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The Rose

Traduções
Disponibilização: Eva e Liz
Tradução: Claudinha
Revisão Inicial: Ely e Ava
Revisão Final: Fabi
Leitura Final: Byahz
Formatação: Eva Bold
Dos últimos seis anos da minha vida, só me lembro de metade
dela. Depois de uma dúzia de médicos e milhares em contas
médicas, fui diagnosticado com uma doença neurológica rara -
uma que me faz perder a noção do tempo. Às vezes são horas, dias
ou até mesmo semanas sem lembranças de nada. A coisa boa é que
tem sido quase dois anos desde que tive o meu último 'blackout'.
Parece muito melhor que os médicos se referem a eles como
"episódios", como se minha vida fosse uma comédia maluca.
Durante esses dois anos normais, finalmente consegui obter
meu diploma de bacharel, um trabalho que amo, e acabei de propor a
uma mulher que sempre esteve lá para mim. Pela primeira vez em
muito tempo tudo está caminhando bem.
Até que uma mulher estranha aparece na minha porta - ela
diz que sou seu marido e acho que ela é louca. Até que recebo um
correio de voz no meu telefone. É de um cara chamado Cal. A parte
estranha é, que é o mesmo nome que a mulher estranha me chamou.
O que me apavora, é esse cara Cal... Porque sua voz soa como a
minha.
Chris
07 de março de 2013

Silêncio, silêncio mortal. Não há nada que eu odeie mais no mundo.


É o som que preenche a sala quando você sabe que as pessoas com quem
está falando estão à procura de algo a dizer. Não é apenas algo, é a coisa
certa a dizer. Sabem que se falarem muito rápido ou palavras erradas são
ditas, tudo mudará. A resposta errada poderia balançar o mundo – seu
mundo - fora do eixo. Eu entendo porque meus pais são tão cuidadosos
com suas palavras. Palavras mudaram nossas vidas, e não para melhor.
Tudo começou quando lhes disse: "Não me lembro de onde eu estava na
semana passada." A última vez foi quando me disseram: "Sua mãe está
doente.”
Em cada caso, seguia-se um silêncio mortal. O tempo parou, em
seguida, todos começaram a pensar na coisa certa a falar. Agora fiz um
anúncio que mudará nossas vidas para sempre e espero que seja para
melhor. O mesmo silêncio se segue, e eles me olham sem entender. Estão
chocados. Eu esperava isso. Meu pai finalmente dá um sorriso, mas
minha mãe ainda está estoica. Sua expressão é ilegível, e isso me
preocupa.
"Uau. Comprometido?" Meu pai é o primeiro a quebrar o silêncio na
sala. Seus olhos estão arregalados, a excitação em sua voz é aparente.
"O que você acha mãe?" Eu pergunto, esfregando a parte de trás da
minha cabeça. Pensei que ela ficaria feliz. Ela e Jenna se dão muito bem.
"Eu... eu realmente não sei o que dizer Chris." Ela nem sequer
olhou para mim, soltou um longo suspiro. Levantou-se da mesa de jantar
e desapareceu na cozinha.
Que tipo de felicitações é essa? Sem sorriso, sem lágrimas de
alegria, sem uma única pergunta? No fundo da minha mente, eu sabia
que havia uma chance de que pudesse ser assim, e é por isso que não
trouxe Jenna. Só disse a ela que vou me casar. Que escolhi uma mulher
para passar o resto da minha vida, que vai ser a filha que ela sempre
quis, e ela sai como se eu apenas lhe dissesse para me pegar um
sanduíche. Meu pai olha para trás e suspira antes de seu sorriso
retornar.
"Você conseguiu um bom negócio com o anel?", Ele pergunta,
tentando transmitir emoção suficiente pelos dois. Ele sempre foi um
grande negociador. Eu o teria levado comigo para comprá-lo se achasse
que ele ficaria tão feliz. "Acho que sim." Sorrio.
"Levei Lisa comigo para escolhê-lo." Sorrio. Estou orgulhoso de mim
mesmo. É uma das primeiras grandes decisões que tomei em minha vida
sem sua influência. Lisa tem sido minha melhor amiga desde o jardim de
infância, e conhece joias como ninguém. Ela sabe das coisas, mas não me
forçaria a tomar uma decisão. Mesmo que ela e Jenna não sejam boas
amigas, Jenna amou o anel que Lisa havia escolhido. Meu pai levantou e
me puxou em um abraço de urso.
"Bem parabéns, filho." Ele me dá outro tapinha no ombro. É como
se eu estivesse em um mundo bizarro. Meu pai está animado e aceitou
facilmente, mas mamãe me olha como se eu tivesse dito a ela que
abandonei a faculdade.
"Obrigado, pai", respondo ainda um pouco em estado de choque.
Mamãe está na cozinha batendo as panelas.
"Ela vai vir." Ele percebe meu olhar sinuoso em direção à cozinha.
"Não consigo entendê-la. Ela gosta de Jenna, certo?" Coço a minha
cabeça, agora estou confuso. Quero dizer, pensei que gostasse dela, mas
essa reação está me fazendo pensar que ela é uma boa atriz.
"Claro filho, não é que sua mãe não goste de Jenna. Acho que não
tem nada a ver com ela, realmente." Ele faz um gesto com a cabeça em
direção à sala de estar. O sigo até lá. Sentamos um em frente ao outro em
sofás separados.
"Então o que é? Para ser honesto, eu esperava que você fosse o mal-
humorado," admiti com uma risada seca.
Minha mãe foge do problema. Se fosse ele, iria confrontá-lo ali
mesmo.
Eles realmente equilibram-se mutuamente.
"Estou feliz por você, filho. Você merece isso. Merece estar no
controle das decisões importantes em sua vida", diz ele com um largo
sorriso no rosto. Ele quase parece mais animado do que eu.
"Ela acha que não estou pronto, não é?" Provavelmente seja isso.
"Eu não tive um blackout em dois anos. Tenho feito muito bem",
falo na defensiva, mas a verdade é que tenho que me dizer a cada manhã
que estou pronto.
"Eu sei! Isto é exatamente o que você precisa para deixar o passado
para trás. Pensar em seu futuro”, diz ele de forma encorajadora. "O seu
futuro", acrescenta com um sorriso. Não sei quanto ao futuro, mas vou
levá-lo, enquanto um dos meus pais estiver do meu lado.
"Jenna e seus pais ainda estão chegando para o jantar hoje à noite.
Tenho que falar com a mamãe. Jenna realmente vai ficar chateada se
achar que minha mãe está contra isso." Soltei uma respiração profunda e
me levantei.
"Vou pegar um pouco de champanhe para esta noite." Papai pega
sua jaqueta do cabide.
"Estou orgulhoso de você, filho." E então ele sai pela porta. Balanço
a cabeça em descrença e me encaminho para a cozinha. Meu pai está
realmente feliz com isso? Nunca teria pensado isso. Uma vez que estou na
cozinha, vejo minha mãe puxando uma tigela de batatas da pia e
colocando-as no balcão.
"Precisa de ajuda?" Pergunto, ligando a torneira e lavando as mãos.
Ela sorri para mim.
"Faz muito tempo desde que me ajudou na cozinha", ela diz com
uma risada e me entrega a faca. "Lembro-me de quando você era um
garotinho. Depois que terminou de trabalhar no velho motor que seu pai o
deixou mexer, você entrou na cozinha todo sujo de óleo e pediu para
ajudar na cozinha", ela brinca, começando a descascar mais batatas. Eu
sorrio com a lembrança. Amo meus pais, Não há nada que eu não faria
por qualquer um deles. Quando descobri que ela tinha câncer, fiquei
louco, fora de mim. Parecia uma piada de mau gosto.
Antes disso, meus apagões haviam sido piores do que nunca. Na
maioria das vezes, duravam semanas ao invés de dias, às vezes meses. Eu
estava perdendo a cabeça; As sessões não estavam ajudando. A
medicação só me deixava deprimido. Então, com tudo isso, mamãe foi
diagnosticada com câncer em estágio três. Pensei que era a pior coisa que
poderia acontecer conosco, mas de certa forma foi uma bênção
disfarçada. Depois disso, meus desmaios e dores de cabeça eram
praticamente inexistentes. Conheci Jenna que me ajudou a manter a
sanidade durante um tempo, quando pensei que iria perder minha mãe, e
menos de oito meses depois, minha mãe estava livre do câncer.
"Mãe," digo em voz baixa.
"Querido, estou feliz por você. Eu estou", diz ela, com a voz alegre,
mas a expressão em seu rosto parece forçada. Toco seus ombros e a viro
para mim. Ela solta um pequeno suspiro e segura os meus braços.
"Diga-me a verdade?" Ela tem sido tão forte em tudo. Houve dias em
que eu percebia o inferno que estava passando, mas nunca reclamou,
estava sempre sorrindo. Nunca deixou transparecer. Seus olhos se
encontram com os meus brevemente antes de encontrar o chão.
"Por favor", pergunto novamente, dando a ela o meu melhor olhar
de cachorrinho e ela me abraça.
"Quero que você seja feliz, Christopher. Não há nada mais neste
mundo que eu queira tanto, do que você seja feliz", diz ela e sua voz
quebra. Sinto lágrimas molharem minha camisa, e ela se afasta de mim.
"Mãe, agora você está me assustando." Sorrio, mas meu coração
está acelerado... Pensei que ela chorava porque estava feliz, mas não era
isto. Meu estômago se contrai quando percebo o que poderia estar
causando isso. Coloco meu braço ao redor dela e a levo para a mesa da
cozinha sentando ao seu lado. Ela pega um lenço de papel e enxuga os
olhos.
"Você não está. Você não está doente de novo, está mamãe?"
Pergunto, com medo de ouvir a resposta.
"Oh, não, querido! Sinto muito por fazer você pensar isso." Ela
balança a cabeça com veemência. Solto um grande suspiro de alívio
quando ela aperta minha mão.
"Eu só... as coisas estão indo tão bem, e sei que você se importa
muito com Jenna," ela diz, um pequeno sorriso aparece, mas seus olhos
evitam os meus.
"Você está pronto? Realmente pronto?", Ela pergunta, seus olhos
encontrando os meus novamente. Seu olhar é tão intenso que sinto como
se estivesse tentando olhar para dentro de mim.
"Perguntei-me isso mais de mil vezes, mãe", Revelo isso sorrindo.
"Tudo que você estiver pensando, provavelmente já pensei isso cinco
vezes. A coisa é, acho que nunca chegará o momento, no qual, saberei
que estou curado, um dia vou estar", falo honestamente. Seus lábios se
apertam, e ela balança a cabeça.
"Se não agora, quando? Estou cansado de ter medo de viver a
minha vida por causa do que pode acontecer,” Digo a ela.
"Nunca sei quando esses apagões vão parar. Mas, por agora está
tudo bem. Vai fazer dois anos em poucos meses desde que tive o último.
Foi um inferno, mas finalmente terminei a escola. Tenho uma mulher
incrível que sabe sobre a minha condição e não pensa que sou uma
pessoa estranha ou algum filhote de cachorro triste que precisa ser
cuidado. E você está melhor." Eu finalmente vejo um sorriso genuíno
começar a aparecer em seu rosto, embora seus olhos ainda pareçam
aguados.
"Quero me casar, talvez você tenha alguns netos.” Falo brincando.
Pensei que iria fazê-la sorrir, só que não a fiz. Em vez disso, parece
angustiada, talvez até um pouco culpada, mas isso não pode estar certo.
Ela nem sequer olha para mim quando se levanta da mesa e começa a
andar.
"Mãe, o que é?" Levanto e caminho em direção a ela. Algo está
errado. Ela finalmente para e olha para mim.
"Há algo que nós não temos-" ela para no meio da frase quando
meu pai entra pela porta com uma garrafa de champanhe na mão. Seu
sorriso é largo olhando para a garrafa gelada. Quando seu olhar nos
encontra, sua expressão se torna sombria.
"O que está acontecendo?" Olho para a minha mãe e depois para
ele.
"Você não tem o quê, mãe?", Pergunto novamente, olhando para o
meu pai. "O que nós não fizemos?" Pergunta ele, seu tom é baixo. Minha
mãe olha para ele, e esse silêncio constrangedor retornou, a tensão tão
forte que eu poderia sufocar."
O quê?", Pergunto com mais firmeza, fazendo com que ambos
olhem para mim.
Os olhos de minha mãe se afastam de mim, mas os olhos do
meu pai estão diretamente nos meus.
"O Sr. Dexter está aqui em Madison", diz abruptamente. O avô do
inferno. Sempre que vem aqui geralmente é uma má notícia para a cidade.
Ele está fechando ou abrindo algo e irá destruir os negócios de alguém. A
maioria das pessoas aqui tende a esquecer da associação da nossa família
com os Crestfields, mas a sua presença sempre serve como um lembrete.
Minha mãe nunca gostou dele, mas para ela estar chateada...
"É isso, mamãe? É isso que está te incomodando?" Pergunto um
pouco aliviado. Meu instinto diz que é outra coisa, especialmente quando
noto seus lábios apertarem.
"Hoje os problemas de Gwen não é a nossa preocupação. Este dia é
sobre Chris. Estamos celebrando o passo que ele deu para se casar com a
mulher que ama. Não vamos arruinar esse dia para o nosso filho", meu
pai diz com firmeza. Há algo errado sobre isso.
"Mãe, sobre o que é isso realmente?" Não acredito que a visita de
Dexter está causando esse tipo de tensão. Ela olha de mim para o meu
pai, em seguida, limpa a garganta.
"Ouvi um boato de que seu avô está olhando a propriedade Kreuk"
ela diz com um suspiro. Eu imediatamente franzi a testa. Kreuk é o lugar
onde fica o centro comunitário onde minha mãe trabalhou durante todo o
ano passado. Ele não só ajuda as pessoas em nossa cidade, mas das
cidades vizinhas também. Tem uma clínica gratuita, ginásio e creche. Só
um monstro pensaria em tirá-lo de lá. É um marco. Quero dizer: "Ele não
pode fazer isso!" Mas os Crestfields podem fazer quase qualquer coisa.
"Não. Isso é treta!"
"É apenas um rumor, mas sabemos como eles começam.” Diz meu
pai com uma expressão triste no rosto.
"Ouvi da filha da Sra. Jaber, que o Dexter Jr. está na cidade. Ela foi
contratada como uma das jardineiras. Supostamente ele está saindo esta
noite," ela murmura. O centro comunitário ajudou a minha mãe e eu
durante alguns dos momentos mais difíceis em nossas vidas. É um pilar
da comunidade. Olho para o meu relógio. Tenho duas horas antes de
Jenna e os pais dela chegarem aqui para o jantar.
"Vou falar com ele antes dele sair", digo, pegando minhas chaves do
balcão. "Estarei de volta antes que Jenna e seus pais cheguem." Falo
sobre meu ombro e corro pela porta da frente. Entro em minha
caminhonete e sigo atrás da única pessoa que pode parar isso antes que
realmente aconteça.
Dexter Jr.

