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Conto 2

Capítulo 1

Charlotte

No auge dos meus vinte e seis anos ainda moro em Ottawa desde que nasci,
apesar de já ter sonhado em viajar o mundo o mais próximo que já estive de outro
país fora através da minha imaginação ao ler um livro, éramos apenas minha mãe,
Emma, e eu, meu pai faleceu a muitos anos e desde então assumi as
responsabilidades pela casa, sempre trabalhei para ajudar minha mãe que fazia o
que podia para nos manter, mas suas saúde frágil começou a impedir que ela
pudesse se quer sair de casa nos últimos meses, somado a minha falta de sorte
nunca ficava muito tempo em meus empregos mesmo dando sempre o meu melhor,
o que nos levava a ter uma vida simples mas ainda assim feliz na medida certa.

Hoje completava uma semana que estava neste novo emprego, e pela primeira vez
meu chefe era super gente fina, Aiden era o seu nome, um homem de estatura
mediana cabelos loiros, um sorriso encantador e gay, pois é, quem tirou a sorte
grande foi seu noivo, Noah, mas vocês já devem conhecer a história deles dois.

Meu trabalho reunia duas paixões minhas, livros e café, eu fazia desde a servir
mesas na parte da manhã a organização dos livros na parte da tarde quando a
maioria dos clientes já haviam ido embora e só restava a bagunça que alguns
deixavam para trás, além do fato de que Aiden permitia que nos horários mais
tranquilos os funcionários pudessem ler qualquer livro, o que sem sombra de
dúvidas era a melhor parte do meu dia.

Eléa

Voltar a Ottawa sempre me causou um misto de sentimentos que eu ainda não


havia conseguido entender, me mudei para Nova York para fazer faculdade de
publicidade a pouco mais de três anos, cerca de um ano e meio atrás ao
reencontrar Aiden um antigo sonho voltou a despertar dentro de mim, ter nossa
própria livraria era algo que pensávamos a muito tempo desde a adolescência, mas
alguns problemas no caminho nos fizera adiar esse sonho, quando ele surgiu me
dizendo ter o local perfeito para o nosso sonho eu confesso que desacreditei, ainda
me pergunto como eu pude embarcar nessa loucura, mas agora quando volto a
colocar meu pés em solo Canadense eu sei que é para valer.

Aiden mantinha a livraria/cafeteria de pé sozinho nos últimos meses, minhas


participações eram somente financeiras ou via vídeo chamadas quando
precisávamos decidir algo, agora após concluir meus estudos vou enfim poder
colocar a mão na massa e dar férias mais do que merecidas ao meu querido amigo,
enquanto esperava em frente ao aeroporto pelo meu carro de aplicativo meu
telefone começa a tocar em meu bolso, sorrio ao ver o nome de Aiden brilhando na
tela.

— Olá recém-casado, quanto tempo? – digo ao atender

— Eu ainda não me casei estou apenas noivo – ele corrige me fazendo revirar os
olhos — Quando você chega? Irei te buscar no aeroporto

— Na verdade eu já cheguei – confesso — Não falei nada porque sei que você e
sua boca grande contariam para minha mãe e eu quero fazer surpresa para ela.

O motorista de aplicativo chega e me cumprimenta com um aceno de cabeça ao ver


que eu estava em ligação, prontamente ele coloca minhas malas no porta-malas e
eu agradeço voltando a ouvir Aiden me xingando enquanto entrava no carro
colocando meu cinto de segurança.

— Está me chamando de fofoqueiro Léa? Pois saiba que eu sei guardar segredos,
sou ótimo nisso

Escuto Noah concordando de fundo seguido de um tapa que só poderia ter vindo de
Aiden o repreendendo.

— Amigo relaxa, já estou a caminho da casa da minha mãe, daqui a dois dias eu te
encontro na livraria – falo para o acalmar

— Por que dois dias? Estou com saudades Sua! – ele resmunga

— Você conhece minha mãe, ela vai querer matar a saudade, ainda mais porque
Asher está de volta para o Natal

— Aposto que ele vai fugir lá para casa dos meus pais, já não bastava ele roubar
meu irmão ainda quer roubar minha mãe – ele resmunga do outro lado

— De toda forma nóis nós veremos no Natal, então apenas aceite seu cunhado
garoto – rio —Vou te ver antes disso então não reclama
— Tudo bem, dois dias viu? Ou eu te busco pelos cabelos – ele ameaça antes de
encerrar a ligação, sorrio apoiando a cabeça na janela enquanto observo a
paisagem através do vidro.

— Finalmente voltei para casa – sussurro sentindo meu peito aquecer de saudades.
Capítulo 2

Charlotte

Dias antes...

Chego em casa praticamente me arrastando, outro dia em busca de empregos


terminava sem sucesso, ao passar pela porta encontro minha mãe sentada no sofá
fazendo seus bordados de forma tranquila.

— Nossa mãe eu não aguento mais isso – falo ao me jogar em seu colo já com os
olhos cheios de lágrimas — Faz tanto tempo que estou procurando emprego e nada
dá certo.

— Tenha paciência querida, algo irá aparecer para você – ela deixa seu bordado de
lado para acariciar meus cabelos azuis.

— Estou tentando ser positiva, mas nada parece dar certo para mim ultimamente –
suspiro

— Você está sobrecarregada demais, se ao menos eu pudesse ajudar mais – ela


suspira

— Você já ajuda demais mãe, cuida de mim e vende seus bordados, eu vou dar um
jeito não se preocupa – sorrio tentando parecer mais positiva para ela.

— Promete para mim que não vai fazer nada errado? – ela diz tocando meu rosto.

— Jamais irei te decepcionar mãe, eu prometo – beijo seu rosto e me aconchego


em seus braços.

Acordo sentindo um tecido macio sobre meu corpo no sofá, me sento e encontro na
mesa de centro um bilhete de minha mãe avisando que havia ido até a casa de uma
amiga ali perto que a convidou para jantar, me espreguiço e recolho o cobertor do
sofá o levando de volta ao quarto, encontro sobre a minha cama o último livro que
meu pai me deu sorrindo triste enquanto olho para a capa.
Fazia tanto tempo que eu não lia nada, minha cabeça andava ocupada demais em
sobreviver que havia me esquecido da sensação gostosa de ler um bom livro,
decidida a fazer daquele dia ruim uma noite agradável corro até meu quarto tomo
um banho e separo alguns dólares para comprar um livro novo, logo voltando a sair
de casa a procura de uma livraria ainda aberta.

Alguns minutos depois me encontro em frente a uma enorme porta de vidro


decorada com ramos de flores ao redor, de fora já se podia ver as enormes
prateleiras de livros decorando as paredes ao redor de mesas distribuídas pelo
salão e uma escada que possivelmente levaria ao segundo andar, o lugar era lindo,
meus olhos se encheram de lágrimas sem que eu saiba o porquê, fiquei tão vidrada
observando o lugar que nem ao menos notei a aproximação de alguém

— É lindo, não é? – ele diz me assustando.

— Droga que susto – resmungo o fazendo rir

— Perdão, não tive a intenção de te assustar – ele sorri

— Tudo bem – respondo ao me recompor — É muito lindo, reúne duas paixões


minhas, livros e um bom café – sorrio

— Já gostei de você – ele sorri e abre a porta entrando — Você não vem?

Apenas assinto o seguindo para dentro.

— Veio pelo café ou pelos livros?

— Pelos livros, mas esse cheirinho de café não vai dar para resistir – sou sincera

— Pegue um livro e escolhe uma mesa para a gente que eu já volto com nossos
cafés – ele diz saindo, mas para e se vira ao perguntar — Você tem cara de
expresso, ou estou errado?

— Na mosca – sorrio e ele sai em direção ao balcão de pedidos.

Giro em meu próprio eixo observando ao redor agora vendo de dentro, havia flores
decorando todo o local de forma graciosa, as escadas bem iluminadas indicavam o
caminho para o segundo andar onde a maior parte dos livros se encontrava, sigo
até lá desfilando pelos corredores parcialmente vazios sentindo uma familiaridade
enorme, esse lugar me trazia aconchego e paz, como os abraços de minha mãe.
Após escolher um livro desço as escadas e escolho uma mesa próxima a janela
com a luz perfeita para ler, me sento e logo o rapaz loiro retorna se sentando a
minha frente logo após colocar minha xícara em minha frente.

— Acho que ainda não me apresentei direito, me chamo Aiden – ele me estende a
mão que eu aperto retribuindo o sorriso

— Sou a Charlotte, é um prazer – digo.

— O que te trouxe aqui Charlotte? – ele me pergunta após tomar um gole do seu
café

— Muitas coisas – rio sem jeito — digamos que tive um dia ruim e precisava
espairecer um pouco através dos livros

— Nada melhor do que um livro para fugir um pouco da realidade – ele confirma

— Você trabalha aqui? – pergunto

— Digamos que sim – ele ri

— Deve ser um sonho trabalhar aqui, em meio a tantas histórias de amor – falo
observando um casal na mesa próxima lendo junto.

— Diga isso as últimas duas pessoas que precisei demitir nessa semana – ele
resmunga

— Espera você é tipo gerente daqui? – falo surpresa

— Hum não exatamente – ele morde o lábio — Sou o dono, um dos donos para ser
mais específico

— Uau - arregalo os olhos assustada com a informação

— Desculpa se estou sendo intrometido, mas algo me diz que você está à procura
de um emprego – ele diz

— Como você sabe? – pergunto

— Intuição – ele dá de ombros.

— Mas eu não vim aqui com essa intenção, eu só queria ler mesmo e...
— Mas se eu te oferecer uma vaga, você recusaria? – ele ergue as sobrancelhas
esperando uma resposta

— Claro que não! Eu adoraria trabalhar aqui – sorrio empolgada

— Então amanhã você vem fazer um teste e eu irei te passar alguns critérios sobre
suas funções só então irei te dizer se está contratada ou não, tudo bem?

— Sim, isso é perfeito muito obrigado – sorrio agradecida

— Como eu disse antes eu gostei de você, espero que realmente de certo aqui – ele
diz ao se levantar

— Muito obrigada Aiden – agradeço outra vez

— Não precisa agradecer, apenas aproveite seu livro, nos vemos novamente
amanhã – ele acena uma última vez e se retira, me deixando na companhia do meu
livro e um enorme sorriso.

Definitivamente minha noite foi muito melhor do que eu esperava.

Na manhã seguinte acordei antes mesmo do despertador de tamanha ansiedade,


chegando à cozinha encontro minha mãe preparando o nosso café, a abraço por
trás e beijo sua bochecha a fazendo se assustar.

— Bom dia mãezinha

— O que faz de pé tão cedo? – ela questiona

— Quando cheguei ontem a senhora já estava dormindo e não quis te acordar, mas
eu consegui um teste na livraria aqui perto de casa – falo animada

— Sério querida? Estou tão feliz por você, tenho certeza de que vai dar tudo certo –
ela beija minha testa e se afasta para pegar nossas canecas.

Enquanto tomamos café da manhã juntas conto a ela como a proposta aconteceu
em detalhes, e ela afirma que era meu destino conhecer Aiden, e que graças a ele
algo bom estava prestes a me acontecer, quando termino de comer levanto e tomo
a frente para lavar a louça deixando dona Emma assustada para trás, uma das
coisas que eu mais odiava fazer era lavar louça, e as vezes confesso que só fazia
obrigada, depois de deixar a cozinha limpa vou até meu quarto para terminar de me
arrumar e rezar para minha santinha agradecendo pela oportunidade que me
apareceu.

— Tchau mãezinha, me deseje sorte - antes de sair me despeço dela com um beijo

— Seja a garota forte que eu criei e tudo dará certo hoje – sorrio para ela assentindo
pego minha bolsa e saio de casa, dando o primeiro passo para um futuro a qual eu
aguardava ansiosa.

Quando me vejo em frente as mesmas portas de vidro eu congelo, o medo de falhar


misturado a ansiedade de fazer dar certo acelerando meu coração, quando enfim
passo pelas portas Aiden caminha em minha direção me dando um abraço de boas-
vindas.

— Então Charlotte, está ansiosa para o primeiro dia? – ele diz caminhando na frente
enquanto me guia para o andar de cima.

— Estaria mentindo se eu dissesse que não – sou sincera

— Relaxa, as coisas aqui são bem fáceis, os outros funcionários que demiti não
ficaram por falta de cuidado com as obras e o principal, carisma para lidar com os
clientes, o que eu já vi logo de cara que você tem, a parte do cuidado eu irei
acompanhar de perto

Ele diz continuando a caminhar, após algumas prateleiras vejo enfim uma porta, ele
e abre e me dá espaço para entrar, observo ao redor, a sala era bem decorada e
sofisticada, alguns livros clássicos decoravam as paredes ao lado de outros títulos
que ele havia colocado como destaque.

— Gostou do livro? Meu noivo quem escreveu – ele diz orgulhoso

— São lindos, imagino que são histórias inspiradas em vocês dois

— Longe disso, ele meio que sonhou com algo parecido e quis escrever, mas ele
adora basear as características do casal principal na gente, o que no novo livro
acredito que não vai dar muito certo – ele diz se sentando

— Isso que é declaração de amor – sorrio me sentando em sua frente.

— Nossa história começou meio... confusa eu diria, mas agora estamos bem — Mas
por mais que eu adore elogiar o talento do Noah, vamos falar de negócios

Ele abre uma gaveta e tira de lá um envelope, quando o coloca em minha frente
vejo que se trata de um contrato.
— Aqui está descrito sobre o salário período de teste e mais informações legais que
eu faço questão que você leia com calma antes de começar – ele diz

Eu assinto antes de pegar os papeis em mãos começando a ler, passamos ali


pouco mais de uma hora com ele me tirando dúvidas e explicando minhas funções

O dia já quase chegava ao fim, minhas funções basicamente se resumiam a manter


as mesas limpas, anotar os pedidos e levar até a cozinha, depois servir os clientes,
quanto aos livros eu resgatava os abandonados pelas mesas e os organizava em
suas devidas prateleiras e seções, e o mais importante eu precisava ficar de olho
nos clientes para que não destruíssem nenhum exemplar, por incrível que pareça
haviam muitos engraçadinhos que manchavam as páginas de forma proposital para
pagar um valor mais baixo pelo livro avariado, apenas no primeiro dia peguei dois
desses clientes mas consegui me sair bem, pelo menos acredito que sim, já que
Aiden me acompanhava de bem perto para o caso de precisar me ajudar.

Quando o último cliente saiu me encarreguei de ir ajudar na cozinha com a limpeza,


porém Aiden me parou no caminho.

— Charlotte por hoje é só, você já pode ir para casa

Meu coração se aperta, estava tão confiante que tudo daria certo hoje e no final foi
só mais um fracasso

— Certo, obrigada pela oportunidade Aiden

— Me agradeça voltando amanhã no mesmo horário – ele sorri

— Mas você disse...

— Me expressei mal desculpe, você passou no teste hoje, mas precisamos


aguardar o prazo dos sete dias para que eu possa te efetivar, mas por mim a vaga
já é sua – ele conclui

Fico tão empolgada que o abraço agradecendo inúmeras vezes.

