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Disponibilização: Amarílis Gerbera

Tradução: Flor de Liz & Naya Spinosa


Revisão Inicial: Ella Morningstar
Revisão Final: Nita Oliver
Formatação: Amarílis Gérbera

Abril/2018
Freed
The Voyeur Series, Part #5
Elena M. Reyes
N. Isabelle Blanco

Eles queriam isso

Nos despir da nossa humanidade. Devolver-nos às


nossas formas mais básicas.

Eles usaram o nosso amor um pelo outro como gatilho.

Agora, eles conseguiram. Eles nos transformaram em


outra coisa.

Em criaturas dispostas a derramar todo o seu sangue e


acabar com todas as suas vidas na esperança de finalmente
sermos libertados.

Mesmo se morrermos em nossa tentativa de escapar,


Noah e eu estamos determinados a levar o maior número
deles para baixo com a gente.

Antes de tudo acabar, todos nós vamos sangrar por seus


pecados.
Todos nós.

Aviso: esta história não é para todos. Por favor, leia com
cautela. Contém violência e situações explícitas que alguns
podem achar perturbadoras. Leia por sua conta e risco.
Trinta e oito

Noah

Quanto tempo eu fiquei aqui, com os olhos fixos em meu


próprio reflexo, com pensamentos presos num turbilhão de
desespero e fome?

Parece que foram horas sangrentas.

As drogas começam a desaparecer, deixando nada além


de pura dor emocional e ansiedade quando eu começo a cair.
Em algum lugar aqui dentro, o mesmo pode estar
acontecendo a Ivy.

É o melhor que podemos esperar. Prefiro que ela esteja


em um quarto, assim como eu, quebrando por dentro do que
em outra situação.

Alguém pondo as mãos na minha boneca e a


machucando.

O pensamento corre através de mim e a criatura no


espelho se transforma mais uma vez. Quantas alterações
foram até agora? Três? Talvez mais? E com cada uma, o
sujeito monstruoso no reflexo torna-se cada vez mais bestial.
Mais e mais louco com a sede de sangue rugindo em
suas veias.

Ele está faminto por morte.

Eu também estou.

No entanto, eu não me mexo. Eu não posso. Eu me


recuso a dar a esses desgraçados um pingo de alegria com
minha raiva. Sim, eles estão me deixando mais vacilante com
as incertezas. A necessidade de saber onde Ivy está, se ela
está bem, é uma presença brutal, implacável em meu peito.

Mas os dias de perder minha merda para eles acabaram.

Eu posso estar morto nas próximas horas.

Ambos podemos estar.

Já arrancaram o suficiente de emoções para fora de


mim. Já brincaram com elas. Nos prenderam para seu deleite
e entretenimento. Me obrigaram a experimentar coisas que eu
não estava pronto para enfrentar, tudo ao mesmo tempo em
que eles se deliciavam com cada reação nossa.

A próxima que receberão de mim ou será por causa de


Ivy, ou por causa da violência que pretendo desencadear.
Ponto final.

Continuo aqui, em pé, braços pendurados moles ao meu


lado, olhos treinados no espelho.

Até que de repente as luzes se apagam.


Independentemente disso, eu não me mexo. Nem sequer
pisco. Apenas mais do mesmo, estou aqui, imóvel, esperando
pelo que eles farão. Há uma voz na minha cabeça me
perguntando se é isso, se este é o fim.

Apesar da incerteza bater em mim mais e mais, ainda há


alguma lógica. Uma pequena quantidade, sim, mas está lá,
lembrando-me que eles querem a Ivy e a mim lá fora. Assim o
nosso público pode dar uma olhada final.

Um gosto final.

Conto os segundos na minha cabeça dentro da


escuridão. Em sessenta e quatro, as luzes acendem
novamente.

Toda a calma desaparece num instante.

—Noah? — Ivy suspira, menos de quinze pés de mim,


onde estava o espelho.

Estou tão chocado com a visão dela que eu não posso


responder. Meus olhos se arrastam sobre ela, sobre como eles
a vestiram. Em uma versão curta de um vestido de baile azul
royal, à moda antiga, o topo de espartilho exibindo aqueles
seios bonitos que eu amo. A saia só atinge o meio da coxa, e
claro que eles combinaram a roupa com meia-calça preta e
saltos altíssimos da mesma cor que o vestido.

Na cabeça dela há um ornamento feito de penas azul


royal e pretas.
Os olhos dela estão azuis com a maquiagem
estrategicamente colocada, vejo também uma mistura de
fome, intenção e urgência que confunde a minha mente.

—Noah — Ela sussurra novamente, os olhos arrastando


sobre o meu rosto e a criatura que desenharam em cima dele.
Ou ela está vendo profundamente em mim que o mal já se
aponderou?

Santa merda, eles a prepararam como uma boneca de


sexo exótica e requintada. Jogando com cada atributo que ela
tem, tudo com o objetivo de tentar quem colocar os olhos
nela.

Eu.

Todos esses imbecis vão querer fodê-la antes de


matarem ela.

Mais fúria. Apesar da queda rápida, meu corpo inteiro


está acordando com a visão dela. Endorfinas inflamam no
meu sangue, pura e quente excitação que me deixa sem
fôlego e desesperado.

E apesar de tudo, concentro-me em seus olhos. Na


expressão dela.

Ela está tentando me dizer algo, mas estou muito


drogado para decifrar. Só sei o quanto eu preciso dela. Aqui
comigo, em meus braços.
Ainda não chegamos a nos tocar. O fato de nos
deixaram nesta sala juntos sem um único comando é outro
jogo. Um que somos esperados a participar plenamente,
mesmo quando as drogas saírem de nós, levando nossos
cérebros em um passeio em espiral para baixo.

Mesmo com o conhecimento que eles planejam nos


matar corroendo nossas cabeças.

Que se foda isso.

—Ivy. — É o único aviso que dou antes de andar em


linha reta em direção a ela, minhas mãos já apertando e
desapertando por imaginá-las nela.

—Eu adoraria saber quem lhe deu permissão para


ir até ela, Noah.

Não é Valerie. É aquele homem. Parceiro dela.

Estalando o meu pescoço, eu engulo de volta uma nova


onda de fúria e forço meus pés a parar. Agora estou a menos
de 3 metros de Ivy, o cheiro dela me alcançando através do
espaço curto. Chamando-me. Me tentando.

Lembrando-me que, se esses bastardos fizerem o que


querem, em breve ela desaparecerá. Será tirada de mim.

Como vou ser tirado dela.

—Bom, Noah. Muito bom. Seu progresso me traz


tanto orgulho.
Progresso.

Embora este seja o fim da linha.

Embora eles planejem que estejamos mortos pela


manhã.

Os olhos de Ivy se enchem de lágrimas, suas mãos


pequenas tremem em seus lados, e eu sei que ela está
pensando a mesma coisa.

—Eu pensei em vir e dizer meu adeus final.


Normalmente, não é algo que faço, mas vocês nos
trouxeram tanta alegria...

Não mais. Estou farto de seus joguinhos. O cântico passa


pela minha mente, me distraindo. É como se essa voz fosse
separada de mim. Fora do meu controle. O eco dos meus
pensamentos mais profundos, mais urgentes. Um lembrete
de que estou na borda, e não faço ideia do que vai me
cumprimentar quando eu atravessar para o outro lado.

Só sei que eu vou trazer a morte.

Sinto um desejo maníaco de ter Ivy de volta em meus


braços.

—Ivy, antes de nós enviarmos os dois lá para fora,


por favor, me diga. O que você acha da nossa obra de
arte no Noah?
Seu olhar viaja por todo meu rosto, o mesmo anseio que
estou lutando surge em sua expressão. —Ele parece
magnífico. Assim como vocês pretendiam.

O elogio é ainda outra dose de gasolina para o fogo que


me consome. Eu a quero tanto, eu a quero tanto quanto eu
sei que todo mundo a quer, e esse pensamento tira outro
pedaço da minha sanidade.

Eles planejam prová-la. Estar dentro dela. Senti-la.

Mesmo antes que a matem.

Mortos. Quero todos mortos.

—Quanto a você, Noah? O que acha da nossa


pequena “boneca” Ivy? Ela agrada você?

Quantas vezes terei que responder a uma de suas


perguntas invasivas e retóricas? Minha mente, fixada no seu
corpo, responde a pergunta para mim.

Se eles têm a sua maneira, isto vai ser uma das últimas
vezes que sou obrigado a responder.

Meus olhos saltam ao redor, tentando ver além da


escuridão opressiva circundando Ivy e eu, tentando encontrar
uma brecha.

Mais do que isso, tentamos encontrar algum tipo de


arma para pode sair daqui.
—Noah. — Há um desapontamento paciente, quase
paternal em seu tom. —Você sabe melhor. A essa altura
deveria.

—Ela me agrada mais do que qualquer coisa no planeta.


— Respondo com uma voz grossa, meus olhos se conectam
com os de Ivy novamente. —Sempre vai ser assim porque ela
é tudo, e você já sabe disso. É por isso que você nos escolheu.
— A acusação brutal na minha voz não pode ser oculta.

Eu odeio cada um deles de uma maneira que tenho


certeza que eu nunca vou voltar a ser eu mesmo.

Mesmo que consigamos sair vivos, vou carregar isso


comigo até o fim da minha maldita vida.

Mesmo se eu matar todos eles, nunca vou superar


quanto desprezo tenho por todos eles.

—Vocês dois deveriam saber que vocês eram uma


possibilidade há anos, e fiz tudo ao meu alcance para
mantê-los fora daqui. Infelizmente, sua própria negação
deixou o público faminto. Eles exigiram vocês, e
eventualmente nós tivemos que agradá-los.

Ivy engole seu choque, mas a maneira que ela olha para
mim me diz tudo o que se passa na cabeça dela.

Como ela percebe exatamente o que eu também percebi.

Não fomos vigiados por quem cuida apenas das


“aquisições” deste lugar. Eles devem ter mostrado nós dois
para os seus clientes um pouco antes de nos levar. Mostrado
nossas vidas pessoais, como minha Ivy negou seus
sentimentos, tornando uma situação já tensa entre nós
insuportável.

Ela sem saber transformou minha fome por ela em uma


obsessão sangrenta e todos eles perceberam isso.

É por isso que fomos escolhidos.

Não só porque Valerie queria que fôssemos, mas por


causa de seu impulso para isso, o público ficou encantado, e
eles tinham que nos ter.

Culpa bate em Ivy como um trem de carga e seu


pequeno soluço me destrói.

Ela sabe.

Ela sabe que se ela não tivesse brigado com seus


sentimentos por mim, talvez nunca tivéssemos acabado aqui.

Quando ela se tornou consciente do fato de que um dos


nossos captores no microfone está dizendo para nós mais do
que devia, e tudo porque ele sabe que agora pode.

Ele acha que nós não vamos embora com a informação


que ele está nos dando.

Quando ele não diz nada, percebo que ele está à espera
de um de nós a responder. —Ok. Nós entendemos. Você nos
mostrou aos...
—Eu não fiz. Minha parceira fez. No entanto, ela
estava correta em sua suposição de que, ao longo do
tempo, eles viriam a exigir vocês dois.

E há a confirmação. Valerie, em última análise, é a


responsável. Algo que eu preciso ajudar minha boneca
entender se sairmos daqui. Eu posso ver a auto culpa
começando a corroer ela por dentro. —Ok, e qual é o ponto de
nos dizer tudo isso?

—Chama-se “conversa”, Noah. Não seja tão rude.

Diz aquele cretino, que se prepara para nos enviar para


nossa condenação.

Fechar minhas mãos em punhos é a única maneira de


sobreviver a próxima onda de raiva.

Ivy pisca duas vezes para mim, a urgência retornando


ao seu olhar. Sua tentativa de se comunicar silenciosamente
não é perdida em mim, mas até me deixarem perto dela, não
serei capaz de fazer uma merda sobre isso.

—Por favor, posso apenas abraçá-la? Uma última vez


antes de... você nos enviar lá fora? — Pergunto em voz alta
por cima do meu ombro.

—Você será capaz de tocá-la em breve. Infelizmente,


nosso tempo se esgotou. É hora de ter os dois escoltados
para o baile.

Nossas mortes, ele quer dizer.


Sobrevivência, instinto mais poderoso e primal do que
alguma vez senti, ruge à vida. Sinto meu corpo quebrar em
suor sob as camadas de maquiagem e roupas. A única coisa
que me mantém firme é o olhar nos olhos de Ivy.

Ela está tentando me dizer algo.

Mas o quê? Droga. O quê?

Atrás de mim, o som inconfundível da porta deslizando


aberta preenche o espaço escuro.

O som das armas sendo engatilhadas.

E Ivy me dá um aceno de cabeça quase imperceptível.

Viro para os guardas quando Ivy se aproxima.

Suavemente e timidamente, Ivy aborda nosso captor. —


Posso segurar sua mão no caminho até lá?

Meu coração racha ao meio com o pensamento do que


poderia ser isto. Esta poderia ser uma das últimas coisas que
eu ouviria minha boneca dizer.

—Claro que você pode, Ivy. Afinal de contas,


despedidas são difíceis, não são?
CAPÍTULO 39

Noah

Meus olhos se encontram com um mar negro, a


iluminação baixa só dando lugar para as silhuetas daqueles
pedaços de merda dos guardas e uma mulher no meio. É
Agnes, e por mais horrível que isso possa parecer, eu prefiro
Jacques.

Ele tem uma paixão por Ivy. Eu vi como ele se


aproximou dela, como ele acariciou o rosto dela a última vez
que ele veio injetar o lixo em nós. Após matar Valerie, quero
que o meu rosto seja a última coisa que ele veja.

Um brilhante holofote treme e em seguida acende acima


da cabeça da freira. Ela bate palmas. —Vamos, crianças. É
hora de rezar. Alegrem-se na libertação de suas almas. É
uma ocasião importante para todos os presentes. — Ela
está apenas cinco passos de distância e usa um vestido de
freira longo e negro com uma miniatura de trem atrás dela.
Este é diferente do látex que ela usou até agora. É fluído e
tem mangas tipo trompete, uma grande cruz em malha
transparente exibe as ondas de seus seios e a parte superior
do seu tronco.
—Será permitido alguns minutos sozinhos antes?

Agnes ignora a pergunta de Ivy e faz um pequeno giro.


—Não gosta do meu vestido de festa, Noah? Eu comprei
especificamente para as festividades de hoje.

Que porra?

—Eu não vou responder a isso. — Cadela estúpida.


Celebração minha bola esquerda. Isso é assassinato, puro e
simples. Nada mais do que perversão e depravação sendo
vendida às massas como entretenimento.

—Nós nascemos para morrer e, em seguida, morrer


para renascer. Pense nisso como uma purificação. — As
palavras dela puxam minha atenção para a cara dela e não
posso esconder minha careta. Enquanto seu traje é todo
preto, a máscara dela ainda é branca, mas agora com uma
adição horrível. Espirros vermelho estão em todos os lugares
em seu rosto.

Duas linhas grossas da abertura do olho para o queixo


dela são marcadas. Como se ela tivesse chorado lágrimas de
sangue na última hora e não estivesse preocupada em limpá-
las.

—Oh meu Deus. — Ivy sussurra ao meu lado, sua mão


escorrega para a minha, apertando. Ela puxa mais perto, um
tremor fluindo através de seu corpo para o meu.
Não sei se é medo, nojo ou uma reação das drogas. Meu
corpo tem sido como um ioiô na última hora.

Ondas de calor correm pela minha espinha na sensação


dos peitos de Ivy escovando meu braço. Mesmo através das
camadas de roupa, eu posso sentir tudo dela. —Não se mova.
— Eu assobio com os dentes cerrados enquanto o prazer
amplia e depois sai. Como uma corrente elétrica a estalar
contra a minha carne.

A sensibilidade ao menor toque ainda está presente,


mas agora em uma dosagem mais suave, a menos que entre
em contato direto com o estimulante. Ela sempre foi minha
droga favorita.

