente, ele cruzou os braços sobre o peito e se inclinou para
trás, me avaliando. — Isso foi bom, Luc... o que você fez. — Ele balançou a cabeça

e disse com a voz rouca, — A diretora estúpida deveria ter feito isso. — Sorri e
acenei em concordância. Ele fungou de novo, seus olhos ainda
nebulosos. Estendendo a mão para mim, ele falou com uma voz sincera: — Você é
um bom homem, Lucas. Foi uma honra conhecê-lo.
Meus olhos embaçaram, assim que peguei a sua mão e apertei. — Você

também, treinador. — Ouvi Sawyer fungar e coloquei meu braço em volta da sua
cintura conforme o treinador liberava o outro. Ela deitou a cabeça no meu ombro
enquanto eu sorria para o treinador aparentemente muito mais suave na minha
frente. Pela primeira vez, nos sentimos mais como iguais do que um professor e um
aluno. Suponho que era um sentimento natural de ter depois de se formar. Ele
apertou o meu ombro novamente e virou como se fosse embora.
— Treinador? — Eu disse, quando ele virou. Ele olhou para mim com as
sobrancelhas levantadas e mais uma vez eu vi a semelhança comigo que Darren
usava para me provocar constantemente. Um dia eu teria que perguntar a mamãe
se eram parentes. Talvez primos distantes ou algo assim? — Obrigado, por sua
ajuda com a faculdade.
Ele sorriu e balançou a cabeça. — Isso foi tudo sobre você, Lucas. —
Abruptamente seu rosto ganhou aquele severo olhar de treinador que ele poderia
fazê-lo bem. — Mas não me faça ficar mal na frente do marido da minha irmã.
Eu sorri e balancei minha cabeça enquanto ele se afastava.
Vários alunos vieram até Sawyer e eu depois disso, dando os parabéns e
elogios ao meu discurso. Até mesmo Will se aproximou de mim e de má vontade
me disse que meu momento de silêncio foi uma coisa boa para fazer. Claro que, em

497
seguida, ele tentou me fazer cair quando Sawyer e eu fomos para a arquibancada
para nos juntar a nossos pais. Não era como se Will tivesse crescido
instantaneamente desde que recebeu um pedaço de papel honorífico.
Balançando a cabeça com a sua fraca tentativa, eu apertei a mão de Sawyer,
e fomos para onde seus pais conversavam com minha mãe e Neil. A mãe de Sawyer
tinha as bochechas molhadas, e seu rosto brilhava quando olhou para mim. De
repente, tive a sensação de que ela finalmente me viu como um potencial marido
para sua filha, esta noite, e ela aprovou. Não pude deixar de sorrir com esse
pensamento.
Assim que demos o primeiro passo para subir até eles, Josh desceu para
ficar na minha frente. Seu rosto estava cansado e branco, mas seus olhos escuros
pareciam ter sido espremidos várias vezes. Fiz um gesto para Sawyer ir em frente,
dizendo que estaria lá em um minuto. Ela assentiu com a cabeça e apertou minha
mão antes de ir.
Os olhos de Josh a observaram sair antes de lentamente se voltar para
mim. Engoli em seco, esperando ele falar. Após mais alguns segundos de silêncio,
ele finalmente disse. — Isso foi muito bom... o que você fez por Darren, para todos
eles. Obrigado.
Senti meus olhos lacrimejarem e não sabia o que dizer. Encontrei-me
acenando e dizendo: — Eles mereciam algum reconhecimento... especialmente

hoje. — Minha voz era suave e um pouco rouca.


Os olhos de Josh também molhados quando me deu um tapinha no ombro
antes de se virar para passar por mim na escada. Eu me virei para vê-lo sair,
desejando-lhe mentalmente que o próximo ano fosse mais feliz. Uma vez lá
embaixo, ele se virou para me olhar. Seus olhos estudaram os meus por um
momento antes de balançar a cabeça e dizer calmamente: — Eu acredito em você,
Lucas. Boa sorte no próximo ano.
Essas malditas lágrimas nos meus olhos deslizaram pelo meu rosto
enquanto eu balançava a cabeça e desejava o melhor a ele. Ele retornou meu gesto,
então virou e desapareceu no mar de estudantes de becas moendo sobre o piso do
ginásio.

498
Depois dos abraços de felicitações da mãe de Sawyer, e,
surpreendentemente, do pai dela também, eu fui engolido pela minha mãe, que
chorava e me dizia várias vezes que me amava e tinha muito orgulho de mim. Tentei
me afastar de sua histeria, mas depois parei e deixei a pequena mulher chorar no
meu ombro o quanto precisava. Eu fiz algo a ela quando tentei acabar com minha
vida e esta era a sua forma de cura. Eu não negaria isso a ela.
Quando ela finalmente se recompôs, Neil me deu um abraço rápido e um
aperto de mão, e pegou a mão da mamãe, saindo do ginásio e de volta à sua casa,
onde, provavelmente, fariam amor a noite toda. Fechei os olhos e balancei a cabeça
para bloquear esse pensamento. Eu disse adeus aos pais de Sawyer, que
conversaram com Sally antes de sair do ginásio e ir para casa sozinhos. Pelo olhar
em seus rostos quando acenaram da porta, Sally os convencera de que Sawyer
realmente iria na sua festa.
Eu dei um sorriso malicioso para ela quando percebi por que ela não contou
a notícia para sua amiga ainda. Ela me deu um sorriso irônico de volta, sua
adorável covinha sorrindo para mim também. — Sally é uma terrível
mentirosa. Agora que ela convenceu os meus pais que realmente passarei a noite
toda na casa dela, estou praticamente livre até de manhã. — Dando-me um beijo

rápido, ela acrescentou: — Vou contar a ela o que realmente está acontecendo.