— Eu nem sei como agradecer, eu posso limpar o chão do salão todos os dias, e
lavar a louça e...
— Ei Charlotte, se acalma – ele diz rindo um pouco — Não precisa fazer mais do
que aquilo que foi contratada para fazer ok? Por hoje está livre de ajudar na
limpeza, vá para casa e conte para sua mãe, imagino que vão comemorar juntas

— Sim, sim, ai meu Deus, obrigada – o abraço outra vez

— Se agradecer de novo irei voltar atrás na minha decisão – ele ameaça brincando
e eu me calo removendo o avental do uniforme dando um passo para trás.

— Já parei – ergo as mãos em rendição

— Vá logo – ele acena em despedida subindo as escadas em direção ao seu


escritório enquanto eu corro até o vestiário coloco a roupa a qual vim e deixo o
uniforme usado no cesto indicado, a livraria mesmo mandava os uniformes para a
lavanderia o que explicava o perfume gostoso nas peças e os vincos de tão bem
passados que eram, pego minha bolsa e saio de lá outra vez sorrindo.

A semana foi passando tranquilamente, aquele dia em especifico a livraria estava


bem calma, os poucos clientes que chegavam por ali estavam imersos em suas
próprias leituras, enquanto eu limpava a prateleira que decorávamos com alguns
tipos diferentes de café outro cliente passou pelas portas de vidro, deixo o pano que
eu usava sobre o balcão o trocando pelo bloco de notas e uma caneta.

— Boa tarde, seja bem-vindo a Paradise, posso ajudá-lo com algo? – digo ao me
aproximar.

— Olá, boa tarde, você poderia me trazer um expresso enquanto escolho um livro?

— Claro, fique à vontade – me viro indo até o balcão pedindo o café dele, aguardo
até que ele retorne e escolha uma mesa para pegar seu pedido e colocá-lo a mesa.

— Aqui está senhor, precisando de algo a mais é só me chamar – digo simpática

— Muito obrigado... Charlotte – ele completa após ler meu nome em meu crachá.

Eu apenas aceno e me retiro voltando a minhas funções, poucos minutos mais tarde
a porta volta a se abrir, dessa vez Aiden que passa pela mesma subindo as escadas
enquanto fala ao telefone parecendo furioso, se eu estivesse mais perto tenho
certeza de que poderia ver fumaça saindo pelo seu nariz, como dos personagens de
desenhos animados.
Durante meu intervalo resolvo sair para comprar um presente para minha mãe e
acabo me distraindo com as vitrines, quando estava retornando para a livraria vejo
do outro lado da calçada uma mulher cair ao ser atropelada por uma bicicleta na
calçada, quando faço menção em caminhar até ela para a ajudar um carro freia bem
na minha frente me fazendo dar um passo para trás voltando a calçada

— Está maluca porra? O sinal está fechado para pedestres – o motorista grita

— Desculpe – murmuro envergonhada

Quando o motorista segue seu caminho ergo meus olhos até onde a mulher estava,
mas ela já não se encontrava mais lá, solto um suspiro e volto a seguir meu
caminho torcendo para que nem ela nem o rapaz da bicicleta tenham se
machucado, quando chego a livraria guardo o que comprei no meu armário e vejo
que ainda tenho pouco mais de vinte minutos de intervalo, aproveito então para
terminar outro livro que comecei no dia anterior.
Capítulo 3
Eléa

Como prometido dois dias depois lá estava eu indo até a biblioteca para enfim me
situar sobre todas as questões da biblioteca e exercer o papel de sócia, dando um
descanso ao meu amigo, minha mãe morava a alguns bairros de distância da
livraria o que me faria levar minhas malas comigo até lá, acabo desviando no
caminho para as deixar em meu apartamento evitando andar com peso por mais
tempo do que o necessário.

Eu caminhava pela calçada após deixar em casa minhas coisas quando fui
atropelada por um maluco de bicicleta, se já não bastasse a vergonha por ter caído
no chão ainda precisei de sua ajuda para me levantar.

— Bom saber que não passei vergonha sozinha hoje – digo para o rapaz que me
ajudou a levantar que ri.

— Me desculpe por isso, eu não te vi e... – Ele para me olhando melhor — Eléa?

Encaro o homem a minha frente, a barba rala no rosto, e os cabelos ligeiramente


cumpridos.

— Charlie? – reconheço enfim

— A quanto tempo – ele diz me abraçando

— Com licença – toco em seu ombro e ele se vira para me olhar — Owen?

— Eléa? Meu Deus quanto tempo – ele me abraça — Quando você voltou para
Ottawa? – ele diz ao se afastar

— Voltei a alguns dias – digo — Pensei que Asher tivesse contado – falo confusa

— Eléa, Asher e eu não estamos mais juntos a mais de um ano – ele diz
envergonhado

— O que? Como assim? – falo confusa.


Passei os últimos dois dias com meus pais e irmãos e ele em momento algum falou
sobre término, pelo contrário quando falávamos sobre Charlie ele dizia que ele viria
depois, agora vejo que o depois não aconteceria nunca.

— É uma longa história – ele suspira — Estou indo para a casa de uma amiga, você
está indo para onde?

— A minha livraria com Aiden – digo apontando para a direção

— É meu caminho, vem que eu te conto tudo que aconteceu enquanto esteve fora –
ele diz empurrando sua bicicleta e eu o sigo ouvindo atentamente sua história.

Quando chegamos em frente a uma pousada ele para.

— E foi isso – ele dá de ombros — Nem sempre só amor é suficiente num


relacionamento

— Eu sinto muito por vocês, meu irmão é um cabeça dura, mas sei que ele
realmente te amava – o abraço uma última vez — Você trabalha aqui?

— Não exatamente – ele diz — A pousada não tem tido muitos clientes, mas eu
venho de vez em quando visitar a May

— A Mayleen? Que estudou comigo e Aiden? – pergunto

— Ela mesmo – ele sorri — Vem entra um pouco para cumprimentá-la

Ele prende sua bicicleta com um cadeado ao lado da varanda e sobe os degraus
que levavam até a porta, o sigo podendo ouvir o sino anunciar a nossa entrada, logo
vejo a ruiva estava na recepção e o olha sorridente.

— Oi Char, demorou hoje - ela então me nota — Eléa? A quanto tempo

Ela dá a volta no balcão para me abraçar, nós sentamos ali pela sala os três e
ficamos jogando conversa fora sobre tudo que aconteceu nos últimos anos, após
tomar café e May me fazer provar alguns dos seus doces deixo enfim dois
conversando e volto a seguir meu caminho até a biblioteca, quando enfim chego lá,
restavam apenas dois funcionários e Aiden que me olha furioso quando passo pelas
portas.

— Abaixa a guarda Pitbull, eu posso explicar – digo erguendo as mãos como se ele
estivesse me ameaçando
— Pois você vai me explicar tudo direitinho, mas lá em casa – Aiden diz se
despedindo dos funcionários que saem ao fim de seus turnos, eu o aguardo fechar
tudo e seguimos até sua casa onde após muita conversa – nome disso é fofoca –
vinho e comida boa, acabo dormindo no sofá.

Quando chego a biblioteca na manhã seguinte vejo alguns funcionários já


começando a se distribuir em suas funções enquanto Aiden me leva ao escritório
para me explicar algumas coisas já que dali a alguns dias ele entraria numas
miniférias que eles denominaram como um aquecimento para a lua de mel,
enquanto ele me explicava sobre algumas remessas programadas para o mês seu
telefone toca e ele fica agitado, após breves palavras ele desliga e se apressa a
pegar sua carteira sobre a mesa.

— Eu preciso dar uma saidinha, Noah bateu o carro do Theo outra vez, e preciso ir
até lá – ele diz

— Ele está bem? – pergunto preocupada

— Está, por enquanto, preciso chegar lá primeiro que o Théo se eu não quiser ficar
viúvo antes da hora

— Ok, me mande notícias – digo e ele sai apressado, passo algum tempo
analisando os documentos que ele deixou para mim até que o cansaço comece a
aparecer, fecho mais uma pasta e me levanto saindo da sala a procura de um bom
café para despertar, no caminho pego um livro e desço caminhando até o balcão.

— Olá poderia me fazer um expresso por favor? – peço ao rapaz no balcão que
assente e sai até o interior da cozinha para preparar o meu pedido, aproveito para
escolher uma mesa para me sentar, não demora muito e uma moça vem até mim
trazendo meu pedido.

— Olá, com licença, aqui está seu café – quando eu olho para cima e vejo aquela
bela moça de cabelos azuis e um sorriso lindo estampado nos lábios olhando de
volta para mim sinto meu coração errar uma batida — Deseja mais alguma coisa?

— Somente o café está ótimo, obrigada – digo a vendo assentir e se virar voltando
até o balcão onde estive a pouco

Cerca de uma hora se passou e meus olhos e minha mente não se prendiam a
leitura, apenas vagavam pelo salão atrás da garota de cabelos azulados, sou
surpreendida quando alguém se senta a minha mesa e vejo que se trata de Aiden e
Noah, o seguindo usava um curativo acima do olho.
— Uau a coisa realmente foi feia, te rendeu até um hematoma – digo

— Isso? – ele aponta para o próprio rosto — Foi meu amado amigo, Theo

— Pelo estrago que fez no carro dele, foi pouco – Aiden defende o outro

— Amor... – Noah começa e logo os dois estão no próprio mundinho, distraída com
a conversa dos dois meus olhos voltam até a garçonete que atendia uma nova
cliente sorridente.

— Como pode ver eu contratei mais uma funcionária, ela tem sido muito
competente, esforçada, acho que vai te ajudar bastante enquanto eu estiver fora.

— Eu a vi, ela quem me serviu o café, foi muito atenciosa – respondo voltando a
encarar o livro fechado em minhas mãos — Como ela se chama?

— Charlotte, eu vou te apresentar a ela e aos outros funcionários agora, vamos?

— Claro – me levanto seguido ele.

— Irei ficar por aqui – Noah avisa e nós afastamos dele com um aceno.

Aiden me leva a todas as partes da cafeteira mostrando as mudanças que fizera no


último ano enquanto estive fora, desde a cor das paredes a os novos móveis e
decorações, na cozinha ele me apresenta aos funcionários, incluindo a garota que
agora sei se chama Charlotte, ela me observava com atenção, mas quando notou
meus olhos em sua direção abaixou a cabeça constrangida

— É um prazer conhecer todos vocês, espero poder continuar fazendo um trabalho


excelente junto de vocês enquanto Aiden estiver fora – digo antes de me despedir
deles voltando até a mesa onde Noah comia um pedaço de bolo.

— E aí Léa, acha que dá conta enquanto eu estiver fora? – Aiden pergunta

— Você está cuidando muito bem daqui Aiden, estou tão feliz com isso – sou
sincera — Espero conseguir fazer tanto quanto você por esse lugar daqui para
frente.

— Você vai dar conta – ele me abraça

— O que acha de irmos almoçar em algum lugar? – Noah sugere

— Eu topo, estou cheia de fome – concordo.


— Eu dirijo – Aiden diz e o marido faz careta me levando a rir.

— É amigo, vai ficar de castigo por um tempo – rio dele.

— Quer um conselho? Não case – ele diz sussurrando a última parte me fazendo rir
novamente.

— Andem logo ou vou sozinho! – Aiden reclama do lado de fora.

— Vamos lá

Quando estava saindo encontro Charlotte próximo a porta que sorri para mim.

— Até logo

Com um aceno e um sorriso caloroso aquela garota já havia feito do meu dia um
pouco mais feliz.
Capítulo 4
Charlotte

Que mulher linda.

Esse foi o meu primeiro pensamento ao vê-la no café, de alguma forma meu coração
acelerou quando nossos olhos se encontraram e isso me assusta sem sombra de dúvidas.,
afinal agora que sei que ela além de amiga do meu chefe também era sócia da biblioteca e
consequentemente também minha chefe.

Quando eles saíram juntos e ela sorriu de volta para mim eu sabia que as coisas se
complicariam em breve, eu e esse meu coração que gostam de sofrer se apegando a
alguém que mal conheceu, ela parecia uma pessoa boa, Aiden estava feliz ao lado da
amiga, mais sorridente e isso tornava todo o ambiente de trabalho mais leve e feliz.

Na manhã seguinte...
Assim que cheguei à livraria mal tive tempo de colocar o uniforme e Aiden já me arrastou
para seu escritório dizendo ter algo importante para falar, confesso que o medo bateu com
força, havia poucos dias de trabalho e apesar de estar me esforçando ao máximo para o
deixar satisfeito, minha maré de má sorte poderia estar voltando, ao pensar em minha mãe
percebo que perder esse emprego estava fora de cogitação, nem que eu precise implorar a
ele para ficar.

— Sr. Aiden? – digo ao abrir a porta

— Entre Charlotte, já disse para não me chamar de senhor – ele diz ao apontar para a
poltrona em sua frente.

— Desculpe – falo ao me sentar

— Te chamei aqui por que preciso da sua ajuda – ele diz

— Minha ajuda? – questiono

— Sim, eu entrarei de férias e preciso de alguém que possa auxiliar Eléa durante a abertura
e fechamento da biblioteca até a minha volta, eu iria te pagar como hora extra é claro – ele
diz

— Desculpe a pergunta, mas por que eu? Sou apenas uma funcionária nova e...

— Por que você me inspira confiança, e quero te dar a oportunidade de crescer aqui dentro
– ele me interrompe — Você já conheceu a Eléa, mas eu ainda irei informar todos do meu
tempo fora e de suas novas funções aos outros
— Obrigada pela oportunidade e confiança Aiden – agradeço

— Não agradeça, apenas me prometa que irá ajudar Eléa e já ficarei mais tranquilo – ele
sorri — Se tiver algum problema pode procurar por mim, estarei sempre com o meu telefone

— Certo

— Agora pode ir, nós falamos mais tarde

Me levanto e saio do seu escritório com o coração mais leve, minha mãe estava realmente
certa, Aiden é um anjo que entrou em minha vida.

Volto ao andar de baixo me apressando a cumprir todas as minhas funções para que
pudesse terminar de ler o novo livro que comecei na noite anterior, depois do almoço vejo a
morena entrar na livraria e encontrar com Aiden que descia as escadas, eles falam alguma
coisa antes de virem até o balcão onde eu e mais dois funcionários estávamos.

— Boa tarde, estou passando para comunicar que estou enfim entrando de férias, e a partir
de agora Eléa fica responsável por todos vocês, e na ausência dela Charlotte está no
comando por decisão minha – ele avisa

Todos nos assentimos, Aiden então se despede e Eléa o acompanha até a porta, vejo eles
se abraçarem enquanto um dos funcionários sussurra atrás de mim.

— Não é possível que Aiden tenha escolhido essa incompetente para cuidar da livraria

Finjo não o ouvir e engulo em seco sua ofensa mostrando meu melhor sorriso ao ir atender
um cliente, a tarde passou devagar, Eléa avisou que estaria no escritório, e vez ou outra eu
ia até lá a levar um café ou algum lanche para que ela pudesse comer, enquanto descia
com a bandeja de coisas já vazia de seu escritório, esbarro no funcionário que me ofendeu
mais cedo e acabo por derrubar as coisas no chão.

— Desculpe – digo me abaixando para pegar a xícara quebrada

— Você é um completo desastre, não tem como trabalhar com alguém como você – ele diz
ao se afastar.

Limpo o chão e recolho todas as coisas respirando fundo para engolir as lágrimas que
insistiam em querer sair.