—Sinto muito. — Ivy se move alguns passos para trás e


começa a retirar a mão da minha, mas eu balanço a cabeça e
seguro mais apertado. Meus olhos deslocam em sua direção e
longe de Agnes. O segundo que nossos olhos se encontram,
todas as outras besteiras desaparecem.

Somos apenas nós.

Não há espaço. Sem ameaças.

Não há morte e violência.

Pelos próximos minutos eu foco no rosto de Ivy.

Memorizo cada curva linda e a movimentação suave de


seus cílios quando ela tenta se concentrar. Ela está se
engasgando com as emoções dela, os lábios tremendo, mas
luta como o inferno para ficar neste momento comigo.

Estou tão orgulhoso dela.

Isso é difícil. Muito difícil.

Essa maldita memória vai nos assombrar, mesmo se


sobrevivermos.

Você tem que conseguir. Este não é o dia que minha


boneca morrerá.

—O sangue assusta vocês, meus filhos? — A


psicopata pergunta, mais uma vez interrompendo. Ela parece
irritada, com uma sugestão de desagrado no tom dela. É o
suficiente para nós olharmos para ela, mesmo que não
falemos nada. Só olhamos. —Não tenha medo do divino.
Isto... — Agnes corre o fim de suas contas do terço na
substância coagulada —...foi uma doação. Uma troca, se
preferir. Perdão, pelo preço de um pequeno sacrifício.

Novamente, não temos nada a dizer. Está mais do que


claro neste ponto que cada um destes animais, porque eles
não têm nenhuma humanidade, adorariam qualquer
desculpa para nos atacar. E nos matar.

Ela não gosta da falta de resposta verbal e então começa


a contar suas contas de terço manchadas de vermelho. Duas
vezes, ela atravessa sua oração em resmungos inteligíveis
como se estivesse se acalmando.
É durante esse tempo que as coisas dentro do quarto
mudam mais uma vez. Há movimento na porta.

Uma figura solitária.

Pequena, como uma criança abandonada e com olhos


amarelados. Não. Não amarelo. Eles são uma avelã muito
leve.

De fato, eu sei que é humano.

Humana e apesar da cor dos olhos diferentes, eles são


familiares.

Meu corpo reage à sua presença, da mesma forma que


sempre faz. Eu tremo. Não há dúvida em minha mente como
para quem assiste. Aqueles podem ser contatos, mas até a
forma como ela está de pé é inegável.

Ela está toda de preto, bem como o vestido dela lembra


uma reminiscência de um vestido vitoriano de luto, com rosto
escondido atrás de um véu de renda fino o suficiente para eu
ver os olhos dela.

Filha da puta, Valerie.

A vaca de merda veio para ter uma vista de perto da


procissão da nossa morte.

Um rosnado animalesco, o som de uma besta feroz, vem


de dentro do meu peito e os guardas em silêncio movem-se
um passo mais perto. O baque dos seus passos uniformes
ecoa alto no quarto.

Ao mesmo tempo as luzes são cortadas e rifles são


engatilhados. Ao meu lado, Ivy treme tanto que tenho medo
que ela vá desmaiar do elevado estresse no corpo dela. Isso,
ou uma parada cardíaca.

—Baby... eu preciso que você se acalme. Respire para


mim.

Ivy se inclina para frente, de alguma forma


encontrando-me no escuro e enterra o rosto no algodão do
meu casaco. —Ela está aqui.

Eu aceno, mas então percebo que ela não pode me ver.


—Sim.

—Foda-se. Ok... — Uma pequena mão dentro da minha


própria flexiona, abre e fecha algumas vezes antes de se
reestabelecer. Os tremores estão lá, mas minha menina está
lutando para permanecer consciente e não ceder ao pânico.
—Não temos muito tempo, Noah. Droga, querido. — Ela
sussurra, puxando-me mais perto. Os lábios dela pressionam
para a área onde o meu coração bate por ela. —Você tem que
saber... precisa saber.... Eu te amo. Mais do que minha
própria vida.

—Como eu te amo, boneca. Sempre amei. — Meus lábios


pressionam contra a sua testa e então varrem para baixo até
eu alcançar aqueles lábios lindos. Uma vez, duas vezes, eles
tocam no escuro quando um riso alto preenche o quarto.
Aquela risada. Oh, tão familiar e dentro do espaço que
respiramos.

—Sempre fraca e patética, Ivy. — O farfalhar de


tecido se aproxima e depois para, no entanto a presença de
sua malícia pode ser sentida no ar ao nosso redor. Ela está
nos provocando, e meus braços circundam a cintura de Ivy
para protegê-la. Para impedir minha menina de reagir. —
Mesmo quando enfrenta a morte, você ainda conta com
nosso querido e velho Noah para lutar suas batalhas,
hein? Não é mulher o suficiente para ficar sozinha.

Dentro de meus braços, o corpo de Ivy fica rígido e ela


puxa a cabeça para trás. —Veio se despedir? Ou há um
motivo para esta visita?

—Oh, alguém teve crescido recentemente uma


espinha dorsal. Muito tarde, querida. Você não acha?

—Sempre esteve lá, você que é muito ignorante para


perceber. — Sua resposta é rápida e seu tom mordaz.

Uma risada escapa de mim e dois segundos mais tarde


algo bate na parte de trás do meu joelho. Uma pancada
afiada que deveria doer como o inferno, mas tudo que faz é
trazer outra remessa de tremores secundários que se mistura
com a adrenalina, a dor é mínima.
Lentamente, eles estão nos transformando em fios vivos.
Conhecemos a dor, mas a adrenalina entorpece e nos
concentramos em outras áreas.

Como prazer.

Excitação.

Medo.

Todos os casos em que as pessoas são conhecidas a


suportar as terríveis façanhas para sobreviver.

E eu vou. Nós faremos.

Mesmo que seja apenas o tempo suficiente para eu


colocar as mãos em volta do pescoço da Valerie e alegrar-me
como o último suspiro deixando o corpo dela.

—Não importa. De qualquer forma, você morre e eu


ganho. — Por alguns minutos, o quarto fica silencioso. O
único ruído dentro destas paredes é o da respiração dura
vindo das máscaras dos guardas.

Vamos esperar. Fico quieto enquanto gotas de suor


descem por minhas costas. Minha maquiagem está borrada.
Isso vai irritá-la.

Eu sinto o momento em que Valerie sai do quarto, e o


mesmo acontece com meu amor que cede contra mim. Vai ser
um inferno suportar as confusões e acessos de raiva, mas
manter a calma é a chave para sair ou matar tantos quanto
possível.

—Você está bem? — Pergunto quando as luzes voltam. A


mão que não segura a dela sobe até a área do seu peito, onde
se encontra o coração dela. Está batendo rápido, mas não o
suficiente para sinalizar que ela está tendo algum tipo de
ataque de pânico.

—Eu estou bem. Confie em mim, Noah. — Ela diz baixo,


não há uma gota de pânico em sua voz. —Nós vamos ficar
bem.

Também não perdi a ênfase nessas últimas palavras.

Nós vamos ficar bem.

—Hora de ir. — Merda, eu tinha esquecido de Agnes.


Ela está apenas dentro do círculo rodeada de guardas. —
Estamos atrasados! Nossos convidados odeiam atrasos.

Com algumas palmas de suas mãos, os homens se


movem e formam duas linhas, quatro em ambos os lados com
suas armas encostadas em seus peitos.

Eles esperam por mais instruções.

É isso. Merda. Foda-se.

Eu recuo apenas o suficiente para olhar para baixo nos


olho de Ivy. Seu temor espelha o meu próprio. —Querida,
preciso que você lute. Não importa o quê. Nunca pare.
Os homens começam a se mover. Chegam a porta e
fazem uma pausa. Esperam por nós.

—Eu vou. Por nós, eu arriscaria meu último suspiro.

Dois guardas giram e apontam as suas armas. Eles


seguram firmes e engatilham.

Prometa-me, eu tento transmitir, oferecendo um pequeno


sorriso triste através da pintura demoníaca que puseram em
mim.

Até a morte. Ela pisca de volta e me dá um pequeno


aceno perceptível. Sem hesitação.

O que eu vejo no seu olhar não é medo. Eu entendi


agora, suas emoções estão combinadas com as minhas.

Suas lágrimas não são de raiva ou desespero. Não. É a


vontade de lutar ao meu lado.

Nós nos tornamos a única coisa que eles não


planejaram.

Inclinando para frente, eu pressiono meus lábios nos


dela em um beijo rápido, lhe dando tudo com esse pequeno
toque. Minha alma é dela.

—Te amo. — Ela sussurra quando uma lágrima rola


para baixo em sua bochecha.
—Eu vivo por você. — Eu respondo de volta, e ela sorri,
um sorriso verdadeiro. Erguendo meus ombros, ela se
endireita enquanto ponho minha cara de jogo.

Lado a lado nós viramos para frente.

Saímos da sala, mas com um objetivo em mente: voltar


para o outro.

O que aconteceu para desencadear esta mudança nela?


Esta coragem de lutar?

Nenhuma pista. Mas seja o que for, agradeço a Deus por


isso.

Sua determinação para viver é tudo que eu preciso para


sobreviver.
Quarenta

Ivy

De cabeça erguida, seguimos Agnes por um longo


corredor. É iluminado a cada poucos metros em uma linha
perfeita nas paredes de veludo amassado. Vermelho e ouro,
uma mistura perfeita de opulência erótica.

O chão sob nossos pés é escuro. Eu me arrisco a dizer


de madeira pelo barulho que meus calcanhares fazem neles.
Luzes fracas se ajustam a uma vibe sensual durante a
captura dos tons de joias na minha fantasia, a tornando
chamativa.

O que nós representamos dentro desses trajes ridículos


é ostentação. Nós somos o que eles querem.

Uma beleza sendo servida para a besta.

Essa donzela delicada. Desprotegida, a sua mercê.

Esta é a minha penitência por recusar o amor por tanto


tempo.
E isso está bem. Estou pronta. Eu vou levar o seu amor
e cada emoção escura. Cada segundo com ele é precioso e
sagrado.

Que se fodam por pensar que ele é um castigo. Meu


Noah é leve e bom. Ele é a vida. Pureza em sua essência mais
básica.

E por ele eu vou lutar. Matar. Sobreviver.

No final do corredor há uma porta de madeira maciça.


Do chão ao teto é cheio de detalhes intrincados. Parece
importado. Em qualquer outra situação, eu me arriscaria a
dizer bonito.

Uma figura solitária está diante dela, seu smoking todo


preto, um tema eu presumo, e usando uma máscara como
sempre. Todos usam uma.

Este pensamento passou pela minha mente algumas


vezes.

Por que escondem seus rostos quando estamos


destinados a morrer? O que há para esconder?

Medo?

—Boa noite, Sra. Agnes. — Raoul se inclina na cintura


com uma reverência ao lidar com ela. É o máximo que já o
ouvi dizer. Sua voz é áspera por falta de uso, profunda.
Horripilante.
A máscara de Raoul também é branca, mas distinta,
com linhas coloridas em áreas específicas. Vermelho, azul,
amarelo e verde, um assassino bem-humorado.

Deus, o meu peito se aperta em seguida. Paramos a


quatro passos do homem que acabou com a vida de Jaime, e
não consigo controlar o desgosto na minha expressão.

Eu vou matá-lo. Ele é a minha missão final.

—Raoul, tão bom te ver. — Agnes o cumprimenta com


um aperto de mão delicado. Se notaram a raiva irradiando
dos meus poros, eles ignoraram. Em vez disso, eles agem
como se eles não se vissem há anos, em vez de horas. —
Estamos todos prontos? Os mestres chegaram?

Ele acena, o topo pontudo do chapéu dele balançando


um pouco. —Tudo está como programado.

—Bom. Bom. — Com o rosário na palma da sua mão,


ela traz a mão até seus lábios e aguarda enquanto ele a beija.
Lambe a essência vermelha do sangue das contas.

Eu engasgo, mas fico em silêncio ao lado da minha


rocha.

Por um segundo, meus olhos piscam para Noah, e ele


está apertando sua mandíbula, olhando para eles com nada
além de ódio.
Apertando a mão dele, chamo a sua atenção. Ele
percebe, seus olhos amolecem de uma só vez enquanto eu
mexo minha boca sem voz, lute por mim.

Sempre. Ele acena e vira outra vez. Esperamos em


silêncio enquanto Agnes se afasta e pede que ele abra as
portas.

Outra reverência de Raoul e ele puxa as alças douradas,


nos dando o nosso primeiro vislumbre do que está dentro.

—Filho da puta. — Noah amaldiçoa sob sua respiração,


mas eu o ouço. Meu sentimento silencioso é o mesmo.

Não há palavras para descrever. Nada pode nos preparar


para o que vemos.

Corpos nus, se contorcendo de prazer com a cabeça


jogada para trás em êxtase.

Outros corpos mutilados e sendo esculpidos com


bisturis numa estação de buffet. Pessoas como fregueses com
seus pratos nas mãos, conversando entre si, enquanto gritos
de dor preenchem o ar.

Telas, grandes projetores repetindo cenas de horríveis


assassinatos que ocorrem em salas diferentes. Quartos que
se parecem com o que estávamos ocupando até
recentemente.

Sangue. Sexo. Morte.


Um fio grosso de sangue desliza ao longo do piso de
mármore a centímetros dos meus pés, como uma cobra
rastejando em direção a sua presa.

—Eu vou vomitar. — Eu choramingo com a mão


chegando para cobrir minha boca.

Os braços de Noah vem ao meu redor. —Respire. Não


olhe para nada, apenas...

—Apresentando nossos convidados de honra... Sr.


Noah Barker e Srta. Ivy Reid. — Nosso captor masculino
anuncia sobre os alto-falantes.

De uma só vez, cabeças se viram para nós, olhos


assustadores nos dissecando, com uma animalesca fome em
seus olhares.

O que faz sentido. Estes não são mais seres humanos.


Estamos diante de uma raça diferente de criatura, o pior que
a sociedade tem para oferecer. Seres tão acostumados a ter o
seu caminho, que se tornaram perdidos a seus instintos mais
básicos.

Ninguém pode parar o que estão fazendo, mas um por


um eles começam a aplaudir, baixo no início, até que o som
se torna quase ensurdecedor.

Eu dou um passo para trás, esbarrando em Noah, suas


mãos me buscam e eu sinto os dedos contorcendo-se com a
necessidade de me agarrar.
Devo dizer-lhe. Tenho que deixá-lo saber que a ajuda
está aqui...

Mas será que é verdade?

Ah, Deus. E se esse sussurro foi outra alucinação? E se


não há ninguém aqui para nos ajudar? Meus olhos voam de
volta para a seção de buffet, onde as pessoas fizeram uma
pausa na sua escultura para juntar-se a ovação.

Eu preciso pegar esses bisturis. Não importa se a ajuda


não está aqui para nós. Eu vou lutar até o fim pelo meu
Noah.

Para vingar a minha melhor amiga, Jamie.

E os meus pais.

Lembro-me deles e engasgo com uma onda quente de


fúria, com ódio nos olhos visualizo cinco dúzias de monstros
neste enorme e opulento salão de baile.

—Agora, nós sabemos o quanto vocês os amam e


estão ansiosos para participar disso....

A multidão aplaude, algumas pessoas começando a se


aproximar da gente.

Noah solta um rugido, o crânio pintado sobre seu lindo


rosto se transforma em algo verdadeiramente assustador.
É seu aviso silencioso para a multidão. Provavelmente o
último que eles vão conseguir antes que o amor da minha
vida os ataque por nos cobiçar.

Por me cobiçar.

Assim que me aproximo para agarrar a sua mão, dois


guardas surgem de dentro da multidão com seringas em suas
mãos.

Meu coração explode em um ritmo vicioso.

Eles vão nos drogar outra vez. Impossibilitando-nos de


lutar.

A cabeça de Noah gira em direção aos guardas e deixa


escapar outro daqueles sons desagradáveis, desumanos.

Os guardas, cegos para tudo, menos para as suas


ordens, continuam em seus passos.

Eu me aproximo de Noah, tremendo, e deslizo a minha


mão na sua.

