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Sinopse

Eles dizem que uma ação não define você.


Eu matei um homem. Apunhalei-o no pescoço e lambei o sangue dos meus
lábios depois que fiz isso.
Ainda assim, uma ação não define você.
Eu poderia ter ligado para qualquer um. Meu pai, o Prez do The Fallen
MC, o advogado da nossa família, minha melhor amiga, Lila, ou meu
irmão, King.
Eu não fiz.
Em vez disso, liguei para Lionel Danner, o policial conhecido por derrubar
o MC Nightstalkers. O homem que foi o arquiinimigo de meu pai por
décadas. O homem que odiava tudo que eu representava. Um homem que
havia desaparecido da minha vida sem explicação há três anos.
Eu o chamei.
E talvez uma ação não defina você, mas matar um homem mau e chamar o
bom mudou minha vida e com certeza mudou a dele.
Para o Amor da Minha Vida

Você é o homem que me ensinou que as águas tranquilas são profundas, que o Príncipe
Encantado pode ser um menino mau e que o amor é ainda mais bonito pelos obstáculos que você
precisa superar dentro de si mesmo e fora um do outro para ficarmos juntos.
“Não há nada bom ou mau, mas o pensamento torna-o assim.”
William Shakespeare, Hamlet, Act 2, Scene 2.
Capítulo Um
Não foi a primeira vez que vi um cadáver e sabia que não seria a última.
Não vivendo o tipo de vida que vivia como estudante de enfermagem e
filha do Presidente de um clube de motoqueiros fora da lei.

O sangue não me assustou.

A violência não me impediu.

Um era simplesmente biologia e o outro era teologia básica do MC.

Vi cadáveres suficientes para encher uma sala de aula, muitos corpos


para caber no chiqueiro da Fazenda Angelwood, onde The Fallen levavam
seus corpos e tantos ferimentos que não era de se admirar que um
ferimento sangrando parecesse tão insignificante quanto cerveja
derramada.

Ainda assim, nunca vi um cadáver como este.

Provavelmente porque vi meu namorado, Cricket Marsden, de várias


maneiras — bravo, maníaco, feliz, alto e bem-humorado — mas nunca o
tinha visto morto.

A lâmina estava molhada na minha mão, deslizando contra o sangue


que cobria minha palma como grotescas luvas de cetim vermelho. Não
conseguia parar de encarar o rosto bonito de Cricket paralisado de horror e
raiva por tempo suficiente para derrubar o cutelo no chão.

Honestamente, nem sabia porque tinha um cutelo. Mas, ele estava lá


quando alcancei cegamente atrás de mim uma das gavetas da cozinha e
agarrei a primeira alça fria com a qual minha mão fez contato.

Esperava — na pior das hipóteses — uma colher de pau para enfiar em


seu olho. Na melhor das hipóteses, uma faca de manteiga para apunhalá-lo
dolorosamente, mas não mortalmente no ombro.

Em vez disso, o destino ou algo parecido pressionou o terrível peso


quadrado de um cutelo em minha mão e, em meu pânico crescente, não
tinha percebido o significado da minha arma improvisada até que ela foi
alojada na junção entre o pescoço longo de Cricket e sua tatuagem no
ombro.

Sangue estava por toda parte num instante, em cima de mim como se eu
tivesse pulado numa chuva. Engasguei com o sangue que espirrou entre
meus lábios, mas não dei um passo para trás porque meus olhos estavam
presos nos olhos castanhos de Cricket, que foram obliterados por suas
pupilas dilatadas pela enorme quantidade de drogas em seu sistema. Eles
se arregalaram em choque com o impacto do metal afiado, que rasgou com
força brusca e sem sutileza através de seus tecidos conjuntivos e sua boca
se abriu como uma segunda ferida ao se cravar irreversivelmente em sua
clavícula.

Observamos um ao outro quando o matei, presos num emaranhado


como sempre estivemos. Nossa união era destrutiva, algo que procurei
primeiro apenas para provar o sabor do perigo e sentir a emoção da
rebelião. Era uma princesa MC, então conhecia bandidos, mas Cricket não
era inteligente o suficiente para ser chamado mesmo assim. Ele era
imprudente e sempre foi, procurando a próxima emoção porque sempre se
entediava com a última. A única coisa com a qual ele nunca ficou
entediado era eu.

No começo, fiquei lisonjeada. Ele era um cara gostoso com uma


personalidade viciante e fui a droga que o iluminou e queimou de dentro
para fora. De maneiras diferentes, com o mesmo resultado inebriante,
Cricket me deu isso. Era uma garota cercada por homens ocupados demais
para prestar atenção nela, com uma mãe que preferia bater ou cheirar
cocaína a escovar meu cabelo.

Era um clichê, mas os clichês existiam por uma razão.

Só queria ser amada e Cricket fez isso.

Ele fez isso com tanta força que deixou hematomas; metaforicamente no
início, apenas em volta do meu coração como estrangulamentos e, depois,
fisicamente também.

As drogas chicotearam seu amor como uma tempestade, épica e


poderosa de uma maneira que me paralisou de admiração, ao mesmo
tempo em que me varria em sua fúria.

Fazia muito tempo que dizia a mim mesma para não deixá-lo mais me
machucar.

Eu não era o tipo de garota que tinha um namorado abusivo.


Tinha coisas a meu favor que incluíam mais do que minha abundância
de cabelo e olhos muito azuis. Sabia que era bonita, cheia de personalidade
e muito inteligente, se me concentrasse nisso.

Tinha bons amigos e mais, a melhor família que qualquer garota


poderia ter conhecido.

Recursos para me tirar da lama espessa e fedorenta do domínio de


Cricket.

Eu não usei nenhum deles.

Pelo menos, não até agora, não até que fosse tarde demais e o único
recurso que me restasse à disposição fosse um cutelo colocado de maneira
inconveniente.

O sangue estava esfriando na minha pele, secando em padrões abstratos


que puxavam minha pele como o suor velho faz depois de um treino.

Ainda assim, permaneci ali, ajoelhada sobre o cadáver do meu


namorado.

Era quase uma enfermeira totalmente qualificada, então minha prática


deveria ter começado enquanto observava o sangue arquear como
caligrafia desenhada em tinta vermelha no ar e nas paredes da minha
pequena cozinha, sobre o branco imaculado do meu vestido fino. Mas, eles
não treinam você na universidade sobre o que fazer se você acidentalmente
cortar a artéria carótida com um cutelo, quando seu namorado abusivo
tentar estuprá-la com a coronha de sua arma.
Então, quando ele caiu no linóleo com a faca alojada profundamente na
junção de seu ombro e pescoço, esqueci tudo, caí no chão ao lado dele e
comecei a puxar a lâmina de aço grossa de seu pescoço.

O sangue jorrou sobre minhas mãos, quente e escorregadio, de modo


que o cabo de madeira deslizou pelos meus dedos e caiu no chão.

Cricket gargarejou em protesto, sangue acumulando nas laterais de sua


boca.

Isso me lembrou que você nunca deve puxar um objeto estranho até ter
uma maneira de estancar o fluxo sanguíneo e saiba exatamente qual é o
dano à área circundante.

Isso me lembrou que existem aproximadamente 5,5 litros de sangue no


corpo humano.

Não era necessário um diploma de enfermagem para saber que a maior


parte dessa medida estava se acumulando quente e lisa como seda
molhada sob meus joelhos.

Um homem estava morrendo no chão do meu apartamento.

Não, um homem, meu homem.

E ele não estava apenas morrendo. Não houve ataque cardíaco, nenhum
acidente de carro.

Só eu.

Sua assassina.
Meu homem estava morrendo no chão aos meus pés porque eu o havia
matado.

Procurei desesperadamente por algo para salvá-lo, embora eu soubesse


— eu sabia — ele morreria e faria isso em breve. Meus olhos pousaram no
telefone que Cricket derrubou no chão quando me prendeu contra o
balcão. Escorreguei no sangue enquanto tentava pegá-lo, ignorei as
manchas de sangue que meus dedos depositaram na tela enquanto discava
o número.

Estava no piloto automático, mas isso não explica porque liguei para ele.

Meu pai era a melhor pessoa para ligar. O Presidente do The Fallen MC
e um implacável protetor de seus entes queridos, Zeus Garro saberia
exatamente o que fazer com um cadáver, como limpar a bagunça e fazer
parecer que nada havia acontecido. Ele faria isso para que eu pudesse
retornar à minha vida como a conhecia, princesa dos caras do The Fallen,
mas removida da mancha de seus pecados. Poderia acordar amanhã de
manhã e fazer o que sempre fiz, pegar meu café Double-Double no Tim
Horton e fazer meu caminho para o último dos meus exames como uma
estudante normal, sua garota normal. O sangue ainda cobria minhas mãos
como luvas fantasmas enquanto eu preenchia as pequenas bolhas no
caderno de respostas, mas ninguém mais saberia porque meu pai teria
desaparecido com o corpo e o trauma de tudo isso, como uma espécie de
mágico fora da lei.

Poderia ter chamado meu irmão de sangue ou qualquer um dos irmãos


do clube, Nova teria me encantado para fora do meu pânico enquanto
Priest, silencioso e competente como predador, cuidaria do corpo. Curtains
faria parecer que Cricket nunca esteve no meu apartamento, excluindo
imagens de filmagens de câmeras de rua aleatórias que capturaram meu
namorado morto em seu caminho para minha casa. Eles pensariam em
ligar para Cressida, a namorada do meu irmão e uma das minhas melhores
amigas, mas não fariam porque sabiam melhor do que eu que era da
esposa do meu pai que eu precisava, o tom forte e rouco de Loulou Garro
no meu ouvido, dizendo-me que eu era uma guerreira como ela e lutei uma
que não tive escolha a não ser vencer.

Poderia ter chamado todos eles, mas não o fiz.

Em vez disso, liguei para um fantasma, um homem que não via ou


ouvia há três anos. Um homem por quem eu tinha uma queda desde
menina, porque ele era tudo de bom, direto e verdadeiro. Mesmo quando
criança, sabia, ele era bom demais para mim. Existíamos no mesmo mundo,
mas à maneira do herói e do vilão. Nós nos cruzamos, mas apenas em
tempos de desastre, quando encontrei minha mãe quase morta no chão da
nossa cozinha, quando meu pai foi preso por homicídio culposo ou quando
enfiei um lápis na coxa de Tucker Guttery porque ele roubou um beijo de
mim na sétima série. Eu era uma tempestade de calamidades, lançada à
deriva num mar de ações negras e regras rebeldes vagamente definidas. Ele
era um velho carvalho com raízes profundamente enterradas na rica terra,
galhos estendendo-se pelo céu, posicionando-se como sentinela por séculos
enquanto o mundo labutava sob suas folhas. Poderia chicotear esse tipo de
homem, causar furacões com meu espírito, abalar a terra com meu
temperamento, mas nada disso importava. Ele permaneceria intocado, não
importa o que eu fizesse, não importa o que alguém fizesse.

Ele era tão simples e profundamente bom. Acho que é por isso que
sempre gostei dele.

E pode até ter sido por isso que liguei para ele.

Para me punir enfrentando um homem que não faria desaparecer meus


pecados, mas os retificaria. Era seu dever como policial me prender pelo
que fiz a Cricket e parte de mim ansiava por esse tipo de justiça, e ser
devidamente definida como uma fora da lei de uma forma que minha
família fora da lei se recusava a fazer. Ser punida pela primeira vez na vida
por todos os meus muitos erros, grandes e pequenos.

Não esperava que ele respondesse, não realmente. Não depois de três
anos e nenhum contato, não em seu número antigo.

Mas, ele fez.

— Harleigh Rose?

Respirei baforadas curtas de ar em pânico no telefone.

Houve uma pausa e sabia que onde quer que ele estivesse, ele estaria
mudando para a esquerda, enrolando o ombro em sua orelha para criar
uma barreira protetora, nós contra o mundo. Só então sua voz profunda e
suave se aprofundou ainda mais quando ele disse: — Rosie? Diga-me o que
está acontecendo.
Um soluço floresceu em minha garganta, as pétalas obstruindo minhas
vias respiratórias e os espinhos rasgando minha garganta enquanto
engasgava com o modo que ele me chamava.

Rosie.

Como se eu fosse uma coisa doce, jovem e inocente, com rabo de cavalo
no cabelo, em vez de sangue e plasma humanos.

— Lion, — engasguei com os destroços da minha garganta. — Fiz algo


ruim.

Essas eram as palavras que sempre dizia quando o chamava para me


tirar dos problemas.

Incontáveis contravenções durante minha juventude: menor de idade


bebendo e intoxicação pública, agressão física (aquela facada de lápis e
alguns outros — justificados — ataques), invasão e alguns pequenos furtos.

Eram as mesmas palavras, mas num tom diferente.

Normalmente, era uma pirralha, provocando-o com a minha rebelião,


tentando provocar um homem que era interminavelmente calmo.

Agora não, e ele sabia disso.

— Você está no seu apartamento? — Ele perguntou.

Balancei a cabeça e percebi que ele não podia me ver. — Sim.

— Vinte minutos, — disse ele, de uma maneira que parecia uma


promessa. — Aguente firme, Rosie.
Ele desligou antes que eu pudesse perguntar como ele sabia onde ficava
meu apartamento ou que eu até tinha um.

O telefone caiu dos meus dedos dormentes quando olhei para Cricket
novamente.

Ele estava morto.

Encarei seus olhos castanhos vidrados e cedi ao meu choque.

Pareceu-me que pisquei e ele estava lá, pairando na minha frente como
um anjo justo vindo para me condenar ao inferno. O sol minguante
filtrando-se pelas janelas lançava um halo em torno de sua ampla fama,
mas obscurecia seu rosto com um véu de sombras. Não precisava ver para
saber que ele era bonito. Memorizei seus traços há muito tempo, a crista
larga de sua testa sobre as sobrancelhas fortes, o puro verde jade de seus
olhos e a forma como eles se enrugavam nos cantos num piscar de olhos
constante ou num sorriso raro que abria os planos de seu rosto, de modo
que seu espírito resplandecente se derramava como luz por fendas na
escuridão. Ele era bonito o suficiente para ser famoso, mas vestido de uma
maneira que o tornava sexy, como um caubói envelhecido ou um xerife do
Velho Oeste. Ele até cheirava assim, quente e reconfortante como homem
beijado pelo sol e terra recém-cultivada.

Mesmo submersa numa profunda névoa de choque, eu o conhecia.

Reconheceria Lionel Danner em qualquer lugar, a qualquer hora,


mesmo se eu fosse cega, surda e muda.

— Jesus Cristo, — ele amaldiçoou quando pisquei para ele.


Ele estava na minha frente em duas passadas longas, seus dedos de
pontas ásperas delicadamente beliscando meu queixo. Eu o encarei quando
ele me avaliou com olhos implacáveis, notando o sangue secando na minha
pele e roupas, a carcaça morta que era Cricket caída no chão aos nossos
pés.

Ele parecia mais preocupado comigo do que com o próprio cadáver.

— O que diabos esse pedaço de merda fez com você? — Ele resmungou
baixo no peito.

Pisquei e desejei poder encontrar minha voz porque queria rir dele.

Queria provocá-lo e perguntar por que ele não estava assumindo que
fui eu, como sempre, que havia feito algo errado.

Queria chorar e perguntar a ele o que Cricket não tinha feito comigo?

Mas, pela primeira vez na minha vida, não tive voz.

Eu era tanto um corpo sem alma quanto Cricket estava morto no chão.

— Rosie, — disse ele, mais uma respiração do que som.

Eu o observei de dentro de mim quando ele se agachou à minha frente e


seus dedos no meu queixo escorregaram no respingo de sangue e depois
apertaram quase dolorosamente.

A dor me aterrou, mas foi a clareza vívida de seus olhos verdes que me
puxou como uma mão das profundezas da minha miséria.

— Pela primeira vez em sua maldita vida, você vai me ouvir e obedecer.
Vou tirar você desse pântano sangrento em que você está sentada e colocá-
la numa cadeira. Então, vou reportar isso. Enquanto esperamos a polícia
aparecer, você vai me olhar nos olhos e me contar o que aconteceu aqui.
Você me ouviu, Harleigh Rose?

Estava assentindo antes mesmo que pudesse processar suas palavras.

Seu brilho endureceu. — Quero ouvir essa voz.

— Por que eu preciso te olhar nos olhos? — perguntei,


surpreendentemente firme.

Minha alma estava fraca e falhando em meu peito e me perguntei se os


assassinos matavam sua bondade junto com sua vítima.

— Porque você não me distrai com esses belos azuis, vou matar esse
pedaço de merda novamente por tudo o que ele fez que levou você sentir a
necessidade de enfiar uma lâmina em seu pescoço.

A emoção retumbou sob as ruínas do meu espírito e ameaçou borbulhar


na minha garganta.

Danner leu a pergunta nos meus olhos e seu rosto severo suavizou de
rugas severas para seda lisa e amarrotada.

— Você não o matou a sangue frio, Rosie. Não preciso que você me dê
essas palavras para saber a verdade sobre isso.

— Você nem me vê há anos, — sussurrei através das lágrimas que eram


repentinas e insistentes no fundo dos meus olhos. — Como você poderia
saber disso?
Ele moveu a outra mão em volta do meu pescoço e a teceu no cabelo
úmido de suor de lá, depois o puxou com firmeza, apenas o suficiente para
me fazer assobiar de surpresa. A ação foi estranhamente calmante e sem
pensamento consciente, me encontrei inclinando minha cabeça para expor
meu pescoço para ele. Pegando minha dica, a mão no meu queixo deslizou
e envolveu minha garganta, seus dedos e polegar pressionando
suavemente em meus pontos de pulso em cada lado do meu pescoço.

— Você acha que não sei que, sob todo esse atrevimento espinhoso,
você tem um coração tão terno quanto uma rosa em botão, você pode
pensar novamente, — ele disse naquele tom neutro e seguro.

Como se ele estivesse lendo os direitos de Miranda 1 para alguém ou


recitando um código da academia de polícia. Como se o que ele estivesse
dizendo fosse um fato absoluto e irrefutável.

De certa forma, ele estava, se alguma vez houve uma chance de eu não
amar o Oficial Lionel Danner, foi apagada por esse momento e por essas
palavras. Meu coração estava preso pelo dele, independentemente de sua
falta de interesse.

— Eu ainda tenho que reportar, — ele me disse, severo, mas gentil, uma
contradição que ele dominou. — Se você pensou que eu deixaria isso
passar porque você é você para mim, estava errada. Você não ligou para o
seu papai, você me ligou, e vou resolver isso assim como ele faria para
você, mas meu jeito será muito diferente e mais legal que o dele, certo?

1 Nome do termo que contém as palavras: “Você tem o direito de ficar calado. Tudo o que você disser, pode
e será usado contra você em um tribunal. Você tem direito a um advogado...”
Quando assenti, sombras passaram sobre a grama verde de seus olhos
como nuvens no céu. Sua mandíbula apertou quando ele me olhou assim
por um longo minuto antes de se levantar e estender a mão para mim. Era
uma mão profundamente bronzeada presa a um pulso forte com veias
grossas que corriam para cima e sobre seus antebraços. Uma mão forte na
ponta de um braço forte no corpo do homem mais forte fora do clube que
já conheci.

Cambaleando com tudo, incluindo o poderoso ressurgimento da minha


adoração de infância, silenciosamente peguei sua mão oferecida e o deixei
me tirar do derramamento de sangue pegajoso. Meu núcleo latejava
dolorosamente e minha pele parecia sensível como a carne de um pêssego
maduro caindo no chão. Ainda assim, sentei-me em uma das minhas
cadeiras de madeira levemente vacilantes e o observei quando ele pegou o
telefone e reportava o acidente.

Não ouvi as palavras que ele disse enquanto falava com o operador da
estação. Em vez disso, observei o modo como sua boca firme e lindamente
formada trabalhava sobre as palavras, observei sua língua rosa estalar
contra seus dentes brancos e quadrados. Era uma situação perturbadora
me sentir tão fisicamente atraída por outro homem quando meu velho mal
estava frio no chão, mas eu sempre fui irrevogavelmente atraída por
Danner e o observá-lo em seu elemento, o bom policial em ação, me
centrou.

De novo, senti que pisquei e havia pessoas lá, inundando as portas do


meu apartamento com equipamentos e câmeras, em uniformes azuis com
walkie-talkies barulhentos. Eu pulei quando três deles tentaram me
encurralar enquanto Danner estava ocupado conversando com duas
pessoas que estudavam o corpo. Não conseguia ouvir suas vozes
corretamente. O volume estava lá, mas as palavras eram confusas como os
adultos dos desenhos animados de Charlie Brown.

Wah wah wah, wah-wah.

— Afaste-se, Sterling, — Danner ordenou, de repente me puxando para trás


dele para que pudesse enfrentar meus interrogadores.

O enorme homem negro chamado Sterling revirou os olhos. — Só estou


tentando fazer meu maldito trabalho, Danner. Você claramente tem laços pessoais
com ela. Acho que sou eu quem deveria estar dizendo para você recuar, não é?

Danner cruzou os braços sobre o peito e olhou para o homem em resposta.

Sterling durou trinta segundos antes de coçar desajeitadamente a nuca e


murmurar: — Maldição, Danner, só estou tentando fazer o meu trabalho.

— E você pode fazer isso, mas você o fará na delegacia e estarei na sala
de interrogatório com vocês dois. Entrei em cena depois que ela me ligou
em perigo. É óbvio que, mesmo que a vítima não tenha conseguido, ele
tentou estuprá-la. Este caso será aberto e encerrado dentro de 48 horas, e
você e eu sabemos disso. Então, corta a pose, faça o seu trabalho e tenho
certeza de que a promoção que você está concorrendo virá mais cedo ou
mais tarde, agora você está se preparando para fazer algum trabalho de
verdade.
Pisquei para Danner e não fui a única. Ele sempre foi quieto, até
reservado a ponto de desaparecer no fundo. Era o que o tornara um policial
tão bom, todos sempre estavam o ignorando, subestimando-o. Esse homem
se foi e em seu lugar estava um líder, o tipo de homem frio e implacável
que fez meu pulso disparar.

Observei seus três colegas se abaixarem fisicamente e abaixarem a


cabeça da maneira que os betas fazem em deferência ao Alfa de uma
matilha de lobos. Senti o impulso animal de inclinar minha cabeça e
mostrar meu pescoço para ele também.

— Você está envolvido com a RCMP 2 há três anos, Danner. Você acha
que Van PD vai gostar de você interferir num caso de assassinato? — Outro
policial disse, este baixo e magro, com um bigode ralo.

— Na verdade, é melhor você varrer isso bem e rápido, para que não
comprometa meu jogo com a RCMP. Você não gostaria de ser culpado por
estragar a investigação de um ano, não é? E você acha que estou
mergulhado há três anos e não tenho contatos para puxar, se preciso?
Harleigh Rose Garro é minha responsabilidade, Sterling, então ouça com
atenção e me ouça claramente quando digo, ela não vai passar por essa
merda sem mim.

Um soluço rasgou meu peito, abrindo o zíper do aperto nas emoções


que enchiam meu peito de forma que elas se derramaram por mim. Tremi

2 RCMP – Royal Canadian Mounted Police. Em português, Real Polícia Montada do Canadá. É a
organização policial do Canadá, constituindo a maior força de segurança do país, e é mais conhecida
como Mounties. A corporação canadense é a única do mundo em manter um policiamento federal,
estadual e municipal numa só organização em todo o Canadá.
com o impacto quando meu choque se rompeu e puro horror e agonia me
dominaram.

— Oh, meu Deus, — sufoquei em lágrimas enquanto enterrava meu


rosto em minhas mãos. — Não mereço isso.

E não quis dizer Cricket e a tentativa de estupro e o assassinato. Eu


provavelmente merecia tudo isso. Carma ou alguma vadia assim por todas
as maneiras grandes e pequenas que fui descuidada e desrespeitosa e
simplesmente errada ao longo dos anos.

Mas, não, não era isso.

Não havia nenhuma maneira em nenhum mundo, no céu ou no inferno,


que eu merecesse ter um herói como Lionel Danner ao meu lado.

Como se estivesse ouvindo meus pensamentos, mas provavelmente


respondendo ao som horrível de meus soluços feios, ele se virou levemente
para me balançar debaixo do braço com força, mesmo enquanto continuava
a dar ordens. — Agora, peça a alguém para tirar as malditas fotos dela e
fazer um exame para que possamos tirá-la dessas roupas ensanguentadas e
colocá-la em algo limpo. Vou levá-la para a delegacia e para Sterling, você
quer mostrar que grande policial você é, fique aqui e resolva essa bagunça.
Capítulo Dois
Danner

Estava conversando com o conselheiro de trauma quando a porta da


Delegacia de Polícia de North Van bateu contra a parede ao se abrir e uma
voz rouca gritou: — Que porra, você, filho da puta, acha que está fazendo,
falando com a porra da minha garota sem a porra do seu advogado e
maldito pai presentes?

Fechei meus olhos mesmo quando a estação foi conectada ao meu redor.
Pensei em contar até dez, mas dar ao Presidente do The Fallen MC dez
segundos de vulnerabilidade eram dez segundos demais. O gigante de um
metro e noventa e cinco atualmente espreitando em minha direção como
um gato selvagem e furioso não era o tipo de homem com quem você
gostaria de foder.

Eu sabia.

Pode-se argumentar que foi uma lição que aprendi da maneira mais
difícil, quando deixei sua esposa adolescente ser sequestrada por um MC
rival.

Independentemente disso, sabia que não devia foder com ele agora.
Infelizmente, Zeus Garro não sabia que tinha ganhado meu respeito
relutante, então estava preparado e sem surpresa quando ele veio direto
para mim numa sala cheia de policiais cautelosos, ergueu-me com uma
enorme mão na minha garganta e me bateu contra a parede a sessenta
centímetros atrás de mim.

Foda-se, porra. Isso dói.

Eu o deixei fazer isso. A única maneira de parar um homem como Zeus


Garro era atirar em sua cabeça ou se deitar diante de sua fúria e torcer para
que isso passasse por você. Como eu estive na posição ultrajante do caralho
de dar a mínima para a filha dele nos últimos quinze anos, escolhi não
atirar no filho da puta em sua cabeça dura.

Ainda.

— Recue, Garro, — disse calmamente.

Seus olhos brilharam como pontas de faca e seu aperto no meu pescoço
se aumentou.

Não havia dúvida em minha mente que esse homem havia matado
homens com a mesma mão ou que os matou por muito menos do que
envolver sua filha em um caso de assassinato.

O medo germinou em minha barriga, em seguida, floresceu em algo


melhor, algo ousado e bonito como uma papoula que brota sobre os
cadáveres. Eu era o tipo raro de homem que se alimentava do medo, que
apreciava o desafio de vencer a besta e fazê-la se submeter a mim no final.
Sorri languidamente na face da besta diante de mim e me inclinei em
seu aperto, um desafio silencioso que fez Zeus Garro rosnar. — Eu disse,
recue, Garro. Você vai matar um policial numa sala cheia de policiais? Você
não viverá um segundo após minha espinha estalar.

— Eu mesmo vou te estrangular, se você não nos contar onde está


Harleigh Rose, — uma voz doce, mais doce que o açúcar e o chocolate
derretido, me chamou sobre seu ombro.

Cerrei os dentes quando percebi que Loulou Garro, ex-Lafayette, havia


seguido o marido até a estação.

Eu era um feminista.

Mas, foda-se, se eu odiasse quando as mulheres se envolviam nos


negócios dos homens porque nunca encontrei uma maneira de dizer não a
elas.

— Louise, — eu a reconheci facilmente como se seu marido monstro


não estivesse me estrangulando para uma morte lenta. — Chame-o e
levarei vocês para Harleigh Rose.

Uma mão dourada apareceu no topo do ombro de Zeus e, como mágica,


a tensão se dissolveu em seus músculos um segundo antes dele me soltar
de sua dolorosa garra e recuar com um rosnado baixo.

Loulou deu um passo à frente assim que ele estendeu a mão para ela.
Foi uma coisa pequena, mas aquela pequena sinfonia de sincronicidade me
atingiu no estômago. Claro, Louise tinha dezessete anos de idade quando
eles ficaram juntos e Zeus dezenove anos mais velho, mas aquela mudança
ali, era a razão pela qual não achei, no mínimo, nojento. Se alguma coisa,
meu intestino apertou com algo surpreendentemente perto do ciúme. Não
para ela, nunca para ela. Louise era quase linda demais para ser feita de
carne e osso, mas ela era uma das pessoas mais humanas que eu já conheci.
Em outra vida, onde ela permaneceu bem e eu finalmente venci minha
batalha constante para ser o mesmo, poderíamos ter terminado juntos.

Mas enquanto eu olhava para ela agora, fortemente inchada com os


bebês de Garro sob seu vestido branco virgem com botas de merda nos pés,
estava feliz por ela que a vida não tinha acabado assim. Ela se inclinou para
Garro instintivamente e seus enormes olhos azuis brilharam como um céu
riscado de um raio quando ela me encarou.

— Que porra você meteu minha irmã? — King Kyle Garro gritou do
outro lado da estação quando atravessou as portas, mantendo-as abertas
para a mulher franzina que vinha atrás dele.

Pelo menos Cressida Irons, sua cara-metade, teve a graça de parecer


levemente envergonhada com o espetáculo.

— Não sabemos se foi culpa dele, — ela sussurrou, puxando a mão de


King para impedi-lo de me atacar exatamente como seu pai havia feito. —
Ele tirou a H.R. de mais situações do que qualquer outra pessoa. Ouça o
homem.

King redirecionou seu olhar de mim para sua mulher, mas seu rosto se
suavizou num sorriso afetuoso quando ele olhou para ela.

Cara, esses homens Garro foram açoitados.


Novamente, houve uma pontada no peito que não tinha nada a ver com
a minha pressão alta.

— Não vejo esse filho da puta há três anos, H.R. não tem problemas
com a porra dos porcos3 há três anos e de repente aqui está ele e minha
garota está em apuros de novo? — Garro gritou. — Comece a explicar.

— Ela me ligou, — disse.

Poderia ter dito mais, mas sou um homem de poucas palavras e sabia
que eles me entenderiam. Harleigh Rose me ligou, um homem que ela não
via há anos, para ajudá-la a sair do pior pesadelo de uma mulher. Ela me
ligou. Não para seu pai, o irmão ou um membro do clube do qual ela
nasceu princesa.

Ela me ligou.

Esfreguei aquele ponto dolorido no meu peito enquanto aquecia e


pulsava.

— Ela ligou para você? — Os dois homens Garro rosnaram.

Loulou e Cress trocaram um olhar compreensivo, mas preocupado.

Dei de ombros e cruzei os braços sobre meu peito, sinalizando com um


leve aceno de cabeça para os quatro ou cinco policiais remanescentes que
observavam cautelosamente a família, que era legal voltar ao trabalho.

— Ela fez. Cricket apareceu em sua casa com um coquetel de


substâncias ilegais, o que, aparentemente, não era incomum, — fiz uma
pausa preventiva, conhecendo Garro o suficiente para saber que ele
3 Como eles se referem aos policiais.
amaldiçoaria como um marinheiro por isso. — Desta vez, ele estava com
raiva por uma série de motivos. Um, sendo que ele estava no meio de uma
combinação potente de crack, maconha e cocaína e essa merda
transformaria uma criança no Hulk. Dois, que ele foi recentemente
preterido para uma promoção com o Berserkers MC, algo em que ele tem
trabalhado nos últimos dois anos. E três, Harleigh Rose havia acabado de
lançar a última de uma linha de tentativas de se livrar dele, este feito
arrastando uma velha lata de lixo na frente da porta de seu apartamento,
cheia até a borda com as coisas que ele deixou em sua casa, e ela ateou a
porra de fogo nisso.

Apesar de si mesmos, Garro e seu filho sorriram orgulhosamente com


isso.

Sim, Harleigh Rose era um problema, nascida e criada, porra.

— Ela registrou um boletim de ocorrência, — continuei e depois vi seus


sorrisos serem esmagados sob o cenho pesado. — Ele começou a persegui-
la e ameaçá-la. Entrou com uma ordem de restrição na semana passada e
chamou uma amiga da escola para testemunhar o fato.

— Que porra? — King perguntou. — Por que ela não veio até nós com
isso?

Cress se inclinou para ele e falou baixinho: — Pense nisso por um


segundo, querido, e acho que encontrará sua resposta.

— Não estou pensando em porra de nada, — Zeus rosnou. — Por que


diabos ela iria para os porcos sobre esse merdinha?
Pensei na visão que me saudou quando entrei no pequeno apartamento
de H.R. no centro da cidade. Não foi apenas o sangue laqueando suas
roupas rasgadas e a pele nua. O abuso e o terror eram mais profundos do
que isso. Havia cavidades sob suas maçãs do rosto acentuadas e sombras
profundas e escuras sob seus olhos azuis e planos, sinais de privação de
sono e desnutrição. Ela estava muito magra e plana demais, até mesmo seu
cabelo cor de mel havia perdido o brilho e seus olhos, olhos que
normalmente brilhavam com atrevimento e admiração, estavam mortos.

O que quer que aquele pedaço de merda, agora morto, fez com Harleigh
Rose nos últimos três anos, tinha cobrado seu preço e tinha sido por um
bom tempo. Eu conhecia H.R. bem o suficiente para saber que, quando ela
percebesse que estava num relacionamento abusivo com um canalha, ela
seria orgulhosa demais para pedir ajuda. Ela resistira pensando que era ela
quem tinha se metido na confusão e, portanto, era ela quem tinha que sair
dela.

Às vezes, era uma boa filosofia.

Completamente desastrosa neste caso.

Não porque a perda de Cricket (nascido Taylor Marsden) era uma farsa.

Mas, porque por baixo da coroa de espinhos e da língua de veneno de


Harleigh Rose, ela era tão tenra quanto uma flor fresca e eu odiava que ela
agora carregasse o peso de tirar uma vida.

Eu deveria estar lá.

No entanto, era inútil me castigar.


Foi no passado, para começar.

Por outro lado, eu não tinha perdido o tempo. Os últimos três anos
trabalhando para a RCMP em sua unidade de investigações secretas de
crimes organizados foram o ponto alto da minha carreira, e não apenas
porque eu estava fora do controle do meu pai corrupto em Entrance, BC.

Mas tudo isso era realmente uma besteira perto do verdadeiro motivo
pelo qual eu não estava lá.

Tive que sair exatamente pelo motivo que agora desejava ter ficado.

Nenhum policial que se preze deve se apaixonar por uma princesa MC.

Nenhum cavalheiro moral deve agir de acordo com os seus desejos mais
desviantes, muito menos com uma garota tão mais nova do que ele.

Nenhum homem poderia se apaixonar por uma mulher que seria sua
ruína, mas mais, ele era dela, sem ao menos tentar escapar desse destino.

E eu tinha.

Só agora, tanto H.R. quanto eu estávamos pagando por essa escolha.

— Danner, dê uma pista aqui, por favor. — A voz de Loulou me tirou


dos meus pensamentos.

— Ela não ligou porque foi abusada, pelo menos mental e verbalmente,
por anos e, quando percebeu, não queria se envergonhar contando tudo
para vocês. — Levantei a palma da mão para eles quando todos
começaram a falar uns sobre os outros e depois esperei que caíssem num
silêncio relutante. — Quando foi a última vez que você a viu?
— Semana passada, porra, — Garro retrucou.

— Ela te visitou ou você veio aqui? — atirei de volta.

Li a resposta no tique da mandíbula peluda de Garro, na maneira como


King passou as mãos agitadas por seus cabelos longos e as duas mulheres
deslizaram apenas alguns centímetros para mais perto de seus homens
num silencioso ato de conforto. Ela os visitara em Entrance, em seu refúgio,
um lugar onde poderia escapar de Cricket e da forma prejudicial e
vergonhosa que ele afirmava amá-la.

Raiva queimou baixo em meu intestino como um queimador


desenfreado. Eu sabia que, se não fosse desligado logo, colocaria fogo em
meu corpo inteiro de uma maneira que eu não seria capaz de controlar.

— Não é de seu feitio deixar uma coisa dessas ficar sem controle, —
disse calmamente.

Minha falta de volume não amorteceu o golpe das palavras da maneira


que eu esperava.

— Cuidado, porra, com o que fala. Você não sabe merda nenhuma sobre
a minha família. — Garro retrucou e pude ver na maneira como seu corpo
vibrou que ele estava a um fôlego de bater em meu rosto.

Inclinei-me contra a parede e cruzei um pé sobre o outro. — Por que


você acha isso, Garro? Nos três anos em que você esteve fora, seus filhos
ficaram mais na minha casa do que na sua, com sua desculpa esfarrapada
de esposa. Fui eu quem primeiro ensinou seu filho a disparar uma arma.
Fui eu quem comprou a primeira moto de sua filha, que me certifiquei que
tivesse caveira rosa e ossos cruzados exatamente como ela queria, e então
fui eu quem a ensinou a montar. Então, me diga novamente como você
acha que eu sei a porra de tudo sobre as crianças Garro?

Foi um discurso brutal, e um dos mais longos que já fiz, mas a fúria
persistente que gelou meu sangue tornou impossível me preocupar com o
estremecimento de dor que sacudiu Garro como o golpe de um chicote.
Loulou parecia prestes a me chicotear ela mesma, mas foi King quem
pareceu o mais impactado. Ele olhou para mim com os olhos arregalados
que traíam o fato de que ele ainda estava fresco, um recruta de The Fallen
em vez de um irmão de armas iniciado. Só um homem sem sangue nas
mãos poderia olhar para um policial assim; como um garotinho cujo herói
que idolatrava era o policial da porta ao lado.

Observei quando ele se sacudiu e sua mandíbula começou a latejar, uma


bomba prestes a explodir. Eu me perguntei preguiçosamente com quem ele
estava mais irritado. Eu, por estar certo, ou com ele mesmo, por concordar
comigo.

— Você joga isso na cara dele mais uma vez, não me importo se for
amanhã ou daqui a vinte anos, vou cortar, pessoalmente, suas bolas,
Danner.

Olhei para baixo dos olhos de Garro para ver Loulou inclinando-se para
frente, dentes à mostra, uma motoqueira com a constituição de uma Barbie,
lançando ameaças aos pés de um policial. Essa imagem deveria ser
engraçada, mas não era. Não era porque pude ver a ferocidade em seus
olhos, ler a fúria contida em seu corpo e a dor em seus lábios que os
fizeram se contorcer nos cantos. Acertei um nervo não apenas por seu
homem, mas, também, por ela. Afinal, ele foi para a prisão depois de matar
o homem que atirou em Loulou quando era uma garotinha bem no peito
numa guerra de gangues que eclodiu do lado de fora de uma porra de
igreja.

Enfiei meus polegares nos bolsos e levantei uma sobrancelha para ela.
Não poderia deixá-la saber, nenhum deles saber, o quanto eu,
relutantemente, os admirava, sua coragem e convicção, a maneira como
eles se fundiam numa porra de bela unidade familiar.

Tentei não passar muito tempo perto dos Garros porque, a cada vez que
o fazia, minha bússola moral dava voltas diante de seu magnetismo.

— Eles não terminaram com ela ainda, — disse a ela suavemente.

Ela piscou, em seguida, afastou as pequenas garras e levantou o queixo


como a princesa arrogante que foi criada para ser. — Bem. Vamos apenas
esperar aqui até que vocês terminem de interrogar a vítima.

Ela puxou Garro pela mão e, com um último olhar cruel, direcionado
em minha direção, ele a seguiu, já puxando seu telefone para atualizar os
irmãos ou chamá-los para as armas. Foi sorte Cricket já ser um homem
morto, porque o dano que Garro teria feito a ele quando descobrisse a
extensão de seus crimes... vamos apenas dizer que a morte por cutelo foi
muito menos dolorosa.
King demorou um segundo, olhando para mim daquele jeito taciturno
que ele dominava desde criança. — O que você ainda está fazendo aqui?
Vá se certificar de que esses fodidos não fodam com ela.

Tranquei os olhos com ele quando o calor afrouxou a dúzia de nós


amarrados em meu peito. Mesmo depois de todos os anos e de todo o
sangue ruim, era bom saber que o garoto ainda acreditava em mim, pelo
menos um pouco.

Dei-lhe um breve aceno de cabeça e depois virei nos calcanhares,


lançando um olhar calmante para o oficial novato nervoso de plantão atrás
da recepção, enquanto eu saía da porta da frente, subia as escadas e ia para
a parte de trás onde ficavam as salas de interrogatório.

Eles não estavam fodendo com H.R. quando eu saí. Conversei com os
dois oficiais de interrogatório, disse-lhes que não se tratava de derrubar um
associado de The Fallen, mas de ajudar uma vítima de longa data a superar
seu choque e horror após tirar uma vida.

Eles aceitaram, principalmente porque não dei a opção de não o fazer.

Mas assim que vi Timothy Guzman, soube que as coisas tinham ido à
merda na minha ausência.

Ele provou que estava certo ao declarar imediatamente: — Você tem


que trazê-la, filho.

Calor correu da base da minha espinha até meu pescoço e eu tive que
morder fisicamente a fúria para não estrangular o homem ao meu lado.
Respirei fundo três vezes antes de enfrentar o pedaço de merda de
meia-idade que eu tinha que chamar de superior.

— Em primeiro lugar, não seu filho, Sargento Guzman. Não vou te


dizer de novo. — parei, esperando que ele reconhecesse com um aceno
conciso. — Em segundo lugar, te disse uma vez, te disse porra de vinte
vezes, não.

— Você não pode simplesmente dizer não, — ele disse entre dentes,
batendo a mão carnuda no balcão em frente ao espelho unilateral que dava
para a sala de interrogatório em que Harleigh Rose estava sentada. — Este
é um assunto oficial e eu sou seu chefe, Danner. Esta não é uma caixa de
sugestões em uma porra de café.

Olhei para o saco de merda de um metro e sessenta que tecnicamente


administrava a Unidade Especial das Forças Combinadas da província. Ele
era um burocrata, um idiota que não entenderia o trabalho de campo se
uma bala o mordesse na bunda.

— E eu não estava sugerindo merda nenhuma. Eu estava dizendo a você


que sob nenhuma porra de condição, envolverei uma vítima de abuso e
violência de gangue em minha investigação.

— Você não comanda esse show, Danner. Seu pai pode ser o Primeiro
Sargento de Entrance de merda, mas aqui, nesta cidade, eu digo o que vale.
E eu digo que Harleigh Rose, uma afiliada nascida em The Fallen MC,
longe de ser inocente, é a informante confidencial perfeita para nos dar
informações privilegiadas de The Berserkers.
Cerrei meus dentes e tentei contar até dez.

Não funcionou.

— Não, — afirmei, depois me afastei dele para ver Sterling e Farrow me


encarando com duas expressões de espanto e irritação.

Ninguém enfrentava Guzman. Ele era completamente incompetente,


mas era um valentão e não tinha nenhum problema em tornar a vida de
um policial absolutamente miserável se sentisse que eles precisavam ser
“lembrados de quem estava no comando”.

Só que ninguém me intimidava. Fui efetivamente intimidado por meu


pai por muitos anos para contar e, quando derrubei o MC Nightstalkers,
finalmente tive notoriedade suficiente para sair de Entrance e longe de sua
corrupção. Agora que eu estava livre, não havia nenhuma maneira de
receber ordens em que não acreditava.

Nunca mais.

Nunca-mais-porra.

E especialmente não quando seguir ordens significava que eu teria que


usar Harleigh Rose como um recurso interno na gangue mais perigosa que
British Columbia já havia visto.

— Estou bem com isso, Danner. — Outra voz, mais profunda do que
qualquer outra que eu já ouvi, soou sobre o meu ombro e me virei para
encontrar o Sargento Renner, chefe do Projeto Fenrir e meu superior
imediato, nas minhas costas. — Mas se ela nos der qualquer indicação de
que ainda tem ligações sérias com esse MC, quero você com ela, ouviu?
Imediatamente meu cérebro bestial inventou uma imagem minha com
H.R. do jeito que eu queria estar nela desde que ela fez dezesseis anos e
passou de uma criança desengonçada para a porra de uma linda mulher;
suas pernas intermináveis enroladas quase duas vezes ao redor dos meus
quadris, seu cabelo loiro e dourado espalhado em meu travesseiro e seu
pescoço longo sob meus dentes enquanto eu a mordia, a fodia, marcava-a
como minha.

Só que eu não cedi aos impulsos quando tive a chance. Na verdade, fugi
deles o mais rápido que pude, porque, porra, pensar nela era quase demais,
mas a realidade dela era impossível.

A culpa deslizou por minhas veias como uma toxina, infiltrando-se no


meu sistema antes que eu pudesse racionalizar o sentimento. Eu fui um
covarde de merda para me envolver com ela, então, ela me atacou,
virando-se para a pior opção possível.

Cricket.

Tão indiretamente ou não, eu era o culpado pelo abuso dela, pela morte
dele.

Esfreguei a mão rudemente no rosto, tentando esfregar o cansaço ali. Eu


me tornei policial porque nasci o tipo de homem que não ficava parado
enquanto a injustiça era cometida. Eu soube da primeira vez que enfrentei
um valentão, de seis anos e mais magricela do que a maioria das garotas da
minha série, e, então, prontamente fui espancado pelo dito valentão e três
de seus amigos, que eu continuaria de pé e lutando contra o errado pelo
resto da minha vida, mesmo que isso significasse ser derrotado a cada vez.
Eu sabia que haveria contratempos, que um distintivo e um código de
honra não significavam que eu seria capaz de corrigir todos os crimes. O
que eu nunca poderia ter me preparado foi o conhecimento de que meu
próprio pai me forçaria a cometer esses crimes ou, pelo menos, encobri-los.
Esse sistema estava em vigor por uma razão, entretanto muitas pessoas
inocentes foram condenadas e muitos culpados escaparam pelas fendas,
seu caminho lubrificado por dinheiro manchado nas mãos e acordos de
aperto de mão.

E agora isso.

Agora, Harleigh Rose, uma mulher que irradiava confiança e pura


alegria, estava sentada numa sala de interrogatório revestida com o sangue
de seu namorado abusivo, fisicamente dilacerada por suas mãos e
degradada por suas ações.

E, foda-se, se eu não me sentia pior do que todas as outras transgressões


juntas.

— Vou ficar de olho nela, — murmurei para o homem que eu realmente


admirava o suficiente para dar uma resposta. — Mas, ela é uma vítima
aqui, Sargento. Não estou me sentindo ansioso para tirar vantagem.

A mão grande do Sargento bateu no meu ombro e me apertou. — Não


gosto de ver uma mulher, qualquer mulher, agredida sexualmente ou de
outra forma. Mas, você tem que enfrentar a realidade aqui, Danner. A
menina não apenas fez sua própria cama, ela nasceu nela.
Encolhi os ombros, mas dei-lhe um aceno conciso. Eu me perguntei pela
milésima vez se as crianças eram inerentemente responsáveis pelos crimes
de seus pais, se havia o recebimento de dívidas pecaminosas escritas em
nosso DNA, se estávamos carmicamente programados para viver mal e
fazer o mal porque estava em nosso sangue. E não foi a primeira vez, que
não pude responder definitivamente, mesmo que tenha passado minha
vida inteira tentando provar o contrário.

Meu olhar distraído concentrou-se na sala à minha frente e,


imediatamente, desaprovei quando reparei quem havia substituído
Sterling e Farrow no interrogatório.
Capítulo Três
— Você matou alguém antes, Srta. Garro?

O idiota me interrogando parecia um imbecil. Cabelo grosso penteado


para trás com creme de pentear, um bronzeado uniforme que falava
artificial — ou cuidadosa rotação de bronzeamento solar em seu quintal ou,
pior ainda, num salão. Era óbvio que ele não era estranho a um salão de
qualquer maneira, porque suas unhas eram mais bem cuidadas do que as
pontas dos meus dedos pretos e lascados. Eu não conseguia parar de olhar
para eles, enquanto ele movia as mãos sobre uma pilha de papéis para me
intimidar. Eles eram dedos finos, com unhas ovais perfeitas, polidas com
um alto brilho e palmas tão suaves que eu aposto que ela hidratava todas
as noites antes de dormir.

— Não é estranho estar do lado errado da lei, não é? Filha de Zeus


Garro. Aposto que você nasceu com a emoção da rebelião em sua língua.
Vejamos, temos alguns furtos insignificantes, acusações de agressão física e
destruição de propriedade pública, — a outra oficial, esta de aparência
masculina, morena e presunçosa, sorriu fracamente para mim enquanto
listava meus crimes.
Dei de ombros. — Honestamente? Eu deveria receber uma medalha por
decapitar aquela estátua do prefeito Benjamin Lafayette. Ele era um pedaço
de merda fumegante, então, realmente fiz um serviço público.

O idiota engoliu desajeitadamente sua risada assustada, o que me fez


gostar mais dele, mas a policial zombou de mim.

— Desobedecer flagrantemente a lei não é motivo de riso, Srta. Garro. E


acho interessante que você tenha conseguido manter seu senso de humor
depois de alegar que Taylor “Cricket” Marsden a agrediu e tentou estuprá-
la com sua arma.

Engoli o súbito aumento da bile no fundo da minha língua. Eu ainda


podia sentir a pressão do metal contra o interior da minha coxa, como era
frio contra o sangue quente que escorria da minha abertura rasgada.

De qualquer maneira doeu, um comentário como esse, não importa que


eu tenha crescido vivendo o tipo de vida que significava que nasci com
uma pele grossa que só se tornou mais calejada com o tempo. Doeu mais
que uma mulher estava me dando essa merda. Posso ter sido criada num
clube de motoqueiros, mas foram as mulheres deles que me criaram e me
ensinaram que não havia nada tão sagrado quanto o vínculo entre as
mulheres.

— Não é a favor de fraternidade, você é? Julgando uma mulher sobre


como ela tem que superar algo assim,— disse suavemente com um clique
da minha língua.
— É difícil não julgar a filha de um motoqueiro com uma ficha criminal,
começou quando ela tinha treze anos e agora fica sentada rindo de
vandalismo depois que ela matou um homem. Pelo que sabemos, você
gosta de violência e quem saiu do controle não foi ele, mas você com
aquela faca e a oportunidade de acertar numa gangue rival de seu papai.

Houve um estrondo alto do lado de fora da porta e o policial idiota até


se mexeu desconfortavelmente com o insulto dela, mas ignorei e me
inclinei casualmente sobre a mesa de metal entre mim e a policial vadia
para dizer: — Ninguém nunca te ensinou que uma mulher não tem que
agir como um homem para ser poderosa, não é? Nós, mulheres, temos mais
poder em nosso dedo mindinho do que a maioria dos homens espera
exercer em toda sua vida. E uma parte desse poder é apoiar suas irmãs,
acreditando nelas quando elas confessam e apoiando-as quando elas caem.
Vergonha, — dei estalidos com a língua.

Observei com satisfação quando a policial avançou como uma amostra


de pintura do rosa ao vermelho escuro.

Então, continuei.

— E só para acrescentar, você não é tão inteligente quanto pensa que é


se acredita que eu namoraria um homem por quatro anos, deixei-o me
bater e me tratar como merda pelos dois últimos, só para esperar até que
ele finalmente tentasse me estuprar para matá-lo para o bem da “gangue
do meu papai”'? O que, correção novamente, puta, é um fodido clube de
entusiastas de motos.
Inclinei-me de volta na minha cadeira, tentando não deixar um
estremecimento de dor estragar meu sorriso presunçoso. O rosto da cadela
policial estava tão contorcido que ela parecia um anúncio de remédio para
constipação.

— Você terminou.

Assustei-me um pouco, embora estivesse vagamente ciente de uma


comoção fora da sala. Tão rapidamente, acomodei-me de volta em meu
sorriso presunçoso porque conhecia aquela voz e sabia o que ela
representava — justiça, paz, fé — e que ela me apoiaria.

Danner contornou a mesa, com toda a graça e poder enrolado, um


grande gato perseguindo sua presa e fazendo isso com ousadia, porque
furtividade não era nada perto de outras ferramentas em seu arsenal.

— Afaste-se, Jacklin. O capitão está observando e você não quer fazer de


si mesma mais idiota do que já fez, — disse ele assim que chegou ao lado
da policial vadia, inclinando-se pesadamente na mesa para que seu rosto
pairasse sobre o dela.

Um ruído sibilante de irritação cresceu no fundo de sua garganta. —


Você não deveria estar aqui, Danner. Nem deveria estar na maldita estação,
na posição em que está. O fato de você estar diz um inferno de muito, nada
disso é porra ético sobre seu relacionamento com Srta. Garro.

— Você quer falar de ética quando está sentada aí, flagrantemente


insultando uma vítima da porra de agressão sexual, depois que ela teve
que tirar uma vida para salvar a própria? — Danner rugiu, tão atolado em
sua raiva que me preocupei que ele daria uma de Hulk em todos.

Estendi a mão para enganchar meu dedo numa das presilhas de seu
cinto e puxei para que sua fúria se voltasse para mim.

— Estou bem, — disse a ele, minha voz baixa, apenas para nós.

Desde que conseguia me lembrar, Danner e eu ocupávamos nosso


próprio espaço juntos, uma frequência separada de som borbulhava ao
nosso redor, de modo que éramos nós e somente nós que entendíamos o
outro. Isso inchou ao nosso redor agora, próximo e íntimo, erradicando
nossa separação de três anos em pó.

— Você não está, — ele protestou rispidamente.

Suas mãos fortes estavam planas e rígidas na mesa diante de mim,


alinhadas com veias e músculos que estendiam por todo dedo grosso e em
torno de cada palma larga. Eram mãos tão capazes, calejadas de tiro e
guitarra, fortes de esportes e ainda tenras como uma pena quando tocou
minha bochecha.

Coloquei uma das minhas mãos sobre a dele na mesa e encarei seus
olhos furiosos. — Eu vou ficar. Apenas me tire daqui. Você sabe que os
policiais me dão arrepios.

O humor rachou através da raiva em seu rosto como um painel de vidro


quebrado. — Ainda sou policial, sabe, H.R.?
— Oh, eu sei, mas, neste momento, é o diabo que você conhece contra o
diabo que você não conhece, — disse com um encolher de ombros blasé,
porque sabia que isso o faria sorrir.

Sim, apenas uma leve torção de seus lábios, mas foi o suficiente para
mim.

— Desculpe interromper este momento íntimo, — disse a policial vadia,


com severidade. — Mas ainda não terminamos com ela e você não deveria
arriscar sua bunda por estar aqui, Danner.

Danner praticamente rosnou para ela e me perguntei se foram os


últimos três anos que o tornaram selvagem ou o fato de que quase fui
estuprada.

Isso não importava. O Lionel Danner que eu conhecia, agora era apenas
uma moldura dourada em torno de qualquer tipo de homem que ele se
tornou, um que eu percebi que era muito, muito mais sombrio do que o
anterior.

— Você terminou, você precisa de um acompanhamento, então você


contata a Srta. Garro amanhã. Ela ainda está coberta com o sangue de seu
agressor, Jacklin, tenha alguma empatia.

A policial vadia abriu a boca para vomitar mais veneno, mas o policial
bonito ao lado dela colocou uma mão restritiva sobre o braço e balançou a
cabeça. — Danner tem um ponto. Deixe a garota se limpar e descansar.
Podemos fazer uma visita em sua casa amanhã.
Seus olhos brilharam, mas então ela olhou por cima do ombro para o
espelho unilateral e eu sabia que ela estava lembrando de que Danner
havia dito que o capitão estava lá assistindo.

— Vamos antes que eu tenha urticária, — murmurei para Danner,


segurando sua mão rígida na minha enquanto me movia em direção à
porta.

Estava tentando desesperadamente ser alegre, esconder-me atrás


daquele revestimento de titânio de humor farpado e falsa confiança, mas
eu nasci uma fora da lei e as paredes da delegacia estavam se fechando
sobre mim.

E eu não podia suportar essa claustrofobia, não quando minha família


estava, sem dúvida, reunida na sala da frente da delegacia, enfrentando seu
ódio severo por todas as coisas da lei para me ver o mais depressa
humanamente possível. Eu precisava bater na merda das escotilhas,
enjaular a trincheira como uma coisa selvagem dentro do meu peito. Eu
podia sentir isso comendo meu coração, roendo-o com dentes duros e
afiados e rasgando pedaços grandes e sangrentos, mas eu não vacilei,
prometi a mim mesma que não tremeria.

Pelo menos, não até que estivesse sozinha, isolada na casa do meu papai
como uma MC Rapunzel segura numa torre de metal protegida por elos de
corrente.

— Rosie, — Danner interrompeu meus pensamentos antes que eu


pudesse descer as escadas.
Fechei meus olhos com força contra a dor desse nome desse apelido e
respirei fundo antes de dizer: — Sim?

Ele puxou minha mão gentilmente, então girei para encará-lo. Seu rosto
era dolorosamente bonito, traços severos suavizados pela dor e
preocupação, seus olhos tão verdes que brilhavam contra seu bronzeado
dourado, seus grossos cílios castanhos. Pisquei com força e desviei o olhar,
com raiva de mim mesma por ser tão facilmente deslumbrada por ele.
Dedos firmes seguraram meu queixo, inclinando minha cabeça
ligeiramente para trás, então fui forçada a olhar em seu rosto. Seu olhar
varreu cada canto da minha expressão, detalhando cada cicatriz, cada
ângulo, plano e curva de minhas feições. Eu me perguntei se ele estava
combinando realidade com memória, se eu parecia diferente do que era
três anos atrás. Havia uma cicatriz na minha maçã do rosto esquerdo, logo
abaixo do meu olho, onde um dos anéis de Cricket havia partido a pele e
outra no canto inferior direito do meu lábio inferior, onde meu dente
cortou a carne quando eu caí no chão durante um de seus ataques de fúria.
Uma mão se moveu para embalar minha bochecha esquerda, seu polegar
passando sobre a cicatriz levemente, enquanto o outro arrastou sobre
minha boca, abrindo-a num beicinho.

Lágrimas picaram meus olhos, embora eu tentasse me equilibrar com


respirações curtas e superficiais. — Pare, — respirei.

Ele me ignorou, seus traços metálicos duros se fundiram com o calor de


sua raiva e o frio de sua dor. Ele se inclinou em meu rosto e falou baixinho
em minha boca aberta, na esperança de me alimentar com as palavras de
uma maneira que eu pudesse digerir facilmente.

— Quero me desculpar, mas como posso, quando não há palavras para


apagar o que foi feito com você? Sabe, sou um homem de ação, não de
palavras, Rosie, e foda-se, se pudesse, traria aquele bastardo de volta à vida
e escreveria um poema para você em seu corpo com meus punhos e seu
sangue. E você sabe, não sou religioso, porque, foda-se isso, mas por você,
eu pagaria penitência todos os dias com um açoitamento, escreveria linhas
até meus dedos ficarem dormentes e quebrados, autoflagelados até que eu
fosse mutilado, se isso significasse levar essa dor, essa memória e,
principalmente, minha parte nisso, longe de você.

Estremeci sob suas mãos, respirei fundo tão forte que doeu meus
pulmões e depois soltei o ar baixo e lentamente. Eu precisava do ar para
me sustentar, para inflar minha forma por mais um pouco, para não me
dissolver numa poça de lágrimas ali mesmo no chão.

— Você é um mártir de merda, — disse a ele, visando ser atrevida, mas


ficando estranhamente curta. — Isso não é culpa sua.

Sua mão apertou brevemente meu rosto, mas eu não vacilei, porque se
eu soubesse apenas uma coisa na minha vida, era que eu estava segura com
Danner.

— Eu fui embora, — ele murmurou.

— Você foi, — concordei, então, porque não era o tipo de garota que se
continha, acrescentei: — Doeu como um filho da puta.
Os olhos dele brilharam. — O mesmo para mim.

— Sua escolha, então, não tenho nenhuma simpatia por você lá. Dito
isto, não seja um idiota de merda e assuma que sua deserção me levou a
ficar com um louco por mais tempo do que eu deveria. Você não
costumava ser tão cheio de si mesmo.

— Rosie... — ele começou, mas achei uma centelha de fogo na minha


barriga e a agarrei.

Eu o empurrei e recuei alguns passos. — Pare de me chamar assim,


Danner. Não sou mais sua Rosie. Minha vida não tem nada a ver com você.
Eu fodi tudo, eu matei Cricket, eu fui o fodido clichê que deixou seu homem
bater porque minha cabeça não estava certa. Nem você. Nem o meu pai,
como aquela policial vadia implicou. Eu. Obrigada por vir para mim,
obrigada por me tirar dessa porra de caixa. Se você precisa pagar
penitência, aí, você fez isso. Agora, podemos terminar. Novamente.

— Foda-se, isso, — Danner rosnou, os tendões em seus antebraços se


contraíram de uma maneira que percebi que era deliciosa, mesmo através
do meu crescente delírio. — Você acha que isso é o fim, você não cresceu
tanto quanto eu pensei nos últimos três anos.

— Foda-se, — gritei para ele com os dentes à mostra. — Você não sabe
merda nenhuma!

Irritantemente, ele apenas ergueu uma sobrancelha e cruzou os braços


amarrados sobre o peito. — Fui eu que tirei você desta merda, Harleigh
Rose, você acha que eu não sei de merda nenhuma?
— Essa merda não define minha vida, — gritei com ele, furiosa com a
ideia.

Furiosa demais para perceber a forma como seus lábios se contorceram


de satisfação, para me perguntar porque é que ele estava me hostilizando
depois do que eu acabei de passar.

Furiosa demais para perceber que ele estava me dando força da única
maneira que eu sabia como tomá-la — furiosamente — para que eu
pudesse ir para a sala principal e enfrentar minha família com força do jeito
que eu queria, mas fui apenas há alguns segundos, incapaz de fazer.

— Não importa, — ele concordou. — Mas eu te conheci aos sete, onze e


dezessete. Levei você e King para a escola, falei merda com você na Mega
Music por horas todos os domingos durante anos. Você acha que três anos
significam que não te conheço, Rosie, você está fodidamente errada.

— Eu não quero, porra, vê-lo de novo, Oficial Danner, — zombei dele,


minha raiva como uma espada em chamas na minha mão, armada e pronta
para enfrentar qualquer adversário.

Fiz uma careta quando Danner apertou seus lábios, para não sorrir, ao
que parecia, e deslizou seu olhar preguiçosamente sobre meu corpo. Estava
coberta de sangue e machucada, minhas pontas dos dedos pretas com tinta
policial, mas ele olhou para mim como se eu fosse algo magnífico, algo
digno de admiração.

— Eu sei que você ainda me surpreende, — ele murmurou, mesmo


quando ouvimos comoção no fundo da escada e então King estava
levando-a dois de cada vez para chegar a mim, enquanto meu pai gritava
com um policial que tentava impedi-lo de subir atrás de mim. — Saiba
disso de uma forma que eu sei que você nunca vai parar de fazer isso.

Pisquei para ele, minha raiva momentaneamente esquecida. Nunca, mas


nunca, Lionel Danner confessou sua atração por mim, nem mesmo depois
do beijo que mudou tudo tantos anos atrás.

— H.R., Cristo, foda-me, — King rosnou em meu ouvido um segundo


antes de enrolar em volta de mim, seus longos braços gentis enquanto me
envolviam contra seu peito.

Fechei os olhos, respirei profundamente seu cheiro de roupa limpa e me


esqueci de Danner, de Cricket, do sangue e do peso de um cutelo nas mãos.
Meu irmão estava lá e, dois segundos depois, quando braços ainda mais
grossos se apertaram ao redor de nós dois, eu sabia que meu pai também
estava.

— Minha garotinha, — ele resmungou, e eu sabia que havia uma


tristeza em seu interior tão profunda que fez meu pai motoqueiro grande e
mau quase chorar. — Eu tenho você.

— Sim, nós temos você, — King murmurou no meu cabelo.

O medo que eu não tinha percebido que pairava sobre mim começou a
se dissipar, porque não havia lugar mais seguro para mim neste planeta do
que entre meus dois homens Garro. Meus olhos se abriram para procurar
Danner, porque eu sabia de uma maneira que não poderia descrever que
sentia o mesmo por ele, mas ele se foi.
Capítulo Quatro
Eu fui ao funeral.

Foi uma ideia estúpida.

Sim, a polícia tinha varrido os detalhes reais do assassinato de Cricket


para baixo do tapete, mas não havia mais nenhum motivo para eu me
associar ao The Berserkers MC e, se você recebesse uma saída de um
mundo como esse, se fosse qualquer coisa, tudo menos certificável insano,
você pegaria.

Eu sempre fui um pouco louca.

Eu queria ir ao funeral.

Principalmente, eu queria cuspir na cara de Cricket antes que o


incinerassem em cinzas, mas outra parte de mim, uma que nasceu na
cultura MC, tinha muito respeito pelas tradições da vida no clube para
ignorar meu dever como a “old lady” de Cricket e não comparecer.

Havia também o fato de que minha segurança dependia muito da porra


dos irmãos Berserker acreditarem na história que a polícia inventou para o
assassinato de Cricket. Eu não sabia os detalhes, mas sabia o suficiente
sobre policiais para saber que, na melhor das hipóteses, poderia ser frágil,
então cabia a mim cuidar de mim de mesma.
Então, convenci Lila a me dar uma carona para o isolado Cate's Park, ao
norte de Vancouver para o funeral, enfeitada no meu melhor estilo garota
motoqueira, jeans skinny preto apertado e enfiado em botas de couro preto
de salto alto, uma gola V preta com cordões no pescoço e minha jaqueta de
couro preta necessária. Meu cabelo grosso era uma massa ondulada e
desgrenhada nas minhas costas e meus olhos azuis estavam cheios de
delineador. Inapropriado para a maioria dos funerais, mas este era uma
reunião de motoqueiros, era meu dever como old lady de Cricket aparecer
forte e bonita, para mostrar a seus irmãos o tipo de mulher que ele era
capaz de manter.

Não sentia nenhuma obrigação para com ele, obviamente, mas ainda era
filha de meu pai e, mesmo que eu tenha sido de Cricket, era uma Garro
primeiro. Eu representava o The Fallen MC e nenhuma mulher nascida
com eles seria fraca o suficiente para parecer mal-humorada, zangada ou
malcuidada.

Mantive essa merda dentro do meu coração enegrecido e quando me


pavoneei pela areia caramelo em direção à massa negra de motoqueiros
que cercavam a canoa talhada à mão contendo o corpo envolto de Cricket,
fiz isso com um sorriso colado nos meus lábios vermelho-sangue.

— Tarde, rapazes, — praticamente ronronei enquanto me aproximava


da linha de frente dos enlutados.

Meu coração estava batendo estranhamente, muito furioso e muito


lento, golpes brutais de gongo contra minhas costelas a cada poucos
segundos que faziam minha respiração engatar. Tentei controlar meu
pulso, porque se alguém notasse algo assim, seria Wrath Marsden, Vice-
Presidente do Berserkers MC e primo muito mais velho e mais legal de
Cricket.

Eu podia sentir seus olhos em mim instantaneamente, o calor, o peso


duro deles como uma de suas grandes mãos cicatrizadas pressionando
meu peito. Ele foi escalado pelo Sargento de Armas de Berserkers, Grease
Montgomery, e pelo Pres de todo o MC, Reaper Holt. Eles eram dois dos
homens mais assustadores que eu já vi e, definitivamente, dois dos homens
mais aterrorizantes que já conheci, o que significava algo, dado a minha
educação. Apesar da atenção que eles exigiam, eu só tinha olhos para o
homem no centro deles.

Wrath era o tipo de motoqueiro que foi adotado. Criado por dois pais
alcoólatras, a mãe uma stripper e o pai, segurança de uma boate, ele veio
de uma vida difícil e aprendeu cedo que a maneira mais fácil de sair da
pobreza era canalizar seu tamanho — dois metros aos dezesseis anos e
totalmente crescido — como uma ferramenta para emprestar às gangues
que governavam as ruas. Ele começou como um humilde executor da
Triad, o sindicato chinês do crime, e, então, rapidamente descobriu o apelo
de uma Harley entre suas coxas, prospectando para Berserkers aos dezoito
anos e, agora, doze anos depois, era VP. Isso não era pouca coisa, dada a
sua juventude, e estava diretamente relacionado com a quantidade de
sangue que ele derramou com aqueles punhos tipo martelo e a quantidade
de sangue que ele salvou de ser deixado dentro de suas próprias fileiras
graças ao seu QI acima-da-média de motoqueiro.
Como se isso não fosse aterrorizante o suficiente, Wrath era bonito.
Você acha que não há algo ameaçador na beleza, você nunca viu, não
realmente. Há tanto poder numa coisa bonita, em sua capacidade de
governar seus pensamentos e manipular suas ações. É uma coisa brilhante
e somos todos apenas corvos, impotentes contra seu apelo.

Wrath era uma das coisas mais brilhantes que eu já vi, tão bonito que
era assustador e tão aterrorizante que era, para alguém que apreciava essas
coisas, lindo. Eu nunca tinha visto um homem maior, nem mesmo meu pai
gigante era tão alto e esculpido em músculos de granito, mas toda essa
dureza foi suavizada por uma queda espessa e brilhante de cabelo
castanho-dourado e olhos grandes tão claros e pálidos de um azul que
parecia a superfície plácida de um lago. Sua boca era exuberante, uma
curva grossa acima e abaixo que cortava a escuridão de sua barba e
ampliava sua ridícula beleza.

Ao longo dos anos, fiz um estudo sobre Wrath Marsden, mas não
porque ele era bonito.

Não, eu fiz um estudo sobre o VP dos Berserkers e assassino implacável


porque ele fez um estudo sobre mim.

Tinha a sensação de que, se seu primo não tivesse me conhecido


primeiro, ele me teria em sua cama num piscar de olhos.

Ele me observava então, com sua mandíbula firme, mas o rosto


impassível. Havia uma ameaça em algum lugar, eu podia ler na ausência
de sua expressão.
Ele não acreditou na história da morte de seu primo.

Mais do que isso, ele não acreditava que eu não tinha participado disso.

Foda-se.

— Harleigh, baby, — disse Reaper, sua voz tão ardente quanto a nuvem
de fumaça saindo de sua boca entupida de cigarro. Ele abriu seus braços
curtos e atarracados para mim. — Venha para Reaper.

Fui sem hesitação, embora a ideia de ser tocada ainda enviasse arrepios
violentos pelo meu corpo.

Reaper Holt não era alguém a quem você desobedecia.

Ele me envolveu num abraço apertado, seu nariz se enfiou no meu


pescoço, porque estávamos na mesma altura, comigo em minhas botas
altas. Tentei não estremecer quando ele me cheirou profundamente, e sua
mão carnuda caiu nas minhas costas para se curvar na minha bunda,
dando-lhe uma palmada antes de me soltar.

— Você parece bem, baby, — ele me disse, seus olhos castanhos


injetados de sangue brilhando.

Ele tinha uns cinquenta anos, mas tinha a libido de um adolescente. Ele
nunca foi casado, mas, pelo que se sabe, tinha doze filhos, todos de
mulheres diferentes, e essas foram apenas as que tiveram a coragem de se
apresentar para conseguir dinheiro para a pensão alimentícia. Não entendi
o apelo, mas então, você não precisava achar Reaper atraente para transar
com ele. Passei a vida inteira assistindo mulheres atraídas para o bando de
motoqueiros, fascinadas pela emoção da rebelião, de domar um garoto
mauzão, de se revelar no pecado.

Dormir com um fora da lei era como dormir com um animal selvagem.
Somente as muito estúpidas ou muito corajosas enfrentavam o risco que
aquele animal viraria, arrancando seus olhos e comendo sua garganta antes
que você pudesse piscar. Conheci mulheres que escolheram bem, as
corajosas, como minha madrasta/melhor amiga Loulou Garro e a mulher
de meu irmão, Cressida Irons. Elas não tinham domesticado os mustangues
que encontraram, apenas aprenderam a montá-los bem, sobre o terreno
irregular de suas vidas de motoqueiros e através da selva de suas
realidades frequentemente violentas.

Eu também conhecia as estúpidas. Toneladas delas.

Eu também era uma delas.

Cricket era um animal e não valia a pena tentar domesticar ou cavalgar.


Ele era algo pequeno, astuto e selvagem, um guaxinim durante o dia que
passa fome e enlouquece.

Pela milionésima vez nos últimos quatro anos, perguntei-me como pude
ter sido enganada por ele?

E pela milionésima vez, a mesma resposta veio a mim.

Havia uma pequena parte da minha autoestima que foi corrompida,


afundada com uma podridão tão profunda que toda a confiança em cima
dela era surpreendentemente precária. E essa podridão veio diretamente da
minha mãe cadela.
Fui amada por homens durante toda a minha vida, confiei neles para
cuidar de mim, mais do que isso, para me valorizar.

Foi uma mulher que me ensinou a me odiar, que eu não tinha nada a
oferecer e nada a ganhar com a vida porque eu não era nada. Nem mesmo
digna do amor da minha mãe.

Então, cometi um erro. Escolhi confiar no sexo masculino


implicitamente e evitei aquele canto pútrido da minha alma onde a dúvida
e a aversão pairavam como preguiçosos do ensino médio. E, ao ignorá-los,
permiti que eles vandalizassem toda a minha alma com a anarquia até que
me tornasse exatamente o que minha mãe queria que eu fosse.

Nada.

Cressida fez sua pesquisa, tentando, freneticamente, encontrar respostas


em sua preciosa literatura que pudesse explicar onde eles, a família,
erraram ao me criar. Eu poderia ter dito a ela que não era ela ou eles, muito
menos o meu pai. Às vezes, basta um ovo estragado e tudo isso.

Ela bateu na estatística no site Canadian Women's Foundation and


Child Help4, embora.

Filhos de abuso têm o dobro da probabilidade de ser abusadores ou


vítimas de abuso na idade adulta. Eles são quase nove vezes mais
propensos a se envolver em comportamentos criminosos, o que me fez rir.
King era um prospecto para o clube de motoqueiros fora da lei do meu pai,
e eu tinha uma ficha criminal desde os 13 anos.

4 Fundação Mulher Canadense e de Ajuda a Meninas.


Não me fez sentir melhor saber que havia ciência por trás de minhas
ações patéticas, mas ajudou minha família, então fiquei quieta enquanto
eles caçavam informações para alimentar a boca aberta do desespero em
suas entranhas.

O monstro na boca do meu estômago continuava faminto.

— Sinto muito sobre Cricket, — Reaper interrompeu meu torpor


inoportuno para dizer. — Bom garoto.

Eu podia sentir os olhos afiados de Wrath cavando em meu peito como


a ponta de uma lâmina, então tive o cuidado para não fazer uma cara de
nojo com essas palavras. Cricket não era um garoto, ele morreu aos vinte e
quatro anos, e não estava em forma, nenhuma forma em bom estado.

Em vez disso, deixei as lágrimas encherem meus olhos até a borda, mas
não transbordaram. Não adiantaria exagerar, e eles esperavam que eu fosse
dura duas vezes, como uma old lady e, mais, como uma Garro.

— Não posso acreditar, — sussurrei, olhando de Reaper para Grease e


para Wrath e de volta, para que todos pudessem ver os meus olhos azuis se
afogando. — Diga-me que você sabe quem fez isso com ele. Diga-me que
você vai pegá-los.

Grease deu um passo à frente, seu rosto esburacado ainda mais


texturizado com um sorriso desagradável. — Oh, nós vamos pegá-los.
Tenho informações sólidas de que foram os malditos Red Dragons.

Assobiei suavemente e balancei para trás em meus calcanhares,


genuinamente surpresa que os policiais pensaram em culpá-lo no sindicato
asiático do crime organizado, baseado, principalmente, no centro de
Vancouver. Foi um movimento ousado, muito além de mover um peão no
tabuleiro, eles colocaram sua rainha em risco com a chance de derrubar
duas gangues pelo preço de uma.

— Isso significa guerra? — perguntei.

Reaper acariciou seu cavanhaque longo e lançou um olhar de soslaio


para Grease. — Não estou convencido de que foram os chinocas. Estava
pensando que talvez fosse um MC rival.

Fiz uma careta. — Anonymous MC adere a Langley, não sabia que você
tinha problemas com eles.

— Nós, não.

Pisquei para Reaper, minha mente zumbindo até o clique.

— Você acha que foi a porra de The Fallen? — exigi, dando um passo
em frente para ficar na cara feia de Reaper.

Ele deu de ombros. — Já faz um tempo, mas tenho certeza de que você
se lembra que seu tio Crux assassinou três de meus irmãos a sangue frio.

Lembrei-me. Era uma garota, então nunca poderia ser um verdadeiro


membro de The Fallen, mas eu era a Princesa deles, e embora eu estivesse
protegida das atrocidades do mundo exterior enquanto crescia, eu conhecia
muito bem o caos da vida MC. Meu tio-avô Crux tinha sido, para dizer o
mínimo, um psicopata. Ele matava indiscriminadamente apenas porque
tinha sede de sangue e violência, da mesma maneira que um alcoólatra por
bebida.
Ele até matou membros do seu próprio grupo.

Então, meu pai o matou e tomou seu trono de cromo e ferro.

Para alguns, isso pode transformar seu pai num assassino. Para mim,
isso o tornou um herói.

Eu não disse nada disso para Reaper. Tomei cuidado com ele. Ele estava
muito feliz por ter um membro da família Garro dentro do rebanho
Berserker, e muitas vezes me pressionou ou tentou me manipular para
obter informações privilegiadas.

Ele era um bandido com seguidores leais. Era fácil enganá-lo.

Era Wrath, parado silenciosamente atrás dele, que representava um


desafio.

— O negócio do clube é assunto deles, o que eu sei sobre isso? — sugeri


com um encolher de ombros. — Você sabe como é ainda melhor do que eu.

— Sim, — disse ele, apertando os olhos com força para mim. — Só


queria saber se talvez seu pai pegou a tocha de seu velho tio contra nós.
Acha que é provável?

Escavação.

Queria revirar meus olhos, mas para um motoqueiro como Reaper isso
significava desrespeito flagrante que ele retificaria com os punhos.

— Vamos pensar desta forma, The Fallen tem uma coisa boa
acontecendo com seu produto e você tem uma coisa boa acontecendo com
seu comércio de armas, você acha que eles querem começar uma guerra
por algo que eles não dão a mínima para levar em si mesmos?

Reaper me encarou com seus olhos brilhantes por um longo minuto,


mas não vacilei.

— A cadela tem um ponto, Pres, — Wrath disse calmamente.

— Sim, talvez, — ele murmurou, mas eu podia dizer pela maneira como
seus olhos se voltaram para Grease, que estava saltando levemente sobre a
planta dos pés, que eles estavam ansiosos por algo, e eu tinha um
pressentimento poderoso de que esse algo era o sangue dos homens Fallen.

— Vamos fazer isso, — sugeriu Wrath, batendo uma mão enorme no


ombro de Reaper. — Os irmãos estão prontos para comemorar a morte de
Cricket na sede do clube.

— Eles vão esperar até que eu, porra, diga isso, — Reaper latiu, seus
cabelos da nuca levantados por qualquer semelhança de alguém tomando
o controle além dele.

Ele odiava Wrath por sua inteligência, tanto quanto ele era grato por.
Era um equilíbrio perfeito e um que Wrath milagrosamente manteve sob
controle.

— O que você disser, irmão. Só estou de olho no tempo. Parece que vai
chover e vai ser um fracasso se não conseguirmos acender essa merda.

Nós quatro olhamos para o céu de junho, enrolando nas bordas em


nuvens da cor de papel carbonizado. Reaper grunhiu, sua concessão a
Wrath, e depois partiu em direção à linha d'água.
— Vamos fazer isso, — ele gritou, e todos que estavam conversando
imediatamente caíram num enorme semicírculo ao seu redor.

A maioria dos clubes tem seus próprios rituais funerários, geralmente


algo autêntico em sua origem ou cultura. The Fallen joga moedas no caixão
para pagar a passagem do falecido com o barqueiro, assim como eles
faziam nos tempos da Grécia Antiga.

Os Berserkers eram um pouco mais intensos, quase ao ponto de serem


pagãos.

Assisti como dez dos irmãos mais fortes grunhiram e ergueram a canoa
pesada com o corpo de Cricket no ar em seus ombros. Ao mesmo tempo, a
multidão ao meu redor começou a zumbir e bater suas botas na areia
úmida. Adicionei minha voz ao aumento agudo de som e se a minha estava
tingida de dor e marcada pela raiva, ninguém percebeu.

Os carregadores da canoa entraram no Pacífico frio sem estremecer, os


homens da frente até seus coletes na salmoura gelada antes de deixarem a
canoa ir com um empurrão.

A multidão parou seu zumbido quando os irmãos voltaram para a praia


e Wrath entregou a Reaper um enorme e moderno arco e flecha. O Pres
girou para Grease, que jogou a ponta de uma flecha embrulhada num pano
em uma jarra de gasolina e a acendeu com seu isqueiro. O som que fez foi
alto no silêncio mortal, o silvo de uma cobra prestes a atacar.
Assisti sem respirar enquanto Reaper ajustava sua postura e deixava a
flecha voar alto para o céu. Menos de um segundo depois, ela bateu direto
no peito revestido de gasolina de Cricket e explodiu em chamas.

Olhei para o inferno e silenciosamente amaldiçoei Cricket até os confins


do inferno, condenado a uma tarefa infrutífera e interminável como Sísifo a
rolar sua pedra colina acima várias vezes sem conta. Era muito apropriado,
dado que foi o que fiz nos últimos quatro anos, lutando para tirar do meu
coração o peso de seus crimes contra mim, contra nosso amor.

— Ele amava você, — disse uma voz profunda, áspera de um modo que
falava de um maço de cigarros por dia. — Costumava dizer: “consegui
para mim a garota mais bonita do mundo”.

Não pude lutar contra o arrepio que puxou minha espinha. — Sinto
muito por sua perda, Wrath.

Sua respiração estava quente na pele do meu pescoço e eu podia sentir


seu corpo curvado sobre mim, protegendo-me dos outros enquanto
simultaneamente me intimidava com seu tamanho. Ele era um idiota se
pensava que sua massa enorme me assustaria. Claramente, ele não
conhecia meu pai.

