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Nenhum homem jamais abalou Isabel Ward. Até Aiden
Hennessy entrar pela porta de sua academia - com os
documentos de propriedade nas mãos.

O ex-lutador é muitas coisas - um pai solteiro, um viúvo


tentando recomeçar e uma presença vigilante que a
desestabiliza muito.

Para piorar as coisas, Isabel teve uma queda por ele


durante toda a sua adolescência. Rabiscos em seus
diários e cartas declarando sua admiração - embora
nunca tenham sido enviadas - assombram totalmente a
merda dela agora que tem que enfrentá-lo todos os dias.

Nenhuma mulher jamais tentou Aiden a seguir em frente


com a memória de sua esposa - até Isabel. Ela é muito
jovem, muito fogosa, muito de tudo que ele deveria evitar.

Mas evitar é impossível, assim como fingir que a química


entre eles não existe.

Agora que a mulher inabalável está afetada e o homem


desinteressado está tentado, Isabel e Aiden têm que
decidir o que eles estão dispostos a arriscar para provar
o gostinho do proibido.
Dois anos e meio antes

— ISSO significa que vou conseguir uma nova mamãe?

É incrível como as crianças podem dizer as coisas mais


inocentes e fazer você sentir como se tivesse levado uma facada no
estômago.

Protegendo meus olhos do sol da Califórnia, olhei para Anya,


sentada na plataforma de seu escorregador. Quando consegui
respirar o suficiente para formar palavras, tentei manter meu rosto
calmo. — Por que você teria uma nova mãe?

Ela chutou as pernas, olhando para a fileira de janelas onde


a cama de hospital de Beth estava montada - a seu pedido - para
que ela pudesse assistir Anya brincar. — Se a mamãe vai para o
céu em breve, isso significa que vou conseguir uma nova?

Aprendi a explicar muita coisa para uma criança de cinco


anos nos últimos meses.

Câncer.
Porque Beth decidiu contra a quimio.

Cuidados paliativos.

Céu.

Mas isso... isso era novo. E eu tive que fechar meus olhos
para lutar contra a onda brutal de dor que me atingiu.

Cada dia era novo, apesar da realidade em que vivíamos há


noventa e dois dias desde o diagnóstico dela. E eu estava
convencido de que cada acontecimento era o pior, e que o próximo
não poderia me derrubar tanto, até momentos como este.

O câncer de Beth me forçou a descobrir um lado meu que eu


nunca conheci. Uma fonte de paciência, de aceitação, de perceber
que tudo a que dediquei minha vida não importava muito no
grande esquema das coisas. Ser bom em alguma coisa não a
tornava vital automaticamente.

Lutar costumava ser tudo. E agora era simplesmente algo que


eu costumava fazer, e de forma alguma me preparou para enterrar
minha esposa antes de nós dois completarmos 35 anos.

Nem me ajudou quando minha filha perguntou sobre uma


nova mãe.

— Talvez possamos conversar sobre isso mais tarde, ok? —


eu disse cansado. O sono era escasso para mim, embora Beth
estivesse dormindo mais e mais. Sua enfermeira não podia me dar
um tempo exato, mas conforme seu apetite diminuía e sua energia
diminuía, sabíamos que tínhamos poucas semanas. Talvez dias.
— Ok, papai. — Ela desceu o escorregador, correndo de volta
para a escada. Em vez de parar na plataforma, ela pulou agilmente
até a viga que se estendia pelo topo do balanço. — Veja!

Eu balancei minha cabeça. — Anya, você sabe que não pode


ir tão alto.

Minha garota destemida, ela riu, movendo-se para ficar na


viga. Eu estava de pé na próxima respiração, segurando meus
braços. — Vamos, grande salto e eu vou te pegar.

Se eu enlouquecesse, ela faria algo ainda mais louco, como


tentar cair de pé, e sim, aprendi isso da maneira mais difícil
também. Era a mesma criança que, aos três anos, foi encontrada
balançando na luminária da sala de jantar depois de subir na
mesa.

Anya se levantou com cuidado, os braços abertos, a língua


presa entre os dentes. — Espero que a mamãe possa ver isso. Sei
que isso a fará se sentir melhor — falou.

Eu sorri. Outra facada. Outro golpe em meus pulmões. —


Tenho certeza que sim, gingersnap1.

— Preparado?

Eu concordei.

1 Biscoito de gengibre.
Ela pulou e eu a peguei, jogando-a para baixo em direção ao
chão, então de volta no ar enquanto ela gritava feliz.

— Você é tão bom nisso, daddysnap. — Ela estava um pouco


instável quando a coloquei no chão, e sua expressão animada me
fez sorrir.

— Que bom que sou bom em alguma coisa.

Anya se agachou perto da grama e arrancou uma pequena


erva daninha que parecia uma flor branca. — Eu vou levar isso
para a mamãe! — ela gritou, o cabelo voando enquanto ela corria
para dentro de casa.

Suspirei pesadamente, passando a mão sobre a boca


enquanto tentava me orientar. A auxiliar de enfermagem ainda
estava em casa, então fiquei do lado de fora trabalhando no jardim,
deixando meus músculos aquecerem, meu sangue fluir para algo
produtivo. Algo que eu pudesse controlar. No momento em que
Anya correu de volta para fora, segurando um papel na mão, eu
nem tinha certeza de quanto tempo havia passado.

— Veja! Eu tenho uma lista! — Ela estendeu o papel para


mim, sorrindo animadamente.

— Qual é a lista? — Minhas mãos estavam suadas e sujas, e


as mostrei a ela. — Eu não acho que devo bagunçar seu lindo
desenho.

Ela se jogou na grama e estendeu o papel com


cuidado. Inclinei minha cabeça e tentei entender o que ela havia
escrito. Os alunos do jardim de infância não são conhecidos por
suas habilidades de ortografia.

Mas eu pude ver um cookie.


Flores.

Uma mulher com longos cabelos amarelos e uma grande boca


vermelha. Ela estava gritando ou rindo, eu não tinha certeza. Eu
cocei minha cabeça.

— Por que você não explica para mim, gingersnap?

Por favor, querido Senhor, explique.

— Eu perguntei à mamãe sobre minha nova mamãe algum


dia — ela sorriu para mim. Meu coração parou. Parou
totalmente. Sem batimentos. Meus pulmões também. Anya
começou a apontar para o papel enquanto eu simplesmente
tentava respirar. — Ela me disse que ela será doce e engraçada e
fará você rir. — Ela bateu no papel. — Vê? Ela está sorrindo.

Seu dedo moveu-se para o biscoito.

— E ela fará biscoitos realmente bons, assim como a mamãe,


porque mamãe disse que você é péssimo em medidas e precisa de
alguém para fazer isso.

Meus olhos turvaram e me agachei com cuidado ao lado da


minha filha, colocando minha mão em suas costas enquanto
olhava para a imagem horrível em que ela trabalhou tão duro. Eu
queria rasgá-la. Eu queria queimá-la.

Anya apontou para a boneca. — E a mamãe disse que ela será


suave onde você é firme, e eu não sabia desenhar isso, mas quem
quer ser uma boa mamãe pode já ter filhos e saber como me
abraçar quando estiver com medo e cantar para eu dormir. E
acabei de adicionar a flor porque gosto de desenhá-las.
Esfreguei o dorso da minha mão na minha bochecha para que
Anya não visse. — Você fez muito bem no seu desenho, gingersnap
— disse com a voz embargada.

Ela passou os dedos pelas letras embaralhadas que deviam


fazer sentido para ela. — Eu não queria esquecer. Dessa forma,
você não precisa falar sobre isso se não quiser. — Então, Anya
dobrou o papel com cuidado e me entregou. — Você pode ficar com
ele, papai. Assim, você saberá quem procurar.

Lambi meus lábios, pegando o pedaço de papel como se fosse


uma bomba prestes a explodir. Mas sorri para minha filha. —
Obrigado.

Ela se jogou em mim num abraço apertado e eu olhei para o


céu.

Quando Anya voltou correndo para dentro de casa, levantei-


me devagar, com o papel na mão, e fui até a cama de Beth.

Seus olhos estavam fechados, seu peito movendo-se com


respirações rasas.

Peguei a cadeira ao lado dela e, quando deslizei seus dedos


ossudos nos meus, seus olhos se abriram.

— Por que você fez isso? — sussurrei.

Ela sorriu fracamente. — Eu sabia que você ficaria com raiva


de mim.

— Eu não estou bravo — disse a ela. — Eu estou... — minha


voz sumiu quando nenhuma palavra saiu. Desta vez, deixei uma
lágrima cair sem controle, e Beth observou com uma expressão
triste no rosto. — Eu simplesmente odeio que ela tenha perguntado
a você.

Minha esposa - minha esposa engraçada, extrovertida,


barulhenta e apaixonada que não conseguia mais reunir forças
para sair da cama - apertou os dedos nos meus. — Ela está
preocupada, Aiden. Eu só queria que ela... — ela deu de ombros. —
Eu queria fazê-la se sentir melhor.

— Eu sei — funguei.

— Prometa-me uma coisa, no entanto — Beth sussurrou.

Imediatamente, eu estava balançando minha cabeça.

— Prometa-me que, se você encontrar alguém assim, você


não vai ignorar — sua voz vacilou e eu queria ficar com
raiva. Gritar. Quebrar alguma coisa.

Suspirei, finalmente encontrando seus olhos. — Tudo o que


entendi desse desenho foi que ela tem uma boca do tamanho do
meu rosto e gosta de biscoitos.

Beth soltou uma risada. — Isso é uma simplificação grosseira


do que eu disse.

— O que você disse? — perguntei baixinho. — Quem você


conjurou para mim, Beth? Porque ela não será você — balancei
minha cabeça novamente. — Eu não me importo com a lista que
você acabou de dar a ela. Ela não será você.

Minha esposa ignorou minha atitude. Ela me conhecia há


muito tempo, sabia que era mais fácil ignorar isso. Ela aprendeu
essa lição quando tínhamos dezoito anos e me beijou pela primeira
vez quando se cansou de esperar que eu o fizesse.
— Eu disse a Anya que espero que um dia você encontre
alguém gentil e engraçada, alguém que sorria e ria facilmente
porque nós dois sabemos que você não faz. — Eu segurei seus
olhos, incapaz de discutir. — Alguém suave onde você é firme,
alguém que saberá como lidar com todas as coisas nas quais Anya
precisará de ajuda. Alguém que pode fazer biscoitos para ela e
cantar para ela dormir, e te ensinar como lidar com todas as suas
grandes emoções, porque eu sei que elas assustam você "pra"
caralho, Aiden.

Eu fechei meus olhos. Eu não queria ouvir nada disso, mas


como qualquer conversa que tinha com Beth nos dias de hoje,
forcei-me a absorver cada palavra. Cada nuance. Todo segundo.

— E pelo amor de Deus, não se apaixone pela primeira fã


corpulenta que te bajular — ela brincou. — Eu irei te assombrar
pelo resto de sua vida.

De alguma forma, consegui sorrir. — Você irá?

— Eu serei uma fantasma vadia. — Seu corpo foi acometido


por uma tosse de latejar as costelas.

Levando sua mão leve como uma pena até minha boca, beijei
seus nós dos dedos. Ela cheirava a remédio. Seus dedos estavam
frios contra minha boca e tudo que eu queria fazer era aquecê-
la. Consertá-la.

E eu não podia.

O desamparo me fez querer destruir tudo. Especialmente


quando ela continuou falando. Suas palavras foram muito piores
do que a facada; era como uma centena delas. A garota da porta
ao lado, que eu conhecia há mais da metade da minha vida, que
tinha meu coração por quase uma década, iria deixar um buraco,
e eu não queria pensar no fato de que não poderia preenchê-lo.

— Você tem um gosto excelente, Aiden Hennessy — disse ela


calmamente. — Você deve ter se me escolheu.

Eu dei uma olhada nela. — Eu acho que foi você quem fez a
escolha. Do jeito que eu me lembro, pelo menos.

Ela cantarolou, os olhos caindo fechados. — Isso mesmo. Eu


tenho um gosto excelente. — Ela deslizou a mão pela minha
bochecha e pela linha do meu queixo. — É por isso que você deve
confiar em mim.

— Eu confio — eu sussurrei.

— Bom. — Gentilmente, ela pressionou meu queixo até que


eu não consegui desviar o olhar. — É por isso que respondi à
pergunta de Anya. Porque vocês dois ficarão bem, e ela precisava
saber disso. Você será feliz de novo, mesmo se eu não estiver lá.

— Beth — minha voz falhou em seu nome, olhos queimando


perigosamente. — Por favor.

— Você ficará bem sem mim — ela repetiu, seu próprio olhar
claro e forte.

Foi como se ela puxasse a faca - cada uma delas - e tudo o


que elas seguravam veio derramando em uma pressa
confusa. Baixei a cabeça para o lado da cama do hospital e,
enquanto minha esposa acariciava minha nuca, chorei.
— Está um pouco torto.

Um suspiro lento escapou de meus lábios, não que minha


filha pudesse ouvir com os cobertores cheios de unicórnio puxados
até o nariz.

Com a mão na cintura, encarei o item ofensivo. — Eu não sei,


gingersnap. Parece igual a ontem à noite, certo?

Isso a deixou perplexa por sólidos trinta segundos. Seus


olhos azuis olhavam fixamente para cima, sem piscar e sem
vacilar, e eu praticamente podia vê-la tentando descobrir os
motivos pelos quais o dossel de tule rosa choque estava fora do
centro e, portanto, inaceitável. Se era inaceitável, ela não
conseguiria dormir.

Seus olhos dispararam em minha direção, depois voltaram


para a nuvem rosa. — O tio Clark mediu?

— Tio Clark mede tudo.


O som de sua risada foi abafado pelo monte de
cobertores. Mesmo assim, eu ouvi e algo aliviou em meu peito. A
hora de dormir era nossa maior luta nos dois anos desde a morte
de Beth. Tudo começou cerca de seis meses depois de enterrá-la e
com apenas pequenas coisas no início.

Papai, você pode mover esse abajur um pouco mais perto da


minha cama? Está muito longe e não consigo ver.

Posso colocar mais um cobertor sobre meus pés? Eles estão


frios e eu não vou conseguir dormir se eles estiverem frios.

Posso pegar mais um bicho de pelúcia na


brinquedoteca? Quatro não são suficientes e acho que preciso de
cinco para dormir.

No ano seguinte, as coisas que a incomodavam ficaram um


pouco maiores e um pouco mais difíceis de acomodar. Mas elas
desapareceram quando ultrapassamos a marca dos dezoito
meses. Seu quarto permaneceu intocado, e eu fui capaz de escapar
depois de ler uma história para ela, fazer uma oração e desejar boa
noite a cada personagem de pelúcia que ocupava sua cama queen-
size.

Então nos mudamos da Califórnia para Washington para


ficar mais perto da minha família, assim não teria que criar minha
filha completamente sozinho. Anya poderia ter avós, tios e tias por
perto. E na primeira noite em nossa nova casa - onde estivemos
nas últimas duas semanas - começou de novo.

— Que tal isso — falei lentamente — vou descer e ver se o tio


Beckham trouxe sua fita métrica e ele pode verificar as habilidades
de medição do tio Clark. Parece bom?
Ela acenou com a cabeça, tufos de cabelo loiro branco
apontando para cima.

Com cuidado, me inclinei e dei um beijo em sua testa. — Amo


você, gingersnap.

— Te amo mais, daddysnap.

Meus lábios se curvaram em um sorriso.

— Você vai voltar depois de falar com o tio Beckham, certo?

— Sim.

Anya suspirou, deslizando as cobertas alguns centímetros, o


suficiente para que eu pudesse ver a lacuna onde seus dois dentes
da frente costumavam estar quando ela sorria para mim. — Ok.

A rotina da hora de dormir era uma dança que nós dois


tínhamos executado inúmeras vezes sozinhos, e eu podia fazer isso
meio adormecido.

Ligar a pequena lâmpada em sua mesa de cabeceira.

Ajustar a foto emoldurada dela e Beth para que Anya pudesse


ver facilmente.

Ajustar o dossel para que envolvesse o máximo possível de


sua cama.

Parei um pouco antes de eu sair do quarto dela, mandei um


beijo para ela, que o pegou e estalou na boca.

Mas meu sorriso caiu enquanto eu descia as escadas para o


andar principal, onde meus irmãos Beckham e Deacon esperavam
por mim.
Eles estavam no chão da ampla sala de família, montando
algo rosa e branco e coberto de purpurina.

— O que é isso? — perguntei.

Deacon levou uma coroa brilhante até a testa. — Eu acho que


deve ser uma daquelas coisas para maquiagem.

Minhas sobrancelhas se ergueram lentamente. — Quem


comprou isso para ela?

— Eloise — disseram em uníssono.

— Ahh. — Nossa irmã mais nova começou a comprar


qualquer coisa que Anya pudesse desejar desde que nos mudamos
para cá. Meus pais não eram muito diferentes, já que ela era a
única neta - o que significava a única sobrinha dos meus quatro
irmãos solteiros. Se Anya não fosse um monstro completo quando
fizesse dez anos, seria um milagre.

Com um cansaço que sentia em cada osso e músculo, afundei


no sofá enquanto eles continuavam a trabalhar.

— O que foi esta noite? — Beckham perguntou.

Suspirei. — O dossel. Ela não tinha certeza se estava


centralizado sobre sua cama.

Seu rosto se abriu em um sorriso enquanto ele enroscava


uma perna no pequeno banco branco da penteadeira. — Clark
pendurou — disse ele em resposta.

O que significava que sim, estava centralizado. Nosso irmão


do meio, também conhecido como garoto gênio, nunca estava
errado quando se tratava de coisas assim.
— Eu deveria subir com uma fita métrica para o caso de ela
ainda estar acordada.

Beckham e Deacon trocaram um olhar.

— O quê? — perguntei.

— Você tem certeza de que ainda deveria ser indulgente com


ela? — Beckham indagou. Seus olhos permaneceram firmemente
plantados na mobília, no entanto.

Meus dedos encontraram a ponte do meu nariz e o beliscaram


com força. — Não, eu não sei. Mas se algum de vocês tiver algum
conselho útil sobre como ajudar uma menina de sete anos que
perdeu a mãe, estou aberto a sugestões.

— Talvez você devesse levá-la para conversar com alguém se


ela ainda está fazendo coisas assim.

— Estava ficando melhor em Los Angeles. — Abaixei minha


mão e estudei as cicatrizes cruzadas ao longo dos meus dedos. —
Assim que ela se acostumar com esta casa e sua nova escola,
também vai ficar melhor aqui.

— Já se passaram dois anos, Aiden — Deacon acrescentou.

Como se eu não soubesse quando minha esposa morreu. Eu


poderia contar os dias com facilidade. Sem olhar para o calendário,
sabia quantas horas haviam se passado. Talvez até os minutos, se
eu tivesse a habilidade de Clark com números. Um vazio
generalizado vinha da perda da pessoa que você amava, e talvez
esse vazio diminuísse a cada minuto, hora e dia que passava, se
transformando em algo administrável, mas sempre estava lá.
Mas em vez de dizer isso a ele, de tentar explicar a alguém
que não tinha família própria e nunca amou alguém como a perda
abria um buraco em seu ser, simplesmente assenti: — Eu sei.

Uma das coisas mais estranhas de estar de volta eram


momentos como este, quando meus irmãos mais novos me
ajudavam. Com qualquer coisa, honestamente. Não apenas porque
tinham estado aqui todos os dias fazendo coisas como pendurar
toldos de tule rosa choque e montando penteadeiras de princesa,
mas porque estavam me dando conselhos sobre paternidade.

Com o banco montado, Beckham colocou-o no chão e deu


uma palmadinha no assento almofadado. — Nada mal. Talvez eu
tenha um futuro na montagem de móveis.

Sem levantar os olhos da penteadeira, Deacon apontou para


a perna da frente. — Isso está ao contrário.

— O inferno que está. — Beckham o virou e praguejou


baixinho.

Era mais fácil sorrir agora depois de deixar o quarto de


Anya. A preocupação de meu irmão apenas ressaltou a
minha. Minha filha, de sete anos, era inteligente, doce e
completamente audaciosa. Mas na hora de dormir, quando a
escuridão toma conta dos céus, ela deixa todo medo em sua cabeça
assumir o controle.

— Cerveja na geladeira? — perguntei.

Deacon ergueu os olhos e acenou com a cabeça. — Pode não


estar fria ainda.

— Por mim tudo bem.


A casa estava desempacotada, mesmo que houvesse poucos
móveis. Nosso bangalô em LA tinha metade do tamanho - e o dobro
do custo - que a casa que encontrei para Anya e eu com vista para
o lago Sammamish em Bellevue. E a geladeira não estava diferente
do resto da casa. Timidamente vazia. Dentro havia uma caixa de
cerveja, restos de pizza, frios e tudo o que minha mãe comprou
para as refeições de Anya. Afastei uma garrafa de água rosa
brilhante e peguei uma garrafa de cerveja.

Eu não bebo com frequência, o que meus irmãos sabem, mas


hoje era um dia em que beber era justificável.

A garrafa se abriu com um toque da minha mão e, quando a


tampa de metal caiu no chão de ladrilhos da cozinha, tomei um
gole profundo.

Desde o dia em que me aposentei das lutas, não havia


duvidado de nenhuma decisão que tomei. Mas hoje, enquanto
rabiscava minha assinatura em uma centena de papéis na frente
de um tabelião, efetivamente fazendo a maior compra de toda a
minha vida - um ginásio prestes a ser renomeado Hennessy's - tive
meu primeiro momento de pausa.

Meus instintos sempre foram certeiros. Se eu não confiasse


em meus instintos, nunca teria sobrevivido a uma única luta. Às
vezes, seu corpo reage antes que sua mente tenha um momento
para se perguntar se foi o movimento certo. Era para isso que
servia o treinamento. Porque uma mudança de sua perna na
direção errada significava que você estaria preso com o braço
acima da cabeça. Se você não bloqueasse um soco direto no queixo
em sua mandíbula ou rins, seria cem vezes mais difícil de vencer.

Quando visitei a academia pela primeira vez, cerca de um ano


depois da morte de Beth, senti uma mudança quando entrei pela
porta. Era a única maneira de explicar. Algo em meu intestino
gritou para mim que era a academia certa, o lugar certo, a hora
certa para Anya e eu.

— O que há com o seu rosto?

Pisquei porque Beckham entrou na cozinha sem que eu


percebesse. — Pensando.

— Preencheu a papelada?

Assentindo, tomei outro gole de cerveja.

Ele apontou para mim. — Você está fazendo isso de novo.

Com certeza, minha testa estava enrugada e minha boca se


curvava em uma carranca. Respirei fundo, tentando suavizar
minha expressão.

— Estou bem.

Porque meu irmão mais novo me conhecia, ele não


insistiu. Pegando sua própria cerveja, ele a abriu e deu um longo
gole enquanto olhava pela janela da cozinha que dava para o
lago. — Lembra-se de sua última luta?

Eu dei a ele um olhar seco.

Beckham sorriu. — Os detalhes, quero dizer. Você se lembra


bem?

Ao longo de uma carreira que durou quase uma década, tive


algumas lutas das quais me lembrei de cada movimento, cada pivô,
cada queda no tatame, cada golpe que atingiu meu corpo, e essa
foi uma delas. Eu sabia que era a minha última, não que já tivesse
anunciado.
Foi minha vitória mais rápida, concluída em menos de três
minutos.

Fúria pura, raiva que estava sendo canalizada por meus


punhos, pés e pernas abasteceu aqueles três minutos. Dentro
daquele ringue, eu estava no controle. Quando eu pensava nisso
agora, até que decidi me mudar e comprar a Wilson's Gym, aquela
foi a última vez que realmente me senti assim.

Mas, em vez de explicar isso a Beckham, simplesmente disse:


— Lembro-me o suficiente.

— Você sente falta?

— Sim — tomei um gole de cerveja e suspirei. — E não.

Antes de responder, Beckham olhou pela janela perto da pia


da cozinha com vista para o lago. — Tem certeza de que quer ficar
preso a uma mesa o dia todo?

Dei de ombros. — Eu não acho que vou ficar, até que saiba
como tudo funciona. Amy disse que eu poderia ligar para ela se
precisasse de ajuda, e há um gerente que administra o lugar para
ela há cerca de sete anos.

— Ele é bom?

— Não seja sexista, Beckham.

Ele sorriu. — Ela é boa?

— Ela não sabe que tem um novo chefe, então não sei nada
além do que Amy me contou — admiti.

— Isso vai ser divertido.


Esfreguei os olhos com a mão. — Agradeço por apontar isso.

— Não seria tão ruim se você não fosse tão... você.

Minha mão caiu. — O que isso deveria significar?

Ele apontou sua cerveja em minha direção. — Aiden, você tem


o charme de um porco-espinho raivoso.

— Você não tem outro lugar para estar?

— Não. Apenas um tempo de qualidade com meus irmãos


enquanto montamos móveis de princesa rosa brilhante.

Eu revirei meus olhos.

Deacon enfiou a cabeça na cozinha. — Anya acabou de te


chamar. — Ele estendeu uma fita métrica, que peguei com um
suspiro.

Eu subi os degraus de dois em dois e controlei meu rosto


quando empurrei a porta dela.

— A fita métrica estava perdida? — ela perguntou.

Eu balancei minha cabeça. — Desculpe, gingersnap, eu


estava conversando com o tio Beckham sobre meu novo emprego.

Ela se aconchegou embaixo do cobertor e, na luz fraca do


quarto, pude ver a curiosidade iluminar seus olhos. O dossel foi
efetivamente esquecido, o que não era uma coisa ruim.
Disfarçadamente, coloquei a fita métrica no bolso do meu short de
ginástica.

— É seu primeiro dia amanhã?


Com um aceno de cabeça, sentei-me na beira da cama. —
Assinei todos os papéis hoje, mas vou sair só um pouquinho pela
manhã para que a Srta. Amy possa me mostrar algumas coisas no
computador. Vovó estará aqui quando eu sair, então ela
provavelmente vai fazer café da manhã para você quando acordar.

Seus lábios franziram em pensamento. — Posso comer


panquecas de mirtilo?

— Não vejo por que não.

Anya sorriu, virando-se de lado com o braço segurando um


pequeno cachorro de pelúcia. — Você está com medo do seu
primeiro dia? Você acha que eles vão ser legais com você?

Na pergunta inocentemente falada, eu ouvi seus próprios


medos sobre começar uma nova escola, mesmo que ainda faltasse
algumas semanas.

— Sim — disse a ela. — Eu acho que eles vão ser legais


comigo. O importante em conhecer novas pessoas é certificar-se de
que as trata da forma como gostaria de ser tratado, certo?

Ela acenou com a cabeça. — Mamãe sempre dizia isso


também. A regra de ouro.

— Certo — murmurei, passando a mão sobre sua cabeça.

— Mas você fica muito quieto quando conhece gente nova,


papai.

— Acho que sim.

— Isso significa que você quer que as pessoas fiquem quietas


com você também? — ela perguntou, completamente inocente e,
como fazia quase todos os dias, partiu meu coração um pouco
mais.

Mas decidi responder honestamente. — Depende da


pessoa. Gosto de ouvir você falar, gingersnap.

Ela deu uma risadinha. — Você tem que dizer isso.

— Nah. Eu só digo isso porque quero dizer isso.

— Eu acho que você deveria descobrir o que seu novo pessoal


gosta, papai. Eles podem não ser como você.

— Você é muito inteligente, sabia disso?

Anya suspirou, aconchegando o rosto no bichinho de


pelúcia. — Talvez você devesse levar a lista da Mamãe com você —
ela disse calmamente. — Apenas no caso.

A Lista da Mamãe, como ela começou a se referir a ela, estava


enfiada no porta-retratos atrás da foto de Beth, a pedido de
Anya. Nos últimos dois anos, sempre que eu ia a algum lugar novo,
ela me perguntava se eu precisava. Apenas no caso.

Eu sempre disse a mesma coisa. E ela nunca pressionou.

Como se eu pudesse esquecer aquela maldita lista de


qualquer maneira.

— Talvez eu deva — sorri. — Você está pronta para dormir


agora?

Ela acenou com a cabeça. — Acho que sim.


Eu me levantei, inclinando-me para dar um beijo em sua
testa. No momento em que cheguei ao corredor e fechei a porta
atrás de mim, seus olhos já estavam fechados.

As palavras de Anya tocaram em minha cabeça, peguei meu


telefone e decidi enviar uma mensagem de texto para Amy.

Eu: Sei que estarei aí de manhã, mas para eu não me


esquecer de tocar no assunto, você pode me dar algumas dicas
sobre a melhor forma de me apresentar a equipe.

Ela respondeu quase imediatamente.

Amy: A maioria deles sabia que essa era uma possibilidade,


então não acho que ninguém vai ficar muito chocado, mas vamos
marcar um horário para você conhecer Isabel antes de fazermos
uma reunião com todos.

Eu: Como você acha que ela vai reagir?

Amy: Ela será sua maior aliada nisso. Ela é inteligente e


dedicada e completamente imperturbável. Eu juro, nunca vi nada
a desequilibrar.
Eu: Imperturbável soa muito bem agora.

Amy: Amanhã é o dia de folga dela, mas ela provavelmente


aparecerá em algum momento. Não há muitas surpresas quando
se trata de Isabel.

Guardei meu telefone e suspirei. — Sem surpresas parece


muito bom para mim.
Ninguém na minha vida sabia sobre isso, mas meu bem
favorito no mundo inteiro era uma caixa de metal. Minha avó - a
mãe do meu meio-irmão Logan - me deu quando eu fiz dez anos, e
ela me disse que era a melhor maneira de manter as coisas
importantes seguras. Coisas que eu não estava pronta para
compartilhar com ninguém ou queria ter certeza de que estavam
resolvidas. Aconteceu logo depois de uma briga de gritos com
Molly, porque ela encontrou meu diário e zombou de mim por algo
que escrevi sobre um garoto da minha classe. Um lugar para
bloquear as coisas dos olhos curiosos da minha irmã parecia o
melhor presente possível.

Era elegante e preta, um pouco surrada nas bordas e tinha


uma mecha grossa que havia ficado opaca com o tempo. Ao longo
do tampo de metal havia uma faixa vermelha, e eu sempre gostei
daquele pop surpreendente de cores brilhantes. O resto da caixa
era tão desagradável, mas aquele pouco de cor dava personalidade.

Ela me disse que era vintage, que eles não faziam mais cofres
como aquele. Gravado no metal ao longo da parte inferior estava
Bond 43, não que eu soubesse realmente o que isso significava.
Ao longo dos anos, fui muito seletiva quanto ao que colocava
naquela caixa. Havia algumas recordações, umas que traziam boas
lembranças e outras que serviam como um lembrete importante,
bom ou ruim.

Um medalhão de prata que Molly comprou para mim no meu


aniversário de onze anos, depois de economizar seu dinheiro por
meses porque ela sabia que eu o queria. Eu costumava olhar para
ele quando queria me lembrar por que minha irmã mais velha não
era, de fato, a ruína da minha existência.

Uma fita do meu corpete de formatura. O encontro tinha sido


esquecível, mas suas mãos suadas tentando descobrir o que fazer
comigo... não foram. Aquele cara - assim como os poucos outros
que fizeram as tristes tentativas de namorar comigo quando eu
estiquei minhas longas pernas até a idade adulta - não poderia
manter uma conversa se suas mãos estivessem amarradas em
suas costas. Esse entrou na caixa para que eu lembrasse por que
era mais fácil dizer não.

Uma pulseira que nossa mãe me deu apenas algumas


semanas antes de nos deixar na varanda da frente do nosso
irmão. Eu nunca a usei. Normalmente, ficava escondida bem no
fundo, porque mesmo o menor vislumbre daquele delicado padrão
de prata fazia meu coração disparar. As pessoas sabem quando
vão te deixar. A pulseira não precisava sair da caixa para me
lembrar disso.

Alguns dos itens não são tão piegas, não se preocupe.

O primeiro par de bandagens da academia de boxe que foi


minha segunda casa, minha vida, desde que comecei a trabalhar
lá aos dezoito anos. Eu tinha quatorze anos quando as usei pela
primeira vez.
Alguns eram bobos, ou faziam eu me sentir boba, o que era
um pouco diferente. Eu normalmente não os puxava para estudá-
los. Mas eu estava chegando lá. Toda essa narração de histórias
tem um ponto, eu prometo.

Conforme fui crescendo, percebi que a caixa-forte, segura e


protetora - era um símbolo adequado para mim.

Quão sexy, certo?

Isabel Ward, o cofre humano.

Eu era dura e forte. Tudo que era importante ficava seguro


onde ninguém podia tocar ou estragar. Havia espaço dentro de
mim para muito mais, mas quanto mais velha eu ficava, menos
oportunidade havia para a tampa ser aberta.

Para ser honesta, eu nem tentava realmente, o que era


bom. Nada que exigisse pena ou constrangimento. Eu gostava
de manter minha tampa fechada, se é que você me entende.
Nenhum homem tomou aquele bebê ainda, e eu estava
perfeitamente, cem por cento, bem com isso.

Não que eu julgasse pessoas que... deixam alguém abrir suas


pernas com frequência; esta foi apenas a melhor escolha para
mim. Mais segura. Deixar fechada era melhor do que deixar que
fosse maltratada.

A caixa, armazenada em segurança no quarto não utilizado


na casa de Logan e sua esposa Paige, era algo que eu não tocava
há muito tempo. Não acrescentava nada lá desde os dezoito anos.

Mas por alguma razão, pensei na caixa e nos itens bobos que
eu normalmente não olhava antes de ir para a cama.
Eu não estava alegando ser vidente ou algo assim. Mas
algumas vezes na minha vida, eu lutava contra o sono por horas,
consumida pela necessidade irresistível de olhar para algo naquela
caixa. Urgência nem era a palavra certa. Era tão forte que minhas
pernas tremiam e meus dedos se contraíam inquietamente.

Na noite antes de minha mãe nos deixar, juro sobre o túmulo


da minha avó (o que eu só faço quando realmente quero dizer
alguma coisa), senti aquela caixa me chamando como se
estivesse viva. Naquela época, estava no fundo do meu armário,
onde minhas irmãs intrometidas não conseguiriam encontrar, e eu
a puxei enquanto o céu estava escuro. Não havia muito nela
naquela época, então não demorei muito para vasculhar o
conteúdo. Verificar se a pulseira ainda estava lá ajudou, e eu
consegui dormir.

Que presságio isso acabou sendo.

Alguns anos depois, aconteceu novamente. Uma casa


diferente abrigava a mim e a caixa - a que Logan comprou para
nossa nova família improvisada. Algo me fez abri-la novamente, e
estudei uma foto que havia guardado dentro. Éramos nós
cinco. Minhas irmãs, Molly, Lia e Claire, e depois Logan. Nosso
protetor, o pai que não era pai, aquele que interveio e endireitou
nosso mundo quando minha mãe o virou de cabeça para baixo.

No dia seguinte, ele trouxe Paige para casa e a apresentou


como sua futura esposa. Desta vez, a mudança foi boa. O tornado
ruivo, alguém por quem eu levaria uma bala, se tornou a mãe que
sempre quis.

Essa foi a última vez que aconteceu.

Até agora.
Deitei-me na cama e olhei para o teto, tentando visualizar a
caixa que não abria há provavelmente sete anos. Cataloguei tudo
dentro dela, tentando decifrar o que significava. Que mudança
pode estar no horizonte?

Deixe-me te contar. Mulheres que se assemelhavam a cofres


de metal não gostam de mudanças. Odiamos mudanças.

São assustadoras, como ficar do lado de fora sabendo que


uma tempestade vai cair sobre você, mas você ainda não sentiu a
primeira gota gorda de chuva.

Mesmo sendo meu dia de folga, eu tomei banho e me vesti


para ir trabalhar, vestindo a armadura emocional em forma da
minha camisa de zíper roxa escura favorita com o logotipo da
academia sobre o meu coração. Antes de sair do apartamento,
comi Pop-Tarts de morango, minha versão do café da manhã dos
campeões. Tomei um gole de café no caminho sem música no
rádio, porque tudo em que conseguia pensar era na proverbial
bomba que estava prestes a explodir na minha vida.

Por meses, sabia que minha chefe, Amy, iria vender a


academia, mas ela nunca me disse nada sobre quem poderia
substituí-la. Mesmo assim, ao seguir o caminho familiar para o
trabalho, onde investi cada grama do meu coração desde o dia em
que ela me contratou para administrar o lugar, tive a suspeita de
que minha premonição era sobre este lugar que era tão querido
para mim.

Meus faróis cortaram uma faixa através do estacionamento


vazio em frente ao prédio baixo e quadrado que abrigava o
ginásio. Em vez de dar a volta na parte de trás, onde normalmente
estacionava, decidi entrar pela frente.
Eu tranquei a porta atrás de mim e digitei o código de
segurança quando ele apitou na parede. O ginásio estava escuro
quando entrei, o que me serviu muito bem. Eu memorizei cada
centímetro do lugar anos atrás, então a luz fraca do nascer do sol
era mais do que suficiente para eu navegar até o meu escritório.

Se eu pudesse ficar ocupada o suficiente, com as caixas de


mercadorias que precisava desempacotar e exibir, o cronograma
de treinamento que precisava finalizar e os cartões de ponto que
precisava terminar, talvez pudesse ignorar a sensação ruim.

Tomei um gole do meu café e estiquei o braço livre sobre a


cabeça com um estremecimento. A aula no dia anterior foi um
pouco difícil, e eu gemi alto quando meus músculos gritaram em
protesto pelo movimento.

O gemido foi o que fez a porta do escritório de Amy se abrir,


a luz de sua pequena lâmpada de canto iluminando o espaço. As
cortinas estavam fechadas sobre o vidro que dava para o ginásio,
o que eu não tinha notado antes. A cabeça de Amy saltou para
fora. — Iz. Você está aqui tipo, bem cedo.

Eu parei, meu coração começando a cair a cada batida


forte. — Por que você parece nervosa com esse fato?

Eu trabalho para ela e a conheço há muito tempo para ficar


na ponta dos pés em torno de qualquer coisa.

Amy suspirou, seu rosto caindo em um olhar que fez meu


estômago despencar também. Ela era minha chefe e me conhecia
há muito tempo para ficar na ponta dos pés perto de mim. Era
isso. Assim que ela olhou por cima do ombro e falou com alguém
em seu escritório, eu soube que isso era o que eu temia.

Um novo proprietário.
Um novo chefe.

Mas esse pavor não era nada comparado com o que eu senti
quando Amy se virou para mim e me deu um sorriso de
desculpas. Foi o pedido de desculpas que vi que fez meu coração
disparar.

Minha pele parecia muito tensa e meus ossos muito grandes


porque eu sabia que quem quer que estivesse naquele escritório
era a coisa... a sensação que eu tive.

De repente, tive vontade de correr. Eu não queria enfrentar o


que quer que fosse.

Os olhos escuros de Amy examinaram meu rosto. — Eu ia


fazer isso amanhã um pouco mais formalmente, mas tive a
sensação de que sua bunda iria aparecer no seu dia de folga.

— Eu precisava desempacotar aquelas caixas — eu disse,


mas minha voz sumiu quando ela se afastou e ele encheu a porta.

Porra. Inferno. Era ainda pior do que eu pensava. Como se


todas as coisas que me apavoravam fossem enroladas em um
pacote grande, musculoso e mais bonito pessoalmente, enviado
para fazer eu me sentir totalmente fora de controle.

Eu odiava estar certa, que minha noite de insônia realmente


tinha me avisado que algo assim iria acontecer. Eu sabia que item
da caixa havia me chamado, e oh, meu inferno, agora eu queria
rasgá-lo em pedaços apenas para fingir que não existia.

Vai ficar tudo bem, disse a mim mesma.

Este não era o lugar para a versão adolescente de Isabel,


aquela que era um pouco incerta e muito apavorada com o que as
pessoas pensavam de mim. Eu não era mais ela. Não importa o
que esteja com o nome dele na porra da caixa.

Foi a única razão pela qual não olhei para onde estava
andando, e meu pé ficou preso na ponta das cordas.

Com um suspiro, eu caí para frente, meu café caindo com um


tapa molhado no chão, minha mão pingando da bagunça que
sobrou do meu copo depois que eu o esmaguei até a morte em
minhas mãos.

— Eu sinto muito — eu disse.

Amy riu. — Esta é a imperturbável Isabel Ward de que te falei.

Meu rosto queimou, mas ela se inclinou para me jogar uma


toalha, que usei para limpar minha mão, e joguei sobre a mancha
de café que eu, sem dúvida, estaria enxugando em alguns
minutos. Enquanto empurrava a toalha em volta da bagunça com
meu pé, senti seu olhar em mim. Cuidadosamente, levantei minha
cabeça para enfrentá-lo de frente. Vendo se eu seria capaz disso.

Isso.

Não.

Pode.

Estar.

Acontecendo.

Honestamente, eu sabia tanto sobre ele que era ridículo. Dos


meus anos de estudo, mantendo o controle sobre sua carreira,
mantendo o controle sobre ele. Eu sabia que ele tinha um metro e
noventa e em seus primeiros dias de luta, ele pesava cerca de cem
quilos, colocando-o na ponta dos pés na categoria de pesos
pesados que dominou por anos. Ele havia perdido peso desde que
se aposentou, não que isso diminuísse seu impacto.

Eu sabia o que era vê-lo lutar porque eu assisti a cada luta.

Todas.

Eu sabia que seu nome estava rabiscado nas páginas do


diário da Isabel, de quinze anos, porque quando ele teve sua
primeira luta, eu estava totalmente convencida de que um dia iria
conhecê-lo e me casar com ele. Durante anos, todo garoto
atrapalhado que tentava flertar comigo, me convidar para sair, ter
qualquer coisa comigo, era considerado a partir do padrão dele em
minha mente. Com o fedor do meu café derramado pairando sobre
nós, eu juro, poderia ter morrido de vergonha.

Eu sabia que seus olhos eram verdes escuros, e sua boca


raramente se curvava em um sorriso.

Eu sabia que ele se aposentou alguns anos atrás, após a


morte de sua esposa, para cuidar de sua filha.

Tê-lo na minha frente era como ter alguém entregando a você


a única coisa que você costumava querer, costumava desejar, e
agora você só tinha que rezar para que fosse tão bom na vida real
quanto você imaginou que seria.

Se ele fosse parecido com o que eu construí em minha mente,


eu estava absolutamente fodida.

Amy pigarreou e isso quebrou a conexão entre o olhar dele e


o meu.
— Iz, você pode muito bem ser a primeira a saber — disse
Amy.

Ele deu um passo em minha direção, boca plana, mas não


maldosa, olhos escuros e curiosos, e quando ele estendeu sua mão
enorme, eu dei um passo sozinha. Infelizmente, inalei
tremulamente antes de deslizar minha palma contra a dele. A
razão pela qual isso era lamentável era porque foi alto e impossível
de ele não ouvir.

Quando nossas mãos se tocaram, sua sobrancelha baixou e


seu olhar se fixou naquele único ponto de conexão. Lentamente,
puxei minha mão de volta, esperando que ele não sentisse o tremor
em meus dedos.

— Aiden Hennessy — disse ele.

Como se eu não soubesse o nome dele.

Quando ele abriu a boca novamente, quase coloquei minha


mão sobre aqueles lábios porque não queria que ele falasse. Mas
minha mão ficou ao meu lado, e ele falou as palavras de qualquer
maneira, todas baixas e sombrias, e eu senti um arrepio de
pressentimento de como minha vida estava prestes a mudar.

— Eu sou o novo proprietário.

Demorei alguns segundos para encontrar minha voz e,


quando o fiz, estava mais suave do que eu gostaria.

— P-prazer em conhecê-lo. — Deus, eu poderia ter me dado


um tapa por aquele único soluço na primeira palavra. Mas,
honestamente, era difícil falar sobre o rugido em meus
ouvidos. Com bastante facilidade, consigo contar em uma mão as
vezes que conheci um atleta que me deu borboletas - borboletas!
Aiden Hennessy, meu novo chefe, que eu veria todos os dias,
a menos que ele me despedisse por ser completamente
incompetente, não apenas as disparou na minha barriga. Da
cabeça aos pés e cada centímetro entre eles estava revestido de
asas esvoaçantes, vibrantes, de cores vivas e batendo.

Eu queria mergulhá-las em gasolina e colocar fogo em todas


aquelas filhas da puta.

Amy estava me olhando de forma estranha porque falar


manso e eu não combinamos. Nunca.

Ele estudou meu rosto por um segundo, então acenou com a


cabeça. — Amy me disse que você trabalha aqui há algum tempo.

Amy riu, colocando a mão em meu braço antes que eu


pudesse formular uma resposta. — Isabel entrou por essas portas
quando ela tinha, o quê, treze anos? Quatorze? Posso não a ter
contratado antes dos dezoito anos, mas desde o dia em que
coloquei os olhos naquela garotinha desajeitada com um gancho
de direita assassino, não fui capaz de expulsá-la.

Minhas bochechas ficaram quentes novamente enquanto ele


me avaliava. Eu dei a Amy um leve sorriso. — Ela tentou.

— Por favor. Eu teria ficado louca se tivesse me livrado de


você — disse ela. — Ela é a razão de estarmos tão bem quanto
estamos, e não a deixe dizer uma palavra diferente. Os clientes a
amam e os funcionários também. Todos nós o fazemos.

— No entanto, você está partindo — eu me ouvi dizer. Minha


boca se fechou porque não era exatamente o tipo de coisa que se
deveria dizer na frente do novo proprietário.
Os olhos de Amy lacrimejaram e, para meu horror, senti os
meus fazerem o mesmo. — Você sabia que isso ia acontecer, Iz.

Lentamente, eu balancei a cabeça. — Eu sei.

Quando ela baixou o queixo sobre o peito, suas longas


tranças pretas caíram sobre seu ombro, e eu ouvi a mais silenciosa
das fungadas. O homem grande e corpulento nos observou
cuidadosamente, sem uma pitada de julgamento em sua expressão
pela demonstração de emoção.

— Vou dar a vocês duas um minuto — disse ele, a voz um


resmungo baixo que senti em meus ossos.

Ao som disso, santo inferno, quase estremeci. Isso era muito,


muito pior do que eu poderia ter imaginado.

Amy ergueu a cabeça, dentes brancos e retos enquanto sorria


agradecida. — Obrigada, Aiden.

Ele baixou o queixo, os olhos cintilando em minha direção


mais uma vez, então desapareceu no escritório.

Assim que éramos apenas eu e Amy, gesticulei para a borda


do ringue de boxe que dominava o centro da sala principal. Ela
sentou-se primeiro e eu a segui.

— Eu não... — ela fez uma pausa, balançando a cabeça. —


Não era minha intenção que acontecesse dessa forma. Pegar você
de surpresa assim.

Ainda não confiava em mim mesma para responder e, pior


ainda, senti meus olhos queimarem com a ideia de não mais
trabalhar para ela.
E Amy, porque ela me conhecia há muito tempo e me
conhecia tão bem, apenas continuou falando.

— Aiden veio no ano passado. Não sei se você percebeu.

Eu bufei, o que fez Amy rir baixinho.

— Claro que você percebeu — ela balançou a cabeça


novamente. — Ele realmente queria uma sessão de treinamento,
mas também estava fazendo pesquisas. E quando ele se aproximou
de mim há alguns meses para começar a negociar, Iz, foi uma
oferta que não pude recusar.

O ar sibilou lentamente por entre meus lábios franzidos. —


Como ele sabia que você queria vender?

— Falei disso com um vizinho porque ele conhece muitos ex-


atletas. Achei que ele poderia ter uma ideia de como eu poderia
fazer para encontrar alguém que seria uma boa opção.

Minhas mãos se fecharam em punhos. — Você poderia ter me


perguntado.

Amy olhou para mim surpresa. — Para vender para ele?

Engoli. — Para eu comprar.

Ela me cutucou com o ombro. — Você tem tanto dinheiro


assim, Isabel Ward? Eu sei que não lhe paguei o suficiente para
ser capaz de comprar algo assim.

Erguendo meus olhos para ela, eu balancei a cabeça. — Eu


tenho um fundo fiduciário de Paige que nunca toquei. Talvez eu
esteja subestimando quanto vale este lugar — admiti baixinho —,
mas provavelmente poderia ter lhe feito uma oferta.
Amy afundou-se nas cordas, a boca aberta. — Que diabos,
Ward? Você está cheia de dinheiro e eu não sabia? Eu deveria ter
deixado você pagar pelo café todos esses anos.

Eu sorri. — Talvez. Ela colocou o dinheiro para nós, mas


nenhuma de nós poderia fazer nada com ele até os dezoito anos, e
mesmo assim precisávamos da assinatura de Logan e Paige para
liberar qualquer coisa até que fizéssemos vinte e cinco.

Ela cantarolou. — Bem, talvez você pudesse ter feito uma


oferta, talvez não. Mas a oferta dele mais do que valeu a pena.

— Por que você acha que ele fez isso? — Meus olhos vagaram
de volta para o escritório onde ele se sentou em silêncio, esperando
que terminássemos de conversar.

— Ele tem uma família enorme, quatro ou cinco irmãos ou


algo assim. Todos eles moram nesta área, perto da escola de sua
filha. Isso permite que ele pegue o que já construímos e apenas...
torne-o ainda melhor. — Ela olhou de lado. — E eu acho que ele
vai. Ele está apaixonado por isso e não quer entrar e refazer tudo,
eu prometo.

Eu concordei.

A noite sem dormir estava perfeitamente clara agora.

A mudança veio novamente, e mais uma vez estava cavando


um ponto de apoio no único lugar que eu me sentia mais segura. O
único lugar, fora da minha família, onde me sentia mais
confortável.

Esta era a única coisa que eu temia que fosse testar qualquer
uma das barreiras fortes de metal que eu coloquei.
Ele.

Mas porque eu respeitava Amy e queria que ela pudesse


receber uma oferta tão boa que ela não pudesse recusar e poder
viajar o mundo com sua esposa, Renata, como sempre sonharam,
cutuquei seu ombro para trás.

— Eu confio em você — eu disse a ela.

— Obrigada — ela suspirou. — Eu temia contar a você.

Isso me fez sorrir. — Por quê? — perguntei.

— Porque você é teimosa como o inferno, e não pense que eu


não sei que provavelmente memorizou as lutas dele porque
assistiu cada uma delas, e vai odiar que agora ele é seu chefe e
sente que fez algo errado.

Deixe-me engasgar com a bolha de riso histérico tentando


subir em minha garganta.

Ela não tinha a mínima ideia.

Minhas bochechas ficaram estupidamente quentes pela


octogésima vez desde que entrei pela porta, e me recusei a olhar
para ela. — Eu não sei do que você está falando.

Amy bufou. — Como se você fosse admitir. Prometa que vai


dar uma chance a ele, certo? Ele vai precisar de você mais do que
qualquer outra pessoa aqui se quiser fazer isso. Já disse a ele que
você seria sua maior aliada.

Sua sombra, alta e larga, se movia no escritório, visível atrás


das persianas fechadas, e a visão dela - a visão dele - fazia os nós
se apertarem cada vez mais em meu estômago.
Dê uma chance a ele.

Para quê, exatamente? Minhas opções eram mínimas. Ou ele


não era nada como eu imaginava ou era melhor. Eu já havia
tropeçado em mim mesma na frente dele, então toda essa dinâmica
chefe/funcionário teve um começo fantástico.

— Iz? — ela perguntou quando eu não respondi.

— Eu prometo.

E eu cumpriria. Mas foi a promessa mais assustadora que já


fiz, porque a sensação que isso me deu, deixou perfeitamente claro
que minha noite sem dormir era apenas o começo. A mudança
estava aqui, e seu nome era Aiden Hennessy.
— Você está agindo de forma estranha, está se escondendo e
não sei qual desses dois me assusta mais. — A voz de Kelly veio de
cima da grande pilha de caixas atrás da qual eu estava sentada -
ou seja, escondendo-me.

Senhoras e senhores, o infeliz efeito colateral de conhecer


meus colegas de trabalho incrivelmente bem era que eles não
tinham nenhum problema em falar sobre as minhas coisas -
mesmo que eu fosse a gerente deles.

Sem lhe poupar um olhar, empurrei de lado uma pilha de


toalhas de suor e as marquei em minha folha de inventário. — Eu
estou trabalhando, Kell.

— Você está aqui desde o minuto em que ele entrou pela


porta.

O topo de seu rabo de cavalo loiro aparecia sobre a caixa mais


alta da pilha, mas eu não conseguia ver seu rosto inteiro.

O que Kelly McKendrick não tinha em altura, ela compensava


com energia e entusiasmo ilimitados. Tanto que eu queria não
gostar dela por isso, mas literalmente não podia, porque ela era
uma das pessoas mais legais que eu já conheci. — Normalmente,
você trabalha em seu escritório nas manhãs de quarta-feira. Mas,
como seu escritório está vazio... imaginei que você o estava
evitando e queria ter certeza de que você estava bem caso
precisasse falar sobre isso — ela suspirou. — Não que você
costume falar sobre o que está te incomodando, mas há uma
primeira vez para tudo.

Quando revirei os olhos, ela subiu atrás das caixas comigo,


apoiando as costas contra a parede e esticando as pernas com
legging rosa na frente dela enquanto começava a dobrar as
toalhas. A academia tinha um punhado de funcionários de meio
período, e Kelly era a que estava há mais tempo daquele grupo. —
Tenho certeza de que não sei do que você está falando —
murmurei. Antes de pegar a próxima caixa, entreguei a ela a folha
de inventário.

— Não pude acreditar quão triste fiquei depois da reunião de


ontem — ela suspirou. — Amy era uma chefe tão boa, e ele é tão...

Em sua pausa, peguei-me prendendo a respiração. Eu


certamente poderia pensar em algumas palavras para preencher o
espaço em branco, mas não tinha certeza de como queria que Kelly
respondesse.

— E daí? — perguntei. Peguei a prancheta de volta quando


ela começou a desempacotar a caixa de luvas novas.

— Sério — ela sussurrou. — Eu acho que ele não sorriu uma


vez ontem, enquanto ela o apresentava.

O comentário de Kelly, que foi totalmente correto, fez com que


eu me desse uma dura conversa estimulante.
Sim, ela e eu tínhamos a mesma idade.

Sim, eu a considerava uma amiga porque trabalhamos juntas


há cinco anos.

E sim, eu queria desesperadamente falar com ela sobre tudo


isso. Queria contar a ela como estava me escondendo do homem
gostoso que agora assinava meu contracheque e cobria meu corpo
de borboletas e, em um ponto da minha vida, pratiquei assinar
meu nome como se fossemos casados. O constrangimento era tão
real.

Foi tão ruim que quase não dei a ele um único olhar durante
a reunião de Amy no dia anterior.

Nenhum.

Mas eu não podia dizer nada disso a ela porque não estava
no modo amizade para essa conversa em particular. Eu era a
gerente. Eu também não contava nada a ninguém se pudesse
evitar.

Eu escolhi minhas palavras com cuidado. — Parece que ele


sempre foi um cara muito sério. — Quando ela me lançou um olhar
curioso, dei de ombros. — Eu assisti suas lutas, então eu suponho
que sim, tanto quanto você pode julgar alguém que nunca
conheceu.

— Vou ter que aceitar sua palavra sobre isso. Eu não tenho
estômago para assistir lutas profissionais, então eu nem sabia
quem ele era quando ela o apresentou. — Ohhhhh, como eu queria
ter esse problema. — Ele não deveria tentar nos conquistar?
— Na verdade, eu acho que é o contrário — disse a ela. — Ele
é o novo proprietário, Kell, e cabe a nós mostrar a ele que sabemos
o que estamos fazendo.

— Mesmo que ele seja fisicamente incapaz de sorrir? — ela


perguntou com uma voz taciturna.

Eu joguei para ela algumas luvas. — Mesmo assim.

— Essas são umas filhas da puta duronas bem aqui — disse


ela, puxando a capa de plástico para poder admirar o design preto
fosco e brilhante. — Posso experimentar um par?

— Se você estiver pagando por elas.

Ela riu. — Você não acha que o Sr. Sorriso me deixaria ficar
com elas de graça?

Enquanto as palavras pairavam no ar entre nós, sua sombra


gigante e não sorridente apareceu. Meu rosto caiu e Kelly começou
a tossir - um som horrível de tosse que não fez nada para apagar
o fato de que ela tinha acabado de chamar nosso novo chefe
de Sr. Sorriso.

Meu estômago tombou para o lado quando vi o músculo em


sua mandíbula - que parecia esculpido diretamente de uma
montanha - apertar perigosamente.

— Bom dia, Sr. Hennessy — disse Kelly.

Seus olhos voltaram do meu rosto para o dela. —


McKendrick, certo?

Ela acenou com a cabeça.


Porque metade de seu corpo estava coberto pelas caixas, eu
não sabia o que ele estava olhando quando ele olhou para suas
mãos. Mas quando deu a volta pelo lado, ele estava segurando um
copo de café descartável, com uma tampa branca, com o nome dela
rabiscado na lateral. Ele o entregou a Kelly, que, depois de pegá-lo
com cuidado, cheirou a abertura.

Na minha visão periférica, vi seu queixo cair.

Ele pegou um outro copo, desta vez entregando-o para


mim. Meu corpo inteiro travou como se alguém tivesse me jogado
no concreto.

Sua sobrancelha, escura e ligeiramente arqueada, ergueu-se


lentamente.

Kelly pigarreou alto e eu pisquei.

Café.

O copo.

Certo.

Na lateral do copo estava meu sobrenome em caneta preta, e


eu juro, minha mão não tremeu nem um pouco quando me inclinei
para pegá-lo dele. Nossos dedos não se tocaram porque eu muito
bem me certifiquei disso.

Seus olhos, firmes e, sim, sérios, me observaram enquanto eu


tomava um gole cauteloso.

Meus olhos se arregalaram quando atingiu minha língua,


porque era exatamente o que eu normalmente pedia.
Com uma leve inclinação do queixo, ele murmurou um curto
e rosnado: — Ward — em saudação e se foi. Enquanto ele se
afastava, as pernas longas caminhando facilmente sobre o chão
emborrachado preto, avistei outro papelão cheio de bebidas em
suas mãos enormes.

— Que porra é essa — sussurrei.

Kelly começou a rir.

Eu olhei de soslaio para ela. — Você nunca me ouviu dizer


isso.

Ela colocou dois dedos na testa em uma saudação. — Sim,


sim, chefe.

Como se estivesse manuseando uma granada sem pino,


coloquei o copo de café no chão ao meu lado e continuei
desempacotando as caixas com a ajuda de Kelly. Apenas alguns
frequentadores habituais estavam lá, usando os sacos e os pesos,
então o ginásio estava silencioso.

Depois de tanto tempo trabalhando lá, os ruídos quase não


eram mais registrados por mim. O barulho de pesos batendo em
uma prateleira, as risadas de pessoas conversando, a música
tocando nos alto-falantes e as batidas rítmicas de alguém em um
saco no canto parecem reconfortantes e fazem eu me sentir
melhor.

Mas tudo estava simplesmente... desligado. Não conseguia


encontrar minha orientação no lugar que era minha fortaleza.

— Quantos para a sua aula hoje? — perguntei a Kelly.


Seu rosto se enrugou enquanto ela pensava. — Vinte e cinco,
eu acho? Eu verifiquei cerca de uma hora atrás quando cheguei
aqui.

— Sim, por que você está aqui tão cedo?

— Eu queria fazer um treino.

Eu olhei para ela tomando um gole vagaroso de seu café. —


Como está sendo isso para você?

— Muito bem, já que estou ajudando minha linda gerente a


tirar essas lindas luvas de seu esconderijo — falou com um gesto
magnânimo. Pegando uma, ela estudou o design. — Agora entendo
por que Amy não queria o logotipo. Ela sabia o que estava por vir.

O par que eu estava segurando abaixou lentamente no meu


colo porque eu nem tinha percebido.

Uma mudança estava no horizonte há mais tempo do que eu


imaginava, espreitando ao longo dos meus dias despercebida. Fui
eu quem não estava prestando atenção.

Kelly tagarelou alegremente em meu silêncio, mas muito


pouco do que ela disse foi registrado. Além das caixas, Aiden estava
se familiarizando com os programas de computador que usamos e
revisando as políticas, cronogramas e informações do dia a dia que
eu conhecia como a palma da minha mão.

E eu estava me escondendo atrás de caixas porque minha


reação a ele me fez sentir como se estivesse pulando de bungee
jumping nua do Space Needle2. Uma paixão adolescente não era
nada para se envergonhar, mas lá estava eu. Escondida.

— Iz — Kelly disse. Por seu tom, ela deve ter tentado chamar
minha atenção.

— Huh?

Ela sorriu. — Você não ouviu uma palavra do que eu disse,


não é?

— Eu... — Meus ombros caíram. — Não. Eu sinto muito.

Kelly acenou para longe. — Eu disse que você deveria ir até


lá e agradecer a ele pelo café. — Uma declaração bastante inocente,
mas então ela agitou seus longos cílios.

Minha cabeça se inclinou. — Você está chapada?

— Nunca às quartas-feiras — ela respondeu. Seu largo


sorriso apareceu em seu rosto e eu me peguei rindo baixinho. —
Estou apenas meio brincando. Você deveria agradecê-lo, mas,
honestamente, aquele homem é lindo e é solteiro, e vocês dois têm
um milhão de coisas em comum.

Eu queria enfiar uma toalha em sua boca para calá-la porque


ouvi-la falar sobre nós juntos deixou minhas mãos um pouco
suadas.

2 O Space Needle é uma torre de observação localizada em Seattle, no


estado de Washington, nos Estados Unidos.
— Kelly — eu disse calmamente.

Ela sorriu.

— Pare de falar sobre isso.

Kelly suspirou.

Um alarme disparou no meu telefone e eu xinguei baixinho.

— O quê? — Kelly perguntou.

— Eu esqueci que tenho que escolher o vestido de dama de


honra com minhas irmãs — soltei um forte suspiro.

— Eu estou convidada para o casamento de Molly?

Eu dei uma olhada nela.

Kelly suspirou. — Eu sei. Mas ela está se casando com Noah


Griffin. Ele é o jogador favorito de Keith no Wolves, e seu irmão é
seu treinador favorito, o que significa que metade do time estará
lá, e então meu namorado pode morrer um homem feliz.

Eu sorri. Este era o subproduto de estar em uma família que


era praticamente a realeza da NFL. Eu estava constantemente
cercada por atletas de classe mundial, mas veja como isso não me
fez absolutamente nenhum bem quando realmente importava. A
imagem mental de derramar meu café a seus pés iria me
assombrar como o inferno.

— Por mais divertido que pareça, não acho que colegas de


trabalho de irmãos sejam convidados — eu disse. — Você pode
cobrir a minha sessão com Glenn depois da aula? Essa é a única
coisa que eu tinha na programação.
Ela acenou com a cabeça. — Sem problemas.

Eu me levantei, esticando meus braços sobre minha cabeça.

Kelly apontou para o copo intocado no chão. — Não se


esqueça disso.

Eu juro, olhei para aquele copo como se fosse uma cobra


enrolada em minhas pernas, pronta para afundar suas presas em
minha pele.

Ela riu, balançando a cabeça enquanto saía para se preparar


para a aula. — Você é tão desconfiada, Iz — ela disse por cima do
ombro.

Talvez para ela fosse tão simples. Um gesto atencioso de um


cara sério. Para mim, porém, parecia algo totalmente diferente. Se
eu bebesse aquele café, começaria a pensar em como - em sua
primeira semana como proprietário de um novo negócio - ele se
deu ao trabalho de descobrir o que cada funcionário da agenda
gostava de beber. Eu não queria pensar em Aiden Hennessy, com
seus olhos maravilhosos, ombros largos como uma casa e passos
de pernas longas fazendo coisas silenciosamente pensativas,
porque isso destruiria meu já envergonhado coração em uma
pilha.

O que me fez sentir como aquela garota de quinze anos de


novo, e eu odiava isso.

Não porque quinze anos tinha sido uma idade ruim. Pelo
contrário. Nossa família finalmente estava estabelecida e certa
quando eu tinha essa idade. Paige estava grávida de Emmett e eu
me sentia segura. Amada. Era por isso que rabiscar em meu diário
roxo sobre me casar com lutadores de MMA dez anos mais velhos
do que eu parecia completamente aceitável.
A realidade da minha idade adulta pode parecer diferente
daquela que eu sonhei, mas tudo sobre ela era ótimo.

E o que eu não precisava era de Aiden me fazendo sentir como


uma jovem de olhos brilhantes cujo coração era suave o suficiente
para ser esmagado em pedaços. Estive lá, fiz isso e tinha
problemas de abandono e controle para acompanhar. Eu não
precisava me colocar naquela posição nunca mais.

E, claro, seria ótimo se ele não acabasse sendo um idiota,


mas segurando aquele café, parecia muito, muito mais perigoso
que ele pudesse ser mais do que o que eu havia construído na
minha cabeça tantos anos atrás.

Foi por isso que levei o café até o bebedouro, tirei a tampa e
derramei lentamente no ralo. Foi uma pequena forma de exercer o
controle sobre todas as vibrações.

O líquido marrom girou rapidamente pelos orifícios e respirei


profundamente assim que ele desapareceu. Decididamente,
recoloquei a tampa de viagem de volta no copo vazio e os joguei na
lata de lixo ao lado da fonte.

— Acho que entendi errado o seu pedido.

Eu congelei. Sua voz veio bem atrás de mim, toda baixa e


rouca. Meus olhos se fecharam porque puta merda, eu estava
destinada a começar com o pé esquerdo com este homem, não
estava?

Soltando uma respiração lenta, me virei para encará-lo. Seus


olhos mostraram o menor indício de diversão por ele ter me
pegado, mas todo o resto em seu rosto era uniforme e estável. Na
verdade, todas as características físicas que compunham Aiden
Hennessy pareciam esculpidas diretamente na pedra.
Não apenas seu rosto, que era bonito o suficiente, mas seus
ombros e braços, as veias escorrendo em direção a suas mãos
enormes.

Eu tinha visto a violência graciosamente infligida de que seu


corpo era capaz, a velocidade e a força.

E enquanto ele se elevava sobre mim, odiei ter que levantar


meu queixo para encontrar seu olhar.

— O pedido estava certo — disse a ele. — Já bebi muito esta


manhã.

O som que ele fez no fundo da garganta era tão ambíguo que
eu tive que fisicamente morder minha língua para parar de me
defender. Quando a porta da frente se abriu e um grupo de
membros entrou para a aula de Kelly, sua atenção mudou de mim
para o som de suas risadas brilhantes. Imediatamente, a pressão
em meus pulmões diminuiu. Ele estava praticando um vodu
mágico e eu não gostei nem um pouco.

— Parece que as aulas são sempre bem frequentadas — disse


ele. Seu olhar deixou o grupo de mulheres e voltou a pousar no
meu rosto.

Eu concordei. — Especialmente nos fins de semana. — Eu


respirei fundo e segurei seus olhos. — Espero que você não
pretenda se livrar delas.

Ele balançou sua cabeça. Nada mais. Apenas um aceno de


cabeça.

— Bom.
Seus lábios se contraíram apenas uma fração antes de se
estabelecerem em uma linha firme. — Que bom que tenho sua
aprovação, Ward.

Minhas bochechas estavam em chamas e eu odiava. Minha


mão se ergueu em um pequeno gesto em direção à porta. — Eu
tenho que... estarei de volta em um momento.

Aiden acenou com a cabeça e, quando me virei para ir, sabia


que ele estava me observando.

— Então deixe-me ver se entendi...

— Sim.

Molly fez uma pausa. — Você não sabe o que eu ia


dizer. Como você pode dizer sim?

Mesmo que eu estivesse atrás de uma cortina de camarim e


ela não pudesse ver, revirei os olhos. — Eu já sei o que você vai
dizer.

