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SINOPSE
Eu li uma vez que cada guerreiro espera que uma morte honrosa o encontre.

Eu sempre procurei a minha, mas nem mesmo o Ceifador me queria. Eu fui


treinado para matar. Eu fui treinado para não perguntar porquê. Para cumprir
ordens e apenas marcha na fila.

Certo, filho da puta. Vida ou morte. Corra ou morra.

E eu não estou apenas falando sobre os militares. Eu estou falando sobre a vida
que me levou à estrada para lugar algum. Minha vida.

Eu lutei pelos meus irmãos.

Eu lutei pela minha família.

Eu lutei pelo meu país.

E eu lutei por ela...

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Nunca perceb PRÓLOGO

Mia Ryder.

Mia “Fodida” Ryder.

Sentei-me no trilho do trem. Desesperadamente tentando não pensar


sobre ela, mas era mais fácil dizer do que fazer. Ela entrou em minha vida como
um furacão, destruindo tudo em seu caminho. Uma garota certinha, que por
alguma razão, eu não poderia nunca imaginar...

Que se apaixonaria por um homem como eu.

Eu tinha cometido erros, muitos para contar, mas a vida não lhe dava uma
segunda chance. Tudo o que restava para eu fazer era aceitá-los, até mesmo
abraçá-los. Eles se tornaram uma parte de mim, tanto quanto todas as tatuagens
que cobriam meu corpo. Cada uma delas significava algo para mim. Eram as
minhas cicatrizes de batalha. Muito piores do que aquelas que eu ganhei na
guerra. Aos olhos dos outros, elas eram apenas arte colorida e intrincada.

Mas para mim...

Elas eram meu consolo e minha dor.

Nada havia mudado desde a última vez em que vivi nessa cidade
abandonada por Deus. Nenhuma festa de boas-vindas na casa da família ou
amigos, nem agradecimentos ou desfiles dos moradores da cidade por servir o
nosso país.

Nada.
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Nenhuma coisa fodida.

Tudo o que eu tinha feito, eu tinha feito pela minha família, pelo MC, por
ela...

Eu lutei pelos meus irmãos.

Eu lutei pelo meu maldito país.

Eu lutei pela minha garota.

Nunca percebendo...

Que eu poderia morrer por eles também.

Das cinzas as cinzas, da poeira a poeira, e toda essa porra de merda. Certa
vez li que todo guerreiro espera que uma boa morte o encontre. Eu sempre fui
procurar a minha, mas nem mesmo o Ceifador me queria. Pensei que lutar por
algo em que acreditava me faria um homem bom.

No final, nunca importou. Eu sempre estaria no lado errado, e eles sempre


me levariam para o ponto errado. Mudar as pessoas, lugares e coisas ao longo
dos anos, não ajudou a mudar o resultado das escolhas que eu fiz. Das coisas que
eu fiz.

No final de tudo…

Eu já estava pregado na cruz.

Eu nasci nela.

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CAPÍTULO 1

—Isso não vai ser chupado sozinho, querida. —Eu disse com um olhar
predatório, olhando para a loira de cima a baixo.

Ela era uma puta nova no clube com um corpo comível, tetas enormes,
bunda em forma de coração, e muita maquiagem em seu rostinho sonso. Ela
tinha um olhar de “foda-me”, desde que apareceu no clube há poucos dias. Eu
nunca fui muito de pegar essas putas de clube que saltavam de um pau para
outro, mas isso não me impedia de deixá-las chupar meu pau. Depois do dia que
eu tive, eu merecia, porra.

—Aqui? Em sua moto? —Ela perguntou timidamente, olhando em volta


dela. Tentando fingir que nunca tinha feito isso antes.

Estávamos escondidos atrás de uma fileira de árvores na propriedade do


clube. Meu local para rapidinhas, e o único lugar em que eu poderia montar em
minha moto. Meu pai me deu uma elegante Harley Davidson Sportster no meu
décimo sexto aniversário quase dois anos atrás. Eu tenho certeza de que ele não
pagou por isso, mas quem era eu para me queixar, era uma moto do caralho.
Tinha todos os componentes pretos foscos, para-lamas personalizados, assento e
tanque de gás com o logotipo do clube pintado sobre ele. Sem mencionar o motor
assassino, e sistema de escapamento visível nos lados. Um jogo de guidão
encurtado, e um farol dianteiro maciço finalizando a máquina do fodão.

A sede do clube era dificilmente visível a distância, tornando impossível


para qualquer um nos ver. Não que eu me importasse.

—Você disse que queria fazer alguma coisa.


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—Não, querida. —Eu ri. —O que eu disse foi que eu tinha algo para você
fazer. —Falei gesticulando para o meu pau.

Seus olhos arregalaram-se. Escuros e dilatados. Ela mordeu seu lábio


vermelho que eu não podia esperar para ter envolvido em torno do meu pau.

—Posso ver como você poderia ter confundido isso, entretanto. —Eu
adicionei sarcasticamente, agarrando um fio de seu cabelo loiro platinado falso.

O lugar das mulheres na vida de um MC, estava sempre em segundo plano


do caralho. O clube vinha primeiro, não importa o que aconteça. Todos nós
carregamos os mesmos princípios - honra, respeito e fraternidade. Uma família
composta de filhos da puta desgraçados até seus ossos. Todos liderados pelo filho
da puta mais sombrio conhecido pelo homem.

Meu pai.

Ele era o presidente do capítulo mãe 1, Devil's Rejects, em South Port,


Carolina do Norte. O primeiro capítulo foi estabelecido, tornando-o o cão fodido
do MC. Mesmo que cada capítulo abaixo tivesse um presidente próprio, eles não
poderiam tomar decisões executivas sem sua aprovação final. Ser visitado por ele
só terminava em morte. Ele só entraria nisso se fosse provocado, ou se a merda
batesse no ventilador de forma catastrófica.

Fora isso, os capítulos faziam o que eles quisessem, era uma merda livre
para todos. Meu velho não fazia nada de errado aos olhos de todos, quando na
realidade, era tudo o que ele fazia. Os bolsos dos policiais eram untados com
dinheiro sujo, para fecharem os olhos para todas as nossas atividades ilegais. Em
todos os lugares que íamos, as pessoas olhavam para a direção oposta e moviam-
se para fora do nosso caminho. Os Devil's Rejects eram conhecidos por todos, a
fama espalhada por toda a comunidade, pelo Estado, até pela nação, porra.

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A organização interna típica de um moto clube é composta por um presidente, vice-presidente, tesoureiro, secretário, capitão de
estrada e sargento-de-armas. Grupos localizados de um único e grande MC são chamados capítulos ou facções, e o primeiro
capítulo estabelecido para um MC é referido como o capítulo mãe. O presidente do capítulo mãe serve como o presidente de todo
o MC, e define a política do clube em uma variedade de questões.

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Em toda parte.

O único inimigo que tínhamos era a lei.

Ela sorriu, inclinando a cabeça para o lado, lentamente lambendo seus


lábios deliciosos, enquanto casualmente alcançava a frente do meu colete. Ela
arrastou, de forma provocante, suas unhas vermelhas longas abaixo da frente
dele, sem tirar seus olhos pecadores dos meus.

—Creed. —Eu murmurei, querendo ouvir meu nome saindo de seus


lábios.

—Eu sei o seu nome, Creed. O meu...

—Não é muito importante, não é?

Ela arqueou uma sobrancelha, olhando para o tecido robusto do meu


colete.

Nossos coletes de couro pretos, ou patchs como os chamávamos, eram a


marca do MC, nossa marca registrada reconhecida por todos, especialmente
mulheres e civis. Eles eram a identificação de cada capítulo, quem éramos, e o
que defendíamos. Na parte traseira de nossos coletes ficavam as cores do clube,
um desenho de um fodão olhando uma menina pinup tatuada, com tetas
enormes ostentando orelhas do diabo e uma cauda. Montado sobre um
helicóptero personalizado, segurando um crânio, com chamas saindo de seus
olhos em uma das mãos e um rifle AK47 na outra. Acima do logotipo havia um
remendo vermelho em forma de lua crescente que dizia “Devil's Rejects”, com
letras curvadas negras. Abaixo do logotipo, estava outro remendo em forma de
lua crescente invertida, com Southport NC costurado nele.

Na parte dianteira esquerda do nosso colete, estava um “one-percent”2


costurado, que era usado com orgulho do caralho, indicando que nós éramos fora
da lei. Não havia regras a seguir, a não ser que elas viessem do clube ou dos
nossos irmãos. Leis fodidas se tornaram obsoletas. Devil's Rejects tinha sido
2
Ou 1% - significava que eles eram 99% fora da lei.
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criado em torno da década de 40, e tinha mais do que provado a sua lealdade ao
mundo dos MC. Rapidamente se tornando um dos clubes mais temidos da
sociedade. Um dos poucos seletos que foi marcado como um clube de “one-
percent”. Nós éramos motociclistas obstinados que não seriam parados por nada,
até mesmo assassinato, para provar-nos dignos.

Honoráveis assassinos malditos.

Eu vi a brutalidade em primeira mão. Não é uma visão bonita. Fodidos


Neandertais, com quem não se brincam, senão... Nada acontecia em Southport
sem o nosso conhecimento ou controle.

Nada.

Nossos coletes eram o nosso santo Graal.

Seus dedos arrastaram pelo painel frontal direito do meu colete, sobre o
meu patch “MC”, que apenas verdadeiros clubes de moto usavam. Você nunca
veria isso em um colete dos HOGS3, porque vamos ser sinceros, eles eram apenas
um bando de vagabundos assustadores, pilotando motos caras, nunca dispostos a
ficarem com suas mãos sujas de merda.

—Onde está o resto de seus remendos, Creed? —Ela ronronou. —Todos


os outros motociclistas têm vários alinhados sob este patch MC, aqui. Não serviu
muito tempo, hein?

Eu estreitei meus olhos para ela, ficando mais irritado e incomodado com
o passar dos segundos. Eu nunca fui dessa merda de conversar.

—Você não fala muito, não é?

Eu apontei para o nome “Prospecto” costurado à direita do meu colete,


onde o meu nome e classificação estariam assim que eu fizesse dezoito anos. O
couro preto era uma tela em “branco”, por agora, mas eventualmente, seria cheio

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HOGS – Harley Owners Groups – Grupos Donos de Harleys.
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com os remendos aleatórios dos deveres cumpridos. Tudo representava o que eu
tinha feito e o que eu faria para o clube e os irmãos.

Por agora, eu estava no final da porra da cadeia, esperando o meu dia


chegar. Eu realmente não podia reclamar muito, no entanto, tendo o meu velho
como Prez4, definitivamente tinha suas vantagens. O respeito era um deles.
Qualquer um que cruzasse meu caminho estaria cruzando o de Prez também.
Uma puta morte que você não iria querer no seu caminho.

Passei os últimos dezessete anos da minha vida observando-o governar


com um punho de ferro, aniquilando o que tantos homens “Jameson”
construíram antes dele. Meu futuro foi selado no dia em que meus pais
descobriram que eu tinha um pau. Eu seguiria na longa fila de homens da minha
família, assumindo como Prez do MC um dia.

Mas agora, eu era apenas mais um prospecto de merda, fazendo os


trabalhos de merda, que eles não queriam fazer. Disponibilizando-me a toda
hora, fosse para cavar uma fodida sepultura, encher as mãos com merda em mais
de uma maneira, ou fazer uma merda de comida para os bastardos preguiçosos.
Eu tinha visto e feito mais merda do que qualquer mãe estaria orgulhosa, mas
isso nunca importou. Eu fui jogado aos lobos muitas malditas vezes para contar,
apenas para eles verem se eu sairia vivo. Eu fiz todas as coisas fodidas com um
sorriso idiota na minha cara de merda, tão implacável quanto o resto da
irmandade.

Sempre me provando digno ao clube, mas principalmente ao meu pai. Ele


não me deixaria desistir da minha vida. Ele queria o meu sangue fodido nisso.
Segurando as merdas que eu tinha feito para o clube sobre a minha cabeça.
Lembrando-me que, se eu saísse da linha, o quão fácil seria para ele usar a força
que ele tinha para me fazer marchar de volta na fila onde eu pertenço. Seguindo-
o, o Prez; suas regras, sua autoridade, sua palavra final, mais uma vez. Um dia em
breve, eu seria incluído como um irmão, eu querendo ou não.

Não era um estilo de vida. Era um modo de vida.


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Presidente
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O único que eu já conheci.

Eu deslizei minha mão atrás de seu pescoço, segurando forte e puxando-a


para mim, sem me mover do lugar em que eu estava sentado em minha moto.
Um suspiro escapou de seus lábios com a mudança repentina em meu
comportamento. A paciência nunca foi uma das minhas virtudes. Era um traço
dos “Jameson” que corria forte no meu sangue. Eu determinava quem, o quê,
quando e onde aconteceria na minha vida.

Qualquer um que não aprovasse poderia ir se foder.

Resumindo, eu vivia e respirava por minha mãe e meus irmãos mais novos
- Luke, que tinha catorze anos, e Noah, que tinha onze anos. O resto era apenas
um meio para um fim para mim.

—Eu...

—Shhh... —Silenciando-a com meu dedo indicador, eu levei minha boca a


centímetros de distância dos seus lábios. Sua respiração ficou mais perto de mim,
e minha respiração quente assaltava seus sentidos. —A única coisa que eu quero
desta boca... —Eu fiz uma pausa, beijando de leve seus lábios. —É que ela esteja
envolvendo meu pau. —Eu rosnei, enfatizando a última palavra enquanto eu
guiava meu polegar em sua boca carnuda.

Ela chupou-o como uma maldita profissional, ansiosamente alcançando


meu cinto e abrindo o zíper.

—Boa menina. —Eu elogiei, removendo meu polegar com um estalo.


Guiei-a para mais perto de mim pelo canto do pescoço dela. —Agora retire meu
pau. —Eu gemi em sua orelha, fazendo com que sua pele se aquecesse
imediatamente sob meu toque. Ela fez o que eu disse com mãos inseguras, sem
tirar os olhos dos meus.

Eu não sabia o nome dela. Eu também não queria saber. Nenhuma dessas
meninas tinha importância. Além disso, eu nunca fui bom com porras de nomes.

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—Acaricie-o. Mais forte. —Eu ordenei enquanto eu continuava a beijar
seu pescoço e seus peitos que estavam em plena exibição.

—Assim? —Ela suspirou.

Eu gemi, segurando seus seios e enterrando meu rosto neles. —É isso aí,
querida. Exatamente assim. —Eu gemi, em seus seios. Puxando sua cabeça para
trás pelos seus cabelos, abaixei-a ao chão. Sem soltá-la até que ela estivesse de
joelhos na minha frente. De repente, ela soltou meu pau quando eu coloquei
minha própria mão em torno do meu eixo, acariciando-me para cima e para baixo
na frente de seu rosto.

Ela olhou para mim com olhos cheios de luxúria, desejando provar-me. Eu
continuei a me masturbar até que ela sugou a cabeça do meu pau em sua boca
gananciosa. Ela movia-se para baixo em direção à base do meu eixo, me levando,
centímetro por centímetro.

—Mais fundo. —Eu exigi, segurando um punho cheio com seu cabelo. Ela
me amordaçou assim que senti a parte de trás de sua garganta, mas sua mão
nunca parou de trabalhar em mim. Tornando mais fácil encontrar rapidamente
um ritmo que fez minha cabeça ligeiramente inclinar para trás, e minha boca se
abrir.

Meus olhos permaneceram focados nela enquanto ela chupava meu pau
como se ela tivesse algo para provar. Sua mão seguia os movimentos de sua boca,
enquanto sua outra mão puxava minhas bolas simultaneamente. Minha
respiração tornou-se errática, alimentando minha necessidade de balançar meus
quadris na direção oposta dos seus movimentos inebriantes. Não querendo nada
mais do que tomar o controle total e foder seu rosto.

—Vou gozar. —Eu rosnei.

Eu não era um idiota completo. Eu pelo menos lhe dei uma fodida
advertência.

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Ela tentou tirar os lábios do meu pau, mas eu agarrei a parte de trás da
cabeça dela, empurrando-a mais fundo. Movendo meus quadris para frente uma
última vez, eu gozei forte na parte de trás de sua garganta. Sacudindo meu pau,
eu o puxei de sua boca com um “pop”.

—Engula. —Eu ordenei severamente.

Ela olhou para mim, imediatamente fazendo como foi dito. Ela limpou os
cantos de sua boca, tentando consertar seu batom vermelho que agora estava
pintado em todo o meu pau. Fechei minha calça e apertei meu cinto enquanto ela
sedutoramente deslizava pelo meu corpo, indo direto para a minha boca.

Eu me afastei. —Se eu quisesse provar meu gozo, eu o lamberia de sua


cara, querida. Você tem um pouco de gozo aqui. —Eu gesticulei para o canto do
meu lábio.

Ela se afastou, rosnando. —Vá se foder!

Eu sorri, zombando. —Não, obrigado. Tem requisitos para essa posição, e


você obviamente não se qualifica, querida.

—Seu idiota...

—Creed! —Ouvi a voz de Luke ecoar entre as árvores. —Você está aí fora?

Eu acelerei minha moto algumas vezes, preparando-me para decolar.

—Que diabos? Você vai me deixar aqui? —Ela bateu o pé no chão como
uma criança de três anos, lembrando-me exatamente do motivo de eu nunca ficar
por perto depois que minhas bolas estavam vazias.

—Use essas pernas para algo diferente do que apenas abri-las. —Eu falei
grosseiramente, saindo com a moto, e ainda a ouvi gritar algo atrás de mim. Eu
acelerei para a clareira, indo até Luke, que tinha um sorriso idiota em seu rosto
quando ele apareceu.

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Ele balançou sua cabeça. —Outra? Essa é a número três, e é só sexta-feira.
—Ele gritou por cima do barulho da minha moto.

—Cuide das suas coisas, irmãozinho.

Ele revirou os olhos, chutando o cascalho sob seus sapatos.

—O que você está fazendo aqui? Acabou de sair da escola? Onde está a
mãe? —Eu perguntei, puxando a moto para a direita e bem na frente dele. Usei a
ponta da minha bota de combate preta para baixar o suporte.

Eu deveria estar na escola, também, em vez disso, eu estive dirigindo


durante todo o dia de merda, preparando tudo para a reunião do clube. Eu já
estava ficando para trás na maioria das minhas matérias de tanto matar aula. Eu
me recusava a sentar-me naquele buraco infernal, e ser dito o que fazer por um
grupo de professores que não davam a mínima para mim. Não que eu precisasse
de uma educação para o meu futuro.

—Ela está cuidando dos negócios com o papai.

Eu ri, apontando para o clube. —Christa está lá. Ele não vai ficar feliz por
ela ter ido sem ser convidada, de novo.

—E ele um dia já ficou feliz?

Eu ri, sabendo que ele estava certo.

Christa era uma das principais fodas de Pops 5. Ela era prostituta quase
desde que tinha deixado às tetas da sua mãe. Eu tinha testemunhado o meu
velho foder putas no clube mais vezes do que eu me importei em contar. O
bastardo nunca se incomodou em esconder o fato de que ele enfiava o pau em
cada puta que abria as pernas para ele. Eu não conseguia pensar em uma época
em que ele não esteve traindo minha mãe, e ela não esteve chorando para dormir
por causa de suas infidelidades. Você pensaria que depois de tantos atos de
traição, ela acordaria e o deixaria. Em vez disso, ela ficou presa ao lado dele,

5
Como ele chama o pai dele.
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agindo como se nada estivesse errado, dando-lhe mais filhos. Provavelmente
esperando que isso fosse suficiente para provar sua lealdade para com ele e com
o clube.

O que era uma merda, se você quer saber.

Ou talvez ela só quisesse lembrar a todos que ela ainda era sua Old Lady6.
Exceto que Old Ladys não eram permitidas na propriedade, a menos que fossem
convidadas, geralmente durante grandes festas, quando elas eram necessárias na
cozinha onde era o lugar delas, para cozinhar para os membros. Nesses dias, era
livre para todos. A regra permitia aos irmãos a liberdade de não se preocuparem
com brigas que pudessem acontecer devido a seus paus se molharem por bucetas
que não eram as de suas esposas. Se as Old Ladys pensavam que seus homens
estavam mantendo seus paus enfiados em suas calças, elas mereciam ser
enganadas por serem tão estúpidas fodidas. Ma7 já sabia o que Pops estava
fazendo, não era segredo. Ele não se importava em como ela se sentia, ela sabia
que tinha muito a perder ao deixá-lo.

Inclinando-me para trás, eu desliguei o motor da minha moto e peguei


uma caixa de cigarros na parte dianteira do meu colete. Colocando o bastão com
nicotina entre os meus lábios, o acendi, e soprei a fumaça no ar, longe de Luke.
Ele odiava o cheiro de cigarros, me dando sermão há anos sobre como eu estava
me matando lentamente a cada tragada ou alguma besteira assim. Ele finalmente
desistiu recentemente, sabendo que eu era uma causa perdida. Fumar era meu
vício, rapidamente me tornando viciado na nicotina que me acalmava.

Meu refúgio da tempestade de merda em que vivia.

Fiquei exposto a ele durante toda a minha vida, todos ao meu redor
fumavam como malditos demônios, um cigarro após outro. Eu dei meu primeiro
trago quando eu tinha onze anos, e logo depois disso, eu fumei meu primeiro
cigarro com os irmãos. Não foi tão ruim, eu poderia ter me metido em coisas

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Como são chamadas as mulheres dos motoqueiros.
7
Como ele chama sua mãe.
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muito piores. Drogas e bebidas eram predominantes na minha vida diária, tanto
quanto mulheres. E meu corpo já estava coberto de tatuagens.

Só mais um dos meus vícios.

—O que foi? —Eu perguntei, colocando o cigarro no canto dos meus


lábios.

—Bem... Eu meio que... Quero dizer... —Ele vacilou com suas palavras,
arrastando os pés ao redor. Olhando para todos os lugares, menos para mim.

—Desembucha, Luke.

Ele visivelmente respirou fundo e, finalmente olhou para mim e disse: —


Preciso de um conselho.

Eu girei a cabeça, curioso.

—Em... Você sabe... A vida e essas coisas...

—Buceta? —Eu disse com as sobrancelhas levantadas, cortando o papo


furado.

—Deixa pra lá. Esqueça. —Ele virou-se abruptamente para afastar-se de


mim, mas eu não o deixaria fugir assim tão fácil. Saí da moto e agarrei-o pelo
braço.

—Não tão rápido. Desembuche.

Ele virou-se para me encarar. —Como você sabe que eu quero falar sobre
uma garota?

Eu sorri. —É sempre sobre uma garota. Você está pegando ou quer pegar?

—Eu tenho uma menina, Creed.

—Você tem um pau, Luke. Isso é o que você tem. Então, para de me
enrolar e me diga no que eu posso aconselhá-lo, além de se você vai ou não vai
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usá-lo. Você com certeza sabe como usá-lo. —Eu o lembrei, referindo-me a ele
usar camisinha.

—Sim... sim... eu sei.

—Você vai fazer quinze anos em breve. Você tem que virar homem logo.

—Quero dizer... quando você...

—Onze. Acordei no meio da noite com meu pau na boca dela. Durou cerca
de vinte segundos, uma vez que ela começou a me montar. —Eu ri, lembrando o
quanto foi rápido.

—Ela era...

—Eu não poderia dizer como ela parecia no escuro. Pops precisava ter
certeza de que seu filho primogênito adorava uma buceta tanto quanto ele, e que
ele não estava criando um homossexual.

Ele recuou, surpreso com a minha revelação. Essas foram as palavras


exatas que meu pai usou na manhã seguinte. Lembrei-lhe que eu tinha apenas
onze anos, o que me valeu um tapa no rosto. Dizendo-me que eu deveria
agradecê-lo pelo que ele forneceu, e não questionar.

Eu afastei a memória. —Está tudo bem, Luke. Não posso esconder a


verdade. —Eu sorri. —Eu sempre vou ser honesto com você. Não vou adoçar essa
merda, não tenho tempo ou paciência para isso. Tive que aprender as coisas da
maneira mais difícil, e não quero isso para você. Tudo o que eu faço é pela Ma,
você e Noah, e nunca se esqueça disso.

Estávamos todos nesta vida a longo prazo, deixados para lidar com a nossa
merda de sorte. Não era culpa de Luke ou Noah. Eles não pediram para nascer
neste mundo fodido, mais do que eu. Eu morreria pelos meus irmãos mais novos,
e uma parte de mim ainda tinha a esperança de que eles não tivessem que viver
esta vida para sempre. No fundo, eu sabia que eu era um idiota, como minha

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mãe. Ela estava agarrada à ideia de um marido e pai melhor, enquanto eu estava
agarrado à ideia de uma vida melhor.

Pops daria seu último suspiro moribundo para que seus filhos seguissem
seus passos. Venha o inferno ou a maré alta, nós não tínhamos nenhuma palavra
sobre nosso destino. Ele já estava traçado para nós.

Especialmente o meu.

—Eu sei. Eu só... Eu realmente gosto dela, sabe? Eu não quero estragar
tudo.

—Então, você está dizendo que isso não é sobre buceta? É sobre amor? —
Eu ri com desconforto.

Ele balançou a cabeça, colocando as mãos nos bolsos, esperando o quê, eu


não tinha certeza.

Eu passei por ele para sentar no topo da velha mesa de piquenique de


madeira na parte de trás do clube. Descansando os cotovelos nos meus joelhos,
sacudi as cinzas do meu cigarro na grama.

Tentei pensar em algum conselho genuíno para ele. Pensando em todos os


movimentos das garotas que minha mãe assistia com inveja. A mesma merda
repetidamente, o menino encontra a menina, o menino pede a menina para casar
com ele, e vivem felizes para sempre com três filhos, um cão, e uma cerca branca.
Um monte de merda que não era a vida real, mas tinha que haver algo que eu
pudesse dizer a ele.

—Olhe, Luke... Não pense que eu sou a melhor pessoa a ser questionada
sobre conselhos amorosos. O amor é... Bem, o amor é uma merda... —Eu dei de
ombros, dando outra tragada no meu cigarro, sem saber o que dizer.

Os sons dos motores de motocicleta acelerando repentinamente


encheram o ar em torno de nós na frente do clube. Logo este lugar estaria cheio
da elite do caralho, e eu seria chamado a qualquer segundo.

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—Está tudo bem, vá. Eu sei que você tem obrigações com o Pops e o
clube. —Ele suspirou, decepcionado. Observando-me torcer o meu relógio em
torno do meu pulso.

Eu o ignorei. —Você gosta dela? Tipo, quer namorá-la e ver aonde vai dar,
não é?

—Sim. —Ele simplesmente declarou, saltando em cima da mesa ao meu


lado. —Ela é diferente, Creed. Não como as meninas daqui, isso é certo. —Ele
admitiu, esfregando a nuca. Tentando agir como um homem, quando ainda era
uma criança.

Eu acho que eu nunca seria capaz de ver meus irmãos mais novos como
não sendo nada além da minha responsabilidade. Tinha sido assim desde o dia em
que nasceram. Minha mãe não era uma mãe ruim, ela só tinha muito de suas
próprias merdas para se preocupar. No final, ela simplesmente não sabia ser nada
melhor. Criar três meninos não era fácil, e meu pai não ajudava. Tudo o que ela
fez foi se apaixonar pelo cara errado, e ficar grávida de mim jovem demais.
Tentando crescer desde então. Ela nos amava, no entanto, e tentava nos mostrar
carinho muitas vezes, compensando a falta do meu pai.

Ele não se importava com nada além do MC.

—Ela acabou de se mudar de Dallas, Texas. —Informou Luke, afastando-


me dos pensamentos.

Eu dei outra tragada no meu cigarro, soltando a fumaça na minha frente.

—Seu pai trabalha com vendas. Faz um bom dinheiro, isso é certo. Ela usa
roupas bonitas todos os dias, tem longos cabelos castanhos, olhos azuis e um
cheiro tão bom.

Eu sorri, olhando para ele, observando seu rosto iluminar enquanto ele
falava sobre sua garota. Eu estaria mentindo se dissesse que não me deixou
orgulhoso de que ele quisesse fazer algo bom por ela. Que nossa educação não
tinha desviado seus pensamentos sobre mulheres e amor como tinha comigo.
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—De qualquer forma, estamos nos vendo na escola. Ainda não a beijei.
Então, eu só achei, já que você tem muita experiência com garotas... talvez você
pudesse me dar alguns conselhos. Eu até queria te perguntar se talvez pudesse
pegá-la amanhã à noite e nos deixar no cinema? Eu pediria à mamãe, mas...

—Ela envergonharia você pra caralho. —Nós dois rimos, sabendo que era
a verdade. —Diga-me se estou acompanhando. Você não quer apenas foder com
ela, mas você quer brincar de casinha, não é?

Ele se inclinou para frente, pendendo a cabeça para o lado, e assentiu.

—Está se sentindo bem? —Eu estendi a mão, tentando sentir sua testa.
Ele saltou da mesa, fora do meu alcance. —Você sabe que você é um Jameson,
certo? —Eu ri.

—Foda-se! Esqueça isso. Esqueça que eu disse alguma coisa. Eu vou


descobrir por conta própria, seu idiota. —Ele empurrou meu ombro e eu
imediatamente gemi de dor. Agarrei-o, tentando impedir a dor latejante.

—Ah, inferno, não posso fazer piada agora, irmãozinho? Caramba. —Eu
soltei, rindo.

—O que aconteceu com você? —Ele perguntou instantaneamente,


estendendo a mão. Ele puxou minha mão, colete e camisa para longe do meu
ombro. —Por que o seu ombro está todo enfaixado?

—Luke, estou bem.

—Besteira. Você foi baleado? Para onde o pai o enviou...

Eu o afastei. —Não preciso de babá, Luke. Estou bem. Juro. —Jurei,


segurando três dedos no ar. —Palavra de escoteiro.

—Desde quando você é um escoteiro?

—Desde que eu comi um brownie do caralho. Agora traga seu traseiro


magro aqui e termine o que estava dizendo.
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Ele riu, embora ainda estivesse preocupado, sentando-se de volta ao meu
lado.

—Ela sabe como você se sente? —Eu questionei, mudando de assunto.

—Eu acho que sim.

—Então vá atrás dela, Luke. Você gosta dela, você mostre à ela. Trate-a
com respeito. Simples assim. Pense e aja com seu cérebro e seu coração. —Eu
apoiei minha mão em seu peito. —Em vez de seu pau. —Cutuquei seu ombro. —
Você me entendeu?

Ele respirou fundo, contemplando o que dizer em seguida. Eu estreitei


meus olhos para ele.

—Eu também quero dar isso a ela. O que você acha? —Ele estendeu a
mão, tirando a corrente de seu pescoço.

Eu sabia exatamente a que ele estava se referindo antes mesmo de me


mostrar. Pops tinha dado a todos nós, meninos, um St. Columbanus, o santo
padroeiro dos motociclistas quando nós nascemos. Um medalhão em uma
corrente de prata. Era para nos manter seguros, protegidos e significava a vida em
que nascemos.

A vida do MC.

A parte traseira de cada medalhão tinha a data de quando nós nascemos


gravada neles com as palavras “monte ou morra”. Quando nós éramos bebês, a
mama amarrava o medalhão aos nossos babadores, mas quando nós começamos
a ficar mais velhos, nós o levávamos em torno de nossos pescoços.

—Luke, eu não acho...

—Aí está você, seu pedaço de merda. —Pops gritou da porta de tela
traseira, interrompendo-me. —Você é surdo? Você não ouviu as motos

23
chegando? Traga seu traseiro agora mesmo, antes que eu pense duas vezes em
deixar você participar.

—Papai, foi minha culpa. —Luke interferiu.

—Não. —Eu levantei minha mão, silenciando-o.

—Eu disse para você falar? Você é apenas como sua maldita mãe, sempre
falando quando não é solicitado. Você é fraco e inútil como ela também. —Ele
passou pela porta, descendo os três degraus. Pegou Luke pela camisa, tirando-o
da mesa. Derrubando seu colar de sua mão, fazendo-o cair na terra abaixo de
mim. —Preciso ensinar outra lição, garoto?

Eu podia ver as mãos de Luke fechando em punhos, seu rosto ruborizado e


sua mandíbula apertada como se estivesse prestes a dizer algo que ele
certamente lamentaria.

—Você é um idiota. —Murmurou Luke, baixinho.

—O que você falou? —Pops puxou-o mais perto de seu rosto.

Levantei-me, apagando o cigarro na mesa. Imediatamente agarrei Luke


pelo seu braço, tirando-o do alcance do meu pai. Eu dei um passo para trás,
colocando Luke firmemente atrás de mim.

—Não é culpa dele. É minha, porra. Não vai acontecer de novo. —Eu
exclamei, tentando permanecer calmo. —Luke, vá embora. —Eu girei,
empurrando-o.

—Vamos lá, garoto, não seja um maricas. Desembucha, o que você disse?
—Papai forçou ainda mais, precisando desabafar sua irritação em alguém.

Geralmente era em mim.

Dei a Luke um olhar severo, avisando-o para manter sua boca fechada. A
última coisa que eu queria era brigar fisicamente com o nosso pai, mas eu iria se
ele colocasse as mãos nos meus irmãos ou minha mãe na minha frente. Acho que
24
uma parte dele sabia que não era para cruzar essa linha comigo. E era por isso
que ele nunca batia neles na minha presença, mas isso nunca o impediu de
desencadear sua ira com seus punhos, no entanto.

—Nada, senhor. —Respondeu Luke, entendendo minha advertência


silenciosa.

—Agora corra, os homens de verdade têm negócios importantes para


cuidar. Quando você crescer um par de bolas, você será capaz de participar,
também. —Ele provocou, querendo ter a última palavra.

Pops observou Luke caminhar na direção do carro de Ma, onde ela estava
de pé com nada além de dor e pesar em seus olhos. Era sempre pior quando ela
tentava nos defender, sua raiva apenas se voltaria para ela. Furioso que ela
estivesse tentando nos criar como um monte de maricas, quando tudo o que ele
estava tentando era nos fazer homens.

Eu me abaixei, pegando o colar de Luke. Empurrei-o em meu bolso antes


que papai visse. Fiz uma nota mental para devolver ao meu irmão mais tarde.

Ele balançou a cabeça para mim. —Coloque seu traseiro lá dentro. —Com
isso, ele se virou e subiu os degraus de trás.

—Obrigada, querido. —Mamãe chamou quando ele estava de volta,


trazendo minha atenção para ela.

Eu sorri, acenando para ela. Olhei para Noah que estava sentado no banco
do passageiro, apenas balançando a cabeça. Ela beijou a bochecha de Luke e
sussurrou algo em seu ouvido que eu não consegui entender.

Eu sorvi uma respiração longa, profunda, reconfortante. Olhando para a


única coisa que sempre foi realmente importante para mim.

Minha família.

25
Depois que os vi partir, meus olhos voltaram para o clube. O Prez tinha
chamado para ir à missa8 e eu não estava falando sobre aquele lugar onde você se
senta em uma capela, orando ao Senhor, pedindo perdão pelos seus pecados.

Porque Deus não nos queria.

E o inferno nos cuspiria fora.

8
Eles chamam de missa o ato de se reunirem para discutirem assuntos importantes.
26
CAPÍTULO 2

Eu entrei no antigo armazém de máquinas que foi convertido em clube


décadas atrás. O prédio degradado ficava no meio do nada, fora da cidade com
nada, além de acres de campos abertos que o cercavam. Era sua própria
organização, governado por suas próprias leis. O exterior foi pintado de preto
com um enorme mural com o logotipo do clube na frente do armazém. Sobre a
grande porta de aço estava à placa do clube que lia Devil's Rejects MC, Southport,
NC.

O edifício também abrigava vários pequenos lofts, onde os membros do


clube fodiam as prostitutas que sempre andavam por aí, ou os usavam para
dormirem ocasionalmente. Alguns membros até os usavam como suas casas. As
putas do clube eram predominantes no MC, fodendo qualquer irmão a qualquer
momento. Às vezes, ficávamos com algumas meninas ao passarmos pela cidade,
apenas aquelas procurando um bad boy e uma boa diversão. Sabendo que
encontrariam aqui. Havia algumas meninas que eram bonitas, e que só tiveram
uma vida ruim e encontraram abrigo nesta merda de lugar. A maioria delas, no
entanto, pulava de um pau para outro, esperando que um dos irmãos fosse
estúpido o suficiente para torná-la sua Old Lady um dia.

—Você mantenha sua porra de boca fechada. Entendeu-me? —Papai


ameaçou em um tom ao qual eu estava muito familiarizado, de pé ao lado do
meu posto na porta.

—Vai me deixar entrar? —Eu respondi, inclinando minha cabeça para o


lado, referindo-me à reunião.

27
—Depois do que você fez para o clube hoje? Você mereceu essa merda. —
Ele deu tapinhas nas minhas costas. —Você vai ter dezoito anos em breve, então
não teremos mais problemas. Você vai ficar onde você está destinado. Ao meu
lado, filho. Na. Porra. Do meu lado. —Afirmou com orgulho.

Eu apenas acenei com a cabeça.

Afastei-me da porta, fiquei de guarda, e confisquei as armas e telefones


dos nossos convidados antes de entrarem na sala, uma ação necessária quando
os civis assistiam às reuniões. Todos os irmãos com patchs tomaram seus lugares
na longa mesa retangular onde os irmãos se sentavam à direita, e os convidados à
esquerda. Meu pai sempre ficava sentado na cabeceira da mesa com o martelo na
frente dele. Normalmente, estas reuniões, missa como as chamavam, eram
sempre as mesmas.

Junto com ele estava o vice-presidente, Striker, que está com o MC há


mais de duas décadas. Ele era mais do que o braço direito do meu pai. Eles eram
como irmãos de sangue, tendo crescido juntos. Eu cresci com seu filho, mas
realmente não era um fã do bastardo. Pessoalmente, eu sempre pensei que sua
amizade era tudo um pote de merda.

E então, havia Diesel, que deixou de ser um nômade para ser Sargento de
Armas. Nômades eram os Ceifadores, eles trabalhavam para o clube, matando
qualquer um que fosse mandado sem pensar duas vezes, porra, ou pedir
explicação. Ele me levou para o meu primeiro clube de strip quando eu tinha
quatorze anos, e ainda me comprou um lap dance fodido com um final feliz, de
uma jovem morena com lábios carnudos, uma bunda deliciosa e buceta apertada.
Ele era mais próximo do que um irmão pra mim.

Abaixo do seu título estava Stone, o Secretário. Ele foi transferido do


Arizona, e estava conosco desde o ano passado. Tenho certeza de que ele foi o
responsável por “comprar minha moto” de acordo com Pops. Ele estava em seus
vinte e poucos anos, e nunca falava muito, mas quando falava, ele fazia você rir
demais. Ele era o filho da puta mais engraçado que eu já conheci. Contando
piadas nos momentos mais inapropriados. Ele gostava de buceta tanto quanto
28
gostava de fazer as pessoas rirem. As mulheres reuniam-se ao redor dele por
causa de seu senso de humor.

Por último, mas não menos importante, estava Phoenix, o tesoureiro do


Devil’s Rejects. Ele gerenciava nosso dinheiro tanto quanto fazia com nossas
malditas drogas. Eu fiz a minha primeira tatuagem quando tinha dez anos de
idade com esse drogado, adquirindo mais algumas tatuagens dele desde então.
Eu parei de contar quantas há alguns anos atrás. Era difícil dizer não, quando ele
oferecia todo o maldito tempo. Ele era um artista fantástico, que estava chapado
o tempo todo, mas o que só o deixava melhor no que fazia.

As reuniões mensais com apenas os irmãos com patch eram menos


formais, em comparação com quando os civis participavam. Pops preferia que a
missa, com associados de negócios, fosse realizada em nosso território, de modo
que ele ainda pudesse permanecer no controle. No caso da merda bater no
ventilador, o que acontecia de vez em quando, os irmãos dariam tiros diretos do
outro lado da mesa. Não só cada um deles estava armado, como havia armas
manipuladas por debaixo da mesa onde se sentavam também.

Ninguém entrava armado além dos irmãos.

Ninguém.

—Finalizando aqui, deve haver apenas um pouco mais de armas do que


estamos esperando. Vai começar em cerca de quinze minutos, guarde a artilharia,
e entre. Fique na parte de trás, preste atenção e mantenha a porra da boca
fechada, você me ouviu?

Eu balancei a cabeça novamente, sem realmente ouvir uma palavra


maldita que ele disse, concentrando-me em verificar as armas. Ele entrou na sala
de reunião e assim que eu estava prestes a fechar a porta, vi uma limusine preta
com vidros escuros parando na frente da tela de segurança acima da porta. Eu
não tinha que adivinhar quem era, eu sabia exatamente quem estava sentado
atrás do vidro. O motorista saiu e abriu a porta do passageiro de trás, liberando

29
vários homens, incluindo um homem alto, com cabelos negros e pele bronzeada.
Apenas confirmando o que eu já sabia.

Alejandro Martinez.

Ele era um gangster corrupto saído de Nova York, que era temido por
todos que já tinham cruzado com ele. Eles o chamavam de El Diablo, ou alguma
merda assim. Eu não me importava com ele. Eu nunca me importei. Mas ele era o
único homem para quem eu já vi meu pai se curvar, o que provavelmente deveria
ter significado algo para mim.

Não significou.

Ele aparecia de tempos em tempos sem aviso prévio. Ele saiu de sua
limusine com motorista, vestindo seu terno caro fodido e sapatos de grife. Não
havia nem um fio de cabelo fora do lugar. Sempre acompanhado por vários
guarda-costas ao seu lado. Todos eles armados e prontos para matarem ou serem
mortos, por ele. Eu não conseguia descobrir por que meu pai estava desconfiado
dele. Para mim, ele parecia ser apenas um maricas por trás de um terno caro e os
seus homens. Pops não conseguia ver que Martinez trabalhava para nós, e não o
contrário. O MC era o seu fornecedor de armas e às vezes medicamentos.

Ele precisava de nós. Claro e simples.

Ele abotoou o paletó, cobrindo as armas que tinha no coldre por baixo, e
sinalizou para seus homens permanecerem em seus postos como cães fodidos,
abanando o rabo atrás de seu maldito dono.

—Bem, se não é Creed Jameson. —Martinez anunciou, passando pelas


portas de aço na minha direção. —Da última vez em que te vi, você estava ainda
nas tetas de sua mãe. —Ele fez uma pausa, olhando-me de cima a baixo com um
olhar saudoso. —Belas tetas, se bem me lembro. —Ele falou, de pé na minha
frente, com as mãos nos bolsos de sua calça. Um olhar presunçoso estampado em
seu rosto do caralho. —Você sabe quem eu sou, meu filho?

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Eu não vacilei. Eu não dava a mínima para quem ele era. Ninguém vinha
até mim, desrespeitando minha mãe.

—Não sou o seu filho. —Eu balancei a cabeça com a mandíbula travada,
cruzando os braços sobre o peito, avaliando-o.

Eu estaria mentindo se dissesse que sua constituição musculosa, evidente


sob seu terno preto de três peças, não tinha me impressionado um pouco.
Éramos da mesma altura mais de 1,90 m, com ombros largos e intimidantes. Só
que eu tinha a porra da juventude do meu lado, Martinez tinha que estar em seus
quarenta e tantos anos, mas ainda tinha essa cara de menino bonito da porra.

—Eu sei exatamente quem você é. —Eu disse, sem recuar. Falando o que
vinha em minha mente maldita. —O maricas que se esconde por trás de sua porra
de terno caro. Esses capangas chupam seu pau também?

Ele soltou uma risada alta, a cabeça caindo para trás. —Você tem um
conjunto de bolas de aço, filho. —Ele zombou, tentando passar por mim, batendo
em meu ombro. Eu o interceptei com meu braço direito bom sobre seu peito.
Parando-o antes que ele alcançasse a porta.

—Vou precisar que você entregue todas as suas armas. —Olhei para ele.
—Incluindo essa Glock amarrada à sua perna.

—Você é tão bonitinho. —Ele sorriu. —A porra que eu vou, seu merdinha.
Eu já vou entrar sem os meus homens. Eu não vou entregar minhas armas,
especialmente para um idiotinha cabeça quente, cujas as porras das bolas ainda
não caíram. Você quer me enfrentar? Eu não hesitarei em colocar uma porra de
bala em uma dessas bolas. —Ele soltou perto do meu rosto.

Eu não vacilei e agarrei as lapelas de seu terno, indo direto para o rosto
dele. —Leia o sinal, filho da puta. Nenhuma arma além deste ponto. Você respeita
o clube, ou dá o fora. —Eu sorri, soltando-o, suavizando as rugas que causei.
Olhando-o diretamente nos olhos. —Vamos tentar isso novamente. Entregue suas
armas. —Eu repeti em um tom arrogante.

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—Que porra está acontecendo aqui? —Pops rugiu, passando através das
portas duplas, parando quando ele estava cara a cara com Martinez.

—Estou desapontado, Jameson. Você realmente deveria ensinar ao seu


filho aqui algumas boas maneiras. Ou eu deveria ensinar algumas a você? —
Martinez rosnou, arqueando uma das sobrancelhas, enfiando a mão no paletó.

Meu pai olhou dele para mim e de volta para ele novamente.

—Eu sugiro que você diga a esse fedelho para calar a boca e me deixar
passar. Eu sou seu chefe. Ou eu entro armado, ou eu não entro.

—Peço desculpas pelo comportamento do meu filho. Esqueci-me de dizer-


lhe que você é a única exceção. Não vai acontecer de novo.

—Isso mesmo, não vai. Ele não vai viver para falar sobre isso se acontecer
novamente. —Martinez ameaçou apenas olhando para mim.

Papai me olhou. —Creed, se retire, rapaz. Martinez é um convidado neste


clube. Ele não precisa tirar suas armas.

Eu recuei. —Você está me gozando? —Zombei, pego de surpresa pela sua


resposta.

—Creed! Chega! Eu vou lidar com você mais tarde. Martinez, venha,
estávamos prestes a começar. —Ele fez um gesto em direção à porta.

Martinez passou por mim, seu corpo batendo em meu ombro, fazendo-me
estremecer com a dor aguda que irradiou pelo braço. Eu não recuei, fiquei de pé,
resistindo à vontade de batê-lo contra a parede e foder com seu rosto bonito.
Meu velho seguiu logo atrás dele, atirando-me um aviso com seu olhar.

Eu me afastei, balançando a cabeça, surpreso com o rumo dos


acontecimentos. Eu tranquei as armas, e os segui, fechando a porta atrás de mim.
Tomei meu lugar na parede do fundo, bem onde eu poderia manter um olho
sobre o filho da puta, do outro lado da sala.

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Martinez sorriu como uma porra de um louco quando me viu, inclinando-
se para trás em sua cadeira. Cruzando o tornozelo sobre sua perna, ele
desabotoou o paletó, permitindo que toda a sala visse que ele ainda estava
armado. Abastecendo minha raiva.

Ele colocou a mão sobre a mesa. —Desde quando deixamos as crianças


assistirem às reuniões? —Ele provocou.

—Desde que velhotes como você...

Pops pigarreou, trazendo minha atenção de volta para ele. Se olhar


pudesse matar, eu estaria deitado em uma poça do meu próprio sangue naquele
momento.

Levantando minhas mãos em rendição, eu calei a porra da boca, embora


tivesse muito mais a dizer.

O martelo soou três vezes, anunciando que a missa estava agora em


sessão. Silenciando todas as brincadeiras acontecendo ao redor da sala, e
trazendo o foco de todos para o Prez. Foi a primeira vez em que fui permitido
ficar na missa com outros membros presentes, e eu assisti fascinado enquanto
meu pai tomava o centro do palco. Seu comportamento era nada além de
dominação e controle, que retratava a imagem perfeita do destemido, poderoso,
invejado líder a qual ele tão desesperadamente se agarrava.

Quanto mais velho eu ficava, mais minha mãe gostava de me lembrar de


como eu era a cara dele. Desde nossos olhos cinzentos profundos, rosto fino,
maçãs do rosto altas, queixo quadrado e nariz pontiagudo, às nossas
personalidades teimosas, cabeça quente. Com o nosso cabelo castanho escuro
que sempre foi comprido na parte superior e raspado nas laterais, lembrando-me
de um corte militar. Só que Pops tinha a cabeça salpicada de cabelos brancos. Nós
dois éramos altos, magros e tínhamos nossos corpos tatuados. Ele me colocou
para trabalhar com ele desde que a minha voz mudou, e eu era capaz de cuidar
das minhas coisas. Ensinando-me como disparar de tudo, desde pistolas a fuzis de
assalto, acertando alvos a sessenta metros desde que eu tinha quatorze anos.

33
—Vamos cortar o papo furado e ir direto ao problema na mão.
Desentendimentos surgiram nas últimas semanas, o que nos levou a descobrir
que um grupo chamado Sinners Rejoice está tentando entrar em nosso território.
Tentando roubar o nosso negócio, nossas mulheres, atuando como se fossem um
de nós. Chegando até mesmo a usar o nosso maldito nome. —Ele fez uma pausa,
olhando ao redor da sala até que seu olhar intenso caiu sobre Striker. —Você não
saberia me dizer algo sobre estas alegações, não é?

Todos os olhos foram para Striker, o nosso VP e provavelmente um dos


filhos da puta mais sombrio no Devil's Rejects.

Ele levantou-se ajustando suas bolas, empurrando mais um tabaco de


mascar na boca, antes de responder. —Não ouvi nada dessa merda, Prez, mas me
diga quem eu preciso encontrar, e eu vou ter o filho da puta no chão antes do
amanhecer.

O riso de Pops ecoou pela sala. —Permita-me discordar, filho da puta.

As luzes foram apagadas e uma foto foi projetada na parede distante atrás
do meu pai. Eu não tinha que olhar para ela para saber o que era. Passei as
últimas semanas dando o meu melhor para tirar fotos perfeitas. A mesma razão
pela qual meu pai estava tão orgulhoso de mim.

—Então, me diga, Striker, o que diabos você pensa que está fazendo
nestas imagens? Porque com certeza você não vai me enganar dizendo que está
vendendo cookies para escoteiros.

—Não é o que parece, Prez. —Afirmou, olhando para a imagem dele com
os membros de gangues rivais, apoiando-se uns nos outros, trocando palavras.

—É mesmo? —Meu pai falou lentamente. —Que tal esta? Não é o que
parece ser?

Outra foto tirada de Striker entregando ao mesmo homem um pendrive.


Uma foto após a outra, somando-se às provas incriminatórias que lentamente
derrubavam um membro de confiança.
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Striker levantou as mãos em um gesto de rendição. —Não, não, não, isso é
um equívoco. Eu... Eu... Eu...

Meu pai se levantou. —Você... você... o quê? Deu ao inimigo as


informações? Traiu cada pessoa nesta sala? O que, Striker? —Ele andou para o
lado oposto da mesa, mais próximo a mim. —Por que, para mim, é exatamente o
que parece. E agora, não só você é um traidor fodido. Você está agindo como um
maldito maricas.

De repente, ele bateu com o punho na mesa, sem fazer qualquer um


saltar, exceto Striker.

—Você tem até a contagem de três para esclarecer isso. —Pops avisou,
sem tirar o punho da mesa. Um... —Ele persuadiu com uma voz suave, calma.

—Eu... Eu... —Striker gaguejou, passando as mãos pelo seu cabelo


prateado, tentando encontrar as palavras.

—Dois...

—Prez, por favor, não é o que parece. Somos irmãos, porra! Eu te amo. Eu
amo este clube, porra. Por favor, você é a minha família! Eu... Eu...

Olhei de Striker para o meu pai. Havia um silêncio assustador que enchia a
sala. Um silêncio antes da tempestade.

Ele estreitou os olhos para Striker, inclinando a cabeça para o lado, e


murmurou. —Três. —Antes até mesmo que ele acabasse de dizer o número, ele
tirou a semi-automática de debaixo da mesa, visando diretamente à cabeça de
Striker. —Bang, bang, filho da puta! —Pops berrou, seguido de uma risada
profunda. —Eu te enganei, não foi?

Striker baixou as mãos, colocando-as em seu peito, rindo junto com meu
velho. —Você me assustou por um segundo, eu não vou mentir, idiota.

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Pops virou a arma em torno de seu dedo no gatilho algumas vezes,
parando cada vez que o barril apontava para Striker como um maldito jogo de
roleta russa. Olhando-o com um olhar ameaçador, ele falou. —Pensando melhor.

A arma disparou, acertando Striker bem no ombro. Em seguida,


novamente na virilha, a centímetros de seu pênis, fazendo com que seu corpo
sacudisse com os golpes inesperados. Suas costas bateram forte na parede
enquanto ele estremecia no chão, gemendo de dor. Ele tinha uma mão segurando
o ombro, a outra perna com sangue espirrando por entre seus dedos.

Eu não sabia o que era pior. Que ninguém na sala piscou um olho, ou que
eu também não. Nenhum de nós ficou chocado com as ações do meu pai.
Nenhum de nós foi surpreendido pelas consequências da traição. Mas acima de
tudo, nenhum de nós se surpreendeu com a visão de um homem sangrando na
nossa frente.

Em quatro passos calculados, Pops foi até ele, lentamente, agachando-se


na frente de seu corpo ferido. Chegando perto de seu rosto, a arma a centímetros
de distância do coração de Striker.

—Você tem um cigarro? —Ele perguntou, do nada.

Striker recostou a cabeça contra a parede, sangue escorrendo pelo canto


dos lábios cheios de tabaco. Como se ele já soubesse o seu destino e a única coisa
que lhe restava a fazer era aceitá-lo. Eu sempre soube que meu pai não era um
homem com quem você um dia gostaria de foder, Striker também sabia disso. Eu
estaria mentindo se dissesse que não queria acreditar que talvez isso fosse tudo
um grande mal-entendido. Por mais que eu achasse que ele era um filho da puta
fodido, ele amava meu pai e o clube. Demonstrando a sua lealdade com o punho,
uma e outra vez.

—Não, por quê? —Striker berrou.

Pop sorriu, inclinando-se em seu rosto. —Porque eu gosto de fumar um


cigarro depois que eu mato.

36
—Prez, eu não...

Ele empurrou o cano da arma em seu coração. —Shhh... Guarde sua


respiração para o diabo, todos nós sabemos que você vai para o inferno. —Ele
aproximou-se, fazendo o sinal da cruz enquanto murmurava. —Das cinzas as
cinzas. Do pó ao pó. E toda essa merda. —Com isso, ele puxou o gatilho.

Um. Golpe. Sólido.

Ele matou seu melhor amigo sem um piscar de olhos. Só que desta vez, o
seu sangue estava em minhas mãos. Eu forneci a evidência, vendi sua alma ao
Prez, e assinei seu atestado de óbito, tudo numa questão de horas. Meu pai pode
ter puxado o gatilho, mas ele nunca teria feito isso...

Se não fosse por mim.

37
CAPÍTULO 3

—Um a menos. Agora, onde estávamos? —Pops declarou, sentando-se na


cabeceira da mesa. Estalando os dedos, um por um.

Exercendo o seu poder, e ignorando o fato de que ele acabou de matar


um homem à queima roupa. Regozijando com a adrenalina que tirar a vida de
alguém sempre lhe dava.

Ninguém deu a mínima que houvesse um corpo morto na sala. Esta não foi
a primeira vez em que vi alguém ser assassinado a sangue frio, e não seria a
última. Eu gostaria de poder dizer que eu não era insensível à brutalidade cruel do
mundo, estar aqui um dia e morto no seguinte.

Tão fodido quanto era, nós protegíamos os nossos.

—Oh sim. —Pops disse, afastando-me dos meus pensamentos. Quatro


rostos foram projetados na parede. —Esses chupadores de pau.

—Isso tudo é extremamente divertido, o tiroteio e tudo, bravo. —


Martinez o interrompeu, acendendo o charuto e batendo palmas. —Mas o que
diabos isso tudo tem a ver comigo? —Ele questionou, soprando a fumaça entre
suas palavras. —Eu sou um homem muito ocupado, e tanto quanto eu gosto do
que você tem feito aqui, eu não tenho tempo para isso. Então, vamos direto ao
assunto. Eu tenho outros lugares para estar.

—Creed passou as últimas semanas seguindo esse traidor fodido ali. Ele
não só encontrou a prova de que precisávamos. Ele também recuperou o
pendrive. —Ele puxou-o do bolso e atirou-o no meio da mesa. —Ele continha
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pedidos, números de série, e horários de embarque para o próximo mês. Eles
poderiam ter interceptado todos os cartéis de armas e drogas a partir daqui para
Cuba. Creed salvou nossas bundas.

Martinez arqueou uma sobrancelha. —Você me chamou nesta reunião


baseado no que uma criança fodida encontrou?

—Fod...

—Creed. —Pop falou entre dentes, me cortando. —Eu tive suspeitas de


Striker por um tempo. Mandei Creed segui-lo pelas últimas semanas. Enviei-lhe
porque Striker não suspeitaria de Creed, ele também não se preocuparia se ele o
visse, ou ficaria desconfiado. Eu encontrei a oportunidade de testar o meu
menino e eu o peguei. Um homem com seu conhecimento poderia entender isso,
sim?

—Eu não enviaria um menino para fazer o trabalho de um homem. —


Martinez argumentou, balançando a cabeça.

Eu não vacilei. —Como você pode deixar este pedaço de merda entrar em
nosso território e falar com você assim? Se fosse qualquer outra pessoa, ele
estaria deitado no maldito chão sangrando ao lado Striker! —Eu falei sem dar
mais a mínima.

—Chega, Creed! —Meu pai rosnou.

—Não, Jameson, a criança está certa. —Martinez entrou na conversa,


trazendo a nossa atenção de volta para ele. —Onde estão minhas maneiras? —Ele
deu uma longa baforada de seu charuto, esnobando-o, soprando um anel de
fumaça no ar. —Vamos ouvi-lo, filho. Eu te desafio a me impressionar. —
Acrescentou, apontando para eu assumir a liderança.

Olhei para meu pai e ele concordou. Afastando-me da parede, eu andei a


frente da sala, sentindo os olhos de todos em mim. Um par, em particular,
queimava um buraco no meu corpo.

39
Limpei a garganta, fazendo minha presença conhecida. —Estes quatro
homens. —Eu apontei para cada um deles na parede. —Hunter, Cross, Cruz, e
Felix são os homens com quem Striker estava fazendo aliança. Eles são de San
Antonio, traficantes de mulheres do outro lado da fronteira. Vendendo-as pelo
maior lance. Eles queriam fazer em nosso território, vendo como Southport tem
acesso à água, mais fácil para transportar não só as mulheres, mas também as
drogas e armas. Eles queriam as rotas do clube, para nos pegar com a guarda
baixa e nossas fronteiras abertas. Striker facilitaria isso para eles ao entregar-lhes
o pendrive. Eu não sabia o que estava lá até esta tarde, quando Pops e eu o
olhamos. Após Striker sair, eu avancei às cegas. Eu deveria ter chamado reforço,
mas eu preferi cometer o crime sozinho, só assim eu saberia quem era o dedo
duro. Balas voaram sobre mim, mas eu peguei o pendrive. Uma bala atingiu de
raspão meu ombro enquanto eu fazia a minha fuga. Ninguém me seguiu, tive a
certeza disso.

—A menos que você os tenha colocado abaixo da terra... —Martinez


imitou um tom sulista. —Você se certificou como?

Eu joguei quatro clipes de granadas sobre a mesa na frente dele. —Dois


teriam feito o trabalho, mas quatro é mais meu estilo.

Ele olhou para os clipes por alguns segundos, em seguida, voltou sua
atenção para mim. —Eu, pessoalmente, teria os torturado, até que dissessem
nomes. Em vez disso, aqui estamos nós com nada além de clipes de granadas.
Erro de principiante.

—Você está me sacaneando?

—Eu estou te dando uma lição, rapaz.

Apertei os olhos para ele. —Eu vou ter a certeza de me lembrar disso, na
próxima vez em que eu estiver limpando a porra da minha bunda.

—Falando nisso. —Pops entrou na conversa, batendo o martelo sobre a


mesa. —Placar, Devil’s Rejects quatro, Sinner’s Rejoice zero. Reunião suspensa.

40
Diesel, traga alguns prospectos para limpar essa bagunça fodida. —Ele apontou
para Striker. —Hora de arder no inferno.

Brincadeiras encheram o ar enquanto todos se levantavam e saíam pela


porta, passando por cima do corpo inerte de Striker no caminho, como se ele
estivesse apenas tirando uma soneca. Passei por Martinez, batendo nele como
ele tinha feito em mim antes. Ignorando a dor no meu ombro mais uma vez.

Depois que todos pegaram suas armas e dirigiram-se para fora, saindo
para prepararem-se para a noite, incluindo Martinez, que mais do que
provavelmente era bom demais para assistir a uma festa com um bando de
motociclistas caipiras, eu fui para casa e saí com Luke e Noah para matar o tempo.
A mãe voltou em algum momento durante a reunião. Os meninos foram para trás
da casa para jogar bola, enquanto ela estava na cozinha com as outras Old Ladys,
que preparavam-se para uma noite, que prometia ser nada além de diversão, com
bebidas, drogas, prostitutas, e as casualidades ocasionais.

O clube sempre dava festas após os negócios serem resolvidos nas


reuniões. Old ladys geralmente não eram autorizadas a participar, mas meu pai
deve ter feito uma exceção desta vez, provavelmente tentando fazer bonito com
minha mãe. Por causa da briga que eu sabia que devia ter acontecido mais cedo,
com Christa. Esta noite ela estava longe de ser encontrada, o que era estranho, já
que ela estava na propriedade o tempo todo. Tenho certeza de que meu pai tinha
algo a ver com a sua ausência.

Nas noites em que os meus pais estavam na sede do clube, Luke e Noah
ficavam no quarto do meu pai. Jogando jogos de vídeo e ficando fora do caminho
de todos. Nenhum deles mostrava interesse na vida MC. Depois de ajudar Ma a
deixar os meninos à vontade no quarto de Pops na parte de trás do clube, eu me
encontrei com alguns dos membros do lado de fora para algumas bebidas. Eles
me parabenizaram pela minha contribuição para o clube e bem-estar da
irmandade, querendo saber como tudo aconteceu.

À medida que a noite avançava, as pessoas começaram a dispersar em


todos os lugares, o clube estava lotado, por dentro e por fora. Todos conversando
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merdas e fodendo por aí. Luzes coloridas dançavam em sincronia com a música
estridente nos alto-falantes, enchendo o ar da noite com uma combinação de
rock, jazz, e blues.

Pessoas jogavam sinuca e dardos apostando dinheiro. Cheiravam linhas de


cocaína, fumavam maconha e cigarros enquanto prostitutas encontravam os paus
dos irmãos para roçarem na batida da música. Fiz minhas voltas, flertei com novas
meninas, ganhando bucetas em potencial, tudo ao mesmo tempo evitando as
garotas com as quais eu já tive o prazer de foder.

Voltei para dentro, passei pela multidão, indo direto para o bar
improvisado. Parei quando os vi. Perguntando-me quando o filho da puta tinha
voltado.

—Que porra é essa? —Eu disse a mim mesmo, vendo minha mãe e esse
filho da puta do Martinez no bar.

Eles estavam muito próximos um do outro, falando de uma maneira


íntima. Eu os observei de longe, ignorando todos ao meu redor, chocado com o
que estava acontecendo diante dos meus próprios olhos.

—Creed! Porra, cara, você é um filho da puta malvado. —Phoenix


cumprimentou, me dando tapinhas nas costas.

Dei de ombros, concentrando toda a minha atenção na merda


acontecendo diante de mim.

—Que porra é essa, mano? —Ele perguntou, não entendendo a minha


súbita oscilação de humor.

Eu não lhe dei qualquer atenção, também consumido por Martinez e


minha mãe que se apreciavam como se estivessem em seu primeiro encontro
maldito. Minha visão ficou turva, a música abafada no fundo. Tudo o que eu podia
ouvir era meu coração batendo forte no meu peito a cada segundo que passava
entre eles. Não importava que ela estivesse usando seu colete que tinha escrito
Propriedade de Jameson, deixando todos saberem a quem ela pertencia.
42
Incluindo ele.

Ele devia ter um desejo de morte ao vir aqui e desrespeitar meu pai, que
eu não tinha visto toda a noite. Minha mãe era linda pra caralho, mas ela também
era casada e não estava ali para ser fodida, especialmente com o jeito que ele
estava olhando para ela com um olhar predatório.

Ele se inclinou para frente, sussurrando algo no ouvido dela. Sua cabeça
caiu para trás com o riso, trazendo seus seios a centímetros de distância do rosto
dele. Expondo-se através do top preto apertado que ela usava sob seu colete. Os
olhos dele se deslocaram para baixo, e um sorriso diabólico apareceu em seu
rosto, foi rápido, mas eu vi.

Suas palavras “Belas tetas, se bem me lembro” passavam mais e mais na


minha cabeça como um maldito disco quebrado.

Sacudi o pensamento quando a minha mãe jogou seu longo cabelo loiro
por cima de um ombro, pegando uma mecha e girando-a em torno de seu dedo,
como se ela fosse uma menina fodida, enquanto continuava a falar com ele. Sua
atenção estava em cada palavra que saía de seus lábios, como se ela estivesse
dizendo-lhe sua história de vida.

Quando o bastardo ria ou sorria, os olhos dela iluminavam como uma


maldita árvore de Natal, da mesma forma como eles faziam para o meu velho.
Tinindo suas garrafas brindando, olhando um para o outro, mais risadas, mais
toques e mais brincadeiras. Eu queria olhar para longe, eu queria foder e tomar
outra bebida, mas eu não podia. Se fosse a Old Lady de qualquer outra pessoa, eu
não daria a mínima. Mas o diabo estava seduzindo minha mãe, e essa merda não
rolava comigo.

Eu o vi chegar mais perto e tirar uma mecha de cabelo loiro de seu rosto, e
isso precisou de cada grama do meu autocontrole para eu não perder minha
cabeça. Ele deixou os dedos ficarem lá tempo demais, acariciando o lado de sua
bochecha com as costas da mão. Quando ele se inclinou e beijou onde seus dedos
estiveram, eu entrei em ação.

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Antes que eu percebesse o que estava fazendo, fui até Stone, que estava
na extremidade oposta do bar. Sem qualquer hesitação, eu puxei a Glock da parte
de trás de sua calça jeans. Apontando a arma, cheguei a eles em três passos. Com
o cano da pistola carregada ao lado da sua maldita cara bonita.

—Se desculpe, filho da puta. —Eu disse lentamente, pressionando a arma


em sua têmpora.

—Creed! —Minha mãe gritou.

Stone veio correndo. —Creed! Abaixe essa porra, AGORA! Você não sabe
com quem está se metendo! —Ele agarrou o meu ombro ferido, tentando me
virar para que ele pudesse pegar a pistola.

—Urrrrrgggg! Filho da puta! —Rosnei de dor, mas não vacilei.

—Precisamos parar de nos encontrar assim, filho. —Martinez disse


casualmente. Sem se perturbar com a arma apontada em sua maldita cabeça.

—Eu não sou o seu filho, porra.

—Creed! Abaixe a arma, agora! —Minha mãe implorou, pegando meu


braço. Eu empurrei a mão dela, fazendo-a tropeçar.

—Você realmente deve escutar a sua mãe, menino. Ela é a única pessoa
inteligente em sua família. —Ele piscou para ela, o que só alimentou a minha
vontade de sujar as paredes com seu maldito cérebro.

—Querido, ouça, tudo isso é um enorme mal entendido.

Eu ri. —Isso é exatamente o que parecia, Ma, quando seu rosto estava em
suas tetas alguns minutos atrás! —Gritei, fazendo com que todos ao nosso redor
parassem o que estavam fazendo e voltassem sua atenção para nós.

Phoenix e Diesel vieram correndo através da multidão, empurrando as


pessoas para fora do caminho para chegarem até mim. —Creed, seja razoável,
mano. Você não quer fazer isso. Prez não vai gostar disso. E Martinez não vai
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pensar duas vezes antes de colocar uma bala em sua cabeça. —Phoenix disse
entre dentes no meu ouvido.

—Recue, agora! Quem está segurando a arma para a cabeça de quem? —


Eu não recuei, provocando.

—Não é o que você pensa! Agora abaixe a arma, Creed! —Mãe ordenou
novamente.

—Você está defendendo esse filho da puta arrogante?

—Ele estava apenas me fazendo companhia, enquanto seu pai está fora
fazendo Deus sabe o que.

—Eu sei o que é, mas isso não é da sua conta. —Martinez interrompeu,
me atraindo com um sorriso sarcástico.

—Você tem algumas bolas de aço fodidas, para vir aqui e brincar com a
esposa do Prez. —Eu disse com a mandíbula travada. Colocando mais força na
têmpora.

—Oh, é isso o que você acha que estava acontecendo aqui? Acredite em
mim, se eu estivesse transando por aí com ela, você iria ouvi-la gritando meu
maldito nome.

—Seu idiota filho da puta chupador de pau! —Gritei na cara dele, meu
dedo coçando para puxar o gatilho.

Minha mãe gritou. —Isso é o suficiente! JAMESON! —Ela chamou no topo


de seus pulmões pelo meu pai.

—Ele não vai ouvir você, querida. Na última vez em que o vi, ele estava
saindo com uma morena com peitos enormes na parte traseira de sua moto,
dirigindo-se para a rota 60.

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—Cale a porra da boca! —Enfiei a arma ainda mais em sua cabeça,
fazendo-o oscilar. O olhar em seu rosto sozinho fez a adrenalina que esteve
correndo em minhas veias voar tão alto, que eu não podia ver direito.

—Alguma vez você já atirou em um homem? Você já teve o prazer de


sentir como é acabar com a existência de alguém com uma bala? Não há nenhum
sentimento como esse. Faça, filho! Puxe a porra do gatilho! Aqui, eu vou te
ajudar. —Martinez me desafiou, agarrando o cano da arma, movendo-o para o
meio da sua testa. —Bem aqui. Aqui é o ponto doce.

Eu acalmei minha mão, apertando o gatilho levemente.

—Faça! Eu não tenho a porra da noite toda para morrer! Vamos, Creed!
Mostre a todos nesta sala que você tem coragem para atirar à queima roupa em
um homem como seu pai! Faça! Seu maricas, puxe a porra do gatilho!

—Creed! Não faça isso! —Phoenix implorou, agarrando meu ombro.

—Creed! Creed! Creed! Creed! —Tudo o que eu podia ouvir era o meu
nome sendo gritado na distância. Ecoando em meus ouvidos, levando-me ao
ponto da insanidade.

Tão alto.

Tão implacável.

—Foda-se! —Eu gritei, meus pulmões queimando da raiva que eu sentia.


Suor reunia em minhas têmporas, minha respiração tornando-se errática. —Foda-
se! —Eu rapidamente puxei minha mão alguns centímetros à direita do seu rosto,
puxando a porra do gatilho.

Martinez nem sequer pestanejou. A bala passou voando pela cabeça dele,
ricocheteando na viga de aço enferrujado atrás dele, e em quem estava
realmente gritando meu nome.

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—NÃO! —O grito estridente da minha mãe ressoou de dentro de seus
pulmões, ecoando nas paredes do armazém e através da sala. Seu corpo quase
desabou no chão da dor insuportável.

Olhei para ela, estreitando os olhos. Pesquisando profundamente em sua


expressão petrificada. Eu nunca tinha visto aquele olhar em seu rosto antes. Ele
imediatamente fez meu coração acelerar contra meu peito.

Suas mãos trêmulas cobriram a boca. —O que você fez?! Creed? Que
porra é essa que você fez?! —Ela gritou em um tom tremendo, balançando a
cabeça com medo.

Fazendo-me tropeçar acidentalmente enquanto eu me virava lentamente,


tentando seguir a visão de seu olhar horrorizado. Meu peito arfava, incapaz de
segurar o meu coração batendo forte por mais tempo. Eu podia ouvir o zumbido
nos ouvidos, alto e claro. Tudo que se seguiu aconteceu em câmera lenta, como
as bobinas de um filme em preto e branco, projetando na minha frente. O som da
bala repetia em segundo plano.

Eu recuei quando a cena entrou em foco, a imagem que sempre me


assombraria pelo resto da minha vida de merda.

Eu estremeci.

A arma caiu da minha mão para o chão com um baque forte enquanto
todos os olhos se voltavam para a bagunça horrível diante deles. Caos entrou em
erupção, pessoas correndo de um lado a outro. Mulheres gritando, irmãos dando
ordens, empurrando-as para as portas, rapidamente. A música cessou, e as luzes
se acenderam, iluminando unicamente o que eu tinha feito.

—Faça alguma coisa! Não fique aí parado! —Ma pediu, olhando ao redor
da sala. Lágrimas corriam pelo seu rosto, molhando o chão debaixo dela.

Meu mundo estava desabando sobre mim, minhas paredes


desmoronavam, e o chão parecia estar me engolindo todo. Bile subia na minha
garganta, ameaçando sair do meu corpo com a visão doentia na minha frente.
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Minha vida, que eu conhecia...

Tinha acabado.

Os olhos de Luke arregalaram quando ele perdeu o equilíbrio, tentando


permanecer na posição vertical. —Cre-ed. —Ele cautelosamente suspirou,
olhando para mim com um olhar em seus olhos que ficaria para sempre gravado
na minha mente.

Como se o homem de pé na frente dele não fosse eu, seu irmão.

Como se o homem de pé na frente dele não fosse a sua própria carne e


sangue.

Como se o homem de pé na frente dele não tivesse o protegido e


defendido por toda a sua vida, mas em vez disso, um estranho...

Que tinha acabado de dar um tiro em seu peito.

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CAPÍTULO 4

Eu não conseguia me mexer.

Eu não conseguia respirar.

Eu não conseguia tirar os olhos da expressão de dor escrita no rosto do


meu irmãozinho. Como suas mãos se moviam para baixo em direção ao seu peito,
assim como os olhos, seguindo o rastro de sangue que estava vazando através de
sua camisa branca. Ele lentamente levantou a mão trêmula, colocando-a perto de
seu coração. Com falta de ar, ele olhou de volta para mim enquanto o sangue
escorria da sua boca.

—Aju-ude m-eee. —Ele gaguejou, esticando a mão, agora encharcada de


sangue, para mim como se fôssemos as únicas duas pessoas na sala.

—Nãoooooooo!!! —Minha mãe se desfez. O terror em sua voz me atingiu


profundamente.