O som “Ahhhh” que vem do público me enoja. Como se


essas criaturas sem alma pudessem apreciar o que é o amor.

—Se acalmem. Só mais um momento e eles estarão


preparados para iniciar o show. Porque todos queremos
um ato final antes de começar a verdadeira festa, certo?

O barulho que vem da multidão é tão alto que eu juro


que sinto o chão e as paredes tremerem.
—Agora, Noah e Ivy. Por favor, permaneçam aí
enquanto sua próxima dose é administrada.

Todos os guardas à nossas costas se afastam quando os


dois últimos se aproximam.

Olho para trás de mim e vejo que Valerie não chegou a


entrar no salão. Clarice, Agnes e Raoul estão nas portas que
nos deixarem entrar, esperando como bons pequenos
fantoches.

—Amor, respire. — Noah diz suavemente, mesmo que


seus olhos estejam selvagens, saltando por todo o lado.

Buscando uma abertura que provavelmente nunca


vamos encontrar.

Com os outros guardas a uns três metros, aqueles dois


param bem atrás de nós.

O capuz de Noah é puxado para baixo, expondo seu


cabelo bagunçado e pescoço.

Atrás de mim, um dos guardas suavemente escova meu


cabelo por cima do meu ombro.

É quando o ouço.

Aquele baixo sussurro familiar.

—Não é o que eles queriam aplicar em vocês. É


diferente.
O corpo inteiro de Noah se sacode com aquela voz.
Graças a Deus, eu jogo com isso, olhando para o outro
guarda que segura a parte de trás do seu pescoço.

Meu coração acelera mais rápido e mais rápido.

—Chamamos reforços. — Sussurra o guarda, sua voz é


tão baixa que luto para pegar cada uma das suas palavras. —
Nós vamos tirar os dois daqui. Apenas espere pelo sinal. Aja
bêbada e instável agora. — Ele injeta ao lado do meu pescoço,
empurrando para baixo o êmbolo.

O outro guarda injeta em Noah.

Quase imediatamente uma explosão de energia bate em


mim. E pela maneira que as pupilas de Noah dilataram, eu
posso dizer que ele está sentindo a mesma coisa, embora
ambos estejamos seguindo as instruções do guarda e fazemos
o nosso melhor para escondê-lo.

Eu tropeço, minhas mãos agarradas em um Noah


igualmente desequilibrado. Com olhos arregalados e com
falso medo, peço que olhe para mim e me siga.

Então os dois se foram e ele vira para mim, por uma


fração de segundo nossos olhos se encontram e sua pergunta
silenciosa me atinge, como se ele falasse em minha mente.
Eles estão aqui para nos ajudar?

Estou muito abalada para tentar lhe dar alguma dica e


também com medo de alguém perceber que a ajuda está aqui,
e no fundo ainda tenho muito medo de que isso se trate de
outro jogo. Outra maneira de torcer nossas mentes antes de
nos matarem.

Independentemente disso, digo a mim mesma, assim


que eu estiver perto o suficiente, eu encontrarei uma maneira
de dizer a Noah o que o guarda me disse no quarto.

Dói, mas eu olho para longe dele e em direção a sala.


Estamos cercados por homens e mulheres, monstros sob o
disfarce de seres humanos, por todos os lados.

Seus olhares de desejo me deixam nauseada, um


sintoma que não tenho que fingir ter.

Noah me puxa mais perto, posicionando minhas costas


na sua frente. Há um estrondo borbulhando em seu peito, a
raiva ampliada pela adrenalina que corre em nossas veias.
Um homem corpulento e completamente nu dá um passo em
nossa direção.

Ele é corajoso. Ninguém lhe deu instruções para se


aproximar.

Nós nos movemos para fora de seu alcance, e a multidão


segue os nossos movimentos.

Agnes e Raoul guardam a porta. Não temos nenhuma


escolha a não ser nos mover mais para dentro, até chegarmos
ao centro.
Uma pista de dança fica desocupada com um único
holofote acima. Assim que chegamos no meio, ninguém se
mexe.

Eles simplesmente param.

Agora eles olham. Tocam um aos outros, mas não fazem


nenhum som. Os homens começam a empurrar outros até
seus joelhos, homens e mulheres, em seus punhos seguram
seus cabelos com penteados elegantes. Eles são brutais em
suas vontades enquanto os forçam a chupá-los, a levar seus
paus abaixo de suas gargantas enquanto nos observam.

Em toda parte, que nós olhamos, a devassidão acontece,


e agora estamos no centro. Os troféus a serem ganhos.

Um gemido alto puxa meu olhar para o homem


assustador que deu um passo em direção a nós primeiro.
Seus olhos estão sobre mim, seus quadris bombeando duro
contra a boca de um homem loiro, fodendo-o com total
abandono enquanto o outro aguenta quieto a brutalidade de
ter seu pau eletrocutado com uma varinha.

Aquele homem lambe os lábios e aperta seu punho no


cabelo da vítima. Um duro golpe ou dois e ele está gritando
meu nome enquanto puxa para fora e jorra sua porra no rosto
do seu parceiro.

Eu olho ao redor e vejo, olhos famintos estão em mim,


em silêncio me dizendo que eu sou a próxima.
—Baby, precisamos encontrar uma saída. Foda-se os
guardas, não podemos...

Um estalo familiar vem através dos alto-falantes e


preenche a sala...
Quarenta e um

Ivy

—Senhoras e senhores, estamos prontos para dizer


adeus a estes dois?

Um canto baixo de burburinhos atravessa a sala,


ecoando nas paredes e perfurando a carne. É assombroso.
Depravado.

Eles querem mais.

Mais uma foda.

Mais uma foda.

Mais uma foda.

—Certo. Tudo bem. — A risada baixa do nosso captor


masculino flui pela sala, e os pelos na parte de trás do meu
pescoço ficam em pé. —Lance inicial?

—Fique ao alcance do meu braço. — Noah sussurra tão


baixo que quase não o ouço. —Nós precisamos fazer nosso
caminho para o buffet o mais rápido possível. Há facas no
balcão.
—Vi isso também. — Eu dou um aceno de cabeça
minucioso, meus olhos examinando o quarto inteiro a
procura de armas.

—A escultura de gelo...

—Dez mil para um ménage à trois. Eu fico com o


anal. — Meus olhos estalam em direção a pessoa que fez a
oferta. Aquele desagradável. O homem careca olha para nós e
eu estremeço.

Jesus, eu não posso...

—Cinquenta para assistir, mas meu marido começa


a prová-la primeiro. Ele tem sido um bom animal de
estimação. — Uma mulher levanta sua mão. Ela está vestida
com uma roupa de látex com suas áreas privadas cortadas
para ser acessível. Ela tem um homem com uma coleira aos
seus pés, eu presumo que seja o marido dela, ela está
acariciando a cabeça dele com amor. Ambos estão usando
máscaras.

—Eu vou matá-los primeiro. — Meu homem assobia,


seu peito vibrando com raiva. Seu domínio sobre a minha
mão é tão apertado que beira a dor. —Ninguém está tocando
em você enquanto eu respirar, amor. Eu vou te tirar daqui eu
juro.

—Dou-lhe uma?
—Querido, precisamos nos mexer. — Eu insisto,
temendo. É isso. Porra, eu puxo dois passos para trás, para
chegar mais perto das armas.

—Dou-lhe duas...

—Quando eu disser, corra, Ivy. Baby, corra. — A ira


misturada com desespero no seu tom, tem suas garras no
meu coração. É angustiante, ele está disposto a desistir de
tudo por mim. —Vou criar algum tipo de caos para te tirar
daqui. Lute. Você tem que sobreviver a esta merda para mim.

—Não vou te deixar. — Se morrermos, morreremos


juntos.

—Por favor, eu...

—Um milhão para vê-los fazer amor e se despedir.


— Diz uma voz profunda de algum lugar nos fundos e
algumas pessoas suspiram pelo quarto.

Eu sou uma dessas pessoas em estado de choque.

Eles estão nos forçando a nos comportar como animais.

—Quão generoso! Alguém mais? — Sua voz soa alta


através dos alto-falantes e murmúrios tornam-se louvores.
Eles gostam desta opção. Ficam animados com isso.

—Ninguém?

Puxando seu braço, eu forço os olhos de Noah para os


meus. O mesmo medo reflete em mim. —Precisamos...
—Vendido, para o homem nos fundos.

Não consigo ver quem é. Pessoas viram para olhar para


o lado, mas tudo que vejo são sombras na escuridão.

Os clientes erguem seus copos acima de suas cabeças o


cumprimentando, enquanto outros mostram sua alegria.

Mulheres e homens, gozando por todos os seus


parceiros enquanto brindam a nossa morte.

Nem mesmo ao decidir nosso destino eles pausam suas


atividades. Pelo contrário, muitos começam a participar de
orgias.

—Nosso ato final foi escolhido, crianças. Todas as


coisas boas chegam a um fim e é hora de dizer adeus. —
O holofote está piscando acima das nossas cabeças, quase
me cegando, enquanto, lentamente, o nível de ruído cai e as
luzes em torno de nós caem ainda mais. Mal vejo a pista de
dança e a multidão. —Noah, agradeça ao homem por te
conceder este presente.

Nós somos o centro das atenções.

Ficamos no meio da sala e esperamos.

Oh Deus, onde estão aqueles guardas!

A palma da minha mão transpira contra a de Noah, a


dele não se saindo melhor. Estamos ambos vestindo uma
névoa fina de transpiração causada pela adrenalina e impulso
de energia que flui através do nosso sistema.

Meu coração se sente como se estivesse prestes a bater


fora do peito. Baque, baque e baque, é quase doloroso.

—Obrigado. — Ele cospe entre os dentes, apertando a


mandíbula.

Com a multidão perdida além do brilho dos holofotes,


ele é tudo o que vejo, os ângulos bonitos do seu rosto
realçados pelo desenho da caveira. Em vez de me assustar, a
maquiagem torna o anseio em meu instinto mais poderoso.

—Façam o seu caminho para o meio da pista de


dança, por favor. Acho que o público apreciará melhor o
espetáculo.

Mais aplausos.

Mais grunhidos. Gemidos. Suas apreciações por nos


comprar mais uma vez é a coisa mais repugnante que já
cheguei a enfrentar. Nem mesmo sua sede de sangue profana
e desejo de morte se compara.

Eles estão realmente, verdadeiramente, apreciando este


show.

Essa repulsa sempre presente dentro de mim borbulha


quando a doentia e familiar melodia começa a tocar.
A maldita canção de ninar. Uma versão remixada, mais
lenta.

De repente, quando olho para o centro, registro o que


eles querem que façamos.

A Bela estará dançando sua última dança com a Fera.

Apesar da pequena esperança de que a ajuda está aqui,


apesar da minha vontade de lutar por nossas vidas, não
posso parar os arrepios frios que passam por mim.

A mão de Noah desliza na minha, apertando.

Um silêncio cai sobre todos.

—Noah. Ivy. Por favor. Nosso público merece uma


última dança antes de vocês fazerem amor.

O público merece.

Última dança.

Fazer amor um com o outro.

Como podem estas pessoas não perceberem como atroz


tudo isto é.

Noah entrelaça os dedos nos meus e começa a me levar


em direção ao meio da pista de dança. O arrepio se espalha
para o resto do meu corpo. Não consigo. Mesmo que eu tente
manter algum tipo de lógica, o medo primal continua
crescendo.
As luzes azuis dos olhos destacados por preto focam em
mim com pura preocupação.

Seu próprio medo.

Essa raiva.

Mas em meio a tudo isso vejo o quanto ele me ama.

Anos. Desperdicei anos fugindo, negando a mim mesma.


Anos, onde nós podíamos ter ficado juntos. Poderíamos ter
sido felizes. Nós nos amaríamos a cada segundo e
construiríamos uma vida juntos.

E poderia ter nos salvo disso. Embora Valerie me odeie e


eu tenha certeza de que ela teria encontrado outra maneira
de nos condenar, foi a tensão entre Noah e eu que deixou o
público faminto.

A tensão nascida dos desejos negados.

Meu tremor aumenta e uma lágrima escorre pelo canto


do meu olho, sem dúvida enfraquecendo a cola que usaram
para colar meus cílios falsos.

Noah para e vira para mim, levantando minha cabeça


mais alto. A visão das minhas lágrimas o mata. Vejo isso na
forma que sua testa franze, mas ele não está quebrando como
eu.
Não. Enquanto estou me aproximando rapidamente da
falta de esperança, ele parece estar se fortalecendo mais e
mais.

Preparando-se para lutar.

Para sobreviver a isso.

Sua grande mão pousa na região inferior das minhas


costas, enrolando-me. Segurando uma das minhas mãos na
sua, esticando nossos braços, ele pressiona a minha frente a
sua.

Eu levanto meu braço e a coloco ao redor do seu ombro.


Pose clássica de dança.

De alguma forma, o silêncio que nos rodeia se expande.


Eles estão cativados. Arrebatados. Absortos no presente, o
que eles acreditam ser nossos últimos momentos juntos.

Outro arrepio percorre meus membros.

—Shhh. — Noah me acalma, inclinando-se para baixo


para pressionar os lábios na minha bochecha.

A sensação de sua carne na minha me deixa instável e


eu tropeço um pouco em sua posse. Ele apanha-me contra
ele e nosso público insano suspira.

Ficamos assim, em posição, Noah com um braço na


minha cintura e nossos corações correndo. Não consigo ver a
sua expressão facial nesta posição, mas algo me diz que seus
olhos estão fazendo a mesma coisa que os meus,
arremessando-se ao redor tão sorrateiramente quanto
possível, tentando ver além do brilho incandescente dos
holofotes.

Tentando encontrar a ajuda que o homem jurou que


está vindo.

Ou isso, ou nossa saída.

E mesmo assim, o seu cheiro me envolve. A sensação do


seu corpo grande, forte, pressionando no meu, domina meus
sentidos em pânico.

Mas essa é a coisa sobre a adrenalina, não é? Injetaram


em nós uma droga para nos deixar mais fortes, mais rápidos,
eu estou supondo, mas, quando instala-se na minha corrente
sanguínea, o efeito se transforma em um revigorante sexual.

—Tanto quanto nós gostamos de ver vocês sendo


carinhosos um com o outro, eu acredito que isto é
suposto ser uma dança. — O som da voz do nosso captor
masculino rompe nosso momento, seu comando em meio a
canção de ninar remixada.

Comece a dançar ou pague o preço.

Lentamente, Noah começa a me balançar de um lado


para o outro, seus dedos se contraindo contra minhas costas.

Minha mão aperta ao seu redor no primeiro contato,


seus músculos duros contraem, reagindo a minha presença,
o que não é perdido por mim. Deus não. Eu engasgo com um
suspiro, assustada quando meu pulso explode acelerando
com a reação inconveniente, mas inegável, chocando-se
contra mim do nada.

O peito de Noah expande-se com um gemido, mas para o


seu crédito, ele tenta se controlar.

Eu sei que ele está pensando a mesma coisa que eu.


Como nós dois podemos estar tão excitados enquanto
estamos enfrentando esses bastardos doentes? Enquanto
enfrentamos a realidade que eles querem acabar com a
gente? E eles provavelmente vão gozar enquanto fazem isso.

É doentio. Mais doente do que eu pensei que seria. Tão


errado.

—Humm... precisamos de um dos membros do


público para intervir e instruí-los nos passos
apropriados de uma valsa, Noah?

É uma pergunta provocante. Aquela que terá a reação


que eles esperam. Acho que todo mundo aqui sabe quão
longe meu homem está disposto a ir para me proteger. É uma
reação instintiva, um botão que eles podem brincar com o
conteúdo do seu coração.

Rosnando baixinho, Noah me gira em uma grande


virada na pista de dança, seus movimentos sem falhas, sua
capacidade para conduzir meu corpo inigualável. Eu nem
estou pensando em linha reta, mas ele garante que cada
passo seja feito perfeitamente.