— Nunca entendi porque ele falava sobre sua aparência, — ele


continuou como se eu não tivesse falado. — Claro, não tenho dúvidas de
que você ficaria bem tomando meu pau, ou de qualquer homem, mas eu
também pensei que Cricket estava perdendo o ponto em você.
Engoli em seco, mas infundi minha voz com meu sarcasmo
característico. — Você com certeza sabe como elogiar uma mulher.

— Esse ponto é, o cérebro nessa cabeça bonita. Veja, tenho essas


perguntas que precisam de respostas desde que você se envolveu com meu
primo. Como, por que diabos que uma princesa do MC se enrolaria com
um homem de um MC rival? Por que ela permaneceria leal a ele quando
ele começou a tomar essa beleza e profaná-la com hematomas? Por que ela
o amaria quando ele nem sequer tinha o ponto dela além do belo conjunto
de seu rosto?

— Parece que você passou muito fodido tempo pensando em mim,


Wrath — murmurei, colocando meu queixo no ombro esquerdo para que
ele pudesse ver a curva da minha bochecha, o vermelho dos meus lábios
enrolados e a maneira como meus cílios vibraram como fãs. Minha bunda
pressionou ligeiramente para trás na sua virilha e fiquei triunfante ao
encontrar seu pau duro contra sua coxa. — Talvez essas sejam as perguntas
que você está fazendo como homem e não como primo.

Ele respirou com dificuldade em meu ouvido enquanto eu me


pressionava em sua ereção e depois me afastei. Sua mão me atacou rápido
como um flash para envolver com força meu pulso e me puxar de volta
para ele. — Talvez, eu seja. Mas lembre-se disso, Harleigh Rose, homem ou
primo, sou sempre o VP deste clube. É melhor você lembrar que está
jogando com um irmão que não tem medo de violência e assassinato.

A raiva que estava adormecida na minha barriga desde o momento em


que Cricket me atacou no meu apartamento, me bateu e tentou me
estuprar, ganhou vida tão forte quanto as chamas em torno de seu corpo
agora carbonizado. Arranquei minha mão das garras de Wrath, girei para
encará-lo e pressionei meu joelho com força em sua virilha, sob suas tenras
bolas.

— Sim, bem, você se lembra disso, grande homem. Sou a princesa do


The Fallen MC, e não uma idiota fungante da Disney sem meios para se
salvar. Sou uma princesa guerreira, do tipo que corta suas bolas e as serve
para a porra do chá, você me entende? Então, da próxima vez que você me
ameaçar, por que não se lembra disso?

Empurrei seu peito e segui adiante na praia, longe dele. Não comecei a
respirar novamente até ter dado vinte passos sem Wrath me seguir. Não
havia nenhuma dúvida em minha mente que Wrath estava de olho em
mim, de maneiras mais incômodas do que uma.

— H.R., — uma voz gutural chamou, e me virei para ver Laken Bard,
minha única e verdadeira amiga nas cadelas Berserkers.

Inclinei meu queixo para ela, mas continuei andando. — Tenho que ir.

Ela franziu a testa e gritou, mesmo que tenha atraído olhares que eu não
queria que sobre nós: — Você vem ao clube para o velório.

Não era uma pergunta, mas até aquele momento eu não tinha certeza se
iria. Laken estava me lembrando da única maneira que podia que eu não
tinha escolha. Se eu não estivesse na esteira do meu old man, seria notado
e, embora eu tenha acabado tecnicamente com os Berserkers, para eles
ninguém estava acabado, a menos que eles próprios cortassem o cordão.
Tinha que dar a eles a oportunidade de fazer isso.

— Sim, vejo você, então, — gritei, prestes a me virar e pegar uma carona
com um dos motoqueiros que já estava saindo quando avistei um homem
alto e loiro envolvendo os braços em volta de Laken.

Mesmo antes de me virar para encará-los completamente, eu sabia no


fundo do meu peito quem estaria a segurando, porque meu corpo sabia
intrinsecamente sempre que ele estava por perto.

Não deveria tê-lo reconhecido naquele breve vislumbre, não com o


colete de couro apertado em seu peito largo, um lobo rosnando remendado
nas costas sob o “Berserkers MC” a insígnia completa, e um vermelho
brilhante, verde e preto emaranhados de uma tatuagem espreitando por
baixo dele.

O homem que eu conhecia usava botas Timberland, não de


motoqueiros, camisas xadrezes e não camisetas sujas, e ele sempre tinha o
cabelo dourado limpo e brilhante alisado longe de sua testa, em vez da
bagunça que atualmente caía sobre seus olhos.

Arrastei uma respiração profunda e estabilizadora em meus pulmões


antes de olhar para ele e ainda me bateu mais forte do que ver Cricket
queimar, ver o Oficial Lionel Danner emaranhado num beijo apaixonado
com minha melhor amiga, Laken Bard.
Capítulo Cinco
O clube Berserker não era como o de The Fallen. Era numa enorme casa
vitoriana de quatro andares num grande terreno em West Van. O clube
possuía os dois lotes de cada lado, um que foi convertido numa enorme
garagem para suas motos e equipamentos e o outro que alugavam para
motoqueiros nômades e afiliados de Berserker para evitar vizinhos
intrometidos e reclamações de barulho. Os policiais basicamente viviam do
lado oposto da rua, constantemente procurando um motivo para derrubar
o clube, mas após vinte anos de existência, o clube permaneceu
praticamente ileso.

Eles estavam lá então, assistindo de um carro não identificado que todos


sabíamos que era um policial. Ninguém se importou. A noite ficaria
turbulenta, sem dúvida, como apenas o velório de um motoqueiro poderia
ser, mas não valia a pena nos prender. Além disso, eu sabia com base em
Cricket, que não era o tipo de motoqueiro que escondia as coisas de sua
mulher, que o clube tinha uma série de chefes na corporação na folha de
pagamento.

Então, a festa estava agitada e ninguém se importou que a porra da


polícia estivesse do lado de fora da porta. Os motoqueiros estavam
embalados de bêbados, capítulos de toda a província até Saskatchewan
estavam na cidade para o funeral, embora Cricket só recentemente tivesse
se tornado um membro totalmente remendado. Ainda assim, seu primo era
o vice-presidente do capítulo mãe, então todos queriam prestar seus
respeitos. Cricket fez o possível para me manter longe das reuniões do
Berserker MC, o que provavelmente foi sua única qualidade redentora no
final, então, eu não conhecia a maioria das pessoas me oferecendo suas
condolências e foi fácil, o suficiente, mentir com meu sorriso quando lhes
dei meus agradecimentos.

— Honestamente, querida, você era boa demais para Cricket de


qualquer maneira, — Sheila me disse enquanto bebia casualmente seu
mickey5 meio vazio de rum temperado.

— Sheila, — Sara repreendeu-a com um rápido olhar de desculpas para


mim, como se ela fosse responsável pelo comentário insensível de sua
amiga.

— O quê? É verdade. Até Cricket sabia disso.

— Não importa muito, — disse a ambas com um sorriso fino que eu


esperava que fosse interpretado como triste e não enojado. — Ele se foi
agora.

— Exatamente, é isso que estou tentando dizer, — gritou Sheila,


embriagada e muito mais.

A maioria dos enlutados estava pelo menos muito bêbado, se não mais
fodido com coisas mais pesadas do que bebidas. Nunca gostei de ir a festas
Berserker porque os irmãos eram conhecidos pelo uso prolífico de drogas.
Sempre me pareceu irônico que os Berserkers, que vendiam armas, fossem
5 Uma pequena garrafa de 375ml de licor. Principalmente, um termo canadense.
usuários da pesada, enquanto os The Fallen, que vendiam maconha de
qualidade, prendiam-se apenas ao material suave.

— Tentando dizer o quê? — Sara disse revirando os olhos.

— É hora de H.R. seguir em frente! Todos sabemos que ela é gostosa o


suficiente para enfrentar um dos meninos grandes, — disse Sheila com
uma risadinha cheia de soluços.

— A maioria deles está tomado, — disse Jade. Ela era a old lady de
Grease, embora o apelido fosse impróprio porque a garota era duas
décadas mais jovem que ele.

— Não, Wrath, — Sheila cantou. — E eu o vi olhando para ela.

— Você viu merda, — Jade assobiou. — Sempre pensando que algo é o


que não é. O que você está fazendo olhando para Wrath de qualquer
maneira, vadia? Ele está muito acima do seu alcance.

— Não seja uma vadia, Jade, — disse suavemente. Cresci em torno de


garotas motoqueiras, sabia como navegar na selva melhor do que qualquer
um poderia. — A garota está tentando me fazer um elogio, o que é
apreciado. Embora, Sheila, querida, tem que ser dito, este é o velório do
meu old man. Não estou pronta para falar sobre seguir em frente ou para
cima, no momento.

As três mulheres tiveram a gentileza de parecer moderadamente


castigadas, mesmo que Jade parecesse ter engolido uma dúzia de limões.

— Vou pegar outra cerveja, precisa de alguma coisa? — perguntei,


afastando-me delas para que eu pudesse vê-las balançar a cabeça.
Eu me virei e me esquivei facilmente em meio através da confusão de
corpos espalhados pelos quartos. A onda de sons e cheiros humanos me
deixou nauseada, e uma pequena parte de mim argumentou que eu fui
recentemente traumatizada, então sentindo ansiedade em espaços
fechados, especialmente aqueles cheios de homens, e esses homens com
muito pouco respeito pela autonomia das mulheres, provavelmente não era
uma boa ideia.

Mesmo pensando isso, dei de ombros. Nunca fui o tipo de garota de


“boa ideia” e não via nenhum motivo para começar.

Claro, essa foi uma decisão estúpida e eu aprendi isso cerca de trinta
segundos depois de ter decidido ficar.

— Aqui está ela, — disse Twiz no mesmo segundo em que disparou de


um pequeno quarto de hóspedes e me puxou para dentro. — Estávamos
procurando por você.

— Parece a porra do Natal, — disse Pink Eye sobre o som de suas


palmas. — Ding Dong, o Cricket está morto, e podemos pegar sua garota!

— Não é uma canção de Natal, Pink, — Mutt apontou como se ele fosse
o mais inteligente quando ele definitivamente não era.

Lutei contra o grande corpo de Twiz quando ele me empurrou contra a


parede, depois desisti e olhei para ele. — Que porra vocês acham que vocês
estão fazendo?

Twiz abaixou seu rosto peludo para traçar sua língua no meu pescoço
numa longa trilha pegajosa. — Você está disponível agora, querida.
— E nós agarramos você primeiro! — Pink Eye praticamente gritou, tão
alterado num coquetel de drogas que, por um momento aterrorizante,
minha mente transformou sua cara jovem e borbulhenta no mais bonito e
morto de Cricket.

Tentei manter meu juízo sobre mim, mas o sistema nervoso do meu
corpo estava inundado de adrenalina, fazendo minha pele suar e meu
cérebro derreter numa poça inútil. Não ajudou que Mutt estava alcançando
entre o meu corpo e o de Twiz para agarrar o meu peito.

— Você disse que me agarrou primeiro, — balbuciei levemente através


das minhas palavras. — Mas, vocês são três.

— Sim, sabemos que você pode ser uma vadiazinha mal-humorada, —


Twiz murmurou em meu pescoço. — Então, achamos melhor pegar você
como um time.

— Vocês vão me foder como um time também? — perguntei.

Twiz e Mutt congelaram contra mim, mas Pink Eye começou a pular
para cima e para baixo gritando sim, sim, sim!

Mas eu conhecia Twiz e Mutt. O primeiro era um ex-jogador de futebol


profissional de B.C. Lions que rasgou seu ACL, ficou viciado em seus
analgésicos e entrou no clube depois de ter que pagar seus traficantes com
trabalho de fiscalização. Ele achava que era tudo isso, mas o seu instinto, a
sua falta de higiene e sua concussão cerebral muitas vezes não falavam com
um bom tipo de homem.
Mutt tinha um chip no ombro 6 do tamanho do Texas. Ele era uma
mistura de minorias, mexicano, indígena e filipino que o tornavam
incrivelmente bonito. Infelizmente, ele também nasceu um psicopata; um
agressor sexual de múltiplas ofensas, encarcerado por assassinato na
última década, ele acabara de voltar em liberdade condicional e estava
ansioso para recuperar seu lugar no clube.

Ambos me queriam, mas não queriam compartilhar. Eles queriam a


ficha Garro de mil dólares no bolso de trás, para que pudessem trocá-lo
com o Reaper, me quebrar e me abrir até que todos os segredos de The
Fallen fossem expostos e eles pudessem ser os únicos a colher as
recompensas.

Eles pensavam que Cricket era burro, ou não duro o suficiente comigo,
que eles poderiam ser os únicos a me arruinar.

Felizmente, eles eram estúpidos demais para ter sucesso.

— Realmente, meninos, estou surpresa que vocês não tenham pensado


nisso. Quem vai me reivindicar na frente do Pres? — perguntei, ciente de
que o aperto de Twiz havia escorregado em minhas mãos que ele
pressionou contra a parede. Eu só precisava que ele desse um pequeno
passo para trás...

— Eu a peguei, — Twiz resmungou.

— Foda-se que você fez, — Mutt rosnou, e mudou de posição para que
ele não estivesse mais pairando sobre mim, mas Twiz. — A ideia de levá-la
foi minha, porra!
6 Chip no seu ombro, refere-se a alguém cujo comportamento indica que tem algo a provar.
Twiz se virou para encarar seu acusador e lá estava, aquele ligeiro
movimento que me deu espaço suficiente para levantar o joelho e enfiá-lo
impiedosamente em seus testículos.

Felizmente, Mutt aproveitou a mesma oportunidade para atacá-lo com


um soco no queixo. Esquivei-me da parede pouco antes que ele jogasse um
Twiz cambaleante no espaço que acabei de ocupar. Uma lâmpada caiu do
lado da mesa de cabeceira na comoção e eu esperava que Pink Eye
estivesse muito preocupado com a escaramuça para me ver sair pela porta.

A esperança é um sentimento tão estúpido.

Gritei quando uma mão forte me pegou pelo meu cabelo voando e me
puxou para trás com tanta força que lágrimas imediatamente surgiram nos
meus olhos e correram pelas minhas bochechas quentes.

— PEGUEI ELA! — Pink Eye gritou como uma criança demoníaca


quando me puxou com força contra o peito e envolveu seus braços magros,
mas estupidamente fortes, ao meu redor.

Chutei minhas pernas no ar, tentando me lançar para frente com ímpeto
suficiente para jogá-lo por cima do ombro. Eu era alta, tinha mais de um
metro e oitenta, e já tinha feito a manobra antes, mas Pink Eye estava
fortalecido por uma mistura de drogas supersônicas e ele me segurou bem
o suficiente para nos levar ao chão. Aterramos com força, eu no mesmo
quadril machucado em que caí quando Cricket me jogou no chão. A dor
explodiu em meu corpo e ricocheteou em estilhaços de agonia por todo o
meu corpo.
— Porra! — gritei, momentaneamente cega pela dor.

Pink Eye aproveitou a oportunidade para me montar, envolvendo-me


com tanta força em seus membros musculosos que eu não conseguia
respirar, não conseguia me mover. O pânico sobrecarregou meu sistema
rapidamente, quando fui atirada de volta ao meu ataque. Foi apenas o grito
horrível e arrepiante que ecoou por toda a sala que me trouxe de volta aos
meus sentidos. Pelo menos o suficiente para perceber que era eu que
fazendo esse barulho.

— Que porra é essa? — Uma voz profunda explodiu na sala, minha


sirene de uivo, um aviso antes de sua explosão.

Wrath seguiu suas palavras separando Twiz e Mutt, porque eles


estavam entre Pink Eye, eu e a porta. Mutt saiu voando pelo quarto até a
mesinha de cabeceira oposta, a lâmpada rosa estilhaçando sob seu peso.

Twiz apenas se achatou contra a parede, o que pareceu enfurecer


Wrath, que parou de se mover, passou por ele e se virou contra ele com um
soco pesado e brutal que derrubou o grande motoqueiro no chão como
blocos de Jenga caindo.

Minha cabeça girou quando Pink Eye continuou a murmurar


vitoriosamente em meu ouvido e a saltar para minha perna. Fiz contato
visual com Wrath por uma fração de segundo, quando ele se afastou de
Twiz para me encarar e havia algo em seus olhos que eu nunca esperava
ver.

Simpatia e, mais ainda, encorajamento.


Era o equivalente visual de “levante-se, foda-o, faça ele se arrepender
por ter derrubado você”.

Ele me salvaria se eu precisasse, mas esse olhar foi um lembrete de que


eu não precisava.

Com meus olhos ainda nos dele, coloquei meu queixo no pescoço de
Pink Eye, inclinei minha boca e mordi selvagemente sua orelha.

Seu uivo de dor rasgou meus tímpanos, mas eu o segurei enquanto ele
se debatia, e quando ele se afastou de mim com força, ainda o segurei
mesmo quando um pedaço de carne se soltou de seu lóbulo. Ele rolou de
costas para longe de mim, mas eu o segui, pairando sobre ele para que eu
pudesse cuspir aquele pedaço sangrento em seu rosto deformado.

— Não me toque, porra, — sussurrei com voz rouca. — Da próxima vez


que você fizer isso, não será sua orelha que arrancarei.

Pink Eye olhou para mim, preparando-se para remendar o que restou
de sua maldade de motoqueiro para que ele não fosse um constrangimento
completo.

Poupei-lhe o trabalho e dei-lhe um soco na garganta com tanta força que


senti algo estalar.

— Que merda aconteceu aqui? — Reaper perguntou da porta, Grease,


Jade e Shrek todos atrás dele.

Levantei-me, mesmo com as pernas tremendo e coloquei minhas mãos


nos quadris, pronta para me defender diante de um júri que sempre estaria
do lado do homem.
Só que eu não precisei.

— Tentaram reivindicá-la, — disse Wrath, dando um passo ao meu lado


com seus braços colossais cruzados.

— E você tem um maldito problema com isso? Ela é propriedade de


Berserker, seu old man morreu, é só apropriado ela conseguir outro irmão.

Tencionei todos os meus músculos para não estremecer. Não era assim
que as coisas eram feitas no MC do meu pai. Uma mulher não era de
possuída por ninguém, a menos que fosse com seu consentimento, e então
ela era considerada intocável pelos outros, uma old lady digna apenas para
seu homem. As vadias de motoqueiros que rondavam a sede do clube não
eram boas o suficiente para serem consideradas propriedades dos Fallen.

— Que porra? O homem dela apenas morreu, ela não tem tempo para,
não sei, chorar?

Fechei meus olhos ao som da sua voz. Eu me convenci que vê-lo


envolvido com Laken era apenas uma miragem que minha mente cheia de
traumas conjurou para foder comigo.

Mas não, Danner estava lá logo atrás de Reaper, com o braço em volta
de Laken, o cabelo desarrumado sobre os olhos brilhantes.

Matou-me que eu amei o olhar de motoqueiro desgrenhado nele.

Empurrei esse pensamento de lado, porque havia apenas uma razão


para Danner seria amigo de um MC.

E isso era para derrubá-lo.


Minha pressão arterial disparou quando pura alegria correu em minhas
veias.

Reaper lançou um olhar para Danner, mas não estava tão chateado
quanto poderia estar. — Você acha que vamos desistir da boceta Garro?
Pense novamente, Lion.

Lion.

Engoli em seco e cerrei minhas mãos em punhos duros.

O apelido do clube dele era o meu apelido.

Lion para Lionel, obviamente.

Mas, também, porque nunca conheci um homem com coração de leão


antes. Enquanto crescia, ele foi o rei de todas as bestas viris da minha selva,
então parecia apropriado dar a ele esse apelido.

Eu odiei que esses homens deploráveis o usaram, e adorei que Danner


pensou em oferecê-lo a eles

— Não parece tão especial de onde eu estou, — Danner falou


lentamente com o rosto enfiado no cabelo preto absurdamente grosso de
Laken. Ela sorriu para ele, apesar de ser minha amiga, e ficou na ponta dos
pés para lhe oferecer um beijo molhado.

Cadela.

— É, — disse Reaper com firmeza. — Agora, Wrath ia nos dizer por que
ele impediu um irmão de tomá-la como sua.
O que ele quis dizer foi por que Wrath impediu um irmão de me
estuprar para me reclamar, como se estivéssemos em algum sistema de clã
feudal do século XVII.

— Ele estava... — Twiz começou a protestar de onde estava sentado


caído contra a parede, uma puta do clube entre suas coxas enquanto ela
cuidava dele.

Wrath o reprimiu com um olhar violento.

— Foi mais do que um deles, — afirmou Wrath, então com uma


pequena batida de hesitação, eu tinha certeza de que ninguém mais notou,
seu braço longo desembrulhou do peito e enrolou em volta do meu
quadril. — Não importa muito agora, ela é minha.

— O quê? — exigi, ao mesmo tempo que Grease gargalhou.

A mão de Wrath apertou meu quadril quase dolorosamente.

— Desde quando você quer uma old lady? — Reaper perguntou, seus
olhos se estreitaram em fendas. — Não é você que diz, boceta fresca é a
melhor boceta?

— Como você disse, você acha que vou desistir da minha chance da
boceta Garro? — Ele respondeu com facilidade.

Reaper olhou para nós dois por um longo momento, mas era o olhar de
Danner que eu podia sentir queimando buracos em minha armadura,
cavando tão fundo que me preocupei que faria uma cicatriz. Wrath deve
ter sentido a reticência de seu presidente, porque antes que eu pudesse
piscar, sua boca exuberante estava na minha, sua barba raspando
deliciosamente contra minha pele.

Wrath estava me beijando.

E era um bom beijo.

Não, incrível.

Ele não beijava como um homem gigante com mãos tão calejadas que
esfolavam meu pescoço, onde ele o segurou, assim como sua barba fez em
meu queixo.

Ele beijou como um homem com todo o tempo do mundo para adorar
uma mulher e fazer seu corpo cantar.

Eu quase poderia ter gostado se realmente quisesse que ele me beijasse,


ou se eu ainda não sentisse a dor de Cricket em meus ossos.

Se não quisesse e nem sempre quis o policial disfarçado, cujo olhar


ardente estava sobre nós agora.

Wrath se afastou depois de um longo momento, seus olhos ilegíveis,


vazios como sempre, enquanto olhava para mim por um instante antes de
olhar para a multidão.

— Tudo bem, você quer, irmão, não consigo pensar num homem
melhor para tê-la, — Reaper sancionou com um movimento de cabeça.

— Mantendo a família, hein, Harleigh? — Grease disse com uma


sacudidela lasciva de suas sobrancelhas antes de se dissolver em risos. —
Ei, Wrath, você se cansa dela, você a manda para mim por uma noite, sim?
— Sim, irmão, — disse Wrath rapidamente antes que eu pudesse
mostrar meus dentes para o canalha Sargento de Armas. — Embora tenha
uma sensação no meu pau, não vou me cansar dela tão rápido.

— Bom, — disse Reaper em voz alta, sua voz soando com autoridade.
— Fico feliz por ter feito essa merda. Agora vamos festejar, porra, temos
algo para celebrar agora.

Houve um rugido de resposta quando todos saíram da sala, conflito


esquecido até entre os irmãos rivais Mutt e Twiz que riram de algo quando
se empurraram pela porta. Apenas Danner permaneceu no quadro, Laken
se foi, seus braços livres para cruzar sobre o peito.

— Você tem um problema, irmão? — Wrath perguntou incisivamente


quando ele me puxou para mais perto para seu lado.

Danner esperou um pouco demais para ser respeitoso e sorriu: — Nah,


cara, estamos bem. Apenas dando uma olhada no prêmio que você
ganhou.

— Sim? — Wrath perguntou, raiva rastejando nas bordas de sua voz.

Tentei chamar a atenção de Danner para dizer-lhe para recuar, mas ele
estava preocupado com um encolher de ombros atrevido. — Parece o nome
dela, linda como uma rosa. Mas, se preocupe com os espinhos, sim? Tenho
a sensação de que eles podem te pegar no final.
Capítulo Seis
Eram as primeiras horas da manhã quando finalmente voltei para casa,
depois do velório, e o vazio das ruas no centro de Vancouver não ajudou a
resolver meu desconforto. Era uma cidade segura, e mesmo que meu
apartamento pudesse ser melhor, eu morava numa boa parte da cidade,
longe dos horrores crivados de drogas e do crime investidos em East
Hastings Street. Além disso, carregava a pistola Sig Sauer que meu pai me
deu num Natal em minha bolsa, bem como uma lâmina plana e fina que
Bat me deu enfiada na minha bota. Eu era uma motoqueira, sabia tomar
conta de mim.

Mas o medo ainda me consumia assim que a noite se aproxima. Era a


primeira vez que voltava ao apartamento em que Cricket tentou me
estuprar. Passei a última semana enfurnada com minha família em
Entrance, dormindo no meu quarto de infância, enroscando-me com meu
pai e irmão no sofá, fazendo compras com Cress e Lou, saindo para beber
com minha amiga Lila e as outras garotas motoqueiras. Mas era hora de
encarar a realidade, e, embora meu pai quisesse vender o apartamento
imediatamente e me hospedar num hotel nesse meio tempo, eu sabia que
os Berserkers notariam esse comportamento ardiloso. Eu era uma aranha
presa numa teia de sua própria criação. Eu tinha feito isso, e agora tinha
que deitar nela.
Minha mão estava na maçaneta da porta quando ouvi o ruído suave de
passos no tapete. Nos dois segundos seguintes, tinha a minha arma na
minha mão, bem no centro, no peito do homem que ousou se aproximar de
mim.

— Bons reflexos, — Danner observou laconicamente, mesmo enquanto


continuava a se aproximar.

Sabia que deveria abaixar a arma, que Danner não representava esse tipo
de ameaça, mas eu segurei a imagem enquanto ele entrava na mira, sua
pequena e letal abertura pressionada contra seu peito sobre seu coração.

Fixamos os olhos por cima da arma. Pude sentir seu coração batendo
forte contra a arma e, por um momento louco, sabia que ele me deixaria
atirar nele.

— Você não deve surpreender uma mulher sozinha num corredor


escuro, — disse a ele finalmente.

— E uma mulher não deve chegar sozinha e despreparada no funeral de


seu namorado morto e abusivo, — ele se afastou, inclinando-se para perto
de mim de uma forma que colocou a arma ainda mais fundo em seu
peitoral duro.

Mostrei meus dentes para ele. — Você acha que eles não achariam isso
suspeito, eu ficando longe quando meu homem foi assassinado.

— Suspeito, talvez, mas, pelo menos, você estaria fora de vista, fora da
porra da mente, Harleigh Rose. Você acha que aquele clube não está
empolgado por ter você em seu rebanho? Eles têm uma Garro do lado
deles e acho que provaram hoje que farão qualquer coisa para mantê-la lá.

— É uma coisa boa que eu queira ficar lá, não é? — joguei de volta para
ele, cavando minha arma em seu peito com tanta força que ele estremeceu.

— Por que diabos você iria querer ficar com aqueles bastardos?

— Pela mesma razão que você está disfarçado com eles, — assobiei,
levantando-me na ponta dos pés para ficar bem na cara dele. — Para
derrubá-los.

Tive satisfação com sua piscada assustada e a carranca resultante. —


Você está fodendo comigo?

— Não.

— Deixe-me reformular, — ele rosnou, desarmando-me facilmente,


colocando a trava de segurança de volta e largando a arma na minha bolsa.
— Você quer foder comigo. Mesmo você não é louca o suficiente para se
voluntariar como informante para os policiais.

Joguei meu cabelo por cima do ombro, observei seus olhos dançarem
sobre o comprimento glorioso dele e sorri. — Nunca subestime uma
mulher, Danner.

— Como se você fosse uma mulher comum, — ele murmurou.

— Não, é exatamente por isso que quero fazer isso. Eles não são como
The Fallen, você acha que não tenho uma linha na areia entre o bem e o mal
só porque nasci com um código de honra diferente? Berserkers não são
bons homens e definitivamente não fazem coisas boas, uma dessas coisas
foi permitir, não, encorajar Cricket a me bater até a submissão. Então, sim,
sou louca o suficiente para querer denunciar o MC mais perigoso e nojento
do país, e também sou louca o suficiente para conseguir.

Danner passou a mão rudemente pela borda quase letal de sua


mandíbula mal barbeada em frustração. — Não posso acreditar que você
está dizendo essa merda quando quase fui contra com meu oficial sênior
para mantê-la fora dessa merda.

Meu coração disparou. Não éramos pessoas românticas, Danner e eu.


Não trocamos poemas, cartas ou qualquer porcaria dessas.

Trocamos farpas e provocações codificadas que pareciam cruéis, mas,


na verdade, eram pedaços de nosso coração oferecidos numa bandeja
sangrenta, uma oferta de vulnerabilidade que ninguém mais entenderia o
significado. Brigar com alguém por minha causa era basicamente o
equivalente a me entregar um buquê de flores e uma caixa de chocolates.

Então, meu coração se aqueceu e floresceu enquanto eu vomitava


espinhos para escondê-lo.

— Não preciso que você fale por mim, não tenho mais dezesseis anos,
— lembrei-o, em seguida, deliberadamente, passei meus dedos pela
extensão exposta do meu peito, bem entre meus seios erguidos.

Seus olhos seguiram o movimento, apesar de um músculo pulsar em


sua mandíbula. Eu adorava frustrá-lo, provando que sua bondade básica
estava errada com a tentação. Não via Lionel Danner há três anos, mas era
como se o tempo não tivesse passado. Ainda estávamos jogando os
mesmos jogos que tínhamos antes, e de alguma forma, eles não ficaram
obsoletos com o tempo.

— Você precisava que eu falasse por você quando tinha dezesseis anos,
porque se metia em situações impossíveis e a única maneira de sair delas
era eu defendendo você. Surpresa, surpresa, não te vejo há três anos, a
primeira vez que te vejo, você está precisando que eu fale por você
novamente, porra.

Tentei cerrar os dentes contra a vontade de vacilar, mas a dor enviada


por essas palavras irradiando através de mim era muito grande. Ele nunca,
nenhuma vez desde que o conheci aos seis anos, nenhuma vez nas centenas
de vezes em que o chamei para ser meu campeão, ele me fez sentir fraca ou
exploradora.

Ele leu o olhar nos meus olhos antes que eu pudesse escondê-lo,
xingando baixinho enquanto se aproximava para que sua grande fivela do
cinto fosse pressionada na minha barriga. — Rosie, você é muito fácil.

— Muito fácil? — fervi.

Seus olhos eram suaves, enquanto seus lábios se curvavam cruelmente.


— Muito fácil de irritar. Como é possível, quando tudo o que é preciso é
uma insinuação para atear fogo em você, que você tem esse peso morto em
seus olhos?

Engoli dolorosamente quando sua mão grande e áspera pressionou


contra o meu peito e depois deslizou para envolver, dedo por dedo, em
volta da minha garganta, contra o meu pulso. Lentamente,
deliberadamente, ele apertou.

— Diga-me, rebelde, como devo reagir quando minha linda e


dilapidada rosa quer se colocar noutra situação perigosa quando ela ainda
usa a marca na pele da última?

— Posso cuidar de mim mesma, — disse a ele com voz rouca,


irritantemente comovida por suas palavras, pelo som de sua voz me
chamando de “rebelde” novamente quando eu não tinha ouvido isso por
muito tempo.

Ele se inclinou mais perto, seu hálito mentolado soprando meus lábios
abertos. — Sei disso. Também sei, você não está sozinha, nunca com o tipo
de família que você tem. Não sei quando você parou de contar comigo
como um deles, mas também vou cuidar de você, Rosie.

Abri minha boca para protestar cegamente por uma questão de protesto
quando seus lábios se moveram ainda mais perto, as bordas macias sedosas
movendo-se sobre os meus enquanto ele dizia: — Trouxe Hero. Vou descer
até o carro, trazê-lo para cima e depois dar uma olhada em seu lugar. Eu
insistiria em passar a noite, mas sei que você tem seus fodidos problemas
de independência, então deixarei isso passar desde que você leve o
cachorro.

Deus, ele trouxe Hero.

Eu não o via há três anos e a dor de sua perda era quase tão pungente
quanto a de Danner.
Ele leu o encanto em meus olhos, mesmo à distância de um nariz, e
aqueles lábios contra os meus sorriram antes de sua mão no meu pescoço
me dar um aperto firme e depois me soltar.

— Fique, — ele ordenou enquanto girava nos calcanhares e voltava pelo


corredor.

— Não sou seu cachorro, Danner, — gritei atrás dele, um segundo tarde
demais, porque ele já estava na saída de emergência e descendo as escadas.

Ainda assim, ouvi sua risada através das paredes.

— Foda-me, — murmurei, recostando-me na porta da frente com um


baque suave.

Meu pulso estava acelerado, meu sangue como uma luz de hélio em
minhas veias enquanto saltava pelo meu corpo. Eu odiava que Danner me
deixasse tão leve, tão fraca e frágil de uma maneira que até eu tinha que
admitir que me sentia bonita. Mas por mais bonito que fosse, também era
perigoso, especialmente no meu mundo. Não podia me dar ao luxo de ser
nada menos que titânio, especialmente se quisesse convencer Danner a me
deixar ajudar em sua investigação.

Se ele realmente não me quisesse envolvida, eu me perguntava o que


faria. Mais do que isso, eu me perguntava por que realmente queria ajudar
em primeiro lugar. Um delator, em meu mundo, era o mais baixo dos
baixos, um mosquito a ser triturado impiedosamente sob seu calcanhar,
uma vez descoberto.
Procurei por aquele núcleo podre no meu coração que me permitiu
suportar o abuso de Cricket, apenas no caso de estar me transformando em
algum tipo de aberração autoflagelante, mas não estava lá. Graças a Cristo.

Em vez disso, encontrei uma lasca de algo como um pedaço de madeira


preso sob minha unha. A ideia de que, se eu não encontrasse uma maneira
de permanecer no mundo de Danner, ele me deixaria novamente.

Desta vez para sempre.

Pressionei a palma da minha mão no meu coração dolorido e palpitante.

Um segundo depois, o barulho de unhas no concreto e o tilintar de


placas de identificação atraíram meu olhar para a porta da escada um
momento antes dela ser aberta e o segundo amor da minha vida infantil
irrompeu.

— Hero, — sussurrei-gritei através da minha garganta subitamente


inchada quando caí de joelhos e abri meus braços.

O golden retriever correu o comprimento do corredor em segundos, a


língua rosa para fora num sorriso de cachorro, mesmo quando ele
lamentou um olá. Peguei seu peso considerável contra meu peito e o
segurei com força enquanto ele atacava meu rosto e pescoço com beijos.
Cristo, ele ainda cheirava o mesmo, doce e fresco como folhas de outono
esmagadas sob um vento forte. Meus dedos instantaneamente foram para
suas orelhas macias e levemente frisadas para dar-lhes uma boa esfregada
e ele gemeu com prazer no meu pescoço enquanto o lambia.
Fechei meus olhos, enterrei-os no pelo de seu pescoço e me permiti
derramar uma lágrima que parecia um milhão. Deus, mas eu amava esse
cachorro. Mais do que a maioria das pessoas poderia amar um humano,
senti a corrente ligando o coração de Hero ao meu de forma tangível
quando o segurei.

— Você sentiu falta da nossa garota, não foi, campeão? — Danner disse,
levando-me a olhar para onde ele se inclinava com uma bota cruzada sobre
a outra contra a parede ao lado da minha porta.

Ele tinha um rosto duro, adequado a reprimendas severas e taciturnas,


mas foram seus olhos e uma boca expressiva de maneira única que me
disseram o quão profundamente meu reencontro com seu cachorro o
afetou também.

Continuei a esfregar o pelo brilhante e perfeitamente dourado de Hero.


— Não sua garota.

Ele levantou uma sobrancelha loira escura e inclinou o queixo para


Hero, que estava sentado em seu traseiro, olhando para mim com felizes
olhos castanhos. — Certo, bem, ele é quase mais seu do que meu. Sabia que
ele ficaria feliz em vê-la, ficar de guarda para você.

Senti uma coceira no lábio inferior que significava que queria tremer,
mas ignorei. — Tenho uma arma, uma faca e, se não me falha a memória,
um cutelo em algum lugar do meu apartamento, acho que estou bem.

Ele balançou a cabeça e murmurou: — Só você faria uma piada sobre a


porra da arma do crime, dias depois de usá-la para matar um homem.
— Se você não pode rir, — disse com um encolher de ombros, embora
ainda pudesse sentir o peso terrível disso em minha mão.

— Vou verificar o apartamento, fique aqui com Hero até que eu sinalize
tudo limpo, — ele me disse enquanto se abaixava para remexer na minha
bolsa em busca das chaves.

— Sim, senhor, — disse levianamente, embora soubesse que não era


casual, sabia que veria o músculo tenso em sua mandíbula quadrada e
sentiria uma labareda de calor emanar de seu corpo.

Ele me ignorou quando abriu a porta, ligou o interruptor e desapareceu


ainda mais no apartamento.

— Mandão, — disse a Hero, que respondeu levantando uma pata e


colocando-a na minha coxa dobrada.

Ri em seu pelo quente e limpo e passei meus braços em volta dele para
um dos melhores abraços da minha vida.

— Limpo, — disse Danner da porta, algo trabalhando por trás daqueles


olhos verdes-jade quando ele olhou para mim e seu cachorro. — Vou
instalar vocês dois, você está cansada.

Revirei os olhos quando ele voltou para o apartamento, chamando Hero


para ele com um clique da língua. Limpei os pelos de cachorro da minha
calça preta e os segui.

Danner estava na cozinha, descarregando um prato de cachorro, comida


e um cobertor grosso e enrolado que reconheci como a cama de cachorro de
Hero porque a comprei para ele há cinco anos.
— Sinta-se em casa, — murmurei secamente enquanto passava por ele
até a geladeira, peguei uma Corona e bati a tampa na lateral da minha
bancada lascada.

Ele olhou para mim enquanto eu tomava um longo gole frio da garrafa.
— Vai me oferecer uma?

— Não estava planejando isso.

Seus lábios se contraíram, mas ele voltou a derramar ração na tigela,


colocando-a no chão e fazendo o mesmo com um prato de água.

— Quero que o leve com você em todos os lugares, H.R., — ele ordenou
novamente como se eu fosse um lacaio.

— Tenho aula, — lembrei a ele. — Não termino por mais três semanas e
não posso arrastar um cachorro comigo para meus laboratórios.

Ele enfiou a mão no bolso de seu jeans deliciosamente macio e


desbotado e saiu com um pedaço de papel dobrado. Ele balançou no ar e
bateu no balcão. — Tenho uma nota e tudo.

— O que sou eu, cega agora? — perguntei com raiva.

— TEPT7, — disse ele sem perder uma batida quando terminava de


arrumar as coisas de Hero e virou-se para acomodar seus quadris magros
no balcão em minha frente. — Você precisa dele no caso de ter um ataque
de pânico.

— Isso é besteira, — choraminguei, batendo minha garrafa de cerveja


com tanta força contra o balcão que a cerveja espirrou pela borda e na
7 Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).
minha mão. — Não estou traumatizada, porra. Olhe para mim — desafiei-o
com um desprezo licencioso, gesticulando para minha roupa apertada e
decotada de garota motoqueira. — Pareço porra traumatizada para você?

— É uma ferida que você usa atrás dos olhos, Rosie, — disse ele,
cruzando os braços sobre o peito e erguendo o queixo para mim como se
estivesse se preparando para controlar minha raiva, um montador de
touros agarrando sua montaria e achando-a divertidamente carente.

A raiva penetrou em mim quente e inebriante como o uísque de centeio


do meu papai. — Você não está no meu comando, Oficial, — sibilei para
ele. — Eu sei que você não percebeu, mas agora sou uma adulta do caralho
e posso fazer a porra do que quiser.

Danner olhou para mim daquela maneira implacável e imbecil que ele
tinha que não revelava nada, a não ser me fazer sentir com cerca de cinco
centímetros de altura, infantil e truculenta.

— Não estou no seu comando, — ele repetiu lentamente, sua boca se


movendo ao redor das palavras de uma maneira que as faziam cursivas,
suaves, arredondadas e enfatizadas. — Nunca estive, mas não posso dizer,
Rosie, que a ideia não me passou pela cabeça. Pegando aquilo tudo
selvagem e controlando-o, quebrando-o sob uma mão firme e calma... sim
— ele falou demoradamente. — Pensei sobre isso.

Pisquei para ele. Em todos os anos que conheci Lionel Danner aprendi
muitas coisas sobre ele. Ele era um cavalheiro da velha escola, do tipo que
mantinha as portas abertas para as mulheres, que dizia "por favor" e
"obrigado" sem pensar. Sua reserva, dedicação à justiça e o sotaque
canadense suave e baixo deram-lhe uma vibe de xerife caubói como John
Wayne ou Paul Newman, homens que tinham moral e lealdade em tal
abundância que você se sentia como um idiota apenas de pé ao lado deles.

Ele não era um sedutor. Oh, as mulheres se atiravam nele no McClellan,


onde ele era conhecido por atirar uma cerveja com seu parceiro Riley
Gibson e seus outros colegas policiais, ou no Mac's Grocer, ou em qualquer
lugar que pudessem encontrá-lo. Algumas até se aventuraram no terreno
que ele comprou nos arredores de Entrance, onde mantinha alguns cavalos
e um porco barrigudo que chamei de Irwin. Não era inédito que um grupo
delas se reunia nas manhãs de domingo no curral para vê-lo trabalhar com
um de seus cavalos selvagens.

Mas ele era discreto. Sabia que ele namorava, ou pelo menos, fodia com
várias mulheres, mas elas não falavam disso, mesmo que o desejo de se
gabar deve tê-las matado, e eu sabia que era porque Danner exigia isso.
Como uma garota apaixonada, seu sigilo deu espaço para minhas fantasias
florescerem, mesmo que ele sempre me tratasse, pelo menos até o fim,
como uma irmã mais nova ou amiga.

Esta foi a segunda vez que ele fez uma insinuação sexual comigo e,
honestamente, meu pobre corpo doente de amor mal podia lidar com isso.

Pisquei novamente e de repente, ele estava na minha frente. Não havia


nada em suas feições, covas rasas e penhascos íngremes de ossos
pedregosos e pele dourada, mas seus olhos estavam tão vivos que
queimavam.
— Não estou no seu comando, mas como eu disse, vou cuidar de você,
mesmo que você não goste. Então, você está levando o Hero com você para
onde quer que vá, porque você o ama, sente sua falta e precisa desse
carinho agora, mas também porque ele é um cão policial aposentado
treinado e matará um homem antes de deixar você se machucar. Você me
entende, Harleigh Rose?

— Você não pode simplesmente voltar para a minha vida e passar por
cima de tudo, Danner, — disse, mas a insolência não estava convencendo
como deveria. O calor do seu corpo tão perto de mim o enrugou nas
bordas.

Ele deu um de seus raros sorrisos de um milhão de dólares e me atingiu


bem no útero. — Hero come duas xícaras de ração num pouco de água
morna duas vezes por dia, também precisa de caminhadas duas vezes ao
dia, uma hora cada, se você puder aguentar.

Fiz uma careta para ele e o humor transformou seu rosto num plano
interessante que eu queria traçar com meus dedos.

— E pare com esse negócio de Berserker MC. Fique longe de Wrath e


dos rapazes, e você me vir, você age como se mal me conhecesse, a menos
que esteja dentro destas paredes.

— Tanto faz.

Danner mordeu o canto de seu sorriso e se afastou para se agachar na


frente de Hero, que estava sentado satisfeito ao nosso lado, abanando o
rabo.
— Você cuida da nossa Rosie, ok, garoto? — ele disse, segurando o rosto
do pet e olhando-o nos olhos como faria com um garoto.

Hero deixou escapar um suave latido de afirmação e trotou para o meu


lado assim que Danner se levantou para sair. Queria gritar um insulto, algo
para mantê-lo alerta e me garantir as cobiçadas últimas palavras. Em vez
disso, minha cabeça estava cheia de delírios românticos, com a imagem
lúgubre de Danner me quebrando sob uma mão firme e calma...

— Lion, — chamei antes que eu pudesse me parar.

Ele parou com a mão na maçaneta da porta e notei distraidamente que


havia mais fechaduras na minha porta do que antes do acidente. Engoli
quando ele se mexeu ligeiramente para me encarar e pude absorver o
comprimento longo e musculoso dele. Me matou que eu não conseguia
olhar para ele sem querer colocar minhas mãos em seu corpo, através de
seu cabelo liso grosso e brilhante e descendo pela cadeia de músculos em
suas costas até sua bunda alta e rígida. Isso me matou ainda mais por não
ter o direito de fazer isso.

— Obrigada, por me emprestar Hero, — disse e, em seguida, com tinta


invisível escrita no espaço entre nós, adicionei, e obrigada por sempre cuidar
de mim.

— Meu trabalho, Rosie, — ele disse suavemente, e era, mas o que ele
quis dizer é que ele sentia que cuidar de mim era seu dever tanto quanto
ser policial.

Mesmo que eu nunca tivesse dito as palavras em voz alta, ele sabia.
Eu sou dele desde o dia em que ele me comprou minha primeira rosa.
Capítulo Sete
2008

Harleigh Rose com 6, Danner com 16.

Lembro que o dia começou com uma bofetada.

Eu tinha seis anos, tão jovem, mas já tinha idade suficiente para saber
que não deveria acordar minha mãe quando ela estava dormindo de
ressaca. Já estava ficando tarde, no meio da manhã, e era domingo, o que
significava que era hora de ir à Mega Music na Main Street para que eu
pudesse obter um novo disco. Era tradição. Claro, Papai começou isso, não
mamãe, mas se ele não estava por perto, então ele a fez prometer me levar
em seu lugar. Mamãe e King não se importavam muito com a música.
Mamãe estava muito ocupada com suas bebedeiras e festas, e King só
queria saber de seus livros, por isso, depois da loja de discos, apesar de não
termos um monte de dinheiro, nossa próxima parada era a livraria.

Mas, Papai e eu? Amamos música. Não as coisas novas e estúpidas que
tocavam no rádio que o Pai disse que soava como um bando de "ranhentos,
chorões ou babacas" ou "totalmente idiotas", mas as coisas antigas, como
Black Sabbath e Guns N' Roses. O Pai amava AC/DC, por isso eu também
gostava. Eu era uma filhinha do papai desde que eu pude cogitar e, mesmo
estando chateada que Papai não estava por perto para me levar, eu ainda
estava animada para ir à Mega Music e escolher um disco de rock para
mostrar a ele quando ele finalmente voltasse de onde o trabalho no The
Fallen MC o levou.

Então, decidi enfrentar a fera e acordar mamãe.

Foi a primeira calamidade do dia, mas não seria a última.

Pude sentir o cheiro da vodca assim que abri a porta do quarto dela.
Havia uma garrafa virada no chão que ela derrubou, provavelmente
durante o sono, e molhava o chão ao longo de toda lateral da cama. O
cheiro era nojento e químico, como removedor de esmalte, e prendi a
respiração enquanto andava na ponta dos pés pelo lodo.

— Mãe, — sussurrei, e coloquei minha mão em sua bochecha,


admirando o esmalte preto que roubei de uma das prostituas do clube. —
Mãe, é hora de ir.

— H.R.? — A voz do meu irmão sibilou da porta. — Que porra você


está fazendo no quarto da mamãe? Ela vai te matar, se você a acorda.

Fiz uma careta para ele. — É domingo. Temos que ir à Mega Music, o
Velho Sam está esperando por mim.

Velho Sam era chamado assim porque ele era muito velho e parecia ter
sido assim por pelo menos meio século. Ele era dono da Mega Music, que
não era mega, mas na verdade uma pequena loja de discos que se recusava
a vender qualquer coisa, como iPods ou MP3 players, porque ele era
incondicional assim. Eu o amava. Eu o amava quase tanto quanto amava
meu pai e isso dizia algo. Eu não queria deixar o Velho Sam esperando,
porque sabia que ele teria um chiclete Hubba Bubba pronto para mim e um
disco todo escolhido para ouvir.

— Você a acorda, juro H.R., não há nenhuma maneira da mamãe nos


levar para sair, — King sussurrou-gritou para mim.

Ele tinha apenas oito anos, mas achava que sabia de tudo.
Honestamente, eu meio que pensei que ele soubesse, porque ele estava
sempre lendo aqueles livros grossos e citando pessoas mortas. Eu não me
importava com pessoas mortas, só me importava com os vivos, como
Papai, King, o Velho Sam e os irmãos de The Fallen, mas citá-los com
certeza fazia King parecer inteligente.

— Ela vai nos levar porque se não o fizer, Papai vai ficar tão zangado,
— lembrei-o de algo que ele sabia.

O único problema era que o Pai podia ficar mais zangado do que um
urso saindo da hibernação, mas a mãe era como uma cascavel, a apenas um
movimento de se aproximar de você com uma boca venenosa.

Bati minha mão levemente contra o rosto dela algumas vezes e, quando
isso não funcionou, empurrei seu ombro com força.

Ela acordou ao mesmo tempo em que se lançou sobre mim. Um


segundo, ela estava morta para o mundo e no seguinte ela estava vindo
para mim como aquela cascavel, uma maldição sibilando em sua língua e
entre seus dentes para me envenenar. A mão dela estava contra a minha
bochecha tão brevemente que era quase como se ela nem mesmo tivesse me
conectado, apenas a dor que explodiu após aquele contato instantâneo me
fez cambalear para trás da cama.

Minha mão voou para a dor ardente na minha bochecha, mas eu não
deixei as lágrimas dos meus olhos caírem deles porque mamãe odiava
quando eu chorava, especialmente quando ela estava de ressaca.

Além disso, não foi a primeira vez que mamãe colocou as mãos em mim
e provavelmente não seria a última.

King praguejou de seu lugar na porta, mas não fez nenhum movimento.
Fazer um movimento só deixaria mamãe mais irritada.

— Porra! O que você está fazendo me acordando? Você é tão egoísta


que não pode deixar sua mãe dormir de vez em quando? Você é uma
garotinha e ainda precisa que eu limpe sua bunda para você ou algo assim?

Mordi o canto do meu lábio inferior porque ele ameaçou virar um


beicinho trêmulo. — Não, mãe. Mas é quase meio dia e é domingo, então é
o dia da Mega Music.

Mamãe era bonita. Sabia que ela era bonita desde criança, porque Papai
disse que ela pescava elogios de todos e sempre voltava com uma captura
gorda na linha, então ouvi mais pessoas do que eu poderia contar dizer
isso. Só então, seu rosto bonito estava azedo com irritação e era um olhar
que ela me dava muito, então eu não acho que ela era a mais bonita.

Eu não parecia com ela e acho que isso a incomodou porque, embora eu
tivesse ouro no cabelo, era escuro, mais cor de caramelo do que loiro
verdadeiro como o dela e o de King. Fora isso, eu parecia uma versão
feminina de Zeus Garro. Eu também agia como uma versão feminina do
papai e isso, por alguma razão, muitas vezes a irritava.

Como agora.

Ela revirou os olhos com tanta força que pensei que deveria doer e
empurrei minha mão do ombro dela para que ela pudesse rolar para longe
de mim na cama. — Mega Music é uma merda, Harleigh, e estou cansada.
Vá assistir TV ou algo assim e se o seu maldito Pai tiver a decência de se
lembrar de que deveria levá-la aos domingos, ele estará por perto para
pegá-la.

— Mãe, — tentei novamente. — Por favor.

— Feche a porta atrás de você e mantenha a TV baixa, certo? — ela


resmungou, já meio adormecida.

Encarei sua nuca. O cabelo dela estava enrolado e retorcido como um


velho ninho de rato. Fiquei olhando para ele, feliz pela mancha feia nela.
Eu olhei para ela e a odiei tanto que meu corpinho tremeu com isso.

— Eu te odeio, — sussurrei, mas mamãe já estava dormindo.

— Odiar nunca fez bem a ninguém, H.R. — King murmurou quando


pegou meu braço e me puxou para fora do quarto fedido, fechando a porta
suavemente atrás de nós. Quando ele me encarou, seu rosto estava sério
como o de um adulto. — Você tem que ser mais esperta que o ódio, certo?
Você não gosta da mamãe? Não posso culpar você, mas você não deixa isso
governar você.

— Por que não? — fiz beicinho.


King sorriu e puxou a ponta do meu rabo de cavalo bagunçado. —
Porque eu não quero levar uma garota mal-humorada à Mega Music
comigo.

— Nós vamos mesmo assim? — quase gritei.

— Se você guardar segredo, nós vamos, — King ordenou em um


sussurro áspero. — Agora, coloque seus sapatos e vamos embora.

Comecei a girar nos calcanhares e a correr para minhas mini botas de


combate de garota motoqueira, mas parei no meio do caminho, perdi o
equilíbrio, me endireitei e me virei para encarar meu irmão novamente.

— Você me ama, não é? — perguntei a ele sobriamente.

Ele sorriu o sorriso que as meninas já amavam. King tinha apenas oito
anos, mas, cara, ele tinha jogo. — Sim, H.R., eu te amo, porra.

— Quanto? — exigi, porque sabia que podia.

Posso ter uma mãe de merda, mas meus homens me amavam, meu
irmão, talvez, acima de tudo.

Ele empurrou meu ombro e revirou os olhos, mas sua voz era tão
quente quando caiu sobre mim que parecia uma chuva tropical suave. — O
suficiente para levá-la à Mega Music em vez de encontrar Shelley Newborn
na lanchonete Stella para um milk-shake e um beijo.

— Ela tem aparelho, de qualquer maneira, — disse a ele algo que ele já
sabia quando o puxei pelo corredor em direção à porta da frente. — Estou
te salvando de gengivas sangrentas. Você pode fazer melhor.
— Que coisa de garota de se dizer, — argumentou King, saindo da casa
atrás de mim e fechando a porta com um pequeno “foda-se” para nossa
mãe. — Claro, ela tem aparelho, mas você viu os peitos dela? A primeira
garota da série a conseguir, e H.R., você não é um cara, então você não
entende o quanto uma maldita boca sangrenta vale uma vez com aquelas
belezas.

— Tarado.

— Pirralha.

Nós sorrimos um para o outro tão largamente que parecíamos idiotas e,


antes que eu pudesse ser insolente com ele, King subiu jeans frouxos e saiu
correndo.

— O último a chegar à Mega Music tem que comprar um refrigerante


para o vencedor, — ele gritou.

Eu não estava com raiva de sua vantagem ou mesmo quando ele


ganhou, principalmente porque não tinha dinheiro para comprar um
refrigerante para ele e ele descobriria isso em breve, mas também porque o
Velho Sam me daria um pouco de Hubba Bubba, então King era quem
perderia no final.

Ele já estava lá dentro quando abri o cartaz da porta da frente da Mega


Music, mas não o procurei entre as pilhas e estantes cheias de discos. Em
vez disso, fui direto para o Velho Sam.

— Aí está ela, oh você, aí está o amor da minha vida, — o Velho Sam


cantou para mim, fazendo um pequeno balanço enquanto fazia isso.
Eu ri dele e me apaixonei um pouco mais por ele. Eu não tinha um avô,
porque os pais de meu pai estavam mortos e os de minha mãe ela desejava
que estivessem mortos, então parecia que o Velho Sam era meu avô. Ele se
encaixava no papel também. Embora ele não fosse motoqueiro, ele viveu
uma vida difícil de concertos de rock e festejando como um músico antes
de se estabelecer em Entrance na Mega Music, e eu gostava dos contos que
a idade e a experiência escreveram em seu rosto enrugado. Ele usava o
cabelo engraçado, um estilo retrô que eu era muito jovem para perceber
lembrava Elvis e James Dean.

Quando cheguei a ele, joguei meus bracinhos em volta de suas pernas e


apertei. Ele riu de um modo jazzístico e deu um tapinha no topo da minha
cabeça.

— Aí está ela, — ele repetiu mais suave, depois me afastou gentilmente


para que ele pudesse se abaixar e me olhar nos olhos. — Você foi uma boa
garota esta semana?

Ele me perguntava isso toda semana e toda semana eu sorria um pouco


e batia meus cílios para ele. — Não esta semana, Velho Sam.

Eu tinha apenas seis anos, mas conhecia homens, fui criada pelos mais
viris deles e já sabia como envolvê-los ao redor do meu dedo mindinho.

O velho Sam riu e estremeceu quando seus joelhos estalaram quando se


endireitou. — Você faz um homem velho se sentir jovem, brilhando com
tanta beleza em minha loja a cada semana.

— É o meu dia favorito, domingo, — disse a ele.


— Certo, garota, meu também. Agora, onde está seu papai, hein?

Dei de ombros, embora fosse estranho que Papai perdesse um domingo


conosco, pelo menos sem ligar para nos dizer o porquê primeiro.

Ele franziu os lábios e disparou os olhos para o celular em cima de uma


pilha de discos, mas quando olhou para mim, estava sorrindo. — Certo,
escolha uma mão, princesa.

Eu o observei enfiar as mãos nos bolsos e depois oferecê-las para mim


com os punhos apertados antes de bater minha mãozinha sobre uma de
suas grandes. — Esquerda!

Ele virou a mão e abriu a palma, revelando um pacote de goma Hubba


Bubba de melancia e morango.

— Sim! — gritei com uma bomba de punho. — Meu favorito!

Velho Sam piscou para mim. — Eu não sei? Agora, peguei um pouco de
Johnny Cash hoje. Por que você não dá uma olhada enquanto eu lido com
alguma coisa?

Enruguei meu nariz enquanto colocava um pedaço grosso de chiclete na


boca e comecei a mastigar. — Isso é música country! Eu odeio essa merda.

— Garota, você não sabe nada sobre essa merda. Não vomite o que seu
papai disse sem ouvir por si mesma. Você tem uma mente própria nessa
linda cabeça?

Apertei minhas mãos e as joguei nos meus quadris. — E não se esqueça


disso!
— Isso é o que eu pensei. Então, vá até o seu lugar e toque o que eu
puxei para você, acho que você pode gostar deste tipo de country.

Mordi meu lábio. A música country é uma droga, meu pai havia me
dito que toda a música fora do rock era para os que não os sem educação
musical. Mas eu confiava no Velho Sam. Ele puxou músicas para mim
todos os domingos e nunca me decepcionou. Então, mesmo que eu pudesse
ter feito uma mini birra e teria sido divertido discutir com o Velho Sam
sobre isso, segui o conselho dele e fiz o meu caminho pelas pilhas
desorganizadas até o meu cantinho com o toca-discos.

Havia um homem de preto com a manga gasta e “At Folsom Prison”.

Reverentemente, tirei o disco da capa e o coloquei no toca-discos.


Prendi a respiração quando as primeiras notas de sua interpretação de Blue
Suede Shoes ressoavam na sala comigo.

Eu não era uma musicista. No ano passado, tentei violão, piano e canto
(nem me fale sobre esse fracasso), então, não conseguia produzir beleza
com som, mas desde que eu era um bebê, eles diziam que eu amava isso.
Eu era uma mulher com um profundo poço de emoções suscitadas por
uma mãe cadela e uma irmandade de homens que em sua maioria, não
conheciam o seu traseiro emocional de seu cotovelo. Então, eu tinha muito
para sentir e não um monte de maneiras de dizer isso.

A música era essa voz para mim, e mesmo aos seis anos, sentada de
pernas cruzadas no chão da Mega Music, eu sabia que ela tocaria uma
trilha sonora vital para a minha vida.
“Give My Love To Rose” de Johnny Cash estava tocando quando o
notei.

Primeiro, foi apenas um toque extra de notas, um tamborilar de acordes


adicionados ao arranhão e suavidade da música gravada que picou meus
ouvidos e me fez virar para olhar por cima do ombro esquerdo.

E lá estava ele.

Sentado num caixote virado, um pé com uma Timberland contra ele, o


outro pressionado numa bagunça de partituras no chão para que suas
coxas grossas estivessem espalhadas e contra o brim desgastado de seu
jeans. Seu cabelo dourado caiu sobre seu rosto inclinado sobre uma
guitarra azul, obscurecendo tudo, exceto o corte fino de um nariz forte e a
borda de uma boca exuberante que se movia silenciosamente com a letra
da música. A forma como ele embalava aquela guitarra atingiu meu
intestino de seis anos de uma forma engraçada. Ele tinha mãos grandes que
pareciam muito fortes para seus membros longos e desgrenhados, mas eles
seguravam o instrumento com ternura, cortando o som do pescoço com os
dedos firmes, provocando-o para fora do corpo com um toque de penas.

Ele segurava aquela guitarra como se fosse o amor de sua vida, por isso
não era de admirar que a onda da música que ele fazia com ela fez meu
nariz coçar de lágrimas.

Tanto ele quanto a música eram as coisas mais bonitas que eu já vi na


minha curta vida.
Devo ter deixado sair um suspiro silencioso, porque de repente, ele
estava olhando para mim.

Ele tinha olhos verdes.

Deus, eles eram a coisa mais verde que eu já vi. Mais verde que a grama
recém-regada, que a luz filtrada por um bosque de pinheiros até um trecho
de musgo do noroeste pacífico e o verde de um limão maduro. Olhando
para aquela cor cercada por uma franja cheia de cílios castanhos curtos e
pontiagudos sob sobrancelhas grossas e inclinadas, parei de respirar.

Ele não perdeu uma batida na música quando olhou nos meus olhos e
adicionou sua voz suave e baixa ao rosnado áspero de Johnny.

A música não era sobre se apaixonar, mas sobre um homem deixando


para trás uma mulher chamada Rose e um filho quando foi para a prisão.
Não deveria ter sido profundo, eu tinha seis anos e não tinha contexto para
a canção, mas isso me deu um arrepio de premonição na espinha que fez
meus dentes doerem.

Quando os refinamentos finais morreram e a voz de Johnny voltou ao


disco falando aos prisioneiros, o cantor adolescente finalmente inclinou a
cabeça num gesto muito parecido com qualquer um dos homens de The
Fallen faria e disse: — Você gosta de Cash?

Queria dizer que sim, porque estava apaixonada por sua beleza. Ele era
apenas um garoto e era tão bonito que deveria ser vagamente feminino,
mas havia uma melancolia em seu caráter, um peso e severidade em seu
rosto que me lembrava de um homem.
Mas não fiz, porque eu era jovem, mas ainda era uma Garro.

— Ele não é uma merda, eu acho, mas ele é country.

As sobrancelhas do garoto se ergueram, franzindo a testa de um jeito


que eu gostei. — Você odeia música country? Você é canadense, certo?

Olhei para ele, minha paixão totalmente esquecida em face de seu


desafio. — Uh, provavelmente sou mais canadense do que você. Minha
família está aqui desde sempre. E, para sua informação, nem todos os
canadenses gostam de country.

— Você vive numa pequena cidade rural como nós, você gosta de
country.

Bufei. — Não sei com quem você anda, mas o country é para
perdedores.

Ele sorriu levemente de uma forma que me disse que não sorria muito.
— Então, você não gosta de Cash.

Mordi o lábio porque gostei de Johnny Cash. Sua voz tão profunda e
rosnada me lembrou a do meu pai, e sua música country não soava country.

— É basicamente rock, — disse a ele, dando uma facada selvagem num


argumento para justificá-lo.

Ele reprimiu o canto de um sorriso. — Verdade. No entanto, ele era um


cara legal, porém, foi preso por vários pequenos delitos durante sua vida,
mas fez questão de tocar nas prisões porque ele entendeu o problema deles.
Um bando de irmãos The Fallen tinha ido para a prisão, por isso visitei
penitenciárias por anos. Gostei disso no Johnny, mas, mais do que isso,
gostei que esse garoto estranho gostasse disso nele também.

— Aqui, — disse ele, colocando cuidadosamente a guitarra de volta em


seu estojo aberto e depois se desenrolando em toda a sua altura. — Vamos
tentar At San Quinten.

Congelei quando ele se moveu ao meu lado para deslizar um novo


disco sob o tocador, apenas meus pulmões trabalhando duro para
estabilizar minha respiração repentinamente fugaz. Ele cheirava bem, como
terra cultivada fresca e feno com um leve almíscar do homem. Se eu
pudesse chegar perto o suficiente, deitar e fechar meus olhos, teria o
mesmo cheiro de ficar deitada na grama aquecida pelo sol sob um grande
céu de verão.

Ele se agachou ao meu lado para trocar os discos e virou-se para mim
quando terminou, perto o suficiente para que eu pudesse ver o início de
uma barba rala em seu queixo. Quando os vincos sorridentes ao lado de
seus olhos se achataram de raiva, percebi que ele estava perto o suficiente
para ver a marca de mão vermelha contra a minha bochecha.

— Quem diabos fez isso com você? — Ele demandou.

Sua voz era como um chicote estalando no ar, mas sua mão era suave
como um beijo de borboleta no meu queixo enquanto ele inclinava meu
rosto para ver melhor o hematoma.
— O que isso lhe importa? — perguntei, mesmo que meu lábio estivesse
curvado e a parte de trás dos meus olhos estivesse quente com lágrimas.

O que esse estranho se importava que eu tinha sido atingida? Não


estava acostumada com esse tipo de generosidade empática de pessoas de
fora do clube e suas famílias. Normalmente, os estranhos zombavam de
nós ou corriam ao nosso redor como besouros.

— O que eu me importo? — Ele repetiu, como se não pudesse acreditar


no que perguntei. — Alguém bate numa criança doce, você acha que eu
não me importo com isso? Você acha que alguém deixaria isso sem
controle?

— Sim, não te conheço. Por que você mete o nariz em assuntos


complicados que nem mesmo são o seu problema?

Seu rosto tenso com raiva deles se acomodou com simpatia. — Porque
eu não sou o cara que consegue andar pela tragédia sem fazer nada a
respeito, ok? E espero que você não seja esse tipo de garota também.

Eu pensei nisso por um segundo. — Bati nesse garoto estúpido no


parquinho na semana passada porque ele chamou minha melhor amiga
Lila de feia. Ela não é feia, meu pai diz que ela vai ser muito bonita quando
crescer.

Mais uma vez, ele mordeu a boca como se estivesse tentando parar um
sorriso. — Sim, bem, não posso dizer que a violência é a resposta, mas
estou feliz que você não deixou isso passar. É nossa responsabilidade,
como humanos decentes, cuidar uns dos outros, caso contrário, estamos
todos perdidos. Então, vou perguntar novamente, quem fez isso com você?

Mastiguei meu chiclete ansiosamente e decidi responder fazendo uma


grande bolha com meu Hubba Bubba. Ele olhou para o balão rosa que
parou a alguns centímetros do seu rosto e balançou a cabeça quando bati
com estalo alto.

— Você não vai me dizer. Meu pai é importante, posso fazer com que
ele ajude você.

— Meu papai também é importante, — disse-lhe com orgulho, porque


Zeus Garro era o dirigente mais jovem em quem o clube já tinha votado.

Ele semicerrou os olhos para mim, seus olhos mais verdes que os
semáforos, encorajando-me a ir, ir, ir e contar-lhe todos os meus segredos.
— Qual é o seu nome?

— Qual é o seu? — atirei de volta instantaneamente.

Outro sorriso arrancado. — Lionel.

Torci o nariz. — Esse é um nome estúpido.

— Sim? O seu é melhor?

Zombei em seu rosto, gostando de estar perto o suficiente para ver o


anel verde mais profundo em torno de sua íris externa. — Duh. É Harleigh
Rose, porque sou uma garota motoqueira.

Algo brilhou atrás daqueles olhos que me fez afastar dele.


— Agora que você sabe meu nome, quer me dizer quem bateu em você?
— ele perguntou com uma voz baixa e metálica que reconheci do meu pai e
seus irmãos quando eles não estavam mais brincando.

— O que diabos você está fazendo com a minha irmã? — A voz de King
chamou atrás de mim e um instante depois estava enrolada em seus braços.

O garoto se levantou, muito mais alto que meu irmão mais novo que
teve que dobrar o pescoço para olhar para baixo para nós. — Certificando-
me de que ela está bem. Ela é uma criança, não deveria ficar sozinha numa
loja, mesmo numa cidade tão pequena quanto a nossa. Temos bandidos
morando aqui.

— Não brinca, — King riu maldosamente. — Acho que podemos lidar


com eles mais do que você.

Sabia que ele estava vestindo a bela roupa do adolescente, sua camisa
de botões sob um blazer aberto e calça tão extravagantes que até tinham
um vinco na frente.

— Você está julgando um livro pela sua capa? — Lionel respondeu, sua
flecha acertando em cheio de uma forma que dizia que ele entendia os
rebeldes.

Não era sobre julgamento, nunca.

Podia ouvir os dentes de King rangendo acima de mim. — Quando você


não tem muito mais para continuar, o que um homem deve fazer a não ser
assumir e se mover para proteger?

— Um homem? — Lionel riu. — O que você tem, oito anos?


King estufou o peito, apertando-me ainda mais no círculo apertado de
seus braços. — Agora você está julgando baseado na minha idade? Tenho
oito anos, mas tenho aprendido a me defender e à minha família desde que
pude andar.

Lionel levantou as mãos num gesto de rendição. — Não tenho dúvidas


de que você pode. Apenas checando uma garotinha com uma marca de
mão colada na bochecha.

Os braços de King sofreram um espasmo ao meu redor. Ele odiava isso


por mim, por nós, mas não havia muito que ele pudesse fazer. Ela era
nossa mãe.

— Às vezes, você tem que jogar o jogo longo, — disse King,


enigmaticamente. — Não que seja da sua conta.

— Poderia ser, — meu amigo adolescente disse com um encolher de


ombros. — Deixe ser. Tenho os meios para ajudá-los a se afastarem do
rebanho de motoqueiros, e levá-los a um lugar mais seguro.

— Nenhum lugar é mais seguro do que com o Papai, — falei.

— H.R., King, venham aqui, — o Velho Sam gritou de repente da frente


da loja.

Segundos depois, tiros foram disparados pela Main Street. Eu tinha


ouvido o som pop inócuo antes e imediatamente o que era, o que
significava.

Morte.
Antes que eles pudessem me parar, me escapei dos braços de King,
desviei das mãos estendidas de Lionel e fui para o cartaz cobrindo a porta
da frente de vidro. Pressionei meu rosto numa lacuna nos cartazes e espiei
para fora.

Nada.

Mas eu tinha esse sentimento, essa sensação no fundo do meu estômago


como se os portões do Tártaro tivessem se aberto e esses monstros horríveis
estivessem se espalhando, causando destruição no meu corpo e
provocando minha alma.

Algo estava errado. Tão errado, eu sabia que o que estava acontecendo
do lado de fora das portas da Mega Music era grande o suficiente para
mudar minha vida.

Olhando para trás e conhecendo a mulher que me tornei, não é tão


surpreendente que desafiei a razão e a segurança para abrir a porta que me
protegia de tiros e correr para a rua. Lembro-me vagamente do Velho Sam
gritando atrás de mim e depois King lutando com ele enquanto ele era
impedido de me seguir, mas eu estava muito focada em encontrar a fonte
daquele som, em ter certeza que não fosse o que meu instinto estava me
dizendo que era.

A Main Street era um longo trecho de lojas pitorescas, restaurantes, o


tribunal, prefeitura, delegacia de polícia, um grande parque e a Igreja da
Primeira Luz.
A igreja ficava do outro lado da rua da Mega Music, em direção ao
oceano, mas pude ver imediatamente que o caos vinha de lá.

Havia homens com coletes de couro em todos os lugares, meu pai e seus
irmãos.

Meu coração parou.

Comecei a correr pelo asfalto.

Só consegui meio quarteirão, perto o suficiente da ação para ver meu


pai parado perto de mim na beira do estacionamento, quando mãos me
agarraram por trás e me empurraram para o chão. A calçada arranhou
minhas palmas enquanto eu caía, mas o peso da pessoa que me prendia na
rua não desceu. Virei a cabeça para olhar para o meu captor e encontrei o
rosto de Lionel, severo e forte sobre meu ombro.

— Deixe-me ir, — exigi.

— Isso não vai acontecer.

— Me deixar ir! — gritei quando outro tiro, este de alguma forma mais
alto que o resto rasgou o ar.

Minha cabeça girou em direção à ação e vi com clareza surpreendente,


meu pai, seus braços em volta de alguém menor, balançar para trás com o
impacto e cair no chão.

Gritei.

Não tinha idade suficiente para ter um pior pesadelo, mas se tivesse
sido forçada a pensar sobre isso antes, ver meu Pai cair não teria sido isso.
Ele era meu ídolo, meu ser humano favorito na terra, a pessoa que me
ensinou o que era amar.

Sem entender isso, sem precisar, senti meu mundo inteiro implodir
enquanto o via cair.

Gritei tanto e alto sem fôlego, por bem mais de um minuto, que no final
com os braços de Lionel ao meu redor, puxando-me para cima e contra seu
corpo para que pudesse me levar para longe da cena, eu desmaiei.

E mais tarde, quando acordei no sofá da minha casa, King discutindo


com minha mãe na cozinha sobre o fato de que Papai estava no hospital e
seria preso por homicídio culposo e eu sabia que estava certa, que toda a
minha vida mudou no decorrer de uma manhã de domingo, havia uma
rosa na mesa ao meu lado.

Nunca segurei uma rosa antes — minha família não era exatamente
pessoas de flores — então, me perguntava a profundidade das pétalas
vermelhas, enroladas firmemente, mas apenas abrindo no centro, um
vórtice tão complicado quanto lindo, aparecendo para eu ver.

Havia um bilhete colado na mesa embaixo da rosa.

Lamento por sua perda, Rosie.

Você precisa de mim, você liga.

Lionel

Em seguida, seu número de telefone rabiscado embaixo.


— Quase joguei fora essa merda, — disse King, entrando na sala de
estar com as duas mãos presas em seu cabelo longo. — Não deveria chegar
perto de um Danner.

Minhas mãos se fecharam automaticamente em torno da rosa e da nota,


um espinho espetou meu polegar e o sangue manchou o número do
telefone.

King foi inteligente o suficiente para perceber isso, e ele suspirou


quando se jogou ao meu lado e me puxou em seus braços. Pela primeira
vez desde que ouvi aqueles tiros, senti como se pudesse respirar
novamente, sentindo o cheiro de sua roupa fresca, sentindo os braços do
meu irmão muito mais fortes do que os meus ao meu redor.

— Me mata, mas o cara estava certo. Não posso fazer muito para
proteger você e agora o Pai —, ele limpou a garganta quando interrompeu
a palavra, — agora que ele está indo para a prisão, temos que nos defender
sozinhos. Quero que você mantenha o número, H.R., e quero que você o
use se for preciso, mesmo que isso signifique ir contra a mãe e o que o
clube representa.

— Mas, — sussurrei através das lágrimas em minha garganta. — O


clube vem primeiro.

— Nah, — disse King, sua voz tão carregada com sabedoria que me
perguntei como as palavras não prendiam sua língua. — Somos apenas
crianças. Pensando que precisamos nos colocar em primeiro lugar agora.
Desdobrei cuidadosamente meus dedos da nota amassada e toquei
meus dedos sangrando na pequena escrita no bloco. Minha mente
memorizou os dígitos imediatamente e ao longo da minha adolescência,
viria a ligar para esse número dezenas de vezes, sempre que precisava de
Lionel Danner para me proteger, assim como ele fez naquele dia do
massacre na Igreja da Primeira Luz, mas para hoje, guardei aquele maldito
post-it ensanguentado dobrado com cuidado em minha carteira como um
lembrete da primeira vez que ele me salvou.
Capítulo Oito
Quando acordei, tinha cheiro de bacon e sabia o que isso significava.

Meu pai estava aqui.

Eu esperava como o inferno que Loulou estivesse aqui também, porque


ela sempre teve um efeito calmante sobre ele e sabia que ele estava puto
como o inferno comigo. Ele foi legal comigo enquanto eu me recuperava do
incidente em sua casa em Entrance, levando-me para um passeio em sua
moto como eu adorava fazer desde menina, tocando-me carinhosamente
sempre que passávamos um pelo outro, e basicamente, deu-me espaço para
me recuperar sem se meter nas minhas merdas sobre as minhas más
escolhas.

Claramente, esse tempo acabou.

Hero estava pressionado completamente ao meu lado, suas costeletas


doces na minha coxa de frente para a porta quando eu abri meus olhos,
mas ele se virou para olhar para mim quando levantei minha cabeça.

— Ei, amigo. — esfreguei suas orelhas e sorri quando ele lambeu minha
mão. — Estou surpresa que você não tenha surtado quando meu pai
invadiu meu apartamento.
— Ele fez, — disse Zeus Garro da porta do meu quarto, seu grande
corpo ocupando toda a largura e altura da mesma. — Ainda bem que Lou
estava aqui e a fera já a conhecia senão eu estaria seriamente mordido
agora.

— Não acredito que dormi durante isso, — murmurei, olhando para


Hero enquanto ele lambia minha mão alegremente, totalmente à vontade
com meu pai.

Disseram-me que cães tinham bons instintos e Hero era o melhor deles,
então não foi surpresa que ele soubesse que meu pai não representava uma
ameaça para mim, apenas para quem quisesse foder comigo.

— Você foi espancada, H.R., seu corpo precisa de tempo para se


recuperar, mas em vez disso, você disparou como um morcego do inferno
para voltar a Vancouver e assistir ao funeral daquele pedaço de merda.
Quer me explicar isso?

— Na verdade, não.

— Sim, garotinha, não foi um pedido.

Soprei uma mecha bagunçada de cabelo loiro com riscas para fora da
minha boca e bufei petulantemente. — Que tal você me dar tempo para me
preparar para o dia e talvez eu sinta mais vontade de conversar?

— Que tal você escovar os dentes e me encontrar na cozinha em menos


de dois minutos e eu não vou puxar sua bunda para fora da cama e fazer
você responder às minhas perguntas? — Ele sugeriu casualmente.
— Você é um valentão, — murmurei enquanto empurrava as cobertas
para trás e deslizava para o chão frio e fui para o meu banheiro.

Ele me pegou com uma mão gentil em meu braço enquanto eu tentava
passar por ele. — Nah, querida, não sou um valentão e não vou permitir
que você diga algo assim de novo, brincando ou não. O que eu sou é um
pai cujo pior pesadelo de merda se tornou realidade quando ele descobriu
que alguém colocou a mão em sua princesa, a menina dos seus olhos, por
anos, sem ele saber de nada.

— Papai, — sussurrei, de repente uma garotinha novamente. Virei-me


em seu corpo e agarrei sua camiseta favorita do AC/DC quando ele passou
seus braços de tronco de árvore em volta de mim e me apertou.

— Não estou bravo com você, Harleigh Rose, bravo comigo mesmo por
me tornar um bastardo egocêntrico.

— Nunca, — jurei. — Você nunca foi esse cara, Pai. Você teve muita
coisa acontecendo nos últimos quatro anos e, juro por Deus, tentei de tudo
o que pude para garantir que você não soubesse.

Ele fez um som baixo no peito como um urso ferido. — Não confiava
em mim?

— Não confiava mais em mim, — disse-lhe honestamente. — Não sabia


como isso começou a acontecer e não sabia porque não parava. Eu, —
respirei fundo, estabilizando a respiração, — eu tentei parar, Papai.

— Foda-me, — ele disse no topo da minha cabeça. — Eu o mataria


novamente se pudesse, porra. Faria que fosse a morte mais lenta da história
do homem, pele em camada por camada, esculpindo-a centímetro por
centímetro, porra, até que ele fosse comida de porco. Faria Priest trazê-lo
de volta da morte uma e outra vez como só ele pode, apenas para que eu
pudesse fazer tudo de novo.

Cantarolei contra seu peito duro e acariciei suas costas suavemente. —


Sim, Papai, eu sei.

— Odeio que você teve que tirar uma vida, mesmo que eu tenha ficado
feliz pra caralho que o carma o pegou no final.

— Sim, — concordei, porque foi o poetismo de acabar com minha


própria vitimização que tornou o fato de eu ser uma assassina um pouco
mais palatável.

— Não vai embora, garotinha, — ele murmurou.

— O quê?

— O sangue em suas mãos. Mas prometo-te, quando é feito pelas razões


certas, essa merda não parece uma mancha, parece um maldito distintivo.

— Acredito em você, — disse, e era verdade, sempre acreditei.

— Essa é minha garota. E quero você em casa, Harleigh Rose, assim que
os exames forem concluídos, você está de volta em Entrance, segura e
amada.

— Tudo bem, — disse, porque eu poderia me rebelar contra ele e o


clube, mas no final do dia, não havia ninguém em quem eu confiasse tanto
quanto ele.
— Bom. Agora a comida vai esfriar se você não pegar sua bunda e vier
comer comigo e com sua família.

— Saio logo, — disse quando ele me apertou e me soltou.

Sorri quando ele se abaixou para dar um tapinha na cabeça de Hero. —


Lou está querendo um cachorro há muito tempo, porra. Não dê nenhuma
ideia, sim? Acho que teremos o suficiente em nossas mãos com a porra dos
gêmeos.

Ri e revirei os olhos. — Como se você não desse o mundo a Loulou se


ela pedisse.

Papai sorriu e ficou sério, balançando um braço para me segurar pelo


pescoço e me trazer de volta para sua frente, sua testa baixando para
encontrar a minha. — Você vai descobrir que um homem sente o mesmo
por você, que a tratará como a princesa que você é.

Engoli em seco, sentindo Hero pressionado contra o meu lado, sentindo


o fantasma da mão de Danner enrolada com segurança em minha garganta,
um colar de posse que eu gostaria de poder marcar na pele lá.

— Sim, talvez. — dei-lhe, mesmo não tendo certeza de que concordava


com ele, porque o único homem em quem eu confiava não era meu.