O pior pesadelo de uma mãe veio à vida.

Antes que eu soubesse o que estava acontecendo, ela estava se lançando


do outro lado da sala, pegando o corpo mole de Luke enquanto ele caía no chão.
Ele era incapaz de manter-se de pé por mais tempo.

—JAMESON! —Ela gritou, chamando o meu pai. —Faça alguma coisa,


Creed! SOCORRO! NÃOOOOOO! Por favor, Deus, NÃOOOOOO! —Ela
histericamente repetia, tentando parar o sangramento com as mãos trêmulas no
peito de Luke. Embalando seu bebê em seus braços, balançando-o de forma
incontrolável.
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Eu agi por impulso puro, meu corpo em movimento no piloto automático
enquanto eu corria para eles, caindo de joelhos no último segundo. Ignorando a
dor que o cimento duro provocou. Seu corpo começou a convulsionar, mais
sangue era expelido de seus lábios trêmulos enquanto ele olhava para mim com
os olhos vagos. Eu coloquei minhas mãos sobre as da minha mãe, tentando ajudá-
la a parar o sangue jorrando. Tentando encontrar onde a bala o atingiu.

—Todos para fora! —Phoenix ordenou. —AGORA!

Eu ouvi as pessoas se espalhando, como um rebanho, deixando um rastro


de destruição em seu caminho.

—Luke! Amigo, fica comigo, porra. Você pode me ouvir? —Eu exigi com
lágrimas deslizando pelo meu rosto e caindo em seu corpo quebrado, deixando
meus olhos vagarem sobre o que eu tinha feito. Tentando fazer rapidamente a
minha parte, eu puxei a minha camiseta sobre a cabeça, dobrando-a e
empurrando as mãos de minha mãe para fora do caminho.

Eu gentilmente o deitei no chão. Meus olhos borrados com nada, além de


lágrimas, tornando difícil ver o que eu estava fazendo. —Fique comigo, Luke.
Você está me ouvindo? Fique comigo! —Eu segurei seu rosto em minhas mãos, o
sangue manchando suas bochechas. —Lute! Porra, lute!

Eu rasguei sua camisa e descobri onde ele havia sido atingido. Descobri o
buraco logo acima de seu coração. Apressadamente empurrei minha camisa
encharcada de sangue em sua ferida.

—Ei! Olhe para mim! Eu preciso que você coloque o máximo de pressão
possível sobre isso, Ma. —Eu agarrei suas mãos, colocando-as de volta na ferida.
Ela olhou para mim com os olhos inchados. —Agora!

Tropeçando, fiquei de joelhos, e arranquei meu cinto. Imediatamente o


envolvi em torno de seu peito e o apertei. Mais sangue desceu do canto de sua
boca para o chão.

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—Luke, olhe para mim. Vamos! Abra os olhos, fica comigo. —Dei um tapa
em suas bochechas.

Nada.

Silêncio.

Eu estava tremendo tanto. Meu coração estava acelerado no meu peito,


vibrando ao longo de todo o meu interior. Até a última parte de mim estava
morrendo junto com ele. Eu tinha feito algumas merdas sombrias, estado em
algumas situações de vida ou morte, e nunca estive tão assustado em minha vida
enquanto eu puxava Luke em meus braços, verificando, para ver se ele ainda
estava respirando.

Verificando, para ver se ele ainda estava vivo.

—Creed... —Mamãe chorava, sua voz quebrada e rasgada. Olhando para


mim com olhos suplicantes para salvá-lo. —Deus, por favor, me leve em vez disso.
—Ela pedia mais e mais.

—Luke. —Eu chorei, embalando seu corpo contra o meu peito. Ele estava
imóvel. —PORRA! Estamos o perdendo!

Eu segurei o meu irmão, morrendo nos meus braços enquanto eu


observava minha mãe, morrendo lentamente no chão na minha frente.

—Alguém chame 9-1-1! —Ela pedia, olhando desesperadamente ao redor


da sala.

—ALGUÉM, AJUDE! Por que ninguém está ajudando?! Por que está todo
mundo parado aí, façam alguma coisa! —Eu gritei uma e outra vez até que minha
garganta estava queimando e crua.

Ninguém se mexeu.

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Todos sabiam o que chamar o 9-1-1 significava. Policiais serem chamados
para o clube nunca foi permitido. Era um código de conduta que ninguém iria
quebrar. Mesmo que isso significasse que vidas inocentes seriam perdidas.

—PORRA, CHAME O 9-1-1, SEUS MARICAS FODIDOS! —Olhei para os meus


irmãos, em silêncio, pedindo-lhes para agirem. —Meu Deus! Eu sinto muito! Eu
sinto tanto, porra. —Eu berrei, balançando Luke em meus braços.

Minha mãe tremia, envolvendo os braços em volta dele, ainda colocando


pressão sobre a ferida com a mão trêmula.

—Por favor, Deus! Por favor, ajude meu bebê! Por favor! Eu farei o que
quiser! Só não leve o meu bebê! Por favor, não o meu bebê! JAMESON! —Ela o
tirou dos meus braços, embalando seu corpo mole, tentando segurar sua vida. —
Mamãe está aqui. Fique comigo, eu não posso te perder. Você está me ouvindo?
Fique comigo! —Ela sussurrou, ainda tentando fazer o sangue parar de sair. —
PORRAAAAA. JAMESON! SOCORRO! Onde está você?! —Ela implorou, puxando-o
mais perto, balançando-o para trás e para frente, chorando palavras incoerentes
enquanto tentava confortá-lo. Agarrada à esperança de que tudo isso era um
pesadelo horrível e que ela acordaria em breve. —Creed, eles não estão fazendo
nada! Chame o 9-1-1! AGORA!

Eu entrei em ação. Correndo para o telefone que estava na parede oposta.


Minhas mãos tremiam enquanto eu começava a discar. O sangue dos meus dedos
cobriu os números.

—Dê-me isso! —Ouvi meu pai gritar, vindo do nada. Arrancando o


receptor do meu alcance e teclando fim. Ele discou rapidamente outro número.
—Sim, Joseph. —Disse ele calmamente ao médico de plantão que tinha na folha
de pagamento. —Eu preciso de você aqui, agora. —Ele desligou como se isso
fosse uma coisa normal, como se ele não se importasse que seu filho estivesse
deitado em uma poça de seu próprio sangue.

—Joseph?! Por que você não chamou...

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Ele olhou de volta para minha mãe, deixando-a sem palavras. —Jesus
Cristo! O que aconteceu?! —Ele rosnou, passando as mãos pelo cabelo. Vendo
todo o sangue que se espalhava na sala. O cheiro de sangue potente no ar agrediu
seus sentidos.

Olhei ao redor da sala pela primeira vez desde que a bala ricocheteou e
atingiu o peito de Lucas. Phoenix, Stone, e Diesel foram os únicos a saírem da
sala, com suas cabeças baixas em remorso. Então, meus olhos pousaram em
Martinez. Seus olhos frios, sombrios e sem alma estavam olhando para mim,
alimentando o meu ódio por ele.

—Seu filho aqui decidiu foder com o diabo. —Martinez disse, olhando
para a minha mãe, que estava segurando o corpo sem vida de Luke. —Ele estava
tentando fazer uma competição de mijo comigo esta noite e claramente perdeu.
Ensine-o a ter melhor pontaria da próxima vez. —O filho da mãe se virou e
caminhou até a saída, girando no último segundo, olhando para a minha mãe. —
Meus pêsames, Diane. —Acrescentou em um tom cheio de simpatia. —Eu sei o
que é perder alguém que você ama. Minha mãe foi brutalmente assassinada bem
na minha frente. Ela morreu nos meus braços. —Ele abaixou a cabeça, virou-se e
saiu.

Eu queria correr atrás dele e terminar o que tinha começado. Eu queria


que ele pagasse por isso, mas eu não podia. Uma força invisível me segurou. Eu
era a pessoa que puxou o gatilho. Eu era o único que matou meu irmão mais
novo.

Isso não foi culpa de ninguém, foi minha.

Estendi a mão para o telefone novamente, mas Pops me empurrou para


trás. —Que porra é essa que você fez, garoto?

Eu não pude evitar. A porra da vergonha estava me comendo vivo. —Foi


um acidente! Eu juro por Deus que foi um acidente! —Eu repeti, mal sendo capaz
de dizer as palavras.

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—Mamãe? O que está acontecendo? —Um Noah sonolento apareceu. —
Onde está Luke?

Diesel agiu rápido, puxando-o antes que ele visse alguma coisa. Ma olhou
para cima, destruída, enquanto Noah era levado às pressas para fora da sala.

—Deixe-o chamar o 9-1-1, Jameson! Foi um acidente! Onde diabos você


estava?! —Minha mãe questionou, trazendo a nossa atenção de volta para ela.
Seus olhos ainda estavam focados na porta para onde Noah foi escoltado.

—Acidente ou não, não podemos chamar a polícia! Você quer que seu
filho vá para a prisão? —Ele respondeu, ignorando sua pergunta. Não dando a
mínima para o que Noah quase presenciou.

Ela balançou a cabeça violentamente, finalmente entendendo. —Não! Não


Creed! Eu não posso...

—Foi um acidente! —Eu gritei, estendendo a mão para o telefone


novamente.

Ele empurrou minha mão mais forte. Fazendo-me tropeçar de fraqueza,


pronto para puxar uma arma para mim. —Vamos todos para a prisão por causa
disso! —Ele disse, seus olhos oscilando entre mim e os irmãos.

Ela balançou a cabeça de novo, fechando os olhos, tentando se recompor


ou, eventualmente, orando a Deus. —Seu bastardo fodido. —Ela lamentou.

—Eu estou tentando salvar a todos nós! Você quer perder outro filho?

Eu dei um passo para longe dele até que minhas costas bateram na
parede. A verdade de suas palavras era demais para eu suportar. Eu deslizei pelos
painéis de madeira, lentamente afundando ainda mais para o canto da minha
própria mente. Em meu próprio inferno pessoal, deixando-os de fora. Puxei os
joelhos para junto do meu peito, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Eu
pensei sobre todas as memórias felizes que eu tinha compartilhado com Luke.

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Lembrei-me da primeira vez em que ele engatinhou.

Suas primeiras palavras, a primeira vez que ele disse meu nome.

Abri os olhos, focando nos dele. Eu quis desviar o olhar, mas eu não podia.
Obriguei-me a enfrentar o que eu tinha feito.

Lembrando o amor que aqueles olhos uma vez mostraram. Toda vez que
eu disse a ele que o amava e a primeira vez em que ele disse “eu te amo” de volta
e cada vez desde então. Dizendo-lhe como eu sempre estaria lá para ele não
importa o que acontecesse. Prometendo sempre protegê-lo. Como mais cedo
naquele dia, estávamos falando sobre as meninas e a vida. Enfiei a mão no bolso,
puxando o colar de Luke. Segurei-o em meus lábios, apertando seu colar em
minhas mãos e chorando mais.

Eu não perdi a ironia.

Todas essas memórias se foram em um piscar de olhos, agora substituídas


com sangue. Tanto sangue, porra.

Pisquei os olhos.

Joseph entrou correndo com os irmãos MC atrás dele.

Pisquei os olhos.

Puxando meu irmãozinho dos braços de minha mãe.

Pisquei os olhos.

Realizando a RCP9.

Pisquei os olhos.

Mamãe rezando, chorando, caindo aos pedaços.

9
Respiração Cardio Pulmonar.
55
Pisquei os olhos.

Os olhos sem vida de Luke olhando para mim.

Pisquei os olhos.

Joseph enchendo seringas.

Pisquei os olhos.

Um irmão MC recolhendo Mamãe do chão e levando-a para fora enquanto


ela chutava e gritava.

Pisquei os olhos.

O saco preto sendo aberto. Engolindo o corpo ensanguentado de Lucas.

Pisquei os olhos.

Caos…

Pisquei os olhos.

Mais caos...

Pisquei os olhos.

Nada, além de caos...

Pisquei os olhos.

Um irmão MC tentando me levantar.

Pisquei... Pisquei... Pisquei...

Escuridão.

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¸.•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸

Luke foi enterrado na quinta-feira dia 26 de setembro no meio da noite.


Quatro da manhã para ser exato. Phoenix, Stone, e Diesel levaram num saco de
corpo negro para o campo mais distante além dos bosques, localizado atrás do
clube. Alguns outros irmãos MC cuidaram da minha mãe, que estava sedada no
sofá dentro de casa. Pops colocou um Xanax em sua água algumas horas antes.
Foi a única coisa que ele pôde pensar para fugir e enterrar Luke do jeito que ele
fez. Ele a deixaria ir até a cova improvisada uma vez que o trabalho sujo tivesse
acabado, e não houvesse nenhuma evidência deixada do meu irmão.

Apenas lembranças.

Toda vez que eu fechava os olhos, tudo o que eu podia ver eram os olhos
sem vida de Luke olhando para mim. Lembro-me de cada passo que eu dei,
seguindo atrás do meu pai. Lembro-me da névoa sufocante espessa no ar da noite
que veio depois da chuva que tinha começado no dia anterior. A forma como o
vento soprava uma brisa fresca através das árvores, roçando a superfície da
minha pele excessivamente aquecida. Lembro-me dos sons de galhos rachando
sob nossas botas, o barulho dos pássaros e corujas, juntamente com qualquer
outra coisa que se escondia na floresta.

Acima de tudo, lembro-me de sentir muito ódio por meu pai não dar à
Luke, seu filho, um enterro apropriado. Apenas querendo jogá-lo em um campo
juntamente com inúmeros outros corpos que o clube tinha matado.

Luke merecia coisa melhor.

Ele não merecia isso.

Eu assisti Phoenix, Diesel, e Stone começarem a cavar a sua sepultura, e eu


juro por Deus, que tudo o que eu queria fazer era cavar minha própria porra de
sepultura ao lado da dele. Eu queria ser enterrado vivo a ter que viver com o que
eu tinha feito.

57
Meu pai ordenou-lhes a parar de cavar, e pegou a pá da mão de Stone.

—Você fez isso. Ele está morto por sua causa, rapaz. Agora eu não vou
fazer meus irmãos pagarem pelos seus pecados. Você vai cavar aquela sepultura,
e colocar o seu irmão para descansar nela. Eu quero que você lembre-se de que
ele está a sete palmos abaixo da terra por sua causa. Da próxima vez, é melhor
manter a maldita boca fechada. Insultar Martinez, seu pedaço de merda, pode me
custar uma enorme aliança. —Ele jogou a pá na minha frente, me desafiando a
desafiá-lo.

Eu não discuti.

Eu não disse uma palavra.

Ele estava certo.

Segurei forte a pá, acolhendo a dor das bolhas se formando sobre as


palmas das mãos, e cavei a sepultura de Luke enquanto todos observavam. Eu
podia sentir que os irmãos não concordavam com o que o meu pai estava me
obrigando a fazer, mas sabiam que não deviam abrir a porra das bocas. Não
querendo acabar como Striker. Eu sabia que esse era o verdadeiro motivo pelo
qual ele drogou minha mãe. Não havia possibilidade de que ela permitisse que ele
me punisse desta forma.

Eu mantive minhas emoções sob controle, com a força motriz da lâmina


batendo no chão uma e outra vez. Eu não merecia lamentar a vida que eu tinha
tirado. Eu merecia coisa muito pior do que a que estava acontecendo comigo.

Quanto mais perto eu chegava do término de cavar a sepultura do meu


irmão, mais chateado eu ficava. Pensei no corpo de Luke apodrecendo neste
buraco negro infestado de insetos, sem quaisquer barreiras para protegê-lo,
aonde ele apenas apodreceria.

Um dia.

Um mês.

58
Um ano a partir de agora...

Tudo o que seria deixado dele seriam seus ossos. Orei a Deus que ele já
tivesse levado a alma de Luke, e ele não fosse deixado para vagar pelo mundo
como um espírito. Incapaz de descansar em paz. Tentei dizer a mim mesmo que o
Senhor não podia ser tão cruel, mas no final o que diabos ele tinha feito para
mim?

Nem uma porcaria.

—Isso é o suficiente. —Meu pai ordenou, afastando-me dos meus


pensamentos. —Saia desse buraco e vá buscar o seu irmão. Você vai colocá-lo no
buraco com suas próprias mãos, e então você vai enterrá-lo pelas suas próprias
mãos também.

—Prez, nós pode...

—Você pode calar a porra da boca! Isso é o que você pode fazer! —Ele
cortou Phoenix, olhando de mim para ele e para mim. —Eu não vou dizer mais
uma vez, Creed! Pegue seu irmão e coloque a sua bunda fodida para descansar!
—Suas mãos grandes agarraram-me pela frente da minha camisa, empurrando-
me para mais perto do corpo de Luke.

Recuperei o meu equilíbrio antes de pousar sobre ele. Respirando fundo,


eu fiz como me foi dito. Levou tudo dentro de mim para não desmoronar quando
peguei o corpo de Luke em meus braços. Levei-o para o buraco, parando,
querendo me lembrar de cada segundo antes que eu o colocasse suavemente em
seu purgatório. Eu queria tirar o saco preto, eu queria ver seu rosto pela última
vez, para dizer adequadamente meu adeus. Havia tanta coisa que eu queria dizer,
mas as palavras não consertariam as coisas. Nenhuma quantidade de tempo o
traria de volta. Então, tudo que fiz foi puxar seu corpo frio tão perto quanto pude
do meu coração partido.

Querendo pelo menos me lembrar da sensação dele em meus braços.

59
—Eu sinto tanto, irmãozinho. —Eu sussurrei. Minha voz embargada com
cada palavra que saía dos meus lábios.

—Deixe-o aí, Creed! E tire o seu rabo desse buraco! —Pops rangeu os
dentes.

—Por favor... Deixe-me dizer adeus. Apenas permita-me que...

—Eu não dou a mínima para o que você está suplicando! A única coisa que
você merece é estar deitado nesse buraco em vez dele. Agora traga seu traseiro
aqui em cima para que possa enterrá-lo!

—Jesus Cristo! Apenas me deixe...

—Caralho! —Ele saltou para dentro do buraco para erguer Luke dos meus
braços. Empurrando-me tão forte quanto podia, fazendo minhas costas atingirem
a terra desigual. Eu estremeci de dor, acolhendo a ardência do meu ombro ferido,
precisando sentir outra coisa além do remorso e dor na porra do meu coração.

Ele arrancou o corpo de Luke das minhas mãos, e apenas jogou-o no chão
como se fosse nada. Como se Luke não significasse nada. Ele caiu com um baque
alto, aterrissando em uma posição contorcida que poderia ser vista claro como o
dia, mesmo que ele estivesse em um saco preto para corpos.

Eu imediatamente dei um passo na direção dele, querendo colocar o meu


irmão em uma posição mais tranquila. Eu não dei um segundo passo antes de
meu pai me dar um soco na cara. Minha cabeça recuou enquanto eu tropeçava.
Ele agarrou a frente da minha camisa, me empurrando para frente. Ficando bem
na minha cara.

—Prez, vamos, isso é o suficiente. —Stone persuadiu.

—Sim, Prez, deixe-o sozinho. Ele já passou por dor suficiente. —Diesel
acrescentou.

60
—Você escute e me ouça bem, menino. —Meu pai rosnou, ignorando os
apelos do irmão. —Eu não dou a mínima para você, ou o que você está sentindo.
Você tem sorte que estou evitando sua bunda gorda de servir uma sentença de
prisão perpétua por assassinato, seu idiota ingrato. Quando eu lhe disser para
fazer algo, você faça, porra. Você me entendeu? Eu não hesitarei em lembrá-lo de
sua porra de lugar no meu clube.

Ele deu uma última olhada e me empurrou para trás, passando por cima
do corpo de Luke para sair do buraco. Ele imediatamente virou-se para me puxar
pelo meu braço, me jogando na sujeira. Tentei rastejar e ficar de pé, mas ele não
vacilou, lançando a pá bem no meu rosto. O metal oxidado atingiu minha boca,
levando-me a cuspir sangue. Eu me recuperei, levantando-me com as pernas
bambas, tentando o meu melhor para ficar em pé.

Minha vergonha.

Meu remorso.

Minha culpa.

Não poderia me segurar por mais tempo.

Eu poderia tê-lo derrubado, eu poderia ter lutado contra ele, me


defendido, mas eu merecia tudo o que ele estava me jogando e mais.

Eu merecia tudo isso.

Peguei a pá, mais uma vez, deixando a terra cair sobre Luke. Eu enterrei
meu irmão naquela noite apenas com a luz da lua brilhando acima de mim. No dia
seguinte, vi minha mãe desmoronar no chão ao saber que seu filho estava
enterrado. Eu a vi mais uma vez sendo arrancada da cova improvisada, chutando
e gritando por Deus para devolver o seu bebê. Eu vi meu pai não dando a mínima
para a cena passando na frente dele, e os irmãos MC abanando a cabeça com a
falta de simpatia que ele tinha por ambos os seus filhos e sua esposa.

Daquele dia em diante, eu carregaria a dor de ter matado meu irmão.

61
Eu carregaria a agonia de não ter sido capaz de dizer adeus a ele nas
profundezas do meu interior.

Todos os dias, eu me encontraria na linha de frente pelo clube, querendo


nada mais do que simplesmente desaparecer. Encontrando-me no meio do nada,
saboreando a liberdade.

Esperando…

Pensando…

Contemplando...

O passado. O presente. O futuro.

Então. Agora. Para sempre.

Minha vida, porra.

Desejando que eu pudesse pegar o próximo trem e nunca olhar para trás.
Mas era exatamente isso. Um desejo. Um lampejo de esperança para sair da
besteira que era a minha vida. Exceto que, eu ainda tinha Noah para pensar, mais
do que nunca. Toda vez que eu olhava em seus olhos, eu me lembrava de Luke.
Lembrava do que eu tinha feito para ele. Talvez essa fosse a minha punição.
Sendo responsável por meu irmão de forma que eu nunca tinha sido antes. A
cada dia que passava, eu sentia a mesma culpa que senti no dia em que tirei a
vida do meu irmão.

Erros e arrependimentos.

Escolhas e decisões.

Vida e morte.

Tudo se misturava em uma matriz de cores que pintava um quadro


assustador. Não havia como olhar para trás...

62
Eu não poderia nem mesmo fazer-me ir para onde Luke estava enterrado.

Sabendo, que eu era o único culpado.

Por colocá-lo lá.

63
CAPÍTULO 5

Inclinei a cabeça e observei as nuvens de tempestade acima, à espera dos


céus desencadearem sua fúria em cima de mim. Testemunhando flashes de
relâmpagos na distância, o cheiro de chuva forte no ar enquanto o vento roçava
sobre a minha pele com tatuagens. Acalmando meu calor. Um trovão fez o chão
tremer ao meu redor enquanto um trem chegava à cidade. Soando a buzina para
fazer sua presença conhecida, afastando-me dos meus pensamentos.

Eu vi quando cada vagão de aço maciço era ofuscado pela luz brilhante de
cada relâmpago. Fiquei ali sentado contemplando saltar sobre ele antes que fosse
tarde demais. O último vagão de trem passou na minha frente. Levando com ele o
futuro que eu queria pra caralho. Deixando-me para trás para lidar com a besteira
de todo mundo.

Quando tudo o que eu queria fazer era me afogar no meio da tempestade.

Enquanto eu estava ponderando deixar a cidade em uma base diária


desde a morte de Luke, há seis meses, minha mãe se afogava regularmente em
um litro de vodka. Deixando a morte chegar a ela. Adicionando outra vida para a
minha consciência.

A dela.

O abuso verbal do meu pai tornou-se pior para ela a cada dia que passava,
tornando-se mais monstruoso do que já era. Ela tinha pagado o preço ao perder
um filho. Ela não merecia suas malditas palavras odiosas também. Ele nunca
lamentou a sua própria carne e sangue.

64
Como prometido, poucos dias depois de eu completar dezoito anos, dois
meses atrás, eu fui promovido a um irmão. Os membros foram à missa naquele
dia, a uma votação em que os prospectos tinham ganhado o direito de votarem. A
decisão foi unânime. Eu assinei a minha vida com a minha porra de sangue, como
meu pai sempre quis. Alegando meus direitos no Devil’s Rejects. Foi anunciado na
Nacional Run que eu fui totalmente promovido a membro. Meu pai arrancou meu
colete de prospecto, e entregou-me um com as minhas cores, que consistia do
logotipo do clube, a mancha vermelha em forma de lua crescente com “Devil’s
Rejects” sobre ele, e o outro remendo da lua crescente que dizia Southport.

Promover-me, fez um olhar de orgulho espalhar-se pelo seu rosto.


Aguardando ansiosamente a minha reação.

Eu encontrei seus olhos, apertei sua mão, e apenas assenti, mostrando-lhe


exatamente o que significava para mim.

Nem uma coisa do caralho.

Os irmãos todos me puxaram para abraços, e deram tapinhas nas minhas


costas. Encharcando-me de cerveja, me dando boas-vindas com os braços
abertos, comprometendo minha vida e lealdade para com o clube. Começando
um novo capítulo na minha vida, quando tudo que eu queria era acabar com ela.
O momento em que eu coloquei Luke na cova, foi a última vez em que qualquer
um dos irmãos, incluindo Pops, falou sobre o que aconteceu. Sobre o que eu tinha
feito, como se Luke nunca tivesse existido. A única lembrança que eu sempre
teria, eram as lágrimas e divagações da minha mãe quando ela estava ali. Todos
os que testemunharam o que aconteceu naquela noite juraram silêncio.
Ameaçados para manterem suas malditas bocas fechadas.

Usando a violência para encobrir a injustiça por qualquer meio necessário.

Depois que recebi o emblema oficial nas minhas costas, marcando-me


como um membro, era oficial. Eu era um Devil’s Rejects. Eu tinha o logotipo
gravado em minha pele para que a vida provasse isso. A noite continuou com sua
festividade usual de drogas, bebidas e prostitutas, enquanto eu estava sentado no

65
bar sozinho. Querendo nada mais do que dar o fora de lá. Ainda mais vendo o
corpo sem vida de Luke bem debaixo dos meus pés. Não importava, nada mais
importava. Eu estava preso lá, eu gostando ou não. Pops até me deu a escolha da
prostituta, mas eu não dava a mínima para isso. Não importava o que eu fizesse
ou dissesse, nada o impediria de jogar uma buceta no meu colo, certificando-se
de que eu tivesse o meu pau molhado. Eu tive meu primeiro trio naquela noite,
duas putas de uma só vez. Eu deveria estar no topo do mundo, e não esperando
que eu fosse enterrado sob ele.

Depois de dirigir por aí sem rumo por horas, eu decidi parar fora da
estrada, logo após uma hora da tarde. Eu sabia de um pequeno restaurante, na
beira da praia, no coração de Oak Island, Carolina do Norte, uma pequena cidade
praiana fora de Southport, onde o meu tipo nunca seria ignorado. Isso nunca me
parou antes, os moradores poderiam até me julgar, e eu nunca daria à mínima.

Eu parei no estacionamento, há algumas vagas de um SUV preto, de onde


uma mulher com longos cabelos castanhos saiu, discutindo com alguém no banco
de trás. Capturando a minha atenção. De repente, a porta se abriu, revelando
uma menina que não poderia ter mais do que oito ou nove anos de idade.
Jogando as mãos no ar, murmurando coisas, enquanto sua mãe dava a volta para
buscá-la.

Eu desliguei o motor da minha moto, tirei o capacete e peguei o maço de


cigarros do meu colete. Bati no fundo do novo pacote, peguei um cigarro e o
acendi. Ela estava usando um vestido de verão amarelo claro, com as tiras de
roupa de banho aparecendo debaixo dele. Seu cabelo estava em tranças,
combinando com os arcos amarelos nele. O que me chamou mais a atenção
foram os enormes óculos de aviador no seu rostinho, ostentando-os como se ela
fosse adulta.

—Mamãe, por que eu não pude comprar apenas o biquíni rosa? Odeio
esse maiô preto, de uma peça só, estúpido, que papai disse que eu tinha que
comprar. —A menina choramingou. —Eu estava perfeitamente feliz com o
biquíni. Era bonito e feminino, e agora eu só pareço como um menino. Isso não é
justo! Totalmente chato.
66
—Mia Ryder! Quantas vezes eu tenho que dizer-lhe para não falar assim?
—Sua mãe a repreendeu.

—Aparentemente, mais de uma vez. Mason diz isso o tempo todo, e você
não grita com ele.

—Ugh, o que eu vou fazer com você?

—Você pode começar me deixando comprar esse biquíni. Eu não sou mais
um bebê. Papai precisa entender que eu vou fazer dez em breve. São quase duas
mãos inteiras. Dez dedos. —Mia enfatizou, segurando seus pequenos dedos no
ar.

Sua mãe riu, balançando a cabeça. —Você sempre será o bebê do papai.

—Ele nunca vai me deixar crescer. Ele já assustou todos os meninos da


minha turma. Até os bonitinhos, Mamãe. Tio Dylan e tio Jacob não são melhores
também, dizendo ao meu parceiro de leitura, Phil, que eu não poderia atender ao
telefone porque eu estava fazendo cocô! —Ela estendeu os braços para os lados.
—Eu nem estava fazendo cocô! Qual é a única madura aqui? Eu. Ninguém me
deixa fazer nada. Isto. É uma merda. Droga. —Ela suspirou e eu resisti à vontade
de rir pra caramba.

Essa garota é um furacão.

—Você é muito jovem para estar com este menino louco. Agora, pare de
resmungar. Estaremos ocupadas hoje. Lori ligou dizendo que está doente. Tia Lily
até mesmo vai chegar mais cedo para servir as mesas.

Mia pulou para fora do SUV, fechando a porta atrás dela.

—Bem, você vai surfar ou ficar aqui amuada o dia todo? —Perguntou sua
mãe, inclinando a cabeça para o lado.

—Eu vou pensar sobre isso. —Respondeu ela, sentada no meio-fio fazendo
beicinho.

67
Sua mãe apenas balançou a cabeça, despenteando seu cabelo enquanto
caminhava para dentro.

Desci da minha moto, dando mais uma tragada no meu cigarro antes de
jogá-lo no asfalto, usando a ponta da minha bota para apagá-lo. Quando olhei
para cima, eu tinha dois olhos grandes e azuis brilhantes olhando para mim. A
cabeça inclinada para o lado com os braços apoiados sobre os joelhos. Seus
óculos estavam agora pendurados em suas mãos.

—Você é algum tipo de celebridade? —Mia questionou.

Eu ri, balançando a cabeça negativamente.

—Uau, você parece um cara daqueles programas de televisão que meu pai
assiste. Filhos de umas Cadelas 10 ou algo assim...

Eu ri tanto que a minha cabeça caiu para trás. Não conseguia me lembrar
da última vez em que ri assim.

—De qualquer maneira. —Ela me ignorou. —Ele não sabe que eu assistia
ao show. Eu descia para a sala de televisão e espiava pela fresta da porta. O cara
com cabelo louro e comprido é bonito. Eu realmente gosto dele.

Eu apenas assenti, tentando muito não cair na risada novamente.


Pensando comigo mesmo, seus pais terão muito trabalho com ela.

—Você tem voz? Ou você apenas faz essa coisa de balançar e acenar com
a cabeça, como se fosse tão legal?

Eu sorri, caminhando até ela. Ela olhou para mim, protegendo os olhos do
sol. Esperando pela minha resposta.

—Eu falo. Eu apenas não falo com estranhos, querida. —Eu pisquei,
passando por ela, abrindo a porta, deixando-a ali de olhos arregalados.

10
Sons of a Bitches – Mas ela queria dizer mesmo Sons of Anarchy (série americana).
68
Eu encontrei uma mesa no canto mais distante, longe de qualquer possível
julgamento. O lugar não estava muito ocupado, mas eu ainda tinha olhos
suspeitos sobre mim.

—Olá. —A garçonete cumprimentou. —Eu sou Lily. O entretenimento


virou garçonete hoje. O que posso trazer para você beber? —Ela me olhou de
cima a baixo.

—Água.

—Você não é dessas bandas, não é? —Ela perguntou, batendo a caneta


sobre o bloco de pedidos.

—O que me delatou? A motocicleta em frente, meu colete, minhas


tatuagens, ou é apenas minha exagerada boa aparência?

Ela riu. —Na verdade, foi o Southport em seu colete. Combinação mortal.

—Entretenimento, hein? Que tipo de entretenimento você faz? Pela


aparência do lugar, você não é uma stripper. Poderia ser comediante... Mas eu
vou com música, você está entretida com essa caneta na batida da música que
está tocando nesse momento. —Fiz uma pausa, arqueando uma sobrancelha. —
Quente ou frio?

—Muito quente.

—Te agradeço.

Ela riu de novo, jogando a cabeça para trás. —Você é bom. Bem jogado,
Creed. —Disse ela, apontando a caneta para meu nome no colete. —É melhor
você parar de flertar por aqui, apesar de tudo. Eu sou uma mulher casada, e este
é o estabelecimento da minha cunhada, Alex. Eu odiaria que você tivesse que
fugir dos rapazes. Meu irmão, Lucas, ficará louco, e meu marido não vai estar
muito atrás.

—Tem certeza? Obrigado pelo aviso, querida, mas eu posso me defender.

69
Ela sorriu. —Eu já volto com a água.

Passei a próxima hora comendo, conversando com Lily, e assistindo os


surfistas entrarem e saírem. Querendo saber se a menina, Mia, estava lá fora. Eu
fui para a parte de trás, para encontrar um lugar para me sentar. Tirei minhas
meias e botas, cravei os dedos dos pés na areia, tentando me lembrar da última
vez em que eu estive na praia. Tinha sido tanto tempo.

Ma costumava nos levar todo o tempo quando éramos pequenos para


brincar com Autumn. Ela era a filha da melhor amiga da minha mãe, Laura, e elas
viviam em Southport, apenas alguns quilômetros de distância de nós. Minha mãe,
Laura, e sua outra melhor amiga, Stacey, eram todas originalmente de Nova York.
Cresceram juntas em Manhattan até Stacey se mudar para a Carolina do Norte
em seu segundo ano do ensino médio.

Os pais de Autumn se divorciaram há alguns anos atrás. Foi quando Laura


decidiu mudar-se, ela e Autumn, para Southport para estarem perto de minha
mãe e Stacey, precisando do apoio, enquanto passava por um divórcio
desagradável. O pai de Autumn, Carl, era o chefe do Corpo de Bombeiros de Nova
York. Ele ainda vivia lá em Manhattan, então ela voltou para ficar com ele muitas
vezes. Ela sempre foi a filhinha do papai, embora seus pais não estivessem juntos.
Isso nunca mudou.

Eu conhecia Autumn toda a minha vida, e nós tínhamos crescido juntos.


Nossos aniversários eram apenas com alguns meses de intervalo. Passamos as
férias da família, verões e feriados uns com os outros na Carolina do Norte ou
Nova York, a cada chance que tínhamos. Era a única vez em que me sentia um
pouco como uma criança normal. Eu sempre ansiava por passar um tempo com
ela. Ma não foi a única emocionada quando elas resolveram mudar para cá.

Fiquei ali sentado na areia por não sei quanto tempo, assistindo as ondas
na costa. Vendo Mia, a menina do restaurante, pegando ondas fodidas. Eu não
conseguia tirar os olhos dela, hipnotizado em como algo tão pequeno poderia
pegar as ondas como ela fazia, e não ser engolida pelo oceano. Ela claramente

70
não tinha medo, alcançando os homens experientes, roubando suas ondas, e os
cortando sem piscar um olho.

Remando além dos pontos seguros, ela pegava as ondas como se fosse
uma profissional. Caindo e dando a volta por cima. Ela me fez sorrir como um tolo
maldito, rindo cada vez que ela fodia com alguém, fazendo-os procurarem outro
local. Foi provavelmente a primeira vez em seis meses que eu senti algo mais do
que remorso, vergonha e tristeza.

Essa garota de nove anos de idade, esse furação era a lufada de ar fresco
que eu precisava.

Mesmo que isso só durasse pouco tempo.

Após cerca de uma hora arrasando, o pequeno tubarão saiu da água,


arrastando sua enorme e brilhante prancha rosa, que tinha facilmente o dobro do
tamanho dela, debaixo do braço. Cachos saltavam na brisa enquanto ela
caminhava até a praia, vindo em minha direção. Eu não pude deixar de rir ao vê-
la.

—Do que você está rindo, seu punk? —Mia parou bem na minha frente,
deixando cair sua prancha na areia enquanto ela colocava as mãos nos quadris
pequenos, inclinando a cabeça para o lado. Mal bloqueando o sol com a sua baixa
estatura.

Ergui as mãos no ar, me rendendo enquanto eu continuava a rir pra


caramba. —Não é do camarão que acabou de carregar uma prancha de tamanho
adulto até a praia. Provavelmente não é do pequeno furacão que está
bloqueando meu sol, e definitivamente não é da menina que tem um adesivo em
sua prancha que diz “Cadela Surfista” com os lábios rosa brilhante. —Eu apontei
para um dos muitos adesivos que cobriam sua prancha. —Sua mãe sabe que você
tem isso?

—Uau! Você fala. —Ela mudou seu peso para o outro quadril, me
gozando. —Eu acho que nós não somos estranhos mais. —Ignorando a minha
pergunta, ela estatelou-se na areia ao meu lado.
71
—Há quanto tempo você surfa assim?

Ela bateu o dedo indicador nos lábios, pensando. —Desde sempre. Está no
meu sangue. O meu pai me colocou em uma prancha assim que eu pude andar.
Eu sou melhor que meus dois irmãos. Eu sou melhor do que todos os meus
primos. Eu tenho certeza de que eu sou melhor do que qualquer um em Oak
Island. Talvez até mesmo do mundo.

Eu lutei, tentando não rir de novo, balançando a cabeça. Olhando para as


ondas. Eu gostava de sua confiança. Ela era arrogante, mas de uma forma doce.
Não havia disso o suficiente no mundo.

—Por que você está tão triste? —Ela perguntou, do nada. Aleatoriamente
mudando o rumo da conversa como a maioria das mulheres fazia. Incapaz de se
concentrar em um assunto de cada vez.

—Por que você é tão intrometida? —Eu olhei para ela.

—Duh... Eu sou uma menina. —Ela respondeu, revirando os olhos. —Você


coleciona patchs? —Ela apontou para o meu colete, mais uma vez passando para
sua próxima pergunta.

—Não coleciono, eu ganho.

—Oh, como um escoteiro! Que legal! Eu tenho mais de cem no meu


uniforme. Minha mãe diz que eu tenho que ficar nas escoteiras, porque isso vai
me deixar uma menina confiante e corajosa, embora eu já seja tudo isso. Eu nasci
incrível. Além disso, eu não sei como ficar sentada ao redor de uma fogueira,
cantando Kumbaya. Tudo o que vou ganhar é nada além das picadas de mosquito,
mas inferno, o que eu sei?

—Você beija seu pai com essa boca suja? —Eu ri.

Ela encolheu os ombros. —Meus irmãos falam assim o tempo todo. Minha
primeira palavra foi merda. —Ela sorriu, orgulhosa de si mesma. —Papai grita
com eles, mas eles nunca ouvem. Eles se safam de tudo porque são meninos.

72
Pessoalmente, acho que isso é estúpido. As meninas são muito melhores do que
os rapazes. Nós somos mais espertas. Nosso cheiro é mais agradável. E... se não
fosse pelas meninas, os meninos nem estariam aqui. Então, bum. —Ela exclamou,
fazendo uma explosão com as mãos. —De qualquer forma, eu sou uma Brownie 11
agora, então eu tenho tantos patchs. Eu tenho o perfeito para o seu cinto.

Eu joguei minha cabeça para trás, rindo. Essa garota era demais.

—O que? Você não gosta de brownies? Eu tenho certeza, meninos gostam


de brownies. Meu pai os ama, meus irmãos os amam, e meus tios os amam
também. Até mesmo o menino que senta perto de mim na classe ama. Ele está
sempre tentando roubar o meu. O papai me disse que se eu um dia lhe der o meu
brownie, ele vai machucá-lo. Ele disse que costumava comer todos os tipos de
brownies o tempo todo, e mamãe não gostava muito disso. Então ele começou a
comer apenas o dela.

Ela me fez rir tanto que minha costela começou a doer. —Não acho que
ele quis dizer... Deixa pra lá. Você sempre fala tanto assim?

—Oh! Deixe-me dá-lo o meu patch antes que eu esqueça. —Ela pegou sua
mochila rosa que estava aninhada na areia ao lado dela.

Não demorou muito para perceber que esta menina gostava de rosa. Ela
remexeu por alguns segundos, finalmente encontrando o que ela queria. Jogando
a mochila para o lado, ela se virou para mim totalmente.

—Isso é de mim para você. —Ela sorriu. —Então você pode sempre se
lembrar de mim. Vou sempre me lembrar de você. Ok? —Ela me entregou o
patch. —Esse é o meu patch da coragem. Você pode tê-lo uma vez que eu já
tenho o suficiente. Você pode colocá-lo ao lado desse aqui? —Ela apontou para o
meu patch de honra. —Eu acho que eles vão parecer bem juntos.

Fiquei surpreso. Eu não sabia o que dizer, ou o que sentir. Ninguém nunca
tinha me dado nada como isso antes. Ninguém nunca se importou o suficiente.

11
É uma graduação das escoteiras.
73
Olhei para ela e para o patch em minhas mãos, tateando ao redor e apenas
balancei a cabeça. Incapaz de formar as palavras para expressar o sentimento de
amor que eu sentia por esta menina que eu tinha acabado de conhecer.

—Você vai responder a minha pergunta?

—Não, você é uma menina. Não entenderia.

—Quem você está chamando...

—Creed? —Uma voz familiar interrompeu Mia.

Olhei para cima para ver Autumn caminhando até mim. Eu fiquei de pé,
limpando a areia da minha calça. —Droga, se não é um colírio para os olhos. —Eu
a cumprimentei, puxando-a para um abraço.

Eu não tinha visto Autumn desde antes de Luke morrer. Eu tinha a evitado,
não querendo a simpatia e compaixão que eu sabia que ela iria proporcionar.

Eu não merecia.

—Eu sinto muito sobre Luke. —Ela sussurrou em meu ouvido, apertando-
me com mais força.

Meu bom humor rapidamente infiltrou-se na areia entre nós. A simples


menção do nome de Luke ameaçou me derrubar, mas eu não iria deixar isso
acontecer. Eu, rapidamente, sacudi o mal-estar e me afastei, dando-lhe um meio
sorriso.

Mia pigarreou atrás de mim, trazendo a minha atenção de volta para ela.
Ela estava dando à Autumn um olhar fatal, um olhar que eu era mais do que
familiarizado quando se tratava de mulheres. Ela podia ser apenas uma criança,
mas isso não impedia o ciúme que ela podia estar sentindo. Eu pisquei para ela,
por uma razão que eu não podia explicar. Eu queria que ela tivesse a garantia de
que ela precisava.

Imediatamente me senti protetor sobre ela.


74
—MIA! —Uma voz gritou, fazendo-a se assustar. —Quantas malditas vezes
eu preciso lhe dizer para não cortar outros surfistas?

Virei-me, seguindo a voz. Vi Mason vir correndo atrás de Autumn.

—Não é minha culpa se vocês são mais moles do que o melado. —Mia
respondeu, enfrentando-o.

—Você tem sorte que você é uma menina. Roubar ondas assim poderia
fazer com que seu traseiro fosse chutado.

—Bem, sorte para mim que posso correr dos idiotas.

—Cuidado com a boca! —Mason gritou, chegando a ela. Voltando sua


atenção para longe dela quando me viu. —Creed, eu não sabia que você estava
por aqui hoje. —Ele baixou a guarda, me puxando para um abraço de lado,
acariciando minhas costas. —Já faz muito tempo, mano. Eu vejo que você
conheceu minha irmã, Mia. —Disse ele, acenando para uma menina muito
chateada.

—Ela é sua irmãzinha? Faz sentido agora. Tem uma boca suja, como você.

—Irmãzinha? Quem você está chamando de irmãzinha? —Mia se


levantou, colocando as mãos nos quadris. —Creed, este é o meu grande, mas o
não melhor irmão, Mason. —Declarou ela, revirando os olhos.

—Não gosta do seu irmão? —Eu ri.

—Não, ele é mau comigo.

—Não diga isso, Mia. Eu estou apenas cuidando de você como qualquer
irmão faria.

—Eu não preciso de ninguém cuidando de mim. Eu posso cuidar de mim


mesma. Onde está Giselle? Vá encontrar sua namorada e me deixa em paz. —Ela
respondeu, olhando apenas para Autumn.

75
Eu balancei a cabeça, sufocando uma risada. Eu conhecia Mason tanto
quanto eu conhecia Autumn. A mãe dele era Stacey, outra melhor amiga da
minha mãe. Eu não vou mentir. Primeiro, nós nos odiávamos. Tentando provar
quem era o cão alfa antes de crescermos. Foi assim por um longo tempo, mas
quando nós começamos a ficar mais velhos, nos tornamos amigos íntimos.

Nós fomos para a mesma escola, quando decidimos a qual ir realmente.


Mason era um ídolo por ser a porra de um rebelde. Um punk fodido que fazia o
oposto de tudo o que seus pais lhe diziam para fazer. Além de estudar, Mason e
eu saíamos quando ele estava com sua mãe. Fumávamos maconha, bebíamos,
fodíamos as meninas, e nos metíamos em encrencas. Autumn nunca esteve muito
atrás de nós, sempre se unindo às nossas festividades. Giselle, sua namorada,
entrou em cena há alguns anos atrás. Ela era filha de um detetive de narcóticos
que tinha mais do que alguns desentendimentos com o MC. Seu pai era amigo do
pai de Mason, Lucas.

Foi por isso que nunca contamos sobre a nossa amizade para seu pai e
madrasta, Alex. Eu nunca tinha conhecido formalmente qualquer um deles e
provavelmente nunca o faria. Os pais de Mason não eram casados. Eles tiveram
uma relação complicada. Um começo difícil, mas eles encontraram uma forma de
fazer isso funcionar. Stacey era como nós, rebelde, e não nos julgava. Alex e
Lucas, já era uma história diferente. Eles nunca aprovariam seu menino andando
com alguém como eu. Especialmente com o filho do Prez do Devil’s Rejects.

—Mia, seu pai está aqui para buscar você! Pegue suas coisas, bebê. —Sua
mãe gritou do restaurante.

—Eu não sou um bebê. —Ela murmurou baixinho, agarrando sua prancha.
Ela olhou para mim. —A gente se vê por aí?

Eu balancei a cabeça e um grande sorriso espalhou-se em seu rosto antes


de ela se virar e sair.

Eu conheceria, com os passar dos anos, Mia Ryder...

Mia. Fodida. Ryder.


76
E eu viveria e morreria...

Por ela.

77
CAPÍTULO 6

—Parabéns pra você nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos
de vida. —Todo mundo terminou de cantar, bater palmas, vaiando e gritando.

—Sopre suas velas, garotinha. —Disse papai, puxando meu cabelo para
trás. Apontando para o meu bolo de chocolate temático de surfista. Com uma
menina sobre uma prancha cor de rosa, como a minha, que mamãe tinha feito
especialmente para meu décimo aniversário.

Fechando os olhos tão forte quanto eu podia, eu mordi meu lábio inferior,
colocando as mãos em gesto de oração na minha frente, concentrando-me muito.
Concentrando todos os meus esforços no meu desejo de aniversário, eu apaguei
todas as velas na frente da minha família, em silêncio, esperando que fosse se
tornar realidade.

—O que você desejou? —Perguntou tia Lily.

—Se eu te disser, não vai se tornar realidade, e eu realmente quero que


isso se torne realidade. —Corei só de pensar nisso.

Abri os presentes ao lado enquanto todos comiam uma fatia de bolo no


pátio de trás. Meu presente favorito foi a guitarra que a tia Lily me deu. Ela estava
me ensinando a tocar nos últimos anos, e eu estava ficando muito boa.

Eu disse aos meus pais que não queria uma festa de aniversário, mas
Mamãe não aceitou. Ela disse que era meu primeiro aniversário na casa dos dois
dígitos, e que precisávamos comemorar. Eu só acho que era mais uma desculpa
para ela dar uma festa. Ela gostava de dar festas. Se fosse por mim, teríamos só a

78
minha família para um churrasco, mas em vez disso, nosso quintal foi decorado
com balões cor de rosa, bandeirinhas, e uma casa inflável gigante.

Eu não tinha um monte de amigos, mas nunca me incomodou desde que


eu tinha tantos primos. As nossas idades eram variadas, mas isso nunca importou,
nós nos dávamos muito bem. Fomos todos nascidos e criados juntos em Oak
Island, assim como os nossos papais e minha mãe, que eram todos melhores
amigos desde que usavam fraldas. Todos os chamavam de Os Bons e Velhos
Meninos com sua Pinguinho, minha mãe, que os seguia como se ela fosse um
menino também. Olhando para ela agora, eu nunca teria imaginado que ela quis
ser um menino.

Meu pai e tia Lily eram irmãos. Ela era casada com um dos meninos, tio
Jacob. Eles tiveram dois filhos, Riley e Christian. Tia Lily sempre me disse que
Papai não gostou que o tio Jacob se apaixonasse por sua irmã mais nova. Eles
mantiveram o seu amor em segredo por um longo tempo, e quando o papai
descobriu que ele estava com a tia Lily, ele bateu nele. Tio Jacob disse que ele o
deixou vencer, mas papai disse que ele era apenas um advogado almofadinha que
só estava tentando salvar seu rosto, ou o que isso significava.

Tio Dylan, outro dos meninos, era casado com a tia Aubrey. Ele me fazia
lembrar um super-herói, sempre carregando uma arma e distintivo, colocando
pessoas más atrás das grades. Eles tiveram duas filhas, Giselle e um recém-
nascido com o nome de Constança. Todo mundo diz que Deus o abençoou com as
meninas como punição por ser um idiota mulherengo. Eu não sei o que isso
significava, mas Mamãe disse que eu não estava autorizada a repetir isso.

Meu irmão Mason começou a namorar Giselle, eles vinham namorando


desde sempre, e eu realmente a amava. Eu peguei os dois se beijando no quarto
de Mason algumas vezes, mas não disse nada sobre isso, porque eu não sou uma
delatora. Eu só o fiz me levar para os lugares com ele por uma semana para
manter meus lábios selados. Claro que ele o fez.

Tio Austin era o último bom e velho menino. Ele era coberto de tatuagens
como Creed, e ele era dono de uma loja de tatuagem local. Sua namorada era
79
Briggs, que tinha cabelo roxo brilhante e tatuagens por todo o corpo também.
Eles estavam começando a conhecer um ao outro novamente. Eu acho que o tio
Austin fez algumas coisas ruins, mas agora estava tentando reconquistá-la,
provando que estava melhor. Eu tinha a sensação de que ele conseguiria. Meu pai
não estava muito feliz quando eu perguntei se eu poderia pintar o meu cabelo da
minha cor favorita, rosa brilhante. Ele olhou para mim como se tivesse crescido
duas cabeças, antes de dizer não. Quando eu lhe disse que queria ter a minha
prancha rosa tatuada no meu pé, ele disse não enquanto ele estivesse vivo e
respirando.

Papai não me deixava fazer nada.

Nunca.

Eu não me importava que alguns dos meus primos não fossem meus
parentes de sangue, eles eram a única família que eu tinha conhecido. Eu amava
cada um deles com todo o meu coração.

—Papai, eu posso ir para Southport no festival do Quatro de Julho com


Mason no próximo mês? —Perguntei, ajudando Mamãe a limpar depois que
todos saíram.

—Mia, eu já lhe disse que não. —Ele respondeu, sem tirar os olhos do
projeto na frente dele no balcão da cozinha.

Meu pai era dono de sua própria empresa de construção civil, e era o
melhor construtor maldito na área dos três estados. Suas palavras, não minhas.

—Sim, mas eu perguntei-lhe quando tinha nove anos. Notícia de última


hora, eu tenho dez agora.

—A resposta ainda é não, Mia, e pare de fazer beicinho mocinha.

—Por quê? Não é justo! Você disse que Bo poderia ir com Mason, se
quisesse. Na última vez que verifiquei, Bo era apenas dois anos mais velho do que
eu. —Argumentei, jogando os pratos na pia um pouco mais forte do que deveria.

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—Isso é diferente. —Papai simplesmente declarou, ainda focado no
trabalho.

—Só porque ele tem um pênis?

—Mia Ryder! Você não pode dizer coisas como essa! —Mamãe gritou,
caminhando de volta para a cozinha.

Eu podia ouvir Mason e Bo rindo apesar do filme que estavam assistindo


na sala de estar. Revirei os olhos, frustrada.

Papai suspirou, deixando cair o lápis, e, finalmente, olhando para cima de


sua papelada. —Mason! Bo! Quantas vezes eu tenho que dizer-lhes para pararem
de falar assim em torno de sua irmãzinha!

—Eu não sou um bebê! —Eu gritei, batendo meu pé.

Mason veio da sala, o cabelo todo desarrumado de Giselle coçar sua


cabeça no sofá. —Pai, ela é como um papagaio fod... maldito. —Ele se conteve. —
Na maioria das vezes eu nem sequer percebo que ela está ao redor até que é
tarde demais. —Ele abriu a geladeira, pegando o jarro de leite e começou a beber
direto da caixa.

—Mason Ryder! Onde estão seus modos, menino? —Mamãe repreendeu.

—Oh, me desculpe. Você quer um pouco? —Ele levantou a caixa para ela.
Ela lhe deu um olhar que o fez colocá-la de volta na geladeira.

—Papai, eu poderia ter dito a palavra pau como ele fala, mas eu usei pênis
porque eu sou uma senhora.

Mason caiu na gargalhada, rapidamente limpando a garganta quando o


pai deu-lhe um olhar severo.

—E é exatamente por isso que você não vai para o festival com Mason e
seus amigos de boca suja. —Justificou.

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—Lucas... —Mamãe persuadiu.

—Pinguinho, não comece. Meu bebê...

—Nosso bebê. —Ela o interrompeu. Olhando para ele enquanto ela enchia
a máquina de lavar louça.

—Eu. Não. Sou. Um. Bebê! —Eu repeti muito mais alto dessa vez. Batendo
a mão no balcão, precisando que a minha voz fosse ouvida. —Não é justo, papai.
Você sabe que tudo o que você está fazendo é me afastar. Vou começar a fazer
coisas sem perguntar primeiro, porque você nunca me deixa fazer nada. Nem
sempre serei seu bebê.

Ele inclinou a cabeça para o lado. —Tem certeza?

—Sim. Tenho certeza. —Eu sabia que estava testando sua paciência, eu
sabia que estava cruzando a linha. Eu sabia que ficaria em apuros...

Eu simplesmente não ligava mais.

—Mia, vá para o seu quarto. —Mamãe ordenou, olhando do papai para


mim. Não só para me punir, mas para me salvar da ira do meu pai.

—Pai, ela pode vir comigo. —Mason entrou na conversa. —Eu vou garantir
que todos estejam em seu melhor comportamento.

Meu coração disparou. Mason nunca me defendeu antes. Só isso já


significou tudo para mim.

Eu sorri para ele.

—Sua mãe e eu estaremos fora da cidade durante o festival. Mia vai ficar
com Lily e Jacob. Ela não...

—Eu não quero...

—Chega! —Mamãe interrompeu todos nós. —Todos para fora!

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—Mas...

—Mia. Agora! —Papai rugiu, trazendo a minha atenção de volta para ele.

—Tudo bem. —Eu murmurei, voltando-me para sair da cozinha. Resistindo


à vontade de bater a minha porta quando entrei no meu quarto.

Peguei meu caderno da minha mesa e passei pelas portas duplas para sair
para minha varanda com vista para a água. Passei as próximas horas sentada na
minha espreguiçadeira, sob a lua, ouvindo a calmaria suave das ondas quebrando
na praia, acolhendo a brisa salgada saindo do mar. A água sempre tinha um jeito
de me acalmar, não importava o que eu estivesse sentindo ou passando. Era o
meu lugar feliz, meu próprio pedaço do céu, minha fuga. Eu deveria estar na
cama, dormindo como todo mundo na minha casa, mas eram férias de verão, e
eu não tinha hora certa de dormir. Eu era uma coruja da noite de qualquer
maneira, sempre fui.

Rabisquei pensamentos, letras e desenhos no meu caderno por não sei


quanto tempo, encontrando-me escrevendo o nome de Creed em letras redondas
e praticando minha cursiva, uma e outra vez. Em torno de seu nome coloquei
corações cor de rosa em cada página. De repente, percebi que eu tinha a minha
primeira paixão.

Me aconcheguei no meu cobertor, olhando para as estrelas, me


perguntando se o meu desejo de aniversário magicamente se tornaria realidade.
Desejando mais uma vez que sim. Eu bocejei, meus olhos ficando cansados do
longo dia que eu tive. Eu estava prestes a entrar e ir para a cama, quando minha
janela balançou com o fechar da porta do quarto de Mason. Seu quarto ficava ao
lado do meu, e eu podia ouvir tudo.

Ele deve ter acabado de chegar.

Peguei meu caderno, olhando para trás para a água pela última vez
quando o vi. Ele estava indo embora da minha casa em direção ao oceano,
usando o mesmo colete que ele tinha usado na última vez em que o vi. Eu
imediatamente me perguntei se ele estava usando o patch da coragem que eu dei
83
a ele alguns meses atrás. Eu ri com a visão dele vestindo suas botas de combate
na areia. Ele parou na costa, olhando para o céu, colocando as mãos nos bolsos da
calça jeans preta. Ele parecia tão enorme e encorpado como eu me lembrava.
Talvez ainda maior.

Antes que eu pensasse duas vezes, eu corri para o meu quarto, agarrando
minha mochila e procurando dentro dela. Peguei o que eu estava procurando, e
meu cobertor da minha cama. Ia esfriar lá fora na água. Saí do meu quarto em
silêncio, sendo extremamente cuidadosa para não acordar ninguém. Eu estaria
em apuros se meu pai acordasse, já que eu não tinha permissão para sair de casa
sozinha depois de escurecer. Em minha defesa, eu não ficaria sozinha, Creed
estava na praia. Eu escapei pelas portas do pátio de trás, fechando-as suavemente
atrás de mim. Desci a escada para o nosso pedaço de praia privada. Ninguém
seria capaz de nos ver. Ele deve ter vindo com Mason.

—Meu desejo se tornou realidade! —Eu gritei por cima do barulho das
ondas.

—Não passou da sua hora de dormir? —Ele friamente disse, sem se virar
para me encarar.

—Você não me ouviu? —Perguntei, envolvendo o cobertor em volta dos


meus ombros. —Meu desejo se tornou realidade, você está aqui.

Ele abruptamente virou-se, estreitando os olhos para mim. Assustado com


a minha confissão.

Eu continuei. —Foi meu aniversário hoje. Bem... Ontem, já que é depois


da meia noite. De qualquer forma, antes de eu apagar minhas velas, eu tinha que
fazer um desejo. Fechei os olhos com força, desejando vê-lo novamente, e você
está aqui.

—Não deveria estar desejando por mim, Pippin. —Afirmou, voltando sua
atenção para a água.

—Pippin?
84
De repente, ele se virou, esticou o braço e puxou o final de uma das
minhas tranças.

—Oh! Como Pippy meia longa! Ela era como Peter Pan para meninas.
Nunca querendo crescer. Ela é meio o meu ídolo, brincalhona, imprevisível,
sobre-humana. Uma aberração da natureza como eu sou em uma prancha. E ela
tinha um macaco como animal de estimação, o Sr. Nilsson.

Ele balançou a cabeça, ainda parecendo triste. Eu queria fazê-lo se sentir


melhor. Eu queria vê-lo rir e sorrir como ele fez na praia. Por alguma razão, eu
senti como se ele não fizesse isso muito frequentemente. Seus olhos ainda
estavam tão tristes, e eu queria tanto saber por que. Minha mãe sempre dizia que
eu tinha a capacidade de fazer as pessoas felizes. Que havia algo sobre a minha
personalidade corajosa que deixava as pessoas como eu. Eu queria que Creed
gostasse de mim mais do que qualquer outra pessoa já gostou.

Falei com honestidade. —Mas se eu não tivesse feito esse desejo, eu não
seria capaz de dar isso a você. —Eu dei um passo à frente, entregando-lhe outro
patch para o seu colete. —Eu vi isso em uma pequena loja na cidade quando
minha mãe e eu estávamos comprando algumas coisas semanas atrás. Quando
ela estava no vestiário, eu agarrei e comprei com a minha mesada. Fez-me
lembrar de você.

Ele o tirou de mim, murmurando: — Não me siga. Eu estou perdido


também. —Ele riu enquanto lia em voz alta. —Não perdido, Pippin. Só não me
encontrei ainda. —Ele fez uma pausa, olhando para o patch em sua mão. —
Obrigado por isso. —Um pequeno sorriso brincou em seus lábios quando ele
enfiou a mão no bolso, puxando alguma coisa. —Eu encontrei isso na calçada
hoje. —Ele me deu uma moeda brilhante. —Considere-a o meu presente de
aniversário para você.

Dei-lhe um olhar questionador. —Obrigada... É o que eu sempre quis. —Eu


sarcasticamente afirmei.

85
—Não, espertinha, a moeda não é o presente. O desejo é. Faça-me um
favor, sim? Não perca mais desejos comigo. —Com isso, ele se virou e foi embora,
deixando-me sozinha e confusa.

—Mas eu já fiz...

—Estou dando a você uma nova chance, Pippin. Você vai me agradecer
mais tarde. —Ele gritou por cima do ombro.

Virei-me em direção à água, olhando para a moeda na minha mão aberta.


Fechando os dedos em torno dela, coloquei-a sobre o meu coração.

Eu não precisava de uma nova chance. Meu primeiro desejo foi perfeito.

Meu segundo desejo de vê-lo novamente...

Seria o máximo.

—Creed... Creed... Creed... Por favor, me ajude... Se você um dia me


amou... Encontre-me... Por favor, me ajude... Eu estou com medo, Creed... Estou
com tanto medo... —Luke pediu à distância.

Sua voz soava tão longe, mas tão perto. Ecoava ao meu redor, o que
tornava difícil dizer em que direção ela vinha. Cantarolando para as árvores como
a melodia de uma música instrumental, vibrando profundamente em meus ossos.
Virei-me em um círculo, girando a cabeça de norte a sul, de leste a oeste. Passei
minhas mãos pelo meu cabelo, respirando pesadamente. Antes que eu
percebesse, estava correndo. Corri o mais rápido que pude através dos bosques
intermináveis sem sentir qualquer coisa.

—Bem aqui. —Eu vi uma figura com o canto do meu olho, mas quando me
virei, ele tinha ido embora. —Corra... Corra mais rápido, Creed! Ajude-me!
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Cada desvio que eu tomava era o errado, sempre chegando a um beco sem
saída. Seus apelos estavam ficando cada vez mais longe a cada passo que eu
dava. Levando-os para dentro do buraco negro da noite.

As estradas me levavam a lugar nenhum.

—Creed... Creed... Por favor, me ajude... Se você um dia me amou...


Encontre-me... Por favor, me ajude... Eu estou com medo, Creed... Estou com
tanto medo... —A voz de Luke repetia como um mantra, um ciclo interminável.

—Luke! Luke! Onde está você? Eu estou indo, amigo. Onde você está? —Eu
gritei na noite escura.

Mas não ecoou, não fez som, não havia nenhum som saindo da minha
boca. Por que eu não podia falar? Por que ele não podia me ouvir? Havia tanto
nevoeiro, tanta neblina que, de repente, começou a me engolir, me sufocando.
Tirando meu ar. Eu não podia ver. Eu não conseguia me mexer. Eu estava
correndo no mesmo lugar? Meu coração batia forte contra o meu peito, em meus
ouvidos, em minha mente, em meu interior.

Eu não conseguia respirar.

Eu estava sufocando.

—Creed... Creed... Por favor, me ajude... Se você um dia me amou...


Encontre-me... Por favor, me ajude... Eu estou com medo, Creed... Estou com
tanto medo...

A buzina do trem soou, chamando minha atenção. O estrondo sobre os


trilhos atingia meus ouvidos, enquanto um por um, os vagões iam passando.
Circulando em volta de mim, sem fim à vista. Vislumbres do meu irmão brilhavam
através das lacunas entre eles. Coberto de sangue, ali de pé com a mão sobre o
peito, esperando.

—Creed... Creed... Por favor, me ajude... Se você um dia me amou...


Encontre-me... Por favor, me ajude... Eu estou com medo, Creed... Estou com

87
tanto medo... —Sua voz soava mais perto e depois mais longe com cada palavra
que ele dizia.

—Diga-me onde você está! Por favor, Luke! Apenas me diga onde você
está! —Eu coloquei minhas mãos sobre os ouvidos, tentando calar o barulho do
trem, mas ele estava apenas ficando cada vez mais alto e mais alto, até que tudo
que eu podia ouvir era o trem e nada mais.

Minha mente girava.

Meu coração disparou.

Meu corpo se rendeu.

Eu caí de joelhos, olhando para as minhas mãos encharcadas de sangue; a


Glock estava entre elas.

—Creed... Creed... Por favor, me ajude... Se você um dia me amou...


Encontre-me... Por favor, me ajude... Eu estou com medo, Creed... Estou com
tanto medo...

—Eu sinto muito, Luke! Eu sinto tanto! —Eu chorava incontrolavelmente.


Levantei a arma até o queixo.

—Creed! Creed! Está tudo bem! Acorde! Está tudo bem! —A voz doce de
Autumn fluiu, fundindo-se com toda a dureza. —Shhh... Está tudo bem... Eu estou
aqui, Creed! Estou aqui!

Eu não hesitei. Eu nunca hesito.

Eu puxei o gatilho.

BANG.

Eu sentei assustado na minha cama, com falta de ar. Ofegando pela minha
próxima respiração, olhando na minha frente. O suor escorria dos meus poros,

88
descendo nos lados do meu rosto. Eu não me movi, tentando racionalizar o que
era real e o que era um sonho ainda.

Um terrível pesadelo.

—Creed... —Autumn sussurrou, pegando meu rosto.

Eu peguei seu pulso no ar. —Não. —Eu grosseiramente exigi, empurrando


seu braço para longe.

Era o mesmo sonho que eu tinha cada vez que eu me permitia cair em um
sono profundo. Um momento de fraqueza em que meus demônios se
alimentavam. Recuperando a compostura, eu abruptamente me levantei antes
que pudesse dizer qualquer outra coisa. Eu fui para a varanda de trás, deixando a
porta se fechar atrás de mim. Precisando de um pouco de ar fresco. Um maldito
minuto para mim.

Alguma coisa.

Qualquer coisa.

Além do que eu estava sentindo.

Acendi um cigarro, e dei uma tragada profunda. Deixando a fumaça na


minha boca, tentei limpar a neblina na minha mente. A porta da varanda foi
aberta e depois fechada. Eu não tinha que me virar para saber quem era. Depois
que eu levei um Mason bêbado para casa na noite passada, liguei para Autumn vir
me pegar na casa dele. Nós tínhamos saído da sede do clube com alguns irmãos,
conversando bobagens, tomando cervejas como se estivéssemos tomando água.
Estávamos ambos muito fodidos, mas de nós dois, eu era o mais sóbrio. Eu não o
deixaria ficar atrás do volante em seu estado, então eu dirigi seu carro até sua
casa.

Nunca pensei que Mia fosse aparecer no meio da noite para me dar outro
patch. Dizendo-me que o seu desejo de aniversário de me ver novamente se
tornou realidade. Eu não a tinha visto desde a primeira vez em que a conheci na

89
praia, meses atrás. Ela era uma menina doce e inocente. Eu deveria tê-la deixado
sozinha, mas a última coisa que ela precisava era estar pensando em mim, muito
menos querer me ver novamente. Eu era nove anos mais velho que ela.

No momento em que voltamos para a minha casa, era perto de duas horas
da manhã. Eu não deixaria Autumn dirigir de volta para casa, sozinha. Ela acabou
deitando na minha cama comigo. Isso nunca foi um grande negócio. Nós
compartilhávamos uma cama desde que éramos crianças. A única diferença era
que agora não éramos mais crianças, e ela tinha peitos e bunda para deixar o meu
pau duro. O mais provável era lhe dar uma ereção matinal surpresa, mas eu não
dava à mínima.

Eu nunca pensei nela como mais do que a minha melhor amiga, mesmo
que nossas mães quisessem que nós terminássemos juntos. Claro, ela era muito
bonita, mas sua amizade significava mais para mim do que sua buceta. Ela
merecia mais do que ser apenas um pedaço de bunda. E agora, isso era a coisa
mais distante na minha mente.

—Essas coisas ainda irão matá-lo. —Autumn afirmou atrás de mim. A


preocupação em sua voz queimou um buraco no meu coração.

—Bem, sorte para mim que já estou morrendo por dentro.

Ela sabia de toda a merda que eu passei na minha vida. Eu confiei nela
muitas vezes sem me preocupar em ser julgado por minhas imperfeições. Pelos
meus malditos pecados. Não importava o que eu dissesse a ela, eu nunca temi
que ela fosse embora, ou virasse as costas para mim. Houve momentos em que
eu não tinha que dizer uma porra de palavra, mas apenas ouvi-la respirar no
outro lado do telefone trazia uma sensação de calma sobre mim. Autumn era a
única pessoa que sabia a verdade sobre aquela noite, sobre o que eu tinha feito.
Eu precisava contar a alguém a verdade, precisava ser honesto sobre a coisa toda.

Meus pais mentiram para todos, dizendo que Luke tinha acidentalmente
atirado em si mesmo. Ninguém fez perguntas, por que, o que você poderia dizer
sobre isso? Pops pagou o legista, obteve todos os documentos legítimos que

90
precisava, e fez parecer que foi tudo um acidente infeliz. Dizendo a todos que nós
fizemos um funeral privado para ele somente com a família imediata, tomando a
decisão de cremá-lo para que ela pudesse sempre levar suas cinzas com ela. Ele
até chegou a publicar um obituário no jornal local, mantendo os falsos pretextos
de retratar o pai amoroso de luto ao filho que eu matei.

—V-você está bem? —Ela nervosamente gaguejou quando eu permaneci


em silêncio. Respirando fundo, tranquilizando, ela aproximou-se, inclinando-se de
costas contra a grade do pátio, de frente para mim. —Com que frequência
acontecem? Você sabe, os pesadelos?

Olhei para ela. —Quem disse que eles param?

Seus olhos arregalaram-se. Ela estendeu a mão para colocá-la no meu


ombro. —Oh... Creed, eu sinto...

—Não preciso da porra de sua pena, Autumn.

—Você acha que eu tenho pena de você? Eu me preocupo com você. Eu


odeio que você se culpe pela morte de Luke. Quando você vai perceber que foi
um acidente? Você não quis...

—Chega! —Eu passei por ela, dando mais uma tragada do meu cigarro.
Indo para a área de estar ao redor da lareira.

—Você vai pelo menos me dizer do que se tratava? Seu pesadelo? —Ela
veio atrás de mim. —Pode ajudar, falar sobre isso. Você não pode manter essa
merda engarrafada, Creed. Estou aqui por você. Eu tenho estado há anos, então
pare de tentar me calar. Deixe-me ajudá-lo.

—Não vai trazê-lo de volta. —Eu disse, deixando a fumaça sair da minha
boca enquanto eu falava. Sentei-me em uma das cadeiras, descansando os
cotovelos sobre os joelhos, segurando a cabeça entre as minhas mãos.

Ela se sentou ao meu lado, afastando o meu braço para longe do meu
rosto. —Diga-me de qualquer maneira.

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Eu balancei a cabeça, zombando. —É sempre o mesmo maldito sonho. A
voz de Luke gritando na floresta. Implorando, suplicando para eu ir encontrá-lo.
Dizendo que ele está com medo. Dizendo-me que se eu já o amei, que eu seria
capaz de encontrá-lo.

Ela recuou, surpresa com a minha revelação.

—Não é possível encontrá-lo, no entanto. Nunca posso. É como se eu


estivesse correndo em círculos, como um daqueles hamsters fodido girando em
uma roda. Então, do nada, eu estou no trilho do trem em McMullen. Exceto que o
trem está girando em círculos em torno de mim. Eu vejo flashes de Luke através
dos vagões. Mais uma vez, suplicando para eu ir encontrá-lo, mesmo que ele
esteja parado bem na minha frente. É ele. Ele está coberto de sangue. Com a mão
na ferida da bala sobre o seu coração.

—Jesus, Creed...

Eu não hesitei. Se ela queria saber exatamente o que eu estava passando,


então, eu contaria tudo a ela. —Sempre termina comigo caindo de joelhos de
tanta dor. Minhas mãos cobertas de sangue, segurando a Glock. Apenas não
aguento mais. —Eu confessei, pela primeira vez, parando para deixar minhas
palavras penetrarem.

Seus olhos se encheram de lágrimas, sabendo que minhas verdades


levariam a melhor.

—Luke implorando, os sons do trem, a minha consciência... Eu pego a


arma e a aponto debaixo do meu queixo... —Olhei fundo nos olhos dela,
afirmando: — Eu não hesito em puxar a porra do gatilho.

Lágrimas escorriam pelo seu rostinho bonito.

—Não desperdice suas lágrimas comigo, Autumn. —Eu murmurei,


limpando uma que tinha escorrido. —Eu não mereço.

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—É óbvio que você acha que não merece, Creed. —Ela enxugou o rosto
com as costas da mão.

—Você disse que queria saber. Então está aí. Bem-vinda ao meu mundo
fodido.

—Foi um acidente. Você ama o seu irmão mais do que tudo neste mundo.
Eu vi isso em primeira mão, Creed. Eu ainda vejo isso todos os dias. A maneira
como você ainda cuida de Noah, ainda mais agora do que antes. Enquanto o seu
pai não tem uma preocupação no mundo além daquele clube, e sua mãe afoga-se
em vodka, o que você faz? Hã?

Eu balancei a cabeça, não querendo ouvir mais nada disso.

—Você praticamente se mata a cada dia, fazendo Deus sabe o que por
esse clube. Um clube que você nem sequer gosta ou quer fazer parte. Ouvindo
cada ordem que o seu pai rosna para você. Fazendo tudo o que ele exige, sem
piscar os olhos. Para quem está fazendo isso? Com certeza não é para você. O que
aconteceu foi um acidente terrível. Eu não posso imaginar o que você está
passando, mesmo depois de todos esses meses. Mas você não pode continuar
culpando a si mesmo, porque você não merece isso. Você me entende? Você não
merece.

