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Copyright © 2020 Ivani Godoy

Capa: Barbara Dameto


Revisão: Sara Ester
Diagramação Digital: Sara Ester

Esta é uma obra ficcional.


Qualquer semelhança entre nomes, locais ou fatos da vida real é mera
coincidência.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou
reproduzida sob quaisquer meios existentes sem a autorização por escrito da
autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do código penal.
Sinopse
Daniel fez uma escolha no passado e com isso perdeu o amor de sua vida. Entretanto, o
destino lhe deu uma segunda chance. Daniel só não contava que podia perdê-la novamente.
Ele nunca pensou no que realmente significavam as palavras da frase: Na alegria e na
dor, na saúde e na doença. E nem que elas fossem fazer parte de sua vida algum dia. Mas se
provou certo.
Sophie perdeu seu amor no passado, mas nunca deixou de amá-lo. Com o seu retorno, ela
decidiu lhe dar uma segunda chance. O problema é que ela poderia não ter uma chance de ser
feliz ao seu lado.
Uma separação pode estar a caminho. A morte vem quando menos se espera. O amor dos
dois será suficiente para sobreviver à dor? Doença e medo?
Descubra nessa história o que o destino reserva para Daniel e Sophie nesse livro único e
envolvente.
Sumário
Sinopse
Prólogo
Sophie
Capítulo 1
Sophie
Capítulo 2
Sophie
Capítulo 3
Lucky
Capítulo 4
Sophie
Capítulo 5
Daniel
Capítulo 6
Daniel
Capítulo 7
Daniel
Capítulo 8
Sophie
Capítulo 9
Sophie
Capítulo 10
Daniel
Sophie
Capítulo 11
Sophie
Capítulo 12
Sophie
Capítulo 13
Sophie
Capítulo 14
Daniel
Capítulo 15
Daniel
Capítulo 16
Lucky
Capítulo 17
Sophie
Capítulo 18
Sophie
Capítulo 19
Sophie
Capítulo 20
Daniel
Capítulo 21
Daniel
Capítulo 22
Sophie
Capítulo 23
Daniel
Epílogo
Sophie
Prólogo
Sophie
Estava olhando para o garoto que eu amava bem na minha frente, o meu melhor amigo
desde criança.
Tínhamos perdido uma aposta, por isso estávamos naquele quartinho de vassouras;
teríamos que ficar ali até a meia noite e nos beijar, poderíamos apenas dizer aos nossos colegas
que tínhamos nos beijado, mas no fundo, eu queria muito aquilo.
O lugar em que Daniel e eu estávamos era bem apertado e ficamos colados um no outro.
Sua respiração estava tornando minha concentração difícil, e eu só queria beijá-lo de
forma enlouquecida.
― Seu coração está batendo muito forte ― observou ele com seu hálito quente.
― Não é nada. ― Tentei clarear minha mente nebulosa. Igual ao lugar escuro que
estávamos.
― Quer mesmo que eu te beije? Posso falar que aconteceu e ficamos aqui até meia noite
como é o esperado.
Ao ouvir aquilo meu coração rachou. Então ele não queria me beijar?
― Se não quer me beijar basta dizer Daniel. Não precisa ficar inventando desculpas. ―
O empurrei, mas seu corpo não se moveu do lugar.
Daniel, para sua idade — dezessete anos — era bem forte, corpo no lugar certo. Eu não
tinha qualquer chance com ele.
― Sophie não é nada disso. É só que ouvi seu coração acelerado e achei que você não
quisesse.
― Vamos acabar com isso logo. ― Beijei seus lábios. No começo, ele ficou parado, acho
que em choque, mas logo depois aprofundou mais o beijo e suas mãos apertaram minha cintura.
Sua língua mergulhou em minha boca numa dança erótica e selvagem. Cada puxão de
língua me fazia gemer mais tanto que não ligava para quem ouvisse.
Senti minhas costas no chão e ele em cima de mim; não liguei que não fosse uma cama
de princípio e nem que para ele aquilo fosse apenas uma aposta que perdeu.
Entretanto para mim era tudo, o amor que sempre sonhei em ter um dia. Bom, a partir do
momento que descobri que o amava há alguns anos.
Suas mãos passearam em minhas coxas antes de abri-las e se encaixar ali me fazendo
perder o resto do meu fôlego.
― Esses malditos lábios são como mel ― rosnou no meu pescoço, me deixando respirar.
O meu centro pulsava, louco para ser saciado, um lugar que ninguém jamais tocou,
embora desejasse que ele fizesse. Suas mãos estavam, uma em minha coxa e, a outra foi parar
entre minhas pernas.
― Daniel... ― não sabia o que pediria, eu só queria que ele me tocasse mais do que
apenas na boca.
Assim que falei foi como se um interruptor houvesse sido desligado e, então Daniel
piscou me encarando ali através da luz fraca do lugar. Vi naquele momento que ele tinha se
arrependido de me tocar. Pelo menos foi o que vi em seus olhos.
― Merda! Não era pra ter acontecido isso. ― Olhou para mim debaixo dele com o
vestido levantado na cintura e sua mão perto de onde, outrora, eu quis que ele tocasse.
Ouvir aquelas palavras dele foi como receber um soco no estômago. Doeria menos. Não
pensei e só o empurrei antes de sair correndo do lugar me sentindo humilhada como nunca antes.
Aquela foi a primeira vez que Daniel quebrou meu coração.
Capítulo 1
Sophie
Passado
― Como está o menino Daniel? ― perguntou mamãe ao ligar para mim. ― Semana que
vem é aniversário dele. Já pensou no que vai dar?
Não precisava responder dizendo que eu já sabia disso, mas sabia a intenção dela ao
comentar sobre o assunto. Todos sabiam que eu amava Daniel, menos ele. Sempre que eu
pretendia me declarar, as palavras simplesmente não saíam.
Conhecia Daniel, praticamente, minha vida inteira; meus pais trabalham na casa dos pais
dele antes mesmo que eu existisse, então eram considerados da família. Mas eu não via Daniel
como a um irmão ou amigo, era apaixonada por ele desde sempre, mas sabia que não tinha a
menor chance.
Há um ano nos beijamos. Passamos um tempo juntos naquela noite; não tivemos sexo, só
amassos e beijos. Para ele, não foi nada, mas para mim foi tudo. Um lembrete de que o tive por
uma noite ou alguns minutos dela, mas o sonho da cinderela acabou e virou realidade no instante
em que notei que Daniel pareceu arrependido de ter me tocado ao ponto de me pedir desculpas.
Isso foi o pior, tive que ficar uma semana sem falar com ele, mas então o perdoei e nunca mais
falei no assunto.
― Sophie? ― Mamãe chamou na linha me trazendo ao presente.
Ela e papai estavam na casa de campo na Itália com os pais do Daniel, os Luxem. Eu
fiquei no quartinho dos empregados que tinha na mansão de estilo italiano, mas era em
Manhattan. Jardins imensos, assim como todo o resto.
Entretanto nunca liguei para isso, o dinheiro era importante sim, mas não era tudo. Eu era
feliz com o que tinha e no futuro assim que me formasse, eu seria médica e não deixaria meus
pais continuarem trabalhando. Eu tomaria conta deles, sempre.
Ficar na mesma casa que Daniel não era fácil, ainda mais depois de descobrir o que sentia
por ele. Claro que sempre fomos amigos, mas antes do nosso beijo, eu tinha notado que meus
sentimentos mudaram, talvez fosse porque não o via mais como um garoto magricela que
conhecia, e sim um com o corpo forte e duro nos lugares certos. Isso se devia as horas de
academia que fazia na sua casa.
Quase dezoito anos e já tinha o corpo formado de homem, mas não era só seu corpo que
era lindo, mas também seu coração; ele era um garoto que valia ouro, por isso minha mãe
perguntava sobre ele toda vez que nos falávamos.
― Desculpe, mãe. ― Entrei na cozinha para pegar um copo de água. Já era quase nove
da noite. Não gostava de vir ali à noite, ainda mais quando os Luxens não estavam. Daniel tinha
mania de trazer garotas para casa, e isso me machucava, então para evitar, eu ficava no meu
quarto. Mas tinha me esquecido de levar água. Apesar de que fazia um bom tempo que não via
ninguém ali, nenhuma garota.
― Tudo bem aí na casa dos Luxem? Sei que você não queria ficar aí, mas tudo vai se
resolver. ― Ela parecia cheia de segredos. ― Ele precisa de amigos nesse aniversário, porque os
pais dele não vão estar aí.
― Quando eles tiveram tempo para o Daniel ou ligaram para ele? ― desdenhei vendo
meu amigo sozinho sem os pais desde que o conheci, quando ele tinha sete e eu ainda pequena,
mas me lembrava. ― Não sei como pessoas como eles têm filhos se no final não ligam para eles.
Se um dia tivesse filhos, eu os amaria incondicionalmente e não haveria nada mais
importante que eles. Bem diferente de como era para os pais de Daniel. Eu seria como meus pais,
que mesmo não sendo os verdadeiros ainda assim eram pais de verdade que me deram amor e
proteção.
Fui adotada quando era pequena. Meus pais estavam a caminho da casa deles quando me
encontraram sozinha perto de uma lixeira, mas o pior era que era por volta das nove da noite.
Que mãe larga seu filho assim sozinho e desprotegido? Uma criancinha indefesa? Essa pessoa
não valia nenhum dos meus pensamentos.
Os Winters sempre foram meus pais e seriam para sempre e eu os amava.
― Verdade. Eu nunca deixaria você desse modo, meu amor. Desde o dia que apareceu na
minha vida, você foi a melhor coisa. ― Pude ouvir a verdade ali.
― Sei disso, mamãe. ― Pigarreei, colocando o copo na mesa. ― Sou feliz com você e o
papai.
― E com o menino Daniel. Aproveita esse final de semana com ele. ― Suspirou. ―
Quem sabe você não confessa o que sente por Daniel?
Ri, sacudindo a cabeça.
― Dizer o quê? ― grunhi, colocando o celular no viva-voz.
Não foi por falta de tentar, porque eu sempre quis dizer tudo o que sentia, mas travava e
não conseguia. Queria ter mais coragem, mas infelizmente era covarde demais para tal coisa.
Porque quando nos beijamos, eu quis contar que aquilo não tinha sido só um jogo para mim, mas
que realmente o amava. Então ele disse que tinha se arrependido e aquilo foi pior do que se me
batesse. Se eu me declarar e ele fizer aquilo de novo?
― Sophie, querida, você ama esse rapaz, e acredito que ele também te ama, porque vejo a
forma que ele olha para você. Vocês dois precisam parar de esconder o que sentem e ficarem
juntos.
Ri, baixinho, embora não quisesse que ela sentisse minha tensão, porque nunca contei
sobre o beijo.
― Desde quando a senhora virou casamenteira? Não preciso de cupido. Daniel é meu
amigo, mas é um grande idiota e galinha que fica com todas as garotas, não vou ser mais uma da
sua lista. E quando chegar o dia seguinte, eu que farei a caminhada da vergonha. ― Sacudi a
cabeça.
Aquilo era uma das coisas que mais doía e aumentava o medo de confessar o que sentia,
pois se nós ficássemos juntos, talvez logo depois seríamos dois estranhos ou mudaríamos o que
sentíamos. Onde ele me deixaria quebrada de forma que nunca mais conseguisse me reerguer.
Daniel tinha essa capacidade, mesmo não sabendo disso. Se um único beijo foi desastroso e doeu
muito quando ele não sentiu o mesmo que eu, imagina o que aconteceria se aquilo tivesse ido
mais longe?
― Sophie, eu não acredito que o menino Daniel faça algo assim, ele venera o chão que
você pisa. ― Sua voz soou orgulhosa, embora sempre fosse desse modo ao falar do Daniel. ―
Você não ama esse garoto?
― É disso que se trata, mãe, Daniel é o amor da minha vida, mas é só um sonho que não
vai se realizar. É como se eu fosse o mar e ele o Sol, sabe? Nós jamais ficaremos juntos. ―
Expirei fundo. ― Como fogo e gelo. Então nunca poderemos ficar juntos.
― Você é muito pessimista, minha filha. ― Suspirou de novo. ― Deixa-me adivinhar,
você seria o gelo ou o fogo? Porque sei que a garota que criei não deixaria ninguém pisar nela ou
desmerecê-la.
― Não estou sendo pessimista, mamãe, só estou apontando o óbvio. Mas chega de falar
do meu amor não correspondido. O que vou dar de presente a alguém que tem tudo?
Em todos os aniversários dele, eu o levava para almoçar e jantar, ir ao cinema ou outras
coisas. Teve uma vez que comprei um relógio que custou várias horas na lanchonete em que
trabalhava meio período. Ele não gostou disso pelo fato de que fiquei até tarde para juntar
dinheiro, então me propôs que fôssemos passear ou ter encontros, então aceitei.
De qualquer forma, ele sempre ficou feliz aonde íamos e com o que fazíamos. Isso me
deixava feliz.
― Pode levá-lo para a praia e declarar o seu amor, aposto que o menino irá ganhar seu
presente. ― Ouvi um sorriso na voz dela. ― Agora tenho que ir, eu ligo para você depois. Te
amo, querida.
― Também amo você, mamãe, boa noite. Diga ao papai que também o amo. ―
Desliguei, e suspirei.
Quando me virei com a água no copo para ir ao quarto, eu dei de cara com Daniel. Arfei
com a mão no peito.
― Droga, Daniel! Quer me matar do coração?
― Então quer dizer que você me ama? Por que nunca me contou? Escondeu suas
emoções tão profundamente que nunca pude ler. Eu achei que gostava de mim, mas só como
irmão ― disse Daniel, de repente, escorado no batente da cozinha. Ele estava de bermuda e sem
camisa onde mostrava seu abdome definido, cabelos negros curtos e olhos escuros.
Meu coração martelou forte no peito ao vê-lo ali parado e me olhando com uma
expressão quase traída. Não sabia o que o levou a ficar com aquela expressão.
Sabia que tinha escondido dele o que sentia, mas não era traição ou algo assim. Não
queria que ele sentisse culpa por não poder retribuir o mesmo que eu. Aquele era um dos meus
maiores medos. A outra era o fato de nossa vida ser diferente, onde eu era filha da empregada
dos pais dele.
― Daniel, eu... ― comecei, mas o que eu diria? Que não fui mulher suficiente para
enfrentá-lo dizendo o que sentia por ele? Poderia ter dito após aquela manhã depois de passar a
noite com ele, mas tudo virou merda.
Seus olhos se estreitaram.
― Vai negar o que sente? Por que estou aqui alguns minutos e ouvi tudo o que conversou
com a dona Alísia. Então não minta para mim ― pediu.
― Não ia fazer isso. Eu só não preciso dizer nada sobre o que sinto, porque sei que não
sente...
Seus olhos pareceram ficar escuros.
― Está dentro de mim para saber o que sinto? Se soubesse, então saberia que eu amo
você e sempre amei ― declarou vindo na minha direção.
Tentei ficar o mais longe possível dele, porque se me tocasse estaria perdida.
Infelizmente, eu não cheguei a ir tão longe, porque ele puxou meu braço e me imprensou na
parede colando seu corpo no meu sem nunca tirar os olhos dos meus.
― Não me faça rir, Daniel. Você nunca me quis, porque não tem muito tempo que vi que
estava com uma garota em sua cama e aposto que hoje já deve vir uma para cá ― desdenhei
querendo passar por ele, mas não deixou. ― Isso sem contar o que aconteceu entre nós há um
ano. Se me ama como diz, por que se arrependeu de me beijar? Não me venha com essa.
Tentei não demonstrar a dor que estava sentindo ao dizer aquela verdade.
― Quando descobri o que sentia por você depois de beijá-la, eu fui para me declarar e
ver se sentia o mesmo, mas então ouvi uma conversa sua com a Stacy onde dizia que jamais me
amaria como um homem, mas como irmão. ― Seu tom saiu triste no final. ― Não imagina a dor
que senti ao ouvir isso.
Franzi a testa tentando me recordar dessa tal conversa com a Stacy naquela época, então
me lembrei.
― Mas eu só disse aquilo, porque ela falou que você tinha acabado de foder uma garota,
como acha que me senti naquele momento? Me beijou a noite e no dia seguinte tinha fodido
alguém.
Meneou a cabeça de lado colocando as duas mãos ao lado da minha.
― Não tinha fodido ninguém há semanas antes de beijá-la ou depois disso, acredito que
Stacy mentiu, tanto é que vocês não são mais amigas. E para falar a verdade, ela dava muito em
cima de mim, aposto que foi por isso que mentiu.
Descobri sobre isso não muito tempo depois. Ela me chamou para um baile dizendo que
Daniel tinha me chamado lá, mas no final era só para que eu o visse com outra garota. Também
não foi só isso, pois senti o esfriamento em nossa amizade, acho que nunca fomos amigas de
verdade. Éramos apenas colegas.
― Foi após o nosso beijo que você descobriu que me amava? Ou antes? ― Seu hálito
quente banhou meu rosto me impossibilitando de pensar com coerência.
Sabia que quando ele me tocasse seria o fim, porque sabia o que sua presença me causava
ao estar tão próximo como naquele momento, em que podia sentir seu cheiro de lavanda e
sabonete.
― Por favor, Sophie, eu preciso saber. ― Tocou minha bochecha deixando minha pele
pegando fogo.
Fechei os olhos por um minuto não querendo pensar nas suas palavras, pois me senti
humilhada e rejeitada.
― Foi há quase dois anos, apesar de obter a certeza depois do nosso beijo. Mas depois
você me disse para esquecer como se não tivesse sido nada.
― Sophie, por favor, abra os olhos, linda. Eu não gosto de vê-la triste ― sussurrou. ―
Lamento pelo que ouviu, eu só preciso que saiba que fiz aquilo, que falei para você esquecer,
porque fui idiota, estava confuso com meus sentimentos recém descobertos, tanto que depois fui
te procurar, mas ouvir sua conversa com a Stacy, e decidi ficar calado. Eu não queria que ficasse
com pena de mim por amar você.
― Doeu ouvir você falar aquilo, que tinha se arrependido, parecia que você tinha enfiado
as mãos em meu coração e esmagado ele. Nunca me senti dessa forma, e piorava quando o via
com uma garota ― murmurei. ― Por isso estava pensando em ir para a Universidade do
Alabama...
Arregalou os olhos.
― Por que não me contou, Sophie? Só ficava com essas meninas, porque não podia ter
você. Como disse, eu não sabia que você me amava assim, porque sempre foi tão reservada em
esconder as coisas de mim. Também tinha o fato de você ter saído com o Adriano... ― ele
trincou os dentes ― Naquele dia, eu quis matá-lo. Só não o fiz, porque não achei justo me meter
na sua vida.
― Adriano? Só fui acampar com ele e seus amigos. Stacy estava junto. Além do mais, eu
não transei como você fode outras garotas ― grunhi.
Ele suspirou.
― Lamento pelo que fiz, mas prometo que de agora em diante, se você me quiser, eu
serei apenas seu ― jurou. ― Não posso mudar o passado, mas vou fazer de tudo para não ver
essa dor em seus olhos de novo.
Uma coisa que amava em Daniel era que ele não mentia, tudo que dizia e prometia fazia
o possível para cumprir. Eu podia ver em seus olhos também.
O nosso problema foi não ter dito o que sentíamos um pelo outro, o amor que tínhamos.
Não podia lutar contra, e para quê? Não queria fazer isso.
Sorri.
― Isso aqui vai ser só meu? ― Coloquei a mão sobre seu coração e o senti estremecer.
― Sim, eu me entrego de corpo e alma a você ― declarou com intensidade. ― Agora
vou fazer algo que estou morrendo de vontade de fazer a muito tempo.
Seus olhos ficaram injetados enquanto eu engolia em seco.
― O quê?
― Isso. ― Então sua boca estava na minha, me beijando faminto. Acho que o mais
correto era afirmar que ele estava me consumindo, tanto que meus ossos viraram gelatina, e se
seus braços não estivessem a minha volta, eu teria caído.
Seus lábios macios nos meus me faziam ter a sensação de flutuar. Sua língua ao chupar a
minha era como ser atingida por um raio, de maneira boa, pois me deixava pegando fogo dos pés
a cabeça a ponto de flutuar depois.
Suas mãos passeavam por todo o meu corpo fazendo com que fervesse com uma
sensação maravilhosa. Tanto que desejei aquele momento ao lado dele de novo, que estava ali o
tocando e sentindo suas carícias.
Minhas mãos também estavam em suas costas, e senti-o estremecer, mas não reclamou,
então continuei.
Gemi, esfregando minhas pernas juntas para tentar aliviar o atrito ali. Queria que fosse
contido, de preferência por ele. Todos aqueles desejos eram novos, embora tivesse sentido
somente com ele.
― Por favor... ― não liguei por corar e me sentir envergonhada por suplicar, só queria
que aquela dor em meu centro parasse de latejar.
Ele rosnou um som baixo e rouco e, me levantou do chão colocando-me na mesa. Fez
tudo aquilo sem tirar os lábios dos meus.
― O tanto que sonhei com esses malditos lábios enquanto me masturbava ― sussurrou
na minha boca e depois se afastou. ― Deita na mesa, bebê.
Assim que fiz o que me mandou, o meu short de dormir e calcinha foram tirados de mim,
e então senti sua boca onde eu mais necessitava de cuidados.
Sabia que uma parte fraca na minha cabeça me dizia para se preocupar em estar na
cozinha dos pais dele, mas meu cérebro estava frito, acho que nem se a casa pegasse fogo
conseguiria fazer com que eu parasse. Sentia-me como se estivesse em combustão, tudo em mim
vibrava.
Sua língua puxou o meu nervo pulsante, juro que fui arrebatada ou quase, me senti no
espaço cósmico, cercada pelas estrelas brilhantes.
― Tão doce como mel, porra ― grasnou. ― Meu maldito céu.
Ele não me deixou recuperar o fôlego, pois colocou um dedo em mim.
― Daniel isso é tão bom...
― Muito apertada. ― Seus olhos escuros estavam em mim, quentes quanto o Sol. ― Não
acredito que esse broto suculento e rosa é apenas meu. Eu o quis por tanto tempo.
Não conseguia abrir minha boca. Nem sabia se conseguiria dizer meu próprio nome.
Ainda mais quando ele acrescentou outro dedo em meu centro, entretanto, eu estremeci com a
intrusão. Nesse instante, ele parou de se mover.
― Promete que só eu colocarei a boca aqui? ― Ele falava enquanto movimentava os
dedos de forma que fez me tremer. ― Jura que ninguém mais fará isso?
Minha mente estava nublada pelo desejo e pela luxuria, mas consegui dizer:
― Sim, Daniel. Só você tem meu corpo, alma e espírito. Sou toda sua para sempre... ―
minha voz falhou assim que seus dedos tocaram em um ponto dentro de mim e, eu comecei a
gritar pelo seu nome, sem me importar em me parecer uma louca por sexo, não só sexo, mas por
aquele garoto que tinha cada parte da minha alma, cada parte de mim.
O prazer aumentou assim que ele começou a me foder com a boca e dedos; a palavra
podia ser um pouco rude, mas naquele momento, eu estava amando ser fodida daquela maneira
pelo Daniel.
― Porra! Isso é bom. ― Gemi, pegando sua cabeça e a apertando mais no meu centro. ―
Mais forte Daniel.
Sua língua vulcânica. Era assim que a chamava, porque me sentia prestes a explodir
como um vulcão cada vez ficava mais perto com cada estocada de língua que ele me dava. Era
mais uma dança malabarista na minha boceta, e com um puxão arrebatador fui consumida
explodindo de forma tão intensa que meu corpo teria sido lançado para cima se não fosse suas
mãos.
Fiquei ali esparramada na mesa sem energia e de olhos fechados desfrutando a imensa
sensação com a qual fui atingida. Nunca me senti dessa forma.
Ele deu mais um beijo entre minhas pernas e tirou os dedos; nessa hora sentia falta de
outra coisa dele, uma que também estava ansiando há muito tempo.
― Tão saboroso esse seu suco. ― Sua voz era rouca de desejo e luxúria.
Encontrei seus olhos famintos e abrasadores, mais poderosos que o Sol. Seus dedos
estavam em sua boca lambendo o que sobrou do meu prazer.
Juro por Deus, que aquele gesto me fez quase entrar em combustão de novo.
Daniel me puxou para os seus braços e me beijou; ali pude sentir a sua necessidade, a
protuberância em seu short, tão duro em minha barriga.
Sabia do que precisava fazer, e Daniel queria aquilo tanto quanto eu. Afastei-me e vesti
meus shorts e calcinha. Não podia ficar com ele na cozinha, meus sentidos tinham voltado ou o
pouco que me restou.
― Vamos para o meu quarto. Lá posso cuidar de você. ― Peguei sua mão.
Ele não tirou os olhos de mim por nenhum segundo como se não acreditasse que eu
realmente estava ali, não precisava ser leitor para saber que pensava isso.
― Se não estiver pronta, eu posso esperar ― começou, mas sabia que ele estava eufórico
querendo continuar, assim como eu estava.
― Esperei muito por você, escondendo o que eu queria. Agora que o tenho ― apertei sua
mão ― Quero você todinho para mim, Daniel. Estou pronta para nós.
Ele assentiu enquanto mirei para o quarto que estava ficando ali, mas Daniel me parou.
― Podemos ir para o meu quarto ― disse.
Não reclamei quanto ao pedido, só o segui para o seu quarto no andar de cima. Já tinha
ido ali antes. A cama Califórnia ficava a direita do quarto onde tinha uma vidraça que pegava do
teto ao chão. O lugar era enorme e dava quase o tamanho da minha casa.
Daniel me beijou com fome enquanto tirava a minha roupa em tempo recorde. Depois me
colocou na cama com delicadeza como se eu fosse pluma.
Ele pairou sobre mim, meu corpo já estava a todo o vapor de novo. Seus lábios sugaram o
meu seio; primeiro um e depois o outro me deixando eufórica e febril.
― Lamento por não ter percebido naquela noite o que sentia por você, achei que era
apenas uma noite de amassos para nós dois, então quando tive certeza dos meus sentimentos, eu
ouvi aquilo que disse a Stacy. Depois daqueles beijos e toque, eu fiquei apaixonado, uma paixão
avassaladora.
― Daniel, eu quero você dentro de mim ― choraminguei, abrindo mais minhas pernas.
― Sonhei tanto tempo com esse momento. O meu amor também é avassalador.
― Eu também, minha querida, se soubesse o que você sentia por mim não teria esperado
tanto tempo para tê-la clamando meu nome. ― Ele tirou sua bermuda e curvou pegando uma
camisinha no criado-mudo.
― Deixa-me fazer isso. ― Peguei o envelope e rasguei. Em seguida, pisquei ao olhar
direto para seu pau duro e reto, nele pingava seu pré- gozo mostrando sua excitação.
Assim que o cobri, ele se posicionou entre minhas pernas e o senti em minha entrada.
― Vou devagar, tudo bem? ― Daniel me avaliava e esperou que eu assentisse para
seguir alguns centímetros.
Não estava nervosa, aliás, estava ansiando por aquilo igual a uma corsa que anseia por
água. Cada vez que entrava em mim, eu senti a intrusão e um leve desconforto, mas com seus
beijos e carícias logo se transformou em prazer.
Já tive sua boca e a coisa era muito boa, mas não tinha nada como tê-lo dentro de mim
ocupando cada centímetro. Cada estocada, ele me levava ao limite, tanto que minhas unhas
apertavam suas costas, mas ele não reclamou, só gemeu.
― Goza no meu pau, linda ― ordenou com uma de suas mãos entre nós e movimentou
meu clitóris, então tudo em mim se dissolveu em luz.
― Tão perfeita, ainda mais quando goza. ― Sua voz estava rouca ao estocar mais uma
vez em mim, então gozou duro clamando meu nome.
Sorri toda mole assim que ele caiu em cima de mim, sem energia, como eu.
― Amo você ― declarei ao fitar seus olhos ardentes e cheios de amor.
Ele beijou com doçura cada uma de minhas pálpebras e sorriu também.
― Também amo você, mais do que posso dizer. ― Sua mão foi para o meu coração. ―
Obrigado por me dar isso, prometo guardá-lo e protegê-lo com a minha vida.
― Você também me deu o seu. Então pode ficar o meu. ― Beijei de leve seus lábios. ―
Tomarei conta do seu e prometo amá-lo e jamais machucá-lo.
― Para sempre irei amá-la, minha Sophie ― jurou.
Capítulo 2
Sophie
Presente
Há seis meses, eu descobri que tinha anemia Aplástica, e que precisava de um transplante
urgente. Mas estava sendo difícil conseguir um que fosse compatível. Estava na fila de espera,
então era só aguardar para ver o que aconteceria dali para frente. Com isso, eu decidi não queria
trazer mais pessoas na minha vida, pois eu poderia morrer em pouco tempo.
Fui adotada quando criança; e teve uma época em que eu quis saber quem eram meus
pais verdadeiros; queria perguntar o motivo de minha mãe verdadeira ter me abandonado. Será
que fui um erro tão grande assim que levou ela a me deixar em uma lixeira perto da casa dos
meus pais? Pior do que um cachorro sarnento. Nem um animal merecia tal coisa.
Depois de um tempo, eu não me importei mais em encontrá-la ou não, então quando
descobri a doença e que para o transplante haveria mais chance de compatibilidade se fosse
alguém da família, o meu amigo Weliton me ajudou a descobrir quem minha mãe era, não só ela,
mas meu irmão também. Ele conseguiu a informação, e assim que soube, eu fui visitá-la. Aliás,
tinha acabado de chegar lá.
Mary estava na cadeia, porque ela roubou de seu próprio filho. Como uma mãe era capaz
de tal coisa?
A procurei não apenas para pedir ajuda e ver se podia me ajudar, mas porque queria
descobrir os motivos que a levaram a me abandonar.
Eu estava ansiosa, pois acabei de saber que tinha uma mãe, uma que me abandonou; e
depois de crescida, eu quis conhecê-la, saber o que fazia e seus motivos para ter me deixado da
forma que fez. Talvez ela tivesse uma daquelas doenças onde a mulher sofre de depressão pós
parto. Só queria entender suas razões.
Não era apenas para ver se ela podia me ajudar e doar seu sangue para ver se era
compatível e me salvar da minha doença. Afinal de contas, irmãos seriam mais prováveis, e
ainda assim a compatibilidade era fraca também. Embora não fosse impossível. Lucky era a
fonte e, eu iria até ele... Eu só precisava ter coragem de contar que era sua irmã.
Quando soube que eu também tinha um irmão fiquei imensamente feliz. Na hora, eu só
queria chegar até ele, e faria isso, mas precisava assimilar tudo. Afinal, tinha acabado de saber
que tinha um irmão e uma mãe.
Uma parte de mim me dizia que eu não deveria estar ali, mas a outra dizia que precisava
daquilo, mesmo que estivesse com medo da reação dela. Mas poderia ser algo bom estar ali e
acabar com aquela angústia, porque se não, sempre teria uma parte de mim se perguntando se
poderia ter sido diferente; que ela poderia no fundo ter algo bom dentro de si.
Estava ali na sala de espera, aguardando minha mãe. Sabia que tinha ressentimento pelo
que ela fez, mas eu seria capaz de esquecer, ou ao menos tentar, se ela fizesse um mínimo de
esforço para querer ficar comigo. Se tivesse ao menos um pouquinho de preocupação de me
perder como uma mãe de verdade teria.
― Ora, ora... quem é viva sempre aparece. ― Ouvi uma voz soando divertida e irritada.
― Não achei que um dia, você viria aqui para me ver nesse lugar.
Franzi a testa, olhando para a mulher de meia idade; não parecia ser aquela que vi nas
revistas com roupas de luxo e toda maquiada, cabelo feito. Essa parecia uma bagunça.
― Não me olhe com pena ― grunhiu, enquanto se sentava diante de mim. ― Você não é
melhor do que eu.
Ignorei sua provocação e me foquei no que eu queria saber dela, os motivos que a
levaram a me deixar sem se importar. Algo em meu peito se apertou, porque no fundo, eu sabia
que não aconteceria como eu esperava. Mas aí ser tratada com tanta frieza dessa forma?
― Por que nunca foi me procurar? ― Fui direto ao ponto, não querendo enrolar mais. ―
Por que me abandonou daquela forma?
A forma que me olhou como se eu fosse uma idiota e ingênua foi uma pontada no meu
coração. Claro que sabia que não seria recebida com flores e alegria, mas por que tanto ódio?
Não fazia sentido.
― Acha mesmo que eu iria desperdiçar o meu tempo com você ou seus irmãos? O pior
erro da minha vida foi ter tido vocês, malditos bastardos. ― O asco era evidente na sua voz.
― Por que nos teve então? Deveria ter evitado! Até naquele tempo já tinha a maldita
camisinha e outros contraceptivos. A mulher só tem filho se quiser, pois há várias formas de
prevenir. ― Cerrei os punhos com raiva. De repente uma coisa que ela disse chamou a minha
atenção. ― Você disse, eu e meus irmãos. Então quer dizer que tenho mais de um? Sei que
Lucky Donovan é um deles. Quem é o outro?
Ela fechou a cara.
― O que faz aqui mesmo? ― Ela riu, zombeteira. ― Veio atrás de mim para ser sua
doadora? Soube que pode morrer com sua doença e sabia que logo viria até mim ou até seu
irmão que, inclusive estou surpresa de não tê-lo procurado ainda.
Estreitei meus olhos.
― Como sabe tanto sobre mim? Anda me espionando? Uma mãe deveria se importar
com sua filha e não ao contrário ― rosnei com os punhos cerrados.
Ela riu.
― Acha que me daria ao trabalho de segui-la? Você não vale à pena, nem grana tem. Por
que haveria de me importar com uma garota como você? ― desdenhou.
― Então como...
― A velha da sua mãe veio me implorar essa manhã para salvar a sua vida. Talvez eu
possa ser a doadora. ― Revirou os olhos. ― Como se eu me importasse pelas suas lágrimas ou
para o que acontece com você.
Pisquei. Minha mãe esteve ali? Nem sabia que ela estava na cidade. E se veio, por que
não foi até mim? Seria só para conversar com a Mary?
Meu coração doeu por saber que ela implorou àquela mulher que me deu a luz, falo
assim, porque mãe se preocupa e liga para o seu filho, diferente daquela cobra, que zombava da
dor dos outros. Ela se achava inabalável? Que o castigo de Deus não poderia vir sobre ela? Não
se podia tratar nem o próximo assim, imagina uma filha ou um parente?
― Como pode ser assim? Minha mãe está sofrendo por minha causa, justamente por não
poder fazer nada para me ajudar. Você não passa de um monstro ― expirei, limpando as
lágrimas do meu rosto.
― Não vou fazer nada sem dinheiro. Quanto valerá a sua vida? ― Ela colocou as mãos
no queixo. ― O que fará para evitar isso? Estaria disposta a dar uma grande quantia? Também
tenho outra condição, ou seja, duas. O que vai fazer?
O solavanco em meu coração foi tanto que eu mal consegui assimilar. Como um ser
humano pode pedir dinheiro para salvar alguém? Ainda mais uma mãe?
Alísia não tinha meu sangue e mesmo assim daria sua vida por mim. Até se deslocou até
ali, disposta a se humilhar para conseguir que Mary me ajudasse.
― Quanto você quer? Quanto pelo sangue e pelo transplante? Quanto para me dizer
quem é meu outro irmão ou irmã? ― sondei. Talvez tivesse algumas economias que pudesse dar.
Não pelo sangue, mas para saber sobre meu outro irmão. Eu me senti feliz em saber que tinha
mais alguém, não porque poderia me salvar, mas porque minha família estava crescendo e, eu
estava amando a ideia de ter irmãos.
― Quinhentos milhões de dólares. Além da minha liberdade definitiva. Quero ficar livre
dessa cadeia que o maldito do seu irmão me colocou. ― Ela se recostou na cadeira e sorriu. ―
Tem todo esse poder, garota? Se tiver, então temos um acordo.
Arregalei os olhos.
― Você está doida? Como acha que tenho todo esse dinheiro? Nem se trabalhasse toda a
minha vida. ― Estava chocada e chateada por ter perdido o meu tempo vindo até ali quando
sabia que não valeria de nada.
Mary continuou sorrindo como se não se importasse com o meu estado chocado e
furioso.
― Isso não é problema, pois seu irmão Lucky tem mais do que isso pode acreditar,
aquele maldito fedelho é bilionário, então esse valor não vai fazer nem cócegas na conta dele ―
comentou, com inveja do meu irmão.
Levantei-me depressa como se ela tivesse me socado, acho que doeria menos.
― Você é mesmo desiquilibrada se acha que vou pedir esse dinheiro a ele só para que me
ajude. Como alguém é capaz dessa merda? Só sendo sem escrúpulos como você! ― Tentei não
gritar, porque corria o risco de os guardas me colocarem para fora. De qualquer forma, eu só
queria sumir daquele lugar e nunca mais vê-la.
― Por que não? Se acha tão certinha a ponto de morrer sem pedir ajuda ao seu irmão? ―
zombou com um olhar afiado. ― Conheço mulheres como você, querida, que se fazem de sonsa,
mas não passam de golpistas.
― Fale por você. ― Trinquei os dentes. ― Não vou me aproximar do meu irmão e pedir
algo assim a ele, também não quero seu sangue, só quero saber onde está o meu outro irmão que
me disse.
Já estava perto da porta de saída, quando ela me chamou:
― Você vai morrer só para não ter que pedir ajuda? Isso é uma completa idiotice.
Dei de ombros.
― Não vou, porque ao contrário de você, o Lucky pode me ajudar e não irá querer nada
em troca. Ele é um ser humano decente e você uma vadia golpista que se for por mim apodrecerá
nessa cadeia. Só vim aqui hoje pensando que talvez tivesse mudado com o tempo, mas vejo que
ficou foi pior; cheia de ressentimento, amargura e ambição pelas coisas dos outros. De hoje em
diante para mim você está morta.
Saí daquele lugar antes que fizesse alguma besteira e acabasse atrás das grades.
Eu estava com raiva dela e com motivos, afinal quem não reagiria dessa forma? Aquela
mulher era uma desumana que foi capaz de abandonar a própria filha dentro de uma lixeira. Eu
que fui idiota de procurar saber dela.
O bom disso tudo foi que acabei descobrindo que Lucky e eu tínhamos mais um irmão ou
irmã, e fiquei contente por saber, mas triste por não saber onde estava.
A cobra da Mary estava pedindo algo impossível de se conseguir para falar onde nosso
irmão estava. Não poderia pedir ao Lucky que a libertasse ou que me desse aquele valor em troca
de ela dizer o paradeiro do nosso irmão. Será que era uma garota? Se fosse, como ela seria?
Certamente foi abandonada, como nós dois, Lucky e eu.
Merda! O que fazer? Desistir nunca fez parte do meu objetivo, mas as coisas estavam
complicadas; acontecendo tudo ao mesmo tempo. Não podia segurar aquele fardo, sozinha e
precisava me abrir com alguém, com Lucky.
Capítulo 3
Lucky
Já fazia dias que meu telefone tocava direto com ligações que eu não queria atender.
Mary deixou de ser minha mãe quando me abandonou quando eu ainda era criança. Até então
não, eu sabia seus motivos nem se tinha algum. Talvez ela fosse apenas uma cadela fodida
mesmo, não?
Três semanas e, eu estava sendo perseguido com ligações do advogado dela. Até tinha
falado com meu advogado para que tentasse impedi-lo de me atormentar com aqueles malditos
recados, porque eu não queria saber dela de forma alguma.
Entretanto, ela persistia com o recado de que precisava falar comigo sobre uma coisa
importante, e que se eu não fosse visitá-la, jamais saberia o que realmente aconteceu comigo e
nem os motivos que ela teve para me abandonar ainda criança.
Falei a mim mesmo que não queria saber, mas, no fundo, ainda restava a dúvida dos
motivos que a tinham levado a me odiar e desejar minha morte.
Sentei-me à mesa, em frente à pessoa que um dia eu havia amado e chamado de mãe —
ao menos quando era uma criança. Eu ainda me recordava dessa merda, às vezes, só queria
apagar tudo do fundo da minha mente.
Mary estava acabada, não tinha mais nenhuma maquiagem ou cabelos feitos pelos
melhores da área, parecia mais velha do que já era.
― O que tem de tão importante para falar comigo? ― questionei em tom duro. Sabia que
a cadela era minha mãe, mas ela roubou de mim, então por que eu deveria ser educado e tratá-la
com luvas de película? Aquela mulher merecia mais do que minha frieza, merecia o meu
desprezo total.
Ela olhou para mim e Bryan, ao meu lado e franziu o cenho de um para o outro.
― Por que não veio sozinho? Achou que eu mataria você? ― Seu tom era incrédulo e
raivoso, mas também cheio de sarcasmo. ― O que posso fazer aqui?
Não tinha levado o Bryan por medo, ele quem apareceu na minha empresa na Onix no
momento em que eu estava saindo, e decidiu vir junto. Não liguei, afinal, eu não tinha segredos
com aquela cobra.
― Você tentou isso uma vez, se esqueceu? Deixou-me sozinho em uma casa, com fome
para morrer naquele lugar. ― O desdém era evidente na minha voz.
Ela nem se encolheu ou piscou com minhas palavras, certamente que aquela mulher era
feita de pedra por não se importar com o próprio filho. Eu amava minha filha e por ela, eu
moveria céu e inferno, e até por Shaw que não tinha meu sangue, mas o amava como se fosse
meu. Então a frieza daquela mulher me deixava com mais raiva.
― Soube que tem uma filha, meus parabéns ― começou, mas a cortei:
― Não me chamou aqui para falar da minha família, porque você nunca ligou para isso
― grunhi, perdendo a paciência com toda aquela falsidade. ― Vá direto ao ponto, pois tenho
mais o que fazer ao invés de olhar para essa sua cara.
Ela estreitou os olhos.
― Preciso que me tire daqui...
Ri, sacudindo a cabeça com fúria; eu estava quase explodindo como um maldito vulcão,
logo estouraria, mas torcia para não matar minha própria mãe ou aquela mulher que me colocou
no mundo, porque mãe ela não era nem nunca foi.
― Você é louca? ― sibilei, enfurecido. ― Você e o bastardo do seu filho adotivo me
roubaram! Acha que vou deixá-los soltos? Ninguém me rouba e fica impune.
Ela foi presa depois que usou o Kevin, que trabalhava para mim — a mando dela — e
também o filho do homem que ela estava na época. Certamente convenceu o trouxa a me roubar,
e com isso os dois estavam presos.
― Você tem muito dinheiro e não sabe o que fazer com ele, eu sabia, mas então a vadia
da sua mulher deu com a língua nos dentes.
Senti Bryan endurecer por ouvi-la chamar sua irmã daqueles nomes.
― Não ouse manchar o nome da minha esposa, você é a única vadia aqui. ― Levantei-
me ou quebraria a cara dela. Embora soubesse que jamais tocaria em uma mulher. Só por isso,
ela ainda estava inteira ― Se era apenas isso que tinha a dizer, eu estou indo embora, e você não
vai ver a luz do dia fora desse presídio.
Ela suspirou, parecendo frustrada. Na verdade éramos dois, porque eu também estava.
― Você é um homem arrogante, mas tudo bem... se é assim que você quer jogar ―
apontou para a porta de saída dando de ombros ― Vá embora sem saber onde suas irmãs vivem
e como elas andam até agora.
Virei-me, porque já tinha quase alcançado a porta. Olhei para a víbora pensando não ter
ouvido direito, mas pela cara dela foi justamente o que tinha acabado de ouvir.
― Irmãs? Eu não tenho irmãs, e você não tem nenhuma filha, porra! Então não me venha
com essa merda! ― grunhi. ― Não acredito em nada que venha dessa sua boca mentirosa e
ladra, o que uma pessoa não faz por dinheiro?
Arqueou as sobrancelhas e escorou na cadeira com um sorriso diabólico.
― Não? Se você não acredita em mim, o problema é seu, mas elas existem. São gêmeas
e, mais novas do que você. Eu dei as duas para pessoas diferentes. ― Uma cadela de rua era
mais mãe do que aquela mulher já foi ou era.
Estreitei os olhos.
― Então onde elas estão e com quem? ― perguntei, mas conhecendo Mary sabia o que
ela iria querer em troca da informação que acabou de revelar.
Ela sorriu.
― Acha que vou dizer a troco de nada? Tire-me deste lugar e eu falo. Ou você nunca
saberá onde elas moram, nem o que fazem ou como elas estão. Será que elas estão bem ou
passando dificuldade? E você cercado do bom e do melhor... ― ela checava as unhas enquanto
falava como se estivesse analisando após sair de um salão de beleza.
Meu peito parecia ter sido socado com força. Eu não podia soltá-la, mas como descobriria
sobre minhas irmãs? O que elas faziam? Será que estavam bem? Será que sofreram como eu,
sendo deixado em um lugar ruim?
Porra! O que vou fazer agora?!
― Vamos Lucky, talvez seja tudo mentira mesmo ― Bryan falou pela primeira vez.
Com toda a merda que ouvi acabei me esquecendo dele ali comigo. Se fosse dinheiro que
ela quisesse até daria em troca da informação, mas a liberdade? O pior não era isso, mas sim que
não haveria garantia de que ela realmente estivesse dizendo a verdade. Eu precisava apurar as
informações antes. Sabia que conseguiria, mas precisava de algum tempo.
― Não achei que fosse mesquinho ao ponto de não poder dar tudo para seu sangue.
Como pode um homem ser capaz disso?
Devia ficar quieto por aquela réplica, mas estava furioso demais para ser composto.
― Quem você acha que é para me julgar? Uma mulher que abandona seus próprios filhos
como uma puta qualquer, que garantia tem de elas não estarem mortas? Era para eu estar, só não
morri por causa dos Donovan que me salvaram, se não estaria na tumba. O que faz você acreditar
que elas também não tiveram esse mesmo destino?
― Ao contrário de você, elas eu sei onde e com quem estão desde crianças. ― Não havia
remorso do que ela tinha feito com seus filhos. Se fosse só por uma condição financeira ruim,
mas ela me deixou da pior maneira possível e, eu não acreditava que com minhas irmãs tinha
sido diferente.
Bryan chegou perto de mim e falou baixo só para que eu ouvisse:
― Vou procurar saber a verdade. Agora não dê o que essa mulher quer, porque ela não
merece sair desse lugar. ― Sabia que Bryan estava certo quanto àquilo.
Virei para a mulher que me deu a luz, mas que nunca se importou comigo.
― Posso saber por que teve filhos se não gostava de nós? Nos abandonou como se
fôssemos lixo? Tem alguma razão ou realmente você é só uma cadela psicótica que adorava
engravidar para matar os filhos?
Ela não pareceu se importar com o que eu disse, aliás, nunca se importou.
― Acha que ligo para a sua opinião? Não, mas não queria ter tido nenhum de vocês. ―
Me olhou de lado. ― Os três me lembravam o morto de fome do seu pai que acreditava que
deveríamos ter as coisas com o próprio suor; ele nunca quis ser rico ou ter uma vida boa. Sempre
achando que viver na simplicidade era obra de Deus. Aquele maldito não merecia nem estar
vivo. Quem nasce com a alma de pobre morre pobre.
― Você sabe quem é meu pai? ― perguntei. Sempre achei que meu pai era um maldito
bêbado ou que ela nem sabia quem era, já que não passava de uma puta.
― Claro que sei. Sei até onde o morto de fome mora ― rosnou. ― Se quiser saber quem
é, então me solta que te dou essa informação como um bônus. Assim você e suas irmãs podem
ficar com a ralé. Você pode ter grana Lucky, mas não passa de um ralé assim como ele.
― Não procurei sua opinião...
― O pai deles sabe que tem filhos ou você escondeu isso dele? ― perguntou Bryan.
Sabia que ele estava checando para ver se ela soltava algo para facilitar seu trabalho de
busca sobre minhas irmãs.
― Aquele pobretão não sabe de nada. Se ele soubesse que eu tinha ficado grávida com
certeza teria vindo pegar vocês. Apesar de que não faz muito tempo que soube que ele descobriu
sobre vocês, mas não conseguiu achar. ― Ela sorriu. ― O verme deve estar arrasado.
Jesus! Como alguém assim exista? Aquilo não era nem ser humano; certamente nem
alma tinha.
― Não vou dar o que você quer. Vou procurar saber delas, eu mesmo e sem sua ajuda.
Enquanto isso apodreça nesse lugar ― sibilei.
― Seu moleque atrevido... ― ela começou a me xingar de vários nomes que deixava
caminhoneiros de boca aberta, mas não liguei e apenas saí dali.
Estava pisando duro quando cheguei ao meu carro, porque não sabia o que fazer. Queria
minhas irmãs comigo, e saber do meu pai também. Que tipo de homem ele era? Se Mary falou
mal dele e de seu ponto de vista que não era interesseiro, então ele era igual a mim. Será que ele
ainda estaria nos procurando?
― Vou achá-las para você. Eu irei pesquisar tudo sobre sua mãe, saber onde deu a luz,
porque isso pode ajudar ― disse Bryan. ― Fique tranquilo, cara.
― Tudo bem, cara. ― Não queria preocupá-lo e dizer que minha mente estava fodida.
Aquela mulher tinha poder sobre mim, uma coisa que eu odiava, até pensei que tinha passado,
mas percebi que não, pensei amargo.
― Lucky ― começou, mas eu mal ouvi, porque minha mente estava a mil.
Porra! Eu precisava me controlar e não deixar que nada me afetasse, mas era difícil.
Ouvir sobre minhas irmãs e não saber como elas estavam nem se estavam vivas me agoniava.
Como alguém podia viver dessa forma? Não as conhecia, mas estava louco para isso. Estava
preocupado sem saber o que fazer.
Bryan falou comigo sobre a forma de encontrá-las, e também ao meu pai. Eu assenti para
tudo, mas o meu peito me sufocava quase me deixando sem fôlego.
― Você vai ficar bem, cara? Assim que souber de algo, eu te chamo.
― Estarei bem, só preciso da rosa vermelha, ela afasta a escuridão que há em mim ―
expirei, mas tudo em mim parecia doer demais.
Fui até a sala da Vênus a procura dela, e Bryan foi embora.
― Senhor Donovan. ― A recepcionista se colocou de pé assim que entrei.
― Minha esposa está na sala? ― perguntei com a voz estranha. Eu me sentia estranho,
como um vulcão prestes a explodir e gritar aos quatros cantos.
― Não senhor, está atendendo...
Sabia que não deveria interromper a consulta de Sam, mesmo que eu precisasse, tinha
crianças ali que precisavam mais dela do que eu naquele momento.
Ignorei a preocupação no rosto da mulher, acho que ela falou algo, mas não ouvi e voltei
para o meu escritório. Peguei um uísque e tomei um gole grande para me acalmar. Minhas mãos
tremiam tanto que achei que minha raiva transpirava pelos poros.
― Maldição! ― praguejei indo sentar na minha cadeira, encarando a cidade de
Manhattan.
Onde minhas irmãs estariam naquele momento? O que estariam fazendo? Elas estavam
ali ou fora da cidade? Queria tanto conhecê-las; saber o aconteceu em suas vidas até ali.
Esperava que tivesse sido melhor que a minha vida. Apesar de que desde que fui adotado quando
criança a minha vida foi só felicidade. Esperava que a delas também.
Tinha meus irmãos, Ryan e Rayla, mas adoraria ter aquelas duas irmãs também; conhecer
alguém do meu sangue sem ser a víbora da mulher que me deu a luz.
― Porra! ― Joguei meu copo do outro lado da sala quebrando um jarro de vidro.
― Por Deus, Lucky! ― arfou Sam entrando na sala e se deparando com a bagunça que
fiz. ― O que aconteceu para agir dessa forma?
Olhei para minha linda esposa, a mulher que roubou minha alma e coração, e também
deu a coisa mais linda da minha vida, minha princesinha linda.
― Rosa vermelha, me desculpe. Mas é que as coisas com Mary saíram do controle.
Aquela mulher tem o dom de me tirar do sério e querer matar a cadela ― expirei para me
acalmar e ir até ela.
― Você foi visitar sua mãe? ― indagou sem entender.
Tanto ela como minha família sabiam que eu não gostava da minha mãe, nem entendia
como me referia a ela assim, mas não significava que a reconhecia dessa forma. Era só uma
palavra sem significado.
― Oh, meu amor. ― Ela chegou até mim e me abraçou forte. Senti muito conforto nisso.
― O que aquela mulher disse para deixá-lo assim?
Contei tudo a ela sobre as irmãs que a Mary falou que eu tinha e que a vadia deu como se
as filhas não fossem nada. Expliquei que eu não tinha ideia de quem elas eram e o que faziam, os
nomes e muito menos se estavam bem.
― Oh, Lucky querido. ― Puxou minha mão para me sentar no sofá e ficou do meu lado.
― Vamos dar um jeito de descobrir quem são elas.
― Bryan disse que vai conseguir, e acredito nele. É só que isso tudo é fodido, como uma
mãe é capaz de chantagear o filho em troca de dizer onde as irmãs estão? Sei que Mary não passa
de uma vagabunda chantagista que só pensa nela e em mais ninguém ― passei as mãos nos
cabelos ― Não posso retirar a queixa em troca dessa informação. Se soubesse que ela diria a
verdade, eu até faria, mas não acredito nem um pouco nela; quem roubou e mentiu uma vez faz
sempre.
― Vamos esperar e ver se Bryan descobre alguma coisa, meu irmão é bom em descobrir
coisas desse tipo, então se não conseguirmos, nós poderemos pensar na possibilidade de isso
acontecer, agora não deixe que isso suba a cabeça. ― Ela olhou para o vidro quebrado. ― Sei
que é doído pensar nelas por não saber como estão vivendo, mas acredite em mim, perder a
cabeça não é a solução, se precisar de mim sempre estarei com você.
― O que eu fiz para merecer uma mulher como você? ― perguntei quase para mim
mesmo.
Sam também foi humilhada e, maltratada por seus pais; a mulher era louca e o pai se
tornou abusivo quando pensou que ela não era sua filha. Foi a cadela da mãe dela que disse que
não era, envenenando o marido e tudo por ciúmes. Vai entender a loucura de uma pessoa?! A
mulher era louca ou talvez só malvada como a minha.
Deus me perdoe, mas não ligava que os dois estivessem mortos. Há algum tempo os pais
dela foram mortos por um assassino em série que estuprou e sequestrou a mulher de Bryan, e
também matou a irmã de Angelina.
