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Para todos aqueles que já se perderam em si mesmos.

Índice:

Prefácio

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Posfácio
Prefácio

Olá. Se você está vendo isso, provavelmente deve ter resolvido dar uma chance para o
meu livro, seja pela capa ter chamado sua atenção, ou por achar interessante o tema da
minha história… bem, o motivo para estar lendo isso não é relevante no momento.
Estou escrevendo isso para trazer alguns avisos a você.

Pode ser que você fique levemente (ou ligeiramente) confuso em algumas partes dessa
leitura, e eu compreenderia isso. Nesse caso, recomendo fechar o livro, respirar bem
fundo, juntar seus pensamentos e retomar a história novamente.

Para você se ambientar um pouco nessa história, vou explicar sobre o que ela fala: O
livro conta sobre Alex, um adolescente com uma vida ordinária, que vivia sua rotina
tediosa… Até achar uma forma de conseguir ter sua “vida dos sonhos”.

Dito isso, pode começar! Bem-vindo à “Nada”, o meu livro.


Capítulo 1: Vida dos sonhos

T udo começou naquela fatídica manhã de segunda-feira. Desde o momento em


que eu acordei, já senti que alguma coisa iria acontecer. Devia ter ficado em
casa naquele dia, mas que desculpa iria dar para meus pais? “Ah, vou faltar hoje
porque tive um pressentimento ruim”? Não iria funcionar.

Então, contrariando minhas vontades, levantei-me da cama e fui tomar banho.

— Bom dia, filha! — Minha mãe me cumprimentou. É, acho que eu esqueci de


informar uma coisa. Ninguém me chama de Alex, e sim de… Sara.

Como eu odiava aquele nome! S-a-r-a. A forma como ele soava era irritante, e o nome
“Alex” me cairia muito melhor. Pena que meus pais não pensaram assim quando foram
me registrar.

Eu até tentei falar com eles sobre… você sabe, a forma na qual eu me identificava, mas
eles não foram muito receptivos. Tipo, meu pai disse: “Foi mal, mas eu não vou te
chamar de Alex, na sua certidão de nascimento está escrito o nome Sara. ”

Aquilo me chateava bastante. Desde a hora que eu acordava, até a hora de dormir, eu
tinha que fingir ser alguém que eu não era. Todo segundo da minha vida, sem descanso.

Enfim, não podia fazer nada em relação a isso, então só cumprimentei ela de volta e
entrei no banheiro. O banho foi bom, me despertou, mas na hora de passar na frente do
espelho do banheiro, tive que ver aquela imagem terrível: eu.

Eu odiava minha aparência, também. Poderia escrever um capítulo inteiro sobre como
odiava isso, mas seria perda de tempo. Não é algo fácil de mudar.

Minha família punha muita pressão sobre mim. Eles viviam falando como aquela
parente nossa engordou, e apontavam para pessoas acima do peso, na rua. Tipo, quem
faz isso!?
Por isso, toda vez que eu aumentava um quilo na balança, ou quando alguém comentava
que eu estava comendo bastante, sentia culpa e medo. Tudo aquilo era muito cansativo,
mas o que eu podia fazer?

Vesti meu uniforme, que eu também odiava, pois era muito transparente e mostrava
meu sutiã. Dei um suspiro e avisei meu pai que estava pronto. No caminho, olhei para
as ruas da minha movimentada cidade.

As ruas estavam movimentadas como sempre: seis e meia da manhã, horário de pico da
minha cidade. Ônibus lotados de pessoas, como sardinhas espremidas em uma lata.
Estudantes apressados caminhavam para seu destino. Alguns adultos esperando seu
transporte, e no meio de todos aqueles movimentos, estava eu. E meu pai.

No inferno, digo, escola, as aulas passaram rapidamente, para minha alegria. Seria legal
se eu pudesse escrever sobre como me diverti com meus amigos durante o intervalo, ou
sobre como me senti feliz quando vi que tirei 10 na prova de álgebra, mas nenhuma
dessas duas coisas ocorreu de verdade.

Eu não tinha amigos na escola. Eu odiava aquele lugar, e todos me evitavam, como se
eu tivesse alguma doença contagiosa. Os únicos que falavam comigo eram os
professores e alguns agentes de pátio. O resto me ignorava mesmo.