—Leve-me para pegar minha moto, ok? Eu vou comprar café da manhã
para você não reclamar sobre meu apartamento vazio. —Eu mudei de assunto.

Ela suspirou, balançando a cabeça, embora ela quisesse dizer muito mais.
Eu estava cansado de ouvi-la falar demais. Nada que pudesse dizer tornaria essa
dor melhor, tudo o que fazia era lembrar-me de quão fodida a minha vida
realmente era. Ela definitivamente não poderia trazer Luke de volta. Eu amava
Autumn, eu sabia que ela tinha boas intenções, mas às vezes ela não sabia
quando simplesmente calar a boca.

Passei os próximos dias fazendo corridas para o clube, dirigindo por horas
e chegando em casa mais tarde do que o habitual. Eu não tinha visto ou falado
com Autumn desde a manhã no café da manhã, mas não foi por falta de tentar.
93
Tenho certeza de que ela pensou que eu estivesse propositadamente evitando-a,
desde que eu não tinha retornado. Eu estava muito ocupado.

Eu entrei na minha casa logo depois da meia-noite, pronto para terminar a


noite. Eu estava exausto de lidar com besteiras durante todo o dia, e tudo que eu
queria fazer era cair na minha cama e dormir. Eu não vinha dormindo bem, e
mesmo quando eu dormia, acordava com o mesmo pesadelo recorrente. Minha
casa estava escura e silenciosa quando eu entrei. Colocando minhas chaves sobre
a mesa, eu entrei na sala de jantar, chocado quando eu não encontrei minha mãe
desmaiada na mesa. Os frascos vazios que normalmente cobriam o quarto tinham
desaparecido. Quando eu fui para o meu quarto, notei a luz brilhando debaixo da
minha porta, e corri pelo corredor escuro.

Eu estaria mentindo se dissesse que não fiquei surpreso quando abri a


porta para encontrar Autumn sentada na minha cama, esperando por mim.

—Ei, eu coloquei a sua mãe na cama. Fiz para Noah um jantar e joguei
vídeo game com ele a noite toda. Eu vim aqui quando ouvi sua moto chegar. —Ela
falou quando fechei a porta atrás de mim. —Eu não quero brigar mais. —
Acrescentou, levantando as mãos.

—Não estava ciente que estávamos brigados. —Fui até o armário, tirei
minhas botas, e agarrei uma nova camisa do cabide.

Ela sorriu, sua ansiedade diminuindo. —Eu tenho algo para você. —Ela se
levantou, caminhando até mim. Ela colocou uma caixa de joias branca na minha
mão.

Levantei uma sobrancelha, confuso com o rumo dos acontecimentos.

—Eu acho que isso vai ajudar com seus pesadelos. Eu sei que você está
lutando para se manter são, Creed. Eu sei que você sente toda essa culpa e
remorso pelo que aconteceu com Luke, mas eu sei que, no meu coração, você era
sua pessoa favorita. Exatamente como você é para Noah. —Ela fez uma pausa,
deixando suas palavras afundarem. —Eu sei que vai levar um tempo para que

94
você possa encontrar a paz, mas eu estou esperando que talvez isso ajude. —Ela
apontou para a caixa de joias em minhas mãos. —Abra.

Eu abri, tirando a tampa. Encontrei uma imagem de Luke olhando para


mim gravada em uma placa de identificação. Ela pendia em uma corrente de
prata que estava presa na caixa. Autumn pegou o colar, virando-o para eu ler a
gravura.

—A morte deixa uma mágoa que ninguém pode curar. O amor deixa uma
memória que ninguém pode roubar. —Recitou em voz alta para mim. —Eu li isso
em algum lugar e nunca me esqueci. Eu não tinha certeza do por que, até agora.

Nós encontramos nossos olhares enquanto ela colocava a placa de


identificação por cima do meu coração. —O tempo cura todas as feridas, mas a
sua memória de Luke é para sempre. Ninguém pode roubar isso de você, você
está me ouvindo? Mesmo que ele se foi, ele estará sempre com você aqui. —Ela
bateu no meu coração, olhando para mim.

O que aconteceu depois quase me fez cair de bunda. Ela ficou nas pontas
dos pés e sorriu timidamente, então se inclinou e beijou meus lábios suavemente.
Abrindo a boca contra a minha, atraindo-me para mover meus lábios em sincronia
com os dela.

Eu não.

Ela continuou tentando. Cutucando o nariz no meu, olhando nos meus


olhos. Pressionando seus seios perfeitos firmemente contra o meu peito. Ela
cheirava bem pra caralho.

Meu pau se contraiu.

Quando ela ternamente beijou meus lábios mais uma vez, desta vez
passando a língua ao longo da minha boca, ela gemeu, um zumbido suave,
sensual, me atraindo. Eu não aguentei mais. Estendi a mão segurando seu
pequeno rosto sardento bonito, entre minhas mãos. Delicadamente beijando-a

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de volta, minhas paredes desmoronando ao meu redor. Todas as reservas que eu
tinha sobre nós quebraram com elas.

Tão rápido quanto aconteceu, acabou e eu me afastei, inclinando minha


testa na dela e sussurrando: — Isto não muda nada, Autumn.

Ela fechou os olhos com força por um segundo, pensando no que eu disse.
A dor evidente em seu rosto. Eu me lembraria das próximas palavras que saíram
de sua boca pelo resto da minha vida.

Ela lentamente abriu os olhos de novo, olhando profundamente nos meus,


e falou com convicção. —Ele não vai descansar em paz, Creed. Até que você o
deixe ir. Tudo começa com você.

Isto foi apenas o começo de uma mudança repentina em nossa amizade.


Já sabendo com a porra do meu instinto...

Que nada de bom poderia vir disso.

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CAPÍTULO 7

—Vencedora! A jovem senhora com um top rosa, venha até aqui. O que
posso pegar para você, querida? —A voz do trabalhador do festival ecoou sobre a
multidão que começava a se reunir em torno de mim e do tio Jacob.

—Meu Deus! Ganhei de novo. —Gritei, colocando minhas mãos no meu


rosto, fingindo estar chocada. —Tome isso, tio Jacob! Como está o placar agora?
Zero para você e seis para mim? Boom! —Sorri, correndo para reivindicar outro
prêmio.

Desta vez eu escolhi um grande urso de pelúcia rosa com uma camisa
apertada, para levar com meus outros prêmios.

—Você realmente é filha de Lucas. —Tio Jacob brincou, despenteando


meu cabelo.

Eu me afastei dele, olhando para o lado do rosto dele enquanto


caminhávamos lado-a-lado pela área gramada. —Ele costuma chutar o seu
traseiro, também?

Ele simplesmente riu e balançou a cabeça, confirmando que eu estava


certa. —Vamos encontrar a sua tia e primos, espertinha.

O festival do Quatro de Julho vinha acontecendo há décadas em


Southport. Sempre montado no mesmo lugar com o oceano como seu pano de
fundo. Pessoas de todos os lugares vinham para a cidade naquele fim de semana
para participar das festividades. A roda gigante Ferris poderia ser vista por
quilômetros fora da cidade, iluminando a noite com suas luzes cor de néon. Havia

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barracas de cerveja, tendas de cassino, tendas de jogos, qualquer tipo de atração
que você poderia pensar, estava lá.

Tudo isso em cabines em estilo de festival, como a que eu tinha acabado


de jogar com tio Jacob. Música tocava nos alto-falantes, campainhas soavam
anunciando os vencedores e gritos ecoavam das tendas. Eu amava a energia do
festival, pessoas sorrindo e rindo sem se preocuparem com o mundo. Oh, e o
cheiro da comida, só de pensar nisso fez minha barriga roncar.

Meus avós por parte de pai, na verdade, se conheceram no festival. Vovô


tinha me contado as histórias de como eles se apaixonaram no Carrossel. Minha
avó, que eu não conheci, estava em um dos cavalos que subiam e desciam, rindo
com seus amigos. Ele ficou no canto olhando para ela despreocupada e feliz.
Dizendo que ela tinha um sorriso que poderia iluminar a vida de qualquer um, e
que tinha iluminado a dele. Ela morreu de câncer de mama quando Mason era
apenas um bebê. Meu pai disse que foi o momento mais difícil da vida da tia Lily e
da dele, o mais triste também. Mas eles a mantinham em seus corações, e viam
muito dela em mim. Eu queria tê-la conhecido. Teria sido bom talvez ter alguém
do meu lado.

Após a contestação do meu pai há mais de um mês, ele finalmente me


deixou ir para o festival do Quatro de Julho. Exceto que, eu tive que vir com o tio
Jacob, tia Lily, e seus dois filhos, em vez de com Mason, Bo, e seus amigos, como
eu queria. Papai e mamãe saíram da cidade para o fim de semana em algum
refúgio romântico, dizendo que precisavam de algum tempo juntos. Eu disse a
eles que eles teriam um tempo muito mais tranquilo, se o pai parasse de fazer
Mamãe gritar em seu quarto. Ele sabia que ela não gostava de cócegas. Eu não
conseguia entender por que ele ainda fazia cócegas nela o tempo todo.

Eu estava chateada quando papai disse que eu tinha que ficar com a
minha tia e meu tio todo fim de semana. Eu queria ficar em casa com Mason e Bo.
Não havia como eu ganhar essa briga. Nem mesmo por uma noite. Fiquei grata
por ir ao festival, pelo menos, mas a última coisa que eu queria era ser tratada
como um bebê novamente. Eu não queria ir com a minha tia e meu tio, eles não
me deixavam ir para os grandes brinquedos como Mason faria. Eu fui discutir o
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meu caso, mas Mamãe me deu um olhar severo para não começar com isso
novamente.

Então, eu só deixei o assunto, mesmo que eu odiasse perder. Nada me


chateava mais do que não estar certa. Mamãe disse que eu herdei isso do meu
pai, você poderia pensar que isso iria fazê-lo me entender melhor, mas eu acho
que só fez piorar. Tudo que eu podia esperar era encontrar Mason ou Bo, e ser
autorizada a sair com eles por um tempo.

—Mia, se você ganhar mais algum prêmio, não seremos capazes de


encaixá-los no carro. —Tia Lily riu, segurando um macaco gigante ao redor de seu
pescoço, abraçando meu golfinho, e carregando meu peixinho que eu havia
ganhado.

—Eu não posso fazer nada se o tio Jacob é ruim. —Eu respondi,
mostrando a língua para ele.

—Pssh... Eu nem estava tentando, menina.

—Tudo bem vocês dois, Riley quer ir à montanha russa novamente, e


Christian está dormindo no carrinho. Vamos andar um pouco mais e depois
encontrar um bom local para o desfile da noite, ok?

—Acabamos de chegar aqui, tia Lily. Eu ainda não fui a qualquer uma das
montanhas russas, especialmente a Scrambler. Eu nem sequer comi o meu bolo
de funil, você tem que comer um bolo de funil no festival. —Eu levantei minha
cabeça e coloquei minhas mãos em meus quadris.

—Se esperar muito tempo não será capaz de ver o desfile. Além disso,
você é muito pequena para esses brinquedos.

—Quem disse? Eu sou alta o suficiente. —Argumentei, caminhando até o


palhaço de papelão segurando uma fita métrica. —Veja. —Eu apontei para cima.
—Sou muito grande. Se Mason estivesse aqui, ele me levaria. —Eu acho que
desde que eu fui a primeira garota a nascer na família, todos pensavam que eu

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sempre seria um bebê por causa disso. —Vamos, tia Lily. O que aconteceu com
você ser divertida?

—Mia Ryder, não fale com sua tia dessa forma. —Tio Jacob me castigou.

Olhei para ele, resistindo à vontade de revirar os olhos. Sabendo que só


me deixaria com mais problemas.

Eu suspirei, olhando para os meus pés. Ninguém me entendia, ninguém


nunca via o meu lado. Papai, meu avô, me dizia o tempo todo que os bons e
velhos meninos, Mamãe e tia Lily nunca ouviam também. Eles estavam sempre
causando problemas, mas você nunca acreditaria nisso agora.

Eu chutei a terra, fui comer o meu bolo de funil, e segui atrás deles.
Observando as pessoas entrarem e saírem dos brinquedos que eu queria ir,
irritada o tempo todo.

Fomos a mais alguns brinquedos de criança, antes da tia Lily encontrar um


local aberto ao lado de um dos bares. Eu assisti todas as pessoas se reunindo ao
redor, animadas pelo desfile que levaria aos fogos de artifício. O festival de
Southport tinha a melhor queima de fogos da Carolina do Norte, ganhando
prêmios por anos.

—Tio Jacob, posso... —Faróis brilhantes iluminaram por trás de seu corpo
alto e o som de motores de motocicleta acelerando, quebrou minha linha de
pensamento. Eu imediatamente olhei atrás dele. Toneladas de Harleys
apareceram, tinha de haver, pelo menos, de vinte a vinte e cinco motos no
estacionamento ao lado do bar. Eles vestiam coletes exatamente como Creed.

—Inacreditável, porra. —Tio Jacob disse entre dentes, virando a cabeça


em direção ao barulho. —O que esses pedaços de merda estão fazendo aqui?

—Jacob! Quantas vezes eu tenho que dizer-lhe para ter cuidado com sua
boca na frente das crianças? —Tia Lily o repreendeu, segurando as mãos sobre os
ouvidos de Riley.

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—Eu sei. São apenas aqueles merdinhas. Eu deveria chamar Dylan e ver se
ele quer tirar algum lixo hoje à noite.

Eu fiz uma careta, baixando as sobrancelhas sem entender o que ele quis
dizer com isso.

O que estava errado com eles?

Examinei os motociclistas, sabendo que ele tinha que estar entre eles, mas
era difícil ver com todas as famílias, de repente, pegando seus filhos e
caminhando na direção oposta. Sussurrando para desviar o olhar. Multidões se
separaram para saírem do caminho. Outros simplesmente viraram a cabeça, sem
fazerem contato visual com os homens.

Eu dei alguns passos em sua direção, ignorando o meu tio, que começou a
puxar minha mão, tentando levar-me para longe.

—Mia, vamos. Agora! —Tia Lily gritou sobre o caos. —Merda! Jacob, você
pode me ajudar com este carrinho de criança? Está preso.

Foi quando eu o vi. Tirando o capacete, sacudindo o cabelo que parecia


mais longo agora. Eu não o tinha visto desde aquela noite na praia. Na mesma
noite em que ele me concedeu um segundo desejo. Um sorriso se espalhou pelo
meu rosto, meu coração acelerou no meu peito, uma sensação que eu nunca
tinha sentido antes. Meus olhos estavam grudados no homem na minha frente.
Eu queria correr até ele para dizer oi, mas depois do que o tio Jacob disse, e como
as pessoas estavam agindo, achei que não seria uma boa ideia.

Eu o vi de longe, esperando que ele virasse e me visse. Eu teria esperado


toda a noite se isso o fizesse olhar para mim. Arrumei o meu vestido rosa claro,
fixei os arcos nas minhas tranças, certificando-me de que eu parecia tão bonita
quanto eu poderia. Esperando ele vir na minha direção.

Ele saiu de sua moto, colocou o capacete no encosto e foi quando eu


peguei um vislumbre de cabelo vermelho longo atrás dele, uma menina sentada

101
na parte de trás de sua moto. Tirando o capacete, sorrindo para ele com olhos
amorosos.

Eu recuei, pega de surpresa.

Era a menina que veio atrás dele na primeira vez em que nos encontramos
na praia. Lembrei-me que ela tinha olhos castanho chocolate e sobrancelhas
pretas grossas que flutuavam sobre eles. Seu cabelo longo, confuso, vermelho
estava envolto por todo o rosto. Ele a ajudou a descer da moto, pegando o
capacete das mãos dela e puxando-a ao lado dele. Ele tirou os cabelos dispersos
de suas bochechas rosadas. Ela estava vestindo um short minúsculo, mal cobrindo
suas pernas longas, com botas de combate pretas como Creed. Seu top mal cobria
seus seios grandes e barriga magra.

A maneira como ele olhava para ela revirou meu estômago, doeu meu
coração, e eu não entendia o porquê. Olhei para o meu vestido feminino, de
repente, não me sentindo bem o suficiente. Eu queria parecer como ela. Eu
queria ser ela. Se fosse isso que precisava para Creed olhar para mim da maneira
como ele olhava para ela.

Eu poderia fazer isso por ele.

Esperei pelo que pareceram anos, querendo que ele olhasse na minha
direção, mesmo que fosse apenas por um segundo. Tudo que eu queria era um
momento de seu tempo. Um lampejo de me sentir uma parte de sua vida. De
repente, como se ouvisse meus pensamentos, ou sentisse a minha presença, ele
se virou. Travando seu olhar comigo na distância entre nós.

Sorri muito, apenas para que ele pudesse ver a minha vertiginosa luz indo
para cima dele. Ele permaneceu impassível, olhando através de mim e não para
mim. Dando um último olhar em minha direção, ele se virou, agarrou a mão da
menina e caminhou em direção ao bar.

Ele nem sequer me reconheceu. Ele agiu como se ele nem soubesse quem
eu era. Como se eu não significasse nada para ele.

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Quando ele significava tudo para mim.

Eu sorri, inclinando a cabeça para o lado para me deleitar com a perfeição


de sua pele branca cremosa, enquanto Autumn dançava na minha frente.
Balançando os quadris com a música country que a banda ao vivo estava
cantando. Passando as mãos pelo seu corpo, seu cabelo, fazendo com que todos
os outros homens na tenda virassem a cabeça para ver.

—Você e Autumn, hein? —Perguntou Mason, olhando para mim. Levando


a minha atenção para longe dela.

—Ela queria dançar. —Eu simplesmente disse, encolhendo os ombros, de


pé no fundo. Encostado na viga de madeira com os braços cruzados sobre o peito,
uma perna sobre a outra.

Nós dirigimos com os irmãos, parando para tomar umas cervejas no bar
que meu velho possuía perto do festival. Eu disse à Mason para pegar Giselle e
nos encontrar lá. As meninas se entediavam bem rápido, nos chateando sobre
isso e sobre como elas queriam dançar. A bebida quente correndo em seus corpos
as deixou bêbadas mais rápido do que nós. Autumn me puxou, sorrindo, rindo, e
sem preocupação nenhuma. Arrastando minha bunda para fora do bar, fazendo
com que os irmãos vaiassem e gritassem que era melhor eu me aproveitar um
pouco dela por ser um maricas, e não colocar a minha cadela no seu lugar.

Acabamos em uma das barracas de cerveja no festival, onde havia uma


grande laje de cimento no meio da tenda, tornando uma pista de dança
improvisada. Um pequeno palco foi montado na frente, onde uma banda local
tocaria ao vivo durante todo o fim de semana. Luzes brancas cintilantes estavam
penduradas nas vigas e mesas rodeando a pista de dança.
103
—Eu chamo de besteira. Ela esteve atrás de você constantemente no
último mês, então algo deve ter acontecido entre vocês.

—Não é o que parece. —Eu não olhei para ele, com foco em Autumn, que
agora estava dançando com Giselle. Cantando a letra da canção fingindo segurar
um microfone. Tendo a diversão de suas vidas.

—Eu não o vi recusá-la.

—Não fodi com ela, Mason. Não vou cruzar essa linha. Todo o resto é
apenas brincadeira fodida de criança.

—Ela sabe disso? —Ele perguntou, apontando para ela, erguendo as


sobrancelhas.

—Ela me conhece.

Autumn esteve atirando-se em mim desde aquela noite no meu quarto. Eu


estaria mentindo se dissesse que meu pau não estava interessado. Ela era a porra
de um nocaute com peitos enormes, uma bela bunda e pernas que se
prolongavam por dias. Lábios carnudos que eu costumava pensar enrolados no
meu pau enquanto batia punheta. O amor dela, a personalidade de espírito livre
por si só era sexy pra caralho para mim. Ela me excitava, de muitas formas. Mas
eu sabia que não podia foder com ela. Isso só a faria se machucar. Nós tínhamos
cuidado um do outro, desde que eu podia andar. Era natural para nós sermos
atraídos um pelo outro, lei da atração e toda essa merda.

Exceto que as coisas estavam diferentes agora.

Eu estava diferente agora.

Autumn precisava de um homem que sempre a colocasse em primeiro


lugar. Ela era carente como o inferno, sempre foi. Eu não poderia fornecer-lhe
mais do que isso, era uma oferta que nunca estaria em jogo para nós. Minha
prioridade era o clube, Noah, e minha mãe. Eu não tinha tempo para ser o

104
homem que ela pensava que eu era, o homem que ela merecia. Eu ficava
esgotado só de pensar nisso, muito mais em ser essa pessoa para ela.

Eu não deixei que isso a impedisse de flertar comigo, apesar de tudo.


Precisando do apoio que só ela poderia oferecer. Ninguém mais me conhecia do
jeito que ela me conhecia. Eu precisava da distração do inferno que tinha se
transformado a minha vida. Eu podia estar saindo com ela, mas foda-se. Eu não
era um maldito santo, nunca disse ser, e no final, ela sabia que eu não era.

Por mais que ela tentasse fingir que eu era.

—Vem dançar comigo. —Autumn me interrompeu, jogando os braços em


volta do meu pescoço, oscilando um pouco.

Giselle não estava muito atrás dela, puxando Mason para a pista de dança,
mesmo sem perguntar primeiro.

Maricas.

Meus braços naturalmente foram em torno de sua cintura. —Não danço.


—Eu a lembrei.

—Oh, vamos lá... Por favor. —Ela fez beicinho, deliberadamente,


balançando os quadris contra o meu pau. —Vou fazer tudo, e tudo que você tem
a fazer é ficar lá e ser o fodão que você é.

—Diga isso ao meu pau, o qual você está se esfregando. —Eu ri,
apreciando a sensação dela em meus braços.

Ela revirou os olhos, sufocando um sorriso. —Eu não sabia que eu


precisava de sua permissão. Desde quando o seu pênis se importa?

—Desde que eu tinha oito anos. No dia em que meu pau percebeu que
gostava de você, e desde então.

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Ela riu, virando-se. Fazendo sua bunda roçar onde sua buceta tinha
roçado. Sabendo que eu era um idiota. —Você se importa? Ou você apenas vai
ficar aí? —Ela provocou, balançando os quadris ao ritmo da música.

Eu sorri. Inclinando-me em seu ouvido, murmurei. —Sem dúvida, Autumn.


Eu me importo com tudo isso.

Ela abanou a cabeça. —Você não tem vergonha, Creed Jameson.

—Preciso de mais bebida para me fazer dançar, querida. —Eu rosnei


contra seu cabelo. —Está sentindo?

—Oh, eu sinto que você está bem. —Ela olhou por cima do ombro e
piscou.

—Oh, isso não é nada, querida.

—Você só precisa mostrar-me então. —Ela agarrou minhas mãos,


colocando-as em suas coxas, passando-as por suas pernas macias, sedosas até os
quadris.

Essa foi a minha sugestão para sair de lá. —Vou pegar uma bebida, ok?

—Ok. —Ela girou, tropeçando, jogando os braços em volta do meu


pescoço novamente. —Traga-me uma daquelas bebidas com guarda-chuva, ok?

Eu levantei uma sobrancelha, olhando para ela como se ela não pudesse
estar falando sério.

—Tudo bem... Traga-me água. —Acrescentou ela, afastando-se.

Eu agarrei a mão dela no último segundo e a girei em torno dela em um


círculo. Mostrando o único movimento de dança que eu conhecia. —Não se
perca. Fique com Mason. Já volto. —Bati em seu traseiro.

Ela sorriu, acenando com a cabeça.

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Eu voltei para dentro do bar. Estava muito mais cheio do que estava antes.
Pessoas lotavam o grande espaço aberto, eu podia sentir a diversão no ar,
meninas dançando em todos os lugares, e homens cheios de tesão seguindo-as de
perto. Os irmãos estavam sentados no mesmo lugar em que os deixei, junto com
bucetas frescas enfileiradas apenas esperando serem chamadas. Cadelas
desesperadas, chamando a atenção, passando as unhas por seus coletes. Ou em
qualquer outro lugar que pudessem.

Eu decidi urinar antes de ir ao bar, aliviar-me antes que Autumn


continuasse a foder a seco o meu pau. Deixando-me com o pior caso de bolas
azuis. Tenho certeza de que poderia ter puxado uma dessas cadelas ansiosas em
uma tenda comigo e fazê-la chupar o meu pau, mas Autumn estava esperando
por mim.

Eu era um idiota, mas eu ainda tinha boas maneiras.

Saltando sobre todas as pessoas que estavam esperando para serem


servidas, eu pedi à Louie, o barman, duas bebidas.

Ele me entregou uma cerveja em um copo de vidro vermelho, e uma


garrafa de água. Tecnicamente eu não deveria estar bebendo desde que eu tinha
menos de vinte e um, mas eu nunca fui de seguir as regras. Isso ajudava para que
eu parecesse mais velho do que era. Eu tinha bebido em público desde que eu
podia ver por trás do bar, especialmente em estabelecimentos em que meu pai
gerenciava.

A multidão se abriu para mim enquanto eu saía e ia até a tenda onde


Autumn estava. A música tinha mudado da banda ao vivo para um DJ tocando os
sucessos mais recentes. Eu entrei na tenda, tentando encontrá-la na multidão de
pessoas que tinham se apressado para verem quem estava tocando. Pessoas
enchiam a tenda, o que tornou quase impossível ver a pista de dança. Eu procurei
por qualquer sinal de seu cabelo vermelho, finalmente, encontrando-a na
extremidade oposta.

Só que ela não estava sozinha.

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Algum menino bonito fodido estava com as mãos por todo seu corpo,
roçando seu pênis em seu traseiro, enquanto ela dançava como uma stripper
maldita em um poste. Minha cerveja caiu das minhas mãos e para o chão, e sua
garrafa de água foi a próxima. Fui até o outro lado da pista de dança, empurrando
as pessoas para fora do caminho. Eu era uma bomba-relógio tiquetaqueando
prestes a explodir no tempo que levasse para chegar até ela. Derrubando
qualquer um que estivesse no meu caminho da destruição, precisando chegar até
ela o mais rápido que pudesse.

Meu punho foi puxado para trás enquanto eu dava meu último passo,
conectando com a mandíbula do filho da puta antes mesmo que ele me visse
chegando. Sua cabeça recuou, levando metade de seu corpo agora mole com ela.
Autumn gritou quando foi puxada para o chão pelo filho da puta que não a soltou.
Eu me inclinei para frente, agarrando-a pela cintura, salvando seu rabo de
encontrar o concreto abaixo. Puxando-a para o meu peito, coloquei seu corpo
atrás do meu.

—Não toque na porra que me pertence! —Eu rosnei, chutando-o no


estômago, enquanto ele estava caído. Fiquei de cócoras na frente de seu corpo,
agarrando a sua camisa polo fodida, ficando bem perto de seu rosto
ensanguentado. —Você tem alguma ideia de com quem diabos você está se
metendo? No território de quem você está invadindo, porra? —Eu levantei minha
mão de novo, atingindo seu rosto. Sua cabeça caiu para trás no chão com um
baque.

—Vamos, maricas! Levante-se! —Gritei, levantando-o do chão mais uma


vez, quando, de repente, senti a mão de Autumn no meu ombro. Empurrei-a,
fazendo-a tropeçar contra Giselle. —Você fodeu com o homem errado! —Eu
rosnei, perto de seu rosto.

Eu tinha um pavio curto, meu temperamento sempre recebia o melhor de


mim. Vendo a violência por toda a minha vida, não ajudou os meus problemas de
raiva.

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—Creed! —Mason gritou, passando pela multidão. Agachando-se entre
nós. —Não aqui. Vamos! —Ele ordenou, acenando atrás de mim.

Virei-me, vendo os seguranças vindo em nossa direção. Imediatamente


fiquei de pé, e chutei o filho da puta uma última vez. —Dê-lhes as boas vindas de
merda. —Rosnei, agarrando a mão de Autumn. Puxei-a para longe de Giselle, pelo
meio da tenda e para o estacionamento.

—Pensei que ela não quisesse dizer nada. —Mason sussurrou, batendo
em meu ombro quando estávamos fora e longe da vista. —Volte para a minha
casa para o caso de chamarem a polícia. Não vai demorar muito para eles
descobrirem quem você é. Meus pais estão fora da cidade.

Eu balancei a cabeça, praticamente jogando Autumn na parte de trás da


minha moto.

—Creed...

—Nem uma porra de palavra, Autumn. —Enfiei seu capacete nela e, em


seguida, coloquei o meu também.

Puto pra caralho...

Que Mason estava certo.

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CAPÍTULO 8

—Obrigada, tia Lily. Vejo você mais tarde. —Eu disse, fechando a porta do
carro atrás de mim.

Eu corri até as escadas para a porta da frente da minha casa, virando-me


para acenar para ela uma última vez antes de destrancar a porta e entrar. Liguei
para Mason, para acordá-lo por volta das oito depois que eu tomei café da
manhã. Deixando-o saber que tia Lily me deixaria em casa em uma hora. Eu não
acho que ele prestou qualquer atenção, resmungando que ele estava em casa,
dormindo, e para não acordá-lo novamente. Eu sabia que nossos pais estariam
em casa em poucas horas, então ele estaria lá eventualmente. Ele deve ter ficado
acordado até tarde na noite passada, fazendo o que ele queria. Como sempre.

Deixei minha chave no prato ao lado da porta e chutei minhas sandálias,


sem me preocupar em arrumá-las. Ainda era cedo, e a casa estava
completamente silenciosa, confirmando que meus irmãos estavam
definitivamente desmaiados. Eu fui até as escadas, subindo dois degraus de cada
vez, parando à porta de Mason. Debatendo-me sobre entrar e pular na sua cama
para acordá-lo, mas decidi contra isso. A última vez que invadi seu quarto, ele não
tinha nenhuma roupa, e vamos apenas dizer que foi quando eu aprendi como
meninos eram diferentes das meninas. Corri para o quarto de Bo e espiei lá
dentro. Ele estava dormindo também.

Meus irmãos dormiriam durante todo o dia, se você os deixasse.

Eu continuei pelo corredor, abruptamente parando em meu quarto. Pega


de surpresa quando vi que a porta estava fechada. Eu nunca a deixava fechada.
Virei à maçaneta, lentamente empurrando a porta. Coloquei a minha cabeça no
vão em primeiro lugar.
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Meus olhos arregalaram-se quando peguei a cena na minha frente.

Creed estava dormindo na minha cama, meu lençol cor de rosa puxado até
a cintura. Um braço musculoso debaixo do meu travesseiro, o outro colocado em
seu estômago nu. Ele tinha tatuagens em todos os lugares, gravadas em toda a
sua pele, nem um lugar vazio podia ser visto.

Eu entrei, fechando suavemente a porta atrás de mim, querendo olhar


mais atentamente. Meus travesseiros fofos, bichos de pelúcia, cobertor felpudo
que eu amava, estava tudo espalhado pelo chão. Como se ele só tivesse os jogado
para fora da minha cama e desmaiado. Sua camisa, colete, calça jeans estavam na
minha mesa. Suas botas pretas de combate estavam no pé da minha cama.

Quando mais perto chegava dele, mais eu percebia o quão grande ele
realmente era. Tomando toda a minha cama queen-size. Ele tinha músculos em
todos os lugares do seu corpo. Eu não sabia que alguém poderia parecer tão
assustador e bonito ao mesmo tempo. Eu queria dar um olhar mais atento nas
suas tatuagens. Eu queria saber cada projeto que foi feito em sua pele, e eu
queria encontrá-los com os dedos, só para ver se eles pareciam tão bons quanto
eu achava.

Ele parecia tão calmo enquanto dormia, eu não queria acordá-lo, mesmo
que eu quisesse falar com ele. Perguntar a ele por que ele foi tão ruim para mim
na noite anterior. Por que ele me tratou como se eu não existisse. Como se ele
não me conhecesse mesmo.

Afastei minhas perguntas, agarrando o meu caderno, uma caneta, e minha


guitarra da minha mesa, em vez disso. Tranquilamente mexi na minha mochila
para encontrar a outra coisa que eu estava procurando, empurrando-a no bolso.
Saí na minha varanda, ligeiramente fechando a porta atrás de mim, não querendo
acordá-lo. Coloquei minha espreguiçadeira onde eu podia ver minha cama,
querendo esperá-lo acordar. Eu não queria que ele saísse sem eu ter a chance de,
pelo menos, falar com ele novamente. Então, eu sentei lá, suavemente
dedilhando as cordas do meu violão novo, encontrando a música certa.

111
Depois de alguns minutos, ele começou a se mexer, eu pensei que ele
estivesse acordando, mas seus olhos começaram a vibrar e seu corpo tremer. Ele
começou a sacudir a cabeça de um lado a outro como se estivesse tendo um
pesadelo.

—Luke... Luke... Diga-me onde você está... —Ele murmurou, sua voz cheia
de puro pânico e desespero. Um tom que eu nunca tinha ouvido antes.

Eu não sabia o que fazer, ou como ajudá-lo, então eu só comecei a


dedilhar uma canção de ninar que a tia Lily costumava tocar para mim quando eu
era pequena. A melodia suave, tranquila, encheu o ar em torno de nós. Calmante
e reconfortante da mesma forma que era para mim. Levou apenas alguns minutos
até a sua respiração acalmar, e ele parou de entrar em pânico. O sono mais uma
vez tomou conta, e eu sorri, sabendo que eu fui capaz de tirá-lo da escuridão que
assolava sua mente, e parar o seu pesadelo.

Eu terminei de tocar a canção, estabelecendo minha guitarra ao lado da


espreguiçadeira, fora de vista. Levantei-me para fechar a porta da varanda para
dar-lhe um pouco de privacidade. Sabendo que eu ainda seria capaz de ouvi-lo
quando ele acordasse. A última coisa que eu queria era que ele acordasse e desse
de cara com meus olhos curiosos. Pensando que eu estivesse sendo uma espécie
de perseguidora vendo-o dormir, mesmo que ele estivesse na minha cama.
Minutos pareceram se arrastar em uma hora ou mais enquanto eu me sentava lá
fora, rabiscando o nome de Creed no meu caderno. Esperando pelo que pareceu
uma eternidade para ele acordar, pensando que talvez ele nunca fosse.

Eu pulei de susto, fechando o meu caderno quando a porta da varanda se


abriu, de repente. Não importava que eu soubesse que era ele, eu não tinha
sequer o ouvido levantar. Ele deve ter se levantado em modo invisível, ou eu
poderia apenas ter me distraído com meus pensamentos.

Eu imediatamente olhei para ele, bloqueando o sol da manhã com a


minha mão, absorvendo o fato de que ele ainda não estava usando uma camisa.
Calça jeans pendurada baixo em seus quadris revelava por baixo sua boxer. Eu
não podia deixar de perceber o quanto mais definido seu corpo parecia agora que
112
ele não estava deitado. Ele pairou sobre o meu pequeno corpo de uma forma que
eu nunca tinha visto antes. Meu coração começou a acelerar, e eu podia sentir
um zumbido nos meus ouvidos. Sentindo-me como se ele pudesse ouvi-lo
também, mas não havia nenhuma expressão em seu rosto, tornando difícil saber
o que ele estava pensando.

Nenhum de nós falou.

Ele fechou a porta, apontando para a espreguiçadeira na minha frente, em


silêncio, perguntando se ele poderia se sentar. Eu balancei a cabeça, puxando
meus joelhos no meu peito, embalando o meu caderno. Ele colocou um cigarro
nos lábios, acendeu, e soprou a fumaça pelo nariz. Olhando de cima a baixo com o
mesmo respeito chocante que eu tinha me acostumado a esperar dele.

—Você não deveria fumar. É ruim para você. —Eu soltei, quebrando o
silêncio desconfortável entre nós.

—Esta é a menor das minhas preocupações, Pippin. —Ele gemeu, sua voz
áspera de acabar de acordar.

Ouvir seu apelido para mim, fez borboletas se agitarem na minha barriga
novamente. Engoli em seco, escondendo o sorriso que estava ameaçando nos
meus lábios, lembrando que eu estava brava com ele. Pelo menos eu queria que
ele pensasse que eu estava.

—Quantas tatuagens você tem? —Eu perguntei ao acaso, incapaz de tirar


os olhos questionadores de sua arte. A pergunta só me fez corar.

Ele deu outra tragada no cigarro, deixando-o no canto da boca. Ele


inclinou-se, colocando os cotovelos sobre os joelhos. Protegendo seu corpo de
mim, o que só acentuou seus braços tatuados e volumosos.

—Demais para contar. —Ele simplesmente declarou, olhando para a água.

—Eu posso contá-las. Quero dizer... se você quiser saber quantas você
tem, eu poderia contá-las para você. —Eu ri nervosamente.

113
Ele sorriu. Foi rápido, mas eu vi.

—Eu não posso esperar até que eu possa fazer uma. Eu quero uma...

—Não estrague a sua pele. É perfeita do jeito que está. —Ele interrompeu,
pegando-me desprevenida.

—OK.

Se alguém tivesse dito isso para mim, teria me deixado furiosa. Se havia
uma coisa que eu odiava, era ser dita o que fazer, mas era diferente vindo de
Creed. Eu queria ser perfeita para ele, como essa menina em sua moto.

—Ela é sua namorada? —Eu questionei, incapaz de me segurar por mais


tempo.

Ele inclinou a cabeça para o lado, tirando o cigarro de sua boca. Soprando
a fumaça para cima.

—É por isso que você me ignorou? —Acrescentei, nervosamente à espera


de sua resposta. —Isso realmente me magoou. Eu pensei que éramos amigos.

—Eu a ignorei, porque eu não sou nada bom. Você é uma menina, e eu
sou um homem crescido. A lista é interminável de porque eu não posso ser seu
amigo. Então, faça-me um favor, esqueça de mim, e vá brincar com suas bonecas
ou alguma merda assim. —Ele respondeu grosseiramente.

Fiz uma careta, chateada. —Essa é a coisa mais estúpida que eu já ouvi. Eu
nem gosto de bonecas. Eu gosto de animais de pelúcia como você pode ver
claramente no meu quarto. E novamente, eu não sou um bebê. Estou perto de
adultos o tempo todo. Eu tenho mais amigos que são da sua idade ou mais velhos
até. Além disso, eu sou super madura e impressionante, tudo em um. Todo
mundo quer ser meu amigo. Você só está sendo um grande tirano. E você sabe o
que mais? —Fiz uma pausa, dando-lhe a expressão de desgosto mais sincera que
eu poderia reunir. —Eu nem sei se quero ser mais sua amiga.

114
Ele balançou a cabeça, rindo, encontrando meus olhos. —Não sabe
quando desistir, não é?

—Eu sou uma garota legal. Você tem sorte de ter me conhecido.

—As meninas agradáveis precisam ficar longe de caras como eu. —Ele
suspirou, soltando a fumaça do cigarro.

—Mason é seu amigo. Ele é chato e às vezes, eu quero dar um soco na


cara dele, mas ele é um cara legal, e ele é seu amigo.

—Isso é diferente.

—Por que todo mundo sempre diz isso? Eu estou cansada de que essa seja
a única resposta que alguém pode me dar. Como se tivesse sentido ou algo assim.
Por que é diferente? Porque ele é um menino não é uma resposta, essa é apenas
uma desculpa. Como quando Mamãe diz que eu não posso comer mais sorvete
porque isso vai fazer minha barriga doer. Como ela sabe que vai fazer a minha
barriga doer até que aconteça? Você acha que só porque você é mais velho e
maior que eu, você sabe tudo. Bem, você não sabe nada. Especialmente o que é
bom para mim.

Ele estreitou os olhos, olhando para mim de uma maneira que nunca
olhou antes, fazendo com que a minha barriga se agitasse novamente. Eu não
entendia como ele podia me fazer sentir tantas emoções, mesmo sem dizer uma
palavra.

—Você sempre faz birra quando não consegue o que quer? —Ele
perguntou em tom de provocação.

—Você sempre age como um idiota quando está tentando obter o que é
seu?

Ele não vacilou, e falou. —Toda vez.

115
Normalmente adultos gritavam comigo quando eu xingava, e eu meio que
esperava que ele fizesse o mesmo. Eu gostei do fato de que ele não o fez. Mesmo
que ele estivesse tentando mandar em mim, eu sabia que ele estava tendo uma
boa intenção. Ele apenas me mostrou que eu tinha que lutar mais forte pela
nossa amizade. Eu não me importava de fazer isso, contanto que isso significasse
que eu pudesse ficar em sua vida.

—Eu não tenho um monte de amigos, Creed. Eu não gosto de perder meu
tempo com pessoas que eu não ache que valem a pena.

Ele abruptamente se levantou, caminhando até o parapeito e inclinando


para frente. Colocando os cotovelos sobre a viga de madeira, ele deu uma última
baforada de seu cigarro, como se ele não soubesse o que dizer. Ele abriu a boca
para falar, mas nada saiu. Um silêncio desconfortável encheu o espaço entre nós
novamente. Ele jogou o cigarro no chão, apagando-o, antes de chutá-lo para fora
da varanda.

Eu fiquei de pé, puxando um patch do meu short que eu tinha comprado


para ele há algumas semanas. Joguei-o para ele, e o vi aterrissar em seus pés. Ele
olhou para baixo, e o pegou.

—Idiota, não é apenas uma palavra, é um estilo de vida. —Ele leu em voz
alta, um sorriso finalmente apareceu em seus lábios.

—Adequado, não é? —Perguntei. Não dando-lhe tempo para responder,


eu me virei e saí.

Na esperança de que ele soubesse que não se livraria de mim tão


facilmente.

116
Eu deixei a água quente correr pelas minhas costas, pelos meus músculos
tensos, inclinando-me com as mãos e testa no azulejo frio. De pé sob o chuveiro
no meu banheiro, lavei o efeito da noite passada. Flexionando e soltando meus
punhos, acalmando a dor da mandíbula que o filho da puta deixou para trás.
Tentando ignorar os pensamentos que me assolavam sobre certa ruiva que me
fez perder minha cabeça. Vê-la praticamente fodendo outro cara na pista de
dança me irritou de forma que eu nunca imaginei. Nunca até mesmo esperei.

Eu não deveria ter dado à mínima.

Eu deveria ter ido embora.

Mas em vez disso, acabei batendo no rosto de um homem. Saltei sobre a


linha invisível de ser um amigo para ser um idiota furioso, ciumento. Exceto que
ela não era minha para eu me sentir dessa forma. Eu sempre tinha sido protetor
sobre Autumn, mesmo quando éramos pequenos, eu era territorial. Ontem à
noite provou que algumas coisas nunca mudam. Meu maior arrependimento foi
alimentar sua fantasia de que nós acabaríamos juntos. Eu não poderia me odiar
mais por levar isso adiante, mesmo que eu estivesse apenas sendo eu mesmo. Era
quem eu era. Em algum lugar ao longo do caminho, os limites foram
ultrapassados.

Não sabendo o que era certo ou o que era errado mais.

Depois que deixei o festival, eu a levei de volta para a casa dela. Ela saiu da
minha moto antes mesmo de eu baixar o suporte de apoio, arrancando seu
capacete e o jogando para mim.

—Que diabos foi isso? —Eu falei, pegando o capacete antes de ele bater
no meu rosto. —Qual é o seu problema?

117
—Você! Você é o meu problema! —Ela gritou, virando-se para sair.

—Você está me gozando? —Eu saí da minha moto e fui até ela em três
passos, agarrando seu braço. Virando-a de frente para mim.

Ela se afastou, estreitando os olhos. —Não me toque com o sangue de


outro homem em suas mãos, Creed Jameson.

—De quem é a culpa disso, porra? Com certeza não é minha. —Eu disse
entre dentes. —Que tal uma porra de agradecimento? Em vez de me chatear por
salvar sua bunda.

—Me salvar? Batendo em um homem com quem eu só estava dançando?


Eu não lhe pedi para fazer isso! Eu não quero sangue em suas mãos por minha
causa. Você já fez o suficiente sozinho.

Eu recuei como se ela tivesse me atingido.

Os olhos dela arregalaram-se instantaneamente por causa de como eu


interpretei. Imediatamente pisando em minha direção.

Movi-me para trás, parando-a.

—Creed, eu não quis dizer isso assim. Você sabe que eu não quis dizer
isso.

Eu balancei a cabeça em direção à sua casa. —Não se esqueça de trancar a


porta. —Com isso, eu saí, e a ouvi chamar meu nome enquanto eu partia.

Mason e eu ficamos acordados por mais algumas horas, passando uma


garrafa de uísque entre nós e tomando. Eu comprei-a em uma das lojas de
bebidas de um irmão na mesma rua de Autumn. Eu estava bêbado pra caramba
quando desmaiei na cama. Acordei em uma pilha de lençóis cor-de-rosa, confuso
pra caralho a respeito de onde eu estava. Levei um minuto para lembrar que
Mason me disse para dormir no quarto de Mia. Ela estava com sua tia.

118
Eu fui para fora em sua varanda para fumar um cigarro, tentando limpar a
névoa bêbada antes de sair de lá. Nunca pensando que uma garota, com um par
de olhos brilhantes e tranças, estaria olhando para mim. Claro, eu me senti mal
por ignorá-la na feira, ela era apenas uma criança. Mas quanto mais cedo ela
percebesse que ela precisava ficar bem longe de mim, melhor.

Conclusão. Quem pode saber se ela iria...

Meu telefone tocou me trazendo de volta à realidade. Enrolei uma toalha


em volta da minha cintura e agarrei meu celular, meio que esperando que fosse
Autumn, mas o nome “Prez” iluminou a tela.

—Sim? —Eu respondi.

—Traga seu traseiro para o clube, agora. Eu estou chamando a Missa. —A


linha ficou muda.

—Boa conversa. —Eu disse a mim mesmo, jogando-o na minha cama.

Não fiquei surpreso que Pops não estivesse aqui quando cheguei em casa.
Ele nunca ia para casa na maioria dos dias, dizendo que estava muito ocupado
com o clube, sabendo que ele realmente quis dizer que estava ocupado demais
fodendo Christa, ou alguma outra prostituta do clube.

Eu me vesti, parando pelo quarto de Noah no caminho para a sala de


estar, precisando verificá-lo. Ele já estava jogando vídeo game, gritando com a TV.
Acenando com a cabeça em resposta às minhas perguntas. Sem me dar qualquer
atenção. Ma estava na sala de jantar, cortando cupons que ela nunca usaria. Já
tomando uma bebida.

Eu balancei a cabeça, beijei sua bochecha e saí, mordendo a minha língua


todo o caminho para a minha moto. Ela estava ficando pior a cada dia que
passava. Morrendo lentamente pelo filho que tinha morrido, não querendo viver
pelos dois que estavam vivos. Eu não tinha ideia de como fazer isso melhorar, ela
estava longe demais para aceitar qualquer ajuda. Havia momentos em que ela
olhava para mim, e eu juro, que tudo que eu via nos olhos dela, era a culpa pela
119
morte de Luke. A fonte de seu problema com a bebida olhando-a no rosto a cada
maldito dia.

Eu.

Eu chegava em casa toda noite para encontrá-la na mesa da sala de jantar


desmaiada. Eu a pegava em meus braços e a colocava na cama. As poucas vezes
em que Laura ou Stacey tentavam abordar o assunto, eu as cortava bem rápido.
Deixando-as saberem que minha mãe não estava em discussão. Recusei-me a
deixar alguém falar mal sobre ela. Eu sabia que ela estava doente, eu sabia que
ela estava deprimida, e eu sabia que ela tinha nos abandonado, mas ela nem
sempre foi uma mãe de merda. No fundo, eu mantinha a esperança de que ela
um dia voltasse para nós. A luz que uma vez esteve em seus olhos brilharia
novamente. Até então, eu cuidaria dela. Eu cuidaria de Noah.

Eu cuidaria de tudo.

Fui até o clube logo após doze horas da tarde. Eu podia ouvir a voz de
Pops rugindo assim que passei pelas portas. Eu entrei na sala de reuniões, sem
saber o que aconteceria hoje.

—Bem, olha quem decidiu nos agraciar com sua presença. —Meu pai me
recebeu.

Todos os olhos se voltaram para mim. Prospectos e irmãos estavam ao


redor da sala com expressões em seus rostos que eu conhecia muito bem.

O Prez estava aterrorizando-os com algo.

—Eu estou aqui, não estou? Desde quando você começa a missa sem
todos presentes? O que é tudo isso? —Eu balancei a cabeça em direção a todos.

—Desde que a reunião tornou-se sobre você. Hoje é a porra do seu dia de
sorte, VP. —Ele acentuou.

Inclinei a cabeça para o lado, confuso.

120
—Nós todos votamos. Foi unânime. Parabéns, porra. —Pops declarou com
um sorriso sarcástico.

Eu só fiquei ali, olhando ao redor da sala silenciosa. Observando de um


rosto mal-humorado para o outro, vendo todos os irmãos que tinham votado em
mim. Mais aptos para um título tão elevado. Eles deveriam estar de pé onde eu
estava, não sentados lá sendo forçados pela mão que os alimentava. O ar era tão
espesso entre nós. Tornou-se difícil para respirar, difícil de ver, difícil até mesmo
de se mover.

Pela primeira vez na minha vida, não havia mais nada a dizer. Meu pai
tinha me colocado bem onde ele queria.

Bem sob o seu polegar fodido.

Eu senti como se houvesse um alvo brilhante, vermelho colocado bem em


cima do meu coração.

Só que eu sempre soube que era meu pai que estaria segurando a arma
carregada.

121
CAPÍTULO 9

Eu assisti Tio Austin e minha nova tia, Briggs, tomarem o salão. Abraçados
enquanto dançavam a sua primeira música como marido e mulher. A recepção de
casamento foi realizada no restaurante dos meus pais. Eles fecharam o local para
a festa privada, transformando-o em um espaço elegante para o dia especial de
seus melhores amigos, com mesas cobertas por um tecido de linho branco,
rodeando a pista de dança e o palco onde a tia Lily sempre cantava. Luzes
cintilantes foram penduradas no teto, acrescentando o toque perfeito para sua
noite romântica.

Um enorme bolo estava na mesa no canto, apenas esperando para ser


comido, com uma noiva e um noivo pintados na parte superior. Eles haviam se
casado na doca em sua casa algumas horas antes, com a família e amigos em
torno deles. Ela era a noiva mais linda que eu já vi, brilhante e radiante. Exalando
felicidade ao seu redor. Seu vestido longo, sedoso, branco, agarrava-se ao seu
corpo, enquanto seu cabelo roxo brilhante fluía com a brisa do mar.

A canção “This Years Love” de David Grey tocava nos autofalantes


enquanto eles moviam-se pelo piso. Lembrando-me da Besta dançando com Belle
em A Bela e a Fera. Uma noite saída de um conto de fadas da Disney, tia Briggs a
princesa perfeita, e Tio Austin o belo príncipe. Ele olhava para ela com adoração,
dançando com o amor de sua vida. A maneira como eles se entreolhavam
naqueles momentos, era uma memória que eu sempre teria. Um dia eu
encontraria meu príncipe, e eu teria a minha noite perfeita também. Esperando
que ele fosse olhar para mim da maneira como Tio Austin olhava para ela.

Eu estava animada por ser uma parte de seu dia especial como a sua
menina das flores. Tia Briggs até mesmo deixou-me escolher meu próprio vestido
rosa com sandálias de salto alto rosa também. Passamos esse dia inteiro de
122
compras juntas, fazendo nossas unhas, comendo sorvete, e falando sobre as
últimas fofocas de Hollywood. Uma vez que eu coloquei o vestido, eu sabia que
era o único. Eu não queria tirá-lo mais. Papai ainda disse que eu parecia ter
crescido durante a noite. Ele não tinha me visto usá-lo até a manhã do
casamento, e ele disse que eu lhe tirei o fôlego. Literalmente. Ele ficou
emocionado quando eu saí na doca. Mas o deixou triste que eu não parecia seu
bebê mais, então eu dei-lhe um grande abraço apertado para fazê-lo se sentir
melhor.

Funcionou.

Passei a maior parte da noite arrasando na pista de dança com meus tios
bagunceiros. Eu até mesmo fiz Mason e Bo dançarem comigo algumas vezes
também, ambos tão bonitos em seus smokings. Giselle não conseguia tirar os
olhos de Mason toda a noite, mais do que nunca. Ela ficou animada quando
pegou o buquê que tia Briggs jogou a todas as únicas senhoras presentes na festa.
Eu cutuquei Mason, dizendo que ele era o próximo. Ele não gostou muito disso.

Um dedo tocou o meu ombro, chamando minha atenção para longe de


meu irmão e Giselle que estavam agarradinhos, dançando um pouco perto
demais para o conforto do tio Dylan. Em um ponto, ele casualmente afastou seu
smoking, mostrando a Mason que ele tinha sua arma com ele. Mason levantou as
mãos em rendição e riu.

—Ei, papai. Por que não está lá fora dançando com a Mamãe?

—Eu estava esperando que a garota mais bonita quisesse dançar com o
pai dela. —Ele sorriu, olhando para mim.

Eu balancei a cabeça. —Eu adoraria.

A música tocando terminou, suavemente passando para a próxima


enquanto íamos para o centro da pista. “My Little Girl” de Tim McGraw começou
a tocar, como se fosse um sinal. Ele costumava cantar essa canção para mim
quando eu era um bebê, confortando-me instantaneamente quando eu estava
chorando. Pelo menos isso era o que mamãe me dizia.
123
—Oh meu Deus, papai! Eles estão tocando a nossa música. —Alegrei-me,
pegando sua mão. Ele me deu um giro antes de me levantar, colocando meus pés
descalços em cima de seus sapatos pretos brilhantes.

—Eles sabiam. —Ele respondeu, piscando para mim. Levando-nos para o


pequeno espaço. Cantando as letras sobre deixar sua menina ir.

Uma pequena multidão se reuniu ao redor para nos assistir, incluindo


Mamãe que tinha um sorriso no rosto, e lágrimas nos olhos. Ela sempre foi tão
emotiva.

—Mia Pia? —Papai se afastou, olhando para mim, sorrindo.

—Você já não me chama assim faz tempo. —Eu ri.

—Você pode me prometer uma coisa?

—Depende. Se envolver a limpeza do meu quarto ou tirar o lixo, então


não.

Ele riu. —Prometa-me que não vai crescer. Você vai ficar como a minha
menina para o resto de sua vida. —Ele me puxou para mais perto, abraçando-me
forte.

—Eu prometo, papai. —Eu sussurrei.

Uma vez que a música terminou, papai me deu mais um giro e alguém
chamou minha atenção.

—Obrigada pela dança, papai.

Ele balançou a cabeça, despenteando meu cabelo, andando para a parte


de trás para se juntar à mamãe e seus amigos na praia. Eles estavam se
preparando para ter uma grande fogueira depois de estar escuro o suficiente lá
fora. Quando meu pai estava fora de vista, eu coloquei minhas sandálias de salto
alto, e corri para a porta lateral que dava para o estacionamento. Uma

124
motocicleta preta estava estacionada a poucos metros longe da porta. Meus
olhos procuraram ao redor para encontrá-lo de novo, mas o ouvi antes de vê-lo.

Creed.

Tinha sido um ano, dois meses e três dias desde que eu o vi pela última
vez. Não que eu estivesse o seguindo. Depois que me afastei dele na minha
varanda, ele só pareceu ter desaparecido como se nunca tivesse existido para
começar. Eu não vou mentir.

Doeu.

Eu encontrei-me procurando por ele em todos os lugares que eu ia,


passando mais tempo no restaurante depois da escola na esperança de que ele
fosse aparecer um dia.

Ele nunca apareceu.

Eu queria perguntar a Mason por onde ele tinha andado, mas ele teria
ficado surpreso por eu me importar. Eu estava sem escolha, então eu me mantive
ocupada com as aulas da escola, trabalhos de casa, e a guitarra. Pegando ondas a
cada chance que eu tinha, muitas vezes sentada na minha prancha na água,
olhando para a costa, esperando que ele fosse aparecer.

Nem uma vez ele apareceu.

Dias se transformaram em meses, os meses se transformaram em um ano.


Não passava um dia em que eu não pensasse nele. Meus quatro cadernos eram a
prova.

Creed estava tendo uma conversa bastante aquecida com alguém que eu
não conseguia ver do outro lado de uma limusine preta.

—O que ele está fazendo aqui? —Eu perguntei a mim mesma, dando
alguns passos mais perto, tentando ter uma visão melhor.

125
Eu me escondi atrás da banca de jornais na minha frente, quando ele
olhou na minha direção. Eu olhei por cima, tendo um vislumbre de com quem ele
estava falando. Eu nunca tinha visto Creed com raiva. Foi estranho vê-lo assim. O
homem com quem ele estava discutindo era o tio da tia Briggs, Alejandro. Tio
Austin o chamava de Martinez. Ele tinha vindo para a cidade de Nova York para
assistir a sua única sobrinha se casar, ela disse que ele era a única família que ela
tinha.

Quando ela nos apresentou, eu não podia deixar de olhar, ele era
realmente bonito, mas assustador também. Ele carregava armas com ele como o
tio Dylan, mas a tia Briggs disse que ele não era da polícia, então eu realmente
não entendia por que ele as tinha. Ele não falava muito, mas quando falava, ele
tinha um pouco de sotaque espanhol. Tia Briggs não parecia se importar muito
com ele, pelo menos eles não pareciam próximos.

A curiosidade levou a melhor. Eu não podia ouvir o que eles estavam


dizendo, então eu corri e me escondi ao lado de um carro vermelho nas
proximidades, espreitando sobre o capô. Eu senti como se estivesse em uma
história de Nancy Drew, espionando e à procura de pistas. Eles estavam de frente
um para o outro, gritando algo que eu ainda não conseguia entender. Cada um
tentando ficar maior do que o outro. Isso me lembrou de dois cães Pitbulls,
brigando por território. O tio da tia Briggs enfiou a mão no casaco e tirou algo que
parecia uma barra, entregando-o à Creed. Olhando em volta, certificando-se de
que ninguém estava os observando. Eu me agachei atrás do carro novamente,
escondendo-me. A última coisa que eu queria era ser pega bisbilhotando.

Um barulho alto soou, fazendo-me saltar. As mãos de Creed conectaram


com o teto da limusine, furioso. Martinez já tinha ido embora, ele devia ter
voltado para a recepção.

Eu não sei por que, mas havia algo sobre a maneira como Creed parecia
que me assustou. Tipo como o tio da tia Briggs me assustava. Ele tinha certo
brilho em seus olhos que era novo e desconhecido, deixando-me extremamente
nervosa e cautelosa. Antes que eu soubesse o que estava fazendo, eu me virei,
caminhando em direção ao restaurante.
126
Isso foi quando o ouvi gritar. —Não tão rápido, Pippin. —Eu parei
imediatamente.

Eu respirei fundo, e girei para encará-lo. —Eu...

—Estava sendo intrometida. Tramando alguma coisa. —Creed me


interrompeu, vindo até mim. Sua sombra pairou sobre o meu pequeno corpo.

Como é que ele ficou maior? Por que ele parece tão diferente?

—Não... — Murmurei, alto o suficiente para ele ouvir.

—Não? —Repetiu ele, cruzando os braços sobre o peito musculoso,


acentuando a sua estrutura poderosa.

Eu agi rápido, segurando a saia do meu vestido, balançando de um lado a


outro. Batendo meus saltos na calçada. Sorrindo largamente, olhando para ele
fixamente, tentando fazer bonito.

Eu murmurei na voz mais doce. —Você gosta do meu vestido?

Ele arqueou uma sobrancelha, balançando a cabeça. —Acha que vai


funcionar comigo? Pode funcionar com seu pai, mas não vai rolar comigo. O que
está fazendo aqui?

Eu suspirei, revirando os olhos. Principalmente desapontada que ele nem


sequer reconheceu meu vestido quando eu estava tão bonita. Ele estava sendo
tão frio comigo, nada como o homem que eu conheci uma vez. Eu não poderia
dizer se era comigo que ele estava bravo ou com o que aconteceu com Martinez,
de qualquer forma...

Eu não gostei deste lado do Creed.

—Não vou perguntar de novo, Pippin. —Ele disse severamente.

—Eu só estava... —Dei de ombros. —Eu não estava tentando escutar.


Quero dizer, não realmente... Eu não ouvi nada, eu juro. Mesmo que eu tivesse,
127
eu não diria a ninguém. Eu não sou fofoqueira. Pode confiar em mim. —Eu
divagava.

Ele balançou sua cabeça. —Você poderia se machucar, estando aqui fora.
Conversas ouvidas entre homens não lhe dizem respeito.

—Então, talvez você não devesse ter esse tipo de conversa em público.
Onde qualquer pessoa pode sair e ouvir.

—Sua boca vai colocá-la em problemas algum dia.

—Estou apenas dizendo...

—Eu sei o que você não está dizendo. Porque você veio aqui em primeiro
lugar. Desembucha, Pippin. Não tenho o dia todo.

—Eu queria ver você, ok? —Eu honestamente admiti. —Isso é tudo. Eu te
vi da janela lá dentro. Eu não vi você em um tempo muito longo, mais de um ano,
na verdade. —Eu olhei para os meus pés pintados de cor-de-rosa brilhantes,
embaraçada. Remexendo com a fita no meu vestido. —Eu senti sua falta. —Eu
murmurei, quase um sussurro.

Ele não disse nada, se não fosse por suas botas de combate estarem perto
dos meus pés, eu acharia que ele tinha ido embora. Nada aconteceu durante o
que pareceu um longo tempo.

Então, de repente, ele estendeu a mão, colocando o dedo indicador


debaixo do meu queixo. Fazendo-me olhar para ele novamente. Eu pisquei
algumas lágrimas que começaram a se formar em meus olhos. Eu acho que posso
ter parado de respirar. Minha barriga se agitou, só que desta vez, senti isso em
todo o meu corpo.

Ele olhou profundamente em meus olhos, de uma forma reconfortante,


deixando cair sua mão. Levando alguns segundos para pensar sobre o que ele iria
dizer. Olhei para o seu colete, seu patch Creed tinha ido embora. Substituído por

128
um que se lia Vice Prez. Eu não pude deixar de notar que nenhum dos meus
patchs estavam em seu colete também.

—Você parece bonita demais. —Ele murmurou do nada.

Eu sorri, olhando para ele instantaneamente. Meu coração acelerando


mais uma vez.

—Você será linda um dia, isso está claro. Corações serão partidos e
meninos farão fila na porta por você. Seu velho sabe disso, também. É por isso
que ele a mantém a sete chaves. Ele não quer acabar atrás das grades por
espancar alguém. Não o culpo por isso, também. Você vai conhecer um merdinha
arrogante que vai te prometer o mundo. —Ele fez uma pausa, deixando suas
palavras afundarem. —Você nem vai se lembrar de mim.

—Vou sempre me lembrar de você.

—Pode parecer assim agora, Pippin. Você é uma menina. Os anos vão
amadurecer você. Ok?

—Ok. —Eu simplesmente declarei.

Ele deu um passo para trás, olhando para mim uma última vez. —Melhor
ficar longe de problemas, você me ouviu? Até mais. —Com isso, ele se virou e
saiu.

Saltando em sua moto, ele colocou seu capacete, e se inclinou para frente,
acelerando o motor. A parte de trás do colete levantou-se, enquanto ele saía,
expondo um pedaço preto brilhante de metal.

Eu parei de sorrir.

Não era possível ignorar o fato...

Esse Creed agora estava carregando uma arma também.

129
Tinha sido um ano e meio desde que assumi o cargo de Vice Prez. Eu
estava com quase vinte anos de idade, e eu tinha colocado mais pessoas a sete
palmos abaixo da terra do que a idade do meu irmão mais novo. Era a mesma
merda de sempre, apenas um dia diferente. Marchando com a porra do tambor
do meu pai, pagando o preço quando eu pisava fora da linha, o que fiz muitas
vezes, apenas para irritá-lo. Com meu novo título, veio um novo respeito entre os
irmãos. Para não mencionar as prostitutas do clube que paravam o que estavam
fazendo para me agradarem da única maneira que sabiam.

Eu era o segundo no comando, o que significava que ninguém fodia


comigo. Eu parei de me permitir sentir. Eu apenas fazia o que era necessário que
eu fizesse sem um segundo pensamento. Mas a minha lealdade ao clube me
custou a minha moral, e sem uma consciência, um homem era capaz de qualquer
coisa. Eu nem sequer reconhecia o homem olhando para mim no espelho.

Creed foi embora.

Vice Prez nasceu.

—Achou que nós não descobriríamos, porra? —Eu interroguei o


intermediário da empresa de transporte que levava nossos carregamentos de
drogas em todo o estado.

Amarrei-os a uma cadeira, pronto para usar qualquer meio de tortura


necessária para fazê-los falarem. Seus dois homens estavam na mesma situação,
sentados à direita e à esquerda dele, com fita adesiva sobre a boca. Diesel e eu
tínhamos dirigido até o armazém do centro, onde toda carga dos caminhões
ficava. Peguei Jerico e seus homens de surpresa, de pé, prontos para disparar do
lado de fora quando eles levantaram a porta do armazém para nos deixar entrar.
Diesel atirou em seus homens nos joelhos, trazendo-os ao chão antes de Jerico
ter a chance de piscar os malditos olhos.
130
Sendo um maricas filho da puta, ele saiu correndo. Dando cerca de quatro
passos quando eu acenei para Diesel atirá-lo na perna também. Ele caiu no
cimento, gritando obscenidades em espanhol, tentando rastejar para longe de
nós. Eu não hesitei. Agarrei-o pelo seu rabo de cavalo, arrastei sua bunda até uma
cadeira dobrável enferrujada, deixando um rastro de sangue em seu caminho.
Usando abraçadeiras, eu prendi suas mãos atrás das costas e as pernas na
cadeira. Diesel fez o mesmo com os seus dois homens, deixando suas bocas
fechadas. Eu precisava falar com Jerico, não com a porra de capangas.

—Eu não sei do que você está falando. —Jerico cuspiu, estremecendo em
seu assento. Desconfiado, olhando ao redor do armazém escuro, procurando eu
não sei o que.

—É mesmo? —Eu disse, caminhando lentamente em torno de onde ele


estava sentado, deixando-o nervoso pra caralho. Parando à esquerda dele. —
Tentar me enganar não vai ajudar a sua situação. —Eu sussurrei por cima do
ombro. Suor enchia suas têmporas.

—Temos feito negócios com os Devil’s Rejects por um longo tempo. Por
que eu foderia isso?

—Porque você é um merdinha ganancioso. —Apontando o cano da minha


arma, eu mirei em sua rótula boa. —Não aprecio que mintam para mim,
especialmente na porra da minha cara. —Eu zombei, puxando o gatilho.

—Arggggghhhh! Filho da puta! —Ele gritou de pura agonia, lutando para


livrar suas mãos.

—Isso é por mentir para mim. Há muito mais de onde isso veio. Eu sugiro
que você seja homem, e me diga por que você está traficando drogas ao longo da
fronteira para esses filhos da puta dos Sinner’s Rejoice, quando você trabalha
para nós. —Eu o lembrei, agachando-me ao seu nível, ficando bem na sua cara. —
Então, pare de alimentar-me com o seu estoque de merda antes de eu decidir
que não quero jogar de bonzinho mais.

131
—Escuta. —Ele falou com um queixo tremendo. —Eu vou ser honesto com
você. Os Sinners aproximaram-se de mim, mas eu disse a eles que era leal, amigo.
—Ele acentuou com um sotaque espanhol. —Nós só fazemos negócios com você.

—Vocês fizeram negócios com a gente na semana passada, quando esse


Pedro aqui... —Eu apontei com a cabeça para o outro filho da puta na cadeira ao
lado dele. —... moveu vinte quilos fodidos de maconha pela nossa rota para eles?
É o nosso território fodido, Jerico. Tem sido nosso território por um tempo muito
longo, porra. Acha que você poderia dirigir seus caminhões por meio de nossas
rotas sem que nós saibamos sobre isso? Pensei que você fosse mais esperto do
que isso. Odeio estar errado.

—Creed, não é o que parece. —Ele justificou, olhando-me nos olhos.

—Ohhhhh, então você sabe do que eu estou falando, seu fodido?

Ele abriu a boca para dizer algo, mas eu bati nele com a coronha da minha
arma, silenciando-o. —Dê-me um nome. —Eu pedi com a mandíbula travada.

As granadas que eu usei há três anos mataram seu Prez e Vice Prez. Nós
pensamos que o clube tinha ido embora até recentemente, reapareceu do nada,
talvez mais forte do que antes, mas não tínhamos detalhes sobre eles. Eu
precisava saber quem tinha assumido o clube, e quem estava comandando o
maldito espetáculo. Eu precisava de nomes, e eu precisava deles agora.

—Creed, isso é... —Eu fiquei de pé, agarrando-o pela parte de trás da
cabeça, batendo meu joelho em seu rosto várias vezes, praticamente
derrubando-o. Sua cabeça oscilou enquanto ele tentava piscar através da neblina.
O rosto espancado de Jerico estava irreconhecível de todo o sangue.

Uma porta fechou-se, e passos aproximaram-se. —Chefe, está tudo bem?


—Um homem questionou, aparecendo na escuridão. —O que diabos está
acontecendo aqui?

132
Eu me virei, olhei nos olhos dele e atirei na porra da sua cabeça, clareando
toda a sala. Seu corpo caiu no chão com um baque. Eu não vacilei, visando a
minha arma no centro da testa de Jerico em seguida.

—Dê-me um nome. —Eu exigi, empurrando a minha arma mais fundo em


sua pele. —Ou você não vai rastejar para fora daqui vivo. —Eu rosnei, perdendo o
resto de paciência que eu tinha.

—Meus homens irão encontrá-lo e matá-lo.

—Que triste. Ainda bem que eu não dou à mínima se eu morrer. Você
pode dizer o mesmo, filho da puta?

Seus olhos encontraram os meus, alargando ao perceber que eu não


estava blefando.

—Me dê uma razão. —Eu rosnei. —Me dê uma porra de razão por que eu
não deveria puxar o gatilho, e matá-lo por nos trair depois de tudo que fizemos
para você, seu latinozinho filho da puta.

Seu peito arfava e suas narinas estavam dilatadas, sua mente girava com a
incerteza. Eu enfiei a pistola mais profundo em sua testa, fazendo com que a
cabeça fosse empurrada para trás. Ele engoliu em seco, limpando a garganta,
tentando firmar sua cabeça.

Tirando sarro de mim.

—Você tem três filhas. —Eu falei com convicção, pegando-o


desprevenido. —Diesel, já esteve com uma Latina?

—Nenhuma, cara. Não tive o prazer, porra.

—Veronica tem os melhores lábios sugadores de pau deste lado da


fronteira. —Eu maliciosamente sorri, falando sobre sua esposa. —Jerico, como é
que um fodido horroroso como você, se casou com uma buceta como ela?

—Vá se foder!
133
—Não, obrigado, já comi a sua esposa. —Eu murmurei, sorrindo.

—Seu filho da puta! Você é um mentiroso, PORRA! —Ele gritou no topo de


seus pulmões, balançando na cadeira, quase derrubando-a.

Que eram utilizadas para o teatro que vinham junto com os nossos
interrogatórios. Nós não lhes demos qualquer atenção enquanto ele visivelmente
lutava, tentando se soltar. Ele não ia a lugar nenhum, a menos que eu quisesse.
Eu esperei até que ele se cansou, até que não havia nenhuma força para lutar
nele, e tudo o que ele faria agora era rolar e fingir de morto. Sangue jorrando
dele.

Abaixei-me novamente, inclinando-me perto de seu rosto. Inclinando a


cabeça para o lado, eu murmurei. —Pergunto-me se sua filha mais nova vai gostar
de montar meu pau, tanto quanto sua esposa gostou. —Eu rosnei.

—Deixe-as em paz, seu filho da puta!

Eu sorri largamente, os olhos selvagens e insolentes. —Não posso fazer


isso. Dê-me um nome ou Diesel e eu faremos uma pequena visita aos seus bebês.
Sempre quis violar o culo de sua filha mais velha. —Eu zombei, dizendo bunda em
espanhol. —Não se preocupe, no entanto. Eu vou enfiar meu pau em sua
garganta antes de enfiá-lo em sua bunda. Não quero rasgar nada. Não se pode
dizer o mesmo de Diesel.

Ele empurrou para frente, lutando para se libertar. —Se você colocar um
dedo nelas...

—Vou contar até três, e se eu não receber um nome, eu vou matá-lo, mas
não antes de eu fazer você assistir suas filhas serem fodidas na bunda pelo meu
pau, enquanto Diesel enfia sua Glock na sua garganta. Só para ver qual carga sai
em primeiro lugar.

—Seu...

134
De repente, eu levantei o braço, apontando a arma para o filho da puta
amarrado na cadeira à sua direita. —Um. —Eu contei, e atirei uma bala entre seus
olhos. Explodindo sua maldita cabeça, sangue e cérebro atrás dele. —Dê-me um
nome. —Eu repeti, apontando a minha arma no homem à sua esquerda. Ele
estava se debatendo, já sabendo o seu destino.

Olhei para Jerico.

—Por favor, chega. Não...

—Dois. —Eu puxei o gatilho de novo, mais sangue, mais cérebro.

Mais uma morte fodida.

Eu cansei de joguinhos. Eu nunca fui de usar mulheres ou entes queridos


como isca, mas isso não impediu que os irmãos deixassem isso acontecer no
clube. Por mais que eu não quisesse, eu tinha que olhar por esse lado. Deixar que
isso acontecesse, eu querendo ou não.

Essa era a verdade.

Fui até Jerico, colocando o cano da minha arma sob seu queixo. —Última
oportunidade, filho da puta. Ou nós vamos pegar uma carona para casa.

Encolhido longe de mim, ele fechou os olhos com força.

—Trê...

—Marcus! —Ele gritou. —O nome dele é Marcus.

—Ele está com os Sinners?

—Eu não sei. Ele veio aqui com alguns deles.

—Ele tem um colete?

—O quê?

135
—A porra de um colete. Como esse, filho da puta, como esse meu colete.

—Acho que não.

—Você acha que não, ou você não sabe?

—Eu não sei. Não me lembro.

Eu não vacilei, apontei a arma para sua parte interna da coxa direita e
puxei o gatilho. Ele gritou de dor, com falta de ar. Convulsionando bem na minha
frente.

—A próxima bala vai atingir três centímetros à esquerda. —Eu avisei,


apontando para o seu pau.

Com lábios trêmulos, ele disse. —Ele tinha um colete.