— Você apenas saiu de lá?

— Sim.

— Isabel!
Inclinando-me para o lado, deslizei o zíper do vestido azul
celeste e bufei quando não consegui fechar o gancho. — O
quê? Não é como se eu esperasse que ele estivesse parado por cima
do meu ombro como uma sombra desajeitada gigante e, sim, eu
apenas... fui embora.

— Acho que sei quem não vai ganhar o prêmio de funcionária


do mês... — sua voz sumiu. Eu coloquei minha mão por trás da
cortina com meu dedo médio levantado. Ela o golpeou de volta para
dentro. — Eu nunca pensei que você fosse covarde.

Em vez de discutir com ela sobre algo tão estúpido,


simplesmente rolei meus lábios entre os dentes e puxei o zíper uma
última vez. Enquanto eu estudava meu reflexo no espelho, não
conseguia decidir se o vestido simplesmente não era certo para
mim, ou se meu corpo estava tão acostumado a equipamentos de
ginástica que agora rejeitava ativamente qualquer material mais
fino.

— Você já está vestida?

Minhas mãos caíram ao lado do corpo. — Sim. Não acho que


essa cor funcione em mim, no entanto.

— Um, acho isso altamente improvável, e dois, mostre-me. —


Molly puxou a cortina de lado e, quando me avistou, seu sorriso
foi enorme. — Iz, eu amo isso. Você está tão bonita!

Com um olhar cético para o espelho, puxei as coisas


drapeadas sobre meus ombros. — Existem babados. No meu
corpo.

Ela riu. — Você não tem que escolher esse estilo. Estou
apenas tentando decidir as cores. Eu gosto do rosa blush, mas
pode ser muito verão para um casamento no outono.
— O azul — eu insisti. — Vou me sentir nua nesse rosa.

— Definitivamente azul — Lia falou do outro lado do espaço.

Nossas duas irmãs mais novas, Lia e Claire, separadas por


dois minutos no nascimento, estavam compartilhando um
provador. — Vamos, vocês duas — Molly chamou. — Iz já está
vestida.

— Espere. Os seios de nova mãe de Lia são enormes, e ela


não consegue fechar o zíper do vestido.

Molly e eu sorrimos uma para a outra porque realmente, eles


eram. Ela tinha dado à luz cerca de oito semanas atrás e,
honestamente, ela tinha um destaque para uma página central, se
eu já tivesse visto uma.

Enquanto esperávamos, Molly puxou sua pasta de casamento


gigante e fez algumas anotações depois de virar para uma guia rosa
brilhante. Não foi nenhuma surpresa que Molly era a noiva mais
organizada do planeta, também nenhuma surpresa que ela não
tivesse nenhuma tendência para Noivazilla até agora, algo que
estava tornando toda essa coisa de ‘ver minha irmã mais velha se
casar’ muito mais fácil...

— Onde está Paige? — perguntei.

— Ela teve que ficar em casa com Emmett. Ele não estava se
sentindo bem e Logan está no campo de treinamento. — Molly
ergueu o telefone e tirou uma foto minha. — Mas eu prometi enviar
fotos para ela.

Enquanto seus dedos digitavam uma mensagem de texto


para nossa cunhada, sentei-me na grande poltrona de marfim no
meio da sala. Não havia mais ninguém na loja de vestidos com a
gente, então me inclinei para trás em minhas mãos e ouvi as
risadas de Lia e Claire enquanto elas lutavam para fechar o vestido
de Lia.

Do nada, me senti muito, muito sozinha sentada naquela sala


com minhas irmãs.

Molly estava se casando.

Lia estava morando com o namorado, Jude. Com a adição do


filho deles e o novo trabalho de Jude jogando futebol em Seattle,
eu sabia que era apenas uma questão de tempo até que eles
tornassem isso oficial também.

Até Claire, a mais tímida de nós quatro, encontrou sua pessoa


no bad-boy snowboarder Bauer Davis.

E nada disso era novo; nenhum de seus relacionamentos era


novo. Eu tinha permissão para culpar Aiden por isso? Tentei
imaginar seu rosto se voltasse a trabalhar com raiva.

Ei, chefe, ver você me deixa toda confusa por dentro, e não
gosto disso. E quando você é legal e atencioso, fica pior, e começo a
me sentir como uma adolescente petulante e solitária perto de
minhas irmãs maravilhosas e felizes, porque prefiro arrancar meus
olhos do que explicar a elas. Por favor, pare. Obrigada.

— Do que você está sorrindo? — Lia perguntou.

Tardiamente, percebi que todas as três estavam olhando para


mim.

— Nada — eu limpei minha garganta.


Molly cutucou Claire. — Ela tem medo de seu novo chefe
sexy. Eu já mencionei isso?

Os olhos de Lia se arregalaram. — Oooh, você?

— Quão sexy ele é? — Claire perguntou.

Molly ergueu as duas mãos, todos os dez dedos se


mexendo. Claire riu.

Eu dei a ela um olhar firme. — Estamos decidindo sobre as


cores dos vestidos ou não?

Lia estendeu a mão para me ajudar a sair da poltrona. —


Desculpe, Iz. Nunca fomos capazes de provocar você sobre um
homem antes.

Molly deu uma risadinha. — Sim, porque normalmente ela os


come vivos quando termina com eles.

As palavras que murmurei baixinho teriam colocado fogo nos


ouvidos de uma freira. Lia foi a única que ouviu e começou a rir. A
ideia de mim como uma devoradora de homens, casualmente
lambendo meus dedos depois de ter feito o meu caminho com eles
era tão ridícula. Mas imediatamente após isso foi uma imagem
mental surpreendentemente clara de Aiden deitado em uma cama,
exausto e destruído comigo igualmente exausta e destruída ao lado
dele. Minha frequência cardíaca saltou com a imagem vívida em
minha cabeça. Mas esse tipo de reação de megera interior seria
bem-vinda depois de como eu comecei com ele.

O tropeço e o derramamento de café em mim não eram nada


como elas me imaginavam.
Era muito mais fácil deixá-las pensar isso. Deixá-las
acreditar.

— Tudo bem — Molly suspirou. — Vamos fazer isso para que


ela possa voltar e se esconder dele pelo resto do dia.

Com uma respiração profunda, empurrei para baixo tudo o


que elas tinham acabado de trazer. Muito, muito para baixo. —
Você vai ficar sem dama de honra se continuar com essa merda.

Molly ergueu as mãos. — Ok, ok. Terminei. Senhoras,


mostrem-me o que vocês têm.
Até começar a trabalhar na academia, ministrar aulas e
trabalhar com clientes, nunca entendi exatamente o quão
profunda era minha veia sádica. Mas quando um dos meus
clientes favoritos veio mancando até mim depois da aula, a camisa
encharcada de suor, foi a única vez na minha vida em que fiquei
toda corações, arco-íris e sorrisos.

Os olhos de Sally se estreitaram em um clarão. — Não sei


quem te machucou, Isabel, mas não sei se devo falar com minha
terapeuta ou te dar um abraço.

Eu ri, passando minha toalha de suor ao longo da minha


nuca. — É essa a sua maneira de dizer que gostou da minha aula
hoje?

Enquanto ela jogava as luvas e as mãos emaranhadas


voltavam para a bolsa, ela bufou. — Algo parecido.
— Eu adicionei aqueles burpees3 extras só para você.

Endireitando-se lentamente, ela revirou os olhos e pendurou


a bolsa no ombro. — Na próxima vez? Não adicione.

— Tchau, Sally.

Ela acenou.

Meu humor estava leve, provavelmente porque eu ainda não


tinha visto nenhum vislumbre de Aiden. Durante o dia, pelo
menos, meu escritório era meu. E não era como se sua presença
me pesasse, era simplesmente que aumentava a consciência e a
maneira como minha pele vibrava em uma frequência diferente
quando ele estava no prédio. Era algo que eu teria que superar
porque Aiden Hennessy estava aqui para ficar.

Uma garota em idade universitária se aproximou quando


comecei a limpar o saco que usei durante a aula. Ela apareceu
pouco antes de eu começar, então não tive a chance de falar com
ela como gostava de fazer com os novos membros.

— O que você achou? — perguntei a ela.

Ela exalou uma pequena risada. — Isso foi... intenso. Mas um


dos melhores treinos que já fiz.

— Excelente. — Eu estendi minha mão. — Sou Isabel, a


gerente.

3 Burpee é um exercício corporal completo de flexão com salto utilizado


em treinamento de força e exercício aeróbico.
— Brenleigh. — Ela apontou para o anel no centro do
ginásio. — Eu estava feliz que você não nos fez pular lá para alguns
chutes na bunda.

— Nah, nós esperamos até pelo menos sua segunda aula para
isso. Você comprou o cartão perfurado de dez aulas, certo?

Brenleigh acenou com a cabeça. — Eu cheguei ontem depois


de ver um dos seus posts do Insta sobre o especial que você está
organizando. — Suas bochechas já estavam vermelhas da aula,
mas quando ela olhou ao redor, o vermelho ficou ainda mais
vermelho. — É verdade que Aiden Hennessy é o novo proprietário?

— Isso é verdade. Estamos muito animados para trabalhar


com ele.

Animada. Apavorada. Escondendo-me dele. Qualquer que


seja.

Ela lambeu os lábios e baixou a voz para um sussurro


conspiratório. — Ele está, tipo, atendendo clientes individuais ou
algo assim? Você sabe, tipo, sessões de treinamento privadas.

Ahh. As fãs estavam começando a aparecer. Agora isso era


algo que eu não tinha previsto. Eu sabia que ele tinha planos de
fazer algumas sessões de treinamento, mas nenhum coaching
formal como alguns especularam que ele faria depois de se
aposentar. Então, uma estudante vindo aqui e pedindo sessões
privadas... isso não era parte da minha função gerencial. Não
estava dentro das minhas tarefas pessoais também. Minha
capacidade de fingir com as pessoas era tão estelar quanto minhas
habilidades culinárias.

Eu era péssima em ambas.


Agora a observando com mais cuidado, ela estava usando um
daqueles sutiãs esportivos que não eram realmente um sutiã
esportivo, o tipo que exibia mais decote do que um anúncio da
Victoria's Secret.

Deus, eu soei como uma vadia. Então, suavizei meu


sorriso. — Não que eu saiba, mas ele ainda está se
acomodando. Tenho certeza de que nas próximas semanas
saberemos muito mais. Se ele decidir aceitar clientes,
definitivamente postaremos sobre isso em nossas redes sociais,
então fique de olho.

Lá. Eu soei educada. Profissional.

Brenleigh e seu decote se inclinaram em minha direção. —


Como ele é? — ela perguntou, grandes olhos castanhos
arregalados.

Eu pausei. O que ela queria que eu dissesse?

— Ele parece muito legal — respondi diplomaticamente.

— Espero que ele não seja legal demais — ela sorriu. — Que
decepção, certo? Ele pode ser duro comigo qualquer dia.

Então ela mordeu o lábio e deu uma risadinha.

E foi a risada, junto com o uso abusivo criminoso da


palavra duro, que me fez imaginar como seria para Brenleigh se eu
quisesse acotovelá-la no rosto.

Não foi culpa dela, não realmente, porque o que Srta.


Brenleigh e seu sutiã de tiras e sua curiosidade ardente fizeram foi
nada mais do que segurar um espelho na frente do meu rosto. Algo
nele me deixou um pouco maluca e me fez sentir como se fosse
Brenleigh. Uma caricatura do meu pior lado.

O lado bobo e sem substância.

Mesmo que isso me matasse, mantive meu sorriso


firmemente no lugar. — Há alguma outra pergunta sobre o treino
de hoje? Eu ficaria feliz em revisar qualquer coisa, já que não tive
a chance de falar com você antes do início da aula. Normalmente,
eu repassaria os movimentos básicos se esta fosse sua primeira
vez.

Ela acenou com a mão no ar. — Nah, eu estou bem. Será que
ele vai estar aqui amanhã se eu voltar para a sua aula das quatro
horas?

— Não sei dizer. Ele não tem um cronograma definido — dei


de ombros. — Vantagens de ser o proprietário.

Brenleigh suspirou. — Eu acho. Bem, te vejo


amanhã. Obrigada!

E ela saltitou. Na verdade, saltou fisicamente. Eu belisquei a


ponta do meu nariz.

Enquanto ela caminhava em direção à frente, onde se sentou


em um banco para trocar os sapatos, dei uma volta nas sacolas,
pegando duas garrafas de água que haviam sido deixadas para trás
e alguns lenços jogados fora do contêiner de lixo. Apenas algumas
pessoas estavam usando as máquinas de peso, com uma pessoa
nas esteiras em frente à TV que Amy havia instalado alguns anos
atrás.

Meu escritório estava silencioso quando entrei e, quando


respirei fundo, senti o menor cheiro de algo masculino.
Afundei na cadeira e coloquei minha cabeça em minhas
mãos. Ele nem estava aqui, e eu podia sentir o cheiro dele. Foi
quando notei o moletom dobrado na ponta da minha mesa. Ele o
estava usando na reunião e deve tê-lo deixado aqui. Meus dedos
alcançaram a borda, puxando-a em minha direção antes que eu
pensasse muito sobre o que estava fazendo.

A camisa era bem usada. Um logotipo desbotado de um


ginásio da Califórnia na frente, as costuras do bolso da frente
estavam rasgadas nas bordas.

Quando a levantei em direção ao meu rosto e respirei fundo


para ver se essa era a origem do cheiro, logo empurrei-a de volta
no lugar com um gemido antes que pudesse ir mais longe nesta
toca de coelho maluca.

Sei que você não me conhece, mas tenho dezesseis anos e acho
você incrível e, embora eu seja mais jovem que você, sei que estamos
destinados a nos encontrar.

Meus olhos se fecharam e meu coração disparou


desconfortavelmente quando pensei naquela carta boba e idiota,
dobrada com cuidado e trancada dentro da caixa de metal.

Eu não era melhor do que a fangirl saltitante e seu sutiã


abaixo do padrão e suas risadas e coisas do gênero. Sentando-me
ereta, respirei fundo e encarei meu próprio reflexo no vidro com
vista para o ginásio.

Chega, pensei. Chega de cheirar. Sem mais borboletas. Sem


divagar sobre quando ele iria entrar ou se dividiríamos o espaço
ou se ele compraria um café. Chega de tropeçar a seus pés ou fazer
exibições infantis para me fazer sentir melhor sobre meu
constrangimento.
— Isabel Ward — disse — controle essa merda. Isso é ridículo
pra caralho.

Com o moletom de volta no lugar, fiz a cadeira girar de pé


muito rápido e marchei para fora do meu escritório. Com apenas
mais uma aula agendada para o resto do dia e nenhuma sessão de
treinamento própria, a academia provavelmente ficaria silenciosa
pelas próximas horas.

Foi fácil me manter ocupada e coloquei um fone de ouvido


para poder ouvir algumas músicas sem perder nada que pudesse
precisar da minha atenção.

Saindo do banheiro feminino agora limpo, dei uma olhada


rápida na academia, algo que fazia constantemente quando era a
única pessoa trabalhando, e percebi que a academia estava
vazia. Uma olhada no relógio digital na parede me disse que
provavelmente ficaria assim até que tivéssemos nosso grupo usual
pós-trabalho.

Razão pela qual eu parei quando uma menina correu pela


sala, o cabelo loiro branco voando, e então deslizou para cima em
um dos sacos pesadas até que ela enganchou seus braços
minúsculos por cima e içou-se para a viga de ferro que segurava
todo o rack no lugar.

No tempo que levei para piscar, ela subiu até o topo da viga,
onde agora se sentava empoleirada, as pernas balançando como
se não se importasse com o mundo.

Fiz um esforço concentrado para fechar minha boca


escancarada, mas deixei o material de limpeza e olhei ao redor do
ginásio. Nenhum pai à vista. Era completamente normal que
algumas crianças acompanhassem seus pais se eles viessem para
a aula, mas isso não era normal.
Nem era seguro.

A última coisa de que precisávamos era o filho de alguém


caindo de uma viga de ferro e quebrando a perna. Aproximei-me
com cuidado, canalizando todas as minhas vibrações de irmã mais
velha. Seus olhos eram grandes e claros e de um azul brilhante, e
eles rastrearam cada passo que eu dei.

Eu coloquei minhas mãos em meus quadris e olhei para a


viga. — Impressionante — eu disse a ela.

Ela não respondeu, mas seus lábios se curvaram em um


sorriso.

— Qual o seu nome?

— Você é uma estranha, então eu não deveria te contar.

Eu balancei a cabeça lentamente. — Isso é muito inteligente.

— Qual é o seu nome?

— Isabel. Onde você aprendeu a escalar assim?

Ela encolheu os ombros. — Não sei. Eu sempre soube.

— E você não tem medo de altura?

Seu cabelo balançou quando ela balançou a cabeça.

— Você acha que poderia pular no chão para mim? — Mais


uma vez, o cabelo e a cabeça balançando. Está bem então. — Será
muito desconfortável ficar sentada aí o dia todo.

Suas pernas balançaram. Sim, ela não estava com nenhuma


pressa. Que bom para ela.
— Não sei se conseguiria subir na viga — disse eu, — mas
tenho outro truque que posso fazer.

O interesse despertou por trás daqueles olhos. — O que é?

Eu estalei minha língua. — Não posso te dizer a menos que


você desça, garota.

Seus lábios se torceram de lado enquanto ela ponderava


sobre isso.

— Com quem você veio aqui?

— Meu pai está no banheiro. Eu o ouvi ao telefone e fiquei


entediada em esperar.

— Ok, bem... talvez se você descer agora, possa te mostrar


meu truque, e ele nem vai te ver aí em cima.

— Ele já está bravo comigo porque eu fingi que iria vomitar


para não ter que ir para o acampamento diurno, aquele lugar é
idiota e eu não quero ir, mas meus avós estavam ocupados e não
podiam cuidar de mim.

Eu soltei um suspiro lento, imaginando todas as maneiras


que isso poderia dar errado. — Não posso culpar você, garota. Eu
provavelmente fingiria estar doente também.

Seu sorriso foi maior desta vez, e eu tive um vislumbre de


uma lacuna adorável onde seus dentes da frente eventualmente
cresceriam. Meu sobrinho Emmett perdeu o dele quando tinha
quase oito anos, então eu peguei aquela pequena oportunidade e
a usei.

— Especialmente porque você tem, o quê, nove?


Ela deu uma risadinha. — Não. Tenho apenas sete anos,
mas quase oito.

— Sim? Quando é seu aniversário?

— Em dez meses.

Eu sufoquei meu sorriso. — Tão perto.

— Quantos anos você tem? — Ela mudou de posição e lutei


contra o impulso de esticar as mãos para o caso de ela cair, mas,
aparentemente, apenas uma de nós estava nervosa por causa de
seu poleiro, e não era ela.

— Vinte e cinco — eu sussurrei. — Super velha.

Ela riu novamente. — Você só fica velha quando chega aos


cinquenta.

— Ahh. Muito bom saber.

Seus olhos dispararam para o lado e depois de volta para


mim. — Você gosta de cantar?

Minha cabeça se inclinou com a mudança de assunto. — Não


sou uma cantora muito boa, então não... não posso dizer que sim.

A linha de suas sobrancelhas baixou.

— Ok, vou descer, mas só se você me mostrar o seu truque


primeiro.

Eu estreitei meus olhos. — Barganhando, hein?

— Minha tia me disse que eu deveria sempre defender o que


quero, então é isso que estou fazendo.
Bem, a maldita tia dela não estava aqui tentando tirá-la da
trave de metal, estava? Eu mantive meu sorriso calmo, no
entanto. — Ok, mas você tem que prometer que vai descer, certo?
— Eu levantei dois dedos. — Honra das escoteiras?

Ela assentiu com veemência.

— Ok. — Eu apontei para a viga. — Vire sua única perna de


forma que você fique escarranchada como se estivesse sentada em
um cavalo, ok? Em seguida, segure com as duas mãos.

Eu respirei um pouco mais fácil quando ela obedeceu


imediatamente.

— O que você vai fazer? — ela perguntou.

— Eu vou segurar o saco — eu sussurrei. — Sem mãos.

Seus olhos se arregalaram. — De jeito nenhum.

— Pode acreditar.

Com uma rápida olhada na direção do banheiro, ainda não


havia nenhum sinal de seu pai, então balancei minha cabeça e
pulei, agarrando a corrente ao longo do topo do saco e puxando
meu peso o mais alto que pude. Içada daquele jeito, puxei minhas
pernas para cima, envolvendo-as no meio da parte superior do
saco pesado, e cruzei meus pés na altura dos tornozelos.

Com um olhar em sua direção, eu soltei as correntes e deixei


meu corpo cair lentamente para trás.

— Uau — ela sussurrou.


Minha trança estava balançando em direção ao chão quando
levantei a parte superior do meu corpo e fiz alguns abdominais
daquela posição suspensa. Ela bateu palmas com entusiasmo.

— Quantos mais eu devo fazer? — perguntei a ela.

— Vinte!

— Oof. Ok. Então você vai descer para mim?

— Uh-huh.

— Conte para mim então, senhora chefe — pedi a ela.

— Um, dois, trêeeeees — ela se espreguiçou. Eu gemi quando


fiz o número quatro, e ela riu.

— Você deveria ser uma treinadora aqui — eu disse a ela. —


Eu faço essa porcaria de contagem lenta nas minhas aulas
também.

Chegamos às sete quando percebi alguém se aproximando


pelo canto do meu olho, uma sombra alta bloqueando as luzes do
teto do ginásio.

Aiden.

Hoje ele estava vestindo uma camiseta branca, confortável em


seu peito como se fosse uma rocha. Seus braços estavam cruzados
sobre o peito e, embora eu estivesse de cabeça para baixo, pude
ver o aperto em sua boca enquanto ele examinava nossa pequena
cena.

A garota parou de contar. — Oi, papai! Veja o truque legal da


senhora!
Foi quando meu tornozelo perdeu o controle e eu caí do saco,
caindo aos pés do meu chefe em uma pilha emaranhada e sem
graça.
Talvez, apenas talvez, pensei, se eu fingir que isso não
aconteceu, ele irá embora quando eu abrir meus olhos. Minhas
pernas caíram no chão e estremeci quando rolei para o lado, os
olhos ainda fechados.

— Uau — a voz da menina disse. A voz da garotinha de


Aiden. — Você parecia muito forte, Srta. Isabel.

Porra, honestamente.

— Você está bem? — ele perguntou. Sua voz estava perto -


baixa e áspera - e arrepiou meus braços.

Eu estava bem? Uma pergunta tão interessante. Porque


não... eu não estava.

Eu queria apagar todas as malditas interações que tive com


ele, limpá-las do meu cérebro com alvejante porque, de alguma
forma, elas estavam piorando.

Mas eu estava realmente bem fisicamente? Uh-huh, claro,


vamos com isso.
Soltei um suspiro lento e examinei meu corpo, porque se eu
tivesse machucado alguma coisa, pular seria uma ideia terrível. —
Sim, eu estou.

Quando eu abri meus olhos, Aiden estava agachado, as mãos


penduradas entre os joelhos dobrados. Seu rosto estava enrugado
com preocupação, mas ele não fez nenhum movimento para me
tocar, graças ao Senhor lá em cima.

Se eu fosse tão desajeitada com ele apenas respirando o


mesmo ar que eu, provavelmente teria um orgasmo espontâneo se
fizéssemos contato pele a pele.

Ele acenou com a cabeça, levantando-se lentamente


enquanto eu me levantava das esteiras. Apoiando as mãos nos
quadris, seus olhos se voltaram para a filha, ainda balançando as
pernas para cima na viga de aço como se ela estivesse no
parquinho.

— Anya — ele disse, todo firme e calmo, mas eu vi a tensão


em sua mandíbula. — Hora de descer.

Seu queixo se projetou. — Eu não estou desistindo por você.


— E ela apontou para mim. — Estou descendo por causa do truque
dela.

— Tudo bem — Aiden falou uniformemente.

— Posso pular do topo?

— Absolutamente não.

Ela suspirou dramaticamente, mas estendeu os braços. Ele


se moveu por baixo da viga e enquanto eu observava aqueles
braços se estendendo em direção a ela, senti um inchaço perigoso
em meu coração. Algo que eu não queria tocar ou cutucar, mas ela
pulou da viga com tanta facilidade, tanta confiança, que quase tive
que desviar o olhar.

Antes de colocá-la no chão, Aiden abraçou Anya em seu peito,


seus braços magros em volta do pescoço, e eu o vi soltar um
suspiro de alívio silencioso.

Em vez de assistir a cena na minha frente, movi meu olhar


para o chão e alisei minha trança agora destruída - um símbolo
adequado para meu orgulho ferido.

— Tem certeza de que você está bem? — ele perguntou.

Eu concordei.

— Ela não é uma boa cantora — Anya interrompeu. — Ela me


disse isso.

Aiden fechou os olhos, enquanto eu... tentei não olhar sem


jeito para sua filha porque, honestamente, isso poderia piorar?

— Anya — ele repreendeu.

— Eu perguntei a ela. — Ela brincou com a gola da camisa


de Aiden. — Mas eu não perguntei mais nada.

Ele me lançou um olhar de desculpas. — Eu sinto muito —


Aiden soltou outro suspiro. Ele olhou ao redor do ginásio. — Tem
aula às seis, certo?

Novamente, eu balancei a cabeça, porque este foi o


movimento catalogado na biblioteca Isabel Ward de reações a este
homem em particular.
— Você dará aula?

Não acene com a cabeça, não acene com a cabeça. Minha


língua se soltou do céu da boca. — Normalmente não, mas estou
cobrindo Kelly.

Os olhos de Anya se arregalaram. — Você mostra às pessoas


como bater em alguém como meu pai?

A boca de Aiden suavizou, mas ainda... não era bem um


sorriso.

Talvez essa garotinha com suas perguntas estranhas e amor


horrível por escalar pudesse me ajudar a facilitar meu caminho
para a "Isabel normal" perto dele.

Eu inclinei minha cabeça. — Mostre-me seu punho mais forte


— eu disse a ela.

Ela enrolou os dedinhos com tanta força que a pele dos nós
dos dedos ficou branca.

— Muito bem. — Mostrei a ela o meu, depois toquei nas


juntas do indicador e do dedo médio. — Sempre tente acertar bem
aqui, ok? E não enfie o polegar dentro dos outros dedos.

Anya revirou os olhos. — Todo mundo sabe disso. Você vai


quebrar seu dedo.

Eu coloquei minhas mãos em meus quadris. — Talvez eu


devesse colocar você para dar aula.

Ela riu, olhando para seu pai com uma expressão tão
adorável que pude sentir cada grama do meu corpo derreter como
um pedaço de manteiga.
— Ok, gingersnap, você pode jogar no seu iPad enquanto eu
trabalho um pouco — disse ele, e oh, puta merda, ele a chamou de
gingersnap. Seus olhos voltaram a pousar em mim, e orei a todas
as divindades de todas as religiões em todo o mundo para que ele
não pudesse ver o que isso fazia comigo.

Honestamente, era como se ele estivesse tentando ser o


homem mais atraente do mundo. E o fato de não perceber isso
tornava-o ainda mais atraente, o que era uma questão totalmente
separada. Ela fez um gesto para que ele ficasse da sua própria
altura e sussurrou algo em seu ouvido. Se seu rosto estivesse
inclinado em minha direção, eu poderia ter visto seus lábios se
curvando em um sorriso, mas em vez disso, simplesmente vi a
borda de sua bochecha se mover. Mas ele acenou com a cabeça
para tudo o que ela disse.

Anya me deu um sorriso tímido. — Você é muito bonita, Srta.


Isabel. Eu acho que você se parece com a Mulher Maravilha.

Em vez de rir dela, ou descartá-la porque Aiden estava


assistindo, eu segurei meus braços em um X sobre meu peito e
pisquei. Quando seu rosto se transformou em um largo sorriso,
pela primeira vez me senti bem sobre uma interação com meu novo
chefe. Mais ou menos.

Cada momento embaraçoso poderia ficar guardado, no canto


da caixa, mantido no lugar cada vez que eu conseguia dar passos
de bebê em algo normal com ele. Eu não queria bajulá-lo, não
queria estudar cada nuance de cada momento, porque me parecia
péssimo.

Anya correu para seu escritório e, para minha surpresa,


Aiden não a seguiu.

— Eu devo a você, Ward — disse ele.


Eu pisquei. — Pelo quê?

Aiden empurrou o queixo em direção ao topo da viga de aço.

Minhas bochechas ficaram quentes. Honestamente, com o


rubor, a queda e o aceno de cabeça. — Não, está tudo bem. Você
não me deve nada.

— Sim — ele disse uniformemente — eu devo.

Não havia nada para eu dizer, porque 1- eu estava com medo


de continuar discutindo por que eu não devia nada a ele por tirar
a criança do alto e 2- parecia mais seguro não iniciar uma conversa
com ele.

Problemático, isso.

— Anya — disse ele, erguendo o queixo em direção ao local


onde sua filha havia desaparecido, — ela fez isso a vida toda. — No
levantamento em minhas sobrancelhas, ele esclareceu. — A
escalada. Não me causa um ataque cardíaco como antes, mas de
vez em quando ela vai longe demais.

A maneira como sua voz suavizou quando ele falou de sua


filha fez com que todos os tipos de coisas derretidas e pegajosas
acontecessem em meu corpo. No começo, tudo que eu pude fazer
foi acenar. Mas quando não disse nada em resposta, senti sua
curiosa consideração.

Prometa que vai tentar, ouvi Amy dizer na minha cabeça. Na


época, ela não tinha ideia do que estava pedindo a mim, mas eu
dei a ela minha palavra do mesmo jeito.

Antes que eu pudesse formar palavras, porém, Aiden falou


novamente.
— Você não gosta que eu esteja aqui, não é?

Meus olhos se fixaram nos dele. — O quê?

O olhar de Aiden estava firme, procurando. Ele não repetiu a


pergunta. Não querendo ser rude ou intimidante, mas porque nós
dois sabíamos que eu tinha entendido perfeitamente.

— Eu — minha voz vacilou e eu balancei minha


cabeça. Tente, Isabel. — Mudar é difícil para mim — forcei-me a
dizer. Empurrando de lado todas as borboletas, todos os
sentimentos fora de forma com um movimento da minha mão, eu
cavei além do constrangimento e encontrei um grão de verdade. —
Ainda não sei o que significa a sua presença aqui — falei.

Entregar a ele aquele pedaço da verdade, mesmo que eu não


tivesse ideia do que exatamente significava, era como puxar uma
parte do meu corpo. Mas a reação dele... eu estaria mentindo se
dissesse que isso não a tornava um pouco menos dolorosa.

A maneira como ele me viu falar sem nunca me apressar ou


me empurrar ajudou a soltar algo apertado e desconfortável atrás
de minhas costelas.

Aiden enfiou as mãos nos bolsos da frente de sua calça jeans


escura. — Que tal isso — disse ele lentamente. — Eu prometo que
não vou fazer grandes mudanças sem discuti-las com você
primeiro. Com exceção do nome — acrescentou.

Meu coração disparou. Ele não era obrigado a fazer isso. E


sua abordagem - a calma, a firmeza - não era algo que eu esperava.

— Você não tem que fazer isso — disse a ele. — Este é o seu
lugar, não meu.
Algumas pessoas entraram - advogados de uma firma local -
e saudações efusivamente altas vieram em minha direção. Acenei.

— Você tem certeza disso? — ele perguntou secamente.

Eu escondi um sorriso satisfeito. Apenas um pouco. Parecia


meu lugar desde o primeiro dia em que entrei.

— Tenho — mantive minha resposta equilibrada,


profissional. — É o seu nome no prédio, ou será em breve. Você
pode deixar sua marca sem que eu me manifeste.

Depois de dizer as palavras, quis retirá-las. Ou, por um


momento, eu o quis. Porque eu conhecia tantos atletas, movidos
pelo ego, orgulhosos, que se exibiam de forma desagradável sob
qualquer holofote que recebiam. E ainda assim, eu não tinha
certeza de como esse ex-atleta em particular responderia.

— Mesmo assim — ele respondeu — quero que você confie em


mim, Ward.

Meus olhos mal conseguiam encontrar os dele, não com a


maneira como disse meu sobrenome. Se ele olhasse com atenção,
veria arrepios subirem ao longo dos meus braços nus. O impulso
de alisá-los com a palma da minha mão era quase impossível de
ignorar. Antes que eu pudesse reagir, Anya colocou a cabeça para
fora de seu escritório.

— Papai, meu iPad congelou. Pode me ajudar?

Com uma ligeira elevação do queixo, ele caminhou em direção


ao seu escritório, e eu respirei lentamente, minhas bochechas
inchando com a exalação carregada.

De volta ao trabalho. Era a única maneira de sobreviver.


Logo, como eu disse a ele, o prédio teria seu nome, e o
pensamento me fez vagar para a área da frente.

Enquanto eu encarava as prateleiras de mercadorias perto da


mesa, pensei sobre o que diabos deveríamos fazer com todas as
coisas rotuladas como Wilson's Gym, quando eu sabia que Aiden
já tinha pedido a nova sinalização para fazer a mudança para
Hennessy's. Felizmente, ele não estava se importando em colocar
seu nome em cima de tudo. Ele queria lidar com a transição
publicamente de uma forma suave. Olhando para as prateleiras de
camisetas, moletons, agasalhos, luvas, tudo isso, comecei a pensar
em maneiras de limpar o estoque o mais rápido possível.

Sentei-me na recepção e abri a gaveta inferior direita.

— Aí está você — murmurei, puxando um recipiente


transparente que continha adesivos redondos de cores
brilhantes. Olhei para as prateleiras de camisas e me perguntei se
Aiden teria uma opinião sobre começar com metade de tudo ou
talvez uma liquidação pague um, leve dois para ver quanto
poderíamos vender.

Lá estava de novo, a pausa em todo o meu corpo quando


pensei em ir ao seu escritório para perguntar algo a ele.

Isso era ridículo.

Eu coloquei meus cotovelos na mesa e cobri meu rosto com


um gemido. Enquanto eu estava sentada naquela posição abatida,
o telefone da academia tocou. Eu atendi, mas antes que eu
pudesse dizer qualquer coisa, ouvi a voz de Aiden vindo do fone em
seu escritório.

— Wilson's Gym, este é Aiden.


Deus, sua voz. Rolei meus lábios entre os dentes e permiti,
por apenas um momento, que meus olhos se fechassem para que
eu pudesse apenas... ouvi-lo falar.

— Sr. Hennessy, aqui é Chandra, da Seattle Youth Sports


Foundation. Muito obrigada por sua ligação. Ficamos emocionados
ao recebê-la.

Lentamente, comecei a desligar o telefone, embora houvesse


um sussurro irritante e travesso no fundo da minha mente que
queria que eu continuasse ouvindo. Porque a maneira como ele
formou as palavras, a forma como algo simples e inocente saiu de
sua boca, me fez imaginá-lo atrás de mim, sussurrando em meu
ouvido. Coisas que nunca imaginei que alguém fosse me mandar
fazer.

Se eu mandasse uma mensagem de texto para Amy onde ela


estava, explorando a Grécia, não acho que esse era o tipo de coisa
que ela tinha em mente.

A porta da frente se abriu exatamente quando eu coloquei o


telefone de volta no receptor, revelando o rosto sorridente da nossa
mais nova contratada direto da faculdade.

— Emily, como vai?

Quando ela respirou fundo, eu sabia que a resposta seria


muito, muito dramática. A resposta começou imediatamente sobre
seu namorado e outra garota, e tenho certeza de que meus olhos
estavam tão arregalados no meu rosto que parecia que eu tinha
levado um tapa na nuca.

— Então, você está estressada — eu disse quando ela


finalmente respirou.
Emily se jogou na cadeira que eu tinha desocupado atrás da
recepção. — Eu só sei que ele está me traindo.

Alguns adiantados para a minha aula das seis horas


começaram passar pela porta da frente, e eu os cumprimentei com
um sorriso.

— Mas você não pode ter certeza — eu disse a ela. — Você


apenas suspeita com base em algum... instinto, certo?

Minhas irmãs sempre me procuravam em busca de conselhos


práticos sobre relacionamentos e, honestamente, às vezes eu
pensava que minha capacidade de ser pragmática era porque
nunca me enredei em nenhum dos dramas. Ou qualquer parte do
corpo, na verdade.

Instinto nunca foi meu forte, ou pelo menos... não até Aiden
entrar pela porta. Por mais que não quisesse admitir, estava
criando todo tipo de coisa em minha própria imaginação.

Emily fez uma pausa para passar o cartão de um membro


enquanto ele lutava com o scanner na mesa. Ele agradeceu com
um sorriso, acenando para mim ao passar. Puxei minhas
bandagens pretas e rosa favoritas da gaveta de cima e desenrolei
a bola bem embrulhada.

— Eles são fortes, no entanto — ela disse, encostada na


mesa. — Contato visual intenso.

Sim. Contato visual intenso. Eu me mexi


desconfortavelmente. — O que mais?

Emily cantarolou. — Subtexto realmente carregado nas


coisas que eles diziam — seu rosto ficou sério. — Eles diziam uma
coisa, mas você sabia que eles queriam dizer outra coisa.
— E isso é um sinal de...? — minha voz sumiu.

— Sexo, com certeza.

O suor brotou ao longo da minha nuca porque check,


check e check. Vibrações unilaterais, cortesia minha.

Alguém entrou e eu sufoquei um gemido ao vê-lo. Eu sei,


atendimento ao cliente e tudo, mas esse cara era a ruína da
existência de todas as treinadoras. Ele ficava muito perto, falava
muito, ficava depois da aula até muito tarde e tinha uma tendência
seriamente irritante de olhar para nossos seios ou bunda durante
a aula inteira.

Fale sobre como conseguir obter uma vibração de


alguém. Esse cara era o rei absoluto de inspirar sentimentos
idiotas.

— Mike — eu disse educadamente. — Não vejo você há um


tempo.

Ele alisou a língua sobre os dentes. — Onde está Kelly? Eu


não sabia que você estava ensinando esta noite.

Não é surpreendente. Mike não parecia ficar muito tarde ou


falar muito perto de mim. Ele preferia Kelly, provavelmente porque
ela é pequena, e ele podia olhar para o peito dela de seu imponente
um metro e oitenta.

Além disso, Kelly é mais amigável do que eu.

Na ausência dela, ele fez um exame completo da loira


borbulhante atrás da mesa. A maneira como ele olhou Emily de
cima a baixo me fez limpar a garganta. Eu segurei seu olhar
firmemente quando sua atenção estava de volta em mim.
— Ela machucou o tornozelo. — Continuei enrolando os nós
dos dedos, dobrando as bandagens em volta do meu pulso e depois
de volta na palma da mão. Flexionando meus dedos, dei a ele um
pequeno sorriso. — Você está preso comigo esta noite.

— Você é nova — disse ele a Emily.

Ela deu a ele um sorriso amigável, mas não tão amigável


quanto o que ela deu a todos os outros. Emily,
aparentemente, era uma ótima leitora de vibrações e contato visual
intenso. — Comecei há algumas semanas.

Ele assentiu. — Legal. Outra razão para eu amar as noites de


terça.

Porque ele não estava olhando, revirei os olhos. — É melhor


você se alongar, Mike. Eu tenho minha lista de reprodução de rock
raivoso, o que significa que você precisa estar todo aquecido e
pronto para levar um chute na bunda.

Ele bufou enquanto passava, e eu tive que cerrar os dentes.

Alguém iria receber um monte de burpees extra esta noite, e


não era eu. Como gerente, posso não ser totalmente rude com ele,
mas poderia fazê-lo amaldiçoar o dia em que nasceu.

Emily balançou a cabeça. — Tão assustador.

Terminei de envolver minha outra mão e suspirei. — Ele


é. Infelizmente, ele nunca fez nada flagrante para que pudesse ser
expulso. Na próxima semana, se você estiver aqui com Kelly e ele
for o único a permanecer ao final, não vá embora sem ela. Essa é
uma das nossas regras não ditas. Nenhuma treinadora aqui
sozinha com alguém novo, ou alguém como um idiota ali que é
meio nojento. Entendeu?
Ela acenou com a cabeça. — Entendi. Obrigada, Iz.

Peguei minha garrafa de água e a inclinei para tomar um


gole. Foi quando eu vi seus olhos se arregalarem novamente e suas
costas se endireitarem. No meio de um gole de água fria foi quando
ele decidiu falar bem atrás de mim.

— Espero que essa regra se aplique a você também —


resmungou Aiden.

O estrangulamento veio primeiro, e coloquei a mão sobre a


boca, mas no processo, tentei expirar.

O que trouxe água direto para a porra do meu nariz.

O estremecimento no rosto de Emily foi mais do que suficiente


para eu saber o quão mortificante eu devo ter parecido, mas
quando ela cuidadosamente me entregou uma toalha para limpar
meu rosto, eu sabia que era ruim.

— Desculpe — disse ele. — Parece que tenho o péssimo hábito


de pegar você de surpresa.

Não brinca, Sherlock.

Terminei de limpar meu rosto e olhei para Aiden. — Está tudo


bem.

Ele me observou colocar a garrafa e a toalha na mesa e,


quando seu olhar voltou para o meu rosto, vi o menor indício de
diversão.

E isso não fez nada para diminuir minha humilhação de quão


estúpida e boba eu me sentia perto desse homem.
Eu respirei fundo e o encarei. — Qual regra se aplica a mim?

Ele inclinou a cabeça para onde Mike estava esticando os


braços na frente de seu saco. — O que você acabou de dizer a
Emily.

— Na maioria das vezes — eu respondi honestamente. — Mas


Mike não me incomoda.

— Ainda.

Eu balancei a cabeça concordando. — Ainda.

— Posso revogar sua associação se as treinadoras ficarem


desconfortáveis com ele.

Minhas sobrancelhas se ergueram lentamente. — Mesmo que


ele não tenha feito nada além de ser um canalha?

— Mesmo assim.

Suas palavras bruscas não ajudaram em nada para acalmar


minhas pernas, que pareciam se agitar naturalmente em sua
presença. No mínimo, elas tornaram tudo muito pior. Algo sobre a
nossa conversa anterior, o saco, a filha, a maneira como ele me
abordou de frente. Aiden me fez sentir como se eu fosse toda crua,
bordas expostas, e não havia nada que eu odiasse mais. Eu me
virei brevemente para pegar a bateria do microfone, enganchar na
parte de trás da minha legging e, em seguida, prender o fone de
ouvido em volta da minha orelha para que o microfone ficasse na
frente da minha boca. Certifiquei-me de que estava desligado antes
de falar.

— Eu vou deixar você saber se chegar a esse ponto.


Aiden apertou a mandíbula. — Ok.

Oh, olhe para isso. Consegui uma conversa inteira com ele, e
a pior coisa que aconteceu foi cuspir água pelo meu nariz. As
coisas estavam melhorando.

— Você precisava de algo? — perguntei.

Ele olhou para as prateleiras de mercadorias. — Novos


produtos devem estar aqui em cerca de duas semanas.

— Eu posso pedir a Emily que marque como promoção essas


coisas se você quiser se livrar disso rápido.

Mas Aiden balançou a cabeça. — Apenas encaixote tudo.

— Você não quer tentar vender?

Ele me entregou um pedaço de papel e, na parte superior, vi


o logotipo da Seattle Youth Sports Foundation. — Prefiro apenas
doar. Eles vão espalhar para várias fundações em todo o estado
para crianças carentes. Eles precisam do equipamento mais do
que eu preciso do dinheiro.

Por um momento, eu o encarei. A linha dura de seu perfil e o


ligeiro amontoado nas linhas do sorriso que se espalhavam ao
longo de seus olhos. Honestamente, foda-se Aiden Hennessy e seu
grande coração e gestos protetores, linda filha e bíceps que eram
do tamanho da minha cabeça. Isso estava prestes a ficar ridículo.

— Se estiver tudo bem para você — ele disse levemente.

Segurando seus olhos para avaliar sua sinceridade, não


encontrei nada que me fizesse duvidar do que ele estava
dizendo. Finalmente, eu balancei a cabeça.
Quando peguei o papel de sua mão estendida e ele se afastou
depois de um agradecimento murmurado, eu sabia que se ficasse
nessa área por mais uma semana estaria perdidamente
apaixonada por meu chefe.

Eu não podia prever o que ele faria, o que diria, e me peguei


esperando com a respiração suspensa pelo que quer que viesse a
seguir.

Ele estava trancado em uma caixa própria e, pela primeira


vez, era eu quem queria enfiar os dedos e arrancar a tampa.
— Qual é o seu problema?

Eu pisquei, olhando para Clark. Ele estava sentado à minha


mesa, esboçando uma ideia para adicionar um loft aberto sobre a
área de treino principal.

— Eu não tenho um problema.

O que não era mentira porque não era a palavra certa.

— Parece que você tem um problema — disse ele, o lápis


voando continuamente sobre o papel quadriculado.

— Por que meus irmãos mais novos sempre me perguntam


isso quando estou tentando pensar?

Clark não hesitou. — Talvez porque você pareça


perpetuamente chateado quando está pensando muito.

Cruzando os braços sobre o peito, voltei minha atenção para


o meio do ginásio onde Isabel estava conduzindo uma aula.
Ela entrava e saía dos sacos, gritando encorajamentos e
ocasionalmente parando para ajudar alguém. Seu cabelo, como
sempre, estava penteado para fora do rosto e quando ela se
abaixou para demonstrar algo que queria, estava comprido o
suficiente sobre o ombro para quase roçar no chão.

Mulher Maravilha, como Anya a chamou. E perguntou se ela


gostava de cantar. Eu sabia que ela estava pensando sobre aquela
lista de merda no momento em que disse isso.

— Você está fazendo isso de novo.

Desta vez, não olhei para Clark. — Não consigo entender


minha gerente.

Em minha visão periférica, vi seu lápis diminuir a velocidade,


parar e começar de novo. Ele sempre pensava melhor quando
estava desenhando ou construindo. — Por que não?

— Eu não consigo fazer uma leitura dela — eu disse


lentamente. — Mas eu sinto que ela está... desconfortável perto de
mim.

Clark parou de desenhar, girando na cadeira da minha


escrivaninha até me encarar. — Ela faz um bom trabalho?

— Sim.

Como sempre parecia, sem minha permissão e sem qualquer


aprovação ou premeditação, minha atenção se desviou para
ela. Ela era uma irritação sob minha pele, não por causa de algo
particularmente irritante, mas simplesmente porque eu sentia que
ela estava escondendo algo. Escondendo-se.

E não gostei da sensação.


Porque acendeu o fusível em um desejo que eu havia
enterrado há muito tempo.

Interesse.

Todos os outros na academia fizeram um esforço concentrado


para me procurar e me conhecer. E foi exatamente o oposto com
ela. Talvez fosse por isso que meu olhar estava sendo atraído para
ela.

A suavidade que ela mostrou à minha filha era a mais


desconcertante de todas. Antes disso, tudo que eu tinha visto de
Isabel eram peças mutantes que eu não conseguia identificar,
como se ela estivesse em frente a um espelho de diversão.

Desajeitada em um momento, graciosa no momento seguinte.

Impenetrável com os clientes, corando na próxima interação.

Gentil com os funcionários, recusando minha gentileza.

Calorosa com aqueles que a conheciam, francamente


cautelosa comigo.

Ela era linda, como minha filha havia dito. Raramente sorria,
raramente ria. Não que eu já tivesse visto.

E eu odiava, mais do que poderia colocar em palavras, que eu


queria entendê-la.

Odiava ter verificado seu arquivo de funcionários, meditando


desconfortavelmente sobre o fato de que ela era uma década mais
jovem do que eu, mas parecia muito mais velha do que sua idade.
Nenhuma dessas coisas eu verbalizaria para meu irmão, que
já estava me observando com aquele cérebro analítico dele. Eu
provavelmente já havia falado demais.

Porque no segundo em que a vi fazendo Anya rir, no segundo


em que as observei interagir, a primeira coisa em minha mente foi
absolutamente aterrorizante:

Essa não. Não pode ser ela.

Por uma série de razões. Demais para contar.

Antes de saber o que Anya havia perguntado a ela, eu havia


catalogado mentalmente cada pedaço de Isabel que
conhecia. Quando ela surgiu como o oposto de cada coisa que Beth
havia listado para nossa filha um milhão de horas antes, eu senti
o impacto disso como um golpe.

Desapontamento.

— Aiden? — Clark perguntou.

— Esqueça que eu disse qualquer coisa — eu murmurei. —


Eu vou superar isso.

Eu preciso.
— Você poderia ser mais vadia?

Nem uma única pessoa na mesa piscou quando Molly olhou


para mim. Eu sorri porque cercada pelo caos absoluto de nossa
família, eu estava em meu lugar feliz.

— Por causa disso? — Eu levantei meu garfo, cada dente


carregado até a borda com macarrão rotini. Meu olhar permaneceu
direto em Molly enquanto eu farejei profundamente. — Mmmm, o
molho cheira tão bem, não é?

Seus olhos se estreitaram. Enfiei tudo na minha boca e


gemi. Molly pegou seu próprio garfo e espetou sua salada como se
fosse uma pequenina boneca vodu Isabel.

O noivo da minha irmã, Noah, esfregou as costas dela e


colocou um pequeno pedaço de pão em seu prato. — Você pode
comer alguns carboidratos, Molly.

— Sim, Molly — eu disse — você pode comer carboidratos.

Ela jogou o pão em mim e eu o peguei com uma risada.


Paige suspirou. — Isabel, não cutuque o urso sem
carboidratos.

Ela apertou a mandíbula, minha irmã feliz, gentil e amigável


que estava com tanta raiva e sem carboidratos que parecia estar
planejando minha morte. — Fácil para você dizer, você malha para
viver. — Então ela olhou ao redor da mesa. — Oh, meu Deus,
metade das pessoas aqui malham para viver. Isso é besteira — ela
resmungou, espetando um pedaço de aspargo.

Ela não estava errada.

Logan ergueu a mão. — Não me inclua nisso. Os treinadores


não precisam estar em forma.

— Você com certeza espera que seus jogadores estejam, no


entanto — Noah resmungou entre mordidas em seu próprio
macarrão.

Logan exalou feliz. — Ótimo condicionamento hoje, não foi,


Griffin?

Noah olhou longamente para ele.

— Falando em pessoas que malham para viver — falei — onde


está Bauer?

Claire suspirou. — Ele está em Vancouver para um


treinamento que não poderia perder.

Eu segurei meu punho sobre a mesa. — Ei, agora eu não sou


a única solteira no jantar de família.
Ela bateu no meu punho. Nosso sobrinho, o filho de dez anos
de Logan e Paige, Emmett, zombou. — Eu sou solteiro
também. Muito obrigado.

Claire deu um soco nele, e eu me estiquei para fazer o mesmo.

Paige sorriu por cima da borda de sua taça de vinho. — Este


é o mais próximo que tivemos de ter todo o zoológico em uma única
mesa em tipo... um ano.

— É por isso que está tão alto? — Logan perguntou.

— Sim — Claire e eu respondemos.

Da cozinha, Lia caminhou em direção à mesa, equilibrando


dois pratos nas mãos. Atrás dela estava seu namorado, Jude,
carregando um adormecido Gabriel. Ele olhou ao redor da mesa. —
Alguém quer um bebê dormindo?

Paige, Molly e eu levantamos nossas mãos.

Jude lançou um olhar cético para nós três e ergueu o queixo


para Molly. —Sua vez, então.

— Rude — Paige murmurou.

Eu fiz uma careta. — Você só está escolhendo-a porque ela


tem aquele olhar como se ela fosse cortar você.

Noah se engasgou com a comida. Molly se recostou na


cadeira, Gabriel aninhado na curva de seu braço, com um sorriso
feliz no rosto. — Eu mal posso esperar até que você fique noiva
algum dia, Iz, e veremos como você se comportará quando estiver
a alguns meses de seu casamento e não quiser que o pão te deixe
inchada porque você encomendou seu vestido apenas um pouco
pequeno demais por acidente.

Isabel Ward Hennessy. Isabel Hennessy. Isabel e Aiden para


sempre.

Se eu fechasse os olhos, poderia ver os rabiscos com tinta


roxa na minha cabeça. Esse maldito diário pode não estar na caixa
de metal, mas provavelmente ainda estava no meu antigo quarto
e, oh, meu Deus, eu queria ir encontrá-lo e queimá-lo.

Posso nunca enviar esta carta, mas você iria ao meu baile de
formatura comigo? Eu tenho um vestido roxo claro que meu irmão
comprou comprei para mim. E eu amo margaridas, se você quiser
me dar um buquê feito delas. Apenas se você quiser.

Desligar meu cérebro teria sido adorável, porque meu rosto


imediatamente ficou quente. Depois disso, o rosto de Aiden foi o
que apareceu na minha cabeça como um idiota. E minha irmã
mais velha percebeu imediatamente. — Que cara é essa?

— Nada. — Enfiei outro pedaço de macarrão na boca. —


Reação física involuntária com a ideia de desistir de carboidratos.

Ela revirou os olhos.

Eu podia sentir o peso do olhar de Paige na lateral do meu


rosto, e foi por isso que a ignorei.

Em algum momento, eu sempre soube que a pessoa certa


enfiaria o pé na porta proverbial antes que eu pudesse fechá-la.

Mas teria que ser um pé grande. Sem trocadilhos. O


pensamento de pés grandes e mãos grandes e grandes... braços
me fez enfiar comida na boca novamente. Era difícil imaginar como
todo mundo parecia ter tanta facilidade para deixar isso acontecer,
se abrir e simplesmente ser normal.

Mas porque era comigo, claro que não era tão fácil.

O primeiro cara a girar todos os interruptores certos era em


parte fantasia, em parte realidade proibida, e totalmente perfeito,
pelo que podia ver.

— Como está o novo chefe, Iz? — Logan perguntou.

Aquela massa deliciosa se transformou em cinzas na minha


boca porque não havia como ele estar seguindo meus
pensamentos. Foi a minha vez de olhar furiosa agora.

— O quê? — ele perguntou. — Não estamos falando sobre


isso?

Paige sufocou uma risada.

Ele suspirou. — Você deveria me dizer quando não tenho


permissão para perguntar coisas — disse ele à esposa.

Molly riu. — Iz está apenas sensível porque ela tinha uma


queda furiosa por ele quando ele começou a lutar.

— Eu não tinha — protestei, mas foi fraco na melhor das


hipóteses. Eu também não teria acreditado em mim.

Lia riu. — Você costumava cortar a foto dele da Sports


Illustrated e colá-la atrás da porta. Você nos contou depois que ele
esteve na academia pela primeira vez.
Com as mãos tremendo enquanto agarrei meu prato, levantei-
me da mesa. Prefiro enfrentar um pelotão de fuzilamento do que
esse tópico. — Sabe, acho que acabei de comer.

Paige deu um tapa em Lia. — Devemos lembrá-la de


quem você costumava prender na parede?

A risada dela diminuiu. Todos nós nos lembramos da fase de


Bieber-com-o-cabelo-comprido que Lia e Claire passaram. Durou
sólidos dois anos.

— Meus tímpanos ainda estão se recuperando daquele


período — Logan murmurou.

Jude cantarolou. — Kate Winslet para mim. Eu a conheci em


um jantar há alguns anos, e quase desmaiei quando ela apertou
minha mão.

— Viu? — Fiz um gesto para Jude. — Não sou só eu.

Molly roubou um pedaço de pão do prato de Noah, apontando


o dedo para mim quando acabou de mastigar. — Ele é seu chefe,
no entanto. Sua capacidade de separar seus sentimentos passados
é vital se você pretende manter os limites profissionais.

— Tá falando sério? — perguntei.

— O quê?

Noah olhou para ela. — Olha quem fala. Preciso lembrá-la de


como nosso passado nos afetou no trabalho?

As bochechas de Molly ficaram rosadas. — Não.


Eu dei a ele um sorriso. — Obrigada, Noah. Você é meu quase
cunhado favorito.

— Eu sou seu único quase cunhado.

Jude ergueu a mão. — Olá, estou sentado bem aqui.

Meu irmão deu a ele um olhar neutro. — Há um anel no dedo


de Lia que não vemos?

Sabiamente, Jude não discutiu. Ele apenas deslizou o braço


em volta da minha irmã mais nova, que sorriu em sua direção.

Colocando meu prato na bancada da cozinha, tentei ignorar


a maneira como Paige estava olhando para mim da mesa. Ela nem
estava tentando esconder, e quando Logan sussurrou algo em seu
ouvido, ela sorriu, mas seus olhos permaneceram fixos em mim.

Ela via muito. Desde o dia em que ela apareceu em nossas


vidas, ela teve essa habilidade incrível de ver através de mim como
se eu fosse feita de filme plástico. Eu odiava isso. E eu precisava
disso.

Minhas irmãs, por alguma razão, e embora me amem


eternamente, nunca tiveram o mesmo talento. Elas viam a mesma
coisa que todo mundo via. Isabel, a irmã intimidante. Isabel,
aquela com quem você não mexe. Isabel, aquela que lutaria contra
o mundo se alguém mexesse com sua família.

Mas, de vez em quando, eu me perguntava como elas não


podiam ver o que havia por trás de tudo isso.

Às vezes, eu sentia que tudo de realmente bom que eu poderia


oferecer a alguém estava revestido de metal e preso sob a
superfície. Mesmo eu não tinha certeza de como abrir a
tampa. Aiden, e tudo mais, fez com que percebesse por quanto
tempo fiquei contente com isso.

Enquanto eu limpava meu prato, Paige se levantou em


silêncio e se juntou a mim na cozinha. Cutucando-me com o
ombro, ela se inclinou para sussurrar: — Fale comigo.

— Sobre o quê?

Ela suspirou. — Vamos jogar aquele jogo em que você age


como se não houvesse nada de errado? Apenas diga-me se vamos
e colocarei minhas calças teimosas.

Peguei seu prato e enxaguei, colocando-o na máquina de


lavar ao lado do meu. — Só não sei o que elas querem que eu
diga. Sim, a Isabel adolescente tinha uma... queda por ele. Eu não
posso mudar isso, mas não significa nada agora.

Mentirosa, mentirosa.

— Então por que você parece querer se teletransportar para


fora daqui quando elas perguntam sobre ele?

Fechei a máquina de lavar louça e encostei-me ao


balcão. Com um encolher de ombros, eu dei a ela um olhar
desamparado. — Porque eu quero. E eu só... ugh. Tudo isso me faz
sentir tão... — estremeci.

Paige me estudou, balançando a cabeça lentamente enquanto


eu falava. — Ele faz você se sentir fora de equilíbrio e fora de
controle, o que você iria odiar. Pensando bem, acho que nunca vi
você ficar assim por causa de um homem.

Com um gemido, cobri meu rosto com as mãos. — Podemos


parar de falar sobre isso?
Ela riu. — Está bem, está bem. Terminei.

Logan se juntou a nós. — Desculpe, Iz, eu não sabia que esse


era um assunto proibido.

Que escolha de palavras interessante. Aiden era certamente


isso.

Algo que eu queria, mas não podia ter. Pelo que eu sabia, ele
ainda não tinha superado a morte da esposa. Que, segundo todos
os relatos, era linda e gentil. Sua namorada do colégio, do artigo
que li um dia quando me senti um pouco sentimental. Ele estava
recomeçando, cuidando de sua filha e, mais do que provavelmente,
permaneceria como estava. Um participante ativo em todas as
minhas melhores fantasias até que eu superasse isso um
dia. Esperançosamente.

— Está bem — suspirei.

Ele olhou para Paige. — Você perguntou a ela sobre Emmett?

— O que sobre Emmett? — perguntei.

— Paige quer ir ao jogo fora de casa em Tampa — disse meu


irmão. Paige deu a ele um olhar que o fez sorrir.

— Você não pode, com o contato visual? — indaguei.

Paige riu. — Você seria capaz de ficar com Emmett por alguns
dias? Ele tem um evento escolar numa sexta-feira que não pode
perder.

— Certo. Quando é o jogo?


Enquanto eu rolava pela agenda do meu telefone, ele nomeou
a data de meados de setembro. — Molly vai ao jogo também?

Paige balançou a cabeça. — Ela não quer usar nenhum tempo


de folga tão perto do casamento. Acho que ela vai sair para
trabalhar, de qualquer maneira.

Como já havíamos zombado dela implacavelmente sobre isso


quando ela começou a planejar, eu levantei minha voz quando
respondi. — Sim, que tipo de noiva planeja um casamento em
outubro em uma família de atletas?

Molly levantou a voz de volta. — Eu sabia que era uma


semana de folga, ok? Você tenta reservar o local dos seus sonhos
quando metade das pessoas da sua família pratica algum tipo de
esporte profissional.

Paige riu.

Ela não estava errada. Fazer malabarismos com os horários


de minhas irmãs e de seus entes queridos era um pesadelo.

— Lia vai estar fora em um jogo com Jude, e Claire vai ficar
em Vancouver com Bauer enquanto ele treina.

Eu descartei as explicações de Paige. — Está bem. Tempo de


sobra para solicitar o fim de semana de folga.

— O cara novo não vai se importar? — ela perguntou.

Meu olhar ficou preso no meu telefone. — Eu não posso ver


por que ele o faria.

Emmett correu para a cozinha e jogou o prato na pia com


estrondo. Paige revirou os olhos.
— Eu vou ficar com você quando eles partirem, Iz?

— Acho que ficaremos aqui se estiver tudo bem.

Ele assentiu. — Totalmente. Seu apartamento é tão chato.

— Não é. Simplesmente não exijo mais de setenta centímetros


de espaço na parede para assistir televisão, como algumas pessoas
que conheço. — Eu dei uma olhada para Logan.

— Sim — Emmett disse — é por isso que é uma merda. Você


mora lá há dois anos e assiste tudo em seu laptop pequeno.

Paige o empurrou para fora da cozinha. — Vá fazer sua lição


de casa antes que ela mude de ideia, seu pequeno punk.

— E pare de dizer uma merda — Logan falou depois de suas


costas recuando.

— Se isso é o pior que ele diz aos dez anos, ele está melhor do
que nós — eu o lembrei.

Ele esfregou as têmporas. — Ouço atletas xingando o dia todo


no trabalho e, às vezes, acho que a pior linguagem que ouvi veio
de vocês quatro enquanto cresciam.

— É por isso que você nos ama.

— E é por esse amor que estou ficando prematuramente


grisalho — ele suspirou.

Paige deu um tapinha em seu estômago. — Minha sexy


raposa prateada — ela ronronou, inclinando-se para um beijo.
Eu poderia lidar com DPA4 de cerca de 2 por cento da
população, mas quando ele agarrou a bunda dela, eu estremeci.

— E com isso — eu disse, saindo da cozinha com uma mão


cobrindo meus olhos. — Tchau a todos — acenei para o grupo na
mesa.

— Você já está indo embora? — Molly perguntou com um


beicinho. Não escapou da minha observação que Noah havia
lentamente arrancado pedaços de seu pão a ponto de ela comer
toda a sua fatia. Não admira que ela estivesse mais legal agora.

— Estou exausta — respondi a ela. — E eu tenho que dar três


aulas amanhã sem Kelly.

— Eu vou malhar com você — Molly disse depois de me soprar


um beijo.

— Ok. Basta enviar uma mensagem de texto para que entre


na programação. Não quero que mais ninguém me reserve um
horário que funcione para você.

Lia fez uma careta. — Aw, eu estava esperando que


pudéssemos examinar as caixas depois do jantar e encontrar toda
a sua parafernália de Aiden.

O olhar que eu dei a ela fez Lia gargalhar, mas, honestamente,


se ela queria uma garantia de que eu sairia correndo de lá, ela
tinha acabado de conseguir.

4 Demonstração pública de afeto.


Porque em algum lugar subindo as escadas, ela poderia
encontrar se ela procurasse bem. A caixa de metal, com aquela
maldita carta, estava no quarto de hóspedes, sem dúvida debaixo
de uma pilha de livros e papéis que Paige se recusava a
organizar. Por um momento, olhei para as escadas e pensei em
contrabandeá-la para fora.

Talvez destruir a carta, ver a que nível ridículo estava


obcecada por ele, iria purgá-lo do meu sistema e eu poderia voltar
ao normal. Soou tão bem

E tão terrível.

Eu disse o resto do meu adeus e recebi um aperto extraforte


de Paige. Mas antes de sair de casa, parei e, sem tentar pensar
demais, subi as escadas de dois em dois degraus, indo direto para
o quarto de hóspedes. Estava uma bagunça, mas na grande
estante de livros no fundo do quarto, cercada por móveis
sobressalentes, roupas que precisavam ser doadas, pilhas de
brinquedos e toda a merda que havíamos acumulado ao longo dos
anos, vi a borda preta de metal do cofre.

Prendendo a respiração, enrolei minha mão em torno dele e


deslizei para fora da pilha de livros que havia escondido a maior
parte dele. Era mais pesado do que eu me lembrava e, quando o
apertei contra o peito, desejei poder ligar para minha vó e contar a
ela sobre Aiden. Ela não era minha parente desde que Logan e eu
não tínhamos a mesma mãe, mas de todas as maneiras que
importavam, ela nos colocou sob sua proteção depois que meu pai
- seu ex-marido - morreu.

Ela gostaria de saber tudo sobre o que eu mantive na caixa


nos anos desde que a deu para mim. E porque eu queria esconder
isso de todos os outros.
Com a caixa em minha posse, soltei um suspiro de alívio e
desci levemente os degraus, escapando pela porta da frente antes
que alguém percebesse que eu tinha subido lá.

O ar da noite estava quente e perfumado enquanto eu


caminhava para o meu carro. A caixa foi para o banco do
passageiro e, por um momento, eu a estudei como se não tivesse
certeza do que era ou como ela foi parar lá.

Meu polegar traçou o círculo pesado de ouro onde a chave,


colada no fundo da caixa em um saco de sanduíche, iria deslizar
no lugar. Com a minha sorte, a coisa enferrujou e eu passaria o
resto da minha vida sabendo que minha eu adolescente nunca
poderia se livrar totalmente das evidências de minha paixão por
Aiden Hennessy.

Talvez eu queimasse a maldita caixa inteira nesse caso.

Assim que o pensamento cruzou minha mente e eu percebi o


quão louco isso me fez soar, meu telefone começou a
zumbir. Quando o retirei, não reconheci o número na tela, mas
parecia familiar o suficiente para atender.

— Olá?

— Estou procurando Isabel Ward — disse uma voz masculina


desconhecida.

— Posso perguntar quem está ligando?

Ele fez uma pausa. — Sim, aqui é Carl da Punch Fitness. É


Isabel?

Eu franzi meus lábios por um segundo. A Punch era uma das


nossas maiores concorrentes. Nunca tivemos um relacionamento
ruim com eles, por si só; nós apenas dirigimos um estilo diferente
de academia. E nenhuma vez, em todos os meus anos de trabalho
para Amy, o proprietário jamais me procurou.

— Sim. Como posso ajudá-lo, Carl?

— Eu realmente não sei como dizer isso de outra forma que


não seja sem rodeios, mas ouvi sobre o novo dono e estou me
perguntando se você está procurando por uma mudança.

Minha cabeça recuou. — Você quer me contratar?

Ele riu do meu tom incrédulo. — Sim.

— Você nem me conhece — eu apontei.

— Não, mas estou ciente de sua reputação. Você parece


alguém que não tolera besteira, e eu gosto disso. Portanto, não vou
fazer rodeios. Tivemos uma sobreposição suficiente de membros
nos últimos cinco anos, desde que ouvi falar de você. E tudo o que
ouvi é bom, mesmo que seja ruim.

Se eu mantivesse o jeito que estava agindo, tudo o que ele


saberia sobre mim é que tropecei no ar, caí de sacos e fantasiei
com meu chefe.

— Obrigada — eu disse secamente.