Eu tento focar na nossa realidade, na busca de nossa


fuga. Em me manter junta, pelo menos, mas cada movimento
torna impossível. A coxa com jeans de Noah penetra o espaço
entre as minhas pernas enquanto ele leva-me ao redor mais
uma vez.

No momento que voltamos para onde começamos, os


grunhidos baixos ressoam do peito de Noah.

Não estou melhor que ele. Minha respiração está


acelerada, meu rosto está muito quente enquanto luto com
cada onda de luxúria.

Como posso ainda me sentir desta maneira com o que


estamos enfrentando? Querido Deus, não posso vê-los graças
as luzes dos holofotes, mas em algum lugar dentro dessa
escuridão, além do brilho da luz, existem mesas de buffet
com pessoas sendo servidas sobre elas.

O que sinto por Noah transcende a emoção humana


normal, mas eu ainda não posso acreditar no quão excitados
estamos agora. É só por causa da droga? Ou há uma parte de
nós tão mórbida como as pessoas que nos condenaram a este
destino?

A música para de repente. O efeito é imediato. Sem a


gente ter que ser ordenados, nós dois freamos nossos corpos
praticamente presos um ao outro.
Vibrando com a energia reprimida.

Eu o quero.

O braço de Noah aperta em volta de mim. Ele não soltou


minha mão. —Eu sinto muito, amor. — Ele pede desculpas
sob sua respiração, seu tom torturado com seu coração
batendo em sua caixa torácica.

Se desculpando por outra reação que não consegue


controlar.

Uma reação que eu estou compartilhando.

Ao redor de nós, o público se desfaz em outra rodada de


aplausos com o nosso desempenho.

Não é alto o suficiente para abafar o barulho dos nossos


corações e das respirações aceleradas que partilhamos.

Também não é alto o suficiente para abafar o som da voz


de Valerie quando ela volta sobre os alto-falantes.

—Agora que já tiveram sua dança romântica, acho


que é tempo de chegarmos à verdadeira diversão. —
Murmúrios de acordo enchem o quarto. —Está na hora,
Noah. Dê a Ivy a foda que o público pagou para assistir.
quarenta e dois

Noah

—Podemos ter um minuto? — Peço, esforçando-me para


controlar a loucura que corre dentro de mim. Para eles, nós
não somos nada mais do que os peões para jogar com nosso
medo.

E embora me custe a admitir, nós podemos não sair


vivos daqui. Se for preciso, vou garantir a segurança dela com
meu sangue. Morro para ela viver.

—Não...

—Sim, querida. — Contrariada, Valerie é interrompida


pelo tom de voz masculino. —Dê a eles quatro minutos
para dizer o que seja que eles precisam. Tenha um
coração... são seus últimos momentos.

—É justo. — Ela assobia, obviamente odiando que ela


teve que ceder para ficar bem na frente de seus clientes. —
Quatro minutos e eu quero o pau dele dividindo ela em
duas.

Os holofotes escurecem acima de nós, nos dando a


ilusão de privacidade. Os olhos de Ivy estão nos meus. Ela
sente isso, esta fome esmagadora que sentimos um pelo outro
que é abrasadora em minhas veias. É assustador e
maravilhoso, e tornou-se a causa de nossa ruína, mas nós
ainda ansiamos por isso.

—Eu te amo, Noah. Tanto... — Os olhos úmidos se


enrugam nos cantos quando ela sorri. A pequena mão vem
até meu queixo e eu acaricio a palma da sua mão. —Faça
tudo o que você precisa fazer. — Ela diz, sua respiração uma
carícia macia contra o meu pescoço. —Não importa o que for,
eu vou perdoar você.

—Não posso te machucar, amor. — Meu rosto desce


para o dela, meus lábios varrendo ao longo dos dela.

—Então me prometa que vai lutar até o seu último


suspiro. Que você não vai se perder, porque eu tenho a
certeza que não vou.

—Eu prometo.

—Chega de despedidas. Foda-a. — Um tiro como


aviso soa em algum lugar atrás de nós.

Minha raiva ressurge. Queima em minhas veias como


ácido puro transbordando em um vulcão e eu reajo, puxando
Ivy para trás de mim e me virando para enfrentar nossos
captores.
—Que porra é essa? — Eu sussurro entre os dentes
cerrados. Meus músculos se tencionam, estou pronto para
atacar.

Merda. Cadê aqueles guardas?

Passando rapidamente os olhos em direção a entrada,


eu vislumbro uma Glock na mão de Jacques. Ele não está
escondendo isso, só que a tem para baixo, apontando para o
chão.

Os olhos pretos e sem alma de sua máscara estão


vidrados em nós, Ivy estremece atrás de mim. Ela se
aproxima mais perto, seus dedos cavando em minhas costas.

—Não há mais porquê prolongar o inevitável.


Comecem a se tocarem para nós.

Mais uma vez, Jacques levanta sua arma, e desta vez ele
a coloca direto em minha direção. Ele está esperando.
Comichando por uma razão para me matar e então levar a
minha menina.

Eu viro, eu dou as costas para a sala e puxa seu peito


no meu, dizendo para ela. —Qualquer coisa que for preciso?
— Certifico-me de que ela saiba que se eu ceder a minha
fome, não há como ir devagar. Foder. Porra, esta pode ser a
última vez que a segurarei. Que vou conseguir amá-la.
—O que for preciso. — Ela diz e me beija, com fome.
Para conectar-se a mim mais uma vez, especialmente porque
pode ser a última.

Seus lábios estão desesperados, as suas mãos vagueiam


sobre meus ombros e depois para baixo. Ela aperta o zíper
por um segundo antes de abaixá-lo todo o caminho e, em
seguida, o preto de algodão cai no chão aos nossos pés. Meus
próprios dedos rastreiam sua pele, suas costas e sobre as
ondas da sua bunda voluptuosa.

Agarrando a carne firmemente, quase a machucando,


minha espera não deixa espaço para se mover e ela solta um
lamento do fundo da garganta dela. É aquele som que quebra
meu último resquício de lucidez e eu desisto.

Para ela. Para minhas necessidades. Para cada maldita


coisa que se sente bem em meu mundo.

—Noah, eu... Você é tudo. — Ivy sussurra, empurrando


seu quadril, girando contra meu pau latejante.

Ela está molhada. Pulsando e inchada para mim. Meus


dedos roçam entre suas coxas por trás e me encontro com
sua pele nua.

Seus sucos nas pontas dos meus dedos.

Jesus, não posso. Me perco. Minha necessidade é muito


forte.
O quarto e seus habitantes desaparecem quando
minhas calças caem no chão. Quem abriu o botão e as
empurrou dos meus quadris? Nenhuma pista, e nem dou a
mínima quando o calor dela está tão perto.

—Segure-se em mim, boneca. — Eu rosno baixo, com as


mãos pegando as suas longas pernas para envolver em torno
de minha cintura. Ivy faz o que peço, seus dedos puxando
meu cabelo. Ela se agarra a mim enquanto sua saia se abre
por trás na posição em que a coloco.

Aberta para mim.

Alinho meu pau duro em sua entrada e olho em seus


olhos. Olho para eles, forço ela a ver o que todos sabiam
enquanto ela negava.

—Minha. — A última sílaba mal passa pelos meus lábios


quando eu entro em seu calor em um só golpe, empalando o
mais profundo dentro de sua boceta e roubando o ar de seus
pulmões.

—Noah! — Ela chora, suas coxas tremem ao meu redor.

Jogo minha cabeça para trás quando todo o meu corpo


se arqueia no céu molhado, tão apertado que minha visão
escurece. Não consigo manter meus olhos longe dela por
muito tempo, no entanto. Não com tudo correndo pela minha
cabeça.
O conhecimento que podemos estar mortos em poucos
minutos.

Que outros podem abusar desta mulher que significa


tudo para mim.

Ivy envolve-se em torno de mim, seus dentes afundando


em meu pescoço, e a forma como ela se mexe em meu abraço
me diz que ela está presa no mesmo desespero confuso que
estou.

Abaixando a minha cabeça, eu enterro meu nariz no


pescoço dela, arrastando seu perfume para as partes mais
profundas de mim. Meus quadris batem fora do meu controle
enquanto eu me esforço para ignorar a perfeição lisa de sua
boceta.

Ivy me abraça mais forte, suas pernas apertando em


torno de mim.

Além dos holofotes, o público está perdido e o silêncio


enquanto eles assistem faz o efeito maior, como se fosse só eu
e ela neste momento, ninguém mais olhando, cobiçando e
aguardando a porra da sua vez.

Abaixando minhas mãos, eu seguro sua bunda deliciosa


e afasto meu pescoço longe da boca dela. —Amor...

A cabeça dela ergue-se lentamente ao som da minha voz


drogada, seus olhos cheios de luxúria me procurando. Dentro
dela, as paredes da sua boceta continuam me apertando ao
ritmo do seu coração, me tentando a inundar cada pedacinho
dela com minha porra. Para marcá-la.

Mesmo no pior dos casos, ela sempre foi minha.

Eu quero beijá-la. Quero ter aqueles lábios e sua língua


perversa. Mas entre as diferentes drogas no meu sistema e as
emoções arranhando em comum com a sensação de sua boca
faminta, vou me perder ao apelo do seu corpo.

—Mantenha seus olhos em mim, Ivy. — Rosno,


amassando suas nádegas. —Olhe para mim enquanto eu te
dou isso.

Agora vem uma reação da multidão. Os suspiros


saudosos, como se estes bastardos tivessem coração para se
emocionar.

Provavelmente é só seus anseios de experimentar o


corpo de Ivy do jeito que estou agora.

Raiva bate em mim, repentina e escaldante.

—Noah. — Minha menina sussurra para a minha


expressão facial, os olhos brilhando com o amor que ela me
negou todos estes anos. Pressionando sua testa na minha,
ela gira os quadris, tirando de mim o que eu não estou pronto
para dar, sua respiração engatando naquele jeitinho sensual
quando seus movimentos forçam meu pau a se arrastar ao
longo de suas paredes. —Baby. Por favor, eu preciso de você.
Mais do que nunca.
Ela me arruína. Ela realmente faz.

Gemendo, dou-lhe um impulso superficial, todo o meu


corpo reage a esse leve movimento. Seus choramingos
famintos me estimulam mesmo enquanto discuto comigo
mesmo que não estou pronto para ceder a pressão em
minhas bolas ainda.

Ivy escova os lábios ao longo dos meus. Tão doce. Tão


tentador. Como sempre. —Querido, eu te amo. — Ela
sussurra, uma única lágrima vazando por sua bochecha
novamente.

—Foda-se, Ivy. Você é tudo, querida. — Eu assobio, evito


seus lábios bonitos, buscando, lutando para negar a
chamada dela agarrando em mim, em sua boceta
encharcada. Eu estou dando a ela golpes curtos e rápidos
que são para nos segurar e não acabar com isso cedo demais,
de ter que enfrentar o pesadelo que nos espera do outro lado
dos nossos orgasmos, mas ela se sente tão bem caralho que
mesmo aquelas estocadas rasas ameaçam me enviar voando
sobre a borda.

E então nosso captor masculino e a sua violação exige.


—Eu quero ouvir você dizer a ela como é estar dentro
dela. Mostre ao público.

Mais fúria. Mais sede de sangue. Vagamente, estou


ciente de que eu estou começando a perder o controle do
ritmo. Que meus lábios estão ondulando em um rosnado
desumano.

Os olhos de Ivy se alargam com fome e medo, garras


afundam nas minhas costas e em meus ombros para se
segurar.

—Diga-nos, Noah. Só uma pequena amostra.

—Está tudo bem. — Minha garota puxa meu cabelo,


forçando meus olhos para ela. E a adoração pura que vejo
neles me faz morder minha língua. Para não dizer ao
bastardo para se foder. —Lembre-se. O que for...

—Preciso. — Termino por ela e fecho os olhos. Então, eu


sinto.

O corpo dela. Seus pequenos ruídos de prazer. O calor


que queima através de mim, como o sangue nas minhas veias
bombeia duro vibrando em sua boceta.

—Estamos à espera...

Segurando a sua bunda, retiro todo o caminho e


saboreio este momento antes de bater ao máximo. Ignorando
o seu pedido, brutalmente empurrando cinco vezes mais.

Ela se agarra em mim, seus sucos revestindo as minhas


coxas internas.

—Você quer saber como ela é? O que é estar dentro dela


assim? — Há ascensão de murmúrios de gritos de Sim.
—Por favor.

—Ivy é tanto o céu quanto o inferno. A delícia do


pecador. — Eu cuspo através dos meus dentes, tentando
evitar a minha libertação. —Ela é apertada. Molhada. Filha
da puta de hedonismo encarnado.

—Noah, eu... baby! — Através de seus gritos de prazer,


meus quadris não param de se mover mesmo quando eu
sinto ela me apertar. Ela pulsa ao meu redor, e o orgasmo
dela flui até minhas bolas pesadas. Não me entrego, nem
quando as unhas dela arranham o meu pescoço, nem quando
ela arqueia as suas costas em prazer.

Até que aqueles olhos nebulosos focam em mim e ela me


dá um sorriso saciado, então o meu corpo reage.

Gozo para ela, quase como se a curva de seus lábios


fossem um comando.

Apertando seus quadris, eu me enterro dentro dela


amaldiçoando. Esvazio meu gozo enquanto realização e pavor
me batem.

Agora o que?

—Muito bem, crianças. Uma alegria de ver, mas...

Filho da mãe.
Não há nenhuma paz ou relaxamento. De repente,
somos separados com as pontas dos nossos dedos mal se
tocando.

Clarice tem Ivy pelo cabelo enquanto um guarda tem


uma arma na cabeça dela. Tudo acontece tão rápido. Um
momento eu sinto o meu sêmen escorregar de dentro dela,
para baixo de suas coxas, e no próximo, tudo o que vejo são
assustados olhos se alargando em horror.

—Agora é hora do segundo leilão. Quem quer o que


ela usou na boceta agora?
quarenta e três

Noah

Uma mão grande agarra o meu pescoço e depois chuta a


parte de trás do meu joelho. Os meus dedos escorregam dos
de Ivy enquanto o meu corpo curva. Ela está

Frenética, tentando me alcançar, mas quanto mais ela


luta, mais a ponta da arma aperta em sua cabeça.

Haverá uma marca. Com sorte, isso vai ser o fim dos
danos que causam nela.

Senhor, por favor, me dê forças para sair daqui. Nos


salve.

—Deixe-me ir. — Eu rosno. Novamente, o desgraçado


bate na minha perna, mas eu seguro antes de cair e jogo meu
cotovelo de volta. Ele conecta, e a pessoa grunhe. É baixo e
segue uma maldição abafada.

Dois golpes a mais e o aperto em mim oscila.

Eu escapo e na minha pressa empurro duas pessoas no


chão, tentando alcançar a Ivy. Do meu ponto de vista, posso
ver minha garota lutando no aperto de Clarice, tentando
arrancar a máscara do rosto dela. Para encontrar ou
descobrir uma abertura para machucá-la.

Eu dei alguns passos antes que alguém me arraste de


volta, um guarda vem para ajudar e puxa o coldre das calças
antes de enfiar a coronha da sua arma no meu lado. Merda,
dói e eu tropeço um pouco, quase caio em uma mulher de
joelhos ao lado de um homem usando uma máscara.

Eu me surpreendo e balanço um braço para trás. Cai no


rosto de alguém. Eu ouço um farfalhar de plástico e depois
sinto algo cortar minha carne.

Gotas de sangue descem e eu fecho o meu punho,


pronto para dar outro soco. Para lutar pela vida da minha
boneca e dar mais do que apenas o líquido que flui em
minhas veias.

O guarda libera seu domínio e por alguma razão sai


correndo, deixando-me com outro monstro. Ele arruma as
luvas antes de apertar o meu pescoço, apertando forte o
suficiente para que eu pare de lutar por um segundo. Tempo
suficiente para perceber que a minha única saída é matá-lo
primeiro.

Não sei quem está por trás de mim, mas o desgraçado é


grande.

Meu palpite é que seja Raoul ou Jacques.