Eu havia tentado interagir uma vez, mas fui colocado de volta no meu lugar. Essa
situação ocorreu no segundo mês de aula; todas as “panelinhas” já tinham sido
formadas, e foi aí que o peso de ser o excluído da sala me atingiu. Perdão, mas eu não
queria aquele rótulo para mim! Por isso, tentei mudar aquela situação… mas falhei
miseravelmente.

Tentei falar com um grupo de meninos que ficavam juntos durante o intervalo, e foi um
desastre total, pelo fato de que eu travei. É meio complicado de explicar, mas eu sempre
“travo” em situações em que eu preciso falar com outras pessoas. Aí, eu falo coisas sem
nexo, ou acabo gaguejando.

Eu consegui conversar normalmente com eles por alguns minutos, até que eu resolvi
perguntar: “Gente, vocês sabem onde é o outro nono ano? ”. Só que eu me embolei, e
acabou saindo: “Gente, vocês sabem onde é o ano novo? ”
Eles não perdoaram e riram da minha cara. Aí um falou uma coisa meio chata de se
ouvir: “Sem ofensas, mas… Por que você está falando com a gente? Ninguém quer você
aqui. ”

Passei o resto do intervalo trancafiado no banheiro. E foi assim que eu passei todos os
meus outros intervalos. O banheiro é um local legal, especialmente para pessoas que
não tem amigos, como eu.

Finalmente, a aula acabou. Como eu ansiava por aquele momento! Estava arrumando
minhas coisas, até que alguém atrás de mim me cutucou e disse:

— É verdade que você quer ser chamada de Alex? — Cara, aquilo foi como um soco
no estômago. Eu não esperava por uma pergunta assim. Como ela poderia saber
daquilo!?

Foi aí que eu me lembrei. No começo das aulas, eu conversei com um professor se eu


conseguia mudar meu nome na chamada, sem a permissão de meus pais, e ele falou que
infelizmente não. Se isso ocorresse, meus pais poderiam processar a escola e até ganhar
uma indenização!

Eu fiquei bastante revoltado naquele dia. Quer dizer que eu não tinha opinião própria?!
Aquilo era muito injusto, e eu gostaria de dizer isso para meu professor. Mas, como
sabia que aquilo não adiantaria nada, respirei fundo e saí da sala em que estávamos. Até
aí, tudo péssimo, mas havia como piorar. Provavelmente, ela tinha ouvido nossa
conversa!

“Ela” era Marina, uma garota popular da nossa sala. Loira dos olhos azuis, era boa em
esportes, tinha ótimas habilidades sociais… invejável.

Minha vontade era de chutar o balde, de admitir que aquilo era verdade, e que eu não
aguentava mais fingir. Mas eu não consegui falar aquilo. Eu nunca consigo expressar o
que eu realmente sinto.

— Q-quem contou isso para você?! — Disse, confuso e assustado. Se ela sabia
daquilo, mais pessoas sabiam.
— Então é verdade? Bem que eu achava você estranha… — Ela deu uma risada. —
Você acha mesmo que algum idiota iria te chamar de Alex? Sinceramente, só nascendo
de novo pra isso!

Eu não ia ficar ouvindo aquilo, então simplesmente saí da nossa sala e entrei no meio da
multidão, que estava indo embora também. Ao mesmo tempo que não gostava daquele
aglomerado, era bom poder misturar-se a todos e sumir.

No caminho de volta para casa, algo se chocou contra meu rosto. Já iria proferir um
insulto, quando resolvi ler o que estava escrito naquele papel. E, para minha surpresa,
aquele era um cartaz com a solução de meus problemas:

“Sua vida perfeita. Está cansado de ter que lidar com problemas e adversidades de sua
vida? Faça os seguintes passos mencionados aqui, e tenha sua vida dos sonhos! Com
amigos, notas boas e felicidade inclusa.
Passo 1- Pegue um papel, dobre-o ao meio, e desdobre-o novamente.

Passo 2- Faça uma assinatura do seu nome, com sangue!

Passo 3- Pronto! ”

Em situações normais, eu provavelmente ficaria assustado e jogaria aquele cartaz fora,


mas eu estava de cabeça quente e cansado de todo aquele drama, então… guardei o
papel na mochila, planejando seguir aqueles passos.