Depois soube que aquele assassino e, estuprador só chegou aos pais de Sam e Bryan,
porque de alguma forma maluca, ele odiava pais que maltratava seus filhos. Acho que os dele
não ligavam muito para ele por isso os matou.
Embora não fosse motivo para fazer tal coisa; tive uma vida de cão e ainda estava ali,
claro que dei trabalho na adolescência aos meus pais adotivos, mas não foi tão grave e muito
menos fiz algo hediondo ou desumano.
― Você é bom Lucky, sei que não vai descansar até encontrar suas irmãs, e acredite em
mim, eu também quero conhecê-las. ― Sorriu com candura. ― Por que não vamos embora
agora? Ou tem mais alguma reunião?
― Não tenho mais nada, cancelei tudo. Não estou muito com cabeça para nada. ― Beijei
seus lábios ― Amo você demais, rosa vermelha.
― Também amo você ― declarou com um sorriso doce. ― Sou uma sortuda por ter
conseguido chegar até aqui.
― Foi só você e sempre será. ― Afirmei, mas depois um pensamento me ocorreu.
Há algumas semanas, eu notei que o apetite dela por sexo estava sendo mais que o
normal, claro que fazíamos amor diariamente, mas quando ela ficou grávida da nossa filha, isso
aumentou... será que tinha a ver com isso?
― Você está grávida? ― sondei, avaliando seu rosto lindo.
Seus olhos azuis me encararam.
― Como sabe que estou? ― perguntou, confusa. ― Eu vim aqui para contar, mas então
vi você naquele estado.
Alisei suas coxas fazendo com que ela estremecesse dando ênfase ao que dizia.
― Seu apetite por sexo aumenta sempre que está grávida. Mas não ligo, porque amo
fazer amor com você. Adoro ainda mais saber que tem um ser pequenino dentro de você, assim
como minha bonequinha.
Sorriu, alisando meu cabelo.
― Vamos encontrá-las, assim como seu pai.
― Te amo, rosa vermelha. ― Beijei seus lábios. ― Obrigado por me fazer feliz dessa
forma.
― É um prazer te fazer feliz, Lucky, e vai dar tudo certo, querido. Vou estar aqui e
vamos fazer tudo juntos. ― Alisou meu rosto.
― Sempre ― jurei.
Capítulo 4
Sophie
Minha amiga Laurel estava fazendo o aniversário de um ano de sua filha Jordana e de seu
marido Jordan, o filho do cantor aposentado, James.
A festa era na casa dela, no Texas, bem na cidade onde meus pais adotivos moravam.
Dallas.
Não queria vir ali, porque encontraria Daniel, e já tinha muito tempo que não o via
pessoalmente. A última vez foi quando ele brincou comigo me deixando quebrada e destroçada.
Isso era algo que eu não queria pensar, porque ele matou meus sonhos e minha paixão por ele,
embora não deixasse isso me afundar. Foi difícil na época, mas dei a volta por cima. Ao menos
era o que eu dizia a mim mesma a todo o momento.
Daniel era o melhor amigo de Jordan, desde a faculdade que fizeram juntos. Nessa turma
estava Lucky, Ryan e Jason, soube disso quando voltei a visitar Laurel há algum tempo.
― Que bom que chegou ― disse Laurel, beijando ambos os lados do meu rosto.
Ela estava usando um vestido rosa salmon com cabelos presos no alto da cabeça, mas
com mexas em seu rosto. Muito linda e sua bebezinha era ainda mais.
A garotinha parecia o pai, loirinha de olhos azuis, mas tinha traços de Laurel também.
Conheci Laurel quando vim visitar minha mãe no ano retrasado, aliás, antes disso antes
de ir para a faculdade, então nossos caminhos foram separados. Então nos reencontramos e, eu
não ficaria longe nem após saber que o marido dela era o melhor amigo de Daniel.
― Não perderia por nada a festa da minha princesinha linda. ― Sorri. ― Onde ela está?
Laurel sorriu.
― Com Jordan. Ela não o larga hora nenhuma. ― Gesticulou para que eu entrasse. ―
Entra, mas saiba que Daniel está aqui. Ele acabou de chegar.
Sabia que ele estaria ali, pensei amarga. Sempre que ouvia que Daniel estava em um
lugar meu coração acelerava forte, ainda batia por ele. Isso me dava raiva, porque ele não
merecia, não após ter feito o que fez a mim.
Expulsei aquele pensamento e me foquei em participar da festa para depois ir embora e,
deixar de ver sua cara bonita e descarada de mulherengo.
― Sei disso, mas não ligo ― menti. Laurel sabia da minha paixão por Daniel. Contei a
ela assim que rejeitei um convite no mês passado para visitar o Haras dela, tudo porque Daniel
estaria lá também. Infelizmente o convite para o aniversário eu não pude me declinar, afinal por
Jordana valia a pena vê-lo.
― O ouvi perguntando ao Jordan sobre você ― disse. ― Talvez esteja interessado...
Cortei.
― Está enganada. E mesmo se estivesse, eu não ligo para o que o bastardo pensa.
― Esse ressentimento que ouço na sua voz diz o contrário ― disse com um olhar triste.
― Conversa com ele, ouvi dizer que quando Daniel tenta conversar, você se esquiva, então o
deixe se explicar.
Não queria que explicasse nada do que ouve, não só porque era rancorosa, mas pela
minha doença, descoberta recentemente. Se não conseguisse um doador não sabia o que seria de
mim. Já bastavam meus pais que estavam sofrendo por mim sem poderem fazer nada.
Sabia que éramos jovens na época, mas tive meu coração partido por Daniel, quando o vi
entrando em um motel com uma garota, aquela que eu não gostava, a Stacy. Depois disso fui
embora e não tornei a vê-lo pessoalmente, só em jornais, embora quando aparecesse na TV, eu
mudava de canal.
Já fui rancorosa, mas não era mais. Só queria mantê-lo longe de tudo para quando as
coisas ficarem pior. Por que havia a chance de isso acontecer, esperava que não, afinal não queria
morrer.
Quando saí do presídio onde visitei Mary no dia anterior, fui até a empresa de Lucky
contar a ele, mas não consegui entrar, tive medo, não de ele não me ajudar e me aceitar, porque
sei que faria isso. Estava ali, naquele momento não só para felicitar e beijar a Jordana, mas para
contar tudo ao meu irmão. Acho que por isso estava nervosa. Queria contar para Laurel o que
tinha, mas não queria preocupá-la, assim como não queria fazer com meus pais, mas não pude
fazer isso. Tinha intenção de contar, mas precisava me acostumar com a ideia primeiro. Também
gostaria de contar sobre Lucky, mas precisava revelar a ele primeiro.
― Melhor deixar como está. Agora vamos ver a minha aniversariante mais linda do
mundo.
Assim que entramos, eu me deparei com Lucky ao lado de sua esposa. Os dois faziam um
casal muito lindo; ela tinha pele branca, cabelos negros e olhos azuis. Já o Lucky tinha cabelos
escuros e olhos verde floresta.
Meu amigo Weliton puxou a ficha de meus parentes no intuito de me salvar, e consegui
encontrar Lucky. Surpreendi-me quando descobri que ele também era amigo de Daniel e Jordan.
Hoje chegaria ao Lucky e lhe diria quem eu era realmente. Meu coração palpitava toda
vez que o via; já fui em três lugares que ele estava depois que soube que era meu irmão. Na sua
empresa, no hotel, mais cedo e ali.
― Sophie está ouvindo? Não acho bom que fique olhando para o Lucky, ele é casado, e a
mulher dele é muito boa. Alguém pode entender que esteja interessada nele. ― Laurel estalou os
dedos na minha frente me trazendo ao presente. ― Ele é bonito, mas não faz seu tipo, e outra, é
bem casado.
― Claro que não me interessaria por homem casado! É que, eu já ouvi as palestras que
ele faz, e gosto bastante. ― Não era mentira, mas não podia dizer a verdade. Não ainda.
Peguei uma taça com água.
― Lucky tem várias empresas beneficentes que ajuda crianças pelo mundo. Ele é um
cara fechado, mas parece gente fina ― comentou Laurel.
― Não tenho interesse nele...
― Interesse em quem? ― Ouvi uma voz que ficou gravada em meu cérebro e acreditava
que ficaria para sempre, porque mesmo após quase onze anos, ele ainda me fazia tremer.
Senti minha pele se arrepiar com uma sensação que eu só sentia estando perto dele; sabia
que fazia anos que não chegava, pessoalmente, perto dele, mas a sensação abrasadora de estar ao
seu lado nunca foi esquecida. O calor era como se minha pele estivesse perto de uma fornalha.
Virei-me e fiquei de frente para o homem que um dia foi meu melhor amigo e o amor da
minha vida. Mesmo seguindo vidas diferentes, eu ainda o amava, nada parecia ter mudado. Podia
sentir isso pelo meu coração traiçoeiro.
Tive com alguns relacionamentos após Daniel ter me deixado, porém nunca dava certo,
porque eu ficava tentando encontrar Daniel em todos eles. Isso me enfureceu por muito tempo,
então chegou um tempo que parei de procurar e me foquei na minha profissão que amava. Porém
acabei descobrindo aquela doença.
O Neil, foi o meu relacionamento mais sério, ficamos juntos por um ano, e fazia desde
que nos separamos, mas nunca pude amá-lo como deveria, acho que entendi o porquê, nunca
consegui me esquecer realmente do Daniel, por isso não insisti ou lutei para que nosso
relacionamento desse certo.
Nunca pude seguir em frente por causa daquele homem ali na minha frente. Aqueles
olhos negros e cabelos curtos e lisos, a forma que seu lábio estava curvado em uma careta.
Aquele homem parecia um deus grego de terno. Um que me quebrou e foi difícil lutar para me
reerguer.
Sorri de modo frio.
― Ah, sim, eu estava dizendo a Laurel que vou me casar. ― Levantei a taça como se
estivesse brindando.
Uma sombra escura atravessou suas feições perfeitas.
― Casar? ― cuspiu como se fosse veneno. ― Com quem vai casar?
Além de parecer sombrio, tinha algo na voz dele que parecia estar em um tormento, mas
com certeza devia estar errada. Afinal, ele vivia cercado de mulheres, então por que iria se
preocupar com quem eu estava saindo? Ele deixou claro, há anos, que eu não fazia parte de sua
vida de forma alguma. Por isso nunca apareceu nem para me dizer um oi.
― Isso não é da sua conta. ― Cheguei perto, quase o tocando. ― Você me tirou da sua
vida, então não tem que dar nem um piu a esse respeito, lembra?
― Sophie...
― O que está acontecendo aqui? ― perguntou Jordan chegando até nós.
Minha amiga era uma mulher de sorte, o cara era um tremendo deus loiro de olhos azuis;
muito parecido com o gato do ator que protagonizava o personagem do Thor.
Ele segurava Jordana nos braços, a menina era parecida com ele.
― Nada que seja importante ― respondi e estendi minhas mãos para minha bonequinha.
― Vem com a titia?
Sua boquinha desdentada sorriu para mim, aliás, tinha dois dentinhos na frente. A peguei
nos braços e fui para sair dali, pois não queria mais ficar perto de Daniel, mas ele segurou meu
braço.
― Sophie você vai mesmo se casar?
Cortei com os dentes cerrados.
― Por que se importa? O que não falta é mulher para aquecer sua cama. ― Dei um
safanão tirando sua mão de mim e saí dali antes que dissesse algo.
Ficar assim tão perto dele doía meu peito, uma coisa que achei que tivesse superado, mas
vi que não. E temia nunca poder.
― Como está a minha florzinha linda? ― Fiquei nos próximos minutos brincando com
ela até que Laurel chegou e ela quis a mãe dela.
― Por que disse aquilo ao Daniel? Ele está furioso com essa notícia, até me perguntou se
é verdade. ― Ela se sentou do meu lado no sofá e pegou Jordana.
― Não contou a verdade, não é? Sou sua amiga, e deve ficar do meu lado e não dele. ―
Apontei.
Ela revirou os olhos.
― Não disse nada, mas ele vai descobrir logo. Vocês dois precisam se entender Sophie,
já faz tantos anos. E a forma que vocês agem faz parecer que ainda se amam.
― Vou comer alguma coisa. ― Me coloquei de pé não querendo ouvir mais nada sobre
dele. Fugi dela para a cozinha, porque conversar sobre Daniel me deixava triste e irritada.
― Continua fugindo. ― A ouvi dizer atrás de mim.
A ignorei e entrei na cozinha que era no estilo fazenda, cheia de armários de madeira.
Coloquei a chaleira com água no fogo para fazer um chá verde. Enquanto isso comia alguns
bolinhos.
Estava bastante irritada, isso era um eufemismo, claro, porque estava puta, mas comigo
mesma. Daniel me fez sofrer muito, e naquele momento, aparentemente, parecia estar com
ciúmes por pensar que eu tinha alguém e isso me deixava com raiva. Como ele ousava ter aquela
reação após anos? Quando namorei Neil, ele nunca apareceu lá para me pedir para voltar, então
por que se importava?
Acho que grande parte de perdê-lo e que tinha me feito sofrer mais não foi só o fato de
estar apaixonada por ele loucamente, mas sim que, porque éramos amigos antes disso, desde
crianças, então tudo isso se perdeu também; perder as duas coisas foi um golpe que me deixou
arrasada por anos.
Neil era legal, um cara que todos adoravam e amavam, e juro que tentei me apaixonar,
mas não tinha como amar outro enquanto meu coração não me pertencia mais; ele tinha sido e
era apenas de Daniel.
Não sabia se foi por Daniel ter sido meu primeiro amigo, meu primeiro amor, aliás, ele
foi meu primeiro tudo. Às vezes, eu até temia que ele tivesse levado minha alma junto com meu
coração.
― Imbecil. ― Coloquei a chaleira na pia com um pouco mais de força que o necessário.
― Daniel merece isso? ― disse uma voz grossa.
Olhei para cima e me deparei com Lucky escorado na quina da mesa. Aquele era o
momento perfeito para dizer quem eu era, mas estava furiosa demais com Daniel e não conseguia
pensar em nada. Deixaria para o dia seguinte, assim poderia falar com mais calma.
― Se veio aqui para defender o seu amigo pode dar meia volta ou guarde sua opinião
para você. ― Estava de mau-humor para ser educada.
― Não vim defendê-lo, eu só vim pegar um copo de suco para a minha esposa. ―
Meneou a cabeça de lado. ― Mas estou curioso, o que ele fez?
Pisquei.
― Achei que contassem tudo um para o outro, já que são amigos ― apontei.
― Nem tudo. Daniel é um cara reservado, não é de contar sobre sua vida particular,
embora suspeitasse que ele gostasse de alguém assim que o conheci na faculdade.
Sacudi a cabeça.
― Deve ser de outra pessoa, porque de mim não é. E mesmo se fosse não ia perdoá-lo,
porque ele me traiu. Jamais me esquecerei nem que ele subisse as muralhas da China de joelhos
― grunhi. ― Sabe o que devia acontecer?
Ele me avaliava.
― Não, o quê?
― Que todos os homens fossem extintos da face da Terra. ― Tomei um gole do chá no
intuito de me acalmar. ― Tirando meu pai, o resto não devia existir.
E você também, pensei comigo mesma. Acredito que só os dois, eu tiraria da lista dos
homens que deveriam ser extintos.
Dessa vez Lucky riu, uma risada rouca e gostosa. Por um segundo, eu fiquei admirada
com isso, ele era conhecido por ser um empresário sério e um pouco frio, mas ali mostrava o
contrário. E tudo graças a sua mulher, pois soube que ela o mudou bastante.
― Tem muito sentimentos reprimidos aí dentro. ― Apontou para o meu coração sem
tirar os olhos dos meus. ― Isso comprova que não vai se casar. A não ser se for com uma
mulher, já que odeia os homens.
Não odiava, claro, só porque o meu primeiro amor me estragou para todos os homens não
significa que queria todos os outros extintos. O que eu disse foi só maneira de falar.
Bufei, mesmo que aquela conversa fosse estranha, eu estava adorando conversar com
ele.
― Você não ia pegar o suco? Ali na jarra ― me afastei da geladeira ― Pegue aqui e vá
aproveitar a festa.
Tomei todo o gole do chá e coloquei o copo na mesa. Em seguida, me virei para sair e
aproveitar a festa, aproveitar aquele momento que estava adorando. Mas assim que fui passar por
ele uma vertigem me atingiu e tudo escureceu.

― Sophie? ― Ouvi uma voz me chamar, e senti braços em minha cintura e nas minhas
pernas. Eu estava no colo de alguém? Tive um desmaio ali? Lembrava-me que tudo tinha ficado
escuro.
Pisquei, vendo a claridade da luz e depois os belos olhos do meu irmão.
― Você está bem? ― sondou, ansioso e preocupado.
Eu estava ofegante como se tivesse corrido muito e de repente me sentisse cansada.
― Lucky o que está havendo? ― perguntou sua esposa enquanto pouco a pouco eu
tentava me recuperar.
Tentei me afastar dos braços de Lucky, mas ele segurou mais forte como se eu fosse uma
criança.
― Rosa vermelha, ela desmaiou por um segundo, acho que devemos levá-la ao médico.
― Sua voz soou urgente.
― O que está acontecendo, por que está com a Sophie nos braços? ― Dessa vez era a
voz de Daniel. ― Lucky, o que houve com ela?
Expirei e me esforcei para sair dos braços de Lucky.
― Por favor, me coloque no chão ― pedi e depois emendei: ― Estou bem.
― Sophie... ― Daniel começou, mas minha cabeça latejava e, eu me sentia enjoada
demais, temia que vomitasse ali na frente deles, já me bastava ter ficado tonta e, desmaiado.
― Não houve nada, eu estou bem ― menti. Depois de ter insistido que me colocasse no
chão, Lucky fez.
Ajeitei meu vestindo pedindo a todos os santos que não desmaiasse de novo.
― Bem? Você está branca feito um papel. ― Estremeceu Daniel, dando um passo até
onde eu estava. ― Porra, Sophie! Eu vou te levar ao médico.
Suspirei e encarei Daniel de pé ao lado de Lucky.
― Não preciso de médico ― repeti me forçando a não passar mal de novo, porque não
queria ser levada ao hospital. Aquilo seria desnecessário, já que não ia resolver. Além disso, eu
sabia o que tinha. Nenhum deles poderia fazer nada por mim.
Talvez Lucky pudesse ser compatível, mas como pediria algo assim a alguém que nem
me conhecia? Ele era muito rico, talvez acreditasse que eu estava mentindo e quisesse dar um
golpe como nossa mãe fez com ele. Não o queria na minha vida só para que me salvasse, mas
também para ficar ao seu lado. Seja como fosse, não era hora de entrar naquele assunto, não
naquele momento pelo menos. Precisava me recuperar antes.
― Sophie ― insistiu Daniel.
― Já disse que estou bem, foi só uma queda de pressão. ― Tentei deixar minha voz
neutra ignorando os sintomas que aquela doença causava meu corpo.
Ele franziu a testa.
― Desde quando tem isso?
― Você não sabe nada sobre mim ― fuzilei-o com os dentes cerrados esbravejando na
sua cara. ― Agora esqueça que eu existo, porra!
Ele deu um passo para trás, acho que acabei o pegando de surpresa, mas sabia que
precisava magoá-lo para afastá-lo de mim.
Não devia fugir, mais precisava ou desmoronaria ali na sua frente, não só pela fraqueza
da doença, mas porque doía ver o Daniel sofrendo.
Não me despedi de ninguém e só corri dali antes que alguém me impedisse de sair.
Queria ir para longe de Daniel, sabia que era o certo a se fazer, pois se eu ficasse perto dele, ele
sofreria ainda mais se acaso eu não conseguisse sobreviver. Eu não queria isso. No fundo, eu
estava o protegendo do pior.
Capítulo 5
Daniel
Minha vida estava uma bagunça há algum tempo; meu pai era dono da Editora Luxem e
foi sócio de um homem que mexia com tráfico humano; não foi comprovado que ele estava
envolvido, mas eu não colocava minha mão no fogo. Aquele velho era um sádico fodido.
O seu sócio, Franklin, foi preso pela esposa de Jason Falcon, Tabitta, que era uma
policial na época. Meu pai já estava morto nessa época, então não pôde ser julgado. Ele me
deixou tomando conta de tudo, apesar de ter rejeitado. Eu não sabia que Franklin estava
envolvido até que o FBI me procurou depois que meu pai morreu, e pediu minha ajuda para
tomar o lugar da parte do meu pai na Editora, a fim de buscar provas que colocasse o maldito
Franklin na cadeia. Só não achei que essa merda demoraria mais de um ano e meio.
Quase vomitei quando vi um dos contêineres que deveria ser usado para transportar livros
para o México, mas no lugar tinha garotas entre dez e dezesseis anos. Reportei ao FBI e eles
fizeram a apreensão de todos os envolvidos.
O pior foi que depois que Franklin foi preso, ele confessou que meu pai também estava
envolvido nisso, já odiava o velho por ter me separado da Sophie, e piorou muito mais depois
disso. Alguns bens do meu pai foram congelados, mas não me importei, pois eu tinha meu ganho
próprio.
Nunca contei aos meus amigos que odiava meu pai, todos achavam que nos dávamos
bem antes de ele morrer. Sentia desprezo por ele, não só por ter feito algo abominável como
sequestrar crianças e vendê-las no mercado negro. Ele também me separou da única garota que já
amei na minha vida.
Sophie e eu éramos amigos desde crianças, mas assim que ficamos adolescentes e a vi
ganhar corpo, não só isso, mas sua doçura, eu me apaixonei perdidamente por ela, foi tão
avassalador que não pude lutar contra e também não queria.
Entretanto meu pai descobriu e me obrigou a ficar longe dela. Se ele só tivesse ameaçado
a mim, eu até lidaria com isso sem problemas, mas ele ameaçou fechar todos os caminhos dos
pais dela. O velho demitiu-os assim que soube de nós dois. Fui um fraco, devia ter lutado mais,
mesmo que isso tivesse significado matar o desgraçado.
Ainda me lembrava daquela noite como se fosse hoje, quando ela foi minha, onde a tive
em meus braços e ela nos meus. Nos amamos loucamente. A felicidade durou pouco, pois tive
que simular trair a Sophie, só assim ela me deixaria. Se eu não a magoasse assim, ela nunca iria
embora e realizaria seus sonhos, como o de ser uma médica. No fim das contas, atualmente ela
não era uma, pois optou por ser fisioterapeuta, e pelo que soube, amava o que fazia.
Às vezes, eu pensava, o que teria acontecido se não tivéssemos nos separado, ela estaria
feliz? Porque meu pai não era homem de não cumprir suas ameaças. Sabia disso por experiência
própria.
Queria contar o que fiz por ela, o sacrifício que foi deixá-la viver longe de mim. Viver
todos aqueles anos longe dela foi a pior coisa que já fiz.
Só contei aos meus amigos que amava Sophie, recentemente. Escondi não por vergonha
ou coisa do tipo, mas porque precisava arrumar a bagunça que meu pai fez primeiro. Não queria
trazer perigo para ela como o Cartel mexicano onde o nome da nossa família estava envolvido.
Queria limpar tudo, porque tinha sido meu pai a se envolver nisso, não eu ou a minha mãe.
Há algumas semanas foi declarado que estava tudo limpo e não havia mais problemas
com carteis e nada que envolvesse meninas raptadas usando o nome da minha família. Queria ir
limpo para ela. Sabia que não tinha feito nada, mas queria ficar com ela sem nenhum sinal de
perigo.
Conquistar Sophie seria um trabalho difícil e árduo, uma, porque ela me odiava por ter
machucado seu coração quando parti e por achar que a traí quando não fiz, embora estivesse
disposto a tudo para tê-la de volta em minha vida, ainda mais sabendo que não tinha mais
ninguém que ameaçasse minha família e nem a ela.
Sophie sempre foi uma mulher doce e gentil desde que a conheci, então vê-la com raiva
de mim me pegou de surpresa, claro que merecia mais que isso por tê-la machucado de uma
forma que chegou a ser criminoso.
Foi tudo culpa do meu pai que me obrigou a ficar tanto tempo longe dela. Depois que ele
morreu, eu fui atrás dela, mesmo não merecendo, já que tinha a magoado demais e não queria
estragar sua vida. Mas então apareceu o problema da Editora e o envolvimento do meu pai com o
FBI. Novamente tive que ficar longe dela.
Devo dizer que foram tempos sombrios, onde a saudade dela era tanta que achava que
estivesse morrendo.
No momento, eu estava em Dallas para o aniversário de um aninho da filha de Jordan e
Laurel. Soube alguns meses antes que tanto Laurel e Sophie se conheceram antes de elas irem
para a faculdade. Depois disso, ambas ficaram um tempo sem se ver quando Sophie foi para
Manhattan trabalhar e Laurel ficou em Dallas tomando conta da fazenda de seus falecidos pais.
Sophie trabalhava para Speed Car, uma indústria que promovia corrida de carros. Não era
tão popular como o antigo que eu trabalhava, a Stor Corry.
Speed ficava em Manhattan e Stor em Seattle, então para ficar mais perto de Sophie, eu
deixei o cargo onde ganhava mais para estar em um lugar pequeno, embora não estivesse
trabalhando pelo dinheiro. Eu amava correr, pois a sensação era maravilhosa. A adrenalina em
minhas veias me emocionava e fascinava.
Deixei de pensar nisso e foquei na mulher deslumbrante na minha frente. Ela usava um
vestido onde mostrava suas curvas, devo dizer que ela tinha encorpado bem mais durante os
últimos anos, afinal naquela época éramos adolescentes, e nos tornamos adultos. Ela ficou mais
linda do que já era.
Ela toda já foi minha um dia e, eu lutaria para tê-la de novo e não deixaria mais ninguém
se meter em meu caminho nem mesmo ela. Se soubesse que Sophie não me queria mais, eu me
afastaria e não lutaria mesmo que tudo em mim me matasse. Mas sabia que ela me desejava e
ainda me amava, só estava magoada por eu tê-la a machucado e não tirava sua razão.
Assim que ela disse que ia se casar parte de mim pareceu morrer, a dor foi inigualável.
Mas depois de pensar um pouco, eu não consegui me lembrar de vê-la namorando com alguém
nos últimos meses. Embora não tivesse cem por cento de certeza.
Ainda desorientado, eu peguei uma taça de uísque e bebi em um gole só.
― Daniel isso precisa parar, você não pode mais viver assim dessa forma. ― Jordan
chegou até onde eu estava de pé, vendo Sophie brincar com a Jordana.
Sabia que ele tinha toda razão, pois tinha chegado a hora de lutar por aquela mulher e
derrubar todos os meus empecilhos. Meu pai era a pedra no meu sapato, porém, ele já não
existia, então eu não ficaria mais longe. A vida de Sophie e sua família não corriam mais perigo.
Então por que ficar longe? Não tinha sentido quando na verdade, eu a amava.
― Vai dizer a verdade a ela? O motivo por ter se afastado mesmo a amando? ― Jordan
continuou. ― Por que se não for, eu acho melhor se afastar, porque essa menina ainda ama você,
só está ferida.
Laurel chegou até onde eu estava com Jordan e ficou ao lado dele. Ela falou antes que eu
respondesse:
― Não vou me meter nisso, mas conheço Sophie há alguns anos, e me lembro que ela
estava destruída na faculdade. E até agora quando vê você desfilando em revistas com mulheres.
― Ela censurou. ― Você não a merece, então fique longe ou lute por minha amiga.
Ela saiu batendo suas botas de caubói antes que eu tivesse tempo de comentar que não
tinha a intenção de magoar a Sophie.
― Porra! ― praguejei.
Sabia que posei para fotos em revistas algumas vezes, mas foi para poder provar ao meu
pai que eu tinha superado a Sophie, pois assim ele não a perseguiria. Porém nunca fiquei com
nenhuma delas. Aliás, depois que terminamos, eu só fiquei com mulheres quando ela estava com
alguém, tentando me superar. O que relacionamento que durou mais foi com o Neil, que ficaram
por um ano. Quando soube disso, eu fui até lá para impedi-la, mas antes que dissesse algo o meu
pai soube e fez com que os Winters quase perdessem sua fazenda. Tive que intervir. O bastardo
comprou muitas pessoas para fazer surgir uma dívida imensa de onde não tinha.
Sabia que os pais de Sophie poderiam ganhar na justiça com um bom advogado, mas isso
geraria mais gatos e muito tempo, então paguei a dívida. Naquele dia, eu tive uma briga feia com
meu pai, e por pouco não o matei, só não fiz pela minha mãe, porque ela sofreria com a morte do
velho.
Aquele homem era um monstro, que quase matou a Sophie, mandando alguém atropelá-la
e deixando que ficasse semanas no hospital. Depois quando me aproximei de novo dos Winter há
dois anos, os dois tiveram um acidente, graças a Deus não foi fatal e não se machucaram. Tentei
conseguir provas para incriminá-lo, mas como ele estava com o cartel foi coberto tudo. A vida de
Sophie valia mais do que meu sofrimento por estar longe dela, por isso me mantive longe.
Que Deus me perdoe, mas eu era grato por ele ter morrido, assim aquela cruz, eu não
carregava mais. Sabia que era errado desejar a morte dos outros, mas o velho merecia coisa pior
ao invés de uma morte causada por problema de pulmão por ter fumado demais, merecia ficar
preso para sempre.
― O que vai fazer? ― Jordan sondou de novo. ― Acho que ela não tem noivo, pois se
tivesse, ela o traria aqui, não acha?
Expirei, não gostando de pensar que Sophie estivesse com alguém, não quando
finalmente eu poderia tê-la, ou melhor, lutar por ela.
― Vou checar as coisas, e se ela tiver... um noivo, eu vou deixá-la em paz. ― Precisei
respirar fundo ao dizer isso. ― Mas se não, eu vou lutar por ela. Implorar se for possível para
que me perdoe.
Bebi mais um gole da bebida sem tirar os olhos de Sophie. O sorriso dela era lindo, doce
e meigo. Até irritada, ela ficava linda. A sua risada gostosa era algo que sempre amei nela. Me
fascinava mesmo após todos aqueles anos.
Ela foi para a cozinha e, eu fiquei tentado a ir atrás dela, mas daria espaço. No dia
seguinte, iria à casa dos pais dela bem cedo e imploraria seu perdão se fosse preciso. Demoraria
um pouco para ter sua confiança, mas chegaria lá.
Minha falecida avó sempre dizia que, o que é bom nunca vem fácil, e, às vezes,
precisamos lutar por ele. Faria isso nem que demorasse minha vida toda.
Sabia que para viver o que sentíamos um pelo outro teríamos muitas coisas para
enfrentar, coisas para se perdoar. Mas estava confiante de que conseguiria ter minha vida ao lado
dela. Viver o que sempre sonhei com ela. Casar, ter filhos e ser feliz, pois isso foi tirado de mim
a anos.
Estava cansado de esconder as coisas dela, então contaria tudo o que fiz e porquê eu fiz.
Já tinha guardado segredos demais e por muitos anos, já era hora de jogar as cartas na mesa.
Esperava que ela me perdoasse por tudo que escondi dela. Mas então por que me sentia
tão nervoso com a resposta dela? Talvez fosse porque a resposta podia ser a que eu não esperava
ouvir. Que ela nunca me perdoaria.
Lucky tinha ido para cozinha já há algum tempo e não tinha voltado, claro que não tinha
ciúmes dele, afinal meu amigo morria de amores pela Samantha, sua esposa. E também Sophie
não era dessas, jamais se interessaria por homens casados. Podia ter ficado muitos anos longe
dela, mas isso com certeza não mudou.
Também fui para a cozinha assim que vi Sam ir até lá e não voltar. Talvez estivesse
acontecido algo.
Assim que passei pela porta, eu fiquei de queixo aberto ao ver Sophie nos braços de
Lucky; poderia ter pensado que estava rolando algo, mas ela estava tão branca, feito giz. A
palidez de sua pele estava assustadora.
Ela estava ofegante como se tivesse corrido bastante e de repente necessitasse de ar.
Lucky me informou que ela tinha desmaiado antes que eu entrasse no lugar. Isso me
deixou mais louco da vida, com medo de que estivesse doente.
Eu me ofereci para levá-la ao hospital, mas Sophie não quis, ela sempre foi muito
teimosa, se fazendo de forte para que não percebêssemos que ela estava muito ruim. Com foi a
vez que quebrou o braço quando criança; nem chorar, ela chorou; e também a vez que foi
atropelada, mesmo com costelas quebradas se recusava a ir a hospitais, embora tivesse que ser
forçada a fazer isso. Tudo isso por culpa daquele sádico do Michael.
Ela me disse que foi queda de pressão, apesar de que nenhuma vez soube que ela teve
isso, mas Sophie tinha razão, eu não sabia mais da sua vida. Perdi tanto da sua vida, momentos
que devíamos ter tido, juntos, mas não pude.
― Você não sabe nada sobre mim. ― Ela me fuzilou com os dentes cerrados,
esbravejando na minha cara. ― Agora, esqueça que eu existo, porra!
Assim que ela falou tais palavras que acabou comigo, foi como se eu tivesse levado um
soco na boca do estômago. Ela saiu correndo dali antes que eu dissesse mais alguma coisa.
― O que aconteceu, Lucky? Ela disse a você o que tem? ― perguntei após me recuperar
da dor em meu peito, não com sua frieza, mas sim pela dor que ouvi na sua voz.
― Para mim nada, além de ela odiar a raça dos homens. ― Lucky pegou a mão da Sam.
― Ela parece realmente doente, talvez seja mesmo queda de pressão.
Antes que comentasse algo, Laurel apareceu ali, furiosa, como uma mamãe galinha.
― Vi Sophie sair correndo daqui. Mas o que diabos aconteceu, Daniel? ― Laurel cerrou
os punhos, me olhando. ― Se você machucou a minha amiga, eu vou fazer muita serventia das
minhas facas de cozinha.
Jordan apareceu por trás dela e a abraçou forte para não deixar sua garota me atacar.
― Calma caipira, você não vai atacar o meu amigo, além disso, a Sophie desmaiou ―
comentou Jordan. ― Ela contou que estava doente ou algo assim?
Depois de pensar um pouco, acabei me lembrando de notei que sua pele estava meio
pálida demais, mas achei que pudesse ser ausência de sol, afinal Manhattan não fazia tanto calor
como em Dallas.
― Laurel? ― Olhei para ela em busca de uma resposta. ― Sabe alguma coisa?
Ela sacudiu a cabeça.
― Não, Sophie não me disse nada. ― Sua voz soou preocupada no final. ― Mas
pensando bem, eu senti que tinha algo de errado, apesar de ela ter se esquivado quando
perguntei. Ela não contou nada para mim. Se fosse algo sério, ela me diria, não é?
― Não acho que ela deveria andar sozinha hoje, ainda mais dirigir ― disse Sam. ―
Acha que ela pode estar grávida? Porque gravidez dá enjôos e tontura.
Laurel arregalou os olhos.
― Acha que isso é possível? Que ela esteja realmente grávida? ― piscou.
Grávida? Pensar nisso era tão ruim quanto pensar ela estivesse doente. Tinha chegado a
hora de realmente desistir? Amei aquela mulher por anos. Será que era hora de deixá-la ser feliz
longe mim? Sabia que não poderia ser sem ela.
As mulheres que fiquei depois dela, nunca as deixei entrar, porque no fundo sempre tive
esperança de que um dia fosse tê-la de volta na minha vida.
Sentia-me como se tivesse sido atropelado por um ônibus ou um carro em movimento.
Mas naquele momento me esforcei para esquecer isso, porque a prioridade era que Sophie não
podia dirigir por aí sozinha, ainda mais depois que acabou de desmaiar. E se ela estivesse grávida
poderia correr o risco de perder o bebê.
Podia ouvir todos me chamando, mas só me virei e saí correndo atrás dela.
― Sophie! ― gritei para o carro que tinha acabado de arrancar dali em alta velocidade.
Porra! Se eu não tivesse perdido tempo conversando tanto com os outros, ainda teria a
encontrado antes que saísse dali.
Entrei no meu carro e a segui até a fazenda dos pais dela, que não ficava muito longe dali.
Os Winters compraram a propriedade logo depois que meu pai os demitiu. Sabia que eles
tinham algumas economias guardadas, mas não para comprar uma grande como aquela deles,
então na época, eu vendi dois dos meus carros e paguei a diferença e disse a corretora para
comentar que estava em promoção. Só pedi que jamais revelasse a verdade, e eles fizeram.
Ajudei os Winters, não pela Sophie, mas sim por que amava os dois. Aquela família foi
melhor para mim do que a minha que de sangue.
Deixá-los foi a coisa mais dolorosa que já fiz, quase tão difícil quanto deixar a Sophie.
Com ela foi como se metade da minha alma estivesse faltando.
Viver longe de Sophie foi como estar no limbo, foi insuportável, mas precisaria me
conformar caso ela realmente me dissesse que estava noiva e grávida. Na hora, eu não acreditei
nisso, que ela estivesse noiva, mas depois que passou mal, já não sabia de mais nada. Precisaria
saber a verdade, e saberia. E também contaria tudo o que fiz.
Pensar em nunca mais vê-la era como se eu estivesse sendo torturado vivo.
Não demorou muito até que ela chegasse em frente a fazenda e saísse do carro.
Ela saiu e parou, arregalando os olhos, presos no farol do meu carro.
Desliguei o carro e fui até onde estava, ela parecia uma estátua linda de Afrodite.
― Daniel? O que faz aqui? ― Sua expressão tinha um misto de preocupação e choque.
― Está mesmo doente ou é só uma gravidez? ― perguntei. ― Quero dizer que não me
importo se estiver grávida, a não ser que diga que ama outra pessoa.
― Como ousa seu bastardo?! ― Se lançou para mim e começou a bater no meu peito. ―
Já disse para sumir na minha vida.
― Vou sumir se me disser que não tenho mais chance com você, e que nossa relação
acabou há anos.
Ela riu com frieza.
― Você me traiu, mentiu para mim, seu bastardo filho da puta! Foi embora e me deixou
quebrada, o que há para recuperar? Agora está aqui me querendo de volta depois de todos esses
anos? ― desdenhou. ― Não me faça rir, seu desgraçado...
Não respondi, só a peguei pela cintura e a beijei de forma louca e desesperada; sabia que
tinha coisas para perguntar, mas a fome de tocá-la era demais.
Não foi um simples beijo, foi como se eu tivesse sido arrebatado. A fome e o desejo
insaciável que não sentia há anos, ao menos não depois dela.
Ela lutou contra o beijo no início, mas depois retribuiu com tamanho vigor, então pude
sentir que Sophie ainda me amava. Ali eu soube que não deveria desistir a não ser que ela
amasse alguém, e pela forma do beijo que estávamos tendo não parecia ser possível.
Ela gemeu e, eu a escorei no carro a fazendo gemer mais. Minhas mãos foram parar entre
suas pernas. De repente o feitiço se perdeu fazendo com que ela se afastasse de mim.
Sophie estapeou meu rosto, me pegando de surpresa. Doeu mais em meu peito do que na
minha carne. Mas eu não poderia perder as esperanças.
― Como se atreve a me beijar, seu filho da puta? ― esbravejou. ― Já não destruiu meu
coração o suficiente? Passei anos tentando recuperar o que você destroçou, agora vem aqui e me
beija dessa forma e me diz que quer voltar? Acha que vou aceitá-lo depois de ter ficado com
todas aquelas mulheres? E Stacy? Você só pode estar louco.
Expirei, controlando a dor causada por suas palavras, embora elas fossem verdadeiras.
― Você também ficou com caras, acha que não sei? ― Apontei com amargura. ― Posso
ter ficado com algumas mulheres, mas nunca fiquei com Stacy. Agora vou te contar a verdade do
que realmente aconteceu para eu tê-la deixado.
― Você me traiu, porra ― gritou, sacudindo a cabeça. ― Não quero ouvir nada.
― Você vai ouvir, ou eu vou ficar aqui a noite inteira. ― Aquilo era verdade. Não sairia
dali sem revelar a verdade.
Capítulo 6
Daniel
Passado
Nunca pensei em me relacionar com uma garota, ao menos não com as que eu ficava
antes de me apaixonar por Sophie. Ela me mostrou o que era amor, compromisso e amizade. A
garota se tornou meu tudo.
Olhei para a mulher linda e maravilhosa de baixo de mim, que me agarrava tão apertado
que, provavelmente, deixaria marcas nas costas, mas eu não ligava, pois elas me faziam sentir
amado e querido.
Sophie era o meu mundo inteiro, a luz que brilhava a noite, o sol que iluminava o dia.
Sem isso, eu seria apenas um vácuo, um morto vivo andando pelas ruas.
Suas pernas foram para a minha cintura me fazendo entrar mais fundo nela.
― Tão perfeita, porra! ― grasnei, metendo o mais profundo que fui capaz.
A maravilha que sentia quando ela arqueava o seu corpo como se quisesse flutuar era
fenomenal. A forma como se contorcia de prazer... nunca vi nada mais perfeito.
― Mais forte, Daniel ― gritou Sophie em pleno desejo e luxúria.
Amava seus gemidos e gracejos. Amava tudo nela. Abaixei e sussurrei, triscando a boca
no lóbulo de sua orelha e a fazendo estremecer.
― Adoraria ouvir seus gritos ainda mais altos, mas a qualquer hora os seus pais podem
entrar. ― Nós estávamos na casa dos pais dela. Sabia que os Winters eram pais liberais, mas não
a ponto de ouvir a filha gritando de prazer comigo dentro dela.
― Vou tentar não... ― sua voz falhou assim que fiz um movimento de quadril e ela
gemeu me apertando mais como se quisesse me fundir a ela. Era como se eu fosse sua tábua de
salvação. Ela era a minha e sempre seria.
― Estou tão perto... ― choramingou, balançando seu quadril no ritmo do meu.
Uma de minhas mãos foi parar entre suas pernas e toquei em seu broto que eu tanto
adorava. Depois capturei seus lábios e a beijei faminto.
Cada movimento que fazíamos, eu me encontrava mais na porta do céu; sabia que ela
também estava assim, notei pela forma que me segurava e clamava meu nome. As paredes de sua
boceta apertaram meu pau me trazendo para mais perto da borda, mas nem fodendo, eu me
libertaria antes dela.
Ela também estava perto de gozar, então acelerei mais o movimento dos meus dedos
assim a veria desmoronar em mim. Não demorou muito para que suplicasse.
― Oh, Deus! Estou tão...
Dizer que adorava vê-la gritar assim era eufemismo, pois eu amava cada som que saía de
sua boca. Seus olhos estavam fechados, então se abriram me fitando com amor.
― Amo você, pequena. ― Bati com mais força nela, e suas paredes me prenderam quase
tirando o meu maldito ar. ― Cristo!
― Daniel, eu...
Acelerei mais a pressão dos meus dedos em seu clitóris aumentando o seu prazer. Eu já
estava a ponto de soltar minha libertação, mas queria que ela fosse primeiro.
― Goza! Enche meu pau do seu gozo, querida. ― Assim que as palavras saíram da
minha boca, ela gozou e, eu segui logo atrás dela clamando seu nome com adoração.
Nossos corpos estavam grudados e molhados devido ao suor do momento. Toquei seu
rosto quente e beijei sua testa de forma delicada.
― Você é linda demais. ― Nunca me cansava de vê-la corar com minhas palavras. Rosto
em forma de coração e olhos brilhantes de amor.
― Você também é lindo, Daniel. ― Ela declarou, meio sem fôlego. ― Amo você
demais, não quero que nada disso aqui acabe, parece que estou em um sonho lindo.
Beijei seus lábios de forma leve, e mesmo assim abrasadores, como o sol.
― Que bom que me ama. Eu juro que estamos apenas começando. E prometo dar mais
sonhos como esse para você. ― Sorri. ― Isso significa que vai a um lugar comigo.
Estávamos comemorando três meses de namoro. Todo mês, eu fazia uma surpresa a ela e
esperava continuar assim. Sabia que estava tendo problemas com meu pai devido ao nosso
relacionamento, mas não dava a mínima para isso. Ninguém me afastaria da Sophie, nem mesmo
o meu pai.
Ela sorriu.
― Aonde vamos? ― perguntou, ansiosa.
― Vamos tomar um banho e nos vestir. Depois conto a você. ― Saí dela e a puxei para o
banheiro.
― Sou ansiosa demais, por que não me conta antes? ― pediu, assim que terminamos o
banho.
Nos vestimos e, eu estava pronto para levá-la para onde queria e mostraria minha
surpresa. Como não podia levá-la a uma ilha no Caribe, como era seu sonho, eu levaria a uma
perto dali.
A porta se abriu e a dona Alísia entrou com o rosto banhado em lágrimas. Ela sabia que
eu e sua filha namorávamos, nunca ligou para ser discreta, ela era uma mãe que só queria que sua
filha fosse feliz.
Ally, era assim que a chamava, e a considerava como uma segunda mãe. Ally esteve do
meu lado desde criança. Me amando e protegendo e não só porque trabalhava para a minha
família, porque ela realmente me amava de verdade.
Então vê-la entrar ali chorando, certamente, não era coisa boa, deveria ter acontecido
algo.
― Ally o que foi? ― Fiquei na frente dela querendo ajudar de alguma forma.
― Oh, querido. ― A voz dela falhou.
― Mamãe? ― Sophie arregalou os olhos e correu para a sua mãe.
Algo em meu instinto dizia que era alguma coisa relacionada ao meu pai.
― Que bom que está aqui minha filha. Preciso que arrume suas coisas, porque vamos
embora dessa casa e dessa vez não vamos mais voltar. ― A dor era evidente na sua voz, mas
também havia raiva.
Pisquei. Aquela casa pertencia a minha família, pois era a que os empregados moravam.
Se ela ia embora dali, então significava que pararia de trabalhar para os meus pais? O pior foi ela
dizer que levaria a Sophie.
― O quê? Por que a senhora diz isso? ― sondou Sophie, confusa, não entendendo nada
do que a mãe dizia. Mas eu já suspeitava de que tinha o dedo do meu pai.
Seu olhar era triste dirigido a mim.
― O senhor Luxem nos despediu, eu e ao meu marido. Ele nos mandou embora de sua
casa. ― Ela estremeceu com os olhos molhados.
Arquejei. Embora estivesse fervendo com o que ele fez, mas não devia me surpreender,
pois alguns dias depois de saber do meu namoro com a Sophie, ele me mandou ficar longe dela,
mas eu não quis e disse que jamais faria isso. Será que era uma vingança contra mim? Todos
esses meses ele ficou no meu pé para que a deixasse.
― Não pode ser. Meu pai não pode fazer isso! A senhora está aqui a vida toda... não... ―
sacudi a cabeça, tonto, e encarei a Sophie que também estava tão atônita quanto eu. O que
aconteceria conosco? Se por acaso os Winters fossem embora e levassem a minha menina, o que
seria de mim?
Ela olhou para sua mãe e para mim. Podia ver que estava confusa e com o mesmo medo
que eu sentia, estampado em seu rosto lindo. Não podia deixar que aquilo acontecesse.
― Não entendo. Por que ele demitiria vocês dois? Vocês não fizeram nada, por que o
senhor Luxem os demitiu? ― Sophie franziu a testa.
Ela não entendia, mas eu sim. O velho era um bastardo de coração frio, aliás, nem sabia
se ele tinha um em seu peito. O bastardo não gostava muito de mim, então eu não ligava muito
para ele. Quando sabia que estava em casa, eu fazia de tudo para evitá-lo, embora o velho nunca
ligasse para mim. Então por que fez isso? Seria só por que não fiquei longe de Sophie como
exigiu?
Meu pai era dono de uma Editora de sucesso e mandava bem no assunto, então não tinha
tempo para ficar em casa ou ligar para nós, minha mãe e eu. Nem em meus aniversários, eles
passavam comigo ou ligavam para dar parabéns; só compravam carros e viagens para mim,
como se isso bastasse. Finalmente encontrei a felicidade ao lado da Sophie e ele queria destruir
tudo?
Filho da puta!
― Vou cuidar disso ― falei a dona Alísia, esperando tranquilizá-la, não só ela, mas
minha garota também. ― Não se preocupe com nada, ninguém irá embora...
Ally deu um sorriso triste, não parecendo ter alguma esperança de que eu fosse conseguir
algo.
― Não será possível. Seu pai me disse coisas terríveis e, eu não poderei esquecer tão
cedo e muito menos ficar aqui depois de tudo o que ouvi. ― Ela veio até mim e pegou minhas
mãos. ― Sinto muito, filho, mas ele chegou longe demais.
Sacudi a cabeça, meio tonto, tentando imaginar o que ele tinha dito para deixá-la naquele
estado a ponto de não querer continuar ali. Embora não devesse ficar surpreso, porque meu pai
sabia ser cruel quando lhe convinha.
― O que ele disse? ― Talvez pudesse reverter aquela merda de alguma forma, mas
conhecendo meu pai, sabia que seria meio difícil, o velho era um idiota, não só isso, ele era o
maldito demônio em pessoa. Como minha mãe ainda podia continuar casada com ele?
― Nada que você deva se meter, meu filho, ou ele pode fazer algo que não queira. Não
quero estragar nada para você, é melhor deixar como está ― disse com os olhos molhados. ―
Lamento não poder ficar perto de você.
Ela era uma senhora e seus cabelos estavam começando a ficar grisalhos. Os olhos eram
castanhos, como os da Sophie, mesmo que não fosse sua mãe de verdade.
O sangue não simbolizava família, eu tinha a minha, mas eles não se preocupavam
comigo. A família da Sophie sim, então por que meu pai queria tirar as coisas boas que eu tinha?
Sophie amava a senhora Ally como se fosse sua mãe biológica, assim como eu também,
já que a minha mal tinha tempo para mim. Se não fosse Ally, eu não sei o que teria sido de mim
naquela casa. Certamente seria cercado de solidão e escuridão.
― Por favor, me diga, eu não quero que vá embora... ― peguei a mão de Sophie e
apertei.
― Melhor não saber, filho, Antônio vai arrumar as nossas coisas para nossa saída daqui.
O senhor Luxem deu uma semana para sairmos de sua propriedade. ― Tinha um gosto amargo
na voz dela.
Meu coração temia pelo pior, mas me controlei e me acalmei. Mesmo que eles saíssem
dali, eu ainda poderia continuar vendo a Sophie, afinal eles poderiam ficar na cidade. Não é por
que seus pais deixariam de trabalhar na minha casa que eu não poderia ver a minha garota.
― Para onde vocês vão? Ainda vou poder ver a Sophie, não é? ― perguntei. Não existia
um mundo onde eu pudesse seguir e não viveria sem ela.
Todo aquele tempo ao lado de minha garota, não me permitia cogitar a ideia de ficar
longe dela; não passava um dia sem vê-la ou desejá-la, não falava só do termo sexual, mas eu a
queria para toda a vida. No futuro, eu pretendia me casar com ela e não deixaria meu pai
atrapalhar os meus planos.
A tristeza de Ally quase me fez cair de joelhos ali na sua frente, já temia o pior, não
precisava nem que ela dissesse algo, pois a resposta estava estampada em seu rosto.
― Mamãe? ― A dor e o medo estavam na voz de Sophie assim como estavam em mim.
― Vamos ficar na cidade, não é?
― Não, queridos. Nós não podemos ficar aqui, vamos voltar para Dallas. Por enquanto,
nós vamos ficar na casa da minha irmã... sei que vocês estão namorando, mas pelo que o senhor
Luxem me disse, ele não aprova o namoro de vocês dois.
O brilho metal atingiu meu estômago. Quem ele pensava que era para se meter na minha
vida? Só por que era meu pai? Já tinha dezoito anos e podia viver por conta própria.
― Como assim não aceita o meu relacionamento? Disso, eu já sabia, mas... ― encarei-a,
piscando ― Não vai me dizer que ele a despediu só por que estou namorando a Sophie? Não
acredito que aquele desgraçado fez isso.
Se eu pudesse contar com minha mãe, mas ela fazia tudo o que meu pai queria como um
cachorro obediente, então não podia contar com ela, aliás, nunca pude fazer tal coisa. Isso era
entre mim e meu pai.
Andava de um lado a outro do quarto, não podia deixar que me afastasse de Sophie. Ela
era o amor da minha vida, como podia ficar longe dela? Não podia. Não quando tive tão pouco
tempo com ela, e queria me casar assim que me formasse. Não deixaria que ninguém entrasse no
meu caminho.
― Daniel... ― Sophie me encarou com os olhos assustados ― O que vamos fazer?
Respirei fundo. Não podia deixar que ela visse a preocupação que eu estava sentindo,
precisava me manter calmo para resolver o problema. Teria que enfrentar meu pai e faria isso
naquele momento. Se ele não voltasse atrás com sua decisão, eu me mudaria dali e o cortaria da
minha vida para sempre.
― Vou resolver isso, eu prometo. ― Beijei os lábios dela de leve.
― Daniel ― sussurrou, me agarrando como se não quisesse me soltar mais.
Suspirei.
― Fique com a sua mãe. Assim que conseguir falar com meu pai, eu vou te procurar.
― Mas só temos até a noite para sairmos...
― Vou resolver antes disso ― prometi, interrompendo seu desespero.
Deixei-as ali e fui à procura de meu pai. Precisava ter uma conversa séria com ele. Não
podia permitir que o bastardo me dissesse o que fazer. Era maior de idade, então poderia sair por
conta própria.
Estava com raiva demais para ser educado, então apenas entrei no seu escritório sem
bater, mas minha vontade era acabar com o maldito. Mas precisava ter calma ali.
― Como ousa entrar aqui dessa forma? Cadê os modos, garoto? ― rosnou.
Eu era parecido com ele; cabelos escuros e olhos da mesma cor. Dei graças a Deus que
não herdei sua frieza e crueldade.
― Eu que pergunto, como pôde despedir a dona Alísia e o senhor Antônio? Eles
trabalham para nós há anos e você irá dispensá-los como se não fossem nada? ― rosnei com os
dentes trincados. ― Como se não significassem nada?
Ele endureceu e depois ficou furioso, mas isso não era novidade, ele sempre se irritava só
com a minha presença. Às vezes, eu pensava que me odiar significasse que não fosse seu filho e
agradeceria aos céus se isso fosse verdade. Mas, infelizmente, não era. Minha mãe jamais trairia
aquele verme maldito.
― Eles não são nada, apenas empregados. E aquela garota órfã que anda com você para
cima e para baixo, tudo para ter a nossa fortuna, não passa de uma golpista ― sibilou. ― Não
vou permitir isso. Quero que você se relacione com pessoas do nosso nível e não por uma garota
morta de fome.