— Aguenta firme Charlotte, é só mais uma dificuldade das muitas que você já enfrentou
pelo caminho – digo para mim mesma.

Quando levanto do chão levando as coisas comigo encontro Eléa me olhando preocupada

— Poderia me dizer o que ele te falou? – ela diz cautelosa


— Não era nada demais, ele apenas resmungou sobre algo que nem tinha a ver comigo –
dou meu melhor sorriso ao mentir

Mentir era a melhor solução no momento, criar caso com um funcionário antigo e a nova
chefe não era nem de longe o que eu sonhava nesse momento.

— Vou fingir que acredito em você – ela diz — Me dê isso aqui e vá se trocar, já estamos na
hora de fechar

— Não, mas...

— Apenas vá – ela pega a bandeja e sai rumo a cozinha.

A obedeço indo até o vestiário, encontro os outros dois funcionários que conversavam entre
si já trocados, mas se calam ao me ver, enquanto troco de roupas vejo eles saindo rumo a
suas casas, depois de vestida, solto meus cabelos antes de pegar minha bolsa e sair dali
encontrando Eléa na porta me esperando, passo pela porta e a ajudo a fechar tudo.

— Até amanhã – ela acena antes de seguir seu caminho.

A observo se afastar alguns passos antes de também seguir meu caminho.

No dia seguinte acordei com uma mensagem de Eléa me avisando que só chegaria após o
almoço e se eu poderia tomar conta de tudo sozinha, por conta disso chego mais cedo e
começo a preparar tudo enquanto os outros dois funcionários preparam os doces da vitrine.

Após colocar cada livro em seu lugar e limpar todas as mesas, volta até a vitrine de doces
vendo que a mesma ainda se encontrava vazia, entro na cozinha e encontro os dois
conversando.

— Por que a vitrine dos doces ainda está vazia? – pergunto e eles sequer me olham,
respiro fundo e seguro uma das bandejas — Levem as outras para fora e coloquem-no
balcão que eu mesma organizo

— Eu não recebo ordens de novatas – ele diz.

Me viro para ele que sorria debochado

— Sinto muito que minha presença te incomode, mas até que o senhor Aiden volte, é a
novata quem está no comando – digo

— Não entendo como alguém que chegou ontem já tem tanto a confiança do chefe, no
mínimo deve estar dormindo com ele – ele diz maldoso
— Pode pensar o que quiser de mim, eu não me importo, mas não envolva o senhor Aiden
nisso, ele é noivo e gay, respeite ao menos o seu chefe já que não tem respeito por mim
como colega de trabalho - rebato

— Não banca a puritana garota, não caio no seu papinho de falsa pobre

— Interrompo algo? – ouço a voz de Eléa atrás de mim e meu corpo tenciona

— Senhorita Scott eu...

— Se explique no meu escritório, não é a primeira vez que vejo o senhor dirigindo palavras
maldosas a sua colega de trabalho, Aiden não escolheria alguém que não fosse de sua
confiança para me auxiliar, agora entendo o porquê, e ainda sugerir algo desse nível o
envolvendo só me confirma que você não sabe nada desse lugar e o que ele significa para
nós.

— Ótimo, você mal chegou e já a tem como protegida? Você é rápida – ele diz me olhando
— O chefe viajou e já pulou para o colo da sócia

— Já chega, o senhor passou dos limites, vamos ao meu escritório agora, o senhor está
demitido – Eléa se exalta — Que sirva de exemplo aos outros, nesse lugar o respeito está
acima de qualquer coisa, e guardem suas suposições, minha vida pessoal só diz respeito a
mim mesma.

Assim ela sai acompanhada dele, respiro fundo tentando assimilar tudo que aconteceu ali,
encaro o outro funcionário que abaixa a cabeça envergonhado, me viro e saio dali para
fazer o que pretendia, decoro todo o balcão com os doces sozinha enquanto o outro
cozinheiro apenas trazia as bandejas para mim dessa vez sem reclamar, não demorou
muito para Eléa voltar agora sozinha, mas ainda com uma expressão irritada no rosto.

Envergonhada demais para lidar com ela no momento, apenas aproveito a deixa de um
novo cliente e corro para o atender, ainda assim pude sentir seus olhos em mim enquanto
trabalhava pelo restante do dia, quando a noite começou a cair Eléa dispensou os outros
funcionários ficando apenas nós duas para a organização do novo estoque de livros que
havia chegado, de repente todo o esforço que fiz para a evitar durante o dia parecia ter sido
em vão.

Nos dividimos por gêneros, enquanto Eléa guardava alguns livros de romance eu guardava
alguns de terror, o que não me ajudou muito era o fato deles ficarem numa prateleira muito
alta, com a ajuda de uma escada de três degraus subo para o colocar no lugar, mas ainda
assim preciso me esticar para conseguir o encaixar na prateleira, em algum momento perdi
o equilíbrio e cai em cima de algo macio.

Abro os olhos encontrando um par de olhos escuros me encarando, suas mãos me


seguravam pela cintura, nossos narizes quase se encostando e eu juro que pude sentir
faíscas saindo de seus olhos, me aproximo um pouco mais de seu rosto e fecho os olhos
pronta para a beijar quando algo cai sobre minhas costas me fazendo rolar para longe dela.
— Aí merda – chio

— Você está bem? Não se machucou? – ela diz parecendo preocupada.

Me sento no chão envergonhada demais para a encarar.

— Eu estou bem obrigada por amortecer a queda – digo sem jeito

— Sempre que precisar de alguém para cair em cima pode chamar – ela diz me fazendo
arregalar os olhos — Não espera, isso soou estranhamente mal, eu quis dizer...

— T-Tudo bem eu entendi – falo nervosa me colocando de pé

— Desculpa – ela diz parecendo tão envergonhada quanto eu pegando o livro que caiu

— Eu estava tentando colocar ele no lugar – explico

— Na próxima pode me pedir ajuda ok? – ela sobe na escada e coloca o livro no lugar sem
mais problemas — Acabamos?

— Sim – confirmo ao ver meu carrinho já vazio.

— Então vamos para casa, hoje o dia foi bem cansativo – ela diz

Apenas assinto e ajudo a colocar os carrinhos de carregar os livros no estoque, depois de


me trocar nós duas saímos da livraria a fechando, após uma despedida meio sem jeito
seguimos cada uma para sua casa, com a sensação daquele quase beijo martelando em
meu peito.

No dia seguinte...

Naquela manhã a biblioteca estava quase vazia, enquanto os funcionários se


distribuíam em suas próprias funções eu aproveitei para limpar as mesas e
organizar alguns livros das prateleiras do andar de baixo, distraída nem mesmo
percebo a aproximação de Eléa que me encarava sorrindo encostada na estante.

— Que susto Eléa – digo ao notá-la ali

— Sou tão feia assim para te assustar? – ela responde rindo

— Você não é feia, pelo contrário, tem uma beleza única – minhas bochechas ficam
quentes de vergonha ao notar que as palavras escaparam de mim sem que eu
conseguisse notar.
— Muito obrigada Charlotte, mas você é ainda mais bonita – ela sorri e me dá uma
piscada há me deixando ainda mais desconcertada — Não queria te atrapalhar, vim
apenas pegar um expresso.

— Pode deixar, eu irei preparar e levo até seu escritório – me viro pronta para fugir
da conversa de tamanha timidez.

— Não se preocupe, irei aguardar no balcão próximo a janela – ela aponta e eu


assinto antes dela se afastar até lá.

A observo tirar o casaco e o colocar no encosto da banqueta antes de se sentar


graciosamente cruzando as pernas enquanto coloca uma mecha solta do cabelo
atrás da orelha, ela sorri acariciando a pétala da flor que decorava o imenso balcão
antes de seus olhares se fixarem na paisagem lá fora, o sino da porta soa e eu
desperto do meu fascínio por aquela mulher praticamente correndo até a cozinha
para buscar seu café.

Enquanto preparavam o café encaro a vitrine de doces pensando se deveria ou não


levar algo para ela, decido então pegar um pedaço de bolo de chocolate e colocar
junto da xícara numa bandeja levando até ela, quando chego ao seu lado ela
direciona seus olhos aos meus.

— Não sabia se iria querer algo para comer então eu trouxe uma fatia de bolo de
chocolate – eu explico antes de servir seu pedido a sua frente

— É o meu favorito – ela sorri — Obrigada Charlotte, você é muito atenciosa

Sorrio sem jeito e me retiro dali, subo as escadas decidida a me manter longe dela
por tempo o suficiente para que meu coração possa se acalmar em meu peito.

— O que está acontecendo comigo? – sussurro para mim mesma com a palma da
mão pressionando meu peito podendo sentir meu coração batendo desenfreado.

Com meus sentimentos confusos e a cabeça a mil, decido me distrair trabalhando,


ocupada em organizar alguns livros que seriam retirados da biblioteca para serem
devolvidos a editora responsável por eles, peguei uma das caixas de papelão a
enchendo com os livros, não havia trazido o carrinho de transporte então precisaria
levar todo aquele peso nos braços, por ser apenas uma caixa não me incomodei ao
carregá-la, exceto pela falta de visão que a mesma me causava devido ao seu
tamanho, o que acabou causando uma colisão com um cliente ao desviar da pessoa
acabo torcendo me pé caindo com a caixa em cima de mim, como se já não
bastasse a queda vergonhosa a caixa se abriu fazendo com que alguns livros
atingissem meu rosto.
— Porra – resmungo tocando meu nariz atingido.

— Charlotte, você está bem? – ouço Eléa dizer ao se abaixar ao meu lado tirando a
caixa de cima de minhas pernas e afastando alguns dos livros de cima de mim

— Estou, foi apenas uma pequena queda – resmungo ainda sentindo uma leve
ardência no rosto.

Eléa me ajuda a levantar e pede a outro funcionário que junte os livros, ela me ajuda
a levantar me guiando ao escritório, ao dar o primeiro passo piso em um dos livros
quase sendo levada ao chão outra vez.

— Opa – Eléa me firma pela cintura colando meu corpo ao seu, nossos olhos se
encontram e tenho a sensação intensa de como se ela pudesse ver através de
minha alma

— Precisa ter mais cuidado Charlotte, nem sempre estarei por perto quando cair

— Obrigada pela ajuda, e me desculpe – digo envergonhada antes de me afastar


dela sorrindo sem jeito.

— Tem certeza de que está bem? – ela me encara preocupada e eu sorrio diante de
sua preocupação

— Está sim, irei votar ao trabalho – aponto para o andar de baixo, a vejo assentir
antes de voltar a descer as escadas, na cozinha me sento atrás do balcão e me
permito respirar fundo outra vez.

Trabalhar perto de Eléa se tornava cada vez mais difícil e perigoso para o meu
coração, quando a noite cai os funcionários vão se despedindo um a um, restando
apenas eu e Eléa que ainda permanecia em seu escritório, ignorando a dor de
cabeça chata que me acompanhou durante o restante do dia subo as escadas para
falar com ela tentando conter a escola de samba que tocava frenética em meu
coração só de pensar em seu nome, bato duas vezes na porta antes de a abrir

— Pode entrar – ouço ela dizer quando empurro a porta entrando

— Com licença, desculpe atrapalhar – falo ao vê-la com a mesa repleta de papeis.

— Você não incomoda, precisa de algo? – ela diz retirando os óculos de leitura me
fazendo suspirar.

— Já está na hora de fechar – digo sem jeito


— Oh, sério? Me desculpe eu perdi a noção do tempo – ela diz se apressando a
recolher os papeis para colocar na bolsa

— Me deixe ajudar – falo dando um passo à frente, sinto uma leve tontura e firmo os
pés no chão para não cair

— Charlotte está tudo bem? – ela deixa o que fazia e dá a volta na mesa parando a
minha frente preocupada

— Estou bem, foi só uma tontura – respondo

— Se senta aqui, irei fechar tudo e te levar para casa – ela toca com uma das mãos
na base da minha coluna, foi então que tudo se tornou escuro, e a última coisa que
ouvi foi sua voz chamando meu nome.

Quando acordo reconheço o teto branco como o de um hospital, pisco os olhos para
me acostumar com a claridade e sinto uma mão apertando a minha, levo meus
olhos até lá encontrando Eléa quase dormindo ao meu lado com os dedos
entrelaçados aos meus.

— Eléa – chamo com a voz rouca, ela desperta devagar me encarando preocupada.

— Charlotte! – ela fica de pé e solta minha mão para tocar meu rosto, seus olhos
escuros exalavam preocupação.

— O que aconteceu? – pergunto ignorando o formigamento que seu toque causava


em minha pele.

— Você desmaiou de cansaço, o médico falou que pode ser por estar
sobrecarregada ou estressada com as mudanças repentinas na sua vida – ela
explica e eu apenas assinto concordando.

— Quando posso ir para casa? – pergunto

— Estávamos apenas te esperando acordar, você já foi medicada, vou avisar ao


médico – ela diz e se afasta saindo pela porta.

Não demorou muito e ela retornou com um homem de jaleco branco ao seu lado.

— Olá senhorita Miller, vejo que acordou bem, você precisa descansar sua mente,
te dei um atestado de dois dias, caso volte a sentir dores de cabeça já entreguei
uma receita de quais são os mais indicados a se tomar a sua namorada – ela diz me
fazendo corar
— Ela não...

— Já pode ir para a casa agora – ele diz se afastando ao receber um bip


anunciando um outro paciente.

Eléa me olha rindo enquanto eu permaneço envergonhada pelas palavras do


médico.

— Me desculpe por isso – peço

— Pelo que? Ser chamada de sua namorada? Seria um privilégio ter esse título –
ela sorri antes de me ajudar a sentar na cama — Agora levanta que irei te levar para
casa

Assinto deixando que ela me ajude a calçar meus sapatos e a descer da cama,
passamos na recepção onde ela assina alguns papéis se responsabilizando pelos
custos o que me deixou ainda mais sem jeito.

— Pode descontar o que gastou comigo aqui do meu salário – falo quando ela abre
a porta do carro de Aiden que estava com ela enquanto ele estava em lua de mel

—Não precisa se preocupar com isso, entre – ela aponta para dentro do carro e eu
a obedeço, me sento no banco do carona e coloco o cinto de segurança enquanto
ela dá a volta e assume o banco do motorista — Qual seu endereço?

Digo a ela meu endereço e ela adiciona ao gps logo dando partida no carro, a
viagem de volta é silenciosa, pouco mais de quinze minutos depois estamos em
frente à minha casa, retiro o cinto e me viro para ela.

— Obrigada por ter me levado ao hospital hoje, e desculpe todo o transtorno –


agradeço

— Não me incomoda Charlotte, agora entre e descanse – ela diz acariciando meu
ombro

— Nos vemos amanhã na biblioteca - digo abrindo a porta, mas sou parada por ela
segurando meu braço.

— Você que não me apareça por lá, você ouviu o médico dois dias descansando
essa cabecinha – ela toca minha testa com o indicador

— Mas e a biblioteca como fica? O Aiden...


— Com o Aiden pode deixar que eu me entendo, quanto a biblioteca eu posso
assumir suas funções – ela diz

— Você? – pergunto surpresa e ela me encara ofendida

— O que? Não me acha capaz? – ela toca o peito fazendo drama logo rindo em
seguida

— Não é isso, mas você já tem trabalhado demais e...