Crestfield. O nome sozinho evoca a inveja, medo ou raiva,


dependendo de quem você está falando em Madison. Eles possuem quase
metade da cidade e tem a maior bancada em todo o conselho. Não seria
um problema se fossem residentes permanentes aqui, mas não são. É
mera extravagância, - tudo para se mostrar, acrescentando às suas
encenações quando entram na cidade para levantar o inferno.
Já ouvi a frase, "Não é nada pessoal. Negócios são negócios.” Mas
destruir famílias e arruinar vidas não é um negócio como de costume.
Brincar com o meio de vida das pessoas o torna pessoal.
Uma vez que cheguei à propriedade Crestfield, tenho que esperar na
porta para ser apalpado por seguranças. Quando estou dentro, não posso
deixar de sentir repulsa pela decadência de tudo. A casa e os jardins são
enormes. A casa em si é quatro vezes maior do que o centro comunitário.
Nunca vou entender como as pessoas podem ser tão egoístas e
gananciosas.
Saio do meu carro e sigo para a casa quando meu telefone começa a
tocar. Sorrio, vendo que é Jenna. Deslizo o dedo na tela, para atender a
chamada.
"Ei futuro marido." Ela ri.
"Futura esposa." Abro um sorrido brincando.
"Então... Como seus pais receberam a notícia?” ela pergunta, com
uma pitada de nervosismo em sua voz.
"Ótimo. Eles estão muito animados". Eu digo, é uma meia verdade.
"Sério? Até o seu pai?", Ela pergunta, incrédula.
"Ele recebeu ainda melhor do que a minha mãe," digo a ela,
andando até ás grandes portas francesas. Reviro os olhos para a câmera
discreta acima da porta antes de tocar a campainha.
"Melhor do que a sua mãe? O que havia de errado com sua mãe?",
Ela pergunta levemente elevando sua voz. Imediatamente lamento a
minha escolha de palavras. Jenna pega quase tudo. É como um cão de
caça, quando alguém está escondendo alguma coisa. Ela é boa em
identificar o que está errado.
"Minha mãe acha que é ótimo", falo na expectativa de fazê-la
esquecer o que falei.
"Você disse melhor do que sua mãe fez. Achei que sua mãe me
amasse? Ela é contra o casamento?" Em sua escala de pânico ela passou
de cinco para dez. "Não, não foi assim. Ela apenas foi surpreendida com
tudo isso." Suspiro. Porque não disse algo "melhor". Como uma pequena
palavra desencadeou tudo isso. As grandes portas se abriram, e a
empregada doméstica dos Crestfields sorriu calorosamente pra mim
enquanto gesticulava para que eu entrasse. Sorrio de volta e entro.
"Meus pais e eu estamos indo jantar com seus pais hoje à noite e
sua mãe é totalmente contra o nosso casamento. Isso é terrível!", Ela diz,
o pânico aumentando a cada silaba.
"Jenna. Minha mãe te ama. Ela ama os seus pais, o jantar vai ser
fantástico, eu prometo, mas tenho que desligar. Te ligo de volta em alguns
minutos. Te amo,” falo enquanto desligo o telefone apesar de seus
protestos.
"Sr. Christopher Scott?" A empregada pergunta, um pouco
hesitante. Eu a conheço há anos, mas ela sempre pergunta como se não
soubesse quem sou eu.
"Como você está, Sra. Alma?" Sorrio enquanto ela me leva até a
grande escadaria sinuosa.
"Maravilhosa. Você gostaria de algo para beber?", Ela pergunta
antes de chegar à porta do escritório de Dex.
"Não, estou bem", respondo.
"Sr. Scott. Christopher", ela anuncia quando entramos no escritório
de Dexter, mesmo que ele possa nos ver.
"Sempre me sinto como se devesse me curvar ou algo assim", falo
sarcasticamente. Percebo que a Sra. Alma cobriu seu riso tapando a boca
e limpando a garganta.
"Um aceno de cabeça e um pouco de cortesia funcionariam tão
bem", responde Dexter, mal olhando para cima da tela de seu
computador.
"Você vai precisar de mais alguma coisa, Sr. Crestfield?", Ela
pergunta.
"Isso é tudo. Obrigado", diz ele.
"É bom te ver, Sr. Scott", diz ela antes de sair da sala.
"Você também", digo, andando até a mesa de Dex.
"Então, o que o traz aqui hoje, sobrinho? Há quanto tempo não nos
falamos", diz ele. Ouço a diversão em sua voz enquanto se recosta na
cadeira grande de couro. Não entendo porque ele sempre me lembrava de
nossa relação, mas acho que se não fosse por ela não teria sentido estar
aqui.
"O Centro Kreuk, apenas desista disso. Vocês possuem metade dos
Estados Unidos. Você realmente precisa disso?" Falo, exasperado. Ele ri.
"Por que você não senta, Christopher," ele diz gesticulando para uma das
cadeiras na frente de sua mesa. "Estou bem em pé". Não vou sentar e
ficar de conversa fiada com ele. Só quero que não compre Kreuk. Ele
franze a testa. "Tenho certeza que Gwen te ensinou boas maneiras.
Quando um anfitrião lhe oferece um assento, você aceita. Especialmente
quando você está pedindo um favor. Você sorri e respeita o pedido", diz ele
presunçosamente. Respiro fundo e sento.
"Então, como você tem estado?", Pergunta como se fossemos
melhores amigos. Na melhor das hipóteses, somos parentes distantes e
cordiais. Nem sempre costumava ser assim. Dez anos atrás, depois que
minha avó morreu, Dex foi enviado para um internato e os traços que
lembravam o melhor de seus pais foi deixado para trás.
"Fantástico", digo bruscamente.
"Você não tem visto o Dra. Lyce", ele diz com um tom acusatório.
Cruzo os braços.
"Minha condição é neurológica e não psicológico. Não entendo o
porquê de ter que ir."
"Ela é uma Neuropsiquiatria. É importante que você a veja em
conjunto com...”
"Centro Kreuk, Dex. É por isso que estou aqui", Desculpe
interrompê-lo. Ele está se desviando do assunto e não planejo ficar aqui o
dia todo.
"Vamos falar sobre isso primeiro", ele diz calmamente, mas há uma
autoridade em sua voz que tenho certeza que faz com que seus
empregados se acovardem. Ainda bem que não trabalho para ele.
"Ela é uma das melhores na área. Você está sendo negligente
desconsiderando essa experiência", fala, com uma pitada de raiva em sua
voz. Respiro fundo enterrando o desejo de esganá-lo. Cerro os dentes.
Esse cara é capaz de trazer à tona o pior das pessoas.
"Seu pai está sendo negligente ao destruir uma terra histórica - um
lugar que ajuda muitas pessoas. O que ele vai fazer? Construir um parque
ou um estacionamento?!" Falo de volta. Ele se inclina para trás em sua
cadeira se divertindo.
"Veja. É importante para muitas pessoas aqui, incluindo a nossa
família. Antes que ele comece alguma coisa você pode convencê-lo a
parar", digo com um suspiro profundo.
"Você sabe, uma vez que algo está em curso com meu pai, não
temos como retroceder", diz com indiferença. Dobro minhas mãos em
frustração.
"Mas... isso não é seu interesse no momento", acrescenta
levemente.
Ótimo, então posso ir. "Bem, acho que é isso então".
"Parabéns, está tudo em ordem então? Espero que nos mande um
convite para o grande evento.", ele diz quando estou levantando do
assento.
"O quê?"
"Você está se casando com... Jenna Mallory", ele diz secamente.
Tento esconder a minha surpresa. Só propus a ela ontem.
Pergunto-me como sabe, mas há várias maneiras. Provavelmente detém o
contrato de arrendamento da joalheria onde comprei o anel.
"Você está pronto para esse passo?", Ele pergunta. Sorte minha, é a
única pessoa que não me importo o que pensa sobre esse assunto.
"Bem, desde que você sabe de tudo, você pode me dizer", digo
sarcasticamente. Ele sorri e fica de pé atrás da mesa.
"Casamento e família são os maiores presentes que a humanidade
recebeu", diz ele, andando em volta de sua mesa. Cruzo os braços sobre o
peito, perguntando onde isso levará. Desde que saiu Dexter sempre me
incomodou. Ele é apenas três anos mais velho que eu, mas sempre sente
a necessidade de falar como um professor universitário Ivy League.
"Às vezes as coisas acontecem, e elas nem sempre acabam como
você espera ou planeja" Há uma persistente sugestão de tristeza em sua
voz. "Hoje, por exemplo, eu daria qualquer coisa para participar da
primeira festa de aniversário da minha afilhada" Ele pega um porta-
retratos de sua mesa e reflete sobre ele. Pergunto-me que tipo de pessoa
desesperada iria escolhê-lo como padrinho. O tipo que tem fome de
dinheiro, sem dúvida. Sei que ele não é religioso. Mas ensinar valores
como honestidade, integridade e trabalho duro, ele não é o candidato
ideal.
Ele olha para mim a partir da foto. "Ela é linda. Dê uma olhada."
Ele mostra a foto. Eu não ligo muito para o cara, mas recusar-me a olhar
uma foto de sua afilhada não seria legal de minha parte.
Olho para a foto e meus olhos se fecham quase involuntariamente.
É uma mulher e uma menina. A mulher na foto é bonita com longos
cabelos escuros e amendoados com grandes olhos. A menina na foto não
parece muito com ela, ela parece...
A imagem cai da minha mão quando uma dor dispara pela minha
cabeça. "Ahh!" Seguro minha cabeça apertando-a.
Não, agora não. Não no escritório de Dexter.
"Christopher, você está bem?" Dex pergunta, andando em minha
direção. Tropeço para trás encontrando a cadeira que estava sentado mais
cedo. Ouço meu coração batendo em meus ouvidos. Não tive uma dor de
cabeça como esta há muito tempo, e nunca me deu rapidamente e tão
forte.
Gemo, segurando minha cabeça. Ouço a voz de Dex, mas está
começando a ficar muito longe, minha visão começa a escurecer. "Chame
os meus pais!" Tento dizer, mas não tenho certeza se consegui falar, pois
tudo fica preto.
Estou com frio, mas meu rosto está quente... quase quente.
Minhas pálpebras estão pesadas. Consigo abri-las enquanto se
ajustam a luz do sol. Minhas costas doem, estico meu corpo, aqui está
duro e apertado. Levanto-me e vejo que estou sentado no banco de trás da
minha caminhonete. Como cheguei aqui?Meus olhos examinam ao redor
da caminhonete a procura do celular e da carteira. Minhas chaves têm
que estar aqui, caso contrário, como eu teria entrado aqui? Isto é ruim.
Há muito tempo não acontecia! Porque agora?
Vejo um envelope colado no espelho retrovisor e há uma palavra
nele. Realmente não posso ver o que é. Meus olhos estão secos e minhas
pálpebras estão pesadas. O envelope está realmente preso e é preciso
esforço para tirá-lo, quando finalmente consigo posso ler a palavra "Abra"
em tinta vermelha. Então abro e nela encontro a minha carteira, telefone
e as chaves. O telefone está morto. Tenho medo de saber que dia é, e que
horas são. Saio da caminhonete e graças a Deus estou estacionado atrás
da casa dos meus pais. O sol está brilhando, estou rezando que ainda
seja o meio de tarde. Isso significaria que só estive fora algumas horas, se
for de manhã, estou ferrado.
Alcanço a porta traseira da casa e abro com a chave. Como cheguei
aqui? Pense, pense! Mas não adianta. Isso já aconteceu milhares de vezes
antes.
Entro na cozinha. Está vazia, sem cheiro de comida e meu
estomago revira. Isso significa que minha mãe não está fazendo o jantar.
O que também significa que não pode ser o mesmo dia, e eu perdi o jantar
com Jenna e seus pais. Ela vai me matar!
Meus olhos encontram o relógio acima da mesa na cozinha. É
09:30hs e definitivamente não é pm. Eu realmente estraguei tudo.
"Mamãe! Papai!", grito. Corro para a sala de estar. Provavelmente
eles saíram para procurar por mim quando perdi o jantar. Isso é ruim,
muito ruim. Toda a minha conversa sobre estar melhor, e meus dois anos
sem apagar foi pelo ralo.
"Chris." Ouço uma voz baixa, grogue chamar atrás de mim. Viro-me
e vejo Lisa sentada no sofá. Nem sequer notei que ela estava lá. Deixei
escapar um suspiro de alívio que era ela. Entre todas as pessoas, estou
contente que Lisa foi a primeira pessoa a me ver. Ela vai me deixar saber
o que aconteceu enquanto eu estava fora e não surtar ou ficar chateada
comigo.
“Desculpe, não ter uma pessoa melhor para te receber. Seus pais
dirigiram a noite toda procurando você. Saíram hoje de manhã
novamente, e me fizeram ficar aqui no caso de você voltar", ela explica.
"Quão ruim eu estraguei tudo?" Suspiro e me sento ao seu lado.
‘Em uma escala de um a dez, dou cinco para seus pais. Estão
preocupados com você mais do que com qualquer coisa. “Para a Jenna
dou um 12.” Joguei minha cabeça de volta no sofá. "Ugh. Quanto tempo?”
De todos os dias para que isso aconteça e...
"Sua mãe disse que você saiu as três de ontem. Você ainda não se
lembra de nada?" , ela pergunta, começando a dobrar o cobertor que
estava debaixo. Ela está surpreendentemente calma. Bem, não é
surpreendente. Lisa é sempre muito calma e tranquila, mesmo nas
situações mais agitadas, mas quando está chateada, pode ir de zero a dez
muito rápido.
"A última coisa que realmente me lembro foi de dizer aos meus pais
que tinha pedido Jenna em casamento. Tudo depois disso é um borrão",
admito.
"Olhe. Entre no chuveiro e se limpe. Chame Jenna e peça desculpas
como se sua vida dependesse disso", ela suspira. "Mas a conclusão é, se
vocês vão ficar juntos, ela vai ter que se acostumar com isso. Não é como
se ela estivesse entrando nisso sem saber. Ela sabe sobre sua condição",
ela simplesmente diz. Queria que fosse assim tão simples.
"Mais fácil falar do que fazer. Seus pais estavam aqui em Seattle, e
seu noivo não apareceu. É um começo de compromisso bem promissor.
Seu pai já não me suporta." Ela se vira para mim. "Ela ama você. Vai
superar isso. Não é como se você tivesse escapado dela para ficar bêbado
com strippers ou algo assim", ela diz, me dando tapinhas no ombro.
"Você fez?" Ela sorri.
"Não!" Arregalo meus olhos. Aposto que isso é o que Jenna pensa.
"Você não é divertido Chris. Vá tomar um banho. Você parece mal.
Vou ligar para seus pais e para ''a noiva'' e dizer-lhes que você está são e
salvo", diz ela me empurrando para as escadas.
"Dê-me seu telefone, vou carregá-lo para você, vá se limpar. Você
terá muito mais chances se pedir perdão piscando esses olhos verdes
limpos, sem crostas nos olhos e hálito matinal", ela brinca.

O chuveiro me limpou, mas meu cérebro ainda estava confuso.


Perdi 18 horas. Nada mal, considerando alguns dos meus outros apagões
que algumas vezes duravam semanas, mas o momento é uma merda. Se
eu pudesse me lembrar de alguma coisa. Alguma pista de como acabei
dormindo na minha caminhonete estacionada na parte de trás da minha
casa. Por que não fui para a cama? E então aquele envelope estranho no
meu espelho, como se eu soubesse que não iria encontrá-lo se não
estivesse lá. Isso significa que eu tinha alguma consciência ou alguém
estava comigo. Mas pra onde foram?
Se alguém quisesse me roubar, não me deixariam com minha
carteira e carro. Ouço vozes ao descer as escadas. Ambas são femininas.
Meu estômago revira. Sei que uma deve ser Jenna. Ela vai ficar furiosa.
"Olhe, dê um tempo para ele. Você não acha que ele se sente
suficientemente mal?" Ouço a voz de Lisa antes de descer as escadas.
"Não me diga como agir ou como se sentir. Você não foi à única que ficou
sentada aqui por horas esperando o noivo com seus pais, parecendo uma
completa idiota,” grita a voz de Jenna.
Sinto muito, mas você sabe que ele tem uma condição neurológica,
certo? Você age como se ele tivesse feito isso deliberadamente!" Lisa
dispara de volta. Jenna começa a dizer algo, mas ambas ficam quietas
quando me veem.
"Ei" Deixo escapar um suspiro enquanto ando em direção a Jenna.
Ela está usando óculos escuros grandes e redondos e seus braços estão
cruzados sobre seu peito.
"Então você está vivo", ela afirma bruscamente. Lisa suspira.
"Tenho que sair daqui." Ela começa a andar, mas se vira e faz reverências.
"Rainha Jenna, seria bom se, talvez, em vez de ficar com o cara, você lhe
dê um abraço", ela diz antes de sair da sala de jantar.
"Tenha um dia fantástico, Lisa!" Jenna grita sarcasticamente antes
de voltar sua atenção para mim. Ela tira os óculos e o que vejo quebra
meu coração. Seus olhos estão inchados. Posso ver que ela esteve
chorando. "Então você também acha que estou sendo uma cadela? Que
não tenho o direito de ficar chateada? Que sou apenas egoísta?"
"Jenna, sinto muito." Tento puxá-la para um abraço, mas ela me
empurra. Ela senta e cobre o rosto.
"Então o que aconteceu, Chris?" Ela pergunta, e eu realmente
gostaria de poder dar uma resposta. "Eu... eu não sei. A última coisa de
que me lembro é dizer aos meus pais que estávamos noivos", admito,
sentado na cadeira em frente a ela. "Você sabe que falou comigo, certo?"
Pergunta bruscamente. Balanço a cabeça. Não me lembro de ter
conversado com ela depois de contar aos meus pais. "Sim, você me disse
que sua mãe não estava feliz com a gente se casar e depois me apressou
para desligar o telefone", diz ela em um suspiro. Sei que eu não teria lhe
dito isso. Pelo menos, não teria usado essas palavras. “Eu te disse onde
eu estava?", Pergunto confuso.
"Não. Você me apressou e disse que ligaria de volta em alguns
minutos. A próxima coisa que sei, é que meus pais estavam em minha
casa, e eu ainda não tinha tido notícias de você. Então nós estávamos em
sua porta, e seus pais não tinham nenhum indício de onde você estava.
Aquilo foi muito divertido. Meu pai estava absolutamente emocionado",
ela diz em um tom exagerado quando a campainha toca.
“Pensei que estava melhor, Jenna. Nunca teria arrastado você para
isso se soubesse que estava começando de novo." Levanto e seguro minha
cabeça em frustração. Nenhuma mulher em seu juízo perfeito lidaria com
isso. Não quero lidar com isso. A ouço suspirar.
"Você não está me arrastando para nada, Chris. Sinto Muito. Sei
que isso é difícil para você também. É só, ugh, o momento não poderia ser
pior, poderia?" Ela ri, e seus braços esbeltos envolvem meu estômago.
Envolvo meus braços em volta dela e sinto seu cheiro. Cheira a bagas1
misturadas com uma pitada de fumaça de cigarro. Afasto-me dela.
“Vamos, Jenna. Pensei que você tinha parado com isso?" Eu digo,
decepcionado. Ela estava sem fumar a mais de três meses e me sinto
chateado e culpado. Minha mãe foi diagnosticada com câncer por culpa
do cigarro.
"Fumei praticamente um deles depois de ontem, e não foi muito",
diz ela, defendendo-se. Não posso discutir com isso. A campainha toca de
novo e de novo, e então há batidas frenéticas. "Quem diabos é?" Jenna
pergunta.
"Não sei." Meus pais têm as chaves, e Lisa entra pelos fundos da
casa. "Deixe-me atender a porta" falo. Sinto como se uma carga de tijolos
fosse tirada do meu peito. Ela está furiosa, mas ainda está comigo.
Abro a porta e vejo uma mulher descer as escadas. "Posso ajudá-
la?" Pergunto. Ela meio que tropeça em seus próprios pés e agarra a
grade. Instintivamente dou um passo a frente. Talvez ela esteja
desorientada. Ela diz algo, mas está olhando para o caminho oposto. Sua
voz é baixa, e mal posso ouvi-la. Ela se vira, e seus olhos se prendem aos
meus. Eles são brilhantes, avelã e em forma de amêndoas. Seu olhar é
etéreo, quase assustador, e não me solta. Eles me fazem sentir como se
eu a tivesse visto antes, ou a conhecesse há muito tempo, mas isso é
impossível. Ela não é alguém que eu iria esquecer. Muito bonita para ser
esquecida.
Talvez a tenha visto em um filme, ou em algum show que
costumava assistir quando era criança. Ela cresceu, e é por isso que eu
não consigo lembrar. Tem que ser isso. Talvez seja uma atriz cujo carro
parou em nossa pequena cidade e precisa trocar seu pneu ou algo assim.
Mas nada disso explica por que ela está chorando. E agora está tocando