Quem encontrar seu fim primeiro não importa, e não
significa nada para mim.

Meus olhos percorrem as pessoas na nossa frente, e


vejo. Está perto. A poucos passos de distância.

—Pare de brigar, Noah. — Não há dúvida em minha


mente sobre quem me segura agora. Jacques, pedaço de
merda que ele é, sussurra baixo no meu ouvido enquanto
pressiona seu pau duro contra mim. E sei que não é por
minha causa, seu gemido é com a visão a alguns metros de
nós. Ivy, com o meu sêmen escorrendo pela coxa e sangue no
braço, quase de joelhos com o cabelo de Clarice firmemente
ao seu alcance. Dando a ela o inferno. —Ceda e eu prometo
foder a boceta usada dela devagarinho. E fazer o fim
dela tão indolor quanto possível.

O seu ataque continua sem resposta. Dou um passo


atrás, pisando no pé dele. Eu estou forçando ele a ir na
direção da minha única esperança. Os guardas nos
abandonaram. Onde está a ajuda? E o auxílio?

Nós fomos estúpidos em confiar neles.

Juntos, nos movemos em direção a uma mesa ao lado


com uma escultura de gelo de uma mulher nua e voluptuosa.
Estou me concentrando em ficar no alcance do picador de
gelo, orando como o inferno que ninguém perceba a minha
intenção.
Ouço uma risada baixa e masculina. —Qualquer
pessoa interessada na nossa querida boneca Ivy? —
Murmúrios se transformam em gritos com a pergunta,
pessoas que lutam para dar um lance. Homens e mulheres
levantam a mão em resposta enquanto outros derrubam
aqueles em seu caminho. —Vamos começar o leilão em
vinte mil.

Mas através da pergunta do nosso captor, meus olhos


vão para aquele gordo de merda que estava olhando para ela
desde que nós entramos. Ele lambe os lábios e levanta a mão.
—Eu quero sua boceta, vou usar meu pau para sufoca-la.
Dinheiro não é um problema. — E enquanto ele diz isso,
seus olhos estão nos meus e um sorriso atravessa seu rosto.

O mesmo o homem que ofereceu dinheiro para fazer um


trio com a gente. Ele quer saborear a doçura entre as coxas
dela antes dos outros. Ele quer se gabar e dizer que foi o
primeiro.

Pedaço de merda que está me provocando. Ele sabe que


eu estou à mercê do merda que está me prendendo e não
posso atacar. Em sua glória, nojenta, nua, ele se move em
direção a ela. Tentando se aproximar.

Tocá-la.

Sua paixão é doentia. E isso me preocupa.

—Noah, desista. — Valerie grita e é então que eu


percebo dois guardas com seus rifles apontados para a minha
cabeça. O picador de gelo está lá, e eu tento apressar o filho
da puta que está causando esse atraso. —Não nos force a
terminar sua noite mais cedo.

As armas estão prontas.

—Noah, por favor. Pare! — O apelo da própria Ivy


encontra os meus ouvidos e o desespero em seu choro faz
com que eu pare. Não me movo. Em vez disso, deixo Jacques
me levar de volta e ainda mais perto da escultura.

Punheteiro acha que ele colocou ainda mais distância


entre nós.

Devagar e com o mínimo movimento eu viro um pouco,


bloqueando o canto onde a arma está e exponho uma mão
para coçar meu lado. Posso dizer o momento que ele olha
para ver o que estou fazendo e deixa passar como nada mais
do que uma ação incontrolável.

Então, eu espero. Passa mais de um minuto.

Eu vejo quando Ivy é levada para um pequeno palco


elevado perto da área do buffet. É bem ao lado de uma caixa
de metal, uma gaiola onde dois dançarinos transam com o
ritmo pesado do som daquela canção de ninar horrível.

—Vamos colocar um número por trás dessa oferta,


membro número 1166. Quantos zeros vale essa boceta?
— Valerie pede e, em seguida, solta umas risadinhas, como
se oferecer sua boceta para o maior lance fosse divertido.
—Cinquenta mil dólares.

—Alguém? — Minha boneca está lutando, gritando,


mas não consigo entender nada além da súbita adrenalina
que está subindo no meu sangue. Só Deus sabe se são
minutos ou horas mais tarde, mas o silêncio em torno de
mim desaparece tão rápido como veio, e os sussurros em
meus ouvidos tornam-se gritos. Há números sendo jogados
ao redor, cada vez mais altos, e ainda assim nosso captor
ignora eles. —Alguém?

Reconhecimento cai em mim naquele momento, ela vai


presentear aquele homem. Para me machucar. Este é o meu
castigo.

Para que eu possa ver eles brutalmente contra ela.


Quebrando ela.

—Não. — Eu rosno baixo enquanto minha mão alcança


a arma. Jacques não pensa duas vezes sobre o que estou
fazendo, provavelmente ele pensa que estou tendo uma
reação nervosa pela situação estressante e por isso coço a
minha pele. Idiota sangrento. —Estou te avisando. Pare com
essa merda.

—Vendido. — E, é pela sua alegria neste leilão que eu


forço a minha mão mais cedo do que o esperado.

Num piscar de olhos eu aperto ao redor do picador de


gelo e balanço para trás. Coloco a ponta na lateral da
garganta de Jacques e empurro, e saboreio o som de surpresa
que deixa a sua garganta e o faz que gritar.

Sangue escorre da sua ferida, subindo à superfície e


depois para baixo na minha mão. Alguns respingos se
misturam com a maquiagem do meu rosto, criando um visual
mais sinistro.

Eu empurro mais.

Ele cai de joelhos enquanto eu viro com os olhos


fechados, puxo a arma fora e chuto a cabeça dele. Me alegro
em ver como o chão debaixo dele vira carmesim e a vida é
drenada da sua expressão.

Duas tosses sangrentas saem dele no fim. O peito sobe


devagar, então duas respirações profundas e ele se foi para
sempre.

Imediatamente após o seu último inalar, começa o


inferno.

Tiros soam e pessoas gritam de medo. Eles empurrar e


atropelam, lutam para sair. As portas são abertas pelos
convidados e minha próxima vítima fica atordoada no centro
da sala, a poucos passos do prêmio que comprou a sua
morte.

—O que porra você fez! — O grito de angústia de


Valerie me faz sorrir. Bom... Deixando ela sentir um pouco do
desgosto que enfrentamos até agora. —Guardas, prendam
ele agora.

Quando ela acabar com essa ameaça, já matei o homem


mais velho. Com toda a ira que queima nas minhas veias
chego nele numa velocidade que eu não sabia que eu era
capaz e quebro o pescoço dele. Só uma torção rápida com
todas as minhas forças e o som do osso quebrando enche o
ar.

Ele cai, e eu piso sobre ele e caminho para Ivy.

Pelo canto do meu olho, eu vejo o mundo explodir em


câmera lenta. Um homem aparece na multidão, vindo na
minha direção. Ele segura um dos bisturis que estava sendo
usado para esculpir os corpos na mesa do buffet.

Acelero, pronto para lutar, mas não quero parar. Só


preciso pegar Ivy...

Um dos guardas pula na frente do homem vindo na


minha direção.

Olhos selvagens e drogados balançam sobre ele e, do


nada o bisturi desliza no pescoço do homem.

O som do tiroteio faz todo mundo pular.

A minha esquerda dois outros guardas estão atirando


nas pessoas na multidão.

Um deles foi morto.


Um rugido frenético deixa alguns dos membros da
plateia, muitos deles se apressando para se armarem contra
todos os guardas.

Eu conecto os meus olhos com um deles, que levanta o


polegar e inclina a cabeça para a minha garota.

Eles nunca foram embora. Eles decidiram ajudar antes


que a merda piorasse.

Um arrepio sobe na minha espinha e eu empurro um


casal correndo na direção da porta e caminho para o outro
lado da sala. Mais corpos caem no chão ao meu redor. Seus
olhares vazios olham para cima em direção ao teto, enquanto
expressões de terror marcam as suas expressões.

Espero que todos eles queimem no inferno.

Chuva de tiros ao meu redor. Somos nós contra eles, e


seus guardas estão batendo no chão mais rápido do que eu
esperava. Eles tentam atirar, mas nada sai de suas armas
enquanto os dois homens tentam nos ajudar com suas
próprias rodadas de tiros com pouca ou nenhuma
interrupção.

A multidão perto da mesa do buffet corre em minha


direção, em sua pressa de fugir. Estão calados, mas quanto
mais perto as balas voam em direção a sua seção, ficam mais
em pânico.
E ainda assim ao longo de tudo isso, essa maldita
canção de ninar toca ao fundo.

Uma mulher tenta me esfaquear com uma faca, quase


conseguindo até eu torcer o braço dela e enfiar a ponta da
faca em seu queixo. Essa expressão de surpresa vai ficar
gravada para sempre na cara dela.

Mais sangue em minhas mãos.

Mais corpos caem como lixo.

Saúdo o caos que alimenta o medo deles.

—Merda. — Eu praticamente rosno empurrando cada


sujeito fora do meu caminho em busca de Ivy. —Ivy! Querida,
cadê você?

Até esta mulher tentar me esfaquear, eu mantive um


olho nela, mas agora, quanto mais perto chegamos à saída,
não posso vê-la.

Filho da mãe. Pego um vislumbre do seu cabelo louro


morango um segundo antes de cruzar o limiar e desaparecer
porta a fora. No segundo que os meus pés estão do outro
lado, um grito ecoa no ar. Alto e quase demoníaco, ele traz
arrepios a minha pele.

As pessoas estão correndo para fora em uma massa


louca. Este corredor é muito estreito, e eles atropelam uns
aos outros em pânico.
Dou mais alguns passos e não consigo ver nada dentro
daquela sala. Tento como inferno fazer o meu caminho, mas
em vez disso, eles me forçam para o outro corredor. Está
vazio, exceto por uma figura solitária na frente de uma sala
no final do corredor.

—Irmã Agnes. — Eu digo e sigo. Não paro até que


estejamos a um metro de distância e sorrio. O diabo dentro
de mim está se mostrando. Eles criaram o monstro que saiu
para jogar. O seu medo é quase hipnótico. —Eu acredito que
você precisa fazer uma confissão. Venha se arrepender,
vamos dar graças.
Quarenta e quatro

Ivy

Todo mundo que eu amo morreu ou vai morrer no final


da noite. É só o que eu penso quando eu sou puxada para
longe de Noah.

Eu vou dar crédito a Valerie nesse departamento. A puta


fez a lição de casa.

Ela tirou de mim o meu passado, meu presente, e com o


meu Noah ela elimina qualquer fragmento de esperança que
eu guardava para o futuro, o seu ódio demente precisa
mostrar que acabaram todos os meus sonhos de que um dia
ele e eu iriamos ter uma vida juntos.

Possivelmente iriamos nos casar e ter os nossos próprios


filhos. Um minúsculo pedaço meu e dele que seria a
perfeição.

—É hora de jogar, Ivy. — Clarice adverte, com o tom


menos infantil do que antes quando ela me agarra. Não faço
ideia de onde ela veio, mas em um piscar de olhos ela me tem
quase em meus joelhos tentando controlar os meus
movimentos. —Não vamos aborrecer os mestres. O grupo
aguarda.
Sua respiração quente no meu pescoço me causa
repulsa. Do canto do meu olho, eu posso ver o que ela está
vestindo e o fato de que ela não está sozinha. Há um guarda
ao lado dela com uma arma apontada para mim. Esse não é
um dos guardas do nosso lado, tenho certeza disso.

Jesus Cristo, se você está aí em cima, não nos abandone.


Por favor, nos tire daqui vivos.

Clarice dá pequenos assobios, fazendo com que a saia


do seu vestido se mova de um lado para o outro. Ela está
usando um vestido preto minúsculo com renda e tule que é a
réplica exata da primeira roupa de comunhão para qualquer
garota católica.

A cada movimento eu sou arrastada com ela, meu


cabelo sendo puxado pela raiz.

—Na primeira chance que eu tiver eu vou matar você. —


Eu estou queimando de raiva, cuspindo através dos meus
dentes enquanto a queimadura se intensifica no meu couro
cabeludo. Ela aperta tanto o meu cabelo que o extravagante
cocar que colocaram em mim cai no chão em meus pés com
algumas gotas de sangue decorando as penas bonitas.

Dói como o inferno. Os pinos que segurava o enfeite no


lugar raspam e machucam o meu couro cabeludo.

Engraçado, quanto mais a dor aumenta menos me afeta.


Mistura. Me motiva. Cria uma necessidade de morte
dentro de mim que faz com que eu sorria.

—Levante e ande.

—Vai se foder. — Assim como Noah me ensinou há


anos, jogo a minha cabeça para trás e ela conecta com a
frente do seu rosto, sinto a máscara dela rachar com a força
do impacto. Mais uma vez eu me sinto uma pequena
quantidade de seu sangue na parte de trás do meu pescoço.

Eu perdi tudo graças a eles. Quando eu fui puxada dos


braços de Noah, a fúria dentro de mim se inflamou em um
nível que nunca experimentei antes.

Já não vejo os rostos na minha frente. Eles são borrões.

O tempo para e eu concentro na memória a imagem de


nós dois juntos há alguns minutos para recuperar a
compostura. Minha promessa feita para ele deve ser
cumprida. Aconteça o que acontecer, eu vou lutar.

Então eu respiro fundo para acalmar o meu batimento


cardíaco enquanto eu sigo o brilho de um punhal que chama
a minha atenção. Está ao meu alcance. Pode ser a minha
única chance.

O cano de uma arma cava mais fundo na minha cabeça


e não me mexo por um minuto. De fato, eu sei que eles não
vão me matar quando muitos me querem primeiro.
Psicopatas enlouquecidos.
Eu jogo minhas cartas direito.

Espero.

Com a minha cabeça baixa e no aperto de Clarice, eu


deixo eles me moverem com o mínimo de luta. Para um palco.
Uma vez que estou no lugar e de joelhos, holofotes nos
cobrem. Por minutos estou em exposição, com porra secando
nas minhas coxas enquanto as pessoas na sala murmuram
os seus desejos.

O nível de ruído ao meu redor se levanta.

—Noah, desista. — Valerie de repente grita, o tom dela


cheio de raiva. —Não nos force terminar a sua noite mais
cedo.

As armas estão prontas.

Eu luto com Clarice e consigo ficar em pé. —Noah, por


favor. Pare! — Eu grito sobre o nível de ruído da sala,
desesperada para mostrar a ele que eu estou bem. Para lutar
com a cabeça e não as emoções. Que eu preciso que ele fique
equilibrado por mim.

Nossos olhos se conectam. Tudo o que ele vê no meu


rosto o faz ficar mais calmo, o suficiente para ser levado em
direção onde as poucas armas possíveis na sala que não seja
a que está na mão de um guarda estão.

Ele vai ficar bem. Eu sei.


Então, eu me concentro na minha própria fuga. Essa
adaga que Clarice tem dobrada em uma faixa na cintura dela
é minha única esperança.

A conversa flui e eu ignoro. Penso em qualquer forma


viável para pegar a faca e matar esses dois.

Mais gritos. Então de repente, sou puxada para cima


contra um peito sólido. Uma mão na minha garganta,
enquanto Clarice aponta em meu corpo para acima e para
baixo. Como se eu fosse um item de alto valor em um show.

O instinto de luta e fuga bate com força eu jogo o meu


pé para trás, conectando com o joelho da pessoa atrás de
mim. Nem mesmo um gemido escapa dele, então tento de
novo...

Os dedos apertam e eu engasgo.

Desesperada, eu balanço os braços e batem ao lado da


cabeça da Clarice. Ela para o seu show, traz sua própria mão
para baixo por toda a minha bochecha, e na hora eu sinto um
cheiro metálico explodido nas minhas bochechas.

—Vendido. — Valerie grita alegremente, e o quarto gira.

Merda. Merda. Merda.

Não há mais espera.

Oh Deus.
Outra confusão. Olho para o outro lado da sala na
direção de Noah, o seu braço está levantado para cima
coberto de sangue. Atrás dele, Jacques cai no chão, e todos
nós assistimos com fascínio quando o meu homem chuta a
cabeça dele enquanto aquela besta dá o seu último suspiro.