Cheguei em casa, tomei banho e almocei. Não sabia em que momento iria fazer aquele
“ritual”, ou seja lá o que fosse aquela coisa, então deitei-me na cama e fiquei encarando
aquele cartaz.

— O que é isso em suas mãos? — Uma voz familiar perguntou. Minha mãe, claro. Ela
tinha mania de invadir o meu quarto sem minha permissão!

— Nada demais, só um folheto idiota. — Não queria que ela visse aquilo, então dobrei
o papel e enfiei dentro de um dos cadernos que eu tinha.
— E aí, como foi a aula hoje? Nem conversou comigo! — Ela disse, sentando-se na
cama.

— Foi a mesma coisa de sempre. — Respondi. A mesma resposta de sempre, também.


Imagino que minha mãe já estava cansada de ouvir aquilo, e eu me sentia triste em não
poder responder outra coisa, sem estar mentindo.

— Bem… pelo menos nada de ruim aconteceu, certo? — Ela respondeu, dando um
sorriso forçado.

— É.

— Então, aproveita para descansar, que mais tarde a gente vai no shopping, comprar
uma roupa para o aniversário da sua prima! — Minha mãe despejou aquela frase em
mim. Tem coisa mais chata do que comprar roupa?

Finalmente, ela saiu do meu quarto, me abandonando com meus pensamentos. Hoje,
iriam acontecer duas coisas que eu odeio: Comprar roupas novas e ir em festas de
família.

Eu odiava comprar roupas novas pelo simples fato de não poder escolher o que eu
queria usar! E, se eu tentasse, minha mãe falaria algo como: “Nós fazemos de tudo para
deixar você feliz, será que tem como você fazer algo pela gente? ” Tipo, qual é a lógica?

Demorou um pouco para eu me conformar com essa realidade, e nesse meio-tempo eu


sofri bastante. Agora, sobre festas de família, eu não gosto delas porque são muito
entediantes! Não há nada para se acrescentar aqui.

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O shopping estava movimentado. O excesso de elementos visuais presentes naquele


ambiente me incomodava, e eu só queria poder fugir daquele lugar. Estávamos em uma
loja de departamento, enquanto minha mãe tentava me forçar a experimentar um vestido
ridículo.
— Vamos, experimente! Você só usa essas roupas surradas, parece até que você não
tem condições de comprar outras! — Ela dizia. Eu não gostaria de aborrecê-la, então
aceitei a imposição.

— Tudo bem, eu vou usar o vestido na festa. Imagino que eu não precise de
experimentar, pois está óbvio que esse é o meu tamanho. — Respondi, dando uma
desculpa esfarrapada. Por sorte, ela acreditou, mas isso não a impediu de me dar uma
lição de moral.

O shopping estava com vários adolescentes da minha idade, como sempre. Por conta
disso, minha mãe acabou me comparando com alguns deles, e aquilo foi extremamente
exaustivo.

— Olhe aquela garota. — Ela estava se referindo a uma jovem que usava um vestido
preto, botas do mesmo tom e uma maquiagem exagerada. Um visual idiota para uma
cidade quente como Cuiabá. — Ela tem estilo! Por que você não se veste igual ela?
Tipo, eu vejo as meninas da sua idade, e nenhuma delas se veste igual a você.

Eu nunca seria igual a uma das meninas da minha idade, porque eu não sou uma
menina. Será que ela não podia juntar as peças e perceber aquilo?

Chegando em casa, peguei aquele panfleto de novo. Estava com raiva, e tinha que
aproveitar aquele momento de impulso para realizar os passos. Se eu estivesse em
qualquer outro momento, talvez não teria coragem o suficiente. Nisso, me sentei à mesa
do meu quarto, e fui ao encontro de “Minha vida perfeita”.

Com respeito à sua sanidade, não detalharei o passo 2. É desnecessário relatar como eu
fiz uma assinatura de sangue, certo? Quando eu terminei, houve um clarão atrás de
mim, e não tive coragem de olhar para trás, quando ouvi uma voz calma e fria dizendo:

— Alex, feche seus olhos e terá sua vida perfeita. — Como já tinha ido longe demais,
apenas fechei os olhos e suspirei.

Tudo ficou pesado por um momento, então deitei minha cabeça na mesa, e adormeci.
Capítulo 2: Funcionou.