1
baga é o tipo mais comum de fruto carnudo simples, no qual a parede do ovário inteiro amadurece em um pericarpo
comestível.
meu rosto, estou congelado, preso no lugar. Não posso me mover. Estou
dizendo a meus pés para dar um passo para trás, mas eles não se movem.
"É você", diz ela, jogando seus braços em volta de mim. O vento
sopra seus longos cabelos escuros no meu rosto. Olhei novamente para
seu rosto mesmo que esteja chorando, está iluminado com o
reconhecimento. Ela me conhece, ou pensa que sim. Estou ficando mais
assustado a cada minuto. Está me segurando tão forte que posso sentir
seu coração bater. Está quase saltando pelo peito. Inferno, talvez seja o
meu. Esta mulher aleatória, embora linda, está chorando e me abraçando
enquanto minha noiva está a alguns metros de distância, não consigo me
mexer. A pior parte é que meu cérebro não está se conectando com meu
corpo, porque meus braços estão se movendo para abraçá-la - bem, eles
estão tentando, mas com certeza isso não está acontecendo!
Eu não hesitaria em ajudar uma mulher em perigo, mas se Jenna
me encontra aqui abraçando esta garota, especialmente depois de ontem,
estou ferrado. Mas está difícil detê-la. Estou literalmente tremendo, ou
talvez ela esteja tremendo e está me fazendo tremer. Antes que eu possa
abrir a boca para perguntar quem ela é, ouço passos atrás de mim.
"Senti tanto a sua falta", diz Hazel Eyes, apertando-me com mais
força.
"Chris, quem é esta?" A voz de Jenna envia um frio acima de minha
espinha, e a garota me solta. Ela olha para mim e confusão substitui a
euforia anterior em seu rosto.
- Chris?
Ela afasta-se de mim, sua atenção se voltando para Jenna.
“Chris? Seu nome não é Chris!" Sua voz é aguda e um pouco
aterrorizante. Seu olhar é dirigido de volta para mim, o exterior vulnerável
que ela anteriormente tinha se foi. Agora há fogo atrás de seus olhos.
Jenna caminha para mais perto de nós, surpreendentemente mais calma
do que eu pensava que seria.
"Eu... eu não sei!" Respondo rapidamente. Estou tentando me
mover de novo, mas meu corpo não está funcionando. Não posso me
afastar dessa garota.
"Quem sou eu? Quem é você?" Ela pergunta, sua voz levantando
uma oitava um segundo depois, com o olhar que ela me dá, juro que está
prestes a me dar um gancho de direita. Estou começando a pensar que
esta mulher, com olhos de anjo, não mais alta do que talvez 1,60m,
poderia estar louca, e meus malditos pés não me deixam fugir dela.
"O quê?", Ela grita zangada, mas a descrença em sua voz e
desespero em seus olhos faz meu coração quebrar. Não sei quem ela
pensa que sou, mas se isso tirar a dor em seus olhos, eu seria quem ela
quiser que eu seja.
O que há de errado comigo?
"Acho que você me confundiu com outra pessoa", lhe digo hesitante.
Volto-me para Jenna. A calma, que fiquei surpreso mais cedo, é
repentinamente substituída pela raiva que eu esperava. "Ela só começou
a chorar quando me viu", tento explicar.
"Que diabos você está falando?!" a garota diz, seu tom alto, mas sua
voz fraca, quase implorando. Meu peito está apertado como se alguém
estivesse de pé em cima dele. Tento controlar a minha respiração. A
última coisa que preciso é Jenna pensando que isso é algo que não é.
Ela não parece que está confusa!" Jenna diz com raiva, olhando
para a mulher.
"Cal, o que diabos você está tentando fazer?" A garota grita. Olho de
volta para ela. Pelo menos o fogo está de volta. Meus pés são finalmente
capazes de se mover.
"Meu nome é Chris", falo a ela, movendo em direção a Jenna, que
parece um pouco menos irritada desde que esta garota parece estar
procurando um cara chamo Cal. Tudo isso tem que ser um grande mal-
entendido.
"Olha, quem é você?" Jenna pergunta. Agora, ela parece mais
irritada do que com raiva.
"Sou sua esposa, é quem eu sou. Quem diabos é você?!" a pequena
morena cospe, e com essas palavras estou no inferno, literalmente no
inferno. Tenho medo de olhar para Jenna, mas ela está rindo. Está
perdida. Estou entre duas mulheres psicóticas.
"Oh, eu vejo. Isso é uma piada. Bom, Chris. Você quase me pegou
por um minuto, mas você sabe que sei reconhecer rapidamente suas
brincadeiras." Ela me bate no peito. Então percebo que isso tem que ser
uma piada, uma brincadeira que Lisa está fazendo. Soltei um pequeno
suspiro de alívio, mas a outra mulher na varanda está lívida. Suas
narinas estão queimando, olhos arregalados e se este fosse um filme de
terror, esta seria a parte quando a cabeça dela começar a girar ou
incendiar a casa.
"Parece que estou brincando?" Ela pergunta freneticamente,
lágrimas brotando em seus olhos. Essa mulher é muito boa para estar no
orçamento de Lisa.
"Cal diga a ela!", Tenho medo que esta brincadeira esteja ficando
fora de controle.
"Meu nome não é Cal." Estou prestes a ter um ataque de ansiedade
aqui. Tenho a sorte de nunca ter tido um desses, mas tenho certeza de
que isso é o que parece.
"Chris, quem é ela?" Jenna grita. Ninguém mais acha que isso é
uma brincadeira.
"Jenna, nunca vi essa mulher antes na minha vida!" Eu grito.
"Você idiota!" A morena está agora me empurrando. Se ela não fosse
tão pequena, eu teria sido empurrado para dentro da porta.
"Agora você não sabe quem eu sou?"
Não sei o que fazer. Estou evitando tocá-la, mas Jenna está olhando
para mim como se estivesse prestes a me empurrar se eu não fizer alguma
coisa.
"Bem, quem me deu isso?" Felizmente ela parou. Mas então
começou a tirar algo do casaco e atirá-lo para mim. Seja o que for, Jenna
agarra e olha. Oh não, por favor, não seja o que parece.
"Chris, isto é um anel de casamento!", Ela grita, empurrando-o na
minha cara. Jenna deve saber que isto não veio de mim. A coisa parece
que custa mais de um ano de trabalho.
"Nunca vi isso antes na minha vida! Nunca a vi na minha vida!"
"Chris, não minta para mim!" Jenna está gritando, ela está
começando a chorar. Nunca a vi chorar antes.
"Ela nem sabe o meu nome! Ela é louca!" Grito apenas para fazê-la
me ouvir. Isso é loucura. Como ela poderia pensar que me casaria com
outra pessoa além dela!! Acabei de lhe propor, isso é ilegal. Jenna ainda
está olhando para o anel. Agarro a mão dela.
"Jenna, juro para você. Não tenho a menor ideia do que ela está
falando," tento dizer para ela mais calmamente e agora a outra mulher
está rindo histericamente.
"Quem diabos é ela para você? É por isso que você saiu? É por isto
que você me deixou?!" Hazel Eyes está me agarrando agora.
"Ele é meu noivo!" Jenna grita para ela.
"Como diabos ele pode se casar com você quando ainda está casado
comigo?!", ela grita. Agora estou irritado. Isto não é um jogo ou uma
piada. Essa porcaria que ela está falando pode destruir minha vida.
"Eu nem te conheço! Quem é Você? Como você me conhece?"
Pergunto a ela, sem esconder a minha raiva.
"Todo esse tempo - todo esse tempo! - Você estava mentido para
mim e agora... Agora! Age como se nem soubesse quem eu sou!" Ela está
chorando histericamente, e imediatamente me arrependo de ter gritado
com ela. Sinto uma dor de cabeça maçante vindo, porque isso está
acontecendo agora. Não vou apagar! Ela está saindo da varanda.
Lentamente, mas saindo. Antes de sair quero dizer a ela para não dirigir
em seu estado atual. Mas a melhor coisa para mim é que ela esteja o mais
longe possível para que eu possa tentar salvar bagunça.
"Quero o divórcio! Nunca mais quero vê-lo novamente! Nunca mais
chegue perto de mim ou de Caylen! Vou enviar suas merdas através de
Dexter. Quero tudo fora da minha casa!", ela grita. Ah não. Como diabos
ela saberia de Dexter?
“Como ela conhece Dexter? Como diabos ela conhece Dexter,
Chris?" Agora Jenna está gritando comigo.
"Não sei, Jenna! Isso tem que ser uma piada!" E agora sou o único
que está rindo. Não há nada mais que eu possa fazer além de rir. Minha
vida está prestes a desmoronar em torno de mim, e eu não sei o que
diabos está acontecendo.
"Piada! Sou uma piada?! Você acha que arruinar a minha vida é
uma piada?", A mulher grita, agora correndo em minha direção. Ela joga
todo o seu peso contra mim, seus movimentos são frenéticos e em todo o
lugar. Balança os punhos na minha cara, tento agarrá-la para impedi-la,
porque se não fizer isso, ela vai fazer alguns danos sérios.
"Tire suas mãos de cima dele!" Jenna grita e tenta puxá-la de cima
de mim, mas eu não preciso de ajuda Esta menina está irritada, mas ela
não pesa quase nada.
Pego a garota pela cintura para levantá-la e levá-la para o outro
lado da varanda. Quando solto suas mãos, ela enfia um soco diretamente
no rosto de Jenna, e Jenna cai no chão. Larguei a morena para tentar
ajudar ela, mas agora ela está de pé e correndo em direção a morena.
Agarro-a para parar o que está preste a ser uma luta.
Jenna tenta esticar-se sobre mim e consegue capturar uma mão
cheia de cabelo de Hazel. De alguma forma tento soltar seus dedos, mas
levo varias cotoveladas no processo. Depois de tentar fazer malabarismo
com as duas mulheres, pego Jenna e a carrego para o outro lado da
varanda. Ouço a porta da minha casa abrir e sou grato por ver meu pai
aparecer, mesmo que a morena tenha se acalmado.
"O que está acontecendo?" Meu pai pergunta, parecendo perplexo.
"Esta psicopata acaba de nos atacar!" Jenna grita, finalmente se
acomodando em meus braços quando vê meu pai.
"Isso não tem nada a ver com você! Isso é entre eu e meu marido!" A
morena diz bruscamente, recuperando o fôlego.
"O quê?!" Meu pai pergunta a ela com raiva.
“Diga a ela, pai. Ela não acredita em mim!" Eu imploro. Alguém
tentará me acordar desse pesadelo? A morena está se movendo
lentamente para fora de nossa varanda, mas ela parece instável. Está
prestes a desmaiar, e corro para pegá-la bem antes que caia. Eu a pego
enquanto meu pai me olha com desaprovação, e os olhos de Jenna me
lançam punhais. O que eu deveria fazer? Deixá-la cair no chão?
Minha mãe pisa na varanda, juntando-se a este espetáculo.
"O que está acontecendo?" Pergunta, em pânico.
“Eu gostaria de saber!” Jenna ri com amargura. Minha mãe
caminha até mim e olha para a garota em meus braços.
"Lauren?" Ela olha para a mulher desmaiada nos meus braços,
seus olhos arregalados com reconhecimento, como se tivesse visto um
fantasma. Seu lábio treme, e sua mão dispara rapidamente para cobrir
sua boca.
"Você a conhece?" Jenna e eu perguntamos em uníssono. Minha
mãe olha entre Jenna e eu.
Meu pai solta um suspiro e cobre seu rosto. "Merda! Merda! Merda!"
Seus gemidos aumentam com cada palavrão, e sei que algo está errado.
"Querido, vá deitá-la na sala de estar e leve Jenna para casa.
Quando você voltar, temos algo que realmente precisamos lhe dizer", diz
ela, com lágrimas nos olhos.
"Não estou indo a lugar nenhum! Quem diabos é essa mulher, e por
que você a conhece?" Jenna chia.
"Jenna se acalme", digo a ela. Sei que ela está ficando louca e
confusa. Eu também, mas não a deixarei gritar na cara da minha mãe.
"Eu não farei! Quem é? Ela aparece dizendo que é casada com você,
com um anel que custa muito mais caro do que o que você me deu! Você
alega que não a conhece, mas conhece Dexter. Sua mãe obviamente a
conhece, e você acha que vou ser mandada para casa como uma criança.
Quero saber quem é essa mulher agora ou juro por Deus que nunca mais
vou falar com você de novo, Christopher!” Jenna diz enquanto as lágrimas
escorrem pelo seu rosto.
"Jenna, por favor!" Meu pai grita, e estamos todos surpresos,
especialmente Jenna. A autoridade em sua voz, por uma vez, me lembra
um Crestfield.
"Por favor, deixe Chris levá-la para casa. Não é o que você pensa.
Prometo que vocês dois terão respostas até o final do dia, apenas vamos
cuidar disso por agora." sua voz mais calma, mas não menos autoritária.
Jenna olha para mim, e eu balanço a cabeça. Eu não sei o que está
acontecendo, mas sei que se Jenna ficar aqui só vai piorar as coisas. Além
disso, eu realmente não quero estar aqui quando esta garota acordar.
Meu pai chega e pega a mulher deitada em meus braços. Quero
entregá-la, mas meu corpo está hesitante e estou confuso quanto ao
porquê de ser protetor de alguém que nunca conheci, especialmente com
meu pai. Eu confio nele com minha vida. Minha mãe me olha nos olhos e
confortavelmente aperta meu ombro.
"Está bem. Ela está segura conosco", diz ela, me olhando
diretamente nos olhos.
"Oh, foda-me," Jenna grita, e percebo como isso parece. Não
entendo nada do que está acontecendo. Entrego a garota para o meu pai,
mas pelo tempo que levo, Jenna saiu da varanda e está indo em direção a
seu carro.
"Jenna," eu grito, correndo atrás dela. Ela se agita e segura sua
mão.
"Não. Você fica! Obviamente é onde está a sua preocupação agora!",
Diz ela, abrindo histericamente a porta do carro.
“Jenna, não! Não é assim!" Imploro enquanto ela bate a porta na
minha cara. Tento abrir, mas ela está trancada. Ela abaixa a janela.
"Fique longe de mim, Chris. Vá cuidar de sua esposa!" Ela grita
antes de sair da entrada. Eu chuto a sujeira e soco o ar. Minha vida se
transformou em um inferno. Olho para cima, e meu pai está de volta na
casa. Minha mãe está na varanda olhando para mim com lágrimas nos
olhos.
"Como você a conhece, mãe?" Estou gritando agora. Sei que não é
culpa dela, mas ela sabe alguma coisa. Estou tão louco, há lágrimas nos
meus olhos agora.
"Christopher," ela implora.
"Diga-me!" Eu grito novamente.
"Chris." Meu pai reapareceu na porta e desce para me encontrar.
“Vá atrás de sua noiva. Vamos explicar mais tarde", diz ele. Sua voz
é calma enquanto me entrega o meu telefone e as chaves, ignorando
minha expressão perplexa. Ele pega a mão de minha mãe e a leva para
dentro da casa.
Estou na zona do crepúsculo. Como ele está tão calmo agora? Eu
não tenho tempo para questioná-lo. Salto na minha caminhonete, pronto
para ir atrás de Jenna, mas bato minhas mãos no volante. Ela não vai
ouvir nada que tenho a dizer, a menos que eu tenha uma explicação para
tudo isso.
Pego meu telefone para ligar para ela. Vejo todas as chamadas
perdidas de ontem, de Jenna, meus pais, e Lisa. Há mensagens de voz de
cada um dos seus números mais um desconhecido. Aperto para escutar o
número desconhecido. No começo tudo o que ouço é um monte de
estática e vento. Então começa.
"Você realmente é mais louco do que eu pensava. Todos esses anos
e você ainda acha que está apenas tendo apagões?! Não tenho muito
tempo, então vou direto ao ponto. Você não pode se casar porque você já é
casado, idiota. Fale com Dexter. Faça a coisa certa ou terei que fazer isso
por você. Fique longe de qualquer Altar." A voz ri. "Sem trocadilhos. Se
não fizer isso, haverá um inferno para pagar. Você pode apostar nisso. Ah,
e por falar nisso, já que ninguém te informou merda nenhuma, eu sou
Cal."
Reproduzo a mensagem novamente e novamente. Minhas mãos não
param de tremer. A parte assustadora é, esta é a segunda vez hoje que
ouço o nome Cal. Mas, o que me aterroriza é que a voz na mensagem é
minha.
Isso é uma piada. Alguma piada doente, bagunçada, torcida. Bato
meu telefone no volante enquanto a caixa de correio de Dexter entra pela
milésima vez. Que porra eu fiz para merecer isso? Toda a minha vida
tentei fazer a coisa certa; Ouvir os meus pais, tratar as pessoas com
respeito, seguir as regras, para acabar com uma desordem cerebral que
me faz ter apagões e amnésia.
Depois, de tudo o que aconteceu hoje, pego essa voz no meu
telefone - esse idiota no meu telefone - acrescentando um milhão de
perguntas às cem que eu tinha antes mesmo de ouvir a mensagem.
Como essa pessoa poderia soar como eu? Quem sou eu, brincando,
não soa como eu, sou eu. Mas como? É impossível. Por que eu me
chamaria Cal? Não poderia ter sido eu. A pior parte é, hoje de todos os
dias, esta garota aparece alegando que sou seu marido cujo nome
acontece de ser Cal. Tenho medo de colocar as peças e juntar tudo.
"Faça isso certo ou sua vida virará um inferno!" Quem diabos esse
cara acha que é para me ameaçar? Por que me ameaçaria? Isso não pode
ser real. Talvez não seja a minha voz. Quero correr para casa e deixar
meus pais ouvirem a mensagem, mas a garota ainda está lá.
Definitivamente não posso lidar com isso agora. E por que eu iria falar
com Dexter sobre essa fixação em vez de meus pais.
Chamo Jenna e rezo para ela atender. Se alguém pode dizer que
esta não é a minha voz, é ela.
“Não me chame mais Chris!" Ela grita para mim.
Jenna. Realmente preciso te ver," eu imploro.
"Oh, você precisa de mim? E a esposa que você estava tão protetor?
A que você supostamente não sabe", ela diz sarcasticamente. Estou
realmente começando a repensar em deixá-la ouvir esta mensagem.
“Jenna. Estou com medo." Eu interrompo. Sempre fui honesto com
ela, e espero que isso valha alguma coisa. Há uma longa pausa.
"Estou na esquina da 4ª e Higgins", ela diz e desliga o telefone. 4º e
Higgins fica a apenas 3 minutos. Não costumo acelerar, mas hoje é uma
exceção. Vejo seu carro estacionado na esquina. Saio e ando para o lado
do motorista.
"Posso entrar?" Pergunto. A carranca que ela me dá responde a essa
pergunta. Tento pensar na melhor maneira de mostrar a mensagem. Para
explicar a ela que não sei por que essa voz soa como eu, e o fato de que
ele está falando sobre coisas que não tenho ideia. Realmente preciso de
sua ajuda para descobrir isso.
"O que? Você está realmente me deixando nervosa!", Ela diz,
olhando para mim. Sei que não há nada que possa prepará-la para o que
ela está prestes a ouvir. Só espero que ela diga que não sou eu. Como sou
realmente otimista, ela vai dizer que vamos descobrir isso juntos. Respiro
fundo, toco a mensagem e vejo seu rosto passar de zangado para
horrorizado.
"Que diabos Chris?", Diz ela com raiva. Meu estômago revira. Esta
conversa não vai ser como eu esperava.
"Isso é uma piada?", Ela grita para mim.
"Jenna não sou eu", falo irremediavelmente. Parece, mas não pode
ser...
"Merda! Com certeza, soa como você! Como poderia... por que você
está fazendo isso?" Ela começa a chorar.
"Não sou eu, Jenna. Não sei como isso é possível, mas não sou eu",
imploro para ela. "Por que faria isso, Jenna? Por quê?" Digo a ela
enquanto levanta a janela. Empurro meu braço para impedir que ela
feche completamente.
"O que eu deveria dizer sobre isso?" Ela grita
"Eu não sei", digo exausto.
"Ajude-me a descobrir isso, preciso de você", imploro para ela.
"Você está dizendo que não é você, mas é muito parecido com você.
Na mensagem você está dizendo - está dizendo - que está fodidamente
casado, logo depois que essa louca aparece e diz que é sua esposa. Estou
começando a pensar que talvez você esteja louco, e ela está sã!" Ela diz,
sua voz esforçada.
"Se eu estivesse mentindo, por que deixaria você ouvir isso, Jenna?"
Grito de volta para ela. Ela está balançando sua cabeça furiosamente.
Jenna sempre foi analítica e capaz de cortar as besteiras. Ela pode dizer
se alguém está mentindo antes de abrir a boca, mas agora ela não pode
fazer nada disso.
“Me ajude a pensar, Jenna. Quais são as explicações razoáveis para
isso? Você está na faculdade de direito. Vocês conhecem todos os fatos,
certo? Quais são os fatos aqui?" Agarro a parte de trás da minha cabeça
com uma mão em frustração, enquanto mantendo a outra na janela de
seu carro desde que eu sei que se tirá-lo ela vai movê-lo. Ela solta um
suspiro.
"Entre, Chris", diz ela, derrotada. Faço isso imediatamente, mas ela
nem olha para mim.
"Deixe-me ver o telefone", diz ela, soltando uma respiração
profunda. Dou-lhe a mão e repito a mensagem. Agora seu rosto está
estoico. Ela toca de novo e de novo e isso me deixa cada vez com mais
medo.
"Esta é a sua voz, mas realmente não soa como você em tudo. O
tom, a inflexão, o fraseado estão todos errados. Você quase nunca jura."
Ela suspira novamente e esfrega as têmporas.
"Ele diz que eu não entendi", falo, referindo-me à voz como outra
pessoa, porque não sou eu. Nem em um milhão de anos. “Sobre ele. Tem
que ser. Ele está se apresentando no final da chamada. Ele é presunçoso
e arrogante porque sabe mais do que você. Mas sua falta de informação o
ferrou.”
“Por que está dizendo que sou casado? Por que ele se importaria
mesmo que nos casássemos? Não conheço esse cara." Cruzo minhas
mãos firmemente. Ela descansa sua cabeça sobre o volante e depois de
alguns segundos, ela levanta sua cabeça. Finalmente olha para mim, com
uma expressão de dor.
"O quê?" Pergunto, com medo de ouvir o que ela está prestes a
dizer.
"Porque ele é você", diz ela calmamente.
"Jenna, não sou eu."
"Sim, é. Tudo faz sentido. "Agora ela está tentando compreender.
"Esta mulher aparece, sua mãe a conhece, seus pais..." Ela suspira.
"Não, não sou eu!", Grito com raiva.
"E se esses apagões não forem apenas apagões? E se for mais do
que isso? E se você estiver consciente e faz coisas que não se lembra, mas
como outra pessoa?”
“Não. Isso é impossível." Balanço a cabeça. De jeito nenhum. De
jeito nenhum isso seria possível.
"Faz sentido", diz ela bruscamente.
"Como? Como eu poderia fazer isso sem que ninguém soubesse?"
Pergunto defensivamente.
"Bem, obviamente, as pessoas sabem. Dexter pode ser um deles.
Ele lhe diz para falar com ele e..." ela faz uma pausa hesitante.
"O quê?" Eu pergunto.
"Seus pais têm que saber", diz ela cautelosamente, enxugando os
olhos.
"Não! De jeito nenhum! Meus pais não iriam manter algo assim de
mim. Não há jeito."
"Obrigado, Jenna, mas não. Tem que haver outra explicação." Saio
do carro dela. Não, não é possível.
“Pense nisso, Chris! Como sua mãe sabia quem era aquela
mulher?" Ela me chama, sai do carro e segue atrás de mim.
"Por que eles disseram que iriam explicar? Se não soubessem o que
estava acontecendo, como seriam capazes de explicar qualquer coisa?!”
Minha garganta está queimando, começo a entrar em pânico. Me
viro para encará-la. "Se for, se você estiver certa. Sabe o que isso
significa?" Grito, para liberar minha frustração. Desamparo. Sinto-me
doente. A única coisa que me impede de vomitar é que ela tem que estar
errada. Ela quase nunca está errada.
"Você acha que estou feliz com isso?", Ela grita para mim. "Você
acha que quero estar certa? Que não quero que isso passe de um mal
entendido?" Sua voz sumindo. Ela cobre o rosto e se vira. "Se isso for
verdade, você realmente está casado, Chris!"
"Não quero que isso seja verdade! Nunca quis estar mais errada em
toda minha vida... Mas acho que não estou." Ela respira fundo. "Seus
pais," ela geme. "Se eu estiver certa, e eles sabem..." Ela balança a cabeça
desafiadoramente. "Como eles puderam fazer isso? Como não te
disseram?" Ela está histérica e eu a agarro e abraço-a fortemente. Ela
parece exatamente como me sinto por dentro: zangada, confusa e
frenética. Não posso deixá-la ver que estou tão assustado quanto ela está,
ainda mais. Porque se isso for verdade, minha vida nunca mais será a
mesma.