— Quero dizer, se as pessoas têm problemas com a forma


como você administra as coisas, é provavelmente porque elas a
irritaram e você as responsabilizou. É assim que eu também faço
as coisas.
Passei a mão pelo rosto e não pude ignorar a maneira como
meu coração estava disparado em meu peito. Isso não era algo que
eu esperava.

As surpresas, assim como a mudança, não me agradavam.

A ideia de deixar meu emprego, aquele prédio e meus colegas


de trabalho causou uma dor real. Eu sangraria imediatamente se
tentasse pará-la. A caixa de metal rangeu e gemeu em protesto
contra a ideia de arrancar todas as coisas que me fizeram ser eu,
e quanto disso estava enraizado no prédio onde eu trabalhava. A
mudança assumiu uma forma diferente, algo que eu não poderia
ter imaginado quando Aiden mostrou seu rosto. Então respondi o
mais honestamente que pude, sem enganar esse cara.

— Eu não estava pensando em deixar Wilson's.

— Mas não é mais Wilson's, é?

Exalando lentamente, bati meus dedos no volante. — Não é,


mas ainda é o lugar que eu amo. E agora não tenho intenção de
sair.

Ele cantarolou. — Bem, se você mudar de ideia, você tem meu


número.

Com a ligação finalizada, meu cérebro girando em uma


velocidade desconfortável sobre o que tudo isso significava,
coloquei meu telefone de volta na minha bolsa e liguei meu carro.
No dia seguinte, tudo no trabalho parecia diferente.

Ou talvez o trabalho fosse o mesmo, mas eu o estava


observando por uma lente diferente. O telefonema surpresa da
noite anterior me manteve acordada por horas enquanto eu olhava
para o teto e tentava imaginar uma realidade que não incluía as
quatro paredes do ginásio que era minha segunda casa.

Comecei a pensar nas coisas que eu mudaria, se pudesse.

Não gostava da maneira como as máquinas de peso e cardio


estavam dispostas, mas Amy sentia que era importante manter
uma separação dos sacos. Havia muito espaço morto em torno do
ringue central e a recepção deveria ser orientada de forma
diferente. Tínhamos pedido repetidamente por banheiros
completos, mas o investimento nunca valeu a pena na época.

Mais de uma vez naquele dia, estive olhando para aquele lado
do ginásio, reorganizando as coisas mentalmente.

Precisávamos de mais funcionários, infelizmente em dias


como aqueles em que eu estava no meio, enquanto envolvia
minhas mãos para a minha terceira aula de uma hora do
dia. Minha garganta estava pagando o preço tanto quanto meu
corpo porque, embora tivéssemos microfones, ainda era uma hora
sólida de gritos sobre a música. E meu corpo, bem... basta dizer,
eu estava tentando ir com calma para poder me mover no dia
seguinte.

Enquanto estava conversando com os clientes, estiquei meu


braço sobre o peito e peguei um movimento no escritório de Aiden.

Ele havia sumido o dia todo e, por isso, eu estava grata.

Se eu tivesse começado o dia com água saindo do meu nariz,


caindo de cara no chão, tropeçando em cordas ou algo assim, eu
poderia ter pensado na oferta de Carl por mais tempo.

Seu corpo alto preencheu a porta, e quando seu olhar travou


no meu, senti minhas bochechas ficarem quentes.

Minha reação implorou a pergunta, uma que eu não queria


pensar. Eu poderia sair simplesmente por causa da minha reação
a ele?

Nunca fugi de um desafio em toda a minha vida. Nenhum que


importasse.

E se eu aceitasse esse outro trabalho, era o que estaria


fazendo. Mesmo quando eu não o via, imaginava seus olhos em
mim.

Eu deixei cair meus braços e meu olhar porque ele ainda


estava longe o suficiente de mim para que eu fosse imune à sua
presença.
Não deveria significar uma merda, no entanto, não quando
ele me conectou a alguma rede elétrica invisível. Mesmo com as
poucas interações que tivemos até agora, aquele homem tinha
todos os tipos de partes ocultas de mim acesas.

Prendendo a bateria na minha legging, liguei o microfone.

— Dois minutos até começarmos, pessoal. Certifiquem-se de


que estejam aquecidos, pegue uma bebida, o que precisarem. Eu
não dou intervalos para tomar água na minha aula, então cabe a
vocês se manterem hidratados, ok?

Fui até a parede onde o sistema de som estava montado em


grandes suportes e bati o iPad no suporte na parede, puxando a
lista de reprodução que eu queria usar.

Ao longo da borda do ginásio, Aiden caminhou lentamente,


conversando com um de nossos membros de longa data. Mas eu
senti seus olhos em mim enquanto eu conduzia a classe durante
o aquecimento. Meu sangue zumbia quente e rápido sob minha
pele, e eu me encontrei com mais energia do que nas aulas
anteriores do dia.

Enquanto eu caminhava ao redor dos sacos, gritando


combinações e instruções para as trinta pessoas presentes, foi a
primeira vez que senti um tipo diferente de energia percorrendo
meu corpo enquanto Aiden estava por perto. Era algo poderoso,
algo que rondava e ronronava.

O que me permiti em seguida foi estúpido. Tão estúpido. Mas


enquanto ensinava, deixei minha mente disparar. Um cenário
diferente se desenrolou em minha cabeça com a batida pesada e
pulsante da música. Enquanto todos continuavam se exercitando,
enquanto as pessoas enchiam o prédio, ele fez um gesto para que
eu entrasse em seu escritório. Sem dizer uma palavra, ele fechou
a porta atrás de nós, se aproximando de mim silenciosamente,
deslizando sua mão contra meu quadril para desligar o microfone,
e então eu estava contra a porta, suas mãos duras, sua boca
exigente, e com o baixo batendo, ele me levou dessa forma. Cobriu
minha boca para que ninguém ouvisse.

Mas não foi real.

No momento em que terminei a aula, conduzindo todo mundo


através de relaxamento e alongamento, eu estava suada e
desgrenhada, o cabelo grudando na minha nuca quando minha
trança começou a se desfazer com meu esforço e minha
imaginação. Os clientes me agradeceram pela aula, e depois de
limpar seus sacos e pegar suas coisas, o ginásio lentamente se
esvaziou, exceto por algumas pessoas nas máquinas.

A essa altura, minha frequência cardíaca havia diminuído e


minha mente havia se acalmado.

Uma aluna, uma jovem de rosto alegre, se aproximou de mim


com um sorriso hesitante.

— Casey, certo? — perguntei.

Ela acenou com a cabeça. — Eu realmente gosto das suas


aulas. Você sempre me pressiona mais do que os outros
instrutores. Acho que é porque você é mais assustadora.

Eu ri. — Obrigada, eu acho.

— Você costuma fazer treinamento de autodefesa?

Eu concordei. — Sim, a configuração dessas aulas é para


exercícios aeróbicos, mas se você quiser algo específico, posso
agendar comigo ou com um dos outros treinadores.
— E-eu acho que prefiro uma treinadora — ela disse
calmamente.

— Claro — suavizei meu tom. — É bom saber alguns


movimentos, não é?

Os olhos de Casey estavam arregalados em seu rosto, e


quando ela balançou a cabeça lentamente, eu queria destruir
qualquer pessoa ou qualquer coisa que a tenha feito sentir que
precisava saber como se defender.

— Quanto custam as sessões de treinamento? — ela


estremeceu. — Orçamento de estudante universitário,
sabe? Peguei sua promoção de cartão perfurado no mês passado,
mas não sei se posso pagar mais alguma coisa.

Olhei por cima do ombro e não vi Aiden. — Vou te dizer uma


coisa, você tem alguns minutos agora? Eu ficaria feliz em repassar
alguns princípios básicos.

— Mesmo? — ela suspirou.

— Sim. Deixe-me me livrar deste microfone e pegar um pouco


de água.

Enquanto conectava a bateria ao carregador, soltei um


suspiro lento. Não foi a primeira vez que tivemos uma jovem
pedindo aulas de autodefesa, mas algo sobre seus grandes olhos
castanhos e natureza hesitante fez minhas rodas girarem.

Talvez uma aula mensal ministrada por mim ou Kelly com


alguns outros treinadores ajudando nas demonstrações. Eu teria
que perguntar a Aiden se ele estaria bem com algo assim. Ideias
de como poderíamos nos conectar com a Universidade de
Washington e outras faculdades locais vinham surgindo cada vez
mais rápido na minha cabeça.

Voltei para onde ela estava esperando, com os braços


cruzados sobre o estômago. — Preparada? — perguntei.

Ela acenou com a cabeça.

— Ok, deixe seus braços caírem ao seu lado e respire fundo


por mim. — Eu balancei a cabeça quando ela obedeceu. — Vou te
mostrar um pouco agora, e não é nada que exija que você seja mais
forte do que um atacante, ok? Os movimentos de autodefesa mais
básicos não exigirão que você fique e lute. O objetivo é fugir com
segurança.

Seu peito subia e descia rapidamente, mas ela estava


ouvindo.

Eu apontei para as sacolas. — Portanto, tudo o que acabamos


de fazer em sala de aula é ótimo para exercícios. É ótimo saber o
básico de como dar um soco eficaz e usar a parte inferior do corpo
a seu favor, mas você não vai acertá-los com um golpe cruzado e
um chute cruzado, certo?

Casey soltou uma risada. — Espero que não. Minha força da


parte superior do corpo sempre foi muito fraca de qualquer
maneira.

— Tudo bem — eu assegurei a ela. — Se você se sentir


confortável com isso, gostaria que agisse como o agressor agora, e
vou lhe mostrar algumas coisas.

— O que devo fazer?


Do canto do meu olho, mas fora da linha de visão de Casey,
eu vi Aiden inclinar seu grande corpo contra uma das vigas de aço
que sustentavam todas os sacos. Seu rosto estava curioso, mas ele
não fez nenhum movimento para interromper.

Eu engoli, deslocando-a para que ficássemos de frente uma


para a outra. — Vamos começar como se alguém se aproximasse
de você e tentasse puxar seu braço em direção a ele, então por que
você não agarra meu pulso.

Suas mãos ainda estavam enroladas da aula, e


hesitantemente, ela enrolou os dedos em volta do meu pulso.

— Bom. — Eu segurei seus olhos. — Agora sinta como vou


colocar minha mão sobre a sua. Não se trata de arrancar meu
braço de seu controle. É sobre retomar o controle.

Envolvi minha mão sobre a dela e empurrei um pouco para


baixo, seu corpo se moveu em minha direção e eu balancei o braço
que ela estava segurando para baixo e ao redor, para que eu
pudesse usar essa mão para agarrar seu antebraço. Depois de
fazer isso, a parte superior de seu corpo foi forçada a se afastar de
mim e eu empurrei suavemente. Quase imediatamente, ela caiu
sobre um joelho.

— Uau — ela riu.

— Agora tente se levantar — falei, a mão ainda segurando seu


braço na posição.

Ela não conseguiu.

— Viu? Não estou tentando dominar ninguém. Eu só quero


me colocar em uma posição onde possa me soltar e escapar. Então,
agora que você está caída assim, vou soltar e correr.
Casey se levantou, seus olhos brilharam de excitação. — Você
pode me mostrar de novo?

Um pouco mais devagar, repassei mais duas vezes até que ela
sentiu que poderia experimentar em mim.

Nós invertemos as posições, e depois de uma correção de


como ela estava segurando minha mão, ela me colocou de joelhos,
o corpo virado para longe dela.

— Excelente — eu disse a ela. — Vamos fazer isso mais uma


vez e passaremos para outro movimento.

Casey foi muito bem, empurrando-me para baixo e para longe


dela com mais facilidade, e seu sorriso era largo quando eu me
levantei.

— Ok, o que você acha de me agarrar pela minha


trança? Posso mostrar uma maneira muito fácil de escapar se
alguém agarrar seu cabelo.

Imediatamente, seu rosto ficou pálido. — Eu... eu não sei.

Eu levantei minhas mãos. — Não faremos nada que a deixe


desconfortável, eu prometo.

Ela cruzou os braços sobre o estômago novamente. — Eu


poderia pegar o seu bem, eu acho, eu só... eu não posso fazer isso...
— sua voz falhou e ela gesticulou vagamente para seu próprio rabo
de cavalo. Casey fechou os olhos com força. — Eu não fui tipo...
atacada ou algo assim. Era apenas um cara bêbado em uma festa
e ele ficou um pouco descontrolado.
Meu coração se partiu enquanto ela procurava as palavras, e
toda aquela fúria ardente que eu senti antes voltou rugindo. —
Você não precisa me dizer se não quiser.

Atrás dela, vi Aiden deixar cair o queixo em seu peito, que se


expandiu em uma inspiração profunda.

Respirei fundo para me acalmar. — Você se importaria se eu


trouxesse alguém que possa mostrar como isso funciona?

Casey piscou, parecendo incerta.

— Ele só vai agarrar meu cabelo — eu prometi. — Ele não vai


tocar em você, ok? Ou podemos fazer outro movimento também.

— Não — ela disse. — Eu posso assistir. Obrigada, Isabel.

Eu coloquei a mão em seu braço e apertei. Meu olhar


encontrou o de Aiden e levantei meu queixo. — Você poderia me
ajudar um segundo, por favor?

Ele se afastou da viga e se aproximou, e eu tive que fechar


meus dedos em um punho quando senti o menor tremor de nervos.

Casey deu-lhe um sorriso rápido e tenso, e ele respondeu com


um pequeno aceno de cabeça.

— Casey, este é Aiden. Ele é o dono.

Ela acenou. — Oi. Desculpe por ser uma covarde sobre isso.

Ele abaixou a cabeça porque ela era muito mais baixa do que
ele. — Nunca se desculpe, ok? É difícil deixar alguém colocar as
mãos em você, mesmo que seja apenas para praticar.
Eu tive que lutar contra o desejo de não pensar em algo
injusto como, oh, que se dane ele por dizer algo tão perfeito. Eu
não queria que Aiden dissesse e fizesse coisas perfeitas. Eu queria
que ele estragasse tudo. Fizesse algo que me deixasse
louca. Fizesse algo que me fizesse querer ligar de volta para Carl e
dizer que aceitava sua oferta de emprego.

E era isso. Eu não queria aceitar a oferta de emprego de


Carl. Eu só faria isso se tivesse um motivo muito, muito
bom. Enquanto Aiden me encarava, olhos verdes fixos em meu
rosto, eu tive que fazer as pazes com o fato de que ele tirando
minhas emoções do controle não era um bom motivo.

Imaginar nós dois juntos não era um bom motivo.

Imaginar se ele teria algum espaço em sua vida, seu coração,


para alguém novo também não era o suficiente.

Reconhecer isso foi o suficiente para acalmar algo frenético


dentro de mim. Confiar em que sabia que era certo ficar, mesmo
que demorasse para superar isso, permitiu respirar mais fácil.

— Aiden vai agarrar meu cabelo, ok? — eu disse a Casey,


embora meu olhar não se movesse do dele. — E eu quero que você
observe como eu movo meu braço.

Ele não fez nenhum movimento rápido, nada projetado para


surpreender. Quando seu braço se ergueu, mudando os músculos
sob o algodão de sua camisa, foi um pouco mais difícil respirar. As
costelas se contraíram quando a espessa coluna de sua garganta
se moveu em um gole pesado. Porque eu tinha acabado de nos
imaginar tão claramente, havia um borrão na minha cabeça do que
era real e o que não era.
Antes de me tocar, ele hesitou. Nossos olhares se mantiveram
assim, e me perguntei o que ele viu em meu rosto.

Quando sua mão se enrolou em volta da minha trança, seus


dedos roçaram minha nuca. Estava tão claro, mal havia tocado,
mas estremeci mesmo assim.

E ele percebeu. Seus olhos se estreitaram ligeiramente.

Para o lado, Casey se moveu e eu pisquei.

Mudei minha atenção para ela. — Nunca tente puxar ou tirar


a mão deles do seu cabelo.

Ela colocou os lábios sobre os dentes, mas assentiu. Duas


manchas rosa brilhantes pontilhavam suas bochechas.

— Observe onde eu puxo para baixo, apenas pelo cotovelo.

Respirei fundo e balancei o braço que estava entre nós,


enganchando-o na parte superior de seu braço e puxando-o para
frente em forma de C grande. Aiden tropeçou para frente e avistei
o sorriso enorme de Casey.

Aiden ergueu uma sobrancelha para mim quando ele se


endireitou em toda sua altura, e com sua expressão, eu exalei uma
risada.

— Novamente? — ele perguntou. Seu tom era caloroso e meus


dedos do pé enrolaram em meus sapatos.

Eu concordei.
Ele agarrou meu cabelo novamente, seu aperto um pouco
mais firme. Fiz sinal para ele esperar. — Veja o que eu faço no final
agora. Isso é apenas se você sentir que precisa.

— Eu recebo um aviso do que você vai fazer comigo? — ele


indagou.

— Não.

Casey riu.

Sua mão apertou, minha pele zumbindo enquanto o fazia, e


eu balancei meu braço novamente - mais forte desta vez - e quando
ele tropeçou para frente, chutei meu pé na parte de trás de seu
joelho já dobrado, e ele imediatamente caiu para frente.

Casey bateu palmas. — Isso foi incrível.

Com um sorriso, dei-lhe um high five. — E eu não sou maior


ou mais forte do que ele, certo?

Ela balançou a cabeça.

Aiden se endireitou novamente, prendendo-me com um olhar


que quase, quase poderia parecer divertido. Algo leve e
borbulhante atingiu minha corrente sanguínea, e eu queria
desesperadamente segurar seu rosto em minhas mãos e beijá-lo
quando ele ficasse assim.

Com todo o controle de que fui capaz, afastei meu foco dele.

— Não se trata de lutar contra eles, Casey. Se solte e


escape. Isso é tudo com o que você precisa se preocupar.

— Obrigada — eu disse a ele.


— Acho que agora estamos quites — murmurou ele,
apontando para a viga de aço onde Anya estava empoleirada.

Eu balancei a cabeça bruscamente.

Ele deu um aceno rápido para Casey. — Ligue amanhã se


quiser marcar uma sessão de treinamento grátis com Isabel ou
Kelly, certo? É por minha conta.

— Obrigada — disse ela com fervor. — Cara, vocês são


incríveis.

Ele desapareceu do chão do ginásio e voltou para seu


escritório e, lentamente, meu coração voltou à velocidade normal.

Casey colocou a mão no meu braço. — Obrigada. Sério.

— Esse é o meu trabalho — eu disse a ela.

E era.

Ela acenou um tchau e eu me sentei na borda do ringue


central, encostada nas cordas quando o senti se aproximar.

Nenhum de nós disse nada, e eu tive que fechar meus olhos


para lutar contra a vontade de escapar. O desejo de ficar. Era uma
batalha constante quando se tratava dele.

— Ward — ele disse.

Lentamente, abri meus olhos. Eu queria ouvi-lo sussurrar


isso no meu ouvido.

Ele estava olhando para o estacionamento, onde Casey estava


saindo com seu carro da vaga. — Tudo o que você precisar para
colocar algumas aulas como essa no cronograma, faça acontecer.
Minha garganta estava apertada quando eu balancei a
cabeça.

— Se você quiser — acrescentou ele calmamente.

— Eu quero.

— Bom — ele exalou, os olhos pousando em mim por um


momento. Mas eu senti como se ele tivesse apenas passado as
mãos em volta do meu cabelo novamente, como se seus dedos
apertassem os fios e puxassem minha cabeça para trás.

Por um momento, ficamos em silêncio.

— Você deu muitas aulas hoje — disse ele.

Eu olhei para ele. — Eu normalmente não dou tantas assim.

— De quantas mais você precisa?

Ele aparentemente arrancou meu pensamento anterior da


minha cabeça, e depois de uma respiração profunda, eu disse: —
Mais duas deixariam as coisas mais confortáveis.

Aiden acenou com a cabeça. — O que mais?

— O quê?

— O que mais você precisa? — ele perguntou.

Eu soltei um suspiro. Que pergunta.

Contato visual intenso. Subtexto carregado. Vibrações de


sexo, não era assim que Emily chamava?
Não havia como ele sentir o que eu estava sentindo, e mesmo
se ele estivesse, eu tinha que ter transformado ao máximo na
minha estúpida cabeça virgem que nunca foi destrancada. Este
era um homem que teve um casamento inteiro com alguém bom. E
eu era a garota boba girando cenas em sua mente.

— Nada agora — eu respondi.

Se Aiden sentiu a necessidade de me empurrar, ele não o


fez. Mas ele me observou por mais um momento antes de assentir.

Ele se afastou e eu tive que fechar os olhos novamente,


permitindo que a sensação carregada se assentasse e depois
passasse.

Eventualmente, isso tinha que passar, eu disse a mim


mesma. Eu iria para casa naquela noite e pensaria sobre o que
tinha acontecido, manteria o cenário trancado em segurança onde
ninguém pudesse ver. Mas antes disso, eu o reproduzi na minha
cabeça e imaginei que se desenrolaria de outra maneira. Uma em
que estávamos sozinhos e ele estava me segurando no lugar para
fazer algo muito, muito diferente.

Naquele espaço seguro na minha cabeça, eu fingiria que ele


tinha os dedos cerrados no meu cabelo e sua respiração quente no
meu pescoço enquanto ele vinha por trás de mim. Meu coração
disparou, sentada lá no meio do ginásio, e tive uma imagem
visceral de Aiden segurando meu quadril com a outra mão. Meus
dedos se fecharam em punhos, um gesto impotente que não
consegui controlar enquanto o deixei passar por alguns segundos
egoístas.

O que eu pensei apenas alguns dias atrás? O contato pele a


pele poderia me causar orgasmo espontâneo. Bem,
aparentemente, eu tinha adormecidas fantasias sexuais
reprimidas com Aiden Hennessy como a porra da chave proverbial,
pronta para destrancá-las.

Aquele pequeno roçar de seus dedos ao longo da minha nuca


foi a maior ação que eu tive em alguns anos, e eu não deveria
querer fingir como esses dedos seriam em qualquer outra parte do
meu corpo. Eu realmente não deveria.

Mas quando me levantei e voltei para o meu escritório, acho


que, mesmo então, eu sabia que estava mentindo para mim
mesma.
— Você vai voltar em breve? — O telefone preso entre minha
orelha e meu ombro, acenei para os caras saindo quando eles
terminaram uma sessão de treinamento em grupo com Aiden.

Involuntariamente, meus olhos se voltaram para onde ele


estava limpando o equipamento que eles acabaram de usar. Cada
flexão de seu braço fazia meu corpo cantarolar uma pequena
melodia feliz. Deus, eu precisava de um hobby.

Ou um vibrador melhor.

Ou um cachorro.

Ou um novo cérebro.

Kelly suspirou, puxando minha atenção de volta para nossa


conversa. — O médico quer que eu não force meu tornozelo por
mais uma semana, depois posso tentar dar aula. Contanto que eu
não faça uma loucura.

— Boo.
— Eu sei.

Peguei a programação, olhando para a tela do computador. —


Eu provavelmente posso mudar o horário de algumas pessoas para
que ninguém fique sobrecarregado de cobrir você por mais uma
semana.

— Você não quer outro dia com três aulas? — ela brincou.

— De jeito nenhum. — Eu arqueei minhas costas, que ainda


estavam doloridas. — Não quando eu já tinha dado duas no dia
anterior. Estou muito velha para essa merda.

— Você tem vinte e cinco anos, Iz.

— Sim, mas minha atitude é muito, muito mais velha.

Aiden se aproximou da recepção, os olhos em um pequeno


pedaço de papel na mão. Seus braços ainda estavam suados da
sessão, e eu me perguntei - só um pouquinho - como eles se
sentiriam se eu passasse meus dedos pelas curvas de seus bíceps.

— Quantas pessoas você teve na aula ontem à noite? — A voz


de Kelly me tirou do meu pequeno festival de olhares, o que foi bom
porque, até agora, eu não fiz nada para me envergonhar. Minha
sequência atual parecia muito, muito impressionante,
considerando todas as coisas.

— Ummm, espere. — Cliquei com o mouse algumas vezes,


inclinando-me para ver os pequenos números. Talvez eu
precisasse de óculos. — Trinta.

— Oh, sua vadia, meu máximo é vinte e cinco para esse


horário.
Eu ri baixinho. — Mais alguma coisa, Kell? Preciso trabalhar
antes de uma sessão de treinamento.

— Não! Te amo, tchau.

Eu estava balançando minha cabeça quando desliguei. Os


olhos de Aiden voaram para o meu rosto enquanto ele colocava o
papel ao lado do telefone. — O tornozelo de Kelly está melhor? —
ele perguntou.

Eu concordei. — Ela não pode dar aula por mais uma


semana, mas eu devo conseguir cobri-la.

Aiden cruzou os braços sobre o peito. — Com que frequência


os treinadores se machucam assim?

— Não frequentemente — eu disse a ele. — Acho que ela


agravou uma lesão antiga.

Sem perceber o que estava fazendo, estiquei meu pulso e


flexionei minhas mãos. Ele percebeu.

— O que é?

Minha mão parou. — Oh. Nada. Ainda um pouco dolorida de


ontem.

Ele parecia que ia dizer alguma coisa, abrindo e fechando a


boca com um movimento leve e quase imperceptível de
cabeça. Muito lentamente, ele e eu estávamos pisando em terreno
mais neutro.

— Meu cotovelo — disse ele, após outra pausa. — Eu já super


estendi meu cotovelo mais vezes do que posso contar. O pior foi do
meu segundo até o último ano lutando. Cortez me pegou com uma
chave de braço e aquele idiota não largou. — Ele desdobrou a mão
e bateu na lateral de um polegar. — Fratura cominutiva em uma
das minhas primeiras lutas. Eu juro, ainda sinto isso às vezes
quando fica muito frio.

— Eu me lembro— eu disse baixinho antes que pudesse me


conter.

Ele me estudou cuidadosamente. — Você lembra?

Voltando a cadeira para o computador, comecei a clicar


aleatoriamente em... coisas. — Mais ou menos. Assistia muitas
lutas.

Meu pescoço ficou úmido de suor porque a lesão havia


encerrado a luta e, até hoje, eu me lembro de me preocupar com
sua luta futura depois que eles anunciaram que o osso havia
quebrado em dois lugares.

Não houve resposta dele, mas ele também não se afastou.

Não estávamos sozinhos no prédio. Cerca de meia dúzia de


pessoas estavam trabalhando no equipamento. Mas mesmo com
aquelas pessoas compartilhando espaço, eu tive
que me lembrar que não estávamos sozinhos. Desde que minha
megera escondida decidiu me bombardear com todos os tipos de
fantasias envolvendo nós dois e quartos escuros e outras coisas,
era quase impossível estar tão perto dele.

Com a quantidade de espaço perfeitamente razoável entre


seus ombros e os meus, parecia quase como se ele estivesse
enrolando uma corda lentamente. A corda, em minha mente, era
invisível para qualquer um além de mim, o que significava que eu
não poderia cortá-la, não poderia aplicar nenhum limite ao modo
como meu corpo queria balançar suavemente em sua direção.
— Você postou sobre as vagas abertas? — ele perguntou. A
clara mudança de assunto me fez respirar um pouco mais fácil.

— Sim. Já consegui alguns candidatos. — Eu trouxe a


programação de volta para que ele pudesse ver. — Mas, a menos
que alguém fique doente, estamos bem com isso até que Kelly
possa voltar.

Quando Aiden olhou para a programação que eu puxei no


computador, fechei meus olhos e soltei um suspiro lento.

Se eu pudesse passar um dia inteiro sem fazer algo estúpido,


sentiria que seria algo que eu poderia controlar. Se ao menos
minha imaginação cooperasse. Para uma virgem, minha
imaginação era muito, muito boa.

Quando abri os olhos, ele estava semicerrando os olhos para


a tela e isso me fez sorrir. Ele percebeu.

— Não consigo ver esses números minúsculos — ele


murmurou, inclinando-se sobre meu ombro.

— Nem eu — eu admiti.

— Molly Ward — ele disse baixinho, seu dedo batendo na tela


para a sessão de treinamento que eu coloquei no calendário. Seu
braço roçou o meu. — Parente ou coincidência?

— Minha irmã mais velha. — Eu dei a ele um olhar de


soslaio. — Ela pagou, se você está se perguntando.

— Eu não estava. — Ele se afastou da mesa, e eu me descobri


perdendo um pouco daquela tensão contida. — Você faz sua irmã
pagar, hein?
Eu exalei uma risada. — Ela pode pagar por isso.

Aiden olhou para o estacionamento, mas eu não poderia dizer


se ele iria falar mais alguma coisa pela maneira como ele se
segurou.

— Meus irmãos acham que deveriam poder malhar de graça


— disse ele. — Pensei em ser legal e dizer sim.

Minha atenção ficou na tela do computador enquanto eu


tentava decifrar o que ele estava tentando obter de mim. A
conversa fiada não era algo que tínhamos dominado. O que
tornava minha vida de fantasia ainda pior, quanto mais eu
pensava nisso. E não era que eu não quisesse saber sobre ele. Eu
queria. Mas era tão óbvio que quanto mais eu sabia sobre Aiden,
mais eu o queria.

Mas essa coisa tênue que estávamos fazendo andando em


uma estranha corda bamba de tensão não podia continuar.

Finalmente, eu olhei para ele. — Depende de quantos irmãos


você tem.

— Muitos.

Sua resposta seca me fez sorrir. Suas sobrancelhas caíram,


como se minha reação o confundisse.

— Amy já pensou em conseguir um sistema de alarme na


porta? — ele perguntou.

Com a mudança de assunto, minhas sobrancelhas se


levantaram. — Alguns anos atrás. Na época, não podíamos fazer
isso.
— Ok. — Ele olhou para um grande relógio preto em seu
pulso, e eu tive que lutar para não permitir que meus olhos
traçassem as veias que mapeavam seu antebraço. Eu queria
lambê-los como se fossem doces. — Eu tenho que ir buscar Anya
no meu irmão. Sua irmã estará aqui depois que terminar o horário
de funcionamento, certo?

Eu concordei.

Ele me lançou um olhar penetrante. — Tranque a porta da


frente.

— Trancarei — eu respondi calmamente.

Teria sido fácil dispensá-lo ou dizer que ficaria bem se


estivesse aqui com Molly. Que eu ficaria bem mesmo se estivesse
aqui sozinha. Teria sido fácil interpretar suas palavras como algo
mais profundo do que o valor real, como se fossem destinadas
apenas a mim, mas a dura verdade é que ele teria dito isso para
Kelly ou Emily. Ele teria dito isso aos nossos treinadores
masculinos também. Meu coração queria absorver suas palavras
e deixá-las trazer vida para o resto do meu corpo, mas meu orgulho
fechou a parede com força. Porque isso não ajudaria em nada.

Enquanto ele reunia suas coisas em seu escritório, eu me


mantive ocupada. Um dos nossos membros sinalizou para mim,
precisando de ajuda com seu exercício, então eu nem estava
olhando quando Aiden saiu. Ao terminar o horário de
funcionamento e a última pessoa sair, o sol do fim do verão ainda
brilhava no céu. Como a fachada de vidro da academia ficava
voltada para o oeste, era minha hora favorita para trabalhar tendo
a vista das janelas. Enquanto esperava a chegada de Molly, sentei-
me no chão com as costas apoiadas na mesa da frente e comecei a
rabiscar ideias para a aula de autodefesa.
Imersa nessas ideias, nas quais estive pensando por meses
antes de Aiden assumir o controle, nem percebi o carro de Molly
estacionando. Não a percebi até que abriu a porta da frente e
gritou: — Sinto muito pelo atraso.

Eu pulei, batendo a mão no meu peito. — Puta merda, Molly.

Ela me olhou. — Você não me viu entrar no estacionamento?

— Aparentemente não. — Joguei meu caderno de lado e me


levantei.

Seu cabelo estava caindo em um rabo de cavalo, seu peito já


brilhava de suor, e inclinei minha cabeça para o lado enquanto
estudava sua camiseta de treino. — A sua camisa está do avesso?

Ela olhou para baixo. — Ummm...

— Oh, meu deus. É por isso que você está atrasada?

Molly riu.

— Você sabe o que eu fico pensando?

— O quê?

— Vocês nem mesmo são recém-casados, e você e Noah já são


nauseantes. Como vai ser quando vocês estiverem realmente
casados?

Ela soltou um forte suspiro. — Por favor. Estamos


basicamente tendo nossa lua de mel antes do casamento. Ele
estava todo agitado depois do acampamento de treinamento hoje,
então... — Ela deu de ombros. — Tem que acabar com essa tensão
de alguma forma, sabe?
Não, claro que não.

— Honestamente, eu não quero pensar sobre você e Noah e o


tipo de atividades que vocês têm agora.

Molly riu de novo, sentando-se no banco em frente à janela


enquanto calçava os tênis. Enquanto ela não estava olhando,
estudei minha irmã mais velha. Fazia-me pensar em como seria a
sensação de ter alguém assim em sua vida.

E porque eu era eu... não perguntei.

— Onde estamos começando? — ela perguntou.

Eu pisquei. — Umm, eu tenho alguns exercícios de peso


corporal mapeados. Dia do braço hoje.

— Oh, que bom — ela murmurou.

Enquanto ela caminhava até onde as cordas e faixas estavam


dispostas no chão emborrachado, eu coloquei uma música.

Fizemos algumas coisas e, como sempre acontecia, trabalhei


ao lado dela.

Molly e eu estávamos ombro a ombro, passando uma bola de


exercício para frente e para trás depois de torcer para o lado,
quando fiz uma pergunta que, mais tarde, realmente gostaria de
não ter feito.

— Você conseguiu todos as suas confirmações de presença


de volta?

Com um giro, eu lhe entreguei a bola preta, e ela refletiu meu


movimento com uma careta. Meus quadris estavam queimando
enquanto eu agachava e esperava que ela a devolvesse. Mas
quando ela se virou para mim, eu peguei um olhar... apenas um
vislumbre de desconforto.

— O quê? — perguntei. Peguei a bola e girei novamente.

Quando estava nas mãos de Molly, eu me levantei. Ela fez o


mesmo, colocando a bola a seus pés.

— Nada.

Mas ela não fez contato visual quando disse isso.

— Molly.

— Isabel.

— Você deu uma olhada, e nem mesmo finja que não. Noah
ainda está nessa de vamos convidar todo o time?

Ela exalou uma risada. — Não. Muitos caras viajam durante


a semana de despedida de qualquer maneira. — Molly fez uma
pausa, seus olhos finalmente travando nos meus. — Mas
acabamos enviando um convite de última hora esta semana. E... e
eu não acho que você vai entender o porquê.

Minha cabeça recuou. — O que eu tenho a ver com isso?

Antes de responder, Molly se abaixou para pegar sua garrafa


de água e tomou um longo gole. No momento em que ela colocou
a água no chão, menos de dez segundos poderiam ter se passado,
mas pareceu uma hora.
— Sei que temos algumas dinâmicas familiares complicadas
— disse ela lentamente — sinto que não podemos evitar parte
disso.

Eu concordei. — Sim, eu sei. E Logan me disse que tínhamos


que ser legais com Nick, embora não os tenhamos visto nenhuma
vez desde que se mudaram para a Costa Leste — falei, referindo-
me ao nosso outro meio-irmão que era um idiota total. Felizmente,
era raro ter que encontrar ele e sua esposa. Durou cerca de um
minuto seu desafio a Logan pela nossa custódia quando éramos
mais jovens. Deus, que idiotas todas nós seríamos se ele fosse o
único a nos criar.

Os olhos de Molly procuraram os meus. — Eu não estava


falando sobre Nick.

— Ok. Quem?

— Noah e eu decidimos enviar um convite para o último


endereço conhecido de Brooke — disse ela, erguendo o queixo.

Minha pele ficou quente. — O quê? — sussurrei.

Ela acenou com a cabeça, e minha pele ficou gelada. A


mudança foi chocante, estimulante, e meu coração disparou no
peito. Eu me senti como se Molly tivesse enfiado um pé de cabra
na minha caixa torácica, me abrindo como se eu estivesse em uma
dobradiça.

— Não foi uma decisão fácil — disse Molly calmamente. —


Mas Noah concordou que era a coisa certa a fazer.

— Por que você a quer no seu casamento?


— Porque... porque isso é um grande negócio! Casamento é
muito importante. Estamos todos passando para esses capítulos
de nossas vidas e, para mim, pareceu um gesto apropriado,
considerando o quão feliz estou com Noah. — Molly colocou as
mãos nos quadris e exalou pesadamente. — Talvez eu esteja
lidando com isso da maneira errada.

— Talvez você não devesse ter convidado a mulher que nos


abandonou.

Mesmo para os meus próprios ouvidos, soou como uma


reação infantil, como o ato de despejar café no ralo, mas assim
como eu fiz com Aiden, a ideia de enfrentá-la também fez com que
a Isabel adolescente rugisse de volta no comando do meu
cérebro. Mas essa não era a Isabel adolescente que tinha paixões
e recortava fotos. Esta era a minha versão passada que atacava
qualquer um que pudesse me machucar, e oh, como eu tinha sido
boa nisso.

Era a minha versão que sentia que não tinha controle sobre
nenhuma parte de sua vida.

Molly inalou lentamente. — Eu sabia que não seria fácil ouvir


isso, Isabel, mas é o meu ramo de oliveira para estender.

— Ela não merece um ramo de oliveira — eu disse com


veemência. — Último endereço conhecido, Molly. Ela nem se dá ao
trabalho de nos atualizar sobre onde diabos ela mora, mas você
acha que ela deveria se sentar nos bancos da família na cerimônia?

Molly ergueu as mãos. — Se você quiser me atrair para lutar


sobre isso, eu não o farei.

Eu coloquei minhas mãos em meus quadris. — Eu não estou


tentando lutar. Estou tentando entender por que diabos você acha
que isso é uma boa ideia. Você não tem noção de como ela vai agir
ou o que fará, Molly. Você não quer que este dia seja perfeito?

Só de pensar nisso, de Brooke entrando na sala, sentia como


se alfinetes e agulhas passassem em minhas mãos, dedos e
braços. Eu não sabia como ela tinha envelhecido. Eu não sabia o
que ela diria. Se ela fingiria que estava tudo bem. E todas essas
incógnitas estalaram e rosnaram na minha cabeça como um cão
raivoso em uma corrente enferrujada.

Meu temperamento não saia com frequência, mas essa era a


única coisa que me faria explodir mais rápido do que qualquer
outra coisa no mundo inteiro. Se minha reação a Aiden me fez
sentir desequilibrada e fora de controle, então minha reação a
Brooke me transformou em uma bomba nuclear ambulante.

A combinação delas - a primeira acumulando em semanas e


a segunda caindo sem aviso - não era bonita.

Para meu horror, os olhos de Molly se encheram de


lágrimas. — Sim — ela sussurrou. — Claro que quero que este dia
seja perfeito. Eu estou me casando com o amor da minha
vida. Você não acha que eu pensei em todos os ângulos
disso? Estou convidando Brooke por mim, Isabel. Não por ela.

Eu exalei uma risada, empurrando meus dedos em meu


cabelo. — O que você poderia ganhar com isso?

Molly encolheu os ombros desamparadamente. — Paz,


Isabel. Fico em paz sabendo que a perdoei por ir embora, e ela
percebendo isso. Talvez Brooke tenha ficado longe todos esses
anos porque não sabe como seria recebida.

O olhar que dei a Molly só poderia ser descrito como


incrédulo. — Estamos dando desculpas para ela agora?
— Não — ela respondeu simplesmente. — Não estou dando
desculpas, mas também não vou me esconder atrás de uma parede
arbitrária de raiva. Eu sei que terapia era uma besteira para você,
mas não era para mim. E, às vezes, irmã, você descobre uma
maneira de perdoar alguém porque é disso que você precisa. Não
porque você está dando desculpas para ela.

Com cada palavra que ela dizia, eu sentia uma necessidade


irresistível de fugir. Queria tapar os ouvidos com as mãos e parar
de ouvir. Foi a mesma sensação que senti antes de Aiden dizer que
comprou a academia, só que muito, muito pior.

O que Molly fez foi, no mínimo, como abrir a pior cicatriz que
eu poderia imaginar e observar alguém derramar solução salina na
carne rasgada. E o que pareceu... bem... trouxe à tona a pior
versão de mim mesma. Eu odiava esse meu lado. Essa pessoa
reativa e irritadiça que não conseguia controlar o que dizia ou
fazia.

Eu trabalhei muito duro para não ser ela. Para deixar esse
instinto me dominar. E tudo na minha vida parecia ser
impulsionado pelo instinto ultimamente, a roda girando
loucamente de uma maneira que eu não conseguia parar, não
conseguia segurar.

Eu desci e peguei as faixas que tínhamos usado, então


coloquei a bola de exercício debaixo do braço. — Acho que devemos
terminar aqui.

— Isabel, vamos lá, não seja assim.

Eu parei, lançando um olhar para ela. — De quanto tempo


você precisou para processar isso?

Molly engoliu em seco antes de responder: — Três semanas.


— Excelente — eu concordei. — Parece bom para mim
também. Agora, se você me der licença, eu preciso colocar essas
coisas de lado.

Quando voltei depois de guardar o equipamento, minha lista


de reprodução tinha terminado e Molly estava na área da frente,
lentamente arrumando sua bolsa. De onde eu estava, não sabia se
ela estava chorando ou não, mas eu me sentia chateada demais
para parar e perguntar.

O que era muito importante, porque qualquer coisa que


fizesse minhas irmãs chorar me dava vontade de socar as coisas
repetidamente.

E agora, só me dava vontade de correr.

Porque, no momento, a única coisa que fazia minha irmã


chorar era eu.

Bem, eu e nossa mãe.

A porra da Brooke e o dano que ela causou com seu egoísmo.

Molly fez uma pausa antes de sair do ginásio e me deu uma


longa olhada. Felizmente, seus olhos estavam secos.

— Eu te amo, Isabel. E espero que, eventualmente, você


entenda por que estou fazendo isso.

Eu rolei meus lábios entre meus dentes e balancei a


cabeça. — Eu também te amo.

Ela exalou de alívio quando eu disse isso, mas seu rosto


estava triste quando ela saiu.
O prédio pulsou em silêncio assim que ela saiu, e eu inalei
instavelmente. Movendo-me devagar, arrumei minha bolsa e
apaguei as luzes do meu escritório. Mas não consegui me obrigar
a sair. Quase olhei para o teto porque poderia jurar que, tijolo por
tijolo, um peso inimaginável estava caindo em cima de
mim. Minhas mãos começaram a tremer e eu enrolei meus punhos
com força para fazê-los parar.

Eu precisava dessa tensão... desse sentimento... fora do meu


corpo.

Primeiro trabalho.

Agora minha irmã, minha família.

Ambos tinham me abalado sem deixar nenhum lugar para eu


me agarrar. Ou era assim que parecia.

E a verdade, que eu também odiava, era que eu não tinha


ninguém que pudesse assumir o peso do jeito que eu
precisava. Ninguém para aguentar o impacto do aumento da
pressão, nenhuma saída, nenhuma válvula para liberar. Todos
eles tinham alguém. Todos eles tinham aquela pessoa que saberia
exatamente do que eles precisavam no momento em que
estivessem fora de controle.

Minhas mãos tremiam e eu imaginei aquela caixa de metal


rachando furiosamente nas costuras, pintura descascando,
bordas amarrotadas do que estava sendo segurado dentro.

E o que eu precisava, diante de toda essa emoção


devastadora, era de alguém para ouvir o que quer que saísse da
minha boca sem nenhum julgamento e sem tentar suavizar os
golpes ou me dizer que eu estava exagerando, que era demais
sentir isso.
Caminhando até o iPad na parede, abri uma das minhas
listas de reprodução de rock raivoso e aumentei o volume. Um
momento depois, minhas mãos foram enroladas e enfiadas nas
minhas luvas pretas e roxas favoritas.

Já que não havia ninguém para ser isso por mim, eu seria
por mim mesma.

Soltei um suspiro profundo na frente do meu saco favorito,


estiquei meus braços algumas vezes e comecei a me mover.
Foi um erro voltar para a academia quando vi as luzes acesas
e percebi que o carro dela era o único no
estacionamento. Reconheceria mais tarde as ramificações
completas e claras, uma vez que tudo foi dito e feito.

Mas, no momento, não estava pensando nisso. Mesmo se eu


não tivesse deixado minha carteira na minha mesa, a visão de seu
carro solitário, as luzes brilhantes e o céu escuro ao redor do
prédio provavelmente teriam me feito parar.

Porque era apenas uma questão de tempo até eu reconhecer


algo importante quando se tratava de Isabel.

Curiosidade e atração eram duas coisas totalmente


diferentes. O interesse era tão mundano porque muitas coisas
prendiam meu interesse.

O futebol prendia meu interesse, e foi assim que eu soube


quem ela era, quem era sua família.

Malhar prendia meu interesse porque me mantinha forte,


saudável e são.
Quando tinha tempo, a leitura prendia meu interesse se a
história fosse boa.

Todas essas coisas eram fáceis e pacíficas, mantiveram


minha atenção e reduziram meu estresse.

Mas se eu achei que minha gerente se encaixaria


perfeitamente nessa categoria uma vez que eu a descobrisse, eu
estava me enganando.

Isso ficou aparente quando me aproximei da porta da frente


e, com uma careta e um clarão de raiva, encontrei-a
destrancada. O interesse nunca explodiu em uma bola brilhante
de emoção ardente, algo inominável, ao perceber que ela estava lá
dentro com a música estridente enquanto a porta estava
totalmente aberta para qualquer um entrar.

A atração fez isso. Mas eu não estava pronto para nomeá-


la. Só mais tarde.

A música era pesada e raivosa - como as ondas ondulantes


de emoção que eu estava tentando controlar - com guitarras e
bateria e rock estridente, então eu sabia que Isabel não seria capaz
de ouvir o toque do sino sobre a pulsação do sistema estéreo.

Mesmo assim, eu poderia ter me virado, trancado a porta


atrás de mim com minha chave e deixado que ela trabalhasse em
paz. Uma vez eu soube que meu estado de espírito dificilmente era
educado, dificilmente civilizado.

Mas eu também não fiz isso.

— Que diabos ela está pensando? — eu murmurei.

Quando ela me evitou, eu a deixei em paz.


Quando a peguei despejando a xícara de café que comprei
para ela, não forcei.

Quando ela continuou, indefinidamente, a fazer coisas que


pareciam completamente em desacordo com o que Amy havia me
dito, não me envolvi da maneira que queria.

Quando me peguei olhando para ela, estudando-a, lutando


contra o desejo de separá-la até que entendesse todas essas coisas
que parecia não entender, eu a deixei em paz.

Mas quando virei a esquina e ela apareceu, eu sabia que


deveria ter ido embora. Algo dentro de mim gritou para virar e ir
embora. Deixe-a em paz agora, porque é preciso.

Porque a primeira coisa que me veio à cabeça quando notei a


força graciosa em seu corpo, com cabelos despenteados, membros
e costas revestidos com o brilho de um esforço inacreditável, foi
que eu poderia vê-la fazer isso a noite toda.

Eu estava mentindo para mim mesmo que só estava curioso


sobre ela como minha funcionária.

Não era educado ou profissional enquanto eu ficava de pé e a


observava. Isso tinha dentes afiados e estalantes, e um apetite
voraz, algo que eu não tinha sentido antes.

Como sacudir um membro que tinha adormecido,


estremecendo por entre os alfinetes e agulhas, enquanto o fluxo de
sangue voltava, porque por muito tempo aquele lado meu ficou em
silêncio.

Parei para ver Isabel passar o braço esquerdo pelo corpo para
acertar um punho explosivo nas costas no saco, seguido por um
gancho de direita e, com um rápido estalo de seu braço, um golpe
de cotovelo.

Sua técnica não era perfeita, mas quando a emoção assumia,


era raro que alguém controlasse seu corpo corretamente.

Finalmente, finalmente, eu estava vendo a verdadeira ela. E


eu sabia a verdade até os ossos.

Cruzando os braços sobre o peito, tentei lutar contra as


emoções conflitantes por trás das minhas costelas.

Sair agora era o pensamento lutando pelo domínio, mas


minha curiosidade e a maneira completamente hipnotizante com
que ela se movia seguraram meus pés no chão.

Não. Não curiosidade. Atração disfarçada de algo muito mais


inocente.

Meu olhar pegou a borda de suas maçãs do rosto salientes e


a linha esculpida de sua mandíbula. Mesmo de onde eu estava, eu
podia ver o quão forte ela cerrou a mandíbula, e eu queria colocar
minhas mãos em seus ombros e dizer a ela para relaxar e respirar.

Se eu tentasse com força o suficiente, sabia exatamente como


me sentiria se o fizesse. Se eu puxasse meus polegares para baixo
da linha de seu pescoço para desbloquear os músculos que ela
estava segurando tão tensos. Ela ficaria flexível se eu fizesse
isso. Se eu a tratasse com suavidade.

Mas eu não queria vê-la derreter. Não queria vê-la entrar em


algum lugar doce e terno.

O fogo nela era palpável e eu sabia que estava prestes a entrar


nele.
Foi esse instinto que me fez inclinar-me para agarrar as luvas
de foco que estavam no chão ao lado do ringue. O controle remoto
do aparelho de som estava no chão ao lado de sua bolsa, e por
mais que eu não quisesse levar um chute na cara de Isabel Ward,
minha própria raiva fervente por ela ter deixado a porta
destrancada me fez aproximar-me de seu local cego.

Só para ver o que ela faria.

Só para ver o que aconteceria.

Foi estúpido. E nada, nem uma única coisa, havia me


animado tanto em dois anos.

Se esta fosse minha chance de ver a versão real e


desprotegida dela, eu não a desperdiçaria. E mais tarde, eu poderia
me amaldiçoar por um momento de fraqueza.

Enfiei minha mão em uma luva de foco e rolei meu pescoço


antes de colocar a segunda.

Quando ela puxou a perna para trás e chutou o saco com


tanta força que minhas sobrancelhas saltaram, segurei uma luva
para proteger meu rosto e toquei seu ombro com a outra.

Com um rugido digno de uma amazona, ela girou, a luva


apontada diretamente para o meu rosto. Eu puxei minha mão para
pegar o cruzado certo na luva.

— Nada mal! — eu gritei por cima da música. — Mas da


próxima vez, dê um soco na perna de trás.

Seu peito estava ofegante, seus olhos azuis arregalados e ela


mantinha as mãos enluvadas em guarda.
— Qual é o seu problema? — ela gritou.

Eu gesticulei para a porta. — Qualquer um poderia ter


entrado aqui.

Seus olhos se estreitaram em um brilho cruel, e por apenas


um momento, eu não pude deixar de me regozijar em quão bem
ela usava a raiva. Isabel tirou uma luva, então se abaixou e pegou
o controle remoto, baixando o volume para um nível mais
gerenciável.

Nenhum de nós falou, mas Isabel estava respirando


pesadamente. Desde que eu a tinha visto antes, ela tirou sua
camiseta de ginástica e ficou na minha frente com um sutiã roxo
encharcado de suor e legging preta. Odiei ter notado e, por causa
disso, mantive meus olhos firmemente em seu rosto.

Esta era, sem dúvida, a última coisa de merda que eu


precisava.

E era a única coisa que eu queria dela.

Chega de andar na ponta dos pés. Nada mais de deixá-la em


paz.

Isabel quebrou o olhar primeiro, colocando as mãos nos


quadris e soltando um suspiro pesado. — Isso só... podia
acontecer, não é?

— O quê?

— Você! — ela gritou, levantando a cabeça, os olhos


brilhando. — Claro que você iria aparecer agora.
Eu a contornei e ela se moveu como eu, mantendo o pé da
frente centrado na minha direção, como deveria. — Você tem um
problema comigo aparecendo na minha própria academia?

— No momento? Sim.

Eu segurei uma luva. — Mostre-me.

Sem hesitar, Isabel me acertou com um soco.

— Por que você não me quer aqui?

Cada golpe atingiu as luvas com um estalo agudo. — Você


quer uma lista?

O que foi isso? Foi tão imediato, tão sem filtro e o oposto exato
de todas as interações que já tivemos. Meu sangue gritou com algo
quente e pulsante, algo novo e furioso.

— A última coisa de que preciso — disse ela, com o queixo


erguido e o peito arfando, — é você aqui para ver isso.

—De novo. — Eu levantei as luvas.

Soco.

Soco.

— Eu quase dei um soco na sua cara.

— Você não quase me deu um soco na cara — eu disse


calmamente, o que fez seus olhos estreitarem ainda mais. — Mais.

Ela me deu mais socos. Mais três em rápida sucessão. Mas


ela não se acalmou. Havia palavras se formando, e eu podia vê-las
brilhando em seus olhos. Porém eu sabia que ela não me
daria. Não facilmente.

— O que aconteceu com o seu conselho para Casey


antes? Achei que o objetivo era se soltar, não atacar.

Isabel ergueu o queixo. — Para ela, esse é o objetivo.

— E você segue um padrão diferente?

Ela não respondeu. Mas vendo o flash atrás de seus olhos,


como se alguém jogasse um fósforo em um tanque de gasolina, eu
sabia que estava certo. Esta era Isabel Ward. E ela estava
fodidamente gloriosa.

Eu queria mais. Mais disso. Não importa o quanto ela fosse


errada para mim, o quão ruim isso possa ser, ou o quanto eu possa
me arrepender. Eu queria mais.

Foi por isso que me inclinei e sussurrei: — Tranque a porra


da porta da próxima vez.

Sua boca se abriu.

Satisfeito por ter feito meu ponto, eu balancei a cabeça,


levantando as luvas. — Vamos. Seja qual for o seu problema,
despeje-o agora mesmo.

Isabel me olhou com atenção. — Quem disse que eu tenho


um problema?

— Qualquer pessoa com olhos, com base em como você


estava tratando aquele saco indefeso. — Eu bati as luvas juntas, o
som agudo de estalo ecoando pelo ginásio. Ela nem mesmo
estremeceu. — Vamos, Ward.
Por um momento, ela apenas olhou para mim e me peguei
prendendo a respiração com a forma como ela iria responder.

E porque foi o primeiro momento apenas de nós dois, foi com


cuidado também a primeira vez que vi como ela se comportava. A
ponta afiada de cautela em seu olhar. O que, exatamente, Isabel
Ward pensava que eu faria com ela para que me olhasse daquele
jeito?

— Não — ela disse. — Não essa noite.

Eu balancei a cabeça lentamente, esperando até que ela se


afastasse de mim.

— Do que você tem medo? — eu perguntei.

Seu corpo, alto, forte e orgulhoso, ficou perfeitamente


imóvel. Era quase como vê-la se transformar em uma estátua bem
na frente dos meus olhos. Se um artista em algum lugar a tivesse
esculpido em mármore, aquelas luvas enfiadas debaixo dos
braços, as mãos ainda enroladas, ela teria sido chamada de algo
como, Uma Guerreira em Repouso.

Mas quando ela lentamente girou de volta em minha direção,


a cautela foi embora, completamente substituída por uma
resolução afiada. Isabel enfiou as mãos nas luvas e eu levantei as
minhas.

— Eu não estou com medo — ela retrucou.

— Prove. — Eu me aproximei e ela se manteve firme. — Eu


sou a única pessoa no prédio de quem você se esconde, e isso
acaba agora.
— Você acha que vai acontecer assim? — ela ergueu uma
sobrancelha. — Lutando contra mim.

— Claro que sim. — Eu segurei seu olhar, e seus olhos se


arregalaram com a minha honestidade. — Este é provavelmente o
único lugar onde você sente que pode ser você mesma, seja
honesta sobre o que você sente. Aposto a porra da academia inteira
nisso, e se você e eu vamos seguir em frente, trabalhamos suas
reservas aqui.

A caixa torácica de Isabel se expandiu, a luz de cima captando


o brilho de suor cobrindo as curvas de seu decote.

— Vou fazer isso com uma condição — disse ela, saltando


levemente na ponta dos pés, os braços erguidos para proteger o
rosto. — Você não pode me perguntar por que estou zangada.

A julgar pela expressão em seus olhos, como se a menor coisa


pudesse incomodá-la, era uma coisa fácil de concordar. Eu
concordei. — Não sonharia com isso.

Começamos simples. Eu me mantive longe o suficiente para


que ela tivesse que jogar seu peso em cada golpe, e gritei o que eu
queria que ela fizesse, contando até que ela pudesse respirar fundo
ou beber um gole de água.

Isabel e eu encontramos um ritmo facilmente e, assim que o


atingimos, seus movimentos se tornaram mais precisos, menos
selvagens. Seu peito brilhava sob as luzes, o suor pontilhava sua
testa até que algumas mechas soltas de seu cabelo quase preto se
agarraram à linha de seu pescoço.

Depois de cerca de quinze minutos, dei um passo para trás e


estendi meu braço, batendo no meu cotovelo com a luva de foco. —
Observe a sua forma bem ali, quando você vai para o cruzado
esquerdo. Se eu fosse bloquear, seria muito fácil para você se
ajustar e me acertar com o cotovelo direito da perna da frente.

Ela assentiu, a respiração entrando e saindo de sua boca.

Eu empurrei meu queixo para cima. — Mostre-me.

Começamos devagar, quase como uma dança. Ela entrou com


a esquerda. Eu empurrei o braço dela para baixo e, quando gritei
o comando, ela ergueu o cotovelo direito, parando com vergonha
de me acertar na bochecha.

— Excelente — eu disse a ela. — Tente novamente. Vamos


avançar um pouco mais rápido.

Ela abaixou isso quase imediatamente, e eu recuei, passando


meu braço pela testa. Eu peguei um rápido sorriso em seu rosto.

— Eu não antecipei um treino esta noite — falei.

— Então talvez você não devesse ter interrompido o meu.

Eu exalei uma risada, avaliando sua expressão facial quando


ela disse isso. — Você sente muito que eu fiz?

Em vez de responder, Isabel tirou uma das luvas para dar um


longo gole na água da garrafa. Quando ela a colocou para baixo,
exalou pesadamente.

— Não — ela disse. Então ela colocou a luva de volta.

Eu levantei as minhas luvas. — Vamos novamente. Depois do


cotovelo, use seu braço direito para empurrar meu braço de
bloqueio para baixo, coloque um joelho em minha barriga
enquanto meu impulso está a seu favor.
Ela acenou com a cabeça.

Nós praticamos uma vez. Duas. Então mais rápido. E de


novo. Seu cabelo cheirava a algo cítrico quando sua trança passou
voando pelo meu rosto. Na quarta vez, ela teve toda a força para
me empurrar para baixo, e eu grunhi quando seu joelho teve um
pouco mais de vigor do que eu esperava.

— Devagar — eu avisei, enquanto recuava.

Mas Isabel não sorriu. Ela estava me observando configurar


novamente.

— O quê? — perguntei, deixando cair minhas luvas para


tomar um gole.

Seu olhar estava pesado em mim enquanto eu engolia.

— Recebi uma oferta de emprego da Punch Fitness.

A água ficou presa na minha garganta e tossi na mão. Ela não


parecia muito triste com seu tempo enquanto eu tentava me
recompor. Depois de outro gole, consegui respirar normalmente.

— Você vai aceitar? — perguntei. Minha voz estava tão calma


e firme, mas dentro do meu corpo, algo rugia e rosnava. Outro
sinal perigoso. Outra reação impossível para esta mulher. Eu não
estava pronto para algo assim. Como ela. Algo grande, algo
selvagem.

— Eu ainda não decidi.

— Esse cara é um charlatão — eu me ouvi dizer. Porque ele


era. Ela estaria perdida em um lugar como aquele.
Eu não pude ler absolutamente nada em seu rosto, não como
antes, quando eu tinha visto mais. Esta era a Isabel protegida, a
Isabel controlada. E descobri que gostava mais da transparência
dela. Em sua raiva, não importa o quão perigoso isso fosse para o
meu bem-estar, eu podia ver tudo o que ela estava pensando.

Eu coloquei as luvas de volta em minhas mãos, embora meus


antebraços estivessem se exercitando muito. Segurando-os perto
do rosto, gritei: — De novo.

Ela pôs os pés no chão e começamos a dança novamente.

Mas desta vez, havia uma vantagem.

Cada vez que ela batia nas luvas e jogava meus braços para
trás, eu sentia cada vez mais vindo dela. Eu bloqueei seu joelho
quando ficou um pouco forte e dei a ela um olhar de advertência.

Seus lábios, carnudos e rosados, se curvaram em um sorriso


satisfeito, mesmo quando a parte superior de seu corpo arfou com
o esforço.

— Você não quer esse trabalho — eu disse calmamente.

A mandíbula de Isabel apertou e ela se abaixou para o lado


quando eu esperava que ela jogasse o cruzado de esquerda. Ela
veio com um soco direto no queixo e eu bloqueei facilmente.

— Como diabos você sabe?

Eu golpeei seu braço quando ela tentou dar um soco. —


Porque isso aqui não é apenas um trabalho ou um salário para
você.
Isabel desviou e tentou fazer um chute circular baixo, mas eu
derrubei sua perna com as luvas. Seus olhos brilharam quentes,
porque eu não estava me segurando tanto. Mas ela também não.

— Você não me conhece — disse ela, golpeando a luva


esquerda com força com um soco.

— Porque você não me deixa. — Ela bateu nas luvas mais três
vezes em rápida sucessão, o som pop pop pop ecoando ao nosso
redor. — Mas eu vejo você, mesmo que você não queira.

Ela praguejou.

— Você trata os funcionários como uma família — falei. Ela


dançou ao meu redor, nenhum de nós fazendo um movimento. —
Você faz o mesmo com os clientes.

Bati nas luvas e ela atacou, golpe, cruzado, cruzado.

— Bom — eu gritei. — E você conhece cada centímetro deste


lugar como se fosse sua própria casa. Você pode pensar que estou
apenas me escondendo no meu escritório todos os dias — inclinei-
me quando ela recuou —, mas eu sei exatamente o que este prédio,
essas pessoas significam para você.

Ela não disse uma palavra, mas em apenas algumas frases,


notei que seus movimentos mudaram novamente, embalados até
a borda e transbordando de emoção, o que quer que minhas
palavras estivessem desencadeando nela, mostrando na ferocidade
de como ela veio até mim.

— Você não quer esse trabalho — repeti, e desta vez senti


minha própria reação colorindo a entrega das palavras. Parecia,
aos meus próprios ouvidos, menos estável e calmo. — Também não
quero que você o aceite.
E assim, tudo o que estávamos fazendo tornou-se menos
coreografia do que esperávamos e mais instintivo. No momento em
que ela quebrou qualquer padrão que estabelecemos, mais eu tive
que antecipar o que ela faria a seguir. Não se tratava de ferir um
ao outro porque não era uma batalha. Parecia um teste.

Mas eu estava em desvantagem usando as luvas, não minhas


luvas típicas, mas ainda... bloqueei e girei, pegando cada ataque
ofensivo antes que ela me acertasse. Quase sorri quando ela
perdeu sua abertura, e quando vi seus olhos brilharem, eu sabia
que estava em apuros.

Ela puxou meu braço com o dela e tentou varrer minha perna
debaixo de mim, e eu a peguei no ar. Com a canela enfiada entre
o meu braço e o lado, ela murmurou uma maldição sob sua
respiração e perdeu o equilíbrio.

Isabel atingiu o tatame com força, os braços abertos e as


costelas se expandindo em respirações profundas e
gananciosas. Inclinei-me, as luvas apoiadas nos joelhos,
respirando profundamente.

— Você está bem? — perguntei.

Ela assentiu, mas não se mexeu para se levantar.

Tirei a luva e estendi minha mão para ela. Isabel engoliu


visivelmente, e eu tive um momento de pausa para pensar se toda
essa interação com ela era a coisa mais estúpida que eu poderia
ter feito.

Seus olhos, na luz do teto do ginásio, eram de um azul


profundo da meia-noite, algo que eu realmente não tinha
registrado antes desta noite.
Eu não queria saber a cor de seus olhos ou o cheiro de seu
cabelo, mas a sensação que corria em minhas veias pelo que tinha
acontecido era muito forte para eu ignorar.

Porque era vida. Quando você perde alguém que ama, uma
parte do seu cérebro e uma parte do seu coração acreditam que
você nunca, nunca mais sentirá. Que para sempre andará
entorpecido nessa parte de quem você é. E nos últimos dois anos,
isso se manteve verdadeiro.

Quando Isabel se sentou e lentamente puxou as luvas,


jogando-as para o lado, quase puxei meu braço para trás. Mas
então ela segurou minha mão com a dela, e quando eu enrolei
meus dedos em torno de sua mão, a dormência sumiu.

Foi empurrada para o lado.

Totalmente apagada.

Em seu lugar estava uma necessidade feroz.

Eu a puxei para ficar de pé, e foi o mais próximo que ficamos


a noite toda. Ela era mais alta do que a média, e quando ela ergueu
o queixo para olhar para mim, percebi que sua inspiração estava
um pouco instável. E os olhos dela caíram para os meus lábios.

Não havia ninguém ao nosso redor.

Ninguém para ver.

E pela primeira vez em dois anos, eu queria deslizar minhas


mãos sobre o corpo de uma mulher para ver como era sua pele sob
meus dedos. Não, não qualquer mulher. Isabel. Ela seria quente e
macia. Ela teria a evidência de quão duro ela apenas trabalhou, e
isso fez minha pele apertar e meu coração bater mais forte.
Esta mulher, com todo aquele fogo acumulado dentro dela,
deixou-me com respiração suspensa esperando ver o que ela faria
a seguir.

Porque não seria eu, não poderia ser o primeiro a chegar mais
perto.

Mesmo se eu quisesse. Mesmo que eu pensasse nela assim


mais tarde, imaginasse como seríamos juntos, não importa o
quanto eu não devesse.

Não apenas porque ela é muito jovem, porque ela é.

Ou porque ela trabalha para mim, o que ela faz.

Porque em dois anos, ninguém nunca me fez querer nada, e


em uma única interação, ela redefiniu tudo, fazendo-me imaginá-
la aberta debaixo de mim, unhas afiadas, lábios macios, língua
molhada e o gosto dela na minha boca...

Foi quando Isabel lambeu os lábios, as pálpebras


tremendo. Eu respirei fundo.

Então ela puxou meu braço, passando sua perna sob a


minha, e eu caí como uma porra de uma rocha gigante no chão.

Ela se inclinou sobre mim com um sorriso, a trança preta


caindo sobre seu ombro. — Você está certo — ela disse sem
fôlego. — Eu não quero aquele trabalho.

Eu exalei uma risada enquanto ela se afastava.

— Vejo você amanhã, chefe — ela gritou por cima do ombro.


Minha saída confiante - da qual fiquei muito orgulhosa -
durou até o estacionamento.

— Puta merda — sussurrei, as mãos tremendo enquanto


destrancava meu carro e deslizava no banco da frente. Por tudo
que eu sabia, Aiden ainda estava deitado no chão do ginásio
porque eu o deixei lá. — Oh, o que eu acabei de fazer, o que eu foi
que eu fiz?

Mas por mais que eu quisesse me dissolver em uma


gargalhada em pânico naquele estacionamento, uma vozinha
travessa na minha cabeça estava me dando tapinhas nas costas
porque eu tive gloriosos vinte minutos onde ele e eu existíamos
neste estranho pequeno estado de tensão sexual suspenso.

Foi um treinamento? Preliminares? Eu nem tinha certeza,


porra.

Todo o meu constrangimento se foi.

Ele estava falando.


Eu estava falando de volta.

Ele sabia exatamente o que eu precisava para resolver a


versão rosnando de raiva de mim que eu tanto odiava.

Não era o chefe e a gerente. Não havia nenhuma versão


estranha de mim em exibição. Era algo totalmente diferente. Não
foi algo que simplesmente apareceu na minha imaginação
vívida. Foi real.

Porque Aiden Hennessy ficou ao meu lado, olhando para os


meus lábios, e eu juro pelo espírito benevolente de Muhammed Ali,
quase morri no local.