— Alex? — Uma voz familiar me chamou. Pouco a pouco, abri meus olhos e vi…

— Mãe? — Ok, eu só podia ter ouvido errado. Minha mãe jamais me chamaria de
Alex, nem em mil anos, e ela já havia deixado isso claro.

— Está na hora de ir pra escola, meu filho! — Eu ouvi certo. Aquilo funcionou!!! Não
consegui conter as lágrimas de alegria ao ver meu desejo sendo realizado.

— Já vou me arrumar, mãe! — Disse, dando um abraço em uma figura confusa com o
meu choro.

Eu não estava acreditando!!! Minha vida dos sonhos finalmente se tornou realidade!
Olhei-me no espelho e gostei do que eu vi. Finalmente, senti-me feliz com a minha
aparência.

Na escola, as coisas haviam mudado. As pessoas vinham falar comigo e realmente


gostavam da minha presença! Aquilo era amizade? Não conseguia acreditar.

No segundo intervalo, uma pessoa inesperada veio falar comigo. Era Yuri, um garoto
que eu invejava. Não me julgue por ter inveja das pessoas; afinal, esse é um sentimento
difícil de ser evitado. Eu nunca desejei mal para Yuri, só gostaria de ser como ele.
Ele era popular, e tinha uma aparência agradável, fora que era bom em esportes! Eu
nunca fui bom em nenhuma dessas 3 coisas. Porém, nessa vida perfeita, as coisas
mudaram, e eu não tinha mais inveja de outras pessoas.

— Oi, Alex! Você planeja ficar na escola após a aula? — Ele perguntou de uma forma
tão descontraída que até parecia que éramos amigos.

— Por que eu ficaria? — Ok, eu fui rude, mas era uma pergunta genuína. Não havia
motivo para ficar na escola por mais tempo do que o necessário.

— Para o nosso treino de vôlei! Como pôde esquecer? — Yuri indagou, confuso.
Parece-me que nessa realidade, eu jogava vôlei… Melhor, eu treinava vôlei.

— Claro, o treino! Vou ficar sim. — Respondi, dando um sorriso encenado.

Sempre odiei esportes. Digo, eu até gostava de jogar, o problema eram as pessoas. Elas
sempre esperavam demais de você, e com a adrenalina nas veias, te insultam sem nem
pensar duas vezes, caso cometesse um erro!

Naquele dia, almocei na escola. A comida de lá era ótima; bife acebolado, arroz e farofa
temperada com salada nunca poderiam ser ruins! Comigo, estava Yuri, Marina, João e
mais uns 5 colegas meus, todos se divertindo.
Uau, nunca tinha passado por algo assim. Sempre vi os stories dos meus colegas se
divertindo juntos, mas nunca estive nessa situação. Meio deprimente de se falar, certo?
Mas agora, tudo mudou. Eu tinha amigos, e estava almoçando e falando bobeira com
eles, como sempre quis.

À tarde, estudamos um pouco de Biologia, e o conteúdo me parecia muito mais fácil do


que antes! Tinha certeza de que iria tirar um 10, então resolvi tirar uma hora de
descanso antes do treino, que ocorreria às 16h.

Eu estava um pouco nervoso. Era normal eu me sentir assim em situações como aquela;
afinal, vôlei é um jogo que depende bastante de trabalho em equipe, algo que eu odiava.
Então, torci para ser bom em esportes nesse mundo.
Dado o horário, fomos para a quadra esperar o professor chegar. Quando ele veio, fiquei
sabendo como funcionaria a aula: treinaríamos passes e saques, para depois jogarmos de
verdade. Eba.

Sempre fui chamado de “mão de alface”. Não entendeu o apelido? É simples. Imagine
que suas mãos fossem feitas de alface. Você conseguiria segurar uma bola? Não. Eu não
conseguia segurar uma bola, logo recebi esse apelido.

Mas as coisas mudaram bastante, e fui tão bom ao ponto de o professor elogiar o meu
saque! A parte do treino foi bem divertida; nunca pensei que iria gostar de jogar vôlei!

Na hora de jogarmos, nos dividimos em times de seis pessoas cada. Eu fiquei na área do
saque, uma grande responsabilidade! Estava nervoso antes, mas aquele sentimento
passou quando meu movimento foi bem-sucedido.