Eu sorri. —Achei que isso refrescaria sua memória. Engraçado como isso
funciona, não é?

Ele assentiu, rangendo os dentes.

Eu dei uma última olhada nele, rosnando. —Obrigado, porra. —Virei-me


para sair. —Pensando bem. —Eu girei, empurrando a minha arma na boca dele e
rugi. —Você não brinca com os Devil’s Rejects e vive para ver o outro dia. —Eu
puxei o gatilho, precisando acabar com isso de uma vez por todas. Eu consegui o
que eu queria. Fim da história.

Eu balancei a cabeça para Diesel e saímos de lá, esperando retaliação, logo


que chegamos às nossas motos. Prontos para irmos à guerra, e não dando a
mínima...

Que mais pessoas morreriam.

Não havia consciência sobrando dentro de mim.

Ela morreu no dia em que Vice Prez foi costurado em meu colete.

136
137
CAPÍTULO 10

—Jesus Cristo, Autumn. Quantas malditas vezes eu tenho que te dizer que
eu não quero você aqui quando eu não estou por perto? —Eu rosnei, chateado
que ela não me escutava.

Mais uma vez.

A última coisa que eu queria era me preocupar com ela também. Eu tinha
merda o suficiente na minha mente. Entre o clube, Noah e Ma, meu prato estava
cheio. Noah ia para o segundo grau com Autumn, e só Deus sabe que tipo de
problema ele começaria a ter. Ele já era um merdinha no ensino médio, tendo
inúmeras infrações enviadas para casa. Ma recebia telefonemas semanais, mas
ela estava muito bêbada para se importar. Ele mal tinha qualquer supervisão.
Tanto quanto eu gostaria de poder estar em mais lugares ao mesmo tempo, a
minha prioridade era o clube. Ma e Noah vinham em segundo plano. Noah já
estava começando a se rebelar, ir de igual para igual comigo algumas malditas
vezes, querendo que eu o visse como o homem que ele achava que era.

Pops não ajudava em nada também. Orgulhoso como a merda que ele
estava murmurando por aí, em primeiro lugar, não aceitando merda de ninguém.
Exceto ele. Eu não queria que Noah crescesse e fosse um causador de problemas
como eu era. Eu queria uma vida melhor para ele, mas não havia muito que eu
pudesse fazer. Eu não estava sempre presente, eu tinha que viajar por todo o
lugar para me certificar de que os outros capítulos sob as ordens do Devil’s
Rejects, estavam funcionando sem problemas. Apenas quando eu pensava que as
coisas poderiam abrandar e eu poderia encontrar um equilíbrio, uma maldita
normalidade, uma merda inesperada acontecia, e eu voltava à estrada

138
novamente. Fazia dois anos que eu tornei-me vice-presidente, e eu estava na
estrada mais frequentemente do que não.

Noah precisava de um modelo em sua vida, alguém a quem ele se


espelhar. O mais assustador era, eu sabia que ele queria ser igual a mim.

—Por que você se preocupa tanto? Tudo o que faço é entrar no clube,
entrar no teu quarto, e esperar por você. Eu mal vejo alguém no meu caminho e
vamos reconhecer, ninguém vai se meter comigo de qualquer maneira, Creed.
Eles sabem que eu sou sua. —Ela disse, afastando-me dos meus pensamentos.

—Você não é minha, Autumn. Você não é minha propriedade. Eu não


reclamei você e não planejo fazer isso também. Não vou brigar com você sobre
isso novamente. Você está dando murro em ponta de faca. —Argumentei, tirando
meu colete, jogando-o no sofá.

Eu tinha meu próprio quarto no clube agora, completo como uma


quitinete, com banheiro. Não era muito, mas era meu, embora a maioria das
noites em que eu estava na cidade, eu ia para casa. Querendo ver como Ma
estava lidando, e para verificar Noah. Era inútil realmente. Eu nem sequer a
reconhecia mais. Ela tinha envelhecido pelo menos dez anos, com o cabelo cheio
de fios cinza, rugas ao longo de todo o rosto uma vez impecável. Ela não podia
estar pesando menos do que setenta quilos.

Não havia mais nada da mãe que eu conhecia.

Agora ela era apenas uma bêbada.

Somando-se à culpa que estava enterrada no fundo da porra do meu


coração. Eu não tinha andado na parte de trás do bosque atrás do clube desde a
noite em que Luke foi enterrado lá, tão indigno. Eu não poderia fazer-me ir lá.

Os sonhos nunca mais pararam.

Tornaram-se piores.

139
Apenas somando todas as vidas que eu tinha tirado.

Autumn foi até onde eu estava junto ao balcão, pressionando as mãos


contra o meu peito. Olhando para mim. —Isso é só porque você é estupidamente
teimoso. Se você nos deixasse acontecer, você veria que poderíamos fazer isso
funcionar. Eu conheço sua história de vida. Eu sei o que você faz. Eu sei
exatamente o tipo de homem que você é, e eu te amo por isso. Sempre te amei.
Vou esperar o tempo que tiver que esperar, Creed Jameson. Você vale a pena
para mim. —Ela ficou nas pontas dos pés, e me beijou nos lábios. Forçando minha
boca a se abrir para ela. Deslizando as mãos pelo meu peito, em direção ao meu
pau, sem tirar os olhos dos meus.

Eu peguei os pulsos dela, empurrando-a para trás. —Não vai acontecer.

Ela zombou, revirando os olhos. —Certo. Eu esqueci. Você não precisa de


mim para isso. Não é?

—Eu sou um homem, Autumn. —Eu simplesmente declarei, fazendo-a


puxar seus pulsos da minha mão, e dar alguns passos para trás. Não esperando
minha resposta. —Eu não fiz a você nenhuma promessa maldita. Nenhuma. Não
me provoque, porra. Você não vai ganhar.

Ela fez uma careta, respirando forte. —Você não ama as mulheres.

—Não precisamos de amor para foder, querida.

—Você está sendo um idiota!

—Um idiota honesto. —Fiz uma pausa para permitir que as minhas
palavras afundassem. —O que você quer de mim é algo que eu nunca poderei lhe
dar. Por que você não pode entender isso? É por isso que eu não vou levá-la para
a cama. Eu a respeito por mais do que o que está entre suas pernas. Então pare
de me cobrar isso. Se eu quiser buceta, tudo o que tenho a fazer é sair. Você me
entendeu?

140
—Sim, Creed... Eu entendi. Eu entendi a maneira como você olha para
mim, por vezes, quando você acha que eu não posso vê-lo. Eu entendo a maneira
como você torna-se calmo quando estou por perto. Eu entendo a maneira que
você se preocupa comigo quando eu não estou por perto. Eu entendo a maneira
que você precisa de mim para te confortar, apoiá-lo, porra, te amar. E eu entendo
a maneira que você me ama também! É entendimento suficiente para você?!

—Você sempre foi minha melhor amiga, Autumn. Sempre será.

Ela balançou a cabeça, decepcionada com a minha resposta.

Era a verdade. Toda palavra que saiu de seus lábios era a maldita verdade,
e eu não ia discutir com isso. Então, dei-lhe a única resposta que era tão real para
mim, como ela era. Mesmo que eu soubesse que não faria nada, além de
machucá-la. Ela precisava perceber que tudo o que eu poderia fazer era causar
dor.

Eu não era bom para ela.

—Eu sento aí e espero por você. Você sabia disso? Eu espero você me
ligar, para me dizer que você precisa de mim. Para me dizer que sente minha
falta. Para me dizer todas as besteiras que sai de sua boca quando você está
sozinho! Você está me enganando! E eu sou uma tola por deixar isso acontecer.
Eu não vou fazer mais isso, seu idiota! Vou namorar. Dormir por aí. Estar com
outros homens, como você fica com outras mulheres! Que tal isso, hein? Vamos
ver quem estava certo e quem estava errado!

—Não me ameace, porra. —Eu avisei. —Não estou enganando você, você
apenas continua voltando. —Eu soltei, lamentando as minhas palavras
imediatamente.

Ela ofegou. Sua boca se abriu, seus olhos arregalaram-se,


instantaneamente encheram d´água. Autumn nunca foi muito de chorar. Ela era
durona, então eu sabia que tinha fodido tudo.

Dei um passo em sua direção. —Baby...


141
Ela virou-se e saiu, batendo a porta do quarto atrás dela, sem outra
palavra.

—Merda! —Eu gritei, puxando meu cabelo em um gesto frustrado.


Querendo arrancá-lo. Eu não sabia o que fazer quando se tratava dela. O que
dizer, ou como lidar com ela.

Nada.

Eu precisava descobrir como fazer isso melhor, sem torná-lo pior. Andei
em volta do meu quarto como se, de repente, fosse encontrar as respostas
escritas em minhas paredes ou alguma merda assim.

Eu estava perdido.

Peguei uma cerveja na geladeira, torci a tampa e joguei-a no balcão.


Tomei-a como se fosse água, necessitando de algo para me acalmar. Bati a
garrafa vazia sobre o balcão quando eu terminei. Olhando para a porta, onde um
enorme pedaço da minha vida, havia ido embora. Uma sombra pálida me chamou
a atenção pelo canto dos meus olhos, refletindo na parede.

O restante passou em câmera lenta.

Eu caí no chão, cobrindo a cabeça com os braços, abaixando-me atrás do


balcão. Usando-o como um escudo, me cobrindo da melhor forma que pude,
enquanto balas, de repente, atingiram ao longo de todo o meu quarto.
Destruindo tudo em seu rastro. Causando buracos no drywall, ricocheteando nos
aparelhos de metal. Quebrando janelas em todos os lugares, fazendo com que
pedaços de vidro atingissem minha pele.

Tirei minha arma da parte de trás da minha calça jeans, fiquei de pé, sem
um segundo pensamento, e retornei os tiros na direção do atirador. Ouvi um
baque segundos mais tarde. O filho da puta caiu no chão, morto. Corri até minha
gaveta, agarrando outra Glock, e jogando clipes extras nos bolsos da minha calça
jeans. Fui até a minha porta, olhei para o corredor antes de correr para fora do
meu quarto. Irmãos estavam saindo dos deles, atirando em todas as direções.
142
Prontos para matarem sem pensarem duas vezes. Agindo por pura adrenalina e
fúria por alguém estar nos desrespeitando em nossa porra de casa.

O armazém estava sob fogo cruzado.

O clube foi decorado com buracos de bala por toda parte. Uma guerra
total havia estourado. As mulheres estavam gritando, correndo dos quartos
seminuas, tentando buscar segurança da melhor forma que podiam. Algumas não
tiveram a mesma sorte.

—AUTUMN! —Gritei, pisando sobre os corpos, procurando por ela. Medo


rapidamente tomou conta do meu corpo quanto mais tempo levava para
encontrá-la.

Corri pelo corredor até a sala, tentando ignorar todos os corpos, e sangue
em torno de mim. Porra, orando a Deus para que eu não encontrasse Autumn
entre eles. Abrindo fogo, atirando em homens que eu nem conhecia ou não tinha
visto antes. Havia um fluxo interminável de balas que vinham até nós de todas as
direções. Nosso clube estava irreconhecível pelo caos, e os filhos da puta estavam
bombardeando a nossa casa. Sangue voava por toda parte, sem saber se era deles
ou meu.

Eu estava dormente.

—AUTUMN! —Gritei, novamente. —Onde diabos você está?!

—Creed! Atrás do bar! Eu a vi atrás do bar! —Diesel gritou quando ele


abateu mais dois homens. Ele acenou com um gesto silencioso para ir até ela, por
que ele estaria me dando cobertura. Ele jogou um rifle de assalto para mim,
sabendo que eu ia precisar dele. Arremessando uma das minhas armas vazias no
chão, eu coloquei a outra na parte de trás da minha calça jeans. E corri em
direção à porra do bar.

A descarga de adrenalina corria em minhas veias, pulsando na minha


corrente sanguínea. Tomando conta de cada centímetro do meu maldito corpo.
Meu coração batia forte contra o meu peito enquanto eu tentava chegar até ela.
143
Diesel e eu derrubamos cada filho da puta que estava no nosso caminho.
Ninguém ia me parar, eles poderiam tentar, mas eles perderiam.

—Porra! Eles estão infestando o clube! Como pragas fodidas! FAÇA


ALGUMA COISA! —Diesel rosnava, bala após bala, após porra de bala.

Minha visão afunilou, não vendo nada, além do vermelho quanto mais
perto eu chegava dela. —AUTUMN! —Eu gritei sobre o derramamento de sangue,
chegando à área do bar.

Ela estava sentada no canto mais atrás de um barril, como se estivesse


tentando se tornar parte da parede. A cabeça enfiada entre as pernas, as mãos
cobrindo as orelhas. Balançando para frente e para trás.

Eu nunca a tinha visto parecer tão apavorada.

Isso me atingiu em cheio.

Eu estava sobre a ela em dois passos, agachando-me na frente dela


enquanto Diesel tomava posição para abater qualquer filho da puta que se
aproximasse.

—Baby. —Eu falei, lentamente, estendendo a mão para ela, necessitando


que ela visse que era eu.

Eu não me importava que o ar ainda estivesse cheio de fogo cruzado. Eu


precisava ter certeza de que ela estava responsiva, e não entrasse em choque.

—Creed... —Ela gritou, seus olhos brilhando com lágrimas quando ela me
viu. Agarrando minha mão, ela jogou os braços ao redor do meu pescoço.
Segurando-me tão forte quanto podia. —Você está vivo. Eu pensei que você
estivesse morto. Eu pensei que eles haviam te matado. —Ela gritou. Seu corpo
convulsionou em meus braços por causa da aflição.

—Shhh... —Murmurei ao lado de seu rosto. —Shhh... Eu estou aqui. —


Tentei acalmá-la da melhor forma que podia.

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—Creed, vamos lá! Eu tenho um prospecto para protegê-la! —Diesel
gritou da minha direita.

Eu me afastei, pegando a minha arma na parte de trás da minha calça


jeans, entregando a ela. —Se qualquer pessoa que não estiver vestindo nossos
coletes chegar perto de você, você atire. Mete a bala na maldita cabeça. Você me
entendeu?

Ela assentiu com fervor, segurando a arma em sua mão trêmula. Ainda
agarrando-me como se sua vida dependesse disso. Eu me afastei de seus braços.

—Creed! —Ela chorou, com medo por mim.

—Já volto, querida. Eu já volto. —Eu a tranquilizei, acenando para o


prospecto trocar de lugar comigo. Ameaçando sua vida se ele deixasse algo
acontecer a ela.

Diesel e eu seguramos nossas armas, esperando a próxima sequência de


tiros para revidar. Olhei em volta à minha esquerda, enquanto ele fez o mesmo à
direita, certificando-nos de que o caminho estivesse livre antes de sairmos da
segurança do nosso ponto atrás do bar.

—A gente se vê no outro lado, irmão. —Declarou ele, indo na direção


oposta.

Eu fui até a sala de jogos, a comoção ficando mais alta a cada passo que eu
dava. Parando na porta, ouvi antes de entrar. Tiro após tiro irrompeu das minhas
mãos enquanto eu entrava no quarto, cápsulas de balas voando pelo meu rosto,
uma após a outra.

Cruéis e implacáveis.

Agressores caindo para a morte, tudo em nome das cores em seus coletes.

Sinner’s Rejoice estavam fazendo sua presença conhecida, deixando-nos


saber que eles não estavam de brincadeira. Não só eles queriam nosso território,

145
como eles queriam nossas malditas almas. Vindo para o nosso clube, tentando
nos mostrar quem era o chefe, apenas para perceberem que o MC deles não era
melhor do que o nosso. Eu perdi a conta de todos os homens que eu matei, e que
coloquei no chão naquele dia. Eu não era nada melhor do que eles. Lutaria pelos
meus irmãos até o meu último suspiro se eu tivesse que fazer.

Conclusão.

Era quem eu era agora.

Respirando fundo, pela primeira vez desde que os primeiros tiros soaram,
o cheiro de sangue assaltou meus sentidos. Nada, além dos sons de Harleys
decolando em todas as direções podiam ser ouvido, e o fogo cruzado cessou em
torno de mim. Eles estavam fugindo do inferno e da bagunça que eles trouxeram
para nós. Com menos homens do que chegaram. Não importava. Isso não
terminou.

Estava longe de acabar.

Tinha apenas começado.

Voltei para a sala, parando na porta. Diesel, Pops, alguns dos outros
irmãos estavam lá com as suas armas para baixo, silenciosamente olhando para
um homem que estava deitado em uma poça de seu próprio sangue, no centro da
sala. Pops virou quando me ouviu, revelando que era um dos nossos.

Phoenix.

Memórias da primeira tatuagem que ele me fez imediatamente passaram


em minha mente, e cada uma delas desde então. Meu pai agachou-se, fechando
os olhos de Phoenix.

Ele fez o sinal da cruz sobre seu corpo, afirmando como sempre. —Das
cinzas as cinzas, do pó ao pó, e toda essa merda.

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Olhei para cima, bloqueando meu olhar com o de Autumn do outro lado
da sala, que estava vindo com o prospecto. Um sorriso iluminou seu rosto quando
ela viu que eu estava vivo, mas foi rapidamente substituído por uma careta
quando eu não retornei o gesto. Ela seguiu meu olhar, parando os olhos no corpo
morto de Phoenix. Eles tinham matado um dos nossos.

—Sinto muito. —Ela mexeu a boca na distância entre nós.

Uma sombra apareceu do nada. Eu vi isso antes que realmente


acontecesse. O homem que eu vi era Marcus, estendendo a mão por trás de
Autumn.

Ele apontou a arma e puxou o gatilho.

—NÃO! —Eu gritei, correndo o mais rápido que pude. Imagens da morte
de Luke brilharam na frente dos meus olhos. Os gritos, o sangue, o caos tudo
voltando, atingindo-me como uma tonelada de tijolos.

Um grito de gelar o sangue me tirou de um pesadelo para o seguinte.

A próxima coisa que eu sabia era que estava deitado no chão, os irmãos ao
meu redor. Sentia uma dor latejante. Percebendo muito rapidamente que eu
tinha acabado de levar a bala maldita...

Que era para o meu pai.

147
CAPÍTULO 11

—Só faça, porra. —Eu pedi, tomando a garrafa de uísque. Suando e


tremendo demais por causa da bala alojada no quadrante superior direito do meu
abdome. Eu estava deitado sobre o lado direito da minha cama, apoiado com
alguns travesseiros.

—Creed, apenas deixe-me entorpecer o lugar para que eu possa extrair a


bala e costurá-lo. Você não vai sentir...

—Não vou me sentir uma merda com mais alguns goles desta merda
também. Faça. —Eu interrompi Joseph, o médico que tínhamos na folha de
pagamento. Tomei outro gole da garrafa já meio vazia.

—Droga, Creed Jameson! Por que está sendo tão teimoso? Você não é o
Superman. Deixe-o anestesiá-lo! —Autumn exigiu, preocupação evidente em seu
tom. Olhando-me de cima a baixo do local em que ela se encontrava ao lado da
minha cama.

—Não precisa sedar. —Eu tomei mais três goles do uísque. —Não vou
dizer de novo.

Joseph suspirou, balançando a cabeça antes de derramar álcool na minha


ferida aberta.

—Argggghhh! —Eu rosnei com os dentes cerrados, arqueando as costas


para fora da cama. —Filho da puta! Da próxima vez dê um pequeno aviso.

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—Diesel, eu vou precisar que você o mantenha quieto. —Joseph ordenou,
me ignorando. —Ele não pode mover-se, ou não vou ser capaz de encontrar a
bala.

Diesel pegou o uísque da minha mão, tomou alguns goles, e o colocou na


minha mesa de cabeceira quando terminou. Joseph posicionou meu braço direito
sobre meu peito, empurrando-me para o meu lado esquerdo para um melhor
acesso. Gesticulando para ele ficar pronto. Diesel se ajoelhou na cama, pairando
sobre mim, colocando uma das mãos sobre o braço no meu peito, prendendo-o.
O outro na minha cintura, para me segurar.

—Aqui vou eu. —Disse Joseph antes de passar a lâmina em minha pele
ferida.

Eu podia ouvir minha pele rasgar enquanto ele chegava à ferida,


procurando pela bala. —Poooorrrraaaaaaaaaaaa. —Eu rosnei.

O prospecto que estava de pé na sala entrou em ação. Agarrou a garrafa


de uísque da mesa de cabeceira e colocou-a nos meus lábios, deixando-me
engolir o líquido âmbar até que não houvesse mais nada.

—Ugh! —Autumn resmungou, levantando-se. —Eu não posso assistir a


isso! Você é ridículo! Vocês todos são! Inacreditável! Eu não posso acreditar que
ele está fazendo isso. Tão idiota. Acha que é o Tarzan... —Continuou ela,
apressando-se para sair da confusão que agora era meu quarto. Vidro era
triturado sob seus pés. Eu ainda podia ouvi-la reclamar pelo corredor.

—Mulheres. —Diesel falou, acima de mim. —Não é possível viver com


elas. Não é possível viver sem elas. Eu tentei. Minha mão fica muito cansada.

Eu ri, a bebida finalmente assumindo. Entorpecendo a pele onde a bala


entrou.

—Como está se sentindo?

149
Dei de ombros. Principalmente sem sentir a dor, fato de que Phoenix tinha
ido embora. Nós não saímos ilesos, perdemos alguns outros bons homens
também.

—Levou uma bala pelo seu velho. Não vou mentir. Não vi essa merda
chegando.

—Eu e você, irmão. Não posso sequer dizer que foi uma surpresa. Sabia
que isso viria... Não queria que ele morresse.

—É por isso que temos que conversar, Creed.

—Fale então, porra. Eu não vou a lugar algum.

—Achei. —Joseph entrou na conversa, tirando a bala cheia de sangue do


meu peito como uma lembrança maldita.

Diesel me soltou e caminhou até a cozinha.

—Foi um tiro limpo também. Não atingiu qualquer nervo, e ficou alojada
bem no músculo entre as costelas. Vou costurá-lo. Deve fechar dentro de uma
semana. Você é sortudo. Poderia ter sido alguns centímetros acima. —Joseph
apontou para o meu coração. —Deixei meus curativos no carro. Volto logo.

Diesel acenou com a cabeça em direção à porta para o prospecto, em


silêncio, ordenando-lhe para sair também. Fechando a porta, ele caminhou de
volta para a cama.

—Vai precisar disso depois de ouvir o que eu tenho a dizer. —Ele


aconselhou, entregando-me uma nova garrafa de uísque.

—Eu estou escutando. —Eu murmurei, tomando alguns goles.

Ele suspirou, sorvendo uma respiração profunda. Sentado na cadeira em


que Autumn tinha acabado de desocupar. —Somos irmãos a um longo tempo.
Mesmo antes de você subir de posto. Não é?

150
—Não seja um maricas. Não precisa ficar adoçando essa porra, Diesel.
Desembucha.

—Eu não estaria dizendo isso se não fosse pelo que fez esta noite. Tomar
uma bala por ele. Colocando sua vida em risco por seu pai.

—Por bem ou por mal. Ele é o meu velho. —Eu simplesmente disse,
descansando minha cabeça no travesseiro. Olhando para o teto.

—Ele não merece isso. Sua lealdade. Sua vida.

—Você não está me dizendo nada que eu já não saiba, Diesel.

—Striker era um bom homem. Ele pode ter sido um velho mal-humorado,
mas ele não era um traidor.

Apertei os olhos para ele, pego de surpresa.

—Eu acho que foi uma armadilha, mano. Eu não sou o único que suspeita
disso.

—Meu pai vive e respira este clube, ele não faria...

—Isso te colocou como Vice Prez, não foi? O fez parecer como um maldito
herói. Olhe para a tempestade de merda que acabou de acontecer. Como eles
chegaram ao composto? Este lugar é um Fort Knox fodido. Nós nos orgulhamos
de nos certificarmos disso. Quem você acha que deixou esses filhos da puta
entrarem? Por que eu não tinha ouvido falar de Sinners Rejoice antes dessa
reunião. Eu era um Nômade, fui por um longo tempo, porra. Há algo mais
acontecendo aqui do que apenas uma guerra por território. Custou a Striker e
Phoenix suas vidas. Quase custou-nos a sua também. Esta retaliação esta noite...
Parece um pouco demais, não é? Por matar Jerico e alguns de seus homens?

Minha mente imediatamente começou a cambalear com tudo o que ele


acabou de dizer, principalmente porque fazia tanto sentido. Cada palavra.

151
—Pense nisso. Nós vamos terminar essa conversa mais tarde. —Ele se
levantou, e caminhou até a porta. —Precisa de qualquer coisa antes de eu sair?
Mais bebida? Maconha? Buceta? —Ele piscou. —Vou mandar alguém. —Ele
gritou por cima do ombro.

Eu ri.

Joseph voltou poucos minutos mais tarde. Ele me costurou, e envolveu


uma bandagem elástica em volta do meu tronco quando ele terminou, querendo
manter o máximo de pressão possível sobre a ferida. Eu afoguei minhas dores até
o fundo da garrafa. Entorpecendo-me ao ponto de não dar a mínima sobre
qualquer coisa.

Minha mente estava finalmente em silêncio pela primeira vez desde que
eu conseguia lembrar.

Quando terminou tudo, ele colocou um frasco de pílulas para dor no


criado-mudo e saiu. Engoli três delas com uísque. Não sei quanto tempo fiquei ali,
inclinando a cabeça contra a cabeceira da cama, fodido até o ponto de exaustão.
Por fim, analisei a bagunça do meu quarto. Os buracos de bala, o vidro, as
luminárias penduradas. Parecia que um maldito furacão passou por aqui.

Refletindo a porra da minha vida.

—Você precisa comer, ou toda essa medicação e bebida acabarão com seu
estômago já ferido, Creed. —Autumn anunciou, voltando ao quarto com um prato
de comida em suas mãos. Fechando a porta atrás dela.

—Eu estou bem. —Eu respondi, tomando mais um gole. —Está tarde.
Pensei que você tivesse ido para sua casa.

—Como se eu pudesse dormir. —Ela pegou a garrafa das minhas mãos,


colocando-a na mesa de cabeceira ao lado das pílulas. Ela colocou a comida perto
delas e sentou-se ao meu lado.

—Vai me chutar nas bolas quando eu já estou fodido, querida?

152
—Não é sua culpa. Você nunca deixaria nada acontecer comigo. Pelo
menos não de propósito.

—Como eu não deixei alguma coisa acontecer com Luke? Assim, Autumn?

Ela franziu a testa, sabendo que eu estava certo.

Fechei os olhos, querendo que a escuridão assumisse. Entre o tiroteio,


Phoenix morrendo, colocar a vida de Autumn em risco, levar um tiro pelo meu
pai, o homem que poderia ser o responsável por tudo isso, para começar, era
apenas demais para mim. Finalmente tudo isso pesou, me nocauteando. Os
comprimidos e bebidas já não me anestesiavam o suficiente. Nem mesmo o
suficiente. Meu coração começou a acelerar novamente só de pensar nisso.

—No início, quando eu saí do seu quarto, eu estava tão chateada com
você.

Abri os olhos, e olhei para ela.

—Eu disse algumas coisas desagradáveis, você disse algumas também.


Estávamos brigando. Passei pelo bar ao sair quando, de repente, ouvi armas
atirando. Sabe qual foi a primeira coisa que pensei? —Ela balançou a cabeça com
a dor da memória.

Eu sabia que ela nunca seria capaz de se livrar das imagens. Era agora uma
parte dela, tanto quanto era para mim.

—Eu pensei... Creed vai morrer e nós estamos brigados. Eu me escondi


atrás do bar, ouvindo a sua voz na parte de trás da minha cabeça, me dizendo
para me proteger. Para ficar segura. Por mais que eu quisesse correr de volta para
o seu quarto, e ficar em seus braços. —Ela fez uma pausa, deixando suas palavras
afundarem. —Eu fiquei onde estava. Eu fiz isso por sua causa. Quanto mais eu
ficava lá, mais eu tinha certeza de que você estava morto. Fazendo-me querer
morrer também. Eu não acho que eu poderia continuar vivendo. Eu não conheço
uma vida sem você nela, Creed. Você é tudo que eu já conheci. —Ela falou,
fazendo-me sentir como um pedaço de merda maior do que eu já era.
153
Seus olhos começaram a marejar e ela lutou para segurar as lágrimas. Eu
odiava que eu fosse a razão pela qual ela choraria novamente.

Sabendo que isso não era do seu feitio.

Partindo meu coração de forma que eu não achava mais ser possível.

Talvez fosse o álcool ou as pílulas, mas antes que eu soubesse o que eu


estava fazendo, eu agarrei sua cintura, puxando-a para mim. Ela veio de bom
grado, rastejando para o meu colo. Escarranchando em minhas coxas. Olhando
profundamente em meus olhos fodidos.

—Sinto muito, Autumn. Eu sinto muito por tudo.

—Shhh... —Ela colocou o dedo indicador sobre os lábios. —Nós dois


passamos por muita coisa esta noite. Vamos apenas ficar aqui um com o outro.

—Baby... Não é...

—Por favor. —Ela inclinou-se para frente, pressionando suavemente seus


lábios contra os meus. —Deixe-me. Por favor... —Ela implorou, descendo para
pegar a bainha de seu vestido, não me dando uma chance para protestar. Ela
puxou o tecido de algodão sobre a cabeça, liberando seus seios empinados. Como
se ela soubesse que eu não seria capaz de resistir a ela se ela estivesse nua.

Vulnerável.

Exposta.

Ela era a maldita perfeição.

Sacudindo seu cabelo vermelho, ela inclinou-se novamente. Beijando-me


suavemente, acenando aos meus lábios para fazerem o mesmo, enquanto roçava
sua buceta no meu pau simultaneamente.

154
Eu agarrei a bunda dela, gemendo. Não mais sendo capaz de me conter,
ela era gostosa pra caralho. O cheiro do corpo dela me envolveu. Atacando os
meus sentidos ao mesmo tempo.

Meu pau estremeceu, dolorido para estar dentro dela.

Beijei-a de volta, roçando seus lábios suavemente em primeiro lugar.


Provocando-a com a ponta da minha língua, passando-a ao longo do contorno da
sua boca. A sensação de sua pele naquele momento me levou ao limite, e tudo o
que estávamos fazendo era beijar. Nossas línguas se moviam em sincronia uma
com a outra, colidindo, penetrando profundamente em meu maldito núcleo. Ela
começou a balançar os quadris no meu pau duro novamente, me beijando mais
profundo, mais forte e mais exigente do que nunca.

Beijei-a uma última vez, deixando meus lábios permanecerem por mais
alguns segundos. Descansando minha testa contra a dela, ela estava respirando
pesadamente. Seus olhos escuros e dilatados me atraíam. Seu cabelo vermelho
longo, despenteado caía em todo seu rosto, espalhando-se entre nós. Eu resisti à
vontade de dar um puxão apenas para que eu pudesse beijar todo seu pescoço,
clavícula, e em seus seios.

Eu lentamente movi minhas mãos ásperas e calejadas pelo corpo dela.


Sentindo a suavidade de sua pele de seda branca pela primeira vez. Continuando
meu ataque, fazendo-a se contorcer sob o meu toque. Esperando meu próximo
movimento.

Sua respiração travou quando eu segurei as mamas dela, empurrando-as


juntas, apreciando a sensação de tê-las em meu aperto. Seus mamilos estavam
duros, implorando para serem sugados. Seus seios rosados e redondos
acentuavam sua cintura fina e coxas macias.

—Por favor... —Ela implorou, pedindo-me para tocá-la de uma maneira


que eu nunca toquei antes.

Sorri, deslizando minha mão em sua calcinha, sentindo sua umidade nos
meus dedos. Puxei-os para fora quase que imediatamente, espalhando seus sucos
155
ao longo de sua boca, apenas para obter um sabor de sua doce buceta em seus
lábios. Apertei seu mamilo com a outra mão. Ela gemeu alto, fazendo com que
meu pau se contorcesse com o som. Eu mergulhei minha língua em sua boca à
espera, puxando o lábio inferior entre meus dentes. Sugando toda a sua doçura
salgada.

Enfiei minha mão de volta em sua calcinha, ao longo de toda sua buceta.
Amando a sensação de seu calor contra meus dedos.

—Tão molhada, porra. —Rosnei em sua boca, manipulando seu clitóris


com a palma da minha mão por alguns minutos, observando-a se desfazer.

Eu empurrei meus dedos médio e anelar em sua buceta molhada,


apontando-os diretamente em seu ponto G. Eu sabia que ela não era mais virgem.
Eu não teria tocado nela se ela ainda fosse. Ela perdeu sua virgindade há um
tempo com o pedaço de merda do Mason, e eu tive que colocá-lo no hospital por
tirar proveito dela. O filho da puta a embebedou com álcool uma noite, enquanto
eu estava fora da cidade, para que ela abrisse as pernas para ele. Sabendo que ele
poderia fugir com isso já que eu não estava por perto.

—Eu vou gozar, Creed. —Ela ofegava enquanto eu passava o dedo em seu
doce ponto G.

—Aqui, querida... Bem aqui... não é? —Provoquei, empurrando meu dedo


mais e mais rápido.

Suas pernas tremiam, seu corpo tremia. Ela estava perto de perder o
controle, estremecendo, abrindo mais as pernas, passando as unhas em meu
peito nu.

—Bem assim... Foda os dedos, monte neles como se fosse a porra do meu
pau.

Sua buceta pulsava, apertando meus dedos tão forte. Quase empurrando-
os para fora. Gozo escorrendo por eles.

156
Ela gritou a porra do meu nome.

Não havia como voltar atrás depois disso. Eu pisei na linha, agora eu a
cruzaria completamente. Eu a deixei ter seu orgasmo na minha mão.

Seus olhos imediatamente se abriram quando ouviu o zíper da minha calça


jeans, que eu baixei com a mão livre. Estendendo a mão para a minha mesa de
cabeceira, peguei um preservativo. O abri com meus dentes. Ela rapidamente
tirou a calcinha enquanto eu puxava meu pau. Acariciei-o algumas vezes
enquanto rolava o preservativo para baixo.

Seus olhos arregalaram-se. —Deus, Creed. —Ela murmurou quando viu o


meu tamanho.

Eu sorri, segurando seus quadris. Rocei meu pau vagarosamente em sua


abertura, deixando-a agradável e molhada para me aguentar. Sabendo que eu iria
machucá-la se não o fizesse.

—Quer meu pau, Autumn? Vai me deixar entrar?

—Sim... —Ela ronronou, sem fôlego. Ficando mais molhada com o


movimento de vaivém em seu clitóris, deslizando contra o meu pau.

Deixando-a mais molhada.

Escorrendo em minhas bolas.

Eu soltei seus quadris, segurando a base do meu pau para ela se sentar.
Posicionando-me em sua abertura, ela moveu-se gradualmente para baixo.
Engolindo a cabeça do meu pau, antes de terminar com a porra do meu eixo em
sua maldita buceta apertada. Espalhando sua umidade, avancei dentro dela, um
pouco mais de cada vez. A boca dela se abriu, os olhos fecharam com força
enquanto ela me levava completamente.

—Monte-me, baby. —Eu sussurrei as palavras, reivindicando seus lábios.


—Monte-me forte, porra.

157
Ela lentamente balançou os quadris até que ela se acostumou com a
sensação do meu pau dentro dela. Colocando as mãos contra a cabeceira para
maior apoio, ela me montou mais rápido e mais forte. Fazendo com que sua
cabeça caísse para trás, e eu tomei seu mamilo em minha boca, amassando o
outro, não sendo possível obter o suficiente dela. Outro gemido escapou do
fundo de sua garganta. Tudo o que eu podia ouvir era o desejo, enquanto eu
acariciava seus seios e chupava seus mamilos.

Movi uma das minhas mãos para seu clitóris. Sua respiração oscilou, logo
que ela percebeu o que eu estava prestes a fazer. Ela me incentivou, empurrando
seus quadris para frente.

—Creed...

—Isso aí, querida. Assim... Foda-me assim... —Rosnei.

Eu podia sentir sua buceta apertar, segurando meu pau como uma porra
de um torno. Vagamente sentindo-a tremer. Inclinando-se, ela começou a me
beijar de forma mais agressiva do que antes. Eu agarrei a parte de trás do pescoço
dela, querendo trazê-la mais perto, precisando que seu corpo cobrisse o meu.
Nossos lábios moviam-se em seu próprio acordo, não tendo mais controle sobre
nossos movimentos.

Beijei-a na linha da mandíbula, no pescoço, e deliberadamente voltei para


seus lábios. Suas mãos delicadas moviam-se pelo meu peito coberto, querendo
sentir a minha pele contra as pontas dos dedos. Parando na beira da minha
atadura, não querendo me machucar.

—Porra... Você é tão gostosa. —Eu gemi, empurrando meus quadris para
cima. Agarrei seus quadris mais uma vez. Movendo-a mais forte, mais rápido,
para o prazer dela e o meu. Sentindo seu ponto G no meu pau.

Meu ponto doce do caralho.

Meu ritmo aumentou à medida que eu a fiz me foder tão forte quanto
podia, não sendo possível obter o suficiente. Eu não pude resistir, eu adorava
158
foder áspero, e os sons que escapavam dela me incentivaram também. Ambas as
nossas bocas se separaram, sem fôlego, chegando ao limite, esperando para cair
no abismo.

Uma dor fodida correu pelo meu abdômen por causa do impacto, mas eu
não me importava. Eu mergulhei minha língua em sua boca quando senti sua
buceta pulsar. Abafando seus gritos.

Seu tremor foi a minha ruína.

Ela foi minha ruína.

Um gemido escapou de dentro do meu núcleo enquanto eu gozava forte.

Ficamos ali por não sei quanto tempo, nós dois tentando recuperar o
fôlego. Até que ela se moveu, deitou ao meu lado enquanto eu jogava fora o
preservativo. Preguiçosamente, ela traçou minhas tatuagens. Puxei-a em meus
braços, beijando o topo de sua cabeça.

—Eu te amo. —Ela disse sonolenta, descendo de seu orgasmo.


Adormecendo.

Trazendo-me de volta à realidade.

Que eu tinha acabado de foder tudo.

Ao foder com ela.

159
CAPÍTULO 12

Meus olhos se abriram com o sol brilhante da manhã. Perguntando-me


onde diabos eu estava por um segundo. Minha cabeça latejava e meu torso
estava fodido. Todos os eventos da noite anterior imediatamente vieram à mente
como se eu estivesse revivendo-os mais uma vez. Percebendo que não era um
pesadelo. Apenas aumentando a minha dor de cabeça.

—Merda. —Eu respirei, olhando para baixo em Autumn, que estava


deitada com a cabeça no meu peito. Seu braço em volta da minha cintura, sua
perna estendida sobre a minha, me segurando forte.

Eu afundei de volta no colchão, olhando para o teto. Balançando a cabeça


para trás e para frente, mentalmente chutando meu próprio rabo pelo que eu
tinha feito. Eu precisava adicionar mais problemas na minha vida já cheia de
merda, como eu precisava de uma porra de uma bala na minha cabeça.

Eu não tinha ninguém para culpar além de mim mesmo.

Autumn se agitou, abrindo os olhos. Olhando para mim com nada além de
adoração e amor. —Oi. —Ela cumprimentou, aconchegando-se mais
profundamente no meu peito. Beijando-o algumas vezes. —Eu vou me lavar. Já
volto. —Ela beijou meu peito uma última vez e se virou, levando o lençol com ela.
Ela foi até a cadeira, e pegou seu vestido e sandálias. Levantou-se,
cuidadosamente andando pelos escombros, indo para o meu banheiro.

Sentei-me, gemendo de dor. Instantaneamente agarrando duas pílulas de


dor, tomando-as a seco. Eu abri minha gaveta, tirei uma calça jeans limpa e a
coloquei. Enfiei meus pés descalços nas minhas botas. Ainda havia vidro em todos
160
os lugares. Pops já tinha dado seus telefonemas na noite passada, descobrindo
quanto tempo levaria para deixar este lugar arrumado e limpo. Eu acho que ele
disse que não demoraria muito, o dinheiro podia comprar sempre qualquer coisa
e tudo.

Autumn voltou, com os olhos brilhantes e cheios de energia. Praticamente


pulando em cima de mim. —Eu vou ver se posso encontrar-nos algum café da
manhã. Então eu vou ajudá-lo a trocar seus curativos, querido. —Ela sorriu,
colocando um beijo na minha bochecha.

Eu gemi em resposta, já temendo o que estava por vir. Urinei, escovei os


dentes, tendo um vislumbre da minha cara de merda no espelho rachado. Cacos
de vidro estavam em todo o balcão.

—Você é um pedaço de merda. —Eu rosnei ao meu reflexo, olhando para


mim. Cuspi a pasta de dentes na pia. Espirrei um pouco de água fria no meu rosto.

Autumn estava sentada na cama com um prato de frutas e uma torrada na


frente dela. —Isso foi tudo que eu pude encontrar na cozinha do clube. Pelo
menos é algo para alimentar você. Vem sentar-se para que eu possa fazer seu
curativo, está encharcado de sangue, Creed. Você não quer que isso vire uma
uma infecção.

—Estou bem.

—Creed...

—Autumn, eu estou bem, porra. —Eu resmunguei, pegando meus


cigarros, acendendo um. Precisando da nicotina para afastar a neblina.

Ela suspirou, derrotada. —Jesus, mesmo quando você fica com alguém,
você ainda não fica de bom humor. Bom saber.

—Nós precisamos conversar.

—Sobre o quê? —Ela perguntou, jogando um morango na boca dela.

161
Eu fui até ela, e sentei na beira da cama ao lado dela. Não querendo
arrastar isto por mais tempo.

—Escute, eu fodi tudo. Na noite passada, eu estava bêbado, chapado, e


fodido. Sentindo que estava machucando você também. Você não deveria ter
estado aqui, Autumn. Poderia ter sido ferida. Realmente ferida. —Eu hesitei,
incapaz de dizer as palavras.

O pensamento de outra vida sendo perdida por minha causa era demais
para eu suportar. Eu dei outra tragada do meu cigarro, deixando a fumaça sair
através do meu nariz. —Não deveria ter visto o que você viu. Colocado sua vida
em perigo por mim. Isso não pode acontecer mais. —Olhei para ela, tentando ser
o mais gentil possível.

—Eu te amo. É muito simples para mim. Eu não me importo.

Eu fiz uma careta, engolindo em seco, finalmente, afirmando. —A noite


passada foi um erro.

—O que? Por quê? Eu não... Quero dizer... Não fui bem?

—Jesus Cristo, querida. Pelo amor de Deus, você foi maravilhosa. —Eu
sussurrei, inclinando os cotovelos sobre os joelhos. Segurando minha cabeça
latejando. —Mas não é sobre isso.

—Quero dizer, eu sei que não sou tão experiente quanto o que você está
acostumado, mas eu posso...

Eu olhei para ela. —Eu te amo, Autumn. Você sabe disso. Mas não estou
apaixonado por você. E você sabe disso também.

Ela abruptamente parou, pairando acima de mim, com as mãos nos


quadris. —Você está mentindo! Você está com medo! Eu não me importo. Eu só
quero estar com você! Por que você não pode abrir seus olhos e ver-nos pelo que
nós somos? Somos muito bom juntos, e você sabe disso. Na noite passada, só

162
provou isso a você, Creed. Você está apenas tentando me afastar! Nós somos
mais do que apenas melhores amigos, e nós sempre fomos!

—Não torne isso mais difícil do que já é.

Lágrimas escorriam pelo seu rosto, enfiando uma faca em meu coração.
Levantei-me, não aguentando mais. —Pare de desperdiçar essas lágrimas por
mim. —Murmurei, enxugando sua tristeza. —Não valho a pena.

Ela empurrou minha mão. —Foda-se, Creed! Depois de tudo o que


passamos. Você vai me tratar como apenas mais um pedaço de bunda. —Ela
gritou, recuando para longe de mim.

—Se isso fosse verdade, eu teria lhe dito para dar o fora da minha cama
depois que eu gozei. Você não teria dormido aqui em meus braços na noite
passada.

Ela balançou a cabeça, enojada. —Não se preocupe. Eu vou dar o fora


agora. —Ela virou-se, mas a agarrei pelo braço, impedindo-a. — Não me toque! —
Ela retrucou, empurrando-me para longe o mais forte que podia.

—Foda-se! —Gritei, curvando. Envolvendo o braço em volta do meu


tronco com a dor pungente.

Ela deu uma olhada para mim, zombando. —Bom, agora nós dois estamos
sofrendo. —Ela virou-se novamente e saiu. Deixando-me com a culpa indiscutível
de foder tudo com ela.

Passei o resto do dia deixando meu quarto em ordem, rejeitando a ajuda


das inúmeras prostitutas que eu sabia que Diesel continuava enviando-me.

Eu queria ficar sozinho.

Os dias seguintes foram iguais. Os irmãos arrumavam o que podiam em


todo o armazém, enquanto Pops continuava chamando alguns reforços. Nós
estávamos mais cautelosos, identificando os trabalhadores que estavam entrando

163
e saindo. Passando todas as horas do dia e da noite, tentando deixar o composto
em ordem e em funcionamento. Pops não queria que o tiroteio derrubasse a
moral do clube ou a fraternidade que representava. Ele não queria que nada
mudasse só porque alguns dos nossos próprios foram mortos.

Verdadeiramente.

Ele deu uma festa do caralho.

As prostitutas limparam o clube da melhor forma que podiam,


certificando-se de que a casa fosse abastecida com licor, cerveja, e comida. Diesel
e Stone tiveram o cuidado de obter um suprimento infinito de drogas. Era tudo
livre para consumo.

Estávamos celebrando a vida e a morte de nossos irmãos.

—Esta é uma boa merda. —Exclamou Stone, entregando-me um baseado.

Estávamos sentados em um dos sofás na sala de jogos, conversando


bobagem. Agindo como se nada tivesse acontecido alguns dias antes. Fingindo
divertimento.

A mesa de café na nossa frente estava cheia de trilhas de cocaína, irmãos


e prostitutas paravam para obterem a sua dose de drogas gratuitamente. As
pessoas estavam andando em todos os lugares, fumando maconha, ingerindo
pílulas, fodendo a céu aberto, e tomando uma quantia obscena de bebida.
Estávamos todos na mesma página, querendo nada mais do que apenas esquecer
e nos divertir. A maioria das mulheres estava seminua, vestida ou não. Dançando
em postes, com os irmãos e uma com as outras.

Dei outra tragada no baseado na minha boca, sugando longo e forte,


segurando a fumaça. Tentando ficar tão fodido quanto poderia. A culpa estava me
comendo vivo. Enquanto a noite seguia, prosseguíamos com as festividades
habituais. Eu nunca fui muito de usar drogas, apenas um baseado ocasional aqui e
ali. Eu sempre fui mais de beber, desde que eu comecei a ver por cima do maldito
bar.
164
Nunca me senti tão vazio e oco em toda a minha vida, mas como um VP,
eu tinha que tomar à dianteira. Era uma coisa atrás da outra recentemente. O
clube, meu pai, e agora Autumn. Tudo era uma bagunça do caralho. As paredes
estavam se aproximando, e eu não tinha saída. Minha vida estava me levando em
uma estrada para lugar nenhum. Os demônios subjacentes nunca me deixavam
em paz, meus malditos companheiros, sempre sentados ao meu lado, esperando
a turbulência e a devastação assumirem.

Mais vidas.

Mais sangue.

Mais porra de morte.

Para o quê?

Para nada.

Pisquei, encontrando-me no mesmo sofá velho. Exceto que, desta vez eu


estava cheirando linha após linha de cocaína. Tentando esquecer, tentando ficar
dormente, tentando bloquear os últimos vinte anos da minha vida. Nada estava
funcionando. A dor ainda estava viva e sangrando em mim, não deixando nada
além de destruição em seu rastro.

Eu cheirei outra linha, recostando-me nas almofadas do sofá, deixando a


droga assumir. Observando as luzes coloridas dançarem ao redor da sala com a
batida da música. O sabor distinto do gotejamento da cocaína corria pela parte de
trás da minha garganta, mas eu a amorteci com uma garrafa de Jack Daniel.

—Ei, Creed. —Uma loura com enormes mamas ronronou, sentando no


meu colo. Trazendo sua amiga morena para sentar-se ao meu lado. Só então
percebendo que Stone havia saído.

—Sou Lola, e essa é Candy. —A loira me informou, mordendo o lábio de


uma forma sedutora. Girando o dedo em seu cabelo. Passando uma unha
vermelha longa bem cuidada ao longo dos seios da amiga. —Candy esqueceu de

165
colocar um sutiã hoje à noite. —Ela disse puxando ligeiramente para baixo o top
branco e justo de sua amiga, expondo um mamilo perfeitamente redondo.
Circulando o dedo em torno dele, tornando-o ainda mais duro. —Ela também
esqueceu de usar calcinha. —Acrescentou.

A morena abriu as pernas, como na sugestão, apoiando o salto alto sobre


a mesa. Lambendo o dedo antes de alcançar entre as pernas, expondo seu clitóris.

Inclinei a cabeça para o lado, vendo sua buceta nua rosa. —Não estou
reclamando. —Eu disse asperamente.

—Que tal se Candy e eu mostrássemos a você o que é diversão esta noite?


Ela é nova aqui, e eu acho que você vai realmente gostar dela. —Ela sussurrou em
meu ouvido, chupando meu lóbulo em sua boca, sacudindo-o com a língua.

Sua amiga olhou para mim com penetrantes olhos azuis brilhantes,
lambendo os lábios, lentamente circulando seu clitóris.

Atraindo-me.

—O que faz você pensar que eu não tive diversão essa noite? —Perguntei,
sem tirar os olhos da morena.

—Você está sentado aqui sozinho, achei que você poderia querer alguma
companhia. —A loira respondeu, beijando ao longo da minha mandíbula.

—Vocês acham que valem meu tempo, porra?

Ela assentiu com a cabeça, tirando um frasco de seu sutiã. Torcendo a


tampa, ela jogou a cocaína em seus peitos. Instantaneamente recostando-se,
jogando seu cabelo loiro para o lado. Esperando meu próximo movimento.

—Primeiro as damas. —Murmurei, apontando para a amiga.

Ela assentiu com a cabeça, inclinando-se, cheirando bem dos peitos dela.
Eu fiz o mesmo.

166
Passei a hora seguinte em um borrão induzido por drogas. Observando as
duas prostitutas dançarem para mim sobre os poles no canto da sala. Esfregando-
se uma na outra, revezando em se pendurarem de cabeça para baixo, com as
pernas abertas, e a língua fodendo a buceta uma da outra. Os irmãos ficaram em
volta vaiando e gritando, jogando notas de um dólar para elas. Apreciando o show
tanto quanto eu estava.

A morena de olhos azuis veio até mim, nua em toda a sua glória. A
tonalidade verde da luz iluminou seu corpo cheio de curvas, lembrando-me da
ruiva que eu tinha perdido.

Autumn.

Eu rapidamente sacudi o sentimento, tentando me concentrar no meu


nevoeiro que era a minha mente, enquanto a prostituta montava no meu colo de
costas. Eu não hesitei, e a puxei contra o meu peito, beliscando seu pescoço
enquanto ela balançava seus quadris curvilíneos ao ritmo sensual da música.
Roçando sua bunda no meu pau, uma e outra vez.

Abaixei minha mão em seu estômago, descendo lentamente para a sua


buceta que eu quis tocar desde o momento em que ela abriu as malditas pernas
para mim, dando-me um tesão do inferno. Eu circulei seu clitóris com a palma da
minha mão, enfiando meu dedo em sua umidade com a outra. Antes que eu
soubesse o que estava acontecendo, a loira estava ajoelhada entre suas coxas,
empurrando a palma da minha mão para fora do caminho, lambendo seu clitóris
enquanto eu continuava a foder com os dedos. Sua buceta apertou em torno
deles, pulsando com sua libertação. Gemidos abafados agrediram meus sentidos,
muito longe, embora ela estivesse perto.

Tudo aumentado por causa da droga.

Eu não aguentava mais. Eu precisava estar com as bolas enterradas em


uma delas.

Nós tropeçamos em nosso caminho de volta para o meu quarto, rindo de


nada e tudo ao mesmo tempo. Eu chutei a porta atrás de mim, inclinando-me
167
contra ela, uma vez que foi fechada. A música estava tocando pela casa, batendo
contra as paredes, vibrando nas minhas costas. Meu quarto oscilou, entrando e
saindo de foco enquanto as meninas andavam de costas em direção à cama,
balançando os quadris, me fodendo com os olhos.

Normalmente, caras no meu atual estado de espírito não podiam foder


quando estavam tão fodidos quanto eu estava, mas eu era um bastardo de sorte.
Drogas e álcool só me deixavam duro pra caralho.

—Fodam-se uma com a outra. —Eu pedi em um tom baixo, rouco. —


Fiquem molhadas para mim.

Elas rastejaram até minha cama, sentando-se sobre os joelhos no centro,


devorando uma a outra. Suas línguas tomavam o que a outra queria, enquanto
suas mãos deslizavam em sincronia para baixo em seus corpos, parando quando
chegaram à buceta da outra. Gemendo na boca uma da outra, fazendo o meu pau
se contrair e pulsar contra o zíper da minha calça jeans.

Tirei minhas botas e minha camisa, caminhando até minha mesa de


cabeceira para pegar preservativos da gaveta. Elas nunca tiraram os olhos de cima
de mim, enquanto seus dedos fodiam uma a outra. Abaixei-me, me atrapalhando
ao desatar minha calça, puxando meu pau, e empunhando-o. Apreciando o show
maldito com olhos nebulosos. Acariciando meu pau mais forte quanto mais perto
elas chegavam.

—Venha aqui. —Eu pedi, apontando para a morena. Nunca deixando de


acariciar meu pau. Já esquecendo seus nomes malditos. Eu fiquei na beira da
cama.

Ela veio feliz, deixando à amiga. Rastejando até mim, levantando-se de


joelhos no colchão e encostou o rosto no meu. Segurei na parte traseira de seu
cabelo pelo canto de seu pescoço, com força puxando-o de volta, quando ela se
inclinou para beijar meus lábios.

Nós não nos beijaríamos.

168
Nós foderíamos.

Claro e simples.

Um gemido escapou de sua boca, o que confirmava que a cadela gostava


de sexo áspero. Eu arrastei-a para baixo, movendo-a para encontrar meu pau,
empurrando-o no fundo de sua garganta até que ela o engoliu inteiro. Ela não
parou de chupar. Eu a agarrei com mais força, balançando a cabeça do jeito que
eu gostava.

—Arghhh... —Eu gemi, acenando para a puta na minha cama. —Ponha


minhas bolas em sua boca maldita. Mostre-me o quanto você quer chupar o meu
pau também, e então talvez eu vá dar a você.

Ela sorriu, lambendo da minha base até minhas bolas, chupando uma em
sua boca e gemendo, enquanto a morena chupava meu pau como se ela tivesse
algo a provar. Sua boca molhada era incrível. A loira mostrou a língua e lambeu
minhas bolas até meu eixo, enquanto a morena sugava a cabeça do meu pau.
Segurei os lados de seu rosto, empurrando meu pau no fundo da sua garganta.

Fodi seu rosto por alguns segundos, querendo sentir a parte de trás de sua
boca.

Eu retirei meu pau com um pop e ela engasgou por ar. —Boa menina. —
Rosnei em um tom baixo e retumbante. —Agora termine o que começou.

Elas voltaram para o meu pau. Eu coloquei um preservativo, não


confiando em qualquer uma delas para colocá-lo em mim. A última coisa que eu
queria era ficar preso a uma prostituta do clube. Este era um meio para um fim
para mim.

Eu queria gozar.

Eu não dava a mínima para elas.

Indo para a cama, peguei quem estava mais perto de mim, que era a loira.

169
—Coma a buceta dela. —Eu pedi, segurando seus quadris. Empurrando
sua cabeça para baixo até que ela estava de quatro na minha frente.

Em um movimento rápido, eu estava profundamente dentro dela,


levando-a por trás. Batendo na porra da sua bunda. Apreciando a sensação de sua
buceta acondicionada em torno do meu pau. Transando com ela na batida da
música que ainda continuava forte fora do meu quarto. Eu bati em sua bunda
novamente, fazendo-a mexer seus quadris, empurrando sua bunda no meu pau.
Tudo ao mesmo tempo em que ela enterrava o rosto na buceta de sua amiga,
acariciando seus seios, ao mesmo tempo.

Gemidos escaparam de suas bocas. As costas da morena arquearam para


fora da cama em êxtase, cavalgando em seu orgasmo causado pela língua fodida
da loira. Torci seu cabelo na minha mão, puxando-a até que ela ficasse de joelhos.

—Eu terminei com você. —Eu gemi em sua orelha, soltando-a,


empurrando-a para frente. —Sua vez, querida. —Eu peguei os tornozelos de sua
amiga, puxando-a para mim.

A loira sorriu, beijando os lábios de sua amiga, saboreando o gosto de seu


próprio gozo. Antes de subir em cima dela para se sentar em sua maldita face. Eu
coloquei as pernas da morena no meu ombro, esfregando meu pau entre os
lábios de sua buceta. Posicionando meu pau em sua abertura, eu empurrei nela.
Transando com ela forte, rápido, e com muito mais determinação. Até ouvi o som
de tapa das minhas bolas contra suas nádegas nuas.

Afastei-me, empurrando meu pau no buraco do seu rabo, ela gemeu,


selvagem e sem vergonha.

Eu ri para mim mesmo. —Você gosta de coisas na sua bunda, não é?

—Umm hmm... —Ela cantarolou, nunca deixando de comer a buceta de


sua amiga.

—Toma a porra do meu pau, então. —Eu empurrei a cabeça do meu pau,
provocando-a. Fazendo-a tremer enquanto ela tomava cada centímetro do meu
170
pau. —Boa menina. —Eu rosnei alto e forte, uma vez que eu estava totalmente
dentro dela, e ela era tão apertada que fez as minhas bolas doerem.

Suas pernas tremiam enquanto eu empurrava dentro e fora dela.


Aceitando cada estocada, tomando o que não era meu. Minha cabeça caiu para
trás, completamente imerso em drogas, bebidas e transando com ela na bunda.

À beira de gozar.

—FILHO DA PUTA!

As meninas engasgaram, fazendo-me puxar meu pau sem entender o que


diabos estava acontecendo. Eu tirei meu pau da bunda dela, imediatamente
olhando para o meu lado, de onde a voz veio. Estreitando os olhos, tentei afastar
a nuvem induzida por drogas.

—Merda... —Eu rosnei quando Autumn entrou em foco. De pé na porta.

Ela balançou a cabeça, olhando de mim para as meninas que estavam


agora pulando para fora da cama, correndo ao redor do meu quarto tentando
encontrar suas coisas.

Autumn olhou para mim novamente, fervendo. —Você me dá nojo! Eu


não posso acreditar que você fez isso! Quatro dias! Quatro malditos dias! Isso foi
tudo o que levou para você transar com outra prostituta! Jesus Cristo, Creed!
Compensando o tempo perdido, você tinha que foder duas delas de uma vez?!

Ela não deu qualquer atenção enquanto as meninas passavam correndo


por ela e para fora do quarto, a porta batendo atrás delas. O único foco de
Autumn era o homem fodido na frente dela.

Eu.

Eu não sabia o que dizer, eu não sabia o que fazer. Porra, eu mal sabia
como eu estava me sentindo. As drogas e bebida tinham finalmente assumido. Eu
apenas me ajoelhei ali na cama, olhando nos olhos dela, pasmo. Tentando me

171
livrar da névoa. Esfreguei meus olhos, meu cérebro lutando com a minha boca
para dizer alguma coisa.

Qualquer coisa.

Eu saí da cama em vez disso, arranquei o preservativo e joguei-o fora.


Olhei ao redor do quarto procurando a minha calça jeans, esfregando a parte de
trás da minha cabeça. Desorientado e confuso pra caralho.

De repente, tropecei quando Autumn a atirou para mim, balançando a


cabeça em descrença absoluta e pura. Enfiei-a, tentando ficar em pé. Falhando
miseravelmente ao fazê-lo, quase caindo na cama onde acabei de comer duas
prostitutas.

—Quem é você agora? —Ela zombou com uma expressão que eu nunca
tinha visto antes.

Dei um passo em direção a ela e ela instantaneamente recuou, colocando


as mãos na frente dela.

—Baby...

—Não me chame de baby. Você não me chama assim. Quero dizer, olhe
para você! Seu curativo está encharcado de sangue! Isso valeu a pena? É este
quem você é quando não estou por perto, Creed? Hã? É por isso que você não me
quer aqui? Não pode fazer uso de drogas? Não pode beber até cair? Não pode
foder suas putas! —Ela gritou, agarrando o cinzeiro na mesa e atirando-o em
mim.

Eu mal me movi para fora do caminho, o meu tempo de reação estava


atrasado. —Que porra?! O que você quer que eu diga? Você já sabe a resposta! —
Gritei, afastando qualquer emoção. Esfreguei a parte de trás da minha cabeça
novamente. Minha mente incapaz de pensar na besteira acontecendo agora.

—Como você pôde fazer isto comigo? Eu vim aqui para lhe dizer que
estava arrependida. Eu vim aqui para te dizer o quanto eu te amo! Eu não sou a

172
porra do seu capacho! Você pode tratar essas mulheres como as prostitutas que
são, mas não é nada comparado com a maneira com que você acabou de me
tratar. Mostrando-me que eu não significo nada para você! —Ela gritou, seus
olhos lacrimejando.

—Você não deveria estar aqui, Autumn. Não era para ver isso.

—E isso torna tudo certo? Isso muda as coisas? Não! Isso não muda nada,
porra! Não o que você fez. Não como eu me sinto. NADA!

Tentei dar um passo em direção a ela novamente, mas o olhar em seu


rosto foi o suficiente para me parar. Sentei-me na beira da cama não sendo capaz
de ficar sobre meus próprios pés. Segurando minha cabeça em minhas mãos,
descansei os cotovelos sobre os joelhos.

—Eu nunca deveria ter levado você para a cama. Esse foi o meu erro.
Causou dor e por isso eu sinto muito. —Eu disse em um tom sincero, esperando
que ela fosse entender. —Mas este é quem eu sou. —Inclinei minha cabeça para
olhar para ela. —Isto é o que eu sempre fui, querida. Nunca menti para você, e
você sabe disso.

Lágrimas escorriam pelo seu rosto bonito, seus lábios trêmulos. Ela limpou
todas. O olhar em seu rosto naquele momento quase me deixou de joelhos.

Ela deu um passo para trás, sacudindo a cabeça. Como se já não tivesse
espaço suficiente entre nós. —Eu te odeio. —Ela suspirou. —Você está me
ouvindo? Eu odeio você, Creed Jameson! Eu queria nunca ter te conhecido! Você
finalmente conseguiu o que queria. Eu não quero nada com você! NUNCA MAIS!
Você está morto para mim!

Eu abruptamente me levantei. —Autumn, você não quer dizer isso. Você


não quer dizer isso. —Eu disse entre dentes, movendo a boca muito rápido.

Ela caminhou em minha direção, cada passo preciso e calculado. Ela


agarrou o meu rosto entre as mãos, olhando profundamente em meus olhos pelo
que pareceu uma eternidade, como se estivesse tentando lembrar-se do meu
173
rosto. Ela sussurrou. —Luke não iria querer isso para você. Ele teria ficado tão
decepcionado com o homem que você se tornou.

Eu fiz uma careta, suas palavras queimando minha pele. Era uma dor
muito pior do que tomar a porra de uma bala pelo meu velho.

—Eu te odeio. —Ela repetiu com muito mais convicção em seu tom. —
Você acabou de perder a última coisa boa em sua vida. —Com isso, ela se virou,
sem olhar para trás.

Caminhando para fora da minha vida.

Sabendo que, tudo o que ela disse.

Era verdade.

174
Eu sentia a falta dela.

Porra, eu sentia a falta dela.

Mas na maior parte...

Eu sentia falta de nós.

Depressão não era algo bom. Eu odiava o que fiz com ela, o que fiz para
nós, mas principalmente eu odiava a mim mesmo por ser um maldito bastardo.
Eu não aguentava mais. Ela tinha estado em minha mente constantemente
durante o último mês.

Eu fui até a sua casa, pronto para dar a ela o que ela quisesse, desde que a
tivesse na minha vida.

Batendo à sua porta, esperei ansiosamente ela atender.

—Ei, querido. —Sua mãe me cumprimentou, abrindo a porta. Puxando-me


para um abraço.

—Ei, como você está?

—Eu estou bem. Como você está?

Eu suspirei, afastando-me. —Já estive melhor. —Coloquei minhas mãos


nos bolsos, de pé em sua varanda, olhando para as minhas botas. A culpa me

175
consumindo. Eu não poderia nem mesmo olhar para a mãe dela, a mulher que me
tratou como seu próprio filho.

Olhei para ela e ela sorriu, inclinando a cabeça para o lado.

—Ela está?

—Não, querido, ela não está.

Eu balancei a cabeça. —Escuta, eu sei que ela não quer me ver. Eu não a
culpo, também. Mas eu tenho que falar com ela, Laura. Não posso continuar
desse jeito. Eu sinto falta dela.

—Eu sei. Ela sente falta de você também, Creed.

Eu sorri, precisando ouvir isso. —Eu posso vê-la? Por favor.

Ela negou com a cabeça. —Querido, ela não está aqui.

—Onde ela está? Vou procurá-la. Apenas me diga onde ela está. Preciso
consertar as coisas, Laura.

—Ela está em Nova York.

Eu recuei, não esperando que ela dissesse isso. —Nova York? O que ela
está fazendo lá?

—Ela está vivendo com seu pai agora.

—Vivendo? —Eu questionei, sentindo como se ela tivesse me chutado nas


bolas.

A notícia me atingiu forte pra caralho.

Ela assentiu com a cabeça, murmurando. —Ela mudou-se para lá a cerca


de duas semanas atrás. Ela só... Ela só precisa de algum tempo, Creed. —Ela fez
uma pausa, deixando suas palavras afundarem. —Você realmente a machucou.

176
Partiu seu coração, e ela queria um novo começo. O pai dela esteve implorando
para ela voltar para Nova York por anos. Você sabe disso.

Balançando a cabeça, eu zombei. —Ela queria ficar longe de mim. Eu fiz


isso.

Laura não disse uma palavra, sabendo que eu estava certo. Eu não pensei
duas vezes sobre isso. Tomei minha decisão no momento em que ela disse que
Autumn estava em Nova York.

—Ele ainda vive em Manhattan, perto dos parques? —Perguntei, dando


um passo para trás. Recuando para a minha moto.

—Sim.

Falei com convicção. —Diga a ela que eu estou indo atrás dela.

Passei o resto do dia deixando tudo em ordem com o clube. Deixando-os


saberem que eu tiraria umas férias muito necessárias. Pops não estava feliz com
isso, mas o que ele podia fazer...

Eu era um homem crescido.

Peguei um voo noturno, querendo chegar até ela, o mais rápido possível.
Eu lutaria por ela e se isso não funcionasse, eu estava pronto para arrastar a
bunda dela de volta para casa, chutando e gritando, se eu tivesse que fazer.
Usando qualquer meio necessário.

Seu lugar não era em Nova York.

Seu lugar era ao meu lado.

No momento em que pousei, estava exausto. Quase desmaiei na corrida


de táxi para o meu hotel. O Residence Inn Downtown Manhattan não era longe de
onde ela morava. Eu conhecia esta parte de Nova York muito bem, depois de ter
passado um monte de verões e feriados com sua família. Autumn adorava me

177
mostrar tudo e qualquer coisa que pudesse, mesmo a merda que me entediava
pra caralho.

Depois que fiz o check-in após as três da manhã, eu tomei um banho.


Antes de ir dormir, eu sentei na varanda, fumando um cigarro. Olhando para as
luzes brilhantes da cidade que nunca dormia. Eu sempre amei Nova York à noite.
Havia algo sobre a vista panorâmica que só Manhattan poderia proporcionar.
Inspirando uma tragada profunda do meu cigarro, eu pude sentir fisicamente a
energia ao redor.

Querendo obter algumas horas de sono antes de ver Autumn, eu


finalmente adormeci cerca de uma hora mais tarde. Meu telefone tocou, me
acordando cedo na manhã seguinte.

Estendi a mão, agarrando-o da mesa de cabeceira sem me preocupar em


ver quem era.

—Alô? —Eu grogue respondi, limpando o sono dos meus olhos.

—Creed! Creed! Meu Deus! Você está aqui em Nova York? —Autumn
histericamente lamentou ao telefone.

Eu levantei da cama, sentindo como se meu coração estivesse na minha


garganta. Tudo o que eu podia ouvir eram sirenes de emergência ao redor dela,
carros buzinando, e as pessoas gritando.

—Autumn! O que está acontecendo? Você está bem? Onde você está? —
Eu freneticamente perguntei, enfiando minhas roupas e botas. Apressando-me ao
redor do quarto, agarrando minha carteira e chave do quarto, pronto para ir para
a porta. Precisando chegar até onde quer que ela estivesse.

—Minha mãe me disse que você estava vindo. Eu não acreditei nela. Eu
não posso acreditar que você está aqui. Você está realmente aqui?

—Eu estou aqui, querida. Agora me diga onde você está? —Perguntei,
tentando manter a calma.

178
—Oh Deus, Creed... Ligue o noticiário! Basta ligar o noticiário, agora
mesmo! Eu estou no carro com meu pai. Nós estávamos indo para o café da
manhã. Eles acabaram de contatar via rádio com uma emergência. Nós estamos a
caminho! Apenas... Por favor! Ligue o noticiário! Ele irá explicar isso melhor do
que eu. Eu não posso acreditar que...

—Acalme-se. Eu mal posso ouvi-la. Que porra está acont...

—Basta ligar o noticiário, Creed!

Virei-me, agarrando o controle remoto da mesa de cabeceira. Ligando a


televisão, eu mudei para a primeira estação notícia que eu pude encontrar.

Meus olhos arregalaram-se com a cena passada diante de mim.

—Que porra... —Murmurei para mim mesmo.

—Temos relatos não confirmados de que um avião atingiu ao norte das


Torres Gêmeas. Daremos mais informações sobre o assunto assim que estiverem
disponíveis. —A emissora declarou. Troquei mais alguns canais, todos relatando a
mesma coisa.

—Você está assistindo a cobertura ao vivo da parte norte das Torres


Gêmeas claramente em chamas.

—Algo devastador aconteceu. Mais uma vez, relatos não confirmados de


que um avião caiu na parte norte das Torres Gêmeas.

—Um jato bimotor caiu em uma das Torres Gêmeas. Mais informações
assim que estiverem disponíveis.

—Um avião caiu no World Trade Center.

—Que dia catastrófico para a cidade de Nova York. Um avião voou


diretamente para o World Trade Center.

179
—Puta merda. —Eu respirava, vendo as imagens ao vivo do fogo
consumindo um dos lados da torre norte do World Trade Center. As chamas
lambiam o lado do edifício, produzindo nuvens cinzentas escuras que cobriam o
céu azul brilhante da manhã. Um buraco marcava o lado da torre, onde um avião
atingiu, destruindo com ele a estrutura de aço. Levando vários andares à
destruição.

Meus olhos procuraram a hora, onze minutos para as nove. Um mal-estar


que eu não sentia há anos tomou conta de mim, imaginando quantas vidas
inocentes foram tiradas. E quantos mais morreriam nas próximas horas.

Minha maldita humanidade, que eu desliguei, voltou com força total,


vendo a cena horrível na minha frente.

A voz em pânico de Autumn me trouxe de volta à realidade. —Creed, você


está aí? Você viu?

Eu balancei a cabeça, como se ela pudesse me ver, correndo para fora do


quarto. Indo para a escada. —Onde você está?!

—Nós estamos indo para as torres! Estamos quase lá! —Ela gritou por
cima do barulho.

—Autumn, você me escute! Fique no telefone! Você me entendeu?! Fique


no telefone até eu chegar até você!

—Ok. —Ela choramingou.

Eu corri para fora do edifício do hotel, procurando nas ruas à esquerda e à


direita, tentando ter calma antes da tempestade.

—Chefe, você está a caminho? Nós precisamos de você aqui, agora! Está
uma bagunça. Está todo mundo desesperado e nós não temos nenhuma resposta
sobre o que diabos acabou de acontecer. —Ouvi uma voz de homem gritar pelo
rádio, através do telefone.

180
—Estou a caminho. Eu tenho a minha filha comigo, mas eu estou a
caminho. Meu ETA 12 é de cerca de cinco minutos. Eu estou entrando na rua agora.
Se a equipe estiver montada, eu vou encontrá-lo no lobby da Torre Norte. —Seu
pai, Carl, respondeu em um tom firme.

—Autumn! Autumn! Você pode me ouvir?!

Eu saí correndo pela rua na direção do East River, em direção às Torres


Gêmeas. Tentando decidir o caminho mais rápido para chegar até ela. Peguei à
esquerda na Rua Liberty, e dei de cara com o caos. Luzes piscando, sirenes
ecoando do arranha-céu que era uma parte do horizonte de Manhattan.

Havia tanto barulho, tantos malditos gritos vindos de todas as direções.


Detritos caindo do céu, como a neve. Cobrindo tudo em seu rastro. Tudo o que eu
vi foi o caos e a desordem em erupção em torno de mim. Alarmes de empresas
locais soando entre o impacto das explosões. As pessoas corriam pelas ruas e
calçadas, abandonando seus carros para procurarem segurança. Tentando fugir
do edifício enquanto eu tentava chegar a ele. Quanto mais perto eu chegava,
mais detritos flutuavam pelo ar, e minha visibilidade começou a embaçar.

Eu corri mais rápido, batendo os pés no chão, ignorando a queimadura em


meus pulmões. O ardor no meu lado. Correndo através das ruas, empurrando
tudo e todos que estava na porra do meu caminho. Empurrando repórteres que
estavam me perseguindo, me perguntando se eu vi o que aconteceu. Se eu podia
descrever o que eu tinha visto, o que estava sentindo, o que achava que estava
acontecendo, mas tudo que eu conseguia pensar era em chegar a ela.

Chegar à Autumn.

—Creed! Estou com tanto medo! Estou realmente assustada! Onde está
você?! —Ela gritou através do barulho, no telefone, à beira da histeria.

—No meu caminho para você! Basta ficar na linha comigo! Não importa o
que aconteça, fique na linha comigo!

