Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ouvia vozes e gritos não muito longe. Parecia que pessoas lutavam ou
algo assim.
― A bela adormecida acordou? ― inquiriu uma voz divertida.
Pisquei, deparando-me com um teto iluminado e gritos. Sentei-me
brutalmente e quase caí de um banco.
Recordei que estava ligando para Jonathan, mas então senti algo no meu
nariz. Estava perto de uma arena repleta de pessoas. Parecia ser um ringue, e o
local cheirava a bebida e cigarros.
O homem sentado à minha frente era alto, tinha cabelos e olhos escuros.
Era alguém que eu conhecia muito bem.
― Luca? O que você...
― Não faça perguntas agora. Só o que precisa saber é que foi preciso
trazê-la aqui dessa forma. Não podia dizer o meu plano ao Nasx ou a você,
porque não aceitariam ― disse com um suspiro.
― Que plano? O que o levou a me sequestrar e trazer para este lugar? ―
grunhi, querendo esganá-lo.
Avaliei o local, procurando uma forma de fugir dali, mas então os meus
olhos pousaram em alguém do outro lado do ringue, o que me fez pular de pé.
― Noah! ― gritei, mas o alvoroço da multidão não deixava que ele me
ouvisse. Além disso, eu estava dentro de um camarote cercado de vidro escuro.
Era o meu irmão ali!
― Ele vai ficar bem ― me garantiu Luca.
Fuzilei-o.
― Bem?! Me trouxe aqui para obrigá-lo a lutar com alguém? ― rosnei.
― Não tinha outro jeito. Precisava que isso acontecesse ― disse com um
suspiro. ― Nasx não vai gostar muito, mas não tínhamos escolha. Precisamos
pegá-lo.
Seu olhar estava em um homem sentado na arquibancada não muito
longe de onde Noah se encontrava, um cara barbudo e de bigode.
― Aquele é Dormas? Ou algum outro mafioso que está de olho em
Noah? ― perguntei.
― Dormas. Eu precisava de um entretenimento grande para que viesse
aqui para poder matá-lo.
― O quê? Ele é tão protegido assim, a ponto de a máfia não conseguir
enfiar uma bala no seu maldito cérebro?
― Se fosse assim tão simples, eu já teria feito isso. Dormas vai se
encontrar aqui com alguém de quem estou atrás há muito tempo. ― Passou a
mão nos cabelos. ― Tentei conversar com seu irmão e fazê-lo cooperar, mas ele
não quis ouvir, dizendo que não ia fazer nada contra a vontade da irmã.
Meu coração balançou por Noah pensar em mim e não fazer nada às
escondidas. A maioria dos adolescentes faria isso, mas não ele.
― Então me dopou e me sequestrou para obrigá-lo a lutar em uma droga
de ringue? ― sussurrei com espanto. ― Mas e se for luta de morte?
Luca deu um suspiro duro.
― Não vai ser luta de morte, mas, se fosse, garanto que o garoto venceria
― asseverou, mas não vi certeza na sua voz. ― Ainda mais quando ele souber
quem são seus adversários.
― Você disse “seus”? ― Arregalei os olhos. ― Então Noah vai enfrentar
mais de um no ringue?
― Seu irmão dá conta deles, então não precisa se preocupar com isso.
Sorte desses homens ser enfrentado por ele e não por mim e Nasx, porque a
coisa ia ser pior ― a voz dele saiu sombria.
― Quem são essas pessoas que ele vai enfrentar? ― perguntei, sentindo
um misto de curiosidade e raiva.
― Crápulas que logo serão mortos...
― Não quero que meu irmão vire um assassino! ― cortei-o, com os
dentes cerrados.
― Você não pode protegê-lo a vida inteira. Vai ter que deixar que ele
tome suas próprias decisões ― informou e apontou para o banco ao seu lado. ―
Agora se sente, Nasx já está chegando. Você precisa impedi-lo de me atacar.
Franzi a testa.
― Por que faria isso? Eu mesma estou louca para quebrar sua cara. ―
Cerrei meus punhos.
Ele riu, inabalado, levantou-se e veio na minha direção, ficando com o
rosto perto do meu.