Pena que eu não poderia dizer que todos jogaram bem. Uma garota do meu time acabou
errando o passe, e foi chamada de mão de alface. Aquilo provavelmente deixou-a mais
nervosa, pois ela errou mais vezes, até um dos jogadores falar:

— Poxa, se você não sabe jogar, o que está fazendo aqui? Só atrapalha!

Ela saiu correndo, e eu não sabia se a seguiria ou ignoraria a situação, da qual eu já


participei antes. Decidi segui-la; dane-se o jogo!

De frente ao bebedouro, ela parou, e eu disse:

— Olha, eu entendo que é triste ouvir isso de alguém, mas… — Eu ia terminar de


falar, mas fui interrompido.

— Mas o quê, Alex?! Não é como se você entendesse de verdade. E ele tinha razão, de
qualquer forma.

— Eu discordo. Ninguém nasce sabendo jogar, e ele deve ter dito isso da boca para
fora! Você sabe como as pessoas se portam em jogos, aquilo até foi “leve”. —
Respondi.
— Talvez você tenha razão… afinal, como você pode ser tão bom no vôlei? Há algum
truque para isso? — Ela perguntou. Uau, jamais esperava ouvir algo assim, nem em
minhas fantasias mais malucas!

— Bem… talvez… — Eu pensei em alguma coisa para dizer, mas nada saiu. Então
resolvi mudar de assunto: — Espere! Ainda não fomos apresentados. Qual é o seu
nome?

— Meu nome é Zaya. Zaya Yamamoto. O seu nome eu já sei! — Ela disse. — Bem,
acho que vou para casa, agora. Desculpe-me, mas não vou voltar para o treino.

— Tudo bem, então. Até mais, Zaya! — Despedi-me dela, e voltei para uma quadra
com pessoas confusas.

— Onde vocês foram!? Tivemos que continuar jogando sem você! — Um jogador
disse.

— Ah, mas agora eu voltei. Vamos continuar a partida! — Respondi-o, sorrindo.

O resto do jogo foi legal, sem mais interrupções. Cansado, resolvi voltar para casa e
tomar um bom banho. Mal podia esperar o dia seguinte!
Capítulo 3: Sorvete de chocolate

A prova de Biologia foi fácil, e eu tirei 10, como previsto. Fiquei muito feliz
com essa nota! Quem não fica feliz com um 10, certo?! Nada de muito
interessante ocorreu nos três dias restantes de aula, mas todos foram bons.

Cada vez que eu ouvia alguém me chamando de Alex, sentia como se tudo aquilo que
eu havia passado tivesse valido à pena. Ninguém saberia o quão feliz me sentia quando
era chamado por aquele nome!

Na sexta-feira, quando eu estava voltando para casa, alguém cutucou o meu ombro. Era
Zaya. Nesses dias, eu conversei bastante com ela, e imagino que possamos ser
considerados amigos.

— Olá! Só gostaria de perguntar se… — Ela parou por um momento. — Está quente
hoje, não é?

— Sim… como sempre, para falar a verdade! Sabe como é Cuiabá, nossa cidade
calorosa. — Eu lá tenho cara de termômetro? Obviamente, só disse isso em minha
mente.

— Você gostaria de ir à sorveteria Nevasca hoje, no fim da tarde? — Zaya perguntou,


parecendo um pouco nervosa.
— Claro, por que não? — Respondi, sorrindo. Amo sorvete!

— Ótimo! Nos vemos depois, então. — Ela se despediu, e seguiu seu rumo.

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Zaya era legal. Se eu estivesse naquele “mundo chato” em que vivia, provavelmente
nunca teria trocado sequer uma palavra com ela. Mas as coisas eram diferentes no meu
mundo perfeito.

Fiquei muito feliz com o convite dela para ir à sorveteria, então tratei de me arrumar
para o evento. Passei meu perfume especial, lavei meu cabelo e coloquei a minha roupa
favorita!

Nesse mundo, meus pais não enchiam o meu saco sobre a maneira de me vestir. Eu
podia usar o que eu quiser, eu poderia até comprar minhas roupas sozinho, sem precisar
da aprovação deles!

Cheguei pontualmente ao local, às 15:30h. Zaya já estava lá, e quando me viu, deu um
sorriso iluminado em minha direção. Retribuí o sorriso, claro.