Sorri quando ela se afastou, mas depois franzi a testa. — Seus pais ainda
não confiam em você?
Ela riu e se aproximou, colocando os braços ao redor do meu pescoço
enquanto se inclinava para um beijo. — Eles confiam em mim, muito bem. Mas
você? Eles têm quase certeza que você usaria qualquer oportunidade para entrar
em minhas calças. — Ela riu de novo, e eu ri com ela.
Minhas mãos corriam em volta da sua cintura, imaginando o vestido
novamente. — Não quero suas calças, isso é mais interessante para mim agora. —
Eu apertei sua bunda através de sua beca e ela riu. Inclinando mais perto eu
acrescentei: — Você manterá esse vestido por mais algum tempo... certo?

Ela me deu outro beijo suave antes de nos desembaraçar. — Ah, sim,
Luc. Eu não estou a ponto de tirar algo que deixa seus olhos desse jeito.

499
Ela se afastou, então, para falar com Sally, e franzi a testa. — Como o quê?

— Eu gritei no ginásio para ela. Ela virou a cabeça e riu, mas não me
respondeu. Sorri enquanto observava minha linda garota ir até a sua amiga para
dar a notícia.
Desculpe, Sally, hoje à noite meu anjo ficará comigo. Amei esse pensamento.
Caminhando de mãos dadas com Sawyer para o estacionamento, comecei
a me preparar para a viagem de volta para casa. Eu sabia que podia fazer isso, mas
ainda precisava dar a mim mesmo um estímulo mental. Acenei para vários grupos
de pessoas que passavam, um pouco espantado com a forma como as coisas eram
diferentes agora do que no início do ano. Eu fiz isso, porém. Por mais difícil que
fosse, tudo estava acabado agora. Apertei a mão de Sawyer quando chegamos nos
primeiros carros estacionados.
— Lucas?
Uma voz me chamando conseguiu a atenção de Sawyer e a minha, paramos
de andar e viramos para olhar para trás. Sorri ao ver Beth trotando para nos
saudar. Seus cachos vermelhos ao redor de seus ombros enquanto seu grande
sorriso no rosto combinava com o meu. — Bem, você ainda está aqui.

— Oi, Beth — disse, soltando a mão de Sawyer para que pudesse dar-lhe
um abraço caloroso.
Ela o retribuiu, suas mãos descendo para meus braços quando nos
separamos. Orgulho refletia em seus olhos claros quando ela olhou para minha
cara. — Isso foi incrível, Lucas, simplesmente... incrível. — Eu corei e baixei o

olhar. Não foi tão incrível. Ela riu, e olhei para ela. — Não, não estou exagerando.

Considerando onde você começou este ano, isso — ela indicou atrás dela — foi
incrível.
Constrangimento sobre seus elogios passou por mim, mas, em seguida,
uma sensação de seriedade o substituiu. — Obrigado... por não desistir de mim.

— Levantei um lábio ironicamente. — Ou ter se dedicado a mim.


Ela riu de novo e balançou a cabeça. — Eu nunca faria nenhuma dessas

coisas, Lucas. — Ela deu um tapinha no meu braço, olhando para a Sawyer antes

de se voltar para mim. — Me ligue se precisar de alguma coisa... ok? — Balancei

500
a cabeça e dei outro abraço rápido nela. No meu ouvido ela sussurrou: — Eu disse
que chegaria lá, Luc.
Mordi o lábio e assenti com a cabeça novamente, quando nos separamos no
final. Agarrei a mão de Sawyer e virei com ela para sair. Ao fazermos, Beth disse
intencionalmente: — Tenha uma boa noite, vocês dois. — Sawyer riu e virei minha
cabeça para olhar para Beth, dando um rápido sorriso. Eu ainda podia ouvir sua
risada suave quando chegamos ao carro de Sawyer.
Parecia que foram apenas segundos depois que Sawyer e eu estávamos de
pé sozinhos no meu quarto. O quarto estava sutilmente iluminado pela meia-lua
pendurada a milhares de quilômetros acima de nós e a intimidade de sua pálida
luz envolta em torno de nós. Ficamos ao lado da minha cama e simplesmente
olhamos um para o outro. Meu coração aquecido com a visão de seus olhos prata-
no-luar me bebendo. Suspirei e abaixei minha cabeça até ela, dando-lhe um beijo
suave, enchendo-a com cada grama do amor que eu sentia por ela.
— Eu te amo — sussurrei entre o nosso beijo, sentindo a necessidade de
verbalizar o que eu sentia por ela também.
Ela suspirou com um som que combinava com o meu. As mãos dela vieram
até o meu rosto, uma parando na minha bochecha, a outra no meu cabelo. O
movimento trouxe seu corpo mais perto do meu, pressionando seus seios contra o
meu peito.
— Eu também te amo — ela sussurrou.
Minhas mãos descansaram em seus quadris, os nossos lábios se movendo
mais intensamente agora. Quando minhas mãos rodearam sua bunda, ela fez um
barulho suave e se aproximou de mim, seu quadril descansando contra o meu. Eu
estava pronto para ela e ouvi um: — Ah, Lucas — saindo de seus lábios antes da
minha língua roubar toda a sua fala.
Meus dedos levemente viajaram do seu corpo trêmulo até o seu pescoço,
atravessando alguns longos fios sedosos de seu cabelo antes de encontrar o zíper
daquele vestido fabuloso. Eu gemi quando puxei o zíper para baixo, ansioso para
ver o que estava por baixo, mas triste por ver que o material fino e justo deixava
suas curvas. Afastei-me, minha respiração vindo com mais dificuldade através dos
meus lábios entreabertos. A dela, também.