Nunca vi tamanha raiva por uma pessoa que nunca fez nada para ele.
― Você deve estar louco. Nós dois nos amamos, mas acho que você não entende isso,
não é? Não sei como ainda está casado com a minha mãe, devia ficar sozinho. ― Cerrei os
punhos ou logo esmagaria sua cara.
Ele sentou-se na sua cadeira e me encarou com superioridade; aquele poder que ele
pensava que exercia sobre mim. Não via a hora de sumir daquele lugar e me esquecer que aquele
homem tinha meu sangue, ou respirar no mesmo ambiente que ele.
― Casamo-nos por obrigação, seus avós a escolheram para mim e vivemos juntos.
Somos do mesmo círculo social. Sua mãe não era uma caipira sem graça e caçadora de fortuna.
― Apontou para a porta como se Sophie estivesse ali. ― Aquela garota não vai ficar com você.
O fulminei com ira.
― Isso não é um assunto seu. Se insistir, eu posso sair deixando todos nessa maldita casa.
Minha mãe é fraca demais para ir contra você, se ela não faz, eu faço. ― Aquilo era verdade, não
deixaria aquele maldito verme estragar minha vida e destruir minha felicidade com a Sophie.
Dessa vez, ele riu, zombeteiro, mas vi fúria em seus olhos.
― Como vai se sustentar? Onde vai morar? Com o quê vai pagar as contas? Sendo que é
com o meu dinheiro que faz tudo isso. Onde terá uma vida de luxo e regalias? ― Meneou a
cabeça de lado. ― Você é um garoto imprestável que não serve para nada, só me dá gasto. Vai
viver à custa do braço?
Não queria ser filho daquele homem, a frieza dele para comigo era demais, embora ele
sempre houvesse sido dessa forma e com todo mundo, até com a minha mãe.
― Não preciso do seu dinheiro, o que preciso é da Sophie e de mais ninguém ― falei
com um suspiro duro.
Não queria deixar que visse o quanto estava preocupado em viver sozinho, não por ser
um cara que não soubesse fazer nada, mas sim, porque as coisas se complicariam. Eu podia ficar
com os Winters, eles já me amavam como filho, o que não podia era perder minha namorada.
Poderia ficar com eles até me formar, depois me casaria com a Sophie e viverei uma vida feliz
longe de tudo.
Ele se levantou e me fuzilou, suas narinas dilataram como se fosse me bater. Eu até
gostaria que fizesse, pois assim o derrubaria, tinha mais força e agilidade que ele.
― Isso não está acontecendo. Se você se preocupa com essa garota, então vai ficar longe
dela. ― Sua ameaça estava em cada palavra que ele dizia.
Endureci.
― Não ligo para as suas ameaças. Não ouse tocar em Sophie, porque mando você para o
inferno na mesma hora com passagem só de ida. ― Aquilo era uma maldita promessa.
― Não vou tocá-la, porque não faz o meu gênero. Entretanto, eu fecharei todos os
caminhos dos pais dela, eles nunca mais irão encontrar emprego em nenhum lugar. Estará
disposto a viver um romance que não vai dar em nada e ver a família dela perder tudo? ― Cada
vez que ele conversava comigo, eu sentia mais vontade de acabar com ele.
― Você não ousaria fazer isso. ― Era para sair com raiva, mas foi só um sussurro.
Ele riu de novo, mais parecia um sorriso glacial.
― Experimente, vamos ver se essa garota ainda continuará te amando quando souber que
ficará sem nada e que por sua culpa sua família vai perder tudo ― disse. ― Vou fechar todos os
caminhos tanto que não encontrarão nada para viver a não ser pedir esmolas nas ruas.
O primeiro argumento, eu não ligava, pois tinha certeza de que Sophie ainda me amaria,
ela não era dessas que ligava para dinheiro, mas o que me preocupou e deixou meu coração
batendo rápido tanto pelo medo da perda como pela dor, foi saber que sua família perderia tudo.
Sabia disso, porque conhecia meu pai, ele não ia deixar barato.
― Também tenho influência, não se esqueça que tenho o dinheiro que minha avó deixou,
um que não colocará as mãos. ― Bati minhas mãos na mesa. ― Se você se aproximar dela, eu
vou derrubá-lo. A partir de hoje por ameaçar a minha mulher, você está morto para mim. Morto
porra!
Dei as costas para ele.
― Se sair dessa porta irá se arrepender, amargamente, Daniel, e, você não sabe com
quem está lidando. ― Sua voz era sombria e mortal.
― Se for preciso confrontá-lo, eu farei. ― Saí dali sabendo que aquela família não era
mais a minha e sim os Winters. Tirava só minha mãe disso, mas ela nunca me seguiria. Naquele
momento, eu pensaria só em Sophie e em mais ninguém.
Capítulo 7
Daniel
Passado
Três semanas depois
A minha vida ali na casa dos Winters estava uma maravilha, claro que acordar cedo na
fazenda para ajudar na lida me baqueou um pouco, mas eu estava fazendo com muito gosto; era
bom estar cercado de pessoas que te amam e se importam com você. Sempre fui cercado do bom
e do melhor, cheio da grana, embora nunca houvesse sido feliz. Agora ali naquela cidade, na
simplicidade, eu era realizado.
O senhor Antônio me ensinou a dirigir um trator; ele era um homem muito bom e, eu
gostava bastante dele. Também me ensinou a capinar e arrumar a cerca; claro que martelei meu
dedo na primeira tentativa.
― Comprar essa fazenda foi um sonho realizado, não achei que conseguiríamos comprá-
la, mas eles fizeram uma promoção. ― Ele parecia extasiado, enquanto olhava para a vasta
fazenda.
Nela tinha uma área grande, cheia de gados, um curral onde prendia as vacas, e um
estábulo para os cavalos. Na frente da casa tinha um lago de água verde e ao redor havia
coqueiros.
Quando apareceu aquela fazenda para eles comprarem, todos eles gostaram, mas era um
pouco caro para o valor que os dois tinham, a senhora Alísia e o senhor Antônio. Eu me dispus
dos meus dois carros e dei o restante; poderia oferecer a eles, mas sabia que nenhum deles
aceitaria, por isso mantive isso em segredo com a corretora.
― É muito lindo esse lugar ― admiti e me virei para ele. ― Só queria agradecer por me
deixar ficar com vocês, sei que recebeu ameaças do meu pai por isso, mas juro que não deixarei
que nada aconteça com vocês.
Isso era uma promessa; sabia que saí das garras do meu pai, e por isso, ele não estava
feliz comigo, mas não dava a mínima para o que ele pensava ou deixava de fazer.
Sorriu.
― Você é um garoto especial, pois se não fosse, a minha Sophie jamais teria se
apaixonado, conheço minha filha. ― Pegou um dos martelos e pregou umas das tábuas no
celeiro, que estava quebrada.
― Eu a amo. Assim que terminarmos a faculdade, eu vou me casar com ela, se assim o
senhor deixar. ― Estava ansioso para isso, mas a deixaria se formar em Medicina como era o seu
desejo.
Ainda não sabia no quê me formaria; tinha até o começo do ano para me decidir, mas
Sophie já sonhava em ser médica há anos.
Estava ansioso para aquela fase da minha vida; namoro e longe do meu pai, pois isso era
uma benção, e no final tinha a Sophie e sua família que já considerava como a minha.
― Sei que o relacionamento de vocês está sério demais, até por que deixou tudo por ela e
nos acompanhou. ― Suspirou. ― Daniel, o que eu quero dizer é, você tem certeza de que nunca
irá se arrepender? Por que essa vida aqui não é igual a que você tinha antigamente, é de pessoa
que rala no pesado. Outra, seu pai pode ser duro de lidar, mas é seu pai no final e isso não vai
mudar.
― Entendo o que está querendo dizer, mas não ligo para serviço duro e para isso ―
Levantei minhas mãos com alguns calos. ― Sophie vale qualquer coisa, e não vou perdê-la,
porque ele acha que eu tenho que ficar com alguém do mesmo status da sociedade, uma
patricinha mimada vivendo à custa do pai.
Ele assentiu.
― Você tem o seu próprio dinheiro e pode montar o que desejar na sua vida, o que amar
de verdade ― disse com tom orgulhoso.
― Vou realizar meus sonhos também, só quero que Sophie vá para a Universidade, a
qual é o seu sonho. ― Stanford sempre foi seu sonho, inclusive ela mandou a carta e esperava
que fosse aceita, porque as inscrições de lá eram bastante seletivas, embora minha garota fosse
brilhante, quase um gênio, então tiraria de letra.
― Para qual você vai? ― perguntou assim que terminamos de pregar as tábuas soltas e
depois se virou para mim.
Não tinha pensado nisso, porque só tinha uma coisa que gostaria no momento, que era
ver os sonhos de Sophie sendo realizados, e no futuro poder ser piloto de carro. Fazer corridas
por todo o país e até pelo mundo.
― Faculdade? Não sei direito no quê quero me formar ainda ― admiti, seguindo para
guardar as ferramentas.
― Sei que ama a minha filha e pensa no futuro dela, mas você também precisa pensar no
seu ― disse. ― Agora por que não vai tomar um banho? Soube que tinha cinema hoje à noite.
― Preciso ajudá-lo a dar comida para os animais ― comecei, mas ele me cortou com
tom grave, como de um pai de verdade.
― Vá e se divirta, Daniel, deixa que eu cuido do resto. Está faltando pouca coisa aqui ―
disse com um sorriso. ― Já trabalhou comigo demais, então tire um dia de folga e saia um pouco
com minha filha.
Não discuti só me virei e fui para casa, e direto para o quarto tomar banho. Mas ouvi
vozes na cozinha.
Já tinha algum tempo desde a última vez que transamos, não tínhamos oportunidade, e
achava errado ficar com Sophie no mesmo teto dos pais dela sem casar, e como éramos novos
ainda para tal coisa, teríamos que arrumar outro jeito para ficarmos juntos.
Se minha mãe me visse daquele jeito, todo sujo de trabalho duro teria um enfarto, embora
não ligasse para isso. Ali aprendi muito, tanto em valorizar mais as coisas da vida, e como ver
quem realmente se importava comigo, por isso não media esforços para ajudá-los.
Minha mãe não ligou para mim desde que falei para não ligar se por acaso ela trouxesse o
meu pai no assunto, e disse que para mim, ele estava morto. Não me importava com nada dele,
que para mim, eu queria que ele se fodesse.
Deixei de pensar nisso e me foquei na minha garota, na forma que seu corpo reagia ao
meu. Peguei meu pênis duro e me concentrei nisso, no seu cheiro, lábios em volta dele, seus
gracejos que eu tanto amava.
― Espero que esteja pensando em mim ― disse uma voz rouca. ― Por que é uma visão
muito linda.
Abri meus olhos, e me deparei com uma Sophie nua, vindo na minha direção com os
olhos quentes quase me deixando sem fôlego; poderia ter caído com as pernas bambas na sua
frente, e só não o fiz por estar escorado na parede.
― Sua mãe...
― Foi ajudar o meu pai. Então aproveitei para vir aqui. ― Tocou meu peito e desceu sua
mão me fazendo gemer. ― Estou faminta Daniel, e não posso aguentar mais ficar sem você. Só
precisamos ser rápidos. Acha que consegue?
Sorri de modo provocativo.
― Vamos descobrir. Por que não se ajoelha e chupa o meu pau? ― O sacudi para que
visse a forma como que fiquei mais excitado apenas por vê-la daquela forma na minha frente.
Ela não discutiu e fez o que mandei. Logo, ela estava com o meu membro na boca
chupando tão forte como em meus pensamentos há pouco, embora a realidade fosse mais
perfeito que tudo.
― Isso gatinha, suga tudo de mim. ― Peguei seus cabelos molhados devido à água que
caía sobre nós. Ela estava tão magnífica e molhada, toda para mim.
Quanto mais ela me sugava, mais eu ficava perto da borda, tão intenso que tive que me
segurar na parede com uma mão e a outra me esforcei para não forçar sua cabeça a ter mais de
mim do que ela aguentava.
Por mais que ame sua boca saborosa, eu preciso gozar dentro de você. ― Eu a puxei pela
cintura e a coloquei no mármore do banheiro e, em seguida, entrei nela sem nada, sentindo sua
quentura que tanto adorava.
A beijei enquanto metia duro nela, tão forte que suas unhas foram parar em minhas costas
me apertando mais contra ela.
Sophie disse que ia começar a tomar anticoncepcional para evitar gravidez, afinal ter
filhos naquele momento não seria nada bom; éramos jovens e queríamos aproveitar muito apenas
nós dois.
― Goza em meu pau, querida. ― Mordisquei sua orelha a fazendo gritar, então a calei
com minha boca, pois não queria que ninguém ouvisse.
Abafei os sons que adorava ouvir, mas isso poderia ser bem constrangedor se os pais dela
nos escutasse.
― Eu amo você demais, Daniel ― declarou nos meus lábios assim que gozamos juntos.
― Agradeço por estar aqui; por não ter desistido de mim nem de nós dois.
― Desistir de você seria como deixar de respirar. ― Afirmei a verdade. ― Agora vamos
tomar banho antes que meus sogros saibam o que nós fizemos.
Ela riu.
― Não quero ter que explicar isso a nenhum dos dois. ― Tomamos banho. ― Vamos ao
cinema agora? Estou animada.
Nós dois íamos sempre que havia filme novo, mesmo que, às vezes, alguns nós
assistíamos repetido; ela adorava mesmo era sair junto comigo, e eu também adorava. Aquela
mulher era a razão para a minha felicidade.

Assistimos ao filme ‘’Amor ao Luar’’ de algum ator que eu não conhecia, mas era
romance; pena foi que no final o homem perdia a mulher dele para uma doença fatal, e o cara
ficou num estado lastimável.
Não sei, mas aquilo me tocou, porque em uma situação assim, eu não saberia o que fazer,
acho que seria como o cara do filme e acabaria me definhando a cada dia. Não queria pensar em
algo assim, só queria ser feliz ao lado da mulher que eu amava.
― Amei esse filme. O final foi estupendo, embora meio triste. Poderia ter feito a garota
conseguir se curar para que eles ficassem juntos ― disse, fungando.
Puxei-a para meus braços.
― Não devia assistir esse tipo de filme, pois isso a faz chorar. ― Alisei seu rosto corado
e olhos úmidos e vermelhos pelo choro.
― Não foi nada, estou bem. Gosto de romance. ― Puxou minha mão para irmos a
sorveteria e lanchonete.
― Isso não é romance, é a porra de um drama. ― Sacudi a cabeça. ― Podemos comer
aqui, antes de ir, assim não ficará tarde para irmos embora.
Era aniversário de Sophie, que estava completando dezoito anos, e seus pais iriam fazer
uma surpresa para ela; eu estava tentando distraí-la para que não pensasse muito na data. Embora
achasse que ela pensava que estávamos andando e passeando por isso, mesmo ela não dizendo
nada, eu a conhecia bem. Depois dali, eu a levaria a uma ilha não muito longe. Esse tinha sido o
plano o tempo todo antes de meu pai demitir os Winters.
Após a festa que estava sendo preparada para ela, eu a levaria para a minha surpresa onde
ficaríamos os dois, sozinhos, por uma semana. Os Winters deixaram sua filha ir comigo, eles
sabiam que comigo, ela estaria segura.
Os dois não eram cegos ao ponto de não saberem que não transávamos, mas o bom era
que os dois sabiam que eu a respeitava e o quanto Sophie significava para mim. Ela era tudo na
minha vida.
Estávamos saindo quando o meu telefone tocou.
― Alô? ― Franzi a testa, porque era o número da minha mãe. Eu não queria falar com
ela, mas podia ser algum problema.
― Sua mãe está no hospital. Se você se importa e, quer se despedir, então venha visitá-la
antes de sua morte. ― Ouvi a voz do meu pai do outro lado da linda. Depois, ele desligou.
Parei com um aperto em meu peito.
― Filho da puta! ― rugi, tentando ligar de novo, mas a ligação não concluía.
― O que foi Daniel? ― sondou Sophie, preocupada.
Sacudi a cabeça, tentando me recuperar do aperto que me sufocava.
― Meu pai ligou e disse que minha mãe está no hospital e que ela... ― minha voz falhou.
Não sabia o que tinha acontecido com a minha mãe, e se minha... não podia ficar ali...
― Tenho que ir lá para ver como ela está.
Ela piscou.
― Vou com você...
Sacudi a cabeça.
― Não quero o meu pai perto de você. ― Temia só de imaginá-lo tocando nela. Suas
ameaças ainda estavam vívidas em minhas lembranças.
― Mas...
― Por favor, linda. ― Beijei seus lábios de leve. ― Vou levá-la para casa e depois vou
ao aeroporto.
Por sorte, eu andava com todos os meus documentos.
― Te levo ao aeroporto e depois vou com o seu carro para a fazenda. ― Tocou meu
rosto. ― Fique seguro.
Aquela mulher valia ouro; era a melhor do mundo. Seja quem for que a enviou para mim,
eu agradecia.
― Obrigado, linda. ― Agradeci assim que saí do carro para entrar no aeroporto.
― Se precisar me chama. ― Ela me abraçou. ― Saiba que amo você.
― Também amo.

Cheguei em Manhattan com o coração na mão; fui direto para a casa dos meus pais, já
que o desgraçado de Michael não especificou o hospital em que ela estava e nem deixou que eu
perguntasse algo, apenas desligou.
Entrei quase correndo na sala de casa e me deparei com a mamãe sentada no sofá,
olhando uma revista.
Parei, franzindo o cenho.
― Mãe? A senhora está bem? ― sondei, indo até ela e checando sua temperatura para
verificar o seu estado.
Ela sorriu.
― Meu filho, você voltou! ― Me abraçou forte fungando como se estivesse se segurando
para não chorar.
Nem sabia que ela sentia minha falta daquela forma.
― Achei que estivesse doente e ido para o hospital. ― Algo dentro de mim me dizia que
meu pai havia me enganado.
Mamãe se afastou e estreitou os olhos.
― Estou bem. Quem disse que eu estava passando mal?
Sacudi a cabeça, tentando controlar a raiva, embora aliviado por ela estar bem.
― Meu pai ― grunhi. ― Onde ele está?
Ela piscou.
― Ele deve ter dito isso, porque ficou preocupado e querendo você de volta ― disse.
Expirei e me controlei para não ser grosseiro com ela por causa da sua cegueira ao meu
pai, por não saber da cobra que o homem era.
― Onde ele está?
― Na sala dele. ― Ela me avaliou. ― Não vai brigar com ele, não é? Seu pai te ama
muito, meu filho.
Amar? Aquele homem não conhecia aquela palavra nem o seu significado. Não respondi,
apenas lhe dei as costas e fui na direção que o desgraçado estava.
Como um pai era capaz de dizer ao filho que a mãe estava doente? Isso era incabível,
pensei com amargura.
Entrei na sala pisando alto.
― Como ousa mentir sobre a minha mãe, seu filho da puta? ― rugi indo em sua direção.
Ele estava sentado atrás de sua mesa, o que não era novidade, já que ele não saía dali.
Tinha um notebook aberto na frente dele.
― Vejo que aquela caipira está mudando o seu linguajar. Está bem inapropriado ― me
fuzilou.
Ignorei seu comentário, ou voaria contra seu pescoço.
― Você mentiu sobre a minha mãe, e tudo para quê? ― Cerrei os punhos. ― Diga que
porra você quer, por que não quero mais ver a sua cara.
― Devia me respeitar, pois sou o seu pai, querendo você ou não.
― Se vai me obrigar a deixar a Sophie, isso não vai acontecer. Os Winters são mais
minha família do que você já foi um dia ― cuspi.
A fúria tomou suas feições, mas se controlou.
― Você não vai ficar mais com aquela família. Eu me livrei deles de uma vez por todas.
― Apontou para a tela.
Meu coração gelou por dentro pensando que de algum modo ele tivesse tocado em
Sophie. Fui até o computador e vi um carro capotado. Era o meu carro onde Sophie tinha
dirigido até a fazenda, reconheci a estrada.
O mundo caiu aos meus pés; a dor me apossou tanto que achei que surtaria e mataria
aquele homem na minha frente.
― Deixe aquela família. Ou o pior vai acontecer com os pais dela também, e o único
culpado será você. ― Ouvi-o dizer atrás de mim.
Poderia matá-lo, mas precisava chegar até a Sophie e conferir se aquilo era verdade;
depois acertaria minhas contas com ele.
Meu telefone tocou assim que fui para o aeroporto na intenção de retornar a Dallas. Já
tinha tentado entrar em contato com a Sophie e os meus sogros, mas não consegui, e aquela falta
de contato estava me deixando puto da vida.
― Oh, graças a Deus que atendeu ― disse a voz chorosa de Alísia. ― Tem algo que
preciso dizer.
Meu coração se encolheu do tamanho de uma noz. Lágrimas caíam dos meus olhos. Não,
não, ela não poderia ter morrido; se o pior tivesse acontecido, eu mataria meu pai e não ligaria se
passasse a vida toda na cadeia.
― Sophie...
― Ela sofreu um acidente e está no hospital, mas graças a Deus está bem. Teve duas
costelas quebradas e uma das pernas. Mas está bem. ― Suspirou, um pouco aliviada.
Deixei um suspiro também escapar, embora tudo em mim ainda doesse, porque era culpa
minha o fato de ela ter parado no hospital e quase morrer. Não quis ouvir a ameaça daquele
monstro que me mandou ficar longe.
O que fazer? O velho conhecia muitas pessoas influentes, então seria capaz de tudo o que
afirmou fazer, assim como o acidente com minha garota. Como poderia ter a Sophie e não
prejudicá-la juntamente com os pais dela? Se ficasse com ela, sua família perderia tudo... como
podia conviver com isso?
Maldito seja. Queria poder matar aquele homem com minhas próprias mãos. O único
problema disso era que eu não era assassino, caso contrário, ele já estaria na tumba.
Só havia uma coisa a ser feita ali e, eu não tinha outra escolha, tudo graças ao maldito
que destruiu tudo na minha vida. Tudo dentro de mim doía como uma navalha cortando meus
órgãos, o vazio se expandia em mim, pois sabia que no final me veria sozinho e perderia a única
pessoa que já amei e amaria por toda a minha vida.
Nunca pensei que seria altruísta ao ponto de abrir mão da minha felicidade só para
proteger não só a ela, mas também a sua família. Como viveria sem a Sophie?
Não ficaria longe dela por muito tempo; só precisava ser mais poderoso que o meu pai
para conseguir proteger a Sophie e sua família. Lutaria contra o meu pai e o derrubaria. Provaria
que ele foi o causador do acidente dela e o mandaria para a cadeia.
Se para que todos ficassem seguros e longe das garras do meu pai, eu tivesse que fazer
um acordo com o diabo, então eu faria.
Um dia, eu faria aquele demônio pagar por cada lágrima que eu fizesse a Sophie
derramar.

Presente
Sophie piscou.
― Depois que você ficou comigo durante meses até que eu me curasse, você me traiu
com a Stacy. Está me dizendo que fez tudo para que eu não corresse mais perigo? ― A dor era
evidente na voz dela.
― Depois do que soube que meu pai fez, eu não consegui comprovar o seu envolvimento
no acidente, então o procurei e falei para que me deixasse ao seu lado até que se curasse. Depois
disso, eu procurei por Stacy, já que você não gostava dela na época. ― Me encolhi. ― Propus
que forjássemos um envolvimento naquela noite, pois sabia que você me seguiria. Você
precisava ver aquilo para seguir em frente sem mim, ou acabaria sendo morta. Foi um milagre
você ter sobrevivido àquele acidente e, eu não correria risco de novo.
― Só o segui, porque o senti estranho todo aquele tempo; estava distante demais e, eu
precisava saber o que fazia. Então quer dizer que nunca aconteceu nada entre você e a Stacy? ―
Sua voz estava grossa.
― Não. Eu jamais trairia você ou algo assim; só precisava que seguisse com sua vida,
segura, até que eu pudesse resolver tudo. Mas, infelizmente, demorou demais ― expirei. ― Só
preciso que me responda a uma pergunta, e dependendo da resposta, eu te deixarei em paz para
sempre. ― Aquilo era verdade, mesmo que a ideia de deixá-la me matasse.
Saiu de perto de mim, levando consigo seu calor que eu tanto adorava.
― Por favor ― supliquei, pegando seu braço.
Ela expirou.
― O que é?
― Você está noiva e grávida? Ou só se sentiu mal mesmo? ― sondei.
Ela piscou, mas a noite dificultou a leitura da sua expressão.
― Entendo o seu lado por ter feito o que fez, mas foi fraco em não ter me envolvido
nisso. Eu precisava saber da verdade e você não me incluiu na sua vida. Agora retorna dizendo
tudo isso e ainda querendo saber sobre minha vida?
― Não quero saber sobre sua vida. Quero você na minha vida e vou lutar para isso
dependendo da sua resposta.
― Não para nenhuma das duas perguntas. ― Seus olhos estavam molhados. ― Não
tenho namorado e nem estou grávida. Isso não quer dizer que vou perdoá-lo pelo que fez comigo.
Pela dor que me fez sofrer.
― Senti em seus beijos que me deseja e me quer tanto quanto eu. ― Toquei seu rosto. ―
Fico feliz que esteja melhor, e lamento que tenha sofrido, mas prometo que se me der mais uma
chance, eu nunca mais vou magoá-la Sophie.
Ela sacudiu a cabeça, meio tonta, parecendo estar procurando uma resposta.
― Não precisa dizer nada agora. Se resolver que me quer em sua vida, eu vou aceitar
qualquer coisa que me der até estar pronta para receber o meu amor de novo. ― Dei mais um
selinho aproveitando que ela estava chocada.
― Você...
― Eu te vejo no clube daqui uns dias, e você me dá uma resposta. Tenho uma viagem
para fazer nessa semana e, enquanto isso, por favor, pense bem. Apesar de que, eu não desistirei
de você. Nunca. ― Beijei sua testa. ― Se passar mal de novo me chama. Boa noite.
A deixei ali e fui embora, mas não estaria desistindo dela. Não naquele momento e nem
nunca. Sophie seria minha de novo. Ou melhor, ela seria minha para sempre.
Capítulo 8
Sophie
Sabia que tinha sido egoísta por dizer ao Daniel que tinha seguido em frente quando na
verdade não havia acontecido. Só não queria que ele soubesse o quanto sofri por sua perda. Mas
o que devia fazer? Ou dizer?
‘’Daniel ainda amo você mais do que antes’’ Não era algo para ser dito. Também dizer
que não poderia superá-lo de forma alguma.
Tinha consciência de que precisava fazer isso para seguir em frente, mas como seguir se
não consegui isso em quase doze anos? Temia sofrer de novo caso desse mais uma chance como
ele me pediu. O pior foi vê-lo com outras mulheres.
Sacudi a cabeça para não pensar mais. No momento só queria aproveitar meu dia ali na
fazenda e com meus amigos no clube em Dallas, que dentro de alguns minutos iria encontrá-los.
Tinha se passado uma semana após meu encontro com Daniel, e pensei bastante sobre ele
e o que fez. Merda. Tudo o que houve foi culpa do maldito do pai dele que queria nos separar, e
Daniel foi fraco por ter se deixado coagir assim.
Peguei uma foto do Daniel onde aparecíamos, juntos; sempre a guardava na cômoda.
Deveria ter me livrado dela, mas na imagem os olhos dele estavam brilhantes enquanto me
olhava, tão quentes e ternos que me fazia ter saudade da forma que me olhava. Apesar de que vi
o mesmo olhar na festa de Laurel. Eu só não sabia o que fazer.
― Imbecil! ― grunhi, guardando com muita força o quadro que até fez barulho.
― O que o quadro fez a você? Já disse que devia deixá-lo no criado mudo e não
guardado na gaveta ― disse mamãe escorada no batente da porta do meu quarto.
Mamãe tinha cabelos anelados, e olhos castanhos escuros. Muito linda.
Arfei.
― Não devia bater antes de entrar? ― Me levantei, indo até a cômoda pegar meu celular
e checar se tinha algum recado. Tinha apenas um da Laurel, me lembrando do nosso encontro no
clube. Já tínhamos estado ali antes, só que agora Daniel estaria junto com todos.
― Desde quando isso serve comigo? ― Entrou no quarto. ― Quanto tempo vai demorar
a sua raiva pelo Daniel passar? Vocês ainda se amam, minha querida.
― Não posso amá-lo, mamãe, ele é um idiota e me machucou demais. Por que ele não foi
forte o suficiente para me dizer a verdade? Eu tinha o direito de saber tudo.
― Daniel teve suas razoes. Eu fiquei magoada também quando ele me contou na semana
passada. Embora soubesse por que ele fez. Eu, como mãe e por amar você, teria feito o mesmo,
só quero que fique segura assim como ele. Eu sei, querida, que tudo é doído, mas, às vezes,
temos que enfrentar alguns riscos. A vida é curta demais para não aproveitar ao máximo as
coisas boas que ela oferece ― disse. ― Não estou dizendo isso por sua doença meu amor, mas
você amou tanto esse garoto e pelo que vi, ainda não deixou de amar.
Sacudi a cabeça.
― Não...
― Sei que está magoada e, muito ferida com tudo o que houve. ― Ela veio na minha
direção. ― Mas foi bom vocês terem exposto tudo o que estava entalado, assim podem resolver
suas desavenças.
― É difícil esquecer o que ele fez, mamãe ― murmurei, encolhida.
― Vem cá, meu anjo. ― Ela se sentou no sofá cama e bateu ao lado para que eu me
sentasse.
Sentei-me ao seu lado e coloquei a cabeça em seu colo com meus olhos úmidos.
― Ele me deixou... ― fazia tempo que não chorava nos braços da minha mãe.
― Sophie, o menino Daniel teve motivos para isso. ― Alisou meu cabelo.
Olhei para ela.
― Sim, ele foi ameaçado pelo seu maldito pai. Mas eu não queria que tivesse feito isso
para me proteger...
Balançou a cabeça, discordando.
― Não é só isso, querida. Eu sentia que tinha acontecido algo que o obrigou a deixá-la;
nunca acreditei que aquele menino que venerava você, onde até ia fazer uma festa surpresa
tivesse sido capaz de traí-la, tinha quase certeza de que era obra do seu pai. Confirmei quando o
vi há algum tempo atrás.
Sentei-me depressa.
― O quê? Ele veio aqui? E como sabe que ele não está mentindo? ― Daniel não era de
mentir, aquela era uma qualidade que eu amava nele. Mas os anos se passaram e, eu não sabia
mais o que pensar. E se ele me machucasse? O pior era saber que talvez não pudesse
corresponder a ele caso não vencesse aquela doença.
― Como posso lidar com tudo? Ele ficou com tantas mulheres. ― Minha voz falhou.
― Querida, você é uma adulta agora e também teve namorados depois dele, não se
esqueça. Tentou seguir sua vida, mas não conseguiu, o seu relacionamento com Daniel não
acabou. ― Ela apertou minha mão que segurava. ― A vida é muito boa para desperdiçar
pensando em coisas fúteis como em não dar certo.
― Não é só isso, pois se fosse, eu podia lidar, mas como vou contar sobre minha doença
a ele? Não o quero comigo por pena.
― Aquele garoto não fica com ninguém por pena. ― Me olhou de lado. ― Daniel adora
o chão que você pisa, aquele garoto ama você de verdade. Vou te contar uma coisa, meu anjo, já
devia ter feito isso há muito tempo, mas ele implorou que não dissesse nada ― murmurou. ― Só
não disse também, porque você namorava o Neil na época e achei que não deveria estragar as
coisas entre vocês dois.
― O que é? ― incitei para que continuasse, porque estava curiosa demais. Mamãe nunca
foi de esconder algum segredo de mim.
― Lembra quando viemos para Dallas? ― Ela apontou ao redor.
― Sim, quando viemos para cá a fim de comprar essa fazenda depois que os pais do
Daniel os demitiu? ― Não gostava daquele velho idiota e prepotente, pois ele se achava melhor
do que todo mundo. Embora nunca me importasse, contanto que estivesse ao lado de Daniel,
pena que não foi para sempre.
― Era quase impossível achar uma fazenda com o nosso dinheiro, mesmo que tenhamos
guardados nossas economias, ainda iria faltar. Mas então conseguimos esse lugar, a corretora
disse que estava em promoção, era como se soubesse o valor que tínhamos e não mais do que
isso. ― Ela suspirou. ― Depois, eu soube que Daniel pagou o restante, e pediu para a agente
imobiliária não contar nada.
Meus olhos pareciam saltar das órbitas.
― Mas como? Mamãe, ele tinha acabado de fazer dezoito e não tinha muita coisa dele.
― Franzi a testa. ― Como soube disso? Alguém contou a você?
― A corretora deixou escapar quando fui negociar a casa que compramos para você aqui
há alguns anos. Ela deixou escapar que não podia fazer promoção dessa vez e quando o caso da
fazenda foi falado, ela mencionou que alguém pagou o restante naquele dia, mas que não podia
fazer o mesmo com a casa. O valor que Daniel pagou foi exorbitante. ― Ela piscou, chocada. ―
Mas só depois de algum tempo, eu investiguei e descobri que foi Daniel quem me ajudou com a
compra. Também tem aquela viagem que seu pai e eu fizemos a Cancun, lembra?
― Mas pelo que me disse vocês ganharam em um sorteio de supermercado, não foi? ―
indaguei de forma dúbia. ― Como sabe que foi ele que pagou por isso também?
Não conseguia acreditar que ele foi capaz disso tudo por mim e minha família.
― Foi ele mesmo, porque o vi lá em Cancun. Ele até perguntou por você, falei que se ele
estivesse realmente preocupado que deveria ir vê-la e conversar.
― O que ele disse? ― Me senti encolhida.
― Daniel falou que não podia para sua própria proteção. E que desejava que fosse feliz.
Ali vi nos olhos dele o tanto que a amava, que só a deixou para sua própria segurança.
― Obrigado? Ele já era um homem para ter cedido às ameaças do pai dele. ― Me
lembrava que o senhor Luxem sempre queria que seu filho ficasse longe de mim, mas ele o
enfrentava, não se deixava ser coagido pelo velho asqueroso.
― Aquele homem morre por você. Nos ajudou comprando essa fazenda, assim como as
viagens. ― Tinha veneração na voz da mamãe ao falar dele, embora sempre fosse assim.
― Não pode ter certeza ― falei comigo mesma não acreditando ou não querendo, mas
senti no beijo o tanto que me amava.
― Sophie, ele a mandou para longe assim que se acidentou, e só voltou para nossas vidas
depois que o pai morreu. Por isso acho que foi uma ameaça. ― Mamãe tocou meu rosto. ―
Você deve falar com ele e resolver todos os problemas.
Eu sabia que ela tinha razão quanto àquilo, mesmo sem ter tempo para ter uma vida ao
seu lado, eu precisava conversar com ele de alguma forma. Se nos acertássemos, então por que
não vivenciar esse amor? Podia aproveitar ser feliz ao lado dele nem que fosse por enquanto. Se
não voltássemos podia ao menos ficar ao seu lado. Assim se por acaso eu me fosse, ele não se
sentiria culpado por ter estado longe de mim, como sabia que Daniel sentiria.
Quando o pai dele foi morto, eu fui ao cemitério, não por respeito ao defunto, já que não
merecia nada, mas sim por Daniel. Eu quis me aproximar e reconfortá-lo, mas só não fiz por
medo. Fui medrosa demais.
Recordei-me ali, enquanto falava com minha mãe, que alguns dias antes de seu falecido
pai morrer, Daniel me ligou para falar alguma coisa do seu pai e, eu falei que o seu pai podia
morrer. Estava com raiva na hora, mas não achei que fosse acontecer.
― Vou falar com ele, mamãe. ― Deixei meus pensamentos culpados para trás. Não
podia viver pensando naquilo, não quando pudesse não sobreviver.
Ela sorriu tão brilhante como se eu tivesse dado o melhor presente do mundo.
― Estou tão contente com isso. ― Beijou minha testa, então me afastei mudando de
assunto.
― Eu vi o Lucky na festa de Laurel.
Ela arfou com os olhos estatelados, mas vi esperança ali.
― Contou a ele que são irmãos? ― Não parecia ter esperança no seu tom.
― Não, estava indo para contar, mas então veio o Daniel e estragou a minha semana, não
pude, mas pretendo contar a ele hoje. Eu soube que Lucky vai estar no clube também. Pretendo
contar apenas sobre nosso laço sanguíneo, depois falo sobre a doença. Preciso deixá-lo digerir
tudo antes. ― Naquela semana fiquei enrolada em ajudar meus pais ali e evitei a cidade só para o
caso de Daniel aparecer.
― Faça isso, meu amor. Revelando pelo menos um pouco da verdade, já é suficiente.
Depois você conta toda a verdade a ele, porque precisamos agilizar esse processo, não vou deixar
que a situação se agrave. ― Naquela noite passei mal de novo, com tontura e náuseas.
― Te dou até semana que vem para resolver as coisas, então se não fizer nada, eu entro
em contato com o Lucky e digo a verdade. Acho que tem mais chance de ele ser compatível, que
é seu irmão, do que sua mãe biológica. ― Ela expirou. ― Não vou ficar parada e ver a situação
piorar antes de tomar precaução.
― Mas mamãe...
― Não Sophie. Eu já fiz e esperei demais, não posso deixar avançar tanto, porque isso
pode ser perigoso, você ouviu o que o médico disse. Temos no máximo alguns meses, e meu
amor? Não vou ficar sentada esperando um doador na fila de espera quando tem alguém do seu
sangue podendo ser um. Eu preciso ao menos fazer os testes e ter certeza.
Não gostava de ver minha mãe encolhida daquela forma.
― Vai dar certo, mamãe.
Puxou-me para seus braços.
― Não posso deixar que isso a leve de mim.
Meu coração se quebrou devido a sua dor; não podia mais deixar que sofresse daquela
forma só por que estava com medo de enfrentar o Lucky. Embora não fosse por medo que não
contei sobre ser irmã dele; tudo por culpa do Daniel. Mas com minha cabeça no lugar, eu
contaria a verdade ao Lucky, ou parte dela.
Não podia deixar que minha situação se agravasse. Minha mãe tinha razão. Claro que não
deixaria uma doença me matar, lutaria contra isso e venceria no final. Faria isso de cabeça
erguida, mesmo que fosse difícil. Sabia que todos nós morreríamos um dia, mas nem tive minha
felicidade antes.
Devolvi o abraço me fazendo a promessa de nunca a deixar chorar de novo, não se eu
pudesse evitar.
Se não tivesse algum parente de sangue, eu estaria contando com a sorte na fila de espera
de um transplante. Mas com o Lucky e minha mãe as coisas mudaram, eu tinha mais chances. Só
precisava ter fé que um deles fosse compatível. Se havia uma chance, eu precisava fazer.
Também tinha outro irmão, ou irmã que ainda não sabia a identidade, talvez também pudesse me
ajudar.
― Oh, mamãe, eu vou fazer isso ― prometi. Não queria que ela chorasse mais.
― Obrigada, meu amor. ― Se afastou de mim sem tirar os olhos do meu rosto e limpou
os seus, sorrindo. ― Tenho fé que tudo dará certo. Agora se arrume e desça. Vou preparar o café
da manhã para você.
Ela foi em direção da porta, mas parou e se virou para mim:
― Não tenha medo do que acontecerá quando você ir até o teu irmão, porque ele vai
amar você, meu anjo.
Queria ter tanta certeza como ela, mas faria um esforço para que isso acontecesse, e
ouviria o que Daniel tinha a dizer, depois tomaria a decisão.
Os motivos para ele ter me deixado foi me explicado e, eu entendia os seus motivos,
mesmo não gostando de nada. Seja como for, se eu ficasse parada, eu seria uma covarde, algo
que nunca fui.
― Foi bom ver o meu irmão. Sempre que estou perto dele, o meu coração acelera. Quase
falei quem eu era, mas então Daniel apareceu e tudo se enrolou. Vou ao clube hoje e vou vê-lo
de novo. Também vou aproveitar para conversar com Daniel.
― Vou te dar uma semana para conversar com o Lucky. Se não dizer nada, eu vou falar
com ele eu mesma. ― Ela ameaçou de novo.
― Tudo bem, eu entendi. ― Sorri para deixá-la calma.
Se ela soubesse que passei mal na festa e na noite anterior e, que ainda amanheci com
tontura ficaria bem mais preocupada.
― Já vou descer. Só vou me vestir, porque combinei de me encontrar com Laurel no
clube. Então não precisa fazer nada para mim.
― Estarei aqui ansiosa para que você faça as pazes com o Daniel. Não gosto de ver você
triste desse jeito. ― Ela saiu do quarto.
Tinha chegado a hora de enfrentar meu destino, de encarar mais uma vez o homem que
amava e amaria para sempre.
Capítulo 9
Sophie
Eu tinha chegado em frente ao clube e estava descendo do carro quando meu telefone
tocou.
― Oi, Richard, aconteceu alguma coisa? ― Ele era meu chefe e, eu o adorava. Era difícil
encontrar um patrão que fosse um bom amigo, mas fui felizarda com isso.
Ele promovia corrida de carro, na Speed car, a mesma coisa que Daniel fazia, só que em
uma empresa diferente.
― Como estão indo as férias? Pegou algum caubói? ― sondou com um sorriso na voz.
O conhecia há vários anos, mesmo antes de trabalhar como fisioterapeuta para sua
empresa.
― Não é possível, já que cheguei aqui há três dias. Mas também não tenho a intenção de
arrumar namorado. ― Com Daniel em meu coração, eu não podia fazer nada, muito menos ter
outra pessoa. Não queria fazer tal coisa. ― Além disso, eu tenho você.
Ele riu.
― Tenho idade para ser seu pai, e minha esposa te mataria. ― Tinha amor em seu tom.
Olinda era uma coroa enxuta que passava várias mocinhas novas no chinelo. Uma mulher
gente fina.
― Mas falando sério, eu tenho algo a dizer ― começou, mudando de assunto, o senti
eufórico do outro lado da linha.
― Deve ser algo importante, pois você parece estar nas nuvens. Nem conseguiu me
esperar chegar aí. ― Fechei a porta do carro e dei a chave para o manobrista.
― A melhor notícia do mundo. Consegui contratar o Daniel Luxem, que corria pela Stor
Corry. Ele vai correr para mim por menos do que recebia lá. Sendo mais específico, quase vinte
milhões a menos. Não sei porquê ele aceitou minha oferta de muito tempo atrás. Embora não
estivesse reclamando, seja qual for seu motivo para aceitar agradeço ― falou em um fôlego só.
Pisquei.
― Daniel Luxem? ― gritei, fazendo algumas pessoas olharem para mim.
Não podia ser... mas seria coincidência por ele ter aceitado o trabalho ou fez por mim? Se
fosse para ganhar um salário mais, eu até poderia entender, mas trabalhar por menos? Não tinha
muito tempo que começou sua carreira, mas Daniel era bem procurado por todas as agências de
corrida.
― Sophie está me ouvindo? ― Richard me trouxe de volta longe dos meus pensamentos.
Sacudi a cabeça para clarear minha mente. De repente, eu fiquei meio tonta, e não tinha
nada a ver com minha saudade.
Entrei no corredor do clube, pisando alto e querendo estrangular alguém. Ignorei todos ali
e foquei em uma pessoa só. Um maldito corredor.
― Filho da puta ― rugi, virando o corredor que dava para a piscina. Já estive ali algumas
vezes. ― Vou matá-lo.
― O quê? Não fiz nada a não ser encontrar o melhor piloto do mundo ― disse ele.
― Desculpe, eu preciso ir e depois falo você. ― Desliguei e fui para onde vi Laurel,
sentada na beira da piscina com várias mulheres, duas de cabelos negros. Uma era a Sam e
Angelina. Três loiras, Tabitta, Rayla e Alexia. Mas me foquei em Laurel.
― Sophie! Que bom que chegou aqui, nós estávamos esperando você.
― Cadê o Daniel? Preciso falar com aquele idiota desgraçado. ― Minhas mãos tremiam
devido à raiva.
Ela arregalou os olhos.
― O que ele fez? ― Apontou para uma mesa de bilhar à esquerda dali.
― Depois nos falamos, pois agora vou decapitar certo alguém. ― Fui na direção que ela
apontou.
Jordan, Jason, Bryan, o irmão da Sam, Ryan e Lucky estavam lá jogando sinuca. Todos
de short de banho com os músculos à mostra, mas eu só tinha um em mente.
Daniel estava ali com toda a sua glória e beleza, barriga tanquinho onde era possível ver
o V perfeito do pé da barriga. Não possuía tatuagem como seus amigos.
Tentei não me abalar com sua pele nua. Lucky estava de costas com uma tatuagem
impressionante nas costas. Mas não liguei, só passei por ele e peguei seu taco. Daniel se curvou
para dar uma tacada, mas eu bati com o meu na mesa fazendo-o pular.
― Mas que porra! ― Ele piscou me olhando ali do seu lado. ― Sophie?
Ficamos nos encarando por um tempo; olhar para ele sempre foi um colírio para meus
encantos, olhos, boca, corpo e também sua alma, não acreditava que tivesse mudado. Mas sua
boca sempre foi minha fraqueza, ainda mais quando pensava a forma que andava em meu corpo.
Isso me dava vontade de provar mais, tanto que sentia falta disso. Tive uma prova de sua boca
naquela noite, mas foi pequena e queria mais.
Era como fazíamos antes, a vontade de ter aquele homem nunca acabaria. Certamente que
fosse por isso que nunca segui em frente com minha vida, porque ele sempre foi ela.
― Sophie... o que... ― ele não terminou de falar quando apontei o taco para ele. Claro
que não ia bater, mas vontade não me faltou depois de saber o que fez.
― Você tem dois segundos para dar uma resposta honesta ou juro que esse taco vai bater
em outro tipo de bola ― ameacei com veemência.
Alguns dos seus amigos riram enquanto ele arregalou os olhos me avaliando, acho que
para ver se tinha coragem ou não, e ele devia ter visto que eu falava sério, porque assentiu.
― O que você quer saber? ― pigarreou. ― Vou fazer o possível para responder suas
perguntas, e depois vamos conversar como disse que faria.
― Ótimo, que bom ouvir isso. Fiquei sabendo que vai trabalhar para a Speed Car, é
verdade?
― Sim ― respondeu automaticamente parecendo confuso com minha pergunta. Acho
que ele pensou que eu fosse perguntar sobre nós.
Assenti para mim mesma.
― Saiu da Stor onde ganhava mais para entrar na Speed e ganhar menos? Por quê? Não
faz nenhum sentindo fazer tal coisa.
Franziu a testa.
― O que isso tem a ver com o meu salário? ― Colocou seu taco na mesa, mas sem tirar
sua atenção de mim. ― Apenas quero ficar em Manhattan.
― Por que não foi para a Belliver Trwer? Eles são de Manhattan e queriam você. Além
disso, pagariam mais do que a Speed. Por quê? ― perguntei.
― Apenas queria novos ares. ― Deu ombros. ― Não posso ter isso? E, eu gostei da
Speed.
Trinquei os dentes e dei um passo para ele, que se afastou e ficou atrás da mesa. Homem
esperto por temer minha fúria.
― Falei para dizer a verdade. Por que mudou de agência? Para uma em que eu trabalho?
― Já suspeitava, mas queria a sua confirmação. Minha raiva começou a amenizar.
― Por você ― falou sem hesitar. O olhar que me deu era mil vezes como o sol, tão
quente e abrasador; tão cheio de amor como um dia já vi neles.
Eu o encarava de forma dúbia, não acreditando que tinha feito algo assim por mim. Ainda
não sabia como me surpreenderia com Daniel fazendo isso, pois ele sempre foi assim e não ia
mudar nunca.
― Por mim? Você ficou doido? Não sabe fazer cálculos? Olha o tanto que perdeu nessa
saída de agência! ― quase gritei, então expirei e continuei: ― Não pode fazer isso, precisa voltar
para onde estava.
Ele voltou a dar de ombros, não ligando para a minha preocupação.
― Não posso fazer isso, porque é quebra de contrato ― disse como se tivesse falando de
algo banal e não de uma perda de quase quinze milhões.
― Por que não? ― rosnei, trincando os dentes. ― Já quebrou um contrato antes, por que
não fazer de novo?
― Não dou a mínima para a porra do contrato ou o que me pagam, porque essa é a única
maneira de ficar perto de você. ― A voz dele estava rouca.
― Perto de mim? ― Ri amarga. ― Você teve anos para fazer isso e não fez, por que
agora? O que mudou?
― Meu pai morreu... ― ele passou a mão no rosto. Ele sempre fazia isso quando estava
frustrado ou com raiva de alguma coisa.
Os amigos dele ali perto estavam calados e pareceram ficar confusos, mas eu não.
― Ele morreu há quase três anos. Você demorou tudo isso para voltar? Tente outra
desculpa.
― Vamos deixar vocês conversarem a sós ― disse Lucky com o cenho franzido para o
Daniel.
Ele parecia um pouco curioso com o assunto, então não devia saber de nada ou talvez
soubesse e só estivesse torcendo para Daniel abrir o jogo logo.
― Aproveita que o clube está quase vazio, assim podem conversar a sós ― disse Jordan
e sorriu para mim. ― Cuidado com o taco para não estourar as bolas do meu amigo.
Arqueei as sobrancelhas.
― Por quê? Você vai fazer uso delas? ― provoquei com um sorriso. Minha raiva estava
um pouco mais contida.
Jordan riu, e não foi o único, mas o único que liguei foi para a risada de Daniel, tão linda.
A rouquidão o deixava mais perfeito do que já era.
― Devia retrucar e falar algo espertinho, mas Laurel chutaria minhas bolas. ― Jordan
revirou os olhos. ― Isso se Daniel não fizer o mesmo.
Daniel bufou.
― Seus cunhados chegaram, por que não vai lá e me deixa falar com a Sophie?
Segui seu olhar e vi três homens entrarem; eu os conhecia não só pessoalmente, mas
também por serem famosos. Os irmãos King, eles eram de uma banda de rock muito famosa.
Nilan era alto assim como o irmão Gave, os dois eram fortes e lindos. Shade era o irmão
mais velho e se casou há alguns anos. Os três eram bonitos, mas Gave tinha alguma coisa que o
deixava mais encantador, acho que era por ser o mais espirituoso do grupo.
― Será que vou ter que matar o Gave para fazer você parar de olhar para ele? ― grunhiu
Daniel.
Voltei minha atenção para ele, com as sobrancelhas erguidas devido ao seu ciúme, mas
deixei quieto, pois tinha coisas mais sérias para tratarmos.
― Voltando ao nosso assunto... eu quero saber tudo. Qual a razão de não ter aparecido
antes? Quero a verdade Daniel.
― Sim e, eu vou responder todas as suas perguntas, vou esclarecer o motivo de não ter
ido atrás de você antes logo quando meu pai morreu. ― Não havia amor quando falava do pai
morto, embora nunca houvesse.
Daniel não tinha amizade ou amor para com seu pai, mas sim porque o pai nunca ligou
para ele ou fez algo que demonstrasse amor. O homem sempre foi rude, grosso e ignorante.
Além de um assassino por ter tentado me matar naquele acidente de carro. Os freios foram
cortados o que me fez capotar, pois perdi o controle na descida da fazenda onde meus pais
moravam.
― Ótimo! Então me conte, porque descobri muitas coisas que você fez pela minha
família, e estou ansiosa para saber o porquê. ― Escorei o quadril na mesa, mas antes que ele
dissesse algo uma garota apareceu do seu lado toda eufórica.
Ela tinha cabelos escuros e olhos claros. Chegou bem próximo dele como se fosse pular
em seu pescoço.
― Daniel Luxem, eu sou sua fã! Tenho seguido suas corridas desde o começo. ― Sua
voz estava excitada e muito sensual, não só a voz, mas o corpo também, ainda mais com aquele
vestidinho apertado e os peitos quase saindo.
O bom que ele não estava olhando para ela, mas sim para mim e parecia um pouco com
raiva com a interrupção e não interessado nela.
― Você pode me dar um autógrafo aqui? ― Ela puxou mais o decote mostrando quase o
bico de peito. ― Assim faço uma tatuagem.
Sabia que por ele ser famoso era cercado de fãs, mas tudo tinha limite, se a garota apenas
tivesse pedido um autógrafo, eu não ligaria, mas quase mostrar os peitos? Aí já era demais.
Bati o taco com força na mesa trazendo a atenção dela para mim, que piscou.
― Ele não vai autografar porcaria nenhuma, agora some daqui antes que você precise
fazer uma plástica, pela forma que vou deixar seu rosto de Barbie ― sibilei querendo lançar
aquele taco na cabeça dela, mas me controlei, afinal não tinha o direito de ter ciúmes.
― Você não pode me ameaçar. ― Suspirou a garota.
Sorri de modo frio.
― Quer mesmo testar? Se você quer algum autógrafo, então procure uma caneta e papel
e, nesse momento, nós estamos tendo uma conversa. Então por que não vaza daqui? Não estou
com muita paciência hoje. ― Gesticulei para que saísse dali.
Sabia que estávamos em um lugar público, mas não estava a fim de ser interrompida. A
menina teve um pouco de decência e saiu sem reclamar, apenas com um murmúrio onde dizia
para Lucky e os outros — não muito longe de nós — ‘’Ela é louca’’.
Ouvi alguns rirem, assim como Daniel que estava gargalhando feito uma hiena. O que me
deixou bem furiosa.
― Engole a porra desse sorriso ou vai ficar sem os dentes ― grunhi, descansando o taco
na mesa. Escorei nela de novo para falar com ele. ― Agora abre o jogo.
― Estava com saudades de ver como você fica mais linda quando está furiosa. Porra!
Tão sexy ― O brilho nos olhos dele quase me fez cair de joelhos na sua frente como uma
submissa.
― Daniel ― avisei, porque não estava para brincadeira. ― Fale a verdade. Se não dizer,
eu vou sair da Speed...
Ele riu, cruzando os braços. Isso me fez encarar seus músculos na pele bronzeada.
― Você nunca deixaria o Richard, gosta dele demais para fazer tal coisa. ― A certeza na
voz dele me fez ver que ele procurou saber tudo sobre mim.
Embora tivesse razão, pois eu amava meu trabalho e adorava a todos lá, incluindo meu
chefe e sua adorável esposa.
― Vou contar os meus motivos para não ter entrado em contato com você... Deixar você
foi a decisão mais difícil que já precisei tomar. Te deixar foi como se eu tivesse morto, a dor e o
vazio foram quase impossíveis de aturar. Quebrado, essa palavra mal descreve o que eu sentia e
sinto por não ter você na minha vida. — O fôlego pareceu ter sido sugado dos meus pulmões,
porque senti a verdade em cada palavra.