— Que bom que você veio! Está mais arrumado do que o normal, hoje. — Ela
comentou, e aquilo era verdade. Era engraçado vê-la fora da escola, sem aquele
uniforme habitual de lá.

— Isso foi um elogio? — Perguntei, rindo, e me sentei à mesa. — Enfim, você também
está mais arrumada do que o normal hoje.

— Obrigada… — Zaya respondeu. — Bem, vamos comer?

— Bora! Só espere eu chamar o garçom. — Respondi, chamando-o.

Zaya pediu um sorvete de morango com cobertura de chocolate, enquanto eu pedi um


sorvete de chocolate, com calda de baunilha e confeitos coloridos; aqui, eu podia comer
sem me preocupar. Se eu estivesse naquele mundo chato, provavelmente teria pedido
alguma coisa mais “saudável”.

Enquanto comíamos, Zaya perguntou:

— De onde seus pais escolheram o nome “Alex” para você? Normalmente, esse é só um
apelido para um nome maior, como Alexandre.

— Bem, ninguém escolheu esse nome para mim… O nome que me escolheu. —
Respondi.

— Entendi! — Zaya riu da minha resposta.

— E o seu nome, de onde veio?

— Bem, não sei direito, mas… O significado do meu nome é “destino”.

— Destino? Interessante. — Falei, pensando no significado do meu nome. Qual seria?

— Sabe… por que você veio falar comigo naquele dia, no treino de vôlei? — Ela
perguntou, provavelmente curiosa.

— É que eu me imaginei em sua situação. Muito chato quando alguém nos insulta.
Mesmo que pareça algo pequeno para eles, é diferente para a gente… não é? — Disse,
dando uma colherada no meu sorvete, que já estava acabando.

— Você tem razão… talvez o destino tenha nos unido naquele dia. — Zaya disse, e eu
não consegui identificar se aquilo era uma piada ou uma fala genuína.

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Quando voltei para casa, fiquei pensando no que ela disse. Será que foi o destino
mesmo? Para falar a verdade, eu nunca tive amigos tão próximos assim… Era legal.
Na minha “outra vida”, eu não tinha amigos. Eu havia tido alguns na infância, mas eles
acabaram se distanciando, o que foi bastante doloroso para mim. Eu sempre dizia que
não me importava com aquilo, que eu não precisava de amigos…

Mas eu me importava. Sentia falta de ter alguém com quem confiar meus segredos, me
divertir, de passar o recreio junto, de conversar à toa… podem parecer coisas pequenas,
mas que para mim significava muito.

Troquei de roupa e me deitei na cama. Um momento de paz…

PIIIII!!!!

Mensagem do WhatsApp?! Eu havia esquecido de ativar o modo “Não Perturbe”.

Yuri: Oi
Yuri: Vc está vivo?

Ótima forma de se iniciar uma conversa! Imagina se eu respondesse “Não, não estou
vivo, aqui é um fantasma te respondendo”!

Eu: Sim KKKKKKKK


Eu: Pq?

Yuri: Hj á noite, nós vamos na pizzaria

Gente, esse povo só sabe sair! Ok, eu não iria reclamar daquilo, vivia trancado em casa
no outro mundo. Meus pais não deixavam eu ir na padaria da esquina, imagine na
pizzaria!

Eu: Nós quem?


Eu: Aceito ir
Yuri: Eu, o Rafael e o Davi
Yuri: Nosso grupo né

Eu: Ah tá
Eu: Q horas vocês vão?

Yuri: 19h

Eu: Ok.

Ainda eram cinco e meia da tarde, dava para eu dormir um pouco, certo? Sem respostas,
adormeci.

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— Acorda, Alex! Não param de te ligar, aqui no celular! — Meu pai exclamou, e eu
acordei abruptamente, com meu coração acelerado pelo susto.

— Caramba… — Peguei o celular. Eram 18:50! — Preciso me arrumar!

— Nem vai me explicar onde vai? — Ele perguntou. Ah, é, tinha que avisar.

— Na pizzaria, com meus amigos.

— Está bom. Toma aqui. — E me deu uma nota de 100 reais.