Sigo Jenna até sua casa para ter certeza de que ela vai chegar bem
no estado em que está. Ela sai e caminha até meu carro.
"Você tem certeza de que não quer que eu vá com você?" Pergunta
calmamente. Aceno com a cabeça. Realmente gostaria que ela estivesse
comigo, mas não sei o que estou prestes a ouvir e ela não é tão boa em
reprimir suas emoções como eu sou.
"Vou ligar para você assim que terminar de falar com eles", falo,
tentando meu melhor sorriso. Ela se inclina para me beijar, mas não em
meus lábios, bem perto deles. Não sei o que fazer. Meu cérebro está muito
cansado para analisá-lo.
Assim que ela fecha a porta, dirijo para minha casa Há tantas
coisas correndo pela minha cabeça. A voz chamada Cal. O que Dexter tem
a ver com isso? A teoria de Jenna. Meus pais. A garota que minha mãe
chamou de Lauren, que, se Jenna estiver certa, é... Eu nem vou pensar
no que isso significa.
Quando viro em minha rua, vejo um Audi branco estacionado em
frente à nossa casa. Não percebi isso antes, mas é difícil de perder agora.
Deve ser o carro da garota, o que significa que ela ainda está aqui. Meu
estômago revira. Estaciono atrás da casa. No meu lugar habitual e entro
pela cozinha, uma vez que me certifico que não tem ninguém.
Quero falar com Cal. Agora mesmo!" Ouço sua voz gritar. Meu
estômago se contrai, me aproximo da porta para que eu possa ouvir.
“Ele não quer me ver? O dano já foi feito! Eu só... Ele me deve uma
explicação!" Ouço passos se aproximarem, e me afasto da porta.
"Lauren, acalme-se, por favor," ouço minha mãe dizer, e os passos
param.
"Você sabe meu nome?" Ouço a garota perguntar. Ela parece tão
surpresa quanto eu. Ela não conhece meus pais.
"Nós sabemos quem você é. Você é a esposa de Cal”, ouvi meu pai
dizer. Minha garganta aperta. Como eles sabem quem é esse 'Cal'? Meu
coração está batendo mais rápido e mais rápido, mas sei que há uma
explicação razoável para isso. Tem que haver.
"Então ele fala sobre mim? Então, por que ele age como se não me
conhecesse? É por causa daquela mulher lá fora? Desculpe, năo sei quem
você... Ele nunca falou de você. Ele... ele... a voz dela sai, e estou o mais
perto que posso estar da porta sem passar por ela.
"Ele não sabe quem você é. A pessoa que você viu antes não era
Cal," minha mãe diz, e eu solto a respiração que eu tenho segurado. Os
nós em meu estômago soltam. Não posso ajudar o amplo sorriso que se
espalha pelo meu rosto com uma sensação de alívio em meu sistema.
“Eu não entendo... Não, aquele era Cal. Eu sei isso. Tem que ser," a
garota diz inflexivelmente. Ela parece tão certa sobre isso que sinto muito
por ela. Não sei quem é esse Cal ou como ela poderia se sentir algo tão
forte por um cara que parece um idiota ...
"Você está me dizendo que... ele é o irmão de Cal? Ele é o gêmeo de
Cal?"
Por que Jenna e eu não pensamos isso? Isso faria muito sentido.
Talvez eu tenha um gêmeo, ou um irmão que se pareça comigo. Não sei
nada sobre meus pais biológicos. É perfeitamente possível, mas a
mensagem... Não se encaixa a menos que ele esteja me atormentando,
mas por quê?
"Sim," meu pai responde.
“William, não. Sem mais mentiras. Ela merece saber a verdade.
Concordamos em dizer," minha mãe diz severamente, e meu estômago dá
um nó. Meu coração está batendo em meus ouvidos.
Você não pode se casar porque você já é casado... Uma vez que
ninguém ligou para informá-lo. Sou Cal.
Ouço vozes, mas não posso dizer quem está dizendo o quê. Aperto
minhas têmporas juntas e tento me concentrar. A única coisa que o Dr.
Lyce me disse para tentar fazer para evitar o apagão. Tenho ficado melhor
no ano passado.
"... Entendo que ele me usou... Ele nunca me amou", afirma a
garota antes de começar a chorar. Eu perdi alguma coisa. Coloquei o
ouvido na porta.
"Oh, não querida, você tem a ideia errada", diz minha mãe, e eu não
sei o que eu perdi.
"Chris e Cal compartilham o mesmo corpo, mas a pessoa que você
conheceu hoje é Chris, não Cal. Essa é a razão pela qual ele reagiu
daquela maneira. Ele realmente não sabe quem você é. Cal é a outra
personalidade separada de Chris..."
Vou ficar doente.
Vou vomitar aqui mesmo.
"Chris tem o que é chamado de Transtorno Dissociativo de
identidade," diz a minha mãe, ouvi o suficiente. Estou tonto. Caminho até
a mesa da cozinha. O lugar parece que está ficando cada vez menor. Meu
peito aperta.
"Você - você está mentindo para ele. Você está encobrindo ele!" A
garota grita.
"Estamos dizendo a verdade. Chris não sabe quem você é. Ele não
sabe o que Cal faz", eu ouço minha mãe dizer, e não aguento mais. Não,
não, não!
Saio da cozinha, e vou para a varanda dos fundos, e sobre a grade
derramo todo o conteúdo que comi. Estou do lado de fora, mas não
consigo ar suficiente.
Eu Sou Cal.
Tento recuperar o fôlego e enxugar as lágrimas quentes que estão
escapando dos meus olhos. Todo este tempo. Nenhuma pista. Pensei que
tinha apenas amnésia, uma desordem neurológica não diagnosticada. Era
tudo uma mentira. Minha vida é uma mentira ou uma delas é. Como isso
é possível? Como pode algo como isso realmente acontecer? Por que eles
mentiriam para mim? Como puderam fazer isso? Dois anos! Dois anos
sem que isso acontecesse.
Bem, além de ontem.
Finalmente terminei meu bacharelado, consegui um emprego
estável, e eles me deixaram fazer tudo isso sabendo que essa aberração
vive dentro de mim. Realmente sou uma aberração, sou louco. Um
psicopata.
Retiro o celular e ouço a mensagem novamente, em seguida, o
arremesso para longe.
Que, diabos é esse cara? Por que não tenho a menor ideia sobre
nada disso? Por que ele sabe mais do que eu? Chuto a sujeira. Realmente
preciso de algo para bater, ou até mesmo quebrar. Sinto que estou
quebrando, e agora, sem perceber, estou chorando.
Eu não chorava desde que descobri que minha mãe tinha câncer.
Me senti impotente, então, me sinto da mesma maneira agora. Tudo pelo
que trabalhei parece sem sentido. Olho para a casa e penso na garota lá
dentro. Como me casei com ela? Nem sei quem ela é. O que digo a ela?
Para Jenna? Não posso me casar com ela, enquanto estou casado com
outra pessoa, e se eu não estiver curado... Existe mesmo uma cura para
isso? Quando é que esse tal Cal aparecerá? Lembro-me de ontem e
começo a estremecer. Foi o que aconteceu em seguida. Ele apareceu... me
chamou. Ele, ele é eu... certo? Não, esse cara não pode ser eu. Não sou
nada disso. Sento na varanda, com a cabeça entre os joelhos. O que vou
fazer? Como posso explicar isso às pessoas? Como posso viver assim?
Meus pais não acreditavam que eu pudesse. Teriam me dito se achassem
que eu poderia lidar com isso.
Transtorno Dissociativo de Identidade. Que diabos isso significa?
Poderia muito bem ser uma maldita‘doença que vive dentro de você’.
Respiro fundo e volto para a casa. Há ainda gritos vindos de trás da porta,
mas ignoro. Subo ás escadas e entro no meu quarto, abro meu laptop,
entro no aplicativo de busca, em seguida, olho para ele. Sento colocando
minha cabeça em minhas mãos. Elas estão tremendo. Uma vez que fiz
isso, não ha como voltar atrás.
Digito Transtorno Dissociativo de Identidade e aperto enter.
1.080.000 resultados. Uau. Rolo para baixo e clico no que parece ser um
link oficial.
Transtorno Dissociativo de Identidade (DID), originalmente
denominado transtorno de múltiplas personalidades, conhecido
popularmente como dupla personalidade, é uma condição mental em que
um único indivíduo demonstra características de duas ou mais
personalidades ou identidades distintas, cada uma com sua maneira de
perceber e interagir com o meio. O pressuposto é que ao menos duas
personalidades podem rotineiramente tomar o controle do comportamento
do indivíduo. Quando sob o controle de uma identidade, a outra
geralmente é incapaz de lembrar os eventos que ocorreram enquanto a
outra personalidade estava no controle. As diferentes identidades,
referidas como alteradas, podem apresentar diferenças de fala,
maneirismo, atitudes, pensamentos e orientação de gênero. As alterações
podem até mesmo apresentar diferenças físicas, tais como alergias, perda
de visão. Essas diferenças e alterações são muitas vezes bastante
surpreendentes.
Fico olhando para a tela verificando todas as informações. Você
pensaria que uma pessoa capacitada deveria saber. Finalmente sei o que
há de errado comigo. Mas é aterrorizante porque torna tudo isso real.
Depois de ler sobre isso pela última meia hora, não vi se há uma cura.
Tratamento, terapia, algo sobre a integração que não faz nenhum maldito
sentido. Aparentemente tenho sorte, porém, só há uma... 'alteração'. Isso
é o que Cal é, um 'alteração'. Suponho que poderia ser pior, Cal poderia
ser uma mulher, e meu marido poderia ter aparecido hoje. Acho que ele
quis dizer isso brincando na mensagem, sabendo que eu não tinha ideia
do que ele estava falando. Esse cara é um canalha. Espero que seja o
único, mas quem sabe? Tento não pensar sobre o que tudo isso significa.
É como se outra pessoa estivesse na minha porta esta manhã,
literalmente.
Minha cabeça pesa mil libras. Quero acordar desse pesadelo. Minha
vida passou do céu para o inferno em questão de segundos. Pergunto-me
quem mais me conhece passou cegamente pela minha vida sem saber a
verdade. Dexter obviamente sabia, mas o verdadeiro ato de traição foi a
mentiras dos meus pais. Eu nunca confiei em Dexter, mas eles... como
eles poderiam fazer algo assim?
Ouço um carro derrapar lá fora e vejo o Audi branco saindo. Ela se
foi. Talvez para sempre. Ela não tinha ideia do que estava acontecendo.
Esse tal de Cal nos ferrou tanto. Se eu fosse ela, iria embora e deixaria
essa bagunça para trás. Se ele for como acho que ele é, ela tem sorte. Não
tem nada a ligando a esta confusão, mas seria o caso de Jenna sair
também. Ela não está amarrada a mim. Estamos apenas noivos.
Estamos envolvidos? Você pode até mesmo se envolver enquanto
está casado com outra pessoa? Casado. Eu sou casado? Cal não é casado.
Isso soa ainda mais ridículo do que eu ser casado. Eu sou... Cal ou Cal é
eu? É uma equação matemática ruim. Como é possível para ele ter um
relacionamento e conseguir se casar enquanto isso estava acontecendo?
Eu deveria ter alguma lembrança dela. Bem, eu fiz, tipo, mas nada de
concreto, sem lembranças, apenas familiaridade...
A emoção que aquela garota sentiu quando me viu. Olhou para mim
como se eu fosse seu mundo. Ela estava devastada enquanto eu não sabia
quem ela era. Ele não poderia ter tido tempo para ter um relacionamento
assim. Como poderia forjar uma conexão com alguém tão intensa quando
ele poderia desaparecer a qualquer momento? Eles não poderiam estar
apaixonados.
Tenho que corrigir isso ou será um inferno.
E quem é ele para me ameaçar? Como posso consertar isso? Não
sabia nada sobre isso até hoje. Ele é o único que arruinou a minha vida! A
parte chata nisso é que não há nada que eu possa fazer. Estou impotente.
Como posso me casar com Jenna sem saber quando esse cara vai
aparecer? Não sei nada sobre ele. Como posso levar sua ameaça a sério?
E se eu casar com Jenna um dia e acordar como esse cara no outro? Ela
não merece isso.
Olho debaixo da minha cama e puxo os diários que costumava
manter antes que meus apagões parassem há dois anos, quando comecei
a acompanhar o tempo que perdia. Tenho quatro livros. 2008, 2009, 2010
e 2011. Eu costumava manter o controle dos dias que não me lembrava.
Olho por cima de todos eles, contando. Doze dias em um mês, dezesseis
no próximo. Sete, dez, dezoito e vinte e dois. Totalizando todos juntos
fiquei fora uns quatro anos, eu estava ciente do que estava fazendo por
750 dias. Um pouco mais da metade do tempo. Isso é um longo tempo
para este Cal fazer um grande estrago em minha vida... e construir a sua
própria.
Uma queimação começa na minha garganta e se espalha para o
meu peito. Pego os diários e começo a rasgá-los e atirá-los pelo quarto.
Vejo fotos de mim com meus pais, com Jenna, e com os amigos ao longo
dos anos. Agarro-os e atiro-os também. Esta não é a minha vida. Como
pode ser a minha vida quando não a tenho? Quando alguém pode
assumi-lo em qualquer segundo sem ter que me pedir?
"Christopher," minha mãe diz, sua expressão horrorizada enquanto
ela está na porta, olhando para mim no meio da minha bagunça. Estou
prestes a fazer 28 anos de idade, e ainda tenho um quarto na casa dos
meus pais. Olho para ela, seu rosto parcialmente coberto com suas mãos.
Meu pai se junta a ela logo depois e respira fundo.
"Filho, o que há de errado?", Ele pergunta com cautela, como se
tivesse medo de ouvir a resposta. Soltei uma risada zangada.
"Transtorno Dissociativo de Identidade", falo de forma pontiaguda e
assisto sua expressão mudar de chocado para culpado.
"Nós podemos explicar. Venha, desça para podermos conversar
sobre isso", diz meu pai.
"O que há para falar? Como fodido a minha vida é? Estou
compartilhando isso com algum idiota e você me escondeu isso?”
"Não use essa linguagem conosco!" Meu pai diz, aparentemente
ofendido.
"Por que não, pai? Está muito parecido com Cal?" Grito com eles.
Não teve nenhum problema quando Cal deixou aquela mensagem bomba.
"Filho, nós sabemos que você está chateado", minha mãe
interrompe.
"Chateado, não explica isto. Minha vida tem sido uma mentira - eu
não tenho uma vida!"
"Você tem uma vida. Você, você é uma pessoa real. Ele é..."
"Isso está certo? Porque ele tem uma esposa? Tenho certeza que de
que ele tem amigos, e uma casa. Ele pelo menos sabia o que estava
acontecendo, e de acordo com ele, estou arruinando sua vida. Ele sabe
muito mais sobre tudo o que o faço do que eu!" Grito, e há silêncio.
"Como é que vocês não me disseram o que estava acontecendo?''
Digo e minha raiva me deixando mais irritado.
"Pensamos que estávamos protegendo você. Não queríamos
sobrecarregá-lo."
“Huh, como você acha que estou me sentindo agora?" Dou uma
risada com desdém.
"Sinto muito, Christopher," minha mãe diz, com lágrimas caindo
dos olhos. Ela pode poupá-los agora.
"Pensávamos que faria coisas piores," meu pai diz incidentalmente.
Como esconder o fato de que tenho outra pessoa dentro de mim fosse
insignificante. Algum tipo de Dr. Jekyll e Mr. Hyde.2
"Como?! Como você poderia pensar que era melhor? Como você
pôde pensar que eu não descobriria que esse idiota está circulando por aí,
ferrando as pessoas, como casar, é o melhor para mim?!" Pergunto,
soltando uma risada incrédula. Eles parecem estupefatos.
"Me deixaram pensar que estava tendo blackouts e amnésia, um
efeito colateral de uma desordem neurológica. Como puderam fazer isso
comigo?" Falo mais alto porque é como se eles não estivessem me
ouvindo.
"Nós íamos dizer a você", Meu pai finalmente responde.

2
é uma novela gótica, com elementos de ficção científica e terror, escrita pelo autor escocês Robert Louis Stevenson e
publicada originalmente em 1886.
"Quando? Porque isso obviamente tem acontecido há anos. Porque
agora? Oh, porque possivelmente eu poderia ser preso por ser polígamo?"
Eu grito.
"Isso é o suficiente!" Meu pai diz, com autoridade em sua voz. Meu
peito está agitado, mas tento me acalmar; Vendo as lágrimas cobrindo o
rosto de minha mãe ouvindo seus angustiantes gemidos quebra meu
coração.
"Não se atreva a pensar por um minuto que isso foi fácil para nós.
Você não acha que queríamos te contar? Não acha que queríamos que
esse cara desaparecesse? Confie em mim, não é divertido lidar com ele! O
dia em que o conhecemos foi um dos piores dias de nossas vidas", sua voz
severa começa a ceder.
"Não diga que não foi uma das decisões mais difíceis que já tivemos.
Achamos que estávamos fazendo o que era melhor para você. É claro,
agora vimos que estávamos errados", ele continua.
"Você tem que entender que não fizemos isso para machucar ou
deliberadamente enganá-lo. Entenda isso, Chris. Pensamos que seria
mais fácil para você se não soubesse. Não sabíamos o que aconteceria se
disséssemos...” minha mãe explica timidamente.
"Os médicos disseram que não havia cura para isso. Somente fazer
terapia intensiva com os dois. Confie em mim ele não é alguém que você
precise se preocupar. Para que te falar se não há nada que pudéssemos
fazer sobre isso? Só te deixaria preocupado e estressado", meu pai fala
defensivamente.
"Quando você voltou depois do meu diagnóstico, nós íamos dizer a
você. Naquela época, nós sabíamos sobre Lauren e vimos que Cal estava
fazendo coisas que acabariam afetando você", minha mãe suspira.
"Mas você estava sendo minha rocha enquanto eu estava doente.
Parecia demais. Com o passar do tempo, as coisas ficaram melhores para
nós dois. Pensamos. Esperávamos que talvez não houvesse mais
problema", diz minha mãe, sua voz voltando ao normal.
"Tudo estava correndo tão bem. Fomos egoístas em achar que
estava tudo normal em sua vida." Meu pai diz.
"Quando nos disse ontem que estava se casando com Jenna,
sabíamos que tínhamos que dizer alguma coisa. Estávamos apenas
tentando descobrir a melhor maneira", acrescenta minha mãe.
Soltei uma respiração profunda e segurei minha cabeça. Sei que
eles não agiram de má fé. Que todo esse tempo eles devem ter passado
um inferno. Sento-me na cama e repouso a cabeça em minhas mãos
"O que faço? Onde vou a partir daqui?" Pergunto às pessoas que me
ajudaram a tomar todas as decisões importantes na minha vida. Minha
mãe solta um profundo suspiro.
"Há algo mais que temos para lhe dizer filho," minha mãe diz
relutantemente.