Capítulo 10
Daniel
― Então por isso que não voltou em todos esses anos? ― Ela me avaliava de cenho
franzido.
― Deixar você foi a coisa mais difícil que já fiz na minha vida, mas foi para o seu bem...
― Meu bem? ― rosnou, pegando o taco na mão novamente. ― Você não tinha o direito
de fazer essa escolha por mim, seu idiota.
Ela era ainda mais linda quando ficava brava; devo dizer que senti saudade daquilo
dentro de todos os anos longe dela. Como consegui ficar longe por tanto tempo?
― O que você queria que eu fizesse? Que deixasse meu pai acabar com a vida dos seus
pais e matar você? Naquele acidente, você teve sorte de ter sobrevivido, mas e se houvesse
outro? ― Olhei ao redor e vi que o lugar estava ficando cheio. Não queria conversar com ela
estando cercado de gente. ― Vamos conversar ali, que está menos cheio.
Por incrível que pareça ela não discutiu comigo, uma coisa impressionante. Esperava que
ela entendesse os meus motivos por ter feito o que fiz. O sacrifício que fiz em todos aqueles anos
ficando longe dela. Merda! A dor e o vazio que senti.
― Daniel, o que você fez para os meus pais? ― Ela sussurrou, encolhida ― Sei que os
ajudou a comprar a fazenda deles, não é?
Não queria confessar, mas também não queria mais mentir para ela. Já tinha mentido por
tempo demais.
― Sim, se eu oferecesse aos seus pais o restante do dinheiro, eles não aceitariam, e não
me arrependo.
― Pelo que sei, o seu pai morreu há quase três anos, então por que só agora? ― Sophie
parecia desconfiada. ― Não faz sentido.
Aquilo não era algo que eu gostaria de me lembrar, mas precisava se isso a fizesse
entender o que fiz.
Tentei ficar mais poderoso que meu pai durante os últimos anos, mas não consegui, o
maldito tinha conhecimento com gente da pesada e esse era um caminho o qual eu não queria
seguir para ficar ao seu patamar, então por isso a demora de voltar para ela. Quando finalmente o
velho morreu, deixou uma bomba em minhas costas.
― Após a morte do meu pai, eu tive problemas por causa dele, não sei se você leu no
jornal ou revista onde dizia que o sócio do meu pai era um tremendo de um ordinário que usava a
nossa Editora para fins de tráfico humano ― expirei.
― Ouvi algo assim. O seu pai estava envolvido? ― Ficamos em uma sala de jogos, era
só nós dois ali. Detalhe que facilitaria o que eu tinha para dizer a ela.
― Com a morte do velho, um agente do FBI me procurou e falou o que o sócio da
Editora fazia. Se eu não a administrasse e, cooperasse com eles, então seria considerado um
cúmplice da porcaria que ele estava metido. Não queria você envolvida nisso, por isso me
mantive longe depois que houve o acidente, até que tudo acabasse. Eu lamento, porque sei que
demorou mais do que deveria. ― Fui até perto dela e segurei sua mão. ― Queria vir para você,
mas aconteceram muitas coisas que me impediram. Realmente sinto muito pelo o que houve e
por ter deixado você sozinha e mentido que não a amava mais.
― Daniel...
― Você é a única pessoa que já amei na vida, a única pelo qual já fiz algum sacrifício e
ainda faço. ― Toquei seu rosto lindo. ― Não importa o preço que tenha que pagar, eu farei se
assim fazê-la ficar segura.
O tanto que sonhei que aquele momento viesse a acontecer de novo, e ali estava eu...
sentindo a sua pele de pêssego tão macia quanto pluma. Estava louco para beijá-la de novo, não
consegui ter o suficiente dela na noite anterior.
Tinha algo nos olhos dela que me mostrava que queria o mesmo que eu, embora não
fosse só isso, eu podia ver que tinha algo mais, eu só não entendia o quê. Sabia que teria um
longo caminho a percorrer até que tivesse a sua confiança de volta, farei tudo que puder para que
isso aconteça.
― Lamento por tudo o que houve, e espero que um dia me perdoe ― sussurrei indo
beijar seus lábios sem tirar os olhos dos dela. ― Posso? Não quero receber outra bofetada.
Ela meneou a cabeça de lado.
― Você mereceu, então não reclama. Podemos tentar, minha mãe disse uma coisa, acho
que ela pode estar certa. ― Sorriu com doçura, o sorriso que eu tanto amava.
Arqueei as sobrancelhas.
― O que a senhora Alísia disse? ― Estava curioso. Em todos aqueles anos, eu senti falta
dela e do senhor Antônio, esperava que voltasse para vida deles em breve. Faria de tudo para que
acontecesse.
― Me disse que a vida é curta para pensar nas coisas do passado, e que devemos pensar e
focar no futuro, no presente e lutar para ser feliz. ― Seus dedos traçaram meu peito e minha
barriga parecendo gostar do viu.
Quando a deixei, eu ainda era um moleque e não tinha o corpo tão definido, afinal, eu
malhava bastante.
Sorri.
― Fico feliz com isso. Então quero te convidar para jantar hoje à noite. Aceita? Quero
fazer tudo certo dessa vez. Inclusive falar com os seus pais...
Ela parou de sorrir e isso fez meu coração gelar por dentro como uma injeção de água
gelada nas veias.
― Vamos com calma, pois eu preciso digerir tudo antes. Só vamos viver o momento,
sim? Hoje vamos aproveitar e ficarmos juntos, com os nossos amigos. À noite, nós jantamos e
assim conversamos mais sobre tudo. ― Encostou o corpo dela no meu fazendo com que eu me
arrepiasse dos pés a cabeça. ― Só preciso que me beije agora. Vamos viver um dia de cada vez,
como um passo de bebê. O que acha?
Senti vulnerabilidade em sua voz, não detectei nada mais do que isso. Mas ela sempre foi
boa em esconder o que sentia, mesmo antes de tudo.
Sabia que ela estava certa, precisávamos ir com calma, embora quisesse que Sophie já
fosse minha namorada. Eu não podia colocar a carroça na frente dos bois como dizia dona Alísia,
teria que ir com calma para não espantá-la e levá-la para longe de mim.
― Podemos fazer isso. Vou com calma, eu prometo. ― Encostei meus lábios nos dela
tão maravilhosos. Começou simples, mas depois senti sua língua na minha, a doçura que tanto
amava e sonhava.
Passei meus braços a sua volta e a puxei para mim mais apertado e me deliciei com os
seus beijos.
Tentei ter em mente que estávamos em um lugar público e que não podia agarrá-la da
forma que gostaria, a forma que eu necessitava há muitos anos.
Ainda me lembrava da forma que era ter seu corpo debaixo do meu ou em cima gemendo
o meu nome na sua ânsia por prazer, a forma que corava e implorava por mais de mim. Era algo
que eu nunca me esqueceria de forma alguma.
O meu corpo estava quente com o dela; claro que já tive sexo antes dela e depois, pois de
alguma forma precisava de algo que me mantivesse longe dela até o momento certo. Mas o sexo
com outras mulheres nunca foi tão bom ou me fez sentir como se minha alma estivesse saindo do
meu corpo. A forma que parecia que eu entraria em combustão a qualquer momento.
Sophie era a única mulher que me fez e fazia cair de joelhos quase a ponto de implorar,
aliás, para tê-la, eu não ligava se tivesse que rastejar. As labaredas, eu só sentia com ela, e faria
de tudo para ter essa sensação de novo.
Ela também gemeu nos meus lábios e me agarrava de forma que pensei que não queria
mais soltar, e para falar a verdade, eu não queria que minha garota soltasse.
― Vejo que se entenderam ― disse uma voz divertida logo perto de nós. Ia ignorar o
Lucky, mas Sophie se afastou logo após.
Naquele momento, eu quis quebrar a cara do meu amigo, não entendia o motivo para ele
estar ali. Só queria sentir mais o corpo quente de minha menina.
Ela sorriu para ele e corou.
― Vamos nos entender, isso se ele não fizer mais besteiras. ― Olhou para mim e depois
para ele.
Sacudi a cabeça. Sabia que veria a desconfiança nela por um tempo, mas esperava que,
em breve, aquilo acabasse, não queria que ela continuasse tendo dúvidas em relação a nós dois.
― Não irei, eu prometo ― garanti. Eu manteria minha promessa.
Sophie assentiu, mordendo os lábios e expirando com dificuldade acho que devido aos
nossos amassos; ela também tinha sido afetada pelo meu toque assim como antigamente.
Recordava-me das vezes em que um mero beijo a fazia derreter em meus braços.
Com aquele beijo, eu pude ver que ela ainda me queria assim como eu a queria; aquilo
não mudou, aliás, parecia que estávamos famintos um pelo outro. Não via a hora de chegar a
noite no jantar, embora não tivesse certeza que faríamos sexo.
― Espero não estarmos interrompendo vocês, mas acho melhor assim. Ou vocês seriam
presos por atentado ao pudor. ― Sorriu Jordan de modo provocativo.
Logo atrás dele estavam Jason e Bryan, que revirou os olhos com a provocação de
Jordan.
― Você é um idiota, não sei como Laurel aguenta você ― disse Sophie com um revirar
de olhos.
Jordan piscou.
― Ela me ama.
Sophie bufou.
― Vou para onde as meninas estão ― virou para mim ― Depois vamos falar sobre o seu
novo emprego e a burrada que acabou fazendo. Precisamos ver se ainda tem chances de voltar
atrás.
Sabia da decisão que tomei ao me mudar de agência, mas fiz isso para ficar perto dela,
não ligava para o dinheiro. Além disso, o Richard era um homem de negócios e leal aos seus
empregados. Claro que Benny, o meu antigo chefe, também era. Entretanto para estar perto de
Sophie, eu faria qualquer coisa.
― Não temos nada para falar sobre isso, eu não volto atrás. Além do mais, eu não posso
me livrar de outro contrato. ― Meneei a cabeça de lado. ― Achei que Richard e você eram
amigos. Pelo que me disse, ele está ansioso para que eu corra para eles.
Ela fez uma careta.
― Depois falamos disso, mas é uma loucura o que está fazendo, porque vai perder muito
dinheiro. E para quê? Não faz sentido. ― Sophie parecia confusa.
― Não precisa entender. E também não é só por sua causa que vou trabalhar em
Manhattan. ― Tinha meus amigos lá e minha mãe, sabia que ela nunca se incomodou comigo ou
ligou, mas ela estava doente, com demência e, eu não podia simplesmente abandoná-la. Embora
não pretendesse contar a Sophie ainda, deixaria para dizer mais para frente.
Assim que ela saiu para encontrar as meninas, os caras vieram até mim. Sabia que alguns
estavam por dentro da minha história com a Sophie — Ryan e Jordan — contei a eles um tempo
atrás. Ryan sabia desde a compra da Editora, só que pedi para que não dissesse nada até estar
tudo resolvido com a lei e tudo mais. Não queria que nenhum bandido cercasse minha menina a
procura de vingança por seu negócio ter sido interrompido.
Jordan soube assim que Sophie veio visitar a casa dele algum tempo atrás e ele ouviu as
duas falando de mim, então contei tudo sobre Sophie e o que fiz para ficar longe dela para o seu
bem e o de sua família.
― Achava que éramos amigos e aqui está você, guardando segredos de mim ― acusou
Lucky, mas não vi censura em seu tom.
Lucky era um empresário bem sucedido e um homem que teve uma vida de cão quando
pequeno, mas deu a volta por cima e agora tinha uma esposa, filha, filho e amigos.
― Não foi por maldade, mas aconteceram muitas coisas com o meu pai, o bandido do
Franklin que usava a Editora como esconderijo de tráfico humano, minha mãe, e Sophie. Tudo
isso bagunçou a minha cabeça ― expirei, me controlando. ― Deixá-la foi a coisa mais difícil
que já fiz.
― Sabia que era altruísta a ponto de fazer uma escolha dessas ― disse Jason. ― Não sei
se faria tal coisa.
Suspirei.
― Acredito que faria. Você só nunca chegou a ser encurralado ao ponto de ter que fazer
uma escolha. Porque quem ama de verdade faz sacrifícios. ― Peguei um taco. ― Querem jogar?
Passamos as próximas horas jogando bilhar e conversando, mas eu queria mesmo era
estar com a Sophie. Aliás, sempre. Talvez pudéssemos passar a semana juntos, afinal, eu só tinha
que trabalhar na próxima semana. Mas isso se ela não estivesse ocupada demais.
― Talvez tenha razão, sabe? Sobre fazer sacrifícios. Por Taby, eu sou capaz de tudo
nessa vida. ― Sorriu Jason e bateu de leve no meu ombro. ― Espero que nunca chegue a fazer
tal escolha. Agora vamos apreciar as nossas mulheres.
Sorri também.
― Acho que agora você acabou com as festas e mulheres. ― Ryan suspirou. ― Mas
pensando bem faz tempo que não vejo você com uma.
Fazia sim. Desde que soube que Sophie tinha deixado o seu namorado — nem sabia o
motivo do término, mas eles ficaram juntos por quase um ano mais ou menos. Isso foi depois da
morte do meu pai. Foi um dos motivos que me impediu de ir até ela assim que ele se foi.
Não gostava de pensar nela com outros homens, mas não poderia viver do passado.
Agora só queria Sophie e não ligava para isso, já tive tempo demais para sofrer quando soube
que ela tinha namorado. Claro que não seria ingênuo em pensar que ela me esperaria a vida toda,
afinal nem eu sabia quando me livraria do meu pai.
Uma vez, eu fui até onde os pais dela moravam a sua procura; meu pai ficou sabendo e os
Winters quase perderam sua fazenda, então tive que intervir para que não acontecesse. Uma das
muitas vezes que quis matar meu pai. Sabia que era errado desejar a morte de alguém ainda mais
sendo da família, mas aquele maldito velho abusava do seu poder e colocava dívidas onde não
tinha, foi assim que aconteceu com os pais de Sophie. Eles não deviam nada, mas surgiu uma
dívida imensa para eles pagarem, tudo graças à corrupção do meu pai. Por isso, eu tinha certeza
da sua participação nas tramóias de seu antigo sócio Franklin, que foi preso.
Também por ele quase ter matado a Sophie; procurei provas para mandá-lo para a cadeia,
mas Michael conhecia muita gente influente. Depois que soube do cartel, entendi o motivo de
nunca ter chegado a nenhum resultado.
― Pode ser, pois não havia sentido ficar com outras mulheres sendo que só quero uma na
minha vida. Agora que toda essa merda acabou, eu vou lutar para reconquistar a confiança dela e
ter seu amor de volta. ― Aquilo era uma promessa que eu manteria até meu último fôlego de
vida.
― Não acho que precisa lutar muito. Eu vejo a forma que ela olha para você, da mesma
forma que a rosa vermelha me olha ― disse Lucky. ― Nunca estive mais feliz desde que ela
entrou na minha vida.
Ganhei deles no bilhar, mas perdi para o fodido do Jordan que era melhor do que eu
naquele tipo de jogo, e também fazia tempo que eu não jogava, então estava enferrujado.
Fomos para a área da piscina, onde as garotas estavam sentadas e conversando. Parei
assim que Sophie estava se preparando para pular na piscina. Ela vestia um biquíni branco que
combinava com sua pele, tornando-a mais linda. Cabelos soltos nas costas e curvas que eu estava
louco para passar as mãos e possuir por completo, me saciar da fome que estava sentindo.
Entretanto não foi isso que me fez parar, mas sim o que estava acima de sua bunda
perfeita e redonda onde fica a bacia. Estava escrito em hebraico ‫תזדיין אותי‬. Foda-me.
― Porra! ― grunhi, porque notei que algumas pessoas também entenderam o que estava
escrito; uns caras que estavam por perto. ― Como ela pode escrever isso?
Ouvi a risada do Lucky logo atrás de mim.
― Não são todos que entendem o significado, não é? ― Olhou para meus amigos.
Sacudi a cabeça.
― Você entende, então os outros podem entender também ― grunhi com os punhos
cerrados.
Ele sorriu.
― Eu entendo, porque tenho uma empresa lá e precisei aprender o idioma para facilitar
sem precisar de tradutor ― disse.
― Também entendo, porque viajei bastante ― comentou Jason indo até onde Tabitta
estava sentada na cadeira. ― Oi, linda. Como você anda?
― Muito bem, querido só esperando por você para entrarmos na piscina. ― Ela sorriu.
Taby era uma loira deslumbrante que tinha meu amigo na palma da mão.
Fui até Sophie que estava se preparando para pular na piscina e passei meus braços a sua
volta fazendo com que ela desse um gritinho assustado, então relaxou assim que me viu.
― Tatuagem interessante. Eu só não sei se concordo que todos os machos desse lugar
lêem e tentem fazer um avanço. ― Beijei seu ombro. ― Se fizerem, eu vou ter que colocar as
aulas que tive em prática e ensinar uma lição para esses bastardos.
Ela sorriu para mim.
― Aprendeu a lutar? Lembra-se da vez que te chamei para participar de uma e você não
aceitou? Aposto que estava com medo ― provocou.
― Medo, hein? Vou te mostrar o medo. ― Peguei-a nos braços, rindo.
― Tá doido? Coloque-me no chão, seu idiota, nós não somos mais adolescentes
imaturos... ― ela se interrompeu assim que pulei na piscina com ela nos meus braços.
― Idiota! ― gritou, voltando a cabeça molhada na superfície e limpou a água dos olhos.
Sorri. Senti tanta falta daquela garota; os anos que fiquei longe foram terríveis. Eu não
queria fazer aquilo nunca mais. Fiz um juramento e pretendia cumprir. Por hora, eu iria
aproveitar aquele momento ao lado dela e dos meus amigos. Em seu peito tinha outra tatuagem
que dizia: Alma gêmea. Lembrava-me de ter dito que ela era minha alma gêmea.
― Ficou linda! ― A alisei.
Ela bufou.
― Você só quer pegar no meu peito ― brincou.
Ela não estava errada.
― Isso significa que perdeu a aposta? ― gritou Angelina na beira da piscina.
Ela vestia um biquíni preto e sorria brilhante.
― Aposta? ― Sophie limpou os olhos e a encarou.
― Há Alguns anos, nós fizemos uma aposta de que todos eles seriam domados por uma
mulher, eles disseram que não, mas aqui estão todos...
― Domados? ― Sophie sorriu, terminado a frase. ― Por que o Daniel perdeu?
― Porque tinha um prazo, e ele não se apaixonou no dia certo, então...
Peguei a cintura de Sophie.
― Na verdade foi antes disso, amei a Sophie desde os meus dezessete anos, acho que
antes disso, então venceu a aposta Angelina. Marca o dia e, eu darei o que prometi.
― Vou fazer uma festa para comemorar ― anunciou Angelina. ― Assim que marcar, eu
te aviso.
― Estaremos lá ― prometi e beijei o ombro da minha garota, me esquecendo de todos a
minha volta. Naquele momento só existia a Sophie.

Sophie
Estávamos nos divertindo no clube, meus amigos e eu, mas tinha alguém ali que eu
precisava resolver as coisas também, não era só com Daniel.
Lucky estava sentado ao lado de Sam com um sorriso imenso, meu peito inchou com
alegria por vê-lo feliz. E meu coração cortou ao pensar que em breve eu teria que dizer o que
tinha. Por hora revelaria que era sua irmã.
Levantei-me da cadeira e me virei para Lucky. Havia chegado a hora da verdade.
― Posso falar com você a sós? ― Não queria soltar a coisa na frente dos amigos dele,
claro que depois poderíamos dizer, só não queria jogar de supetão e pegá-lo desprevenido.
Lucky franziu a testa, olhando de mim para o Daniel e Sam e depois para mim, então
assentiu e se levantou.
― Sophie? ― Daniel parecia confuso.
Virei-me e dei um selinho em seus lábios.
― Não vou demorar, assim que conversar com ele, eu falo com você também e com os
outros. ― Me afastei dele e fui a um canto mais afastado do clube.
Pelo que notei aquela era uma área que não tinha muitas pessoas, era somente nós, acho
que devia isso aos irmãos King, pelo que ouvi. Onde eles estavam precisavam fechar o lugar ou
não conseguiriam ficar tranquilos pela quantidade de fãs.
Lucky me seguiu e assim que estávamos afastados, ele se virou para mim com o cenho
franzido.
― É algo relacionado ao Daniel? ― sondou.
Sacudi a cabeça.
― Não. Já faz tempo que queria te contar, desde a festa de Laurel para ser mais exata,
mas então veio Daniel e tudo se enrolou. Não posso mentir para você temendo pelo pior. ― Eu
divagava, sem entender o porquê do nervosismo.
― Você está me deixando confuso Sophie. O que precisa me dizer que Daniel não pode
saber... ― ele se interrompeu e ficou tenso ― Será que você...
Pisquei, entendendo o que estava me dizendo.
― O quê? Não. Eu jamais pensaria em você dessa forma ― expirei fundo e soltei de uma
vez. ― Sou sua irmã.
Arfou.
― O quê? ― Piscou.
― Sou adotada, e há pouco tempo um amigo meu me ajudou a descobrir sobre os meus
parentes, então localizei a Mary, que está na cadeia por tê-lo roubado. Descobri que você é o
filho que ela abandonou em uma casa sozinho para morrer. Não foi diferente comigo, pois aquela
mulher me deixou em uma maldita lixeira, se não fosse pelos meus pais, eu não sei o que teria
sido de mim. ― Olhei para seus olhos estatelados.
― Você é mesmo a minha irmã? ― Sua voz saiu grossa. ― Soube disso há pouco tempo,
e pedi para o meu cunhado descobrir onde você estava.
― Estava a meses procurando pela minha família, mas descobri sobre vocês no dia da
festa da Laurel. Fui visitá-la a fim de descobrir os motivos que a levaram a nos abandonar, mas
nela só vi frieza e desdém. ― Sacudi a cabeça, limpando os olhos. ― Ela também disse que
temos mais um irmão ou irmã, a puta velha não me deu muitas informações, mas que tínhamos
mais um e pediu dinheiro para nos revelar o nome.
― Mary me disse que temos uma irmã. ― Ele soltou um suspiro. ― Pensei em dar o que
ela quer, já que dinheiro não é o problema. Mas ela quer ser solta e, isso sim é um problema,
aquela mulher é uma sociopata. Acabou de surgir alguns casos em que ela matou seus maridos
com veneno apenas para ficar com a grana deles.
Ofeguei.
― Merda, eu não sabia disso! Mas não me surpreendo depois de tudo o que nos fez, e
onde nos deixou. ― A minha voz falhou. ― Será que nossa irmã foi jogada e, largada como
nós?
― Não sei, mas não duvido de nada. ― Chegou mais perto de mim. ― Por que não me
disse antes?
― Ia contar na festa, mas então passei mal e depois veio o Daniel e não consegui pensar
em mais nada.
Ele colocou a mão nos cabelos.
― Porra! Você é minha irmã, a mesma mulher que Daniel ama. ― Ele parecia falar
consigo mesmo. ― Você tinha passado mal naquele dia, era gravidez ou queda de pressão?
Podia revelar a verdade, mas não podia ainda; não queria que sofresse ao saber da minha
condição. Esperaria mais uma semana, aí revelaria tudo, primeiro tinha que contar ao Daniel.
Ri.
― Grávida? Não, foi só um mal-estar. ― Sorri para ele. ― Quando soube que tinha um
irmão, eu fui até você no hotel em que estava aqui, mas tive medo de me aproximar e dizer quem
eu sou...
Franziu a testa.
― Por quê? Não devia ter medo. ― Pegou minha mão e apertou.
― Não sei, acho que uma parte de mim acreditava que você pensaria que sou igual a
nossa mãe, interesseira e sem escrúpulos, embora tivesse contado sobre mim antes, só não fiz por
causa de Daniel ― sussurrei. ― Queria ter ido lá e te abraçado e dizer o quanto me sentia feliz
por ter um irmão como você.
Ele me puxou para seus braços e beijou meu cabelo.
― Estava ansioso para conhecê-la e jamais pensaria tal coisa de você. Se Daniel a ama e
fez muitas coisas por você, é por que vale a pena, e também conheço pessoas que não valem
nada. Seus pais te criaram muito bem, minha irmã. ― Seu tom saiu triste no final. ― Só falta
encontrarmos a nossa outra irmã.
Alguém arfou do nosso lado.
― Nossa irmã? ― Era a voz de Daniel.
Afastei-me e olhei para ele ali parado ao lado de Sam, com os olhos arregalados. Acho
que ao nos verem abraçados, eles se aproximaram para buscar explicações, eu teria feito o
mesmo, isso se não quebrasse a cara dele antes.
Lucky segurou minha mão e estendeu a outra para a sua esposa, que estava confusa, mas
pareceu esperançosa.
― Rosa vermelha, eu achei a minha irmã. Bom, ela me encontrou. ― Lucky parecia
eufórico.
Fui até Daniel e peguei a sua mão.
― Ia contar a você, depois de Lucky, mas você veio antes e ouviu o final ― falei.
― O que queria que eu fizesse? Vimos vocês dois abraçados e, eu quis quebrar a cara do
Lucky. ― Daniel sacudiu a cabeça, olhando entre nós dois. ― Então são irmãos? Merda, nunca
nem suspeitei que isso fosse possível.
― Nem eu ― anunciei. ― Mas procurei por meus parentes há algum tempo e na semana
passada, eu soube quem eram; tive o prazer de ter o Lucky como irmão, já a minha mãe
biológica foi um desprazer, nenhuma mãe é igual aquela cobra venenosa.
Sam sorriu para mim e veio me abraçar.
― É um prazer saber que você é minha cunhada, até achei que teria que bater nos dois
por se abraçarem desse jeito.
Ri também.
― O único homem que me importa é o Daniel, acredito que me estragou para todos os
outros. ― Afirmei a verdade.
Daniel beijou meu rosto.
― Fico feliz em ouvir isso. ― Ele parecia extasiado.
Naquele momento, eu me senti completamente feliz; tinha o cara que eu amava, e meu
irmão ao mesmo tempo.
Capítulo 11
Sophie
Quando Daniel me contou toda a história que aconteceu com ele e o motivo que o levou a
me deixar, eu quis ficar furiosa com ele, aliás, fiquei por um tempo, mas já senti raiva por anos.
Então assim que ele me explicou, eu entendi e isso amenizou a minha fúria.
Entretanto, o que fez com que minha mente mudasse mesmo foram as palavras da minha
mãe, quando ela disse que eu precisava viver, porque a vida era curta. Ela não quis dizer que eu
morreria, obviamente, era só maneira de falar, mas não deixava de ser verdade. Eu poderia não
ser capaz de sobreviver, afinal corria o risco de Lucky não ser compatível, mesmo sendo meu
irmão.
Poderia já ter dito a ele a verdade sobre a minha doença, mas precisava de mais tempo,
não só por que me assustava imaginar a reação de Lucky temendo que se machucasse. Também
teria que contar a verdade ao Daniel, e nós nem havíamos começado ainda.
Queria isso, queria dar uma chance a nós, pois já tínhamos perdido muitos anos. Sabia
que tivemos caminhos separados e, mesmo assim, eu desejava viver todos os meus momentos
com Daniel, porque nunca o esqueci, nem cheguei perto.
Com Daniel, quando namorávamos, eu nunca pensei na palavra fim, aliás, planejava
viver com ele a minha vida toda, casar e ter filhos. Um sonho que foi interrompido por anos por
causa do pai dele. Sabia que o maldito estava morto e não deveríamos blasfemar dos mortos, mas
aquele filho da puta merecia muito mais.
No clube Trons, nós tivemos momentos maravilhosos, que eu estava louca para passar
com ele, além de contar os minutos para a nossa noite, juntos. Jantaríamos e conversaríamos;
esperava que depois que ficássemos sozinhos, eu pudesse matar a saudade que tinha dele, de
tocar e beijá-lo, de senti-lo dentro de mim, o som que fazia quando ficávamos juntos. Só de
pensar, eu começava a sentir uma pulsação dolorosa entre minhas pernas; um desejo louco para
ser saciado.
Depois do clube, eu e as meninas, Tabitta, uma loira de olhos verdes, Samantha, minha
cunhada, Angelina e Laurel fomos ao salão de beleza e ao Shopping. Precisava me arrumar para
a noite; estava tão ansiosa que mais parecia uma adolescente louca para ter seu primeiro
encontro.
― Então você decidiu dar mais uma chance para Daniel? ― perguntou Laurel.
A moça estava arrumando nossos cabelos, o meu deixei da mesma cor e apenas aparei as
pontas.
― Não tem sentido lutar contra esse sentimento, já tentei por anos e não resolveu nada.
Cansei de lutar contra isso, então hoje só quero viver... ― como se fosse o último, pensei em
complementar.
Ela sorriu.
― Fico feliz com isso.
― Também estou. O cara me passou tanta raiva, mas estou cansada de tudo isso. ― A
vida era curta e tínhamos que aproveitar cada segundo. ― Mas então me diz: como anda o Aras?
Soube que comprou mais cavalos.
Seus olhos brilharam mais. Era sempre assim quando comentava sobre seus cavalos e o
Aras. Assim como eu me sentia com a minha profissão. Eu amava ser fisioterapeuta, ajudar e
incentivar as pessoas a se estabilizar e a se curar.
― Jordan comprou dois da raça Árabes para mim no mês passado ― disse ela.
― O que aquele homem não faz por você, não é? ― Sacudi a cabeça, sorrindo.
Laurel desde a adolescência foi apaixonada por Shade, o seu meio irmão, não de sangue,
claro, mas esse amor nunca foi correspondido. Ela o amou até conhecer Jordan no casamento de
Shade. Agora os dois estavam casados e felizes e com a minha bonequinha linda. A filha deles.
Toda vez que olhava para Jordana, eu sentia uma imensa vontade de ser mãe, embora não
tivesse certeza de que seria possível, pois talvez não conseguisse ser curada. Nunca perguntei
isso ao doutor, mas assim que tivesse a minha próxima consulta, eu falaria com ele e perguntaria
sobre isso.
― O Daniel não fica atrás, Jordan disse que ele tentou se aproximar de você uma vez
antes de você namorar aquele cara ruivo. ― Me olhou de lado.
― Neil? ― Franzi a testa. ― Não me lembro do Daniel aparecendo lá.
Em todos esses anos, eu não o vi pessoalmente, sempre foi através da TV ou revista onde
falava de sua profissão ou até sobre o que aconteceu com o pai dele.
― Sim, o pai dele descobriu que ele veio a sua procura e não sei como, aliás, eu sei sim,
ele comprou os malditos homens que colocaram uma dívida imensa na fazenda dos seus pais,
que se o Daniel não tivesse pagado, eles teriam perdido. Talvez se recorressem, mas isso
envolveria advogados e gastos, então o Daniel cuidou disso e ficou longe até que o pai morreu.
Aí depois você começou a namorar com o Neil e ele se manteve longe para não estragar tudo. ―
Ela suspirou. ― Um amor estilo romance de livro, não acha? Angelina vai ter uma lista infinita
de livros para escrever.
Pisquei, chocada. Não acreditava no que ele tinha feito por mim. Mas como ainda tinha
dúvida? Daniel sempre foi bom com todos e ainda mais com quem ele amava.
Lembrava-me de que minha mãe dizia que toda a sogra iria adorar ter o Daniel como
genro, assim também dizia o papai. Depois que os dois descobrissem o que mais ele fez por nós
certamente o tratariam como um deus. Ele era um deus grego, embora não fosse esse o motivo
para meus pais gostarem dele.
Desejava saber agradecer infinitamente pelo que ele fez a mim; se sacrificou tanto por
mim como pelos meus pais, diferente da cadela da minha mãe verdadeira que me jogou na lixeira
da casa dos meus pais. Se não fosse uma das câmeras da casa onde meus pais moravam, eu
nunca teria descoberto quem era a vadia desalmada.
Então agradecia por tudo o que Daniel fez para por mim, pois isso provava o quanto me
amou e ainda amava, porque se não amasse, ele não estaria atrás de mim.
Não acreditava que o destino fosse tão fodido assim, que nos manteve separados em
todos aqueles anos; a dor, raiva e desilusão que tive, não só eu, mas Daniel também. Agora que o
tinha talvez não pudesse viver nosso amor.
O que podia fazer era apenas dar mais uma chance e lutar, dessa vez contra o maldito
destino que queria nos separar por causa de uma doença. O passado dele com outras mulheres
não era mais importante, mas sim aquela doença onde arriscava a nossa separação.
Após ajeitar meu cabelo no salão com as meninas e ajeitar o vestido certo, eu me senti
esgotada, como se tivesse corrido bastante e de repente me sentisse cansada. Também me senti
febril.
Conversei mais com a Laurel, mas antes de contar sobre mim, eu queria contar ao Daniel
e ao Lucky. Não podia contar a mais ninguém antes deles, pois seria covardia e traição.
Ele tinha uma entrevista e um ensaio em Savannah dentro de três dias, e assim que
voltasse contaria tudo. ― Me liga para contar como tudo aconteceu ― pediu Laurel. ― Apesar
de saber que vai ser mais do que perfeito, aquele homem morre por você.
Não gostava de pensar naquela palavra, pois ela andava pairando muito na minha vida
nos últimos meses.
― Pode deixar ― assegurei com um sorriso.
Cheguei em casa com algumas coisas que comprei para mim e aos meus pais.
― Mamãe, eu cheguei! ― chamei e logo me sentei no sofá, ofegante, com tontura e
náuseas. Odiava me sentir assim tão enfraquecida. ― Droga!
Ela apareceu na porta da cozinha e arregalou os olhos quando me viu ali, encolhida.
― Meu Deus, Sophie! O que houve? ― Correu até mim e tocou minha testa. ― Está
ficando quente... ― ela pegou minha bolsa ― Onde estão os remédios?
Expirei fundo, tentando não preocupá-la com isso, por isso não quis voltar para Dallas
depois que descobri sobre minha doença. Assim ela não presenciaria meu corpo definhando.
― No quarto. Eu acabei me esquecendo de levá-lo hoje cedo ― sussurrei. ― Desculpe,
mamãe.
― Temos que entrar em contato com o seu irmão, não posso ficar esperando você tomar
a decisão. ― A dor estava em cada palavra dela.
Escorei nas costas do sofá e encarei minhas mãos que estavam suando frio.
― Eu sei. Vou resolver isso.
Mamãe alisou meu rosto. ― Não quero perder você, meu amor, eu não posso...
― Não vai, mamãe. ― Não queria que ela se preocupasse com isso, então por enquanto
deixaria quieto.
― Preciso subir e me arrumar para sair. ― Fui me levantar, mas senti uma tontura.
― Não pode sair desse jeito, precisa descansar. Já se divertiu, é ótimo que aconteça, mas
precisa ter mais cuidado, não pode se esforçar muito ― pediu. ― Agora vamos subir que vou
preparar uma sopa enquanto você toma os remédios. Seja o que for que ia fazer hoje vai ter que
adiar para não ceder demais.
Sabia que ela tinha razão, mas não queria ficar em casa e desmarcar o meu encontro com
o Daniel.
― Resolvi seguir o seu conselho e dar uma chance para Daniel, ainda mais depois de
saber o que ele fez por mim. ― Olhei para ela. ― Tinha razão sobre ele.
Contei tudo a ela o que Daniel fez por minha causa e por eles. Assim que terminei havia
lágrimas em seus olhos; pude ver tristeza, gratidão e um forte carinho. Sabia que ela havia dito
sobre o preço da fazenda ser menor do que as outras das redondezas quando comprou e tudo
graças a ele. Também sobre a bendita hipoteca falsa que meus pais enfrentariam só porque
Daniel resolveu me fazer uma visita, o que nunca aconteceu, já que o pai dele descobriu antes.
― Oh, Deus! Não consigo imaginar o que o menino Daniel deve ter passado ― sussurrou
com os olhos molhados. ― Ele é um garoto de ouro, ainda mais agora que soube o que fez, além
de tê-la deixado para sua proteção. Aquele senhor Luxem era um monstro por tentar matá-la...
Ela me deixou na cama e me entregou os remédios. Aquela era a minha rotina desde que
descobri sobre minha doença, mas tinha esperanças de que logo não precisaria mais deles.
Odiava remédios, sempre odiei.
― Eu sei que ele foi um idiota. O que ele fez por você e pelo papai, por mim também.
Isso me fez pegar leve, apesar de ainda estar brava por ele não ter me contado. Queria ter estado
do seu lado. ― Sacudi a cabeça.
― Se o senhor Luxem mandou alguém cortar os freios do carro, significa que ele era um
monstro ― expirou. ― Fique deitada, eu já volto. Vou fazer sua sopa.
Sorri um pouco, me sentindo melhor da fadiga e tontura, mas acho que ainda tinha febre.
― Nunca gostei daquele velho que achava que todos os pobres eram lixo, e só quem era
da sociedade que eram gente. ― Meneei a cabeça de lado. ― Mas... Mãe?
― Sim, querida? ― Seus olhos eram avaliadores, acho que de preocupação.
― Eu ia sair com o Daniel hoje, até comprei um vestido para usar, mas como vou me
sentindo mal desse jeito? Não quero contar sobre a doença por enquanto, preciso ver como ficará
a nossa relação antes. Eu quero que ele fique comigo, porque quer e não por pena. ― Sabia que
era bobo pensar assim, mas não conseguia evitar. Queria algo real com ele sem pensar que tudo
fizesse parte de um sonho.
Ela arregalou os olhos.
― Vocês iam a um encontro? ― Mamãe parecia triste e, ao mesmo tempo, feliz.
Assenti.
― Sim, mas agora estou tão esgotada que não sei se vou conseguir ir...
Mamãe suspirou.
― Que horas está marcado o encontro? Talvez possa descansar um pouco e assim que
acordar esteja se sentindo bem, aí poderá ir. Ou então vocês fiquem por aqui mesmo. ― Colocou
o cobertor sobre mim e passou a mão em meus cabelos como fazia quando era criança e, eu
ficava doente.
― Talvez tenha razão, afinal ainda faltam algumas horas até as sete ― murmurei
expirando e fechando os olhos.
Acordei ouvindo vozes não muito longe de mim. Reconheci a voz da minha mãe e a do
Daniel. Ele estava ali? Então veio para o nosso encontro?
― Foi tão difícil ficar longe dela. Cada dia que passava, eu quis pegar o carro ou avião e
ir até onde Sophie estava, mas sempre dizia a mim mesmo que não podia. ― A dor e raiva na
voz dele eram evidentes, certamente que direcionada ao pai.
Já tive minha cota de raiva e também tinha coisas mais urgentes com as quais me
preocupar para pensar na dor que o velho nos causou. Além do mais, ele nem estava entre nós.
― Sinto muito, querido, por tudo. Você sofreu tanto quanto a minha filha. ― Mamãe
disse baixinho.
― Está tudo bem, senhora Winter, eu não quero pensar no passado, só no presente ao
lado de Sophie. ― Senti dedos na minha bochecha.
Poderia dizer que estava acordada, mas não queria estragar o seu momento com minha
mãe. Também estava amando seu calor em volta do meu corpo.
Tantas vezes que passei mal, mas estava sozinha na minha casa em Manhattan... isso se
tornava pior, mas ali estava meus pais e Daniel, com eles ao meu lado ficava mais fácil lutar e ter
esperança de me salvar.
― Mesmo assim não deve ter sido fácil. Sempre te amei como um filho, aliás, eu te criei
e limpei suas fraudas...
― Não é bom para um homem formado ouvir coisas assim. ― Daniel parecia estar rindo,
porque senti seu corpo tremer. Minha cabeça estava apoiada em seu peito duro, mas tão
confortável.
Mamãe riu, parecendo deliciada.
― Sei que é um homem, mas ainda me lembro da vez em que me chamou de mãe, então
tive que ensinar você que era errado, porque sua mãe era a Felícia. Acho que ela ficava muito
tempo fora e você só tinha a mim e ao Antônio. ― Seu tom de voz parecia triste. ― Um
garotinho lindo e alegre que não deixou nenhuma vez com que seu sorriso no rosto desvanecesse.
― Minha mãe sempre foi chegada à aparência, ir a bailes, compras e outras coisas banais,
então nunca fui sua prioridade, sempre fui deixado para escanteio. ― Sua voz era baixa. ― Se
não fosse por vocês, eu teria uma vida de solidão.
― Sempre amei você como um filho, claro que fiquei com raiva quando partiu o coração
de Sophie. ― Suspirou. ― Depois soubemos o que fez.
― Não fiz nada que não fosse o certo. Como disse, eu tenho vocês dois como os meus
pais. ― Ele pareceu respirar fundo e o senti encolhido. ― Sinto tanto por tê-la feito sofrer. ―
Senti um calor de algo macio na minha testa, acho que foram seus lábios. ― A febre abaixou,
não gosto de como ela fica doente. Será que foi por que eu a joguei na piscina? Não sabia que ela
podia ficar resfriada com isso.
Se ele soubesse o que eu tinha ficaria louco. Não pretendia esconder para sempre, mas
queria aproveitar um pouco mais ao lado dele.
― Foi só um resfriado. Eu já estava com ele antes de entrar na piscina ― falei,
mostrando que estava acordada. Levantei a cabeça e olhei para os seus belos olhos que pareciam
carregados de culpa. ― Além disso, não foi por sua causa, eu já estava de biquíni, então
obviamente eu pretendia entrar na água, não acha?
― Sophie...
― Vou deixar vocês a sós ― disse mamãe se colocando de pé e se afastando da poltrona
perto da cama. ― Você está bem, querida?
Sorri para tranquilizá-la.
― Sim, estou melhor, então não se preocupe. ― Suspirei. O cansaço estava controlado.
― Que horas são? Acha que dá tempo de irmos jantar?
Eu fui me levantar, mas Daniel não deixou e me fitou intensamente.
― Daniel...
― Fique aqui, eu vou arrumar algo se estiver com fome, mas não vamos sair hoje.
Vamos ficar aqui até você se recuperar, não quero que fique mais doente. ― Ele me colocou
com a cabeça no travesseiro e se levantou.
Não tinha notado, mas ele estava usando um terno escuro que destacava bastante sua
beleza, tornando-o mais lindo que já era. Daniel sempre gostava de se arrumar; ele nunca foi do
estilo Bad Boy com jeans e camisas largas, mas sim chegado a ternos.
Ele tirou o terno e ficou só com a camisa branca.
― Fique aqui que vou cuidar de tudo...
Sacudi a cabeça.
― Não, eu preciso me levantar. ― Me sentei na cama com os pés no chão.
Minha mãe já tinha saído de fininho e deixado nós dois sozinhos. Ela era uma mãezona
de primeira, nunca tive tanta sorte em tê-la na minha vida.
― Sophie, eu cheguei aqui essa noite todo alegre com o nosso encontro, nunca me senti
mais empolgado e emocionado, então sua mãe disse que você não estava se sentindo bem e, eu
fiquei louco. O bom que é só uma gripe, né? Com os remédios você ficará boa em pouco tempo.
― Ele tocou meu rosto. ― Então poderemos ter um encontro de verdade. Por hora vamos comer
aqui.
Senti meu corpo quente e não tinha nada a ver com a febre de horas atrás, mas pelo toque
dele que emanava em minha pele de forma abrasadora.
― Você fica lindo de terno. ― Coloquei meus braços a sua volta e o puxei para mim. ―
Estava ansiosa por hoje, ainda mais depois de ter descoberto que você veio atrás de mim depois
da morte do seu pai. Eu lamento que ele tenha te obrigado a se afastar e que não tenha
conseguido provar que ele era o mandante do meu acidente.
Daniel me sentou na cadeira perto da mesinha próxima a cama e ficou na minha frente.
― Fique aqui que vou pegar sua comida. Já volto para podermos conversar sobre o que
quiser. ― Ele deu um beijo na minha testa e saiu antes que eu dissesse algo.
Sempre gostei dos cuidados dele. Uma vez, eu machuquei o meu pé e fiquei alguns dias
sem poder andar. Daniel ficou do meu lado e me carregou em todos os lugares. Andava em suas
costas como uma garotinha e, eu amei cada momento. Certamente ali não seria diferente.
Peguei minhas roupas e fui para o banheiro, pois precisava tomar banho para tirar o suor
que estava grudado em meu corpo deixando-o pegajoso devido à febre que tive.
Já que não podia sair pelo menos ficaria de banho tomado ali no quarto.
― Sophie? ― Ouvi Daniel me chamar do quarto.
― Estou tomando banho ― gritei de volta. ― Já vou sair logo.
Antes que eu desligasse a água a porta foi aberta num rompante e ele emergiu ali com os
olhos preocupados, porém os arregalou assim que me viu nua.
― Sua mãe contou que além de febre você estava com tontura. ― Ele correu até onde eu
estava. ― Se ficasse tonta enquanto estava aqui no chuveiro? Poderia cair e se machucar Sophie.
Poderia ter rido dele pelo exagero, mas sua preocupação era evidente, então me acalmei e
deixei meu coração ser aquecido por isso.
― Estou bem. Só precisava tomar um banho antes de comermos ― falei indo até mais
perto dele.
Sabia que por ter passado mal, não deveria estar pensando em seus braços a minha volta e
ele dentro de mim, mas não conseguia evitar.
― Sophie, pegue isso ― ele olhou meu corpo por um breve segundo e, em seguida, me
deu uma toalha.
Poderia ter me sentido insultada por isso, mas a forma que seus olhos devoraram cada
centímetro do meu corpo nu, me acendeu, porque vi o fogo ali. Embora tivesse escondido logo
depois.
― O que foi? Não gosta do que vê? ― provoquei, mas me enrolei na toalha.
Seus olhos foram para o meu rosto enquanto me oferecia um sorriso lindo o qual tanto
senti falta e amava.
― Não sabe das coisas que quero fazer com você, a forma que quero possuir cada
polegada sua. ― Sua voz se tornou rouca e, então pigarreou: ― Mas está doente, então vamos
ter um pouco de paciência e depois vou fazer tudo que eu quiser, por horas.
Ri, sacudindo a cabeça enquanto me vestia com um pijama de bolinha.
― Você se acha mesmo, não é? Vejo que isso não se perdeu. ― Sequei os cabelos.
Poderia retrucar, mas ele estava certo, embora o quisesse todo para mim naquele
momento, no dia seguinte e para sempre.
― Não, ainda posso ler você e seu corpo como o meu próprio, então eu sei o que deseja.
― Ele alisou meu rosto. ― Também quero fazer amor com você, mas o mais importante agora é
que se alimente e fique boa. Assim poderemos... ― abaixou os lábios nos meus me beijando de
leve, só um roçar de lábios.
― Está bem então ― murmurei de mau gosto.
Jantei sopa de galinha devido a minha falsa gripe, eu poderia dizer que não estava
resfriada, porque ao invés de sopa, eu poderia ter comido algo italiano ou mexicano.
― Está saciada? ― sondou, me levando para a cama. No relógio do despertador indicava
dez horas da noite.
Passei a mão no peito dele.
― Ainda não, mas vou ficar em breve. ― Sorri, deitando na cama e o puxando para mim.
― Pode ao menos dormir aqui? Eu preciso dos seus braços a minha volta.
― Não estava planejando em ir embora. ― Deitou-se na cama ao meu lado e se virou de
frente para mim. Seus olhos eram intensos nos meus.
Cheguei mais perto dele e coloquei a cabeça em seu peito assim como estava quando
acordei mais cedo.
― Não quero dormir ― sussurrei expirando o cheiro dele e fechando os meus olhos. ―
Tenho medo de que quando acordar amanhã... você não esteja aqui.
Ouvi-o respirar fundo e suas mãos quentes em meu rosto, tão abrasadoras como o sol.
Isso me fez expirar fundo, porque amava cada toque dele.
― Sophie abra os olhos ― pediu, gentilmente, e continuou, assim que o fiz: ― Prometo
que estarei aqui amanhã cedo e no dia seguinte e assim por diante caso você quiser. Eu jamais
irei a lugar nenhum. ― Ele colocou a minha mão, que segurava, sobre seu coração onde batia
descompassado ― Isso aqui sempre foi seu e jamais vai mudar.
Sorri e descansei o rosto em seu peito duro, mas tão confortável e quente.
― Obrigada por tudo, por não desistir de mim ― sussurrei, não querendo pensar no
quanto a vida era injusta, pois voltei a tê-lo comigo correndo o risco de morrer.
Não, não podia pensar nisso, tinha que confiar que passaria por aquele vale e seria feliz
com o Daniel e minha família.
― Desistir de você é a mesma coisa que desistir da minha vida, minha alma. Eu jamais
farei isso novamente ― jurou intensamente.
Capítulo 12
Sophie
Cheguei ao hospital em Manhattan, porque tive que sair mais cedo de Dallas para minha
consulta; o bom foi que aproveitei cada segundo dos três dias que tive ao lado do Daniel.
Depois que me deu aquele mal-estar e tive que faltar ao nosso encontro, nós decidimos,
ou melhor, ele decidiu que deveríamos ficar na fazenda com os meus pais, onde aproveitamos
cada segundo ao lado um do outro. Apesar de que tinha algo me incomodando que, era o fato de
ele não ter me tocado intimamente de nenhuma forma, além de beijos, claro. Eu queria mais, só
que por alguma razão, ele estava hesitante, tinha certeza de que era por eu ter adoecido naquele
dia, mesmo dizendo que era só uma gripe.
‘’Você precisa se recuperar, depois nós faremos o que quiser’’ foram suas palavras.
Embora estivesse bem, ele tornou isso sério. Imagina quando soubesse o que eu tinha de
verdade?
Eu nem sabia até alguns dias atrás, mas alguns amigos da empresa em que eu trabalhava
vieram fazer exames para ver se eram compatíveis assim que souberam meu problema. Naquele
momento eu veria os resultados dos exames. Tinha esperança de que algum deles fosse, pois os
sintomas estavam um pouco mais fortes. Tinha amanhecido com um pouco de enjôo, o que era
uma merda.
Daniel estava em um compromisso em Savannah, mas voltaria logo para Manhattan, e
então nos encontraríamos em seu apartamento.
Era bom saber que ainda há pessoas boas no mundo, ainda mais ao ponto de fazerem uma
campanha assim, tudo graças ao Richard. Mesmo que nenhum deles fosse compatível comigo,
talvez fossem de outra pessoa, não é? Poderiam ajudar alguém com o mesmo problema que eu.
Meu telefone tocou assim que entrei no hall do hospital.
― Oi, como foi sua entrevista? ― perguntei ao Daniel. ― Não tive tempo de assistir.
Ele riu.
― Legal. Foi apenas uma conversa sobre a nova corrida que farei em alguns dias, a
primeira que farei para o Richard. ― Suspirou. ― Ele está ansioso por isso.
Sacudi a cabeça.
― Não duvido disso, ele sempre quis você trabalhando para a Speed. ― Isso era verdade.
Cansei de ouvi-lo comentando sobre contratá-lo. Na época, eu ficava torcendo para que não
fizesse, pois assim eu não correria o risco de vê-lo.
― Como está se sentindo hoje? Sua mãe disse que você esteve enjoada. ― Sua voz soou
preocupada, mas tinha um nuance que não entendi de princípio. ― Por que não me ligou?
Teria que ter uma conversa com minha mãe para que ela não ficasse comentando sobre
isso com Daniel, não antes de eu contar a verdade a ele.
― Estou bem, não se preocupe comigo. Minha mãe exagera demais. ― Tentei soar
calma, assim ele não notaria a minha preocupação com a consulta que teria em breve.
Sabia que mentiras em um relacionamento não era bom e não pretendia esconder isso
dele, mas precisava saber o que fazer, ainda mais depois da resposta do médico na consulta
dentro de alguns minutos. Tinha feito outros exames para ver o motivo de estar passando mal
direto, também mostraria os resultados.
― Tem certeza? ― sondou, ainda em dúvida. ― Se você estiver... sabe... quero que saiba
que não ligo se...
Levei um segundo para entender o que ele estava tentando dizer com suas palavras
enroladas. Pensei nos sintomas que estava sentindo e, alguns deles se pareciam com gravidez:
tontura, enjôos. Só a febre que não.
― Oh, não, eu não estou grávida ― assegurei. ― Não há a mais remota possibilidade de
isso ter acontecido, não se preocupe, Daniel. Se eu tivesse, você seria o primeiro, a saber. Acho
que já disse isso.
Até quando eu namorava com o Neil, quase não ficávamos juntos assim. Foi uma das
razões que levou ao nosso término, acho que procurou outra e me deixou. Pensando no passado,
naquele tempo, percebi que em nenhuma vez, eu chorei ou sofri por causa disso. Ainda não
conseguia entender o motivo de ter ficado um ano com ele.
― Só queria que soubesse que mesmo que estivesse não mudaria nada do que sinto por
você. Mas vamos conversar a noite assim que eu chegar. ― Ouvi verdade em seu tom. Meu
coração se aqueceu com o que ele disse.
― Tudo bem, mas prometo que não é nada disso. ― O tranquilizei.
― Se não melhorar precisará buscar um médico ― disse. ― Promete fazer isso?
― Sim, prometo. ― Desliguei assim que cheguei à recepção e vi a Kamile, a
recepcionista.
Ela era alta e usava óculos de grau, uma mulher bonita. Conversávamos às vezes. A
conheci depois que comecei a me tratar ali no hospital.
― Sophie! Que bom vê-la. ― Sorriu para mim.
― Também é bom vê-la. ― Olhei ao redor. ― O doutor está esperando por mim, ele está
atendendo agora ou vou ter que esperar?
Estava ansiosa demais e com os nervos à flor da pele; o meu coração batia forte no peito.
Poderia conversar com todos, mas só eu sabia o que estava sentindo ao torcer para encontrar
alguém, dentre todos que fizeram os exames, que fosse compatível.
— O doutor Eduardo está esperando por você ― disse com um sorriso doce, parecendo
bastante animador. ― Seja o que for que estiver nos exames, eu estou do seu lado Sophie pode
confiar.
Respirei fundo. Também tinha feito outros exames, então o doutor mostraria os
resultados hoje.
― Obrigada Kamile. Espero que seja um bom resultado. ― Entrei na sala.
O doutor estava sentado atrás da mesa, olhando uns papéis, mas parou assim que entrei.
O senhor de meia idade suspirou e me encarou. Tentei ler sua expressão e procurar saber o
resultado, mas era impassível.
― Boa tarde, senhor Michigan. ― Sentei na cadeira, que ele apontou.