Ok, aquilo só podia ser um sonho. Meus pais nunca me deixariam sair, nem me dariam
dinheiro desse jeito! Mas eu não estava no mundo antigo; então sorri e aceitei a grana.

Apressadamente, vesti uma roupa aleatória do meu guarda-roupa e pedi um Uber. Muito
chique, né?
Quando cheguei na pizzaria, cumprimentei os meus amigos, que já estavam devorando
as pizzas. Era um rodízio; isso significa que você poderia comer o quanto quiser.

— Você estava demorando muito, então resolvemos comer logo. — Rafael justificou.

— Ah, tudo bem… — Sorri nervosamente, enquanto via os três comendo como mortos
de fome. — A propósito, da próxima vez que formos nos encontrar, a Zaya pode vir
junto conosco?

— A sua namorada? Pode, sim! — Davi respondeu, ironicamente. Todos riram, exceto
Yuri, que franziu o cenho perceptivelmente.

Ignorei o ocorrido, e me concentrei no rodízio. Ao todo, comi 3 fatias de pizza; não


aguentei mais porque havia tomado sorvete há um tempo atrás. Diferente de mim,
Rafael comeu o triplo da minha quantidade, Yuri comeu 11 fatias, e Davi, só duas.

— Uau, esse rodízio foi histórico! Vamos tirar uma foto, para levar essa lembrança para
sempre. — Disse Rafael. Ele segurou o seu celular, e tiramos uma selfie coletiva. Foi
divertido.

— Bem, pessoal, gostei bastante do nosso rolê, mas eu realmente preciso ir agora… —
Despedi-me deles, saindo do local onde estávamos. Curiosamente, Yuri me seguiu.

— Nosso encontro foi legal, não é? — Havia algo estranho em sua voz, mas eu imaginei
que era apenas impressão minha.

— Sim! Na próxima vez, vai ser mais legal ainda, pois a Zaya… — Eu estava dizendo,
quando Yuri me interrompeu.

— Você quer parar de falar da Zaya por um segundo?! Você parece não ter outro
assunto, além dela! Sério, isso é irritante. — Ele falou, visivelmente aborrecido.
— Nossa! Tudo bem, vou tentar falar sobre outros assuntos. — Respondi calmamente,
tentando não o irritar mais ainda. — Por que está assim? Parece que está com ciúmes…
— Perdi a fala, por um momento. — Você gosta da Zaya!?

— Eu… — Yuri parou, tentando pensar no que dizer. — Sim. E eu meio que sinto
como se você fosse uma ameaça.

— Uma ameaça? Calma, eu só a considero como amiga, nada mais! — Respondi, um


tanto surpreendido.

— Mesmo assim… Tipo, qual chance eu tenho com você como concorrência? Você é
educado, inteligente, gente boa, alto… O tipo que a Zaya gostaria. E eu? Não sou nada
perto disso.

Espera… Ele estava com inveja de mim?! Caramba, eu sempre tive inveja dele! Como
os papéis foram invertidos tão bruscamente?

— Não fique assim, você é uma pessoa incrível, e eu tenho certeza de que ela vai
perceber isso! — Respondi-o, tentando melhorar a situação. — Agora, eu realmente
preciso ir… nos vemos depois?

— Tá. — E foi-se embora, deixando uma pessoa surpresa para trás.


Capítulo 4: Destino.

D ormi pensando no que havia ocorrido na pizzaria. Yuri, com inveja de mim?!
Aquilo ainda me surpreendia. Sobre Zaya, será que ela gostava de mim?
Aquele momento na sorveteria, em que ela disse que o destino fez nos
encontrarmos…

Só consegui adormecer de verdade quando os raios de sol entraram pelo meu quarto,
anunciando que a manhã havia chegado.

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— Você fez tudo errado. — Uma voz profunda ressoou em minha mente. Eu estava em
um local totalmente vazio, sem nada ao meu redor; apenas eu e… O que quer que fosse
aquilo que estava falando comigo.

— Q-quem é você!? — Foi a única coisa que eu consegui dizer.

— Você descobrirá em breve. Aproveite sua vida perfeita enquanto pode, ela vai chegar
ao fim, em um dia desses. — A voz respondeu.
Acordei assustado. O relógio marcava uma da tarde; caramba, por quanto tempo eu
dormi!? Era sábado, então não precisava me preocupar se estava atrasado para a escola.