Mais tarde, quando tomei banho e vesti minha camiseta grande


Hephaestus Auto da oficina de The Fallen, entrei na sala principal do meu
apartamento com o Hero ao meu lado para ver toda a minha família
embalada no pequeno espaço.
Meu irmão estava sentado em uma das cadeiras estreitas da sala de
jantar, sua mulher, Cressida, escarranchada em seu colo e de frente para
ele, com as mãos em seu cabelo loiro encaracolado e as mãos em sua
bunda. Eles estavam rindo alto de alguma coisa, que era algo que eles
faziam muito juntos, mas os dois se viraram para olhar para mim assim
que cheguei em seu espaço.

Nova, não minha família de sangue, mas por direito, estava jogado no
meu sofá, uma mão sobre os olhos, as pernas abertas, uma sobre o encosto
do sofá e outra sobre a mesa de centro, com as botas sujas ainda calçadas.
Mesmo de ressaca, como eu sabia que ele provavelmente estava, ele parecia
lindo descansando ali, como um deus grego caído do Olimpo. Ele espiou
por debaixo do braço quando minha melhor amiga Lila, sentada no chão ao
lado dele, pintando as unhas na mesinha de centro ao lado de sua bota, o
acertou na lateral ao me ver.

Se eu virasse o corredor, sabia que veria Papai na cozinha terminando o


bacon, adicionando ao que sua esposa preparou para o café da manhã,
provavelmente panquecas de ricota com limão, conhecendo minha
madrasta, mas antes que eu pudesse dar esse passo, a mulher em questão
estava na minha frente com um sorriso tão brilhante para mim que eu
pisquei.

— Harleigh Rose, — ela murmurou suavemente em sua voz rouca, e


apenas o som do meu nome em sua boca me fez querer chorar novamente.

Cara, eu estava me transformando numa maldita covarde.


Antes que eu pudesse piscar novamente, ela estava contra mim, seu
cheiro de caramelo no meu nariz e cabelo macio contra minha bochecha.
Agarrei-a para mim, amando o calor de seu corpo e espírito contra minhas
contrapartes doloridas.

— Você desaparece assim de nós de novo, juro por Deus, H.R., não vou
segurar seu pai da fúria que ele vai continuar, você me entende? — Ela
sussurrou em meu ouvido.

Sorri em seu ombro antes de soltá-la para revirar os olhos. — Como se


você pudesse controlar o monstro em que ele se transforma quando está
em pé de guerra.

Lou me deu um pequeno sorriso feminino quando sua mão foi para sua
barriga enorme, inchada com meus meios-irmãos. — Oh, tenho meus
caminhos, baby.

— Ok, vômito. Quantas vezes temos que ter essa conversa, hein? Não
há mais insinuações sexuais ou informações sobre sua vida sexual com
meu pai,— ordenei a ela.

Claro, ela gargalhou e piscou para mim quando íamos para a cozinha.
Era quase impossível para eu acreditar que há quatro anos a derrubei no
chão e bati nela porque descobri que a mesma garota que fez meu pai ser
baleado quando eu tinha seis anos, era a mesma garota transando com ele
agora. Eu a odiava por isso e por tirar uma grande parte do seu tempo e
atenção, porque eu era jovem e egoísta pra caralho. Foi só depois que ela
foi deserdada por sua família e percebi, os horrores do câncer que tinham
destruído sua vida, que eu acordei.
Agora, não conseguia imaginar minha vida sem ela e, com certeza,
também não queria imaginar meu pai assim.

Sentei-me no bar enquanto ela deslizava sob o braço que meu pai a
segurava enquanto ele servia fatias de bacon perfeitamente crocantes nos
pratos.

— Está pronto, — ele chamou enquanto se torceu para baixo para dar
um beijo na boca erguida de Loulou.

Deus, os homens da minha família eram doces o suficiente com suas


mulheres para causar uma maldita dor de dente numa garota.

— Como está minha linda garota? — Nova perguntou, deslizando ao


meu lado para pegar o prato de comida que meu Pai tentou deslizar para
mim.

Ele o interceptou, levou-o ao peito e mordeu um pedaço de torrada com


manteiga enquanto esperava que eu respondesse a pergunta.

— Isso era meu, — eu o informei.

— Não vejo seu nome nele e minha boca está nele agora. Você ainda
quer isso?

— Eu não faria isso, — Lila falou lentamente quando ela apareceu e deu
um beijo na minha bochecha e depois aceitou um prato de Lou. — Só o
diabo sabe onde esteve essa boca.
Todos nós rimos quando ela fingia estremecer, mas Nova apenas deu de
ombros e deu outra mordida enorme na torrada. — Quem sou eu para
negar às senhoras o que elas querem?

— Você é nojento, — disse Lila com um sorriso de escárnio, enquanto


empurrava Nova com uma mão sólida no ombro.

Um enorme diamante piscou na luz quando ela fez isso e eu ofeguei. —


Puta que pariu, Lila, querida, por favor, não me diga que essa rocha é um
anel de noivado.

Minha melhor amiga sorriu para mim e balançou a mão no ar enquanto


ela gritava: — É melhor você acreditar, baby! Jake propôs.

Lancei-me do banquinho para seus braços. — Você está brincando


comigo!

— De jeito nenhum, cadela. Este diamante de cinco quilates não é


brincadeira.

Nós rimos na cara uma da outra quando nos abraçamos e por um


momento, o mundo parecia certo novamente.

— Só o conhece há uma semana do caralho, — Nova murmurou. —


Mas, de qualquer forma.

— Sim, tanto faz, Nova, — disse Cress, batendo nele suavemente com o
quadril enquanto se aglomerava ao nosso redor. — Quando você sabe,
você sabe.
Nova olhou para King em busca de ajuda, mas ele apenas deu de
ombros e sorriu: — Desculpe, cara, minha mulher fala a verdade.

— Ela faz, — Lila disse apenas para mim, seus enormes olhos castanhos
brilhando de alegria. — Nunca pensei que encontraria alguém que me
amasse de volta, mas eu fiz e ele é tudo.

Eu a sacudi levemente para confirmar que cheguei onde ela estava.


Minha melhor amiga estava apaixonada por seu melhor amigo, Nova,
desde que ela era uma maldita garota, mas o adorável vagabundo estava
muito ocupado parecendo bonito e ficando com qualquer mulher que se
jogasse nele para perceber seu amor não correspondido.

Então, finalmente, ela seguiu em frente.

Estava feliz por ela, mais feliz do que poderia expressar com meu pobre
vocabulário de palavras emotivas, então eu apenas dei a ela um aperto
suave.

Ela era minha garota, então ela me pegou e deu um grande sorriso.

— Certo, comam enquanto falo, — Pai ordenou enquanto nos conduzia


à sala de estar, onde todos nos sentamos nas superfícies disponíveis para
comer e ouvir.

Havia uma expressão em seu rosto que eu conhecia bem, uma torção
preocupada em sua testa forte e brilho em seus olhos prateados que
falavam de inquietação e fúria. Ele esperou até Lou se sentasse em cima
dele no sofá para começar, mas antes mesmo que ele falasse, sabia que era
ruim.
— Isto é negócio do clube, não preciso dizer a vocês, mulheres, que
normalmente, essa merda não se estende a vocês, mas por razões que logo
entenderão, tenho que informar vocês disso. Fomos ameaçados por alguns
lados agora e preciso que vocês estejam vigilantes.

— Javier? — Cress perguntou imediatamente, inteligente o suficiente


para entender que, só porque nosso antigo inimigo estava adormecido,
bancando docilmente o prefeito de Entrance nos últimos três anos, isso não
significava que ele deixou de ser nosso inimigo.

— Os policiais andam farejando mais do que o normal, não é grande


coisa, mas estão parando as esposas e namoradas dos irmãos, aparecendo
em nossos negócios legítimos, tentando incomodar os funcionários que não
têm nada a ver com merda do clube. Continuamos vigilantes, mas
precisamos que vocês tomem cuidado, sim?

Os caras inclinaram os queixos, mas as mulheres, olhamos umas para as


outras porque sabíamos pela sensação elétrica no ar que uma tempestade
estava chegando.

— O que mais? — Cress perguntou, inclinando-se para frente no braço


da cadeira em que ela se empoleirou para esfregar as costas do meu irmão.

Desta vez, surpreendentemente, Lila falou, suas lindas tatuagens


brilhando intensamente na luz da manhã mudando pelas janelas. — Irina
Ventura abriu uma empresa de pornografia fora de Entrance.

Fiz uma careta. — Ok, por que ligamos para isso?


— Ela está usando os traficantes de droga do Javier para viciar garotas
locais em metanfetamina, cocaína ou heroína e forçando-as a atuar. Você se
lembra de Talia Jenkins? Ela foi para a EBA, mas namorou Aaron, lembra?

King riu. — Lembro-me dela.

Cressida inspirou profundamente, o que fez King rir muito e se inclinar


para ela para que ele pudesse inclinar a cabeça para sorrir para ela.

— Ela nunca teve nada sobre você, Cress baby, — disse ele.

— Talia ficou viciada, agora trabalha para Irina, — continuou Lila.

— Como isso é nosso problema? — perguntei, um pouco insensível,


mas era verdade. Não éramos policiais, não éramos vigilantes, então o que
isso importava?

— Eles pegaram Honey, — disse King, seus olhos em mim, enquanto


ele distraidamente mordia gentilmente os dedos de Cress.

Honey.

Foda-se, eles pegaram Honey.

Fechei meus olhos por um segundo e deixei isso me abalar. Honey era
nossa meia-irmã através de nossa mãe. O máximo de tempo que passei
com ela foram os nove meses que minha mãe estava grávida enquanto
Zeus estava na prisão, sua bunda traidora não esperou nem uns meses,
depois dele ter sido preso, para ficar com outro cara. Desde então, eu a vi
num total de três vezes e ficou claro que Farrah a criou como uma versão
em miniatura de si mesma, e as duas cadelas odiavam The Fallen e os
Garros.

Mas ainda assim, Honey tinha dezesseis anos.

— Ela está fazendo pornô? — perguntei sem abrir os olhos, odiando o


visual.

— Ainda não, Farrah ligou para o Papai exigindo que ele lidasse com
isso, — respondeu King, uma borda na voz como uma faca serrilhada.

— Ela nem é filha dele, — Nova falou pela primeira vez.

— Ainda assim, a família é família e ela é a porra de uma criança. Não


posso ter isso em nossa cidade e nos lados, não me importaria de levar
aquele boceta do Ventura para baixo, — Papai disse, e não pela primeira
vez me lembrei que os heróis vêm em muitas formas e tamanhos
diferentes, e só porque Zeus Garro era um fora da lei, Pres de um clube de
motoqueiros, com ficha criminal, não significa que ele era o tipo de bom.

— Concordo, — King e eu dissemos ao mesmo tempo, depois sorrimos


um para o outro.

— Qual é a terceira coisa? — Cress perguntou suavemente.

Papai olhou para Cress então para mim e seu rosto ficou em branco. —
Berserkers MC abordou sobre parceria. Rejeitei a ideia diretamente. Eles
não aceitaram muito bem.
— Como diabos eles pensaram que algo tão estúpido voaria com o
clube? — King perguntou, inclinando-se para frente para sentar com os
antebraços nos joelhos.

— Você não sabia sobre isso? — perguntei, surpresa que King não
estava por dentro, especialmente agora que ele começou a prospectar.

Ele finalmente mergulhou, mas King fazia parte do clube desde que
saiu do ventre podre de nossa mãe.

— Não me disse merda nenhuma desde que entrei para o clube, — ele
murmurou, mas seus olhos empalideceram de raiva.

— Porque você ainda não é um membro remendado completo e é


importante que você sinta isso, assim como todos os outros prospectos
fazem, — Papai disse, seu tom de voz irritado e entediado, como se
tivessem tido a mesma conversa um milhão de vezes.

Isso fez o cabelo da minha nuca se arrepiar porque Papai e King nunca
foram nada menos que unha e carne como ladrões.

— É uma jogada bastante ousada, — disse com cuidado. — Você não


acha que eu tenho algo a ver com isso, acha?

Papai levou as mãos íngremes aos lábios e me estudou por um segundo.


— Penso que não quero você perto deles ainda mais do que já quis antes
disso, com toda fodida certeza. Reaper e eu voltamos para antes que ele
fundasse seu clube. Gosto de pensar que foi um gesto, voltar no tempo que
ele queria entrar em The Fallen e Crux o rejeitou. Pode ser simples assim.

— Como você sabe que eles não aceitaram bem, então?


Sua mandíbula cerrou e o depois pulsou com força, mas ele não disse
nada.

Loulou o fez, com as duas mãos no abdômen grávido. — Não sabemos


exatamente quem, mas alguém fez ameaças contra mim e os bebês em
nome desse clube.

O oxigênio na sala evaporou com um estalo, e o que se seguiu foi um


silêncio absoluto, não pontuado nem mesmo com a respiração.

— Você está brincando! — King gritou, levantando-se para andar. —


Você está brincando comigo.

— Isso é tão fodido, — disse Cressida suavemente, com a mão na boca.

Foi uma reação que me lembrou o quão longe ela estava de ser uma
professora rígida e afetada nos últimos cinco anos, mas o quão longe ela
ainda estava de ser uma verdadeira old lady ou uma garota motoqueira.

Porque, eu?

Nascida e criada como uma cadela motoqueira, formada a partir do


esperma de motoqueiro e no ventre de uma cadela?

Minha reação não foi externa, ela floresceu em meu coração como uma
rosa sangrenta envolta em espinhos venenosos. Minha família estava sob
ameaça e nada no mundo importava tanto quanto eles, nem mesmo eu.

Então, eu sabia o que ia fazer.

Minha vaga inclinação para derrubar os Berserkers havia se solidificado


em algo, longo, forte e letal, uma espada flamejante em minha mão justa.
Eu acabaria com eles.

Mesmo que nunca tenham tocado num fio de cabelo na cabeça de


Loulou e dos bebês, eles mereciam morrer só de pensar nisso.

A prisão era muito boa para eles, mas era um substituto decente para o
assassinato, desde que cada membro daquele MC afundasse com a porra
do navio.

— Todos calem a boca, — Papai ordenou firmemente sobre o clamor de


King xingando, Nova e Lila discutindo e Cress falando baixinho com Lou.
— Nem preciso dizer, espero, que não vou deixar nada tocar a porra de um
fio de cabelo de Lou ou se aproximar dela. Entenderam isso? — Ele
esperou que concordássemos com inclinações do queixo e acenos com a
cabeça antes de continuar. — Ótimo, agora tirem isso de suas mentes.

— Mais fácil falar do que fazer, — disse Cress suavemente, com


lágrimas nos olhos enquanto eu olhava para Lou.

— Amo você, Loulou, — disse a ela, mas o que eu quis dizer era que eu
a amava o suficiente para me envolver com os Berserkers MC novamente e
derrubá-los por ela.
Capítulo Nove
Saí do prédio da enfermagem depois da minha última aula do dia para
ver um grupo de estudantes cercando algo no estacionamento. Acontecia
algumas vezes na UBC, Vancouver estava cheia de famílias ricas e os
estudantes internacionais tinham que ser muito ricos ou muito sortudos
para garantir uma vaga na escola, por isso não era incomum ver uma
Ferrari ou Aston Martin nos estacionamentos do campus.

Pessoalmente, não dou à mínima. Meu pai era dono da principal oficina
de carros e motos personalizados na costa oeste, já vi todos eles e mais
alguns.

Então, eu estava passando rapidamente, já pensando em chegar em casa


para Hero e levá-lo para um passeio, tendo desafiado a ordem de Danner
de levá-lo para a aula porque era completamente ridículo. O MC nunca me
faria mal no terreno do campus.

— Harleigh Rose, — a voz mais profunda que eu conhecia, gritou sobre


os gritos mais altos das conversas dos estudantes.

Congelei.

Então, lentamente, já reavaliando minha afirmação de que os Berserkers


não me machucariam no campus, virei-me para encarar o grupo de
estudantes no estacionamento.
Wrath estava sentado em sua enorme Harley Davidson, uma cauda
macia e fina com detalhes em vermelho e cromado, mas eu sabia que não
era a moto que chamava a atenção, mas o grande idiota, o motoqueiro
mauzão que a acompanhava. Seu cabelo grosso estava enrolado e
balançando ao vento, sua carranca permanente fixada em seu lindo rosto, e
seu grande corpo fazendo o que as pobres mulheres amavam onde todo o
comprimento e largura musculosa de seu corpo estavam em exibição.

Entendi a multidão.

Nem sequer gostava do homem e queria me aproximar para ter um


vislumbre melhor dessa beleza.

Mas, não o fiz.

— Tenho que ir para casa, Wrath, — gritei com um estalar dos meus
dedos. — Te vejo mais tarde.

— Por que você acha que estou aqui? Suba, — ele disse.

Porra.

Eu não queria. Eu queria ir para casa, limpar minha arma, levar Hero
para uma corrida e estudar para minhas provas finais em duas semanas.
Mas, Wrath era tecnicamente meu old man agora, e não tivemos tempo
para descobrir os detalhes.

Como o fato de que eu não ia dormir com ele.

Levantei minha mochila sobre o outro ombro para que ficasse


equilibrada na moto e me arrastei até ele.
— Parecendo doce, H.R., — ele me elogiou quando parei com a mão no
quadril em sua frente.

Estava hiper ciente da nossa multidão persistente enquanto jogava meu


cabelo por cima do ombro e estalei alto uma bolha com meu Hubba Bubba
original com sabor. — Vestindo uma camiseta velha e short jeans, Wrath,
nada para escrever para sua mãe.

Dado que era uma das minhas favoritas, uma que roubei do pai com o
AC/DC estampado em vermelho na frente que amarrei na parte inferior
para expor um pedaço da minha barriga bronzeada e o topo das meias
arrastão que eu usava debaixo do meu shortinho jeans. Era uma garota
motoqueira desde que podia falar, até mesmo tinha que admitir que eu
tinha o visual dominado.

Ele cruzou os braços sobre o peito, chamando a atenção para as


tatuagens lindamente detalhadas do fogo do inferno queimando em seus
antebraços e até os demônios queimando as chamas em seus enormes
bíceps. — Você acha que uma mulher precisa usar algo especial para fazer
um homem ofegar, mulher? Nah. Atitude é noventa por cento da atração.

— E os outros dez por cento?

Ele fez uma pausa quando um sorriso lento dividiu sua barba em duas.
— Não descobre isso até mais tarde, quando ela estiver de joelhos com seu
pau na boca e você descobrir como ela é boa em chupar você.
Bufei, terminei com o nosso jogo e me movi para me balançar sobre a
moto atrás dele. — Não apostaria em descobrir o poder decimal da minha
sucção, cara.

A risada de Wrath era menos barulho do que uma vibração de


movimento através de seu torso longo e largo. Ele se acomodou sobre a
moto, esperou que eu colocasse o capacete na minha cabeça e depois
acelerou apenas para ver o grupo de estudantes ofegar e recuar.

— Mostre-se, — murmurei baixinho, mas se sua risada era alguma


indicação, ele me ouviu.

Nós decolamos e odiei amar estar na garupa de uma moto, tanto quanto
gostei do passeio pelas estradas curvas da UBC, vislumbres de casas
multimilionárias através de portões de segurança abertos e enormes
extensões de vista desobstruídas do oceano, o sol do verão na flor cheia do
meio dia sobre a água prateada. O vento estava no meu cabelo, o cheiro de
asfalto quente e motoqueiro vestido de couro no meu nariz e, em pouco
tempo, cedi ao impulso de jogar meus braços no ar e gritar indecifrável ao
vento impetuoso.

Fiquei quase triste quando chegamos ao bar da Bernadette, o boteco


local do Berserker, exceto que eles faziam as melhores malditas asas de
frango do planeta, pelo menos havia isso.

Desci da moto, empurrei o capacete no peito de Wrath e disse: —


Encontro você lá dentro.
O bar não era nada parecido com o de Eugene, o bar do meu tio e
também o bar favorito do clube do meu pai nos arredores de Entrance. Era
mais sujo, os servidores mais velhos e abatidos, lavagens de clubes de strip
e bares mais populares do centro, as bebidas limitadas a cerveja e alguns
licores de baixo custo.

Deslizei numa cabine e pedi uma Blue Buck e asas quentes.

Wrath se juntou a mim ao mesmo tempo em que a cerveja espumosa foi


colocada na minha frente e ordenou o mesmo.

— Nós temos que conversar.

— Sim, nós temos. Temos que falar sobre o fato de eu não ser sua old
lady, — falei para ele.

Wrath olhou para mim implacavelmente com aqueles olhos plácidos


cinza-azulados e bonitos. — Para os propósitos do clube, você é.

Eu me animei. — Muito enigmático?

Ele olhou para mim, suas mãos grandes girando uma base para copos
repetidamente em seus dedos. Não sabia se ele fez isso de propósito, mas
foi um bom lembrete de que ele não era alguém para porra brincar.

— Não quero você assim. Bonita pra caralho como um pêssego, mas
como eu disse antes, isso não importa muito para mim. O que faço é da
minha conta e você não precisa se preocupar com isso, exceto pela parte em
que você continua fingindo ser minha old lady.
— Acho que preciso me preocupar com isso, — disse lentamente, meus
olhos examinando o esconderijo dos motoqueiros em busca de qualquer
irmão Berserker que pudesse estar ouvindo. — Se isso envolver eu mentir
para o clube.

Ele bufou. — Vamos ver se entendi direito, tenho minha própria merda
acontecendo, mas ainda sou VP desta merda de clube e a única razão pela
qual não estou cavando em sua merda – merda tão rançosa que posso
sentir o cheiro a um quilômetro de distância – é porque eu preciso de você.
Reaper pode comprar esse olhar azul de olhos arregalados, mas vejo sua
segunda face, H.R., e sei que você tem merda a esconder, como eu.

Franzi os lábios, mas estava entre uma rocha e um lugar duro. Ele me
salvou daqueles motoqueiros imbecis, claro, mas ao fazê-lo, ele já nos
amarrou inextricavelmente. Se eu quisesse derrubar o MC, teria que seguir
o plano. E de certa forma, era vantajoso ter a proteção do VP,
especialmente sem ter que tomar seu pau.

— Então, qual é o show? Fingimos estar juntos na frente dos irmãos? Eu


cubro você se eles perguntam onde você esteve?

— Parece quase certo, — ele concordou quando sua cerveja chegou e as


asas quentes caíram na mesa entre nós. Ele me viu cair no frango com
humor iluminando seus olhos. — Não confio em você, H.R., mas eu
preciso. Você me ferra nisso, vou estripá-la com a mesma faca que afirmam
ter matado meu primo. Você me entende?

Falei com a boca cheia de frango enquanto arrancava um pedaço de


carne do osso. — Você me estripa, você terá um inferno para pagar com
The Fallen. Eu diria, mais ou menos um ano ou dois, você toca um fio de
cabelo na porra da minha cabeça, eles passariam uma década mantendo
você no limite da morte, torturando você diariamente por machucar sua
princesa.

— Sem dúvida, — ele concordou mais fácil, enfiando uma asa inteira
em sua boca e depois empurrando os ossos limpos entre os dentes.

— Então, o mesmo vale aqui. Preciso de cobertura, é isso.

Ele piscou para mim e seus olhos dispararam para a porta que se abriu
ao som de uma mulher rindo. Seu sorriso apareceu em seu rosto como se
puxado por um fio e agulhas quando ele olhou entre os recém-chegados e
eu.

— Feito.

Dois segundos depois, entendi por que ele estava sorrindo e não gostei
que ele soubesse o suficiente para gozar do meu desconforto.

— H.R., menina! — Laken chorou quando se jogou na cabine ao meu


lado, seus braços firmemente em volta do meu pescoço.

Fechei meus olhos e cerrei meus dentes contra o flashback, a sensação


de sua ferida contra mim, tanto como a sensação de Cricket trancado em
cima de mim, sua arma deslizando forte e fria por minha coxa sobre o
reforço da minha calcinha e sob...

— É bom ver você, irmão, — a voz de Danner cortou minha turbulência


e observei quando ele se inclinou para frente para abraçar Wrath com um
aperto de mão viril/tapinha nas costas.
— Não acredito que você não me contou sobre Wrath, — Laken
sussurrou alto, seus braços ainda em volta de mim, mas soltos. — Você
estava fodendo com ele enquanto estava com Cricket?

— Laken, — Danner estalou para ela antes que eu pudesse responder.


— Jesus, mulher, você já sonhou em pensar antes de falar?

Era estranho ouvir Danner falar em contrações de motoqueiros, assim


como enviou um formigamento de excitação entre minhas pernas.

Deus, ele parecia sexo nas pernas naquela jaqueta de couro.

Eu me concentrei em Laken, que parecia castigada adequadamente e dei


um tapinha em seu braço antes de tirá-los de cima de mim. — Não
mencione isso de novo, querida. Mas, se você quer falar de surpresas,
quando você ficou com esse cara? Qual é o nome dele mesmo?

Wrath mal escondeu seu latido de riso por trás de uma tosse e eu atirei-
lhe um olhar cauteloso, porque parecia que ele sabia demais sobre minha
história com Danner.

Laken serviu-se de uma das minhas asas e disse: — Harleigh Rose, este
é o meu homem, Lion.

— Lion, — pensei. — Como você conseguiu esse?

— Quando ele começou a prospectar, ele era virgem de tinta, então os


meninos o levaram até a loja de Gilly e o obrigaram a fazer uma tatuagem.
Ele não tomou pílulas ou injeções para aliviar a dor e escolheu um enorme
pedaço do peito com este leão rugindo sobre seu coração enjaulado por um
matagal dessas rosas e espinhos — Laken suspirou sonhadora enquanto
contava a história, completamente inconsciente da minha quietude
anormal ao lado dela. — Isso combinado com o fato que ele saiu da rua
com bolas de bronze8 para endireitar-se como Reaper para pegá-lo como
um enforcamento em torno de dois anos atrás, sem qualquer ligação com o
clube, bem os caras pensaram que ele tinha a coragem de um, sabia?

Eu sabia. Sua coragem e convicção foram metade do motivo pelo qual


comecei a chamá-lo de Lion quando garota. Não conhecia ninguém tão
estupidamente corajoso, tão convencido de sua missão de fazer o bem e
corrigir erros.

Entendi o simbolismo da tatuagem mais do que qualquer outra pessoa


poderia saber.

Danner estava olhando para mim, seus olhos como pontas de faca
ardendo em minha pele, mas me recusei a olhar em sua direção. Se o
fizesse, todas as minhas paredes bem conservadas desmoronariam e tudo o
que restaria seria eu em minha forma mais baixa, fraca e terna e dele.

— Você já ouviu falar do Leão Covarde? — Wrath perguntou.

Caí na gargalhada, chocada que o grande e mau motoqueiro conhecia o


Mágico de Oz e fiquei feliz por ele ter usado isso para insultar Danner.

Até os olhos de Danner brilhavam com o corte. — Cale a boca, cara.


Você só está dolorido. Bati na sua bunda na sinuca na semana passada e
levei você por cinquenta dólares.

8 Gíria vulgar para “coragem, determinaçã o ou tenacidade inabalá veis”.


Wrath bateu com a mão na mesa. — Estava espreitando você para uma
falsa sensação de segurança. Está sentindo uma revanche?

— Vamos a isso.

— Jogo de casais, — Laken chorou alegremente, levantando-se para


pegar minhas mãos e as de Danner para que ela pudesse nos arrastar até
uma das três mesas de sinuca.

Todas estavam ocupadas, mas um olhar para o tamanho de Wrath e a


altura de Danner, ambos vestidos com coletes de motoqueiro, fizeram as
pessoas mais próximas saírem rapidamente.

Escondi meu sorriso atrás da minha cerveja. A intimidação nunca


envelheceu.

— Como está meu cachorro? — Danner perguntou, estendendo a mão


ao meu redor para pegar um taco na parede, seu torso duro pressionado
contra as minhas costas. — Cuidando bem da nossa garota?

— Como está Laken? — perguntei de volta baixinho. — Cuidando do


seu pau?

Danner olhou para mim por um momento quando me virei e riu.


Adorei o som dele baixo e suave como mel líquido, a forma como sua
cabeça abaixou um pouco, como se estivesse envergonhado, surpreso por
sua própria alegria, e as rugas que cortavam seu rosto, ao lado daqueles
olhos verdes, em torno de sua boca firme e um corte especialmente
delicioso na bochecha esquerda como uma covinha. Eu poderia tê-lo visto
rir por horas, mas o fato de ele fazer isso com tanta moderação também o
tornava precioso, e eu cobiçava isso.

— Jogando o jogo da vida aqui, — ele me disse quando se acalmou. —


Meu único objetivo é tornar Vancouver um lugar mais seguro.

— Então, por que não usar Laken para fazer isso? — aventurei-me,
tomando cuidado para manter minha voz baixa e meus lábios imóveis para
que Laken e Wrath não escutassem a outra extremidade da mesa onde eles
estavam pedindo mais bebidas.

— Ela é filha de Reaper e não é a mais inteligente, — ele deu de ombros.

— Nunca pensei que você fosse tão cruel, — murmurei enquanto


acumulava as bolas no feltro verde manchado.

— A polícia acha que os Berserkers são responsáveis por um terço de


todas as armas apreendidas ilegalmente nesta cidade, e temos a maior taxa
de crimes por armas per capita no país. Estou infiltrado nesta operação por
três fodidos anos, H.R., nesta altura, farei qualquer coisa para derrubá-los.

Pensei em Mute, o irmão Fallen que levou uma bala no pescoço


enquanto tentava salvar Loulou, sua irmã mais nova, Bea, e eu de um
prédio em chamas. Perguntei-me se os Berserkers haviam fornecido a arma
que disparou aquela bala em seu pescoço e minha determinação aumentou.

— Juntando-me a você nisso, Danner, — disse a ele. — Você não resolve


isso com os porcos, eu vou.

— Você quer trabalhar para a polícia quando não consegue nem se


referir a eles com respeito? — Ele perguntou com um bufo.
— Sim, faço isso. Eles ameaçaram minha família, vendem armas para
qualquer pessoa com dinheiro e encorajaram Cricket a me quebrar ao meio
com seus punhos, para que eu revelasse segredos dos Fallen. Acho que
tenho uma razão melhor do que a maioria para me envolver aqui.

A mão de Danner foi para o meu quadril, fora da vista de alguém, presa
entre nossos corpos enquanto ele ficava um pouco atrás e ao meu lado, mas
eu senti o toque ilícito como pás de choque no meu coração.

— Não quero que você envolvida nessa merda, Rosie, — ele disse
suavemente, muito perto de mim, sua voz no meu ouvido e respiração no
meu pescoço.

Estremeci violentamente e sua mão flexionou na parte inferior das


minhas costas em resposta.

— Tarde demais, — disse. — Além disso, você está tão preocupado,


você vai cuidar de mim.

— Sim, rebelde, — ele disse e sua mão mergulhada abaixo pressionando


quente e possessiva como um carimbo vagabundo de propriedade na
minha bunda. — Vou cuidar de você.

Ele se afastou e eu não precisei olhar por cima do ombro para saber que
ele estava com os braços cruzados, os olhos treinados na minha bunda
enquanto me curvava sobre a mesa de sinuca para quebrar as bolas.

Era tarde. Não havia muitas janelas no Bernadette, então era difícil
dizer, mas o sol definitivamente tinha se posto. Bebi pelo menos cinco
cervejas e alguns drinques, uma especialidade provinciana que era uma
combinação inebriante de vodca, café, Bailey e Kahlua, mas por um longo
período de tempo para não ficar tão bêbada como poderia ficar, apenas um
pouco embriagada.

Essa foi uma má ideia, a embriaguez, porque o álcool mal me afetava


mais, exceto por me deixar com um tesão do caralho.

E Danner esteve muito perto a noite toda, mal flertando com Laken, em
vez disso trocando olhares comigo que me deixaram com calafrios no
corpo inteiro e uma dor entre minhas pernas que nenhuma quantidade de
contorções poderia diminuir.

Deveria ter sido mais cuidadosa, mas simplesmente não era esse tipo de
garota.

Algumas pessoas enfrentavam o abismo quando a ocasião exigia. Eu


simplesmente morava lá, no limite da razão, nos arredores da tentação,
seduzindo outros a se juntarem a mim lá.

E, naquele momento, estava tentando seduzir Danner.

Ele estava curvado sobre a mesa, alinhando uma jogada difícil para
acertar a bola verde listrada na caçapa do canto, sem acertar a bola amarela
sólida na frente dela.

— Não estrague tudo, — eu o provoquei, colocando um quadril na beira


da mesa ao lado dele e me inclinando levemente sobre as costas dele para
que ele me sentisse em seu espaço.

Laken estava no banheiro, mas não poderia dizer que não faria a mesma
coisa, mesmo se ela estivesse bem na nossa frente.
A camisa branca de Danner havia subido com seu colete, expondo uma
extensão das costas aos meus olhos famintos. Arrastei as pontas dos dedos
de uma mão num sussurro suave em toda sua largura e observei Danner
errar sua tacada.

Seu rosto estava duro, marmorizado em desagrado sexy. Nunca vi um


homem usar seu descontentamento tão bem, como um distintivo de
autoridade, uma coroa de realeza. Queria me ajoelhar, beijar seus dedos e
implorar por perdão de qualquer maneira que ele me desse.

— Você vai pagar por essa jogada, Rosie, — ele exclamou baixinho, e
pude sentir seu toque contra mim, mesmo que ele estivesse a centímetros
de distância. — Se você fizer isso de novo, não serei responsável pelo que
acontecerá a seguir.

Houve uma grande comoção na porta que chamou minha atenção


brevemente para Reaper, Grease, uma horda de outros irmãos e suas
mulheres entrando no bar. Wrath foi imediatamente cumprimentá-los e
nós também devíamos, mas não o fizemos.

O jogo que Danner e eu estávamos jogando tinha passado de perigoso


para mortal.

Meu coração estava batendo tão forte que eu podia senti-lo nítido e
óbvio, tatuando meu desejo em cada ponto do pulso. Meus mamilos
endureceram sob minha camisa, minha respiração muito rápida entre meus
lábios entreabertos quando me virei para ver os olhos de Danner ainda em
mim. Estava iluminada pela luxúria como um fodido raio de farol, e não
me importei.
Só queria que Danner me cobrisse com sua forma de escuridão até
explodir em faíscas.

— Quem disse que vou considerá-lo responsável? — murmurei,


passando por ele, meus mamilos duros de diamante arranharam seu braço.

— Foda-me, você é um problema. Desde o dia em que te vi — ele disse,


mas seus olhos rastrearam os recém-chegados enquanto eles intimidavam
outro grupo a desistir de seus estandes. — Você poderia levar um santo a
pecar.

Mordi meu lábio, sem saber se queria admitir o quão duro tenho
tentado todos esses anos fazer exatamente isso. — Não apostaria nisso.
Ainda não consegui.

— Não sou nenhum santo.

Oh, mas ele estava errado.

De pé, vestindo jeans velhos e desbotados, o tecido macio moldado em


suas coxas grossas, sua bunda alta e apertada, sua camiseta branca
imaculada contra seu bronzeado e que também caía bem, abraçando cada
delicioso contorno de seu peito para que era quase indecente. Ele era um
ídolo norte-americano, cheio de vida e forte, reto e justo, viril, mas com
princípios. Se tudo isso não fosse santo, não sabia o que era.

— Parece isso deste lado da mesa, — provoquei, cavando nele porque o


odiava por ser tão bonito e não meu.

Ele suspirou bruscamente e passou a mão pelos cabelos desgrenhados.


— Querer você nunca foi o problema.
Bufei. — Não foi?

— Jesus Cristo, Rosie, este não é o momento nem o lugar.

Emoções zumbiam em meu intestino, o desejo e a luxúria, a frustração e


a injustiça de tudo isso, mas, como de costume, não conseguia encontrar as
palavras para dividir tais sentimentos enormes em pequenas caixas
organizadas. Então, fiquei com raiva.

— Isso nunca está fodidamente bem, — assobiei para ele. — Você vem
vomitando essa merda por anos. Você é um homem, quer uma mulher,
porra, leve-a se ela quiser você de volta.

Danner rangeu os dentes, os olhos disparando para o grupo ao qual


Laken se juntou. Precisávamos nos juntar a eles logo ou eles perceberiam a
negligência e se sentiriam insultados, no meio de um jogo de bilhar ou não.

Então, quando ele começou a me perseguir, presumi que era para onde
ele estava indo. Em vez disso, ele passou por mim, sua mão agarrando meu
pulso e me arrastando atrás dele.

— Lion, — sussurrei severamente em protesto.

Mas, eu o segui. Eu o segui, porque fiz toda a minha vida e sabia que
sempre o faria.

Ele nos arrastou pelo corredor até os banheiros e depois virou para o
escritório do Bernadette nos fundos.
— Danner, o que... — comecei a perguntar, mas depois me empurrei
contra a parede com painéis e o comprimento longo e duro de seu corpo foi
empurrado contra mim.

— Você quer uma prova de que você me deixa louco, porra, — ele
murmurou, sua testa pressionada na minha, uma mão na parte de trás da
minha cabeça para protegê-la da parede e a outra apertada firmemente na
minha bunda. — Você precisa de mim para fazer algo estúpido como beijar
sua boca doce no fundo deste bar de merda, enquanto os homens que
ficariam felizes em nos matar estão a passos de distância apenas para
provar a você que eu faria qualquer coisa para estar perto de você, em
você, fodendo com você?

— Sim, — disse a palavra como uma maldição. — Sim.

A mão na minha cabeça agarrou meus cabelos e puxou para trás, então
meu rosto estava inclinado e meus lábios se separaram num suspiro.

— Qualquer coisa para você, Rosie, — disse ele, uma bênção selvagem.
E, então, ele abaixou a cabeça e atacou.

Não tinha sua boca na minha há mais de três anos e, mesmo assim,
durou apenas alguns minutos. Ainda assim, joguei aquela experiência
repetidamente na minha cabeça como um rolo até que o filme foi distorcido
e manchado com o uso e o tempo.

Nada poderia ter me preparado para a sensação de seus lábios em mim


naquele momento.
Ele moldou minha boca com a dele, acariciou minha língua e mordeu
meu lábio com força suficiente para fazê-lo doer antes de acalmá-lo com
uma longa e lenta chupada. Amei o gosto dele, quente como uísque
queimado que eu queria engolir. Estava viciada na forma como o sentia
pressionado contra mim, o comprimento duro de ferro dele pressionado no
ápice dolorido de minhas coxas, sua mão em meu cabelo, tanto me
causando dor quanto me impedindo de senti-la.

Foi o momento mais lindo da minha vida, e tive sorte, tive muitos
momentos realmente lindos.

Houve um estalo e um estrondo quando uma das portas do banheiro se


abriu na parede ao virar do corredor. Danner arrancou sua boca da minha,
mas não se afastou. Em vez disso, instintivamente, ele se curvou sobre
mim, a mão na minha cabeça me pressionou sob seu queixo, suas costas
formando um amplo escudo entre mim e qualquer ameaça que ele pensava
que enfrentávamos.

E de alguma forma, isso foi ainda mais bonito que o beijo.

— Apenas o banheiro, — disse a ele baixinho.

Senti seu suspiro, mas ele permaneceu curvado ao meu redor por mais
um longo momento antes de se afastar.

Olhamos um para o outro.

Seus olhos verdes estavam dilatados com luxúria, a pulsação em sua


garganta forte pulando tão alto que eu podia ver de onde estava, mesmo na
penumbra. Meus olhos caíram mais baixos e presos na visão de seu pau,
tão grosso e longo contra sua coxa preso em seu jeans macio.

Levou tudo em mim para não cair de joelhos ali e balançar a boca nele
através do tecido.

— Harleigh Rose, — disse ele bruscamente.

Fechei meus olhos em vez de olhar para ele. Seu momento de


insanidade, eu sabia, tinha acabado. Ele voltou ao seu juízo perfeito, uma
mente que ama ordem e disciplina e odiava o caos e a rebelião. Uma mente
sã que odiava tudo que eu defendia.

Era errado que um dia, desejasse que ele abandonasse o fundo da


sanidade para sempre e caísse em meus braços?

— Rosie, — ele disse novamente, sua voz mais suave, mas a palavra
muito mais dolorosa.

— Certo, — disse, abrindo meus olhos para vê-lo se aproximar de mim,


seu lindo rosto paralisado pela indecisão. — Acho que ganhei esse jogo, né,
oficial?

— Não seja difícil comigo. — Ele estreitou os olhos e deu mais um passo
para mais perto, mas eu deslizei contra a parede para longe dele e comecei
a me afastar. — Você sempre vomita espinhos assim que me aproximo do
seu coração.

Deus, ele era adorável. Desejei, como eu sempre desejei apenas para ele,
que eu nascesse um tipo diferente de garota.
Mas, não era a boa garota para o seu bom rapaz e nunca seria.

Se Lionel Danner me quisesse, ele teria que vir para mim, para o lado
negro onde os fora da lei governavam, pecar era o caminho e o amor era
cego.

Ele teria que ser o menino mau da minha menina má.

E eu sabia, o tipo de cara que ele era, isso nunca aconteceria.

Então, sem dizer outra palavra, virei-me e fugi.


Capítulo Dez
Nunca quis entrar numa delegacia de polícia em toda a minha vida, mas
imaginei que havia uma primeira vez para tudo. Era depois das minhas
aulas no dia seguinte ao meu bizarro encontro duplo com Danner, Laken e
Wrath, e eu decidi tratar do assunto com minhas próprias mãos,
principalmente porque, depois que deixei Danner, juntei-me à multidão
dos Berserkers e aprendi algo de valor.

Sabia que Danner não me envolveria na investigação se sua vida


dependesse disso, mas imaginei que seus colegas ficariam muito felizes em
arriscar a vida de uma cadela motoqueira com uma ficha criminal se isso
significasse derrubar a maior fonte de contrabando ilegal de armas de fogo
na província.

Estava certa quando disse à recepcionista meu nome e o motivo de estar


lá. Minutos depois, fui instalada numa sala com um grande homem negro
chamado Sargento Renner e uma policial muito bonita chamada Casey.

— Então, apenas devemos acreditar que você está fazendo isso pela
bondade do seu coração? — Renner perguntou, seus braços cruzados sobre
o peito, uma carranca fixada no rosto.

Claramente, ele estava jogando o Policial Mau.


Dei de ombros. — As palavras “bom” e "meu coração" não têm muito
em comum, mas podemos concordar com isso, se você quiser ser poético.
Estou aqui porque quero derrubar os Berserkers. Realmente importa o por
quê?

— Sim, — Casey explicou com um sorriso adorável que me fez


instantaneamente não gostar dela. — Precisamos saber se você tem a
motivação adequada.

— Um membro do clube deles me espancou e tentou me estuprar, eles


trazem milhares de dólares em armas de fogo ilegais para a província todos
os anos, o que contribui para fazer de Vancouver ter o maior índice de
crimes com armas de fogo per capita no país. — Desembrulhei um pedaço
de chiclete Hubba Bubba do meu bolso e coloquei na boca. — Isso é bom o
suficiente para vocês?

— Não tem nada a ver com o fato de seu pai ser o Presidente de um
clube de motoqueiros com sede em Entrance? Pelo que sabemos, eles não
têm uma história de discórdia, mas como podemos acreditar que você não
está fazendo isso para melhorar o clube de seu pai? — Renner perguntou.

Não tinha pensado nisso. Claro, eles estavam meio certos. Eu queria
derrubar o Berserkers MC por causa da minha família, porque queria
protegê-los. Não que eu fosse contar isso a eles.

— Acho que vocês não podem realmente saber, mas como você disse,
não há histórico de rixa entre os dois MCs. — Os dois policiais
compartilharam um olhar e senti a tração deslizar para fora debaixo de
mim. — Que tal isso? Prometo limitar o contato com minha família até que
a investigação termine.

Eles pareciam tão chocados quanto eu sobre a concessão.

Converso com minha família todos os dias, ainda mais desde o acidente.
Cress e King haviam se formado na UBC no ano anterior, mas estávamos
acostumados a nos ver semanalmente, então eles ligavam muito, apenas
para falar sobre merda. Loulou e eu tínhamos passado por um inferno
juntas, então não achei estranho enviar mensagens todos os dias, às vezes
apenas com memes ou sugestões de músicas, qualquer desculpa para fazer
contato. Meu pai me mandava mensagens duas vezes por dia, todos os dias
desde que me mudei para Vancouver para a universidade. Uma vez pela
manhã, antes de eu sair para a escola, dizendo "chute alguns traseiros
acadêmicos hoje, princesa" e a outra antes de eu ir para a cama todas as
noites, "bons sonhos, pequena durona".

Eu os amava. Eles eram uma parte crítica do meu dia, embora eu


morasse a uma hora de distância.

Mas sim, eu desistiria disso se isso significasse mantê-los seguros.

Eles não entenderiam, mas talvez eu pudesse usar o incidente como um


motivo para precisar de espaço...

— Senhorita Garro? — Casey perguntou. — Você está falando sério


sobre isso?

— Eu estou, — disse e pude sentir essa palavra como uma assinatura


em sangue num contrato com o diabo.
Afinal, quem melhor para representar o diabo para uma garota
motoqueira do que os policiais?

Foi basicamente uma brisa depois disso, o que me deixou levemente


desconfortável. Quantos informantes confidenciais os policiais têm? Teria
que dizer ao Pai quando tudo acabasse como foi ridiculamente fácil
convencê-los a me aceitarem.

Eles explicaram os detalhes da operação, que eu deveria procurar


evidências que incriminassem o clube por contrabando e tráfico de armas.
Relataria à minha “supervisora”, a maravilhosamente bonita Casey, por
mensagem através de um telefone descartável recém-adquirido apenas
quando eu tivesse algo importante a relatar, e que a partir desse ponto eu
seria referida apenas pelo meu número de designação.

Solicitei o número 69, mas os policiais não tinham senso de humor.

Casey estava me acompanhando para fora da sala, confirmando que


nosso local de encontro seria o Café Ami da UBC, quando senti o clima
bater na sala.

Uma raiva palpável percorreu a estação como uma explosão nuclear,


atraindo a atenção de todos para frente da estação, onde Danner estava
olhando para Casey e eu.

Oh, garoto.

Uma emoção deliciosa de medo e antecipação percorreu minhas costas.


Não havia nada como um cara gostoso e zangado para deixar uma garota
com os joelhos fracos.
Só que... franzi a testa quando a mulher ao meu lado riu e desceu as
escadas deslizando para parar diante dele.

Ela riu e ficou na ponta dos pés para dar um beijo em sua bochecha com
a barba por fazer. — Você não deveria estar aqui, senhor.

Pisquei.

Danner tirou os olhos de mim para olhar no rosto da bonita policial e


levantou uma sobrancelha. — Renner me mandou uma mensagem. Disse
que tínhamos um novo ativo sobre o qual ele precisava falar comigo. Por
favor, não me diga que é a garota Garro.

A garota Garro.

Não Rosie.

Não Harleigh Rose.

Não deveria ficar zangada, não quando o chamei de Danner pelo


motivo exato dele ter me chamado pelo meu sobrenome. Para lembrar a
nós dois que esta era uma situação Capuleto vs. Montague moderna, e no
final do dia, não importa o que tenhamos evitado, ficamos separados um
do outro através de uma grande divisão.

— Desculpe decepcionar, — Casey disse com outra risada leve. — Mas


acho que você ficará feliz quando perceber o quanto ela está comprometida
com isso.

— Eu não apostaria nisso, — ele murmurou antes de dar um tapinha no


ombro dela e subir as escadas em minha direção.
— Você está com tantos problemas, — ele murmurou para mim
enquanto passava. — E eu acho que você finalmente tem idade suficiente
para sentir a verdadeira dor do meu descontentamento.

Balancei para trás com o puro calor de suas palavras e cerrei os dentes
para que eu pudesse me concentrar no que era importante. — Outra
namorada, Danner?

Ele olhou por cima do ombro para mim, seu olhar ardendo. — Vou
terminar com ela esta noite se você prometer estar na minha cama, pronta
para ser punida por dez.

Meus lábios se separaram, liberando emoções que eu gostaria de manter


costuradas. Principalmente, puro desejo e ganância.

Ele me lançou um sorriso perverso e torto que fez seus olhos verdes
brilharem e disse lentamente: — Sim, Rosie, vejo você esta noite.

Fiquei olhando para ele enquanto ele se afastava, observando a forma


como suas pernas longas e fortes devoravam o chão, como a largura de
seus ombros esticava sua camiseta cinza e seus quadris magros faziam seu
jeans ficar solto o suficiente para se deslocar tentadoramente sobre sua
merda fantástica atrás.

Quando me afastei, olhei em volta para me certificar de que ninguém


me pegou olhando, então limpei os cantos da minha boca por qualquer
baba errante. Ao sair da estação e percorrer os três quarteirões até onde
estacionei meu carro (valeu a pena ser paranoica), tentei me convencer de
que não estaria na casa dele naquela noite.
Sempre fui uma mentirosa habilidosa, mas nem mesmo eu era talentosa
o suficiente para tornar isso verdade.

Fiquei na biblioteca até tarde, principalmente porque meu apartamento


parecia assombrado pela essência gordurosa do espírito de Cricket, mas
também porque eu era uma boa aluna. No ensino médio, tive a sorte o
suficiente para sobreviver com pura inteligência e pura sorte, porque não
tentei fazer porra nenhuma. Foi só depois de testemunhar a destruição do
câncer em Loulou e, portanto, em minha família, que encontrei um motivo
para tentar. Eu queria ser enfermeira. Não médica, embora não houvesse
nada de errado com a profissão. Eu queria ser o herói desconhecido para os
doentes e hospitalizados, a pessoa que desenvolvia um relacionamento
com eles, dava-lhes a moral e os remédios necessários para sobreviver às
provações que a vida lançou em seus caminhos. Minha família ficou
chocada no começo quando declarei minha intenção, todos, menos Loulou.
Ela me deu seu sorriso de estrela de cinema e declarou que era uma ideia
incrível.

A noite estava fria para junho e muito escura. Puxei minha jaqueta de
couro mais perto de mim, desejando ter trazido Hero comigo enquanto me
movia para o estacionamento. Uma pontada de desconforto disparou como
agulhas na pele delicada da minha nuca quando abri a porta do carro, mas
não havia uma alma à vista e disse a mim mesma que estava sendo
paranoica.

Deveria ter ouvido minha intuição. Eu era uma mulher e era uma das
ferramentas mais mortais do nosso arsenal.

Mas, não o fiz.

Deslizei para o banco da frente, coloquei minha mochila no banco ao


meu lado e liguei o carro. Comecei a balançar a cabeça para "Highway to
Hell" que soava nos alto-falantes e depois olhei para o meu espelho
retrovisor para pular quando o vi.

Uma figura enorme inteiramente vestida de preto, sentado diretamente


atrás de mim.

Gritei, um som horripilante que rasgou dolorosamente minha garganta


e cortou o som do AC/DC.

Um segundo depois, o som foi interrompido por uma mão grande


envolvendo dolorosamente o lado da minha garganta, a outra produzindo
uma lâmina afiada que foi pressionada na minha garganta.

— Não grite, vadia. Faça o que lhe digo e você pode terminar a noite em
segurança na sua cama, certo? — A voz era claramente de homem, abafada,
mas profunda sob o capuz.

Fora isso, não tinha ideia de quem era essa pessoa.


— O que você quer? — perguntei baixinho, orgulhosa que minha voz
não tremeu, mesmo que minhas mãos fizeram.

Minha bolsa estava a poucos centímetros de distância. Se ele não tivesse


a faca na minha garganta, poderia agarrá-la, mas sua posição atrás de mim
tornaria quase impossível atirar às cegas no alvo.

— Dirija, princesa, — ele rosnou. — Faça qualquer curva errada ou


indique de alguma forma que você está angustiada, cortarei sua garganta,
certo?

— Sim, — sussurrei.

— Pegue a Sea to Sky, direi quando desligar.

Mesmo tendo cuidado de ficar parada enquanto navegava no tráfego, a


lâmina cortava-me como manteiga, apenas cortes superficiais, mas o
pescoço sangra profusamente e quando peguei a saída, ele indicou a
entrada, toda a parte superior da minha camiseta azul de Hepheastus Auto
estava coberta de sangue.

Sabia depois de apenas algumas voltas para onde ele estava me


levando.

Casa do meu pai.

Era uma sexta-feira. Todos estavam em casa pela aparência dos carros
estacionados do lado de fora, pelo movimento de corpos nas salas
iluminadas com ouro. Loulou gostava de receber todo mundo tanto quanto
podia, especialmente depois de engravidar. Ela chamava de aninhamento,
meu Pai chamava de “irritante”, mas todos sabiam que ele amava seus
irmãos, sua família e ele amava, ainda mais, tê-los em sua casa.

— Você os vê? — O vilão mascarado perguntou quase sociavelmente.

— Sim, — respirei, o medo como uma coisa viva rastejando com oito
pernas no meu pescoço e meu rosto, cavando presas sob minha pele para
envenenar minha corrente sanguínea.

— Você quer mantê-los vivos, — observou ele.

Não respondi, era óbvio que ele sabia que minha família era meu ponto
fraco.

A porta da casa se abriu como se eu quisesse com minha mente e meu


pai saiu. Com seu corpo enorme iluminado por trás, ele parecia grande
como o Hulk, tão capaz de derrotar vilões como qualquer super-herói. Um
gemido subiu pela minha garganta e quase me empalei na lâmina num
esforço para engoli-la.

Poderia dizer que ele estava fumando. Ele estava tentando parar antes
que os bebês chegassem, mas era um hábito difícil de desistir e Lou não era
uma chata, então estava fazendo isso lentamente. Não fiquei surpresa
quando, um minuto depois, a forma igualmente alta do meu irmão
apareceu, mais magro, mas crescendo com músculos grossos de passar
tanto tempo com os irmãos em sua academia no Complexo.

Papai jogou um braço em volta dele e puxou-o para perto, casualmente,


afetuosamente daquela maneira que ele fazia você se sentir quente até os
ossos.
— Vou matá-los. Cada um deles, lenta e dolorosamente, porque,
princesa, adoro essa merda. Vou começar com Louise Garro, imobilizá-la e
fodê-la, depois estripá-la para que ela perca aqueles filhos do diabo e saiba
disso antes de se perder também.

— Deus, pare, — resmunguei, meus olhos ardendo, tão secos, mas não
conseguia piscar, tive que assistir meu pai com meu irmão, tive que me
lembrar a cada segundo que eles estavam vivos e parados ali.

— Não me importo se levar dez anos, você fode com Berserkers MC,
vou matar cada um deles e deixá-la para o fim, você entende o que estou
dizendo? — Ele perguntou, balançando a lâmina na minha garganta
quando eu não acenei imediatamente com a cabeça. — Pensei que você era
inteligente o suficiente para me entender. Tenho que dizer, seria realmente
uma pena você se manter leal, aquela cadela Garro vale a porra mesmo
gorda como ela está.

A fúria explodiu dentro do meu corpo. Eu virando o filho da puta


doente atrás de mim, torcendo a faca de sua mão e mostrando a ele como
eu poderia usá-la, esfaqueando-o direto na porra dos olhos. Ele não
merecia olhar para minha linda família. Ele não merecia ocupar a porra do
mesmo mundo que eles.

— Eu vou te matar, — disse a ele, talvez imprudentemente.

Mas eu era uma coisa selvagem, encurralada e desesperada. Você


encurrala um animal num espaço pequeno, é apenas da natureza dele lutar,
mesmo que inutilmente.
O homem riu e mesmo sendo profundamente abafado, quase reconheci
o som. — Não, princesa, você não vai. Você não entende isso porque não
consegue ver o quadro inteiro, mas este é um jogo que vencerei.

Cerrei meus dentes e me contive, por pouco, de virar às cegas e me


lançar nele com apenas minhas unhas para usar como garras.

— Vou sair aqui, — disse ele, novamente conversador, o fodido


psicopata. — Mas lembre-se disso, lembre-se que gosto de sentar aqui à
noite e assistir seu papai e sua linda esposa, ir até a casa de seu irmão e vê-
lo foder sua mulher no deck. Você se lembra do que farei com eles se você
foder com o MC. E saiba disso, eu os observo e alguém, sempre, está
observando você.

Um segundo depois, a faca sumiu da minha garganta e o ar frio do


oceano soprou pela porta aberta. Um momento depois disso, fechou-se
com força e ele desapareceu como se estivesse no ar.

Sem perder o ritmo, me afastei do meio-fio e arrastei a bunda de volta


para Sea to Sky até Vancouver. Queria entrar em minha casa, abraçar meu
pai, beijar a barriga de Lou, sentir a mão de Cressida em meu cabelo e a
risada de King no ar. Mas não fiz, porque de alguma forma, tornei-me uma
ameaça não intencional para minha família.

Desesperadamente não queria ficar sozinha no meu apartamento, mas


precisava pegar Hero e abandonar o carro, no caso de alguém está me
seguindo. O cachorro estava esperando na porta e ele rosnou quando viu o
estado em que estava. Depois que tranquei a porta atrás de mim, me
permiti cair no chão e enterrar o rosto em seu pelo. Agarrei grandes
punhos de suas madeixas sedosas e chorei em seu pescoço por um longo
tempo. Ele me deixou, lamentando ocasionalmente com empatia,
lambendo meu rosto quando finalmente me afastei para me acalmar.

— Nunca vou sair de casa sem você de novo, — disse a ele sobriamente,
colocando seu rosto doce em minhas mãos e olhando profundamente em
seus olhos castanhos chocolate. — Danner pode ter que comprar um novo
cachorro.

Hero latiu suavemente em concordância e abanou o rabo.

Gargalhei, em seguida, respirei fundo algumas vezes para me centrar.


Acabei de ser presa sob a ponta de uma faca no meu carro, tive que matar
um homem em meu próprio apartamento, não podia ir para casa porque
minha família estava sob ameaça e eu era uma grande parte disso.

Não tinha muitos lugares seguros restantes.

Mas, eu tinha uma fortaleza, um porto seguro impenetrável que não


usava há anos e, se alguma vez houve tempo para ceder, era esse então.
Arrumei as coisas de Hero e uma bolsa minha e chamei um táxi para nos
levar ao Danner.

Ele morava numa pequena casa em Kitsilano, entre todos os lugares,


um bairro bem-sucedido que não combinava exatamente com sua
personalidade de motoqueiro durão. Ver a pequena casa de telhas me fez
sentir falta da casa em estilo rancho que ele possuía num terreno em
Entrance.
Tive que respirar forte antes de poder sair do táxi para a noite escura e
caminhar até sua porta, mas Hero se manteve perto, roçando minha coxa a
cada passo e me consolou com o fato de que ele me protegeria até seu
último suspiro.

Cheguei à porta sem incidentes, o que na minha vida ultimamente,


parecia um pequeno milagre.

Quando Danner abriu a porta, ele estava sorrindo, e amei isso. Ele não
era um homem que sorria com frequência, mas fazia muito isso perto de
mim e sempre sorria. Amei ter dado a ele leveza para combater seu espírito
sombrio, que ele pesou meus impulsos selvagens apenas o suficiente para
me dar motivo para pensar antes de agir. Éramos tão opostos, mas tão
bonitos emparelhados.

Odiei quando o sorriso caiu de seu rosto e caiu no chão entre nós. Antes
que eu pudesse mentir e dizer a ele que estava bem, estava envolvida
ternamente em seus braços e ele estava me levantando e minha bolsa
grande facilmente pela porta da casa. Podia ouvir os sons de Hero
seguindo quando Danner trancou a porta atrás de nós, armou o alarme e
depois caminhou comigo para uma pequena sala de estar perto da cozinha.
Ele nos sentou, comigo em seu colo, minha bolsa esquecida ao nosso lado.
Hero pulou no sofá ao lado dele e soltou um gemido satisfeito.

Prendi a respiração quando Danner desenrolou gentilmente meus


braços de seu pescoço e, em seguida, inclinou meu queixo com o polegar
para que ele pudesse olhar nos meus olhos.
Ele tinha uma maneira de olhar para mim que me queimava até a alma.
Era como se ele pudesse ler cada pensamento que eu já tive, cada
sentimento que nunca fui capaz de expressar corretamente no azul de
minha íris, como se ele se afogasse felizmente nos meus olhos negros. Ele
olhou para mim como se seu mundo começasse e terminasse no meu olhar.

Engoli em seco quando esse olhar atingiu o poço de emoção no meu


coração e lágrimas brotaram. — Lion.

— Rosie, — ele respirou, o polegar no meu queixo deslizando para cima


no ângulo da minha mandíbula sobre a concha da minha orelha e depois o
cabelo sobre a minha têmpora com o resto dos dedos. — Minha Rosie, o
que aconteceu?

Meu corpo precisava chorar. Eu podia sentir a queimadura como lava


atrás dos meus olhos, a pressão em meu nariz, apertando minha garganta e
apertando meu intestino.

Mas eu era Harleigh Rose Garro e fiz um pacto comigo mesma há muito
tempo, no dia em que disse a minha mãe à beira da morte pela última vez,
que não era o tipo de mulher que chorava.

Eu era forte

Eu era rosa cravejada de espinhos, fumegando metal de fogo e o calor


frio da erva sendo sugada garganta abaixo.

Eu era dona de mim antes de qualquer outra pessoa e poderia me


defender contra qualquer pessoa. As garotas malvadas do ensino médio,
Cricket, The Nightstalkers MC, Reaper e Wrath, até minha própria mãe.
Deus, mas eu tanto amava quanto odiava não poder resistir a Danner.
Que meu corpo e alma pudessem vencer minha mente e ceder às lágrimas,
porque uma grande parte de mim sabia que não havia como se esconder de
Danner. Não quando ele segurou meu coração espinhoso em suas mãos.
Não quando ele tinha tatuado em seu peito.

Um soluço cresceu na minha garganta e engasguei com o esforço para


mantê-lo baixo.

A mão de Danner se moveu suavemente sobre minhas costas, seus


olhos em mim fazendo a pergunta silenciosamente para que eu pudesse
responder dessa maneira, ela se moveu até a barra da camiseta e,
lentamente, gentilmente puxou-a sobre minha cabeça. Ele jogou no chão,
seus olhos na minha garganta ferida em vez dos meus seios dentro de um
sutiã preto e de couro.

— O que aconteceu com a minha garota? — Ele perguntou novamente,


seu polegar traçando um sussurro sobre os cortes e pressionando meu
ponto de pulsação batendo como se para garantir que estava viva e segura.
— Diga-me para que eu possa matá-los.

Ele os mataria. Podia ver isso escrito em seu rosto, suas feições
retorcidas com selvageria pagã e me ocorreu que esta não era a primeira
vez que Danner se ofereceu para fazer o mal por mim.

Na verdade, não era nem mesmo a centésima.

Ele era mal por mim há muito tempo.


Não deveria ser romântico, sua corrupção e minha culpabilidade, mas
era.

Havia poder suficiente nessa realização para eu desistir do controle e


me permitir ser vulnerável com ele, então disse a ele.

Sobre a borda fria da lâmina mordendo e cortando suavemente a pele


da minha garganta. Com que força a mão apertou o lado esquerdo do meu
pescoço, de forma que os capilares duros estouraram e eu já estava
machucada, marcas roxas de dedos sob o sangue. Sobre como a resposta
química do meu corpo iniciou em resposta ao medo paralisante, como
minha respiração estava sem oxigênio, então tive que respirar forte e
rápido, mas com cuidado, para não pressionar minha traqueia na lâmina.
Meus músculos inundaram com tanta adrenalina que queimaram com
ácido e meu coração gaguejou, falhando e começando novamente, cada vez
mais dolorido que o anterior.

Como fiquei pensando em morrer naquele carro depois de tudo o que


eu já tinha passado, sem me despedir da minha família e amigos, sem
nunca estar realmente com ele.

Por fim, ele se levantou rapidamente, prendendo-me cuidadosamente


em seus braços antes de seguir pelo corredor até um quarto escuro e entrar
no banheiro. Ele abriu a porta de vidro do chuveiro, abriu a torneira e me
colocou na pia.

Cuidadosamente, com reverência, ele tirou minhas roupas. Minha calça


jeans foi arrancada, as pontas dos dedos ásperos por sua guitarra
arrastando o tecido de uma forma que fazia cócegas e depois queimava, o
próximo foi o sutiã que foi desabotoado com um movimento de seus
dedos, e por último, minha calcinha que foi rasgada com um estalo tão
rápido que foi indolor.

Fiquei boquiaberta quando ele jogou o tecido rendado para o lado e me


levantou novamente.

— Você sabe, — disse a seu ombro. — Posso andar.

— Silêncio, — ele disse enquanto me colocava sob o jato quente e


fechava a porta atrás de nós.

Assisti com fascinação quando a água encharcou sua camiseta preta e


jeans, colando-os em seu corpo de uma maneira que de alguma forma era
mais quente do que ele estar totalmente nu.

— Por que você está vestido? — perguntei quando ele pegou o xampu,
ensaboou um pouco entre as mãos e depois me virou no spray para que ele
pudesse massagear meu cabelo até fazer espuma.

— Não quero que você se sinta desconfortável, — ele murmurou


distraidamente, obviamente focado em me dar a massagem na cabeça mais
relaxante da história do mundo.

Essas palavras cortam o matagal de vinhas e espinhos ao redor do meu


coração num movimento rápido, deixando-me sensível e exposta. Fiquei lá
nua no spray, um homem bonito e bom lavando-me porque eu precisava
de carinho platônico e cuidado, não se despindo porque recentemente fui
atacada sexualmente e fisicamente várias vezes e ele era sensível a isso.
Eu me senti honrada, abençoada até por ter um homem tão bom
cuidando de mim como se eu merecesse.

— Impossível, — sussurrei, porque, quando tentei falar, descobri que


era tudo o que conseguia.

Minha garganta estava fechada, meu nariz doía e eu estava chorando.

Danner me ouviu soluçar, mas me deu a dignidade de soluçar no


chuveiro até ele terminar de limpar meu cabelo. Ele me virou, empurrou-
me suavemente para mais baixo da água e começou a me esfregar com uma
esponja natural e sabonete líquido que tinha o cheiro dele. Observei através
do fluxo de água enquanto ele simpaticamente enxaguava os cortes no meu
pescoço e limpava o sangue com crostas que descamava no meu peito,
então fechei meus olhos para sentir melhor enquanto ele trabalhava com a
esponja em círculos firmes sobre meus seios, girando lentamente das
bordas externas para os picos endurecidos. Engasguei quando sua mão
deslizou pelo meu estômago e ele se agachou diante de mim, levantando
um dos meus pés em seu ombro para que ele tivesse acesso irrestrito a
mim. Podia sentir as pontas dos dedos dele na borda da esponja com
espuma, subindo pelas minhas panturrilhas, por trás da pele macia do
joelho até a parte interna da coxa. Ofeguei no vapor enquanto ele
cuidadosamente varria o exterior da minha boceta nua, através do meu
clitóris repentinamente dolorido e descia pelo outro lado.

— Lion, — implorei baixinho.


Ele colocou um pé no chão e pegou o outro, movendo-se para mais
perto do meu sexo enquanto o fazia, seu nariz estava na junção sensível da
minha coxa e virilha, e então começou nessa perna.

Minha cabeça bateu no azulejo atrás de mim com um baque quando ele
fez seu caminho até o meu sexo novamente. — Lion, por favor.

Ele continuou sua lavagem lenta e metódica, seu rosto muito perto de
mim, deveria ter me sentido insegura ou desconfortável. Em vez disso,
meu sangue parecia derretido, chamuscando em minhas veias e agitando-
se na fornalha furiosa em meu coração.

A esponja pressionou com força sobre o meu clitóris no próximo


caminho e eu assobiei.

Feito, torci meus dedos em seu cabelo curto e puxei brutalmente até que
ele olhou para mim. O desejo selvagem em minhas entranhas queimou
quando vi suas pupilas dilatadas, o rubor espalhado alto em sua bochecha.
Graças a Cristo, ele também me queria, mesmo quebrada e devastada como
eu estava.

— Preciso de você, — disse a ele, sentindo-me como um nervo exposto


sob um bisturi. Só fui capaz de mergulhar porque sabia que Danner era
habilidoso o suficiente, cuidadoso o suficiente para lidar comigo do jeito
que eu precisava. — Por favor, Lion, você me faz sentir segura e amada.
Preciso de você agora. Preciso de você há muito tempo.
Seus olhos ficaram escuros diante dos meus quando ele digeriu minhas
palavras e elas lhe deram sua alegria. Ele virou a cabeça para dentro da
minha coxa, rosnou contra a pele e me mordeu com força.

Engasguei com a dor, em seguida, derreti num gemido de corpo inteiro


quando ele inclinou a cabeça para o outro lado e levou minha boceta em
sua boca. Meus dedos se contraíram em seus cabelos enquanto ele me
comia, implacável, incessante, até que um orgasmo me atingiu com tanta
força que senti que quebraria em moléculas e flutuar no ar.

Podia ouvir os sons molhados dele lambendo meu gozo, sentir seu
gemido de triunfo vibrar através do meu clitóris enquanto ele adicionava
dedos à minha boceta apertada e os enrolava para frente.

— Foda-se, — chorei, levantando meu torso para a frente com a


intensidade do prazer, com a sensação chocante de um segundo orgasmo
surgindo tão cedo sobre o primeiro. — Porra.

— Sim, Rosie, — ele disse com voz rouca, inclinando-se para trás para
ver seus dois dedos bombeando para dentro e para fora de mim, para ver
como minhas coxas tremiam. — Seja uma boa garota e goze nos meus
dedos. Quero seu gozo escorrendo pelo meu pulso.

— Porra! — gritei quando suas palavras estilhaçaram a represa


segurando aquele segundo orgasmo e fui varrida pela inundação.

— Sim, — ele elogiou, longo e lento, ainda movendo seus dedos para
dentro e para fora da minha boceta agarrada, mas mais lento agora,
observando-os brilhando comigo cada vez que ele puxava. — Sabia que
você teria uma boceta linda.

Estremeci com o elogio e passei meus dedos por seu cabelo molhado
num silencioso agradecimento.

— Acho que podemos fazer mais um, — disse ele, olhando para mim
com más intenções.

— Eu mal consigo ficar de pé como está, — disse a ele com sinceridade,


a maior parte do meu peso contra a parede de trás.

Ele sorriu, um sorriso ondulado que senti no meu núcleo ainda


convulsionado. Minhas mãos dispararam em sua cabeça quando ele me
levantou, caminhou de joelhos mais perto da parede para que ele estivesse
diretamente sob o chuveiro e fui pressionada contra o azulejo atrás dele e
coloquei minhas pernas sobre seus ombros e fui sustentada apenas pela
força de suas mãos na minha bunda.

— Sem desculpas, — ele murmurou no meu sexo. — Goze para mim


novamente, Rosie. Seja uma boa garota.

Estremeci só em pensar em ser boa para ele. Deus, eu nunca quis ser boa
para ninguém na minha vida, ou qualquer outra razão além dele, mas
foda-se se eu não queria provar a ele o quão boa garota eu poderia ser.

Demorou mais desta vez, sua língua no meu clitóris em golpes largos e
planos, seus dedos torcidos dentro de mim para esfregar contra as paredes
do meu sexo inchado de uma maneira que fez minha pele ficar tensa e meu
pulso muito forte. Ele me trabalhou de dentro para fora, arrancando um
terceiro orgasmo de mim brutalmente, quase dolorosamente, a ponta de
dor apenas tornando o prazer muito mais fenomenal. Senti-me totalmente
usada, completamente destroçada e estranhamente limpa, como se ele
tivesse me desconstruído apenas para me remontar adequadamente mais
tarde.

E ele fez.

Ele consertou minha alma despedaçada e apavorada, lavando-me mais


uma vez, mais rápido desta vez, antes de me puxar para fora do chuveiro e
me secar delicadamente com uma grande toalha macia. Ele fez isso me
levando para seu quarto, sentou-me em sua cômoda para que ele pudesse
encontrar uma grande e velha camiseta do DP Entrance para me vestir,
sabendo que ficaria desconfortável em ir para a cama nua. Então,
novamente, quando ele me carregou para a cama, aconchegou-me e
ordenou que um Hero ansioso se deitasse ao lado enquanto verificava a
casa e a trancava.

Mas foi quando ele voltou, usando cueca boxer preta, que eu queria
arrancá-la com os dentes algum momento em que tivesse energia, e mexeu
com o sistema de som ao lado da cama até o som suave de “Like Real
People Do” de Hozier encheu o quarto que conhecia, se alguém poderia me
consertar, se alguém poderia amar o espírito selvagem e quebrado que sou
eu, esse alguém era Lionel Danner.

Ele deslizou para a cama e imediatamente me puxou para perto para


que pudesse se enroscar em mim. De repente, eu estava segura. Meu
escudo, meu Lion nas minhas costas e meu cachorro, meu Hero, na minha
frente. Depois de uma noite de horrores, depois de um mês de pesadelos
vivos, adormeci no segundo em que fechei os olhos, com a certeza de que
nada poderia me fazer mal.
Capítulo Onze
Danner

2010

Harleigh Rose com 10, Danner com 19.

Eu a vi imediatamente. Ela era alta para sua idade, fiquei surpreso por
ela ter crescido tanto nos nove meses em que estive fora no campo de
treinamento da RCMP, mas por outro lado, ela não mudou. O mesmo
cabelo loiro com mechas, tantos tons de dourado, amarelo e castanho mel
que brilhava mesmo sob as luzes artificiais do Evergreen Gas. Ela usava
suas botas de motoqueiro pretas, pesadas demais para seus membros
magros, também enfeitada com seu uniforme personalizado de jeans
rasgado e uma camiseta de concerto, esta do Pink Floyd. Ela parecia bonita
apesar de não querer, apesar da negligência escrita em seus cabelos
emaranhados, jeans sujos e bochechas magras.

Me matou ver aqueles sinais reveladores, mesmo depois de todas as


conversas que tive com a mãe dela, Farrah, mas não me surpreendeu. A
cadela era uma viciada da mais alta ordem, por isso ter dois filhos
crescidos e um bebê, não a impediria de se espetar com agulhas e se
explodir no céu com cocaína.

Estava prestes a me aproximar de Harleigh Rose e provocá-la sobre não


passar o domingo na Mega Music, que é onde fui procurá-la primeiro,
porque era onde geralmente atirava na merda quando eu estava em casa
do treinamento. Mas havia algo em seus movimentos, muito casuais, muito
lentos que me fez parar e observá-la da minha posição perto da porta do
posto de gasolina. Sabia, mesmo antes dela pegar um punhado de barras
de chocolate e enfiá-las no cós da calça jeans, que ela ia roubar.

Durante toda a minha vida, fui observador, notei que as pessoas fazem
coisas no meio segundo entre o tique e taque do relógio, nas horas sombrias
do crepúsculo e nas horas mortas da madrugada que eles pensavam que
poderiam escapar. Coisas ruins, coisas contra a lei que eu observei e não
senti escrúpulos em me relacionar com a polícia.

Eu era filho do Primeiro Sargento.

Por outro lado, era exatamente esse tipo de homem.

Mas, pela primeira vez na minha vida, ao ver alguém agir ilegalmente,
fiquei destroçado.

Não queria denunciar Harleigh Rose pelo roubo inconsequente de


barras de chocolate, não quando sabia que ela provavelmente estava
apenas com fome porque Farrah havia esquecido mais uma vez de
alimentar seus filhos.
Não estava tecnicamente na força policial de Entrance até fazer o
juramento na próxima semana, mas ainda era meu dever cívico fazer algo
para testemunhar um crime.

Enquanto eu vacilava, minha moral e emoções em guerra consigo


mesmas, a decisão foi tirada das minhas mãos.

O caixa também a notou.

Quem não notaria uma garota bonita com todo aquele cabelo brilhante
vagando pela loja?

— Ei, garota, — gritou o caixa adolescente.

Instantaneamente, Harleigh Rose estava correndo.

Ela era rápida e ágil e, mesmo quando o adolescente se lançou sobre ela,
não parecia preocupada ou com medo.

Apenas determinada.

Ela vinha mesmo para a porta, mesmo ao meu lado, quando estava ao
lado dela.

Era minha hora de agir, de avançar e agarrá-la enquanto podia.

Mas seus olhos bateram nos meus quando ela disparou em direção à
porta de vidro e eles se arregalaram quase comicamente, uma cor azul-
marinho tão opaca que pareciam joias. Ainda assim, ela não perdeu o
ritmo. Ela correu, seus olhos em mim, e observei quando ela levantou uma
sobrancelha em pergunta silenciosa.

Você vai me pegar?


Queria rir de seu aprumo. Uma garota de dez anos perguntando a um
policial novato se ele a impediria de cometer um crime, contudo
insignificante?

Então, eu queria rir de mim mesmo. Rosie perguntou a seu Lion se ele a
deixaria se meter em problemas, por mais triviais que fossem as
consequências disso.

Sabia, sem decidir conscientemente qual lado ganharia.

Harleigh Rose passou por mim mesmo quando o caixa me chamou para
impedi-la. Fiz uma tentativa idiota de agarrá-la que esperava que iria
satisfazê-lo. Se a risadinha dela era alguma indicação, foi o suficiente para
satisfazer Harleigh Rose.

Ela se foi no segundo seguinte.

Obedientemente, segui o caixa para fora da loja, procurando entre as


bombas de gasolina, ao redor do prédio e na borda das árvores atrás da
propriedade para um vislumbre de cabelo loiro multicolorido, mas eu sabia
que não iríamos, e não o fizemos, encontrá-la.

Convenci o cara a não fazer uma reclamação formal, porque todos na


polícia sabiam como eram as crianças Garro e a identificariam num piscar
de olhos. Então, dei a ele dez dólares, mais do que o suficiente para cobrir o
custo das cinco barras de chocolate roubadas.

Harleigh Rose pode ter cortado um buraco na minha fibra moral, mas
não ia deixá-la rasgá-la.

Então, entrei no meu carro e fui procurá-la.


Ela estava no primeiro lugar que parei. Mega Music.

Ouvi a música antes de abrir a porta de vidro.

Dirty Deeds Done Dirt Cheap por AC/DC.

Mais uma vez, tive que lutar contra minha diversão. Ninguém falava
tão eloquentemente através da música como Harleigh Rose e ela era apenas
criança.

— Pensei que estaria por perto, — disse o Velho Sam quando entrei e
levantei meu queixo para ele.

Hesitei, então mudei meu passo em direção aos fundos da loja onde
H.R. estava para o balcão onde o Velho Sam estava sentado.

— O que está acontecendo com os Garros?

O velho olhou para mim, as dobras de pele sobre os olhos tornando


impossível dizer se ele estava olhando diretamente para mim.

— Quem está perguntando?

— Acho que deveria ser óbvio, — disse lentamente, me perguntando se


ele finalmente perdeu o enredo. — Eu.

— Você você, ou você Danner? — Ele perguntou enigmaticamente.

Infelizmente, eu o peguei e senti a raiva rasgar minhas costas como


chamas acesas a gasolina. — Tenho que me provar para você novamente,
Velho Sam? Você me conhece desde que eu era mais jovem que Harleigh
Rose. Se você me faz responder a essa pergunta, acho que temos um tipo
de relacionamento diferente do que pensava tínhamos.
Velho Sam deu uma risadinha, depois ofegou e tossiu. — Não é de se
admirar que você e a princesa se deem bem pra caramba. Ambos têm um
temperamento assim, — ele disse com um estalar de dedos. — E tão leais
quanto possível.

— Então? — perguntei, impressionado com seu teste.

Não foi a primeira vez que alguém me forçou a afirmar-me como


independente da minha família, especificamente do meu pai, mas foi só
recentemente que tive uma ideia do porquê disso.

O Velho Sam ficou sério com um suspiro dramático. — Achei que as


coisas melhoraram por um tempo quando Farrah morou com Jacob Yves,
mas o bebê nasceu com algum tipo de defeito cardíaco, porque ela bebia
enquanto estava grávida e Jacob ficou maluco. Ele a deixou há três meses e
levou o bebê. O filho da puta não pensou em levar o King e a Harleigh
Rose, embora Deus saiba que eles precisavam ir também. Desde então, H.R.
passa mais tempo aqui do que em casa, e ouço que King está na escola até
trancar às sete horas todas as noites apenas para ficar longe.

Esfreguei a mão no rosto. — Ela ainda está batendo neles?

Ele hesitou.

— Porra, me diga, — rebati. — Você acha que eu vou julgá-lo por não
fazer algo sobre isso, quando por anos me perguntei como você ficou
parado e assistiu isso acontecer? Sim, é tarde demais para isso, Velho Sam.
Então, me conte.
— Você não sabe do que está falando, garoto, — disse ele, mas não
parecia zangado, apenas cansado. — Ligo para o serviço social em Farrah,
você sabe o que acontece? Eles levam essas crianças de Entrance e longe da
possibilidade de estarem com o pai novamente. Então, eles fogem como
fazem, vêm para minha casa e Millie e eu cuidamos deles, o melhor que
podemos.

— Tudo bem, — disse. — Ok, Velho Sam, entendo você. Mas algo
precisa mudar aqui.

— Zeus estará em liberdade condicional em menos de um ano.

Balancei a cabeça, então inclinei minha cabeça quando a música mudou


e “Hot Blooded” de Foreigner começou.

Bati com os nós dos dedos no balcão como um agradecimento ao Velho


Sam e depois fiz o meu caminho através das prateleiras aleatórias para o
canto de trás. Harleigh Rose estava lá, sentada de pernas cruzadas numa
pilha de capas de discos vazias, comendo uma barra de chocolate Snickers
de uma forma hilariante e desafiadora.

Tive o cuidado de não sorrir quando me agachei na frente dela. Ela me


olhou insubordinadamente e arrancou outro pedaço enorme de doce
coberto de chocolate.

— Você sabe a diferença entre o bem e o mal, Harleigh Rose?

Ela inclinou a cabeça para um lado e semicerrou os olhos para mim,


mas não respondeu porque era inteligente o suficiente para saber que não
tinha a mínima ideia.
— Um tem consciência. Veja, pessoas boas não se abstêm de fazer coisas
ruins. Todo mundo comete erros, cede em tentações, mentiras ou até
mesmo rouba, mas são os bons que sabem quando a má ação é feita, havia
algo errado em fazer isso. Então, talvez da próxima vez que enfrentarem
essa encruzilhada entre fazer o que querem, apesar das consequências – e
Rosie, sempre há consequências – e fazer o que sabem que é certo, eles
façam a escolha certa. Pelo menos na maior parte do tempo.