"Você precisa de mais um desses." Lisa derrama outra dose de


vodka no meu copo, tomo antes de terminar o resto da história. A sala
ainda não começou a girar, mas minha cabeça sim. "Certo. Quando
pensei que as coisas não poderiam ficar piores, me disseram que não só
este idiota se casou, mas também a engravidou, o que me torna o pai."
Sorrindo, olho para o copo vazio. Não costumo beber muito, mas antes de
contar a ela essa história, falei para pegar a garrafa primeiro. Seus olhos
estão mais arregalados do que estavam desde que comecei a história da
minha vida nas últimas vinte e quatro horas.
"Whoa, ia dizer que esta era sua última dose, mas acho que isso
merece coisa melhor do que vodka." Ela desaparece atrás do bar. E
substitui meu copo vazio com o líquido marrom da garrafa; É o que meu
Pai serve em ocasiões especiais... Levanto meu copo com um sorriso
pateta em meu rosto.
''Há mim, por ser pai' 'Falo sarcasticamente e ela explode em
risadas.
"Você é pai!" Ela diz com um falso entusiasmo. Rimos, juntando
nossos copos. A coisa boa sobre o álcool é que tudo que acontece em sua
vida parece hilariante. A picada do uísque queima cinco vezes mais do
que a da vodka. Normalmente só tomo uma cerveja ou duas, mas com
cada dose parece que os problemas de hoje estão desaparecendo.
''Meu desejo era ter estado lá para o ver o olhar de Jenna quando
sua esposa apareceu'', ela diz com uma risadinha. Balanço a cabeça.
Gostaria que elas se dessem bem desde que Lisa é minha melhor amiga,
mas esse é o menor dos meus problemas agora.
"Ela não é minha esposa... Eu acho?", Me defendo.
"Tecnicamente, você e esse Cal são a mesma pessoa", ela sussurra
como se estivesse me contando um segredo.
"Então isso faz dela sua esposa." Ela me dá um tapinha no ombro.
"Porém, a parte boa é que amanhã você vai está com muita ressaca
para se preocupar com isso" Ela gargalha, e de repente, é como se meu
corpo pesasse mil quilos. Eu estava sentado no sofá, mas agora estou
deitado no quarto ou a sala virou de lado.
"E depois de amanhã?" Ouço-me falar.
“Pergunte a Lisa sóbria. Lisa bêbada está indo para a cama.” Ela ri
enquanto sai do sofá para apagar as luzes antes de tropeçar enquanto
caminha para seu quarto.
Viro-me de costas e vejo um ventilador no teto. Está girando tão
rápido que poderia jurar que era marrom, mas agora é preto. Olho em
volta, e não estou mais no sofá de Lisa, mas em uma enorme cama com
lençóis pretos. Está claro e a luz do sol está brilhando no meu rosto.
Estico meus braços e sinto uma pele quente. Olho para baixo e vejo uma
coxa mal coberta pelo lençol. Meus olhos percorrem o corpo e congelo
quando vejo o rosto da morena de mais cedo. Seus olhos ainda estão
fechados, mas seus sedutores lábios rosados se curvam em um sorriso
sedutor.
"Fique comigo", ela ronrona em meu ouvido, sua mão arrastando
pela minha perna nua. Ah Merda! Tento me mover, mas estou preso. Seus
olhos ainda estão fechados, mas agora ela subiu em cima de mim.
"Vou fazer valer a pena", fala em meu ouvido, ela cheira tão bem,
está começando a beijar meu pescoço enquanto suas mãos agarram a
minha...
"Christopher, levante-se!" Abro os olhos e vejo meu pai ao lado do
sofá onde vagamente me lembro de ter adormecido. Era só um sonho,
mas parecia mais real que qualquer outro que já tive. Ainda posso sentir
seus lábios em mim. O cheiro de seu cabelo e quão quente era sua pele.
Tento sentar lentamente, mas é como se a gravidade quisesse a minha
cabeça aqui no sofá. Ugh, meu estômago parece que está em uma
montanha russa.
"Você acha que ficar bêbado vai resolver os seus problemas?" A voz
do meu pai é alta e sinto que tem um martelo batendo em minha cabeça.
Ele coloca o braço em volta de mim, puxando-me para que eu fique em
uma posição sentada.
"Onde estou?", pergunto, inseguro. Sinceramente, não tenho ideia
até reconhecer aquela manta feia que Lisa fez na escola e percebo que
ainda estou na casa dela.
"Ugh, a minha cabeça." Gemo. Meu pai me obriga a pegar uma
xícara de café.
“Isso que está fazendo não é resposta” papai fala rispidamente.
Levanto o copo para a minha boca, mas antes mesmo que possa beber, o
cheiro faz meu estomago embrulhar, e eu vomito.
"Estamos em uma situação ruim. É o fim do mundo? Não? Mas se
você se tornar um bêbado autocompassivo será", fala bruscamente,
“gostando ou não, você é pai agora, então vamos ter que descobrir como
lidar com essa situação, mais cedo ou mais tarde."
Ele não pode pensar que no meu estado estou em condições de
planejar a minha vida agora.
"Só quero dormir", murmuro, colocando o café no chão, e deitando
de novo no sofá.
"Não sei qual é o seu plano, mas se você ainda está comprometido
com Jenna ou planeja estar, sugiro que levante e volte para casa. Tenho
certeza, que de todos os lugares que você poderia estar, ela não ficará feliz
por você estar aqui, e provavelmente você não ligou para ela, pois
encontrei seu telefone no chão do nosso quintal". Adverte.
Jenna.
Seu nome me faz sentar.
Já disse a ela mil vezes que Lisa e eu somos apenas amigos, e tem
sido assim desde o jardim de infância, mas ela diz que enquanto Lisa tiver
seios e uma buceta, ela nunca confiará nela.
Demora um minuto, mas com a ajuda de meu pai, saio da casa de
Lisa, entro na minha caminhonete e volto para casa, para a minha cama.
Ignorei o sermão que papai me deu no caminho para casa. Acho que
mereci uma noite como a de ontem depois de tudo que passei.
Minha mãe deve ter acordado, pois meu quarto está limpo, e me
cobriu como se tivesse doze anos, em seguida, trouxe-me um ibuprofeno,
depois que consegui comer um pedaço de torrada. Minha cama é muito
melhor do que o sofá da Lisa.