— E não me importa, eu consigo, sou sua chefe e estou te mandando descansar –


ela finge usar sua autoridade comigo me fazendo sorrir sem jeito

— Tudo bem então chefe – debocho abrindo a porta para sair

— Espera – ela se estica e pega um casaco no banco de trás o colocando sobre


meus ombros, seu perfume gostoso me abraça aquecendo meu corpo junto do calor
da peça, ao se aproximar para passar o casaco por meu ombro Eléa acaba próxima
demais, nossos olhos voltam a se encontrar e dessa vez nenhuma de nós recua
quando nossos lábios se encontram.

Sua palma toca meu rosto me puxando para mais perto enquanto meus lábios
deslizam pelos seus, o sabor de sua boca era tão gostoso quanto eu poderia ter
imaginado, minhas mãos se apoiam em sua cintura quando sua língua toca a minha
fazendo com que meu corpo inteira reaja, a consciência do que estava acontecendo
me atinge com força e me afasto dela com os olhos arregalados.

Eléa me encara confusa, seus lábios vermelhos e inchados do nosso beijo tornando
o momento ainda mais real bem ali na minha frente.

— B-Boa noite – murmuro saindo do carro às pressas sem a dar tempo de


questionar.

Passo pela porta de casa como um raio, minha mãe me encara deitada no sofá,
apenas a desejo boa noite e corro para o quarto fechando a porta, permito que meu
corpo deslize na madeira até me encontrar sentada no chão, o perfume em seu
casaco e a sensação de formigamento em meus lábios me lembrava que tudo
aquilo foi real, eu realmente beijei a minha chefe.

Eléa
Apoio minha testa no volante praguejando minha lentidão por não ter corrido a
tempo atrás dela, tudo aconteceu tão rápido e de forma não planejada, quando vi
seus lábios já estavam nos meus e mais rápido ainda se foram, meu coração
apertava ansiando por mais dela, frustrada dirijo de volta para casa ainda com a
sensação de seus lábios nos meus.

Mesmo após um banho quente o momento no carro não me saia da cabeça, e


pensar que só a veria dali a dois dias me deixava ainda mais paranoica, sem sono
acabo procurando seu nome nas redes sociais sem encontrar nada, resolvo então
procurar ela no perfil de Aiden.

— Bingo – comemoro ao encontrá-la pelo perfil dele, mas como felicidade de pobre
dura pouco seu perfil era privado, peço permissão para segui-la e fico encarando a
tela na espera de que ela visse a notificação na hora, frustrada bufo deixando o
telefone de lado decidida a na manhã seguinte a mandar uma mensagem para
tentar me aproximar sem que a assuste em sua volta.
Capítulo 5
Charlotte

Virava na cama inquieta, maldita ansiedade que resolvia mexer com meus
sentimentos numa péssima hora, só conseguia me perguntar coisas como:

Será que ela gostou do beijo? Foi apenas um beijo espontâneo ou Eléa também
tinha sentimentos por mim? E se sim, que tipo de sentimentos?

Como também pensamentos negativos que relembravam que éramos de mundos


diferentes, que eu jamais seria suficiente para a mulher forte, independente e
madura que ela é.

Volto a realidade quando meu celular vibra embaixo do travesseiro, pego o aparelho
e a notificação de um pedido de seguidor brilha na tela com seu nome, pisco
algumas vezes e esfrego os olhos para ver se eu não estava louca, clico na
notificação e seu perfil abre para mim, fotos suas no EUA com amigos, ou na cidade
com Aiden, outras com pessoas mais velhas, ou extremamente parecidas com ela,
provavelmente sua família.

Meu coração volta a se acelerar enquanto encaro o botão ‘seguir de volta’ indecisa
se deveria ou não a deixar se aproximar, com medo de acabar me magoando ou
nutrindo sentimentos ainda mais intensos por ela, deixo o celular de lado enquanto a
noite fria passa lentamente tornando meus sentimentos cada vez mais confusos.

Os dias se passaram mais depressa do que o esperado, voltei a trabalhar fingindo


que nada havia acontecido, ainda não tive coragem de aceitar sua solicitação para
me seguir, o que tornava toda a situação uma grande incógnita na minha cabeça.

Quando vi Eléa passando pela portas de vidro todos os sentimentos que escondi em
meu peito nos últimos dias voltaram com força, seus olhos encontraram os meus
por breve segundos mas dessa vez eu não consegui ver nada através deles, seu
rosto sério demonstrava que ela estava tão confusa quanto eu nessa situação, dei
um tempo pelo salão reunindo coragem para subir até seu escritório, preparei então
um expresso e subi calmamente cada degrau respirando fundo para não desistir no
meio do caminho, dei duas batidas na porta e pude ouvir sua voz abafada lá dentro

— Entre
Empurro a porta entrando no cômodo, Eléa encarava a tela do computador, quando
seus olhos se ergueram até mim ela pareceu surpresa, mas logo tratou de se
recompor.

— Vim te trazer um café, espero não estar incomodando – digo

— Você nunca incomoda – ela diz — Pode deixar na mesa que já irei tomar
obrigada

Faço o que me foi mandado e me viro para sair da sala, mas paro no meio do
caminho voltando a me virar para ela.

— Me desculpe pela outra noite, se eu soubesse que isso a deixaria incomodada


jamais teria...

— Não se preocupe com isso, não é nada em relação àquela noite, apenas alguns
problemas de família – ela diz sorrindo fraco

— Claro, então irei te deixar trabalhar – abaixo a cabeça prestes a sair quando ouço
a cadeira sendo arrastada no piso de madeira e seus saltos batendo no chão ao se
aproximar de mim

— Me diga uma coisa Charlotte – ela pausa tocando meu queixo me fazendo olhar
em seus olhos — Aquele beijo significou para você tanto quanto significou para
mim?

— E-Eu...

Não tive tempo de formular uma resposta, sua respiração em meu rosto, seu
perfume, tudo naquele momento me rendeu e quando percebi Eléa me empurrava
para trás com os lábios devorando os meus até minhas pernas baterem em algo
macio, ela me jogou na poltrona e subiu sobre meu colo colocando uma perna em
cada lado de minha cintura devorando minha boca com a sua tirando
completamente meu ar e minha capacidade de pensar.

— Eléa – murmuro sem folego quando seus lábios deixam os meus e descem para
o meu pescoço, sinto seus dentes puxando minha pele e aperto suas coxas em
minhas mãos gemendo baixinho — Não deveríamos estar fazendo isso

Eléa se afasta de meu pescoço para voltar a encarar meu rosto, com as mãos
espalmadas em cada uma de minhas bochechas ela suspira antes de começar a
falar

— Me dê um motivo plausível para me impedir de voltar a te beijar agora


— Eu sou sua funcionária – digo

— Charlotte o que estamos sentindo agora não tem nada a ver com o fato de você
ser minha funcionária – ela deixa um selar em meu nariz — Eu quero que saiba que
eu gostei de você desde o primeiro dia em que coloquei meus olhos em você

— Mas...

— Mas você trabalhar para mim não muda o fato de que eu estou apaixonada pela
forma como você morde os lábios quando está nervosa, ou como coloca o cabelo
atrás da orelha quando está concentrada lendo, ou da maneira como seus lábios
tomam os meus quando me beija – ela sela meus lábios

— Eu gosto de você Léa, mas trabalho e amor nunca tendem a dar certo quando
colocados juntos – justifico

— Amor? – ela sorri — Só de você cogitar ser amor já faz valer a pena tentar fazer
isso dar certo Lottie, você não sabe o que causou em meu coração ao dizer essa
palavra.

— Desculpa, eu falei sem pensar – falo envergonhada

— Eu só te desculpo se me chamar para sair, assim pode me chamar de amor o


quanto quiser dessa vez do jeito certo – ela diz ainda sorrindo

— Então se me permite – pigarreio a fazendo rir — Senhorita Scott, você aceita sair
comigo?

— Com toda certeza do mundo – ela responde voltando a unir nossos lábios num
beijo avassalador, seu corpo pressiona o meu contra o estofado outra vez e eu
aperto sua cintura a afastando de mim.

— Vamos com calma, ainda estamos no trabalho – digo

— Mas sua boca é tão irresistível – ela morde os lábios tentando se aproximar outra
vez.

Me levanto com ela no colo a colocando de pé, ajeito sua saia que havia subido um
pouco devido a posição que estávamos, tiro seus braços do meu pescoço e a dou
um último selinho antes de seguir até a porta.

— Sem beijos no trabalho chefe – sorrio debochada antes de sair fechando a porta
atrás de mim.
Com um sorriso nos lábios trabalhei o restante do dia com o coração quentinho e
seus olhos felinos sobre mim a cada vez que ela desfilava pelo salão ou pelas
prateleiras tentando me convencer a voltar ao seu escritório, eu ria e ignorava suas
investidas me mantendo ocupada trabalhando por mais tentador que a ideia fosse,
eu precisava me manter forte ou definitivamente essa mulher iria me enlouquecer.

No final do dia só restavam novamente nós duas, após os funcionários saírem vou
até o vestiário e me troco tentando ficar o mais apresentável possível para
podermos sair juntas daqui, já é bastava sermos completamente diferentes não
queria a fazer passar vergonha por me ter ao seu lado.

Enquanto guardava minhas coisas na bolsa, sinto dois braços passarem ao redor da
minha cintura me fazendo gritar de susto

— Calma, sou eu – ela ri me abraçando agora de frente me permitindo ver seu


rosto.

— Você me assustou – resmungo a abraçando de volta.

— Desculpe eu estava com saudades já que minha futura namorada me negou


beijos o dia todo – ela dramatiza

— E vou continuar negando enquanto estivermos aqui dentro – dou um tapinha em


seu ombro me afastando para fechar minha bolsa a colocando no ombro

— Então vamos logo que estou ansiosa para passar mais tempo te beijando, ou
melhor, com você – ela corrige me fazendo rir

Agarro sua palma estendida e saio do vestiário com ela ao meu lado, depois de tudo
fechado seguimos caminhando mesmo até um restaurante ali perto para o nosso
primeiro encontro oficial. O restaurante era absurdo de lindo, a decoração delicada,
luz baixa e música suave, as mesas tinham uma distância confortável para que as
pessoas pudessem conversar sem incomodar umas as outras.

— Esse restaurante é especialista em massas, você gosta? – Eléa diz puxando a


cadeira para que eu possa me sentar

— Eu amo massa – sorrio — Na verdade eu amo comer, não sou tão exigente para
comida – rio

— Então somos mais parecidas do que parece – ela sorri — Gostaria de vinho?

— Sim, por favor


Eléa acena para um garçom que se aproxima da mesa com um bloco de notas na
mão.

— Por favor nos traga o melhor vinho da casa e duas massas a... bolonhesa está
bom para você? – ela pergunta

— Está perfeito – confirmo.

O garçom assente e sai nós deixando a sós.

— Gostou daqui? – ela pergunta estendendo a mão sobre a mesa para segurar a
minha

— É lindo, bem aconchegante – sorrio acariciando sua palma com meu polegar

— A minha acompanhante torna o lugar ainda mais bonito – ela diz me fazendo
corar envergonhada

Eléa

Naquela noite parecia que eu havia ganhado na loteria de tão feliz que estava ao ter
aquela mulher maravilhosa ao meu lado, cada vez que a vejo sorrindo me encanto
cada vez mais, a forma como seus olhos brilham encarando ao redor, e como sua
mão acaricia a minha em cima da mesa me passando carinho e comforto.

Enquanto conversávamos sobre as pinturas nas paredes do restaurante ou sobre


nossas famílias eu percebia que ela me conquistava cada vez mais, tudo aquilo
parecia um sonho, que a qualquer momento eu iria acordar em minha cama
frustrada e sem ela. Mas a realidade estava ali bem diante de mim, sorrindo
enquanto elogia sua comida e toma seu vinho, o único sonho ali naquela noite, era
ela corresponder ao que eu sinto na mesma intensidade a qual eu sentia por ela a
cada novo segundo.

Charlotte
Eu estava extasiada e assustada com tudo o que estava acontecendo, as coisas
estavam indo depressa, e eu ainda não conseguia definir em palavras os meus
sentimentos, a companhia de Eléa me fazia muito bem e aquele lugar em que ela
escolheu me levar era igualmente maravilhoso, era um ambiente muito diferente do
que eu estava acostumada no meu dia a dia, mas eu estava amando poder viver
essa experiência ao lado dela.

A noite correu maravilhosamente bem, quando terminamos a sobremesa entramos


num pequeno embate sobre quem pagaria a conta, mas Eléa consegui ser a pessoa
mais teimosa da face da terra quando queria, dando o braço a torcer acabei
aceitando que ela pagasse, desde que na próxima vez eu cozinharia para ela, de
mãos dadas chegamos ao seu carro, antes que eu pudesse entrar Eléa me
encostou contra a porta colando seu corpo ao meu enquanto me encarava
sorridente e charmosa.

— Tem planos para agora? – ela diz se aproximando mais e eu apenas nego com a
cabeça — Podemos ir para a minha casa o que acha?

Ela sugere com sua boca deixando rastros de beijos por todo o meu pescoço e
ombros, seguro firme em seus ombros a afastando um pouco ofegante, ainda não
me sentia segura para dar esse passo, Eléa era linda e atraente, mas não queria
dar um passo maior que a perna e acabar na cama dela sem entender meus
próprios sentimentos.

— Eu acho melhor irmos com calma – digo sem jeito

— Não estava sugerindo isso – ela sorri — Mas respeito sua decisão, posso pelo
menos te levar até sua casa?

Assinto sorrindo e selo meus lábios aos seus, ela abre a porta e me espera entrar
para a fechar e dar a volta assumindo o lugar do motorista logo seguindo as
coordenadas do GPS em direção a minha casa, quando ela estaciona em frente à
casa a sensação de deixá-la ali passou a me incomodar.

— Obrigada por me trazer – sorrio para ela antes de abrir a porta

— Onde pensa que vai sem se despedir? – ela diz me puxando de volta.

Mal tenho tempo de raciocinar antes de ter seus lábios nos meus me roubando não
só o ar, mas a capacidade de raciocínio, quando dei por mim já havia fechado outra
vez a porta do carro e agora me inclinava sobre seu banco tomando seus lábios
para mim.

— Não quero dizer tchau – ela diz ao separar nossos lábios ofegante
— Nem eu – a olho nos olhos mordendo os lábios com a ideia que me passa pela
mente — O que acha de entrar?

Ela me olha com as sobrancelhas franzidas, mas com os olhos queimando em


expectativa.

— Não vamos cruzar essa linha, ainda não – eu explico — Só quero passar mais
tempo com você fora do trabalho

— Tudo bem – ela concorda.

Nos separamos para descer do carro, após ela o trancar seguro sua mão
caminhando pela pequena entrada de cascalhos que levava até a porta

— Só temos um pequeno problema – falo antes de abrir a porta sussurrando

— Qual? – ela diz confusa

— Minha mãe não pode ver você entrando, ela ainda não sabe sobre eu estar
saindo com alguém – digo sem jeito a fazendo rir.

No medo de que minha mãe a ouça coloco minha palma sobre seus lábios abafando
sua risada.

— Não ri Eléa! – resmungo baixinho

— Desculpa, eu só achei engraçado, estou me sentindo uma adolescente outra vez


– ela ri baixinho dessa vez — Vamos lá, como quer fazer isso?