12
ETA – Tempo estimado de chegada
181
—Chefe! —Eu ouvi alguém gritar de longe no telefone.

—Autumn, você está aí? Onde você está? Diga-me exatamente onde você
está?! —Eu gritei para o telefone, correndo tão rápido quanto eu podia. Puxei a
minha camiseta por cima da minha boca e nariz, a fumaça tornando-se demais.
Minhas botas batiam contra o pavimento com nada além da adrenalina me
levando.

—Estamos em frente ao lobby da Torre Norte. Eu estou no carro do meu


pai. Estamos bem na frente! —Ela gritou de volta.

—O avião se chocou contra a Torre Norte, Chefe. —Eu ouvi alguém dizer
sobre o telefone novamente. —Os andares de noventa a noventa e nove estão
cobertos de fumaça e envoltos em chamas. Não podemos chegar lá, no entanto.
A principal escadaria entrou em colapso entre esses andares. Nós tentaremos as
outras saídas de emergência.

—Não sabemos quantos estão presos?

—Não, Chefe! Precisamos avançar rápido. O fogo está fora de controle. As


pessoas estão começando a pularem pelas janelas lá em cima.

—Ok, me mande às plantas da Torre Norte, agora! Prepare-se, vamos


entrar! —Eu ouvi a ordem.

—Autumn, o que está acontecendo?

Ela não respondeu. Tudo que eu ouvia era o choro dela. —Pai, não faça
isso! Por que você está colocando seu uniforme?! Por que você vai lá?! Você é o
chefe! Você não tem que ir lá! O que você está fazendo?! —Autumn estava em
pânico, gritando para o pai.

Corri mais rápido, desviando de carros de polícia, ambulâncias, e as


pessoas correndo em direções opostas. Empurrando-as para fora do caminho.

182
—Garota, eu preciso ir lá. Eu preciso levar meus homens. Este é o meu
trabalho, pelo qual fui treinado. Isto é o que eu faço. Você vai ficar neste carro,
você me entendeu, Autumn! Você não vai sair deste carro! —Carl ordenou à sua
filha.

—NÃO! Não vá lá! Por favor! Por favor! Por favor, não vá lá! Por favor! —
Ela implorou num tom desesperado que eu pude entender alto e claro como o
dia, mesmo com toda a loucura em torno de mim.

—Creed, você está aí?

—Sim, senhor! —Eu respondi ao seu pai. Eu não tinha falado com ele há
anos, mas ele ainda parecia o mesmo. —A caminho! Quase lá! Cerca de cinco
minutos se eu puder passar.

—Você, certifique-se de que ela permaneça no carro. Ela não deve entrar
nesse edifício. Você vai ficar de fora do prédio!

—Você tem a minha palavra. —Eu jurei, com cada fibra do meu ser.

—Papai! Não faça isso comigo! Você pode ajudar! Basta ficar aqui comigo!
Você ainda pode ajudar! Por favor!

—Autumn, eu já volto. Eu prometo. Creed está quase aqui. Você não saia
deste carro!

Ouvi uma porta fechar e, em seguida Autumn começou a chorar.


Chorando incontrolavelmente, batendo as mãos na janela. Pedindo para ele
voltar.

—Baby, estou quase aí! Shhh... Eu estou quase aí! Acalme-se!

—Ele não pode entrar lá! Está ruim, Creed! Está tão ruim! Eu não quero
perdê-lo! Ele é meu pai! Creed, eu não posso fazer isso! Eu não posso
simplesmente sentar aqui...

183
—Querida, eu te amo. Eu te amo, porra. —Eu declarei, sem pensar duas
vezes. Tentando distraí-la antes que eu chegasse a ela.

Ela fungou. —Você quis dizer isso?

Eu sentia falta dela demais. Finalmente compreendendo o significado de


“a ausência faz o coração ficar mais afeiçoado”.

Este mês passado foi brutal, sem ver ou ouvir dela. Depois daquela noite,
ela me mudou, mas eu continuei, com foco em meus deveres de Vice Prez.
Derrubando cada pedaço de bunda jogado no meu caminho. Gastando cada porra
de noite olhando para o meu teto, me perguntando o que ela estava fazendo, o
que ela estava pensando, e acima de tudo, rezando para que ela realmente não
me odiasse tanto. Eu gostava de Autumn, e talvez com o tempo, eu pudesse ficar
apaixonado por ela, mas eu diria a ela tudo o que ela precisava ouvir naquele
momento para mantê-la segura.

Mesmo se isso significasse que eu estava mentindo.

—Senti sua falta. Eu senti tanto sua falta. Preciso de você na minha vida.
Do meu lado. Na parte de trás da minha porra de moto, ok?

—Sim. —Ela chorou como se fosse tudo o que ela sempre quis ouvir
enquanto eu me esquivava de mais e mais pessoas, evacuando a área.

—Quase aí. Eu posso ver o edifício!

—Ok... —De repente, uma explosão soou do edifício, fazendo-me puxar o


telefone para longe do meu ouvido.

—Autumn! —Eu gritei de volta para o receptor, verificando a tela dele


para ver se ainda havia uma conexão. —Baby! Autumn!

—Oh meu Deus! —Ela fracamente murmurou.

—Você está bem? O que foi isso? O que está acontecendo? —O edifício
estava bem na minha frente. Essa era a causa do ruído. Pessoas caíam para a
184
morte, fazendo a escolha de saltarem. Sabendo que não havia outra saída. Engoli
a bile que subiu na minha garganta e me forcei a correr com mais força para
chegar até ela.

Eu tinha visto algumas merdas fodidas na vida, mas nada comparado a


isso.

—Autumn, responda-me, caramba!

—Eu não posso ficar aqui. Eu tenho que entrar. Eu tenho que encontrar o
meu pai! —Ela gritou. —Eu não posso simplesmente ficar para trás e deixá-lo ir.
As pessoas estão...

—Autumn! Autumn! Não saia da porra desse carro. Fique aí! Você está me
ouvindo?! Prometa que vai ficar aí! Autumn! Autumn! Diga alguma coisa, caralho!

Tudo o que eu podia ouvir eram os gritos, respiração pesada e soluços. —


Sinto muito, Creed. Estou com o rádio do meu pai. No caso... —Eu ouvi a porta do
carro se fechar e mais comoção tomando o lugar de seus soluços no telefone.

Sirenes soavam cada vez mais altas.

—Autumn, fique na porra do carro!

Bip, bip, bip. A linha ficou muda.

—Porra! —Eu gritei, frustrado que ela nunca me ouvia.

Sem pensar duas vezes, eu saltei sobre o capo de um carro, correndo pela
rua, precisando chegar até ela. Orando para encontrá-la antes que ela tivesse a
coragem de entrar na Torre. Empurrando as pessoas, não dando à mínima. O
medo real corria em minhas veias, pela terceira vez na minha vida, pulsando
através do meu sangue. Tomando conta de cada centímetro do meu corpo. Meu
coração batia forte contra o meu peito enquanto eu tentava atravessar a rua e
chegar ao prédio.

À Autumn.
185
Minha visão afunilou, não vendo nada, além de Luke olhando para mim.
Flashes do rosto de Autumn misturavam com os dele. Tentei afastá-los, mas eles
eram implacáveis . Avistei o carro de seu pai, confirmando meu pior pesadelo.

Ela se foi.

Corri para frente do edifício, temendo que eu não fosse capaz de


encontrá-la. Havia pessoas em todos os lugares cobertas de cinzas e sangue,
tropeçando para fora da entrada onde as portas costumava estar.

Assim que cheguei perto o suficiente, tudo o que eu podia ver eram
caminhões de bombeiros e veículos de emergência, todos alinhados nas ruas. O
pessoal da emergência levava os feridos para a segurança. Se tal lugar ainda
existia. Não havia um centímetro de espaço que não estava rodeado por algo ou
alguém. Eu procurei na área por qualquer sinal dela, pulando em um carro
abandonado à minha direita. Desesperadamente tentando encontrar Autumn em
todo o maldito caos.

—Autumn! Autumn! —Eu gritei tão alto quanto pude quando vi uma
menina perto da entrada que era como Autumn. —Autumn! Não! Fique aí! —Eu
saí correndo, esquivando-me das pessoas, quando um braço forte veio do nada,
me parando.

—Senhor, você não pode ir lá! —Gritou um bombeiro, bloqueando o meu


caminho com alguns outros.

—Preciso encontrar Autumn! Eu preciso chegar lá! Sai fora do meu


caminho! —Gritei, empurrando-o.

—Senhor, eu entendo. Mas você precisa deixar-nos fazer o nosso


trabalho!

—Que porra de trabalho que você está fazendo! Você a deixou entrar lá.
Onde diabos você estava há poucos minutos?! —Eu fervia, agarrando-o pelo seu
uniforme, ficando bem na sua cara. —Você me deixe passar, ou eu vou te

186
arrebentar! Você não tem ideia de com quem você está se metendo. —Eu o
empurrei para longe de mim, me preparando para armar o meu punho para trás.

—Creed?

Eu me virei, ficando cara a cara com o ex-parceiro de Carl. Sua família e ele
costumavam vir de férias com a gente. Porra, eu não o tinha visto em anos, mas
eu nunca pensei que ficaria tão feliz em vê-lo novamente naquele momento.

—Troy! Autumn entrou lá! Ela entrou na porra do edifício!

Ele recuou, atordoado. —Merda. —Ele rosnou.

—Preciso chegar lá, Troy. Preciso encontrá-la. Ela tem o radio do pai... —
Ele abruptamente virou-se, me cortando. Gesticulando para que eu o seguisse.

Eu o segui. Correndo atrás dele em direção ao seu carro de bombeiros. Ele


agarrou seu rádio, mudando a frequência. Colocando a boca no comunicador, ele
pressionou o botão lateral, afirmando. —Responda, Autumn. Você está aí? É Troy.
Você pode me ouvir?

O ruído de estática do rádio ecoava com os gritos e caos através do


receptor. Ela estava lá dentro. Juro que parou a minha respiração enquanto
esperava ouvir a voz de Autumn ou alguma indicação de que ela estava bem.

Estava viva.

—Troy? —O rádio estalou, mais gritos. —Estou aqui. Você pode me ouvir?

Meu coração disparou de volta à vida, e arranquei o rádio da sua mão,


visivelmente sorvendo uma respiração profunda. Repeti. —Baby, onde está você?

—Creed... Creed... É você? As pessoas estão pegando fogo! Oh meu Deus,


Creed! Não consigo encontrar meu pai!

Mais estática.

187
Explosões mais altas.

Mais caos e gritos.

—Onde. Está. Você? —Eu exigi à beira da porra de enlouquecer.


Pendurado por um fio maldito.

Nada além de estática irradiava a partir da minha mão. Olhei ao meu


redor procurando uma abertura para correr, resolvendo isso com minhas próprias
mãos e tirá-la de lá. Derrubando qualquer um que estivesse no meu caminho.
Orando a Deus que isso fosse acabar em breve, pronto para ficar de joelhos e
implorar por misericórdia pela segurança do Autumn. Por Carl. Implorando o seu
perdão por todos os meus pecados. Um barulho alto me levou a olhar para o céu.

Foi então que eu soube que meu pesadelo estava apenas começando.

Foi então que eu soube que a vida que eu estava vivendo havia terminado.

Um avião de passageiros apareceu do nada, desaparecendo na Torre Sul,


colidindo com o outro lado do prédio. À medida que mais minutos se passavam,
mais espessa a fumaça negra voava para fora das janelas. Vidro quebrado chovia
nas ruas de Manhattan. Mais caos entrou em erupção e os espectadores
começaram a gritar e correr para se esconder ao meu redor. Outra explosão
atingiu o prédio fazendo-me agachar, jogando meus braços sobre minha cabeça.
Desloquei meu ombro ao cair no chão. Agarrei o meu braço latejante, e olhei para
cima para ver as pessoas correndo para fora do prédio fazendo o sinal da cruz,
rezando para as pessoas que estavam presas e não poderiam mais sair. Ou que já
tinham morrido.

Eu levei o rádio até minha boca. —Autumn. —Eu tossi. —Autumn! Por
favor, me responda! Autumn!

Passei quase a próxima hora tentando contato pelo rádio, olhando através
da massa de pessoas procurando alguma visão dela. Recusando-me a receber
tratamento médico para o meu braço. Querendo suportar a dor pelo resto da
minha vida, só para ver minha menina novamente. Só para saber que ela estava
188
bem e não deitada em algum lugar ferida, com medo, e sozinha. Orando para que
ela encontrasse Carl e eles estivessem seguros.

Rezei para o Ceifador, que eu sempre quis que me levasse, que não a
levasse em meu lugar.

Eu estava prestes a desistir de toda a esperança. Eu podia senti-la


fisicamente escapando da minha existência, exatamente como eu me senti por
Luke tantos anos antes. Bombeiros, policiais, ambulâncias, profissionais de saúde,
todos se mobilizaram esse dia, tentando ajudar. Dando suas vidas pelos outros.
Completos estranhos. Nada poderia sequer chegar perto de descrever o que vi.

O que estaria para sempre enraizado na minha mente até que a porra do
meu tempo acabasse.

O rádio soou. —Creed. —Autumn choramingou através do receptor.

—Baby... Baby, onde está você? —Insisti, correndo em direção ao prédio,


ignorando todas as pessoas que estavam no meu caminho.

—Estou machucada, dói em todos os lugares... Por favor... Por favor...


Ajude-me...

—Baby. —Eu chorei, incapaz de conter as lágrimas por mais tempo. —


Apenas me diga onde você está, Autumn.

—Eu não posso... Eu não posso me mover... Sinto muito, Creed... —Sua
voz era quase inaudível.

—Autumn, me escute. Eu estou chegando, baby. Preciso que você lute...


Por favor, eu te amo tanto. Pra caramba. Sinto muito... Eu sinto tanto por tudo. —
Confessei.

—Eu te amo, sempre. Estou tão...

BOOM!

189
Um som mais alto dispersou por Manhattan, quebrando a barreira do
som. Viajando das torres para as ruas em ondas, como uma bomba explodindo.
Fazendo-me recuar com uma força inexplicável. Os edifícios começaram a
explodir, enquanto a equipe de resgate tentava se afastar. Pânico e pandemônio
me cercavam, me engolindo em nada, além de tristeza e desespero. Escombros
caíam em todos os lugares.

A nuvem escura de fumaça saía dos edifícios, como se o inferno tivesse


oficialmente tomado conta.

Engolindo o dia 11 de setembro e tudo mais, para o abismo negro.

Foi um fluxo interminável de caos e destruição.

A torre começou a desmoronar como um maldito jogo de dominós, andar


após andar até o chão, ardendo em chamas.

A tragédia.

A devastação.

A perda de fé na humanidade.

E a porra do meu mundo...

Como eu o conhecia.

190
—O dia que mudou a América. —O presidente Bush declarou durante seu
discurso na Ellis Island, no aniversário dos ataques terroristas no World Trade
Center há um ano. —Para aqueles que perderam entes queridos, tem sido um ano
de sofrimento, de lugares vazios, de recém-nascidos que nunca saberão que seu
pai esteve aqui na terra. Para os membros das nossas Forças Armadas, tem sido
um ano de sacrifício e serviço longe de suas casas. Para todos os americanos, tem
sido um ano de adaptação, de chegar a um acordo com o conhecimento de que a
nossa nação fez inimigos, e que não somos invulneráveis a ataques.

Eu estava andando pelas ruas, em torno do Marco Zero durante todo o


dia, desde que desembarquei cedo naquela manhã, refletindo sobre minha vida.
Lembrando aqueles que haviam morrido sob as mãos dos terroristas, incluindo a
minha melhor amiga. A visão das torres, uma vez próspera, era nada além de um
buraco no chão. Do outro lado da rua, havia uma parede forrada com fotos das
vítimas, algumas que foram encontradas nos escombros, outras que não foram
tão afortunadas. Um memorial improvisado de cartas para seus entes queridos,
flores, bichos de pelúcia, velas, enchiam o espaço, agindo como um lugar para
chorar por aqueles que perderam uma grande parte de suas vidas em segundos.
Assistindo famílias chorarem. Mesmo após um ano de perda nesse dia trágico de
11 de setembro, foi como reviver tudo novamente.

Ambas as torres caíram naquele dia, em uma pilha de aço desfigurada.


Mais tarde, descobrimos que a temperatura dos incêndios derreteu o aço,
causando a queda de andar após andar, até que as torres já não estavam na
posição vertical. Houve zero visibilidade por muito tempo. Tudo por quilômetros

191
foi coberto por cinza branca, veículos de emergência, carros e caminhões
esmagados, apenas completando o caos.

Passei três dias depois dos ataques em busca de Autumn e Carl. Orando
para eu encontrá-los entre as cinzas e escombros, vivos ou mortos. Eu lembrava
como se fosse ontem, revivendo a cada dia maldito desde então. Diesel e alguns
dos outros irmãos vieram na manhã seguinte, dirigindo a noite toda. Para que
eles pudessem me ajudar a procurar a mulher que eu sabia que tinha ido embora.
O prefeito Giuliani, juntamente com milhares de outros cidadãos de Nova York,
vasculharam as duas mil toneladas de aço por dias, deixando de dormir para
tentar salvar vidas que foram penduradas por um fio do caralho.

A morte estava ao meu redor.

Tinha estado ao meu redor durante toda a minha vida.

Agora aqui estava eu, um ano mais tarde, de pé ouvindo o pior pesadelo
que a América já tinha vivido, tentando fazer meus pés moverem-se. Tentando
chegar ao outro lado da rua, para adicionar fotos de Autumn e Carl ao Memorial.
Para sentir como se eles não fossem apenas invenções da minha imaginação,
saber que eles eram verdadeiramente reais. Levei toda porra de dia para
atravessar a rua para fazer exatamente isso. Acendi uma vela por suas almas,
orando para que eles estivessem descansando em paz.

Eu nunca encontrei os corpos sob todo o metal mutilado. Eu nunca


encontrei qualquer sinal de que eles realmente existiram. Apenas pó e cinzas.
Tudo o que restava era a minha memória borrada deles. Como um espelho
quebrado que era nada além de cacos de vidro.

Eu nunca mais dormi direito. Ouvindo a voz de Autumn mais e mais na


minha cabeça como um disco quebrado. Eu não conseguia parar, eu não poderia
fazer uma pausa, eu não poderia esquecer.

—Eu te amo, sempre. Estou tão...

O BOOM me sacudindo e me despertando cada vez.


192
Às vezes eu sentia como se tivesse morrido junto com eles.

Às vezes eu queria ter morrido.

—11 de setembro de 2001 será sempre uma data memorável na vida da


América. A perda de tantas vidas que nos deixaram para pensarmos na nossa.
Cada um de nós foi lembrado de que nós só estamos aqui por um tempo. Estes
dias contados devem ser preenchidos com coisas que importam. O amor por
nossas famílias. O amor por nossos vizinhos. E pelo nosso país.

Passei o último ano sem rumo vagando pela vida diária. Lutando por uma
causa que eu sentia que para sempre eu perderia. Não importa quantas vidas eu
tirei, por qualquer razão, boa ou má. Eu protegi meus irmãos, eu lutei e matei
pelo clube, eu fiz tudo o que era esperado de mim, tudo em nome das cores no
meu colete. Fazendo-me perceber que eu não era melhor do que os terroristas
malditos.

Autumn estava certa. Ela foi a última gota deixada de bondade na minha
vida. A última parte do homem que ela desejava que eu pudesse ser, que morreu
junto com ela. Ela se foi, e eu senti que havia apenas tanta coisa que eu poderia
fazer para tentar fazer isso direito. Se havia uma coisa que eu aprendi sobre a vida
e respirando o MC, era que a vingança não era um modo de vida, era a vida.

Olho por olho.

Era tudo o que eu já tinha conhecido.

Minha mente estava lutando com a decisão, recuando uma quantidade


infinita de vezes, contemplando o que era certo ou o que era errado. Os
pensamentos me consumiam até que não havia dúvida dentro de mim. Sabendo
do único bem que poderia vir disso.

Era a minha própria paz de espírito.

Eu chequei Laura, muitas vezes, esperando que isso fosse abafar o


remorso, aliviar um pouco da minha consciência pesada. Certificando-me de que

193
ela estava bem. Ajudando-a de toda forma que podia, me sentindo responsável
pela morte de sua única filha. Autumn nunca teria estado em Nova York se eu não
tivesse feito o que fiz. Sua mãe estava lidando da melhor maneira possível, mas a
cada dia parecia ser uma luta, alguns melhores que outros. Juro que havia
momentos em que ela olhava para mim da mesma forma que minha mãe.

Culpando-me por outra vida inocente que eu tinha tirado.

Eu andava sem rumo, precisando da distração. As calçadas preenchidas


com quantidades infinitas de pessoas. Civis, policiais, socorristas e militares.
Homens e mulheres vestidos com uniformes, para honrarem os mortos. Incluindo
os seus que perderam suas vidas lutando por nosso país.

Todos reunidos para lembrarem outro dia que para sempre me


assombraria.

Meu voo pousou na Carolina do Norte pouco depois das nove horas da
noite. Fui até a porta da frente da minha casa, colocando a mão na maçaneta da
porta. Fazendo uma pausa antes de entrar para a porra do meu lar quebrado.
Considerando quando dar a notícia à minha mãe, a Noah, e ao maldito Prez.

Acendi a luz assim que entrei, jogando as chaves na prateleira de entrada,


antes de ir para a cozinha, não surpreso ao encontrá-la desmaiada na mesa da
sala de jantar. Fiquei ali vendo sua aparência durante o que pareceu uma
eternidade.

Sua mão direita magra estava envolvida em torno de uma garrafa vazia de
vodka, enquanto a outra segurava um retrato emoldurado de Luke. Puxando a
cadeira ao lado dela, sentei-me, inclinando-me para trás e coloquei minhas botas
sobre a mesa. Dando ao seu braço um pequeno empurrão.

—Acorde, Ma. Preciso falar com você.

Ela se mexeu, gemendo. —Agora não, querido. Eu estou tão cansada. —


Ela bocejou. —Tem sido um dia muito longo. Podemos falar amanhã. —Ela
colocou a cabeça de volta em cima da mesa, me dispensando completamente.
194
Eu, de repente, me levantei, a minha cadeira batendo na parede atrás de
mim com um baque. —Cansada, minha bunda. —Eu rosnei, pairando acima dela,
trabalhando minhas mãos em punhos ao meu lado.

Minha paciência estava muito pequena, só havia muito mais que eu


poderia aguentar. Meu temperamento estava perto de explodir, eu podia sentir-
me a ponto de jogar tudo para o alto e render-me à raiva.

Perdendo toda a porra de controle.

Ela olhou para mim grogue, apertando os olhos por causa da luz brilhante.
—O que você quer de mim? —Ela murmurou, sua cabeça balançava e seus olhos
fecharam. Antes que eu soubesse o que estava fazendo, minhas mãos
conectaram com a mesa, batendo forte sobre a madeira.

Fazendo-a sacudir. —O que diabos... —Peguei o encosto de sua cadeira,


girando-a para me olhar nos olhos.

—É assim que vai acontecer. —Eu falei com a mandíbula travada, perto de
seu rosto. O cheiro de bebida imediatamente agrediu meus sentidos.
Alimentando a raiva que eu sentia no fundo do meu núcleo. —Você vai ouvir tudo
o que eu tenho a dizer, quer você goste ou não. Eu tive o suficiente dessa
besteira, porra!

Sua cabeça caiu para trás, em seguida, novamente na posição vertical. —


Eu disse não esta noite, Creed, e não se atreva a falar assim comigo! Eu ainda sou
sua mãe!

Sem aviso, eu a levantei da cadeira, lançando-a por cima do ombro como


se ela não pesasse nada. Levei-a pelo corredor, pelo quarto de Noah e para o
banheiro, enquanto ela batia os punhos levemente nas minhas costas.

—Ponha-me no chão, Creed! O que você está fazendo?! Coloque-me no


chão! —Ela gritou agressivamente.

195
Eu não vacilei, e abri a cortina do chuveiro. Eu abri a torneira, acionando a
alavanca para água fria.

—Não se atreva! Você me coloque no chão agora!

—Não será um problema! —Coloquei sua bunda na banheira com suas


roupas. Agarrei o chuveirinho, encharcando seu corpo com o spray.

—Ahhh! Isso está congelando! PARE!

Eu não a deixei sair, certificando-me de encharcar cada centímetro dela.


Ela precisava estar sóbria para tentar ter uma conversa normal com ela.

—Pare! Agora! Quem você pensa que é?

Eu desliguei a água, jogando o pulverizador na banheira ao lado dela.

—O que é tão importante que não podia esperar até amanhã? —Ela
rosnou, olhando para seu corpo encharcado com os braços ao lado.

Abaixei-me, inclinando-me perto de seu rosto. Olhando profundamente


em seus olhos bêbados, vazios, pela primeira vez em anos. Olhando para além de
seus demônios, precisando ver a verdadeira mulher olhando para mim. A mãe
que eu ainda tinha e queria na minha mente. A mesma que eu ainda não sabia se
vivia dentro dela, enterrada sob toda a mágoa e dor. Escondida atrás de todas as
memórias felizes que haviam se tornado seus piores pesadelos.

A realização me atingiu ali mesmo. Eu precisava me acalmar, não havia


vantagem em gritar com uma bêbada. Isso não me levaria a lugar nenhum exceto
ficar mais chateado do que eu já estava. No final, ela seria sempre a minha mãe, a
mulher que me deu a vida. A que eu amava mais do que tudo na minha vida. Eu
precisava fazê-la ver a razão. Fazê-la ver tudo claramente. Fazê-la entender o que
eu vi. O que Noah viu.

Como se não houvesse sobrado nada dela, além das memórias em nossas
mentes.

196
—Você nem se importa mais, Ma? Você tem alguma ideia de quão difícil
tem sido ver você assim? O quanto dói olhar para você agora, e eu não ter ideia
de quem é esta mulher olhando de volta para mim? Ela não é minha mãe. —Eu
confessei, recostando-me nos saltos das minhas botas, balançando a cabeça.

Seus olhos rapidamente ficaram vidrados. Minhas palavras a atingindo


com força, quebrando o borrão induzido pelo álcool.

—Luke morreu, Ma. Eu sei que dói. Eu sei disso mais do que ninguém,
sabia? —Eu respirei, inclinando a cabeça para o lado. Fazendo-a acordar. —Eu sou
o único que puxou o gatilho, lembra? Eu sou o único que o colocou no chão. Eu.
—Bati no meu peito, precisando chegar até ela. —Eu sei que há alguns dias em
que dói tanto que você não pode respirar. Você sufoca com a dor que não vai
deixar você ir. Eu entendo... Eu entendo porque eu sinto isso também, e não
houve um dia em que não senti isso.

Ela fez uma careta, mordendo o lábio inferior para controlar o tremor,
permitindo que suas emoções aparecessem. Finalmente permitindo-se lamentar
a morte de seu filho.

—Autumn morreu, Ma. Ela morreu...

Seus olhos encheram com lágrimas, balançando a cabeça. —Eu sei.

—Podia ter me enganado. Nunca disse uma palavra sobre isso. Você mal
estava coerente no seu funeral. —Eu a lembrei, me lembrando de como eu
coloquei sua bunda beligerante em um táxi após o funeral. Pedindo a um
prospecto para ir junto e colocá-la na cama, pois ela mal conseguia ficar em pé
sozinha.

Eu esfreguei a parte de trás da minha cabeça, olhando para o chão,


perdido em meus próprios pensamentos. —Eu estou tentando... Estou tentando
muito não me perder. Aguentando todas as besteiras, toda a mágoa e dor.
Mantendo minhas emoções sob controle, desperdiçando meu tempo no clube,
sendo VP. Esta é a minha vida, Ma, violência e morte. Não há volta para mim.

197
Falei com sinceridade, respirando fundo antes de continuar.

—Eu venho arranjando desculpas para você, encobrindo você, e eu não


posso mais fazer isso, Ma. Não é certo. —Eu falei, parando para deixar minhas
palavras penetrarem. Olhando para o seu rosto encharcado de lágrimas, nós
encontramos nossos olhares. —Você é nada além de uma bêbada e uma infeliz de
uma mãe. Noah merece coisa melhor. —Com isso, eu fiquei de pé, agarrando a
toalha do rack, jogando-a para ela. Sentindo-me imediatamente horrível pelo que
acabei de dizer a ela, sabendo que era minha culpa, para começar.

Ela a pegou em pleno ar. Seu peito subia e descia, contemplando o que
dizer. Eu podia ver sua mente girando fora de controle. Ela abriu a boca para dizer
alguma coisa, mas nada saiu. Eu não conseguia olhar para ela por mais tempo
sem dizer algo que eu me arrependeria. Então, eu só me virei, deixando-a para
lutar contra seus próprios demônios.

Eu não poderia protegê-la mais.

Eu andei até a varanda de trás, deixando a porta aberta. Precisando de um


pouco de ar fresco, para limpar a minha cabeça. Ouvindo seus soluços causarem
estragos em seu corpo frágil pela janela do banheiro. Sentei-me nos degraus,
descansando os cotovelos sobre os joelhos enquanto eu pegava um cigarro.
Trazendo-o para o canto da minha boca, o acendi, inalando forte, queimando o
filtro. Permitindo que a nicotina queimasse em meus pulmões antes de soprar a
fumaça.

—Creed, eu... —Ma sussurrou, chorando atrás de mim.

Eu não me preocupei em me virar, sua vergonha já estava queimando um


buraco nas minhas costas.

—Eu só... Eu não sei como parar... —Ela gritou, aspirando o ar, tentando
encontrar o fôlego. —Eu era a sua mãe, pelo amor de Deus. Meu único trabalho
era protegê-lo. Eu falhei. Você pode ter puxado o gatilho, querido... Mas ele
estava lá apenas por minha causa. Ele deveria estar em casa, na cama. Que tipo
de mãe eu sou? Eu não mereço você ou Noah... Eu não mereço nada.
198
Fechei os olhos, inclinando a cabeça para trás contra o parapeito da
varanda. Precisando de um minuto. Eu sempre soube que ela se sentia
responsável pela morte de Luke, mas ouvi-la realmente dizer as palavras malditas
era quase demais para eu aguentar.

Passos pesados encheram o silêncio, subindo à calçada, ecoando em meus


pensamentos. Eu não tinha que me virar para saber quem era. Nenhum de nós
precisava. Dei uma última tragada do meu cigarro, esperando até que os passos
pararam na minha frente. Já temendo o resultado do que eu estava prestes a
dizer.

Eu respirei fundo, falando com convicção. —Vou me alistar ao Exército. —


Eu falei, abrindo os olhos e olhando para cima, encontrando o olhar do meu pai.

—Vai porra nenhuma, Creed! —Ele instantaneamente rosnou as palavras.

Eu imediatamente me levantei, sacudindo o meu cigarro sem recuar.


Ficando cara a cara com ele.

—Jameson... —Ma falou, lentamente, acelerando ao meu lado. Ajeitando


o vestido molhado e enxugando as lágrimas.

—Não quero ouvir sua merda hoje à noite, mulher! Você ouviu o seu
filho? De onde diabos veio isso? Que besteira você está dizendo a ele?

—Nada. Eu não lhe disse nada. Deixe-o em paz! Ele quer fazer algo de bom
em sua vida. Ele é seu filho! Comece a tratá-lo como um!

—Eu dou tudo aos meus meninos. Que porra você está falando?

—E Luke...

—Jesus Cristo... De volta a esta merda de novo. —Ele violentamente


rosnou, olhando-me de cima a baixo. —Tem sido uma boca a menos para
alimentar. Eu não tinha nem mesmo certeza de que o merdinha era meu.

199
Minha mãe nunca reagiu ao abuso do meu pai, mas havia algo sobre o
olhar em seus olhos naquele momento que me mostrou que isso não acabaria
bem.

—Seu filho da puta! Seu monte de merda! —Ela gritou, se lançando para
ele da varanda, usando toda sua força para bater, socar, e chutá-lo. Fazer
qualquer coisa e tudo o que podia em seu poder para feri-lo fisicamente.

Seu punho conectou com a sua têmpora, atordoando-o por um segundo.


Eu entrei em ação, dando um passo antes que ele recuperasse a compostura, e
fosse capaz de realmente machucá-la. Agarrando sua cintura, eu puxei seu corpo
para longe dele. Segurando-a em meus braços.

—É sua culpa! É sua culpa que ele está morto! Seu clube esquecido por
Deus é apenas violência e morte! Você fez isso, e eu espero que você queime no
inferno por isso! —Ela fervia, tentando lutar comigo.

—Ma, chega! Chega! —Eu gritei, tentando acalmá-la. Travando meus


braços forte ao redor dela.

—Sua cadela estúpida! Olhe em volta. Eu lhe dei tudo com esse clube
esquecido por Deus! E é assim que você me trata? Após tudo que eu fiz para
você! Depois de trazê-la de volta, depois que você...

—Eu queria ter ficado! Eu queria nunca ter voltado para você! Essa foi a
pior decisão da minha vida! —Ela lutou para sair do meu alcance, chegando até o
rosto dele. —Você não é metade do homem que você pensa que é. Você não é
nada como ele...

O cano da arma estava bem debaixo do queixo dela, deixando-a sem


palavras. O metal frio não a intimidou. Ela não recuou. O álcool e fúria correndo
por suas veias era toda a coragem líquida que ela precisava.

Eu não vacilei, movendo-me rapidamente.

200
Eu estava sobre eles em dois passos, com força empurrando seu corpo
para fora da linha de fogo. Seu corpo minúsculo caiu no chão, mas tudo o que
importava para mim era que ela não estivesse na outra extremidade dessa porra
de cano.

Quando eu me virei, a arma estava agora apontada para o meu peito.

—Creed, não! Deixe... —Eu a empurrei de volta para o chão.

—Faça! Quer matar alguém? Então, faça, Prez. —Eu zombei, rangendo os
dentes. —Puxe o gatilho. Isso não importa para mim. —Agarrando o cano da
arma, segurei-a firmemente no lugar no meu coração.

Seus olhos estavam vidrados com a sinceridade das minhas palavras. Foi
rápido, mas eu vi. Eu sabia que ele não faria isso, o dedo não se moveu do gatilho,
entretanto. Eu secretamente desejei que ele tivesse dado o tiro. Ele nem sequer
me agradeceu por tomar uma bala por ele. Ele nunca disse uma palavra maldita
sobre isso.

Salvei sua vida, e ele ainda quis acabar com a minha.

Vi Noah pelo canto do meu olho, de pé ao lado da porta. Assistindo tudo


acontecer. Eu não sabia quanto tempo ele esteve ali, mas pelo olhar em seu
rosto, ele tinha visto o suficiente.

Pops respirou longa e profundamente, dando um passo para trás.


Abaixando a arma. —Ela morreu, Creed. Autumn morreu. Quer ir lutar por seu
país? Vai ser um GI Joe13 do caralho. Mas isso não vai trazê-la de volta.

—Você não sabe nada sobre essa merda. —Eu rosnei.

13
G.I. tem como tradução mais apropriada soldado raso ou pracinha. Essa expressão veio de uma sigla que era "carimbada" em
todas as caixas com mercadorias, que eram do governo (Government Issue - assunto do governo) e na época da segunda
Guerra, para demostrar que o "soldado" era como um ítem do governo, os sargentos chamavam assim seus subordinados. Joe
é o nosso José ou simplesmente Zé, que é o nome dado a alguém quando não se sabe realmente o verdadeiro. Juntando os
dois, podemos ter então como tradução "soldado Zé" ou simplesmente "o soldado".

201
—Vai virar as costas para os seus irmãos? Para sua maldita família? —Ele
me empurrou, mas eu não vacilei. —Não merece vestir esse colete, porra.

Seu punho colidiu com o meu rosto antes que ele terminasse a última
palavra. Minha cabeça recuou, levando metade do meu corpo comigo. Ma gritou
enquanto Noah testemunhava a agressão de Pops. Ela correu para ele e levou-o
para dentro.

Eu tropecei, me recompondo. —É assim que vai ser? —Perguntei,


cuspindo sangue no gramado.

Ele rosnou, me atacando, batendo seu ombro no meu peito. Levando-me


ao chão, as costas derrapando na grama áspera debaixo de mim, mas eu estava
preparado para isso e imediatamente revidei. Eu lutei com ele por alguns
minutos, cada um de nós tentando ter a vantagem sobre o outro. Cotovelos,
punhos e pernas voavam por toda parte, enquanto nós lutávamos. Eu fui capaz de
ficar em cima dele e comecei a dar alguns socos em seu maldito rosto.

Soltando todos os anos de raiva reprimida e ressentimento em relação a


ele, por Luke e a maneira como ele o enterrou.

—Não quero lutar com você! Seu velho fodido! Acalme-se e deixe-me
explicar!

Ele me bateu na barriga, fazendo-me cair para o lado. Usando a dinâmica


do seu soco, ele me virou, me prendendo com seu peso. Eu imediatamente
protegi meu rosto, mas isso não importava. Ele me deu um soco nas costelas, no
estômago, tendo alguns bons acessos ao lado do meu rosto também.

—Maldição! —Gritei, bloqueando outro golpe. —Não vou entregar o meu


colete! Não quero outro clube. Eu ganhei essas cores, porra! Seu idiota! Eu só
preciso disso! Não apenas por ela, mas por mim! Estou enlouquecendo, velho!

Ele parou abruptamente com o punho ar, ambos ofegantes, suando em


bicas. Nossos olhos permaneceram selvagens e focados enquanto nós olhávamos

202
um para o outro. Alguns momentos depois, ele baixou seu punho, saindo de cima
de mim, sem tirar os nossos intensos olhares enlouquecidos longe um do outro.

Levantei-me, precisando dar alguns passos para trás para me recompor. —


Toda a minha vida, tudo o que eu tenho feito é seguir suas ordens fodidas, nunca
pedi nada em troca. Preciso que você seja meu pai neste momento. —Eu respirei,
quebrando o silêncio entre nós. —Preciso fazer isso direito e matar esses filhos da
puta. Você pode entender isso mais do que ninguém, Prez. —Inclinei minha
cabeça para o lado. —Só preciso de uma licença de ausência, não teria diferença
se eu estivesse preso, minha lealdade ainda será ao clube quando eu for
dispensado. Eu só preciso disso. —Repeti.

Seu rosto estava vazio de qualquer emoção. Pela primeira vez na minha
vida, eu não pude lê-lo.

—Não me faça implorar... —Eu encontrei-me dizendo.

Ele deu um passo para trás, limpando o sangue do canto de sua boca com
as costas da mão. Seus pensamentos enfurecidos estavam claramente em guerra
em sua mente, em relação ao que ele faria. Ele se virou para sair, parando no
último segundo. Olhando para mim com nada além de nojo em seus olhos, ele
finalmente disse. —Convoque a missa. É melhor sua bunda estar lá ao meio-dia
de amanhã. —Ele saiu, sem se virar para olhar para mim.

Eu cambaleei para dentro, pegando um pano de prato para o meu nariz


sangrando e lábio, antes de ir para a sala de estar. Ma veio correndo até mim,
logo que ela me viu entrando. —Eu estou bem. —Eu gemi, envolvendo o meu
braço em torno das minhas costelas. Sibilando de dor. Sentei-me no sofá.

—Deixe-me pegar o kit de primeiros socorros. —Ela correu para fora da


sala antes que eu pudesse recusar.

Eu afundei ainda mais no sofá, colocando minhas pernas na mesa de café,


fechando os olhos e respirando através da dor. E eu não estava falando sobre as
dores no meu corpo.

203
—Você realmente vai nos deixar? —Noah murmurou atrás de mim,
apenas alto o suficiente para eu ouvir.

Parecia que era uma coisa fodida após a outra. Senti sua decepção cortar
minha pele como uma lâmina irregular. —Noah, eu...

—Você vai me deixar com eles? Você é tudo que eu tenho, Creed. —Ele
lamentou, sua voz embargada. —E se você morrer? Como Luke? E se alguém
acidentalmente puxar o gatilho em você, Creed? O que acontece então?

Eu abri minha boca para dizer algo, mas rapidamente a fechei. Percebendo
que Noah sabia mais do que eu jamais lhe dei crédito. Eu não sabia como fazê-lo
entender o meu raciocínio para uma decisão que eu nunca teria tomado sem
pensar muito. Passei o último ano contemplando essa escolha de mudança de
vida, e hoje apenas confirmou o que eu já sabia que tinha que fazer.

Ele aproximou-se, de pé na minha frente. —O pai de Joe nunca voltou da


guerra. Eu não quero perder outro irmão.

—Eu tenho que fazer isso, Noah. Não só por Autumn, mas por mim
mesmo. Não espero que você entenda, mas eu preciso que você respeite minha
decisão e saiba, isto é por você também.

—Eu chamo de besteira.

Dei de ombros. —Não sei o que você quer que eu diga, Noah.

—Basta ir, Creed! Não se preocupe comigo. Eu vou descobrir as coisas


sozinho.

—Eu amo você, Noah. Você é meu irmão. Você é meu sangue. Nada vai
mudar isso.

Ele lentamente afastou-se. —Tudo o que você tem que dizer, diga a si
mesmo. Vai morrer por seu país, porra. —Ele deu uma última olhada em mim,
balançou a cabeça e saiu.

204
Não dormi a noite toda, ouvindo as vozes dentro da minha cabeça.
Orando a Deus para eu estar fazendo a escolha certa.

Sabendo que, no final, não faria diferença.

Eu fui para o clube no início da manhã seguinte. Sentei-me na Missa como


se eu fosse um homem à espera de sua execução.

A votação foi unânime.

Eu deixei o clube naquela tarde e me alistei no Exército dos EUA.

205
A minha família vinha se desintegrando por semanas. Minha mãe em
lágrimas, meu pai constantemente aos gritos, eu odiava ver todo mundo tão
chateado. Minha família não era perfeita, tínhamos nossas divergências,
discussões, até mesmo brigas de vez em quando, mas nunca durava mais do que
algumas horas, talvez um dia.

Isso era diferente.

Isso não parou.

A mesma coisa todos os dias.

Mason se alistou no exército, sem sequer discutir o assunto com ninguém,


incluindo os meus pais. Ele sairia em poucos dias para o campo de treinamento,
dizendo que ele precisava fazer alguma coisa pelo bem maior. Fazer a diferença.
Meus pais não entendiam nem concordavam com a maneira com que ele decidiu
isso. Tudo o que vi foi que ele estava colocando sua vida em perigo.

Havia muitas oportunidades para fazer o bem aqui na Carolina do Norte.


Todos nós sabíamos que ele queria ir para o serviço militar um dia, e ele estava
dizendo isso desde que eu conseguia me lembrar. Eu não o levei a sério.

Ninguém o levou.

Fazia um ano desde que alguns caras causaram o terror no World Trade
Center em Nova York. Eu não entendia o que aquilo significava, ou por que
alguém iria querer machucar as pessoas que não conheciam. Por que não
podíamos todos ficar juntos e espalhar o amor, não o ódio. Papai disse que o

206
mundo não foi feito assim, mas que pessoas como eu eram as que o deixavam
melhor.

Todo mundo ficava dizendo que foi um dia que a América nunca
esqueceria, especialmente meu irmão. Sua amiga, Autumn, a menina que estava
sempre perto de Creed, foi morta na Torre Norte naquele dia. A notícia arrasou
Mason, dando-lhe a desculpa que precisava para se alistar. Lutar por nosso país
era sua vocação. Proteger os que ele amava era a sua missão. A tensão estava em
alerta máximo na minha casa, tornando-se a nossa própria zona de guerra desde
que ele lhes disse isso.

Giselle nem sequer falava mais com ele. Pelo que eu reuni por espionar
em sua porta, ele não discutiu essa decisão de mudança de vida com ela também.
Tia Aubrey e Giselle vieram uma noite, e tudo que ela fez foi chorar com a minha
mãe sobre Mason. Eu me senti tão mal por ela, mas meu irmão sempre foi um
idiota. Este comportamento não era nada novo, eu não estava autorizada a dizer
isso sobre ele, mas não mudava a verdade. Giselle pensava que eles se casariam,
teriam filhos e seriam uma família unida.

E então ele se alistou.

Viu... Imbecil.

Meu outro irmão Bo começou a trabalhar no restaurante depois da escola


e nos fins de semana, servindo mesas e ajudando na parte de trás. O dia em que
completou quatorze anos, ele pediu à mamãe por um emprego, então ela deu-lhe
um. Eu comecei a ir mais ao restaurante também, indo trabalhar ao lado dele em
nossas bicicletas. Papai disse que desde que eu faria doze em poucos meses, ele
me deixaria ir com Bo. Acho que foi mais porque ele não me queria em casa, os
ouvindo brigar o tempo todo.

Eu descarregava toda a minha tristeza nas ondas, gastando todo o meu


tempo livre na água. Sendo capaz de me deliciar com a sensação de ser
empurrada pela força da natureza. Pegando as ondas perfeitas, e sendo uma só

207
com o oceano. Não havia nenhum sentimento no mundo que poderia descrever
isso.

O oceano sempre foi meu lugar feliz.

Sentei-me na praia, observando o pôr do sol sem prestar atenção a


qualquer um perto de mim. Apreciando a tranquilidade antes de ter que ir para
casa, para a loucura.

Olhei para cima quando senti alguém sentar ao meu lado.

—Ei, Pippin. —Creed me cumprimentou, sorrindo de orelha-a-orelha.


Fazendo-me instantaneamente sorrir de volta.

Eu não tinha o visto no que parecia uma eternidade. Ele parecia mais
velho e maior, se isso fosse possível.

—Eu não vi você há um tempo. Você tem sorte de sempre usar as mesmas
roupas, ou então eu não teria sequer o reconhecido. —Eu o provoquei. —Você
tem outras roupas? —Eu sorri, incapaz de me segurar. Apontando para seu
colete. Eu nunca o tinha visto vestindo nada além de jeans, uma camisa, e esse
colete. Eu estava começando a pensar que ele não possuía qualquer roupa real.

—É chamado de roupa de trabalho.

—Sim... Bem, ok. Eu acho que é uma coisa boa. O que mais eu poderia te
dar se você não a usasse mais.

Ele riu, olhando em direção à água. —Não precisa me dar qualquer coisa.

—Muito tarde. Eu tenho mais patches para você. Olha. —Eu peguei minha
mochila, procurando dentro até que eu os encontrei. Gesticulei para ele abrir a
mão. —Eu acho que você pode colocá-los onde você colocou os outros. —Sugeri,
querendo que ele soubesse que eu percebi que ele não estava os usando em seu
colete desde a última vez que o vi.

208
Ele os tirou da minha mão, lendo o primeiro em voz alta. —Ninguém Mais
Tem Tempo Para Isso.

Quando eu o vi, pensei que era perfeito. Ele estava sempre com pressa.
Dizendo-me para me apressar. Que ele tinha lugares para estar. O que quer que
isso significava.

Ele leu o próximo. —Eu Pareço Uma Pessoa Sociável. —Inclinando a


cabeça para o lado, ele me deu um olhar compreensivo.

Eu ri. Eu pensei que fosse bastante autoexplicativo.

Ele continuou, recitando. —Aqui estou. Quais são seus outros dois
desejos? —Ele sorriu, lembrando-se por que eu dei esse a ele. Ele foi para a
próxima, leitura. —Mau Exemplo. —Sorriu novamente, sabendo que era porque
ele continuava me dizendo que ele não era bom.

Eu finalmente entreguei-lhe o último que eu mantive segurando na minha


mão. —Esse é pela sua namorada, Autumn. —Eu disse enquanto ele lia: “Em
Memória ao 9/11. Nossos Anjos Caídos”. —Eu realmente sinto muito, Creed.

Ele balançou a cabeça, segurando suas emoções. —Obrigado por estes. —


Ele colocou-os no bolso, pegou o maço de cigarros e acendeu um. Ele soprou a
fumaça ao lado dele, longe de mim. Ele apoiou os cotovelos sobre os joelhos,
inclinando a cabeça, imerso em pensamentos.

Eu resisti à vontade de dizer-lhe que o cigarro era ruim para ele


novamente, sentindo-me como se ele estivesse tentando confortar-se da única
maneira que sabia.

—Não vai me ver por um tempo, Pippin. —Disse ele, do nada. Mexendo a
areia ao redor com sua bota.

—Mais do que esta última vez? —Perguntei, confusa.

209
—Vou lutar contra os maus. —Confessou, acenando com a cabeça para
mim.

Minha boca se abriu, e meu estômago embrulhou. Agora eu teria duas


pessoas para me preocupar. —Você vai com Mason? —Eu suspirei, meu coração
na minha garganta. Já sabendo a resposta.

—Vou me certificar de que seu irmão volte. Não se preocupe com ele. —
Sussurrou como se estivesse lendo minha mente.

—E você?

—Tenho cuidado de mim mesmo por um longo tempo. Não precisa se


preocupar comigo também.

Eu tinha tanto a dizer...

Mas, principalmente, eu só queria que ele soubesse que eu sentiria falta


dele. Mais do que já sentia.

—Prometa de dedo mindinho que vai ficar seguro. Que você não vai ser
imprudente, e se você ficar com medo... você vai correr. Você não vai tentar ser
um herói. Prometa-me, soldado. —Insisti, segurando meu dedo mindinho na
frente de seu rosto.

Esperando.

Ele enganchou seu dedo mindinho com o meu, olhando profundamente


em meus olhos com um sorriso torto. Fazendo minha barriga tremer como
sempre fazia. Envolvi meu outro braço em volta da minha barriga, esperando que
ele não notasse que eu estava tentando me acalmar. Tentando concentrar minha
atenção sobre a aspereza da sua mão, as cicatrizes gravadas em sua pele,
notando o quanto maior a dele era da minha. Ele poderia facilmente engoli-la
com sua mão e ainda ter espaço.

210
Eu me inclinei e beijei os nossos dedos para selar o acordo. Ele não disse
as palavras, mas isso não importava. Uma promessa de mindinho era um negócio
legítimo e não devia ser quebrado.

—Tenho que ir. Encontrar Mason. Só vi você sentada aqui e queria dizer
adeus. —Ele começou a se levantar.

—Posso lhe escrever?

Ele sentou-se, dando-me uma expressão enigmática. —Me escrever?

—Você sabe, com uma caneta e papel. Como amigos por correspondência.
Vou escrever-lhe. Você escreve-me de volta. Então você sabe que tem uma amiga
esperando por você quando você voltar para casa.

Ele riu, surpreso. —Vamos ver, ok?

—Ok. —Eu respondi, tentando esconder a minha decepção.

Ele levantou-se, e limpou a areia de seu jeans preto. Eu fiz o mesmo,


precisando voltar para dentro. Sem dar-lhe qualquer pensamento, eu joguei meus
braços ao redor da sua cintura, colocando minha cabeça em seu estômago duro.
Sentindo o metal duro escondido na parte de trás de sua calça jeans, cravando em
minha pele. Eu não me importava, eu só queria lembrar como ele cheirava, como
ele parecia. Acima de tudo, eu queria dar-lhe um abraço antes de sair.

Com medo de que eu nunca fosse vê-lo novamente.

Ele congelou, pego de surpresa pelo meu sentimento, mas eu não me


importava. Eu apenas o abracei mais forte, apertando-o com força. Ele finalmente
relaxou depois de alguns segundos, colocando o braço em volta de mim, me
abraçando levemente.

Eu sorri através das lágrimas que ameaçavam nos meus olhos. Eu não
pude deixar de sentir que eu estava conseguindo atravessar sua fachada fria, e
isso foi algo que me deixou feliz.

211
Ele se afastou primeiro, puxando o fim da minha trança. —Fique bem. Vai
ficar bem?

—Vou ficar bem.

Ele acenou uma última vez e se virou para sair.

—Creed! —Gritei, parando-o. Ele olhou para mim. —Não é um adeus. É


apenas um “eu vou te ver em breve”. —Eu falei.

Ele sorriu, acenando com a cabeça. Concordando.

Eu o assisti sair com o coração pesado. Orando silenciosamente para que


ele e Mason voltassem para casa...

Seguros.

212
Eu caminhei para o ônibus por volta das seis da manhã de um domingo, à
espera de Mason. Eles estavam transportando-nos a uma distância de sete horas
e meia de Fort Benning, Georgia, para dezenove semanas de inferno. Em seguida,
para Fort Bragg para começar o nosso trabalho de formação de pelo menos um
ano. Meu recrutador me ajudou a conseguir meu GED, então eu fui capaz de me
alistar. Nós não queríamos ser apenas soldados. Queríamos ser soldados de
operações especiais. Eu queria ser um especialista em armas, já sabendo muito
sobre armas, enquanto Mason queria ser um engenheiro.

Vi da janela quando toda a sua família o abraçou em despedida, incluindo


Pippin, que tinha lágrimas escorrendo pelo seu rostinho. Sua mãe Stacey, e a
madrasta, Alex, estavam atrás dela tentando segurá-la, mas falhando
miseravelmente. Ninguém apareceu para me ver, não dando a mínima por eu
estar saindo.

Os olhos de Mia encontraram os meus, como se pudesse sentir meu olhar.


Imediatamente enxugando suas lágrimas, não querendo que eu a visse chorar.
Provando-me que ela realmente era apenas uma menina. Seus olhos tinham tanta
preocupação, tanta sinceridade naquele momento, não só por Mason.

Por mim também.

A criança que eu tinha visto apenas um punhado de vezes nos últimos três
anos, se preocupava mais comigo do que meu próprio sangue. De forma que eu
nunca tinha visto ou sentido antes. A emoção que mostrava em seus olhos azul
brilhante, intensificou uma conexão entre nós que eu nunca tinha percebido
antes.

213
Enfiei a mão no bolso e tirei o primeiro patch que ela me deu. Colocando a
palavra “Coragem” na janela para ela ver. Ela imediatamente sorriu, e isso
iluminou todo o seu rosto. Eu não pude deixar de sorrir de volta.

Ela estava muito adorável para não sorrir.

O treinamento básico conhecido como acampamento militar foi um ajuste


difícil, para dizer o mínimo. Eu fui de fazer o que diabos eu queria no Devil’s
Rejects, para o além de rigoroso, sem nenhuma besteira, do regime diário das
forças armadas. Assim que pisei na porra da base, não havia mais civil, só
soldados. Primeiro fomos despojados de nossas roupas normais e colocados em
uma cadeira para fazer um corte militar.

Quanto mais nós entrávamos em formação, mais brutal isso se tornava.


Fomos da sala de aula aprendendo as técnicas para sermos um soldado do
exército, para o campo onde nossos sargentos nos forçavam ao ponto de
desistência. Testando a nossa força, resistência, e mais importante, a nossa porra
de sanidade. Tirando-nos dos beliches a qualquer hora da noite, nas piores
condições possíveis, executando exercícios e rastejando em obstáculos. Cavando
buracos apenas para nada, sendo rebaixados ao extremo de querer nos enforcar.

Eu aprendi rapidamente a não falar, a menos que solicitado.

—Que porra é essa. —Nós gememos. Sendo acordados às duas da manhã


com luzes brilhantes e gritos.

—Vamos lá, seus viadinhos filhos da puta! Saiam da cama e se vistam! —


Gritou o sargento de instrução, Emery, em nosso quarto de dormir. —Eu não
tenho o dia todo. Movam-se! Movam-se! Movam-se!

Todo mundo estava meio adormecido, mas ainda conseguiram pular de


suas camas, enfiar as roupas e botas, e alinharem-se na frente de seus beliches.

—Sua avó se move mais rápido, Paulsen, seu filho da puta preguiçoso! —
Ele gritou na cara do recruta.

214
—Minha avó está morta, sargento de instrução.

—Ela morreu à espera de sua bunda gorda para levá-la ao hospital?

—Não, sargento de instrução!

—Abaixe-se e faça vinte flexões, recruta! E contando, um.

Paulsen caiu no chão de linóleo e começou a contar em voz alta.

—Que tal você se juntar a nós, recruta Jameson. —Ele me chamou, nem
mesmo olhando na minha direção. —Por que você demorou, porra? Não me diga
que é porque você precisava de seu sono de beleza! —Ele se aproximou de mim,
ficando bem na minha cara. —Você é um buldogue parecendo um viado! —Ele
gritou a centímetros longe da minha boca, as veias do pescoço trabalhando horas
extras.

Eu não recuei. —Eu precisava urinar, sargento de instrução! —Gritei,


tentando parecer mais alto. Olhando sobre sua cabeça.

—Você mija quando lhe digo para mijar! Eu disse-lhe para mijar, porra?

Eu hesitei, trabalhando meus punhos em meus lados. Eu nunca gostei de


ser dito o que eu podia e não podia fazer. Este filho da puta estava testando
minha paciência.

—Não... Sargento de instrução.

—Abaixe e faça cinquenta flexões por mijar.

—Sim, Sargento de instrução.

Eu desci em uma posição de prancha, a placa de identificação que Autumn


me deu com o rosto de Lucas sobre ela, deslizou para fora da minha camiseta,
atraindo a atenção do sargento.

215
—O que temos aqui? —Ele questionou, agachando-se diante de mim,
arrancando a corrente do meu pescoço em um movimento rápido.

Antes de dar-lhe qualquer pensamento, eu fiquei de pé, empurrando forte


meu superior pelo peito. —Não toque nisso! —Eu rugi.

—Creed, fique quieto. —Mason disse entre dentes em um tom baixo que
somente eu ouvi. Sabendo que a merda estava prestes a bater no ventilador.

—Você tem algumas bolas de aço, recruta. Este é seu filho? —Ele levantou
o colar.

Eu balancei a cabeça negativamente.

—Eu lhe fiz uma pergunta fodida, recruta Jameson! Quando eu lhe fizer
uma pergunta, espero uma resposta do caralho. Agora! É este o seu filho?

—Meu irmão mais novo, sargento de instrução. —Eu respondi com a


mandíbula apertada.

—Ahhh, isso é tão doce. Você pode obter isso de volta depois de merecê-
lo. Sem objetos pessoais em seu corpo. Já quebrou as porras das regras, soldado.
Confie em mim, você vai pagar por isso hoje. Agora abaixe e faça cem. Você tem
cinco minutos. Se você ultrapassar um segundo, vai começar novamente. Vamos
ver quanto tempo leva para ser um homem de verdade, caralho.

Eu consegui fazer em três. E eu juro que o filho da puta sorriu enquanto se


afastava de mim.

Mason e eu concluímos a formação básica e trabalho de infantaria com


louvor. Passando para a formação no ar em que estaríamos aprendendo a saltar
de aviões e essas merdas. Tornando-nos paraquedistas, e ganhando as nossas
asas.

Eu não podia esperar para dar esse salto.

216
Foi onde encontramos Owen, um filho da puta implacável de Arkansas. Ele
era o mesmo filho da puta que eu tinha derrubado na tenda em Oak Island, por
causa de Autumn alguns anos atrás. Ele estava lá, de férias com sua família. Não
demorou muito para eu perceber o quão pequeno o mundo realmente era. Nós
desempacotamos nossas malas em nossa nova sede, quando uma foto de
Autumn caiu no chão.

—Esta é sua namorada? —Perguntou Owen, segurando a foto.

—Algo assim. —Eu a arranquei de suas mãos, jogando-a sobre a cômoda.


Não querendo explicar ou entrar nisso com um estranho completo.

—Espere, deixe-me ver isso de novo. —Ele pediu, estendendo a mão para
dar uma olhada. —De onde você disse que era?

—Eu não disse.

—Oh cara, eu reconheceria esses peitos e bunda em qualquer lugar. Ela é


a ruiva ousada que conheci em Oak Island algum tempo atrás. Eu a teria pego se
não fosse por...

Eu o prendi contra a parede pela sua garganta antes que ele terminasse a
frase.

—Mim?! Esmurrando a sua cara fodida. Eu sugiro que você escolha suas
palavras com sabedoria, ou eu não hesitarei em te foder de novo. —Eu o soltei
com um empurrão, voltando para a arrumação.

—Era você. Eu sabia que você parecia vagamente familiar. Você me


colocou no maldito hospital por dias. Você quebrou a porra da minha mandíbula.
Minha boca foi calada por semanas.

—Nem sequer me arrependo. —Eu saí do quarto.

217
Owen e eu finalmente colocamos nossas diferenças no passado, ambos
querendo deixar o nosso país orgulhoso e derrubar os desgraçados que tiraram
tanto de nós.

Especialmente eu.

Eu não estava lutando apenas pelos Estados Unidos. Eu estava lutando por
Autumn.

Meus homens cuidavam da porra da minha retaguarda, e eu cuidava da


deles.

Quando nossas dezenove semanas em Fort Benning foram concluídas, nós


fomos colocados em Fort Bragg, Carolina do Norte, juntos com as forças especiais
para formação profissional. Eu estava no topo da minha classe quando se tratava
de acelerar. Eu podia engatilhar minha arma em questão de segundos, matando
qualquer um que ficasse na porra do meu caminho. Todos esses anos
manipulando armas por razões erradas com o MC vieram a calhar. Eu tinha o olho
de um atirador com mãos rápidas. Conhecer armas militares com a palma da
minha mão me trouxe para onde eu estava agora, o meu trabalho.

Ninguém cruzava o meu caminho.

Após a conclusão, todos nós fomos designados para os mesmos quartéis,


o edifício que nos abrigava.

Tivemos ordens para o nosso primeiro destacamento no Afeganistão logo


depois que terminamos o treinamento. Na época, eu achava que eu era um filho
da puta durão que era invencível. Eu estava no topo do mundo, pronto para
chegar com as armas carregadas, matando os filhos da puta que levaram a nossa
paz.

Fui treinado para matar.

Fui treinado para não fazer perguntas.

218
Fui treinado para desligar o resto da minha humanidade.

Mas nenhuma quantidade de treinamento me preparou para as coisas que


eu fui forçado a testemunhar. As coisas que eles não lhe dizem antes de você se
alistar e dedicar sua vida para a porra do bem maior. As coisas que eles não
mostram nas notícias ou lendo os jornais.

Eles não lhes mostram a porra ruim.

Somente a boa.

Eu pensei que tinha visto tudo, mas eu não poderia estar mais errado.
Observando mulheres e crianças sendo estupradas, espancadas e baleadas por
seus próprios insurgentes, porque seus maridos não quiseram juntar-se a causa. A
devastação provocada por sua própria espécie fodida. Não havia como saber a
diferença entre inocente e corrupto por fora. Estavam todos misturados. Você
rapidamente percebia isso toda vez que você se adequava. Toda vez que você
colocava esse uniforme militar, era vida ou morte.

Era a sua vida ou a deles.

Os homens das Operações Especiais foram treinados como malditos


assassinos. Cada missão que nos era atribuída era ultrassecreta. Nós nem sequer
sabíamos para o que estávamos sendo arrastados até chegarmos lá. Sendo
convocados em qualquer dia, sem aviso prévio. Nós não podíamos dizer nada
sobre qualquer coisa, especialmente quando voltávamos. A nossa principal
missão, essa nunca mudou, era encontrá-los antes que eles nos matassem.

Matar ou morrer.

Exatamente como a porra do MC.

Estar nas forças especiais, significava ser convocado com mais frequência,
mas por períodos mais curtos. Normalmente, só ficávamos nos lugares de quatro
a seis meses, dependendo da unidade, localização e necessidade.

219
Eu estive de volta à Fort Bragg, na Carolina do Norte durante um mês. Eu
fui instalado a cerca de uma hora e meia de casa. Eu não sabia quando seria
enviado a trabalho de novo, então eu estava pensando em tirar proveito da pouca
liberdade que eu tinha o melhor que pudesse. Enquanto eu estava sentado no
meu quartel, porém, minha mente repetia cenas que eu gostaria de poder apagar
para sempre.

Acendi um cigarro, inalando a nicotina. Sentindo imediatamente as toxinas


trabalharem em meus pulmões. Inclinando a cabeça para trás, soprei uma nuvem
de fumaça no ar viciado. Pensando em todas essas lembranças que
atormentavam minha alma.

Minha unidade foi chamada para uma pequena aldeia, para procurar
insurgentes, e recolher informações sobre o paradeiro de Osama Bin Laden.
Estava chovendo, Deus desencadeando sua ira sobre os campos de batalha.
Quando um grupo de crianças veio esgueirando-se de um edifício de concreto
abandonado.

—Dois rapazes, vestidos com uniformes, e três anciãos a cerca de vinte


metros. Rumo ao norte. —A voz de Owen soou no rádio.

—Eu estou vendo. —Eu respondi, falando em meu ombro. Nunca tirando
os olhos deles.

—Creed, é a sua vez. Eles parecem estar segurando algo, mano. Não é um
bom momento para ser um maldito maricas. Retire seu tampão fodido, cresça um
par de bolas de merda, e mate-os, foda-se!

—Filho da puta! —Eu rosnei, chegando mais perto, meu olho treinado
neles através do escopo da minha arma.

Eles pararam, trocando algumas palavras, olhando à sua volta,


procurando não sei o quê. Então os anciãos, de repente, tiraram granadas de suas
jaquetas, entregando-as aos meninos.

220
Eu avancei. —Foda-se. —Eu rosnei, sabendo o que eu tinha que fazer. Eu
não hesitei, puxei o gatilho até que eles já não eram meninos em uniformes
escolares, mas o inimigo ao qual fui treinado para tirar.

Aqui em um minuto.

Morto no próximo.

As vítimas da guerra.

Essa foi a primeira morte sob o meu comando na minha primeira ida ao
Afeganistão.

Os militares me dessensibilizaram, mais do que eu era antes, ou talvez eu


já fosse insensível a tudo. Eu tinha novos pesadelos, novos fantasmas de homens,
mulheres, e às vezes crianças que eu tinha matado pelo meu país, me
assombrando. Crianças jovens como Noah, alguns até mais jovens.

Todos eles focados em odiar o vermelho, branco e azul.

Eu peguei um vislumbre de mim mesmo no espelho pendurado em minha


porta do armário. Observando todas as tatuagens que eu tinha feito ao longo dos
anos. Entre o MC e as tatuagens militares, todas e cada uma que eu tinha gravado
na minha pele tinham uma história para contar, uma memória para lembrar, até o
dia em que eu morresse. A maioria dos soldados colecionava algo importante
para eles. Eu colecionava tatuagens, marcando minha pele a cada chance que eu
tinha.

Era a mesma coisa dia após dia.

As noites nas forças armadas foram alguns dos momentos mais solitários
da minha vida. Eu não tinha nada com que me distrair, não importa o quão
exausto eu estava. Quando eu forçava meu corpo fisicamente e mentalmente, o
sono não vinha facilmente.

Minhas memórias estavam sempre lá.

221
As ruins e brutais ultrapassavam as boas.

As boas memórias nunca duravam. Minha mente só estava programada


para trazer de volta o mal. Era instintivo para mim, ver as imagens da minha vida
maldita girando em torno de mim como a lua girando em torno da Terra.
Lembrando-me da única vida que eu conhecia. Houve momentos em que eu não
conseguia esquecê-la, tanto quanto eu tentava, ela não me deixava, apertando
meu pescoço. Como uma corda de memórias enrolada envolta dele, me
estrangulando até que eu não podia respirar. Como um laço, sugando a vida de
dentro de mim.

Saudei esse sentimento.

Pelo menos, então, eu sabia que ainda estava vivo.

Ser um especialista em armas nas operações especiais foi-me permitido


trinta dias de licença por ano. Passei a maior parte do meu tempo livre nos fins de
semana, quando eu não estava trabalhando, ou quando eu estava de licença, no
clube. Diesel agia como Vice Prez até que eu pudesse voltar. Eu ainda pagava
minhas dívidas e estava envolvido tanto quanto eu poderia, e eles me mantinham
informado e atualizado sobre tudo o que estava acontecendo.

Tentei ver Noah a cada chance que eu tinha, só que ele nunca quis me ver.
Uma vez consegui vê-lo, mas ele se recusou a falar, deixando-me falar sozinho o
tempo todo. Eu podia sentir o ressentimento escorrendo de seus poros. Ele tinha
dezesseis anos, agindo como se fosse um homem crescido. Gastando mais e mais
tempo no clube, contra a minha vontade. Fui de uma situação fodida para outra.

Minha mãe parecia estar tentando se recuperar. Ela tinha me mantido


atualizado, quando eu estava fora, me escrevendo cartas, muitas vezes, me
contando sobre sua jornada para a sobriedade. Dizendo-me que ela estava
participando de reuniões e tinha encontrado um orientador. Ocupando-se com
Stacey e Laura também. Quase nunca mencionando o meu velho, como se ele não
existisse mais em sua vida.

222
Eu vi Mia mais frequentemente do que eu vi Noah. Levando Mason para
que ele pudesse beijar a bunda de Giselle, que não tinha o perdoado por se
alistar. Pippin ainda era a menina espertinha, sábia além de seus malditos anos.
Eu encontrei-me ansioso pela próxima vez em que a veria, agora com catorze
anos de idade e cabeça quente. Certa manhã, algumas semanas depois que eu
saí, eles disseram meu nome durante o recebimento de cartas. Isso me chocou,
eu nunca esperava receber uma carta dela, nem em um milhão de anos. Mas
quando Mia colocava algo em sua mente, viesse o inferno ou a maré alta, ela faria
o que fosse para que isso acontecesse.

Havia um envelope com escrita rosa de Mia Ryder, AKA14 Pippin. Ela me
escreveu cartas tantas vezes, cada vez enviando um novo patch. Dizendo-me tudo
o que estava acontecendo na cidade, o que estava acontecendo com sua vida,
como seu pai ainda não a deixava fazer qualquer coisa. Como o surf era a sua
única fonte de liberdade. Dizendo-me que ela tinha ficado em primeiro lugar no
concurso de surf local, derrubando alguns dos melhores. Chutando suas bundas. E
o quanto ela orava por Mason e eu, e como sentia nossa falta.

Na verdade, eu comecei a esperar por suas cartas. Esperando um pouco


de felicidade e a luz que ela trazia para a minha vida. Ela era uma lufada de ar
fresco nesta terra infestada de morte. Mas na maioria dos dias, eu estava sozinho
com apenas meus pensamentos e memórias.

Lutando contra meus demônios, enquanto eu protegia meu país.

14
Sigla para “conhecida como”.
223
Havia um pequeno lago artificial ao longo da Pepperbush Drive no Parque
Woodland. Eu ia de bicicleta lá muitas vezes, só para ter um pouco de paz e
sossego. Um lugar isolado onde eu pudesse ficar sozinha com meus pensamentos.
Longe das praias movimentadas de Oak Island. Eu o tinha descoberto depois que
Tio Austin havia comprado sua casa na propriedade, explorando a área um dia,
quando estávamos lá para um churrasco.

Peguei a estrada de terra até o meu lugar especial no lago, parei minha
bicicleta perto da árvore de salgueiro. Peguei meus óculos de sol, rádio e fones de
ouvido da minha mochila, e desci até a beira da água. Tirei minhas sandálias perto
da costa, e entrei na água morna. Deixando o feixe de sol quente me aquecer
enquanto eu ouvia o chilrear de grilos.

Encontrando paz entre o caos do mundo.

Subi no balanço de corda que pendia logo acima da água de um galho de


salgueiro. Coloquei meus fones de ouvido, procurei em minhas canções, e
encontrei o que estava procurando. Comecei a balançar na melodia suave de
“Broken” de Seether. Observando o chão sob mim borrar. Cantando no topo dos
meus pulmões quando a canção atingiu a minha parte favorita.

Quando, de repente, o balanço foi empurrado mais forte, quase me


mandando para a água. Eu soltei um grito, virando-me para ver quem estava atrás
de mim. Nunca esperando vê-lo.

Creed.

—Você tem um bom conjunto de pulmões. —Ele riu, soltando o balanço.

224
—Que diabos? Você me assustou pra caramba! —Exclamei,
imediatamente pulando do balanço. Chutei a água, espirrando nele.

Ele sorriu, o tipo de sorriso espertinho de Creed. Inclinando a cabeça para


o lado, ele desafiou. —Não comece uma guerra que você não pode ganhar,
Pippin.

—Oh é, soldado? —Eu não tirei meus olhos dele enquanto eu jogava todas
as minhas coisas ao lado das minhas sandálias na costa, para não molharem.

Com um sorriso desafiador no meu rosto, eu me inclinei para frente, me


enchendo de antecipação pelo que eu estava prestes a fazer. Empurrando minhas
mãos através da água, joguei uma onda enorme em seu rosto.

Ele deu um passo para trás, os olhos arregalados de choque do que eu


tinha feito. —Não me tente. —Ele ousou, escondendo um sorriso.

—Eu achei que já tivesse. —Joguei água nele novamente, desta vez com
muito mais quantidade em minhas mãos. Sem me importar que ele estivesse
usando seu colete, que ainda não tinha qualquer um dos meus patchs nele.

—Faça isso mais uma vez e você vai ver o que acontece, menina.

—Humm... —Eu contemplei, colocando o dedo sobre o canto dos meus


lábios. —Eu não sou uma menina, estou com quase quinze anos! E o meu nome é
Pippin! Seja rápido!

Eu não lhe dei uma chance de responder antes de eu ir com força total,
espirrando água nele tanto quanto poderia. Ri pra caramba o tempo todo, sem
parar. Jogando pilhas de água nele.

Eu vagamente o ouvi dizer. —Não vá reclamar, eu te avisei.

—O que... —Ele me jogou por cima do ombro como se eu não pesasse


nada. Pegando-me de surpresa. Segurando a parte de trás dos meus joelhos para
me manter presa no local.

225
—Espere! O que você está fazendo? Isso não é justo! Você é maior do que
eu! —Gritei, apertando as mãos em suas costas para olhar para cima e ver onde
estávamos indo.

Ele andou mais para o meio do lago, sem se importar que estivesse
ficando com a calça jeans completamente encharcada.

—NÃO! Eu não quero ir para lá, Creed! Eu estou vestindo um lindo


vestido! Por favor! —Eu implorei, chutando e gritando. Suas mãos se moveram
para segurar na minha cintura, me preparando para fazer o impensável. Eu o
segurei mais forte, mesmo sabendo que isso não importaria, ele era mais forte do
que eu.

—Implorar não vai funcionar nesta situação, Pippin. Devia ter pensado
nisso antes de decidir ir para a guerra com um soldado. Eu não perco.

—Eu sinto muito! Eu estava apenas brincando! Coloque-me no chão! Por


favor!

—Tudo bem, apenas porque você pediu tão educadamente.

Eu sorri, pensando que eu tinha ganhado. Eu não poderia estar mais


errada. De repente, ele me levantou pela minha cintura, arrancando meus braços
dele, e me atirou no ar. Eu pousei no lago, submergindo na água. Meu corpo
inteiro indo abaixo.