501
Puxando o vestido que agora parecia cinza para baixo dos ombros, eu expus
sua pele cremosa centímetro por centímetro. Ela engasgou quando seus ombros
ficaram livres. Engoli em seco quando seus seios estavam livres. Na sequência, o
tecido de seda desceu pelos contornos do seu corpo, eu empurrei-o para um ponto
logo depois dos quadris, e depois deixei cair. Caiu aos seus pés em pilha, e levei
um segundo para admirar a beleza seminua diante de mim.
Seu sutiã e calcinha eram de um branco surpreendente. Eles tinham que
ser, pois pareciam brilhar na luz pálida da lua. Eram graciosos e provocantes, mal
contendo suas curvas, seu corpo quase derramando fora dos recipientes
parciais. Minha cabeça se inclinou para provar automaticamente a pele macia
acima de seu peito enquanto meus dedos enrolavam ao redor para tirá-lo. Seus
dedos afrouxaram a gravata e começaram a desfazer os botões da minha camisa
quando soltei seu sutiã.
Ela me puxou para a minha cama saindo de seus sapatos e da pilha de seu
vestido. Tirei meus sapatos enquanto a seguia, minha cabeça ainda dobrada,
minha boca se movendo sobre o peito exposto. Ela tirou a gravata e camisa quando
as costas de suas pernas encontraram a cama. Ela foi para as minhas calças
quando me mudei para o outro seio.
Eu mal estava consciente da minha calça deslizando pelas minhas pernas,
todo o meu ser focado em sentir o seu corpo. Não foi até que a mão dela estivesse
em volta de mim que me dei conta do meu corpo novamente. Encontrei o meu
caminho de volta para sua boca. Nossos beijos eram mais apaixonados agora,
enquanto nossos dedos e palmas das mãos exploravam o outro.
Nossas respirações quase tão frenéticas como nossas bocas, ela puxou meu
pescoço, me incitando a deitar com ela. Fiz, parando apenas momentaneamente
para tirar minhas meias e cuecas. Ela me olhou com olhos famintos até me juntar
a ela novamente. Eu estava em cima dela, pressionando meu corpo dolorido contra
sua calcinha. Eu podia sentir como ela estava pronta para mim, também, e eu
praguejei sob a minha respiração. Ela apertou os quadris contra mim e um baixo
praguejar passou de seus lábios também.
Passei a minha boca e língua pelo seu corpo, querendo saber que gosto
tinha cada parte dela. Cada parte era diferente: um pouco de perfume floral ao
longo de seu pescoço, uma simples sugestão de suor entre os seios, uma

502
quantidade fraca de lavanda em torno de seu umbigo. Meus dedos seguraram sua
calcinha e a puxei para baixo. Enquanto assistia o deslizar em suas coxas, o único
pensamento na minha cabeça era – eu precisava saboreá-la em todos os lugares.
Deixei minhas mãos viajarem até suas coxas, beijando o seu interior. Ouvi
sua respiração engatar em antecipação. Isso me fez pulsar. Olhei para o lugar que
eu queria estar mais do que qualquer coisa. Ela se contorceu em minhas mãos. Eu
sabia que ela queria que eu estivesse dentro dela também. E eu gostaria de estar...
em um minuto.
Bem quando eu trazia a minha língua para baixo para provar aquela pele
delicada, suas mãos empurraram meus ombros. Minha respiração estava pesada e
meus olhos pareciam encapuzados conforme agarrei o olhar dela; os dela estavam
carregados de desejo também quando ela olhou para mim, mas eu também podia
ver uma pitada de incerteza.
Sawyer e eu estávamos completamente à vontade um com o outro, mas
isso...? Para ela, isso era provavelmente mais íntimo do que tudo que já fizemos.
Para mim também, eu acho. Se as nossas posições fossem invertidas, eu
provavelmente me sentiria um pouco autoconsciente sobre mim mesmo,
independentemente de quão confortável eu estava com ela. Mesmo o amor infinito
nem sempre supera a insegurança. Eu entendia isso. Verdade seja dita, eu estava
um pouco nervoso sobre isso também, desde que eu nunca fiz isso também, mas
eu queria que nós experimentássemos tudo junto, mesmo que isso meio que nos
assustasse.
Ela aparentemente sentiu o mesmo. Depois de olhar para mim por um
momento, ela mordeu o lábio, e estendeu a mão para segurar o meu rosto; seu anel
de ouro, o único adorno em seu corpo, era frio na minha pele quente. Ela me puxou
para ela, abrindo-se para mim, me dando boas-vindas como sempre fazia. Não
hesitei. Deixei cair minha boca e passei minha língua nela. Ouvi o barulho que eu
fiz, mas foi instantaneamente abafado pelo grito dela. O gosto... era indescritível.
— Lucas... isso sente tão... — ela começou a ofegar e gemer em um padrão
que eu conhecia bem e sofria com o pensamento de satisfazê-la dessa
maneira. Apenas quando comecei a me perguntar se eu poderia, sua voz cheia de
necessidade tocou em meus ouvidos. — Oh Deus, oh Deus, Lucas...