— Me siga mais de longe – digo abrindo a porta devagar

— Lottie filha é você? – ouço a voz da minha mãe vinda da cozinha

— Oi mãe, sou eu – respondo de volta.

Aponto para o corredor que leva aos quartos para Eléa fazendo o número dois com
os dedos para ela entender qual era o meu quarto, ela que assente aguardando o
momento certo para passar.

Vou até minha mãe e a abraço com força a virando de costas para o arco da
cozinha para que não veja Eléa passando.
— Que amor todo é essa menina – minha mãe reclama de brincadeira se afastando
após eu beijar sua testa

— Saudades mãezinha – sorrio para ela — Vou para o meu quarto descansar, não
demore a ir para cama está frio

Dou outro beijo nela desejando boa noite antes de praticamente correr até meu
quarto fechando a porta atrás de mim passando a chave por precaução, quando
olho em direção a cama quase perco o folego, aquela mulher incrivelmente linda
sentada na cama me esperando com um sorriso no rosto era enlouquecedor,
perdida em meio aos sentimentos que ela me causava esqueço minha bolsa de
qualquer jeito no chão e vou em sua direção, segurando em ambos os lados de seu
rosto voltando a beijá-la com desejo.

Não sei como, nem quando as coisas começaram a ficar quentes demais entre nós
duas, as mãos correndo livremente pelo corpo uma da outra e nossas camisetas
para fora do corpo, foi somente quando sua mão tentou se infiltrar em minha calça
que eu percebi que aquela não era a hora nem o lugar certo para aquilo e com
dificuldade me afastei de seus toques

— Nós deveríamos ir dormir – digo ainda sem folego e ela assente saindo de cima
do meu corpo para se deitar ao meu lado, quando nossas respirações se acalmam
me aconchego nela permitindo que o sono chegue a mim enquanto sinto seu
perfume.

Eléa

Quando Charlotte me convidou para entrar confesso que fiquei surpresa, aceitei
sem pensar duas vezes, o que estou sentindo por ela é tão intenso que não sei
como explicar, é tão bom que nem mesmo me importei em me aventurar a entrar
escondida de sua mãe em sua casa, com a ideia de quem em breve entraria em sua
casa como convidada, e melhor ainda, como sua namorada se assim ela desejar.

Mesmo quando já estava no quarto aguardando que ela entrasse me encontrava


nervosa e com o coração acelerado, minhas mãos suavam com medo de ser
flagrada como uma adolescente invadindo o quarto da namorada sorrateiramente
em meio a madrugada para dar uns amassos, o que não estava totalmente errado,
tirando o fato de que não tínhamos mais quinze anos.

Mesmo quando ela entrou e me atacou com aquele beijo eu não conseguia pensar
em mais nada além de sua boca na minha, e na minha pele, quando as coisas
cruzaram o limite e confesso que eu me empolguei demais quando ela já havia
deixado claro que aquela não era sua intenção naquela noite me fez sentir culpada,
mas quando ela rodeou seus braços em meu corpo e dormimos de conchinha
consegui me sentir em paz para adormecer.

Charlotte

Ter Eléa em meus braços era reconfortante e intenso, dormimos rápido nos braços
uma da outra, me levantei a madrugada após acordar com seus resmungos de frio,
peguei um cobertor e voltei para a cama a cobrindo e voltando a deitar com ela, com
sua cabeça descansando em meu pescoço demorei a voltar a pegar no sono com
todas as sensações que apenas sua presença causava em mim.

Quando acordei na manhã seguinte ela ainda dormia em meus braços, sorrio
analisando seu rosto sereno relaxado, acaricio sua bochecha com o polegar
admirando cada um de seus traços.

— Um dia ainda irei me casar com você – penso alto

— Mesmo que não tenha sido um pedido oficial, eu aceito me casar com você – ela
responde com a voz rouca antes de abrir os olhos me assustando.

— Você... – sussurro com minha voz quase sumindo de vergonha apor ser flagrada

— Você consegue ficar linda até envergonhada – ela brinca sorrindo — Adorei
saber que tem planos de um futuro comigo, mesmo que ainda seja meio cedo para
isso, ainda nem tive a oportunidade de te pedir em namoro

Sorrio sem graça escondendo meu rosto em seu pescoço

— Não sei o que dizer agora – rio sem jeito

— Que tal a gente levantar antes que sua mãe acorde e nós pegue no flagra? – ela
sugere

— Tem razão – me afasto dela me colocando de pé.

Por sorte meu quarto tinha banheiro, com isso nos revezamos ao usá-lo para banho
e nos trocar, Eléa pegou algumas roupas minhas emprestadas e logo saímos na
ponta dos pés de casa aproveitando o sono pesado de minha mãe, quando
entramos em seu carro suspiramos de alívio por não sermos flagradas
— Desculpe eu nem peguei nada para seu café da manhã – falo percebendo que
devido a saída escondia nenhuma de nós havia comido

— Relaxa, posso usar isso de desculpa agora para te levar para tomar café comigo
– ela sorri antes de dar partida no carro.

— Se importa se a gente comer no trabalho? Eu particularmente sou apaixonada


nos Brownies de lá – digo sorrindo

— Você quem manda – ela entrelaça os dedos de uma das mãos na minha
enquanto dirige com a outra as separando apenas quando precisava trocar de
marcha

Ao chegarmos à livraria aproveitamos que ainda não havia ninguém para ir direto a
cozinha.

— Eu vou fazer um café para a gente, pega um prato e monta com algumas das
opções de ontem para gente comer – digo a ela que assente indo fazer o que foi
pedido colocando tudo numa mesa próxima ao balcão.

— Lottie espera, me deixa fazer um omelete para a gente também – ela pede
enquanto sirvo os cafés em duas xícaras.

Me sento em nossa mesa a observando por cima da bancada enquanto ela


preparava os ovos mostrando suas habilidades culinárias, após servir os ovos num
prato ela se senta ao meu lado colocando o prato entre nós duas

— Muito obrigada Chef, você é muito prestativa e rápida – digo antes de dar a
primeira garfada

— Obrigada, eu sou profissional em omeletes – ela se gaba me fazendo rir —


Espero que goste

Tomamos nosso café em meio a risadas e caricias, quando já estava perto do


horário dos funcionários chegarem, deixamos a conversa de lado para limpar tudo o
que sujamos para que ninguém percebesse que havíamos tomado café ali, já não
bastava os boatos de que eu dormia com Aiden, estar com a outra dona me
configurava como oportunista, coisa que jamais fui ou serei.

— Pronto, tudo limpo – digo secando as mãos num pano de prato

Eléa se aproxima rodeando minha cintura me roubando um leve selar.


— Tenha um bom dia de trabalho linda – ela tenta aprofundar o beijo, mas me
afasto me desvinculando de seus braços

— Léa aqui não – falo sem jeito — Alguém pode chegar e nós ver

— Eu não me importo, não tenho nada a esconder – ela rebate contrariada

— Mas eu sim, não quero que surjam mais boatos maldosos, eles já ficaram meio
estranhos desde o dia em que me defendeu - digo a vendo suspirar e se afastar

— Tudo bem

Sem dizer mais nada ela sai parecendo chateada ao me deixar sozinha para trás
não tenho tempo de a seguir para questionar ao ver dois funcionários chegando, os
cumprimento com um sorriso fraco olhando novamente em direção as escadas por
onde ela desapareceu.

Eléa

Aquele dia parecia passar lentamente, a decisão de Charlotte de não nos assumir
continuava martelando em minha cabeça sem parar, o medo de que ela não
sentisse tudo na mesma intensidade que eu, crescia cada vez mais dentro de mim,
então passei boa parte do dia fugindo de sua presença, apenas quando a tarde cai
resolvo sair do escritório para comer algo, não esperava a encontrar nas escadas
conversando com uma garota de cabelos curtos, seus olhos encontraram os meus
mas ambas continuaram conversando enquanto eu descia as escadas, no balcão fiz
meu pedido ao funcionário, enquanto aguardava vejo uma ruiva muito familiar se
sentando em uma das mesas e me aproximo sorrindo ao reconhece-la

— May? – a chamo, ela se vira e sorri ao me reconhecer.

— Léa, que bom te ver de novo – ela se levanta me abraçando

— Agora sem tanta confusão e homens nus – brinco a fazendo rir.

— Nem me fale nisso, ainda tenho pesadelos – ela ri se afastando

— Veio ler algo ou apenas tomar um café? - pergunto

— Na verdade estou esperando alguém – ela sorri


— Hum, um encontro? – digo sugestiva a fazendo corar assentindo — Vou te deixar
aproveitar o seu encontro então, preciso trabalhar agora

Com outro abraço me despeço dela e saio em direção as escadas, Charlotte ainda
nas escadas com a garota a entrega um livro que nem me dou o trabalho de ver o
título, sumindo pelos corredores em direção ao meu escritório me corroendo de
ciúmes.

Já em meu escritório eu caminhava de um lado para o outro inquieta.

Por que ela deu um presente para a outra garota?


De onde elas se conhecem?
Seriam amigas, ou pior, ex-namoradas?

Minha mente fervia com dúvidas atrás de dúvidas.

— Para com isso Eléa, não é da sua conta, controle esse ciúme idiota, ela se quer
aceitou seus sentimentos por ela ainda – digo a mim mesma caminhando até minha
cadeira me sentando ali.

Decidida a deixar os ciúmes de lado, e todos os pensamentos pessimistas que


tomavam conta de mim, encaro a tela do computador e os papéis ao seu redor e
respiro fundo começando a reorganizar a papelada de um novo lançamento que
estava para chegar dali a alguns dias, me mantendo distraída até que seu
expediente se encerre.

Capítulo 6
Charlotte

Quando vejo Eléa descendo as escadas sinto um frio na barriga, sabia que
precisávamos conversar, mas não sabia ainda o que dizer sem a magoar com a
confusão que estava dentro de mim, nossos olhos se encontram quando ela desce
as escadas me fazendo soltar o ar que nem percebi que prendia, Ellie que
agradecia o presente que a dei para de falar encarando a morena que descia as
escadas levando junto consigo toda a minha atenção.

— Sua chefe não parece muito feliz hoje – ela diz


— Aconteceram algumas coisas que a chatearam – digo voltando a olhá-la — Mas
voltando ao assunto anterior, quer dizer que Ottawa, seu inferno pessoal foi o lugar
que te fez voltar a explorar o sonho de escrever?

— Pois é, nem eu ainda acredito nisso – ela ri — A parte mais engraçada é que eu
comecei a escrever algo nesse tema natalino, coisa que eu sempre jurei odiar – ela
faz careta me fazendo rir

— E não odeia mais? – questiono risonha

— Muitas coisas mudaram nesse Natal – ela diz olhando em direção a mesa onde
uma ruiva conversava com Eléa, que nem parecia a mesma ranzinza que passara
por nós a pouco.

— Hum, sinto cheiro de romance no ar – brinco rindo

— Precisa de um exame de olfato então – ela retruca, mas sem tirar o sorriso do
rosto — Eu preciso ir, Mayleen está a minha espera

Ela aponta para a ruiva agora sozinha, assinto e a abraço outra vez antes que Ellie
desça as escadas caminhando até sua mesa, Eléa que subia as escadas se quer
me direcionou o olhar ao passar direto para seu escritório, engulo em seco
descendo as escadas caminhando até o balcão voltando a trabalhar com os
pensamentos presos na morena no andar superior.

O restante da tarde passou depressa, quando dei por mim já estávamos fechando a
livraria para limpeza, durante todo esse tempo Eléa se quer saiu de seu escritório,
apenas um funcionário teve contato com ela ao lhe servir um café horas mais cedo,
após deixarmos tudo limpo me despeço dos meus colegas de trabalho e tranco a
porta de entrada por dentro para poder subir até o escritório para avisar Eléa sobre
o horário de encerramento, diante da porta bati duas vezes na madeira ouvindo sua
voz baixa autorizando a minha entrada.

— Entre – coloco a cabeça para dentro do cômodo e seus olhos se erguem da tela
do computador para me olhar — Ah é você Charlotte

— Você não apareceu o resto da tarde, vim ver se estava bem – digo terminando de
entrar no cômodo.

— Estava ocupada com alguns papéis – ela desvia os olhos dos meus ao apontar
para os papéis em mãos
— O expediente já encerrou – digo

— Ah desculpe, perdi a noção da hora, não queria te fazer esperar por mim para ir
para casa – ela diz se levantando colocando os papéis numa única pilha

— Não é problema te esperar – digo baixo — Você está realmente bem?

— Sim – ela diz ainda sem me olhar

— Eléa, seja sincera comigo, você parece incomodada, me diga o que está te
deixando assim – peço

— Não a nada de errado, é impressão sua – ela me dá um sorriso forçado enquanto


fecha o notebook me fazendo suspirar em frustração.

— Não é apenas uma impressão, você me ignorou o dia todo

— Eu não...

— Eléa por favor...

— Tudo bem – ela diz me olhando nos olhos pela primeira vez naquela noite —
Estou com ciúmes de você, e com pensamentos confusos sobre seus sentimentos
em relação a mim – ela confessa

— Ciúmes? De quem? – falo confusa

— A mulher com quem você estava conversando mais cedo – ela diz baixo

— A Ellie? – rio — Ela veio comprar um livro e acabei a dando um de presente,


somos apenas amigas, inclusive acho que ela gosta daquela sua amiga ruiva

— Não dou presentes para pessoa que eu não gosto – ela resmunga

— Mas eu gosto da Ellie – ela me olha chateada e sorrio completando a frase —


Mas apenas como uma amiga

— Ok – ela diz ainda emburrada me fazendo me aproximar dela passando meus


braços ao redor de seu corpo

— Amor não precisa ter ciúmes – selo seus lábios — Eu pretendo ser apenas sua
se assim você quiser
Ela assente me dando outro selar

— Desculpa, eu fiquei insegura – ela diz envergonhada

— Só me promete que sempre vai falar comigo sobre o que estiver te incomodando
ok? – ergo o dedinho e ela ri entrelaçando o dela ao meu — Sei que ainda temos
muito o que conversar, mas podemos fazer isso em outro lugar?

— Quer que eu invada seu quarto outra vez? – ela ergue as sobrancelhas rindo

— Não engraçadinha – beijo a ponta do nariz dela tentando afastar a vergonha ao


sugerir — Pensei em irmos para a sua casa

Ela me afasta para olhar bem em meus olhos procurando por qualquer sinal de
dúvida, antes de concordar

— Vamos passar em algum restaurante antes para comprar nosso jantar então

— Nada disso – nego me afastando de seus braços para ir até a porta — Hoje eu
irei cozinhar para você

Ela sorri e pega sua bolsa antes de vir até mim entrelaçando seus dedos aos meus.

— Estou ansiosa para descobrir mais um dos seus talentos – ela sorri.

Quando passamos próximo a um mercado peço a Eléa para que estacione para que eu
possa comprar os itens necessários para preparar nosso jantar.

— O que acha de lasanha? – sugiro para ela que assente

— Bolonhesa? – ela pergunta empurrando o carrinho pelos corredores do mercado

— Pode ser, para mim é uma das melhores que tem - digo

— Você pode ir pegando o que precisa para fazer a lasanha que eu vou buscar algumas
coisas para fazermos também uma sobremesa, tudo bem? – ela pergunta e eu apenas
concordo com a cabeça a vendo se afastar levando o carrinho consigo.