― Prazer em vê-la, senhorita Winter ― disse e suspirou. ― Sei que está ansiosa pelos
resultados, tanto das pessoas que vieram fazer e também a respeito dos que você fez. Então, eu
vou direto ao ponto como me pediu uma vez.
Quando fui diagnosticada com aquela doença, o médico explicou várias coisas que não
entendi, então pedi para sempre ir direto ao ponto, porque seria mais fácil para meu
entendimento.
Pela expressão do médico, deduzi que a notícia não seria boa. Provavelmente nenhum
deles era compatível. Embora inda tivesse o Lucky, a minha única chance. Sabia que estava
enrolando para contar ao Lucky, mas primeiro precisava ver as opções que tinha nas mãos.
― Sophie, tem uma chance de vinte cinco a trinta por cento de o seu irmão ser
compatível. Por que não o traz?
― Então nenhuma daquelas pessoas é compatível? ― sondei, já sabendo a resposta.
― Não, lamento. Era um risco que teríamos. Por isso digo que se você tiver mais irmãos
ou até os seus pais, nós poderíamos fazer um teste. Entretanto com os pais as chances são
remotas, mas não impossível ― disse o médico. ― A compatibilidade é maior quando o doador
é da família.
― Eu...
― Não sei por que está hesitando em chamar o seu irmão, porque devo informar que as
coisas estão piorando. Se não conseguir um doador urgente os sintomas vão avançar, Sophie.
Ele falou mais coisas, mas minha cabeça estava longe tentando saber o que faria com
aquela descoberta. Não seria somente eu a sofrer com aquilo, meus pais e meus amigos também.
O que fazer? Não sabia se tinha mais irmãos espalhados pelo mundo, afinal de contas, a
Mary era uma mulher sem escrúpulos e ficava com vários homens ricos que davam uma vida
estável a ela. Até programou um roubo contra seu próprio filho, então o Lucky mandou prendê-
la.
Será que meu irmão seria compatível? E minha mãe também? Sendo que seria uma
chance mais fraca de compatibilidade? Além disso, ela nunca iria me ajudar. O difícil era ter
esperança com algo, e no final não acontecer o que tanto desejava.
Saí do consultório com o médico me dizendo para não desistir ainda e que também havia
a possibilidade de conseguir um doador compatível na fila de espera. Se quase dez pessoas que
fizeram exames e não deram em nada, então a fila de espera seria impossível. Já tive tanta
esperança, mas estava começando a findar.
Sabia que o médico tinha razão, mas se minha família de sangue não fosse compatível,
com que outra pessoa seria? Ainda mais em um curto período assim?
― Sophie!
Ouvi Weliton me chamando não muito distante, até que fui puxada para seus braços
fortes.
― Oh, querida, eu sinto muito pelo resultado, queria tanto que tivesse dado positivo... ―
sua voz falhou ― Não podemos perder a esperança.
Ele me puxou para sentar-se em um banquinho na frente do hospital, e ficou do meu lado.
― Agora o que faço? ― Meus olhos estavam molhados. Tinha esperança de que fosse
conseguir, mas percebi que só me restava a minha família de sangue, ainda assim as chances
eram de 30% a 40%, mas pelo menos tinha uma chance, mais do que alguém estranho.
Tocou meu rosto, limpando as lágrimas.
― Vou dar um jeito. Somos amigos a mais de décadas, então não deixarei ir assim tão
fácil. ― Ele também era médico ali no hospital. Um loiro de olhos de verdes.
Eu o conheci a mais de dez anos, logo depois que perdi o Daniel. A sua bravura e
sinceridade me faziam lembrar-se do amor que eu havia perdido, e logo viramos melhores
amigos. Ele tinha uma namorada que era fisioterapeuta. Zoe, uma mulher gente boa. Ele estava
com ela há alguns anos.
― Obrigada, mas acho que ninguém pode fazer nada quanto a isso... ― sussurrei,
encolhida. ― O único jeito é o Lucky, aliás, é a única forma. Sempre foi, né? Acho que fico
arrumando desculpas para não pedir a ajuda dele.
― Podemos localizar o restante da sua família, talvez, nós possamos encontrar mais
irmãos ou então ir até sua mãe ou pai. É uma chance pequena, mas podemos tentar. Apesar de
que o Lucky seja mais provável em ser compatível e ele está aqui na mesma cidade.
Sacudi a cabeça.
― O doutor disse o mesmo. Mas e se eu tiver mais esperança e no final não dar em nada?
Até mesmo Lucky tem uns 35%, eu acho. O pior é a esperança, sabe? Você tem tanta e na hora
não dá em nada... isso acaba com a gente, não só comigo, mas com vocês também.
― Se não fizer nada para ir atrás do seu irmão, eu irei falar com ele Sophie ― ameaçou.
― Primeiro, eu vou contar ao Daniel, e depois irei atrás do meu irmão.
― Algum problema aqui? O que precisa contar ao Daniel e depois a mim?
Meu corpo travou nos braços de Weliton, então me afastei depressa e encarei o homem
que podia ser o único que me salvaria.
― Lucky? ― Franzi a testa, me levantando e ficando na sua frente.
Seus olhos verdes avaliavam os meus que estavam molhados e ao Weliton do meu lado.
Ele parecia confuso e, eu sabia exatamente o porquê. Lucky me viu nos braços de outro cara e
deveria estar pensando que de alguma forma, eu estava traindo o Daniel.
― O que houve? Por que está chorando? ― Ele sondou e olhou ao redor. ― Por que está
nesse hospital? Aconteceu alguma coisa para ficar nesse estado?
Expirei e me virei para Weliton.
― Pode nos deixar a sós? Te ligo depois ― falei, apertando sua mão.
Weliton sabia quem Lucky era, já que foi ele quem me ajudou a descobrir quem eram os
meus pais biológicos. Meu amigo era bom no que fazia, e se não fosse por ele, eu jamais teria
descoberto sobre meu irmão. Na noite anterior, eu tinha ligado para ele e dito que tinha contado
ao Lucky que era irmã dele.
Ele assentiu.
― Você tem certeza? Eu tenho pacientes para ver, mas assim que terminar, eu te ligo
para saber como está indo. ― Beijou minha testa e levantou o queixo para Lucky depois foi para
dentro do hospital.
― Achei que estivesse com o Daniel. Não sei o que está havendo aqui, mas meu amigo
está na sua e agora não sei o que pensar. ― Ele colocou a mão na cabeça, me avaliando. ― Só
me diga que não está enganando-o e que seja algo... droga! Eu não sei. Há outro motivo para
você estar chorando, abraçada com aquele médico?
Deveria ficar com raiva por ele ter pensado o pior, mas no lugar dele, eu pensaria o
mesmo ao presenciar a cena. Fiquei feliz por ele se preocupar com o amigo.
Sentei-me de volta no banquinho e ignorei as pessoas ao redor. Não sabia o que dizer a
ele, só não podia deixá-lo pensar besteira a meu respeito.
― Quando era pequena, eu sonhava em ser enfermeira ou médica para ajudar as pessoas
precisam; fazer tudo o que pudesse e que estivesse ao meu alcance ― expirei, apontando o
queixo para o hospital. ― Fui escoteira e na faculdade tentei fazer Medicina, então uma vez meu
pai quebrou o pé e precisou fazer fisioterapia, pois poderia ter sequelas e não andar normal de
novo.
Lucky não disse nada só me encarava, confuso, mas não me interrompeu.
― Estávamos sem grana para as despesas médicas, então mudei minhas aulas e fiz o
curso de fisioterapia. Nas horas vagas da faculdade, eu ia até o meu pai e aplicava o que aprendi
― sussurrei. ― Foram meses trabalhosos, mas consegui e, ele ficou bom. Não teve sequela
nenhuma. ― Sorri, me lembrando daquele momento. ― Depois decidi que era isso o que queria
e que passei a amar.
― Não entendo. O que isso tem a ver? Algum paciente seu não conseguiu se recuperar?
Sacudi a cabeça.
― Não, o que quero dizer é que eu sempre quis salvar as pessoas, mas no final, eu não
posso nem me salvar... ― abaixei a cabeça e chorei ― Como posso ficar com o Daniel se não
vou estar para sempre ao lado dele? — Virei para o Lucky. ― Lamento dizer isso, queria
protegê-lo disso, mas não posso.
Arfou.
― O quê? Você está doente ou algo assim? ― Sentou-se do meu lado.
― Tenho anemia Aplástica e preciso de um transplante de medula óssea urgente ou não
vou conseguir... ― expirei fundo.
Não achei que fosse contar isso a ele antes do Daniel, mas precisava de alguém, dele ou
de Daniel. Já que Lucky apareceu ali, eu achei melhor revelar um pouco da verdade.
― Por acaso é maligna? ― Sua voz estava baixa. ― Isso quer dizer...
― Está querendo saber se eu posso morrer? Sim, tem essa possibilidade se eu não
conseguir um doador rápido.
Ele tocou minha mão.
― Uma coisa que aprendi com a minha esposa é que devemos ter esperança e fé, pois
com isso, nós podemos conseguir qualquer coisa. Se precisar de mim, eu entro em contato com
algumas pessoas para ver o que consigo. Farei isso ― disse. ― Posso fazer o teste também se
precisar de mim.
Pude ver sinceridade ali em seus olhos lindos; sabia que podia contar com ele. Falar com
meu irmão trouxe uma chama de esperança em meu coração.
― Lucky, eu acabei de falar com o médico e ele disse que as coisas estão se agravando.
Eu preciso de uma medula, e a chance de ser mais compatível é um parente de sangue, irmãos na
verdade. Então só a sua medula poderia ser compatível.
Puxou-me para seus braços.
― Farei qualquer coisa para ajudá-la, o que não posso é perdê-la, não agora que a tenho
comigo. ― A dor estava em cada palavra.
― Obrigada Lucky. Gostaria de mantê-lo fora disso, mas isso está piorando... ― funguei,
me afastando.
Ele se colocou de pé puxando meu braço.
― Vamos lá dentro, quero falar com o médico ― disse.
Entramos no hospital de novo.
― Posso falar com o médico da minha irmã? ― perguntou Lucky. ― Preciso saber de
tudo em relação ao estado dela.
Kamile pegou o telefone e conversou com o doutor, que estava disponível para nós.
― Tudo bem, eu vou mandá-los entrar. ― Desligou e nos levou até a sala que tinha
acabado de sair. ― Doutor Michigan? Aqui estão a Sophie e seu irmão.
― Lucky Donovan. ― Apresentou-se ao médico. ― Preciso saber a situação da minha
irmã. Seja o que for que precisar de mim, eu vou fazer para salvar a vida dela.
Meu coração balançou vendo a veemência em seu tom; sabia que meu irmão faria tudo
por mim, eu que fui uma idiota por ter esperado demais para contar a verdade.
O doutor sorriu.
― Que bom. Se quiser, nós já podemos fazer o exame de compatibilidade e alguns
exames que comprovem que você é sadio ― informou o médico.
― Como ela está doutor? ― perguntou preocupado.
Mesmo eu dizendo, acho que ele queria uma opinião profissional por isso me levou ali.
― Como informei a senhorita Winter, a situação dela está se agravando e por isso precisa
urgentemente de um transplante. O seu mal-estar está se agravando a cada dia. Falei para ela
procurar o irmão, pois com ele teria mais chances. ― Sorriu para mim e Lucky. ― Que bom que
está aqui, agora vamos fazer os exames?
― Claro, faço qualquer coisa para que ela fique boa. ― Senti seus dedos apertando a
minha mão.
Com ele do meu lado, eu podia lidar com tudo que viesse. Só faltava contar ao Daniel.
― Não ia entrar no hospital quando me viu? ― perguntei, assim que ficamos em uma
salinha esperando a enfermeira.
Ele negou com a cabeça.
― Estava indo para o prédio ao lado, mas então vi você aqui com aquele cara e vim ver o
que estava havendo. Às vezes, tem coisas que nossos olhos vêem que tem outra explicação, ao
invés de ser aquilo que pensamos ter visto. ― Ele me lançou um olhar triste. ― Lamento pelo
que pensei de vocês dois.
― Você estava apoiando um amigo, então entendo você. Mas o Welinton é só meu
amigo, quase como um irmão. Seríamos médicos juntos, mas escolhi outro curso, e ele continuou
em medicina para Cardiologista. Apesar de que fisioterapia é um ramo da Medicina, só não igual
meu amigo, mas amo minha profissão. ― Apertei sua mão que ainda segurava, tão confortável e
quente. ― Obrigada por tudo.
Ele assentiu.
― Se me permite um conselho, não esconda nada do Daniel. Segredos tendem a vir de
forma que machuca demais, sei disso por experiência própria. ― Deu um aperto suave na minha
mão. ― Não vou dizer nada a ele, sei que você irá fazer. Quero que saiba que estou aqui no caso
de precisar. Meu amigo ficará arrasado assim como estou, mas estou esperançoso que eu possa
ser compatível.
Sabia que estaria.
― Daniel tem sorte de ter um amigo leal como você ― confessei e, depois sussurrei. ―
Se algo acontecer comigo, eu quero pedir que não o deixe se perder. Daniel é difícil de amar
alguém, mas quando ama é para sempre. Queria que ele não sofresse, entretanto não poderei
evitar isso, só não o deixe fazer nenhuma besteira caso eu venha...
— Protegeria você também se soubesse como.
Ele me puxou para seus braços, e chorei.
― Não vai acontecer nada, prometo que vai dar tudo certo, mesmo se eu não for
compatível, nós vamos dar um jeito, Daniel e eu, assim como os seus amigos. ― Tinha muita
confiança na voz dele. ― Se começar a piorar não nos deixe de fora, isso não é bom. Além disso,
como podemos ajudar se não sabemos como se sente?
― Prometo que direi e não deixarei Daniel e nem você de fora. Vou abrir o jogo essa
noite, só estava esperando ele chegar de viagem. ― Senti-me muito acalentada ao estar nos
braços do meu irmão. Assim como quando abraçava meus pais.
Meu irmão valia ouro.
Capítulo 13
Sophie
Lucky fez os exames e o resultado sairia ainda naquele dia, ou no dia seguinte, logo cedo,
então fui para a casa de Daniel. Meu irmão não queria me deixar sozinha, mas como Sam tinha
exames de gravidez para fazer, insisti que fosse, e que ligaria. Eu também precisava conversar
com o Daniel, e sozinha, a situação não ia ser nada boa, afinal de um jeito ou de outro, eles
sofreriam por minha causa.
Daniel me deu a chave dele se por acaso, eu quisesse vir até ali.
Meu telefone tocou assim que entrei no apartamento dele; era na cobertura de um dos
prédios mais populares de Manhattan. Ele tinha herdado tudo depois que o pai morreu e sua mãe
estava doente.
Entretanto nunca me importei com isso; o único motivo que me levava a reclamar, pois
eu me sentia pequena era quando o pai dele me jogava na cara que eu nunca seria mulher
suficiente para o Daniel, que logo ele se cansaria de mim. Mas ficou provado que ele estava
errado, pois Daniel fez sacrifícios que nenhum outro homem já fez por mim. Ele me esperou
durante aquele tempo todo; nunca desistiu de mim e jamais iria.
Não poderia fraquejar! Precisava lutar! Sabia que o tempo estava passando e que logo
poderia ter um fim que não desejava e, eu não podia fazer nada para mudar isso apenas orar e
torcer para conseguir de alguma forma que meu irmão fosse o meu doador. Também procuraria o
outro irmão que Mary mencionou; tentaria encontrá-lo. Talvez pudesse ser uma mulher.
― Sophie, estou te ligando faz horas. ― Sua voz soou preocupada. ― Onde você está?
Está tudo bem? Soube que seu irmão foi fazer o exame. Vai dar certo.
Expirei fundo, varrendo os olhos na sala decorada como uma revista, mas de um jeito
masculino, tudo limpo e organizado, nada fora do lugar como um quarto de um monge. Daniel
sempre foi organizado.
A vidraça mostrava o rio deixando uma vista magnífica.
― Estou bem ― menti.
Weliton não caiu nessa desculpa.
― Posso ver que não é verdade. Onde está? ― perguntou num tom mais alto.
― No apartamento do Daniel, ele me deu uma chave ― sussurrei.
― Sophie, por Deus! O que houve. ― Ele quase gritou. ― Sua voz parece quebrada.
Acho que estou quebrada, pensei. Ver as pessoas que eu amava sofrerem não era nada
bom; minha mãe, meu pai, Lucky e logo o Daniel. Isso sem contar os meus amigos.
Coloquei minha bolsa na mesinha de centro e fui até a cozinha de estilo italiano; poderia
admirá-la se não tivesse com tantos problemas. Sabia que a qualquer momento iria desmoronar e
choraria, mesmo que já tivesse feito isso em todo o trajeto para o apartamento.
― Estou chegando. Já estava perto do Splorer, então já chego aí. Só deixa avisado na
recepção que eu vou subir ― disse e ouvi barulho de um carro acelerando.
― Não precisa correr, pode se machucar e Zoe te esganará ― pedi.
― Não estou. Agora, eu vou desligar e, em dois minutos estarei aí. ― Desligou.
Liguei para a recepção alertando da chegada do Weliton e que poderiam deixá-lo subir.
Weliton sempre esteve do meu lado nas horas boas e ruins, não seria diferente naquele momento.
Liguei para o Daniel a fim de avisar que um amigo meu viria no seu apartamento, mas ele
não atendeu, então mandei uma mensagem.
Peguei meu chá e fui para a varanda ver o horizonte, pensando que talvez não pudesse
voltar a vê-lo no futuro. Se tinham poucas chances, então poderia pelo menos aproveitar ao
máximo da vida que me restava.
Meu peito apertou tão forte que me senti sem ar, porque não queria morrer; ainda mais
depois que reencontrei o Daniel; não tive nenhuma chance de viver uma vida com ele. Tive tão
pouco tempo. Não era justo.
A campainha tocou e fui abrir para o Weliton.
― Devia olhar no olho mágico antes de abrir a porta, porque poderia ser um assassino ―
me repreendeu.
― Assassino em um prédio como esse? ― Sacudi a cabeça. ― Entra.
Ele me puxou para seus braços um segundo depois me levou para o sofá da sala e ficou
do meu lado.
― Então contou ao seu irmão que é irmã dele. Ele parecia realmente preocupado com
você pela forma que estava tão perto lá no hospital.
― Assim que soube o que tenho, ele me levou direto ao médico para mais informações e
pediu para fazer os exames. ― O doutor explicou que se ele fosse compatível, eu teria que passar
por um processo de quimioterapia.
― Acho que você tirou a sorte grande por ser beneficiada com um irmão como ele, tão
diferente da sua mãe.
― Fui visitá-la na semana passada. As coisas não saíram como gostaria, o que aquela
mulher disse...
― O que aquela bruaca fez? ― perguntou.
Contei tudo que o aconteceu na minha visita a Mary; suas palavras ditas. Assim que
terminei, eu vi a fúria em sua expressão.
― O quê? Ela pediu dinheiro para salvá-la? Como uma mãe é capaz disso? ― Ele
parecia falar consigo mesmo, mas respondi assim mesmo:
― Não me surpreende nada, afinal, ela nos abandonou e ainda roubou do filho. ―
Escorei no sofá. ― Agora quando vê a chance de conseguir dinheiro do Lucky, ela não vai
desperdiçar isso. Se for por mim, ela não terá nada.
― Vai dar certo com o Lucky. Pelo que vi hoje no hospital, ele se importa com você ―
disse.
― Sim, eu sei. Cogitou até fazer campanhas em benefício disso, se ele não for
compatível ― sussurrei com meu coração aquecido ao me lembrar.
Weliton sorriu.
― Vai dar certo com ele Sophie. Não tenha medo do resultado dos exames, pois no final
vai dar compatibilidade. Sei que é esse o seu medo. Também sei que você não quer que o Lucky
sofra por ver você doente e sendo irmã dele.
Assenti. Ele me conhecia muito bem, afinal anos sendo amigos.
― Vou fazer o possível para não ficar com medo. Mas também não vou criar
expectativa...
― Ter confiança é muito bom, querida, não perca isso jamais. A fé é algo maravilhoso e
não devemos perder. ― Alisou meu cabelo. ― Nunca vou deixar que você desanime, irei estar
do seu lado e segurarei a sua mão. Se pudesse ser doador, eu doaria, mas não posso, então vamos
buscar quem pode. O seu irmão.
― Mesmo o Lucky se dispondo ainda não é garantido cem por cento. E mesmo se a Mary
for compatível, ela jamais daria seu sangue, pois cobrou quinhentos milhões para revelar onde
estava o meu novo irmão e para fazer os exames. ― Sacudi a cabeça com raiva que pudesse
existir alguém mau desse nível.
― Quinhentos milhões? ― Weliton assoviou com a quantia pedida.
― Sei que as chances com meu irmão não são muitas, mas podemos tentar e confiar.
― Mais do que precisamos. Agora se deite aqui, pois estou sentindo você meio pálida.
Está se sentindo bem? Precisa que eu examine você? ― Apertou, sondando meu pulso.
Sacudi a cabeça, negando.
― Estou bem, não se preocupe. ― Claro que tinha passando mal no dia anterior e
também mais cedo quando senti um leve mal-estar. Não tinha como fugir disso, pelo menos até
fazer o transplante.
― Lamento que esteja passando mal, querida. Eu queria poder fazer algo para passar,
mas como não posso tirar a sua dor, eu vou fazer o que tiver em meu alcance.
― Obrigada. ― Ele e a Zoe eram amigos fieis. Ela estava na Espanha fazendo um curso
de Medicina. — Mas e quanto ao que a Mary disse sobre o plural da palavra irmãos? Se ela não
estiver mentindo, é possível que Lucky e eu tenhamos outro irmão ou irmã. Não sei se posso
confiar nela. ― Deitei-me no sofá e coloquei a cabeça na perna dele. ― Queria conhecê-lo. Ou
pode ser uma irmã, quem sabe?
― Vou fazer o possível para encontrar, só preciso procurar alguns hospitais onde ela
esteve. Vou pesquisar com a idade de Lucky, até depois da sua. Se eu não achar procuro um ano
ou dois acima da idade dele. ― Beijou minha testa. ― Durma um pouco, querida.
― Não posso dormir, Daniel vai chegar logo... ― acho que o chá fez efeito. Meus olhos
estavam pesados. Sentia-me esgotada não só fisicamente, mas mentalmente também. ― Você é o
melhor amigo de todo mundo.
― Não liga, querida, só descanse. Eu vou tomar conta de você ― jurou. ― Amo você.
― Também amo. ― Assenti, fechando os olhos e torcendo para que o dia seguinte fosse
melhor.
Capítulo 14
Daniel
Eu ainda me custava a acreditar que Sophie era minha novamente, e que ela ainda me
amava mesmo depois de todos aqueles anos. Ela não tinha me esquecido depois de tudo o que
vivemos; a solidão que senti ao ter ficado longe dela, aliás, eu nunca quis ou fiz esforço para tirá-
la da minha mente e do meu coração. Sempre tive esperança de um dia tê-la novamente comigo.
Entretanto, mais cedo, a sua mãe ligou e me disse que Sophie tinha passado mal de novo
com tontura e náuseas. Não entendia muito do corpo feminino e seus sintomas, mas eu sabia que
aqueles eram de uma mulher grávida. Mas como se ela não tinha ficado com ninguém
recentemente? Seu namoro terminou há anos, e, Sophie não era dessas que ficavam com caras
por uma noite só.
Mesmo ela dizendo que estava noiva quando, eu a encontrei na festa, uma parte de mim
sabia que era mentira; ela disse aquilo para me magoar como fiz com ela no passado. Seja como
for, eu queria estar lá para minha garota.
Talvez não fosse o que eu estava pensando; talvez fosse apenas uma virose brava. Sophie
me garantiu, minutos atrás, que não estava grávida e, eu acreditava nela com cada fibra do meu
ser. Mas falei sério quando disse que não ligava se caso ela estivesse, afinal isso teria acontecido
antes de estarmos juntos.
Nem reparei, mas um peso saiu dos meus ombros assim que ela negou que aquilo fosse
possível. Acreditava em Sophie, pois ela jamais mentiria para mim, não dessa forma, o que me
levava a crer que minha garota estava doente mesmo. Por isso cancelei tudo da minha agenda da
semana e passaria meus dias com ela até que se recuperasse cem por cento. Também não
conseguia me concentrar em nada a não ser em querer saber se ela estava bem ou não.
Peguei o primeiro vôo para casa com uma saudade imensa dela, mesmo que tivesse visto
Sophie há alguns dias. Já fiquei tanto tempo longe dela, no passado, que não conseguia ficar de
novo. Teríamos que trabalhar nisso, afinal, às vezes, eu teria que viajar à trabalho e ela também.
Meu telefone tocou assim que tinha acabado de sair do aeroporto de Nova York. Atendi
sem olhar na tela pensando ser a Sophie.
― Oi, já estou chegando... ― a voz alterada do outro lado me interrompeu.
― Senhor Luxem? Aqui é da casa da sua mãe, eu sou a empregada.
― Aconteceu alguma coisa? ― Parei no meio do estacionamento onde o carro se
encontrava com o meu motorista. O Luigi. Gostava mesmo era de dirigir, mas como vim direto,
eu decidi chamá-lo.
― Lamento informar que ela quase colocou fogo na casa, então eu a levei para o hospital
para checar se não houve nada sério ― falou Salina.
Meu coração bateu forte, temendo que algo tivesse acontecido com a mamãe. Sabia que
ela nunca se importou comigo, mas também nunca foi ruim igual ao meu pai, além do mais, ela
era minha mãe, então, eu não poderia abandoná-la só por não ter tido o carinho dela.
Eu estava adiando a ideia de colocá-la numa casa de repouso; não queria fazer isso com
ela, mas não poderia continuar evitando. Portadores de Alzheimer têm que ter certos cuidados e,
eu não poderia dar a ela, não se quisesse continuar com a minha carreira. Eu já tinha desistido da
minha vida e dos meus sonhos por demais.
Primeiro meu pai não aceitava. Depois quando ele morreu, eu tive que tomar conta dos
negócios dele. Agora isso? Eu amava minha mãe, e tomaria conta dela não importava onde.
Poderia visitá-la sempre que estivesse em Manhattan, por isso tinha ido visitar uma casa
de repouso, chamada: Recanto do vovô, perto de onde estava construindo minha casa; assim
poderia vê-la todos os dias quando estivesse na cidade. Já o meu apartamento não era um lugar
seguro para ela, então achei melhor construir uma casa. E como não queria ficar onde meu pai
morava antes, eu estava fazendo a minha própria. Estaria pronta em poucos dias.
Deixei o caminho do meu apartamento onde Sophie tinha acabado de mandar mensagem
dizendo que tinha ido para lá — também queria estar com ela — mas minha mãe vinha em
primeiro naquele momento. Eu precisava saber como ela estava por mim mesmo e não por outra
pessoa.
― Oi, senhor Daniel ― cumprimentou Luigi, assim que entrei no carro. ― Como foi de
viagem?
― Bem...
Ele me avaliou.
― Algum problema? Parece preocupado ― comentou. ― Onde o levo?
― Casa da minha mãe, parece que ela tentou colocar fogo na cozinha. ― Funguei baixo.
Luigi arregalou os olhos com preocupação.
― Ela está bem?
― Parece que sim, mas só vou ter certeza quando vê-la. ― Suspirei, mandando uma
mensagem para Sophie dizendo que ia demorar um pouquinho.
― Se o senhor me permite dizer, eu acho que deveria colocar a sua mãe em um lugar
especializado na doença dela, ou então contratar alguém que tenha especialidade nesse assunto.
― Olhou para mim pelo retrovisor, enquanto dirigia. Ele trabalhava para a minha família há
anos. Então meu pai morreu, e para não despedi-lo, eu o contratei como meu motorista. Porque
sei o homem correto e íntegro que Luigi era, mesmo trabalhando para o meu pai, ele jamais
compactuou com as coisas erradas que fez.
Assenti, porque sabia que ele tinha razão, mesmo que não quisesse isso naquele
momento.
― Farei isso. Eu posso deixá-la na casa de repouso do vovô até construir minha casa.
Depois contrato alguém para olhá-la. Apesar de que eu soube pela supervisora do local que os
pacientes geralmente gostam de lá. ― Guardei o telefone após enviar a mensagem para a Sophie.
Cheguei à casa dos meus pais. Era uma casa em estilo italiano que foi construída antes de
eu nascer, mas mamãe contou que veio a ideia depois de uma viagem a Itália.
Saí do carro às pressas, mas confiava em Salina quando garantiu que mamãe estava bem.
― Onde ela está? ― perguntei, assim que entrei na sala olhando cada canto.
Salina também trabalhava para minha família há alguns anos; foi contratada depois que
meu pai despediu os Winters. Gostava da senhora, claro que não éramos próximos como com a
dona Alísia e o senhor Antônio, mas Salina era uma pessoa boa. Os homens e mulheres que
seguiam a risca as ordens do meu pai e gostavam do que ele fazia de errado quando era vivo, ou
foram presos, ou despedidos. Porque, eu não queria gente assim trabalhando para mim.
― Está na estufa molhando as plantas. Eu tentei levá-la para dentro, mas não consegui,
ela não quis e tentei não deixá-la alterada por recomendação do médico ― disse com tom triste.
― Acho que o senhor deveria contratar uma enfermeira ou algo assim, porque ontem, ela subiu
em uma escada na biblioteca dizendo que precisava limpar. Por sorte, eu cheguei na hora.
Sabia que ela tinha razão; pessoas como minha mãe precisavam de cuidados especiais, e,
eu tomaria providência quanto àquilo antes que algo mais sério acontecesse.
― Arrume suas coisas, pois a levarei para um lugar onde cuidará dela ― falei com tom
triste, embora fosse o melhor. Se mais para frente ela melhorasse, eu a levaria para ficar uns dias
comigo. Isso quando minha casa estivesse pronta. Ou então a levaria para morar comigo de vez.
― Sim senhor, eu farei isso ― informou a senhora indo para o segundo andar da casa.
Fui à procura de mamãe. A estufa estava bem cuidada, não só por ela, mas o jardineiro
também. Era algo que minha mãe sempre amou. Bom, depois que o papai morreu, ela deixou de
ser uma socialite e foi cuidar do jardim e da estufa como um hobby ou algo assim. Não fazia
muito tempo desde que ela foi diagnosticada com aquela doença, mas via o quanto ela mudou,
não só ao se esquecer de algumas coisas, mas a perda do meu pai fez com que ela ficasse mais
em casa.
Ela estava molhando as plantas enquanto cantava uma canção. Usava um vestido florido
e cabelos bagunçados. O que meu pai fez para aquela mulher? O maldito foi embora e a deixou
quebrada. O pior era que minha mãe esquecia-se das coisas, menos dele.
― Mamãe. Como está? ― Fui até onde ela estava de pé e a beijei na testa.
Ela sorriu.
― Bem, mas agora estou molhando as plantas, porque não quero que o Michael reclame
― disse e voltou ao trabalho.
Meu coração se apertou.
― Papai me mandou buscá-la para levá-la a um lugar; ele me disse que ia te encontrar lá.
― Não gostava de mentir, mas era a única forma de levá-la dali sem que ficasse alterada demais.
Já tinham acontecido momentos parecidos como aquele, não de colocar fogo ou algo assim, mas
de ela se esquecer de tudo, até de onde estava, e começar a gritar pedindo ajuda dizendo que
tinha sido sequestrada. Foi quando procurei o médico e através de exames o seu problema foi
diagnosticado.
Seus olhos brilharam. Mais uma facada em meu peito. Como ela poderia amá-lo assim?
Aquele filho da puta não merecia. Não merecia nada.
― Ele vai estar lá? Faz tempo que ele foi viajar e ainda não voltou para casa ―
sussurrou.
Às vezes, ela se lembrava que ele tinha morrido, mas em outras acreditava que ele estava
viajando. Eu não a corrigia para que não sofresse mais.
― Sim, o papai vai estar lá, não se preocupe ― expirei, não gostando de mentir.
Peguei suas coisas e a levei para meu carro; eu poderia ficar com ela no meu apartamento
naquela noite, mas lá não era seguro e não tinha proteção na varanda; fora o fato de que Sophie
estava lá, e não sabia bem qual seria a sua reação a ela. A última vez que a mamãe a viu comigo,
não a tratou bem. Talvez as coisas pudessem diferentes agora, pensei com esperança.
― Já fez as pazes com o seu pai? Ele não é mal, apenas quer o seu bem.
― Meu bem? ― Franzi a testa.
― Sim, ele me contou que aquela menina que você namora só está interessada no nosso
dinheiro, e seu pai sabe das coisas. ― Ela falou, remexendo as mãos no colo.
Contei até dez, porque assim não falaria nenhuma besteira, ainda mais com quem estava
doente. Ela pensava que ainda estávamos naquela época, se soubesse das coisas que o maldito
fez, talvez entendesse, porém esqueceu-se de tudo.
Não respondi nada do que ela disse sobre a Sophie, porque sabia que não era verdade, ela
nunca ligou para quem eu era ou quanto tinha na minha conta bancária. Meu pai que era um filho
da puta sem escrúpulos que só pensava em enriquecer e se esquecer da própria família.
Após deixar minha mãe na casa de repouso e conversar com a diretora do lugar, Silver,
eu fui para o meu apartamento. A minha cabeça estava cheia sem saber o que fazer com tudo.
Talvez um dia pudesse trazer a minha mãe para minha casa, assim que ela aceitasse Sophie como
a minha mulher.
Assim que abri a porta do meu apartamento, eu levei o maior susto, até que foquei na
visão que estava tendo.
― Que porra é isso? ― esbravejei.
Sophie estava dormindo na perna de um cara; a luz da sala estava apagada, mas a do
abajur estava acesa e, eu pude ver a cena que fez meu coração bater forte, não de maneira boa,
mas de uma forma que doeu pra caralho.
A cabeça do cara virou na minha direção, ajeitou a cabeça de Sophie na almofada e veio
na minha direção com um olhar duro.
― Espero que não esteja pensando mal dela agora ou vamos ter um problema ― falou
baixo, mas com um tom tão duro quanto a expressão em seu rosto. ― Ela mandou mensagem
avisando sobre minha presença aqui.
Não sabia o que pensar, aliás, minha cabeça estava a mil com tanta coisa que tinha
acontecido. Mas mesmo que tivesse ficado longe de Sophie todos aqueles anos, eu sabia que ela
jamais me trairia ou mentiria para mim. Então pensei na tontura que ela vinha tendo.
Olhei meu telefone e notei a mensagem. Certamente recebi quando tinha ido buscar
minha mãe para levá-la a casa de repouso.
Reconheci o cara como sendo o melhor amigo dela desde a faculdade, Weliton. Poderia
ter ficado longe, mas sempre mantive os olhos nela e no que fazia. Devo dizer que foram
momentos difíceis que tive que suportar, vê-la ao longe sem poder me aproximar.
― Sophie está passando mal? ― perguntei após um segundo indo na direção dela e
passando pelo cara. ― Por que ela não me ligou?
― Sophie não passou mal. Só está passando por alguns problemas difíceis para ela lidar
― rosnou ele com os punhos cerrados.
Ela estava mesmo doente? Só esperava que fosse uma gripe e nada mais sério, embora
quisesse que Sophie me ligasse e dissesse a mim pessoalmente, mas pelo visto ela se abriu com o
amigo dela e não comigo. Tentei não me sentir magoado por isso e acreditar que ela tivesse tido
um motivo para tal.
Entretanto, eu não podia reclamar, eu a tive no passado e a deixei ir embora, então
precisava lidar com as consequências da minha decisão. Não podia culpá-la por isso.
― Não pode me dizer o que ela tem? Sei que ela anda passando mal desde que voltamos
a conviver, mas achei que fosse uma virose ― comentei, sentando-me na mesinha de centro
perto de onde seu rosto lindo estava, no sofá.
Ele meneou a cabeça de lado como se me sondasse, então sacudiu a cabeça.
― Não posso dizer. Isso é entre vocês dois. Apesar de esperar que você fique do lado
dela.
― Desde quando sabe sobre esse problema que anda deixando a minha garota doente? ―
perguntei, mas já sabia que não era de agora.
― Algum tempo...
Sacudi a cabeça, tonto, porque me senti traído por ela ter aberto o jogo com o seu amigo e
não comigo; desde crianças sempre fomos amigos. Antes mesmo de começarmos a namorar,
contávamos tudo um para o outro. Por que ela não me contou? Talvez estivesse com medo da
minha reação; talvez ela pensasse que eu não reagiria bem ou algo assim. Tal pensamento me
deu um calafrio na espinha.
― Lembre-se que estou na vida dela a mais de dez anos, então não fique pensando que
ela confie mais em mim do que em você, porque não é isso. Além disso, eu sou médico. Só
espere até amanhã, porque acredito que Sophie vai dizer tudo. ― Ele veio até nós e tocou de leve
no rosto dela. ― Têm coisas ruins para acontecer. Só prometa que ficará com ela não importa o
que aconteça.
Não precisava que ele me dissesse isso, pois pela Sophie, eu faria tudo. Estaria ao lado
dela independente de tudo. Mas o que ele disse me preocupou. O quão grave era o que ela estava
me escondendo?
― Não pode me dizer do que se trata? ― sondei, preocupado. ― Tem a ver com o fato
de ela estar passando mal, ou é outra coisa?
― Em parte sim, mas é melhor que ela conte. Não quero fazer as coisas pelas costas dela.
― Deu um tapinha no meu ombro. ― Só fique do seu lado.
― Não há nada que Sophie diga que fará com que eu fique longe dela. Nada. Ela é a
razão da minha existência. ― Isso era verdade. ― Já fiquei longe demais dela, e isso não
acontecerá novamente.
Ele sorriu, contente com minha resposta. Não liguei, só meu peito que estava apertado, já
que não parava de pensar em minha conversa com a Sophie assim que ela acordasse. Só esperava
que não fosse nada grave.
― Fico feliz com isso ― confessou, dando um beijo na testa dela e depois se afastou. ―
Essa garota é como uma irmã para mim, então se machucá-la ou a fizer chorar de novo, eu vou
partir você ao meio.
Franzi a testa.
― De novo?
― Falo dos anos que ficou longe dela, pois eu vi a dor e o sofrimento que causou a ela...
não quero ver aquilo de novo. Se a deixar outra vez, não importa se o papa obrigá-lo a se afastar,
eu farei com que pague caro. ― A ameaça dele estava em cada palavra.
― Jamais irei abandonar a Sophie. Eu só fiz antes, porque precisava. Mas fiz um
juramento a mim mesmo de que nunca mais vou deixá-la e manterei isso custe o que custar. ―
Essa era uma promessa que eu manteria ao pé da letra.
― Ótimo.
― Obrigado por protegê-la e ficar do seu lado enquanto eu estive longe. ― Estendi a
mão para ele, que pegou por um segundo e depois soltou.
― Sempre vou fazer isso, mesmo que tenha voltado para a vida dela ― falou. ― Seja o
que for que tenha para conversar com ela, deixe para amanhã. Sophie está esgotada. Agora
preciso ir.
Assenti, levando-o até a porta.
― Valeu, cara. Por tudo. ― Agradeci.
― Weliton, ― apresentou-se ― É finalmente bom conhecer você, pessoalmente,
Daniel― declarou. ― Se continuar amando a minha garota, eu acredito que seremos amigos.
― Também acho. ― Assim que ele se foi, eu voltei para Sophie ainda adormecida.
Peguei-a nos braços e a levei para o meu quarto e depositei seu corpo na cama.
― O que será que esconde de mim?
Ela se remexeu na cama.
― Daniel... ― sussurrou, sonolenta. ― Tem algo que preciso dizer...
― Shiii, ― a silenciei ― Amanhã cedo conversaremos minha pequena.
Deitei-me ao seu lado e a puxei para os meus braços.
― Durma um pouco, querida. Eu estarei aqui quando acordar ― prometi.
Ela apertou os braços em minha volta, mas parecia ainda estar dormindo ou quase.
― Nunca me deixe ― pediu em um sussurro.
― Jamais ― jurei, beijando sua testa, mas ela já estava dormindo. ― Vou amá-la para
sempre, minha doce Sophie.
Capítulo 15
Daniel
Mal consegui dormir naquela noite. Não conseguia parar de pensar no que Sophie tinha
para me dizer. Deveria ser algo importante, porque senti a urgência na voz dela.
Passei a noite imaginando o que ela teria para me dizer, mas não consegui pensar em
nada, não quis imaginar que pudesse ser algo letal e mortal... não poderia nem cogitar algo
assim.
Parei de pensar quando percebi que aquilo não me levaria a nada. Fosse o que fosse, eu
precisava ser forte para ela assim que Sophie acordasse.
Minha cabeça não estava muito boa; não só com as coisas que aconteceram com a mamãe
no dia anterior, mas com a Sophie também. A sua revelação estava me deixando inquieto. Ainda
para piorar, mesmo ela dormindo, eu a ouvia soluçar. Antes de cair no sono definitivamente,
Sophie chorou.
Levantei-me sem acordá-la e fui para a cozinha preparar o café da manhã para ela; queria
fazer uma surpresa como antigamente.
Estava a ponto de ligar para Lucky e perguntar se ele sabia de algo, mas meu telefone
tocou antes assim que entrei na cozinha.
― Como vai o meu piloto favorito? ― perguntou Richard. ― Temos uma corrida para
você amanhã. Frey Dex se machucou e vai ficar de fora, então conversei com o seu agente e ele
concordou se assim você quiser. ― Ele parecia ansioso com isso.
Frey era um dos melhores pilotos dele, e soube pelo jornal que tinha se acidentado, mas
graças aos céus estava bem, embora precisasse ficar sem correr por um tempo.
Cássio Ortis era meu agente, ótimo por sinal; com ele, eu fechei vários contratos, o único
que ele não concordou foi com a agência do Richard, porque perdi muito, mas expliquei meus
motivos para querer estar na Speed. No final, ele concordou e torceu por mim.
Eu até pensei em aceitar cobrir o Frey, mas depois do que aconteceu no dia anterior e o
jeito que estava minha mente naquele momento, onde eu só sabia pensar na minha conversa com
a Sophie, eu não conseguia raciocinar. Eu não podia planejar mais nada por enquanto, já que não
sabia o que ela tinha para me dizer.
― Vou dar a minha resposta mais tarde, agora vou ter uma conversa com a Sophie e não
sei como isso vai se desenrolar. ― Suspirei, enquanto estava fazendo torradas.
Minhas palavras deixaram Richard em silêncio por um segundo; eu não sabia se ele
estava por dentro do que acontecia com a Sophie, mas os dois eram muito amigos também.
― Sophie? Ela decidiu contar a verdade a você? Isso me deixa mais aliviado. Aquela
garota é uma alma muito boa e vai vencer tudo o que está acontecendo ― disse em tom triste.
Franzi a testa.
― Sabe do que se trata? ― Estava ficando com raiva por todos saberem, menos eu.
― Não se preocupe, pois nossa menina vai passar por isso e nós estaremos aqui do seu
lado ― falou meio depressa. ― Acho que vou colocar o Vitor na lista para corrida, você não vai
ter cabeça para isso por um bom tempo. Agora preciso ir.
Estava a ponto de perguntar o que ele quis dizer, mas Richard desligou o telefone.
― Maldito seja! Que porra está acontecendo aqui? ― Estava indo ajeitar o café da
manhã na bandeja para levar para Sophie, mas ela entrou na cozinha.
Ela estava com minha camisa e a mesma batia em suas coxas. Seus cabelos estavam
bagunçados e seu rosto sonolento, mesmo assim era a mulher mais linda do mundo. Como
alguém poderia amar com a intensidade que eu a amava?
― Cheiro maravilhoso. ― Ela inspirou o aroma de café que acabou de sair.
Sophie ficou na entrada da cozinha de pé e parecendo nervosa, vi isso devido as suas
mãos que grudavam na lateral da camisa que usava.
― Eu ia levar o café na cama para você, mas já que está aqui, sente-se que sirvo você. ―
Também estava nervoso devido ao que ela ia me dizer.
Ela assentiu e veio até mim e tocou meu coração como se ouvisse o martelar dele ou a
forma que eu estava ansioso demais. Acreditei que fez para me tranquilizar.
― Obrigada Daniel. ― Sentou na cadeira com um sorriso lindo e doce.
― Por nada, linda. ― Coloquei bolo e torradas para ela, chá e café. Assim ela decidiria o
que desejava comer.
― Está muito bom ― confessou, comendo a torrada como costumava fazer antes. ―
Como eu me lembrava, acho que ainda melhor.
Também tomei café e comi torrada. Mesmo me sentindo tão ansioso, eu precisava ser
forte, embora o medo que sentisse era um pouco maior. Acreditava que Sophie estivesse doente,
a cor pálida de sua pele mostrava isso. Mas o que ela tinha? Esperava que não fosse nada mortal.
A vida não seria tão injusta comigo, seria?
Não podia pensar no pior; teria que ser outra coisa, não algo que a levasse de mim para
sempre.
― Daniel. ― Ela colocou as mãos sobre a mesa e a olhou por um segundo e depois a
mim. ― Precisamos conversar. Sei que devia ter dito antes, mas...
Assenti.
― Sei que precisa me dizer algo, mas antes, eu quero que saiba que seja o que for, eu vou
estar do seu lado e vamos passar por qualquer que seja o problema que Weliton me disse. Vamos
passar juntos. ― Eu só queria deixar claro para ela antes que me dissesse a verdade.
Ela piscou.
― Ele te disse mais alguma coisa? ― Tinha algo na voz dela que não entendi. Devia
estar imaginando coisa, ela não teria motivos para se preocupar com seu amigo me contando, ou
tinha?
― Não me disse nada. Só comentou que você estava com um problema sério e que
precisaria da minha compreensão e ajuda. ― Coloquei minhas mãos na mesa também. ― Seja o
que for, eu estarei aqui.
Sophie me deu um sorriso triste, mas ainda sim, lindo. Tudo que eu amava.
― Essa é uma qualidade que sempre amei em você e continuo a amar. ― Respirou fundo
como se doesse fazer aquilo, ou apenas estava tensa, assim como eu.
― Então o que é? Sei que tem algo acontecendo. E cada vez, eu fico mais nervoso sem
saber o que pensar.
― O que vou dizer vai machucá-lo e lamento muito por isso, pois se pudesse evitar, eu
faria. Mas não posso e não vou mentir para você. ― A dor estava em cada linha do seu rosto.
― Só preciso saber a verdade, não importa o quanto vai doer ― expirei. ― Está doente?
Tenho notado que está pálida e vem passando mal ultimamente. Então o que tem? Está doente ou
é outra coisa?
Sua respiração estava desigual enquanto me encarava com dor nos olhos.
― Sim, eu estou doente. Não queria que sofresse, por isso fiquei relutante em dar uma
chance para nós dois, não queria que passasse pelo que vai passar estando ao meu lado. Porque
no final, eu não poderei protegê-lo disso. ― Sua voz era só um sussurro.
A dor que ela estava sentindo me matava não só por vê-la sofrer, mas por medo também,
algo me dizia que a notícia não seria boa. Estava mais para uma bomba.
― O que você tem? ― Não sabia se gostaria de saber a resposta, mas precisava. Não
poderia ficar no escuro imaginando o pior quando podia não ser.
― Descobri a alguns meses que tenho Anemia Aplástica e preciso de um transplante e
medula óssea urgente.
O solavanco foi tão forte e alto que juro que podia ser ouvido a quilômetros dali. Se não
se tivesse sentado, eu aposto que teria caído no chão com as pernas bambas.
Custei a acreditar no que meus ouvidos ouviram, e, meu corpo estremeceu como se
tivesse recebido uma descarga elétrica que me deixou sem fôlego. Precisei respirar fundo, mas
doeu como se tivesse brasa viva em meus pulmões.
Não, não podia ser, ela não poderia estar doente a ponto de precisar de transplante. Não
quando nem tive a chance de ter uma vida ao lado dela. Acabei de recuperá-la, droga! A vida não
podia ser tão injusta assim, não é?
Já tinha ouvido falar daquela doença, mas não sabia muito, só o bastante para saber que
precisaria ter alguém compatível, e a chance seria maior se fossem parentes de sangue... e isso
piorava tudo, porque a Sophie era adotada e não tinha parentes.
Porra!
Levantei-me, meio trôpego e saí da cozinha, pois precisava de ar para recuperar o fôlego.
Tudo em mim doía como uma maldita navalha me cortando.
― Daniel, por favor, não me deixe... ― ouvi a dor na voz dela atrás de mim.
Virei-me e a vi ali de pé com as mãos ao lado do corpo parecendo tão pequena, olhos
castanhos molhados e machucados com a minha reação.
― Por Deus, Sophie! ― Corri até ela e a puxei para os meus braços. ― Acha mesmo que
a deixaria após ouvir tudo isso? Não sou egoísta.
Suas mãos a minha volta me apertaram firme.
― Você saiu...
― Não saí, eu só ia à varanda para tentar recuperar o fôlego um segundo. ― Tentei não
deixar que visse o que aquela informação me causou, não queria preocupá-la mais do que ela já
estava.
― Desculpe Daniel, lamento por tudo isso.
Caí de joelhos na sua frente com a cabeça em seu estômago não querendo perdê-la nunca.
Sabia que devia ser forte para ela, mas não consegui deixar frear as lágrimas. O desespero
estava apertando meu peito a ponto de querer gritar.
― Tive medo de contar, não escondi por mal...
Uma bomba foi jogada em cima de mim. Eu pensava que ela tinha uma doença que tinha
cura, mas aquilo? Havia uma possibilidade de ela conseguir um doador, mas em pouco tempo?
― Vai ficar tudo bem, querido. Vamos passar por isso, juntos, não é?
Era para eu consolá-la, e ali estava eu sendo consolado por ela; precisava tirar forças e ter
fé que conseguiríamos passar por aquela batalha juntos. Superaríamos e venceríamos no final.
Por que aquilo estava acontecendo comigo? Mamãe estava doente e agora Sophie?
Olhei para cima e notei seu rosto molhado, mas também havia esperança. Então, eu
também teria, mesmo que meu coração estivesse tão pequeno ao temer pelo pior.
― Parte meu coração não poder tirar esse medo de seus olhos. ― Alisou meu rosto
molhado.
Coloquei-me de pé e toquei seu rosto.
― Vou fazer tudo que puder para conseguir um doador compatível. ― Essa era uma
promessa que fiz a mim mesmo, e no fundo a ela. Esperava conseguir realizar. ― Vou conseguir
o melhor médico.
Seu sorriso era doce, tão lindo... mesmo passando por aquilo ele que não se perdeu. Eu
também queria ter a mesma fé e esperança que ela.
― Isso não tem a ver com o melhor médico e especialista, mas em conseguir um doador.
― Pegou minha mão e me puxou para o sofá e ficou do meu lado.
― Vou fazer o impossível para conseguir, não posso perder você Sophie. ― Beijei sua
testa. ― Como funciona essa Anemia? Pode me dizer? Já ouvi falar dela, mas não muito.
Ela me contou que tinha pouco tempo para conseguir um doador, porque a doença estava
avançando muito rápido, e as chances de alguém ser compatível caso encontrasse.
― Pouco tempo? ― Minha voz se elevou, então abaixei. Não podia ser! Estava logo aí.
Por que os dias em situações como essas passam voando?
Não sabia bem o que fazer, mas de uma coisa eu tinha certeza: faria de tudo para não
perder aquela mulher. Não só porque não saberia viver sem ela, mas também porque Sophie era
muito jovem e linda, tinha um futuro inteiro pela frente.
― Vamos conseguir Daniel. ― Ela apertou minha mão. ― Acredito que Lucky seja
compatível. Terei ele ao meu lado assim como você sempre foi meu porto seguro, não sei como
sobrevivi todos esses anos sem você.
A puxei para meu colo.
― Foi um completo tormento viver na solidão sem você... não vou passar por isso de
novo. ― expirei para controlar a dor e tudo que estava sentindo no momento. Não deixei
transparecer mais minha preocupação a ela, não mais do que o necessário. ― Pelo que me disse
tem uma chance a mais com parentes de sangue, não é? Então as chances são grandes de o Lucky
ser compatível, já que descobriu onde ele está, e conheço meu amigo, se ele souber com certeza
ajudará.
Ela respirou fundo, parecendo encolhida. Olhei para Sophie do meu lado sem entender
sua reação.
― O que foi Sophie? Você já disse ao Lucky o que você tem? Se ele não for compatível
podemos ir atrás da sua mãe.
Alísia amou mais a Sophie do que a própria mãe dela; certamente que ela estava sofrendo
com tudo o que estava acontecendo com minha garota.
― Ela me abandonou Daniel... em uma maldita lixeira ― expirou fundo e saiu do meu
colo ficando de pé. ― Mas isso não é o pior...
― Tem coisa pior do que isso? ― indaguei num surto de raiva. Sempre reagi assim em
relação àquela mulher. Nem a conhecia e já a odiava. Embora soubesse do que fez com o meu
amigo e odiava também, só não sabia que se tratava da mesma mulher;
― Conheci a minha mãe. O Weliton conseguiu localizá-la. Sabe, no começo, eu até quis
fazer isso sem ser pelo motivo de estar doente; queria entender os motivos que levaram ela a me
deixar, mas então senti a frieza que essa pessoa é, a forma que reagiu a mim. ― Sacudiu a
cabeça. ― Ela nunca vai me ajudar. Não falo sobre fazer os exames, porque acredito que Lucky
será compatível, mas sim por que queria saber sobre a minha irmã.
Pisquei aturdido.
― Ela maltratou você? ― Ali me vi querendo pegar aquela mulher e acabar com ela.
Sophie riu com frieza.
― Ela não vai ajudar sem ter alguma coisa em troca. ― A amargura era evidente na sua
voz.
― O que você quer dizer? Ela sabe sobre a sua situação e pediu algo? ― indaguei.
Assentiu.
― Minha mãe foi até ela para pedir ajuda, mas ela se nega. E quando fui visitá-la, ela me
disse a mesma coisa. O pior é que ela disse que só me ajudaria a encontrar a irmã que tenho se
pagasse uma quantia exorbitante. ― Ela estremeceu.
Arregalei os olhos com descrença. Claro que pelo que sabia de Mary não seria nada
diferente, a mulher era gananciosa demais, só pensava em dinheiro.
― Pago qualquer preço se no final ela ajudar você, além de também dizer sobre sua irmã.
― Não devia ficar surpresa com tal atitude de uma mulher que teve coragem de
abandonar a própria filha como um lixo. ― Trincou os dentes. ― No fundo, eu queria que ela ao
menos tivesse se arrependido do que fez.
― Lamento por isso, querida, saiba que jamais vou sair do seu lado ― jurei.