—Seu imbecil! —Gritei, emergindo da água, e nadando de volta para ele.


Tropecei, uma vez que eu estava em pé na água até os joelhos. Olhei para baixo
com as mãos ao lado do meu corpo. —Olha! Olha o que você fez com o meu
vestido branco bonito! Ele está arruinado agora!

Olhei para cima, pronta para dar-lhe um sermão, mas a expressão em seu
rosto me deixou sem palavras. Seus olhos percorriam meu corpo encharcado.
Desde meus quadris, subindo pelo meu peito e até o meu rosto com um olhar
predatório. Nossos olhos se encontraram por uma fração de segundo, e ele
estendeu a mão, enxugando uma gota de água do meu rosto. Seu polegar quente
226
agitou emoções dentro de mim, fazendo com que meus lábios se abrissem e meu
corpo tremesse. Eu juro que podia ver suas paredes lentamente ruírem,
revelando um olhar que eu nunca tinha visto nele antes.

Tão rápido quanto aconteceu, isso foi embora. Ele sacudiu o pensamento,
limpando a garganta, dando um passo para trás e olhando para longe de mim.
Perdido em seus próprios pensamentos. Ele esfregou as costas de sua cabeça,
enquanto um silêncio desconfortável enchia o ar entre nós.

Eu não entendia o que tinha acontecido, ou o que me fez receber aquele


olhar, tudo o que eu sabia era que...

Eu gostei.

Muito.

Eu segui o foco de seu olhar, olhando para o meu vestido novo.


Finalmente percebendo que o algodão fino branco estava agarrado ao meu corpo
como uma segunda pele. Acentuando minhas curvas e os seios. O contorno do
meu sutiã e calcinha creme apareciam através do tecido muito transparente.

Engoli em seco.

De repente, sentindo-me exposta e vulnerável, mas eu não me movi para


me cobrir. Pela primeira vez na minha vida, eu me senti como se alguém estivesse
me olhando como a mulher que eu estava me tornando, e não como a garotinha
que todos ficavam dizendo que eu ainda era.

Não era apenas alguém...

Era Creed.

E eu amei isso mais do que qualquer coisa.

—Meu vestido... —Ele tirou o colete, jogando-o na margem ao lado das


minhas coisas. Ele alcançou a bainha de sua camisa branca, puxando-a sobre a
cabeça e a tirou.
227
—Aqui. —Ele me interrompeu, jogando-a para mim. Ainda olhando para
longe.

Eu sorri. Trazendo-a até meu nariz por um segundo antes de colocá-la.


Querendo memorizar o cheiro dele. Ri quando eu vi minha aparência. —Eu
pareço estar vestindo um saco de batata.

Ele se virou, de frente para mim novamente, cruzando os braços sobre o


peito. Apenas quando eu pensei que não poderia ficar mais desconfortável, isto
adicionou uma nova rodada inteira de constrangimento.

Minha boca quase caiu aberta com a visão do homem em pé na minha


frente. Seu corpo estava tão tenso pelo que aconteceu entre nós, mostrando
todos os músculos firmes e tatuagens. Ele era coberto delas, seu peito esculpido,
até seu abdome era esculpido, enfatizando seu tanquinho.

Suas botas estavam submersas no lago, cobrindo a parte inferior da calça


jeans. O peso da água arrastou seu jeans para baixo em sua cintura, mostrando
um V acima de sua trilha feliz. Que, por si só, fez todos os tipos de coisas para
mim. Seus braços tatuados eram definidos, tonificados, e volumosos,
complementando seu corpo alto e rude.

Ele era um bad boy da vida real.

Eu. Não. Podia. Respirar.

Ele seguiu meu olhar em seu corpo exposto, exatamente do jeito que fiz
momentos atrás, quando ele estava olhando para mim. Olhando de volta para o
meu rosto, ele apertou os lábios, tentando não rir. Foi a minha vez de olhar para
longe dele, mesmo que eu não quisesse. Minhas bochechas estavam vermelhas,
meu coração disparou, rapidamente batendo com força contra o meu peito,
deixando-me fraca nos joelhos. Seu silêncio só deixou as coisas mais estranhas
entre nós.

Eu odiei isso tanto quanto eu adorei.

228
—Não parece ruim vestindo minha camisa como saco de batatas e tudo
mais. —Ele falou, finalmente quebrando o silêncio.

Corei, olhando de volta para ele. Sorrindo, eu respondi. —Você tem o


hábito de seguir meninas para o lago?

—Não desde que eu tinha doze anos. —Ele falou, colocando as mãos nos
bolsos, acentuando a sua estrutura forte.

Foi desconcertante como um homem adulto poderia parecer maior a cada


vez que ele aparecia. Eu não o via ou ao meu irmão, muitas vezes, mesmo que
eles estivessem locados em Fort Bragg, a duas horas de distância de Oak Island.
Ambos ocupavam cargos elevados no exército, participando de missões ou
treinando muito. Creed era o sargento de Mason na unidade de forças especiais.
Ele era um especialista em armas, e Mason era um engenheiro que arrasava.

Eu sempre contava os dias para o seu regresso, mesmo que eu só os visse


por algumas horas. Mason voltava para casa em licença por algumas semanas,
mas eu nunca via Creed quando ele vinha.

As coisas não tinham sido as mesmas desde que Mason saiu a mais de dois
anos e meio atrás. Minha mãe e Stacey eram uma pilha de nervos na maioria dos
dias, se preocupando se o seu bebê estava bem. Especialmente quando eles
estavam fora em missões ou guerra. Mamãe saltava cada vez que o telefone
tocava, pensando na má notícia esperando por ela na outra extremidade.

Meu pai ocupava-se com o trabalho e agia como se nada tivesse mudado.
Mas todos nós sabíamos que ele estava muito preocupado, ele era bom em
manter suas emoções sob controle. Mamãe, por outro lado, não era. A vida em
casa não era a mesma sem Mason. Era definitivamente mais silencioso, no
entanto.

Todos nós tínhamos saudades dele, e eu rezava toda noite para que ele
estivesse seguro. Sempre esperando a sua próxima carta que ele enviava
mensalmente, sempre que podia.

229
Eu não tinha mudado muita coisa, exceto o meu corpo, o que só fez o meu
pai colocar mais regras. Para completar a lista interminável de coisas que eu não
podia fazer. Eu estava sufocando em minha própria casa, mais do que nunca.
Ninguém entendia isso, era uma batalha que eu nunca ganharia, mas eu me
recusei a parar de lutar. Eu me afogava na escola, trabalho, e surf, quando tudo
que eu realmente queria era sentir como se eu pertencesse a algum lugar.

—Eu não sabia que você vinha visitar com Mason. Quando é que vocês
chegaram? Espera... Como você sabia que eu estava aqui? —Eu perguntei,
colocando as mãos nos quadris, inclinando a cabeça para o lado. Dando-lhe um
olhar questionador.

Ele limpou a garganta novamente, e falou em um tom rouco. —Estava


sentado no restaurante, e vi você passando.

—Ah, então você me seguiu.

—Por que a música triste, Pippin? —Ele perguntou, ignorando a minha


pergunta. —Algum garoto partiu seu coração? Vou quebrar a porra das pernas
dele.

Eu ri pelo que parecia ser a primeira vez em meses. —Você precisa que
meninos falem com você antes que eles possam partir seu coração. —Eu
confessei, caminhando para minhas coisas na costa.

Sentei-me, inclinando-me para trás em minhas mãos, deixando meus pés


balançando no lago. Creed me seguiu, sentando ao meu lado, colocando o colete
de volta. Ele tirou seus cigarros.

—Olha o que você fez. —Ele balançou a cabeça, jogando o pacote


molhado de cigarros entre nós.

—Bem feito. Eles são ruins para você de qualquer maneira.

—É mesmo? —Ele zombou. —Nunca ouvi isso antes.

230
—Tudo bem. —Eu dei de ombros. —Eu vou começar a fumar também.

—A porra que você vai. —Ele rosnou, rindo. —Então, o que é isso de
rapazes não falarem com você? —Ele olhou para o lado do meu rosto.

Dei de ombros novamente sem saber o que dizer.

—Não precisa de meninos falando com você de qualquer maneira. Há


homens suficientes em sua vida para compensar esses merdinhas.

Eu revirei os olhos. —Você soa como o meu pai. Entre ele e meus tios, há
caras que nem sequer chegam à porta da frente. Estou com quase quinze anos,
Creed, e eu nunca sequer fui beijada. Você sabe o que é ser a única menina na
nona série que nunca esteve em um encontro ou foi beijada? —Eu questionei,
olhando para ele. —Todas as minhas amigas já tiveram tudo isso, e é tudo o que
falam quando a gente sai, o que não são muitas vezes mais. A maioria delas já
tem namorado e passam todos os momentos com eles. —Suspirando, eu respirei
fundo.

—Nunca disse uma coisa sobre isso em suas cartas.

—Você quer ouvir sobre minha vida amorosa ou a falta dela? —Eu arqueei
uma sobrancelha. —Você sabe como meu pai é... Você acha que mudou? De jeito
nenhum. Ele só tem piorado, especialmente desde que Mason saiu. Bo não causa
metade dos problemas que ele causava. Eles não têm nada a fazer, além de se
concentrarem em mim.

—Você é uma menina. —Ele simplesmente declarou.

—É por isso que nunca me escreveu de volta?

Ele colocou as mãos sobre os joelhos. —Não achei que seu pai fosse
apreciar isso.

—Ugh! —Eu soltei, sabendo que ele estava certo. Ele ficaria louco se uma
carta de Creed viesse endereçada a mim. —É tão frustrante. Eu não posso

231
namorar. Eu mal posso sair da minha casa sem meu pai na minha cola, me
perguntando aonde eu vou. Ele nunca vai me deixar crescer. Há um baile na
escola na próxima semana e eu nem sequer fui convidada, nem estou autorizada
a ir. Eu vou acabar sozinha com vinte gatos, vestindo camisetas com os dizeres
“Meow’s it going 15”.

Ele soltou uma risada de dentro de seu peito.

Meus olhos arregalaram-se, pega de surpresa com a reação dele. —Não é


engraçado! Eu vou ser a senhora dos gatos, e você está rindo!

—Eu vou explicar uma coisa a você, Pippin. —Ele murmurou através de
sua risada, balançando a cabeça. —Os meninos da sua idade apenas querem
transar. Merda... Os homens em geral só querem isso. Eles não se preocupam
com nada além do que está no meio de suas pernas, especialmente quando se
tornam homens. E o pior disso, é que você vai deixá-los chegar a isso.

—Oh... —Eu recuei, olhando para ele. —Você... quer dizer... você sabe...
você... faz coisas... você sabe, assim também?

—Não, querida. Eu sou um idiota honesto.

—E Autumn? Eu pensei que ela era sua namorada. Quero dizer... ela era...
linda. Eu queria parecer com ela.

Ele estreitou os olhos para mim, contemplando o que dizer. —Nunca tente
ser algo que você não é. Você é perfeita do jeito que é, ok?

Minha barriga se agitou, mas com cautela balancei a cabeça, olhando de


volta para a água.

—Para o inferno com esses merdinhas, isso não vai acontecer com você.
Você vai conhecer um homem, que um dia vai te amar e te mostrar isso. Dizendo

15
Deixei no inglês porque não há tradução para isso sem o trocadilho. Meow é miau (miado do gato). E nesta
expressão, o original seria How´s it going (Como vão as coisas?). Mas foi usado o Meow ao invés de How por
causa dos gatos.
232
palavras carinhosas a você. E ele vai ser um sortudo por ter você como sua
mulher ao seu lado.

—Você realmente acha isso?

—Eu sei que sim. Você só tem quinze, querida, tem toda a vida pela
frente.

Eu sorri.

Eu sabia que ainda era jovem. Eu sabia que Creed era muito mais velho do
que eu, sempre seria. Eu sabia que éramos errados um para o outro, sempre
tinha sido. Provavelmente sempre seria. Mas eu também soube ali mesmo, que
eu queria que ele fosse aquele homem na minha vida. O qual ele acabou de
descrever com tanta sinceridade e amor em sua voz.

Sabendo com cada batida do meu coração ainda jovem...

Que eu sempre iria querer.

233
Eu entrei na tenda de reunião logo após as 4 da manhã para receber
instruções de nossa próxima missão. Era a parte final do meu terceiro
destacamento no Afeganistão desde que entrei no serviço militar a mais de três
anos atrás. Eu não estive em casa em seis meses.

As tendas de reuniões eram como salas de aula, com fileiras de mesas e


cadeiras dobráveis. Todas situadas em torno de quadros brancos com instruções
e notas. Fotos de inimigos, territórios e informações projetadas em uma tela.
Quem precisava ser encontrado e capturado.

Vivo ou morto.

Os últimos quatro meses deste destacamento tinha sido puro inferno na


terra.

A mesma besteira a cada dia na repetição. Embarcando em missões


intermináveis de patrulha a pé que duravam duas a três semanas de cada vez.
Literalmente comendo merda, não tendo nenhuma ideia do que realmente era.
Era comer ou morrer de fome. Nós nos revezamos para dormir em valas ou na
lama com um olho aberto, esperando que os insurgentes emergissem das
malditas colinas. Sempre nos sentindo como se estivéssemos sendo vigiados. O
nosso dedo estava no gatilho de nossas armas em todos os momentos, pronto
para atirar sobre os inimigos em um determinado momento.

Os dias eram longos e as noites mais ainda.

234
Subimos cada montanha fodida. Buscamos em cada caverna por um
homem que eu comecei a acreditar que não existia para começar. Invadindo
aldeias, ganhando informações que nos levava a lugar nenhum, além de sermos
perseguidos. Farejando insurgentes como cães raivosos. Usando as medidas
necessárias para fazerem os fodidos falar.

A parte louca de tudo isso era que, estar de volta ao Afeganistão era quase
como estar em casa. Todos nós nos sentíamos dessa forma. Ser um civil era muito
mais difícil do que ser um soldado. A guerra te ferrava até o ponto onde nada
faria sentido quando você voltava para casa. Nossas mentes estavam sempre no
campo de batalha, juntamente com as almas que tínhamos tirado. Isso era outra
coisa que os militares não nos preparavam.

A vida real.

Reajustar à vida normal foi a porra da pílula mais difícil de engolir. Foi tão
difícil voltar à normalidade, e desligar a mentalidade de “matar ou ser morto” em
todos os momentos do dia. As pequenas coisas, como um cortador de grama
ligado, ou um ventilador de teto girando poderia desencadear coisas em minha
mente que eu nem sequer sabia que estavam lá. Um lapso momentâneo de
julgamento ocorreria entre não saber onde estava, ou como você deve reagir.

Eu vivia e respirava guerra por meses por um tempo. Estávamos sob


constantes ataques à bomba com carros, homens-bomba, morteiros, e filhos da
puta olhando para você como se eles o odiassem, dia após dia.

Eu matei inimigos.

Perdi irmãos.

Exatamente como o MC.

Os longos períodos de violência eram uma surra psicológica. No mundo


real, eu era desconfiado, mal humorado, e era facilmente irritado. Se eu achava
que o meu temperamento era ruim antes, bem, eu não poderia ter estado mais
errado sobre isso. Eu acordava várias vezes durante toda a noite, assustado que
235
eu não podia encontrar a minha arma. A luta ou fuga da mentalidade que eu
tinha, agora se tornou uma luta diária.

Agora se tornou minha vida.

Sempre esperando o outro sapato arrebentar, sempre alerta, sempre à


espera para matar o que eu não podia ver.

Estas missões eram todas a mesma coisa, cheias de requintes e


habilidades furtivas, que só uma equipe de operações especiais poderia ter. A
minha equipe, a qual eu estava no comando, era a melhor do mundo, um grupo
de filhos da puta cruéis que não temia nada. Operava nas piores condições
imagináveis, suportando as piores situações possíveis conhecidas pelo homem.

E voltando para mais.

Nós fomos para a zona de queda naquele dia, o dever do combate ativo.
Cerca de quinze quilômetros do alvo, fomos informados para ficarmos prontos.
Um grupo de idiotas já havia sido flagrado dirigindo em nossa direção por outra
equipe dos EUA de soldados. Minha unidade os interceptou em uma área
arborizada a cerca de dois quilômetros de algumas aldeias locais, e começamos a
aferição da área. Rifles carregados e prontos para disparar, fomos pisando um pé
na frente do outro, ouvindo tudo e qualquer sinal dos desgraçados.

Eu coloquei minha mão esquerda para cima, sinalizando para


continuarem. —Tudo limpo. —Eu informei através do meu rádio.

Olhando tudo ao meu alcance, virando à direita e à esquerda. Nós


passamos pelos bosques, tentando sermos os mais invisíveis possíveis.
Misturando-nos com a natureza. Nem mesmo a minha respiração poderia ficar
fora de sincronia. Quanto mais traiçoeira a situação, mais calmo eu ficava.

Meus piores pesadelos já tinham se tornado realidade, não havia mais


nada para eu temer, a não ser o próprio medo.

236
Minha adrenalina trabalhava horas extras, sabendo que o inimigo estava
perto, mas eu não tinha visual ainda. Todos os meus atos e ordens precisavam ser
calculados e precisos. Minha audição só aumentava a cada passo que eu dava na
direção do perigo.

De repente, gritos ecoaram a distância, parando nossa descida. Eu sinalizei


minha equipe para parar, apontando para o meu ouvido e, em seguida, na minha
frente. Mais comoção vinha da aldeia a qual estávamos nos aproximando,
enchendo a área arborizada. Um ruído zunindo soou à minha direita,
imediatamente seguido por um baque duro. Meu instinto inicial era cair no chão,
mas eu ignorei essa sensação.

—Porra! Abaixem-se! —Eu berrei através do meu rádio. Olhando por cima
do ombro para encontrar Andrews, caído de costas a poucos passos de distância,
sem se mover. O sangue escorria pelo seu rosto, na terra. Minha equipe recuou,
abaixando-se atrás das árvores, deitando de bruços na lama. Olhando a área para
encontrar o filho da puta que abriu fogo. Quatro ou cinco militantes afegãos
vinham para cima de nós rapidamente.

Não havia tempo para pensar.

Não havia tempo para respirar.

Não havia tempo para dar o fora de lá.

—Matem esses filhos da puta! Agora! —Eu gritei por cima do barulho das
balas voando a centímetros de mim. Mulheres gritando, tiros ecoando enquanto
eu ia até ele.

—Andrews! Fica com a gente! Você está me ouvindo? Lute, filho da puta.
Hoje não é seu dia de morrer! —Eu gritei, atravessando a lama, abaixando-me
para a esquerda e direita. Esquivando-me das rodadas de cobre dos adversários e
meus próprios homens, tentando chegar até ele. Outra bala passou perto de mim,
desta vez raspando meu ombro esquerdo.

237
—Ughhhhh... Merda! —Eu rosnei, trazendo a minha mão direita até a
ferida, sentindo o quão ruim eu fui atingido. Sangue escorria do meu braço e em
meus dedos. —Fodido filho da puta!

Agarrando o meu rifle, eu apontei à direita na cabeça do responsável,


derrubando-o. Caí de joelhos ao lado de Andrews que ainda estava sem resposta.
Eu não tinha que verificar se havia um pulso, eu sabia pelo buraco em sua testa
que ele estava morto. Eu o despojei de sua arma e munição, agarrando seu
capacete que tinha uma foto de sua esposa, Deb, e seu recém nascido nele. Uma
carta saía de seu bolso.

Eu fiz o sinal da cruz sobre seu corpo, murmurando. —Das cinzas as cinzas,
do pó ao pó, e toda essa merda.

Era a primeira vez em que perdia um dos nossos na execução do dever, e


eu não sabia como aliviar a alma do soldado, então eu me vi fazendo exatamente
a mesma coisa que eu tinha visto meu pai fazer muitas vezes. Eu nunca fui um
homem religioso, e isso parecia melhor do que não dizer nada.

—Sinto muito, irmão... Vamos matar cada um desses bastardos.

—Creed! —Mason gritou, trazendo minha atenção para ele, apontando


para o norte.

Olhei para cima na clareira, me deparando com uma cena de horror


completo na aldeia. Insurgentes arrastavam meninas da escola da aldeia por seus
cabelos, chutando e gritando. Eu sabia o destino dessas meninas, e custou até a
última fibra do meu ser para não correr lá e derrubar cada filho da puta.

Mason veio correndo, esquivando de balas e caindo ao nosso lado.


Afastando-me da cena. —Creed, você foi atingido?

—Você está vendo isso? —Eu fervi, acenando para eles.

Ignorando a minha pergunta, ele perguntou novamente. —Você foi


atingido?

238
—Pelo amor de Deus, eu estou bem, é apenas um arranhão. Precisamos
fazer alguma coisa antes que aqueles bastardos estuprem e, em seguida, matem
todos. Ajude-me a levar Andrews até aquela árvore caída.

Eu balancei a cabeça em direção aos galhos caídos, apenas alguns metros


de distância. Deslizei suas fotos e carta em meu bolso. Querendo ter certeza de
que eu, pessoalmente, os entregaria a sua esposa, se e quando saíssemos daqui.
Owen nos cobriu enquanto nós levantávamos o corpo mole de Andrews com sua
mochila e o arrastávamos para a árvore.

A primeira regra da merda da guerra.

Nenhum soldado era deixado para trás.

Nenhum de nós tinha tempo para refletir sobre outra vida roubada. Sobre
outro soldado que não voltaria para casa, para sua esposa e filhos. Sobre outra
vida inocente tirada.

—Sargento Jameson para o quartel, na escuta? —Eu passei o rádio


enquanto Owen tirava uma faixa de sua mochila e começava a envolver meu
braço apertado como um torniquete. Ele era o nosso médico.

—Na escuta, Jameson. É o Major Douglas do quartel.

—Temos um soldado morto e vários feridos. —Informei, tapando meu


outro ouvido para abafar o som ao nosso redor. Pesquisando na área. —Estamos
perto do Hesarak, localizado na 33° 59’ 49” Norte, 69° 2’ 23” Leste de Logar.
Temos um visual sobre a vila, vários homens do Talibã estão pegando meninas da
escola. Puxando-as pelo maldito cabelo, batendo nelas e fazendo Deus sabe mais
o quê. Vamos entrar. Repito... Vamos entrar.

—Retirem-se, soldado!

—O quê? —Eu recuei, segurando o receptor mais perto da minha orelha,


pensando que eu não ouvi corretamente.

239
—Você me ouviu! Retirem-se dessa porra! —A voz do major Douglas
ecoou aos gritos através do rádio. —Essa aldeia não é motivo de preocupação do
Governo dos EUA. Não faz parte da sua missão, sargento. Você está me ouvindo?
Retirem-se. É uma ordem! Está ouvindo?

—Você está me sacaneando agora? Nós não vamos sentar e assistir


meninas inocentes serem estupradas e mortas quando podemos ajudá-las. Temos
visual do lado direito das instalações da Tropa do Exército dos EUA. Podemos
acabar com estes filhos da puta, completar nossa missão e estar de volta para o
jantar. Vamos entrar!

Uma vez que o caminho estava livre, fiquei de pé, ignorando a onda de dor
irradiando do braço, e o sangue escorrendo dos meus dedos.

—Creed! Você o ouviu! É para nos retirarmos! —Owen gritou atrás de


mim.

—Se você quer a vida dessas meninas em sua consciência, então você é
um soldado fodido! Pegue suas coisas e vamos embora, seu maricas! Não vou
dizer novamente. Isso é uma ordem.

A voz do major Douglas voltou ao rádio novamente. —Que porra você está
fazendo, soldado! Recue! Temos ordens de não retornar o fogo, não nos
envolvermos de qualquer forma. Você vai lá, você está morto! Devemos escolher
nossas batalhas, e essa não é a nossa batalha para lutar. Agora recue, Jameson.

Eu não hesitei, e corri o mais rápido que pude, mas não rápido o
suficiente. Os gritos agonizantes de uma menina encheram meus ouvidos
enquanto eu a assistia tomar soco após soco em seu pequeno corpo. Seu rosto
estava quase irreconhecível na distância entre nós. Coberta de seu próprio
sangue e sujeira. Abafada pelo impacto de punhos. Minha visão afunilou quanto
mais próximo eu chegava. Outra descarga de adrenalina corria através de mim
enquanto meu coração batia em meus ouvidos em uma velocidade rápida como
se eu estivesse tendo um maldito ataque cardíaco.

Tudo o que eu via era vermelho.


240
Tudo que eu queria era salvá-las.

Mesmo que custasse a minha vida.

Outro Taliban se elevou sobre a menina, rasgando sua calcinha, deixando


o cinto de artilharia cair na sujeira enquanto ele abria o zíper de sua calça e tirava
seu pênis.

—É uma ordem! —Eu ouvi a voz do rádio ecoar através do grande bosque.

—Você pode pegar sua ordem e enfiá-la na porra da sua bunda! —Eu mal
disse a última palavra quando uma bala atingiu minha coxa, fazendo-me tropeçar.
O tempo pareceu desacelerar de repente.

Tudo aconteceu em câmera lenta.

Eu caí para frente, gritando. —Nãooooooo! —Enquanto outra bala


passava pelo meu rosto, um AK47 atrás de mim atingiu um afegão que vinha
correndo em minha direção bem entre os olhos enquanto eu caía no chão.

Mason pode ter salvado a minha vida, mas o que eu fui forçado a
testemunhar nos próximos minutos quase me matou.

—Soldado atingido! Repito... Sargento Jameson foi atingido. —A voz


abafada de Mason anunciou pelo rádio.

—Porra! Maldito seja! Eu tenho um helicóptero a caminho. ETA de quinze


minutos.

—Entendido. —Mason declarou, de repente me levantando por cima do


ombro, e nos levando de volta para a unidade onde eles se esconderam.

Fomos todos obrigados a testemunhar a morte das meninas. Nenhum de


nós fez um som, pois vimos a violência brutal se desdobrando na nossa frente. Eu
juro que você podia ouvir seus gritos a quilômetros da vila.

241
O que restava da nossa moralidade foi retirado de todos nós naquele dia
enquanto nos sentamos lá, permitindo que os filhos da puta rasgassem
literalmente a inocência delas. Empurrando dentro e fora delas, espancando-as
até que elas já não estavam gritando mais, rindo e se divertindo o tempo todo.

Seus gritos horríveis encheram o ar, deixando meu esquadrão de joelhos.


Não adiantava cobrir os ouvidos.

Eles silenciosamente oraram ao Senhor para perdoá-los por seus pecados.


Porra, e eu amaldiçoei por permitir isso, para começar. Esta não foi a primeira, e
não seria a última vez em que me disseram para recuar.

Apenas alimentando o meu ódio por nosso governo.

242
Fui para a escola esse dia, nunca esperando o que estava por vir. Rick
estava em muitas das minhas aulas daquele semestre na escola. A maioria delas
era avançada. Eu era apenas uma veterana, mas ele estava nas classes juniores.
Ele era o único menino que me dava qualquer atenção. Aproveitando todas as
oportunidades para flertar comigo, pedindo para emprestar um lápis ou
perguntando sobre matemática, dizendo que ele não entendia. Eu sabia que era
um truque. Eu vi que todos os seus testes e atribuições tinham um A quando o
nosso professor de matemática nos entregou de volta.

Após o sino final tocar na escola, eu fui para o meu armário para colocar
os meus livros, e um pedaço de papel caiu aos meus pés. Apanhei-o, virei-o e nele
dizia:

Você e eu, sexta à noite?

Rick

Meu estômago caiu, meu rosto aqueceu, e minhas mãos, de repente, se


tornaram pegajosas. Olhei em volta da minha porta do armário e foquei os olhos
nele.

Sorrindo, ele murmurou. —E aí? —Do fundo do corredor.

Olhei dele para o papel e de volta para ele, acenando com a cabeça um
pouco excitada. Feliz no lado de fora, mas triste no interior. Meu pai não
aprovaria.

243
Mais tarde naquele dia, nós discutimos isso, para dizer o mínimo. Mãos
estavam gesticulando, pés estavam batendo no chão, tentando colocar algum
sentido em sua cabeça estúpida.

—Pai! Eu tenho quinze anos de idade! Você não pode continuar me


tratando como um bebê! —Eu gritei da ilha de cozinha. Ele estava ajudando
Mamãe a preparar o jantar.

—Mia Alexandra Ryder, você não vai sair com aquele menino. Fim da
história.

—Você acabou de falar meu nome completo?! E não! A história está


apenas começando! Pai, ele é um bom garoto. Inteligente, atlético, ama carros
rápidos. Eu mencionei inteligente?

—Eu não me importo se ele é o presidente do clube de xadrez, tem chaves


e espinhas. Você não vai a um encontro.

—Vamos lá, papai! Você teve quinze anos uma vez. Fala sério! Eu não
estou pedindo para me casar! Eu estou pedindo para sair. Ser uma adolescente
normal. Você não confia em mim?

—É nele que eu não confio, Mia. E sim, eu tive quinze anos uma vez, e não
fui um bom exemplo para se comparar, menina. —Ele me deu um olhar
complacente, fazendo Mamãe rir baixinho.

Vovô me disse uma vez que o papai foi um idiota com a mamãe quando
eles eram crianças, e ele estava surpreso que ela ainda o perdoou por tudo o que
ele a fez passar. Mordi a língua, querendo deixar escapar este pedacinho de
informação, para que ele pudesse ver que ele não era perfeito. Que eu merecia
uma chance de cometer erros e aprender com eles como ele fez, mas decidi
contra isso.

Em vez disso, eu joguei o cartão de menina boazinha e fui para Mamãe.

244
—Mãe, você sabe como é ser uma menina. Ponha algum sentido em seu
marido. Ilumine-o, por favor!

—Lucas, eu conheci os pais deste menino. Ele vem de uma boa semente16.
Eu digo que ela vai.

—É melhor ele não fazer nada com sua semente, especialmente plantá-la.

—Ainda estamos falando de Rick? Ou de jardinagem? —Eu olhei para eles,


pasma. —Então, eu posso ir?

—Bem. Mas com uma condição. —Ele segurou a faca que estava usando
para cortar batatas. —Mason estará em casa de licença em alguns dias. Se você
quiser ir a este... encontro... —Disse ele, lutando para dizer a última palavra. —
Seu irmão terá de concordar em ir junto.

Eu pulei da minha cadeira e corri para ele, dando-lhe um grande abraço.


Quase o derrubando ao chão. —Obrigada! Obrigada! Obrigada!

—Não me agradeça ainda. Seu irmão não disse sim.

Mason voltou para casa alguns dias mais tarde como papai disse. Eu o
ataquei na porta, abraçando-o com força, dizendo-lhe o quanto eu senti falta
dele. Logo lhe perguntando se ele poderia ir ao meu encontro comigo sexta à
noite. Ele olhou para mim como se eu tivesse duas cabeças, mas Giselle
concordou imediatamente, e ele não estava em posição de dizer não a ela.

Muito parecido com o meu pai...

Mason eram um capacho de Giselle também.

16
Aqui a autora havia colocado Good Seeds que significa Boa semente. Quer dizer que ele vinha de uma boa
família. Resolvi deixar a tradução literal, senão o diálogo a seguir ficaria sem sentido.
245
Passei duas semanas em recuperação no hospital militar na base, depois
de ter sido baleado na floresta. Eu deveria ter aceitado a licença, mas eu odiava
saber que meus homens estavam em missões sem mim. Passei o tempo flertando
com as enfermeiras, vendo quantas eu poderia ter chupando o meu pau depois
de horas.

Jogando de “eu sou um soldado ferido”.

Eu tive mais buceta nessas duas semanas do que eu tive em meses. Você
ficaria surpreso com quantas mulheres estavam dispostas a servir o seu país de
joelhos.

Consegui um puxão de orelha, por assim dizer, pelos meus atos de não
recuar como fui ordenado pelo meu major. Minha única salvação para não ser
rebaixado, era porque eu era realmente bom no que fazia. Éramos nossa própria
unidade, e na maioria das vezes nós fazíamos qualquer merda que queríamos, de
qualquer maneira. Mas uma vez que eu estava desarmado, o meu major lidou
com isso comigo por trás de portas fechadas, de homem para homem.

Ou seja, ele me deu um soco na cara algumas vezes, levando-me ao chão,


e dando mais alguns bons golpes no meu peito, rosto e estômago. Ameaçando-
me de que, se eu um dia o desobedecesse novamente, ele não pensaria duas
vezes antes de tirar a porra do meu posto. Pela primeira vez na minha vida, eu
aceitei cada golpe como um homem do caralho, mesmo que eu pudesse tê-lo
derrubado. Eu estava grato que era apenas meu corpo que estava tomando o
peso de sua punição.

Estávamos de volta em casa, em licença por duas semanas. Owen ia para


casa, para o Arkansas, para ver sua família e seu bebê. Sua esposa deu à luz ao
246
seu primeiro filho enquanto estávamos nas colinas. Eu nunca tinha visto um
homem adulto chorar como ele chorou quando voltamos para base. Sua mulher
mandou-lhe uma gravação de vídeo da sala de parto que a mãe dela tinha feito
para ele.

—Quer ir com a gente hoje à noite? —Mason perguntou enquanto eu


passava pela porta do apartamento de Giselle.

Eu passei a maior parte do dia com Diesel, tomando algumas cervejas em


um bar local e conversando merda. Deixando-me atualizado com tudo o que
aconteceu no clube na minha ausência. Tudo, a partir de negócios oficiais até
quantas prostitutas novas ele tinha fodido.

Nós conversamos sobre como o meu velho praticamente fez o clube a sua
residência permanente. Oficialmente abandonando Ma, mas ainda dando-lhe
dinheiro para viver. Somando ao que eu lhe enviava a cada mês. Como se isso
fosse consertar as coisas.

Elas ainda não tinham mudado, ainda estavam sombrias.

—Você pode me ajudar a assustá-lo. —Mason acrescentou quando me


sentei na poltrona ao lado deles, jogando as chaves na mesa de café. Querendo
saber de quem diabos eles estavam falando.

—Eu acho que ele é bonito. —Giselle entrou na conversa, trazendo a


minha atenção para ela. —Eu não me importo em acompanhá-los. Você só vai
chatear sua irmã mais nova em seu primeiro encontro. Supere isso, Mason, ela
tem quinze anos agora. É hora de seu pai deixá-la fazer algo normal. Sabe o que
eu tive que passar apenas para levá-la para fazer as unhas e para comprar uma
roupa nova hoje? Essa pobre menina está presa em casa o tempo todo.
Exatamente como eu esperando por você. —Ela enfatizou, empurrando seu dedo
em seu peito.

Eu me inclinei para frente, descansando os cotovelos sobre os joelhos.


Arqueando uma sobrancelha, eu perguntei. —Mia vai a um encontro? —Pego de
surpresa.
247
Mason suspirou. —Sim.

—Com quem?

—Algum palhaço de sua escola, que esteve atrás dela para sair com ele
pelo último mês. Eu não o conheço, provavelmente é algum idiota almofadinha,
usando camisa polo e calça cáqui. Eu acho que minha mãe ameaçou meu pai para
deixá-la ir a um encontro. Ele só concordou em deixá-la ir se eu fosse com eles.
Mia me implorou assim que entrei pela porta na noite passada. —Afirmou,
acenando para Giselle. —E se este for menos romântico do que ela é, vai dar
merda.

Giselle sorriu. —E se eles acabarem se casando? —Ela bateu palmas com


entusiasmo. —Podemos dizer que estávamos lá em seu primeiro encontro! Oh
meu deus, ela me mostrou uma foto dele, e ele é tão bonito! Eles vão fazer bebês
lindos.

—Que porra é essa? —Eu rosnei com sua besteira exagerada.

—Não brinca. —Ele concordou. —Você está dentro?

—Encontro vocês lá. Tenho alguns negócios para cuidar.

Eu rapidamente tomei um banho na casa de Giselle, coloquei um jeans


limpo, uma camisa branca que eu tinha embalado comigo, e meu colete. Deslizei
minha arma na parte de trás da minha calça jeans antes de colocar minha jaqueta
de couro. Eu pulei na minha moto e saí em disparada em direção ao armazém
onde minha reunião estava ocorrendo. Tudo o que eu conseguia pensar era em
resolver os negócios e sair de lá. Sentindo a necessidade de colocar esse
merdinha em seu lugar se ele colocasse uma das mãos em Mia.

Eu parei no estacionamento ao lado da limusine de Martinez. Tirei meu


capacete, e acenei para sua maldita festa de boas vindas de cinco homens
armados vestindo ternos pretos. Um deles abriu a porta de trás, gesticulando
para eu entrar.

248
Eu entrei, tomando um assento em frente ao filho da puta arrogante em
um terno de três peças preto.

—Você está atrasado.

Olhei-o de cima a baixo com um sorriso arrogante. —Estava ficando todo


bonito para você. —Eu sarcasticamente respondi. Olhando nos olhos de Martinez.

—Eu não espero ninguém. Não deixe que isso aconteça novamente.

—Vou me lembrar disso na próxima vez em que eu decidir realmente me


preocupar. Agora, vamos tratar de negócios, ou apenas ficaremos sentados aqui
perdendo meu tempo.

Ele tirou um CD de dentro do paletó, entregando-me.

Inclinei a cabeça para o lado, virando-o em minha mão para ler a inscrição:
—Verdades.

—Isto é?

—Você estava esperando um maldito pônei? Ele tem tudo que você
precisa. Agora dê o fora.

Eu abri a porta. —Como sempre... Foi um prazer, porra.

Eu não lhe dei ou ao disco um segundo pensamento. Enfiei-o dentro do


bolso da minha jaqueta de couro, eu fui para minha moto, liguei o motor e
arranquei. Estacionei minha moto perto da entrada de trás da pista de boliche
apenas depois das oito, tirei minha jaqueta de couro e a prendi de forma segura
na parte de trás da minha moto. Colocando meu capacete em cima dela.

O lugar estava lotado com crianças correndo, gritando, rindo, e já me


irritando pra caralho enquanto eu tentava passar pelo caos juvenil. Avistei Mia
antes de qualquer um. Ela não era difícil de perder, mostrando mais pele do que
eu já tinha visto antes. Ela estava usando um vestido de cor creme que era muito

249
curto e pendurado baixo em seu peito. Suas botas de cowboy só acrescentavam
sensualidade à sua roupa maldita.

O merdinha arrogante que estava na frente dela não poderia ser mais alto
do que 1,70 m, pesando não mais do que 70 quilos. Vestindo uma camisa polo cor
de salmão, calça jeans escura e tênis Nike.

O garoto definitivamente vinha do dinheiro.

Ele não estava olhando para o rosto dela enquanto ela estava tagarelando.
Seus olhos nunca deixaram seu decote que estava em plena exibição. Ela só ficou
lá torcendo as pontas dos cabelos, enquanto seu corpo suavemente balançava
com a música pop de merda tocando nos alto-falantes. Ele estendeu a mão,
colocando uma mecha de cabelo dela atrás da orelha, sorrindo.

Ela deu ao bastardo um olhar que eu conhecia muito bem, porra.

Mason e Giselle estavam longe de serem encontrados, e eu soube


imediatamente que isso era obra de Giselle. Provavelmente dizendo alguma
besteira como ela precisar ser deixada sozinha.

O diabo que eles precisavam.

Eu caminhei em direção a eles, agarrando sua jaqueta jeans da mesa, e


empurrando-a na frente dela. Pisando entre eles.

—Um pouco frio aqui, não é? —Eu anunciei, virando as costas para seu
encontro, acenando para as mamas dela.

Ela recuou, pega de surpresa, estreitando os olhos para mim. Seguindo-os


com um olhar questionador.

—Eu não sabia que você tinha amigos pobres, Mia. Quem é o cara? —O
merdinha atrás de mim perguntou, tornando sua presença conhecida. Olhei por
cima do meu ombro para colocar o filho da puta no lugar por seu comentário,

250
mas fui interrompido quando senti uma mão no meu peito. Trazendo minha
atenção de volta para ela.

Mia empurrou o casaco no meu peito. —Não estrague isso para mim. —
Ela murmurou.

Eu fiz uma cruz com os dedos indicadores em cima do meu coração,


dando-lhe um sorriso sarcástico. Ela suspirou, revirando os olhos, em seguida,
deu um passo para o lado e começou a falar com seu encontro novamente.

Virei-me, colocando meu braço em torno dela, colocando a jaqueta jeans


sobre seus ombros.

—O que você está fazendo aqui? —Ela perguntou, deslizando-a pelos


ombros e colocando os braços nela. Sabendo que era melhor para ela colocá-la do
que deixá-la de novo sobre a mesa.

—Não vai me apresentar ao menino?

—Oh, onde estão minhas boas maneiras. —Ela zombou, sacudindo a


cabeça. —Creed, este é Rick. Rick, este é Creed, um dos melhores amigos do meu
irmão. Feliz? Agora, o que você está fazendo aqui?

—Prazer em conhecê-lo, Dick17.

—Rick. —Ele corrigiu.

—Foi o que eu disse. Mason não disse que ele me convidou? Eu não
perderia isto... —Fiz uma pausa, apontando entre ela e Dick. —... por nada.

Ela me lançou um olhar de advertência.

—Ele disse que você precisava de babá. Onde diabos ele está? —Eu recuei,
olhando ao redor do lugar.

17
Dick – Pau, idiota, otário.
251
—Bem ali, encontrando-nos uma mesa para comermos enquanto
esperamos as pistas abrirem. Dando à Rick e eu algum espaço para conversar,
você sabe, essas coisas que você faz em um encontro. —Afirmou, enfatizando a
última palavra. —Talvez você devesse ir ajudá-los.

—Não, estou bem.

Ela revirou os olhos de novo, tentando iniciar uma conversa com o menino
em pé na frente dela. Falando alguma besteira que não importava. Mason
acenou-nos para a mesa depois de alguns minutos dela fingindo que eu nem
estava lá.

—Damas primeiro. —Eu insisti, apontando para Mia liderar o caminho,


dando um passo logo atrás dela para que eu pudesse afastar seu encontro
bonitinho.

Eu podia ouvi-lo resmungando enquanto caminhávamos até a mesa. No


último segundo, eu decidi parar no bar, pegando uma cerveja para Mason,
Giselle, e eu, para Mia um chá doce, e para o Dick um leite com chocolate em um
copo bem invocado. Mia fez uma careta quando eu entreguei a ele, mas Mason
riu baixinho, e eu achei isso muito engraçado.

—Apenas tentando ser educado. —Murmurei para o lado de seu rosto,


tomando um assento ao lado dela.

O jantar continuou. Mason e Giselle falaram sobre o que eles estavam


fazendo durante a nossa licença, sem prestar atenção a qualquer outra pessoa na
mesa. Enquanto Mia se agarrava a cada palavra que deixava a boca fodida de
Dick. Fiquei lá como o homem impar, tomando minha cerveja. Só observando
todas as besteiras que ele estava jorrando para ela.

—Meu pai é dono de um Plymouth Roadrunner 1968 azul18 com SixPack19


de 340 que tem 500 cavalos de potência. Quando completar dezessete anos no

18

252
próximo mês, é todo meu. Talvez eu e você possamos dirigir até a costa, dar um
passeio ou algo assim. —Ele sugeriu, piscando, fazendo com que seu rosto ficasse
vermelho brilhante.

—Oh meu Deus, isso é tão incrível. Meus tios têm carros rápidos. —Mia
respondeu, inclinando-se sobre a mesa, enrolando o cabelo em torno de seu
dedo. Agindo como se ela realmente soubesse do que o merdinha estava falando.

—Você gosta de coisas rápidas? —Ele perguntou, dando um sorriso,


roçando o polegar sobre a mão em cima da mesa. Eu resisti à vontade de quebrar
seus malditos dedos.

—Droga... Pelo menos saiba do que fala quando estiver tentando


impressionar sua garota. Um Plymouth Roadrunner 1968 com SixPack de 340 só
pode ter 290 cavalos de potência. Isso é como dizer que você tem vinte
centímetros de pau quando realmente tem dez. — Eu entrei na conversa, dando
de ombros. Tomando outro gole da minha cerveja, olhando-o por cima da borda.

Mia se engasgou com a bebida, limpando a garganta, trazendo sua


atenção de volta para ela. —Eu adoraria dar uma volta com você um dia. —Ela
sorriu.

—Boa sorte com isso, Dick. O pai dela é como um cão de guarda raivoso,
apenas esperando para rasgar um menino em pedaços. Por que você acha que
este é o seu primeiro...

O pé de Mia conectou com a minha perna, me chutando por baixo da


mesa.

Eu sorri. —Vou ao bar. —Empurrei minha cadeira e fui pegar outra


cerveja. Mantendo meu olho na mesa enquanto esperava. Assistindo Mia mexer
em seu cabelo, brincando animadamente com as mãos.

Tudo ao mesmo tempo em que os olhos do sacana estavam em seu


decote.
19
Six Pack significa que ele tem 3 carburadores duplos.
253
Eu decidi ficar no bar, tentando jogar bonito. Mason e Giselle finalmente
saíram, dando ao casal algum espaço. Eles tomaram algumas cervejas comigo e
depois saíram. Dizendo que sua pista tinha aberto ou alguma merda assim. Eu
mantive meus olhos em Mia e em seu encontro, sabendo onde eles estavam em
todos os momentos. Passando por eles antes de parar para jogar boliche.
Tomando uma pista algumas fileiras abaixo de Mason e Giselle. Eu pegava Mia
olhando na minha direção de tempos em tempos, piscando seu sorriso contagioso
para mim. Parecendo tão crescida.

Onde foi parar aquela menina com tranças?

Era como se ela tivesse crescido durante a noite. Usando maquiagem,


destacando seus olhos azuis brilhantes e lábios carnudos que eram quase grandes
demais para seu rostinho. Seu cabelo castanho escuro era longo e reto, caindo em
cascata em suas costas esbeltas.

Cheirando bem pra caralho.

Sacudi os pensamentos que só poderiam me trazer problemas, tomando


mais algumas cervejas. Tentando ignorar o fato de que Mia não era um bebê
mais, mas uma garota de quinze anos de idade, se transformando em uma jovem
mulher.

Uma que eu não poderia manter meus malditos olhos longe.

254
Cinco cervejas depois, eu desci do meu assento no bar e me dirigi ao
banheiro para urinar. Quando saí, Mason e Giselle estavam de volta à mesa,
olhando para a parede oposta, onde uma fileira de jogos estilo festival enchia o
espaço. O que chamou a atenção foi uma cabine vermelha, repleta de animais
empalhados, e um sinal de néon brilhante que dizia “Stand de Tiro”. Mia e Dick
estavam na fila para jogar. Era um daqueles jogos em que os alvos apareciam e
você tinha alguns segundos para derrubá-los.

Parecia mais fácil do que realmente era.

Dick aproximou-se da cabine, agarrando o rifle enquanto Mia ficou para


trás, animada para ver seu menino bonito tentar ganhar-lhe um prêmio. Sentei-
me com Mason e observei o que esse garoto poderia fazer. Ele posicionou o rifle
no ombro e olhou através da mira, esperando o sinal tocar.

Ele soou. Um alvo após o outro começou a aparecer enquanto ele atirava
para fazê-los cair. Mia estava pulando para cima e para baixo como uma porra de
uma líder de torcida, batendo palmas.

Ping, ping, ping.

O idiota acertou os alvos de metal, faltando cerca de dez quando o tempo


terminou.

—Isso foi tão bom! —Mia gritou, praticamente saltando sobre ele.

O merdinha entregou-lhe um pequeno urso de pelúcia rosa e ela jogou os


braços em volta do pescoço dele. Abraçando-o um pouco perto demais e por um
tempo longo demais para a porra do meu conforto.
255
—Creed, não. —Giselle avisou antes mesmo de eu sair da minha cadeira. A
expressão no meu rosto deve ter me delatado.

—O que? Um pouco de competição amigável não vai machucar ninguém,


só vai fazer crescer algumas bolas nesse menino em algum momento. —Eu disse,
olhando para ela.

—Ele precisa se afastar alguns passos. Eu não gosto do jeito que ele está
olhando para ela. Mia vai me dar um sermão se eu fizer isso. Eu não quero ouvir.
Vá mostrá-lo como se atira. —Mason concordou, balançando a cabeça para mim.

—Ugh! —Giselle rosnou. —Vocês dois são terríveis.

Eu fui até a cabine. Parei atrás de Mia, que ainda estava abraçando o
pequeno merdinha e sussurrei perto da orelha dela. —Assista a isso.

Ela recuou, afastando-se dele. Pega de surpresa pela minha voz vinda por
trás dela. Eu sorri, pegando o rifle que Dick tinha acabado de usar, e me
posicionei no lugar.

—Pronto. Prepare-se. Atire! —O atendente gritou. A campainha tocou


novamente.

Cada alvo aparecia e caía antes mesmo que ele estivesse totalmente na
vertical. Eu atirei em todos os alvos de onde eu estava, sem mover meus malditos
pés. Um alvo logo após o outro sem um piscar de olhos. Pegando o próximo alvo
antes que ele mal tivesse a chance de se mover, seguindo-o com a minha arma.

A campainha soou, e o locutor falou no sistema de som. —Temos um


atirador excepcional senhoras e senhores! Vamos ver se ele pode sobreviver ao
desafio de bônus! Ninguém nunca sobreviveu!

A multidão começou a se reunir, incluindo Mason e Giselle. Querendo ver


um vislumbre da excitação. Olhei para Mia e pisquei. Dick estava ali, com os
braços cruzados sobre o peito, fazendo beicinho como o maricas que ele era.

256
Eu peguei o rifle, esperando o sinal para começar.

—Pronto. Prepare-se. Atire!

Desta vez, os alvos estavam movendo-se, vindo mais rápido, mas caindo
tão rápido quanto antes. Eu me movi com precisão, os nós dos dedos brancos na
arma, atirando nos alvos como se fossem os malditos inimigos de guerra. Tendo
flashbacks de estar no campo de batalha, matando tudo o que se movia.

As luzes e campainhas ecoaram, trazendo-me de volta para o agora.

—Senhor. —O atendente me interrompeu, trazendo minha atenção para


ele. Tentei afastar a neblina e as memórias que me assombravam. —Tenho
organizado este jogo por mais de três anos, e você é o primeiro a conseguir! Isso
foi demais, cara! Como você sabe atirar assim?

Eu coloquei o rifle para baixo, puxando para fora minhas chapas de


identificação de debaixo da camisa.

—Você é um soldado.

—Eu sou um sargento. —Eu o corrigi.

Seus olhos se arregalaram. —Caramba, cara. Obrigado pelo seu serviço.

Eu balancei a cabeça, Mia estava olhando para mim com uma expressão
que eu não podia ler. Como se ela soubesse onde minha mente esteve.
Encarando de mim para o atendente e de volta para mim novamente, absorvendo
o que ele disse.

Com a nossa ligação parecendo mais forte do que nunca.

—Escolha o seu prêmio, cara. Você pode escolher algo do topo. Eles são os
melhores prêmios. —Acrescentou.

Eu sorri, quebrando a tensão súbita entre nós. —Escolha o seu prêmio,


Pippin.
257
Ela sorriu, olhando para longe de mim. Percebendo que era a primeira vez
que eu estava dando-lhe algo. Ela apontou para o enorme urso vestindo roupa
camuflada, segurando uma bandeira americana.

Eu ri, estreitando os olhos para Dick. —É assim que os homens reais


fazem, rapaz. —Passei por ele, indo para o outro lado, onde Mason e Giselle
estavam de pé com o resto dos espectadores.

Não demorou muito para que Giselle estivesse na minha frente. —Uau,
Creed, você conseguiu. Você entrou em uma competição de mijo com um garoto
de dezesseis anos de idade. Parabéns, imbecil. Pobre Mia... Se não é seu pai, é
seus irmãos. Hoje é você. Eu não vou ficar aqui enquanto vocês dois aterrorizam
seu encontro. Eu vou ao cinema. —Ela abruptamente se virou, andando em
direção às portas.

—Giselle! Vamos lá, baby, era tudo diversão! —Mason chamou atrás dela.
—Merda! Não vou passar os próximos 10 dias brigado com ela, nós já fizemos
essa merda o suficiente. Faça-me um favor, mano. Mantenha um olho em Mia.
Verifique se o filho da puta não vai ultrapassar a linha. Eu preciso cuidar disso. —
Ele fez um gesto em direção às portas onde Giselle tinha acabado de passar.

Eu balancei a cabeça.

—Obrigado, cara. Eu te devo uma.

Eu o assisti sair, perseguindo Giselle. Eu não poderia me importar muito.


Eles brigavam bastante. Qualquer um podia ver que ele a amava, mas eles não
queriam as mesmas coisas, eles eram tão diferentes. Às vezes eu me perguntava
por quanto tempo eles poderiam fazer isso funcionar.

Um Dick muito chateado me chamou a atenção a partir do canto do meu


olho. Correndo em direção à saída na parte de trás do edifício onde eu estava
estacionado, com uma Mia preocupada seguindo-o de perto, abraçando os ursos
contra o peito.

258
Eles estavam de pé no meio-fio quando eu saí, conversando. Fui até a
minha moto, agarrei meus cigarros, acendendo um. Apoiando-me contra a
estrutura de metal, ouvindo de longe.

—Eu cansei. —Afirmou, abrindo a porta do carro.

—Eu sinto muito, Rick. Eu estou tão envergonhada. Eu não sabia que meu
irmão iria chamar reforços. —Mia pediu desculpas quando ela não precisava.

O merdinha ia deixá-la lá.

—Talvez da próxima vez, você possa deixar seus guarda-costas em casa.

Ela suspirou. —Eu não sei. Meu pai... Quero dizer... Talvez com o tempo
isso vá acontecer. Mas eu estou realmente feliz por estar com você esta noite.
Quero dizer, talvez na próxima vez...

—Quantas vezes você vai precisar de uma babá? —Ele a cortou com um
olhar que eu queria limpar da porra de seu rosto.

Mia recuou, sem saber o que dizer.

Eu não vacilei. O merdinha feriu seus sentimentos. —Quantas vezes


precisar para você perceber que ela não vai abrir as pernas para você, filho da
puta! —Eu entrei na conversa.

—Creed! —Mia virou, percebendo que eu estava lá. Olhando para mim.

—Desculpe, Mia. Eu não me inscrevi para isso. Ligue-me quando você


estiver autorizada a crescer. —Ele falou por cima do ombro, entrando em seu
carro. Ela virou-se para detê-lo, mas ele bateu a porta na cara dela.

Levou tudo dentro de mim para não ir até lá e lhe ensinar algumas
maneiras malditas. Um pouco de respeito, porra.

259
Ele saiu da sua vaga, olhando pelo espelho retrovisor, observando Mia
levantar um dos braços no ar, o outro segurando os animais de pelúcia que eu
tinha ganhado para ela. Não dando a mínima que ela ficaria lá.

Ela balançou a cabeça, deixando-a cair em derrota uma vez que ele se foi.
—Por quê? Porque Deus? O que eu fiz para merecer isso. —Ela disse para si
mesma, olhando para o céu.

—Pippin, não seja tão dramática. —Eu soltei uma baforada de fumaça.

Ela virou-se lentamente, ficando cara a cara comigo do outro lado do


estacionamento. Com nada além de fúria em seus olhos azuis brilhantes.

Ela fervia. —VOCÊ! —Ela veio marchando para mim como se ela fosse
fazer alguma coisa.

Eu a olhei de cima a baixo, trazendo meu cigarro de volta até minha boca.
Lutando para segurar uma risada enquanto ela estava na minha frente. Nada
além do 1,50 m de altura.

—Como você pôde fazer isso comigo?! —Batendo o pé no chão, ela


apontou para mim. —Você sabe como meu pai me trata, você sabe como meus
irmãos me tratam, e você sabe que tudo o que eu queria era experimentar algo
real. Algo verdadeiro! Como você pôde estragar isso? —Ela retrucou, lançando
um urso, depois o outro, na minha cabeça. Eu me abaixei, apenas para irritá-la
mais.

—A única coisa que você vai aprender, querida, é como dar uns amassos.
—Eu murmurei, falando a verdade. Apontando para o seu peito, eu falei. —Estou
surpreso que seu velho a deixou sair de casa vestida assim. Só porque ele estava
vestindo uma camisa de colarinho não significa nada. Não significa que ele seja
um cara legal, porra.

—Bem, vestindo esse colete também não!

Eu nunca esperava o que aconteceu em seguida.

260
Ou talvez... Eu esperava.

Eu sempre imaginei o meu primeiro encontro sendo como um conto de


fadas. O menino encontra a menina, o menino se apaixona pela menina, o
menino pede a menina para se casar. Meu primeiro encontro nem mesmo chegou
até o fim, por causa de um homem arrogante, teimoso, coberto de tatuagens.

Creed Jameson.

—Eu não acredito que você fez isso comigo! Não só você me constrangeu,
como você assustou o único garoto que me deu atenção! —Gritei, apontando
meu dedo indicador em seu peito tão forte quanto eu poderia. —Quem você
pensa que é?

Ele ficou ali, encostado em sua moto. Uma perna sobre a outra, com os
braços cruzados sobre o peito largo. O cigarro estava no canto dos lábios,
enquanto um olhar divertido brincava em seu rosto. Um rosto no qual eu queria
tanto dar um soco. Eu pensei que meu pai e irmãos fossem horríveis, mas Creed
era a cereja do bolo. Eu nunca tinha ficado tão embaraçada em toda a minha vida.

Tudo estava indo muito bem até que ele apareceu. Eu o senti antes
mesmo de vê-lo chegando atrás de mim. Eu estaria mentindo se dissesse que não
estava chocada por ele estar lá. A pista de boliche não era exatamente o lugar
para um homem de sua estatura estar. Eu sabia que assim que ele abrisse a boca,
o meu conto de fadas viraria um pesadelo. Ele se esforçou em fazer Rick se sentir
indesejado, desconfortável e não aprovado. Usando cada chance que ele tinha
para fazer da minha vida um inferno.

261
Eu não vacilei, continuando. —Você de todas as pessoas sabia o quão
importante esta noite era para mim! Quanto tempo eu esperei por isso! E o que
você fez? Você estragou tudo!

—Não estraguei. Eu a protegi. —Ele simplesmente declarou, dando uma


tragada no cigarro.

—Eu não preciso de sua proteção! Mas você está prestes a precisar de um
pouco! —Eu empurrei seu peito tão forte quanto eu poderia.

Ele não vacilou. —É mesmo? —Ele zombou, fumaça escoando de seus


lábios.

—Sim, é mesmo! Eu não teria dito se não fosse! —Eu não sabia o que era
pior. Tê-lo ali todo despreocupado e lindo, ou o fato de que eu não poderia tirar
uma reação dele.

Toda a noite foi um embaraço. Desde ele corrigindo Rick no jantar,


insultando o tamanho de sua masculinidade, a mostrando-lhe como atirar. Mason
não ajudou. Ele jogou junto com Creed. Giselle foi a única a ter qualquer simpatia
por mim. Em questão de poucas horas, Creed fez Rick fugir, fazendo com que ele
me deixasse na calçada com nada além de insultos. Tudo que eu queria era me
sentir normal. Sentir-me como uma menina. Querendo que um menino bonito
gostasse de mim.

Acima de tudo, eu queria experimentar seus lábios nos meus.

O meu primeiro beijo.

Eu acho que você nem sempre consegue o que quer. A vida não era tudo
corações, flores, e unicórnios. Especialmente quando um homem alto, se choca
com sua vida. O que ele me fez passar essa noite era inaceitável, mas eu não pude
deixar de notar o olhar em seus olhos. Eles falaram muito sobre o caos na pista de
boliche. Ele me observou como um irmão mais velho, mas seus olhos tinham algo
mais. Algo que fez o meu estômago vibrar, como ele fazia o tempo todo quando
ele estava por perto e meu coração disparar no meu peito.
262
Seu olhar penetrante podia ser sentido profundamente dentro da minha
alma. Envolvendo-me, como uma corda em meu coração e não me deixando ir. Eu
estava em conflito. Minha mente e meu coração estavam em guerra um com o
outro durante toda a noite.

Minha mente o odiava por suas ações, mas meu coração amava que ele
realmente se importava.

Ele estava apenas com ciúmes.

Eu estava sobre Creed em três passos, de pé na ponta dos pés, ficando


bem na frente de seu rosto. Eu estava além de chateada com ele. Seu
comportamento foi horrível.

Eu não era dele, caramba.

—Rick vai para a escola na segunda-feira e vai dizer a todos! Eu vou ser a
chacota do colégio! Eu nunca serei chamada para sair de novo! —Eu gritei,
empurrando-o ainda mais forte do que antes.

—Bom. Deixe-os longe de você. Ele não é bom para você. Manterá outros
merdinhas longe, também.

—Ohhh... Exatamente como você não é bom para mim. Então, me diga,
Creed, será que alguém será bom o suficiente para mim aos seus olhos? Será que
eu vou ser boa o suficiente para você? —Joguei suas palavras de volta para ele
para não lhe dar a chance de responder. —Ele não foi nada, além de um
cavalheiro comigo! Você não entende! Esta noite era para ser perfeita! —Eu o
empurrei mais forte.

Ele ainda não se moveu. —Pippin, ele passou a porra da noite toda
olhando seus peitos. Tudo o que ele queria de você era sua buceta. —Ele
vulgarmente deixou escapar.

Antes que eu soubesse o que estava fazendo, minha palma conectou à sua
bochecha. Batendo-lhe na face. —Você não fale comigo desse jeito!

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Sua cabeça inclinou para trás com o impacto. Eu ignorei a dor aguda que
irradiou em minha mão. Bati meus punhos em seu peito. Finalmente perdendo
toda a minha calma. Sem me importar com quem estava nos observando do lado
de fora do edifício.

Ele merecia.

—Tudo o que eu queria era que ele me beijasse! Para experimentar o que
todas as outras garotas já experimentaram! Você tirou isso de mim, seu idiota!
Você não tinha o direito! Você arruinou meu final de conto de fadas! —Eu não
parei de bater em seu peito, atingindo-o cada vez mais forte novamente.

Finalmente, vendo que eu não ia conseguir nada com isso, eu parei.


Encarando profundamente seu olhar divertido.

Ele calmamente trouxe o cigarro aos lábios, deu uma longa tragada,
soprou a fumaça acima da minha cabeça e jogou-o no chão.

Eu nunca esperava o que aconteceu em seguida.

Nunca em um milhão de anos…

Ele deu um passo para frente, fechando a pequena distância entre nós.
Suas mãos ásperas agarraram meu rosto. O cheiro de cigarro, cerveja e hortelã
imediatamente agrediu meus sentidos quando ele me puxou até ele. Inclinando-
se, colocando seus lábios nos meus...

Ele. Me. Beijou.

Meus olhos se fecharam, minha respiração falhou, e os meus braços


caíram em meus lados em derrota. Toda a luta em mim se foi. Eu não tinha ideia
do que fazer, além de estar lá e sentir o que eu queria há muito tempo. Seus
lábios eram ásperos, mas suaves contra os meus. Meu coração batia tão rápido,
que eu juro que ele podia ouvi-lo. Meus joelhos ficavam fracos quanto mais
tempo os lábios ficavam em mim. Foi o sentimento mais esmagador, perturbador,

264
consumidor que eu já senti em toda a minha vida. Não haveria volta a partir disso.
Arruinando-me para todos os outros meninos que poderiam vir depois.

Como se estivesse lendo minha mente, ele lentamente entreabriu os


lábios, me puxando para mais perto. Colocando minhas mãos trêmulas em seu
peito, eu abri os meus, seguindo o seu exemplo. Igualando o mesmo ritmo que
ele estabeleceu.

Sua língua tocou meus lábios, deixando a sensação mais louca em seu
rastro. Eu afastei minha língua, e ele tomou isso como um convite aberto para
empurrar cuidadosamente a sua em minha boca à espera. Sua língua procurou a
minha, transformando o beijo em algo mais do que eu sabia que ele pretendia
que fosse.

Como se ele estivesse se perdendo em mim também.

Nenhuma palavra poderia chegar perto de descrever o que estava


acontecendo naquele momento entre nós. Os sentimentos que ele provocou
profundamente dentro do meu núcleo combinavam com minhas emoções a cada
golpe de sua língua. Sentimentos que eu não achei que fosse possível
experimentar. Que eu nem sequer pensei que existia.

Eu não queria que ele parasse de me beijar.

Um gemido suave escapou da minha boca quando ele beijou meus lábios
uma última vez, gradualmente se afastando de mim. Deixando-me sem fôlego e
querendo mais. Pensamentos incoerentes correram rapidamente em minha
mente.

Quando meus olhos se abriram, ele estava sorrindo para mim, sem retirar
as mãos dos lados do meu rosto. Seu olhar divertido não tinha mudado, mas
estava muito mais intenso.

Ele murmurou contra os meus lábios. —Eu lhe dei o seu primeiro beijo,
agora pare de reclamar, porra. —Ele suavemente me beijou de novo antes de se
afastar.
265
Levando tudo que eu sempre quis.

Ele.

266
—Você está bem? Você não foi você mesma desde o seu encontro.
Desembucha. —Giselle insistiu, caminhando de volta para a sala em seu
apartamento. Sentando-se ao meu lado no sofá com pipoca e controle remoto na
mão.

Ela me convidou para uma noite de meninas muito necessária, cheia de


comédia romântica, manicure, pedicure e pipoca. Mason estava fora, ele sairia
em poucos dias para voltar à base e queria ver alguns de seus velhos amigos.

—Estou bem. Eu prometo. —Eu menti.

—Você sabe, só porque eu sou a namorada do seu irmão não significa que
você não possa falar comigo, Mia. Talvez eu possa ajudar. —Ela olhou para mim.

—Eu sei. É só que... Bem... Eu estou um pouco confusa. —Era tudo que eu
poderia dizer.

—É sobre o seu encontro?

Eu balancei a cabeça, mordendo meu lábio.

—O que aconteceu? Quando saímos do filme, Rick tinha ido embora, e


você e Creed pareciam estar... Eu não sei. Brigados? Eu não culpo você, se você
tiver batido nele. Que idiota. Era quase como se ele...

Seu telefone tocou da mesa, o rosto de Mason apareceu na tela,


interrompendo a linha de raciocínio. Impedindo-a de dizer o que eu sabia que ela
estava prestes a dizer. Eu nunca tinha sido tão grata pelo meu irmão como eu

267
estava naquele segundo. Ela atendeu e entrou na cozinha, deixando-me sozinha
com meus pensamentos.

—Seu irmão está bêbado, bêbado, bêbado. —Ela riu, caminhando de volta
para a sala. Jogando seu telefone de volta na mesa de café. —Falando do diabo,
eu acho que Creed encontrou com ele no bar. Ele vem para casa com Mason. Vai
dormir no outro quarto de hóspedes. Não se preocupe, não vai interromper nossa
noite de meninas. Quem sabe a que horas da noite eles vão chegar. Os dois são
sem-vergonha.

Eu balancei a cabeça novamente, sem saber o que dizer. Chocada com o


fato de que eu iria vê-lo novamente. Eu não o tinha visto desde que ele me
beijou. Eu não poderia dizer se ele estava me evitando de propósito ou se ele
estava apenas sendo Creed. Indo de ausências longas antes que eu o visse de
novo, tinha sido o nosso relacionamento desde o primeiro dia.

—Enfim, o que eu estava dizendo? —Perguntou ela, inclinando a cabeça


para o lado. —Ah sim! O encontro. Eu sinto muito, Mia. Eu tentei muito não
deixar que desse errado. Eu não tinha ideia de que eles se transformariam em
idiotas completos e aterrorizariam o garoto. Mas você conhece seu irmão. Ele faz
o que quer, e não dá a mínima para o que as outras pessoas pensam.

—Eu sei. Como estão vocês? —Eu respondi, tentando mudar de assunto e
do foco de cima de mim.

Ela suspirou. —Isso depende de que dia você me perguntar. Hoje, nós
estamos bem. Ontem, eu queria matá-lo.

—É...

—Eu amo o Mason. Eu o amo com todo meu coração. Eu o amei desde a
primeira vez em que eu coloquei os olhos nele. Eu queria me casar...

—Queria? —Interrompi, estreitando os olhos.

—O quê?

268
—Você acabou de dizer que “queria” se casar com ele. Não “quero”.

Ela franziu o cenho. —Eu disse?

—Sim...

Ela olhou ao redor da sala como se ela fosse encontrar as respostas


escritas nas paredes ou algo assim. —Eu... uau... —Ela respirou, olhando-me
envergonhada. —Eu apenas... Eu acho... Quero dizer... Eu estou cansada de
colocar minha vida em espera por ele.

Eu recuei, surpresa com sua revelação.

—Eu sinto que eu dei tanto de mim para ele, e isso nunca foi mútuo. Ainda
estou chateada que ele se alistou no Exército, mesmo sem falar comigo primeiro.
Eu sinto que ele constantemente me coloca em segundo lugar. Nós nem sequer
falamos sobre sua dispensa. O que vai acontecer quando ele sair? Ele tem menos
de um ano faltando. Eu tenho um pressentimento, Mia... que ele quer voltar ao
exército, e é por isso que nós não falamos sobre o que está próximo. Se ele for
para a batalha pelos Estados Unidos novamente, ele vai enfrentar uma batalha
comigo também.

Eu não ficaria surpresa se o meu irmão se tornasse um soldado


permanente. Eu tinha ouvido algumas conversas que ele teve com nossos pais, e
eu poderia dizer que ele realmente ama a vida militar. Ele não tinha
arrependimentos, e essa não era apenas uma fase para ele.

—Se ele for. Eu não acho que possa sentar e esperar por ele mais. —Ela
confessou, olhando para as mãos. —Por favor, não diga a ele que eu...

—Eu prometo. Ele não vai ouvir isso de mim.

Olhando para mim, ela sorriu. Sua preocupação imediatamente


abrandada. —Então, de volta sobre você. O que aconteceu naquela noite?

—Eu nem mesmo sei. —Desabafei, falando a verdade.

269
—Eu gostei de Rick, ele parecia um bom rapaz. Ele tentou falar com você
na escola ou algo assim?

—Não realmente, mas eu estive o evitando. Com vergonha de mostrar


meu rosto.

—Você gosta dele? Você sabe... Realmente gosta dele? Borboletas no


estômago, seu coração saltando uma batida, palmas das mãos suadas?

Dei de ombros. —Eu senti isso antes. —Apenas não com Rick, eu queria
dizer.

—Escute, eu só estou dizendo essas coisas porque eu prefiro que você


ouça isso de mim e não de algum adolescente excitado. Meninos-homens, em
geral, são estúpidos, Mia. Sua cabeça inferior monopoliza os seus pensamentos.
Eu acho que você é velha o bastante para perceber isso. Não é como o que você
vê nos filmes, na verdade. Eu tive sorte com Mason. Mas para muitas das minhas
amigas, a primeira vez no sexo foi horrível para elas. A maioria dos caras não sabe
o que está fazendo, especialmente na sua idade. É tudo sobre eles. Totalmente
egoísta.

—Mas caras mais velhos são assim? Eles têm experiência certo? —Eu
encontrei-me perguntando, ficando vermelha.

Ela sorriu. —Rick é mais velho, certo?

—Ele vai fazer dezessete no próximo mês. —Eu respondi, apesar de Rick
ser o cara mais distante na minha mente.

—Você quer fazer qualquer uma dessas coisas, Mia? Você pode me dizer.

Meus olhos arregalaram-se.

—Meu Deus! Você fez! —Ela ficou de joelhos toda animada. —Com Rick?

—Talvez. —Eu menti, só para ver onde ela chegaria com isso.

270
—Eu nunca lhe diria para ir atrás de um cara, isso é só sacanagem. Mas se
ele gosta de você e você gosta dele, e você sente que ele é um cara bom, então,
saia com ele. Divirta-se.

—Sexo e fazer coisas... é tão importante em um relacionamento? Se eu


não fizer essas coisas, um cara experiente se incomodaria comigo? —Eu
questionei, precisando saber.

Não é como se eu pudesse falar com mais alguém sobre essas coisas.
Especialmente minha mãe, ela era uma santa. Claro, nós falamos sobre sexo e
outras coisas, mas ela apenas disse que eu deveria esperar até que estivesse
casada. Eu acho que era o conselho que cada mãe dava para suas filhas.

Giselle tinha apenas vinte e quatro anos. Ela estava mais perto de minha
idade e sabia mais sobre a forma como as coisas aconteciam hoje, em
comparação com quando meus pais estavam crescendo. Foi bom ter alguém para
finalmente entender o que eu estava passando, e me sentir como se eles não
estivessem tentando cuidar de mim, dizendo-me o que eu podia e não podia
fazer.

Apreciei sua honestidade. Parecia como a irmã mais velha que eu nunca
tive.

—Eu não diria que é a coisa mais importante, mas é uma grande parte de
um relacionamento. Pode ser assustador, mas se é com a pessoa certa, então o
sexo pode ser incrível. Ficar com alguém que você ama, é um vínculo que nada
poderia chegar perto. É uma maneira de mostrar a alguém que você o ama sem
ter que dizer as palavras em voz alta. Dito isto, ter relações sexuais com alguém
pela primeira vez é um grande negócio, por isso antes de dar o salto, tenha
certeza de que você quer, não eles. Faz sentido?

—Sim. Na verdade, isso realmente faz muito sentido.

Eu precisava mostrar a certo alguém meu amor.

271
Ela sorriu. —É melhor você me dizer se algo acontecer, Mia. E se isso levar
a algo mais, então você use proteção. Eu não me importo se ele diz que seu pau
vai murchar e morrer se ele usar um preservativo. Você vai fazê-lo usar. —Ela
exigiu em um tom severo.

Eu ri. —OK. Eu prometo.

—Bom. Agora vamos assistir a este filme.

Passamos o resto da noite vendo filmes de romance que só alimentaram


meu desejo por certo homem tatuado, rude, bonito. Começamos assistindo Pearl
Harbor, um dos filmes favoritos de Giselle. Ela disse que amava a história de
amor, mas eu sabia que ela tinha uma paixão secreta por Josh Harnett, um
soldado bonito lutando pelo amor de sua vida.

Eu não perdi a ironia.

Quanto mais o filme avançava, mais ele realmente me tocava. Eu sempre


soube que Creed poderia se machucar, mas eu sempre imaginei que ele era feito
de aço e nada poderia derrubá-lo. Eu não poderia estar mais errada, percebendo
rapidamente que a vida pode mudar em um instante, e ele nunca realmente
saberia como eu me sentia, se ele saísse em poucos dias e nunca mais voltasse.