Clarice grita, quase dobrando de dor enquanto o homem


que me segurava vai embora. Ele agarra a sua AK quando eu
caio de joelhos, perto o suficiente para que eu possa fazer a
minha jogada.

Aquele soldado decola, atirando na direção da multidão,


e corpos caem no chão ao nosso redor. Homens e mulheres,
todos eles têm expressões de horror em seus rostos mortos.

A sala está pintada de vermelho. Muito pouco


permanece intacto enquanto as pessoas correm para as
portas.

Com toda a multidão distraída, eu agarro a sua adaga.

A mão dela sente que estou puxando. Foda-se. Dou um


soco na máscara dela rachada, quebrando ainda mais sua
máscara. Um pedaço entra em sua pele e ela grita. Alto e
penetrante, ela puxa de volta para tirar a minha mão que
continua pressionando, enquanto a outra segura o punhal
com o resto de sua força.

—Você é uma prostituta morta. — Ela cospe com a voz


dela normal agora que a parte inferior da máscara dela está
quebrada. A saliva rosa escorre pelo lado direito dos lábios
cortados. Clarice enfia as suas unhas na lateral do meu
pescoço e arranha de um lado para o outro, criando
pequenas linhas de vermelho que pintam a minha pele.

—Isto é pela Jamie, vadia. — Eu soco ela novamente. E,


novamente, cinco vezes no total, até que ela tropeça um
pouco para trás e eu consigo puxar o punhal livre. Com a
ponta enferrujada para cima e com sangue seco nele, eu
fecho o meu punho apertado em torno dele.

Estou quase em meus pés quando ela corre para mim. O


seu pequeno corpo colide com o meu com força, muito mais
duro do que eu esperava de alguém do tamanho dela. Eu fico
tonta por um segundo quando seu peso total se choca com o
meu corpo.

Ela me derruba no chão, tirando ar dos meus pulmões.

Demora um minuto para perceber o que está


acontecendo. Clarice em sua pressa para me atacar, não
considera a posição da sua própria faca. Eu não percebi até
que seja tarde demais e ela enterra a lâmina profundamente
em seu próprio peito.

Por trás da máscara quebrada os seus olhos arregalados


encontram os meus em estado de choque.

Uma tosse borbulha cheia de líquido, e espalha em nós


duas enquanto ela tenta se sentar. Suas pernas se
escarrancham nas minhas em sua corrida e o punhal desliza
para fora com facilidade. Meu espartilho agora absorver seu
sangue.

Colocando uma mão sobre o ferimento, ela olha ao redor


em pânico por uma saída. Os olhos dela vão para as portas
lotadas e para outra perto da extremidade oposta, onde um
guarda encontra-se morto. Um buraco de bala entre os olhos.

Foda-se. Não.

Com todas as minhas forças eu a empurro. O pequeno


corpo da Clarice bate no chão com um baque, e seu peito se
expande em um doloroso inalar. Estou em cima dela antes
que ela possa liberar um suspiro.

—Pare. — Ela geme, com as mãos empurrando a


minhas. Mais sangue sai do ferimento dela, e ela mais fraca é
como lutar contra uma criança.

—Parou quando Jamie implorou para você? Parou com


as minhas lágrimas?

—Você não vai sair viva. Meus mestres vão te estripar


como... — Meu cotovelo cava no seu peito e ela se cala. Eu
pressiono para baixo com mais força e sorrio enquanto ela
choraminga de dor.

—Talvez sim. Talvez não. — Traçando o punhal até o


peito dela, eu paro na ferida e a corto antes de trazer para o
pescoço. Cavando, perfurando a carne, levo a minha boca na
orelha dela. —No entanto, o que importa é que você não
estará viva para saber.

Com um golpe duro, abro ela de um lado a outro,


cortando a sua traqueia no processo. O borbulhar começa
imediatamente quando o oxigênio não chega a seus pulmões.
Abaixo de mim, seu corpo se debate com a necessidade
desesperada de ar, a morte está apenas a alguns segundos de
distância.

Sem um outro olhar para a cadela, levanto e olho ao


redor da sala. Está meio vazia. Linhas de corpos no chão,
tanto do público como dos guardas. Meu peito se expande
com o ar que não sabia que eu estava segurando quando não
vejo Noah em qualquer lugar.

Ele está fora. Obrigada, Deus, ele ainda está vivo, e


preciso encontrá-lo.

Esta é a chance que estávamos pedindo.

Correndo em direção a porta traseira que Clarice estava


olhando, a maçaneta gira com facilidade. As luzes estão
acesas quando eu entro e atravesso mais uma porta aberta.

É algum tipo de entrada para um longo corredor com


alguns quartos. O primeiro está aberto e tem garrafas de
bebidas. Há alguma louça e talheres também, mas não muito
mais.
O segundo quarto está vazio. Não tem muita coisa lá
dentro.

Mas o terceiro? Jesus Cristo, o terceiro quase me leva


aos meus joelhos quando eu abro a porta e encontro um
único habitante em uma cama com os braços amarrados por
algemas de couro.

—Jamie!
Quarenta e cinco

Ivy

—Ivy? — A voz dela é apenas um sussurro fraco, a


cabeça mal subindo para olhar em minha direção. Ela está
um pouco pálida, com uma contusão leve em sua bochecha e
cortes esporádicos no corpo dela. Braços, pernas e queixo
parecem um pouco infectados se julgar a tonalidade
avermelhada da carne ao redor da ferida. —É você? É você
mesmo? — Um soluço fica preso na garganta dela ao mesmo
tempo em que seus olhos se fecham. —Por favor, não seja
mais uma alucinação. Por favor, esteja viva.

Eu entro e fecho a porta atrás de mim. Não tem


fechadura, mas coloco uma cadeira pequena na frente dela de
qualquer maneira. Se alguma coisa, se alguém entrar, eles
podem tropeçar. Espero que eles quebrem seus pescoços
enquanto fazem isso.

Com os meus olhos em seu rosto, caminho até a cama


dela e coloco o punhal para baixo, ao lado da sua coxa. Eles a
deixaram com nada mais do que uma blusa branca simples e
uma calcinha de algodão da mesma cor. Ambas as peças
estão sujas de sangue seco.
Alguns dos pontos parecem seres novos e há uma
pequena laceração em sua clavícula. Não é muito profundo,
graças a Deus.

—Nós vamos sair daqui. — Eu digo e, com cuidado,


desfaço a primeira algema para não machucá-la ainda mais.
Atrito e sangue seco encontram-se sob a alça de couro, o
pulso parece tão dolorido, e eu posso dizer que ela lutou
contra quem a colocou nessa cama com tudo que ela tem.

—Ivy?

—Estou aqui, querida. Estou aqui. — Lágrimas enchem


meus olhos quando ela percebe que há esperança. Que
vamos sair vivos. —Deixe-me tirar isto e nós estaremos em
nosso caminho.

—Temos que nos apressar! — Ela está tremendo,


respirando rápido. —Oh, Deus, Ivy... o homem de chapéu. Ele
estará de volta e...

—Respire. Eu preciso que você seja o mais silenciosa


possível. — Eu digo, tentando ouvir algum barulho do lado de
fora.

—O que não está me dizendo? Como você escapou? — O


segundo que a alça de couro cai no chão e suas correntes de
metal fazem clic contra o trilho da cama de hospital, ela está
em meus braços me abraçando. Agarrada em mim.
—Eu vou precisar que você se recomponha. Só até
sairmos deste inferno. — A resposta dela é um aceno
enquanto ela puxa uma respiração trêmula. —Está uma
loucura fora destas portas e eu preciso saber que não
importa que aconteça, você vai lutar para viver. Precisamos
encontrar o Noah...

Jamie se afasta com um pequeno sorriso em seus lábios.


—Ele está vivo, também?

—Sim, ele está. — Meu sorriso coincide com o dela. —


Meu homem está lá fora matando esses bastardos e precisa
de ajuda. Com três de nós e alguns guardas do nosso lado
temos uma chance real.

—Guardas?

—Não há tempo para explicar, Jamie. Nós precisamos ir.

—Tudo bem, mas Raoul é meu. — A maneira que ela


cospe seu nome, com ácido pingando do tom dela, me conta
tudo o que preciso saber. Ele é responsável por seu medo e
pesadelos futuros depois que fugirmos. Matá-lo, acabar com
sua vida, é o único consolo que ela tem.

—Todo seu. — Com cuidado, eu a ajudo a se mover para


a borda da cama e escorrego-a para o chão. Ela assobia
quando os pés dela batem no chão frio, chorando quando as
peles ao redor dos cortes esticam e algumas feridas reabrem.
—Pode ficar em pé?
—Sim, eu estou bem. — Cambaleando um pouco, ela
consegue ficar em pé enquanto eu abaixo e tiro os meus
sapatos. Entrego um para ela. Jamie o pega com uma
sobrancelha levantada. —O que devo fazer com isso?

—Olhe para isso. O salto é longo e pontudo, pode ser


útil para atacar. Pelo menos, você poderia esfaquear alguém
no olho e roubar a sua arma.

—Jura?

Eu balanço a cabeça e uma risada escapa.

—Só você para me fazer rir em um momento como este.

Isso coloca um sorriso no rosto dela. —Depois de tudo


que passamos, Ivy, não sei se alguma vez estarei bem
novamente. Como vamos sobreviver a isso?

—Sabendo que matamos cada um destes animais. Que


lutamos e sobrevivemos para voltar a nossa liberdade. —
Com isso, pego a minha adaga e ando até a porta. Ela segue
dois passos atrás.

Empurrando a cadeira de lado, sinto a porta sendo


forçada. A porta é aberta e bate contra a parede, fazendo
gesso cair com o impacto. Ali, na porta, está Raoul com a
metade da sua máscara arrancada do seu rosto
ensanguentado.

Mais uma vez a adrenalina sobe e meu coração acelera.


Penso no fato de que provavelmente vamos morrer.
—De. Volta. Para. A. Cama. — Pela primeira vez, posso
ver a cor real dos olhos deles, é verde escuro, é assombroso.
Uma loucura. Este é um homem que perdeu sua
humanidade.

—Não. — Respondemos juntas.

A cabeça dele vai para a minha direção. Ele está furioso.


—Você deveria estar morta.

—Mas eu não estou. — Eu empurro a minha amiga


atrás de mim, um plano já se formando na minha cabeça. —
Clarice, por outro lado...

—Minha Clarice. Cadê ela? — Seu rosto inteiro treme, as


mãos se fechando em punhos

Eu olho para ele nos olhos e sorrio. —Morta.

—Mentirosa! — Sua voz troveja, e ele dá um passo mais


perto. Depois outro. —Cadê ela?

—Morta. — Digo mais uma vez, com um sorriso feliz no


rosto. Sinto necessidade de empurrá-lo. Contrariá-lo.

—O que está fazendo? — Jamie sussurra baixo, soando


um pouco preocupada. Meus olhos se conectam com o dela
por um segundo, e então eu aceno em direção a suas
ataduras velhas. Realização bate nela e ela me dá um aceno
de cabeça quase imperceptível. —Como você vai estar em
poucos minutos.
Raoul não responde. Em vez disso, ele olha para minha
amiga. —Jamie, venha comigo. Seja a minha prostituta e eu
vou deixar você viver.

—Não.

—Agora! — Ele quase rosna, e saliva voa para fora de


sua boca. Com os músculos tensos ele parece prestes a nos
atacar. Raoul ocupa a maior parte da entrada com o seu
tamanho. Se quisermos escapar, precisamos ser inteligentes.
Temos que fazer ele perder o foco.

—Eu nunca vou ser sua, idiota.

—Morta. — Eu provoco novamente. Para cada passo que


ele dá, recuamos outro, todo o caminho ao redor da cama. Eu
sou grata que deixaram espaço para andar ao redor dela.
Paramos do lado oposto, sua respiração está ofegante
enquanto eu levanto o punhal na minha mão e o deixo
afundar como eu fiz com ela. —Morto, como a sua minúscula
e pequenina Clarice.

Essas palavras, mais a faca ensanguentada, o faz


estalar.

Raoul investe e eu estou preparada. Com o salto do


sapato, com força, eu o apunhalo nos olhos. Choque registra
em seu rosto, um segundo antes de eu empurrar mais
profundo, a sua órbita rompe e escorre um líquido que tem
um pouco de sangue misturado dentro.
—Sua puta fodida! — Ele grita, puxando para trás o
suficiente para arrancar fora o salto do seu rosto. Ele está
respirando com dificuldade, grunhindo. —Eu vou enfiar meu
pau em você antes de cortar a sua garganta. A sua melhor
amiga, minha doce Jamie, irá ver, você terá o seu último
suspiro enquanto eu gozo dentro do seu interior já usado.

—Desde quando você é tão falador? — Eu acotovelo


Jamie para fechar a sua mão na cama. Ela acena e faz ela se
mover. Chegando mais perto, notamos de imediato um
problema. A menos que ele seja subjugado, nós não podemos
amarrar ele. Foda-se. —Ou você é apenas um fantoche? Seu
idiota.

—Nunca subestime aqueles que observam com os lábios


selados. Todos temos um papel a desempenhar, senhorita
Ivy.

—Isso é verdade. — Mais rápido do que ele pode me


pegar, eu corto da pálpebra até a sua bochecha, cavo bem
fundo o suficiente para fazer ele tropeçar de volta. E cair em
sua bunda. —Corra!

No segundo que seu grande corpo está no chão,


corremos como o inferno por aquela porta.

Nós estamos de volta para o salão e saímos pela entrada


principal no momento que o grito furioso dele alcança o ar.
Ele está vindo.
—Oh meu Deus. — Ela suspira do meu lado, quase
caindo ao ver os corpos mortos que nos rodeiam. Alguns
ainda estão vivos e lutando uns com os outro para escapar.
Empurrando, ameaçando, alguns até matam para alcançar a
liberdade.

Ter que andar sobre os corpos caídos me assombrará


para sempre.

—Mova-se garota. Precisamos seguir em frente. — Eu


pego o seu braço e a puxo. Atravessamos para outro corredor
na direção de uma possível saída, mas ignoramos e seguimos
as massas. Estas pessoas devem saber a saída.

É nossa última chance. Nos misturar pode ser nossa


melhor aposta.

Isso, Noah deve ter feito isso.

Alguém bate em mim, faz com que eu deixe Jamie ir e


faz com que a adaga na minha outra mão escorregue. Antes
que totalmente atinja o chão, a pego e aperto em meu peito,
ignorando o corte na palma da minha mão.

Meus olhos fecham quando vejo uma mulher morta nos


meus pés, o pescoço está torcido em um ângulo estranho.
Que diabo?

—Ivy! — Ouço com terror absoluto.

Eu viro a cabeça e imediatamente me arrependo.


Raoul está a poucos metros de distância e eu quase me
abaixo para tenta me esconder, ele alcança as pessoas
próximas com as mãos, quebrando-as em seu caminho.
Cabeças são esmagadas na parede, sangue respiga para todo
lado. Outra pessoa é pega, um velho, e o braço dele é
quebrado sobre o joelho do Raoul.

Esta nova rodada de gritos é ensurdecedora.

—Volte aqui! — Ele grita, mas o seu olho não foca em


nada. É quase como se ele estivesse...

Ele está cego. Raoul não consegue nos ver.

Jamie deve perceber isso também porque um sorriso


largo se estende por todo o rosto dela. É como se
estivéssemos pensando a mesma coisa. Ela atravessa um
dedo em seu pescoço, em um movimento de matá-lo.

Eu aceno, me movendo para mais perto. Ela faz


também.

Passamos direto por ele, nos mantendo na parede, fora


do seu alcance. Uma vez atrás de Raoul, entrego o punhal
para a minha amiga e começo a chutar ele por trás, em direto
em seu joelho.