― Eu sei, mas não quero você dê o que essa mulher quer ― pediu suplicante.
Sacudi a cabeça.
― Não posso prometer isso, não quando há chances de você ser curada. Se não for o
Lucky o doador, eu irei até ela. ― Entendia os motivos dela por não querer nada daquela mulher,
mas agora não era tempo para nada disso. Se sua mãe quisesse dinheiro, então eu daria. O que
me importava era a minha Sophie curada e feliz.
― Ela pode não ser compatível e nem ter mais filhos, apenas eu e Lucky. Mary disse que
tenho mais um irmão e Lucky me disse que é uma mulher, mas não sei se confio nela para uma
informação importante, não quando está pedindo milhões em troca. ― O asco era evidente na
sua voz. ― Também tem outra condição. Ela quer sair da cadeia. ― Colocou as mãos uma na
outra parecendo furiosa ou com frio nas mãos.
Peguei suas mãos e coloquei-a sentada do meu lado e as esfreguei enquanto falava com
ela.
― Vou dar um jeito nisso ― disse.
― Weliton está vendo se descobre alguma coisa. Ele é bom nisso. ― Ela colocou um fio
de cabelo atrás da orelha, um sinal de que estava nervosa, Sophie sempre fazia isso, um gesto
que não se perdeu com o tempo.
― Se Lucky sabe da sua irmã, então com certeza Bryan está procurando por ela agora e
arrumando uma forma de ajudá-la caso ele não consiga ajudar você. ― Isso era verdade.
Naquele momento, eu fiquei feliz que ela tivesse encontrado o meu amigo. O seu irmão.
O aperto em meu peito ainda estava ali, mas minha esperança se floresceu ao pensar em
Lucky.
― Ia contar a você antes dele, mas Lucky me viu na saída do hospital e tive que falar, só
queria protegê-los, mas não pude... ― passou a mão nos cabelos ― Vou tomar meus remédios.
― Ficou de pé. ― Já volto e depois continuamos a conversa. ― Ela beijou meu rosto. ―
Obrigada por tudo. Sabe que amo você e sempre irei amei.
― Também amo você ― declarei.
Expirei, sacudindo a cabeça para recuperar meus sentidos, então peguei meu telefone e
liguei para o Lucky.
― Podemos conversar Lucky? Pode vir na minha casa? ― Era melhor ele vir até nós,
não queria que Sophie saísse.
― Daniel? Aconteceu alguma coisa? ― Tinha algo na voz dele que não entendi.
― Sabia sobre a doença de Sophie? Não posso perdê-la...
Ele deu um suspiro.
― Não vamos perdê-la. Os resultados dos meus exames saem ainda hoje e saberemos.
Estou motivado e confiante que dará certo.
― Pode vir aqui? Preciso falar com você.
― Estou a caminho ― respondeu ele.
Sophie ficaria bem. Aquela era uma promessa que eu cumpriria. Moveria céu e Terra
para que acontecesse.
Capítulo 16
Lucky
― Você não pode ceder às chantagens da sua mãe ― disse Sam. ― Sei que deseja saber
onde a sua irmã está, mas deixar uma mulher como ela solta depois de tudo o que fez?
Bryan ficou de localizar as minhas irmãs. Essa espera estava acabando comigo. Não
saber onde e como estavam era o que estava me fazendo perder o sono.
Então há quatro dias, eu descobri que Sophie era minha irmã, e nunca fiquei mais feliz
embora ainda faltasse a sua irmã gêmea. Porém ficou mais fácil para o Bryan procurar usando a
imagem de Sophie nos bancos de dados da polícia, já que as duas eram gêmeas idênticas, isso
facilitaria as coisas.
― Eu sei Sam, mas estou enlouquecendo sem saber onde ela está. E se ela teve a mesma
doença que eu e Sophie ou pior... ― minha voz falhou.
Rosa vermelha veio até mim e pegou minha mão dando um aperto delicado.
― Ela está bem, meu amor, não aconteceu nada, ok? Não fique pensando nisso ― pediu.
― Bryan vai conseguir localizá-la.
― Fiquei animado e esperançoso por semanas, então conheci Sophie, agora ela está
doente, e seu perco ela também. ― murmurei, bebendo um pouco de vodca. Preciso de algo forte
para não me deixar pensar demais.
Depois que soube que tinha irmãs, eu não consegui me concentrar direito no trabalho,
aliás, em nada. Então descobri o que Sophie tinha e, as coisas ficaram piores, o medo de perdê-la
estava me deixando inquieto.
― Lamento pela Sophie, querido, mas vai dar tudo certo. Você será compatível e poderá
salvar a sua irmã, e meu irmão encontrará a outra. Se não conseguirmos nada até o final de
semana, aí vamos até sua mãe ― falou Sam. ― Se fosse só pelo dinheiro, nós poderíamos até
dar o que ela quer, mas aquela mulher quer ser solta e, isso é injusto, porque fez muitas coisas
erradas para você e para a Sophie. Ela merecer ser presa e jogar a chave fora.
Ri da fúria dela. Eram raras as vezes em que minha linda esposa reagia assim em relação
as pessoas. Mas Mary merecia muito mais do que isso.
― Você fica tão linda quando está com raiva. ― Sorri, puxando-a para meus braços e
beijando seus lábios. ― Se não fosse você e nossos filhos, eu não sei o que seria de mim.
― Eu não seria feliz sem você, disso tenho certeza. Você, Lana e Shaw são a razão para
que eu me sinta realizada e lute todos os dias. ― Colocou a mão na barriga. ― Além desse bebê
que vai nascer.
Sam estava grávida, de três meses; não sabíamos o que era ainda, mais independente do
sexo, eu amaria da mesma forma.
Aquela mulher e tudo o que ela me deu era a única razão para me manter são, pois se não
fosse isso, eu não sei o que teria feito, com certeza alguma besteira.
― Você é a luz da minha vida. — Apertei mais meus braços a sua volta.
― Te amo Lucky. ― Me beijou com fervor e paixão, e retribui igualmente, já indo tirar
suas roupas.
― Estou interrompendo? ― Ouvi um grunhido. ― Não acho que gosto da forma que está
agarrando a minha irmã.
Bryan entrou na sala e veio em nossa direção com os olhos estreitos.
― Acho que vou demitir a minha secretária, já que não está fazendo o trabalho dela
direito. ― Me afastei de Sam e virei para o meu cunhado. ― Não devia bater antes de entrar?
Sam ajeitava as roupas e retocava o batom que estava um pouco borrado. Ela veio e
limpou a minha boca também, ignorando o irmão.
― Eu bati umas dez vezes, até achei que não estava aqui mesmo a secretaria dizendo que
estava. Acho que estava ocupado demais para ouvir alguma coisa. ― Ele foi até sua irmã e a
beijou na testa. ― Não gosto de presenciar uma cena dessas, pois me dá vontade de matá-lo.
― Não comece a criticar, pois ele é meu marido. ― Ela fez uma careta linda. ― Devia
guardar energia e implicância para quando Ariane crescer e quiser namorar.
Se com sua irmã, ele era protetor assim, imagina quando as filhas dele crescerem? Eu
tinha até dó delas, embora fosse fazer a mesma coisa com a Lana.
― Se alguém chegar perto dela, eu mato ― rosnou, se afastando dela.
Ela bufou.
― Vai sonhando. Continue com isso por alguns anos, até que conheça seu genro. Aposto
que Ariane vai amar você atirando no namorado dela ― provocou.
Bryan fechou a cara, e estava a ponto de discutir, mas pensou melhor. Ele me entregou
um envelope grande.
― O que é isso? ― sondei, checando o envelope. ― Isso é o que eu acho que é?
Ele assentiu.
― Sim, são as informações que consegui sobre as suas irmãs, mas...
Ele foi cortado com uma batida na porta, então Leidy entrou, a secretária.
― Desculpa interromper, senhor Donovan, mas tem uma senhora aqui que deseja falar
com o senhor. ― Ela parecia nervosa. Acho que por ter deixado Bryan entrar sem me avisar.
Sabia que, às vezes, eu era rígido, mas estava tentando mudar um pouco as coisas; podia
ver que estava diferente do homem grosseiro e arrogante que era antes de conhecer Sam. Ela me
ensinou a ser alguém melhor e educado.
― Uma mulher? ― Não estava esperando ninguém. ― Pode mandar esperar...
Naquele momento, eu só desejava ver o que estava naqueles papéis que Bryan conseguiu.
Esperava que minha irmã estivesse bem seja lá onde estivesse no momento.
― Sim, senhor... ― ela se virou para sair, mais então uma senhora de cabelos um pouco
grisalhos entrou.
Logo a reconheci.
― Dona Alísia? ― Estava confuso sem entender o que ela estava fazendo ali.
Dona Alísia era a mãe adotiva de Sophie, e também era como uma mãe para o Daniel,
pois ele a amava como se fosse. Não a conhecia pessoalmente, só nas fotos que ele me mostrou e
que tinha no apartamento dele. Também pedi que um amigo meu ajudasse com a situação de
Sophie. Ele era um médico especialista na doença que ela tinha. Sabia que ela já tinha um
médico, mas confiava naquele e que tudo daria certo. Precisava ter esperança.
Ela estava perto da porta parada me olhando, então acenei para que a Leidy saísse e nos
deixasse a sós. Claro que Sam e Bryan ficaram. Não tinha segredos com eles.
― Desculpe entrar dessa forma, mas eu não sei mais a quem recorrer. ― Ela expirou,
parecendo sofrida. ― Posso falar um segundo com você?
Acreditei que era sobre o problema que Sophie tinha; quando ela me contou no dia
anterior, eu me senti mal e inútil, porque não podia fazer nada. Uma vez, eu pude salvar o Logan
e doei um pedaço de meu fígado a ele. O garoto sobreviveu e se tornou forte e estava feliz com
sua família adotiva.
Na época, depois que seu pai o espancou daquela forma, eu fiquei com o Logan e o
ajudei a se curar; sabia que podia tê-lo adotado, mas minha mente estava tão fodida que eu
pensava que não seria um bom pai para educar uma criança. Então consegui uma casa para ele e
agora o garoto morava em Seattle e estava feliz com sua nova família.
Sam mudou minha forma de pensar ao trazer Shaw para as nossas vidas; com ele, eu
descobri que poderia sim ser pai e amá-lo e, que não puxei minha mãe em nada, que teve
coragem de abandonar os próprios filhos Assim que eu soube da Sophie, eu sabia que precisava
ajudá-la de alguma forma, pois não podia perder a minha irmã, não quando ela acabou de chegar
à minha vida. Também tinha o meu amigo.
Daniel era um cara fechado, embora fosse um amigo leal e fiel aos seus. Ele não deixava
ninguém entrar, mas quando se abria era para sempre. Digo isso por ele amar a Sophie desde que
eram adolescentes, e nunca a esqueceu. Então eu sabia que meu amigo seria destruído caso
perdesse essa mulher. Eu também; não podia deixar que isso acontecesse. Promoveria
campanhas para conseguir ajuda de todos no caso de a minha medula não ser compatível.
Sophie precisava viver e ser feliz com o meu amigo. Seja o que for que dona Alísia
precisasse, eu iria ajudá-la.
Fiz algumas ligações e descobri mais sobre aquela doença. Sophie precisaria de um
transplante de medula óssea, e teria mais chances de compatibilidade se fosse com parentes de
sangue, ou seja, eu. Ou essa nossa irmã ainda desaparecida. Ou a nossa mãe, e também o nosso
pai. Um de nós teria que ser compatível.
Olhei para a mulher sofrida na minha frente, olhos vermelhos e úmidos com lágrimas.
Notei que tinha algo de errado... então quer dizer que Sophie...
― Aconteceu algo com a Sophie? ― indaguei com preocupação.
Sam me olhou por um segundo e depois para a dona Alísia.
― A senhora é alguma coisa de Sophie? Ela está bem? ― sondou Rosa vermelha com
preocupação.
Alísia veio para perto de mim.
― Sophie está bem na medida do possível, mas o que tenho a dizer não vai ser fácil, mas
eu preciso da sua ajuda Lucky.
― De mim?
― Sim. Eu prometi a Sophie que deixaria que ela falasse com você, mas acho que devido
ao medo a minha filha está hesitando demais. Ela está com medo de você, do que você poderá
pensar. ― Me encarou com dor nos olhos.
Franzi a testa.
― Medo de mim? Mas eu falei que estava ao lado dela para o que der e vier, e que
mesmo se os resultados dos exames não forem o que esperamos, eu vou fazer de tudo para
conseguir salvá-la.
Agora foi a vez de Dona Alísia franzi sua testa.
― Ela te contou tudo?
― Que ela é minha irmã e que tem Anemia Aplástica? Sim. Eu a vi saindo do hospital
chorando, então perguntei o motivo e ela disse.
Ela suspirou e ficou a um metro de mim.
― Que bom que ela revelou a verdade, até vim aqui como uma mãe desesperada. ― Ela
começou a chorar. ― Não posso deixar que minha filha morra... não posso perdê-la.
Peguei suas mãos e a levei para o sofá assim que começou a chorar mais.
― Creio que dará tudo certo, senhora. ― Tentei tranquilizá-la.
Olhei para a Rosa vermelha a procura de ajuda, porque não sabia o que fazer. Ela pegou
um copo com água e veio até onde dona Alísia estava.
― Tome um pouco de água para se acalmar um pouco ― pediu ela, gentilmente.
Dona Alísia assentiu tomando um gole da água e expirando como se fosse para se
acalmar.
― Antônio e eu nunca podemos ter filhos. Eu quis tanto que ao longo dos anos quando
éramos mais jovens, nós tentamos, mas fracassamos. Então acabei desistindo. Em uma noite
vínhamos da mansão dos Luxem, e quando chegamos em casa, eu ouvi um choro de bebê não
muito longe, quando fomos na lixeira havia uma menina linda e suja chorando; ela estava no
meio daquele lixo todo. Procuramos a mãe pelo bairro e não avistei ninguém. ― Seus olhos
perderam o foco com sua mente longe.
Fiquei em silêncio sem saber o que dizer; tentei segurar a minha raiva pela Mary, porque
isso era tudo culpa dela. Nossas vidas não foram diferentes no fim. Eu fui deixado em uma casa
sozinho para morrer de fome e Sophie em uma lixeira; o destino de nossa outra irmã não deveria
ter sido diferente, temia só de pensar.
― Na época, eu não acreditei que alguma mãe tinha sido capaz disso, mais isso se provou
certo. Sua mãe a deixou como se fosse nada. Antônio e eu decidimos adotar a Sophie e a
amamos como se fosse nossa. ― Ela olhou para mim. ― Queria ter o sangue dela para poder
salvá-la, mais não posso. As chances são maiores se um parente de sangue fizer, então só resta
você.
― Não há somente eu como irmão, nós temos mais uma irmã. ― Olhei para o Bryan a
procura de resposta. ― Conosco as chances são maiores.
― Foi difícil descobrir a verdade, tive que procurar no fundo do baú. Por sorte onde a
Mary deixou Sophie em uma lixeira, tinha câmera. ― Ele olhou para mim. ― Os antigos donos
tinham colocado câmera e eles são daqueles que não jogam nada fora, então puxei as imagens e
vi sua mãe deixando a bebê ali. Depois achei imagens do hospital também onde ela saía com a
criança no colo. Não ficava longe de onde Sophie foi deixada.
― E a outra? Se eram gêmeas, então a Mary deve ter saído do hospital com as duas ―
apontei.
― Sim, mas ela deixou a Sophie perto da casa dos Luxem. ― Ele virou para a mãe de
Sophie. ― Onde vocês moravam.
― A outra irmã de vocês é gêmea com a minha garota? ― Alísia piscou. ― Quando
penso em tudo o que essa mãe de vocês fez, só queria que ela nunca mais saísse da cadeia.
― Sophie foi visitar a mãe dela no intuito de receber ajuda, mas foi tratada com
desprezo. Fora a parte que Mary pediu grana tanto para fazer os exames quanto para descobrir
sobre quem é a outra irmã. Ele também exigiu sair da cadeia. ― Bryan cerrou os punhos. ―
Aquela mulher não merece ficar livre, não depois do que fez a você, Sophie e a outra irmã de
vocês.
― Mary disse que tinha duas filhas gêmeas. Se você achou Sophie em uma lixeira, então
onde a puta da minha mãe deixou a outra? Ou será que ela estava mentindo? ― Virei para Alísia.
― Ela deixou só um bebê lá ou tinha outra, e vocês ficaram apenas com a Sophie?
Depois me lembrei que Mary falou que tinha separado as duas e as colocado em lugares
separados.
― Só tinha a Sophie lá na lixeira, não vi mais ninguém ― disse Alísia.
― Ela foi deixava na frente de uma cede de MC que até já foram presos. Embora essa
garota tivesse uma vida de cão, obrigada a fazer coisas... ― Bryan estremeceu. ― Ficou lá até os
seus quinze anos, como prostituta do lugar, sendo obrigada a fazer as coisas impuras e
desdenhosas, apesar de não ser culpa dela e sim daqueles malditos bastardos fodidos. Com
dezesseis, ela fugiu de Seattle e veio para cá, então conheceu o marido dela. Não teve sorte com
ele, pois apanhava demais. Sei disso pelos relatos dos vizinhos.
― Oh, Deus! ― sussurrei querendo vomitar pelas coisas que minha outra irmã passou.
― Preciso saber onde ela está e ajudá-la de alguma forma. Qual é o nome dela e onde mora?
― Hummm ― Bryan hesitou.
― Bryan o que é? ― insisti.
― Esse marido a tratava mal, mas ela nunca o denunciou. Os vizinhos próximos disseram
que Laila queria um lar e não queria deixar o filho dela sem pai, mas o cafajeste um dia bebeu e
bateu nela e... a matou na frente do filho.
Meu copo tremeu como se tivesse sido atingido por um raio, aquela notícia foi mais como
uma bomba jogada na minha cara.
― Ela morreu? ― Minha voz parecia sem vida.
Meu peito parecia apertado como se a pulsação estivesse querendo falhar. Sonhava em
encontrar as duas juntas, e no final só tive a sorte de ter uma delas.
― Sim, essa mulher é a mãe de Shaw ― falou, avaliando sua irmã.
Fiquei de pé em um súbito.
― Meu filho? ― Lembrei-me da vez em que Shaw contou o que o pai fez com a mãe
dele, as atrocidades que presenciou e o tanto que minha irmã sofreu. Quando que imaginei que
estivesse falando da minha irmã?
Aquele era um maldito que tentou abusar da minha esposa; eu devia tê-lo matado naquele
dia, se tivesse feito isso aquele desgraçado estaria no inferno. Apesar de que soube que na prisão
onde Raul estava, ele já foi parar até na enfermaria por surra e coisas piores, então de certa forma
ele estava no inferno na terra.
De qualquer forma o que eu fizesse com ele não traria a minha irmã de volta. A culpada
de tudo era a Mary, e juro por Deus que aquela bruxa ia pagar.
Bryan abraçava a irmã que estava chorando.
― Lamento por isso.
Sam piscou contendo as lágrimas.
― Lucky, Shaw sempre teve o seu sangue ― sussurrou em choque.
Meus olhos estavam estatelados. Por um lado, eu estava feliz por saber que o garoto que
amava como filho era também meu sobrinho, o filho da minha irmã. Por outro lado, estava triste,
porque nunca conheceria a Laila; destruído por ela ter morrido, ainda mais assassinada.
Se soubesse dela e do Shaw antes de tudo, eu teria a protegido do que aconteceu, se
soubesse onde morava e que tinha irmãs.
― Vou matar aquela puta desgraçada. ― Cerrei os dentes os dentes e olhei para a Alísia.
― Desculpe por dizer essa palavra na sua frente.
― Tudo bem, que Deus me perdoe, porque já pensei o mesmo dela. ― Ela veio até onde
eu estava e me abraçou. ― Obrigada por tudo, e lamento pela sua irmã.
Não me lembrava da última vez que fui abraçado dessa forma sem ser pela Sam ou pela
minha mãe antes de morrer, Laura Donovan. Ela era meu anjo e, eu também a perdi.
Os Donovan me adotaram e me amaram como filho, porém morreram em um acidente de
carro, agora perdi minha irmã.
― Obrigado. ― Me afastei dela. ― Agradeço por ter cuidado e amado a Sophie, tenho
Alívio que pelo menos uma foi criada com amor. Se soubesse delas antes, eu teria ido atrás no
mesmo instante.
― Eu sei que sim. Se fez isso cuidando de seus irmãos depois que os Donovan morreram,
sei que faria o mesmo pelo seu sangue.
― É verdade, querido, sei que você fez de tudo para saber onde suas irmãs estavam a
partir do momento que soube delas. Mal dormia e andava feito louco querendo descobrir seus
paradeiros. ― Sam pegou minha mão. ― Nada de ruim que aconteceu é culpa sua.
― Eu sei, mais é que eu queria ter feito mais pela Laila. E agora a Sophie está doente...
não posso perdê-la também. ― Esperava que fosse compatível, porque não suportaria perder
outra irmã.
O meu telefone tocou, e quando vi o nome do Daniel, meu coração deu uma batida forte.
― Podemos conversar Lucky? Pode vir na minha casa? ― pediu com tom estranho.
― Daniel? Aconteceu alguma coisa? ― Não sabia se ela havia contado a verdade a ele,
por isso estava divagando.
Falei que em dois minutos estaria lá. Também precisava revelar a verdade sobre nossa
irmã.
Capítulo 17
Sophie
Não achei que teria coragem de contar ao Daniel sobre minha doença, pois antes parecia
que tinha algo entalado em meu peito, mas agora era como se tivesse saído. Até achei que ele
sairia desgovernado e sem rumo devido ao que ouviu e, eu não tiraria sua razão.
Entretanto, ele ouviu tudo o que eu disse e ficou comigo o tempo todo, mas o que me
matou mesmo foi ver a dor em seus olhos, não só isso, mas a impotência que parecia sentir. Isso
me matava aos poucos.
No fundo, eu estava escondendo dele e de Lucky justamente por isso, por não querer ver
os dois destruídos. Daniel ficou arrasado assim e até chorou. Queria protegê-los, mas não poderia
mais; esconder isso me mataria e os dois sofreriam ao me perderem.
Não poderia morrer ainda; precisava me casar com Daniel primeiro. Viver e ser feliz ao
lado do homem que eu amava e sempre amei. Queria ter filhos e ter uma vida ao lado da minha
família, meu irmão, meus pais, meus amigos e Daniel.
Inclusive, eu precisava encontrar a minha que nem conhecia ainda.
Contudo, eu sabia que Weliton a encontraria para mim. Eu iria amá-la, aliás, eu já amava
antes mesmo de conhecer. Só a ideia de ter mais irmãos me deixava eufórica.
A vida ou o destino não poderia ser tão injusto ao me fazer não receber tal benção.
Obviamente que não era santa, mas também não havia cometido tantos pecados assim para pagar
um preço alto e não poder realizar os meus sonhos. O pior era fazer as pessoas que eu amava
sofrerem.
A fadiga, febre e tontura estavam piorando; amanheci cheia de hematomas no corpo,
Daniel nem viu, mas estava torcendo para quando visse não surtasse, embora não tivesse surtado
quando contei a verdade.
Não poderia ficar pensando no pior, tinha que dar forças a ele e não ao contrário; sabia
que Daniel se fazia de forte, mas no fundo estava sofrendo por não poder fazer nada para me
salvar. Eu no lugar dele estaria sentindo o mesmo.
Passei meses sem esperança e quando descobri sobre Lucky, ela retornou para mim com
força total, mas o medo veio acompanhando, por isso hesitei em dizer a eles; eu queria protegê-
los, pois no final, eu não poderia evitar machucá-los, mesmo sem querer.
Tomei meu remédio e voltei para a sala onde deixei Daniel, porém estava com alguém
que não vi chegar. Mas tinha ouvido a campainha tocar, minutos antes.
― Porra, essa merda não pode estar acontecendo! ― Ouvi Daniel praguejar na sala.
Parei no corredor me encolhendo por dentro pensando que talvez Daniel não fosse
conseguir ficar do meu lado para passarmos essa luta juntos. Meu coração pareceu encolher do
tamanho de uma noz.
― Também fiquei furioso por saber da verdade. ― Ouvi a voz de Lucky.
Lucky? Ele estava ali? Será que ficou furioso por saber da verdade? Então por que não
me disse quando contei a verdade a ele? Acho que foi pelo meu estado. Será que estava bravo
comigo?
Talvez não estivesse falando de mim, pensei. Não poderia imaginar nenhum dos dois
sentindo por mim essa raiva que senti na voz dele. Nenhum deles jamais me daria às costas,
ainda mais naquele momento.
― Quem contou a você sobre ter irmãs? ― Ouvi Daniel perguntar. ― Quando soube?
Sabia que deveria mostrar a eles que estava ouvindo a conversa deles, mas estava curiosa
com o que ouvi; precisava descobrir se Lucky estava com raiva de mim ou mesmo Daniel,
porque seu tom voz não estava agradável.
― Mary me ligou há algumas semanas me pedindo para vê-la; chegando lá, ela me disse
que eu tinha duas irmãs. Desde então, eu estava à procura delas, demorou mais consegui a
informação que precisava, apesar de Sophie ter se apresentado a mim antes das informações
chegarem. Não imagina a surpresa ao saber que minha irmã estava perto de mim e eu não sabia
disso? ― Ele deu um suspiro. ― Também ajudou, porque Sophie foi visitar a Mary e Bryan
ouviu a conversa das duas ao conseguir as filmagens. E dona Alísia foi me ver agora a pouco
para pedir a minha ajuda, ela não sabia que eu já sabia da verdade.
Ofeguei ao imaginar o Lucky sabendo da minha conversa com Mary; as coisas que
aquela mulher disse, meu irmão não deveria nunca escutar nada daquilo. Esperava que não
tivesse visto o vídeo. E minha mãe foi até o Lucky? Pelo jeito cansou de me esperar para contar a
verdade. Com tudo o que aconteceu, eu me esqueci de ligar para ela e dizer que já tinha contado
a verdade ao Lucky sobre a minha doença.
― Oh, meu Deus! ― sussurrei alto fazendo com que os dois olhassem para mim.
Eu saí de onde estava e o encarei. Lucky estava de pé perto da janela e atrás tinha a vista
para a cidade. Daniel na frente dele, embora ouvisse vozes de mulher na cozinha, não sabia dizer
quem era, mas no momento não me importei. Minha vida não podia ser mais confusa do que era.
O que me fez suspirar baixinho foi perceber que nenhum deles parecia com raiva de mim,
então certamente a raiva que senti na voz deles era direcionada a Mary.
Olhei entre os dois homens da minha vida. Tanto os olhos escuros quanto os verdes me
encaravam com preocupação.
― Sophie... ― ele veio até onde eu estava e tocou meu rosto com suas mãos delicadas.
Tentei ler sua expressão, mas não vi nada, além de preocupação.
― Está tudo bem? Parece cansada. ― Me puxou para o sofá grande na forma de L.
Ele sentou-se do meu lado.
― Estou bem, só senti um pouco de falta de ar, mas nada que não tenha sentido antes. ―
Tentei brincar para aliviar a tensão, mais não teve resultado.
A porcaria tinha me deixado quase sem fôlego, então fechei os olhos expirando pelo nariz
e não querendo ver a dor que estava nos olhos dos dois.
Merda! Como queria que não sofressem assim por minha causa. Talvez pudesse ter
ficado longe de Daniel até ficar curada, aí voltaria para ele depois. Mas só a mera ideia de não tê-
lo, eu me sentia como se estivesse morrendo e não estava falando por metáfora, realmente não
queria ficar longe do homem que era meu suporte, meu porto seguro.
Então seja o que acontecesse, eu queria os dois do meu lado. Não só eles, mas a minha
família e amigos também.
Não contei a Laurel ainda, esperava que ninguém dissesse nada, porque assim que
terminasse aquela conversa, eu ligaria para ela e contaria a verdade eu mesma; não queria que ela
soubesse por ninguém além de mim.
― Sophie... ― a dor estava ali na sua voz.
― Daniel logo vai passar. ― Tentei tranquilizá-lo.
― Vamos levá-la ao hospital. Eu até falei com um especialista ― disse Lucky. ― Dona
Alísia, juntamente com o seu médico e o doutor Klaus ficaram de ter uma reunião para ver os
seus exames e os meus. Assim que sair, eu vou lá para ver o resultado.
Olhei para os olhos do meu irmão e ali vi esperança.
― Você vai tirar a sua medula? Dizem que tem efeitos colaterais, dores de cabeça e
outras coisas.
― Não ainda. Primeiro, vamos ver os exames que comprovem que estou sadio, e o de
compatibilidade. O doutor me disse que antes de você receber a minha medula no caso de eu ser
compatível, você passará a receber altas doses de quimioterapia e, às vezes, também de
radioterapia, com a finalidade de destruir as medulas antigas para que o paciente possa receber a
nova medula óssea. ― Seu tom era triste.
O médico me disse sobre o que teria que fazer caso recebesse um doador. As
complicações.
Senti Daniel prender o fôlego com isso, então alisei sua mão para confortá-lo.
― Você soube disso após saber que ela é sua irmã? ― sondou Daniel.
― Sim. Encontrei um médico em Houston no mesmo hospital que Angelina foi operada,
ele é muito bom. ― Olhou para mim. ― Desejo que eu seja compatível com você e, que seja
curada, não posso perdê-la... ― tinha algo na voz dele que não entendi, como se estivesse
sofrendo. Seria por minha causa? Estava a ponto de tranquilizar. ― Tem algo que preciso dizer,
e não quero que saiba por ninguém além de mim.
― Não acho que seja o momento ― interveio Daniel, parecendo estar com outro tipo de
preocupação.
Franzi a testa.
― O que não quer me contar Daniel? Do que quer me proteger?
Os dois trocaram um olhar que não entendi muito bem.
― Daniel? Lucky?
Fiquei de pé esperando não ficar tonta no momento ou corria o risco de ser internada
mesmo sem querer.
― Quero a verdade, droga! ― gritei, pegando os dois de surpresa. Então suavizei meu
tom a fim de saber o que eles estavam escondendo de mim. ― Por favor, preciso saber da
verdade seja ela qual for.
― Senta aqui. ― Daniel me puxou para seu colo como fosse me confortar. ― Não vai
ser fácil.
O meu coração gelou, com medo de que algo tivesse acontecido.
― Minha mãe e o papai estão bem? Não aconteceu nada com eles, não é?
Lucky sentou-se na mesinha de centro na minha frente e segurou minha mão.
― Não é isso, eles estão bem. Mas descobrimos quem é nossa irmã.
Minha irmã? E não era para ser uma notícia boa? Por que Daniel não queria que o Lucky
que me contasse? As batidas do meu coração aceleraram tanto que achei que ele pararia. De
repente, eu não quis ouvir mais nada, mas precisava saber o que aconteceu com ela.
Pela dor nos olhos do Lucky, as notícias de nossa irmã não seriam a que eu esperava.
Será que ela... não! Não podia pensar nisso; precisava acreditar que tudo estaria bem.
― Ela está... ― não consegui terminar a frase. A morte estava me rodeando há alguns
meses que nem me imaginava perdendo alguém que gostaria de ter na minha vida sempre.
― Sim, ela morreu há alguns anos, mas só soube hoje. ― Lucky foi até a janela e mirou
além dela com pensamentos distantes. Ficando de costas para mim. ― Queria ter feito algo, se
soubesse dela ou de você, eu teria ido e me apresentado. Agora é tarde... ― o tormento era
evidente na sua voz.
O meu peito parecia vazio e, ao mesmo tempo, pulsava e cada pulsação. Doía demais.
― O que aconteceu com ela? Como se chamava? ― Fiquei de pé com Daniel do meu
lado segurando minha cintura como fosse para me dar apoio, mas ficou calado.
― Seu nome era Laila. Ela foi abandonada por Mary igual a nós dois, mas ao contrário
de nós, ela não teve alguém que a protegesse e a amasse... na sua vida foi só sofrimento. ―
Então Lucky falou da vida dela sofrida com os MC que a usaram ainda criança. Quando cresceu,
ela fugiu de lá. Conheceu o marido dela e casou e o mesmo homem a matou na frente de seu
filho.
― Oh, meu Deus! ― Cobri minha boca de choque e dor. As lágrimas caíram por minha
bochecha. Sabia que ela tinha partido, mas achei que fosse por uma doença. Mas assassinada
pelo próprio marido?
Desde que soube que tinha outro irmão ou irmã, eu sonhei que pudesse vê-lo de alguma
forma e abraçá-la, mas com essa bomba que foi jogada contra mim, percebi que nunca poderia
fazer nada disso e tudo por culpa dela. Daquela maldita cadela.
― Penso em todo o dinheiro que tenho; vivendo e comendo do bom e do melhor,
enquanto isso ela estava vivendo no inferno. ― Sua voz era só um sussurro de dor.
― Lucky. ― Fui até ele deixando Daniel para trás e peguei as mãos do meu irmão. ―
Não é culpa nossa.
Ele se virou para mim com os olhos úmidos, os meus já pareciam uma enxurrada.
― Por que aquela mulher fez isso? Por que ter filhos se nos odiava? Não devia ter tido
nenhum de nós. ― Cerrou os punhos. ― Ela viveu no maldito palácio em Moscou enquanto
nossa irmã sofria, e o tempo todo, aquela maldita sabia onde Laila estava. Se não queria ajudá-la,
devia ter me falado que eu teria ido ao inferno buscá-la.
O puxei para os meus braços. Mesmo doendo como estava, eu senti também conforto por
estar nos braços dele. Dilacerada, essa era a palavra certa.
Laila, mesmo sem conhecê-la, eu já estava amando a ideia de ter mais irmãos, pena que
ela se foi.
― Por que ela ao menos não deixou vocês duas juntas? Se tivesse feito isso agora ela
estaria aqui conosco. ― Seus braços se estreitaram a minha volta como se precisasse de apoio.
― A odeio por ter nos separado ― murmurei.
― Aquela maldita fez isso, porque é ruim e quis isso ― continuou ele. ― A forma que
sofreu com o abuso; a dor que ela deve ter sentido. Com certeza deve ter pensado que todos da
sua família a tivessem abandonado, e que era sozinha no mundo. Quando na verdade nós não
sabíamos dela. ― Chorou. ― Lamento por tudo. Devia ao menos ter checado, sei lá, feito
alguma coisa.
Afastei o rosto do dele e o fitei.
― Não se culpe Lucky, Mary é a culpada de tudo. Por toda a nossa dor. Por tudo o que
aconteceu com Laila. ― Me esqueci um pouco o que estava sentindo e me foquei em confortar
Lucky, avisar que ele não era culpado, afinal, ele nem sabia sobre nós. ― Não quero que ela
jamais seja solta.
― Não vai. Eu irei fazer tudo que puder para impedir isso ― assegurou.
― Ela era bonita? Nossa irmã?
Lucky assentiu.
― Tão linda quanto você. ― Limpou as lágrimas do meu rosto. ― Você se parecia com
ela, afinal eram gêmeas. A única diferença era que Laila era loira.
Éramos gêmeas? Tem gêmeo que não se parece muito. Dizem que os gêmeos são ligados
com a alma. Acredito que Laila e eu seríamos assim se tivéssemos sido criadas juntas, pensei.
Desejava que acontecesse, mas não era mais possível.
Lucky pegou uma foto no bolso e me entregou.
― Olha aqui...
Na foto mostrava uma mulher loira de cabelos anelados e com expressão envelhecida,
mesmo que não fosse; devia ser sofrido muito, mas naquela foto seus olhos estavam amorosos ao
olhar para o filho no seu colo, o menino de cabelos escuros a fitava como se ela fosse sua rainha
ou a coisa mais perfeita do mundo. O amor estava ali nos olhos dos dois.
Sim, definitivamente éramos iguais, se pintasse o cabelo de preto enganaríamos muita
gente se passando uma pela outra. Quase ri desse pensamento. Um sonho que foi interrompido
por uma maldita víbora doentia.
O que essa criança teve que presenciar? Tudo graças a pais que não deviam ter filhos. O
pai dele era um monstro assim como minha mãe. Mesmo ela não estando lá com aquele
assassino, ela teve sua culpa na morte de Laila, porque não a protegeu quando sabia tudo sobre
ela.
Jamais a perdoaria por minha irmã ter sofrido e sido morta, e também pelo meu sobrinho
ter passado tudo que passou.
― Com quem ele está? Qual o nome desse garotinho lindo? ― Não entendi, mas o
garotinho não me pareceu estranho. Passei o dedo no rostinho dele, sobre a foto, tentando
recordar, mas não consegui.
― Sim, ele é lindo e se chama Shaw. O meu filho agora. ― Ouvi a voz de Sam.
Virei e a vi na porta da cozinha, a tristeza vincava nos olhos dela.
― Filho? ― Shaw? De repente me lembrei de onde o vi, foi em uma revista que
mostrava a família Donovan unida.
Sabia que Lucky e Sam tinham adotado um garotinho que viu o pai matando a mãe.
Então essa tal mulher era a minha irmã?
― Ainda custo a acreditar que Shaw é sobrinho de Lucky e que de alguma forma foi
enviado para as nossas vidas ― disse Sam, limpando as lágrimas.
― Rosa vermelha, não chore. ― Lucky foi até ela e a puxou para seus braços.
Sam forçou um sorriso.
― Estou bem, só feliz por ter meu garoto, mesmo que desejasse que ele estivesse com a
sua mãe. Mas o bom é que ele veio para os tios dele. ― Ela me olhou. ― Hoje, nós vamos
contar a ele sobre você. Assim que ele ver você, poderá pensar que está vendo coisas e não quero
sua cabecinha com pensamentos que não deve. ― Ela sacudiu a cabeça. ― Tomei conta de Shaw
e até olhei a ficha dele e vi a foto de sua irmã. Não vi semelhança entre as duas até quando
descobri quem você era, ela tinha cabelos claros e a cor dos olhos também mais clara. A vida
judiou bastante dela, o sofrimento faz isso com as pessoas.
― Esse monstro que fez o que fez com ela está preso, né? ― Esperava que sim, porque
não podia aceitar que ficasse livre depois de tudo isso.
― Sim, não vai ver a luz do dia tão cedo ― garantiu Lucky. ― E Mary também.
Assenti e depois falei uma coisa que estava me incomodando.
― Deixa para falar com Shaw sobre mim depois que eu fizer o transplante. Se você for
doador ― olhei entre os dois. ― Não quero que ele me veja. E se por caso, eu não conseguir, a
criança ficará devastada, pois eu me pareço com a mãe dele e, isso poderá trazer lembranças que
pode afetá-lo.
Todos me encararam de olhos arregalados; vi que não estavam querendo concordar
comigo, mas no fundo sabiam que eu estava certa.
Tinha medo, porque mesmo que Lucky fosse compatível, eu passaria a fazer tratamento
de quimioterapia, e tinha consciência que é algo doloroso, apesar de ajudar para evitar a rejeição
no transplante. Um processo que teria que passar. Como não poderia proteger quem estava do
meu lado, pelo menos faria isso com o Shaw, que já sofreu demais na vida dele.
― Sophie ― começou Daniel, sacudindo a cabeça.
― Não quero que ele sofra mais do que já sofreu no caso de eu não... ― ele estremeceu,
assim como Lucky ― Assim que eu estiver boa, vocês falam com ele. Sei que vocês concordam
comigo, mesmo sendo difícil é o certo.
― Os resultados saem hoje ― falou Lucky.
Tinha certo nervosismo na voz dele, mas tinha esperança também ali.
Só queria estar bem para trazer Shaw para minha vida, porque quando ele estivesse nela
ficaria para sempre.
― Estou imensamente feliz por vocês terem adotado Shaw e o amado. Nessas horas
acredito em destino. ― Olhei para a foto de Laila. ― Acredito que ela ficaria feliz com isso. Não
podia ter escolhido família melhor.
― Você também foi acolhida e amada. ― Lucky deu um sorriso, embora a dor que
sentíssemos pela perda de Laila estivesse ali e em mim. ― Agora não sairei mais da sua vida.
Terei você e Shaw. Já o amava antes de saber quem ele era.
― Bryan também encontrou o pai de vocês Sophie ― disse Daniel.
Virei para ele de olhos arregalados.
― Meu pai? ― Sempre imaginei que ele fosse igual a Mary, que não se importasse o
bastante conosco. ― Ele sabe o que a Mary fez com a gente?
Lucky suspirou.
― Não sabia até Mary contar que teve três filhos com ele. Seu nome é Joaquin Law e
mora em Savannah. Pelo que soube nosso pai estava tentando nos localizar, mas a Mary não
contou onde nos abandonou. Ele gastou tudo que tinha com detetives particulares até não ter
mais nada e, obviamente, não conseguiu nos achar ― disse Lucky com emoção na voz.
Pisquei, aturdida. Então nosso pai tentou nos encontrar? Como será que ele era? Se
vendeu tudo para nos encontrar, então se importava muito.
― Ele sabe de nós agora? ― Virei para o Lucky.
Ele assentiu.
― Já deve saber agora. Bryan foi procurá-lo para falar sobre nós ― disse. ― Queria ter
ido, mas precisava falar com você e receber os resultados dos exames.
― Bryan vai contar que estou doente... ― mais um que eu não poderia proteger.
― É preciso Sophie, ele pode fazer os exames também já que você é filha dele. ― Me
estendeu outra foto.
O homem ali era alto, com cabelos cheios de mechas grisalhas. Olhos verdes floresta e
barba por fazer.
― Você se parece com ele ― sussurrei para o Lucky. ― Tão lindo! Não vejo a hora de
vê-lo.
Gostava de saber que tinha outra família, pois acreditava que quanto mais, melhor. Passei
a vida toda só como meus pais, sem irmãos. Em um intervalo curto de tempo, eu ganhei um
sobrinho, um irmão e outro pai.
― Bryan vai trazê-lo e poderemos falar com ele. ― Lucky falou.
― Onde ele vai ficar? Posso ficar com nosso pai no meu apartamento...
Daniel me cortou.
― Você não está indo embora daqui, então se quiser pode trazê-lo para cá. Não vou
deixar você sair do meu lado por nada.
― Joaquin vai ficar na minha casa, não se preocupe, vai dar tudo certo Sophie. ― Lucky
declarou.
Assenti, não ligava onde ele ficasse desde que estivesse aqui para que eu pudesse vê-lo
em breve.
Depois disso, Lucky e eu falamos sobre nossa infância, meus amigos, meus pais, como
fui feliz ao lado de Daniel na minha vida. Contei sobre como primeiro fomos amigos, depois o
primeiro amor um do outro, a sua perda e agora o reencontro.
Lucky olhou feio para o Daniel.
― Espero que nunca a deixe, ou juro que acabo com você sendo meu amigo ou não ―
ameaçou.
Daniel não ligou para ele, só me olhava com tanto amor que meu coração balançou e meu
estômago palpitou.
― Jamais poderei viver sem a minha alma ― declarou com fervor, me puxando para seus
braços.
Mesmo com tudo o que teria que passar para continuar tendo aquela realidade ao lado das
pessoas que amava, eu estava ansiosa para ter uma família com aquele homem que era a razão da
minha vida.
Capítulo 18
Sophie
― Você não me contou ― acusou Laurel. ― Pensei que éramos amigas.
Contei a ela sobre a doença assim que chegou ao apartamento de Daniel. Tinha ligado
para Laurel e decidi chamá-la até ali, já que no momento não poderia sair de Manhattan.
Lucky fez os exames e estávamos só esperando os resultados que não deveria demorar a
sair. Era para ter saído no dia anterior, mas acho que sairia dentro de algumas horas.
Mamãe e papai estavam no meu apartamento, pois não quiseram ir embora sem saber os
resultados. Logo depois eu teria que passar pelas sessões de quimioterapia, e eles não me
deixariam passar por isso sozinha. Outra razão para contar para a Laurel, porque sabia que ela ia
querer ficar comigo.
― Lamento Laurel, as coisas ficaram tão confusas, sabe? A descoberta da doença, a dor
dos meus pais sem poder fazer nada, a procura pelos meus parentes com a esperança de me
salvar ― contei tudo sobre as conversas que tive com a Mary.
― O quê? Ela pediu dinheiro para salvar a filha? ― rosnou com os dentes cerrados.
Ri amarga.
― Essa mulher fez coisas piores Laurel, nos abandonou de forma que nenhuma mãe faz.
Podia, sei lá, nos dar para um orfanato. Até o maldito estado era uma saída, mas não da forma
que ela nos deixou. E o pior foi que minha irmã... por Deus, um clube de motoqueiros! ―
exclamei com raiva.
― Nem todos os clubes de MC são ruins ― interveio Daniel, olhando uns papeeis. Já
fazia hora que ele estava olhando aquilo, não sabia o que era.
Quando Laurel chegou, ele nos deixou sozinhas ali na cozinha e ficou na sala de estar
mexendo com papéis. Jordan estava com ele.
― Até agora não vejo nenhum ― declarei.
― Os MC Fênix são pessoas boas. Conheço Shadow há alguns anos. Sua irmã foi
deixada em frente à sede do MC Scorpion. Parece que quem ficou com ela foi o pai de Black, o
presidente do clube até pouco tempo ― disse Jordan.
Franzi a testa. Não era de julgar ninguém sem conhecer, mas aqueles MC transformaram
uma criança em prostituta até o ponto de ela fugir.
― O que houve com o pai desse tal Black? ― Esperava que estivesse preso e nunca mais
saísse.
Jordan suspirou.
― Black o matou e tomou seu lugar. Foi nessa época que sua irmã fugiu de lá, pois
aproveitou o reboliço.
― Black?
― Morto. Ele ousou tocar na mulher do Daemon, um dos motoqueiros do MC Fênix.
Parece que o pai adotivo da garota a deu para o Black, seu nome é Emília. Enfim, Daemon
matou o padrasto dela, e no final soube que ela era irmã de um chefe de cartel. Miguel mandou
alguém na cadeia para matar o Black. ― Virou para mim com um meio sorriso. ― Acredite em
mim, não sobrou nada dele para contar história.
Laurel franziu a testa.
― Como sabe tanto sobre isso? Que esse tal Daemon matou um homem. E esse Miguel?
Seu sorriso direcionado a sua esposa era cheio de carinho e amor, o mesmo que via em
Daniel quando o direcionava para mim.
― Fiquei amigo do Axel, ele é leal ao clube e não diz nada. Se me contou algo assim foi
porquê sabe que eu nunca diria aos outros, só estou falando para vocês, porque não há alguém
que eu confie mais. E também não é nosso assunto para se meter a não ser que queira ir para uma
cova. ― Deu de ombros sem parecer se importar. ― Pelo menos o cartel faria. O resto do grupo
dos MC Scorpion está preso.
Claro que não diria nada a ninguém; estava aliviada que o pai de Black estivesse morto e
o padrasto dessa garota, Emília, também. Então se morreram tiveram o que mereceram.
― O meu ponto é que nem todos os motoqueiros são bandidos, acredito que se o
conhecessem os integrantes dos Mc Fênix pensaria o mesmo. Conheço Shadow, o presidente
dele. Todos ajudaram a resgatar a Samira e a Tabitta que tinham sido sequestradas pela máfia
russa há alguns anos ― disse Daniel. ― Como disse, eles são leais, uma família onde um
morreria pelos outro.
― Você parece gostar deles ― deduzi.
Daniel deu de ombros.
― Aprecio a lealdade deles, pois é como a que tenho com Jason, Lucky, Ryan, Jordan e
Bryan. Daríamos a vida um pelo outro, assim como os MCs. Apesar de não vê-los muito, Jason e
Bryan são mais amigos deles do que eu. ― Daniel levantou os olhos dos papéis e me encarou.
Estava lindo com óculos de grau. ― Vou apresentar vocês um dia, acredito que vão se dar bem,
as esposas deles são gente fina.
― Conheci a Evelyn, esposa de Dominic, mas todos os chamam de Shadow. ― Ela fez
careta. ― Acho que pelo ar sombrio que predomina dele, mas parece legal e ama aquela mulher.
Daniel e Jordan voltaram a atenção para os papéis e o laptop ligado.
― Lamento por não ter te contado antes sobre mim, mas juro que de agora em diante
contarei tudo a você. ― Voltei ao nosso assunto.
Talvez um dia pudesse conhecer aqueles motoqueiros e, de alguma forma, agradecer por
terem acabado com a corja de MC Scorpion. Cada tipo de nome.
Laurel ficou magoada pelo de eu ter escondido, mas estava com medo do que estava por
vir.
― Eu sei por que você fez isso, Sophie, porque sempre teve essa mania de querer
proteger a todos. Só quero que saiba que estaremos aqui para o que precisar. Tanto eu quanto o
Jordan. ― Afirmou. ― Sei que a caminhada será longa, porque ouvi falar que quimio não é bom
fazer.
Encolhi os ombros.
― Eu sei. Até pensei em não voltar para o Daniel no intuito de protegê-lo da verdade,
assim adiei contar ao Lucky também. ― Sorri. ― Mais agora com todos aqui, eu me sinto mais
esperançosa e entusiasmada querendo que só passe logo, com fé de que tudo dará certo.
― Família nos dá mais força para passar as lutas; se não fosse a minha, eu não teria
conseguido sobreviver após perder minha mãe. Com eles, eu sou forte, e agora mais ainda com
Jordan e minha filha.
A mãe dela e o padrasto, o pai de Shade, morreram quando o avião caiu há alguns anos,
isso deixou minha amiga arrasada.
― Verdade. Agora cercada de pessoas que amo e me amam também, eu estou bem e
tenho forças. ― Peguei sua mão. ― Espero não perder sua amizade pelo meu medo, e por tentar
protegê-la da verdade.
― Vem cá. ― Me puxou para seus braços. ― Não tem nada para perdoar, você não fez
por mal, só queria me proteger da dura realidade.
Ficamos mais alguns minutos conversando, depois almoçamos.
― Se precisar de mim, eu estarei aqui amiga ― disse Laurel assim que estava de saída
para pegar Jordana na casa de Lucky. ― Falei com o Jordan e vamos ficar no apartamento dele
aqui até que aconteça o transplante e você esteja bem.
Meu coração apertou.
― Obrigada. Você é uma amiga que vale ouro. ― Beijei seu rosto.
Assim que Jordan e Laurel se foram, eu voltei para a sala onde Daniel ainda estava
sentado no sofá com os papéis.
― Para quê esse monte de papel? Faz horas que está mexendo neles ― sondei curiosa.
Ele fechou a pasta com os papéis e depois se virou para mim.
― É o contrato de um imóvel que estou comprando. ― Sorriu para mim.
Deixei passar.
― Está lindo com esses óculos. ― Sentei em seu colo e o beijei faminta como sempre
quando estava com ele. Daniel retribuiu cada toque e beijo.
Minhas mãos foram para suas calças, mas em dois segundos sua mão pegou a minha e as
afastou. Isso sempre acontecia quando as coisas esquentavam entre nós.
Eu já estava cansada disso! Ele estava me rejeitando há semanas. Tinha consciência de
que era por eu estar doente, mas agora não estava sentindo nada.
― Sophie...
― Mas que droga, Daniel! ― Saí do colo dele. ― Nós não ficamos juntos depois que
voltamos. Sempre que me aproximo, você se afasta.
Ele suspirou, mas vi dor em seus olhos.
― Só vamos esperar mais um pouco...
― O médico disse que minha doença não atrapalha o sexo. Só precisamos usar
camisinha. ― Tentei convencê-lo.
― Sophie...
Joguei minhas mãos para cima em um gesto exasperado e frustrado.
― Não vou ficar aqui implorando para que me toque, vou cuidar de mim mesma, já que o
homem que tenho fica me rejeitando. ― Saí da sala e fui para o quarto ignorando seu chamado.
Não estava magoada por ele querer esperar que eu ficasse curada, mas sim grilada. Tirei
minhas roupas e peguei o vibrador na forma de pênis que comprei mais cedo. Queria ver a reação
dele quando visse; se me deixaria ser fodida por um vibrador ou se faria o serviço ele mesmo.
Estava de costas para a porta, mas ouvi quando ele abriu e logo o seu ofegar.
― Que porra vai fazer com isso? ― rosnou, parecendo com raiva. Bom, éramos dois
então.
Levantei as sobrancelhas.
― O que acha? Satisfazer minhas necessidades, já que não me quer. ― Eu ainda estava
só de calcinha e sutiã. Deitei-me na cama e olhei para ele enquanto tirava minha calcinha. ―
Pode ficar e me assistir ser fodida por esse pênis, já que está me negando o seu. O ruim é que
esse não tem como lamber, sugar e chupar assim como eu faria com o seu.
Ele prendeu a respiração e ficou ali tentando se controlar. Vou empurrá-lo mais um
pouco, pensei. Veria se Daniel não quebraria esse medo que tinha de me machucar no caso de
ficarmos juntos.
Se eu estivesse passando mal, até entenderia, mas desde o dia anterior, eu não sentia nada
nem fadiga e, além disso, o sexo era permitido só precisávamos nos proteger, já que eu não
poderia ficar grávida estando doente assim.
Abri mais as minhas pernas e seus olhos seguiram o movimento e se arregalaram assim
que ele viu o piercing que eu tinha ali.
― Não tem vontade de colocar a sua boca em mim? Sua língua em meu clitóris e chupá-
lo como se estivesse com fome? ― Minha voz era gutural de desejo. ― Enfiar seu pau em minha
boceta pulsante? Vê-la engolir todo o seu pênis? Me ouvir gemer em seu ouvido?
Ele engoliu em seco.
― Não queria que sua ereção fosse esse vibrador para me preencher e me levar ao
êxtase? ― Olhei para ele enquanto levava o vibrador entre minhas pernas. ― Daniel ― Gemi,
fechando os olhos assim que o objeto triscou em meu clitóris.
Não demorou muito para ele agir. Assim que comecei a enfiar o vibrador, ele foi
arrancado da minha mão e ouvi um baque não muito longe, como se ele tivesse jogado contra a
parede ou algo assim.
― Nenhum maldito pau de borracha ou outro irá entrar nessa boceta ― rosnou. ― Ela é
só minha Sophie, só eu possa usá-la e comê-la da forma que eu quiser.
Meus olhos se abriram e juro que meu coração parou por um segundo ao vê-lo ali em
cima de mim furioso e com tesão. Pude ver através de seu short.
― Vai colocar esse brinquedo em ação? ― Apontei para a sua ereção em pleno vigor. ―
Por que estou aqui pingando e latejante querendo você. ― Dei a ele um olhar sensual.