— Sou jovem demais para conseguir um emprego, — disse ela. — E


minha mãe nunca compra mantimentos, a menos que esteja dando uma
festa como esta noite, então todos os amigos dela comem a comida, porque
não podemos entrar em casa quando eles estão juntos. Muitas vezes Bat e
Trixie levam a mim e King para jantar ou nos dão algum dinheiro para
comida, mas Trixie acabou de ter gêmeos, então eles estão muito ocupados.
— Ela fez uma pausa e olhou para mim com os seus loucos olhos azuis
brilhantes e disse: — Você não estava aqui, então o que eu devia fazer?

Esfreguei a onda de dor que se manifestou no centro esquerdo do meu


peito e tentei pensar em como responder a essa pergunta. Tinha apenas
dezenove anos, não tinha muita sabedoria e a que eu tinha, imaginei que
não seria muito aplicável a uma garota de dez anos com caos em seu
sangue.

— Primeiro, você me liga. Você sabe o meu número, você sabe que se
precisar de mim, virei de Vancouver e pegarei o que você precisa, ok? —
Quando ela assentiu, uma das dezenas de notas amarradas com força em
volta do meu coração se soltou. — Você também liga para o Bat, ok? Você
ou King tem um telefone celular?

— Não, Papai deu à mãe o dinheiro para comprar um para nós, mas
acho que nós dois sabemos para onde isso foi, — disse ela casualmente,
como se o fato de sua mãe ter optado cheirar esse dinheiro na forma de
coca em vez de fornecer para ela e seus filhos fosse um comportamento
normal.

Imaginei que fosse para Harleigh Rose.

Meu peito apertou novamente.

— Ok, amanhã vou levar você e King para a loja e vamos comprar um.

— King acha que não devemos mais sair com você, — ela me disse.

Não era como se eu estivesse com as crianças Garro, mas desde que o
pai deles foi baleado na frente da H.R. anos atrás, senti uma certa
responsabilidade em relação a eles. Com King, foi fácil. Às vezes, ele
passava pela casa dos meus pais no caminho da escola para casa e me via
na garagem, mexendo no velho Mustang Fastback 1968 do meu pai.
Mesmo aos oito e agora com doze anos, o garoto sabia mais sobre carros do
que eu, então arregaçava as mangas e ajudava. Com H.R., era um pouco
mais complicado, principalmente porque ela era uma criança complicada.
Passava algumas horas com ela todos os domingos na Mega Music, mas se
Farrah estava sendo uma cadela, H.R. muitas vezes fugia de casa.

Direto para minha casa.


No começo, não sabia o que fazer quando abri a porta tarde numa noite
de quinta-feira para vê-la se afogando na chuva, com o rosto vermelho de
lágrimas. Felizmente, minha mãe sabia.

Meu pai era muitas coisas, muitas delas ruins, mas minha mãe era um
anjo.

Então, sem hesitação, ela levou Harleigh Rose para nossa casa,
alimentou-a, deu banho e a colocou na cama no quarto de hóspedes ao lado
de sua suíte.

Tínhamos uma história, as crianças Garros e eu, mas, ainda assim, fiquei
surpreso com o quanto doeu ouvi-la dizer essas palavras.

— Porque você é um policial agora, provavelmente é ruim para sua


reputação ser visto com motoqueiros, — explicou ela.

Pisquei sua expressão sincera e ri. — Você e King não são motoqueiros.

— Não, mas ele é motoqueiro em treinamento e eu sou uma


motoqueira... — Ela encolheu os ombros. — E King acabou de ler uma peça
de um velho branco sobre duas famílias que se odeiam. Uma criança de
cada família se apaixonou e todos eles acabaram morrendo porque não
deveriam estar juntos em primeiro lugar.

Segurei a ponta do meu o sorriso, porque sabia que ela não gostava
quando parecia que eu estava rindo dela. — Essa é uma peça de
Shakespeare chamada Romeu e Julieta. É incrivelmente estúpido.

— Não, duh, — ela me disse revirando os olhos. — Mesmo assim, você é


o Lion Danner dos Danners e eu sou Harleigh Rose, de The Fallen. Seu
pessoal é polícia e o meu é motoqueiro. Sermos amigos não faz muito
sentido.

Deus, mas ela estava certa.

Como evidenciado pelo meu erro moral hoje, quando a deixei se safar
do roubo.

Mas, não podia deixar ela e King com os artifícios de Farrah,


simplesmente não tinha isso em mim. Gostava muito deles.

— Às vezes, os opostos se atraem, — disse a ela com uma piscadela


quando me levantei e a puxei comigo. — Agora, vamos lá. Tenho um
encontro esta noite e quero conversar com sua mãe quando levá-la para
casa.

— Um encontro? — Ela me perguntou e havia algo em seu tom que me


fez virar para enfrentá-la novamente. Ela estava olhando para o chão,
certificando-se cuidadosamente de que seus pés não esmagassem nenhum
dos discos no chão. — Quem gostaria de namorar você?

— Você é muito jovem para entender, mas acredite em mim, quando


você for mais velha vai perceber que é difícil encontrar um cara legal e
bonito que também é alto o suficiente para você poder usar saltos altos em
torno dele. — Eu ri, porque isso foi exatamente o que meu encontro dessa
noite me disse quando a convidei para sair na semana passada.

Harleigh Rose ficou em silêncio atrás de mim.


Depois que pegamos King na escola, levei-os ao restaurante de Stella
para um jantar rápido, e levei-os para casa para poder ter uma palavrinha
com Farrah. Se isso não funcionasse, como não tinha feito antes, pediria ao
meu pai para puxá-la para a estação e ter uma palavra com ela lá.

Estava pensando nisso no silêncio do carro, as duas crianças tensas,


porque não passaram a noite sabendo que os levaria de volta para a mãe.
Harleigh Rose mexeu no meu iPod até que "Sweet Child O 'Mine" do Guns
N' Roses apareceu, a letra enchendo a cabine da minha caminhonete de
uma forma que sua voz não conseguia.

A música pintou um quadro de Harleigh Rose com seus olhos azul-


marinho amontoados num canto enquanto sua mãe estúpida atirava,
perguntando-se onde mais no mundo seria seguro para ela, senão sua casa?

Mal conseguia respirar com o peso em meu peito quando entrei na rua
deles e notei uma fila de carros ao redor de seu pequeno bangalô. No
segundo em que desliguei a ignição, ouvi a música.

— Fiquem aqui, — disse às crianças enquanto tirava meu cinto de


segurança e abria a porta.

Podia sentir o cheiro da fragrância inebriante da maconha no ar.

Porra.
— Vocês me ouviram? — perguntei a Harleigh Rose e King quando ambos
olharam para a casa e depois para mim.

— Claro, Danny, — disse King com um firme aceno de cabeça enquanto subia
pelo console do meio para se sentar no assento do motorista desocupado ao lado de
Harleigh Rose para que ele pudesse pegar a mão dela na sua.

O garoto tinha doze anos e ia a vinte.

Dei a eles um aceno de cabeça, então dei a volta na caminhonete e subi o


caminho de cascalho para a casa. Podia ouvir as pessoas festejando nos fundos com
o barulho que saía da casa e fiquei surpreso que os vizinhos não tivessem chamado a
polícia.

A porta estava aberta quando tentei, então empurrei.

Havia pessoas em todos os lugares em vários graus de nudez. Duas


mulheres se contorciam no chão totalmente nuas enquanto trocavam
tragadas de maconha e sopravam a fumaça na boca uma da outra. Homens
faziam fila para cheirar cocaína na bunda de uma garota muito jovem e um
casal estava fodendo à vista de todos os outros no sofá.

Meu fodido Cristo, era a isto que King e Harleigh Rose eram
submetidos regularmente?

Movi-me pelos quartos, bile metálica em minha língua, meus punhos


cerrados com tanta força que minhas unhas curtas cortaram meias luas em
minhas palmas. Queria rasgar Farrah em duas e triturá-la em pó para que o
Diabo pudesse cheirá-la no inferno.

Ela não estava em lugar nenhum.


Procurei na casa novamente, preocupado com as crianças no carro
quando havia pessoas como esses viciados, criminosos e festeiros tão perto.

Ainda assim, não a encontrei.

Em vez disso, quando entrei na cozinha pela segunda vez, encontrei


Harleigh Rose parada no meio da folia, seus olhos virados para o corredor
como se ela estivesse me esperando.

— Rosie, que diabos? Disse para você ficar no carro, — rosnei enquanto
empurrava outro casal para chegar até ela.

— Eu a encontrei, — disse ela, sua voz morta como o tom de um


batimento cardíaco estagnado.

Ela pegou minha mão e me conduziu através da multidão, de volta ao


corredor e para o quarto principal que eu já tinha verificado, em seguida,
atrás de uma divisória de tecido que eu pensei ser decorativo num armário.

King também estava lá, agachado ao lado de sua mãe, sua cabeça em
seu colo, mas meus olhos foram para Farrah.

Ela estava completamente imóvel, os lábios tingidos de azul nas bordas,


o vômito com crosta no queixo e nas bochechas.

Ela não estava respirando.

Rapidamente, tirei minha jaqueta e ajoelhei-me ao lado de seu corpo.

— King amigo, preciso que você tire meu telefone do meu casaco e ligue
para o 911, ok? — pedi-lhe gentilmente quando encontrava o pulso fraco de
Farrah e silenciosamente agradeci a Deus.
Ele não respondeu, mas ouvi os números sendo digitados no telefone e,
em seguida: — Olá, meu nome é King. Minha mãe teve uma overdose,
preciso que você envie a ambulância.

Fiz uma careta quando usei minha manga para limpar a boca de
vômito, depois joguei seu queixo para trás, apertei seu nariz e comecei a
fazer um boca a boca.

Em algum momento, senti Harleigh Rose ajoelhar-se ao meu lado e


colocar uma mão calmante nas minhas costas, como se fosse eu que
precisasse ser acalmado.

Quando a ambulância finalmente chegou, muito mais rápido do que eu


esperava, porque os vizinhos já haviam chamado a polícia, me afastei de
uma Farrah em coma, peguei King e H.R. estranhamente subjugados sob
meu braço e observei os paramédicos começarem a trabalhar nela.

— Para onde vamos agora? — Harleigh Rose me perguntou baixinho,


suas palavras voltando para a música que ela escolheu com uma
premonição misteriosa na minha caminhonete.

Olhei para baixo em seu rosto, maravilhado com sua beleza dada de
onde ela veio, o que ela experimentou nesta casa de horrores, e sabia que
não importa o quão estranho possa parecer, faria qualquer coisa para
protegê-la de mais danos, por mais imoral que possa ser.

Apertei seus ombros quando as lágrimas começaram a correr por suas


bochechas e falei antes mesmo de conceber completamente a ideia: —
Vocês dois estão voltando para casa comigo.
Capítulo Doze
Quando acordei, Danner tinha ido embora, mas seu iPod estava no
travesseiro ao meu lado, uma nota colada na tela que dizia:

Sorri no travesseiro, traçando meu dedo sobre sua pequena escrita em


maiúsculas, lembrando-me nota que ele me deixou depois que meu pai foi
para a prisão, lembrando as muitas e diversas playlists que fizemos um ao
outro ao longo dos anos. Desbloqueei o iPod e abri a lista de reprodução da
manhã, tocando a primeira música lá.

"Born to be Wild" explodiu pelo quarto.

Inclinei minha cabeça para trás e ri, adorando que ele pudesse me fazer
isso, mesmo depois da experiência horrível da noite anterior. Energizada
pela minha trilha sonora, saí da cama e dancei para o banheiro, balançando
a cabeça enquanto me apropriava de sua escova de dente e lavava meu
rosto.

Quando cheguei na cozinha, "La Grange" do ZZ Top estava bombeando


o sistema surround. Fui até o café, beijei a máquina Nespresso e coloquei a
caneca que Danner havia deixado para mim sob a torneira.

Dizia “sinta-se segura à noite, durma com um policial”.

Ri, sabendo que ele provavelmente ganhou como um presente de


brincadeira num Natal e nunca tinha usado até que ele a pegou para mim
naquela manhã.

Estava tomando minha terceira xícara de café delicioso e revigorante,


lendo o jornal Globe & Mail e sentada na ilha quando a porta se abriu, o
alarme disparou e meus meninos apareceram.

Hero veio direto para mim, pulando para plantar suas patas na minha
coxa, mas meus olhos estavam fundidos em Danner.

Tinha um boné de beisebol dos Canucks em sua cabeça, protegendo os


ângulos fortes e suados de seu rosto e, até aquele momento, nunca soube
como um boné poderia ser sexy. Meus olhos deslizaram para um dos
pingos de suor descendo entre seus peitorais nus, nitidamente definidos e
polvilhados levemente de cabelo castanho, para as belas caixas de
músculos presos como uma escada abaixo do estômago, levando para a
peluda extensão de pele acima de sua virilha, emoldurada por saliências de
músculos que formavam um V delirantemente sexy. Ele vestia calça de
moletom cinza, pendurada nos quadris estreitos até níveis quase
indecentes, sua boxer aparecendo um pouco acima disso, seus pés sem
meias em tênis Nike preto.

Tive um orgasmo quase instantâneo ao vê-lo.

Sem saber da minha paralisia luxuriosa, Danner digitou o código para


parar o alarme, jogou sua camiseta na mesa de centro e dirigiu em minha
direção com um pequeno sorriso sexy. Ele não parou até que literalmente
bateu no meu lado, deslocando Hero, suas mãos vindo para cada lado do
meu rosto para que ele pudesse passar os polegares pelas minhas
bochechas e olhar profundamente nos meus olhos. Tudo o que ele parecia
ler lá me agradou, porque seu sorriso se alargou um segundo antes dele se
inclinar sobre minha boca e me beijar.

Derreti assim que sua boca atingiu a minha, sua boca fria e úmida, sua
língua sedosa contra a minha quando ele inclinou minha cabeça para
aprofundar o beijo e pressionou seu peito suado ainda mais contra o meu
corpo. Ele engoliu meu gemido quando eu dei a ele, em seguida,
cantarolou sua aprovação antes de me afastar.

— Como está minha espinhosa Rose esta manhã? — Ele perguntou,


seus olhos brilhantes e despreocupados de uma maneira que não via desde
que ele era um adolescente e eu era apenas uma garota.

Coloquei minha mão no pulso da mão que ele tinha no meu rosto para
me orientar, atordoada por nosso contato labial. — Huh?
Ele riu, a sensação disso contra meus mamilos como uma carícia. —
Você parece bem. Assim como a visão de você nas minhas coisas.

— Possessivo, — observei, um pouco surpresa.

Danner não me parecia o tipo de homem das cavernas, um daqueles


homens que gostavam de reivindicar suas mulheres de todas as maneiras
concebíveis, como meu Pai fez com Lou.

Ele se afastou, deu a volta no balcão e pegou duas tigelas e duas


colheres em preparação para o café da manhã. — Tenho você tatuada no
meu coração, garota rebelde. Não sei se existe mais possessivo do que isso.

Percebi que em minha névoa na noite anterior, não tinha realmente


visto seu corpo nu, muito menos a extensão da tatuagem que cobria todo o
seu peitoral esquerdo e subia até o ombro. Meus olhos traçaram o desenho
intrincado quando ele se recostou no balcão e deixou cair os braços, dando-
me acesso desobstruído a ele.

Como Laken havia descrito, era um leão, primorosamente representado


em meio a um rugido, feroz, orgulhoso e bonito como minha versão
humana. O animal irrompeu de uma moita de espinhos de aspecto
perverso e enormes e maravilhosas rosas vermelhas, algumas enroladas e
outras abertas em plena floração. Era a tatuagem mais bonita que eu já vi e
todos os irmãos de The Fallen, incluindo meu pai e meu irmão, tinham
grandes tatuagens.
— Sim, — disse, tentando minimizar a maneira como a tatuagem me
fazia sentir, como se Danner tivesse ligado seu coração ao meu com tinta e
pensamento. — Acho que não.

Ele alcançou um armário aberto e sorriu para mim quando revelou uma
caixa de Cinnamon Toast Crunch9. — Minha especialidade.

Ri, voltando às primeiras manhãs antes da escola, nos dez meses que
passei morando com os Danners na escola primária. Nas manhãs em que
sua mãe, Susan, estava ocupada com seu trabalho de caridade ou compras,
Danner se encarregava de preparar o café da manhã para King e eu.
Cinnamon Toast Crunch era a extensão de suas proezas culinárias, por isso
era uma coisa boa que nós dois amamos esse negócio.

— Meu favorito, — disse enquanto ele deslizava uma tigela afogada em


leite sobre o balcão para mim e depois se encostou no balcão para comer
sua própria porção.

— Devemos conversar sobre algumas coisas, — disse ele, tirando o


boné, jogando-o no balcão e passando a mão pelo cabelo mais comprido no
topo da cabeça.

Tentei me concentrar no que ele estava dizendo, mas me esquivei


porque qualquer mulher babaria num homem tão ridiculamente gostoso
quanto o Oficial Danner.

— Conversar? — ecoei desajeitadamente com a boca cheia de delícia de


canela.

9 Cereal matinal com sabor de torrada e canela.


Ele sorriu. — Se eu soubesse que tirar a minha camisa era tudo o que
seria necessário para torná-la dócil, já teria feito há muito tempo, muito
mais.

Olhei para ele e arrogantemente trouxe minha caneca de céu líquido aos
meus lábios. — Só não tomei café o suficiente esta manhã.

Seus olhos deslizaram para as cápsulas de café vazias espalhadas pelo


balcão e depois de volta para mim, uma sobrancelha levantada.

— Não me julgue, — avisei, o que fez seus lábios se contorceram. —


Vamos nos concentrar. Sobre o que você precisa conversar?

Ele ficou sério instantaneamente, descartando sua tigela de cereal e


cruzando os braços sobre o peito, de modo que cada músculo de seu bíceps
inchou e brilhou na luz da manhã.

Falei na minha caneca antes que ele pudesse começar. — Você quer que
eu preste atenção, sugiro colocar uma camisa.

Sorri enquanto tomava um gole de café quando ele começou a rir e se


aproximou para pegar sua camiseta descartada.

— Melhor? — Ele perguntou quando a camisa atlética justa num tom de


verde que combinava exatamente com seus olhos estava colada em cada
centímetro de seu belo corpo.

— Não, — respondi sinceramente, mas afastei a preocupação com a


mão. — Continue de qualquer maneira.
— O que aconteceu ontem à noite, não vai acontecer de novo, —
prometeu. — Liguei para o Sgt. Renner esta manhã e vamos por um agente
à paisana em seu apartamento enquanto estiver em casa. Temos o
orçamento e, graças a essa merda que você fez ontem de manhã, vale a
pena para a RCMP te manter viva, então eles estão estendendo os fundos
para fazer isso. Você também vai me obedecer, porra, quando eu disser
para levar Hero com você para todos os lugares que você for, a menos que
esteja comigo. Ele é um policial e cão de guarda treinado, Harleigh Rose, e
ele ama você. Não há muitas situações em que ele não é uma vantagem.

Mordi meu lábio, odiando ter que concordar com ele.

Ele continuou, apesar da minha falta de acordo. — Estou realmente


muito infeliz com a proeza que você fez oferecendo seus serviços como
uma maldita informante, mas agora que você fez isso, existem algumas
regras.

— Eles passaram sobre essas comigo, — interrompi, apenas para


receber um olhar glacial de Danner.

— Sim, eles repassaram suas regras, mas você vai ver Rosie, tenho
minhas próprias regras. A mais importante delas sendo, você não, sob
quaisquer circunstâncias, sai imprudentemente sem mim, entendeu? Sei
que você está decidida a acabar com este clube por uma variedade de
razões que eu não vou discutir que não são válidas, mas você não sabe
merda nenhuma sobre o trabalho policial e essa mesma paixão que a
colocou nisso pode acabar arruinando esta investigação.

— Eu não sou uma idiota, Danner, — rebati.


— Ninguém disse que você era. O que eu disse foi que você tem a
tendência a ser imprudente quando enfia os dentes em algo grande. Não
faça isso.

Olhei para ele. Ele olhou impassível de volta.

— Lá se vai o meu bom dia, — murmurei, olhando para a minha xícara


de café vazia. — Preciso de mais café.

— Você vai ter uma úlcera do jeito que bebe essas coisas, — ele me disse
enquanto caminhava para o outro lado do balcão, apoiou um antebraço
nele e se inclinou para acariciar a parte de trás da minha cabeça. — E você
ainda terá um bom dia, Rosie. Ainda não chegamos à parte boa.

— Uh huh, com certeza.

Ele mordeu o canto do seu sorriso. — Você quer chegar lá, me diga que
vai ficar comigo nisso, ok? Preciso saber que você está segura ou farei
merdas estúpidas que não preciso fazer para ter certeza disso.

— Como o quê? — perguntei, animando-me com a curiosidade.

Não dizia coisas boas sobre mim que eu amava quando ele era estúpido
por mim, mais ainda quando ele fazia mal por mim.

— Como nunca sair do seu lado.

— Oh.

— Sim, agora seja boa para mim e diga que me entende.

Eu queria. Deus, eu queria.


Mas o idiota me deixou por três anos sem a porra de um adeus. Como
diabos eu deveria confiar nele?

— Deixou-me uma vez, Danner. Sem razão, sem explicação do caralho.


Você acha que vou confiar num cara que pode fazer isso?

— Confiou em si mesma com um cara que bateu em você, — ele


retrucou, cruel com raiva repentina. — Você sabe que eu nunca faria isso.
Você sabe, que se fui embora sem dizer adeus foi por uma boa razão.

— Não há nenhuma razão neste maldito planeta para abandonar sua


família, — retruquei, levantando-me furiosa para poder rosnar por cima do
balcão para ele.

— Como diabos você chama o que quer fazer agora? Isolando-se de The
Fallen?

— Estou fazendo isso por eles, — gritei, jogando minha caneca de café
pela sala, porque minha raiva não tinha eloquência e eu precisava que ele
entendesse. — Faria qualquer coisa para mantê-los seguros.

— Você acha que eu não me sinto da mesma maneira fodida sobre


você? — Ele desafiou, imperturbável pelo estrondo e barulho da caneca ou
os fragmentos dela ao seu redor. — Partiria meu próprio coração um
milhão de vezes se isso significasse mantê-la viva.

Ele veio até onde eu estava ofegante e colocou a mão firmemente em


volta da minha garganta, o polegar sobre o meu pulso. Foi um movimento
tão dominante, que instantaneamente me deixou fraca dos joelhos e frágil
em determinação.
Era uma garota motoqueira durona, mas queria me submeter a ele como
ele era agora, transformado pela raiva e pela necessidade num alfa tão
dominante que exigia minha obediência.

Só por ele eu senti esse desejo, e só por ele cederia a isso.

— Tenho salvado você desde que você tinha seis anos, Rosie, — disse
ele, os olhos em chamas. — Fiz isso várias vezes, mesmo quando
significava ir contra o que eu defendia, porque no final, o que eu defendia
era você, segura e feliz depois de toda a merda que você recebeu. Se eu te
deixei, acha que foi por qualquer outra razão além dessa?

— Como vou saber se você nunca me explicou isso? — rebati,


encostando-me em sua mão na minha garganta, apertando como uma
coleira contra um cão raivoso, então me senti presa por ele de uma forma
que me deixou molhada. — Como é que vou saber como você se sente
quando você nunca me disse, porra?

— Talvez você não tenha notado, mas te disse todas as vezes que tocava
música para você, todas as vezes que saía contigo na Mega Music e todas as
vezes que ficava em casa quando jovem para cuidar de você e King. Te
disse quando comprei aquela motocicleta que você queria com a porra de
uma caveira rosa e quando a levei para escolher Hero e o nome dele. Isso
não é o suficiente para você, te disse quando atendi sua ligação, tendo
guardado aquele telefone antigo pelo única razão que queria tê-lo no caso
de você ligar e larguei tudo para arriscar meu cargo disfarçado e correr
para o seu lado.
Ele se inclinou mais perto, seus lábios contra os meus. — Você precisa
de mais, vou lhe dizer agora. Você disse que não abandona a família e isso
pode ser verdade, mas você está fazendo isso agora porque sua família
precisa disso e eu fiz isso com você porque você precisava, mesmo que não
soubesse. Não estava certo que nossa amizade estava se transformando em
algo físico, não quando você era uma adolescente, não quando sou do jeito
que sou.

— E eu não tinha uma palavra a dizer sobre isso?

— Não, Rosie, você não tinha. Porque, goste ou não, eu era o adulto e
você era uma criança. Não viemos do mesmo lado da lei e mais, nossos
pais se matariam se pudessem. Qualquer coisa romântica era, e é,
impossível.

— Então, você foi embora, — sussurrei, magoada e com muita raiva,


perdida novamente como se tivesse dezoito anos quando ele saiu.

— Eu disse, não dizendo agora que sei o que isso fez com você,
transformando você em Cricket como fez, que faria o mesmo agora. Talvez
eu pudesse ter encontrado a força para manter minhas mãos longe de você
e ainda protegê-la de todas as coisas feias do mundo. Mas, não fiz, e a
morte de Cricket está tanto em mim como em você.

— Sim, — disse a ele, porque eu era honesta e era verdade. — Isto é.

Estive com Cricket para preencher até mesmo uma fração do vazio que
Danner deixou para trás e depois de um ano, quando ele ainda não havia
retornado, decidi que ter qualquer tipo de amor era melhor do que não ter
nada.

— Não vou deixá-la de novo, — ele me disse severamente, com uma


voz baixa, suave e escura como a fumaça enrolando ao redor do meu
corpo. — Juro isso agora.

— Não sei se acredito em você, — rebati.

— Não me importo, porra, vou provar como já provei antes. Vou te


mostrar.

— Você me entende? — Ele demandou.

— Entendo você, — respirei, então me lembrei, engoli minha vontade


instintiva e revirei os olhos. — Se você ficar na mesma página que eu, não
teremos quaisquer problemas de qualquer maneira.

Os tendões em seu pescoço estavam esticando de uma maneira que eu


tentava não achar delicioso. Queria me concentrar na minha raiva, exigir
saber por que ele me deixou. Mas agora que eu tinha aquelas mãos largas e
ásperas no meu corpo, eu queria mais.

Queria me empanturrar com o corpo dele até ter a minha plenitude para
finalmente tirar o Lion Danner da porra do meu sistema.

— Você vai manter suas mãos longe de mim enquanto está me


protegendo? — perguntei, lambendo meus lábios com o pensamento
daquele corpo lindo de volta no meu.
Ele ignorou a última parte da minha afirmação e mudou seu controle
para que sua mão segurasse o lado do meu pescoço. — Isso nos leva às
coisas boas. Começamos algo ontem à noite. Na verdade, começamos algo
há cerca de três anos e meio, quando você era muito jovem, mas
retomamos o assunto ontem à noite e não quero deixá-la ir outra vez, se
puder evitar. Temos que ir devagar, ter cuidado, porque nossas vidas
dependem disso, Rosie. Primeiro sinal de problema, se eu tiver que deixá-
la para mantê-la segura, eu o farei. Você entende isso?

O calor de sua declaração congelou em minhas veias. — Não. Você


acabou de dizer que quer ficar comigo. Eu queria você por malditos anos.
Você não pode dizer essa merda num segundo e depois tirar isso de mim
no próximo. Você está comigo ou não.

Sua mandíbula cerrou, e sua mão apertou com força no meu cabelo. —
Estou com você até que estar com você ameace prejudicá-la, Harleigh Rose.
Você pode me dar essa porra.

Joguei minhas mãos, arrancando minha cabeça do seu aperto. — Não


posso acreditar que você arruinaria a primeira vez que admitiu que me
queria sendo um covarde de merda sobre isso.

— Covarde? — Danner disse, sua voz oitavas mais baixa, fria e pesada
como o peso de algemas de aço contra mim. — Querer mantê-la segura é
covardia?

Magoada por ele sequer considerar me deixar depois de tudo que


passamos, depois de eu ter deixado claro em ações, se não em palavras, o
quanto eu precisava dele, queimou minhas entranhas como ruínas de lava
sobre Pompéia.

Encarei seu rosto dele e assobiei: — Sim, Danner. Você se preocupa com
alguém, não o deixa ir em face de uma ameaça, você o agarra bem, o
mantém seguro e aquecido durante a tempestade e reza a Deus ou quem
quer seja, que vocês dois saiam disso vivos.

Danner ficou ali, implacável como uma estátua de pedra, seus olhos
sombriamente fechados quando terminei meu discurso e respirei
pesadamente no silêncio.

— Você me obedece, Rosie, — ele repetiu, desta vez no tom sombrio


que dava arrepios na minha espinha. — Você me obedece no campo, e nós
fazemos isso, você me obedece na cama, no sofá, na parte de trás do meu
Mustang, onde eu decidir te foder. Você quer isso, essas são minhas regras.

— Você quer que me submeta, — disse, sabendo disso, como eu sabia


quando ele me levou sobre o joelho quando eu tinha dezessete anos.

— Porra, sim, — ele rosnou, seus dedos agarrando a parte de trás do


meu cabelo e puxando, então fui forçada a recuar, olhando para o seu rosto
cruelmente bonito. — Este é o jogo que vamos jogar, rebelde. Você pode me
atrapalhar, lutar comigo e discordar de mim o dia todo. É você, e foda-se,
eu gosto disso. Mas agora, quando tiver minhas mãos em seu corpo, sou o
seu Dominante, e se quiser meu pau, você terá que merecê-lo sendo minha
boa garota em vez da minha rebelde.
Cada uma das suas palavras imundas amontoadas como gravetos em
meu intestino, mas ainda havia uma pequena parte minha que me dizia
que ceder era errado, fraco no caminho das mulheres motoqueiras
Berserker que se deixam ser usadas por seus homens.

— Por que eu quero isso? — sussurrei, apertando minha mão sobre a


dele no meu pescoço. — Não parece natural. Não sou esse tipo de mulher.

— Você me conhece, acha que eu sou o tipo de cara que quer bater em
adolescentes travessas e fodê-las tão forte que elas gritam? — Ele
perguntou sem rodeios. — Não. Levei muito tempo para aprender, mas
vou te ensinar. Só há força na submissão, só cuidado na Dominação.
Fazemos o que fazemos porque nos excitamos e deixamos a maior parte no
quarto. Você ainda pode ser a pequena rebelde e durona Rose, e eu ainda
posso ser o bom rapaz Danner.

Sua mão livre se moveu para me cobrir entre as pernas, sobre minha
calcinha vergonhosamente molhada. — Mas nós dois saberemos a verdade.
Pode ser o seu corpo, Harleigh Rose, mas eu o possuo.

Então, ele me beijou.

Amoleci em seus braços como o corpo derretendo até que apenas suas
mãos em meu pescoço e sobre minha boceta me mantiveram de pé.

Ele tinha um gosto bom, como café, canela e homem.

Agarrei-me a ele e abri mais minha boca para que ele pudesse me beijar
com mais força.
— Vou levar você, Rosie, — ele me disse contra a pele do meu pescoço,
sua língua lambendo meu pulso latejante. — Vou domá-la, deixá-la
selvagem o suficiente para lutar contra cada toque, resistir a cada impulso
do meu grande pau em sua boceta apertada e molhada.

Gemi, minhas unhas arranhando sua camiseta coberta pelas costas. —


Sim, me foda.

Seus dedos esfregando sobre o plácido embebido de minha calcinha, em


seguida, deslizaram por baixo para correr entre minhas dobras sedosas. —
É isso, Rosie. Tão molhada para mim.

Seu polegar encontrou meu clitóris inchado, me arrancando um suspiro.

— Quero jogar, — ofeguei. — Quero que você brinque comigo.

Ele sorriu. — Minha garota safada fez alguma pesquisa depois que eu
brinquei com ela anos atrás?

— Sim, — assobiei quando ele afundou dois dedos no meu núcleo


derretido.

— Você já jogou antes? — Havia uma ponta afiada de ciúme que correu
como uma ponta de faca através das minhas inibições controladas.

Eu o amava com ciúme, eu o amava louco de desejo de uma forma que


sabia instintivamente que só eu poderia fazê-lo ser.

— Não, mas eu pensava nisso todas as noites quando estava deitada na


cama tocando minha boceta, pensando em você dentro de mim, seus
dedos, seu pau, sua língua.
— Você quer que eu faça você quebrar para mim, — disse ele, sua voz
afundando naquela oitava baixa que eu lembrava, aquela que me amarrou
com cordas ásperas para sua vontade. — Você quer que eu conquiste sua
submissão.

Minhas pernas tremeram e no instante seguinte eu estava no balcão,


minhas pernas abertas por suas mãos para que ele pudesse olhar para
minha boceta. Quando ele olhou para mim novamente, seus olhos eram
tochas.

— Vou brincar com você, vou até quebrá-la com prazer até soluçar meu
nome, mas quando fizer, Rosie, você me chama pelo meu nome.

— Sim, Danner, — respirei, desesperada por seu toque na minha boceta


exposta e fria.

Ele atacou com uma mão e espancou minha boceta com força.

Gritei e tentei fechar minhas pernas, mas ele segurou-as abertas com seu
aperto cortante, inclinou-se e soprou ar frio contra o meu clitóris dolorido
antes de sugá-lo em sua boca para um beijo cheio e molhado. Quando ele
se endireitou, seus lábios estavam molhados comigo e seus olhos estavam
gelados contra a minha pele aquecida.

— Você diz meu nome, — ele repetiu.

Engoli minha resistência instantânea. Era um mecanismo de defesa que


aperfeiçoei ao longo dos anos, lançando escudos atrevidos para esconder
minhas vulnerabilidades.

Não queria escondê-las dele, não mais.


Então, levantei meu queixo e o olhei bem em seus lindos olhos verdes
brilhantes quando disse: — Sim, Lion.

Ele gemeu irregularmente, estendeu a mão e torceu as pontas de cada


seio com a mão antes de dar a ambos um beijo de sucção que enviou calor
direto para o meu clitóris.

— Poderia mantê-la aqui assim o dia todo. Minha boa putinha se


apresentando. Eu comeria você no café da manhã, torturaria você no
almoço e depois, quando você estivesse faminta por isso, eu foderia você
durante todo o jantar e lhe daria meu esperma de sobremesa, — ele disse
quase conversando enquanto sua mão brincava com a minha boceta, seu
polegar esfregando círculos quentes e apertados sobre meu clitóris
inchado, dois de seus dedos torcidos e bombeando dentro.

Adorei como ele brincava comigo, como se eu fosse um objeto que


existia apenas para seu prazer. Deveria parecer errado, talvez até
degradante, mas não parecia porque Danner estava me tocando do jeito
que tocava sua guitarra, magistralmente, retirou apenas porque ele
precisava do foco para dedilhar cada corda da maneira certa.

— Você está tomando contraceptivo?

Balancei a cabeça, desesperada para sentir ele nu dentro de mim. —


Sim, e é uma merda dizer, mas fiz o teste depois do Cricket e estou limpa,
— disse a ele.
Seu sorriso fez a dor da memória desaparecer como um fantasma. —
Nunca fodi sem camisinha, não toquei ninguém nas últimas semanas. Você
confia em mim?

Eu não tive que pensar. — Sim, sempre.

Gemi quando ele se afastou, mas ele apenas sorriu um sorrisinho cruel
que me tocou como sua boca na minha boceta e se afastou. Observei com os
olhos semicerrados quando ele abriu uma gaveta cheia de sacos plásticos,
elásticos, prendedores de roupa e outros materiais abrangentes.

— O que você está fazendo? — questionei.

Ele me sufocou com um único olhar de desagrado.

Mordi o lábio quando ele voltou para mim, com as mãos atrás das
costas até que ele se agachou e revelou abraçadeiras numa mão. Ele viu
meus olhos se arregalarem, meu peito pesar enquanto ele lentamente atou
meu tornozelo esquerdo na gaveta de um armário e depois o direito em
outra. Podia ver a intenção em seus olhos, o brilho de maldade e satisfação
por estar aberta e protegida para ele.

Ele observou seus dedos percorrerem meu tornozelo, formigando sobre


a pele da minha panturrilha, um círculo preguiçoso ao redor da minha
rótula e subindo sobre a pele fina na parte interna da minha coxa. Quando
ele alcançou os lábios nus do meu sexo, seus dedos dançaram sobre eles até
o pequeno retângulo de cabelo sobre o meu clitóris e então ele puxou-o
com força entre os nós dos dedos. Meus quadris se sacudiram para frente,
minha cabeça inclinada para trás e ofeguei com o prazer perverso que
sentia por essa dor.

— Este é um jogo de Dominação e submissão, Rosie, — ele me disse,


beliscando meu queixo levemente com uma mão enquanto a outra mão se
movia para cobrir minha boceta. Era um gesto possessivo, me segurando
ali, seus dedos gentis, mas firmes, como se fosse sua boceta para fazer o
que queria com ela. Tentei girar contra ele, obter qualquer tipo de pressão
no meu clitóris dolorido, mas ele me impediu afundando dois dedos no
meu sexo e enrolando-os, sentindo minha boceta de dentro para fora num
movimento que me fez derreter em sua mão.

— E é um jogo que temos jogado um com o outro há muito tempo. Só


que agora é sexual e preciso que você entenda a diferença. Não é sobre dor,
— ele me disse enquanto puxava meus mamilos e me fazia sibilar. — Não
se trata de você obedecer cegamente a cada um dos meus comandos,
porque você sente que precisa fazer. É sobre você me dar sua confiança,
sabendo que desperto você e abuso de você com meu corpo, com minhas
palavras e com meus brinquedos, não para machucá-la, mas para possuir
você, para que eu possa banir tudo da sua cabeça — todo o mal, toda a
preocupação e medo — e lhe trazer a paz.

Lágrimas caíram dos meus olhos e no meu nariz. Era constrangedor


sentir-me tão emocionada quando ele me tocava, quando estávamos
falando sobre algo tão simples como sexo.
Mas não parecia simples. Parecia que ele estava me oferecendo sonhos
que eu nunca fui capaz de expressar, oferecendo-se para me levar a um
lugar que eu nunca seria capaz de imaginar na minha cabeça.

Parecia que ele me guiaria para um lugar onde eu pudesse aprender a


me amar.

— Você entende o que eu estou dizendo? — Ele perguntou, e me


concentrei em seu rosto para descobrir que estava duro com determinação,
sua boca suave com desejo e seus olhos, seus olhos verdes mais verdes do
que a grama recém-molhada estavam cheios de amor.

— Sim, Lion, — disse.

Suas sobrancelhas fecharam sobre seu olhar, transformando seu rosto


com uma intensidade linda um segundo antes dele colocar a mão no meu
rosto na parte de trás do meu cabelo, me puxar para trás e bater sua boca
exigente na minha.

Instantaneamente, minha mente ficou em branco.

Não havia nada para mim a não ser meus lábios nos dele, o
deslizamento quente e molhada de sua língua na minha boca e a forma
como sua barba rala raspava na minha bochecha, seus quadris magros
entre minhas pernas escancaradas, sua mão trabalhando entre, dentro e
fora de minha boceta, torcendo, enrolando, girando até que cada
centímetro meu cantava com prazer.

— Tão molhada para mim, — ele gemeu no meu ouvido, em seguida,


traçou sua língua ao redor da concha. Estremeci quando ele mordeu o
lóbulo e raspou os dentes sobre ele. — Tão disposta a me deixar brincar
com seu corpo lindo.

— Deus, — gemi quando ele afundou seus dentes nas cordas fortes do
meu pescoço, trabalhando seu caminho com beliscões suaves e mordidas
firmes na junção do meu pescoço e ombro, onde ele mordeu tão forte e
chupou tanto tempo que era pura agonia requintada. Sabia que ele estava
me marcando, que eu usaria seu amor e a propriedade dele como
hematoma por dias depois. Era um emblema perigoso de posse que eu
usaria com orgulho, que eu amava pra caralho, porque ele o fazia por
loucura, não por lógica, não como normalmente fazia.

Dessa forma, dizia que ele era tanto meu quanto eu era dele.

Seus lábios desceram até o meu peito, onde ele beijou meu mamilo
esquerdo em círculos cada vez menores, sem acertar o alvo. Enrosquei
minhas mãos em seus cabelos e forcei sua boca para mim.

Gritei quando ele agarrou minha mão com uma das suas, o aperto
firme, seus olhos eram sua própria reprimenda quando ele disse: — Não.
Você faz o que eu digo ou nada. Mãos atrás das costas ou vou amarrá-las
lá.

Pensei, por um breve e vertiginoso segundo, em desobedecê-lo e depois


fiz como me foi dito. O lampejo de admiração em seus olhos quando ele
viu meus seios levantados, meu movimento voluntário, foi melhor do que
qualquer ato de desobediência deliberada.
— Não vou parar. Não vou te mostrar misericórdia. Você pode
implorar, mas não serei movido. Não vou desacelerar ou dar uma pausa
para que você possa recuperar o fôlego. Assim que eu colocar minhas mãos
em seu corpo, você é meu instrumento para tocar. E estou lhe dizendo
agora, Harleigh Rose, pretendo tocar você o dia todo, até que suas cordas
estejam gastas e seus tons sejam duros como o caralho saindo dessa boca
suja. Sua linda boceta cor-de-rosa vai ficar inchada e chorando quando eu
finalmente puxar meus dedos e meu pau para fora e mesmo assim, estou
avisando, vou fazer você dormir a noite toda com um dos meus brinquedos
em sua boceta dolorida para que você me sinta até em seus sonhos.

Deus, isso parecia um sonho.

— Foda-me, — implorei a ele.

Ele não respondeu, mas não precisava. Em vez disso, ele deslizou seu
moletom cinza por suas coxas, revelando seu pau longo e curvo.

— Você quer isso? — Ele provocou, envolvendo o punho em torno dele


para que pudesse se masturbar.

— Sim, dê para mim.

— Você acha que pode lidar com isso? — Ele zombou, seus olhos
escuros, ferozes.

— Experimente, — desafiei.

Em seguida, seu pau estava na minha boceta avançando numa estocada


brutal e deliciosa.
— Porra! — gritei quando ele puxou para fora e bateu de volta,
estabelecendo um ritmo brutal que fez meus seios balançarem e meus
olhos rolarem para a parte de trás da minha cabeça. — Foda-me.

Uma mão envolveu minha parte inferior das costas para me aproximar,
enquanto a outra disparou do meu peito para minha garganta, onde ele
apertou.

— Leve-me, — Danner rosnou quando bateu em mim, enquanto


apertava a mão em volta do meu pescoço no tempo com os golpes brutais
de seu pau. — E goze para mim.

Trinta segundos depois, eu gozei.

Explodi como estilhaços, pedaços de mim voando em todas as direções,


a explosão emanando da minha boceta molhada e viajando por todo o meu
corpo.

— Sim, — Danner gemeu em meu pescoço quando finalmente soltou


minha garganta e deu um beijo lá. — Agora pegue minha porra.

— Sim, Lion, me dê. — ofeguei quando senti o primeiro golpe de seu


pau e o calor resultante em minha boceta.

Ele suspirou quando terminamos, segurando-me gentilmente contra ele


do jeito que o vi fazer com sua guitarra, gentilmente, deferentemente.

— Como foi, Rosie? Você foi uma garota linda e boa para mim.

Estremeci com o louvor, com a sensação de seu pau ainda dentro de


mim, seu corpo suado contra o meu.
Era algo que eu queria há muito tempo, mas a realidade era muito mais
bonita que a fantasia. Podia sentir seu cheiro terroso, provar o sal dele na
minha boca e sentir o calor dele entre as minhas pernas. Podia sentir como
meu ele era.

— Adorei, — respirei então porque era tão fodidamente bom dizer isso
e acrescentei: — Amo você.

Danner se inclinou para trás para sorrir na minha cara ao mesmo tempo
em que uma batida forte soou na porta da frente.

Congelamos por um longo momento suspenso, insetos presos em


âmbar.

Então a batida veio novamente, desta vez mais alta e acompanhada pela
voz de Grease chamando: — Yo, imbecil, acorde e abra a porta, porra, está
quente como os peitos de uma stripper aqui fora.

Entramos em ação simultaneamente. Danner pegou uma faca que


estava sobre o balcão e cortou rapidamente as abraçadeiras antes de nos
separarmos para vestir nossas roupas.

— Roupeiro, — ele murmurou para mim antes de gritar: — Sim, sim,


segure sua calcinha, estou indo.

— Você tem um roupeiro? — perguntei antes que eu pudesse me


ajudar.

Mas vamos lá, meu policial gostoso barra sexy motoqueiro disfarçado
tinha uma porra de roupeiro? Porra, eu mal sabia o que constituía roupa de
cama.
— Apenas entre nessa porra, — ele ordenou suavemente, asperamente,
em seguida, pegou minha mão enquanto me afastava para dar um beijo
duro na minha boca. — Fique quieta e fique lá até eu te pegar.

Balancei a cabeça e corri para o armário a meio caminho entre o quarto e


a sala de estar, grata quando o abri que havia um espaço estreito ao lado
das prateleiras onde poderia enfiar minha forma magra e reta com relativa
facilidade.

Dois segundos depois de fechar a porta do armário, a da frente se abriu


e o barulho de botas de motoqueiro soou no corredor.

— Bom, você acordou, — Grease resmungou.

— Sim, irmão, embora você batendo na porta teria feito o trabalho, eu


ainda estava dormindo.

— Tenho merdas para fazer hoje, preciso de toda ajuda possível. —


Uma pausa e, em seguida, um incrédulo, — Comendo cereais de criança?

— Gosto de doces e gosto de tempero, — Danner admitiu de uma


maneira que me fez sorrir, mesmo com medo.

— Bem, não se importa se eu me servir enquanto você coloca uma porra


de roupa. Só porque você é um garoto bonito, não significa que você pode
andar por aí sem usar nada.

— Sim, sim, Sargento, — disse Danner. — Qual é o show?

— Vamos atrás de uma entrega de erva Fallen.

Senti o ar sair dos meus pulmões.


— Você está me gozando? — Danner perguntou, parecendo um pouco
curioso, mas, ainda assim, baixo.

Era uma loucura como ele era bom em representar o papel.

— Nah, tenho algumas informações que alguns rapazes estão correndo


alguma merda por Sea to Sky esta noite para uma grande festa que os Red
Dragons estão jogando. Nós vamos levá-los. Se aqueles fodidos asiáticos
realmente o fizeram em Cricket, vai ser bom ter The Fallen olhando para
eles como uns fodidos para distraí-los do fato de que vamos atacá-los em
breve, quando a oportunidade surgir.

— E é apenas um bônus obtermos a maconha de primeira qualidade no


processo.

— Pode apostar. E você conhece o Pres, qualquer coisa para cutucar o


grande malvado Zeus Garro, sabe?

— Claro. Dê-me um segundo e vou me vestir.

Ouvi os passos de Danner passando quando ele entrou no quarto de


trás e depois escutei atentamente os sons de Grease farfalhando em
algumas gavetas, bisbilhotando porque era de sua natureza ser desconfiado
e porque ele apreciava qualquer oportunidade de encontrar um irmão
insuficiente para que ele pudesse se vingar.

Uma vez, ele fez um carro-bomba que matou um irmão suspeito de


delatar e toda a sua família, incluindo o bebê e o cachorro.
Tentei regular minha respiração quando o pânico tomou conta de mim,
depois tentei parar de respirar completamente quando o baque das botas
de Grease se aproximou e de repente ele estava na porta do armário.

Fechei os olhos com força e me mantive perfeitamente imóvel, exceto


pelo meu coração batendo loucamente.

— Pronto, — Danner gritou da entrada do corredor e os pés que


sombreavam a fenda sob a porta se afastaram de mim.

Soltei um fluxo de ar lento e silencioso e me senti grata por não ter feito
xixi na calcinha.

— Vamos lá, — disse Danner ao passar e bateu a mão nas costas de


Grease.

Esperei pelo que parecia quinze minutos depois deles saírem, até que
saí do armário e voltei para o quarto de Danner. Havia um telefone
descartável na pia do banheiro e uma nota escrita na condensação no
espelho, a pia tampada e cheia de água fervente.

Não diga ao seu pai.


Capítulo Treze
Vesti-me ao estilo motoqueira, cabelo solto, delineador preto, jeans
justos com enormes rasgos estrategicamente posicionados exatamente onde
as bochechas de minha bunda se encontravam com minha coxa, expondo a
meia arrastão branca que eu usava por baixo e minhas habituais botas de
combate pretas, antes de ir para o complexo dos Berserkers.

Eu não estava saindo imprudentemente, como Danner me avisou para


não fazer. Estava apenas fazendo um reconhecimento suave.

Se Danner pensou que eu podia ficar sentada enquanto o clube atacava


minha família, ele não me conhecia muito bem.

Estacionei meu Mercedes G65 preto personalizado na pista de cascalho


ao lado da sede do clube, levando um segundo para deixar os sons
familiares do “TNT” do AC/DC passarem por mim. Era a banda favorita
do meu pai, uma das nossas músicas favoritas da banda, e sentada ali no
carro que ele construiu e personalizou para mim, me senti mais próxima
dele do que nunca.

Era filha do meu pai.

Nasci assim e fui forjada ainda mais em sua imagem pelo fogo das
provações que sofri em meus anos de formação. Era uma boa semelhança,
uma que eu secretamente era orgulhosa de ter mais do que King, mas pela
primeira vez na minha vida, mesmo depois de tudo o que ele fez por nós,
entendi a incrível responsabilidade que Papai deve ter sentido sabendo que
ele tinha o poder para nos manter seguros e felizes.

Agora, cedia ao mesmo poder e queria ser forte o suficiente, Zeus o


suficiente, para carregar o peso disso até o amargo fim.

Estava quieto quando fiz meu caminho para a velha casa Tudor, sem
surpresa, já que eram onze horas do domingo e isso era cedo pra caralho
para os padrões dos motoqueiros. Fui diretamente ao escritório de Reaper
nos fundos da casa, esperando poder me impor a ele sob o pretexto de
precisar de orientação após a morte de Cricket. Reaper era o tipo de
homem que gostava de ouvir sua própria voz e distribuir sabedoria como
uma espécie de falso profeta, então eu sabia que ele ficaria triste.

Risos surgiram por trás da porta ligeiramente aberta, sons femininos


roucos que me lembraram o som há muito esquecido da própria risada
boba da minha mãe.

Ainda assim, bati à porta porque Reaper não teria problemas em


mandar embora uma de suas muitas mulheres se isso significasse um
tempo comigo. Nunca tive certeza do porque, mas o homem não apenas
me cobiçava, acho que ele realmente me amava (tanto quanto seu coração
negro poderia) quase como uma filha.

— Sim? — Ele gritou, rindo em sua voz rouca.

— Sou eu! — gritei. — Você tem um segundo?

Houve um silêncio conspícuo e depois outra risadinha rouca.


— Claro, querida, me dê um segundo e te pego.

Encostei – me na parede em frente à porta e desembrulhei um pedaço


de Hubba Bubba antes de colocá-lo na minha boca. Não havia uma grande
probabilidade de Reaper falar abertamente sobre seus planos de roubar o
esconderijo dos Fallen, mas percebi que poderia, pelo menos, descobrir a
que horas eles planejavam se encontrar e depois talvez rastreá-los desde a
sede do clube...

A porta foi aberta, a estrutura atarracada de Reaper ocupando toda a


largura, mas não muito do comprimento da estrutura.

— Entre, garota, — disse ele com um sorriso.

Com um sorriso. Reaper Holt não era o tipo de homem que sorria
facilmente, e a visão disso esticando seus traços carnudos e bulbosos em
alguma aparência de alegria enviou um eco de desconforto através do
buraco da minha barriga.

Eu o segui para a sala, estudando seu rosto em busca de alguma pista


sobre o que havia mudado em sua vida para levá-lo de mesquinho cruel a
bastardo feliz quando o cheiro me atingiu. A doçura enjoativa de um
perfume barato e açucarado, marcado pela queima da fumaça do cigarro.

Então, a risada veio de novo, lixa no ar, áspera contra meus ouvidos.

Sabia antes de me virar para olhar a mesa de Reaper quem estaria de pé


ao lado dela.

Minha mãe.
Eu não tinha visto Farrah mais de duas vezes nos dez anos desde que os
Danner me acolheram e, em seguida, Papai saiu da prisão e nos fez um lar
novamente. Uma vez foi quando eu tinha dezesseis anos e ela me abordou
na escola, pedindo dinheiro, a próxima e última foi quando a encontrei na
rua numa viagem a Vancouver no meu aniversário de dezoito anos. Ela
olhou através de mim.

Os anos seguintes afetaram sua beleza, outrora considerável. Havia


colchetes duros em torno de sua boca fina, dobras em suas bochechas e ao
lado dos olhos que caíam ligeiramente, sua pele muito solta e levemente
enrugada pelo abuso que ela fez seu corpo passar ao longo dos anos. Seu
cabelo estava tingido do tom comum de loiro artificial, seus seios ainda
eram grandes e falsos, mas caídos em sua pele flácida, seu peito marcado
com manchas de sol e pintas. Ela vestia jeans apertados, botas de
motoqueiro e um top decotado, que evidenciava o fato de que ela parecia
quinze anos mais velha do que seus quarenta anos, mas seu corpo ainda
era bom o suficiente para puxar o olhar de lixo pelo menos relativamente
bem.

Mas, foram os olhos dela que me pegaram. Eles eram do mesmo azul
oceano tropical brilhante que os meus, o mesmo formato largo e redondo e
de cílios encaracolados. Só que os dela estavam cheios de rancor e
amargura que manchavam as bordas como cobre envelhecido.

— Harleigh, baby, mamãe está em casa, — ela chorou dramaticamente,


abrindo os braços me convidando para seu abraço.

Fiquei onde estava. — Mãe, o que você está fazendo aqui?


Reaper riu com satisfação viril e foi envolver uma mão carnuda em
torno de seu quadril como um parceiro orgulhoso. — Farrah é minha nova
old lady.

— O que diabos aconteceu com Jade? — perguntei.

Aquela velha cadela não era a mulher mais calorosa do mundo, mas ela
era Madonna comparada à Farrah. Ela também passou por muitos
momentos ao lado de Reaper, dezenas de casos e, pelo menos, uma dúzia
de filhos bastardos, além disso, eu não consegui a vê-la desistindo de sua
posição sem lutar.

Farrah acenou com a mão, suas pulseiras deslumbrantes tilintando. —


Oh, aquela vadia velha teve que ir. Não se preocupe com ela.

Não herdei meu amor por garotas motoqueiras da minha mãe. Ela
odiava qualquer pessoa com vagina, especificamente se essa vagina fosse
mais bonita do que ela ou tivesse algo que ela não tivesse.

Deus, olhando para ela, lembrei-me de que metade do meu DNA era
formado a partir do mal puro e me dei uma folga por meu comportamento
não raro. Era natural, dadas as minhas origens.

— Por que você não cumprimenta sua mãe, garota? — Reaper


perguntou, uma carranca caindo sobre suas feições e me deixando à
vontade novamente.

Fiz o que me foi dito, avançando para ser envolvida em seus braços
fortemente perfumados. — Ei, mãe.
— Melhor, — ela sussurrou no meu ouvido antes de estalar seus lábios
num beijo no ouvido, alto que quase me deixou surda do lado esquerdo. —
Sabia que você ficaria feliz em me ver. As mulheres Maycomb juntas
novamente.

Eu não era nenhuma Maycomb. Nunca fui.

Eu era uma Garro até a medula dos meus fodidos ossos.

Mas, jogaria este jogo se ela quisesse.

Sentei na beira de uma cadeira, acomodando-me. — Então, como vocês


dois se conheceram?

— Conheci-a antes do seu maldito pai, querida, — Reaper me disse. Era


óbvio que ele odiava isso, que tinha contado os minutos de diferença entre
Zeus conhecê-la e ele fazendo isso, que ele culpou os dezesseis minutos
como a razão deles não estarem juntos todos esses anos.

Interessante.

Reaper teve uma vida de tesão pela minha mãe.

Repugnante.

Mas, útil.

Sabia pela maneira como o sorriso de Farrah deslizou por seus lábios
pintados de vermelho como uma cobra na grama que ela sabia que isso
também era útil.
— Encontrei-a num show de motos algumas semanas atrás. Ela me deu
uma volta, mas porra, peguei-a no final — ele terminou com uma
gargalhada quando beliscou sua bunda e ela o esbofeteou de brincadeira.

Amordace-me com a porra de uma arma.

— Que legal, — disse suavemente em vez disso.

— É bom finalmente estar com o homem que eu deveria estar o tempo


todo, — Farrah se gabou, colocando a mão no peito inchado de Reaper. —
Agora podemos ser uma família novamente.

— E King?

Ela fez uma careta. — Ele escolheu seu pai, mas, novamente, ele nunca
teve seu cérebro, não é?

Ela estava certa, ele não, ele era muito mais inteligente do que eu.

— E quanto a Honey? — perguntei.

Farrah acenou com a mão novamente. — A merdinha foge às vezes,


garota ingrata, mas ela vai voltar. Ela sempre volta.

Essa “garota ingrata” deveria estar no ensino médio, não se viciando em


drogas e fazendo sexo diante das câmeras. A fúria correu pelo meu sangue
tão quente que parecia que brilhava com ela.

— Estava dizendo à sua mãe como ela ficaria orgulhosa de saber que
você está conosco há sólidos três anos, primeiro com Cricket, RIP 10, porra,
agora com meu irmão, Wrath.

10 Descanse em Paz.
Ele estava orgulhoso de mim por isso, seu peito estufado, suas
bochechas vermelhas com a força de seu próprio elogio. Em outra vida,
uma vida inferior, sem Papai, Danner e King, eu me perguntaria se teria
sido fraca, o suficiente, para cair em seu feitiço.

Orgulho não era uma alternativa igual para o amor.

— Ele pensa que você é leal, o suficiente, para saber nossos planos para
o clube do seu papai, — Farrah cantou, seus dedos percorrendo o peito de
Reaper e descendo. — Eu não tenho tanta certeza.

Dei de ombros como se não pudesse ter me importado menos quando,


na verdade, a bile estava mordendo os dentes metálicos na parte de trás da
minha língua. — Não preciso provar nada para você, Farrah. Neste ponto,
Reaper é mais meu pai do que você.

Vi meu vôlei marcar dois pontos, um nas torções cruéis dos lábios de
Farrah, e o outro no olhar chocado de prazer mostrado pelo Pres.

Sim, dois podem jogar este jogo, vadia.

— Vamos atrás da carga de The Fallen esta noite, — ela retrucou, sem
paciência. — O que você tem a dizer sobre isso?

Dei de ombros novamente e olhei para o esmalte preto lascado em meus


dedos. — Isso é negócio do clube. Você é nova por aqui, mas esse tipo de
coisa fica entre irmãos. Não é minha merda para perturbar.

Reaper riu e quando Farrah lhe lançou um olhar, ele deu de ombros. —
Eu disse que ela diria isso, lábios doces. Dê um tempo para a garota. Por
que você não vai buscar umas cervejas para celebrarmos esta reunião como
deve ser, porra?

Farrah franziu os lábios antes que toda a sua expressão se transformasse


na namorada perfeita e amorosa. — Claro, Reaper, querido.

Assim que ela saiu pela porta, levantei uma sobrancelha e disse: —
Sério?

Reaper gargalhou, movendo-se em torno de sua mesa para se sentar em


sua grande cadeira de couro. — Suga melhor que um aspirador e engole
também.

Um arrepio de corpo inteiro de nojo violento me abalou e soltei uma


pequena mordaça. — Foda-me por perguntar, não é?

Ele riu novamente e ficou sério. — Você sabe que não deve nos ferrar
esta noite, H.R.? Você é a princesa Berserker agora, não faz parte dos Fallen
e eu não vou permitir que você os avise da emboscada na saída 78.

Fiquei olhando para ele por um longo minuto, observando como ele
coçou seu bigode e chutou suas botas sujas em cima da mesa. Não havia
absolutamente nenhuma maneira, não importa o quanto ele gostasse de
mim, de que ele me daria a localização exata do roubo, a menos que
estivesse me testando.

O que significava que não poderia salvar o clube do meu coração do


clube do meu presente. O que significava que, se Papai ou King
descobrissem, nunca me perdoariam por colocar a vida de um irmão em
perigo quando eu poderia salvá-los.
Minhas boas intenções estavam rapidamente se afogando numa
correnteza, inundadas com perguntas impossíveis, engasgando com
ambiguidades morais tão difíceis de digerir quanto as ondas do oceano.

Não havia maneira limpa de sair da situação. Não importa o que


acontecesse no final, minha família não confiaria em mim e minha vida
ainda pode estar em perigo.

Respirei fundo, enchi meus olhos até a borda com sinceridade e disse a
Reaper a verdade: — Não vou foder.
Capítulo Quatorze
Danner

Era irônico que só me envolvi na vida dos motoqueiros porque era


minha missão desmontá-la. Não havia sequer uma razão para o meu ódio
por gangues de motoqueiros, apenas algo escrito no código do meu DNA,
passado para mim pelo meu pai e o pai do seu pai todo o caminho de volta
desde a fundação do capítulo mãe Fallen, em 1960. Tinha que haver
alguma ligação distorcida entre um dos meus antepassados e os Garros,
algum romance ilícito que deu errado, um Romeu e Julieta de metal e
cromo mortos numa saraivada de tiros rivais, o equivalente a Mercutio
derrubado por uma lâmina e um homem no colete de couro errado. Era
uma maneira romântica de pensar sobre o que cresci acreditando ser o meu
destino, mas ainda não tinha visto sangue derramado pelo que realmente
era, apenas sangue, apenas morte manchada sobre o pavimento, tripas
escorrendo, cérebros lascados como manchas de tinta. Não havia nada de
romântico na morte, e nada de belo no meu ódio automático por um grupo
inteiro de seres humanos.

Mas, não aprendi isso até mais tarde.

Até que Harleigh Rose apareceu numa loja de discos vestindo uma
camiseta do AC/DC do tamanho de uma criança e ouvindo Johnny Cash
como se ele falasse diretamente com ela através do toca-discos. Foi só
quando vi sua situação, vi como a realidade de sua situação com sua mãe
drogada era nada romântica, e como ela e seu irmão eram tão maravilhosos
como pessoas que comecei a reconsiderar como meu sistema estava
programado.

Que comecei a hackear minha mente influenciada pelo Danner e


comecei a ir da minha ideia tradicional de bom para uma que era ruim.

É aí que reside a ironia, porque quanto mais “corrupto” eu era aos olhos
desprezíveis do meu pai, mais forte me sentia, revestido de convicção
titânica e audacioso com confiança em meus próprios princípios
sombreados de cinza.

Quem poderia imaginar que um policial interpretando um motoqueiro


para derrubar um MC seria seduzido pelo estilo de vida que deveria
condenar?

Amava a liberdade do vento à beira-mar contra meu peito enquanto eu


voava pela estrada montado numa besta de metal que parecia um dos
meus cavalos mustangue, sentindo a selvageria dela na vibração sob minha
bunda, no peso de seu poder sob as minhas mãos enluvadas.

Andar de moto nunca deixou de me tornar duro como o aço, porque me


lembrava de como Harleigh Rose se sentiria quando finalmente a fodesse.
Todo esse poder e beleza indomável exigiam mãos habilidosas e um toque
firme para manter sob controle. Eu era Dominante, então ambos eram,
exatamente, o tipo de desafio que eu apreciava.
Voltei a concentrar-me na estrada quando Wrath diminuiu sua
velocidade para entrar em formação ao meu lado, onde montei como um
artilheiro em nosso comboio de seis homens pela Rodovia Sea to Sky. Olhei
para ele ao mesmo tempo que meu telefone tocou no meu colete de couro.

— Sim? — respondi pelo Bluetooth no meu capacete.

— Fique comigo e mantenha a boca fechada, sem repetir a porra do que


vai acontecer esta noite. Entendeu? — O estrondo baixo de Wrath soou no
alto-falante.

Inesperado.

Interessante.

Estava tentando avaliar se Wrath Marsden podia ser transformado num


informante confidencial em dois dos três anos que trabalhei infiltrado para
o MC.

Ele nunca me deu qualquer indicação de que poderia ser afastado de


Reaper e Grease. Nunca.

Até agora.

Perguntei-me o quanto isso tinha a ver com seu novo relacionamento


com Harleigh Rose e a raiva queimou em meu intestino como uma dose
demais de uísque. Era hipócrita como a merda, considerando que
tecnicamente namorava duas mulheres, uma como policial e outra como
motoqueiro.
Só queria a Harleigh Rose com cada parte minha multifacetada. Como
um homem fundamentalmente, poderosamente, poderia desejar uma
mulher, para apreciá-la, protegê-la e plantar seus bebês nela.

Ela não mencionou Laken ou Diana Casey comigo e tinha a sensação de


que elas não importavam para ela. Ela estava tão segura de si mesma, do
efeito que tinha sobre mim, e não estava errada.

Estava obcecado em dominar cada centímetro de sua vida. Queria


dobrá-la com as minhas mãos, quebrá-la em belos pedaços com o meu pau
e depois colá-la com minha boca. Cortar o emaranhado de espinhos
perigosos que cercam seu lindo e único coração, para que eu possa segurar
o macio e frágil botão em minha mão e vê-lo crescer. Dominar sua mente,
corpo e alma até que cada molécula de sua pessoa fosse impressa com meu
nome.

Não tinha certeza de quando isso aconteceu, quando caí de um protetor


familiar para o papel mais perigoso de amante proibido, mas poderia ter
sido na noite em que ela me espionou me masturbando quando ela tinha
dezesseis anos. Foi como se uma sacudida mudasse em meu cérebro
bestial, e de repente ela era uma mulher, cheia de curvas e sensual com
intenções sexuais voltadas para mim.

Aprimorei meu código moral contra a corrupção da influência


gananciosa do meu pai e contra os bandidos que eu havia derrubado por
pequenos crimes que levaram a consequências desprezíveis, mas ainda não
era forte o suficiente para enfrentar o fascínio de uma adolescente Harleigh
Rose com todo aquele cabelo de mechas.
Pensei naquele cabelo agora, enquanto ele secava sobre meu travesseiro,
como o sentia entre os meus dedos e o penteava enquanto ela dormia, e
esperava como o inferno que ela pudesse me perdoar por invadir a carga
de seu clube esta noite.

Grease ergueu o punho na frente do nosso comboio e saiu pela saída 78


para esperar atrás dos arbustos esparsos que The Fallen passassem. Era um
bom lugar para emboscá-los, nossas motos escondidas, esse trecho da
rodovia 99 cheio de linhas íngremes que significavam que a gangue rival
não teria tempo de reagir e se afastar quando descêssemos sobre eles.

Ainda assim, a intuição do meu policial estava arranhando minha nuca,


insistente e irritante. Escaneei nossos arredores quando saí da minha moto
e silenciosamente puxei-a para a vegetação ao lado da estrada com os
outros. Era uma noite parcialmente nublada, o cinzento claro e escuro
sobre os enormes penhascos em nossas costas e a extensão do oceano
metálico com um brilho fraco do outro lado do asfalto. Luz perfeita para
esconder coisas escuras e perigosas.

— Vou pegar esses filhos da puta, porra, — disse Mutt à minha


esquerda, sua perna saltando com energia inquieta, seus olhos
escorregadios como um derramamento de óleo ao luar, cheio de
insanidade. — Vou provar o sangue deles.

Já tinha o suficiente sobre Mutt para encarcerá-lo pelo resto da vida. Ele
era um doente, sem se importar muito com sutileza, e o vi espancar um
homem até a morte no fundo de um bar uma noite no outono passado.
Ninguém no clube relatou o incidente ou denunciou o motoqueiro quando
a polícia finalmente apareceu. Berserkers eram uma ameaça bem conhecida
de Vancouver, ninguém falava contra eles, a menos que quisessem morrer.

Claro, testemunhei o espancamento, como Mutt perdeu a cabeça com


um homem porque ele acidentalmente esbarrou nele e derramou um pouco
de sua cerveja, como Mutt então usou a caneca pesada para bater na cabeça
do homem até ele cair no chão e depois passou a chutá-lo até que seu baço
rompeu e ele morreu de hemorragia interna. Disse ao meu oficial sênior na
força-tarefa conjunta, embora também estivesse usando meu dispositivo de
gravação na minha virilha, e ele disse a seu superior na RCMP.

Não fizemos nada.

Era a parte mais difícil do policiamento, a ideia de que uma parte não
era um substituto digno para o todo. Se começássemos a escolher
motoqueiros individualmente por suas transgressões, isso alertaria o MC
de uma presença policial maior em suas vidas e tornaria quase impossível
chegar perto o suficiente para destruir o clube inteiro. O objetivo era a
besta inteira, não apenas cortar uma de suas muitas cabeças.

Então, esperamos.

Fui o primeiro oficial da história de British Columbia a se tornar um


membro totalmente remendado de um MC fora da lei, apesar de vários
esforços ao longo dos anos e a RCMP não desperdiçaria essa oportunidade.

Três anos, dezenas de transgressões em minha alma pelo bem maior e


incontáveis noites solitárias, voltando para uma casa que abrigava meu
cachorro e nada mais. Era uma vida sem amigos de verdade, com apenas
noites ocasionais e arriscadas passadas num hotel com Diana, e conversas
telefônicas com um pai que odiava e uma mãe que estava cada vez mais
ausente por causa de sua demência.

Tudo pelo bem maior.

Era uma frase que repetia para mim mesmo todos os dias, às vezes,
várias vezes ao dia.

Estava fazendo a coisa certa.

Mas eu estava cansado da porra da minha alma e ter Harleigh Rose de


repente em minha vida brilhando como um cometa no meu universo
escuro, a dúvida rastejante de que eu não estava vivendo a vida que queria
viver voltou correndo.

Eu queria ser livre.

O barulho estrondoso de motocicletas rolou sobre o ar quente da noite.

— Protejam a carga, — Grease nos lembrou. — Mutt, Roper, leve-a de


volta montanha abaixo, eu e Hendrix seguiremos. Wrath e Lion limpam a
porcaria e certificam-se que não nos seguem.

Ou seja, Wrath e eu devíamos matar os irmãos The Fallen e nos livrar de


seus corpos.

Esta foi a primeira vez que o Sargento de Armas me colocou no serviço


de limpeza. Acredite ou não, era uma promoção. Dizia que ele confiava em
mim o suficiente para fazer o sujo, fazê-lo bem e em silêncio.

Eu faria isso, odiaria e relataria ao meu supervisor.


Ainda não seria suficiente para derrubá-los. Para isso, precisávamos de
algo maior, contas ou livros contábeis ou, idealmente, apreender uma carga
de armas.

As motos se aproximavam. Podia sentir o gosto da adrenalina


escapando dos corpos dos homens no ar e meu coração batia mais forte.

— Comigo, — Wrath murmurou do canto da boca da minha direita e


então as motos estavam contornando a curva e Grease chamou: — Vão.

Nós fomos.

Era um homem auditivo, a música era uma linguagem que eu entendia


melhor do que as palavras faladas, então a luta aconteceu para mim com
uma série de eventos cacofônicos.

The Fallen deitaram suas motos, uma expressão eufemística de


motoqueiro que significa a derrapagem a uma parada dolorosa achatada ao
asfalto. Havia as faíscas e os silvos de metal no concreto, o grito áspero dos
homens quando sua pele exposta ralada como queijo contra o asfalto e
depois gritos de advertência quando perceberam que estávamos sobre eles.

Wrath e eu nos aproximamos do homem mais distante de nós,


esgueirando-nos sobre ele de cada lado de modo que, quando ele saltou de
sua moto, já estávamos nele.

Era King.

Olhamos um para o outro por um longo segundo que pareceu durar


uma eternidade.
Ele cresceu nos três anos e meio que estive longe de Entrance,
preencheu seu corpo alto para que fosse grosso, mas magro com força sob
seu colete. Meus olhos se fixaram no remendo sobre seu peito esquerdo,
“Prospecto”.

Queria fechar os olhos e observar um momento de silêncio pelo garoto


bom e inteligente que conheci e ajudei a criar. King não deveria se juntar ao
clube, ele deveria se juntar aos Médicos Sem Fronteiras, liderar uma
coligação nas Nações Unidas ou fundar uma empresa de fundos de
investimentos de bilhões de dólares. Mais do que Harleigh Rose,
desempenhei um papel em influenciar King quando criança, cultivando a
bondade, a moralidade nele até que ele era mais cavaleiro branco do que
saqueador negro, mais eu do que Zeus.

Isso, obviamente, não era mais verdade.

Foi Wrath que quebrou o impasse com um punho carnudo ligado ao


maxilar de King. O garoto foi cambaleando para trás, apoiou-se em seu
calcanhar e lembrou de que estava numa emboscada. Ele se lançou em
Wrath.

Precisava entrar na briga, usar o sangue dos The Fallen nas minhas
juntas para que Grease e Reaper vissem mais tarde, como isso me ungia
irrevogavelmente como um deles.

Mas, foda-se, este era King.

Ele era o garoto que eu alimentei com Cinnamon Toast Crunch quase
todas as manhãs por quase um ano, que me ajudou a transformar meu
Mustang Fastback numa beleza brilhante que eu tinha orgulho de montar,
que sentou comigo à mesa na minha casa na cozinha da mãe fazendo lição
de casa por horas durante a semana, mesmo depois que ele voltou a morar
com Zeus.

Isso era, em muitos aspectos, apenas sangue, meu irmão.

Olhei em volta procurando outra pessoa para agarrar quando vi um


flash de cabelo claro pegar na luz do luar espiando por entre as nuvens.

Um corpo magro, vestido de preto, estava se movendo através da


calamidade até o último motoqueiro deitado metade na vegetação ao lado
da estrada, agachando-se ao lado dele e remexendo nos alforjes cheios de
maconha de primeira qualidade.

Harleigh fodida Rose.

— Foda-me, — amaldiçoei enquanto ia me abaixando e tecendo através


das brigas acontecendo. Os Berserkers estavam jogando com os quatro
motoqueiros Fallen, se eles estivessem seriamente em perigo de perder a
mão superior, sabia que as facas e armas sairiam.

Escorreguei-me de joelhos ao lado dela e assobiei: — Saia daqui agora


mesmo, porra.

Ela mostrou-me os dentes, habilmente desafivelando os sacos e


colocando um depois o outro debaixo dos braços. — São três motos
carregadas com coisas. Eles provavelmente nem viram esta. Eles vão
pensar que eles têm a mercadoria, mas estou salvando a meu clube a porra
de milhares de dólares fazendo isso.
— Você também está arriscando sua vida, — rosnei, olhando por cima
do ombro para ver Wrath desferir um golpe punitivo na têmpora de King
que o nocauteou antes mesmo de atingir o chão.

Os outros membros estavam igualmente terminando suas lutas e podia


ver Hendrix fazendo um trabalho rápido para pegar os outros sacos a
poucos metros de distância.

— Você acha que eu poderia ficar sentada enquanto sabia que minha
família seria atacada e você ser morto, — ela fervia quando finalmente
terminou sua tarefa e começou a deslizar em sua barriga mais
profundamente no mato.

— Fique abaixado, filho da puta, — Grease gritou, e um tiro ecoou pelas


montanhas.

Porra.

Afastei-me de Harleigh Rose e retornei para Wrath. Ele se virou para


mim com uma sobrancelha levantada, mas por outro lado não disse nada.
Caminhamos juntos até Grease, que estava ao lado de um enorme homem
loiro que parecia um Viking, juro por Deus. Sangue derramado em seu
intestino, acumulando-se sob ele.

Precisava que os Berserkers saíssem de lá para poder chamar a porra de


uma ambulância.

— Pegue a merda e vamos nos mover, — ordenou Grease, dando um


chute no ferimento do motoqueiro caído e girando nos calcanhares para
voltar para sua moto.
Sirenes da polícia soavam ao longe, chegando felizmente de Entrance
em vez de Vancouver, para que os Berserkers pudessem descer a montanha
sem serem observados.

— Limpem isso! — Grease gritou sobre o barulho do motor acelerando


quando ele e os outros decolaram.

Wrath e eu permanecemos de braços cruzados, ombro a ombro como


sentinelas.

Assim que o grupo desapareceu na curva, nós nos movemos.

Agachei-me para o cara com o ferimento de bala e dei um tapa em seu


rosto para trazê-lo de volta. — Ei, ei, preciso que você coloque pressão
sobre esta ferida.

— Foda-se, — ele disse num sussurro tenso de dor. — Foda-se, seu


traidor de merda.

— Cale a boca e faça pressão aqui, — disse, usando sua própria mão
para conter o fluxo de sangue. — Os policiais estão chegando e vão levá-lo
ao hospital.

Ele piscou para mim, respirou fundo e depois lançou um punhado de


cuspe no meu rosto. — Foda-se.

Esfreguei a saliva grossa da minha bochecha e o deixei para verificar


King.

Wrath estava ajudando-o quando corri.


— Obrigado, cara, — King resmungou, balançando a cabeça para
clarear as ideias. — Você tinha que me bater tão forte.

O gigante encolheu os ombros. — Tinha que parecer adequado.

— Sim, bem, não acho que alguém vai precisar adivinhar pelo jeito que
você me bateu. Jesus, terei dor de cabeça por uma semana depois disso.
Cress não ficará feliz com meu olho roxo.

— Que porra está acontecendo aqui? — perguntei, a situação estava tão


fora do meu reino de compreensão que eu não poderia fazer qualquer
sentido.

King sorriu para mim e me bateu nas costas. — Bom te ver, cara. Tenho
que dizer, gosto mais do couro do que aquele visual de caubói canadense
que você geralmente usa.

— Mas, que porra? — repeti.

King jogou a cabeça para trás e riu como se estivéssemos na minha casa
em Entrance atirando na merda da minha garagem, em vez de na beira de
uma estrada cheia de motos e corpos. — Sim, aposto que está pensando
que porra é essa agora, mas não temos tempo para te dar uma dica. Tenho
que ver se Axe-Man vai se safar e vocês dois precisam dar o fora daqui.

Wrath grunhiu seu acordo e se afastou para recuperar sua moto.

King fez menção de se afastar, então parou ombro a ombro comigo


antes de passar por mim e olhar fixamente. Seus olhos estavam pálidos
mesmo na escuridão e foram direto para o centro da confusão e do caos em
minha alma.
— É bom te ver, Danny— ele murmurou baixinho. — Fique seguro.

— Lion, mexa-se, — gritou Wrath quando King se afastou e as sirenes


pareciam estar virando a curva.

Comecei a me mexer, minha cabeça girando absurdamente quando tirei


minha moto do mato e segui Wrath na escuridão de volta a Vancouver.

Apenas, Wrath não nos levou de volta para a sede do clube quando
entrou nos limites da cidade. Primeiro, ele dirigiu para as entranhas sujas
da East Hastings Street e virou para uma fileira imunda de habitação social.
Encostei ao lado dele quando ele parou diante de uma casa pintada de
branco e descascada e tirei meu capacete.

Não o ataquei com perguntas ou raiva. Aprendi da maneira mais difícil


como policial que o silêncio era a melhor ferramenta para obter uma
confissão, então esperei.

Wrath tirou o capacete, seu olhar virou-se para a casa, o rosto suave de
uma maneira que reconheci ao ver King com Cress e Zeus com Lou.

Ele estava apaixonado pela pessoa que morava naquela casa.

— Seu nome é Kylie, — ele começou, sua voz mais rouca do que o
habitual. — Conheci-a quando ela tinha quinze anos e sua mãe tentou
convencer Reaper a pagar pensão de alimentos novamente, porra. Ele
bateu na mãe dela, jogou-a direto no chão na entrada do clube e depois foi
embora. Não sabia que ela tinha quinze anos, mas ao vê-la neste vestido
roxo com o cabelo uma confusão cheia desses pequenos cachos, bateu-me
no rabo tão certo como a mãe dela. Ajudei-a a levantar-se e levei as duas de
volta para casa. Fiquei enquanto Kylie me fazia um fodido chá, como se eu
bebesse, mas bebi.

Ele olhou para as mãos com muitas cicatrizes. — Não se importa com as
mães dos seus bebês, não se importa com os filhos. Há alguns meses, não
sei como, ele tomou conhecimento da Kylie e começou a empurrá-la para
ficar no clube. Mutt chegou a ela.

Assobiei, imaginando o dano que Mutt poderia ter feito a uma garota.

— Ela é uma mulher adulta agora, com 22 anos, mas ela é pequena.
Mutt a mandou para o hospital. Ele cortou a boca dela com um canivete
para que ele pudesse colocar seu pau lá.

Meu intestino rolou com a blasfêmia de mutilar uma mulher assim. —


Porra.

— Sim, levou tudo que eu tinha para não entrar na sede do clube numa
fúria de tiros, levando todos os malditos irmãos que pudesse. Eles estavam
lá naquela noite, você me entende? Eles viram Mutt levá-la para seu
quarto, ouviram-na gritar e chorar. Não fizeram merda nenhuma sobre isso
porque esta tripulação não defende a irmandade e a liberdade, ela
representa a supremacia masculina, violando e espancando mulheres até a
submissão, matando aqueles que se opõem a nós, mesmo que seja por uma
merda de cerveja derramada.

Ele parou, sua respiração rápida em seu peito. Uma luz acendeu e
apagou na casa silenciosa, acendeu e apagou novamente.

Um sinal.
— Ele me mataria se soubesse que ela era minha, — disse Wrath,
levantando uma mão para a casa, mesmo que eu não podia ver alguém
olhando para fora. — Me mataria e deixaria seus meninos matá-la, porque
seu senso de lealdade está abalado e ele gosta que provemos que vamos
para o inferno por ele.

— O que isso tem a ver com King, irmão? — perguntei calmamente,


usando o carinho que todos os irmãos no clube usam uns para os outros,
mas usando de uma maneira que mostrasse que eu estava com ele, que eu
o apoiava e tinha a sua tragédia.