Pego uma cesta pequena para facilitar enquanto escolho os itens necessários para o prato.

— Massa para lasanha, presunto, queijo, carne moída, molho de tomate, leite... – digo
conferindo tudo na cesta.
Resolvo pegar alguns temperos também, encontro Eléa no corredor de doces com o
carrinho abarrotado de barras de chocolate, doces, biscoitos e tudo de mais doce que
poderia se encontrar em um mercado.

— O que é isso? – aponto para o carrinho enquanto ela encarava duas barras de
chocolates diferentes tentando escolher entre elas.

— Eu esqueci de perguntar de qual você gostava, então peguei um de cada – ela explica
apontando para o carrinho

— Léa, isso é um exagero, vamos devolver tudo para as prateleiras – digo

— Mas podemos deixar lá em casa, assim tenho a desculpa perfeita para fazer você voltar
sempre por lá para me ajudar a comer tudo isso – ela diz com a maior cara de inocente me
fazendo rir

— Não precisa disso meu bem, é só me convidar que eu apareço por lá – beijo sua
bochecha

— Estou te convidando para passar todos os dias na minha casa a partir de hoje que tal? –
ela diz sorrindo

— Boa tentativa – digo rindo — Vamos, devolve tudo isso

— Mas Lottie...

— Nem tenta, pega apenas alguns chocolates para usarmos na sobremesa e o resto você
devolve – digo firme antes de sair a deixando para trás.

No caixa dividimos o valor após muitas ameaças da minha parte o que me levou a ter uma
anfitriãn emburrada pelo resto do caminho até seu apartamento, mesmo após entrarmos e
deixarmos tudo sobre a ilha da cozinha ela continuava com um bico enorme nós lábios.

— Amor desfaz essa cara vai – falo jogando meu corpo por cima do dela que estava
estirado no sofá

— Você devia ter me deixado pagar pela comida – ela resmunga outra vez

— Será que apenas por hoje eu posso pagar e cozinhar um jantar para minha namorada?
Tudo bem que eu não tenho tanto dinheiro como você, mas me deixa fazer isso por você
pelo menos uma vez – peço

— Você disse namorada? – ela diz com um sorriso no rosto

— De tudo o que eu disse foi tudo o que você ouviu? – finjo estar brava me levantando
— Lottie, vem cá – ela se levanta e eu me afasto mais tentando me manter fiel ao papel de
irritada

— Não, eu vou para casa já que todo meu esforço em te agradar está sendo ignorado e...

Eléa se aproxima de supetão segurando meu rosto entre suas palmas selando
demoradamente nossos lábios um no outro.

— Se continuar me chamando de namorada você pode fazer o que quiser comigo – ela diz
ao separar nossos lábios ainda sem abrir os olhos

— Tudo o que eu quiser? – sorrio maliciosa a fazendo rir

— Garota não me olha assim – ela praticamente implora se afastando.

— Me responde – me aproximo sorrateira a encurralando contra a parede — Posso mesmo


fazer o que eu quiser com você?

Ela assente afetada pela proximidade do meu corpo ao seu.

— Lave as mãos então, temos um jantar para fazer e eu preciso de uma ajudante – a dou
um selinho rápido e me afasto indo até a pia para lavar minhas mãos, as seco num pano de
prato que encontro ali rindo ao vê-la ainda parada processando o que acabou de acontecer

— Isso não se faz – ela resmunga quando finalmente volta a si

— Mas eu não fiz nada amor – digo inocente ao sorrir — Não ainda

Eléa mesmo contrariada caminha até a pia e lava as mãos para começarmos o nosso
jantar, com sua ajuda logo encontro os utensílios que precisaria para fazer a receita nós
armários podendo enfim começar a cozinhar.
— Eléa! – grito em meio a risos quando ela liga o liquidificador com a tampa aberta fazendo
voar mousse de maracujá para todo lado sujando nós duas,

— Desculpa eu esqueci de colocar a tampa – ela diz rindo vindo até mim para tirar o
mousse que voou em meu rosto o limpando com a língua me fazendo resmungar

— Muito conveniente para a senhora – digo quando ela se afasta

— Ficou ainda mais gostoso em você – ela sorri safada.

— Você quem vai limpar isso – falo com as bochechas coradas a fazendo rir e assentir.

Preparo as coisas da lasanha enquanto ela limpa a bagunça que fez para poder voltar a
preparar sua receita.

— Amor, prova aqui – ela diz ao trazer uma colher com o mousse para mim
— Hum, está uma delícia – elogio — Eu amo mousse de maracujá

— Eu sei – ela sorri — Sempre te vejo comendo no trabalho, foi fácil deduzir

Sorrio para ela que coloca seu doce na travessa

— Depois vou derreter chocolate ao leite para colocar por cima junto das sementes do
maracujá – ela diz ao colocar a travessa na geladeira antes de se aproximar abraçando
minha cintura enquanto monto a lasanha — Quer ajuda?

— Já estou quase terminando – ela beija meu ombro e sorrio me virando um pouco para
olhá-la — Não desconcentre sua chefe de cozinha

Ela ri antes de beijar meus lábios.

— Não consigo resistir a você – ela admite

— Mas acho bom resistir se não quiser ficar sem jantar – a cutuco com o cotovelo a fazendo
se afastar de mim rindo

— Você quem manda chefe – ela ri — Vou colocando as coisas que sujamos na lava louças

— Ainda preciso me acostumar que namoro uma mulher rica – resmungo — Passei a vida
usando a bom e velho sabão e esponja

— Ei, eu também sei lavar louça sem a máquina – ela diz contrariada — Mas prefiro usar os
benefícios que vieram inclusos nesse apartamento

Assinto rindo antes e colocar a lasanha para assar, passo para ela os potes de recheio e a
panela usada para preparar a carne que ela coloca junto ao resto das coisas na máquina.

— O que quer fazer enquanto esperamos ficar pronta? – ela diz de frente para mim

— Que tal só ficar assim, namorando – falo ao passar os braços por seus ombros beijando
seus lábios calmamente

— Tentador, mas precisamos de um banho estamos peguentas de doce – ela diz

— Depois – a puxo para mim a dando diversos selares que logo se transformou num beijo
lento e sensual.

Não sei o que deu em mim quando saltei me sentando sobre a ilha da cozinha trazendo
Eléa para o meio das minhas pernas enquanto nossas bocas disputavam por espaço uma
na outra.

— Lottie – ela diz ofegante se afastando — Melhor paramos por aqui, você disse que queria
ir com calma
Com a respiração irregular concordo com a cabeça a deixando me ajudar a deixar do
balcão.

— Vem, vou te mostrar onde fica o banheiro e te emprestar uma roupa – ela diz me guiando
pela mão em direção ao corredor que levava ao seu quarto.

Depois de me entregar uma muda de roupas ela me deixa no quarto para usar seu banheiro
enquanto vai tomar o seu banho no banheiro do corredor, me sento na cama com as peças
de roupa nas mãos, apesar do beijo ter se encerrado a alguns minutos, meu corpo e minha
mente se recusavam a esquecer da sensação de suas mãos me segurando e sua boca na
minha, por impulso me coloco de pé e deixo as roupas limpas sobre a cama, caminho até a
porta do banheiro no corredor e toco a maçaneta a girando, quando a porta se abre o frio na
barriga retorna com força, sem dar espaço para o medo a empurro entrando, Eléa se vira ao
ouvir o som da porta e me encara sem reação, sem pensar duas vezes tiro minha camiseta
assim como o resto de minhas roupas sem desgrudar meus olhos dos seus, quando entro
embaixo da água quente a encaro de perto ansiosa

— Oi

Foi a última coisa que eu disse antes de ter meu corpo preso contra a parede pelo seu, e de
meus lábios as únicas palavras que escapavam era seu nome somado a gemidos de prazer
que se estenderam do banheiro até seu quarto.

— Não acredito que deixamos a comida queimar – resmungo irritada quando tiro a travessa
carbonizada do forno.

— Sinto informar, mas a culpa disso é sua – ela diz rindo

— Como é? De certo eu estava me divertindo sozinha, não é? – digo cruzando os braços

— Não mesmo – ela me abraça e beija meu rosto — Você me surpreendeu essa noite, de
várias formas

— Você prometeu que não iriamos ficar falando sobre isso, eu tenho vergonha – digo
escondendo meu rosto em seu pescoço

— Vergonha de ser uma mulher linda, atraente e cheia de atitude? – ela ri e ergue meu
rosto para me beijar nos lábios — Nosso jantar já era, podemos pedir por delivery e ainda
temos a sobremesa

— Queria ter cozinhado para você – resmungo

— Teremos outras oportunidades amor, vem vamos assistir algo e pedir nossa comida
Ela me arrasta até a sala e nós sentamos abraçadas no sofá que tinha tamanho para uma
cama, após pedirmos nossa comida ficamos ali abraçadas assistindo um programa de
culinária e julgando como se fossemos experts no assunto até nossa refeição chegar.

Na manhã seguinte acordar ao lado de Eléa foi maravilhoso, mas por mais difícil que seja
sair de seus braços, fui direto para o banheiro para dessa vez tomar um banho descente e
sozinha, minha mãe e eu passávamos todos os natais juntas, era nossa própria tradição
preparar e comer as refeições tradicionais apenas as duas desde a morte de meu pai,
quando sai do banheiro senti um cheiro maravilhoso tomar conta do quarto, segui então em
direção a cozinha encontrando Eléa preparando o nosso café da manhã.

— Bom dia amor, vem tomar um café antes de eu te levar para casa – ela diz assim que me
vê entrar

— Obrigada meu amor – a agradeço com um selar antes de me sentar ao seu lado

Comemos enquanto falávamos sobre qualquer assunto que surgisse, e isso era uma das
coisas que eu mais amava nela, poder falar de tudo sem me preocupar com o fato de ser
julgada ou não, sem me limitar.

— Vou só pegar minhas coisas e nós já vamos – digo a ela depois de a ajudar a recolher
as louças do café

Vou até o quarto pegando minha bolsa e as roupas usadas no dia anterior colocando tudo
dentro para poder levar para casa, retorno para a sala e a encontro já com as chaves do
carro na mão e sua própria bolsa nos ombros.

— Vamos vida – ela me estende a mão entrelaçando nossos dedos ao sair.

Depois de Eléa me deixar em casa para passar o dia com seus familiares, passei o restante
do dia ajudando minha mãe a fazer nossa sobremesa e já fui preparando meu frango com
batata assado, minha mãe preparou um arroz colorido especial que só ela sabe fazer, que
era uma das minhas comidas preferidas, depois que comemos ficamos as duas no sofá
assistindo a vídeo clipes de músicas antigas enquanto cantávamos juntas até meu celular
anunciar a chegada de uma nova mensagem de Eléa.

Léa💜: Amor como vocês


estão?
Eu: estamos bem e vocês por aí?

Léa💜: Caótico como sempre,


Asher trouxe dois
acompanhantes, está uma
loucura!

Eu: Dois? Meu deus!

Léa💜: E você nem acredita


em quem é um deles!

Léa💜: o James!

Eu: Não acredito! A Ellie vai surtar


com isso

Léa💜: Falar em Ellie, a May


nos chamou para um jantar
de Natal lá na pousada hoje,
vamos?

Eu: Eu adoraria, mas não quero


deixar minha mãe sozinha

Léa💜: Podemos falar com


ela, mas pensa com carinho
ok?

Eu: Ok, prometo pensar 💋

Após me despedir dela, me viro para minha mãe sem jeito.

— Mãe eu tenho que te contar uma coisa

— Diga minha filha – ela diz ficando preocupada

— Eu estou saindo com uma pessoa esses dias, e vou trazer ela para a senhora conhecer
tudo bem? – falo nervosa

— Que ótimo minha filha – ela sorri — Vem cá me dar um abraço estou tão feliz por você,
bem que eu percebi que você anda feliz ultimamente

— Ela me faz tão bem mãe – sorrio apaixonada


— Se te faz feliz é só o que me importa meu amor – ela beija minha testa e me faz carinho
nós cabelos.

Passamos o restinho da tarde ali aproveitando a companhia uma da outra até a chegada do
horário ao qual Eléa me avisou que chegaria ali, depois de que fiquei encarando meu
reflexo no espelho para conferir se estava tudo ok na maquiagem até outra mensagem de
Eléa chegar em meu celular.

Léa💜: Amor, já estou aqui na


frente
Eu: Estou indo

Praticamente corro até a porta a abrindo acenando para que Eléa desça do carro e
caminhe até a mim.

— Você está linda – ela diz antes de selar meus lábios

— Você também não está de se jogar fora – brinco rindo — Vem entra, quero te apresentar
a minha mãe

Eléa me encara nervosa antes e seguir para dentro ainda com a mão agarrada a minha,
minha mãe estava no sofá e se vira ao nós ouvir se aproximando.

— Mãe, essa é a Eléa minha namorada – digo

— Olá é um prazer conhecer a senhora – ela estende a mão para minha mãe que recusa
educadamente se levantando para a abraçar apertado.

— O prazer é todo meu querida, só cuide bem da minha menina e seremos ótimas amigas –
minha mãe diz sorrindo para ela.

— Pode deixar senhora

— Me chame apenas de Emma – minha mãe a corrige

— Mãe tem certeza de que vai ficar bem sozinha? – pergunto outra vez

— Já disse que sim filha, o senhor Smith está vindo me fazer companhia – ela diz me
fazendo criar uma carranca.

Senhor Smith era um dos vizinhos a qual minha mãe implicava desde que me conheço por
gente, um senhor bem enxuto para a idade dele confesso, mas extremamente galinha e
vivia dando em cima da minha mãe ou de qualquer senhora com mais de sessenta anos.

— Não gosto dele – resmungo


— E eu não me importo, agora vá se divertir com sua namorada, e leve esse presente para
Mayleen – ela me entrega uma caixa e praticamente nós coloca para fora

— Feliz Natal dona Emma – Eléa diz acenando antes de me enfiar no carro, bem a tempo
deu ver aquele senhor assanhado chegando na porta de minha casa

— Tenham uma ótima noite meninas – minha mãe ainda acena enquanto partimos

O sino da porta anuncia nossa chegada assim que passamos por ela, logo vejo Ellie
e May lado a lado notando nossa presença, vejo elas sussurrarem algo entre si
antes de May abraçar Eléa

— Que bom que vocês vieram – May diz ao se afastar de Léa para me abraçar.

— Quase não viemos, a mãe da Lottie que a obrigou a sair – diz Eléa

— Eu nunca passei o Natal longe dela, fiquei sentida em a deixar sozinha - explico

— Nem tão sozinha assim, aquele vizinho que foi a fazer companhia era um coroa
bem enxuto – Eléa brinca me fazendo a olhar horrorizada

— Para já com isso! Minha mãe não ficaria com o senhor Smith, eles se odeiam
desde que me entendo por gente – digo

— Ódio vira amor, olha a prova viva aqui – responde May abraçando Ellie por trás e
deixando um beijo em seu pescoço a fazendo corar.

— Eu nunca te odiei – ela fala — Era só uma leve antipatia

— O nome disso era tesão – James diz passando por nós seguido de Charlie que
ria com uma bandeja repleta de taças nas mãos.

— Atração é mais bonito de se dizer, mas ele não está errado - ele pisca e se
afasta após pegarmos cada uma sua taça.