Minha vida estava sendo boa, como nunca foi, e eu gostava daquilo, mas… sentia que
algo faltava. Era como se tudo aquilo fosse artificial! Imaginei que eu só estivesse
ficando mal-acostumado de ter tudo em minhas mãos, então resolvi ignorar esse
sentimento.

Capítulo 5: O Vazio.

U m a um, os dias foram passando. Nada de interessante acontecia, ou tudo de


interessante acontecia: Eu tinha amigos, me saía bem na escola, podia sair por
aí, sem restrição dos meus pais…, mas o desejo de ter algo maior ainda
permanecia.

Por que eu não podia apenas me contentar!? Aquela era minha vida dos sonhos, não era
isso que eu queria? As perguntas continuaram em minha cabeça por vários dias, até que
a resposta para tudo aquilo chegou.

Era uma quarta-feira, um dia comum de escola. Quando acordei, percebi que meus pais
não estavam em casa; imaginei que estivessem trabalhando ou algo assim, então resolvi
ir sozinho.

No caminho, as ruas já não estavam tão movimentadas e coloridas quanto antes, e o céu
parecia estar tão… cinzento? Lentamente, tudo ao meu redor foi perdendo a cor, até eu
estar rodeado de escuridão. Minha visão ficou turva, e eu desmaiei.

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Acordei em um vazio completo, como o do meu sonho. Não havia literalmente nada ali
além de mim. Eu estava sozinho, como sempre estive. Ninguém estava do meu lado.
Ninguém nunca esteve do meu lado.

Então, um clarão surgiu. Uma luz que fez meus olhos doerem. Um grande telão estava
em minha frente, e quem estava lá era… eu!?

Mas aquele não era eu. Aquela era uma versão distorcida e inexistente de mim, que de
alguma forma tomou o controle sobre minha existência. Era Sara.

— Você achou mesmo que teria sua vida perfeita!? — Ela perguntou, rindo da minha
cara. — Era tudo ilusão. Enquanto você ficou aí, eu tomei o seu lugar, e olha o que se
passou!

Como em um filme, os acontecimentos foram mostrados no telão. Sara fazendo amigos,


Sara tirando notas boas, Sara sendo o orgulho da família…

— Você quer mesmo voltar para cá? Fica aí, nesse seu mundinho de faz-de-conta!
Ninguém gostava de você e desse seu jeito esquisito, mesmo!

Talvez ela realmente tivesse razão. Que motivo eu tinha para querer voltar àquele
mundo ruim? A partir daquele momento, estava preso em meu próprio vazio existencial,
um pouco literal demais, para falar a verdade.

Ninguém poderia me salvar; afinal, eu havia me colocado naquela situação. Agora, seria
destinado a passar toda a eternidade naquele lugar, tendo a vida feliz de alguém sendo
esfregada em minha cara.

Sara. Ela estava feliz. As pessoas em seu redor desejavam sua presença, ao contrário de
mim, que sempre era evitado pelos outros. Por que não eu no lugar dela?! Por que
acabei aqui, nesse vazio sem fim?

Eu queria chorar, queria que as minhas lágrimas enchessem o chão, mas eu


simplesmente não consegui ter nenhuma reação, além de me deitar. Sim, eu me deitei
no solo frio, e fechei meus olhos.
Talvez fosse melhor deixá-la em meu lugar. Afinal, eu não era uma pessoa boa. Era
ingrato, exigente e inútil, e esse era meu destino. Então, deixei o vazio ao meu redor se
misturar com o vazio que havia dentro de mim, tornando-me nada. Nada.

Posfácio:

Olá. Tchau, na verdade. Essa história chegou ao seu final. Você deve ter ficado chocado
com o final, não é? Eu entenderia. Você pode não ter entendido, também. Esse livro tem
o final aberto, então é você, leitor, que decide o significado dessa história.

O livro já acabou, pode fechar o livro e seguir seu rumo. Talvez alguns estejam se
perguntando: “Mas e o final feliz? ”, e para esses, eu lamento em informar que nem
todas as histórias possuem um final feliz.

Crescemos assistindo os filmes da Disney, que acabam com um “E viveram felizes para
sempre...”, mas o que realmente há depois do “para sempre”? Deixando essa pergunta
em sua mente, termino aqui essa história.

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