— Kylie foi para a universidade com ele, eles fizeram amizade. Quando
a merda aconteceu, fui até King para comprar proteção para ela, mas ele
não queria dinheiro, ele só queria o mesmo para sua irmã. Caí naquele
trabalho, mas Cricket era meu primo e era complicado, mas agora estou
retificando isso agora, dando a ela a proteção de ser minha old lady.

Nem mesmo tentei conter a onda de alívio que inundou meu peito ao
ouvir que o relacionamento de Wrath e Rosie era um estratagema. A culpa
seguiu rapidamente como uma maré vermelha limpando tudo quando
pensei nos meus compromissos com Diana e Laken. Podia me livrar de
Diana, namorávamos há anos, mas não tínhamos uma centelha do que eu
tinha com Rosie. Na verdade, foi uma jogada de pau, mas decidi ligar para
ela naquela noite e acabar com isso por telefone. Ela merecia melhor, mas
Harleigh Rose também.

O único problema era terminar meu relacionamento com Laken quando


ela era crucial para a investigação. Tinha quase certeza absoluta que Reaper
só confiava em mim porque sua filha favorita confiava, e me livrar dessa
segurança, especialmente agora que Harleigh Rose estava envolvida no
MC, era um movimento perigoso que eu não podia arriscar.

— Ele sabe que sua irmã está envolvida com a polícia? — perguntei,
porque mesmo que ele amasse sua irmã, não conseguia ver o novo
prospecto, King Garro, gostando dessa ideia.

A boca de Wrath se estreitou. — Não, e na verdade, não sabia disso até


agora. Só pensei que vocês dois tinham uma história.

— Nós temos, — disse, dando uma chance a ele, assim como ele
apostou em mim. — E ela está.

— Certo, bem, acho que não quer que eu conte a King, tudo bem, isso é
problema dela e pode foder com meu show. King manteve sua parte em
nosso acordo. Kylie está em Entrance até esta semana porque minha garota
ama sua mãe e é aniversário dela. Ela voltará depois disso. Não posso
arriscar.

— Ela vai ficar lá com o King para sempre? — perguntei porque sabia
que a resposta era não.

Seu rosto endureceu e ele se virou para mim. — Eles me chamam de


Wrath porque sou um cara grande, forte o suficiente para esmagar ossos
entre os meus dedos e, quando despertado, sou uma fera vingativa, mas
eles deveriam me chamar de "Hound" porque sou inteligente o bastante
para ver merdas e saber merdas que os outros não veem. — Ele fez uma
pausa. — Como o fato de que Harleigh Rose ou o seu papai provavelmente
matou meu primo bastardo por bater nela muitas vezes. Ou que Reaper
mantém uma tranca de ferro em sua fonte na Autoridade Portuária, mas
ele tem uma cadela nova em sua cama com quem ele fala, para que as
oportunidades estejam prontas para ajudá-lo a derrubar esses filhos da
puta. Como o fato de que você é um policial de merda e eu sabia disso
apenas porque eu poderia porra sentir o cheiro em você.

Esfreguei a mão no rosto, cambaleando com a mudança repentina dos


acontecimentos, tentando descobrir como poderia fazer isso funcionar a
meu favor e me sentindo grato por ter decidido não usar uma escuta nessa
noite, caso contrário, os policiais enrolariam transformar o Wrath em
informante confidencial enquanto conversávamos.

— Por que você não foi à polícia? Por que você não me entregou?

— Primeiro, gostei de você, — ele deu de ombros. — Mesmo antes da


merda acontecer com Kylie, pensei em ir embora, desertando para outro
clube que representava o que eu queria, família e liberdade para viver sem
regras. The Fallen parecia se encaixar, fiz um acordo com King que, quando
chegasse a hora, seria bem-vindo lá se trabalhasse com eles para acabar
com o clube.

— Você está trabalhando com The Fallen, — repeti.

— Eles sabem que têm um infiltrado, não sabem quem é, só que estou
alimentando-os com informações sólidas. Não queria que esta merda se
espalhasse por isso apenas King sabe.
Levantei minhas sobrancelhas e soltei um assobio baixo. — Nem mesmo
Zeus Garro?

O sorriso de Wrath brilhou branco através de sua barba. — Ainda não.

— Porra, bem, por que me disse isso?

Wrath olhou de volta para a casa. — Nós dois temos garotas nessa
briga, acho que precisamos um do outro. — Ele olhou para mim e, pela
primeira vez nos três anos em que o conhecia, pude ver sua alma brilhando
em seus olhos, ampla e profunda também, aparentemente negra, mas cheia
de algo muito mais leve do que qualquer um lhe deu crédito. — Você está
comigo?

Eu não deveria estar.

Era meu trabalho levá-lo para a delegacia, configurá-lo adequadamente


como um informante confidencial, prometer obter proteção que sabia que
não seria dada à sua mulher e deixar que os superiores fizessem as
chamadas maiores.

Eu era apenas um soldado.

Mas, olhei nos olhos de Wrath Marsden e vi uma alma que eu podia
respeitar muito mais do que respeitava os burocratas com quem
trabalhava, o pai que me ensinou que a polícia estava elementarmente,
eternamente certa, e tomei outra de uma série de decisões em minha vida
que não eram moralmente boas, que me empurraram na direção de outro
tipo de irmandade que não aquela com os homens de azul.

Peguei a mão oferecida de Wrath na minha e bati-lhe nas costas.


Capítulo Quinze
Deixei a erva na porta da frente de King e Cress antes de voltar para
Entrance, a 50 km acima do limite de velocidade, para que pudesse bater os
irmãos de volta ao clube. Disse a Farrah e Reaper que ia tirar uma soneca
no quarto de Wrath enquanto esperava por ele voltar do trabalho, depois
pulei pela janela, saltei para o telhado da garagem e depois para grama
macia nos fundos. Meu carro ainda estava estacionado de forma
proeminente no jardim da frente do complexo, por isso foi uma coisa que
aprendi a ligar carros quando tinha doze anos e King estava entediado o
suficiente um dia para me ensinar. Carros mais novos eram uma dor por
causa dos sistemas de alarme e botões de partida automática, mas
encontrei um belo modelo antigo Aston Martin DB5 apenas estacionado
bonito numa calçada a alguns quarteirões de distância que fez o truque.

Estacionei-o no mesmo local que encontrei e não resisti a usar o batom


rosa que encontrei no banco do passageiro para apertar um beijo na janela
lateral e escrever um pequeno “xoxo, obrigada pela carona” embaixo.

Acabei de subir de volta pela janela e coloquei uma das camisetas de


Wrath, porque as minhas estavam cobertas de sujeira e seria melhor
cimentar minha história de cochilo de qualquer maneira, quando senti o
trovão de motos entrando na garagem.
Ainda assim, fiquei lá em cima.

Foi só quando o segundo rosnado menor soou do lado de fora, que


sabia que Danner e Wrath estavam de volta, que percebi o perigo de
Danner entrar.

Farrah ainda estava lá, e ela o conhecia. Claro, ela estava chapada e
obliterada, por foder qualquer coisa, toda vez que ele a visitava para
conversar com ela sobre como criar seus filhos direito, mas Danner não era
o tipo de homem que uma mulher poderia esquecer.

Pulei da cama e desci correndo as escadas. Felizmente, Wrath e Danner


estavam subindo os degraus quando atravessei a porta e me lancei em
Wrath.

Instintivamente, ele me pegou e minhas pernas foram ao redor de sua


cintura, apesar de ele ser muito gigantesco para eu envolvê-las
completamente e ter pernas longas.

Mergulhei meu rosto em seu ombro para que qualquer um dos


espectadores pensasse que eu estava dando um abraço carinhoso no meu
homem. Era difícil avisá-lo na frente de Wrath, mas achei que sabia o
suficiente sobre seus segredos para chantageá-lo se ele nos incomodasse
sobre isso.

— Farrah está lá dentro, — sussurrei para Danner, que imediatamente


fixou os olhos furiosos em mim.

Imaginei que não fui perdoada por me envolver na emboscada.

— Você não pode entrar. Farrah está lá dentro, — repeti.


A fúria esmaeceu e ganhou vida novamente, lembrando-me que ele
odiava minha mãe ainda mais do que eu.

— Preciso de você para levar minha mulher para casa,— disse Wrath
em voz alta para Danner. — Ela tem aula amanhã e estarei aqui por algum
tempo. Você entendeu?

— Sim, irmão, — Danner concordou facilmente, em seguida, olhou por


cima do meu ombro. — Você está bem com isso, Pres?

— Claro que a mãe da garota gostaria de passar mais tempo com ela.
Por que você não a deixa aqui enquanto terminamos nossos negócios? Não
vai demorar.

Foi formado como uma pergunta, mas não tínhamos escolha.

Meu coração estava batendo forte no meu peito, sobrecarregado pela


quantidade de excitação que tive naquele dia.

— Ela está cansada, Pres, — Danner tentou novamente.

Foi o movimento errado.

A raiva de Reaper açoitou o ar. — Não dou uma foda, não é, garoto?
Agora tragam suas bundas aqui e Harleigh Rose vá até sua mãe.

Nós marchamos obedientemente, Wrath me deixando ir para que eles


pudessem seguir Reaper até a “capela” uma sala em cada clube de
motoqueiros designada apenas para os membros remendados do clube,
onde eles realizavam suas reuniões.

Subi as escadas para encontrar Farrah.


Ela estava no quarto de Reaper, uma suíte máster na parte de trás da
casa, que estava coberta de pôsteres de garotas motoqueiras e cheia de
roupas sujas.

Minha mãe estava sentada no meio da cama, usando meias arrastão


preta e lingerie.

— Jesus, você realmente sai desse jeito? — perguntei, cobrindo meus


olhos contra a visão.

Ela riu. — Um conselho, Harleigh, é assim que se mantém um homem.

— Não preciso de sua ajuda com isso. Você pode, por favor, se cobrir?

Ela suspirou, mas ouvi o ruído quando ela saiu da cama. — Sim, ouvi
dizer que você manteve um homem por quatro anos. Impressionante, acho,
se você não tivesse deixado ele bater em você. Você nunca aprendeu nada
que tentei te ensinar.

Quando era pequena, e minha mãe estava sendo má ou bêbada e cruel,


criei um jogo para me distrair. Tentei pensar numa memória positiva e
combiná-la com uma música.

Pensei naquela manhã acordando na cama de Danner, em seus dedos


me prendendo aos armários e sua boca na minha boceta, seu pau na minha
boceta depois de tantos anos desejando exatamente isso.

Inventei uma música de um dos artistas favoritos de Cressida, “Can’t


Help Falling in Love” de Elvis.
A música começou a tocar suavemente na minha cabeça quando Farrah,
finalmente coberta por um robe preto de seda, continuou sua palestra.

— Você nunca deveria ter me abandonado, linda, teria te ensinado


como ser uma mulher. Em vez disso, você se tornou uma coisa rude de
motoqueiro, — ela acenou com a mão, pulseiras tilintando e pensei em
como queria arrancar aquelas pulseiras baratas e sufocá-la com elas.

— Oh, ouvi as lições que você ensinou, Farrah, — disse entre dentes. —
Ouvi aquela sobre não usar drogas que você me ensinou quando teve uma
overdose três vezes quando eu tinha dez anos. Ouvi aquela sobre ter
cuidado para não afastar um bom homem, o melhor homem por ser infiel
em todas as maneiras que a palavra significa. E acima de tudo, aprendi que
só porque você se acha uma boa pessoa, não significa que você é, porque
nada que você já fez foi bom ou honesto, e o fato de que você nem parece
entender isso torna tudo muito pior.

Farrah olhou para mim por um longo momento, seu rosto cruel e
impassível, antes de suspirar. — Você sempre foi dramática.

— Não sou dramática, estou certa, — assobiei.

Eu não queria estar lá depois da noite que tive, ver o King cair do soco
de Wrath, ver o Axe-Man levar um tiro no estômago por um homem que
eu desprezava enquanto estava deitada na terra sem fazer nada. Eu queria
ir para casa.

Não o meu apartamento, Cricket havia tirado a casa daquele lugar.


Não, queria subir na garupa da moto de Lion e ir com ele até sua
pequena casa, abrir a porta para cumprimentar um Hero feliz, aceitar o
castigo que Danner daria, provavelmente, pensando para mim no
momento e depois cair exausta na cama com ele.

Em vez disso, Elvis continuou sussurrando na minha cabeça e minha


mãe continuou falando.

— Você não entende isso porque era muito jovem, mas seu papai era
uma besta. Ele me ordenou como se eu fosse a porra de sua escrava e
depois tirou meus filhos de mim!

— Ele nos levou porque você era uma viciada em drogas, abusiva e
fracassada, — disse a ela categoricamente. — E não vejo você reclamando
de Jacob. Ele também tirou Honey de você.

— Sim, bem, o carma pegou o bastardo. Ele morreu de uma porra de


acidente de carro quando Honey tinha cinco anos e eu a tenho de volta.

— E olhe para ela agora! Ela é uma desistente do ensino médio, viciada
em drogas e estrela pornô.

— É apenas uma fase, — disse Farrah, recostando-se na cama como se


fosse a rainha da porra de Sheba. — Você claramente está passando por
uma agora também. Não se preocupe, você fica com sua mãe e vou te
ajudar do outro lado.

— Tanto Zeus quanto Jacob deixaram você por causa do seu vício em
drogas, quem disse que Reaper será diferente?
Deus, eu esperava que ele fizesse. Esperava que ele a mantivesse e a
enredasse em sua teia imunda, para que, quando ele caísse, ela também
caísse.

— Oh, baby, o velho Reaper e eu nos conhecemos há muito tempo, —


disse ela com uma risadinha infantil. — Ele está apaixonado por mim
desde que eu estava com seu papai. Ele faria qualquer coisa por mim... —
ela me lançou um olhar de olhos verdes. — Até matar por mim.

Trepidação cortou através de mim. — Quem você quer morto? Você


deve a um traficante ou algo assim.

— Venha se sentar com sua mãe, — ela me ordenou baixinho, batendo


na cama ao lado dela. — E vou te dizer.

Chegar perto dela era como se aninhar de boa vontade ao lado de uma
cascavel, mas havia um medo germinando em meu intestino e minha
intuição não me deixava desenterrar sem identificar a fonte.

Rastejei para a cama e cerrei os dentes quando ela deu um tapinha no


colo para que eu colocasse minha cabeça lá.

Eu fiz.

Sua mão hedionda e perfumada com pulseiras começou a acariciar


meus cabelos. — É realmente uma pena que você não tenha recebido de
mim o mesmo perfil loiro de seu irmão.

Meu corpo inteiro estava apertado, numa tentativa de ser uma rocha
forte contra sua lança e cinzel, mas, ainda assim, eles me desgastaram.
— Foco, mãe, quem você quer morto?

Ela cantarolou baixinho por alguns longos minutos, mas não a empurrei
novamente porque herdei meu lado selvagem dela e sabia o que acontecia
quando você empurra um animal feroz com muita força para um canto.

— Você sabia que seu papai arranjou uma nova esposa? — Ela
perguntou docemente.

Fiquei mais tensa, até o sangue nas minhas veias calcificou.

— O quê?

— Seu papai, ele conseguiu uma doce e jovem nova esposa. Reaper
disse que você não é próxima dele. Você sabia sobre ela?

Cada instinto do meu corpo gritava para mentir e fazê-lo melhor do que
já tinha feito antes. — Não, mãe. Não o vejo desde que me mudei de
Entrance para começar uma vida melhor.

— Minha garota, — ela murmurou, sua voz como açúcar, sua mão
gentil no meu cabelo. — Puxou a mãe.

Não.

Eu puxei meu pai.

Apenas a cria de Zeus pensaria em mentir na cara de sua mãe, ser


inteligente o suficiente para ver o veneno em seu açúcar e a energia
potencial enrolada em sua mão gentil.

— Você não esteve com o Pai há anos, — arrisquei com cuidado.


— Você sabia que ele foi para a prisão por aquela putinha? Seu papai
está doente, ele a ama desde que ela era uma criança.

Errado, minha mente berrou. Papai salvou Loulou da morte naquele dia
no estacionamento. Ele escolheu salvar a vida de uma garotinha e ir para a
prisão para se vingar em vez de fazer coisas como um covarde. Foi só mais
tarde, até que dezenas de cartas foram escritas, até que dezenas de
obstáculos foram superados e dez anos se passaram que eles se
encontraram como amantes.

Não havia absolutamente nada de doentio nisso.

— O que você vai conseguir para Reaper para fazer isso? — perguntei
baixinho, como se estivesse com pena da minha mãe, como se não me
importasse com a “putinha” do pai.

— Fizemos um acordo, ele e eu. Serei dele e darei a ele as informações


do irmão de Jacob no estaleiro, para que ele possa fazer mais negócios
através do Porto de Vancouver, e ele me manterá no conforto. — Ela fez
uma pausa porque eu aprendi a ser dramática com ela. — E ele vai ter um
de seus irmãos para matar aquela puta e seus bebês. Talvez, então, Zeus
entenda como é ter seus filhos tirados de você.
Capítulo Dezesseis
2011.

Harleigh Rose com 11, Danner com 20

Estava comendo Cinnamon Toast Crunch antes da escola numa terça-


feira, sozinha na grande cozinha estilo fazenda do Danner quando a
música começou. Era "Real Wild Child" de Iggy Pop, uma música que
descobri recentemente enquanto explorava discos com o Velho Sam e
Danner na Mega Music algumas semanas atrás. Era uma música ótima,
mas eu não sabia por que Danner estava tocando quando ele se preparava
para uma manhã de terça-feira.

Voltei para o meu cereal, sorvendo o leite picante e açucarado no fundo


da tigela, pensando que era melhor King tirar sua bunda da cama ou nos
atrasaríamos para a escola.

A música se aproximou e, nela, ouvi o toque familiar de uma guitarra


azul e o sotaque gutural da minha voz favorita no mundo.

Um momento depois, Danner desceu as escadas para a cozinha com sua


guitarra azul amarrada sobre o peito, passando por baixo de seus dedos,
sua boca sorrindo ao redor das palavras enquanto cantava. Atrás dele
estava Susan Danner segurando um bolo alto coberto de rosas rosa-fosco, o
topo estalando com brilhos e seu rosto doce com felicidade. Eles entraram
na sala e ficaram de cada lado da porta quando King desceu as escadas, ele
fez com uma explosão, pulando na cozinha e deslizando no linóleo de
joelhos até que ele estava bem ao lado da minha cadeira, seus dedos
tocando guitarra de ar, suas costas magras dobradas como uma de estrela
do rock.

Sentei lá, minha colher congelada no ar, leite pingando na mesa, minha
boca aberta e frouxa com choque.

A música terminou e, em uníssono, eles gritaram: — Feliz décimo


primeiro aniversário, Harleigh Rose!

Pisquei para eles e a colher caiu da minha mão na tigela com um


barulho.

King levantou-se do chão, franzindo a testa e se movendo para o meu


lado enquanto Susan caminhava para frente para colocar o bolo na minha
frente.

— Apague as velas, amor, — ela me encorajou com seu sorriso largo e


sincero.

Olhei para King, engolindo o caroço na minha garganta, tentando


empurrá-lo de volta para o buraco escuro da minha barriga, onde estava
adormecido desde que meu Papai foi para a prisão, para que eu pudesse
falar, mas não consegui movê-lo.
King colocou uma mão reconfortante no meu ombro. Ele tinha treze
anos, era alto e tão desajeitado que apenas sua extrema beleza o fazia
parecer qualquer além de bobo. Ele teve que se curvar para se aproximar
do meu ouvido, mas quando o fez, sussurrou: — Está tudo bem, H.R.,
mencionei que era seu aniversário e eles queriam comemorar. Este não é
nem mesmo o fim. Você pode faltar à escola e Danner vai passar o dia com
você. Então, esta noite, vamos ao Donovan comer um maldito bife!

— King, — Susan repreendeu suavemente, tentando quebrar seu hábito


de praguejar quase ao longo da vida, embora todos soubéssemos que era
inútil.

Meu irmão sorriu descaradamente para ela. — Se os famosos bifes do


Donovan não valem a pena ser amaldiçoados, não sei o que vale.

Danner riu com sua mãe, mas seus olhos estavam em mim, gentis e
avaliadores. Ele agachou-se na minha frente, antebraços nas coxas, o rosto
um pouco mais baixo que o meu sentado, mas perto o suficiente para
contar os cílios curtos e pontudos ao redor dos olhos.

Seus olhos eram minha parte favorita em seu rosto, mesmo que me
fizesse corar ao pensar nisso.

— É seu aniversário, rebelde Rose, — disse ele em sua voz melosa e


suave. — Precisamos comemorar.

Mordi meu lábio. — É que, bem, nós realmente não comemoramos


mais.
A raiva passou por seu rosto como um raio antes que ele pudesse
apertar sua mandíbula e fingir que não foi afetado. Aqueceu-me ver isso
em seu rosto, saber que ele se importava o suficiente comigo e King para
ficar com raiva por nós.

— Bem, na casa Danner, nós comemoramos. Harold já está no trabalho,


para que ele possa sair mais cedo e nos levar para a churrascaria. Mamãe
vai trabalhar, King vai para a escola, mas você, Rosie, passa o dia fazendo o
que quiser comigo até o jantar. Como isso soa?

Parecia o melhor presente que alguém já me deu, e quando eu tinha


cinco anos, Papai me deu meu primeiro par de botas de motoqueiro de
verdade que eram a bomba, então isso significava alguma coisa.

— Sério? — perguntei, olhando para Danner, tentando ter certeza de


que ele não estava brincando, mesmo que ele nunca tenha brincado. —
Qualquer coisa que eu quero?

— É isso aí, — disse ele com um sorriso. — Agora, primeiro você


precisa fazer um pedido, apagar as velas e todos nós vamos comer bolo no
café da manhã.

Olhei por cima do ombro para King e agarrei sua mão, mesmo sabendo
que isso me fazia parecer um bebê. — Você vai assoprá-las comigo? Não
quero fazer um desejo sem você.

O rosto de King, sempre tão aberto e expressivo, apareceu no meu


sorriso favorito, torto e bobo com amor indulgente. — Claro, H.R., vamos
fazer isso.
Susan deu a volta na mesa para tirar uma foto nossa enquanto
inclinávamos nossas cabeças para soprar. Respirei fundo, pensei no meu
desejo, entrei em pânico e cegamente estendi a minha mão sobressalente
para procurar a de Danner. Ele pegou meus dedos exploradores e os
segurou firme.

Um segundo depois, King e eu fizemos o nosso desejo.

O Velho Sam e sua esposa Millie estavam esperando por nós quando
aparecemos depois do bolo na Mega Music. Assim que abrimos a porta, o
Velho Sam começou a tocar a música de "feliz aniversário" em seu saxofone
velho e brilhante e sua esposa começou a cantar. Millie foi backing vocal de
estrelas como Aretha Franklin e Whitney Houston, então eu disse a mim
mesma que era natural que a beleza de sua voz cantando aquela música
para mim fez meu nariz coçar de lágrimas.

Passamos quatro horas lá.

O Velho Sam fechou a loja e colocou disco após disco para dançarmos
numa pequena seção nos fundos da loja perto do toca-discos que eu
sempre usava. Millie e Velho Sam adoravam dançar swing e ensinaram a
Danner e eu alguns de seus movimentos mais legais. Lembrei-me de
balançar sobre os antebraços de Danner, meu cabelo como uma corrente de
ouro enquanto eu girava um círculo completo e pousava com seus braços
ao meu redor. Quando estávamos sem fôlego demais para continuar, o
Velho Sam colocou alguns discos lentos, alguns de Bob Dylan e Leonard
Cohen, músicas que você podia inclinar a cabeça para trás, fechar os olhos
e realmente ouvir. Finalmente, pouco antes do almoço, nós os deixamos,
mas não sem uma pilha de discos talentosos debaixo do meu braço.

— Se divertindo? — Danner perguntou com um sorriso brilhante


enquanto segurava a porta do seu veículo de inverno, uma enorme e nova
caminhonete Dodge RAM 1500 branca que eu basicamente tinha que
escalar para entrar.

— Hum, sim, — disse, revirando os olhos feliz. — Este é o melhor dia de


sempre.

Disse sem pensar sobre isso, mas quando Danner contornou o carro
para entrar no banco do motorista, a traição de minhas palavras me atingiu
como uma bala no coração.

Não era o melhor dia de sempre. Não poderia ser. Não com meu pai na
prisão, não quando eu não seria capaz de vê-lo.

Ele me escreveria uma carta. Sabia que estaria no Danner quando


voltasse para casa de minhas aventuras, um envelope grosso cheio de
papel fino ponderado com palavras intensas e preciosas. Ele escrevia muito
para King e eu. Algumas vezes por semana, pelo menos, e elas nunca se
repetiam mesmo sabendo que não havia muito o que fazer na prisão. Suas
cartas eram sempre cheias de perguntas sobre nossas vidas, com histórias
que ele compartilhava da família antes de ser preso, das coisas selvagens
que faríamos quando ele saísse.

Elas não ajudaram em nada com a falta dele, aquela dor fantasma que
sentia em meu coração como se estivesse faltando uma peça vital, mas elas
me faziam sorrir.

Não sorri então, olhando pela janela quando Danner entrou no carro,
ligou-o de modo que “Snake Song” soprou como fumaça pelo espaço entre
nós e a Main Street começou a passar por fora da minha janela. Toquei
meus dedos no vidro frio e imaginei quando meu Pai veria algo novo
novamente.

— O que há, Rosie? — Danner perguntou, ajustando seu gorro marinho


de Entrance PD na cabeça.

Estava nevando, apenas uma leve poeira, mas era quase Natal e as ruas
estavam cobertas por isso, assim como Danner, com flocos de neve
derretendo nas pontas de seus longos cílios, nos ombros largos sob o casaco
pesado. Eu queria capturar um dos flocos de gelo em sua bochecha e trazê-
lo para minha boca.

Eu tinha onze anos, mas pequenos pensamentos como esse começaram


a cravar meus pensamentos, tornando a topografia da minha mente áspera
e perigosa, cheia de minas terrestres de desejo que eu não entendia
completamente.
Puxei meu próprio gorro, um menor, com caveira e ossos cruzados por
toda parte, para baixo sobre minhas orelhas frias e olhei para trás pela
janela.

— Nada.

Ele bufou. — Rosie, odeio ser o único a te dizer isso, mas você tem uma
personalidade que envenena ou ilumina uma atmosfera dependendo do
seu humor. No momento, o ar aqui tem gosto de arsênico, então acho que
há algo errado no seu lado do carro.

Suspirei, rolando minha cabeça para trás no banco como se ele estivesse
me irritando quando, realmente, amei o fato dele ter notado.

— Tudo bem, estou sentindo falta do meu pai, ok? Eu sei que tenho
onze anos e muito velha para ficar toda ranhosa com algo assim, mas é
verdade, então tudo bem?

— Ok, — ele concordou instantaneamente.

— Sim, como se você não precisasse fazer um grande negócio disso ou


qualquer coisa, — disse a ele.

— Certo.

— Estou falando sério, Danner, — disse, porque só o chamava de Lion


quando me sentia estranhamente vulnerável.

— Eu ouvi você, Harleigh Rose.

— Bom, — disse, olhando pela janela da frente quando saímos da Main


e o oceano se abriu na nossa frente, cinza-metálico na luz do inverno.
— Bom, — ele repetiu.

Lancei um olhar para ver se ele estava brincando, mas seus lábios
estavam firmes, cheios e planos.

Ficamos em silêncio depois disso, nossa lista de reprodução de Lion &


Rosie era o único som na caminhonete enquanto dirigíamos. Inclinei um
cotovelo no parapeito da janela do lado do passageiro e pensei sobre os
aniversários com meu pai antes dele ir para a prisão. Quando eu tinha
quatro anos, ele levou King e eu para Whistler e me ensinou a esquiar na
encosta do coelho. Quando eu tinha cinco anos, no ano em que ele me
comprou meu primeiro par de botas de combate, ele convidou o clube
inteiro para uma festa em minha homenagem com uma faixa que dizia
"Feliz Aniversário, Princesa" e tudo mais.

Eu ouvi vagamente Danner fazendo uma ligação no fundo das minhas


memórias, mas não queria ouvir ou conversar com ele. Parecia errado estar
com ele e aproveitar quando eu não podia compartilhar o dia com o Pai.

— Rosie, — Danner chamou meu nome depois de um tempo e me


ajustei para poder olhar para ele. — Tenho duas surpresas para você hoje e
não vou mentir, estou um pouco bravo comigo mesmo por não ter pensado
nisso primeiro, mas é o que é. Estamos aqui agora e depois vamos buscar
seu presente, ok?

Eu fiz uma careta para ele. — Não preciso de mais diversão!

Uma de suas grossas sobrancelhas castanho claro se levantou. —


Desculpe?
Suspirei de frustração. — Me faz sentir mal por estar me divertindo no
meu aniversário sem meu pai. Deus, eu disse para você não fazer um
grande alarido disso e agora estamos falando sobre isso novamente.

Danner mordeu a borda do lábio, tentando esconder um sorriso. —


Bem, acho que você não precisa mais se preocupar com isso.

Quando eu apenas continuei olhando para ele, ele ergueu o queixo para
fora da janela da frente e eu segui o gesto para ver a Ford Mountain
Correctional aparecendo à nossa frente.

Algo que estava germinando em meu peito por meses, que foi plantado
lá anos atrás por um adolescente quando ele me salvou de ver meu pai cair
num tiroteio, que foi regado e tratado desde então com atos após atos
generosos, entrou em erupção no solo desnutrido da minha alma e
desabrochou. Podia senti-lo desfraldado, vermelho, maduro e cheio de
pétalas rechonchudas curvadas em curvas femininas.

Foi o momento exato em que me apaixonei por Lion Danner.

Meus olhos brilharam com lágrimas reprimidas enquanto eu respirava


fundo para me controlar. Danner me deixou ter um momento,
estacionando o carro e dando a volta ao meu lado para abrir a porta como o
cavalheiro que ele era para uma garota de onze anos.

Pulei do carro para a neve esmagadora e segui meus novos e ternos


instintos, pegando sua mão na minha enluvada.
— Obrigada, Lion, — disse, olhando para suas mãos grandes, quentes
mesmo no ar frio, mapeadas com veias e cobertas com dedos longos e
grossos.

A mão dele apertou a minha, depois torceu para que nossas mãos
ficassem entrelaçadas. — Vamos lá, liguei antes e ele está esperando.

Danner

Harleigh Rose estava sentada numa mesa redonda na grande sala


aberta, conversando com seu pai e sorrindo tanto que pensei que dividiria
o rosto dela em dois. Ela não deveria tocá-lo, era proibido, mas ela
continuava esquecendo, colocando a mão no braço dele e depois olhando
para os oficiais de correção que lhe disseram para parar com isso.

Estava do lado de fora da sala numa área de visualização, porque era


apenas um visitante de cada vez. A distância era boa, deixou-me ver como
Harleigh Rose parecia muito melhor depois dos três meses que passou com
meus pais e comigo em comparação com o tempo dela com a mãe. Seu
cabelo limpo, tom rosado brilhante, ouro amarelo e marrom fluindo em
suas costas, suas roupas novas e intocadas. Ela ganhou o peso tão
necessário, mesmo sendo naturalmente longa e magra, e sua pele perdeu a
palidez.

Havia um calor no meu peito que parecia algo mais do que orgulho em
fazer uma boa ação. Estava investido nas crianças Garro. Pode-se até dizer
que eu os amava.

Meu celular tocou nos meus bolsos e eu sabia quem era antes mesmo de
responder.

— Pai.

— Lionel, por que diabos você está na penitenciária se reunindo com


aquele criminoso? — Ele exigiu. — Você insistiu em acolher aquelas
crianças, e eu entendo, esse tipo de vida não é para os mais baixos, muito
menos para as crianças, mas você tem que mantê-las longe dos pais! Seja
qual for a influência positiva que possamos ter sobre eles não assumirá de
outra forma.

Esfreguei minha mão no meu rosto e inclinei um ombro no vidro


enquanto via Harleigh Rose virar a cabeça com seu pai e rir-se do seu
ousado e impetuoso.

— Não vou mantê-la longe de seu pai, pai.

— Você sabe como são esses bandidos, Lionel. Você foi para a academia,
trabalhou com o Sgt. Renner e eu sei que você viu como essas gangues de
motoqueiros podem brutais.

Eu fui, e eu vi.
O clube em Vancouver, onde fiz meu treinamento policial, chamado
Berserkers MC, era um dos mais desprezíveis sindicatos do crime
organizado que já tive a infelicidade de estudar.

— Zeus Garro saltou na frente de uma bala para salvar Louise


Lafayette, — apontei. — Não é que o homem não tenha um coração ou um
ponto fraco óbvio por crianças.

— Você está ficando mole comigo? — Harold Danner disse calmamente.

Era quando ele ficava quieto que você tinha que ser cuidadoso.

— Não, — disse com firmeza.

— Derrubar The Fallen tem sido nossa missão familiar desde que seu
avô estava no cargo e, se eu não terminar o trabalho, será seu dever, — ele
lembrou novamente de algo que cresci ouvindo.

Meu avô fez algumas incursões, prendeu alguns dos irmãos na década
de 60 por posse de drogas com a intenção de distribuir e algumas
acusações de agressão física.

Meu pai não tinha feito nada a menos que você chame Zeus Garro
matando um homem por atirar em uma criança de um bom trabalho
policial e não apenas uma prisão óbvia, visto que ele fez isso no
estacionamento da Igreja Primeira Luz.

Eu estava na equipe do meu pai por seis meses naquele ponto e


algumas coisas estavam se tornando dolorosamente óbvias.

Harold era corrupto.


E não inconsequentemente.

Ele estava podre até o âmago, pútrido até a medula e movido pela
ganância a cada batida de seu coração egoísta.

Eu ainda era um novato e, mesmo sendo filho dele, ele ainda estava me
apalpando, até agora, eu tinha sido capaz de me manter fora de seu
“esquadrão de bandidos”, uma coleção de oficiais que ele confiava o
suficiente para incumbir com seu trabalho sujo.

Não sabia os detalhes desse trabalho sujo e realmente não queria saber,
mas tinha a sensação de que inevitavelmente chegaria a uma encruzilhada
onde teria que decidir que tipo de homem queria ser. Do meu pai ou do
meu.

— Escute, tenho que desligar, o tempo de Harleigh Rose com o pai


acabou e eu tenho que levá-la para obter seu presente, — disse, meus olhos
para a garota que acabara de se jogar nos braços de seu pai.

Um guarda avançou para separá-los e hesitou com a ferocidade da


carranca de Garro. Um momento depois, ela se soltou, virou-se para
enfrentar o guarda e mostrou-lhe o dedo do meio.

— Jesus, — murmurei baixinho enquanto ela se afastava, acenando para


o pai por cima do ombro de uma maneira legal que eu sabia que ela tinha
que ter aprendido com seus irmãos motoqueiros que era apenas um
movimento de seus dedos.

Desliguei o telefone sem ouvir o que meu pai estava dizendo e sorri
para ela quando o guarda a deixou entrar na área de espera comigo.
— Então? — perguntei.

O sorriso dela se alargou, lábios rosa brilhante e cheios sobre dentes


brancos e retos. — Melhor. Aniversário. De. Sempre!

— Você merece, então estou feliz, — disse a ela e, quando seu sorriso
desmoronou, sua boca se apertou e seus olhos arregalaram com o esforço
de não piscar e deixar a umidade acumular.

Deus, aquela vadia da Farrah fodeu com ela tão bem que era uma
maravilha que Harleigh Rose acreditasse que ela merecia alguma bondade.

— Papai quer falar com você, — ela me disse depois de respirar fundo
pelo nariz.

— O quê?

Ela revirou os olhos. — Ele não é assim tão assustador, você sabe. Claro,
ele tem o dobro do seu tamanho, mas honestamente, ele tem o dobro do
tamanho de qualquer pessoa, então você não deve se sentir mal por isso.

— Não me sinto mal sobre o meu tamanho, Rosie, — disse depois de


uma risada assustada. — Só me pergunto por que ele quer falar comigo.

— Ele disse —, ela limpou a garganta e afetou a voz de Garro, — “o


homem está cuidando da minha princesa, é melhor olhá-lo nos olhos
enquanto eu o ameaço, se algo acontecer com a minha garota. Quero ter
certeza de que vai ficar preso no cérebro dele”.

Eu ri novamente, apesar de mim mesmo. — Acho melhor eu ir falar


com ele então. Você vai esperar aqui e não se mover um centímetro?
Ela revirou os olhos. — Eu tenho que me mover para respirar e, tipo,
caminhar até aquele banco ali. Isso é legal?

— Pirralha, — disse a ela com carinho, bagunçando seu cabelo enquanto


me movia em direção à porta e esperava o guarda me permitir entrar.

Atravessar o espaço até Zeus Garro, que estava sentado com suas
poderosas coxas abertas, mãos enormes apoiadas na mesa e queixo erguido
como se ainda estivesse segurando o tribunal de motoqueiros da prisão, foi
uma das caminhadas mais longas da minha vida.

Quando cheguei à mesa, gesticulei para a cadeira na frente dele e


perguntei: — Posso?

— Corte limpo, policial novato com boas maneiras, — ele murmurou


em vez de responder. — Cuidando bem dos meus filhos.

Sentei de qualquer maneira. — Sim, Garro, meus pais e eu estamos


cuidando de seus filhos porque a província nos concedeu custódia
temporária enquanto você está na prisão. Não que minha decisão tenha
algo a ver com você, mas devia estar grato por não ter deixado o sistema
pegá-los ou eles seriam separados e colocados em qualquer lugar entre
aqui e Newfoundland.

— É por isso que você está fazendo isso, então vou te agradecer? Então,
vou pensar que te devo uma? — Ele perguntou num rosnado baixo.

— Estou fazendo isso porque estava lá naquele dia em que você levou
um tiro para salvar Louise Lafayette e, apesar do que fui criado para
pensar, não acho que você seja totalmente mau. Mais do que isso, conheci
Harleigh Rose naquele dia, eu a vi desmaiar com a força do seu grito
enquanto ela via você cair e as pessoas formam laços sobre algo assim. Nós
fizemos. Mantive-me em contato vagamente ao longo dos anos e depois a
vi há três meses roubando barras de chocolate apenas para se alimentar.
Alimentei as crianças e as levei para casa para ter outra conversa com sua
boceta de ex-mulher e King e Harleigh Rose a encontraram morrendo no
chão. O que um homem pode fazer quando se depara com uma situação
como essa, além acolhê-los?

Garro olhou para mim por um longo minuto com olhos da mesma cor e
cortado como uma lâmina. Havia tatuagens que corriam de seus pulsos
para cima sob as mangas arregaçadas de seu macacão laranja e uma
enorme cicatriz irregular na junção de sua garganta e ombro como se
alguém tivesse levado um machado nele.

Eles provavelmente fizeram.

Eu não sabia como era suposto sentarmos ali e ter um encontro de


mentes. Não tínhamos nada em comum, nenhuma história partilhada,
semelhanças no passado ou planos para o futuro.

No entanto, havia algo sobre a maneira como ele estava com sua filha,
tão obviamente radiante em vê-la, tão confortavelmente apaixonado, mais
como um pai suburbano típico do que um motoqueiro fora da lei. Algo
também no modo como ele se sentou ali, relaxado, mas enrolado, casual,
mas astuto, que me fez querer dar-lhe meu respeito, mesmo depois de anos
ouvindo que motoqueiros e Zeus Garro, acima de tudo, eram sujeira.
— Grande homem, talvez ele chame a polícia, certifique-se de que as
crianças sejam colocadas numa boa casa ou empurre para um parente
distante para acolhê-las. Bom homem, ele as deixa na casa da mãe e se
afasta, sentindo-se como se tivesse feito seu bom trabalho de samaritano
durante o dia, o mês ou a porra do ano. Um homem mau nunca repararia
que Harleigh Rose foge de um edifício ao som de tiros e correria atrás dela,
para não estar aqui sentado comigo agora.

Ele fez uma pausa, seus olhos perfurando-me até que ele pareceu
encontrar o ouro que procurava. — Nah, tenho a sensação de que, apesar
de você ser filho daquele filho da puta do Harold Danner, você é algo
completamente diferente do que qualquer um desses homens. Você tem
coração e moral como nunca vi, fazendo o que está fazendo com meus
filhos. Você quer meu agradecimento ou não, conseguiu.

— Não preciso disso, — concordei. — Mas estou feliz em aceitá-lo.

— As coisas vão mudar quando eu sair, — disse ele sobre o barulho das
correntes enquanto juntava as pontas dos dedos.

Dei de ombros. — Claro, eles vão morar com você, mas não vejo porque
não posso estar na vida deles.

— É o novato em você dizendo isso. Você sabe em algum lugar


profundo que esta não é a vida deles e não é a sua. Você não vai a prisões
para visitar condenados, você os coloca lá em primeiro lugar. Eles querem
vê-lo depois, ei, eu não vou impedi-los, porque Deus sabe que essas
crianças precisam de algo de bom e amoroso em suas vidas. Eu pretendo
dar a eles. Também pretendo criá-los como Garros, como motoqueiros, e
seu pessoal tem a porra de problema muito grande com isso.

Ele se moveu para frente para me encarar, seus olhos claros prateados
intensos. — No momento, você é o tipo de cara que salva crianças do outro
lado dos trilhos apenas porque elas precisam de ajuda, mesmo que não seja
da sua conta. Não significa que alguns anos mais tarde, fazendo mais
trabalho para o seu pai, você não muda. Não quero esse tipo de
intolerância em torno dos meus filhos, entendeu?

— Entendi, — cerrei os dentes, odiando que ele pensasse que isso era
mesmo uma possibilidade e odiando ainda mais que provavelmente era.

— Harold tem a porra de um grande e gordo alvo vermelho nas minhas


costas há anos, no clube por ainda mais tempo. Há uma chance de você
ficar amigo deles depois colocá-los numa posição desconfortável, talvez até
mesmo uma criminosa. Você quer isto?

— Foda-se não, — amaldiçoei. — Por que você acha que eu os tirei de


Farrah em primeiro lugar?

Garro levantou as mãos em um gesto de boa vontade. — Não estou


dizendo isso como seu futuro inimigo, Danner. Estou dizendo isso como
um homem que ama seus filhos mais do que a vida e ainda os coloco em
perigo, dando-lhes uma merda de mãe. Você entende de onde eu venho?

Foda-me, mas eu fiz.

Minha bússola moral não conseguia encontrar o verdadeiro norte ao


redor dos Garros, primeiro Harleigh Rose e King e agora até com Zeus. O
cara era inteligente, claramente amava seus filhos e era o tipo de homem
que salvava a vida de uma criança desconhecida arriscando a sua própria.

De maneiras estranhas e desconfortáveis, notei um tipo de paralelo


entre nós dois.

Ignorei isso.

— Escute, é o aniversário de Rosie e temos que pegar o presente dela


antes de pegarmos King na escola e irmos jantar, já acabamos? —
perguntei, já me levantando para sair.

Garro inclinou a cabeça para trás para manter contato visual comigo e
assentiu. — Rosie? Não acredito que minha princesa motoqueira deixa
você chamá-la assim.

— Disse a você que o tipo de coisa que passamos por você formam um
vínculo que nunca murcha.

— Sim, — disse Garro, coçando a barba enquanto olhava para longe,


com um pensamento que eu podia ver. — Sim, claro que sim.

Bati meus os nós dos dedos na mesa e girei nos calcanhares, deixando
para trás a incerteza que Zeus semeou em minha cabeça.
— Oh, meu Deus, oh, meu Deus, porra, — Harleigh Rose repetiu,
caindo de joelhos assim que o criador abriu o portão para o quintal, onde
os filhotes estavam brincando na neve. — Oh, meu Deus.

Deveria ter dito a ela para cuidar de sua boca, mas não o fiz. Ela estava
tendo um momento e não queria estragar tudo para ela.

— Lion, — ela gritou quando os filhotes perceberam que ela estava lá e


começaram a correr para ela. — Entre aqui, rápido!

— Pensei que você poderia escolher um, — disse a ela de onde me


inclinei contra uma árvore fora do recinto.

— Eu quero fazer isso, juntos, — disse ela num tom que não mediou
argumentos. — Agora, entre aqui.

O criador sorriu para mim quando balancei a cabeça e passei pelo


portão para o cercado.

— De joelhos, — ela ordenou novamente, acariciando a neve ao seu


lado quando o primeiro filhote de cachorro chegou e pulou em seus braços.

Com um suspiro enorme, caí de joelhos na neve fria e molhada.

Valeu a pena quando, dois segundos depois, um cachorrinho de ouro


polido colocou sua patinha no ar e bateu em mim.

— O que você quer, amiguinho? — perguntei, inclinando-me para olhar


em seus enormes olhos castanhos.

Ele pulou com um pequeno latido e plantou um curto beijo rápido na


minha bochecha.
Harleigh Rose riu ao meu lado quando o filhote fazia de novo.

— Ok, pequenino. — peguei seu corpo ridiculamente macio e o segurei


na frente do meu rosto para que ficássemos cara a cara. — Para onde você
está olhando?

Mais uma vez, Rosie riu ao meu lado, abandonando os quatro


cachorrinhos brincando sobre ela para se aproximar de mim e do que
estava em minhas mãos.

— Ele gosta de você, — observou ela, enquanto ele tentava beijar meu
rosto, sua língua lambendo uma milha por minuto, mesmo que ele estava
longe demais para fazer contato.

— Sim, acho que sim.

— Acho que devemos levá-lo, — disse ela pulando de repente para seus
pés para dizer ao criador. — Podemos levar este?

— Ele vai ser um cão policial, Rosie, você não acha que ele é mais um
amante do que um lutador? — perguntei quando o filhote rosnou e tentou
se lançar para frente em minhas mãos para que ele pudesse chegar até
mim.

— Ele já te ama, imagine o que fará por você se você estiver em perigo,
— disse ela com facilidade, como se não fosse de partir o coração que uma
criança de onze anos soubesse o suficiente para dizer isso.

Acenei para o criador. — Vamos levá-lo.


Foi depois do jantar no Donovan’'s Steak House, um jantar do qual meu
pai se recusou por causa da minha decisão anterior de levar Harleigh Rose
para ver Garro, depois que comemos mais bolo em casa e King deu à sua
irmã um iPod, um que eu o ajudei a escolher, mas ele comprou com
dinheiro misterioso que eu optei não perguntar.

Estava aconchegando Rosie na cama, mesmo que ela declarasse que era
velha demais para isso. Era o aniversário dela, no entanto, depois que
minha mãe terminou de falar baixinho com ela sobre o que as mulheres
falavam, peguei o novo cachorrinho e fui dar boa noite.

— Ele pode dormir comigo? — Ela perguntou imediatamente.

Eu ri. — Por enquanto, mas acho que é importante em seu treinamento


que ele durma comigo. Temos dois meses até que ele tenha idade suficiente
para o programa de dez semanas, então temos tempo.

— Foda-se, sim! — Ela gritou com uma pequena bomba de punho.

Deus, ela era uma criança bonita.

Sentei na beira da cama e soltei o cachorrinho. Ele correu


instantaneamente para a cama, tropeçou em uma das pernas dela e plantou
a cabeça em sua barriga.

Harleigh Rose riu alegremente, mais feliz do que eu já a vi.

Palavras não podiam descrever o quão quente isso me fazia sentir. King
ficou exatamente assim no jantar também, lambeu seu prato praticamente
limpo, sua risada uma adição frequente ao ambiente enquanto ele
encantava minha mãe e eu com seu senso de humor maduro além dos seus
anos.

Fiz isso por eles.

Foi, de longe, a melhor coisa que já fiz nos meus dezenove anos.

— Então, como você vai chamá-lo? — perguntei quando ela levantou o


cachorrinho e o colocou no peito para um aconchego.

— Posso nomeá-lo? — Ela perguntou, perplexa com a responsabilidade.

— Uh huh, acho que você não está entendendo que ele pode ser
tecnicamente meu cão policial, mas eu o peguei porque achei que você
também poderia usar um amigo.

Ela piscou para mim, a luz da lâmpada transformando seus olhos num
azul-turquesa profundo. — Acho que você é o melhor homem que já
conheci.

Foi a minha vez de piscar. — O quê?

Ela deu de ombros, subitamente envergonhada por sua confissão. — É


verdade. Não é como um elogio ou algo assim. Apenas isso.

Não sabia o que dizer para fazê-la se sentir menos estranha por dizer
isso ou eu menos constrangido por ouvir.

— Hero, — ela disse de repente, levantando o golden retriever para


poder virá-lo para me enfrentar. — Seu nome deve ser Hero.

— Sim?
— Sim, porque ele vai ser um cão policial e vai ser seu, então o nome
combina com ele duas vezes.

Deus, ela estava me matando.

— Três vezes mais, então. Ele fará parte de vocês e se alguém merece
um herói, é você — falei honestamente, incapaz de manter as palavras na
minha boca.

— Eu já tenho um, — disse ela, olhando para cima rapidamente antes


de olhar para Hero. — Mas, com a vida que vivo? Eu definitivamente
poderia usar dois.
Capítulo Dezessete
Deixei Farrah assim que pude, mas os irmãos ainda estavam na igreja,
então dirigi para casa de Danner sem ele e entrei usando o código da porta
e o outro do alarme que ele me mandou por mensagem no telefone
descartável.

Hero estava esperando na porta quando entrei, sua língua rosada


pendurada para fora de sua boca quando me deu um sorriso largo de
cachorro e depois se levantou nas patas traseiras para me dar beijos.
Deixei-o sair brevemente, muito nervosa para levá-lo para um passeio e,
então, vestida com uma de suas camisetas da RCMP, sentei-me na cama de
Danner com Hero e meu laptop para fazer algumas pesquisas sobre o
irmão de Jacob Yves.

Lembrava-me muito pouco de Jacob dos dois anos que ele morou na
casa de meu pai com minha mãe. Ele era um bom homem, levado pelas
artimanhas de Farrah até ela engravidar e era tarde demais para voltar
atrás. Lembrei-me dele fazendo panquecas para nós algumas manhãs,
quando a mãe estava desmaiada ou de ressaca na cama, como ele deixou
King sentar em seu colo uma vez em seu enorme caminhão de trabalho
para poder tocar a buzina. Farrah era apenas negligente em vez de cruel
quando estava por perto, mas, infelizmente, isso não era frequente porque
Jacob era um caminhoneiro de longa distância, então nossa vida não era tão
diferente com ele. Também não foi tão diferente quando Farrah
engravidou, porque ela apenas cortou as injeções e ainda bebia forte todo
fim de semana em suas festas.

Foi uma maravilha, realmente, que Honey só chegou com o


coraçãozinho no lado errado do peito, em vez de ter o cérebro danificado
ou morto.

Mesmo aos seis, disse à minha mãe que Honey era um nome estúpido
para dar a uma criança, mas ela insistiu que era doce. Ela não teve muita
escolha em nomear King ou eu, porque Zeus decidiu nossos nomes assim
que ele conheceu nossos gêneros, e acho que ela acreditava que dar a
“Honey” um nome tão borbulhante a ajudaria a ser uma garota
borbulhante.

Nascida filha dessa mulher, não havia nenhuma maneira de Honey


acabar assim, e era óbvio, dada sua situação atual, que ela não o fez. Senti
um breve lampejo de culpa apertar meu coração por não ter tentado
encontrá-la depois que Jacob a levou embora, mas até agora, sempre
assumi que ela ficou com ele e que estava melhor sem nós.

Pesquisei Jacob Yves na internet, encontrei seu obituário e depois


encontrei seu irmão "Grant". Digitei seu nome completo, encontrei sua
conta no Linked-In e descobri que ele era um agente de transporte do Porto
de Vancouver.

Ding, ding, ding!


Encontrei com sucesso a mais nova conexão de contrabando de drogas
de Reaper.

— Foda-se, sim! — disse, levantando minhas mãos no ar, rindo porque


era apropriado que "God’s Gonna Cut You Down" de Johnny Cash,
começasse a tocar no aparelho de som.

Hero soltou um grito suave de encorajamento e ofegou em meu rosto


quando o agarrei por suas orelhas macias e me inclinei para dizer: — Porra,
vamos acabar com eles, Hero. Você vem comigo?

Ele gemeu em resposta, o que me fez rir de novo.

— Por que diabos o alarme não está ligado?

Ofeguei, girando para enfrentar Danner, Hero se movendo para sentar


em meu colo e rosnar para seu mestre por me assustar. — Jesus, Danner,
são três horas da porra da manhã e tivemos um dia tenso, porra. Você não
poderia avisar uma garota de que estava lá um pouco mais gentilmente?

— Bom garoto, Hero, — disse ele ao cachorro, ignorando-me


completamente. — Agora, cama.

O golden retriever pulou da cama e trotou até sua almofada de pelúcia


no canto, depois se deitou com um gemido feliz.

A música mudou e, de repente, a banda Glass Animals estava tocando,


sua música cheia de batidas e enfumaçada enchendo o quarto.

Eu olhei para trás, para Danner para encontrá-lo de repente pairando


sobre o final da cama, sua testa franzida num emaranhado feroz, suas mãos
brancas contra a almofada enquanto ele se inclinava no meu rosto para
cortar: — Você conseguiu meu descontentamento hoje, Rosie. Você está
pronta para pagar as consequências por isso?

Minha respiração deixou meu corpo num sopro forte, meus mamilos se
contraíram em pontos doloridos com força suficiente para cortar diamantes
e minha boceta apertou.

Este era o sujo Dom Danner e ele queria me punir por minha
imprudência.

— Você vai me bater? — perguntei, tentando esconder o entusiasmo da


minha voz.

O sorriso de Danner foi uma longa e lenta curva de seus lábios. — Não.

— Por que não? — voltei.

— Você gosta muito, — ele falou, puxando a camiseta para revelar o


comprimento de seu torso musculoso de dar água na boca. — Não é um
castigo e depois da façanha que você fez, você precisa ser lembrada de
quem está no controle aqui.

Inclinei meu queixo e olhei para ele enquanto lambia a baba do canto da
minha boca. — Você não me controla, ninguém faz.

Ele se acalmou completamente, mas sua imobilidade não estava vazia.


Estava cheia de energia aproveitada, com a promessa de uma ação
explosiva.
Nunca imaginei que a quietude era sexy, mas foda-se, Lion Danner
seminu e posando como um predador prestes a me derrubar, era a coisa
mais sexy que já vi.

— Você está enganada, — ele murmurou, enganosamente suave.

— O que você vai fazer comigo? — Estava me contorcendo, mas não


pude evitar. Era como se eu tivesse comido um saco inteiro de pêssegos
felpudos e minha pele estava zumbindo de dentro para fora.

Sua carranca foi imediata, sobrancelhas fechando sobre os olhos que


brilhavam como jade molhado. — Quem está no comando aqui, Harleigh
Rose?

— Você, — ofeguei imediatamente.

Ele colocou a mão na cama em meu quadril e se inclinou em meu rosto


até que seus olhos fossem a única coisa que eu podia ver. — Você parece
confusa sobre isso. Você precisa de um lembrete?

Eu tremia, sim em meus lábios porque queria que ele me testasse e não
baixo na minha garganta pronto para ser gritado porque não queria
decepcioná-lo.

— Se você quiser me lembrar, — finalmente sussurrei.

Seus lindos olhos brilharam, e o bom Lion desapareceu.

— Ajoelhe-se, abra a boca e prepare-se para eu lhe dar meu pau, —


ordenou Dom Danner.
Estava de joelhos antes que meu cérebro racional pudesse entrar em
ação. Sinceramente, eu não queria. Estava cansada de pensar, de planejar e
conspirar para salvar minha família, para derrubar seus inimigos e me
salvar no processo. Não queria mais pensar, me preocupar ou mesmo
reclamar.

Só queria sentir.

Danner desabotoou seu jeans apenas o suficiente para puxar seu pau,
tão grosso que parecia impossível, coberto de veias tentadoras que eu
queria traçar com a minha língua.

— Você quer provar? — Ele praticamente ronronou, seduzindo-me com


o som.

— Sim, — sim, sim, sim, pensei num ciclo maníaco.

Minha boca já estava aberta, minha língua descansando no meu lábio


inferior, meus olhos olhando através dos meus cílios para o homem acima
de mim. O poder da minha submissão pulsou entre nós e acendeu um
brilho em seus olhos, estabelecendo algo entre nós.

Ele agarrou seu pau grande e puxou com força, de forma que uma
pérola de pré-sêmen brilhava na ponta. Uma de suas mãos encontrou a
parte de trás da minha cabeça, agarrando o cabelo para me segurar ainda,
para que ele pudesse se pintar nos meus lábios.

Minha boceta espasmou e me perguntei se era possível gozar sem


realmente ser estimulada.

— Toque sua boceta enquanto uso sua boca.


Deus, sim.

Minha mão desceu pela minha barriga e curvou-se através das minhas
dobras molhadas para encontrar meu clitóris. Joguei, mas fiz isso distraída,
todo o meu foco no meu homem diante de mim.

Ofeguei, minha boca aberta para Danner enfiar seu pau e ele o fez,
direto para o fundo da minha boca e depois com apenas uma breve
hesitação, o suficiente para me preparar, na minha garganta.

— É isso, — ele me encorajou, sua voz gutural. — Leve todo esse pau
grosso pela sua garganta.

Ele puxou, deixando-me circundar sua cabeça rechonchuda com minha


língua e lamber o delicioso pré-sêmen salgado antes de sua mão apertar
meu cabelo e ele me puxar para baixo novamente, desta vez sem parar até
meus lábios atingirem sua virilha levemente peluda.

Amei a dor disso, a luta para mantê-lo baixo e apertá-lo. Meus olhos
lacrimejaram, lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas e amei isso
também, porque ele me viu lutando e sabia que eu estava sendo uma boa
garota.

Fora, a língua girando como se eu estivesse lambendo uma casquinha


de sorvete, só que seu pau era infinitamente mais delicioso.

Dentro. Garganta abaixo mais suave agora, fodendo meu rosto com um
ritmo constante, minha mão em suas coxas não o empurrando, mas
arranhando-o, desesperada para ele se mover mais rápido, usar-me com
mais força.
No próximo impulso, uma de suas mãos pressionou com força na
minha garganta para que ele pudesse sentir o inchaço de seu pau lá e
gememos simultaneamente com a sensação.

— Olhe para mim.

Ele puxou o suficiente para que eu pudesse chupar sua ponta quando
inclinei minha cabeça para olhar em seu rosto severo e bonito. Ele parecia
um Deus em pé acima de mim, exigindo minha adoração,
maravilhosamente impressionado com a minha prostração.

Seu polegar tirou uma das minhas lágrimas e foi para sua boca para que
ele pudesse chupá-la. Tremi.

— Trabalhe mais duro e eu posso deixar você gozar hoje à noite.

A emoção do desafio queimou por mim como um raio. Meu corpo


zumbia e queimava com eletricidade, com o poder que ele me deu para
trabalhar com ele como eu queria. Eu trouxe a mão da minha boceta para o
seu eixo de aço e torci, puxando para cima em direção à minha boca de
sucção, minha língua contra a parte inferior sensível de sua cabeça, minha
outra mão em suas bolas, puxando suavemente para baixo.

Ele sibilou e o som era ouro puro.

Eu fodi seu pau com minha boca, destruindo sua reserva até que suas
mãos estivessem no meu cabelo, apertando e me puxando para frente e
para trás contra seus quadris empurrando. Minha boca fez sons obscenos
enquanto eu sorvia e babava sobre o comprimento grosso e cheio de veias
dele.
— Abra sua boca e mantenha-a bem aberta para mim, — ele ordenou de
repente, seu punho apertado ao redor de seu pau vermelho-escuro e
raivoso. — Mãos atrás das costas.

Movi minhas mãos e abri minha boca antes que eu pudesse racionalizar
conscientemente seu pedido.

— Vou usá-la para gozar, mas você trabalhou duro para ter uma
escolha. Você quer meu esperma em sua boca ou no seu lindo rosto e seios?
— Ele perguntou quando ele lentamente puxou o punho apertado sobre o
comprimento pulsante de si mesmo, torcendo o aperto sobre a cabeça de
uma maneira que fez suas pernas tremerem ligeiramente.

Minhas coxas internas estavam encharcadas até o joelho com a


umidade, uma pulsação separada no meu clitóris que batia ainda mais
rápido que meu coração sobrecarregado. Eu queria o seu pau de volta na
minha boca. Senti-me delirante com a perda dele, raivosa com o desejo de
prová-lo novamente, mas estava dividida por sua pergunta.

Queria seu esperma na minha língua, para saber que o tinha agradado
da maneira mais óbvia, tendo a evidência entre os meus lábios.

Mas eu queria isso em mim, queimando quente e molhado na minha


pele, porque eu era uma coisa selvagem e o animal em mim queria usar seu
cheiro, revelar sua propriedade.

Então, disse a única coisa que podia. — Quero que você goze onde
quiser.
Os olhos de Danner dilataram-se até que seus olhos eram piscinas
negras, revelando a escuridão que ele tentou manter escondida dentro dele.

Agora, ele não estava se escondendo.

Agora, ele era feito de iniquidade e construído para a tentação, um


pecador pronto para corromper seu último desejo.

Eu.

Ele me empurrou para baixo, então sentei na minha bunda com sua
mão ainda segurando a base do seu pau, ele se sentou em meus joelhos,
colocou a mão no meu cabelo e empurrou.

Repetidamente em minha boca aberta e faminta.

Meu corpo zumbia com poder cada vez que ele gemia, cada vez que
afundava seu pau em minha boca e eu sabia que estava lhe dando prazer.

— Boa garota do caralho, — ele gemeu, seu impulso errático, sua


respiração rápida em seu peito. — Agora fique quieta e pegue meu
esperma.

Não fechei os olhos quando ele recuou um pouco, sacudiu seu pau com
força e começou a gozar na minha boca. Seu rosto estava torturado, a boca
rosa aberta, olhos bem fechados, seu cabelo suado e dourado caindo em
seu rosto, tão lindo que eu não conseguia respirar. Seu abdômen apertado e
suado, uma gota de suor rolando por sua trilha de tesouro na base de seu
pau tenso enquanto ele trabalhava, bombeando sua semente sobre meus
lábios e bochechas, explodindo em minha língua.
O gosto dele era ambrosia, um presente do homem divino que eu
sempre amei.

Fechei meus olhos, lambi o resíduo dos meus lábios e cantarolei.


Quando olhei para Danner, seu rosto estava suave de satisfação, mas
quando ele falou, sua voz ainda era mecânica com propósito. — Pronta
para mais, Rosie?

Meu corpo inteiro estremeceu e sorri para ele. — Com você? Sempre.

Gritei quando ele rolou para fora da cama, bateu meu tornozelo para
me arrastar para mais perto e depois me levantou sobre seu ombro como se
eu fosse uma coisa pequena e não dez centímetros mais baixa que seu um
metro e noventa.

— Lion! — gritei através da minha risada quando ele deu um tapa na


minha bunda e nos levou para o banheiro. Ele me jogou no chuveiro e o
colocou no frio.

— Foda-se! — gritei para ele enquanto ele ria, com segurança fora do
spray.

Ele sorriu para mim e me bateu mais forte do que o spray frio que eu
nunca o tinha visto mais feliz. — Parecia que você precisava se refrescar.

Foi preciso ver isso escrito em seu rosto ousado e brilhante como um
grafite para me fazer perceber que era verdade para mim também. Podia
sentir a leveza do meu coração, quente e confortável no meu peito pela
primeira vez na minha vida, como se estivesse envolto em feltro.
— E você parece sujo, Danner, — disse com um sorriso radiante que o
fez piscar. Eu me inclinei para frente para agarrar seu pau flácido e forçá-lo
a nadar para a frente do spray. — Por que você não me deixa limpar você?

Mais tarde, depois que tomamos banho, depois que Danner me fez
montar seu rosto em três orgasmos, seus dedos na minha boceta e na
minha bunda, para que eu ser fodida sempre que empurrava meus
quadris, depois Hero pulou na cama, ele estava pressionado contra mim de
um lado e Danner do outro, Danner me tomou em seus braços e o colocou
para fora de mim.

— Preciso que você entenda algo para mim, — ele murmurou, sua voz
suave, mas seu tom firme de uma maneira que eu sabia que suas palavras
me machucariam. — Sei que você é uma coisa selvagem e foda-me, mas eu
amo isso em você. Não tenho nenhum desejo de domá-la em qualquer
lugar, exceto no quarto e mesmo lá, estou disposto a lutar por isso. Mas
preciso que você reconheça que toda vez que você se coloca em perigo, é
tempo de me juntar a você ou serei incapaz de chegar até você, apesar dos
meus melhores esforços. Se algo acontecer com você porque eu não estava
lá para protegê-la, você está me condenando a uma vida de incapacidade.
Não me refiro fisicamente, Rosie, o que quero dizer é que, se você morrer,
vou continuar respirando, mas não vou continuar vivendo porque a parte
mais bonita da minha vida teria deixado de existir.

Ele me apertou gentilmente enquanto eu me afundava na dobra de seu


pescoço, tentando me esconder da beleza e dor de suas palavras. Mas ele
não me deixou. Ele estava em todo lado, seu corpo envolto em mim, uma
parte de seu coração de leão entrelaçada com o meu, seu toque fantasma
em minha boceta. Não pude escapar do fato aterrorizante de que o que ele
disse era muito, muito verdadeiro.

— Se eu fizer isso com você, — continuou ele, sua mão passando pelo
meu cabelo, sua voz devastadoramente casual como se o que ele disse fosse
apenas óbvio. — Você também precisa saber, estou feliz em morrer por
você. Se isso é o que você precisa em algum lugar no fundo, saber que, pelo
menos, alguém em sua vida te ama mais do que qualquer outro, que eles se
sacrificariam, porra, sem piscar se houvesse pelo menos uma chance um
por cento maior de você sobreviver, então eu posso te dar isso. Continue
vivendo imprudentemente, continue se jogando em situações sem saber e
sem se importar totalmente se você vai sobreviver. Mas, como eu disse,
você precisa saber que eu me importo, muito. Eu me importo o suficiente
para morrer por isso.

Estava chorando de novo, pelo que parecia ser a décima segunda vez
nas últimas semanas, após anos de olhos secos.

Não era que eu não fosse amada, porque eu era. Minha família me
amava tão lindamente que, às vezes, eu sofria com carinho por eles, meu
coração estava tão sobrecarregado pelo peso do meu respeito por eles que
não batia direito.

Era que eu sabia como o amor pode ser lindo porque eu o sentia e via o
brilho romântico entre King e Cress, Papai e Loulou, até mesmo o velho
Buck e Maja, mas nunca tive isso para mim. E me matou admitir, até para
mim mesma, mas sob toda essa confiança espinhosa e atrevida, abriguei o
coração terno e ganancioso de um romântico.

E por anos esse coração ansiava por amor, não apenas de qualquer um,
mas dele, o homem que me segurava com força em seus braços fortes.
Parecia uma impossibilidade minha vida inteira até que ele voltou
explodindo em minha vida, sempre o herói, salvando-me de mim mesma
com Cricket, assim como ele me salvou de mim por toda a minha vida.

A realidade de ser dele me atingiu entre os olhos. Podia sentir o calor no


meu peito quando o amor dourado de Lion deslizou sobre as rachaduras
de tensão e saudade em meu coração de barro quebrado e o curou,
tornando-o muito mais bonito do que qualquer outro coração poderia ser
porque eu era a única no mundo com um amor tão brilhante, gentil e forte
como o dele.

— Você está comigo, Rosie? — Ele disse depois de longos minutos me


permitindo digerir.

Balancei a cabeça e a inclinei para que eu pudesse beijar sua garganta


forte, meus lábios selados ao seu pulso.
Ele me apertou suavemente novamente e confirmou: — Você vai ter
cuidado por mim?

Balancei a cabeça novamente, deslizando minhas pernas entre as dele


para que eu pudesse abraçar ainda mais perto. — Quero dizer, vou olhar
para os dois lados antes de atravessar a rua e não vou me meter no meio de
uma emboscada de novo, mas não posso prometer que não vou me meter
em alguns problemas. Tenho, ah, quase certeza de que é apenas da minha
natureza.

Ele riu na minha mão. — Sim, rebelde. Minha boa garota na cama e
minha garota má lá fora, não posso dizer que não amo isso.

— Bom, — sussurrei, porque por mais que eu desejasse ser boa como ele
durante toda a minha vida, eu sabia que era muito motoqueira, muito
Garro e muito eu para sempre fugir do perigo se isso significava que algo
importante estava em jogo.

— Bom. Agora, temos um monte de coisas para resolver de manhã,


então durma, Rosie. Estou com você.

Sim, ele estava comigo, porque ele era meu.

E de jeito nenhum no inferno que eu o deixaria ir.

Mas, mesmo com o pensamento passou pela minha mente, meu coração
me lembrou de outra dor, aquela que doía como a perda de um membro.

Estava feliz com Danner de uma maneira que nunca pensei que poderia
estar, mas não estava completa.
Como eu poderia quando não via minha família?

Cada vez que eles mandavam uma mensagem e eu os ignorava, cada


vez que eles ligavam e eu mandava direto para o correio de voz, apenas
para desesperadamente checar minutos depois por uma frase de suas
amadas vozes, sentia-me cada vez mais vazia.

Cuidadosamente, saí dos braços adormecidos de Danner apenas o


suficiente para pegar meu telefone em cima da mesa de cabeceira.

Eu tinha vinte e cinco chamadas perdidas e mais de trinta mensagens de


texto sem resposta

Cressida: Ok, me lembre porque eu amo tequila de novo? Saí com os


irmãos para comemorar o aniversário de Bat e agora é a manhã seguinte e
não pude contar nada do que aconteceu ontem à noite. A propósito,
sentimos sua falta.

Loulou: Seu pai está me deixando maluca, H.R. Sério, você vai ligar de
volta para ele parar de andar e abrir um buraco na nossa sala de estar? Não
quero que os bebês caiam quando chegarem.

P.S. Também sinto sua falta.

P.P.S. Já disse que queremos dar à menina o nome do meio Rose, em


homenagem à irmã mais velha?

King: Fui à Mega Music hoje. Atirei na merda com o Velho Sam. Disse
que não via você há um tempo e que está ficando cansativo, H.R., então eu
consertaria essa porra agora. Venha passar um domingo comigo como nos
velhos tempos. Iremos à Mega Music e passaremos pela antiga casa de
Danner para visitar Susan. Você sabe que ela deixou o velho Danner, certo?
Não me ignore, pirralha, ou vou arrastá-la sozinho montanha acima, porra.

Lila: Sinto sua falta, cadela. Sei que você provavelmente tem um bom
motivo para ficar longe, seja o que for. Mas, todos nós sentimos muito a sua
falta. Como vou planejar um casamento sem a minha cadela motoqueira de
honra?

Pai: deixei textos, mensagens de voz e fodidos e-mails, Harleigh Rose.


Não me faça mandar a porra de um pombo-correio, porque farei isso. Se eu
não tiver notícias suas nas próximas vinte e quatro malditas horas, vou
montar, pegar você e nunca mais deixar você sair de casa de novo.

Meus olhos estavam ardendo quando terminei de ler alguns dos muitos
textos e meu coração parecia fatalmente frágil, construído de cinzas, mal
sustentado pelo afeto e atenção constante de Danner.

Eu sabia que, sem ele, eu quebraria.

Minha mão encontrou o corpo de Danner no escuro, descansando na


pele quente e pulsante sobre sua tatuagem, bem sobre seu coração.

Eu me consolei com isso, depois mandei a única coisa que poderia


numa mensagem em massa.

Harleigh Rose: Preciso de mais tempo. Sinto sua falta também xxxx.
Capítulo Dezoito
2017.

Harleigh Rose com 17. Danner com 26.

O cara estúpido não entendia a fodida coisa e recuava, porra.

— Não, sou bom, cara, — disse a Rick pela quarta vez. — Basta ficar
com o material suave, sabe?

Eu não, sob quaisquer circunstâncias, uso drogas pesadas,


especialmente, não, a metanfetamina que Rick parecia, movido pela força
divina, a me empurrar. Ele era um cara bonito, um pouco jovem tendo
apenas a minha idade, um estudante adolescente da extravagante Entrance
Bay Academy, onde meu irmão estudou. Demasiado prepotente para a
garota motoqueira em mim, muito pesado para a garotinha em mim que se
lembrava do tom exato de azul que os lábios de sua mãe viraram em cada
uma das três vezes em que ela teve uma overdose.

— Oh, vamos lá, — ele choramingou, aproximando-se para me prender


contra a parede da cozinha. — Um pouco não vai te machucar.

— Não, — concordei com um olhar furioso. — Mas, vou machucá-lo se


você não recuar.
Ele gemeu, suas íris marrons eram molduras finas em torno de suas
pupilas dilatadas. — Porra, eu amo sua coragem. Como eu, um gosto do
lado selvagem.

— Tenho um namorado, bucko11, — eu o avisei, desejando pela


milionésima vez que Cricket se dignasse a se juntar a mim nessa estúpida
festa do ensino médio, ou que eu fosse inteligente o suficiente para ir com
ele à sua de motoqueiro. Mas era o início do meu último ano do ensino
médio, queria, pelo menos, tentar aproveitar enquanto podia.

— Ele não está aqui, está? — ele perguntou com um sorriso desleixado
antes de se aproximar.

Virei minha cabeça para que seus lábios molhados atingissem minha
bochecha e rosnei: — Avisei uma vez, vou avisá-lo duas vezes e não outra
vez, porra. Para trás. Fora.

— Tenho que ver se há algum doce sob esse ato, — ele murmurou para
si mesmo e depois me empurrou contra a parede com uma mão e enfiou a
outra direto nas minhas calças.

Estava bêbada. Embriagada com meia dúzia de doses de tequila,


algumas cervejas e alguma erva de merda. Mas, mesmo bêbada como um
gambá e cheirando a álcool, ainda era filha de Zeus Garro e sabia como
derrubar um homem.

Meu joelho bateu forte, direto em suas bolas desprotegidas e quando ele
se dobrou com uma exalação de dor, empurrei a palma da minha mão em

11 Um apelido genérico usado ao se referir a um amigo ou um idiota, dependendo do contexto e do tom de


voz.
seu nariz. O osso triturou como cascalho sob o impacto, mas não foi
suficiente para o meu senso de justiça fortalecido pelo álcool, então abri
meus dedos, apertei a ponte quebrada e me virei bruscamente até que seu
sangue jorrou de sua narina e cobriu minha mão com calor.

— Foda-se! — Ele distorceu com o sangue na boca. — Vá se foder!

Mantive a pressão de seu nariz, estabilizando seu torso dobrado com a


mão no ombro e me inclinei para sussurrar em seu ouvido. — Da próxima
vez que você tentar agredir uma garota depois que ela recusar, talvez
pense novamente.

Uma mão forte apertou meu ombro e eu olhei em volta bem a tempo de
ver um dos seus amigos enfiar a mão no meu peito.

— Porra, sai de cima dele, sua psicopata! — Ele gritou na minha cara
antes de me empurrar novamente contra a parede.

— Ele era o único que não queria me largar, porra, — rosnei para ele. —
E se você me tocar de novo, vou te dar um nariz quebrado para combinar.

O cara, mais alto que eu, mas não muito porque eu era alta, bufou e
estalou os nós dos dedos. — Ok, certo. Não me faça bater em uma garota.

— Você já fez isso, — Lila apontou, aparecendo ao meu lado porque


minha amiga sempre teve as minhas costas.

— Isso não é da sua conta, boceta, — ele cuspiu nela.

Foda-se isso.
Pulei para ele, travando minhas pernas em volta de sua cintura e puxei
seu cabelo.

Ninguém me intimidava, colocava a mão em mim, mas mais, ninguém


insultava Lila.

Podia ouvir sua batalha bêbada chorando atrás de mim e depois um


baque quando alguém caiu no chão.

O caos desceu, a festa transformou-se numa luta completa. Não era


totalmente surpreendente, já que éramos adolescentes viciados em drogas,
bêbados e hormônios, mas eu ainda estava emocionada com a anarquia de
amigos se virando uns contra os outros em sede de sangue contagiante.

Notei cocaína circulando por aí, a coca faz isso com as pessoas.

Não durou muito, talvez dez minutos, antes que as luzes vermelhas e
azuis passassem pelas janelas da frente e os policiais descessem.

Fui presa por agressão, Rick gritando que prestaria queixa quando um
oficial novato me algemou e me escoltou até a traseira de seu veículo
policial. Não era minha primeira vez usando algemas ou estando naquela
gaiola no banco de trás, e a luta valeu a pena para provar algo, então eu
realmente não me importei em passar a noite na prisão.

Teria um telefonema, faria isso e meu pai me tiraria de lá na manhã


seguinte depois de me fazer pagar a penitência, passando a noite numa cela
desconfortável. Era a sua ideia de justiça parental e eu tinha que admitir,
meio que entendia.
Só que não tive a chance de fazer o telefonema, porque quase assim que
eles me trancaram numa cela com o que parecia ser uma prostituta viciada
e um traficante de drogas de baixo escalão, Danner apareceu entre as
barras.

Não o via há três meses. Nós dois sabíamos porquê, mas ele não tinha
me explicado. Não conseguia parar de flertar descaradamente com ele, de
incitá-lo com insinuações sexuais e usar shorts cada vez mais curtos e tops
mais profundos para chamar sua atenção. Acho que nós dois sabíamos que,
às vezes, metia-me em problemas só para ele aparecer e passar tempo
comigo.

Era fácil culpar nossa distância pelo fato de que ele se envolveu nos
negócios de The Fallen quando a mulher de meu irmão, Cressida foi
sequestrada sob sua supervisão e sua foda resultou no aumento do ódio de
Zeus por ele e solidificou o crescente desdém de King. Mas, nós dois
sabíamos a verdade. Encontraríamos uma maneira de passar um tempo
juntos, mesmo que isso significasse a ira de nossa família, mesmo que esse
tempo fosse gasto de forma platônica porque eu era muito jovem para ele e
ele era bom demais para mim.

Ele parecia bem ali parado, usando um terno azul-marinho que se


ajustava perfeitamente ao seu corpo longo e magro e fazia seus olhos
verdes-jade brilharem como pedras preciosas. Seus braços estavam
cruzados, seu rosto vincado em linhas eloquentes de censura que enviaram
um formigamento estranhamente erótico pela escada da minha espinha
direto para a minha boceta.
Foda-se, mas nunca vi um homem tão sexy com raiva.

Ele não disse uma palavra quando um oficial uniformizado destrancou


as barras e as abriu para mim, e ele nem sequer olhou para mim enquanto
eu carregava meus pertences pessoais e o acompanhava até seu Mustang.

Foi só no carro quando estendi a mão para mexer em seu iPod e “Short
Change Hero” murmurou baixinho através do carro, que ele olhou para
mim pelo canto dos olhos enquanto saía do estacionamento.

— Sétima vez que você esteve lá nos últimos cinco anos.

Dei de ombros porque era verdade e não queria lhe dar mais
combustível para adicionar ao fogo que ele estava tentando colocar aos
meus pés.

— Os policiais chamam você de “a selvagem”, você sabe disso?

Dei de ombros novamente e coloquei meus pés no painel, lambi meu


polegar para esfregar um pouco de sujeira nas minhas botas de combate
bordadas com rosas. — Eles não estão errados.

— Você tem orgulho disso? Você está feliz em saber que esses oficiais e
sua família, seus amigos, as pessoas desta cidade, que você chama de lar,
todos a conhecem pelo nome e reputação como a princesa de The Fallen,
como “a selvagem” que está prevista para acabar no reformatório mais
cedo ou mais tarde?

Fiquei olhando suas mãos dele enquanto apertavam o volante, a poeira


do cabelo dourado e o delicioso mapa de veias escorrendo até seus pulsos
fortes. Queria dar um beijo em cada ponta do dedo calejada e traçar essas
veias com a minha língua num pedido físico de perdão.

Em vez disso, cerrei minhas mãos em punhos e deixei a raiva dominar a


dor.

— Você está decepcionado comigo de novo, Danner?

Um músculo em sua mandíbula saltou. — Ficarei desapontado com


você até o dia em que você puxar sua cabeça da bunda e perceber que há
poder em ser bom e gentil tanto quanto em ser mau e feroz. Não são os
espinhos que fazem uma rosa.

— É o que as protege, no entanto, — argumentei.

— É o contraste, a dualidade de duro e suave, perigoso e bonito que a


torna cobiçada, Rosie. Não sei quando você perdeu a paciência, mas a
garota que acabei de pegar da prisão que estava confortável em estar lá e
gostou do que isso dizia sobre ela... essa garota perdeu a noção de si
mesma.

Ficamos em silêncio depois disso, ouvindo a letra da música, ainda mais


comovente com a palestra de Danner.

Queria cuspir nele, reunir minhas forças para lançar um contra-ataque


que o deixaria arrasado. Queria vê-lo queimar de vergonha do jeito que eu
fiz. E eu poderia, poderia ter desenterrado a sepultura de segredos que eu
tinha sobre ele, o fato de que seu pai era um idiota corrupto que estava
lentamente forçando Danner em sua atração gravitacional, que ele era
muito covarde de merda para sequer pensar no que ele queria muito
menos ir atrás disso, que ele me amava de uma maneira que era mais do
que cavaleiro branco e donzela em perigo e mais Clyde com sua Bonnie.

Eu não fiz.

Porque, por mais que suas palavras me magoem, me machucaria ainda


mais vê-lo dilacerado pelas acusações. Havia também o fato de que eu
sabia que chegaria o dia em que ele teria que escolher, me abandonar por
uma vida de austeridade na retidão ou ficar mal para se juntar a mim
numa orgia pecaminosa. Não queria pressioná-lo a tomar essa decisão
agora, ou realmente nunca, porque, por mais que queira que ele me
escolhesse, eu sabia que ele nunca o faria.