Ele se curva e balança os braços para trás. É um tiro


cego, e ele percebe isso. Ele tenta mais duas vezes e não
consegue acertar nenhum golpe.
Outro chute na perna esquerda e ele está de joelhos.
Raoul está á mercê dela, e eu me afasto para deixa-la ter a
sua vingança.

Jamie não hesita um único segundo, enterra a lâmina


profundamente dentro de sua coluna. Gira a borda serrilhada
de um lado para o outro enquanto corta para cima.

Seu grito de dor não me incomoda. Pelo contrário, eu


sorrio quando ele implora por sua vida. Sinto que posso
respirar um pouco mais fácil, e pelo olhar tranquilo no rosto
de Jamie acontece o mesmo com ela.

—Acabe com isso. Temos que encontrar a saída e...

—Precisamos sair. — Diz que uma voz masculina que


reconheço, levanto e grito. É de um dos guardas, o do nosso
lado, o alívio é imediato.

A arma está apontada para a nuca do Raoul, quase


esperando nossa confirmação. Jamie acena, e duas balas na
parte de trás do crânio põe fim à vida desse monstro.

Estamos livres. E seguras.

Pronta para o resto da minha vida longe desse pesadelo.

—Você viu o Noah? Ele está bem? — Eu pergunto para o


guarda e ele faz uma careta. Isso não é um bom sinal e meu
coração aperta com medo.

—Sobre Noah...
quarenta e seis

Noah

—Venha se arrepender, vamos dar graças.

Há uma energia nervosa em torno dela. Agnes não gosta


que eu seja o agressor. Ela odeia a falta de controle.

Isso, e o que está dentro da porta atrás dela deve ser


importante. Muito. E eu estou esperando que meus instintos
estejam corretos.

Antes de deixar esse lugar abandonado, preciso do


sangue da Valerie em minhas mãos.

—Nada a dizer, irmã? — Eu zombo e depois observo um


pouco, a avaliando.

Ela está ali tentando parecer imperturbável, mas eu a


conheço melhor agora. Eles me ensinaram isso. A observar as
pequenas coisas.

Alguém que está nervoso conta para você, e eu vejo


claramente agora.

Esse terço.
Ele guarda os seus segredos.

Quando ela estava no controle, as suas orações eram


calmas, quase condescendentes enquanto ela circulava a sua
presa pronta para atacar. Para lidar com a sentença de morte
sem remorso.

No entanto, eu sei de fato que no momento em que ela


tomar seu último suspiro, o inferno aguarda a sua alma. Ela
vai queimar por toda a eternidade em angústia enquanto
aqueles que ela matou olham para baixo, sem um pingo de
empatia por ela. E eu vou ser uma dessas pessoas um dia.

No entanto, ela não está assim agora. Não. Agora, ela


está se mexendo, tremendo enquanto olha para a esquerda a
cada poucos segundos. Esperando pela ajuda que nunca virá.

—Seu egoísta idiota. — Ela assobia poucos segundos


depois, as pérolas rolam mais rápidas em sua rotação. —
Você estragou tudo. Nossa causa sofreu, e os danos
serão catastróficos.

—Você brincando com esta merda? Você sofreu? — Meu


rugido reverbera pelo corredor fazendo eco. O sangue em
minhas veias pulsa com a necessidade de bater nela. Deus,
eu quero.

Minhas palavras parecem chamar a atenção de um


homem que para e assobia para nós.

Meus olhos vão para ele.


Ele está usando um terno escuro, o rosto ocultado pelas
sombras. Este homem faz uma pausa longa o suficiente para
olhar para mim, um minuto inteiro passa e ele fica ali, só
para depois desaparecer com a multidão, se misturando
antes que eu pudesse ver detalhes do seu rosto.

E ainda, ele parece familiar...

Um golpe repentino do lado da minha cabeça me faz


tropeçar para trás na parede oposta. Eu olho para Agnes.

A freira fica na minha frente agora, as pérolas estão


agora em volta do seu pescoço, como se nada tivesse
acontecido. Não faço a mínima ideia de com o que ela me
bateu. Nada está nas mãos dela, exceto o brilho de dois anéis
de ouros. Ela tinha aquilo antes?

—Nunca perca de vista o seu inimigo, criança. —


Ela adverte. —Pois ele é astuto e forte... uma cobra
esperando para atacar.

—Vou adorar matar você. — Minha cabeça pulsa e eu


posso sentir o sangue escorrendo no meu rosto. —A escolha
de como será com você. Misericordioso ou lento...

—A morte não me assusta.

—Deveria. — Então, eu me jogo nela. Nossos corpos


colidem, o impacto é duro. O meu peso bate na parede
enquanto a minha mão se envolve em volta do seu pescoço.
—Onde ela está?
—Faça o seu pior.

—Última chance. — Nada. Nem uma palavra. —Façamos


do seu jeito. — Eu a pego do chão, o corpo dela se debate
antes de eu bater ele de volta na superfície fria de concreto
duas vezes, um doentio crack de quebrar um osso segue.
Meu palpite, eu quebrei o ombro dela. —Pronta para falar?
Cooperar?

—Vai se foder. — Ela geme, e o som da sua agonia me


estimula.

Eu trago o seu rosto para perto do meu... e beijo a


máscara dela na testa.

—Perdoe pai, pois ela...

—Solta ela, Noah. Precisamos dela viva. — A voz é do


sexo masculino.

—Não. — Eu cuspi, querendo quebrar o rosto dela.


Depois de tudo o que ela fez? —Ela não merece viver.

—Prometo pela minha vida que ela não vai. — É um


homem vestindo equipamento tático, mostrando um
distintivo. As credenciais dele afirmam que o nome dele é
Marcus Stevens e ele é do FBI. Um dos bons. —Ela vai para a
prisão, e eu vou ter certeza que a pena de morte seja
sentenciada, mas, infelizmente, nós precisamos dela.

Não confio nele, mas eu abro os meus braços com Agnes


neles. —Por quê?
—Porque isto não é um caso isolado, Sr. Barker. Esta
operação no mercado negro excede qualquer coisa que você
possa imaginar, e é intercontinental. Tudo, desde o
assassinato, estupro, tráfico de órgãos... ela é a chave para
salvar milhares de outras pessoas como você e Ivy.

Como um saco de batatas, deixo Agnes em seus pés. —A


leve antes que eu faça alguma coisa que vai fazer você me
prender.

Outros dois homens entram no corredor e a colocam de


pé, a algemam e saem como se nada tivesse acontecido.

Eu assisto, tentando regular minha respiração.

Alguém limpa a garganta. —Nada do que dissermos


pode tirar o pesadelo que você suportou.

—Não. Nada poderá.

—E é por isso que vou deixar você entrar por essa porta
atrás de você. Alívio virá no final.

—O que você que dizer?

Ele ignora a minha pergunta e pega o celular. —Há


alguma coisa que podemos fazer por você? Ligar para
alguém?

—Encontre Ivy e a traga para mim.

—Eu mesmo irei encontrá-la. — Marcus acena e então


me deixa sozinho no corredor.
Alívio virá no final...

Eu coloco minha mão na maçaneta e viro. Ela gira com


facilidade e depois eu a abro. O quarto está escuro. É
compacto.

Sinistro, ainda opulento. Quase duas vezes o tamanho


da cela da prisão que estávamos.

Perverso. Uma reminiscência do coração do proprietário.

Tudo é preto, exceto o tapete debaixo dos meus pés e


uma grande lareira branca que ilumina uma cama no estilo
Louis XVI feita de madeira africana. Em qualquer outro
momento, eu diria que era lindo com seu projeto intricado
com roupas de camas caras em diferentes tons de cinza e
preto.

Acima da lareira na grande parede, tem três TVs


penduradas em fileira. Cada uma tem uma tela dividida com
quartos diferentes, salas de horror, passando em tempo real.
Exceto a do meio. A maior.

Este é o nosso quarto, mostra o dia que eles me


forçaram a tomar a bunda da minha garota para o prazer
doentio do seu público.

Uma gaiola grande para cachorro de madeira está ao


lado da cama em vez de um criado mudo tradicional. No
outro canto há um balanço de sexo, o mesmo modelo que nos
fizeram usar. No entanto, é o último item que reacende a
minha fúria.

Uma miserável vitrola esquecida por Deus tocando


aquela maldita canção de ninar.

Por que algo tão simples fez com que eu rompesse e


ficasse com raiva, eu não entendo, mas a fúria é demais para
conter.

Ao mesmo tempo em que estou do outro lado do quarto


arrancando a agulha, eu quebro o tocador e em seguida o
jogo na cama. O estalo do vinil é alto, e a voz que surge me
faz sorrir.

—Agnes, querida, precisamos sair. Os veículos estão


prontos? — Meus olhos voam na direção da voz, há uma
porta que eu não tinha visto. Um banheiro?

Ela está lá dentro, e meu sorriso cresce.

Tudo faz sentido.

—Agnes? Me responda!

Marcus me deu um presente que irá trazer para mim


paz de espírito. E algum fechamento para Ivy pôr um ponto
final.

Este quarto foi feito para um rei, mas apenas uma


rainha malvada reside aqui agora. Que não esperava se
encontrar nesta sala sozinha comigo.
A raiva se acumula e eu tremo. Eu estou firme, um leão
pronto para atacar.

Isto não é normal e eu sinto como se eu estivesse vendo


as coisas fora do meu corpo.

Um segundo eu estou na vitrola e no outro eu estou com


ela nas mãos chutando a porta. Ela bate criando um buraco
onde a maçaneta estava.

—O que... — Antes que ela possa terminar a sua


pergunta, eu bato a vitrola no canto do seu rosto. Um golpe
sólido e ela cambaleia desorientada. Em um minuto Valerie
está em seus pés e em seguida ela está no chão gritando de
dor.

Da sua têmpora até a maçã do rosto, ela tem um corte


que derrama vermelho no assoalho branco.

—Olá, Valerie. — Ao som da minha voz, ela tenta


rastejar em volta do banheiro que é grande e profundo. —O
que? Nada a dizer?

Nem um pio maldito. Para alguém tão exigente em


degradar os outros, Valerie só olha para mim com o temor de
Deus nos olhos dela. Bom... ela deve me temer.

Saio e me sento em sua cama ridiculamente grande com


meu rosto em minhas mãos. Inspire e expire.

Tanta coisa está correndo pela minha cabeça.


Os dias de caos sem fim. As várias vezes que as drogas
foram colocadas em nosso sistema sem uma preocupação de
como reagiríamos. Quanto abuso a minha boneca sofreu...
verbal e físico.

Enquanto uma parte da minha mente diz para eu ir


embora e não bater em uma mulher... eu não posso. Ela não
é uma mulher, ela é um monstro.

Deus me perdoe.

A agulha está a poucos centímetros de mim e eu a pego


antes de ficar em pé mais uma vez. Eu olho no espelho, o
diabo dentro de mim está claro como o dia no meu rosto.
Desta vez, não é a maquiagem demoníaca feita para o baile.

Não. Eu sou assim. O meu novo eu.

Para proteger, eu mato. Irei matar.

Ela está onde eu a deixei quando eu volto para o


banheiro, no chão, olhando para cima e ao redor. Os olhos
dela estão enlouquecidos, com medo, o cheiro de urina
permeia o ar...

—Que bagunça, Valerie. Tão desagradável. — Eu zombo


e fecho a porta atrás de mim. Sem interrupções. Deixe
qualquer um que entrar pensar que a prostituta está
tomando uma ducha.
—N-não. — Ela engasga, levantando a mão. Está
tremendo. —Podemos trabalhar em algo. Não há necessidade
de violência.

O meu próximo golpe vem na forma do meu pé


chutando sua barriga. Imediatamente ela enrola em volta de
si mesma, gemendo. Ainda não é suficiente.

Nunca será suficiente.

Não depois de ver eles torturarem Anne.

Matarem Robert.

Fazer Jamie sangrar até morrer.

Como ela quase vendeu Ivy para ser brutalmente


estuprada por esse gordo de merda.

Com um olhar ao redor, eu jogo a agulha quebrada em


uma superfície sólida nas proximidades e olho para Valerie.
Fico feliz em ver esse patético olhar que ela olha para os
meus pés.

—Sem violência, você disse? — Eu me curvo. Com o


meu punho apertado nos seus cabelos a levanto em seus pés.
Cara a cara. —Precisamos discutir essa sua teoria, como dois
adultos dementes.

Juntos, caminhamos para a banheira que já está cheia,


bolhas quase transbordando pela borda.
Os olhos dela se alargam e ela treme no meu aperto. —
Noah, eu...

Minha mão aberta conecta-se com o rosto dela,


dividindo o lábio no canto. —Cale a boca. — Eu rosno como
uma fera, como o monstro que ela criou. —Você não pode
implorar. Nem uma palavra. Nada, a menos que seja para se
explicar do porque está tão obcecada por Ivy?

Com a menção do nome do meu amor, suas feições


endurecem.

—Essa mimada putinha recebeu tudo. A sua vida inteira


em uma bandeja de prata.

Uma risada me escapa. —Então, você é uma mulher


louca com ciúmes? É isso?

—Eu deveria ter matado ela naquela primeira noite.

—Escolha de palavra errada. — Com o cabelo apertado


ao redor do meu punho, arrasto ela sobre a banheira e
empurro o seu rosto na água quente. O sangue seco em
minhas mãos se mistura com as bolhas, criando uma
espuma rosa em volta da cabeça dela. Ela se debate. Ela
tenta empurrar para cima, mas eu aperto meu punho ainda
mais. —Pense cuidadosamente sobre a sua próxima escolha
de palavras.

Quarenta segundos se passam antes que eu a levante.


Valerie se engasga com a necessidade de ar. —Seu
idiota!

—Vai voltar. — Eu rio e forço-a para baixo por um


minuto e meio. Seu corpo está ficando mole, mas eu não
cedo. Ela vai sofrer como nós sofremos.

—Pronta para ser civilizada?

—Por favor, pare. — Em convulsões, ela engasga, e uma


mistura de bile e água derrama pelos seus lábios. —Não
quero morrer.

Isso me irrita e eu levanto o seu rosto até o meu. —Vou


perguntar de novo. Por quê?

—Porque você deveria ser meu. — Isso a deixa em


sussurros baixos, mas ouço em alto e bom som.

Tudo isso é por causa de mim.

Porque eu caí no amor por Ivy.

Inveja mesquinha e orgulho ferido.

—Me escute bem, Valerie. Preste atenção nas minhas


palavras, porque elas vão ser as últimas que irá ouvir.

—Não. Não, por favor. Eu preciso... — As unhas dela


cavam a pele dos meus braços. —Me dê outra chance. Eu vou
desaparecer.
Em um movimento rápido, eu estou atrás dela, me
inclinando sobre a banheira, pairando os meus lábios em sua
orelha. Pego a agulha da sua preciosa vitrola e afundo bem
no seu olho direito. Ela grita, e eu empurro mais profundo. —
Sua feiura vem de dentro, Valerie. Você nunca deveria ter
sido permitida viver por tanto tempo. Queime no inferno.

Eu bato a cabeça dela para baixo e a água tinge de


vermelho.

Demora dois minutos para o seu corpo parar de se


mover. E mais cinco para eu deixar o corpo dela ir.

Ela está morta.

Nunca mais voltará.

Ivy está livre.


Quarenta e sete

Noah

Eu saio logo em seguida.

Na extremidade oposta do corredor à porta do quarto da


Valerie, há outra porta. Há uma corrida louca de pessoas
diferentes dentro da área, pessoas do baile e Deus sabe de
que buraco saíram.

Eles se espalham como baratas, mas em volta dessa


loucura há um bálsamo calmo que vem sobre mim, pois sei
que a ajuda está aqui. Que sobrevivi ao inferno e vou embora
com a única coisa que eles nunca tirariam de mim.

Ivy. Minha boneca. Meu tudo.

Todos os instintos dentro de mim me forçam a correr e


encontrá-la. Me certificar que ela saiu com todos os outros.

Então eu corro.

Pego toda a velocidade para o que parece ser um


labirinto.
Há mais portas e quartos, e após algumas voltas estou
fora com a ajuda de um agente. No momento que nossos
olhos fazem contato, ele aponta o caminho.