— Charlie eu te disse que não era para você trabalhar hoje – Mayleen dispara atrás
deles dois nós deixando sozinhas.

— Então vocês finalmente estão juntas? – pergunto animada


— Não – ela nega desviando os olhos até a ruiva que ria de algo que meus amigos
falavam — Em algumas horas estarei longe daqui ela não merece ficar esperando
por alguém que se quer sabe o que quer da própria vida

Ela toma um gole generoso de sua bebida sobre os nossos olhares de pesar.

— Essa festa está parecendo um enterro, tudo bem que o aniversariante já morreu,
desculpa ai Jesus – Alguém diz já levemente alterado abraçando James pelos
ombros enquanto levanta sua taça vazia — Mas é nosso último dia aqui, e
merecemos uma despedida digna.

Algumas pessoas gritam e outras assobiam animadas com a sugestão dele, não
levou muito tempo para que uma pequena mesa de som fosse montada e acoplada
a caixas de som mais modernas, logo uma música agitada tomava conta da sala e
as pessoas saiam de seus lugares para se juntar no pouco espaço livre para
dançar.

— Ainda bem que voltamos a tempo da festa – Ouço Aiden dizer abraçando May

— Pensei que iriam passar as festas todas nas praias Caribenhas - Eléa diz a eles.

Ficamos ali conversando e bebendo por algum tempo em grupo até nos
dispersarmos cada um para um lado aproveitando das comidas bebidas e música
boa da festa, a partir dali tudo foi se tornando um borrão em minha mente, onde eu
só conseguia me lembrar de virar outro shot e do sabor maravilhoso do álcool
somado aos beijos de Eléa.

Eléa
Para alguém que se quer queria vir a festa de primeira, Charlotte tinha aproveitado
um pouquinho além da conta, bebendo o suficiente para apagar em meus braços
enquanto dançávamos.

— Eu preciso de um pouco de água e ir ao banheiro – resmungo após largar


Charlotte parcialmente consciente em um dos sofás ao lado de May e Ellie que se
agarravam por ali.

— Pode deixar que nós cuidamos dela – Ellie diz e eu a olho em dúvida, ninguém ali
estava cem por cento sóbrio

— Ok, por favor não a deixem beber mais nada – peço a vendo assentir.
Vou ao banheiro praticamente correndo agradecendo por estar vazio, quando
retorno pego uma garrafa de água e volto até onde as três ainda estavam
encontrando agora Mayleen dormindo nós braços de Ellie.

— Obrigada por ter feito os dias delas duas mais alegres – digo para Ellie ao me
sentar no chão segurando a mão de Charlotte que resmungava algo em seu sono
profundo

— Elas que fizeram dessa viagem que tinha tudo para ser um desastre a melhor de
todas – ela diz com um sorriso.

— Elas vão sentir sua falta – digo sabendo o quanto a amizade dela era importante
para Lottie.

— Eu também – ela diz com um suspiro triste.

Capítulo 7

Charlotte

Acordar nós pós festa com certeza era a pior parte depois de uma noite intensa de
bebedeira, ao abrir meus olhos naquela manhã o arrependimento me pegou em
cheio com a tremenda dor de cabeça que sentia, ao me sentar na cama não
controlo o palavrão que escapa de meus lábios enquanto levo a mão até minha
testa a massageando, meus lábios e garganta estavam secos como se não vissem
água a semanas, saio para fora dos cobertores notando a falta de Eléa naquele
quarto desconhecido, assim que fico de pé o enjoo me atinge com força enquanto
corro em direção a primeira porta que vejo torcendo para que seja o banheiro, mal
tenho tempo de comemorar ao acertar o cômodo e já me jogo aos pés da privada
colocando para fora todas as misturas loucas que fiz na noite interior.

— Eu nunca mais vou beber – resmungo limpando meus lábios com as costas da
mão sentindo novamente o enjoo voltar com força, dessa vez meus cabelos são
segurados por outra mão enquanto a pessoa acaricia minhas costas em empatia.

— Todos dizem isso – ouço Eléa dizer sobre minha frase anterior
— Sai daqui – resmungo com vergonha demais dela me ver naquele estado

— Que espécie de namorada acha que sou se eu não cuidar de você? – ela diz em
tom de riso me fazendo gemer de vergonha.

Após garantir que não havia mais nada para botar para fora Eléa me ajuda a
levantar e fecha o vaso dando descarga antes de me colocar sentada sobre a tampa
e beijar minha testa.

— Ainda não é um casamento, mas estamos juntas na saúde ou na doença – ela


afirma me olhando nos olhos, assinto cobrindo a boca com as mãos enquanto ela
pega uma escova de dentes novas em uma das gavetas do banheiro e coloco o
creme dental me entregando em seguida — Aqui, escove bem a língua ou vai
continuar tendo ânsia

Enquanto escovo os dentes ainda sentada Eléa se encarrega de pegar uma escova
e pentear meus cabelos todo para trás deixando apenas duas mexas soltas para
fora do rabo de cavalo que ela amarrou, em seguida ela sai do banheiro me
deixando sozinha para terminar de escovar os dentes e enxaguar a boca, quando
termino aproveito para jogar uma água no rosto e ver se voltava a ter um pouco de
cor, quando retorno ao quarto encontro Eléa ajeitando as coisas que ela tirava de
uma bandeja na pequena mesa próxima a janela.

— Amor – digo me aproximando dela a abraçando por trás ouvindo ela murmurar
aguardando a continuação do que eu tinha a dizer — Em que momento eu apaguei
e vim parar aqui?

— A festa já estava para acabar e você estava bêbada demais e só sabia reclamar
sobre como você ficaria sozinha agora que a Ellie vai voltar para casa e sua mãe
está namorando, que só tinha a mim e me amava muito – ela diz rindo

— O que? Eu realmente fiz isso? – pergunto arregalando os olhos me afastando


dela

— A parte que dizia que me amava? – ela sorri de lado — Infelizmente foi a única
parte que realmente não aconteceu

— Meu deus que vergonha – digo cobrindo o rosto com as mãos.

Apesar de envergonhada eu estava grata por não ter dito que a amava em meio a
palavras emboladas e embriagadas.
— Sobre como chegou aqui, os meninos me ajudaram com isso – ela completa me
pegando pela mão me levando até a mesa para me sentar

— Me lembre de agradecê-los depois – peço

— Pode deixar, agora coma algumas frutas, seu estomago está sensível então
peguei coisas leves – ela diz colocando uma tigela com algumas frutas cortadas em
minha frente.

— Obrigada meu bem – sorrio agradecida começando a comer — Apesar da


ressaca, ontem foi incrível, fazia muito tempo que eu não saia com amigos, não que
eu tenha algum fora os do trabalho e agora os seus – digo

— Agora você faz parte dessa família maluca que nós desenvolvemos – ela diz
acariciando minha mão sobre a mesa

— Ficarei mais esperta numa próxima, nada de misturar bebidas – falei tentando
convencer a mim mesma a fazendo rir

— Quem nunca deu um PT que atire a primeira pedra – ela diz rindo

Começamos a comer comentando sobre tudo que vimos na noite anterior até que
meu telefone toca me fazendo levantar para pegá-lo na mesa de cabeceira, na tela
piscava o nome “Mãe” cheio de corações ao lado, atendo sem pensar duas vezes.

— Bom dia mãezinha – digo animada

— Boa tarde meu amor, já se passam das 13:00 – ela diz risonha

— Oh deus, desculpe mãe eu perdi a noção da hora – falo culpada

— Está tudo bem, sua namorada me ligou avisando que ainda estava dormindo
mais cedo – ela explica

— Eu já estou a caminho de casa, não se preocupe - digo

— Não! – ela grita me fazendo afastar o telefone da orelha assustada — Digo, é


justamente por isso que estou lhe ligando, não precisa voltar para casa hoje

— Como é? – falo confusa

— Estou com visita querida, passe o dia de hoje com sua namorada

— Visita? Quem mãe?


— Benjamin está aqui comigo Lottie – ela usa meu apelido sabendo o que viria a
seguir

— O senhor Smith?! – praticamente berro ao telefone chocada com a notícia

— Exatamente, ele passou a noite aqui comigo, não pense besteiras – ela completa
rapidamente a frase antes que eu pudesse gritar outra vez — Eu acho que estou
começando a gostar dele e talvez vamos começar a namorar

— Mãe você não pode namorar o senhor Smith ele...ele... – tento algo para poder
reclamar sobre o vizinho, mas não encontro me calando

— Meu amor agora você tem a Eléa e eu posso arrumar uma companhia para mim
também, estou ficando velha e...

— Você não é velha! – a corto a ouvindo suspirar do outro lado da linha

— Tudo bem querida, conversamos melhor sobre o assunto pessoalmente ok?

— Ok – respondo ainda contrariada diante da notícia

— Beijos meu amor, até amanhã não esqueça que eu te amo – ela se despede

— Eu te amo Mãe, se cuide

Digo antes que ela desligue a chamada me deixando perplexa encarando Eléa a
minha frente.

— O que foi meu amor? – Eléa diz com ar de riso como quem já esperava a notícia

— Minha mãe está namorando – falo no automático — Namorando o senhor Smith!

— Fico feliz por eles, Benjamin pareceu uma pessoa boa à primeira vista – ela diz
me chamando para me sentar em seu colo e eu vou sem pensar muito.

— Parece que você terá que me dar abrigo por essa noite – digo

— Ótimo, eu já planejava cuidar de você e te mimar hoje mesmo – ela sorri e me


rouba um selinho.

— Vamos acabar de comer então, ainda precisamos ajudar os outros com a limpeza
da pousada antes de ir – digo alcançando minhas frutas voltando a comer.
— Aiden ficará na livraria hoje para passarmos o dia juntas – ela diz roubando uma
manga minha

— Meu chefe é demais – digo sorrindo a fazendo revirar os olhos.

— Mesmo namorando comigo Aiden sempre será seu chefe preferido, não é? – ela
questiona me fazendo rir enquanto afirmo com a cabeça.

Logo estamos entre uma guerra de cócegas com direito a muitos beijos e carinho
envolvido, quase me fazendo esquecer a dor de cabeça causada pela ressaca.

Pouco mais de duas horas depois já estávamos entrando no apartamento de Eléa,


depois do nosso café da manhã ajeitamos o quarto que passamos a noite e
ajudamos os outros com as tarefas de limpeza da pousada acabando mais rápido
devido a quantidade de pessoas ajudando, assim que passamos pela porta de
madeira do apartamento não penso duas vezes em tirar meus sapatos e me jogar
no sofá confortável como se estivesse em casa

— O que acha de vermos um filme? – Eléa sugere

— Eu topo – digo sorrindo

— Espere aqui, irei buscar cobertores e travesseiros para nós – ela diz antes de
sumir pelo corredor que levava ao seu quarto, pouco depois ela volta com tudo nos
braços enquanto eu já cochilava no sofá — Vejo que ainda está cansada – ela diz
colocando uma das cobertas sobre mim

— Não vou dormir – murmuro sonolenta piscando tentando afastar o sono — Quero
assistir algo com você

— O que acha de uma série? – ouço a voz dela longe antes de ser embalada de vez
pelo sono.

Eléa

Estranhei quando Lottie não respondeu, me viro após deixar o pijama que trouxe
para ela sobre a mesa de centro sorrindo ao vê-la dormindo serena, pego um dos
travesseiros e o ajeito embaixo de sua cabeça para que fique mais confortável antes
de me deitar de frente para ela graças ao sofá espaçoso.
— Ainda não acredito que alguém como você é minha namorada – digo em um
sussurro acariciando sua bochecha com o polegar

Sinto uma de suas mãos me tocar a cintura antes de me puxar para perto, sorrio
deixando que ela me abrace e se aconchegue melhor para dormir, quando sinto o
sono começar a me atingir só consigo agradecer a minha sogra por ter me dado a
oportunidade de passar mais uma noite dormindo ao lado da mulher que eu amo.

A semana passou depressa, noites como aquela no meu apartamento se tornaram


comuns já que dona Emma sempre dava um jeito de deixar Lottie para fora para
aproveitar com o namorado, não posso julgar, eu era igual com sua filha, cada
segundo ao seu lado era precioso e bem aproveitado.

Com a chegada do ano novo dali a dois dias, estava enfurnada em meu escritório
tentando adiantar tudo o possível para poder passar aquela data com minha família
que não via desde a manhã de Natal, enquanto aprovava a chegada de mais uma
remessa de livros de Noah meu telefone toca, levo os olhos até a tela vendo o nome
de minha Mãe brilhando na tela.

— Oi minha rainha – digo ao atender

— Oi filha desnaturada – ela responde dramática do outro lado me fazendo rir —


Precisei te ligar para ter notícias já que você esqueceu que tem família

— Desculpe mãe, estou trabalhando mais que o normal para conseguir fechar a
livraria amanhã e depois para ficar um tempo com vocês – explico

— Me diga que está se alimentando direito pelo menos – ela chia

— Não se preocupe mãe, Charlotte faz questão de me lembrar de comer nos


horários certos

— Era dela mesmo que queria falar – ela diz — Estava conversando com seu pai, e
pensamos que seria importante trazer sua namorada e a mãe para o ano novo,
assim podemos nós conhecer melhor já que você não para de falar nela quando
está aqui

— Mãe eu ainda não a pedi em namoro, não sei se ela vai se sentir confortável em
meio a toda a família – digo sem jeito
— Isso não é problema garota, você pode aproveitar a oportunidade e fazer um
pedido de namoro digno de uma Scott, e se der errado pode chorar e se lamentar
ao lado do Asher que perdeu o primeiro amor para um americano metido a besta,
palavras dele – ela completa me fazendo rir

— Tudo bem mãe, irei conversar com ela ainda hoje e te dou uma resposta tudo
bem?

— Aguardaremos ansiosos, quero conhecer quem deixou minha filha encantada


dessa forma

— Vocês vão adorar ela – digo sorrindo ao ouvir duas batidas na porta seguido de
Charlotte a entre abrindo colocando apenas a cabeça para dentro, sinalizo para que
ela entre enquanto me despeço de minha mãe — Mãe preciso desligar agora, minha
adorável funcionária trouxe meu café da tarde e se eu não comer pode ter certeza
de que não irei aparecer no ano novo por estar morta

— Vá querida, até amanhã eu amo você – ela diz após rir do meu minidrama

— Também te amo mãe, manda um beijo para o Ash – digo antes de encerrar a
chamada voltando a olhar para minha namorada que ajeitava um prato e um
frappuccino sobre a mesa no escritório — Oi meu bem

— Te atrapalhei? – ela diz se aproximando me abraçando pelos ombros

— Nem um pouco – beijo sua bochecha — Estava falando com minha mãe sobre a
festa de ano novo

— Vou sentir sua falta nesses dois dias – ela diz acariciando meus cabelos

— Se você e dona Emma aceitarem o nosso convite não vai precisar ter saudade –
digo sorrindo a vendo confusa — Minha mãe ligou para convidar vocês para
passarem o ano novo com a gente lá na casa dela, se sua mãe quiser pode levar o
senhor Smith também

— Nossa – ela diz surpresa — Sua família quer me conhecer?