503
Ela não teve tempo de dizer mais nada. Eu gemi quando senti e ouvi sua
libertação. Eu estava tão em sintonia com seu corpo, era quase como se eu fosse
ela e acabara de vir também, embora meu corpo latejando me garantiu que eu não
tinha.
Eu me afastei, sem fôlego e dolorido. Ela estendeu a mão para o meu rosto
e me puxou para sua boca. Precisando tanto dela que mal podia aguentar mais, eu
deslizei dentro dela e gritei em sua boca quando nossos quadris descansaram
juntos.
Ficamos conectados, sem mexer, até que meu corpo se acalmou um
pouco. Então, lentamente, comecei a me mover. Nós dois exalamos em alívio. Foi a
mais intensa profunda ligação que eu já tive, emocional ou fisicamente, com outro
ser humano. Nossos movimentos ficaram lentos enquanto cada um de nós
experimentava o outro no prateado quase escuro do meu quarto. Eu sussurrei em
seu ouvido o quanto a amava e ela murmurou que me amava.
Estávamos em completa harmonia, sentindo como se tivéssemos feito isso
há anos, e não meses. Eventualmente, a nossa necessidade comum nos levou a
nos mover mais rápido, até que senti todos os meus outros sentidos à medida que
o embotamento em meu corpo focava em um resultado. Eu me ouvi gemendo e a
ouvi implorando para eu terminar com ela. Não precisava dizer duas vezes; comecei
a crescer, murmurando seu nome enquanto caía sobre a borda. Ela me agarrou
com força e para minha surpresa, ela gritou novamente, seu corpo apertando em
torno de mim quando ela gozou pela segunda vez.
Nós desaceleramos nossos movimentos e eu cuidadosamente comecei a me
afastar dela. Seus dedos foram para os meus quadris, me acalmando. — Não... por
favor, fique, apenas um pouco mais.
Eu me deixei dentro dela, e deixei o resto de mim cuidadosamente ceder em
cima dela. — Enquanto você quiser, Sawyer — eu murmurei sem fôlego.
As mãos dela nas minhas costas, traçando padrões suaves em minha pele
com as pernas envoltas de mim, tentando me puxar para ainda mais perto. Era
impossível. Não poderíamos estar mais perto. Ela levantou as mãos para segurar
minha cabeça enquanto eu estava do outro lado dela, minha respiração ainda
rápida, meu coração ainda acelerado. Seus dedos correram em meu cabelo,
acariciando repetidamente, e meu corpo lentamente começou a se acalmar. Ela
504
beijou minha cabeça enquanto eu enterrei em seu pescoço. Quando senti a
umidade na minha bochecha, me ergui, confuso. Olhando para o rosto dela,
percebi que ela chorava.
Saí imediatamente dela e ajustei um pouco do meu peso corporal fora
dela. — Me desculpe, estou te machucando? — Eu sussurrei, enxugando as
lágrimas do seu rosto.
Ela olhou para o teto, balançando a cabeça enquanto se encolhia de
vergonha. Engolindo em seco, ela tampou os olhos com as mãos. — Não, não, claro
que não.
Ainda confuso, eu passei minhas mãos sobre o seu rosto. Não queria que
ela se sentisse nada, a não ser felicidade, como eu. Vendo minha expressão, ela
suspirou e revirou os olhos, uma leve risada escapando dela. — Desculpe, eu estou
sendo totalmente uma garota agora.
— Sawyer?
Ela levou as mãos ao meu rosto, acalmando os meus medos com um sorriso
caloroso. — Eu sinto muito. É só que... com tudo que já passamos... — ela

procurou meu rosto, novas lágrimas umedecendo seus olhos. — Isso é

impressionante, o que eu sinto por você... e às vezes... — a voz dela gorjeou, mas

ela engoliu em seco e se firmou. Com uma voz mais clara, ela disse: — Às vezes,
eu não posso acreditar que fizemos isso aqui... juntos.
Suspirei e descansei minha cabeça na dela. — Eu sei exatamente o que

quer dizer — eu sussurrei, balançando minha cabeça contra a dela e beijando-a


carinhosamente por alguns minutos. Isso poderia ser tão esmagador para mim às
vezes.
Quando me afastei, ela mordeu o lábio. — Eu tenho uma confissão. —
Levantei uma sobrancelha para ela. Ela sorriu diabolicamente antes de me
responder. — Enquanto isso foi... incrível, Lucas, não era realmente pelo sexo que
eu queria ficar com você esta noite.
Mudei para o lado dela. Ela virou o rosto para mim, com as pernas
enredando com a minha. — Não — eu disse distraidamente, passando os dedos
em seu cabelo.