Ele era tão grande, alto e forte, suas mãos tão largas e de
aparência capaz, e se ele beijasse uma fração tão bem quanto fazia
qualquer outra coisa, eu nunca sobreviveria. Esqueça o sexo, eu
morreria com sua língua na minha boca.

Não consegui nem ligar o carro porque não tinha certeza se


estava firme o suficiente para dirigir para casa. A adrenalina
baixou ou algo assim. Qualquer que fosse a versão comparável de
quando você tinha luxúria não correspondida bombeando por seu
corpo em vez de sangue.

Meu telefone estava na minha mão antes que eu pudesse


piscar, as palavras aglomeraram minha garganta antes que eu
pudesse entender o que queria dizer.

Paige mal conseguiu dizer um olá.

— Eu preciso do seu conselho — eu interrompi.

— Puta merda, finalmente — ela suspirou.


Baixinho, eu ri, mas realmente, ainda estava apenas...
surtando.

— Você já gostou — fiz uma pausa, passando a mão pelo


cabelo — quis algo, mas nunca pensou que teria.

Paige não perdeu o ritmo. — Seu irmão quando nos casamos.

Eu cruzei meus braços no topo do meu volante e coloquei


minha testa sobre eles, olhando para o meu colo. Eu não poderia
fazer isso. Fechei os olhos e deixei escapar a primeira coisa que me
veio à cabeça. — Bolo. Há um bolo que você imaginou comer. Você
sabe exatamente o que parece, você tinha todas as partes da
existência daquele bolo memorizadas e você sonhou com isso por
um longo tempo, mesmo antes de saber qual o gosto do bolo.

— Eu... — Paige hesitou. — Eu só vou continuar com isso. Ok,


claro. Sim.

Sentando-me, olhei para a frente do ginásio, tentei imaginar


o que ele estava fazendo desde que eu saí. — Então o bolo, de
repente, está bem na sua frente. Você nunca, jamais pensou que
seria retirado da caixa. Apenas seria exibido, sem poder ser tocado,
fingir que o bolo... não é seu porquê não é — falei. — E então está
simplesmente... lá.

Puta merda, eu estava me confundindo, mas tinha me


comprometido com a analogia e não ia desistir agora.

— O bolo está aí, excelente — ela pigarreou com cuidado. —


E nós já comemos um pedaço do bolo?

— Não! — eu chorei.

Paige soltou uma risada. — Ok. Tudo bem.


— E se... e se o bolo tiver gosto de merda, sabe? E se você
pensou nisso por tanto tempo, e nunca teve antes, e sua primeira
mordida é horrível ou simplesmente, não é o que você esperava?

O silêncio caiu como uma maldita bomba.

— Espere, você nunca...? — Paige parou. — Isabel, nem


acredito que vou perguntar isso, mas você é virgem? — ela
sussurrou.

Meu rosto inflamou como a merda-da superfície-de-Marte. —


Não é disso que se trata.

— Eu sei que não estamos falando sobre sobremesa, Isabel


Ward.

— Sim, nós estamos! — gritei, o formigamento do pânico


colorindo minhas palavras. — Eu disse que estamos falando sobre
bolo, então estamos falando sobre a porra do bolo, ok? — Cobri
meu rosto, embora ela não pudesse me ver. — É tudo que eu posso
lidar, Paige. Por favor.

— Ok, ok — ela acalmou. — Então, você está preocupada


que... isso — corrigiu ela instantaneamente — vai desapontá-lo?

Oh, puta merda, eu ia chorar. Isso foi horrível.

— Ou pior — eu sussurrei.

— Oh, Iz — ela disse suavemente. — Como pode ser pior?

Pelas janelas, vi Aiden desligando as luzes. Com cada uma,


ele desapareceu de vista. Por um momento, pensei ter visto sua
silhueta na recepção olhando para o meu carro, mas fechei os
olhos para parar de tentar vê-lo.
Ele havia perdido algo - alguém - incrivelmente precioso para
ele. E eu era a garota desajeitada com uma paixão vívida e um
temperamento forte, uma década mais jovem que ele. Havia tantos
motivos pelos quais ele poderia não estar vendo da mesma forma
que eu.

Esse sempre foi o meu problema, não foi? Não estava nem
mesmo muito claro o que ele queria de mim, mas lá estava eu,
abrindo uma barreira impossivelmente grande, porque era isso
que ele já estava fazendo comigo.

Aiden estava me abrindo, e ele não tinha ideia.

— E se... — Engoli em seco. — E se for a coisa mais perfeita,


deliciosa e incrível que já experimentei, e o... bolo... não quiser o
que eu quero? Como você superaria isso?

Paige exalou pesadamente. — Bem, acho que se alguém


mostra interesse por você - e por que não se você é uma porra de
um tesouro, Isabel - então você deve confiar nisso. E confie que
você sabe quando parece certo.

Finalmente, sorri. — Por que parece tão fácil quando você diz
assim?

— Não é fácil, minha querida menina. Relacionamentos


nunca, nunca são fáceis.

— Não é um relacionamento, Paige. — Eu balancei minha


cabeça. — É uma paixão ganhando vida. Eu me sinto como uma
criança quando ele está por perto e odeio isso. Ou eu o fiz até hoje
à noite — eu emendei.

— Você deveria — disse ela, a voz cheia de amor. — Nada


disso me surpreende sobre você, Iz.
Suspirei.

— Olhe para as coisas assim, ter grandes sentimentos por


alguém não significa que você é fraca ou que está pedindo para ser
magoada. Mas se você não quiser morder agora, não faça isso. —
A voz de Paige adquiriu uma qualidade suave: — Você foi magoada,
garota. Isso torna difícil se abrir. Mas para a pessoa certa, você vai
querer.

— Eu não sei como alguém se compara a ele — admiti em


uma voz baixa. As palavras doem ao sair. — Depois de conhecê-
lo. Eu não vejo isso, Paige.

Paige respondeu com cuidado. — Eu não acho que


precisamos pensar nisso ainda, ok? Um dia de cada vez.

— Sim, eu acho.

Por um momento, nós duas ficamos contentes em ficar


quietas, mesmo que meus motivos fossem diferentes dos
dela. Paige, sem dúvida, estava processando todas as analogias
horríveis que eu acabei de jogar em seu colo como uma granada. E
eu fiquei quieta porque não podia mais ignorar o quão longe eu fui
nessa toca de coelho.

Proteger-me de uma possível dor teve um custo altíssimo.

Além de minhas irmãs e Logan, Paige era a única pessoa em


minha vida em quem eu confiava alguma coisa. A única outra
pessoa que ganhou essa confiança. Mas esta noite, Aiden entrou,
e sem pestanejar, ele sabia exatamente o que eu precisava dele
para suavizar o arrepio ao longo das minhas costas.

Quanto mais ele me empurrava, me cutucava, mais eu me


acalmava.
Ele me encontrou onde eu estava, em vez de tentar abafar as
chamas.

E nenhuma vez, apesar de meus crescentes sentimentos por


ele, eu tentei estender a mão da mesma maneira.

O que ele poderia precisar nesta nova temporada de sua vida


seria completamente diferente do que eu precisava dele. E tudo o
que fiz foi evitar. Desviar. Esconder.

Quando a compreensão veio, Paige falou novamente,


arrancando pensamentos da minha cabeça: — A única coisa que
direi - minha querida menina, um dos grandes amores da minha
vida - é que se você quiser saber o que ele quer, pode ter que
perguntar. — Ela fez uma pausa, continuando quando eu não
protestei. — E não estou falando apenas de querer um pedaço do
seu bolo, sabe? Você pode saber a versão dele por trás da caixa de
vidro, mas é realmente quem ele é?

O que eu perguntei a ele nas primeiras semanas?

Nada.

Porque a ideia de Aiden - e agora a realidade de quem ele era


– deixava-me desequilibrada e em desvantagem, mesmo que a
desvantagem estivesse na minha cabeça.

Tentei não sentir vergonha, porque ele se esforçou para me


deixar confortável.

Às vezes, você estava com a guarda muito alta e bloqueava as


coisas boas também. E eu era melhor do que isso. Eu tinha certeza
pra caralho mais forte do que eu estava agindo. E daí se eu tropecei
na frente dele e derramei um pouco de café?
Eu gostava de quem eu era, mesmo que fosse difícil para
outras pessoas ter um vislumbre real.

Um de nós era uma caixa trancada e o outro estava em


exibição para o mundo ver. Nenhum dos dois facilitou o
estabelecimento de conexões reais.

Uma sombra se afastou das janelas e ele saiu do prédio. Do


outro lado do estacionamento, embora estivesse escuro, eu sabia
que ele estava me olhando.

Com uma respiração profunda e puxando de um poço de


autocontrole que eu não sabia que tinha, girei a chave na ignição
e liguei meu carro. Assim que os faróis se acenderam, Aiden baixou
a cabeça e caminhou até sua caminhonete.

— Um dia de cada vez — repeti.


— Você se machucou? — minha mãe perguntou.

Claro, ela pegou o estremecimento. Anya estava dormindo


profundamente em seu sofá, e quando me inclinei para fazer
minha primeira tentativa de pegá-la, devo ter feito uma careta.

Minha irmã, Eloise, empoleirada na bancada da cozinha com


uma colher de manteiga de amendoim na boca, balançou a cabeça
lentamente em concordância. — Ele parece muito velho e lento
agora.

Eu lancei um olhar para ela.

Ela sorriu.

Decidindo deixar Anya onde estava, por enquanto, levantei-


me rapidamente, como se fosse jovem. — Simplesmente exagerei
nos exercícios sem perceber.
O rosto da minha mãe se enrugou de preocupação. Eloise
sorriu.

— Você está bem? — perguntou mamãe.

— Sim. Eu estava... treinando com minha gerente e... — Fiz


uma pausa, tentando decidir se era sensato contar a elas um
pouco dessa conversa. Nenhuma parte da minha interação com
Isabel parecia segura para consumo ainda. Eu nem estava pronto
para processar o que significava, muito menos dar de comer numa
colher para minha mãe e minha irmã mais nova, essa devoraria
isso com a mesma alegria irrestrita enquanto atacava a manteiga
de amendoim direto do pote. — Eu simplesmente caí — eu terminei
sem jeito.

Eloise estreitou os olhos, mas eu bati suas pernas para o lado


quando entrei na cozinha da casa de nossos pais. Ela deu um
chute em mim, pegando meu quadril quando eu limpei a ilha, e ela
teve sorte de eu não a ter jogado fora do balcão.

Eu já tinha sido chutado o suficiente por uma garota mal-


humorada de vinte e poucos anos esta noite, e eu não precisava
que minha irmã mais nova fosse adicionada ao grupo.

E caramba, como se eu precisasse do lembrete de que ela não


era muito mais velha do que Eloise.

— Quando Anya adormeceu? — perguntei.

Minha mãe pegou uma colher e roubou o recipiente de


Eloise. — Cerca de trinta minutos atrás. Pintei uma foto com El
depois de jantarmos. Clark ficou aqui por um tempo e jogou Uno
com ela. Sua testa estava um pouco quente e ela disse que estava
cansada, então disse a ela para se aninhar no sofá. Ela adormeceu
assim que liguei a TV.
Esfreguei minha testa com cansaço. — Eu me perguntei se
ela estava ficando doente. Ela estava um pouco desligada na noite
passada também.

O rosto da mamãe, como de costume, assumiu aquela


expressão de preocupação. — Ela ainda está ficando enjoada na
hora de dormir?

Minha risada estava seca. — Sim. No entanto, na noite


passada, encontramos uma nova variante. Ela perguntou se
poderia dormir na cama comigo, o que ela não fazia desde que Beth
morreu.

Eloise olhou para seu colo e minha mãe estalou a língua. A


falta de reação imediata não era novidade para mim.

Esta era minha vida em um loop.

Às vezes, eles davam sugestões, mas na maioria das vezes,


ninguém em minha família jamais havia lidado com uma perda
neste nível até a morte de minha esposa. O silêncio deles foi uma
admissão gritante. Isso é uma merda e não sabemos o que dizer a
você.

Foi a maior parte para superar a dor que alterou a vida. Fazer
as pazes com essa verdade insatisfatória.

É horrível. E não importa o que as pessoas digam, suas


palavras não tornam as coisas melhores. Melhor veio com o passar
de cada dia.

— E você deixou? — Eloise perguntou. Por mais que ela me


irritasse - isso era parte integrante de ser a mais nova de cinco e a
única menina - minha irmã sempre tomou cuidado nessa área.
Eu balancei minha cabeça. — Eu não posso recuar
agora. Não tenho certeza do que desencadeou, mas vou ficar de
olho nisso.

— Ela subiu naquele armário do nosso quarto — disse


mamãe. — Tive que suborná-la com biscoitos para que descesse.

— Como ela subiu lá?

Ela encolheu os ombros. — Acho que ela usou a mesinha de


canto ao lado da cama de seu pai.

Eu afundei em um banquinho na ilha e esfreguei minha


testa. — Isso está acontecendo mais de novo também.

— Sua casa? — Eloise perguntou.

— O ginásio. — Pisquei algumas vezes, um sorriso


involuntário puxando os cantos dos meus lábios. — Minha gerente
foi bastante impressionante ao tentar negociar com ela as vigas de
aço que seguravam os sacos pesados.

Eloise pigarreou delicadamente. — A mesma gerente com


quem você treinou esta noite?

Eu estreitei meus olhos para ela. — O que isso tem a ver com
qualquer coisa?

— Eu não sei, Aiden — disse ela. — Você nos diz. Você apenas
— ela acenou com a colher na minha cara — sorriu. Um
pouco. Mais ou menos.

— Eu não.

— Você fez — mamãe entrou na conversa. — Mais ou menos.


Afundei minha cabeça em minhas mãos.

— Ele está chorando? — Eloise sussurrou.

Minha cabeça se levantou apenas para que eu pudesse olhar


para ela. Minha mãe riu.

— Eu gostava mais quando você era muito jovem para se


envolver nessas conversas.

— Bem, você pode agradecer a mamãe e papai por isso. Não


que eu tenha escolhido ser quatorze anos mais jovem que você.

Mamãe ergueu a mão. — Não olhe para mim. É culpa do seu


pai. Ele não conseguia manter as mãos fora da minha calça
quando estávamos no colégio. Ser uma mãe adolescente nunca
esteve nos planos. — Ela se inclinou e bagunçou o cabelo de
Eloise. — Mas tudo funcionou. Cometemos todos os nossos erros
como pais de Aiden, então quando o resto de vocês apareceu, nós
sabíamos como não os estragar muito.

Pressionando as palmas das mãos nas órbitas dos olhos,


respirei fundo algumas vezes.

Minha mãe colocou a mão nas minhas costas. — O que


aconteceu, Aiden?

Eu pausei. — Nada.

Era verdade. Mas não era.

Eu fiz as pazes com a perda de Beth e o que isso pode


significar para o meu futuro. De luto por minha esposa, de luto
pela ausência de sua natureza doce e engraçada, por saber que
Anya pode não se lembrar dela quando crescer. Nenhuma vez nos
últimos dois anos eu tinha conhecido uma mulher que despertasse
qualquer tipo de reação.

Então, embora nada tivesse acontecido com Isabel, dentro de


mim não parecia nada.

Parecia terrivelmente como se alguém tivesse acionado um


botão cuja localização foi mantida em segredo, até mesmo de
mim. Não era como se eu estivesse tateando no escuro, tentando
forçar a atração por alguém. Não havia nenhuma lacuna vazia em
minha vida que eu estivesse procurando preencher.

Mas, agora, tudo que conseguia pensar era como ela teria
respondido se eu deslizasse minha mão atrás de seu pescoço e
tomasse sua boca com a minha. Como ela se encaixava bem em
mim, como nos moveríamos bem porque ela já provou que poderia
me acompanhar passo a passo. Se eu permitisse que as imagens
progredissem com Isabel, nunca teria que me preocupar em
quebrá-la, porque a verdade era que ela provavelmente me teria
nas minhas costas e à sua mercê antes de chegarmos a esse ponto.

— Foda-se — sussurrei.

Mamãe fez uma careta. — Língua. Eu criei você melhor do


que praguejar na minha frente.

Eloise gargalhou de alegria. — Ohhhh, isso é bom. Vamos,


dê-nos o furo.

— Ela é bonita? — minha mãe perguntou.

Eloise suspirou. — Mãe, não reduzimos mais o valor de uma


mulher às suas características físicas. Ela pode ser bonita e ter o
QI de uma salada, e então é tudo desperdiçado.
— Ela não é — eu me ouvi dizer. Em seu silêncio atordoado,
eu queria puxar as palavras de volta.

— Uma vadia monstruosa? — Eloise perguntou.

— Não. Quero dizer, ela também não é. — Eu mantive meu


olhar para o balcão porque, aos trinta e cinco anos, eu nunca tive
uma conversa com minha mãe e minha irmãzinha sobre
mulheres. — Bonita. Ou... não é a palavra certa, pelo menos.

Por alguma razão, o caminho do meu cérebro causou um


tremor de pânico na minha espinha. Tentar definir o que Isabel era
ou não era, neste contexto, fez meu peito ficar pesado e apertado,
e minhas mãos seguraram um leve formigamento.

Não, Isabel não era alguém que alguma vez descreveria como
bonita. Era uma palavra tão fraca.

Até mesmo linda parecia errado.

Lembro-me de levar Anya ao zoológico, talvez um ano atrás,


e assistimos à exibição da pantera por uma hora inteira. Algo sobre
aquele animal - esguio e poderoso, enquanto andava e rondava -
hipnotizou nós dois quando nos sentamos em um banco de
madeira duro. Às vezes, ele desaparecia atrás de uma vegetação
luxuriante, mas quando voltava, um movimento de sua cauda ou
um estiramento de seu corpo esguio e extraordinário e minha
respiração parava em meus pulmões.

Isso foi o mais perto que eu pude chegar da aparência de


Isabel.

Sim, ela era feroz e forte, mas ela não era apenas essas coisas
também. Enquanto meu coração batia forte, lembrei-me da curva
de seus lábios quando ela olhou para mim. Eles estavam
cheios. Formato perfeito. A coisa mais suave sobre ela quando
tentei separar Isabel em atributos individuais.

— Qual é a palavra certa? — minha mãe perguntou


gentilmente.

— Basta dizer a primeira coisa que vier à sua cabeça — Eloise


cutucou.

Minha voz saiu como um sussurro abafado: — Eu não posso.

Ninguém disse nada. Nenhuma delas se moveu. Eu nem


tinha certeza de que elas estavam respirando. Quando levantei
minha cabeça, as duas estavam boquiabertas para mim. A
admissão ainda estava lá, e eu não poderia voltar atrás. E nem
tinha certeza se queria. Mais do que qualquer coisa que eu poderia
ter admitido para elas, foi o mais revelador.

Eu tinha perdido a mulher que amava e ainda não conseguia


pensar nela sem sentir aquele hematoma, e não sabia como
envolver minha mente em torno da ideia de que qualquer outra
pessoa já poderia entrar no lugar dela.

— Oh, Aiden — minha mãe disse, seus olhos ficando


lacrimejantes.

Sua reação desencadeou uma pequena explosão de pânico,


balançando a base deste plano cuidadosamente cultivado em
minha cabeça. — Tudo que eu quero é algo pacífico, mãe. Vim aqui
para fazer um lar para mim e Anya, algo bom e sólido no qual
possamos nos estabelecer. Eu não destruí nossa vida por nada
assim. Eu sou o chefe dela.

Eloise assentiu com os olhos arregalados. — Abuso de poder


não é brincadeira. Você tem que saber que ela quer.
— Eloise — minha mãe repreendeu.

— O quê? Eu não quero que meu irmão seja um daqueles


idiotas que pensam que podem fazer o que quiser. — Ela apontou
o dedo para mim. — Você não pode. Seja respeitoso.

Eu dei uma olhada nela.

— Desculpe — ela murmurou. — Eu terminei agora.

— É por isso que particularmente não estou com vontade de


falar sobre isso. — Eu me levantei com um suspiro. — Nada
aconteceu. O que quer que eu possa ter pensado ou imaginado ou
o que seja não importa, porque nada aconteceu e nada
acontecerá. Mudar para cá foi fazer o que era melhor para Anya,
não para que eu pudesse começar algo com minha gerente, que é
uma década mais jovem do que eu.

— Oooh — Eloise respirou, — Diferença de idade. Há tantas


camadas assim.

— Você pode amordaçá-la? — perguntei à mamãe.

Ela riu. — Tenho vinte e um anos de tentativas malsucedidas


que diriam que não.

Eloise nos ignorou, suspirando feliz. — Eu nem consigo lidar


com o quão grande é isso. É como olhares proibidos e toques
acidentais no trabalho, e você está procurando uma segunda
chance no amor mesmo que você seja meio velho demais para ela,
então ela é toda jovem e gostosa, — minha mãe bateu com a mão
sobre a boca de Eloise.

O que eu apreciei porque meu cérebro foi a algum lugar que


não tinha antes.
A voz cansada de Beth me provocando que ela me
assombraria se eu me apaixonasse pelo primeiro corpo quente e
apertado que encontrasse.

Meu intestino agitou-se desconfortavelmente com a


realização.

— Obrigado — eu disse a minha mãe. — Eu vou pegar


Anya. Você pode levar a mochila dela até a minha caminhonete
para mim?

Mamãe acenou com a cabeça. — Sim.

Quando ela foi pegar a mochila, Eloise me deu um sorriso


envergonhado. — Desculpe, estou lendo alguns livros agora, e
posso ter me empolgado um pouco.

— Pode?

Ela suspirou desanimada. Minha irmã era o meu oposto em


quase todos os sentidos. Ela falava sem pensar e sentia tudo tão
grande e alto, e em momentos como este era difícil estender a graça
quando a última coisa que eu precisava era ela falando sobre
abuso de poder, o corpo jovem e quente de Isabel e como eu era
muito velho para ela.

— Está tudo bem, El. — Eu coloquei meu braço em volta do


seu ombro para um abraço, dando um beijo no topo de sua cabeça
quando ela me deu um aperto. — Mas acredite em mim, não
preciso de ninguém me lembrando de todos os motivos pelos quais
nada pode acontecer entre mim e Isabel.

— Nada?
Eu dei a ela uma cutucada gentil. — Nada. Vou voltar a
trabalhar com a cabeça no lugar porque isso é o melhor para todos.

— Tão chato — ela sussurrou.

Eu não respondi, mas me fez sorrir. Não foi até que eu estava
saindo da cozinha que ela me parou no meu caminho.

— Beth gostaria que você fosse feliz, você sabe.

Lentamente, eu me virei. — Eu estou feliz.

Ela balançou a cabeça. — Você está resolvido. Há uma


diferença, irmão mais velho. E espero que você não ignore a
possibilidade de um porque você está tão fixo no outro.

Suas palavras ecoaram em minha cabeça enquanto movia


uma sonolenta Anya para dentro da caminhonete e nos levava para
casa. Eu a coloquei em sua cama e depois afundei no sofá da sala
de estar com um suspiro. As palavras continuaram a soar, sem
parar, como um sino que eu não conseguia desligar.

Mesmo se ela estivesse certa, não importava.

Se eu me imaginava beijando Isabel ou não, se minhas mãos


coçavam para deslizar sobre sua pele, ou como, naquele momento,
minha boca encheu de água com a ideia de me enterrar ao máximo
até que nós dois perdêssemos a cabeça, não era esse o ponto.

Não importava o que minha irmã disse, esta fase da minha


vida era sobre como encontrar um alicerce estável e uniforme. Não
era sobre calor e hormônios, sobre atração que se escondia atrás
do disfarce de interesse.

Já tinha casado com a mulher que amava.


Já a tinha enterrado.

Nada menos que um milagre me faria querer fazer isso de


novo.
Aiden: Anya está doente, então ficarei em casa hoje,
possivelmente amanhã. Você poderia avisar aos dois clientes que
tenho na minha agenda hoje? Obrigado, Ward.

O suspiro que escapou da minha boca enquanto eu lia sua


mensagem veio sem permissão. Tanto para virar uma nova página
e estender um ramo de oliveira há muito atrasado. O grande café
preto estava na beirada da mesa da frente, seu nome rabiscado na
lateral. Tomei um gole e olhei para o copo. O pedido foi um palpite,
porque eu nunca o vi beber café.

Antes de responder à sua mensagem, peguei o copo, fui até o


bebedouro e o derramei lentamente. O líquido escuro girando em
torno do ralo me fez sorrir um pouco com a ironia de que agora me
encontrava despejando o café que pretendia dar a ele.

Joguei o copo vazio na pequena lata de lixo contra a parede e


voltei para a recepção. Peguei meu telefone e digitei os números de
telefone de seus clientes porque, embora eu pudesse ligar para eles
e oferecer uma cobertura, rapidamente aprendi que as pessoas que
queriam treinar com Aiden só queriam treinar com Aiden.

Não que eu pudesse culpá-los.

Eu: Claro. Você não tem ninguém agendado amanhã, então


tome o tempo que precisar.

Aiden: Eu agradeço. Se você não se importa, há um pedaço


de papel na minha mesa ao lado do computador. Esqueci de
adicionar esse cliente ao calendário do final desta semana.

Eu: Não tem problema.

Os três pontos na tela saltaram e depois desapareceram. Um


dia de cada vez. Não importa o quão impaciente eu pudesse ser,
nenhum relacionamento sólido - independentemente do tipo - foi
construído do nada.

Eu: Cuidaremos de tudo aqui. Diga a Anya que espero que


ela se sinta melhor.

Aiden: Eu vou.
Aiden: Obrigado novamente.

Eu: Só estou fazendo meu trabalho.

Aiden: Fico feliz em ouvir isso, Ward. Mesmo que minhas


costas ainda doam.

Eu ainda estava sorrindo quando entrei em seu escritório


algumas horas depois. O pedaço de papel foi fácil de encontrar e
meus olhos se arregalaram quando vi o nome de seu novo cliente. A
academia já contava com uma série de ex-clientes atletas,
simplesmente por causa da minha ligação com os Wolves e a
reputação de Amy.

Atletas de elite atuais - incluindo aquela que eu assisti jogar


futebol feminino dos Estados Unidos nos últimos anos - eram
novos.

A conexão claramente veio de Aiden, e isso fez minhas rodas


girarem sobre quais seriam seus planos para o ginásio. O dia
passou em um piscar de olhos. Assim como o próximo.

Não era mais fácil sem ele lá, porque eu sentia uma estranha
urgência para ver se poderia agir normalmente perto dele
agora. Ou tão normal quanto eu era capaz de depois de nosso jogo
de sparring sexualmente carregado.
No terceiro dia, cheguei ao trabalho com outro porta-bebidas
nas mãos. Um para mim, um para Emily e outro café preto para
Aiden.

Quando sua hora típica de chegada passou sem um sinal


dele, coloquei o café no canto da minha mesa e comecei a
trabalhar. Emily enfiou a cabeça pela porta.

— Ligação para você — disse ela. — E o entregador está aqui


com uma entrega enorme. Para onde eles devem ir?

— Quantas caixas?

— Provavelmente doze ou mais.

Eu olhei para o meu escritório. — Coloque-as bem na minha


porta. Não quero aglomerá-las na frente. Vou ver o que são.

Ela saiu com um aceno de cabeça e eu toquei no botão do


telefone da minha mesa para atender a chamada.

— Isabel falando.

— Ward.

Meus olhos se fecharam brevemente ao som de sua


voz. Então talvez eu não estivesse tão quente mantendo essa
reação sob controle. — Ei, chefe. Como está Anya?

Ele suspirou. — Um pouco melhor, ainda não voltou ao


normal. A febre dela passou, mas...

Recostando-me na cadeira, coloquei o telefone entre a orelha


e o ombro. — Nós podemos segurar o forte aqui se você estiver
preocupado com isso.
— Eu não estou. Eu confio em você. — Ele fez uma pausa. —
A nova mercadoria deve chegar hoje ou amanhã.

— Então é isso que está sendo empilhado do lado de fora da


minha porta agora — eu disse.

— Chegou?

— Agora mesmo.

— Bom. — Mas ele parecia desapontado. Provavelmente


também estaria, se tivesse comprado a academia e colocado meu
nome em tudo.

— Quer que eu as deixe para você abrir? — perguntei com


cuidado. — É um grande negócio.

Ele ficou quieto. — Você se importaria?

— De jeito nenhum.

— Obrigado, Ward — Aiden suspirou. — Eu gostaria de poder


fugir e fazer isso hoje, mas não posso sair.

Minhas sobrancelhas baixaram. — Ela ainda está doente?

Ele hesitou antes de responder. — Anya não fica doente assim


desde... desde Beth. Ela realmente não quer ninguém além de mim
agora.

Houve um punho estranho fechando ao redor do meu coração


com o quão cuidadosamente ele disse isso. Como se ele não
quisesse divulgar muito. Como se tivesse revelado algo.

Lambi meus lábios. — Meu irmão costumava nos comprar


esses livros de adesivos especiais quando ficávamos doentes. Ele
os colocava em uma bandeja com um grande copo de 7 Up5 com
um canudo chique e uma pequena tigela de biscoitos salgados. —
Minha pele estava quente compartilhando a história e esfreguei
distraidamente o lado do meu pescoço. — Eu nem gostava muito
de adesivos, mas nunca os recebíamos porque minhas irmãs
gêmeas uma vez colocaram centenas deles em toda a estrutura da
cama e ele não conseguia tirá-los.

Aiden fez um som que poderia ser uma risada, mas eu não
tinha certeza. — Quantos anos você tinha?

— Doze. — Eu balancei minha cabeça. — Talvez não funcione


para Anya. Mas eu sei, para nós, foi apenas uma distração
suficiente.

— De que? — ele perguntou baixinho.

— Tudo.

Aiden estava quieto e, nesse silêncio, me senti nua.

— Vou ver se minha mãe consegue encontrar algum — disse


ele depois de um momento. — Obrigado.

— Você bebe café? — perguntei de repente. Meus olhos se


fecharam em mortificação.

— Não — ele respondeu, e eu ouvi a confusão clara em sua


voz.

5 7 Up ou Seven Up é uma marca de refrigerante.


Minha mão encontrou o fundo do copo, ainda na minha
mesa. — Eu estava... peguei um café para você no caminho esta
manhã.

Mais uma vez, Aiden ficou em silêncio. Oh, o silêncio era ruim
para mim quando eu não tinha certeza de como proceder. Isso
causava todos os tipos de impulsos balbuciantes estranhos.

— Quer dizer, eu comprei para mim e para Emily também —


eu disse. — Eu só... queria retribuir o favor. Porque eu não deveria
ter jogado fora aquele que você me deu. Aquilo foi rude.

Ele cantarolou baixo em sua garganta. Descobri que gostei do


som. Muito.

— Perdoada — respondeu ele. Havia um sorriso em sua voz e


eu gostaria de poder vê-lo.

Mas foi só isso. Nada mais. Não foi a primeira vez que Aiden
não reagiu da maneira que eu esperava. Talvez, como Paige disse,
ele fosse um mistério para mim tanto quanto eu era para ele.

Eu exalei levemente. — Boa sorte com os adesivos.

Ele disse meu nome como um adeus, e mesmo que não fosse
um ramo de oliveira... era alguma coisa.

Na manhã seguinte, deixei um chá gelado na beirada da


recepção quando a caminhonete dele parou. Não havia como eu
ser capaz de respirar normalmente enquanto ele se aproximava.

Talvez fosse porque eu só o conhecia - o verdadeiro ele - por


um período tão curto de tempo, mas os quatro dias sem vê-lo
pareceram um mês. Em sua ausência, a velha sinalização do
ginásio havia sido removida do prédio, e vendo-o parar para olhar
para o espaço em branco com uma expressão inescrutável no
rosto, eu desejei desesperadamente saber o que estava
acontecendo em sua cabeça.

Com um último olhar para a área onde a nova placa


iluminada iria, ele abriu a porta.

— Ward — disse ele em saudação. Mas ele estava mais lento


para falar, sua voz mais baixa e seu contato visual era... uma
vibração própria. O telefonema tinha sido uma prática tão
escassa. Este foi o verdadeiro teste depois do nosso boxe.

Seus olhos pousaram no copo e um lado de seus lábios se


curvou.

Lentamente, Aiden o pegou, estudando o conteúdo antes de


tomar um gole.

— Ainda não — disse ele. — Bom palpite, no entanto.

Nem uma única palavra saiu da minha boca quando ele


finalmente cortou o contato visual e seguiu para seu escritório.

Não é café. Não é chá gelado.

Eu me peguei olhando para ele durante todo o dia. Às vezes,


seu olhar se enredava no meu, e às vezes parecia que ele estava
alheio à minha atenção.

Como quando ele abriu a primeira caixa de novos produtos e


levantou uma das camisetas por um longo minuto e apenas olhou
para ela.

Minha cabeça se inclinou de onde distraidamente limpei


algumas sacolas com Kelly depois da aula.
— Ele realmente gosta dessa camisa — ela sussurrou.

Eu sorri. — Parece que sim.

— Sabe — ela falou — por mais merda que eu dito sobre ele
no início, ele é um chefe incrível. Achei que ele seria... eu não sei...
um daqueles lutadores prima donna idiotas.

— Ele definitivamente não é isso — murmurei.

Ele comprou livros de adesivos para a filha doente e manteve-


se discreto. Ele me encarou quando pensou que eu estava sendo
imprudente com minha segurança e não vacilou com a minha
raiva. Ele comprou cafés e limpou bancos de peso. Em um
momento, parecia que ele ia me apoiar contra uma parede e, no
próximo, ele estava mantendo uma distância profissional educada.

— Se você olhar mais fixamente, você vai fazer um buraco na


pele dele — Kelly comentou levemente.

— Só estou tentando entendê-lo.

— Uh-huh.

Eu revirei meus olhos.

— Vocês dois estão circulando desde o dia em que ele


começou. É como assistir as duas pessoas que mais evitam flertar
no universo tentando descobrir como falar uma com a outra.

Joguei uma toalhinha usada nela e ela riu.

A atenção de Aiden mudou em nossa direção, e com a


camiseta dobrada em sua mão, eu me senti um pouco como se ele
estivesse me estudando da mesma forma que eu o estava
estudando.

No dia seguinte, estava de folga.

E no outro, acrescentei o Kombuchá6 à lista de bebidas que


Aiden não bebia pela manhã.

Também não era matcha7, que tinha gosto de sujeira,


segundo ele.

A rotina que estabelecemos ao longo da semana seguinte


mantinha um tipo estranho de tensão, diferente do que tinha sido
no início. Talvez porque estávamos em pé de igualdade, ou talvez
porque eu não estava mais fazendo o meu melhor para evitá-lo.

E o que descobri, ao vê-lo interagir com sua lista crescente de


clientes, com os novos treinadores que contratamos, com o resto
de nós, foi que eu gostava dele tanto quanto o queria.

Seu senso de humor estava lá, escondido sob a reserva.

— Limonada? — ele perguntou. Ele ergueu o copo e olhou


feio.

— Aparentemente, não sou muito boa nisso. — Eu o observei


por cima do monitor do computador.

6
A Kombucha, também Kombuchá, é obtida tradicionalmente a partir da
fermentação do chá adoçado das folhas da planta Camellia Sinensis.

7 Matcha refere-se ao broto do chá verde em pó ou moído.


— Parece que eu estou bebendo Pledge.

Revirei os olhos e Aiden me observou com atenção.

— Quer ajuda com isso? — ofereceu, acenando com a cabeça


para todas as caixas que eu ainda estava
desempacotando. Pedimos novas prateleiras, novos racks para
combinar com a nova marca, e estava demorando mais do que eu
pensava enquanto treinava os novos contratados.

Eu balancei minha cabeça. — Tudo bem. Além disso, você


tem uma nova cliente chegando às nove. Toda a papelada dela está
na sua mesa.

— A jogadora de futebol? — indagou.

Com um aceno de cabeça, virei-me para pegar outra pilha de


camisas. Elas estavam fora do meu alcance e ele se inclinou para
empurrar a pilha para mais perto de mim. Eu sorri.

— Como você conhece ela? — perguntei.

— O mesmo agente. Ou meu ex-agente, pelo menos.

Deslizei uma pilha de camisas cuidadosamente dobradas na


caixa correta para seu tamanho. — Você não precisa mais de um
agente?

Aiden balançou a cabeça. Muitos atletas, especialmente se


fossem conhecidos o suficiente, mantiveram um fluxo constante
de renda de patrocínio após a aposentadoria. Ele estava me
observando, considerando os olhos, como se de alguma forma
soubesse o quão difícil isso era para mim. Mas ele também não
compartilhou mais nada.
Eu respirei fundo e olhei para ele. — Você provavelmente
ganharia dinheiro mais fácil do que o que está fazendo aqui, se
ainda tivesse um.

A boca de Aiden se suavizou, mas ele não sorriu.

Ele olhou para o ginásio e gostei da maneira como seus olhos


se aqueceram quando ele olhou para o espaço, o
equipamento. Como se fosse algo mais. — Provavelmente, Ward.

Quando ele desapareceu em seu escritório, enterrei meu rosto


na camisa e tentei acalmar meu coração disparado.

Mulheres normais de 25 anos podiam flertar, rir e fazer


perguntas a um homem bonito sem desencadear um ataque de
ansiedade, mas eu não.

Não Isabel Ward, a garota que poderia lidar com qualquer


coisa no mundo inteiro, exceto essas três coisas.

Sua nova cliente veio, e eu me saí muito bem em não


demonstrar ser fanática quando ela se apresentou.

— Bem-vinda ao Hennessy's — eu disse a ela, entregando-lhe


um cartão de sócio. — Aiden vai encontrar você nas esteiras em
apenas um minuto.

Ao me aproximar de seu escritório, tirei o nervosismo de


minhas mãos.

Um dia de cada vez. Mesmo que ele fosse apenas meu chefe,
mesmo que nunca repetíssemos o que aconteceu no espaço aberto
no meio da academia, era assim que relacionamentos de qualquer
tipo eram construídos.
Gentilmente, bati na porta aberta.

— Entre — ele disse.

Aiden estava sentado na frente de seu monitor e minha


garganta secou porque ele deslizou os óculos de armação preta
sobre o rosto. Nenhuma vez em toda a minha vida pensei em
óculos como atraentes, mas aparentemente, eu tinha um novo
fetiche.

O ex-lutador que virou empresário estava com um clima, e


eu gostei muito, muito mesmo.

Suas sobrancelhas se ergueram em expectativa.

— Certo — eu limpei minha garganta. — Ela está aqui para


sua sessão.

Aiden se levantou e jogou os óculos sobre a mesa. Eu recuei


para que ele pudesse deixar seu escritório, mas ele parou na porta,
seu corpo preenchendo o espaço. Sua cliente parou perto da
esteira, esticando as pernas, o joelho envolto em uma cinta
preta. Quando ela se machucou na última Copa do Mundo, quase
chorei.

— É um grande negócio — eu me ouvi dizer.

Ele não era um treinador mundialmente famoso. Ele não era


mais uma presença barulhenta nas redes sociais ou alguém cujo
nome era mencionado com frequência. Mas, ainda assim, ela
estava aqui para se tornar mais forte.

Ele não perguntou o que eu quis dizer. — É.


Meu olhar permaneceu em seu perfil. E quando ele se virou,
os olhos fixos nos meus, não desviei o olhar.

— É por isso — disse ele calmamente. — Isso não é dinheiro


fácil. Mas, neste ponto da minha vida, quero construir algo que
importe.

Então ele se afastou e fiquei me perguntando se não estava


piorando completamente as coisas ao tentar entendê-lo melhor.

Ele estava no meio de sua sessão quando as gêmeas


apareceram, mochilas de ginástica penduradas nos ombros.

— Eu não sabia que vocês duas viriam hoje — eu disse a eles.

Lia apontou o polegar para Claire. — Foi ideia dela.

Eu olhei para Claire. — A ideia de malhar nunca é sua.

Claire ergueu as mãos. — Não viemos para isso.

Minhas sobrancelhas se ergueram. — Para que então?

Lia ergueu dois dedos. — Um, queríamos dar uma olhada nele
porque você ainda está sendo muito cautelosa, e dois, Molly nos
contou sobre a briga.

— Não foi uma briga, por si só — eu me esquivei.

Claire colocou a mão no braço de Lia. — Entendemos. E não


estamos tomando partido. Eu só queria ver como você está, porque
não a temos visto muito ultimamente.

Levantando-me do banquinho, juntei-me a elas enquanto iam


para os sacos. — Sem tomar partido, hein? Você está dizendo que
sou a única que não estou feliz com a perspectiva de vê-la.
— Se eu achasse que ela realmente viria, provavelmente
precisaria me medicar — disse Lia.

Claire sorriu. — Eu iria de qualquer maneira. Mas eu tendo a


concordar.

Aiden olhou para cima enquanto eu me sentei no chão com


elas quando começaram a se alongar. Mas sua cliente começou
uma nova série, e ele desviou o olhar de mim e das gêmeas.

— Eu apenas prefiro não pensar sobre ela vir ou não vir — eu


disse a eles. — Eu odeio isso pairar sobre o dia.

Claire colocou as mãos na sola do sapato e se inclinou para


frente. — Só não lute contra esse desconforto, sabe? Ignorar seus
sentimentos sobre isso só vai piorar as coisas.

— Obrigada, Srta. Terapeuta do Futuro.

Ela sorriu. — Além disso, mesmo se ela vier, ninguém disse


que você tem que se envolver com ela.

Lia pressionou o braço sobre o peito e se espreguiçou. — Ela


não vai aparecer. De jeito nenhum ela teria coragem.

Quando eu me mexi no chão, Claire deu uma olhada em sua


irmã gêmea. — Temos muito tempo para descobrir.

Aparentemente, meu desejo de falar sobre Brooke estava


claramente estampado em meu rosto.

Lia deu uma olhada por cima do ombro, onde Aiden estava
guiando sua cliente em algumas investidas. Ele apontou algo em
seu corpo, e ela acenou com a cabeça, imediatamente se
ajustando. — Puta merda, é Allie Catalano?
Eu concordei.

Ela assobiou. — Mal posso esperar para contar a Jude.

— Como vai com ele? — Claire perguntou cuidadosamente.

Eu dei uma olhada nela. — Perfeitamente bem, obrigada.

Claire sorriu. — Ele falou muito sobre sua esposa? Eu não


posso imaginar como deve ser difícil começar de novo assim.

— Só uma vez — eu disse, olhando para ele novamente. Seus


olhos encontraram os meus e seguraram.

Em vez de desviar o olhar, como deveria ter feito antes,


respirei fundo e dei a ele um pequeno sorriso.

— Não é realmente o tipo de tópico que você pode empurrar


se alguém não quiser discuti-lo — disse Lia. — Imagine se Logan
perdesse Paige. Ele também não seria capaz de falar facilmente
sobre ela.

Nós três ficamos quietas. Meu coração ficou um pouco


apertado, um pouco dolorido só de pensar nisso. Ele nunca estaria
pronto. Nunca.

Talvez esse fosse o tipo de casamento que Aiden tinha. O tipo


que ele nunca superaria.

Um dia de cada vez, eu me lembrei.

As gêmeas foram embora.

Sua cliente foi embora.


Uma aula começou e terminou enquanto eu continuava a
trabalhar.

E me vi incapaz de parar de pensar no que Lia havia dito. O


que esse novo começo poderia significar para ele.

Enquanto eu pensava nisso, um caminhão gigante parou na


frente do prédio e eu pulei no chão para ir ao escritório de Aiden.

— Tem um minuto? — perguntei, colocando minha cabeça na


fresta.

Ele suspirou, beliscando a ponta do nariz. — Para você, sim.

Minhas bochechas ficaram quentes e, à luz de seu escritório,


pensei que talvez as dele também.

— Os caras estão aqui para instalar a nova placa — eu dei a


ele um pequeno sorriso. — Quer assistir?

Ele me estudou. — Se você se juntar a mim.

Cuidadosamente, eu balancei a cabeça e deixei seu escritório


enquanto ele me seguia.
Quase me convenci de que o convite para ela se juntar a mim
não significava nada. Quase. Porque enquanto caminhávamos
lado a lado, uma consciência baixa e zumbidora se arqueou entre
o corpo dela e o meu, embora não tenhamos nos tocado.

Nada mais seria possível com ela, eu comecei a perceber. Mas


era tolerável, pelo menos para minha própria sanidade, contanto
que não progredisse além disso.

Foi essa consciência que me fez dar um passo um pouco mais


longe dela, porque a última coisa que eu precisava era arruinar a
facilidade que tínhamos encontrado nos últimos dias.

— Limonada? — ela perguntou.

Na minha cabeça, eu ri alto. Mas eu mantive meu rosto calmo


enquanto respondia. — Não.

Quando olhei em sua direção, ela estava carrancuda.

— Não é justo, você sabe — ela disse levemente. — Eu sei que


você perguntou a Amy o que comprar para nós.
Empurrei a porta do ginásio e gesticulei para ela sair do
prédio na minha frente. — A vida nunca é justa, não é, Ward?

Ela bufou.

Os homens de pé no guindaste fixaram a placa com precisão


como Isabel, e eu encontrei um local para ficar e observar. As
bordas do H apareceram, um azul vívido que brilharia
intensamente quando as luzes fossem acesas à noite.

Ao meu lado, Isabel protegeu os olhos e os observou


trabalhar.

Seu corpo se expandiu em uma inspiração profunda, e eu me


encontrei esperando para ver se ela falaria, o que ela diria.

— Antes de vir aqui pela primeira vez, não tinha ideia de como
lidar com todas as coisas que segurava. Aos quatorze anos, eu não
sabia que era apenas... raiva esperando para sair. — Ela lambeu
os lábios quando mais do sinal apareceu. — Medo também, eu
acho. Eu terminei meu primeiro treino uma bagunça de soluços.
— Ela fez uma pausa, uma expressão triste em seu lindo rosto, e
eu não conseguia desviar os olhos dela. — Eu odeio chorar. Mas
este lugar me deu algo seguro. Um lugar seguro para colocar para
fora todas as coisas que eram grandes demais para o meu corpo.

Era fácil imaginá-la naquela idade, olhos ardentes e emoções


explodindo para fora dela.

Os trabalhadores foram para o outro lado, metade da placa


agora visível.

— Nunca amei um lugar mais do que a casa onde meu irmão


nos criou — ela continuou. — Até eu passar por aquelas portas. —
Isabel se virou para mim, olhos suaves e solenes. — Estou muito
orgulhosa de fazer parte do que você está construindo aqui,
Aiden. Você está pegando algo que amo e está tratando com o
mesmo cuidado que eu faria se fosse meu.

Minha reação às palavras dela, sua admissão, não foi pacífica


ou calmante, e levou tudo em mim para ficar parado, não pegar
sua mão, simplesmente encontrar uma âncora no momento. —
Obrigado — eu disse com uma voz rouca.

Através do som das brocas que eles usaram, do barulho alto


de metal contra metal, Isabel e eu caímos em um silêncio
confortável.

Fechei os olhos enquanto o sol aquecia minha pele e imaginei


Beth vendo isso. Ela ficaria orgulhosa, nesta casa que eu
encontrei, neste paraíso que eu estava construindo.

Os trabalhadores puxaram a última das coberturas de


proteção para baixo e, quando o guindaste baixou, finalmente vi o
nome completo.

— Parece bom — disse ela calmamente.

As palavras demoraram a subir pela minha garganta,


passando pelas bordas duras da emoção que enchia o espaço: —
É verdade.

De alguma forma, parecia certo sermos apenas ela e eu


testemunhando este momento, e eu me recusei a investigar o
porquê.

— Você não quer cortar uma grande fita ou algo assim? — ela
perguntou.

Eu balancei minha cabeça.


— Sabe, você continua me surpreendendo.

Olhando para ela, descobri que sua atenção ainda estava


focada na placa. — Sim?

— Conheci muitos atletas, atuais e antigos. Mesmo que não


amem os holofotes, eles sabem como tirar proveito disso quando
necessário. Achei que você faria isso aqui.

Eu cantarolei, cruzando os braços sobre o peito. — Alguns


anos atrás, acho que sim.

Isabel me deu uma olhada rápida, então se virou para a frente


do prédio.

— Pode não ser assim para todos — continuei —, mas quando


minha esposa morreu, odiei a atenção que veio com isso. Com
minha decisão de deixar o esporte. Ser o centro do foco de todos
no pior momento da sua vida mudou tudo. Nada sobre isso me
atraiu mais. — Eu encarei as letras em azul. — Eu sei que parece
uma loucura.

— Não é uma loucura. — Ela me deu uma olhada, mechas de


seu cabelo quase preto deslizando em seu rosto com a brisa. —
Mas você merece comemorar isso. Sua família e amigos também.

Minhas mãos coçaram para deslizar seu cabelo atrás das


orelhas. Eu os deixei onde estavam. — Você acha?

Seus lábios se contraíram nas bordas, o início de um sorriso


malicioso. — Bem, se alguém fosse planejar uma festa, eles
deveriam ser avisados com bastante antecedência.
— Ahh. Se alguém for planejar, eu te aviso. — Eu levantei
uma sobrancelha. — Nada grande, se o fizermos. Eu posso ligar
para alguém e trazer um pouco de imprensa, no entanto.

— Ok. — Ela mordeu o lábio inferior e lançou um rápido olhar


em minha direção. — Chocolate quente?

— Não — eu murmurei.

Isabel bufou baixinho e, ao voltar para o ginásio, me peguei


sorrindo.

Na manhã seguinte, Aiden parecia cansado e um pouco mal-


humorado quando entrou, mas ao ver um copo vazio cheio de gelo
na mesa da frente, seus olhos se aqueceram.

— Tão perto.

— Bem, estou ficando sem opções.

— Talvez você só precise se esforçar mais, Ward.

Eu permiti uma pequena revirada de olhos e voltei para a tela


do computador, onde um e-mail apareceu e me fez sorrir.

— Boas notícias? — Aiden perguntou.


— Sim. — Eu rolei o e-mail. — É da reitora da vida estudantil
da UDub. Ela vai trabalhar conosco na divulgação das notícias
sobre nossa aula de autodefesa. Ela achou que era uma ótima ideia
e, se conseguirmos pessoas suficientes para se inscrever,
poderíamos oferecer algumas sessões diferentes para não
sobrecarregar o espaço.

Aiden olhou para o ginásio, e eu poderia dizer que ele estava


tentando imaginar.

Eu me levantei, gesticulando além do ringue. — Poderíamos


empurrar parte do equipamento para o outro lado e remover
alguns sacos para abrir temporariamente algum espaço. Mas eu
acho que para a primeira aula, devemos limitar as inscrições em
vinte para garantir que tenhamos espaço suficiente para nos
movermos.

Ele assentiu. — Soa bem.

Eu respirei lentamente. — Estamos cobrando pela aula?

Seus olhos estavam brilhantes e claros quando ele moveu seu


olhar de volta para mim. — O que você acha?

Meus lábios se contraíram com os seus perfeitamente


uniformes, perfeitamente irritados que eu sequer tivesse
perguntado. — Em geral? Ou sobre isso?

— Ward — ele rosnou.

Eu me senti como se estivesse cutucando um urso gigante,


mas inferno se eu não me sentia praticamente chapada por ser
capaz de ser apenas um pouco tagarela com ele. Tínhamos
chegado longe, percebi com grande orgulho. — Presumi que sabia
a resposta, mas não queria fazer nada sem a sua permissão.
Seus olhos brilharam. — Você quer dizer como quando você
tentou me chutar na cabeça algumas semanas atrás?

Com o coração martelando com o calor em seu tom, fiquei


muito orgulhosa de mim mesma quando levantei uma
sobrancelha friamente, tão friamente. — Não é minha culpa você
não estar prestando atenção.

Ele me deu uma olhada demorada, e esticou apenas o


suficiente para que minha barriga revirasse
perigosamente. Sentando-me de volta no banquinho, amaldiçoei o
calor em minhas bochechas.

Aiden ficou quieto por alguns momentos, e peguei-me


prendendo a respiração para o que ele diria a seguir.

Foi a primeira menção daquela noite, e ele foi o único a trazer


isso à tona. Isso tinha que ser significativo, certo?

— O eletricista deve estar aqui em cerca de trinta minutos


para começar a configurar o sistema de varredura da porta — disse
ele. — Sinta-se à vontade para mandá-lo até o meu escritório
quando ele chegar.

Eu mantive meu tom leve. — Claro, chefe.

Minha mão tremeu ligeiramente quando cliquei em outro e-


mail, e ele ainda estava atrás de mim.

Mas quando ele se afastou, soltei um suspiro lento e voltei ao


trabalho.

O resto do dia correu bem. Eu dei uma aula e tive uma sessão
de treinamento. O eletricista instalou nosso novo sistema, e Emily
e eu trabalhamos nos dois dias seguintes para descobrir a
distribuição do novo sistema de cartão para todos os membros.

Eu coloquei uma caixa de leite na mesa de Aiden quando


voltei depois de um dia de folga, e seus lábios se contraíram.

— Oh, vamos lá — eu disse.

Ele se recostou na cadeira, as mãos apoiadas atrás da


cabeça. — Eventualmente, você vai conseguir porque ficará sem
opções.

Eu estreitei meus olhos em um clarão, e enquanto saía de seu


escritório, ouvi uma risada baixa e rouca que fez com que meus
braços se arrepiassem.

Foi esse som que me fez deslizar para uma imagem vívida,
Aiden beijando minha nuca, rindo quando me virei e tentei
capturar sua boca.

Assim que eu contemplei quanto tempo se passou desde que


eu me permiti entrar naquele espaço vazio, o som de alguém
passando um cartão-chave na porta foi registrado, e eu pisquei
algumas vezes para limpar meu rosto.

Com meu sorriso educado afixado, olhei para cima, apenas


para ver Anya esmagando seu rosto contra o vidro perfeitamente
limpo. Ela acenou freneticamente e eu sorri. Atrás dela estava um
cara alto e bonito com os olhos e mandíbula de Aiden, mas seu
cabelo era quase preto.

Eu odiei como imediatamente cataloguei todas as maneiras


que ele era menos do que Aiden.
Ele era mais jovem, com certeza. Se eu tivesse que adivinhar,
ele provavelmente era mais próximo da minha idade.

Ele não era tão alto, embora quando abriu a porta para Anya,
eu soube que ele ainda era um sólido um metro e oitenta e cinco.

Ele não era tão grande, embora parecesse forte e musculoso.

E ele não tinha aquele rosto constante e taciturno de Aiden,


porque quando ele me viu atrás da mesa, seu rosto se abriu com
um sorriso largo e bonito de dentes brancos.

— Mulher Maravilha! — Anya gritou, correndo ao redor da


mesa para lançar seu pequeno corpo em meus braços.

Emitindo uma risada chocada com sua saudação efusiva, dei-


lhe um abraço rápido depois a afastei para estudá-la. — Sem
truques nas vigas hoje, certo?

Ela acenou com a cabeça. — Tio Beckham também me fez


prometer. Só que ele me deu uma barra de chocolate gigante.

— Eu vejo a evidência disso. — Fiz um gesto para suas


bochechas com listras de chocolate.

— Anya Hennessy — disse o homem em uma voz


escandalizada — esse era para ser o nosso segredo. Quão rápido
você me entrega.

Sua risada me fez sorrir novamente. — A Srta. Isabel não vai


contar ao papai.

Ele se encostou na parede e me deu um estudo rápido. — A


Srta. Isabel não vai, hein?
Seu tom era inegavelmente sedutor, seus olhos verdes eram
calorosos e amigáveis e, honestamente, esse era o
problema. Porque “sair para namorar" estava na minha lista de
prioridades, tanto quanto uma depilação de corpo inteiro. Porque
aquele tom indiscutivelmente sedutor e olhos calorosos me
irritaram imediatamente. Eu me senti como um cachorro que
acabou de avistar outro cachorro à distância e, em vez de esperar
para ver como agiria comigo, meu instinto causou arrepios pelas
costas e o início de um rosnado no fundo da minha garganta.

Esse cara nem me conhecia. Eu não fiz nada para justificar


olhos sedutores e um tom sedutor.

Era por isso, senhoras e senhores, que eu ainda estava em


plena posse de um hímen.

Porque apenas homens intocáveis e emocionalmente


indisponíveis pareciam me atrair, porque coisas como essa não
aconteciam.

Anya saiu correndo para encontrar seu pai, deixando nós dois
sozinhos na recepção.

Ele estendeu a mão grande. — Beckham Hennessy.

Limpei a garganta para ter certeza de que um rosnado real


não emergia. — Isabel Ward.

— A gerente — ele esclareceu.

Eu concordei.

— Hmmm.

Meus olhos se estreitaram. — O que isso significa?


No começo, ele não fez nada além de sorrir, mas então ele
estalou os dedos como se eu não estivesse sentada ali olhando
feio. — Logan Ward é seu irmão, certo?

— Ele é.

— Ele é um gênio defensivo — disse Beckham.

— Ele é — repeti, desta vez injetando um pouco de calor na


minha voz. — Porém, eu nunca o vi assim enquanto crescia. Ele
foi apenas o cara que me forçou a fazer meu dever de casa e me
disse que eu não poderia torturar minhas irmãzinhas.

Isso o fez sorrir. — Eu tinha uma foto dele na minha parede


quando ele costumava jogar.

Meu rosto estava pegando fogo quando eu pensei sobre o fato


de que eu tinha fotos do irmão de Beckham na minha parede na
mesma época, mas, cara, minha boca ficou fechada.

Beckham se aproximou da mesa e apoiou os cotovelos no


balcão da frente. Como uma esquisita, empurrei a cadeira para
trás para que ele não estivesse tão perto.

— Você e eu provavelmente poderíamos trocar algumas


histórias absolutamente matadoras — disse ele.

Uma sobrancelha se ergueu. — Poderíamos? —


Murmurei. Por favor, não sobre pôsteres nas paredes, pensei
freneticamente.

Ele se inclinou um pouco mais e baixou a voz. — Imagine o


quanto temos em comum.
Minha cabeça se inclinou. Eu não consegui identificar esse
cara, porque seus olhos - de perto - não seguravam nada, exceto
simpatia educada.

— Beckham — uma voz profunda estalou.

Minhas costas se endireitaram. Porque Aiden apareceu na


porta, a mandíbula apertada e os olhos não muito sedutores.

Beckham não se moveu de sua posição, com a inclinação e a


proximidade. Seu sorriso se espalhou. — Aiden. É bom ver
você. Eu estava dizendo a sua gerente aqui que temos muito em
comum.

O rosto de Aiden estava tempestuoso. — Talvez você devesse


deixá-la voltar ao trabalho.

— Talvez ela queira falar comigo — disse Beckham.

— Talvez você deva prestar atenção em como ela está se


afastando de você — respondeu Aiden.

— Talvez — interrompi suavemente — ela possa falar por si


mesma.

Os olhos de Aiden travaram nos meus, e mesmo quando


todas as reações físicas normais "induzidas por Aiden"
imediatamente começaram, com o batimento cardíaco gaguejante
e as mãos formigando e a barriga cheia de borboletas, eu me
recusei a desviar o olhar.

Beckham assobiou. — Eu realmente gosto dela.

Meus olhos caíram e respirei fundo.


Beckham se recostou e bateu com a mão no balcão da
escrivaninha. — Vê? Poderíamos escrever um livro, você e eu.

— Sobre o quê? — Aiden gritou.

— Como lidar com irmãos mais velhos dominadores,


atleticamente talentosos e chatos.

A risada explodiu de mim tão rápido, tão alto, que não havia
como pará-la.

E os dois homens tiveram reações muito, muito


diferentes. Quando coloquei a mão na boca para conter os sons
histéricos que tentavam escapar, Beckham sorriu um pouco
presunçosamente demais.

E Aiden... ele parecia uma nuvem de tempestade.

Na verdade, eu nunca o tinha visto assim, e quando minha


risada diminuiu, tentei desesperadamente ignorar a sensação
crescente de que ele parecia... ele parecia com ciúmes.

— Beckham — ele disse — obrigado por deixar Anya. Você


não tem que ir trabalhar?

— Não, eu tenho muito tempo.

Meus olhos alternaram entre eles.

Aiden olhou ferozmente.

Beckham sorriu. — Eu estava tendo uma conversa


interessante com Eloise outro dia quando ela estava em casa.

Quando Aiden fez um barulho rosnando, no fundo de seu


peito, meus olhos se arregalaram. — Beckham — ele grunhiu.
Beckham se inclinou para mim novamente. — Eloise é nossa
irmã mais nova. Ela é um pouco intrometida às vezes, mas todos
nós a adoramos.

— Debatível no momento — interrompeu Aiden.

— Em quantos vocês são? — perguntei.

— Cinco — eles disseram em uníssono.

Meus lábios se curvaram em um sorriso. — Eu também tenho


uma grande família.

Com isso, o rosto de Aiden finalmente perdeu seu tom duro,


e ele acenou com a cabeça.

Beckham olhou para o relógio e, como se não tivesse instigado


toda essa conversa, girou as chaves do carro no dedo indicador. —
Bem, é melhor eu ir. — Ele estendeu a mão para mim novamente
e eu a peguei. — Isabel, foi um prazer conhecê-la.

Minhas sobrancelhas baixaram. — Acho que vou reter o


julgamento até não estar presa em uma disputa verbal entre vocês
dois.

Ele riu. — Aiden, te vejo mais tarde.

Aiden esfregou a testa. — Obrigado por cuidar de Anya.

Sua cabeça apareceu na porta. — Tchau, tio Beckham,


obrigada pela enorme barra de chocolate!
Beckham piscou para ela. — A qualquer hora, munchkin8.

Aiden olhou para suas costas recuando, e eu tentei sufocar


meu sorriso.

Que troca estranha e inesperada para mudar completamente


a trajetória do meu humor. Eu tinha visto tantos lados diferentes
dele agora, e nenhum deles - nem um único - era menos atraente.

Eu gostava de Aiden, o irmão mais velho rabugento. E eu


queria não gostar.

Com Beckham fora e Anya correndo de volta para o escritório


de seu pai, éramos apenas Aiden e eu. Eu me peguei prendendo a
respiração para ver se ele diria alguma coisa. Rezando para que ele
não o fizesse. Eu não tinha certeza.

E não era esse o problema?

Eu estava em um estado constante de empurrar e puxar o


que eu queria e o que eu precisava dele.

Ele abriu a boca para falar, fechou-a e balançou levemente a


cabeça. — Você está de folga neste fim de semana — ele comentou.

Eu balancei a cabeça lentamente. — Estou cuidando do meu


sobrinho enquanto meu irmão e sua esposa estão fora da cidade.
— Fiz um gesto atrás de nós na parte principal do ginásio. — Kelly
está me dando cobertura.

8 Pequena
Ele cantarolou em concordância. — Tenha um bom fim de
semana, então.

Aiden começou a se afastar e eu o observei com atenção. Eu


queria que ele ficasse com ciúmes por seu irmão flertar comigo.

Como se tivesse me ouvido pensar isso, Aiden fez uma pausa


e me encarou novamente. — Eu não deveria ter assumido que você
não queria falar com Beckham. Eu sinto muito.

Minhas sobrancelhas se ergueram. — Está bem.

Ele assentiu.

Respirei fundo, segurei seu olhar firmemente e levantei meu


queixo um pouco. — Não estou interessada no seu irmão.

Aiden ficou imóvel, e eu me xinguei para cima, para baixo e


para os lados por sentir que precisava explicar isso a ele.

No momento em que trocamos olhares depois que eu disse


isso, imaginei todo tipo de coisa.

Eu dizendo que estava interessada nele.

Que ele estava rapidamente se tornando minha pessoa


favorita para passar um tempo.

Que eu o queria.

Imaginei Aiden caminhando em minha direção, segurando


meu rosto com as duas mãos e inclinando sua boca sobre a
minha. Minhas mãos serpenteando sob sua camisa para que eu
pudesse memorizar os músculos com a ponta dos dedos. Eu
imaginei a maneira como ele seria capaz de me levantar facilmente,
a maneira como ele seria capaz de se mover e pressionar e
empurrar meu corpo em um emaranhado de prazer. Nem uma vez,
em toda a minha vida, eu fantasiei sobre alguém ter a força para
me segurar, me prender no lugar, mas nesta naquela cadeira, eu
sabia que o deixaria.

Deixar não seria bem a verdade. Eu imploraria a ele.

Eu entregaria todo o controle para Aiden, e tinha a sensação


de que ele saberia exatamente o que fazer com isso.

— Bom — ele murmurou, os olhos segurando os meus por


apenas um segundo a mais. E então ele voltou para seu escritório.

Foi só quando ele fez isso que finalmente comecei a respirar


normalmente. Por um tempo, parecia que ele e eu poderíamos ter
encontrado um terreno firme, um ponto de apoio para um novo
lugar que eu estava gostando.

Talvez eu estivesse me enganando ao pensar que conhecê-lo


melhor algum dia me levaria a desejá-lo menos. Porque enquanto
ele se afastava, eu sabia que não estava fazendo muito esforço para
manter meus sentimentos por ele sob controle.

E quando ele olhou para trás em minha direção, tive que me


perguntar se eu não era a única.
— Acho que devemos sair para tomar café da manhã — disse
Emmett.

Ficamos lado a lado, olhando para a


geladeira. Surpreendentemente, nosso olhar não fez aparecer
comida como um passe de mágica.

Eu estremeci. — Podemos fazer algo. Como... ovos. E pão. E


queijo. Isso é o suficiente, certo?

Ele olhou para mim. — Você está me perguntando o que fazer


com essas coisas? Eu sou uma criança.

— Você tem quase dez anos.

— Você tem tipo... vinte e cinco. Se alguém deve ser capaz de


preparar o café da manhã, é você.

Eu encarei as prateleiras com um suspiro pesado. — Todo


mundo tem talentos nesta vida, Emmett. Cozinhar não é um dos
meus.
— Não me diga.

Com uma elevação determinada de meu queixo, comecei a


puxar coisas. — Eu vou ignorar isso.

Ele pegou os ovos quando eu os entreguei a ele, colocando-os


no balcão com um olhar cético. — Mamãe vai ficar chateada se
você me envenenar com sua comida antes que eles cheguem em
casa.

— Nah, ela vai me perdoar.

Emmett sorriu.

Este pobre garoto. Ele não tinha escolha a não ser falar
sarcasmo fluente, considerando a família em que nasceu.

Um minuto depois, o balcão da cozinha estava coberto com


uma série de coisas que deveriam ter se igualado a um café da
manhã bem épico.

— Eles não têm aparelhos de cozinha sofisticados que tornam


essas coisas fáceis?

Seus olhos brilharam. — Eles têm uma daquelas coisas de


fritadeira sem óleo. E uma torradeira.

Eu belisquei a ponta do meu nariz. — Eu sei o que é uma


torradeira, Emmett.

— Tem certeza de que não podemos simplesmente sair para


tomar café da manhã?

— Amanhã — eu insisti. — Será nossa recompensa por não


nos matarmos depois de todo esse tempo sem supervisão juntos.
— Se o seu café da manhã não me matar primeiro — ele
murmurou.

Eu o empurrei de lado. — Saia daqui com essa atitude ruim.

Emmett suspirou. — Só não use o micro-ondas e a torradeira


ao mesmo tempo. Mamãe disse uma palavra muito ruim ontem
quando fez isso.

Revirando os olhos, eu disse — Eu sei como trabalhar com os


aparelhos, Emmett. Vá assistir a esses desenhos horríveis.

Depois de prender meu cabelo em um coque no topo da


minha cabeça, eu mentalmente arregacei minhas mangas e
comecei a trabalhar. Consegui quebrar alguns ovos em uma
frigideira chiando, com apenas alguns pedaços da casca que
retirei. O pão foi para a torradeira e apertei o botão.