Cruzar o limiar para o exterior sem Ivy parece errado, e


todas as emoções que tenho mantido na minha garganta
explodem. Meu punho se conecta com a parede de concreto
ao lado do que parece um armazém gigante.

Eu posso sentir pela trituração que há dois ossos


quebrados na minha mão, um corte na carne e há sangue.

—Senhor, precisamos que você respire. — Aparece um


paramédico ajoelhado ao meu lado. Quando eu perdi a minha
vontade de ficar de pé? Eu não tenho nenhum indício, mas lá
estou eu. No chão. Lágrimas correndo pelo meu rosto
enquanto as pessoas continuam andando em torno de nós,
gritando e dando ordens. —Dentro e fora. Vamos lá. Mais
uma vez.

—Por favor. — Eu engasgo, fazendo ele parar a sua


avaliação da minha mão. —Cadê minha namorada? Ivy está
bem?

A sua expressão é de triste compreensão. —Ela era


outra vítima?

—Sim. Nos perdemos...


—Noah. — Querido Deus, nenhum som jamais foi tão
doce. Meus olhos se levantam e lá está ela, saindo pela
mesma porta. Viva e linda.

Ela está vestindo uma jaqueta e ao lado dela está...

Foda-se, Jamie. Ela salvou Jamie. Obrigado, Jesus.

Imediatamente eu fico de pé e passo pelo homem que


ainda está de joelhos. Elas estão alguns passos longe de onde
estou.

Eu conto os segundos na minha cabeça. Treze é o


suficiente para meu mundo estar completo. Para o céu estar
em meus braços.

—Amor, você está... — Ivy silencia a minha pergunta


com um beijo cheio de paixão e promessa. Sua boca trava a
minha, é macio e doce. Possui uma borda de maldade que
tem gosto de pecado. Nossas línguas se entrelaçam em uma
carícia, minhas mãos encontram o cabelo dela e eu puxo a
sua cabeça para trás, aprofundando o beijo...

—Aham. — Uma tosse e uma risada à minha direita


fazem eu me lembrar de que não estamos sozinhos e que eu
tenho mais uma pessoa para verificar. —Tanto quanto eu
amo vocês dois juntos, e eu realmente amo... podemos por
favor sair? Eu estou com machucados em todos os lugares.

Puxando meus lábios de Ivy, eu volto o olhar para a


nossa amiga. —Vejo que sua língua continua a mesma...
Olhos com lágrimas encontram os meus com um
sorriso. —Cala a boca e se mova.

Eu estendo uma mão e ela pega. Eu a puxo com cuidado


entre o meu corpo e o de Ivy. Até que um médico a veja, não
saberemos a extensão dos seus ferimentos ou pelo que ela
passou.

Por alguns minutos, o nível de barulho desaparece.


Ninguém existe fora deste círculo minúsculo. Não há pessoas
sendo atendidas, nem a presença da polícia no
estacionamento e no edifício do outro lado da rua.

Temos esse momento para respirar. Para agradecer que


estamos vivos.

Jamie está cortada, machucada, mas está aqui.

Ivy tem alguns ferimentos leves, mas não foi violentada.

Eu estou respirando e vou passar o resto da minha vida


amando a minha melhor amiga.

Nós somos sobreviventes.

—Peço desculpas por interromper. — Marcus aparece ao


meu lado e toca meu ombro. —Temos ambulâncias prontas
para levá-los ao hospital. Precisamos ter vocês três
verificados e tratados.

—Sim, por favor. — Jamie suspira, inclinando o peso


sobre a perna direita. —Este meu lado realmente me
incomoda. Penso que eu quebrei uma costela lutando contra
eles ontem à noite.

—Claro, senhorita. Vamos meninas, vamos resolver...

—Não. — Ivy e eu falamos em uníssono.

—Não? — Ele pergunta com um olhar perplexo no rosto.

—Ivy irá comigo. — Não há espaço para discutir, ele


acena.

—Como quiser. — Marcus sinaliza para alguns homens


com as macas. Eles carregam Jamie e nós a deixamos ir com
um beijo na bochecha e um até breve. A palavra adeus nunca
mais irá ser falada por qualquer um de nós novamente.

Outra maca para ao nosso lado e eu pego a minha


garota, ignorando a dor na minha mão. Eu a coloco ali
enquanto eles a amarram. Eu ando ao lado dela, os nossos
dedos entrelaçados. Dentro da ambulância eu me sento a sua
esquerda.

Palavras não são faladas. Elas não são necessárias.

Ivy fecha os olhos pela primeira vez em dias. Ela cai no


sono antes de chegarmos no fim do quarteirão, a exaustão
toma conta. Eu a vigio. Basta olhar para a constante
ascensão e queda do peito dela que os meus olhos se fecham
também.
A última coisa que lembro foi de alguém dizendo, isso é
o verdadeiro amor.

—Você não pode ficar se esgueirando aqui, Noah. Além


disso, é assustador ter você me observando enquanto eu
durmo. —Ivy murmura, ainda acordando. Ela tem estado
assim durante a maior parte das últimas 48 horas. Enquanto
as contusões e lesões foram pequenas, o número de drogas
injetadas em nosso sistema foi enorme, nos causando um
imenso impacto. No entanto, devido a diferença entre as
massas dos nossos corpos, em mim os danos foram menos
severos.

Nas primeiras horas depois de chegar à sala de


emergência, ela estava tremendo incontrolavelmente.
Náuseas ultrapassaram seu pequeno corpo e ela esvaziou um
estômago que não tinha nada além de líquidos naquele
momento.

Me quebrou vê-la sofrendo tanta dor física. Vê-la tão


doente.
Somente quando os medicamentos foram colocados na
sua veia ela ficou mais calma. Ela dormiu, e eles me levaram
por tempo suficiente para verificar e avaliar os danos
causados no meu corpo. Logo depois me colocaram no quarto
ao lado do dela.

Não que isso me afastasse. Foda-se as costelas


quebradas, os dedos quebrados e a laceração do lado da
minha cabeça, eu precisava estar perto dela.

Sempre.

Inclinando sobre a cama dela, eu beijo a ponta do seu


nariz. —Eu não estou quebrando nenhuma regra desta vez,
amor.

—Mentiroso. — Aqueles lábios doces fazem um


biquinho. —Aposto que se eu abrir os olhos...

—Cale a boca e abra os olhos, boneca. — Ivy faz o que


peço, gemendo para as luzes brilhantes ao lado da cama dela.

—Muita luz.

—Eu vou te dizer quando abrir. — Pegando o controle


sobre uma pequena mesa, diminuo a intensidade das luzes.
—Agora.

Adoro a reação dela quando percebe o que eu fiz. A boca


dela cai aberta em um “O” perfeito quando ela vê a minha
cama à esquerda da dela. —Como?
—Vou explicar em um minuto, querida. Há tanta coisa
que você precisa saber, mas eu quero você por um momento.
Só nós, antes que o mundo caia. — Há tanta ternura na
expressão dela sempre que eu a chamo de algo doce...

—Espere... — Sua pequena mão vai para me parar, e


então ela assobia enquanto ela acidentalmente esbarra no
soro dela.

—Cuidado. Você precisa disso em você.

Ivy estreita os olhos. —O mundo? O que você quer dizer


com o mundo, Noah?

—Estamos em todos os noticiários, amor. Em todos os


lugares. É uma loucura, porque... somos um caso importante
devido aos nossos nomes e empresas.

Faço uma careta e ela diz. —Quão ruim?

—Em todo o mundo. Essas pessoas operam em todo o


mundo. Tivemos sorte em escapar, mas outros...

Lágrimas rolam pelo seu queixo trêmulo, odeio o olhar


de puro medo nos olhos dela.

Eu beijo os seus lábios, minhas mãos pegam suas


bochechas molhadas. —Todo mundo está morto, menos
Agnes. Prenderam ela para fazer perguntas e ajudar a
encontrar outros armazéns, outras vítimas. Eles querem
salvar outras pessoas, e uma vez que ela não for útil, eles vão
pedir a pena de morte.
—E o homem? — Ela sussurra, é tão baixo que quase
perdi isso.

—Ele fugiu. — O seu corpo começa a tremer e a


respiração dela acelera. —Respire, querida. Por favor. Por
mim.

—Noah, ele pode voltar. Terminar o que ele... — Ponho a


minha boca na dela, pondo fim ao pânico. Meus pulmões se
expandem e eu inalo o cheiro doce dela. Perco-me no seu
gosto. É a minha Ivy, foda-se, ela é exigente neste beijo.
Levando o que ela precisa. Sinto o desejo brutal, sinto que ela
usa o meu toque para se acalmar. Para esquecer aquele
pesadelo mesmo que por um instante.

—Melhor? — Pergunto alguns segundos depois, meus


lábios indo para frente e para trás através nos seus lábios
inchados.

—Sim. Preocupada, sabe? Não posso ajudar.

Outro beijo. —Eles estão procurando por ele e tem


pistas. Todo mundo na polícia está procurando. Ele vai ser
apanhado.

—Segurança?

—Já contratei alguns.

—E para Jamie? Merda! — Ivy levanta, tentando


empurrar as cobertas. —Como ela está? Cadê ela?
Com uma mão firme eu a seguro. —Pare. Deite-se, Ivy.

—Eu tenho que vê-la.

Eu balanço a cabeça, fisicamente a reajustando na


cama. Seu olhar é um pouco duro e frio, mas eu não dou a
mínima. Descanso é a única coisa que o meu amor precisa, e
eu serei amaldiçoado se ela não descansar.

—Ela está com os pais, e eles pediram para não serem


incomodados até amanhã. — O protesto está na ponta da
língua dela quando eu levanto a mão. —Eles precisam de um
tempo com a filha deles. Um momento para respirar. Eles vão
dar o amor deles e cuidar dela até que ela seja transferida
para mais perto de casa. Vamos vê-la em seguida.

—Eu te amo tanto, Noah. Obrigada por ser paciente


comigo. — Isto não é sobre o agora, mas sobre o tempo
perdido.

—Como eu te amo, amor. Minha boneca Ivy. — Sentado


na beira da cama dela, me inclino e coloco minha testa na
dela. Olho para esses lindos olhos que brilham com mais
lágrimas. —Tudo que sou é por sua causa. Por você. — Eu
dou um beijo rápido no lábio inferior dela antes de limpar
duas lágrimas que caíram. —Não chore.

—Lágrimas de felicidade, eu juro. — Garota boba.


—Bom, porque eu nunca quero ser a razão pela qual
você chora. — Mãos pequenas vão para a minha bochecha. —
Eu quero ser a razão pela qual você sorri.

—Você já é. Sempre foi.

Um súbito clarão de tristeza aparece em seus olhos, mas


some assim como veio. Há uma longa estrada pela frente.
Mas agora, vamos nos amar sem moderação.

—Não.

—O quê?

—Não se sinta mal sobre algo que nenhum de nós pode


mudar. Deixe o passado onde ele pertence e viva o agora
comigo.

—Desculpe. — Ela diz com um sorriso tímido.

Seu sorriso é contagiante e me encontro fazendo o


mesmo. —Tudo o que eu quero fazer é passar o resto da
minha vida sendo o homem que você precisa. Melhor amigo e
amante, preencher qualquer papel que te faça feliz enquanto
você andar nesta vida ao meu lado.

—Aconteça o que acontecer sempre será você e eu.

—Já era hora de vocês dois oficializarem isso.

Esta grande voz assusta minha menina, seu corpo todo


treme e seus olhos se fecham. —Se isto é um sonho, não
quero acordar. — Ela murmura sob sua respiração, mas
todos nós ouvimos.

Martha, sua mãe, se aproxima da cama lentamente,


quase com medo de assustar a sua filha ou causar mais
angústia.

É uma loucura. Ivy precisava desta boa notícia.

Essa piada cruel a tocou e a partiu em dois. Eles


machucam onde dói, levando aqueles que você mais gosta.

Graças a Deus eles estavam fora a negócios quando


fomos sequestrados e tiveram proteção adequada quando
chegaram. Até mesmo Racy, o seu parceiro de negócios, tem
alguém o seguindo de uma agência privada para protegê-lo.

Ela a abraça. Saio e a deixo tomar o meu lugar, o pai a


seguir. É difícil ouvir os seus soluços de alívio e dor, vê-la
reviver as memórias daquela cena assustadora pintada por
aqueles malditos monstros. Nunca irei me arrepender de ter
acabado com a vida da Valerie ou de Jacques. Nunca.

—Mamãe... Pai...? — A voz de Ivy treme. Ela fica


olhando para os dois, com medo que possam desaparecer. —
Eu vi... vocês... Graças a Deus!

—Estamos vivos, querida. Nós estamos aqui. — David


abraça a sua criança, lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Os
seus olhos encontram os meus, ele acena e silenciosamente
diz mais alto do que palavras jamais poderiam.
Obrigado por salvá-la.

Por não abandoná-la.

Por amar a minha filha mais do que sua própria vida.

—Sinto muito pelo atraso. O jardim zoológico lá fora


tornou difícil entrar aqui. — Jackson Racy entra, um urso de
pelúcia gigante na mão junto com um grande buquê de lírios
brancos. Os favoritos de Ivy. —Como ela está? Não posso
imaginar o horror que vocês passaram.

—Estamos bem. Ivy acordou a pouco e esta é a primeira


vez que ela os vê vivos. Que descobriu que estão vivos.

—Pobre garota. Tão horrível. — Jackson coloca a mão


no meu ombro e aperta. Ele se move na direção da cama dela,
mas faz uma pausa para olhar nos meus olhos. —Nossa
pequena “Boneca” Ivy vai ficar bem. Ela é perfeita. Mais forte
do que aparenta.

Pequena Boneca Ivy. Como no inferno?

Como eu poderia ter esquecido que eles gostam de


chamá-la assim? Que é o apelido dela depois de me ouvirem
usar o termo carinhoso por anos em reuniões de negócios.

E enquanto eu digo que isso não vai incomodar Ivy, não


sei como ela vai reagir a qualquer outra pessoa.

Mas quais são as chances?


Como que o homem que trabalhava com Valerie sabia
desse apelido? A menos que fosse outra maneira para aquela
boceta mexer com a minha boneca. Para torturá-la.

Ou é...

—Tudo bem, Noah? — Os olhos preocupados de


Jackson encontram os meus e, eu tento controlar meus
pensamentos antes de dizer algo que pode machucar a todos
nós. Estou imaginando uma merda. Eu sei disso.

—Não chame ela assim. — Eu assobio, as minhas mãos


tremem. —Nunca mais. Por favor.

—O que está acontecendo? Por quê?

—Eles...

Ele levanta a sua mão. —Não diga mais nada. Nem mais
uma palavra.

—Obrigado. — Suspiro, esfregando a minha nuca. Está


começando a pulsar ao redor da ferida.

—E você? — A minha sobrancelha levanta e ele ri. —


Como você está, Noah? Você não pode deixar tudo de lado e
fingir que você não viveu por uma experiência traumática
também.

—Eu sei que vai ser um longo caminho para nós dois.

—O que você precisar, filho, não importa o quê, estamos


aqui para você, para vocês dois. — Com um sorriso triste, ele
se vira e caminha para o final da cama dela, quase
empurrando o pai dela fora do caminho para abraçá-la. Ela é
toda sorrisos para ele e os pensamentos de um minuto atrás
desaparecem.

Culpa bate em mim, eu sei que o caminho para a


recuperação será difícil. Brutal, às vezes, quando se tratar do
meu ser super-protetor.

Racy é família. Todos nesta sala a amam.

Nem todos são uma ameaça.

O riso dela rompe meus pensamentos nebulosos e eu


assisto a sua interação por um momento. Ver ela rindo
através da neblina preta é tudo que importa. Me dá
esperança de um futuro melhor.

Um onde eu posso amar até meu último suspiro e além


disso. Porque nem a morte pode destruir algo tão puro.

Meu amor por ela não pode ser quebrado.

É infinito.

Aberto.

Maravilhoso.

É a razão pela qual eu estou vivo.

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