Chegamos aos portões de madeira de sua propriedade, uma área


extensa que pertencia à família Danner há anos e que seu pai lhe dera de
presente, porque odiava a sujeira e a distância da cidade. Era uma casa
baixa no estilo rancho que quase lembrava um celeiro, as duas portas da
garagem e a da frente pareciam portas de celeiro, o revestimento de
madeira pintado de amarelo amanteigado e a varanda profunda
envolvente de branco com detalhes em espiral. Havia um celeiro vermelho
a cem metros atrás da casa, à esquerda, onde Danner mantinha seus dois
cavalos, Chief e Beauty, e uma piscina vazia que ele não teve tempo de
restaurar.

Não lhe servia tanto quanto servia.

Era uma casa de família e, apesar dos valentes esforços da comunidade


feminina de Entrance, Danner ainda era solteiro e tinha apenas 26 anos,
recém-saído da força de treinamento da RCMP e pronto para fazer seu
nome em sua cidade natal.

Era a casa de um xerife caubói, por isso adorei-a para ele.

Até o ajudei a decidir sobre alguns itens de mobília quando ele se


mudou logo depois que King e eu voltamos para casa com nosso pai
quando ele tinha vinte anos, e estive aqui inúmeras vezes desde então,
especialmente depois que me comportei mal ou me meti em problemas e
ele apareceu para me salvar.

Ele me colocou no quarto de hóspedes e fechou a porta antes que eu


pudesse bisbilhotar ou agradecer. Ambos eram ideias ruins por motivos
diferentes, mas sua raiva me fez sentir oca e errada, como se a mais leve
brisa me fizesse desabar sobre mim mesma.

Suspirei alto, esfregando a dor surda de uma ressaca que se aproximava


entre minhas têmporas e decidi que um banho provavelmente ajudaria.
Tirei minhas roupas, deixando-as espalhadas pelo quarto como se fosse
minha casa, porque, de certa forma, tendo passado tanto tempo aqui e
sentindo por Danner do jeito que eu sentia, era. Entrei nua no banheiro ao
lado e ordenei que o sistema de música tocasse "I Hate Myself For Loving
You", tão alto que as paredes reverberaram ao meu redor enquanto pisava
sob o spray.

Ensaboei meu corpo pensando em como as mãos de Danner eram


fortes, como seriam firmes ao apertar meus seios pequenos de pontas rosa,
os dedos abrasivos com calos de tocar guitarra. Meus mamilos enrijeceram
enquanto eu alisava minha mão na espuma na minha barriga sobre o
emaranhado de cabelo macio que eu mantinha sobre meu sexo e depois
desci ainda mais para o poço molhado em meu núcleo. Deslizei meus
dedos pelas minhas dobras sedosas, imaginando Danner de joelhos, seu
nariz no meu clitóris enquanto ele fodia minha boceta com sua língua, seus
dedos fortes o suficiente para machucar minha bunda.

Era muito ingênua para entender porque queria aquela borda da dor,
porque parecia certo que, mesmo de joelhos diante de mim, Danner estava
no controle, ditando meu prazer como um juiz cruel e insensível.

Só sabia que queria agradá-lo. Sabia que usava o desgosto dele como
uma blusa de pelos debaixo das minhas roupas, com comichão e coçando
até que seria lentamente enlouquecida o suficiente para implorar por
perdão da maneira que ele achasse adequado concedê-lo.

Secretamente, às vezes, quando ficava acordada de manhã depois de


fazer algo particularmente ruim com uma ressaca e arrependimentos
sombrios, eu me perguntava se não agia assim porque uma parte doente e
distorcida de mim realmente ansiava por sua censura.

Ele não era um cara carinhoso e aberto, mas quando ele franzia a testa
para mim, seu rosto todo transformado pela paixão, e me repreendia com
palavras duras naquele tom áspero, podia sentir o peso de sua intensidade
por mim como um manto de pele em volta dos meus ombros. Era uma
maneira pagã de me sentir reconhecida, mas fazia sentido dada a
selvageria brutal com que meu coração adolescente ansiava por ele.

Eu não cheguei ao clímax no chuveiro. Era tentador ter um orgasmo


quando ele estava tão perto, apenas algumas paredes finas de distância,
assim como era estranhamente deprimente entrar em sua casa, pensando
nele, sem suas mãos reais em mim.

Desliguei a música enquanto me esfregava com a toalha, depois peguei


a camiseta do PD de Entrance que Danner deixou para mim cima da
cômoda e deslizei sobre minha cabeça molhada.

Um som chamou minha atenção, apenas algo fraco como o uivo de uma
tempestade de inverno gemendo pela casa ou o gemido de uma árvore
esfregando o telhado com o vento.

Aproximei-me da parede das janelas e ouvi novamente.

Desta vez mais forte.

Outro gemido, outro sussurro e, agora, um lamento.

Avancei ao longo da parede que era perpendicular à minha cama e o


barulho ficou mais e mais perceptível até que bati na parede da cabeceira
da cama.

A mesma que este quarto dividia com o de Danner.

Minha mão voou para minha boca quando percebi o que estava
ouvindo.

Eu podia ouvi-lo através da parede.

Não o suficiente, nem perto o suficiente para entender os detalhes do


que ele estava fazendo, mas eu cresci com um irmão, um pai e uma série de
tios falsos, então já tinha ouvido isso antes.

Lion estava se masturbando.


Corri para o copo que Danner deixava na pia para segurar minha
escova de dente, atirei-a na bacia e subi na minha cama, o copo
pressionado na parede, minha orelha pressionada no copo.

Melhor.

Podia ouvi-lo agora, o leve thwap12, thwap, thwap de sua mão deslizando
sobre seu pau duro, a rajada dura sua respiração quando ele exalou e,
então, o som ainda mais baixo do pornô que ele estava assistindo.

— Espalhe-os, — a voz de um homem. — Abra-os bem e me mostre


essa boceta rosa.

Estremeci com a ordem daquela voz, com a forma como ela enviou uma
pulsação do meu cérebro pela minha espinha e direto entre as minhas
pernas, onde latejava, molhada e quente.

Houve um barulho agudo de carne batendo em carne e depois: — Você


gosta quando eu bato em sua boceta?

A mulher gemeu, longo e baixo. Eu a ecoei suavemente e arranquei


minha calcinha e deslizei um dedo pela umidade em meu núcleo.

— Conte-os, — ordenou o homem. — Você vai tomar cinco tapas e vai


me agradecer por eles. Se você me agradar, vou deixar você chupar meu
pau. Você gostaria disso?

— Sim, senhor, por favor, senhor. Vou chupar você tão bem.

Danner gemeu e murmurou: — Porra, sim, abra sua boca e me chupe.

12 Som de tapa, curto, alto e solto.


Minhas coxas tremeram quando afundei dois dedos na minha boceta e
os enrolei mais profundamente. Não podia acreditar que este era Danner
que eu estava ouvindo, que o policial cavalheiro poderia gozar com algo
tão malditamente sujo.

Eu amei isso pra caralho.

Ouvir com ele, o homem brincar com sua mulher, a maneira como ele a
ordenou em tons frios e comandantes que não continham argumentos e a
maneira como a mulher gozou, gritando enquanto ele a comia e
implorando por seu pau, sua língua e seu esperma em sua boca.

Também estava implorando, baixinho, implorando pelas mesmas coisas


de Danner.

Quando o clímax aconteceu na tela, desencadeou o meu. Gozei forte na


minha mão, encharcando minha palma e a parte interna das minhas coxas.

Gemi, — Obrigada, Danner, — quando gozei assim que a mulher no


vídeo agradeceu seu Dom.

Assim como o homem disse: — Pegue minha porra.

E Danner também, só que disse: — Porra, sim, pegue minha porra,


Harleigh Rose.

Ofeguei alto e o copo que eu estava segurando contra a parede


escorregou dos meus dedos apáticos, caindo no chão com um estrondo
perceptível.
— Foda-se, — disse antes que eu pudesse evitar, cobrindo a boca com as
mãos, os dedos pegajosos com meus sucos.

— Que porra é essa? — Danner rosnou do outro quarto e então, antes


que eu pudesse puxar minha calcinha de volta sobre o meu sexo inchado
ou fingir que estava fazendo qualquer outra coisa além de espioná-lo, a
porta do quarto se abriu e ele estava lá, rosnando baixo em sua garganta,
seus olhos verdes tropical com raiva ardente.

Assisti suas narinas dilatarem quando ele inspirou o ar doce do sexo no


quarto, enquanto sua raiva ficava mais sombria e se transformava em outra
coisa, algo que eu não tinha certeza se devia ter medo.

— Você, porra, estava me espionando? — Ele demandou.

Engoli em seco e soltei minhas mãos, meu próprio gozo manchando


ligeiramente meus lábios. Inconscientemente, eu os lambi e observei a
mandíbula de Danner apertar.

— Sim, — ele resmungou lentamente enquanto me perseguia e não


tinha certeza se ele ia me estrangular ou me beijar. — Porra, sim, você
estava.

— Eu, — tentei explicar, cavando freneticamente minhas reservas de


atrevimento e sagacidade para qualquer coisa para jogar nele e parar sua
ronda lenta pelo quarto. — Você não devia ser tão óbvio sobre isso.

Não parecia possível, mas sua expressão ardeu de raiva e depois


escureceu em algo totalmente perverso. Ele me alcançou, seu braço
estalando para puxar um dos meus tornozelos, então caí deitada de costas
na cama. Antes que eu pudesse me recuperar, ele se sentou na cama e
puxou meu corpo de barriga para baixo em seu colo.

— Você queria que eu te pegasse, não é? — Ele perguntou numa voz


como fogo e enxofre quando ele segurou minha forma contorcida sobre os
joelhos com um antebraço de ferro preso nas minhas costas. — Você queria
que eu visse como você se tornou uma garota safada.

— Oh, Deus, — gemi, minhas coxas tão molhadas com gozo que
deslizaram juntas com um barulho audível.

Não sabia o que estava acontecendo e ao mesmo tempo sabia.

Tinha dezessete anos e, apesar de ser virgem por razões que nem
Cricket nem eu entendíamos, fiz oral e todas essas outras coisas. Pensava
que sabia o suficiente sobre sexo para aguentar o que se passava.

Eu não sabia.

Nem mesmo perto disso.

— Tudo bem, você quer que eu te trate como uma mulher responsável e
não como uma pirralha? — perguntou ele enquanto uma mão, a que não
me segurava, alisou uma perna e sobre minha bunda, arrastando minha
camiseta com ela para que minha pele nua fosse exposta ao seu olhar.

O calor me queimou, sexual o suficiente para incinerar minhas inibições


e envergonhada o suficiente para encontrar raiva no redemoinho de fogo
na minha barriga.

— Foda-se, Danner. Você não teria coragem de me bater, seu boceta!


— Ah, — ele estalou seu tom, sua voz fria e mecânica como se fosse de
uma máquina, mesmo que sua mão estivesse quente e humana contra a
minha bochecha da bunda, apertando e acalmando. — Você parece não
entender quanto poder tem uma boceta. Se você soubesse, nunca o usaria
como um insulto. Se soubesse como fico fodidamente furioso por te querer
quando não posso ter você porque é muito jovem, muito errada e selvagem
demais para eu domar. Mas, Rosie, se você soubesse como eu quero te
dominar, acariciar sua boceta com meus dedos, minha língua e meu pau,
observá-la implorar primeiro e depois se abrir para o meu toque, para a
minha permissão para gozar. Se você tivesse qualquer porra de ideia disso,
não me chamaria de boceta quando pensa que estou sendo fraco.

Estava ofegante, confusa e excitada e com tanta raiva que me senti feita
de fogo, correndo o risco de virar fumaça e explodir no segundo em que
suas mãos parassem de acender minhas chamas.

— Você vai me bater? — perguntei, meu tom traindo o quanto queria


isso.

— Bater? Não. Se você quiser se redimir por seu comportamento


imprudente e estúpido esta noite, se quer que eu faça você se sentir bem,
fazendo você se sentir mal, então vou te dar umas palmadas.

Um estremecimento estalou e apareceu na minha espinha. — Ok.

— Ok?

— Hum. — mordi o lábio, mas sabia o que dizer: — Tudo bem, Lion.
— Se for demais, apenas me diga para parar, Rosie. — Sua voz não
amoleceu, e fiquei grata por isso, porque teria arruinado o momento, mas
pude ler seu breve amolecimento na maneira como ele espalmou minha
bunda e no uso de seu apelido para mim.

Balancei a cabeça e um instante depois, a dor irradiou pela minha


bunda. Um segundo depois disso novamente, na outra bochecha. Ele
esfregou a queimadura do impacto mais profundamente na minha pele,
tirando o fio, mas prolongando o calor que pairava sobre a curva da minha
bunda para se aninhar entre as minhas coxas.

— Você gosta disso, Rosie? — Ele perguntou, sua voz na garganta.

— Isso é tudo que você tem para mim? — provoquei instintivamente,


tentando pedir algo que nem sabia o nome.

Seu rosnado baixo vibrou contra o meu torso e me tornei agudamente


consciente do comprimento grosso e longo de seu pau pressionado contra a
minha barriga.

Tapa.

O som estalou no ar, adicionando drama ao golpe que senti como dedos
enfiando em meu núcleo apertado.

Tapa.

— Mais forte, Lion.

Tapa. Tapa.
— Dê-me mais, — implorei, minha voz quebrando enquanto minha
mente se partia em pedaços carbonizados, dissolvida em cinzas.

— Você vai pegar o que eu te der, — ele me disse, as duas mãos na


minha bunda agora, pressionando o calor ainda mais longe nos músculos
com seus polegares fortes e dedos ásperos. — Você ama isso, não é? Você
ama ser minha boa garota.

Deus, eu faço. Pela primeira vez em anos, meu espírito se sentiu livre de
sua gaiola de autodúvidas e repreensões, livre de restrições sociais e
costumes. Achava que ser uma fora da lei era o mais livre possível, mas
estava errada.

Essa era a verdadeira liberdade, entregando-me às mãos de um homem


que me deixaria correr à solta, mas me manteria segura enquanto o fazia.

Contorci-me em seu colo quando seus polegares cavavam mais fundo,


dolorosamente em meu traseiro dolorido e depois engasguei quando ele se
inclinou para pegar um pedaço gordo em sua boca, entre os dentes. A
mordida foi firme, afiada de uma maneira que ficou acima da pulsação
maçante da dor na minha bunda.

Eu estava para gozar.

Sabia mesmo quando me chocou. Ele nem sequer me tocou, pelo menos
sexualmente, realmente não. E, no entanto, estava à beira de um orgasmo
esmagador tão forte que sabia que desmaiaria quando ele finalmente
quebrasse e me carregasse para o limite.
— Lion, — gemi, virando minha cabeça em sua panturrilha para poder
mordê-la bruscamente numa silenciosa demanda por mais.

— Calma, vou te dar mais. Espere por isso,— ele ordenou.

A própria oitava de sua voz, o peso do ar pressionando contra mim, me


acorrentando à sua vontade trouxe o tsunami orgástico para mais perto.

— Por favor, — quebrei e implorei. — Por favor, me dê.

— Aí está ela, — ele elogiou quando uma mão deslizou pela minha
bunda na dobra encharcada entre minhas coxas. — Esta é a minha boa
Rosie.

Então, ele enfiou dois dedos na minha boceta e deu um estalo cruel na
nádega.

Gritei quando me afoguei na sensação, pois isso me girou num ciclo


sem fôlego de dor fria e prazer quente, enquanto eu quebrava
repetidamente como a maré contra seus dedos curvados.

Quando saí das profundezas, Danner estava inclinado sobre minha


bunda em chamas beijando ternamente cada bochecha. Sorri para sua
panturrilha sonolenta, em seguida, permiti que ele me girasse em seus
braços e me deslizasse na cama, sob os cobertores.

Peguei seu pulso quando ele empurrou o peso do meu cabelo para
longe do meu rosto e beijei seu pulso.

— Me perdoe? — perguntei, meus olhos estavam quase fechados


porque o sono era um cão mordendo meus calcanhares.
Podia sentir sua hesitação, então sua mão se virou na minha para que
ele pudesse correr o polegar sobre meus lábios. — Sempre vou te perdoar,
Rosie. É a você mesma que você precisa aprender a perdoar.

Fiz uma careta, arrastando-me das bordas do sono para poder discutir
seu ponto, mas quando abri os olhos, ele já estava do outro lado do quarto,
fechando a porta atrás dele.

Não o vi depois disso, exceto de passagem por mais seis meses e essa foi
a última vez que o vi por três anos e meio.
CapítuloDezenove
Estava na hora do exame. Como três semanas se passaram num borrão
de mudanças, não tinha muita certeza, mas lá estava eu sentada na sala de
exames com centenas de outros estudantes, fazendo o último teste que eu
precisava fazer antes de me graduar para me tornar uma enfermeira
totalmente qualificada.

Quando terminei o exame, passei no Tim Horton's para o meu quarto


café do dia muito necessário e peguei meu telefone, olhando o nome do
Papai na minha lista de contatos. Queria ligar para ele, para dizer que
acabei de terminar oficialmente minha graduação. Ele gritaria "foda-se,
sim" tão alto que estalaria pelo telefone e depois diria a qualquer irmão
com quem estivesse, e à Lou, que sua princesa seria enfermeira. Eles
passariam o telefone, parabéns viriam de Bat e Nova, Axe-Man e Lab-Rab,
Boner e Curtains e muito mais, todos os meus tios e melhores amigos e
irmãos, depois Lou, com sua voz rouca de lágrimas e doce com orgulho me
diria o quanto me amava.

Desliguei a tela e guardei o celular.

Não retornei as ligações de ninguém nas últimas semanas, apenas


mensagens de texto superficiais que asseguravam que eu estava indo bem,
mas precisava de tempo e espaço para arrumar minha cabeça.
Eles não me deixariam em paz para sempre, mas confiaram em mim o
suficiente para me dar isso, mesmo que fosse contra seus instintos de me
proteger e me valorizar.

Aceitei o café Double-Double do barista e tomei um gole de café


fumegante para me centrar antes de seguir para o estacionamento.

Danner estava lá, encostado em sua Harley Davidson Sportster Iron 883
preta e dourada. Ele estava com o colete dos Berserkers, seu cabelo
castanho desarrumado em redor de seu rosto bonito, seus pés com botas
cruzados nos tornozelos enquanto se sentava de lado no assento.

Não havia multidão ao seu redor dele como havia com Wrath, porque,
embora Danner fosse menos fisicamente intimidante, havia algo em sua
aura que dizia às pessoas para ficarem longe ou se danarem.

Sua inacessibilidade em sua personalidade de motoqueiro fez meus


mamilos duros como pedras.

Bebi meu café em menos de trinta segundos, escaldando minha


garganta e depois joguei o copo vazio no lixo. Então, caminhei até ele e me
inclinei, colando meu corpo contra o dele numa curva profunda que fez
meu short jeans subir pela minha bunda. Os olhos de Danner brilharam
quando sua mão se moveu para as minhas costas, para baixo e para cima,
para que ele pudesse agarrar minha bunda ligeiramente nua, num aperto
possessivo.
— Ei, motoqueiro, — disse antes de dar um beijo em sua bochecha
áspera, depois em seu queixo quadrado e mais um em seu sorriso de lábios
fechados. — O que está acontecendo?

— Reunião do clube na Bernadette, Reaper mandou-me te buscar.


Vamos passar algum tempo com eles, ver se descobrimos o que vão fazer
com a erva Fallen roubada, então, vou levar minha Rose para um jantar de
comemoração.

— Sim? — perguntei, e podia sentir fisicamente meus olhos brilhando


para ele.

Ele se abaixou para dar um beijo firme e de arrepiar na minha boca. —


Sim, rebelde.

— Você é o melhor, já te disse isso? — perguntei, apoiando meus


cotovelos em seu peito para que eu pudesse segurar meu queixo nas mãos
enquanto o olhava para ele.

Ele mordeu a ponta de seu sorriso daquele jeito que eu amava. — Não
acho que você já disse exatamente essas palavras, mas vou levá-lo.

Assenti firmemente. — Não sou uma garota florida, então se fosse você
pegaria o que você pode conseguir.

Desta vez, uma risada baixa e curta que ressoou por ele até mim. — Oh,
acho que você é muito florida. Quando eu te enraízo na cama com algemas,
você floresce para mim, molhada e aberta, tão rosa que é macia, e nunca vi
uma flor tão bonita.
Estremeci em seus braços, uma reação que eu estava começando a
equiparar à submissão em mim, aquela estranha dualidade que Danner me
falou por anos. Que eu poderia ser dura e suave. E eu era suave por ele,
macia, flexível e tão ansiosa para agradar.

— Você me comprou um presente de formatura? — perguntei,


pressionando meus lábios nos dele para que ele pudesse sentir a intenção
por trás das minhas palavras.

— Oh, sim, — ele rosnou, mordendo meu lábio inferior com os dentes.
— Há um novo plugue anal de aço em casa com o seu maldito nome nele.
Vou usá-lo para abrir sua doce bunda enquanto dou meu pau à sua boceta,
então vou dar a nós dois um regalo enfiando meu pau grosso na sua
bunda, quatro dedos na sua boceta, minha língua na sua boca para que
você leve tudo de mim, em todos os lugares que você puder. Só então,
quando você levar tudo o que tenho para te dar como a boa garota que é,
vou te foder até que a única coisa que você lembre é como gritar meu
nome.

Seus dedos se levantaram para a cintura do meu short, seu polegar


mergulhando para provocar sob a alça da minha calcinha e levantando-a
um pouco, apenas o suficiente para que o reforço da minha calcinha
pressionasse a umidade fresca da minha boceta.

— Você gosta do som disso, Rosie? — Ele murmurou na minha boca


ofegante.
— Soa bem, — tentei dizer casualmente, mas podia sentir o rubor
quente em minhas bochechas, as pálpebras baixas dos meus olhos e a
adrenalina da minha respiração do meu peito subitamente apertado.

Ele riu na minha boca aberta e a beijou com firmeza, antes de me afastar
suavemente. — Não se preocupe, vou ter você dizendo fácil, implorando
sim, Lion, até o final da noite.

Esperei estremecer quando ele se virou para pegar meu capacete e pelo
tempo que ele me entregou, estava levemente composta. Ele me observou
jogar meu cabelo por cima do ombro, prender a redoma na minha cabeça e
subir na Harley atrás dele. Pressionei um beijo e depois uma mordida em
seu ombro e prometi: — Estou ansiosa para vê-lo tentar.

O bar estava cheio de Berserkers e seus amigos. Era hora da celebração,


uma mini festa para parabenizar os irmãos por um trabalho bem feito,
roubando milhares de dólares em maconha de seu MC rival. Cada membro
do capítulo estava ali, suas old ladies e peças de uma noite, seus filhos, se
tivessem algum, e amigos de confiança.

Então, basicamente, passei as últimas três horas separadas de Danner e


odiando isso.
Eu o observei da mesa de bilhar, onde estava jogando com Reaper,
Grease e Wrath, enquanto ele segurava Laken frouxamente em seu colo,
balançando a cabeça quando ela usava as mãos para ilustrar alguma
história, seus enormes seios praticamente no rosto dele.

Era fácil esquecer, quando éramos apenas nós dois, que Danner não era
apenas meu.

Ele tinha duas namoradas, uma garota motoqueira e uma policial


certinha.

Ambas bonitas, ambas perfeitas de uma forma ou de outra para sua


vida.

Teria sido fácil ficar com ciúme, mas não estava.

Principalmente, porque quando eu saí da cama mais cedo naquele dia


dizendo-lhe que estudaria na biblioteca antes do exame, fui para o
Departamento de Polícia de North Van e me encontrei com minha
supervisora, a primeira é única Diana Casey. Eu a informei sobre o roubo,
embora tenha ficado claro pela reação dela, Danner já havia contado a ela a
maior parte da história, e fiquei chateada ao descobrir que ela não era
apenas bonita, ela era gentil. Ela genuinamente perguntou sobre minha
saúde após a agressão de Cricket, se eu estava tendo pesadelos e se tinha
me encontrado com o conselheiro de trauma. Não estava e não tinha, mas
só porque tinha Danner e Hero para afastar os demônios.

Não disse isso a ela.


Mas, ela deixou escapar, quando estávamos saindo de seu escritório,
com seu caderno de C.I. meu identificador secreto nº 69 na frente, que ela
esperava que o Oficial Danner estivesse cuidando de mim em campo.
Concordei que sim pressionando um pouco mais, perguntando se eles
trabalhavam juntos no caso.

Seus lábios franziram, seus olhos perderam um pouco de brilho e ela


deu de ombros um pouco indiferente que tentou mascarar o quanto estava
magoada.

Ele era seu namorado, ela disse, por mais de dois anos, mas ele
terminou com ela há mais de uma semana.

Ela parecia horrorizada com seu erro. Eu era uma criminosa de uma
família criminosa e sua informante confidencial. Não deveria haver uma
troca de informações pessoais. Mas as regras foram feitas para serem
quebradas, e Danner me disse que geralmente elas estavam entre o
supervisor e o C.I. porque não era um relacionamento que poderia se
formar sem confiança.

Diana Casey pensou que podia confiar em mim, e eu odiei isso que me
fez sentir culpada e boa ao mesmo tempo.

Não disse nada a Danner sobre isso, porque ele não disse nada para
mim. Era óbvio que ela não era importante o suficiente para trazer à tona,
ele nem sequer falou sobre ela uma vez no tempo que passamos juntos,
mas Laken era outra história.
— Pare de olhar como uma bruxa preparando uma maldição e comece a
jogar, — Wrath murmurou para mim enquanto se aproximava do feltro
para dar uma tacada ao meu lado. — Você está sendo óbvia pra caralho.

Revirei os olhos, mas não estava muito preocupada. Grease e Reaper


estavam jogando conosco, mas estavam distraídos, murmurando entre si,
Reaper checando seu telefone a cada poucos minutos.

— Algo está acontecendo, — murmurei depois que Wrath acertou sua


tacada e mirou outra.

— Sim, eles encontraram uma nova maneira de contrabandear armas


dos Estados Unidos. É suposto recebermos uma remessa de testes esta
noite — ele sussurrou no meu ouvido, agarrando-me como se fosse dar um
beijo no meu cabelo.

Ele cheirava bem, clássico e viril como o desodorante Old Spice.

Cantarolei, minha mente zumbindo. Se uma remessa estava chegando


ao Porto de Vancouver naquela noite e eu conhecia o homem que traria, de
quais outras informações eu precisava antes de tomar alguma providência?

A companhia de navegação e o número da caixa.

Aproximei-me do lado da mesa de Grease e Reaper, fingindo estudar a


mesa quando, na verdade, só queria escutar. Wrath foi comigo, parando-
me com um braço em volta da minha cintura quando ele pensou que eu
estava perto o suficiente.

— Quem estamos enviando? — Grease estava dizendo em sua cerveja,


seu rosto cruel ficou mais feio de excitação.
Ele queria ir, ele queria encontrar problemas e desmontá-los com sua
arma.

Reaper era esperto o suficiente, eu sabia, para não o deixar ir


exatamente por esse motivo.

— É pouca merda, pensar que podemos enviar Mutt e Roper. Eles nem
se encontram com o meu cara, apenas mande uma mensagem com o
número, eles vão direto para o contêiner e pegam as armas.

— Black Knights vão nos foder com o número de novo?

Black Knights, um MC americano de 1%13 que tinha ligações com o IRA


irlandês.

A risada alegre de Laken ecoou pelo bar barulhento como a porra da


casca de sinos, distraindo-me do que os homens disseram em seguida.

— Harleigh Rose, — ela chamou do outro lado do bar, e quando olhei,


ela estava acenando para mim do maldito colo de Danner. — Traga sua
bunda aqui.

— Vá, — disse Wrath quando hesitei, e percebi que ele podia sentir a
fúria em meu corpo tenso contra o dele.

Revirei os olhos, mas fui.

— Muito tempo sem te ver, garota — disse Laken, acenando para eu me


curvar nos seus braços para um abraço.

13 Todo MC 1% tem seus membros ligados à criminalidade, usam armas e, normalmente, encontros com
outras gangues resultam em sangue, tiros e morte.
Podia sentir o cheiro de seu perfume doce misturando-se com o cheiro
másculo de caubói de Danner e isso me fez querer estrangulá-la.

— Sim.

— Você está me evitando ou algo assim? — Ela perguntou, seus olhos se


estreitaram em mim.

Laken não era a garota mais inteligente do mundo, mas ela era a filha
favorita de Reaper, e ela aprendeu desde cedo a suspeitar de pessoas que
poderiam usá-la para se aproximar de seu pai. Era por isso que sempre nos
demos bem, entendia o sentimento.

— Não, acabei com meu último exame hoje, tenho andado muito
ocupada com a escola, — menti facilmente.

Seus lábios se abriram num sorriso largo e lindo. — Foda-se, isso é


incrível, H.R.! Vamos pegar alguns shots para comemorar. Li-Li baby, você
pede alguns enquanto vou consertar meu batom? Acho que você o beijou
fora.

Ele tinha. Havia mais vermelho em seus lábios que nos dela.

Meu coração ardeu.

— Com certeza, — ele concordou, cuidadosamente não olhando para


mim até que ela saltou e se afastou.

— Li-Li? — perguntei com as sobrancelhas levantadas, o sabor amargo


do ciúme na minha língua.
Não havia razão para ficar com ciúme, disse a mim mesma. Nós
conversamos sobre Laken e fui eu quem insistiu que estava bem com a
continuação do seu namoro falso. Ela era uma fonte de informações sobre
Reaper, informações que Danner colocou em bom uso ao longo dos anos,
estabelecendo as bases para tê-lo preso, e ele precisava da segurança de ser
seu namorado para seu disfarce. Reaper era um filho da puta maluco e
desconfiado, e ele já reparou quão ciente Lion estava de mim.

Então, logicamente, deveria ter sido casual sobre isso.

Mas minha alma ardia.

— Harleigh Rose, — ele murmurou, seu pé encontrando o meu debaixo


da mesa da cabine. — Só a beijei. Não fiz mais do que isso desde que a
encontrei coberta de sangue em seu apartamento.

— Como você administrou isso? — reclamei.

Os motoqueiros tinham a reputação de terem muito tesão, e isso era


justamente merecido.

Isso deixaria Laken desconfiada se seu homem lindo não quisesse foder
seu corpo lindo.

Danner encolheu os ombros. — Disse a ela que peguei clamídia.

Caí na gargalhada. — Você não. Como ela acreditou nisso? Ela deixou
você dormir por aí sobre ela?

— Ela acredita que você não pode segurar um motoqueiro. O pai dela
ensinou-lhe isso.
Certo.

Eu já sabia disso.

Foi uma discussão que tive com ela uma vez sobre doses de tequila
quando confessei a ela que Cricket me batia, às vezes. Ela se perguntou
carrancuda se isso era pior ou melhor que a infidelidade.

Claramente, ela nunca foi atingida pela força total da mão de um


homem.

— Ainda não gosto disso, — admiti, porque ele era um ímã, forçando
minhas confissões à superfície, então elas zumbiam na minha pele,
desesperadas para ir até ele.

— Eu também não. Você acha que eu quero os lábios dela nos meus
quando os seus são tudo que penso? — Ele perguntou sério.

Franzi minha boca. — Vou lembrá-lo de como eles são doces esta noite
quando chegarmos em casa.

— Oh, sim, — ele gemeu. — Não tenho dúvida de que você vai. Agora,
você promete ser boa pelo resto do tempo que temos que estar aqui? Nada
de olhares ou lutas.

Corri meu dedo sobre minha cabeça como um halo invisível. — Anjo se
apresentando para o serviço.

— Pirralha, — disse ele com ternura.

Pisquei para ele, em seguida, levantei-me quando avistei Laken


voltando do banheiro. — Diga a ela que eu fui fumar.
Não esperei por sua resposta.

A noite ainda estava quente, o sol de julho persistia nas calçadas,


emanando das paredes de tijolos do bar enquanto eu me inclinava ao lado
da entrada da frente e acendia um cigarro Lucky Strike.

Já não fumava mais porque era enfermeira e sabia intimamente o que


essa merda fazia em seus pulmões. Mas era um hábito que aprendi com
meu pai e depois me solidifiquei ao longo dos meus anos de rebelião
adolescente, então, de vez em quando, quando precisava limpar minha
cabeça, permitia-me.

— Tem fogo?

Inclinei meus olhos para o lado onde um motoqueiro magro estava


sorrindo para mim. Ele usava um colete de couro sem mangas, sem
remendo. Um motoqueiro nômade acabando de entrar num bar voltado
para motoqueiros para se divertir.

Sem falar, joguei para ele meu isqueiro Bic.

Ele pegou, seu sorriso se alargando antes de acender o cigarro e se


juntar a mim encostada na parede.

Fumamos em silêncio, observando as baforadas cinzentas de ar a


ondularem no ar.

— Alguém já te disse, você é gostosa pra caralho? — ele me perguntou


finalmente.

Podia sentir seus olhos como mãos quentes agarrando minhas roupas.
— Sim. Meu old man.

— Ainda bem que os Berserkers não são uma multidão ciumenta, — ele
riu.

Depois se aproximou, sua mão indo para a minha bunda para beliscar
ou dar um tapa.

E eu estava cansada.

Tão cansada com os homens pensando que podiam tocar uma mulher
porque ela era bonita, ela gostava de se vestir bem para se adequar ao seu
estilo e não tinha medo de mostrar um pouco de pele.

Tão cansada com eles tratando minha irmandade como trapos de porra
descartáveis, como sacos de pancadas, como qualquer coisa menos que
fodido ouro.

Tão cansada com tudo o que eles me fizeram.

Num segundo, sua mão estava alcançando, no próximo estava presa nas
minhas, seu braço torcido atrás de suas costas tão dolorosamente, este perto
de quebrar, que ele caiu de joelhos no chão com um grito chocado de dor.

— Você toca uma mulher sem a permissão dela, esteja preparado para a
porra das consequências, — gritei para ele enquanto colocava minha bota
em suas costas e puxava com mais força seu braço.

Os ossos estalaram, seu ombro estalou, e ele soluçou um: — Puta do


caralho, deixe-me ir.
— Eu sou a puta? — perguntei a ele, minha indignação inflamada pela
minha história, seu rosto transformado em Rick, no ensino médio, que
tentou me forçar a usar drogas, por Cricket, que tentou me estuprar, e os
irmãos Berserker, que tentaram me reivindicar contra minha vontade.

Eu o empurrei no chão com minhas mãos e meu pé, e rapidamente pisei


nele, dei-lhe um pontapé na virilha, apertei com força, e a arma da minha
bolsa brandiu na minha mão, apontada diretamente para seu rosto.

— Você é a puta, — disse a ele. — Só covardes não pedem permissão a


uma mulher antes de tocá-la.

— Rosie? — ouvi da porta e olhei para cima a tempo de ver Danner


fechá-la atrás dele.

— Ei, — chamei, meu cigarro ainda preso entre os meus lábios, mas
caído agora. — O que se passa?

— Pensei que tinha dito para você ser boa? — Ele perguntou, olhando-
me cautelosamente quando pressionei o calcanhar da minha bota com mais
força na virilha do homem deitado gemendo aos meus pés.

Dei de ombros. — Estava entediada. Talvez um pouco sensível.

— Eu não fiz porra nenhuma, — o pedaço de merda do motoqueiro


gemeu entre os dentes cerrados enquanto se contorcia na calçada sob o
meu pé.

— Rosie? — Danner me perguntou, cruzando os braços sobre sua


jaqueta de couro preta. Ele balançou a cabeça enquanto empurrava a mão
em seus cabelos grossos e me prendia com seu olhar duro. — Você quer me
dizer por que você prendeu esse homem no chão por suas bolas?

— Porque ela é uma puta louca! — gritou o motoqueiro nômade.

Esmaguei meu calcanhar em suas bolas sensíveis quando me inclinei


para frente para bater meus cílios para o meu Oficial. — Porque ele agarrou
minha bunda e ninguém agarra minha bunda, só você.

Danner cortou seu sorriso com os dentes. — Doce sentimento, rebelde.


Aprecio isso. Mas por que você não deixa esse homem se levantar agora?
Acho que está na hora de ir para casa. Volte, diga adeus a Wrath e me
encontre na minha em vinte minutos.

Olhei para o motoqueiro em contemplação, depois arranquei o cigarro


dos meus lábios e me inclinei para pressionar a ponta ainda queimando em
seu pescoço latejante. Sua pele chiou fracamente e ele gritou.

Sacudi o cigarro apagado fora da calçada e tirei meu pé de suas bolas


para poder ir para Danner com um grande sorriso. — Legal, é hora do meu
presente?

Ele estava me machucando.

Deliberadamente, calculadamente, dolorosamente.


Meu corpo estava em chamas com uma sensação requintada,
queimando tanto que eu me debatia, gemia e implorei por liberdade.

Mas eu não estava livre.

Estava presa aos quatro cantos da mesa de centro por algemas de couro
implacáveis e amarrada à vontade de Danner por minha própria
submissão.

Eu ficaria algemada porque Danner queria e eu permitia.

Não, eu não permiti, eu precisava.

Assim como eu precisava da mordida afiada dos grampos forte e com


dentes em meus mamilos, ligados por uma corrente delicada de aparência
perversa que Danner mantinha aberta em seus dedos fortes logo acima do
meu sexo inchado. Eu tinha seu pau grosso na minha boceta, me esticando
e me esfregando incessantemente em estocadas curtas bem no meu ponto
G, e um plugue de aço deliciosamente pesado afundado na minha bunda
gananciosa.

Ele empurrou para frente lentamente, seus próprios dentes cerrados


com concentração quando ele abriu minha boceta, beliscou meu clitóris até
que balançou a cada batida do meu pulso e então ele o prendeu com aquele
grampo inofensivo e perverso.

Eu gritei, debatendo-me com tanta força que ele teve que me segurar e
trabalhar duro para bombear seu pau na minha boceta apertada.

Eu não era corpo, era eletricidade, zumbindo contra ele, tendo espasmos
como uma corrente.
— Sim, — meu Danner sujo raspou quando ele alcançou sob seu pau
para torcer o plugue na minha bunda de uma maneira que me fez gritar
novamente. — Pegue tudo, Rosie. Goze para mim, deixe-me sentir sua
porra no meu pau.

O orgasmo dilacerou-me, devastando a infraestrutura do meu corpo


como um ciclone, distorcendo meus pensamentos até que eles piscaram
para nada, rasgando a sensação em cada centímetro do meu corpo até que
eu não fosse nada além de restos humanos.

Eu ainda estava gozando quando ele torceu e puxou o plugue da minha


bunda. Quando ele agarrou minhas bochechas numa mão para me inclinar
sobre suas coxas, exposto ao seu olhar, ao óleo de coco quente espalhado
em meu buraco fechado. Um mini orgasmo explodiu na névoa do primeiro,
quando ele trabalhou os dedos lá, dois depois três, bombeando e torcendo
contra as paredes quentes da minha bunda até que eu me contorcia, minha
boceta chorando por todo o seu colo.

— Você está pronta para tomar meu pau como minha boa puta? — Ele
me perguntou, sua voz como um dedo extra na minha bunda, me
enchendo com sua posse.

— Sim, — ofeguei. — Foda-se, sim.

— Boa garota, — ele elogiou quando me deixou vazia, sem apertar o


nada, tão ansiosa por isso que eu gemia e gemia e gemia até sentir a
pressão queimando de seu pau lubrificado na minha entrada.
Uma de suas mãos encontrou minha garganta e pressionou com
firmeza, cortando apenas uma fração do meu ar de uma maneira que
intensificou cada centímetro de sensação.

E, então, ele empurrou, não parando até que suas bolas estivessem
pressionadas nas minhas bochechas, seu cabelo áspero da virilha
empurrado contra minha boceta encharcada, esfregando ligeiramente
contra meu clitóris de uma forma que eu sabia que ele me faria gozar
novamente.

— Oh, Deus, oh, Deus, oh, Deus, — cantei incoerentemente enquanto


meu corpo possuía meu cérebro, tornando-o pagão e tão ganancioso que eu
não conseguia respirar sem querer mais dele.

— Não é Deus quem possui esse corpo, — Danner resmungou, seu


rosto uma máscara deslumbrante de desejo quase doloroso. — Diga meu
nome enquanto fodo sua bunda.

— Lion, — ofeguei, a palavra tão doce na minha boca seca. — Lion.

— Você quer mais, não é minha putinha gananciosa? — Ele perguntou.

Eu amava o jeito que ele me chamava de puta, sua puta. Como se eu


fosse a personificação de todas as suas fantasias mais sujas, como se apenas
eu pudesse lhe conceder sua última satisfação carnal.

Como se soubesse que eu faria qualquer coisa para lhe trazer prazer.

— Sim, — disse a ele enquanto seu pau grosso latejava na minha bunda
e minha boceta vazia pulsava. — Mais, por favor, Lion.
— Sim, — ele falou quente e baixo quando trouxe a mão que não estava
na minha garganta para minha boceta encharcada.

Seus dedos brincaram em meu gozo, espalhando-o da frente da minha


boceta para trás, pouco antes de seu pau quente me encher. Estava quente
pra caralho, a mão dele brincando com o gozo que ele tirou da minha
boceta, esbanjando-me com minha própria excitação.

Estremeci quando um orgasmo começou a subir a escada da minha


espinha.

— Quero que você me leve em todos os lugares, me sinta em cada


centímetro do seu corpo, em cada faceta da sua maldita alma bonita, — ele
rosnou antes de enfiar os dedos na minha boceta e se curvar para selar sua
boca saqueadora na minha, sua mão ainda quente pressionando na minha
garganta.

Eu estava cheia e cheia de dor, mas queria mais.

Danner era meu Dom, meu controlador, e ele sabia que tinha poder
sobre meu último desejo.

E isso não era a dor, nem mesmo o prazer.

Era o deslizamento doloroso e escorregadio de seu pau grosso na minha


bunda apertada. Sua boca faminta comendo meus gritos enquanto eu
gemia e me debatia contra ele. Os dedos com pontas ásperas, torcendo,
puxando, arrancando meus mamilos até que latejassem vermelhos e
irritados como as luzes de seu carro de polícia. Como ele me levou à beira
da insanidade, me manteve equilibrada sobre a borda, suspensa entre a dor
e o prazer, o medo e a realização, quem eu fingia ser e quem eu era em
meus ossos. E quando ele finalmente me empurrou para o abismo e depois
que eu terminei de girar, caí livre sem pensamento ou identidade, tão viva
que eu era apenas um ponto de luz, uma mordida sonora de ruído extático,
ele me pegou novamente. Ele me envolveu em seus braços grandes com
suas mãos ásperas, enfiou meu rosto em seu pescoço para que eu pudesse
sentir sua pulsação forte contra minha bochecha, seu torso uma placa de
mármore protegendo meu coração frágil e trêmulo núcleo como um escudo
impenetrável.

Ele me segurou.

Não uma princesa do MC de um notório clube de motoqueiros.

Não uma nada inútil, mas estudante universitária com um registro


juvenil.

Não uma assassina.

Nem mesmo Harleigh Rose, como qualquer outra pessoa a conhecia.

Apenas Rosie, sem seus espinhos e, até mesmo, de suas pétalas, apenas
uma semente de si mesma.

E ele a segurou preciosamente, protetoramente e pacientemente como


se o fizesse para sempre e nunca desaparecesse ou falhasse.

Isso, ele sabia, e agora podia admitir, era o que eu ansiava e o que meu
Dom Danner me dava.
— Você sempre foi um Dominante? — Perguntei depois que ele me
soltou das algemas, me carregou em seus braços e me deitou em sua cama.

Ele estava montado em meu corpo propenso e pesado, suas mãos


cobertas com óleo de massagem com aroma de baunilha, dedos fortes
escorregadios e poderosos nas minhas costas enquanto me trabalhava.

Eu não precisava da massagem. Eu já estava desossada, o estresse


espremido para fora do meu corpo como água suja de uma esponja, mas eu
sabia que ele precisava cuidar de mim depois de me usar tão rudemente.

— Tinha catorze anos quando tive minha primeira paixão real por uma
garota chamada Brittany Goodman. Gostava do pescoço dela de todas as
coisas, a graciosa, pálida coluna branca dela exposta por seu cabelo curto.
Imaginei-o adornado com hematomas escuros das minhas mãos e lábios,
com meus dentes mordendo-a e segurando-a enquanto a fodia. Como
pareceria bonito marcado como meu. — Eu podia senti-lo encolher os
ombros em suas mãos enquanto elas alisavam meus tríceps. — Isso me
assustou pra caralho no começo, mas quando cheguei a fodê-la, já tinha
pesquisado o suficiente para saber que os impulsos que eu tinha eram
torções.

— Você a fodeu como você queria? — perguntei, profundamente


curiosa sobre sua história sexual, porque ele sempre manteve isso em
segredo.

— Não. Mordi-lhe um pouco os mamilos, dei-lhe um chupão que nem


sequer começou a suprimir a necessidade em mim de conquistar e
dominar, mas eles dizem que sua primeira vez nunca é tão grande.
Eu ri de seu comentário seco e virei minha cabeça para que ele pudesse
ver meu sorriso. — Então, quantas submissas você já teve?

— Oito.

— Incluindo Laken e Diana Casey, — perguntei, cedendo ao impulso


ciumento.

Ele se inclinou para dar um beijo no centro da minha espinha, depois


tirou meu cabelo do pescoço para colocar outro atrás dele. — Diana nunca
tinha feito isso antes. Ela tentou, mas não gostou e mostrou. Laken tem
uma personalidade submissa e é uma garota motoqueira, estava disposta a
ir comigo, então sim.

Ele sentiu meu corpo enrijecer embaixo dele.

— Calma, minha espinhosa Rose, não me venha com raiva depois do


que acabamos de ter. — Ele se inclinou mais para frente para correr o nariz
da minha orelha pela curva da minha mandíbula e depois ergueu meu
queixo com um dedo para que ele pudesse me beijar suavemente. — Você é
perfeita para mim. A única mulher que poderia me dar o que eu realmente
preciso. Quem poderia me deixar ser o policial cavalheiro e o Dom sujo que
preciso ser para ser eu.

— Sim? — sussurrei contra seus lábios.

— Sim. E eu sou o único que pode lhe dar o que você precisa. Ser minha
rosa selvagem, eriçada de espinhos e vermelha como sangue, mas também
a flor suave, delicada ao meu toque e facilmente arrancada entre meus
dedos. Eu sou o único a quem você dá tanta ternura.
— Sim, — concordei, tão feliz que ele entendeu sem eu ter que
encontrar as palavras para explicar a ele.

Ele sorriu contra meus lábios e depois se recostou para pegar a toalha ao
lado dele e limpar minhas costas. Então ele me enrolou sob os cobertores,
levantou-se para apagar as luzes e se juntou a mim na cama. Hero pegou a
deixa para se juntar a nós e se enrolou sobre nossos pés emaranhados.

Sorri ao adormecer, esquecendo que, embora estivesse segura na cama


de Danner, havia mais de um monstro esperando do lado de fora da porta
para devorar nosso amor.
Capítulo Vinte
Quando abri a porta do meu apartamento para pegar mais roupas para
a noite seguinte, depois de passar o dia com Wrath na sede do clube
enquanto Danner ia para a estação para trabalhar, senti o calor da raiva
explosiva presa como um vulcão adormecido em minha casa.

Zeus estava lá.

Sentado na mesma cadeira que ele ocupou no café da manhã da nossa


família há dois meses, só que desta vez ele estava sentado no crepúsculo, a
cabeça baixa, as mãos entrelaçadas entre os joelhos abertos quando ele se
inclinou para as coxas.

— Não vai em casa há meses, não atende chamadas e quando Cress


desceu para buscar algumas merdas para sua loja na semana passada,
passou três horas esperando do lado de fora por você chegar em casa
depois da aula, mas você não apareceu. Então, subi na minha moto, desci e
esperei. Sábado, então, imaginei que você estaria em casa em algum
momento. Cheguei aqui às nove da manhã e, quando você não apareceu,
pensei em dar uma olhada no complexo Berserker, apenas para verificar
esse impulso.

Ele olhou para mim finalmente e seus olhos eram uma ardósia cinza em
branco. — Vi você na garupa da moto de Wrath, irmão deles, conversando
com Reaper quando ele estava parado na porta com a sua fodida mãe,
Harleigh Rose. Uma grande família de motoqueiros.

Um gemido estava tentando sair da minha garganta como um pequeno


inseto nojento, deslizando, rastejando em direção à luz.

Só que não havia luz, não neste apartamento, não nesta situação.

Havia apenas um túnel preto.

— Então, lá estava eu pensando que minha garota estava com algum


tipo de problema, o tipo que só ela parece encontrar porque é filha de seu
pai, gosta de viver selvagem e livre, a voar pela vida como se ela não
tivesse uma porra de cuidado. Pensando que eu precisava descer a
montanha, mesmo com minha mulher grávida de nove meses com gêmeos,
apenas para ter certeza de que minha princesa não precisava ser salva.

Deus, seu tom de conversa jogava um contraste cruel com o olhar morto
em seus lindos olhos. Ele nunca ficou com raiva de mim assim. Nós éramos
lutadores, os Garros, meu pai e eu especialmente. Queimamos alto e claro
como uísque em chamas, em seguida, resolvemos, suave o suficiente para
conversar sobre o problema e aliviar a dor.

Isso foi diferente.

Este não era meu pai afetuoso e maluco dando um sermão em sua filha
amada e rebelde.

Este era Zeus Garro, motoqueiro fora da lei, ex-presidiário e justo


assassino sentado em seu trono rebelde acusando um de seus soldados de
deslealdade.
Deslealdade.

A palavra queimou um buraco em meus pensamentos e caiu como uma


brasa quente em meu intestino, corroendo o revestimento até meu
estômago apertar.

— Papai, — tentei explicar, minha voz, mais hélio do que som, alta e
brilhante com emoção aterrorizada. — Deixe-me explicar.

Ele olhou fixamente para suas mãos com anéis, para o meu nome
gravado no interior de seu pulso forte. A outra mão o encobriu, como se o
magoasse testemunhar seu amor por mim.

— Liguei para casa, tentei fazer com que Lou me ajudasse a entender de
onde minha garotinha poderia ter vindo. Como ela poderia desprezar sua
família por uma mãe que não merece esse nome, um homem que tirou
sangue dos Fallen, um Pres que quer sua família morta. Fiquei chocado
como a merda quando Axe-Man pegou o telefone e me disse que tinha
visto você na emboscada algumas semanas atrás, roubando da sua própria
família.

Não, Deus não.

Minha pele parecia que estava se desfazendo nas costuras, como se meu
enchimento estivesse caindo, o instinto me levando a tapar os buracos,
costurar-me confessando a meu pai tudo o que eu estava fazendo por ele,
não contra ele.

Mas, não podia.

Fui amada durante toda vida pelos melhores homens que já conheci.
Um irmão que espancou meus valentões no parquinho e enfrentou
nossa mãe mesmo quando isso significava ficar sem comida.

Um pai que me tratou como uma princesa, colocando-me tão alto num
pedestal que estava a salvo de perigos, aberta à admiração e afastada das
tragédias da realidade.

E um batalhão inteiro de irmãos, tios e amigos do The Fallen que me


envolveram em um amor tão fino que parecia seda fiada por dedos tão
ásperos de calosidade e manchada de graxa que só tornava o contraste
mais excepcional.

Não sei como errei, como escolhi um amor tão negro que me consumiu
em suas dobras escuras antes de pensar em me libertar. Mas, eu o escolhi
em vez deles antes mesmo de saber que havia uma decisão a tomar entre os
dois.

E mesmo que esse amante tivesse partido, eu ainda estava afundada


naquele lodo escuro, lutando para ser livre, para me reunir à minha família
na luz.

Eles disseram que eu era uma coisa bela, mas tudo que eu fiz foi causar
dor.

Não foi intencional, mas será que isso realmente importa no grande
esquema das coisas?

Os mesmos homens que me amaram tão bem toda a minha vida me


odiariam agora, cambaleando contra a realidade que eu os forcei a
enfrentar.
Que eu não era mais um membro da família The Fallen.

Que tinha virado as costas para tudo o que conhecia, para me juntar ao
mesmo MC que queria meu pai morto, a minha madrasta grávida
estuprada e o meu clube incendiado.

Aos olhos deles, eu estava fodendo um homem chamado Wrath, que


usou sua fúria infame para bater nas caras dos irmãos Fallen pegos
desprevenidos em estradas escuras e bares lotados. Já não era mais a
princesa de The Fallen, mas uma old lady de um Berserker.

Para piorar a situação, se eles soubessem a verdade, ficariam


horrorizados ao saber que eu também estava fodendo um policial,
trabalhando disfarçado para os homens de azul que minha cultura foi
fundada no ódio.

Estava envolvida numa guerra, mas do lado errado do campo de


batalha, uma traidora da mais alta ordem. E sabia, com certeza, que sentia
no fundo do meu estômago, na medula dos ossos e no tique do meu
coração que nunca seria aceita de volta em casa.

As palavras obstruíram minha garganta, duras e afiadas como pedras,


mas permaneci quieta. Permaneci resolvida.

— Sempre tive orgulho da minha pequena fodona. Deus sabe que você
causou muitos problemas na sua vida para ganhar esse rótulo, mas eu era
um pai orgulhoso, porque você era esperta pra caralho e duas vezes mais
nobre em sua essência.
Meu lábio enrolou, balançando precariamente. Este não era um presente
que ele estava se preparando para me dar, não depois do que eu tinha feito,
o que ele pensou que eu tinha escolhido.

Era uma condenação.

Uma excomunhão da única religião que já pratiquei.

Zeus Garro, presidente do The Fallen MC, estava diante de mim, mais
alto, mais largo e mais feroz do que qualquer outro homem que já conheci.
Assisti quando esse homem fez a transição como Jeckel em Hyde do meu
pai para o meu Pres. O molhado em seus olhos cinzentos de lâmina
congelou demais e suas feições retorcidas e de coração partido suavizadas
e endurecidas como escotilhas. Ele levantou em sua altura total, forte,
deslumbrante e andou alguns passos pesados em minha direção na porta
aberta. Naqueles poucos segundos, ele me cortou de seu coração e se
fechou para mim para sempre.

Engasguei com um soluço monstruoso, mas me forcei a olhá-lo em seus


olhos enquanto ele entregava meu destino.

— Você acabou de provar para mim, para todos que já pensaram que
havia algo de bom no cerne de todo o mal, que eles estavam fodidamente
errados. Você virou as costas aos seus amigos, à porra de sua família e
precisa saber, Harleigh Rose, agora nós viramos as costas para você. A casa
que mantivemos aberta para você, mesmo na sua pior e mais sombria hora
do caralho. Ela está fechada. Se fosse só a mim que você fodeu, talvez eu
pudesse deixar passar porque, porra, você é minha filha, mas você colocou
Lou em perigo e a seus irmãos não nascidos e a seu maldito irmão. Você
acha que posso deixar isso passar?

Ele deu um passo para longe de mim, apenas um pequeno, mas parecia
um milhão de quilômetros e ele já estava se afastando de mim quando deu
o soco final. — Você terminou. Em The Fallen e como uma maldita Garro.

As palavras me atingiram pior do que Cricket alguma vez fez, com


tanta força que meus ossos pareciam estilhaçar sob a minha pele, meus
órgãos machucados com a força, meu corpo balançando visivelmente para
trás, então eu tive que me segurar e firmar os meus pés.

Impulsivamente, estendi a mão para meu pai quando ele passou e


depois recuei quando ele evitou meu toque e saiu pela porta sem nenhuma
vez olhar para trás.

Caí de joelhos, meu punho na boca para tentar conter a terrível força
dos meus soluços enquanto meu corpo estremecia de agonia. Desistindo da
contenção, afundei ainda mais no chão, então minha bochecha molhada
estava colada no chão frio, o mesmo chão que tinha visto o sangue de
Cricket, o mesmo chão em que quase fui estuprada, o mesmo chão em que
fui fodida transformado pela tragédia, agora órfã e sem nome.

Não sei quanto tempo fiquei deitada ali, mas foi o suficiente para
minhas lágrimas secarem, minha alma ensanguentada murchar como uma
casca seca, e estava entorpecida com tudo, exceto com a sensação do chão
contra minha bochecha.

Ele veio por mim.


Devia saber que ele faria, mas pensar era muito doloroso, então não me
permiti fazê-lo.

Ouvi o tilintar da coleira de Hero e o som simples trouxe lágrimas aos


meus olhos novamente porque me lembrou que eu tinha alguma família,
pelo menos.

Meu homem e seu cachorro.

Hero apareceu na frente do meu rosto, ganindo bruscamente, batendo


no meu rosto com o nariz molhado e depois lambendo suavemente meu
rosto manchado de sal. Eu queria abraçá-lo, envolver meu corpo dolorido
em torno do seu corpo quente e macio e enterrar meu rosto em seu pelo
com cheiro de ar fresco, mas estava muito fraca e perdida para me mover
um centímetro.

— Rosie.

Havia tanta dor naquela palavra, cada sílaba com a forma de uma ferida
aberta. Sua empatia me acalmou. Lembrou-me que, se alguém podia
entender minha angústia, era Lion.

Ele se agachou ao lado de Hero, apenas suas botas Timberland gastas


visíveis aos meus olhos de onde eu estava. Sua mão encontrou o cabelo
úmido no meu rosto e o empurrou para trás da minha orelha, seus dedos
traçando a concha.

Não me mexi
— Ninguém poderia fazer isso com você, exceto seu pai, — ele observou
suavemente, e quando eu cantarolei fracamente em concordância, ele
pontuou seu descontentamento com um grunhido. — Bastardo fodido.

— Não, — sussurrei através da minha garganta inchada. — Enganei-o.

Danner suspirou com raiva e depois se moveu, indo de bruços para o


chão ao meu lado, deslocando Hero para ficar cara a cara comigo. Seus
olhos eram piscinas verdes profundas, seguras e paradas como a água de
um lago. Sua mão encontrou meu cabelo novamente e gentilmente
desembaraçou os fios.

— Você está fazendo isso por ele, por sua família. Ele não sabe disso,
então talvez um dia eu possa perdoá-lo por estripá-la assim. Mas, você tem
que se lembrar disso. Você não é uma vítima aqui, Rosie, não está deixando
a vida te pegar nesta porra de tempestade. Você é a tempestade, esta é a sua
configuração, estas são as suas escolhas, e você é forte, e explodirá furiosa e
verdadeira até ver tudo isso passar. Você não é uma vítima, rebelde Rose,
mas uma mártir. Então, vou ficar aqui com você o tempo que você precisar
para absorver este golpe, depois vamos nos levantar e vou levá-la para
casa. Amanhã, vamos acordar juntos e enfrentar o dia dessa forma, lado a
lado, todos os dias a partir de agora até resolvermos este caso e depois
estarei com você quando subir a montanha e deixar sua família levá-la de
volta.

Sua mão apertou minha nuca. — Você está comigo?

Meu coração murcho se mexeu no meu peito, o sangue bombeando


lenta e dolorosamente pelas câmaras angustiadas. Mas, podia senti-lo em
movimento, senti-lo batendo novamente no meu peito. Não era tão forte
quanto deveria ser, mas, novamente, acabei de perder a maior parte da
minha razão de viver.

Agora tudo que me restava era Lion e Hero.

Estiquei o braço para agarrar a mão de Danner com força na minha e


levei-a à boca para que eu pudesse morder sua junta e beijar sua palma.

— Sim, Lion, estou com você, — disse a ele.

E estava, assim como estava desde que me apaixonei por ele no meu
décimo primeiro aniversário e, da mesma forma, que estaria no meu
nonagésimo.

Parecia que a vida não me permitiria ser amada lindamente e


platonicamente ao mesmo tempo, brutalmente e romanticamente, e não
poderia dizer que teria feito a mesma escolha conscientemente se tivesse
um tempo calculado para fazê-lo, mas enquanto estava deitada no chão,
com Lion deitado ao meu lado, Hero atrás de mim, sabia que sacrificaria
tudo o que me restava apenas para mantê-los comigo para sempre.
Capítulo Vinte e Um
Na noite seguinte, estava farta de esperar.

Minha família me odiava, estava feito.

Mas, eu não estava.

Precisava pegar a mercadorias dos malditos Berserkers e precisava


disso feito agora.

Então, já estava no meu carro, vestida da cabeça aos pés em roupas


pretas justas, incluindo um par de luvas de couro com um gorro na cabeça
para conter meu cabelo, para não deixar para trás nenhum DNA quando
liguei para Danner.

— Rosie, pensei que já estaria em casa, — respondeu ele.

Amei que ele chamou sua casa de nossa casa. Não conversamos sobre
isso, mas não passei uma noite sem ele desde que o homem encapuzado
me segurou com uma faca no meu carro.

— Sim, sobre isso, — expliquei enquanto mastigava ansiosamente um


maço de Hubba Bubba. — Não voltarei para casa por um tempo.

Houve uma longa pausa e depois uma maldição cruel: — Que porra
você está fazendo agora?
— Estou sentada no meu carro, a uma quadra do Porto de Vancouver,
— disse a ele. — Vou aparecer no escritório de Grant Yves, fingindo
procurar por Jacob e Honey, e farei com que ele me diga que empresa e
contêineres de carga os Berserkers estão usando para transportar suas
armas ilegais.

Outra longa pausa. Esta ártica, sólida congelada de uma maneira que
me impediu de discernir o que ele poderia estar pensando.

— Você se lembra daquela conversa que tivemos sobre você ser


imprudente? — ele perguntou baixinho.

Engoli em seco. — Sim, Lion, eu lembro. É por isso que estou ligando
para você.

— Você não pensou em me dizer, ontem à noite, quando chegamos em


casa ou esta manhã sobre a porra do Cinnamon Toast Crunch?

Mastiguei meu chiclete, estalei uma bolha e tentei não deixar sua raiva
tocar o lugar submisso em mim que queria parar, cair e rolar sob seus
comandos.

— Não, porque você me impediria de me envolver, e sei que posso fazer


Grant falar sobre seu irmão, talvez até virar contra o clube e se tornar um
trunfo da polícia.

— Bom pensamento, Harleigh Rose. Só que há algum policial com você


agora? — Ele mordeu, já sabendo a resposta.

— Uh, não.
— Não... então, como é que a polícia vai transformar um ativo se não
está envolvida nesta operação rebelde que você está indo?

— Bem, é aí que você entra. Pensei que você poderia trazer suas
algemas.

Danner soltou uma risada áspera e sabia que ele esfregaria uma mão
frustrada no rosto. — Ouça-me com atenção, Rosie. Isto é o que vamos
fazer. Vou reportar isto. Uma caminhonete vai aparecer em quinze minutos
com dois caras em quem confio para vigilância. Eles vão te equipar com
uma escuta, depois você vai conversar com Grant. Se uma única coisa
correr mal com essa conversa, você sai de lá, e quero dizer, se ele até olhar
para você de forma engraçada, você vai embora. Você me entendeu?

— Entendi, — concordei, tentando não deixar minha tontura aparecer.

Ele me deixaria fazer isso.

— Sabia que você estava farta de esperar e assistir, Harleigh Rose, mas
ainda temos que fazer isto de uma maneira que possamos derrubá-los para
sempre. Não quero você em perigo depois que for revelado que estava
metida nisso, entendeu?

— Entendi você, — concordei.

— Foda-me, mas você é um problema, porra, — ele murmurou.

— Você ama isso, — disse descaradamente, porque desrespeitar o


patriarcado era a porra meu pão e manteiga.
Ele grunhiu o seu acordo. — Vou desligar e resolver esta merda. Você
espera aí que eu ligue de volta, e Rosie, se você sair um centímetro desse
carro, vou puni-la com tanta força que você não se sentará por um maldito
mês. Você entendeu?

— Entendi, — sussurrei através da minha súbita perda de fôlego.

Ele desligou.

Eu tentei controlar minha respiração e joguei “Gun in My Hand” de


Dorothy, para colocar minha cabeça no jogo.

Quinze minutos depois, uma van preta parou do outro lado da rua.

Dois minutos depois disso, o Mustang Fastback de Danner parou atrás e


ele saiu do carro usando preto de ponta a ponta que o fazia parecer um
maldito deus motoqueiro.

Ele bateu na janela do lado do passageiro e depois pegou minha mão


assim que abri a porta para me puxar de volta para a rua para a van.

— Você faz tudo o que eu digo, — ele me disse enquanto


caminhávamos. — Vai ter um fone no ouvido para que possa me ouvir e
um microfone na câmera que eles vão prender à sua jaqueta. Se eu disser
para se mover, você se move. Se eu disser para dar o fora daí, dê o fora daí
antes de respirar novamente.

— Sim, sim, Oficial, — disse, excitada por sua personalidade policial


sensata.
Queria que ele usasse as algemas penduradas na parte de trás de seu
jeans preto em meus pulsos, me empurrasse contra o carro para uma
revista de corpo inteiro e depois me fodesse.

Ele se virou para mim com um brilho quando chegamos na parte de trás
da van e ele bateu na porta. — Quero ouvir você concordar comigo, sério,
Rosie.

— Sim, Oficial, — disse docemente, mão ao coração. — Juro


solenemente obedecer às suas ordens.

Ele fez uma careta, mas antes que pudesse me repreender novamente,
as portas foram abertas e estava sendo puxada para dentro de uma van que
só tinha visto em filmes policiais. Havia equipamentos por toda parte, três
computadores, alto-falantes e duas TVs, um rack aparafusado ao chão com
armas e armaduras policiais.

— Legal, — sussurrei, tocando um colete que dizia "RCMP". — Posso


usar um colete à prova de bala?

— Não, — disse o homem negro enorme reconheci como Sterling, um


dos policiais da cena da morte de Cricket. — Mas você pode vir aqui para
que Johnson possa prepará-la e eu possa informá-la.

— Sim, sim Oficial, — repeti com um toque de meus dedos numa


saudação simulada.

Sterling desviou o olhar para Danner, que apenas suspirou cansado.

Eles anexaram uma câmera ao colar que usava com "Rosie" escrito em
ouro, fixando-a no pingente de caveira e ossos cruzados que estavam
pendurados ao lado. Eles me explicaram as regras e regulamentos de fazer
uma “emboscada” e o que exatamente estava tentando fazer Grant dizer.

Se eu conseguisse uma confissão dele, Danner, que estaria esperando do


lado de fora do escritório, o algemaria e o levaria para a delegacia, para lhe
oferecer imunidade em troca de se tornar um informante confidencial.

Quando eles terminaram comigo, estava inquieta de ansiedade, tão


confiante em minhas próprias habilidades que me sentia invencível.

Nunca estive do lado certo da lei antes, mas, aparentemente, ela poderia
oferecer a mesma alta emoção, flagrantemente desconsiderando que
poderia reunir.

Praticamente pulei para fora da van e atravessei a rua, puxando a arma


que escondi na parte de trás da minha calça para fora e na minha mão,
Danner atrás de mim. Ele agarrou meu braço quando alcançamos a cerca
de arame que separava o porto da rua e me virou para enfrentá-lo.

— Precisamos revisar o plano novamente?

— Aparecer. Chutar algumas bundas sérias. Obter o inferno fora de lá,


— falei, verificando a segurança da minha arma e ajustando o peso frio,
familiar e pesado dela entre minhas mãos.

— Você está levando isso a sério? — Danner perguntou naquela voz


que atingiu direto no meu núcleo. Era sua voz de autoridade sem sentido.
A que ele usava para me dobrar sobre os joelhos e quebrar criminosos em
pedaços no chão das salas de interrogatório.
Ainda assim, não seria bom para ele saber como isso me afetava,
especialmente quando estávamos prestes a colocar nossas vidas em risco e
ele estava duvidando da minha maldade.

Então, fiz o que qualquer mulher que se preze faria nessa situação.

Atirei-lhe meu atrevimento.

— Tão sério quanto uma bala no cérebro, — disse, cruzando meu


coração.

— Rosie... — ele rosnou, todo policial gostoso e Dom sujo contido.

— Não faça isso, — avisei-o.

— O quê?

— Não me diga que não posso fazer isso, porque farei de qualquer
maneira e farei bem. Não quero que você tenha que engolir suas palavras
quando eu terminar, porque provei que você estava errado. — Deslizei os
cinquenta centímetros que foi preciso para me pressionar contra ele na rua
escura e vazia, pressionei meus lábios em sua bochecha mal barbeada e
uma mão, a mão segurando minha arma, na parte interna de sua coxa para
que eu pudesse pressionar meus dedos na protuberância esticando seu
jeans. Sim, meu homem desfrutava do perigo tanto quanto eu.

— Eu não sou uma idiota, Danner, — lembrei-o num aperto áspero em


seu pau endurecido. — Eu leio as regras antes de quebrá-las.

Ele rosnou, mas me libertei antes que ele pudesse me beijar do jeito que
seus olhos diziam que ele queria. Nunca faríamos nada se isso acontecesse.
— Agora, me dê um impulso por cima dessa cerca, — ordenei,
ignorando descaradamente a enorme placa afixada no metal que dizia: —
PROPRIEDADE DA AUTORIDADE DO PORTO DE VANCOUVER:
FIQUE LONGE!

Enfiei minha arma na cintura e Danner suspirou asperamente e


estendeu a mão para a minha bota, para que ele pudesse me lançar pela
cerca. Arrastei-me e virei para o outro lado, descendo a cerca de três metros
agilmente. Danner veio atrás de mim, escalando a altura como se escalasse
cercas todos os dias de sua vida por anos.

— Você fez isso parecer fácil, — disse a ele com uma sobrancelha
impressionada.

— Sou policial há muito tempo. Disfarçado três anos. Qual é a sua


desculpa? — Ele perguntou, espelhando minha expressão.

Sorri — Sou rebelde há muito tempo.

Ele bufou. — Foda-me, vamos lá, vamos fazer isso para que eu possa
levá-la para casa e te virar sobre a porra do meu joelho.

Estremeci, mas corri atrás dele enquanto ele corria para as pilhas de
contêineres de carga multicoloridos empilhados no grande lote.

O escritório de Grant Yves era um trailer no topo de uma escada ao lado


de um guindaste que era usado para mover os contêineres dos cargueiros
para a terra. A luz ainda estava acesa em seu escritório.

— Boa sorte. Fique segura, — Danner sussurrou quando alcançamos o


topo da plataforma e me movi em direção à porta.
Ele me beijou rudemente, retransmitindo sua ansiedade da única
maneira que podia.

Coloquei uma mão calmante em sua bochecha, beijei-o rapidamente e


fui até a porta.

Quando Grant Yves atendeu, fiquei chocada.

Ele parecia exatamente com Jacob, seu cabelo vermelho tão brilhante
que refletia como o anel externo laranja de uma chama na luz que saía de
seu escritório.

— Posso ajudar? — Ele perguntou rispidamente, olhando para mim


desconfiado.

— Sim, hum, desculpe incomodá-lo no trabalho, mas este foi o único


endereço que consegui encontrar para você. Sou Harleigh Rose Maycomb,
filha de Farrah Maycomb.

As sobrancelhas de Grant atiraram em seu cabelo. — Merda nenhuma.

Havia uma chance de que ele ainda fosse amigo de minha mãe, afinal,
ela praticamente se gabou de ter conseguido o contato de Reaper na
Autoridade Portuária.

Mas, estava disposta a apostar minha vida que não era esse o caso.

Farrah não era muito boa em manter amigos.

— Sim, infelizmente para mim, — disse com um sorriso fino e um


encolher de ombros. — Na verdade, estou aqui para falar com você sobre
Jacob e Honey, espero encontrá-los. Realmente gostaria de conhecer minha
irmã e agradecer a Jacob pelo pequeno consolo que ele deu a mim e ao meu
irmão quando ele estava em nossas vidas.

Seu rosto se transformou, a suspeita desapareceu para dar lugar à


simpatia. — Sim, sua mãe era um verdadeiro trabalho, porra. Desculpe,
você teve que lidar com isso enquanto crescia.

Dei de ombros. — Merda acontece com todo mundo.

— Sim, — ele disse, sua voz repentinamente pesada. — Por que você
não entra, querida?

Sorri agradecida para ele, escondendo meu triunfo interior e deslizei


por ele para o escritório. Ele se sentou em sua mesa em forma de L e
gesticulou para eu fazer o mesmo na cadeira em frente a ele.

— Escute, sinto muito ter que ser o único a lhe dizer isso, mas Jacob
morreu num acidente de carro anos atrás. Tentei ficar com a custódia de
Honey, doce garota, mas a província não me concedeu com merda de sua
mãe viva e esperneando, então eu perdi. Deve ter uns dois anos agora que
eu não vejo a garota, embora ela tenha fugido para mim antes.

Deus, meu coração apertou com simpatia pela minha meia-irmã.

Só morei com Farrah por nove anos. Não conseguia imaginar o que
dezesseis deles fariam com uma garota.

— Droga, — murmurei, tentando freneticamente pensar num ângulo


para levá-lo ao lado azul. — Realmente preciso encontrá-la.
— Sim? O que está acontecendo? — Ele perguntou, inclinando-se para
frente, seu rosto envelhecido ainda mais enrugado com preocupação.

Ele pode ter sido um homem corrupto, mas ele era um tio amoroso.

Perfeito.

Minha voz estava trêmula quando disse: — Tenho uma amiga que está
namorando um irmão do Berserkers MC. Ela me disse que eles estão
procurando por Honey, que ela deve a eles algo como cinco mil dólares em
dinheiro de drogas.

— Porra, — ele jurou ferozmente, um choque perfurado em letras


maiúsculas em seu rosto. — Sabia que ela estava usando, não sabia que
estava usando os bolsos do Berserker.

Concordei, trabalhando cuidadosamente uma lágrima em meu olho que


não era totalmente falsa. Estava mentindo sobre o envolvimento de Honey
no MC, obviamente, mas sua verdadeira situação com a empresa de
pornografia de Irina Ventura era suficiente para derramar lágrimas
também.

— Não tenho certeza se você sabe muito sobre o clube, mas eles são
implacáveis. Se ela não pagar e logo, eles a encontram, eles a matarão.

— Puta merda, — disse ele, puxando seu bigode laranja com tanta força
que doía. — Foda-me. Eu não sabia.

— Você conhece o clube? — perguntei com cuidado.


Ele olhou para mim por um longo momento, puxando o bigode
compulsivamente. — Sim, conheço. Fiz um negócio com eles, talvez eu
possa conversar com o Pres, resolver alguma coisa.

— Você tem influência?

— Foda-se, — ele disse novamente, plantando o rosto nas mãos. —


Foda-se.

— Vou tomar isso como um não? — disse com tristeza.

— Não, — ele concordou com os dentes cerrados, seus olhos cheios de


agitação quando ele olhou para mim. — Vamos apenas dizer que eu não
queria este negócio que tenho com eles, mas eles podem ser, porra,
persuasivos.

Inclinei minha cabeça e franzi a testa interrogativamente para ele, como


se não entendesse o quão persuasivo um MC fora da lei podia ser.

Ele suspirou ruidosamente e admitiu. — Eles me tiraram da rua


caminhando para casa um dia, me bateram tanto que eu estava tossindo
sangue e acabei no hospital. Disseram que não seria a última vez, a menos
que eu cooperasse com eles.

— O que eles querem com você? — perguntei, cavando


cuidadosamente, um arqueólogo procurando por confissões em vez de
ruínas. — Você, pobre homem.

— Contrabando de armas, — ele admitiu. — Eles têm algumas


operações acontecendo, mas acho que eles querem expandir e eu era o seu
caminho para fazê-lo.
Ding, ding, ding.

Sorri para ele. — Obrigada por isso, Grant.

Ele franziu a testa para mim, seu rosto turvo de confusão por um
momento glorioso antes de clarear como nuvens, revelando toda a força de
sua fúria percebida.

Apontei para a câmera no meu colar e sorri. — Diga X!

— Sua vadia do caralho! — Ele rosnou, lançando-se sobre a mesa para


mim.

Eu o soquei com força no esôfago, assim que Danner estourou pela


porta, a arma erguida, gritando: — RCMP, mãos para cima.

Grant tentou me atacar novamente, ainda engasgando com o meu soco.

— Cuidado, — Danner advertiu, aproximando-se até estar ao meu lado,


sua arma firme no alvo. — Ela vai te dar um soco na cara se você chegar
muito perto.

— Agora isso foi divertido, — disse, sorrindo para ele quando ele se
moveu em torno da mesa e começou a ler os direitos de Grant Yves.

Só que falei cedo demais.

Não estávamos pensando completamente. Se o Berserkers MC tivesse


interesse em manter esse cara do lado deles, é claro que enviariam
proteção.

— Está tudo bem aí, Yves? — Uma voz nos chamou.


Era Runner, uma dos prospectos, um jovem que ganhou seu nome
porque ele volúvel pra caralho. Reaper o recrutou apenas porque estava
desesperado por números.

Não era ideal ter que passar por um Berserker para chegar ao lugar
seguro, mas era bom que, se algo acontecesse com Runner, o MC não
questionasse. Runner estava sempre desaparecendo por um tempo.

Danner me encarou enquanto eu pensava nisso, seu rosto se


transformando em planos severos e disciplinadores.

— Harleigh Rose, — ele começou a avisar.

Mas, eu estava fora.

Esquivei-me pela porta e saí para o patamar, vendo Runner espiando do


lado esquerdo da escada.

Levantei minha arma e atirei. Não para ele, não precisava de mais
sangue em minhas mãos, mas perto.

— Porra! — Ele gritou, imediatamente correndo para se esconder atrás


de um contêiner próximo.

— Cubra-me e leve-o para a van, — disse a Danner de olhos arregalados


quando ele apareceu atrás de mim, Grant algemado atrás dele. — Encontro
você lá.

— Ele vai ver você, porra— Danner sibilou enquanto colocava minha
arma na cintura e descia a escada. — Ele vai ver você e contar ao Reaper.
— Não se eu o pegar primeiro, — disse enquanto desaparecia pela
borda e descia.

Um tiro foi disparado, soando tão perto da minha mão na escada que
pude sentir o braço se mexer.

Outro tiro, este de Danner, e então o som dele falando em seu


microfone, — Sterling, preciso de reforços no escritório. Tiros disparados.

Pulei no chão e corri atrás do contêiner em frente a Runner.

E como sabia que ele faria, ele correu atrás de mim.

Podia ouvir suas botas pesadas batendo no chão atrás de mim, mas não
estava apavorada. Parecia que eu estava voando enquanto meus membros
longos me carregavam entre as imensas pilhas de contêineres, e o levava a
uma alegre perseguição que esperava poder terminar de volta na van.

Infelizmente, calculei mal.

Runner estava fornecendo proteção para Grant Yves por tempo


suficiente para descobrir a configuração dos contêineres.

De repente, não conseguia ouvir seus pés atrás de mim.

Parei de correr, minha respiração raspando em meus pulmões, quente


na minha língua e ficando branca no ar.

Nada.

Sem sons, mas meu coração batendo forte e respiração desperdiçada.

— Pare, polícia! — Uma voz gritou de algum lugar no labirinto.


Então, nada de novo.

Bang!

Pulei ao som do tiro tão perto e me virei para ver Runner cair no chão
na entrada do beco entre os contêineres, quinze metros atrás de mim.
Então, Danner, aproximando-se de seu corpo caído, a voz áspera, mas
indiscernível, enquanto lia seus direitos e o algemava.

Corri até lá, vendo a bala sangrar levemente no ombro de Runner


quando Danner o colocou de pé.

— Você o pegou, — observei, a adrenalina me deixando boba,


inundando meu cérebro com muitas endorfinas.

Danner fez uma careta para mim e depois se virou para Sterling, que
vinha atrás dele com Yves. Ele empurrou Runner para Sterling e pediu: —
Você os pegou.

Os olhos do outro policial dispararam dele para mim, leram a fúria no


ar e assentiu bruscamente. — Sim, peguei. Encontro você na estação. Vou
dizer a Renner que você estava fazendo uma varredura na área para se
certificar que estava limpo.

Danner acenou com a cabeça bruscamente para ele, em seguida, cruzou


os braços e observou o enorme homem negro levando os dois homens em
direção à van.

Só tentei quando ele estava fora de vista e ouvido. — Danner, ouça...


— Não estou ouvindo, — ele rosnou, investindo contra mim com tanta
violência que gritei.

Ele me empurrou com força contra a lateral do contêiner, com a mão na


parte de trás da minha cabeça para que não atingisse, consciente até mesmo
de sua raiva. Engoli em seco quando sua outra mão se moveu do meu
quadril sobre minha barriga para o meu pescoço, onde ele gentilmente —
olhos num contraste tão intenso com o movimento que me tirou o fôlego —
arrancou a câmera do meu colar e a jogou no chão. Ouvi o ruído dela sob
sua bota quando ele a quebrou.

Ainda assim, ele não falou. Ele me encarou por longos minutos antes de
seu rádio gritar e o outro policial na van, Henson, confirmou que Yves e
Runner estavam contidos.

Ainda assim, ele esperou, olhando-me com uma fúria tão palpável que
senti deslizar pela minha garganta e queimar meu interior. Queria me
explicar, mas sabia que não haveria palavras para fazer Danner entender
porque eu tinha disparado.

Então, seu rádio tocou novamente.

— O pátio está limpo, — confirmou Sterling. — Tenho quinze minutos


e, então, preciso de você na estação.

— Copiado, — Danner rosnou no rádio.

Em seguida, sua mão agarrou com força meu cabelo, puxando-o de


volta tão ferozmente que trouxe lágrimas aos meus olhos e sua boca caiu
sobre a minha.
Imediatamente, eu acendi. O estresse e a adrenalina o acendimento
perfeito, sua fúria a gasolina e sua luxúria o fósforo.

Virei fumaça assim que sua mão encontrou meu peito e apertou.

Estava tremendo, resíduo de pólvora na minha mão que Danner


enrolou seu pau grosso.

— Toque-me, — ele ordenou entre os dentes.

Eu me atrapalhei com seu cinto e zíper e suspirei quando a largura


quente dele atingiu minha mão. Coloquei seu pau na minha mão, então
lentamente, firmemente comecei a acariciá-lo.