― Você é uma provocadora, gostosa demais. ― Pairou em cima de mim com os olhos
nos meus. ― Sophie, você nunca precisa implorar para ficar comigo, sou todo seu.
Sorri.
― Bom saber. ― Coloquei minhas mãos em suas calças. ― Eu gosto muito disso aqui.
Ele rosnou e trilhou um caminho de beijo do meu pescoço e seios. Tirou o meu sutiã e
jogou longe e logo sua boca estava me possuindo.
― Merda! Era disso que tanto senti falta. ― Chorei, pegando seus cabelos macios.
Foram anos até ter aquele homem de volta bem ali onde estava, nos meus braços me
possuindo como sempre fazia. Cada toque dele era como um raio.
― Vamos fazer Sophie, ― ele olhou para mim ― Mas precisa me dizer se começar a se
sentir mal. Não importa o sintoma. Você precisa me falar.
Assenti. Sabia que por estar doente não deveria pensar em sexo, mas no fundo não sabia
o quê daria os exames de Lucky. Se desse positivo, eu teria que fazer tratamentos, o meu corpo
ficaria dolorido depois das sessões de quimio, por isso o queria agora antes de as coisas ficarem
feias.
― Prometo. Agora eu só quero você ― clamei, beijando seus lábios.
Não queria pensar em mais nada, apenas em nós dois naquele momento; fingir que era
sadia. Rezar para ficar curada depois do transplante e para que desse tudo certo.
Foquei no homem em cima de mim passeando com sua boca deliciosa pelo meu corpo,
barriga e ao sul dali. Daniel me possuía da mesma forma que eu me lembrava. Eu senti muitas
saudades da sua boca em mim.
Cada puxão de língua, cada intrusão dela me consumindo, meu ponto pulsante.
― Daniel, isso é tão bom... ― chorei, pegando seus cabelos e apertando mais contra meu
centro.
Sabia que logo gozaria, pois aquele homem me tocando era com um vulcão tomando
conta de mim. Com ele na minha vida, eu teria mais forças para lutar e vencer aquela doença
custe o que custar.
― Goza, minha linda. Goza na minha boca. Eu quero provar esse mel que tanto senti
falta ― rosnou, enfiando dois dedos e me fazendo gemer.
Sua língua e dedos estavam me deixando louca, então explodi vendo milhares de estrelas.
― Quero você dentro de mim, Daniel ― pedi.
Senti o mal estar chegando... não, droga! Sentia-me ofegante, mas não sabia se foi pelo
orgasmo ou por que já estava mesmo para acontecer.
― Sophie ― chamou Daniel do meu lado, tocando meu rosto. A dor estava na sua voz.
― Lamento Sophie.
Abri os olhos que nem percebi que os tinha fechado, mas estava tentando recuperar o
fôlego.
― Não foi culpa sua Daniel, eu que insisti e o seduzi para entrar em ação ― falei,
tentando tranquilizar. ― Se tem alguém que precisa se desculpar aqui é eu, já que o deixei duro.
Sacudiu a cabeça.
― Acha que vou ligar para isso quando estou vendo a forma que essa doença está
deixando o seu corpo? Vi as marcas nele, os hematomas nas suas costas. Como acha que me
sinto com isso? ― A impotência era evidente.
O abracei forte querendo tirar aquilo dele, a dor e a impotência de não poder fazer nada.
― Desculpe por ser ter sido insensível e por...
― Não lamente por me fazer tocá-la. Nunca faça isso. Eu estou ansiando por isso Sophie,
mas nesse momento só quero que fique curada, não posso pensar em tocá-la quando sei que
passará mal assim como agora. Isso me mata, porque não posso tirar isso de você e colocar em
mim, pois se pudesse, eu faria. ― A verdade estava em cada linha do seu rosto.
Deitei com a cabeça em seu peito.
― Às vezes me pergunto: por que eu? Por que tenho isso? Logo agora que tenho você. ―
Chorei.
Nunca fiz isso nos braços de alguém, sem ser nos da minha mãe; chorar por estar doente.
Quando descobri, eu fiquei derrotada e chorei muito nos braços dela, agora nos de Daniel.
― Não sei, querida, mas vamos passar por isso, juntos e vamos vencer. ― Alisou meu
rosto.
― Acredito em você. ― Beijei seu rosto. ― Como tive a sorte de ter um homem como
você? É o homem mais perfeito do mundo.
Ele pigarreou.
― Sophie, eu amo você demais ― declarou com fervor, e parecia emocionado.
― Se eu não conseguir... ― ele colocou os dedos nos meus lábios, me interrompendo.
― Não Sophie, não vamos ter essa conversa.
Peguei sua mão.
― Só quero dizer que, se não conseguir, eu não quero que você se afunde. Prometa que
não fará nenhuma besteira. ― Eu precisava ouvir isso dele, sua afirmação.
Seus olhos se fecharam e o vi expirar com dificuldade. Isso me fez chorar mais.
Oh, Deus! Que o senhor me cure para que aquele homem não sofra com minha perda.
― Não vai acontecer nada. ― Me aninhou em seu peito evitando meus olhos, mas não
passou despercebido que ele não prometeu nada.
Estava a ponto de forçá-lo a dizer e prometer, mas meu telefone tocou na mesinha.
Afastei-me dele para atender, mas Daniel o pegou.
― Eu atendo. Só fique aqui deitada ― pediu e atendeu com uma mão, me abraçando com
a outra. ― Alô? ― Ele ouviu algo. ― Tem certeza?
Afastei-me e olhei para ele que parecia estar com uma grande esperança.
― Vamos preparar tudo. Obrigado. ― Desligou o celular e me encarou.
― O que é Daniel? Alguma notícia do hospital?
Ele sorriu.
― Lucky é compatível e o médico vai interná-la. ― No final da sua frase o sorriso
sumiu.
― Vai ficar tudo bem. ― Toquei seu rosto. ― Como você disse: vamos enfrentar isso e
juntos.
― Juntos. ― Afirmou.
Era a hora de enfrentar o cativeiro, mas valeria à pena se no final, eu conseguisse viver ao
lado de Daniel e minha família.
Capítulo 19
Sophie
Após o telefonema do Lucky com a confirmação da compatibilidade, eu me senti feliz,
mas também nervosa pelo que teria que passar.
Nas minhas idas ao hospital, eu vi muitas pessoas como eu; tinha a Bailey, uma garotinha
de doze anos que estava fazendo quimioterapia depois de ter conseguido um doador. Era o
sofrimento que ela teve que passar para que seu corpo não rejeitasse a nova medula. Não sabia
como ela estava, porque ainda estava fazendo o tratamento. Mas esperava que estivesse bem.
Cheguei ao hospital e falei com o doutor Eduardo. Lucky queria me levar para Houston,
mas eu não achei necessário, afinal ali teria as mesmas coisas.
― É muito bom que seu irmão seja compatível. Mas agora vem a outra parte; eu sei que
passou meses recebendo sangue e os sintomas aumentaram, não é? Com a quimioterapia isso vai
aumentar. Terá que ser feito um processo para matar as medulas antigas para que o transplante dê
certo.
Coloquei minhas mãos no colo, nervosa e, Daniel as segurou firme. Ele estava do meu
lado, assim como Lucky e mamãe. O papai também queria entrar, mas já tinha muita gente na
sala do médico.
― Sim, eu sei que o processo é difícil. Quem poderá ficar comigo lá?
― É permitido que uma pessoa fique para ajudar quando a situação ficar difícil. Mas terá
enfermeiros sempre que precisar ― informou.
― Minha...
Daniel me cortou.
― Não vou deixar você, Sophie. ― Sua mão me apertou um pouco.
Olhei para ele querendo encontrar um jeito de não deixá-lo ver a forma que eu ficaria.
Isso iria machucá-lo ainda mais; me ver daquele jeito e não poder fazer nada.
― Daniel...
Sacudiu a cabeça.
― Não Sophie. Eu sei por que quer fazer isso, pois não quer que eu veja a forma que vai
ficar após os medicamentos. ― Tocou meu rosto e me fitou. ― Não posso ficar longe. Eu
preciso vê-la não importa como. Lembra-se do que me disse? Que faríamos tudo juntos? Então
vamos fazer.
Meu coração rachou por dentro; escolher minha mãe ao invés dele para ficar comigo não
queria dizer que amava menos o Daniel, mas eu sabia que minha mãe era forte e me ajudaria com
tudo. Já o Daniel me veria em uma situação que nunca viu, onde eu perderia peso, meus cabelos
cairiam, ou seja, eu terei que ficar careca antes de começar. Uma parte feminina minha se
importava com a ideia de ele me ver assim.
Ele limpou as lágrimas que desciam pela minha bochecha com seus lábios.
― Vai ficar tudo bem, querida. Eu serei forte para você. Prometo.
― Não sabemos quanto tempo você vai precisar da quimioterapia. Quanto menos
precisar dela melhor e, isso vai depender de como ela reagirá em seu sistema sanguíneo ― disse
o médico. ― Posso liberar duas pessoas, sua mãe e seu namorado.
Fiquei escorada em Daniel, mas voltei minha atenção ao doutor.
― Poderei visitá-la sempre que puder? ― sondou Lucky.
― Lamento, senhor Donovan. Eu já estou abrindo exceção para um e não posso abrir
mais. Ela precisará ficar isolada por um tempo, mas vamos torcer para que seja breve. ― Sorriu
para mim.
Lucky não gostou muito, mas não reclamou. O que me surpreendeu, já que soube que ele
tinha o hábito de querer comprar tudo e a todos. Realmente meu irmão estava mudando.
― Tudo bem, mas precisarei que me mantenha informado de como ela estará reagindo.
― O senti encolhido, acho que pensando no quanto aquele tratamento me machucaria.
― Avisarei. ― Assentiu o médico. ― Agora se despeça dos seus familiares, e depois a
enfermeira vai ajudá-la a cortar os seus cabelos. Ou você prefere esperar que para caírem
sozinhos?
Encolhi-me por dentro. Claro que não era tão vaidosa com meus cabelos, mas eu adorava
o fato de eles serem compridos. Nunca gostei deles curtos e muito menos raspados...
Expirei fundo.
― Tudo bem. ― Não deixei transparecer como eu me sentia na frente da minha família.
Saí da sala, meio dura. Precisava ter forças, mas não sabia como conseguiria.
― Sophie...
― Vou ficar bem Daniel. ― O tranquilizei e depois murmurei: ― Só queria que você
não visse as mudanças no meu corpo. Será doloroso para você e mamãe.
― Não vamos falar sobre isso de novo; eu vou estar com você e ponto final. Vou ser sua
âncora. Serei tudo o que precisar. ― Apertou os braços ao meu redor.
― Sou sua mãe e é minha função. Você vai entender isso quando tiver filhos. ― Ela
disse. ― Queria ficar no seu lugar, mas como não posso, eu ao menos quero estar lá para quando
precisar de mim.
Limpei as lágrimas quando chegamos à sala de espera.
― Lamento por fazer vocês sofrerem assim. Se pudesse, eu jamais faria isso. ― Olhei
para todos na sala que por sinal estava abarrotada com pessoas da minha família.
Jason com Tabitta; Ryan, Angelina, Sam, Alexia, Rayla e o marido dela; Alex, que por
sinal era irmão de Alexia. Weliton e Zoe também estavam ali.
Abracei todos e agradeci por estarem ali comigo e me darem força.
Chegou a vez do papai.
― Não chore papai, eu vou ficar bem. Vai dar tudo certo. Por favor, tome o seu remédio
para pressão nos horários certos, não deixe que ela se altere, pois não posso perder você. ― O
abracei forte. ― Eu te amo.
― Vai dar tudo certo, abobora. Eu também amo você. ― Beijou minha testa.
Olhei a todos.
― Obrigada por estar aqui. ― Queria que meu outro pai estivesse ali. Lucky disse que
ele tinha quebrado a perna e que estava internado em Savannah.
Sabia que não poderia ir até lá, mas poderia pelo menos falar com ele pela chamada de
vídeo, já que não sabia quando sairia do confinamento.
Estava a ponto de pedir o número dele ao Lucky para conversar com o meu pai quando
Bryan entrou. Tinha sentido a falta dele. Atrás vinha um homem com muletas e roupas de
hospital com uma jaqueta por cima.
Pisquei reconhecendo-o. Ele parou onde estava e varreu os olhos em todos e, no final
ficou entre mim e Lucky. Certamente ele deve ter visto nossas fotos assim como nos vimos as
dele. Ele estava magro e com os cabelos mais brancos. Também estava com olheiras fundas.
― Não devia estar no hospital? ― Lucky foi até ele e depois virou a cabeça na direção
do Bryan.
― Ele ouviu que Sophie estava sendo internada e ficou louco querendo vir. Não tive
escolha se não trazê-lo ― disse Bryan.
Joaquin suspirou.
― Desculpe, eu só precisava vê-la antes que fosse internada, porque me disseram que
depois não poderá receber visitas. ― Ele parecia nervoso, mexendo nas muletas.
Deixei Daniel e fui até perto dele, ficando ao lado de Lucky.
― Falei que o Lucky se parecia com você. ― Sorri. ― O senhor deve ter partido
corações quando moço.
Ele sorriu.
― Um pouco. ― Depois seu sorriso morreu. ― Sei que é pouco tempo para falarmos,
então vou ser breve e depois falamos mais quando você ficar boa.
― Sente-se aqui e apóie o pé no sofá. Ou isso trará sequelas e muita dor depois. ― Pelo
que Lucky explicou, nosso pai caiu da escada quando estava arrumando uma janela. Pelo que
soube ele trabalhava com construção.
― Fisioterapeuta brilhante ela é, né? ― Sorriu nervoso para o Lucky, mas sentou na
cadeira. ― Só queria dizer que eu não sabia de vocês, mas quando descobri, eu contratei vários
investigadores, mas não consegui encontrá-los. Essa semana, eu soube que a Eliana já estava
presa há algum tempo, e que na verdade, ela se chamava Mary. Nem o nome verdadeiro ele me
disse, e isso dificultou bastante meu desejo de descobrir sobre ela e sobre vocês durante todos
esses anos. ― Suspirou. ― Espero que me perdoem e, eu juro que daqui para frente estarei aqui
sempre que precisarem de mim. ― Ele olhou para o meu pai logo atrás de mim. ― Não quero
tomar seu lugar de pai, não tenho esse direito. Me contento apenas com um espaço no coração
dela.
― Você é pai dela, e não sabia de nada, então nós dois somos pais dela. ― Papai disse.
Desejei beijar meu pai de criação, pois ele amenizou a culpa que Joaquin sentia.
Fui até meu pai biológico e o abracei tomando o cuidado para não machucar sua perna.
― Não há nada para perdoar. O senhor não está roubando o lugar do meu pai, pois posso
muito bem ter dois pais. ― Beijei seu rosto com barba. ― Fique bem, pois assim que voltar, nós
vamos marcar um almoço. Você, Lucky e eu. O que acha?
― Perfeito. ― Ele sorriu para mim e Lucky, que assentiu. ― Vai dar certo lá. Lamento
por conhecer vocês nessa situação e não poder fazer nada para ajudar.
― Vamos precisar ir, meu amor. ― Mamãe sorriu para meu pai biológico. ― Sou Alísia,
a mãe dela.
― Prazer conhecer vocês pessoalmente. Bryan mostrou as fotos da família dos meus
filhos, das pessoas que os amam e protegem. Fico feliz por isso, e nunca poderei agradecer o
suficiente por tudo o que fizeram a minha filha.
― Não precisa agradecer. Ela é a melhor coisa que aconteceu na minha vida e na do
Antônio.
Fiquei de pé me preparando para ir para o quarto onde ficaria trancafiada.
― Antes de irmos, eu quero pedir a mão de Sophie a vocês dois, Joaquin e Antônio. ―
Ouvi Daniel falar atrás de mim. ― Sei que não é o momento e, ao mesmo tempo é. Mas quero
dizer que não há nada que eu ame mais nesse mundo do que ela.
Pisquei chocada.
― Você o aprova? ― Meu pai Joaquim olhou para meu pai de criação, que respondeu:
― Sim, ele é como um filho para mim. Daniel merece minha filha, porque não há
ninguém que a ame mais do que ele. ― Sorriu para Daniel. ― Tem a minha benção, filho.
― A minha também ― disse meu pai Joaquim.
Daniel caiu de joelhos e me ofereceu um anel de ouro com pedra na forma de meia lua.
Isso me fez ofegar.
― Poderia esperar para pedir que se case comigo depois de tudo isso passar como era
previsto, mas pelo visto, eu tenho que provar que vou estar ao seu lado na dor, nas lutas, aqui
nesse lugar ― olhou ao redor ― Naquele leito onde você ficará... não importa se seus cabelos
vão cair ou não, porque não ligo para isso como vi a preocupação em seu rosto. Eu só quero que
saiba que para mim você é tudo, razão de viver e esse ar que respiro.
Coloquei a mão na boca.
― Ficarei com você na doença, como nesse momento, e também na alegria e na saúde,
porque após sair desse lugar você ficará boa e, eu me casarei com você e terei uma família. Uma
que sonho há anos. ― O amor brilhava em seus olhos e a emoção estava em sua voz. ― Prometo
amá-la e respeitá-la para sempre. E então, aceita se casar comigo?
Sorri em meio às lagrimas.
― Sim. Mil vezes sim. ― Ele colocou o anel no meu dedo e o beijou.
― Te amo e vou amá-la para sempre. ― Ele se levantou e beijou meus lábios.
Nesse momento, eu não liguei de estar chorando de novo, porque era um choro de
felicidade; um choro que parecia que meu peito parecia transbordar.
― Também te amo ― declarei, pulando nos braços dele. ― Também amo você demais.
No meio de tudo isso, eu recebi três notícias boas: a compatibilidade da medula do meu
irmão; meu pai biológico decidiu me ver antes da internação, e o Daniel me pediu em casamento
no hospital. Ouvi aplausos dos meus amigos e familiares, e até das pessoas ali no hospital.
No fundo, com Daniel ao meu lado seria mais fácil passar por tudo até que eu ficasse boa.
Ele me daria forças de onde eu não tinha para lutar e viver.
― Você é a Lua que ilumina minhas noites escuras, as estrelas que brilham minha vida e
o sol que clareia os meus caminhos. Com você ao meu lado, Daniel, eu terei forças e passarei
pelo vale. ― Beijei seus lábios, selando minha promessa.
Capítulo 20
Daniel
Sophie entrou na sala branca onde cortaria os cabelos; ela decidiu que faria isso ao invés
de esperar cair. A enfermeira iria ajudá-la. Mas vi a forma que Sophie olhava para a tesoura e
maquininha de cabelo na mesinha.
Queria poder fazer alguma coisa para que ela não passasse por isso, mas como não tinha
jeito, eu seria a sua força, sua âncora como tinha dito antes; eu ignoraria meus medos naquele
momento e a dor em meu peito por vê-la sofrer como naquele momento.
― Sophie. ― Beijei sua testa. ― Não me importa se terá cabelos ou não, porque te
amarei da mesma forma.
Ela me olhou com os olhos banhados em lágrimas.
― Mas...
― Me deixa te perguntar: se eu ficasse careca agora, você me acharia feio e me deixaria?
Ela piscou como se eu tivesse feito uma pergunta absurda.
― Não, jamais deixaria você por isso. ― Segurou minhas roupas. ― Eu só...
― Eu sei. Quero que feche os olhos. Eu mesmo vou fazer isso ― avisei a enfermeira, que
me entregou a tesoura.
― Daniel...
― Vai ficar tudo bem, querida. ― A levei para o banheiro e a sentei na cadeira. ― Feche
os olhos se preferir, pois poderá ficar mais fácil.
Ela assentiu, fazendo o que pedi. Pensei que se ela visse os cabelos caindo seria pior.
Cortei, fazendo cada mexas cair ao chão. Até que liguei a maquininha e passei na cabeça dela,
ouvindo-a choramingar.
― Vai crescer de novo, querida ― garanti para tranquilizá-la. Assim que terminei, eu
tirei o pano que cobria sua roupa.
Peguei um lenço branco de dentro do bolso; tinha pedido para Sam comprar um para
mim. Nele estavam escrito as mensagens de nossos amigos. Coloquei na cabeça dela.
― Abra os olhos ― pedi com meu rosto perto do dela e a beijei de leve. ― Ainda é a
mulher mais linda do mundo.
Ela fez o que pedi e piscou ao ver o pano na sua cabeça todo rabiscado de caneta.
― São mensagens dos nossos amigos. Nelas, eles estão dizendo que vai dar tudo certo e
você vai ficar curada. ― Entreguei a maquininha para ela. ― Aqui, é sua vez.
Ela franziu a testa, ainda olhando o lenço pelo espelho.
― O quê?
― A vez de cortar o meu cabelo. ― Sorri, tirando ela da cadeira e me sentando no lugar.
Ela piscou.
― O quê? ― Seus olhos foram para os meus cabelos. ― Não Daniel, não faça isso...
― Ou você corta, ou pedirei a enfermeira ali fora ― falei decidido. Se ela se sentia mal
por estar sem cabelos, talvez se eu também raspasse os meus, seu incômodo amenizasse, né?
Esperava que sim, porque não suportava ver a dor nos olhos dela enquanto olhava para sua
cabeça. Preferia mil vezes chorar a vê-la chorando. Apesar de que não choraria por causa dos
meus cabelos, mas sim por vê-la sofrendo.
Ela olhou para a porta e fez uma careta linda, quase ri ao imaginar a loira lá fora me
tocando; não foi preciso ler sua expressão para saber que era isso que pensava. Conhecia a
Sophie e sabia quando ela ficava com ciúmes.
― Vou cortar, mas não precisa fazer isso por mim ― sussurrou.
Sorri.
― Você faria o mesmo. ― Dei um selinho na ponta do seu nariz. ― Além disso, nossos
cabelos crescerão juntos.
Ela tentou me convencer do contrário dizendo que estava bem e que não ia dar mais
chilique sobre os cabelos, que eu não precisava cortar o meu. Mas no fundo, eu sabia que aquilo
ainda a estava ferindo e eu amenizaria sua dor, ou tentaria, já que não podia fazer nada mais.
Ela raspou meus cabelos até minha cabeça estar lisa como a dela.
Fiquei de pé assim que terminou e sorri para ela.
― Como estou? Feio?
Ela sorriu um pouco.
― Você nunca ficaria feio Daniel ― declarou me abraçando forte. ― Obrigada. Eu não
sei como tive a sorte de ter um homem como você.
― Eu que tive sorte por você continuar me amando todos esses anos. Posso soar egoísta,
mas agradeço por não ter seguido com sua vida e esperado por mim. ― Peguei sua mão e a puxei
para fora do banheiro.
― Eu também. ― Olhou para enfermeira que me olhava com um sorriso.
― Vejo que a ama muito ― disse a mulher. ― Eu sempre acompanho a rotina das
pessoas que fazem companhia aos internos, e alguns tomam a mesma atitude. — Apontou para a
cabeça do Daniel. — É uma demonstração de amor.
― Ele não precisava ter feito isso, porque sei o quanto me ama. ― Seu tom era cheio de
fervor. ― Assim como eu amo.
Saímos para o corredor grande indo para o elevador e seguimos até o ultimo andar, nele
pegamos outro corredor. Cada vez que andávamos Sophie ficava mais nervosa até que parou de
repente.
― O que foi? ― sondei, avaliando o lugar para ver o motivo de ela ter parado.
Na nossa frente tinha uma garotinha de aproximadamente uns doze anos, usava um
vestido comprido e usava lenço como Sophie, mas de coração.
Do seu lado tinha uma mulher que usava lenço também, então entendi o que a enfermeira
tinha dito sobre o que alguns acompanhantes faziam para os pacientes.
― Bailey? ― Sophie piscou e depois sorriu. ― Como está? Está tudo bem?
― Bem. O doutor falou que logo vou para casa. ― Sorriu para Sophie e depois me olhou
avaliando minha cabeça careca. ― Minha mãe também raspou a cabeça para ficar igual a mim.
― Isso quer dizer que ela te ama ― declarei. ― Assim como amo a Sophie.
― Você é namorado dela? ― perguntou a garotinha e depois arregalou os olhos. ― Você
é o Daniel Luxem? Não o reconheci por estar sem cabelos, mas meu irmão é seu fã. Ele ama
carros e diz que será um piloto quando crescer.
Notei que aquela menina fofa gostava muito de conversar, ou tinha ficado muito tempo
sozinha de quarentena e estava aproveitando a liberdade.
― Fico contente com isso. Assim que sairmos daqui, eu marco um encontro com vocês
dois. O que acha?
A garotinha sorriu, impressionada.
― Ele vai amar isso. Vocês dois são namorados? ― Ela olhou entre nós dois.
― Somos noivos, ele acabou de me pedir em casamento. ― Sophie levantou o anel para
a menina.
Bailey arregalou os olhos.
― Tão lindo. É a Lua.
― Sim, Sophie é a minha Lua, o meu tudo ― declarei. ― Espero que saia logo daqui e
fique bem.
Bailey assentiu.
― Obrigada. ― Ela virou para Sophie. ― A quimioterapia vai ser ruim, doeu muito, mas
você vai conseguir. A mamãe disse que tudo ia ficar bem e que era para ter forças que no futuro,
eu seria modelo, é o meu sonho.
― Modelo, hein? ― avaliei sua mãe, que sorria.
― Se ela quiser, nós daremos o maior apoio ― disse a mulher. ― O importante é ela ser
feliz.
― Bom, se quando completar dezoito anos ainda continuar com esse sonho, então me
procure que apresentarei você ao Ryan Donovan...
Parei de falar com os gritos da menina.
― Bailey, por favor ― repreendeu a mãe dela segurando a menina que parecia meio sem
forças ou se recuperando ainda. ― Desculpe, mas ela é fã desse cara e não perde nenhum desfile
nas redes sociais.
― Jura? Pode me apresentar a ele? Posso conhecê-lo assim que você for tirar a foto com
meu irmão. ― Ela estava quicando de tão animada.
― Vamos Bailey, nós precisamos ir para o quarto e eles precisam seguir para o deles ―
disse a mulher.
Vi que a garotinha não sairia dali enquanto eu não prometesse.
― Farei isso. Agora vá se cuidar para ficar boa e concretizar o sonho de ser modelo no
futuro.
― Obrigada. ― Se virou para a Sophie. ― Você vai conseguir assim como eu.
― Vou sim, tenho muitos motivos para viver. ― Sophie apertou minha mão dando
ênfase ao que dizia.
Assim que a menina se foi com a mãe, eu me virei para a Sophie enquanto
caminhávamos para o quarto. Dona Alísia tinha ido à frente para ajeitar algumas coisas no quarto
para minha garota. Amava a minha sogra.
― Ela é muito fofa. Quando a conheceu?
― Ela ficou doente antes de mim. Em uma das minhas vindas ao hospital, eu a conheci e
algum tempo atrás soube que tinha conseguido alguém compatível. Eu não tinha vindo visitá-la,
porque estava no mesmo lugar que eu, sem poder receber visitas. ― Sophie olhou para onde a
menina tinha ido. ― Fico feliz que ela tenha conseguido, espero que se recupere logo.
― Ei? Para você também vai ser assim. Sei que será doloroso e lamento por isso, por não
poder fazer nada. Mas quero que saiba que vou estar do seu lado sempre.
― Eu sei Daniel. Você até raspou sua cabeça por mim. ― Sorriu um pouco.
Ela expirou assim que entramos no quarto e vi o motivo, pois estava cheio de máquinas.
Tinha duas camas no canto. E cadeiras no outro lado.
O doutor estava ali junto com uma enfermeira e ao seu lado dona Alísia.
― Pode ir se trocar no banheiro. Nós podemos esperar ― disse o médico.
Sophie saiu com a dona Alísia enquanto eu esperei para falar com o doutor.
― Quantas sessões de quimioterapia, ela vai precisar? ― perguntei. Soube que os efeitos
eram devastadores e muito dolorosos para o paciente.
― Depende de como ela reagir. O tratamento é basicamente matar a sua medula antiga, e
preparar o corpo para receber a nova, para que ela possa crescer e se desenvolver dentro do corpo
dela, sem rejeição e com a produção de todas as células sanguíneas normalmente.
― Vai ser ruim, doutor? ― Conversava baixinho para que Sophie não ouvisse do
banheiro.
― Vai sentir muito mais do que ela sentiu nesse tempo, pois as células precisam morrer e
isso poderá fazer seu corpo dar sinais de colapso.
Encolhi-me e logo me recuperei assim que Sophie saiu do banheiro, vestida com uma
roupa azul.
― Você escolhe se quer ficar na cadeira ou deitada na cama. ― Gesticulou o médico.
Sophie assentiu. Vi que ela estava nervosa a ponto de suas mãos estarem em punhos. Fui
até ela e segurei sua mão dando forças.
― Cadeira por enquanto. ― Sentou-se e expirou. ― Me sinto como se estivesse entrando
em uma sala de dentista.
Ri para romper a tensão.
― Isso, porque tem medo de dentista, daquela maquininha que faz barulho.
Enquanto falava com ela, o doutor e enfermeira colocavam a agulha no seu braço.
Sentei na cadeira ao lado dela segurando sua mão que não estava com a agulha.
― Como os dois vão ficar aqui, eu arrumei o quarto ao lado, assim vocês dois poderão se
revezar se quiserem.
Sacudi a cabeça.
― Não saio daqui. Se tiver cansado, eu deito nessa cama ― apontei para a outra cama,
sem ser a que estava cercada de aparelhos. ― Vou ficar bem. A dona Alísia fica com o outro
quarto.
Por nada, eu sairia do lado de Sophie. Vi que ela queria retrucar, mas no fundo, eu senti
que ela pareceu aliviada. Minha garota se mostrava forte, mas no fundo estava com medo de
ficar sozinha.

Algumas semanas depois e com as sessões de quimioterapia, eu vi os efeitos em Sophie,


na forma que estava tão pálida, mas numa coloração amarelada ocre. Os olhos da minha garota
ficaram amarelados, isso sem contar a fraqueza ao extremo, de não conseguir se levantar da
cama.
Sabia que o objetivo do tratamento era que o paciente chegasse ao fundo do poço, mas
doía demais vê-la daquela forma e não poder fazer nada.
Mantive-me firme enquanto ela estava acordada, mas chorava como criança quando
dormia. O que mais doía era a impotência; vê-la naquele estado sem poder fazer nada, não poder
tirá-la de lá ou ao menos ocupar seu lugar. Teria feito sem pensar duas vezes.
― Daniel, você precisa dormir um pouco ― disse ela com a voz fraca.
No dia anterior os médicos fizeram uma bateria de exames para ver como ela estava
reagindo ao tratamento. Estávamos torcendo para que cortassem a quimio e fizessem logo aquele
transplante.
Sorri, escondendo a minha dor.
― Estou bem...
Ela me cortou, sacudindo a cabeça, mas saiu apenas um movimento fraco.
― Daniel, os seus olhos estão fundos por não dormir direito ― sussurrou.
Mal preguei os olhos desde que ela se internou; minhas noites foram só de cochilos. Até a
dona Alísia me pediu para dormir, mas sempre que fazia acordava com Sophie tendo enjôos e
outros sintomas que a deixavam com dor. Então, eu acordava e não dormia de novo.
― Sei o que está fazendo, mas você precisa parar com isso. ― Me repreendeu.
― O quê? Não estou fazendo nada, só não quero dormir agora.
― Você está se martirizando como se quisesse sofrer. Como não pode fazer nada por
mim, fica sem dormir e até sem comer. Olha para você, perdeu peso. ― Seu tom era triste. ―
Sei que cortou o seu cabelo por mim, até aceito isso, mas as outras coisas não. Por favor, não
faça isso.
Uma das coisas que amava em Sophie era a sua inteligência e o fato de ela ser
observadora. Sabia que minha garota tinha razão em um ponto. Quanto a perder peso era porque
eu não conseguia comer nada, mas se me esforçasse, eu poderia conseguir. Mas por que faria
isso se ela mal podia comer?
Sophie perdeu muito peso durante aquelas semanas; ela já estava magra demais quando a
reencontrei, mas com o tratamento ficou muito mais, tanto que doía em mim vê-la assim. Outra
coisa era que eu mal dormia, mas isso não era para sofrer como ela. Eu só não conseguia pregar
os olhos depois de vê-la passar mal. Tinha medo de fechar os olhos e acontecer... não. Eu não
podia pensar isso.
― Vou ficar bem Sophie. Prometo que vou dormir e comer. ― Não queria que ela se
estressasse com mais nada. Se para isso tivesse que dormir e comer, mesmo não querendo, eu
faria.
Ela deu um pequeno sorriso moribundo.
― Obrigada. Quero você sadio para quando saímos daqui. Ou com quem vou me casar?
― Deu um aperto leve em minhas mãos. ― Agora vá descansar um pouco, minha mãe fica
comigo.
Poderia retrucar e insistir, mas isso iria estressá-la e não seria bom para sua recuperação.
― Fico com ela, Daniel ― disse Ally, entrando no quarto. ― Quero um tempo a sós com
a minha filha.
De repente, eu me senti egoísta, pois só pensava em mim e na minha dor. A dona Ally
também amava a Sophie e estava sofrendo por ela estar naquela situação. Como eu ficava com
Sophie direto, a sua mãe quase não ficava ali. Ela também precisava de um tempo a sós assim
como eu. Nós dois a amávamos e só queríamos seu bem. Então por mais que doesse ficar um
segundo longe da minha garota, eu faria isso. Queria seu bem, não só dela, mas da minha sogra
também.
Seria essa a sensação que Ryan teve ao ver Angelina acamada? Quando ela teve sua filha
Victoria, Angelina quase morreu, já que não podia ter filhos por causa da sua cardiopatia. Um
descuido e, ela engravidou. Não querendo tirar o bebê decidiu ter a criança mesmo arriscando a
vida deles. Isso destruiu o meu amigo, ele foi ao fundo do poço.
A dor de vê-la sofrer e definhar era demais, mas como prometi, eu tinha que ser sua
âncora. Seria forte para ela se apoiar em mim, e não o contrário.
― Vou fazer isso. ― Fiquei de pé e dei um beijo de leve na sua testa. ― Te amo demais.
― Também amo. Agora vá dormir um pouco. ― Sorriu fraca. ― Ainda estarei aqui
quando chegar.
Sair daquele quarto foi mais difícil do que pensei que seria, minhas mãos suavam, meu
coração gelava por dentro temendo pelo pior. Não podia ficar com aquele medo.
Tomei banho e deitei-me um pouco na cama tentando dormir, mas não consegui. Então
levantei e comi algo mesmo sem fome. Mas como tinha feito uma promessa, eu fiz o que ela
pediu. Só não dormi, porque não consegui.
Não poderia ir para o quarto ainda, ou ela saberia que não dormi. Então fui visitar a
garotinha. Fazendo companhia para a Sophie, eu fiquei alheio a tudo ao meu redor, pois só ela
me importava.
Entrei no quarto onde a vi entrando quando Sophie e eu chegamos ali. Não fazia ideia se
a garotinha já tinha recebido alta ou não, mas no fundo torcia para que sim.
O quarto era quase igual ao da Sophie, mas com menos aparelhos. Contudo, eu não vi a
garotinha e sim um homem adulto, acho que da minha idade.
― Desculpe, eu achei que esse quarto fosse de uma garotinha chamada Bailey. ― Me
apressei em me explicar assim que entrei.
O cara estava sem cabelos e muito magro. No canto estava sua mãe ou irmã, não sabia
dizer. Ela dormia em um sofá.
― Falo para ela ir para o quarto, mas minha mãe não vai ― disse o cara. ― Sou Tony.
Você também está doente? Essa doença acaba com a gente.
Meneei a cabeça de lado.
― Não, só estou aqui acompanhando a minha noiva que tem Anemia Aplástica. Ela está
fazendo quimioterapia... ― minha voz falhou.
Ele assentiu.
― Nossa! Aquilo é terrível. Eu achei que morreria na hora por causa da dor e aqueles
sintomas todos. ― Se encolheu, assim como eu. ― Depois do transplante piora um pouco, mas
melhora com o tempo. Estou melhor agora.
― Que bom! A minha garota é forte e guerreira, então sei que vai conseguir passar por
isso. ― Fui firme.
Ele começou a contar que corria bastante, mas que de repente começou a sentir muita
fadiga até que procurou o médico.
― Foram meses esperando um transplante até que meu irmão doou a medula dele. Ele
estava no exército, e teve que vir para fazer os exames. Mas não são todos que têm essa sorte.
― Minha noiva vai receber do irmão dela também ― comentei.
― Com parentes do mesmo sangue é mais fácil do corpo não rejeitar a medula nova.
Assim o médico disse. ― Suspirou. ― Foi o que houve com a garotinha que estava aqui antes de
mim. Ela recebeu de outra pessoa. Teria dado certo se ela não sofresse do coração. Então teve
uma parada cardíaca e morreu.
Pisquei, pensando na garotinha sorridente que era fã do Ryan. A dor que deveria estar
assolando a sua família. E se algo assim acontecesse com a Sophie? Não poderia perdê-la...
Dei as costas para o homem ali na cama e corri para o quarto onde era para eu dormir.
Mas como conseguiria fazer isso com tudo o que estava acontecendo?
Caí de joelhos no chão daquele quarto e pela primeira vez na minha vida, eu rezei para
um Deus que estava vivo no céu pedindo que Ele salvasse a Sophie; que tirasse ela daquela
quimioterapia e que o transplante desse certo, sem complicações. Não liguei por chorar como um
garoto assustado e com medo. Só queria que Ele a salvasse.
Não sei quanto tempo fiquei ali de joelhos suplicando pela cura da minha garota.
Minha cabeça estava tão confusa, meus sentimentos estavam a mil sem saber o que fazer.
O que podia fazer era confiar que tudo daria certo.
Esperei dar a hora para voltar para o quarto com a Sophie; sabia que não tinha
conseguido dormir como ela me pediu, mas não conseguia fazer isso longe dela. A distância me
fazia ficar pior do que já estava, e o medo do que aconteceu com aquela garotinha me assolava
como se fosse acontecer com a Sophie...
Assim que abri a porta do quarto onde ela estava, eu vi o médico e uma enfermeira.
Parece que surgiu um barulho alto no quarto fazendo com que todos me olhassem de
olhos arregalados. Levou um segundo para que eu notasse que tinha gritado. Logo senti um
grande alívio ao vê-la ali
Ignorei a todos e corri para a Sophie, deitada na cama e me avaliando.
― Você está bem? Não parece que dormiu ― acusou ela.
Forcei-me a controlar meus sentimentos; de medo e tormento.
― Só tive um pesadelo. ― Achei melhor dizer isso do que contar sobre a garotinha. Não
queria que ela soubesse que não tinha sobrevivido, pois a notícia poderia prejudicar a
recuperação dela e, eu não podia fazer isso.
Olhei para o médico.
― O que está acontecendo? ― avaliei cada um deles e depois me virei para a minha
garota. ― Sophie você está bem?
― Os exames que ela fez mostraram êxito. Já vou marcar o transplante. O irmão dela já
foi para a sala onde será feito o procedimento ― disse o médico.
Pisquei.
― Graças a Deus! Ele ouviu as minhas preces ― exclamei, expirando fundo.
Ela piscou de olhos grandes.
― Você rezou?
Sorri.
― Sim, e parece que o cara lá de cima respondeu as minhas orações. Vou agradecê-lo
para sempre. ― Toquei seu rosto.
― Senti sua falta. ― Apertou minha mão em seu rosto.
― Também senti. ― Ela nem fazia ideia do que senti ao estar longe dela.
― A enfermeira Neide vai preparar você Sophie ― falou o doutor. ― Vai dar tudo certo.
― Sim, vai. ― Afirmei e me inclinei para beijar seus lábios de leve. ― Logo vamos para
casa. Para nos casarmos.
― Podemos casar em uma ilha. O que acha? ― Sorriu mais animada.
Para ela sorrir daquele jeito, eu faria qualquer coisa.
― Será feito. Aliás, será onde você quiser. ― Deixei Luigi preparando tudo para mim
assim como Sam e as meninas. A cerimônia seria numa ilha no Caribe, onde comprei. Custou-me
uma pequena fortuna, mas valia à pena cada centavo pago. Por aquela mulher, eu faria tudo.
Capítulo 21
Daniel
Lucky tinha doado a sua medula para a minha garota, e agora ela estava recebendo-a em
forma de transfusão. Torcia para que tudo desse certo e que Sophie não ficasse pior como
quando estava fazendo a quimioterapia.
― Vai dar tudo certo. Sei que esse processo é ruim, mas a quimio foi mais. ― Ally
estremeceu.
― Sabe do Lucky? ― perguntei.
Não queria sair ao lado da Sophie, não depois que saí no dia em que ela me obrigou. Foi
difícil deixá-la naquele dia.
― Se recuperando bem. Ele quer vir aqui, mas ainda está se recuperando. ― Ela suspirou
― Aquele garoto já adora a minha menina.
― Quem não adora? ― Um segundo com Sophie e todos passavam a amá-la. Com o
irmão dela não ia ser diferente.
Quando que imaginei que meu amigo Lucky seria seu irmão? Se ao menos sonhasse, eu
teria feito os dois se encontrarem antes de tudo isso. O bom era que foi descoberto a tempo para
o irmão dela poder salvar sua vida.
― Verdade. ― Sorriu Ally. ― Desde criança foi assim. Onde Sophie estava, ela
iluminava o lugar.
― Às vezes, eu penso que poderia ter ido atrás da sua família; poderia ter tentado
encontrar algum deles. Acho que não fiz muito por ela ― sussurrei, segurando a mão da minha
garota.
Foi preciso o seu amigo ir à procura deles. Ela poderia ter aproveitado para conhecê-lo
antes de tudo isso acontecer. Talvez até tivesse encontrado a Laila também. Sabia que já era
tarde demais.
Alísia arfou
― Não fez o suficiente Daniel? ― Ela sacudiu a cabeça. ― Querido, você fez tanto por
ela, por nós... Olha o que sofreu para nos proteger... para protegê-la. Aquele acidente onde quase
a perdemos... ainda a custo acreditar que seu pai foi capaz disso. Se soubesse teria ido buscar
justificativa. ― Ela chegou até onde eu estava e tocou meu ombro. ― Não pense isso, filho,
porque você fez mais do que podia. ― Ela olhou para a Sophie adormecida. ― Agora com esse
transplante, eu creio em Deus que tudo dará certo. Nossa menina vai ficar boa.
― Vou dever ao Lucky para sempre por salvá-la. ― Respirei fundo.
Não queria pensar no que podia ter acontecido se ele não fosse compatível ou se ela não o
tivesse encontrado... não gostava de imaginar a ideia de perdê-la nem de nunca mais vê-la.
Vivendo aqueles dias ali no leito hospitalar e vendo-a moribunda sem poder fazer nada. Ali, eu
soube que não podia viver sem ela. Se a perdesse... não... isso não aconteceria.
Sophie ficaria bem e nos casaríamos em uma ilha como ela sugeriu. Minha menina
sempre foi apaixonada por ilhas desde que éramos jovens.
O doutor disse que havia uma chance grande da medula fluir e não ser rejeitada, porque a
compatibilidade deles era grande. Isso me deixou mais aliviado.
― Não vamos pensar no pior, sim? Agora ela está indo bem e vai continuar assim,
porque Sophie é uma mulher muito forte, capaz de lutar para não perder quem ama, ou seja, nós.
― Ela apertou meu ombro que segurava.
― Sim ― concordei. ― Não havia ninguém mais forte do que ela.
― Sim, isso é verdade. ― Assentiu Alísia.
Toquei o anel de noivado em seu dedo como se fosse para comprovar que, finalmente, ela
era minha.
― Sophie foi para a faculdade para cursar medicina, mas então o Antônio se machucou e
precisava fazer fisioterapia. Nosso convênio não cobria muito na época. Minha filha deixou a
faculdade do Alabama e voltou para Dallas e mudou seu curso para fisioterapia. Tudo para
ajudar o pai. Olha que insisti que não fizesse, mas não teve jeito. ― Suspirou ela.
― Ela é muito teimosa ― comentei.
― Sim. Ela esteve em alguns relacionamentos, mas nunca deu certo, o mais longo foi o
Neil depois da faculdade, acho que queria tentar seguir em frente, mas no fundo nunca
conseguiu, tanto que não trouxe nenhum deles para conhecermos. Embora tivesse ficado um ano
com ele com o Neil, ela nunca o amou, acredito que por isso terminaram. ― Seu olhar foi para
mim. ― No fundo, eu sei que ela não seguiu em frente com ele ou com qualquer outro, porque
ainda amava você. Mesmo com todos os anos, ela não esqueceu você. Acho que por isso fez
aquela tatuagem. ― Alísia apontou para o peito de Sophie. ― Alma gêmea. Ela sabe que você é
isso para ela.
Pisquei, assentindo a tudo o que ouvi; sabia que pensar nela com outros homens não era
bom, mas sofri bastante na época, e no momento só queria seguir em frente ao lado daquela
mulher e me esquecer do passado dela e do meu após deixá-la. Pelo menos aquele que nos
causava dor.
― Ela não falou o motivo de ter feito essa tatuagem, mas tenho certeza que foi por você.
Passei a mão na minha cabeça onde estava nascendo alguns fios de cabelo.
― Eu dizia que ela é minha alma gêmea, sol, a lua e as estrelas. ― O meu coração
apertava forte em meu peito. ― Sophie é tudo isso e muito mais. ― Às vezes, pensava que não a
merecia, mas era incapaz de ficar longe dela.
― Isso é bom, porque não saberia viver sem a minha alma. ― Sophie abriu os olhos e me
encarou.
Sophie parecia cansada; os medicamentos estavam deixando ela baqueada, embora a
quimio parecesse deixá-la pior. Sabia que ainda haveria um processo longo a percorrer e, eu
estaria ali para ela.
O pior foi a espera do transplante, que ocorreu dentro de duas ou quatro horas.
― Você está bem? ― Sabia que era uma pergunta idiota.
― Estou. ― Ela sussurrou. ― Como está o Lucky? Deve estar passando mal.
― Não o vi ainda, mas ouvi dizer que está recuperando. Ele está no terceiro andar desse
prédio. ― Toquei seu rosto.
― Não queria ele doente. Disseram que o doador fica com dor de cabeça e outros
sintomas ruins ― falou baixinho.
― Ele está bem. Agora você só precisa se recuperar, porque ele vai querer isso. Logo, o
seu irmão virá para ver você. ― Não gostava de vê-la sentindo culpa ou tristeza.
Ela me deu um pequeno sorriso.
― Sei que está dizendo isso para ameninar a minha culpa ― disse e virou a cabeça para a
mãe dela. ― Não chore mamãe, eu vou ficar bem.
― Só tenho a agradecer a Deus por estar bem. Agora ficará conosco por um longo tempo.
― Dona Alísia beijou a sua testa. ― Te amo muito, querida.
― Também amor você, mamãe. ― Depois me olhou. ― Por favor, procure Lucky e veja
como ele está.
Sacudi a cabeça.
― Não vou deixar você...
― Estou bem. ― Me interrompeu ― Daniel, vá lá para mim, por favor.
Desejava negar o seu pedido, mas não queria estressá-la. Além disso, Lucky estava no
mesmo prédio, então levaria alguns minutos. Logo voltaria para ela.
― Enquanto você vai lá, eu vou dormir um pouco. ― Logo ela estava dormindo de novo.
Fiquei contente em vê-la dormir, porque com a quimio que fazia quase não dormia,
acordava quase todas as noites. Tinha consciência de que logo os efeitos do transplante surgiriam
e que, eles eram bem fortes. Queria estar ali para ela.

Alísia ficou com a Sophie enquanto eu visitava o Lucky; não queria deixá-la, mas não
negaria nada o seu pedido. Também prometi ao Lucky que o manteria informado sobre a irmã.
Entrei no quarto e o vi deitado de lado na cama. Pelo que eu soube, tiraram a medula de
algum lugar das costas dele.
― Como está indo, cara? ― Sentei-me na cadeira ao lado da cama dele. ― Cadê a Sam
ou o seu pai?
― Estou bem. A rosa vermelha foi comer alguma coisa e acho que meu pai foi falar com
o médico ― Lucky fez uma careta. ― A cada hora, ele vai falar com o doutor para saber sobre
mim e Sophie. ― Sua voz tinha um tom quase orgulhoso. ― Não sei o que senti com tanta
proteção paternal, só senti isso quando Miguel e Laura eram vivos, e já faz anos.
― Isso é coisa de pai e mãe. Minha sogra vai procurar o doutor a cada hora também,
buscando informação sobre a Sophie. Claro que também faço isso.
― Ela sempre liga para nos informar do estado da filha. Fiquei sabendo que o processo
da quimio foi terrível e me matou não estar lá. ― Se encolheu.
― Foi bom, quanto menos gente para ver ela naquela situação melhor. Sophie só se
sentiria mais mal. ― Estremeci. ― A impotência é uma merda. Teve uma garotinha que morreu
e Sophie conhecia. Isso me deu o maior medo.
Lucky arregalou os olhos.
― Ela sabe?
― Não, achei melhor não contar nada, porque poderia estressá-la e, nesse momento, eu
não quero fazer isso. É por isso que estou aqui e não ao lado dela.
― Como assim?
― Sophie me pediu para vir vê-lo e saber se está bem. ― Sacudi a cabeça. ― Mesmo na
situação que está, ela ainda se preocupa com os outros.
― Sim. Quando voltar diga que amanhã irei vê-la se o médico liberar a visitação. ― Ele
suspirou. ― Disseram que o processo após o transplante piora um pouco...
Encolhi por dentro pensando no quanto minha garota ainda sofreria. Se pudesse ao
amenizar sua dor, eu faria.
― E então? Como anda a sua relação com o seu pai? Ouvi você o chamando de pai.
Lucky sorriu um pouco.
― O velho é gente boa e odeia a Mary tanto quanto eu. Ele irá depor contra ela por ter
deixado os filhos em situações que quase os mataram. Acho que ela não verá a luz do sol nunca
mais. ― A raiva estava na sua voz ao falar da mãe.
― Se eu visse essa mulher na minha frente faria uma besteira. ― Sacudi a cabeça. ―
Dona Alísia não tem seu sangue e ama a Sophie como sua. A mulher não saiu do lado dela desde
que minha menina foi internada aqui, enquanto a outra só queria grana.
― Juro que nunca quis machucar uma mulher como quero fazer com essa. Se não tivesse
tanto a perder, eu a mataria. Mas o que tenho é valoroso demais, e todo esse ódio não vale à
pena. ― expirou. ― Sophie, Sam e Shaw são tudo na minha vida, assim como minha filha e
outro que virá.
Sorri.
― Sam está grávida de novo? Meus parabéns, cara.
― Obrigado. Eles são tudo na minha vida. Então o que farei é esquecer que essa mulher
alguma vez existiu.
― E quando pretende contar a verdade para o Shaw?
― Estava falando com a rosa vermelha agora a pouco sobre isso. Assim que eu receber
alta, nós diremos a ele. Por que sei que assim que ele souber que somos seus tios, Shaw vai
querer ir até ela, ainda mais se falar que elas eram gêmeas.
Certamente o garoto pensará que estará vendo coisas ao conhecer a Sophie e constatar
que sua mãe era a cara dela. Seria difícil para assimilar.
― Sei que ele vai fazer onze anos, e talvez possa lidar com a situação, mas talvez não,
devido ao que já passou. Pararam para pensar que talvez ele queira viver com a Sophie quando
vê-la? Na mente de uma criança isso poderá ser o mais próximo que ele terá da mãe dele. Isso
pode acontecer.
Uma sombra cruzou o rosto do meu amigo.
― Pensei nisso e Sam também. Ela não diz nada, mas sei que esse é o seu medo. Se
Shaw decidir ir embora vai destruir a minha mulher. ― Ele respirou fundo. ― Espero que no
final o amor de Shaw por nós seja suficiente para mantê-lo ao nosso lado, não gosto de ver a rosa
vermelha sofrendo.
― Se ele quiser ficar conosco saiba que tomaremos conta dele. Mas farei o que puder
para fazer com que ele entenda que vocês dois são os pais dele, afinal ele pode ter a Sophie e
vocês ao mesmo tempo. ― Fiquei de pé, estava ansioso querendo voltar para a minha garota.
Lucky olhou para mim com gratidão.
― Agradeço, mas com Shaw temos que ter cuidado com o que dizemos.
― Não se preocupe, eu não direi nada que faça com que tenha alguma lembrança ruim.
― O tranquilizei.
― Valeu, cara. ― Ele apontou para a porta. ― Agora vá para a minha irmã, pois sei que
está ansioso para estar com ela nesse momento. Eu também queria estar com ela.
― Eu vou, mas antes quero agradecer por salvá-la. ― Peguei sua mão e apertei.
― Estou feliz por ter feito. Queria ter feito algo por Laila também. ― Ele respirou fundo.
― Não se culpe por isso. ― Forcei um sorriso. ― Agora me deixa ir. Ficar longe dela
me deixa ansioso e temeroso. Não quero que ela acorde e eu não esteja lá.
Despedi-me de Lucky e fui para a minha mulher. Mas quando passei pela sala de espera,
eu vi o Shaw ao lado de Sam. O garoto estava crescido; no começo, ele não falava, mas pelo que
soube já não era de falar muito antes da tragédia com sua mãe. Com a ajuda de Sam, ele estava
falando, não muito.
― Como vai Shaw? ― Levantei o punho e choquei contra o seu, quando ele me imitou.
― Bem, mas o Lucky se machucou ― sussurrou.
Ninguém devia ter contado sobre o fato de Lucky ter doado a medula, provavelmente
estavam esperando para contar todos junto. Olhei para a Sam e vi que era isso.
― Lucky é cavalo velho, nada derruba ele ― brinquei. Embora fosse verdade, meu
amigo tinha passado por muita coisa quando criança.
Ele sorriu.
― Lucky é forte sim, vai se recuperar logo e me ensinar a lutar ― notei que estava
ansioso por isso.
― Lutar é um bom, porque deixa você musculoso para as meninas. ― Pisquei. ― Vá ver
como ele está.
Shaw assentiu e seguiu em direção a porta do quarto. Percebi que era hora de visitas para
o pessoal dali, mas para quem fez transplante não era liberado, pelo menos na ala onde
estávamos. Assim que melhorasse, o paciente era transferido para o andar de baixo, que era onde
recebiam as visitas. Pelo menos foi isso que a enfermeira disse. Não via a hora de Sophie ir para
lá.
― Obrigada por não dizer nada ao meu filho. ― Sam agradeceu.