505
Ela mordeu o lábio de novo, os olhos correndo para o meu peito, antes de
levantar para encarar os meus novamente. — Não. — Sua mão segurou minha

bochecha, fazendo círculos suaves em minha pele. — Eu queria ter certeza de que
estava tudo bem esta noite... no caso, de ser difícil para você. No caso de você ter
um sonho.
Parei de acariciar o cabelo dela quando comecei a entender o que ela quis
dizer. Ela planejou ficar comigo esta noite porque era o aniversário de um ano da
morte de meus amigos. Ela estava preocupada que eu tivesse um pesadelo e
acordasse gritando... sozinho. E não queria que eu estivesse só; ela nunca quis que
eu ficasse sozinho. Suspirei e balancei a cabeça, espantado com a sua
compaixão. Inclinei-me para beijá-la.
— Eu ficarei bem, Sawyer. — Descansando minha cabeça contra a dela,
eu sussurrei: — Mas estou feliz por você estar aqui. — Não sonhava com eles há
tanto tempo que eu tinha certeza que não faria hoje à noite. Mas... nunca se sabe.
Puxei-a com força para mim, divertindo-me com o aroma cítrico do seu
cabelo quando enterrei meu rosto em seu ombro. Os braços dela esfregavam
padrões aleatórios nas minhas costas e senti o início da exaustão me
assumir. Sussurrei o quanto a amava, e, em seguida, me deu a ele.
Gradualmente me tornei consciente que eu estava de volta na escola. Estava
no corredor do primeiro andar do edifício principal. Olhei em volta do espaço vazio,
e tudo que vi foi armário após armário. Alguns estavam fechados, alguns estavam
abertos, papéis e livros saindo deles, caindo no chão. Pôsteres gravados na parede
estavam rasgados e danificados. Um cartaz do Clube Seguro e Sadio, desejando a
todos os alunos um verão seguro, foi rasgado em dois. As partes soltas penduradas
ao redor do arco conduzindo ao exterior como cortinas de papel.
O piso do corredor estava cheio de pedaços soltos de papel, flâmulas, franjas
dos capelos da graduação e dezenas de panfletos da cerimônia de abertura. Era
como se todo o corpo estudantil arrancara de lá após a graduação, tumultuando e
bagunçando o lugar na sua alegria de deixar a escola, mesmo que apenas para o
verão, para aqueles que não terminaram suas aulas permanentemente. Os
zeladores ficariam putos.

506
Risos da extremidade oposta do corredor chamaram a minha atenção, e me
virei para olhar. Um sorriso largo estourou no meu rosto enquanto eu observava
Darren, Sammy e Lillian se materializarem e caminharem em minha direção. Todos
vestiam seus capelos e becas. Sammy e Lillian agarravam firmemente seus
diplomas enrolados em suas mãos. Darren, caminhando entre as meninas,
segurava firmemente suas mãos livres, enquanto todos os três se entreolharam
com brilhantes rostos sorridentes.
Como um, eles viraram a cabeça para olhar para mim. Cada rosto estava
calmo e pacífico. Cada par de olhos era quente e amoroso. Meus olhos embaçaram
ao vê-los novamente. Fazia meses. Darren acenou para mim, um sorriso quente
em seu rosto, seus olhos escuros brilhando com a vida que eu sabia que eles
realmente não têm mais. Seu cabelo escuro virado para fora em todas as direções,
tão indomável como ele mesmo.
À sua direita, Sammy sorriu com um sorriso brilhante. Seu cabelo castanho
avermelhado parecia encontrar todo raio de luz no quarto e brilhava como um pôr
do sol de outono. Seus atenciosos olhos dourados nos meus com um ligeiro toque
de umidade, e ela balançou a cabeça também. Depois de reconhecer sua saudação,
meus olhos se voltaram para a esquerda de Darren, ao primeiro amor da minha
vida.
Lillian brilhava dourada como o sol. Seu cabelo claro era quase doloroso de
ver, e seus olhos eram de um azul brilhante, tão perfeito como um dia de primavera
sem nuvens. Seu sorriso era brilhante quando ela olhou para mim. Minha
respiração ficou presa ao vê-la. Mesmo há tanto tempo falecida, sua beleza ainda
rasgava o meu coração.
— Olá, Lucas. — Sua voz, há muito tempo longe dos meus ouvidos, fechou
minha garganta e fechei os olhos, absorvendo esse som para sempre.
Depois de longos segundos, os abri. Todos se aproximaram de mim durante
o meu silêncio e estavam de pé em um pequeno círculo ao meu redor. Cada um
tocando uma parte de mim; Sammy, do meu lado, tocou em um ombro, Darren, do
outro lado, tocou meu outro ombro, e Lillian, na minha frente, estendeu a mão
para tocar meu peito. Eu inalei com o calor e a paz do seu contato físico. Muito
parecido com antes, eles pareciam completamente reais.