— É isso, — ele murmurou enquanto segurava minha camiseta em suas


mãos grandes e largas e a rasgou com um rosnado ao meio. Meus mamilos
sem sutiã se instantaneamente frisaram no ar frio, alvos perfeitos para seus
dedos cruéis e beliscantes. Seu rosto estava desfeito num olhar de
insatisfação quando ele olhou para os meus seios avermelhados. Deveria
saber que meu silêncio não era suficiente para ele, que ele queria provar
minhas calças e gemidos como a ambrosia de um Dominante em sua
língua.

Ainda assim, fiquei surpresa quando ele atacou e deu um tapa nos meus
mamilos tensos com precisão perfeita, enviando uma corrente elétrica de
prazer doloroso direto para minha boceta gotejante. Joguei minha cabeça
contra o recipiente de metal e soltei um grito rouco.

— Essa é minha puta, — elogiou ele enquanto fazia um buraco enorme


nas minhas leggings.
Ele se abaixou para pegar minhas duas pernas em seus braços, e então
me ergueu para o alto para que não pousassem em seus quadris, mas sim
empoleiradas em seus ombros, apenas minhas costas contra o recipiente de
metal me mantendo ereta, minha boceta completamente exposta para seu
uso.

— Você acha que merece esse pau? — Ele exigiu, a coroa do dito pau
posicionada na minha entrada, esfregando para frente e para trás em meu
clitóris, acendendo-o em chamas com o atrito.

Quando não respondi, ele bateu seu pau grosso direto na raiz da minha
boceta agarradora, os sons molhados do nosso sexo abafados pelo meu
grito.

— Olhe para mim.

Demorou um longo minuto, mas finalmente fui capaz de abrir meus


olhos para olhar seu rosto, dominado por uma intensidade tão forte que
era insuportavelmente belo. Queria segurar seu rosto, tocar minha língua
em sua boca dura para suavizá-lo com meu beijo e segurá-lo contra mim
suavemente, como se eu confiasse nele para ficar ali com ou sem meu
aperto.

Mas, não ousei.

Não era assim que este jogo era jogado.

Ele me fodeu como se me odiasse, e foi a melhor mentira que ele já


disse.
Aceitei como se não me importasse de qualquer maneira, e era uma
mentira que nem mesmo acreditava.

Ele mordeu meu pescoço e se colocou profundamente na minha boceta


quando gozei ao redor dele, e então ele fez também, seu pau batendo
dentro de mim quando ele gozou.

Cuidadosamente, ele deslizou minhas pernas de seus ombros, tirou sua


jaqueta e tirou sua camisa, antes de entregá-la para mim, para que eu
pudesse vesti-la sobre meu torso nu e calças arruinadas. Então, ele pegou
meu rosto em suas mãos e olhou profundamente nos meus olhos, como se
estivesse se assegurando de que eu estava lá.

— Diga-me uma mentira, — disse a ele, para lembrá-lo da dualidade do


nosso jogo.

— Eu te odeio, — ele respondeu como se estivesse esperando que eu


perguntasse. — Eu te odeio com todo o meu corpo e toda a minha alma.

Eu o beijei, minhas desculpas por ser imprudente mais eloquente em


meus lábios do que jamais poderia ser com minhas palavras.

E ele aceitou, comendo na minha boca até que eu estava limpa e


absolvida. Perdoando-me como sempre fez, como eu sabia que ele sempre
faria.
Capítulo Vinte e Dois
2017

Harleigh Rose com 17, Danner com 26.

A festa foi selvagem.

A primeira vez que curti uma festa do ensino médio.

A EBA e o Entrance Public uniram forças para sediar uma grande


explosão de primavera num dos campos nos arredores da cidade.

A poucos minutos da casa de Danner.

Tentei não pensar nisso enquanto bebia minha cerveja quente e


conversava com Lila.

— Sério, é como se eu fosse assexuada para ele, — ela reclamou pela


milionésima vez. — Quero dizer, pareço assexuada para você?

Eu a examinei, mesmo sabendo como ela era melhor do que quase


ninguém. Cabelo castanho comprido que caía em folhas retas e brilhantes
até o umbigo, muita pele dourada exposta sobre as coxas esculpidas por
músculos, uma barriga tonificada e redonda, seios fartos atualmente
levantados numa camiseta rasgada sem mangas que dizia “imprudente”.
Ela definitivamente não era assexuada.

Qualquer um dos meninos na fogueira ficaria feliz em dissuadi-la dessa


ideia ridícula.

Mas, ela não queria nenhum daqueles garotos do ensino médio.

Bem como eu, ela gostava de homens mais velhos.

Um em particular, “Nova” Booth, um dos irmãos do Fallen MC do meu


pai. Ele era como um irmão mais velho para mim, mas sempre foi mais do
que isso para Lila.

Inferno, ele era a razão pela qual ela fazia parte de fato do clube em
primeiro lugar. Ele era a razão pela qual a conheci na escola primária, e foi
por causa dele que o clube a manteve por perto, apesar dela não ser sua old
lady.

Ela era como sua irmã mais nova.

Doze anos mais jovem que ele.

Não que a idade geralmente impedia Nova de bater numa bunda


gostosa, mas Lila era diferente. Eles cresceram como vizinhos da porta ao
lado e passaram por muita merda juntos. Não havia absolutamente
nenhuma maneira dele ir lá.

Sabia disso e Lila também sabia.

Ela simplesmente não gostou.

— Você poderia ser a porra da Marilyn Monroe e ele não tocaria em


você, querida, — disse a ela. — Nós sabemos disso.
— Tanto faz, — ela murmurou em sua cerveja, depois se iluminou
novamente. — Decidi fazer uma tatuagem.

Gemi. — Jesus, Lila, você está tão desesperada por ter as mãos de Nova
em você?

— Não seja uma cadela, — ela reclamou. — Não sou uma cadela com
você sobre o fato de você ter uma queda por um fodido policial.

— Você sabe que ele é mais do que isso, — respondi.

— E você sabe que querer uma tatuagem é mais do que o que você
insinuou que era, — ela respondeu.

Nós nos encaramos por um minuto antes de eu batê-la suavemente com


meu quadril numa versão física de um pedido de desculpas.

— O que você quer e onde? — perguntei, agitando a bandeira branca.

Ela sorriu sonhadora. — Flores.

Bufei. Nova a chamava de "criança flor" porque ela sempre se vestia


como uma hippie vadia. Agindo como uma também, menos a vadia,
porque ela estava guardando seu cartão-V para Nova.

Ela seria virgem para o resto da vida.

— Vou pegar um pouco mais de cerveja, quer um pouco? — perguntei.

— Nah, estou bem, vou atirar a merda com Taylor e Kelly.

Inclinei meu queixo para ela e teci pela multidão em direção aos barris
situados no lado oposto da fogueira para mantê-los mais ou menos frios.
Alguns caras estavam cuidando dos barris, mas bombeei minha própria
cerveja antes de me virar para voltar para Lila.

Apenas Rick estava no meu caminho.

Encarei sua cara de desprezo e fiz uma careta. — Saia do meu caminho
ou vou te derrubar como fiz na última festa.

— Vadia, — ele cuspiu quando alguém entrou no meu ombro e me fez


tropeçar para trás.

Rick se aproximou para me equilibrar e à minha bebida.

— Obrigada, — murmurei antes de me desviar rapidamente dele.

Podia sentir seus olhos como dardos apontados para a parte de trás da
minha cabeça enquanto corria para longe, mas o tirei da minha mente,
determinada a continuar me divertindo.

Apenas vinte minutos depois, quando minha cabeça começou a parecer


uma pedra sobre meus ombros, o interior igualmente morto e pesado, que
o vi novamente espreitando à beira do grupo em que estava. Seus olhos
estavam negros na luz baixa, seu sorriso uma onda escura em seu rosto
quando ele veio em minha direção.

— Aqui, querida, por que você não me deixa ajudá-la a se sentar, —


disse ele quando parou na minha frente, suas mãos gentilmente, mas com
firmeza, puxando-me para longe do meu grupo de amigos.

Através da sujeira em meu cérebro, os alarmes começaram a tocar.


— Vamos lá, por que você e eu não vamos até aqui e posso mostrar a
você como ser um pouco mais doce com um homem, hein? — ele
perguntou num sussurro baixo e úmido que pressionou no meu ouvido.

Então, sua cabeça se abaixou e ele me beijou, seu hálito azedo na minha
boca, arsênico na minha língua. Tentei me afastar e tropecei ligeiramente.

— Lila, — sussurrei-gritei porque meus lábios estavam ficando


dormentes.

Ela parou de rir conversando com um dos garotos da EBA a poucos


metros de distância e se virou para mim com uma carranca. — Você está
bem, H.R.? Você não parece bem. E que porra você está fazendo falando
com esse cabeça de merda?

— Ela está bem, acho que bebeu demais, — Rick disse com um pequeno
e odioso sorriso.

Apenas Lila não sorriu.

Ela sabia que eu era uma garota motoqueira.

Poderia segurar minha bebida.

Ela se aproximou enquanto eu tentava levantar minha mão para apoiar


minha cabeça dolorida.

— Ligue para Lion, — disse fracamente, mas então minha cabeça


pareceu cair dos meus ombros e sucumbi ao peso e à escuridão.
Danner

Estava num encontro com uma mulher bonita que dirigia a biblioteca
local quando recebi a ligação do telefone de Rosie. Foi rude aceitar, mas
aceitei assim mesmo porque era Rosie. Só que, não era. Era sua melhor
amiga Lila, sua voz frenética ao me contar o que havia acontecido, que
Harleigh Rose desmaiou nos braços do garoto que havia sido presa por
agressão seis meses atrás.

Não a via desde aquela noite, desde que eu a virei sobre meu joelho e
bati naquela doce bunda, levei meus dedos até sua boceta ensopada e a fiz
gozar na minha mão.

Mas, não havia nenhuma maneira da minha culpa ou moral me manter


longe da minha garota quando ela estava em perigo.

Aquele filho da puta tentou drogá-la.

Disse meu adeus abruptamente ao meu encontro, sabendo que ela


gostava de mim o suficiente para remarcar ao mesmo tempo, sabendo que
não o faria, e então dirigi para o campo com as luzes da polícia acesas,
atravessando a cidade bem acima do limite de velocidade.
Quando cheguei, Lila tinha feito o que lhe disse e os policiais estavam
lá. Caminhei até os paramédicos debruçados sobre Harleigh Rose
totalmente fora de si e sendo interrogada.

Ela ficaria bem, só precisava dormir e não tinha sido agredida, graças a
Deus do caralho.

Virei-me para meu parceiro Gibson, que estava de plantão naquela noite
e exigi saber o que estava sendo feito sobre o filho da puta que a drogou.

Ele hesitou antes de explicar que nada ligava Rick Evans à droga e ela
não havia sido agredida, então não havia nada a ser feito.

Nada a ser feito.

Sem outra palavra, peguei Rosie dos paramédicos, engolindo minha


fúria enquanto ela se enrolava em meus braços e a carregava para o meu
carro.

Disse aos oficiais de plantão que a levaria para casa em segurança e


falaria com Garro sobre o que havia acontecido.

E faria, mas não naquela noite.

Ela ficaria comigo para que eu pudesse observá-la durante a noite e ter
certeza de que ela ficaria bem.

Coloquei-a no quarto em que passei a pensar como dela, o mesmo em


que ela mantinha uma escova de dente, o mesmo em que bati nela meses
atrás.
Com ternura, tirei seu jeans apertado para que ela ficasse mais
confortável e a deslizei na cama, afastando o cabelo pesado do rosto e
cedendo ao impulso de beijar sua bochecha macia. Hero pulou em sua
cama, lambendo seu rosto com um gemido baixo antes de se acomodar
contra ela.

Ela virou a cabeça para mim, os olhos pesados, mas clareando antes que
eu pudesse me afastar.

— Ele me beijou, — ela sussurrou, a boca torcida com nojo. — Ele


colocou os lábios em mim.

— Calma, estou com você, — disse a ela, acariciando seus cabelos


novamente.

— Lion, — disse ela na voz suave e sedosa como pétalas de rosa. — Faça
isso ir embora.

— O que, Rosie?

— O beijo dele. Não consigo dormir com isso na minha boca,— ela me
disse, seus olhos azuis como pedras preciosas derretidas.

Eu não deveria.

Tive o cuidado de estabelecer distância entre nós novamente após o


incidente da surra e não queria confundi-la. Mas, olhando em seus olhos,
vendo a fragilidade de sua alma brilhando neles, sabia que não podia negá-
la.

— Ok, rebelde, — disse suavemente. — Feche seus olhos.


Ela imediatamente obedeceu.

Gentilmente, inclinei-me para pressionar beijos leves sussurrantes


contra cada uma de suas pálpebras trêmulas, então quando ela abriu os
olhos, sua boca se abriu para protestar onde a beijei, pressionei meus lábios
abertos nos dela.

Ela suspirou na minha boca e derreteu na cama.

Foi um beijo curto, o mais doce que eu sabia dar.

E balançou meu mundo simples temporariamente em seu eixo.

No intervalo desse minuto, com seus lábios macios nos meus, sua
língua sedosa na minha boca e o cheiro de sua pele floral e cabelo
estampado de fogueira em meu nariz, não havia futuro para mim além
dela.

Uma princesa MC da mesma gangue de motoqueiros que minha família


estava determinada a ver arruinada.

Uma garota dez anos mais nova que eu que fingia ser experiente, mas
que era tão fresca e lindamente intocada quanto o orvalho da manhã.
Queria manchar essa inocência com minhas mãos ásperas e contaminá-la
com meu pau ao mesmo tempo que queria preservá-la, lutar para defendê-
la.

Era um contraste impossível, mas naqueles segundos em que nos


beijamos, parecia totalmente possível.

Natural, até mesmo destinado.


Afastei-me abruptamente, meu coração batendo forte, meu vibrante pau
pulsando.

Seus olhos permaneceram fechados, mas ela sorriu e murmurou: — Te


amo, Lion.

E então ela adormeceu. Pude ver como a cabeça dela caiu e sua
respiração se aprofundou.

Minha rebelde Rose parecia tão tranquila em seu sono, tão diferente de
suas horas de vigília quando parecia provocada a dominar o mundo. Essa
era a beleza de Harleigh Rose, ela era uma contradição ambulante, a
rebelde e a santa, a boa moça e a pecadora.

Sentei-me numa cadeira ao lado de sua cama e a observei por horas.

Achei que sentar de sentinela e ver com meus próprios olhos que ela
ficaria bem seria o suficiente para reprimir a raiva nuclear que explodiu em
mim repetidamente, mas não foi.

Só ficou mais forte.

Não haveria justiça para Harleigh Rose porque, às vezes, muitas vezes,
não havia nada que a polícia pudesse fazer.

Pela milionésima vez, fui confrontado com minha própria impotência


em face da injustiça e o sentimento queimado limpou meu cérebro racional
até que tudo o que restou em mim era puro instinto bestial.

Eu a deixei lá.

O alarme armado, meu cachorro a seus pés.


Mas, eu a deixei.

Entrei no meu Mustang, "It Will Come Back" de Hozier tocando nos
alto-falantes porque a cantora me lembrava Rosie e dirigi para a Evergreen
Gas, onde os adolescentes do Entrance Public gostam de passear depois
das festas.

O porra estúpido estava lá, rindo com seus amigos como se não tivesse
acabado de tentar estuprar uma garota inocente.

Estacionei meu carro num terreno escuro do outro lado da rua e esperei.

Não precisei fazer isso por muito tempo, já era tarde, e eles ainda eram
crianças, mesmo que fingissem não ser.

Rick Evans se despediu de seus amigos e foi ao posto de gasolina


comprar um lanche antes de voltar para casa.

O destino estava sorrindo para mim.

Estava esperando na sombra ao lado de seu carro quando ele finalmente


se aventurou a ele e o pressionei contra o metal com o braço torcido atrás
das costas, uma mão sobre a boca antes que ele pudesse gritar.

Seu pacote aberto de Skittles caiu no chão e caiu como um arco-íris


quebrado.

Inclinei-me para ele, minha voz dura em seu ouvido. — Da próxima vez
que você pensar em mexer com qualquer mulher, quanto mais com a
Harleigh Rose Garro, você vai pensar novamente.
— Foda-se cara, — ele disse quando soltei sua boca ligeiramente. —
Essa cadela merece tudo o que ela recebe.

— Errado, — rosnei, — Aquela cadela merece todo o bem que pode


conseguir, não merda do tipo que você tentou dar a ela esta noite. Se você
não entende isso, garoto, estou feliz em ensiná-lo.

— Foda-se, — ele tentou gritar atrás da minha mão.

Então, ensinei uma lição a ele.

Uma que eu escrevi em seu corpo com azul machucado, com golpes que
teci como caligrafia em torno de seu torso e rosto, o florescimento de minha
assinatura em seus olhos pretos combinando.

Ele estava arrependido quando o deixei lá, chorando no chão como o


garoto patético que ele era.

A besta em mim, aquele selvagem que tentei durante anos reprimir com
banalidades e substitutos se enfureceu gloriosamente dentro de mim, bateu
no peito como um guerreiro pagão reclamando a vitória, como um alfa que
protegeu com sucesso sua companheira.

A culpa viria, eu sabia. Sempre acontecia quando eu cedia à escuridão


no abismo de minha pessoa. Mas, por enquanto, eu me deleitava com a
maldade, a justiça da vingança.

Meu telefone tocou assim que entrei na garagem e sabia quem seria,
como sempre fazia quando ele ligava, antes de atender.

— Papai.
— Lionel.

Houve uma pausa pesada que retransmitiu muito. Minha falta de


arrependimento pelo meu colapso moral, minha obstinação contra sua
censura e, estranhamente, sua disposição de ceder a isso.

— Escute, filho, estou preparado para encobrir isso para você, — disse
ele, a voz do diabo, pedindo-me para assinar minha alma com tinta de
sangue. — Fácil de fazer, o garoto Rick Evans está apavorado e sem cérebro
e mal admitiu a Percy que você foi o único que bateu nele. Mas as crianças
ficam ousadas com o tempo, como tenho certeza que você sabe, — ele fez
uma pausa para deixar seu ponto velado afundar: — Então, é melhor
varrermos isso para debaixo do tapete agora, enquanto ainda podemos.

Meu silêncio foi minha resposta.

— Só preciso saber que posso contar com você como meu braço direito.
Há coisas acontecendo na cidade e eu poderia usar um bom homem, o
homem certo e meu filho como um jogador nele.

— Não.

Poderia viver com o meu crime. Perderia meu distintivo se fosse


necessário, o que seria uma merda, mas estava disposto a levar o golpe. Fiz
uma má ação pelos motivos certos e estava bem pagando o preço por isso.

— Não vou deixar nada de ruim acontecer com você, filho. Já está
resolvido, só queria te colocar a par. Junte-se a mim para jantar na casa do
prefeito Lafayette neste fim de semana. Vou apresentar você a um grande
amigo meu, Javier Ventura. E, Lionel, da próxima vez que eu ligar, esteja
pronto para servir seus irmãos de azul.

Fiquei olhando para o silêncio depois que ele desligou, furioso comigo
mesmo por não entender a profundidade da depravação que meu pai
sucumbiu. Ele estava esperando por isso, algum deslize para que pudesse
me chantagear para trabalhar com seus policiais corruptos.

E joguei direto na porra da mão dele.

Sentei-me no carro, olhando para a casa antiga dos meus avós, agora
minha, imaginando como muitas vezes fazia, a família que plantaria lá
dentro, a esposa, os filhos e o cachorro que iluminariam a casa vazia até
que soasse com risos e barulho.

Sempre imaginei o tipo de vida da cerca branca para mim, mas percebi
enquanto estava sentado ali, a voz do meu pai no meu ouvido, o sangue de
Rick Evan nos meus dedos doloridos, que o tipo de mulher que ansiava
não era desse tipo de mulher.

Ela era o tipo de mulher que escalaria uma cerca branca apenas para
grafitar a casa intocada. O tipo de mulher que socaria o valentão na
garganta e sacudia o cabelo enquanto o fazia, magnífica e selvagem.

O tipo de mulher de dezessete anos que dorme na minha cama.

Por pior que ela fingisse ser, por melhor que eu agisse, a verdade era
que, de nós dois, ela era a única que era boa demais para se contentar
comigo.
Precisava sair da cidade, para longe dela. Ela era muito jovem e
inocente para o minha perversidade e escuridão secreta, para a teia
emaranhada que meu pai acabara de me atirar com força.

Sentei no meu carro e tomei duas resoluções que mudaram o rumo da


minha vida.

Primeiro, derrubaria meu pai, ou pelo menos parte da organização para


qual ele trabalhava.

E dois, ficaria longe de Harleigh Rose Garro.


Capítulo Vinte e Três
Danner

O rock da velha escola pulsava pela casa como um batimento cardíaco,


alto demais para uma noite da semana numa área residencial tranquila,
mas ninguém chamaria a polícia.

Berserkers estavam festejando.

Era o sopro anual de verão, então, embora a noite ainda estivesse


começando, as garrafas vazias de bebida estavam se acumulando e o gosto
acre da cocaína estava no ar, nuvens brancas flutuando pelos corredores
como pó de giz.

O destaque da noite estava começando em breve.

The Fight14.

Uma tradição que os Berserkers tinham de jogar cada irmão no ringue


proverbial para ver quem saía vencedor no final.

Havia trinta e nove irmãos e todos eles deveriam lutar, exceto Reaper,
que continuou a luta como o Imperador de Roma em seu coliseu. Ajudei os
irmãos a montar o palco, um pequeno círculo de terra no quintal, marcado
com estacas e fortes cordas brancas e destacado por enormes luzes
14 A Luta.
industriais que cegariam os olhos do competidor. Tivemos uma
tempestade de verão durante a noite, então a grama estava escorregadia, o
chão abaixo dela macio e sugador.

Seria um espetáculo infernal quando chegasse a hora, e eu sabia que se


Reaper pudesse filmar essa merda e vendê-la como entretenimento, ele o
faria.

Talvez, ele faça.

Mas a parte fodida da luta não era o fato de colocar homens que
deveriam ser irmãos uns contra os outros.

Não.

Era o fato de que cada homem tinha que dar uma garantia e essa
garantia só era aceita na forma de uma mulher. Se você perder, o vencedor
pode reclamar uma foda da sua mulher. Se você vencer a luta inteira, pode
escolher quantas garotas quiser por apenas uma noite.

Era nojento. Bárbaro ao extremo. Mas o MC era famoso por isso na


América do Norte. Homens prospectavam o clube apenas por uma chance
de participar e irmãos de outros clubes solicitaram a Reaper um convite,
como a maioria dos políticos fez campanha pelo presidente.

Eram as Olimpíadas de motoqueiros.

Apenas a medalha de ouro era a boceta em qualquer forma que você


quisesse.
A maioria dos irmãos pegava lixo de trailer ou prostitutas como
garantia, mas Reaper gostava mais se você tivesse uma old lady para usá-
la. Ele achava que isso gerava unidade em todo o clube, uma versão
distorcida da filosofia "o que é meu é seu".

Era a minha primeira vez participando da luta, porque apenas os


membros remendados recebiam a honra e eu só consegui isso nove meses
antes.

Mas, assisti duas dessas lutas até o final muito sangrento.

Irmãos morreram e tantas mulheres foram oferecidas como recompensa


que me deixou fisicamente doente só pensar nisso.

— Não vou te deixar — disse à Laken pela décima segunda vez,


pressionando meus lábios em seu cabelo preto sedoso para fazer isso.

Não passei muito tempo com ela nas últimas seis semanas, algo que ela
oficialmente não aguentava mais. Ela apareceu na minha casa naquela
manhã, felizmente enquanto Harleigh Rose estava fora com Wrath, e exigiu
passar o dia comigo.

Por pouco, evitei transar com ela, arrastando-a por Vancouver por
horas, levando-a para o Earnest Ice Cream, caminhando ao longo do
paredão e beijando-a no Stanley Park. Nunca a levei a um encontro como
esse e ela estava emocionada.

Obviamente, não disse a ela que tinha tomado Harleigh Rose no mesmo
dia anterior, que minha garota rebelde amava o sabor de uísque avelã de
Earnest e, que, quando nos sentamos ao lado do oceano, ela manteve uma
mão na minha e a outra torcida no pelo sedoso de Hero, seu rosto contente
porque ela estava com dois de seus homens, embora o outro a tivesse
excomungado.

Foi imprudente levá-la para um encontro como esse, mas depois de


tudo o que ela passou, eu queria mimá-la.

Meus olhos procuraram por ela no quintal, o ar se encheu com a névoa


de fumaça de maconha e a queima do fogueira enorme do outro lado do
gramado.

Ela estava sob o braço enorme de Wrath, aninhada ao lado dele como se
fosse feita para ele, alta o suficiente para que ele não tivesse que se dobrar
ao meio para tocar seus lábios nos dela como estava fazendo naquele
momento.

Meu coração queimou de raiva, mesmo sabendo que era apenas um


estratagema, mesmo que eu também tenha uma mulher debaixo do braço.

Laken pressionou contra mim, agarrou meu rosto com uma mão e olhou
para mim. — Você acha que não vejo você sempre olhando para minha
amiga Harleigh, pense novamente, Lion. Não sou instruída, mas também
não sou burra. Sou sua old lady e é graças a mim que você conseguiu sua
parte, então que tal um pouco de gratidão?

Rosnei para ela, metade personagem de motoqueiro, metade porque


odiava precisar dela. Reaper ainda não confiava muito em mim e, qualquer
que fosse a confiança que ganhei, Laken estava certa, veio através dela.
— Por que diabos você acha que não quero que você seja fodida por
outro cara ou por vários caras esta noite? Não quero isso para minha garota.

Não sabia, mas quis dizer a garota do outro lado do quintal, aquela que
Wrath estava colocando como garantia porque ela era dele e Reaper
ordenou isso.

A queimadura no meu coração se espalhou pelo meu peito e desceu


para o meu intestino, onde começou a arder.

Não havia nenhuma maldita maneira de eu ficar parado e deixar


Harleigh Rose ser fodida por um desses idiotas psicóticos.

Ela só evitou isso no passado porque Cricket, de alguma forma,


manteve-a longe.

Sua única qualidade redentora.

Agora, tinha que contar com Wrath vencendo The Fight para manter
Harleigh Rose segura.

— É meu dever, — disse Laken, voltando meu foco para ela. — É uma
honra como sua old lady.

— Essa merda é simplesmente fodida, Laken, — disse a ela.

— É tradição, — ela fervia.

Perguntava-me quantas coisas deploráveis foram feitas em prol da


tradição. Os chineses a usaram como justificativa para amarrar seus pés, o
horrível ato de amarrar os pés de uma mulher para impedir seu
crescimento, os astecas a usaram como motivo para sacrificar humanos a
seus deuses antiquados. Minha própria família transformou a eliminação
de gangues de motoqueiros numa espécie de legado, embora The Fallen
fizesse mais bem do que mal dentro da comunidade, e muitas culturas de
motoqueiros fora da lei a usaram como uma razão para compartilhar
indiscriminadamente suas mulheres, independentemente de obter sua
permissão.

Tradição, como vim a saber, era um deus falso que me recusei a adorar.

— Fodido, — repeti.

— Não se preocupe, vou fazer isso. Você se preocupa tanto, não perca,
— disse Laken com um sorriso largo.

Grunhi minha afirmação e voltei para a nossa conversa com Mutt,


Roper e Twiz.

Segundos depois, Reaper se juntou a nós com sua nova old lady debaixo
do braço.

Farrah.

Porra.

Harleigh Rose esteve interferindo a noite toda com sua mãe, tentando
mantê-la fora da minha vista para que ela não me reconhecesse, mas sabia
que isso era inevitável, especialmente no The Fight.

Minha única esperança era que a cadela não me reconhecesse.

Era mais velho para começar e usava isso no rosto, mais áspero do que
dez anos atrás, enrugado e bronzeado por passar muitas horas fora de casa.
Usando um colete com o cabelo na cara e um tipo diferente de atitude no
ar, esperava como o inferno que fosse o suficiente. Deveria ter sido dado
que, nas vezes em que a vi naquela época, ela estava muito doida.

Mas Harleigh Rose me avisou.

Farrah era viciada, mas era esperta demais para ser tomada como certa.

Então, quando ela se aproximou do braço de Reaper, sabia que teria que
usar todas as ferramentas do meu arsenal para fazê-la acreditar que era
outra pessoa.

— Irmãos, — Reaper disse com uma inclinação do queixo e depois se


dirigiu a Laken com um sorriso. — Menina. Estão prontos para a luta?

— Porra, nasci pronto, Pres, — disse Twiz, pulando de um lado para o


outro levemente na ponta dos pés como um boxeador, dando alguns socos
no ar para garantir.

Reaper levantou o queixo para ele e depois olhou para mim. — Você
está pronto para a sua primeira vez, irmão? Não há emoção como essa em
todo este maldito mundo.

— Pronto para vencer, Pres.

Ele jogou a cabeça para trás e riu. — Wrath venceu nos últimos dois
anos consecutivos, você o vence, eu lhe darei permissão para foder
qualquer uma old lady por uma semana, não apenas uma noite miserável.
Você merece isso, porra.
— Pai, — disse Laken com um revirar de olhos amoroso, como se seu
pai estivesse apenas sendo bobo e indulgente, não imoral e psicótico.

— É uma pena levar uma pancada num rosto tão bonito, — Farrah
disse, seus olhos estreitos, fendas vermelhas. Estava claro que ela estava
chapada pra caralho.

Dei de ombros. — Não se preocupe muito com meu rosto, bonito ou


não. É minha mulher que quero manter ao meu lado e é por isso que vou
ganhar isso.

Farrah olhou para mim por um longo momento, depois se virou para
bater os cílios para o velho. — Por que você não deixa esse belo Lion ir
primeiro, Reaper? Ele quer provar a si mesmo para sua mulher, por que
não o fazer passar por todas as trinta e nove rodadas para provar isso?

Não houve nenhum lampejo de reconhecimento em seus olhos, mas o


jeito que ela jogou isso em mim me convenceu de que sabia quem eu era.

Então, lembrei-me que ela era uma vadia desprezível que gostava de
jogar jogos perigosos por esporte.

Ela provavelmente só queria me ver espancado e sangrando,


provavelmente começou como o demônio do inferno que ela era.

Reaper beijou-a longa, molhada e desleixada antes de se afastar e


declarar: — Feito. Vinte minutos, você levanta primeiro, sem camisa e no
ringue.

— Isso vai ser tão quente, — Laken sussurrou em meu ouvido quando
Mutt e Twiz me deram tapas nas costas para dar sorte.
Seria, muitas coisas, mas duvidava muito que seria quente.

Meus olhos procuraram Harleigh Rose novamente no quintal e fiz uma


careta quando vi Wrath conduzi-la para dentro da casa pela mão, seu rosto
normalmente estoico quebrado por um sorriso largo.

Harleigh Rose também estava sorrindo.

Essa raiva voltou, primitiva e forte demais para conter.

— É melhor usar o banheiro antes da luta, — murmurei, saindo de


Laken e indo atrás dos amantes falsos.

Falsos.

Eu disse a mim mesmo.

Mas a besta em mim que suavizei ao longo dos anos no Dom em mim,
fervia com a ideia de que ela fosse tocada por um homem.

Que se dane que ele estivesse com ela assim para protegê-la.

Eu era seu protetor.

Era desde que ela tinha seis anos e seria até que ela morresse em mais
ou menos cem anos, se eu tivesse algo a dizer sobre isso.

Meus pés me levaram escada acima para o quarto de Wrath antes que
qualquer esperança de minha mente racional pudesse entrar em ação.

Parei do lado de fora da porta, lutando para laçar a coisa selvagem em


meu peito e colocá-la no calcanhar.

Uma risada.
A risada sensual e encorpada que reconheci em qualquer lugar como a
de Harleigh Rose.

Um grunhido.

Profundo, viril.

Não dela.

Wrath.

Podia sentir a ruptura entre as personalidades caindo, o momento em


que meu Dr. Jekyll, meu policial bom, deu lugar ao pagão que era Hyde.

Meu pé bateu na porta com tanta força que a lateral se estilhaçou e


então estava atacando, o corpo tão tenso com fúria contida que era uma
maravilha que eu pudesse me mover.

— Que porra é essa, Danner! — Harleigh Rose gritou comigo de onde


estava sentada de pernas cruzadas no chão ao lado da cama. — A porta
estava aberta, porra.

Rastreei cada centímetro do corpo dela com meus olhos, testei o cheiro
no ar em busca de sexo como algum tipo de cão de caça, e depois fui até
ela, não satisfeito por ela estar vestida e intocada, e minha até que tivesse
meus braços em volta dela e minha boca na dela.

Comi seu grunhido de protesto até que era um gemido e ela derreteu
como sempre fazia em meus braços.

Sim. Minha.
— Irmão, já ouviu falar da porra de batida? — Wrath perguntou atrás
de mim.

Girei, empurrando-o no ombro com força. — O que diabos estava


fazendo aqui rindo e gemendo de qualquer maneira?

Wrath olhou para mim implacavelmente por um momento e depois


explodiu em uma risada enferrujada. — Foda-me, isso é bom. Oh, porra.

Harleigh Rose riu levemente atrás de mim. — Não estou reclamando,


mas foi uma fúria alfa incrível.

— Te fiz uma pergunta, — disse a Wrath, os punhos cerrados para


conter o desejo de socá-lo.

Ele era grande, muito grande, e sabia que precisava de minha energia
para o The Fight.

— Cara, — resmunguei.

— Não há muito a dizer, a maioria pode ser dita num grunhido —


explicou Wrath, lágrimas reais de alegria em seus olhos. — E sua mulher ri,
pelo que posso dizer, é uma característica Garro.

Harleigh Rose veio ao meu lado e passou a mão em volta da minha


cintura. — Você me conhece e Wrath, somos apenas amigos. É... é legal ter
alguém com quem conversar sobre meu irmão. — Seus olhos estavam
arregalados e brilhando de tristeza quando ela olhou para mim. —
Saudades dele.
Meu braço deslizou ao redor dela e a pressionei na minha frente. Fechei
os olhos, respirei fundo seu perfume floral, tão perfeito para minha Rosie e
tão em desacordo com a Harleigh Rose do mundo.

— Um pouco no limite, — murmurei finalmente, olhando para ela e


depois para Wrath num silencioso pedido de desculpas. — Preparando-me
para a luta.

Wrath bufou. — Um pouco de ciúme, mais parecido, mas o que você


tiver que dizer a si mesmo, irmão.

Olhei para ele. — Se você parasse de beijá-la, pode ajudar com isso.

Wrath sorriu, sem arrependimento. — Beijo de novo, isso significa que


você luta com muita fúria esta noite. Porra, você poderia me derrubar com
a raiva que você tinha na sua cara quando você explodiu.

— Foi por muito pouco, — admiti, sem vergonha do meu ciúme, porque
não tinha vergonha de como a amava. — Não queria te foder na luta.
Contando com você para manter Harleigh Rose longe das mãos de outra
pessoa.

A alegria de Wrath caiu de seu rosto e caiu no chão como uma pedra. —
Porra, conte com isso, irmão.

Ofereci minha mão e nos batemos nas costas.

— Agora se perca por um segundo, mas cuidado com a porta, — disse a


ele, afastando-me e me virando para Harleigh Rose.
— Você tem isso, — ele murmurou com um sorriso quando saiu da sala
e fechou a porta atrás dele.

— Danner, o que você está fazendo? — Ela sibilou enquanto a levava


até a beira da cama e a empurrei para ela.

Ignorei-a, virando-a e puxando seus quadris para cima, para que sua
bunda ficasse inclinada como a porra de pêssego maduro.

Era perigoso foder com ela na casa dos Berserker. Extremamente


inapropriado para arriscar a nós dois cedendo às minhas necessidades
básicas.

Mas nada poderia ter me impedido naquele momento de reivindicar o


que era meu.

— Danner, — ela retrucou.

— Acho que você precisa se lembrar a quem você pertence, Rosie. —


cortei, sabendo pela forma como ela estremeceu que ela conhecia o tom da
minha voz. — Um lembrete de quem é o dono de sua boceta molhada e da
sua alma selvagem. Com quem você está dormindo e quem está adorando.

Estendi a mão, desabotoei seu jeans e o puxei para baixo de suas coxas
para que o jeans as mantivesse fechadas. Ela engasgou quando agarrei o T
de sua calcinha e puxei para que o tecido se partisse ao meio e depois
novamente quando caí de joelhos e espalhei suas nádegas com meus
polegares para que eu pudesse ver seu centro rosa e úmido. Tão
fodidamente linda minha boca cheia d'água.
— Fique quieta enquanto como você, — pedi antes de lamber de seu
clitóris até sua bunda, seu doce sabor explodindo na minha língua, mel e
inebriante como hidromel. — Você faz um barulho e vou levá-la sobre o
meu joelho mais tarde e punir este bela bunda com um remo.

Ela gemeu baixinho, seu corpo relaxando em sua posição enquanto


cedia a derrota à minha dominação. Foda-se, mas vivi para este momento
de vitória, pois no segundo ela se tornou flexível como cera quente em
minhas mãos modeladoras.

Bati em sua bunda com força. — O que você me diz?

— Sim, Lion, — ela gemeu, balançando para frente na ponta dos pés
enquanto golpeava sua outra bochecha.

Então, mergulhei minha cabeça e me banqueteei.

Mordi o interior de suas coxas até que elas brilharam vermelhas e


tremeram, chupei seus lábios doces e lambi seu clitóris dolorido e tenso até
que suas pernas tremeram ao meu redor. Meu pau doía, a ponta estava tão
molhada de pré-sêmen que podia senti-lo umedecer minha boxer, mas não
o toquei porque ter a boca nela era uma revelação suficiente.

Ela era meio céu, meio inferno, cada encontro no ápice de suas coxas. E
quando adorava lá, era uma oração e um pecado.

Adicionei três dedos em sua boceta, mesmo sabendo que seria demais,
ansioso para vê-la lutar para seguir minhas ordens.

Um gemido cortou sua garganta quando ela resistiu contra meus dedos
bombeando, contra o polegar que eu girei em volta de sua bunda.
— Cada centímetro seu é meu para fazer o que eu quiser, — disse a ela
antes de me inclinar para morder sua bunda linda. — Sua bunda, sua
boceta e sua boca bonita.

— Sim, Lion, — ela concordou numa respiração curta. — Use-me. Foda-


me em qualquer lugar onde você quiser, apenas, por favor, me dê seu pau.

— Não, — disse, pressionando um sorriso perverso contra sua coxa


enquanto golpeava sua bochecha novamente.

— Por favor, — ela repetiu.

Outro tapa.

— Deus, — ela engasgou, suas pernas tremendo, sua umidade


deslizando pelas pernas para eu lamber como creme derretendo. — Por
favor, seu bastardo de merda, me fode.

Lá estava ele, o atrevimento que veio através da submissão, o desespero


que a tornava indomável, selvagem mesmo, quando ela sucumbia à minha
vontade.

Levantei-me, empurrei meu short atlético para baixo e bati em sua


boceta encharcada.

Imediatamente, ela gemeu, — Preciso gozar.

— Não.

Curvei-me sobre seu corpo, levando seus mamilos frisados em minhas


mãos para puxar, torcer e brincar. Minha boca em seu pescoço, mordi e
chupei, desesperado para marcá-la e fazer isso até ela gritar, porque eu
sabia que ela poderia culpar Wrath. Beijei a marca de mordida em seu
pescoço e empurrei mais forte em sua boceta apertada.

— Vou gozar, — ela repetiu.

— Não até eu mandar.

— Foda-se, — ela gemeu asperamente.

Empurrei para cima e a empurrei para baixo, então sua espinha


afundou e sua bunda levantou mais alto.

— Pegue meu pau como minha boa puta e deixarei você gozar. —
grunhi quando o suor gotejava pela minha testa e caía em sua bunda rosa.

Bati de novo para garantir, amando a sensação do salto. Ambas as


minhas mãos agarraram sua bunda, abrindo-a para que eu pudesse cuspir
em nossa conexão e empurrar nela ainda mais forte, adorando a visão do
meu pau corado afundando em suas dobras rosa e quentes.

— Lion! — Ela gritou no travesseiro, suas pernas tremendo


descontroladamente. — Por favor, Deus, Lion, sou sua, sua, sua.

— Boa garota, — elogiei, sentindo suas palavras em minhas bolas. —


Goze para mim.

Ela quebrou.

Quebrando entre minhas mãos e sobre meu pau latejante como ondas
quebrando numa costa rochosa. Sua boceta me puxou, uma maré de sucção
que fez meu pau inchar e finalmente explodir dentro dela.
— Deus, posso sentir você, — ela respirou com admiração enquanto
meu esperma bombeava dentro dela.

Corri meu dedo em torno de nossa conexão, sentindo suas dobras


inchadas apertarem em torno de mim e empurrei meus quadris para frente
novamente com um gemido.

— Chupe, — pedi, levantando meus dedos molhados para sua boca


para ela provar nossos sucos. — Chupe nossa porra dos meus dedos e saiba
que você é minha, Harleigh Rose.

Sua boca exuberante envolveu meus dedos e chupou antes de formarem


as palavras contra a minha pele. — Sua, — ela concordou como se nem
precisasse perguntar.

Como ela sempre foi.

Minha.

O baque doentio de um punho se conectando à carne era alto mesmo


em meio ao rugido de vozes masculinas gritando seus conselhos e elogios
no ringue. Recuei do impacto, levando aquele soco no canto do meu
queixo, a dor como uma onda de choque através da minha mandíbula e no
meu cérebro.
Eu o sacudi e limpei a lama dos meus olhos o melhor que pude com
minhas mãos encharcadas de sangue e com crostas de sujeira, para estar
pronto para o próximo ataque.

Horas depois.

Três ou quatro, pelo menos.

Derrotei vinte e um irmãos e estava no meu vigésimo segundo, mas não


tinha certeza de que terminaria como os outros terminaram na vitória.

Meu corpo era uma contusão viva, cada membro tão pesado de fadiga
que era um milagre que eu ainda não tivesse caído no chão em derrota.

Já havia estabelecido um recorde para The Fight, batendo o de Wrath de


dezesseis rodadas invicto por um deslizamento de terra.

Queria terminar. Queria me deitar diante dos socos raivosos de Mutt e


deixá-lo levar a vitória.

Mas, eu não poderia fazer isso com Laken, mesmo que ela pensasse que
dormir com outro homem para mim fosse algum tipo de versão distorcida
de romântico.

Não a amava, nunca cheguei perto, mas gostava dela. Ela era doce e
atrevida, uma mulher que amava sua família e gostava de rir. Ela não
merecia ser passada como cerveja num copo de campeonato.

Então, quando Mutt se abaixou para a esquerda para me enganar, reuni


os restos de minha energia, fortifiquei-a com meu senso de justiça de aço e
balancei meu punho em um gancho de direita brutal que acertou o queixo
de Mutt assim que seu impulso veio para frente.

Seus olhos se arregalaram antes que a dor se instalasse e, depois,


rolaram para a parte de trás de sua cabeça quando ele balançou e caiu na
lama revirada aos meus pés.

A porra da multidão rugiu.

Vinte e dois homens abatidos, dezessete para ir.

O suor escorria pelo meu peito nu e arfante, levando sangue e sujeira


com ele, manchando o cós do meu short cinza, de modo que quase todo o
tecido estava pesado e saturado. Queria despi-lo, deitar na terra fria e
morrer do jeito que meu corpo parecia querer.

Mas concentrei minha mente cantando, apenas mais um, apenas mais um.

Em seguida, Grease pulou a corda e entrou no ringue, de meia-idade,


mas cheio de músculos densos que acumulou ao longo de uma vida inteira
de trabalho na academia. Seu sorriso era mau, afiado como uma lâmina,
seus punhos enrolados em martelos carnudos.

— É isso aí, irmão, — ele me provocou. — O tempo acabou para você.

Reaper sinalizou o início da luta gritando: — Sangue para cima e corpo


para baixo. O primeiro a cair no chão, perde.

Antes que ele terminasse de falar, Grease saltou para frente, seu punho
indo para minha têmpora.
Eu queria me mover, podia ouvir a voz de Harleigh Rose me
implorando para ter cuidado na confusão cacofônica de gritos da multidão,
mas não consegui encontrar a velocidade para escapar daquele soco fatal,
mesmo tentando.

Conectou com um som que senti mais do que ouvi, os nós dos dedos
esmagando contra esse ponto macio sobre meu ouvido, o punho
encontrando o osso com um estrondo surdo que explodiu em meu cérebro
e o atirou contra o outro lado do meu crânio.

Lutei para encontrar o meu caminho através da escuridão


desorientadora, para ficar consciente para manter Laken segura, certificar-
me que Wrath vencesse The Fight para que Harleigh Rose nunca fosse
tocada.

Mas, não consegui.

E um segundo depois, caí de joelhos na lama fedorenta e desmaiei.


Capítulo Vinte e Quatro
Eu queria ir até ele, mas não pude.

Em vez disso, tive que assistir quando Hendrix e Pope o arrastaram do


ringue para dentro da casa, Laken flutuando ao redor deles em apuros. Eu
queria derrubar seu corpo zumbindo longe com um mata-moscas e tomar
meu lugar de direito ao lado de Lion.

Em vez disso, estava ao lado de minha mãe, com ela frequentemente


curtindo pesadamente com Reaper e continuei assistindo o banho de
sangue lamacento que era a tradição Berserker. Foi só quando Wrath se
abaixou para sussurrar no meu ouvido, que parei de pensar em Danner e
comecei a me preocupar comigo mesma.

— Vou ganhar essa coisa, não se preocupe, Harls, — disse ele baixinho,
com um aperto estranhamente reconfortante no meu braço.

Ele começou a me chamar assim recentemente, quando percebemos que


realmente gostávamos um do outro o suficiente para transformar nosso
relacionamento falso numa amizade real.

— Isso seria bom, — disse a ele.

Seu sorriso era um raio branco de esperança em sua barba escura. —


Peguei você.
Eu me afastei para que ele pudesse puxar sua camiseta preta pela nuca e
revelar o comprimento enorme, musculoso e tatuado de seu torso. As
mulheres ao meu redor suspiraram com a visão, mas eu apenas revirei os
olhos.

— Mostre-se, — murmurei.

Wrath me surpreendeu ao piscar os olhos.

Então, ele passou a perna por cima da corda e entrou no ringue para
lutar contra Grease, que ainda estava de pé depois de mais quinze rodadas.

Esta seria a última luta.

O vencedor leva tudo.

Tipo, o vencedor me leva.

Reaper não anunciou as palavras iniciais da luta, como fazia


normalmente no segundo em que os lutadores entravam no círculo. Em
vez disso, ele sussurrou suavemente para que Grease se aproximasse de
nós, onde estávamos numa seção VIP da multidão.

Ele falou com seu Sargento de Armas baixinho demais para eu ouvir,
mesmo estando tão perto dele, mas eu vi quando ele deslizou algo para
Grease que brilhava metálico nas luzes brilhantes do estádio.

Pisquei e o Grease estava de volta ao seu lado do ringue, Reaper


dizendo as palavras e a luta começava.

Wrath começou feroz, seus punhos tão poderosos que um único soco
parecia balançar o lutador mais velho em seu âmago. Foi uma coisa incrível
de se ver, como Davi versus Golias só que desta vez, eu esperava como o
inferno meu Golias ganhasse.

Podia ouvir algumas das mulheres gritando com ele lascivamente,


jogando a calcinha na lama a seus pés.

Não eram tantas quanto as que já cobriam o chão com as lutas de


Danner.

Wrath pode ter sido uma potência, mas foi Danner que foi letal como a
ponta afiada de uma lâmina.

Eu ainda podia sentir o molhado na minha calcinha de observá-lo, seus


músculos cortados enfatizados pela tensão das lutas, brilhando na luz
branca como um guerreiro de mármore, mas coberto como algum guerreiro
selvagem em sangue e lama.

Nunca tinha visto nada mais quente do que ele, serpenteando em torno
de socos e mergulhando em corpos com uma série de socos viciosos,
acertando perfeitamente nos rins, maçãs do rosto e na saliência estreita da
mandíbula.

Estava ansiosa para foder com ele quando ele chegasse em casa, para
adorá-lo como um soldado que voltou da guerra, só que agora ele estava
em coma em algum lugar com aquela vadia, Laken, e eu estava assistindo
outro homem me defender.

Um homem, percebi quando entrei de volta na luta, que estava


perdendo de repente.
— Foda-se, — Wrath rugiu quando Grease deu um soco malicioso no
lado esquerdo de seu intestino, sua pele se abrindo sob ele como se tivesse
sido cortado com uma lâmina quente.

Sangue escorreu de seu lado e caiu na lama a seus pés.

Wrath retaliou investindo contra Grease, prendendo-o em um braço e


desferindo dois golpes rápidos em sua cabeça.

Mas Grease estava perto o suficiente para acertar socos curtos e afiados
no estômago de Wrath, que floresceu repetidamente em feridas abertas.

Que porra estava acontecendo?

Wrath o soltou com um grunhido de dor, sua mão indo para um corte
particularmente horrível.

Algo pegou e piscou para mim nas luzes, algo afixado na mão de
Grease.

Socos ingleses de aparência perversa, curvados nas extremidades em


lâminas curtas.

Ofeguei e olhei imediatamente para Reaper, que não estava olhando


para o ringue a luta, mas para mim, minha mãe dobrada sob seu braço e
um sorriso enorme no rosto.

— Armas não são permitidas em The Fight, — acusei.

Os olhos de Reaper brilharam com satisfação molhada. — Acho que


você esqueceu que este é o meu clube e sou o único que faz as regras aqui.
Quero armas, coloco armas nas mãos dos meus filhos da puta dos soldados
e ninguém vai dizer porra de merda sobre isso.

— Estou dizendo merda sobre isso, — cuspi.

— Sim, você está, — minha mãe acrescentou com um sorriso


dissimulado. — Por que você acha que isso está acontecendo, docinho?

Eu olhei para eles.

— Você quer ser Berserker agora, garota, você tem que ser batizada com
o estilo Berserker, ungida com a porra de meus irmãos, — declarou Reaper.

Um calafrio atingiu minha espinha e a puxou para trás. — Não.

— Lealdade é tudo, princesa, — ele me disse quando Wrath soltou


outro grunhido de dor no ringue. — Os irmãos provam isso com sangue
naquele ringue e as mulheres provam cuidando deles quando acabarem.

— Isso é tão fodido, — gritei sobre o rugido dos gritos de comemoração


quando Wrath cambaleou e quase caiu de joelhos. — Mãe, você não pode
estar bem com isso?

— Bem com isso? — Ela perguntou, seu rosto tão semelhante ao meu
enrugado em choque. — Harleigh baby, foi minha ideia.

A multidão gritou de novo, puxando meu olhar para a lama onde


Wrath havia caído de joelhos, balançando, mas ainda, de alguma forma em
pé. Seus olhos, um já fechado pelo inchaço, vermelho de sangue de um
corte na testa, encontraram os meus e se encheram de agonia. Não só por
ele, mas por mim.
— Acabou, filho da puta, — Grease cantou, depois desferiu um último
golpe brutal na bochecha esquerda de Wrath.

E o Golias desmoronou.

— Não, — gritei, tão longo e tão alto que fui lançada de volta ao dia em
que meu pai levou um tiro no peito, só que desta vez não tinha Danner
para me proteger da verdade.

Grease venceu a luta. E eu era seu prêmio, se ele me quisesse.

Imediatamente, virei nos calcanhares e corri para fora do círculo.

Andei três metros antes de Grease me pegar, seus braços escorregadios


de lama e sangue, mas inflexíveis ao redor do meu torso enquanto ele me
arrastava escada acima para dentro da casa gritando: — Peguei meu
prêmio!

Eu ainda estava gritando, chutando, chorando e arranhando vergões


profundos em seus braços enquanto ele me carregava para a sala de estar e
me jogava no sofá.

Twiz apareceu por cima de mim e prendeu meus pulsos, Pink Eye ao pé
do sofá segurou minhas botas de chute. Grease zombou de mim e me
montou, depois se inclinou mais para sussurrar em meu ouvido.

— É assim que você desvenda um rato.

Hesitei por um breve segundo.

Que porra é essa?

E, então, o pandemônio se soltou.


Danner estava lá de repente, ainda imundo da luta, seu rosto uma
máscara negra de raiva quando ele soltou um rugido, um tão poderoso que
balançou as paredes e se lançou para atacar Grease.

Desta vez, rapidamente, ele ganhou a vantagem, arrastando o homem


mais velho para o chão, para poder acertar soco após um soco em seu rosto
maníaco rindo.

Então, Wrath estava lá, puxando Twiz e Pink Eye de cima de mim,
enquanto ele sangrava por todo o chão por causa de seus ferimentos.

— Minha, — ele grunhiu para eles, então bateu em seu peito. — Porra,
minha.

Aproveitei a oportunidade para pular e desferir um chute na parte


interna da coxa de Pink Eye, logo acima do joelho que o fez uivar e cair no
chão.

Acabei de rasgar seu ACL15.

— BASTA, — Reaper berrou da boca do salão, sua arma apontada para


todos nós.

Todos pararam, menos Danner, que desferiu mais um golpe no rosto


polpudo de Grease.

— Você está terminado aqui, — disse Reaper numa voz como um golpe
de martelo. — Entregue seu colete e dê a porra do fora deste clube.

15 Anterior Cruciate Ligament (ACL) Injuries – Lesõ es do Ligamento Cruzado Anterior (LCA) - a ruptura, ou
estiramento, do ligamento cruzado anterior é uma das lesõ es mais comuns no joelho.
Danner olhou para ele por cima do corpo gorgolejante de Grease. —
Esta merda está fodida, Pres. Não significa que não posso fazer minha
parte pelo clube.

— Isso é exatamente o que porra significa, seu boceta, — cuspiu Reaper.


— Você nega seus irmãos por uma mulher? Alguém que nem mesmo é
sua? Porra, me enoja. Irmãos antes de tudo, esse é o caralho do lema aqui e
você provou novamente que não consegue engolir isso. Então, dê o fora,
porra, antes que eu faça Hendrix te arrastar para fora daqui.

Dei um passo à frente, para dizer algo para retificar a situação antes que
os últimos três anos do trabalho de Danner fossem pelo ralo, mas Wrath
me acalmou com uma mão cuidadosa e sutilmente balançou a cabeça.

Danner levantou-se lentamente, seus olhos fixos nos de Reaper, mesmo


quando ele colocou um punhado de cuspe no corpo de Grease e depois
parou quando disse: — Vim aqui por uma porra de irmandade e liberdade.
Não por mais regras fodidas forçadas a mim.

Reaper zombou dele. — Fora.

Ele não olhou para mim, mas eu sabia que ele queria, enquanto saía
pela porta da frente para a noite.

Reaper apontou sua arma para Wrath, semicerrando os olhos em foco.


— Faça algo assim de novo, irmão Wrath, não vou apenas excomungar seu
traseiro, mas também te meto uma porra de uma bala nele, ouviu?

Wrath grunhiu.
— E você, — ele me disse, colocando sua arma entre mim e o corredor
atrás dele. — Tenho outra maneira de provar que você é leal, você é muito
puritana para tomar uma porra de um pau. Chegue ao meu escritório.

Ele girou nos calcanhares sem esperar que eu o seguisse.

Eu não queria, queria ir ao Danner e me certificar de que ele estava bem,


perguntar a ele que porra faríamos em seguida, porque neste ponto, não
havia nada que eu não faria para derrubar esses filhos da puta.

— Vá, — Wrath me ordenou quietamente. — Você quer uma bala no


cérebro? Porra, vá.

Então, eu fiz.

Mas, primeiro, chutei Grease em sua barriga e cuspi em seu rosto.

Reaper estava esperando em seu escritório, a porta aberta, acariciando


sua arma onde ela estava em sua mesa.

— Feche a porta, garota.

Eu fiz, então entrei na sala para sentar numa das cadeiras do outro lado
da mesa dele. A raiva correu tão rapidamente em minhas veias, que eu
estava preocupada de não ser capaz de conter o fluxo dela da minha boca
se ele me pedisse para falar.

— Temos um traidor aqui, — ele abriu, claramente esperando uma


reação reveladora de mim.

Eu estava muito cansada, muito zangada para dar a ele qualquer coisa,
senão uma dose de atrevimento. — Nenhuma merda.
Suas sobrancelhas dele saltaram. — Você sabe?

Dei de ombros. — Grease apenas zombou da minha cara antes de tentar


entrar lá comigo.

— É o Lion.

Eu dei de ombros novamente. — Não estou perto dele, não sei o


suficiente para lhe dar minha opinião.

— Sim, — ele disse balançando a cabeça, ligando e desligando a trava


de sua arma com audíveis clique, clique, clique. — Sua mãe disse-me que o
reconheceu há um tempo, mas não sabia como. Foi só quando ela o
conheceu antes da luta que percebeu que o conhecia como um porco de
merda em Entrance. Então, estou pensando, Harleigh Rose Garro, não tem
como você ter esquecido isso também, não é?

Meu coração estava martelando, minhas palmas tão escorregadias que


escorregaram dos braços da cadeira e para o meu colo. — Como eu disse,
não estou perto dele, não posso dizer que lhe dei muita atenção.

— Besteira do caralho, — ele rugiu, levantando-se tão abruptamente


que sua cadeira voou para trás e, então, ele estava inclinado sobre a mesa,
sua Glock apontada para minha testa. — Você sabia. Por que diabos você
saberia e não me diria, hein? A menos que você esteja aqui pelo seu
maldito pai.

— Não estou, — corri para dizer. — Pensei tê-lo reconhecido, mas não
me lembrava de onde. Devia ser uma criança quando ele era policial lá, e
eu era filha de um motoqueiro, o que eu sabia sobre policiais?
Ele hesitou, respirando pesadamente, seus olhos escuros sinistros. —
Difícil de acreditar, garota, especialmente quando você não se permitiria
ter Grease. Como vou confiar em você?

— Você pode, — disse com um pequeno sorriso, como se estar sob a


mira de uma arma não fosse grande coisa, porque eu não era culpada. — O
que você quer que eu faça para provar isso?

Seu sorriso era perverso e afiado como a borda de uma lâmina. —


Quero deixar claro antes de dizer não a isso. Tem um homem vigiando sua
família, especialmente aquela doce peça que Garro engravidou com sua
semente. Você não me prova que renunciou aos Fallen fazendo o que agora
vou pedir para fazer, vou mandar meu homem estripá-la, tirar-lhe os bebês
enquanto ela ainda está viva e colocar uma bala em todas as três cabeças.
Você está me entendendo?

Nunca estive tão assustada na minha vida.

Foda-se a arma apontada para minha testa.

Prefiro que ele exploda essa bala no meu cérebro do que pensar em fazer
algo tão grotesco com alguém tão malditamente bonito.

— Eu vou fazer isso, Reaper, — disse, minha voz surpreendentemente


firme. — Eu vou fazer isso, apenas me diga que porra é.

Reaper me estudou, examinando-me em busca de sinceridade, depois


encontrou o que precisava em meus olhos desesperados, ele acionou a
trava de segurança de sua arma e se acomodou em sua cadeira com um
sorriso plácido.
— Você vai matar o Lion por mim, princesa. E você vai fazer isso esta
noite.
Capítulo Vinte e Cinco
A casa estava surpreendentemente calma quando entrei pela porta, "Die
For You" do The Weeknd, tocando nos alto-falantes enquanto Danner
cortava vegetais no balcão, Hero se enrolou em seus pés até que me ouviu e
veio correndo para o meu lado.

Caí de joelhos para lhe arranhar a orelha, mas mantive meus olhos no
meu homem. Ele não disse nada e até mesmo seus olhos estavam
indecifráveis quando dei um beijo na cabeça do cachorro e me aproximei
dele.

Ele tomou banho, limpo da sujeira e sangue coagulado, e cheirava tão


bem que quase caí em prantos.

Deus, sentiria falta do cheiro dele.

— Você está bem? — perguntei, orgulhosa por minha voz não tremer.

— Melhor pergunta, você está? — Ele disse, avançando para agarrar


minha mão quando hesitei em ir até ele para que ele pudesse me puxar
para seus braços.

— Sim, — murmurei contra seu peito. — Obrigada por me salvar.


Novamente.
— A qualquer momento, Rosie, — disse ele, e havia uma riqueza oculta
de significado nisso.

Inclinei-me para trás em seus braços para estudar os ângulos fortes de


seu rosto, encontrando uma contusão profunda em sua mandíbula e um
corte inchado acima da sobrancelha, que ele já havia fechado com fita
isolante.

— Eu teria limpado você, sou enfermeira agora, sabe?

Foi uma provocação idiota, mas ele sorriu para mim. — Não queria que
você se preocupasse com isso quando voltasse. O banho e o cuidado
também me deram tempo para colocar minhas merdas sob controle. Você
demorou um tempo, o que aconteceu depois que eu saí?

Mordi meu lábio e me forcei a parar antes de dizer qualquer coisa. —


Wrath teve problemas, Reaper me repreendeu por não ser uma jogadora,
também conhecida, como uma puta de equipe. Nada muito sério.

— Bom, — disse ele antes de me beijar com firmeza, virando-me e


batendo na minha bunda. — Sente-se, estou fazendo para você minha
única especialidade de jantar.

— Quer dizer que você pode fazer mais do que cereais? — disse com
um falso suspiro para que ele sorrisse.

Ele pode.

Eu queria reunir todos os seus sorrisos e colocá-los numa jarra para tirar
e olhar mais tarde, quando tudo terminasse e nunca mais o visse.
— Sim, pirralha, acontece que eu faço a melhor porra de salsicha e
macarrão com queijo deste lado da fronteira, — ele me disse com orgulho.

— Você está de bom humor, o que eu totalmente não esperava, já que


você acabou de ser excomungado do clube que está tentando derrubar há
três anos.

Ele voltou a cortar, a enorme faca de açougueiro brilhando nas luzes do


teto. — Sim, isso é porque eu tenho uma mulher durona na minha mesa
que vai me manter na ponta dos pés a noite toda até eu decidir dobrá-la e
transformá-la em minha boa garota enquanto ela toma meu pau. Estou
fazendo meu jantar incrível e meu cachorro está aos meus pés. As coisas
estão bem.

— Mais uma vez, vou mencionar que três anos do trabalho da sua vida
foram pelo ralo... preciso verificar se você tem uma concussão?

Ele sorriu, brincando, como só eu poderia fazê-lo rir.

Salvei este na minha jarra também.

— Queria que desaparecessem, mesmo assim queria que desaparecessem.


Não me importo que sejam motoqueiros, me importo que sejam pessoas
horríveis fazendo coisas horríveis para civis que não acreditaram nisso.
Espero que a RCMP encontre uma maneira de fazer isso e acho que, em
meus três anos de serviço, eu, porra, os coloquei bem mais perto do que
estavam antes. Já liguei e tenho uma reunião com o Sargento amanhã.
Provavelmente serei transferido. É uma merda que não consegui terminar
esse trabalho, mas isso significava deixar alguém te estuprar, então, tenho
que admitir, Rosie, a maior parte de mim está feliz pra caralho por
estarmos fora de lá.

— Nós? — perguntei suavemente.

Ele congelou, aquela quietude que ele podia afetar era árida, a sala ficou
se solidificou com ele. — Você não está comigo?

— Estou com você, só preciso ver isso até o fim, — sussurrei, meu
coração parando como uma coisa doente no meu peito.

— Mesmo se eu pudesse voltar com Reaper, é muito arriscado, — disse


ele, com os braços cruzados e os pés separados, pronto para lutar comigo
sobre isso.

— Eu sei que posso fazer isso.

Ele não percebeu que eu não estava usando um "nós" universal. Ele deu
a volta no balcão para olhar nos meus olhos. Tentei memorizar a maneira
como ele parecia me olhando daquele jeito, lindo e justo como o anjo
Gabriel descido do céu para matar todos os meus demônios.

— Isto não é Romeu e Julieta, Rosie. Você acha que apenas uma pessoa
vai morrer se formos descobertos? Não. Nós dois sabemos, se você se
permitir pensar sobre isso logicamente por um segundo, que continuamos
a fazer isso e seremos descobertos, não somos apenas você e eu em perigo.
São seus amigos e família, seu pai, Loulou e seus fodidos filhos por nascer,
seu irmão e sua namorada, uma de suas melhores amigas, Lila, Nova e Bat,
e Maja e Buck. Quer ver todas essas vidas pegando fogo porque fomos
muito egoístas para deixar de lado essa coisa que temos entre nós?
Ele me sacudiu suavemente pelos ombros, seus olhos tão verdes que
queimavam através de mim como ácido.

Algo em mim quebrou com a pungência de suas palavras e a raiva me


inundou. Eu queria me juntar à lua, amaldiçoar os deuses e sacrificar
qualquer um que não fosse ele. Em vez disso, empurrei-o com força com
um empurrão de duas mãos e rosnei para ele, mesmo quando senti meu
coração bater e pulsar por ele, o chute batia a cada palavra que eu gritava.

— Amar você nunca foi uma decisão que tomei. Não havia nada
consciente sobre isso, então como posso ser lógica sobre isso agora? Sei que
não faz sentido, nós dois, o mocinho bom e a garota má, com sua família e
minha família. Sei que te enlouqueço e que te irrito. Você acha que eu não
sei de tudo isso? Bem, eu faço. Então, pare de me dizer para pensar
logicamente sobre essa merda. Não existe lógica para o nosso amor, apenas
um sentimento que tenho tão profundo no meu coração se o arrancar, só
sei que vou parar de viver.

— Você está me dizendo que me ama? — Ele perguntou, tão baixo que
quase não ouvi as palavras, mas as senti. Cada uma tocou uma nota bem
dentro de mim, puxando um instrumento que só ele sabia tocar.

Pisquei para ele, mordi meus lábios e me xinguei por deixar minha
cabeça quente me colocar numa situação tão fodida e vulnerável,
especialmente em face do que eu tinha que fazer.

Mas, então me ocorreu que Reaper, Mutt e Twiz estavam do lado de


fora esperando, armas em seus cintos e facas malvadas em suas botas. Não
havia como escapar do que eu tinha que fazer para garantir a segurança da
minha família.

Era Danner ou eles. E havia muitos mais deles. incontáveis nomes que
ele acabara de exibir como uma lista de compras.

Um ou uma dúzia.

O amor da minha vida ou das pessoas que me deram vida e me criaram.

Eu sabia qual seria a resposta.

Então, respirei fundo e decidi ser egoísta como só eu poderia ser.

Decidi aproveitar o único momento que teria com ele, onde poderia
amá-lo livremente.

— Sim, e daí? — disse, atrevida porque ele gostou e eu sabia. — Não é


como se você não me amasse também.

— Sim, isso é verdade, — ele concordou instantaneamente, com aquele


sotaque arrastado e doce que usava quando eu dizia algo que o afetava. —
Eu amo você e sei, como a maioria das pessoas sabe que o sol nasce no leste
e se põe no oeste, que os motoqueiros conhecem o som dos canos da
Harley, e os policiais sabem a diferença entre a porra do certo e a porra do
errado, que você e eu somos feitos um para o outro.

— Foda-se, — respirei através do fluxo de lágrimas atacando a parte de


trás dos meus olhos. — Você vai me fazer chorar de novo. Jesus Cristo, o
que há de errado comigo ultimamente?
Danner mordeu o lado de seu sorriso, mas depois desistiu e me
explodiu com a beleza de seu sorriso completo, rugas cortadas em suas
bochechas e pressionadas ao lado de seus olhos brilhantes. Eu até amei
seus dentes fortes e quadrados tão brancos contra sua pele.

— Foda-se, — repeti novamente, sentindo-me oprimida quase ao ponto


da histeria. — Sinto que vou desmaiar ou algo igualmente fraco.

Sua cabeça tombou para trás enquanto ele ria, expondo a longa coluna
de sua garganta. Antes daquele momento, eu nunca soube que um pomo
de Adão podia ser tão malditamente sexy. Antes que eu pudesse me
sacudir para fora do meu estupor, ele estava em cima de mim, levantando-
me no ar para que eu instintivamente me envolvesse em torno dele.

— Você me ama, Rosie? — Ele perguntou, olhando para mim com


alegria despreocupada, o rosto infantilmente aberto.

Eu queria rasgá-lo, membro por membro, com meus dentes e dedos


transformados em garras. Queria segurar o coração de leão em minhas
mãos com muita força e senti-lo bater e pulsar por mim, contra mim.
Queria desmontá-lo, pedaço por pedaço, para satisfazer minha paixão
ardente, minha raiva esmagadora pelas mudanças que ele causou em
minha vida e em mim.

Mas então... eu queria sentar de pernas cruzadas no meio da bagunça,


alisar minhas garras virando os dedos sobre as bordas irregulares dele e
colocá-lo de volta no lugar novamente. Queria traçar o contorno de cada
um de seus membros, unir seus músculos e encaixar seus ossos nas juntas.
Queria me costurar em cada átomo de seu DNA e viver lá para sempre,
intrinsecamente ligada a ele, para que se qualquer força tentasse me
afastar, como eu sabia que faria, eles teriam que matá-lo para nos separar.

Era uma maneira horrível de amar alguém, mas era o que eu sentia por
Lionel Danner e sabia que isso nunca mudaria.

— Sim, Lion, — disse, colocando a mão em seu rosto de ossos fortes. —


Eu te amo pra caralho, ok?

Engasguei quando ele me deslizou para baixo de seu corpo, cada plano
duro deslizando contra minhas curvas leves como uma carícia áspera, e ele
aproveitou meus lábios separados, para selá-los com os seus.

Ele me beijou como se fosse meu dono, uma mão indo para a pele sobre
o meu coração e pressionando lá, quente e pesada, e a outra mergulhando
no meu cabelo para que ele pudesse me abraçar como queria. Senti sua
reivindicação quase dolorosamente quando ele se tatuou em cada
centímetro da minha pele, sincronizando-se com cada batida do meu
coração renascido.

— Porra, também te amo, — ele murmurou contra meus lábios úmidos


antes de me empurrar de volta contra o balcão. — Brutalmente,
selvagemente, porra, infinitamente.

Senti meu coração partido no meu peito, o sangue envenenado batendo


através de cada câmara até que bombeou para fora pelas minhas veias
inundadas de luz, então meu plasma parecia champanhe. A tontura
cresceu na minha barriga e eu soltei uma risadinha diáfana que não
combinava comigo.
Ele era um bom homem.

O tipo de ajudar senhoras idosas a atravessar a rua, salvar gatinhos de


galhos de árvores altas e abrir portas de carros para suas acompanhantes.

Mas, ele também, era um homem mau.

O tipo que gostava de marcar minha pele com hematomas e riscar


minha bunda como a porra de uma bengala de doce com o chicote duro de
seu cinto.

Ele estava bem, acabou mal e foi tudo por minha causa.

A verdade disso não deveria ter me arrasado como um incêndio


florestal até que eu fosse apenas cinzas e cinzas em sua mão, mas
aconteceu.

Ele não era totalmente bom e eu não era ruim.

Não separadamente e definitivamente não juntos.

Juntos, éramos muitas coisas, e nenhuma delas fazia sentido, mas todas
funcionavam.

Concentrei-me em seus lábios nos meus, a sensação de seu calor ao meu


redor, a maneira como suas mãos embalavam meu rosto como se eu fosse
preciosa. E percebi que aquela semente podre no centro da minha alma se
foi, aquele implante de Farrah que sempre me disse que eu não era digna,
erradicado por seu amor. Danner era o melhor homem que conheci e me
amava.

Na verdade, ele me amava.


Lágrimas acumularam no fundo dos meus olhos e deslizaram pelo meu
rosto.

Eu o segurei perto, beijando-o com toda a minha paixão feroz por ele e
cuidadosamente movi uma mão pelo balcão até a tábua de corte. Meus
dedos cerraram em torno do cabo frio, o peso da faca tão semelhante ao do
cutelo, mas a situação em tal contraste com a de Cricket que, por um breve
momento, hesitei.

Afastei-me dele para que ele pudesse ver meus olhos, cheios de
lágrimas e os destroços de um coração partido e sussurrei: — Sinto muito.

Então, mergulhei a lâmina pesada em sua carne macia.

Sua respiração congelou em sua garganta, seus lábios se separaram dos


meus numa confusão atordoada.

Escorreguei para fora do balcão e gentilmente o afastei para que eu


pudesse recuar.

Ele cambaleou, sua mão se movendo para a arma que se projetava do


canto superior esquerdo de seu peito.

— Rosie, — ele sussurrou e havia tanto espanto na palavra que meu


coração desabou com o peso dela e comecei a soluçar. — Por que você está
fazendo isso?

Eu não estava fazendo isso. Estava feito.


Mas eu disse: — Nunca me importei com você, Danner, — porque não
queria que ele se levantasse e me seguisse, se pudesse, se ele fosse estúpido
o suficiente para fazê-lo depois que eu o espetei como um porco.

Observei quando ele tentou dar um passo à frente e caiu de lado,


batendo no chão com o ombro oposto e rolando com um gemido
angustiado de costas.

Hero latiu para mim, rosnando e uivando ao lado de seu mestre, sem
saber se eu era a ameaça ou também estava sob ataque.

Não sei o que esperava, exceto que sempre pensei em Lion como
imortal, uma divindade dos tempos antigos, feito de carne e osso, mas
animado por algo mais forte, mais seguro de espírito do que os meros
mortais já possuíram. Acho que é por isso que fiquei tão chocada quando o
sangue vermelho fluiu da ferida aberta em seu peito musculoso e
derramou em torrentes sedosas em sua frente.

Pisquei ao ver Danner pego como uma mosca na teia de seu próprio
sangue pegajoso. Então, pisquei novamente com a visão do cabo grosso da
faca de açougueiro saindo de sua carne.

A faca de açougueiro que eu mesma coloquei lá.

Queria ir até ele, provar a ele que ainda não éramos a recontagem
moderna de Romeu e Julieta, que não o deixaria morrer e que não me
mataria se ele o fizesse.

Mas, isso seria uma mentira.


Então, em vez disso, tirei meu telefone no bolso de trás, tirei uma foto
enquanto Danner estava deitado em estado de choque, sangrando no chão,
depois saí da casa e fui direto para a traseira da moto de Reaper.

— Boa menina, — ele elogiou quando lhe mostrei a foto.

Mas as palavras eram punhais em meus ouvidos.

Porque eu sabia que, não importa o que acontecesse, nunca seria uma
boa garota novamente.
Capítulo Vinte e Seis
Danner

Sabia antes de abrir os olhos o que tinha acontecido, mas não sabia se
estava vivo ou morto. Parte de mim esperava que estivesse morto. Se pude
me apaixonar perdidamente por uma mulher capaz de literalmente cravar
uma faca no meu coração, a morte seria o máximo de paz que poderia
esperar. Caso contrário, passaria o resto da minha vida como um
arqueólogo louco revisando cada centímetro do meu passado com Harleigh
Rose para ver onde errei.

Não queria acreditar que ela faria algo assim comigo, claro que não,
mas não havia exatamente uma desculpa razoável para ela me esfaquear
com a porra de uma faca de açougueiro, certo?

— Se abrir os olhos, podemos ter nossa conversa mais rápido do que


isso e posso chamar o médico aqui para verificar você.

Porra.

Era oficial.

Eu não estava morto.


Não havia como estar, porque eu tinha vivido uma vida boa, não
merecia ir para o inferno e esse era o único lugar, cruel o suficiente, para
me ligar na condenação eterna a um homem que tinha sido meu inimigo ao
longo da minha carreira.

Zeus Garro.

Separei minhas pálpebras arenosas e, com certeza, lá estava ele sentado


numa cadeira laranja quase comicamente pequena ao lado da minha cama
de hospital. Ele parecia rude, bolsas sob os olhos rançosos, seu emaranhado
de cabelo castanho e dourado, normalmente varrido pelo vento mais do
que sua bagunça habitual.

— Parece um merda, — resmunguei.

Ele jogou a cabeça para trás e riu da mesma maneira que Harleigh Rose.

A dor iluminou meu corpo como uma placa de luz, concentrada em


meu coração e a ferida latejante sob minha clavícula esquerda.

— Sempre disse que policiais não têm senso de humor, mas você está
me provando que estou errado há anos. — Ele balançou a cabeça,
empurrou para trás uma mecha de cabelo errante e se inclinou para frente
nos antebraços. — Ela deixou uma nota para você.

— O quê?

— H.R., ela e King costumavam fazer isso quando eram crianças.


Deixavam notas um para o outro em lugares estranhos, dentro de sapatos,
livros, coisas assim. King voltou para casa ontem à noite, encontrou uma
nota na fechadura da porta da frente, que o levou a uma que ela deixou em
seu apartamento, escondida no ventilador de teto.

Ele sacudiu a cabeça para a bandeja anexada à minha cama e se inclinou


para a direita de mim.

Levantei os olhos da nota com os olhos cegos, vendo Rosie parada


diante do meu corpo com lágrimas escorrendo pelo rosto e uma expressão
de dolorosa determinação em seus olhos. Lembrei-me da vibração estranha
que ela estava emitindo quando entrou pela porta, de como ela me beijou
desesperadamente, agressivamente, como se ela nunca tivesse o suficiente
de mim.

— A garota sabia o que estava fazendo, — Garro interrompeu,


apontando com o queixo no meu ombro enfaixado e na parte superior do
peito. — Prendeu você perto do coração, para saberem que ela estava
falando sério, mas sem nada de importante. Você ficará dolorido, precisará
de alguma terapia para o ombro, mas eles o colocaram em cirurgia por uma
hora e disseram que você ficaria bem.

— Quem me encontrou?

— Ela enviou uma mensagem de algum número privado para Cressida


dizendo para se encontrarem no seu endereço, se ela quisesse conversar.
Cress tem um toque suave, por isso, apesar de a termos evitado, Cress foi.
Chegou lá quando as motos estavam se afastando, chamou King de seu
carro e a ambulância, de dentro, quando viu você sangrando.

Jesus Cristo.

— Agora, está tudo resolvido, porra, por que você não me diz o que
diabos você e minha filha andaram aprontando nos últimos dois meses? —
Ele rosnou, inclinando-se para frente em braços poderosos para chegar
perto do meu rosto. — Pode estar na cama, mas sou o tipo de cara que não
se importa de adicionar à sua miséria.

— Jesus, Garro, fui esfaqueado pelo amor da porra da minha vida, por
que não dá a um cara um minuto aqui? — rebati para ele, então estremeci
quando puxei meu ombro.

Ele olhou para mim, a quietude de um predador prestes a atacar. —


Amor da porra da sua vida?

Porra, pelo menos eu já estava no hospital para que eles pudessem me


dar os remos da vida depois que Garro tentasse me matar.
Suspirei pesadamente. — Sim, Garro, você acha que o homem que sou,
não pode amar a mulher que ela é? Porque sei que ela é sua filha, mas
cuidei dela quando garota, cuidei dela quando adolescente e agora a amo
como uma mulher. Ela é minha de certa forma, honestamente, não dou a
mínima se você aprova ou não. Ela vai continuar sendo minha.

— Você está dizendo isso deitado numa cama de hospital com uma
facada que ela lhe deu, — ele apontou, mas havia um sorriso em sua voz e
eu o vi esfregar o polegar sobre sua grossa aliança de casamento, sabendo
que ele me pegou.

— Ela tinha uma escolha impossível e ela fez disso a única maneira que
alguém tão corajoso e leal como Harleigh Rose poderia fazer. Ela me
machucou para me salvar e salvar sua família. Ela quebrou seu próprio
coração repetidamente para se certificar disso.

— Acho melhor você me contar agora, Danner, — ele rosnou. — E me


diga que tipo de merda ela se colocou por mim e pelos meus, e porra, por
que ela fez isso?

Inclinei a cabeça no teto e, pela primeira vez na vida, contei tudo a Zeus
Garro.
Nos dias seguintes, eu me recuperei dolorosamente, embora não
solitariamente, no hospital.

Tive muitos visitantes.

Minha mãe estava lá com frequência, tão chateada com o ferimento que
não tive coragem de dizer a ela que foi Harleigh Rose quem fez isso.

Minha mãe amava Harleigh Rose. Ela amava King.

Ela nunca entendeu completamente a dinâmica entre os Danners e os


Garros, mesmo sendo uma de nós, e queixou-se ao longo dos anos de
separação entre nossas duas facções, que sentia falta das crianças.

Ela queria uma família grande, crianças e animais correndo ao redor


como ela teve no rancho de seus pais nos arredores de Entrance, o mesmo
que ela me deu como presente de formatura.

O pai não.

Ele queria um filho perfeito e conseguiu.

Bem, ele conseguiu o gênero de qualquer maneira, e o filho perfeito até


o dia em que eu o surpreendi ao derrubar o Nightstalkers MC, o mesmo
clube que seu obscuro parceiro de negócios, Javier Ventura, havia apoiado
financeiramente.

Não falava com ele há três anos e meio.

Ele não era um dos meus visitantes, e minha mãe, em processo de


divórcio porque ele expulsou seu amado filho e nunca lhe deu muito amor,
não falava dele.
Os Garros, porém, estavam lá todos os dias.

Tudo começou com Garro, sentado de sentinela ao lado na minha cama


como se estivesse preocupado que os Berserkers não comprassem a polícia
e Harleigh Rose divulgasse a versão da minha morte.

No começo, não conversamos muito. Eu deitado lá, ele sentava-se lá,


dois tipos muito diferentes de Alfas com tipos de vidas muito diferentes.

Só, talvez, não seja assim tão diferente.

Conversamos sobre Farrah e Garro me deixou ler a raiva vergonhosa


em seu tom quando ele falou sobre como ela se tornara como Lilith depois
da queda, como tudo começou um ano antes dele ir para a prisão, mas com
a merda acontecendo no clube, ele não tinha se divorciado dela e então era
tarde demais.

O processo de divórcio na prisão levou tempo.