Acordo, ainda no meu quarto, mas o céu está escuro. Os pássaros


já estão fazendo barulho por isso deve ser no início da manhã. Sento e
olho o relógio na minha mesa mostrando que é 5:11 am. Devo ter dormido
desde ontem. Sinto-me muito melhor. Meu estômago está vazio,
rosnando, e o cheiro de bacon vindo das escadas me faz levantar. A
intensa dor de cabeça se foi e agora estou apenas com uma dor maçante.
Escolho uma camiseta, jeans e boxers, e vou para o chuveiro lavar o fedor
de vômito e do uísque que estão em mim.
Não conversei com Jenna. Eu disse a ela que ligaria depois que
conversasse com meus pais, mas simplesmente não consegui fazer isso.
Não sei o que dizer. Não sei para onde vamos a partir daqui.
Precisava de um dia de folga para pensar. Mas agora parece um dia
perdido. Estava meio preparado para confirmar que estava certa. Para
explicar a ela que o que tenho é uma condição real e não uma bobagem.
Porém, conhecendo-a, provavelmente ela já descobriu tudo. Ela pode estar
disposta a casar comigo; Não é como se eu não conseguisse um divórcio,
nem tenho certeza se esse casamento é legítimo. Tenho certeza que a
garota... Lauren. Tenho que parar de chamá-la de garota. Ela não é uma
mulher aleatória, afinal... Lauren teria concordado em solicitar o divorcio
depois de perceber que não sou o homem que ela ama.
Mas uma criança, sabendo que tenho um filho com outra pessoa...
isso é algo que Jenna não vai aceitar e não posso culpá-la. Gostaria
apenas de manter a memória de ser noivo da mulher que escolhi,
pensando com quem nossos filhos iriam parecer mais.
Bem não haveria filhos até que ela terminasse a faculdade de
direito, passasse pelos exames e estabelece-se dentro de uma empresa...
mas isso é irrelevante agora. Depois de escovar os dentes e colocar
minhas roupas, vou para a cozinha, meu estômago está desejando o
bacon e ovos que mamãe está fazendo.
Ela olha enquanto me sento. Já colocou o meu prato. Ela se senta
na mesa em frente a mim e derrama suco de laranja em nossos copos.
Começo a mexer em meu prato e ela limpa sua garganta. Rolo meus olhos
enquanto ela pega minha mão.
"Senhor, nós agradecemos por este alimento que você nos abençoou
para receber, e que nunca falte em nossa mesa. Amém", diz ela, e eu
resmungo um amém antes de empurrar uma colher de ovos em minha
boca. Estou tentando contar as poucas coisas para agradecer está
manhã, mas ainda não achei.
Alguém estragou minha vida, e se Deus planejou minha vida assim,
estou muito chateado com ele agora. Mas desde que minha mãe ainda
está aqui quando chegou tão perto de morrer, não vou falar a minha
opinião.
"Papai já está de volta?" pergunto, percebendo que ela não colocou
nenhum prato para ele. Ela balança a cabeça. "Ele queria começar cedo",
diz ela depois de terminar seu suco.
"Como está se sentindo?", Pergunta, e não tenho certeza se está se
referindo ao meu estado mental ou a ressaca de ontem. Olho para ela um
segundo antes de meus olhos voltarem para o meu prato.
"Não sei", admito honestamente. Hoje, estou um pouco entorpecido.
Não sei como devo me sentir ou pensar, mas é melhor do que estar furioso
ou sem esperança, então vou lidar com isso.
"Lauren vai vir aqui amanhã", ela fala baixinho, com a voz normal.
Deixo escapar uma respiração profunda.
"Sim?" eu digo, sentindo como se estivesse em transe. Lauren,
minha esposa, a esposa de Cal. Neste ponto, cuja esposa ela é não
importa, uma vez que somos ambos, ou um dos nossos DNA está no
garoto. Minha mãe se levanta da mesa, abre a gaveta, e depois se senta
novamente.
"Eu não tive a chance de mostrar isso a você. Naquele dia você saiu
tão abruptamente", diz ela, deslizando uma foto pela mesa. Seus lábios
estão pressionados firmemente juntos, mas se curvaram em um sorriso.
Pego a foto e solto um suspiro profundo. É uma menina, talvez um ano de
idade. Ela tem grandes olhos verdes e cabelo encaracolado escuro. Duas
covinhas profundas. Involuntariamente solto um suspiro. Ela se parece
com minhas fotos de bebê só que ela é uma menina.
"Ela é linda, não é?", diz minha mãe, sem esconder o sorriso.
Uau. Realmente tenho uma filha, e se parece comigo. Nunca pensei
que quando estivesse vendo pela primeira vez meu filho seria por uma
foto quando eles estivessem no mundo um... Eu nem sei quantos anos ela
tem.
"Qual é o nome dela?” Pergunto, descansando minha testa na mão.
"Caylen", ela diz calmamente. Deixo escapar um bufão. "Ela deu o nome
dela por causa dele, não é?" Eu digo com uma risada zangada.
"Eu... eu sei que esta não é a melhor situação, e nós nunca
imaginamos ás coisas acontecendo desta forma com você, mas isso não
tem que ser de todo ruim", diz minha mãe, pegando minha mão e
apertando-a. Balanço a cabeça.
"Eu-eu perdi seu primeiro aniversário, primeira palavra, e os
primeiros passos. Nem sei quantos anos ela tem", digo, com o peso de
saber que tenho uma parte de mim neste mundo sendo adicionada a um
barco carregado de estresse que está transbordando...
"Nós perdemos o seu também, mas isso não nos faz amar você
menos. Se estivéssemos lá, isso faria você nos amar mais?" Ela pergunta
com um sorriso sincero. Ela está certa. As coisas poderiam ser muito
piores. Tenho que parar de sentir pena de mim mesmo; Se gosto ou não,
eu sou... sou pai. Sempre quis ter filhos. Cresci sozinho, e se não fosse
por Lisa, teria sido muito solitário.
Se fosse comigo teria filhos suficientes para começar uma pequena
liga. Jenna deixou claro que isso não estava acontecendo, sempre que
tocávamos no assunto sobre família. Ela realmente não quer filhos, mas
disse que teria um para mim. Agora provavelmente não vai falar comigo
de novo, e muito menos, ter meu filho. Não consigo ver nenhuma mulher
me levando a sério com algo assim. Oi, meu nome é Chris, e eu posso me
transformar em um idiota a qualquer minuto, literalmente. Então, este é
provavelmente o único filho que terei.
"Será que ela vai trazê-la... Caylen com ela amanhã?" Me corrijo.
"Não. Acredito que esteja em Chicago", diz minha mãe, tomando um gole
de café. Chicago... Isso é pelo menos três a quatro horas de carro. Estive
lá... lembro-me de estar lá em uma viagem durante o ensino médio. Soltei
um suspiro, como pude ser um pai a quatro horas de distância?
"O que você sabe sobre ela?" Pergunto.
"Bem. Não muito, Christopher. Dexter nos disse que ela se formou
na Universidade de Chicago há alguns anos e que era uma artista, não
tenho certeza de que tipo. É originalmente de Michigan." Ela suspira e
dobra as mãos.
"Ele nos disse que ela é uma boa pessoa." A definição de Dexter de
uma pessoa boa não tem muito peso pra mim.
"Ele também disse que... Cal realmente a amava." Seus olhos
brevemente encontram os meus antes de olhar para a mesa. A amou? Ele
não a amava o suficiente para lhe dizer a verdade... Mas meus pais
também não me disseram.
Soltei outro profundo suspiro. Ela está vindo aqui e nem quero
pensar no que vai me dizer. Tenho o rosto desse cara que a abandonou e
que a deixou com uma criança. Mas mesmo com tudo isso, ela olhou para
mim com nenhum tipo de ressentimento ou ódio... Bem, até que disse a
ela que não sabia quem ela era.
Você não pode se casar. Você já é...
Cruzo as mãos. É como se eu estivesse sentado sobre elas. Hoje
preciso começar a descobrir isso, com Jenna e Lauren. A mulher que
deveria ou teria sido minha esposa, que não poderá mais ser porque sou
casado com uma mulher com quem tenho uma filha - uma mulher, que
eu nem sabia que existia antes desta semana.
"O que digo a Jenna, mãe? Como posso dizer isso a ela?" Olho para
a garotinha na foto novamente, tentando fazer com que meu cérebro
compreenda que esta é a minha filha.
"Você só pode contar a ela a verdade e esperar que ela entenda,"
minha mãe diz fracamente, como se até mesmo ela não acreditasse que
Jenna entenderia.
"E Lauren... não sei o que ela quer de mim." Paro.
"Será que ela vai entender isso?" Suspiro. Nem sei o que espero que
ela entenda... que não sou o homem com qual se casou e a abandonou.
Mas eu sou. Ainda estou tentando entender tudo isso.
Minha mãe balança a cabeça. "Tenho certeza que isso vai ser difícil
para ela, mas acredito, pelo menos, que se trata de Caylen. Ela não teve
muito tempo para digerir grande parte desta situação, mas talvez o
suficiente para tentar entender que você não é o homem por quem ela se
apaixonou." O tom da minha mãe é esperançoso. Eu não estou tão
otimista.
Amar. Ela o amava. Odeio ouvir essa palavra e o nome dele na
mesma frase. Isso o torna real, e ele não merece o reconhecimento. Se vou
resolver isso tenho que certificar a direção da minha vida, preciso
começar a fazer algo. "Você sabe onde ela está? Lauren? "Pergunto.
"Disse a ela sobre o Ritter Inn..." minha mãe diz, agarrando nossos
pratos da mesa.
"Na verdade, Rose confirmou que ela fez check-in," minha mãe
admite.
"Estarei de volta para ajudar o papai antes do meio-dia," eu digo,
pegando as chaves da minha caminhonete na mesa.
"Onde você vai tão cedo?"
"Vou tentar pegar Jenna antes que vá para a escola," eu digo, e
saio.
"Chris. Você gostaria que eu ligasse e marcasse uma consulta com
Dra. Lyce?" Minha mãe pergunta hesitante.
"Vou encontrar um novo médico," digo antes de sair. Meus pais
mentiram. Tenho que perdoá-los. Dexter mentiu. Espero isso dele. Mas o
minha médica? Uma médica que manteve algo assim de mim, não quero
ver nunca mais.
"Boa sorte, filho," minha mãe diz antes de eu entrar na minha
caminhonete. Vou precisar.
Cheguei à casa de Jenna, e ela já está na porta, sua bolsa de
couro grande recheada até a borda com seu laptop, livros, e bloco de
notas. Seu cabelo está puxado para cima em um coque apertado e óculos
escuros cobrindo os olhos. Ela dirige todo o caminho para a Universidade
de Michigan, que fica a duas horas de distância. Disse que preferia perder
um pouco de sono do que dinheiro em alojamento e alimentação, desde
que o aluguel é muito mais barato aqui em Madison. Seus pais cuidam
dela, mas queriam que ela fosse para a mesma faculdade que se
formaram. Como não foi, eles pagam a mensalidade, mas é só isso.
Encontro-a na parte inferior das escadas; Ela ajusta a bolsa no
ombro e envolve seus braços em torno de si mesma. Não consigo ver por
trás dos seus óculos escuros, mas posso dizer que está evitando meus
olhos.
"Ei," digo calmamente. Vejo que ela está mordendo os lábios, o
primeiro indício de que está chateada, e tem todo o direito de estar. Não
liguei para ela desde que foi atingida por uma bomba que mudou sua vida
em menos de 48 horas atrás. Meus olhos vagueiam até sua mão, e estou
um pouco aliviado ao ver que ainda está usando seu anel.
Não importa, provavelmente irá jogá-lo em mim depois de lhe dizer
o que tenho que fazer.
"Você não me ligou. Disse que iria telefonar depois que falasse com
seus pais," ela diz, e apenas fico em silêncio.
"Eu sei. Estraguei tudo," digo, cruzando os braços sobre o peito.
"Não ligou naquela noite ou no dia seguinte. E agora aparece na
minha porta...?" Ela pergunta com um encolher de ombros.
"Quebrei meu telefone. Fiquei completamente bêbado naquela noite,
e dormi durante o dia todo ontem," admito. Sei que soo como um idiota,
mas não quero mentir para ela. Depois de tudo isso, ela não merece isso.
Ela respira profundamente.
"Uau. Então, está bebendo o suficiente para dormir um dia inteiro,
quando normalmente apenas toma uma cerveja, e não atende o seu
telefone ou me ligou como combinamos. Além de tudo isso, deixou-me no
escuro, depois, que possivelmente, descobriu algumas informações que
muda a minha vida. No entanto, sou a última, a saber. Sou sua noiva,
Chris! Deveria ser a primeira, a saber!" Sinto-me como um completo
cretino.
"Realmente sinto muito, Jenna," digo sem graça, porque soo como
um idiota.
"Você realmente se arrependeu, Chris. Mas se arrepender não ajuda
nada disso! E daí, o que aconteceu, o que seus pais disseram?" Ela
pergunta rapidamente.
Solto um suspiro, e passo a mão pelo meu cabelo.
"D.I.D. É isso, certo?" Responde antes mesmo que possa falar algo,
e eu aceno.
Essa é Jenna. Sempre um passo à frente. Aposto que ela não vai
adivinhar o que tenho a lhe dizer.
"Então, aquela mulher, Lauren, é sua esposa," ela diz com uma
risada.
"Bem, é de Cal. Foi ele que se casou com ela," digo, tentando me
distanciar da decisão, tanto quanto possível. Ela retira os óculos, e seu
olhar me faz desejar correr.
"Então não vai assumir a responsabilidade por isso?" Exige.
“Não vou fugir da responsabilidade. Só quero que entenda. Cal. Cal
se casou com ela. Não tenho ideia de quem ela é. Eu te amo. Quero me
casar com você!"
Ela está quieta. Não sei o que é pior, ela gritando ou seu silêncio.
Chego mais perto, e ela se afasta. Estou perdendo ela. Posso sentir
isso, e nem sequer lhe disse que tenho uma filha.
"Estou tentando entender. Realmente estou. Passei horas on-line
pesquisando. Deparei-me com este grupo de apoio on-line para pessoas
com a sua condição." Seus olhos repletos de lágrimas.
"Isso é só assim..." suspira.
"Sei que isso não é culpa sua e não é algo que pediu, mas estou
tendo um tempo muito difícil tentando entender tudo isso," ela diz e limpa
a garganta.
"Eu sei. Basta imaginar como me sinto." Sorrio, e ela sorri forçado.
"Se isso for demais pra você, Jenna... Não a culparia," digo,
sentando-me na sua varanda.
"Chris, se fosse qualquer outra pessoa não acreditaria. Mas é você.
É uma das pessoas mais carinhosa, altruísta, honesta que conheço,” diz,
sentando-se ao meu lado.
"Mesmo que você possa ser um bebê grande, às vezes," ela ri, e eu
também... Bebê. Ugh. Olho para ela, sua tristeza agora retornando.
"Vou para escola mais cedo para estudar para o meu exame
amanhã," diz ela. "Estava indo passar a noite com Kaylie, mas posso
voltar em vez disso," continua, e esfrego a parte de trás do meu pescoço.
Como posso dizer isso? Tenho que dizer. Não posso esconder isso
dela. Qual é a melhor maneira de falar isso? Sei que ela não iria querer
um longo discurso. Ela se levanta, e faço o mesmo. Envolve seus braços
ao meu redor, o que digo? Eu a levanto pela cintura e a abraço, como se
fosse à última vez. Tenho 90 % de certeza que esta será à última vez que
vou segurá-la assim.
"Chris, vamos fazer isso funcionar. Vamos encontrar os melhores
médicos e grupos de apoio, e vamos passar por isso. Pelo menos agora
sabemos com o que estamos lidando. Este casamento não pode ser legal,"
diz, confiante. Eu a coloco no chão, e ela pega meu rosto em suas mãos. É
por isso que a amo. Ela é capaz de me tirar da minha festa de auto
piedade.
Quando conheci Jenna, estava a caminho de uma visita com o
médico da minha mãe, e as notícias não eram boas. Todos haviam sido
carinhosos e pisavam em cascas de ovos em torno de mim com tudo que
estava acontecendo. Mesmo Lisa não conseguiu romper, mas Jenna
conseguiu. Olho para longe dela, e apenas continuo falando.
"Lauren. Ela tem..." Suas sobrancelhas se levantam. Sei que a
próxima frase vai mudar tudo.
"Ela tem uma filha." Assim que as palavras saem da minha boca,
seus olhos se arregalam e a boca cai aberta. Sua expressão é vazia,
completamente em branco, mas libera o meu rosto de suas mãos e dá um
passo para trás.
"O quê?" Ela pergunta, e sua voz quebra. "Não." Ela cobre o rosto,
sua expressão desmoronando.
"É... ela é sua?" Pergunta-me, sua voz estável. Olho para longe dela.
"Oh. Sinto Muito! É de CAL?" Ela diz, fazendo aspas no ar.
"Sinto muito. Sei que não ajuda, mas sou o pai. É a única coisa que
consigo dizer."
"Claro que você é," diz, balançando a cabeça.
"Mas eu não posso ficar brava com você, certo? Porque não era você
ou era você!" Ela começa a rir, mas as lágrimas estão escorrendo pelo seu
rosto.
"Eu, eu simplesmente não posso lidar com isso agora." Ela cobre o
rosto e balança a cabeça. "Tenho que ir." Ela passa por mim em direção a
seu carro.
"Jenna, fale comigo!" Agarro o seu pulso, e ela o arrebata. Em um
instante, sua mão direita encontra o lado do meu rosto. A picada da
bofetada nem sequer me distrair da dor em seus olhos.
"Sinto muito," diz imediatamente depois.
"Preciso de tempo. Apenas me dê algum tempo," ela diz, seu olhar
fixo no meu por apenas um segundo antes de se afastar, entrar em seu
carro, e sair.
O encontro com Jenna foi um desastre absoluto. Admito, eu deveria
ter dito algo mais em vez de, "Hey, a garota que você conheceu tem um
filho, e é provável que seja meu," ou algo parecido.
Algo profundo e significativo, mas isso nunca foi realmente meu
estilo. Tento ser honesto, não importa o quanto doa é a forma menos
dolorosa possível, se isso faz algum sentido. Ainda assim, poderia ter feito
mais do que ficar ali olhando como um idiota e deixa-la escapar assim.
Deveria estar agradecido. Poderia ter sido pior. Ela ainda tem o anel e não
terminou oficialmente o nosso noivado. Pediu um tempo, mas o tempo
não é um luxo que eu tenha tido muito, a maior parte desaparece em
segundos.
Gostaria de ter mais tempo para descobrir isso, mas ele continua
correndo, segundo a segundo, e depois de ontem decidi que não vou mais
desperdiçá-lo sem fazer as coisas direito, ou pelo menos tentar. Por mais
que eu queira bloquear o pensamento da minha mente de que o meu
corpo é compartilhado com uma pessoa que pode aparecer sem aviso
prévio e me ferrar regiamente, eu não posso. Quanto mais rápido
conseguir colocar as coisas em ordem, menos danos eu posso ter certeza
que ele cause.
Tenho que fazer o controle de danos. Preciso, e é isso que me irrita.
As coisas podem dar certo, pelo menos eu sei. Não saber era a pior parte e
muito assustador, hoje não estou tão fora de controle como estava
quando descobri. Enfrentei alguns problemas estressantes para dizer o
mínimo, mas as minhas dores de cabeça não apareceram, e estou
mantendo o controle do tempo. Não sei onde estou com Jenna, mas agora
ela sabe a verdade. Tudo o que me resta fazer é enfrentar Lauren.
Pensei que ficaria mais nervoso ao contar a Jenna que tinha uma
filha do que conhecê-la, mas agora mesmo, do lado de fora de seu quarto
de hotel, sei que estava errado. Minhas mãos estão suando, meu coração
está batendo muito rápido, e meu estômago parece que está em uma
canoa no mar. Com Jenna, sei o que esperar. Ela vai de estoica a voar
com o punho em meu rosto em segundos. Não sei nada sobre Lauren e o
fato dela me conhecer como este homem, aquele cujo traseiro quero
chutar, não ajuda.
Penso em bater na porta várias vezes, mas não consigo. Não tenho
ideia do que ela vai fazer quando abrir a porta. Se vai me bater, abraçar
ou chutar minhas bolas. Sei que meus pais disseram a ela sobre a minha
condição, mas quem pode dizer se acredita. Meus pais mentiram e a
deixaram no escuro. Ela é a única pessoa que mais se machucou em tudo
isto, e teve uma filha para lidar, no meio de tudo. Então, o fato de que me
conhece como ele. Faço menção de bater na porta, mais uma vez, e desta
vez consigo. Ouço a TV e, em seguida, passos se aproximando da porta.
Enfio as mãos nos bolsos da minha calça jeans. Tudo o que ela fizer ou
disser, eu mereço. Cal não está aqui para lidar com sua ira, assim como
qualquer outra coisa, eu vou. Espero que, quando ela terminar, possamos
tentar chegar a alguma maneira de fazer isto funcionar para ela. Para
nossa filha.
"Eu não preciso...," diz quando a porta se abre. Definitivamente
não estava me esperando, e a expressão em seu rosto mostra isso uma
vez que me vê. Seus olhos estão largos e sua boca entreaberta.
Não está se movendo, como se estivesse congelada, exceto pela mão
na maçaneta da porta. Tremendo.
"Oi", digo calmamente, forçando o som da minha garganta. Está
seca como um deserto. Minhas palavras a despertam de seu estado
congelado, porque bate a porta na minha cara. Coço a cabeça. Eu não
esperava isso.
"Sinto muito por ter vindo assim. Eu só pensei... posso voltar mais
tarde quando estiver pronta." Minha voz está trêmula e nervosa. Não
deveria tê-la surpreendido assim. Vou esperar até que esteja pronta. Viro-
me para sair quando ouço a porta abrir.
"Não!" Ela diz freneticamente. Ela me dá um sorriso nervoso,
afastando seu cabelo do rosto. Me aproximo lentamente. O sol está
brilhante, iluminando através da janela do corredor refletindo em seus
olhos castanhos. Parece cansada, suas pálpebras inchadas, mas ainda
está linda. O tipo de beleza que faz você se intimidar. Pelo menos ela é
cerca de trinta centímetros menor do que eu. Então, posso ter uma
desculpa para olhar sobre sua cabeça, em vez de seu rosto.
"Meus pais disseram que você viria amanhã, mas... Pensei que
nós... Eu queria falar com você sozinho, se estiver tudo bem?" Digo, me
atrapalhado como um idiota. Ela me olha com curiosidade. Ela abre a
boca como se fosse dizer alguma coisa, mas não o faz. Em vez disso,
recua e gesticula para que eu entre. Passo minhas mãos no meu jeans
enquanto entro no quarto do hotel. Há uma cama, televisão, sofá e um
frigobar. Os papéis estão espalhados sobre a mesa de cabeceira e um copo
de água ao lado. Ela fecha a porta e caminha até o sofá, mas não senta.
Está olhando para o chão, quando cruza os braços sobre o peito. Este é
um bom começo, acho. Não me bateu ou começou a gritar. Muda seu
peso de um pé para o outro. Ela está tão nervosa quanto eu.
"Realmente não sei o que dizer a você, ou por onde começar,"
admito, enquanto seus olhos encontram os meus. Olho para a mulher que
alguma parte de mim amou o suficiente para se casar. Ela está mordendo
o lábio inferior, mostrando a pequena covinha na bochecha direita. Seu
olhar é intenso nos poucos segundos que está em mim, como se estivesse
tentando ver através de mim, e desvio o olhar.
Será que ela acredita em tudo isso? Quando encontra meus olhos,
sei que está procurando por ele. Sei por que eu estava fazendo a mesma
coisa de pé no espelho esta manhã.
"Uhm," ela diz, com a voz trêmula. Ainda não tracei um plano ou
tenho algo a dizer. Tudo o que fiz nos primeiros minutos estando aqui é
fazê-la chorar. Nunca fiz tantas mulheres chorar antes.
"Não sei o que dizer para você, também, para ser honesta," diz ela,
com a voz trêmula enquanto enxuga uma lágrima de sua bochecha.
"Seus pais lhe contaram tudo?" Pergunta hesitante. Ela realmente
deve achar que sou um idiota por todo esse tempo ter passado e eu nunca
ter percebido nada de errado, mas acho que é melhor para ela pensar que
sou um idiota do que um cretino mentiroso.
"Eles me disseram que mentiram para mim todo esse tempo.
Quando não me lembrava das coisas, ou de pessoas, sentiam que
deveriam esconder de mim, - estava vivendo a minha vida por mim. Todo
mundo que conheço e confiava mentiram para mim. Meus pais, o
médico... Eu deveria ter percebido que algo estava errado.” Não é até que
as palavras saem da minha boca que percebo como soou, mas não posso
retirá-las.
"As pessoas em quem eu mais confiava mentiram para mim," digo
baixinho para mim mesmo, ouvir isso em voz alta é quase catártico. Ela
está quieta, mas noto seus olhos me examinando novamente. Pergunto-
me como é olhar para alguém que você conhece e ele não o reconhece.
"Você não pode culpar... É da natureza humana querer acreditar
que as coisas são sempre boas. Quando falei com seus pais, eles
pensaram que estavam fazendo o que era melhor para você. A única coisa
que lhes interessavam era o seu bem."
Olho para ela. Está torcendo as mãos, e só posso imaginar como
isso é difícil para ela. Ainda assim, depois de tudo que passou, ela diz algo
como isso.
"Não esperava que fosse defendê-los. Especialmente depois... que
mentiram para você também.”
"Não estou defendendo-os. O que fizeram foi errado. Machucaram
muito as pessoas. Mas não acho que foram maliciosos ou cruéis.
Pensaram que o estavam protegendo. Como pai, você faria qualquer coisa
para proteger seu filho se acreditasse que algo poderia prejudicá-lo. Se
estivesse na sua situação, e acreditasse que poderia mantê-lo seguro
mentindo para você, teria feito."
Lembro-me da principal razão pela qual estou aqui e pego do meu
bolso a foto da nossa filha. Uau, isso levará algum tempo para me
acostumar. Caminho em direção a ela, e seus olhos se arregalam. Ouvi
sua respiração e observei sua mão fechar em seu pulso como algum tipo
de técnica para aliviar o stress. Preciso aprender uma dessas técnicas o
mais rápido possível.
Ela dá um passo para trás, e percebo que provavelmente é melhor
se apenas lhe mostrar a foto.
Afinal, sou um homem estranho, que ela não conhece, em seu
quarto de hotel... mais ou menos.
"Minha mãe disse..." Tento pensar como seria a maneira menos
desajeitada de dizer isto. Eu sou seu pai, ela é minha filha, nossa filha?
"Caylen," ela me interrompe suavemente e toca o rosto na
fotografia.
"Você a chamou assim depois dele... depois de Cal?" Estou
hesitante em dizer o nome dele na sua frente, é como se ele fosse detonar
algum tipo de alarme e enviá-la em algum tipo de frenesi como no outro
dia. Sua vibração agora é totalmente diferente. Calma, considerando as
circunstâncias, não está no modo histérico.
Ela balança a cabeça enquanto sento no sofá.
"Quantos anos ela tem?" Pergunto, com um suspiro que não
pretendia.
"Ela teve seu primeiro aniversário há três dias," ela diz, sentada na
ponta do sofá. Nunca parei para pensar que ela está fazendo isso sozinha.
Além do que aconteceu há dois dias, não tive um blecaute em quase dois
anos, o que significa que ele não tem estado por perto. Ele perdeu tudo
também.
Viro-me para ela. "Você cuida dela sozinha?" Pergunto, e ela esfrega
a palma da mão contra suas coxas.
"Não. Minha tia e amigos estão por perto desde o início para me
ajudar com ela. E não falta nada,” explica.
"Mas um pai," digo em voz baixa. Se tivermos os mesmos genes,
Deus, ela poderia ter que lidar com algo assim. "Ela não faz nada
estranho?" Pergunto, e ela parece confusa.
"Como o quê?" Pergunta uma sugestão de nitidez em sua voz.
“De um modo geral," digo hesitante; Ela não está compreendendo o
que estou sugerindo.
"Caylen não é estranha!" Sua voz é definitivamente afiada agora.
"Não, eu não quis dizer isso. Só queria ter certeza de que ela estava
bem.” Estou retrocedendo em insinuar que sua filha... Nossa filha é louca
como o bom e velho pai.
"Ela esteve bem um ano inteiro de sua vida sem você se certificar
de que estava bem. Tenho certeza de que ela está bem!" Isso está indo
mal. Não tive a intenção de insultar como ela está cuidando dela. Bem,
não sei como ela está criando, na verdade.
"Não quis dizer nada com isso. Eu... eu não sei o que quis dizer."
Levanto-me e entrego a foto; Mudando o seu comportamento irritado.
"Eu sinto muito. Exagerei. Não estou acostumada com isso. Tudo
isso... é tudo-” ela gagueja nervosamente.
"Não, a culpa foi minha. Ultrapassei os limites. Não deveria ter feito
uma pergunta tão estúpida." Paro e ela me dá um pequeno sorriso,
mostrando outra covinha. Olho para a foto de Caylen. Ela se parece
comigo, mas tem covinhas e o nariz de sua mãe. É incrível como um
pequeno ser humano pode parecer uma combinação de duas pessoas.
Não me lembro de minha mãe biológica ou pai, então não tenho certeza
com quem pareço. Sento-me no sofá, e um momento depois, ela está ao
meu lado, os poucos centímetros obrigatórios entre nós.
"Ela tem seus olhos. Se transformam como o seu." Sua voz é suave,
mas agora é estável. Seus olhos encontram os meus, e por um momento,
ela está sorrindo, um pequeno sorriso, mas ainda um sorriso.
Fique comigo.
É como um sussurro no meu ouvido.
A imagem dela no meu sonho na outra noite invade meus
pensamentos. Empurro de minha mente. Não pensei sobre isso desde
então, mas ele está decidido a aparecer aqui, enquanto ela está preste a
chorar, e estou me lamentando como um menino. Controle-se, Chris.
"Eu... quero dizer, eu..." Ela gagueja, e sua pele fica com um leve
tom de rosa. Isso me faz sorrir. Ela é realmente linda. Volto minha
atenção para a foto na minha mão. Ela ainda está olhando para mim, e é
assustador, porque isso me deixa nervoso, preocupado, e animado, tudo
ao mesmo tempo. Não a conheço, mas algo sobre ela evoca essas emoções
que não posso lidar agora. Provavelmente não são minhas para lidar. O
único momento em que pareço que não vou desabar é falando, então eu
faço.
"Como é que vamos lidar com isso?" Pergunto calmamente.
Felizmente minha voz não afasta a energia que flui dentro de mim como
um furacão.
"Eu... eu não sei como lidar com isso..." digo, torcendo as mãos.
Deixo escapar um suspiro e me levanto.
"Você não sabe nada sobre mim. Não sei nada sobre você. E esse tal
de Cal..." Cubro meu rosto. Preciso correr ou bater em alguma coisa...
estas palavras estão vindo e derramando involuntariamente, mas
enquanto estou falando mais energia é liberada, então eu continuo.
"Quero dizer... Tenho uma filha que nem me lembro..." Eu ri com
raiva, mas continuei. "Anos da minha vida! Todas essas coisas
aconteceram, e não me lembro de nada. Ninguém se preocupou em me
dizer. O que devo fazer com isso?" Estou andando pela sala agora, e quero
parar, sentar e perguntar como ela está lidando com isso. Pareço um
pirralho, mas falar é a única coisa que me faz não querer explodir. Estou
tentando expressar a minha frustração, mas em vez disso, soa como um
idiota egoísta. "Estou tentando. Realmente estou... pensei que se pudesse
dar o primeiro passo em falar com você poderia fazê-lo, mas..." Ela deve
pensar que sou um lunático. Mas, quando meus olhos encontram os dela,
sua expressão é suave e compassiva. É como se ela sentisse pena de mim.
Tudo pelo que passou, e ela está é com pena de mim?
"Sei que é difícil para você. Não posso começar a imaginar o que
você está passando agora," ela diz, seu tom de voz suave e reconfortante,
e por um minuto, quero abraçá-la. Como se abraçá-la fizesse tudo melhor.
Mas não posso, por isso não faço. Isso seria egoísta e lhe enviaria a
mensagem errada, porque quando ela olha para mim...
"Não sei nada sobre você!" Depois que as palavras saíram da
minha boca, percebi o quão duro pareceram, mas não posso me impedir
de dizer exatamente o que vem à minha mente. Seus olhos estão nos
meus, e em vez de olhar para longe deles, a encaro. Não é difícil de fazer;
eles são magnéticos e sedutores. Mais do que isso, são como janelas
abertas, posso ver através de sua alma. Mesmo com um pequeno sorriso
em seu rosto, posso ver sua dor, mágoa, e sua esperança. Isso é o mais
assustador de todos, porque a sua esperança é a minha morte. Ela não
me conhece ou me ama então sua esperança não é comigo, é com Cal.
"Mas quando você olha para mim, é como se soubesse tudo a meu
respeito," digo. Ela solta uma respiração aguda. A energia nervosa em
mim desapareceu. Afasto o meu olhar dela e volto para as minhas mãos.
Mãos que fizeram coisas... tenho problemas suficientes com uma vida.
Como vou lidar com outra que não sei nada a respeito? Uma que... não é
realmente minha?
"Quando seus pais me falaram sobre você..." Sua voz é calma,
quase um sussurro. "Foi a coisa mais difícil que já experimentei, a coisa
mais difícil que já tive que ouvir." Seus olhos castanhos estão vidrados, e
as lágrimas cobrindo-os.
"Estava magoada e confusa. Nem sequer acreditei neles... não
queria acreditar. Ainda estou ferida e confusa. E não sei o que fazer, não
sei o que dizer para..." sua voz sai embargada. Ela olha para seus pés e
continua: "Para você." Faz uma pausa, e sinto como se meu coração
estivesse prestes a parar.
"Não posso me comprometer com alguém que também não
conheço." Ela encolhe os ombros e sorri, embora lágrimas estejam caindo
de seus olhos. Então, ela olha para meu rosto, e o sorriso desaparece.
"Quando você olha para mim... é como se eu fosse um fardo... um
problema, e não tem ideia do quanto isso dói," ela diz, com a voz trêmula,
e sinto-me o maior idiota do mundo. Nunca quis mais na minha vida do
que ser capaz de dizer algo que faça tudo isso melhor, mas sei que o que
disser, provavelmente vai piorar as coisas.
"Não te culpo por isso," ela acrescenta rapidamente. Ela deveria.
"Eu não posso... mas você tem que entender que você tem Cal..." ela
divaga e ri em meio às lágrimas. "Você... tem o seu sorriso, sua voz, seus
olhos... quando olho para você... não posso ajudar, mas é ele que vejo. E
dói saber que não foi você a pessoa que roubou meu coração quando
sorriu pela primeira vez para mim, que me levou para um bungee jumping
no nosso primeiro encontro. E me disse que sou a única mulher que já
amou. Mas... você não é ele, e está apaixonado por outra pessoa." É a
primeira vez que ouço alguém falar sobre esse cara sem usar cretino,
idiota, ou problema na mesma frase. Pela primeira vez percebi que
realmente experimentou coisas com ele; tiveram uma vida juntos...
"Então, estou tendo um pouco de dificuldade com isso," ela
continua rindo enquanto limpa as lágrimas em seu rosto.
"Mesmo sabendo de tudo isso, não sei como irei superar," ela
explica.
"Não sei como vou lidar com isso... se eu puder, mas estou disposta
a tentar por causa dessa menina na foto. Eu faria qualquer coisa por ela,
inclusive desistir da única pessoa que já estive apaixonada..."
Foi quando percebi: ela de alguma forma chegou a um acordo com
isso, e sinto como se uma carga de tijolos fosse removida do meu cérebro.
Mas então, ela começa a chorar. Posso dizer que ela está tentando
ser forte, mas é como se retirasse os tijolos do meu cérebro e
simplesmente os prendesse ao seu coração. "Eu, eu sinto muito. Por
favor, não chore."
Ela caminha em minha direção e respira fundo. Olha para mim
quase como se estivesse tentando ver uma nova pessoa. As lágrimas
ainda estão escorrendo pelo seu rosto. Procuro em meus bolsos e
encontro um lenço e ofereço a ela. Ela pega e enxuga os olhos.
"Sei que isso não é culpa sua. E que você quer acreditar que nada
disto é o seu problema, mas é, e é meu também... Mas não é de Caylen.
Estou disposta a aceitar que você não é Cal, que não é meu marido. Posso
aprender a fazer isso. Mas não posso te livrar de ser o pai de Caylen. Você
é parte dela." Sua voz é instável, mas severa, e o seu olhar me deixa saber
que é importante para ela. "Isso é tudo que tenho certeza. É tudo que
posso pensar em dizer a você," diz com um suspiro e se senta no sofá.
Uau, quem é esta garota? Parece frágil e ainda assim inegavelmente
forte. Como diabos um cara como ele fez uma garota como esta se
apaixonar por ele? Caminho até o sofá e sento-me no mesmo local que
estava antes, mantendo a distância. Encontro seus olhos e lembro-me da
mensagem de Cal.
"Meus pais dizem que ele é... o descrevem como..." estou tentando
pensar em uma maneira de descrevê-lo sem ofendê-la, mas estou em
branco.
"Oh, sei, seu pai não hesitou em me dizer o que pensava de Cal,”
ela responde.
“Meu bom e velho pai. E ele…? Ele era...?" Pergunto hesitante.
Nunca odiei ninguém antes, mas posso imaginar que isto é o que sinto em
relação a ele, o que fez com a minha vida, meus relacionamentos. Sua
violação das crenças e valores que a minha família me ensinou e estimo
me dá arrepios. Esse monstro está dentro de mim.
"A pessoa que seus pais descreveram não é quem Cal era para mim.
Não me interprete mal, ele poderia ser arrogante, mal-humorado e
sarcástico... muito," ela suspira. Arrogante, mal-humorado e sarcástico,
essa foi a minha primeira impressão dele.
"Ele é muito mais do que isso," ela continua. "Podia ser gentil...
carinhoso... protetor," acrescenta, e sinto a minha sobrancelha levantar.
Não vejo como um cara que arruinou a minha vida poderia ser gentil,
atencioso, ou protetor, mas tento não deixar que a minha expressão
mostre a minha descrença.
"Ele é extremamente inteligente, confiante e persuasivo. Poderia
convencer qualquer pessoa a fazer o que ele queria. É bonito,
incrivelmente sexy..." tento esconder o sorriso crescendo no meu rosto.
Sei que tecnicamente não está se referindo a mim, mas bem, a única
coisa que temos em comum é o mesmo rosto...
O encontro com Lauren foi melhor do que eu esperava. Realmente,
não sei o que eu esperava. Mas poderia ter sido pior. Muito pior. É muito
estranho pensar em como uma parte de mim teve toda esta vida com
outra pessoa. Isso é algo que não ainda não fui capaz de entender.
Pelo menos ela parece legal. Não fiquei por muito tempo, mas foi
melhor do que o nosso primeiro encontro. Então novamente, não poderia
ter sido pior do que isso. Ganhei muito respeito por ela. Ela foi capaz de
manter-se forte, além do choro, mas não posso culpá-la por isso. Não
posso imaginar estar em seu lugar. Minha vida é bastante perturbada.
Sinto-me mais leve, apesar de tudo. O peso que estive carregando
desapareceu. Sei que as coisas estão longe de se resolver, mas sabendo
que Lauren não é uma psicopata gritando e reconhece ou pelo menos está
tentando me reconhecer por quem sou, ajuda muito.
Meu primeiro instinto foi ligar para Jenna e dizer-lhe que isso não
vai ser um estranho triângulo amoroso, e que Lauren e eu estamos mais
preocupados em ser pais para esta menina. Mas sei que ela ainda está
furiosa, e não posso culpá-la.
Passo a maior parte do dia em silêncio fazendo tarefas ao redor da
fazenda com meu pai. Ele não disse muito, e não tenho muito a dizer,
também. Minha mãe preparava o jantar: macarrão caseiro, frango frito e
feijão verde. Peguei um prato e caminhei para o meu quarto. É a primeira
vez que me lembro desde que voltei para casa que não jantamos juntos.
Não estou zangado com eles. Bem, estou tentando não estar, mas
sentar e agir como se estivesse tudo bem e que nada mudou, seria uma
farsa. Da próxima vez que jantarmos juntos, quero ter certeza de que seja
genuíno e não só uma fachada. Já tive o suficiente disso. Hoje, é um dia
que gostaria de ser chamado para o trabalho, mas não há aulas para dar
em um domingo. Depois de assistir a um jogo de futebol e tomar banho,
acabei onde estou agora, deitado na cama e olhando para o teto. Nunca
me importei em estar sozinho antes de tudo isso, apenas com meus
próprios pensamentos.
Agora não sinto que estou sozinho. Não sei como funciona DID,
mas é quase como tentar esconder o que estou pensando de mim mesmo.
Esse cara o Cal escondeu tanto de mim, e quero poder esconder tudo o
que está acontecendo dele. Não sei o que ele sabe, ou vê ou onde quer que
ele esteja, mas não me sinto sozinho. Como pode?
Pensei em falar com ele quando estava na frente do espelho
escovando os dentes esta manhã, mas me senti como um idiota. E não
quero falar muito. Dar um soco no rosto iria me fazer sentir melhor,
exceto que é o meu rosto. Também seria hipócrita, considerando que
sempre digo as crianças com quem trabalho que violência nunca é a
resposta. Nunca foi comigo. Meus pais sempre ressaltaram o quão
importante é usar as palavras, especialmente a minha mãe. Mas apenas
no caso de não dar certo, meu pai começou a me ensinar a lutar boxe
quando tinha sete anos. Ganhei o Golden Glove, enquanto estava no
ensino médio, até o futebol despertar mais o meu interesse. Eu era bom o
suficiente para ter algumas escolas me oferecendo bolsas de estudo até
que minha condição começou a interferir com as coisas no meu último
ano.
Bem, agora posso dizer que a condição. FEZ. Agora, sei que era Cal,
que começou a aparecer e estragar tudo. Quando penso que cada vez que
apaguei, realmente acreditava que estava inconsciente ou simplesmente
esquecendo o que tinha acontecido comigo durante os lapsos, sinto-me
estúpido.
Passo algumas horas lendo artigos intermináveis, nenhum dos
quais me leva a uma resposta que desejo: como me livrar desse cara. A
outra coisa irritante que encontrei foi o nome da Dr. Lyce que surgiu
continuamente como um dos mais respeitados no campo sobre o
transtorno. Não posso vê-la, porém, como posso? Ela mentiu para mim,
bem, não mentiu. Em vez disso, não me contou informações vitais. Não a
vi muito, apenas algumas vezes. Pelo menos que eu me lembre, mas sei
que se ela me dissesse o meu diagnóstico, isso não é algo que esqueceria
facilmente.
Ouço uma música começar a tocar, sento-me e procuro ao redor da
sala. Meu rádio e TV estão desligados. Viro-me e vejo o meu telefone
iluminando-se. Agarro e percebo que é um alarme com uma música que
não coloquei nele. Aperto o botão para desligá-lo e me sento. Me jogo no
meu colchão, e ele começa novamente. Pego e vejo a configuração do
alarme a cada três minutos por hora. Começo a passar, cancelar os
alertas, e a música começa a tocar cada vez mais alta e tudo ao meu redor
fica turvo.
Quando as coisas entram em foco, estou fora. Há pessoas ao meu
redor, e a música está tocando alto do meu celular. Mas não está mais
vindo de lá; está vindo de todos os lugares. O céu está escuro, mas as
luzes estão brilhando acima de mim. Estou em algum tipo de festival.
Então, me vejo. Estou encostado a um edifício, com uma mão no
bolso. Outra fazendo algo em um telefone. Estou vestido com uma camisa
preta e calça jeans escura e lavada. Tenho um relógio que parece muito
caro e não combina com o local no qual estou. No meu braço uma bolsa
grande. Algo me chama a atenção, e afasto-me do edifício e começo a
andar no meio da multidão. E é aí quando sei que não sou eu. É ele.
Posso dizer pela maneira como ele anda, lento, quase arrogante,
pomposo. Ele enfia seu telefone no bolso e acelera o passo. Em seguida,
ele para trás de uma garota e agarra-a pela cintura, levantando-a no ar.
Quando ela se vira, vejo sua Lauren. Seu cabelo mais longo do que é
agora, mas os mesmos largos olhos castanhos brilhando para ele.
"Você assustou a merda fora de mim!" Grita, brincando e empurra-o
no peito. Ele a puxa para um lento e apaixonado beijo que faz com que ela
fique na ponta dos pés. De repente, eu fui de olhar para ela de longe, para
ser o único a beijá-la, sentindo seus lábios macios antes dela se afastar.
Ela se contorce contra o meu peito e envolve seus braços em volta de mim
na minha cintura.
"Como foi o banheiro?” Pergunto a ela, mas não é a minha voz.
Bem, é, mas é diferente. O tom dessa voz é mais profundo do que eu
normalmente soo.
"Não tão nojento como pensei que seria", ela brinca. Eu pego a mão
dela, e caminhamos através da multidão. Passamos por um portão de
ingressos bem na frente do que parece ser um parque. É um concerto no
parque. Nós encontramos um local, e eu coloco a bolsa no chão. Ela pega
um cobertor, e eu a ajudo espalhar no chão.
"Está tão bonito hoje à noite", ela diz animadamente com um
sorriso tão brilhante que sinto o meu coração acelerar. O céu está escuro,
mas podemos ver as estrelas, brilhando. A banda no palco já está
tocando. Há centenas de pessoas, mas tem espaço suficiente para as
pessoas não estarem empilhados em cima uns dos outros. Depois que
ajeitamos o cobertor, sento com minhas pernas separadas, descansando
os cotovelos sobre os joelhos. Lauren está vasculhando a bolsa à procura
de algo.
Ela finalmente puxa outro cobertor, envolve-se nele, e descansa
sua cabeça no meu ombro. Envolvo o meu braço em torno dela, puxo-a
entre as minhas pernas, e beijo cada centímetro de seu pescoço. Ela olha
para trás, dando-me um olhar de advertência brincalhão, mas depois me
beija suavemente. Quando ela se afasta, mostra-me um sorriso que faz
com que outro se espalhe no meu rosto.
Ela então se arrasta para fora do meu abraço, e procura algo
na bolsa. Ela puxa um bloco de desenho e lápis. Ela desenha por algumas
canções enquanto canto a música. Músicas que eu nem sei, mas me
parece muito animado por estar aqui. Quando olho para trás em seu
bloco de desenho, vejo que ela me desenhou. Ela ainda não terminou
completamente, mas posso dizer que fez o suficiente.
"Você não devia olhar", ela brinca suas bochechas corando, o
cabelo caindo em seu rosto. Eu a puxo em minha direção, e ela se
acomoda entre as minhas pernas novamente e descansa suas costas em
meu estômago. Cruzo meus braços sobre a sua cintura, e ela começa a
cantar junto com a música tocando. Eu me inclino próximo de sua orelha
e beijo logo abaixo de seu lóbulo. Meu coração começa a bater mais
rápido. Meu estômago está revirando, e não sei o por que. Um segundo
depois, tomo suas mãos nas minhas.
"Eu te amo", sussurro em seu ouvido, e sinto seu corpo enrijecer.
Ela olha para mim, seus olhos largos e um pequeno sorriso em seu rosto.
"Eu também te amo, Cal", diz ela antes de se virar e me beijar como
se não estivesse ninguém ao redor. Tudo desaparece em volta de mim e
estou de volta no meu quarto neste momento.
Eles não te falam sobre coisas como esta nos sites. Nos artigos,
falam sobre sintomas e possíveis tratamentos. Encontrei dois grupos de
apoio online, e até mesmo encontrei algumas pessoas; embora nenhuma
esteja no meu grande estado. Mas nada que li até agora no tempo limitado
diz como lidar quando você começa a se lembrar. Como lidar com essas
lembranças, ou melhor, como faço para pará-los. Eu pensei que gostaria
de lembrar, saber, mas agora não sei se essa é a melhor coisa. É claro que
seria um tempo absolutamente perfeito. Se eu não estivesse nervoso ao
redor dela antes, hoje definitivamente estou. Ele fez isso, e definitivamente
não era para ser nobre. Queria me assustar, e isso é exatamente o que ele
fez.
Logo, quando começo a me sentir um pouco confortável na situação
que ele nos colocou, ele tem que agitar as coisas. Esse sonho, visão, ou
memória - nem sei como chamar o que vi. Era como ler o diário de alguém
ou ouvir suas confissões. Parecia muito real, muito pessoal, e o que é
pior, não sei se era real ou um sonho.
O outro era como pequenos fragmentos que eu poderia ignorar ou
fingir que não aconteceu. Mas este era diferente, e estou tendo um
momento difícil de esquecer. Quero saber se era real, realmente uma
lembrança, mas a única maneira que conheço é perguntar a Lauren, e
não vou mergulhar nessas águas. Aposto que ele adoraria passear pela
estrada da memória com ela. Mantê-lo vivo em sua memória. Essa é a
última coisa que ela merece.
Por cerca de uma hora na noite passada, tentei pensar em Cal como
eu, mas é muito estranho, é mais fácil pensar nele como alguém
completamente diferente, mas Caylen anula esse argumento. E além de
tudo isso, como se não estivesse ansioso o bastante, hoje é o dia que
encontro a terceira mulher em tudo isso. Minha filha.
Ela tem apenas um ano de idade. Com sorte, espero que consiga
compensar por não estar no seu nascimento, primeira palavra e primeiros
passos. Eu não tenho uma pista sobre onde começar a ser um pai.
Ontem, fui com a minha mãe escolher um presente. Ela literalmente
comprou diversos brinquedos, mas de tudo, a única coisa que se destacou
foi este pinguim de pelúcia musical. Um dos meus amigos me convenceu
a ir com ele e seus filhos para assistir os pinguins de Madagascar, e eles
adoraram. Eu amei isso também, para ser honesto. Pelo menos eu sei que
podemos assistir a desenhos animados juntos. Me olho no espelho,
vestindo uma camisa branca de botão e calças cáqui, o terceiro conjunto
de roupas que tentei hoje. Agora, pareço estar vestido para uma entrevista
de emprego.
"Toque, toque," minha mãe diz, entrando no quarto com um sorriso
no rosto, o mais vasto que tenho visto em muito tempo. Ela está muito
animada sobre o encontro com Caylen. É tudo o que fala. Sugeri a Lauren
que talvez pudesse dirigir até lá para conhecê-la, mas disse que não se
importava de vir aqui. Minha mãe teria ficado decepcionada se tivesse que
esperar mais um dia para vê-la. Depois que tudo se acalmou, ela se
emocionou com sua foto.
"O que está fazendo Chris?", Ela diz, uma pitada de diversão em
sua voz, olhando para as três roupas que mudei.
Eu suspiro. "Tentando parecer como um pai," admito com uma
risada. E estou falhando miseravelmente.
"Querido, não existe roupa certa para se parecer como um pai.
Tenho certeza que um ano de idade, não vai classificá-lo sobre sua
roupa." Ela pega a camisa azul e jeans que vesti anteriormente. "Este é
você", diz ela, me entregando. "Seja você mesmo. Ela vai te amar. Eu
tenho certeza disso." Ela diz de uma maneira que me faz acreditar nela.
Ela pega a gravata na minha cômoda que estava prestes a colocar e ri
quando meu pai entra.
"Estou interrompendo?” Ele pergunta, colocando o braço em volta
da cintura da minha mãe.
"Só estou sendo intrometida", ela ri, descansando a cabeça em seu
ombro. Eles são casados a mais de 30 anos, e é como se acabassem de se
conhecer.
"Você pode me dar um minuto com Chris?" Ele pergunta.
"Claro", diz antes de beijá-lo nos lábios e sair do quarto. Tiro a
camisa branca de botão e deslizo a camiseta. Meu pai e eu não nos
falamos muito desde que ele me pegou na casa de Lisa. Estava
desapontado comigo, e eu me sentia da mesma forma em relação a ele.
"Você está bem?", Ele pergunta enquanto se recosta na minha
mesa.
"Sim, eu ainda estou aqui, então é um bom dia", digo com
indiferença. Meus pais esconderam a verdade, mas meu pai foi o mais
responsável. Eu sei que minha mãe queria me dizer, e não fez por causa
dele.
"... Eu sei que você ainda está chateado comigo, e entendo o
porquê. Eu só... especialmente agora, não quero que sinta como se
estivesse sozinho nessa. Sei que não concorda com o meu julgamento e da
decisão que tomei, mas espero que você ainda sinta que pode falar
comigo. A pior coisa que pode fazer é manter tudo isso guardado dentro
de você."
Olho para o meu pai que sempre foi meu herói, um homem justo
cuja opinião sempre valorizei e respeitei. As pessoas costumavam brincar
que a minha família era a versão moderna dos Cleavers, e não estavam
muito longe da verdade. Meu relacionamento com meus pais sempre foi
boa. Sou privilegiado, de todas as casas que poderia ter terminado
quando fui adotado, estava verdadeiramente abençoado por acabar na
deles.
"Eu sei que você fez o que fez porque pensou que estava me
protegendo. Não me agrada, mas acho que entendo." Encolho os ombros.
Ele parece surpreso, em seguida, um sorriso se espalha por seu rosto. Ele
pega um Snickers da minha mesa. Sou viciado neles. Costumava comprar
as caixas inteiras de crianças durante a captação de recursos da escola.
"Eu não esperava que compreendesse tão facilmente", diz ele
alegremente. Ele pega outro e atira-me um.
"Eu provavelmente não teria, se não fosse por Lauren," admito,
abrindo a barra de chocolate. Eu vejo seus lábios pressionarem juntos.
"Pensei que se ela pudesse entender e esquecer o que você fez, eu
poderia também." Dou uma mordida da minha barra de chocolate.
"Sua mãe me contou que as coisas correram bem quando você foi
vê-la", ele diz depois de morder o chocolate.
"Bem, não diria que nós somos melhores amigos ou qualquer coisa,
mas acho que nós dois estamos tentando fazer o melhor para sair da
situação em que estamos.” Atrapalho-me com a barra de chocolate em
minhas mãos. Penso na conversa que tive com Lauren. Ela foi muito
atenciosa, sentada lá, deixando-me desabafar enquanto ela estava
rasgada por dentro. Suspiro refletindo sobre tudo isso.
"O jeito que ela olha para mim, pai..." Hesito, tentando esquecer a
forma como os seus olhos agarraram o meu e que praticamente implorava
para eu não desviar o olhar.
"Ela olhou para mim do jeito que mamãe olha para você, às vezes."
Meu pai se desloca em seu assento desconfortavelmente.
"E a maneira como ela falou sobre ele, Cal..." suspiro, pensando em
como seus olhos se iluminaram quando ela compartilhou coisas que estou
supondo, a fez se apaixonar por ele. Tento pensar quando, e se alguma
vez, Jenna olhou para mim assim.
"Você precisa ser cuidadoso com ela, Chris." Afirma rapidamente
me tirando do devaneio.
"O que você quer dizer?" Suspiro. Uma vez que todo o segredo foi
revelado realmente não queria ouvir seus conselhos sobre qualquer coisa,
mas hoje tem de ser um bom dia. Seria bom se pudéssemos refletir sobre
a família normal feliz que uma vez fomos antes de tudo isso começar.
"Quero dizer que as coisas são muito complicadas, e acho que
provavelmente seria melhor se ficassem o mais simples possível," ele
responde. Ele me olha diretamente nos olhos do mesmo jeito que
costumava fazer quando eu era uma criança, antes de me levar a uma
loja e me dizer que só posso escolher uma coisa e não mais do que isso.
"Lauren está apenas conhecendo você. Vai demorar mais do que
alguns dias para que ela realmente compreenda a verdade que você não é
o homem que ela conhece e... "
Levantei minha mão para detê-lo. "Pai, nós temos um acordo.
Tenho certeza que é difícil para ela, mas agora a sua preocupação é com a
filha. Todo o resto é bastante irrelevante agora ," digo, levantando-me.
Ele aperta os lábios e franze a testa. Está frustrado. Posso dizer que
ele quer dizer mais, mas volta sua atenção para a foto de Caylen na
minha mesa.
"Sua mãe está muito animada com ela. É tudo sobre o que fala," ele
diz.
Depois de um momento, ele descansa a cabeça em uma das mãos, e
nós dois olhamos para a mais recente geração da família Scott. Nos
últimos dois dias, esta é a primeira vez nesta casa que a raiva e tensão
desapareceram.
"Quem teria imaginado? Eu? Um vovô?" Ele sorri amplamente, e
naquele momento, não é o homem severo, com o comportamento duro
que me acostumei, mas está de volta o meu pai. Ele é o homem que
treinava minha pequena liga, o vizinho favorito de todos, e era o meu
melhor amigo. Este é o homem que eu quero que Caylen, minha filha,
conheça; mesmo que o homem que a fez tenha se afastado.