Puxando um saco de salsicha para mais perto do meu rosto,


tentei ler as instruções de reaquecimento. Os ovos ocupavam toda
a frigideira, então arranquei um pedaço de papel-toalha do rolo e
enfiei algumas no micro-ondas.

Por um momento, olhei para os dois aparelhos. Eu nunca


tinha ouvido Paige reclamar de administrá-los simultaneamente e,
embora eu não vivesse sob o teto deles há quatro anos, teria me
lembrado se isso fosse um problema.

Com um encolher de ombros, pressionei o botão iniciar no


micro-ondas.

A cozinha inteira ficou escura.

— Porra — eu sussurrei.
— Eu disse que isso iria acontecer! — ele gritou do sofá.

Com minhas mãos nos quadris, deixei escapar um suspiro


profundo. — Vai ficar tudo bem. Eu posso simplesmente ligar o
fusível. Você pode gritar quando as luzes se acenderem?

— Contanto que você não tenha queimado o fusível — ele


disse, soando tão parecido com Logan que quase revirei os
olhos. — Papai disse que se mamãe fizesse isso mais uma vez, ele
iria deixá-la trocar sozinha.

Eu sorri. — E o que ela disse sobre isso?

— Que ele poderia enfiar o fusível na bunda porque ela ficaria


bem se fosse necessário.

Eu ainda estava rindo quando caminhei pelo corredor e abri


a despensa. Mas ao abrir a porta de metal cinza, minha risada teve
uma morte horrível.

Nota para mim mesma: ouça o menino de dez anos quando


ele lhe diz para não ligar os aparelhos ao mesmo tempo.

Emmett me olhou quando voltei para a sala de estar. — O que


há de errado?

— O fusível está queimado.

— Você vai chamar alguém para vir consertar isso?

Meu polegar bateu furiosamente na minha coxa enquanto eu


pensava sobre minhas opções. — Eu posso não precisar.

Peguei meu telefone e enviei uma mensagem.


Eu: Você já está na academia?

Kelly: Provavelmente só daqui a uma hora, por quê?

Eu: Nada. Só estou tentando lembrar se tem uma caixa de


fusíveis em meu escritório. Lembra quando Amy estava tendo
todos aqueles problemas no ano passado?

Kelly: Alguém explodiu o fusível do aparelho de som no meio


de uma aula de domingo à tarde. SIM, EU ME LEMBRO. Você já
tentou ensinar apenas com o som de sua respiração pesada para
motivar as pessoas?

Eu: Felizmente, não.

Com um olhar para a cozinha escura, decidi que a última


coisa que eu queria fazer era esperar o dia todo por um
eletricista. Fui encontrar Emmett.

— Se você não se importar de ir até a academia, tem alguns


fusíveis sobressalentes em meu escritório. Não adianta pagar
alguém para fazer isso se puder resolver sozinha.

— Sim, exceto se você explodir a casa porque colocou o fusível


errado.
— Você tem pouca fé em mim? — perguntei.

— Você não sabe como fazer ovos mexidos sem queimá-los,


Iz. — Emmett me deu um olhar arregalado duh.

Eu apontei para a porta da frente. — Vamos, punk. Vou te


pagar o café da manhã no caminho.

Vinte minutos depois, ele ainda estava comendo o resto do


sanduíche do café da manhã quando entramos no estacionamento
da academia.

A visão de uma caminhonete preta familiar no final do


estacionamento me fez proferir um palavrão baixinho.

Emmett estendeu a mão. Eu joguei minha carteira inteira


nela. — Tire uma nota de vinte, então estou coberta para o fim de
semana todo.

Seus olhos eram do tamanho dos pneus da caminhonete de


Aiden. — Combinado.

Eu deslizei o carro no estacionamento e me virei para


Emmett. — Ok, então meu chefe está lá. Seja legal, seja respeitoso
e não diga nada constrangedor para ele, ok?

Ele encolheu os ombros. — O que eu diria a ele que seria


constrangedor?

Quando nos aproximamos da porta da frente, olhei para


dentro antes de deslizar meu novo cartão na frente do
scanner. Algumas luzes estavam acesas, mas não o suficiente para
eu ver Aiden logo de cara.
Assim que viramos o corredor da meia parede que separava a
entrada da frente da área principal do ginásio, vi um pequeno
corpo deitado como uma estrela do mar no meio do ringue de
boxe. Ela estava cantando uma música a plenos pulmões,
completamente inconsciente de nossa presença.

Emmett me cutucou com o cotovelo. — Quem é aquela?

Anya saltou com um grito assustado, o cabelo loiro-branco


voando em todas as direções. Mas quando ela me viu, ela sorriu. —
Srta. Isabel!

— Ei, garota. Belo canto — eu disse a ela.

O corpo de Aiden preencheu a porta de seu escritório.

Emmett subiu no ringue com Anya, e eles começaram a correr


em círculos. Suspirei baixinho. Agora que havia alguém com quem
brincar, esta não seria uma viagem rápida.

Eu balancei minhas chaves contra minha perna enquanto me


aproximava de Aiden. — Não pensei que alguém estaria aqui.

— Eu poderia dizer o mesmo. — Seus olhos me avaliaram, da


cabeça aos pés, e eu lutei para não me incomodar. Não era como
se eu me embonecasse para o trabalho, mas esta foi a primeira vez
que ele me viu com o rosto nu, o cabelo uma bagunça e usando o
tênis preto que eu tinha calçado quando acordei. Minha camisa
branca estava solta e confortável, e constantemente escorregava
do meu ombro, então era dolorosamente aparente que eu não
estava usando sutiã.

— Iz! — Emmett gritou do ringue. Ele enfiou o corpo entre as


cordas e teve os joelhos equilibrados na de baixo.
— Sim?

— Esse é aquele cara que Molly estava te enchendo porque


você tinha uma foto dele na parede quando era pequena?

Minhas pálpebras se fecharam, meu coração realmente parou


de bater no meu peito e, naquele momento, imaginei o quão
possível seria viajar no tempo e não ligar a porra do micro-ondas.

Quando abri meus olhos, olhei para ele com tanta força que
sua boca se abriu. — Ohhh, esse é o tipo de coisa embaraçosa que
você não queria que eu dissesse? Desculpe, Iz. — Ele pulou das
cordas e voltou a correr.

Como se ele não tivesse apenas me envergonhado "pra"


caralho.

Cobri minha boca com uma mão quando ouvi um som de


diversão sufocada atrás de mim.

Eu queria morrer.

Quando me virei, Aiden ainda estava encostado na porta, mas


oh, eu não conseguia acreditar.

Ele estava sorrindo para mim.

Não era um sorriso largo que mostrava todos os dentes ou


fazia uma covinha surpresa aparecer em cada lado de sua
boca. Mas era muito, muito pior. Porque esse sorriso me deixou
totalmente devastada.

Eu deixei cair minha mão, apontando um dedo para ele. —


Não é engraçado.
— É um pouco engraçado — ele provocou.

Em vez de respondê-lo, caminhei para o meu escritório, a


cabeça erguida o mais alto que pude quando queria rastejar para
debaixo da minha mesa e me esconder.

Com seus olhos em mim, destranquei meu escritório e


comecei a procurar no armário de canto onde empurrei todas as
merdas que nunca tive vontade de organizar. Minha conversa
mental enquanto eu abria as caixas era algo como, está tudo
bem. Vai ficar tudo bem. Um pôster não é grande coisa, e ele não vai
se importar porque era um atleta de classe mundial, então
provavelmente ele nem se lembrará de verdade.

— Qual pôster? — ele perguntou.

Eu me endireitei lentamente, segurando uma pequena caixa


em minhas mãos. Ele estava atrás de mim, empoleirado na beirada
da minha mesa.

— Eu nem me lembro bem — eu respondi, muito fácil e alegre,


eu não tenho fantasias sexuais com você todos os dias da
semana. Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha antes de
me virar para encará-lo. — Tive muitos atletas na minha parede
quando era mais jovem.

— Ok. — Ele não acreditou em mim, mas eu não poderia ter


me importado menos, contanto que ele não pressionasse. Minha
frequência cardíaca diminuiu um pouco quando ele ergueu o
queixo, os olhos na caixa em minhas mãos. — O que você está
procurando?

— Umm, uma caixa de fusíveis.

Suas sobrancelhas se ergueram.


— Eu... meio que explodi um na casa. Não estava com
vontade de esperar por um eletricista.

Emmett correu para o escritório. — Ela explodiu tentando nos


fazer café da manhã.

Lembre-se do quanto você o ama, entoei em minha cabeça.

— Ela o fez? — Aiden perguntou.

— Sim — disse Emmett. — Isabel é péssima em cozinhar.

Aiden sufocou outro sorriso.

— Ok — eu interrompi. — Isso é o suficiente, ou você não terá


seu tempo de tela mais tarde.

Ele suspirou profundamente. — Anya pode ir brincar? Eu


contei a ela sobre a casa da árvore no quintal, e ela quer ver.

— Oh, umm — eu olhei para Aiden — Eu não sei se hoje é


um bom dia. Eu tenho que consertar isso, e Sr. Hennessy está
trabalhando.

Aiden se levantou da mesa. — Você já trocou fusíveis antes?

Eu passei a língua sobre meus dentes. — Não exatamente,


mas eu posso descobrir.

— Você sabe para quantos amperes essa caixa é?

Olhando para baixo, avistei a borda da caixa. — Vinte.

— E é desse tipo que você precisa? Se você substituir o com


defeito por algo que tem muitos amplificadores, você danificará
ainda mais a fiação.
Meus olhos se estreitaram ligeiramente e, de imediato, Aiden
devolveu o olhar.

Algo perigoso acendeu como um fósforo aceso sob minha pele.

— Não sei — admiti.

— Tenho um monte de coisas na minha caminhonete,


incluindo alguns fusíveis de quinze amperes — disse ele. — Eu
ficaria feliz em ir e fazer isso. Se não for o certo, corro até a loja.

— Por favor, diga sim — Emmett sussurrou. — Não quero que


a casa exploda. Mamãe e papai ficariam muito chateados com
você.

A única razão pela qual eu tinha que dizer não era meu
orgulho, para não me encrencar. Convidá-lo para nossa casa era
muito, muito problemático.

Infelizmente, isso não era motivo para dizer não. Não com
isso.

— Eu apreciaria sua ajuda — eu disse a ele. — Vou mandar


uma mensagem com o endereço.

Ele não estava mais sorrindo, e não teve menos efeito em mim
quando ele sacudiu o queixo em concordância.

Todos os meus momentos a sós com Aiden foram


acidentais. Até agora.
Emmett olhou minhas mãos batendo freneticamente no
volante.

— Nem uma palavra, punk.

Ele revirou os olhos. — Eu não ia dizer nada.

Virei o volante e parei o carro na garagem da casa. — Você


quer dizer que não ia dizer nada sobre ter um pôster de Aiden na
minha parede? Eu deveria pegar meus vinte dólares de volta.

Emmett suspirou. — Eu tenho um pôster de Noah na minha


parede, e você não me vê xingando as pessoas se elas contam a ele
sobre isso. — Então ele encolheu os ombros. — Não entendo por
que você ficaria envergonhada com isso. Vou lutar com ele se ele
tirar sarro de você.

Eu sorri porque por mais que ele me deixasse louca,


momentos como este me lembravam porque eu morreria por ele
tão rápido.

— Você vai lutar contra Aiden Hennessy?


— Sim. Não é como se ele realmente tivesse ganhado o título
dos pesos pesados. — Ele estufou o peito magro. — Além disso,
ouço mamãe dizer o tempo todo que um bom acesso de raiva
justificada torna você mais forte do que alguém com o dobro do
seu tamanho.

— Por que ela está te falando isso?

Ele pensou sobre isso. — Um dos meus amigos estava


sofrendo bullying na escola.

— E ela disse para você atacá-los em um acesso de raiva


justo? — eu perguntei, sorrindo amplamente.

Emmett balançou a cabeça. — Não. Mas a regra da casa é


você pedir que parem. Se eles não pararem, diga a um professor. Se
eles ainda não pararem, você dá um soco neles, e mesmo se eu
tiver problemas na escola, nunca, nunca terei problemas em casa.
— Seus olhos se arregalaram. — Ela tem uma tendência violenta,
sabe?

— Sim, ela tem. — Eu me virei em sua direção, alisando


cuidadosamente seu cabelo para trás de seu rosto. — Seu cabelo
está ficando mais escuro. Quem disse que você tem permissão para
começar a parecer uma adolescente?

As bochechas de Emmett ficaram vermelhas. — Quantos


anos você acha que eu pareço?

— Pelo menos treze.

Ele sorriu amplamente, desafivelando o cinto de segurança e


saindo do carro como se eu tivesse acabado de lhe entregar um
cheque de um milhão de dólares. — Eu vou ter certeza de que a
casa da árvore está toda limpa! — Ele gritou por cima do
ombro. Acenei, saindo lentamente do carro depois que ele correu
ao redor da casa.

Tudo bem.

Isso foi ótimo.

As crianças brincariam do lado de fora enquanto Aiden me


ajudaria a consertar o fusível. Levaria dois minutos, eles iriam
embora e eu poderia passar o dia relaxando com Emmett. Eu não
planejei absolutamente nada, daí o visual chique de pijama que
usava.

Eu olhei para baixo e gemi.

Sem sutiã.

Se eu me apressasse, talvez tivesse tempo. Uma olhada na


rua mostrou que ela estava vazia, então corri para dentro de casa
e mexi na chave na porta da frente. Assim que ouvi a virada da
fechadura, o som da caminhonete de Aiden veio roncando na
garagem. Eu me permiti uma breve expiração fortificante, então
deslizei a chave para fora e me virei, apoiando minhas costas
contra a porta com um sorriso no rosto.

Emmett deve ter ouvido a caminhonete porque ele correu de


volta para o jardim da frente, derrapando até parar quando Aiden
desdobrou seu grande corpo do grande veículo.

Haveria um momento em que vê-lo não fosse como um buraco


sendo perfurado no meu peito?

Ele nem mesmo precisou fazer nada além de sair da


caminhonete e eu queria me despir, me esticar sobre seu corpo
como um cobertor e beijá-lo até ver estrelas. Era confuso. E
irritante. E eu estava começando a ter um pouco de simpatia pelo
motivo de minhas irmãs terem sido tão estúpidas em determinado
momento nos últimos dois anos.

Aiden estava usando armações de aviador escuras que


escondiam seus olhos. Mesmo que eu não pudesse ver seus olhos,
sabia que ele estava olhando para mim enquanto esperava Anya
pular de sua cadeirinha. Ele abriu a porta traseira da cabine de
sua caminhonete e ajudou-a a descer.

— Oi, Anya — Emmett gritou como se eles não tivessem


acabado de se ver.

— Oi! — Ela parou na frente da casa e olhou para o exterior


de tijolos. — Você tem uma casa muito maior do que a nossa.

Aiden esfregou a nuca, baixou o queixo até o peito e suspirou


audivelmente.

Pelo menos eu não era a única com um chatterbox sem filtros


neste cenário.

Eu sorri para Anya. — Bem, éramos cinco quando meu irmão


comprou a casa. Ele tinha que ter espaço suficiente para
mim e minhas três irmãs. São muitos quartos.

Aiden levantou a cabeça e, novamente, tive a sensação de que


ele estava me estudando.

Os olhos de Anya se arregalaram. — Você morou com


seu irmão? Legal.

Eu concordei.
Foi quando meu sobrinho tagarela decidiu intervir. —
Realmente, ele é seu meio-irmão. Eles tiveram o mesmo pai. Ele
teve um ataque cardíaco. Mas quando sua mãe foi embora, meu
pai comprou uma casa maior para que todos pudessem morar
juntos.

— Obrigada, Emmett — Suspirei. A boca de Aiden se contraiu


como se ele estivesse lutando contra um sorriso. — Mais alguma
coisa que você deseja compartilhar? — perguntei para a pequena
pessoa ao meu lado.

— Sim.

Eu dei uma olhada nele.

— Bem, você perguntou! — Ele respirou fundo e se virou para


Aiden. — Você não deveria se sentir muito especial por Iz ter uma
foto sua na parede quando ela tinha quinze anos. Ela tinha um
monte de gente em sua parede, e provavelmente havia uma seção
inteira de atletas dos quais ela não gostava, você sabe, só para
lembrá-la de quem eles eram.

— Emmett — eu grunhi — pare de falar.

— Tudo bem, Jesus — ele murmurou.

Eu passei meus dedos em meu cabelo e soltei um suspiro. —


Por que você não mostra a Anya seus videogames ou o quintal ou...
algo assim.

— A casa da árvore! — Anya gritou, então ela olhou para


Aiden. — Eu posso?
Ele se agachou até a altura dela, tirando os óculos escuros. —
Sim, mas você trata as coisas dele com respeito, e qual é a outra
regra?

Ela suspirou. — Não suba muito alto.

— Vá em frente — ele disse suavemente. Ele estendeu o


punho, e ela bateu nele antes de fugir com Emmett. Eles gritaram
como pequenos selvagens, e eu sorri quando o som desapareceu
no quintal.

Aiden se endireitou.

E ficamos sozinhos.

— Vou pegar os fusíveis que tenho — disse ele. —


Esperançosamente, um funcionará.

Com um aceno de cabeça, eu o observei abrir uma caixa de


ferramentas de aço na carroceria de sua caminhonete. Observei o
alongamento de suas costas, como os músculos de seus braços se
contraiam enquanto ele movia itens que eu não conseguia ver. E
sua bunda na calça jeans que estava vestindo. Eu quase
choraminguei.

Então, sim, se eu era culpada de alguma coisa, era minha


completa objetificação física desse homem. Sim, ele era muito mais
do que um belo corpo, mas santo inferno, seu corpo era tão, tão
bonito de se olhar.

Eu queria fazer coisas com aquele corpo e deixá-lo fazer ainda


mais por mim.

Abri a porta quando ele alcançou o degrau da frente e o segui


até a entrada. Com a cabeça inclinada, ele viu a escada em curva
até o segundo andar, as fotos emolduradas que cobriam a parede
que levava à cozinha, sala de jantar e sala de família.

No final da exibição, houve uma que o fez parar - eu, minhas


irmãs e Emmett quando Lia e Claire terminaram a graduação. As
gêmeas em seu boné e vestido foram flanqueadas por Molly e eu
enquanto Emmett ficava na frente e no centro, mostrando a língua
para a câmera.

— Ele é seu sobrinho, você disse?

— Sim — então eu ri baixinho. — Mas às vezes parece que ele


é nosso irmão mais novo. Temos uma — fiz uma pausa — árvore
genealógica única.

Ele cantarolou. — Toda aquela raiva adolescente que você


mencionou.

Lentamente, eu balancei a cabeça. — Sim.

Aiden estudou a linha de fotos e me perguntei o que ele estava


pensando. Seu olhar pousou em uma de mim, Logan e Paige
quando eu tinha dezesseis anos.

— Sua mãe deixou vocês quatro.

Ele afirmou isso de forma tão simples, sem qualquer inflexão,


que não me deixou sem fôlego. Novamente, eu balancei a cabeça.

Quando ele se virou, seus olhos mostraram uma borda


perigosa. — Eu também ficaria bravo pra caralho.

Meu sorriso era largo, minha risada inesperada. Mas me senti


muito bem. A expressão de Aiden se suavizou.
Fiquei ao lado dele e olhei para a foto. — Essa é a raiva que
você pegou — olhei de soslaio para ele — algumas semanas
atrás. Minha irmã a convidou para o casamento dela e eu... não
lidei bem com isso — falei ironicamente. — Talvez eu ainda não
esteja lidando bem com isso.

Aiden me observou com as pálpebras pesadas. Algo na minha


honestidade parecia afetá-lo mais.

— Então, eu não preciso esperar ataques como esse com


frequência? — ele perguntou. — Vou manter minha guarda, se for
o caso.

— Não — respondi com um pequeno sorriso. — Você não


precisa. — Em seu aceno, eu respirei um pouco mais fácil. — Vou
te mostrar onde fica a despensa.

Passei por Aiden, meu braço roçando no dele, onde minha


camisa havia escorregado do meu ombro, e senti o pequeno toque
na ponta dos pés, porque sua pele estava quente e firme. Enquanto
ele me seguia, ficou quieto, mas tive a sensação de que ele estava
estudando nossa casa. Estudando-me.

Passamos pelo quarto de hóspedes e um banheiro, virando


pela porta que levava ao escritório de Logan. Aiden fez uma pausa,
olhando para dentro. Por cima do meu ombro, eu o vi olhando para
a parafernália dos Washington Wolves que revestia as
paredes. Duas camisetas emolduradas penduradas no centro do
sofá ao longo da parede de trás da carreira profissional de Logan e
da faculdade. Fotos dele e de Paige, as irmãs e Emmett adornavam
a parede atrás de sua mesa. Na superfície de madeira escura havia
dois monitores de computador enormes e pilhas organizadas de
livros e pastas.

— Sem troféus — comentou Aiden.


Eu sorri. — Eu acho que eles estão em uma caixa no armário.

Suas sobrancelhas se ergueram brevemente. — Os meus


provavelmente vão acabar lá também. Nunca consigo descobrir
como exibi-los sem parecer pomposo.

— O fardo da grandeza? — provoquei levemente.

Uma ponta de sua boca se curvou em um sorriso irônico. —


Algo parecido. Ainda não montei meu escritório em casa.

— Provavelmente porque você nunca sai da academia — eu


disse.

Seu olhar mudou do escritório para o meu rosto. — Se essa


não é a panela falando da tampa.

— Touché. — Eu levantei meu queixo em uma porta


indefinida. — A caixa de fusíveis está lá. Eu posso ir ver como estão
as crianças, então não fico em cima de você.

— Oh não, você vai ajudar. — Ele estava tão indiferente


quando disse isso, abrindo a porta e colocando sua caixa de
ferramentas para segurá-la no lugar.

Uma das minhas sobrancelhas ergueu-se com o comando


falado uniformemente. — Eu vou?

Ele me bateu com toda a força daqueles olhos quando se


virou. — Sim. Porque se isso acontecer novamente, você saberá o
que fazer. — Aiden sacudiu a cabeça para eu me juntar a ele na
despensa.

A despensa pequena, nem um pouco espaçosa. A caixa de


fusíveis estava no meio da parede, flanqueada de um lado pela
fornalha, o aquecedor de água estava no canto e na parede oposta
havia algumas prateleiras de metal do chão ao teto que Logan
tinha empilhado com ferramentas, lâmpadas, e um monte de
outras merdas que eu nunca tinha olhado.

Tudo que eu sabia agora, enquanto estava ao lado de Aiden,


era que aquela estante ocupava uma tonelada de espaço naquela
sala, e fomos forçados a ficar de pé com nossos braços roçando
enquanto ele abria a porta.

— É aquele — eu disse a ele.

Ele assentiu. — Você pode pegar aquelas duas caixas no topo


da sacola, a pequena verificação de voltagem com cabo vermelho
ao lado delas e uma chave de fenda de ponta chata? Por favor —
ele acrescentou quando eu lhe lancei um olhar.

Curvando-me para encontrar os itens que ele pediu, não pude


evitar o meu sorriso.

Quando entreguei a ele as caixas de fusíveis, ele começou a


explicar o que estava fazendo, verificando os números das peças e
onde checar se o disjuntor principal estava desligado. Em seguida,
ele desatarraxou a tampa e colocou-a no chão a seus pés.

— Você ainda tem energia passando — ele disse, apontando


para eu segurar o medidor um pouco além dos fios para ver como
ele acendia. — Agora que sabemos que os disjuntores que eu tenho
são compatíveis, podemos substituir o antigo. Mas primeiro temos
que desligar o disjuntor principal, então vá em frente e ligue a
lanterna do seu telefone. Não há luz natural suficiente no corredor
para que possamos enxergar.
Sim, por favor, pensei. Exatamente o que eu preciso. Para
ficar lado a lado com Aiden em um armário escuro. Em uma casa
vazia.

Não me surpreenderia nem um pouco se ele pudesse ouvir


meu coração martelando atrás das minhas costelas. Afinal, a única
coisa que o cobria era uma fina camada de algodão branco e a
proteção frágil da minha pele, que zumbia como um fio elétrico
com a sua proximidade.

Se alguém segurasse aquele verificador de voltagem no


espaço escasso que separa nossos corpos, ele teria se acendido
como o maldito 4 de julho.

Aiden desligou a alimentação principal e fomos mergulhados


na escuridão.

Soltei um suspiro audível quando ele se mexeu ligeiramente,


a pele de seu braço roçando meu ombro. Ele cheirava a uma
floresta de pinheiros ensaboados que soava muito menos sexy do
que realmente era. Eu queria esmagar aquele cheiro em cristais e
cheirá-lo.

— Você pode, uh — ele fez uma pausa — a lanterna?

— Certo — eu exalei. Tirei meu telefone de onde estava


enfiado no bolso da minha calça, quase o deixando cair quando
minhas mãos tremeram um pouco.

A luz era berrante e forte, e quando olhei para ele, um


músculo se contraiu ameaçadoramente em sua mandíbula
enquanto seus olhos estavam fixos na caixa de fusíveis.

— Vê aquele parafuso ali na extrema direita do fusível


queimado?
Mudei a lanterna, mas tive que me aproximar para ter uma
visão clara dela. — Mm-hmm.

— Isso é o que você desparafusa para remover o fio — explicou


ele. — Você tem chave de fenda de cabeça-chata?

Assentindo, abaixei o telefone para que pudesse colocar


minha outra mão no bolso.

— Vou segurar o telefone — disse ele.

Passando para ele, me obriguei a parar de pensar em


qualquer coisa, exceto em substituir aquele fusível filho da puta
porque as coisas que passavam pela minha cabeça eram
positivamente indecentes.

Elas pioraram quando ele estendeu o braço atrás de mim


para inclinar a luz para que eu pudesse ver mais claramente.

Na minha cabeça, eu tinha uma imagem de mim mesma como


uma boneca de marionete, e ele poderia me puxar e puxar para a
posição certa simplesmente com uma única corda. Cada parte
correspondente do corpo se dobraria à sua vontade. O que eu
queria era deslizar para mais perto e ver o que aconteceria se eu
me movesse na frente dele.

Ele enrolaria uma daquelas mãos grandes em meu quadril e


me puxaria de volta contra ele?

Ele deixaria cair o telefone, envolveria seu braço na minha


frente, deslizaria para baixo na abertura da minha camisa?

Ele passaria o braço em volta da minha cintura? Arrancaria


a amarra das minhas calças de corrida e as empurraria para fora
do seu caminho?
Na luz, minha mão tremia visivelmente quando a levantei
para desatarraxar o fusível.

— Ei — ele disse calmamente.

Minha mão congelou no ar. — O quê?

— Respire fundo. — Eu fiz o que ele pediu. — Se você está


nervosa para fazer isso, eu posso assumir.

Assumir.

Eu queria que ele assumisse.

Por que isso estava acontecendo comigo? E com este


homem? Eu sempre fui a forte. Aquela que assume o controle.

E naquele armário minúsculo e escuro, eu queria que ele me


dominasse totalmente.

Aiden e eu estávamos conversando sobre duas coisas


completamente diferentes, disso eu tinha certeza.

Mesmo assim, deslizei para o lado de modo que minhas


costas estivessem em seu peito, e quando ele inspirou, uma forte
e rápida respiração, senti algo poderoso correr sob minha pele.

— Por favor — eu sussurrei. Eu queria me virar e encará-lo,


girar em seus braços e me pressionar contra seu corpo. — Por
favor, assuma o controle — implorei baixinho.

Por um instante, o ar entre nós estava tão espesso que eu não


conseguia respirar.

Se tudo isso estivesse na minha cabeça, eu dificilmente


poderia imaginar enfrentá-lo novamente.
— Merda — ele resmungou, uma vibração deliciosa de som
nas minhas costas. Senti seu nariz próximo ao meu cabelo e ele
inalou. Seu peito roçou minhas costas, não acidentalmente e não
rapidamente.

A mão segurando a chave de fenda plantada contra a parede


ao lado da caixa de fusíveis, e eu arqueei meu pescoço. Sua
respiração bateu quente contra a pele do meu pescoço. E então,
oh, e então, seus lábios encostaram na minha orelha. Estremeci e,
contra a minha bunda, ele se aproximou.

Não está na minha cabeça.

Não estou sozinha nisso.

Porque eu o senti.

— É... — O que quer que ele fosse dizer em seguida não


importava.

— Isabel? — Emmett gritou. — Eu não consigo acender


nenhuma das luzes!

Aiden recuou. A chave de fenda caiu da minha mão com um


som barulhento e me afastei dele. Não consegui nem mesmo fazer
contato visual enquanto freneticamente pegava a chave de fenda e
a estendia para ele. Ele a pegou.

Gritei para Emmett: — Espere aí, cara. Estamos trabalhando


nisso.

— Vou terminar — disse Aiden, sua voz áspera.

Eu balancei a cabeça, escapando para a segurança do


corredor. Eu tinha acabado de levantar meus olhos para olhar para
ele quando Emmet deslizou pelo corredor com Anya bem atrás
dele.

— Iz? Anya pode ficar e jogar quando ele terminar?

Eu mal conseguia me concentrar no que ele disse, mas vi


Aiden piscar rapidamente. Ele podia estar com as mãos trêmulas
ao desatarraxar o circuito e puxar o fio que o prendia, mas sua
mandíbula estava tensa, todo o seu corpo parecia uma corda
prestes a se partir. Ele estava tão abalado quanto eu.

— Por favor, papai — ela implorou. — Eu não quero ir à


academia de novo.

Os olhos de Aiden desviaram brevemente para os meus, então


se moveram para sua filha. — Eles podem ter planos, gingersnap.

— Nós não temos — Emmett disse. — Nós íamos ficar aqui o


dia todo.

As crianças voltaram seus olhares suplicantes para mim, e


eu tentei forçar um sorriso. — Está tudo bem para mim, mas estou
deixando a decisão para seu pai, Anya.

Aiden encaixou o novo circuito no slot, prendeu o fio e


apertou rapidamente o parafuso. Quando ele ligou o disjuntor
principal, o corredor se inundou de luz. Junto com isso, parte da
minha tensão pareceu diminuir naturalmente. Se eu não tivesse
sentido o jeito que ele me queria, teria pensado que imaginei a
coisa toda. Porque quando Aiden jogou as ferramentas de volta na
caixa e se virou para nós, ele parecia perfeitamente normal
novamente.

— Tem certeza de que ela não será um fardo? — ele


perguntou.
Eu balancei minha cabeça. — Se ela não se importar com
pizza congelada no almoço, ela é mais do que bem-vinda.

Ele bagunçou o cabelo da filha. — Você venceu, garota. — As


crianças gritaram alto quando Aiden voltou sua atenção para
mim. — Obrigado. Não devo demorar mais do que algumas horas.

— Ela está me fazendo um favor — eu disse a ele. — Agora eu


não tenho que entreter Emmett.

Emmett revirou os olhos. — Vamos, Anya. Deixe-me mostrar


o trampolim que temos na sala de ginástica.

Eles dispararam para a sala à minha esquerda, e Aiden os


observou com um leve sorriso no rosto.

— Você tem certeza? — ele perguntou agora que eles estavam


fora do alcance da voz, embora seu olhar permanecesse firme nas
crianças.

Por isso, eu estava grata.

Eu mantive meu tom leve e uniforme. — Agora eu não te devo


pelo disjuntor.

Seus olhos encontraram os meus.

— Obrigada — eu disse a ele.

Aiden não respondeu. Mas ele deve ter cerrado os dentes


porque aquele músculo estourou novamente. Enquanto eu o
levava para fora, nenhum de nós falou, e sabia que tinha que me
controlar. Porque quanto mais isso acontecia, mais selvagem eu
me sentia sempre que estava perto dele.
Na porta da frente, ele fez uma pausa. — Estarei aqui o mais
tardar uma hora — ele prometeu.

Eu concordei.

Com a porta firmemente fechada atrás dele, afundei contra a


parede e soltei um suspiro profundo.
Aparentemente, se eu quisesse me aprofundar na história da
família Hennessy, tudo que precisava fazer era passar algumas
horas com Anya.

Com pizza congelada preparada no forno, ela me contou tudo


sobre seus tios (Beckham, Clark e Deacon) e sua tia (Eloise). Ela
me contou sobre seus avós e suas comidas favoritas, e como Eloise
comprou suas lindas coisas de princesa.

Ela era doce e compartilhava informações de uma maneira


que apenas uma garota bem e verdadeiramente amada
poderia. Não houve nenhum momento de pausa enquanto ela
falava sobre como gostaria de ter primos e como ela dormia com
uma foto de sua mãe ao lado da cama.

— O que aconteceu com sua mãe? — Emmett perguntou.

Eu os observei com cuidado, mas não castiguei Emmett por


perguntar. Aprendi, por experiência própria, que era pior quando
as pessoas evitavam a realidade em que você cresceu.
Anya terminou de mastigar a pizza. — Ela está no céu. Ela
teve câncer.

Emmett olhou para mim com os olhos arregalados e eu


balancei a cabeça em encorajamento.

— Lamento que ela tenha morrido — disse ele.

— Eu também. Eu só meio que me lembro dela. — Ela


encolheu os ombros. — Meu pai me conta muitas histórias sobre
ela. Então, eu não esqueço.

— Isso é uma coisa boa para um pai fazer — eu disse a


ela. Peguei um pedaço de crosta no meu prato. Anya e eu tínhamos
muitos pontos em comum, mas a maneira como eles atuavam era
muito diferente. Brooke nunca mais falou conosco sobre nosso pai
depois que ele morreu. Só que sua ausência a deixou sozinha e
com pouco dinheiro. Minhas próprias memórias dele eram
irregulares e certamente nada que pudesse ser contado como uma
história de ninar.

— Ele é o melhor pai — afirmou ela. — Ele tenta assar


biscoitos para mim, embora não consiga acertar.

Eu sorri. — Ela fazia bons biscoitos?

Anya assentiu e depois estudou meu rosto com cuidado. —


Você sabe assar?

Emmett riu. — De jeito nenhum, Isabel é a pior cozinheira do


mundo.

— Ei — argumentei.
O rosto de Anya se contraiu em pensamento. — Eu realmente
não me lembro dela assando. Minha avó me disse que minha mãe
era doce como açúcar e duas vezes mais gostosa. E todos
a amavam porque ela era boa com todas as pessoas que conhecia.

Suas palavras eram tão inocentes, e não importava o quanto


eu estivesse sentindo por seu pai, eu sofria com o que eles haviam
perdido. A ausência da esposa de Aiden deixou um buraco
irregular que ele estava tentando preencher mudando-se para cá.

Quem era eu para pensar que poderia tentar preenchê-lo? Ele


se casou com essa pessoa. Teve uma filha com ela. Abandonou sua
carreira no auge para cuidar de ambas e, pelo que eu sabia, não
guardava nem um pingo de arrependimento em deixar tudo para
trás.

— Sua mãe parece uma pessoa incrível — eu disse a ela


suavemente. — Eu gostaria de a ter conhecido.

Anya sorriu, mas seus olhos estavam um pouco tristes.

Emmett empurrou seu prato. — Quer ir para a casa da


árvore?

— Eu vou limpar tudo — eu disse quando Anya assentiu.

Os dois correram para fora e, enquanto carregava a máquina


de lavar louça e limpava a bancada, tentei desvendar o que estava
sentindo.

Minha tendência em circunstâncias normais seria acertar o


saco. Para empurrar meu corpo à exaustão suada até que eu
pudesse entender o que estava passando pela minha cabeça. No
momento, não era uma opção e me fez sentir nervosa e
desconfortável.
As palavras de Anya sobre sua mãe me deixaram nervosa por
um motivo totalmente diferente.

As memórias de quem nos criou eram turvas, nem todas


boas. Mas também não tão ruim. Resumidamente, pensei na
pulseira na caixa de metal.

Coloquei o prato de sobras de pizza na geladeira e, quando a


porta se fechou, vi-me olhando para uma foto minha e de Molly em
um jogo do Wolves. De repente, eu não conseguia ligar para minha
irmã rápido o suficiente, depois de semanas sem saber o que dizer.

Pulando na ilha da cozinha, cliquei no nome dela e comecei


um FaceTime.

Era seu último par de dias em uma viagem de trabalho, mas


quando ela chegasse em casa, ela estaria na reta final antes do
casamento. Prendi a respiração quando ela atendeu.

Ela sorriu, mas foi contido, seus olhos um pouco cautelosos.

Eu fiz isso.

Comecei a chorar imediatamente. — Sinto muito — eu disse


com uma voz trêmula.

— Oh, Iz — ela suspirou. — Eu também sinto muito. Eu


despejei tudo em você. Eu deveria saber.

— Eu estraguei o planejamento do seu casamento?

Ela riu. — Não. Essa é a beleza de ter uma planejadora de


casamento. Ela está cuidando de quase tudo.

Eu concordei. — Bom.
— Você está em casa?

Embora nenhum de nós vivesse mais aqui, ainda a


chamávamos de casa. Eu balancei a cabeça novamente. — Vou
cuidar de Emmett por alguns dias porque todo mundo tem uma
vida, exceto eu. Como está o trabalho?

— Bom. — Ela colocou uma mecha de cabelo atrás da


orelha. — Você está bem, Iz?

Eu respirei fundo. — Não deveria ter levado tanto tempo para


falar com você.

— Você diz isso como se eu estivesse surpresa — ela brincou.

Eu exalei uma risada. — Às vezes sou um pouco lenta para


processar as coisas. As gêmeas pararam na academia, mas acho
que elas perceberam que eu não estava realmente pronta para
falar sobre isso.

— Bem, se isso ajuda, Logan não estava exatamente pulando


de alegria com isso também — ela admitiu. — Mas ele disse que,
contanto que ele ainda consiga me levar até o altar, ele não se
importa com quem está sentado naquela igreja.

— Por mais que ele e eu sejamos parecidos — eu disse — ele


é muito mais sensato do que eu.

— Verdade — Molly concordou facilmente.

Eu olhei para a tela e minha irmã riu.

— Você sabe o que me deu algum sentido hoje?

— Tão difícil de dizer.


Revirei os olhos, mas não pude deixar de sorrir. — Muito do
que eu me lembro sobre Brooke é apenas... confuso. Quando eu
realmente tento lembrar como era quando ela era nossa mãe, a
maioria das minhas memórias são confusas — eu exalei. — E eu
estava ouvindo uma menina de sete anos falando sobre as
memórias de sua própria mãe, e percebi que muito do que me
assusta sobre a aparição de Brooke não é nem baseado no que eu
me lembro dela.

A sobrancelha de Molly franziu enquanto ela ouvia, mas ela


não interrompeu.

— Não posso prever, por mais que tente imaginar, o que ela
pode dizer ou fazer. E não há nada mais assustador para mim —
admiti calmamente.

— Brooke é algo que você não pode controlar.

Eventualmente, eu balancei a cabeça. — Talvez não faça


sentido, mas mesmo ouvir você, ou Claire, ou Lia dizer que eu não
tenho que falar com ela se eu não quiser, torna as coisas ainda
piores. Por que e se ela for horrível? — eu pausei. — E se ela for
horrível para você? Ou para as gêmeas? Eu nunca vou me perdoar
se eu não estiver ao seu lado por isso.

Molly sorriu. — Mesmo que ela venha, e mesmo que ela não
seja uma convidada perfeita, nós cuidaremos disso. — Ela
encolheu os ombros. — Isso é o que fazemos, sabe?

— Eu daria um chute na bunda dela se ela arruinasse o dia


do seu casamento.

Ela riu. — Eu sei.


Emmett correu para dentro de casa, sem fôlego e com o rosto
vermelho. — Iz? Umm, temos um problema.

— O que é?

— Oi, Emmett — Molly chamou.

Ele a ignorou, e um buraco escuro se abriu amplamente na


minha barriga. — Anya e eu estávamos brincando na casa da
árvore, e umm, ela queria me mostrar algo e... — ele fez uma
pausa, suas mãos se torcendo nervosamente. — Ela meio que...
subiu em um dos galhos, e agora ela não consegue descer.

— Oh, merda — eu suspirei. — Molly, espere.

Seu rosto se curvou em preocupação. — Posso chamar


alguém para ajudar?

Eu joguei o controle deslizante no quintal aberto. — Todo


mundo saiu — eu assobiei. — É por isso que estou aqui.

— Quem está no galho? — Molly perguntou.

Eu dei uma olhada nela. — Filha de Aiden.

— Ah, merda.

Eu andei ao redor da árvore e a vi. Anya estava em um galho


ainda mais alto do que o telhado da casa da árvore. Ela estava
segurando com força, as pernas balançando de cada lado.

— Você pode me ajudar a descer, Srta. Isabel? — ela


perguntou, a voz trêmula de nervosismo.
— Sim, querida, eu chegarei aí rapidinho, ok? Você está indo
muito bem sentada aí assim — respondi com muito mais calma do
que eu estava sentindo.

— O que eu posso fazer? — Eu ouvi Molly perguntar.

Pisquei, minha mão esfregando minha testa enquanto


pensava. — Umm, eu preciso desligar, mas... escute, se você não
tiver uma resposta minha em dez minutos, você pode ligar para
Aiden na academia?

— Claro. Amo você, Iz.

Com os olhos fixos em Anya, respondi: — Também te amo.

Desliguei e entreguei o telefone para Emmett. Estudando a


posição de Anya e o tamanho do galho, falei baixinho com ela
enquanto me movia diretamente para baixo de onde ela estava: —
Você já tentou ir para trás, querida?

Ela assentiu freneticamente. — Fez o galho balançar e eu


fiquei com medo.

— Tudo bem. Estar com medo é totalmente normal, Anya. —


Eu respirei fundo. — Mesmo se tivermos medo, ainda podemos
fazer coisas corajosas quando é importante.

Anya olhou para mim e vi lágrimas em seus olhos. Meu


coração ficou absolutamente do avesso com a visão daqueles olhos
grandes.

— Se eu subir aí, você acha que conseguiria tentar de novo?

Anya engoliu em seco e assentiu lentamente.


Emmett parecia nervoso e eu me agachei na frente dele. —
Ok, aqui está o plano. Você segura o telefone e mantém os olhos
nela enquanto eu subo. Acho que posso alcançá-la onde ela está
sentada. — Eu respirei fundo. — Basta falar com ela normalmente,
ok?

Ele acenou com a cabeça, rosto pálido, bochechas


vermelhas. — Eu posso fazer isso.

Dei um beijo no topo de sua cabeça e sussurrei em seu


ouvido. — Você se lembra de como fazer uma ligação de
emergência, certo? Não vamos precisar, mas preciso saber para o
caso.

Emmett exalou. — Sim. Eu sei.

— Ok, bom.

Eu soltei uma respiração forte enquanto subia na casa da


árvore. — Como diabos ela fez isso? — murmurei quando cheguei
à entrada. Usando a grade ao redor da borda, apoiei meu pé na
borda de uma janela, agarrei a borda do telhado com as duas mãos
e me levantei. A casa da árvore fez um rangido agourento quando
me movi cuidadosamente sobre o telhado e encontrei o galho em
que ela estava. Havia um mais baixo do que ela, e pressionei meu
pé contra ele para testar a sustentação do peso.

— Ok, Anya, lembra quando você disse que eu parecia a


Mulher Maravilha? — Em seu aceno de cabeça, eu exalei
continuamente. — Bem, nós duas vamos canalizá-la. Vou manter
meus pés neste galho inferior bem aqui e segurar aquele em que
você está. Quando eu estiver a alguns metros de distância, você
pode tentar recuar um pouco? Serei capaz de agarrar seu braço e
ajudá-la a voltar.
Eu mantive meus movimentos lentos e constantes, mas cada
centímetro que eu movia parecia um quilômetro. Anya me
observou com olhos enormes e fiz questão de sorrir
encorajadoramente enquanto me aproximava. Agora que eu estava
mais perto, não gostei muito da aparência do galho em que ela
estava, que balançava conforme ela mudava de posição. Cada vez
que ela o fazia, suas mãos seguravam com ainda mais força.

— Lá vamos nós — falei enquanto me aproximava. Como eu


estava de pé, minha cabeça chegava na altura de seu peito. Não
era um posicionamento perfeito, mas confiava muito mais neste
galho do que naquele em que ela estava. — Vou agarrar seu braço,
Anya. Continue segurando o galho com força, como está fazendo,
e lentamente comece a recuar. Tudo bem se forem pequenos
movimentos. Assim que você estiver de volta longe o suficiente, vou
pegá-la imediatamente, ok?

Uma lágrima escorreu por seu rosto e ela soluçou. — O-ok.

— Eu quero que você olhe para mim. — Quando ela fez, eu


segurei seu olhar. — Você pode fazer isso, querida. Você é forte e
corajosa e, assim que descermos, teremos qualquer guloseima que
possa encontrar na despensa, certo?

— Até seus Pop-Tarts? — Emmett perguntou. — Ela


realmente gosta de você se ela estiver disposta a compartilhar isso.

Eu consegui dar uma risada tensa. — Vou te dar a caixa


inteira, garota.

Anya concordou. — Ok.

Eu dei mais um arrastar de lado e o galho rangeu. Com uma


expiração lenta, estendi minha mão e agarrei seu braço. Mas em
vez de segurar o galho, como deveria, Anya girou seu peso e
agarrou freneticamente meu braço com a outra mão.

— Ok, ok — eu suspirei — mova-se devagar, querida. Você


está bem.

Mas então ela balançou a perna, como se fosse tentar subir


em meus braços exatamente como eu estava de pé. A última coisa
que ouvi antes de cairmos foi o violento estalo do galho e Anya
gritando meu nome.
— Obrigado, Aiden — disse meu cliente. — Melhor sessão de
boxe que já tive.

Havia uma razão para eu ter trabalhado tanto com ele, mas
não era como se eu fosse lhe explicar.

Eu concordei. — Fico feliz em ouvir isso. Da próxima vez,


vamos nos concentrar em trabalhar seus pés. Você ainda tem uma
tendência a querer ficar na minha frente, está deixando muito do
seu corpo aberto.

Ele sorriu. — Depois de hoje, é a última coisa que eu


quero. Parecia que estava enfrentando você em seus dias de luta.

De alguma forma, consegui dar um sorriso educado. Havia


uma razão para isso. Naquele armário minúsculo, eu quase fui
para cima da Isabel como uma fera faminta. Mais um segundo, e
sem a interrupção que me parou, eu teria rasgado roupas,
derrubado prateleiras, segurado ela quieta enquanto eu perdia
minha mente de desejo.
Não teria sido lento, doce ou respeitoso. E se eu deveria
dividir espaço com ela, mesmo por cinco minutos, eu precisava
suar tudo.

— Vejo você na próxima semana — eu disse a ele.

— Soa bem. — Ele pendurou sua mochila de ginástica no


ombro, sorrindo para Emily enquanto ela se aproximava com o
telefone da academia na mão.

A julgar pelo olhar em seus olhos, eu não ia sair daqui como


queria. Eu já estava ansioso para ir buscar Anya.

— Telefone para você — disse Emily. — Você pode pegar o


sem fio ou atender em seu escritório.

Suspirei. — Disse quem era?

— É Molly Ward. Irmã de Isabel.

Com as sobrancelhas abaixadas em confusão, peguei o sem


fio de sua mão estendida.

— Aqui é Aiden. — Ainda estava alto o som no ginásio, e


pressionei minha mão livre no outro ouvido para ouvi-la melhor. E
assim que o fiz, meu estômago despencou. — Merda — eu lati. —
E você não teve notícias dela?

— Não, eu sinto muito. E não quero distraí-la tentando ligar


se ela estiver bem no meio de uma descida com Anya.

Corri de volta para o meu escritório e peguei minhas chaves


e telefone celular. — Infelizmente isso não me surpreende. Minha
filha tem a tendência de fazer isso sempre que quer um pouco mais
de atenção.
— Tenho certeza de que ela está bem — insistiu Molly. —
Isabel nunca deixaria nada acontecer com ela.

As palavras ficaram presas na minha garganta, porque


mesmo que eu soubesse que Molly provavelmente estava certa, e a
probabilidade de Anya estar ferida era pequena, mesmo a ideia
disso fazia meu corpo gelar de terror.

Perder Beth foi horrível. Exaustivo. Comovente.

Mas se alguma coisa acontecesse com Anya... Eu não tinha


certeza se conseguiria sobreviver.

— Estou saindo da academia agora, mas este é meu celular


— ditei meu número e Molly repetiu. — Ligue-me se ouvir alguma
coisa.

— Eu prometo que vou. — Molly chamou meu nome


baixinho. — Apenas respire fundo, ok? Especialmente antes de
você se sentar ao volante.

Eu cerrei meus dentes, mas de alguma forma sua voz era


reconfortante o suficiente, gentil o suficiente, e fui capaz de fazer
o que ela disse.

Desligando a ligação depois de agradecer a Molly, coloquei


meu telefone no bolso e gritei para um dos treinadores. Ele se
parecia exatamente com um outro cara, os dois estavam na
faculdade, e eu ainda não conseguia me lembrar de seus malditos
nomes.

— Eu preciso que você fique e ajude Emily a fechar. Se você


não puder, pergunte ao outro. — Eu estalei meus dedos. — Qual é
o nome dele mesmo?
Ele sorriu. — Ele é Grady, eu sou Gavin.

— Não é de se admirar, porra — eu murmurei.

— O quê?

— Nada. Você pode ficar?

— Sim, não há problema.

Corri para fora do prédio com um empurrão na porta da


frente, meus pés batendo no chão.

O desgaste dos meus pneus atraiu alguns olhares sujos


quando saí do estacionamento, assim como minhas habilidades de
direção enquanto quebrei quase todos os recordes de velocidade
em terra do ginásio até a casa.

Ela provavelmente estava bem. Minha filha, a merdinha,


subia por toda parte. Esta dificilmente foi a primeira vez que ela
mordeu mais do que podia mastigar. Mas eu estava
acostumado. Minha família estava acostumada a isso.

Isabel não estava.

E foi provavelmente por isso que Anya fez isso em primeiro


lugar, para ganhar sua atenção. Minhas mãos apertaram
inutilmente o volante. É claro que ela gostaria que Isabel notasse.

Eu não era melhor do que minha filha, porque a atenção de


Isabel estava me transformando em um animal. Pelo menos na
minha cabeça.
Isso era algo com que lidar mais tarde, o meu pé pressionando
um pouco mais forte no acelerador, o rugido do motor combinando
com a energia sob minha pele.

No momento em que entrei na rua dela, senti o mesmo tipo


de movimento tenso e giratório no estômago que costumava sentir
antes das minhas lutas. Não era nervosismo, não exatamente. Não
era saber o resultado de uma janela de tempo curta e
específica. Nenhuma saída de energia fazendo meus pés
balançarem, nenhuma maneira de assumir o controle da situação
ainda.

Foi quando vi o vermelho e o branco da ambulância na


garagem.

— Oh, Deus — eu suspirei. Eu não tinha certeza se era um


apelo, uma oração ou uma maneira de me preparar para o pior
absoluto.

A parte de trás da ambulância estava aberta, ninguém à


vista. Eu vi alguns vizinhos parados no jardim da frente tentando
ter um vislumbre do que estava acontecendo.

Eu puxei a caminhonete para cima do meio-fio e coloquei a


marcha em ponto morto, correndo ao redor da lateral da casa para
o quintal.

Eu vi as costas dos paramédicos primeiro, Emmett parado ao


lado. Ele estava enxugando as lágrimas.

— Anya? — gritei.

Um paramédico se virou e vi Isabel reclinada na maca, o


braço na mão do outro médico, sangue na têmpora e minha filha
bem apertada em seus braços. Anya virou o rosto para mim com
um sorriso e meu pânico diminuiu imediatamente. Seu aperto em
Isabel nunca diminuiu.

— O que aconteceu? — perguntei, passando minha mão nas


costas de Anya.

— Nós caímos — disse Anya.

Meu coração parou quando vi o galho quebrado na grama.

— Sua filha está bem — o paramédico me assegurou.

Os olhos de Isabel finalmente encontraram os meus, e eu vi


seu pedido de desculpas antes mesmo de abrir a boca. — Eu
deveria tê-los observado mais de perto.

Eu levantei minha mão para impedi-la. — Está tudo bem,


sério.

A visão do corte na linha do cabelo, a maneira como ela


estremeceu quando a paramédica apertou seu pulso, foi quase
demais.

— Está quebrado? — perguntei.

A mulher se virou para mim e balançou a cabeça. — Acho que


não. Mas é quase impossível saber sem fazer um exame no
hospital.

Os olhos de Isabel se fecharam com força. — Eu não preciso


ir para o hospital.

A julgar pelo olhar que os paramédicos compartilharam, esta


não foi a primeira vez que ela disse isso.
Em vez de discutir com a mulher sangrando na maca, como
eu queria, me virei e coloquei minha mão no ombro de Emmett. —
Você está bem, amigo?

Ele acenou com a cabeça, mas eu poderia dizer que ele estava
chorando.

O cara cuidando da testa de Isabel deu a Emmett um


sorriso. — Foi ele quem ligou para o nove-um-um assim que elas
caíram. — Isabel sibilou quando ele limpou o corte. — Eu não acho
que precise de pontos, mas, Srta. Ward, você pode muito bem ter
uma concussão, eu a aconselho fortemente a nos deixar levá-la.

Isabel olhou para mim, mas seus olhos não seguraram os


meus por muito tempo. — Não sinto náuseas, nunca perdi a
consciência...

— Que você saiba — a mulher envolvendo seu pulso


interrompeu.

Anya aninhou o rosto no pescoço de Isabel, seus braços se


apertaram a ponto de Isabel estremecer.

— Gingersnap — eu disse baixinho — podemos dar aos


paramédicos um pouco de espaço para terminar de examiná-la?

Quando Anya não saiu imediatamente de seu colo, Isabel


virou a cabeça e sussurrou algo que eu não consegui
entender. Sua mão boa alisou círculos suaves nas costas da minha
filha e Anya acenou com a cabeça para tudo o que ouviu.

A visão quase me fez cair de joelhos. Eu não conseguia


respirar com isso, não poderia nem mesmo nomeá-lo se tentasse.
— Está tudo bem — Isabel disse calmamente. — Eu não me
importo.

Através do rugido em minha cabeça, meu coração, tudo que


eu consegui fazer foi um leve aceno de cabeça.

A mulher terminou de envolver o pulso de Isabel e gesticulou


para que eu me afastasse da maca com ela. Passei a mão sobre a
boca e tentei organizar meus pensamentos acelerados.

— Sua filha tem muita sorte — disse ela calmamente.

— Tem certeza de que ela está bem?

Ela acenou com a cabeça. — Pelo que o menino disse, a Srta.


Ward recebeu todo o impacto com a forma como ela virou seu
corpo. Seu lado vai ficar com um hematoma feio, mas parece que
seu pulso foi atingido primeiro.

Minha mandíbula apertou perigosamente. — Você acha que


ela deveria ir?

Com um suspiro, ela encolheu os ombros. — Não podemos


forçá-la. Emmett concordou que ela nunca desmaiou quando
caiu. Seu pulso e quadril sofreram o impacto de sua queda, mas
não há como dizer exatamente onde ou com que força ela bateu
com a cabeça.

Isabel sorriu para algo que Anya disse a ela, mesmo quando
o cara terminou de limpar o corte, e quando o cobriu com uma
bandagem de borboleta, ela nunca tirou os olhos de minha filha.

A forma como meu coração disparou assumiu um limite


perigoso, uma velocidade perigosa que eu não conseguia definir.
Cedo demais.

Cedo demais.

Cedo demais.

Isabel como uma tentação para mim por si só era uma coisa,
escondida em momentos de silêncio entre nós dois, quando se
tratava de mãos gananciosas e desejos sussurrados. Mas Isabel
me mostrando vislumbres de um futuro que eu havia lamentado
era algo para o qual não estava preparado.

— Ela não pode ficar sozinha esta noite — disse o paramédico,


interrompendo a veloz linha dos meus pensamentos. — Ela
mencionou que sua família está fora da cidade, mas não sabe
quando alguém pode estar aqui. Ela não queria preocupá-los se
pudesse evitar.

— Vou falar com ela — respondi.

Como se ela tivesse me ouvido, ou ouvido o tom duro da


minha voz, os olhos de Isabel se fixaram nos meus.

Ela não parecia mais apologética ou pálida.

Instantaneamente, fui transportado de volta para a noite em


que estávamos na academia, ela tinha aquele mesmo olhar
combativo.

Quando me aproximei da maca, Isabel sentou-se e minha


filha finalmente se desdobrou. Anya estendeu os braços para mim
e eu a segurei em um abraço apertado. Seu pequeno corpo
agarrado em meus braços, finalmente soltei um suspiro completo.

— Estou com problemas? — sussurrou.


Eu sorri um pouco. — Não. Mas chega de subir em árvores
altas, ok, gingersnap?

— Ok, snapdaddy — Ela se inclinou para trás para sorrir para


mim, e meu estômago revirou quando vi uma mancha de sujeira
em sua bochecha.

— Você pode assistir um pouco de TV com Emmett enquanto


eu converso com a Srta. Isabel?

Ela acenou com a cabeça.

Eu a coloquei no chão e dei um aceno viril para Emmett. —


Obrigado por cuidar bem dela, amigo.

Ele sorriu, a cor de seu rosto parecendo melhor. — De nada.

O paramédico ajudou Isabel a se levantar da maca e ela


estremeceu quando colocou todo o peso sobre os pés. Ambos os
médicos a observaram cuidadosamente enquanto ela caminhava
em minha direção, mas seu equilíbrio parecia bom, mesmo que
seu progresso fosse lento. Peguei uma cadeira da mesa do pátio ao
meu lado e deslizei para mais perto dela.

Ela sorriu agradecida, apoiando a mão nas costas. — Eu


provavelmente deveria conseguir alguma cobertura para a aula de
amanhã, hein?

Eu exalei em uma explosão afiada. — Eu diria que sim.

— Vou ligar para Kelly — ela suspirou. — Ela me deve. Mas


estarei de volta na segunda-feira.
Inclinando minha cabeça, eu a observei firmemente. — Se
você vai fazer uma ligação agora, será para alguém da sua família
para ver quem pode voltar e ficar com você.

Ela praguejou. — Eu preciso ligar para Molly.

— Quanto tempo até ela estar aqui? — perguntei.

Isabel não encontrou meus olhos. — Eu vou apenas... enviar


uma mensagem para ela bem rápido.

— Quanto tempo até que alguém possa estar aqui? — eu


alterei a voz.

Ela me ignorou, puxando o telefone do bolso e digitando uma


mensagem. Depois que ela clicou em enviar, eu o peguei de sua
mão.

— Ei — ela protestou.

— Tudo bem aqui. Pulso dolorido e um arranhão na testa. Não


precisa se preocupar — eu li em voz alta. Eu a imobilizei com um
olhar incrédulo, e ela apertou sua mandíbula. — Você está louca,
porra?

Os paramédicos ainda estavam ao alcance da voz e o cara se


aproximou de nós imediatamente. — Senhor, ela não pode ser
deixada sozinha esta noite. Alguém tem que acordá-la a cada três
ou quatro horas, e eu aconselho fortemente não a deixar sozinha.

Levantando o queixo, devolvi-lhe o telefone. — Você tem uma


chance de ligar para alguém estar aqui.

Isabel engoliu em seco visivelmente, mas enfiou o telefone no


bolso. — Eu não os estou forçando a voltar para casa de seus
empregos, ou suas viagens, porque bati minha cabeça. Eu estou
bem. Vou colocar gelo no meu pulso e tomar um pouco de Tylenol
e definir um alarme.

Eu cruzei meus braços sobre meu peito. — Você vai se


acordar se tiver uma concussão?

Ela mudou de pé. — Eu posso perguntar a um vizinho.

— Para ficar com você a noite toda?

Isabel rolou os lábios entre os dentes e olhou além de mim. —


Mmmhmm.

O paramédico balançou a cabeça.

— Está tudo bem — eu disse a ele. — Eu cuido disso.

Os olhos de Isabel se estreitaram. O paramédico voltou para


a maca para ajudar sua parceira a carregar o equipamento.

— Você pode fazer todas essas coisas se quiser. O gelo, o


Tylenol, o resto — eu disse uniformemente. Ela me olhou com
desconfiança. Inclinei-me até que menos de três centímetros
separasse nossos rostos. — Mas você vai fazer isso na minha casa,
e se você discutir comigo agora, eu vou carregá-la e deixar sua
bunda teimosa no hospital, você entendeu?

O silêncio tenso se estendeu como um elástico e ela abriu a


boca para discutir. Eu vi o calor disso em seus olhos azuis.

— Eu entendo — falei antes que ela pudesse discordar. — Eu


odeio quando as pessoas precisam cuidar de mim. Nada me faz
sentir mais impotente.
Isabel soltou um suspiro irritado.

— Isso não é apenas sobre você, ok? — eu amenizei o meu


tom. — Eu devo a você, Isabel.

Ao som de seu nome, seus olhos se suavizaram.

Eu nunca disse seu primeiro nome em voz alta antes, ou não


para ela, pelo menos.

Algo mudou em sua cabeça, talvez eu nunca saiba o quê,


porque ela fechou as pálpebras, soltou um suspiro lento e
profundo e, em seguida, assentiu.

— Bom — eu disse calmamente. — Você quer fazer sua mala


ou eu devo?
O interior da minha caminhonete foi separado em dois
estados de espírito muito distintos no caminho de volta para a
minha casa e de Anya. O banco de trás, com Emmett e Anya, era
risos, ela contando a ele todos os brinquedos que tinha, todas as
coisas que poderiam fazer durante a festa do pijama.

O banco da frente estava um pouco mais silencioso. Isabel


olhava pela janela, sua mochila preta a seus pés. Pelo canto do
olho, pude ver o sangue seco em sua têmpora e minhas mãos
apertaram o volante.

O silêncio dela não me incomodou, porque eu também não


tinha certeza do que dizer.

Adivinha? Seis horas atrás, imaginei te prender contra a porta


do armário, e aqui estamos nós, a caminho da minha casa, para que
você possa passar a noite.

As palavras não sairiam exatamente com naturalidade.

Eu abri minha boca para dizer... algo... e me contive. Essa


indecisão me irritou. Um desconforto do tipo unhas no quadro-
negro. Nunca duvidei de minhas decisões, nunca duvidei de qual
seria meu próximo passo.

Mas esta posição em que me encontrei - uma de minha


própria criação - me deixou em terreno instável.

Isabel se mexeu no banco do passageiro e percebi a maneira


como ela tentou esconder o estremecimento.

— Você já tomou alguma coisa? — perguntei.

Ela olhou para mim, seus olhos segurando a mesma cautela


de quando nos conhecemos. Eventualmente, ela balançou a
cabeça. — Eu sinto que fui atropelada por um carro — ela
admitiu. — Acho que a adrenalina está passando.

— Amanhã vai ser ainda pior.

Sua cabeça inclinada para trás, ela suspirou pesadamente. —


Eu sei.

Eu puxei a caminhonete para o nosso bairro e Emmett


pressionou seu rosto mais perto da janela. — Legal! Vocês estão
bem perto do lago.

— Bem perto — eu disse a ele. — Podemos caminhar até lá


depois do jantar se sua tia quiser tirar uma soneca.

— O que teremos para o jantar? — Anya perguntou. — Estou


faminta.

— Por favor, não deixe Isabel cozinhar — Emmett implorou.

Isabel virou a cabeça e sorriu. — Ei, eu não deixei você passar


fome neste fim de semana, deixei?
— Não tecnicamente — ele murmurou baixinho.

Eu me peguei sorrindo um pouco com a troca.

Nossa casa apareceu e sua cabeça se inclinou com interesse


quando eu diminuí a velocidade. Parecia pequena, vista de frente,
com os pinheiros se elevando no topo. Mas por dentro, se abria
para o tipo de espaço e visão que eu nunca poderia ter fornecido
para Anya na Califórnia. Ela tinha um quintal para
brincar. Montanhas e água praticamente no nosso quintal. Era
uma infância tão idílica quanto eu poderia dar a ela, como a única
pessoa responsável por sua educação.

E pela primeira vez desde que Beth morreu - não importava


quais fossem as circunstâncias - eu entraria pela porta da frente
com outra mulher para que ela pudesse dormir sob nosso teto.

Quando apertei o botão da porta da garagem, não pude deixar


de me perguntar o que diabos eu estava fazendo, trazendo-a aqui
assim. O instinto de fazer isso, de pé em seu quintal, foi esmagador
e impossível de ignorar. Eu nunca teria sido capaz de sair por
aquela porta se soubesse que ela estava sozinha.

Isso, no entanto, era diferente. Porque agora não havia como


voltar atrás.

Negar que eu estava atraído por ela foi uma missão tola. Eu
poderia mentir para mim mesmo sobre um monte de coisas, mas
não isso, não importa o que tenha crescido entre nós nas últimas
semanas.

Mas tê-la em minha casa, o lugar que compartilhava com


minha filha, depois da experiência que elas acabaram de vivenciar,
parecia que eu estava tentando o destino.
Estacionei a caminhonete e deixei as crianças saírem,
observando com cuidado para ter certeza de que Isabel estava
caminhando firmemente enquanto esperava que eu destrancasse
a porta da casa. Seu progresso era lento, seu quadril claramente a
incomodava mais com o passar do tempo.

Assim que abri a porta, ela me deu um sorriso contido


enquanto entrava na cozinha pela lavanderia.

— Vamos lá — gritou Anya, correndo para as escadas. — Vou


te mostrar meu quarto. Eu tenho um dossel rosa!

— Uhh, ok.

Isabel exalou uma risada suave. — Eu não acho que ele vai
fingir estar realmente impressionado. — Enquanto ela caminhava
lentamente para a sala da família, seu olhar se iluminou com a
parede de janelas, como uma moldura para a vista ampla do Lago
Sammamish. — É lindo — disse ela.

— Obrigado — respondi. — Quer ir direto para a cama? Ou


descansar no sofá?

Seus olhos voaram para os meus, suas bochechas se


tornando um tom de rosa. — Qual quarto devo usar? Eu não me
importaria em tirar uma soneca.

Eu soltei uma respiração forte porque eu não tinha pensado


nessa parte. O quarto de hóspedes, que eu presumi que Emmett
usaria, ficava do outro lado do corredor do quarto de Anya no
segundo andar. O terceiro quarto - o meu - ficava no andar
principal, na parte de trás da casa, com a mesma vista da sala da
família. Fiz um gesto nessa direção. — Você pode dormir aí
atrás. Eu não quero fazer você subir as escadas.
Sem discutir, Isabel caminhou naquela direção, e quando
tirei o Tylenol do armário da cozinha, tive que parar um
pouco. Com as mãos apoiadas no balcão da cozinha, empurrei a
sensação de que cometi um grande erro ao fazer isso.

Assim que entrei no quarto, analgésicos em uma das mãos e


uma bolsa de gelo na outra, e a avistei sentada na beira da minha
cama, eu sabia que sim.

Ela tomou os analgésicos sem reclamar, permitindo-me


puxar as cobertas para que ela pudesse deslizar para
dentro. Nenhuma palavra foi dita quando ela se acomodou em meu
travesseiro e deixou-me colocar a bolsa de gelo em seu
quadril. Fiquei feliz por isso, porque nem sabia o que dizer.

Isabel Ward era a maçã vermelho-sangue, tentadora apenas


por ser ela mesma. Ela era a coisa que eu não deveria querer, mas
poderia destruir o mundo ao meu redor para experimentar.

Uma prova, mesmo a menor indulgência, e saberia


exatamente o que estava faltando.

Se eu me permitisse, gostaria de devorá-la inteira. Porque não


havia meias medidas, não com ela. Havia uma centena de coisas
que eu não sabia sobre ela. Qual era sua comida favorita. Se ela
era uma boa dançarina. Se ela gostava de filmes de ação, romances
ou histórias que a faziam chorar. Se ela gostava de ler ou se sorvete
no inverno lhe parecia bom.