507
Eu sorri para cada um, por sua vez, os meus olhos demorando por último
em Lillian. — Nunca pensei que veria vocês novamente — eu disse, quando
finalmente pude falar.
Os olhos de Lillian estavam molhados, uma ligeira carranca desfigurava seu
rosto. — Nunca quisemos empurrá-lo sobre a borda, Lucas. — Ela balançou a

cabeça, seu cabelo claro sob o capelo da graduação escovando sobre os ombros. —
Só queríamos ajudar.
Senti a mão de Darren no meu ombro apertar e virei para olhá-lo. — Sim,
sentimos muito por sermos... duros.
Balancei a cabeça para todos. — Não é culpa de vocês. O que eu quase fiz...
não foi culpa de vocês.
A mão de Lillian veio até minha bochecha, atraindo meus olhos para ela. —

Não foi culpa sua também, Luc. — Eu sabia o que ela queria dizer. Sabia que agora
ela se referia ao acidente que os matara. Engoli em seco e senti as lágrimas nos
meus olhos. — Foi apenas um acidente, Lucas. Isso é tudo.

Engoli em seco novamente, sentindo minha garganta áspera e seca. — Eu

sei — sussurrei. — Eu sei.


Lillian sorriu brilhantemente de novo e senti meu coração se encher ao ver
a alegria no seu rosto. Sua mão bateu no meu peito, alisando a simples camisa que
eu usava. — Você parece melhor. — Ela balançou a cabeça novamente. — Você
não sabe quanta paz isso nos dá.
Olhei para todos de novo, vendo claramente essa paz em suas
características. Era como olhar para um espelho da minha alma, o que suponho
que todos os encontros com os meus amigos de sonho foram – uma representação
de alguma parte do meu subconsciente, que precisava resolver as coisas para que
eventualmente eu pudesse me curar.
— Acho que entendo perfeitamente a sua paz. — Meus olhos pousaram
nos dela novamente. — Sinto isso também.
Quase como se na sugestão, Lillian e Sammy viraram para olhar para
Darren, e depois deram alguns passos para longe de mim. Elas se apoiaram contra
os armários e se viraram para falar uma com a outra, deixando Darren e eu de

508
fora. Suas roupas mudaram para calça jeans básica e camisetas e, por um
momento, parecia exatamente como eu esperava ver se eu corresse para eles entre
as aulas. A visão me fez sorrir.
Darren bateu o punho no meu ombro e virei para olhar para ele. Ele estava
em roupas normais agora também, e tinha um sorriso diabólico no rosto. Sorri por
vê-lo. Olhando por cima do ombro para Lil, ele rapidamente se virou para mim e
baixou a voz.
— Ei, bom trabalho no... você sabe. — Ele ergueu as sobrancelhas
sugestivamente, e corou, sabendo que isso significava o fim do meu estado virginal
que era uma piada permanente entre nós.
— Puxa, obrigado — eu murmurei.
Ele riu e, em seguida, uma expressão mais séria assumiu seu rosto. — Você

é um homem agora. — Ele mal conseguiu terminar de dizer isso, antes de cair na
gargalhada.
— Oh, Deus — eu suspirei e balancei a cabeça, olhando uma Lil alheia
sobre o ombro. Eu supunha que ela sabia, uma vez que todos eles sabiam o que
estava na minha cabeça, mas estranhamente não me sentia tão culpado por isso
como antes. Acho que eu realmente mudei. Mudei meu foco para um Darren ainda
rindo novamente. Uma risada finalmente me escapou, enquanto eu memorizava o
rosto alegre. — Já acabou?

Ele bateu no meu ombro. — Sim, acho que sim.

Quando o riso morreu entre nós, seu rosto ficou sério de verdade. — Ela é
boa para você, sabe.
Sorri para ele, sabendo exatamente o que ele falava. — Sim, eu sei. —
Pensei no meu corpo físico, nu, e seguramente envolto no caloroso abraço de
Sawyer e suspirei satisfeito. — Eu sei.
Ele olhou por cima do ombro para Sammy, que olhou e sorriu o sorriso
meigo que ela reservava apenas para ele. Ele olhou para mim, puro contentamento
em seu rosto. — Nunca se esqueça disso.

Balancei minha cabeça. — Eu nunca poderia.

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Ele sorriu e balançou a cabeça, em seguida, olhou para baixo por um
momento. Quando ele olhou para cima, seus olhos estavam úmidos. — Você foi o