"Ela está lá fora há algum tempo. Talvez deva lhe pedir para
entrar?" Minha mãe diz enquanto olha através da janela pela décima vez
desde que Lauren chegou.
"Deixe-a se orientar. Tem que haver uma razão pela qual ela não
entrou. Nós não queremos emboscar a garota," meu pai diz calmamente
enquanto lê seu jornal.
Minha mãe vai até ele e olha por cima do ombro. Ela então lhe dá
um empurrão brincalhão.
"William Scott você pode agir tão calmo quanto você quiser. Está
lendo à mesma página do jornal na última meia hora," minha mãe brinca
com ele. Ele revira os olhos, descartando minha mãe, mas um sorriso se
espalha em seu rosto.
"Eu não posso acreditar que eles estão aqui. Minha neta está aqui!",
Ela canta, correndo até mim e me dando um grande abraço. Não posso
deixar de rir. Ela não está tão animada com as coisas há um tempo. "Eu
não posso esperar. Não posso esperar," ela canta, olhando para fora da
janela novamente. Meu pai se levanta e me dá um tapinha nas costas.
"Você está bem, filho?" ele pergunta, com sua voz preocupada, mas
alegre. O clima na casa foi completamente revertido desde a última vez
que Lauren agraciou nossa porta.
"Sim," grito, não reconhecendo minha própria voz. Parece que tenho
doze anos. Eu rio, esfregando a parte de trás do meu pescoço. Brinco com
a minha mãe, mas estou tão animado como ela está apenas cem vezes
mais nervoso, mas estou conseguindo ficar quieto. Meu pai levanta uma
sobrancelha para mim. Em seguida, caminha até a minha mãe, jogando
os braços por seus ombros.
"Ela está saindo do carro!" Ela anuncia animadamente.
"Querida, acho que você e eu devemos esperar na cozinha," diz ele,
pegando sua mão. Ela se vira, a confusão no seu rosto
"Por que faríamos isso? Eles estão prestes a entrar," diz, apontando
para a janela.
"Eu sei. Acho que talvez nós devêssemos lhes dar alguns minutos a
sós pela primeira vez. Este é um momento privado," ele informa a minha
mãe, que, acho, está fazendo beicinho.
"M... mas sou a avó," ela afirma.
"Claro que você é, e eu sei que você está pronta para mimar e
estragar cada pedaço daquela menina, mas vamos dar a Chris um pouco
de tempo. Vamos deixá-lo para atender... sua filha em primeiro lugar,"
meu pai diz calmamente. Minha mãe parece tão desapontada, mas ela
suspira um pequeno sorriso voltando ao seu rosto.
"É por isso que eu amo o seu pai, Chris. Quando estou perdendo a
cabeça, ele está lá para me puxar de volta para a Terra," diz ela e beija o
meu pai na bochecha.
"Estaremos na parte de trás," diz ela, em seguida, abraça-me.
"Vou tentar não demorar muito Mamãe," prometo a ela, abraçando-
a de volta. Ela gentilmente dá um tapinha no meu braço, e sai da sala.
Respiro profundamente e abro a porta para uma fase inteiramente nova
da minha vida. Caminho pela varanda e tenho a sensação de peso nos
meus pés. Meu coração acelera quando vejo minha pequena caminhando,
seus passos rápidos e caóticos. Ela tem cabelos castanhos encaracolados
e grandes olhos verdes. Ela é como uma boneca que anda, e eu nunca
quis manter mais nada na minha vida.
Isto é real? Esta é minha filha? Aperto o pinguim na minha mão
que comprei para ela quando ela e a sua mãe caminham para o meu lado.
Os olhos de Lauren estão lacrimejando, e ela está sorrindo amplamente,
os lábios pressionados firmemente juntos.
"Oi," ela diz, com a voz um pouco trêmula e estridente. Ela parece
tão nervosa como eu me sinto, mas ela parece incrível. Seu cabelo está
puxado para trás em um rabo de cavalo baixo, mas sua pele é vibrante,
seus olhos já não estão inchados. A luz do sol refletindo em seus olhos,
fazendo-os brilhar.
"Hey," respondo, minha voz um pouco instável. Lauren solta à mão
de Caylen, e ela caminha até mim. A minha filha olha para mim com a
mesma atração magnética que a mãe dela tem. Ela está sorrindo e eu
estou apaixonado.
Ela alcança o pinguim que estou segurando, e percebo que é pelo
brinquedo que ela está hipnotizada, não por mim. Estou um pouco
ciumento.
"Hum, a filha do meu amigo ama os pinguins do filme Madagascar.
Pensei que ela iria gostar." Olho para Lauren.
"Ela vê o filme o tempo todo," ela responde.
"Estou contente por ter feito uma boa escolha," Me abaixo, então
estou no nível dos olhos de Caylen. "Eu pensei que você poderia gostar
disso." Digo, segurando o bicho de pelúcia para ela.
"Pepe!" Ela diz com entusiasmo, pegando o pinguim da minha mão
e colocando-o em sua boca.
Ela se parece muito com minhas fotos de bebê. Esta pessoa
pequena é minha, está bem aqui na minha frente. A sensação de ter
alguém que compartilha meus genes, ligados por sangue. Eu nunca
compartilhei isso com ninguém antes.
"Eu sou Chris, Caylen," digo com um sorriso, enquanto enxugo as
lágrimas nos meus olhos... E o sorriso de Caylen trás mais lágrimas.
Rapidamente limpo. Lauren se aproxima de mim. Ela gentilmente toca
meu ombro, e Caylen agarra o meu rosto, rindo. Eu ri.
"Caylen. Este é o seu pai." As palavras de Lauren saem do nada. Eu
nunca estive tão grato de ouvir qualquer coisa em minha vida.
"Obrigado, Lauren." Espero que ela possa ver o que realmente quero
dizer. Estou grato que ela trouxe essa menina para a minha vida. Que a
manteve segura e fez isso por conta própria, sem qualquer ajuda. Pela
primeira vez, espero que a visão que tive na noite passada não fosse
apenas um sonho, aquelas palavras que ele disse a ela foram genuínas.
Espero que Cal e Lauren estejam apaixonados. Espero mais do que
qualquer coisa que Caylen tenha sido feita por amor. Por um segundo, há
uma intensa pressão na minha cabeça, mas em instantes desapareceu.
Afasto a sensação de distância e observo Lauren, cujos olhos estão
abertos e seu corpo completamente imóvel.
"Lauren," digo, levantando o tom da minha voz. Ela parece ter visto
um fantasma. Depois de um segundo desperta do transe. Ela solta um
suspiro e se move em direção a mim. Ela traz a mão na minha bochecha.
É suave e quente e estranhamente calmante, mas o brilho naqueles
grandes olhos castanhos me deixa nervoso. "Está tudo bem?" Pergunto, e
ela balança a cabeça, baixando a mão. Quero dizer que tudo vai ficar bem.
Eu vou ser o melhor pai que puder para nossa filha. A dor que está
escondendo atrás de seus olhos eu não posso apagar, mas vou fazer tudo
ao meu alcance para garantir que nunca a machuquem assim. Não posso
ser quem ela quer que eu seja, mas vou ser o melhor homem que posso.
Isso, eu sei como ser...
Demora menos de dois minutos antes de a minha mãe irromper de
dentro de casa, para a varanda. Ela me abraça, em seguida, Lauren, e
arrebata Caylen em seus braços. E nos introduz na casa. Então meu
telefone toca.
É Dexter. Sinto minha pressão arterial começar a subir apenas
vendo o seu nome. Chamei-lhe milhares de vezes e agora ele decide ligar.
Rapidamente me desculpo e saio da sala para a varanda. Seguro o
telefone firmemente na minha mão e deixo escapar um profundo suspiro
antes de responder.
"Chris presumo?" Diz ele, com um tom ligeiramente divertido, e isso
me faz querer desligar o telefone.
"Muito engraçado, Dexter," digo com firmeza, tentando manter
minha compostura.
"Acho que está na hora de uma pequena conversa. Você não acha?"
"Eu acho que está atrasado," respondo. Vejo a limusine de Dexter
parar. Ele abaixa a janela exibindo um sorriso largo e alegre.
"Você escolheu o momento perfeito para aparecer. Quer entrar,
tomar uma bebida?" Pergunto sarcasticamente.
"Isso não será necessário," ele diz, abrindo a porta para mim, e,
relutantemente entro, sento e o carro arranca.
"Assim. O gato foi deixado de fora do saco3, por assim dizer?" Ele
pergunta, fechando seu laptop.
"Posso imaginar como deve se sentir livre. Pessoalmente, sinto que
um fardo foi tirado de mim." Ele toma um gole de sua garrafa de água.
"Você sabe que não sou daqueles que gosta de guardar segredos." Ele ri, e