― Poderia ver isso acontecer, mas há um monstro em mim que está
doido para mutilar alguém. Se Nasx me atacar, não sei do que serei capaz de
fazer com ele. ― Tocou meu cabelo. ― Isso destruiria você, e não quero isso.
O medo se apossou de mim, mas uma parte ficou aliviada por ele não
querer atacar Jonathan, mesmo que fosse por minha causa. Fosse qual fosse o
motivo disso, eu não queria saber.
― Será que não fui claro quando disse que, se traísse minha irmã, iria
fazê-lo comer seu pau? ― indagou uma voz grossa atrás de Luca.
Virei-me e encarei um homem alto de olhos verdes. Apesar de bonitos,
eram letais, vazios. Ele me parecia a personificação da morte.
Luca se afastou e encarou o cara, que estava vestido com um terno
escuro.
― Alessandro ― cumprimentou-o com tom seco. ― Ela não é o que
pensa.
Pisquei. Então Luca estava namorando a irmã daquele homem? Quem
era ele? Parecia algum mafioso.
― Eu...
Luca me interrompeu:
― Ela é a irmã do garoto ― respondeu de modo frio.
Os dois não pareciam ser amigos, mas, antes de eu perguntar o que estava
acontecendo ali, outro homem entrou no recinto, seguido por Shadow, Daemon,
Kill, Axel e Jonathan – mortal e furioso.
O lugar estava meio apertado com tantos homens grandes, mas não
liguei, só corri para os braços de Jonathan, tanto porque adorava estar ali,
sentindo seu aconchego, como para o impedir de socar Luca, ou a bomba
explodiria. Eu tinha certeza de que Luca o mataria caso ele o enfrentasse.
― Jonathan ― sussurrei no ouvido dele só para ele ouvir ―, não
enfrente Luca, por favor. Ele pode...
Nasx se afastou e me checou dos pés à cabeça.
― Você está bem?
― Ela está bem. Eu não tocaria em um fio de seu cabelo ― falou Luca.
Jonathan o fuzilou e já ia dizer alguma coisa quando avistou Alessandro,
o irmão da namorada de Luca.
― Posso saber que porra está acontecendo aqui? Por que envolveu Noah
nisso? ― rosnou Jonathan voltando sua atenção para Luca. Então se virou para o
outro homem que viera com eles. — E minha mulher, Matteo?
Luca apontou para Dormas e outro homem de cabelos ruivos que estava
ao lado dele.
― Aquele é o braço direito de Chavez, o seu sobrinho, Charles ― disse
Luca.
― E...? ― incitou Jonathan com os dentes cerrados.
― Os Rodins estavam interessados em Noah, e Dormas ficou de
conseguir o garoto para eles, então armei essa luta do garoto para que os dois
viessem aqui. Embora eu quisesse Chavez, Charles vai servir para o que eu
preciso ― respondeu Matteo. ― Lamento ter acontecido nessa situação.
― Meu irmão não vai trabalhar para nenhuma máfia! ― grunhi com
dentes cerrados.
― Ele tem que pertencer a alguma organização, só assim para afastar da
sua cola todos que o querem ― disse Matteo e olhou para Noah, que estava
entrando no ringue. ― Vi lutas dele. O garoto é bom.
― Mas...
― Noah vai ser um de nós ― afirmou Jonathan, fazendo-me arregalar os
olhos.
― O quê?
― Já conversei com Noah sobre isso, ele está de acordo ― disse
Jonathan olhando para mim. ― Íamos conversar com você hoje à noite.
É melhor ele participar do MC a fazer parte da máfia, pensei.
― Tudo bem. Já que estão aqui os homens que você quer ― olhei para
Luca ―, não tem como encerrar a luta?
― Não acho que ele queira sair agora. ― Gesticulou para o ringue.
Segui seu olhar e travei. Ali estavam Denner, Diego e Bruce, os homens
dos meus pesadelos por tanto tempo, embora eu não sentisse medo ao vê-los ali,
só raiva por serem tão cruéis.
― Tem certeza de que Noah pode vencê-los? ― minha voz era
quebradiça como vidro.
― Se não tivesse, já o teria tirado de lá ― declarou Jonathan.
― Não quero que ele mate alguém ― sussurrei.
― Noah não vai matá-los, só dar uma surra neles. Depois daremos um
jeito nesses fodidos ― declarou.