— Sim, eu falei tanto sobre você que eles ficaram curiosos – explico

— Eu adoraria ir, mas primeiro preciso falar com minha mãe – ela diz

— Eu vou te levar em casa e já aproveitamos para falar com ela, tudo bem?
— Vou apenas me trocar e pegar minhas coisas enquanto você come – ela sela
meus lábios antes de se afastar saindo da sala.

Faço o que ela me pede e me sento para comer, quando acabo, arrumo minhas
coisas na minha bolsa e desço levando comigo a bandeja com as coisas que usei
para deixar na cozinha, encontro Aiden conversando com alguns funcionários.

— Você realmente não consegue ficar longe daqui, não é? – resmungo com ele que
revira os olhos sorrindo

— Isso aqui é minha segunda casa, sinto saudades – ele justifica — Eu encerro por
aqui hoje, já deixei que Lottie saísse mais cedo o que consequentemente te libera
junto

— Obrigada Aid – abraço ele — Nos vemos depois do ano novo

Logo nós despedimos e seguimos até meu carro para que eu pudesse a levar em
casa.

Após deixar Lottie em casa e fazer o convite para a festa de ano novo, segui direto
para o shopping mais próximo para seguir o conselho de minha mãe e oficializar
nosso namoro na noite de ano novo, procurei em diversas joalherias até encontrar a
peça mais bonita e que combinaria perfeitamente com minha garota, em seguida
comprei um urso de pelúcia enorme e encomendei flores para a manhã seguinte, o
pedido seria fofo, romântico e cafona como eu gosto.

Quando abri os olhos na manhã seguinte pude sentir os primeiros sinais da noite
mal dormido de tamanha ansiedade, me coloquei de pé rapidamente correndo para
me preparar e pegar tudo que eu precisava a tempo de deixar tudo na casa dos
meus pais antes de buscar Lottie e sua família, sim, agora já acrescento senhor
Smith como alguém da família, já que o belo senhor não saia mais da casa da
minha sogra previa que esse namoro iria evoluir para casamento mais rápido do que
o esperado.

Depois de pronta analiso as alianças na caixinha antes de partir em direção a casa


dos meus pais que ficava quase fora de Ottawa o que me renderia uma longa
viagem de ida e volta para evitar que Charlotte descobrisse seu presente antes da
hora certa, batucava meus dedos contra o volante tentando colocar toda a
ansiedade para fora e não estragar tudo num dia que seria tão importante para nós
duas.

Charlotte

Eléa estava estranha, foi a primeira coisa que notei ao vê-la naquela manhã, seu
sorriso não parecia natural, e a forma como ela secava as mãos suadas na calça a
cada cinco minutos indicava que ela estava nervosa, pensando nisso coloquei meu
nervosismo de lado entrelaçando meus dedos aos seus assim que descemos do
carro em frente a enorme casa, que estava mais para mansão.

— Fica calma, sou eu que estou indo conhecer meus sogros – brinco com ela que ri
nervosa

— Desculpa amor, estou ansiosa, é a primeira vez que eu apresento alguém para
eles – ela explica

— Pelo menos você não me fez entrar escondida nessa casa enorme, eu com
certeza me perderia em tantos cômodos – sussurro para ela para que minha mãe
não ouça a fazendo rir escandalosa

— Tem certeza de que estamos vestidas de forma adequada? – minha mãe


resmunga encarando a porta a nossa frente

— Não se preocupe com isso sogrinha, minha família tem dinheiro, mas somos bem
simples – ela tranquiliza minha mãe antes de abrir a porta nós levando para dentro
— Dona Amélia, já chegamos

Não demorou muito para que uma mulher muito bonita saísse de um dos cômodos
enxugando as mãos num pano de prato correndo para abraçá-la sendo seguida por
um homem mais velho, e um jovem que aparentava ter a mesma idade de Eléa.

— Mãe, parece até que faz anos que não me vê – ela diz beijando as bochechas da
mãe — Mãe, essa é minha namorada Charlotte, sua mãe Emma e Benjamin
namorado dela.

— É um prazer finalmente te conhecer Charlotte – ela me abraça — Sejam bem-


vindos a nossa casa, esse é meu marido Theo

— E aquele otário ali é o meu irmão Asher – Eléa completa recebendo um dedo do
meio do irmão
— Vocês dois não tem jeito – Amélia resmunga com os dois nós fazendo rir —
Fiquem à vontade para conhecer a casa, eu preciso voltar a cozinha para terminar
de prepara as comidas para a noite

— Me deixe ajudá-la – minha mãe se oferece a seguindo.

Logo Theo leva senhor Smith consigo e Asher se despede de nós duas, nós
deixando sozinhas na enorme sala.

— O que gostaria de fazer primeiro? – Eléa me pergunta

— Se importa de ajudarmos sua mãe? Gostaria de a conhecer melhor – digo sem


jeito a vendo sorri ao assentir me guiando na mesma direção que as outas duas.

— Estou preparando os pratos favoritos de Eléa e Asher, eles não ficam muito
tempo por aqui, então gosto de mimá-los – ouço minha sogra dizendo

— Lottie agora tem passado bastante tempo com Eléa então só tenho cozinhado
para mim e Benjamin, mas não reclamo, ver como as duas fazem bem uma para a
outra compensa – minha mãe diz

— Podemos ajudar? – Eléa corta a conversa das duas

— Na verdade sim, queria que pegasse algumas ervas na estufa para mim filha –
dona Amélia diz.

— Claro – ela solta minha mão e me lança um olhar que dizia que já voltaria antes
de sair me deixando ali com aquelas duas.

— Gostaria de aprender um dos pratos favoritos da Eléa, Charlotte? – Amélia diz —


Quando se casarem já vai saber como a ganhar com um bom prato

Rio sem jeito sentindo minhas bochechas coradas devido a brincadeira repentina.,
ignorando sua brincadeira logo tomo a frente a ajudando com as panelas, aos
poucos Amélia acaba me contando alguns do que ela chama de “segredos
especiais” em suas receitas, nem mesmo vejo a hora passando tão depressa, só
noto quando Eléa chega carregada de sacolas ao lado do pai e senhor Smith.

— Desculpe o sumiço amor, encontrei meu pai no jardim e ele me pediu ajuda com
umas compras – ela diz selando meus lábios em frente a todos me deixando
envergonhada.

Logo a colocamos para ajudar nas sobremesas que faltavam antes que o restante
de sua família chegasse, ao cair da noite todos foram para os seus quartos para se
arrumar, o que descobri foi que reservaram um dos milhares de quartos de
hóspedes para minha mãe e o namorado, e me jogaram diretamente na boca do
leão, digo, minha namorada, visto que dividiríamos o quarto naquela noite.

Eléa
Charlotte estava linda naquele vestido azul marinho que contrastava perfeitamente
com seus cabelos, minha família toda se encantou por ela e sua família, o que sem
dúvidas me ajudou e muito a esconder o nervosismo que mantinha dentro de mim a
cada novo minuto que passava, quando o relógio marcou 23:55 reuni todos na sala
os chamando para o terraço para que pudéssemos ver os fogos de artificio.

Minha garota desfilou de uma ponta a outra da sala até estar ao meu lado
entrelaçando os dedos aos meus enquanto subíamos junto aos outros em direção
ao terraço, o espaço era decorado com móveis de madeira e muitas plantas que
deixavam o ar mais leve e agradável, a diferença naquela noite fora as luzes que
minha mãe e Asher se encarregaram de pendurar para decorar o lugar para o
momento perfeito, todos se aproximaram da grade com os olhos no céu, meu
coração batia frenético no peito quando Lottie se virou em meus braços me olhando
nos olhos.

— Obrigada por isso – ela aponta com a taça em suas mãos em direção a meus
pais e tios ao redor — Conhecer outro lado seu só me fez ter mais certeza de que
eu te amo

Não sei explicar o que suas palavras me causam, naquele momento apenas uno
nossas testas respirando fundo antes de perder a coragem que reuni o dia todo.

— Cinco...Quatro...

— Eu não consigo colocar em palavras tudo o que você me faz sentir, te ter ao meu
lado é a única certeza que eu tenho no momento – começo pegando a caixinha que
meu irmão me estende aguardando o momento exato.

— Três...Dois...Um

— Lottie, você aceita ser oficialmente minha namorada? – pergunto enfim a


mostrando o par de alianças em minhas mãos tremulas.

— Feliz ano novo! – todos gritam e começam a se abraçar enquanto Charlotte e eu


permanecemos presas em nossa própria bolha
— É claro que eu aceito meu amor – ela diz com os olhos marejados antes de selar
seus lábios aos meus num beijo apaixonante, regado aos gritos da minha família, e
o céu iluminado de testemunha de que ali, era só o começo do nosso amor.

Charlotte

Definitivamente conhecer Ellie, Aiden, Noah e Eléa foi coisa do destino, essa era
uma certeza que eu tinha em mente enquanto assinávamos aquele contrato alguns
dias após aquela reunião com meu ex-chefe e toda a trupe dos escritores, sabíamos
que ainda tinha muito o que trabalhar e ser aprimorado nos próximos meses, mas
se tinha algo que eu tinha de sobra era vontade de trabalhar e mostrar ao mundo
quem era Charlotte Miller.

Naquele dia eu dera o primeiro passo para um futuro desafiador, mas cheio de
promessas de resultados grandiosos, contando com o apoio de minha mãe, meus
amigos e minha agora oficialmente namorada, nada além de mim poderia me
impedir de seguir meu sonho e me tornar quem eu sempre sonhei ser, esse Natal
trouxera para mim a maior das surpresas que eu poderia esperar, um amor
romântico, um amor fraterno, muita bagunça de brinde e amigos a quem eu não
tenho medo de mostrar quem sou.

Rio de Janeiro, Brasil

Vozes e mais vozes se misturavam por todo o lugar, o evento estava lotado,
editoras de todo o país se reuniam para divulgar seus autores e obras, enquanto
uma equipe acompanhava a mim e a Eléa lado a lado nós levando até o ambiente
denominado como “estande” onde algumas dezenas de pessoas aguardavam pela
minha presença.

Se alguém falasse para a Charlotte de três anos atrás que ela viveria algo assim
com certeza eu iria rir da cara dessa pessoa, mas agora lá estava eu preste a
encarar uma multidão de pessoas que estavam ali para me ver, pela minha obra
que eu jamais imaginei que chegaria tão longe assim.

— Você conseguiu – Eléa diz para mim sorrindo ao notar meu nervosismo diante do
que me aguardava.

— Eu consegui – repito para mim mesma antes de dar o primeiro passo em direção
as pessoas que aguardavam em fila para ter seus livros autografados.
Pude conversar, tirar fotos e até recebi presentes das pessoas presentes ali, com o
passar do tempo todo o nervosismo foi embora, restando apenas o orgulho de mim
mesma por saber onde cheguei, a cada sorriso e a cada experiencia trocada com os
leitores me fazia querer prolongar ainda mais aqueles momentos, quando meu
horário de autógrafos se encerrou me despedi das pessoas ali e ainda fiz algumas
fotos pedindo desculpas por não ter conseguido atender a todos, novamente a
equipe que me acompanhou até o evento me guia até o carro que nos trouxe, Eléa
caminhava ao meu lado com os dedos entrelaçados ao meu, e na outra uma sacola.

— O que é isso? – pergunto assim que nos acomodamos no interior do carro


apontando para a sacola

— Você deixou uma fã sem autógrafo – ela brinca tirando um exemplar do meu livro
em português estendendo a mim

— Em quantas línguas pretende ter o meu livro? – rio o pegando de sua mão

— Todas as possíveis – ela diz sorrindo

— Você sabe que não precisa disso amor – digo sem jeito

— Eu sou sua fã número um, vai me negar um autógrafo? – ela se faz de ofendida
me fazendo rir, seguro a caneta que ela me estende deixando um recado seguido
de minha assinatura na primeira página.

“Para a mulher que me ajudou a conquistar meu sonho, e levou de brinde meu
coração, com amor sua Lottie ”

A devolvo o livro que sorri lendo antes de o guardar novamente na sacola, quando o
carro para em frente ao hotel, descemos juntas agradecendo a toda a equipe que
nós ajudou com tudo naquele dia antes de entramos indo direto para o elevador.

— Está muito cansada? – ela pergunta beijando meu ombro enquanto me abraça de
lado

— Depende, para que seria? – me viro para ela sorrindo sugestiva

— Não é nada disso sua safada – ela belisca minha cintura rindo — Talvez eu tenha
reservado um restaurante para nós comemorarmos esse dia especial para você

— Jura? – pergunto sorrindo e ela afirma com um aceno — Obrigada amor.

— Vem, vamos tomar um banho e nós arrumar para irmos então.


Ela me arrasta para fora do elevador que nem mesmo percebi estar parado em
nosso andar, depois de um banho demorado e devidamente prontas um táxi nós
levou direto ao restaurante que era deslumbrante de lindo, depois de Eléa dar
nossos nomes na entrada fomos levadas para uma mesa onde nós sentamos
observando melhor o local.

— Quem diria que um dia estaríamos em outro pais num lugar como esse – digo

— Ainda mais com uma mulher maravilhosa dessas ao meu ao meu lado – ela diz
segurando minha mão sobre a mesa.

O jantar correu de uma forma maravilhosa, a comida era maravilhosa, e algumas


taças de vinho depois estávamos alegres demais e decidimos encerrar a noite por
ali já que a manhã seguinte seria agitada com passeios turísticos.

Quando acordamos pra variar, atrasadas fizemos tudo às pressas para encontrar
com nosso guia que nós levaria a primeira parada do dia, o Cristo Redentor, a vista
lá de cima era ainda mais bonita do que o esperado, fotos jamais seriam capazes de
transmitir todo a beleza e o sentimento que aquele lugar poderia nos causar, após o
guia contar mais sobre a história do lugar, Eléa e eu aproveitamos para fotografar e
mandar para nossos amigos, desde fotos da paisagem, a fotos imitando o cristo de
braços abertos rendendo uma chuva de mensagens que deixamos para responder
apenas no final do dia para curtir melhor o momento.

Nossa segunda parada fora o bonde do pão de açúcar, confesso que tive medo
assim que o bonde passou a se mover, se não fosse por Eléa apertando meus
dedos entre os seus me acalmando eu não teria aproveitado nem metade do que
aquele passeio nós proporcionou, após a ida e volta, aproveitamos para conhecer
um pouco do lugar passeando pelas atrações até que chegássemos à praia, nos
despedimos do nosso guia Pedro, que fora muito simpático durante todo o passeio,
tiramos então nossos sapatos e andamos sobre a areia quentinha aproveitando do
sol daquele início de tarde, podemos ver uma enorme estrutura sendo montada que
descobrimos ser para um show que aconteceria dali a alguns dias.

Muita água de côco e alguns mergulhos depois já estávamos cansadas e nada


acostumadas com todo o calor daquele lugar, que apesar de lindo parecia que eu
estava fervendo dentro de uma panela, com a ajuda de um quiosque seguimos em
direção ao nosso hotel caminhando mesmo já que não ficava muito longe dali, a
tarde se aproximava do fim, e a tristeza de deixar a cidade brigava com a saudade
de casa, já em nosso quarto na banheira ao lado da mulher que eu amo eu só pude
agradecer por tudo que conquistei nos últimos anos, aos amigos que fiz, a minha
mãe que nunca desistiu de mim, e principalmente a Charlotte que me tornei, que
cresceu e conquistou seu próprio futuro.

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