Ele não me agradeceu por cuidar de seus filhos, mas contei algumas
histórias sobre o tempo que passamos juntos porque ele parecia precisar,
pressão num músculo tenso. Contei a ele sobre ensinar King a atirar com
sua primeira arma, como ele caiu de cara no recuo da espingarda, como
Harleigh Rose uma vez convenceu o Velho Sam a deixá-la fazer um
concerto para seus amigos e depois só convidou os irmãos de The Fallen.

Ele riu.

Foi estranho, fazer o Pres de um MC fora da lei rir.

Mas, foi estranhamente, profundamente gratificante também.


No final da segunda semana, Loulou, Cress e King apareceram.

Loulou cambaleou até o lado da minha cama, sua barriga enorme de


grávida parcialmente exposta por um top cortado onde se lia "Mamãe
Motoqueira" e deu um beijo na minha têmpora.

— Prazer em visitá-lo aqui para uma mudança, — brincou Cressida,


sentando-se na beira da minha cama e colocando um livro na minha coxa.
— Midnight In The Garden Of Good And Evil 16. É sobre a ambiguidade da
moral e fé.

Pisquei para ela. — Certo.

— Você não tem que lê-lo, — disse ela alegremente, inclinando-se para a
cama com olhos felizes. — Estou abrindo minha própria livraria, sabia?

— Ah, lá vai ela, Danny, — King riu, puxando uma mecha do cabelo de
sua mulher enquanto passava por ela para se encostar na janela. — Depois
que ela começa a falar de livros, é difícil impedi-la.

— Isso é verdade, — disse ela com um encolher de ombros.

Olhei perplexo para Loulou quando ela se acomodou no colo de Garro,


mas ela apenas riu com voz rouca e disse: — Você cuidou de Harleigh Rose
quando não cuidamos, Danner. Bem-vindo ao rebanho.

16 Meia-noite no Jardim do Bem e do Mal.


Capítulo Vinte e Sete
Nunca estive sozinha na minha vida.

Nada como isso.

Não sozinha e odiando isso, mas sabendo que não havia ninguém para
quem ligar.

Minha família pensou que eu os traí.

Meu amante foi hospitalizado por minha causa.

Até minha família falsa não viria quando chamada. Eles não eram esse
tipo de MC, e não era esse o motivo de estar fazendo isso?

Tentei preencher o vazio que se abria ao meu redor com essa e outras
razões. Estava fazendo isso com um propósito. Os Berserkers MC eram
uma ameaça que precisava ser eliminada. Meu pai me ensinou desde muito
jovem que o mal não pode ser desculpado ou ignorado. Tinha que ser
dizimado, arrancado das raízes e incinerado. Nunca estive tão diretamente
confrontada com o mal como agora, envolvida nos Berserkers, mas agora
que estava, tinha o dever de acabar com eles e foi meu pai quem me
ensinou isso. Portanto, mesmo que ele não entendesse, nem mesmo me
amasse depois de fazer isso, ficaria até o final amargo e enegrecido deles.
Porque era simples, faria qualquer coisa pela minha família. Mesmo que
isso significasse ir à guerra contra eles.

Passaram duas semanas depois que esfaqueei Danner no peito, mas o


momento ainda me assombrava em todas as horas do dia. Liguei para uma
enfermeira em quem confiava, a Betsy, no hospital para ter a certeza que
ele estava bem, e ela me garantiu que, com a reabilitação, ele estaria bem
em poucos meses.

Obrigada, porra.

Tinha uma ideia muito boa de que esfaqueá-lo alto no peito esquerdo
causaria o mínimo de dano, mas se minha mão tivesse escorregado ou
tivesse calculado mal, se Cressida não fosse uma molenga e ela não tivesse
chegado em casa quando ela fez, Danner teria sido morto.

E eu teria sido sua assassina.

Meu único consolo foi o fato do Sargento Renner e a minha supervisora


Diana Casey ficarem entusiasmados com o progresso que os ajudei a fazer
no caso. Grant Yves estava organizando um enorme carregamento de
armas da Califórnia que chegaria naquela mesma noite e eles estavam
prontos para fazer uma apreensão. Pode não ser suficiente para derrubar
todos eles, mas deve ser suficiente para desmantelar a organização.

Obrigada, porra.

Estava cansada até a medula dos meus ossos, meu espírito era uma
coisa morta que eu carregava arrastando atrás de mim como um morto na
estrada. Precisava que isso fosse feito para descobrir o que fazer da minha
vida, uma vida que não envolveria mais Danner.

Pensei que minha família poderia me perdoar. Havia esperança como


queimar carvão dentro do meu peito que me convenceu disso, e isso me
alimentou por todos os dias cheios de dor sem eles.

Mas, como Danner poderia me perdoar pelo que fiz?

Estacionei em frente ao clube dos Berserkers com Hero no banco do


passageiro.

Ele apareceu no meu apartamento dois dias após o esfaqueamento,


sentado na minha porta com a coleira na boca, sua bolsa de coisas de
cachorro ao lado dele.

Não questionei como ele chegou lá.

Ele era a única criatura que eu tinha para amar.

Então, caí de joelhos na porta e enterrei meu rosto em seu pelo enquanto
chorava, chorava e soluçava até que não havia mais umidade no meu corpo
para doar.

Levei-o a todos os lugares comigo desde então.

Estava na sede do clube procurando Wrath.

Nas últimas duas semanas, passamos muito tempo juntos, tanto que ele
até confiou em mim o suficiente para conhecer Kylie.

Isso me chocou muito, mas eles eram adoráveis juntos. Ela era uma
mulher negra baixa e curvilínea da minha idade, com um lindo conjunto de
cachos castanhos com pontas de mel e um sorriso doce. Wrath era Wrath,
imenso e imponente. Mas, de alguma forma, como Danner e eu éramos,
contra todas as probabilidades, eles funcionavam.

Ela o fazia rir.

Ele a fez se sentir segura.

Sair com eles foi como socar um hematoma sensível, mas gostei.

Se não podia ser feliz, pelo menos poderia ver os outros serem felizes.

Wrath não existia há três dias.

Para outro motoqueiro, isso pode ter sido normal, mas Wrath gostava
de manter o pulso na ação, porque ele era VP e porque precisava disso para
garantir que Kylie estava segura.

Então, estava preocupada.

Abri a porta, saí do carro e esperei que Hero me seguisse.

Ninguém comentou sobre a minha adição repentina de um cachorro, e


percebi que Danner nunca o havia trazido antes, então eles assumiram que
ele era meu.

Ele se manteve próximo enquanto caminhávamos pelas escadas e


entramos na casa estranhamente silenciosa.

— Yo, — gritei. — Alguém aqui?

Ninguém respondeu, então deixei Hero no quarto de Wrath, apenas no


caso de algo ruim acontecer antes de ir explorar.
Virei para a cozinha, encontrando Twiz, Hendrix, Pink Eye, Roper e
Pope, todos sentados em silêncio, bebendo de garrafas de uísque abertas.

— Que porra está acontecendo? — perguntei e sabia que eles me diriam.

Desde que "matei" Lion, o clube confiou em mim com tudo.

— Estava errado, — admitiu Hendrix, parecendo chocado. — Danner


não era o traidor.

Meu coração parou. — O quê? Quem diabos era então?

A porta da frente se abriu com um estrondo explosivo que anunciou um


rugido áspero e agonizante: — Onde diabos ela está, seus malditos bastardos!?

Wrath.

Meu coração caiu no tapete manchado de cerveja.

Os rapazes se olharam à volta da mesa uns para os outros, mas apenas


Twiz e Pope se levantaram.

— Diga-me onde diabos minha garota está! — Wrath berrou de novo, e


podíamos ouvi-lo jogando merda na sala antes que suas botas pesadas
seguissem seu caminho pelo corredor.

Pope estava com a arma apontada para a porta quando Wrath a encheu
com seu corpo e sua raiva.

Ele era totalmente aterrorizante, seu rosto brutal com raiva, seus
punhos cerrados em pedras duras que esmagariam ossos tão facilmente
quanto um sucateiro de metal.
Pope se encolheu e segurou a arma com firmeza. — Fique aí, Wrath.
Sabemos que você é o maldito traidor.

O brilho da Wrath se condensou ainda mais até que seus olhos eram
apenas fendas finas e brilhantes. Ele caminhou lentamente em direção a
Pope, que deu um passo para trás e se manteve firme.

— Pare aí, porra, — ele gritou quando Wrath se aproximou.

Wrath me ignorou e foi direto para o cano da arma, a boca em seu


ombro direito. Sua mão subiu para agarrar Pope pela garganta no
momento que a arma disparou.

Ele sibilou alto, sacudindo-se ligeiramente quando a bala rasgou seu


ombro, mas fora isso, era imparável. Ele ergueu Pope no ar com uma mão e
rosnou em seu rosto: — Onde diabos está minha garota? Diga-me nos
próximos três segundos ou vou quebrar seu pescoço.

Pope largou a arma para apertar a mão de Wrath pressionada em torno


de sua garganta, mas ele não disse nada.

Três segundos depois, seu pescoço estalou ruidosamente, o som como


um pé pisando em plástico quebrado.

Pope caiu morto no chão e Wrath virou-se para enfrentar os outros na


sala.

— ONDE CARALHO ESTÁ ELA!? — Ele rugiu tão alto que a saliva
saiu voando e a luz pendurada sacudiu.

— Morta.
A única palavra perfurou o ar furioso na sala como um balão estourado.

Reaper estava parado na porta, com um sorriso plácido no rosto.

— Matei aquele rapaz que a protegia, matei a mãe dela e a arrastei para
fora daquela casa pela porra do cabelo, — ele nos informou. — Nem
esperei para levá-la ao contêiner. Apenas atirei nela e matei-a na beira da
estrada e a empurrei no oceano.

Coloquei minha mão sobre minha boca para impedir que o soluço
explodisse quando o rosto de Wrath ficou cinza e pálido.

— Isso é o que acontece com os traidores neste maldito clube, na porra


da minha família, — Reaper zombou. — Nós os matamos como os animais
que são.

O ar ficou subitamente elétrico e depois aconteceu.

Wrath ficou furioso.

Seu rugido encheu a sala, mais alto ainda que o tiro que Hendrix
disparou em sua barriga quando ele se inclinou em direção à mesa. Ele
aterrou uma cadeira vazia e trouxe-a para baixo sobre a cabeça de Roper
antes que ele tivesse a chance de se mover, agarrou uma faca de manteiga
da mesa e enfiou no olho de Twiz quando ele empurrou para frente para
derrubá-lo e depois socou Pink Eye com tanta força na garganta que algo
audivelmente quebrou.

Outro tiro foi disparado, este da arma na mão de Reaper, de onde ele
estava na porta, seu sorriso visível através da fumaça da arma.
A bala atingiu Wrath no estômago, mas não o deteve.

Ele empurrou o corpo sufocado de Pink Eye para o lado e rondou em


direção a Reaper.

Outro tiro, este acertando-o no braço.

Ele continuou em frente até pegar Reaper pela garganta e o erguê-lo no


ar.

— Onde está minha porra de garota, — ele gritou, em fúria confusa.

— Morta, — Reaper sorriu, embora Wrath o estivesse sufocando. —


Como você.

Em seguida, outro tiro disparou, este de Grease, que entrou na sala do


outro lado da porta. A bala afundou profundamente em seu ombro direito,
o que segurava Reaper.

Wrath desabou no chão.

Solucei e tentei ir até ele, mas Grease de repente estava me segurando.


Lutei contra seu braço quando mais irmãos entraram, agarraram Wrath por
seus pés e começaram a arrastar seu grande corpo sangrando para fora da
sala.

— Foto de Kylie, — ele gritou, sua voz cheia de dor.

— Cale a porra da boca, — disse Reaper antes de chutá-lo na cabeça


com tanta força que ele desmaiou.

Mas, era tarde demais.


Wrath me deu sua mensagem e ela foi recebida.

Corri escada acima depois que Grease me soltou, depois que os meninos
levaram Wrath para fora pelos fundos e o puseram numa caminhonete que
ouvi arrancar de lá.

Grease me soltou, provavelmente pensando que eu estava apenas


emocional.

Eu estava.

Mas, também estava numa missão.

Meus dedos tremiam quando levantei a foto emoldurada de Kylie que


Wrath mantinha em seu armário e abri a aba traseira.

A imagem flutuou para o chão.

Assim como páginas finas e páginas de documentos de contabilidade.

Abracei-os no meu peito por um minuto, Hero choramingando em mim


e cutucando minhas costas, confuso com o tumulto e minhas rápidas
lágrimas deslizantes. Enrolei a mão no pelo de suas costas e sussurrei em
seu ouvido. — Nós os pegamos.
Capítulo Vinte e Oito
Isso aconteceu depois de dois dias.

Tarde demais, na verdade.

Wrath desapareceu, dado como morto.

Danner foi dado como morto, mas se foi para mim para sempre.

E passei por tantas provações para chegar a esse ponto que quase não
valeu a pena.

Mas aconteceu porque significava que a ameaça que eles representavam


contra a minha família havia acabado.

Os Berserkers haviam caído.

Assisti do banco da frente de um enorme SUV GMC enquanto dezenas


de oficiais da RCMP e do DP local invadiram o Porto de Vancouver. Luzes
vermelhas, azuis e brancas piscaram em toda a cena noturna, destacando o
último dos irmãos, que estiveram lá para descarregar o navio, sendo
puxado para carros da polícia e levado para ser processado e,
esperançosamente, condenado por prisão perpétua por tráfico de armas,
contrabando e uma lista de outros crimes.

Era surreal demais.


Soltei meu cinto de segurança e saí do carro, mesmo que me tenham
dito para não o fazer.

Já não tinha motivos para dar ouvidos a ninguém, então não dei.

Em vez disso, caminhei sob a fita amarela da polícia, abraçando a


jaqueta emprestada da RCMP em volta dos meus ombros e assisti de perto
os policiais gravarem e categorizarem as armas num enorme contêiner
aberto, como Mutt amaldiçoou os dois oficiais que o empurraram contra
um carro aproximadamente antes de empurrá-lo para dentro.

Olhei para as luzes da polícia piscando na minha pele, senti o cheiro da


salmoura do oceano nas minhas costas e fechei os olhos para ouvir a
conversa da polícia no rádio, a chamada não muito distante de repórteres
aparecendo para obter o furo.

Afundou.

Eu fiz isso.

De alguma forma, contra tantas probabilidades, ajudei a proteger não


apenas a minha família, mas também a cidade de Vancouver e toda a
província.

Berserkers MC era responsável por um terço das armas ilegais na


cidade, por mais de doze homicídios confirmados e dezenas de outros não
solucionados apenas no ano passado.

Eles eram um mal que tinha cavado na sujeira para desenterrar pelas
raízes e eliminar.
Fechei os olhos, levantei o rosto e tentei não chorar.

— Harleigh Rose Garro.

Abri meus olhos e sorri levemente para o Sargento Renner.

Ele tinha a mão estendida para mim, um sorriso maior que o meu no
rosto.

Olhei fixamente para sua mão sem expressão e, de volta, para ele.

O sorriso se alargou. — Gostaria de lhe agradecer, Srta. Garro, por sua


inestimável ajuda com o caso. É a maior apreensão de armas ilegais que
tivemos até agora, sem mencionar o fato que temos Berserkers MC
amarrado de forma tão apertado que eles desaparecerão por anos.

— Foi Danner, — disse-lhe sinceramente, seu nome quente na minha


garganta. — Ele fez tudo, realmente.

— E ele será elogiado por isso. Por razões óbvias que tenho certeza de
que você entende, você não vai. Então, se você quiser, gostaria de apertar
sua mão.

Um policial queria apertar minha mão.

Engoli a estranheza, sem saber se estava orgulhosa ou horrorizada, e


peguei sua palma seca na minha.

— Obrigado, — ele repetiu sério, seus olhos escuros me prendendo com


a intenção de suas palavras, para que eu não pudesse me esconder disso.

— Não se preocupe, — murmurei.


E no meio de uma cena de crime da qual eu não era parte criminosa, fiz
um policial rir.

Estava em casa, pronta para dormir, mas aconchegando-me na frente da


TV com Hero assistindo Game of Thrones, porque me lembrava Loulou,
quando houve uma batida na minha porta.

Hero e eu nos animamos, olhando um para o outro.

— Você vai atender, ou eu? — perguntei a ele.

Ele latiu baixinho, e eu ri, fazendo-lhe uma massagem na orelha antes


de me levantar e caminhar até o olho mágico.

Farrah estava na minha porta, com lágrimas escuras de rímel


escorrendo pelo rosto.

Mordi meu lábio.

Ela era uma pessoa horrível cujas piores transgressões incluíam


conspirar para me ver estuprada por um motoqueiro.

Ela também era minha mãe.


E ela fez algumas coisas terríveis, mas eu sabia que havia algo bom nela,
porque meu pai a amou uma vez e, em dias estranhos, em momentos
estranhos da minha infância, ela podia ser gentil.

Tirei meu telefone do bolso, só por precaução, e enviei uma mensagem


rápida ao Renner.

Depois, abri a porta.

— O que você está fazendo aqui, Farrah?

Ela fungou alto. — Você realmente vai ser tão rude com sua mãe
quando estou claramente angustiada?

Suspirei pesadamente. — Só falo com você se você puder me explicar


por que concordou em deixar Grease me estuprar.

Foi a vez dela suspirar, como se eu fosse uma criança estúpida de novo
e ela nunca pudesse me fazer entender. Ela pegou meu rosto com as mãos,
apesar de eu estremecer, e seus olhos azuis molhados, iguais aos meus,
percorreram meu rosto.

— Você era uma beleza, — ela sussurrou, subitamente melancólica. —


Eu te amei tanto. Você era essa coisinha preciosa e eu não tinha ideia do
que fazer com você, mas tentei o meu melhor.

— Nunca senti um sopro desse amor, — disse a ela sem rodeios.

Ela se irritou. — Minha mãe morreu quando eu tinha quatro anos. Seja
grata que ainda tem uma mãe.

— Seja grata por eu estar falando com você agora, — retruquei.


— Vamos começar de novo, — ela implorou baixinho, agarrando
minhas mãos para balançá-las suavemente entre nós. — Só quero estar na
sua vida. Tenho isso agora. Posso ser melhor e não quero ficar sozinha.

— Você fez isso consigo mesma, — disse a ela, puxando minhas mãos.
— Você não pode simplesmente escolher quando quer ter uma família,
mãe. Você sempre teve uma o tempo todo e não fez nada por eles. Não
espere que eu queira estar lá para você agora — falei, começando a fechar a
porta quando meu telefone tocou.

— Pelo menos me deixe entrar para que eu possa chamar um táxi, — ela
perguntou lindamente, com lágrimas de crocodilo em seus olhos.

Renner chamando.

Abri meu telefone e levantei-o até o ouvido, colocando o dispositivo


entre ele e meu ombro para que eu pudesse puxá-la para dentro da sala
enquanto atendia a chamada.

— Ei.

— Srta. Garro, preciso informar que Reaper Holt não foi pego pela
equipe RCMP separada que vasculhou o complexo do Berserker esta noite.
Não havia nenhum sinal dele lá ou em qualquer um dos lugares habituais
do clube. Temos motivos para acreditar que ele tem um espião no
departamento. Estou enviando uma viatura para você agora. Um oficial
chegará à sua porta e o outro ficará do lado de fora para sua proteção
enquanto resolvemos isso.
Ouvi em silêncio, com o cuidado para manter meu rosto em branco,
porque minha mãe estava fingindo não me olhar, enquanto ela corrigia sua
maquiagem no espelho da entrada da frente, mesmo quando ela estava.

Casualmente, peguei minha bolsa na mesa ao lado da porta, minha


outra mão indo para a fechadura para abri-la.

Um segundo depois, um tiro foi disparado e uma bala atravessou a


maçaneta da porta.

Pulei para trás, minha mão ardendo de dor, sangrando por todo o chão
da bala que raspou na carne do meu polegar, quando a porta se abriu e
Reaper apareceu.

— Ei, baby, — Farrah gritou como se ele tivesse batido na porta e estava
nos visitando para tomar chá. — A porta estava aberta. Acho que você
pegou Harleigh com esse tiro.

Hero rosnou longo e feroz atrás de mim.

Reaper se lançou em minha direção, a coronha de sua arma na minha


têmpora. — Venham antes que os porcos cheguem aqui.

Farrah verificou o cabelo no espelho rapidamente e deslizou por nós


para fora da porta. — Cuidado com Harleigh, baby.

Ele resmungou, mas eu sabia que ele não tinha intenção de ser
cuidadoso comigo.

Havia apenas assassinato em seus olhos.

Ele sabia.
Ele sabia que eu era o rato. Ele provavelmente até duvidou que Wrath
ou Lion eram delatores agora que sabia que era eu.

E ele me mataria por isso.

Minha mãe estúpida e patética pensou que seríamos uma família


novamente.

Talvez fôssemos, se ele a matasse também.

— Sim, vadia, — ele zombou no meu ouvido, sentindo o medo tornar


meu corpo rígido como um cadáver. — Você vai morrer esta noite.

Houve outro rosnado no sofá e, em seguida, uma mancha de ouro


voando pelo ar quando Hero entrou em ação.

Ele se lançou na virilha de Reaper, dentes afiados cravando em sua coxa


de uma maneira que o fez berrar e tentar se livrar dele.

Desvencilhei-me de seu aperto e acertei seus olhos com meus polegares.

Ele passou a arma loucamente na frente do rosto, tentando desalojar


Hero e fugir dos meus dedos afiados. Uma das minhas unhas se conectou
com seu canal lacrimal e empurrei, sentindo o aperto molhado quando
cortei o canto de seu olho.

— Porra! — ele gritou, atacando tão violentamente que as costas de sua


mão me acertaram na lateral do rosto e me fez voar.

Caí de volta ao chão com um grito agudo, batendo minha cabeça contra
a madeira.
Quando olhei para cima, Hero estava puxando sua cabeça para longe da
coxa encharcada de sangue de Reaper com um rosnado áspero e um puxão
afiado.

Reaper uivava de dor e disparou loucamente, cegamente, sua arma.

Fechei meus olhos quando a dor atravessou-me, brilhante como se eu


tivesse sido atingida por uma espada larga.

Houve um pequeno gemido, em seguida, um baque surdo quando um


corpo atingiu o chão.

— Não, — solucei, rastejando para trás com meus olhos fechados,


recusando-me a abri-los para reconhecer o que tinha acontecido. — Não,
não, não.

Uma mão agarrou meu tornozelo e me puxou quase para a porta. Meus
dedos arranharam o chão de madeira com tanta força que estilhaços
surgiram sob minhas unhas.

— Não, — gritei alto. — Não.

Senti o sangue quando ele me puxou pela porta para o tapete do


corredor.

— O que está acontecendo... — um dos meus infelizes vizinhos


perguntou.

Reaper atirou nele.

Outro baque.

Mas, estava muito preocupada com o primeiro.


Abri meus olhos quando Reaper me deixou cair na porta.

Estava deitada a poucos centímetros de distância dele, seus doces olhos


castanhos vazios, sua língua pendurada para fora da boca, mas não do seu
jeito feliz de sempre.

Reaper havia dado um tiro na sua nuca.

Mas encarando-me como ele estava, se seus olhos não estivessem


abertos, ele quase parecia adormecido.

— Hero, — gemi em meio aos soluços derramando sem parar pela


minha boca. — Hero, não.

Agarrei-me ao seu pelo, esfregando meus dedos pelos fios ainda


quentes e totalmente familiares e tentei memorizar tudo sobre ele.

— Não! — gritei no topo dos meus pulmões doloridos quando Reaper


empurrou o vizinho e depois se inclinou para me puxar para cima, a arma
no centro da minha coluna logo abaixo da base do meu pescoço.

Se ele atirasse em mim lá, morreria de paralisia.

Por um horrível minuto, não achei que seria tão ruim.

O último pedaço do meu coração acabara de morrer no chão do meu


apartamento amaldiçoado.

Havia alguma razão para lutar?

Reaper cravou a arma nas minhas costas, depois fechou a porta e


deslocou o corpo de Hero, deslizando-o pelo chão encharcado de sangue
sem cuidado.
A fúria se acendeu em meu sangue e a luta voltou ao meu corpo.

Reaper queria me matar.

Mas, se fosse morrer esta noite, faria isso tentando matá-lo.


Capítulo Vinte e Nove
Danner

Já estava a caminho quando recebi a ligação de Renner.

Reaper escapou da prisão e chegou até ela.

Usando a porra da mãe dela para fazer isso.

Renner tinha ouvido toda a troca no celular de Harleigh Rose depois


que ele caiu da mão dela quando ele invadiu.

Passaram-se duas semanas desde que vi minha rebelde Rose. Duas


semanas de recuperação dolorosa, muitas conversas malucas com a louca e
absurdamente charmosa família Garro, e duas semanas vivendo com o
conhecimento que minha Rosie estava sofrendo pelo que tinha feito.

Mas, Garro e eu conversamos sobre isso, assim como discutimos com


Renner e decidimos. A segurança de Harleigh Rose dependia do fato de
que Berserkers MC pensar que eu estava morto e que ela havia cortado
todos os laços com seu pai. Não podíamos simplesmente ir invadindo, no
estilo machos alfas, prontos para salvar o dia.
Então, esperamos até que Harleigh Rose fizesse em dois meses o que
venho tentando fazer há três anos. Esperamos até ela acabar com o clube e
Renner nos dar tudo limpo.

Só agora, era Harleigh Rose que não estava livre.

Acelerei o motor, acendi as luzes e chamei o homem que estava atrás de


mim em sua moto.

— Garro, Reaper está com ela, — rosnei ao telefone. — Fique atrás de


mim, estou quebrando os limites.

— Para onde diabos o porra maldito a levaria? — Garro rosnou.

Tamborilei meus dedos no volante, a mente girando sobre os feixes e


feixes de informações que acumulei sobre Berserkers MC e seu Pres nos
últimos três anos.

— Ele tem mulheres. A última era dona de um armazém, chama-se Jade


Yeller. Vou ligar para minha unidade e pedir que eles descubram qualquer
coisa útil.

— Foda-se, chamando Curtains. Ele vai encontrar a merda antes dos


seus policiais e o que você me disse sobre o que aconteceu, pelo que sei
desse filho da puta, não temos tempo para brincar por aqui.

Então, ele desligou.

Verifiquei no meu retrovisor que ele estava perto, depois pressionei


meu pé com mais força no acelerador.

Se Reaper a tivesse, ele a mataria.


Não havia dúvidas em minha mente.

Ele me "matou" e, mais recentemente, de acordo com meus amigos da


força, ele matou Wrath.

Outro motoqueiro com uma alma com quem gostaria de tomar uma
cerveja.

Ele a mataria, mas a questão que me assombrava era se ele a estupraria.

Ele era quase um culto sobre sua obsessão em partilhar mulheres, e


senti sua raiva quando Harleigh Rose se recusou a ser degradada por
vários homens Berserker.

Não havia dúvida de que ele estaria furioso o suficiente para fazer isso
sozinho agora.

Devia ter passado mais meia hora no centro da cidade, mas o brilho das
luzes azuis da cidade de Vancouver nos engoliu catorze minutos depois de
eu desligar a primeira chamada.

— Hold on Storage, — disse Garro quando atendi sua chamada. — W


Third Avenue and Fir.

Liguei o motor.

Minutos depois, estávamos lá.

Peguei minha arma, mesmo sabendo que seria um péssimo atirador


com meu braço, e saí para encontrar Garro. Verificamos o perímetro do
prédio, sem luzes, sem ruído e decidimos sobre um plano de jogo.

O armazém estava vazio, porra.


Curtains nos deu outro local a alguns quarteirões de distância.

Nada.

Dez minutos mais tarde.

Sem Reaper, sem Farrah. Sem Harleigh Rose.

Estávamos discutindo sobre o que fazer a seguir — eu queria chamar a


polícia e ele queria esperar que The Fallen descesse da montanha —
quando o telefone de Garro tocou novamente.

— Yo, — ele disse, então, congelou.

Meu intestino apertou. Se fosse a notícia que eles encontraram Harleigh


Rose em qualquer outra condição que não perfeitamente saudável, eu ia
perder minha cabeça.

Garro virou o telefone na palma da mão para colocá-lo no viva-voz. —


Fale enquanto pode, filho da puta. Logo eu te encontro, você é um homem
morto, porra.

— Você pela garota, — a voz de Reaper veio através do telefone,


enviando raiva através de mim tão violentamente que parecia que eu tinha
tocado num fio elétrico. — Esse é o acordo.

Garro olhou para mim, os olhos escuros sob as luzes fracas da rua. —
Feito.

Reaper riu. — Sempre um boceta de merda.

— Você tem filhas?


— Tenho filhas e filhos, o suficiente, porra. Não daria minha maldita
vida por nenhum deles.

— Diferença entre você e eu, — disse Garro baixinho, quieto porque


estava tentando controlar a repulsa em seu tom.

— Diferença entre você e eu é que tenho a porra da sua filha. Você


chega aqui em dez minutos, ela está viva, depois disso, não faço promessas.

— Onde diabos você está? — Ele rosnou.

Reaper riu novamente. — A cena da porra do crime dela.

Zeus desligou, um ruído animal de frustração em sua garganta, mas eu


já estava voltando para o Mustang.

— Presumo que você sabe onde aquele cretino enigmático quis dizer, —
ele gritou, andando para sua moto.

— Sim, — disse. — Porto de Vancouver.

Harleigh Rose

Eu estava amarrada e amordaçada.


Farrah estava descontente com isso, mas depois mudou de opinião
quando Reaper concordou em usar dois de seus belos lenços de seda para
amarrar minhas mãos e pés, um pressionado sobre uma meia enfiada na
minha boca. Ela me fez sentar na mesa, tagarelando comigo enquanto
pintava as unhas de um rosa que chamou de "Corações Esmagados".

Wrath estava no canto da sala, e não sabia se ele estava respirando. Só


que parecia que ele estava lá por um tempo e o tapete ao seu redor estava
manchado de sangue.

— Reaper vai matar seu pai, — ela continuou, fazendo uma pausa em
suas tarefas de manicure para cheirar outra linha de coca da mesa ao lado
do kit de unhas. — E sei que você vai ficar toda virtuosa sobre isso, mas
você vai perceber que ele mereceu. Ele a abandonou para ir para a prisão
por causa de sua putinha, e agora ele deixou você de novo. O Reaper fará o
que ele precisa fazer e depois iremos para algum lugar novo.

Ela fez uma pausa, viu a baba pingando da minha boca porque a
mordaça estava esticando muito meus lábios, e se inclinou para enxugá-la
com as pontas do lenço.

Quando ela se sentou, ela deu um sorriso largo, feliz e alto na porra do
rosto para mim. — Estou pensando na Colômbia. Você sabe que é a capital
mundial da cocaína?

Ela deu aquela risada rouca e risonha que eu odiava desde que podia
me lembrar e depois, por causa disso, um grito rouco.
Meu coração levantou poeira no meu peito, despertando velhas
esperanças.

Renner estava ao telefone enquanto eu fui pega.

Talvez a polícia estivesse lá.

Em vez disso, houve um gemido rangendo quando alguém se juntou a


Reaper na plataforma de metal do lado de fora e, então, a porta se abriu, e
ele entrou com um sorriso selvagem.

Não é a polícia, então.

Mas eu ainda suspirei, quase sufocando na minha mordaça, quando vi o


Pai se curvar ligeiramente para passar pela porta, sua presença enorme
fazendo o trailer parecer insuportavelmente pequeno.

— Ei, garotinha, — ele murmurou baixinho, seu rosto pagão vincado


num leve sorriso.

Deus, Papai.

Regressei a uma garotinha tão instantaneamente, que nem tentei conter


as lágrimas.

Passaram semanas desde que vi seu rosto bonito sorrindo para mim. E
agora, isso estava acontecendo num trailer em um pátio de carga com a
porra de psicopatas presentes.

Se eu não estivesse tão cansada, tão doente com medo e dor, poderia ter
rido porque nosso reencontro era tão Garro.

Mas, eu não fiz.


Reaper ergueu uma arma, seu braço bem acima de sua cabeça para
apontá-la corretamente na têmpora de papai.

— Seu pedaço de merda. Pensava que sempre merecia tudo de bom,


nunca pensou que outra pessoa era melhor em você. Mas agora, olhe, tenho
a sua mulher, — Farrah riu quando se levantou depois de fazer outra linha,
esfregando os dedos nas gengivas para obter os restos de pó. — E a porra
do seu rato de criança.

Os punhos cerrados do Papai se abriram lentamente e depois se


fecharam para controlar a raiva que emanava dele como ondas radioativas.

— Você não merece merda nenhuma, — gritou Reaper. — Fique de


joelhos, porra.

Gritei atrás da minha mordaça quando meu pai travou os olhos nos
meus e caiu lentamente de joelhos.

Não, Papai, não, não.

Reaper pressionou a arma em sua têmpora e sorriu para mim. — Isto é


para você, Farrah baby. Para você e para mim.

— Ele vai matá-la, — Papai resmungou. — Farrah, ele vai matar a H.R.
por denunciá-lo.

— Não, — Farrah riu ruidosamente. — Vamos nos mudar para a


Colômbia.

Seus olhos procuraram os de Reaper e, lentamente, seu sorriso deslizou:


— Reaper, baby?
— Vamos conversar sobre isso, — Reaper hesitou e depois pressionou a
arma com mais força na têmpora de papai. — Depois que eu o matar.

Pela primeira vez na minha vida, fiquei feliz por minha mãe ser tão
idiota. Os lenços contra meus pulsos eram sedosos, o suficiente, para me
livrar e estava torcendo meus pulsos nos últimos quarenta minutos.

Libertei-me quando dispararam uma arma e o Papai caiu de lado.

Gritei por trás da mordaça, arranquei o lenço, rasguei o que estava ao


redor dos meus tornozelos e estava tirando minha mordaça quando notei
que Papai rolou e se agachou contra a parede, a arma nas mãos apontada
para Reaper que estava olhando como se tivesse visto um fantasma na
porta repentinamente aberta.

Papai atirou na cabeça dele.

Assisti quando a cabeça de Reaper estalou de volta em seu pescoço e


então todo o seu corpo caiu para frente. Feito.

Movi-me para frente, apenas para sentir mãos frias me agarrando por
trás e a pressão de algo pequeno e afiado na minha jugular.

Farrah estava segurando uma tesoura de unhas no meu pescoço.

— Largue isso, — Papai ladrou para ela, a arma erguida e apontada


firmemente nela.

Ela se virou para ele e zombou: — Não, você não vai fazer porra
nenhuma comigo enquanto eu estiver segurando sua filha preciosa. Você
vai nos deixar ir.
Papai olhou para mim, seus olhos cheios de algo que já tinha visto
milhares de vezes e nunca desobedeci, nem nos meus dias mais profundos
de rebelião. Confiança.

Lentamente, ele abaixou a arma.

Farrah riu e fez uma dancinha que perfurou minha pele com a tesoura.
Sangue gotejou e rolou em meu cabelo quando ela se inclinou para
sussurrar: — Vamos, baby, vamos explodir este lugar. Você e eu vamos
para a Colômbia. Tudo que eu preciso é a minha garota.

Deixei-a me levar até a porta parcialmente aberta, inclinei-me para abri-


la para nós e imediatamente obedeci a meu Papai quando ele latiu: —
Abaixe.

Caí no chão quando a porta se abriu.

Bang!

Tão alto, bem em cima de mim.

— Huh? — Minha mãe engasgou e gorgolejou atrás de mim.

Rolei de costas para vê-la segurando sua garganta, um buraco no meio


dela, quando ela caiu no chão.

— Rosie.

Meus olhos se fecharam automaticamente contra a queimadura de


lágrimas lá.

— Não, — sussurrei, com medo de estar alucinando do estresse ou de


ter inalado muitos gases do esmalte.
Mas, não.

Mãos com pontas ásperas gentilmente alcançaram sob minhas axilas


para me puxar para cima e depois plantaram em meus ombros para me
girar.

E ele estava lá.

O adolescente de olhos verdes tocando guitarra numa loja de discos.

O policial novato me deixando escapar com o furto numa loja.

O motoqueiro disfarçado que desistiu de seu disfarce para me salvar.

Meu feroz, leal e bonito Lion parado diante de mim, abraçando-me,


olhando para mim como se eu fosse o tesouro perdido de Atlântida e ele
nunca mais precisaria de nada novamente.

— Lion, — sussurrei, a palavra toda esperança. — Fiz algo ruim.

— Nada para perdoar, nada para esquecer. Eu te amo, rebelde Rose.


Você me machucou para me salvar. Você quebrou seu próprio coração um
milhão de vezes para me manter vivo e eu te amo pra caralho por isso. —
Ele agarrou meu rosto com a mão e falou contra os meus lábios. — Minha
garota de coração de leão.

E, depois, ele me beijou.


Capítulo Trinta
O lençol se moveu lentamente sobre a pele das minhas costas aquecida
pelo sono, levando minha bunda para o ar frio. Os dedos seguiram,
contornaram as encostas dos meus músculos e a cavidade da minha
coluna, as duas depressões na base do meu torso como um escultor
moldando argila preciosa. Outra mão moveu a espessa cortina de cabelo
que obscurecia meu rosto para o lado da minha cabeça no travesseiro e
lábios quentes provocaram minha orelha.

— Bom dia, minha espinhosa Rose, — Danner sussurrou ali, plantando


as palavras como um segredo.

Meu coração disparou com uma gratidão tão calorosa que enviou um
rubor por todo o meu corpo.

Lion estava de volta.

De volta à minha vida, na minha cama, nos meus braços.

Meu protetor, meu melhor amigo e meu amante.

Finalmente, tive tudo o que precisava dele.

Ainda podia sentir o eco de Hero em meu coração, a perda da cabeça


dele ao meu lado em nossa cama, mas sabia que foi por isso que ele
morreu. Para manter não apenas eu viva, mas este sonho, sua família
reunida na cama novamente.

Minha mãe se foi, morta pela mão firme de Danner. Ele não parecia
sentir remorso e nem eu. Mas, não ligamos para a polícia até que Papai
tivesse levado o corpo de Farrah para um descanso não tão pacífico com os
porcos na fazenda Angelwood. Não queria meter o Danner em problemas
por me salvar.

E Papai não queria estar lá quando os homens de azul aparecessem.

Havia uma dor no meu polegar do arranhão da bala e eu sabia que a


cicatriz de Danner ainda era rosa brilhante em seu peito, fresca, mas
curando.

Tínhamos cicatrizes.

Tivemos batalhas.

Mas, isso finalmente foi feito e tive que acreditar que os horrores pelos
quais passamos apenas nos tornaram mais fortes, como indivíduos e um
par.

Comecei a virar para ver seu rosto, mas a mão nas minhas costas
achatadas me pressionou no colchão.

— Tenho um desejo de chupar sua doce boceta por trás até você
derreter em toda a minha língua, — disse ele, em seguida, chupou o lóbulo
de minha orelha em sua boca, liberando-a com uma mordida afiada de
seus dentes. — Seja uma boa garota e fique quieta para o seu Dom.
Deus, perdi isso.

Quase um mês sem essa voz forte no meu ouvido, essas palavras firmes
convocando a submissa das profundezas da minha alma. Estava molhado
com sua primeira palavra.

— Sim, Lion, — respirei mais do que falei quando ele se mexeu em cima
de mim, um de seus braços fortes, visível e apertado deliciosamente,
quando ele lentamente abaixou seu peso e deslizou pelo meu corpo para se
deitar entre minhas pernas separadas.

Ele bateu na minha bunda bruscamente e ordenou: — Mãos e joelhos.


Incline os quadris e me mostre essa boceta linda.

Deslizei meus joelhos debaixo de mim e praticamente ronronei


enquanto arqueava minhas costas profundamente, minha bunda muito
íngreme elevada, minhas pernas abertas para ele adorar no altar da minha
boceta.

Ele abaixou a cabeça e orou.

Gemi quando sua boca quente encontrou minha boceta, enquanto ele
lambia meu clitóris e tocava minha boceta até que eu estava empurrando
desenfreadamente de volta em seus lábios.

— Por favor, — implorei, tão perto de gozar que estava coçando e


apertando os lençóis com punhos desesperados. — Deixe-me gozar.

Ele se afastou, ignorando meu gemido, e se sentou na beira da cama.


Olhei para ele quando ele acariciou sua coxa e ordenou: — Suba, mas não
me toque.
— Seu bastardo, — assobiei, minha boceta latejando tão violentamente
que sabia que precisaria apenas um toque no meu clitóris para gozar.

— Você faz um movimento errado, algemo você, Rosie, — Danner falou


lentamente.

— Foda-se, — rosnei entre meus dentes cerrados.

Sua risada era uma corda macia e escura que ele amarrou no meu
pescoço. — Você vai fazer o que digo ou não vou te foder.

Minhas coxas tremeram quando o montei, equilibrando-me


precariamente logo acima de seu pau grosso, mas com cuidado para não
tocar a coroa quente com meu centro liso.

Esse era o jogo.

Não se mexer.

Nenhum centímetro sequer.

Nem mesmo quando seus dedos ásperos atacaram para torcer meus
mamilos e puxá-los como caramelo.

Nem mesmo quando uma mão estalou forte e dolorosamente contra


minha bunda e tive que segurar minhas pernas doloridas para não cair fora
de posição e entrar em seu torso perfeitamente esculpido.

Nem mesmo quando minha umidade escorregou de entre minhas coxas


e começou a escorrer por seu pau numa exibição obscena de desejo que me
fez choramingar, gemer e doer pra caralho para sentir esse pau largo
dividir minhas dobras inchadas em duas e alcançar o fim da minha boceta.
Ele me bateu com força mais uma vez, mas manteve a mão na carne
quente, amassando fortemente para que a dor se aprofundasse e se
espalhasse direto na minha boceta.

— Você. Não. Se. Mexa. Porra, — ele me ordenou novamente e, embora


seu rosto estivesse composto, podia ver a tempestade quente se debatendo
atrás de seus olhos verdes.

Seu polegar deslizou sobre minha bochecha na dobra suada da minha


bunda e quando ele se inclinou para pegar um dos meus mamilos entre os
dentes, ele me lembrou: — Nenhum maldito centímetro.

E então ele enfiou o polegar na minha bunda e dois dedos no meu


centro pulsante e eu detonei ao redor dele, gozando por todo o seu pau
provocante como se fosse uma tempestade tropical irrompendo das
nuvens.

Através de tudo isso, mal me mexi. Segurei meus músculos tão tensos
que queimaram e o suor rolou pelo meu corpo em ondas. A única
concessão que me permiti foi fechar os olhos. Era impossível absorver o
impacto dos dedos de Danner em meu corpo e olhar seus brilhantes olhos
verdes. Era muito fácil ler sobre a posse lá, saber que significava muito
mais além do sexo e perversão.

Meu coração frágil, recém-nascido das cinzas do anterior, espatifou-se


dolorosamente com a visão.

Então, eu fechei meus olhos e os mantive fechados até a tempestade


passar e eu fosse uma massa fraca e tensa sobre ele.
— Olhe para mim.

Estremeci levemente com o peso de seu pedido, quando as palavras


rasparam sobre minha pele supersensível. Ele estava me olhando sob as
sobrancelhas abaixadas, seus olhos tão intensos que quase me encolhi.

— Espetacular, — ele me ofereceu, mas não parecia satisfeito.

— Não me mexi, — defendi.

Uma sobrancelha dourada se ergueu. — Você não?

— Tenho as coxas trêmulas para provar isso! Ainda estava como uma
estátua do caralho— falei, raiva e vergonha rodando em meu intestino.

Queria agradá-lo e estava chateada por não ter feito isso e ainda mais
chateada por me importar tanto.

Mulher forte e independente, tentei me lembrar.

— Você fechou os olhos. Poderia tê-la perdoado por sair da posição,


mas fechar os olhos... ah, Harleigh Rose, você tirou a única coisa que eu
não ficaria sem.

Ele viu minha boca cair num beicinho trêmulo. Seu polegar varreu o
lábio inferior carnudo e seus olhos brilharam quando enrolei minha língua,
sugando-a na minha boca. Estava tão ansiosa para agradá-lo, para corrigir
meu erro que as lágrimas ardiam no fundo dos meus olhos. Queria
implorar-lhe para me perdoar, para me deixar fazer o certo.
— Shhh, — ele me silenciou porque ele era meu Dom, ele sabia o quão
instável meu estado emocional era depois de uma cena, depois que eu o
decepcionei. — Você pode me compensar.

— Sim? — Eu me pressionei contra seu peito chapeado a ferro, minha


mão em sua ferida recém curada e lambi a curva de sua orelha esquerda. —
Diga-me.

— Monte-me com força como a coisa selvagem que você é e me faça


gozar.

Instantaneamente, me abaixei para pegar seu pau obscenamente longo,


coloquei-o na minha entrada e bati para baixo, levando-o até a raiz.

Ele inclinou a cabeça para trás e gemeu longo e baixo, em seguida,


golpeou minha bunda. — Mostre-me o quanto você ama meu pau.

Então, eu fiz.

Usei meus dentes e lábios em sua boca e garganta, minhas mãos


entrelaçadas para alavancar sobre seu ombro bom, para que eu pudesse
balançar, girar e rolar sobre seu pau esticado até suas coxas tremerem, seus
dedos estavam duros em volta dos meus quadris, me empurrando para
frente.

— Mais rápido, — ele exigiu, batendo na minha bunda com uma série
de golpes rápidos que me estimularam e me quebraram.

Gozei por todo o seu pau, minha boceta apertando com tanta força que
desencadeou seu próprio orgasmo quando ele gemeu em minha boca,
beijando-me até que ambos precisássemos de ar.
— Essa é minha boa garota, — ele murmurou no meu peito úmido,
acalmando a mão sobre minha bunda vermelha.

Cantarolei meu acordo, preguiçosa de satisfação, completamente


satisfeita em saber que estava segura com meu homem, meu pai estava
dormindo no outro quarto e eu veria minha família mais tarde naquele dia.
Valeu a pena, cada coisa que tive que passar para chegar a esse momento, e
o sentimento era tão bonito que floresceu como uma rosa premiada em
meu peito.

— Estou saindo da polícia, — disse Danner no silêncio.

Estremeci em choque, depois me inclinei para trás para olhar em seu


rosto. — Desculpe?

Seus olhos eram sérios, mas mordeu a borda de um sorriso provocante.


— Recentemente, percebi que não sou tão bom quanto pensei que era e
estou bem com isso. Além disso, quero voltar para Entrance com você e de
jeito nenhum vou estar na polícia do meu pai.

— O que você vai fazer? — perguntei, incapaz de conceber qualquer


realidade em que Danner não fosse um policial.

Ele sorriu e empurrou meu cabelo para trás da orelha. — Vou abrir uma
empresa de investigações privadas.

Exceto por isso. Que lhe convinha muito bem.

— Oh, meu Deus, você vai ser um assassino P.I., — disse a ele. — Você
vai me foder sobre sua mesa?
Ele riu. — Não vamos nos antecipar, Rosie. Primeiro, preciso de um
escritório e uma mesa.

— Certo.

Sorrimos um para o outro.

— Nunca pensei que conseguiríamos, — sussurrei, quase com muito


medo de dizer a palavra em voz alta.

— O quê, rebelde?

Olhei em seus olhos verdes da selva e me deixei ser vulnerável do jeito


que ele me ensinou a fazer. — Que algum dia teríamos a nossa felicidade.

Sua mão convulsionou em meus quadris e seu rosto suavizou. — Rosie.

Dei de ombros como se não fosse grande coisa, mas nós dois sabíamos
que eu era uma mentirosa.

— Nós vamos ter nossa felicidade, prometo, — ele jurou. — Você


acredita em mim?

Fechei meus olhos e pressionei meus lábios nos dele, minha mão em seu
coração para que meus dedos descansassem levemente sobre a cicatriz que
eu lhe fiz para nos levar a esse momento.

— Sim, Lion, acredito em você, — sussurrei em sua boca.

E eu fiz.
Estávamos comendo cereais na cozinha quando Papai entrou correndo,
os olhos arregalados, o cabelo bagunçado em volta do rosto sorridente.

— Meus bebês estão chegando! — Ele rugiu triunfantemente. — Foda-


se, porra, sim!

Danner e eu rimos dele, sua alegria contagiante.

— Parabéns, Garro, — meu homem gritou para meu pai.

O rosto do Papai aqueceu um pouco quando ele me olhou de pé entre as


pernas do meu homem na bancada onde estávamos comendo.

— Me chame de Zeus, — ele disse.

Meu coração se aqueceu com a beleza desse presente e senti Danner


enrijecer e amolecer ao redor dele quando percebeu isso.

— Agora, mexam-se, temos que ir para a porra do hospital, — ele gritou


antes de desaparecer no corredor novamente.

Danner me lançou um olhar confuso. — Acho que é melhor nos


vestirmos.

Ri, sentindo-me mais despreocupada do que nunca.

Papai levou a moto para o hospital e seguimos no Mustang de Danner.


Não conversamos enquanto ele dirigia. Em vez disso, fiz uma playlist de
músicas para nossa história de amor e toquei para ele todo o caminho até
Entrance. Quando estacionamos, Danner se virou para mim, pegou minha
cabeça em suas mãos e me beijou, longo, lento e saboroso.

— Não mudaria a porra de um momento com você, isso nos trouxe


aqui, — ele me disse enquanto seus polegares esfregavam minhas
bochechas.

— Até a parte em que eu esfaqueei você? — perguntei sem nem tentar


segurar meu sorriso.

— Nada, — ele disse tão ferozmente que meu humor desapareceu. —


Nem um segundo de merda.

Beijei-o desta vez, rápido, duro e doce.

Uma pancada na janela nos separou, mas fiz uma careta ao ver Papai se
inclinando para nos fazer uma cara feia.

— Beijem-se no seu próprio tempo, porra, meus bebês estão aqui, — ele
ordenou antes de virar e rondar pelas portas da frente do hospital.

Nós o seguimos para dentro e subimos os elevadores até a maternidade.


Nunca vi Papai tão empolgado, seus olhos elétricos e seu corpo inquieto,
rolando e se movendo como um lutador entrando no ringue.

— Você está bem, Papai? — perguntei, estendendo a mão para pegar


sua mão enorme e lindamente cicatrizada na minha.

Ele apertou e admitiu: — Nunca estive tão nervoso na minha vida.

— Você está brincando, — Danner riu.


Papai o encarou com um olhar feroz, mas meu homem nem pestanejou.

Deus, ele era sexy.

— A minha garota vai dar à luz dois bebês. Tenho Curtains fazendo
pesquisa e essa merda fica perigosa para a mãe bem rápido.

— Papai, nada vai acontecer com Loulou, — disse suavemente.

Mas, sabia que era um pesadelo que ele viveu antes e sua energia
nervosa não se dissiparia até que ele a visse por si mesmo.

As portas do elevador se abriram e todos nós saímos, meus homens


conectados por mim no meio. Meu coração se inclinou mais
confortavelmente no meu peito do que antes.

— Vamos em frente, — Papai murmurou, já soltando minha mão para


que suas coxas longas e poderosas pudessem levá-lo pelo corredor mais
rápido que seus olhos.

— Garro nervoso, nunca pensei que veria o dia, — Danner murmurou.

— Você e meu pai na mesma sala sem brigar, não posso dizer que
alguma vez pensei que veria esse dia também, — apontei.

Ele riu e continuou rindo quando viramos um corredor e vimos toda a


tripulação Fallen espalhada na sala de espera.

Congelei.

Dezenas de olhos vieram até mim, o peso de seu olhar coletivo como
areia afundando me sugando para baixo.
Não sabia o que fazer

Queria pedir desculpas, mas era uma merda em pedir desculpas.

Queria abraçá-los, mas não sabia se me deixariam.

Então, fiquei lá como uma idiota e boquiaberta.

King foi o primeiro a se mover.

Ele saiu de seu assento e começou a caminhar em minha direção, seu


andar acelerando, alongando-se até que fosse uma corrida, e então fui
arrancada do aperto de Danner e balançada em seus braços.

O cheiro dele, de ar fresco e roupa quente, atingiu meu nariz e


imediatamente começou a arder com lágrimas. Enterrei meu rosto em seu
cabelo dourado exuberante e segurei-me enquanto meu coração explodia
dentro do meu peito, uma onda de alívio exultante varrendo meu sistema
devastado como chuva no deserto.

— H.R., — ele resmungou enquanto me balançava suavemente para


frente e para trás em seus braços, meus pés pendurados e balançando como
um pêndulo. — Porra, bem-vinda ao lar.

Explodi em soluços altos e incontroláveis que sacudiram todo o meu


corpo.

Uma mão calmante correu pelo meu cabelo e uma voz doce falou perto
do meu ouvido. — Minha doce Harleigh Rose.
Chorei mais alto, minha mão cegamente se estendendo para agarrar
Cress e trazê-la para o nosso abraço. Ela se dobrou em nós e segurou tão
firmemente quanto nós.

— Baby, — disse Lila enquanto se pressionava contra o meu outro lado


e colocou o braço em volta da minha cintura. — Porra, senti sua falta.

— Posso entrar nessa ação? — A voz de Nova chamou ao nosso lado. —


Você sabe que eu amo um bom abraço em grupo.

— Deus, não seja nojento, — Lila reclamou e a senti estremecer quando


ele se juntou ao amontoado, seu peso contra ela e braços longos em volta
de mim.

— Ah, foda-se, se há uma razão para me tornar um maldito motoqueiro,


foi para evitar essa merda, — reclamou Buck de algum lugar próximo, mas
então senti o cheiro de seu cigarro no ar e senti os braços fortes nos
esmagando pela esquerda. — Mas, foda-se, não é todo dia que recebemos
nossa princesa de volta.

Continuei chorando, mais suave agora que todo o MC, como toda a
minha família, se aglomerou ao meu redor e me aceitou de volta ao
rebanho.

Quando nos separamos, segurei meu irmão, Lila e Cress e virei todos
nós para olharmos para Danner, que se encostou na parede, botas
Timberland em seus pés cruzados, camisa jeans escura desabotoada apenas
o suficiente para ver o buraco sexy na base de sua garganta e uma poeira
de cabelo no peito, seus óculos aviadores empurrados em seu cabelo.
Ele estava de volta ao seu visual de caubói, ainda arrasando, mas agora
com uma tatuagem saindo da camisa, uma cicatriz na sobrancelha e o
coração de uma garota motoqueiro nas mãos.

Gostei da aparência dele.

— Danny. — King sorriu, avançando para pegar sua mão num aperto
firme que terminou com um tapa nas costas. — Porra, cara, é bom ter você
de volta.

Danner ergueu uma sobrancelha. — Sim, lembro que você não gostou
muito de mim quando Cress e Lou mexeram nas suas merdas.

King sorriu para ele, sem arrependimento. — Água sob a ponte, você
estava em conflito naquela época. Você está do lado certo das coisas agora.

— Você disse a ele que eu estava deixando a polícia? — Ele perguntou-


me.

Balancei minha cabeça onde estava no ombro de Cress.

— Foda-se, sim, você fez, — King gritou, batendo-lhe no ombro


novamente. — Não estava falando sobre o lado certo ou errado, a lei,
embora. Estava falando sobre estar do nosso lado novamente, o meu e de
H.R. Sentimos sua falta lá.

Deus, mas eu amava meu irmão.

O rosto de Danner se suavizou quando ele ergueu o queixo para King.


— Sim, King, também senti sua falta.
— Aqui para ficar, estou pensando, — acrescentou King com uma
piscadela atrevida.

— Aqui para ficar, — Danner confirmou.

Afastei-me das minhas garotas e fui para o meu homem, deslizando sob
seu braço, como tinha visto Lou fazer com meu pai tantas vezes.

Aqueceu meu coração recentemente descongelado como luz de fogo.

— Foda-se, sim! — Papai gritou da boca de outro corredor, vestido com


um uniforme azul que parecia quase cômico em seu grande corpo de
motoqueiro. — Temos dois filhos saudáveis e uma Lou saudável. Walker e
Angel Garro.

Maja pulou numa cadeira, girou o punho no ar e começou a aplaudir.

Juntamo-nos a ela por isso, a notícia por toda maternidade com


comemoração.

— Zeus Garro, — uma voz cortou o clamor alegre.

Olhamos para os dois oficiais que vinham pelo corredor em sua direção.

Danner deu um passo à frente: — Robson, Hatley, o que se passa?

Eles hesitaram, os olhares balançando de Papai para Danner.

O policial mais baixo pigarreou. — É bom ver você, Danner, mas este é
um assunto oficial.

— Que porra é essa? — King perguntou, já avançando.

Eles chegaram ao Papai antes dele.


— Zeus Garro, você está preso pelo assassinato do oficial Gibson. Você
tem o direito de permanecer em silêncio. Um advogado será fornecido a
você pela província...

Fim (por agora).


Epílogo

Um ano depois

Acordei de sonhos doces, um sorriso no meu rosto e minha mão já


chegando em toda a cama para Danner.

Ele não estava lá.

Isso não era incomum. Mesmo que meu homem tenha mantido seu
próprio horário trabalhando como detetive particular, ele ainda se
levantava cedo e muitas vezes tinha sua manhã esgotada para poder estar
em casa a tempo de tomar banho comigo antes de eu ir para o hospital.
Então, mantive meus olhos fechados e me deixei à deriva um pouco mais,
sentindo meu corpo solto e um pouco dolorido do trabalho que Danner me
deu na noite anterior. Ainda podia sentir a picada da nova raquete na
minha bunda e a pressão dos grampos de mamilo como um aperto
fantasma em meus seios. Adorei. As dores e marcas que ele me deu me
fizeram sentir amada e desejada, mesmo quando estávamos separados.
Depois de um ano de felicidade juntos, com tempo para explorar, ele só
descobriu mais e mais maneiras de me desvendar como um carretel de fio
solto.
Sorri para o travesseiro e afastei meu cabelo do rosto, mesmo mantendo
meus olhos fechados ao ouvir os sinais reveladores da porta da frente
abrindo e fechando, o alarme desarmando.

— Lion, — chamei baixinho, sonolenta ao sentir sua presença atingir o


quarto.

Ele deslizou pelo assoalho de madeira a meu lado e eu poderia dizer


que se agachou ao meu lado para correr o polegar sobre meus lábios
entreabertos antes de dar um beijo neles.

— Bom dia, minha Rose, — ele murmurou contra mim antes de se


afastar um pouco.

Cantarolei em minha garganta e esmaguei meu rosto no travesseiro. —


Volte para a cama e tenha uma preguiçosa manhã de domingo sendo
enérgico comigo.

Ele me respondeu com uma lambida áspera na minha bochecha que me


fez rir, ao mesmo tempo que franzi a testa. — Eca, desde quando lambemos
o rosto um do outro?

Outra lambida, depois outra, de uma língua que percebi ser muito
abrasiva, muito pequena para ser de Danner.

O segundo antes de abrir meus olhos, houve um pequeno ganindo


animal e meu coração parou ao perceber o que ele havia feito.

Minhas pálpebras se abriram para revelar um pequeno cão pastor


alemão a cerca de dois centímetros do meu rosto, atualmente mastigando
uma mecha errante do meu cabelo.
— Puta merda, — respirei quando as lágrimas instantaneamente
brotaram nos meus olhos e pulei numa posição sentada para que eu
pudesse carregar o pequeno pacote de pelo preto e dourado em meu colo
contra minhas pernas curvadas. Ele era uma coisinha tão pequena, peluda,
com pelos felpudos e grandes, orelhas retas, mas ligeiramente tortas, com
tufos de ouro. Levantei seu corpo de cachorrinho se contorcendo para eu
poder olhar em seus doces e inteligentes olhos castanhos e senti meu
coração girar no meu peito ao adicionar o peso do meu novo amor à sua
coleção.

Virei os olhos brilhantes para o meu homem quando trouxe o


cachorrinho ao meu peito e o abraçava como um bebê. — Você me
comprou um cachorrinho?

— Eu comprei um cachorrinho para você, — ele concordou, ainda


agachado ao lado da cama, parecendo impossivelmente gostoso usando
uma camiseta branca justa com seus aviadores enfiados na gola.

— Não pensei que poderia lidar com um depois. — Engoli o caroço de


tristeza que subiu na minha garganta. — Depois de Hero.

— Eu sei, rebelde, — ele disse suavemente, estendendo a mão para


arrastar a mão pelo cachorrinho se contorcendo e depois pela minha perna
para apertar meu pé. — É por isso que tomei a decisão de comprar um para
nós, quando soube que seria bom e não mau. Somos pessoas de cães, seria
errado não ter outro.

— Você está certo, — disse, estendendo a mão para tocar sua bochecha
áspera.
Ele encolheu os ombros. — Honestamente, estou surpreso que minha
garota esperta não esteja acostumada com isso até agora.

Bati no ombro dele, mas não consegui parar de sorrir quando olhei de
volta para a bela criatura no meu colo.

— Olá, bonitão, — murmurei. — Ele é ele, certo?

Danner riu: — Sim.

— Bom, você sabe que eu amo meus homens.

— Sim, — ele disse de uma maneira que atraiu meu olhar para ele, o
verde de seus olhos brilhando com amor tão forte que brilhavam neon. —
Sei que minha garota ama seus homens.

— Como devemos chamá-lo? — perguntei, esfregando minhas mãos


sobre suas orelhas macias e loucas.

— Por que você não confere a coleira? — Ele sugeriu.

Levantei o cachorro para perto novamente, desta vez mais alto, para
olhar a coleira sob seu pelo. Algo brilhando chamou minha atenção e fiz
uma careta quando separei o casaco preto para investigar.

Uma pequena placa de ouro dizia "Saint", o nome perfeito, mas não foi
isso que me fez ofegar, novas lágrimas rolando para se juntar às secas em
minhas bochechas.

Foi a visão de um enorme anel de ouro moldado numa rosa perfeita


pendurado na etiqueta do cachorro.
Quando voltei a olhar para Danner, ele se ajoelhou sobre um joelho, os
antebraços na cama, para poder se inclinar e trabalhar para tirar o anel do
colarinho. Ele chamou Alexa para tocar "Like Real People Do" de Hozier
enquanto trabalhava e então disse: — Te amo, Harleigh Rose, te amo de
uma forma que sei que nunca vou parar de fazer isso, assim como não
parei de fazê-lo de um jeito ou de outro desde que te conheci. Alguns
homens querem mulheres que sejam todo o açúcar e a doçura, confiável e
sóbria, mas sempre preferi o tipo de mulher que tem rosas e os espinhos,
força e insolência, que é tão selvagem no coração que nunca sei o que vou
ter. Você me faz sentir vivo, Harleigh Rose, cheio de um amor e propósito
tão forte que eclipsa qualquer outro motivo que possa ter para amar viver.

— Sim, — gritei através das lágrimas horríveis que tomaram o controle


do meu corpo, enrolando o cachorrinho num braço para que eu pudesse
me jogar no meu homem com o outro. — Sim, porra, claro que sim.

— Ainda não fiz a pergunta, rebelde Rose, — Danner agarrou de


brincadeira o meu cabelo.

Afastei-me dele apenas para me reajustar para poder dizer as palavras


contra seus lábios. — Você me pergunta hoje, amanhã, ontem, qualquer um
dos dias desde que o conheci, quando eu tinha seis anos e nem sabia o
significado do amor, eu diria sim a você, Lion Danner.

— Sim, — ele disse, doce, longo e lento, do jeito que ele faz quando eu
lhe digo algo que vale a pena saborear.

Então, ele me beijou.


Ele me beijou de uma forma que dizia proteção e segurança, sexy e
sensual, amor e amada. Ele me beijou como se tocasse música para mim,
mais eloquentemente do que as palavras podiam expressar com precisão.

— Sim, — repeti em seu tom quando ele se afastou para colocar a porra
da incrível rosa de ouro no meu dedo anelar e, oficialmente, fiquei noiva
do amor da minha vida. — Sim.

Oito anos depois

Bang, bang.

Os tiros dispararam sobre os quatro acres de terra atrás de nossa casa,


as folhas chocalhando nas árvores enquanto os pássaros fugiam e alguns
dos cavalos que mantínhamos deixavam escapar altos relinchos de
protesto. Saint só olhou para mim, deitado debaixo dos meus pés, onde me
sentei na varanda dos fundos, com o rabo na cadeira de balanço que
Cressida comprou para o nosso último aniversário de casamento. Meu
cachorro não se incomodou com o som dos tiros, ele sabia que seu povo
estava em casa são e salvo, que a única coisa a temer era a possibilidade
muito real de que minha esposa transformasse nossos filhos em malucos
por armas.
Acariciei meu cachorro na cabeça, tomei um gole da minha cerveja
gelada da Ilha de Vancouver e olhei para a minha família reunida à
esquerda da varanda. Harleigh Rose estava quase dobrada para falar com
Cash, de seis anos, sobre segurança de armas, nossa garotinha, muito
jovem para manusear a arma sozinha, ficou com eles, com um amuo em
seu rosto manchado de lágrimas, ainda segurando sua birra, como só a
filha de Harleigh Rose poderia fazer.

— Você está pedindo por isso, mostrando-lhes como usar uma arma, —
disse Lysander ao sair da casa com duas cervejas abertas entre os dedos. —
Não sei se conheço alguma outra criança que durma com uma arma de
plástico, como se fosse um bicho de pelúcia como o Taz faz.

— Sim, — concordei, infinitamente divertido pelo fato de que Tasmin


insistiu em dormir com uma arma de água rosa brilhante que compramos
para seu quarto aniversário. — Ela é um pouco durona em treinamento.

— Não tenho certeza se te invejo, cara — ele disse, encostado no


parapeito, um pé cruzado sobre o outro, com os braços grossos cruzados
sobre o peito.

Ele tinha saído da prisão por mais de uma década nesse momento, mas
o olhar dele nunca o deixou. Ainda havia horrores na parte de trás de seus
olhos, uma ameaça cuidadosa a cada um de seus movimentos enrolados e
olhares escuros, como se ele não soubesse ser intimidador, como se ele nem
mesmo confiasse no mundo o suficiente para tentar.
Odiava isso por ele. Formamos uma parceria improvável nos últimos
anos e agora que ele estava passando por sua própria tempestade de merda
pessoal, estava determinado a protegê-lo.

— Você se dá a chance de se apaixonar por uma mulher que vai roubar


seu fôlego e presenteá-lo de volta na próxima batida, você vai saber o
suficiente para ser invejoso, — disse a ele.

Ele riu. — O sábio caubói sentado em seu balanço na varanda, porra,


bebendo uma cerveja com seu companheiro leal a seus pés, sua mulher
alegremente brincando com as crianças que ela lhe deu... sim, cara, talvez
eu chegue lá um dia.

Ele não acreditou, podia ouvir em sua voz, mas deixei passar.

Chegou um momento para todos nós: Zeus, King, Bat, inferno, até
mesmo Nova estava deste lado de seu feliz para sempre e se isso não
provasse que qualquer homem poderia se apaixonar, nada o faria.

— Papai, — Taz gritou quando ela correu para mim em suas perninhas,
cabelo loiro com mechas voando ao seu redor. — Papai!

Não respondi. Minha garota tinha uma maneira de gritar para mim,
mesmo quando eu estava ao lado dela. No início, isso me preocupou, como
se ela estivesse com medo de que eu a deixasse ou algo assim.

Foi Harleigh Rose quem decidiu que era algo muito diferente, que
minha garotinha estava orgulhosa de seu pai e queria gritar isso para o
mundo. Ela conhecia a sensação, ela disse, olhando nos meus olhos com
aqueles enormes azuis aquamarine, porque ela sentia o mesmo tipo de
orgulho desde que a fiz minha.

— Quando os outros estão vindo? — Lysander perguntou quando Taz


subiu os degraus de madeira e se jogou em meus braços.

Pressionei um beijo em seu cabelo com perfume floral. — A qualquer


momento agora.

— Houve um tempo que se me dissesse que nós dois estaríamos numa


festa de aniversário com a porra dos Fallen, diria que você estava maluco,
porra.

— Sim, — concordei enquanto Taz se mexia em meus braços, rindo


enquanto fazia cócegas na suave curva de sua pequena barriga.

Risos altos e femininos ecoaram e pensei que era, sem dúvida, o


segundo som mais bonito do mundo.

O primeiro foi ouvir sua mãe dizer seu suave e doce "Lion".

Como se eu mesmo os tivesse conjurado, o rugido dos canos da Harley


se soltou no ar, uma trilha de poeira no horizonte, o sinal revelador do
clube subindo pela estrada de terra.

— Papai-Papai está chegando! — Taz gritou do meu colo, pulando do


banco e depois gritando na cara de Saint. — Cachorrinho, Papai-Papai está
quase aqui!

Não é preciso dizer que meus filhos amavam o avô.


— Legal, — Cash gritou como o cara legal em crescimento que ele era, o
queixo erguido em reconhecimento ao surto de sua irmã.

Taz correu para eles, os braços rodando e colidindo com o lado de seu
irmão com tanta força que ela quase caiu. Cash a pegou debaixo do braço e
a segurou apertado.

A risada de Harleigh Rose chegou a mim e observei suas longas pernas


envoltas em short jeans minúsculo enquanto ela passeava pelo quintal com
um braço em volta do nosso filho e o outro segurando uma espingarda
vazia e aberta.

Jesus, mesmo como mãe, ela era gostosa pra caralho e durona como o
inferno.

Ela se separou das crianças na base da varanda para subi-la enquanto


elas corriam mais ao longo da garagem, ansiosas para encontrar os
motoqueiros rolando sobre a sujeira.

Minha mulher subiu os degraus, uma garota motoqueira com suas botas
de combate em casa, numa fazenda.

Nunca vi nada tão bonito.

Ela entregou a arma a Lysander com uma piscadela. — Lide com isso
para mim, sim?

Ele bufou, mas havia um sorriso em seus olhos enquanto observava


seus quadris balançando para mim, em sua bunda doce quando ela se
inclinou para me beijar.
— Pronto para o seu aniversário, Lion? — Ela perguntou.

Inclinei minha cabeça para trás contra o balanço para sorrir


preguiçosamente para ela. — Mais animado para mais tarde, quando os
convidados se forem, e as crianças estiverem dormindo, quando poderei
foder você amarrada numa corda, sua bunda vermelha de couro.

— Mmm, — ela cantarolou sob o som das motos quando eles


estacionaram. — Devo dizer à família para virar e voltar para de onde eles
vêm?

— Nah, acho que seu pai choraria, — brinquei.

Toquei meu polegar no canto de seu sorriso largo e engoli seu riso com
um beijo.

— Tire seus lábios da minha garota, — o homem em questão gritou


quanto contornou a varanda com Taz num braço e sua filha, Angel, no
outro.

Ambas eram mini versões de suas mães.

Provoquei Zeus implacavelmente e com frequência sobre os homens


que ele teria que espancar para longe de sua filha. Ela tinha apenas oito
anos, mas sua beleza já era tão intensa que parecia brilhar.

— Não vou parar, velhote, — disse, levantando-me para Harleigh Rose


e eu podermos encontrá-lo no topo da varanda.

Ele largou seus bebês para envolver seus braços em volta da garota
adulta. Ela abaixou o rosto em seu peito e segurou firmemente.
Ela nunca menosprezou seus entes queridos, nem por um minuto,
desde que arriscou sua própria vida há tantos anos.

Às vezes, acordava e a pegava olhando para mim, com a mão na


tatuagem que fiz para ela, com as pontas dos dedos na cicatriz que ela me
deu, com o rosto cheio de tristeza. Beijava-a em seu rosto, seduzia um
sorriso ou afastaria a carranca, mas sempre havia uma fração de sua alma
que permaneceria assombrada pelo dia e pela decisão que ela teve que
tomar.

Apenas recentemente aprendi a viver com isso.

Foi Cressida quem me disse: "Ela tem que manter esse sentimento sob
controle, você não precisa se preocupar com as vezes que isso a comove,
Danner. Vai passar. E é um bom lembrete de que a felicidade que ela tem
agora, ela merece".

Isso era verdade, mas precisei que uma mulher sábia, que uma vez
condenei por foder seu aluno adolescente, deixar isso claro para mim.

Zeus libertou minha esposa e deu-me uma palmada grande no meu


ombro, sacudindo-a levemente. — Feliz aniversário do caralho, Lion.

Sorri para ele. — Você me faz um bolo?

— Vá se foder.

Saímos do caminho para cumprimentar os outros subindo as escadas,


Lou com seu filho Walker, que todos começaram a chamar de "Monstro",
King e Cress com seus filhos, Bat com sua família, Nova com sua esposa,
Buck e Maja, Velho Sam, Smoke e Riley, Curtains, Boner e Axe-Man, Cy
com seu Tay. Eles filtraram os passos em seu couro e seu preto, seus
sorrisos amplos com pura alegria por estarem juntos, em comemorar meu
aniversário.

Um ex-policial que passou anos tentando prendê-los.

Agarrei o braço da minha esposa e a puxei para o meu lado para que eu
pudesse dar um beijo molhado em sua boca. — Amo você, rebelde Rose.
Amo a família que você me deu.

Ela derreteu-se ao meu lado, seus olhos azul-marinho que eu amava


tanto cheios de amor, a minha rosa em plena floração. — Amo que você me
amou o suficiente para salvá-los, para que eu pudesse dá-los a você.
Playlist
" God’s Gonna Cut You Down" — Johnny Cash
"Every Rose Has Its Thorns" — Poison
"Short Change Hero" — The Heavy
"Born to be Wild" — Steppenwolf
"Give My Love to Rose" — Johnny Cash
"I Hate Myself for Loving You" — Joan Jett & The Blackhearts
"Snake Song" — Isobel Campbell & Mark Lanegan
"Not Afraid Anymore" — Halsey
"Dirty Deeds Done Dirt Cheap" — AC/DC
"Like Real People Do" — Hozier
"Gun in My Hand" — Dorothy
"No Good" — Kaleo
"Real Wild Child" — Iggy Pop
"Once Upon A Dream" — Lana del Ray
"Game of Survival" — Ruelle
"It Will Come Back" — Hozier
"If I Were a Boy" — Beyonce
"Hazey" — Glass Animals
"Make Up Sex" — SoMo
"Die for You" — The Weeknd
"Can’t Help Falling in Love" — Elvis Presley
"Hot Blooded" — Foreigner
"Die A Happy Man" — Thomas Rhett
Agradecimentos
Good Gone Bad foi um dos livros mais difíceis que já escrevi porque Danner e
Harleigh Rose tinham mente própria. Eles queriam ficar juntos mais do que seu
próximo suspiro, mas não sentiam que mereciam um ao outro, ou mesmo um felizes
para sempre. Às vezes, coisas boas demais, como lealdade, no caso deles, podem levar a
coisas ruins. Acho que eles podem ter as melhores almas de todos os personagens que já
escrevi (com exceção de Mute) e amo que sua história de amor foi tanto uma luta para
eu escrever quanto para eles suportar.

Uma nota sobre a sexualidade deles. Existem muitas formas de dominação e


submissão, e muitas formas de Doms e submissas, assim como há variedades de
pessoas sob vários rótulos e subtítulos. Danner é um homem bom, um homem moral e
um cavalheiro. Sua sexualidade e perversão podem parecer um desvio completo de seu
caráter, assim como a teimosa, atrevida e independente Harleigh Rose pode parecer
uma submissa bizarra. A verdade é que, na maioria das vezes, é muito difícil identificar
alguém corretamente como um ou outro. Às vezes, uma mulher de carreira poderosa
precisa esquecer o estresse do controle e responsabilidades cedendo isso ao seu
parceiro, que por sua vez pode ser um homem afável, tipo beta em situações sociais,
mas um homem que anseia pelo peso de um chicote na palma da sua mão no quarto
para afirmar seu domínio e força de outra forma. É importante notar isso porque muitos
livros de BDSM retratam Doms como grandes, maus, controladores que agem da
mesma maneira dentro e fora do quarto. Isso acontece, e isso pode ser superquente. Mas
se você está curioso sobre BDSM, faça sua pesquisa. Você encontrará uma incrível
variedade de estilos de vida, de Dom/sub, Mestre/escravo, 24/7, situações para
pessoas que dominam de uma forma completamente não sexual. Harleigh Rose e
Danner são apenas um exemplo de uma comunidade que é profunda, variada e
incrivelmente tentadora, provavelmente porque há tantos livros escritos sobre isso!

Além disso, a música é uma grande parte deste livro, por isso encorajo você a ouvir
enquanto lê <3

Tenho tantas pessoas para agradecer por amar e apoiar minha própria rosa com
espinhos e este livro.

Serena McDonald é a minha salvação, um dos maiores amores da minha vida, e


uma rainha de livro que me sinto muito abençoada todos os dias por ter ao meu lado.
Não acredito que só a conheci este ano, quando parece que nos conhecemos a vida toda.
Sei que, às vezes, te deixo louca com meu processo criativo, então, obrigada por ser
infinitamente paciente comigo. Não posso esperar por muitos mais livros e muitas mais
aventuras juntas, minha S. #McDarling

Para minha segunda mãe, minha melhor namorada e minha confidente, Michelle
Clay. Não sei como você consegue, mas você conhece minha alma e como acalmá-la
melhor do que quase qualquer um. Obrigada por seus segredos, seus elogios e seu amor
sem fim.

Becca, você é uma das minhas melhores amigas e ainda nem te conheci. Um brinde
a uma vida inteira de amor, futuras viagens e possíveis projetos.

K Webster foi um dos meus autores favoritos e ela ainda é até hoje. Ela também é,
sem dúvida, uma das minhas humanas favoritas, e não apenas porque compartilhamos
um amor por papais gostosos, gestações surpresas e todas as coisas tabu.

O dia em que Sarah, do Musings of a Modern Book Belle, me contatou antes do


lançamento de Welcome to the Dark Side, é um dia em que minha vida mudou para
melhor. Estou tão grata por ter a sua perspicácia e arte em minha vida, Sarah.

Ellie McLove, editora do My Brother, salvou minha bunda com as suas edições e
abalou seriamente o meu mundo com sua nova amizade. Estou tão feliz por finalmente
ter encontrado o meu editor de sonhos e mal posso esperar para te dar todos os
projetos.

Najla Qamber é minha designer de capa e guru gráfica. Ela dá vida ao meu mundo
de maneiras maravilhosamente elaboradas que me deixam os olhos lacrimejantes. Te
amo, Najla, obrigada por estar na minha equipe desde o início.

Para Stacey, da Champagne Formatting, obrigada por tornar este livro maravilhoso
e todos os livros da série The Fallen Men tão bonitos quanto os homens entre as
páginas.

Para Marjorie Lord, pela sua perícia em revisão, eu seria confusão de erros sem
você.

Giana's Darling, vocês são as minhas favoritas. Eu nunca sonhei que poderia ter um
grupo tão bonito e dedicado de leitores fiéis e sou humilhada todos os dias por seu
amor e apoio.

O maior grito tem que ir para os leitores e blogueiros de livros da equipe ARC de
Dirty Danner! Eu te amo por seu entusiasmo e vontade de compartilhar meu trabalho
com os outros. Seu apoio é essencial para mim e vocês ajudaram a obter este livro em
inúmeras mãos, então, obrigada!

Acredito que você cria sua própria família e sou tão abençoada por ter tantas
amizades com belas mulheres e autores nesta comunidade. Não posso dar nomes a
todos, mas preciso gritar algumas pessoas especiais.

Sunny, mal posso esperar para te abraçar e dançar com o Shawn Mendes neste
verão. Seu amor por mim e pelos meus Fallen Men me faz querer chorar, mas estou
sendo uma garota motoqueiro e segurando as lágrimas para salvar a minha reputação
nas ruas. A sério, você é o máximo.

Leigh, eu amo você, amo seu trabalho e adoro que sempre responda às minhas
perguntas, às vezes, parvas ou fúteis. Sinto que você sabe quem eu sou e me ama,
mesmo que ainda não nos conhecemos e não posso esperar para corrigir isso!
Kristie Lewis, minha querida garota, amo muito você. Estamos nessa louca e
maravilhosa jornada juntas há um tempo e nunca fica menos interessante, mas sempre
fico feliz em ter você para conversar.

Ella Fields, quem me dera poder fazer um CD com nossas mensagens de voz do FB
para ouvir sempre que estou triste, porque sua linda voz australiana, inteligência e
discernimento sempre me fazem rir e sorrir.

Cassie, querida, simplesmente amo você. Você tem sido minha amiga do que parece
ser o começo e sempre está por perto para me apoiar e me dar doses infinitas de amor.
Sempre que escrevo sobre o Papai Z, penso em você.

Para todos os outros amigos autores que participaram de minhas festas de


lançamento e me fazem sentir que esta comunidade é a minha casa, obrigada e eu amo
todos vocês. Você sabe quem você é <3

Não posso listar todos os blogueiros de livros que fazem meu dia com suas resenhas
e teasers, mas agradecimentos especiais vão para Sarah no Musings of a Book Belle,
Allaa no Honeyed Pages, Keri no Keri Loves Books e as meninas no Kinky Girls Book
Obsessions. Meus Instagrammers @booknerdingout, @bookmarkbelles e
@peacelovebooksxo.

Minha melhor garota, Armie, é minha líder de torcida e ouvinte constante. Ela ouve-
me a ler em voz alta durante horas, a pontos de enredo em constante mudança e a
futuras ideias de projetos. Ela autoriza fotos de capa em dá amor quando me sinto
insegura. Ela é a melhor amiga que sempre li nos livros quando era criança, uma amiga
que nunca pensei que teria a sorte de ter para mim.

E como sempre, por último, mas nunca menos importante, este livro é dedicado a
você, meu amor, porque se alguém pode entender como superar obstáculos pode
fortalecer seu amor, somos nós. Obrigada por me amar do jeito que você me ama,
infinitamente, lindamente e, ocasionalmente, asperamente ;) Não sou grata por nada
nesta vida tanto quanto sou seu amor.
Sobre a Autora
Giana Darling é uma escritora de romances canadense especializada no lado tabu e
angustiado do amor e do romance. Atualmente, ela mora na bela British Columbia,
onde passa o tempo andando na parte traseira da moto de seu homem, assando tortas e
lendo aconchegada com seu gato Persephone.

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