meu melhor amigo, Lucas. — Seus olhos brilhavam mais. Senti o meu brilhando

em resposta. — Você foi meu irmão. — Sua mão veio até meu ombro. — Eu amo
você, Lucas.
Funguei e assenti. — Eu também te amo, Darren. Você era a minha família.
Dei-lhe um abraço firme, batendo em suas costas quando ele me
aplaudiu. Separando-nos, brincando ele golpeou meu ombro, e eu ri. Sorrindo e
recuando, ele disse: — Obrigado... por estar lá para Josh. Eu sei que ele pode ser
um idiota, mas ele precisa de você.
Balancei a cabeça para ele e sorri ao vê-lo andar até Lil e envolvê-la em um
abraço caloroso e amigável. Enquanto eu assistia a risadinha de Lil e sua luta para
fugir, Sammy subitamente apareceu de pé na minha frente.
— Lucas! — Exuberantemente ela me envolveu em um abraço. Rindo de
sua exibição, eu apertei suas costas calorosamente. Ela se afastou, seus olhos
dourados me analisando tanto como eu a analisava. — Você ainda é o melhor —
ela sorriu.
— E você também, Sammy. — Eu balancei minha cabeça, sobre a minha
linda irmã, pela amizade, se não pelo sangue. — Não sei se eu já disse a você, mas
você era a luz do sol no meu dia. Você fez todos ao seu redor feliz, apenas por estar
lá. — Deixei escapar um suspiro suave. — Você não tem ideia do quanto sinto
falta disso.
Ela sorriu e inclinou a cabeça. — De volta para você, Lucas.
Balancei minha cabeça em seu comentário e olhei por cima do ombro para
Darren, conversando com Lil. Sammy virou e seguiu o meu olhar. — Seja bom para

ele — disse. — Ele precisa de você.

Ela sorriu para as minhas palavras e se voltou para mim. — Eu sei... eu

preciso dele também. — Ela se inclinou e me deu um beijo suave na bochecha. —


Eu amo você, Lucas.

510
Engoli a emoção na minha garganta e dei um abraço rápido nela. — Eu
também te amo, Sammy.
Ela se virou da minha mão e atravessou o corredor para Darren. Ele lhe deu
um sorriso deslumbrante e atirou os braços ao redor da cintura dela, a puxando
para ele. Ele abaixou-se para beijá-la e sorri ao ver o amor que eles compartilharam
com tanta facilidade na vida. Esperava que, onde quer que eles estivessem, que o
amor deles os sigam até lá.
Enquanto assistia a sua ternura, senti uma mão quente deslizando na
minha. — Eles sempre ficaram bem juntos.
Olhei para a cabeça dourada de Lillian enquanto ela estava ao meu lado,
também assistindo Darren e Sammy. Ela olhou para mim quando sentiu meus
olhos nela; um leve sorriso nos lábios. — Assim éramos nós — eu sussurrei.

Ela sorriu mais largo e descansou a cabeça no meu ombro. — Você tem

sorte de tê-la, ter alguém que te ama muito. — Ela olhou para mim, depois que
disse isso, uma umidade em seus olhos, bem como adoração.
Engoli em seco ao recordar a expressão de amor em seu rosto, mas um leve
sorriso veio aos meus lábios ao recordar da expressão de amor no rosto de
Sawyer. — Eu sei. — Meu sorriso mudou para uma careta quando virei de costas
para Darren e Sammy me concentrando apenas em Lil. Delicadamente, agarrando
seus braços, eu olhei para ela e procurei seus olhos. — Eu te amei, Lillian,

eu sempre te amei. — Olhei para o chão e balancei a cabeça. — Eu gostaria de ter


dito isso enquanto você estava viva.
Sua mão veio até meu queixo, levantando minha cabeça para que eu
encontrasse seus olhos novamente. — Eu sempre soube como você se sentia,

Lucas. — Um sorriso brilhante iluminou todo o seu rosto. — E eu sempre amei


você também.
Eu suspirei enquanto absorvia sua beleza, interior, bem como a
externa. Quando seus braços foram ao redor da minha cintura, os meus foram ao
redor de seus ombros, puxando-a apertado. Em seu cabelo, eu disse a ela: — Você
sempre será o meu primeiro amor verdadeiro e nunca te esquecerei ou deixarei de

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te amar. — Beijei sua cabeça antes de colocar meu rosto nela. — Algumas coisas
nunca param.
Ela se mexeu debaixo de mim e eu levantei a cabeça para deixá-la olhar
para mim. Seus olhos estavam úmidos novamente. — Eu sinto o mesmo, Luc. Eu

sempre senti o mesmo. — Ela se inclinou e me deu um beijo suave, e fechei os

olhos, memorizando-a. Quando se afastou, ela sussurrou, — Você e eu estaremos

eternamente ligados, mas... eu quero que você tenha uma boa vida, Lucas. — Abri
meus olhos. Um sorriso estava em seus lábios até mesmo enquanto uma lágrima
rolava pelo seu rosto. — Eu quero que você viva e seja feliz... você e Sawyer.

Afastei a lágrima com o polegar. — Eu gostaria que você a conhecesse. Você


teria realmente gostado dela.
Ela balançou a cabeça, seu sorriso se alargando. — Sim, eu gostaria de ter

conhecido ela também. — Ela riu baixinho e meu interior se alegrou ao ouvir o

som; eu nunca esqueceria aquele som. — Claro que, se eu tivesse conhecido ela...

você não faria isso. — Ela me deu um sorriso torto e balançou a cabeça,

acrescentando: — Pelo menos, não como conhece agora.