A luta começou, e cada golpe que Noah levava, doía em mim, mas ele
estava ganhando. Eu notava que ficava cada vez mais furioso quando Bruce
sorria ou dizia algo.
Ao meu lado, Jonathan estava tenso, tanto que eu podia sentir a fúria em
seu corpo emanando pelo pequeno lugar cheio de homens e testosterona.
Eu nunca tinha visto Noah lutando daquela forma, parecia quase mortal,
raivoso, enfurecido demais enquanto socava Denner e Diego, depois foi para
cima de Bruce, derrubando-o no chão e o socando com toda sua cólera. A plateia
estava em alvoroço enquanto meu irmão acabava com eles.
― Se tem um plano, Luca, então o coloque em prática, porque nenhum
daqueles animais merece morrer assim tão fácil ― disse Jonathan com os olhos
irados. Ele pegou minha mão para sairmos da salinha em que estávamos, mas
antes parou e fulminou Luca. ― Depois vamos ter contas a acertar.
― Noah... ― Eu não queria sair dali, mesmo sabendo que as coisas iriam
ficar ainda piores, só queria meu irmão protegido.
― Tomarei conta dele para que não se machuque ― garantiu Shadow. ―
Já o levo para vocês.
Capítulo 31
Noah
Entrei na igreja, nome pelo qual os MCs chamavam o local onde faziam
suas reuniões.
Havia algum tempo minha irmã conhecera Nasx. A princípio, eu quisera
matá-lo, mas então vira a forma como ele a olhava, parecendo que adorava o
chão que minha irmã pisava. Isso amenizou o que eu sentia pelo motoqueiro.
A sala era grande, com cadeiras e uma mesa tomando quase a extensão
do ambiente. A ela estavam sentados todos o MCs. Max, Ash e Tripper eram
prospectores, status abaixo dos que eram chamados realmente de motoqueiros.
Logo vinham Logan, Axel, Daemon e Kill. Depois o chefe deles, o presidente do
clube, Shadow. E o vice-presidente, Nasx.
― Pediram que eu viesse aqui? ― perguntei assim que entrei no recinto.
Nasx suspirou e apontou uma cadeira.
― Sente-se, precisamos conversar...
Estreitei meus olhos, avaliando seu tom preocupado.
― O que foi? Aconteceu alguma coisa com minha irmã? ― Eu tinha
acabado de deixá-la na casa dele, não tinha como ter ocorrido nada no tempo que
eu levara para chegar ali.
Sentei-me ao lado de Tripper. Ele era um cara legal, nós nos dávamos
bastante bem.
― A ovelhinha está bem ― garantiu Nasx.
Acreditei nele; não tinha como estar calmo assim se tivesse ocorrido algo
a ela. Se a coisa não era sobre minha irmã, então talvez fosse sobre nossos pais.
― Vamos deixar as coisas claras para você sobre a situação que está
ocorrendo. Não convocamos quem não pertence ao MC para reuniões, mas
vamos abrir uma exceção para você ― disse o presidente. ― Queremos que
tome uma escolha.
Assenti, achando que não gostaria nada do que estava por vir. Não temia
nada, não depois do que meus malditos pais tinham feito à minha irmã, a mulher
mais perfeita do mundo para mim. Eles só não haviam feito coisa pior porque eu
impedira e nós fugíramos daquele maldito lugar em que vivíamos.
― Que escolha? ― sondei.
― Tem muita gente interessada em você, em sua luta, então, para que os
mantenhamos longe de você, queremos que se torne um prospector e, depois, um
de nós ― disse Nasx. ― A não ser que deseje entrar para a máfia ou outra
organização que esteja querendo que lute para eles.
Pisquei. Era claro que eu amava lutar, mas não pensava em subir nos
ringues para lutar por alguém que minha irmã não aceitava, bem como eu.
Queria lutar por esporte e por amor ao que fazia, não para ganhar dinheiro para
mafiosos.
― Vou ser o que Tripper é? ― Olhei para ele e depois para Nasx.
Estava ansioso para ser um deles. Tripper me ensinara a andar de moto, e
eu adorara a sensação.
― Sim, então topa ser um de nós? ― perguntou Nasx. ― Porque não
acho que Sloane gostaria que servisse à máfia.
― Sim, vou ser um de vocês.