O desejo frenético de descobrir cada coisa me pegou de


surpresa. Porque eu nunca senti nada parecido.

Era impossível não comparar com Beth, e eu odiava isso


também. Beth teve um crescimento lento e doce. E isso... isso não
era no mesmo universo.
Saí do quarto e respirei fundo porque não precisava descobrir
imediatamente.

Enquanto ela dormia profundamente na minha cama,


alimentei as crianças com o jantar e descemos um pouco até o
lago.

Depois que voltamos para casa, abri a porta


silenciosamente. Ela estava de costas agora, seu pulso envolto em
seu peito, que subia e descia uniformemente.

— Você vai acordá-la? — Anya sussurrou.

Eu a conduzi para longe da porta. — Em breve. Ela só dormiu


por algumas horas. Vou dar a ela mais uma hora e depois ver se
consigo acordá-la.

Emmett me deu um olhar nervoso de onde estava sentado no


sofá. — E se você não puder?

— Eu poderei — eu prometi a ele. — Ela vai ficar bem,


amigo. Você disse que ela nunca desmaiou quando... quando elas
caíram? — Quase gaguejei com a pergunta porque provocou uma
reação perigosa e violenta em minha cabeça tentar imaginar ela e
Anya caindo no chão. Algo volátil.

Ele balançou sua cabeça. — Não, ela disse muitos palavrões


quando atingiu o chão.

Relutantemente, sorri. — Isso é um bom sinal. — Inclinei


minha cabeça em direção ao quarto. — Seus pais vão ficar bravos
quando descobrirem sobre isso?

Seus olhos ficaram enormes. — Oh, sim. Na verdade, eu


deveria ter feito o FaceTime com minha mãe esta noite, mas talvez
eu simplesmente a ignore para que não descubra e tente pegar um
voo para casa. Meu pai tem que treinar amanhã.

Se eu tivesse que adivinhar, perder um jogo seria um


sacrifício fácil para os dois, mas eu não disse isso a ele.

— O telefone de Isabel está na mochila dela?

Ele encolheu os ombros. — Provavelmente.

Sua mochila ainda estava no chão perto da porta, exatamente


onde ela a deixou quando entrou. Depois de ligar um filme para as
crianças, eu a peguei, parando antes de abrir o zíper do bolso da
frente.

O telefone estava bem ali e, quando toquei na tela, vi algumas


mensagens de texto e duas ligações perdidas de Paige.

— Você sabe a senha dela? — perguntei a Emmett.

— Você está invadindo o telefone dela? Legal. — Ele acenou


para o aparelho. — Eu conheço o padrão. Para cima, meio, para
baixo, depois meio.

Ele bateu na tela, o telefone desbloqueando imediatamente.

— Você não vai me jogar debaixo do ônibus se ela chutar a


minha bunda por isso, vai?

Emmett riu. — Não. Vou dizer a ela que fui eu.

Com um aceno de cabeça, saí para o deck de trás e puxei a


chamada perdida. Eu cliquei no nome de sua cunhada e respirei
fundo.
Paige atendeu no primeiro toque. — Puta merda, Isabel, estou
pirando desde que Molly me mandou uma mensagem. Você caiu
de uma árvore?

Eu estremeci. — É o Aiden, na verdade. O chefe dela.

Silêncio ensurdecedor encontrou meu anúncio.

— Você é... — ela pausou novamente. — Aiden Hennessy?

— Sim. Lamento ligar para você desse jeito.

— Ela está bem? Por que você está com o telefone dela? —
Paige perguntou, a preocupação em sua voz alta e clara.

— Ela está dormindo, e eu acho que ela vai ficar


bem. Dolorida, mas nada quebrado ou gravemente ferida.

Ela exalou pesadamente, então eu a ouvi cobrir o microfone


e repetir o que eu disse ao marido. — Vou colocar você no viva-voz,
Aiden. Logan quer saber o que está acontecendo. Emmett está
bem?

— Sim, ele estava um pouco agitado quando eu apareci na


casa, mas foi ele quem ligou para o 911 quando o galho
quebrou. Ele é um garoto corajoso.

Logan falou em seguida. — O que aconteceu exatamente?

Contei a eles o que sabia e o que os paramédicos me


transmitiram.

Paige fez um barulho estalado. — Por que não estou surpresa


que ela seja tão teimosa sobre isso? — sua voz vacilou no
final. Então ela fungou e ouvi Logan murmurar algo baixinho para
ela. Ela fungou novamente. — Desculpe, Aiden, eu simplesmente
odeio estar longe quando algo acontece com meus bebês.

Eu sorri um pouco, imaginando a mulher na minha cama


como o bebê de qualquer um. — Não há necessidade de desculpas.

— Você tem certeza de que ela não deveria ir para o hospital?


— Logan perguntou. — Como você sabe que ela não teve uma
concussão?

— Eu não sei — eu respondi honestamente. — Mas eu


também tive algumas, então sei o que procurar. Ela está firme em
seus pés, ela nunca desmaiou, sem náuseas, sem confusão. —
Sentei-me em uma cadeira e fiquei olhando para a água, pensando
na noite à minha frente. — Vou acordá-la a cada três ou quatro
horas e, se tiver a menor preocupação, prometo que vou levá-la.

— E quanto às crianças? — Paige perguntou.

— Meus pais moram a cerca de cinco minutos de


distância. Posso chamar minha mãe para vir aqui, se for preciso.

Ela exalou audivelmente. — Ok. Antes mesmo de falarmos


com você, decidi mudar meu voo para o primeiro a sair
amanhã. Logan vai falar com seu treinador, não tenho certeza se
ele estará comigo ou não.

— Vou mandar uma mensagem com meu endereço.

Paige fez uma pausa. — Ela vai odiar que você nos ligou. Tipo,
muito.

— Sim, eu imagino — eu respondi ironicamente. — Mas eu


sou pai. Eu gostaria de saber se fosse eu.
— Agradecemos por nos contar — disse Logan.

— Dê-me um segundo, querido — Paige disse ao marido, e


ouvi o som de uma porta fechando logo depois. — Apenas... um
conselho, Aiden. Se você estiver aberto a isso.

Minha sobrancelha franziu com a mudança em seu tom. —


Claro.

— Isabel é a mais teimosa das quatro meninas, e isso é... uma


façanha bastante impressionante se você conheceu as irmãs dela.
— Ela respirou fundo. — E por baixo disso está o coração mais
amável e o maior de todos que eu conheço.

Meu rosto ficou quente. — Paige, eu...

Ela me ignorou. — Ela vai discutir com você ajudando-a. Ela


vai lutar com você a cada passo esta noite, e eu preciso que você
me prometa que vai ignorá-la quando ela disser que pode lidar com
isso sozinha ou que não precisa de nada. Porque saber que alguém
está aí para cuidar dela é a única coisa que me impede de perder
a cabeça agora.

— Eu prometo — eu disse a ela.

— Mas também — ela continuou, seu tom perfeitamente


educado, perfeitamente doce — se você a aborrecer de alguma
forma, vou fazer você desejar nunca ter nascido.

Minhas sobrancelhas se ergueram. — Umm, ok?

— Boa conversa, Aiden. Vejo você pela manhã.

Apesar do aviso, voltei para casa com um sorriso no rosto.


As crianças estavam totalmente absortas em seu filme, e eu
caminhei silenciosamente pela sala e pelo corredor para o meu
quarto.

A luz do corredor se espalhou pela abertura, e Isabel não se


moveu desde a última vez que a verifiquei.

Eu me agachei ao lado da cama e disse o nome dela


baixinho. Suas pálpebras tremeram, mas ela não acordou.

Mesmo enquanto prendia a respiração antes de levantar a


mão, perguntei-me a inteligência de me permitir até mesmo esse
leve toque.

Mesmo antes de Paige terminar de dizer o que ela disse,


mesmo antes de eu reconhecer a onda profunda de emoção nas
palavras, eu sabia exatamente o que Paige diria sobre Isabel.

Porque de alguma forma, no meio de todo o mundo, eu sabia


exatamente quem era essa mulher.

É por isso que os detalhes não importavam para mim.

Cuidadosamente, deslizei meus dedos ao longo de sua


bochecha e soltei um suspiro lento e trêmulo. Sua pele era tão
macia.

— Isabel — eu disse novamente. — Hora de acordar.

Ela cantarolou. Sua cabeça se voltou para o meu toque. — O


qu... — ela murmurou sonolenta.

Meus dedos traçaram a linha do cabelo na sua nuca, e eu


disse o nome dela novamente. Minha palma colocada suavemente
ao longo de seu pescoço, minha mão inteira agora emoldurando
seu rosto.

Lentamente, suas pálpebras tremeram e ela acordou. —


Aiden — ela sussurrou.

— Você sabe quem eu sou. Isso é bom.

— Mm-hmm. — Ela inalou, e eu vi o lento gotejar de


consciência em seu rosto com a maneira como eu a estava tocando.

Puxei minha mão para trás, embora essa consciência me


dissesse que era um toque bem-vindo. — Você se lembra por que
está aqui?

— Aquela porra de árvore — disse ela, abafando um bocejo.

Eu sorri. — E quanto ao ano?

Ela me disse. Com um olhar seco, ela também me disse o


presidente e que tipo de carro ela dirigia.

— Está com fome? — perguntei.

— Um pouco. — Ela usou a mão boa para se apoiar no


colchão e se sentar. Seu cabelo estava uma bagunça emaranhada,
e foi uma coisa boa que ela estava ferida. Ainda bem que havia
crianças na outra sala. Porque ela parecia tão irresistível, eu tive
que me afastar da cama.

— Vou esquentar a lasanha — eu disse.

Com um leve aceno de cabeça, Isabel abriu a boca e, como


um idiota, coloquei um dedo sobre seus lábios macios como
pétalas.
— Sem argumentos — eu disse em uma voz rouca. Meu dedo
escorregou de sua boca lentamente e seus olhos estavam
arregalados quando ela olhou para mim.

— Sem argumentos — ela concordou calmamente.

As palavras de Paige passaram pela minha cabeça enquanto


eu preparava um prato para ela e o levava para onde estava
encostada na minha cabeceira. Com perfeita clareza, entendi seus
instintos protetores em relação a Isabel. Não porque ela não fosse
forte ou porque ela não pudesse se controlar. Mas porque havia
algum reconhecimento profundo de que ela era minha para
protegê-la.

Que se alguém a incomodasse, eu faria com que desejassem


nunca ter nascido.

Apenas uma vez na minha vida eu me senti assim. Eu me


casei com ela. Eu a amei. E quando eu a perdi, lamentei nunca
mais sentir isso novamente.

Mas enquanto eu observava Isabel comer e beber um pouco


de água, observava-a dar um abraço de boa noite em minha filha
como se ela fosse algo precioso, eu já sabia que de alguma forma,
por alguma mágica, algum milagre, estava acontecendo de novo.

Nada, absolutamente nada, poderia ter me apavorado mais.


Consegui acordar muito bem a cada vez.

A cada três horas, Aiden me puxava de um sono profundo,


rodeado por lençóis que cheiravam a ele. Ele nunca mais tocou
meu rosto, simplesmente chamava meu nome ou colocava a mão
gentilmente em cima das cobertas por cima do meu ombro. Suas
perguntas eram inofensivas - o ano, meu nome do meio, onde eu
trabalhava. A certa altura, ele me deu mais analgésicos e uma nova
bolsa de gelo para meu pulso e, mesmo com o frio intenso contra
minha pele, voltei a dormir.

Eu me saí bem todas as vezes. Ele também.

Até a última.

Nenhum sonho estava acontecendo porque eu estava muito


exausta, muito dolorida. Mas a última vez que ele me acordou,
ainda estava escuro como breu no quarto com apenas um caminho
fraco de luz vindo do corredor. Eu mal me movi no colchão king-
size, grudado em um lado e nas minhas costas porque meu quadril
estava dolorido demais para rolar para o outro lado.

Sua voz, baixa, perfurou a névoa do sono, e eu me vi


cantarolando contente. Meu nome em seus lábios me fez querer
me enrolar como um gato em seu colo e arquear meu corpo com o
som, rolar minhas costas em suas mãos.

— Isabel, vamos, você tem que acordar para mim.

Desta vez, sua mão estava deslizando pelo meu braço em


pequenos círculos, e os calos em suas palmas pareciam deliciosos
na minha pele.

— Hmm, isso é bom — eu me ouvi dizer.

Sua mão congelou apenas por um momento, mas depois


continuou. — É mesmo? — ele perguntou baixinho.

Pressionei meu rosto em seu travesseiro e inalei. Eu mantive


meus olhos firmemente fechados porque se eu estava sonhando,
eu me recusava a acordar. Queria me permitir esse momento de
língua solta e sonolenta, onde poderia dizer as coisas na minha
cabeça sem medo de me envergonhar.

— Tudo o que você faz parece bom — eu murmurei. — Eu


gostaria que você fizesse mais.

Aiden ficou quieto por um momento e, cautelosamente, abri


meus olhos em fendas estreitas para ver seu rosto na luz fraca do
quarto. Foi tão terrivelmente íntimo o quão perto ele se agachou
ao lado da cama. Ele não se sentou no colchão para possivelmente
me causar desconforto. Ele desistiu de sua cama para que eu
pudesse dormir melhor.
Seu perfil era visível enquanto eu o estudava, mas não
conseguia dizer para onde ele estava olhando. Talvez ele estivesse
observando sua mão no meu braço porque ela se moveu do meu
braço, para baixo em torno da curva do meu cotovelo, permitindo
que as pontas dos dedos deslizassem suavemente sobre o meu
antebraço, parando apenas antes de envolver meu pulso. Então
voltando.

— Onde você dormiu? — perguntei a ele.

— No sofá.

Meus lábios se curvaram ligeiramente. — Você se encaixa


naquela coisa?

— Não muito bem — admitiu. — Mas eu já dormi em lugares


muito piores.

Eu ajustei minha cabeça e o encarei abertamente. —


Obrigada por fazer isso por mim.

A coluna espessa de sua garganta se moveu em um gole


pesado, mas ele assentiu. — Eu te disse, eu te devo, Isabel.

— Não, você não precisa — eu pausei. — Eu fiz o que qualquer


um faria...

A pressão de sua mão aumentou enquanto ela passava por


cima do meu ombro, e foi aí que ela parou, as pontas dos seus
dedos se enredando no meu cabelo.

— Eu não estou falando sobre o que qualquer outra pessoa


teria feito. Estou falando sobre o que você fez por Anya. E eu. —
Ele mudou seu peso, e eu finalmente consegui uma visão mais
clara de seus olhos. Ele não estava olhando para sua mão, ele
estava olhando para mim. — Obrigado, Isabel. Eu preciso que você
me ouça dizer isso.

Eu nunca tive ninguém olhando para mim como Aiden, e eu


não tinha ideia do que fazer com isso.

Isso não era realidade, este minúsculo momento em seu


quarto. E se eu pensasse muito sobre o quão pouco sabíamos um
sobre o outro, eu questionaria minha sanidade. Mas ele estava
olhando para mim como se eu fosse inesperada e não tinha certeza
de como lidar comigo da maneira certa. Aiden estava olhando para
mim como se eu pertencesse a sua casa, em sua cama, e ele
poderia estar bem com isso.

Soltei um suspiro trêmulo. — De nada.

— Qual sua comida favorita? — ele perguntou de repente.

Pisquei com a mudança de assunto, a mudança de tom. Foi


a única razão pela qual respondi honestamente. — Pop-Tarts de
morango.

Agora foi a vez de Aiden piscar. — Não, não é.

— Você não pode discutir comigo sobre isso.

— Ninguém tem como comida favorita Pop-Tarts depois dos


sete anos.

— Bem, a minha é — eu disse indignada. — Elas são


deliciosas, e talvez você não tenha uma há muito tempo, então não
se lembra.

O sorriso que se espalhou por seu rosto era caloroso e me


deixou toda pegajosa por dentro, e pressionei meu rosto agora
quente de volta no travesseiro que cheirava a ele. Seu sorriso
caloroso se transformou em uma risada baixa e divertida.

— Não fazia ideia de que você julgava tanto — provoquei. —


É melhor você me dizer sua comida favorita agora.

— Você é muito exigente quando acorda.

Isso foi porque meu filtro se foi. Esse processo foi lento,
superando o constrangimento, passando pelas primeiras semanas
instáveis e, em seguida, entrando nas pontas dos pés em um
relacionamento mais equilibrado. Ele nem percebeu que essa era
eu, totalmente exposta.

Mas eu fiz. E era por isso que importavam, esses momentos


de silêncio.

— Suco de oxicoco? — eu perguntei.

Ele riu, os olhos traçando minhas feições. — Ficando mais


quente.

Tive que enterrar meu rosto em seu travesseiro para esconder


meu sorriso satisfeito.

Aiden mudou de uma posição agachada para se sentar no


chão, com as costas apoiadas na mesa de cabeceira, e virou a
cabeça para me encarar. Enfiei minha mão boa sob o travesseiro e
imaginei que isso era apenas... normal. Nós dois trocando
perguntas sussurradas na cama. Ele fez uma careta, enviando um
olhar feroz por cima do ombro para a mesa.

— O quê? — indaguei.
— Nada. Apenas a alça cavando nas minhas costas. — Seus
olhos traçaram meu rosto. — Estou muito velho para me sentar
em lugares como este.

Respirei fundo e decidi não pesar a sabedoria do que estava


para sair da minha boca. — Você pode se deitar aqui — eu
sussurrei. — Em cima do cobertor — corri para acrescentar
quando seu olhar se aguçou.

Depois de um silêncio pesado, Aiden finalmente


respondeu. — Você sabe que eu não posso.

Meus lábios franziram pensativamente. — E se eu desenhar


uma linha invisível que você não tem permissão para cruzar?

Suas pálpebras se fecharam, seu peito subia e descia em uma


inspiração e expiração lenta e constante. — Você é perigosa para
minha saúde mental, Isabel Ward.

Eu sorri, embora ele não pudesse me ver. Eu gostei de saber


disso. Eu gostei que ele disse isso em voz alta. Talvez Aiden
estivesse ciente de que isso não era realidade, e pudemos fazer
admissões sussurradas que poderiam nunca ver a luz do dia.

Havia um milhão de coisas que eu poderia ter dito a ele, nesta


última conversa de nossa longa noite sem dormir juntos. Coisas
que ninguém sabia sobre mim ou coisas que eu queria que ele
soubesse sobre mim. Mas guardei todas essas palavras porque, de
alguma forma, eu sabia que não era a hora.

Quando Aiden abriu os olhos e me estudou, ele parecia estar


ponderando a mesma profundidade de pensamentos, a julgar pelo
olhar pensativo em seu rosto.
— Isso confundiria Anya — disse ele após alguns
segundos. Minhas sobrancelhas baixaram. — Se ela entrasse aqui
— explicou Aiden.

Certo.

Eu não precisava tomar todas as minhas decisões pelas


lentes de uma criança. E foi um lembrete oportuno que ele fez.

— Você tem razão.

— Ela já pensa que você é uma super-heroína, especialmente


depois de hoje. Não importa qual linha invisível esteja formada —
ele fez uma pausa significativa — se ela nos visse na cama juntos...

Eu concordei. — Entendo.

Meus olhos ardiam, porque parecia que uma ampulheta tinha


sido virada quando me arrastei para a cama dele e estava vendo
os últimos grãos de areia escorregar pela abertura.

— Como você está se sentindo? — ele perguntou.

Rolando cuidadosamente de costas, fiz uma rápida avaliação


do meu corpo. — Minha cabeça não dói tanto quanto na noite
passada.

Ele estendeu a mão. — Deixe-me ver seu pulso.

Virei-me novamente e coloquei meu pulso com fita


suavemente em sua palma. Seu rosto ficou sem expressão
enquanto ele o virava e alisava a área com os dedos.

— O inchaço não está muito pior, então é um bom sinal. —


Ele olhou para mim. — Sem formigamento em seus dedos?
Eu balancei minha cabeça.

Quando a ponta do dedo traçou a borda da fita e roçou a pele


dos nós dos dedos, fiz uma descoberta que talvez nenhuma mulher
na história jamais tivesse descoberto: se o homem certo, com os
dedos certos, tocasse a pele dos seus nós dos dedos, sentiria o
toque espalhar-se quente e lentamente por todo o seu corpo.

Eu não conseguia respirar, muito menos responder à sua


pergunta.

Minha falta de palavras não pareceu chamar sua atenção


porque seus olhos permaneceram em nossas mãos. Lentamente,
muito lentamente e com muito cuidado, ele encontrou a borda da
fita e começou a desenrolá-la.

Ao longo dos anos, eu o vi infligir uma violência


incrível. Deixar seus oponentes sangrando e encharcados de suor
no tapete.

E observar suas mãos retirando lentamente a fita adesiva


médica como se estivesse desembrulhando um presente
inestimável quase me fez chorar.

Eu odiava quando as pessoas cuidavam de mim. A última vez


que tive gripe, arrastei minha bunda para a cama com uma
verdadeira drogaria montada na minha mesa de cabeceira e disse
a todos para me darem 48 horas para enfrentar a praga em paz.

Tudo o que alguém tinha que fazer era perguntar aos


paramédicos que me ajudaram que tipo de paciente eu era.

A pior. Eu era a pior paciente do mundo.


O que havia em Aiden que me fazia sentir segura por estar
nesta posição?

Mudei de posição, colocando meu braço em uma posição


melhor para ele, e ele olhou para cima com um pequeno sorriso.

Eram facilmente quatro horas da manhã e ele não parecia


estar com pressa.

— Qual é a sua comida favorita? — eu sussurrei.

Suas mãos pararam de desembrulhar para verificar o


hematoma na parte inferior do meu pulso com apenas um leve
toque de seus dedos.

Eu estremeci.

Ele percebeu.

Antes de responder, ele voltou a remover o envoltório. — Não


é Pop-Tarts de morango.

Eu ri.

Seus olhos pousaram na minha boca. — Você não ri com


muita frequência.

— Nem você.

— Meu irmão fez você rir — disse ele casualmente.

Oh, meu coração. Não me surpreenderia se Aiden ouvisse a


batida descontrolada de onde ele estava sentado.
— Ele disse algo engraçado. — Quando Aiden me lançou um
olhar penetrante, eu simplesmente levantei minhas
sobrancelhas. — O quê?

— Nada.

— Você ainda não me disse sua comida favorita.

Seu sorriso era leve e sexy. — Liguei para Paige quando você
estava dormindo.

Como técnica de distração, foi muito eficaz. Meu queixo


caiu. — Você o quê?

Aiden terminou de desembrulhar meu pulso e o girou com


cuidado. Mas ele não teve escolha a não ser soltar minha mão
quando me sentei. Minhas pernas balançaram na frente dele no
chão, então eu as enfiei cruzadas embaixo de mim.

— Por que você ligaria para ela? O objetivo de vir aqui era que
ninguém soubesse.

— Não — ele rebateu — o objetivo de vir aqui era para que


você não precisasse ir ao hospital. Molly ligou para ela e contou
sobre a árvore e ela ligou para você várias vezes.

— Então você desbloqueou meu telefone e ligou de volta para


ela?

Uma sobrancelha ergueu-se imperiosamente em sua testa. —


Tecnicamente, Emmett desbloqueou seu telefone.

Eu dei a ele um olhar fulminante. Incrível como acariciar-


quase-orgasmos com os nós dos dedos só iam tão longe quando
ele se encarregava de contar a Paige sobre algo sem perguntar.
Meu queixo subiu um pouco. — Você não tinha o direito de fazer
isso.

— Eu não tive sua permissão, não. — Ele ficou de joelhos, as


mãos apoiadas na beira do colchão, trazendo seu rosto para mais
perto do meu. — Mas se eu tinha o direito é discutível. Você está
em minha casa com um ferimento na cabeça, e a pior coisa que eu
poderia imaginar como pai é se algo terrível acontecesse e eu não
soubesse.

Meu olhar fulminante se suavizou em algo um pouco menos...


seco porque ele não estava errado.

— Ela não estava brava — ele me disse. — Eles mudaram seu


voo para o primeiro hoje de manhã. Acho que eles estarão aqui
depois do café da manhã.

Meus ombros caíram. — Eu não queria preocupar ninguém.

— Eu sei.

Cuidadosamente, flexionei meus dedos, virando minha mão


para frente e para trás para que eu pudesse ver na luz. Estava
inchado, mas não terrivelmente. Os hematomas seriam feios, mas
eu tive muita sorte. Anya teve tanta sorte.

— Mas talvez — falou — seja normal deixar as pessoas se


preocuparem com você de vez em quando. Isso não significa que
você é um fardo. Com certeza não significa que é fraca porque essa
é a última coisa que você é.

Eu quase balancei em sua direção. Uma vez que Logan e Paige


pegassem Emmett e eu, uma vez que saíssemos de sua garagem,
eu provavelmente não o veria por alguns dias. Certamente não
assim.
Em geral, eu não era uma pessoa impulsiva. Era decidida e
isso era diferente. Não demorei muito para decidir sobre...
qualquer coisa, na verdade, porque sempre tive a noção de qual
curso de ação fazia mais sentido.

Nesse momento, eu sabia que tocaria em Aiden porque não


podia deixar de tocá-lo.

— Acho que cansei de dormir — eu disse baixinho. Eu inalei


lentamente, e ele estava tão perto - embora eu estivesse olhando
para minha mão e ele estivesse olhando para mim. Parecia mais
seguro assim, manter meu olhar longe dele. Com minha mão boa,
deslizei meus dedos sobre os dele e saboreei a maneira como ele
expirou. A mão de Aiden era muito maior do que a minha. Ele
abrangeria grande parte do meu corpo com aqueles dedos em
leque.

Enquanto movia meus dedos sobre os nós dos seus dedos,


não pude deixar de me perguntar se isso teve o mesmo efeito nele
que teve em mim.

Em vez de lutar contra o impulso que puxou meu corpo em


direção a ele, eu o deixei fluir por mim. Uma onda quente de poder
me fez virar minha cabeça e descansar minha testa contra sua
têmpora. Debaixo da minha palma, seus dedos se fecharam em
um punho apertado. Os músculos de seus antebraços se
flexionaram e ele respirou pelo nariz, um sopro curto de ar que
soou alto em meus ouvidos.

E aquele grande homem, que causou tantos sentimentos, ele


não se afastou. Nem eu.

Eu deslizei minha mão por seu antebraço, enrolei meus dedos


em torno de seus músculos e tendões, até que senti o nó duro de
seu cotovelo, a curva quente e apertada de seu bíceps sob sua
pele. Meus dentes cravaram no meu lábio inferior quando vi,
através de olhos pesados, a forma como sua mandíbula flexionou
e franziu.

Agarre-me.

Toque-me.

Beije-me.

Minhas demandas quase escaparam dos meus lábios, mas


puxei as palavras de volta porque não ousei quebrar o feitiço.

Talvez não fosse um feitiço, eu me perguntei, enquanto meus


dedos se curvavam, as pontas das minhas unhas cavando
ligeiramente na superfície de sua pele. Talvez fosse eu enfiando a
mão de boa vontade no fogo, só para ver se queimaria do jeito que
imaginei.

Todo o seu corpo tremia quando - com a mais leve elevação


do meu queixo - meus lábios percorreram sua bochecha. Se ele
alguma vez soltasse toda a sua força sobre mim, provavelmente me
quebraria ao meio com o impacto.

Aiden se abaixou, apenas dois centímetros, sua própria testa


descansando agora no meu ombro nu. Sua exalação, pesada e
quente, serpenteava pela abertura na minha camisa, e quando
atingiu meu peito, um som escapou do fundo da minha garganta.

Sua mão, ainda em punho na cama, disparou para frente, e


com uma forte pressão de sua mão no meu quadril bom, minhas
pernas se desdobraram como se ele tivesse ligado um
interruptor. Ele enrolou aquela mão grande na parte inferior das
minhas costas, por baixo da minha camisa, e me puxou para a
frente na cama. Minha mão deslizou o resto do caminho pelo
braço, por cima do ombro, e meus dedos se enrolaram em sua
nuca.

E então nada.

Nossas cabeças permaneceram exatamente como estavam - a


dele pressionada no meu ombro, a minha dobrada contra a dele -
como se nenhum de nós ousasse se mover.

Nós dois demos um passo em direção à linha invisível porque


um toque poderia ser ignorado, mas no segundo que seus lábios
encontrassem os meus, no segundo que eu soubesse como sua
língua parecia escorregadia e deslizando contra a minha, a linha
seria destruída.

Destruída.

Uma palavra tão boa para o que ele foi capaz de fazer
comigo. Aiden Hennessy era enorme, e meus dedos do pé se
enrolaram desamparadamente ao senti-lo pressionado entre as
minhas pernas. Bastaria uma ponta para trás, um puxão de
alguns pedaços de material sem sentido, e eu seria dele.

Por favor, eu murmurei contra sua bochecha.

— Foda-se — ele sussurrou, um sussurro torturado que fez


minhas coxas apertarem em torno de seus quadris. — Eu não
posso — ele sibilou.

Aiden se afastou da cama e se levantou, saindo do quarto


antes que eu pudesse respirar.

Eu caí de costas na cama, a mão pressionada sobre meu peito


martelando, e me perguntei se era possível morrer de tensão sexual
acumulada.
Embora a porta estivesse aberta e eu ouvisse o estrondo de
um armário de cozinha, fiquei exatamente onde estava. Não havia
nada a ganhar em segui-lo para fora do quarto, em empurrá-lo
para saber por que ele sustentava essa linha imaginária.

Ou não agora.

Esta noite parecia uma encruzilhada. O momento que


acabamos de compartilhar foi uma estrada que divergia em dois
caminhos distintos à nossa frente.

É certo que o dele era ainda maior do que o meu. Ele estava
saindo de um amor que havia perdido. Eu estava simplesmente
dando o primeiro passo em direção a algo tão grande.

Cansada, eu me levantei da cama e entrei no enorme


banheiro anexo ao seu quarto. A banheira branca funda parecia
bastante surpreendente, junto com trechos de ladrilhos brilhantes
e um box de vidro no chuveiro. Meu corpo inteiro doía, e eu não
conseguia nem dizer o quanto disso vinha do que acabou de
acontecer com Aiden, uma queda de energia que me sustentou
naquele momento.

No espelho acima da penteadeira dupla, inclinei-me e estudei


o corte na minha testa. Havia hematomas mínimos ao redor, o que
era bom. Talvez Paige não perdesse tanto a cabeça quando me
visse.

Tudo sobre as últimas vinte e quatro horas estava me


afetando ao mesmo tempo. A montanha-russa inteira quase
demais para o meu corpo processar.

Eu só queria... flutuar. Sentir-me aquecida, limpa e bem.


Decisão tomada, eu fui até a banheira e liguei a água,
testando-a quando atingiu a temperatura certa. Não havia
sabonete chique em seu banheiro, mas encontrei um bom sal
Epsom antigo no armário, que despejei na água
corrente. Dissolveu-se na água quando passei a mão em torno dos
cristais.

Não houve mais batidas na cozinha, e voltei para o quarto


para pegar as roupas limpas da minha mochila. Quando me
endireitei, avistei Aiden sentado no sofá, com a cabeça entre as
mãos.

Quando parei na porta, ele ergueu a cabeça e nossos olhos se


encontraram.

— Se estiver tudo bem para você, vou tomar um banho —


falei.

Seus olhos brilharam, mas ele não respondeu.

— A menos que você queira me explicar por que não pode —


acrescentei. — Porque eu adoraria entender.

Aiden baixou o queixo contra o peito, protegendo seu olhar de


vista. — Você está ferida, Isabel — disse ele calmamente.

Eu balancei minha cabeça. — Não é isso.

Sua cabeça se ergueu, mas ele não discutiu.

O espectro de sua esposa pairou entre nós. Eu sabia.

— Eu sei que não é isso — minha voz ganhou força. — E eu


gostaria que você explicasse isso para mim.
Aqueles olhos dele, eu nunca tinha visto nenhum igual. Uma
resposta sem palavras me atingiu diretamente no coração
enquanto ele me olhava fixamente. Eu não posso. Era tão claro
como se ele tivesse falado as palavras em voz alta.

— Não me diga que você não pode — eu disse a ele


calmamente. — Você não vai, e há uma diferença.

Meus pulmões não funcionaram direito quando agarrei a


maçaneta da porta do quarto, e ele desapareceu de vista, rajadas
irregulares de oxigênio fazendo todo o meu peito doer. A porta se
fechou com um clique silencioso e eu afundei contra ela por um
momento.

Eu empurrei a porta e entrei no banheiro, tirando minhas


roupas e deixando-as cair ao acaso no chão. Quando entrei na
água, soube que ele não entraria. Eu não estava mais disposta a
fingir, como se não tivesse sentimentos grandes e assustadores por
este homem. Duas vezes agora, eu implorei a ele para fazer algo. E
ele não fez.

Tive a sensação de que sabia por quê.

Mas eu precisava que ele se abrisse um pouco também. Não


totalmente e não de uma vez. Mas se ele não estava disposto a me
dar nada, então eu tinha que decidir se poderia fazer as pazes com
isso.
Algumas horas depois, Emmett e eu estávamos prontos para
voltar para casa.

Bem... Emmett não estava.

Eu com certeza estava. Meu banho havia me reanimado e com


a ajuda de mais uma dose de Tylenol, embora meu corpo ainda
estivesse dolorido, pude controlar mais facilmente. E enquanto eu
me movia pela cozinha depois de embalar minha mochila e
arrumar sua cama, Aiden agiu como se houvesse um campo de
força de dois metros ao meu redor que ele não tinha permissão
para invadir.

O café da manhã era bagels (para os adultos) e cereais (para


as crianças) porque não era como se Aiden estivesse preparado
para receber convidados.

— Estou com fome — Emmett me disse, jogando uma pinha


no ar e pegando-a. Logan e Paige estariam aqui a qualquer minuto.

— Eu disse que você deveria ter comido um bagel.


Com a língua presa entre os dentes, ele jogou a pinha mais
alto e disparou para o lado para pegá-la, mas sua coordenação
mão-olho estava errada, então ela ricocheteou na minha cabeça.

— Desculpe — ele disse com uma careta.

Eu tirei as manchas da pinha do meu cabelo, alisado para


trás em uma trança que descia pelas minhas costas. — Ei, o que
é mais um ferimento na cabeça.

Anya saiu voando pela porta da frente e subiu no meu colo,


onde me sentei em uma cadeira Adirondack branca com vista para
o jardim da frente. Ela estudou meu rosto, sua boca se retorcendo
em uma careta pensativa quando olhou para a bandagem na linha
do meu cabelo.

— Isso dói? — ela perguntou.

— Não é tão ruim. — Toquei suavemente a parte inferior da


bandagem de borboleta. — Coça um pouco, mas preciso deixar
aqui por alguns dias.

Seus olhos, de um azul brilhante e de um tamanho e


tonalidade totalmente diferente dos de seu pai, encontraram os
meus. Os olhos de sua mãe. Meus olhos vieram da minha mãe
também, e eu não pude deixar de pensar em quão diferente eu
poderia ter me sentido se eu gostasse de ver aquela lembrança dela
no espelho. Anya o faria. E Aiden, toda vez que olhava para sua
filha, tinha vislumbres da mulher que eles perderam.

Gentilmente, escovei seu cabelo atrás das orelhas.

— Você não ri muito, não é? — ela perguntou.


Seu pai me perguntou algo semelhante, e eu lutei para não
sentir que tinha feito algo errado com a pergunta repetida.

Eu bati em seu queixo com meu polegar, e isso desenhou um


sorriso. — Eu rio mais quando você me encontra — eu disse a ela.

Minha resposta a deixou feliz, e meu coração lutou para


superar a doce dor melancólica que ela me fazia sentir. Se eu já
não estivesse apaixonada pelo pai dela, Anya poderia o ter levado
até a linha de chegada.

Eu amava suas perguntas sérias. Eu amava sua veia


audaciosa, mesmo que meu pulso latejasse em protesto. Eu amava
que a ter visto deitada no meio de um ringue de boxe cantando em
plenos pulmões.

— Fui dormir imediatamente ontem à noite — ela me disse


em tom sério.

— Isso é bom. — Minha testa franziu porque certamente


parecia que ela estava me dizendo algo importante. — É
geralmente difícil para você dormir?

Ela encolheu os ombros. — Às vezes.

Seus olhos se moveram do meu rosto para as letras na minha


camiseta do Wolves. O tecido preto gasto não era algo que eu teria
embalado se soubesse que alguém tirando Emmett teria o
privilégio de ver. Havia buracos na bainha. Eu tinha arrancado as
mangas anos atrás porque odiava mangas em minhas camisas
quando fazia exercícios.

— O que te mantém acordada, querida? — eu


perguntei. Enquanto eu a observava, era impossível não pensar
nas noites em que olhei para o teto do meu quarto quando era mais
jovem.

— Não sei. — Sua resposta foi honesta e simplesmente falada,


mas ainda assim... encaixou algo cru e vulnerável em meu
coração. — Mas eu gostei que Emmett estava do outro lado do
corredor. Eu fingi que ele era meu irmão mais velho. — Seus olhos
encontraram os meus novamente. — E você estava lá
embaixo. Papai também não estava sozinho. Eu acho que foi mais
fácil dormir porque eu estava feliz.

Era quase impossível engolir o que quer que estivesse alojado


na minha garganta. Eu pensei no que Aiden disse na noite
anterior, sobre confundi-la.

— Seu pai foi muito bom em nos deixar ficar porque eu estava
ferida — eu disse gentilmente.

Anya concordou. Eu me peguei estudando-a mais de perto do


que nunca.

Eu provavelmente já tinha visto fotos da esposa de Aiden no


passado, mas ainda assim, não me lembrava de seu rosto. Nem
procurei sua foto na casa na noite anterior, mas não tinha dúvidas
de que havia imagens dela no espaço onde moravam.

Atrás de mim, eu o senti se aproximando, sua presença algo


parecido com seu próprio campo de força. Desde que fechei a porta
para tomar meu banho, ele não tinha falado uma palavra comigo.

Ele simplesmente me observou, estudou-me com uma


cautela que eu não tinha visto nele antes, como se eu o fizesse mal
de alguma forma que eu não entendia.
Ele não sabia? Eu não queria causar nenhum dano
invisível. Eu os amaria tão facilmente se ele me deixasse.

— Você vai trazer Emmett para brincar de novo algum dia?


— Anya perguntou, agora brincando com a ponta da minha
trança. — Você não conseguiu caminhar até o lago conosco e me
ver pular pedras. Eu sou muito boa nisso.

Aiden veio para ficar ao lado da cadeira e, com cuidado, olhei


para cima, mas sua atenção estava em sua filha.

— Falaremos sobre isso mais tarde, ok, gingersnap? — ele


disse.

Ela fez beicinho. — Você só diz isso quando não quer dizer
não na frente das pessoas.

Eu sufoquei um sorriso. — Eu vou te dizer uma coisa, Anya,


talvez seu pai possa te deixar na casa de Emmett algum dia
quando eu estiver lá. — Eu bati no nariz dela. — Não suba naquela
árvore, no entanto.

— Posso, daddysnap? — ela perguntou, pulando


animadamente no meu colo.

Aiden deu um leve aceno de cabeça. — Por que você não pula
do colo dela? Acho que o irmão dela está aqui.

O SUV de Logan parou na garagem, e eu avistei suas


expressões idênticas de preocupação.

— Lá vamos nós — murmurei.

— Mamãe parece chateada — Emmett sussurrou.


Eu dei uma olhada para ele quando Aiden suspirou.

Emmett olhou para Aiden, a voz séria. — Eu não sei se você


está pronto para isso, Sr. Hennessy.

As sobrancelhas de Aiden baixaram. — Para quê?

Paige escancarou a porta e, com uma enxurrada de cabelos


ruivos, pernas longas e afeição maternal, ela encheu todo o jardim
da frente com sua presença.

Suas mãos correram sobre meu cabelo, meus ombros e, em


seguida, inclinou meu queixo para o lado. — Ai, meu Deus, Isabel,
vamos direto para o hospital. Qual é o seu problema?

Eu me levantei, e quando fiz uma careta por uma pontada na


minha perna, ela colocou as mãos nos quadris e olhou para mim.

— Você me disse que a cabeça dela estava bem — falou para


Aiden. Paige apontou para a bandagem na minha cabeça. — Você
chama isso de bem?

Seus olhos estavam enormes e ele olhou para mim em busca


de ajuda. — Eu...

Dei de ombros porque tive mais de uma década para me


acostumar com ela.

Logan se aproximou em uma velocidade normal, e com


habilidades cordiais, ele estendeu a mão para Aiden. —
Logan. Prazer em conhecê-lo.

Aiden a apertou, ainda lançando olhares cautelosos para


Paige enquanto ela cacarejava e arrulhava sobre meu pulso, que
foi embrulhado em bandagens limpas depois do meu banho. —
Prazer em conhecê-lo também.

— Paige — Logan disse uniformemente.

Ela nem olhou para ele. — Não é hora de me controlar, amigo.


— Seus olhos estavam fixos em mim. — Você tem certeza de que
não está quebrado?

Eu concordei. — Sim. Acredite em mim, se a dor ou o inchaço


piorassem hoje, eu deixaria você me levar. Mas eu estou bem.

— Perdoe-me se não confio em sua opinião sobre isso,


senhorita. Recuso-me a ser examinada no hospital.

Anya veio ao meu lado e puxou minha mão boa. — Esta é sua
mãe? Ela é linda.

— Tipo isso — eu expliquei. — Eu tinha quatorze anos


quando ela se casou com meu irmão, então, embora ela seja minha
cunhada, ela é minha mãe em todos os aspectos que importam. —
Paige fungou ruidosamente e eu dei uma olhada nela. — Não
comece a chorar agora.

Paige suavizou sua postura, dando a Anya um sorriso


doce. — Você deve ser Anya.

Anya concordou. — Sinto muito ter quebrado seu galho de


árvore.

— Oh, querida, você não precisa se desculpar por isso. Estou


feliz que você esteja bem.

Paige se endireitou e Logan deslizou um braço em volta de


sua cintura. Ele olhou meu pulso. — Quão ruim está a torção?
— Segundo grau — Aiden interrompeu. — Se eu tivesse que
adivinhar.

— Adoro quando os atletas fazem diagnósticos médicos como


se fossem médicos — Paige me disse. — É a minha coisa favorita
de sempre.

Logan a ignorou. — Eu marquei para você uma consulta com


o quiropata da equipe para um ajuste. Ele está indo para a casa
amanhã. — Quando eu abri minha boca, ele levantou a mão. —
Você vai ficar conosco por algumas noites.

— Adoro quando os homens da minha vida tomam decisões


por mim — disse Paige. — É a minha coisa favorita de sempre.

Aiden passou a mão sobre a boca e Logan me deu um olhar


nivelado. — Isabel, minha irmã a quem amo e respeito muito, você
faria a gentileza de ficar em nossa casa enquanto você se recupera?

Fiz um gesto pedindo mais.

— Por favor — ele conseguiu dizer.

Em resposta, dei-lhe um sorriso magnânimo. —


Claro. Obrigada por pedir tão bem.

— Aiden, foi um prazer conhecê-lo. Obrigado de novo — meu


irmão disse, então ele voltou para o carro, murmurando algo sobre
irmãs e cabelos grisalhos.

Paige riu. — Emmett, pegue a mochila da Iz. Ela está ferida.

— Eu posso carregá-la.

— De jeito nenhum, deixe-o ser útil. É bom para ele.


Emmett a pendurou no ombro e acenou para nossos
anfitriões. — Obrigado por nos deixar ficar aqui.

Aiden acenou com a cabeça. Anya correu até Emmett antes


que ele subisse no banco de trás e lhe deu um abraço apertado. O
rosto de Emmett ficou vermelho brilhante e Paige sorriu. — Eu
amo esse garoto.

Anya correu de volta em nossa direção e se jogou nas minhas


pernas. Eu alisei a mão ao longo de seu cabelo macio e felpudo. —
Espero que você se sinta melhor logo — ela me disse. — Obrigada
por me pegar.

Paige acenou com a mão na frente do rosto e seus olhos


estavam suspeitosamente brilhantes. Os meus provavelmente
também. Aiden estava olhando para o chão.

— A qualquer hora — eu disse a ela. — Vejo você depois, ok?

Quando Anya desapareceu de volta em casa, Aiden


finalmente fez contato visual comigo. Meu estômago embrulhou
como uma pena com o que vi.

Eu soltei uma respiração lenta porque nós dois parecíamos


ter perdido a capacidade de fingir qualquer coisa depois do que
aconteceu em seu quarto.

Paige olhou entre nós, suas sobrancelhas se levantando. —


Eu, uhh, só vou entrar no carro. Aiden — disse ela, esperando até
que ele olhasse para ela para continuar, — obrigada por cuidar da
minha garota.

Ele assentiu. — De nada.

— Já vou — disse a Paige.


Ela apertou minha mão, olhos calorosos e
compreensivos. Honestamente, não havia nenhuma maneira
concebível de ela entender a merda, porque eu disse a ela tão
pouco. Esse sempre foi o meu problema. Segurar apenas por
tempo suficiente para pressionar as costuras da minha pele a
estourarem.

Eu fiz isso com a minha mãe indo embora.

Eu fiz isso com Paige aparecendo.

E agora eu estava fazendo isso com Aiden.

Todas as grandes coisas, as mudanças que eu não tinha


previsto, as peças que me fizeram ser quem eu era. E agora, eu
sabia, ele fazia parte disso. Mesmo que ele não seja capaz de dizer
o mesmo.

Nenhum de nós falou por um momento depois que Paige nos


deixou sozinhos.

— Eu provavelmente vou tirar um ou dois dias de folga do


trabalho — eu disse calmamente.

Suas sobrancelhas baixaram.

— Vou enlouquecer sentada em casa.

Aiden suspirou, movendo brevemente seu olhar para o carro


onde Logan e Paige nem estavam fingindo não nos observar. — Eu
me sentiria melhor se você tirasse a semana inteira de
folga. Definitivamente sem dar aulas.

— Eu já tenho minhas aulas cobertas. — Eu mexi na bainha


da minha camisa porque não tinha nada a ver com minhas
mãos. — Se eu tirar toda esta semana de folga, isso significa que
vou perder a maior parte das próximas duas semanas.

Ele inclinou a cabeça. — Por quê?

— O casamento da minha irmã. Está no calendário —


suspirei. — E a... — Minha voz foi cortada porque não era como se
eu fosse dona da aula de autodefesa. Mas era importante para
mim. Para ele também.

Vi em seu rosto que ele queria perguntar, na maneira como


abriu a boca, na maneira como me olhava. Mas nenhuma palavra
saiu, e a busca parou quando ele voltou sua atenção para o carro
novamente.

Ficar em silêncio com ele não parecia mais tolerável, e essa


compreensão poderia facilmente se transformar em frustração,
raiva, se eu deixasse.

Ele me queria. Eu sabia que sim.

— Obrigada, Aiden — eu disse.

Sua mandíbula se apertou. E nada.

Certo.

— De nada.

Havia tanta coisa que eu queria gritar com ele depois


disso. No rastro dessas merdas, frases educadas. Eu queria o
Aiden que se sentou no escuro comigo. Mas, em vez disso, escolhi
proteger o que restava de minha energia depois de vinte e quatro
horas realmente desgastantes, e caminhei até o carro com a cabeça
erguida.
Uma vez que eu coloquei o cinto, Paige se virou e me deu uma
olhada.

— Puta merda, garota, você e eu vamos conversar quando


chegarmos em casa.

Logan suspirou, puxando a marcha para que pudesse dar ré


no veículo para fora da garagem. — Eu não tenho que fazer parte
dessa conversa, não é?

— Não — Paige e eu respondemos em uníssono.

— Excelente. — Ele chamou minha atenção pelo espelho


retrovisor e piscou. — Pronta para ir para casa?

Afundei no assento e suspirei. — Você não tem ideia.


— Por favor?

— Não.

— Paige, estou tão entediada. — Eu empurrei meu lábio para


fora, mas tudo que ela fez foi revirar os olhos. Eu nunca fiz
beicinho na minha vida, mas este parecia um momento tão bom
quanto qualquer outro. — Não tenho feito nada nos últimos três
dias. Você não pode me manter aqui. Você ouviu o quiropata dos
Wolves, ele disse que se eu me sentir bem, posso fazer um trabalho
de mesa leve. Kelly me mandou uma mensagem dizendo que a
programação está uma bagunça.

Ela terminou de guardar as compras. — Sim, eu também o


ouvi dizer que você precisava ter cuidado por causa de como seu
quadril estava fora de controle. Ele disse gelo e alongamento e
descanso, nada extenuante por alguns dias.

— Já se passaram alguns dias.

— Ele esteve aqui ontem, Iz.


Minha respiração saiu em uma baforada de raiva, movendo-
me para a sala da família para que eu pudesse me sentar no
sofá. Emmett me jogou um controle e eu balancei minha cabeça. —
Não, obrigada, amigo, eu joguei videogame o suficiente para durar
dez anos.

— Sabe — Paige disse da cozinha, — isso só mostra o quanto


você precisa encontrar um hobby. Só os workaholics surtam
depois de três dias de folga.

— Eu tenho hobbies.

Ela riu. — Diga um.

— Eu... — Minha mandíbula se contraiu obstinadamente


quando nada veio à minha mente. — Eu amo sair com minha
família. E... esportes. Eu amo esportes.

— Isso não conta, Iz. — Ela puxou uma caixa de Pop-Tarts da


sacola de papel. — Admita ou não vou jogar um desses para você.

— Isso é guerra emocional — eu disse a ela. — E eu não estou


admitindo nada. Não há nada de errado em amar meu trabalho e
querer estar lá. Sempre fui assim. Isso não significa que eu não
tenha hobbies.

— Cair das árvores para resgatar a filha do seu chefe gostoso


não conta, garota.

Com os olhos arregalados, gesticulei para Emmett.

— Ele não está ouvindo — disse Paige.

— Sim, eu estou. — Ele apertou os botões do controle. — Você


acha que o Sr. Hennessy é gostoso?
Eu dei uma olhada para Paige. — Responda com cuidado.

A única maneira que eu poderia descrever seu sorriso


era pura maldade. — Que coisa, que coisa, alguém parece
possessivo. Você nunca me contou o que aconteceu.

— Nada aconteceu. — Mais uma vez, apontei para Emmett.

— Mentirosa — ela murmurou.

— Então, o casamento — eu disse. — Chegando perto, hein?

— Que mudança de assunto discreta. — Mas Paige sorriu


enquanto olhava para o relógio. — Eu realmente tenho que ir. Vou
me encontrar com Molly na casa dela e de Noah para repassar os
últimos detalhes do jantar de ensaio. Se você está tão entediada,
pode vir.

Inclinei minha cabeça para Emmett. — E quanto a ele?

— Vou para a casa do meu amigo — disse ele, os olhos ainda


grudados na TV. — A mãe dele vem me buscar daqui a pouco.

Minhas rodas começaram a girar imediatamente. — Nah, vá


em frente — eu disse a Paige. — Eu posso tirar uma soneca.

Seus olhos se estreitaram ligeiramente, então bocejei para


causar efeito.

— Ok.

— Ainda nada dela? — eu perguntei.

Mesmo depois de tantos anos, eu não gostava de dizer o nome


de Brooke, e Paige sabia disso.
Paige balançou a cabeça. — Ainda não. — Paige sabia sobre
meu telefonema com Molly, mas eu ainda odiava sentir que não
tinha certeza do que esperar. — Eu não me importaria com isso. Se
ela fosse vir, ela teria confirmado sua presença.

Eu ri sem graça. — Vocês dão a ela mais crédito por boas


maneiras do que eu.

Paige deu a volta e beijou o topo da cabeça de Emmett, depois


a minha. Com cuidado, ela traçou o polegar pela bandagem. —
Está começando a descascar um pouco. Quanto tempo até você
poder tirá-la?

— O paramédico disse provavelmente de sete a dez


dias. Assim que a ferida estiver totalmente fechada.

Ela assentiu e inclinou a cabeça. — Você vai fugir para


trabalhar assim que eu sair?

Eu segurei seus olhos. — Pode ser.

— Aiden sabe que você está indo?

— É o dia de folga dele, então não. Eu só quero corrigir o


cronograma e verificar se ele fez a folha de pagamento
corretamente — eu pausei. — E certificar-me de que ele não
bagunçou meu armário de armazenamento.

Paige suspirou. — Sem chutes, corridas, socos ou qualquer


coisa que não seja uma caminhada tranquila, ok?

Eu sorri. — Ok.

Quinze minutos depois, eu estava ao volante do meu carro


com o ar quente de setembro soprando em meus cabelos. Não era
como se eu não estivesse desfrutando de algum tempo extra com
Logan, Paige e Emmett, mas fazia muito tempo desde que eu tive
que prestar contas do meu tempo para alguém. E depois da noite
na casa de Aiden, encontrei-me desejando um pouco de solidão
para processá-la.

Foi a única razão pela qual me senti bem com os quatro dias
de folga combinados, acrescentados ao meu dia de folga
habitual. Vê-lo, pensar no que diria ou em como agir, eu ainda
estava incerta.

A última coisa que eu queria fazer era tornar o ambiente de


trabalho impossível para qualquer um de nós, mas eu não era boa
em fingir. Eu nunca fui. Meus pensamentos, para o bem ou para
o mal, sempre estiveram claramente estampados em meu rosto.

Provavelmente foi por isso que a maioria dos homens nem


tentou realmente comigo.

E agora - não era tão irônico - eu encontrei o homem que eu


queria, e sua falta de tentativa resultou de algo totalmente
diferente. Eu só não tinha certeza se ele alguma vez me confiaria
a verdade do porquê.

Depois de estacionar meu carro e ter certeza de não ver a


grande caminhonete preta de Aiden, entrei na academia e sorri
para Gavin, que estava ao telefone atrás da recepção. Ele
murmurou algo, mas eu não consegui entender.

Eu apontei de volta para meu escritório. — Conte-me mais


tarde — pedi.

Ele me deu um sinal de positivo.


Mas assim que passei pela área da frente, soube o que ele
estava tentando me dizer.

Aiden estava parado na frente de uma pequena equipe de


notícias, uma mulher bem-vestida segurando um microfone em
seu rosto. Ele ainda não tinha me visto por que estava afastado da
porta da frente.

— E qual é o maior problema que você vê os jovens lutadores


enfrentando hoje, Aiden?

Com as mãos apoiadas nos quadris, uma camisa preta com o


novo logotipo do ginásio apertado em seu peito, Aiden parecia tão
sério, tão bonito. Ele balançou sua cabeça. — Sem dúvida, é a
forma como as categorias de peso são configuradas. Se eles não
aumentarem isso, você apenas verá mais e mais caras grandes se
desidratando ao ir para uma luta para que possam se classificar
com um peso mais baixo.

Ela acenou com a cabeça. — E por que você vê isso como um


problema?

— Se você tem alguém que pesa uns 87 antes da partida, mas


seu peso regular é 96 quilos, e ele vai contra um cara que pesa uns
80 saudável, você terá mais lesões. Mais sérias também. Não
apenas as lesões que podem resultar de uma luta justa. É uma das
razões pelas quais eu estava pronto para parar quando me
aposentei.

Ela sorriu. — Sem chance de você voltar?

— Não, meus dias de luta acabaram. Estou animado com o


que podemos realizar aqui.

Mudei meu peso e Aiden percebeu.


Ele deu uma segunda olhada rápida e seu semblante ficou
tão sombrio quanto uma nuvem de tempestade. De cabeça baixa,
voltei para o meu escritório e esperava que fosse uma entrevista
muito, muito longa.

A apresentadora começou a falar novamente e fechei a porta


do escritório.

— Bem, merda — eu sussurrei.

Comecei a trabalhar porque tive a sensação de que minha


porta iria se abrir e um homem muito alto e muito zangado estaria
atrás dela assim que isso acontecesse.

Enquanto eu estava olhando para a tela do computador e


clicando em algumas coisas, meu telefone tocou.

Molly: Ooooooooooh, PAIGE ME DISSE SOBRE O OLHAR


PROLONGADO. Você me deve histórias.

Molly: Preciso de algo para me distrair do estresse do


casamento. Por que apenas não fugimos para uma praia com
nossas famílias??

Eu: Não é tarde demais, Mol. Você ainda pode.

Molly: Não pense que não percebo como você desvia.


Eu: Viu? O casamento não está te abalando. Ainda afiada
como um taco.

O telefone foi colocado de volta na minha bolsa e, quando ouvi


alguém bater na porta, congelei.

— Entre — eu disse.

Gavin colocou a cabeça para dentro. — Tem um minuto?

— Claro. E aí?

Ele acenou com a cabeça para a pulseira preta desajeitada


que eu estava usando. — Quanto tempo até você se livrar disso?

— Provavelmente mais uma semana. Obrigada por me cobrir


esta tarde.

— Certo. — Ele puxou seu telefone. — Eu não tinha certeza


se deveria tirar fotos ou vídeos para nossa rede social com aquela
equipe de notícias aparecendo, então isso é tudo que eu tenho.

Eu folheei algumas fotos, parei para assistir a um vídeo


rápido que ele pegou de Aiden demonstrando alguns movimentos
no ringue com um de nossos regulares. — São ótimas, Gav. Você
pode enviar para mim?

— Certo.

Gavin era apenas alguns anos mais jovem do que eu, um de


nossos estudantes universitários trabalhando para obter um
diploma de cinesiologia. Assim que ele tivesse aquele pedaço de
papel, e tudo o que ele decidisse adicionar à sua educação, ele
estaria muito mais qualificado para este trabalho do que eu. Mas
momentos como esse me deixavam ainda mais grata por Amy ter
se arriscado comigo.

Agora eu só precisava que o cara grande e zangado na área


principal descobrisse seus problemas, então eu não precisaria me
preocupar com minha casa.

Ou meu coração.

Erguendo-se alguns centímetros mais alto do que meu metro


e setenta, Gavin estudou minha testa depois de enviar a
mensagem. — Você vai ter uma cicatriz durona.

Eu sorri. — Totalmente minha intenção.

Foi no momento em que eu estava sorrindo para ele que um


corpo muito grande entrou pela porta do meu escritório.

— Um minuto do seu tempo, Ward — ele quase rosnou.

Ahh. Estávamos de volta a Ward.

Eu nunca tive o som do meu sobrenome acendendo uma


raiva tão imediata e quente. Meus ossos praticamente derreteram
com a força disso.

As sobrancelhas de Gavin se ergueram brevemente. — Você


está bem se eu for? — ele perguntou baixinho.

O semblante de Aiden escureceu ainda mais.

Eu dei a Gavin um sorriso moderado. — Sim, obrigada.


Ele acenou com a cabeça de forma respeitosa para Aiden
quando saiu do meu escritório. Eu cruzei meus braços enquanto
Aiden fechava a porta do escritório atrás dele.

Ele levou um segundo para dizer qualquer coisa, uma vez que
fomos bloqueados de olhares indiscretos.

Estranhamente, foi a primeira vez que não senti borboletas,


nem tremores, nem sensação de andar numa corda bamba pelo
fato de que ele e eu estávamos sozinhos.

Não, eu estava muito frustrada com ele para isso. Então,


mesmo quando ele se aproximou e inclinou a cabeça para olhar
minha bandagem, eu não me mexi, não sorri, não quebrei o
silêncio.

— Por que você está aqui? — ele perguntou.

— Consertando a programação que você bagunçou.

— Eu não... — Ele respirou fundo. — Ok, provavelmente sim.

Minhas sobrancelhas se ergueram. — E ter certeza de que


você não fez a mesma coisa com a folha de pagamento. Se você
planeja manter seus funcionários, meio que precisa pagá-los.

— Eles me perdoariam — ele respondeu simplesmente.

Eu exalei uma risada. — Bem, pelo menos você está se


sentindo mais confiante em seu papel.

— Por sua causa — ele explicou. — Eles me perdoariam por


sua causa. — No meu silêncio, ele deu um passo mais perto. —
Mas nada disso importa porque você não deveria estar aqui. Você
deveria ficar fora do trabalho por pelo menos quatro dias.
— Eu cansei de descansar, mas agradeço sua preocupação.
— Eu coloquei o polegar na minha mesa. — Isso é tudo? Eu
gostaria de voltar ao trabalho.

Meu tom permaneceu calmo e uniforme, mas meu coração


começou a disparar com sua proximidade. Uma reação
inconsciente sobre a qual não tive controle. Nascida da frustração
disso, eu virei minhas costas para Aiden e caminhei até o armário
de armazenamento no canto. Eu nem tinha certeza do que estava
procurando, eu só precisava de espaço. Eu precisava de distância
entre o corpo dele e o meu, e minha mesa não fornecia o suficiente
disso.

A resposta de Aiden demorou um longo momento para vir,


mas quando aconteceu, isso me parou no meu caminho. — Você
está brava comigo.

No meio de puxar uma pilha de camisas para fora do armário,


minhas mãos congelaram.

— É isso? Você está brava sobre a outra noite.

Nem em um milhão de anos eu esperava que ele pressionasse


isso. Pressionasse sobre o que aconteceu - ou não aconteceu - em
seu quarto. Lentamente, coloquei as camisas de volta no lugar e
fechei o armário.

Quando me virei, seu rosto era impossível de ler. Eu


precisaria de um cinzel e um pé de cabra para tirar os
pensamentos desse homem de sua cabeça. Tinha que ser eu para
encontrar alguém assim, que realmente me iluminasse por
dentro. Alguém cuidadoso e cauteloso. Alguém que não podia - ou
não queria - facilitar as coisas.
Era... justiça poética no seu melhor. Eu merecia alguém como
Aiden porque era assim que todos, em toda a minha vida, sempre
se sentiram em relação a mim.

E foi a única razão pela qual comecei a rir. Depois que


comecei, não consegui parar.

Aiden olhou para mim como se eu tivesse perdido a porra da


minha mente porque eu meio que senti que tinha perdido.

Ele apertou a mandíbula, cruzando os braços sobre o peito,


mas não disse uma palavra enquanto eu tentava me
controlar. Eventualmente, eu o fiz, e enquanto enxugava as
lágrimas debaixo dos meus olhos, ele balançou a cabeça.

— Você acabou?

— O inferno se eu sei — eu disse em torno de algumas


risadinhas perdidas. Eu nunca ria. Mas isso - ele e eu - era
demais. E se eu não risse disso, provavelmente
choraria. Finalmente, respirei fundo. — Você é... impossível, Aiden
Hennessy.

Seu rosto ficou em branco com o choque. — Eu?

— Eu sempre fui essa pessoa — eu disse a ele. — A


impossível. Sempre. E agora eu entendo como deve ter sido para
as pessoas que esperavam algo de mim.

A sobrancelha de Aiden franziu, seu peito trabalhava


constantemente enquanto sua respiração aumentava.

— Eu gostaria que você confiasse em mim o suficiente para


me dizer por que isso é tão difícil. — Eu procurei seu rosto. — Eu
quero saber. Mas não vou continuar me colocando nesta posição,
onde quase fazemos o que nós dois queremos, e então você
recua. Eu não vou mais fazer isso.

Ela estava certa.

E ela estava errada.

Eu sabia muita coisa estando naquele escritório com ela.

Eu queria agarrar sua nuca e tomar sua boca, não


suavemente, não docemente.

Eu queria ver o que encontraria se arrancasse seu short


minúsculo de suas pernas longas.

E além de tudo isso, eu queria envolvê-la em meus braços


porque sabia por que ela estava frustrada. Sabia o que estava
fazendo para causar isso.

Mas não sabia como parar. Como explicar.

Nunca em toda a minha vida eu senti esse tipo de energia mal


controlada, e Isabel não tinha ideia de quão perto ela estava de
empurrar as comportas que prendiam a besta rosnando dentro de
mim.

Não gostei que ela estivesse frustrada comigo.


Não gostei de ter me afastado dela no meu quarto.

Não gostei que parecêssemos sempre andar nessa corda


bamba de toques suaves e roubados ou combustão imediata.

Com o meu silêncio contínuo, ela fez um barulho frustrado


no fundo da garganta.

— Desculpe-me — eu grunhi. Eu desdobrei meus braços e


coloquei as mãos em meus quadris. Era a única maneira de não a
agarrar, puxá-la para mim como eu queria. — Eu sinto muito pela
outra noite. Eu não deveria ter...

Mas minhas palavras pararam por aí. Porque eu não poderia


me obrigar a pedir desculpas por tocá-la.

Não consegui me obrigar a pedir desculpas por um momento


em que senti a pressão de seu corpo contra o meu. Imaginei
empurrá-la de volta para a minha cama e encontrar um conforto
suave e doce com suas pernas em volta das minhas. Eu pensei
nisso uma dúzia de vezes desde que ela saiu da minha casa, todas
as vezes encontrando um alívio vazio com o chuveiro pulsando
quente sobre mim, a cama vazia ao meu lado.

— Você não deveria ter feito o quê? — ela sussurrou. Isabel


não recuou um centímetro. — Mesmo agora, você não pode dizer.

Meus olhos seguraram os dela porque é claro que ela sabia o


que eu não estava disposto a dizer.

Eu me segurei porque esse precipício era perigoso e não era


o lugar para cairmos sobre ele. Não havia como eu, não agora,
explicar o quão egoísta seria seguir esse caminho com ela.

Como eu estava despreparado para alguém como ela.


Seus olhos azuis mudaram enquanto eu ficava ali em
silêncio, do desejo tingido de raiva à resignação, e isso me fez
querer ficar com raiva.

— Isabel — eu disse, aproximando-me dela, minhas mãos se


levantando em sua direção.

— Não — disse ela com firmeza. Sua mão subiu, parando


apenas perto do meu peito. Acho que ela sabia - nós dois sabíamos
- que se nos tocássemos agora, qualquer boa intenção
desapareceria. Não apenas desapareceriam, explodiriam. — Não
me chame pelo meu primeiro nome, não aja como se fosse me tocar
agora, a menos que você saiba exatamente o que isso significa para
você.

Eu recuei, as mãos caindo ao meu lado.

Seu queixo tremeu perigosamente, mas ela respirou


fundo. Assistir sua habilidade de controlar suas emoções era
incrível.

— Cansei de ser intimidada por você, Aiden Hennessy. Parei


de agir como se não quisesse você, porque eu quero.

Se um homem pode permanecer de pé enquanto se sente


humilhado até o fim, sem cair de joelhos, então eu simplesmente
consegui. Ela estava cambaleando em sua força, e eu tive meu
primeiro lampejo de desconforto por estar fodendo algo grande...
algo que pode não acontecer comigo novamente.

— E eu acho que a parte que me deixa tão brava — ela


continuou — é que eu sei que você também me quer.

Eu tive que desviar o olhar. Eu tinha que me controlar. Me


lembrar do porquê ela é tão errada para mim.
Mas, mesmo que fizesse, Isabel estava certa sobre isso, e eu
a respeitava demais para mentir para ela.

Minha voz quase não funcionou quando falei. Parecia


enferrujada e rouca, mas as palavras saíram claramente do mesmo
jeito: — Você não tem ideia de como isso é difícil para mim.

— Então me diga — ela implorou, se aproximando. — Diga-


me.

Eu passei a mão sobre minha boca.

Se eu fechasse meus olhos, poderia ouvir Beth falando com


Anya. Eu podia ouvir as palavras que ela disse. Isabel representava
todos os desejos egoístas que eu poderia ter conjurado para
mim. Então foi isso que eu fiz. Eu tentei puxar essa memória para
a frente e centro, porque parecia que era a única maneira de dar
sentido a essa bagunça.

— Eu só preciso que você seja paciente comigo — eu disse a


ela, a voz assumindo um tom rouco e frustrado.

— Estou sendo paciente. — Isabel engoliu em seco. — Mas


isso não significa que vou continuar me permitindo levar uma
chicotada até que você decida que está tudo bem. Muitas coisas
aconteceram na minha vida e não tive escolha a não ser seguir em
frente — sua voz estava instável, mas seus olhos estavam claros. —
Mas isso posso escolher. Até que você esteja pronto para fazer o
mesmo.