33
É uma expressão usada para dizer que o segredo foi revelado.
quero dar um soco pelo seu sarcasmo. "Está muito tranquilo. Você me
chamou um pouco. Acho que você tem mil perguntas para mim," diz ele,
inclinando-se para trás em sua cadeira.
Tento pensar racionalmente e com calma. Dexter provavelmente
sabe mais sobre mim ou esse cara, Cal, do que meus pais. Claro, que ele
e Cal eram próximos, ambos são idiotas, e idiotas geralmente tendem a se
dar bem. "Você o ajudou a fazer isso," digo, apertando as mãos para
mantê-las de envolver em torno de seu pescoço. Ele sorri.
"Fazer o quê, exatamente?" Ele diz, fingindo inocência.
"Roubar, arruinar, e tomar conta da minha vida. Nada disso toca
uma campainha?” Digo, não escondendo minha amargura. Ele sorri.
"Eu fiz um grande favor Christopher. Sem a minha ajuda, você
estaria acordando na prisão por algo que nem sequer lembrava-se de
fazer," ele responde.
"O que significa isso?" Digo furiosamente.
"Vamos apenas dizer que, antes de Cal ficar sob a minha
orientação, ele não fez as melhores decisões," diz servindo-se de um copo
do que parece ser scotch.
“Você está dizendo que sou um criminoso?" Pergunto incisivamente.
"Eu não diria isso. Acho que seria melhor para você não saber," diz
ele, casualmente antes de beber o líquido marrom no copo. Eu coloquei
minha cabeça em minhas mãos. O que diabos esse cara, Cal, fez? Ele fez
alguma coisa, e Dexter sabe disso e está segurando sobre a minha cabeça.
"O que ele fez?!"
“Relaxe, Christopher. Ele nunca machucou ninguém. Ele só tinha
um talento especial para tirar as coisas da sua vida que não lhe fornecia o
suficientemente," diz ele de forma alusiva.
"Além disso, há coisas mais importantes para falar?"
"Por exemplo, você, meu camarada, tem uma filha, uma esposa
bonita, uma carreira próspera na minha empresa, sempre que você quiser
voltar. Cal é muito bom no seu trabalho." A forma como ele está falando
de tudo isso me faz querer vomitar. Como se fosse à coisa mais normal do
mundo.
"Você não me fez um favor, por exemplo. Vamos esclarecer isso.
Você o ajudou a destruir a minha vida. Ele tirou minhas escolhas. Não
devo nada a você! Você pode pegar o seu trabalho e enfiá-lo... "
"Eu aconselho que você pense antes de ir mais longe, Chris," diz
ele, a diversão desaparecendo do seu comportamento para um tom frio.
"Eu não estou aqui para ouvir as suas birras verbais. Desde que
estou em um humor de caridade, em vez de terminar este encontro, e
deixando-o tão ignorante do que está acontecendo como antes de entrar
neste veículo, estou deixando você saber que está fazendo um péssimo
aproveitamento do tempo que estou disponibilizando para você." Ele olha
para o relógio. "Ainda tem cinco minutos."
"Por que ele existe?" Digo intencionalmente.
"Essa é uma pergunta melhor para o seu psiquiatra," diz ele, seu
sorriso maroto de volta.
"O que ele fez para a sua empresa?" Eu digo com firmeza.
"Acordo de confidencialidade," ele diz, e percebo que ele não está
aqui para me ajudar. Ele acha que isso é um jogo.
"Que ele assinou com um nome falso," Grito.
"Posso garantir que toda a documentação é legítima," ele diz com
um sorriso preguiçoso em seu rosto, segurando o copo agora vazio em
suas mãos.
"Também é propício saber que a certidão de casamento que ele
assinou não era fraudulenta," responde calmamente. Deixei escapar
várias respirações profundas e olhei para o homem que mais de uma
década atrás considerava meu amigo mais próximo, um irmão mais velho.
Agora não posso nem chamar de um conhecimento ocasional.
"Por que você o ajudou?" Pergunto.
"Porque tenho o melhor interesse no coração," ele diz simplesmente.
Inclino para frente para me certificar de que receba o que estou prestes a
dizer.
"Cal pode não o conhecer, mas eu te conheço. Você não faz nada se
não for de seu próprio interesse," digo com os dentes cerrados. Ele
suspira.
"Você conheceu Lauren, hoje, não foi? Ela é bastante
impressionante não é?" Ele pergunta, e sinto meus olhos abrirem de
surpresa.
"Você não acha que seria mais fácil, simplesmente, voltar para a
vida de Cal? Bela esposa, criança adorável, grande apartamento em um
dos meus edifícios." Ele ri, olhando para sua bebida. "Não é a minha vida,
Dex! O que você não entende sobre isso?" Ele olha para longe de mim
momentaneamente. Então, volta a me olhar sem expressão.
"Você não pode se casar com Jenna, Chris," diz ele abruptamente, e
meus olhos quase saltam para fora da minha cabeça. "Irei casar com
Jenna." Digo claramente, adicionando um riso incrédulo. O fato de que
Jenna não respondeu minhas chamadas e sequer fala comigo é um ponto
discutível, mas ele não sabe disso.
"Isso não é algo que Cal vai tomar de ânimo leve," ele diz com um
sorriso presunçoso no rosto, divertido. Ele está se divertindo com tudo
isso.
"Você acha que eu me importo com o que ele vai tomar de ânimo
leve? Que me preocupo com tudo o que ele quer!" Pergunto com raiva. Ele
acena com a cabeça.
"Você acha que estou feliz sobre como estraguei a minha vida
agora!" Grito.
"Você está aqui," ele diz calmamente.
"Certo. Estou aqui. Ele não. E não dou a mínima para o que ele
pensa. Ele me deixou aqui para corrigir a sua bagunça," digo, incrédulo.
Como ele pode olhar para mim com uma cara séria e dizer que esse idiota
não vai tomar de ânimo leve.
"O que acontece quando isso mudar?" Ele diz casualmente, e meu
estômago afunda.
"Você está aqui, no momento. Acha que Cal vai reagir bem se você
deixar a mulher que ele ama e seu filho para se casar com outra mulher
que ele não pode ficar?" Ele ri rispidamente. Esse é o meu medo, a razão
pela qual ainda não apareci na casa de Jenna e pedi que me perdoe.
Realmente não sei o que este homem é capaz de fazer, mas não preciso
que Dexter saiba qual é o meu medo.
"Eu vou cuidar de Caylen, não por causa do que ele quer, mas
porque é a coisa certa a fazer, porque ela compartilha meu DNA," afirmo.
"E como você sabe que ele não pode ficar com Jenna?" Pergunto em
estado de choque. Ele deixa escapar outro suspiro profundo e derrama
outra bebida.
"Você e eu não estamos tão próximos como costumávamos. À
medida que crescíamos nossas motivações pareciam estar em lados
diferentes do espectro, mas..."
Sim, ele cresceu e se tornou um idiota, e eu não.
"... Eu respeito você, Chris. Seus valores, a moral que você tem o
código de ética que você vive em sua vida," o diz, tomando um gole de sua
bebida.
"Você costumava ter o mesmo código." Olho diretamente no seu
rosto. Ele recua, mas se recupera rapidamente, um sorriso autos
satisfeito retomando seu lugar no rosto.
"Essa é a razão pela qual Cal tem a vantagem e será sempre uma
ameaça," soltei com raiva e apertei minhas mãos com força.
"Eu não tenho medo dele. Não me assusta ou intimida. Posso fazer
tanto dano a ele quanto ele pode fazer para mim, e vou fazer tudo ao meu
alcance para me livrar dele completamente. Ele é o único em tempo
emprestado, não eu," digo com firmeza. Vejo Dexter apertar um botão no
carro.
"Daniel, você pode voltar para o destino do Sr. Scott. Obrigado," ele
diz.
"Enquanto vocês pensam em si mesmos como adversários as coisas
serão mais difíceis para todos," seu tom de voz é calmo e solene, e por um
segundo acredito que ele realmente se preocupa em como isso vai afetar a
todos, e também a si mesmo.
"Então, isso é tudo. Você conhece esse cara pelo quê? Uns anos?
Sou seu sobrinho. Você não deveria estar do meu lado?" Estou
desesperado agora. Uma coisa que sei é que os Crestfields mantêm os
laços familiares em alta consideração. Meu pai e o pai de Dexter não
tinham se falado durante anos em que minha condição veio à tona, mas
quando meu pai foi para seu padrasto, ele não poupou recursos ou
despesa.
"Tecnicamente, ele é assim." Ele ri, e eu aperto os dentes. Então,
seu sorriso largo maníaco desaparece.
"Você e eu não nos sentamos como uma família em um longo
tempo," diz ele. Por um momento acho que ele é sincero, até que seu
sorriso satisfeito reaparece.
"Para que foi esta pequena visita? Ele queria que você me
ameaçasse por ele? Porque isso é tudo que tenho a dizer." Rio,
exasperado.
"Vamos falar de novo," ele diz simplesmente, e sinto o carro parar.
Que perda de tempo. Saio do carro, e leva tudo em mim para não bater
com a porta. Quando estou a dois passos de distância, Dexter abaixa sua
janela.
"A propósito. A sugestão de você experimentar a vida de Cal. É
minha. Não dele," diz, e assim ele se foi.

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