Desviei os olhos, sentindo aquela culpa que eu não sentia desde a sua
partida anterior se aproximar de mim. Falar sobre sexo com Darren era uma coisa,
de pé bem na frente de Lil enquanto ela mencionava isso, era outra completamente
diferente. — Lil...
Sua mão voltou para o meu queixo, me fazendo olhar para ela
novamente. — Não, Luc. Era para ser. Eu queria você com ela, quase que desde o

começo. — Ela me deu um olhar penetrante. — Há uma razão para que você e eu
nunca pudéssemos... ir lá. Não era suposto. Sempre foi para ser você e
Sawyer. Você está vivo e apaixonado, e não invejo você por nenhuma dessas coisas.
Suspirei enquanto olhava seus olhos azuis claros. — Você está certa... você
sempre esteve certa.
Ela sorriu e riu de novo. — Eu sei. — Ela mordeu o lábio e inclinou a cabeça

para o lado. — Eu sentirei sua falta.

512
Meus braços ao redor de seus ombros apertaram conforme a apertava para
mim, quase espremendo a vida inexistente dela. — Eu sentirei sua falta também.
Nos abraçamos por um longo momento, enquanto memorizava tudo o que
eu podia sobre ela: o cheiro de pêssego do seu corpo, a maneira como seu cabelo
claro pegou as luzes, a sensação de seu corpo esbelto e cheio de curvas contra o
meu, a sensação dos seus dedos quando os esfregava levemente ao longo das
minhas costas. Inalei profundamente, colocando tudo isso no canto do meu cérebro
que sempre pertenceria a ela.
Meus olhos estavam úmidos quando nos separamos. Levantei um canto do
meu lábio, sentindo que o adeus se aproximava, não que eu diria essa palavra a
qualquer um deles. Nossos braços simultaneamente escorregaram do corpo um do
outro até nossas mãos. Nossos dedos entrelaçados quando inclinamos um para o
outro, cabeças pressionadas juntas. — Até nos encontrarmos de novo, então? —
Ela disse em voz baixa, sentindo a aproximação do adeus também.
Sorri e acenei contra a cabeça dela. — Sim... quando quer que isso seja.

— Espero que seja uma vida inteira a partir de agora, Lucas. — Ela se
inclinou para escovar seus lábios nos meus. Eu me alegrei com o calor de seu beijo,
sentindo tanto o amor e amizade por trás dele. Ela me encarou quando se
afastou. — Esperaremos por você.
Quando nossos corpos se separaram, os dedos finalmente separados,
Darren e Sammy se aproximaram de Lillian e cada um tomou uma de suas
mãos. Ela olhou para um de cada vez e, então, os três viraram para sorrir para
mim. Olhei para cada amigo, cada ente querido, e lentamente exalei.
— Você sempre será uma parte de mim... todos vocês. — Meus olhos
lacrimejavam incontrolavelmente, e as lágrimas finalmente escorreram pelo meu
rosto, mas o meu sorriso era exultante e a emoção primordial que eu sentia era
alegria – alegria por conhecê-los, alegria por amá-los e alegria por... à minha
maneira, eu sempre estaria ligado a eles.
Eles sorriram para mim, com lágrimas nos olhos ou no caso de Sammy,
gotejando de seu queixo. Darren fungou e estendeu a mão para dar um tapinha no
meu ombro. — Apenas não deixe que essa parte... ser tudo quem você é. Fique no

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mundo real, Lucas, você pertence lá. — Ele acenou para mim, apertando meu
ombro antes de liberá-lo.
Balancei a cabeça para ele e, em seguida, para cada um deles. — Eu sei. Eu

irei. Mas guardarei tudo comigo — bati no meu peito, — aqui... sempre. — À
medida que mais lágrimas pingavam do meu rosto, balancei minha cabeça
lentamente. — Sou uma pessoa melhor por conhecer cada um de vocês. Obrigado
pela amizade que vocês me deram. Nunca esquecerei isso.
Nos abraçamos novamente, desta vez mais do que antes, e depois Darren
agarrou a mão de cada menina e começou a conduzi-las ao fundo do corredor, para
as portas principais destacadas por essa cortina de papel ligeiramente
torcida. Fiquei em pé no mesmo lugar, um enorme sorriso no meu rosto manchado
de lágrimas, enquanto, na minha visão aguada, via Darren colocar os braços em
volta dos ombros de Sammy e Lillian e trazê-las para perto. Ele chutou alguns dos
papéis e serpentinas no chão, lançando alguns até pousar sobre as meninas. Os
três riram, o som quase quebrando meu coração com a alegria que me deu.
Quando chegaram à porta, eles começaram a desvanecer-se em uma
espécie de transparência. Quando mal podia vê-los devido a sua aparência turva,
Lil virou a cabeça para mim. Sobre o ombro de Darren ela sorriu calorosamente,
piscou, e então assentiu. Retornei seus gestos calorosos. Assim que eles finalmente
vaporizaram no ar abafado desse corredor, um corredor que percorremos inúmeras
vezes na vida, uma mão quente agarrou a minha.
Olhei para um anjo de cabelos negros com o mais belo tom de olhos
cinzentos. Sawyer olhou para mim com amor e devoção clara em seu rosto. Sorri
para ela e senti o calmante conforto familiar que ela sempre me deu. Ela apertou
minha mão e se inclinou para o meu lado. Enxugando as lágrimas secas com os
dedos, ela sussurrou: — Vamos, Lucas... é hora de acordar agora.
Balancei a cabeça, suspirando satisfeito, e então, pela primeira vez desde o
acidente que levara meus amados amigos de mim... eu acordei completamente.

Fim.
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