Meus sentimentos por Isabel eram muito grandes. Naquele


momento, a pior coisa que eu poderia ter feito era dizer isso a ela.

Que ela era demais.


Muito jovem.

Muito bonita.

Muito cautelosa. Eu não queria nada mais do que quebrar


suas paredes e deixá-la fazer o mesmo comigo.

Que juntos éramos muito intensos, em uma época da minha


vida em que tudo o que eu procurava era paz.

A última coisa que eu queria era fazê-la se sentir assim. E


não confiava em mim mesmo para falar.

Isabel engoliu em seco, seus olhos repentinamente


brilhantes. — Por favor, deixe-me voltar ao trabalho.

Ela se virou, a longa varredura de seu cabelo escuro fazendo


um som abafado no silêncio do escritório, e quando ela se sentou
à escrivaninha novamente, vi suas mãos tremendo.

Foi o tremor que me fez ir embora quando ela pediu.


Uma coisa que eu não podia segurar contra Aiden era o quão
bem ele ouvia.

Como eu pedi, ele ficou longe.

Como eu pedi, ele me deixou voltar ao trabalho.

Embora eu não estivesse dando aulas, fazia quase todo o


resto simplesmente para me manter ocupada. Se eu diminuísse a
velocidade, eu gritaria, apenas para ter uma saída para minha
frustração. Não que ele pudesse saber o tipo de energia inquieta
que essa distância causou em mim.

Porque a pior sensação do mundo era se apaixonar por


alguém que não era capaz de retribuir aquele amor da maneira que
você precisava. Enquanto dava os toques finais na preparação da
aula de autodefesa no meu último dia de trabalho antes do
casamento de Molly, continuei pensando em Brooke.

Pensei na expressão que vi em seu rosto na noite anterior à


sua partida.
Havia uma decisão ali que ainda fazia meu estômago
embrulhar desagradavelmente quando eu pensava nisso. O amor
de Logan e Paige não poderia apagá-lo completamente, embora
tenha ajudado tanto quanto qualquer coisa poderia.

Dizer a Aiden como eu me sentia por ele foi o mais perto que
eu poderia chegar de me desnudar completamente para ele. Ficar
nua na frente dele pareceria menos vulnerável do que aquele
silêncio. Porque eu não tinha garantias de que ele me amaria como
eu queria. Como se eu soubesse que ele era capaz.

Eu nunca tive a chance de implorar para Brooke ficar. Muitos


anos depois, eu sabia que não faria isso, mesmo se tivesse a
chance. Mas ainda desencadeou a mesma inquietação
desconfortável como se eu tivesse.

Razão pela qual me dediquei ao trabalho que poderia fazer.

Sentei-me na recepção, os sons agradáveis do ginásio atrás


de mim filtrando em meus pensamentos enquanto eu preparava
tudo para a aula. A porta da frente se abriu e Casey entrou,
seguida por três outras meninas.

— Bom dia — falei. — Vocês estão prontas para bater nas


pessoas?

Elas riram.

— Ok, nós não vamos bater em ninguém, mas vão em frente


e encontre um parceiro. Marquei pontos na área aberta
principal. Deve haver duas de vocês em cada seção.

Casey me deu uma olhada. — O que aconteceu com você?


Toquei a bandagem, que logo seria removida, usando a mão
ainda em um suporte preto feio. — Tive um acidente com um galho
de árvore que decidiu não me segurar.

— Ai. — Ela estremeceu. — Você não vai ensinar hoje, então?

— Estarei no microfone orientando todos os movimentos, mas


terei a ajuda de nossos treinadores.

Kelly, Gavin e Grady já estavam se aquecendo, junto com


alguns outros, e eu tinha a sensação de que Aiden também estaria
ajudando, embora ele ainda não tivesse saído de seu escritório.

Casey foi se juntar às amigas e eu me mantive ocupada,


cumprimentando as garotas que entravam pela porta da frente
com seus sorrisos e energia nervosa. Quando todas da lista
chegaram, a academia estava cheia e o clima era diferente de uma
aula normal, o que fez eu me sentir um pouco nervosa.

Aiden estava na porta de seu escritório, observando o


zumbido enérgico na sala com um leve sorriso no rosto. Mas
quando seus olhos encontraram os meus, seu sorriso sumiu. Seu
olhar se aguçou, e mesmo com a distância entre nós, a intensidade
disso era como a lâmina de uma faca. Completamente letal se você
pressionasse com força suficiente.

Então olhei para baixo e terminei de conectar o microfone.

— Tudo bem, todo mundo. Bem-vindas ao Hennessy's Gym,


para o que espero ser a primeira de muitas aulas como esta. — As
meninas aplaudiram com entusiasmo. Fiz sinal para Gavin e Kelly
se juntarem a mim na frente delas. — Estes são meus
ajudantes. Eles estarão demonstrando todos os movimentos
básicos de autodefesa que queremos ensinar a vocês hoje, e eu
estarei andando por aí ajudando vocês enquanto praticam. Assim
como Grady e Aiden. — Fiz contato visual com todos. — Se
quiserem somente que eu ou Kelly ajudemos, por favor, levantem
a mão a qualquer momento durante a luta, estaremos aí.

Eu levantei meu pulso. — Infelizmente, não vou chutar a


bunda de ninguém hoje porque entrei numa briga com uma árvore
e perdi, mas acreditem em mim... vamos poder infligir algum dano
juntas, ok?

A pequena onda de risos aliviou um pouco da tensão


excitada.

Na hora seguinte, descobri minha nova parte favorita do meu


trabalho. Quando terminamos, houve gritos e aplausos e mais de
um treinador masculino batendo no tapete com um baque.

Eu ri quando Casey conseguiu empurrar Gavin de joelhos. —


Vocês são selvagens, eu adoro isso.

Algumas delas ficaram depois para continuar praticando, e


foi então que notei Anya sentada na beira do ringue de boxe
central. Ela acenou para mim, seu sorriso desdentado trazendo
um sorriso no meu rosto.

Eu fui até ela. — Quando você chegou aqui?

Ela chutou as pernas para frente e para trás. — Mais ou


menos na metade. Meu tio Clark me deixou. Ele disse que eu
deveria aprender a bater nos meninos para quando eu ficar mais
velha.

Eu ri. — Bem, nós só usamos coisas assim se alguém está


tentando nos machucar ou a um de nossos amigos.
O rosto de Anya contraiu-se pensativamente. — Você já teve
que fazer isso com alguém?

— Não. E sou muito grata por isso.

Suas sobrancelhas ainda estavam baixas.

— O que é? — eu perguntei.

— Você é... gentil?

Minha cabeça se inclinou. — O que você quer dizer, querida?

Os grandes olhos azuis de Anya procuraram os meus e, de


novo, tive a sensação de que ela estava tentando descobrir algo
muito mais sério do que eu poderia imaginar. — Você canta
canções de ninar, embora não seja uma boa cantora?

Eu soltei um suspiro, olhando por cima do ombro para ver se


Aiden estava em algum lugar ao alcance da voz, o que ele não
estava. — Na verdade não — eu admiti.

Anya assentiu, ainda perdida em pensamentos.

— Por que você pergunta? — indaguei gentilmente.

Oh, seus olhos quando ela me olhou, tive a estranha


sensação de que ela estava prestes a arrancar meu coração do meu
peito, e quando falou, eu não estava errada.

— Você é diferente do que pensei que seria.

— O quê? — sussurrei.
— Minha mãe me disse que seria doce e gentil, assaria
biscoitos para mim e cantaria canções de ninar quando eu não
conseguisse dormir, mas você é diferente.

Meu coração batia irregularmente enquanto ela falava, e eu


não tinha certeza de qual impulso era mais forte - cobrir meus
ouvidos com o que ela dizia ou envolvê-la em meus braços e deixá-
la saber que o amor vem em tantas formas diferentes.

Nas minhas costas, Aiden se aproximou silenciosamente,


mas eu o senti do mesmo jeito.

— Anya — ele disse calmamente. — Por que você não vai


brincar no meu escritório?

Ela sorriu para mim, então pulou da beirada do ringue,


correndo para o escritório dele.

Cobri minha boca, minhas pálpebras fechando.

— Isabel... — ele começou.

Eu me virei e sua voz sumiu com o que quer que ele quisesse
dizer a seguir.

— Não consigo nem imaginar como deve ser difícil pensar em


seguir em frente — falei baixinho. — Eu nunca... — fiz uma
pausa. — Eu nunca fui casada ou noiva. Nunca encontrei alguém
que me fizesse querer nada disso até agora — eu admiti. Seus olhos
brilharam. Forcei as palavras para fora, e cada uma parecia vidro
na minha garganta. — Perder isso — pressionei a mão sobre o
coração — deve ter sido o inferno na terra.

Seus olhos dispararam para longe dos meus, sua mandíbula


apertada.
Um grupo de garotas se despediu e eu acenei. Aiden esfregou
a nuca, mas quando ele levantou a cabeça, vi a verdade enterrada
em sua expressão de culpa.

— E eu nunca, jamais, esperaria que você deixasse a memória


de sua esposa, e o que ela significava para você, para trás. Mas eu
não posso competir com os desejos de um fantasma, Aiden. —
Meus olhos queimaram com lágrimas não derramadas. — Eu não
vou.

— Eu não... — ele fez uma pausa, o rosto curvado em uma


careta.

Eu rolei meus lábios entre os dentes e implorei


silenciosamente para ele me dar algo. Nada.

Quando ele encontrou meu olhar novamente, ele estava


indomado, desprotegido.

— Isso é o que torna tudo tão difícil para mim — ele sussurrou
ferozmente. Minha boca ficou seca porque se estivéssemos
sozinhos, ele teria me agarrado. Eu podia ver em seus olhos. —
Quando se trata de você, Isabel, não há competição, e não sei como
fazer as pazes com isso.

Sem outra palavra, ele se virou e marchou para seu


escritório. Antes que alguém visse meu rosto, voltei para o ringue
e respirei fundo algumas vezes.

Mas meu coração, oh meu coração. Eu coloquei a mão sobre


ele, tentei acalmar sua batida selvagem e furiosa.

— Iz? — Kelly chamou atrás de mim.

Eu soltei mais um suspiro e me virei. — Sim?


— Essas duas adorariam se inscrever para se tornarem
membros. Você pode ajudá-las enquanto eu termino aqui?

Sorri para as duas meninas. — Claro. Por que vocês duas não
me seguem até a mesa? Vou pegar a papelada para vocês
preencherem.

Fiz meu trabalho pela próxima hora e, quando juntei minhas


coisas para ir embora, ainda não tinha certeza se me sentia melhor
ou pior depois de sua admissão.

— Aquilo pareceu intenso por um minuto — Kelly comentou


suavemente, observando enquanto eu terminava de arrumar
minha mesa e desligava o monitor do meu computador.

— Foi?

— Meu Deus, quão longe chegamos de você se escondendo


atrás de caixas. — Ela me cutucou enquanto caminhávamos em
direção à frente. — Acho que nosso chefe parece um pouco
apaixonado por você, Isabel Ward.

Eu ri, e o som foi tingido com a mais leve ponta de histeria. A


porta de seu escritório ainda estava fechada quando saí do prédio,
eu não voltaria antes do casamento de Molly. Eu forcei minha
atenção de volta para Kelly. — Ligue-me se precisar de alguma
coisa neste fim de semana. Sábado é o único dia em que não
consigo atender meu telefone.

Ela suspirou com meu desvio óbvio. — Não é tarde demais


para me convidar, sabe.

Eu revirei meus olhos. — Adeus, Kelly.


— Tenha um fim de semana divertido — ela gritou atrás de
mim.

Quando me virei para acenar, vi Aiden assistindo da porta de


seu escritório. E assim como sempre parecia com ele, meu coração
respondeu como se ele tivesse tocado fios desencapados em minha
pele.

Não diminuiu a velocidade até que eu dirigi para longe, e


ainda... eu o senti. Eu estava começando a perceber que
provavelmente sempre faria.
Os dias em que ela não estava foram ainda mais difíceis do
que quando ela estava na minha frente, porque eu não conseguia
nem tentar decifrar o que ela estava pensando.

Não conseguia aguentar o pouco que eu tinha dela, mesmo


que fosse uma versão pálida e diluída do que eu queria. Isso me
fez querer quebrar coisas, bater em coisas e colocar minha raiva e
frustração em algum lugar. E minha raiva não era dirigida a
ela. Eu mal conseguia me olhar no espelho porque odiava o que
via quando o fiz.

Eu estava seguindo as regras de uma maneira que não fazia


desde que Beth morreu. Mais de uma vez, peguei minha família
me observando, peguei Anya falando comigo, quando eu só ouvi
metade do que ela disse.

E se você estiver errado?

Isso era o que eu não conseguia silenciar na minha cabeça,


para distração.

E se você estiver errado?


Isso - Isabel - foi a primeira vez em toda a minha vida que me
questionei tanto, e odiei quanta raiva isso despertou em seu rastro.

Ela não era nada sobre o que Beth havia falado, nada como
eu tentei imaginar.

E talvez isso fosse parte do problema. Nunca tentei imaginar


a pessoa que viria depois de Beth. Nunca quis. Aquela sua
descrição, seus desejos listados eram tão bons quanto quaisquer
outros, porque eu não pensava em encontrar outra pessoa para
ocupar esse espaço em minha vida ou na de Anya.

Cada dia que Isabel sustentava a parede invisível que ela


havia prometido, uma que eu poderia ter derrubado com facilidade
se decidisse, escorregava um pouco mais em meus
questionamentos.

— Você parece uma merda — Deacon me disse quando todos


jantamos com meus pais. Eles andaram nas pontas dos pés ao
meu redor a semana toda.

— Não dormi bem. — Não que eu planejasse explicar o


porquê. Quando Isabel saiu do trabalho no dia anterior, ela estaria
de folga nos três dias seguintes por causa do casamento da irmã. E
desde que ela saiu do prédio, eu não tinha ouvido nada dela. E por
que eu iria?

Isabel pode ter demorado mais para se equilibrar perto de


mim, mas havia apenas uma pessoa covarde demais para admitir
o que sentia, e não era ela.

— Você pode pegar minha luminária especial emprestada —


Anya me disse. — Isso me ajuda a dormir.
Eu dei a ela um sorriso cansado. — Obrigado,
gingersnap. Talvez eu tente hoje à noite.

Clark se levantou da mesa. — Vamos, Anya. Quer me ajudar


a consertar algo no quintal?

Ela gritou quando ele a pegou e a jogou por cima do


ombro. Cansado, esfreguei minha nuca.

— Quer conversar sobre alguma coisa? — Minha mãe


perguntou mais tarde enquanto eu a ajudava a limpar os pratos
antes de levar Anya para casa.

Meu pai apoiou a mão nas costas dela enquanto colocava seu
prato no balcão. — Não se intrometa, querida.

Ela o enxotou. — Perguntar não é bisbilhotar.

Ele deu um tapa na bunda dela. — É, quando você faz isso.

— Nada para se preocupar, mãe. — Entreguei a ela o pano de


prato.

Mesmo que todos eles me observassem com atenção,


ninguém mais disse uma palavra. Coloquei Anya na caminhonete
e voltei para casa, o cansaço me cobrindo como um cobertor de
ferro. Era diferente de perder Beth - muito diferente - mas ainda
parecia dor.

Como se estivesse de luto por algo que nunca realmente tive.

Foi uma constatação surpreendente, que me abalou mais do


que eu gostaria de admitir. Mas como eu deveria reconciliar tudo
que eu acreditava que poderia precisar um dia com o que eu queria
quando olhava para ela?
Anya estava caindo no sono no banco de trás quando entrei
em nosso bairro e avistei um carro desconhecido estacionado em
frente à nossa casa. Não era o carro de Isabel, mas quando alguém
com seu corpo e cabelos longos e escuros saiu do banco do
motorista, meu coração começou a martelar.

Quando ela levantou a cabeça e sorriu, enquanto eu dirigia a


caminhonete em nossa garagem, sabia que era uma de suas
irmãs. Pelas fotos que eu tinha visto na entrada da casa, todas se
pareciam muito, e acalmou meus nervos saber que não era
ela. Mais ou menos.

Anya havia adormecido totalmente e decidi deixá-la ficar onde


estava enquanto eu conversava com a irmã Ward que estava
esperando por mim.

Ela estava subindo a garagem quando eu desci da


caminhonete.

— Aiden? — Ela me deu um pequeno aceno, suas feições


eram tão parecidas com as de Isabel que era quase difícil olhar
para ela. — Eu sou Molly, irmã de Isabel.

— O que posso fazer para você? — Eu estava cansado demais


para brincadeiras, exausto demais por passar por essa situação
em minha cabeça para sequer tentar controlá-las.

Ela estendeu um grande envelope com a borda dourada,


pesado em minha mão quando o peguei. — Eu gostaria de convidar
você para o meu casamento neste fim de semana.

Minha cabeça se ergueu. — Por quê?

Molly sorriu. — Porque minha irmã nunca fará isso.


Imediatamente, eu estava balançando minha cabeça. —
Confie em mim, ela não me quer lá.

— Se ela soubesse que eu estou aqui — disse Molly com


cuidado — ficaria com raiva de mim.

Eu estendi o envelope de volta para ela. — Então talvez você


não devesse.

Inexplicavelmente, isso fez seu sorriso se alargar. — Eu sei


que você não conhece Isabel tão bem quanto eu, mas pelo pouco
que ouvi, você teve realmente bons vislumbres de quem ela é. —
Molly colocou uma mecha de cabelo atrás das orelhas, o enorme
diamante em seu dedo piscando ao sol. — Ela nunca vai pedir que
você vá a este casamento, mesmo que ela queira você lá, porque
ela é mais teimosa do que qualquer outra pessoa que eu já conheci.

Eu exalei uma risada sem humor. — Eu sinto que estamos


conversando em círculos.

— Eu sei. — Ela lambeu os lábios antes de falar


novamente. — Eu não sei onde seu relacionamento está com ela
— Molly continuou. — Porque mesmo que ela possa nos dar
conselhos como se fosse seu trabalho, ela raramente nos diz algo
pelo que está passando. E eu acho que é porque ela está fazendo
o mesmo de quando era jovem, quando Paige apareceu. Ela lhe
dará essas pequenas janelas de oportunidade e, se você não as
aproveitar, não terá outra chance. Minha irmã é uma das pessoas
mais fortes e incríveis que eu conheço, mas ela vai se fechar para
qualquer um se ela achar que vai machucá-la.

Passei a mão sobre a boca, olhando Molly com curiosidade


não filtrada. — Por que você está me contando tudo isso? Você nem
me conhece.
Seu sorriso era misterioso. — Porque eu conheço minha
irmã. E se ela se recusa a falar sobre você, então você derrubou a
porta, e isso significa que você é importante para ela. — Ela se
aproximou. — O que estou te dando, Aiden, é uma chance.

Eu olhei para o céu e respirei fundo.

— Mas — ela disse cuidadosamente — só aproveite essa


chance se você puder vê-la em seu futuro. Eu nunca faria esse tipo
de declaração dramática para ninguém além dela. — Ela colocou
a mão no meu braço. — Eu sei que você perdeu sua esposa, e isso
coloca muita pressão extra em qualquer relacionamento que você
tenha a seguir. Mas se você acha que pode ser ela, não perca a
chance.

Se Molly Ward me fizesse começar a chorar na minha própria


garagem, eu nunca a perdoaria.

— Eu já fiz tudo isso, e não estava querendo fazer de novo —


eu disse calmamente. — O grande casamento, e tenho uma filha,
não sei se é justo pedir que ela entre em tudo isso, sabendo que
ela deveria viver as primeiras experiências com a pessoa que a
ama.

Foi uma simplificação exagerada dos obstáculos mentais à


minha frente, mas o suficiente para que Molly me desse um sorriso
encorajador.

— Há uma coisa que posso te dizer com cem por cento de


certeza, Aiden. — Ela segurou meus olhos. — Minha irmã não dá
a mínima para quais foram as primeiras experiências que você
teve. O que ela quer é o para sempre.

Tudo que consegui fazer foi um breve aceno de cabeça. — Eu


ouvi.
— Bom. — Ela me estudou. — Espero ver você lá. Mas se eu
não o fizer, então você nunca a mereceu, para começar.

Mesmo que seu tiro de despedida tenha sido um soco no


estômago, Molly me deu um pequeno sorriso e caminhou pela
minha garagem como uma rainha.

Com minha cabeça girando, transferi Anya adormecida da


minha caminhonete para a cama dela. Desci as escadas em transe
e afundei no sofá. No corredor, a porta do meu quarto estava aberta
e, se fechasse os olhos, seria tão fácil imaginar Isabel deitada na
minha cama. Mais uma vez, fiquei impressionado com o pêndulo
completo de nossas interações.

Não foi morno.

Sem tons de cinza para dissecar.

Eu encarei o convite de casamento e imaginei aparecer para


ela lá. Imaginei ficar em casa, sabendo que pensaria nela a noite
toda.

Porque eu não podia deixar de imaginar o que Beth diria. O


que ela me disse para fazer.

Antes que eu soubesse o que estava fazendo, peguei meu


telefone e disquei o número dos meus pais.

Minha mãe atendeu no primeiro toque.

— Já está com saudades de mim? — ela perguntou, o sorriso


evidente em sua voz.

— Eu menti. Mais cedo. — Apertei o botão para colocá-la no


viva-voz e coloquei meu telefone para baixo, rolando
preguiçosamente até encontrar uma foto de Beth no meu telefone.
Antes de ela ficar doente, antes de suas bochechas ficarem vazias
e a pele encolher sobre seus ossos.

A resposta dela demorou alguns segundos para chegar: —


Ok. A respeito?

— Quando eu disse para você não se preocupar. — Eu


belisquei a ponta do meu nariz. — Eu não... eu não sei o que fazer,
mãe. E normalmente, posso imaginar o que Beth me diria, que
conselho ela me daria, e não posso com isso.

O rosto de minha esposa sorriu para mim do telefone, mas


pela primeira vez em dois anos, eu não conseguia ouvir sua voz em
minha cabeça. Minhas mãos começaram a formigar, meu pescoço
apertado e meu peito tão pesado como se um elefante se sentasse
bem sobre meu coração.

— Fale comigo, filho — ela disse suavemente.

Nenhuma parte de mim queria recapitular meu


relacionamento com Isabel, então peguei o proverbial bisturi e fui
direto ao cerne do que estava me incomodando.

— O que significa se meus sentimentos por Isabel são...


porra, eu não sei, maiores? Mais intensos. Mais... — minha voz
vacilou. — Tudo do que o que eu tive com Beth.

— Oh, Aiden — ela exalou pesadamente — não há nenhum


livro de regras para isso. Nada que diga que você não pode amar
alguém de uma maneira diferente do que amou Beth.

— Eu amei. — Meu dedo e meu polegar apertaram a ponte do


meu nariz novamente até doer. — Eu a amei. Ela era gentil,
engraçada e uma ótima mãe, e eu nunca quis que isso
acontecesse. Não sei o que diz sobre mim que Isabel não é nada -
e eu quero dizer realmente nada – parecida como a pessoa que
amei primeiro. — Eu deixei cair minha mão e me forcei a olhar
para a foto de Beth. O ouro de seu cabelo e as profundas covinhas
de cada lado de seu sorriso. Eu apertei meus olhos fechados. —
Isabel me assusta muito, e eu nunca tive isso com Beth.

Ela fez um som suave que não consegui decifrar.

— E eu prometi a ela — disse baixinho. — Eu prometi a ela e


a Anya, e não sei como quebrar essa promessa sem sentir que traí
sua memória.

— Aiden — ela começou com cautela. — Eu também amava


Beth. Mas ela nunca deveria ter dado essa lista a Anya. Eu sei que
ela estava apenas tentando fazer uma garotinha assustada se
sentir melhor, e talvez isso a tenha feito se sentir melhor também,
mas eu não acho que ela realmente pretendia te encaixar em algo
que você realmente não queria.

Uma lágrima perdida escorregou pela minha bochecha e eu a


enxuguei.

— Você não está traindo Beth ao encontrar a felicidade,


filho. É uma besteira, e se ela estivesse aqui, ela lhe diria a mesma
coisa.

Eu exalei uma risada.

— Você é tão honrado. Você sempre agiu bem com as pessoas


em sua vida. É o que te torna um bom pai, marido, filho e
irmão. Mas a única coisa que importa é que você encontre alguém
que ame você e ame Anya. É isso.
— É tão cedo — eu disse calmamente. — E quando me mudei
para cá, queria calma. Paz. Tivemos tanto caos, tanta agitação.

— Isabel não te traz paz? — ela perguntou.

Eu exalei uma risada. — Não. Acho que não tive um momento


de paz desde que coloquei os olhos nela. Ela é muito... ela é mais
do que eu esperava.

Minha mãe fungou do outro lado da linha. — Você sabe tão


bem quanto qualquer um, não existe um livro de regras que você
possa seguir, nenhum plano que seja garantido. E se essa pessoa
pode trazer vida para o seu coração, para o de Anya, então você
deve isso a Beth, ver onde isso vai dar.

Levei um segundo para encontrar minha voz, mas quando o


fiz, estava rouca: — Sabe, acho que mesmo se você tivesse me dito
para deixá-la ir, encontrar alguém... outra pessoa, não acho que
poderia tê-lo feito. Mas estou feliz que você não disse isso.

— Eu mal posso esperar para conhecê-la — disse ela


calorosamente. — Agora, como posso ajudar?

Peguei o convite de casamento, com a mente clara e o coração


mais firme do que há muito tempo.

— Você estaria disposta a cuidar de Anya amanhã à noite?


— Acho que vou vomitar.

Enfiei uma mecha de cabelo para trás no pequeno clipe de


diamante que prendia o cabelo de Molly para trás. — Não, você não
vai.

— Eu só quero vê-lo. — Ela acenou com a mão na frente do


rosto, o suor escorrendo de sua testa, embora o dia de seu
casamento tivesse amanhecido perfeitamente claro e ameno. —
Você o viu, certo?

Agachando-me para afofar a organza esvoaçante de seu


vestido, cantarolei em concordância. — Ele parece tão agitado
quanto você.

— Mesmo? — ela sorriu largamente. Minha irmã, por mais


linda que fosse no dia a dia, era a noiva mais linda que eu já tinha
visto. — Diga-me. Deus, aposto que ele ficou tão bem em seu
smoking. Ele fez a barba, certo?

— Acredito que sim, mas não posso dizer que notaria se não
tivesse.
O fotógrafo se moveu ao nosso redor, tirando fotos enquanto
eu preparava Molly para fazer algumas fotos com Logan nos
jardins fora de Cedarbrook Lodge. Ela arriscou um casamento ao
ar livre neste local de seus sonhos, e até agora Seattle estava
cumprindo sua missão. O hotel se esparramava atrás de nós, a
sala de recepção interna já mal iluminada e decorada em tons
suaves de creme e dourado.

Ao lado, Lia e Claire conversavam alegremente, tirando suas


próprias fotos. Paige estava entre elas, o cabelo ruivo penteado
para cima de seu rosto, e um vestido azul pavão fazendo-a parecer
uma maldita deusa.

— Não é tarde demais para vê-lo agora — brincou Paige. —


Poupe o homem do constrangimento de irromper em lágrimas na
frente de uma centena de pessoas ao ver você.

Molly riu. — De jeito nenhum, mal posso esperar que alguém


veja isso na câmera.

Eu me afastei e o fotógrafo se moveu ao redor de Molly,


direcionando-a para um lado e para o outro.

Paige passou o braço pela minha cintura. — Vocês quatro


parecem bem.

— Pelo tempo que passamos no cabeleireiro e maquiagem, é


melhor estarmos — disse Claire.

Porque Molly nos deu liberdade na escolha de nossos


vestidos, Claire e Lia optaram por um tom de azul claro, e em
estilos semelhantes que fluiam suavemente para longe de seus
quadris, as alças segurando um decote em forma de
coração. Todas nós estávamos com o cabelo solto e enrolado, Molly
foi a única que manteve o dela puxado para trás.
Seu vestido de noiva, com alças impossivelmente finas
segurando-o sobre os ombros, era ajustado até a cintura, coberto
por delicadas rendas florais antes de fluir sonhadoramente em
direção ao chão.

E depois de experimentar vestidos com babados e enfeites


demais, encontrei um num tom de azul marinho profundo que
deslizava por todo o comprimento do meu corpo, o tecido se
entrecruzava cobrindo meus seios, o que deixava um pequeno
recorte oculto por baixo. Minhas costas estavam completamente
nuas.

Eu estava linda, sentia-me linda e, até agora, podia respirar


facilmente que os momentos pré-casamento estavam acontecendo
sem problemas.

— Logan está a caminho — disse-nos a organizadora do


casamento, batendo em seu fone de ouvido de nível CIA e falando
com alguém que não podíamos ver.

Assentindo, peguei minha pequena bolsa e caminhei para


encontrá-lo, com cuidado nas rachaduras do caminho com meus
saltos, mesmo que fossem cunhas. A última coisa de que precisava
era um tornozelo machucado. Eu tinha acabado de tirar as
ataduras no dia anterior.

Parei quando avistei meu irmão mais velho caminhando em


minha direção. Com as mãos enfiadas na calça do smoking preto,
o cabelo escuro começando a mostrar um leve toque de prata nas
têmporas, ele parecia bonito e visivelmente nervoso.

Seu sorriso foi lento quando me viu. — Olhe para você.

— Espere até ver a noiva — disse eu.


Logan parou na minha frente e balançou a cabeça. — Você
está linda.

Em vez de desviar como eu queria desesperadamente, soltei


um suspiro profundo. — Obrigada. — Inclinei minha cabeça para
trás, onde Molly esperava por ele. — Você está pronto para isso?

— Inferno, não — ele respondeu com sentimento.

Eu ri.

Mas para meu horror absoluto, seus olhos brilharam


enquanto ele olhava por cima do meu ombro. — Merda, eu acabei
de vê-la.

— Não comece a chorar. — Eu olhei para o céu e pisquei. —


Se você tivesse alguma ideia de quanto tempo essa maquiagem
demorou, você teria pena de mim.

Atrás dele, vi convidados começando a se mover em direção


ao jardim adjacente, onde a cerimônia aconteceria. De onde
aguardava, Molly estava protegida por uma grande cerca viva. Eu
agarrei minha bolsa com força e Logan colocou a mão na minha,
apertando suavemente.

— Eu não acho que você tenha nada com que se preocupar,


Iz. Ela não está aqui.

Virei minha mão e agarrei a dele. — Eu sei. Acho que sempre


soube que ela não viria.

Seus olhos, tão capazes ao enxergar através de todas nós,


estudaram-me cuidadosamente. — Desde o primeiro dia, tem sido
a perda dela. E meu ganho inacreditável.
Quando meus olhos lacrimejaram, soltei um suspiro
profundo. — Hoje vai ser ótimo — eu disse a ele. — Mesmo que
você chore como um bebê ao levá-la até o altar.

Ele deu uma risadinha.

— Quem está chorando como um bebê? — Paige


perguntou. Ela sorriu para Logan quando ele se afastou de mim e
deslizou um braço em volta de sua cintura. — É você, marido?

— Talvez — ele murmurou.

— Pronto para ir ver nossa garota? — Paige disse


gentilmente. — Ela está esperando.

Logan acenou com a cabeça, sua mandíbula apertada.

Fiquei parada e os observei caminhar de mãos dadas em


direção a Molly. Minha irmã se virou e viu Logan, e meu irmão
mais velho teve que parar para esfregar os olhos com
desconfiança. Paige esfregou as costas dele, que respirou
pesadamente. Ele se aproximou de Molly, balançando a
cabeça. Ele estendeu a mão e passou o polegar sob os olhos dela,
e quando eles se abraçaram com força, eu tive que olhar para a
grama para que não me perdesse totalmente.

Não importava o que acontecesse pelo resto do dia, eu ficaria


bem.

Ou amanhã, ou na semana seguinte.

Mesmo que eu me sentisse um pouco vazia depois do que


aconteceu com Aiden, e seu silêncio contínuo, dias como hoje
preenchiam um pouco desse vazio com pura alegria.
É a única razão pela qual pude sorrir ao me virar em direção
ao hotel.

Mas eu parei bruscamente, minha respiração saiu de mim


como um soco.

Aiden.

Ele estava no final do caminho, esperando por mim. Cabelo


penteado para trás com capricho, mandíbula ligeiramente escura
com a barba por fazer, e seu corpo musculoso coberto por um terno
marinho profundo que se encaixava nele tão perfeitamente que eu
poderia chorar. Ele não usava gravata, as mãos soltas ao longo do
corpo.

Minha mão tremulou para o meu estômago, e seus olhos


acompanharam o movimento.

Deve ter sido o suficiente para ele, porque se aproximou com


passos largos, olhos confiantes, boca ligeiramente curvada em um
sorriso.

— O-o que você está fazendo aqui? — perguntei.

Seus olhos traçaram meu rosto, mas ele não disse nada até
estender a mão. — Estou aqui por você.

A visão de seu braço estendido turvou com as lágrimas que


encheram meus olhos até que eu as parei. Respirando lentamente,
deslizei minha palma contra a dele, apenas exalando quando ele
entrelaçou nossos dedos.

Juntos, descemos uma pequena bifurcação no caminho


pavimentado e ele me deu um sorriso secreto por cima do ombro
quando viramos uma grande parede de azulejos para um pequeno
jardim fechado.

Eu estava segurando sua mão com tanta força quando ele


parou que me perguntei se ele iria se afastar. Em vez disso, ele
pegou minha outra mão, gentilmente enrolou os dedos em volta do
meu pulso, levando-o até a boca para que pudesse dar um beijo
onde eu coloquei a atadura.

Seus olhos fixaram-se nos meus e, honestamente, não tinha


certeza de como ainda estava de pé.

Eu não tinha certeza de como minhas pernas ainda


funcionavam ou como meu coração ainda estava bombeando
sangue no meu corpo porque tudo corria pela minha cabeça.

Mesmo com meus saltos, ele se elevava sobre mim, mas Aiden
me aproximou suavemente, puxando-me em seus braços.

Suas mãos deslizaram sobre a pele das minhas costas, meus


braços enrolados em sua cintura, e eu respirei trêmula quando
não havia nada além dele. Nada que eu pudesse cheirar, ver ou
sentir, exceto Aiden.

Todas as vezes que ficamos sozinhos, imaginei o calor e o


acendimento de uma fogueira, chamas atingindo o céu em um som
agudo de assobio.

Mas isso, esse desfazer lento e gentil do meu coração. Seus


dedos deslizaram pelas saliências na minha coluna e eu coloquei
meu corpo mais perto do dele. Essas mãos, elas empurraram por
baixo do véu do meu cabelo até que ele segurou minha nuca.

Eu me afastei para olhar para ele. Meu sorriso era tão fácil
quanto respirar, que era a sensação de me apaixonar por ele. Era
simplesmente a maneira como eu trabalhava, percebi. Foi o quadro
geral que eu não fui capaz de ver até que ele estava na minha
frente. Amá-lo foi o que nasci para fazer.

Sua grande mão deslizou pelo lado do meu rosto, o polegar


roçando a costura dos meus lábios.

— Desculpe-me por tê-la feito esperar — ele sussurrou.

Meus lábios se separaram em um sorriso feliz. — Valeu a


pena.

Aiden segurou meu rosto com as duas mãos e se


inclinou. Mas em vez de roçar seus lábios nos meus, ele beijou
minha bochecha. Minha testa. A ponta do meu nariz. Minhas mãos
se enrolaram nas lapelas de seu smoking, punhos indefesos que
não fizeram nada para fazê-lo se apressar e me beijar. Então eu
puxei e ele riu contra minha têmpora.

— Impaciente — disse ele.

Meu nariz roçando o dele, inclinei minha cabeça para que


nossas bocas estivessem um fio de cabelo separadas. — Você não
tem ideia — falei.

— E bonita. — Ele beijou a borda dos meus lábios. — Tão


bonita. — O outro lado.

Cada centímetro do meu corpo vibrou perigosamente, seus


lábios pairando sobre os meus por um segundo. Nossos olhos se
encontraram, presos juntos assim, e eu vi o desafio que ele
segurava.
Deslizando minhas mãos por seu peito e pescoço, eu enrolei
meus dedos em torno da curva de sua cabeça e empurrei na ponta
dos meus pés, selando a boca sobre a dele.

Foi o único momento em que estive no controle.

Aiden envolveu um braço em volta da minha cintura,


deslizando sua língua contra a minha, inclinando sua cabeça para
que ele pudesse levar nosso beijo mais profundo. Seus dedos se
enredaram no meu cabelo e tentei chegar mais perto, mas não
consegui.

Ele gemeu profundamente em seu peito quando eu chupei


sua língua. Seus dedos cravaram em minha carne enquanto nosso
beijo continuava.

Bebendo meus lábios, Aiden testou a maneira como nossos


lábios se moviam juntos. Nossos corpos estavam tão próximos, a
respiração passando de mim para ele, e quando ele deslizou sua
língua em um longo golpe sobre a minha, eu cantarolei feliz.

Seu corpo era tão forte, tão duro, e eu tropecei para trás,
minhas omoplatas batendo contra os ladrilhos aquecidos pelo
sol. Ele me seguiu, inclinando a cabeça para chupar meu lábio
inferior.

Minha cabeça caiu para trás e seus dedos encontraram a


curva da minha bunda através do meu vestido, agarrando com
força, puxando-me para mais perto dele. Sua boca deslizou ao
longo da borda da minha mandíbula, a borda de seus dentes
puxando o lóbulo da minha orelha até que eu gemi uma maldição.

— Iz? — Lia chamou do outro lado da parede.

Aiden e eu congelamos.
— Espera aí — eu consegui dizer.

— Sim, umm — ela parecia estar sorrindo — você é necessária


para algumas fotos.

Aiden olhou para mim, parecendo muito que queria me


devorar inteira, e quando eu lambi meus lábios, ele apertou sua
mandíbula até que um músculo pulsou deliciosamente. Ele puxou
a mão da minha bunda, deslizando-a pela minha cintura,
contornando o lado do meu seio, parando brevemente para
arrastar o polegar ao longo do pequeno recorte na minha barriga.

— Eu queria ir um pouco mais devagar — disse ele, falando


na coroa do meu cabelo, dando um beijo no topo da minha cabeça.

Eu soltei um forte suspiro. — Eu tenho certeza de que não


estou reclamando.

Aiden começou a rir, seu sorriso largo e feliz, seus dentes


brancos e retos, e ele me envolveu em seus braços novamente.

Quando me afastei, minhas bochechas ficaram quentes. —


Você bagunçou toda a minha maquiagem?

— Você está perfeita.

Com uma elevação cética de minhas sobrancelhas, eu corri


meus dedos pelo meu cabelo, então peguei minha bolsa onde ela
havia caído na grama. Eu reapliquei um pouco de hidratante labial
porque nem mesmo no dia do casamento da minha irmã eu estava
disposta a usar batom.

Coloquei meu cabelo atrás das orelhas e dei a ele um leve


sorriso. — Eu vou te encontrar depois da cerimônia.
Ele assentiu. — Acho que vou esperar aqui e recitar a
tabuada.

Eu olhei para baixo, franzindo meus lábios


pensativamente. — Provavelmente uma boa ideia.

Quando virei a esquina, Lia estava sorrindo como uma louca.

— Cale a boca — eu disse a ela.

Quando olhei por cima do ombro, ele nos observava. E a


promessa que vi em seus olhos, não pude deixar de estremecer.

— Ooooh, baby, Isabel tem um namorado — ela cantou. — É


hora de enlouquecer.

— Eu te odeio.

Com um suspiro feliz, ela deslizou o braço em volta da minha


cintura. — Não, você não odeia. Agora vamos, vamos casar Molly.
Qualquer tentativa de salvar minha maquiagem de Logan ou
Aiden ou qualquer homem que parecesse destinado a arruiná-la
foi uma missão tola.

Depois que fiz meu caminho pelo corredor, segurando o


pequeno buquê, foi o último momento seco que meus olhos
experimentaram durante toda a cerimônia de vinte minutos.

Emmett, vestido com um smoking para combinar com o de


Logan, estava empurrando um carrinho que decoramos com as
cores do casamento de Molly e Noah. Amarrado dentro estava
Gabriel, vestindo o smoking de bebê mais bonito que o mundo já
tinha visto, segurando um pequeno travesseiro que dizia: Aí vem
minha tia. Com apenas alguns meses de idade, ele pode ter me feito
começar a chorar primeiro.

A música tocou nos alto-falantes e eu dei a Noah um sorriso


encorajador. O homem grande parecia mais nervoso do que nunca,
as mãos se mexendo na frente dele enquanto esperávamos que
Molly e meu irmão aparecessem. Eu a tinha visto a manhã toda,
testemunhado sua transformação para a noiva que ele estava
prestes a ver pela primeira vez, então, em vez de ficar olhando para
o corredor, observei Noah.

E eu soube o momento em que ela apareceu porque o jogador


defensivo mais assustador da liga, aquele que cresceu na casa
atrás da nossa, absolutamente desabou quando viu minha irmã
caminhando em sua direção.

Ele colocou a mão sobre a boca brevemente, os olhos


brilhando com lágrimas não derramadas. Seu amigo e
companheiro de equipe, de pé na posição espelho à minha, deu um
tapa nas costas dele e sussurrou algo para Noah que o fez deixar
cair a mão, endireitando-se para que pudesse observar Molly. Uma
lágrima escorreu pelo lado de sua bochecha quando ele sorriu para
ela.

Atrás de mim, juntas, as gêmeas estavam fungando, e na


primeira fila Paige chorou sem nem mesmo tentar impedir o fluxo
de lágrimas pelo rosto enquanto Logan conduzia Molly pelo
corredor. Quando chegaram à frente - como planejado - Paige saiu
de seu assento e ocupou seu lugar do outro lado de Molly,
prendendo o braço em volta da cintura de minha irmã.

Logan beijou a bochecha de Molly e sussurrou algo que a fez


emitir um soluço aguado. Com um breve olhar para o céu, pisquei
rapidamente. Claire me deu um tapinha no ombro e me entregou
um pequeno lenço. Eu sorri, secando suavemente debaixo dos
meus olhos.

Depois de uma breve saudação, o ministro ocupou seu lugar


com um sorriso, gesticulando para Noah chamar Molly. — E quem
dá esta mulher em casamento hoje?

Paige e Logan compartilharam um olhar significativo. — Nós


— eles disseram em uníssono.
Noah e Logan trocaram um pequeno aperto de mão secreto
que fez os companheiros de equipe dos Wolves na multidão rirem
audivelmente. E então minha irmã pegou a mão de Noah, parando
para que ele pudesse dizer algo baixinho, apenas audível para ela,
que a fez o olhar com tanto amor que o sistema hidráulico quase
começou de novo.

Era difícil ficar parada, especialmente com aqueles saltos


malditos, mas uma vez que recebi as flores de Molly, esse era o
meu trabalho. Apenas uma vez - e fiquei muito orgulhosa de mim
mesma - olhei para as filas de assentos.

O olhar de Aiden estava em mim, e quando nossos olhos se


encontraram, ele me enviou um sorriso contido que deixou minhas
palmas um pouco suadas.

Que primeiro encontro.

Na frente de uma centena de pessoas, finalmente deixando de


lado o peso emocional que estava empurrando sobre meus ombros,
e usando o tipo de vestido que tornava qualquer roupa íntima fora
do fio dental completamente impossível.

Mesmo se eu tivesse imaginado meu primeiro encontro com


Aiden, eu nunca teria imaginado isso. Uma caminhada
talvez. Vagando pelo centro da cidade. Algo simples e fácil, nada
exagerado ou exigente.

Isso era o mais exigente que eu jamais conseguiria. E ainda,


ele estava aqui.

Descobrir o caminho mental do que significava ou o que


significaria era inútil. Razão pela qual voltei minha atenção para o
ministro e para Molly e Noah.
Eu não conseguia ver o rosto da minha irmã, mas podia ver
o de Noah, e a maneira como ele olhava para ela foi o suficiente
para me transformar em uma pilha gigante de mingau.

Molly respirou fundo quando foi sua vez de dizer os votos.

— Hoje, rodeada por todas as pessoas que mais nos amam,


digo as palavras eu aceito, e estou realmente prometendo que eu
vou. — Ele sorriu, levantando uma de suas mãos para um beijo
suave. — Eu vou pegar sua mão e ficar ao seu lado nos bons e nos
maus momentos. Serei sua luz guia na escuridão, seu ombro para
se apoiar quando a vida for difícil. Como sua esposa, serei sua
navegadora e sua melhor amiga. Eu prometo honrar, cuidar e
amar você em todas as aventuras da vida — sua voz vacilou. —
Hoje, Noah Griffin, e todos os dias, enquanto eu viver, vou escolher
você como meu marido.

Noah sorriu para ela.

— Hoje, cercado por todas as pessoas que mais nos amam —


ele retumbou em uma voz profunda — eu digo as palavras eu
aceito, mas eu realmente estou prometendo que eu vou. Eu vou
pegar sua mão e ficar ao seu lado nos bons e nos maus
momentos. Serei aquele que apoiará seus sonhos mais do que
qualquer outro. Vou protegê-la de quaisquer tempestades que nos
atinjam. Como seu marido, serei seu parceiro e seu melhor
amigo. Eu prometo honrar, cuidar e amar você em todas as
aventuras da vida. Hoje, Molly Ward, e todos os dias enquanto eu
viver, vou escolher você como minha esposa.

Os anéis foram trocados, eles foram declarados marido e


mulher, e quando ele a envolveu em seus braços para um beijo
apaixonadamente chocante, uma ovação de proporções do Super
Bowl ecoou pelos jardins. Rindo junto com minhas irmãs, não
pude deixar de olhar para as pessoas sentadas nas cadeiras.
Reconheci a maioria dos rostos, mas não todos. De todos
aqueles rostos, não vi o que estava procurando.

Foi uma percepção estranha em meio a uma felicidade tão


transbordante que... Brooke não tinha vindo. Dada a escolha,
concedida com graça por alguém que a perdoou, ela ficou longe.

Molly, eu sabia, ficaria bem. Enquanto seu marido se afastava


dela, colocando sua mão na dobra de seu cotovelo e a escoltando
pelo tapete de grama verde-esmeralda ao som de aplausos e
assobios, pensei em todas as diferentes maneiras como as pessoas
seguiam em frente.

Talvez eu tenha me apegado ao passado, apegando-me à


raiva, ou às minhas reservas com homens porque eram tudo que
eu podia controlar, mas Aiden aparecendo para mim hoje era algo
que eu não tinha controle.

Era a maneira dele de seguir em frente também, e tive que


reconhecer o gesto, mesmo que não tivesse vindo com grandes
discursos. Ainda.

Ele não poderia ter previsto como eu reagiria, mas ainda


assim ele apareceu. Estendeu a mão para mim e me deu uma
escolha.

Quando peguei o braço de Kareem, um dos companheiros de


equipe de Noah, e seguimos o casal feliz pelo corredor, eu sabia
que minhas escolhas estariam se desdobrando na minha frente a
noite toda.

Eu escolhi, enquanto Aiden me observava com um olhar firme


e calmo, deixar de lado qualquer coisa que Brooke poderia ter feito
- ou não - até hoje. Como meu irmão disse, foi - e sempre será -
perda dela.
Quando Molly pulou nos braços de Noah para outro beijo, me
senti mais leve do que nunca. Mais feliz.

A planejadora do casamento empurrou a festa de casamento


de volta para outro jardim para tirar fotos, e quando olhei por cima
do ombro para chamar a atenção de Aiden, ele piscou.

Aquela piscada me segurou pelo tempo eterno que levamos


para tirar fotos de toda a festa de casamento. Se o que eu
precisasse fazer fosse colocar um sorriso no rosto por um bilhão
de cliques da câmera, então era o que eu faria.

Pairando na beira do jardim lateral onde estávamos, vi um


vislumbre de seu terno azul-marinho. O coordenador do
casamento estava conversando com o fotógrafo, e Molly e Noah
cochichavam baixinho um com o outro, então decidi me esgueirar
na direção dele.

Cutuquei Lia com meu cotovelo. Ambas as gêmeas se


viraram.

— Eu estarei lá se eles precisarem de mim — falei, inclinando


minha cabeça para onde eu o tinha visto.

— Vou me certificar de dar bastante aviso antes de virar a


esquina para te chamar — ela respondeu séria.

Enquanto caminhava para Aiden, eu lhe mostrei meu dedo


médio, o que a fez rir com Claire.

Ele se virou quando eu me aproximei, nenhum sorriso em seu


rosto, mas olhos calorosos. Era assustador o quanto eu queria
mergulhar nele e nunca mais voltar à superfície.
Aiden abriu os braços e eu fui direto para o seu abraço. Suas
mãos alisaram ao longo de minhas costas nuas e eu me enrolei
nele, enterrando-me mais profundamente em seu calor.

Isso não pode ser normal, pensei.

Quando seu peito largo começou a tremer com uma risada,


percebi que tinha falado em voz alta.

Afastando-me para que eu pudesse ver seu rosto, dei a ele


um sorriso envergonhado. — Você sabe o que eu quero dizer.

— Sim — ele murmurou.

— Eu nem perguntei antes, mas quem te convidou?

— Molly — disse ele. Ele tirou a mão das minhas costas e


alisou a linha do meu braço, como se ele simplesmente quisesse
me tocar o máximo possível. — Ela passou na minha casa.

— Mesmo?

Aiden acenou com a cabeça.

Mas então ele pareceu lutar para encontrar as palavras, e eu


não pude deixar de sorrir. — Ok, a rotina do homem grande e
taciturno só é sexy em certas situações, e essa não é uma delas,
Hennessy.

Em resposta, ele me puxou para mais perto com uma risada


contida, e eu brinquei com a ponta de sua lapela. Ele cheirava tão
bem, mas Deus, eu pararia de o cheirar como uma pessoa louca
se ele veio apenas por causa disso.
— Você não teve tempo para praticar o que dizer? — eu
provoquei.

Seus olhos seguraram os meus, seus dedos passando pelas


pontas do meu cabelo. — Eu não sou... eu não sou bom em
discursos como este. Nunca sei a coisa certa a dizer ou como
explicar o que estou sentindo.

Embaixo da minha mão, onde pousava em seu paletó, seu


coração estava batendo forte. Foi inacreditável quanta paz me
alimentou, sabendo que ele estava tão nervoso com isso quanto eu
costumava estar perto dele.

Aiden e eu, esse tempo todo, estávamos sentados em uma


gangorra invisível e, eventualmente, tínhamos até mesmo um
equilíbrio perfeito. Tive a sensação de que seria assim esta noite.

Sua mão alisou meu rosto e eu virei minha cabeça para beijar
sua palma.

— Eu conhecia Beth há anos — ele começou


calmamente. Desejei não reagir enquanto ele falava, simplesmente
mantive minha mão sobre seu coração e meu corpo pressionado
contra o dele. — Nós éramos amigos. Ela se mudou para a rua e,
no primeiro dia em que a conheci, ela nos trouxe um prato de
biscoitos de gengibre para se apresentar.

Eu dei a ele um pequeno sorriso. — O apelido de Anya.

Ele assentiu. — E minha comida favorita. Pareceu...


impossível explicar isso a você quando estava na minha cama —
ele disse, a voz rouca de emoção.

Meus olhos se fecharam por um momento. — Sim, eu posso


imaginar.
— Quando tínhamos dezoito anos, ela anunciou que iria me
beijar e que eu seria seu primeiro namorado, porque ela viu como
eu a olhava e estava cansada de esperar.

Meu sorriso se alargou. Tive a sensação de que teria gostado


de Beth.

— Ela era minha melhor amiga — continuou Aiden. — E eu


sabia tudo sobre ela. Amá-la, me apaixonar por ela, foi algo lento,
constante e gradual, até que de repente se tornou... tudo.

Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto ele falava. —


Eu sinto muito por você a ter perdido — eu disse a ele.

Seus próprios olhos brilhavam quando ele se inclinou para


beijar minha testa. — Eu também. — Quando ele se afastou, ele
estudou meu rosto. — Ela foi o meu primeiro amor e, quando vim
para cá, não procurava substituí-la, Isabel.

Meus dedos se mexiam inquietos, mas me recusei a desviar o


olhar. — Eu sei.

— Você — ele continuou, os olhos fixos em meus lábios —


não entrou na minha vida lenta ou firmemente.

Eu sorri.

— Por causa disso — Aiden sussurrou — tornou-se algo que


eu senti que precisava resistir. Algo muito intenso para o que eu
era capaz nesta segunda chance da minha vida.

Lentamente, eu balancei a cabeça. Tudo isso fazia sentido. E


meu coração respirou um pouco mais fácil por entendê-lo.
Nós estávamos com pouco tempo para essa conversa, e eu
não sabia quanto eu teria. Meus dedos traçaram a borda de sua
mandíbula e seguiram a linha de seus lábios.

— Minha irmã deve ter lhe dado uma baita conversa


estimulante — falei levemente.

Esses lábios se curvaram nas bordas, e Aiden beijou a ponta


dos meus dedos enquanto puxava minha mão. — Ela apenas
afirmou o que eu fui um pouco lento para descobrir por mim
mesmo.

— O que é isso?

Seus olhos seguraram os meus, a intensidade neles deixando


meu estômago leve. Todas as borboletas desde o primeiro dia em
que o conheci voltaram ao lugar. — Que se eu pudesse te ver no
meu futuro, eu precisava arriscar.

O jeito que ele disse parecia tão simples, tão certo.

— Ela é muito inteligente — respondi séria.

Aiden passou os braços em volta de mim e eu fiz o mesmo em


torno de sua cintura.

— Apenas me certificando de que ela não fez deste um


encontro por pena — eu falei em seu peito. — Porque se você está
aqui por causa dos meus problemas com minha mãe, vou chutar
suas bolas.

Aiden recuou na risada. Com um sorriso ainda brincando em


seus lábios, ele deslizou a mão pela minha bochecha, passando os
dedos pelo meu cabelo até que ele segurou a parte de trás da
minha cabeça. Ele abaixou a boca, seus lábios roçando os meus
em uma lentidão tentadora quando ele falou. — A última coisa que
sinto por você é pena.

Eu posso ter dito algo como, ei, isso é maravilhoso. Mas foi
tudo o que pude fazer para não cair enquanto ele aprofundava o
beijo em algo transbordando de tensão não gasta. Seus lábios se
moveram com mais força e minha respiração acelerou quando
suas mãos deslizaram pelo meu corpo. Ele e eu precisaríamos de
uma semana trancados em um quarto de hotel para sentir que a
necessidade foi saciada. Era tudo que eu podia fazer para manter
meus pés plantados, minhas pernas me segurando enquanto sua
língua girava em torno da minha.

E agora, tudo que eu queria fazer era envolvê-las em sua


cintura.

Uma das gêmeas chamou meu nome do outro jardim e eu


choraminguei. Aiden deu um beijo forte contra meus lábios, depois
outro.

— Fotos de família e pronto. — Eu deslizei minha mão sob


seu paletó e chupei seu lábio inferior em minha boca. Seus dedos
se curvaram ao redor do meu quadril, e a pressão quente dele
contra meu estômago fez meus dedos dos pés se curvarem em
meus sapatos.

— Ok. — Ele se afastou e sorriu.

— Não sorria para mim assim — falei, olhando para sua boca.

— Por que não?

Minha mão se enrolou em seu cinto, o calor de seu estômago


duro passando pelo material de sua camisa quando o puxei para
mais perto e falei contra seu pescoço. — Porque vou acabar
perdendo as fotos de minha família quando começar a rasgar suas
roupas.

Aiden assobiou uma respiração lenta. — Você é perigosa,


mulher.

Eu beijei a ponta de sua mandíbula. — Apenas espere.

— Vá — disse ele em uma voz áspera.

Sem olhar para trás, eu fui. Porque uau, ok, eu pensei que
éramos enérgicos naquela despensa ou em seu
quarto. Aparentemente, nós realmente achamos nosso caminho
em casamentos no jardim.

Lia sorriu quando me aproximei. Eu dei a ela uma olhada de


volta.

Jude estava saltando Gabriel em seus braços, e eu peguei


suas mãos rechonchudas e as beijei.

— Como está meu menino? — murmurei. Seus grandes olhos


azuis e seu cabelo escuro me fizeram sorrir, assim como seus
gritinhos pegajosos. Dando um beijo em sua bochecha, eu ri
quando ele puxou um pedaço do meu cabelo. — Uma ajudinha,
por favor.

Jude retirou cuidadosamente o punho de Gabriel do meu


cabelo. — Criança selvagem a que temos.

— Então ele se encaixa perfeitamente — Bauer interrompeu


enquanto se aproximava. Ele beijou Claire no topo da cabeça.

— Oi — ela disse com um sorriso. — Você estava quase


atrasado para o casamento.
Ele sorriu. — Cheguei exatamente na hora, muito obrigado. O
tráfego estava um pouco pesado vindo de Vancouver. Eu tive que
me sentar ao lado do novo namorado de Isabel. — Bauer fez uma
pausa pensativa. — Ele é enorme e intimidante, e eu acho que o
aprovo de todo o coração com base em que ele provavelmente
poderia me partir ao meio.

As gêmeas riram, Jude sorriu e Bauer estendeu o punho para


que eu batesse.

— Bom trabalho, Iz — ele disse. — Eu acho que você


finalmente encontrou alguém que pode te acompanhar.

O fotógrafo nos chamou e eu fui salva de ter que


responder. Jude e Bauer ficaram de lado enquanto as quatro
garotas se reuniam em torno do casal, e nós mudamos de posição
em torno de Logan, Paige e Emmett.

Eu me peguei batendo o pé em antecipação enquanto o


fotógrafo trabalhava.

Gabriel chorou e grasnou nos braços de Jude assim que os


caras se juntaram a nós, o que nos fez rir, mas através de tudo
isso, senti um empurrão, uma urgência de estar ao lado de
Aiden. A organizadora do casamento nos tirou do quadro para que
ela pudesse preparar algumas fotos para Molly, Noah, Logan e
Paige.

Logan apareceu ao meu lado enquanto a assistente do


fotógrafo arrumava a parte de trás do vestido de Molly. A princípio,
ele não disse nada e a assistimos juntos em silêncio.

— Parece que tivemos um convidado surpresa, afinal —


comentou.
Eu sorri. — Parece.

Ele olhou para mim. — Eu preciso puxá-lo de lado e ter uma


conversa com ele?

Uma risada histérica quase explodiu de mim. Se meu irmão


mais velho - o homem mais protetor que eu já conheci - soubesse
que meu primeiro encontro com meu chefe mais velho de uma
década (dedos cruzados) acabaria comigo perdendo minha
virgindade, ele teria um enfarte...

— Não para adverti-lo — Logan emendou.

Virando ligeiramente, levantei uma sobrancelha. — Não?

Ele passou um braço em volta de mim e eu deixei minha


cabeça descansar em seu ombro. — Se você quer este, há um
motivo.

Isso deixou meu coração aquecido e pegajoso, e tentei sufocar


meu sorriso satisfeito. — Nenhum sermão do tipo eu não posso
acreditar que outra de vocês escolheu um atleta?

— Não.

— Paige gritou com você sobre isso depois que você deu um
para Lia?

— Sim.

Eu ri. — O que você diria a ele em sua pequena conversa,


então?

Logan respirou fundo e aumentou seu aperto em mim por um


momento antes de me virar suavemente para que ficássemos de
frente um para o outro. — Para o bem ou para o mal, você é muito
parecida comigo, garota. Você sempre foi — ele sorriu. — Nós nos
seguramos até não termos escolha. Paige é a pessoa certa para
mim porque ela rasgou aquela reserva como um aríete.

Eu ri.

Seu rosto ficou sério. — Mas você, Isabel, é mais corajosa do


que eu jamais fui na sua idade. Espero que ele saiba que se você
o escolheu significa que ele vai receber um dos melhores presentes
do mundo, porque a maneira como você ama as pessoas em sua
vida... — sua voz sumiu. Ele segurou meu rosto. — É
um privilégio ser um deles.

Meus olhos arderam e a ponta do meu nariz formigou. —


Obrigada.

Logan pigarreou, dando um beijo na minha testa. — Amo


você.

— Eu também te amo. — Passei meus braços em volta dele e


o abracei como há muito tempo não fazia. Não foi
engraçado? Quando você via alguém o tempo todo, ficava tão fácil
esquecer o quanto você poderia precisar de seus abraços. E nada,
naquele momento, parecia mais uma bênção para seguir em frente
do que um abraço do meu irmão.

Paige se aproximou com um pequeno sorriso no rosto. — Você


pode ir — ela me disse.

— Mesmo?

Ela acenou com a cabeça. — Eles acabaram com as fotos de


família. Você tem cerca de trinta minutos antes de precisarmos de
você na fila para a recepção.
Instantaneamente, eu tirei meus sapatos, parando apenas
para pegá-los pelas alças. Agarrei a barra do meu vestido e corri
pela grama ao som da risada de Paige.
Não demorei muito para encontrá-lo. Eu diminuí a velocidade
para uma caminhada rápida, descalça, enquanto cruzava o saguão
do hotel para a área da recepção. Estava mal iluminado, mesas
altas circundando o perímetro da sala para os convidados se
misturarem e tomarem um coquetel enquanto esperavam pela
festa de casamento. Ao longo das bordas e nos cantos da sala havia
lugares suaves para se sentar, alguns envoltos em tecido branco,
criando uma atmosfera mágica junto com as centenas de velas, as
luzes cintilantes descendo pelo teto.

Aiden estava numa extremidade da sala conversando com


Luke Pierson, um dos ex-companheiros de equipe de Logan. Ao
lado deles, com o braço curvado em volta da cintura de Luke,
estava Allie Sutton-Pierson, a dona dos Wolves e uma das
melhores amigas de Paige.

Allie disse algo que fez os homens rirem, e seu rosto se


iluminou em um sorriso brilhante quando me viu. — Iz, você está
linda.
Quando eu a abracei, olhei rapidamente para Aiden. —
Obrigada. As meninas vieram com você?

Luke balançou a cabeça. — Faith e Lydia decidiram que um


fim de semana na casa da vovó era muito mais divertido do que
um casamento.

— Quantos anos tem suas filhas? — Aiden perguntou. Eu


escorreguei ao lado dele e minha respiração prendeu quando ele
casualmente cruzou sua mão na minha.

Allie percebeu e me lançou um olhar penetrante. Tive que


morder o lábio para não cair na gargalhada. Nenhuma dessas
pessoas jamais me viu em um relacionamento, e você poderia dizer
por sua absoluta falta de calma.

— Faith tem dezesseis anos, Lydia tem quase onze, e nunca


me senti mais velho na vida do que quando digo isso em voz alta
— admitiu Luke.

Aiden sorriu. — Minha filha tem sete anos, então eu entendo.

Era difícil me concentrar no que eles estavam dizendo porque


eu estava ao lado de Aiden, segurando sua mão e conversando com
amigos da família como se absolutamente nada fosse estranho
nisso. Minha impaciência para ficar a sós com ele deve se
mostrado, porque Allie me deu uma piscadela minúscula e depois
bateu no peito do marido. — Sabe, meu copo está vazio. Você me
compra uma bebida?

Ele sorriu para ela. — Logan está comprando. Claro que sim,
vou pagar uma bebida para você.

Eles se afastaram e eu soltei um suspiro profundo. — Você


conseguiu algo no bar? — perguntei.
Olhando para mim com olhos calorosos e iluminados por
humor, ele inclinou a cabeça em direção a uma mesa. — Está ali.

Aiden nos puxou para longe dos grupos de pessoas


amontoados para um canto com um sofá branco grande o
suficiente para dois. Seu paletó estava pendurado no braço, como
se ele fizesse questão de reivindicar este local ligeiramente
privado. Ele deslizou para o canto e esticou um braço sobre o
encosto do sofá. Em vez de me juntar a ele imediatamente, tirei um
momento para estudá-lo assim, descansando como um grande
gato.

Suas longas pernas estavam ligeiramente abertas e era tão


fácil imaginar se estivéssemos sozinhos. A julgar pela expressão de
seus olhos verdes, ele estava imaginando por conta própria.

Minha pele esquentou sob sua leitura, apertando sob o tecido


sedoso do meu vestido onde eu queria suas mãos. Se estivéssemos
sozinhos, eu deslizaria o vestido sobre minhas coxas e subiria em
seu colo, alisaria minhas mãos em seu peito, deixaria aquelas
mãos grandes e capazes me segurarem no lugar, e sua boca
encontrar as partes de mim...

Aiden exalou uma risada baixa, balançando a cabeça


ligeiramente. — Continue me olhando assim e vamos causar
problemas.

Pisquei lentamente, saindo do meu


estupor. Cuidadosamente, sentei-me ao lado dele, colocando uma
perna embaixo de mim para que pudesse me inclinar em sua
direção. Seus dedos deslizaram sobre minha omoplata e brincaram
com as pontas do meu cabelo.
Então ele fez uma pausa, alcançando um copo alto em uma
mesa ao lado do sofá. Minhas sobrancelhas se curvaram quando
ele o entregou.

— Screwdriver9? — eu perguntei. — Eu não pensei que seria


um cara de bebida mista.

Sem uma palavra, ele acenou para eu pegá-lo. Nossos dedos


roçaram quando peguei o copo e, depois que tomei um gole, seus
olhos se aqueceram.

— Suco de laranja? — indaguei, minha boca se alargando em


um sorriso enorme.

Aiden recuperou o copo e tomou um gole. Lambi meus lábios


enquanto ele colocava o copo na mesa. Ele se inclinou, suas costas
me bloqueando de vista, e tomou minha boca em um beijo voraz
que tinha gosto cítrico brilhante e tinha a promessa de sexo. Eu
estava pronta para escalá-lo quando ele se afastou.

— Suco de laranja — disse ele.

— Vou fazer uma anotação para o trabalho. — Este nível de


felicidade deveria ser ilegal.

— Você está bem sentando-se comigo no canto no casamento


da sua irmã? — ele perguntou.

9 Screwdriver é um coquetel feito à base de suco de laranja e vodca.


Com uma olhada ao redor, vi apenas algumas pessoas com
quem eu provavelmente deveria estar batendo papo. Finalmente,
olhei de volta para Aiden e estudei seu rosto bonito.

— Completamente bem — respondi. — Prefiro falar com você.

Porque eu podia, toquei meu polegar na curva inferior de seu


lábio e passei suavemente sobre a barba por fazer que revestia sua
mandíbula. Eu amei que ele não tivesse se barbeado para isso. Isso
o fez parecer um pouco perigoso, ou talvez fosse apenas como eu
me sentia estando com ele assim. A coisa toda parecia grande
demais para ser real, para ser segura.

Duas pessoas poderiam sobreviver a este nível de tensão


sexual? Porque eu não tinha certeza se poderíamos.

— Sobre o que você quer falar? — ele perguntou. Ele tirou


minha mão de sua boca e beijou a ponta do meu polegar antes de
colocá-la em sua coxa dura como pedra, os dedos levemente
entrelaçados nos meus.

Muitas perguntas que eu poderia fazer. Algumas que podiam


esperar, outras não.

Respirei fundo e perguntei a primeira coisa em minha


mente. — Este é... nosso primeiro encontro? — Eu olhei para ele
por debaixo dos meus cílios.

— Você não conta a troca do fusível?

Com um sorriso, eu balancei minha cabeça. — Não.

— Sua noite na minha casa?

Eu dei a ele um olhar seco.


Aiden cantarolou. — E a nossa primeira sessão de
treinamento?

Lentamente, levantei minhas sobrancelhas. Eu sei que senti


que o menor toque dele naquela noite teria me feito explodir, mas
nunca tive certeza se ele sentiu o mesmo.