Confirmando que tudo que Giselle disse era muito mais real para mim.

Fomos para a cama um pouco depois das três da manhã. Eu escovei meus
dentes e penteei meu cabelo, dando uma boa olhada em mim mesma no espelho.
Debatendo-me se eu honestamente faria o que eu estava pensando em fazer a
noite toda.

Eu pulei quando ouvi a porta da frente abrir e barulhos estranhos.


Espreitei no corredor para ver o que estava acontecendo.

—Onde está a minha menina?! —Mason gritou, tropeçando, mal


permanecendo na posição vertical. —Lá está ela...

272
—Oh Deus! Quanto é que vocês beberam? Você fede a nada além de
bebida e cigarros. —Perguntou Giselle, entrando no foyer.

—Eu vou fazer você se sentir tão bem. —Mason murmurou, puxando-a
em seus braços. Fazendo-a sorrir e rir.

—Ok, Romeo, deixe-me levá-lo para a cama. Boa noite, Creed. Você sabe
onde o quarto está.

Eu olhei para Creed que estava olhando para eles da mesma maneira que
eu estava. Talvez fosse o álcool, mas, pela primeira vez, o vi olhar para eles como
se algo estivesse faltando em sua vida, também.

Amor.

Eu lentamente me afastei para que ele não me visse. Deixando toda a


dúvida e hesitação na porta.

Entrei em seu quarto.

Após o menino amante e sua menina dizerem boa noite e irem para o
quarto de Giselle, eu fui na direção oposta, para o quarto de hóspedes do outro
lado do apartamento. Eu passei muitas noites no mesmo quarto. Seu
apartamento era enorme para ela viver lá sozinha, mas o pai dela podia pagar.

Eu entrei no quarto, sem me preocupar com as luzes. A lua emitia um


brilho suave pelas portas da varanda. Eu me despi, jogando meu colete e roupas
na poltrona e me dirigi para o banheiro. Tomei um banho rápido, precisando lavar
a noite. Eu odiava ir para a cama fedendo ao mau cheiro de bar, e perfume
barato. Eu passei muitas noites dormindo em Deus-sabe-o-que cobrindo a porra
273
do meu uniforme quando eu estava no Afeganistão. Eu tomava banho várias
vezes ao dia, quando eu estava de licença, precisando me sentir limpo em todas
as horas do dia.

Coloquei minha cueca boxer de volta, abrindo a porta do banheiro para


andar para a varanda e fumar um cigarro. Apreciando a vista para o oceano,
questionando a vida. Lembrando-me de como a vida de muitos soldados tinham
caído nas mãos do inimigo. Querendo saber qual dessas balas foi realmente
direcionada a mim. Por que os homens de bem, como Andrews, com uma esposa
e filho, foram arrancados deste mundo, quando a escória como eu foi deixada
para vaguear livremente? Pergunta após pergunta atormentava meus
pensamentos enquanto eu estava ali fumando.

Cada pensamento mais implacável do que o último.

Eu respirei fundo, terminando meu cigarro, jogando-o fora da varanda.


Abrindo a porta deslizante, eu caminhei de volta para o quarto. Decidi no último
segundo fechar as cortinas, na esperança de torná-lo escuro o suficiente para que
eu pudesse dormir até de manhã. Aproveitando o último momento de liberdade
que eu ainda tinha. Meu corpo estava tão acostumado a estar acordado até o
romper da aurora que eu nunca dormi por mais do que algumas horas por noite.

Eu puxei a coberta, indo para a cama. Esperando o sono vir rápido, mas
sabendo que não viria, ele nunca vinha. Apoiando minha cabeça em alguns
travesseiros, eu fiquei lá por alguns segundos, permitindo que minha mente
processasse o que diabos estava acontecendo, me preparando para a merda de
tempestade que estava prestes a acontecer. Acendi o abajur ao lado da minha
cabeça.

Ainda olhando para o teto, eu murmurei. —O que você está fazendo na


minha cama, Pippin?

Eu sabia que ela estava deitada lá o tempo todo. Eu estava tentando evitar
o inevitável, e ter essa conversa com ela.

274
Assim que ela puxou as cobertas, eu pulei da cama. Resistindo à vontade
de olhar em sua direção, sabendo exatamente o que eu veria. Coloquei meu
jeans, sem me preocupar em abotoar, sentei-me na poltrona no canto escuro do
quarto. Meu rosto estava vazio de qualquer emoção quando eu finalmente olhei
para ela. Vendo a danadinha sentada na minha frente no centro da cama pela
primeira vez. Apenas vestindo seu sutiã rosa e calcinha. Deixando muito pouco
para a imaginação.

Ela parecia o pecado encarnado, com sua pele branca, cremosa, brilhando
a luz da lua, seu longo cabelo ondulado castanho que emoldurava o rosto bonito
e caía em cascata pelas costas. Fazendo-a parecer muito mais madura do que a
Pippin com tranças que eu tinha aprendido a adorar. Com um olhar predatório,
eu continuei a viajar para baixo, meus olhos vagando sobre as mamas dela que
estavam pulando para fora do tecido rendado do sutiã. Ligeiramente mostrando o
contorno de seus mamilos. Para sua delgada cintura ampulheta, até o topo da
calcinha correspondente que mal cobria sua buceta.

—Puta merda. —Eu disse lentamente, travando os olhos com ela. —Não
vou perguntar de novo.

—Eu queria ver você. —Ela falou, olhando para mim sedutoramente.
Olhando para mim de uma forma que eu conhecia muito bem.

—Você poderia me ver de manhã. Não é certo você ficar esperando na


cama de um homem. Especialmente na minha. Se o seu irmão...

—Ele está ocupado com Giselle, e ele nunca me verificou um dia em sua
vida. Eu não acho que ele começaria a fazer isso esta noite. Além disso, eles não
podem nos ouvir. Eles estão do outro lado do apartamento. Você não tem nada
com que se preocupar. —Ela argumentou.

—Acho difícil de acreditar. —Eu zombei, balançando a cabeça.

—Você sabia que eu passaria a noite aqui, também?

—Não.
275
—Então, como você sabia que eu estava aqui?

—Sou treinado para isso. —Eu simplesmente declarei, tentando manter


meus olhos focados no rosto dela e não na porra do seu corpo tentador.

—Como se você pudesse me sentir?

—Algo assim.

Ela abriu a boca para dizer algo, mas rapidamente a fechou. Eu podia
sentir fisicamente suas emoções conflitantes irradiando dela em ondas, enquanto
nós ficávamos lá sentados em silêncio. Sabendo lá no fundo que ela não estava
planejando nada de bom.

Eu gostaria de poder dizer-lhe que eu não esperava o que aconteceria.

Mas eu estaria mentindo.

Embora nada pudesse ter me preparado para este momento.

Eu deveria tê-la parado.

Eu deveria ter dito que não.

Eu deveria ter feito algo, qualquer coisa...

Exceto permitir-lhe fechar a distância entre nós. Ela lentamente,


provocativamente, deslizou para fora da cama. Indo em minha direção, cada
passo preciso e calculado enquanto seus quadris balançavam, nunca perdendo a
porra de uma batida. Só parando quando ela estava de pé na minha frente,
ansiando para que eu realmente a olhasse. Quando meu olhar não deixou seu
rosto, eu não tive que lutar a batalha interna por muito tempo.

Ela sorriu, corajosamente inclinando-se. Suas mãos delicadas moveram-se


pelo meu peito em um movimento lento e agonizante, fazendo com que minha
respiração falhasse. Seus dedos traçaram meu peitoral, movendo-se para baixo
para os contornos do meu abdômen, parando para rastrear todas as minhas
276
tatuagens ao longo do caminho. Como se ela tivesse tido vontade de fazer isso
desde a primeira vez em que ela me viu sem camisa em sua varanda, todos
aqueles anos atrás. Inúmeras mulheres tinham me tocado do jeito que ela estava
naquele momento, mais vezes do que gostaria de contar.

Só que agora era diferente.

Era tão significativo, tão emocional, tão amoroso.

Esta era Mia.

Minha Pippin.

Quando suas mãos começaram a mover-se mais abaixo sob minha calça
de brim, em direção ao meu pau, eu as empurrei.

Ela sorriu.

Colocando delicadamente as mãos sobre os meus ombros, ela


gradualmente começou a subir no meu colo, abrangendo as minhas coxas.
Apenas esperando eu impedi-la.

Eu não o fiz.

Ela se sentou no meu colo, jogando o cabelo sobre o ombro. Usando os


braços para nos aproximar para que nossos rostos estivessem agora a apenas
centímetros de distância. Seus amplos seios pressionaram contra o meu peito,
fazendo meu pau se contorcer com o sensação delicada e simples. Ela queria que
eu a visse como uma mulher confiante, mostrando-me que ela estava crescida, e
não mais parecendo uma menina. Mas toda a confiança no mundo, não poderia
tirar o nervosismo exalando dela. A maneira desajeitada em que ela estava
sentada nas minhas coxas, o jeito que ela estava antecipando ansiosamente a
minha resposta e esperando minha próxima jogada.

Mas então…

Ela mordeu o lábio, me atraindo.


277
—O que você acha que vai acontecer aqui, Pippin? —Eu questionei,
arqueando uma sobrancelha. Minhas mãos ansiavam para agarrar sua cintura e
mostrar-lhe exatamente o que fazer com sua buceta, que estava em cima do meu
pau.

Meus dedos me imploravam para tocá-la, senti-la contra mim. Ansiando


por algo que não deveria, sabendo que só aumentaria a porra do problema.

—Você vai embora. —Ela ronronou como se isso respondesse tudo.

—Não me diga.

—E se você não voltar? E se alguma coisa acontecer com você? Então,


você nunca saberá como eu me sinto. Como eu sempre me senti. Sobre você.

—Jesus Cristo. —Eu sussurrei. —Pippin, você não...

—Por favor. —Ela me interrompeu com a expressão mais sincera em seu


rostinho bonito que eu já vi. —Não me diga o que eu posso sentir. —Pegando
minha mão, ela colocou-a sobre o coração acelerado. —Você faz isso para mim
cada vez que eu estou perto de você. Você é a única pessoa na minha vida que
nunca me fez sentir como uma criança. Eu te conheço desde que eu tinha nove
anos de idade, Creed. E desde o primeiro momento em que o vi, eu pensei em
você todos os dias desde então. Por favor...

—O que você quer de mim, Mia? —Perguntei, deixando minha mão


deslizar de seu peito e para baixo em sua cintura. Incapaz de lidar com a sensação
de sua pele suave e sedosa sob as palmas das mãos calejadas.

Eu podia ver toda a acumulação de meses de antecipação, ansiedade, e


desejo em seus olhos, enquanto ela hesitante inclinou-se para frente, colocando
as mãos de volta em meu peito. Ela trouxe lentamente os lábios para encontrar os
meus. Tudo começou com apenas um beijo, até que ela abriu a boca procurando
a minha língua.

Esse beijo foi muito diferente do nosso anterior.

278
Foi tudo ela agora, mostrando-me tudo o que eu tinha lhe ensinado,
apenas para calá-la. Eu a deixei ir adiante. Eu permiti isso a ela, permitindo que
ela se sentisse como se estivesse no controle por alguns segundos.
Descuidadamente deixando minhas paredes e reserva ruírem. Ela me beijou com
toda a paixão que pôde reunir, explorando minha boca de forma que ninguém
mais tinha. Trazendo-me à beira da porra de me perder, perder-me no momento.

Perder-me nela.

Esquecendo quem diabos estava me montando. Minhas mãos agarraram


suas coxas, ansioso para mover para a costura de sua calcinha.

Lutando a batalha entre o certo e o errado.

Mas ela cheirava bem pra caralho...

Um homem só podia aguentar certa quantidade, e eu estava no meu


ponto de ruptura. Eu já não tinha qualquer controle sobre meus movimentos
enquanto ela estava sentada em meus braços pela primeira vez. Deslizando
minhas mãos ao longo de suas coxas lisas para sentir sua pele suave contra meus
dedos. Deslizando-os em direção a sua cintura, meus polegares pressionando
mais acima sobre o fio de seu sutiã.

—Você é a coisa mais bonita que eu já coloquei os olhos. —Eu rocei contra
os lábios dela, beijando-a, alegando-a, devorando-a.

Ela sorriu, girando seus quadris contra meu pau em aprovação. Agarrei sua
cintura fina como eu queria fazer no segundo em que montou no meu colo. Ela
engasgou quando eu me levantei em um movimento rápido. Envolvendo suas
pernas em volta da minha cintura para uma mudança repentina de poder. Eu
nunca parei de beijá-la enquanto eu voltava para a cama. Colocando-a sobre o
colchão, pairando acima de sua estrutura inebriante, fazendo com que sua
respiração acelerasse quando ela percebeu que estava agora debaixo de mim.

—Pelo amor de Deus, o que você está fazendo comigo? —Eu sussurrei,
descansando minha testa na dela, olhando para os lábios inchados.
279
Ela era tão linda.

Tão amorosa.

Tão inocente.

O jeito que ela estava olhando para mim como se eu fosse tudo o que ela
sempre quis.

Só me incentivando a continuar, eu não poderia me conter. Beijei-a de


forma mais agressiva do que antes, deixando nossos lábios trabalharem enquanto
eu pairava sobre seu pequeno corpo. Castigando-me mentalmente o tempo todo
em que eu continuei a consumir sua boca. Suas mãos foram para a parte de trás
do meu pescoço, me puxando para mais perto, mas não perto o suficiente. O
beijo tornou-se urgente e exigente, e ela aceitou cada golpe da minha língua. Isso
foi cheio de emoção, misturado com pura luxúria e mais alguma coisa que eu
nunca tinha sentido antes.

Minhas mãos continuaram a vaguear sobre seu corpo. Saber que eu era o
único homem que alguma vez tocou-lhe desta forma, estava fazendo todos os
tipos de coisas para minha mente.

Especialmente o meu maldito pau.

Era conflitante.

Era uma luta.

Era a primeira guerra que eu estava disposto a perder.

Ela inclinou a cabeça para trás, dando aos meus lábios mais acesso à sua
pele corada. Eu nunca tinha sido assim com qualquer outra mulher, tomando o
meu tempo, querendo explorar cada centímetro de seu corpo.

Precisando dela...

Desejando-a...
280
De uma forma que eu nunca senti com mais ninguém.

Minha boca moveu-se, beijando de seu pescoço até a clavícula, parando


logo acima dos seios que estavam subindo e descendo a cada movimento dos
meus lábios. Corri minha língua ao longo da costura de seu sutiã, deixando
arrepios em seu rastro. Olhando para ela com os olhos cheios de luxúria,
levemente soprando sua pele excitada, observando-a se desfazer. Querendo nada
mais do que rasgar o sutiã fora e tomar seus seios empertigados em minha boca
ansiosa.

Eu resisti, sacudindo o mamilo duro através do tecido, antes de continuar


até seu estômago. Lentamente, saboreando o calor elevado de seu corpo
pressionado contra o meu. Ficando mais quente a cada carícia dos meus lábios,
tocando sua pele enquanto eu ia onde eu mais queria beijá-la.

Um gemido escapou de seus lábios.

E essa foi a minha ruína. Meu cérebro assumindo meu pau, percebendo o
que estava fazendo, o que eu estava prestes a fazer. Saltei da cama, deixando-a
ali ofegante e exposta. Cheia de luxúria e excitada.

Por. Minha. Causa.

Tentei afastar todas as besteiras que ela provocou dentro de mim.


Segurando a cabeça entre as mãos, andando pelo quarto.

Sabendo que eu tinha acabado de foder tudo regiamente.

A primeira vez que eu beijei foi principalmente para que se calasse. Desta
vez...

Era outra razão completamente diferente, uma em que eu colocaria uma


bala na cabeça de alguém por isso.

281
Eu respirei fundo. Agarrei minha camisa da cadeira, jogando-a para ela. —
Coloque alguma roupa, porra. —Eu rosnei, principalmente chateado comigo
mesmo por deixá-la ir tão longe.

A última coisa que eu queria fazer era ferir seus sentimentos.

Saí para a varanda, deixando a porta deslizante aberta atrás de mim.


Acendendo um cigarro, inclinei-me sobre o parapeito, necessitando me acalmar.
Ela saiu pouco depois, vestindo nada além da minha camisa e calcinha. Fechando
a porta deslizante atrás dela.

—Ei... —Ela agarrou meu braço, me virando para encará-la. —Está tudo
bem, Creed.

—Está longe de estar tudo bem, Pippin.

—Eu te amo. —Disse ela do nada, quase tirando meu ar. —Eu sempre te
amei.

—Você nem sabe o que isso significa, querida. Isto é minha culpa. Eu
nunca deveria ter beijado você. Eu nunca deveria ter cruzado essa linha com você.
Mas atirar-se para cima de mim... Não está certo.

—Atirar-me? Que diabos isso quer dizer? Eu não estava me atirando em


você, idiota! Eu não posso acreditar que você acabou de dizer isso para mim! Eu
te amo!

—Merda... Mia, você não sabe o que está dizendo. Você é uma garota.
Uma maldita virgem. Que só conseguiu seu primeiro beijo a uma semana atrás, e
agora você acha que está apaixonada por mim e quer foder? Porque isso é o que
eu faço. Isso é quem eu sou. Não sou seu namorado. Eu nunca serei o homem de
seus contos de fadas, querida. Eu mal sou seu amigo, porra. —Lamentei as
palavras assim que saíram da minha boca.

Ela recuou como se eu tivesse dado um tapa no rosto dela, e eu acho que
de uma forma eu dei.

282
—Pippin... —Estendi a mão para ela, mas ela recuou.

—Mal é meu amigo? —Ela repetiu, franzindo a testa. —Então nós não
somos amigos. Eu sou apenas uma garota que é virgem, e apenas se atirou em
você. É isso? —Ela zombou em um tom magoado.

—Você tem quinze anos. —Eu honestamente falei.

—Eu tenho quinze anos e deixei seu pau duro!

—Eu sou um homem, Mia. Não é preciso muito para deixar o meu pau
duro. Especialmente quando ele é fodido a seco por sua buceta.

Ela ficou mais alta, olhando-me de cima a baixo. —Você não está
enganando ninguém, além de si mesmo, Creed. Você está usando isso como uma
desculpa, me afastando porque você está com medo. Você tem sido meu amigo
desde o momento em que você esperou por mim na praia, observando-me surfar.
Sorrindo pela primeira vez em Deus sabe quanto tempo. Tanto quanto você quer
lutar contra isso, eu sei que você me ama também! Eu posso sentir isso aqui.

Ela colocou a mão sobre o coração.

—Se você não sentisse, você não teria ficado em minha vida nos últimos
seis anos. Procurando por mim! Vindo me ver! Dizendo-me adeus antes de sair
para a guerra quando você não tinha que fazer isso. Levando meu patch da
coragem com você! Só então, você ainda teria uma parte de mim com você
mesmo quando você estava a quilômetros de distância. Lendo todas as minhas
cartas que eu lhe enviei! Seguindo-me para o lago. Ouvindo-me quando você não
ouve ninguém. Se importando sobre como me sinto quando você nem sequer se
importa com o que você está sentindo! —Ela argumentou, fazendo uma pausa
para deixar suas palavras afundarem.

Ela deu um passo em minha direção, indo direto na minha cara.

—Isso foi o suficiente para você? —Inclinando a cabeça para o lado. —


Não? Que tal... Ir a tais extremos para afastar Rick de mim. Meu primeiro

283
encontro. Agindo todo ciumento por eu estar saindo com alguém que não era
você! Praticamente mijando em mim, marcando o seu território assim que
empurrou sua jaqueta contra o meu peito. Não querendo os olhos de qualquer
outro cara em mim a não ser os seus! E se isso não fosse o suficiente, você me
beijou. Certificando-se de que seus lábios fossem os primeiros que eu sentisse,
não dando a mínima que estávamos em um estacionamento para qualquer um
ver! Especialmente meu irmão! Você teve muito mais chance de ser pego naquela
noite do que o que fizemos aqui.

Ela respirou fundo, contemplando o que ia dizer em seguida.

—Mas acima de tudo, você não teria deixado o que acabou de acontecer
em primeiro lugar. Por mais que você ache que não é bom para mim, usando a
desculpa de que eu tenho apenas quinze anos! Você quer se certificar de que eu
só me lembre do seu toque. Seu cheiro... seus lábios... suas mãos em cima de
mim. Você quer que eu seja sua, e isso o assusta mais do que tudo, porque você
nunca quis isso com qualquer outra pessoa. Nem com qualquer uma das
mulheres com quem você já dormiu. Nem mesmo Autumn. Então corte o papo
furado do caralho, soldado, e seja homem! Você não está me machucando... você
está prejudicando apenas a si mesmo.

Eu arqueei uma sobrancelha, sorrindo. Odiando-me pelo que eu estava


prestes a fazer, mas ela precisava colocar na sua cabeça que nós não
aconteceríamos.

Agora não.

Nunca.

Eu ultrapassei a linha. Eu fodi tudo. Ela estava certa. Eu precisava ser


homem, empurrando-a para longe da única maneira que eu sabia.

—Achou que você tinha tudo planejado para mim, não é? Você ainda nem
arranhou a porra da superfície, querida. Eu não te amo. Não estou apaixonado
por você. Quando você exibir suas tetas e buceta por aí, eu vou tentar pegá-la. Eu

284
já te disse, eu sou um homem, eu fodo. Isso não faz de você a porra da minha
namorada, querida. Só faz de você outra das minhas putas.

Ela balançou a cabeça, os olhos imediatamente enchendo com lágrimas.


—Você já disse o suficiente. Você não pode ver... Você está tão cego... Meu
coração está sangrando por você, Creed... Você pode ter me machucado agora,
mas quando você estiver pronto para admitir isso, eu não estarei mais aqui.

Falei com convicção, mesmo que isso me matasse por dentro. —A verdade
dói. Você é uma garota, Mia. Eu sou um homem crescido, que deveria te evitar.
Fim da história. Agora leve o seu rabo de volta para dentro, você não pertence à
minha fodida cama.

Com isso, eu a deixei lá, sabendo que eu tinha acabado de partir seu
coração.

Fugindo da única outra pessoa que sempre esteve lá para mim.

Nunca esperando nada em troca, além de eu amá-la.

285
Eu estava com quase vinte e cinco anos de idade e no meu quarto
destacamento no Afeganistão. Em poucos meses, eu seria dispensado do Exército
por servir o meu país nos últimos quatro anos.

Uma coisa que eu sabia ser verdade...

Eu estava mais fodido agora do que quando me alistei, isso era certo.

A minha unidade esteve no exterior pelos últimos seis meses,


sobrevivendo da única maneira que sabia. Tirando mais vidas, acrescentando
mais mortes aos entalhes em nossos cintos, e perdendo-se um pouco mais a cada
dia. Não ajudou que Mia parou de escrever-me, eu não tinha ouvido falar dela
desde que eu a deixei na varanda do apartamento de Giselle há oito meses.
Passei os últimos dias da minha licença mantendo distância. Ocupando-me com o
clube e os irmãos. Dando-lhe espaço. Sentindo-me como o pior monte de merda
por magoá-la em primeiro lugar.

Eu não esperava que ela parasse de me escrever, não que eu pudesse


culpá-la. Mas porra, me deixou puto mesmo assim.

Eu sentia saudade dela.

Eu sentia saudade da boca espertinha, da sua inteligência, e do jeito que


ela sempre me incluía em sua vida, fazendo-me sentir como se eu fosse uma
parte dela, mesmo quando eu estava no exterior. Sempre escrevendo suas cartas
em tinta rosa, assinando “Pippin XOXO”.

Acima de tudo, eu sentia falta dos patches que ela me mandava. Não
apenas os mais engraçados que sempre me faziam rir pra caramba, mas também
286
os que tinham apenas uma palavra de encorajamento escrito sobre eles.
Enviando-os nos momentos em que eu realmente precisava deles, como se ela
soubesse. Sentindo meu desespero como se ela me sentisse a milhões de
quilômetros entre nós. A última carta que ela me enviou, tinha sua foto da escola
nela. Por alguma razão, no dia em que saí para o destacamento, eu a trouxe de
volta comigo. Começando a carregá-la comigo em todos os lugares.

Percebendo pela primeira vez o quanto eu precisava dela na minha vida.


Como se ela tivesse sido a única bênção constante que eu tive desde o momento
em que a conheci.

—Sério, cara. Pense nisso. Se eu não tivesse sido forçado a curvar-me e


levar na bunda novamente, eu comeria bife ou buceta no momento. —Afirmou
Owen, me puxando para longe dos meus pensamentos.

Eu ri, precisando rir. Mesmo que eu estivesse em alerta total, olhando em


volta nas ruas vazias com ele seguindo atrás de mim. Mason e o resto da nossa
unidade estavam na pista oposta, em torno do edifício que estavam patrulhando.
Uma sensação estranha que eu conhecia muito bem rastejou até minha espinha.
Estremeci com um frio, de forma protetora me movendo para frente de Owen.

Por um segundo eu pensei ter visto um movimento com o canto do meu


olho, mas, em seguida, uma rajada de vento me cegou com o pó no ar da terra
velha e seca.

—Shhh... Você ouviu isso? —Murmurei, alto o suficiente para ele me


ouvir.

—Porra, não, eu não ouvi isso. Nós estivemos aqui durante sete dias,
patrulhando a mesma área, mais e mais e mais, e eu não ouvi uma maldita coisa.
Filhos da puta estúpidos. Eles não dão a mínima para você, eu, ou qualquer outra
pessoa. É tudo sobre o todo-poderoso dólar, Creed. Você sabe disso, e eu
também. Mais três semanas, meu amigo. Três semanas e todos eles podem
chupar o meu pau.

287
Virei-me e empurrei Owen, tentando dar-lhe algum sentindo, ordenando-
lhe a parar de falar. —Cale a boca, Owen.

Ele não ouviu.

Owen tinha sido dispensado, uma vez que ignorou nossas ordens e foi
para casa há um pouco mais de um mês. Ou foi o que eles disseram. Todos nós
sabíamos por que estávamos aqui, e não tinha nada a ver com a papelada. Não
precisou de mais células no cérebro para descobrir isso, mas isso não importava.
Nós não tínhamos visto outra alma nesta missão durante os últimos sete dias.
Tornando mais fácil para ele deixar sua guarda vacilar um pouco quando ele
deveria ter ficado alerta. Owen sabia disso. Ele estava apenas chateado por estar
lá quando não deveria estar, deixando isso consumi-lo a ponto de se descuidar.

Eu entendia suas frustrações. Eu queria ir para casa, também. Eu estava


exausto, mas eu estava muito perto de nos tirar de lá para acabar com isso agora.

Owen tossiu por causa do pó, quase colocando o pulmão para fora antes
de continuar a ser um maldito idiota. —Acalme-se, cara. Toda a unidade está nos
dando cobertura. Ninguém está aqui. Você sabe a primeira coisa que eu vou fazer
quando chegar em casa, Creed? Eu vou tomar um banho de espuma com o sabão
cheiroso da minha esposa. Eu não me importo se isso me faz um maricas. Eu não
me importo se eu cheirar como a fragrância que ela pulveriza depois que eu faço
cocô no banheiro. Eu vou ficar sentado lá, sabendo que eu nunca terei que voltar
aqui novamente. Respirar essa merda que quem diabos sabe se vai nos dar um
câncer um dia. Ou o cheiro de corpos podres cada vez que o vento muda de
direção. —Ele acenou com a cabeça para trás. —Você viu essa merda?

Eu vi.

Eu vi tudo, mas eu não tinha necessidade de virar a cabeça para ver de


onde o fedor tinha vindo. Assim como tudo o que aprendi em todos os meus anos
de serviço, minha visão periférica era mais acentuada do que a maioria. Com os
olhos focados no edifício da esquina, eu evitava olhar para a pilha de cadáveres.

288
Desse ponto em diante tudo se tornou um borrão e não era da rajada de
vento enchendo nossos olhos com areia seca. Aconteceu tão rápido, mas parecia
tão lento. Eu puxei a minha arma para o cão, correndo de um beco no momento
exato em que peguei o atirador com o canto do meu olho, com o objetivo certo
em Owen. Percebendo rapidamente que o cão era uma maldita manobra de
distração.

Eu entrei em ação, empurrando-o tão forte quanto eu podia, com a minha


arma na minha frente. Uma bala assobiou no ar do deserto, passando raspando
pela parte de trás da minha cabeça. Se eu não o tivesse empurrado, se eu não o
tivesse tirado do caminho, as coisas poderiam ter sido diferentes.

Eu recuperei meu equilíbrio e corri para frente, atirando no atirador antes


que ele tivesse a chance de tentar atirar em Owen de novo. Atirando uma bala no
meio da testa como se fosse apenas mais um dia filho da puta.

—Merda. —Owen rosnou. —Você acabou de salvar minha vida, Creed. —


Ele deu um passo adiante no momento exato em que eu olhei para trás.

BOOM!

No início, eu nem sequer soube o que aconteceu. Meu corpo sacudiu com
o impacto da mina, sendo jogado em uma pilha de escombros e pedras. Dor
irradiava ao longo de todo o meu núcleo, chegando a lugares que eu nem sabia
que você poderia sentir dor. O ar foi tirado de mim com tanta força, porra, que
eu senti como se meus pulmões tivessem sido arrancados, e eu estivesse
sufocando até a morte.

Tossi, sufoquei, ofegando pela minha próxima respiração.

Quando abri meus olhos, eu não conseguia ver nada, além do branco
brilhante em minha volta. Minha cabeça latejava com uma dor de cabeça súbita.
O toque alto em meus ouvidos bloqueou todo o caos ao meu redor. A dor em
minhas têmporas me fez pensar que meu cérebro tinha acabado de explodir.
Nublando meu julgamento, minha força, e minha vontade de me manter de pé.

289
—Creed! Cara, merda! Creed! Você foi atingido?! —Eu ouvi Mason
gritando acima de mim. —Irmão, não faça isso comigo! Você não pode fazer isso
comigo! —Ele bateu no meu peito, meus braços e minhas pernas. Tentando sentir
se eu fui atingido.

—Tudo bem... —Eu gaguejava, minha garganta crua e ardente, o que


tornava extremamente difícil de dizer quaisquer palavras. Eu cuidadosamente
virei de bruços, lutando para recuperar o rumo. Travando uma guerra com o meu
corpo para fazer o que foi treinado.

—Eu estou bem... Owen... Onde ele está...

—Merda! Eu volto já! Estamos sendo atacados! Vou acabar com esses
filhos da puta! Não. Se. Mova! Você me entendeu?! Fique aqui! Eu vou voltar!

Eu fracamente assenti, olhando cegamente na direção da voz de Mason.


Meus olhos se reajustaram, ligeiramente voltando em foco. Sentei-me,
pressionando minha mão com força contra meu peito, tentando respirar através
da dor excruciante do impacto. Aplicando pressão sobre o meu esterno,
querendo aliviar um pouco a tensão. Sentindo-me como se estivesse sangrando
internamente, meu corpo estava desistindo. Eu caí contra a parede, olhando para
o chão, ofegando por ar que não estava disponível para respirar. A luz do sol e o
ar sujo eram quase tão ofuscantes quanto à bomba que tinha acabado de explodir
na minha frente.

Meus olhos pareciam estar sangrando, queimando dos produtos químicos


que irradiavam do explosivo. Eu me levantei querendo limpar os detritos,
sabendo que era inútil, minhas mãos estavam cobertas de Deus sabe o que.
Pisquei algumas vezes, gradualmente, olhando para cima. Ajustei-me à luz,
olhando tudo ao meu redor. Precisando encontrar Owen. Desesperadamente
lutando com a desorientação e confusão do nosso local, de onde estávamos e
onde seu corpo poderia ter sido lançado.

Várias explosões soaram nas proximidades, e parecia que os segundos


transformaram-se em minutos, e minutos transformaram-se em horas. Eu estava

290
freneticamente tentando ver quem tinha sido atingido, se foi mais dos meus
homens.

Eu me afastei da parede, tropeçando para ficar sozinho. Colocando um pé


na frente do outro, mente comandando sobre o corpo, eu mantive-me dizendo
isso quando meu corpo começou a entrar em choque. Quanto mais eu me movia,
mais perto eu continuava, manobrando no piloto automático enquanto eu corria
pelo beco. Indo para o cara que tinha se tornado um irmão para mim. Não dando
a mínima para nada a não ser ficar com ele.

Armas em punho.

Balas disparando em todas as direções.

A guerra estava ao meu redor.

Eu não me intimidaria mais.

Não sabendo se alguma coisa poderia, até que cheguei à sua forma
quebrada. Havia muito sangue saindo do que restava de seu corpo enquanto ele
convulsionava, tremendo incontrolavelmente, enquanto eu o observava morrer
bem na frente dos meus olhos. Eu não pensei duas vezes sobre isso. Agarrei-o,
arrastando o corpo flácido para dentro do prédio próximo a nós. Deixando um
rastro de sangue manchando a sujeira. Eu não tinha forças para carregá-lo, jogá-lo
por cima do meu ombro como eu tinha feito por tantos soldados antes, para nos
levar para fora de lá.

Eu arrastei o corpo contorcido, ignorando seus apelos de desespero para


não movê-lo, pedindo urgentemente para eu deixá-lo lá. Que tudo doía. Que isso
não poderia tirar a dor. Chorando, gemendo, sons de pura agonia e miséria saíam
de seus lábios de uma forma que eu nunca tinha ouvido antes. Eu parei uma vez
que estávamos longe o suficiente, dentro das paredes de concreto, longe de
quaisquer janelas quebradas ou pontos de entrada, escondendo-nos da melhor
forma que pude, dadas as circunstâncias de merda. Sabendo que um dos meus
homens nos encontraria. Desconsiderando todos os cadáveres em decomposição
que já estavam lá, vidas que foram tomadas para o bem ou para o mal.
291
Estava tudo misturado.

—Ahh, merda, Creed. —Ele continuou em um tom que não era dele. Como
se ele já tivesse desistido da vida.

—Você está bem, cara. Você está bem. Eu vou cuidar de você. —Eu
coloquei-o contra o muro, inclinando-me e cobrindo o seu corpo com o meu
como um escudo.

Ajoelhado ao lado de seu corpo mutilado, olhei para o teto, mantendo


minhas emoções sob controle. Ignorando as rondas ativas de fogo acontecendo
apenas do outro lado do concreto. Onde eu deveria estar lutando com os meus
homens. Mas eu não podia deixar o meu irmão.

—Creed...

Engoli em seco, fechando meus olhos por alguns segundos, precisando de


um minuto para me recompor para olhar para ele.

Não por mim.

Por ele.

Mentalmente me preparando para o que veria, o que aconteceria, para o


que eu sabia que ele pediria para mim.

Porque eu pediria a mesma coisa.

Olhei para baixo, para o soldado que tinha conhecido durante o que
pareceu uma vida inteira, vendo o que restou de seu corpo, uma cena horrível
saída de um filme de guerra. Exceto que isso era uma realidade.

A porra da minha realidade.

Nada do homem que arriscaria sua vida por mim foi deixado. Qualquer
coisa que fazia dele um humano tinha acabado de explodir, e me certificaria de
que não parasse por aí.
292
—Eu estou aqui, irmão. Eu estou aqui. —Eu disse entre dentes, os lábios
tremendo.

—Creed... É ruim, cara... É ruim, porra... —Ele lamentou, lutando para


obter as palavras. —Eu vou morrer... Por favor... Por favor... Não me deixe
morrer, Creed. Eu quero ir para casa... —Ele chorou, a voz embargada.

Estendi a mão e agarrei a sua do único braço que tinha ficado, apertando-
o, oferecendo qualquer conforto que podia. Deixando-o saber que eu estava lá
com ele.

Ele não estava sozinho.

—Eu quero ver minha família... Minha menina, Creed... —Ele gemeu,
engasgando com o sangue que saía de sua boca.

—Você vai para casa, amigo. Você vai para casa! Você está me escutando?
Você não vai morrer. Você não vai! Não aqui, não agora! Lute, filho da puta, lute!
—Eu gritei, sem saber a quem eu estava tentando convencer.

Ele começou a tossir coágulos de sangue. Eu tentei sentá-lo, mas ele


gritava em agonia, então eu coloquei-o de volta para baixo. Agarrando a mão de
novo, esperando.

—Porra... cara... —Ele sussurrou, olhando para mim com metade de seu
rosto desfigurado e coberto de sangue. —Diga a minha menina... Eu a amo...
Creed. Diga a minha menina... Eu morri com honra... eu morri um homem... um
maldito soldado... lutando para mantê-la segura... —Ele deixou escapar, ofegando
através do desespero. Por sua próxima respiração. —Diga a minha mãe para não
ficar triste... diga a ela que morri um homem feliz... com ela em minha mente...
Você... diga-lhes... que eu não sofri... Você certifique-se... que elas saibam disso...
por favor... porra... por favor... me prometa... jure-me... elas saberão... que foi
rápido e eu não soooffrriiiiii...

Eu balancei a cabeça, incapaz de formar palavras. —Sinto muito, cara. Eu


estou tão arrependido. Eu deveria ter visto isso. É o meu trabalho proteger a
293
minha unidade. Meus homens. Isto é minha culpa. Eu sinto muito, irmão. —
Curvei minha cabeça com vergonha.

Seu corpo começou a convulsionar novamente, desta vez pior do que


antes. —Creed! Eu não posso fazer isso! Não me faça sofrer, homem! Eu não
quero morrer assim! —Ele gritou, chorando incontrolavelmente através da dor. A
agonia, o futuro que nunca teria.

—Não me peça para fazer isso... Por favor... —Eu implorei, sabendo o que
ele estava me pedindo para fazer.

—Faça! Corte o cordão! Eu não vou para casa! Isso pode acabar em uma
fração de segundo! E você sabe disso! Bala na cabeça! Deixe-me morrer com
honra do caralho! Deixe-me morrer como a porra de um soldado e com a porra
da minha dignidade, e não este homem lamentável sangrando! —Ele cuspiu mais
sangue, forçando seu corpo a gritar comigo. Dizendo-me o que ele precisava.

Outro suspiro de ar borbulhava em seus pulmões. Seu fim estava próximo.


Eu sabia que o meu pior pesadelo do caralho estava prestes a se tornar realidade.
Ver meu amigo sufocando em seu próprio sangue acabou comigo. Seus olhos
fecharam, uma expressão de terror no rosto, temendo que a próxima etapa de
sua alma seria muito real.

Eu não poderia fazer isso.

Puxando-o em meus braços, eu deitei sua cabeça no meu bíceps.


Segurando-o perto, balançando seu corpo para frente e para trás, imediatamente
trouxe de volta memórias de quando eu fiz isso com Luke.

—Shhh... shhh... shhh... Owen... assistir seu bebê nascer no vídeo que sua
esposa enviou foi uma das coisas mais bonitas que eu já vi, cara. Shhh... —Eu
repeti, lembrando de tempos mais felizes. Querendo que ele morresse com boas
lembranças, um coração sedado, a porra de uma consciência limpa.

—Sim, Creed... —Ele engasgou por ar. —Ela é... linda... a mais... linda... do
mundo.
294
—Eu prometo que vou dizer-lhe tudo sobre você. Ela vai saber quem era o
seu pai, e o que ele fez pelo nosso país. —Meus olhos encheram com lágrimas,
mas eu as pisquei, querendo ser forte por ele.

Permitindo que sua mente e corpo acalmassem.

Esperei até que ele sentiu um pouco de paz.

—Obrigado... Creed... —Ele murmurou, tentando sorrir, olhando para


mim.

—Eu te amo, cara. Obrigado por ser meu amigo. —Eu disse baixinho,
abraçando-o mais perto. Segurando-o mais, apertei meu braço, até ouvir um pop
muito alto.

Quebrando seu pescoço.

Tirando-o de sua maldita miséria.

Eu desabei, segurando o corpo sem vida de Owen em meus braços.


Lágrimas escorriam pelo meu rosto, chorando como uma menina. Ele estava tão
perto de nunca precisar olhar para trás.

Liberdade.

E apenas assim.

Owen tinha ido embora, e seu sangue estava em minhas mãos.

295
—Finalmente! Você demorou tanto. —Jill disse assim que cheguei a seu
carro, fechando a porta atrás de mim,

Jill era da minha aula de Inglês. Nós nos conhecemos depois que fizemos
par em nosso último trabalho escolar. Ela era uma garota selvagem para dizer o
mínimo, me contando tudo sobre as festa que ia para beber e brincar com os
garotos o tempo todo. Seus pais se divorciaram, e realmente não importava o que
ela fazia enquanto tirasse boas notas.

Eu queria que meus pais fossem assim.

—Eu sei! Desculpa! A namorada do meu irmão precisava me lembrar mais


uma vez que ela estava me dando cobertura com meus pais. Dando-me uma
palestra sobre me divertir, mas ficar segura e mandar mensagem de texto a cada
hora. Usar Giselle foi a única maneira de poder sair com você esta noite. Eles
confiam nela.

—Seus pais são ridículos. Você fará dezesseis em dois meses. —Ela
respondeu, dirigindo para fora do complexo de apartamentos de Giselle. —Você é
uma das meninas mais inteligentes em nossa classe, eles devem aprender a
confiar mais em você.

—Não é realmente minha mãe, é o meu pai. Mas eu não quero falar sobre
eles mais. Onde estamos indo?

—Para uma das melhores festas que você um dia irá. Eles dão essas festas
o tempo todo. Então garota, você terá um inferno de uma noite.

296
Não demorou muito tempo para nós chegarmos lá, mesmo que
tivéssemos que dirigir pelo bosque. Era difícil ver onde estávamos indo, ramos
raspavam o topo do carro enquanto ela dirigia por uma estrada escura e estreita.
Os faróis eram a única coisa que iluminava a nossa frente, tornando a noite
assustadora como o inferno. Por um segundo eu pensei que ela pudesse ter se
perdido, mas, de repente, um enorme armazém apareceu no meio do nada.
Fileiras de motocicletas estavam alinhadas na grama e cascalho, juntamente com
os carros espalhados no meio. Eu podia ouvir a música rock estridente através do
sistema de som, ecoando contra as janelas de seu carro.

Havia pessoas em todos os lugares, a maioria das mulheres vestidas em


trajes sumários, enquanto outras estavam vestindo couro. Foi então que eu
percebi que a maioria dos homens estava usando coletes exatamente como
Creed com o logotipo dos Devil’s Rejects.

—Onde estamos? —Eu perguntei enquanto ela parava em um local de


estacionamento vazio na parte de trás e desligava o motor.

—Mia, minha doce e inocente amiga, estamos em um clube MC.

—MC?

Ela riu, olhando para si mesma no espelho retrovisor antes de abrir a


porta. —Uau, você está segura. É um clube de motos, menina. Eles têm as
melhores festas com os caras mais quentes. Na verdade, vou me encontrar com
um deles. Aposto que ele vai ter um amigo quente para você, também. —Ela
mexeu as sobrancelhas perfeitamente esculpidas para mim, fechando a porta do
carro.

Eu balancei a cabeça. Chegando à conclusão de que Creed era um


motociclista, e parte deste clube. Lembrando-me de seu colete onde dizia “Vice
Prez” nele. Depois de todos esses anos, eu nunca tinha o associado com este
estilo de vida, mas agora fez tanto sentido.

297
Eu não o tinha visto desde aquela noite horrível há vários meses. Mason e
ele voltaram para a guerra. Eu parei de escrever-lhe, eu parei de enviar-lhe
patchs, mas eu nunca parei de pensar nele.

E se ele estivesse aqui?

Sacudi os pensamentos, querendo me divertir esta noite. Pela primeira vez


eu estava prestes a experimentar o que todo mundo da minha idade fazia todo
fim de semana, enquanto eu estava em casa pensando sobre tudo o que estava
perdendo.

Orando para ele voltar para casa com segurança.

Nós caminhamos até a frente do armazém, e era quase como se eu


estivesse caminhando para um mundo diferente. Eu me senti como um peixe fora
d'água. O cheiro de fumaça e de maconha imediatamente agrediu meus sentidos,
enquanto passávamos pelo enxame de pessoas na entrada. Eles estavam todos
bebendo muito e falando palavrões. Jill pegou minha mão e me puxou pela
multidão, e para a sede do clube onde havia vários foliões.

Drogas estavam por toda parte, alinhadas em cada superfície aberta.


Algumas mulheres estavam deitadas nas mesas, enquanto os homens cheiravam
pó branco de seus corpos, que eu assumi ser cocaína. Enquanto outras mulheres
estavam sentadas no colo dos homens, dançando nuas para eles, para todos
verem. Casais estavam se beijando pelos cantos, começando a ir aos finalmente.
Era como um acidente de trem que você não podia desviar o olhar.

Eu não pude deixar de pensar em Creed...

Era esta a vida que ele levava?

Era por isso que ele me disse que não era bom?

Ele era como um desses homens?

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Não me admira que ele pensasse em mim como uma menina se isso era o
que ele estava acostumado. Eu não teria chance com ele.

Quanto mais eu absorvia a cena passando na minha frente, mais


desconfortável eu me tornava. Eu nunca estive em torno de nada assim em toda a
minha vida. Esta definitivamente não era o meu tipo de festa. O caos me fez
desejar que Creed estivesse lá. Um grupo de motociclistas com mulheres que não
estavam agindo como animais chamou minha atenção. As mulheres tinham
roupas reais sobre elas, usando coletes que a referiam como propriedade de
fulano de tal e assim por diante. Parecia que elas estavam em um nível diferente
do resto do grupo.

Eu estava prestes a dizer a Jill que eu ia chamar Giselle para vir me pegar,
mas me virei e vi que ela se foi.

—Merda... —Eu sussurrei para mim mesma, lembrando que deixei meu
celular no carro dela.

Eu comecei a andar ao redor de outras salas, cada uma mais pesada do


que a última. Tentando encontrar Jill entre a multidão de pessoas e caos. Eu devo
ter me perdido, terminando no que parecia ser uma escada para um sótão.

—Bem, olhe o que temos aqui, carne fresca. —Alguém sussurrou atrás de
mim, me fazendo tropeçar com as costas contra a parede. Ele me encurralou com
os braços sobre os lados da minha cabeça. —Eu nunca a vi antes. Eu me lembraria
de um rostinho tão bonito e corpo melhor ainda. —Respondeu asperamente
muito perto de meu rosto, cheirando a álcool e maconha. —Você tem um nome?

—Mia. —Eu respondi, sentindo-me muito mais vulnerável do que antes.

—Nome bonito para uma menina bonita. O que você está fazendo aqui?

—Eu vim com uma amiga.

299
—Uma amiga? —Ele perguntou, inclinando a cabeça para o lado. Sorrindo,
ele falou. —Não vejo a amiga em qualquer lugar. Tudo o que vejo é você. Talvez
eu e você possamos nos tornar amigos. No meu quarto, sozinhos. E aí?

Meus olhos se arregalaram. —Umm... Eu não...

—Jesus Cristo, Jigsaw! Deixe-a sozinha! Ela parece interessada em você?


—A voz de um homem ecoou do sótão, interrompendo-o.

Eu nunca estive mais aliviada ao ouvir a voz de um estranho, do que eu me


sentia naquele momento. Eu soltei a respiração que eu estava segurando quando
Jigsaw recuou, virando-se. Nós dois olhamos na direção de onde vinha à voz. Um
cara alto, com cabelo castanho escuro que caía por cima de seus olhos estava de
pé ao lado da porta, vestindo um colete que se lia “prospecto” nele. Olhei para o
cara que chamava Jigsaw, e ele estava usando o mesmo colete com a mesma
palavra costurada nele.

—Cuide das suas coisas, Rebel. Você não sabe de nada!

Ele sorriu, olhando na minha direção novamente. Acenando para Jigsaw.


—Você quer chupar um pau?

Olhei para trás e para frente entre eles. —Umm... Não, obrigada.

Rebel riu largamente. Fazendo-me sorrir de volta, não pude deixar de


notar o quão bonito ele era. O tom claro de azul em seus olhos era tão
extremamente sedutor, atraindo-me juntamente com seu sorriso. Ele estava
coberto de tatuagens, vestindo jeans, um colete, e botas de combate. Eu estava
começando a pensar que era o traje de motociclista padrão.

Quando ele me pegou olhando para os braços definidos e peito largo,


corei olhando para Jigsaw.

—Oh, houve algum tipo de conexão aqui, eu vejo. —Jigsaw zombou,


apontando entre nós. —Rebel não gosta de ser pressionado, menina bonita. Ele
também não gosta de ser dito o que fazer. Estou à procura de uma Old Lady. Ele

300
não. Escolha suas batalhas com sabedoria. O menino bonito lá só pensa com seu
pau.

—Obrigado pela apresentação, Jigsaw. Agora dê o fora.

Jigsaw sacudiu a cabeça, saindo e subindo as escadas dois degraus de cada


vez, o corpo empurrando meu salvador pelo ombro antes de bater a porta atrás
dele.

—Seu rosnado é maior do que sua mordida. Ele é um pouco agressivo. —


Rebel entrou na conversa, descendo as escadas em direção a mim.

—Sim... Posso ver isso. Mas, humm... Obrigada. Você meio que me salvou
lá.

—Não se preocupe. Nunca a vi por aqui. Tem um nome? —Perguntou,


elevando-se sobre mim e deixando seus olhos vagarem por todo o meu corpo.

—Mia, mas você pode me chamar de Pippin. —Eu respondi sem pensar.

—Pippin. —Ele repetiu, balançando a cabeça.

Era estranho ouvi-lo chamar-me assim, quando apenas outra pessoa já o


fez. A forma como o nome saiu de sua boca estava fazendo coisas para mim,
fazendo-me sentir vibrações familiares no meu estômago. Eu me vi gostando
disso, esperando ele dizê-lo novamente. Eu não sei se foi pela maneira como ele
disse ou por quem me deu o apelido, em primeiro lugar, mas trouxe uma
sensação de calma em mim, fazendo-me sentir segura por algum motivo.

—Quantos anos você tem? —Ele questionou, me puxando para longe dos
meus pensamentos.

—Por que você pergunta isso?

Ele riu. —Certo... Meninas não gostam de dizer sua idade. Não é?

—Eu tenho dezoito anos. —Eu menti.


301
—Ah, a única razão que eu perguntei foi porque você parece muito doce e
inocente para estar neste lugar. Não parece com você.

—Será que é porque eu não estou vestida como uma prostituta? —Eu
soltei, incapaz de me segurar.

Ele sorriu, olhando-me de cima a baixo novamente. Vendo meu vestido


preto e botas de cowboy. Parando um pouco acima do meu decote, ele
murmurou. —Eu gosto do que você está vestindo. Boa mudança de ritmo.

Engoli em seco, travando os olhos com ele.

—Além de que você está mostrando apenas as partes que eu realmente


gosto mais.

Eu sorri, meu rosto ficando vermelho beterraba. Foi a primeira vez que um
cara tinha falado comigo dessa maneira.

—Cerveja?

—Sim.

—Vamos. —Ele fez um gesto com a cabeça para segui-lo.

Quando voltamos para pegar algumas cervejas, estava ainda mais


animado do que antes. Deixando muito pouco espaço para nos deslocarmos
através da multidão. Homens enormes se elevavam acima de mim, o que tornava
quase impossível ver por cima das cabeças de todos. Eu tentei o meu melhor para
manter-me com Rebel, mas o perdi por um segundo na loucura. Antes que eu
pudesse entrar em pânico, suas mãos fortes agarraram minha cintura, me
puxando de volta para seu corpo duro. Ele sorriu para mim com um olhar de
tranquilidade, fazendo minha barriga vibrar e meu coração bater mais rápido.
Sussurrando em meu ouvido para ficar perto, ele agarrou a minha mão o tempo
todo em que liderou o caminho.

302
Paramos no bar e ele pegou uma garrafa de vodka do refrigerador em vez
de cerveja, pegando um copo e um refrigerante também. Segui-o para fora,
passando pelos foliões, indo para o campo onde a maioria dos carros estava
estacionada. Ele nunca soltou a minha mão, o que eu estava grata. Eu ainda não
estava completamente confortável com toda a situação. Embora ele tivesse
melhorado as coisas.

—Você vai precisar de alguma ajuda. —Disse Rebel, olhando para mim
com o mesmo sorriso que eu esperava. Ele puxou para baixo a porta traseira ao
seu enorme caminhão Chevy turbinado, batendo no metal para que eu tomasse
um assento. —Eu estou acostumado a grandes coisas. —Piscando para mim, ele
agarrou minha cintura como se eu não pesasse nada, gentilmente me
estabelecendo na traseira. Pisando entre as minhas coxas e ainda segurando
minha cintura quando ele terminou, ele declarou: —Você fica bem em meus
braços, Pippin.

Minha respiração parou. —Uau... Você precisa de falas melhores, amigo.


Tem certeza de que você transa tanto quanto o seu amigo disse?

Ele riu de dentro de seu peito, jogando a cabeça para trás. —Eu gostei de
você, porra. —Afastando-se, ele pulou em cima do caminhão para sentar-se ao
meu lado. —Nunca trouxe uma menina para o meu caminhão.

—Sim, sim, sim...

Sorrindo, ele se esticou por trás de mim para pegar um copo.


Preenchendo-o até mais da metade com vodka, ele misturou com um pouco de
refrigerante. —Eu até mesmo trouxe a você alguma merda feminina para beber.
—Ele respondeu, entregando-me.

Eu tomei um gole. Limpei imediatamente a minha garganta com o gosto


forte queimando meu peito. Tentando agir como se não fosse a primeira vez que
tinha bebido isso.

Ele sorriu, colocando a garrafa entre as pernas. Ele começou a esfregar


minhas costas. —Desculpe... Eu acho que exagerei na dose.
303
—E você? —Perguntei, sentindo o interior todo morno. Eu não sabia se
era de sua mão me tocando de novo ou da bebida.

Talvez tenha sido um pouco de ambos.

Ele levou a garrafa aos lábios, tomando um gole. E colocou-a de volta


entre as pernas novamente. Tomando como um profissional. —E eu o quê?

—Você bebe muito? —Eu sarcasticamente questionei.

—O suficiente.

—Eu estou vendo. Quantos anos você tem?

—Quase dezenove anos.

Fiquei aliviada que ele fosse apenas três anos mais velho do que eu,
mesmo que ele não tivesse que saber disso.

—Você mora por aqui?

—Não longe. Oak Island. E quanto a você?

Ele balançou a cabeça, tomando outro gole da garrafa. —Não quero falar
sobre mim. Eu sei tudo sobre este filho da puta aqui, quero aprender sobre você.
—Ele informou, batendo em meu ombro com o seu.

—Não há muito a dizer. O que você vê é o que sou. —Retruquei, girando


meu cabelo em volta do meu dedo, mordendo meu lábio.

—Bem, então... Eu estou gostando de cada centímetro do que vejo.

Ele estendeu a mão, esfregando os dedos calejados e ásperos na minha


coxa, acendendo algo familiar no meu corpo. Trazendo de volta memórias de
Creed tocando-me da mesma maneira não muito tempo atrás. Fazendo-me
desejar que ele estivesse aqui, para ver que eu não era a menina que ele alegou
que eu era. Para ver que eu era uma mulher adulta também, tendo o momento

304
de sua vida. Minha mente me perguntava se eu não seria mais virgem se ele não
tivesse parado naquela noite? Se eu fosse até ele em uma semana ou um mês
depois sem ser uma virgem, ele teria me aceitado?

Eu rapidamente afastei os pensamentos que me assolavam antes que


arruinasse a minha noite. Castigando-me por pensar nele em primeiro lugar.

Eu estava lá com Rebel.

Não Creed.

Mesmo que... Eu quisesse Creed.

Eu trouxe meu copo vermelho aos lábios, bebendo muito mais do que eu
tinha antes. Querendo me livrar dos pensamentos e memórias do cara que me
machucou de propósito. Abafando um sorriso quando vi Rebel me olhando por
cima da borda de sua garrafa. Olhando para mim com nada, além de luxúria em
seus olhos.

Eu queria esquecer.

E eu sabia que Rebel era o cara perfeito com quem eu poderia fazer isso.
Ele era um problema da melhor maneira possível.

Ficamos ali por não sei quanto tempo, trocando brincadeiras. Tomando
bebida após bebida como se fosse água, até que a garrafa de vodca estava quase
no fim. Meus lábios formigavam, meu rosto estava em chamas, e meu corpo
estava dormente. Foi a primeira vez em que me senti tão despreocupada,
jogando a cabeça para trás, rindo, apreciando a forma como ele me fez sentir.
Divertindo-me com um cara que só queria isso, como eu.

Em um ponto, a canção “American Pie” de Don McLean veio do clube. Eu


pulei do caminhão e tropecei um pouco, percebendo o quão bêbada eu
realmente estava. Rebel me pegou pela cintura antes de me colocar no chão,
rindo junto comigo. Rindo enquanto eu estava tentando recuperar o meu
equilíbrio.

305
—Você é como um salvador, não é? Você é meu príncipe encantado? —Eu
ri, de pé em seus braços.

Ele acariciou o lado do meu rosto, esfregando o polegar sobre meus lábios
em um movimento de vaivém. —Já fui chamado de coisas piores.

Eu sorri, me afastando dele, dançando ao redor e girando em círculos com


os meus braços para cima. Cantando no topo dos meus pulmões, não dando a
mínima para quem estava assistindo o desempenho da embriaguez da minha
vida. Rebel inclinou-se contra o seu caminhão, cruzando os braços sobre o peito e
olhando eu me fazer de tola, mas gostando de cada segundo disso. Como se fosse
a primeira vez que alguém estivesse sendo real em torno dele.

O álcool agia como a coragem líquida que eu precisava para o que eu


estava prestes a fazer. Saboreando a maneira como ele estava olhando para mim,
comecei a dançar para ele. Sedutoramente trabalhando minhas mãos para cima
em meus lados, trazendo meu vestido um pouco com elas. Mostrando-me para
ele, balançando o meu corpo com a batida da música, provocativamente olhando
em seus olhos enquanto a música continuava a soar na noite. Virei-me de costas
agora para ele, fechando os olhos, levantando o meu cabelo para cima do canto
do meu pescoço enquanto eu continuava a mover meus quadris em um ritmo
lento e constante.

Até que senti uma mão forte agarrar meu estômago, me puxando para
trás contra seu peito duro. Balançando-nos lentamente com a melodia. Ele
agarrou meu queixo, inclinando a cabeça para trás e fazendo-me olhar para cima
em seus olhos azuis escuros dilatados. Sua expressão se transformou em
inebriante, combinando com a minha. Lambi meus lábios, a boca de repente,
tornando-se seca. Seus olhos seguiram o movimento da minha língua enquanto
ele se inclinava, suavemente beijando meus lábios. Virando-me de volta para que
o seu corpo quente estivesse nivelado com o meu enquanto nossas bocas
dançavam uma contra a outra. Começando lento, mas rapidamente aumentando
ao ponto em que suas mãos começaram a vagar pelas minhas costas, chegando à
minha bunda. Agarrando forte, fazendo-me gemer em sua boca.

306
—Uhullll! Rebel, acabe com ela, rapaz! —Alguém gritou do clube.

Eu tremi, imediatamente tentando me afastar, mas ele me segurou mais


firme, não me permitindo mover um centímetro.

—Vai embora! Seu fodido! Não há nada para ver! —Ele gritou de volta.
Concentrando sua atenção de volta em mim.

—Então... —Eu respirei, passando os braços em volta do seu pescoço.


Ainda tentando governar minha respiração. Fingindo que não fomos
interrompidos. —Você vai me mostrar o seu quarto?

Ele sorriu sem dizer uma palavra, colando sua boca na minha, enquanto
me levantava em seus braços e me levava para o clube. Colocando-me de pé, uma
vez que atingiu os foliões. Ele me pegou pela mão e me levou para dentro em
direção a um corredor longo e estreito. Eu fiz uma nota mental para me lembrar
de quão longe da porta da frente seu quarto estava. Ele abriu a porta,
imediatamente fechando-a com um chute e me apoiando contra ela com um
barulho alto, como se ele não pudesse obter o suficiente de mim. Beijando-me
exatamente da mesma maneira que ele tinha feito toda a noite.

Nossas mãos gananciosas nunca deixaram os corpos um do outro


enquanto nós tropeçávamos em direção a sua cama. Batendo nas coisas, fazendo-
as caírem no chão.

A única coisa que eu sabia ser verdade era que, naquele momento, eu o
queria. Eu queria seu beijo, seu toque, seu gosto, e suas mãos em cima de mim.

Especificamente, seu pau.

Estendi a mão para seu colete, e ele me ajudou a retirá-lo dele, jogando-o
para fora do caminho. Continuando o ataque a nossas bocas como se
estivéssemos colados e não pudéssemos nos afastar nem mesmo por um
segundo. Eu nunca tinha sentido nada assim antes. Eu não tinha nenhum controle
sobre minhas ações, meu corpo querendo desesperadamente algo que eu nunca
tinha experimentado. Ao mesmo tempo, parecia que eu sabia o que eu estava
307
fazendo, meus movimentos instintivos como se tivessem sido programados
dentro de mim desde o nascimento.

Pela primeira vez, eu entendi como minhas amigas poderiam ter relações
sexuais sem sentido, como você poderia querer dar-se a alguém, dar-se ao
momento em que se sentia realmente bem. Sem emoções, sem eu amo você,
apenas o desejo primordial para algum tipo de alívio.

Meu estômago apertou.

Meu sexo pulsava.

Estendi a mão para a fivela do seu cinto.

—Ei... ei... ei... Acalme-se... Eu não vou a lugar nenhum. —Ele gemeu,
sorrindo contra meus lábios e alcançando a barra do meu vestido.

Eu o deixei tirá-lo, deixando-me em nada, além da minha calcinha e sutiã.


Prontamente se afastando, ele inclinou-se para trás para admirar o meu corpo.
Seus olhos me devoravam de uma forma que eu lembrava muito bem.

Fechei os olhos, sacudindo o pensamento do cara que eu não conseguia


parar de pensar, inclinando-me para beijar Rebel, em vez dele. Precisando da
nuvem de paixão e desejo em meus pensamentos. Estendi a mão para a sua fivela
do cinto novamente, desta vez ele me permitiu desfazer.

—Você cheira bem pra caralho. —Ele gemeu contra os meus lábios,
movendo-nos para cima da cama. —Alguém já te disse isso?

Eu ri, balançando a cabeça negativamente enquanto ele gentilmente me


deitava no colchão, pairando acima de mim. Continuando seu ataque ao lado do
meu pescoço, ele colocou beijos suaves em meu decote. Em um movimento
repentino, ele tirou meu sutiã, jogando-o de lado, acariciando e chupando meu
outro seio, me deixando sem ar debaixo dele. Eu podia sentir sua ereção no meu
sexo, propositadamente movendo os quadris, criando um formigamento insano
em mim.

308
Ele olhou para mim com os olhos cheios de luxúria, descendo pelo meu
corpo, arrancando a minha calcinha, jogando-a de lado, também. Quando percebi
o que ele ia fazer, eu agarrei os lados de seu rosto. Trazendo-o de volta para me
beijar. Isso trouxe de volta muitas memórias de Creed, e ele era a última pessoa
que eu queria pensar naquele momento...

Eu estava lá com Rebel.

Sua mão deslizou entre as minhas coxas. Não demorou muito para a
minha respiração tornar-se pesada, sentindo meu peito subindo e minhas costas
arqueando quando ele moveu os dedos em todo o meu núcleo. Minhas pernas
começaram a tremer. Eu não conseguia manter os olhos abertos, e eu senti como
se estivesse prestes a explodir. Eu não aguentava mais, o quarto começou a girar
e minha respiração vacilou.

Caí no precipício.

—Ah... —Eu engasguei uma e outra vez. Não querendo que essa sensação
terminasse.

Eu gozei por tanto tempo quanto eu poderia, até que ouvi um barulho de
algum tipo à minha direita. Abrindo meus olhos, eu percebi que ele estava
rasgando um preservativo. Puxando a camisa sobre a cabeça e chutando as botas
e jeans. Ele deu um meio sorriso enquanto eu tentava esconder o olhar
surpreendido em meu rosto quando vi seu pau duro livre. Decidi olhar para o
outro lado enquanto ele estava deslizando o preservativo em seu comprimento.

Ele se arrastou de volta para o meu corpo nu, me prendendo com os


braços. Beijando-me novamente, ele colocou seu pau na minha abertura. Deixei-
me ficar perdida na sensação de seu corpo em cima do meu, de seus lábios contra
os meus, da forma como tudo parecia tão bom.

Todas aquelas emoções desapareceram em um instante.

Em um movimento rápido, ele estava dentro de mim. Rasgando minha


inocência de uma forma que eu nunca esperava que fosse acontecer. Minhas
309
costas arquearam para fora da cama enquanto eu gritava alto com a intrusão
repentina e a dor de tudo isso.

Ele parou imediatamente, olhando para mim, perplexo. Eu firmemente


fechei os olhos, não querendo olhar para ele, embora eu ainda pudesse sentir seu
olhar penetrante em mim.

—Você é virgem, porra? —Ele afirmou com uma pergunta em um tom


chocado e chateado.

Eu balancei a cabeça, ainda sem abrir os olhos. Principalmente porque eu


não queria que ele visse o quão envergonhada eu estava.

—Merda... —Ele xingou, começando a afastar-se de mim.

—Não! —Abri os olhos, agarrando seus ombros, segurando-o no lugar. —


Está tudo bem... Eu juro. Não pare.

Ele recuou, arqueando uma sobrancelha. Olhando para baixo para mim,
confuso. —Que porra é essa? As meninas não querem que a sua primeira vez seja
especial ou alguma merda assim? —Ele fez uma pausa, contemplando o que diria
em seguida.

Deixando-o sem palavras. Suas emoções conflitantes estavam no caminho


do que eu ainda queria que acontecesse entre nós.

Respirando fundo, ele soltou. —Mia, eu não sou esse cara. Quer dizer, eu
gosto de você... mas, porra... Eu não sou... você sabe... Eu não... Merda isso é
difícil... —Ele balançou a cabeça, pensando que ele estava machucando meus
sentimentos, mas eu entendi o que ele estava tentando dizer.

—Eu não sou essa garota, ok? Você não tem nada para se preocupar. Eu
sei que isto é apenas... seja o que for. Eu não espero nada de você. Tudo que eu
quero é ter algum divertimento, você é divertido. —Eu honestamente falei,
esperando que ele fosse entender, mas não sabendo o quanto eu poderia dizer-
lhe para que ele continuasse.

310
Ele suspirou com os olhos arregalados, puxando o cabelo para trás de seu
rosto com a mão direita. Olhando para baixo para mim com um olhar de
preocupação. —Jesus... eu... quero dizer... porra, você está bem... Eu não sei... Eu
nunca teria... quero dizer... você é a primeira virgem... que eu já... porra... —Ele
rosnou. —Eu te machuquei muito?

Eu sorri. —Eu estou bem. —Eu sussurrei, agarrando a parte de trás do seu
pescoço, beijando-o novamente. O álcool continuava correndo em mim.

Ele me beijou com incerteza enquanto eu movia meus quadris, chamando-


o a continuar. Ele ainda não se mexeu, e eu comecei a me preocupar que ele
fosse parar e sair de mim, mas então eu senti a mão dele mover-se mais baixo
para o meu centro. Comecei a relaxar. Apreciando que ele estivesse tentando
fazer isso melhor para mim. Segundos depois, ele começou a mover-se dentro e
fora enquanto ele trabalhava no meu ponto g. A sensação dos seus dedos
substituiu o desconfortável de seus impulsos.

—Melhor? Está bom assim? —Ele grunhiu em minha boca.

—Sim... Não pare...

Não demorou muito para que um pouco da tensão sumisse, e o calor


retornasse. Seus dedos nunca pararam de mover-se contra mim, me controlando
enquanto ele continuava a fazer o que eu queria desesperadamente.

Eu posso ter perdido minha virgindade com Rebel naquela noite, mas
minha mente nunca se afastou de...

Creed.

311
—Obrigada por me trazer de volta para cá, Jill. Eu realmente te agradeço.
Eu sei que é muito cedo. —Eu disse quando ela parou no clube.

—Sem problemas. Tem que ver o seu homem, certo?

Eu sorri.

—Além disso, eu disse a Tank que eu passaria por aqui, o acordaria, você
sabe... para conversar e outras coisas. —Ela sorriu. —Só me mande mensagem
quando estiver pronta. Eu sei que você tem esse batismo.

Eu balancei a cabeça, abrindo a porta. Saindo para a grama, arrumei meu


vestido antes de irmos até a sede do clube. Uma cara enorme com olhos cor de
mel e cabelo loiro reconheceu Jill e nos deixou entrar. Acenando um olá a ela, ele
tinha o nome “Sargento de Armas” costurado em seu colete. Eu não pude deixar
de olhar ao redor, esperando ver Creed saindo dos quartos com uma garota em
seu braço. Eu ainda não o tinha visto desde aquela noite na casa de Giselle.

Não importava, não era por isso que eu estava aqui.

Jill e eu andamos pelo corredor juntas até que ela entrou no quarto de
Tank, fechando a porta atrás dela. Eu fui até o quarto de Rebel, batendo na porta,
mas ninguém respondeu.

Eu empurrei-a ligeiramente. —Rebel? Você está aqui? É Mia. —Coloquei


minha cabeça na porta, mas vi que não havia ninguém lá dentro. Eu estava
prestes a virar e ir embora, mas ouvi o chuveiro ligado.

312
Eu entrei, fechando a porta atrás de mim. Movendo pelo seu quarto, eu
me sentei na beira da cama, tomando a decisão de esperar por ele. Olhando ao
redor do espaço aberto.

A porta do banheiro abriu momentos depois, me assustando.

—Pippin?

Nós encontramos nossos olhares.

—O que você está fazendo no quarto de Rebel? —Eu soltei, sem saber o
que dizer.

E ali estava ele...

Fresco do chuveiro com uma toalha pendurada em torno de sua cintura.


Outro dos meus desejos se tornando realidade. Ele abriu a boca para responder,
mas foi cortado quando a porta do quarto se abriu. Rebel entrou e parou
imediatamente, olhando de mim para ele, e de volta para mim novamente.

—Creed? —Rebel anunciou, pego de surpresa. —Quando diabos você


voltou?

—Uma hora atrás. —Ele simplesmente respondeu, sem tirar os olhos de


mim.

—Você está de licença?

—Eu cheguei, esta manhã, Noah. Você saberia, se tivesse lido a porra das
minhas cartas. Eu servi meus quatro anos. Terminei.

—Noah? —Eu entrei na conversa, olhando para ele. —Eu pensei que o seu
nome fosse Rebel?

—É. Ninguém me chama de Noah, além dele. —Ele apontou para Creed.
—Pippin, o que...

313
—Pippin? —Creed interrompeu, olhando para ele. —O nome dela é Mia.
—Ele balançou a cabeça. —Que porra é essa? —Ele falou tentando controlar seu
temperamento. Não só era outro homem me chamando de Pippin, mas isso
confirmava por que eu estive lá. Estreitando os olhos para mim, ele rosnou. —
Você está de sacanagem comigo?

Eu, de repente, me levantei, indo direto em seu rosto, empurrando seu


peito nu. Ele não vacilou. Eu não podia acreditar que ele pensou que ele tinha o
direito de estar chateado comigo quando ele era o único que me afastou em
primeiro lugar.

—Eu posso fazer o que diabos eu quiser. Você não me possui, Creed!

Ele arregalou os olhos, arqueando uma sobrancelha. Inclinando a cabeça


para o lado, ele zombou. —Então você decidiu foder meu irmão? Para que, para
provar um ponto?

Meu queixo caiu. Eu recuei com a revelação inesperada, quase caindo de


bunda. Imediatamente me sentindo mal do meu estômago.

—Você está mentindo.

—Eu pareço estar mentindo?

Olhei entre eles sem saber em quem olhar. —Vocês são irmãos?

—Este não é o seu quarto. É meu. Essa é a minha cama na qual você
estava sentada. Diga-me, querida, você fodeu nela, também? —Ele violentamente
comentou, indo para o seu armário. Tirando um jeans.

—Creed, Jesus Cristo... Você não tem dormindo aqui por mais de uma
semana a cada vez nos últimos quatro anos. Tem sido a porra do meu quarto,
mais do que o seu. —Rebel argumentou, sem recuar. —Que porra está
acontecendo, afinal? —Ele olhou para mim. —Como você a conhece?

314
—Não se preocupe com isso. A questão é como diabos você a conhece? —
Ele colocou seu jeans sob a toalha, arrancando-a e jogando-a sobre a cama.

—Ela veio aqui uma noite para uma festa. Eu acordei na manhã seguinte, e
ela tinha ido embora.

Ele balançou a cabeça lentamente, o reconhecimento rastejou em seu


rosto. A próxima coisa que eu sabia era que uma grande mão me empurrou para
fora do caminho, fazendo-me cair de volta na cama. Creed foi até seu irmão em
três passos prendendo-o à parede por sua garganta.

—Então, você a fodeu, seu merdinha!

—Pare de dizer isso assim! Deixe-o ir! —Eu gritei, trazendo sua atenção de
volta para mim.

Ele soltou Noah. —Considere-se afortunado. Se ela não estivesse aqui,


você sairia machucado. —Ele empurrou-o contra a parede novamente.

—Isto é ridículo! Você não pode usar as suas palavras, em vez de punhos?
—Eu observei.

—Foda-se, Creed! Eu não tenho medo de você! —Rebel rebateu,


empurrando-o de volta.

Creed ignorou seu irmão, caminhando de volta para mim. —Você está me
dando sermão agora, Pippin? Incrível, porra.

—Eu não sabia que ele era seu irmão. Eu juro. Eu nunca faria isso com
você. E você sabe disso.

—E isso torna tudo bem? Você dormiu com meu irmão mais novo!
Sabendo ou não, seu pau esteve dentro de você. —Ele rosnou. —Não é possível
até mesmo olhar para você agora. —Ele recuou e saiu do quarto, batendo a porta
atrás dele com força suficiente para sacudir as paredes. Fazendo-me pular.

315
Eu me sentei na beira da cama, incapaz de me segurar por mais tempo.
Agachando-me para frente, segurei meu estômago, tentando engolir a bile
subindo na minha garganta.

Era demais para mim.

—Você é a garota dele? —Rebel perguntou o que eu sabia que ele vinha
pensando desde o segundo em que viu seu irmão todo magoado.

Eu balancei a cabeça. —Não.