― O assunto não é meu para dizer, mas seu e de Lucky. Seja como for, eu estarei aqui se
precisarem de mim. ― Dei um tapinha em seu ombro. ― Agora preciso ver a minha garota, mas
antes, eu quero agradecer por ter me ajudado a preparar tudo para o casamento.
Ela sorriu.
― Sophie sabe?
― Será surpresa.
― Como não sabemos quando ela vai sair, eu não corri atrás do Buffet, mas assim que
souber é só me dizer que ajeito rapidamente.
― Obrigado.
Estava ansioso para me casar com a Sophie, não pelo sexo, mas por que significaria que
ela seria minha para sempre. Passaríamos dificuldades e lutas, mas no final venceríamos. Estava
pensando assim já, porque passaríamos por tudo isso. Minha linda garota conseguiria e, eu
estaria ali sendo seu suporte. Como ela me disse uma vez: eu seria o seu porto seguro, assim
como ela era o meu.
Capítulo 22
Sophie
Cinco meses depois
Os últimos meses foram difíceis de superar. Depois do transplante, eu sofri com os
sintomas, mas o pior ver Daniel sofrendo; ele tentava esconder, mas eu via.
Meses que eu desejava esquecer e, não queria me lembrar da dor. O bom foi que meu
corpo não rejeitou a medula. Depois do transplante, eu precisei ficar mais uns dias para que a
medula se estabelecesse e, eu, finalmente pudesse sair do hospital.
Ainda me lembrava do rosto de todos da minha família e meus amigos no pátio do
hospital; todos me aplaudiram por eu ter vencido aquela luta, mesmo perdendo quase 15 quilos.
Estar ao redor de todos que eu amava, me deixava feliz; foi gratificante voltar a rever a
luz do sol e sentir o vento no meu rosto. Não há nada que nos faça valorizar o que temos, do que
momentos de aflições. Então, eu não tinha o direito de reclamar.
Muitas pessoas não conseguiram obter o mesmo êxito que eu; nas minhas idas ao hospital
para novos exames, eu conheci algumas pessoas transplantadas. Procurei por Bailey, e foi
quando o Daniel contou que, infelizmente a garotinha não havia conseguido. Nesse dia, eu chorei
bastante nos braços dele. Ela era tão cheia de vida, mas não conseguiu.
Conversei com outros pacientes lá e ficamos de manter contato.
Eu não podia ficar saindo nos três primeiros meses, inclusive tive que ficar perto do
hospital para fazer os exames de rotina; o bom era que o apartamento de Daniel não ficava longe,
o meu já era do outro lado da cidade. Então assim que pudesse, eu andaria para todos os lugares.
Dentro de cinco meses, eu estaria livre dos remédios e poderia fazer o que quisesse. Aí, eu
visitaria meus amigos no hospital.
Durante cinco meses, eu tentei voltar ao peso que tinha, mas consegui engordar apenas
dez quilos. Com as dietas que tive que fazer devido aos remédios, era quase impossível engordar,
mas consegui. No final das contas, eu acabei gostando do meu peso atual.
Nesse meio tempo o meu pai biológico foi ficar comigo por um tempo; ele cozinhava que
era uma beleza. Acreditava que por isso tinha ganhado peso tão rápido. Essa era sua meta, assim
disse ele. Meus pais também ficaram um tempo comigo, mas eles estavam ficando no meu
apartamento. Daniel disse que tinha mandado construir uma casa e que eles poderiam ficar lá, e
não era longe do apartamento. Minha mãe o abraçou e o beijou dizendo que ele era o homem
mais perfeito do mundo, além do meu pai Antônio, claro. Nunca estive mais realizada com a
minha família.
Lucky ia me visitar direto, não havia um dia que ele não fosse lá para perguntar como eu
me sentia. E eu o amava por isso, sua bondade. Nós dois e nosso pai fomos visitar o túmulo da
Laila, o lugar em que ela foi estava largado, porém nós o arrumamos, porque agora ela tinha
família e não era uma sem ninguém. Tinha quem se importasse com ela.
Nesse dia, eu chorei nos braços do meu irmão e do meu pai, eles também o fizeram.
Agora só faltava uma coisa, e era por isso que eu estava nervosa enquanto me
aproximava da casa de Lucky.
― Você está preparada? ― sondou Daniel do meu lado.
Nos últimos meses, ele também tinha voltado ao seu peso, porque ele perdeu bastante.
Mal comia ou dormia; eu até insistia para que fosse embora, mas ele não arredou o pé do meu
lado até eu saísse daquele hospital. Como não amar um homem desses?
Seus cabelos estavam grandes de novo, do mesmo tamanho de antes. O meu também
estava.
Queria ficar melhor para poder conversar com o Shaw. Lucky e Sam, já haviam contado
a ele sobre mim. Meu garoto ficou louco querendo me conhecer.
― Estou nervosa com a possível reação dele ― admiti com um suspiro.
― O Lucky disse que ele aceitou bem a ideia de vê-lo como tio e não pai. Disse que até
ficou feliz. Mas você...
Assenti.
― Sou mais complicada, já que me pareço com a Laila. ― Terminei a frase por ele.
― Sim, eu sei, mas vai dar certo. ― Ele segurou minha mão quando estávamos no
elevador do prédio do Lucky.
Estava louca para conhecer o filho da minha irmã pessoalmente. Sam me enviava fotos e
vídeos dele, brincando com a Luna.
O elevador parecia demorar séculos para subir, tudo graças ao meu nervosismo e
ansiedade. Minhas mãos suavam frias.
― Sophie, fique tranquila, vai dar tudo certo, querida ― pediu Daniel.
Assenti e tentei controlar os meus batimentos cardíacos. Um segundo depois as portas se
abriram para a imensa sala dele. Lucky tinha dado o código para a cobertura. Soube que estavam
construindo uma casa, Sam queria espaço para as crianças brincarem e correrem no quintal.
Daniel já tinha uma casa construída também, embora eu ainda não tivesse conhecido, mas
mamãe disse que se parecia com aquelas de contos de fadas. Eu até quis, mas Daniel falou que
estava arrumando tudo para fazer uma surpresa, só não entendi o quê. Daniel sempre gostou de
me fazer surpresas.
Ele ficou do meu lado nos momentos mais sombrios; me ajudou a ter forças; me mostrou
o tanto que me amava e me adorava. Agora estava ali me dando forças para enfrentar o Shaw,
um garotinho de onze anos.
Shaw estava no sofá olhando para suas mãos, ele parecia tão nervoso e ansioso quanto eu.
Seus olhos foram para nós, Daniel e eu, e pararam em mim. Juro que seus olhos ficaram grandes
e, como uma corsa, presa nos faróis de um carro.
Parei onde estava, não muito longe dele. Ficamos nos encarando, eu querendo abraçá-lo e
torcendo para que entendesse quem eu era.
― Shaw, querido, essa é a Sophie, irmã gêmea da sua mãe ― disse Sam. ― Sei que ela
se parece com...
― Mamãe... ― ficou de pé sem tirar sua atenção de mim como se tivesse medo que eu
desaparecesse como mágica. Não entendi se ele terminou a frase da Sam ou se havia me
chamado de mãe. Torcia para que fosse a primeira hipótese ou isso destruiria a Sam.
Forcei um sorriso para aliviar a tensão na casa.
― Sou a Sophie. ― Dei um passo, mas ele correu para os meus braços e me abraçou
forte, me fazendo arfar com o impacto.
Sam estava com os olhos molhados e, eu pedi com o olhar para que me deixassem
sozinha com o Shaw. Os três foram para a cozinha e, eu fiquei apenas com aquele menininho que
parecia estar confuso e feliz ao mesmo tempo.
Sabia que era muita coisa para sua cabecinha; para uma criança normal, até poderia
aceitar melhor, mas Shaw tinha presenciado coisas horríveis que, eu jamais queria que ele tivesse
visto. A perda da sua mãe o abalou bastante.
Vi que foi difícil para a Sam ver o filho chorando e mesmo assim conseguir deixá-lo ali
comigo. Shaw chorou um pouco e deixei que chorasse até se acalmar.
― Está melhor, querido? ― Alisei seus cabelos no intuito de acalmá-lo e tentar clarear
sua mente confusa.
Ele sacudiu sua cabeça com um sim; eu sabia que ele não era de falar muito, só com a
Sam e o Lucky, embora conversasse com os amigos do meu irmão também. Acho que o que ele
precisava era conhecer as pessoas para se abrir. O chamava de garoto tímido, mas acreditava que
não foi o trauma que o deixou sem falar com as pessoas, mas era o fato de não confiar em
ninguém. Assim que conheceu a Sam e viu a forma que o ajudava, ele se abriu.
Sabia desse tipo de coisa, porque frequentei psicólogos e uma espécie de fraternidade
para pessoas com doenças como eu tinha. Precisávamos de esperança ou enlouqueceríamos.
Aprendi muita coisa lá, e tentaria colocar em prática. Eu era boa em seguir as coisas, e me ajudou
bastante na época.
― Pode me mostrar o seu quarto? ― Tentei outro meio para fazê-lo conversar comigo.
Conhecia crianças como ele que também presenciaram uma tragédia, a forma que
ficavam nos primeiros dias. Participei como voluntária no Orfanato Raio de Luz, em Dallas,
enquanto fazia faculdade. Podia ver que Shaw estava melhor, mas ainda estava confuso ao me
ver.
Ele se afastou e, assentiu de novo, pegando minha mão. Depois me levou para a escada.
― Então está virando um rapaz, hein? Muito lindo devo dizer. ― Ele batia no meu
ombro, acho que tinha 1,35 mais ou menos.
― Já sou grande ― falou por fim. Quis dar um gritinho de alegria por ter conseguido
fazê-lo.
Sorri.
― Claro que sim. ― No seu quarto tinha uma cama de casal, uma estante com TV e um
Xbox. ― Você joga?
Estava tentando fazer com que ele conversasse mais, que confiasse em mim, pois só
assim me ouviria.
― Sim, eu gosto de jogo de zumbi ― disse, parecendo animado. ― Podemos jogar...
Coloquei a mão na cabeça, sobre o meu lenço. Pretendia usar até crescer bastante o meu
cabelo.
― Vixi, você me pegou, porque eu não sei jogar essa coisa cheia de botões ― declarei a
verdade.
― É simples. ― Pegou o controle, ligou a TV e o aparelho de Xbox. Um jogo de zumbi
apareceu na tela.
Tentei jogar com ele após aprender o que era cada botão e para que serviam. Porém perdi
em todas as vezes e um bonequinho me reviveu.
― Mamãe...
Meu coração rachou me fazendo falhar em uma missão que estava jogando. Não entendi
se ele falou da mãe ou se estava me chamando como fez na sala, mas achei melhor esclarecer as
coisas e não deixá-lo mais confuso.
― Shaw, querido, eu sei que é doído dizer isso, mas preciso falar. Sou sua tia e não a sua
mãe, embora fosse amar ser mãe de um menino como você. ― Era verdade, pois o garoto era um
amor, tudo que uma mãe deseja.
Shaw baixou as mãos com o controle em seu colo.
― Sei que por mais parecida que seja com a minha mãe, você não é ela. Falei que sou
adulto, eu só ia dizer que sinto muita falta da mamãe. ― A dor estava na sua voz.
Eu o abracei forte para dar conforto, me perguntando se de repente não havia me
excedido ao deixar claro, a verdade. O bom foi que ele não estava me chamando de mãe, ele só
queria falar sobre ela.
― Queria tanto ter conhecido ela ― sussurrei.
― Mamãe amaria você e o Lucky ― declarou parecendo se recompor.
― Você o ama também, não é? ― Eu precisava entender a sua mente, o que estava
sentindo para não dizer a coisa errada.
― Sim, eu amo. Ele disse que quando crescer, eu posso ser piloto. É o meu sonho.
― Piloto, hein? ― Não tinha certeza se ele com suas condições se daria bem no exército
ou marinha, pois poderia trazer mais pesadelos na sua vida. ― Lucky possui um jatinho e tem
um piloto.
― Sim, eu já fui viajar com ele para Aspen, é tão bom. ― Ele parecia animado, o bom
que isso tirou a dor em seus olhos quando falou da minha irmã.
― Então você pode trabalhar para o Lucky, ele já o ama como um filho e a Sam como
uma mãe. Os dois são os seus pais agora, e o amam demais.
Ele me olhou como se nunca tivesse pensado nisso.
― Meus pais?
― Pais não são apenas quem tem nosso sangue, mas são aqueles que criam, cuidam,
protegem e amam. Olha para mim, a minha mãe de sangue me abandonou e não se importou
comigo, mas a que me criou me ama como se eu fosse filha dela. É assim que Sam e Lucky se
sentem em relação a você. ― Peguei sua mão que estava trêmula.
― E minha mãe? Ela me amou e tentou me proteger... também a amo.
― Sei que sim, querido, e, ela também o amava. Mas lá do céu, onde Laila está agora, ela
ficará feliz com a sua segunda mãe. ― Sorri de lado ― Você pode ter as duas, não precisa deixar
uma para ter a outra. Faça como eu, tenho meu pai Antônio, mas também tenho o Joaquim, que é
seu avô, ele também é meu pai e me ama, sou feliz por ter os dois ao mesmo tempo.
Shaw abaixou a cabeça parecendo pensar no que eu disse. Sam também devia ter dito isso
a ele. Eu entendia o lado dela, não tinha como ser psicóloga e mãe ao mesmo tempo.
― Posso ficar na sua casa de vez em quando?
― Claro que pode. Sempre. Laila é a sua mãe número um, e Sam a número 2. As duas te
adoram demais Shaw. Sempre que quiser ficar na minha casa, você será bem vindo. Mas para
morar tem que ser aqui, porque se for embora isso irá destruir a Sam, vai partir o coração dela.
― Tentei falar calmamente para que entendesse que seria bem vindo comigo, mas que Sam
sofreria.
Ele se encolheu.
― Não gosto que ela sofra. Eu não ia embora, jamais deixaria a Sam. Só preciso de você
e dela. ― Sabia que ele precisava de tempo para poder assimilar tudo com calma.
― Sei que eu aparecer assim deixou você um pouco confuso, mas juro que de agora em
diante virei ver você direto. Não ficarei longe. ― Fiquei de pé. ― Que tal descermos agora para
você tranquilizar o coração da Sam?
Ele franziu a testa.
― Ela está sofrendo? ― Ficou de pé, parecendo preocupado.
― Sam pensa que você vai deixá-la para ir morar comigo. ― Não era leitora de mente,
mas vi o medo nos olhos da Sam quando saí com Shaw e com a maneira como ele me abraçou.
Ele piscou.
― Jamais iria deixá-la, eu a amo. ― Afirmou com veemência.
Fiquei alegre com a resposta dele.
― Então vamos descer para que você diga isso a sua segunda mãe. Fale como se sente
em relação a ela e ao Lucky.
Ele assentiu e descemos para a sala que antes estava vazia, mas que naquele momento
estava abarrotada de gente. Não só de adultos, mas de crianças também.
Shaw desceu as escadas correndo e foi na direção da Sam, que ficou de pé ao ver nossa
aproximação.
Ele a abraçou assim como fez comigo quando cheguei.
― Shaw, meu amor. ― Ela parecia não saber o que dizer ou fazer.
― Nunca vou deixá-la. ― Expirou alto. ― Você pode ser a minha segunda mãe?
Sua voz estava baixa e ansiosa, mas todos na sala pareceram prender a respiração, menos
as crianças que brincavam no canto.
Sam caiu de joelhos na frente dele com os olhos banhados em lágrimas.
― Não gosto quando você chora assim. ― Ele limpou as lágrimas.
Ela sorriu e o puxou para seus braços.
― É de felicidade. Eu aceito ser a sua segunda mãe e morar em seu coração.
― Você mora ― declarou e olhou para o Lucky. ― Você também. Adoraria que fosse
meu pai. Eu amo demais vocês dois.
Lucky parecia estar prestes a chorar também, e foi até a sua mulher e filho para abraçá-
los.
Luna brincava no canto com a Victoria, a Jordana e também com a filha de Tabitta. Do
outro lado tinha umas crianças maiores, quase do tamanho do Shaw. Acreditei que pudesse ser o
Shane, o irmão de Angelina, do seu lado tinha a filha do Jason, Emily, a Lira, a irmãzinha de
Angelina. Também uns adolescentes jogando no celular, acho que deviam ser os irmãos de
Jason.
Sabia disso tudo depois de conversar com o Lucky, pois eu ansiava conhecer todos a sua
volta,
Senti braços na minha cintura, e me virei para encarar Daniel, parecendo exultante.
― Você parece ter o dom de salvar as pessoas. ― Beijou meu rosto.
Nós todos fomos para a sala ao lado deixando Sam e Lucky com aquele momento,
apreciando o filho deles, o meu sobrinho lindo e doce.
― Não me lembro de ter salvado ninguém ― murmurei.
― E aquele piloto que machucou o braço? Acho que Will Canner. Ele tinha desistido,
mas você o incentivou e agora ele corre de novo. Aposto que houve outros. ― Sorriu com
candura. ― Oh, sim, não vamos nos esquecer do seu pai.
Teve sim, mas eu só estava fazendo o meu trabalho e dei alguns conselhos.
― Isso não conta. De qualquer forma, eu só falei com o Shaw de modo doce. Ele
precisava da verdade que muitos não disseram por medo de ele ter alguma coisa, mas meu
sobrinho é esperto. Um garoto brilhante que dá valor ao quem tem.
Daniel sorriu.
― Modo doce? Nunca ouvi isso.
Revirei os olhos e me virei para os meus amigos. Alexia, Bryan Jason, Tabitta, Ryan,
Angelina, Jordan e Laurel. Embora estivesse faltando o Weliton que foi fazer uma viagem de
férias com a Zoe; ele esteve do meu lado o tempo todo depois que saí da quimioterapia. Um
amigo que valia ouro, mas também merecia descansar.
Papai Joaquim tinha ido fazer um trabalho de carpintaria em sua cidade. Queria poder
ajudá-lo de alguma forma, para tirá-lo do seu trabalho perigoso, afinal, ele tinha caído e
quebrado a perna. Mas isso significaria que teria que pedir ajuda ao Daniel e ao Lucky, porque
eu não tinha condições.
Entretanto, o Lucky foi mais rápido e se ofereceu para ajudar financeiramente, mas meu
pai não quis. Ele disse que amava o seu trabalho. Lucky e Daniel insistiram, preocupados que ele
se machucasse de novo. Então meu pai cedeu e disse que aceitaria apenas receber uma força,
como ajeitar um trabalho ou algo assim, mas que não pegaria dinheiro de nenhum dos dois. Seu
sonho era montar uma empreiteira, mas com seu próprio suor, não com dinheiro dado dos filhos
dele.
Meu pai era um homem íntegro, diferente da megera que me deu a luz. Não entendia o
que Joaquim viu nela, pois a mulher não valia nada. Certamente sempre foi assim. Uma vez, eu
perguntei, e ele me disse que era jovem e idiota, porque a achou bonita.
Sacudi a cabeça me focando no presente.
― Poderíamos fazer a festa da aposta depois, à noite. Eu posso organizar para saímos
para nos divertir ― começou Angelina, parecendo animada.
― O Anjo está certo, nós perdemos e ela ganhou. ― Sorriu Ryan para a sua esposa.
Daniel revirou os olhos. Com tudo o que aconteceu, aquela comemoração havia sido
adiada, e podíamos muito bem fazer. Claro que eu ainda estava com alimentação e dieta
balanceada, não podia sair da linha.
― Tudo bem, mas não vamos comemorar fora. Se quiser, nós podemos brindar a sua
aposta, Angelina. ― Ele apertou minha mão. ― Vamos viajar hoje.
Tinha algo em seus olhos como se estivesse guardando um segredo. Será que tinha? Mas
o quê?
― Como não sei sobre isso? ― Arqueei as sobrancelhas. ― Aonde vamos?
― Vai ser uma surpresa. ― Ele olhou ao redor. ― Vamos brindar aqui, só temos três
horas.
Sabia que ainda não podia aproveitar tudo o que queria, mas viajar sim, pois eu ia ao
hospital diariamente e tomava todos os meus medicamentos certinhos.
― Se não me contar do que se trata, eu não vou a lugar algum ― falei. Insisti que
casássemos ainda naquele mês, ele até topou. Seria isso? Mas nem procurei um vestido de noiva
e todo o restante dos detalhes da cerimônia. Arrumar a festa.
― O que posso dizer é que vamos nos casar, mas onde? Ainda é uma surpresa. ― Beijou
meu rosto.
Arfei.
― Você não está falando sério! Casar não pode ser assim tão rápido. Eu não vou para
Vegas, pois meu pai estriparia você. ― Sacudi a cabeça. ― Para casar, eu preciso arrumar
muitas coisas, como vestido, festa e muito mais.
Seu sorriso não sumiu.
― Está tudo resolvido. Sua mãe e seus pais estão lá, assim como o Weliton e Zoe
cuidando de tudo, apesar de que a Sam ajudou muito enquanto você esteve internada assim como
todos aqui. O que precisava ser feito para a cerimônia do casamento, a sua família está
organizando.
Meus olhos estavam arregalados. Eu poderia retrucar, mas o senti tão animado com a
ideia, a forma que parecia brilhante de felicidade. Então deixei quieto, e só aproveitaria.
Estava ansiosa para ser sua esposa; para dormir ao seu lado e acordar com ele. Durante
todos aqueles meses que passei muito mal, não pensava muito no sexo, apesar de já há dois
meses sem sentir nada. Sabia que minha caminhada levaria mais uns cinco meses, aí estaria livre.
Mas podia aproveitar o Daniel; sentia falta dele, de nos tocarmos com mais intimidade.
Ele nunca cobrou ou quis algo quando eu não podia, aliás, o homem chegava a se afastar
de mim quando a situação ficava intensa. Poderíamos fazer oral, até quis quando fiquei boa, mas
ele não quis afirmando que faria o certo, que era para esperar até casarmos. Onde eu estaria cem
por cento.
No momento podia dizer que mesmo tomando remédios, eu estava bem e podíamos fazer
sexo e muito mais.
― Vocês ajudaram nisso? ― Me virei para todos ali e Laurel.
― Sim. ― Sorriu. ― Como não podia ficar lá do seu lado no hospital, eu fui atrás de
algo que a deixaria feliz quando saísse e se recuperasse.
― Vamos ao champanhe ― disse Ryan nos entregando as taças e com uma garrafa
aberta. ― Como você não pode tomar álcool, assim como a Anjo, então poderá beber suco.
― Também quero suco ― disse Sam, voltando para sala com o Lucky do seu lado.
A mulher estava a ponto de dar a luz, não faltava muito, acreditava que um mês mais ou
menos.
― Obrigada. ― Ela veio até mim e me abraçou. ― Por tudo.
― Não foi nada. ― Devolvi o abraço. ― Vocês merecem o filho que têm. Ele é um
garoto especial.
― Sim, ele é ― concordou com um sorriso brilhante. ― Lamento por organizar as coisas
do seu casamento sem falar com você, mas parei um tempo, pois essa gravidez me deixa cansada
demais.
Sorri.
― Tudo bem, eu adoro surpresas e Daniel sabe disso. Acho que por isso, ele faz. Eu
amei.
― Lembro do nosso casamento. Eu fui saber só no dia, quando fomos para Vegas ―
disse Sam, sorrindo para o marido.
― O momento mais feliz da minha vida. ― Sorriu de volta.
― O meu também ― disse Sam e olhou para a outra sala onde Shaw estava com Shane.
― Agora também.
― Um brinde a felicidade de todos. E ao hospital do coração. ― Angelina levantou a
taça com suco.
― E então? Como foi a sua primeira tarefa? ― sondei para ela.
Angelina sorriu.
― Não foi preciso muito. Na noite em que fizemos a aposta, eu soube que Jason conhecia
a Tabitta e que, por alguma razão, ele gostava dela. Era um amor do passado, aquele que fica na
pele como uma tatuagem, assim como o seu e do Daniel.
Jason estava de mãos dadas com Tabitta.
― Como ficou ao meu cargo conseguir as garotas, eu a escolheria, mas os dois se
encontraram antes e, apesar de tudo o que enfrentaram agora eles estão juntos e casados.
Jason foi deixado por Tabitta quando eram adolescentes, porém ela fez isso, porque seu
pai era um criminoso e chefe de cartel e, ele que queria matar o Jason. Então ela decidiu fugir
para protegê-lo. O bom foi que se reencontraram e estavam juntos.
― Com Bryan, eu também não precisei fazer nada, porque sabia que os dois se amavam.
Só eram turrões para darem o braço a torcer. ― Apontou para os dois no canto no sofá. ― Eles
trilharam o próprio caminho para a felicidade.
Bryan ajudou Alexia, já que era da polícia; ela era procurada por um antigo namorado,
um bandido psicótico que a estuprou e a engravidou.
Isso foi na adolescência. Então seus pais a prenderam em um hospício, mas ela estava
grávida, e quando teve a criança os pais disseram a ela que a mesma tinha morrido. Achei
crueldade demais da parte deles.
Alexia sofreu pela perda da filha; ela a amava e não se importava com a maneira que foi
gerada. Anos depois, acabou descobrindo que sua filha foi criada pela antiga governanta dos pais
dela.
No final, Bryan a protegeu e amava Ariane como sua filha, e o bandido foi preso.
― Isso daria um livro, sabe? ― apontei. Sabia que tinham acontecido coisas ruins, mas
aprendi que era daí que nos tornávamos forte. ― O que acha? Os bad boys domados? Ou os play
boys laçados?
Angelina sorriu, batendo palmas.
― Você é brilhante. Eu acho que vou escrever sobre cada um de nós.
― Faça isso. Eu tenho os seus outros livros e gosto bastante. Adoro romance. ― Com a
doença, eu parei um pouco de ler, afinal, eu tinha muita preocupação na cabeça.
― Também gosto de um homem turrão e chucro sendo laçado por uma mulher ― disse
Laurel, sorrindo para o marido. ― Assim como fiz com você.
― Caipira, não se esqueça que tive que suar muito para ter o seu amor. ― Ele a puxou
para seus braços.
― Não muito, bastou um olhar e um sorriso sexy.
Sorri. Naquele momento, eu agradeci a Deus por ter me dado mais uma chance para viver
momentos assim; não só ver meus amigos felizes, mas ser feliz também ao lado do Daniel. Podia
dizer que estava realizada.
Capítulo 23
Daniel
Durante todo o tempo que Sophie ficou no hospital, eu estava preparando a minha
surpresa a ela. Tinha certeza de que minha garota venceria aquela maldita doença.
Não gostava do fato de ela ficar tomando remédio, mas o bom era que só faltavam cinco
meses para que se curasse por completo. Não via a hora de isso acabar.
Sabia que tínhamos passado por muitas coisas depois do nosso reencontro, e até antes,
mas vencemos todos os obstáculos. Contudo não conseguimos sozinhos, pois nossa família e
amigos ajudaram e, principalmente Deus que ouviu minhas preces.
Eu a levei para a ilha que comprei para ela, uma onde passaríamos as nossas férias e
qualquer ocasião que quisermos vir.
A cabana era de madeira avermelhada, com janelas de vidros de cima a baixo e telhado
na forma de V de cabeça para baixo. Era um chalé, mas perfeito e pequeno. O grande daquele
mesmo estilo foi construído ao sul dali pelo pai dela.
Eu soube que o pai dela, o Joaquin, estava precisando de dinheiro e trabalhava duro para
pagar algumas contas que fez ao tentar localizar a Sophie e o Lucky, então me ofereci para pagar
suas dívidas e ajudá-lo a deixar de trabalhar, não por ser vergonhoso, claro que não, a construção
e carpintaria eram funções honestas, mas eu vi o medo de Sophie depois de saber que ele caiu da
escada.
Entretanto, meu sogro era daqueles velhos teimosos que não aceitam dinheiro assim; o
que me veio em mente foi passar o trabalho da cabana para ele fazer e pagar mais do que seu
serviço valia, assim o ajudaria. O problema foi que ele não aceitou, quis apenas o valor justo.
Para lidar com meu sogro era preciso ter muita paciência.
Lucky não aceitou a sua recusa e pagou as dívidas; foi a primeira briga de pai e filho, o
bom que no outro minuto já estavam se falando de novo. Lucky jogou minha garota e Shaw na
conversa, dizendo que se ele caísse e se machucasse gravemente, eles sofreriam demais.
O meu amigo também sofreria se perdesse o pai, pois vi a forma que estavam se dando
bem durante todos aqueles meses, a doença de Sophie os uniu mais ainda.
Lucky falou que já que seu pai queria continuar trabalhando, então que abrisse uma
construtora e arrumasse pessoas para fazer o serviço pesado, afinal o homem estava ficando
velho, quase sessenta anos, para andar subindo em escadas e andaimes. Soube que Joaquim
chegou a ter uma, mas teve que fechar para tentar localizar os filhos.
Relutante, Joaquim aceitou como um empréstimo, o homem arrumou até promissória,
porque não deixaria Lucky pagar, pois queria emprestado. Me deu vontade de bater naquele
velho teimoso. O homem era gente fina, o que precisássemos e, ele pudesse dar estaria na mão.
Só tinha aquele problema, sua tenacidade.
No final deu certo e o meu chalé ficou lindo. Tudo o que Sophie merecia. O homem sabia
realmente trabalhar naquele ramo.
Tinha ido lá durante a manhã enquanto Sophie dormia, ela não tinha conhecimento do
outro chalé, só saberia dele no dia do nosso casamento, ou seja, no dia seguinte, logo cedo.
Eu trouxe um médico especialista para cuidar dela enquanto estivéssemos na ilha, embora
o doutor Eduardo, o mesmo que cuidou dela, disse que não precisava disso, pois ela ficaria bem.
Então o convidei para o casamento.
Para ir do lugar em que estávamos ao outro chalé tinha que atravessar a floresta ou ir pela
praia.
― Esse lugar é magnífico! Se você fizer chalés para alugar ou vender...
― Compre sua própria ilha para fazer isso ― cortei Jordan. ― Quando eu estiver aqui,
só quero sossego e mais nada.
Ele sorriu.
― Poderia comprar outra, mas Laurel disse que quer fazer um chalé aqui.
― Rosa vermelha também ― disse Lucky, balançando a cabeça.
― Acho que todas se reuniram querendo também. ― Ryan bufou. ― Até a Angel que
não liga para nada disso se apaixonou pelo lugar.
Estava na floresta com Jordan, Lucky, Ryan, Jason e Bryan. Não era longe de onde eu
ficaria aquela noite com Sophie.
― Ouvi Taby dizer que elas querem um chalé cada uma, porque quando voltarmos aqui
em outra ocasião, nós poderemos ficar em lugares separados. ― Jason sorriu. ― É muita criança
e isso a deixa louca, mesmo ela os amando.
― Filho é bom, nos traz felicidade e nos fazem valorizar mais o que temos ― falou
Ryan. ― Mesmo com uma, eu a amo como nunca. E meus cunhados são como meus filhos.
― Você pretende ter filhos? ― perguntou Bryan a mim.
Claro que eu sonhava em ter filhos com Sophie, mas primeiro teria que falar com o
doutor, porque não perguntei sobre isso; tínhamos que saber quando ele liberaria a Sophie para
ter filhos. ― Daniel! ― A ouvi gritar da varanda do chalé.
Olhei para todos ali.
― Vão embora, pois ela não pode ver vocês aqui. Para todos os efeitos o nosso
casamento será em outro lugar e só iremos amanhã para lá. Pelo menos, ela pensa assim ― falei.
― Fode muito hoje... ― Jordan foi interrompido com um tapa de Lucky na sua cabeça.
― Veja como fala da minha irmã ― rosnou.
Eu ri, sacudindo a cabeça.
― Você também Lucky, fode muito com a sua mulher... ― corri dali assim que Bryan
pegou um pedaço de pau para jogar contra mim.
Ouvi o restante deles rirem e o rosnado de Lucky e Bryan. Não liguei e só saí dos
arbustos para caminhar em direção a mulher que me chamava. Sua voz era como o canto da
sereia.
Nunca me cansava de olhar para aquela perfeição de mulher, que estava só de biquíni
verde. Sabia que ela não gostava de tirar o lenço, porém não entendia se era por vergonha, ou
apenas costume. O cabelo dela estava maior e a cada dia crescia mais; isso também, porque
usava cremes para estimular o processo de crescimento. Eu já não ligava, deixei crescer sozinho
e no tempo certo.
― Você está a cada dia mais linda ― falei com o corpo pegando fogo. Aquela mulher
fazia isso comigo apenas com um olhar.
Seu olhar estava comendo cada centímetro meu. Estava usando uma bermuda de surf e
sem camiseta. A fome estava ali assim como a minha também estava por ela.
― Que bom que gosta da vista ― provoquei a puxando para meus braços.
Esperava que todos tivessem ido embora e não estivessem nos espiando.
― Você não sabe o quanto estou com fome por isso. ― Sua mão foi para a minha
bermuda e minha ereção ficou mais dura. ― Daniel, eu estou bem, então vamos. Se não fizer
logo, eu vou subir essas paredes como uma aranha.
Já resisti muito e não foi por não querer, mas por querer que ela se recuperasse por
completo; seu peso certo e sua saúde estável. Apesar de ter buscado a opinião do médico sobre
isso. Ele deu o aval, contanto que nos protegêssemos, afinal, ela não poderia engravidar tomando
toda aquela bateria de remédios.
A peguei pela cintura e ela envolveu as pernas ao meu redor e braços a minha volta.
A levei para dentro não querendo que ninguém visse nada, muito menos seu irmão, que
era capaz de vir chutar a minha bunda.
― O único lugar onde você vai subir hoje é no meu pau ― falei em seu ouvido.
― Minha boceta agradece. ― Mordicou minha orelha me fazendo gemer.
Porra! Aquela mulher ainda iria me matar. Nunca pensei em morrer de tesão.
A coloquei na cama e pairei em cima dela beijando seus lábios.
― Vamos fazer, mas qualquer coisa, eu quero que me avise. O médico disse que está
tudo bem desde que não excedemos demais. Eu vou fazer tudo, mas você fica quietinha, tudo
bem? ― Não queria que ela se esforçasse muito.
Seus olhos ficaram grandes.
― Perguntou sobre sexo ao médico? ― Sua voz subiu duas oitavas.
― Claro. Eu não iria tocá-la se não tivesse um aval médico. ― Suspirei. ― Lembra-se da
outra vez que a toquei? Nunca me senti tão péssimo com a dor que sentiu. Senti-me como um
canalha louco por sexo.
― Daniel, eu seduzi você. Não havia como um homem resistir só se não gostasse da
coisa, o que não é o seu caso. ― Sorriu de lado. ― A não ser que tenha virado...
Rosnei me abaixando e tirando sua parte de baixo do biquíni e abrindo suas pernas; ali
estava a parte que eu tanto adorava e amava, uma pela qual estava faminto demais.
Assim que minha boca alcançou aquele broto rosa, eu me senti em casa. Eu lambia com
toda a fome que estava sentindo. Seus gritos eram como música para meus ouvidos.
― Oh, Deus! Isso é bom demais. ― Suas mãos apertavam mais minha cabeça. ― Juro se
um dia cortar seus cabelos de novo, eu vou chutar sua bunda, pois agora não tenho onde pegar...
Sorri, puxando seu brotinho com os dentes.
― Para quê? Deseja mais da minha língua? É só pedir, querida noiva. ― Segurei seu
quadril. ― Lembra-se do que eu disse sobre não exceder demais?
― Pare de falar e me coma logo, porque está bom... ― ela expirou ― Isso, assim ―
implorou assim que puxei seu clitóris. ― Não para, está tão bom.
Sorri e voltei à ação gostando da forma que ela estava, tão fogosa e eufórica.
― Prometa que mais ninguém tocará assim em você. ― Eu tinha pedido isso uma vez,
então nos separamos e ela teve namorados. Uma coisa que não queria pensar naquele momento.
― Nunca houve. Ninguém nunca me tocou assim, além de você ― declarou.
Levantei a cabeça para ela, não acreditando no que estava ouvindo.
― Mas você teve...
― Não fizemos oral. E vamos parar de falar isso quando sua boca está em mim, não
quero pensar no que nós fizemos no passado. ― Ela tocou o meu rosto. ― O importante é
estarmos aqui agora, e nos amarmos.
Ela tinha razão quanto a isso. No dia seguinte, ela seria minha para sempre.
― Só me responde o motivo...
Ela deu de ombros.
― Acho que foi pela promessa que fiz a você. Eu não conseguia descumprir.
Sorri, pensando em como poderia amá-la mais do que já amava.
― Também não fiz isso com ninguém. ― Toquei seu rosto. ― Só você. E a partir de
agora será tudo só com você.
― Amo você para sempre ― declarou nos meus lábios, meio sem fôlego. ― Quero você
dentro de mim, Daniel.
Não ia deixar minha garota esperar.
― Tantos anos sonhando com isso, com você nos meus braços. E amanhã será minha
para sempre. ― Coloquei a camisinha, pois não queria nenhum risco. ― Agora também.
Beijei seus lábios enquanto entrava nela com delicadeza, mas tão intenso quanto o sol.
Cada centímetro que possuía dela era minha volta para casa.
Suas mãos foram parar nas minhas costas; a forma que me agarrava me deixava louco.
― Me fode com força, Daniel! ― implorou.
Mesmo ouvindo seu pedido, eu me custava a negar isso a ela, mas peguei leve. Estar
dentro dela me levava ao limite, sabia que não ia durar muito, mas não gozaria sem ela junto
comigo. Toquei seu clitóris enquanto a beijava e acelerava mais meu quadril até sentir minhas
bolas batendo fundo.
Vê-la se desmanchando debaixo de mim, não havia prazer melhor que isso. A forma que
gemia e clamava meu nome. O jeito que me agarrava como se não quisesse me deixar nunca
mais, ou estivesse agradecendo por eu estar ali.
Nossos olhos se conectando um com outro, me fez agradecer aos céus por ela estar bem e
viva; por me dar mais uma chance de ter aquela mulher de novo.
― Goza para mim. ― Assim que essas palavras saíram foi com um tiro; eu a vi
desmoronar e a segui logo depois.
Cai do lado dela e a puxei para meus braços.
― Essa foi rápido, mas prometo que vamos demorar mais na próxima vez. ― Sorri,
saindo dela e indo para o banheiro me livrar do preservativo.
― E então? Onde vai ser o casamento Daniel? ― perguntou ela vindo atrás de mim.
Sorri comigo mesmo. Toda hora ela perguntava isso, e para evitar sua pergunta, eu a
distraía até que esquecesse. Acho que teria uma noite agitada. Não estava reclamando, aliás,
adorando.
― Vem tomar banho comigo. Aqui é muito calor. ― A puxei para debaixo do chuveiro e
tirei o seu lenço.
― Daniel...
― Sophie, você não precisa usar isso por achar que fica estranha com seus cabelos assim.
― Toquei nos fios curtos onde a água caía. ― Não ligo, linda, o que me importa é você. Eu não
ligo para cabelos, além disso, eles logo irão crescer.
― Eu sei, mas acho que virou costume; fiquei tanto tempo com ele quando estava careca
que é estranho não usar. ― Tocou meu coração. ― Nunca pensei que me deixaria por estar sem
cabelos, afinal você enfrentou tudo ao meu lado... é difícil um homem fazer tal coisa.
― O homem que ama faz sim, Sophie, assim como eu amo você. Perder ali não era uma
opção. ― Tracei sua face. ― Não sei viver sem isso aqui em minhas mãos. ― Segui para seus
seios. ― Ou isso.
― Meus peitos?
― Não sabe como eles são saborosos. ― Coloquei um na minha boca e peguei o bico
dele entre os dentes.
― Vamos para a segunda rodada. Acha que consegue? Afinal está meio velho não é mais
um adolescente na puberdade ― provocou com um sorriso safado como o pecado.
Oh, ela não sabia do que eu era capaz. Com um sorriso, eu caí de joelhos na sua frente e
abri suas pernas colocando uma em meu ombro. Então a devorei debaixo do chuveiro; cada
puxão de língua a fazia gritar mais. Então coloquei um dedo dentro dela e a penetrei com a
língua e dedos.
Tive que segurar seu quadril ou ela cairia ali com as pernas bambas. A devorei e a
degustei como se fosse uma comida que eu adorava e amava. Senti suas paredes apertarem meus
dedos, então coloquei outro e logo ela gozou com um grito.
Não parei de lamber até ela que ela parasse de tremer em minhas mãos e boca.
Afastei-me com um sorriso e colocando os dedos na minha boca.
― Delicioso. Então vai falar que sou velho? ― Seus olhos foram para a minha ereção em
pleno vigor.
Ela sorriu fraca.
― Vamos ver. ― Caiu na minha frente, levando a mão para o meu pau duro.
Gemi, segurando minhas mãos em punho deixando que ela fizesse o que quisesse.
Passou a ponta da língua na coroa fazendo pingar o pré-semen. Juro que nunca vi visão
mais perfeita do que aquela.
― Tão gostoso quanto eu me lembrava. ― Seus olhos molhados da água do chuveiro se
lançaram em minha direção. ― Senti muita falta dele inteiro.
Engoli em seco.
― Ele é seu para fazer o que quiser. ― Consegui dizer, rouco.
― Oh, eu vou abalar o seu mundo. ― Sua boca tomou todo o meu pau.
Se alguém podia fazer isso era ela. Com uma chupada, eu quase caí de joelhos, tive que
me equilibrar na parede de azulejo. Desliguei a água para apreciar a visão da boca macia
preenchida pelo meu pênis.
― Uma visão de outro mundo. ― Levei uma mão em seu rosto. ― Tão linda.
Seu olhar não deixou o meu por nenhum segundo e ele brilhava como o sol. O que não
conseguiu colocar tudo na boca, ela pegou com a mão e sua cabeça passou a balançar para cima
e para baixo.
Meu corpo se convulsionava, tremendo; sabia que era por causa daquela visão do meu
pênis sumindo e aparecendo em sua boca. Meus olhos se fecharam e escorei a cabeça na parede,
sem forças.
Empurrei meu quadril mais em sua direção.
― Porra, esses lábios... ― me interrompi quando ela acelerou mais os seus movimentos.
― Vou gozar...
Estava a ponto de explodir em sua boca, quando um dedo foi enfiado na minha bunda e
seus movimentos aumentaram me puxando para o arrebatamento.
― Jesus Cristo! ― exclamei quase subindo pelas paredes e vim com a força de um
vulcão. A porra teve uma explosão que me deixou de pernas bambas, mole feito um bêbado, mas
ao invés de bebida, no meu caso foi sexo.
― Está vivo? Ou terei que chamar o médico para dizer que teve um ataque após o sexo
oral? ― Seu tom era provocante.
Meus olhos bêbados se abriram e me foquei nela, que sorria brilhante. Até minha visão
ficou embaçada.
― Você conseguiu abalar o meu mundo. ― Consegui dizer, ofegante.
Ela sorriu e ficou de pé. Em seguida, ligou o chuveiro para nos lavarmos.
― Eu falei que faria isso. Aprendi o negócio do dedo no livro da Angelina. ― Me olhou
enquanto se ensaboava. ― Parece que gostou disso. Acho que ela fez com o Ryan.
― Acho que não consigo me mexer ― sussurrei ainda sem fôlego e a puxei para os meus
braços. ― Você sabe deixar um homem de joelhos.
― Essa é a ideia ― retribuiu o beijo. ― Não pense que esqueci. Você me distraiu sobre o
casamento.
Quase gemi, mas dei um selinho em suas pálpebras.
― Sophie, minha linda noiva, eu só quero ficar essa noite com você. Deixe a sua família
organizar tudo. Lembra-se, no passado, quando falei que tinha uma surpresa para fazer? Não tive
tempo na época, então me deixa fazer essa surpresa para você amanhã.
Ela piscou.
― Ia me pedir em casamento?
Ri.
― Não, mas eu ia levar você a uma ilha. Não podia comprar, mas ao menos poderia
passar aquele dia ao seu lado. ― Toquei seu rosto. ― Me deixa fazer isso por você? Eu quero
que seja feliz.
― Eu sou Daniel. ― Sua voz era cheia de emoção. ― Te amo demais.
Eu a beijei, dando graças aos céus por aquela mulher me amar e nunca ter desistido de
mim.
Epílogo
Sophie
Quando Daniel me disse que faria uma surpresa em relação ao nosso casamento, eu
pensei que seria em uma igreja ali no Caribe, perto da ilha em que estávamos.
Estava no quarto grande de madeira branca, com janelas de vidros, embora fechadas com
cortinas. Eu estava totalmente proibida de sair para ver. Poderia dar uma espiada, mas queria
realizar o pedido de Daniel.
Ele me deixou ali naquele quarto há algumas horas para que eu me arrumasse. Me trouxe
vendada. Mas o que me surpreendeu foi que não pegamos helicóptero nem barco, então o
casamento seria mesmo ali na ilha. Em algum lugar não muito longe, porque andamos pouco de
onde estávamos, no chalé.
No fundo, eu achei divertido ser vendada e levada para não ver a surpresa. Não sabia
como estaria lá fora, mas de uma coisa tinha certeza: eu amaria cada momento. Tudo foi feito
pelos meus amigos e família, assim como pelo homem que amava.
No quarto estava mamãe, Laurel e Alexia; elas estavam cuidando de mim. Até o vestido
tinham comprado, o meu tamanho atual. Não sabia como Daniel conseguiu isso, mas ele fez.
Ali me vendo naquele vestido branco era como se eu estivesse em um sonho. Ele se
estendia em meu corpo como luva; mostrava minha cintura e era rodado. Na região dos seios
tinha diamantes em forma de Lua, as quatro estações. Um véu na minha cabeça.
― Uma coisa azul. ― Mamãe me entregou uma corrente com uma pedra azul turquesa.
Eu já tinha uma coisa nova, os brincos que Tabitta tinha me dado. A coisa velha era uma
pulseira que estava no fundo do baú, uma que Daniel tinha me dado. Eu não usava, porque me
trazia muitas lembranças na época.
― Só falta algo emprestado ― falou Alexia me examinando para ver o que estava
faltando. Ela pegou um broche dela e colocou no meu decote. Por incrível que pareça ficou legal.
― Obrigada ― sussurrei.
― Está tão linda, meu amor. ― Mamãe colocou a mão na boca como se quisesse chorar
emocionada.
― Oh, mamãe não chore ― pedi indo abraçá-la.
― Sempre foi o meu sonho que se casasse com ele, demorou anos, mas o meu se
cumpriu. ― Sorriu.
― O genro que você sempre quis, não é? ― Ri, sacudindo a cabeça.
― Verdade ― concordou. ― A senhora o ama como um filho.
A mãe de Daniel não viria ao casamento; ele não queria trazê-la, porque temia que se
alterasse ao me ver casando com ele. Mas eu não ligava, porque entendia que ela estava doente.
Então pedi que a trouxesse ali. Também falei que depois que nos casássemos, ela moraria
conosco. Não poderíamos tomar conta dela pelo meu trabalho e o dele, mas poderíamos contratar
alguém qualificado.
― Sophie está na hora. ― Alexia me trouxe de volta dos meus pensamentos.
Naquele momento, eu só queria me focar em Daniel e vê-lo lá no altar esperando por
mim com aquele sorriso sexy que amava demais. Com ele do meu lado, eu enfrentei vários
obstáculos, mas havia chegado a nossa vez de sermos felizes ao lado um do outro.
― Pare de pensar Sophie. Agora é hora de agir. ― Sorriu mamãe.
Uma batida na porta e depois meu Joaquin surgiu ali com um terno azul, cabelo penteado
de lado.
― Está um gato, papai. ― Sorri assim que mamãe e as meninas saíram.
― Você está tão magnífica, meu anjo. ― Beijou meu rosto. ― Só vim desejar que você
seja feliz, minha filha.
― Obrigada, pai. — Beijei seu rosto.
Soube por ele quando conversamos — assim que saí do hospital — o motivo de a Mary
ser daquele jeito; ela tinha sido tratada assim pelos próprios pais e sempre viveu na pobreza, por
isso desprezava tanto. Mesmo que tivesse se apaixonado por ele isso não era suficiente. A cadela
queria ficar com o meu pai, mas casada com outro cara, um russo. Foi assim que teve Laila e a
mim, com sua recaída. Papai disse que depois de alguns anos, Mary voltou e quis ter outra noite
com ele mais uma vez, mas ele não quis. Anos mais tarde, ela voltou lá e contou sobre nós, e foi
quando ele tentou nos achar.
Apesar do jeito que fora criada não justificava o que ela fez com seus filhos, por isso não
me importei quando soube que ela levou uma facada na cadeia indo parar na enfermaria. Parece
que alguém ficou sabendo o que ela fez com seus filhos, mas quer saber? Mesmo ficando triste
pelo seu fim, ela mereceu, porque por culpa dela, eu não tinha a Laila.
― Vou esperar lá no banco ― falou, assim que ouvimos outra batida na porta, sabia que
era meu pai Antônio.
― Tudo bem. Eu só quero que saiba que amo você ― declarei.
― Também amo demais. ― Beijou minha testa e saiu.
Ouvi-o falando com o meu pai lá fora.
― Oi, meu amor. Está pronta? ― perguntou meu pai Antônio.
― Papai, o senhor se magoaria se eu pedisse ao Joaquin para me levar ao altar também?
Vocês dois juntos? ― pedi com cuidado, pois não queria magoar os sentimentos dele.
― Não me importo, querida, e acredito que ele vai ficar imensamente feliz. ― Sorriu. ―
Não pude criar uma filha melhor.
No corredor tinha duas crianças, as damas de honra. Ariane, com todo o seu belo vestido
rodado. E Lira, com seus cachinhos loiros brilhante.
Elas seguiam na frente e, eu atrás dela com meu pai. Esperava encontrar o outro na
entrada do local em que seria realizado o casamento.
Olhei ao redor notando que aquele lugar que eu estava se parecia com o chalé que
estávamos, horas atrás, só que maior. Passamos pela sala e saímos pela porta da frente.
Arfei.
― Todos vocês fizeram isso? ― perguntei, assim que consegui recuperar o fôlego.
Na minha frente, eu encarei o mar azul ao fundo, com coqueiros ao redor fazendo
sombra. Logo a direita tinha uma tenda grande com várias cadeiras sendo ocupadas.
Sobre a tenda tinha milhares de flores de todas as cores, e uma guirlanda onde possuía
um tapete verde e um corredor para seguir ao altar improvisado.
― Sim, aquele homem é louco por você. Olha o que ele fez? ― Sacudiu a cabeça. ―
Nunca poderei agradecer o suficiente.
Meu coração se aqueceu por dentro, Daniel era assim, um homem honrado e muito
elegante.
Olhei para a direita e meu pai Joaquin estava do meu lado com um sorriso.
― Está feliz, meu amor? ― Ele parou na guirlanda com aromas florais e a brisa do mar.
― Demais, pai! Daniel é tudo o que eu sempre quis. Quem me acompanhar também? ―
perguntei.
O sorriso que me deu pensei que iluminaria todo o lugar, e sabia que logo choraria. Me
puxou para seus braços de urso.
― Muito obrigado pela honra, minha filha. ― Se afastou e ficou do meu lado e deu uma
elevação de queixo para o meu pai Antônio. ― Obrigado.
Fiquei no meio dos dois e peguei seus braços. O bom era que o corredor era grande e
coubemos nós três.
Meus olhos vagavam pelo lugar que parecia um sonho encantado. Do lado direito
estavam os meus amigos e minha família, além de algumas pessoas do meu trabalho. Do lado
esquerdo estavam os amigos do Daniel e família, primos que eu não conhecia pessoalmente, mas
sabia que tinha.
Richard e sua esposa estavam ali também ao lado de Weliton e Zoe. Mas o que quase me
fez parar foi ver dois homens no canto perto da tenda quase do lado de fora. Eles vestiam jaleco
preto com emblema da Fênix e com o nome também. Um era alto de cabelos curtos e sorriso
sexy. O outro era um pouco mais baixo com cabelos em tom castanho e, muito atraente.
De repente, eu me lembrei que Jordan e Daniel conheciam uns MC do bem. Eles não me
pareceram maus, apenas lindos.
Respirei fundo e olhei para o altar improvisado e, no fundo o mar. Ali, estava o homem
para quem meu coração batia e, eu respirava; o homem que me deixava de pernas bambas. Se
não fossem meus pais ali, eu teria caído ou sairia correndo para ele.
Na noite anterior, nós ficamos juntos algumas vezes e, eu realmente estava esgotada e
dormi como uma pedra.
Chegamos ao altar e Daniel veio ao meu encontro com um sorriso lindo, quase maior que
o sol.
Meus dois pais me entregaram a ele fazendo algumas ameaças, mas eu sabia que estavam
brincando. Todos sabiam o que Daniel sentia por mim.
― Farei ― jurou, apertando minha mão ao prometer aos meus pais que me amaria para
sempre.
Viramos para um padre.
― Estamos aqui hoje para celebrar o casamento de Daniel Fredecic Luxem e Sophie
Winter ― falou o padre.
Assim que terminou, ele pediu para que declarássemos os nossos votos. Peguei a aliança
e fiquei de frente para o Daniel.
― Nunca acreditei em alma gêmea até me apaixonar por você. Mesmo com tudo o que
aconteceu, a dor, vazio e solidão ao perder você, eu não me arrependo de tê-lo conhecido.
Daniel, o nosso amor sobreviveu a tudo isso, à doença e ao vale da morte. Naquele hospital,
sentindo dor, eu só tinha uma coisa em mente: sobreviver. Lutar por isso. Porque se perdesse
essa batalha, eu perderia você e isso não era uma opção. ― Respirei fundo ganhando gás. ―
Você é o meu Sol, a lua e as estrelas. O universo inteiro.
Seus olhos pareciam querer sair lágrimas, estavam úmidos.
― Minha doce Sophie, a partir do momento que me apaixonei, eu sabia que não viveria
sem você. Quando fiquei longe era como se estivesse morto, mesmo respirando e vivendo era
como se eu tivesse perdido a minha alma. No caso você. ― Suas mãos apertaram as minhas. ―
Hoje, eu a tenho de volta, a minha alma está inteira e nunca estive mais vivo. Mesmo naqueles
momentos em que achei que a perderia, no fundo, eu tive fé e, pela primeira, eu rezei para um
Deus que não conhecia e, no final, ele me ajudou e a deixou viva, para mim. Amo você para
sempre.
O padre nos declarou marido e mulher. Não perdi tempo e pulei em seus braços o
beijando e lhe mostrando todo o meu amor. Um amor que sobreviveu a alegria, saúde, tristeza e
doença. Capaz de abalar o mundo.

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