— Talvez — eu admiti.

— Os primeiros encontros são para descobrir com quem você


está — ele disse. — Eu aprendi muito sobre você naquela noite.

— Como...? — Minha voz sumiu.

Seus dedos arrastaram ao longo das minhas costas e eu


estremeci. — Você não gosta de sobrecarregar as pessoas com o
que está te incomodando. Falar sobre isso provavelmente torna
tudo pior. — Com a declaração precisa, levantei meu queixo
ligeiramente. Ele continuou: — Você não conseguia decidir se
amava ou odiava o fato de eu estar te observando tão de perto e
você não perceber. Normalmente você sempre sabe o que está
acontecendo.

— Verdade — eu admiti. — O que mais?

— Quando ela vem à tona, você transforma sua raiva em algo


produtivo, algo tangível, provavelmente para não atacar as pessoas
ao seu redor.

Eu me mexi no sofá, minha respiração ficando um pouco


mais rápida que ele pegou tudo isso apenas em uma noite.

Aiden se inclinou, nossos joelhos se tocando, e ele moveu seu


corpo para que ganhássemos ainda mais privacidade. — E eu dizer
isso a você dá vontade de correr, só um pouco.
Destemida pela vibração de pânico que sua avaliação exata
causou, eu encontrei seu olhar de frente. — Eu não estou indo a
lugar nenhum.

— Não? — a sua voz áspera e irregular. Quando eu balancei


minha cabeça, ele inclinou a cabeça para baixo e deslizou sua boca
sobre a minha para um beijo doce e lento. Minha língua escorregou
para a costura de seus lábios, mas ele se afastou. — Não mais,
mulher. Você está me matando.

Meu sorriso estava cheio de satisfação porque ele parecia


estar caminhando no fio da navalha do controle.

— Segundo encontro, então — eu disse.

— Combinado. — Ele se recostou, permitindo uma distância


mais segura entre nós, já que ambos estávamos sentindo a
necessidade de montar um no outro em público.

— Onde está Anya esta noite? — perguntei.

— Meus pais. — Ele pegou seu telefone e me mostrou uma


foto que me fez rir alto.

— Esse é o seu pai?

— Sim.

Peguei o telefone de sua mão e ampliei a imagem. Anya estava


de pé no balcão da cozinha atrás de um homem que parecia Aiden
em cerca de vinte anos. Eles compartilhavam a mesma mandíbula,
o mesmo nariz, a mesma constituição. E seu pai, a julgar pelo
sorriso satisfeito em seu rosto, estava perfeitamente bem em deixar
sua neta colocar rolos de espuma em seu cabelo levemente
grisalho.
— Posso? — Fiz um gesto para a foto. Ele assentiu. Eu passei
por algumas fotos, estudei uma de sua mãe. — Seus pais parecem
jovens, considerando... — Parei, sem saber o que
dizer, considerando sua idade.

Aiden riu suavemente. — Você está me chamando de velho?

Mordi meu lábio para abafar meu sorriso. — Não.

Ele pegou o telefone da minha mão e encontrou uma foto de


sua família inteira, então me deixou estudá-la. Assim como minha
família, eles tinham uma forte semelhança um com o outro, mas
ainda conseguiam ser um equilíbrio perfeito de seus pais.

— Meus pais tinham quinze anos quando se conheceram —


disse ele. — Dezesseis quando minha mãe engravidou de mim.

Meus olhos se ergueram de surpresa. — Sério?

Ele assentiu. — Eles se casaram antes de eu completar dois


anos, mas sabiam que ainda eram muito jovens para adicionar
mais filhos à mistura. — Aiden apontou para os rostos na foto. —
Beckham veio quando eu tinha dez anos, depois Clark e Deacon
foi o próximo. — E quando ele gesticulou para uma mulher que
parecia mais jovem do que eu, descobri que gostava de seu sorriso
largo e de como ela parecia estar rindo. — E porque ela não poderia
ser nada além da mais jovem e mimada, Eloise foi o grand finale
da família Hennessy.

— Uau — eu suspirei. Antes que eu pudesse dizer qualquer


outra coisa, um toque suave no meu ombro puxou minha atenção
de Aiden. Era a planejadora do casamento.

— Desculpe interromper, Isabel. Vamos anunciar a festa de


casamento e depois você pode voltar. Já que Molly e Noah só têm
uma mesa para os dois, eu só preciso roubar você por alguns
minutos.

Aiden sorriu, juntando-se a mim enquanto eu ficava de pé. O


cavalheiro perfeito em um primeiro encontro não convencional.

E isso continuou, assim que pude me juntar a ele na mesa


que compartilharíamos com minhas irmãs e seus homens. Ele
manteve a mão enrolada em volta da minha coxa sob a mesa,
mantendo uma conversa agradável com todos enquanto
comíamos. Ocasionalmente, ele se inclinava e me perguntava algo
aleatório, mudando sua mão de descansar na minha coxa para se
esticar nas minhas costas ao longo da minha cadeira.

— Filme favorito?

Eu cantarolei. — Eu raramente os assisto, então é difícil


escolher.

— Mesmo? — disse, claramente surpreso.

— Mas — acrescentei — adoro um bom documentário


esportivo.

— Eu também. — Ele se inclinou para um beijo doce.

Era tão fácil esquecer que outras pessoas estavam à mesa


quando ele olhava para mim daquele jeito. Eu realmente não me
importava se minhas irmãs estivessem assistindo com interesse
descarado, porque Deus sabe que eu tive que assistir minha cota
de divagação nos últimos dois anos.

Eu deslizei minha mão sobre a dele, saboreando o afeto


fácil. — As perguntas que Anya me fez — comecei. Ele sorriu
tristemente, mas não interrompeu. — O que foi aquilo?
Seu peito se expandiu em uma respiração profunda. Então
ele me contou a história e eu nem tentei impedir a lágrima que
escorreu pela minha bochecha. Ele a afastou. — Foi algo que ela
considerou por muito tempo como... verdade, eu acho. Que se
alguém saberia, seria Beth.

— E você? — perguntei com cuidado.

Aiden balançou a cabeça. — Foi, não sei dizer direito. Eu não


estava pensando em usá-la como uma checklist, se é isso que você
está perguntando, principalmente porque eu não tinha nenhuma
intenção de encontrar alguém. — Ele enrolou os dedos em volta da
minha coxa, alisando-a para cima e para baixo. Ele me deu um
sorriso irônico. — Mas provavelmente não ajudou que você fosse o
oposto do que ela disse a Anya.

Eu sorri. — Provavelmente não.

Ele me estudou tão atentamente.

— O quê? — indaguei.

Ele balançou sua cabeça. — Nada.

O que eu amava é que podia esperar para perguntar mais a


ele porque tínhamos tempo, não porque temia a reação.

As pessoas se moveram ao nosso redor, indo para a pista de


dança enquanto ele e eu conversávamos.

Ele preferia o inverno ao verão e quebrou a perna quando


tinha 12 anos.

Ele não bebia com frequência, e apenas uma cerveja quando


o fazia.
Quando ele foi para a faculdade, sua irmã o fez pegar um
bicho de pelúcia para que ele não ficasse sozinho, e ele o manteve
na cama durante todo o primeiro ano, não importando o quanto
seus colegas de quarto o provocassem.

Ele me perguntou por que decidi não ir para a faculdade e


como foi ser criada por meu irmão.

Quando o bolo foi cortado e distribuído, ele pegou um pedaço


de coco e eu escolhi de morango, que dividimos. Quando ele
estendeu o garfo para eu dar uma mordida em seu bolo,
distraidamente me perguntei se algum dia ficaria enjoada de falar
com ele. De ouvir o que ele tinha a dizer.

Seus olhos escureceram quando lambi uma partícula de glacê


na borda do meu lábio.

Quando nossos pratos ficaram sem bolo, recostei-me na


cadeira e examinei-o cuidadosamente. — Não é um encontro ruim,
Hennessy.

Ao usar seu sobrenome, ele ergueu uma sobrancelha. —


Estamos de volta ao sobrenome.

— Bem — falei lentamente, descruzando minha perna para


que eu pudesse me virar totalmente para encará-lo — eu acho que
você ainda me deve um pouco.

— Você acha?

Seu tom seco me fez sorrir. — Você não precisou me pagar o


jantar — eu disse. — Ou a sobremesa.
Ele cantarolou, prendendo-me ao apoiar um braço na mesa,
o outro esticado ao longo das costas da minha cadeira. — Como
você normalmente terminaria um encontro como este?

Não havia como responder sem me entregar


completamente. Eu não tinha ideia onde a noite iria levar, mas
sabia o que queria. — Eu não acho que já tive um encontro como
este — respondi com total honestidade.

Com base em seus olhos, ele viu a verdade em minha


resposta.

— Nem eu.

Meus pulmões ficaram sem fôlego quando ele disse isso, e não
percebi o quanto ansiava por algum tipo de sinal de que essa
intensidade não era unilateral, não estava confinada apenas à
minha inexperiência.

Porque eu não pude evitar, inclinei-me para frente, colocando


o lado de seu rosto em minha mão, e deslizei meus lábios sobre os
dele em um beijo suave.

Deixamos o beijo ali, recuando ao mesmo tempo, contentes


em não o aprofundar ainda mais.

Aiden se virou, colocando um beijo no centro da minha


palma. — Dança comigo? — perguntou.

Lentamente, balancei a cabeça e ele se levantou, segurando


firmemente minha mão enquanto nos levava para a pista de dança
lotada de pessoas. Ficamos entre um ex-jogador defensivo
premiado e sua esposa, e um executivo do trabalho de Molly na
Amazon, e nenhuma vez sua atenção em mim vacilou.
Não importava quem nos cercava, eu percebi.

Não importava o que ele pudesse ter experimentado em seu


passado ou o que eu ainda tinha que experimentar em meu
futuro. Isso era sobre nós. Aiden juntou nossas mãos unidas
contra seu peito, sobre seu coração batendo continuamente, e seu
outro braço enrolado em volta da minha cintura enquanto ele me
puxava para seu corpo. Minha mão livre deslizou em torno de suas
costas e eu coloquei minha cabeça em seu peito enquanto
balançávamos.

Seus dedos se desviaram lentamente, primeiro para a borda


do meu vestido, onde se enrolou em volta do meu corpo, mas ele
os mergulhou sob o tecido para dedilhar toques leves ao longo da
curva do meu quadril. Com uma exalação inquieta, me aproximei
e ele apertou sua mão na minha.

A batida da música era lenta e doce, mas em seus braços,


tornou-se algo totalmente diferente. Preliminares.

Tudo isso tinha acontecido.

Por dias e semanas.

Meus dedos em suas costas se curvaram, as unhas cravando-


se ligeiramente nos músculos rígidos de suas costas e perdi a
capacidade de respirar corretamente quando fechei os olhos e
imaginei como me sentiria quando ele se movesse sobre mim. Ele
seria implacável. Ele seria brutal se eu implorasse a ele.

O peito de Aiden se expandiu em uma inspiração profunda,


seu nariz enterrando-se no meu cabelo. Quando ele fez uma
mudança inquieta, eu senti o quanto ele me queria. O barulho que
começou na minha garganta era praticamente um ronronar. E ele
ouviu.
— Nós precisamos parar de dançar ou dar o fora daqui — ele
murmurou em meu ouvido.

Inclinando minha cabeça para que eu pudesse olhar para ele,


lambi meus lábios antes de falar. Suas narinas dilataram-se
quando o fiz. — O que você fará comigo se eu escolher a opção
dois?

De alguma forma, ele conseguiu aumentar seu aperto em


mim, colocar-me ainda mais perto dele para que pudesse
descansar seus lábios contra a minha orelha. — Eu vou fazer tudo
— ele rosnou. — E acredite em mim, minha imaginação inventou
muito desde que você decidiu entrar na minha banheira sem mim.

Eu estava ofegante quando dei um passo para trás, minhas


mãos tremendo. No início, seu rosto suavizou como se ele pensasse
que eu poderia negar.

— Você tem dez minutos para conseguir um quarto — falei


numa voz notavelmente regular. — Eu vou te encontrar no
elevador.

Levei seis minutos para abraçar e beijar Molly e Noah, que


estavam ocupados com várias pessoas, e informar às gêmeas que
sairia da festa mais cedo. Ninguém discutiu comigo, e Lia me deu
um high five desagradável.

Marchei com os sapatos e a bolsa nas mãos até o elevador,


onde o vi esperando por mim.

Calmamente, ele apertou o botão e enfiou as mãos nos bolsos


da calça. Soltei um suspiro lento enquanto os números
diminuíam.
No silêncio entre nós, eu me perguntei uma dúzia de coisas
sobre como seria entre nós, o que esperava quando abríssemos a
porta do quarto de hotel para total privacidade.

Mas uma coisa que não me perguntei foi se fui estúpida em


esperar por alguém que me fazia sentir assim. Não houve um pingo
de hesitação em qualquer lugar dentro de mim. As portas se
abriram e entramos lado a lado, silenciosos como um túmulo.

Aiden apertou o botão do andar correto e, assim que as portas


se fecharam, assim que ficamos sozinhos, ele explodiu em ação.

Antes que eu pudesse respirar, eu estava contra a parede,


sua boca dura e exigente sobre a minha, suas mãos implacáveis
enquanto ele esticava as costuras do meu vestido, empurrando seu
aperto por baixo para preencher suas palmas com minha carne.

Sua língua era quente e escorregadia, e eu choraminguei


quando ela passou pela minha em um círculo tentador. Meus
braços estavam em volta do seu pescoço com tanta força que
quando ele se endireitou, mal consegui encontrar apoio no
chão. Mas eu não precisava disso. Ele puxou meu quadril para
cima e rolou entre minhas pernas.

Esse beijo foi um prelúdio sombrio pelo qual dançamos o


tempo todo em que nos conhecemos.

Era sujo e tudo que eu queria, tudo que eu sonhei dele. Ele
devorou minha boca, inclinando a cabeça para aprofundá-la ainda
mais, e eu roubei o fôlego de seus pulmões porque não seria eu a
me afastar.

Eu moraria lá, naquele beijo, se ele me deixasse.


Seu corpo tremia com a força de tudo o que ele derramava em
nosso abraço. Se ficássemos naquele elevador por muito mais
tempo, eu juro, eu me daria a ele ali mesmo.

Chegamos ao nosso andar, um ding imperceptível


anunciando a parada suave do elevador, e Aiden se afastou,
respirando com dificuldade, os lábios vermelhos do nosso beijo.

— Porra, finalmente — ele disse, puxando minha mão


enquanto eu exalava uma risada.

Corremos pelo corredor e, quando ele encontrou a porta


certa, quase deixou cair a chave na pressa de destrancar a porta.

Atrás dele, eu não pude evitar. Eu pressionei minha frente


em suas costas e comecei a desamarrar seu cinto. Uma mão
disparou, apoiando-se no batente da porta, e ele murmurou outro
palavrão quando eu soltei a fivela.

— Eu vou te dizer uma coisa antes de entrarmos nesse quarto


— eu sussurrei contra suas costas pesadas. Os músculos se
moveram contra a minha testa quando ele ergueu a cabeça. Meus
dedos ágeis puxaram o cinto de couro da fivela de metal. — Por
razões que podemos discutir mais tarde, preciso que você saiba
que nunca fiz isso antes. — Quando todo o seu corpo, grande e
largo, ficou imóvel como uma estátua, sorri. Deveria ter me deixado
em desvantagem por não poder ver seu rosto, mas nunca me senti
mais poderosa. Nunca me senti tão no controle do que queria.

Ainda estávamos no corredor e eu puxei sua camisa para fora


de sua cintura solta e deslizei minhas mãos sobre as cristas de seu
abdômen, que era todo pele escaldante e músculos
pesados. Quando tentei empurrar minha mão para baixo, Aiden
rosnou meu nome. Eu parei.
— Você é... você nunca...

Ele não conseguia dizer isso.

— Nunca — afirmei.

Aiden girou, segurando meu rosto com as mãos, os olhos


queimando em mim. — Por quê?

Eu dei a ele um sorriso tímido, alcançando suas costas para


terminar de empurrar o cartão-chave na porta. — Eu nunca quis
ninguém como eu quero você. As mãos ou a boca de mais ninguém
— sussurrei, ficando na ponta dos pés para chupar seu lábio
inferior na minha boca — e perder tempo com alguém que não
saberia como lidar comigo nunca foi atraente. — Eu beijei a coluna
forte de seu pescoço. — Mas acho que você sabe exatamente o que
fazer.

Com um gemido torturado, ele inclinou sua boca sobre a


minha, fechando a mão em meu cabelo. Nossas línguas duelaram
e eu o senti lutar com a maçaneta. Eu exalei uma risada quando
ele ainda não conseguia abrir.

No final do corredor, ouvimos o barulho do elevador, e ele


afastou sua boca da minha para enfrentar a entrada do quarto
novamente.

A porta se abriu com um clique e ele a empurrou com tanta


violência que ela bateu na parede. Aiden se virou, e o olhar em
seus olhos me deixou sem fôlego com antecipação, porque eu sabia
que ele estava prestes a destruir absolutamente qualquer fantasia
que eu tinha dele da melhor maneira. Ele estendeu a mão, pegando
um punhado do meu vestido e me puxou para frente enquanto
caminhava dentro do quarto.
— Você vai pagar por isso — disse ele, olhando brevemente
para seu cinto aberto.

— Promete?

A porta se fechou atrás de mim e, antes que ele pudesse se


mover, estendi a mão por trás do pescoço e soltei a alça que
segurava meu vestido. Antes que pudesse cair, ele se aproximou
de mim, agarrando minha nuca.

— Nada mais sai a menos que eu faça isso — ele sussurrou


contra meus lábios.

Minhas pálpebras se fecharam. Eu queria dizer algo atrevido


como, sim, chefe, ou talvez eu mesma faça. Mas nenhuma palavra
veio. Eu perdi a habilidade.

Com a minha expressão, ele assobiou por entre os dentes


cerrados. — Na cama — ele comandou.

Entrei no quarto, o coração batendo forte e as pernas


tremendo quando ele trancou a porta.
O clique da fechadura pode muito bem ter sido um tiro
disparando no quarto. A tensão em brasa correu por minhas veias,
com raiva por estar reprimida por tanto tempo. Antes de ir até ela,
pressionei minha testa contra o metal frio da porta do hotel e tentei
firmar minhas mãos. Elas não tremeram porque estava nervoso,
senti um leve tremor de apreensão com a minha capacidade de me
controlar.

Talvez fosse do jeito que eu a queria, ou por quanto tempo eu


resisti a algo que parecia irresistível.

Talvez seja porque eu fiquei tanto tempo sem esse tipo de


desejo - selvagem e indomado. Eu não tinha certeza se já tinha
sentido isso, e eu precisava desse momento de pausa para garantir
que não iria lançar uma besta sobre Isabel em minha necessidade
esmagadora de saciar o que ela mexeu em mim.

Muito pouco me surpreendia.

O fato de ela ser virgem quase me fez cair de joelhos naquele


corredor decorado de forma serena. Manter o passado de alguém
contra ele era o tipo de hipocrisia que eu odiava, mas o fato de que
o dela a trouxe até mim intocada por qualquer outro homem me
humilhou o suficiente para que eu conseguisse desabotoar minha
camisa calmamente enquanto me virei para onde ela esperava por
mim. A outra opção era rasgá-la na minha pressa de tocá-la,
saboreá-la, perder-me nela.

Eu ainda faria todas essas coisas.

Isabel se sentou ao pé da cama, as mãos apoiadas nas costas,


as pernas compridas cruzadas recatadamente.

A maneira como ela segurou meus olhos, a maneira como os


dela queimaram enquanto ela me observava se aproximar, era
como nenhuma imagem de qualquer virgem eu pudesse ter
conjurado.

Mais uma vez, lembrei-me da pantera negra que tinha visto


no zoológico. Eu posso ter tido um pouco mais de experiência do
que ela, mas ela estava olhando para mim como se eu fosse sua
próxima refeição. E assim que o pensamento cruzou minha mente,
seus olhos rastrearam a frente do meu peito, e ela lambeu o lábio
inferior.

Em vez de rondar sobre ela e prender as mãos sobre a cabeça


no colchão macio, tirei minha camisa e a deixei cair no chão.

Ela soltou um suspiro lento e eu estendi minha mão para que


ela se levantasse. Nem uma vez ela piscou timidamente, seu olhar
não vacilou, nenhuma palavra falada entre nós quando ela alisou
a palma de sua mão sobre meu peito. Minhas narinas dilataram-
se ao seu toque, fogo selvagem disparou no meu sangue. Fazia
tanto tempo, e eu a queria tão visceralmente.

Ocorreu-me enquanto passava as pontas dos dedos pela


linha graciosa de seu pescoço e cuidadosamente puxava seu
vestido para frente, que ela e eu éramos iguais, e era por isso que
eu não a esperava, nunca esperei encontrar um poço de
sentimentos como este. Porque eu nunca, em toda a minha vida,
conheci uma mulher que fosse meu contraponto exato.

Algumas pessoas encontravam uma alma gêmea naquele que


preencheu as lacunas e fechou seus pedaços. Mas ela e eu não
éramos assim. Isabel e eu éramos iguais no calor que nos
percorreu e, em vez de temperar as chamas, queimamos com
muito mais brilho juntos.

As alças entrecruzadas de seu vestido caíram com um


sussurro, e eu prendi a respiração quando ela ficou nua para
mim. Isabel não precisou de nenhuma orientação minha enquanto
puxava para baixo o pequeno zíper escondido na lateral do vestido,
e ele deslizou silenciosamente por seus quadris até que ela ficou
diante de mim em nada além de um pequeno pedaço de tecido.

Puxei a ponta do meu dedo pela frente de sua garganta,


sussurrando entre seus seios até que minha mão alcançou sua
cintura. Ela estava ofegante apenas com aquele único toque.

— Tão linda — eu murmurei.

Com a graça de uma deusa, ela se sentou na cama e ergueu


uma sobrancelha. — Sua vez.

Tirei minhas calças e ela rolou os lábios entre os dentes. Seu


corpo desse jeito, não foi nenhum sacrifício cair de joelhos na
frente dela. Eu enchi minhas mãos com sua carne e puxei seus
quadris contra meu estômago, Isabel agarrou minha cabeça contra
ela enquanto eu usava meus lábios, língua e dentes até que ela
jogou a cabeça para trás com um suspiro alto. Com a mão em seu
peito, empurrei suavemente até que ela se deitou na cama, e
rastejei para cima e sobre ela, lambendo uma linha sobre os ossos
do quadril, mordiscando a curva de suas costelas.

Quando eu dei uma sucção logo abaixo de seu umbigo, sua


pele tremeu de antecipação.

— Oh, por favor — ela sussurrou.

— Você esperou tanto tempo — murmurei contra o músculo


elegante em sua coxa. — Você pode ser paciente um pouco mais.

Sua cabeça balançou na cama com o uso de meus dedos,


arqueando as costas em uma curva deliciosa. — Eu não posso.

— Mãos na cabeça — eu instruí. — Se você conseguir fazer


isso sem colocar a mão em mim, eu vou te dar o que você quer.

Instantaneamente, ela obedeceu, e eu senti a besta rosnando


dentro de mim tremer perigosamente.

E então eu usei minha boca, suas pernas agarraram meus


ombros com força, mas ela manteve as mãos fechadas no
edredom. Quando ela finalmente quebrou, um gemido baixo
destruiu seu corpo. Com os punhos plantados em cada lado dela,
eu deslizei por todo o comprimento de seu corpo até que a cobri
completamente. Minha mão enrolou sobre a dela, onde ficou na
cama enquanto nos beijávamos. Ela ainda trabalhava com os
tremores secundários do que eu tinha feito com beijos intensos e
ferozes, inclinando sua cabeça para receber mais e mais e mais de
mim.

Apesar de sua inexperiência, Isabel tiraria de mim tudo o que


eu desse a ela, e já sabia que eu iria me servir de bandeja apenas
para mantê-la assim para o resto da minha vida.
— Eu não sei o que fiz para merecer isso — sussurrei contra
sua boca, e suas pálpebras se abriram. Uma de suas mãos segurou
o lado do meu rosto enquanto eu puxava uma de suas coxas para
perto do meu lado. — Para merecer você.

— Não se trata de merecimento, Aiden. — Ela me beijou. —


Não se trata de ser digno ou perfeito. Trata-se de encontrar a
pessoa certa e escolhê-la.

Isabel se moveu embaixo de mim com impaciência, mas eu a


beijei novamente, juntando seu corpo ao meu até que não
houvesse espaço, nenhum espaço para uma única respiração
entre nós.

— Eu estou me apaixonando por você — falei, porque não


podia deixar de contar. — E eu escolho você, toda teimosa — eu
empurrei para frente e ela se engasgou — frustrante, sexy — mais
um centímetro — e inteligente. — Com um estalo final, deixei
minha testa descansar na dela enquanto tentei recuperar o fôlego.

A respiração de Isabel escapou em um soluço. Então ela


agarrou meus quadris, as unhas cravando na minha pele.

— Você está bem?

Ela sorriu, parecendo mais do que um pouco bêbada. —


Sim. E lembre-se de quem se apaixonou por quem primeiro.

Eu exalei uma risada, puxando seus lábios com um beijo.


Indo para algo mais profundo, algo que a fez se mexer, puxando
minhas costas. Mas eu segurei lá, permitindo que nós dois nos
acomodássemos no sentimento.

— Mais, por favor — ela implorou.


— Estou apenas começando — sussurrei contra sua boca.

Enquanto me movia, lentamente no início, queria ter certeza


de que não a estava machucando. Então ela mordeu o lóbulo da
minha orelha, sugando-o em sua boca, e a corda do meu controle
se partiu em uma explosão irregular e confusa.

Não havia pensamento de sutileza ou ritmo, nenhum


pensamento de outra coisa senão nosso prazer mútuo.

O meu começou antes do dela, e eu lutei para ficar com ela


até o fim, mesmo quando meu peito arfou e minhas costas
arquearam quando o calor percorreu minhas veias.

Sufoquei os sons vindos da minha boca na curva de seu


pescoço brilhante de suor, e quando ela agarrou suas coxas contra
meus quadris, curvando as costas, meu nome em seus lábios, nós
gozamos juntos.

Eu caí sobre ela. A força de uma centena de homens não


poderia ter me movido por quão letárgico eu me sentia.

Ela me beijou suavemente, passando as mãos nas minhas


costas e no meu cabelo. Rolei para o meu lado, mantendo-a
ancorada contra mim, nossas pernas entrelaçadas enquanto nos
deleitávamos no sabor um do outro, o doce sabor de sua boca
contra a minha.

— Eu sabia que você iria me destruir — ela suspirou


feliz. Beijei ao longo de sua mandíbula, que ela inclinou para que
eu pudesse alcançar mais de sua pele.

— Você sabia?
Os dedos de Isabel traçaram as características do meu rosto
enquanto ela assentia. — No dia em que te conheci, acho que
sabia.

A linha flexível de suas costas estava úmida de suor, e toquei


nela o máximo que pude com movimentos longos da palma da
minha mão. — Você sempre foi mais esperta do que eu sobre isso.

Ela riu. — Não mais inteligente — ela corrigiu. — Mais atenta,


talvez.

Eu empurrei um pouco de seu cabelo despenteado de seu


rosto. — Se eu tivesse alguma ideia, provavelmente nunca teria
entrado pela porta.

Assim como eu esperava que ela fizesse, Isabel sorriu da


minha honestidade. — Eu sei.

Mesmo que estivéssemos totalmente emaranhados, tantas


partes do corpo unidas quanto humanamente possível, eu me
enrolei em torno dela e a inspirei. Era cafona e poético, o tipo de
pensamento que eu nunca tive tendência, mas Isabel cheirava
como a paz que eu procurava, que achava que ela não era capaz
de trazer. Irônico, já que ela explodiu minha vida, reconfigurando-
a em algo que só funcionaria com a presença dela, dentro dela.

— Estou feliz que você fez, no entanto — ela sussurrou. — É


aqui que devo estar.

Fechei meus olhos e a segurei contra mim. Era fácil imaginar


que cada passo da minha vida levou a este momento. Não apenas
o momento, mas para ela.

— Eu também — eu disse a ela.


Eventualmente, nós puxamos os cobertores sobre nós,
sussurrando um para o outro enquanto a noite avançava. Decidi,
depois de toques doces e suaves durante todo o tempo, não
ficaríamos mais na cama.

— Você me deve um banho — falei.

Seu sorriso era largo e feliz. — Eu devo?

Eu me aninhei em seu pescoço e decidi que ela cheirava


melhor ali. — Sim. Você tem ideia de como foi difícil saber que você
estava lá?

Sua mão deslizou entre minhas pernas e eu soltei uma risada


dolorida. — Diga-me.

Beijando seus lábios com força, extraí sua mão e saí da


cama. — Eu vou te dizer lá.

Uma vez que estávamos debaixo da água, a banheira de


imersão cheia com uma espuma de bolhas de cheiro limpo, Isabel
se virou e me encarou, dobrando suas longas pernas em volta das
minhas costas para que ela se sentasse no meu colo. Afastei o
cabelo molhado de seu rosto.

— Isso é o que eu imaginei — eu disse a ela.

Ela varreu algumas bolhas do meu ombro. — Sim?

Minha mão se moveu sob a água, e ela me lançou um olhar


irônico quando eu meramente tracei círculos ao lado de seu
peito. — Talvez eu tenha imaginado algo um pouco mais proibido
para menores.
— Acho que fiquei muito frustrada com você para imaginar
algo sujo — disse ela.

Eu engoli, escolhendo minhas palavras com cuidado. Antes


de falar, pressionei minha palma contra a pele de seu coração,
nada sexual no toque, apesar do peso quente dela com o qual eu
agora estava intimamente familiarizado. — Eu sinto muito por
continuar me afastando. Eu não sabia como — fiz uma pausa com
um leve aceno de cabeça — como fazer as pazes com você. Com o
que você me fez sentir — eu emendei.

Isabel passou os braços em volta do meu pescoço e me


abraçou, e ficamos sentados assim por um minuto silencioso, a
água batendo suavemente em nossa pele.

— Seguir em frente não é fácil — ela disse, dando um beijo


suave no meu ombro, então apoiando o queixo ali.

— Não é.

Ela se afastou e seu rosto estava tão aberto, tão doce, que tive
que beijá-la novamente. Mas quando me afastei, com a intenção
de aprofundar, ela colocou um dedo gentil na minha boca.

— Acho que você e eu nos apegamos às coisas que nos


machucam porque parece... mais fácil, de alguma forma — ela me
deu um sorriso suave. — No seu caso foi a sua dor, o que você
perdeu. E no meu era — ela franziu os lábios — mais ou menos a
mesma coisa. Eu também sofri uma perda, mas ganhei algo
realmente grande em troca. Eu sei que mantive um controle rígido
sobre as coisas que eu podia controlar para que nunca me sentisse
assim novamente.

Eu concordei. — Ninguém pode te machucar de novo se você


não os deixar entrar. — Meu coração apertou com a compreensão
que vi em seus olhos de meia-noite. Por tanto tempo e por tantos
motivos, eu a considerei errada, mas ela era exatamente certa.

— Você tem o poder de me machucar, Aiden Hennessy — ela


admitiu. Isabel deslizou a mão pela minha bochecha. — E eu estou
confiando que você não vai.

Meus braços se enrolaram em suas costas e suspirei contente


com a força em nosso abraço.

Quando ela finalmente se afastou, seus olhos pareciam um


pouco vermelhos, mas eu sabia que era melhor não comentar
sobre isso.

— Você sabe o que você me deve? — ela indagou.

— Hmm?

Ela se inclinou, sussurrando algumas das coisas proibidas


que eu tinha imaginado quando ela estava na minha própria
banheira, e quando saímos do banheiro, embrulhados em toalhas
felpudas e com a pele enrugada, entreguei cada uma delas...
— Eu não acredito em você.

Eu coloquei meu queixo em seu peito na manhã seguinte


antes do sol nascer no céu e sorri feliz. — É verdade.

— Você nunca experimentou sushi?

Com um aceno de cabeça, deixei meus dedos subirem em seu


abdômen. — Nada poderia soar pior para mim do que peixe cru
viscoso.

— Isso é um crime — ele murmurou, agarrando meus dedos


para beijar as pontas.

— Sua vez.

Ele suspirou. — Eu nunca fiz um bolo.

— Nunca assei bem — falei. — Adicione à lista.

A mão de Aiden varreu minha parte inferior das costas. — O


que mais nós temos?
Passamos a última hora tentando descobrir as primeiras
experiências que poderíamos experimentar juntos, a tentativa de
Aiden de tentar envolver sua mente em torno do fato de que eu
nunca dormi com ninguém antes dele. Em sua mente, ele me devia
algumas dessas, e a ideia disso me deixou tão quente e derretida
por dentro que eu não estava discutindo. Eu tinha acabado de
experimentar a noite mais perfeita da minha vida, mesmo que
saísse mancando deste hotel, usando meu vestido de dama de
honra da noite anterior.

— Nunca corremos uma maratona — comecei. — Nunca


fizemos um bolo com sucesso. Nunca usamos patins. E nunca
dormimos sob as estrelas.

Seu rosto assumiu uma expressão pensativa. — Eu


provavelmente não deveria admitir este.

— Diga-me.

Os dedos de Aiden deslizaram pelo meu cabelo e fechei os


olhos ao senti-los, absorvendo a afeição como uma esponja
seca. Foi tão bom que quase perdi o que ele disse.

— Eu nunca comprei flores para alguém.

Meus olhos se abriram. — Mesmo?

Ele balançou sua cabeça. — As flores faziam Beth espirrar


loucamente, então nunca dei nenhuma para ela.

Foi a primeira vez que ele a mencionou desde que saímos da


recepção, e eu estendi minha mão sobre seu peito, colocando um
beijo suave em sua pele. — Como ela era?
Aiden fechou os olhos e respirou fundo. — Engraçada. Ela
estava sempre sorrindo. Foi a primeira coisa que notei
nela. Inteligente. Gentil. Ela fazia tudo com facilidade.

Não era hora de conversar, apenas ouvir.

Ele colocou a mão sob a cabeça e olhou para mim. — E ela


fazia os melhores gingersnaps do mundo.

Eu sorri. — Anya fala muito sobre ela?

— Não tanto desde que nos mudamos para cá. Acho que estar
em nossa própria casa fez uma grande diferença. Estar em
família. Na Califórnia, éramos apenas nós três — disse ele. — Eu
acho... eu acho que ela sentia mais a perda dela lá.

Descansando minha bochecha em seu peito, pensei em seus


olhos azuis brilhantes, seu sorriso sem dentes, e me encontrei
sorrindo também.

Ele sentiu isso. — O quê?

— Só estou pensando em Anya. Ela é uma ótima criança,


Aiden.

Houve uma breve pausa antes de ele falar novamente. — Você


está pronta para assumir isso? Quando contarmos a ela, quero
dizer.

Decidimos no início de nossa conversa adiar o anúncio de


qualquer coisa para ela ainda. Em primeiro lugar, ganharíamos
terreno como casal. Mas essa era uma pergunta que eu poderia
responder facilmente.
Eu rolei para o meu lado e deslizei mais para cima na cama
para que eu pudesse beijá-lo. Não houve tempo para aprofundar
porque ambos precisávamos partir logo - ele para pegar Anya e eu
para ter um brunch em família na casa de Logan e Paige, enquanto
Molly e Noah abriam alguns presentes antes de partirem para sua
mini lua de mel.

— Eu já amo Anya — respondi. — Eu não caio de árvores por


qualquer um, você sabe.

Ele riu. — Espero que não.

— Essa é a minha família — eu disse. Colocando minha


cabeça em minha mão, aninhei-me ao lado dele novamente. —
Laços de sangue não significam nada no final, não quando se trata
disso. Logan e Paige, minhas irmãs, Emmett... eles são minha
família porque lutamos uns pelos outros todos os dias. Éramos nós
contra o mundo — eu sorri. — Temos mais alguns corpos agora,
Noah, Jude, Bauer e o pequeno Gabriel. Você e Anya — eu disse
calmamente. — Ela pode não saber ainda, mas ela acabou de
ganhar um monte de gente em seu canto.

Aiden me puxou para mais perto para um beijo. — Eu gosto


do som disso — ele murmurou.

Eu me peguei chorando quando ele me dobrou em seus


braços novamente. — Eu também — funguei baixinho, mas ele me
ouviu.

— O que é?

Eu balancei minha cabeça, limpando meu rosto. — Sempre


que algo grande acontecia comigo, eu nunca realmente entendia o
porquê. Mesmo se eu soubesse o que estava por vir, mesmo se
odiasse como me sentia, não percebi que cada peça tinha que
acontecer exatamente do jeito que aconteceu — puxei minha
cabeça para trás para poder ver seu rosto — para que eu pudesse
estar aqui com você. Mesmo as coisas difíceis.

Aiden deslizou o polegar pela minha bochecha.

Não tínhamos tempo para isso. Eu nem tinha certeza de que


fisicamente poderia aguentar mais, mas ele se moveu em cima de
mim, balançando suavemente entre minhas pernas,
compartilhando minha respiração, roubando meu coração e me
fazendo cair ainda mais apaixonada por ele do que já estava.

No meu ouvido, ele sussurrou todo tipo de coisa que me


empurrava cada vez mais alto, mesmo enquanto mantinha seus
movimentos lentos e constantes. Foi a velocidade relaxada e a força
implacável que finalmente me quebrou em uma onda quente.

Não foram fogos de artifício e explosões, mas algo ainda


melhor.

Foi para sempre.

Nós nos vestimos silenciosamente. Ele prendeu a parte de


trás do meu vestido e eu abotoei sua camisa, esticando-me na
ponta dos pés para beijar a ponta de sua mandíbula quando
terminei. E porque eu podia, deslizei sua jaqueta por cima do meu
vestido de dama de honra. Entramos no elevador de mãos dadas,
trocando sorrisos no reflexo brilhante na porta enquanto
descíamos para o saguão.

No meu carro, Aiden me deu um beijo profundo de despedida,


e levou alguns minutos para nos separarmos.
— Eu te ligo mais tarde — ele me disse. — Talvez possamos
descobrir algo amanhã se um dos meus irmãos puder ajudar com
Anya.

Eu concordei. — Acho que teremos que ter cuidado no


trabalho também, hein?

Ele cantarolou, deslizando meu cabelo do meu ombro para


dar um beijo no meu pescoço. — Ah, não. No primeiro dia em que
trabalharmos juntos, no segundo em que todo mundo for embora,
eu tenho uma outra primeira vez que quero tomar no meu
escritório.

Meu sorriso era enorme. — E qual seria?

Aiden levantou a cabeça e me prendeu com aqueles olhos


verdes. — Você na minha mesa.

— Ok — eu respondi sem fôlego. — Podemos trabalhar juntos


amanhã, talvez?

— Talvez possamos ambos aparecer acidentalmente uma


hora mais cedo.

— Adoro chegar ao trabalho uma hora mais cedo.

Sua risada era um som estrondoso de felicidade e, para ser


honesta, senti-me um pouco drogada com o som. Finalmente nos
despedimos e corri para o meu apartamento para vestir algumas
roupas limpas e prender meu cabelo em um rabo de
cavalo. Pegando um Pop-Tarts da despensa, eu estava de volta ao
carro e a caminho da casa de Logan e Paige menos de quinze
minutos depois.
E eu sabia que estava encrencada quando vi os recém-
casados.

Quando entrei na cozinha, toda a família ficou em silêncio


mortal.

Meu rosto devia estar vermelho brilhante. — Bom dia.

Molly estava sorrindo como uma lunática. Lia tentou


esconder o sorriso por trás do café. Claire, no sofá com Gabriel,
rolou os lábios entre os dentes.

Paige se aproximou, com um sorriso enganosamente doce no


rosto, e entregou-me uma caneca enorme. — Precisa de um pouco
de café, docinho? Você deve estar cansada.

Logan murmurou algo da mesa, e Emmett estendeu a


mão. Meu irmão enfiou a mão na carteira e entregou-lhe um dólar.

Peguei a caneca. — Eu dormi muito bem, obrigada.

Lia bufou.

— Vamos abrir presentes ou o quê? — perguntei.

Molly colocou uma caixa de lado. — Já começamos.

— Aiden não quis vir com você? — Paige perguntou,


completamente implacável.

Tomei um gole lento do café e segurei seus olhos.

— Ele não estava com fome?

— Paige — Logan disse em um tom de advertência.


Ela piscou inocentemente. — Sim, marido?

Ele olhou para ela. — Se ela não quiser falar sobre isso, ela
não precisa.

— Você pode me dizer mais tarde — ela sussurrou.

Emmett balançou a cabeça. — Essa família é louca. Eu vou


lá fora.

— Vou com você, cara. — Bauer se levantou do sofá com


beijos na bochecha de Gabriel e na boca erguida de Claire. — Jude,
você queria me mostrar essa coisa?

O grande britânico se levantou com um aceno de cabeça,


pegando uma bola de futebol do chão. — Estou saindo. — Ele
beijou Lia.

— Nossa — eu murmurei. — Eu sei como limpar uma sala.

— Provavelmente são todos os feromônios de todo o sexo —


acrescentou Lia, prestativa.

— É isso! — Logan gritou. — Estou fora daqui.

Meu irmão saiu de casa, a risada das minhas irmãs o


seguindo enquanto ele abria a porta deslizante.

Noah fez uma careta para a pilha gigante de caixas


desembrulhadas, então deu uma olhada em Paige e Lia. — Vocês
podem por favor parar enquanto eu tenho que estar aqui?

Paige deu um tapinha em sua bochecha. — Para o meu genro


favorito? Claro.

— Agora você para? — indaguei.


Paige me deu uma piscadela, então gesticulou para Molly e
Noah. — Continuem.

Molly começou a desembrulhar uma pequena caixa, mas me


deu um sorriso caloroso. — Estamos muito felizes por você.

— Eu sei — respondi. Sentei-me no sofá ao lado de Claire e


estendi meus braços para o bebê. Ela o entregou com um pequeno
sorriso. Seu corpo quente aconchegou-se perto, eu inalei o topo de
sua cabeça. — Deus, devemos engarrafar este cheiro. Faríamos
uma fortuna.

Eu segurei meu sobrinho longe de mim, rindo quando ele me


deu um sorrisinho tímido.

Claire me cutucou com o pé. — Como foi? — ela sussurrou.

Eu soprei suavemente no rosto de Gabriel, sorrindo quando


seus olhos se arregalaram, sua boca pegajosa se abrindo em
surpresa feliz. — O casamento foi ótimo — respondi. — O que você
já sabe, porque estava lá.

Ela revirou os olhos com a minha evasão.

— O que é isso? — perguntou Noah.

Molly estudou algo em sua mão, mas não consegui descobrir


o que era. — É um anel, mas não consigo dizer qual é o design.

— Existe um cartão? — Paige perguntou.

Noah pegou um pequeno envelope branco e o abriu, puxando


um cartão. Seu olhar disparou para Molly. — Eu acho que você
deveria ler este.
Molly pegou o cartão e seus olhos se arregalaram. Ela
entregou o anel a Noah e olhou para cada uma de nós.

Ela soltou um suspiro profundo e começou a ler.

— Na Espanha, você pode encontrar laranjeiras em qualquer


lugar que você olhar. É por isso que são as flores mais
tradicionalmente usadas em casamentos aqui. Para os espanhóis,
ou aqueles de nós que fizeram deste lugar um lar, a flor de
laranjeira representa alegria e felicidade, especialmente para um
casal recém-casado. — Ela fez uma pausa e Noah moveu a cadeira
para mais perto para poder passar um braço em volta do ombro
dela. — Este anel foi dado a mim pela mãe de meu marido no dia
em que nos casamos, e pedi a bênção dela para enviá-lo a você.
Encontrei a felicidade neste caminho da minha vida e espero que
você também, Molly. Obrigada pelo seu convite. Eu sei que não o
mereci. Além do meu desejo de que você experimente a mesma
alegria que esta flor representa, acho que o melhor presente que
posso dar a você é permitir que você e suas irmãs vivam no
caminho que vocês criaram desde que parti.

A sala ficou em silêncio, e eu aninhei meu rosto no cabelo


macio e felpudo de Gabriel. Eu não tinha certeza de como me
sentia, mas não pude deixar de pensar no que disse a Aiden depois
de ouvir as palavras de Brooke. Não se trata de merecer, de quem
é perfeito ou digno. Trata-se de encontrar a pessoa certa e escolhê-
la.

Olhei para minha família e sorri.

— Como nos sentimos sobre isso? — Paige perguntou com


cuidado.

— Nós? — Claire disse com um sorriso.


— Sim. — Paige gesticulou vagamente. — Você sabe, o nós
coletivo. Vocês. Qualquer que seja.

Molly pegou o anel de Noah e o estudou. — É bonito. Acho


que estou achando um pouco engraçado termos prendido a
respiração para ver se ela viria, mas a resposta dela estava sentada
bem aqui em uma pilha de presentes provavelmente nas últimas
duas semanas.

Lia suspirou. — Espanha, hein? Com um marido?

— Eu acho. — Molly estudou o bilhete novamente, então o


entregou por cima da mesa para ela.

Claire estendeu a mão e Gabriel a agarrou. — Acho que é um


bom sinal ela estar ciente de que sua presença, mesmo tendo sido
convidada, pode não ser a coisa mais saudável para todos
nós. Talvez ela esteja amadurecendo — falou com um sorriso triste.

Devolvi Gabriel para Claire quando ele estendeu a mão para


ela, e então pisquei quando percebi que todos na sala estavam
olhando para mim.

— O quê?

— Quer dar um soco em alguma coisa? — Paige perguntou.

Eu respirei fundo, as sobrancelhas abaixadas. — Não, na


verdade não.

Molly sorriu.

Meus dedos agarraram a barra da minha camisa. — Só de ver


o quadro geral, eu acho. Estamos todos no caminho que
deveríamos estar — dei de ombros. — É difícil ficar zangada com
ela se for esse o caso.

Molly trocou um olhar com Lia, e Lia trocou um olhar com


Claire. O sorriso de Paige se curvou lentamente.

— Oh, meu Deus, o quê? — perguntei.

— Só há um motivo para você estar tão tranquila agora —


disse Lia. — Você totalmente transou na noite passada.

Noah ergueu as mãos e saiu.

Eu encontrei seu olhar com uma sobrancelha levantada. —


Você adoraria saber, né?

Minhas irmãs caíram na gargalhada.

Paige segurou meus olhos. — Quantos pedaços de bolo você


comeu na noite passada, Iz?

Lentamente, levantei três dedos.

Paige sorriu, e eu escondi meu sorriso atrás do meu café


novamente. Talvez um dia eu compartilhasse detalhes, mas por
enquanto eram todos meus.
— O meu ainda está torto.

Aiden inclinou a cabeça para o lado. — Não está...

Eu dei uma olhada nele.

— Ok, sim, seu bolo está torto. — Ele deu um beijo na minha
bochecha enquanto movia seu bolo perfeitamente nivelado ao lado
dele. — É um pouco impressionante como você é ruim nisso.

— Obrigada — eu respondi secamente.

Ele deu um tapa na minha bunda. — Você ainda fez um bolo


com sucesso.

Eu olhei para o assado em questão. — Eu não tenho que


decorar, tenho?

Aiden veio atrás de mim, grandes mãos enrolando em volta


dos meus quadris. — Sim.

Ele não podia ver meu rosto, mas eu estava olhando feio.
— Nós poderíamos fazer isso em dobro — ele sugeriu.

— De que maneira?

Sua cabeça caiu e ele falou contra minha nuca. — Primeira


vez lambendo o glacê do corpo de alguém.

— Combinado. — Eu me virei, segurando sua camiseta em


minhas mãos para que eu pudesse puxar sua cabeça para um
beijo.

E assim era, nosso jeito, por algumas semanas após o


casamento de Molly. Por causa de Anya, tínhamos pequenas
janelas de tempo planejadas com antecedência para que
pudéssemos alcançar alguns primeiros juntos. Apenas em um
deles ela se juntou a nós, sem perceber que ele e eu estávamos
considerando um encontro porque ele só me tocou quando ela
estava em outro quarto.

Logan nos convidou para um jogo do Wolves, e nós o


assistimos da primeira fila, logo atrás do banco dos Wolves. Anya
passou a maior parte do tempo olhando com olhos arregalados
para os jogadores e a equipe. Duas vezes, ele roubou um beijo, mas
foi isso.

A patinação acabou com ele caindo três vezes porque não


conseguia me acompanhar.

Além disso, eu usei shorts curtos que ele disse serem


“categoricamente injustos” quando ele deveria estar mantendo o
equilíbrio.

A família dele sabia que estávamos namorando, mas eu não


tinha falado com nenhum deles desde que começamos,
principalmente porque queríamos que Anya se envolvesse quando
eu fosse à casa dos pais dele pela primeira vez.

Isso mudou logo após a marca de duas semanas.

Sentei-me atrás da recepção um dia depois de assarmos


nossos bolos no meu apartamento, atualizando alguns arquivos de
novos membros. Alguém abriu a porta, que estava destrancada
porque estaria dando uma aula em cerca de uma hora.

Olhando para cima com um sorriso educado, congelei quando


a reconheci da foto de Aiden.

Seu cabelo estava preso no alto da cabeça e ela tinha uma


bolsa de ginástica pendurada no ombro. — Você deve ser Isabel.

Ela colocou as mãos na mesa da frente e estudou-me


descaradamente.

Eu estendi minha mão. — Você deve ser Eloise. É um prazer


conhecer você.

— Vou assistir a sua aula hoje — ela me informou. — Decidi


que valia a pena faltar um dia à escola e dirigir de volta para a
cidade.

Com um sorriso, entreguei a ela um formulário. — Você está


aqui para formar sua própria opinião?

— Aiden me garante que você é um ser humano glorioso,


então estou inclinada a acreditar nele — ela sorriu. — Mas sim,
estou aqui para decidir sobre você.

Eu me levantei, comecei a envolver minhas mãos. — Bem,


Eloise, quando terminar aqui, ou me odiará ou me
amará. Normalmente não há muito meio-termo comigo. — Inclinei
minha cabeça em direção ao seu escritório. — Ele sabe que você
está aqui?

— Não. Meus irmãos apostaram dez dólares que eu não


conseguiria fazê-lo participar da aula junto comigo, especialmente
se você estiver ensinando.

— Vou acrescentar vinte para que ele se junte.

Ela riu. — Não acho que apostaria contra você, Isabel Ward.

— Eu vou falar com ele enquanto você preenche isso. —


Entrei no escritório de Aiden e bati suavemente antes de
entrar. Ele estava lendo alguns artigos sobre musculação, e em
seu rosto estavam aqueles óculos sexy como o inferno. — Eu acho
que você deveria fazer minha aula hoje.

Ele girou na cadeira com uma expressão pensativa no


rosto. — Sim? Por que isso?

Aproximei-me lentamente, terminando o segundo envoltório


com um puxão apertado na tira de velcro no final. — Talvez eu
queira torturá-lo um pouco.

Aiden alargou as pernas para que eu pudesse ficar entre elas,


deslizando as mãos pelas minhas coxas até que ele prendeu meus
quadris com os dedos. — Você me tortura só de andar por aqui.

Apoiando a mão no topo de sua cadeira, inclinei-me para lhe


dar um beijo. Ele segurou minha nuca e deslizou sua língua contra
a minha com um zumbido satisfeito.

— Ok — disse ele contra meus lábios. — Eu vou fazer a sua


aula.
Eu sorri.

— Com uma condição — acrescentou.

— O que é isso?

Seus olhos seguraram os meus firmemente. — Eu quero que


você venha hoje à noite depois que Anya for para a cama.

Minhas sobrancelhas se ergueram. — Mesmo?

Aiden se levantou da cadeira e segurou meu rosto em suas


mãos. — Eu sinto falta de segurar você enquanto eu durmo. Por
mais divertido que seja o sexo no escritório, ou na sua cama
apertada em seu apartamento, eu quero saber como é subir na
minha cama com você exatamente onde eu a imaginei.

Soltei um suspiro profundo. Ele beijou minha testa, mas


deixou-me pensar.

— Você não está preocupado que Anya vá acordar?

Ele balançou sua cabeça. — Ela não acorda no meio da noite


há semanas, e nas últimas vezes ela me chamou. Enquanto
definirmos um alarme, ela não terá a menor ideia.

Eu balancei a cabeça, excitação crescendo como eu


imaginava. — Combinado.

— Você vai pegar leve comigo na aula?

Na ponta dos pés, puxei seu lóbulo da orelha com os dentes,


saboreando a forma como ele aumento seu aperto quando eu o
fiz. Em seu ouvido, eu sussurrei: — Seu desejo, porra.
Seus olhos prometeram retribuição um milhão de vezes
durante a próxima hora e meia. Quando ele viu sua irmã, quando
eu liberei toda a minha dominatrix interna sobre ele e seu peito
arfou encharcado de suor, quando eu fiz a aula
esfriar. Provavelmente levei um pouco longe demais quando me
abaixei na frente dele e disse-lhe para abaixar a bunda mais um
centímetro na prancha que estava segurando.

E porque Anya foi deixada logo antes de terminarmos, não


haveria sexo na mesa para ele me dar o troco.

Mas ele se manteve firme. A noite toda.

Com o céu escuro e minha mochila pendurada nos ombros,


bati suavemente. Ele abriu a porta e sem uma palavra de
saudação, ele mergulhou, pegando-me por cima do ombro.

— Aiden — eu ri sem fôlego. — Ponha-me no chão.

— Confie em mim, você não quer isso. — Ele caminhou para


seu quarto.

— Eu não?

— Não, porque uma vez que seus pés tocarem o chão, você
vai pagar por isso.

Eu sorri, o cabelo caindo em direção ao chão enquanto ele


fechava a porta atrás de nós. Ele me jogou e eu quiquei no colchão
com uma risada.

E oh, ele me deu o troco.

Minhas roupas, praticamente arrancadas do meu corpo,


terminaram em uma pilha no chão ao lado da dele. E ele começou
a me torturar, levando-me ao limite, mas nunca me deixando ir até
o fim, repetidamente, até que eu comecei a tremer.

Aiden me manteve de bruços, forçou-me a segurar o edredom.

No momento em que ele nos tirou de nossa miséria, eu estava


inconsciente, arqueando meus quadris para buscar o final
explosivo de um dia inteiro de antecipação ansiosa. Ele me cobriu
com seu grande corpo, segurando-me no lugar, movendo-se tão
lentamente que quase chorei.

Ele ficou parado, arrastando seus lábios sobre minha


bochecha, parando apenas quando sua boca estava em minha
orelha.

— Eu te amo — ele sussurrou.

A lentidão acabou.

Gentil se foi.

Em seu lugar foi feroz e brutal. Não demorou mais do que


cinco segundos, a força contundente de suas mãos segurando as
minhas, e eu fui lançada indefesa para um lugar que eu realmente
não sabia que existia. Ele gozou comigo.

Minha coluna praticamente estalou com o calor que ele


puxou de dentro de mim, e consegui segurar meus sons no
travesseiro perto do meu rosto.

Ficamos deitados sem ossos e moles por cerca de dez


minutos, apenas tentando recuperar o fôlego.

Eu não tinha certeza de como me sentia completa antes desse


homem, antes desse amor.
Ele me observou vestir minha camiseta e shorts com as
pálpebras pesadas, abrindo os braços para que eu subisse na
cama ao lado dele.

— Isso é o que eu precisava — disse ele no topo da minha


cabeça. — Obrigado.

Suspirei. — Obrigada.

Seu peito tremia de tanto rir.

Conversamos um pouco e, quando comecei a adormecer, seu


dedo traçou a borda inferior do meu lábio.

Eu cantarolei. — Isso é bom.

— Você disse isso — acrescentou ele calmamente. — A noite


em que você esteve aqui.

Abrindo meus olhos, eu o estudei no quarto escuro. — Eu


disse?

Aiden acenou com a cabeça.

— Estou feliz por ter a chance de dizer isso de novo — eu


bocejei.

— Isabel — ele disse, me cutucando para acordar.

— Hmmm?

— Você sabe que vai ter que se casar comigo, certo?

De olhos ainda fechados, minha boca se curvou em um


sorriso. — No que diz respeito às propostas, eu dou quatro.
Ele riu baixinho. — Apenas fazendo uma declaração
geral. Você me arruinou para dormir sozinho.

— Bom. — Virei-me para o lado e ele dobrou seu corpo ao


redor do meu, enterrando o nariz na minha nuca. — Porque sim,
eu vou ter que me casar com você, Aiden Hennessy.

Dormimos assim, profundamente, até que senti um leve golpe


no braço.

Quando pisquei, vi um pequeno corpo de pé ao meu lado da


cama. Meu estômago embrulhou instantaneamente com a forma
como ela poderia reagir.

Anya sorriu para mim. — Eu sabia que era você — ela


sussurrou.

Sentei-me e olhei para um Aiden ainda adormecido,


esparramado de costas com uma mão pousada em seu peito.

Meu coração disparou quando coloquei minhas pernas para


o lado da cama e ela subiu no meu colo.

— Você sabia, hein? — eu perguntei a ela baixinho.

Anya acenou com a cabeça, brincando com a ponta da minha


trança pendurada no meu ombro.

— Quer que eu te leve de volta para a cama, querida?

Ela acenou com a cabeça novamente, e sem acordar Aiden,


subimos as escadas e, uma vez em seu quarto, segurei as cobertas
em sua cama. Ela puxou os cobertores até o queixo e olhou para a
foto de Beth. — Está atrás — disse ela. — Você pode vê-la.
Cuidadosamente, peguei a moldura e estudei seu rosto. Ela
era bonita. Um grande sorriso e linhas de riso que me disseram
que ela tinha feito as duas coisas com frequência.

— Atrás da foto?

Anya concordou.

Tirei a parte de trás da moldura e um pedaço de papel


dobrado estava preso atrás da imagem de sua mãe.

Quando o abri, foi difícil entender o que estava vendo. Anya


apontou para o lado, letras que eu realmente não conseguia
entender.

— Ela me disse que eu saberia — disse Anya. — Mesmo se


você não correspondesse à lista, eu saberia.

Minha garganta engrossou e eu afastei seu cabelo de sua


testa. — Sim?

Anya piscou lentamente, o sono a puxando. — Eu escrevi na


lateral do papel, mas não acho que papai pudesse ler essa
parte. Mamãe disse que eu saberia por que ela nos faria mais
felizes. E é você.

Uma lágrima escorreu pela minha bochecha quando me


inclinei para dar um beijo leve em sua testa. Seus braços
envolveram meu pescoço em um aperto forte.

— Eu te amo — ela sussurrou.

— Eu também te amo.
Eu me levantei da cama e me virei, parando quando vi Aiden
nos observando da porta. Ele vestiu uma calça de dormir de
algodão, os braços cruzados sobre o peito e um pequeno sorriso
brincando em sua boca. Seus olhos estavam vermelhos.

— Fomos pegos — eu sussurrei.

Ele estendeu a mão e eu a peguei.

— Pronta para voltar para a cama? — ele perguntou.

Eu concordei.

Eu estava pronta para tudo isso com ele. Com ela. Acima de
tudo, eu estava pronta para começar nossa vida juntos e, quando
adormeci em seus braços, tive a sensação de que havia acabado
de acontecer.
Seis meses depois

— Não é muito bonito.

Baixinho, ri da expressão duvidosa de Anya. Sentamo-nos na


cama do meu quarto com Aiden, e na frente dela estava o cofre
esmaltado rosa que eu encontrei online.

— É rosa, então isso é alguma coisa.

Ela me deu uma olhada. — Posso ter uma nova cor favorita
no próximo ano. O que vou fazer com todas as minhas coisas
secretas, então?

Eu cantarolei. — Bem, talvez possamos pintar com spray se


isso acontecer.

Ela olhou para mim. — Você nunca mudou o seu?

Com um aceno de cabeça, pesquei a chave da pequena bolsa


e balancei a fechadura até que pudesse abrir a caixa. — Foi um
presente da minha avó - a mãe de Logan. Ela sabia que eu
precisava de um lugar que fosse só meu para manter todas as
minhas coisas especiais que deveriam ser mantidas em segurança.

— O que tem nele? — Anya se inclinou para frente.

Mostrei a ela cada item, explicando de onde vinham, porque


achava que eram importantes. Quando cheguei à carta que escrevi
para o pai dela, fiz uma pausa antes de retirá-la.

— Isso é algo que nunca mostrei a ninguém — disse a ela.

Seus olhos se arregalaram. — Mesmo?

Ao meu lado estava outro envelope que não mostrei a


ninguém, mas chegaríamos lá eventualmente.

Com muito cuidado, peguei o papel dobrado e balancei a


cabeça ao ver minha caligrafia elegante, os rabiscos de tinta roxa
ao longo da lateral.

— Escrevi esta carta quando era adolescente.

Ela ficou de joelhos, os dentes puxando seu lábio inferior em


seu interesse. — Você nunca a enviou?

Abrindo o papel, eu balancei minha cabeça. — Eu decidi que


deveria permanecer em segredo.

Era um risco mostrar a ela. Mas ao longo do ano passado,


essa jovem se tornou minha companheira embutida, leal até a
morte, além de seu pai.

Quando entreguei o papel a ela, o diamante do meu anel de


noivado iluminou-se.
Anya pegou a carta, seus olhos se arregalando na primeira
linha.

— É para o meu pai — ela sussurrou.

Eu concordei.

— E você guardou todo esse tempo? — Seu dedo acompanhou


as palavras no papel pautado enquanto ela lia.

— Muito louco, hein?

Os olhos de Anya brilhavam de excitação. — Como você sabia


que iria conhecê-lo?

— Eu não sabia — eu respondi simplesmente.

Quando ela terminou de ler, ela dobrou cuidadosamente o


papel e o colocou de volta na caixa de metal preta.

Eu a conhecia bem o suficiente agora para saber que ela


estava processando, então gentilmente girei meu anel enquanto
esperava que ela falasse.

Ele tinha me dado um mês atrás, amarrado em uma fita, ao


redor do caule de um buquê gigante de margaridas.

Foi no mesmo dia que fui morar com ele e Anya, depois de
cinco meses tentando arduamente fingir que não estávamos
basicamente morando juntos.

Anya olhou para sua caixa de metal novamente e para mim.

— Estou feliz que você não a enviou para ele.

Minhas sobrancelhas se ergueram. — Sim?


— Eu acho que talvez ele se lembrasse disso quando te
conheceu na academia. E ele precisava que você fosse alguém
novo.

Um sorriso se espalhou pelo meu rosto com o quão


cuidadosamente ela escolheu suas palavras.

— Eu acho que você pode estar certa — eu disse calmamente.

Ela deslizou para frente na cama e me deu um abraço


apertado. Eu beijei o lado de sua cabeça.

— Amo você, Iz.

— Também te amo — sussurrei.

Quando ela pulou da cama, a caixa agarrada ao peito, ela


olhou para a minha novamente. — Você vai contar ao papai sobre
a carta?

— Que carta? — ele perguntou da porta.

Ela olhou para mim com os olhos arregalados. — Desculpe.

Eu ri. — Tudo bem.

Anya correu para seu quarto, a batida de seus pés na escada


fez Aiden balançar a cabeça.

Quando ele fechou a porta do quarto e se aproximou da cama,


estudei a maneira como ele parecia em sua camisa de botão e
calças pretas.

— Eu gosto desse visual — eu disse a ele.

— Sim?
Ele cuidadosamente afastou a caixa de metal e me empurrou
de volta para a cama. Minhas mãos puxaram sua camisa para fora
de sua cintura quando ele me deu um beijo de girar a mente. Aiden
sempre me cumprimentava assim quando estávamos sozinhos -
como se ele não me visse há semanas - e eu nunca, jamais me
cansaria disso.

Seus beijos desceram pelo meu pescoço enquanto eu me


movia sob ele, desenganchando seu cinto.

— De que carta ela está falando? — indagou, puxando a alça


do meu sutiã para baixo e dando um beijo de sucção no meu
coração.

— Umm, nada?

Ele ergueu a cabeça, lançando-me um olhar.

— É bobo — falei. — Mas eu queria que ela visse que tipo de


coisa eu mantive no cofre da minha avó.

Aiden rolou para o lado, pegando a caixa com uma grande


mão e puxando-a para mais perto de nós. — Mostre-me.

Com o rosto em chamas, puxei a carta e a entreguei a ele.

Seu sorriso era tão satisfeito, tão divertido quando ele chegou
à parte sobre o vestido roxo que ele começou a rir.

Eu cobri meu rosto. — Agora você sabe por que eu


literalmente tropecei em nada quando te conheci.

Ele puxou minhas mãos para baixo e pegou minha boca


novamente. — Eu amo que você a guardou — ele murmurou. —
Isso só mostra que você sempre teve um bom gosto.
Eu bati em seu peito. — Claro que você acha isso.

Aiden se estabeleceu entre as minhas pernas enquanto nos


beijávamos, sua mão alisando para cima e para baixo nas minhas
costas, estabelecendo-se na minha bunda. Mesmo que
pudéssemos ir mais longe - Anya sabia que não deveria abrir a
porta quando ela estava fechada - eu amei que ele parecia tão
contente em me beijar em nossa cama grande no meio do dia.

Ele nos rolou, puxando minha camisa para cima para que
pudesse alcançar mais da minha pele. Quando me acomodei de
costas, arqueando o pescoço, o papel amassado me congelou.

— O quê? — ele perguntou.

Minha mão se atrapalhou na cama até que encontrei a borda


do envelope. — Outra coisa para mostrar a você — eu sussurrei.

Suas sobrancelhas baixaram quando ele o pegou. Minhas


mãos alisaram seus braços quando ele o abriu, e meu coração
disparou quando ele viu o começo do que estava dentro.

— Isabel — ele respirou. Seus olhos se fixaram nos meus. —


Sério?

Eu balancei a cabeça, olhos lacrimejando com a admiração


que vi em seu rosto. Aiden passou o nó do dedo sob o olho
enquanto puxava cuidadosamente a imagem do ultrassom do
envelope.

Ele olhou para ela, depois para mim.

— Estamos tendo um bebê? — sussurrou.


Meu queixo estremeceu. Eu não conseguia nem acenar em
afirmação porque eu tinha me aberto em lágrimas felizes e
bagunçadas.

— Eu sei... — fiz uma pausa quando minha voz falhou. — Eu


sei que é mais cedo do que planejamos, e eu queria ter certeza
antes de te contar.

Ele me envolveu em seus braços com tanta força que eu mal


conseguia respirar. — Nós vamos ter um bebê — ele repetiu, a voz
irregular.

Eu me agarrei a ele, as lágrimas escorrendo pelo lado do meu


rosto, desaparecendo na linha do cabelo. Sua boca estava na
minha no momento seguinte, e quando ele se afastou, seus olhos
estavam vermelhos e cheios de felicidade.

— Isso significa que vou me casar com você mais cedo?

Eu ri. — Eu me casaria com você amanhã, Aiden Hennessy.

Descansando sua testa contra a minha, ele deu um suspiro


trêmulo. — É claro que faríamos isso antes do planejado.

Eu o beijei novamente. — Isso funciona para nós, eu acho.

Aiden segurou o lado do meu rosto, olhou para mim com


tanta adoração que quase comecei com o choro confuso de novo.

— Sim. Sim.

— Devemos ir dizer a Anya?


— Daqui a alguns minutos — disse ele, continuando a
levantar a minha camisa. Ele beijou minha barriga com reverência,
depois puxou o tecido até o tirar de mim.

— Apenas alguns minutos? — perguntei ceticamente.

Aiden se ajoelhou entre as minhas pernas e arrancou sua


camisa. — Você duvida de mim?

Com um sorriso suave no rosto, puxei-o de volta para um


beijo. — Nunca — sussurrei contra sua boca.

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