Ele me deu um breve aceno de cabeça. —O que você está fazendo aqui?
Você me deixou sozinho naquela manhã. Eu pensei que talvez eu tivesse
imaginado você ou alguma merda assim. Nunca fui usado assim antes. Não posso
dizer que gostei, também.

—Me desculpe por isso. Eu não o usei, Rebel... Noah... Seja lá o seu nome.
Eu me diverti muito naquela noite. Com você. Mas, obviamente, você sabe que eu
nunca tinha feito nada parecido antes. Não é quem eu sou. Eu acho... Eu só não
sabia o que fazer em seguida. Então eu o deixei, tornando mais fácil para nós dois.

Ele caminhou na minha direção, puxando uma cadeira na minha frente e


sentou-se sobre ela. Olhando-me diretamente nos olhos, ele perguntou. —Como
você conhece Creed?

—História longa.

—Eu tenho tempo.

Sorvi uma respiração profunda, considerando o que eu queria dizer e


como dizer. —Eu não quero falar sobre Creed. Eu vim aqui para falar com você.

Era agora ou nunca, eu precisava fazer isso antes de perder a coragem. Eu


teria que lidar com Creed e eles sendo irmãos e tudo o que viria, mais tarde.
Agora era a menor das minhas preocupações. Peguei minha bolsa, puxando para
fora o que eu precisava e entreguei a ele.

316
Ele estreitou os olhos para mim assim que ele percebeu o que era, lendo a
única palavra que eu estive olhando pelos últimos três dias.

Positivo.

Erguendo as sobrancelhas, ele suspirou. —Você está grávida? —Como se


ele não quisesse acreditar.

Eu balancei a cabeça, mordendo meu lábio. Esperando por onde quer que
isso nos levaria.

—Como... Como isso aconteceu? Eu usei um preservativo. Eu usei um


preservativo, porra. —Ele apontou para si mesmo. —Isso é besteira. Como eu sei
que é meu?

Eu fiz uma careta, fechando meus olhos. Ouvi-lo dizer essas palavras foi
como um toque de despertar. Era realmente o que Creed vinha dizendo que eu
era o tempo todo.

Como eu pude deixar isso acontecer?

—Olhe, Mia, eu não te conheço. Não estou tentando ser um idiota aqui.
Mas você aparecer aqui com semanas de atraso me dizendo que está grávida...
Dizendo que eu sou o único que a engravidou? Sim, eu posso ter tirado sua
virgindade. Mas isso não significa que você não abriu as pernas para mais
ninguém desde então.

Eu não hesitei, abrindo meus olhos. Olhando direto nos seus. —Eu acho
que ser um babaca vem de família.

Eu rapidamente peguei minha bolsa, sentindo que ele imediatamente se


arrependeu de suas palavras. Eu não lhe dei uma chance para se desculpar, e
passei pela mesma porta que Creed saiu momentos antes com Rebel chamando
meu nome atrás de mim.

317
Não havia como voltar atrás. O estrago estava feito, e eu não tinha
ninguém para culpar além de mim mesma.

—Jesus Cristo, cara. Relaxe.

—Foda-se, Diesel! —Eu fervi, esmurrando o saco na sala de musculação.


Tentando não imaginar a porra da cara do meu irmão enquanto eu dava golpe
após golpe no couro. Falhando miseravelmente em fazê-lo.

—Eu sabia que ela parecia familiar. Eu pensei quando os vi juntos que...

Eu atirei-lhe um olhar de aviso, calando-o rapidamente.

—Droga... —Ele deu um passo para trás, levantando suas mãos. —Esta
menina realmente mexeu com você. Nunca pensei que veria esse dia. Como um
cara feio como você arranjou uma garota tão jovem? Sua buceta deve ser
apertada pra caralho.

—Fale sobre a sua buceta mais uma vez, filho da puta, e verá o que
acontece. —Rosnei cada palavra.

Diesel riu, afastando-se e deixando-me sozinho.

Eu recebi meus documentos de dispensa ás 6:00 horas naquela manhã,


me libertando do Exército. Nunca em um milhão de anos eu pensava que fosse
sair do meu banheiro e ver Pippin sentada em minha cama no meu quarto.

Na porra do clube.

Esperando meu irmão mais novo para transar com ela...


318
Mais uma vez.

Eu soquei o saco mais forte, quase o derrubando da corrente maldita. Eu


estava tão chateado que eu mal podia ver direito. Não acreditando em uma
palavra maldita que ela disse, sabendo que ela fez isso para se vingar de mim por
rejeitá-la. Por me afastar dela. Eu não podia acreditar que ela não sabia que
estava em meu clube. Assim que ela viu os coletes nos homens, deve ter
percebido, especialmente a porra do meu irmão. Ela sabia o que estava fazendo
aqui. Esse fato sozinho me fez ver vermelho. Minha mente estava cambaleando,
girando fora de controle.

E se alguma coisa tivesse acontecido com ela?

Uma mulher não reclamada em festas do clube é gratuita para todos.

Empurrá-la para os braços do meu irmão nunca foi minha intenção.

Voltei para o meu quarto uma hora mais tarde, o meu sangue fervendo e
meu temperamento queimando até o ponto da dor do caralho. Encontrei Noah
sentado em uma cadeira de costas para mim como se ele não tivesse se movido
do lugar onde ele estava sentado.

—Onde ela está, seu merdinha? —Perguntei com a mandíbula apertada,


olhando ao redor do quarto. Segurando o desejo de quebrar a cara dele, peguei
uma cerveja da geladeira em vez disso, tomando-a. Agarrando outra e fazendo o
mesmo.

Ele levantou-se, jogou algo no lixo. Voltando-se para me encarar, ele


inclinou-se sobre o balcão com os braços cruzados sobre o peito. Ele
simplesmente declarou. —Ela foi embora. —Ele balançou a cabeça. — Escute,
Creed, eu não sei o que está acontecendo entre vocês dois ou como vocês se
conhecem. Você pode não ser a porra da minha pessoa favorita, mas você ainda é
meu irmão. Eu nunca teria tocado nela se eu soubesse que ela era a sua menina.
Eu perguntei isso a ela, e ela confirmou que não era. Dito isto... Eu gosto dela,
mano. Ela é diferente. Nunca conheci ninguém como ela antes. Boa mudança de
ritmo das prostitutas ao redor aqui.
319
—Ela não é certa para você, Noah. Fique longe dela. Você me entendeu?

—Não acho que eu possa mais fazer isso. —Ele deixou implícito, olhando
para o lixo.

—Que porra isso quer dizer?

Ele encolheu os ombros. —Eu acho que nós vamos descobrir. —


Afastando-se do balcão, ele passou por mim para sair.

—Ela tem quinze anos. Ela é menor, porra. Você sabia disso?

Ele parou abruptamente, voltando-se para olhar para mim novamente. Eu


sabia pela expressão em seu rosto, que ele não sabia desse fato.

—Ela me disse que tinha dezoito anos. O que quer dizer com ela ter
apenas quinze anos?

Eu zombei, inclinando a cabeça. —Ela mentiu.

—Bem, merda... —Ele balançou a cabeça, com os olhos arregalados. Sem


dizer outra palavra, ele se afastou de mim e foi embora.

—Foda-se. —Eu disse a mim mesmo, terminando a minha cerveja. Joguei-


a no lixo com tanta força que o derrubou.

Suspirei, esfregando a parte de trás da minha cabeça com a dor súbita.


Chateado que eu só tinha estado em casa por duas horas e já estava em uma
tempestade de merda. Eu tinha um pressentimento de que a guerra estava longe
de acabar. Eu nunca imaginei que isso acabaria em Mia. Não sei quanto tempo
fiquei lá antes de finalmente conseguir fazer meus pés moverem-se. Agachei-me
na frente da confusão para pegar o lixo do chão. Algumas garrafas de cerveja,
toalhas de papel, e um saco de papel com uma vara branca que caiu dele para o
chão perto dos meus pés.

Eu me abaixei e peguei. —Que porra é essa? —Eu disse em voz alta, quase
caindo de bunda quando vi a vara de gravidez positiva em minhas mãos.
320
Eu coloquei uma camisa, meu colete e botas, e saí do meu quarto. —
Noah! Onde diabos está você?! —Eu gritei tão alto que ecoou pelas paredes.

Lá fora, vi que seu caminhão tinha ido embora, eu não pensei duas vezes
sobre isso. Saltei na minha moto, e corri como uma alma fugindo do inferno. Eu
fui à casa dos pais de Mia primeiro, não dando à mínima se eles descobririam
sobre mim.

Ninguém estava em casa.

Eu fui para o restaurante ao lado, procurando por ela lá sem nenhuma


sorte. Perguntando à garçonete se ela sabia onde Mia estava, ou se ela a tinha
visto. Ela disse que tinha acabado de sair para uma festa de batismo,
dispensando-me. Eu usei o meu charme para conseguir o que queria, até que ela
finalmente me deu o endereço.

Eu acelerei o caminho inteiro, não dando a mínima se estava indo muito


acima do limite de velocidade. Meu coração batia forte quanto mais perto eu
chegava, mas eu não consegui chegar até ela rápido o suficiente. Havia carros em
todos os lugares que enchiam a pequena entrada privada. Eu estacionei minha
moto na rua, mal baixando o suporte de apoio antes de correr para a casa.

Fúria assumiu quando empurrei a porta da frente, sem me preocupar em


bater.

—Onde ela está? Mia! Onde diabos você está?! Eu sei que você está aqui!
—Eu gritei, passando pela porta.

Meus olhos não podiam se mover rápido o suficiente, atentamente


procurando ao redor da sala cheia, as pessoas ficando tensas. Dei a todos um
olhar ameaçador para não intervirem. Alguns segundos depois, vi Mia no canto,
chocada ao me ver lá.

Eu fui até ela em quatro passos, ficando bem na sua cara. Seus olhos azuis
brilhantes estavam largos e ansiosos.

321
—Creed! —Ela gritou, tentando se afastar.

Eu não vacilei, agarrando-lhe o braço e segurando-a no lugar. Foi a


primeira vez que eu a maltratei dessa maneira, mas no momento em que li
positivo sobre a gravidez, minha paciência se esgotou. Eu pairava sobre seu
pequeno corpo com um olhar ameaçador, fazendo-a encolher-se.

Com medo de mim.

—Achei isso no lixo. —Eu rosnei com a mandíbula apertada, jogando a


vara para ela. —Você fez isso de propósito, não é?! Você queria isso! —Eu rosnei,
puxando-a para perto de mim pelo braço.

—Eu... não... Eu não sabia! Eu juro! —Ela gaguejou, fervorosamente


sacudindo a cabeça.

—Olhe-me nos olhos malditos e me diga que não planejou isso.

—Não! Claro que n...

Eu o vi com o canto do meu olho, antes que ele viesse direto entre nós
sem pensar nas consequências.

Eu soube então ali.

Que este era a porra do seu pai.

—Feche a boca se você sabe o que é bom para você. E dê o fora dessa
casa. —Ele ordenou, olhando-me de cima a baixo com um olhar ameaçador.

Eu zombei, combinando com seu olhar. —Foda-se! Agora você quer ser
todo protetor? Você está muito atrasado. Sua filha de quinze anos de idade ficou
grávida. Parabéns, vovô. —Eu o empurrei, querendo tirá-lo da porra do meu
rosto. Ele mal vacilou, pronto para atacar.

—Creed! Chega!

322
Eu reconheci a voz. Meus olhos voaram para Martinez, que estava
casualmente caminhando até nós. Eu recuei, atordoado que ele estivesse lá.

—Este não é o momento nem o lugar. Há mulheres e crianças presentes.

Fiz uma careta. —Desde quando você se preocupa com algo assim?

—Uma vez que esta é a casa da minha sobrinha. E seus filhos são o meu
sangue. Eu e seu clube nunca tivemos quaisquer problemas. Se você quiser
mantê-lo assim, eu sugiro que dê fora daqui.

Dei uma olhada em volta, finalmente percebendo que Martinez estava


certo. Chateado que meu temperamento superou qualquer outra coisa, eu dei
um passo para trás, olhando para Mia novamente.

—Isso ainda não acabou. —Eu balancei a cabeça para ela.

E não acabou.

Estava longe de acabar.

Tinha apenas começado.

323
O estrondo de sua motocicleta quando ele acelerou sacudiu toda a sala de
estar. Afastando, levando meu coração com ele. Doeu demais quando ele
arrancou a vara da gravidez na frente de todos, incluindo os meus pais. Jogando-
me sob o ônibus, e deixando-me lá para enfrentar a ira que ele desencadeou. Isso
não me incomodou tanto quanto ele pensar que eu tinha feito isso
intencionalmente para feri-lo. Eu poderia jurar sobre a vida de todos olhando
para mim na sala, que eu não sabia que Rebel era seu irmão. Eu nem sabia que
ele tinha um irmão! Ele não tinha falado sobre sua vida todas as vezes em que
vimos um ao outro.

Pela primeira vez desde que eu o conheci todos esses anos atrás, eu tive
pavor dele. Eu nunca o tinha visto tão zangado, cruel ou com tanto ódio. Fazendo-
me questionar se eu realmente conhecia o homem por trás do colete.

O verdadeiro Creed.

Eu não podia culpá-lo. Eu ferrei tudo, arruinando minha vida.

No entanto, eu queria correr atrás dele. Eu queria dar um soco na cara


dele. Mas acima de tudo, eu queria dizer-lhe o quanto eu sentia muito. Mas eu
não podia. Meus pés estavam colados ao maldito chão com algumas dezenas de
olhos em mim.

—Mia. —Mamãe falou, de pé na minha frente. —Meu Deus! É verdade?


Você está grávida?

Fiquei ali congelada no lugar, sem saber como responder.

324
—Eu nem sabia que você tinha um namorado? E agora isso? O que você
estava pensando? Você esteve envolvida com um MC? Quantos anos tem esse
cara? Ele tem que estar em seus vinte e tantos anos.

Seus olhos se encheram de lágrimas quando ela trouxe a mão à boca. Meu
pai ficou lá com raiva em seus olhos, mãos em punhos ao seu lado. Seus amigos
prontos para segurá-lo, de mim. Meus olhos brilhantes olharam em torno da sala,
mortificada, sobrecarregada sem saber o que dizer.

—Não é dele. É do irmão mais novo dele. Eu sinto muito, mamãe. —Eu me
vi dizendo, correndo pela porta dos fundos. Eu precisava sair de lá, eu precisava
de um pouco de ar fresco. As paredes estavam desmoronando em mim.

Corri todo o caminho para o meu lugar especial no outro lado do lago.
Curvando na árvore de salgueiro, esvaziei o conteúdo do meu estômago. O que
não era nada de novo nos últimos tempos. Olhando por cima da água, eu tentei
me acalmar, lembrando-me de um dos dias mais felizes da minha vida com ele.
Aqui neste lago. Pensando sobre onde eu errei desde então. Indo de Mia inocente
a uma de quinze anos de idade, grávida e sozinha.

Limpando os cantos da minha boca com as costas da minha mão, eu tirei


meu telefone. Liguei para a única pessoa que eu sabia que estaria do meu lado.

—Oi, querida, o que foi?

—Giselle, eu preciso que você venha me pegar. —Eu gritei para o


receptor.

—Você está bem? O que aconteceu? Onde está você?

—Por favor, apenas se apresse. Estou do outro lado da casa do tio Austin.
O lado oposto do lago pelo salgueiro. Eu só preciso sair daqui.

—Mia, você está me assustando. O que está errado? Por que não está lá
dentro com todos para a festa de batismo? Eu estava a caminho daí. —Ela
divagava.

325
—Giselle! Por favor! —Eu desmoronei, soluçando. Minhas emoções
assumindo.

—Fique aí, eu chegarei em quinze minutos.

Eu desliguei o telefone sem dizer outra palavra. Sentei no balanço de


corda, esfregando minha barriga inexistente, inexpressivamente encarando as
ondulações na água através das minhas lágrimas. Perguntando-me o que diabos
eu faria.

Giselle parou na estrada de terra minutos depois. Eu sequei minhas


lágrimas o melhor que pude, caminhando até seu carro, abrindo a porta do
passageiro e entrando. Ela imediatamente me puxou pelo console central,
abraçando-me forte.

—Por que você está chorando? O que está acontecendo? —Ela perguntou,
recuando, olhando-me no rosto.

Eu apenas balancei a cabeça, enquanto mais lágrimas corriam pelo meu


rosto.

—Oh meu Deus. —Sua mão foi para o peito. —É Mason? Aconteceu
alguma coisa com ele?

Meu irmão realistou-se por mais dois anos no Exército, muito para o seu
desânimo. Eu acho que eles estavam agora separados, ou era o que parecia.

Eu neguei com a minha cabeça, incapaz de falar.

—Mia Ryder! Você quase me deu um ataque cardíaco.

—Eu sinto muito. Você pode me levar para casa, por favor? —Eu me
inclinei contra a janela acolhendo a sensação de frescor do ar-condicionado.

—Não até que você me diga o que está acontecendo.

326
—Eu não quero falar sobre isso! —Eu gritei, os hormônios no meu corpo
falando mais alto.

—Ok, ok... —Ela colocou as mãos na frente dela. —Você sabe que pode
falar comigo, certo?

—Eu sei. —Eu sussurrei, ainda olhando para fora da janela. —Você vai
descobrir em breve. —Eu disse para mim mesma. Enquanto ela partia.

No momento em que paramos na minha casa, os carros do meu tio e dos


meus pais estavam estacionados na garagem. Eu entrei, como se estivesse
andando para minha execução. No segundo em que eu abri a porta, eu podia
ouvir todos eles discutindo. Indo e voltando sobre o que estava acontecendo,
como lidar comigo, e o que aconteceria em seguida. Como se fossem os únicos a
decidir o meu destino.

—O que está acontecendo? —Giselle questionou, entrando na frente.

Eu fechei a porta atrás de mim, logo atrás dela. Todo mundo parou de
falar e todos os olhos caíram sobre mim, uma vez que entrei na sala. Mamãe
estava sentada no sofá, parecendo como se ela não tivesse parado de chorar
desde que a verdade foi jogada em seu rosto. Tia Lily estava sentada ao lado dela,
esfregando suas costas. Papai estava de pé junto à parede oposta, fervendo,
ainda mais chateado do que ele estava antes de eu sair da casa do Tio Austin.

Todos os meus tios estavam ao redor da sala. Giselle foi até seu pai, tio
Dylan, com uma expressão confusa no rosto, murmurando: — O que está
acontecendo?

Eu respirei fundo, sentando no degrau que separava a sala de jantar da


sala de estar.

—Eu sei que vocês estão decepcionados comigo, mas eu juro que eu
nunca quis que isso acontecesse. Foi minha primeira vez. Vocês me conhecem...
Eu não sou essa garota. Usamos proteção. Eu acho que apenas rasgou.

327
A boca de Giselle caiu aberta, os olhos arregalados de choque.

—A menina que eu conheço. A menina que eu criei nunca teria aberto as


pernas para algum pedaço de merda em uma motocicleta. —Papai retrucou,
falando para mim de uma forma que ele nunca falou antes.

A mandíbula de Giselle bateu no chão, sabendo exatamente a quem meu


pai estava se referindo.

—Lucas... —Mãe falou, atirando-lhe um olhar de advertência. Tia Lily


balançou a cabeça, sabendo que fim isso teria.

—O que, Alex? Você vai desculpar a sua filha por engravidar aos quinze
anos? Quem você acha que vai criar esse bebê? Hã? Quem vai ajudá-la? Nós
vamos! Perdoe-me se eu não estou passando a mão na cabeça da minha filha por
sua irresponsabilidade que vai estragar todo o seu futuro e o nosso! Que porra
você estava pensando, Mia?

Talvez fossem os hormônios.

Talvez fosse a falta de sono que eu experimentei desde que eu descobri


que estava grávida há três dias.

Ou talvez simplesmente eu não estivesse dando mais a mínima.

Não poderia ficar pior.

—Agora, você não vai passar a mão na minha cabeça? Essa seria a
primeira vez. Você acha que eu quis isso? Você acha que eu estou pronta para ser
uma mãe adolescente? Você é de verdade, pai? Tudo o que fez nos meus quase
dezesseis anos de vida foi me tratar como se eu ainda tivesse cinco anos de idade.
Eu não posso ir ali! Eu não posso ir lá! Eu não posso fazer isso! Eu não posso fazer
aquilo! Estou surpresa que você me deixou ir à escola e não arranjou uma
professora particular para que eu não nunca tivesse que sair de casa!

328
Ele deu um passo em minha direção, mas o tio Dylan colocou o braço na
frente dele, parando-o. —Você está me culpando? Por protegê-la?!

—Por me sufocar! —Eu fiquei de pé, caminhando até ele, não dando à
mínima se eu estava prestes a cruzar a linha. —Mason erra o tempo todo! Lembra
quando você encontrou maconha em seu caminhão? Quantas vezes ele chegou
em casa bêbado antes mesmo de completar dezesseis anos? Quantas vezes a
escola o chamou porque ele matou aula ou foi suspenso? Quantas vezes, quantas
vezes, quantas vezes... a lista poderia continuar e continuar e continuar. Alguma
vez ele foi punido? Não! O que você fez... Nada! Ele recebeu um tapinha nas
costas. Por quê? Porque garotos são garotos, certo? Não é isso que você disse?
Bo faz o que quer. Ele nunca teve nem mesmo um toque de recolher! Você até
mesmo deixa as meninas em seu quarto! Imagine o que ele fica fazendo lá, pai! —
Fiz uma pausa para permitir que as minhas palavras afundassem. —Eu, por outro
lado, recebo só nota alta, quase nunca perdi um dia de escola, e nunca posso sair
de casa! O que você esperava que fosse acontecer?! —Eu gritei, batendo meu pé.

Eu precisava que a minha voz fosse ouvida pela primeira vez.

—Vocês nunca me deram a chance de cometer erros! Vocês nunca me


deixaram aprender as coisas sozinha! Não é justo! Sim! Eu estraguei tudo. Eu sei
disso. Eu sinto muito! Mas eu sou uma boa garota, eu sou uma boa filha. —Meus
olhos estavam cheios com lágrimas frescas, minha voz embargada. —Você me
fazer sentir como uma idiota maior do que eu já me sinto, não vai mudar o fato
de que estou grávida. Eu tenho um bebê crescendo dentro de mim. —Eu chorei,
limpando as lágrimas. —E não, eu não estou chorando por você se sentir mal por
mim. Estou chorando porque eu não consigo parar de chorar! Eu não consigo
parar de vomitar! Eu não posso parar de sentir como uma merda! Eu não consigo
dormir! Confie em mim, eu estou sentindo cada pedaço das consequências por
abrir minhas pernas, papai. Você não pode me punir mais do que meu corpo,
mente e coração já me punem, e continuarão punindo pelos próximos nove
meses!

Ninguém disse nada por um longo tempo. Eu me sentei no degrau, à


sensação de náusea voltando como uma vingança. Coloquei minha cabeça no
329
meu colo, tentando respirar através da sensação incômoda. Esperando que ela
fosse embora rápido, eu não queria vomitar novamente. Eu odiava isso.

Senti alguém se sentar ao meu lado, momentos depois, esfregando


minhas costas, tentando me fazer sentir melhor. Virei à cabeça para o lado para
ver quem era. Nunca esperava que fosse minha mãe. Sentada lá com um olhar de
decepção, dor e remorso, tudo de uma vez. Fazendo-me sentir como um monte
maior de merda.

—Respire fundo, Mia, isso vai ajudar. —Ela falou, puxando meu cabelo das
minhas costas.

Tia Lily sentou-se no meu outro lado, entregando-me um copo de água,


me dizendo para tomar pequenos goles lentos. Eu sabia que estava longe disso
terminar, mas significou muito para mim que minha mãe e tia estavam, pelo
menos, tentando me fazer sentir melhor. Orando silenciosamente que talvez elas
entendessem.

—Quem é ele? —Meu pai exigiu em um tom duro. Alertando tio Dylan.

Eu olhei para cima, vendo sua expressão que eu nunca tinha visto antes.
Ele me olhou de cima a baixo, como se ele odiasse me ver machucada, mas a
decepção era demais para ele ignorar.

—Não importa. —Eu simplesmente declarei. —Não é Creed, ok? Não é o


cara que apareceu no Tio Austin. É o irmão mais novo dele. Eu sei que não faz isso
melhor, mas foi um acidente. Foi um erro meu. Vai ser minha responsabilidade.

Meu pai estreitou os olhos para mim. —Então, ele engravida você, e o
merdinha não vai assumir a responsabilidade por seu próprio filho? Qual o nome
dele, Mia?

—Eu não vou te dizer. Você vai até lá. Você não sabe com quem você está
lidando, pai. Quem são seus amigos e familiares.

330
—Mia, a família dele é toda motociclista? É essa a sua preocupação? —
Mamãe perguntou, tentando juntar as peças.

—Eu não sei...

—O que quer dizer com você não sabe? Precisamos falar com seus pais.
Eles precisam saber o que está acontecendo. Não é tão simples quanto você dizer
que está grávida, fim da história. O menino precisa...

—Eu nem sequer o conheço. —Eu soltei, interrompendo-a. Lamentando as


minhas palavras imediatamente.

—Você não o conhece? —Repetiu meu pai, dando um olhar para mim. —
O que você quer dizer com você não o conhece, Mia? Ele não é seu namorado?

Meu coração estava batendo tão rápido, que pensei que fosse sair do meu
peito enquanto eu olhava ao redor da sala. O rosto de Giselle estava cheio de
preocupação e culpa. Eu queria gritar “Isso não é culpa sua!”, mas eu não queria
delatá-la. Ela era a única pessoa que tinha estado lá para mim. Isso não tinha nada
a ver com ela.

Então, eu disse a única coisa que era verdade. —Eu fui a uma festa...

Meu pai fechou os olhos como se ele soubesse o que eu estava prestes a
dizer em seguida.

—Uma coisa levou à outra. Ele era legal. Eu não sei o que mais você quer
que eu diga.

Eu não queria entrar em mais detalhes do que isso. Se eu mencionasse a


bebida, então, eles pensariam que ele se aproveitou de mim, o que não poderia
estar mais longe da verdade.

—Eu sinto muito. Eu sei que não faz qualquer coisa melhor. Eu só queria
uma noite para me sentir como uma adolescente normal. Eu sei o que a minha
decisão me custou. Eu provoquei isso, certo? Eu não posso mudar o passado. Eu

331
gostaria de poder, mas aconteceu. Estou grávida. Nada vai mudar isso. Ele não fez
nada de errado. Foi tudo minha iniciativa. Assumo total responsabilidade por isso.
Então, por favor... só deixe-o.

—Será que ele sabe, Mia? —Perguntou a tia Lily.

Eu balancei a cabeça. —Eu disse a ele, mas eu não quero que ele seja
parte de nada. Eu só disse a ele porque era a coisa certa a fazer. —Eu menti, já
sabendo o que meu pai queria fazer.

Eu podia ver isso em seus olhos, tudo o que eu estava dizendo era inútil.
Não acabaria aqui. Isso era certo.

—Giselle. —Meu pai disse, virando-se para encará-la. —Sabe quem é?

Ela balançou a cabeça negativamente.

—Você sabe quem é Creed? —Ele perguntou, inclinando a cabeça para o


lado.

Ela olhou para mim procurando um sinal do que dizer. Implorei a ela com
os meus olhos. Pedindo-lhe para não contar a ele.

—Qual é o seu sobrenome? —Tio Dylan interrompeu, olhando para sua


filha.

Se ela lhe desse um último nome, ele poderia encontrá-lo, ele era um
detetive. Tudo o que ele precisava era de um sobrenome.

—Giselle. —Advertiu em um tom severo.

Ela franziu a testa, murmurando. —Sinto muito. —Para mim. Lentamente,


virou-se para o pai e disse: —Jameson.

Eu perdi a batalha.

Agora eu trouxe a guerra para Creed.

332
Eu invadi a casa de Ma procurando Noah. Ele estava longe de ser
encontrado na sede do clube, eu esperei por ele durante toda à tarde. Ele nunca
apareceu.

—Noah! —Gritei, indo para o seu quarto. Abrindo a porta, encontrei-o


sentado na beira da cama com a cabeça apoiada nas mãos.

—Jesus, querido, o que está acontecendo? —Ma anunciou, entrando no


quarto atrás de mim.

—Ma sabe? Disse a ela?

Ele olhou para mim. —Obviamente não. Como você sabe?

—Você deixou seu presente da festa no meu lixo.

Seus olhos estavam vidrados, abrindo a boca para dizer algo, mas
rapidamente a fechando. Olhando para trás, para a nossa mãe.

—Oh, não... Noah... por favor, me diga, você não fez isso? —Ela ponderou,
sua intuição falando mais alto.

—Eu usei um preservativo. Eu não sei como isso aconteceu. —Exclamou e


levou tudo dentro de mim para não derrubá-lo.

—Por favor... Diga-me que não foi uma das prostitutas do clube. Eu vou
matar o seu pai.

—Não, Ma. Ela é a coisa mais distante disso. —Ele respondeu.

—Como você...

333
—Seu pequeno merdinha! —Alguém interrompeu-a, batendo na porta da
frente. Ecoando através das janelas abertas. —Sai daí, seu pedaço de merda!
Você acha que pode engravidar a minha filha! Usá-la! Saia e fale comigo de
homem para homem!

—Foda-se... —Eu disse asperamente, empurrando Noah. —Fique. —Eu


pedi a ele, minha mão ainda colocada em seu peito.

Saí antes que ele pudesse responder. Puxei minha arma e a deixei no meu
quarto. A última coisa que eu queria era ir de cabeça quente me encontrar com o
pai de Pippin, então eu deixei minha arma para trás. Se nós lutaríamos, seria com
os nossos punhos. Mesmo que eu não quisesse desrespeitá-lo mais do que já
tinha. Permitindo que a minha raiva obtivesse o melhor de mim.

Com ele e especialmente com Mia.

Eu não podia culpá-lo por aparecer aqui. Eu teria feito o mesmo se fosse a
minha menina.

—Eu não estou aqui por você! —Ele gritou, quando eu abri a porta. —
Onde ele está? Onde está seu irmão?

Fiquei chocado quando minha mãe abriu mais a porta, ficando de pé ao


meu lado.

—Eu sei que você está chateado, senhor. —Ela calmamente disse. —Eu
sou sua mãe, Diane. Eu só soube da notícia segundos antes de você aparecer, na
verdade. Eu não estou feliz com isso também, mas que tal você entrar e falarmos
como adultos. —Ela deu um passo para o lado, fazendo um gesto para que eles
entrassem.

Eu olhei para ela cautelosamente quando ela passou por mim com todo
mundo a reboque, lançando-me um sorriso tranquilizador. Embora não tenha
sido sob as melhores circunstâncias, senti uma sensação de orgulho por ela.
Finalmente percebendo o quão longe ela realmente iria.

334
—Você gostaria de algo para beber? Posso arranjar-lhe alguma coisa? —
Perguntou ela, acenando para eles.

Eles balançaram a cabeça negando.

—Onde está o seu filho? —Seu pai não queria perder tempo.

—Lucas. —Um de seus amigos com longo cabelo loiro, amarrado num
rabo de cavalo, falou.

Eu sabia que era o pai de Giselle, o detetive. Eu o reconheci a partir das


fotos em seu apartamento. Também a partir de algumas batidas executadas no
clube quando eu era criança. Ele me olhou quando viu que eu estava verificando a
arma no coldre, rapidamente espiando por cima do Vice Prez no meu colete.

—Eu não estou aqui para uma conversa agradável, eu quero falar com o
seu filho. Agora, onde diabos ele está? —Seu pai rosnou, trazendo a minha
atenção de volta para ele.

—Escuta, cara, eu sinto muito, eu sei que ele fodeu tudo. Mas é preciso
dois para dançar o tango. Ela é tão culpada quanto ele. —Proclamei, mesmo que
me matasse pensar em Mia como outra coisa senão pura e inocente.

Minha Pippin.

Ele tinha chegado a mim em três passos, indo direto na minha cara. Seus
amigos imediatamente vieram, preparando-se para segurá-lo.

Eu era mais alto, não recuaria.

—Ela é a minha menina! —Ele fervia, me empurrando. —Esse merda


engravidou a minha única filha! Se ele foi homem o suficiente para engravidá-la,
então ele precisa vir até aqui e ser esse homem! Em vez de enviar seu irmão mais
velho. Diga a ele para trazer sua bunda até aqui ou melhor... —Ele tentou me
iludir. —Eu vou lá e o arrastarei para fora!

335
—O inferno que você vai! —Eu o empurrei para trás, lamentando que já
estivesse chegando a isso. —Vai ter que passar por mim.

Aprendi então que, com o pai de Mia não se brinca. Tínhamos mais em
comum do que eu jamais teria pensado.

Ele tropeçou um pouco, se soltando de um de seus amigos. —Não é um


problema! —Vindo pra cima de mim, ele bateu o ombro contra o meu tronco e
me bateu com as costas contra a parede.

Eu imediatamente contra-ataquei, agarrando sua camisa, tentando levá-lo


ao chão. Nós dois tentando ganhar a vantagem até que seus amigos entraram em
cena, nos separando. Segurando-nos, enquanto nós tentávamos nos libertar. Ma
ficou lá e gritou o tempo todo para nós pararmos. Pneus de carro guincharam lá
fora, trazendo a nossa atenção para a janela da frente, vendo um carro pisando
nos freios. Eu assisti Mia sair do carro antes mesmo dele parar totalmente.
Correndo até a porta com Giselle não muito longe atrás dela.

Eu os afastei de mim, abrindo a porta para elas antes que elas batessem.
Mia instantaneamente olhou ao redor da sala com uma expressão preocupada
escrita claramente em seu rosto, sabendo exatamente o que tinha acabado de
acontecer entre mim e seu velho.

—Por favor... Não faça isso. —Ela implorou, correndo para ficar na frente
de seu pai. Colocando a mão em seu peito, na esperança de acalmá-lo.

—Mia, o que você está fazendo aqui? —Ele perguntou, quebrando o


silêncio.

—Você não pode fazer isso! Isso não vai mudar nada! Por favor... Não é
culpa do Creed!

—Não é culpa sua, também, Mia. —Noah anunciou, entrando na sala. Ele
nunca ouvia uma palavra do que eu dizia, porra.

—É ele?

336
Mia balançou a cabeça, segurando seu pai.

—Eu sou Noah. —Acrescentou, olhando para Mia que tinha uma
expressão de surpresa em seu rosto. —Senhor, eu assumo total responsabilidade
por minhas ações. Você quer um homem, aqui estou eu. —Deixando-o sem
palavras e todos os outros também.

Seu pai olhou-o de cima a baixo, vendo suas tatuagens, seu colete, e o
jeito que ele estava de pé. Em seguida, de volta para mim, olhando para mim da
mesma forma exata com nada além de ódio e raiva em seu olhar.

—Quantos anos você tem? —Ele perguntou com a mandíbula apertada.

Foda-se, eu sabia aonde isso chegaria...

—Dezoito, senhor. —Noah respondeu, olhando-me. Sabendo o que ele


estava insinuando.

—Seu merdinha! Vou prendê-lo! Ela tem quinze anos! —Ele se lançou para
Noah assim que pisei na frente dele, mas ele foi rapidamente interrompido pelo
detetive o agarrando no último segundo.

Ele afirmou. —Não é possível fazer isso, Lucas. No estado da Carolina do


Norte, não é estupro se eles estão com diferença de menos de quatro anos de
idade um do outro. Ela também tem quase dezesseis anos. É a idade legal de
consentimento também.

Eu recuei, pego de surpresa pela informação. Eu nunca soube disso. Seu


pai apenas balançou a cabeça, recuando. Agarrando Mia e puxando-a com ele.
Dando um último olhar para nós, ele virou-se para sair.

Mia e eu olhávamos um para o outro o tempo todo.

Nós dois pensando exatamente a mesma coisa.

Ela faria dezesseis daqui a duas semanas.

337
Deitei na grama junto aos antigos trilhos de trem com uma das mãos
apoiando a cabeça, e a outra descansando na minha barriga. Olhando para cima
no céu, observando as nuvens brancas macias passarem, bloqueando o sol
quente. Pensando em como minha vida tinha mudado e no que ainda estava por
vir.

Fiz dezesseis anos a duas semanas atrás, e eu tinha dez semanas de


gravidez. Meus pais ainda estavam chateados, mas minha mãe começou a se
aproximar de mim. Pelo menos estávamos em condições de falar, e ela estava
disposta a ajudar-me. Meu pai, por outro lado, eu tinha sorte se ele olhasse em
minha direção. Eu o evitava na maioria dos dias, não querendo suportar mais de
sua decepção. Eles tomaram a decisão de me tirar da escola durante a minha
gravidez. Mamãe começou a me ensinar em casa, embora ela tivesse um
restaurante para gerenciar.

Bo não estava feliz quando eu disse a ele também, mas principalmente


porque ele era meu irmão mais velho, sendo protetor. Querendo saber quem me
engravidou e quando ele poderia matar o menino. Fazendo-me rir. Mason não
tinha ligado. Ele foi destacado ao exterior novamente, e não havia como saber
quando ele entraria em contato. Então, eu lhe enviei uma carta deixando-o saber
que ele seria tio, e dei a notícia de que era o bebê do irmão do Creed.

Eu odiaria ser os soldados em torno dele quando ele a lesse.

Meus pais me deixaram tirar minha carteira de motorista, o que foi um


completo choque para mim. Eu acho que eles estavam tentando me deixar um
pouco solta. Vendo isso como se não tivessem outro jeito. Não tenho certeza se
era por estar grávida ou o que mais, mas talvez meu bebê os fizesse perceber que
338
eu não era mais uma garotinha. Além disso, eu precisava de uma maneira de me
locomover com o bebê.

Mamãe me levou para o obstetra alguns dias depois que descobri que
estava grávida, e o médico só confirmou o que eu já sabia. Ela chorou, eu chorei,
eu senti como se nunca fosse parar de chorar. Papai não disse uma palavra
enquanto ele estava lá, mas minha mãe disse que ele se aproximaria. Ele estava
apenas sendo teimoso e cabeça dura, e eu sempre seria seu bebê, não importa o
que acontecesse. Ele levaria um tempo para aceitar a ideia de que seu bebê teria
um bebê.

Eu odiava ser a razão de tanta tensão na minha casa novamente. E foi por
isso que eu comecei a passar mais tempo na praia ou nos trilhos do trem. Eu
vinha aqui de vez em quando, andando de bicicleta quando as coisas estavam no
seu pior na vida. Eu me imaginei pulando em um trem e nunca olhando para trás.
Para ficar longe de tudo. Mais ou menos como eu imaginava fazer agora.
Desaparecendo por um minuto. Por um momento. Minha vida não poderia ficar
mais complicada se eu tentasse.

O ronco de uma motocicleta afastou-me dos meus pensamentos. Sentei-


me, olhando atrás de mim, observando Creed parar na grama. Eu não o tinha
visto desde o dia em que meu pai tentou abrir as portas do inferno em sua casa,
há três semanas. Graças a Deus, Giselle sabia onde ele morava, ou quem sabe o
que mais teria acontecido. Ele apoiou a moto no estribo lateral, tirou o capacete,
e olhou para frente, travando os olhos comigo. Atirando um olhar intenso que me
deixou sem palavras. Seu olhar falava muito sem dizer uma palavra quando ele se
sentou lá em sua moto, nós dois olhando fixamente um para o outro.

Pela primeira vez, doía-me tê-lo olhando para mim do jeito que ele estava,
como se ele estivesse me vendo com olhos diferentes. Não mais a menina que ele
pensou que eu era, mas a mulher que estava carregando o filho de seu irmão. Eu
sabia que isso mudaria as coisas entre nós, e eu odiava isso mais que tudo.
Durante o mês passado, eu pensei sobre como o nosso primeiro encontro
aconteceria. O que eu diria, o que ele responderia, o que viria da nossa conversa.
Eu não queria brigar. Eu só queria que ele entendesse.
339
Sem imaginar que seria tão difícil.

Quando seu olhar deslocou para a minha mão, que ainda estava na minha
barriga, eu juro que vi um vislumbre de esperança em seus olhos, como se
estivesse contemplando as coisas que ele sentia que não deveria.

—Eu não fiz isso de propósito. —Eu sussurrei alto o suficiente para ele
ouvir, concentrando-me em minha barriga. Precisando desabafar. —Eu nem sabia
para onde estávamos indo até a minha amiga, Jill, estacionar em frente ao clube.
Assim que eu vi os homens usando o mesmo colete que o seu... —Balancei a
cabeça a isso. —Eu achei que você pudesse estar lá. Era parte da razão pela qual
eu saí do carro.

Ele não fez nenhum som, ouvindo cada palavra que eu estava dizendo.

—Nós entramos, instantaneamente sendo sugadas para o caos. Num


minuto, Jill estava ao meu lado, no outro, ela tinha ido embora. Tenho certeza de
que você sabe como é. Essas festas. Eu não conseguia parar de pensar em você,
desejando que você estivesse lá comigo. Mostrando-me seu mundo. Eu estava
desconfortável e queria sair, mas deixei meu telefone no carro de Jill. Tentei
encontrá-la em todos os lugares e eu acabei perto do sótão. Esse cara, Jigsaw,
veio para cima de mim...

Ele estreitou os olhos para mim, se esforçando para manter a paciência


para que eu pudesse dizer tudo. Os nós dos dedos estavam brancos em seu
guidão.

—Eu acho que você pode dizer que seu irmão me salvou. Ele foi bom. Eu
me senti confortável e segura com ele. Por que você acha que isso aconteceu,
Creed? —Fiz uma pausa, olhando para ele. —Ele é uma parte de você. Eu não
sabia na época, mas ele é seu irmão, e havia algo sobre ele que era tão familiar,
embora eu nunca tivesse o conhecido antes. Eu acho que é por isso que eu disse
que ele poderia me chamar de Pippin, porque eu queria talvez fingir que era você.
Eu sei que soa tão estúpido e imaturo, mas eu senti sua falta... —Expliquei com
minha voz embargada.

340
Temi a próxima parte do que eu estava prestes a dizer, sabendo que só iria
continuar a sua dor. Feri-lo mais do que já tinha.

—Ele me manteve longe da loucura, saímos para o seu caminhão e bebi


muito mais do que eu deveria. Eu só queria parar de pensar em você. Eu só queria
te esquecer. Eu só queria uma noite onde eu pudesse ser uma adolescente
normal fazendo o que todo mundo faz. Eu sei que levei isso longe demais, mas
tanto quanto eu odeio admitir isso, eu pensei que talvez se eu não fosse mais
virgem, que você talvez pudesse me querer. —Eu respirei fundo, piscando as
lágrimas. —Uma coisa levou a outra, e acabamos no seu quarto. Ele não sabia que
eu era virgem até... —Balancei a cabeça, afastando a memória, e respirei fundo.
—Ele foi bom para mim, mas nada disso importa, porque eu não conseguia parar
de pensar em você. Desejando que fosse você. Mesmo depois que você me
empurrou para longe, me rejeitando, sendo cruel comigo, eu ainda queria que
fosse você.

Ele foi o primeiro a quebrar a nossa conexão, olhando para longe na frente
dele, cambaleando pela minha confissão. Abrindo a boca, mas fechando-a
rapidamente, lutando com o que ele precisava dizer. Mordendo a língua com o
que ele queria dizer. Ele respirou fundo, enfiando a mão no colete e puxando seus
cigarros. Acendendo um, ele elevou-o aos lábios, inalando a metade dele em seus
pulmões antes de deixá-lo lentamente sair pelo nariz e boca.

—Você não é melhor do que as prostitutas do clube. —Ele rosnou. —


Dormindo com um homem para obter algo em troca. Você fez algo divertido, e
não foi comigo. Como se sente ao estar grávida e sozinha?

Eu me encolhi, meu coração visivelmente partindo na frente dele.


Inconscientemente colocando a mão no meu peito, me levantei com as pernas
bambas. Suas palavras cortaram minha pele como pequenas facas, de forma que
eu não achei que fosse possível. Após derramar minha alma, depois de tudo que
eu disse a ele, essa foi a sua resposta. Se isso não foi um tapa na cara, então eu
não sabia o que era.

341
Dei um passo para trás, para longe dele, balançando a cabeça com os
olhos arregalados, boca aberta. Eu não podia suportar a visão dele por mais um
segundo.

Ele não era o homem que eu conhecia.

O homem o qual eu pensava.

Eu imediatamente virei-me para sair, não cheguei a dar três passos até
que ele me pegou pelo pulso, me girando para encará-lo novamente.

—Nós não terminamos. Nunca se afaste de mim. Você me entendeu?

—Vá se foder! Solte-me! —Lutei para ficar longe dele, mas ele não ia me
soltar. Ele agarrou meu outro pulso, me puxando para frente, fazendo-me perder
o meu equilíbrio. Batendo em seu peito duro.

Nossos olhares enlouquecidos nunca vacilaram um do outro.

—Isso é o que você quer, não é? Provocar-me. Isso te deixa molhada? Ser
rude com você?

—Não! —Eu menti, sabendo que ele me conhecia muito bem.

Ele maliciosamente sorriu. —Será que o meu irmão fez você gozar, Pippin?
Será que ele sabia como tocar o seu corpo pecaminoso, porra? Sua pequena
buceta tentadora? —Ele rosnou perto de minha boca.

—Você é um idiota!

—É como vejo as coisas, querida.

Inclinei a cabeça para o lado, olhando profundamente em seus olhos. Sem


vacilar, eu disse. —Sim, Creed. Ele me fez gozar. Tão... Forte... Pelo menos um de
vocês teve a coragem de terminar o que começou.

342
Seus olhos dilataram, segurando na parte de trás do meu pescoço, ele
bateu a boca na minha. Agarrando o lado do meu rosto com a outra mão e
mordendo meu lábio inferior, exatamente do jeito que eu tinha fantasiado fazer
desde nosso encontro no quarto de hóspedes. Suas mãos caíram para a minha
bunda, agarrando-me forte, me pegando em um movimento rápido, e fazendo
com que o meu vestido subisse até as minhas coxas. Fazendo-me escarranchar
em sua cintura, me puxando contra ele.

Os meus sentidos estavam aguçados, absorvendo o cheiro de cigarros e


uísque enquanto ele mergulhava sua língua áspera em minha boca. De repente,
percebi que ele tinha bebido, mas eu não me importei.

O gosto dele estava todo ao meu redor.

A memória dele nem sequer comparava a vida real.

Ele montou sua moto comigo agora em seu colo, me puxando para mais
perto, moldando-nos em uma só pessoa, e me beijando como se sua vida
dependesse disso. Gemi em sua boca, ele gemeu na minha enquanto puxava meu
cabelo. Sua outra mão deslizou para o lado do meu peito e para a costura da
minha calcinha.

—Por favor. —Eu implorei contra seus lábios.

Ele puxou meu cabelo para trás para olhar nos meus olhos. Ele estava
lutando uma batalha interna que eu queria ganhar pra caralho.

Eu balancei meus quadris, suplicando-lhe através do meu olhar cheio de


luxúria. Atraindo-o. Tentando-o. Fazendo tudo o que eu podia para ele me tocar.
Foi quando senti seus dedos deslizarem sobre minha calcinha, e em minhas
dobras molhadas.

Engoli em seco.

—Porra, você está tão molhada. Eu fiz isso para você. Eu. —Ele rosnou,
continuando a trabalhar no meu clitóris.

343
Eu me inclinei para beijá-lo novamente, mas ele puxou o meu cabelo para
trás com mais força, querendo que eu ficasse onde eu estava, bem aberta para
ele.

Só ele.

Foi então que eu percebi que ele queria ver-me gozar, e eu juro que eu
poderia ter gozado só com a forma intensa, predatória, amorosa com a qual ele
estava olhando para mim.

Sentindo-o profundamente dentro do meu núcleo.

Ele me esfregou para frente e para trás, e meu corpo estremeceu. Eu


queria tanto gozar. Sabendo que era não apenas o que os dedos hábeis estavam
fazendo contra o meu calor, mas porque era ele.

Eu estava com Creed.

O homem que eu amei desde que eu tinha nove anos de idade.

Ele tornou-se mais firme e mais exigente, empurrando dois dedos na


minha abertura, fazendo um gemido sem vergonha escapar da minha boca. Seus
lábios se separaram como se ele estivesse sentindo tudo o que eu estava quando
tudo o que ele estava fazendo era me observar gozar para ele. Seus dedos
trabalharam mais em mim, encontrando um lugar dentro de mim, criando esse
desejo, essa intensidade, essa explosão alucinante em todo meu corpo. Cada
centímetro da minha pele parecia estar sendo recriado, especialmente meu
coração.

—É uma sensação boa, não é? —Ele perguntou enquanto eu continuava a


tentar manter meus olhos abertos.

—Sim. —Eu finalmente choraminguei.

Completamente à sua mercê.

344
—Aqui? —Ele zombou, empurrando com mais força contra o meu ponto
G.

Minhas costas arquearam sobre o tanque de gasolina, meu vestido subiu,


expondo sua doce tortura. Permitindo-lhe ir mais rápido e mais forte. Eu estava
quente com a necessidade incontrolável para que algo acontecesse e tirasse essa
dor que ele estava construindo.

Mais alto e mais alto.

Quando senti o polegar manipular minha protuberância enquanto seus


dedos continuavam a esfregar meu ponto doce, eu pensei que fosse morrer.

Ali mesmo.

—Goze nos meus dedos, Mia. Quero sentir sua buceta doce me
apertando.

Essa foi a minha ruína.

Meu corpo explodiu em um ataque de espasmos, meus olhos fecharam, e


minha respiração acelerou. Ofegando seu nome. Ele me puxou para perto,
envolvendo os braços em volta do meu pescoço e me beijando. Abafando os sons
altos e estranhos que saíam da minha boca.

Mordendo meu lábio inferior novamente, ele ordenou. —Olhe para mim.

Abri meus olhos, tentando recuperar o rumo.

Ele me deu um olhar longo, duro e falou com convicção. —Só eu posso te
fazer gozar assim. E agora eu vou fazer você gozar no meu pau.

Meus olhos arregalaram-se quando ele inclinou-se para trás, soltou o


cinto, abriu o zíper de sua calça, vendo só a mim enquanto seu pau saltava livre.

Eu ligeiramente ofeguei.

345
Ele sorriu, vendo o olhar na minha cara. —Não se preocupe querida, eu
vou começar devagar.

Ele agarrou meus quadris, me levantou, posicionando-se na minha


abertura. —Diga a palavra, Mia. Vai me deixar entrar? Porque quando eu
começar, eu não vou parar. —Ele empurrou a cabeça do seu pau um pouco mais,
quase me desfazendo a partir do contato pele-a-pele, saboreando a sensação que
só ele poderia me dar.

—Sim... —Eu respirei.

Isso era tudo o que precisava para convencê-lo. Ele me abaixou sobre o
seu eixo, deixando escapar um gemido quando ele estava profundamente dentro
de mim. Permitindo eu me acostumar com o tamanho de seu pênis.

Segurando o que era agora dele entre suas mãos, ele colocou a testa na
minha.

—Porra, Mia. Você é tão apertada, garota.

Suas mãos desceram até meus quadris mais uma vez, guiando meus
movimentos. Encontrando um ritmo enquanto dirigia seu pênis dentro e fora de
mim. Eu não aguentava mais. Eu me inclinei para trás, saboreando o que estava
acontecendo entre nós. Dominada pelos sentimentos que ele estava
desencadeando em mim. Era tudo o que eu sempre quis, precisava, para
finalmente, me sentir completa. Permitindo que a dor familiar assumisse. Ele
agarrou os lados do meu rosto, trazendo seus lábios para os meus, me beijando
com tanta paixão.

Tanto amor.

Tanto tudo.

Ele. Me. Queria.

346
—Chega de besteira entre nós. Você quer ser beijada, tocada, fodida. —
Ele gemeu contra os meus lábios. —Então eu te fodo. Eu estou reclamando você,
Pippin. Você é minha, porra.

E eu era.

Eu sempre tinha sido.

Ela sorriu, olhando para mim com olhos maliciosos, enquanto eu a ajudava
a descer da minha moto. Enfiando meu pau de volta em meu jeans, eu apertei o
cinto e me ajustei no assento.

—Por que você está sorrindo? —Perguntei, arqueando uma das


sobrancelhas, sabendo muito bem por que ela estava.

Ela jogou os braços em volta do meu pescoço, suavemente beijando


minha boca novamente. Murmurando. —Eu te amo.

—Pippin...

—Eu sei que você me ama. —Ela me interrompeu. —Eu não estou
esperando você dizer isso de volta. Tanto quanto eu queria que isso acontecesse
entre nós, Creed, e você sabe que eu quis mais do que qualquer coisa. —Ela olhou
para mim com tanta preocupação em seus olhos. —Eu estou grávida de seu
irmão, e eu nunca quero que você pense que o que aconteceu entre nós foi um
erro. Não foi. Mesmo que Noah e eu nunca fomos um casal, nós nem sequer nos
conhecemos, foi um acidente... Eu simplesmente não posso deixar de me sentir
mal. Você sabe que eu não sou essa menina... certo? Por favor, me diga que você
sabe que eu não sou uma daquelas prostitutas do clube.

347
Eu coloquei o rosto entre as mãos, olhando para ela com adoração, do
jeito que eu queria desde o momento em que lhe dei o primeiro beijo. Mia tinha
sido sempre minha. A partir do momento em que a assisti saltar do carro de sua
mãe, com tranças e tudo.

Ela era minha.

—Você está muito longe dessas prostitutas. Confie em mim, querida, elas
não podem sequer chegar perto de você. Merdas acontecem. Eu sei disso mais do
que ninguém. Não posso continuar te empurrando para longe. Olha o que me
custou. —Eu balancei a cabeça em direção a seu estômago. —Eu fodi tudo. Não
vou fazer isso novamente. Eu sei quem você é, Mia Ryder. Desde o primeiro
momento em que eu te vi, e eu amei você todos os dias depois isso.

Ela sorriu, lágrimas caindo pelo seu rosto doce.

—Eu perdi uma mulher porque eu pensei que estava fazendo bem a ela.
Merda... Eu quase perdi você. Não vou cometer o mesmo erro duas vezes. Quero
você na parte de trás da minha moto, Pippin, você quer isso?

Ela assentiu com a cabeça.

E eu quis dizer cada palavra

348
Três vezes o martelo soou, trazendo a missa em sessão.

—Como vocês sabem, o Prez do Sinner’s Rejoice’s e eu pedimos uma


trégua. Levou mais de sete fodidos anos para chegarmos a este ponto, mas nós
chegamos a um acordo. Eles ficam fora do nosso território, e nós vamos ficar fora
do deles. Eles não são mais uma ameaça. —Pops declarou, olhando ao redor da
sala.

—Só isso? —Eu respondi, estreitando os olhos para ele.

—Você está me chamando de mentiroso?

—Estive fora por muito tempo, velho. E até antes de eu ser dispensado, a
merda ainda estava acontecendo. Acho isso surpreendente, é só.

—Eu cuido do meu clube. Tem sido assim antes mesmo de você nascer,
Creed. Eu sei o que estou fazendo. Deixe-me preocupar com nossas alianças.

—Eu sou Vice-Prez, se você se lembra disso corretamente. Tenho o direito


de expressar a minha maldita opinião, e eu vou. —Murmurei, inclinando-me para
a mesa. Descansando os cotovelos sobre a madeira. —A menos que eu esteja
morto. Então, e só então, eu vou ser um merdinha sem sorte.

O ar era tão espesso entre nós. Ele tinha sido assim desde o dia em que eu
lhe disse que me alistaria ao Exército, mas ainda mais agora que eu estava de

349
volta. O Prez não me assustava mais do que o meu velho já fez. Eu tinha passado
por muita merda para dar a mínima para ele por mais tempo.

—É? —Eu zombei, recostando-me na cadeira.

—Qualquer outra pessoa tem algo a dizer? Fale agora ou cale a boca. —
Acrescentou, sabendo muito bem que ninguém iria contra ele. —Foi o que eu
pensei.

A reunião continuou pela próxima meia hora, enquanto as atividades


regulares foram tratadas. Após Pops soar o martelo, nos fomos dispensados, eu
voltei para o meu quarto para pegar meu telefone. Quando entrei, o ouvi
tremendo no balcão, e agarrei-o, nunca esperando o remetente da mensagem.

Número desconhecido. Eu abri o texto.

Você, obviamente, não viu qualquer um dos arquivos que lhe


dei. Abra os olhos, filho. Vou lhe fazer um favor desta vez, mas da
próxima vez que eu entregar-lhe um bilhete de ouro fodido, é melhor
você descontá-lo.

Meu telefone vibrou novamente, indicando que eu tinha outra mensagem


de texto.

—Que porra é essa? —Eu sussurrei para mim mesmo, olhando para uma
foto de minha mãe quando ela era mais jovem, sentada nos braços de um homem
que não era meu pai.

—Você foi até a casa de sua Ma? —Diesel perguntou da porta, trazendo a
minha atenção de volta para ele.

350
Eu cliquei na tela, colocando meu celular no bolso de trás. Saí do quarto
com ele seguindo atrás de mim. —Não, vou vê-la amanhã. Acabo de voltar, eu
estou esgotado.

Pops me fez viajar muito pelo clube, tanto quanto antes. Eu tinha estado
lá no Arizona pelas últimas três semanas.

—Oh, você não vai para o jantar?

—Jantar? —Eu repeti, confuso.

—Sim. Rebel estava dizendo alguma merda anteriormente que a sua Ma


convidou sua namorada para jantar.

—Sua namorada? —Eu recuei.

—Sim. A mãe do seu bebê. Ela está com cinco meses agora, certo?

Eu balancei a cabeça, xingando, chateado que ninguém me disse o que


estava acontecendo, especialmente Mia. Ela sabia que eu estaria voltando hoje.

—Por que você está me olhando assim? Você não a mencionou. Eu


percebi que você não se importava. Não mate o mensageiro, porra! —Ele gritou
atrás de mim.

Saí de lá, pulei na minha moto e acelerei. Acelerei até em casa para
descobrir o que diabos estava acontecendo. Por que nenhum deles sentiu a
necessidade de mencionar o jantar. Não levou muito tempo até que eu parei na
calçada, vendo o jipe preto de Mia estacionado na estrada em frente.

Tirei o meu capacete, olhando para dentro da casa através da porta de


tela de onde eu estava estacionado. Fiquei ali sentado na minha moto apenas
assistindo Mia por alguns minutos. Eu não conseguia tirar os olhos dela. Eu sentia
falta dela pra caralho. Ela estava usando um vestido longo, como os que ela usava
o tempo todo agora. Você não poderia nem mesmo dizer que ela estava de cinco

351
meses, a menos que ela lhe mostrasse sua barriga. Seu cabelo escuro, ondulado,
comprido caía em cascata ao longo dos lados de seu rosto e pelas costas.

Ela estava radiante.

Sua gravidez tinha ido bem até agora. Ela ficava mais linda a cada dia que
passava. Eu já amava esse bebê dentro dela, mesmo que ele não fosse
tecnicamente meu.

Ainda era uma parte de mim, e isso era bom o suficiente.

Ma entrou na sala, radiante, puxando-a para um abraço. A excitação por


algo estava escrito em seu rosto, fazendo com que Mia sorrisse, abraçando-a com
mais força. Ela afastou-se, entregando a Ma o que parecia ser uma imagem.
Quando Noah entrou em vista, jogando o braço em torno de Mia e puxando-a
para seu lado como se fossem a porra de um casal, isso acendeu um fogo em mim
que me fez descer da minha moto.

Todos os olhos se voltaram para mim quando eu abri a porta, dando um


passo para dentro.

—Creed, querido, o que está fazendo aqui? —Ma me recebeu.

—Desde quando eu preciso de um convite para voltar para casa? Eu estou


interrompendo algo, Noah? —Eu comentei, olhando para o braço do meu irmão,
que ainda estava envolvido em torno da minha menina.

Mia seguiu meu olhar, timidamente sorrindo para mim antes de


casualmente se afastar de Noah. Tentando avaliar a minha reação quanto à forma
de agir.

—Claro que não. Eu presumi que estaria no clube, querido, desde que
você acabou de voltar esta tarde. Oh, você tem que ver isso! —Ela comemorou,
correndo para mim. —Mia trouxe isso com ela. Olha, querido! É uma menina! Nós
teremos uma menina! —Ela sorriu.

352
Peguei a foto da mão dela, olhando para o bebê em meu alcance. Não
havia palavras que pudessem descrever o que senti segurando um pedaço de
Mia, um pedaço de merda do meu coração na minha mão naquele momento.
Meus olhos percorreram a imagem, vendo os braços, pernas, mãos e pés do
pequeno ser. Lábios carnudos como sua mamãe.

Ela já estava perfeita.

Olhando para Mia, eu perguntei. —Seu telefone quebrou, Pippin? Estava


trabalhando na noite passada quando você me disse que sentia minha falta.
Engraçado como as coisas funcionam, não é?

Seu sorriso desvaneceu-se rapidamente, ela não esperava essa resposta.


Ela tirou a primeira foto do bebê da minha mão.

—Irmão, não vejo razão pela qual ela tenha que ligar para você. Você não
é o pai. —Noah respondeu.

Tanto quanto eu odiava dar razão a Noah, ele tentou ir a cada consulta
médica, para desgosto meu e do pai de Mia. Ele estava sendo homem, fazendo a
coisa certa para o seu bebê. O que também significava que ele estava gastando
muito do seu tempo livre com Mia, ambos começando a conhecer um ao outro.
Descobrindo como eles fariam isso funcionar antes que o bebê viesse ao mundo
em poucos meses.

Eu estava viajando pra caralho para o clube, e eu odiava deixá-la para trás,
mas não havia muito que eu pudesse fazer sobre isso. Não é como se eu pudesse
levá-la comigo. Era muito perigoso, e ela estava muito grávida, para não
mencionar que seu pai não aceitaria isso. Ela estava sempre na minha mente, no
entanto. Não importa onde eu estava ou o que eu estava fazendo, meus
pensamentos sempre iam para ela. Falávamos ao telefone, muitas vezes, mas não
era o mesmo. Nem perto.

Nosso relacionamento era complicado, para dizer o mínimo.

353
—Meninos... —Ma advertiu, olhando para trás e para frente entre nós. —
Mia veio com uma grande notícia. Vocês podem discutir sua testosterona lá fora.
Vocês estão me ouvindo? Não essa noite. O jantar não vai demorar. Comportem-
se. Vou chamar Stacey e Laura e dizer-lhes que teremos uma menina.

Ela deu-nos um olhar severo antes de voltar para a cozinha. O telefone de


Noah tocou assim que ela saiu, quebrando o silêncio entre nós.

—Sim. —Ele respondeu, andando para fora da sala.

Eu estava esperando que fosse um dos irmãos, ordenando-lhe que fosse


ver a sua cadela para que eu pudesse passar o resto da noite a sós com Mia. Na
verdade, eu até pensei em chamar um deles para fazê-lo ir a uma corrida. Agarrei
a mão de Mia, pegando-a de surpresa, trazendo-a para o meu quarto. Fechando a
porta atrás de mim, eu me inclinei contra ela e cruzei os braços sobre o peito.

Ela sentou-se na minha cama, preparando-se para a minha ira. Ela sabia
que eu estava chateado.

—Creed...

Eu coloquei minha mão na frente para impedi-la, inclinando a cabeça para


o lado. —Você tem um minuto para explicar o que diabos foi isso. —Eu apontei
para a porta atrás de mim. —Antes que eu perca minha cabeça. Não estou com
qualquer paciência para merdas hoje à noite, Pippin. Estou exausto, estive na
minha moto durante todo o maldito dia, para voltar para casa para você. Só para
encontrá-la na casa da minha mãe, com o braço do meu irmão em torno de você
como se você fosse sua propriedade. Quando você é minha. —Eu disse entre
dentes, enfatizando a última palavra.

Ela tirou suas sandálias, sentando-se sobre os joelhos no centro da cama.


Olhando para mim, mordendo o lábio inferior. Ela pegou os lados de seu vestido,
balançando-o de um lado a outro. Dando-me aquele olhar que eu conhecia muito
bem.

354
—Você gostou do meu vestido? Ele é novo... —Ela sorriu, batendo os
cílios. —Eu comprei só para você, querido. Eu sei como você ama a cor branca em
mim.

—É mesmo? —Eu sorri, me afastando da porta. Caminhando até ela.

Ela assentiu fervorosamente com um brilho em seus olhos. —Você tem


alguma ideia de como é difícil encontrar um vestido que ainda seja pequeno, mas
que vai caber os meus... —Ela deslizou os dedos ao longo dos topos de seus seios
que estavam surgindo na costura. —Eles estão enormes, certo? —Ela inclinou-se
ligeiramente e os juntou, me atraindo.

Sentei-me na beira da cama, e gentilmente a puxei para o meu colo. Passei


os lábios pelo seu pescoço e os seios, que dobraram de tamanho desde que a vi
pela última vez. Tomando o meu tempo, passei minha língua ao longo da costura
de seu vestido branco. Sua cabeça caiu para trás, e um gemido suave escapou de
seus lábios.

—Pippin? —Eu disse entre beijos. —Por mais que eu quisesse fodê-la e
fazê-la gozar agora, eu fiz uma pergunta a você, e espero a porra de uma
resposta. —Eu me afastei, deitando-me na cama com as mãos debaixo da minha
cabeça.

Deixando-a querendo mais.

—Você não sentiu minha falta? —Ela fez beicinho, moendo seus quadris
no meu pau duro, fazendo-me rir. Ela não desistiria, era implacável pra caralho.

—Creed? Mia? Que porra vocês estão fazendo? —Noah bateu na porta.

—Vá se foder! Estamos ocupados!

Balançando a cabeça, ela inclinou-se para me beijar, mas eu a parei,


colocando o dedo indicador nos lábios. —Não vou perguntar de novo, Mia.

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Ela suspirou, finalmente cedendo. —Noah estava apenas animado sobre
descobrir que teremos uma menina. Ele se empolgou. Não importa. Você não
confia em mim?

Em um movimento rápido, eu a coloquei na cama, ficando em cima dela.


Prendendo-a com os braços, apoiando todo o meu peso.

—Quantas vezes esse merdinha vai se empolgar? Eu vi olhar dele em seus


seios. Ele se empolgou com eles, também? Eu não gosto disso.

—Não é desse jeito. Eu te amo.

—Você me ama tanto que eu sou o último a descobrir que teremos uma
menina?

—Isso não é justo. A minha consulta foi esta tarde. Eu sabia que você
estava voltando para casa. Você não poderia ter ido... Além disso, você não teria
ouvido a minha ligação de qualquer maneira.

—Meu telefone está sempre no modo de vibração. Tente novamente.

Ela suspirou. —Eu não sei como tudo isso funciona, Creed. É um território
novo para mim, também. Eu quero que meu bebê tenha um pai e Noah esteve lá
para todos os meus compromissos, ele sabe tudo o que está acontecendo. Ele
parece empenhado em fazer parte e me ajudar a criá-la. Estamos apenas
começando a conhecer um ao outro, para que possamos ser os melhores pais
para o nosso bebê. Isso é tudo.

—Eu respeito vocês por isso. Mas eu vou ser uma parte tão grande, se não
maior, na vida deste bebê como ele será. Você me entendeu?

Ela assentiu com a cabeça, e uma sensação de incerteza passou por sua
expressão. —Eu sei que você disse isso, mas eu não compreendo inteiramente o
que isso significa. Você é meu namorado? Será que estamos juntos?

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Beijei ao longo de seus lábios. —Não fodi mais ninguém, Pippin. E já tem
um tempo. Quem é a minha menina?

—Eu quero ouvir você dizer isso. Não vou pedir de novo, Creed. —Ela
zombou, fazendo-me sorrir quando eu passei meu nariz de seu queixo até a
clavícula, beijando seus seios.

—Como você cheira tão bem o tempo todo? Você é minha garota. —Eu a
tranquilizei, puxando para baixo a frente do vestido. —Eu amo...

—Oh meu Deus! Ela acabou de chutar. —Mia me cortou. —Me dê sua
mão. Você precisa sentir isso. —Ela tomou minha mão, colocando-a em seu
estômago. —Diga alguma coisa, eu acho que ela gosta de sua voz.

Com o canto do meu olho, eu vi algo mover-se. Eu imediatamente olhei


para cima, pegando o reflexo de um homem do lado de fora através da tela preta
da TV. —Merda! —Gritei.

Disparos quebraram as janelas de vidro e ricochetearam nas paredes, em


torno de todo o meu quarto. Eu entrei em ação, rolando Mia e eu para fora da
minha cama, enfiando a cabeça no meu peito e tentando abrandar a nossa queda
enquanto eu a colocava no chão de madeira. Protegendo seu corpo com o meu
rapidamente.

O ar cheio de tiros rápidos encheu toda a casa, cápsulas de balas caindo ao


nosso redor. Mia começou a gritar e chorar, o que parecia ser de dor. Tremendo
pra caralho em meus braços. Os gritos da minha mãe podiam ser ouvidos à
distância, em algum outro lugar da casa.

Este foi o meu pior pesadelo do caralho.

Eu chutei a cômoda de madeira, derrubando-a no chão, cobrindo o corpo


de Mia o melhor que pude. Tirei minha arma na parte de trás da minha calça
jeans, e sentei-me de joelhos sem pensar duas vezes. Retornando fogo, disparei
em um dos filhos da puta bem na cabeça.

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Quando olhei para trás para baixo, Mia estava recuando de dor, agarrando
seu estômago.

—Porra! Querida, você está bem? —Puro pânico assaltou meu núcleo,
pensando que ela pudesse ter sido atingida.

—Creed, eu não posso... Isso... dói... —Ela choramingou, mal falando


através da dor.

Noah veio para o quarto com uma Glock em cada mão, quebrando minha
linha de pensamento. Eu ainda podia ouvir sons de tiro na frente da casa.

—Os meninos estão chegando! Ma está na despensa de aço, ela está


segura! Dê ela para mim, Creed! Vou levá-la para o porão!

—A porra que você vai! Cubra-me! —Eu a peguei do chão, embalando-a


em meus braços. Ela encolheu-se com a movimentação brusca.

A violência sempre tinha sido uma parte de nossas vidas do caralho, mas
desta vez parecia pessoal. Algo não estava certo, vindo à nossa casa. Trazendo a
violência até aqui. Não fazia sentido, porra. Especialmente quando havia balas
atingindo todas as malditas paredes. Corri até o outro lado do corredor e no
escritório, indicando para Noah puxar a porta do carpete e madeira que levava ao
porão. Pops certificou-se de que houvesse sempre uma forma de que
pudéssemos sair com segurança. Havia vários lugares na casa para se esconder,
apenas no caso de merdas como essa um dia acontecer.

Eu gentilmente coloquei Mia no chão no canto de trás, escondendo-a


atrás das caixas das coisas de Luke.

Eu não perdi a ironia.

—Eu volto já. Não se mexa! —Eu falei em um tom mais duro do que eu
pretendia. Eu estava em pânico por deixá-la sozinha ali.

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—Creed... Por favor... —Ela gritou, não tenho certeza se era de dor ou de
medo. —Não me deixe... Por favor... Por favor, eu preciso de você! —Ela
implorou.

A expressão aterrorizada no rosto dela era o que eu desejava nunca ter


que ver.

Não dela.

Nunca dela, porra.

—Mia, você precisa ficar aqui. Proteger a nossa menina, tudo bem? —
Noah entrou na conversa, me irritando ainda mais.

—Prometa, baby. Eu já volto. —Eu beijei sua testa, deixando meus lábios
permanecerem lá por um minuto.

Odiando que ela estivesse com dor e eu tivesse que deixá-la ali sofrendo.
Quando me virei, eu escutei, ouvindo mais rodadas de tiros ecoando.

Os filhos da puta ainda não terminaram.

—Fique com mia...

—Não! Você não vai lá em cima sozinho. Podemos acabar com todos eles.
Os rapazes estão a caminho. Não vai demorar muito.

—Noah...

—Estamos perdendo tempo! Vamos!

Dei uma última olhada para Mia, precisando ver seu lindo rosto antes de
voltar para a porra do caos que sempre tinha sido a minha vida.

Agarrei mais clips da arma segura no porão, e segui Noah subindo as


escadas. Nós corremos pelo corredor estreito, atravessando a casa, para matar o
restante dos filhos da puta. Abrimos fogo imediatamente, logo que entramos na

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sala de estar. Balas vinham do lado de fora. Dois homens usando bandanas pretas
cobrindo seus rostos apareceram à nossa esquerda, desencadeando várias
rodadas do lado da casa, uma me atingindo na perna.

—Merda, Creed! Você foi atingido!

—Foda-se! Estou bem!

Um fluxo interminável de balas continuava vindo para nós. Esquivando-


nos, derrubando móveis, ou o que poderia para nos proteger, atirando de volta
quando dava. Recarregando nossas armas uma e outra vez. A adrenalina corria
em minhas veias, pulsando através do meu sangue enquanto nos revezamos
matando um filho da puta após o outro. Precisando terminar isso para voltar para
Mia, para levá-la ao hospital antes que perdêssemos a nossa menina. Meu
coração batia forte contra o meu peito, assumindo cada centímetro do meu
corpo.

O sangue estava escorrendo através do meu jeans. Tiro após tiro irrompeu
de nossas mãos. Parecia que seria para sempre, até que ouvi os motores de
Harleys roncarem descendo a rua. Fazendo com que todo o fogo cessasse e os
filhos da puta dessem o fora daqui.

—Pegue Ma! —Eu pedi a Noah, correndo rápido pra caralho pelo
corredor, ignorando a dor aguda na minha perna e o sangue que estava perdendo
no processo. Correndo de volta para o escritório.

—Pippin! Eu estou chegando, baby! —Eu gritei, puxando o tapete e porta


improvisada, descendo as escadas para o canto mais distante do porão onde a
deixei. —Mia! —Gritei de novo, esperando desesperadamente ouvir a voz dela,
assegurando-me de que ela estava bem. Aterrorizado quando percebi que o
porão estava em silêncio.

Sem grito.

Sem choro.

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Sangue.

—Que porra...

Eu pensei que tivesse experimentado todas as perdas que eu poderia ter


na minha vida. Sentido cada dor, cada agonia, e cada ferida conhecida pelo
homem do caralho. Mas nada poderia comparar ao momento em que voltei para
onde eu deixei a minha menina em segurança.

Onde deixei Mia...

E ela não estava lá.

Continua...

Grupo Rhealeza Traduções


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